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CÓD: SL-086AG-22

7908433226093

SME
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE PETRÓPOLIS DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO

Professor da Educação Básica - Educação


Infantil e Anos Iniciais
EDITAL N.º 001/2022
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e estruturação de textos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2. Coesão e coerência textual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3. Semântica: sinônimos, antônimos, polissemia. Vocábulos homônimos e parônimos. Denotação e conotação. Sentido figurado. 21
4. Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
5. Acentuação gráfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6. Formação de palavras: prefixos e sufixos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
7. Flexão nominal de gênero e número. Flexão verbal: verbos regulares e irregulares. Vozes verbais. Emprego dos modos e tempos
verbais. Emprego dos pronomes pessoais e das formas de tratamento. Emprego do pronome relativo. Emprego das conjunções e das
preposições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
8. Sintaxe de colocação. Colocação pronominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
9. Concordância nominal e verbal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
10. Regência nominal e verbal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
11. Emprego do acento da crase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
12. Nexos semânticos e sintáticos entre as orações, na construção do período. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
13. Emprego dos sinais de pontuação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Conhecimento Pedagógico
1. Aspectos Filosóficos da Educação – o pensamento pedagógico moderno: iluminista, positivista, socialista, escola novista,
fenomenológico - existencialista, antiautoritário, crítico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2. Tendências atuais: liberais e progressistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3. O pensamento pedagógico brasileiro: correntes e tendências na prática escolar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4. Aspectos Sociológicos da Educação – as bases sociológicas da Educação, a Educação como processo social, as instituições sociais
básicas, educação para o controle e para a transformação social, cultura e organização social, desigualdades sociais, a relação escola
/ família / comunidade. Educação e Sociedade no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5. Aspectos Psicológicos da Educação – a relação desenvolvimento / aprendizagem: diferentes abordagens, a relação pensamento /
linguagem – a formação de conceitos, crescimento e desenvolvimento: o biológico, o psicológico e o social. O desenvolvimento cog-
nitivo e afetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
6. Aspectos do Cotidiano Escolar – a formação do professor; a avaliação como processo, a relação professor / aluno; a função social do
ensino: os objetivos educacionais, os conteúdos de aprendizagem; as relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e
dos alunos; a organização social da classe; os direitos da criança e do adolescente; a sala de aula e sua pluralidade. . . . . . . . . . . 89

História, Geografia, Turismo e Educação para o Trânsito de Petrópolis


1. Antecedentes históricos: as sesmarias no período colonial; os caminhos serra acima: as fazendas: córrego seco, itamarati, padre
correia. A presença de d. Pedro i na região . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
2. A fundação de petrópolis, o major de engenheiros júlio frederico koeler e a povoação planejada; a vontade de d. Pedro ii; a dedicação
de paulo barbosa da silva: o decreto imperial nº 155, de 16 de março de 1843 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
3. Evolução do povoado: a colonização germânica; povoadores de outras etnias; os serviços, o artesanato, o comércio e a indústria;
formação administrativa e judiciária. A passagem de povoado à cidade em 1857. A criação da câmara municipal . . . . . . . . . . . 135
4. Nos tempos imperiais; sede de verão do governo; evolução urbana e social; as estradas: ferroviária e de rodagem; a expansão
industrial. D. Pedro ii, a princesa isabel e outras personalidades em petrópolis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
5. Tempos de república: o exílio da família imperial. Os governadores e a cidade. A capital fluminense em petrópolis e a retomada,
pelos presidentes, dos veraneios do impera dor. Getúlio vargas e petrópolis: a fundação do museu imperial. Santos-dumont e “a
encantada” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
6. Evolução político-econômica: da câmara municipal à prefeitura: oswaldo cruz, o primeiro prefeito. A indústria têxtil: ápice e de-
créscimo. O hotel quitandinha, o complexo hoteleiro, os palacetes, a vida nos bairros. A ii guerra mundial e a presença dos pracinhas
petropolitanos: honra e glória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
7. A cultura, as artes, o esporte, o pensamento: as agremiações culturais e esportivas, o cinema e o pioneirismo petropolitano; a
imprensa, os monumentos; as personalidades em petrópolis e seus feitos: o barão do rio branco e o “trata do de petrópolis”; raul de
leoni, o poeta; peter bryan medawar, o petropolitano “prêmio nobel de medicina”, antônio cardoso fontes, o cientista de manguin-
hos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
8. O turismo: bens turísticos naturais e históricos: a catedral de petrópolis e a capela imperial e seu significado; a mata atlântica que
resiste; o traçado arquitetônico e a expansão do urbanismo na petrópolis de hoje. Os 5 distritos e a importância na economia e no
turismo do município . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
9. Os bens arquitetônicos e sua utilização contemporânea: o palácio sérgio fadel, o palacete mauá, o fórum, a casa da princesa isabel,
a casario da avenida koeler, o teatro municipal, os prédios escolares: universidade católica, colégios santa isabel e santa catarina; o
ÍNDICE

paço hermogênio silva; o batalhão d. Pedro ii. O iphan (instituto do patrimônio histórico e artístico nacional) e sua missão de preservar
e cuidar de todos os bens culturais, turismo: gastronomia, ecoturismo em petrópolis: trilhas e caminhadas ecológicas; cachoeiras e
montanhismo; unidades de conservação; apa; turista e os tipos de turismo; um projeto urbanístico preocupado com o meio ambiente;
problemas ambientais e ocupação desordenada; petrópolis e seu mercado turístico; pontos turísticos de petrópolis . . . . . . . . 144
10. Geografia de petrópolis: localização, altitude, clima, fauna, flora, população, principais acidentes geográficos: elevações, rios, aveni-
das e ruas no traçado da primeira cidade planejada do brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
11. A evolução dos meios de transportes; bondes em petrópolis; ônibus e automóveis em petrópolis; regras de trânsito; os tipos
de sinalização de trânsito; trânsito: de mulas e carroças para carros; principais normas de trânsito para pedestres; normas de
comportamento e responsabilidade dos motoristas no trânsito; atenção ciclista; lei seca; trânsito: fiscalização eletrônica e velocidade;
trânsito e cidadania: acessibilidade; acidentes de trânsito; transporte coletivo: atitudes para um trânsito mais humano; semana na-
cional de educação para o trânsito; problemas com o trânsito: congestionamento x transporte público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152

Legislação (Políticas de Educação Brasileira)


1. Lei nº 9.394/96 (lei de diretrizes e bases da educação nacional) e suas alterações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
2. Estatuto da criança e do adolescente – eca – lei nº 8.069/90 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
3. Lei nº 13.146/2015 - lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência) . . . . . . . . . . . . . . 211
4. Leis nº 10.639/03 e 11.645/2008 – história e cultura afro-brasileira e indígena. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
5. plano nacional de educação em direitos humanos – 2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228
6. Parâmetros curriculares nacionais (pcn’s): orientações didáticas, natureza, objetivos e conteúdos propostos . . . . . . . . . . . . . . . 228
7. Plano nacional de educação (lei nº 13.005/2014) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228

Conhecimentos Específicos
Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais
1. Etapas do desenvolvimento infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
2. Aprendendo a aprender . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256
3. Planejamento curricular centrado na criança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262
4. Processos de aprendizagem da leitura a da escrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
5. Proposta pedagógica. Eixos norteadores e prática pedagógica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
6. Função sócio-política e pedagógica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288
7. Espaço e tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
8. Meio ambiente. Convivência e interação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 295
9. O professor como mediador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
10. Novas Tecnologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
11. A criança e o número . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 302
12. Jogos e brincadeiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
13. Avaliação da aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338
14. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (Resolução nº 5 de 17/12/09) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 344
15. Diretrizes educacionais do Município de PETRÓPOLIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 347
LÍNGUA PORTUGUESA

• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,


COMPREENSÃO E ESTRUTURAÇÃO DE TEXTOS fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. com a não-verbal.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-


tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.

7
LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti- O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
ca e, por fim, uma leitura interpretativa. principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
É muito importante que você: tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta- você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
do, país e mundo; significativo, que é o texto.
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto- título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
gráficas, gramaticais e interpretativas; o assunto que será tratado no texto.
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- estudos?
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
– Sublinhe as ideias mais importantes.
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia CACHORROS
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
tável). zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
– Retorne ao texto sempre que necessário. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
enunciados das questões. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
– Reescreva o conteúdo lido. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- outro e a parceria deu certo.
picos ou esquemas.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
distração, mas também um aprendizado. do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- As informações que se relacionam com o tema chamamos de
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
do texto. Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- capaz de identificar o tema do texto!
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na -secundarias/
prova.
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele.

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LÍNGUA PORTUGUESA
IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM Ironia dramática (ou satírica)
TEXTOS VARIADOS A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia  é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
Exemplo: que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
NERO EM QUE SE INSCREVE
Ironia de situação Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- principal. Compreender relações semânticas é uma competência
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
morte. -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Busca de sentidos Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
apreensão do conteúdo exposto. tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
citadas ou apresentando novos conceitos. curto.
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. como horas ou mesmo minutos.

Importância da interpretação Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-


A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos imagens.
específicos, aprimora a escrita.
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não de destaque sobre algum assunto de interesse.
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que berdade para quem recebe a informação.
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
Fato
Diferença entre compreensão e interpretação O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Gêneros Discursivos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Interpretação
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No sas, previmos suas consequências.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
dárias. tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente ças sejam detectáveis.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Exemplos de interpretação:
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
encaminham-se diretamente para um desfecho. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Opinião Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma
que fazemos do fato. pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto-
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí-
anteriores: odo, e o tópico que o antecede.
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão para a clareza do texto.
do que com a filha. Ela foi egoísta. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões sem coerência.
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
mos expressando nosso julgamento. tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
analisamos um texto dissertativo. mais direto.

Exemplo: NÍVEIS DE LINGUAGEM


A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
com o sofrimento da filha. Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
e o do leitor. o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Parágrafo social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é e caem em desuso.
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma-
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto Língua escrita e língua falada
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
sentada na introdução. parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
rágrafos curtos, é raro haver conclusão.
Linguagem popular e linguagem culta
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
prova. valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
o diálogo é usado para representar a língua falada.
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí-
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Linguagem Popular ou Coloquial Características principais:
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase • Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin- tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo caracterizadora.
– erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo- • Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu-
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, meração.
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular • A noção temporal é normalmente estática.
está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas, • Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini-
irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na ção.
expressão dos esta dos emocionais etc. • Normalmente aparece dentro de um texto narrativo.
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún-
A Linguagem Culta ou Padrão cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Exemplo:
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Era uma casa muito engraçada
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Não tinha teto, não tinha nada
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia entrar nela, não
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha chão
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia dormir na rede
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Gíria Porque penico não tinha ali
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como Mas era feita com muito esmero
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam Na rua dos bobos, número zero
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- (Vinícius de Moraes)
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário comportamentos, nas leis jurídicas.
de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, Características principais:
“mina”, “tipo assim”. • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
Linguagem vulgar do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
comida”. Exemplo:
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
Linguagem regional ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
perior para formação de oficiais.
Tipos e genêros textuais
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- Tipo textual expositivo
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- pode ser expositiva ou argumentativa.
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
exemplos e as principais características de cada um deles. neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.

Tipo textual descritivo Características principais:


A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, mar.
um movimento etc. • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
• Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
de ponto de vista.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Apresenta linguagem clara e imparcial. • Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
prosa, não em verso.
Exemplo:
O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no Exemplo:
questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex- Solidão
pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de- João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
terminado tema. o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta- liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa). Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni-
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as- rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente. Nelson S. Oliveira
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre-
Tipo textual dissertativo-argumentativo ais/4835684
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias GÊNEROS TEXTUAIS
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
(leitor ou ouvinte). dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
Características principais: síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho ais que neles predominam.
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
gestão/solução).
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações Descritivo Diário
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente Relatos (viagens, históricos, etc.)
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Biografia e autobiografia
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Notícia
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Currículo
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Lista de compras
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Cardápio
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Anúncios de classificados
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Injuntivo Receita culinária
Bula de remédio
Exemplo: Manual de instruções
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Regulamento
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Textos prescritivos
administração política (tese), porque a força governamental certa-
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Expositivo Seminários
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Palestras
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Conferências
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Entrevistas
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Trabalhos acadêmicos
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Enciclopédia
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Verbetes de dicionários
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Carta de opinião
cobrança efetiva (conclusão). Resenha
Artigo
Tipo textual narrativo Ensaio
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Monografia, dissertação de
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- mestrado e tese de doutorado
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo).
Novela
Crônica
Características principais:
Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado.
Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for- As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi- uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
nitos e mudam de acordo com a demanda social. veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
INTERTEXTUALIDADE tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As- da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção sos de linguagem.
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
ambos: forma e conteúdo. obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de escolher entre duas ou mais coisas”.
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
provérbios, charges, dentre outros. coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
Tipos de Intertextualidade mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
ticos. um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a enunciador está propondo.
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
significa a “repetição de uma sentença”. demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) mento de premissas e conclusões.
e “graphé” (escrita). Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção A é igual a B.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa A é igual a C.
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Então: C é igual a B.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
“citação” (citare) significa convocar. que C é igual a A.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros Outro exemplo:
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Todo ruminante é um mamífero.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). A vaca é um ruminante.
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são Logo, a vaca é um mamífero.
o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
ARGUMENTAÇÃO também será verdadeira.
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
propõe. banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de outro fundado há dois ou três anos.
vista defendidos. Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
der bem como eles funcionam.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso Argumento de Existência
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó- É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- do que dois voando”.
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori- afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
zado numa dada cultura. vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
Tipos de Argumento vios, etc., ganhava credibilidade.
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- Argumento quase lógico
mento. Exemplo: É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
Argumento de Autoridade chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
dadeira. Exemplo: aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
cimento. Nunca o inverso. indevidas.
Alex José Periscinoto.
Argumento do Atributo
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
que é mais grosseiro, etc.
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
acreditar que é verdade.
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
Argumento de Quantidade de.
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
largo uso do argumento de quantidade. em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
dizer dá confiabilidade ao que se diz.
Argumento do Consenso Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as por bem determinar o internamento do governador pelo período
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases tal por três dias.
carentes de qualquer base científica.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação comportamento.
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
texto tem sempre uma orientação argumentativa. da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto mica e até o choro.
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
outras, etc. Veja: vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
vam abraços afetuosos.” dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
injustiça, corrupção). essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são ver as seguintes habilidades:
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
o argumento. ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- mente contrária;
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite ria contra a argumentação proposta;
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir ta.
outros à sua dependência política e econômica”.
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
o assunto, etc). Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
dades não se prometem, manifestam-se na ação. de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:

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LÍNGUA PORTUGUESA
- evidência; Indução
- divisão ou análise; O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
- ordem ou dedução; cular)
- enumeração. Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o – conclusão falsa)
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
caracteriza a universalidade. ados nos sentimentos não ditados pela razão.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o ferro (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o bronze (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
O ferro, o bronze, o cobre são metais meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, relacionadas:
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de lha dos elementos que farão parte do texto.
sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Lógico, concordo. racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Claro que não! por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular)
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, ou instalação”;
sabiá, torradeira. - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro dida;d
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou diferenças).
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
(Garcia, 1973, p. 302304.) As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- vra e seus significados.
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
de vista sobre ele. com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma mentação coerente e adequada.
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
- o termo a ser definido; expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
- o gênero ou espécie; elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- a diferença específica. cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
ma espécie. Exemplo: Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
Elemento especie diferença nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
a ser definidoespecífica apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: gumentação:
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
assim, desse ponto de vista. dadeira;
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são dade da afirmação;
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, ridade que contrariam a afirmação apresentada;
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos que gera o controle demográfico”.
que, melhor que, pior que. Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- elaboração de um Plano de Redação.
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
tecnológica
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
ta, justificar, criando um argumento básico;
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
caráter confirmatório que comprobatório.
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
(rever tipos de argumentação);
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
caso, incluem-se que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
mortal, aspira à imortalidade); ência);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
dos e axiomas); argumento básico;
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que mento básico;
parece absurdo). - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con- menos a seguinte:
cretos, estatísticos ou documentais.
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se Introdução
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- - função social da ciência e da tecnologia;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - definições de ciência e tecnologia;
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, Desenvolvimento
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na vimento tecnológico;

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LÍNGUA PORTUGUESA
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as Terceira pessoa
condições de vida no mundo atual; Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
desenvolvidos; guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
sado; apontar semelhanças e diferenças; tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
banos; outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar leitura não fique confuso.
mais a sociedade.

Conclusão COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL


- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ-
ências maléficas; Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
apresentados. organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre-
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili-
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além
ção: é um dos possíveis. de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na Coerência
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
é inserida. outra”).
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, elementos formativos de um texto.
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
textos caracterizada por um citar o outro. aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
elementos textuais.
PONTO DE VISTA A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com- tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se imediato a coerência de um discurso.
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con- A coerência:
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
servador e o narrador-personagem. - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
tual;
Primeira pessoa - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto o aspecto global do texto;
de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma Coesão
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
só descobrimos ao decorrer da história. ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
Segunda pessoa tem-se a coesão lexical.
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá- A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
quase como outro personagem que participa da história. gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
nentes do texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical, que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
A coesão:
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes componentes do texto;
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.

SEMÂNTICA: SINÔNIMOS, ANTÔNIMOS, POLISSEMIA. VOCÁBULOS HOMÔNIMOS E PARÔNIMOS. DENOTAÇÃO E


CONOTAÇÃO. SENTIDO FIGURADO

Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos que
compõem este estudo.

Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.

O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.

Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

SISTEMA ORTOGRÁFICO EM VIGOR: EMPREGO DAS LETRAS

ORTOGRAFIA OFICIAL
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y.
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui,
que, qui.

Regras de acentuação
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba)

Como era Como fica


alcatéia alcateia
apóia apoia
apóio apoio

Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.

– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

Como era Como fica


baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú,
tuiuiús, Piauí.

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LÍNGUA PORTUGUESA
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas
e ôo(s).
1) Utiliza-se inicial maiúscula:
a) No começo de um período, verso ou citação direta.
Como era Como fica
abençôo abençoo Exemplos:
crêem creem Disse o Padre Antonio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer
lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.”
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ “Auriverde pendão de minha terra,
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra
Atenção: As promessas divinas da Esperança…”
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. (Castro Alves)
• Permanece o acento diferencial em pôr/por.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural Observações:
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, - No início dos versos que não abrem período, é facultativo o
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). uso da letra maiúscula.
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as Por Exemplo:
palavras forma/fôrma. “Aqui, sim, no meu cantinho,vendo rir-me o candeeiro, gozo o
bem de estar sozinho e esquecer o mundo inteiro.»
Uso de hífen - Depois de dois pontos,  não  se tratando de citação direta,
Regra básica: usa-se letra minúscula.
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
mem. Por Exemplo:
“Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro, incen-
Outros casos so, mirra.” (Manuel Bandeira)
1. Prefixo terminado em vogal: b) Nos antropônimos, reais ou fictícios.
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, Exemplos:
semicírculo. Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote.
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- c) Nos topônimos, reais ou fictícios.
mo, antissocial, ultrassom.
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- Exemplos: 
das. Rio de Janeiro, Rússia, Macondo.
d) Nos nomes mitológicos.
2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub- Exemplos: 
-bibliotecário. Dionísio, Netuno.
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su- e) Nos nomes de festas e festividades.
persônico.
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. Exemplos:
Natal, Páscoa, Ramadã.
Observações: f) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais.
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem Exemplos: 
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade. ONU, Sr., V. Ex.ª.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala- g) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos, políti-
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano. cos ou nacionalistas.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope- Exemplos:
rar, cooperação, cooptar, coocupante. Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Estado, Nação, Pátria,
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al- União, etc.
mirante. Observação: esses nomes escrevem-se com inicial  minúscu-
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam la quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
pontapé, paraquedas, paraquedista. Exemplo: 
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, Todos amam sua pátria.
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu. Emprego FACULTATIVO de letra maiúscula:
a) Nos nomes de logradouros públicos, templos e edifícios.
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplos: – vogais e consoantes de ligação.
Rua da Liberdade ou rua da Liberdade  Radical: Elemento que contém a base de significação do vocá-
Igreja do Rosário ou igreja do Rosário  bulo.
Edifício Azevedo ou edifício Azevedo Exemplos
VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.
ACENTUAÇÃO GRÁFICA Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.

Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons Dividem-se em:


com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras. Nominais
Vejamos um por um: Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
Exemplos
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre pequenO, pequenA, alunO, aluna.
aberto. pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas.
Já cursei a Faculdade de História.
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre Verbais
fechado. Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos
Meu avô e meus três tios ainda são vivos. Exemplos
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo)
caso afundo mais à frente). vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número)
Sou leal à mulher da minha vida.
Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem.
As palavras podem ser: Exemplos
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- 1ª conjugação: – A – cantAr
-já, ra-paz, u-ru-bu...) 2ª conjugação: – E – fazEr
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, 3ª conjugação: – I – sumIr
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima Observação
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica
oposição masculino/feminino.
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: Exemplos
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, livrO, dentE, paletó.
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, Tema: União do radical e a vogal temática.
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, Exemplos
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) CANTAr, CORREr, CONSUMIr.
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se inter-
dói, coronéis...) põem aos vocábulos por necessidade de eufonia.
Exemplos
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais chaLeira, cafeZal.
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
Afixos
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois
nar e fixar as regras. do radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Divi-
dem-se em:
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical.
FORMAÇÃO DE PALAVRAS: PREFIXOS E SUFIXOS Exemplos
DISpor, EMpobrecer, DESorganizar.
ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
As palavras são formadas por estruturas menores, com signifi- Sufixo
cados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para Afixo que se coloca depois do radical.
a formação das palavras. Exemplos
contentaMENTO, reallDADE, enaltECER.
Estrutura das palavras Processos de formação das palavras
As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas Composição: Formação de uma palavra nova por meio da jun-
menores - os morfemas, também chamados de elementos mórfi- ção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos:
cos: 
– radical e raiz; Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na
– vogal temática; estrutura fonética das primitivas.
– tema; Exemplos
– desinências; passa + tempo = passatempo
– afixos; gira + sol = girassol

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LÍNGUA PORTUGUESA
Aglutinação: Formação de palavra composta com alteração da dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária: dis-
estrutura fonética das primitivas. trair, dimanar.
Exemplos entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha, en-
em + boa + hora = embora trevista.
vossa + merce = você ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade, priva-
ção, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor.
Derivação: extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordiná-
Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. Te- rio.
mos: im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar,
ingrato.
Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de inter – no meio de: intervocálico, intercalado.
um prefixo ao radical da primitiva. intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer.
Exemplos justa – perto de: justapor.
CONter, INapto, DESleal. multi – pluralidade: multiforme.
ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo.
Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um su- pene – quase: penúltimo, península.
fixo ao radical da primitiva. per – movimento através de, acabamento de ação; ideia pejo-
Exemplos rativa: percorrer.
cafezAL, meninINHa, loucaMENTE. post, pos – posteridade: postergar, pospor.
pre – anterioridade: predizer, preclaro.
Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural.
um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo. pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir,
Exemplos procurador, pronome.
EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR. re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repeti-
ção: regressar, revirar.
Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra pri- retro – movimento para trás: retroceder.
mitiva. satis – bastante: satisdar.
Exemplo sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé.
Todos ficaram encantados com seu  andar: verbo usado com subter – por baixo: subterfúgio.
valor de substantivo. super, supra – posição superior, excesso: super-homem, super-
povoado.
Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em ge- tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro.
ral de um verbo para substantivo ou vice-versa. ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo.
Exemplos uni – um: unânime, unicelular.
combater – o combate
chorar – o choro Grego: Os principais prefixos de origem grega são:
a, an – privação, negação: ápode, anarquia.
Prefixos ana – inversão, parecença: anagrama, analogia.
Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em: anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro.
vernáculos, latinos e gregos. anti – oposição: antipatia, antagonista.
apo – afastamento: apólogo, apogeu.
Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou fo- arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo.
ram aportuguesados:  a, além, ante, aquém, bem, des,  em, entre, caco – mau: cacofonia.
mal, menos, sem, sob, sobre, soto. cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia.
Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como:  abor- deca – dez: decâmetro.
dar, além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição, me- dia – através de, divisão: diáfano, diálogo.
nosprezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc. dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia.
en – sobre, dentro: encéfalo, energia.
Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina endo – para dentro: endocarpo.
original: epi – por cima: epiderme, epígrafe.
a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar. eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia.
a, ad – aproximação, direção: amontoar. hecto – cem: hectômetro.
ambi – dualidade: ambidestro. hemi – metade: hemistíquio, hemisfério.
bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário. hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole.
centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado. hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia.
circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante. homo – semelhança, identidade: homônimo.
cis – aquem de: cisalpino, cisgangético. meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase.
com, con, co – companhia, concomitância: combater, contem- míria – dez mil: miriâmetro.
porâneo. mono – um: monóculo, monoculista.
contra – oposição, posição inferior: contradizer. neo – novo, moderno: neologismo, neolatino.
de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento: de- para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo.
crescer, deportar. penta – cinco: pentágono.
des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar. peri – em volta de: perímetro.

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LÍNGUA PORTUGUESA
poli – muitos: polígono, polimorfo. SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
pro – antes de: prótese, prólogo, profeta. referem-se qualquer ser de cachorro/prima
Sufixos uma mesma espécie.
Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial.
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
Nominais nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama. própria. Esses seres podem /lobisomem
Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -as- ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
tro, -az. reais ou imaginários.
Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista. SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório. nomeiam ações, estados, bondade/
Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato. qualidades e sentimentos que confiança/
Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico. não tem existência própria, ou lembrança/
Origem, procedência: -estre, -este, -esco. seja, só existem em função de amor/
um ser. alegria
Verbais
Comuns: -ar, -er, -ir. SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar. referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
Incoativos: -escer, -ejar, -itar. de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar. mesmo quando empregado
no singular e constituem um
Adverbial = há apenas um substantivo comum.
MENTE: mecanicamente, felizmente etc. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!
FLEXÃO NOMINAL DE GÊNERO E NÚMERO. FLEXÃO Flexão dos Substantivos
VERBAL: VERBOS REGULARES E IRREGULARES. VOZES • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
VERBAIS. EMPREGO DOS MODOS E TEMPOS VERBAIS. no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
EMPREGO DOS PRONOMES PESSOAIS E DAS FORMAS uniformes
DE TRATAMENTO. EMPREGO DO PRONOME RELATIVO.
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
EMPREGO DAS CONJUNÇÕES E DAS PREPOSIÇÕES
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
CLASSES DE PALAVRAS – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
Substantivo epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.  macho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
Classificação dos substantivos que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
sua estrutura. macaco/sabão o/a estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/ – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
são formados por mais de um porta-voz/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
radical em sua estrutura. pé-de-moleque
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/ • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
são os que dão origem a mundo/ diminutivo.
outras palavras, ou seja, ela é população – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
a primeira. /formiga – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 
são formados por outros populacional/formigueiro
radicais da língua.
Adjetivo
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo:
designa determinado ser /Brasil imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão com-
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da posta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por
espécie. São sempre iniciados Liberdade preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo:
por letra maiúscula. golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vesper-
tino).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário, vá-
Variáveis
ria, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser va-
riáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às ocul-
tas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
SINTAXE DE COLOCAÇÃO. COLOCAÇÃO PRONOMINAL Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono- Exemplos:
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma Devo-lhe dizer a verdade.
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou Devo dizer-lhe a verdade.
após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- do auxiliar ou depois do principal.
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Exemplos:
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele. Não lhe devo dizer a verdade.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem Não devo dizer-lhe a verdade.
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
dique a eufonia da frase. o pronome átono ficará depois do auxiliar.
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
Próclise
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do
auxiliar.
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade. Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
cientemente. Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: do infinitivo.
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Exemplos:
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui. Hei de dizer-lhe a verdade.
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada. Tenho de dizer-lhe a verdade.
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante- Observação
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita! Devo-lhe dizer tudo.
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se- Estava-lhe dizendo tudo.
jam reduzidas: Percebia que o observavam. Havia-lhe dito tudo.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in- CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL
tentos são para nos prejudicarem.
Concordância Nominal
Ênclise Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto-
indicativo: Trago-te flores. sa.
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- Casos Especiais de Concordância Nominal
posição em: Saí, deixando-a aflita. • Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: alerta.
Apressei-me a convidá-los.
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma-
Mesóclise ção de palavras compostas:
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no • Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de
futuro do pretérito que iniciam a oração. acordo com o substantivo a que se referem:
Dir-lhe-ei toda a verdade. Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.
Far-me-ias um favor?
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan-
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. do advérbios:
Eu lhe direi toda a verdade. Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou
Tu me farias um favor? meia dúzia de ovos.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio: Situado a, em, entre
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.
Ajudar (a fazer algo) a
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Aludir (referir-se) a
substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. Aspirar (desejar, pretender) a
Assistir (dar assistência) Não usa preposição
Concordância Verbal
Deparar (encontrar) com
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Implicar (consequência) Não usa preposição
mes. Lembrar Não usa preposição
Concordância ideológica ou silepse Pagar (pagar a alguém) a
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Precisar (necessitar) de
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
contexto. Proceder (realizar) a
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Responder a
Blumenau estava repleta de turistas.
Visar ( ter como objetivo a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
pretender)
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
texto. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- QUE NÃO ESTÃO AQUI!
sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto. EMPREGO DO ACENTO DA CRASE
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos. A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
demonstrativo.
REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)

• Regência Nominal  • Devemos usar crase:


A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- – Antes palavras femininas:
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar- Iremos à festa amanhã
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- Mediante à situação.
mento é estabelecida por uma preposição. O Governo visa à resolução do problema.

• Regência Verbal – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”


A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).  locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
Isto pertence a todos. Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
Regência de algumas palavras vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
Mas... há crase, sim!
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
Esta palavra combina com Esta preposição
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
Acessível a
Apto a, para – Expressões fixas
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
Atencioso com, para com crase:
Coerente com à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von-
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
Conforme a, com pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
Dúvida acerca de, de, em, sobre direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
didas, à medida que, à proporção que.
Empenho de, em, por
• NUNCA devemos usar crase:
Fácil a, de, para, – Antes de substantivos masculinos:
Junto a, de Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
pé.
Pendente de
Preferível a
Próximo a, de
Respeito a, com, de, para com, por

32
LÍNGUA PORTUGUESA
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou plural) usado em sentido generalizador:
Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a homem.

– Antes de artigo indefinido “uma”


Iremos a uma reunião muito importante no domingo.

– Antes de pronomes
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa.

Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.


A quem vocês se reportaram no Plenário?
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.

– Antes de verbos no infinitivo


A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.

NEXOS SEMÂNTICOS E SINTÁTICOS ENTRE AS ORAÇÕES, NA CONSTRUÇÃO DO PERÍODO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo. 


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio! 

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção. 
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.

33
LÍNGUA PORTUGUESA
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela  ora  quer comer hambúrguer,  ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante,  portanto  não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar,  ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

34
LÍNGUA PORTUGUESA

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organi-
zar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns sinais
gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ...
]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão duplo
[ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de
oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ponto de interrogação ( ? ) Vírgula
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Você vai à festa? disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
vírgula:
Ponto de exclamação ( ! ) 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- mos” o momento certo de fazer uso dela.
tiva. 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Ex: Que bela festa! alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Reticências ( ... ) cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor menos importante e que pode ser colocada depois.
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo. Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
Ex: Essa festa... não sei não, viu. dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
Dois-pontos ( : ) Maria foi à padaria ontem.
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. Sujeito Verbo Objeto Adjunto
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. re por alguns motivos:
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
Ponto e vírgula ( ; ) 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o verbo e o adjunto.
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
ração (frequente em leis), etc. comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- é necessária:
bém uma linda decoração e bebidas caras. Ontem, Maria foi à padaria.
Maria, ontem, foi à padaria.
Travessão ( — ) À padaria, Maria foi ontem.
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir sário:
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de ção.
um diálogo, com ou sem aspas. Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. serem observadas na redação oficial.
• Separa aposto.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico • Separa vocativo.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in- Brasileiros, é chegada a hora de votar.
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- • Separa termos repetidos.
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados Aquele aluno era esforçado, esforçado.
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
rem uma nova inserção. ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go- ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
vernador) efeito, digo.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
Aspas ( “ ” ) ou seja, de fácil compreensão.
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para tos).
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Separa orações coordenadas assindéticas.
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
ideias na cabeça...

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Isola o nome do lugar nas datas. 2. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
fato.
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões gênero textual editorial.
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
mações comprovam, etc. que se trata de uma reportagem.
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
nizar o problema. se trata de um editorial.
Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta.
EXERCÍCIOS (B) Somente a II é incorreta.
(C) Somente a III é correta
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é (D) A III e IV são corretas.
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
se fundamenta em intertextualidade é: 3. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ain-
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido da suja o Brasil”:
há muito tempo.” I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se no desenvolvimento do assunto.
mete onde não é chamada.” II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente blemas no uso de conjunções e preposições.
mesmo!” III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, de palavras e da ordem sintática.
tudo bem.” IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” temática e bom uso dos recursos coesivos.
Analise as assertivas e responda:
Leia o texto abaixo para responder a questão. (A) Somente a I é correta.
A lama que ainda suja o Brasil (B) Somente a II é incorreta.
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) (C) Somente a III é correta.
(D) Somente a IV é correta.
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- Leia o texto abaixo para responder as questões.
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio UM APÓLOGO
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- Machado de Assis.
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- — Deixe-me, senhora.
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos der na cabeça.
se tornou uma bomba relógio na região.” — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris- Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se- o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos outros.
16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições — Mas você é orgulhosa.
de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar — Decerto que sou.
órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta — Mas por quê?
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um ama, quem é que os cose, senão eu?
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida- que quem os cose sou eu, e muito eu?
de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju- — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz daço ao outro, dou feição aos babados…
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- mando…
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL — Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…

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LÍNGUA PORTUGUESA
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a e mando...” (L.14-15)
isto uma cor poética. E dizia a agulha: (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo abaixo e acima.” (L.25-26)
e acima… (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- 5. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até o seguinte par de palavras:
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (A) estrondo – ruído;
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (B) pescador – trabalhador;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (C) pista – aeroporto;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (D) piloto – comissário;
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, (E) aeronave – jatinho.
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
perguntou-lhe: 6. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para -vermelho.
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
Vamos, diga lá. fra-assinado.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é trarregra.
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, -mencionado.
fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- 7. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna-
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
muita linha ordinária! (A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
4. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis (C) “sérios”, “potência”, “após”.
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique (E) “solidária”, “área”, “após”.
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
elementos dos textos: 8. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
palavra primitiva foi formada respectivamente é:
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
tica (en + trist + ecer);
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
(en + triste + cer);
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
tética (en + trist + ecer);
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
xal (des + entristecer);
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
ca (des + entristecer).

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LÍNGUA PORTUGUESA
9. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na 14. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana-
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- lise sintaticamente a oração em destaque:
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli- “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
nhados classificam-se, respectivamente, em sados” (Machado de Assis).
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo. (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo. (B) oração subordinada adverbial causal.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome. (C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo. (D) oração coordenada sindética conclusiva.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio. (E) oração coordenada sindética explicativa.

10. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- 15. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a mente correta a pontuação do seguinte período:
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
acima, na ordem dada, as expressões: pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
(A) a que – de que; nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
(B) de que – com que; sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(C) a cujas – de cujos; (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
(D) à que – em que; pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
(E) em que – aos quais. providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
importância, ditam o rumo de toda a história.
11. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor- pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
reta. providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo. sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros. (D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas
35% deles fosse despejado em aterros. providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. importância, ditam o rumo de toda a história.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta (E) Os personagens principais de uma história, responsáveis,
de lixo. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque-
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
12. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração sem importância, ditam o rumo de toda a história.
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas GABARITO
locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
marcada com o acento, EXCETO em:
(A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do 1 E
eleitorado pelo resultado final.
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema. 2 C
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú- 3 D
vel.
4 E
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
tema. 5 E
6 D
13. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer 7 A
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas 8 A
orações. 9 B
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
sativa. 10 A
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva. 11 E
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
12 D
tiva.
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu- 13 C
tiva. 14 E
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
bial consecutiva. 15 A

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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO

Essa desigualdade absurda é reflexo de um governo que não


ASPECTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO – O PEN- tem princípios com a educação. Vem de uma cultura onde o gover-
SAMENTO PEDAGÓGICO MODERNO: ILUMINISTA, no é favorecido com a ignorância de seu povo. Onde a educação
POSITIVISTA, SOCIALISTA, ESCOLA NOVISTA, FENO- acaba por fazer o que a classe dominante lhes impõe.
MENOLÓGICO - EXISTENCIALISTA, ANTIAUTORITÁRIO,
CRÍTICO A Indústria Cultural e sua interferência na realidade da Edu-
cação contemporânea
A educação brasileira tem seus pontos altos e baixos, infeliz-
A Filosofia é um estudo relacionado à existência, ao conheci- mente a educação não é de qualidade para todo o indivíduo, pois
mento, a verdade, aos valores morais e estéticos, a mente e a lin- a realidade social em que cada individuo se insere é diferente, a
guagem. Seus métodos estão caracterizados pela argumentação. desigualdade social faz com que uns tenham uma educação de nível
Sua importância para a compreensão da sociedade e do mundo e outros não, ou seja, educação de qualidade é para poucos.
é para quebrar barreiras para que o indivíduo através de seu esforço
obtenha um estado pleno de satisfação, ocasionando um momento Segundo Otaíza de O. Romanelli (1986, p. 23), a educação no
de felicidade. Brasil é profundamente marcada por desníveis e, por isso, a ação
Através da argumentação podemos quebrar as barreiras dos educativa se processa de acordo com a compreensão que se tem
nossos preconceitos, ideias erradas, de nossa realidade que não da realidade social em que se está submerso. Nesse processo, dois
queremos mudar. Melhoramos nossas ideias, decisões e agimos aspectos se distinguem: o gesto criador – que resulta do fato de o
melhor, já que nossas ações se baseiam naquilo que pensamos. homem “estar-no-mundo e com ele relacionar-se” transformando-
Já os problemas que a filosofia apresenta ajudam-nos a com- -o e transformando-se; e o gesto comunicador– que o homem exe-
preender melhor o mundo, fazendo-nos ter uma atitude critica em cuta e, assim, transmite a outros os resultados de sua experiência.
relação às respostas e soluções apresentadas para os problemas da Como podemos ver a educação brasileira sofre muitos impac-
sociedade, com o objetivo de termos um mundo cada vez melhor tos, dentre eles o da política, onde quem quer entender a educação
para todos. não poderá jamais ignorar tais questões, pois estão diretamente
Mas enfrentamos grandes dificuldades para implementar esta envolvidas no processo educativo, já que se apresenta como um
disciplina no currículo escolar por diversos motivos. jogo que mostra uma realidade deturpada, colocando-se assim aci-
Por parecer ser uma disciplina de resultados substancias, por ma de prioridades educativas, pois os interesses dos poderosos me-
acreditar ser uma disciplina especulativa, que lida com problemas nosprezam o que realmente tem valor no contexto social em que o
que ninguém sabe resolver. Então o que ensinar? Como lidar com a homem é inserido.
diversidade de teorias defendidas? Qual a competência e conteúdo Outro fator não menos importante e cada dia mais real no meio
central? educativo que deve ser levado em conta, mas ainda não é reconhe-
Temos também a cultura autoritária, onde encontramos dificul- cido é a indústria Cultural que a cada dia que passa com a globaliza-
dade em questionar os grandes filósofos do passado, onde apenas ção vem sendo inserida em várias áreas sociais, invadindo também
poderemos estudar e expor as ideias de tal filosofo, sendo assim, o contexto escolar e não percebemos tal influência por que tam-
estaremos estudando a historia da filosofia. bém já fomos dominados pela indústria cultural.
Filosofar não é fazer relatórios sobre o que os filósofos pensam,
e sim, fazer o que os filósofos fazem. Indústria Cultural é um termo concebido pelos teóricos Ador-
no e Horkheimer
O contexto da Educação no século XXI e as desigualdades so- Segundo Adorno e Horkheimer o produto cultural perde seu
ciais brilho, sua unicidade, sua especificidade de valor de uso quando se
A educação no século XXI tem como objetivo a transformação transforma em valor de troca, assim dissolvendo a verdadeira arte
social, onde o educador provocará no educando o busca pela des- ou cultura, portanto acaba por cegar os homens da modernidade
coberta, pela pesquisa, por solucionar problemas. de massa, ocupando assim o espaço vazio que ficou deixado para o
Mas essa realidade ainda está longe do alcance de todos os lazer, fazendo-nos ser irracionais e não percebermos a injustiça do
alunos. Percebemos claramente a desigualdade na educação entre sistema capitalista. Para que a população tenha fácil acesso a Indús-
os que têm um poder aquisitivo maior e os que dependem de uma tria Cultural tem-se a televisão, ela chega ás escolas quer através de
educação custeada pelo governo. programas do governo ou levada pelos próprios gestores, professo-
Já temos salas de aulas interativas, onde o aluno é um desco- res, alunos e funcionários escolares.
bridor, um solucionador de problemas, um pesquisador e critico. Em fim a Indústria Cultural já esta inserida no cotidiano do ser
Enquanto em outros lugares, a realidade é que muitas escolas humano, e este não cosegue mais viver sem consumir tudo que lhe
nem tem carteiras e cadeiras escolares adequadas, salas de aula é oferecido através da mídia.
equipadas, livros didáticos, professores preparados.

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Com isso a própria escola acaba criando pequenos consumido- cuja tônica dar-se-ia pelo desenvolvimento técnico e burocrático,
res, fazendo-os querer cadernos, agendas de marcas renomadas, de produção e científico das sociedades européias modernas e da
Hello Kit, Xuxa, Justin Beaber entre outros, isso quando a própria América do Norte no século XIX, ainda o pensamento racional. Para
escola, no caso, as particulares adotam o uso obrigatório de agen- Narodowski: a revolução industrial necessita tornar suas a física de
das. Galileu, os princípios matemáticos newtonianos, a química de La-
Com tudo isso esquecemo-nos de fazer uso da Filosofia da Edu- voisier e a astronomia de Kepler, pois são esses os princípios teóricos
cação que aprendemos nos cursos de formação, esquecemo-nos que se encontram em condições de acudir para resolver as questões
de colocar em prática os ensinamentos aprendidos nos tornando de tecnologia aplicada que irão se suscitando com base nos pro-
pessoas manipuláveis sem que saibamos dialogar com aquilo que blemas gerados pela produção de mercadorias em grande escala.
lemos e fazemos deixando de refletir e analisar profundamente Os fundamentos dessas ciências haviam preexistido a seu uso tec-
nosso comportamento. nológico concreto durante dois séculos, mas foi necessário que um
sujeito social - nesse caso, a burguesia industrial européia - pudes-
A teoria de Pierre Boudieu vem mostrar a realidade da edu- se absorvê-los e ressignificá-los de um modo particular e conforme
cação no Brasil suas necessidades históricas (p.2).
Até que ponto a teoria do autor se aplica à nossa realidade? O mundo Ocidental gradativamente passou a substituir a fé, as
A desigualdade na educação cada vez mais vem se destacando trocas simbólicas graciosamente vindas das dádivas da natureza,
a olhos vistos, devido a vários motivos descritos por Pierre Boudieu, ou vindas de dádivas da Igreja pela ordem política, cultural, cien-
realmente sendo o papel da escola não transformar, e sim, reprodu- tífica e de trabalho do projeto de modernidade fundamentado no
zir e reforçar as desigualdades sociais. contrato social entre homens livres visando o bem comum. As re-
Sem incentivo e investimento por parte do governo, as escolas presentações da pedagogia moderna estão nesse espaço/tempo de
e educadores enfrentam a realidade de cada aluno e comunidade idéias das primeiras descobertas de um humanismo europeu que
onde está localizada a escola, fazendo com que o conhecimento, aos poucos romperia com o humanismo católico. Na verdade desde
postura e habilidades que o aluno traz da vida sejam reproduzidos os Trezentos e Quatrocentos, segundo Manacorda (1992), a socie-
na sala de aula, ao invés da escola começar do zero e superar as dade ensaiava mudanças, pois já estavam instalados os alicerces da
deficiências de conhecimento de cada aluno. modernidade, por exemplo, o progresso científico vindo das primei-
ras Escolas que originaram as primeiras Universidades, em 1300,
Temos salas de aulas superlotadas, poucos professores e pro- mesmo essas tendo sido orientada pelo catolicismo. É esse o marco
fessores com muitas disciplinas, sem tempo ou condição de investi- temporal que repousavam os primeiros mestres livres, localizados
rem melhor em suas atuações em sala de aula. em cidades comunais que protagonizaram a instrução dos artesãos
Hoje em dia temos ONGs e movimentos de pessoas com po- e mercadores, da aprendizagem matemática pelos livros de conta-
der aquisição melhor, para incentivar pequena parte de crianças a bilidade, cuja prática pedagógica livre visava à formação escolástica
terem aulas de reforço e complementação curricular, para diminuir e ainda a profissionalizante. Estaria nesse período, sobretudo o es-
a desigualdade, lembrando que a parte atingida é muito pequena. pírito do humanismo moderno (Capítulo VI a VII), um humanismo
Vemos que a cada dia as famílias que tem condições financei- que, segundo Manacorda, fazia
ras estáveis, transferirem seus filhos para escolas particulares, para “autocrítica dos seus aspectos pedantescos e fossilizantes, liga-
terem uma educação melhor. dos ao mero culto formal das letras e das palavras, ao novo confor-
Realmente o pessimismo de Bourdieu tem fundamentos con- mismo gramatical e estilístico (...) amplia-se o próprio quadro de
cretos de que a competição escolar tomou âmbito incontornável, atenção das palavras às coisas, do mundo antigo à atualidade, ou
sem perspectivas de superação, por motivos culturais e governa- como diz Machiavelli, da ‘contínua lição dos antigos’ à “observação
mentais.1 da realidade efetiva’ e interferem autorizadamente junto ao poder
político para sugerir uma nova e diferente organização da cultura e
Pensamento Pedagógico Moderno da instrução (p.185).
O pensamento pedagógico moderno caracteriza-se pelo realis- Para Sacristán (1999) a educação é tida como ideal de progres-
mo. so. Como utopia de modernidade cultural e material, a educação
A educação e a ciência eram consideradas um fim em si mes- ganha discussão central em meio intelectual, cuja defesa pela esco-
mo. larização das massas em bases da ciência era o mote para as socie-
O Pensamento Pedagógico Moderno foi sendo estruturado dades modernas alcançarem a melhoria nas condições produtivas
num contexto de transformações sob diferentes dimensões da vida e de existência. Portanto, tornou-se uma perspectiva da sociedade
social. Estariam lançadas as primeiras idéias culturais e científicas entre os séculos XVII a XIX alcançar o ideal de universalização da
que comporiam um conjunto de instituições de socialização e de educação como pressuposto de avanços nos conhecimentos téc-
produção do conhecimento que nos acostumamos a compreender nicocientíficos, mas também no desenvolvimento tanto material
como estruturas do mundo moderno. quanto espiritual da humanidade. (p.151).
Do ponto de vista epistemológico, de uma filosofia do conhe-
cimento, pode-se dizer que o primado da razão e da luz, naquele A Educação na Modernidade: algumas ideias
tempo/espaço estabeleceu-se a partir de idéias literárias e científi- Objetivamos nesse trabalho demonstrar as raízes/relações
cas Renascentistas. Séculos após, o pensamento iluminista (huma- históricosociais do pensamento pedagógico moderno. A história
nista moderno) europeu está pautado em processos significantes das idéias pedagógicas associa-se à idéia de progresso pela via da
de transformações no setor de produção, mas também dos estilos educação como fator de desenvolvimento social, que se daria pela
de consumo de grupos sociais burgueses. Entre os séculos XVII e inclusão dos indivíduos, obviamente respeitando um sistema de
XIX as Revoluções Científicas, Burguesas conduziriam o imaginário hierarquização nos processos de produção capitalista, (industriali-
coletivo para a adoção de uma perspectiva racional de progresso, zação). A racionalização das estruturas (instituições burocráticas)
dependia da disseminação de idéias que consolidariam um imagi-
1 Fonte: www.portaleducacao.com.br

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
nário coletivo de progresso pelo avanço técnico-científico. Assim, a de acordo com o seu desenvolvimento natural (...) a assimilação de
Educação Geral ou Profissionalizante passaram a ser uma “atividade conhecimentos não se dá instantaneamente, como se o aluno regis-
instrucional e instrumental” universalizada para atender os traba- trasse de forma mecânica (...) o método intuitivo consiste, assim,
lhadores livres e filhos, mas não como prática social formadora de na observação direta, pelos órgãos dos sentidos, das coisas, para o
homens partícipes do projeto societário moderno. registro das impressões” (p. 58)
Gadotti (2001), em seu livro sobre as idéias pedagógicas, res- Segundo Gadotti (2001) a idéia central de Comênio era a de
salta que o período compreendido como predominante de uma que: a escola ao invés de ensinar palavras, deveria ensinar o co-
pedagogia moderna (Capítulo 6) representa um estágio em que a nhecimento das coisas. Na visão de Manacorda (1992) no plano do
educação se configuraria na perspectiva de caráter intencional ou pensamento pedagógico e da prática didática, o mérito de Comê-
instrucional. Um processo sociocultural de muitas mudanças nas nio estivera na pesquisa e na valorização de todas as metodologias
instituições tradicionais, pois o que era ensinado em muitos locais de ensino que na atualidade chamaríamos de método ativo e que
fora considerado obsoleto ou tendencioso, uma vez que no início a desde os primeiros passos do humanismo começaram a ser expe-
educação intencional esteve a serviço da classe dominante, o clero rimentadas.
e a monarquia. Neste contexto, é que John Loke é tido como um dos importan-
Na visão de Moacir Gadotti a mudança deu-se por descobertas tes pensadores da política e da sociedade moderna, combatendo o
dos primeiros humanistas mais desapegados do humanismo católi- inatismo, segundo Manacorda, ele disse que nada existe em nossa
co, tais como os ligados às ciências, dentre outros, René Descartes e mente que não tenha origem em nossa própria mente. Por isso va-
a sua grande obra o “Discurso do Método”, que remete aos quatro lorizava a educação das crianças, na medida em que ele entendia
grandes princípios, tais como: “jamais tomar alguma decisão sem ser essa prática educativa infantil uma forma de preparar os adul-
conhecê-la evidentemente como tal; dividir todas as dificuldades tos, que poderiam ser profissionais ou dirigentes, o que para Locke
quantas vezes forem necessários antes de resolvê-las; organizar os remetia a presença do professor numa ação ativa sobre a mente
pensamentos começando pelas mais simples até as mais difíceis; do educando. Para Manacorda “o espírito das novas classes diri-
e fazer uma revisão geral para não omitir nada”. Essas premissas gentes encontrava sua expressão no pensamento de Locke que se
de Descartes constituem hoje como uma visão científica que pode preocupava com a educação do gentleman (...) quanto às classes
ser relativizada, porque estando fora do contexto natural ou social populares, ele se preocupava em prover as crianças, que viviam
daquela época, na atualidade podemos flexibilizar com mais outros dos subsídios paroquiais com base na lei de pobres, com escolas
tradicionais que preparavam para as atividades relacionadas com a
princípios metodológicos, o que nos leva a crer que de acordo com
indústria fundamental do país” (p.225).
os demais fundamentos científicos das diversas áreas das ciências
Para Moacir Gadotti, o pensamento pedagógico moderno ca-
naturais, o paradigma cartesiano não serve como único modelo
racterizava-se pelo realismo, o que pressupunha a universalização
analítico.
da educação para manter o funcionamento das estruturas racio-
Em Manacorda (1992) estão entre os séculos XVI e XVIII as
nais. Assim, as idéias de Francis Bacon dividem as ciências e ainda
idéias que corroboraram para a organização de um pensamento
ressaltavam que saber é poder sobre tudo.
moderno no âmbito da educação. Muitas dessas idéias surgiram em
Ainda, no dizer de Gadotti, de “humanista a educação tornou-
meio a Reforma (Luterana) e a Contra-Reforma Católica, fato que
-se científica (...) o conhecimento só tinha valor quando preparava
acabou por consolidar alguns conhecimentos sobre ensino e apren- para a vida e para a ação”. (p.154). O século XVII traria a luta das
dizagem. Não tardou para que os processos educacionais entre os camadas populares pelo acesso à escola, portanto, a classe traba-
séculos XVII e XVIII balizassem os ensinamentos por meio da ado- lhadora que surgia como livre para vender a sua força de trabalho,
ção de livros e textos literários de, por exemplo, Rabelais, Diderot, podia e devia ter um papel na mudança social. Também neste perí-
Rousseau, Bacon e Locke3. Tal literatura contribuiu para a educação odo, surgiram várias ordens religiosas católicas que se dedicavam à
das crianças fora da visão disciplinador-moralista, o que propiciou educação popular. Muitas dessas escolas ofereciam ensino gratuito
a abertura para uma estrutura pedagógica tal como pressupunha na forma de internato. Tratava-se de uma educação filantrópica e
Rousseau em Emílio. Também contribuiu com a propagação de pro- assistencial.
postas educacionais envolvendo aspectos formativos de natureza Tangenciando o século XIX e início do século XX, por lá o po-
mais científica voltada para a instrução-trabalho, como foi o caso da sitivismo comtiano (Conte) e spenceriano (Spencer) era focado na
profissionalização dos droguistas, herborístas, contadores e boticá- produção dos homens europeus e brasileiros de ciência, letras e
rios, por exemplo. filosofia. A missão desses homens primava pela organização das
Em Libâneo (1992), o protagonista do pensamento pedagógico instituições sociais e políticoburocráticas de ensino-pesquisa. Após
moderno está representado por João Amos Comênio, do século XVII. algumas buscas em autores e dicionários da área de ciências hu-
Como pastor protestante, ligado aos ensinamentos de seu rebanho, manas e sociais, percebemos que, embora muitos dos “Homens de
interessou-se pela teoria didática ao associar processos de ensi- ciência e da política” tivessem se apoiado em Stuart Mill, H. Spen-
no aos de aprendizagem. Ele ficou reconhecido pela obra Didacta cer e C. Darwin, foi principalmente em August Comte onde eles
Magna, tida não apenas como um método pedagógico para ensinar encontraram a matriz de suas formulações empírico-teóricas, que
com rapidez as letras e às ciências, mas, sobretudo, como uma obra sustentaram a pesquisa e ensino das Escolas positivistas do Brasil.
de princípios pedagógicos, psicológicos e filosóficos. Libâneo reme- No Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas
te as idéias de Comênio tangenciando um período de avanços no (1986) encontra-se a explicação sobre a obra de Comte, segunda
campo da Filosofia e das Ciências, como as grandes transformações a qual ele chegou à Lei da Classificação, especulando sobre uma
nas técnicas de produção, em contraposição às “idéias conservado- visão paradigmática de ciências, ordenadamente compreendida em
ras da nobreza e do clero. O sistema capitalista, ainda insuficiente, termos de uma crescente complexidade, indo da matemática, as-
já influenciava a organização da vida social, política e cultural (...) a tronomia, física, química, biologia e sociologia à moral.
Didática de Amos Comênio se assentava nos seguintes princípios: 1) Pode-se destacar como um aspecto interessante na lógica de
a finalidade da educação é conduzir à felicidade eterna com Deus, Comte o fato dele considerar que algumas ciências complexas,
pois é uma força poderosa de regeneração da vida humana. Todos como a biologia, possuíam laços estreitos com a matemática, a quí-
os homens merecem a sabedoria (...) o homem deve ser educado mica, a sociologia e a moral. No entanto, os laços que as uniam só

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
poderiam ser explicados cientificamente pela “superioridade” de trial, onde a idéia de investir na educação da criança exaltaria a
alguns fenômenos em relação aos outros, considerados inferiores. natureza espontânea (Rousseau viu isso) para que a sua psique ao
Segundo Comte, não se reduz a sociedade apenas pelo viés da eco- longo da escolarização aderisse à perspectiva de uma valorização
nomia política ou a elucubrações metafísicas; metodologicamente de instrução para a revolução democrática e científica. A pedagogia
a racionalidade positiva se instala no raciocínio dedutivo-indutivo, moderna caminhou com a idéia de uma nova escola que, por conse-
daí vimos germinar o experimentalismo. Para Comte, portanto, é guinte, seria um laboratório da pedagogia ativa, uma contribuição
necessário “induzir para deduzir a fim de construir. A construção do positivismo e do pragmatismo científico que tal dogma (corrente
constitui a síntese total dos conhecimentos humanos” (p.938). filosófica) preconizaria contra a doxa (popular). A “instrução públi-
A partir das informações do Dicionário, pudemos constatar que ca” ou a “educação popular” se convertem nos conceitos que farão
Comte acreditava no progresso científico como um fator distintivo referência a esta nova fase, já definitivamente consolidada, da es-
da Modernidade e as suas instituições, pois pressupunha que corro- colaridade moderna.
boraria, entre outras coisas, para o progresso da indústria e do co- Todo o enfoque de caráter mais histórico e social aqui aborda-
mércio com vistas à continuidade da vida humana. Naquela época do caracteriza-se como uma tentativa de demonstrarmos algumas
Comte entendia que “o espírito positivo e a noção de humanidade das influências de idéias que circulavam na sociedade Ocidental
poderão criar uma comunhão intelectual que dê novas bases à con- daqueles séculos para a organização do pensamento pedagógico
dição humana. Cheio de otimismo, ele propõe a instituição de um moderno. O estudo dos fundamentos da educação vale para que
comitê positivo, destinado a organizar a república ocidental, o que possamos compreender que mesmo na alta modernidade do sé-
corresponde hoje à comunidade européia” (p.938). culo XXI ainda se fazem presentes nos processos instrucionais do
Muitos teóricos, literatos e cientistas contribuíram para o pen- ensino superior algumas concepções e ações didáticopedagógicas
samento pedagógico moderno nas sociedades Ocidentais, contudo cunhadas nas bases das Revoluções científicas e sociais.2
neste trabalho tratamos a nossa abordagem a partir de uma breve Vejamos agora algumas correntes pedagógicas do pensamento
história das idéias. moderno.
No Brasil e no mundo Ocidental como um todo, para Libâ-
neo as idéias pedagógicas de Comênio, Rousseau, Locke e outros Pensamento Pedagógico Iluminista
formaram a base do pensamento pedagógico europeu moderno, A Idade Moderna (453-1789), período no qual predominou o
difundido depois por todo o mundo, demarcando as concepções
regime absolutista, que concentrava o poder no clero e na nobreza,
pedagógicas que hoje são conhecidas como Pedagogia Tradicional e
teve fim com a Revolução Francesa que já se encontrava no discurso
Pedagogia Renovada. Mas a pedagogia Renovada agrupa correntes
dos grandes pensadores e iluministas (ilustrados-enciclopedistas)
que advogariam pela renovação da Pedagogia Tradicional. A peda-
contra o obscurantismo da Igreja e a prepotência dos governantes.
gogia ocidental de meados e fins do século XIX resolveria os proble-
Destaques Iluministas- JEAN-JACQUES ROUSSEAU
mas colocados pelas discussões com as distintas alternativas e se
(1712-1778)-Inaugurou uma nova era na história da educação,
encaminharia a configurar naquela época o futuro das disciplinas
constituindo um marco entre a velha e nova escola, suas obras são
e campos de estudo pedagógico da escolarização. Nesse proces-
lidas até hoje: Sobre a desigualdade entre os homens, o Contrato
so de uma pedagogia que inicia na modernidade, as experiências
e teorias precursoras originárias nos três séculos (XVI, XVII, XVIII) Social e Emílio.Cabe a Rosseau a relação entre a educação e a po-
deram características típicas à consolidação da pedagogia moderna lítica. Centraliza pela primeira vez o tema da infância na educação.
instalada no século XIX e XX, mas que ainda têm representações em A partir dele a criança não seria mais considerada um adulto em
pleno século XXI. miniatura, considerando ainda que a criança nasce boa, o adulto
A Escola Nova no Brasil (defendida por Anísio Teixeira) e na com sua falsa concepção, é que perverte a criança.Coloca o autor
América do Norte teve muita influência de John Dewey (1859- que o século XVIII é político-pedagógico por excelência, pois neste
1952), que fora um educador e filósofo americano motivado pelo momento as camadas populares reivindicam ostensivamente mais
movimento de renovação da educação. Ele teve inspirações nas saber e educação pública. Pela primeira vez o estado instituiu a
idéias de Rousseau, por exemplo. No entendimento de Dewey a obrigatoriedade escolar (Prússia 1717).
escola não é uma preparação para a vida social e produtiva, é a Na Alemanha cresce a intervenção do Estado na educação,
própria vida, é o resultado da interação entre a vida do indivíduo e criam-seEscolas Normais, princípios e planos que desembocam na
a experiência de estar vivendo. Segundo Libâneo (1992) tal inspira- grande revolução pedagógica nacional francesa no final do século.
ção deveu-se pela abordagem de ensino centrada numa concepção Foi durante os seis anos de Revolução Francesa que se discutiua
nova baseada nas necessidades e interesses imediatos das crianças. formação do cidadão através de escolas.A escola pública é filha da
A luta de Rousseau se contrapunha as práticas escolares moralistas, revolução francesa. Mesmo assim, com o intuito de ser para todos
disciplinadoras e de memorização baseada na educação da Idade ,ainda era elitista:Só os mais capazes podiam prosseguir até a uni-
Média, cuja objetividade era voltada para o poder da religião se in- versidade. O iluminismo procurou libertar o pensamento da repres-
filtrando nas diversas esferas da vida social. são, acentuou o movimento pela liberdade individual buscando
Para Manacorda “a emancipação das classes populares e das refúgio na natureza: O ideal da vida era o “bom selvagem”, livre de
mulheres e expansão da instrução seguem, pois, pari passu”. Nesse todos os condicionamentos sociais. É evidente que essa liberdade
contexto, os sujeitos exigiam mudanças nas condições sociais para só podia ser praticada por uns poucos, aqueles que, de fato,, livres
criação de sistemas de ensino e instrução gratuitos e laicos. A rela- do trabalho material, tinham sua sobrevivência garantida por um
ção educação-sociedade pressupunha dois aspectos fundamentais regime econômico de exploração do trabalho.
“na prática e na reflexão pedagógica moderna: o A idéia da volta ao estado natural do homem é demonstrada
primeiro é a presença do trabalho no processo de instrução pelo espaço que Rosseau dedica à descrição imaginária da socie-
técnicoprofissional, que tenderia para todos (...) o segundo foi à dade existente entre os homens primitivos, usando como exemplo
descoberta da psicologia infantil com as suas experiências ‘ativas’“ os índios que viviam nas Américas. A educação não deveria apenas
(p.305). Então a “nova escola” moderna estaria no século XIX e XX instruir, mas permitir que a natureza desabrochasse na criança; não
centrada nas possibilidades de preparar homens para o desenvol- deveria reprimir ou modelar. Assim, Rosseau é o precursor da es-
vimento objetivo das capacidades produtivas da Revolução Indus-
2 Fonte: www.ia.ufrrj.br

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
cola nova, que inicia no século XIX e teve grande êxito na primeira PESTALOZZI (1746-1827) desejava a reforma da sociedade atra-
metade do século XX, sendo ainda hoje muito viva, tendo influen- vés da educação das classes populares, mas ele não foi apenas um
ciado educadores da época como Froebel.É de Rosseau a idéia de teórico, pois ele mesmo colocou-se aserviço de suas idéias criando
dividir a educação em três momentos: o da infância(idade da natu- um instituo para crianças órfãsdas camadas populares, onde mi-
reza - até 12 anos), o da adolescência(idade da força, da razão e das nistrava uma educação em contato com o ambiente imediato, se-
paixões-12 aos 20 anos) e o da maturidade(idade da sabedoria e do guindo objetiva, progressivae gradualmente um método natural e
casamento dos 20 aos 25 anos). É através de Rosseau que a escola harmonioso .Mas ele fracassou em seu propósito, não obteve os
passa do controle da Igreja para o Estado. Foi através do crescente resultados esperados, mas suas idéias são debatidas até hoje e al-
poder da sociedade econômica que a burguesia estabeleceu o con- gumas foram incorporadas à pedagogia contemporânea.
trole civil, não religioso da educação. HERBART (1776-1841) foi professor universitário, mais teórico
Exigências populares fizeram parte da Revolução francesa, en- do que prático, é considerado um dos pioneiros da psicologia cientí-
tre elas um sistema educacional, a Assembléia Constituinte de 1789 fica. Dividiu o processo de ensino em quatro passos formais:
elaborou o projeto de CONDORCET (1743-1794) que propôs o ensi- 1º) Clareza na apresentação do conteúdo(demonstração do
no universal para eliminar a desigualdade. Porém a educação pro- objeto);
posta não era exatamente a mesma para todos, pois considerava 2º) Associação de um conteúdo com outro assimilado anterior-
a desigualdade natural entre os homens. Condorcet foi partidário mente pelo aluno(etapa da comparação);
da autonomia do ensino: cada indivíduo deveria conduzir-se por 3º) Ordenação e sistematização dos conteúdos(etapa da gene-
si mesmo, era ardoroso defensor da educação feminina para que ralização);
as mães pudessem educar seus filhos. Ele considerava as mulheres 4º) Aplicação a situações concretas dos conhecimentos adqui-
mestras naturais. A educação impulsionada pela Revolução France- ridos(etapa da aplicação);
sa, através da burguesia tinha clareza do que queria da educação:
E ainda os objetos deveriam ser apresentados segundo os in-
trabalhadores com formação de cidadãos partícipes de uma nova
teresses dos alunos e segundo suas diferenças individuais, por isso
sociedade liberal e democrática. No final a própria revolução recu-
seriam múltiplos e variados.
sou o programa de educação universal criada por ela mesma.
O idealizador dos jardins de infância foi FROEBEL (1782-1852).
Embora a doutrina francesa tenha ascendido com idéias de li-
Para ele o desenvolvimento da criança dependia de uma atividade berdade, para a burguesia nascente a liberdade servia para outro
espontânea (o jogo), uma atividade construtiva (o trabalho manual) fim: a acumulação de riqueza. Se de um lado havia a idéia dos ilu-
e um estudo da natureza. Através da expressão corporal, o dese- ministas intelectuais que fundamentavam a noção de liberdade na
nho, o brinquedo, o gesto, enfim a auto-atividade representava o própria essência do homem, de outro Aldo a burguesia entendia
método e a base de toda a instrução. Froebel inspirou fabricantes como a liberdade em relação aos outros homens. Surge a idéia da
de brinquedos, bem como a expansão de jardins de infância fora da livre iniciativa sempre associada a idéia de liberdade.Para os libe-
Europa. John Dewey, um dos fundadores do pensamento escalono- rais os homens tem diferentes níveis de riqueza, pois são diferentes,
vista, também foi por ele influenciado. pois basta ter talento e aptidão, associados ao trabalho individual,
para adquirir propriedade e riqueza.
Mas nesta escola européia, a burguesia percebeu a necessida-
de de oferecer instrução mínima, para a massa trabalhadora, sendo Embora constituída de grandes idéias, a nova classe mostrou
que a educação se dirigiu para a formação do cidadão disciplinado. muito cedo, ao apagar das luzes das Revoluções de 1789, que não
EMANUEL KANT, alemão, (1724-1804) outro grande teórico estava de todo sem eu projeto a igualdade os homens na sociedade
que obteve nesse período reconhecimento, foi Descartes susten- e na educação. Uns acabaram recebendo mais educação do que ou-
tando que todo o conhecimento era inato e Locke que todo saber tros. Aos trabalhadores diriam ADAM SMITH (1723-1790), econo-
era adquirido pela experiência. Kant supera essa contradição, mes- mista político burguês, será preciso ministrar educação apenas em
mo negando a tória platônico-cartesiana das idéias inatas, mostrou conta-gotas. A educação popular deveria fazer com que os pobres
que algumas coisas eram inatas, como a noção de tempo e espaço, aceitassem de bom grado a pobreza, como afirmara o PESTALOZZI.
que não existem como realidade fora da mente, mas apenas como Assim, essa concepção dualista: à classe dirigente a instrução pra
formas para pensar as coisas apresentadas pelos sentidos. Kant era governar e à classe trabalhadora a educação para o trabalho, dando
um admirador de Rousseau, acreditava que o homem é o que a origem no século XIX ao pensamento pedagógico positivista.3
educação faz dele através da disciplina, da didática, da formação
moral e da cultura. No Pensamento Pedagógico Iluminista Jean Jacques Rousseau
Kant (descobriu o que a ciência moderna considera como acul- (1712-1778) resgata a relação entre a educação e a política. Centra-
liza, pela primeira vez, o tema da infância na educação.
turação, socialização e personalização) não considerava espaço,
A partir dele, a criança não seria mais considerada um adulto
tempo, causalidade e outras relações como realidades exteriores.
em miniatura: ela vive em um mundo próprio que é preciso com-
Outros filósofos como HEGEL (1770-1831) acabaram negando a
preender.
existência de qualquer objeto fora da mente: é o idealismo subjeti-
A criança nasce boa, o adulto, com sua falsa concepção da vida,
vo e absoluto que mais tarde será rebatido por Karl Marx. Para Kant é que perverte a criança.
era o sujeito que devia cultivar-se, civilizar-se para assim responder
à natureza. Assim para atingir a perfeição o homem precisa de dis- No pensamento pedagógico Positivista Augusto Comte e Karl
ciplina, que domina as tendências instintivas, da formação cultural, Marx foram dois expoentes, a tendência cientificista ganhou força
da moralização, que forma a consciência do dever e da civilização na educação como desenvolvimento da sociologia em geral, e da
como segurança social. Kant era menos otimista que Rosseau, sus- sociologia da educação. Um dos principais teóricos da sociologia da
tentava que o home não pode ser considerado inteiramente bom, educação foi Emile Durkheim.
mas é capaz de elevar-se mediante esforço intelectual contínuo e
respeito às leis morais.
3 Fonte: www.webartigos.com

45
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Pensamento Pedagógico Positivismo mo nos discentes, seria muito bem-vinda. Além do mais, apesar de
Comte foi o pai do Positivismo, corrente filosófica que busca recebermos pessoas fortemente ligadas à espiritualidade no seu
explicar as leis do mundo social com critérios das ciências exatas e sentido cristão, temos que convir que o espaço escolar é, acima de
biológicas. Foi também o grande sistematizador da sociologia, di- tudo, científico, o que também se encaixa nas acepções de Comte.
vidindo a sociologia em duas áreas: a estática social e a dinâmica A escola, positivista ou não, é o espaço ideal para questionamentos,
social. reflexões, estudos profundos e, consequentemente, conclusões.4
“No entender de Comte, a sociedade apresenta duas leis fun-
damentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a Émile Durkhein (1858 – 1917, um dos principais expoentes na
lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a socie- sociologia da educação, considerava a educação como imagem e
dade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez reflexo da sociedade. A pedagogia seria uma teoria da prática so-
organizada, porém ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste cial.
a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema ‘ordem e Para os pensadores positivistas, a libertação social e política
progresso’” (VASCONCELOS apud LAGAR et al., 2013, p. 18) passava pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, sob o
A defesa do Positivismo é de que somente o conhecimento controle das elites. O positivismo nasceu como filosofia, portanto
científico é verdadeiro, não se admitindo como verdades as afirma- interrogando-se sobre o real e a ordem existente, mas, ao dar uma
ções ligadas ao sobrenatural, à divindade. Relacionado ao último resposta ao social, afirmou-se como ideologia.
caso, Comte chegou a criar uma nova ordem espiritual, onde a di- Segundo o autor, a expressão do positivismo no Brasil inspirou
vindade não seria venerada, somente a humanidade. A sua inspi- a Velha República e o golpe militar de 1964. Segundo essa ideologia
ração para originar essa nova ordem espiritual veio da disciplina e da ordem, o país não seria mais governado pelas “paixões políticas”,
da hierarquia católica, mas, ao mesmo tempo, a sua concepção era mas pela racionalidade dos cientistas desinteressados e eficientes:
totalmente dissociada de todas as religiões cristãs. Essa concepção os tecnocratas.
nasceu do fato de ele considerar a humanidade como sendo uma No Brasil, o positivismo influenciou o primeiro projeto de for-
entidade unitária, cuja por ele batizou-se de Grande Ser. mação do educador, no final do século passado. O valor dado à
As suas observações o levaram a definir três estágios pelos ciência no processo pedagógico justificaria maior atenção ao pen-
quais a sociedade tende a passar: o teológico, o metafísico e o posi- samento positivista.5
tivo ou científico. Estágio teológico é aquele onde as explicações aos
fenômenos até então desconhecidos são atribuídas à divindade, ao
Pensamento Pedagógico Socialista
sobrenatural. Metafísico é o estágio onde o ser humano procura ex-
Foi formado no meio do movimento popular pela democra-
plicar as coisas através de fenômenos naturais, ou seja, a natureza
tização do ensino. A concepção socialista da educação se opõe à
é autossuficiente para explicar as suas próprias manifestações. Já o
concepção burguesa, pois propõe uma educação igual para todos.
Positivo ou Científico, é o estágio onde as explicações, as verdades
As idéias socialistas na educação não são recentes, pois não
absolutas, advêm exclusivamente da ciência.
atendem aos interesses dominantes e muitas vezes são relegadas
a um plano inferior. Platão já relacionava educação com a política,
Educação, Escola e Positivismo
mas foi o inglês Thomas Morus (1478-1535) quem criticou a socie-
Em relação à educação, a ciência positiva de Comte não atendia
dade e propôs a abolição da propriedade, a redução da jornada de
aos critérios hoje esperados pelos novos pensadores da educação,
porém isso não a conduz ao pleno esquecimento, visto que muitos trabalho para seis horas diárias, a educação laica e a co-educação.
dos seus itens são necessários à concepção atual de sociedade, de Inspirado em Rousseau, Graco Babeuf (1760-1796) queria uma
indivíduo, de escola, de educação. escola pública do tipo único para todos, acusando a educação domi-
Apesar da ciência positiva prever a construção do compor- nante de se opor aos interesses do povo e de incutir-lhe a sujeição
tamento altruísta, tendo como fundamento a fraternidade entre a seu estado de miséria.
todos os homens, a gestão e melhorias das suas instituições se Os princípios de uma educação pública socialista foram enun-
dariam, exclusivamente, pela classe da elite científica, o que carac- ciados por Marx e Engels, porém nunca realizaram uma análise sis-
terizava certo monopólio relativo ao poder de controlar o conhe- temática da escola e da educação. Ambos, em seu Manifesto do
cimento que será transmitido através dessas instituições para os partido comunista, defendem a educação pública e gratuita para
seres sociais. todas as crianças.
Na escola positivista a disciplina é reconhecida como funda- Vladimir Ilich Lênin (1870-1924) deu grande importância à
mental obrigação da educação. Os positivistas afirmam que a infân- educação no processo de transformação social. Como primeiro re-
cia é uma fase marcada pelas soluções teológicas dos problemas e volucionário a assumir o controle de um governo, pôs na prática
que somente com as inferências do ensino científico é que a maturi- a implantação das idéias socialistas na educação. Acreditava que
dade do indivíduo será alcançada. Para isso, na escola positivista os a educação deveria desempenhar papel importante na construção
estudos científicos terão plena prioridade sobre os estudos literá- de uma sociedade e que mesmo a educação burguesa era melhor
rios e a educação terá por objetivo principal promover o altruísmo que a ignorância.
e repreender o egoísmo.
Com as contribuições de Comte e do seu pensamento empi- Anatoli Vasilievith Lunatcharski
rista, que considerava apenas os fenômenos que podiam ser ob- (1875-1933) foi o verdadeiro responsável por toda a transfor-
servados, batizando de anticientíficos aqueles que provinham dos mação legislativa da escola russa e o criador dos sistemas de ensi-
processos mentais do observador, a educação passou por aferições, no primário, superior e profissional socialistas. Instituiu o trabalho
tanto dos métodos de ensino como do desempenho do aluno. como princípio educativo, para ele o mais importante na vida es-
Não há como negar as contribuições de Comte para a educa- colar deveria ser o trabalho produtivo, concebido como atividade
ção, inclusive a que é realizada em dias atuais. Se vivemos numa produtiva socialmente necessária. O trabalho é considerado meio
sociedade marcada pela individualidade, pelo egoísmo, um modelo
4 Fonte: www.infoescola.com
de escola e de educação que priorizassem o despertar do altruís-
5 Fonte: www.intervox.nce.ufrj.br

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
pedagógico eficiente quando dentro da escola é planificado e or- esta se insere no bojo da proposta de formação humana omnilate-
ganizado socialmente e levado à diante de forma criativa. Deve ser ral, na qual o trabalho constituirá um complexo com o ensino para
executado com interesse, sem exercer uma ação violenta sobre a “[...] possibilitar o acesso aos conhecimentos historicamente pro-
personalidade da criança. duzidos pela humanidade, em seus aspectos filosófico, científico,
literário, intelectual, moral, físico, industrial e cívico, na perspectiva
Antonio Gramsci de uma formação total de todos os homens” (LOMBARDI, 2010, p.
(1891-1937) afirmou que a coação e a disciplina são necessá- 330).
rias na preparação de uma vida de trabalho, para uma liberdade Verifica-se que a proposta socialista de educação se propõe a
responsável. O princípio muscular-nervoso seria o fundamento de contribuir para a formação de um novo homem – o homem omnila-
uma nova concepção de mundo. teral em oposição à unilateralidade burguesa. Trata-se de uma edu-
A doutrina socialista fundada nas pesquisas de Marx, significa cação que deve propiciar aos homens um desenvolvimento integral
uma construção ética e antropológica, cuja direção é a liberdade. A de todas as suas potencialidades. Para tanto, essa educação deve
classe trabalhadora necessita de uma consciência, uma teoria avan- fazer a combinação da educação intelectual com a produção mate-
çada para realizar essa missão histórica. A escola pode ser o espaço rial, da instrução com os exercícios físicos e destes com o trabalho
produtivo. A defesa e o encaminhamento de tal proposta objetiva,
indicado para essa elaboração.
a eliminação da diferença entre trabalho manual e intelectual entre
“dois mundos”: o mundo dos que formulam, concebem e por isso
Anton Semionovich Marakenko
dominam, e o mundo dos que executam, mas não possuem uma
(1888-1939) propôs a escola única até os 10 anos. Acreditava
compreensão do processo e por isso são dominados. Tal medida ob-
ainda que o incentivo econômico era importante na motivação dos jetiva assegurar a todos os homens uma compreensão integral do
estudantes para o trabalho e, por isso, defendeu o pagamento de processo de produção e consequentemente viabilizar a sua emanci-
salários pelo trabalho produzido na escola. Para ele, o verdadeiro pação. Nessa linha de análise, pode-se perceber que o fim da edu-
processo educativo se faz pelo próprio coletivo e não pelo indivíduo cação atribuído pelo socialismo é diferente daquele atribuído pela
que se chama educador. Onde existe o coletivo o educador pode sociedade em que vivemos – a capitalista – cuja preocupação atual
desaparecer, pois o coletivo molda a convivência humana. De acor- está dirigida a um processo educativo pautado no desenvolvimento
do com Marakenko, ser educador é uma questão de personalidade das competências e habilidades necessárias à inserção do indivíduo
e caráter e não de teoria, estudo e aprendizagem. no mercado consumidor ou, mais especificamente, que atenda às
exigências inerentes ao processo produtivo na atual fase do capi-
Lev Semanovich Vygotsky talismo.7
(1896-1934) trabalhou com crianças com defeitos congênitos,
lecionando numa escola de formação de professores. Deu grande Pensamento Pedagógico Escola Nova
importância ao domínio da linguagem na educação, afirmando que No Brasil, as idéias da Escola Nova foram inseridas em 1882
a linguagem era o meio pelo qual a criança e os adultos sistemati- por Rui Barbosa (1849-1923). O grande nome do movimento na
zavam suas percepções. É através da fala que o homem manifesta América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859-1952). John
seus direitos, participa coletivamente da construção de outra socie- Dewey, filósofo norte americano influenciou a elite brasileira com o
dade e defende seus pontos de vista. movimento da Escola Nova. Para John Dewey a Educação, é uma ne-
cessidade social. Por causa dessa necessidade as pessoas devem ser
Mao Tsé-Tung (1893-1976) conseguiu criar a República Popular aperfeiçoadas para que se afirme o prosseguimento social, assim
da China. A China realizou nos anos 60 uma notável revolução Cul- sendo, possam dar prosseguimento às suas idéias e conhecimentos.
tural, preservando valores socialistas, como o trabalho manual para No século XX, vários educadores se evidenciaram, principal-
todos, a coletivização, a eliminação da oposição cidade - campo e mente após a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação
privilégios de classe. Em 1978, quando acabou a revolução os chine- Nova, de 1932. Na década de 30, Getúlio Vargas assume o governo
ses descobriram a beleza da diferença, voltaram-se para conhecer a provisório e afirma a um grupo de intelectuais o imperativo pedagó-
gico do qual a revolução reivindicava; esses intelectuais envolvidos
si mesmo e todo o mundo.6
pelas idéias de Dewey e Durkheim se aliam e, em 1932 promulgam
No que se refere as ideias de Marx e Engels sobre educação,
o Manifesto dos Pioneiros, tendo como principal personagem Fer-
Manacorda (1989) afirma Quanto ao desenvolvimento da teoria
nando de Azevedo. Grandes humanistas e figuras respeitáveis de
pedagógica, o socialismo de Marx e Engels (1848) assume critica-
nossa história pedagógica, podem ser citadas, como por exemplo
mente todas as bandeiras burguesas: universalidade, gratuidade, Lourenço Filho (1897-1970) e Anísio Teixeira (1900-1971).
estatalidade, laicidade, renovação cultural – o que o marxismo A Escola Nova foi um movimento de renovação do ensino que
acrescenta de próprio além de uma dura crítica à burguesia pela foi especialmente forte na Europa, na América e no Brasil, na pri-
incapacidade de realizar seus programas é a radicalidade dessas meira metade do século XX . O escolanovismo desenvolveu-se no
propostas e uma nova concepção da relação instrução-trabalho. Brasil sob importantes impactos de transformações econômicas,
(MANACORDA, 1989, p. 296). políticas e sociais. O rápido processo de urbanização e a ampliação
Segundo o autor, Marx e Engels não rejeitaram conquistas teó- da cultura cafeeira trouxeram o progresso industrial e econômico
ricas e práticas da burguesia no campo da educação, tais como: uni- para o país, porém, com eles surgiram graves desordens nos aspec-
versalidade, laicidade, estatalidade, gratuidade, renovação cultural. tos políticos e sociais, ocasionando uma mudança significativa no
Pelo contrário, assumiram todas elas. Entretanto, ao defenderem ponto de vista intelectual brasileiro.
as bandeiras burguesas, proferem duras críticas à burguesia pela Na essência da ampliação do pensamento liberal no Brasil,
incapacidade de realizar os seus programas sociais, e propõem a ar- propagou-se o ideário escolanovista. O escolanovismo acredita que
ticulação entre ensino e trabalho como estratégia que possibilitaria a educação é o exclusivo elemento verdadeiramente eficaz para a
garantir o atendimento desses princípios. Quanto à defesa de uma construção de uma sociedade democrática, que leva em considera-
articulação mais orgânica da união instrução-trabalho produtivo, ção as diversidades, respeitando a individualidade do sujeito, aptos
6 Fonte: www.licenciaturageografiauniube.blogspot.com 7 Fonte: www.periodicoseletronicos.ufma.br/

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
a refletir sobre a sociedade e capaz de inserir-se nessa sociedade Principais Filósofos existencialistas
Então de acordo com alguns educadores, a educação escolarizada - Martin Heidegger (1889-1976): descreveu as características
deveria ser sustentada no indivíduo integrado à democracia, o cida- básicas da existência inautêntica, na qual o eu humano é destruí-
dão atuante e democrático. do e arruinado pelos outros. A angústia é o sentimento profundo
que faz o homem despertar da existência inautêntica. Tornando-se
Para John Dewey a escola não pode ser uma preparação para si mesmo, o homem pode transcender, atribuir um sentido à vida.
a vida, mas sim, a própria vida. Assim, a educação tem como eixo Obra filosófica mais importante: Ser e tempo
norteador a vida-experiência e aprendizagem, fazendo com que a - Jean-Paul Sartre (1905-1980): na análise do ser distingue o
função da escola seja a de propiciar uma reconstrução permanente ente em-si (compacto, rígido, imóvel) e o ente para-si (não-estático,
da experiência e da aprendizagem dentro de sua vida. Então, para nãocheio, acessível às possibilidades). O homem é um ente para-si,
ele, a educação teria uma função democratizadora de igualar as possuidor de consciência e liberdade. Defende que não devemos
oportunidades. De acordo com o ideário da escola nova, quando falar na existência de uma natureza universal mas, sim, de uma con-
falamos de direitos iguais perante a lei, devemos estar aludindo a dição humana. A liberdade é o valor fundamental da condição hu-
direitos de oportunidades iguais perante a lei.8 mana. O homem é absoluto, não havendo nada de espiritual acima
dele, não havendo nada superior a ele, sua marcha se depara com
Pensamento Pedagógico Fenomenologia Existencialismo o nada. Lutou pelo socialismo. Obra filosófica mais importante: O
A existência precede a essência. ser e o nada.
Pedagogias da essência
Educadores existencialistas
Propõe um programa para levar a criança a conhecer sistemati-
camente as etapas do desenvolvimento da humanidade.
MARTIN BUBER (1978-1966)
Nascido em Viena e falecido em Jerusalém, é considerado o
Pedagogias existencialistas
mais importante filósofo da religião do nosso tempo. Mediador en-
Propõe a organização e a satisfação das necessidades atuais da
tre o judaísmo e o cristianismo, foi um dos mais notáveis represen-
criança através do conhecimento e da ação.
tantes contemporâneos do existencialismo. Pensador liberal, pro-
duziu obras que representam uma extraordinária contribuição para
Fenomenologia
a reconciliação entre religiões, povos e raças. Sobre sua concepção
Consiste basicamente na observação e descrição rigorosa de
um conjunto de fenômenos tais como se manifestam no tempo ou pedagógica destacam-se três pontos principais. O ponto de partida
no espaço, isto é, como se manifestam,aparecem e se oferecem aos representa a encontro direto entre os homens, o relacionamento
sentidos ou à consciência, em oposição às leis abstratas e fixas des- entre eles, o diálogo entre ‘eu e tu’. Segundo ele, a educação é ex-
ses fenômenos. clusivamente de Deus, apesar de seu discurso humanístico sobre o
educador como ‘formador’ ou sobre a ‘forças criativas das crianças’.
Ação fenomenológica Finalmente, para o pensador, a liberadade, no sentido de indepen-
- Preocupação antropológica; dência, é sem dúvida um bem valioso. Mas não é o mais elevado.
- Método de descrição e interpretação dos fenômenos, dos Quem a considera como valor supremo, sobretudo com objetivos
processos e das coisas pelo que eles são, sem preconceitos. educacionais, perverte-a e a transforma em droga que, com a au-
- Atitude (ir à coisa mesma - Husserl) sência de compromisso, gera a solidão. Principais obras: A vida em
- Fenomenologia e práxis – paralaxe. diálogo; Eu e Tu.

Existencialismo JANUSZ KORCZAK (1878-1942)


Tendência filosófica do século XX com uma visão dramática da O nome real era Henryk Goldszmit, era um judeu polonês, nas-
existência humana (condição específica do homem concreto como cido em Varsóvia em uma família patriota, apaixonada pela língua e
ser no mundo). pela cultura polonesa. Ele foi pouco praticante da religião, mas não
renegou o judaísmo. Consagrou sua vida à luta e pela justiça e pelos
Concepções básicas: o homem representa uma realidade aber- direitos da criança. Dedicou-se de corpo e alma ao orfanato da Rua
ta, inacabada, “lançada” no mundo. A vida humana não é um cami- Krochmalna 92, em Varsóvia, da qual foi diretor, médico e profes-
nho linear para o êxito. Frequentemente é marcada pelo sofrimen- sor. O jornal popular “Nasz Przeglond” (“Nosso Jornal”), em 1906,
to, pela angústia, pelo desespero. convidou-o para preparar uma edição infantil. Korczak criou então
o jornalzinho “Maly Przeglond” (“Pequena Revista”), na qual só
Filósofos inspiradores do existencialismo crianças escreviam para crianças. Ainda estudante iniciou sua obra
- Sören Kierkegaard: considerado o “pai do existencialismo”; literária e continuou a escrever até o trágico final de sua vida. Seus
analisou os problemas da relação existencial do homem com o livros são para e sobre a criança. E sua práxis pedagógico-educacio-
mundo, consigo mesmo e com Deus; a relação com Deus superaria nal deu início a uma revisão de métodos, estrutura da escola, re-
a angústia. lação professor-aluno e pais-filhos. Janusz Korczak tornou-se mito,
- Friedrich Nietzsche: o conjunto de sua obra tem como preocu- por sua dedicação às crianças. Em 1942, os nacistas ocupantes da
pação básica desferir uma crítica profunda e impiedosa à civilização Polônia, lhe ordenaram que conduzisse seus pequenos para a mor-
ocidental; desenvolveu um niilismo baseado na afirmação da “mor- te, prometendo-lhe um salvo conduto após a “tarefa”. Ele recusou,
te de Deus” amparado nos braços de dois meninos, acompanhou seus duzentos
- Edmund Husserl: criador da fenomenologia (investigação da “filhos” até as câmaras de gás do campo de extermínio Treblinka,
consciência e seus objetivos); desenvolveu o conceito de intencio- onde todos morreram. Principais obras: Quando eu voltar a ser
nalidade da consciência criança; Como amar uma criança e O direito da criança ao respeito.
8 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
GEORGES GUSDORF (1912) bertária,que se destacou por ser o mais duro crítico da educação
Filósofo francês, nasceu em Bordeaux. De 1852 até 1977 foi tradicional. Ferrer acreditava na educação como instrumento de
professor da Universidade de Estrasburgo. Combateu o regime na- emancipação do homem das injustiças sociais e de construção de
zista e foi prisioneiro de guerra entre 1940-1945. no campo de con- uma sociedade igualitária. Defendia a Coeducação , um modelo de
centração organizou uma universidade com um pequeno grupo de escola igualitária que não distinguia entre sexos e classes sociais:
intelectuais; nesse período também escreveu o livro A descoberta em sua visão, essa convivência contribuiria para forjar nas novas
de si mesmo. Foi ainda na prisão que elaborou sua tese, defendida gerações um sentimento de igualdade, quebrando os preconceitos
em 1948, sobre a “experiência humana do sacrifício”. A principal de gênero e de classe.
educativa de Gusdorf, Professores, para quê?, foi escrita em 1963.
Nesse livro, ele se pergunta se ainda há lugar para o professor em O educador sustentava a implantação de uma pedagogia racio-
plena era da televisão e dos meios modernos de comunicação. nal e científica: em sua obra mais importante, La escuela moderna,
Diante de uma instrução de massa, ele terminava por reafirmar afirmava que a ignorância e o erro representavam as raízes das de-
a relação cotidiana e bipolar de pessoa a pessoa entre mestres e sigualdades e dos conflitos de classes.
discípulos. Para ele, todos os meios pedagógicos não produziram
a comunicação, se entre professor e aluno não existir a igualdade Para mudar essa realidade, era necessário – em sua visão – es-
de condições e reciprocidade que caracterizam o diálogo. Mestres timular a criança a desejar conhecer as origens das injustiças sociais
e discípulos estão sempre em busca da verdade, e é desta relação para que mais tarde, por meio do conhecimento adquirido, pudesse
com a verdade que nasce a autoridade do mestre: denuncia as uni- combatê-las. A educação, para Ferrer, fazia parte de um processo
versidades modernas porque se perdem na preocupação quantita- revolucionário de transformação social e sua finalidade era a for-
tiva da eficiência e especialização. De acordo com o filósofo, a peda- mação de homens livres. Para atingir esse objetivo, os processos
gogia fundamenta-se na antroplogia: o homem precisa da educação educativos deviam abolir qualquer prática coercitiva e repressiva,
porque ele é essencialmente inacabado. Gusdorf valoriza na antro- de forma a estimular a disciplina natural , baseada não na obediên-
pologia o estudo do mito e da linguagem: o homem se diferencia do cia cega, mas em uma tomada de consciência.
animal porque fala. Principais obras: A palavra; A universidade em
questão e Professores, para quê?. Segundo o pedagogo, os alunos que se rebelavam às injusti-
ças do sistema educativo estavam exercendo uma reação legítima.
CLAUDE PANTILLON (1938-1980) Outro expoente de destaque da pedagogia antiautoritária, desta
Nasceu na Suíça, em 1938. Depois de ter concluído seu bara- vez em uma perspectiva liberal, foi o inglês Alexander Neill que,
chelado na Sorbonne (1956), prosseguiu seus estudos em Paris, inspirando-se na psicanálise de Freud e em outras influências da
psicologia da primeira metade do século XX, colocava o princípio da
onde teve a chance de acompanhar os grandes mestres do mo-
não-violência como pressuposto essencial do processo educativo.
mento: Piaget, Deleuze, Gaston e Suzanne Bachelard e Ricouer.
Licenciou-se em psicologia, filosofia e sociologia, sob a orientação
Segundo o educador, que experimentou suas concepções no
de Paul Ricouer. Desde 1961, instalou-se em Genebra, onde repatiu
célebre internato britânico Summerhill que fundou em 1921, se a
seu tempo entre o magistério na universidade e o centro de epis-
criança crescesse em plena liberdade, sem qualquer forma de co-
temologia genética. Em 1974, criou o Centro de Filosofia da Edu-
erção, de direção autoritária e de influência moral ou religiosa, mas
cação, com o seu assitente Moacir Gadotti, antes de tudo, lugar de
aprendendo a respeitar a liberdade do outro a partir da convivên-
encontros, de abertura, de reflexões fundamentais sobre educação
cia, ia se tornar espontaneamente um sujeito solidário e feliz. Neill
e novos questionamentos. Pantillon dirigiu com seu entusiasmo e acreditava, portanto, que a própria liberdade exercesse uma força
sua energia, o Centro até a sua morte em 7 de fevereiro de 1980. construtiva, conduzindo por si só a criança a aprender e a viver de
Principais obras: Une philosophi de l’éducation. Pour que faire?; forma rica e significativa.
Changer l’éducation.9
O psicoterapeuta norte-americano Carl Rogers foi também um
Pensamento Pedagógico Antiautoritário educador e defendeu uma pedagogia não-diretiva . Todo processo
Na primeira metade do século XX, sob a influência do pen- educativo, segundo ele, devia centrar-se na liberdade da criança e
samento pedagógico socialista e o da Escola Nova, surgem visões não nas exigências do educador, nem no conteúdo programático.
educacionais que Gadotti (2008) classifica como expressões de um
pensamento pedagógico antiautoritário , que incluiu tanto educa- Considerava que o clima psicológico criado por um ambiente
dores de inspiração liberal como marxistas. Essa corrente se ins- livreestimulava o desenvolvimento cognitivo e psíquico pleno do
pirou profundamente na psicanálise, um conjunto de concepções sujeito e que uma aprendizagem era significativa na medida em
sobre a psique humana e de métodos para abordá-la elaborado por que fosse importante para a totalidade do educando. Era preciso,
Sigmund Freud, especialmente em duas idéias: a da transferência, para Rogers, estimular esse tipo aprendizagem, posto que – em
que levou alguns pedagogos a refletirem sobre a importância da sua visão – não era possível ensinar algo a outra pessoa, apenas
relação interpessoal entre educador e educando, e a da repressão facilitar seu aprendizado criando um clima favorável a este último,
que – na visão de Freud – a sociedade e a escola exerciam sobre a motivando-o. Por isso, as relações interpessoais, especialmente as
sexualidade infantil , gerando desequilíbrios psíquicos que se per- afetivas, adquiriam um papel decisivo na pedagogia do educador.
petuariam na vida adulta. O mais destacado expoente da pedagogia antiautoritária foi o pro-
fessor francês Célestin Freinet, cujas idéias e propostas –inspiradas
Em contraposição a esse modelo, Freud apontou a necessida- no pensamento socialista -continuam influenciando experiências
de de se pensar em práticas educativas anti-repressivas e que res- educativas em diversos países. Ele centrou a educação no trabalho
peitassem as tendências naturais das crianças. Um dos educadores manual , que concebia como uma “necessidade orgânica de utilizar
mais radicais da corrente pedagógica antiautoritária foi o espanhol o potencial de vida numa atividade ao mesmo tempo individual e
Francisco Ferrer Guardia, considerado o pai da escola racional e li- social. Outros princípios caros à sua pedagogia eram a expressão
livre e o incentivo à pesquisa.
9 Fonte: www.paginapessoal.utfpr.edu.br

49
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Na visão de Freinet, era preciso abandonar a disciplina impos- ça Problema. Já então considerava desejável que o próprio cliente
ta através dassançes e focar o processo educativo na organização dirigisse o processo terapêutico. Essa abordagem revolucionária e
do trabalho, pois à medida que este motivasse, envolvesse e es- polêmica foi desenvolvidano livro Aconselhamento e Psicoterapia
timulasse a criatividade e a participação dos alunos favoreceria (1942). Como professor de psicologia na universidade de Chicago,
espontaneamente tanto a disciplina, como a aprendizagem. Para pôs em prática suas idéias, cujo resultados foram avaliados no livro
isto, o educador necessitava mudar seu papel: o que lhe cabia, na Psicoterapia e Alteração na personalidade (1945). Finalmente, em
concepção do pedagogo francês, era tornar-se um colaborador no Terapia Centrada no Cliente (1951), Carl Rogers fez uma exposição
aperfeiçoamento da organização do trabalho e da vida comunitá- geral do seu método nãodiretivo, bem como suas publicações à
ria da sua escola, junto com seus alunos e com os gestores, dentro educação e a outros campos. De 1962 até a sua morte, atuou no
deum modelo não-dirigista e não-coercitivo de construção coletiva Centro para Estudos da Pessoa, em La Jolla (EUA).
de contextos de aprendizagem significativa por meio do trabalho. Para Rogers o aconselhamento tem como finalidade e elimina-
Alguns métodos utilizados por Freinet, em suas práticas educativas ção da inconsciência entre o autoconceito e a experiência pessoal
concretas, para favorecer a aprendizagem de seus alunos continu- – raiz das dificuldades psicológicas do ser humano. Isso facilita o
am sendo usados em experiências educativas dos mais diversos amadurecimento emocional, a aquisição da autonomia e as possi-
países: a redação livre, a imprensa na escola, o jornal da turma, bilidades de autorrealização. O desempenho do conselheiro con-
a correspondência entre os alunos e entre alunos e professores, o sistiria então na aceitação autêntica e na clarificação das vivências
estudo do meio em que o processo educativo acontece, a biblioteca emocionais expressas pelo cliente. Logo, ele deve criar no curso da
cooperativa, entre outros. entrevista uma atmosfera propícia para que o próprio cliente esco-
lha os seus objetivos. O uso dos testes psicológicos e a elaboração
Para complementar o exposto, assista este vídeo – dividido em de diagnóstico se tornariam irrelevantes. Rogers também transpo-
duas partes – que reconstrói a vida, as principais ideias pedagógicas ria para a educação a sua concepção terapêutica. Principais obras:
e as experiências educacionais do educador francês Célestin Frei- Tornar-se pessoa e De Pessoa a Pessoa.
net.Parte
MICHEL LOBROT
Ele acreditava que a educação naquela época ocorria com o
Pedagogo francês, discípulo de Celestin Freinet, influenciado
objetivo de moldar as crianças de acordo com valores impostos. As-
pelas teorias psicanalíticas de Freud, lecionou em Vicennes e na
sim, a educação obrigava a criança a renunciar os impulsos naturais,
Universidade de Genebra. Lobrot propunha a “autogestão política”,
acomodando o desenvolvimento do seu ego às exigências morais e
terapêutica social e, como diz o título de um de seus livros, uma
culturais do superego.
“Pedagogia institucional” para modificar as instituições pedagógicas
existentes. Esta atitude permitiria alterar as mentalidades, tornan-
A principal crítica feita à escola tradicional foi o modelo autori-
do-as abertas e autônomas para, a seguir, modificar as instituições
tário que tinha, impregnados de dogmas (que é uma crença ou uma
da sociedade. Assim, a pedagogia instituicional proposta por Lobrot
doutrina imposta que não admite contestação) e regras. Sendo de-
nominada de escola-quartel. Então os pedagogos da época, queren- tem um objetivo político claro, na medida em que entende auto-
do reverter à situação da “escola-quartel”, recusam-se do exercício gestão pedagógica como preparação para autogestão política. Ao
do poder, e volta-se para uma educação em liberdade para a liber- colocar o problema da autoridade na educação, as relações entre
dade. Qual era a proposta? Que todo aluno, deveria ser educado a liberdade e a coerção, Lobrot acredita que apenas a escola pode
sem pressão para manter uma maturidade sadia. tornar as pessoas menos dependentes. Seu objetivo é desencadear,
a partir de um grupo professor – aluno e no perímetro da sala de
Principais nomes: aula, um processo de transformação da instituição escolar, e daí um
processo de transformação da própria sociedade. Michel Lobrot, o
CÉLESTIN FREINET (1896-1966) professor é um consultor a serviço do grupo sob questões de mé-
Nasceu na França e foi um dos educadores que mais marcou todo, organização ou conteúdo: o professor renuncia ao exercício
a escola fundamental de seu país neste século. Atualmente, suas de sua autoridade, ao poder, à palavra, e se limita a oferecer seus
idéias são estudadas em várias partes do mundo, da pré-escola à serviços, sua capacidade aos melhores do grupo. Sua intervenção
universidade. Freinet lutou na Primeira Guerra Mundial e foi ferido se situa em três níveis:
na altura do pulmão, o que lhe trouxe sérias consequências. Fala-
va baixo e cansava-se logo. Esse problema levou-o a buscar novos Como monitor do grupo de diagnóstico; ajuda ao grupo a de-
modos de se relacionar com os alunos e de conduzir o trabalho na senvolver-se como tal; auxilia o desenvolvimento de um clima gru-
escola. Ele afirmava a existência de uma dependência da escola e pal em que seja possível aprender; auxilia a superar os obstáculos
o meio social, de forma a concluir que não existe uma educação para aprender que estão enraizados no indivíduo e na situação gru-
ideal, só uma educação de classes. Daí sua opção pela classe tra- pal; ajuda o coletivo a descobrir e utilizar os diferentes métodos
balhadora e a necessidade de tentar uma experiência renovadora de pesquisa, ação, observação e feedback; Como técnico de orga-
do ensino. Em seu livro Educação pelo trabalho, sua principal obra, nização; Como pesquisador ou sábio que possui conhecimento e
Freinet apresentou um confronto entre a escola tradicional e a es- tem a capacidade de comunicá-lo. A tarefa do professor seria as
cola proposta por ele, onde o trabalho tinha posição central, como forças instituintes do grupo; essa forças construiriam novas institui-
metologia. ções (ou contra-instituições, conforme Lapassade), que funciona-
ria como analisadores, revelando os elementos ocultos do sistema
CARL RANSOM ROGERS (1902-1987) institucional. Outros pedagogos desenvolveram a pedagogia insti-
Psicólogo norte-americano, formou-se na universidade de Co- tucional. Entre eles, Fernand Oury e Aida Vasquez, de orientação
lumbia (New York), onde especializou-se em problemas infantis. De freudiana. Eles se apoiavam mas nas técnicas de Freinet do que na
1935 a 1940, Rogers lecionou na universidade de Rochester; base- não-diretividade rogeriana, preferida por Lobrot. Principais obras: A
ado em sua experiência escreveu O Tratamento Clínico da Crian- Pedagogia Institucional e A favor ou contra da autoridade?

50
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
BOURDIEU-PASSERON (1930) A Pedagogia Crítica segundo Bordieu
Sociologo francês, lecionou na escola prática de altos estudos, Para construir sua teoria, Bourdieu criou uma série de concei-
em Paris. Além de seus trabalhos sobre etnologia e de seuas in- tos, como habitus e capital cultural. Todos partem de uma tentativa
vestigações teóricas sobre sociologia, Bourdieu dirigiu, com Jean- de superação da dicotomia entre subjetivismo e objetivismo. “Ele
-Claude Passeron, o Centro de Sociologia Européia, que pesquisa os acreditava que qualquer uma dessas tendências, tomada isolada-
problemas da educação e da cultura na sociedade contemporânea. mente, conduz a uma interpretação restrita ou mesmo equivocada
O ponto de partida para a sua análise é a relação entre o sistema da realidade social”, explica Nogueira. A noção de habitus procura
de ensino e o sistema social. Para Bourdieu, a origem social mar- evitar esse risco. Ela se refere à incorporação de uma determinada
ca de maneira inevitável e irreversível a carreira escolar e, depois, estrutura social pelos indivíduos, influindo em seu modo de sentir,
profissional, dos indivíduos. Essa origem social produz primeiro o pensar e agir, de tal forma que se inclinam a confirmá-la e reprodu-
fenômeno de seleção: as simples estatísticas estatísticas de possibi- zi-la, mesmo que nem sempre é de modo consciente.Um exemplo
lidades de ascender ao ensino superior, segundo a categoria social disso: a dominação masculina, segundo o sociólogo, se mantém
de origem, mostra que o sistema escolar elimina de maneira con- não só pela preservação de mecanismos sociais mas pela absorção
tínua uma forte proporção das crianças saídas das classes popula- involuntária, por parte das mulheres, de um discurso conciliador.
res. No entanto, segundo os pesquisadores franceses, é um erro Na formação do habitus, a produção simbólica – resultado das ela-
explicar o sucesso e o fracasso escolar apenas pela origem social. borações em áreas como arte, ciência, religião e moral – constitui
Existem outras causas que eles designam pela expressão “herança o vetor principal, porque recria as desigualdades de modo indireto,
cultural”. Entre as vantagens que os “herdeiros” possuem, deve-se
escamoteando hierarquias e constrangimentos. Assim, estruturas
mencionar o maior ou o menor domínio da linguagem. A seleção
sociais e agentes individuais se alimentam continuamente numa
intervem quando a linguagem escolar é insuficiente para o “apro-
engrenagem de caráter conservador. É o caso da maneira como
veitamento” do aluno. E este fenômeno atinge prioritariamente as
cada um lida com a linguagem. Tudo que a envolve
crianças de origem social mais baixa. As que têm êxito são as que
resistiram por diversas razões, à laminagem progressiva da seleção. – correção gramatical, sotaque, habilidade no uso de palavras e
Mantendo-se no sistema de ensino, elas provam ter adquirido um construções etc. – está fortemente relacionado à posição social de
domínio da linguagem ao menos igual ao dos estudantes saídas das quem fala e à função de ratificar a ordem estabelecida. Para Bour-
classes superiores. dieu, todas essas ferramentas de poder são essencialmente arbi-
Finalmente, para Bourdieu e Passeron, a cultura das classes trárias, mas isso não costuma ser percebido. “É necessário que os
superiores estaria tão próxima da cultura da escola que a criança dominados as percebam como legítimas, justas e dignas de serem
originária de um meio social inferior não poderia adquirir senão a utilizadas”, afirma Nogueira.
formação cultural que é dada aos filhos da classe culta. Portanto,
para uns, a aprendizagem da cultura escolar é uma conquista dura- Baudelot e Establet
mente obtida; para outro, é uma herança “normal”, que inclui a re- Cristian baudelot e Roger Establet são professores de socio-
produção das normas. O caminho a percorrer é diferente, conforme logia da educação na França. A principal tese desses acadêmicos,
a classe de origem. Principais obras dos autores: Les Héritiers, les é que não se pode ter uma “escola única” numa sociedade plural
étudiants et la culture; A reprodução; elementos para uma teoria no que concernem as classes. Os fins da educação são subdivididos
do sistema de ensino.10 com base no educando. Pois enquanto o sujeito (aluno) de classe
alta é preparado para o mundo acadêmico, o aluno pobre é prepa-
Pensamento Pedagógico Crítico rado, de regra, para o mundo do proletariado (do trabalho). A esco-
As idéias de Bourdieu e Passeron no que concerne ao pen- la, os professores e alunos são apenas vítimas do sistema capitalista
samento da escola é que é fato que os alunos de baixa renda são dominado pelas elites segundo esses autores.
educados apenas para fazê-los trabalhadores. Enquanto as crianças
abastadas, são preparadas desde seu ingresso para o mundo aca- TEORIAS DE BAUDELOT E ESTABLET
dêmico, embora a situação é bem mais complexa do que parece. A A dualidade estrutural expressa uma fragmentação da escola a
escola está veladamente dividida, pois, vivemos numa sociedade de partir da qual se delineiam caminhos diferenciados segundo a clas-
classe. Enquanto esta “aberração” não for corrigida (tomando como se social, repartindo-se os indivíduos por postos antagonistas na di-
base os autores franceses.) A estrutura social ficará praticamente visão social do trabalho, quer do lado dos explorados, quer do lado
inalterada e a escola que deveria ser um instrumento de transfor-
da exploração. Baudelot e Establet (1971), entre outros teóricos do
mação do espírito humano, por mais paradoxal que seja será o prin-
crítico-reprodutivismo, desvendam a ilusão ideológica da unidade
cipal veiculo para o retrocesso.
da escola e da existência de um tipo único de escolaridade. Para
essa teoria, a escola não é única, nem unificadora, mas constituída
BOURDIEU PASSERON
Pierre Bourdieu (1930) é um sociólogo francês e professor Uni- pela unidade contraditória de duas redes de escolarização: a rede
versitário. É um pesquisador dos problemas da educação contem- de formação dos trabalhadores manuais (rede primário-profissio-
porânea. Faz uma dicotomia entre a educação e a estrutura social. nal ou rede PP) e a rede de formação dos trabalhadores intelec-
Assim conseguiu detectar que há uma forma de seleção natural, tuais (rede secundário-superior ou rede SS). O dualismo da escola
pois, observou que grande parte dos alunos que conseguem sua no modo capitalista de produção se manifesta como resultado de
graduação são oriundos das classes mais abastadas. Mas a herança mecanismos internos, pedagógicos, de destinação de ‘uns e não
social não explica de forma concisa o sucesso ou fracasso de deter- outros’ (Souza e Silva, 2003) para os estudos longos em suas fileiras
minados educandos. nobres como mecanismo de reprodução das classes sociais. Nessa
Segundo Bourdieu a estrutura escolar contemporânea está de concepção, para apreender a dualidade estrutural característica da
forma explicita voltada (ou mais próxima) da criança de classe social escola capitalista é necessário colocar-se do ponto de vista daque-
superior (alta). les que são dela excluídos. A repetência, o abandono, a produção
do retardo escolar são mecanismos de funcionamento da escola e
que fazem parte de suas características.
10 Fonte: www.frantship.blogspot.com/Moacir Gadotti

51
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
É sua função discriminar, e isto desde o início da escolarização,
na própria escola primária, que também não é única e que também
divide. “Seus ‘defeitos’ ou ‘fracassos’ são, em verdade, a realidade
necessária de seu funcionamento” (Baudelot & Establet, id., p. 269).
No Brasil, essa diferenciação se concretizou pela oferta de es-
colas de formação profissional e escolas de formação acadêmica
para o atendimento de populações com diferentes origens e des-
tinação social. Durante muito tempo o atual ensino médio ficou
restrito àqueles que prosseguiriam seus estudos no nível superior,
enquanto a educação profissional era destinada aos órfãos e desva-
lidos, os ‘desfavorecidos da fortuna’.
A análise do fluxo escolar, no Brasil, neste início de século XXI,
aponta para a expulsão da escola de uma imensa parcela da po-
pulação: apesar da quase universalização do acesso a 1ª série do
Ensino Fundamental, apenas 45% dos jovens brasileiros concluem
o Ensino Médio. Percebe-se claramente a constituição de dois gru-
pos: aqueles que permanecem no interior da escola e os que dela
vão sendo excluídos. Entre os que permanecem, uma nova diferen-
ciação se produz pela desigualdade das condições de escolarização
e pela precarização dos programas pedagógicos que conduzem a
uma certificação desqualificada, para ‘uns e não outros’.
A dualidade estrutural confirma-se nos limites das classes so-
ciais e da dicotomia histórica entre os estudos de natureza teórica
e os estudos de natureza prática. A ‘escola do dizer’ e a ‘escola do
fazer’ são, nas palavras de Nosella (1995), as divisões estruturais
do sistema educativo no modo capitalista de produção. A escola de Os professores devem estudar e se apropriar dessas tendên-
formação das elites e a escola de formação do proletariado. Nes- cias, que servem de apoio para a sua prática pedagógica. Não se
sa concepção está implícita a divisão entre aqueles que concebem deve usar uma delas de forma isolada em toda a sua docência. Mas,
e controlam o processo de trabalho e aqueles que o executam. A deve-se procurar analisar cada uma e ver a que melhor convém ao
educação profissional destinada àqueles que estão sendo prepara- seu desempenho acadêmico, com maior eficiência e qualidade de
dos para executar o processo de trabalho, e a educação científico- atuação. De acordo com cada nova situação que surge, usa-se a ten-
-acadêmica destinada àqueles que vão conceber e controlar este dência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática docente,
processo. Essa visão que separa a educação geral, propedêutica da há uma mistura dessas tendências.Deste modo, seguem as explica-
educação específica e profissionalizante, reduz a educação profis- ções das características de cada uma dessas formas de ensino. Po-
sional a treinamentos para preenchimento de postos de trabalho. rém, ao analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência não
Nas análises sobre a dualidade da escola brasileira focaliza-se substitui totalmente a anterior, mas ambas conviveram e convivem
principalmente o ensino médio: com a prática escolar.
A literatura sobre o dualismo na educação brasileira é vasta e
concordante quanto ao fato de ser o ensino médio sua maior ex- 1. Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo aberto
pressão. ... Neste nível de ensino se revela com mais evidência a ou democrático, mas com uma instigação da sociedade capitalista
contradição entre o capital e o trabalho, expressa no falso dilema ou sociedade de classes, que sustenta a ideia de que o aluno deve
de sua identidade: destina-se à formação propedêutica ou à prepa- ser preparado para papéis sociais de acordo com as suas aptidões,
ração para o trabalho? (Frigotto, Ciavatta e Ramos, 2005, p. 31).11 aprendendo a viver em harmonia com as normas desse tipo de so-
ciedade, tendo uma cultura individual.

TENDÊNCIAS ATUAIS: LIBERAIS E PROGRESSISTAS

As tendências pedagógicas brasileiras foram muito influencia-


das pelo momento cultural e político da sociedade, pois foram leva-
das à luz graças aos movimentos sociais e filosóficos. Essas forma-
ram a prática pedagógica do país.
Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem a re-
flexão sobre as tendências pedagógicas. Mostrando que as princi-
pais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira se divi-
dem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. Elas são:
Tendências Liberais e Tendências Progressistas. No ensino tradicional, o ensino é centralizado no professor e o
alunos são receptores.

1.1 Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por


motivos históricos. Nesta tendência o professor é a figura central
e o aluno é um receptor passivo dos conhecimentos considerados
como verdades absolutas. Há repetição de exercícios com exigência
de memorização.
11 Fonte: www.raphaellaalbuquerque.blogspot.com

52
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
1.2 Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição da
hegemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a aparecer O PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO: CORREN-
no cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por centralizar no TES E TENDÊNCIAS NA PRÁTICA ESCOLAR
aluno, considerado como ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que
ele “só irá aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas experimen- No contexto da história da cultura ocidental, é fácil observar
tais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social. que educação e filosofia sempre estiveram juntas e próximas. Po-
Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoapren- de-se constatar, com efeito, que desde seu surgimento na Grécia
dizagem.O professor é um facilitador. clássica, a filosofia se constituiu unida a uma intenção pedagógica,
1.3 Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira foi formativa do humano. Para não citar senão o exemplo de Platão,
o grande pioneiro da Escola Nova no Brasil.É um método centrado em momento algum o esforço dialético de esclarecimento que pro-
no aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes, preocu- põe ao candidato a filósofo deixa de ser simultaneamente um es-
pando-se mais com a parte psicológica do que com a social ou pe- forço pedagógico de aprendizagem. Praticamente todos os textos
dagógica. E para aprender tem que estar significativamente ligado fundamentais da filosofia clássica implicam, na explicitação de seus
com suas percepções, modificando-as. conteúdos, uma preocupação com a educação.
1.4 Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa corrente Além desse dado intrínseco do conteúdo de seu pensamento, a
psicológica, também conhecida como behaviorista. Neste método própria prática dos filósofos, de acordo com os registros históricos
de ensino o aluno é visto como depositário passivo dos conheci- disponíveis, eslava intimamente vinculada a uma tarefa educativa,
mentos, que devem ser acumulados na mente através de associa- fossem eles sofistas ou não, a uma convivência escolar já com carac-
ções. O professor é quem deposita os conhecimentos, pois ele é vis- terísticas de institucionalização.
to como um especialista na aplicação de manuais; sendo sua prática A verdade é que, em que pese o ainda restrito alcance social da
extremamente controlada. Articula-se diretamente com o sistema educação. a filosofia surge intrinsecamente ligada a ela, autorizan-
produtivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente, do-nos a considerar, sem nenhuma figuração, que o filósofo clássico
que é o capitalismo, formando mão de obra especializada para o sempre foi um grande educador.
mercado de trabalho. Desde então, no desenvolvimento histórico-cultural da filosofia
ocidental, essa relação foi se estreitando cada vez mais. A filosofia
2. Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica das escolástica na Idade Média foi lileralmene o suporte fundamental
realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades socio- de um método pedagógico responsável pela formação cultural e re-
políticas da educação e é uma tendência que não condiz com as ligiosa das gerações europeias que estavam constituindo a nova ci-
ideias implantadas pelo capitalismo. O desenvolvimento e popula- vilização que nascia sobre os escombros do Império Romano. E que
rização da análise marxista da sociedade possibilitou o desenvolvi- falar então do Renascimento. com seu projeto humanista de cul-
mento da tendência progressista, que se ramifica em três correntes: tura, e da Modernidade, com seu projeto iluminista de civilização?
2.1 Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de Não foi senão nesta última metade do século vinte que essa
Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta e organização relação tendeu a se esmaecer! Parece ser a primeira vez que uma
de classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais importante é forte tendência da filosofia considera-se desvinculada de qualquer
a de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consciência da realidade preocupação de natureza pedagógica, vendo-se tão-somente como
em que vive. Além da busca pela transformação social, a condição um exercício puramente lógico Essa tendência desprendeu-se de
de se libertar através da elaboração da consciência crítica passo a suas próprias raízes, que se encontravam no positivismo, trans-
passo com sua organização de classe. Centraliza-se na discussão de formando-se numa concepção abrangente. Denominada neoposi-
temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua tivismo, que passa a considerar a filosofia como tarefa subsidiária
juntamente com os alunos. da ciência, só podendo legitimar-se em situação de dependência
2.2 Libertária – Procura a transformação da personalidade frente ao conhecimento cientifico, o único conhecimento capaz de
num sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto de verdade e o único plausível fundamento da ação. Desde então qual-
que somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em quer critério do agir humano só pode ser técnico, nunca mais ético
situações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância ou político. Fica assim rompida a unidade do saber.
se for possível seu uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto Mas, na verdade, esse enviesamento da tradição filosófica na
cultural, a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili- contempo-raneidade é ainda parcial, restando válido para as outras
zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido como um tendências igualmente significativas da filosofia atual que os esfor-
conselheiro à disposição do aluno. ços de reflexão filosófica estão profunda e intimamente envolvidos
2.3 “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” - Ten- com a tarefa educa-cional. E este envolvimento decorre de uma trí-
dência que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua a prio- plice vinculação que delineia três frentes em que se faz presente a
ridade de focar os conteúdos no seu confronto com as realidades contribuição da filosofia para a educação.
sociais, é necessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o
aluno para o mundo adulto, com participação organizada e ativa na A Educação como Projeto, a Reflexão e a Práxis
democratização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos A cultura contemporânea, fruto dessa longa trajetória do es-
e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos. O ensi- pirito humano em busca de algum esclarecimento sobre o sentido
no/aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são do mundo, é particularmente sensível a sua significativa conquista
construídos pela experiência pessoal e subjetiva. que é a forma cientifica do conhecimento. Coroamento do proje-
to iluminista da modernidade, a ciência dominou todos os setores
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB da existência humana nos dias atuais. impondo-se não só pela sua
9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram muito fecundidade explicativa enquanto teoria, como também pela sua
difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são interacio- operacionalidade técnica, possibilitando aos homens o domínio e
nistas, isto é, acreditam que o conhecimento se dá pela interação a manipulação do próprio mundo. Assim, também no âmbito da
entre o sujeito e um objeto.12 educação, seu impacto foi profundo.
12 Fonte: www.educador.brasilescola.uol.com.br

53
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Como qualquer outro setor da fenomenalidade humana, homens só pode ser apreendido em suas mediações históricas e so-
também a educação pode ser reequacionada pelas ciências, par- ciais concretas de existência. Só com base nessas condições reais de
ticularmente pelas ciências humanas que, graças a seus recursos existência é que se pode legitimar o esforço sistemático da filosofia
metodológicos, possibilitam uma nova aproximação do fenôme- em construir uma imagem consistente do humano.
no educacional. O desenvolvimento das ciências da educação, no Podemos usar a própria imagem do tempo e do espaço em nos-
rastro das ciências humanas, demonstra o quanto foi profunda a sa percep ção. para um melhor esclarecimento da questão. Assim
contribuição das mesmas para a elucidação desse fenômeno, bem como, formal mente. o espaço e o tempo são as coordenadas da
como para o planejamento da prática pedagógica. É por isso mesmo realidade do mundo natural, tal qual é dado em nossa percepção,
que muitos se perguntam se além daquilo que nos informam a Bio- pode-se dizer, por analogia. que o social e o histórico são as coorde-
logia, a Psicologia, a Economia, a Sociologia e a História, é cabível nadas da existência humana. Por sua vez. o educacional, como aliás
esperar contribuições de alguma outra fonte, de algum outro saber o politico, constitui uma tentativa de intencionalização do existir
que se situe fora desse patamar científico, de um saber de natureza social no tempo histórico. A educação é. com efeito, instauração
filosófica. Não estariam essas ciências, ao explicitar as leis que re- de um projeto, ou seja, prática concreta com vista a uma finalidade
gem o fenômeno educacional, viabilizando técnicas bastantes para que dá sentido ã existência cultural da sociedade histórica. ‘,
a condução mais eficaz da prática educacional? Já vimos a resposta Os homens envolvidos na esfera do educacional — sujeitos
que se educam e que buscam educar — não podem ser reduzidos
que fica implícita nas tendências epistemológicas inspiradas numa
a modelos abstratamente concebidos de uma natureza humana”,
perspectiva neopositivista!...
modelo universal idealizado. como também não se reduzem a uma
No entanto, é preciso dar-se conta de que, por mais imprescin-
“máquina natural”, prolongamento orgânico da natureza biológica.
dível e valiosa que seja a contribuição da ciência para o entendimen-
Seres de carências múltiplas, como que se desdobram num projeto,
to e para a condução da educação, ela não dispensa a contribuição pré-definem-se como exigência de um devir em vista de um “ser-
da filosofia. Alguns aspectos da problemática educacional exigem -mais”, de uma intencionalidade a ser realizada: não pela efetivação
uma abordagem especificamente filosófica que condiciona inclusi- mecânica de determinismos objetivos nem pela atuação energética
ve o adequado aproveitamento da própria contribuição científica. de finalidades impositivas. O projeto humano se dá nas coordena-
Esses aspectos se relacionam com a própria condição da existência das históricas, sendo obra dos sujeitos aluando socialmente, num
dos sujeitos concernidos pela educação. com o caráter práxico do processo em que sua encarnação se defronta, a cada instante, com
processo educacional e com a própria produção do conhecimento uma exigência de superação. É só nesse processo que se pode con-
em sua relação com a educação. Daí as três frentes em que pode- ceber uma ressignificação da “essência humana”, pois é nele tam-
mos identificar a presença marcante da contribuição da filosofia. bém, na frustração desse processo, que o homem perde sua essen-
cialidade. A educação pode. pois. ser definida como esforço para
1. O Sujeito da Educação se conferir ao social, no desdobramento do histórico, um sentido
Assim, de um ponto de vista mais fundante, pode-se dizer que intencionalizado, como esforço para a instauração de um projeto de
cabe à filosofia da educação a construção de uma imagem do ho- efetiva humanização, feita através da consolidação das mediações
mem, enquanto sujeito fundamental da educação. Trata-se do es- da existência real dos homens.
forço com vista ao delineamento do sentido mais concreto da exis- Assim, só uma antropologia filosófica pode lastrear a filosofia
tência humana. Como tal, a filosofia da educação constitui-se como da educação. Mas uma antropologia filosófica capaz de apreender
antropologia filosófica, como tentativa de integração dos conteúdos o homem existindo sob mediações histórico-sociais, sendo visto
das ciências humanas, na busca de uma visão integrada do homem. então como ser eminentemente histórico e social. Tal antropologia
Nessa tarefa ela é, pois, reflexão eminentemente antropológica tem de se desenvolver, então, como uma reflexão sobre a história
e. como tal, põe-se como alicerce fundante de todas as demais tare- e sobre a sociedade, sobre o sentido da existência humana nessas
fas que lhe cabem. Mas não basta enunciar as coisas desta maneira, coordenadas. Mas. caberia perguntar, a construção dessa imagem
reiteirando a fórmula universal de que não se pode tratar da educa- do homem não seria exatamente a tarefa das ciências humanas?
ção a não ser a partir de uma imagem do homem e da sociedade. A Isto coloca a questão das relações da filosofia com as ciências hu-
dificuldade está justamente no modo de elaboração dessa imagem. manas, cabendo esclarecer então que, embora indispensáveis, os
resultados obtidos pelas diversas ciências humanas não são sufi-
A tradição filosófica ocidental, tanto através de sua perspectiva es-
cientes para assegurar uma visão da totalidade dialeticamente ar-
sencialista como através de sua perspectiva naturalista, não conse-
ticulada da imagem do homem que se impõe construir. As ciências
guiu dar conta das especificidades das condições do existir humano
humanas investigam e buscam explicar mediante a aplicação de seu
e acabou por construir. de um lado, uma antropologia metafísica
categorial teórico, os diversos aspectos da fenomenalidade humana
fundamentalmente idealista. com uma imagem universal e abstrata e, graças a isso, tornam-se aptas a concretizar as coordenadas his-
da natureza humana, incapaz de dar conta da imergência do ho- tórico-sociais da existência real dos homens. Mas em decorrência
mem no mundo natural e social: de outro lado, uma antropologia de sua própria metodologia, a visão teórica que elaboram é neces-
de fundo cientificista que insere o homem no fluxo vital da nature- sariamente aspectual. Justamente em função de sua menor rigidez
za orgânica, fazendo dele um simples prolongamento da mesma, e metodológica, é que a filosofia pode elaborar hipóteses mais abran-
que se revela incapaz de dar conta da especificidade humana nesse gentes, capazes de alcançarem uma visão integrada do ser humano,
universo de determinismos. envolvendo nessa compreensão o conjunto desses aspectos, consti-
Nos dois casos, como retomaremos mais adiante, a filosofia da tuindo uma totalidade que não se resume na mera soma das partes,
educação perde qualquer solidez de seus pontos de apoio Com efei- parles estas que se articulam então dialeticamente entre si e com
to, tanto na perspectiva essencialista quanto na perspectiva natura- o todo, sem perderem sua especificidade, formando ao mesmo
lista, não fica adequadamente sustentada a condição básica da exis- tempo, uma unidade. A perspectiva filosófica integra ao totalizar,
tencialidade humana. que é a sua profunda e radical historicidade, ao unir e ao relacionar. Não se trata, no entanto, de elaborar como
a ser entendida como a intersecção da espacialidade com a tempo- que uma teoria geral das ciências humanas, pois. não se atendo aos
ralidade do existir real dos seres humanos, ou seja, a intersecção do requisitos da metodologia científica, a filosofia pode colocar hipó-
social com o histórico. O que se quer dizer com isso é que o ser dos teses em íde maior alcance epistemológico. Assim, o que se pode

54
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
concluir deste ponto de vista é que a filosofia da educação, em sua tais como se manifestam em mediações histórico-sociais, dimensão
tarefa antropológica, trabalha em intima colaboração com as ciên- esta que qualifica e especifica a condição humana. Tal perspectiva
cias humanas no campo da teoria educacional, incorporando subsí- nega, retoma e supera aqueles aspectos enfatizados pelas aborda-
dios produzidos mediante investigação histórico-antropológica por gens essencialista e naturalista, buscando dar à filosofia da educa-
elas desenvolvida. ção uma configuração mais assente às condições reais da existência
dos sujeitos humanos.
2. O Agir, os Fins e os Valores
De um segundo ponto de vista e considerando que a educa- 3. A Força e a Fraqueza da Consciência
ção é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda A filosofia da educação tem ainda uma terceira tarefa: a epis-
contribuir significativamente para sua efetivação mediante uma re- temológica. cabendo-lhe instaurar uma discussão sobre questões
flexão voltada para os fins que a norteiam. A reflexão filosófica se envolvidas pelo processo de produção, de sistematização e de
faz então reflexão axiológica, perquirindo a dimensão valorativa da transmissão do conhecimento presente no processo especifico da
consciência e a expressão do agir humano enquanto relacionado educação. Também deste ponto de vista é significativa a contribui-
com valores. ção da filosofia para a educação.
A questão diretriz desta perspectiva axiológica é aquela dos fins Fundamentalmente, esta questão se coloca porque a educação
da educação, a questão do para quê educar. Não há dúvida, entre- também pressupõe mediações subjetivas, ou seja, ela pressupõe a
tanto, que, também nesse sentido, a tradição filosófica no campo intervenção da subjetividade de todos aqueles que se encontram
educacional, o mais das vezes, deixou-se levar pela tendência a es- envolvidos por ela. Em cada um dos momentos da atividade edu-
tipular valores, fins e normas, fundando-os apressadamente numa cativa está necessariamente presente uma ineludível dimensão de
determinação arbitrária, quando não apriorística, de uma natureza subjetividade, que impregna assim o conjunto do processo como
ideal do indivíduo ou da sociedade Foi o que ocorreu com a orien- um todo. Desta forma, tanto no plano de suas expressões teóricas
tação metafísica da filosofia ocidental que fazia decorrer, quase como naquele de suas realizações práticas, a educação envolve a
que por um procedimento dedutivo, as normas do agir humano da própria subjetividade e suas produções, impondo ao educador uma
essência do homem, concebida, como já vimos, como um modelo atenção especifica para tal situação. A atividade da consciência é
ideal, delineado com base numa ontologia abstrata. Assim, os va- assim mediação necessária das atividades da educação.
lores do agir humano se fundariam na própria essência humana, É por isso que a reflexão sobre a existência histórica e social dos
essência esta concebida de modo ideal, abstrato e universal. A ética homens enquanto elaboração de uma antropologia filosófica fun-
se tornava então uma ética essencialista, desvinculada de qualquer dante, só se torna possível, na sua radicalidade, em decorrência da
própria condição de ser o homem capaz de experimentar a vivência
referência sócio-histórica. O agir deve assim, seguir critérios éticos
subjetiva da consciência. A questão do sentido de existir do homem
que se refeririam tão-somente à essência ontológica dos homens.
e do mundo só se coloca graças a essa experiência. A grande di-
E a ética se transformava num sistema de critérios e normas pura-
ficuldade que surge é que essa experiência da consciência é tam-
mente deduzidos dessa essência.
bém uma riquíssima experiência de ilusões. A consciência é o lugar
Mas. por outro lado. ao tentar superar essa visão essencialis-
privilegiado das ilusões, dos erros e do falseamento da realidade,
ta, a tradição cientifica ocidental vai ainda vincular o agir a valores
ameaçando constantemente comprometer sua própria atividade.
agora relacionados apenas com a determinação natural do existir
Diante de tal situação, cabe à filosofia da educação desenvolver
do homem O homem é um prolongamento da natureza física, um
uma reflexão propriamente epistemológica sobre a natureza dessa
organismo vivo, cuja perfeição maior não é. obviamente, a reali-
experiência na sua manisfestação na área do educacional. Cabe-lhe,
zação de uma essência, mas sim o desenvolvimento pleno de sua tanto de uma perspectiva de totalidade como da perspectiva da
vida. O objetivo maior da vida, por sinal, é sempre viver mais e viver particularidade das várias ciências, descrever e debater a constru-
bem! E esta finalidade fundamental passa a ser o critério básico ção, pelo sujeito humano, do objeto “educação”. É nesse momento
na delimitação de Iodos os valores que presidem o agir. Devem ser que a filosofia da educação, por assim dizer, tem de se justificar, ao
buscados aqueles objetivos que assegurem ao homem sua melhor mesmo tempo que rearticula os esforços da própria ciência, para
vida natural Ora. como a ciência dá conta das condições naturais também se justificar, avaliando e legitimando a atividade do conhe-
da existência humana, ao mesmo tempo que domina e manipula o cimento enquanto processo tecido no texto/contexto da realidade
mundo, ela tende a lazer o mesmo com relação ao homem Tende histórico-social da humanidade. Com efeito e coerentemente com o
não só a conhecê-lo mas ainda a manipulá-lo. a controlá-lo e a do- que já se viu acima, a análise do conhecimento não pode ser sepa-
miná-lo, transpondo para seu âmbito a técnica decorrente desses rada da análise dos demais componentes dessa realiade.
conhecimentos. A “naturalização do homem acaba transformando- No seu momento epistemológico, a filosofia da educação in-
-o num objeto facilmente manipulável e a prática humana conside- veste, pois, no esclarecimento das relações entre a produção do
rada adequada, acaba sendo aquela dirigida por critérios puramen- conhecimento e o processo da educação. É assim que muitas ques-
te técnicos, seja no plano individual, seja no plano social essa ética tões vão se colocando à necessária consideração por parte dos que
naturalista apoiando-se apenas nos valores de uma funcionalidade se envolvem com a educação, também nesse plano da produção do
técnica. saber, desde aquelas relacionadas com a natureza da própria subje-
Em consequência desses rumos que a reflexão filosófica. en- tividade até aquelas que se encontram implicadas no mais modesto
quanto reflexão axiológica, tomou na tradição da cultura ocidental, ato de ensino ou de aprendizagem, passando pela questão da possi-
a filosofia da educação não se afastou da mesma orientação. De um bilidade e da efetividade das ciências da educação. Com efeito, aqui
lado, tendei a ver, como fim último da educação, a realização de estão em pauta os esforços que vêm sendo desenvolvidos com vista
uma perfeição dos indivíduos enquanto plena atualização de uma à criação de um sistema de saber no campo da educação, de tal
essência modelar; de outro, entendeu-se essa perfeição como ple- modo que se possa dispor de um corpo de conhecimentos funda-
nitude de expansão e desenvolvimento de sua natureza biológica. dos numa episteme, num saber verdadeiro e consistente. Trata-se,
Agora a filosofia da educação busca desenvolver sua reflexão levan- sem dúvida, de um projeto de cientificidade para a área educacio-
do em conta os fundamentos antropológicos da existência humana, nal.

55
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
No desenvolvimento desse projeto, logo se percebeu que o que são apresentados como verdadeiros e válidos quando, de falo.
campo educacional. do ponto de vista epistemológico, é extrema- são puramente ideológicos, ou seja, estão escamoteando as condi-
mente complexo Não é possivel proceder com ele da mesma ma- ções reais com vista a fazer passar por verdadeira uma concepção
neira que se procedeu no âmbito das demais ciências humanas. falsa, mas apta a sustentar determinadas relações de dominação
Para se aproximar do fenômeno educacional foi preciso uma abor- presentes na sociedade. Com efeito, é para legitimar determinadas
dagem multidisciplinar, já que não se dispunha de um único acervo relações de poder que a consciência elabora como objetivas, como
categorial para a construção apreensão desse objeto; além disso, a universais e como necessárias, algumas representações que. na re-
abordagem exigia ainda uma perspectiva transdisciplinar, na medi- alidade social efetiva, referem-se apenas a interesses particulares
da em que o conjunto categorial de cada disciplina lançava esse ob- de determinados grupos sociais.
jeto para além de seus próprios limites, enganchando-o em outros Ora. todas as atividades ligadas à educação, sejam elas teóricas
conjuntos, indo além de uma mera soma de elementos: no final das ou praticas, podem se envolver, e historicamente se envolveram,
contas, viu-se ainda que se trata de um trabalho necessariamen- nesse processo ideológico De um lado. enquanto derivadas da atua-
te interdisciplinar, as categorias de todos os conjuntos entrando ção da consciência, podem estar incorporando suas representações
numa relação recíproca para a constituição desse corpo epistêmico. falseadas e falseadoras; de outro lado, enquanto vinculadas à prá-
Esta situação peculiar tem a ver com o caráter predominantemen- tica social, podem estar ocultando relações de dominação e situa-
te praxio-lógico da educação: a educação é fundamentalmente de ções de alienação. A educação não é mais vista hoje como o lugar
natureza prática. uma totalidade de ação, não só se deixando redu- da neutralidade e da inocência: ao contrário, ela é um dos lugares
zir e decompor como se fosse um simples objeto. Assim, quer seja mais privilegiados da ideologia e da inculcação ideológica, refletin-
considerada sob um enfoque epistemológico, quer sob um enfoque do sua íntima vinculação ao processo social em suas relações de
praxiológico, enquanto práxis concreta, a educação implica esta in- dominação política e de exploração econômica.
terdisciplinaridade, ou seja. o sentido essencial do processo da edu- Assim, qualquer tentativa de intencionalização do social atra-
cação, a sua verdade completa. não decorre dos produtos de uma vés da educação. pressupõe necessariamente um trabalho conti-
ciência isolada e nem dos produtos somados de várias ciências: ele nuo de denúncia, de crítica e de superação do “discurso” ideológico
só se constitui mediante o esforço de uma concorrência solidária e que se incorpora ao discurso” pedagógico. É então tarefa da filoso-
qualitativa de várias disciplinas. fia da educação desvelar criticamente a “repercussão” ideológica
da educação: só assim a educação poderá se constituir em projeto
Esta malha de interdisciplinaridade na construção do sentido
que esteja em condições de contribuir para a transformação da so-
do educacional é tecida fundamentalmente pela reflexão filosófica.
ciedade.
A filosofia da educação não substitui os conteúdos significadores
Deste ponto de vista, a consciência filosófica é a mediação para
elaborados pelas ciências: ela, por assim dizer, os articula, instau-
uma continua e alenta vigilância contra as artimanhas do saber e do
rando uma comunidade construtiva de sentido, gerando uma atitu- poder, montadas no íntimo do processo educacional .
de de abertura e de predisposição à intersubjetividade.
Esta visão interdisciplinar que se dá enquanto articulação in- A contribuição que a filosofia dá à educação se traduz e se
tegradora do sentido da educação no plano teórico, é igualmente concretiza nessas três frentes que. na realidade, se integram e se
expressão autêntica da prática totalizadora onde ocorre a educa- complementam Entendo que apesar dos desvios e tropeços pelos
ção. Enquanto ação social, atravessada pela análise cientifica e pela quais passou na história da cultura ocidental, a filosofia, enquanto
reflexão filosófica, a educação se torna uma práxis e, portanto, im- filosofia da educação, sempre procurou efetivar essa contribuição,
plica as exigências de eficácia do agir tanto quanto aquelas de elu- na medida em que sempre se propôs como esforço de exploração
cidação do pensar. e de busca dos fundamentos. Mesmo quando acreditou tê-los en-
Portanto tanto no plano teórico como no plano prático, refe- contrados nas essências idealizadas ou nas regularidades da natu-
rindo-se seja aos processos de conhecimento, seja aos critérios da reza! E ela poderá continuar contribuindo se entender que esses
ação, e seja ainda ao próprio modo de existir dos sujeitos envolvi- fundamentos têm a ver com o sentido do existir do homem em sua
dos na educação, a filosofia esta necessariamente presente, sendo totalidade trançada na realidade histórico-social.13
mesmo indispensável. E neste primeiro momento, como contínua
gestora da interdisciplinaridade. Concepções de escola
Mas não termina aqui a tarefa epistemológica da filosofia da Em suas obras, Dermeval Saviani apresenta a escola como o
educação. Com efeito, vimos há pouco que a experiência da subje- local que deve servir aos interesses populares garantindo a todos
tividade é também o lugar privilegiado da ilusão e do falseamento um bom ensino e saberes básicos que se reflitam na vida dos alunos
da realidade. Sem dúvida, a consciência emergiu como equipamen- preparando-os para a vida adulta. Em sua obra Escola e Democracia
to mais refinado que instrumentalizou o homem para prover, com (1987), o autor trata das teorias da educação e seus problemas, ex-
maior flexibilidade, os meios de sua existência material Mas ao se planando que a marginalização da criança pela escola se dá porque
voltar para a realidade no desempenho concreto dessa finalidade, ela não tem acesso a esta, enquanto que a marginalidade é a con-
ela pode projetar uma objetividade não-real. E o processo de alie- dição da criança excluída. Saviani avalia esses processos, explicando
nação que a espreita a cada instante na sua relação com o mundo que ambos são prejudiciais ao desenvolvimento da sociedade, tra-
zendo inúmeros problemas, muitas vezes de difícil solução, e con-
objetivo. Este é o outro lado da subjetividade, o reverso da meda-
clui que a harmonia e a integração entre os envolvidos na educação
lha. Em sua atividade subjetiva, a consciência acaba criando uma
– esferas política, social e administração da escola podem evitar a
objetividade apenas projetada, imaginada, ideada e não-real. Ocor-
marginalidade, intensificando os esforços educativos em prol da
re que a consciência humana é extremamente frágil e facilmente
melhoria de vida no âmbito individual e coletivo.
dominável pelo poder que atravessa as relações sociais. Eis então o Através da interação do professor e da participação ativa do
funcionamento ideológico da atividade subjetiva: o próprio conhe- aluno a escola deve possibilitar a aquisição de conteúdos – traba-
cimento passa a ser mais um instrumento de dominação que alguns lhar a realidade do aluno em sala de aula, para que ele tenha discer-
homens exercem sobre outros. A consciência, alienada em relação à
realidade objetiva, constrói conteúdos representativos e avaliativos 13 Fonte: www.emaberto.inep.gov.br - Texto adaptado de Antônio Joaquim
Severino

56
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
nimento e poder de analisar sua realidade de uma maneira crítica -, burguês liberalista (séc. XVIII) e culminando com a emergência da
e a socialização do educando para que tenha uma participação or- chamada Ëscola Nova”(início do séc. XX) e com a divulgação dos
ganizada na democratização da sociedade, mas Saviani alerta para pressupostos da Psicologia Humanista (1950).
a responsabilidade do poder público, representante da política na 2. PRESSUPOSTO BÁSICO . da concepção liberalista da Educa-
localidade, que é a responsável pela criação e avaliação de projetos ção. Referências para vida do homem não podem ser os valores
no âmbito das escolas do estado e município, uma vez que este é pré-dados por fontes supra-humanas, exteriores ao homem. A Edu-
o responsável pelas políticas públicas para melhoria do ensino, vi- cação (como toda a vida social) deve se basear nos próprios ho-
sando a integração entre o aluno e a escola. A escola é valorizada mens, como eles são concretamente. O homem pode buscar em si
como instrumento de apropriação do saber e pode contribuir para próprio o sentido da sua vida e as normas para a sua vida.
eliminar a seletividade e exclusão social, e é este fator que deve ser 3. CONCEPÇÃO DE HOMEM - O homem é naturalmente bom,
levado em consideração, a fim de erradicar as gritantes disparida- mas ele pode ser corrompido na vida social. O homem é um ser
des de níveis escolares, evasão escolar e marginalização. livre, capaz de decidir, escolher com responsabilidade e buscar seu
De fato, a escola é o local que prepara a criança, futuro cidadão, crescimento pessoal.
para a vida, e deve transmitir valores éticos e morais aos estudan- 4. CONCEITO DE INFÂNCIA - A criança é inocente. A criança está
tes, e para que cumpra com seu papel deve acolher os alunos com mais perto da verdadeira humanidade. É preciso protegê-la, isolá-
empenho para, verdadeiramente transformar suas vidas. -la, do contato com a sociedade adulta e não ter pressa de transfor-
mar a criança em adulto. O importante não é preparar para a vida
Concepções de Educação
futura apenas, mas vivenciar intensamente a infância.
5. IDEAL DE HOMEM . É a pessoa livre, espontânea, de iniciati-
Concepção Tradicionalista da Educação
va, criativa, auto-determinada e responsável. Enfim, auto-realizada.
l. ORIGEM HISTORICA - Desde o poder aristocrático antigo e
feudal. Buscou inspiração nas tradições pedagógicas antigas e cris- 6. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - A função da Educaçao é possi-
tãs. Predominou até fins do século XIX. Foi elitista, pois apenas o bilitar condições para a atualização e uso pleno das potencialida-
clero e a nobreza tinham acesso aos estudos. des pessoais em direção ao auto-conhecimento e auto-realização
2. CONCEITO DE HOMEM - O homem é um ser originalmente pessoal. A Educação não deve destruir o homem concreto e sim
corrompido (pecado original). O homem deve submeter-se aos va- apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir contra o homem para for-
lores e aos dogmas universais e eternos. As regras de vida para o mar o homem. A Educação deve realizar-se a partir da própria vida
homem já forma estabelecidas definitivamente(num mundo “supe- e experiência do educando, apoiar-se nas necessidades e interesses
rior”, externo ao homem). naturais, expectativas do educando, e contribuir para seu desenvol-
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem sábio (= instruído, que de- vimento pessoal. Os três princípios básicos da Educação liberalista:
tém o saber, o conhecimento geral, apresenta correção no falar e liberdade, subjetividade, atividade.
escrever, e fluência na oratória) e o homem virtuoso (= disciplina- 7. EDUCADOR - Deve abster-se de intervir no processo do de-
do). A Educação Tradicionalista supervaloriza a formação intelectu- senvolvimento do educando. Deve ser elemento facilitador desse
al, a organização lógica do pensamento e a formação moral. desenvolvimento. Essa concepção enfatiza as atividades do mestre:
4. EDUCAÇÃO - Tem como função: corrigir a natureza corrom- compreensão , empatia (perceber o ponto de referência interno
pida do homem, exigindo dele o esforço, disciplina rigorosa, através do outro), carinho, atenção, aceitação, permissividade, autentici-
de vigilância constante. A Educação deve ligar o homem ao “mundo dade, confiança no ser humano.
superior”que é o seu destino final, e destruir o que prende o ho- 8. DISCIPLINA - As regras disciplinares são discutidas por todos
mem à sua existência terrestre. os educandos e assumidas por eles com liberdade e responsabili-
5. DISCIPLINA - Significa domínio de si mesmo, controle emo- dade. Essas regras são o limite real para o clima de permissividade.
cional e corporal. Predominam os incentivos extrínsecos: prêmios O trabalho ativo e interessado substitui a disciplina rígida.
e castigos. A Escola é um meio fechado que prepara o educando. 9. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL - A relação privilegiada
6. EDUCADOR - É aquele que já se disciplinou, conseguiu cor- é do grupo de educandos que cooperam, decidem, se expressam.
rigir sua natureza corrompida e já detém o saber. Tem seu saber Enfatiza as relações inter-pessoais, busca dar espaço para as emo-
reconhecido e sua autoridade garantida. Ele é o centro da decisão ções, sentimentos, afetos, fatos imprevistos emergentes no aqui-
do processo educativo.
-agora do encontro grupal. Permite o pensamento divergente, a
7. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL. - A disposição na sala
pluralidade de opções, respostas mais personalizadas. É centrada
de aula, um atrás do outro, reduz ao mínimo as possibilidades de
no estudante.
comunicação direta entre as pessoas. É cada um só com o mestre.
A relação professor-aluno é de obediência ao mestre. Incentiva a
competição. É preciso ser o melhor. O outro é um concorrente. 10. ESCOLA - É um meio fechado, se possível especialmente
8. O CONTEUDO - Ênfase no passado, ao já feito, aos conteúdos distanciado da vida social para proteger o educando. A escola tor-
prontos, ao saber já instituido. O futuro é reprodução do passado. O na-se uma mini-sociedade ideal onde o educando pode agir com
saber é enciclopédico e é preciso conhecer e praticar as leis morais. liberdade, espontaneidade, alegria.
9. PROCEDIMENTOS PEDAGOGICOS - O conteúdo é apresenta- 11. CONTEUDO - As crianças podem ordenar o conhecimento
do de forma acabada, há ênfase na quantidade de informação dada conforme os seus interesses. Evita-se mostrar o mundo “mau”aos
e memorizada. O aluno ouve informações gerais nas situações par- educandos. O mundo é apresentado de modo idealizado, bonito,
ticulares. “colorido”.
12. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO - Enfatiza a técnica de des-
Concepção Liberalista Da Educação coberta, o método indutivo (do particular ao geral). Defende téc-
1. ORIGEM HISTÓRICA - A concepção liberalista da Educação nicas globalizantes que garantam o sentido, a compreensão, a in-
foi se constituindo ao longo da História em reação à concepção Tra- ter-relação e sequenciação do conteúdo. Utiliza técnicas variadas:
dicionalista, seus primeiros indícios podem se reportar ao Renas- música, dança, expressão corporal, dramatização, pesquisa, solu-
cimento( séc. XV - XVI); prosseguindo com a instalação do poder ção de probleas, discussões grupais, dinâmica grupais, trabalho

57
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
prático. Muito som, luz, cor e movimento, supõe a aprendizagem 7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia, ordem, a
como processo intrínseco que requer elaboração interna do apren- impessoalidade, as normas fixas e precisas, o pensamento conver-
diz. Aprender a aprender é mais fundamental do que acumular gente, a uniformidade, a harmonia.
grandes quantidades de conteúdos, permite a variedade e mani- 8. CONTEUDO - Supervaloriza o conhecimento técnico-profis-
pulação efetiva de materiais didáticos pelos educandos. Ênfase no sional, enfatiza o saber pronto provindo das fontes culturais es-
jogo, descontração, prazer. Enfatiza avaliação qualitativa, a auto- trangeiros, super desenvolvidas.
-avaliação, a discussão de critérios e avaliação com os educandos. 9. PROCEDIMENTO PEDAGOGICO - Enfatiza a técnica, o saber-
13. RELAÇÃO EDUCACÃO-SOCIEDADE - A concepção liberalista -fazer sem discutir a questão dos valores envolvidos. Privilegia o
de Educação é coerente com o moderno capitalismo que propõe a saber técnico, os métodos individualizantes na obtenção do co-
livre iniciativa individual, adapação dos trabalhadores a situações nhecimento. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa dos
mutáveis, concepção de Educação é conivente com o sistema capi- resultados, a eficiência dos meios para alcançar o resultado final
talista de sociedade porque: previsto. Tudo é previsto, organizado, controlado pela equipe de
1. Contribui com a manutenção da estrutura de classes sociais , comando.
quando realiza a elitização do saber, de dois modos: 10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida utilizando re-
a) organizando o ensino de modo a desfavorecer o prossegui- forçamentos de preferência positivos (recompensas, prêmios, pro-
mento da escolarização dos mais pobres: o mundo da escola é o moções profissionais).
mundo burguês no visual, na linguagem, nos meios, nos fins. A es-
11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta concepção de
cola vai selecionando os mais “capazes”. Os outros vão sutilmente
Educação predomina a função reprodutiva do modelo social. As re-
se mantendo nas baixas camadas de escolaridade. A pirâmide es-
lações capitalistas se manifestam no trabalho pedagógico de modos
colar também contribui, portanto, com a reprodução contínua da
diversos e complementares:
pirâmide social .
b) 2. Inculca a concepção burguesa de mundo, de modo pre- a) pela expropriação do saber do professor pelos “planejado-
dominante, divulgando sua ideologia através do discurso explícito e res” ou pelo programas e máquinas importadas.
implícito (na fala das autoridades, nos textos de leitura, nas atitudes b) pela crescente proletarização do professor arrocho salarial
manifestas). Veicula conteúdos idealizadores da realidade, omitin- para manutenção dos lucros.
do questionamentos críticos desveladores do social real. c) pela contenção de despesas e de investimento na qualidade
3. Seu projeto de mudança social é reformista e acredita na de ensino e na formação do educador, buscando mínimos gastos e
mudança social sem conflito, não levando em consideração as con- máximos lucros para os proprietários da instituição.
tradições reais geradas pelo poder burguês. Quando fala em mu- d) pela preocupação exclusiva com a formação técnico-profis-
dança social, acredita que esta se processa das partes para o todo: sional necessária à preparação da mão-de-obra coerente com as
mudam as pessoas - as instituições - a sociedade. exigências do mercado de trabalho.
e) pelo uso da tecnologia à serviço do capital : redução da mão-
14. CONTRADIÇÃO BÁSICA - da concepção liberalista de Edu- -de-obra remunerada.
cação: Ao contestar o autoritarismo, a opressão e ressaltar a livre
expressão e os direitos do ser humano, a Educação Liberalista abre 12. CONTRADIÇÃO BÁSICA . Há bases materiais, concretas que
espaço para que seja possível inclusive a ultrapassagem de si pró- sustentam a concepção tecnoburocrática de Educação. Mas a pró-
pria em sua nova pedagogia que rejeita os seus pressupostos ide- pria dominação gera o seu contrário: a resistência, a luta. A prole-
ológicos e construa outros pressupostos com nova concepção de tarização do professor tem sido a base material que tem levado a
mundo, de sociedade, de homem. O liberalismo pedagógico torna categoria dos docentes a sair de seus movimentos reivindicatórios
possível esta ultrapassagem, mas não a realiza. corporativistas para unir suas forças à dos proletários. A luta do
educador é mais ampla: do nível da luta interna na instituição esco-
Concepção Técnico-Burocrática Da Educação lar e junto à categoria profissional à luta social contra o sistema que
1. ORIGEM HISTORICA - Esta concepção é também conhecida tem gerado esta Educação.
como concepção TECNICISTA. . Penetrou nos meios educacionais a
partir dos meados do séc. XX (1950) com o avanço dos modelos Concepção Dialética De Educação
de organização EMPRESARIAL .Representa a introdução do modelo
1. CONCEITO DE DIALETICA. A dialética é uma Filosofia porque
capitalista empresarial na escola.
implica uma concepção do homem, da sociedade e da relação ho-
2. CONCEPÇÃO DE HOMEM - É um ser condicionado pelo meio
mem-mundo. É também um método de conhecimento. Na Grécia
físico-social.
antiga a dialética signficava “arte do diálogo”. Desde suas origens
3. IDEAL DE HOMEM - É o homem produtivo e adaptado à so-
ciedade. mais antigas a dialética estava relacionada com as discussões sobre
4. FUNÇÃO DA EDUCACÃO - É modeladora, modificadora do a questão do movimento, da transformação das coisas. A dialética
comportamento humano previsto. Educação é adaptação do indi- percebe o mundo como uma realidade em contínua transformação.
víduo à sociedade. Em tudo o que existe há uma contradição interna. (Por exemplo,
5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa. Todo pro- numa sociedade há forças conservadoras interessadas em manter o
blema deve ser resolvido administrativamente. O administrativo e o sistema social vigente, e há forças emancipadoras). Essas forças são
pedagógico são departamentos separados. inter-dependentes e estão em luta. Essa luta força o movimento,
6. EDUCADOR - É um especialista, já possui o saber. Quem pos- a transformação de ambos os termos contrários em um terceiro
sui saber são os cientistas, os especialistas. Esses produzem a cultu- termo. No terceiro termo ha superação do estar-sendo anterior.
ra. Esses é que deverão comandar os demais homens. Eles produzi- 2. CONDICOES HISTORICAS. A dialética é muito antigo poden-
ram a teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os especialistas é que do ser reportada a sete séculos antes de Cristo. Sócrates (469-399
devem planejar, decidir e levar os demais a cumprirem as ordens, A.C.) é considerado o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e
e executar o fazer pedagógico. A equipe de comando técnico deve Karl Marx revivem a dialética e a partir deles novos autores têm
fiscalizar o cumprimento das ordens. retomado e ampliado a questão da dialética. A dialética como fun-

58
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
damentação filosófica e metodológica da Educação existiu desde os 3o. Voltar à prática para transformá-la: voltar à prática com
tempos antigos, mas não como concepção dominante. Prevaleceu referenciais teóricos mais elaborados e agir de modo mais compe-
ao longo da História uma concepção tradicionalista e metafísica de tente. A prática é o critério de avaliação da teoria. Ao colocar em
Educação. (Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da realidade prática o conhecimento mais elaborado surgem novas perguntas
concreta, com uma visão estática de mundo). Essa concepção tra- que requerem novo processo de teorização abrindo-nos ao movi-
dicional correspondia ao interesse das classes dominantes, clero e mento espiralado da busca contínua do conhecimento.
nobreza, de impedir transformações Como as transformações ra-
dicais da sociedade só interessam às classes desprivilegiadas com- 7. CONTEUDO E PROCEDIMENTO PEDAGOGICO : A educação
pete a essas a retomada da dialética. Assim é que o projeto peda- dialética luta pela escola pública e gratuita. Uma escola de qualida-
gógico da classe trabalhadora foi elaborado por ocasião de revolta de para o povo. Para assumir a hegemonia, a classe trabalhadora
dos trabalhadores na França (“Comuna de Paris”, 1871), assumida precisa munir-se de instrumentais: apropriação de conhecimentos,
rapidamente pelo poder burguês. O projeto pedagógico da classe métodos e técnicas, hoje restritos à classe dominante. Implica a
trabalhadora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em vários apropriação crítica e sistemática de teorias, tecnicas profissionais,
pontos do mundo. A concepção dialética de Educação supõe, pois, o ler, escrever e contar com eficiência e mais ainda, apropriar-se
a luta pelo direito da classe trabalhadora à Educação, e esige ainda, de métodos de aquisição, produção e divulgação do conhecimen-
a participação na luta pela mudança radical das suas condições de to: pesquisar, discutir, debater com argumentações precisas, uti-
existência. A concepção dialética sempre foi reprimida pelo poder lizar os mais variados meios de expressão, comunicação e arte. A
dominante, mas resistindo aos obstáculos, ela vai conquistando es- Educação dialética enfatiza técnicas que propriciem o fazer coleti-
paço. Ainda não está estruturada, está se fazendo. A todo educador vo, a capacidade de organização grupal, que permitem a reflexão
progresista-dialético uma tarefa se coloca: a de contribuir com essa crítica, que permitem ao educando posicionar-se como sujeito do
construção: sistematizar a teoria e a prática dialética de educação. conhecimento. Busca partir da realidade dos educandos, suas con-
3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agente do pro- dições de “partida”e interferir para superar esse momento inicial.
cesso histórico. “A História nos faz, refaz e é feito por nós continua- Avalia continuamente a prática global, não apenas os conteúdos
mente”. (Paulo Freire). memorizados. O aluno é também sujeito da avaliação. A avaliação
4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a construção serve para disgnosticar, evidenciar o que deve ser mudado.
do homem histórico, compromissado com as tarefas do seu tempo: 8. A ESCOLA - É lugar de contradição numa sociedade de clas-
participar do projeto de construção de uma nova realidade social. ses. Há forças contrárias em luta. Para a educação dialética a escola
Busca a realização plena de todos os homens e acredita que isto não deve ser uma sociedade ideal em miniatura. Ela não esconde
não será possível dentro do modelo capitalista de sociedade. Sendo
o conflito social. O conflito deve ser pedagogicamente codificado
assim se coloca numa perspectiva transformadora da realidade.
(não cair nas “leis da selva”), deve ser evidenciado para ser enfren-
O homem dessa outra realidade não será mais o homem unilate-
tado e superado. A escola deve preparar, ao mesmo tempo, para a
ral, excluido dos bens sociais, explorado no trabalho, mas será um
cooperação e para a luta.
homem bovo, o homem total”: “É o chegar histórico do homem a
9. O EDUCADOR - O professor dialético assume a diretividade,
uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de possibilidade
a intervenção. O professor deve ser mediador do diálogo do aluno
de consumo e gozo, podendo usufruir bens espirituais e materiais”
com o conhecimento e não o seu obstáculo. O professor não se faz
(Moacir Gadotti).
um igual ao aluno, assume a diferença, a assimetria inicial. O tra-
5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educação tem
uma função política de criar as condições necessárias à hegemonia balho educativo caminha na direção da diminuição gradativa dessa
da classe trabalhadora. Hegemonia implica o direito de todos par- diferença. Dirigir é ter uma proposta clara do trabalho pedagógico.
ticiparem efetivamente da condução da sociedade, poder decidir É propor, não impor.
sobre sua vida social; supõe direção cultural, política ideológica. 10. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL E DISCIPLINA. A edu-
As condições para hegemonia dos trabalhadores passam pela apro- cação dialética valoriza a seriedade na busca do conhecimento, a
priação da capacidade de direção. A Educação é projeto e processo. disciplina intelectual, o esforço. Questiona reduzir a aprendizagem
Seu projeto histórico é explícito: criação de uma nova hegemonia, ao que é apenas “gostoso”, prazeiroso em si mesmo. Busca resga-
a da classe trabalhadora. O ato educativo, cotidiano não é um ato tar o lúdico: trabalho com prazer, momento de plenitude. Valoriza
isolado mas integrado num projeto social e global de luta da classe o rigor científico que não é incompatível com os procedimentos
trabalhadora. A educação dialética é processo de formação e ca- democráticos. Um não exclui o outro. Nega o autoritarismo e es-
pacitação: apropriação das capacidades de organização e direção, pontaneismo. Reconhece que o uso legítimo da autoridade do edu-
fortalecimento da consciência de classe para intervir de modo cria- cador se faz em sintonia com a expressividade e espontaneidade.
tivo, de modo organizado, na transformação estrutural da socieda- A disciplina (regras de comportamento) é algo que se constrói cole-
de.”Essa educação é libertadora na medida em que tiver como ob- tivamente. Valoriza a afetividade no encontro inter-pessoal, sem a
jetivo a ação e reflexão consciente e criadora das classes oprimidas chantagem ou exploração do afetivo. Mas não basta amar, compre-
sobre seu próprio processo de libertação.”(Paulo Freire). ender e querer bem o educando. O amor deve aliar-se à competên-
cia profissional, iluminada por um compromisso político claro. 14
6. CONCEPÇÃO METODOLOGICA BÁSICA: Prática - Teoria - Prá-
tica Tendências pedagógicas e o pensamento pedagógico brasilei-
1o. Partir da prática concreta: Perguntar, problematizar a prá- ro
tica. São as necessidades práticas que motivam a busca do conhe- O ofício de professor deve consagrar temas como a prática edu-
cimento elaborado. Essas necessidades constituem o problema: cativa, a profissionalização docente, o trabalho em equipe, projetos,
aquilo que é necessário solucionar. É preciso, pois, identificar fatos autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias diferencia-
e situações significativas da realidade imediata.
2o. Teorizar sobre a prática: ir além das aparências imediatas. 14 Fonte:www.letrasunifacsead.blogspot.com.br/www.p/dermeval-saviani-con-
Refletir, discutir, buscar conhecer melhor o tem problematizado, es- cepcoes-de-escola.html/www.ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/T1SF/Akiko/04.doc./
Coordenação de Ação Cultural MOVA-SP (Prefeitura Municipal de São Paulo)
tudar criativamente.
Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos

59
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
das, e propostas concretas. O autor toma como referencial de com- - Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas
petência adotado em Genebra, 1996, para uma formação continua. simples de ensino mútuo, provocando aprendizagens através de
O professor deve dominar saberes a ser ensinado, ser capaz de dar ações coletivas, criando uma cultura de cooperação através de ati-
aulas, de administrar uma turma e de avaliar. Ressalta a urgência de tudes e da reflexão sobre a experiência.
novas competências, devido às transformações sociais existentes.
As tecnologias mudam o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana 4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu traba-
e mesmo o pensamento. A prática docência tem que refletir sobre lho.
o mundo. Os professores são os intelectuais e mediadores, inter- - Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o sa-
pretes ativos da cultura, dos valores e do saber em transformação. ber, o sentido do trabalho escolar e desenvolver na criança a capa-
Se não se perceberem como depositários da tradição ou percursos cidade de auto avaliação. O professor deve ter em mente o que é
do futuro, não serão desempenhar esse papel por si mesmos. O ensinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o desejo de saber,
currículo deve ser orientado para se designar competências, a ca- instituindo um conselho de alunos e negociar regras e contratos;
pacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capa- - Oferecer atividades opcionais de formação, à la carte;
cidades, informações, etc.) para enfrentar, solucionar uma serie de - Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno, valori-
situações. Dez domínios de competências reconhecidas como prio- zando-os e reforçando-os a incitar o aluno a realizar projetos pesso-
ritárias na formação contínua das professoras e dos professores do ais, sem retornar isso um pré-requisito.
ensino fundamental.
5. Trabalhar em equipe.
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. - Elaborar um projeto de equipe, representações comuns;
- Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem - Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem: nos está- - Formar e renovar uma equipe pedagógica;
gios de planejamento didático, da analise posterior e da avaliação. - Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práti-
- Trabalhar a partir das representações dos alunos: consideran- cas e problemas profissionais.
do o conhecimento do aluno, colocando-se no lugar do aprendiz, - Administrar crises ou conflitos interpessoais.
utilizando se de uma competência didática para dialogar com ele
e fazer com que suas concepções se aproxime dos conhecimentos 6. Participar da administração da escola.
científicos; - Elaborar, negociar um projeto da instituição;
- Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem: - Administrar os recursos da escola;
usando de uma situação-problema ara transposição didática, consi- - Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros
derando o erro, como ferramenta para o ensino. (serviços para escolares, bairro, associações de pais, professores de
- Construir e planejar dispositivos e sequências didáticas; línguas e cultura de origem);
- Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação
- Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de
dos alunos.
conhecimento.
7. Informar e envolver os pais.
2. Administrar a progressão das aprendizagens.
- Dirigir reuniões de informação e de debate;
- Conceber e administrar situações-problema ajustadas ao ní-
- Fazer entrevistas;
vel e as possibilidades dos alunos: em torno da resolução de um
- Envolver os pais na construção dos saberes.
obstáculo pela classe, propiciando reflexões, desafios, intelectuais,
conflitos sociocognitivos;
8. Utilizar novas tecnologias.
- Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino: do-
As novas tecnologias da informação e da comunicação trans-
minar a formação do ciclo de aprendizagem, as fases do conheci- formam as maneiras de se comunicar, de trabalhar, de decidir e de
mento e do desenvolvimento intelectual da criança e do adoles- pensar. O professor predica usar editores de textos, explorando di-
cente, além do sentimento de responsabilidade do professor pleno dáticas e programas com objetivos educacionais.
conjunto da formação do ensino fundamental; - Discutir a questão da informática na escola;
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de - Utilizar editores de texto;
aprendizagens; - Explorar as potencialidades didáticas dos programas em rela-
- Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagens; ção aos objetivos do ensino;
- Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões - Comunicar-se à distância por meio da telemática;
de progressão; - Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos de alunos e
dispositivos de ensino-aprendizagem. Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud, que traba-
lhos nessa pesquisa, a Informática na Educação, nos fez perceber
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação. que cada vez mais precisamos do computador, porque estamos na
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma, com era da informatização e por isso é primordial que nós profissionais
o propósito de grupos de necessidades, de projetos e não de homo- da educação estejamos modernizados e acompanhando essa ten-
geneidade; dência, visto que assim como um simples pagamento no banco,
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto, utilizamos o computador , para estarmos atualizados necessitamos
organizar para facilitar a cooperação e a geração de grupos utilida- obter mais esta competência para se fazer uma docência de quali-
des; dade.
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores
de grandes dificuldades, sem todavia, transforma-se num psicote- 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
rapeuta; - Prevenir a violência na escola e fora dela;

60
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
- Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, ét- Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia de que o
nicas e sociais; ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da
- Participar da criação de regras de vida comum referente á dis- criança é acompanhada de outra: a de que a capacidade de assimi-
ciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta; lação da criança é idêntica à do adulto, sem levar em conta as carac-
- Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação terísticas próprias de cada idade. A criança é vista, assim, como um
em aula; adulto em miniatura, apenas menos desenvolvida.
- Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o No ensino da língua portuguesa, parte-se da concepção que
sentimento de justiça. considera a linguagem como expressão do pensamento. Os segui-
dores dessa corrente linguística, em razão disso, preocupam-se com
10. Administrar sua própria formação contínua. a organização lógica do pensamento, o que presume a necessidade
- Saber explicitar as próprias práticas; de regras do bem falar e do bem escrever. Segundo essa concepção
- Estabelecer seu próprio balanço de competência e seu pro- de linguagem, a Gramática Tradicional ou Normativa se constitui
grama pessoa de formação contínua; no núcleo dessa visão do ensino da língua, pois vê nessa gramática
- Negociar um projeto de formação comum com os colegas uma perspectiva de normatização linguística, tomando como mo-
(equipe, escola, rede); delo de norma culta as obras dos nossos grandes escritores clássi-
- Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou cos. Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garantia de se
do sistema educativo; chegar ao domínio da língua oral ou escrita.
- Acolher a formação dos colegas e participar dela. Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensino da
gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios repetitivos
e de recapitulação da matéria, exigindo uma atitude receptiva e
Conclusão: Contribuir para o debate sobe a sua profissionaliza-
mecânica do aluno. Os conteúdos são organizados pelo professor,
ção, com responsabilidade numa formação continua.15
numa sequencia lógica, e a avaliação é realizada através de provas
escritas e exercícios de casa.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de
ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de ho- Tendência Liberal Renovada Progressivista
mem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupos- Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a tendência libe-
tos sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim, ral renovada (ou pragmatista) acentua o sentido da cultura como
justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os desenvolvimento das aptidões individuais.
professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno para assu-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. mir seu papel na sociedade, adaptando as necessidades do edu-
cando ao meio social, por isso ela deve imitar a vida. Se, na ten-
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de apren- dência liberal tradicional, a atividade pedagógica estava centrada
dizagem empregados pelas diferentes tendências pedagógicas na no professor, na escola renovada progressivista, defende-se a ideia
prática escolar brasileira, numa tentativa de contribuir, teoricamen- de “aprender fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando
te, para a formação continuada de professores. as tentativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicionantes de meio natural e social, etc, levando em conta os interesses do aluno.
ordem sociopolítica que implicam diferentes concepções de ho- Como pressupostos de aprendizagem, aprender se torna uma
mem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupos- atividade de descoberta, é uma autoaprendizagem, sendo o am-
tos sobre o papel da escola e da aprendizagem, inter alia. Assim, biente apenas um meio estimulador. Só é retido aquilo que se in-
justifica-se o presente estudo, tendo em vista que o modo como os corpora à atividade do aluno, através da descoberta pessoal; o que
professores realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses é incorporado passa a compor a estrutura cognitiva para ser em-
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. pregado em novas situações. É a tomada de consciência, segundo
Piaget.
Tendências Pedagógicas Liberais No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não trouxeram
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sustenta a ideia maiores consequências, pois esbarraram na prática da tendência
de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o de- liberal tradicional.
sempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais.
Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
Isso pressupõe que o indivíduo precisa adaptar-se aos valores e nor-
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na formação
mas vigentes na sociedade de classe, através do desenvolvimento
de atitudes, razão pela qual deve estar mais preocupada com os
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto cultural, as
problemas psicológicos do que com os pedagógicos ou sociais. Todo
diferenças entre as classes sociais não são consideradas, pois, em-
o esforço deve visar a uma mudança dentro do indivíduo, ou seja, a
bora a escola passe a difundir a ideia de igualdade de oportunida- uma adequação pessoal às solicitações do ambiente.
des, não leva em conta a desigualdade de condições. Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas se
aprende o que estiver significativamente relacionado com essas
Tendência Liberal Tradicional percepções. A retenção se dá pela relevância do aprendido em re-
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tradicional se lação ao “eu”, o que torna a avaliação escolar sem sentido, privile-
caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral. De giando-se a auto-avaliação. Trata-se de um ensino centrado no alu-
acordo com essa escola tradicional, o aluno é educado para atingir no, sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da língua,
sua plena realização através de seu próprio esforço. Sendo assim, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as ideias da escola
as diferenças de classe social não são consideradas e toda a prática renovada não-diretiva, embora muito difundidas, encontraram,
escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. também, uma barreira na prática da tendência liberal tradicional.
15 Fonte: Perrenoud, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto
Alegre: ARTMED, 2000. Reimpressão 2008

61
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Tendência Liberal Tecnicista se procura alcançar, por meio de representações da realidade con-
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da ordem creta, a razão de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, apren-
social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente der é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é, da
com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudan- situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta de
ça de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o conhecimento
interesse principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” que o educando transfere representa uma resposta à situação de
para o mercado de trabalho, não se preocupando com as mudanças opressão a que se chega pelo processo de compreensão, reflexão
sociais. e crítica.
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada na teo- No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, sinteti-
ria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depositário passivo dos za sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto carinhosamente. De
conhecimentos, que devem ser acumulados na mente através de modo geral, simbolicamente, eu puxo uma cadeira e convido o au-
associações. Skinner foi o expoente principal dessa corrente psico- tor, não importa qual, a travar um diálogo comigo”.
lógica, também conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER Tendência Progressista Libertária
(2000), a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua por A escola progressista libertária parte do pressuposto de que
meio de imitação e formação de hábitos, por isso a ênfase na repe- somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em si-
tição, nos drills, na instrução programada, para que o aluno forme tuações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se
“hábitos” do uso correto da linguagem. for possível seu uso prático. A ênfase na aprendizagem informal via
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que implan- grupo, e a negação de toda forma de repressão, visam a favorecer o
tou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram as influências do desenvolvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua, pro-
estruturalismo linguístico e a concepção de linguagem como ins- cura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da negociação de
trumento de comunicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) sentidos na leitura.
– é vista como um código, ou seja, um conjunto de signos que se
combinam segundo regras e que é capaz de transmitir uma mensa- Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos
gem, informações de um emissor a um receptor. Portanto, para os Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social dos
estruturalistas, saber a língua é, sobretudo, dominar o código. conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, acentua a
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa concepção de primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais.
linguagem, o trabalho com as estruturas linguísticas, separadas do A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo
homem no seu contexto social, é visto como possibilidade de de- adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por
senvolver a expressão oral e escrita. A tendência tecnicista é, de meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma partici-
certa forma, uma modernização da escola tradicional e, apesar das pação organizada e ativa na democratização da sociedade.
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu superar os Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o princípio
equívocos apresentados pelo ensino da língua centrado na gramá- da aprendizagem significativa, partindo do que o aluno já sabe. A
tica normativa. Em parte, esses problemas ocorreram devido às di- transferência da aprendizagem só se realiza no momento da sín-
ficuldades de o professor assimilar as novas teorias sobre o ensino tese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e
da língua materna. adquire uma visão mais clara e unificadora.

Tendências Pedagógicas Progressistas Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96


Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as tendên- Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de n.º
cias que, partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sus- 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vygotsky e Wallon. Um
dos pontos em comum entre esses psicólogos é o fato de serem
tentam implicitamente as finalidades sociopolíticas da educação.
interacionistas, porque concebem o conhecimento como resultado
da ação que se passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com
Tendência Progressista Libertadora
Aranha (1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como
As tendências progressistas libertadoras e libertárias têm, em
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os empiristas,
comum, a defesa da autogestão pedagógica e o antiautoritarismo.
mas resulta da interação entre ambos.
A escola libertadora, também conhecida como a pedagogia de Pau-
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa
lo Freire, vincula a educação à luta e organização de classe do opri-
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite a pos-
mido. Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera o papel
sibilidade de negociação de sentidos em sala de aula. O processo
informativo, o ato de conhecimento na relação educativa, mas in- de leitura, portanto, não é centrado no texto, ascendente, bottom-
siste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e junto deste, -up, como queriam os empiristas, nem no receptor, descendente,
não se elabora uma nova teoria do conhecimento e se os oprimi- top-down, segundo os inatistas, mas ascendente/descendente, ou
dos não podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento que seja, a partir de uma negociação de sentido entre enunciador e re-
lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios conhecimentos e ceptor. Assim, nessa abordagem interacionista, o receptor é retira-
apropriar-se de outros. do da sua condição de mero objeto do sentido do texto, de alguém
Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de classes, o saber que estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicio-
mais importante para o oprimido é a descoberta da sua situação de nalmente, no ensino da leitura.
oprimido, a condição para se libertar da exploração política e eco- As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao encontro da
nômica, através da elaboração da consciência crítica passo a passo concepção que considera a linguagem como forma de atuação so-
com sua organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora bre o homem e o mundo e das modernas teorias sobre os estudos
ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também no campo do texto, como a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semân-
da economia, da política e das ciências sociais, conforme Gadotti. tica Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
Como pressuposto de aprendizagem, a força motivadora deve De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Libâneo, de-
decorrer da codificação de uma situação-problema que será anali- duz-se que as tendências pedagógicas liberais, ou seja, a tradicional,
sada criticamente, envolvendo o exercício da abstração, pelo qual a renovada e a tecnicista, por se declararem neutras, nunca assumi-

62
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
ram compromisso com as transformações da sociedade, embora, Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Teixeira foi o
na prática, procurassem legitimar a ordem econômica e social do grande pioneiro da Escola Nova no Brasil. É um método centrado no
sistema capitalista. No ensino da língua, predominaram os métodos aluno. A escola tem o papel de formadora de atitudes, preocupan-
de base ora empirista, ora inatista, com ensino da gramática tra- do-se mais com a parte psicológica do que com a social ou pedagó-
dicional, ou sob algumas as influências teóricas do estruturalismo gica. E para aprender tem que estar significativamente ligado com
e do gerativismo, a partir da Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino. suas percepções, modificando-as.
Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição às li- Tecnicista – Skinner foi o expoente principal dessa corrente psi-
berais, têm em comum a análise crítica do sistema capitalista. De cológica, também conhecida como behaviorista. Neste método de
base empirista (Paulo Freire se proclamava um deles) e marxista ensino o aluno é visto como depositário passivo dos conhecimen-
(com as ideias de Gramsci), essas tendências, no ensino da língua, tos, que devem ser acumulados na mente através de associações.
valorizam o texto produzido pelo aluno, a partir do seu conheci- O professor é quem deposita os conhecimentos, pois ele é visto
mento de mundo, assim como a possibilidade de negociação de como um especialista na aplicação de manuais; sendo sua prática
sentido na leitura. extremamente controlada. Articula-se diretamente com o sistema
A partir da LDB 9.394/96, principalmente com as difusões das produtivo, com o objetivo de aperfeiçoar a ordem social vigente,
idéias de Piaget, Vygotsky e Wallon, numa perspectiva sócio-histó- que é o capitalismo, formando mão de obra especializada para o
rica, essas teorias buscam uma aproximação com modernas corren- mercado de trabalho.
tes do ensino da língua que consideram a linguagem como forma Tendências Progressistas - Partem de uma análise crítica das
de atuação sobre o homem e o mundo, ou seja, como processo de realidades sociais, sustentam implicitamente as finalidades socio-
interação verbal, que constitui a sua realidade fundamental. políticas da educação e é uma tendência que condiz com as ideias
implantadas pelo capitalismo. O desenvolvimento e popularização
Tendências Pedagógicas Brasileiras da análise marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da
As tendências pedagógicas brasileiras foram muito influencia- tendência progressista, que se ramifica em três correntes:
das pelo momento cultural e político da sociedade, pois foram leva- Libertadora – Também conhecida como a pedagogia de Paulo
das à luz graças aos movimentos sociais e filosóficos. Essas forma- Freire, essa tendência vincula a educação à luta e organização de
ram a prática pedagógica do país. classe do oprimido. Onde, para esse, o saber mais importante é a
Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) propõem a re- de que ele é oprimido, ou seja, ter uma consciência da realidade
flexão sobre as tendências pedagógicas. Mostrando que as princi- em que vive. Além da busca pela transformação social, a condição
pais tendências pedagógicas usadas na educação brasileira se divi- de se libertar através da elaboração da consciência crítica passo a
dem em duas grandes linhas de pensamento pedagógico. Elas são: passo com sua organização de classe. Centraliza-se na discussão de
Tendências Liberais e Tendências Progressistas. temas sociais e políticos; o professor coordena atividades e atua
Os professores devem estudar e se apropriar dessas tendên- juntamente com os alunos.
cias, que servem de apoio para a sua prática pedagógica. Não se Libertária – Procura a transformação da personalidade num
deve usar uma delas de forma isolada em toda a sua docência. Mas, sentido libertário e autogestionário. Parte do pressuposto de que
deve-se procurar analisar cada uma e ver a que melhor convém ao somente o vivido pelo educando é incorporado e utilizado em si-
seu desempenho acadêmico, com maior eficiência e qualidade de tuações novas, por isso o saber sistematizado só terá relevância se
atuação. De acordo com cada nova situação que surge, usa-se a ten- for possível seu uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto
dência mais adequada. E observa-se que hoje, na prática docente, cultural, a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili-
há uma mistura dessas tendências. zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido como um
Deste modo, seguem as explicações das características de cada conselheiro à disposição do aluno.
uma dessas formas de ensino. Porém, ao analisá-las, deve-se ter em “Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Crítica” - Tendên-
mente que uma tendência não substitui totalmente a anterior, mas cia que apareceu no Brasil nos fins dos anos 70, acentua a prio-
ambas conviveram e convivem com a prática escolar. ridade de focar os conteúdos no seu confronto com as realidades
sociais, é necessário enfatizar o conhecimento histórico. Prepara o
Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo aberto aluno para o mundo adulto, com participação organizada e ativa na
ou democrático, mas com uma instigação da sociedade capitalista democratização da sociedade; por meio da aquisição de conteúdos
ou sociedade de classes, que sustenta a ideia de que o aluno deve e da socialização. É o mediador entre conteúdos e alunos. O ensi-
ser preparado para papéis sociais de acordo com as suas aptidões, no/aprendizagem tem como centro o aluno. Os conhecimentos são
aprendendo a viver em harmonia com as normas desse tipo de so- construídos pela experiência pessoal e subjetiva.
ciedade, tendo uma cultura individual. Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil por moti- 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon foram muito
vos históricos. Nesta tendência o professor é a figura central e o alu- difundidas, tendo uma perspectiva sócio-histórica e são interacio-
no é um receptor passivo dos conhecimentos considerados como nistas, isto é, acreditam que o conhecimento se dá pela interação
verdades absolutas. Há repetição de exercícios com exigência de entre o sujeito e um objeto.
memorização. Alguns dos principais expoentes da história educacional nacio-
Renovadora Progressiva - Por razões de recomposição da he- nal e internacional debruçaram-se sobre a questão das tendências
gemonia da burguesia, esta foi a próxima tendência a aparecer no pedagógicas. Autores como Paulo Freire, Luckesi, Libâneo, Saviani
cenário da educação brasileira. Caracteriza-se por centralizar no e Gadotti, entre outros não menos importantes, dedicaram gran-
aluno, considerado como ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que de parte de suas vidas a estudos que pudessem contribuir para o
ele “só irá aprender fazendo”, valorizam-se as tentativas experimen- avanço da Educação, desenvolvendo teorias para nortear as práti-
tais, a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e social. cas pedagógicas, objetivando melhorar a qualidade do ensino que
Aprender se torna uma atividade de descoberta, é uma autoapren- é aplicado nas escolas. Essa é a função das tendências pedagógicas
dizagem. O professor é um facilitador. no universo educacional. O que se pretende neste trabalho é jus-

63
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
tamente trazer à tona essa questão, erguendo a bandeira das ten- neo, aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta,
dências pedagógicas contemporâneas, buscando, assim, contribuir isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se
para uma melhor assimilação delas por parte de alguns professores resulta de uma aproximação crítica dessa realidade, o que está em
de escolas públicas. consonância com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia Crítica impli-
ca a clareza dos determinantes sociais da educação, a compreensão
A relação entre as tendências pedagógicas e a prática docente do grau em que as contradições da sociedade marcam a educação
As tendências pedagógicas são de extrema relevância para a e, consequentemente, como é preciso se posicionar diante dessas
Educação, principalmente as mais recentes, pois contribuem para contradições e desenredar a educação das visões ambíguas para
a condução de um trabalho docente mais consciente, baseado nas perceber claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão
demandas atuais da clientela em questão. O conhecimento dessas educacional.
tendências e perspectivas de ensino por parte dos professores é Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir de uma
fundamental para a realização de uma prática docente realmente posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia da Educação, o
significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois tais ten- autor discorre sobre a relação existente entre a Pedagogia e a Filo-
dências objetivam nortear o trabalho do educador, ajudando-o a sofia e busca clarificar as perspectivas das relações entre educação
responder a questões sobre as quais deve se estruturar todo o pro- e sociedade. No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências
cesso de ensino, tais como: o que ensinar? Para quem? Como? Para filosóficas responsáveis por interpretar a função da educação na
quê? Por quê? sociedade: a Educação Redentora, a Educação Reprodutora e a Edu-
cação Transformadora da sociedade. A primeira é otimista, acredita
E para que a prática pedagógica em sala de aula alcance seus que a educação pode exercer domínio sobre a sociedade (pedago-
objetivos, o professor deve ter as respostas para essas questões, gias liberais). A segunda é pessimista, percebe a educação como
pois, como defende Luckesi (1994), “a Pedagogia não pode ser bem sendo apenas reprodutora de um modelo social vigente, enquan-
entendida e praticada na escola sem que se tenha alguma clareza to a terceira tendência assume uma postura crítica com relação
do seu significado. Isso nada mais é do que buscar o sentido da às duas anteriores, indo de encontro tanto ao “otimismo ilusório”
prática docente”. quanto ao “pessimismo imobilizador” (Pedagogias Progressivistas).
Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo dos tem- Em consonância com estas leituras filosóficas sobre as relações
pos por diversos teóricos que se debruçaram sobre o tema, foram entre educação e sociedade, Libâneo (1985), ao realizar uma abor-
concebidas com base nas visões desses pensadores em relação ao dagem das tendências pedagógicas, organiza as diferentes pedago-
contexto histórico das sociedades em que estavam inseridos, além gias em dois grupos: Pedagogia Liberal e Pedagogia Progressivista.
de suas concepções de homem e de mundo, tendo como principal A Pedagogia Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renova-
objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a partir das ne- da Progressivista; Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pedagogia
cessidades de ensino observadas no âmbito social em que viviam. Progressivista é subdividida em Libertadora; Libertária; e Crítico-so-
Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pedagógicas cial dos Conteúdos.16
por parte dos professores, principalmente as mais recentes, torna-
-se de extrema relevância, visto que possibilitam ao educador um
aprofundamento maior sobre os pressupostos e variáveis do pro- ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO – AS BASES
cesso de ensino-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibili- SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO, A EDUCAÇÃO COMO
dades de direcionamento do seu trabalho a partir de suas convic- PROCESSO SOCIAL, AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS BÁSI-
ções pessoais, profissionais, políticas e sociais, contribuindo para a CAS, EDUCAÇÃO PARA O CONTROLE E PARA A TRANS-
produção de uma prática docente estruturada, significativa, escla- FORMAÇÃO SOCIAL, CULTURA E ORGANIZAÇÃO SO-
recedora e, principalmente, interessante para os educandos. CIAL, DESIGUALDADES SOCIAIS, A RELAÇÃO ESCOLA
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar motivos / FAMÍLIA / COMUNIDADE. EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
para que o aluno vá para os bancos escolares com satisfação, ale- NO BRASIL
gria. Existem escolas esperançosas, com gente animada, mas exis-
te um mal-estar geral na maioria delas. Não acredito que isso seja A sociologia é uma ciência que tem como proposta pensar so-
trágico. Essa insatisfação deve ser aproveitada para dar um salto. bre o homem e a sua interação, produzir conhecimento para pensar
Se o mal-estar for trabalhado, ele permite avanços. Se for aceito o processo social e como funciona esse processo social, Essa cons-
como fatalidade, ele torna a escola um peso morto na história, que trução da sociedade.
arrasta as pessoas e as impede de sonhar, pensar e criar (Moacir Sociedade que se faz o tempo todo, que se modifica sem parar.
Gadotti, em entrevista para a revista Nova Escola, edição de novem- Também surgiu da necessidade de se explicar os problemas sociais,
bro/2000). as culturas existentes e as “diferenças”.
Desse modo, creio que seja essencial que todos os professo- Existem várias teorias que são utilizadas para tornar a socie-
res tenham um conhecimento mais aprofundado das tendências dade melhor. De que forma como educadores podemos contribuir
pedagógicas, pois elas foram concebidas para nortear as práticas para educação, a educação está dentro da sociedade como um
pedagógicas. O educador deve conhecê-las, principalmente as mais todo. Para que as teorias vão servir? Como essas teorias nos aju-
recentes, ainda que seja para negá-las, mas de forma crítica e cons- dariam, os teóricos servirão para dar embasamento, para pensar
ciente, ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos observados na realidade atual, como responder certos problemas que estão
em cada uma delas para construir uma base pedagógica própria, acontecendo.
mas com coerência e propriedade. A proposta do curso da disciplina é a interação, a troca. A teoria
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível “pensar que não serve de nada sendo apenas teoria, ela vai deixar de ser teoria
se pode abrir um caminho a uma pedagogia atual; que venha fazer quando nós implementar ela na nossa prática que é construída o
a síntese do tradicional e do moderno: síntese e não confusão”. O tempo todo, no dia a dia, a partir da ação de cada um de nós, na
importante é que se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, prática pedagógica, No convívio social, tudo isso e construído e re-
literalmente, o alunado e assim poder dar um sentido político e so- construído o tempo todo.
cial ao trabalho que está sendo realizado, pois, como afirma Libâ-
16 Por Délcio Barros da Silva

64
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A proposta é trabalhar alguns problemas educacionais brasilei- mativas, ou seja, o contexto de sentidos e significados que permite
ros e como será feita essa discussão em outra ótica como um novo que os sistemas educacionais funcionem como meio de transmis-
olhar. Ex: A democratização das escolas brasileira, todos tem aces- são e integração culturais.
so da mesma maneira? Com a mesma qualidade? Não! Por quê? A De acordo com Lakatos (1979, p. 23), a sociologia da educação
gente para e pensa porque não é da mesma forma, se questiona do “examina o campo, a estrutura e o funcionamento da escola como
porque é diferente? instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na
Devemos ver esse problema luz, embasado em determinadas instituição educacional”.
teorias, mas além das teorias deve haver discussões sobre os tex-
tos, as matérias que todos estão vendo. Auguste comte:
- O papel da sociologia na realidade educacional brasileira. Foi Auguste Comte (1798-1857) quem deu o primeiro passo
- A discussão da realidade dos problemas que afetam a edu- e a quem é atribuído o uso, pela primeira vez, da palavra sociolo-
cação. gia. É de Comte também a preocupação de dotar a sociologia de
um método, preferencialmente alguma coisa bem parecida com os
Outro ponto importante é entender como a sociologia passa métodos usados pelas ciências naturais, para que não restassem
a fazer parte da realidade da educação brasileira, do currículo, dos dúvidas sobre o fato de ser ela uma ciência – a física social, como
cursos, tendo em vista sempre a democratização do ensino e da ele a definia inicialmente. Acreditava ser necessário que fossem ela-
sociedade. Durante as aulas será visto como se deu o processo de boradas leis do desenvolvimento social, isto é, leis que deveriam ser
construção da sociologia como ciência fundamental para se pensar seguidas para que a vida em sociedade fosse possível. Essa maneira
em educação hoje, esse processo foi se construindo a partir de al- de ver a sociedade (como alguma coisa passível de ser controlada
guns autores como: apenas por normas, regras e leis) e a sociologia (como a ciência que
- Augusto Comte se encarregaria de fornecer os instrumentos para isso), se dá no
- Émile Durkheim contexto do Positivismo. Comte priorizou a noção de consenso, que
- Kall Max se apoiaria em idéias e crenças comuns, se não a todos, ao menos
- Ma Weber à maioria da sociedade, e na supremacia do todo sobre as partes.
Esses autores trazem alguns conceitos como: poder, status, Èmile durkheim
mobilidade, interação e outros mais. Durkheim analisou as estruturas e instituições sociais, bem
como as relações entre o indivíduo e a sociedade, analisando as no-
A sociologia nasce enquanto ciência como uma tentativa de vas relações de poder que se configuravam na Europa da sua época.
explicar as mudanças sociais, num momento de grandes mudanças
Via a educação como um processo contínuo e como um caminho
sociais, marcado pela Revolução Industrial, Revolução Francesa e a
em direção à ordem e à estabilidade, conforme determinados valo-
Formação dos Estados Nacionais, a chamada Modernidade.17
res éticos fossem passados. Dizia também que a sociedade é mais
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
do que a soma de seus membros e que, portanto, deveriam ser ana-
A Sociologia da educação é uma ciência produtora de conhe-
lisadas suas interações e o sistema que daí se originaria. Enfatiza
cimentos específicos que levam a discussão da democratização e
em sua obra que o comportamento dos grupos sociais não pode
do papel do ensino, promovendo uma reflexão sobre a sociedade e
ser reduzido ao comportamento dos indivíduos que fazem parte
seus problemas relacionados à educação. Seu papel é investigar a
desse grupo. Parte da noção de fato social, isto é, a maneira de
escola enquanto instituição social, analisando os processos sociais
envolvidos, todas as mudanças ocorridas em nossa sociedade, pensar, agir e sentir de um grupo social, entendendo a sociedade
trouxeram mudanças para a educação. como um conjunto de fatos sociais que só poderiam ser estudados
As teorias sociológicas fornecem alguns conceitos que servirão se fossem tratados como coisas. Caracterizou o fato social como
de embasamento teórico também para a sociologia da educação. sendo comum a todos os membros da sociedade ou à sua maioria
[...] sociologia é uma disciplina potencialmente humanista porquan- (princípio da generalidade); externo ao indivíduo, isto é, que existe
to pode aumentar a área de escolha que os homens têm sobre suas independentemente da sua vontade (princípio da exterioridade);
ações. Ela lhes permite localizar as fontes a que devem recorrer se coercitivo, uma vez que acaba por pressionar os indivíduos para
quiserem mudar as coisas, e os meios necessários, dando ao ho- que sigam o comportamento esperado, estabelecido como sendo
mem, dessa forma, uma base científica potencial para ação, refor- o padrão (princípio da coercitividade). Daí a possibilidade concreta
çando-o, em vez de constrangê-lo numa camisa de força do deter- que Durkheim percebeu de se poder tratar o fato social como “coi-
minismo. (COULSON; RIDDELL, 1979, p. 123). sa”. Distingue dois tipos de sociedades, pautadas no que chamou
de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, dependendo
Os primeiros grandes sociólogos: a educação como tema e ob- da intensidade dos laços que unem os indivíduos. Para ele, [...] as
jeto de estudo sociedades antigas apresentavam a divisão do trabalho fundamen-
Entende-se educação como um caminho para propiciar o ple- tada na solidariedade mecânica. Nesta, cada indivíduo conseguia
no desenvolvimento da personalidade, das aptidões e das poten- realizar um conjunto de atividades [...] onde havia um pequeno nú-
cialidades, tendo como fim último o exercício pleno da cidadania. mero de habitantes e certa semelhança de funções [...] permitindo
De acordo com Tedesco (2004, p. 34), educação [...] é mais do que a um indivíduo ou a outro executar tais ou quais tarefas devido à
apenas a transmissão de conhecimentos e a aquisição de compe- aproximação entre elas. (VIEIRA, 1996, p. 53). A sociologia da edu-
tências valorizadas no mercado. Envolve valores, forja o caráter, cação para Durkheim, seria um esforço [...] no sentido de refletir
oferece orientações, cria um horizonte de sentidos compartilhados, sobre os processos da ação educativa no intento de conhecê-los,
em suma, introduz as pessoas numa ordem moral. Por isso mes- explicá-los e exprimir a sua natureza, o que deve ser acompanhado
mo, também deve dar conta das transformações que experimenta pela observação histórica do seu processo evolutivo [...] e, tendo
o contexto cultural imediato em que se desenvolvem as tarefas for- por base o conhecimento científico da sociedade e da educação, é
possível encontrar caminhos para a tomada de decisões ou as refor-
17 Fonte: www.pedagogiaonlineead.blogspot.com.br – Texto adaptado de
mas sociais. (TURA, 2002, p. 39)
Carlos Adriano

65
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Karl Marx (1818-1883) vê a sociedade como um todo compos- há vários grupos sociais em sociedades diferentes, com culturas di-
to de várias partes, como a economia, a política e as idéias (a cul- ferentes e que devem ser consideradas, inclusive na ação educativa.
tura). Mas, para ele, a economia seria a base de toda a organização Não nega a luta de classes, mas não enxerga aí todas as causas e/ou
social e as explicações para os fenômenos sociais viriam do apro- possibilidades de mudanças sociais.
fundamento da análise econômica. Marx pensou de forma crítica Sua sociologia compreensiva tem como premissa básica que
sobre o Estado, que de alguma forma legitimaria a apropriação por para entender a sociedade capitalista em seus sistemas sociais e
uma minoria dos meios de produção, com o objetivo de explorar intelectuais, seria necessário compreender a ação do homem em
a força de trabalho do proletariado, classe que para Marx seria a interação.
classe revolucionária. Mas, para tanto, a classe operária deveria co- Pautado no recurso metodológico do tipo ideal, preocupava-se
nhecer a si mesma em termos teóricos, ao mesmo tempo em que com o estudo da ação social e da interação, vista por ele como o
implementaria uma prática social que seria reflexo dessas escolhas processo básico de constituição do ser social, da cultura e da pró-
conscientes. Parte da premissa de que é em torno da produção que pria sociedade, sempre partindo de uma base teórico-metodológi-
a sociedade se organiza, sendo o homem o sujeito de sua própria ca consistente. É o pioneiro nos estudos empíricos na sociologia.
história, a partir do trabalho e das atividades criativas que desenvol- Base da interação social, a comunicação é um aspecto fundamental
ve. É pelo trabalho, segundo Marx, que o homem se constrói e é em do pensamento weberiano e exigiria a compreensão das partes en-
torno da produção que toda a sociedade se organiza as condições volvidas. Na medida em que há uma aceitação das semelhanças e
de trabalho são determinantes. Entretanto, para que a transforma- diferenças entre os indivíduos, e uma certa padronização na forma
ção se realize, a partir da atuação do proletariado, é preciso que a de pensar e de agir a partir de valores e padrões que foram interio-
prática seja orientada pela teoria. Daí a importância da sociologia rizados, tem-se o equilíbrio social, objetivo maior a ser alcançado
para Marx. na vida social.
De acordo com Costa (2005, p. 125), [...] Para Marx, a socie- Assim, o importante para Weber é entender como e por meio
dade é constituída de relações de conflito e é de sua dinâmica de que tipo de relações sociais se mantém o modelo de sociedade
que surge a mudança social. Fenômenos como luta, contradição, e de que maneira os processos de dominação estruturariam a vida
revolução e exploração são constituintes dos diversos momentos social. Considera que os valores cultivados pelo indivíduo dizem
históricos e não disfunções sociais. A noção de classe social é funda- respeito ao seu lugar ideal na sociedade, à sua posição, e não ape-
mental na análise que Marx faz dos problemas oriundos, a seu ver, nas ao fato de ser ou não possuidor dos meios de produção.
da nova ordem instaurada pelo capitalismo, pautada, segundo ele, Mas, talvez, a maior contribuição de Weber esteja no fato de
na exploração da força de trabalho (classe dominante – a burgue- que ele, por meio de suas análises da escola, trouxe para a sociolo-
sia – sobre classe dominada – o proletariado). Para ele, a mudança gia da educação novos temas para serem discutidos, muitos deles
social estaria relacionada com a luta de classes e os estudos socio- ainda bastante atuais, especialmente aqueles ligados com a ques-
lógicos deveriam ter como objetivo a transformação social, que só tão da dominação e reprodução social.
aconteceria a partir da destruição do capitalismo e sua substituição E mesmo não produzindo uma teoria sociológica da educação,
pelo socialismo. em muito contribui para a percepção do papel e da função da edu-
O materialismo-dialético propõe exatamente que sempre se cação – os sistemas escolares e a ordem burocrática e das diferen-
procure perceber que de um embate, de um conflito, sempre surge tes formas de acesso à educação; enfim o processo educativo, sua
alguma coisa nova e diferente daquelas que o originaram. A manei- estrutura, funcionamento e ideologia.
ra como as forças produtivas e as relações de trabalho estão orga- As teorias sociológicas e a educação
nizadas é o que mostraria como a sociedade se estrutura, uma vez Para Gramsci, por exemplo, a cultura seria o espaço no qual
que as forças produtivas compõem o que ele chamou de condições se travaria a luta de classes e, portanto, seria por meio de uma re-
materiais de existência, constituindo-se nas mais importantes for- volução cultural que se poderia mudar a estrutura da sociedade.
mas de relações humanas. Destaca, então, o papel fundamental que a escola e os intelectuais
Diante de tudo isso, não é difícil imaginar como Marx via o pro- exerceriam nesse processo, estratégias para que o sucesso pudes-
cesso educativo. Não acreditava na idéia de que a educação poderia se ser alcançado. Essa escola, que chamou de única (e unitária do
ser a atividade que seria capaz de promover por si mesma a trans- ponto de vista do conhecimento) seria freqüentada tanto por ope-
formação que a sociedade necessitaria, segundo seu ponto de vista, rários quanto por intelectuais, todos recebendo uma formação pro-
[...] a atividade do educador era par te do sistema e, portanto, não fissional e a cultura clássica. Esse processo resultaria na formação
podia encaminhar a superação efetiva do modo de produção enten- do intelectual orgânico, comprometido com sua classe social e com
dido como um todo. O educador não deveria nunca ser visto como um saber (erudito e técnico-profissional). Acreditava que somente
um sujeito capaz de se sobrepor à sua sociedade e capaz de enca- dessa maneira não se teria mais a separação entre trabalho intelec-
minhar a revolução e a criação de um novo sistema. A atividade do tual e trabalho material, possibilitando que esse intelectual fosse
educador tem seus limites, porém, é atividade humana, é práxis. É promotor da mobilização política que levaria à revolução cultural
intervenção subjetiva na dinâmica pela qual a sociedade existe se que, por sua vez, transformaria a sociedade.
transformando. Contribui, portanto, em certa medida, para o fazer- Já Althusser identificava-se bastante com o marxismo, sendo,
-se da história. portanto, crítico do capitalismo e engajado com as questões do seu
(KONDER, 2002, p. 19-20) tempo e do seu país, especialmente o maio de 19684. Concorda,
Max Weber (1864-1920) irá analisar a sociedade de seu tem- mas vai além de Marx ao discutir o conflito e fazer uma conexão
po, quando o capitalismo se consolida como modo de produção, e entre a educação e o que chamou de aparelhos ideológicos de Esta-
travará um diálogo profundo com a obra de Marx, de quem discor- do, certos dispositivos que quando acionados tendem a manter as
dará em muitos pontos. Partia do princípio de que, para entender a classes dominantes no poder. As instituições escolares seriam um
sociedade, era preciso entender a ação do homem, tentando com- desses aparelhos e funcionariam como aparelhos de reprodução e
preender, explicar e interpretar o social em análises não valorativas, alienação, meios através dos quais o Estado exerceria o controle
sempre considerando seu caráter dinâmico. Afasta-se de Marx ao da sociedade, sem utilizar a violência e/ou a repressão, gerando e
explicar a sociedade a partir das relações estabelecidas pelos ho- mantendo a reprodução social e submetendo o indivíduo à ideolo-
mens no capitalismo, e não apenas a partir da economia. Para ele, gia dessa classe dominante. A escola seria, então, o aparelho ideo-

66
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
lógico mais expressivo, até em função do tempo em que permanece Dois franceses Bourdieu e Althusse- idéia de que a educação é
“exposto” à sua influência. Quando esse processo não atinge seu um espelho da sociedade, se a sociedade é uma forma de inclusão a
objetivo, isto é, controlar os indivíduos, “modelando-os” para a vida educação será também. Naquele momento era inquietante pensar
em sociedade, entraria em ação. Um dos aparelhos repressivos do em educação dessa maneira.
Estado é a polícia, feita, entre outras coisas, para conter qualquer É um contexto que vai se transformando devagar até chegar em
manifestação de descontentamento e/ou resistência ao sistema. 1985- momento importante, período de abertura política, processo
Na sua disciplina ou na sua prática pedagógica, já notou ideias e/ de redemocratização do pais.
ou atitudes preconceituosas? Como você lida com essas situações? A sociologia adquire corpo, não aceitar mais que a evasão es-
Pense nisso! colar não fosse tema que devessem ser tratados pelos governantes,
etc.18
A sociologia da educação no Brasil
“A educação não está deslocada de seu contexto social” Instituições sociais básicas
Vamos ver como se deu a institucionalização da disciplina (que As Instituições Sociais são instrumentos reguladores e norma-
foi dentro do processo do positivismo), como passou a fazer parte tivos das ações humanas, as quais reúnem um conjunto de regras e
do currículo e por quê? procedimentos reconhecidos pela sociedade.
Em primeiro lugar aparecem os problemas educacionais, pro- Elas possuem uma relação de interdependência, ou seja, não
curando soluções. atuam de maneira isolada, e surgem para suprir diversas necessi-
No início do século xx se inicia a caminhada da disciplina dentro dades humanas.
das instituições educacionais, mas alguns problemas continuam até Desempenham um papel fundamental no funcionamento da
hoje, mas foram tratados desde o início, e de varias maneiras con- sociedade e da democracia, o que decorre por meio de seu poder
forme o contexto histórico. normativo e coercitivo.
O positivismo encara todos os fatos como coisas, passíveis de Assim, determinam as regras e procedimentos dos grupos de
serem analisados. A sociologia enquanto disciplina vai aparecer acordo com padrões, papéis, valores, comportamentos e relações
num contexto de inquietação social. entre membros da mesma cultura.
Dentro das transformações que a sociedade passa são momen- As instituições sociais fazem parte da estrutura social e desig-
tos de mudanças sociais que o mundo do trabalho vai acontecer. nam meios sociais duradouros e estáveis. Nelas são desenvolvidas
A uma distancia entre sociólogo e educadores, porque não é diversas relações em função da interação entre os grupos sociais.
objeto dos sociólogos a educação, não buscava esse tema como ob- Além de participar da organização da sociedade, ela pode atuar
jeto de estudo. como controlador social.
Na década de 50 e 60 momentos de industrialização, as gran-
des cidades sofrem transformações. Tipos de Instituição
Nessa mesma década já se tem uma bagagem, mas nada volta- Segundo a função e o espaço social que se desenvolvem, as
do para os problemas da educação, tudo dentro da idéia de que o instituições são classificadas em:
Brasil tinha de evoluir, se desenvolver. • Instituições Espontâneas: surgem espontaneamente a
A formação dos primeiros sociólogos dos anos de 1950 e 1960 partir das relações estabelecidas entre os agentes sociais, por
vai ser muito importante, mas vai discutir muito pouco sobre temas exemplo, a família.
como; repetência, evasão escolar. Nesse período vão ser discutidas • Instituições Criadas: o nome já indica que foram criadas
as diferenças regionais, o Brasil tinha muitas particularidades con- para regular e organizar a sociedade e não surgiram espontanea-
forme as regiões, e isso tinha de ser resolvido. Com isso surgem as mente. São elas, os bancos, as igrejas, etc.
superintendências regionais( Sudan, Sudene, Sudeco), que tinha a • Instituições Reguladoras: regula diversos aspectos da so-
ideia de planejamento ( investigar regiões) ciedade, por exemplo as instituições educativas e religiosas.
Educação e desenvolvimento caminham juntos principalmente • Instituições Operacionais: opera sobre diversos aspectos
a partir de 1960. da sociedade, por exemplo, o departamento de finanças.
A educação agora é vista como um tema e não mais como ob-
jeto Exemplos de Instituições Sociais
As principais instituições sociais são:
Os primeiros sociólogos dessa época vão pensar educação • Instituições Familiares: primeira instituição da qual faze-
como algo que seja acesso a toda educação, como facilitar o acesso mos parte e que possui como funções principais: reprodução, eco-
a educação. nômica e educacional. Segundo sua estrutura, ela pode ser mono-
O tema que não fugiu da educação era o analfabetismo, pois a gâmica (formada por um cônjuge), poligâmica (formada por mais
preocupação principal ainda era muito pautado na economia. cônjuges), ou ainda com estrutura de poliandria (mulher casada
Surge o Mobral, momento em que os militares na década de com mais de dois homens) e poliginia (homens casados com mais
64 tentam resolver esses problemas, mas o objetivo era apenas pra de uma mulher).
ensinar a ler e escrever, não tinha interesse de preparar o cidadão • Instituições de Ensino: instituições empenhadas em disse-
era apenas para instrumento para trabalho. minar o conhecimento, por exemplo, as escolas e as universidades.
Uma nova preocupação do processo educativo só vai surgir na Tal qual a família, trata-se de uma instituição social que passamos
década de 70, vão começar a fazer relação entre nível de renda e re- grande parte da vida.
provação escolar, ou seja, alguma coisa esta errada e não é o aluno, • Instituições Religiosas: criadas para preencher as lacunas
isso é revolucionário dentro da sociologia da educação. metafísicas da vida social, sendo baseada em dogmas, crenças e tra-
Assim o tema evasão escolar, etc., vão passar a ser um tema dições, por exemplo, as igrejas, templos.
efetivo, e vai dentro dessa perspectiva, vai dar um novo tratamento • Instituições Econômicas: regula a vida econômica dos
nesse questionamento. agentes sociais, por exemplo, os bancos e as casas de crédito.
Sociólogos vão ter preocupação com a democratização do es-
tudo. 18 Fonte: www.pedagogiaonlineead.blogspot.com.br/ - Texto adaptado de Eli-
zabeth

67
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
• Instituições Políticas: como principais instituições políticas Segundo Álvaro Vieira Pinto (1989, p.29), “a educação é o pro-
temos o Estado (e os poderes legislativo, executivo e judiciário), a cesso pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e
Nação (o que reúne as pessoas que compartilham costumes, tradi- em função de seus interesses”. É dentro do contexto educacional,
ções, valores) e o Governo (monarquia e república). que se encontram diferentes sujeitos, que pertencem a diferentes
• Instituições de Lazer: reúne uma variedade de instituições contextos sociais, que trazem sua historicidade construída a partir
que possuem a função de entreter os seres sociais, por exemplo, os de diferentes vivências, assim é possível e faz-se necessário buscar
casinos e as festas de carnaval. saídas para uma democratização do ensino.

A educação e as transformações na sociedade As concepções paradigmáticas e a educação.


Diante das transformações econômicas, políticas, sociais e cul- A educação é, por suas origens, seus objetivos e funções um
turais do mundo contemporâneo, a escola vem sendo questionada fenômeno social, estando relacionada ao contexto político, econô-
acerca do seu papel nesta sociedade, a qual exige um novo tipo de mico, científico e cultural de uma sociedade historicamente deter-
trabalhador, mais flexível e polivalente, capaz de pensar e aprender minada.
constantemente, que atenda as demandas dinâmicas que se diver- De tal conceito, pode-se deduzir que, não obstante a educação
sificam em quantidade e qualidade. A escola deve também desen- é um processo constante na história de todas as sociedades, ela não
volver conhecimentos, capacidades e qualidades para o exercício é a mesma em todos os tempos e todos os lugares, e se acha vincu-
autônomo, consciente e crítico da cidadania. Para isso ela deve ar- lada ao projeto de homem e de sociedade que se quer ver emergir
ticular o saber para o mundo do trabalho e o saber para o mundo através do processo educativo. Dermeval Saviani afirma que:
das relações sociais. O estudo das raízes históricas da educação contemporânea nos
A perspectiva política e a natureza pública da educação são re- mostra a estreita relação entre a mesma e a consciência que o ho-
alçadas na Constituição Federal de 1988, não só pela expressa de- mem tem de si mesmo, consciência esta que se modifica de época
finição de seus objetivos, como também pela própria estruturação para época, de lugar para lugar, de acordo com um modelo ideal de
de todo o sistema educacional. Ela enuncia o direito à educação homem e de sociedade. (SAVIANI, 1991, p.55)
como um direito social no artigo 6º; especifica a competência legis- A educação é, portanto, um processo social que se enquadra
lativa, nos artigos 22, XXIV e 24, IX; dedica toda uma parte do título numa concepção determinada de mundo, a qual estabelece os
da Ordem Social para responsabilizar o Estado e a família, tratar do fins a serem atingidos pelo ato educativo em consonância com as
acesso e da qualidade, organizar o sistema educacional, vincular o ideias dominantes numa dada sociedade. O fenômeno educativo
financiamento e distribuir encargos e competências para os entes não pode ser, pois, entendido de maneira fragmentada, ou como
da federação. uma abstração válida para qualquer tempo e lugar, mas sim, como
No seu âmbito mais amplo, são questões que buscam apreen- uma prática social, situada historicamente, numa realidade total,
der a função social dos diversos processos educativos na produção que envolve aspectos valorativos, culturais, políticos e econômicos,
e reprodução das relações sociais. No plano mais específico, tratam que permeiam a vida total do homem concreto a que a educação
das relações entre a estrutura econômico-social, o processo de pro- diz respeito.
dução, as mudanças tecnológicas, o processo e a divisão do traba- Então, nesse sentido, vivenciamos um tempo de crise paradig-
lho, a produção e a reprodução da força de trabalho e os processos mática que, necessita, em nosso entender, ser estudada enquanto
educativos ou de formação humana. De acordo com Mészáros: fenômeno cultural, embora relacionada com o modelo de produção
Além da reprodução, numa escala ampliada, das múltiplas do conhecimento, mas que deve ser analisada em suas dimensões
habilidades se nas quais a atividade produtiva não poderia ser re- históricas, políticas, econômicas e sociais.
alizada, o complexo sistema educacional da sociedade é também Embora a quebra na confiança epistemológica do paradigma
responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores dominante seja produzida por uma pluralidade de fatores, o gran-
dentro da qual os indivíduos definem seus próprios objetivos e fins de avanço que o conhecimento científico possibilitou é, paradoxal-
específicos. As relações sociais de produção capitalistas não se per- mente, um fator significativo nessa ruptura.
petuam automaticamente. (MÉSZÁROS, 1981, p. 260)
Nesta nova realidade mundial denominada por estudiosos Toda construção da ciência moderna tem sido baseada na ideia
como sociedade do conhecimento não se aprende como antes, no de que ela é o único modelo de conhecimento, e toda e qualquer
modelo de pedagogia do trabalho taylorista / fordista fundadas na produção só faz sentido se esse modelo for o da racionalidade úni-
divisão entre o pensamento e ação, na fragmentação de conteú- ca, até por isso denominada científica.
dos e na memorização, em que o livro didático era responsável pela Esta concepção, hoje em declínio, “não mais sustenta a neces-
qualidade do trabalho escolar. Hoje se aprende na rua, na televisão, sidade de negar a possibilidade do novo e do diverso, em nome de
no computador em qualquer lugar. Ou seja, ampliaram-se os espa- uma lei universal e imutável”. (PLASTINO, 1994, p.33).
ços educativos, o que não significa o fim da escola, mas que esta O conhecimento, nessa perspectiva do paradigma científico do-
deve se reestruturar de forma a atender as demandas das transfor- minante, ganha em rigor, mas, sem dúvida, o modelo de racionali-
mações do mundo do trabalho e seus impactos sobre a vida social. dade científica atravessa uma profunda crise. Entretanto, “os sinais
Conforme Frigotto. nos permitem tão só especular acerca do paradigma que emergirá
Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a edu- desse período revolucionário”. (SANTOS, 1996, p. 123)
cação dos diferentes grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a Assim sendo, tanto a teoria quanto as práticas educacionais
fim de habilitá-los técnica, social e ideologicamente para o traba- desenvolvem-se, predominantemente, segundo os paradigmas
lho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma dominantes num dado momento histórico, o que leva a educação
controlada para responder às demandas do capital. (FRIGOTTO, a funcionar essencialmente como elemento reprodutor das condi-
1999, p.26). ções científicas, políticas, econômicas e culturais de determinada
sociedade.

68
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Tomando por referência o desenvolvimento e as rearticulações as pessoas, mercadorias e capitais em uma espécie de mercado
do capitalismo em períodos diversos, percebe-se que a educação universal, tornaram possível a globalização, uma tendência inter-
tem sido utilizada no sentido de dar suporte ideológico a esse sis- nacional do capitalismo, que, como projeto neoliberal impõe aos
tema, constituindo-se ao mesmo tempo num elemento produtivo, países periféricos a economia do mercado global sem restrições, a
pela qualificação de recursos humanos para o capital, embora algu- competição ilimitada e a minimização do Estado na área econômica
mas vezes essas funções sejam percebidas e provoquem reações. e social. Segundo Oliveira:
Conforme Capra: O efeito mais perverso destas transformações tem sido o de-
O paradigma que está agora retrocedendo dominou a nossa semprego e a exclusão social, já que os benefícios provenientes des-
cultura por várias centenas de anos, durante os quais modelou nos- sas transformações são usufruídos por apenas uma pequena parte
sa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o da sociedade. Ao lado dos avanços científicos e tecnológicos com
restante do mundo. Esse paradigma consiste em várias ideias e va- o aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da difusão social,
lores entrincheirados, entre os quais a visão de universo como um há fome, desemprego, doença, falta de moradia, analfabetismo das
sistema mecânico composto de blocos de construção elementares, letras e das tecnologias. (OLIVEIRA, 2003, p. 115)
a visão de corpo humano como uma máquina, a visão da vida em Apesar de o termo globalização sugerir inclusão, com o desen-
sociedade como uma luta competitiva pela existência, e a crença no volvimento capitalista a lógica é a de exclusão, pois esse capitalismo
progresso material ilimitado, a ser obtido pelo intermédio do cresci- se caracteriza pela ideologia do mercado livre, e dessa maneira o
mento econômico e tecnológico. (CAPRA, 1996, p.25). homem tende cada vez mais a se extinguir dando condenação tam-
Essa crise parece prenunciar a chegada de um novo conheci- bém ao trabalho manual e assalariado.
mento, edificado através de outra concepção de ciência, expressão Esse homem “global” terá por obrigação estudar durante toda
de uma racionalidade mais plural, de uma configuração cognitiva a vida para se manter atualizado e membro da sociedade do conhe-
mais ampla, criativa e totalizante. cimento.
A ciência moderna, ao considerar apenas um único modelo Aprendendo a aprender “Educação básica significa tradicio-
cognitivo epistemológico como científico, isto é, digno de ser consi- nalmente, por exemplo, a capacidade de efetuar multiplicações
derado confiável, realiza uma simplificação mutiladora do universo, ou algum conhecimento da história dos EUA. Mas a sociedade do
afastando a possibilidade de consideração de outros conhecimen- conhecimento necessita também do conhecimento de processos,
tos sobre a realidade, tão ou mais úteis para o ser humano do que algo que as escolas raramente tentaram ensinar. Na sociedade do
aqueles que ela enuncia. conhecimento, as pessoas precisam aprender como aprender. Na
verdade, na sociedade do conhecimento as matérias podem ser
As transformações técnico-científicas, econômicas e políticas. menos importantes que a capacidade dos estudantes para conti-
As transformações técnico-científicas têm inicio a partir de inú- nuar aprendendo e que a sua motivação para fazê-lo. A sociedade
meros acontecimentos dentro da economia e da política. Fenôme- pós-capitalista exige aprendizado vitalício. Para isso, precisamos de
nos como a globalização mundial, ascensão dos meios de produção, disciplina. Mas o aprendizado vitalício exige também que ele seja
a produção flexível, o desemprego causado pela mecanização do atraente, que traga em si uma satisfação.” (DRUCKER, 1995, p.156)
trabalho, e o grande crescimento tecnológico levam a escola a pen- Sendo assim, a Educação representa a consolidação de canais
sar na necessidade de qualificação do ser humano, cabendo à mes- que sirvam como instrumentos de participação, de inserção da fa-
ma formar um cidadão flexível e adaptativo como busca o mercado. mília nos espaços escolares, de compartilhamento e acesso as infor-
Assim o ambiente escolar apresenta-se em dois sentidos principais, mações e de valoração das realidades locais, as quais têm sua sig-
de um lado sendo setor de reprodução e de outro agente de trans- nificativa relevância, inclusive para a construção do Projeto Político
formação. Pedagógico da escola.
O uso das novas tecnologias cada vez mais intenso faz crescer “Globalização” e trabalho docente, no enredo das tecnologias
a produção, diminui o trabalho humano provocando o aumento do seja a globalização, objeto dos estudos de Torres (1998, p.28), ca-
desemprego, já que há uma substituição do trabalho humano pela racterizada como construção ideológica, seja, como quer alguns,
ciência e pela técnica, o que tem afetado principalmente a agricul- posta como conceito explicativo de uma nova ordem mundial, um
tura e a indústria, intensificando o processo de marginalização pelo aspecto desta realidade não pode ser ignorado a educação como
aviltamento dos salários e pelas precárias condições de trabalho um todo e o trabalho docente, em especial, estão sendo reconfi-
e da vida urbana (o que tem produzido anormalidades no campo, gurados.
como furtos, suicídio, abandono de família, violência e outros) além
dos intermináveis conflitos entre latifundiários e os sem-terra. Nesta perspectiva, a escola deve romper com a sua forma his-
A tendência mundial (nos países desenvolvidos ou em fase de tórica presente para fazer frente a novos desafios. A pretensão, nes-
desenvolvimento) de crescimento no setor de serviços ou do au- te trabalho, é analisar as determinações (concretas e pressupostas)
mento da geração de riqueza, em detrimento da agricultura e da e os sentidos (hegemônicos e em disputa por hegemonia) dessa
indústria, que passam por um processo de enxugamento e retração reconfiguração, tomando por base os discursos que introduzem e
e que apesar de haver um crescimento no setor de serviços os pos- justificam as atuais políticas de formação de professores.
tos de trabalho reorganizados ou criados neste setor não superam No movimento de reconfiguração de trabalho e formação do-
o desemprego gerado pelos outros setores. cente, outro aspecto parece constituir objeto de consenso a possi-
Além das revoluções científicas e tecnológicas, destaca-se bilidade da presença das chamadas “novas tecnologias” ou, mais
também a revolução informacional. Esta tem por base o avanço precisamente, das tecnologias da informação e da comunicação
das telecomunicações, das mídias e das novas tecnologias da in- (TIC). Essa presença tem sido cada vez mais constante no discurso
formação, destacando-se a internet. Uma característica importante pedagógico, compreendido tanto como o conjunto das práticas de
desta revolução é o papel central da informação na sociedade. As linguagem desenvolvidas nas situações concretas de ensino quanto
transformações ocorridas na sociedade atual mediante a destruição as que visam a atingir um nível de explicação para essas mesmas
das fronteiras nacionais e a procura pela liberdade de trânsito para situações.

69
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Segundo Mattelart (2002, p. 9), a segunda metade do século Tem-se falado muito em participação e compromisso, sem defi-
XX foi marcada pela “formação de crenças no poder miraculoso das nir claramente seu sentido. E não raras vezes situa-se a participação
tecnologias informacionais”. Mesmo que, em princípio, pareça in- como mero processo de colaboração, de mão única, de adesão, de
gênuo, este último movimento está inscrito em um modo de objeti- obediência às decisões da direção. Subserviência jamais será parti-
vação das TIC inextricavelmente ligado à concepção de “sociedade cipação e nunca gerará compromisso. Em primeiro lugar, a partici-
da informação”. pação sem troca, como dádiva, ocorre por decisão pessoal movida
Dessa forma, as TIC têm sido apontadas como elemento defini- pela afetividade, pelo desejo de servir a uma causa que se julgue no-
dor dos atuais discursos do ensino e sobre o ensino, ainda que pre- bre e relevante, seja religiosa, política ou social. No caso da escola e
valeçam nos últimos. Atualmente, nos mais diferentes espaços, os do município, a participação deve ocorrer por motivos profissionais.
mais diversos textos sobre educação têm, em comum, algum tipo E nesse caso, constitui um processo de troca, que gera o compromis-
de referência à presença das TIC no ensino. Entretanto, a essa pre- so (FERREIRA e AGUIAR, 2001, p.170).
sença têm sido atribuídos sentidos tão diversos que desautorizam Dessa forma, entende-se que constitui um dos papeis da esco-
leituras singulares. Assim, se aparentemente não há dúvidas acer- la, o de propiciar espaços para a participação da comunidade esco-
ca de um lugar central atribuído às TIC, também não há consenso lar à dinâmica, atividades e decisões escolares. Pois, para integrar e
quanto à sua delimitação. possibilitar que os membros desta possam interagir com a mesma,
Estudos demonstram que a utilização das novas tecnologias tomando consciência do seu papel na gestão e no envolvimento, é
de informação e comunicação (NTICs), como ferramenta , traz uma necessário à abertura de espaços democráticos e de voz à comuni-
enorme contribuição para a prática escolar em qualquer nível de dade.
ensino. Essa utilização apresenta múltiplas possibilidades que po- Para que a participação seja realidade, são necessários meios
derão ser realizadas segundo uma determinada concepção de edu- e condições favoráveis, ou seja, é preciso repensar a cultura escolar
cação que perpassa qualquer atividade escolar. e os processos, normalmente autoritários, de distribuição do poder
As transformações nas formas de comunicação e de intercâm- no seu interior (...) Outro dado importante é entender a participa-
bio de conhecimentos, desencadeadas pelo uso generalizado das ção como processo a ser construído coletivamente. Nessa direção,
tecnologias digitais nos distintos âmbitos da sociedade contem- é fundamental ressaltar que a participação não se decreta, não se
porânea, demandam uma reformulação das relações de ensino e impõe e, portanto, não pode ser entendida apenas como mecanis-
aprendizagem, tanto no que diz respeito ao que é feito nas escolas, mo formal/legal (BRASIL,2005, e, p.15).
quanto a como é feito. Precisamos então começar a pensar no que O planejamento participativo é de suma importância, pois en-
realmente pode ser feito a partir da utilização dessas novas tecnolo- volvem diferentes segmentos da comunidade local e escolar que
gias, particularmente da Internet, no processo educativo. Para isso, têm representação no conselho escolar, que deve ser gerenciado
é necessário compreender quais são suas especificidades técnicas e com ampla participação da comunidade, envolvendo a equipe ges-
seu potencial pedagógico. tora da escola, o conselho escolar, o grêmio estudantil e outros.
Destacamos, especialmente, a importância do conselho escolar na
A gestão democrática na escola como agente para a mudança otimização desses programas nas unidades escolares.
social O espaço escola constituiu-se a partir de muitos conceitos, em
Gestão democrática, gestão compartilhada e gestão participa- diferentes momentos históricos, em complexos contextos sociais
tiva são termos que, embora não se restrinjam ao campo educacio- e com inúmeras contribuições de pensadores e pedagogos. Muito
nal, fazem parte da luta de educadores e movimentos sociais orga- se (re)pensou e (re) organizou no espaço escolar, sendo que estas
nizados em defesa de um projeto de educação pública de qualidade mudanças atingiram: o currículo educacional, métodos de ensino/
social e democrática. aprendizagem; relações entre os sujeitos que a constituem; mas
A Constituição Federal/88 estabeleceu princípios para a educa- nunca, apesar de serem tantas mais as mudanças, foi interferido no
ção brasileira, dentre eles: obrigatoriedade, gratuidade, liberdade, conceito básico da escola ela é um local de aprendências estabele-
igualdade e gestão democrática, sendo esses regulamentados atra- cidas pelas relações entre sujeitos.
vés de leis complementares. A razão e o sentido da escola é a aprendizagem. O processo de
Enquanto lei complementar da educação, a Lei de Diretrizes (re) construção do conhecimento é o próprio objetivo do trabalho
e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96) estabelece e re- educativo. Portanto, o centro e o eixo da escola é a aprendência,
gulamenta as diretrizes gerais para a educação e seus respectivos única razão de ser. Todas as atividades dessa instituição só fazem
sistemas de ensino. Em cumprimento ao art. 214 da Constituição sentido quando centradas na (re) construção do conhecimento, na
Federal, ela dispõe sobre a elaboração do Plano Nacional de Edu- aprendizagem e na busca. (WITTMANN e KLIPPEL, 2010, p.81)
cação – PNE (art. 9º), resguardando os princípios constitucionais e, Se a escola é habitada por diferentes sujeitos, e estes vêm de
inclusive, de gestão democrática. diferentes locais e espaços sociais, é também na escola que todas
A descentralização do ensino constitui um dos fatores essen- estas diferenças se encontram e precisam ser mediadas. A gestão
ciais para o movimento de democratização das escolas brasileiras e democrática é entendida como a participação efetiva dos vários
da construção de autonomia da gestão escolar. Desde modo, des- segmentos da comunidade escolar, pais, professores, estudantes e
centralização pressupõe participação, entendida por Luck como: funcionários na organização, na construção e na avaliação dos pro-
A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma jetos pedagógicos, na administração dos recursos da escola, enfim,
força de atuação consciente pela qual os membros de uma unidade nos processos decisórios da escola. Portanto, tendo mostrado as
social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na semelhanças e diferenças da organização do trabalho pedagógico
determinação da dinâmica dessa unidade, de sua cultura e de seus em relação a outras instituições sociais, enfocamos os mecanismos
resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de pelos quais se pode construir e consolidar um projeto de gestão
compreender, decidir e agir sobre questões que lhe são afetas, dan- democrática na escola.
do-lhe unidade, vigor e direcionamento firme (LUCK, 2009, p. 29). A gestão democrática participativa exige uma “mudança de
De acordo ao afirmado, os autores Ferreira e Aguiar discorrem mentalidade de todos os membros da comunidade escolar” (GA-
sobre o processo de participação na realidade educacional: DOTTI, 1994, p.5).

70
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A democratização da gestão da escola constitui-se numa das Um aspecto cultural marcante dos povos é a organização social,
tendências atuais mais fortes do sistema educacional, apesar da re- que compreende os papéis exercidos pelos indivíduos na sociedade
sistência oferecida pelo corporativismo das organizações de educa- e as ações decorrentes do desempenho desses papéis. Numa esco-
dores e pela burocracia instalada nos aparelhos de estado, muitas la, por exemplo, o diretor orienta o trabalho de todos os funcioná-
vezes associados na luta contra a inovação educacional (GADOT- rios, solicita melhorias para o prédio e suas instalações, participa de
TI,1994, p.6). reuniões na delegacia de ensino para acompanhar as determina-
Neste sentido, queremos destacar o valor da participação cole- ções da Secretaria de Educação; os inspetores cuidam da disciplina;
tiva e do exercício de construção democrática como prática constan- os professores lecionam; os faxineiros cuidam da limpeza; os alunos
te e condição maior de desenvolvimento, através da qual a escola se participam das aulas, etc.
tornará, de fato, uma instituição promotora da cidadania e voltada As organizações sociais conglomeram os mais diferentes cam-
aos interesses das camadas populares. Somente pelo caminho da pos de atuação humana: econômico (atividades produtivas, comér-
democracia é que a escola será apropriada pela comunidade; so- cio, serviços; político; religioso). Nessas organizações, são impor-
mente pela práxis democrática os processos escolares poderão ser tantes as relações de poder que devem ser estabelecidas entre os
percebidos em sua dimensão eminentemente político-pedagógica, indivíduos que a formam. Poder esse que devemos entender com
e os seus resultados terão uma extensão social incomparavelmente o sentido social que a palavra tem, poder que dá capacidade a agir
superior ao que temos hoje. E este caminho precisa ser uma cons- e produzir resultados que foram predeterminados. Por exemplo, se
trução coletiva, autônoma e permanente, de modo que as novas tivermos os recursos para fazer um objeto, nós teremos o poder
gerações apreendam o processo como um valor político e ético, ba- de fazê-lo. As instituições produtivas dependem das instituições de
lizador dos processos institucionais (escolares) e sociais, no sentido ensino para uma força de trabalho qualificada, as instituições de
mais amplo. ensino são dependentes do governo para o seu financiamento, e
Enfim, pode-se afirmar que um dos grandes desafios da educa- instituições governamentais, por sua vez, dependem de instituições
ção brasileira hoje é não somente garantir o acesso da grande maio- produtivas para criar riqueza para financiar os gastos do governo.
ria das crianças e jovens à escola, mas permitir a sua permanência Sociologicamente, essa condição é chamada de interdependência
numa escola feita para eles, que atenda às suas reais necessidades institucional.
e aspirações; é lidar com segurança e opções políticas claras diante Essas instituições são ideias sobre como algo deve ser feito,
do binômio quantidade versus qualidade olhar ou ser constituído, a fim de ser visto como legítimo. As insti-
Finalmente, uma educação de qualidade tem na escola um dos tuições podem ser definidas como uma coleção estável de práticas
instrumentos mais eficazes de tornar-se um projeto real. A escola sociais que consistem em papéis facilmente reconhecidos, junta-
transforma-se quando todos os saberes se põem a serviço do alu- mente com as normas subjacentes e um conjunto de regras ou con-
no que aprende, quando os sem vez se fazem ouvir, revertendo à venções que define o comportamento adequado para, e que rege
hierarquia do sistema autoritário. Esta escola torna-se, verdadei- as relações entre, os ocupantes dessas funções. Elas são respon-
ramente popular e de qualidade e recupera a sua função social e sáveis por fornecer estruturas, diretrizes para o comportamento e
política, capacitando os alunos das classes trabalhadoras para a interação humana. As organizações também são caracterizadas por
participação plena na vida social, política, cultural e profissional na práticas sociais que ocorreram de novo ou se repetem ao longo do
sociedade. tempo por membros do grupo, e podem ou não envolver outras
organizações.
Cultura e organização social
Uma organização social, que também é chamada de institui- Os impactos da pobreza na educação escolar
ção social, se trata de qualquer estrutura ou organismo advindo de No Brasil, o direito à educação é algo recente e o acesso à es-
uma ordem social, responsável por reger a esfera comportamental cola pelas parcelas mais pobres e marginalizadas da população,
de um coletivo de cidadãos dentro de um certo grupo, podendo incluindo os índios, os negros, os imigrantes e as mulheres, só co-
ser humana ou de um animal específico. A organização social é um meçou a se concretizar nas últimas décadas do século XX. O trata-
conceito sociológico definido como um padrão de relacionamentos mento dado à educação dos pobres deixou um legado que pode ser
entre indivíduos e grupos. As características da organização social visto, nos dias de hoje, nos baixos índices de aprendizagem escolar
podem incluir qualidades tais como o tamanho, a composição de dos alunos em condição de pobreza (IOSIF, 2007). Nesse contexto,a
gênero, coesão espaço-temporal, liderança, estrutura, divisão do desigualdade social se traduz em desigualdade escolar.
trabalho, sistemas de comunicação, etc. Em uma sociedade onde a pobreza e desigualdade são mui-
Todas as instituições sociais são, obviamente, identificadas por to evidentes, preocupa não só a injustiça social, mas também as
um propósito social, que ultrapassa o interesse singular de indiví- consequências que essas desigualdades irão trazer aos indivíduos.
duos, promovendo mediações através da criação de regras que go- Crianças nascidas nesse círculo de pobreza têm a maior probabili-
vernam o comportamento orgânico da comunidade. É o conjunto dade de se tornarem as unidades familiares pobres de amanhã. A
de relações entre membros de um grupo, entre grupos ou entre condição de pobre faz com que essas crianças e jovens não frequen-
pessoas e grupos. tem adequadamente a escola, tenham necessidade de trabalhar e
Uma sociedade não terá como encontrar meios e condições de abandonem seus sonhos de um futuro melhor e mais humano.
sobreviver se não oferecer uma certa organização e relacionamento O que causa maior preocupação em relação a essa situação é
entre seus membros. Para que a sociedade possa existir, são impres- a possibilidade dessas crianças, ao se tornarem adultos, não con-
cindíveis as interações constantes entre os sujeitos que a formam. seguirem romper com o circulo vicioso da pobreza e desigualda-
Sem o mínimo de organização, o homem não conseguirá, em quan- de, que resulta na visão de caridade, com o envergonhamento do
tidade satisfatória, recursos básicos como alimentação, vestimenta sujeito, e de juventude pobre como sinônimo de criminalidade. A
e moradia, não sendo capaz de dar vazão às suas potencialidades pobreza não constitui uma identidade, mas uma condição, e não é
produtivas. Os grupos socias comumente se organizam e mantêm uma condição natural, mas fruto amargo de complexas dinâmicas
relações entre eles mesmos, como entre famílias, empresas, entre da sociedade, devendo ser enfrentada e superada. Por isso, ao tra-
instituições de ensino e de saúde. tar a pobreza, é preciso também tratar a desigualdade.

71
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Nos currículos, a pobreza tem sido vista como carência, sen- Pensar a escola de hoje é refletir a sociedade nas vertentes so-
do a carência material resultado das carências de conhecimento, cial, económico e pessoal.
de competências, carências de valores, hábitos e moralidades. E, A relação escola, família e comunidade carece de melhoria,
assim, a escola não tem assumido o seu papel de proporcionar o pois constata-se quase que um divórcio entre elas. As escolas, mui-
pleno conhecimento da realidade, inclusive, da condição social dos tas vezes, não fomentam nem facilitam o intercâmbio de experiên-
seus alunos, mostrando as condições históricas e sociais que resul- cias com outras escolas e com o meio em que estão inseridas, não
taram na desigualdade social. promovem a procura de soluções inovadoras, nem proporcionam
Embora a pobreza seja um fator social que tensiona profunda- uma participação efetiva dos pais e encarregados de educação na
mente o paradigma da universalidade e da democratização real do gestão escolar.
ensino básico,questionando, com contundência, as possibilidades Escola é a principal instituição para a transmissão e aquisição
da escola formal e homogênea no contexto do capitalismo, a rela- de conhecimentos, valores e habilidades, por isso deve ser tida
ção entre educação escolar e situação de pobreza constitui-se um como o bem mais importante de qualquer sociedade.
campo de reflexão ainda não consolidado no Brasil e em que se evi- Escola – instituição social que tem o encargo de educar, segun-
denciam diferentes tipos de articulação, destacando-se, sobretudo, do planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades da sua
as indicações que percebem a educação formal, por um lado, como formação, casa ou estabelecimento onde se ministra o ensino.
condição indispensável para a ruptura do círculo da pobreza, e, por Escola é uma instituição educativa fundamental onde são or-
outro lado, como mecanismo de manutenção da ordem instituída ganizadas, sistematicamente, atividades práticas de carácter peda-
(ASSIS; FERREIRA; YANNOULAS, 2012). gógico.
Compartilho do pensamento de que a educação escolar tem Para Gary Marx, (in Azevedo, 1994,p.147) a escola é verdadei-
uma imensa responsabilidade no enfrentamento das condições que ramente uma instituição de último recurso, após a família, comuni-
produzem e reproduzem a pobreza. Ela pode oferecer informações dade e a igreja terem fracassado.
que motivam a reflexão, fortalecem valores de justiça e respeito pe- Comunidade é um conjunto de pessoas que vive num determi-
los outros, aproximam vozes e experiências humanas e nos ajudam nado lugar e ligado por um ideal e objetivos comuns.
a conhecer e agir, promovendo e estimulando a ação de pessoas Participação – de acordo com a etimologia da palavra, partici-
e grupos em favor da justiça e de valores que representam o bem pação origina-se do latim “participatio” (pars + in + actio) que ignifi-
comum. ca ter parte na ação. Para ter parte na ação é necessário ter acesso
Nesse contexto, a educação precisa ir além das salas de aula, ao agir e às decisões que orientam o agir. “
superando a visão do pobre como apenas um número nas escolas, Executar uma ação não significa ter parte, ou seja, responsabi-
buscando-se novas práticas que valorizem os alunos e que os es- lidade sobre a ação. E só será sujeito da ação quem puder decidir
timulem na aprendizagem e construção de novos conhecimentos, sobre ela”
tendo a escola, por sua vez, o compromisso com a democratização A participação é «um modo de vida» que permite resolver fa-
do saber.A educação pode ser um importante elemento para com- voravelmente a tensão sempre existente entre o individual e o cole-
preensão e enfrentamento da pobreza, pode colaborar para que tivo, a pessoa e o grupo, na organização.
todos tenham iguais direitos de aprender, de conhecer e ser conhe- A participação deve ser vista como um processo permanente
cido, de valorizar e ser valorizado, pois traz consigo a utopia de um de estabelecer um equilíbrio dinâmico entre: a autoridade delega-
mundo mais justo, de saberes que dialogam, de heranças que se da do poder central ou local na escola; as competências profissio-
repartem, firma um compromisso, a luta e a esperança. nais dos professores (enquanto especialistas do ensino) e de outros
O caminho a ser trilhado no processo de efetivação do direito trabalhadores não docentes; os direitos dos alunos enquanto «au-
à educação de qualidade para todos os cidadãos brasileiros, inde- tores» do seu próprio crescimento; e a responsabilidade dos pais na
pendente da classe social a que pertencem, é longo e árduo.Ainda educação dos seus filhos.
que houvesse uma perspectiva promissora com a promulgação da Considerando que toda criança faz parte de uma família e que
Lei 13.005/14 (Plano Nacional de Educação), que amplia os inves- toda família, além de possuir características próprias, está inserida
timentos em educação para 10% do PIB, até 2024, o quadro geral em uma comunidade, hoje, ambas, família e comunidade, estão in-
que condiciona as políticas atuais, neste ano de 2017, aponta para cumbidas, juntamente com a escola, da formação de um mesmo
limitações sérias no presente e num futuro próximo. cidadão, portanto são peças fundamentais no processo educativo
Em decorrência do processo de escolarização pública no Brasil, e, porque não, na elaboração do projeto pedagógico da escola e na
o desafio de assegurar educação de qualidade para todos precisa gestão da mesma.
estar articulado com o processo de enfrentamento à desigualdade Quando a escola recebe os educandos, de onde eles vêm?
social e a busca de uma sociedade mais justa. Contudo, reafirma-se Quem os encaminha? Eles vêm de uma sociedade, de uma família,
a necessidade de romper com a visão da pobreza somente pelo viés e os pais e responsáveis realizam seu encaminhamento.
educacional, que mascara toda a sua complexidade como questão Não são os educandos seres viventes em um núcleo familiar e
social, política e econômica. Nessa perspectiva, questiona-se a re- social, onde recebem orientação moral, vivenciam experiências e re-
presentação moralizante e reducionista sobre pobreza e desigual- forçam seus conhecimentos? Tudo isso é educação. Para estabele-
dade social, pois os pobres não são assim constituídos por escolha, cer uma educação moral, crítica e comprometida com o meio social,
e evita-se responsabilizar a escola pela solução do problema pro- é primordial a integração entre escola, família e sociedade. Pois, o
duzido em contextos sociais, políticos e econômicos, para além do ser humano é um ser social por excelência. Podemos pensar na res-
ambiente escolar. ponsabilidade da escola na vida de uma pessoa. E ainda, partindo
desse princípio, é um equívoco desvincular a família no processo da
A relação escola, comunidade e família educação escolar. A escola vem reforçar os valores recebidos em
Sendo a escola uma instituição organizada e integrada na co- casa, além de transmitir conhecimentos. Age também na formação
munidade, ela deve desempenhar uma função pró-ativa de súbita humana, salientando a autonomia, o equilíbrio e a liberdade - que
importância na formação, transformação e desenvolvimento do ca- está condicionada a limites e respeito mútuo. Por que não, a escola
pital social. trabalhar com a família e a sociedade em prol de um bem comum?

72
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A parceria entre família, sociedade e escola só tem a contribuir Nunca na escola se discutiu tanto quanto hoje assuntos como
para o desenvolvimento do educando. Assim, a escola passa a ser falta de limites, desrespeito na sala de aula e desmotivação dos
um espaço que se relaciona com a vida e não uma ilha, que se isola alunos. Nunca se observou tantos professores cansados e muitas
da sociedade. Com a participação da família no meio escolar, cria-se vezes, doentes física e mentalmente. Nunca os sentimentos de im-
espaços de escuta, voz e acesso às informações que dizem respeito potência e frustração estiveram tão marcantemente presentes na
a seus filhos, responsáveis tanto pela materialidade da escola, bem vida escolar.
como pelo ambiente no qual seus filhos estão inseridos. É preciso Por essa razão, dentro das escolas as discussões que procuram
que os pais se impliquem nos processos educativos de seus filhos no compreender esse quadro tão complexo e, muitas vezes, caótico,
sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado no qual a educação se encontra mergulhada, são cada vez mais fre-
formal ou a educação escolar, para ser bem sucedida não depende quentes. Professores debatem formas de tentar superar todas essas
apenas de uma boa escola, de bons professores e bons programas, dificuldades e conflitos, pois percebem que se nada for feito em
mas principalmente de como o educando é tratado na sociedade e breve não se conseguirá mais ensinar e educar.
em casa e dos estímulos que recebe para aprender. É preciso enten- Entretanto, observa-se que, até o momento, essas discussões
der que o aprender é um processo contínuo que não cessa quando vêm sendo realizadas apenas dentro do âmbito da escola, basica-
ele está em casa. Qualquer gesto, palavra ou ação positiva de qual- mente envolvendo direções, coordenações e grupos de professo-
quer membro da sociedade ou da família pode motivá-la, porém, res. Em outras palavras, a escola vem, gradativamente, assumindo
qualquer palavra ou ação que tenha uma conotação negativa pode a maior parte da responsabilidade pelas situações de conflito que
gerar um bloqueio no aprendizado. É claro que, como qualquer ser nela são observadas.
humano, ele precisa de limites, e que não pode fazer tudo que qui-
Assim, procuram-se novas metodologias de trabalho, muitos
ser, porém os limites devem ser dados de maneira clara, sem o uso
projetos são lançados e inúmeros recursos também lançados pelo
de palavras rudes, que agridam ou desqualifiquem-no.
governo no sentido de não deixar que o aluno deixe de estudar.
Uma pessoa agredida, com palavras ou ações, além de apren-
Porém, observa-se que se não houver um comprometimento maior
der a agredir, perde uma boa parte da motivação para aprender,
pois seus sentimentos em relação a si mesma e aos outros ficam dos responsáveis e das instituições escolares isso pouco adiantará.20
confusos, tornando-a insegura com relação às suas capacidades, e
consequentemente gerando uma baixa autoestima. Outro aspec- O papel da educação na sociedade brasileira
to que merece ser lembrado é o que se refere à comparação com Sempre estamos nos perguntando qual é a finalidade da educa-
outros irmãos que foram bem sucedidos; os pais ou responsáveis ção? Escolarizamos nossos alunos para a vida ou para a sociedade?
devem evitar a comparação, pois cada um é único e tem seu próprio Ao longo dos anos, muitos estudiosos e autores, se compeliram em
ritmo de aprendizado e sua maneira singular de ver o mundo e a compreender o real papel da escola, perante a sociedade. A insti-
sociedade em que esta inserido. tuição de ensino foi concebida com o principal objetivo de originar
É preciso ainda ressaltar que o conhecimento e o aprendizado grandes transformações que causariam nos indivíduos e na socie-
não são adquiridos somente nos bancos escolares, mas é construído dade, a libertação da classe dominadora, onde todos poderiam,
pelo contato com o social, dentro da família, e no mundo ao seu a priori, ter as mesmas oportunidades e privilégios que só à bur-
redor. Fazer do aprendizado um prazer é tarefa não só dos professo- guesia, até então, possuía. Ir a escolar, ocupar um lugar nas salas
res, mas também, de pais, da sociedade e de qualquer profissional de aula, deixou de ser um lugar privilegiado, sacralizado e de aces-
interessado no bem-estar de quem aprende.19 so restrito ao conhecimento e a informação, para ser um recinto
Pensar em educação de qualidade hoje, é preciso ter em mente aberto, amplo, onde todos poderiam aprender e desenvolver suas
que a família esteja presente na vida escolar de todos os alunos em capacidades de inter-relacionar-se, construindo assim, múltiplos sa-
todos os sentidos. Ou seja, é preciso uma interação entre escola e beres. Existem ainda, muitas ideias que estão enraizadas na nossa
família. Nesse sentido, escola e família possuem uma grande tare- forma de pensar sobre a educação e seu papel junto à sociedade.
fa, pois nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de uma Em inúmeras formas e diversos prismas, conhecemos discursos que
criança. definem o papel da educação, da escola, como sendo, reconstruto-
Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica res da sociedade, por meio da homogeneização das desigualdades,
pode ser a meta da escola que pretende ter um equilíbrio no que com a produção de indivíduos críticos e conscientes, estimulados
diz respeito à disciplina de seus educandos. A sociedade moderna para o desenvolvimento cognitivo e socioeconômico.
vive uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Essa é O Filósofo e Prof. Dr. Mario Sergio Cortella (1998), diz que, dis-
uma constatação que norteia os arredores dos setores educacio-
cutir o papel da escola, é procurar uma compreensão política da
nais, pois é na escola que essa crise pode aflorar mais, ficando em
própria finalidade do trabalho pedagógico. Diante disso, nos per-
maior evidência.
guntamos mais uma vez, Qual o Papel da Educação para a Socie-
Nesse sentido, A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
dade? Formar indivíduos críticos ou especializar mão de obra? Em
( lei 9394, de dezembro de 1996) formaliza e institui a gestão de-
mocrática nas escolas e vai além. Dentre algumas conquistas des- longo prazo, acredita-se que a escolarização, irá melhorar a socie-
tacam-se: dade brasileira e que o sistema educacional permitirá que todos,
A concepção de educação, concepção ampla, estendendo a crianças, jovens e adultos, possam ter um ensino de qualidade, que
educação para além da educação escolar, ou seja, comprometimen- lhes garanta a possibilidade de ascensão social. É estéril debater
to com a formação do caráter do educando. sobre o tema proposto, sem esquecer-se das imensas mazelas que
figuram nosso Brasil, as desigualdades sociais que persistem em
existir, nos fazem pensar mais a fundo, sobre o principal papel da
escola para a sociedade, pois, a educação é vista como forma de
nivelar essas desigualdades, uma vez que, o indivíduo adentrando a
instituição de ensino, teria oportunidades iguais de conhecimento e
aprendizagem, onde poderia assim, desenvolver suas habilidades e
19 Texto adaptado de Claudia Puget Ferreira / Fabiola Carmanhanes Anequim /
Valéria Cristina P.Alves Bino 20 Fonte: www.portaldoconhecimento.gov.cv

73
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
conquistar seu lugar no mercado de trabalhando, sendo valorizado penha tarefas do Estado, entre elas a proteção à vida, segurança e
por ser um profissional diferenciado, que soube aproveitar as opor- liberdade dos indivíduos. De acordo com esses fatos, a proeminên-
tunidades a ele oferecidas, conquistando, por mérito próprio seu cia de que a família não cumpre com seu dever é notório, e por con-
lugar perante a sociedade. No entanto, fala-se tanto dessa inclu- ta disso, a escola, teve sua responsabilidade aumentada, e a função
são, mas infelizmente, a escola está muito longe de ser um ambien- de propiciar e mediar a construção do saber, do conhecimento e
te seguro e imparcial, que impede que as diferenças que existem do exercício da socialização, foi-lhe agregada a responsabilidade de
fora dos seus portões, adentrem o ceio escolar e massacrem vários educar e preparar crianças e jovens, para a vida, e ainda, para en-
discentes por serem negros e/ou pobres e/ou homossexuais e/ou frentarem as desigualdades, injustiças, Bulling e etc.
adolescentes grávidas e/ou usuários de entorpecentes, enfim, eles Sobre empreendedorismo e desenvolvimento socioeconômi-
acabam sendo excluídos e humilhados, porque a escola não está co, Ivan Luís Tonon (2011), em seu artigo: “O papel da Educação no
preparada para evitar o Bulling, pois, cabe a escola como institui- desenvolvimento Econômico e no surgimento do empreendedoris-
ção de ensino, fazer um trabalho de conscientização de respeito, mo”, defende que, através do desenvolvimento econômico e suas
à homofobia, racismo, violência (de todas as formas), gravidez na influências, a educação pode ser mediada contribuindo, assertiva-
adolescência, educação para o trânsito, ética profissional, além, dos mente, com o desenvolvimento econômico aliado ordenadamente
conteúdos que fazem parte de sua grade curricular. ao desenvolvimento educacional, criando condições eficientes para
“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será acabar com a desigualdade social. Ao dar início a leitura de alguns
para o século XXI mais do que a Revolução Industrial já foi para o artigos sobre educação e empreendedorismo deparei-me, com o
século XX”. Jeffry Timmons, 1990. artigo de Marival Coanl (2012): “Educação para o Empreendedor
Qual o papel da educação para a sociedade? Segundo diver- com Estratégia para formar um trabalhador de novo tipo”, cita que:
sos autores e estudiosos cabe a Educação iniciar um processo de A necessidade de se formar um homem trabalhador para o
aprendizagem continuo que possibilite crianças, jovens e adultos, empreendedorismo, por meio da educação, tornou-se evidente
alcançarem a excelência em suas habilidades cognitivas e sociais, nos últimos tempos como estratégia para combater o desempre-
transformando-se em profissionais dedicados, críticos e especiali- go, constituindo-se dessa forma, uma ideologia que, enaltecendo
zados em suas áreas de atuação. O papel da escolarização é dar o modo de produção capitalista, intenta moldar os indivíduos à or-
condições para o processo de formação contínua e continuada para dem social vigente com a promessa de que, com o desenvolvimen-
todos aqueles que anseiam crescer como pessoas e profissionais. O to de suas potencialidades empreendedoras, obterão sucesso na
profissional que almeja destacar-se no mercado de trabalho, fica- vida profissional e pessoal. O discurso sobre o empreendedorismo,
rá sempre antenado em inúmeras formas de manter-se atualizado, embebido de valores liberais, prima por ocultar as causas dos pro-
dando assim, continuidade a sua formação profissional e com isso blemas sociais, inclusive, apresentando-os como desafios a serem
qualificando sua mão de obra. A ação de ensinar tem como prin- superados com iniciativa e proatividade individual.
cípio fundamental a formação integral do indivíduo, bem como, o Percebe-se que a sociedade capitalista estimula a competitivi-
objetivo de prepará-lo para o espírito de liderança, de consciência dade e o individualismo, de forma a sobressair-se a todos sem pre-
crítica, ética e moral, para que ele possa aprender a viver e conviver ocupar-se com as diferenças sociais. No entanto, com o surgimento
em sociedade, de forma consciente, ativa, participativa, discernin- do empreendedorismo, e inúmeros projetos que visam abrandar a
do o certo do errado, diferenciando bem de mal e assim, transfor- pobreza, através da educação, estimula-se a competitividade e o in-
mar-se em um cidadão integro e de respeito. dividualismo como valor moral, como também, a sociedade é cha-
Ao encetar a leitura de um artigo escrito por Terezinha Saraiva, mada para a responsabilidade de forma a contribuir para a solução
onde ela fala que, competia a família a educação de seus filhos e à das diferenças sociais. Mesmo que, o indivíduo seja estimulado a
escola o ensinar, percebeu que hoje, em pleno século XXI, muitos competitividade e individualismo, ele torna-se solidário e preocu-
pais inverteram essa ação. Ela cita o seguinte: pado com essas tais “diferenças”, e acaba por colaborar na dimi-
“A educação passou a ser exercida por vários agentes, meios e nuição da desventura humana. O Novo Trabalhador, como é cha-
espaços, que avultam o papel da escola. Agigantou-se sua respon- mado o Empreendedor do século XXI, utiliza-se de estratégias para
sabilidade, ao ser tornar um espaço educativo, abrangendo a edu- difundir o empreendedorismo, mas é através da educação, que o
cação e o ensino. E isto ocorreu à proporção que as famílias, muitas ensino sobre empreendedorismo torna-se significativo, dinâmico,
delas, declinaram do dever de educar seus filhos. Por esta razão, a atrativo. É pela educação, através de cursos e/ou capacitações e/ou
par de ser responsável pelo processo de ensino e de aprendizagem especializações que ele aprende a suprir as demandas num perío-
de conteúdos cognitivos, sobretudo em se tratando de crianças e do que, novos modelos de escolas e profissionais estão surgindo. A
adolescentes, a escola assumiu a atribuição de formar o cidadão, demanda atualmente, por profissionais proativos, que sabem agir, e
construindo com ele não só conhecimentos, competências e habili- tem bem definido as competências, habilidades e atitudes que todo
dades, mas a escala de valores, onde avultam a moral e a ética, que profissional em excelência almeja ter, saberá ser um empreende-
vai servir de farol, iluminando sua caminhada”. Terezinha Saraiva dor capaz de amenizar as diferenças e a superar as individualidades
Reforçando o que Terezinha Saraiva fala o Filósofo Professor Dr. existentes num mundo capitalista. A educação para o empreende-
Mário Sergio Cortella, em entrevista para a Revista Filosofia, cita dorismo faz parte de uma ideologia que faria a inclusão social por
que certo dia um pai de aluno lhe perguntou como ou o quê, a famí- meio de atitudes inovadoras e criativas – empreendedoras. Sua ori-
lia deveria fazer para colaborar com a educação dos filhos na escola, gem, está associada a crise do emprego formal. Para Souza (2009):
e gentilmente, ele responde ao pai que existia um equívoco na for- O “aprender a empreender” reduz o trabalho educativo à pro-
mulação da questão, pois, não cabia a escola educar os filhos, por- dução de mais-valia em contexto de crise estrutural, aproxima, des-
que a escola colabora na educação, escolarizando e dando oportu- sa forma, a educação ao complexo da alienação, “pois pretende, em
nidades de desenvolvimento das crianças e jovens, e que a função vão, adaptar o indivíduo à sociedade capitalista de forma a tentar
de educar era da família, e, salienta mais, dizendo que a escola nos inutilmente harmonizar os conflitos entre capital e trabalho, ao des-
últimos 20 anos, principalmente a pública, assumiu diversas tarefas, considerar o conteúdo desumano que existe durante a produção de
porque ela é a parte da rede de proteção social, e por isso desem- mais-valia” (SOUZA, 2009, p.15).

74
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
É público e de ciência de todos, que a Educação, nem sempre Diniz (2009), em seu artigo: “Empreendedorismo, uma nova
esteve relacionada ao desenvolvimento econômico, destarte, é visão: enfoque no perfil empreendedor”, fala que:
através da educação que se qualificam e especializam-se profissio-
nais, os quais são entregues a sociedade com senso crítico apurado O empreendedor não é um ser mágico, é uma pessoa como
e mão de obra especializada. A título de exemplo, o SENAC – Serviço qualquer outra, porém, apresenta algumas características que o de-
Nacional de Aprendizagem Comercial que tem como Missão: “Edu- ferem dos demais, por exemplo, o senso de oportunidade, a capa-
car para o trabalho em atividades de Comércio de Bens, Serviços cidade de lidar com as pessoas, a persistência e a criatividade. Isso
e Turismo, no contexto nacional, concentra todos os seus esforços é muito bom, uma vez que todas estas características são passivas
no sentido de incrementar ações educativas voltadas à formação de se adquirir com a vivência, busca de instituição de ensino e com
de profissionais criativos, colaborando assim com as empresas que a força de vontade. Diniz, 2009.
desejam permanecer operando num mercado cada vez mais com- Temos que estimular uma valorização que nunca deveria ter
petitivo”. Sua Visão: “É consolidar-se, como referência brasileira deixado de existir, teremos avanços e melhorias perceptíveis em
em Educação para o trabalho, conciliando ações mercadológicas e todos os aspectos, do ensino básico ao superior, do presencial ao
de promoção social”. Existem muitas Instituições de Ensino como virtual, de dentro das nossas casas ao convívio social. Cuidar da
o SENAC, que qualificam e especializam inúmeros profissionais ao educação é uma das ações de maior valor para garantir uma vida
longo dos anos, com uma equipe de professores qualificados, que melhor em nossas casas, em nossas famílias, em nossa comunida-
ao contratar, selecionam professores especializados como Mestres de, em nosso município, enfim, em nosso Brasil e no mundo. Ante o
e doutores, para que, o ensino e a qualidade do nome SENAC, seja exposto, notamos, que o papel da educação para a sociedade, não
elevada, mantendo-se como referência em qualidade de ensino. A é só formar e especializar, é preparar um cidadão blindado, para
escolha de um profissional, qualificado e especializado conta muito, que este possa transpor as barreiras que encontrará durante sua
para a contratação de novos profissionais. Os mais qualificados, têm jornada profissional. Nesse caso, a responsabilidade para o docen-
um lugar garantido ao sol, aos que não procuraram ascender em te aumenta, quando este, terá de exercer sua função, não só de
sua formação, infelizmente, continuarão reclamando da desigual- professor, mas de educador, pai e conselheiro, mantendo-se atu-
dade salarial e manter-se-ão no obscurantismo da profissão, sendo alizado, crítico, conhecedor de uma visão de mundo adequada e
deixados para trás, por não oferecerem habilidades e qualificações justa, tendo uma vida regrada, ética e digna, para servir de modelo
necessárias para o cargo/ocupação que o mercado de trabalho ofe- para seus alunos, pois, o professor será uma bússola, que apontará
rece/exige, e que tanto anseiam ocupar. O mercado de trabalho para qual caminho seguir e quais conhecimentos adquirir de valores
está muito exigente, e procura por profissionais qualificados e críti- morais e éticos, além, dos cognitivos que deverá ensinar em sala de
cos. Pois ao tornarem-se qualificados e especializados em sua área aula, enfim, caminhos desafiadores, que infelizmente, apenas pou-
de formação, tornam-se peça chave para o desenvolvimento so- cos (determinados) seguiram. Não nos aprofundando muito nesse
cioeconômico. Acredito que a desigualdade salarial, hoje existente assunto, mas diante desse fato, o docente terá de ser a pessoa mais
entre diversos profissionais, ocorre pela falta de desenvolvimento correta, regrada e empreendedora que possa existir, onde, então,
educacional. Não adianta querer abraçar o mundo sem ao menos, ele poderá fazer os apontamentos adequados, sem correr o risco de
aprender como abraça-lo! Os indivíduos precisam aprender que, ser apontado como um infrator de regras e normas, pois sua condu-
singularmente falando, somente a educação pode melhorar sua ta moral e ética será intocável. Destarte, o papel da educação é um
formação, somente o profissional qualificado tem uma vida finan- caminho abstruso, mas de extrema importância para a vida de um
ceira saudável, além, é claro, são valorizados pelos seus gestores, indivíduo, pois, através da escola que o futuro profissional fará sua
que, sem sombra de dúvida, procuram investir nesse profissional, formação e dará continuidade a ela. A escola pode ser vista como
propiciando a eles, novos conhecimentos, através de capacitações um realizador de sonhos, um tanto filosófico, mas sine qua non. A
e treinamentos, oferecidos pela empresa que labutam. demanda por profissionais capacitados e especializados é grande, e
Nos dias atuais, a educação vem criando vários projetos para somente e exclusivamente, só a Educação pode proporcionar isso.
que o ensino do empreendedorismo seja consolidado na grade Não há nada mais valoroso e imprescindível para a transformação
curricular, das escolas de ensino fundamental e médio, baseados de realidades, de uma sociedade e de um País, do que a Educação!
na pedagogia empresarial, como disciplina ou atividades extracur- Diante disso, entendo que a educação não conseguirá transfor-
riculares. Projetos como a Empresa Júnior, dentro das escolas, tem mar a sociedade e a sociedade por sua vez, não conseguirá mudar
o apoio do SEBRAE, que participa ativamente destas atividades e sem a educação. A pergunta é pertinente: Qual o Papel da Educa-
apoia o desenvolvimento das Micro e Pequenas empresas. Além ção para a Sociedade: Formar um indivíduo critico ou especializar a
desse apoio, o SEBRAE criou o “Desafio Universitário Empreende- mão de obra? O que queremos para uma sociedade que está desa-
dor”, projeto este, que se destina aos acadêmicos de instituições brochando para o desenvolvimento econômico e que tanto se fala
públicas e/ou privadas de qualquer curso, que queiram estimular em empreendedorismo? Como definir o papel da educação, se não
atitudes empreendedoras, através de inúmeras atividades, jogos conseguimos mensurar a forma pela qual, ela pode contribuir ob-
virtuais e cursos de capacitação presenciais. Muitas pesquisas des- jetivamente e definitivamente no desenvolvimento econômico das
crevem a necessidade de se educar os alunos e jovens acadêmicos, famílias e das pessoas? Enquanto, a sociedade não compreender
para o desenvolvimento de habilidades empreendedoras, onde que deve investir colaborar e corroborar com a melhoria da educa-
possam formar uma mentalidade adequada para atender as mu- ção, estará fadado a “criar” profissionais frustrados, obsoletos, ir-
danças do mundo atual. responsáveis, duvidosos e que não passam de meros expectadores
A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa da ruína humana, e mal querem saber de aniquilar as desigualdades
e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo, sen- humanas as quais fazem parte, pois, preferem continuar no lamaçal
do assim, Empreendedorismo é o estudo dedicado ao desenvolvi- da ignorância a terem que “perder tempo” adquirindo a fórmula do
mento de competências e habilidades relacionadas à criação, que crescimento cognitivo, pessoal e social que se chama: Educação!21
oportuniza o indivíduo a saber identificar oportunidades e transfor-
má-las em realidade. A importância do empreendedorismo está na
geração de riquezas, que promove crescimento e desenvolvimento,
21 Fonte: www.todamateria.com.br/www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/
gerando mudança tanto econômica quanto social.
www.infoescola.com/www.blog.abmes.org.br/ www.pensaraeducacao.com.br

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
O ensino liberal tradicional, que dominava até então, vai aos
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO – A RELA- poucos diminuindo a sua influência e dando lugar a um ensino vol-
ÇÃO DESENVOLVIMENTO / APRENDIZAGEM: DIFE- tado à industrialização, com importação de tecnologia, e à neces-
RENTES ABORDAGENS, A RELAÇÃO PENSAMENTO / sidade de maior expansão do ensino. No discurso oficial, as ideias
LINGUAGEM – A FORMAÇÃO DE CONCEITOS, CRESCI- democráticas são reforçadas e incluem os ideais de solidariedade e
MENTO E DESENVOLVIMENTO: O BIOLÓGICO, O PSI- cooperação associados ao pensamento liberal.
COLÓGICO E O SOCIAL. O DESENVOLVIMENTO COGNI- A chegada dos ideais da Escola Nova ao contexto brasileiro fa-
TIVO E AFETIVO vorece a crença, até hoje aceita, de que a educação é o fator de-
terminante de mudança social e, para tanto, tornava-se necessário
A forma como a psicologia foi sendo chamada a responder os difundir e reestruturar a educação, tendo em vista o regime repu-
desafios relacionados ao humano em cada momento histórico, é o blicano e democrático em vigor. O entusiasmo pela educação e o
objetivo deste e do próximo encontro. Nesta e nas próximas aulas otimismo pedagógico caracterizam o movimento escolanovista.
serão apresentados, em linhas gerais, o desenvolvimento da psico- Como sinaliza Saviani (1985)1, a uma pedagogia da essência,
logia enquanto ciência e a inserção da psicologia no contexto edu- da escola tradicional, se contrapôs uma pedagogia da existência. O
cacional brasileiro, assim como introduziremos uma questão básica “otimismo pedagógico” ou a “ilusão liberal” que se anunciava na es-
para a psicologia, quer seja, a determinação da hereditariedade e cola tradicional liberal, surge de forma mais intensa na Escola Nova.
do ambiente na constituição do homem. O início da industrialização no Brasil, na década de 1920, co-
Antes de iniciar essa incursão, vale salientar o contexto históri- meça a produzir mudanças políticas, no aparelho de Estado e no
co em que as teorias aqui apresentadas se desenvolveram. As teo-
poder político, e mudanças sociais com o aumento da exigência por
rias surgem, prioritariamente, na Alemanha e na América do Norte,
educação de forma a suprir os recursos humanos necessários à eco-
excetuando-se a Psicologia Histórico-Cultural e o Condicionamento
nomia. Antes da década de 1920, segundo Romanelli (1986, p. 55),
Clássico que têm origem na Rússia; e no final do século XIX e o início
a educação escolar “carecia de função importante a desempenhar
do século XX, ou seja, em pleno desenvolvimento do capitalismo in-
dustrial, excetuando-se a Teoria Humanista, que é fruto da segunda junto à economia”.
metade do século XX. Essa mudança que se possibilitou à educação de enfrentar os
Isto não significa que essas teorias, ou concepções do mundo, novos desafios advindos do desenvolvimento do capitalismo, tam-
tenham sido amplamente divulgadas em todo o mundo ou que te- bém gerou inquietações e questionamentos acerca do fazer docen-
nham influenciado com a mesma intensidade os diversos contextos te. O viés individualista norteia a formação de educadores nas 4ªs
para o qual foram transplantadas. Os escritos de Vigotski, por exem- séries iniciais do ensino elementar (que equivale hoje à primeira
plo, foram censurados por Stalin e proibidos de serem divulgados fase do ensino fundamental) e a Psicologia da Educação contribui
durante décadas. De qualquer forma, a compreensão acerca dessas com essa orientação.
teorias torna-se imprescindível para a formação do futuro educa- O aluno passa a ser o centro do processo educativo e o profes-
dor, uma vez que têm influenciado, até hoje, em maior ou menor sor deve ser capaz de orientar a aprendizagem a partir do conhe-
grau, as propostas pedagógicas de cada país. cimento da personalidade do aluno. Os professores são chamados
A história da inserção da psicologia no Brasil é bastante curiosa, a atuar visando a construção do novo homem, preparado para o
uma vez que deve-se a sua aplicação nos cursos de formação de novo, com autonomia e visão crítica.
educadores, isto é, à Psicologia da Educação. No ano de 1932, alguns educadores como Anísio Teixeira, Lou-
Na década de 1920, os novos desafios trazidos à educação com renço Filho, Fernando de Azevedo, Francisco Campos, lançam o Ma-
o início da industrialização trazem a necessidade de uma psicologia nifesto dos Pioneiros da Educação Nova, na defesa de uma educa-
que dê subsídios à formação dos educadores. Os estados mais de- ção e uma escola leiga e gratuita, e da abolição do dualismo escolar
senvolvidos do país começam a implantar as reformas de ensino, em todo território nacional. Esse documento é fruto dos embates
movidos pelos ideais da Escola Nova, e a Psicologia da Educação entre os educadores católicos defensores do ensino tradicional e
começa a assumir o seu papel na educação brasileira. os educadores defensores das “ideias novas” que questionavam os
O ideal liberal da Escola Nova chega ao Brasil com o término princípios que deveriam nortear a educação nacional.
da Primeira Guerra Mundial e o ingresso do Brasil na era urbano- A Constituição de 1934, reflete a vitória do movimento renova-
-industrial. As ideias advindas dos Estados Unidos da América e da dor, e a educação passa a ser direito de todos e responsabilidade da
Europa são apropriadas e reunidas sob o título de Escola Nova. Os família e dos Poderes Públicos, inclusive com a obrigatoriedade e a
professores que foram estudar nos Estados Unidos trazem para o
gratuidade do ensino primário (RIBEIRO, 1986, p. 104).
ideário educacional brasileiro a educação progressiva ou escola ati-
Em novembro de 37, Vargas dá o Golpe de Estado (Estado
va em John Dewey. Por outro lado, os que vão estudar na Europa
Novo) e institui o regime totalitário. É promulgada a Constituição
trazem as ideias de Jean Piaget e sua teoria construtivista é apro-
essencialmente de tendência fascista e ditatorial. Em seu texto, fica
priada como o alicerce psicológico de sustentação da Escola Nova.
Com vista à divulgação dessas ideias é criada, no Rio de Janeiro, a explícita a orientação político-educacional para o mundo capitalista
Associação Brasileira de Educação, em 1924. com a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para
Esse modelo de escola, necessariamente relacionado à cons- as novas atividades abertas pelo mercado. Em 1945, é deposto por
trução de uma sociedade democrática, passa a influenciar o ideário um golpe militar.
educacional brasileiro até os dias atuais. Entretanto, vale salientar A Constituição de 1946, de orientação ideológica liberal-demo-
que as “novas ideias” já vinham sendo gestadas anteriormente ao crática, em essência, não difere da de 34. O retorno à normalidade
referido período, tanto com a introdução das ideias iluministas nas democrática favorece o renascimento dos princípios liberais em
Reformas Pombalinas, no Brasil Colônia, quanto na segunda meta- educação e a retomada do preceito de que a educação é direito de
de do século XIX, com a introdução dos ideais liberais no Manifesto todos, inspirada nos princípios da Escola Nova e do Manifesto dos
Liberal e com as escolas para os filhos de norte-americanos, que Pioneiros da Educação Nova.
tinham como orientação pedagógica, a educação ativa.

76
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
No final da década de 1940 e início da década de 1950, intensi- destaca Goulart (op.cit., p. 155) “sobreviveu a esta crise provavel-
ficam-se as lutas ideológicas entre reformadores e conservadores e mente porque lhe era possível desenvolver um discurso descom-
favorecem a criação de vários órgãos e de uma comissão, em 1948, promissado com o social e o político e, ao mesmo tempo, capaz de
para discussão e elaboração do ante-projeto das diretrizes e bases justificar as desigualdades sociais e até preservá-las”.
da educação nacional. Na década de1960, são criados cursos de Psicologia e de Orien-
Vargas retorna ao poder em 1950, e, em 1954, suicida-se. Se- tação Educacional.
gue-se um conturbado período político. Em 1956, Juscelino Kubits-
chek assume a presidência e, em 1961 (treze anos após a constitui- Portanto, segundo Goulart (1987, p. 154), foi “entre os espe-
ção da primeira comissão), é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da cialistas (professores de) em Psicologia Educacional que se buscou
Educação Nacional (LDB) em que prevalecem as reivindicações dos inspiração para os dois novos cursos”. Esses cursos tinham uma
donos de estabelecimentos particulares de ensino. tendência fortemente experimental, aproximando a Psicologia da
Romanelli (1986) aponta que esse percurso teve, como ponto Biologia, e com o emprego da Psicometria com vista à “seleção e
negativo, a defasagem entre o texto e a realidade concreta e, como adaptação do pessoal nas empresas”.
ponto positivo, a grande mobilização e a luta nacional propiciadas A tendência nos cursos de Psicologia da Educação foi, mais uma
vez, o Comportamentalismo, fundamentada agora nos trabalhos
pela conscientização dos problemas relacionados à realidade edu-
de Skinner e o estudo da dinâmica de grupo e das relações huma-
cacional (ROMANELLI, 1986, p. 171-172). Freitag (1986) afirma que
nas, voltados para a análise das relações no interior das escolas,
a LDB traduziu toda a seletividade do sistema educacional, tanto
deixando intocadas as questões relativas à estrutura econômica e
verticalmente (do ensino primário ao universitário), quanto em
social mais ampla.
relação à origem de classe dos alunos. Nas décadas de 40 e 50, a Ao assumir as reformas, o Estado isola o fenômeno educati-
importação de livros e o aperfeiçoamento de professores nos Es- vo dos fenômenos econômicos, políticos e sociais e articula-se ao
tados Unidos da América, “através de acordos celebrados entre os grande capital, assim como assume, segundo Freitag (1986, p. 107),
governos brasileiro e americano deram novo impulso à Psicologia a função de reprodução “da estrutura de classe, da estrutura de
da Educação” (GOULART, 1987, p. 149). poder e da ideologia”, e “da força de trabalho” 3, contribuindo para
Exemplos desse novo impulso dado à Psicologia da Educação, a formação de “um exército industrial de reserva”.
são: o retorno da concepção democrática de educação de John Historicamente, compreende-se que a psicologia deu um salto
Dewey (bem propício nesse período após 15 anos de ditadura); a qualitativo, ao passar de uma análise individualista de seu objeto de
chegada dos estudos do Comportamentalismo com John Watson, estudo a uma análise social. Entretanto, ainda percebe-se que essa
que trazem a segurança da fundamentação científica (mesmo que análise, na maioria das vezes, “mascara” a análise histórica. Se, a
orientada para um experimentalismo positivista) e dão ênfase ao análise individual negligencia o aspecto social, reduzindo diferenças
papel do ambiente na formação das pessoas; a chegada dos textos sociais a diferenças individuais; a análise social parece reduzir as
de Carl Rogers, ainda que de forma menos incisiva; assim como o questões históricas ao meio social mais próximo ao sujeito, ou seja,
uso dos testes em Psicometria. à família, à escola, ao bairro, ao que denomino “individualização do
A Psicologia Experimental influencia os cursos de Filosofia e social” (BAPTISTA, p. 35).
dão suporte à tecnologia educacional fundamentada principalmen- No final da década de 1970 e início dos anos de 1980, a popu-
te nos estudos de Burrhus Skinner. O uso de testes na Psicometria lação brasileira volta-se para a reconstrução nacional e o enfren-
reduz as diferenças sociais às diferenças individuais. Portanto, as di- tamento dos problemas econômicos (dívida externa e crise fiscal),
ferenças se explicariam pelo nível de inteligência, pela aptidão, pelo políticos (luta pela redemocratização da sociedade) e sociais (au-
interesse, adiando ou mesmo ignorando as discussões acerca do mento do analfabetismo e do desemprego) agravados ou herdados
acesso e da permanência do aluno na escola. Os testes são também com a ditadura.
amplamente utilizados na escola pela Orientação educacional na Na década de 80, o processo de reabertura política favorece
orientação vocacional e em diagnósticos (GOULART, op.cit., p. 151). a reconquista das liberdades democráticas, possibilidade de parti-
O país vive um momento de crescimento econômico e de parti- cipação para os movimentos sociais de base e o crescimento dos
movimentos sindicais. Os trabalhadores começam a se organizar
cipação política no governo liberal de Juscelino Kubitschek. Surgem
incorporando a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB), da
os Movimentos de Educação Popular motivados tanto pelos deba-
esquerda marxista e da Ação Popular (AP), que retorna à cena polí-
tes a favor da educação pública e de qualidade em toda a América
tica na década de 1980 com as pastorais e comunidades eclesiais de
Latina, como pelas ideias de Paulo Freire e de autores que, influen-
base. Há um retorno da teoria de Jean Piaget e do Construtivismo
ciados pelo pensamento social cristão, defendem a participação ati- ao ideário educacional brasileiro.
va da população adulta na vida política do país. Nesse período, começam a chegar, ao Brasil, as primeiras obras
Com o golpe de 1964, o Estado Militar imprime à educação o de Lev Vigotski, traduzidas, principalmente, do inglês. Essas tradu-
caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo. A ções favorecem uma apropriação da obra de Vigotski, ora pela via
Constituição de 1967 elimina vários direitos constitucionais adqui- da linguagem, aproximando-o dos linguistas, ora pelo viés interacio-
ridos anteriormente e a relação educação e desenvolvimento é re- nista, aproximando-o de Piaget, ora pelo viés marxista, afastando-o
forçada pelos acordos MEC-USAID que atingem todo o sistema de de Piaget.
ensino. Desenvolve-se uma concepção tecnicista em educação com Duarte (2000, p. 278) representa essa terceira apropriação e
ênfase nos métodos e técnicas e na formação profissional, mais afirma que, diferentemente de Piaget que “é sociointeracionista”
adequada aos princípios da empresa capitalista: maior eficiência e (o próprio construtivismo ou interacionismo é sociointeracionista),
produtividade. em Vigotski o social tem uma “conotação efetivamente historiciza-
A racionalização do processo produtivo reflete-se na racio- dora do ser humano, uma concepção marxista do homem como ser
nalização educacional através das reformas de ensino como a Lei social”.
5.540/68 e a Lei 5.692/71 relativas, respectivamente, ao ensino su- Em seu livro intitulado Vigotski e o “Aprender a aprender”, Du-
perior e ao ensino de 1º e 2º graus. No plano pedagógico, entre ou- arte (2000, p. 171; 168) acusa a superficialidade com que os livros
tros aspectos, a Filosofia é eliminada dos currículos e a psicologia, Pensamento e linguagem e A formação social da mente foram “tra-

77
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
duzidos” para o português, denominando-os “versões resumidas, No segundo caso, esses comportamentos são atribuídos a fato-
reescritas e censuradas dos textos originais de Vigotski”, que bus- res, tais como, o excesso ou a falta de limites pelos pais na criação
cam “descaracterizar a conotação fortemente crítica do texto de da criança, desde quando pequena. Assim, aos comportamentos
Vigotski em relação não só ao pensamento de Piaget como também acima descritos reage-se com observações como: “a mãe é boazi-
ao idealismo presente em boa parte das teorias psicológicas” e tor- nha demais” ou “o pai é muito severo”, ou ainda “a escola não con-
nar “o pensamento de Vigotski mais soft, menos marxista e mais segue controlar os seus alunos”, entre outras.
facilmente adaptável ao pragmatismo norte-americano”. Apesar de Se, por um lado, atribuirmos à hereditariedade ou à constitui-
estar se referindo às obras de Vigotski, as reflexões de Duarte bem ção o determinante decisivo sobre o comportamento humano, es-
poderiam ser atribuídas às traduções e interpretações de outros tamos afirmando que o comportamento irá se manter através do
autores marxistas. tempo e que a experiência do indivíduo em pouco ou nada pode
No fim do Período Militar (1985), a responsabilidade do Esta- contribuir para modificar o comportamento, uma vez que os aspec-
do burguês com a educação, ideal defendido pelos escolanovistas, tos inatos já estão postos na vida de uma pessoa e irão predispô-la
recebe fortes críticas de educadores, principalmente, de orientação para esta ou aquela forma de agir.
marxista. A discussão sobre as questões educacionais perde o sen- Por outro lado, aqueles que atribuem à experiência e à apren-
tido pedagógico e adquire um viés político. dizagem o fator determinante sobre o comportamento têm como
Saviani (1986, p. 12; 20) afirma que a defesa da “tutela” do vantagem poder explicar como o comportamento se modifica com
Estado em relação à educação, como forma de “garantir o atendi- o passar do tempo. Essa perspectiva favorece o estudo processual
mento das necessidades educacionais do conjunto da sociedade” do desenvolvimento do comportamento de indivíduos submetidos
(décadas de 1930 e 1950), constituía uma “ilusão liberal”, uma vez a essa ou àquela situação de aprendizagem, ou seja, como um e
que pressupunha “um Estado neutro que pairava acima das diferen- outro comportamento pode vir a ser aprendido e como fazer para
ças de classe”. Assim como conclama a sociedade civil a “exercer o modificá-lo.
controle da educação em geral”. Entretanto, como explicar as diferenças individuais em sujeitos
A Constituição de 1988, apesar de alguns avanços na área submetidos às mesmas condições de aprendizado?
educacional como o caráter do direito público subjetivo ao ensino Filloux (1978), em seu livro A personalidade, trata justamente
obrigatório4, acentuou o papel da sociedade e da família frente à dessa proporção do dado e do adquirido no comportamento, em
educação de seus filhos, minimizando o papel do Estado quanto à função do contato com o meio, apontando para a importância da
qualidade dos serviços prestados à população (“Estado mínimo”). A dialética “nature-nurture”. O autor define “nature” como do inato,
nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aprovada da hereditariedade, e “nurture” como do adquirido, do meio, mas
em 1996, onze anos após de ter sido cogitada a sua efetivação na explica que esses termos têm a vantagem de não se limitarem, no
V Conferência Brasileira de Educação em 1985, caracteriza-se pelo caso do primeiro conceito, a algo que já está dado, e no segundo, ao
forte cunho liberal dos “primeiros tempos”, nos moldes de Dewey. meio, mas as resultantes desse meio.
Filloux (1978, p. 21) afirma que essa separação entre nature e
A partir do final da década de 1990, a responsabilidade do Es- nurture é algo aleatório e que na história individual a relação en-
tado com as políticas sociais, entre elas, a educação, retorna à dis- tre esses aspectos “assume a forma de uma incessante dialética”. O
cussão nacional como enfrentamento ao Estado mínimo neoliberal autor aponta que o erro tem origem, primeiro, no significado atri-
(liberal). As reformas na educação investem na formação aligeirada buído ao conceito nature, como “elementos constitucionais dados”,
e a distância, e na tecnologização da educação (um novo transplan- em que o próprio conceito de maturação é desprezado; e segundo,
te!), deixando à mostra o avanço da mercantilização da educação na interação funcional nature-nurture; enfatizando que “o que é
e a ineficiência do Estado em arcar com a educação pública e de “dado” ao nascer já supera a herança genética”.
qualidade. Nesse sentido, afirma que a nurture contribui para constituir a
Finalmente, vale salientar que a Psicologia da Educação ao nature, uma vez que o feto tem uma vida fisiológica intra-ulterina,
voltar-se para a compreensão do homem como um todo não pode mas também uma vida “psicológica intra-ulterina [que] é, em par-
prescindir de uma micro e de uma macro-análise. Nesse sentido, te, função do meio ‘maternal’”. Assim, a vida intra-ulterina sofre os
essa compreensão pressupõe uma análise, tanto do contexto em efeitos de um meio maternal traumatizante (tensões vividas pela
que o indivíduo encontra-se inserido, quanto da determinação des- mãe durante a gestação, exposição à radiação, ingestão de subs-
se contexto, a que o sujeito exterioriza em ação, em comportamen- tâncias químicas), assim como os acidentes de parto, as reações
to. psíquicas do recém-nascido fazem parte das estruturas congênitas.
Daí a razão pela qual o dado constitucional ultrapassa aquilo
A relação desenvolvimento e aprendizagem que é puramente hereditário, podendo-se paradoxalmente consi-
O estudo sobre a psique humana tem constantemente enfren- derar que, os elementos adquiridos, justamente aqueles que são
tado a seguinte questão: se este ou aquele traço de personalidade adquiridos in útero é que fazem parte da nature; o que equivale
deve-se à hereditariedade e à constituição, ou seja, à carga genética a dizer que o nurture contribui para constituir a nature (FILLOUX,
do indivíduo, ou ao ambiente, ou melhor, à experiência e à apren- 1978, p. 21).
dizagem do indivíduo na interação com o seu meio social e cultural. Da mesma forma, Filloux (1978, p. 22) questiona a influência da
Assim, as ações, o comportamento humano, enfim, as diferen- nature sobre a nurture, ao levantar o papel da maturação fisiológica
ças individuais são atribuídos ora à hereditariedade, ora aos fatores no desenvolvimento do comportamento. A linguagem e as atitu-
externos. No primeiro caso, aparecem relacionados ao comporta- des da espécie humana, afirma o autor, dependem da “organiza-
mento familiar. Portanto, se a criança é agitada ou calma, esperta ção muscular neurovegetativa”, ou seja, da maturação, entretanto,
ou “desligada”, se gosta de estudar ou não, de comer ou não, se enfatiza que “a maturação traz apenas possibilidades de ação” e
demora a dormir ou se acorda cedo, diz-se que se parece com o pai, que a sua “realização é função do ambiente”. Portanto, “o ficar de
o avô, a tia etc., quando tinham a mesma idade que a da criança pé parece pertencer à nature do homem, entretanto, a criança não
em questão. andaria se não se lhe ensinasse a andar”.

78
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A maturação é ‘dada’, mas não tem influência, não existe como Vygotsky dedicou anos de estudo para compreender as rela-
‘dado’, a não ser em função do meio. O processo de maturação não ções entre o pensamento e a linguagem - e esse foi um dos maiores
pode, portanto, ser considerado como fator direto da personalida- acertos de seu trabalho. Até então, os estudos sobre o tema busca-
de; ela age no seio de um movimento de interação complexo e é vam dissecar os dois conceitos isoladamente. De acordo com João
função tanto do desenvolvimento quanto do ambiente (FILLOUX, Batista Martins, professor da Universidade Estadual de Londrina
1978, p. 22). (UEL), entender o desenvolvimento humano desmontando as par-
Portanto, se é verdade que é inútil ensinar a criança a andar tes que o constituem é errado. “Vygotsky reconhecia a independên-
antes que a sua maturação orgânica tenha atingido um nível de cia dos elementos, mas afirmava que o caminho era compreender
desenvolvimento suficiente, também é verdade que é necessário como um se comporta em relação ao outro, como eles interagem
fazê-lo quando a criança atinge esse nível ou estimulá-la para que em suas fases iniciais”, explica.
chegue a esse nível. Para compreender essas relações, Vygotsky buscou analisar
o desenvolvimento da criança. De acordo com ele, mesmo antes
A respeito dessa relação entre o dado e o adquirido, vale sa- de dominar a linguagem, ela demonstra capacidade de resolver
lientar o pensamento de Vigotski que iremos conhecer melhor nas problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios para atingir
próximas aulas. O autor, em seu trabalho Manuscrito de 1929, ao objetivos. É o que o pesquisador chamou de fase pré-verbal do
tratar da aprendizagem humana e da aprendizagem não-humana, pensamento. Ela é capaz, por exemplo, de dar a volta no sofá para
aponta que a relação filogênese e ontogênese apresenta-se dife- pegar um brinquedo que caiu atrás dele e que não está à vista. Esse
rente quer se esteja tratando do desenvolvimento orgânico, quer conhecimento prático independe da linguagem e é considerado
do desenvolvimento cultural. uma inteligência primária, também encontrada em primatas como
Para Vigotski, na obra de Piaget (1978d, p. 30-32), há um pa- o macaco-prego, que usa varetas para cutucar árvores à procura de
ralelismo entre a filogênese e a ontogênese. Vigotski, entretanto, mel e larvas de insetos.
diferencia o lugar da filogênese e da ontogênese no desenvolvimen- Embora não domine a linguagem como um sistema simbólico,
to orgânico e no cultural. No desenvolvimento orgânico “a filogê- os pequenos também utilizam manifestações verbais. O choro e o
nese está incluída em potencial e se repete na ontogênese”, mas riso têm a função de alívio emocional, mas também servem como
no desenvolvimento cultural há uma “inter-relação real entre filo meio de contato social e de comunicação. É o que Vygotsky cha-
e ontogenia”: “para o embrião no útero da mãe desenvolver-se em mou de fase pré-intelectual da linguagem. Essas fases podem ser
filhote humano, o embrião não interage com o biótipo adulto. No associadas ao período sensório-motor descrito pelo psicólogo su-
desenvolvimento cultural esta inter-relação é a força motriz básica íço Jean Piaget (1896-1980), no qual a ação da criança no mundo
do desenvolvimento” (VIGOTSKI, 2000b, p. 27). é feita por meio de sensações e movimentos, sem a mediação de
A partir do exposto, pode-se afirmar apenas que tanto o dado representações simbólicas. “É a fase na qual a criança depende de
como o adquirido interferem de forma específica na personalidade. sentidos como a visão para atuar no mundo e se manifesta exclusi-
Assim, alguns aspectos estariam mais relacionados com a heredita- vamente por meio de sons e gestos, ligados à inteligência prática”,
riedade, como a cor dos olhos e a dos cabelos, a altura, o tempe- diz Martins.
ramento (a extroversão, a emotividade et.), a inteligência (QI) etc., Por volta dos 2 anos de idade, o percurso do pensamento en-
assim como outros estariam mais relacionados ao meio, como, a contra-se com o da linguagem e o cérebro começa a funcionar de
fala e o caminhar humanos, as respostas às situações do dia a dia, uma nova forma. A fala torna-se intelectual, com função simbólica,
os transtornos psicológicos etc. Entretanto, o predomínio de um ou generalizante, e o pensamento torna-se verbal, mediado por con-
de outro não reduz a dialética entre ambos. ceitos relacionados à linguagem.
Por fim, pode-se afirmar que a hereditariedade revela tão so-
mente tendências, possibilidades que necessitam ser desenvolvi- O significado das palavras une pensamento e linguagem
das, assim como o adquirido não pode vir a ocorrer a não ser que o No livro Vygotsky - Aprendizado e Desenvolvimento, um Pro-
inato demonstre sinais de maturação. cesso Sócio-Histórico, Marta Kohl, professora da Universidade de
A questão da relação nature-nurture no estudo da personali- São Paulo (USP), afirma que o significado das palavras tem papel
dade insere-se, portanto, na questão mais ampla acerca da relação central: é nele que pensamento e linguagem se unem. Para Vygot-
desenvolvimento e a aprendizagem que irá atravessar o nosso estu- sky, os significados apresentam dois componentes: o primeiro diz
do acerca da Psicologia da Educação.22 respeito à acepção propriamente dita, capaz de fornecer os concei-
tos e as formas de organização básicas. Por exemplo, a palavra ca-
A relação pensamento / linguagem chorro: ela denomina um tipo específico de animal do mundo real.
Um dos grandes saltos evolutivos do homem em relação aos Mesmo que as experiências e a compreensão das pessoas sobre
outros animais se deu quando ele adquiriu a linguagem, ou seja, determinado elemento sejam distintos, de imediato o conceito de
quando aprendeu a verbalizar seus pensamentos (leia o trecho de cachorro será adequadamente entendido por qualquer pessoa de
livro na página seguinte). É por meio das palavras que o ser huma- um grupo que fale o mesmo idioma.
no pensa. A generalização e a abstração só se dão pela linguagem O segundo componente é o sentido. Mais complexo, é o que
e com base nelas melhor compreendemos e organizamos o mundo a palavra representa para cada pessoa e é composto da vivência
à nossa volta. Um dos maiores estudiosos sobre essa habilidade individual. Vygotsky pretendeu ir além da dimensão cognitiva e ins-
humana foi o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934), que creve a criança em seu universo social, relacionando afetividade ao
em meados dos anos 1920 criou o conceito de pensamento verbal processo de construção dos significados. Desse modo, concluiu que
(leia um resumo do conceito na última página). uma pessoa traumatizada com algum episódio em que foi atacada
por um cachorro, por exemplo, dará à palavra uma acepção dife-
rente e absolutamente particular - agressão, medo, dor, raiva ou
violência, por exemplo.
22 Texto adaptado de Maria das Graças de Almeida Baptista

79
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
O sentido também está relacionado ao intercâmbio social (leia É importante fazer a distinção entre crescimento e desenvol-
a questão de concurso na próxima página). Quando vários mem- vimento, maturação e aprendizagem, para saber o que esperar da
bros de um mesmo grupo se relacionam, eles atribuem, com base criança em cada estágio e não exigir dela determinada atitude ou
nessas relações, interpretações diferentes às palavras. É isso o que comportamento que não está de acordo com o seu grau de matu-
ocorre na escola. Ao começar a frequentá-la, a criança recebe a ridade.
intervenção do educador, o que fará com que a transformação do Maturação: é o processo através do qual ocorre a mudança e
significado se dê não mais apenas pela experiência vivida, mas por o crescimento progressivo, nas áreas física e psicológica do orga-
definições, ordenações e referências já consolidadas em sua cultu- nismo infantil. Subjacentes a tais mudanças, existem fatores intrín-
ra. Assim, ela não vai só aprender que a Lua é diferente de uma secos transmitidos por hereditariedade, que constituem parte do
lâmpada - em algum momento da vivência com qualquer indivíduo equipamento congênito do recém-nascido.
mais velho -, como também acrescerá outros sentidos às palavras, A maturidade ocorre no momento em que o organismo está
entendendo que a Lua é um satélite, que gira em torno da Terra, pronto para a execução de determinada atividade e não se limita
que é diferente das estrelas e daí em diante. “Esse é um processo ao estado adulto. Em qualquer fase da vida, podemos falar em ma-
que nunca acaba, que continua ocorrendo até deixarmos de exis- turidade. Por exemplo, a criança que anda com um ano de idade,
tir”, conclui Martins.23 apresenta maturidade nesta função, porém não existe apenas ma-
turidade física, mas também maturidade mental, social, emocional,
Trecho de livro sexual, enfim maturidade geral da personalidade.
“A comunicação por meio de movimentos expressivos, observa- Aprendizagem: é a mudança sistemática do comportamento ou
da principalmente entre animais, é mais uma efusão afetiva do que da conduta, que se realiza através da experiência e da repetição e
comunicação.” depende de fatores internos e externos, ou seja, de condições neu-
Lev Vygotsky no livro A Construção do Pensamento e da Lin- ropsicológicas e ambientais.
guagem É oportuno lembrar que; se a criança não está madura para
executar uma determinada atividade, não poderá aprendê-la, pois
Comentário não disporá de condições para a sua realização.
O homem ganha o status de animal racional quando passa a Toda aprendizagem depende da maturação (condições orgâni-
dominar a linguagem. Animais se expressam por meio de gestos e cas e psicológicas) e das condições ambientais (cultura, classe so-
sons, o que, para Vygotsky, não é exatamente comunicação, já que cial, etc). É através da aprendizagem que o homem desenvolve os
não existe a intenção explícita de se comunicar. A linguagem surge comportamentos que o possibilita viver, e atualmente, estudiosos
pela necessidade do ser humano de se comunicar com o outro para afirmam que este processo se inicia do nascimento.24
fortalecer o grupo e organizar o trabalho.
Desenvolvimento cognitivo e afetivo
Crescimento e Desenvolvimento: biológico, psicológico e so- É na psicologia que descobrimos algumas teorias que nos
cial orientam em busca de soluções para a crise educacional brasileira.
Da mesma forma que a tecnologia foi evoluindo com o passar O artigo tem por objetivo discutir a importância da afetividade no
do tempo, a visão que temos da criança também foi se modificando desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente, que vivem
e ampliando com as novas tendências e teorias científicas a respeito em um mundo globalizado. As dificuldades de aprendizagem, falta
de seu desenvolvimento. Visão histórica da criança. de motivação pela busca do conhecimento, repetências, abando-
no escolar, violência, indisciplina, e muitos outros, são reflexos de
Crescimento: refere ao aspecto quantitativo das proporções do uma sociedade mal estruturada, com valores distorcidos. A escola
organismo, ou seja, trata-se das mudanças das dimensões corpóre- tem como meta amenizar esses sintomas através de uma educação
as, como peso, altura, perímetro cefálico, etc. mais humana, em que valoriza também a subjetividade individual
Desenvolvimento: refere às mudanças qualitativas, tais como de cada educando.
aquisição e o aperfeiçoamento de capacidades e funções, que per- Pretende-se através destas pesquisas, estudos e reflexões bus-
mitem à criança realizar coisas novas, progressivamente mais com- car novos rumos para alguns problemas educacionais da atualidade
plexas, com uma habilidade cada vez maior. como violência escolar, indisciplina, falta de estímulo para aprendi-
O crescimento termina em determinada idade, quando esta al- zagem, qualificação profissional, evasão e fracasso escolar.
cança sua maturidade biológica, enquanto que desenvolvimento é O tema escolhido para ser examinado, traz inúmeros questio-
um processo que acompanha o homem através de toda a sua exis- namentos que estão além das fronteiras da sala de aula, invade os
tência. lares e tem sua essência em cada indivíduo.
O desenvolvimento abrange processos fisiológicos, psicológi- Nas relações humanas existem trocas de experiências e senti-
cos e ambientais contínuos e ordenados, ou seja, segue determina- mentos. Assim é a escola, uma troca de experiências e de sentimen-
dos padrões gerais. Tanto o crescimento como o desenvolvimento tos entre aluno e família.
produzem mudanças nos componentes físicos, mental, emocional Num primeiro momento, para compreensões posteriores,
e social do indivíduo, independentemente de sua vontade. As mu- analisaremos alguns fatores de uma sociedade com princípios pós-
danças ocorrem segundo uma ordem invariante. Por exemplo: an- -modernos, ainda enraizada na modernidade, observa-se um novo
tes de falar a primeira palavra a criança balbucia. Antes de formar comportamento e uma nova tendência para a humanidade e para o
uma sentença completa com sujeito, predicado e complemento, ela planeta. Esta surgindo uma transformação social que não deixa para
usa frases monossílabas. O mesmo acontece com a marcha. Antes trás o passado, mas sim o modifica em outra realidade. A sociedade
de andar, a criança senta e engatinha. Essa sequência segue um pa- deve estar aberta às novas mudanças e a escola é o referencial que
drão de evolução e da mesma forma acontece em outras áreas do introduzirá os paradigmas dessa nova era social. Por isso, a edu-
desenvolvimento. cação na atualidade está em pauta de discursos de educadores e
sujeitos preocupados com o futuro da humanidade.
23 Fonte: www.revistaescola.abril.com.br – Texto adaptado de Camila Monroe
e Rodrigo Ratier 24 Fonte: www.indicedesaude.com

80
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
O mundo está cada vez mais interligado e graças às novas tec- História do desenvolvimento infantil
nologias a distância não impede as relações humanas com as mais Para melhor compreender as relações humanas e o desenvolvi-
distintas culturas. Para interagir nessa sociedade, não é necessário mento cognitivo e afetivo da criança, buscou-se informações sobre
apenas saberes práticos, como línguas, informática, ou capacidades a evolução histórico, social e cultural da infância, sendo assim uma
de se readaptar, reciclar e aprender, mas é preciso, acima de tudo, possível analise e compreensão de algumas problemáticas da atu-
perceber que não estamos sós, que o mundo é formado de pessoas alidade.
e cada pessoa tem suas particularidades num mundo de todos. É A criança, ao longo dos séculos tem sido observada com mais
preciso respeitar cada ser na sua individualidade, na sua diversida- atenção, por parte de estudiosos, sociedade, família e escola. Tra-
de, na sua cultura, na sua opção sexual e religiosa. O sujeito não é çando sua história de evolução percebem-se grandes mudanças na
mais uma parte de si mesmo, mas um conjunto do todo, pode ser sociedade, voltadas para a infância. Até o século XIX as crianças não
ao mesmo tempo racional e irracional, subjetivo e objetivo, amar e tinham tanta importância para a família e a sociedade. Eram vistas
odiar. É complexo e simples, ambíguo, mas essa é a verdadeira face por estas, como adultos em miniatura.
do ser humano. (MORIN, 2002) Em 1741 Lord Chesterfield escrevia a seu filho: “Esta é a ulti-
Em um breve histórico das possíveis visões porvindouras se- ma carta que escreverei a você como um menino pequeno, pois
gue-se ousando em acreditar que a escola é a introdutora de outras amanha será o dia de seu nono aniversário, de forma que a partir
visões, confiado na busca incessante por um mundo melhor. Esse é de então eu o tratarei como um jovem. Você precisa começar uma
o verdadeiro sentido da educação, transformar a sociedade, adap- forma diferente de vida, uma forma diferente de estudos. Precisa
tar o sujeito a esta, buscar soluções para as crises tanto existenciais abandonar a frivolidade. Os brinquedos e jogos infantis devem ser
quanto não existenciais. abandonados, e sua mente deve voltar-se para assuntos sérios”.
Estamos diante do grande dilema da educação: como atingir
(LEITE, 1972, p. 33 a 34)
os ideais da sociedade, da família e do sujeito, através da escola,
A criança não era percebida como um ser em desenvolvimento
se quem faz a escola são os próprios sujeitos? Como saber se o que
e com características próprias de uma fase peculiar, mas sim como
desejamos para o planeta é o que realmente este planeta precisa?
propriedade dos adultos, sem vontades próprias, sonhos, desejos,
Estamos fartos de notícias catastróficas sobre as barbáries hu-
medos e qualquer outro tipo de sentimentos. Não havia um inte-
manas, falta de respeito mútuo, insensibilidade, corrupção, ganân-
resse por essa fase do desenvolvimento humano, tendo esta pouca
cia, onde moral e valores não fazem parte da linguagem e não tem
importância.
significado algum. Esse tipo de comportamento é resultado de uma
Para fortalecer ainda mais a idéia de que a criança era um adul-
sociedade mal estruturada, com algumas lacunas. São essas falhas
to em miniatura:
que motivam a pesquisa, a reflexão e a busca por um mundo me-
As crianças foram tratadas como adultos em miniatura: na sua
lhor. São elas que desafiam os limites do nosso corpo e da nossa
maneira de vestir-se, na participação ativa em reuniões, festa e dan-
mente em busca do melhor. É com elas que vamos ficar daqui por
ças. Os adultos se relacionavam com as crianças sem discriminação,
diante.
falavam vulgaridades, realizavam brincadeiras grosseiras, todos os
A fragilização da estrutura humana vem se agravando de ge-
tipos de assuntos eram discutidos na sua frente, inclusive a parti-
ração em geração, deixando para trás uma época em que o ser hu-
cipação em jogos sexuais. Isto ocorria porque não acreditavam na
mano era reconhecido e valorizado pelas suas atitudes e não pelas
possibilidade da existência de uma inocência pueril, ou na diferença
suas aquisições. O sentimento de frustração é diante da impossi-
de características entre adultos e crianças. (ROCHA, 2008, p. 55)
bilidade de adquirir algo para representar e incluir-se em um ideal
As famílias eram numerosas, conviviam em uma mesma casa
desejado. Esse sentimento transforma valores morais e éticos, de-
pais, filhos, primos, tios, avós. As crianças não recebiam carinho
sestrutura famílias e indivíduos.
e atenção individual, não tinham mimos ou privilégios diante dos
As grandes preocupações planetárias precisam de ações gover-
adultos.
namentais, mas teriam pouca eficiência se cada habitante do pla-
A situação da criança até o século XIX, demonstra uma fase di-
neta não fizesse o que ele pode fazer. Para tanto, é preciso que a
fícil do desenvolvimento infantil. A história relata dramáticas situa-
educação hoje seja um projeto racional cujo objetivo ultrapassa a
ções de descuido nesta primeira fase da vida. Mortes, trabalho for-
felicidade e a realização pessoal porque precisamos de toda uma
çado e escravo, abandono, descuido, violência e outras como relata
geração para recuperar a saúde da Terra – que foi tirada principal-
LEITE, 1972, p. 21: “[...] o trabalho infantil chegava a durar de doze
mente nas gerações dos nossos pais e avós. (TIBA, 2007, p. 29 a 30)
a dezesseis horas por dia”. Outro exemplo de falta de interesse, tan-
A escola tem papel fundamental na recuperação da saúde da
to político, quanto social pela infância, é o abandono de crianças
Terra e de seus habitantes, é ela que acolhe uma geração de crian-
pelos próprios pais por falta de condições mínimas para educá-los
ças órfãs, no seu sentido mais literal. As famílias têm delegado a
ou fornecer condições básicas de sobrevivência. Sendo que muitas
educação e o afeto de seus filhos à escola, que consequentemente
crianças morriam em virtude das precárias condições sociais, como
não está preparada para assumir tantos compromissos.
falta de higiene, excesso de trabalho e alimentação insuficiente ou
Em outro momento pensaremos a criança como indivíduo,
sem valor nutritivo. Muitas trabalhavam em fábricas, com carga ho-
quais seus sentimentos, quais seus desejos, medos, anseios. Cita-
rária superior a 12 horas, apenas em troca de pão.
remos alguns famosos teóricos do desenvolvimento da cognição e
A contínua projeção de esperanças e temores do mundo adul-
da afetividade infantil: Piaget, Wallon e Vygotsky. Passaremos por
to no da criança não se limitava a questões de roupa ou educação
todas as fases, tanto cognitivas, quanto afetivas para encontrarmos
formal, mas se exprimia também de muitas outras formas, - e uma
explicações e talvez soluções que possam auxiliar na aprendizagem
delas era a ausência de livros escritos para divertir e distrair crian-
e na estrutura humana através do afeto e consequentemente na
ças [...]. Até o fim do século XVIII, a leitura de lazer para crianças
autoestima que compreende a felicidade. “A autoestima é o que
limitava-se à Bíblia e a tratados religiosos. (LEITE, 1972, p. 34)
rege a qualidade de vida, resultado de escolhas comportamentais
mais satisfatórias, competentes e cidadãs.” (TIBA, 2007, p. 199).

81
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A infância, por muito tempo foi esquecida, desvalorizada como Quando há uma relação entre indivíduos, surgem vários senti-
parte integrante da formação do ser humano. Esta era considerada mentos: amor, medo da perda, ciúmes, saudade, raiva, inveja; essa
apenas como passagem para a vida adulta. Essa fase não era vista mistura de sentimentos gera a afetividade. Um indivíduo saudável
como uma etapa com características próprias do desenvolvimento. mentalmente, sabe organizar e lidar com todos esses sentimentos
Os avanços na forma de olhar a infância surgem com a modernida- de forma tranquila e equilibrada. A qualidade de vida inclui a saúde
de, após o século XVIII, e no Brasil mais tarde ainda, em torno do mental, cuidar-se e cuidar do próximo é como fonte de prazer, por
século XIX. isso que a afetividade tem grande importância no desenvolvimen-
A modernidade traz progressos na medicina, na tecnologia, ci- to humano, pois é diretamente através dela que nos comunicamos
ência, que transformam a estrutura familiar e social e consequente- com as nossas emoções.
mente um novo olhar diante da infância e adolescência. É na família que a criança aprende a lidar com os sentimentos,
Em todas as sociedades e em todos os tempos a infância apare- pois o grupo familiar está unido pelo amor e nele também acon-
ce como fase de preparação para a vida adulta. Apesar desta apre- tecem discussões, momentos de raiva, de tristeza, de perdão de
sentar características bem diferentes em cada sociedade, todas entendimento. A criança vivencia o ódio e o amor e aprende a per-
buscam a superação da fragilização humana. doar e amar, preparando-se para conviver adequadamente em uma
Assim, a história da infância aponta muitos questionamentos sociedade, de forma sociável. Os adolescentes também necessitam
sobre como nos relacionamos atualmente com as crianças. Rela- de pessoas que lhes ensinem a conviver com esses sentimentos.
cionamentos que demonstram sentimentos de amor e afeto entre A afetividade já se inicia nos primeiros anos de vida, e os quatro
pais e filhos. Sentimentos que não existiam em séculos passados primeiros anos da criança são particularmente fundamentais para
a estruturação das funções cerebrais. Um bebê que passa deitado,
em nossa sociedade Ocidental, explicitados através de infanticídios,
sem estimulação física e mental, certamente apresentará sérias
abandonos e alto índice de mortalidade infantil, aceitos com natu-
anomalias em sua evolução. As aptidões emocionais devem ser
ralidade.
aprendidas e aprimoradas desde cedo, basta ensiná-las.
Após alguns séculos de descaso com a infância, aos poucos vai
Num certo sentido, temos dois cérebros, duas mentes e dois ti-
surgindo um novo olhar sobre esta fase da vida, que alicerça a es- pos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nosso desem-
trutura humana. As autoridades governamentais, teóricos e pensa- penho na vida é determinado pelas duas, não é apenas o quociente
dores, trazem esperança para uma infância feliz, saudável e agradá- de inteligência, mas a inteligência emocional também conta. Na
vel, onde ser criança é sinônimo de alegria e despreocupação. Não verdade o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência
é por nada que a infância, hoje, dura mais tempo. Antigamente, aos emocional. (GOLEMAN, 1995, p. 42)
7 ou 8 anos, a criança assumia responsabilidades de adulto. Atual- Os pais são os primeiros e mais importantes professores do cé-
mente, a infância estende-se até os 12 anos. rebro. A carência emocional nos primeiros anos de vida da criança,
A infância esta protegida por leis que asseguram uma melhor trás consequências desastrosas para o desenvolvimento cognitivo,
qualidade de vida e que impedem que este período deixe marcas apresentando déficits na aprendizagem, transtornos de comporta-
desastrosas na estrutura humana. Os vários segmentos sociais, mento, atitudes de violência, falta de atenção, desinteresse e fra-
tanto públicos, quanto privados, destinam interesse na garantia da cassos escolares.
qualidade, validade e eficiência dos serviços prestados aos peque- O índice de violência e indisciplina nas escolas tem aumentado
ninos. Conclui-se, portanto, que as crianças estão amparadas pela constantemente nos últimos anos, fator que preocupa tanto autori-
sociedade, mas resta saber se cada membro desta sociedade, na dades educacionais, quanto professores, diretores e familiares. Ob-
sua individualidade, apresenta uma consciência da preservação do serva-se certa insensibilidade, falta de humanidade e desrespeito
bem estar das crianças. Se cada família, cada escola, demonstrar nas atitudes e ações que muitas crianças e adolescentes apresen-
através de seus atos, a dedicação, o respeito e a admiração pelo tam, tanto na escola, quanto fora desta. A impressão que temos é
princípio da estruturação humana, que seguirá carregando todas que a humanidade está doente, que o ser humano não consegue
as experiências adquiridas e transformando-as em ações que emi- controlar mais suas emoções.
tem a sua personalidade. A sociedade saudável depende de sujeitos Os céticos se perguntam por que é necessário ensinar as crian-
com ideias e ações saudáveis. ças a lidar com as suas emoções. Perguntam: “As emoções não
A grande preocupação hoje está na falta de cidadania e de éti- ocorrem naturalmente às crianças?” A resposta e “não”, não mais.
ca. Na cidadania já deveria estar embutida a ética, mas tamanha é a Muitos cientistas acreditam que as emoções humanas evo-
ausência da ética que é preciso reafirmar sua importância. Existem luíram principalmente como um mecanismo de sobrevivência. O
medo nos protege do mal e nos diz para evitarmos o perigo. A raiva
falhas na formação do cidadão que é egoísta, “metido a esperti-
nos ajudar a superar barreiras para conseguirmos o que queremos.
nho” que quer sempre tirar vantagens sobre os outros, é corrupto
Ficamos felizes na companhia dos outros. Ao buscarmos contato
delinquente, usuário de drogas, sente-se superior a outros menos
com seres humanos encontramos proteção dentro de um grupo,
desenvolvidos ou de outra classe social. (TIBA, 2007, p. 268)
bem como oportunidade de nos associar com companheiros é asse-
Tais falhas serão evitadas se a escola formar um elo com a fa- gurar a sobrevivência da espécie. (SHAPIRO, 1998, p. 19)
mília. É claro que família e escola não assumem sozinhas todas as Educar as emoções é tão importante quanto ir para a escola,
brechas sociais. Mas estas são as principais fontes de inspiração e aprender a ler, escrever, calcular e conviver com outras pessoas de
indução para a mente humana. forma sociável. Mas como devemos educar nossos sentimentos?
Pergunta que explode em nossa mente toda vez que nos depara-
Afetividade mos com situações que exigem muito mais do que teorias. Quantas
A psicologia vem influenciando a educação através de algumas vezes já nos encontramos em posições que determinam atitudes
teorias, especialmente as relacionadas ao desenvolvimento cogniti- rápidas, sem nos deixar consultar nossos conceitos e ideais. Apenas
vo e afetivo. É com base na psicologia que buscamos algumas com- uma palavra ou uma atitude mudam um cenário. É nessa fração de
preensões e soluções para as problemáticas educativas. segundos que demonstramos nosso grau de inteligência emocional.
Além da família, a escola também é responsável pela formação
integral do aluno:

82
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Na área educacional o trajeto também não foi e não e muito ou das emoções, vai sendo elaborado à medida que o homem tem
diferente. É comum, ainda hoje, no âmbito escolar, o uso de uma controle sobre si mesmo, sendo capaz de controlar os impulsos e as
concepção teórica que leva os educadores a dividirem a criança emoções.” (VYGOTSKY apud ARANTES, 2003, p. 21).
em duas metades: a cognitiva e a afetiva. Esse dualismo é um dos As fases de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget:
maiores mitos presentes na maioria das propostas educacionais da Sensório motor ou prático (0 – 2 anos): a criança conhece o
atualidade. A crença nessa oposição faz com se considere o pensa- mundo através das ações que ela exerce sobre determinados ob-
mento calculista, frio e desprovido de sentimentos, apropriado para jetos e observa a reação destes. As ações são reflexos ou manipu-
a instrução de matérias escolares clássicas. Acredita-se que apenas lações.
o pensamento leve o sujeito a atitudes racionais e inteligentes, cujo Pré-operatório ou intuitivo (2 – 6 anos): aparecimento da lin-
expoente máximo é o pensamento cientifico e lógico-matemático. guagem que representa imagens e objetos. O pensamento é intui-
Já os sentimentos, vistos como “coisas do coração”, não levam ao tivo e egocêntrico.
conhecimento e podem provocar atitudes irracionais. Produzem Operatório-concreto (7 – 11 anos): ainda necessita do concreto
fragilidade de segundo plano, próprias da privacidade “inata” de para fazer a abstração de seu pensamento.
cada um. Seguindo essa crença, as instituições educacionais cami- Operacional-formal ou abstrato (11 anos): A operação se reali-
nharam para a ênfase da razão, priorizando tudo o que se relaciona za através da linguagem. O raciocínio acontece com o levantamento
ao mérito intelectual. (VASCONCELOS, 2004, p. 617) de hipóteses e possíveis soluções.
A aprendizagem está intimamente ligada à afetividade, pois, Piaget defende que o desenvolvimento cognitivo acontece
sem afetividade, não há motivação e sem motivação, não há co- através de estruturas pré-definidas e tem seu ponto máximo por
nhecimento. volta dos 15 anos, sendo que, até então a criança ou adolescente já
“A afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, definiu o seu grau de erudição.
mas engloba também as tendências e a vontade.” (PIAGET apud Segundo Piaget, o conhecimento está na interação do sujeito
ARANTES, 2003, p.57) com o objeto. É na medida em que o sujeito interage que vai produ-
Alguns pressupostos teóricos sobre a afetividade, segundo Pia- zindo sua capacidade de conhecer e vai produzindo também o pró-
get: prio conhecimento. Mesmo que haja diferenças nas vivencias das
- inteligência e afetividade são diferentes em natureza, mas pessoas, ele sustentou o fato de que o caminho do desenvolvimen-
indissociáveis na conduta concreta da criança, o que significa que to é sempre o mesmo, é uma sequência necessária. O meio pode
não há conduta unicamente afetiva, bem como não existe conduta acelerar, retardar, ou impedir a sequência do desenvolvimento e a
unicamente cognitiva; aquisição do conhecimento. (apud FRANCO, 1993)
- a afetividade interfere constantemente no funcionamento da Segundo Vygotsky (1991), a aprendizagem e o desenvolvimen-
inteligência, estimulando-o perturbando-o, acelerando-o ou retar- to estão inter-relacionados desde o nascimento. O indivíduo se
dando-o; apropria das formas culturais que já existem e, a partir de então,
- a afetividade não modifica as estruturas da inteligência, sendo internaliza e elabora novos conceitos que haverão de dar-lhe pos-
somente o elemento energético das condutas. (ARANTES, 2003, P. sibilidades de um desenvolvimento cada vez mais complexo. É na
57) problematização que se estabelece uma facilitação a internalização,
isto sempre na interação com outros sujeitos e o meio.
A afetividade, do ponto de vista popular, é uma explosão de Para que esta interação se efetive, criou o que ele chamou de
sentimentos que dão força, vontade, interesse, ou que trazem o ZDP - (Zona de Desenvolvimento Proximal), ou seja: distância en-
desprazer, a apatia, a falta de interesse em buscar uma nova adap- tre o nível de desenvolvimento real, determinado pela capacidade
tação ou aceitação de nova mudança. Nesse sentido os sentimentos de resolver um problema sem ajuda, e o nível de desenvolvimento
interferem diretamente na construção da inteligência e no desen- potencial, determinado através de resolução de um problema sob
volvimento da aprendizagem. a orientação de um adulto ou em colaboração com outro compa-
A concretização da afetividade na sala de aula acontece quan- nheiro. Quer dizer, é através das informações adquiridas, que a pes-
do o professor olha o aluno como indivíduo único, com suas carac- soa tem a potencialidade de aprender, mas ainda não completou o
terísticas próprias, reconhecendo suas capacidades e limitações. O processo, conhecimentos fora de seu alcance atual, mas potencial-
professor deve considerar a história de vida de cada aluno, dando mente atingíveis.
oportunidade para interagir e conviver conforme seus conceitos de Vygotsky acredita que a possibilidade de desenvolvimento cog-
vida. Sendo assim, estará melhorando a vivência e as relações so- nitivo perdura para o resto da vida. Tanto um adulto, quanto uma
ciais. criança tem as mesmas condições e possibilidades de aprendiza-
gem, e esta acontece através do meio social e cultural, na interação
O desenvolvimento cognitivo com outros sujeitos.
“A afetividade e o desenvolvimento da inteligência estão indis- Tanto Piaget como Vygotsky, acreditam que a inteligência é a
sociadas e integradas, no desenvolvimento psicológico, não sendo capacidade de aprender sempre e renovar o conhecimento com
possível ter duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteli- base em novos conceitos, superando as novas situações.
gência para explicar o comportamento.” (PIAGET, apud ARANTES, A gênese da inteligência para Wallon é genética e organica-
2003, p.56). mente social.O desenvolvimento da criança é descontínuo, contra-
O desenvolvimento cognitivo é interno e contínuo, acontece ditório e conflituoso, demarcado pela contextualização ambiental,
desde os primeiros dias até o fim de nossas vidas. O pensamento social e familiar que a criança está inserida.
do bebê vai se desenvolvendo de acordo com suas estruturas, par- Fases do desenvolvimento humano:
tindo do motor para o lógico e abstrato. Para que este desenvolvi- - Impulsivo-emocional: ocorre no primeiro ano de vida, a afeti-
mento aconteça de forma natural e saudável é preciso que a crian- vidade orienta o bebê quanto as suas ações frente às pessoas. Sen-
ça seja estimulada constantemente através de percepções táteis, sório-motor e projetivo: vai até os três anos de idade, é a fase onde
auditivas, visuais, motoras e afetivas. “A qualidade do pensamento a criança aprende a manipular os objetos e a expressar usando a

83
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
linguagem e gestos. Personalismo: dos três anos aos 6 anos, nesta “Em primeiro lugar pela própria faixa etária das crianças. Isso
fase a criança desenvolve a consciência de si perante as mediações vai demandar uma forma muito diferente dessa criança se relacio-
sociais. Categorial: o progresso intelectual dirige a criança para a nar com o conhecimento, com o mundo. Na educação infantil, as
aprendizagem do mundo que o cerca. Predominância funcional: experiências vividas na instituição são tratadas de forma mais glo-
nesta fase ocorre uma reorganização da personalidade devido às bal”, explica Hilda Micarello, coordenadora da equipe de redação
alterações hormonais e transformações físicas, onde são trazidas á da Base.
tona questões morais e existenciais.
Deve-se ter cuidado para que as etapas de desenvolvimento Experiência – Por esse motivo, a educação infantil no docu-
cognitivo não rotulem as individualidades de cada criança, pois mento está dividida por campos de experiência, que têm como
cada ser tem suas próprias características e individualidades que eixos centrais a ludicidade e as interações – dois aspectos que já
apresentam um ritmo único para o desenvolvimento. Cada fase de aparecem nas diretrizes curriculares nacionais e são especificadas
desenvolvimento depende de múltiplos fatores, tanto sociais, emo- na Base. Essa perspectiva se diferencia do que é visto nas escolas
cionais, físicos, quantos outros que interferem na passagem de uma de hoje, diz Hilda.
fase para outra. Segundo ela, “há muitas vezes uma interpretação equivocada
Existe um grande debate sobre até que ponto a inteligência é de que a educação infantil é para fazer uma versão adaptada daqui-
herdada. Parece claro que não nascemos com um nível pré-definido lo que se faz no ensino fundamental”. Ela explica que “muitas vezes
de inteligência e que muitos fatores ambientais podem afetar o ní- as crianças ficas muitas horas sentadas, realizando tarefas repetiti-
vel da inteligência de uma criança durante o seu desenvolvimento. vas e confunde-se o incentivo à leitura e à escrita com passar exer-
Hoje, alguns psicólogos cognitivos acreditam que embora os limi- cícios de cópia, cobrir traçados. E são práticas muito equivocadas”,
tes externos da inteligência possam ser fixados no nascimento, o diz Hilda.
ambiente em que uma criança vive pode fazer uma diferença de Um dos norteadores dos campos de experiência, a ideia de in-
até 40 pontos no seu QI (quociente de inteligência, o número que teração é inovadora ao considerar que o ato pedagógico acontece
indica o nível da inteligência de uma pessoa e é avaliado em testes não só do professor para a criança, mas da criança para o professor
especiais). Este valor é espantoso se considerarmos que é a mesma e, também, entre as crianças. “É um foco que coloca um outro olhar
distância entre o limite de retardamento mental (80 pontos de QI) sobre o processo de aprendizagem”, defende Zilma. A ludicidade
e o valor médio de um formando da faculdade (120 pontos). Outros também ganha importância no texto sobre educação infantil, se-
psicólogos que conduziram estudos clássicos de gêmeos idênticos gundo a assessora, porque é de 0 a 5 anos que acontece a maior e
separados no nascimento foram mais conservadores, dizendo que o mais importante transformação no jeito da criança agir.
ambiente pode causar uma diferença de até 20 pontos. (MEYERHO- “Quando pequenininha, a criança vai reconhecendo os obje-
FF, MICHAEL) tos pela sua função imediata. Um copo é um copo, para ter água.
A entrada da criança na escola traz muitas mudanças emocio- Mas em seguida ela pode pegar o mesmo copo vazio e usar como
nais, pois esta necessita se separar da família e fazer novas ami- chapéu. Pode parecer uma bobagem, mas é uma total inversão da
zades, adaptando-se a outros ambientes. Neste momento, tanto a maneira habitual de se tratar o copo”, diz Zilma. “E desse fazer de
família quanto a escola devem ter consciência da situação e esta- conta que é um chapéu, e no fazer de conta de várias outras coisas,
rem preparadas para auxiliar a criança, amenizando os sintomas do vai aparecendo a capacidade de lidar com imagens. Se a gente não
afastamento familiar.25 dá bastante apoio para esse processo, nós não aproveitamos todo o
potencial de desenvolvimento da criança.”
A importância da brincadeira São propostos cinco campos de experiência na Base. Um deles
Atualmente, ser professor na Educação Infantil requer habilida- trabalha o eu, tu e nós, onde devem ser colocadas as noções de
des e competências que não são desenvolvidas somente na gradu- identidade. Outro trata da escuta e da fala, com estímulo das lin-
ação, pois têm como base o exercício da docência nessa etapa da guagens oral e escrita, mas também do diálogo entre os pequenos.
Educação Básica. Além disso, é necessário se identificar com a pro- Um terceiro aborda as cores, os sons e as imagens, incluindo lingua-
fissão e a infância, desenvolver um espírito cuidador, afetuoso e re- gens variadas como a musical, a visual, a cenográfica etc.
flexivo na prática do dia-a-dia. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases Há, ainda, o campo dos gestos e movimentos, que se refere
da Educação Nacional, Lei 9.393/96, a Educação Infantil é primeira às habilidades do corpo, e por último há o que toca nas noções de
etapa da Educação Básica e, como tal, “[...] tem por finalidade o de- quantidade, medida, tempo e espaço. “Dessa forma, o professor
senvolvimento integral da criança de até 05 anos, em seus aspectos tem cinco focos que ele pode selecionar pro seu trabalho. Em vez
físico, psicológico, intelectual e social complementando a ação da de trabalhar com matemática, pode escolher a área de ‘eu e ou-
família e da comunidade.” (BRASIL,1996). Cabe ao professor, por- tro’, porque as crianças precisam discutir sobre suas amizades, suas
tanto, a responsabilidade de dar continuidade à educação familiar preferências. E essa discussão não tem área pra ele na educação
garantindo, assim, o pleno desenvolvimento da criança. O professor básica”, explica Zilma.
de Educação Infantil é aquele que incita e aguça a curiosidade da
criança em descobrir o mágico, a fantasia, desenvolvendo nela a Brincar – Grande preocupação dos pais, o aprender a ler e
potencialidade de interagir e conviver com os outros. Segundo Vy- escrever também passa pelo brincar e o interagir na proposta de
gotsky (1991) o ser humano se constrói por meio da relação com educação infantil. Mas, diferente do que se vê hoje, preocupa-se
o outro. Sendo assim, é por meio da mediação professor-criança e em não atropelar o momento por que passa o aluno dessa fase. “A
das interações estabelecidas com o meio sociocultural que a criança escrita não pode ocupar uma relevância e um protagonismo muito
vai se apropriando de novos conhecimentos diferente das demais linguagens”, lembra Mônica Correia Baptista,
Para fortalecer essa ideia e levá-la à prática nas escolinhas Bra- professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
sil afora, a proposta da BNC para educação infantil vem recebendo Minas Gerais (UFMG) e consultora da Base sobre leitura e escrita
atenção especial. Etapa fundamental e diferenciada da educação na educação infantil.
básica, ela não é organizada, por exemplo, em áreas do conheci-
mento, como o ensino fundamental e o médio.
25 Fonte: www.webartigos.com – Texto adaptado de Adriane Masiero

84
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
O trabalho segue a concepção de que a criança tem o direito Além do Senet, que parece ter sido um jogo de adultos, sabe-
de se apropriar de todas as linguagens, não apenas a escrita, mas -se que na Antiguidade, também as crianças egípcias tinham vários
também a oral e a corporal. Sempre partindo das brincadeiras e brinquedos. Era comum entre elas o uso de bolas coloridas de argila
das interações, essenciais para a comunicação na primeira infância. com pedras dentro para atrair a atenção. Possuíam, também, ani-
“A criança brinca que escreve, brinca que lê, lê imagens, levan- mais de madeira com a cabeça articulada e os olhos de vidro, além
ta hipóteses. Porque é um sujeito ativo, inteligente, competente, de bonecas confeccionadas com diversos materiais, inclusive ouro.
a gente trabalha na ideia de que é um direito dela passar por um Embora a presença de bonecas entre diversos grupos humanos
processo de aprendizagem ativo com um mediador capaz”, observa parece estar mais ligada à religião, com o tempo elas acabaram por
a professora. representar a figura feminina, quer através da maternagem, quer
como mensageiras da moda.
A importância das brincadeiras na educação. Os gregos tiveram grandes contribuições no universo lúdico
Hoje, as questões referentes à infância têm sido objeto de no- infantil. Entre eles, as crianças comumente se divertiam com brin-
tícias e debates porém, entre nós, parece ainda não estar claro o quedos de cerâmica e com o aro, um arco que rolava pelo chão.
significado do termo. Em 400 a. C., Hipócrates, o “Pai da Medicina”, como era conhecido,
Apesar da dificuldade em conhecer as diferentes infâncias e já recomendava sua prática como um excelente exercício para as
como viviam as crianças nos distintos povos, o pouco que se sabe pessoas de fraca constituição física. Sua popularização, entretanto,
sobre elas deve-se aos objetos que utilizavam e às atividades que acabou ocorrendo somente no século XIX.
mais praticaram em suas vidas, ou seja, seus brinquedos e suas Dada a sua forma cúbica, os astrágalos dos carneiros (ossos do
brincadeiras. joelho), parecem ter sido os ancestrais dos dados. Na Grécia eram
Deve-se ressaltar, porém, que grande parte das brincadeiras usados como uma forma de consulta aos deuses, por essa razão,
teve origem nos costumes populares cujas práticas eram mais re- uma vez lançados ao ar e dependendo da posição em que caiam
alizadas pelos adultos do que pelas próprias crianças, mostrando tinham um significado.
assim o desconhecimento da infância. Naquele país os dados confeccionados com ossos, conchas e
Com o Concílio de Trento, os jogos e brincadeiras foram con- varetas parecem ter sido usados pelo herói Palamedes para distrair
siderados pecaminosos pela Igreja Católica e banidos da cultura suas tropas durante a guerra de Tróia. Também na Odisséia de Ho-
popular, permanecendo sua realização entre os pequenos. No en- mero há uma passagem em que os pretendentes da rainha Pené-
tanto, dadas as transformações pelas quais vêm passando a socie- lope jogavam dados sobre peles de boi, diante do palácio real de
dade, eles tendem a desaparecer se nós educadores não fizermos Ítaca.
um movimento de resgate das atividades lúdicas ressaltando sua Mas não só os mesopotâmios, egípcios e gregos nos deixaram
importância para o desenvolvimento da criança. algumas brincadeiras como herança, os romanos, os chineses, os
É importante salientar, que as brincadeiras infantis que ainda indígenas mesoamericanos e brasileiros também.
Os romanos, graças a algumas ruínas encontradas em várias
persistem em todo o mundo são quase sempre jogos muito simples
partes da Europa, tiveram importantes contribuições na área lúdi-
e divertidos. Não demandam objetos, desenvolvem muitas habili-
ca.As ruínas de Conímbriga, em Portugal, ou de Tarragona, na Es-
dades e, historicamente, se originaram de práticas culturais e reli-
panha, guardam importantes testemunhos da infância de nossos
giosas realizadas pelos adultos ao longo dos tempos.
antepassados.
Quanto aos brinquedos, objetos feitos para brincar, muitos
No que diz respeito a Conímbriga, segundo Namora (2000) en-
constituem o único registro da vida dos pequenos em algumas
contramos nas suas coleções até o presente momento, um interes-
épocas, sabendo-se que, em sua grande maioria, chegaram até nós
sante e precioso conjunto de jogos e brinquedos que chegaram até
após terem sido encontrados junto aos túmulos das crianças ou de
nós cuja origem remonta à antiguidade clássica. Dentre eles está o
seus mestres. Labirinto de Creta, conhecido também como Labirinto do Minotau-
Evidentemente que muitos desses objetos pertenceram aos ro, usado para decorar os pisos dos quartos das crianças.
pequenos das classes mais abastadas da população, ou seja, da Flautas e apitos de ossos, dados e objetos miniaturizados do
nobreza ou da aristocracia, sendo poucos registros daqueles per- mundo adulto faziam parte da cultura infantil romana.
tencentes às camadas populares ou aos filhos de escravos, até No Museu de Tarragona pode-se observar a existência de uma
mesmo porque viver a infância, do ponto de vista da importância boneca de marfim, com braços e pernas articulados, que testemu-
dos pequenos em várias sociedades, pode ter sido um privilégio de nha o papel que tal objeto representou na vida das crianças roma-
poucos. nas.
De qualquer forma, as crianças, em diferentes momentos his- Historicamente é possível perceber que, entre os romanos,
tóricos e em diversos povos, deixaram-nos um legado importante, não apenas as crianças possuíam atividades lúdicas, mas os jovens
seus brinquedos e brincadeiras, dando pistas aos estudiosos da ma- e adultos também. Assim, os labirintos, o jogo de damas, o jogo do
neira como viviam. soldado e inúmeras outras atividades eram praticadas por aquele
Sabe-se, portanto, que muitos jogos e brincadeiras não se ori- povo.
ginaram entre as crianças, mas entre os adultos que nem sempre os Tais exemplos mostram que algumas atividades lúdicas eram
utilizavam enquanto divertimento, mas como ritos religiosos carre- comuns a todas as pessoas, não sendo, portanto reservadas apenas
gados de conteúdos simbólicos. às crianças.
Dentre eles podemos lembrar, por exemplo, do jogo Real de Conta-se que a amarelinha pode ter sido criada pelos soldados
Ur encontrado na Mesopotâmia, com peças de madrepérola e lápis romanos como forma de entreter as crianças pelos locais por onde
lazuli e o Senet, muito comum entre os egípcios cujo tabuleiro era passavam. Como as estradas eram pavimentadas com pedras, a su-
de ébano e as peças, os bailarinos, eram de ouro. perfície tornava-se ideal para a prática da atividade, difundindo-se,
Este jogo tinha um significado religioso simbolizando a passa- posteriormente, por toda a Europa.
gem do mundo terrestre para a outra vida. Sabe-se, ainda, que as crianças romanas jogavam bolinhas de
Muitos jogos de percurso que existem ainda hoje tiveram sua gude, cuja origem não se pode precisar. Inicialmente, usavam no-
origem no Senet e foram se modificando. zes, pedras e grãos de cereais.

85
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
É interessante notar, por exemplo, que no Líbano hoje, o jogo Das cabaças surgem os chocalhos utilizados para espantar os
de bolinhas de gude é realizado na época da Páscoa, quando são maus espíritos, transformando-se, também, em instrumentos de
utilizados ovos no lugar das bolinhas sendo posteriormente ingeri- festividades ou cerimônias religiosas. Com fios entrelaçados entre
dos pelas crianças e adultos. os dedos das mãos, constroem inúmeras figuras dando asas à ima-
É importante salientar que embora, à primeira vista os roma- ginação, que é o caso da cama-de-gato.
nos parecem ter criado muitas atividades lúdicas, a história mos- Espetam penas no sabugo do milho, que atiram ao ar. Confec-
trou que a maioria delas não passou de atividades já conhecidas e cionam petecas com base de palha de milho ou de couro. Divertem-
praticadas pelos egípcios e gregos. -se em atividades lúdicas coletivas imitando os animais. Garantem
Além dos romanos, os chineses também tiveram importantes sua cultura.
contribuições do ponto de vista lúdico. Da China parece ter vindo Muitas das brincadeiras realizadas pelas crianças, ainda hoje,
o jogo de palitos ou de varetas de bambu, cuja prática era comum são produtos de diferentes culturas e deveriam ser preservadas.
especialmente entre os adultos. Através dele os oráculos consulta- Em sua pesquisa, a estudiosa Renata Meirelles (2007) inves-
vam as divindades. tigou os brinquedos e brincadeiras que ainda persistem entre as
As pipas ou papagaios, como são chamados entre nós, também crianças brasileiras. Estão entre elas as brincadeiras de roda, o pião
tiveram sua origem no Oriente o os registros de seu uso antecedem feito com diferentes materiais, inclusive com tampas dos frascos de
ao nascimento de Cristo, quando um general chinês utilizou-os para detergente, a amarelinha também chamada de macaca, o caracol,
enviar mensagens à tropas sitiadas. as brincadeiras de mão, os currupios, os brinquedos que reprodu-
Mas não foram só os antigos que deixaram suas heranças cul- zem o meio adulto feitos de materiais naturais ou de sucata, as cin-
turais mantidas através das práticas lúdicas infantis. Também os co marias, a cama de gato, as pernas de pau, o cavalo de pau, a
indígenas Mesoamericanos e brasileiros tiveram importantes con- casinha, a bolinha de gude e o elástico.
tribuições nessa área. No entanto, as transformações que vimos sofrendo produto de
Entre os indígenas mexicanos (olmecas, astecas e maias) o jogo um mundo globalizado, caracterizado pelo crescimento da urbani-
era mais do que uma diversão. Tinha um caráter religioso. O mais zação, da industrialização e aumento no consumo, têm ameaçado
conhecido e praticado era o jogo da pelota (bola) A bola feita de lá- a infância, sua cultura e seu direito à brincadeira. A infância está
tex, pesava entre 3 e 4 quilos. A quadra em forma de I representava desaparecendo, porque as crianças estão se transformando em
o universo, a bola o sol em sua viagem diária pelo céu e as regras do adultas antes do tempo. A cultura, porque uma vez distantes do
jogo indicavam a luta do bem contra o mal. repertório infantil, muitas brincadeiras desaparecerão carregando
As crianças dessas civilizações aprendiam no convívio com os consigo saberes milenares. Quanto ao direito à brincadeira, ele só
adultos, o que nos leva a deduzir que as atividades dos pequenos parece existir no papel, pois, na prática a realidade é bem outra.
confundiam-se com as dos mais velhos, uma vez que meninos e me- Diante desse quadro surgem algumas questões que merecem
ninas tinham os tinham como modelos a serem seguidos. ser analisadas Do que brincam, hoje, as crianças brasileiras? Como
Apesar da violência de algumas práticas lúdicas, sabe-se que, e onde realizam suas brincadeiras, quais os seus parceiros? Até que
entre aqueles indígenas, os pais tinham muito afeto e consideração ponto elas ainda possuem o direito à infância?
pelas suas crianças. Uma investigação realizada por Dodge e Carneiro (2007) com
Os indígenas brasileiros também nos deixaram um importante pais, de crianças entre 6 e 12 anos, dos diversos segmentos sociais,
legado no plano dos brinquedos e brincadeiras .Ao tratar do assun- em 77 municípios brasileiros das diversas regiões do país , obser-
to, Altmann (1999) mostrou que a princípio a criança é seu próprio vou-se que além de se modificarem, as atividades lúdicas realizadas
brinquedo. A exploração do seu corpo e do corpo materno torna- antigamente estão desaparecendo. As brincadeiras mais comuns,
ram-se interessantes brincadeiras. A observação da natureza e a ou seja, realizadas por seus filhos pelo menos três vezes na semana
utilização de folhas, troncos e sementes, acabam transformando-se eram assistir TV, vídeos e DVDs, brincar com animal de estimação,
em objetos-brinquedos dando asas à imaginação infantil. cantar e ouvir música, desenhar, andar de bicicleta, patins, patine-
Folhas e cascas de árvores servem como fôrma para os objetos tes, carrinhos de rolimã, jogar bola, brincar de pega-pega, polícia-e-
de barro, utilizados durante as brincadeiras. -ladrão, esconde-esconde, brincar de boneca, brincar com coleções
O barro, colhido pelas mães na beira dos rios, triturado, mo- e ficar no computador.
delado e seco, recebe inúmeros adornos de sementes ou penas, A TV e os demais equipamentos tecnológicos, vídeo-games,
dando origem às mais diferentes figuras. jogos de internet, vêm crescendo assustadoramente entre os pe-
quenos. Enquanto os últimos ainda, constituem o universo de uma
Assim, mesmo que as bonecas indígenas não tenham sido pequena camada da população, a primeira tem sido um movimento
transmitidas à cultura brasileira pela cultura européia, elas surgem universal. Isso não significa negar a sua existência, mas analisá-la de
como a representação da maternagem e são geralmente de barro, forma mais criteriosa de modo que não traga tantas conseqüências
apresentando seios fartos, nádegas grandes, tentando imitar mu- funestas às nossas crianças.
lher grávida . Quanto ao computador e os vídeos embora se constituam em
Também é com o barro que as crianças xavantes, por exem- equipamentos reservados, no Brasil, ainda, a uma classe social mais
plo, ainda hoje constroem suas casas. Primeiro espetam os paus privilegiada, são aspirados pelas crianças e pais com condições eco-
no chão e como essa atividade é mais difícil de fazer, costumam a nômicas inferiores. E isso nos parece uma viagem sem volta.
reaproveitar casas construídas pelas maiores que já as abandona- Tais alterações, contudo, não ocorreram somente no plano das
ram. Usam, ainda para a decoração os materiais encontrados na escolhas das brincadeiras, mas puderam ser observadas também no
natureza. que tange aos companheiros, aos espaços e aos tempos de brincar.
Além do barro, as crianças indígenas usam a madeira para con- A atividade lúdica para ser aprendida necessita de parceiros,
feccionar seus brinquedos. É com os troncos de árvores que elas pais, amigos, irmãos, professores... Eis a grande dificuldade.
constroem o bodoque _ arma manejada por elas_ para abater ca-
ças, aves e lagartixas.
É, ainda, com madeira e barro que os indígenas confeccionam
piões que fazem girar eximiamente, num movimento ágil das mãos.

86
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Por um lado, a falta de disponibilidade de tempo dos pais e das Atualmente, nossa sociedade vive inserida num contexto de
gerações mais velhas de estarem com seus filhos, facilita o desco- diversidade de formas e meios de comunicação, no qual é essen-
nhecimento de repertórios de brincadeiras. O brincar se aprende cial ser competente na leitura e compreensão das diferentes lin-
num processo de imitação, portanto os pequenos só podem apren- guagens.
der com seus pares, sejam eles adultos ou crianças. Embora se reconheça facilmente essas diferentes modalidades
Por outro, como as famílias atualmente estão menores, há um de comunicação (expressões gestuais ou corporais; formas visuais;
grande número de crianças que brincam sozinhas e, por vezes, ape- formas gráficas e verbais), o que se tem visto na realidade, de forma
nas com um animal de estimação. Logo, a falta de relacionamento geral, é somente o uso da leitura e escrita como representações
com os outros tanto dificulta a construção de um repertório de brin- convencionais nas atividades escolares. Compreendendo a inevitá-
cadeiras quanto favorece ao empobrecimento cultural. vel incorporação das outras formas de comunicação nas instituições
Outro obstáculo para o desenvolvimento do brincar e a preser- escolares, o presente artigo pretende falar da inclusão do jogo nas
vação da cultura da infância é questão do espaço físico. Por todas as diferentes modalidades de comunicação que permeiam nossa so-
partes vive-se o problema da insegurança e isso tem afetado parti- ciedade.
cularmente as crianças.
o jogo como instrumento de aprendizagem é um recurso de ex-
Embora a maior parte dos pais entrevistados tivesse colocado
tremo interesse aos educadores, uma vez que sua importância está
que o local onde os pequenos mais brincam ainda é o quintal, so-
diretamente ligada ao desenvolvimento do ser humano em uma
bretudo em cidades do Norte, Nordeste e Centro Oeste, o espaço
perspectiva social, criativa, afetiva, histórica e cultural.
comum, mencionado pelos pais das diferentes regiões brasileiras
para a prática das atividades lúdicas é a escola . O jogo é uma oportunidade de desenvolvimento. Jogando a
Tal escolha não está associada à garantia da cultura, mas à exis- criança experimenta, inventa, descobre, aprende e confere habili-
tência de uma segurança maior, a grande preocupação da famílias dades. Sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvi-
atualmente Outro entrave em relação à brincadeira é a falta de tem- das. A qualidade de oportunidades que são oferecidas à criança por
po das próprias crianças. O trabalho infantil e as atividades domés- meio de jogos garante que suas potencialidades e sua afetividade
ticas por um lado e o excesso de atividades extra-curriculares, por se harmonizem. Dessa maneira, pode-se dizer que o jogo é impor-
outro, têm se constituído em grandes impedimentos à realização tante, não somente para incentivar a imaginação nas crianças, mas
do brincar. Especialmente as atividades extra-curriculares têm sido também para auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e
impostas às crianças dada a grande ansiedade dos pais por conta de cognitivas.
fornecer elementos para que os filhos entrem rapidamente no mer- A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino ludus, que sig-
cado de trabalho. Embora participar de atividades extra-curricula- nifica diversão, brincadeira e que é tido como um recurso capaz de
res seja um privilégio das crianças de classes mais altas, os pais das promover um ambiente planejado, motivador, agradável e enrique-
classes baixas têm as mesmas preocupações, mas como dependem cido, possibilitando a aprendizagem de várias habilidades. Dessa
muitas vezes da mão de obra infantil para aumentar o orçamento maneira, alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem
familiar, não têm condições de oferecer outras atividades aos filhos. podem aproveitar-se do jogo como recurso facilitador na compre-
De qualquer forma as crianças estão privadas do brincar, da ensão dos diferentes conteúdos pedagógicos.
cultura lúdica e de viver a sua infância. Piaget afirma: “O jogo é, portanto, sob as suas formas essen-
Aí vem a última questão. Como ficam os profissionais da educa- ciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação
ção diante desta nova realidade? do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento neces-
Recentemente vem sendo manchete dos jornais o fato de que sário e transformando o real em função das necessidades múltiplas
as mazelas da educação são conseqüências do despreparo dos seus do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem
profissionais. Evidentemente que não será possível esgotar o deba- que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que,
te à questão. jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que,
Penso que nós profissionais da educação temos que engrossar sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil”
cada vez mais, a luta pelo direito ao brincar na infância, o direito
Hoje o jogo representa uma ferramenta ideal da aprendizagem,
de a criança viver essa etapa tão importante da sua vida e a escola
na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno. O jogo
foi apontada como o lócus onde a brincadeira pode se realizar com
ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece
segurança e também onde os pequenos dispõem de parceiros para
sua personalidade.
isso.
Falta a nós, professores, nos apropriarmos desse tipo de co- Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati-
nhecimento, aumentarmos nossos repertórios, observarmos e re- vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que
gistrarmos os avanços proporcionados pelo brincar, utilizando-o o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis
não apenas como uma metodologia de trabalho, mas como uma que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo
forma de possibilitar à criança a descoberta do mundo que a cerca favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação.
e resgatar a cultura. Como consequência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende
Os países desenvolvidos estão atentos para isso. Por que o Bra- a pensar, estimulando sua inteligência. Nesse contexto, precisa-
sil não pode perseguir esta meta? mos elucidar os pontos de contato com a realidade, a fim de que
Diante de todas as reflexões concordo com a educadora britâ- o jogo seja significativo para a criança. Por meio da observação do
nica Catty Nutbrown para quem “ Parar para ouvir um avião no céu, desempenho das crianças com seus jogos podemos avaliar o nível
agachar-se para observar uma joaninha numa folha, sentar numa de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-
rocha para ver as ondas se espatifarem contra o cais _ as crianças -se suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos enriquecer
têm sua própria agenda e noção de tempo. Conforme descobrem sua aprendizagem, fornecendo por meio dos jogos os “nutrientes”
mais sobre o mundo e seu ligar nele, esforçam-se para não ser do seu desenvolvimento. Ou seja, brincando e jogando a criança
apressadas pelos adultos. Precisamos ouvir suas vozes”. (Relatório terá oportunidade de desenvolver capacidades indispensáveis à sua
Global:2007,p.1)26 futura formação e atuação profissional, tais como: atenção, afetivi-
26 Por Maria Ângela Barbato Carneiro dade, concentração e outras habilidades perceptuais psicomotoras.

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Dinello indica que “pelo jogo, a psicomotricidade da criança se Processo de alfabetização
desenvolve num processo prático de maturação e de descobrimento A História da Alfabetização, em nosso país, foi centrada na His-
do mundo circundante.” tória dos Métodos de Alfabetização. A disputa entre esses métodos,
Dessa maneira, pode-se dizer que no jogo há uma importância que objetivavam efetivamente garantir aos educandos a inserção
do desenvolvimento psicomotor para aquisições mais elaboradas, no mundo da cultura letrada, produziram uma gama de teorizações
como as intelectuais. Oliveira valida esse entendimento, ao afirmar e tematizações acerca de estudos e de pesquisas a fim de investigar
que: Muitas das dificuldades apresentadas pelos alunos podem ser essa problemática.
facilmente sanadas no âmbito da sala de aula, bastando para isto Desde o final do Século XIX, a dificuldade de nossas crianças
que o professor esteja mais atento e mais consciente de sua respon- para aprender a ler e escrever, principalmente na escola pública, in-
sabilidade como educador e despenda mais esforço e energia para citou debates e reflexões buscando explicar e resolver esses entra-
ajudar a aumentar o potencial motor, cognitivo e afetivo do aluno. ves. As práticas de leitura e de escrita ganharam mais forças no final
Assim sendo, devemos estimular os jogos como fonte de aprendi- desse século, principalmente a partir da Proclamação da República.
zagem. A educação nesse período ganhou destaque como uma das
Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati- utopias da modernidade. Até então, nessa época, as práticas de
vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que leitura e escrita eram restritas a poucos indivíduos nos ambientes
o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis privados do lar ou nas “escolas” do império em suas “aulas régias”.
que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo, . Até o final do império, as “aulas régias” ofereciam condições
favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. precárias de funcionamento e o ensino dependia muito do empe-
Como consequência a criança fica mais calma, relaxada, e aprende nho dos professores e dos alunos. Para a iniciação do ensino da lei-
a pensar, estimulando sua inteligência. tura eram utilizadas as chamadas “cartas de ABC” e os métodos de
Segundo Bettelhein; os jogos mudam à medida que as crianças marcha sintética, ou método sintético (da “parte” para o “todo”);
crescem. Então, muda-se a compreensão em relação aos proble- da soletração (silábico), partindo dos nomes das letras; fônico (par-
mas diversos que começam a ocupar suas mentes. É jogando que tindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão
as crianças descobrem o que está a sua volta, começando a se rela- de sons), partindo das sílabas.
cionar com a vida, percebendo os objetos e o espaço que seu corpo Em 1876, em Portugal, foi publicada a Cartilha Maternal ou
ocupa no mundo em que vivem. Por meio de brincadeiras, como Arte da Leitura, escrita por João de Deus, um poeta português. O
o faz de conta, o jogo simbólico, a vivência de papeis, criando e conteúdo dessa cartilha ficou conhecido como “método João de
recriando situações agradáveis ou não; a criança pode realizar ativi- deus” e foi bastante difundido principalmente a partir do início da
dades próprias do mundo adulto. década de 1880. O “método João de deus”, também chamado de
Para Vygotsky, “... é na brincadeira que a criança se comporta “método da palavração”, fundamentava-se nos princípios da lin-
além do comportamento habitual de sua idade, além de seu com- güística moderna da época e consistia em iniciar o ensino da leitura
portamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinque- pela palavra, para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos.
do como se ela fosse maior do que é na realidade... o brinquedo Na primeira década republicana foi instituído o método analíti-
fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da co que diferentemente dos métodos de marcha sintética, orientava
consciência da criança”. que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo “todo” para de-
Assim que as crianças vão crescendo e se desenvolvendo emo- pois se analisar as partes que constituem as palavras. Ainda nesse
cional e cognitivamente, elas começam a colocar outras pessoas em momento, já no final da década de 1920, o termo “alfabetização”
suas brincadeiras, e é percebendo a presença do outro que come- passou a ser usado para se referir ao ensino inicial da leitura e da
çam a ser respeitadas as regras e os limites. Os jogos com regras escrita.
exigem raciocínio e estratégia. A partir da segunda metade da década de 1920, passa-se a uti-
Dessa maneira, quando uma criança se mostra capaz de seguir lizar métodos mistos ou ecléticos, chamados de analítico - sintético,
uma regra, nota-se que seu relacionamento com outras crianças e ou vice-versa. Esses métodos se estendem até aproximadamente o
até mesmo com adultos melhora, reforçando a ideia de que os jo- final da década de 1970.
gos influenciam no processo de aprendizagem das crianças, respei- Já no início da década de 1980, foi introduzido no Brasil, o
tando seu tempo e ritmo de assimilação e aprendizado. pensamento construtivista de alfabetização, fruto das pesquisas
Jogando, as crianças podem colocar desafios e questões para de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
serem por elas mesmas resolvidas, dando margem para que criem Escrita. O Construtivismo não se constitui como um método, mas
hipóteses de soluções para os problemas colocados. sim como uma desmetodização em que na verdade, propõe-se uma
Isso acontece porque o pensamento da criança evolui a partir nova forma de ver a alfabetização, como um mecanismo processual
de suas ações. Assim, por meio do jogo o indivíduo pode brincar na- e construtivo com etapas sucessivas e hipotéticas.
turalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade Nessa mesma época, foi constatado um número enorme de
criativa. Os jogos não são apenas uma forma de divertimento: são pessoas “alfabetizadas”, mas consideradas como analfabetos fun-
meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectu- cionais, que são as pessoas que decodificam os signos lingüísticos,
al. Para manter seu equilíbrio com o mundo, a criança precisa brin- mas não conseguem compreender o que leram. Surge então o ter-
car, criar e inventar. Com jogos e brincadeiras, a criança desenvolve mo “letramento”. Estar letrado seria então, a capacidade de ler,
o seu raciocínio e conduz o seu conhecimento de forma descontraí- escrever e fazer uso desses conhecimentos em situações reais do
da e espontânea: no jogar, ela constrói um espaço de experimenta- dia-a-dia. Alfabetizar letrando é de fundamental importância, pois
ção, de transição entre o mundo interno e externo.27 garante uma aprendizagem muito mais significativa, afinal como
afirma Soares (2004):

27 Fonte: www.pepsic.bvsalud.org/Texto adaptado de Maysa Alahmar Bianchin


e Luciana Alves/www.portal.mec.gov.br

88
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela integração e Para os educadores o julgamento não poderia levar em conta
pela articulação das várias facetas do processo de aprendizagem os seus valores ou os da instituição que trabalhavam. Era neces-
inicial da língua escrita é sem dúvida o caminho para superação dos sário ter padrões e critérios definidos para julgar sem prejudicar o
problemas que vimos enfrentando nessa etapa da escolarização; educando porque só assim haveria uma desmistificação da idéia
descaminhos serão tentativas de voltar a privilegiar esta ou aque- de que quando se avalia o aluno, ele é prejudicado. Mas para que
la faceta como se fez no passado, como se faz hoje, sempre resul- esse julgamento não fosse errôneo, houve a necessidade de alguns
tando no reiterado fracasso da escola brasileira em dar às crianças professores reavaliarem sua prática e mudar quando preciso. Ainda
acesso efetivo ao mundo da escrita. existem professores que consideram seu modo de avaliar, o melhor
Atualmente vivenciamos uma crise de paradigmas, os méto- e que não falham jamais e é esse o tipo de profissional que fazem
dos de abordagem tradicional e/ou tecnicista, já não dão conta do com que os professores adquiram “fama” de injustos, carrascos e
contexto atual e o Construtivismo, na maioria das vezes, continua incompetentes. Não basta apenas observar e descrever é necessá-
sendo mal interpretado, incompreendido e utilizado de forma equi- rio o julgamento, e para isso, o professor tem que ter uma visão
vocada, isso quando utilizado. Portanto, entendo que um método mais humana e real dos alunos e da escola.
Neste momento, Ristow (2008), diz que a avaliação dá o ter-
ou uma perspectiva de desmetodização, enquanto teoria educacio-
ceiro passo, que vai da década de 1960 a década de 1980 e aqui
nal funciona se há uma real fundamentação teórica e prática e se,
eles trabalhavam o juízo do valor. Neste momento do juízo do valor,
relacionado a tal método ou desmetodização, estiverem uma teoria
aparecem dois novos fatores que são: mérito e relevância. O mérito
do conhecimento, além de um projeto político e social.28 trata da qualificação, capacitação e merecimento a uma melhora
em tudo que acontecia ao redor da avaliação. Já a relevância, que
trata das modificações e transformações que acontece a partir do
ASPECTOS DO COTIDIANO ESCOLAR – A FORMAÇÃO merecido.
DO PROFESSOR; A AVALIAÇÃO COMO PROCESSO, A Segundo Ristow (2008), ela afirma que na década de 1990 o
RELAÇÃO PROFESSOR / ALUNO; A FUNÇÃO SOCIAL DO quarto passo da avaliação, foi tido como o processo de negociação.
ENSINO: OS OBJETIVOS EDUCACIONAIS, OS CONTEÚ- Assim, para isso se materializar era necessário o diálogo, negociar
DOS DE APRENDIZAGEM; AS RELAÇÕES INTERATIVAS com os pais, professores, mercado trabalhista e principalmente
EM SALA DE AULA: O PAPEL DOS PROFESSORES E DOS com os alunos, afinal eles que serão capacitados, pois dialogando
ALUNOS; A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA CLASSE; OS com todos, é possível saber o que é necessário ensinar e o que é
DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE; A SALA DE importante avaliar.
AULA E SUA PLURALIDADE Esse momento oportunizou aos professores estarem sempre
abertos a conversar, a saber a opinião dos alunos e poder mudar se
fosse preciso. Percebeu-se que o professor não era o dono da ver-
A história da avaliação é longa e tem uma trajetória de mais
dade e sempre terá o que aprender com o aluno, por isso a negocia-
de 100 anos de muitos estudos, mudanças e transformações, tudo ção foi considerado um grande momento, o passo da qualidade na
para que haja uma melhor maneira de avaliar sem que os avaliados avaliação, pois não segue um método determinado.
sejam prejudicados. Estamos no século XXI e ainda hoje, após tantas mudanças para
O primeiro passo da avaliação segundo Ristow (2008) se dá na melhorar a avaliação, tem professores que classificam seus alunos
década de 1920 e na década de 1930, e foi considerado, como um apenas por números. Infelizmente nem a lei conseguiu mostrar aos
período de mensuração. Neste primeiro momento a avaliação ba- professores que a qualidade é importante, pois muitos têm medo
seava-se na quantidade e não na qualidade, era feita de forma a da mudança e preferem só a quantidade e não deixam os alunos
verificar apenas pontos de erros e acertos. Isso durou 10 anos, pois questionarem.
trouxe muitas dúvidas e inquietações de como realmente estava ha- Pedro Demo deixa claro que é necessário:
vendo a aprendizagem ou esse método era apenas uma “decoreba” Defender critérios transparentes e abertos nos processos ava-
do conteúdo dado, que depois da avaliação era esquecido. liativos; a avaliação precisa ser conduzida de tal sorte que o avalia-
Então surge o segundo passo da avaliação, sendo que recorren- do possa se manifestar e reagir; são inaceitáveis avaliações sigilosas
ou feitas pelos chefes exclusivamente, bem como são inaceitáveis
do a Ristow (2008), vai da década de 1940 a 1950, e é voltada para
meras auto-avaliações. (DEMO, 1997, p. 50)
a verificação de objetivos e para isso acontecer era necessário uma
É preciso que o professor deixe o aluno questionar, argumen-
investigação dos objetivos. Feito isso a avaliação poderia respon- tar, reagir a algo que o educador argumentou, assim como é de ex-
der as dúvidas vistas anteriormente, para assim saber se existiram trema importância que o professor tenha clareza acerca do modo
mudanças e crescimentos na aprendizagem, pois era descrito o que de avaliar. Mostre o que quer de fato, sem «pegadinhas» somente
acontecia com o aluno. Neste período a avaliação foi vista como para deixar o educando confuso. Essas formas avaliativas devem ser
descritiva. elaboradas por professores e alunos para não haver surpresas na
Houve, porém um grande problema, essa descrição não era hora das avaliações.
totalmente suficiente para sanar as dúvidas e para saber se estava A legislação atual representou um grande salto qualitativo para
cumprindo o papel que era proposto. Existia quase tudo, o educan- toda a comunidade escolar no que se refere ao processo de avalia-
do, a descrição e os objetivos, porém muitas vezes não havia expli- ção. Cabe a estes compreendê-la e desta forma usá-la a seu favor.
cações para várias respostas dadas pelos educandos e os professo- Vários educadores falam uma coisa, mas fazem outra, quer di-
res não podiam julgar e talvez nem soubessem. Se o professor não zer a teoria e a prática não caminham juntas. Há escolas que dizem
soubesse julgar o método, com certeza o julgamento seria errado, adotar uma abordagem qualitativa ao processo avaliativo, que não
“somam” nem “medem” os alunos, porém isso só acontece no pa-
e prejudicaria o aluno, pois como diz Werneck (2001, p. 68): “Che-
pel, para tentar atender as exigências da lei.
gou-se, no mundo à visão de que avaliar estava intimamente ligado
Vive-se no século XXI, e cabe ao educador ser crítico, criativo e
ao ato de avaliar”. saber que a avaliação é um meio de conseguir novas informações
28 Fonte: www.educandoeconversando.blogspot.com

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CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
sobre a aprendizagem e desta forma avaliar melhor o educando. quicas decorrente do meio, existe a base biológica, que é o poder
Quando se avalia, o educador deve aproveitar os resultados que o cérebro tem de assumir funções atingidas, mas para isso tem
obtidos e mostrar para os alunos como a avaliação pode ser impor- que haver a influência do meio. Outro fator é a mediação com o
tante e que pode trazer para todos novas possibilidades, e se bem meio através dos instrumentos e os signos e a última tese fala das
trabalhada, novos conhecimentos. funções psicológicas superiores, que depende da interação do su-
jeito e não só do desenvolvimento.
O professor não deve buscar uma receita pronta, pois cada alu- Outro ponto importante é a zona de desenvolvimento proxi-
no tem seu tempo, seu desenvolvimento, então deve-se buscar sua mal, que é aquilo que a criança sabe fazer sozinha e a zona do de-
forma de avaliar. senvolvimento potencial que é o que ela ainda não faz sozinha, mas
Hoffmann (1996, p. 186), diz algo muito significativo, ou seja, pode fazer com a ajuda de alguém.
para ela “estudar avaliação não significa estudar teorias de medidas Vygotsky leva em conta a história do indivíduo por basear-se no
educacionais”. Com isso, pode-se dizer que não adianta só saber materialismo histórico e dialético.
todas as teorias, tem que haver uma junção de teoria, prática, ex-
periência, negociação etc. - Concepção Walloniana
Para Wallon o ser humano passa por vários momentos em sua
Concepções de aprendizagem frente avaliação escolar vida desde o afetivo até motores e intelectuais. E estes momentos
Existem várias concepções de aprendizagem e é de extrema Wallon classificou como estágios:
importância conhecê-las, pois se deve deixar claro que o educador O primeiro foi impulsivo emocional, que esta relacionada ao
segue o que determinará os mecanismos de avaliação utilizados em primeiro ano de vida da criança onde a afetividade é fortíssima.
sala de aula. O segundo é o sensório-motor que vai dos 2 a 3 anos, aqui
Vale lembrar que as concepções de aprendizagem dependem destacam-se a fase motora e mental, além da criança conseguir
muito do momento histórico que se está vivendo. Desta forma cabe manipular objetos, os pensamentos já estão mais fortes, a função
ao educador não apenas saber a teoria referente às concepções, simbólica e a linguagem também.
mas utilizá-las na prática do dia-a-dia. Assim sendo, faz-se neces- No terceiro estágio que é o personalismo dos 3 aos 6 anos,
sário falar das principais correntes de aprendizagem, porém breve- acontece a formação da personalidade.
mente, pois este não é o enfoque principal deste conteúdo. O quarto estágio é o categorial dos 6 aos 11 , a criança já con-
segue dividir, classificar em fim já tem mais autonomia pois já cate-
- Concepção Inatista goriza o mundo.
Nesta concepção a pessoa tem dons e aptidões que se amadu- No quinto e último é o da adolescência começando nos 11 ou
recem com o passar do tempo (biológico). Segundo Chauí (1997) a 12 anos, há a construção do eu, neste estágio há muitos conflitos
criança trás em si todas suas potencialidades. É necessário apenas morais e existenciais, e volta o campo afetivo.
esperar, uma vez que as capacidades já estão no sujeito no ato do Estes estágios bem trabalhados a criança alcançará a aprendi-
nascimento. zagem facilmente. Enfim, estes breves comentários sobre as con-
Cabe ao educador apenas ajudá-lo a despertar o que já existe cepções de aprendizagem têm um único propósito de esclarecer a
dentro dele. Se o educando não consegue chegar ao conhecimento forte relação entre a avaliação e as concepções de aprendizagem
que o educador passa, é porque este ainda não teve o amadureci- para assim melhorar o entendimento diante da escolha dos meca-
mento biológico ou não possui esta capacidade que é inata. nismos de avaliação usados em sala de aula.

- Concepção Ambientalista. Mecanismos de avaliação


A criança ou sujeito é visto como uma “folha em branco”. É a Existem muitos instrumentos para avaliar o aluno, e várias for-
partir dos contatos com o ambiente que ele construirá o conheci- mas de todos se integrarem no processo de aprendizagem, basta
mento que necessita. Assim sendo o educador transmite o que sabe o professor conseguir detectar a necessidade de cada um. Sendo
e o aluno apenas recebe. O educando não constrói o conhecimento, assim é fundamental que o professor utilize todos os métodos ne-
apenas adquire. cessários para o aluno alcançar o sucesso.
Nesta concepção tudo é planejado segundo Parra (2002), não O educador deve tentar saber em que nível de conhecimento
há criatividade apenas acontece o que já foi previsto. o estudante está, para assim dar a verdadeira oportunidade dele se
aprofundar, uma vez que segundo Sarubbi:
- Concepção Piagetiana A avaliação educativa é um processo complexo que começa
Para Piaget o principal ponto de sua teoria está ligado ao fato com a formação de objetivos e requer a elaboração de meios para
que o sujeito e o meio se interagem mutuamente, mas os fatores obter evidências de resultados para saber em que medida foram os
biológicos têm preponderância. Para Piaget o desenvolvimento cog- objetivos alcançados e formulação de um juízo de valor. (SARUBBI:
nitivo do sujeito se dá através de estágios. Deixa claro que os sujei- 1971, p. 34)
tos passam durante toda a vida por situações desequilibrantes. Para Sendo a avaliação um processo, cabe ao educador operacio-
entrar na zona de conforto e superar algo que está o deixando em ná-la da melhor forma possível, mostrando ao aluno as funções da
conflito é possível acionar dois mecanismos que são a assimilação mesma e que ela serve para facilitar o diagnóstico, ajudar na apren-
e a acomodação. dizagem, entre outras. Mostrar que a avaliação é um meio e não o
fim do processo.
- Concepção Vygotskyana
Para Vygotsky um dos pontos mais importantes são a lingua- Vale lembrar que há várias formas de avaliar o educando, pois
gem e o pensamento. Rego (1986) aponta que quando a criança a mesma encontra-se no processo educativo, ou seja, faz parte do
nasce ela modifica o ambiente e essas modificações vão refletir no processo ensino-aprendizagem, onde todos os sujeitos estão envol-
comportamento dela no futuro, acontece também a aquisição psí- vidos.

90
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Recorrendo as autoras Gentile e Andrade (2001), há diversas É relevante lembrar Hoffmann apud Bochniak (1992, p. 74),
formas de avaliar, pois não existe um método mais eficaz que o quando afirma que «é através das pequenas iniciativas, dos peque-
outro, cabe ao professor usar os que forem melhores para o bom nos passos, das pequenas descobertas que se chega à construção
andamento da aprendizagem do aluno. Desta forma Gentile e An- do conhecimento».
drade (2001), abordam nove formas avaliativas mais comuns nos Com isso fica claro a necessidade de fazer o melhor, por me-
ambientes escolares, que são: nor que seja, não importando se o que foi feito é para a satisfação
- Prova objetiva: É o método mais antigo e com certeza o mais pessoal ou coletiva. Se cada professor fizer a sua parte tudo pode
usado. O aluno responde a uma série de perguntas diretas, com mudar, mas é preciso não deixar de questionar o sistema atual de
apenas uma resposta possível. Pode ser respondida pela “decore- avaliação, pois é isto que faz os educadores se aperfeiçoar cada vez
ba” não mostrando o que de fato o aluno aprendeu. mais e conseqüentemente melhorar o seu fazer pedagógico.
- Prova dissertativa: Caracteriza-se por várias perguntas, que
exige do aluno a capacidade de resumir, analisar e julgar. Tem como Recuperação de nota ou de conhecimento
função ver se o aluno tem a capacidade de interpretar o proble- Quando o aluno for avaliado e o resultado não for satisfató-
ma central, abstrair acontecimentos, formular e redigir ideias. Não rio, deve-se reavaliá-lo, porém, antes de tomar essa decisão é ne-
mede o domínio dos conhecimentos e não permite amostragem. cessário estar consciente de que essa avaliação é para recuperar o
- Exposição Oral ou Seminário: Destaca-se pela exposição oral
conhecimento e jamais a nota. Existe grande diferença entre essas
para os colegas, utilizando a fala e as matérias de apoio apropriado
duas ações.
ao assunto. Tem como função transmitir verbalmente as informa-
Quando o educador avalia com data marcada, apenas para
ções colhidas de forma eficaz. O aluno adquire mais facilidade de se
justificar aos pais e professores e provar que fez recuperação, este
expor em público. Faz com que aprenda a ouvir e falar. Oportuniza
ao aluno mais responsabilidade e organização, o tornando mais crí- educador está preocupado não com o aluno e sim na recuperação
tico e criativo. O professor deve ter o cuidado de conhecer cada alu- da nota, ou seja, o professor avalia novamente apenas para satisfa-
no para não comparar a explicação de um tímido e um desinibido. ções externas e burocráticas. Ele está fugindo do seu verdadeiro pa-
- Trabalhos em grupos: É muito usado atualmente por causa do pel de educador. Porém, se ele avalia para o crescimento do aluno e
tempo reduzido a cada professor em sala de aula. São feitas ativi- seu próprio crescimento de forma significativa, estará recuperando
dades diversas, desenvolve o espírito colaborativo e a socialização. o conhecimento. Este não terá que dar satisfações a ninguém, pois
Tem a vantagem de o aluno escolher como vai expor o trabalho para o resultado aparecerá no aluno, no professor e no próprio cotidiano
a classe e possibilita o trabalho organizado, porém o professor deve na sala de aula.
buscar informações para passar ao grupo e não deve substituir os Por isso é importante lembrar o que diz Nunes (2000, p. 14),
momentos individuais. “É preciso modificar a avaliação na escola a nota somente, não ex-
- Debates: Muito interessantes, pois o aluno expõe sua opinião pressa nada em relação ao aluno. Ela classifica, mas não tem um
a respeito de temas polêmicos. Ensina o aluno a defender sua opi- significado. As provas devem ser um momento de aprendizagem”.
nião com argumentos que convençam. Faz o educando aprender a Deve-se ter bem claro que nota não é conhecimento. Os alu-
escutar, pois tem um propósito, a saber, desenvolver a oralidade e a nos poderão obtê-las através de “decoreba” memorização, que na
argumentação. O professor deve dar oportunidade para todos falar. verdade é aprendizagem de curta duração. Eles devem saber que
- Relatório individual: É observada a produção de texto feito somente o número, a nota, sem o conhecimento não é nada, não
pelo aluno e ajuda a ver se há uma ligação no que se ensinou e no terá utilidade nenhuma à vida. Cabe ao professor mostrar aos edu-
que está escrito. Pode-se avaliar o verdadeiro nível de compreen- candos, que eles necessitam é adquirir conhecimento, pois só assim
são. Deve-se evitar o julgamento. o processo de aprendizagem vai acontecer.
- Auto-Avaliação: O aluno faz uma análise oral ou escrita do Os alunos precisam aprender e desta forma enxergar a realida-
seu próprio processo de aprendizagem. Levando a refletir sobre os de e a verdadeira sociedade para conseguir inserir-se no contexto
pontos fortes e fracos. Através da auto avaliação o aluno aprende a global.
enfrentar e superar suas limitações.
- Avaliação formativa ou Observação: O professor observa e O professor também tem uma tarefa que é redimensionar a sua
anota o desempenho do aluno. Tem como função, obter informa-
prática, pois só assim conseguiremos a formação de pessoas críti-
ções acerca das capacidades afetivas e cognitivas etc... Descobrir
cas, não só alunos, mas professores que são capazes de conseguir
como cada educando constrói o conhecimento seguindo passo a
distinguir a diferença entre recuperar o conhecimento e recuperar
passo. O professor deve fazer as anotações sempre no momento do
a nota.
acontecimento e evitar generalizações.
- Conselho de classe: Reuniões organizadas por determinada Quando o professor entrega uma prova e dá explicações ou
equipe. Tem como objetivo compartilhar informações sobre a classe corrige apenas para fazer que está recuperando, sem dar significa-
e aluno, para argumentar nas decisões. O ponto positivo é a integra- do para aquilo, seu trabalho torna-se desnecessário. Se quiser recu-
ção entre os professores e a facilitação na compreensão dos fatos, perar, deve pegar a prova e explicar as questões levantadas, corrigir
com os vários pontos de vistas. O professor deve cuidar para não para todos verem onde erraram, mas esses conceitos deverão ser
rotular os educandos. Fazer observações concretas não deixando cobrados novamente. Se isso não acontecer com certeza o aluno
a reunião se tornar uma confirmação de aprovação ou reprovação. não vai querer ver o que errou ou querer apropriar-se do que não
Todas essas formas de avaliar podem ser usadas no cotidiano aprendeu.
escolar, segundo Demo (1997, p. 50), “nunca é suficiente apenas Se o docente quer recuperar o conhecimento, que faça com
um método avaliativo”. qualidade e competência, para poder lançar o educando em um
Por isso o professor tem que tentar ser e fazer o melhor. Deve processo de aprendizagem contínua, onde a nota não seja para me-
insistir em uma educação capaz de mudar os pensamentos de que a dir, e sim para qualificar.
avaliação não serve para nada, ao contrário, deve-se apenas encon- Outro ponto importante quando se fala em recuperação é sa-
trar a forma mais adequada para que o aluno mostre o que apren- ber quem deve ser recuperado. Muitos educadores recuperam ou
deu, assim com certeza alcançará o sucesso. tentam recuperar aquele aluno que tem nota abaixo da média, po-

91
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
rém, deve-se recuperar quem não alcançou o cem por cento, pois milhar ou castigar o aluno. O educador deve verificar onde o aluno
se o aluno tem sete, ainda estaria faltando trinta por cento de sua errou e reorientá-lo, não esquecendo de mostrar ao aluno a origem
aprendizagem. Talvez essa maneira de recuperar apenas quem pre- do seu erro, de seu insucesso.
cisa muito, esteja fazendo a educação ter tantas falhas e esteja con-
tribuindo para professores e alunos se conformarem com metade Recorrendo a Luckesi (1997), deve-se esclarecer que o erro só
do que tem direito, e não a totalidade. existe, pois, já foi construído um padrão, idéias de como agir, pensar
Segundo Vasconcellos (1995, p. 86), “O compromisso do pro- e falar, preceitos já estabelecidos por uma sociedade. Se os profes-
fessor é com a aprendizagem de todos. Sendo um especialista no sores se comportarem de forma arbitrária, sem escutar os educan-
ensino, tem que saber lidar com os desafios da aprendizagem, pois dos estará se direcionando para o passado, onde a única solução
é um profissional da educação”. Quando todos lutarem pelo mesmo para o erro ou para o insucesso eram os castigos, daí com certeza a
ideal dentro da educação é provável que contribuiremos para dar escola seria a única responsável pelo fracasso de uma criança.
um novo rumo ao nosso País, no sentido de criar uma outra ordem Muitas vezes, os docentes não querem enxergar o que está em
social. sua frente, que o erro que a criança comete muitas vezes é culpa
dos professores e da escola e então enxergam a realidade não como
O erro construtivo e o castigo na escola ela é, mas como querem enxergá-la, de acordo com seus interesses
O erro na avaliação ou no dia-a-dia não deve ser levado pelos e conveniência.
Enfim, o professor deve estar consciente de suas obrigações e
professores como uma ofensa pessoal, como se quem não apren-
lembrar que segundo Luckesi (1997), a pedagogia de exames, testes
deu é porque não prestou atenção na matéria ou na explicação.
ou avaliações em que vivemos pode causar muitas conseqüências
Na verdade alguma coisa deve ter acontecido, uma vez que essa
na vida do aluno.
questão (avaliação e o erro) é muito complexa. Se o erro for bem
Pedagogicamente, a escola centraliza a atenção nas avaliações
trabalhado será muito importante e servirá como fonte de virtude. e não cumpre sua verdadeira função cognitiva. Luckesi (1997, p. 51)
Luckesi (1994, p. 56), diz que tanto “o ?sucesso/insucesso? como o afirma que “nem sempre a escola é a responsável por todo proces-
?acerto/erro? podem ser utilizados como fonte de virtude em geral so culposo que cada um de nós carrega, mas reforça (e muito) esse
e como fonte de ?virtude? na aprendizagem”. processo”. Sabe-se que com medo e angústia as crianças adquirem
O erro e o insucesso em qualquer momento da vida de uma fobias e ansiedades que com certeza prejudicam o seu desenvolvi-
criança pode ser suporte para o crescimento e para o rendimento mento.
escolar. Isso não significa que o erro e o insucesso são indispensá- Quando Luckesi (1997, p. 52) diz, “que nem sempre a escola é a
veis para o crescimento e que a criança só vai aprender se errar, se única responsável”, é porque muitas vezes, os próprios pais ou res-
não obter sucesso na aula ou na escola, ao contrário, é necessário ponsáveis não aceitam os erros ou insucesso de seus filhos. Então
deixar bem claro que a criança não precisa passar por erro e o insu- a escola não é totalmente culpada, mas também se o pai, mãe ou
cesso, mais que se ela passar por essa etapa os educadores devem responsável fazem os filhos se sentirem culpados, talvez, fazem isso
tornar esses erros os mais significativos benefícios. por falta de conhecimento.
É importante ressaltar que não se deve fazer do erro um cami- As escolas e professores, com certeza são os maiores causa-
nho onde todos devem passar. O erro e o insucesso devem servir dores desses sentimentos (culpa) principalmente com alunos das
para levar o sujeito a crescer, para evoluir, sobretudo deve buscar séries iniciais. Esse clima de medo, tensão, ansiedade, fobias e cas-
este caminho como significado de sucesso. É necessário que o erro, tigos quando o aluno fracassa é o maior responsável pela escola
principalmente na aprendizagem não seja fonte de castigo jamais. O não ser considerada por uma grande maioria, um lugar de alegrias,
erro deve ser visto e compreendido como conseqüência do acerto. prazer e satisfação. Desta forma a escola não é eleita como um lugar
O castigo não é uma prática recente, ao contrário é muito an- para ser feliz.
tiga, onde os docentes castigavam fisicamente os seus alunos, nas Os professores devem se conscientizar que quando o aluno
mais variadas formas, fazendo os alunos se ajoelharem no feijão ou erra em uma avaliação ou em sala de aula, o educador deve auxiliar
milho, batendo com régua e palmatória, entre outras. Atualmente na construção do conhecimento.
quase não existe o castigo físico, mais isso não significa que a “era” Psicologicamente a avaliação é inútil, pois desenvolve a perso-
dos castigos acabou, ao contrário, continua de forma sutil, uma vez nalidade da submissão, e os padrões internalizados em função dela
têm sido quase todos negativos. É utilizada de modo fetichizado,
que não deixam marcas no corpo, mas marcas profundas na alma.
sendo útil ao desenvolvimento da autocensura.
Nos tempos atuais, os castigos se tornaram psicológicos e mo-
Sociologicamente, sendo utilizada de forma fetichizada é bas-
rais. As crianças são ridicularizadas, humilhadas pelos educadores,
tante útil para os processos de seletividade “social”. No caso está
com frases, palavras e até pelas notas que muitas vezes os professo-
muito mais articulada para a reprovação do que para a aprovação,
res fazem questão de anunciar a todos em alto e bom som. contribuindo para a seletividade social.
O professor cria em sala de aula um clima de tensão, medo e Para a avaliação se tornar algo significativo de verdade deve-se
ansiedade. Faz perguntas a um e vai passando por todos os outros, transformar os mecanismos de avaliação. Isso só acontecerá atra-
na verdade quer achar na sala aquele que não aprendeu para ex- vés da ação e como somos parte deste processo de transformação,
por o aluno e indiretamente avisar aos colegas que aprendam se também somos responsáveis pelo processo de ressignificação da
não serão os próximos a ser ridicularizados. Ele pode não falar mais avaliação utilizada no interior da sala de aula.
mostra isso ao aluno.
Com essa postura, além do professor culpar o aluno, o próprio A prática avaliativa na aprendizagem na escola
aluno começa a se auto punir. Culpar-se por não saber isso ou aqui-
lo, por erros que nem sabe se cometeu. Não há nada que mostre A importância da avaliação escolar: retrocessos e avanços
que o castigo físico, psicológico ou moral auxilie ou facilite a apren- No século XIX até a década de 1950 era unânime a forma de
dizagem escolar ou o desenvolvimento em sala de aula, na verdade ensinar e tinha como estratégia de ensino a repetição de atividades,
alguma coisa está acontecendo de forma errada. É chegada a hora cópias de modelos e memorização. O professor adotava a postura
de fazer algo de maneira justa, pois corrigir o erro não significa hu- de transmissão do conhecimento, e o aluno só bastava absorver o

92
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
que era ensinado sem espaço para contestação. A turma era bem VII - Valorização do profissional da educação escolar;
avaliada quando conseguia reproduzir com rigor os conteúdos re- VIII - Gestão democrática do ensino público, na forma desta lei
passados pelo professor, essa metodologia foi contestada por Lu- e da legislação dos sistemas de ensino;
ckesi (2005, p. 37), da seguinte forma: IX - Garantia de padrão de qualidade;
(...) O papel disciplinador, com o uso do poder, via a avaliação X - Valorização da experiência extra-escolar;
classificatória, o professor representando o sistema, enquadra os XI - Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti-
alunos -educando-os dentro da normatividade socialmente esta- cas sociais; (LDB, 1996)
belecida. Daí decorre manifestações constantes de autoritarismo,
chegando mesmo a sua exacerbação. Este movimento nasceu por volta de 1960 sob a influência das
Quem acha que o papel do professor é só “passar” conheci- idéias do movimento da Escola Nova que tinha como foco principal
mentos talvez veja a aprendizagem ativa e interativa como um a aprendizagem do aluno como um ser social, que dizia não se im-
capricho da imaginação teórica ou simplesmente como ilusões de portar com o resultado, mas com o processo e, principalmente a
certas propostas pedagógicas. Isso, na prática, reduz o ensino à ins- experiência. Havia a valorização do desenvolvimento criador e da
trução individual em massa, quando sabemos que ainda existem iniciativa do aluno durante as atividades em classe, as estratégias
educadores usando juízos de valores, para marcar seu lugar e mos- de ensino não apontavam o certo ou errado na maneira de fazer
trar aos alunos que eles têm de ocupar outra posição. Essa prática de cada estudante. Ao professor, não cabe corrigir ou orientar os
educativa perdurou por muitos anos, alunos chegavam a ser estig- trabalhos nem mesmo utilizar outras produções culturais para in-
matizados e sem confiança de si mesmo, eram avaliados por ex- fluenciar a turma. A idéia é que o estudante exponha suas inspira-
pressões que amedrontavam, utilizando-se das provas como fator ções internas.
negativo de motivação. O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cultu-
Quando um aluno vai mal numa prova, isso pode ter sido pro- rais de 1992, assinado pelo Brasil, afirma que: “A Educação é di-
vocado por muitos motivos, inclusive uma falha na metodologia de reito de toda pessoa. Ela deve visar o pleno desenvolvimento da
ensino do professor em sala de aula. Mas é sempre mais cômodo personalidade humana e capacitar todos a participar efetivamente
culpar a criança do que se avaliar. de uma sociedade livre”.
Com o surgimento da burguesia, a pedagogia tradicional emer- No que diz respeito à LDB nº 9. 394, de 20 de novembro de
giu e se cristalizou, porém é certo que aperfeiçoou seu mecanismo 1996, no artigo 2 diz que:
A educação é um dever da família e do Estado, inspirada nos
de controle, destacando a seletividade escolar e seus processos de
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem
formação das personalidades dos educandos. O medo e o fetiche
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
são mecanismos imprescindíveis, assim aponta Luckesi (2005, p. 23)
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
que:
Neste contexto, hoje a educação é uma obrigação do Estado e
Ao longo da história da educação moderna e de nossa prática
das famílias. A escola pública teve e tem de se adaptar para receber
pedagógica, a avaliação da aprendizagem escolar, por meio de exa-
a parcela da população antes excluída e com padrões culturais dife-
mes e provas, foi se tornando um fetiche. “Por fetiche entendemos
rentes daqueles aos quais ela estava acostumada.
uma entidade” criada pelo ser humano para atender a uma neces-
Podemos constatar que a educação no Brasil discutida hoje,
sidade, mas que se torna independente dele e o domina, universali- como um direito foi o resultado de muitas lutas anteriores, como
zando-se. (LUCKESI, 2005, p. 23) já vimos, essas garantias são anos de lutas, isso significa o marco
A reprodução desse modelo fez com que as crianças oriun- na trajetória democrático do Brasil. O Estatuto da Criança e do Ado-
das de famílias carentes, quando matriculadas, simplesmente não lescente (ECA), que assegura a criança e adolescentes o direito à
aprendessem, elas não dispunham de repertório para acompanhar educação formal, como podemos ver em seu capítulo IV - Do Direito
o ensino que privilegiava a transmissão do conhecimento. à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, artigo 53, diz que:
A gestão, a organização do espaço e a expectativa em relação A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao
ao comportamento não levaram em consideração as diferenças, pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
esperava-se que todas estivessem educadas de acordo com os pa- cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
drões das classes privilegiadas. I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
O direito a educação passa a constar de fato na lei a partir da cola;
segunda constituição republicana, em 1934. Isso depois de os in- II - direito de ser respeitado por seus educadores;
telectuais brasileiros, comandados pelo educador Anísio Teixeira III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
(1900-1971), terem produzido o manifesto dos pioneiros da Edu- às instâncias escolares superiores;
cação Nova, primeiro movimento intelectual no país a lutar aberta- IV - direito de organização e participação em entidades estu-
mente pelo acesso amplo à Educação como uma forma de reduzir dantis;
as desigualdades culturais e econômicas. Desta forma podemos V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
acompanhar estas mudanças significativas na educação brasileira
através da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9. 394 de 1996 no tí- As crianças e os adolescentes têm, pois, garantido, no Brasil,
tulo II do artigo 3, diz que o ensino será ministrado com base nos o direito ao ensino, a educação. A constituição delega ao Estado
seguintes princípios: o dever para com esses cidadãos, mais cabe a cada um reivindicar
I - Igualdade e condições para o acesso e permanência na es- a efetivação desse direito, que nem sempre é efetivado de forma
cola; eficiente.
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu- Portanto, como observamos os municípios tem o dever de prio-
ra, o pensamento, arte e o saber; rizar a educação infantil e principalmente o ensino fundamental,
III- Pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; para que haja uma melhor educação e, haja a aquisição e constru-
IV - Respeito à liberdade e apreço a tolerância; ção do conhecimento do aluno e o mesmo possa contribuir com a
V - Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; sociedade.
VI - Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

93
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Modalidades e funções da avaliação escolar Pode ser considerado como o ponto de partida para todo traba-
O ensino no Brasil que antecedeu o período republicano tinha lho a ser desenvolvido pelo educador, em favor a esta educação Ho-
como base a educação jesuítica em 1549, segundo Pinto (2002), os ffmann (2008, p. 59), tece a idéia de que, “os alunos não aprendem
conteúdos tinham um papel de domesticação e adestramento, com sem bons professores”, é estar presente em todos os momentos
visões bíblicas somente para ensinar a ler e a escrever. A metodo- que favorece o diagnóstico do aluno. A avaliação só será eficiente e
logia utilizada era a tradicional, que tinha como princípio levar os eficaz se ocorrer de forma interativa entre professor e aluno, ambos
alunos, a saber, dados e fatos na ponta da língua, o saber do profes- caminhando em mesma direção, em busca dos mesmos objetivos.
sor deveria se manter neutro diante dos alunos e se ater a passar os Avaliação Formativa:
conhecimentos sem discuti-los, usando para isso a exposição cro- A avaliação formativa enfoca o papel do aluno, a aprendizagem
nológica. Na hora de avaliar, provas orais e escritas eram inspiradas e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá-
no livro de catequese, com perguntas objetivas e respostas diretas. -lo, cuja função controladora sendo realizada durante todo o ano
Essa postura em sala de aula só seria questionada no início do sé- letivo. Localiza deficiências na organização do ensino-aprendiza-
culo XX. gem, de modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar
Novas fontes de aprendizagem como, visitas a museus e expo- o alcance aos objetivos.
sições, foram incorporadas com o objetivo de fazer o aluno pensar Essa modalidade de avaliação é orientadora, porque orienta o
e não apenas decorar o conteúdo. Os conteúdos de Piaget (1896 estudo do aluno ao trabalho do professor, prevê que os estudantes
- 1980) e de Vygotsky (1896 - 1934), contudo começaram a ser di- possuem processos e ritmos de aprendizagem diferentes, sendo
vulgadas, trazendo teorias que influenciaram mais e a idéia de que que cada professor está comprometido com sua ação recíproca de
aprender é decorar, começou a mostrar sinais de fragilidade, como conhecimento.
ressalta Luckesi (2005, p. 28): Segundo Cool (1996), apud Silva (2004, p. 31) referencia que:
Estando a atual prática da avaliação educacional escolar a ser- A escola é a instituição escolhida pela população para desen-
volver práticas educativas sistematizadas no intuito de possibilitar a
viço de um entendimento teórico conservador da sociedade e da
construção das identidades pessoais e coletivas. Processo pelo qual
educação, para propor o rompimento dos seus limites, que é o que
nos encontramos e nos transformamos em cidadãos para vivemos
procuramos fazer, temos de necessariamente situá-Ia num outro
na floresta de pedra, complexa e conflituosa da sociedade. A pas-
contexto pedagógico, ou seja, temos de, opostamente. Colocar a
sagem da condição natural do homem e da mulher para a cultural
avaliação escolar a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja toma como principal caminho a dinâmica educativa, sendo a escola
preocupada com a educação como mecanismo de transformação a principal instituição responsável por orientar a construção identi-
social. tária dos sujeitos.
Neste contexto, em qualquer nível de ensino em que ocorra, a Neste contexto, a avaliação considera que o aluno aprende ao
avaliação não existe e não opera por si mesma, está sempre a servi- longo do processo, que vai reestruturando o seu conhecimento por
ço de um projeto ou de um conceito teórico, ou seja, é determinada meios das atividades que executa, para isso, é preciso propor ações
pelas concepções que fundamentam a proposta de ensino. Numa transformadoras por meios das quais sejam mobilizados novos sa-
época em que os modelos de avaliação contínua ganham forças nas beres.
escolas e nos livros de formação, avaliar o aluno conforme as teo- A informação procurada na avaliação se refere às representa-
rias da avaliação é incentivá-lo rumo ao processo de ensino apren- ções mentais do aluno e as estratégias utilizadas para chegar a um
dizagem, neste sentido abordaremos as avaliações: diagnóstica, determinado resultado. É através da avaliação formativa que o alu-
formativa e somativa, dentro de seus conceitos, como seus avanços no toma conhecimento dos seus erros e acertos e encontra estímu-
e a arma do aluno e do professor avançar em todas as etapas e, los para um estudo sistemático.
contudo para garantir a eficácia e eficiência do processo avaliativo. Ela permite ao professor detectar e identificar deficiências na
forma de ensinar, orientando-o na formulação do seu trabalho didá-
Avaliação Diagnóstica: tico, visando aperfeiçoá-lo. Desse modo o docente continuará seu
A avaliação diagnóstica é aquela que ao iniciar um curso ou um trabalho ou irá direcioná-lo, de modo que a maioria dos alunos al-
período letivo, dado a diversidade de saberes, o professor deve ve- cance. Desta maneira Freire (1989, p. 03) relaciona que:
rificar o conhecimento prévio dos alunos com a finalidade de cons- A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado
tatar os pré-requisitos necessários de conhecimentos ou habilida- do olhar. Olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É a
des imprescindíveis de que os educandos possuem para o preparo partir da hipótese do momento de educação que o outro está para
de novas aprendizagens. colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim
O diagnóstico deverá ser feito diariamente durante as aulas e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu pos-
com a retomada de objetivos não atingidos e a elaboração de dife- sa me ler. Essa observação vem informar ao professor e ao aluno so-
bre o rendimento da aprendizagem durante o desenvolvimento das
rentes estratégias de reforço (feedback), assim declara Sant?anna
atividades escolares. A avaliação que procede à ação de informação
(2009, p. 33):
e formação possui como objetivo ajustar o conteúdo programático
O diagnóstico se constitui por uma sondagem, projeção e re-
com as reais aprendizagens, por ser uma avaliação informativa e re-
trospecção da situação de desenvolvimento do aluno, dando-Ihe
guladora, justifica-se pelo fato de que, ao oferecer informação aos
elementos para verificar o que aprendeu e como aprendeu. É uma professores e alunos, permite que estes lêem suas ações. Assim o
etapa do processo educacional que tem por objetivo verificar em professor faz regulações, no âmbito do desenvolvimento das ações
que medidas os conhecimentos anteriores ocorreram e o que se faz pedagógicas, e o aluno conscientiza-se de suas dificuldades e busca
necessário planejar para selecionar dificuldades encontradas. novas estratégias de aprendizagens.
Este é um momento recíproco, em que o aluno e o professor Um dos pontos fundamentais para este processo é o diálogo,
de forma integrada reajustarão seus planos de ação, que poderá ele perpassa por uma proposta construtivista de ensino, garantindo
auxiliar o professor em outras avaliações. E tem como objetivo de- um processo de intervenção eficaz e uma relação de afetividade,
terminar a forma para qual o educador deverá encaminhar, através que passa contribuir para a construção do conhecimento. Perre-
do planejamento, sua ação educativa. noud (2002, p. 143) esboçou o seguinte pensamento:

94
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A aprendizagem é um processo complexo e caprichoso. Por ve- “donos” da verdade, acham que não erram e por este motivo não
zes, alimenta-se da interação, da comunicação, quando nada pode precisam ser avaliados. Os professores precisam se conscientizar
ocorrer na ausência de solicitações ou de feedback exteriores. Em que a avaliação será ótimo para seu rendimento como profissional,
outros momentos, são do silêncio e da tranqüilidade que o aluno como pessoa e será muito importante para escola e alunos.
necessita para reorganizar suas idéias e assimilar novos conheci- Se o professor avalia terá que dar oportunidades para que seu
mentos. aluno ou quem for necessário (colegas, diretores, coordenadores,
É preciso ressaltar que, numa avaliação formativa, professor e pais etc...) possam avaliá-lo, como diz Demo (1995, p. 34), “Se ava-
aluno precisam ter uma participação ativa, ela torna-se um meio ou lio não posso impedir que me avaliem, pois avaliar e ser avaliado
um instrumento de controle da qualidade objetivando um ensino fazem parte da mesma lógica. Quem foge da avaliação perde a
de excelência em todos os níveis de todos os cursos e estará a ser- oportunidade de avaliar”.
viço da qualidade educativa, dentre outros, cumprirem o seu papel São exatamente estas palavras de Demo (1994), que expres-
de promoção do ensino, o qual irá guiar os passos do educador. Ela sam os verdadeiros significados de “dar” e “receber”, pois quando
precisa possuir o caráter de contribuição para a formação do aluno o professor dá a nota, o aluno, também deve avaliar. Assim, todos
e, não apenas, classificar e medir a aprendizagem. receberão uma nota e isso poderá ser de grande importância para
ambos, servindo para mudar seu método se necessário ou para ver
Avaliação Somativa: onde é possível melhorar ou continuar, para alcançar os objetivos
A avaliação somática tem por função básica a classificação dos previstos.
alunos, sendo realizada ao final de um curso ou unidade de ensino, Não se pode e nem se deve, ter uma prática que só é válida
classificando o aluno de acordo com os níveis de aproveitamento para os alunos, isso não tem lógica. Os professores também devem
previamente estabelecidos: acesso como ingresso, por oferta de va- ser avaliados. Quando isso não acontece, impede-se o aluno de dar
sua opinião, expressar o que sente sobre a prática do professor e
gas no ensino público; acesso a outras séries e graus de ensino, por
ainda o reprime, pois ele tem opinião.
permanência de aluno em sala de aula, através de um processo de
Muitos ousam falar que quando se avalia o aluno é para ver
aprendizagem contínuo e que lhe possibilite, de fato, o acesso a ou-
se ele aprendeu, se assimilou, se cresceu. Então o ideal é que se os
tros níveis de saber ignorando a evasão escolar, portanto Hoffmann
educadores forem avaliados também terão a chance de melhorar e
(1993, p. 13), enfatiza que:
serem capazes de distinguir o significado de ser avaliado e não levar
É preciso saber que o acesso (a outros níveis) passa a ser obs-
isso para o lado pessoal, pois muitas vezes o aluno não tem nada
taculizado pela definição de critérios rígidos de aprovação ao final
contra seu modo de agir profissionalmente.
dessas séries, estabelecidos à revelia de uma análise séria sobre
Não se deve esquecer que às vezes é muito mais fácil avaliar,
seu significado e com uma variabilidade enorme de parâmetros por
que ser avaliado, pois quando avaliamos vimos apenas o fracasso e
parte dos educadores, entre eles os alfabetizadores. Pretendendo erros dos alunos e quando somos avaliados corremos o risco de ter
alertar, pois, que os professores são muitas vezes coniventes com que enxergar como somos frágeis em alguns aspectos e como às
uma política de elitização do ensino público e justificam-se através vezes, somos injustos e incoerentes com a própria prática.
de exigências necessárias à manutenção de um ensino de qualida- Ensina-se sempre o que é ser bom e ruim, justo e injusto, então
de. se deve usar isso na prática, pois desta forma mostra-se aos alunos
O que queremos enfatizar é que o professor não deixe de usar que todos têm os mesmos direitos e deveres, assim verão que não
instrumentos de testagem como provas, exercícios escritos, produ- há distinção entre educadores e educandos.
ção textual, trabalhos individuais, mas que estes sejam acompanha- Pois segundo Vasconcellos (1995, p. 78) “a avaliação deve atin-
dos pelo mediador com a intenção de observar e investigar sobre o gir todo o processo educacional e social, se quisermos efetivamen-
momento de aprendizagem em que o aluno se encontra, ou seja, te superar os problemas”. Para assim podermos mudar a realidade
problematizar as situações de modo a fazer o aluno ele próprio, educacional de nosso país e quando se fala atingir todo o processo,
construir o conhecimento sobre o tema abordado de acordo com deve valer de fato a todos os profissionais e não apenas alguns, para
o contexto histórico e social e político o qual está inserido, buscan- dessa forma haver uma melhoria na educação.
do a igualdade entre educador - educando, onde ambos aprendem,
trocam experiências e aprendizagens no processo educativo. Con- A avaliação escolar como fator preponderante para uma edu-
forme a idéia de Sant?anna (2009, p.36): cação de qualidade
Nossa opinião é de que não apenas os objetivos individuais de- Até o século XIX, o ensino ficava a cargo da família ou de pe-
viam servir de base, mas também o rendimento apresentado pelo quenos grupos, sendo que cada ensino de seu jeito. Depois a es-
grupo. Por exemplo, se em número x de questões a classe toda ou cola assumiu o papel de formalizar os conhecimentos, ampliá-los
uma porcentagem significativa de alunos não corresponde aos re- sistematizá-los comuns a todos, conforme a constituição federal de
sultados desejados, esta habilidade, atitude ou informação deveria 1988, no capítulo III, do artigo 205, rege que:
ser desconsiderada e retomada no novo planejamento, pois ficou A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,
constatado que a aprendizagem não ocorreu. será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
Concluímos que, a avaliação somativa deva se processar con- visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o
forme os parâmetros individuais e grupais, pois este processo, ob- exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Boa parte
jetiva melhorar a aprendizagem. da educação oferecida pela família foi deslegitimizada.
Agora a situação é diferente, a família antes afastada, está sen-
Avaliação como instrumento para analisar o processo do convocada a participar da escola, com isso possibilitando a famí-
Nos dias atuais, muitos professores ainda medem a capacidade lia a participar do que acontece dentro da escola. Hoffmann (2008,
do educando e não os qualificam, porém existe um problema que p.41 e 42) diz que:
desencadeia muitas inquietações para quase todos os professores, [...] a qualidade do ensino nas escolas não depende dos pais ou
uma vez que avaliam os alunos, mas não permitem que sejam ava- de sua “cobrança”, mas da atuação competente dos profissionais
liados. Talvez isso aconteça porque muitos educadores se acham os que ali atuam, somada à adequada infra-estrutura das instituições;

95
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
quaisquer reformulações pedagógicas devem ser decisões de pro- Essa operação com resultados da aprendizagem é o processo
fissionais da educação, embasadas em fundamentos teóricos con- de medir, que muito ainda se vê em sala de aula, sabemos que se
sistentes. torna um ato necessário por conta da sistematização do ensino bra-
Outro fator observado na fala de alguns professores, em reuni- sileiro que descreve no seu artigo 21, do capítulo V, do parágrafo 1
ões de pais, é a questão de notas referenciando o aluno A, B ou C, estabelece que; A unidade escolar deverá ainda, em seu regimento
com baixo ou péssimo rendimento escolar focando o aluno como estabelecer o conceito percentual ou nota mínima para a promoção
único culpado. É evidente que nós, educadores temos que comuni- do aluno.
car aos pais as notas do seu aluno, mas será que é só mostrar as no-
tas? É claro que os pais precisam entender o que seus filhos sabem O que se alerta, de fato, é quanto à prática avaliativa de ma-
e o que não sabem (se aprenderam ou não, o que foi ensinado na neira ainda tradicional, que vem com a intenção exclusivamente de
escola), e essa função está nas mãos do educador em explicar qual “verificar” ou “registrar” se o aluno aprendeu ou não aprendeu o
é a estratégia de ensino ou conteúdos atuais, a forma que ele (o que se pretendia. Luckesi (2005, p. 89), define está prática como
aluno) foi avaliado e como foi desenvolvido o conteúdo. Hoffmann ponto de partida:
(2008, p. 42) interpreta a ação do professor diante da sociedade: Importa-nos ter clareza que, no momento real da operação
“Nesse sentido, resgatar a credibilidade da sociedade quanto à com resultados da aprendizagem, o primeiro ato do professor tem
competência dos professores é uma das condições necessárias para sido, e necessita ser, a medida, porque é a partir dela, como pon-
qualquer avanço”. Sabemos que vários fatores influenciam o apro- to de partida, que se pode dar os passos seguintes da aferição da
veitamento do aluno, se a escola e a família buscam ações coorde- aprendizagem.
nadas, os problemas são enfrentados e resolvidos. Esses registros do passo a passo, servem para o professor pen-
O comportamento do aluno vem sendo motivo para muitos sar sobre as escolhas didáticas e perceber onde estão os nós do
professores, como fator principal do desrespeito com sua pessoa, próprio trabalho, tendo como base o diagnóstico sobre os pontos
embora não esteja ligado diretamente ao aprendizado, mas é vis- em que os alunos têm dificuldades e o que os faz avançar e pode-se
to e julgado como obstáculo da sala de aula por educadores, que pensar em modificações e intervenções necessárias.
chegam a dar nota ao comportamento de cada aluno, como forma
de punição. O planejamento diário é essencial para uma boa avaliação, pois
É neste contexto que o professor precisa conscientizar-se que sem ele torna-se impossível fazê-lo. Não há avaliação sem planeja-
a socialização também é um conteúdo escolar, especialmente nas mento e este deve ser anterior de toda ação e tão importante quan-
séries iniciais do Ensino Fundamental, porém precisa ser trabalhada to o encadeamento da seqüência é observar a evolução da classe
sem estigmatizar o aluno, avaliando diariamente, oferecendo estra-
e atentar para as adaptações que podem ser necessárias no meio
tégias de ensino com o objetivo de chamar a atenção do aluno.
do processo. Todos os passos de uma sequência didática devem ser
Tendo como objetivo, observar mudanças tanto no comporta-
complementares, e precisam propor um aumento gradual de difi-
mento como no desenvolvimento aos objetivos propostos. Neste
culdade, quando Vasconcellos (2008, p. 68), debate este procedi-
sentido faz-se importante refletir o que Hoffmann (2008, p. 55) es-
mentos usados por professores em sala de aula:
tabelece:
Alguns professores cobram “criatividade” na hora da avaliação,
Não tenho a pretensão de dizer que se conhece verdadeira-
quando todo o trabalho em sala de aula está baseado na repetição,
mente a pessoa do aluno apenas convivendo com ele algumas
na reprodução, na passividade, na aplicação mecânica de passos
horas semanais. Por vezes, um educador, por mais que tente, não
consegue conhecer os estudantes em um mês, em um semestre, que devem ser seguidos de acordo com modelos apresentados.
em um ano. O desenvolvimento, como processo de significação de Ora a criatividade é fundamental na formação do educando e do
mundo, é sempre dinâmico e, portanto, as reações individuais são cidadão, mas ela precisa de uma base material: ensino significativo,
inesperadas, inusitadas. Mas, conviver e sensibilizar é o compro- oportunidade e condições para participação e expressão das idéias
misso do educador, por um lado, e, por outro, a grande magia da e alternativas, compreensão crítica para o erro, pesquisa, diálogo.
tarefa. Pressupõe manter-se permanentemente atento a cada alu- (VASCONCELLOS 2008, p. 68)
no, olhando para traz e o agora, ou seja, procurando captar-lhe as Nesta direção, ensinar e garantir que os conhecimentos façam
experiências vividas para poder cuidar mais de quem precisa mais. um sentido amplo para todos os estudantes em sua vida e para
É normal que se tenha essa situação como desafiadora para a além da sala de aula, ou seja, para que possam efetivamente, cons-
escola e em especial ao professor. Como mediador ele pode recor- truir e promover uma educação de qualidade. Sabemos que, nin-
rer ao serviço pedagógico para auxiliá-lo no que for possível (é bom guém duvida que ensinar é o principal papel da escola, e o diálogo
lembrar que ele precisa usar estratégias durante a aula como forma faz parte dessa conquista.29
de chamar atenção, ou mesmo de envolver o educando durante o
processo). O serviço pedagógico é um recurso que ajuda o profes- O fracasso na alfabetização
sor caso suas tentativas tenham se esgotado. As causas para o fracasso escolar são inúmeras e muitas delas
Sabemos que os diferentes graus de desenvolvimento dentro já bastante conhecidas através de publicações de autores consagra-
de uma turma não podem servir de desculpa para que só alguns dos que se dedicam ao assunto. Este estudo visa fazer um apanhado
alunos aprendam. Acompanhar estudante é prever intervenções dessas causas, mas também ir um pouco além, procurando avaliar
personalizadas e atividades diferenciadas para que cada um ou to- as causas específicas do fracasso escolar de uma certa localidade.
dos possam avançar. A questão é que as razões para o fracasso escolar não são pou-
Segundo Luckesi (2005, p. 88 a 89) relata a respeito da avalia- cas e não estão isoladas umas das outras. Pode ser pelo aspecto pe-
ção escolar: dagógico, apropriado ou não à criança, pelas políticas educacionais
Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem que nem sempre tem a educação como meta principal, ou ainda
dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de ins- pela situação geral pela qual passa a economia do país, e como re-
trumentos que variam desde a simples e ingênua observação até os sultado, o ambiente onde vivem milhares de crianças, inadequados
sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios técnicos para o seu desenvolvimento e crescimento.
de elaboração e padronização.
29 Fonte: www.webartigos.com

96
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A escola conta com uma equipe que poderá estar atenta a pro- inúmeras crianças que não estão tendo sucesso, que fracassam em
blemas sociais dos alunos. O supervisor pedagógico tem a função seu aprendizado. Por vezes, essas crianças passam anos frequen-
de auxiliar o professor orientando-o em práticas pedagógicas que tando a escola, até que um dia desistem “entendem” que não tem
poderão superar o problema do fracasso escolar, e uma ação que “cabeça para o estudo”, é melhor fazer “um bico” e arranjar “um
pode ser significativa é manter contato com a família do ‘aluno-pro- trocado” para ajudar em casa.
blema’ na busca de entender o porque do ‘não aprender’. É funda-
mental no processo aprendizagem conhecer o aluno e sua origem Assim como o problema de crianças que fracassam na escola
para escolher a melhor forma de trabalhar com ele, neste sentido, não acontece apenas em sua escola, ele também não é problema
o educador propiciará excelentes oportunidades para elevar o ren- que surgiu somente agora, nos dias atuais. Pelo contrario um pro-
dimento escolar dos educando, elevando também o autoconceito blema cuja história se inicia com a própria história da escolarização
deste, tornando a aprendizagem mais agradável. pública. Com a institucionalização do ensino obrigatório, surgem,
Existem várias razões para o fracasso escolar, assim como exis- tanto histórias de sucesso de alguns, como história de fracasso de
tem várias razões para se desenvolver um trabalho neste sentido. muitos outros.
E um dos motivos, é a preocupação dos educadores em geral em Segundo GRIFFO (1996):
achar uma solução cabível para amenizar o problema do fracasso Débil, deficiente mental educável, anti intelectual, criança com
escolar. desvio de conduta, criança lenta, criança com repertorio comporta-
Sendo assim, foi desenvolvida essa pesquisa nas escolas da ci- mental limitado, criança com distúrbios de aprendizagem, carente
dade de Alto Rio Doce no intuito de investigar o que faz a escola linguístico, carente cultural, criança com pobreza vocabular, com
no sentido de amenizar o problema do fracasso escolar. O trabalho atraso de maturação, com distúrbio psicomotor, com problemas de
se justifica pela necessidade que se tem de entender quais são as socialização, hiperatividade, disléxica, portadora de necessidades
dificuldades encontradas pelos educadores em geral, em buscar a especiais (p.23).
inovação para auxiliá-los nas práticas pedagógicas, bem como pelo Esses são alguns nomes criados ao longos dos anos, segundo
fato de ser um tema muito polemico. Acredita-se ainda, que esse o autor acima, para identificar aqueles que fracassam na escola. É
estudo contribuirá com outros professores que se interessam pelo evidente que tais nomeações não surgem do acaso. Elas expressam
tema em questão. diferentes perspectivas de entendimento das causas do fracasso es-
Neste sentido, os estudos teóricos que se pretende realizar colar ao longo da história.
possibilitarão reunir um maior número de concepções teóricas e Ao longo do século passado, várias hipóteses causais foram
práticas para uma melhor compreensão do fenômeno, na busca de apresentadas como explicação para o fracasso escolar, dando ori-
entender as causas e possíveis intervenções para a solução do pro- gem à consolidação de cinco diferentes abordagens para a interpre-
blema. tação desse fenômeno: organicista, instrumental cognitiva, afetiva,
questionamento da escola e handicap sociocultural (Fijalkow, 1989).
Buscando explicações para o fracasso escolar. Essas abordagens organizam-se em torno de questões, hipó-
Uma das explicações dadas para o fracasso escolar no Brasil teses explicativas, metodologias de pesquisa que orientam os pro-
é que a democratização do acesso à escola, ocorrida a partir dos fissionais de diversas áreas – médicos, professores, supervisores,
anos 70 do século passado, levou a escola a lidar com crianças que psicólogos, etc. – em seu processo de estudo e intervenção junto a
teriam, em razão de suas condições de vida, sérias deficiências cul- crianças com problemas de aprendizagem. Apresentamos, a seguir,
turais e linguísticas que acarretariam dificuldades de aprendizagem. uma breve caracterização de cada uma dessas abordagens.
Teriam problemas de indisciplina e não valorizariam a escola. Sua
linguagem oral seria muito distante da língua escrita. Em seu am- A primeira teorização sobre as dificuldades de aprendizagem,
biente familiar, não vivenciaram usos da escrita nem um ambiente surgiu na França, no final do século XIX, ficou conhecida como Abor-
que as valorizasse e motivasse seu aprendizado. dagem Organicista (Fijalkow, 1989), por investigar as causas do fra-
De fato, os dados estatísticos (SAEB) mostram que o fracasso casso escolar levantando hipóteses sobre os possíveis distúrbios e
tende a se concentrar nas crianças oriundas de meios menos favo- doenças neurológicas do aluno. As pesquisas realizadas nessa linha
recidos. No entanto, diferentes estudos mostram também que, ao de investigação promoveram uma verdadeira classificação médica
contrário do que em geral se afirma, essas crianças possuem um dos problemas de aprendizagem.
adequado desenvolvimento cultural e linguístico e que á a escola Nos dias de hoje, quando se encaminha um aluno para uma
que apresenta sérias dificuldades para lidar com a diversidade cul- avaliação neurológica, buscando apoio na contribuição da medicina
tural, linguística e mesmo étnica da população brasileira. para a compreensão das dificuldades de aprendizagem, o resultado
Esse trabalho tematiza justamente o fracasso escolar de crian- do diagnostico aponta, geralmente, como causa do problema es-
ças de meio menos favorecidos. Seus principais objetivos são: discu- colar o quadro de dislexia, disfunção cerebral mínima ou hiperati-
tir as diferentes explicações para esse fracasso; mostrar que, mes- vidade.
mo experimentando difíceis condições de existência, essas crianças Várias críticas são apresentadas, atualmente, a essa abordagem
apresentam um adequado desenvolvimento cultural e linguístico. do fracasso escolar e das dificuldades de aprendizagem. A aborda-
gem organicista é sempre citada como a grande responsável pela
Reflexão sobre diferentes explicações para o fracasso escolar medicalização generalizada do fracasso escolar, pois o tratamento
Possivelmente, você já deparou em sua escola, em sala de aula proposto para sanar as dificuldades de aprendizagem da criança é
com crianças que apresentas problemas de aprendizagem, parti- o uso de remédios psiquiátricos. Uma das conseqüências mais in-
cularmente na aquisição da leitura e da escrita. Com certeza essas desejadas da utilização dessa abordagem é a identificação do aluno
crianças não são os únicos casos de “crianças problemas” existentes como alguém que possui uma falha orgânica, ou seja, um déficit
por aí: as crianças que estão diante de nós – não estão sozinhas… neurológico. Ao se empregar termos como dislexia, hiperatividade
na minha escola, na sua escola, na escola vizinha, naquela escola da e disfunção cerebral mínima, tende-se a ver o aluno como o único
outra cidade e ainda na escola vizinha dessa escola – encontramos responsável pelo seu próprio fracasso.

97
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Segundo VIDAL (1990; CYPEL, 1993) A abordagem denominado Handicap sociocultural identifica
A facilidade com que esse diagnostico é utilizado nas escola cria no meio sociofamiliar a origem do fracasso das crianças na escola.
um quadro de encaminhamento para atendimento médico e pres- Adeptos dessa abordagem consideram a bagagem sociocultural dos
crição de medicamentos, levando à biologização de um fenômeno alunos e de seus familiares um fator decisivo, tendo em vista que a
da esfera escolar, produzindo gerações que acabam por se tornar maioria dos alunos que fracassam na escola é oriunda das camadas
conhecidas como “geração gardenal” (p.43). populares. Um argumento central na articulação dessa abordagem
Como consequência, limita-se, assim, o campo de investiga- é que essas crianças apresentam uma linguagem deficitária o que,
ções do fracasso escolar, uma vez que outros fatores intervenientes em consequência, implicaria em déficit cognitivo. Segundo Soares
na produção desse fenômeno são desconsiderados. (1987), teorias do déficit cultural, linguístico e cognitivo ocultam a
A segunda abordagem do fenômeno do fracasso escolar sur- verdadeira causa da discriminação das crianças das camadas popu-
giu do desenvolvimento de pesquisas no campo da psicologia cog- lares na escola – a desigual distribuição de riqueza numa sociedade
nitiva. Trata-se de uma abordagem instrumental cognitiva, assim capitalista – e terminam por responsabilizar as crianças e suas fa-
designada por buscar as causa das dificuldades de aprendizagem mílias por suas dificuldades e isentar de responsabilidade a escola
em possíveis disfunções relativas a um dos quatro processos psi- e a sociedade.
cológicos fundamentais: a percepção, a memória, a linguagem e o De acordo com SENA (1999),
pensamento. …apenas do número significativo de pesquisas comprovando
Segundo SENA (1999), o caráter ideológico do discurso que fundamenta essa abordagem,
…o diagnóstico realizado utiliza-se basicamente do processo de ainda hoje podemos constatar como seus pressupostos estão pre-
investigação diferencial (comparando um grupo considerado nor- sentes e influenciam fortemente a opinião dos profissionais da edu-
mal a outro considerado atrasado) e busca identificar os seguintes cação” sobre possíveis causas do fracasso escolar (p.64).
sintomas de lateralização, o desenvolvimento inadequado da lin-
guagem, os transtornos perceptivos visuais e auditivos, os déficits Elementos para o questionamento de teorias do déficit.
de atenção seletiva, os problemas de memória (p.62). A breve caracterização das diferentes abordagens do fracasso
Mas Fijalkow (1989), Nunes, Buarque e Bryant (1992) analisam escolar apresentada, permite constatar, que os fracassados são si-
um grande conjunto de pesquisas desenvolvidas a partir dessa pers- tuados em uma mera posição de objeto do conhecimento, marca-
pectiva e apontam alguns problemas que precisam ser considera- dos por um processo diagnóstico que, embora oscile entre ofere-
dos aos interpretar os resultados das mesmas. Um desses proble- cer como explicação causal do fracasso escolar ora uma disfunção
mas diz respeito, por exemplo, a não neutralidade e objetividade neurológica ora cognitiva, ora um transtorno afetivo, ora problemas
das situações de teste a que as crianças são submetidas, a dificul- linguísticos, não vacila em apontar esses sujeitos como deficitários.
dade de se isolar variáveis para que essas possam ser testadas in- Um mito se faz especialmente presente na escola em relação às
dependentemente uma das outras. Além disso, deve-se considerar
crianças das camadas populares: o mito da existência de um déficit
que a abordagem cognitivista, como a organicista, procura causas
linguístico e cultural por parte dessas crianças e de seus familiares.
do fracasso das crianças apenas em suas características individuais,
SOARES (1987) explica que o mito da deficiência linguística e
desconsiderando possibilidades explicativas em outras esferas.
cultural baseia-se na suposição de que:
A abordagem afetiva caracteriza-se por privilegiar como expli-
…as crianças das camadas populares chegam à escola com
cação causal do fracasso escolar os transtornos afetivos da persona-
uma linguagem deficiente, que as impede de obter sucesso nas
lidade. Partidários dessa abordagem defendem que a ideia de que
atividades e aprendizagem: sua linguagem é pobre – não sabem
as causas das dificuldades de aprendizagem devem ser buscadas em
o nome dos objetos comuns; usam frases incompletas, curtas, mo-
perturbações no estado socioafetivo da criança e não em supostos
nossilábicas; sua sintaxe é confusa e inadequada à expressão do
problemas neurológicos ou cognitivos. Nessa perspectiva, o atraso
do aluno é uma manifestação de suas dificuldades originadas de pensamento lógico; cometem ‘erros’de concordância, de regência,
algum conflito emocional (consciente ou inconsciente), cuja origem de pronúncia; comunicam-se muito através de recursos não verbais
encontra-se na dinâmica familiar. Por meio da utilização do méto- do que de que recursos verbais. Em síntese são crianças deficitárias
do clínico, propõe-se, primeiro investigar se a dificuldade é de fato linguisticamente (p.20).
um problema de ordem pedagógica ou psicológica, para, posterior- Essa suposta deficiência linguística seria atribuída à ‘pobreza’
mente, buscar compreender porque uma determinada criança ele- do contexto linguístico familiar em que vive a criança. Adeptos des-
ge um determinado sintoma e não outro como expressão de suas sa abordagem associam a essa visão de um contexto familiar defi-
dificuldades emocionais. Uma das críticas feitas a essa abordagem ciente linguística e culturalmente a ideia de que os familiares dessas
decorre do fato de que essa acaba por dar subsídios para que se crianças (seus pais ou responsáveis) não demonstrariam interesse
responsabilize a criança e sua família por dificuldades que surgem por seu desenvolvimento escolar e não se empenhariam em dar
na esfera escolar, transferindo para fora da escola – para as famílias, suporte para que elas tenham condições de aprender na escola.
para as clinicas – a busca de soluções para os problemas da criança. Diversas pesquisas, desenvolvidas a partir dos anos 70 do sécu-
A abordagem denominada questionamento da escola reúne lo passado, fornecem elementos para se refutar a hipótese do dé-
estudos que investigam diferentes fatores escolares como inter- ficit como causal do fracasso escolar. O trabalho de Labov (Soares,
venientes na produção do fracasso dos alunos. Entre esses desta- 1987) por exemplo, forneceu elementos para que o questionamen-
cam-se, por exemplo, a inadequação dos métodos pedagógicos, to das situações de teste a crianças negras, moradores de guetos
as dificuldades na relação professor-aluno, a precária formação do em grandes cidades americanas eram submetidas. Segundo ele, a
professor, a falta de infraestrutura das escolas da rede pública de artificialidade, diferença de classes do entrevistador e dos entre-
ensino. vistados comprometeria o desempenho dessas crianças, levando-
Segundo Sena (1999: p. 35) “deslocando a questão do aluno -as a se mostrarem desarticuladas e monossilábicas nas situações
que não aprende para a escola que não ensina”., seguidores dessa de entrevista. A análise da produção linguística dessas crianças em
abordagem propõem modificações na estrutura e organização da interação com seus pares ou em entrevistas feitas por pessoas do
escola, afim de que essa instituição cumpra seu papel social. seu próprio grupo social revelou que essas crianças possuíam uma

98
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
gramática sistemática, coerente e lógica. Segundo Soares, Labov sa de saúde. Ignora-se o fato de que estas estudam em escolas de
adotaria uma posição contrária às dos partidários da teoria do dé- periferia, onde se concentram todos os vícios e distorções do siste-
ficit linguístico. Para ele, crianças das camadas populares “narram, ma social e, especificamente, do educacional, e tenta-se encontrar
raciocinam e discutem com muito mais eficiência que os falantes nestas crianças, causas orgânicas, inerentes a elas, que justifique o
pertencentes às classes mais favorecidas, que contemporizam, qua- seu mau rendimento.
lificam, perdem-se num excesso de detalhes irrelevantes” (Soares, Quais são as crianças desnutridas que estão hoje frequentan-
1987, p.47). do nossas escolas? São aquelas portadoras de desnutrição leve, a
Segundo estudos sobre a relação entre linguagem, cultura e chamada pelos especialistas de desnutrição de primeiro grau. Não
escolarização, alguns levam em conta a existência de diferenças lin- estamos aqui afirmando que este tipo de desnutrição não tem im-
guísticas e cultural entre crianças das camadas populares, minorias portância, ela a tem tanto que constantemente é apontada como
étnicas e crianças das camadas economicamente favorecidas da po- forte indicador da situação de penúria e miséria em que vive grande
pulação, o fato da escola não estar preparada para lidar com essas segmento de nossa população.
diferenças seria um dos principais fatores que contribuem para a Entretanto, o que estamos querendo enfatizar é que este grau
produção do fracasso escolar. de desnutrição [leve] não afeta o desenvolvimento do sistema ner-
Estudos de Fijalkow (1989) apresentam evidências contrárias à voso central, não o lesa irreversivelmente e, portanto, não torna a
ideia de que existe desinteresse por parte dos familiares das crian- criança deficiente mental, incapaz de aprender o que a escola tem
ças das camadas populares em relação à sua carreira escolar, pois a lhe ensinar.
para essas famílias o sucesso na escola representaria a possibilida- A criança p
de de um futuro melhor para seus filhos. ortadora de desnutrição leve apenas sacrifica o seu crescimen-
Estudos desenvolvidos por Griffo (1996) e Costa (1993) de- to físico para manter o seu metabolismo. Exames clínico e laborato-
rial indicam que a criança é normal, com exceção de um déficit de
monstram o empenho dos familiares em contribuir para a reversão
peso e estatura em relação à sua idade.
da situação de fracasso em que seus filhos se encontravam. Cas-
É necessário que desmistifiquemos as ´famosas´ causas exter-
tanheira (1991) apresenta análise de como crianças das camadas
nas desse fracasso escolar, pela articulação àquelas existentes no
populares, moradores de um bairro da periferia de Belo Horizon-
próprio âmbito escolar, e que tenhamos clareza dos fatores que as
te, eram preparados para o ingresso na 1ª série por seus pais ou determinam e as articulam.
por seus irmãos mais velhos. As interações dessas crianças com a
escrita criavam oportunidades de um contato cotidiano com esse Analisando as causas do fracasso escolar na localidade pes-
objeto de conhecimento, fosse em brincadeiras de ruas, aulinhas quisada
com os amigos ou atividades orientadas por seus pais ou irmãos O drama do insucesso escolar é relativamente recente. É a
mais velhos. Essas experiências com a escrita preparavam essas partir dos anos sessenta que encontramos as suas primeiras ma-
crianças para o seu ingresso na escola em melhores condições para nifestações. Foi então que se começou a exigir que as escolas, por
a aquisição da leitura e da escrita. Em muitos casos, ao preparo e razões econômicas e igualitárias, encontrassem formas de garantir
envolvimento da criança com a escrita antes do ingresso na escola o sucesso escolar de todos os seus alunos. O que era atribuído até
de 1° grau não se seguiria uma continuidade do ensino de forma então ao foro individual, tornou-se subitamente um problema insu-
adequada dentro da instituição. portável sob o ponto de vista social. A preguiça, a falta de capacida-
Essas formas de suporte variam de família para família e in- de ou interesse, deixou de ser aceitas como explicação para o aban-
cluem desde a preocupação em garantir que se tenham livros de re- dono todos os anos de milhares e milhares de crianças e jovens do
ferência para consulta na hora dos estudos em casa, como atitudes sistema educativo. A culpa do seu insucesso escolar passou a ser
persuasivas como conversas ou castigos. Os dados nos levam á con- assumida como um fracasso de toda a comunidade escolar. O sis-
clusão de que não existe uma relação causal direta entre o sucesso tema não fora a capaz de os motivar, reter, fazer com que tivessem
escolar e empenho das famílias em acompanhar os filhos em suas êxito. O desafio tornou-se tremendo, já que todos os casos indivi-
atividades escolares. Observa-se que em alguns casos a intervenção duais se transformaram em problemas sociais. A escola secundária
familiar, embora positiva, tem efeito limitado sobre a aprendizagem era a menos preparada para a mudança. Durante séculos assumi-
do aluno, como, por exemplo, quando se garante a posse de livros ra como sua vocação hierarquizar os alunos de acordo com o seu
de referência, mas esses não são efetivamente utilizados pelos rendimento escolar, selecionando os mais aptos e excluindo os que
adultos da família. Além disso, demonstrou-se que as diferentes ati- não fossem capazes de acompanhar as exigências que ela mesma
tudes tomadas pelas famílias não são valorizadas da mesma forma impunha. A sua nova missão era agora igualizar todos no sucesso
nas diversas escolas onde esses alunos são atendidos. educativo, garantindo 0% de negativas. Este era o novo padrão que
permitia aferir o sucesso de cada escola.
É em grande parte por esta razão que hoje principal problema
Analisando o fracasso escolar
educativo é o de identificar as manifestações e as causas do insu-
Este trabalho busca fundamentação teórica que mostra e justi-
cesso escolar. A listagem destas não pára de aumentar à medida
fica muitas razões para o fracasso escolar, mas fica ressalvado que,
que prosseguem os estudos.
muitas das constatações citadas foram feitas numa localidade, em-
bora não sejam necessariamente demonstráveis através de núme- Manifestações
ros e dados estatísticos. As manifestações de insucesso escolar são múltiplas, mas três
É nas tramas do fazer e do viver o pedagógico quotidianamente delas são particularmente referidas pela possibilidade que ofere-
nas escolas, que se pode perceber as reais razões do fracasso es- cem de se poder medir a própria eficácia do sistema educativo:
colar das crianças advindas dos meios sócio culturais mais pobres. -Abandono da escola antes do fim do ensino obrigatório;
No desenrolar de nossa pesquisa de campo, o que temos ouvi- – As reprovações sucessivas que dão lugar a grandes desníveis
do e observado nas escolas visitadas reforça a afirmação (…) de que entre a idade cronológica do aluno e o nível escolar; Os níveis de
se imputa o fracasso dessas crianças, oriundas das classes trabalha- fracasso que podem ser totais (em todas as disciplinas ou quase) ou
doras, à desnutrição, às verminoses, enfim, a uma condição adver- parciais (numa ou duas disciplinas).

99
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
– A passagem dos alunos para tipos de ensino menos exigen- d) Os valores culturais destas famílias são, segundo alguns soci-
tes, que conduzem a aprendizagens profissionais imediatas, mas os ólogos, opostos aos que a escola propõe e supõe (mérito individual,
afasta do ingresso no ensino superior. espírito de competição, etc). Perante este confronto de valores, os
alunos que são oriundos destas famílias estão por isso pior prepara-
Causas dos para os partilharem. O resultado é não se identificarem com a
É na listagem das causas onde aparecem naturalmente as escola. Nesta linha de idéias, Holligshead, afirmou que os mais des-
maiores controversas, o que se compreende já que a sua própria favorecidos norteam-se por objetivos a curto prazo (o presente), o
realização pressupõe que se identifiquem também os seus respon- que estaria em contradição com os objetivos visados pela educação
sáveis. Neste ponto ninguém se acha inteiramente culpado, o que (a longo prazo). Esta diferença de objetivos (e valores) acaba por os
em certo sentido é mesmo verdade. A grande dificuldade destas conduzir a um menor investimento escolar.
análises, como veremos, reside na impossibilidade de se isolar as – A demissão dos pais da educação dos filhos, é hoje uma das
causas que são determinantes em todo o processo. causas mais referidas. Envolvidos por inúmeras solicitações quoti-
dianos, muitas vezes nem tempo tem para si próprios, quanto mais
Alunos para dedicarem à educação dos filhos. Quando se dirigem às mes-
-Atrasos do desenvolvimento cognitivo. As escalas psicomé- mas, raramente é para colaborarem, quase colocam-se na atitude
tricas de inteligência tem sido apontadas como um bom indicador de meros compradores de serviços, exigindo eficiência e poucos in-
para identificar estas causas individuais de insucesso escolar. O pro- cômodos na sua prestação.
blema é que a grande maioria dos alunos que falham nos resulta-
dos escolares, tem um desenvolvimento normal. Há que não abusar Professores
desta explicação… – Métodos de ensino, recursos didáticos, técnicas de comuni-
-A instabilidade característica na adolescência, consta entre as cação inadequadas às características da turma ou de cada aluno,
muitas causas individuais do insucesso. Ela conduz muitas vezes o fazem parte igualmente de um vasto leque de causas que podem
aluno a rejeitar a escola, a desinvestir no estudo das matérias, e conduzir a uma deficiente relação pedagógica e influência negativa-
frequentemente à indisciplina. mente os resultados.
– A gestão da disciplina na sala de aula, é outro fator que con-
Famílias diciona bastante o rendimento escolar dos alunos. Mas estamos
– Pais autoritários, conflitos familiares, divórcios litigiosos, fa- longe de poder afirmar que uma aula completamente disciplinada,
zem parte de um extenso rol de causas que podem levar a que o seja aquela onde o insucesso escolar desapareça.
aluno se sinta rejeitado, e comece a desinteressar-se pelo seu per- – Os professores no início do ano criam expectativas positivas
curso escolar, adaptando um comportamento indisciplinado. ou negativas sobre os alunos que acabam por influenciar o seu de-
sempenho escolar. Embora não sejam os professores a inventar
-O ciúme e a vingança dos pais contribuem também para fa-
os bons e os maus alunos, as investigações de Rosenthal e Jacob-
zer estragos nos resultados escolares dos alunos. Muitas vezes com
son, demonstraram que os preconceitos destes são muitas vezes
medo que os filhos lhes deixem de manifestar afeto, trocando-os
inconscientes, prejudicando muitas vezes os alunos sem que os
pela escola ou os professores, adotam atitudes que contribuem
professores se apercebam. Uma coisa parece certa, os alunos de
para os afastar dos estudos. Outras vezes, fazem-no para se vinga-
baixa expectativa são mais prejudicados do que são favorecidos,
rem de não lhes terem sido proporcionado também na infância as
os altamente expectados. Ora, acontece que os alunos de estatuto
mesmas oportunidades.
sócio-cultural mais baixo são os mais negativamente considerados,
-A origem social dos alunos tem sido a causa mais usada para
tornando-se as principais vítimas das expectativas negativas ou bai-
justificar os piores resultados, sobretudo quando são obtidos por xas. Os alunos mais baixamente expectados são em geral mais mal
alunos originários de famílias de baixos recursos econômicos, onde, tratados pelos professores .
aliás, se encontra a maior percentagem de insucessos escolares. – Existe na cabeça da maioria dos professores, um padrão de
Os sociólogos construíram a partir desta relação causa-efeito uma avaliação que tende a coincidir com uma curva normal. Assim, na
verdadeira panóplia, determinantes sociais que permitem explicar avaliação que produzem, partem em geral do pressuposto que ape-
quase tudo: nas alguns são bons, a maioria são médios, e proporcionalmente ao
a) Nas famílias desfavorecidas, por exemplo, os pais tendem número dos primeiros, existem uns quantos que são mesmo maus
a ser mais autoritários, desenvolvendo nos filhos normas rígidas e tem que ser eliminados.
de obediência sem discussão. Ora, quando estes chegam á adoles- – A avaliação, conforme demonstram inúmeros estudos nunca
cência revelam-se pior preparados para enfrentarem as crises de é absoluta, pelo contrário varia em função de uma multiplicidade
identidade-identificação, na afirmação da sua independência. A sua de fatores. As modas pedagógicas, o contexto escolar, os métodos
instabilidade emocional torna-se mais profunda, traduzindo a au- de avaliação, as disciplinas, os professores, os critérios utilizados, o
sência de modelos e valores estáveis, levando-os a não investir na modo como estes são interpretados, etc. Em resumo: a avaliação dá
escola; também um forte contributo para o insucesso escolar.
b) Os alunos oriundos destas famílias raramente são motivados – A dificuldade dos professores em lidarem com fenômenos
pelos pais para prosseguirem os seus estudos; pelo contrário, ao de transferência, conduz por vezes a situações com graves reflexos
mais pequeno insucesso, estes colocam logo a questão da saída da no aproveitamento dos alunos. O docente ao ser identificado com
escola, o que explica as mais elevadas taxas de abandono por parte o pai (mãe) que o aluno se deseja afastar, torna-se alvo contra o
destes alunos; qual o aluno dirige toda a sua agressividade, gerando deste modo
c) A linguagem que estes alunos são obrigados a utilizar nos permanentes conflitos na sala de aula, conduzindo-o ao insucesso.
níveis mais elevados de ensino, sendo cada vez mais afastada da – À crescente feminização do ensino são igualmente atribuídas
que utilizavam no seu meio familiar, aumenta-lhes progressivamen- culpas pelo insucesso. As professoras, conforme apontam alguns
te as suas dificuldades de compreensão e integração, levando-os estudos, parecem ter uma maior preferência pelas raparigas, o que
a desinteressarem-se pela escola. Para prosseguirem nos estudos poderá explicar o melhor aproveitamento destas face ao consegui-
são obrigados a renunciarem à linguagem utilizada no seio familiar. do pelos rapazes, os mais penalizados.

100
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Escolas A partir deste modelo, começaram a ser construído outro, en-
A organização escolar pode contribuir de diferentes formas tendido como mais adequados para explicarem a diversidade das
para o insucesso dos alunos. Frequentemente esquece-se esta di- realidades escolares. Hoje temos modelos para todos as perspecti-
mensão do problema, vejamos alguns casos típicos. vas ideológicas:.
– O estilo de liderança do diretor, presidente do conselho exe- a) Na Escola Cívica, onde tudo está subordinado aos diplomas
cutivo, etc. A questão não é displicente, nem mesmo nas nossas oficiais, não há lugar para as diferenças individuais, muito menos
escolas burocratizadas e muito dependentes do Ministério. Todos para a inovação pedagógica, o que conta são os regulamentos, as
conhecemos diretores ou presidentes que quase sempre convive- ordens dimanadas do Estado. Nesta escola, os que podem ter êxito
ram com excelentes resultados nas escolas por onde passaram, e são os mais obedientes, dóceis, ou seja, os que continuamente se
outros que parecem atrair problemas ou maus resultados coletivos. anulam a si mesmos, na sua individualidade e nas suas aspirações.
– Expectativas baixas dos professores e dos alunos em relação b) Na Escola Doméstica, o estatuto de cada um depende da
à escola. Nas escolas onde isto acontece os resultados tenderão a sua posição numa hierarquia definida por uma rede de dependên-
confirmar o que todos afinal estão à espera. cias pessoais. Os laços pessoais, a importância relativa do grupo de
– Clima de irresponsabilidade e de falta de trabalho. Os exem- pertença, a antiguidade no território, estes são os únicos dados que
plos abundam para que esta afirmação careça de grandes justifica- contam para se ter êxito ou não.
ções. c) Na Escola Industrial e de Mercado levam-se a sério os gran-
des desafios da atual sociedade, privilegiando-se valores como
– Objetivos não partilhados. Se só alguns conhecem os objeti- “competência”, “especialização” e “capacidade de inovação”. Esta-
vos prosseguidos pela escola, ninguém se pode identificar com ela. mos perante uma escola tecnocrática, apostada em responder de
Não tarda que alguns se sintam como corpos estranhos, contribuin- forma adequada às crescentes exigências do mercado. Os menos
do para a sua desagregação enquanto organização, provocando a aptos, ou os que possuem ritmos de aprendizagem mais lentos são
desmotivação generalizada. naturalmente sacrificados em nome das exigências impostas pela
– Falta de Avaliação. Ninguém sabe o que anda a fazer, numa competitividade.
organização que sistematicamente não avaliam os seus resultados d) A Escola Narcísica está sobretudo interessada na imagem de
em função dos objetivos que definiu, e muito menos se não procura si a partir do reflexo que produz nos outros. Trata-se de uma escola
identificar as causas dos seus problemas. O clima de irresponsabili- construída a partir da produção de uma imagem de marca (“facha-
dade não tarda a instalar-se e com ele os maus resultados. da”), onde tudo é feito em função deste objetivo mobilizador. Os re-
– A deficiente orientação vocacional que muitos alunos reve- sultados concretos do ensino são claramente subalternizados, por
lam no ensina pós-obrigatório, é agravada pela ausência nas esco- um discurso retórico de autossatisfação.
las de serviços de informação e orientação adequados. Quem pode Em todas as culturas, uns são beneficiados, outros são condu-
negar a pertinência desta causa?
zidos para o fracasso.
– O elevado número de alunos por escola e turma, tende igual-
mente não apenas a provocar o aumento dos conflitos, mas sobre-
Currículos
tudo a diminuir o rendimento individual.
– Defasagem no currículo escolar dos alunos. Os alunos ingres-
– A organização de turmas demasiado heterogêneas, não ape-
sam em novos ciclos, sem que possuam os pré-requisitos necessá-
nas dificulta a gestão da aula pelo professor, mas também a sua co-
rios. Não há documento sobre a avaliação curricular que não tenha
esão do grupo, traduzindo-se no incremento de conflitos internos.
uma referência crítica esta questão.
Tudo somado tem mais uma causa para o insucesso.
– Currículos demasiado extensos que não permitem que os
– O clima escolar, isto é, a qualidade do meio interno que se
professores utilizem metodologias ativas, onde os alunos tenham o
vive numa organização, é consensual que influência bastante o
comportamento dos seus membros contribuindo para o seu suces- lugar central. A necessidade de cumprir os programas inviabiliza a
so ou fracasso. O problema é que o clima escolar resulta de uma adoção de estratégias mais ativas, mas sobretudo retira tempo ao
enorme variedade de fatores, sobretudo dos que são de natureza professor para ultrapassar as dificuldades individuais de aprendiza-
imaterial como as atitudes, esperanças, valores, preconceitos dos gem que constata nos alunos.
professores e alunos, o tipo de gestão etc, e não tanto do ambiente – Desarticulação dos programas. Esta situação faz, por exem-
físico (instalações, localização da escola, etc). O problema é identi- plo, com que os alunos repitam os mesmos conteúdos, de modo
ficar quais são as causas determinantes para um mau clima escolar. diverso e incoerente ao longo dos anos e das disciplinas, levando-os
Uma coisa é certa, os alunos que trabalham num bom clima tendem a desinteressarem-se pelas matérias, e a sentirem-se confusos. O
a obter melhores resultados que os restantes. rosário de queixas é conhecido.
– As culturas organizacionais, sucedâneas no plano teórico do – As elevadas cargas horárias semanais ocupadas pelos alunos
conceito de clima escolar, têm obviamente as suas cotas parte no em atividades letivas, mais tradicionais, são desde há muito con-
insucesso escolar. O problema é que desde os anos 60 que não pa- sideradas excessivas. Os alunos tem pouco tempo para outras ati-
ram de se identificar novos tipos de culturas escolares. vidades de afirmação da sua individualidade, desenvolvimento de
hábitos de convivência, participação em ações coletivas em prol da
No início apenas se diferenciou a culturas das escolas urbanas comunidade, etc.,etc. O resultado é sentirem-se num escola-prisão,
(antigas) e das suburbanas (recentes). Concluiu-se então que nas sem qualquer relação com os seus interesses.
primeiras a questão da disciplina sobrepunha-se à preocupação
com os resultados. As relações professor-aluno eram marcadas pela Sistema Educativo
dureza, formalismo, etc. Nas segundas, talvez porque as instalações – Neste nível as causas apontadas são igualmente inúmeras, a
são mais recentes, e o corpo docente mais novo, respirava-se um começar pela pouca diversidade das ofertas formativas nos níveis
certo ar de descontração, o que conduzia a que os resultados es- terminais do sistema, em particular no secundário. Outras vezes,
colares fossem postos em primeiro lugar face aos problemas disci- quando existem, estão desarticuladas, por exemplo, das necessi-
plinares. dades do mercado de trabalho. O resultado final acaba por ser o

101
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
seguinte: ainda que o aluno tenha tido êxito no seu percurso es- No dizer do autor, as perguntas acima são bastante simplórias,
colar, por desajustamento de competências está depois voltado ao mas servem para chamar atenção para o fato de que nem todos
fracasso, na sua transição para a vida ativa. estão prontos para aprender qualquer coisa em todos os momen-
– A elevada centralização do sistema de educativo, não ape- tos. Segundo ele, há um determinado pré-requisito que precisa ser
nas torna a capacidade de resposta (adaptação) muito lenta, como preenchido, que é a maturação.
fomenta a irresponsabilidade ou a burocracia, ao nível local (as es- Devemos sempre estar atentos a real condição do educador e
colas). do educando. O professor, como representante do papel que lhe
é socialmente atribuído, ou seja, ensinar, depara-se com vários di-
Sociedade lemas seus que se misturam com o papel da profissão que ocupa.
Ninguém tem dúvidas em concordar que a atual sociedade as- Os professores assumem, além de ensinar, a disciplina e em tornar
senta num conjunto de valores que desencorajam o estudo e pro- uniforme o que é diferente, produzindo assim, via educação, os pri-
movem o insucesso escolar. Diversão, Individualismo e Consumis- vilégios e os sofrimentos.
mo, três valores essenciais na sociedade atual, são em tudo opostos Sempre que a escola falha na assistência e na formação do
ao que a escola significa: atitudes refletida, procura incessante do aluno quebra-se um elo no ritmo natural de um desenvolvimento
saber e de valores perenes, , etc. potencial de conquistas, estabelecendo a desordem. Desordem que
Embora estejam todas relacionadas entre si, sendo causas e pode levar a vida do aluno ao caos e que se reflete na desestrutura-
efeitos uma das outras, as razões para o fracasso escolar podem, ção da sociedade. Sempre que a escola desvirtua seu papel primor-
para efeito didático, serem classificadas ou agrupadas entre aque- dial, desencadeia-se um mecanismo automático de ressonância,
las que estão relacionadas ao próprio indivíduo, ou aluno, como que passa a repercutir na ordem social de uma cidade, de um país,
problemas físicos ou psicológicos; as causas que estão relacionadas do mundo.
á escola, como a qualidade de ensino entre outras; causas que es- Na criança problema nos dias de hoje não se faz igualdade so-
tão relacionadas à comunidade localizada, como o próprio ambien- cial, se faz justiça social, pois não é todo mundo igual e devem-se
te comunitário no que diz respeito às condições de higiene e saúde, reconhecer essas diferenças, mas a escola nivela todos como iguais
qualidade de vida e, ultimamente, ao elevado nível de violência; e, e não se adequa com a origem social de cada um. Dentro da escola
finalmente, as caudas pertencentes ao ambiente maior, que são as quem pode mais tem menos fracasso escolar. Mesmo uma crian-
condições gerais econômicas e políticas do país. ça oriunda de carências afetivas, herdadas por uma infância difícil
Quase sempre se ‘condena’ o fracasso escolar, centrando-se pode haver ainda a capacidade de recuperação ou adaptação às
imediatamente, e quase que exclusivamente no aluno, elegendo-o más condições de vida, se observadas as necessidades e oportu-
como o principal responsável pelo seu próprio fracasso. nizar mudanças para que ele mesmo alcance suas necessidades.30
O primeiro a se culpar é o próprio aluno. Não é raro vermos
estudantes julgando-os incapazes, ou incompetentes para assimilar
A produção do fracasso escolar: estudos a partir do cotidiano
o que é ensinado na escola.
na escola
Depois, quem os culpam são os professores, seja através das
De acordo com Patto (1988, p. 75), os professores apresentam
notas, seja através de comentários sobre a capacidade ou incapaci-
expectativas negativas no que se refere à sua clientela. “A crença de
dade do aluno, que acaba negativando ainda mais o já abalado nível
que os integrantes das classes populares são lesados do ponto de
de autoestima do estudante.
vista das habilidades perceptivas, motoras, cognitivas e intelectuais
E, na sequência, os pais colaboram com essa autodestruição
está disseminada no pensamento educacional brasileiro [...]”. Acre-
do filho, através de críticas ou mesmo pela falta de incentivo ao
ditam que as crianças mais empobrecidas economicamente não
estudo.
Portanto sabemos que quando se busca algo mais sólido para aprendem ou, se aprenderem, não o fazem de maneira a atender
se apoiar e para entender as causas de tanto fracasso escolar, o as exigências mínimas da instituição educacional. A ideia de que
aluno começa a deixar de ser o ‘vilão’ da história, para se tornar as crianças pobres não têm habilidades para aprender, permeia o
uma vítima. Quando se busca entender as razões do fracasso es- modo como o professor vê e se relaciona com essas crianças, diz
colar analisando as condições em que vive o aluno, e também as Patto (p. 340). O mesmo pôde-se observar na pesquisa realizada
condições em que ele frequenta a escola (sem contar as próprias por Campos (1995, p. 98), onde por meio da fala das professoras
condições da escola), realmente entendemos que precisamos mu- entrevistadas foi possível perceber o preconceito existente princi-
dar nossa opinião. palmente no que se refere à clientela da escola. Segundo ela, para
Mas não só da escola depende essa carga. Houvesse uma esco- as professoras “o fracasso escolar tem como causa primeira a infe-
la de padrão ideal, e ainda assim nos depararíamos com essa grave rioridade cultural e econômica das crianças que não aprendem de-
situação de fracasso escolar, numa das fases mais importantes da vido aos problemas familiares e intelectivos que enfrentam.” Assim,
educação do individuo, sendo exatamente por isso denominada de Estas concepções acerca da clientela de baixa renda que frequenta
ensino fundamental. E quando seriam as razões para esse fracasso? as escolas pesquisadas parecem justificar na criança e em sua fa-
Se o aprendizado, como todos sabem, é de suma importância para mília as causas dos resultados insatisfatórios que estas professoras
o crescimento da pessoa, por que não é lavado a sério? Por que obtêm no plano pedagógico, isentando-as em grande medida, da
não se dá a ele a devida importância? Ou será que essa importância responsabilidade sobre tais resultados. (Idem, p. 102)
é dada, mas existem motivos bem mais profundos, enraizados em A escola, revestida do poder hierárquico que lhe é concedido
nosso meio, que impedem de encarar e levar adiante uma forma- na sociedade capitalista, diante do fracasso escolar, direciona seu
ção escolar digna de assim ser chamada? olhar às famílias, responsabilizando-as pelas dificuldades apresen-
FALCÃO (1993) faz uma comparação: tadas por seus filhos. As justificativas na maioria das vezes dizem
Já tentou ensinar um bebê a atender ao telefone? Ou ensinar respeito à constituição familiar e até mesmo à ausência dos pais
datilografia a um analfabeto? Ou, quem sabe, em dia de jogo inten- que precisam trabalhar e por isso passam pouco tempo com os fi-
cional do Brasil, com todo o país mobilizado, e na sala as pessoas lhos.
coladas ao rádio ou à televisão, você experimentou chamar Juqui-
30 Fonte: www.pedagogiaaopedaletra.com – Por Marlene Aparecida Viana
nha ao quarto para uma aula sobre Capitanias Hereditárias? (p.42).
Abreu

102
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Ao analisar as entrevistas realizadas durante sua pesquisa, principalmente se for para trabalhar e ajudar a família. Apesar de
Campos (1995, p. 100) conclui: se manter a crença de que a escola pode trazer condições de uma
Preconceitos e estereótipos sobre o pobre e a pobreza são em vida melhor, a necessidade imediata de sobrevivência acaba por
maior ou menos grau observados como justificadores das dificulda- falar mais alto. A aceitação das famílias diante do abandono dos
des de aprendizagem escolar. Estes estereótipos giram em torno da estudos pelos filhos é ainda maior quando se trata daqueles que
inadequação da família, quer por uma suposta ausência dos pais no apresentam dificuldades escolares, pois, diante de tais dificuldades,
lar, quer pela forma como deduzem que estas famílias se organizam as famílias parecem ter assumido o discurso da escola de que o pro-
ou por possíveis problemas morais ou psíquicos que lhes são cons- blema está na incapacidade da criança em aprender. A tendência
tantemente atribuídos. que a pesquisadora identificou foi a de que as famílias acabam por
As justificativas para o fracasso escolar que se ancoram na ideia incorporar a responsabilidade que a escola lhes delega diante das
de que ele advém das dificuldades financeiras por que passam os dificuldades de Medicalização da educação: uma solução ou mais
pobres, apesar de serem constantes na fala das professoras, não um problema?
são justificativas pautadas na literatura educacional de acordo com No limite deste texto, o foco está em discutir a medicalização
Patto (1996). que se tem feito da educação, partindo das consequências de um
Os estudos acima citados nos mostram que o fracasso escolar problema que é social. A deficiência nos processos de ensinar acaba
também está ligado aos grandes obstáculos que o sistema educa- sendo transferida às crianças como se elas mesmas tivessem difi-
cional cria e que impede que a escola atinja seus reais objetivos. culdades em aprender e que, sem apresentar qualquer problema
Ao reproduzir as relações de produção da sociedade capitalista, a biológico ou necessidades educativas especiais acabam sendo me-
escola como instituição hierarquicamente privilegiada acaba por dicadas diante da falta de condições da escola em cumprir seu pa-
burocratizar o trabalho pedagógico. Essa burocratização a impede pel: ensinar. Há de se considerar, entretanto, que existem crianças
de pensar em mudanças e faz dela uma instituição manipuladora que apresentam problemas de ordem biológica e que necessitam
a fim de atender sua própria demanda. Do alto de sua posição de de cuidados da área da saúde, inclusive de uma intervenção me-
poder e permeada por preconceitos e estereótipos, a escola acaba dicamentosa e, nesses casos, os fatores biológicos não podem ser
por apresentar às famílias as dificuldades de seus filhos como algo ignorados. Esta é uma discussão bastante importante, porém, não
inerente ao sujeito, direcionando-lhes toda a responsabilidade por será objeto de estudo neste texto.
seu insucesso escolar. De acordo com Campos (1995, p. 96): De acordo com Moysés e Collares (1986, p. 10):
Nas interrelações que ocorrem entre as instituições família/ A medicalização de uma questão consiste na busca de causas
escola circulam concepções e conhecimentos acerca do insucesso e soluções médicas, a nível organicista e individual, para problemas
escolar das crianças. No entanto as concepções veiculadas pela ins- de origem eminentemente social. Este processo ocorre na educação
tituição escolar, muitas vezes, fornecem a aparência de legitimidade quando, frente às altas taxas de fracasso escolar, tenta-se localizá-
às desigualdades sociais uma vez que a institucionalização da esco- -lo na própria criança, explicando-o através de doenças. Isenta-se,
la lhe delega um lugar de poder junto a instituição família. assim, de responsabilidades a instituição escolar e o sistema social.
O fracasso escolar tem sido naturalizado por todos os envolvi- Através da medicalização, os olhares se voltam para o indiví-
dos no processo educacional. De acordo com Patto (1996, p. 346), duo, ignorando-se um problema que é social, na medida em que
a ação pedagógica ineficaz tem sido constantemente justificada por o transforma em biológico, individual. Apresentar a criança como
se tratar de um trabalho realizado com famílias economicamente portadora dos distúrbios de aprendizagem faz com que os olhares e
pobres que, por isso, já trazem consigo deficiências que natural- a responsabilidade pelo fracasso escolar se voltem para ela, inviabi-
mente impedem o sucesso de qualquer trabalho pedagógico de- lizando assim um olhar mais cuidadoso para fatores intraescolares
senvolvido com essas crianças, dispensando assim reflexões sobre como produtores de tal fracasso. Moysés e Collares (1992, p. 32)
a prática pedagógica e quão agressiva ela pode ser sem que se faça afirmam que:
essa reflexão. É o preconceito que parece permear a relação entre A biologização – e consequente patologização – da aprendi-
professor e aluno. zagem escamoteia os determinantes políticos e pedagógicos do
fracasso escolar, isentando de responsabilidades o sistema so-
Campos (1995) após entrevistar algumas famílias observou que cial vigente e a instituição escolar nele inserida. E os distúrbios de
elas veem na escola a possibilidade dos filhos construírem uma his- aprendizagem são uma das formas de expressão mais em moda, na
tória diferente, longe das dificuldades que são constantes em seu atualidade, dessa biologização da educação e, mais especificamen-
cotidiano. Evidencia-se que, para essas famílias, a escolarização dos te, do fracasso escolar.
filhos lhes é importante, uma vez que entendem ser esse o cami- O uso de medicamentos para resolver problemas como a difi-
nho para construir uma vida com menos dificuldades que eles, pais, culdade em aprender - da forma como a escola ensina - tem sido
construíram. mais frequente a cada dia. De acordo com Werner (2001), o índi-
No que se refere à evasão escolar identificada na década de ce de famílias que buscam na medicina a solução para os supostos
1980, é importante considerar, segundo Patto (1988), o que se de- problemas apresentados por seus filhos, só faz crescer, pois, muitas
nomina evasão, na verdade se trata de exclusão, pois, a escola que vezes “sequer existem problemas de saúde e a demanda aos ser-
se dizia gratuita, exigia materiais escolares e uniformes, o que de- viços de saúde é para que se detecte algum problema que possa
mandava condições financeiras dos pais para manterem seus filhos ser responsabilizado pelo fracasso dessas crianças” (Idem, p. 46).
na escola. Porém, é curioso observar que apesar de todas as difi- Compreender os determinantes sociais, políticos e econômicos é
culdades financeiras, as famílias insistiam em manter seus filhos na da maior importância por sabermos que a escola não é autônoma
escola: acreditavam nela. frente a essas questões. No entanto, o olhar mais abrangente não
Em sua pesquisa, Campos (1995, p. 116) observou também exclui – e não pode excluir – a análise dos fatores intraescolares.
que o trabalho aparece como atividade mais importante na vida Há um Projeto de Lei no Senado (nº 247 de 2012) que objeti-
das famílias pesquisadas. Assim, alguns pais diante da dificuldade va alterar a lei nº 8.069 de 1990 que dispões sobre o Estatuto da
financeira, se conformam quando os filhos abandonam os estudos Criança e do Adolescente visando prevenir o uso inadequado de

103
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
psicofármacos nesse público. De acordo com o Art. 2º, essa Lei de- deriam de maneira nenhuma. Nas falas acima é possível perceber o
verá vigorar cento e oitenta dias após sua publicação, que se deu preconceito presente nas professoras com relação aos seus alunos.
em 12/07/2012. Na justificativa consta que o crescimento do uso Podemos nos reportar novamente a Patto (1996) no que se refere
de psicofármacos em crianças e adolescentes tem gerado questio- ao preconceito apresentado por alguns professores diante de alu-
namentos por parte de profissionais e especialistas de diversas áre- nos pertencentes à classe economicamente mais pobre. A eles e
as. Há denúncias de que os interesses econômicos das indústrias suas famílias não cabe apenas a responsabilidade pelas dificulda-
farmacêuticas estariam favorecendo a tendência de profissionais des em aprender, mas também por destruírem tudo o que têm, por
da saúde e da educação no sentido de transformarem problemas irem sujos à escola, por passarem fome, por terem os pais dificulda-
sociais em problemas biológicos, inerentes ao indivíduo e, a solução des em falar corretamente etc. Todo esse aparato de observações
para tal problema seria o uso de psicofármacos. Ainda na justificati- permite a alguns profissionais da educação não se preocuparem
va para o Projeto de Lei, a Educação aparece como uma grande área com planejamentos de aulas, muito menos olharem para questões
em que se tem praticado tal uso indiscriminadamente. De acordo mais amplas como suas práticas pedagógicas e para o próprio siste-
com o documento, “no Manifesto do Fórum sobre Medicalização ma educacional.
da Educação e da Sociedade, encontramos o seguinte:” A aprendi- De acordo com Abramowicz, Rodrigues e Cruz (2009, p. 112),
zagem e os modos de ser e agir - campos de grande complexidade O debate e a ênfase que se dá à relação entre desigualdade
e diversidade - têm sido alvos preferenciais da medicalização. Cabe social e não aprendizagem continuam presentes como razão funda-
destacar que, historicamente, é a partir de insatisfações e questio- mental e explicativa dos baixos desempenhos escolares de alunos
namentos que se constituem possibilidades de mudança nas formas das classes populares, discussão reatualizada também nos fóruns
de ordenação social e de superação de preconceitos e desigualda- mundiais, segundo avaliações globais.
des. (p. 2) Na pesquisa que realizou em escolas das redes estadual e mu-
De acordo com a nova Lei nicipal sobre as representações sociais referentes à repetência e
Art. 14-A. O uso de psicofármacos em crianças e adolescentes sua relação com o fracasso escolar, Silva (2008, p. 102), nos diz que:
obedecerá aos seguintes requisitos e às normas contidas nos regu- As queixas da culpabilidade da família pelo insucesso do aluno
lamentos aplicáveis: foi um dos itens que mais apareceu no relato dos professores de
I - comprovada necessidade do uso de psicofármacos, o qual ambas as redes de ensino. Queixam-se que os pais não compare-
deve ocorrer em conformidade com os protocolos clínico-terapêu- cem ao chamamento da escola, não cobram as atividades de casa
ticos aprovados pelo Ministério da Saúde, ou por entidade por ele de seus filhos, não têm formação e nem comprometimento com a
designada, com a explicitação das indicações terapêuticas e dos educação dos filhos.
requisitos a serem cumpridos para comprovação diagnóstica, além (...) Também relatam que os pais esperam que a escola eduque
seus filhos, forme valores, discipline e coloque limite para eles. Es-
dos critérios de uso de cada psicofármaco, que devem incluir a faixa
peram que a escola dê uma educação de qualidade e acompanhe a
etária a que ele se destina e os riscos associados a esse uso;
vida emocional dos seus filhos.
II - proibição da medicalização psicofarmacológica indiscrimi-
Novamente as pesquisas nos mostram que já na primeira déca-
nada, inadequada, desnecessária ou excessiva.
da do século XXI, os olhares continuam se voltando para as famílias
Parágrafo único. Será promovida, em caráter permanente,
quando se trata das dificuldades escolares dos filhos.
campanha de esclarecimento para pais, educadores e alunos com
vistas a prevenir a medicalização psicofarmacológica indiscrimina-
Fracasso escolar: ausência da família?
da, inadequada, desnecessária ou excessiva em crianças e adoles-
Na idade média, como nos diz Ariès (1986), por volta dos sete
centes.
anos de idade, quando já não precisavam mais de suas mães ou
Cabe mais uma vez salientar que não se trata aqui de crianças amas, as crianças começavam a se misturar com os adultos partici-
com problemas orgânicos que demandam cuidados médicos e mes- pando inclusive das atividades diárias de trabalho. O papel da famí-
mo nutricionais, mas, sim, de crianças que por deficiência ou insufi- lia era o de transmitir a vida, os bens e os nomes, porém, não havia
ciência nas práticas pedagógicas acabam sendo encaminhadas para espaço para laços afetivos entre seus membros.
o setor da saúde e medicadas, objetivando resolver um problema Por volta do século XV iniciou-se uma preocupação maior com
que é da ordem do social e da educação. a educação. É nesse contexto que a ordem religiosa começa a se
dedicar mais ao ensino. Segundo o autor (Idem, p. 277): “[...] en-
Os mitos sobre o fracasso escolar e suas causas: algo mudou sinaram aos pais que eles eram guardiães espirituais, que eram
nas últimas décadas? responsáveis perante Deus pela alma, e até mesmo, no final, pelo
No que concerne ao fracasso escolar, os estudos realizados na corpo de seus filhos”. Passou-se a acreditar que a criança não esta-
primeira década do século XXI, nos permite identificar que quase va preparada para o convívio com o adulto, sendo necessária uma
nada mudou no que se refere ao entendimento sobre suas causas. preparação antes de tal acontecimento.
De acordo com Cristofoleti (2004, p. 16), as professoras da es- Essa preocupação com a educação começou a transformar a
cola em que realizou sua pesquisa, diziam-se desejosas por ensinar, sociedade e a relação entre pais e filhos. No final do século XVII, já
contudo, seus esforços eram em vão, pois segundo elas os alunos não havia mais a ideia de apenas colocar os filhos no mundo nem
“Mostram-se desligados em sala de aula, resolvem os proble- a preocupação apenas em preparar o filho mais velho para a vida;
mas muito lentamente.”; “Nunca querem fazer nada, não ficam no essa preocupação já se estendia a todos os filhos, inclusive às me-
lugar, estragam tudo o que têm, riscam as carteiras e a parede.”; ninas cuja preparação seria oferecida pela escola. Foi essa nova e
“Passam por sérios problemas na família, não se interessam por ne- grande preocupação dos pais com a educação que fez com que a
nhuma atividade.”; “Eles vêm sujos para a escola, passam fome, os escola se desenvolvesse. As famílias que tinham essa preocupação
pais falam errado, o que pode se esperar dessas crianças?” eram vistas com mais respeito pela sociedade, uma vez que sua pre-
Segundo a autora, foi possível observar também que as práti- ocupação não se restringia apenas em dar à vida a seus filhos, mas
cas de ensino nunca eram avaliadas pelas professoras, pois segundo também e principalmente a lhes proporcionar condições para que
elas, não adiantava fazer planejamentos, pois os alunos não apren- tivessem uma vida melhor.

104
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Ainda de acordo com Ariès (Idem, p. 277) “A família e a esco- de direitos e de responsabilidades. Além disso, a atenção que antes
la retiraram juntas a criança da sociedade dos adultos. A escola, era voltada exclusivamente para a relação marido/mulher, começa
porém confinou uma infância outrora livre num regime disciplinar a destinar seus olhares para outras relações intrafamiliares, como a
cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVII e XIX resultou no en- relação entre irmãos e entre pais e filhos.
clausuramento total do internato”. Apesar das transformações nos modelos familiares, não se
No que se refere ao estudo da família, ao longo da história, a pode negar sua importância como primeiro núcleo social em que a
matriz conceitual mais utilizada também no Brasil, foi o modelo de criança vive. A família é a responsável pelo processo de socialização
família patriarcal. Segundo Teruya (2000, p. 3): primária da criança. De acordo com Ribeiro (2011, p. 1):
O modelo de família patriarcal pode ser assim descrito: um ex- A socialização primária diz respeito aos primeiros contatos so-
tenso grupo composto pelo núcleo conjugal e sua prole legítima, ciais da criança e se dá com a presença dos outros significativos que
ao qual se incorporavam parentes, afilhados, agregados, escravos lhe apresentam a realidade em que vivem e como a percebem. É
e até mesmo concubinas e bastardos; todos abrigados sob o mes- também neste contato que a criança começa a significar os elemen-
mo domínio, na casa-grande ou na senzala, sob a autoridade do tos culturais presentes na sociedade em que está inserida. Faz parte
patriarca, dono das riquezas, da terra, dos escravos e do mando desse processo a família e as pessoas mais próximas à criança.
político. Ainda se caracterizaria por traços tais como: baixa mobili- É na relação intrafamiliar que se vai conhecendo e (re)conhe-
dade social e geográfica, alta taxa de fertilidade e manutenção dos cendo os papeis sociais. Para Dessen e Polonia (2007, p. 24):
laços de parentesco com colaterais e ascendentes, tratando-se de A família também é a responsável pela transmissão de valores
um grupo multi-funcional. culturais de uma geração para outra. Essa transmissão de conheci-
O modelo de família patriarcal existente até o século XIX e que mentos e significados possibilita o compartilhar de regras, valores,
começou a se transformar apenas no início do século XX quando as sonhos, perspectivas e padrões de relacionamentos, bem como a
famílias antes rurais começam a migrar para meio urbano, abrigava valorização do potencial dos seus membros e de suas habilidades
em seu seio, não apenas pai, mãe e filhos, mas também todas as em acumular, ampliar e diversificar as experiências.
pessoas envolvidas no funcionamento do lar. Esse modelo de fa- Quando nos referimos à responsabilidade da família no proces-
mília remete-se a tempos onde os senhores mantinham em seus so educacional da criança, entendemos sua responsabilidade não
lares empregados ou escravos, parentes, agregados entre outros. apenas na figura materna, mas também na figura paterna. Contudo,
O detentor do poder era o pai, devendo ser respeitadas todas as um projeto apresentado em 2001 durante o governo de Fernando
suas ordens e vontades - todos estavam sujeitos à sua autoridade. Henrique Cardoso, denominado “Dia Nacional da Família na Esco-
Ainda no início do século passado, esse modelo podia ser observa- la”, teve como objetivo incentivar a participação das famílias no am-
biente escolar, principalmente das mães, por considerar essa rela-
do com clareza. A família era vista como um dos mais importantes
ção muito importante para melhorar a qualidade do ensino no país.
pilares da sociedade. Neste contexto, a educação formal era ofere-
Para a implementação desse projeto, as escolas receberam mate-
cida apenas aos homens. Às mulheres eram oferecidos ensinamen-
riais explicativos, bem como um cronograma com os dias específi-
tos sobre como deveriam cuidar da casa e dos filhos. Objetivava-se
cos em que tal encontro deveria ocorrer. É curioso observarmos que
prepará-las para as tarefas domésticas e simultaneamente impedir
tal proposta enfatizava a importância principalmente da presença
que criassem problemas para seus maridos e para a sociedade caso
materna no ambiente escolar e na ajuda oferecida às crianças em
tivessem algum tipo de conhecimento além do necessário para se-
casa. Esse projeto, além de outros como o Programa Bolsa-Escola,
rem boas esposas e donas de casa.
foi apresentado pautado na ideia de que o bom desempenho esco-
A visão da família como primeiro grupo socializador da criança lar está intimamente ligado à presença e a participação das famí-
pode ser observada com clareza nos trabalhos de Talcott Parsons lias, principalmente das mães nas atividades escolares que os filhos
cuja reflexão sociológica sobre a família influenciou, na década de precisam fazer em casa. De acordo com Klein (2005), um discurso
1950, o pensamento norte-americano, com reflexos sobre a socio- do então ministro da Educação Paulo Renato de Souza, deixou bem
logia no Brasil. Tal reflexão foi apresentada na teoria funcionalista. claro sua crença de que o bom desempenho escolar das crianças
Buschini (1989, p. 2) explica que: está intimamente relacionado à participação familiar na vida dos
Segundo essa corrente, cujo maior expoente foi Talcott Parsons, alunos: “Temos inúmeros estudos que comprovam a mesma coisa;
a família é, sobretudo uma agência socializadora, cujas funções a melhor escola é aquela onde os pais estão presentes, e a partici-
concentram-se na formação da personalidade dos indivíduos. Ten- pação da família se traduz imediatamente em melhor desempenho
do perdido, ao longo da história, as funções de unidade de produção dos alunos” (Idem, p. 42).
econômica e de participação política, a família teria as funções bá- Dias (2009), refletindo sobre as palavras do então ministro da
sicas de socialização primárias das crianças e de estabilização das educação, nos diz que ele apoiou-se em pesquisas realizadas na dé-
personalidades adultas da população. cada de 1980, que afirmavam a importância da participação familiar
No modelo proposto por Parsons para estudar a família, os no processo de escolarização das crianças para que estas obtives-
membros do grupo familiar deveriam desempenhar papéis dife- sem êxito. Segundo a autora (Idem, p. 46), tais pesquisas afirmavam
rentes e complementares, deixando claramente definidos os papeis que:
masculinos e femininos. Nesse movimento, o homem seria o líder [...] a importância da presença e participação da família na es-
instrumental da família e a mulher a responsável por assuntos in- cola incluíram: explicitação de objetivos comuns pela escola e pela
ternos e domésticos. família, incentivo à criança e ao seu desenvolvimento, aumento
Com a inserção da mulher no mercado de trabalho por volta da das relações comunitárias, melhoria do desempenho da criança na
década de 1960, houve mudanças no modelo familiar antes patriar- aprendizagem, suporte às famílias, reconhecimento mútuo como
cal. A mulher passa a dividir com o homem a responsabilidade pelo agências educativas diferenciadas, melhora no comportamento ge-
sustento do lar e a ser mais ativa nas decisões domésticas e, con- ral da criança, dentre outros.
sequentemente, algumas responsabilidades que antes eram con- Para Castro e Regattieri (2009) é fácil observar que quando o
sideradas predominantemente femininas, passam a ser também aluno tira boas notas, aprende e é considerado bem sucedido em
assumidas pelos homens. Essa transformação faz com que o mo- seus estudos, pais e professores se sentem corresponsáveis pelo
delo familiar nascente caminhe na direção da igualdade de poder, seu sucesso. Ao contrário, quando o aluno demonstra dificuldades

105
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
em aprender, apresenta indisciplina ou baixo rendimento escolar, A partir daí, tomou-se a decisão de olhar de frente o problema
família e escola começam a buscar os responsáveis pela situação. e o aproveitar para um tema de pesquisa a ser investigado: Como a
Contudo, para essas autoras, relação professor-aluno pode contribuir no processo ensino-apren-
O insucesso escolar deveria suscitar a análise de causas dos dizagem?
problemas que interferiram na aprendizagem, avaliando o peso
das condições escolares, familiares e individuais do aluno. O que se O professor e sua prática
constata é que, em vez disso, o comportamento mais comum diante Muitos professores que atuam nas escolas não se dão conta
do fracasso escolar é a atribuição de culpas, que geralmente provo- da importante dimensão que tem o seu papel na vida dos alunos.
ca o afastamento mútuo. (Idem, p. 31) Nesse sentido, um dos aspectos que se quer ressaltar neste artigo é
As autoras lembram que na relação escola-família é importante a importância da formação do professor e da compreensão que ele
identificar o papel de cada um no processo de aprendizagem da deve ter em relação a esse assunto. Pois, não há como acontecer
criança. A escola tem a atribuição de ensinar, contudo, conta com a na escola uma educação adequada às necessidades dos alunos sem
ajuda da família, por exemplo, quando manda atividades para que contar com o comprometimento ativo do professor no processo
a criança faça em casa. educativo.
Podemos perceber, de acordo com as pesquisas apresentadas, Entretanto, ao aproximar-se da figura de alguns professores,
que a escola tem sentido falta da participação da família no pro- percebe-se que muitos, baseados no senso comum, acreditam que
cesso educacional das crianças, considerando o que chamam de ser professor é apropriar-se de um conteúdo e apresentá-lo aos alu-
“ausência” da família como causa das dificuldades escolares dos nos em sala de aula.
alunos. O que parece ocorrer é que a escola tem esperado (e os Mudar essa realidade é necessário para que uma nova relação
professores se preparado para) receber crianças idealizadas - há ex- entre professores e alunos comece a existir dentro das escolas. Para
pectativas que, na maioria das vezes, não se confirmam na prática. tanto, é preciso compreender que a tarefa docente tem um papel
As crianças que chegam à escola são reais, filhos de famílias concre- social e político insubstituível, e que no momento atual, embora
tas, com problemas e condicionantes sociais, econômicos, afetivos, muitos fatores não contribuam para essa compreensão, o professor
igualmente encarnados e nada parecidos com o que, muitas vezes, necessita assumir uma postura crítica em relação a sua atuação re-
está no imaginário dos professores. cuperando a essência do ser “educador”.
Após um breve levantamento histórico, percebemos que mui- E para o professor entender o real significado de seu trabalho,
tas das pesquisas revelaram que as justificativas para o fracasso es- é necessário que saiba um pouco mais sobre sua identidade e a
colar estavam, na maioria das vezes, na “incapacidade” de a família história de sua profissão.
educar seus filhos. A discussão sobre a relação entre a família e a Teríamos que conseguir que os outros acreditem no que somos.
escola permanece. 31 Um processo social complicado, lento, de desencontros entre o que
Relação aluno / professor somos para nós e o que somos para fora [...] Somos a imagem social
Essa relação tem sido uma das principais preocupações do con- que foi construída sobre o ofício de mestre, sobre as formas diversas
texto escolar. Nas práticas educativas, o que se observa é que, por de exercer este ofício.
não se dar a devida atenção à temática em questão, muitas ações Sabemos pouco sobre a nossa história (ARROIO, 2000, p.29).
desenvolvidas no ambiente escolar acabam por fracassar. Daí a Fazendo uma correlação com esse ponto de vista, não se pode
importância de estabelecer uma reflexão aprofundada sobre esse deixar de destacar e valorizar os fenômenos histórico-sociais pre-
assunto, considerando a relevância de todos os aspectos que carac- sentes na atividade profissional do professor. Nessa perspectiva,
terizam a escola. jamais poderá ser compreendido o trabalho individual do professor
Ao levar em consideração a escola como a única instituição de- desvinculado do seu papel social, dessa forma estar-se-ia descarac-
marcada, com a possibilidade da construção sistematizada do co- terizando o sentido e o significado do trabalho docente.
nhecimento pelo aluno, foi de fundamental importância a criação Considerando a emergência de se trabalhar a identidade do
de algumas possibilidades e condições favoráveis, nas quais alunos professor, percebe-se uma vasta bibliografia sobre a profissão do-
e professores puderam refletir sobre sua prática e passaram a atu- cente, a qual tem apresentado muitas ideias e questionamentos,
ar num clima mais condizente com a realidade de uma escola. Isso principalmente sobre a formação dos professores, e, mais especifi-
se deu porque, quanto mais instrumentalizados se sentiam melhor camente, sobre a formação reflexiva dos professores.
acontecia o desenvolvimento das ações realizadas por esses sujei- No entanto, percebe-se que ainda não existe um consenso
tos. Assim, pôde-se perceber que é sempre imprescindível rever al- quanto ao significado exato do que seja o professor reflexivo, em-
guns aspectos da realidade atual da escola, no sentido de propiciar bora haja muitos estudos e pesquisas nessa linha teórica.
condições favoráveis, que possibilitem o interesse de professores e Segundo Pimenta (2002), faz-se necessário compreender com
alunos, para que constantemente pensem sobre essa realidade. Só mais profundidade o conceito de professor reflexivo, pois o que pa-
dessa forma poderão conquistar o reconhecimento e a valorização rece estar ocorrendo é que o termo tornou-se mais uma expressão
de suas ações, por parte de toda a comunidade escolar. da moda, do que uma meta de transformação propriamente dita.
Sabe-se que existe uma preocupação por parte de muitos estu- Para Libâneo, é fundamental perguntar: que tipo de reflexão o
diosos e pesquisadores em contribuir para um trabalho mais rico e professor precisa para alterar sua prática, pois para ele
significativo nas escolas. A reflexão sobre a prática não resolve tudo, a experiência refle-
Mas, ao se fazer uma análise do atual contexto escolar, nota-se tida não resolve tudo. São necessárias estratégias, procedimentos,
que ainda são muito perceptíveis no cotidiano da escola, as recla- modos de fazer, além de uma sólida cultura geral, que ajudam a
mações e insatisfações por parte dos professores em relação aos melhor realizar o trabalho e melhorar a capacidade reflexiva sobre
alunos e vice-versa. Ou seja, a relação professor-aluno parece ser o que e como mudar (LIBÂNEO, 2005, p. 76)
permeada por animosidades ou conflitos. Diante de tantos descon- Assim, se percebe que pensar sobre a formação de professores
fortos pedagógicos, houve alguns impasses: Entender ou repreen- é conceber que o professor nunca está acabado e que os estudos
der? Orientar ou ignorar? teóricos e as pesquisas são fundamentais, no sentido de que é por
intermédio desses instrumentos que os professores terão condi-
31 Fonte: www.unimep.br - Texto adaptado de Priscila Teixeira Ribeiro

106
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
ções de analisar criticamente os contextos históricos, sociais, cul- Pode-se dizer também que o ato de educar é nutrido pelas re-
turais e organizacionais, nos quais ocorrem as atividades docentes, lações estabelecidas entre professor-aluno.
podendo assim intervir nessa realidade e transformá-la.
A Afetividade
O processo de interação e de mediação na relação professor- A escola pode ser considerada como um dos espaços essen-
-aluno cialmente propícios, e talvez único, capaz de desenvolver e elevar
Em todo processo de aprendizagem humana, a interação social o indivíduo intelectual e culturalmente dentro de uma sociedade.
e a mediação do outro tem fundamental importância. Na escola, Entretanto, as relações estabelecidas no contexto escolar entre alu-
pode-se dizer que a interação professor-aluno é imprescindível para nos e professores têm exigido bastante atenção e preocupação por
que ocorra o sucesso no processo ensino aprendizagem. Por essa parte daqueles que encaram a escola como espaço de construção e
razão, justifica-se a existência de tantos trabalhos e pesquisas na reconstrução mútua de saberes.
área da educação dentro dessa temática, os quais procuram desta- Nesse sentido, acredita-se que uma das tarefas das equipes pe-
car a interação social e o papel do professor mediador, como requi- dagógicas de qualquer escola, é a criação de estratégias eficazes, no
sitos básicos para qualquer prática educativa eficiente. sentido de promover uma formação continuada, a qual possibilite
De acordo com as abordagens de Paulo Freire, percebe-se uma uma relação pedagógica significativa e responsável entre profes-
vasta demonstração sobre esse tema e uma forte valorização do sores e alunos, garantindo a todos a melhoria no processo ensino
diálogo como importante instrumento na constituição dos sujeitos. aprendizagem.
No entanto, esse mesmo autor defende a ideia de que só é possível Entende-se que cada ser humano, ao longo de sua existência,
uma prática educativa dialógica por parte dos educadores, se estes
constrói um modo de relacionar-se com o outro, baseado em suas
acreditarem no diálogo como um fenômeno humano capaz de mo-
vivências e experiências.
bilizar o refletir e o agir dos homens e mulheres. E para compreen-
Dessa forma, o comportamento diante do outro depende da
der melhor essa prática dialógica, Freire acrescenta que
natureza biológica, bem como da cultura que o constituiu enquanto
[...], o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro
em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereça- sujeito. Nessa perspectiva, é de fundamental importância entender
dos ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir- que a sala de aula é um espaço de convivências e relações hetero-
-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tam- gêneas em ideias, crenças e valores.
pouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos Na teoria de Henri Wallon, encontramos subsídios importantes
permutantes. (FREIRE, 2005, p. 91). no que diz respeito à dimensão afetiva do ser humano e como ela é
Assim, quanto mais o professor compreender a dimensão do significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Para esse
diálogo como postura necessária em suas aulas, maiores avanços teórico, a afetividade e a inteligência são inseparáveis, uma vez que
estará conquistando em relação aos alunos, pois desse modo, sen- uma complementa a outra.
tir-se-ão mais curiosos e mobilizados para transformarem a reali- Os estudos de Wallon propõem algumas reflexões a respeito da
dade. Quando o professor atua nessa perspectiva, ele não é visto constituição do adolescente. Tais reflexões fornecem pistas funda-
como um mero transmissor de conhecimentos, mas como um me- mentais aos professores que atuam com essa faixa etária. Segundo
diador, alguém capaz de articular as experiências dos alunos com o autor, a juventude inicia-se com uma crise marcada por mudanças
o mundo, levando-os a refletir sobre seu entorno, assumindo um na estruturação da personalidade. É um momento no qual o adoles-
papel mais humanizador em sua prática docente. cente volta-se para questões que estão mais diretamente ligadas ao
Já para Vygotsky, a ideia de interação social e de mediação é seu lado pessoal, moral e existencial.
ponto central do processo educativo. Pois para o autor, esses dois Nesse sentido, a afetividade torna-se um dos fatores prepon-
elementos estão intimamente relacionados ao processo de consti- derantes no processo de relacionamento do adolescente consigo
tuição e desenvolvimento dos sujeitos. A atuação do professor é de mesmo e com os outros, contudo, isso ocorre a partir de um caráter
suma importância já que ele exerce o papel de mediador da apren- cognitivo já estabelecido, ou seja, ele consegue gerir uma exigência
dizagem do aluno. Certamente é muito importante para o aluno a racional nas relações afetivas.
qualidade de mediação exercida pelo professor, pois desse proces- Normalmente é uma fase marcada por muitos questionamen-
so dependerão os avanços e as conquistas do aluno em relação à tos, fortes exigências, novas experiências e constantes preocupa-
aprendizagem na escola. ções. Diante de tantas alterações físicas e emocionais, muitas vezes
Organizar uma prática escolar, considerando esses pressupos- não conseguindo conter ou canalizar tanta energia, iniciam-se os
tos, é sem dúvida, conceber o aluno um sujeito em constante cons-
confrontos com pais, professores e até com colegas.
trução e transformação que, a partir das interações, tornar-se-á ca-
Considera-se esse período o mais marcado pelas transforma-
paz de agir e intervir no mundo, conferindo novos significados para
ções, talvez seja essa uma das razões pelas quais exista um enorme
a história dos homens.
desejo de se romper com os modelos pré-estabelecidos.
Quando se imagina uma escola baseada no processo de inte-
ração, não se está pensando em um lugar onde cada um faz o que Para Galvão (1995), o desenvolvimento do adolescente é mar-
quer, mas num espaço de construção, de valorização e respeito, no cado por muitos conflitos, que são próprios do ser humano, alguns
qual todos se sintam mobilizados a pensarem em conjunto. são importantes para o crescimento, outros provocam muito des-
Na teoria de Vygotsky, é importante perceber que como o alu- gaste e transtornos emocionais.
no se constitui na relação com o outro, a escola é um local privi- Sendo assim, a escola precisa criar um ambiente mais estimu-
legiado em reunir grupos bem diferenciados a serem trabalhados. lante e afetivo que possibilite a esse adolescente enxergar-se nesse
Essa realidade acaba contribuindo para que, no conjunto de tantas processo. Por esse motivo, a mediação do professor é uma contri-
vozes, as singularidades de cada aluno sejam respeitadas. buição que irá ajudar o aluno do segundo segmento do Ensino Fun-
Portanto, para Vygotsky, a sala de aula é, sem dúvida, um dos damental a dar sentido ao seu existir e ao seu pensar. É importante
espaços mais oportunos para a construção de ações partilhadas en- que se ressalte que, quando se fala em proporcionar uma relação
tre os sujeitos. A mediação é, portanto, um elo que se realiza numa professor-aluno baseada no afeto, de forma alguma, confunde-se
interação constante no processo ensino aprendizagem. aqui afeto com permissividade. Pelo contrário, a ação do professor

107
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
deve impor limites e possibilidades aos alunos, fazendo com que Aparecem novos códigos de comportamento, que, muitas ve-
estes percebam o professor como alguém que, além de lhe transmi- zes, ditam as regras a serem seguidas. Momento marcado pela opo-
tir conhecimentos e preocupar-se com a apropriação dos mesmos, sição ao mundo, desencadeando um jeito diferente de ser. Esse pe-
compromete-se com a ação que realiza, percebendo o aluno como ríodo oferece modelos identificatórios como: punks, darks, hippies,
um ser importante, dotado de ideias, sentimentos, emoções e ex- metaleiros e outros. Isso mostra o quanto, essa fase é marcada por
pressões. um momento de rica expressão, originalidade e criatividade.
Assim, todo educador que deseja adequar sua prática pedagó- A terceira e última fase é denominada pelo autor, como “ado-
gica à teoria Walloniana deve buscar desenvolver atividades que lescência juvenil”.
envolvam os alunos de forma integrada, ou seja, deve orientar sua Esse conceito já qualifica o início da vida adulta. Os adolescen-
prática para que desenvolva a expressividade, a emoção, a persona- tes começam a manifestar um comportamento mais independen-
lidade e o pensamento criativo. te e surgem as preocupações com os acontecimentos sociais. Eles
Para finalizar e contribuir com as reflexões acerca da afetivida- começam a se tornar mais ativos, envolvendo-se em trabalhos na
de na escola, Freire salienta comunidade e passam a respeitar as regras da sociedade.
Como prática estritamente humana jamais pude entender a Calligaris (2000), um outro estudioso do tema, ajuda-nos a
educação como experiência fria, sem alma, em que os sentimentos compreender algumas ideias. Segundo ele, a cultura atual impõe
e as emoções, os desejos, os sonhos devessem ser reprimidos por aos adolescentes uma moratória.
uma espécie de ditadura racionalista. Isso significa que o adulto sempre está adiando o momento de
Nem tampouco jamais compreendi a prática educativa como o adolescente demonstrar que está apto e responsável, conseguin-
uma experiência a que faltasse rigor em que se gera a necessária do mostrar o que já aprendeu.
disciplina intelectual (FREIRE, 1996, p. 146). Para muitos professores, é difícil, quase impossível, conviver
Isso vem reforçar a ideia de que os professores, quando bus- nesse meio sem expressar um forte desejo em entender melhor
cam aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da afeti- essa fase tão importante da vida. Segundo a psicologia, no desen-
vidade na escola, estão, na verdade, procurando entender tanto de volvimento humano, todo rompimento entre o que está estabeleci-
seres humanos, quanto de conteúdos e técnicas educativas. do e o que é necessário ainda a ser definido é um processo doloroso
Enfim, a teoria de Wallon considera as questões afetivas como e, ao mesmo tempo, delicado. É assim que se apresentam as mu-
molas propulsoras que promovem o avanço e o desenvolvimento danças que ocorrem nessa passagem.
dos indivíduos. Assim, é necessário conceber a sala de aula como Na escola, esse momento é muito impreciso e normalmente
um rico espaço de relações entre alunos e professores. vem acompanhado de sentimentos contraditórios como: sensibili-
Levando em conta esse cenário de oposição e interação em dade X indiferença, energia X fragilidade, entusiasmo X desânimo,
que, muitas vezes, o convívio harmônico é quase impossível, faz-se alegria X tristeza, firmeza X insegurança, delicadeza X irreverência
necessário salientar mais uma vez o diálogo como um instrumento entre outros.
importante nessas relações. Segundo Matos (2003), nessa fase, o jovem oscila em seu modo
de ser, ora age como criança, ora como adulto. Essa ambiguidade
Jovens alunos: Quem são? também ocorre por parte dos adultos, pois, em muitas situações,
Analisar essa fase da vida, a adolescência, é, sem dúvida, uma eles permitem um “quase tudo”, em outras utilizam excesso de ri-
demonstração de cuidado, atenção e preocupação com os alunos gor, exigindo do jovem responsabilidade de adulto. Isso só confirma
que compõem o mundo estudantil das escolas. que a imprecisão não está apenas no jovem, mas também naqueles
E para entender melhor algumas questões ligadas à adolescên- que com eles convivem.
cia, é preciso compreender esse fenômeno, considerado a partir do
século XX, fase que acabou se expandindo de tal forma, que hoje Para os professores, entender esse período de transformação
pode-se considerar que muitos jovens manifestam comportamento da vida humana é fundamental para o bom relacionamento com os
de adolescente. alunos, bem como para a organização de novas práticas pedagógi-
Segundo Carvajal (1998), existem três fases distintas para esse cas. Essa percepção e compreensão do comportamento do jovem
momento da adolescência. Portanto esse período não é linear e há auxiliarão os professores na criação de projetos inovadores mais
diversos aspectos a serem considerados. voltados para a cultura juvenil dos alunos.
A primeira fase considerada por esse autor é a “puberal”, mar- Segundo Calligaris (2000), “Nossos adolescentes e jovens
cada pelo aparecimento das modificações fisiológicas, as quais são amam, estudam, brigam. Batalham com seus corpos, que se esti-
acompanhadas das mudanças psíquicas. Nesse estágio, os adoles- cam e se transformam.” Cabe à escola então, despertar o interesse
centes irritam-se facilmente, tornam-se arredios, explosivos e pre- e os sonhos desses jovens, do contrário só poderá constatar que
ferem manter-se isolados. Já manifestam o desejo de que o tratem todo espaço é desinteressante para quem para de sonhar.
como adulto. Para Carvajal (1998, p. 78) “O púbere começa a de- Sabe-se que um dos objetivos da educação é promover o de-
sempenhar o papel mais importante do adolescente: aquele que senvolvimento intelectual e pessoal do aluno, então por que não
busca uma identidade”. concentrar esforços em projetos e ações educativas que incentivem
A segunda fase é chamada de “adolescência nuclear” e é de- a participação desses adolescentes-jovens, preparando-os para
nominada por Carvajal como o núcleo da adolescência. Marcada uma atuação crítica e criativa na sociedade?
como etapa de surgimento do grupo, o qual passa a ser foco de Infelizmente ainda prevalece, no senso comum, a ideia de que
interesse do jovem. Nessa fase, tudo gira em torno dos interesses os jovens significam problemas para a sociedade. Na verdade, o que
do grupo, chegando ao ponto de o jovem curvar-se às leis ditadas está sendo esquecido é que essa faixa etária faz parte de um con-
pelos companheiros. Aqui, ao contrário da fase anterior, surge, no texto social bem maior, o qual está passando por várias transfor-
adolescente, a necessidade de se compartilharem todas as coisas mações e crises em vários setores. Essas transformações acabam
com os seus pares eleitos, pois ele tem necessidade de sentir-se provocando mudanças no comportamento de todas as pessoas, ge-
aceito pelos colegas. rando crises de valores e uma crescente desigualdade social.

108
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Na educação, observa-se por parte de muitos educadores uma teoria, o processo ensino-aprendizagem era totalmente centrado
preocupação com esses problemas, contudo é preciso acreditar no professor. Tinha como objetivo principal formar o aluno ideal,
que a educação, muito além de promover o acúmulo de conheci- contudo não se levava em conta seus interesses.
mentos, possibilita aos adolescentes novas formas de se posiciona- Para Mizukami (1986, p.12), nessa abordagem, quanto mais rí-
rem diante da realidade. gido o ambiente escolar, mais concentrado e voltado para a apren-
Nesse sentido, um dos maiores desafios que ora se impõe para dizagem o aluno se mantinha. O professor era visto como mero re-
a escola, é propiciar um trabalho voltado para o desenvolvimento passador de conteúdo e o aluno como um ser passivo no processo.
da capacidade de pensar dos alunos, pois segundo Guillot (2008, As habilidades desenvolvidas no aluno eram a memorização e a
p.165), “o mundo concreto é irrigado pelas novas tecnologias.” No repetição.
entanto, esse mesmo autor nos chama a atenção para o seguinte
fato: não é por meio de uma série apresentada na televisão 24h Em seguida, vem a abordagem “Comportamentalista”. Teoria
que os alunos irão compreender a cultura de que precisam para baseada no empirismo que vê o aluno como produto do meio. E o
se tornarem homens e mulheres livres e responsáveis. Para tanto, experimento é a base do conhecimento, que, segundo Skinner, es-
mais uma vez se reconhece a importância e o papel fundamental tudioso dessa abordagem, o comportamento resulta de um condi-
do professor, enquanto elemento articulador capaz de organizar cionamento operante. A resposta esperada do aluno ocorre quando
patamares de encontro entre aquilo por que o aluno demonstra ter ela é estimulada por meio de reforços.
interesse e o que a escola realmente precisa trabalhar. O professor é aquele que planeja, organiza e controla os meios
O que se deseja propor com essa reflexão é que, numa ação para atingir seus objetivos, os quais são estruturados em pequenos
coletiva, professores repensem a organização de suas atividades módulos, conhecidos como estudos programados.
docentes, partindo em busca de práticas que sensibilizem os jovens A abordagem “Humanista” apresenta seu enfoque no aluno.
a participarem ativamente da construção de seus conhecimentos e Segundo Mizukami (1986), a ênfase dessa teoria ocorre por meio
de suas vidas escolares. das relações interpessoais e do crescimento que delas resulta.
Para que os alunos possam aprender de fato, buscando de- Nessa teoria, a preocupação maior do professor deve ser a de
senvolver um espírito cada vez mais crítico e criativo, não se pode
dar assistência aos alunos, ele deve agir como um facilitador da
ignorar o mundo no qual esses jovens vivem. E para que essas pro-
aprendizagem. O conhecimento resulta das experiências do aluno,
posições venham a se efetivar na prática, acredita-se que é essen-
o qual é capaz de buscar por si só os conhecimentos.
cial começar ouvindo os alunos, conhecendo melhor suas opiniões,
A quarta abordagem é a “Cognitivista”. Segundo Mizukami
anseios e sonhos.
(1986, p.59), essa abordagem percebe a aprendizagem de forma
Mobilizar a juventude estudantil, demonstrando-lhes a impor-
científica, como um produto do meio, resultante dos fatores exter-
tância e o valor de um envolvimento ativo no trabalho educativo é,
nos. Preocupa-se com as relações sociais sem deixar de privilegiar a
sem dúvida, redesenhar uma nova escola.
capacidade do aluno em assimilar as informações.
Nessa teoria, o professor, além de planejar os conteúdos, preo-
Ensino-aprendizagem: Como entender esse processo?
Muitos pesquisadores consideram o ensino e a aprendizagem cupa-se em trabalhá-los da melhor forma, adequando-os ao desen-
termos indissociáveis na construção do conhecimento. Assim, não volvimento dos alunos. Aqui o professor é visto como um coordena-
se pode compreender a importância do primeiro, sem reconhecer o dor e o aluno como um sujeito ativo em seu processo de aprendiz.
significado a que o segundo nos remete nessa construção. Na abordagem “Sócio-Cultural”, a relação professor - aluno
Sabe-se que esses conceitos sofreram várias transformações ocorre de forma horizontal e não impositivamente. Isso significa
no decorrer da história de produção de conhecimento pelo ho- que as relações autoritárias são abolidas dessa teoria.
mem. Nesse sentido, o processo ensino-aprendizagem tem sido A ação pedagógica do professor e do aluno volta-se para uma
caracterizado de diferentes formas, ora procura dar ênfase à figura prática histórica real. Segundo Freire (1975), o educador e o edu-
do professor como detentor do saber, responsável pela transmissão cando são sujeitos do processo educativo, ambos crescem juntos
do conhecimento, ora vem destacar o papel do aluno como sujeito nessa perspectiva.
aprendiz, construtor de seu conhecimento. O professor e o aluno trabalham procurando desmistificar a
Por seguirem trajetórias paralelas, os estudos e as pesquisas cultura dominante. Dessa forma, à medida que os alunos partici-
sobre o como se ensina e o como se aprende demonstram que hoje pam do processo de construção do conhecimento, mais críticas se
não existe uma forma única para compreender esse processo. tornarão suas consciências.
Entretanto, nas últimas décadas, percebe-se uma crescente Com essa rápida retomada das principais teorias que contribu-
contribuição por parte das investigações realizadas na área da psi- íram historicamente no processo ensino-aprendizagem, é possível
cologia, as quais vêm propondo uma mudança significativa para as perceber que sempre houve uma preocupação, por parte da socie-
práticas escolares, visto que essas reflexões têm provocado um des- dade, em adequar as teorias às realidades de cada período histó-
locamento no eixo-pedagógico, mudando a valorização de como e rico.
quem ensina, para a preocupação de quem aprende e de como se Hoje, levando em consideração que a sociedade exige uma
aprende. nova consciência humana, busca-se, com a pedagogia “Histórico-
No entanto, para o professor entender melhor o contexto atual -Crítica” discutida e apresentada por Saviane, uma forma de supe-
e refletir criticamente sobre suas ações, faz-se necessária uma bre- rar as dificuldades até então encontradas na construção efetiva do
ve retomada sobre as tendências pedagógicas que influenciaram e conhecimento.
vêm influenciando o ensino e a aprendizagem ao longo da história Saviane sustenta, nessa concepção de ensino-aprendizagem,
educacional. uma teoria dialética, na qual a construção se dá num movimento
As tendências pedagógicas foram evoluindo e foram divididas dinâmico entre o conhecimento empírico e o conhecimento cien-
em cinco abordagens, dentre as quais algumas colocaram como seu tífico.
maior objetivo o refletir, o pensar e o fazer do professor.
A primeira abordagem a ser retomada é a “Tradicional”. Nessa

109
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Com base nos estudos desenvolvidos por Saviane dentro da Nessa teoria, professor e aluno modificam-se.
Pedagogia Histórico-Crítica, Gasparin (2005) apresenta de forma or- Assim, o aluno vai percebendo que ele também é autor da his-
ganizada uma proposta para o desenvolvimento eficaz de ensino e tória, visto que, de posse da compreensão do conhecimento, passa
aprendizagem. Trata-se de um método pedagógico totalmente vol- a entender melhor a sua realidade.32
tado para a transformação social.
Pois, por maior avanço que possa ter ocorrido no contexto edu- A contextualização dos currículos (interdisciplinaridade,
cacional, percebe-se ainda que os conteúdos escolhidos, a metodo- transdisciplinaridade e multidisciplinaridade)
logia utilizada e a postura profissional adotada por muitos educado- O papel da escola, mais precisamente do ensino e da educa-
res revelam uma visão de mundo nem sempre condizente com as ção, sempre foi e sempre será questionado através dos tempos.
propostas pedagógicas vigentes. Questionar-se-á não sobre a sua necessidade e importância na vida
Na tentativa de romper com algumas práticas que ainda privile- dos indivíduos, uma vez que estes temas já foram amplamente dis-
giam o exercício da repetição e da memorização nas escolas, Gaspa- cutidos e esgotados por diversos grupos durante a história. Ques-
rin (2005) busca fundamentar uma proposta, baseada também na tionar-se-á sempre se esta, a escola, tem servido ao seu papel so-
teoria Histórico-Cultural de Vigotsky, a qual considera e privilegia os ciológico, propósito central, de “cunhar” indivíduos preparando-os
conhecimentos que os alunos já trazem de casa, bem como estimu- para se posicionarem como seres sociais integrados e adaptados
la a aquisição daqueles que os discentes precisam saber. à convivência em grupo, à sociedade, agindo como participantes
Dentro dessa metodologia, o autor apresenta cinco passos, no desenvolvimento do todo. Ainda, não somente como membros
tendo início com a Prática Social Inicial. Nesse primeiro passo, o destes grupos capazes de se interrelacionarem com seus entes, mas
aluno precisa sentir-se estimulado e respeitado, só assim sentirá
como membros qualitativos capazes de somar através de suas habi-
segurança em expressar o que sabe e o que deseja aprender. É o
lidades e conhecimentos.
momento em que se iniciam as discussões sobre o conteúdo a ser
Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como algo
trabalhado e construído.
focado na “formatação” de indivíduos para serem inseridos em
A partir das colocações que vão sendo apresentadas pelos alu-
nos, dos questionamentos realizados e das informações que rece- grupos sociais perceberemos, claramente, de que o desafio aqui
bem sobre o conteúdo que será trabalhado pelo professor, constrói- proposto para a escola é, indubitavelmente, complexo e dinâmico.
-se o segundo passo, que é a Problematização. Dinâmico pelo fato de se estruturar sobre um conjunto de regras
Esse é um dos momentos mais importantes, pois, dependendo e padrões, os sociais, que se apresentam em constante mudança,
do encaminhamento desse passo, os alunos manifestarão interesse reflexo do próprio processo evolutivo social de cada era na qual
ou não pelo que vai ser estudado. Na Problematização, escolher as se viverá; Complexo pelo fato de exigir de si mesma a necessidade
perguntas mais importantes é uma forma de garantir a participação de capacitar o indivíduo a observar a sociedade, seus problemas,
ativa dos alunos no processo. É um momento de confronto entre relacionamentos e saberes de uma forma dinâmica, interligada,
os conhecimentos apresentados pelo professor e os trazidos pelos completamente dependente de causas e efeitos nas mais diversas
alunos. Quanto maiores e mais ricas as experiências apresentadas, áreas, do saber do conhecimento ao saber do relacionamento, per-
melhores serão as análises entre teoria e prática. mitindo assim, e somente assim, que estes possam ser formados
A problematização é um dos momentos mais ricos do planeja- com as habilidades necessários, acima descritas, para ocuparem
mento da aula, pois a partir desse passo se define o que realmente sua posição dentro desta sociedade.
precisa ser estudado e aprofundado. Nesse momento, o aluno deve Diante do entendimento da complexidade na qual estamos in-
receber várias informações para que possa estabelecer relações seridos percebe-se a necessidade da implantação de um raciocínio
com a sua realidade. horizontalizado complementar para o estabelecimento do saber. O
Em seguida, para que o aluno crie, recrie e incorpore o conteú- estudo dos problemas através de uma comunicação horizontalizada
do que está sendo trabalhado em sua vida, é preciso sistematizá-lo, se faz necessário no intuito de maximizar o “produto social final”
é o momento da Instrumentalização. esperado das escolas, e mais do que isso, para a busca da democra-
Na instrumentalização, o professor, por meio de uma ação bas- tização real do conhecimento através da libertação do pensamento,
tante mediada, irá junto com os alunos identificar os princípios prá- da visão e do raciocínio crítico na formação do saber individual seja
ticos e teóricos do conteúdo estudado. ele de quem for.
Num quarto momento, ocorre a Catarse, compreende-se que Currículo e as disciplinas
aqui o aluno é capaz de apresentar um posicionamento mais ela-
O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual na
borado da Prática Social, integrando os conhecimentos que já co-
qual estão inseridas as escolas e centros de pensamento crítico-cria-
nhecia com os científicos. Considera-se que esse é o momento de
tivo, os centros de ensino superior.Umas das primeiras barreiras en-
apropriação do conteúdo.
contradas para a implantação de um pensamento horizontalizado
Para Gasparin (2005, p. 130), no momento da Catarse social
feita com base em necessidades criadas pelo homem. Nesse mo- na construção do conhecimento esta na estrutura do currículo.
mento, esse conhecimento possui uma função explícita: a transfor- Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os posi-
mação social. cionamentos de autores como Apple e Weis sobre o currículo. Para
Assim, o aluno vai percebendo que ele também é autor da his- estes o foco central na estruturação do currículo esta na concre-
tória, visto que, de posse da compreensão do conhecimento, passa tização do monopólio social sobre a sociedade através do campo
a entender melhor a sua realidade. educacional. Apple prossegue afirmando que esta ferramenta será
Num último momento, conhecido como Prática Social Final, o estruturada através de regras não formalizadas que constituirão o
aluno finalmente vai colocar seus conhecimentos em prática. Pode- que ele mesmo denominou de “currículo oculto”.
-se dizer que o horizonte de expectativas dos alunos vai ser amplia- Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva(Moreira e Silva,
do. A Prática Social Inicial vai ser agora alterada. E o aluno passa a 1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículoé um local
perceber a realidade de forma diferente, entendendo melhor seu de “jogos de poder”, de inclusões e exclusões, uma arena política.
entorno, sendo capaz de reformulá-lo caso seja necessário. 32 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br - Por Rita de Cássia Soares Lopes

110
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Na busca da prática da horizontalização do pensamento e do das disciplinas, é na verdade um “processo de co-participação, reci-
estudo a presença do currículo como selecionador de conhecimen- procidade, mutualidade, diálogo que caracterizam não somente as
tos pré-definidos se constitui como uma ferramenta castratória que disciplinas, mas todos os envolvidos no processo educativo”(idem).
limita o docente a mero reprodutor de conhecimento. São verda-
deiros instrumentos que tolem o processo crítico-criativo necessá- Transdisciplinaridade
rio ao entendimento contextualizado e multifacetado das proble- A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por Piaget
máticas presentes na vida real. em 1970 (PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo, só recentemente
A presença do currículo formal como ferramenta norteado- é que esta proposta tem sido analisada e pontualmente estudada
ra do processo de ensino-aprendizado institui a fragmentação do para implementação como processo de ensino/aprendizado.
conhecimento trazendo ao discente uma visão completamente Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas são
esfacelada do item analisado e desta forma impossibilitando uma praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é impossí-
compreensão maior de mundo, de sociedade e de problemática es- vel identificar onde um começa e onde ela termina.
tudada. “a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e abor-
Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o abando- dar, atravessando as fronteiras epistemológicas de cada ciência,
no do currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente, para a praticando o diálogo dos saberes sem perder de vista a diversidade
adoção do “currículo da sala de aula”. Este, construído no trabalho e a preservação da vida no planeta, construindo um texto contextu-
diário do docente e do seu relacionamento com o meio na busca alizado e personalizado de leitura de fenôminos”. (Theofilo, 2000)
pela compreensão multifacetada da realidade vivenciada do aluno. A importância deste novo método de analise das problemáticas
Seria a instituição da relação dialógica real entre o professor e o sob a ótica da transdisciplinaridade pode ser constatada através da
aluno na construção do saber. recomendação instituída pela UNESCO em sua conferência mundial
Na construção deste currículo informal, mas real, extraído das para o ensino Superior (UNESCO, 1998).
páginas da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade da dis- Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: “A transdisciplina-
solução das barreiras entre as disciplinas buscando uma visão inter- ridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas, através
disciplinar do saber “que respeite a verdade e a relatividade de cada das disciplinas e para além de toda a disciplina”. A esta ultima colo-
disciplina, tendo-se em vista um conhecer melhor” (Fazenda,1992) cação entende-se “zona do espiritual e/ou sagrado”.
Surge então a necessidade de reformular o modus operan- O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas cada
diestabelecido através da re-análise das atuais temáticas e conse- vez mais complexos. Estes podem estar ligados a própria comple-
qüentemente propondo uma visão horizontalizada para a analise e xidade do inter-relacionamento dentro da sociedade humana ou
pesquisa dos temas apresentados no dia-a-dia do discente surgem através do grau de especialização atingido pelo conhecimento cien-
a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplina-
tífico da humanidade.
ridade.
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracterizado pela
era da informação, do avanço tecnológico diuturno, da capacidade
Multidisciplinaridade
de interconexão em rede e de outras propriedades que caracteri-
A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de to-
zam os paradigmas que constituem essa nova era, precisa encontrar
das as 3 visões. Para este, um elemento pode ser estudado por dis-
na escola, seu ente social para a formação, o aparato técnico-cientí-
ciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma
fico-social capaz de o “cunhar” para a sua participação social.
sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado.
Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são vivencia-
Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia mais correta
para esta visão seria a da justaposição das disciplinas cada uma co- dos hoje pela humanidade, a necessidade de se repensar o proces-
operando dentro do seu saber para o estudo do elemento em ques- so de ensino-aprendizagem atual se faz necessário. Continuar com
tão. Nesta, cada professor cooperará com o estudo dentro da sua o processo pedagógico-histórico atualmente instituído nas escolas
própria ótica; um estudo sob diversos ângulos, mas sem existir um e centros de estudo acadêmico é somente comparável com a gera-
rompimento entre as fronteiras das disciplinas. ção de indivíduos, e consequentemente, de uma sociedade, intelec-
Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento tualmente analfabeta e limitada.33
horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui
o inicio do fim da especialização do conteúdo. Para Morin (Morin, Conteúdos de aprendizagem
2000) a grande dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na Apesar de aparentemente tão diferentes, essas duas tendên-
difícil localização da “via de interarticulação” entre as diferentes cias tem em comum uma visão dicotômica do que seja conhecimen-
ciências.É importante lembrar que cada uma delas possui uma lin- to escolar, acabando por fragmentar um processo que não pode
guagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzi- ser fragmentado. Não se pode separar, por exemplo, o processo de
dos entre as linguagens. aprendizagem dos conteúdos disciplinares do processo de partici-
pação dos alunos, nem separar as disciplinas da realidade atual. Os
Interdisciplinaridade conteúdos disciplinares não surgem do acaso. Deveriam ser frutos
A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é indis- de interação dos grupos sociais com sua realidade cultural.
pensável para a implantação de uma processo inteligente de cons- Por outro lado, as novas gerações não podem prescindir do co-
trução do currículo de sala de aula – informal, realístico e integrado. nhecimento acumulado socialmente e organizado nas disciplinas,
Através da interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo se- sob pena de estarmos sempre “redescobrindo a roda” ou fazendo
torizado para um conhecimento integrado onde as disciplinas cien- um “retrabalho”. Também não é possível deixar de lado a presen-
tíficas interagem entre si. ça dos alunos com seus interesses, suas concepções, sua cultura,
Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinaridade principal motivo da existência da escola. Na verdade, o que muitos
é a forma correta de se superar a fragmentação do saber instituída professores têm visto como dois processos constitui um único pro-
no currículo formal. Através desta visão ocorrem interações recípro- cesso, global e complexo, com várias dimensões que se inter-rela-
cas entre as disciplinas. Estas geram a troca de dados, resultados, cionam.
informações e métodos.Esta perspectiva transcende a justaposição
33 Fonte: www.webartigos.com

111
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A Pedagogia de Projetos permite, aos alunos, analisar os pro- Para garantir que os conhecimentos ou conteúdos trabalhados
blemas, as situações e os conhecimentos dentro de um contexto e tenham um significado real para o aluno, um outro cuidado é ne-
em sua totalidade, utilizando, para isso, os conhecimentos presen- cessário: lembrarmo-nos de que os conhecimentos não existem, no
tes nas disciplinas e sua experiência sociocultural. mundo real, divididos em disciplinas.
Acrescentamos a essa metodologia uma reflexão sobre a reali- Ao desempenhar qualquer atividade social ou profissional na
dade social, orientando os Projetos de Trabalho para “ uma reflexão vida, utilizamos concomitantemente saberes diversos: a enfermeira
sobre as condições de vida da comunidade que o grupo faz parte, usa a linguagem matemática para calcular a porcentagem de um
analisando-as em relação a um contexto sócio-político maior e ela- desinfetante químico que será aplicado na desinfecção de um abs-
borando propostas de intervenção que visem transformação social” cesso originado por uma mosca com determinado ciclo de vida e
(FREIRE, 1997). que se prolifera em determinadas regiões geográficas. A história
O que se coloca, portanto, não é a organização de projetos em dessa patologia orienta as políticas públicas de combate à doença,
detrimento dos conteúdos das disciplinas, e, sim, a construção de articuladas com as condições socioeconômicas da população.
uma prática pedagógica centrada na formação global dos alunos. O Na vida, os conteúdos são todos integrados. Separá-los em dis-
desenvolvimento de projetos, com o objetivo de resolver questões ciplinas é uma operação humana que tem facilitado a aquisição des-
relevantes para o grupo, vai gerar necessidade de aprendizagem, ses conhecimentos, mas que tem, por outro lado, destituído muitas
e, nesse processo, os alunos irão se defrontar com os conteúdos vezes esses conhecimentos de seu significado, só apreensível no
das diversas disciplinas, entendidos como “instrumentos culturais” interior da totalidade social onde eles ocorrem.
valiosos para a compreensão da realidade e a intervenção em sua Daí a noção de globalização que tem sido muito valorizada no
dinâmica. “ campo da educação e que a Pedagogia de Projetos também tem
Segundo Hernandez ( 2000 ), com os projetos de trabalho, levantado. A idéia de globalização remete a essa visão de que o co-
os alunos não entram em contato com os conteúdos disciplinares nhecimento é global, não segmentado e que sua fragmentação em
a partir de conceitos abstratos e de modo teórico, como, muitas disciplinas faz parte de um momento de sua produção. Entretanto,
vezes, tem acontecido nas práticas escolares. Nessa mudança de é necessário alcançar uma nova etapa: aprofundar-se nos conheci-
perspectiva, os conteúdos deixam de ser um fim em si mesmos e mentos, trabalhando com eles em sua especialização mas não parar
passam a ser meios para ampliar a formação dos alunos e sua inte- aí: reconstruir seu caráter global a cada passo, garantindo assim seu
ração com a realidade, de forma crítica e dinâmica. significado real na vida e no mundo.
Há, também, o rompimento com a concepção de “neutralida- Isso impõe novos desafios ao professor: romper os limites de
de” dos conteúdos disciplinares que passam a ganhar significados nossa formação fragmentada e reconstruir as relações de nossa
diversos, a partir das experiências sociais dos alunos, envolvidos área específica de conhecimento com outras áreas de saber cor-
nos projetos”. relatas. Mais uma vez os educadores da formação profissional têm
Essa mudança de perspectiva traz consequência na forma de vantagens: no mundo do trabalho os saberes são necessariamente
selecionar e sequenciar os conteúdos das disciplinas. Esta costuma- integrados e a solução dos problemas está cada vez mais evidente-
va ser construída em etapas, de modo cumulativo, em que o conte- mente vinculada a uma visão mais global dos processos. Por isso a
údo dever ser “vencido” para outro ser “apresentado” ao aluno. Os exigência de os educadores da Educação Profissional trabalharem
projetos de trabalho trazem nova concepção de sequenciação, fun- nesse sentido.
dada na dinâmica, no processo de “ir e vir”, em que os conteúdos Aproveitar os conhecimentos prévios dos alunos cumprem
vão sendo tratados de forma mais abrangente e flexível, dependen- um papel fundamental nos processos de aprendizagem. E falando
do do conhecimento prévio e da experiência cultural dos alunos. novamente da aprendizagem, vale lembrar que o primeiro passo
Assim, um mesmo projeto pode ser desencadeado em turmas do processo de aprendizagem é a busca de compreensão daqueles
de séries diferentes, recebendo tratamento diferenciado, a partir novos elementos aos quais estamos tendo acesso e essa compre-
do perfil dos grupos. ensão é construída pelo relacionamento de nossos conhecimentos
A aprendizagem por projetos ocorre por meio da interação e anteriores com os novos saberes.
articulação entre conhecimentos de distintas áreas, conexões es- Conceitos e relações são assim desestabilizados e reconstruí-
tas que se estabelecem a partir dos conhecimentos cotidianos dos dos, mas apenas se acontecer esse diálogo entre os conhecimentos
alunos, cujas expectativas, desejos e interesses são mobilizados na prévios, também chamados de representações dos alunos, concep-
construção de conhecimentos científicos. ções alternativas ou culturas de referência e os novos saberes.
Os conhecimentos cotidianos emergem como um todo uni- Os conhecimentos prévios são as estruturas de acolhimento
tário da própria situação em estudo, portanto sem fragmentação dos novos conceitos e por isso devem ser cuidadosamente investi-
disciplinar, e são direcionados por uma motivação intrínseca. Cabe gados pelo professor e levados em conta no momento de se cons-
ao professor provocar a tomada de consciência sobre os conceitos truir propostas de atividades de aprendizagem. Para isso é necessá-
implícitos nos projetos e sua respectiva formalização, mas é preci- rio que cada educador domine e aplique em seus cursos diferentes
so empregar o bom-senso para fazer as intervenções no momento estratégias de sondagem de conhecimentos: questionários, entre-
apropriado. vistas, debates, júris-simulados, jogos e dinâmicas, dentre outros.
O professor é o consultor, articulador, mediador, orientador, Além da aprendizagem, o conteúdo também é um segmento
especialista e facilitador do processo em desenvolvimento pelo alu- muito importante do campo educacional que deve ser analisado
no. A criação de um ambiente de confiança, respeito às diferenças com atenção. O conteúdo dever ser contextualizado; aplicado à re-
e reciprocidade, encoraja o aluno a reconhecer os seus conflitos e alidade dos alunos. Ou seja, os conteúdos de ensino devem desper-
a descobrir a potencialidade de aprender a partir dos próprios er- tar nos alunos motivação para mudança de comportamento.
ros. Da mesma forma, o professor não terá inibições em reconhecer Nenhum educador deverá limitar-se ao conteúdo de uma ma-
seus próprios conflitos, erros e limitações e em buscar sua depura- téria de ensino disposta em livro ou revista didática. Antes, deve
ção, numa atitude de parceria e humildade diante do conhecimento ele em sua prática docente, considerar suas próprias experiências
que caracteriza a postura interdisciplinar como já mensionado. de vida como singular fonte de material útil ao bom êxito do ensi-
no. Os livros que o professor lê, as pessoas com quem tem contato

112
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
diariamente e cada experiência pessoal poderão constituir excelen- Democratização da escola: autonomia, autogestão, participa-
tes materiais para auxiliá-lo na tarefa de mediar a aprendizagem ção e cidadania
do aluno. As mudanças vividas na atualidade (décadas de 80 e 90) em
Apesar de o material didático especializado ser de suma im- nível mundial, em termos econômicos, sociais e culturais, com a
portância, nunca deverá o educador desperdiçar a oportunidade de transnacionalização da economia e o intercâmbio quase imediato
enriquecer suas aulas com sua prática de vida. de conhecimentos e padrões sociais e culturais, através das novas
As informações devem ser transformadas em conhecimento. O tecnologias da comunicação, entre outros fatores, têm provocado
professor não deve valorizá-las excessivamente. uma nova atuação dos Estados nacionais na organização das polí-
Com o advento da globalização, a informação e o conhecimen- ticas públicas, por meio de um movimento de repasse de poderes
to estão à disposição de todos. Hoje uma pessoa pode ter acesso e responsabilidades dos governos centrais para as comunidades
num só dia a um número equivalente de informações que um su- locais. Na educação, um efeito deste movimento são os processos
jeito teria a vida inteira na Idade Média. A massa de conhecimento de descentralização da gestão escolar, hoje percebidos como uma
da humanidade que hoje dobra a cada dois anos, dobrará a cada 80 das mais importantes tendências das reformas educacionais em ní-
dias nos próximos 10 a quinze anos.
vel mundial (Abi-Duhou, 2002) e um tema importante na formação
É quase impossível para o professor competir com seus alunos,
continuada dos docentes e nos debates educacionais com toda a
principalmente os jovens, em termos de quantidade de informação.
sociedade.
Isto em função de os jovens passarem a maior parte do tempo co-
Como essa tendência é vivida nas escolas e nos sistemas edu-
nectados à Internet. O que fazer?
Os professores deverão ajudá-los a selecionarem e priorizarem cacionais? Quais são as diferentes possibilidades de vivenciar pro-
as melhores informações para transformá-las em conhecimento útil cessos de descentralização e autonomia nas escolas e nos sistemas?
às suas vidas em todas as áreas. E nesse contexto entra com força, Que desafios precisam ser enfrentados, considerando uma tradição
a Pedagogia de Projetos que vem auxiliar o professor, como uma autoritária e centralizadora, comum em tantos países, dentre eles
importante ferramenta, colaborando para o desenvolvimento da o Brasil? De que modo oportunizar a participação da comunidade
aprendizagem dentro desse ambiente globalizado em que o aluno educativa, a partir da diversidade dos diferentes atores sociais?
está inserido.34 Qual a relação entre democratização da escola e qualidade de ensi-
no? O que se entende por gestão democrática na educação? Essas
Formas de organização dos conteúdos são algumas das preocupações que surgem quando se busca im-
Os conteúdos escolares podem assumir diferentes orientações, plementar processos de descentralização e autonomia no campo
conforme as várias teorias da educação que foram construídas his- da educação.
toricamente. A gestão democrática da educação formal está associada ao es-
A importância de organizar e selecionar os conteúdos é indiscu- tabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização
tível. Alguns educadores acreditam que a organização do conteúdo de ações que desencadeiem a participação social: na formulação de
se constitui numa só unidade, em que teoria e prática se fundem. políticas educacionais; no planejamento; na tomada de decisões;
Ou seja, no fazer gera-se o saber. Outros procuram redefinir os na definição do uso de recursos e necessidades de investimento; na
conteúdos a partir de um determinado ponto de vista da classe. E execução das deliberações coletivas; nos momentos de avaliação
existem aqueles que colocam a sistematização do conhecimento a da escola e da política educacional. Também a democratização do
partir de problemas postos pela prática social. acesso e estratégias que garantam a permanência na escola, tendo
Em suma, podemos nos balizar em teóricos que definem o con- como horizonte a universalização do ensino para toda a população,
ceito de saber sistematizado ou fontes de conteúdos, levando em bem como o debate sobre a qualidade social3dessa educação uni-
conta a estrutura lógica da matéria, as condições psicológicas do versalizada, são questões que estão relacionadas a esse debate. Es-
aluno para a aprendizagem em questão e as necessidades socio- ses processos devem garantir e mobilizar a presença dos diferentes
econômicas e culturais do contexto em que o aluno está inserido. atores envolvidos, que participam no nível dos sistemas de ensino e
E, embora alguns educadores tenham seus próprios métodos
no nível da escola (Medeiros, 2003).
para organizar os conteúdos sequencialmente, é recomendado
Esta proposta está presente hoje em praticamente todos os
observar alguns critérios, quais sejam, sequências coerentes com
discursos da reforma educacional no que se refere à gestão, cons-
a estrutura e o objetivo da disciplina; gradualidade na distribuição
tituindo um “novo senso comum”, seja pelo reconhecimento da
adequada em pequenas etapas considerando a experiência ante-
rior do aluno; continuidade que proporcione a articulação entre os importância da educação na democratização, regulação e “progres-
conteúdos; integração entre as diversas disciplinas do conteúdo. so” da sociedade, seja pela necessidade de valorizar e considerar a
diversidade do cenário social, ou ainda a necessidade de o Estado
A apresentação dos conteúdos deve conter inter-relação entre sobrecarregado (Barroso, 2000) “aliviar-se” de suas responsabilida-
as sequências, de forma orgânica e dinâmica. Além disso, é preciso des, transferindo poderes e funções para o nível local.
distinguir os conteúdos essenciais dos desnecessários e definir o ne- Em nível prático, encontramos diferentes vivências dessa pro-
cessário para preparar suficientemente o aluno para ler, escrever, posta, como a introdução de modelos de administração empre-
interpretar e resolver problemas. sariais, ou processos que respeitam a especificidade da educação
Em tempo, sabe-se que o conteúdo, o conhecimento, só ad- enquanto política social, buscando a transformação da sociedade
quire significado se vinculado à necessidade real, capaz de fornecer e da escola, através da participação e construção da autonomia e
instrumentais teóricos e práticos com propósito na vida social do da cidadania. Falar em gestão democrática nos remete, portanto,
aluno. E, nessa perspectiva, não basta ter o olhar apenas científico quase que imediatamente a pensar em autonomia e participação. O
sobre o conteúdo escolar, ainda que numa postura crítica, é neces- que podemos dizer sobre esses dois conceitos, já que há diferentes
sário vivenciar e trabalhar o processo de seleção e organização, que possibilidades de compreendê-los?
são instrumentos de um fazer educativo politicamente definido.35
34 Fonte: www.portaleducacao.com.br/www.pedagogiadidatica.blogspot.com
35 Formas: www.educador.brasilescola.uol.com.br

113
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Pensar a autonomia é uma tarefa que se apresenta de forma Na Gestão democrática deve haver compreensão da adminis-
complexa, pois se pode crer na ideia de liberdade total ou indepen- tração escolar como atividade meio e reunião de esforços coletivos
dência, quando temos de considerar os diferentes agentes sociais e para o implemento dos fins da educação, assim como a compreen-
as muitas interfaces e interdependências que fazem parte da orga- são e aceitação do princípio de que a educação é um processo de
nização educacional. Por isso, deve ser muito bem trabalhada, a fim emancipação humana; que o Plano Político pedagógico (PPP) deve
de equacionar a possibilidade de direcionamento camuflado das ser elaborado através de construção coletiva e que além da forma-
decisões, ou a desarticulação total entre as diferentes esferas, ou ção deve haver o fortalecimento do Conselho Escolar.
o domínio de um determinado grupo, ou, ainda, a desconsideração A gestão democrática da educação está vinculada aos me-
das questões mais amplas que envolvem a escola. canismos legais e institucionais e à coordenação de atitudes que
Outro conceito importante é o da participação, pois também propõem a participação social: no planejamento e elaboração de
pode ter muitos significados, além de poder ser exercida em dife- políticas educacionais; na tomada de decisões; na escolha do uso
rentes níveis. Podemos pensar a participação em todos os momen- de recursos e prioridades de aquisição; na execução das resoluções
tos do planejamento da escola, de execução e de avaliação, ou pen- colegiadas; nos períodos de avaliação da escola e da política edu-
sar que participação pudesse ser apenas convidar a comunidade cacional. Com a aplicação da política da universalização do ensino
para eventos ou para contribuir na manutenção e conservação do deve-se estabelecer como prioridade educacional a democratiza-
espaço físico. Portanto, as conhecidas perguntas sobre “quem par- ção do ingresso e a permanência do aluno na escola, assim como a
ticipa?”, “como participa?”, “no que participa?”, “qual a importân- garantia da qualidade social da educação.
cia das decisões tomadas?” devem estar presentes nas agendas de As atitudes, os conhecimentos, o desenvolvimento de habili-
discussão da gestão na escola e nos espaços de definição da política dades e competências na formação do gestor da educação são tão
educacional de um município, do estado ou do país. importantes quanto a prática de ensino em sala de aula. No en-
Quais são os instrumentos e práticas que organizam a vivência tanto, de nada valem estes atributos se o gestor não se preocupar
da gestão escolar? Em geral, esses processos mesclam democracia com o processo de ensino/aprendizagem na sua escola. Os gesto-
representativa - instrumentos e instâncias formais que pressupõem res devem também possuir habilidades para diagnosticar e propor
soluções assertivas às causas geradoras de conflitos nas equipes
a eleição de representantes, com democracia participativa - estabe-
de trabalho, ter habilidades e competências para a escolha de fer-
lecimento de estratégias e fóruns de participação direta, articulados
ramentas e técnicas que possibilitem a melhor administração do
e dando fundamento a essas representações.
tempo, promovendo ganhos de qualidade e melhorando a produ-
Vários autores, como Padilha (1998) e Dourado (2000), de-
tividade profissional. O Gestor deve estar ciente que a qualidade
fendem a eleição de diretores de escola e a constituição de con- da escola é global, devido à interação dos indivíduos e grupos que
selhos escolares como formas mais democráticas de gestão. Outro influenciam o seu funcionamento. O gestor, que pratica a gestão
elemento indispensável é a descentralização financeira, na qual o com liderança deve buscar combinar os vários estilos como, por
governo, nas suas diferentes esferas, repassa para as unidades de exemplo: estilo participativo que é uma liderança relacional que
ensino recursos públicos a serem gerenciados conforme as delibe- se caracteriza por uma dinâmica de relações recíprocas; estilo per-
rações de cada comunidade escolar. Estes aspectos estarão confor- ceptivo/flexível que é uma liderança situacional que se caracteriza
mados na legislação local, nos regimentos escolares e regimentos por responder a situações específicas;estilo participativo/negocia-
internos dos órgãos da própria escola, como o Conselho Escolar e a dor que é uma liderança consensual que se caracteriza por estar
ampla Assembleia da Comunidade Escolar. voltada a objetivos comuns, negociados; e estilo inovador: que é
Para funcionar em uma perspectiva democrática, segundo Ci- uma liderança prospectiva que se caracteriza por estar direciona-
seki (1998), os Conselhos, de composição paritária, devem respal- da à oportunidade, isto é, à visão de futuro. O gestor deve saber
dar-se em uma prática participativa de todos os segmentos escola- integrar objetivo, ação e resultado, assim agrega à sua gestão cola-
res (pais, professores, alunos, funcionários). Para tal, é importante boradores empreendedores, que procuram o bem comum de uma
que todos tenham acesso às informações relevantes para a tomada coletividade.37
de decisões e que haja transparência nas negociações entre os re-
presentantes dos interesses, muitas vezes legitimamente conflitan- O que é Gestão Democrática?
tes, dos diferentes segmentos da comunidade escolar. Os conselhos A Gestão Democrática é uma forma de gerir uma instituição de
e assembleias escolares devem ter funções deliberativas, consulti- maneira que possibilite a participação, transparência e democracia.
vas e fiscalizadoras, de modo que possam dirigir e avaliar todo o Esse modelo de gestão, segundo Vieira (2005), representa um im-
processo de gestão escolar, e não apenas funcionar como instância portante desafio na operacionalização das políticas de educação e
de consulta. no cotidiano da escola.
Em seu projeto político-pedagógico, construído através do pla-
nejamento participativo, desde os momentos de diagnóstico, pas- Contextualização
sando pelo estabelecimento de diretrizes, objetivos e metas, execu- No Brasil, com a reabertura político-democrática, pós Ditadura
Militar (1964 - 1985), a Constituição Federal de 1988 chegou para
ção e avaliação, a escola pode desenvolver projetos específicos de
definir a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei”
interesse da comunidade escolar, que devem ser sistematicamente
como um de seus princípios (Art. 2006, Inciso VI). Alguns anos mais
avaliados e revitalizados. A gestão democrática da escola significa,
tarde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, vem
portanto, a conjunção entre instrumentos formais - eleição de dire-
reforçar esse princípio, acrescentando apenas “e a legislação do sis-
ção, conselho escolar, descentralização financeira - e práticas efeti- tema de ensino” (Art. 3º, Inc. VIII). A partir de então, o tema se
vas de participação, que conferem a cada escola sua singularidade, tornou um dos mais discutidos entre os estudiosos da área educa-
articuladas em um sistema de ensino que igualmente promova a cional.
participação nas políticas educacionais mais amplas.36

36 Fonte: www.portaleducacao.com.br – Texto adaptado de Maria Beatriz Luce


/ Isabel Letícia Pedroso de Medeiros 37 Fonte: www.educador.brasilescola.com – Texto adaptado de Amelia Hamzé

114
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Detalhamento na LDB A Constituição Federal de 1988 dispõe no inciso VI, do artigo
A LDB, em seus artigos 14 e 15, apresentam as seguintes deter- 206, que a educação escolar será ministrada com base em princí-
minações, no tocante à gestão democrática: pios, estando entre eles a “gestão democrática do ensino público,
Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão na forma da lei”.
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com Esta disposição constitucional é assumida na LDB/96, em seu
as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: artigo 3º, e complementada pelo artigo 14, que aponta os princí-
I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do pios norteadores no âmbito dos sistemas de ensino e das escolas,
projeto pedagógico da escola; da seguinte forma:
II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrá-
escolares ou equivalentes. tica do ensino público na educação básica de acordo com as suas
Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola- peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
res públicas de educação básica que os integram progressivos graus I. participação dos profissionais da educação na elaboração do
de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, projeto pedagógico da escola;
observadas as normas de direito financeiro público. II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos
Estes artigos da LDB, acima citados, dispõem que a “gestão de- escolares ou equivalentes.
mocrática do ensino público na educação básica aos sistemas de
ensino, oferece ampla autonomia às unidades federadas para defi- O Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/01, tam-
nirem em sintonia com suas especificidades formas de operaciona-
bém estabelecia, como objetivos e prioridades, a
lização da gestão, com a participação dos profissionais da educação
[...] democratização da gestão do ensino público nos estabe-
envolvidos e de toda a comunidade escolar e local” (VIEIRA, 2005).
lecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da
Elementos Básicos
Os elementos básicos da Gestão Democrática podem se apre- escola e a participação das comunidades escolar e local em conse-
sentar de várias maneiras, na esfera escolar, as principais são: na lhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 2002).
constituição e atuação do Conselho escolar; na elaboração do Pro- Como se pode verificar, a legislação educacional assinala a ges-
jeto Político Pedagógico, de modo coletivo e participativo; na de- tão democrática como princípio da educação nacional, presença in-
finição e fiscalização da verba da escola pela comunidade escolar; dispensável em instituições escolares públicas e apregoa a existên-
na divulgação e transparência na prestação de contas; na avaliação cia de Conselhos Escolares como forma de participação e promoção
institucional da escola, professores, dirigentes, estudantes, equipe do diálogo da comunidade educacional. Para Vasconcellos (2007),
técnica; na eleição direta para diretor(a);38 “o Conselho deve ser um espaço de exercício autêntico do diálogo,
do poder de decisão, portanto, de resgate da condição de sujeitos
Colegiados Escolares históricos de transformação, na busca do bem comum no âmbito da
A função das instituições escolares vai muito além do ensino escola e de suas relações”.
pedagógico. Formar cidadãos politizados, com poder de decisão e Os Conselhos Escolares, na medida em que reúnem diferentes
capazes de agir e interagir no meio em que vivem deve ser a mis- segmentos da escola como diretores, professores, equipe pedagó-
são das escolas comprometidas com a sociedade. Mas para que gica, funcionários administrativos, alunos, pais, entre outros, têm
isso aconteça é necessária uma ação conjunta entre todas as par- um papel estratégico no processo de democratização e de constru-
tes interessadas. Uma maneira de promover essa interação é por ção da cidadania.
meio do Colegiado Escolar, um modelo de administração coletiva,
em que todos participam dos processos decisórios e do acompa- O Conselho tem sua definição assim esclarecida por Cury:
nhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, Conselho vem do latim consilium. Por sua vez, consilium pro-
envolvendo as questões administrativas, financeiras e pedagógicas. vém do verbo consulo/consulere, significando tanto ouvir alguém
A importância dos órgãos colegiados nas escolas é tema recor- quanto submeter algo a uma deliberação de alguém, após uma
rente quando se aborda a gestão democrática, pois esses garantem, ponderação refletida, prudente e de bom senso. Trata-se, pois, de
na forma da lei, a prática da participação na escola, na busca pela um verbo cujos significados postulam a via de mão dupla: ouvir e
descentralização do poder e da consciência social entorno da oferta ser ouvido. Obviamente a recíproca audição se compõe com o ver
de uma educação de qualidade.
e ser visto e, assim sendo, quando um Conselho participa dos desti-
Uma gestão considerada democrática investe na autonomia
nos de uma sociedade ou de partes destes, o próprio verbo consu-
dos sujeitos para o compartilhamento das decisões, identificando
lere já contém um princípio de publicidade. (2000).
o potencial de colaboração de cada pessoa e segmento escolar pro-
A função do Conselho Escolar, então, está em garantir a partici-
movendo um trabalho coletivo na construção da cidadania e efeti-
vação do processo democrático. pação de todos os segmentos envolvidos no processo educacional,
promover a democratização da gestão e a descentralização do po-
Conselhos Escolares der.
A função da educação escolar, pode-se concluir pelos funda- A importância da consolidação dos Conselhos Escolares na
mentos aqui expostos, como uma dimensão da cidadania, o que escola pública tem seu reconhecimento pelo governo federal por
implica o direito de todos os sujeitos ao conhecimento sistemáti- meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) lançado em
co, como acesso ao saber historicamente acumulado, o patrimônio 24 de abril de 2007 e do Decreto n. 6.094/07 que dispõe sobre a
universal da humanidade. Esse direito está explicitado no inciso III, implementação do “Plano de Metas Compromisso Todos pela Edu-
do art. 13 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB): cação”, programa estratégico do PDE, que define 28 diretrizes pau-
“zelar pela aprendizagem dos alunos”, isso significa priorizar o pro- tadas em resultados de avaliação de qualidade e de rendimento dos
cesso de aprendizagem do aluno e possibilitar condições para a prá- alunos.
tica cidadã.
38 Fonte: www.infoescola.com – Texto adaptado de Ana Lídia Lopes do Carmo

115
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
A Meta nº 25 do Plano, visa “Fomentar e apoiar os conselhos sociais da comunidade escolar. Efetua movimentação financeira em
escolares, envolvendo as famílias dos educandos, com as atribui- bancos como recebimento e aplicação das verbas públicas, de con-
ções, dentre outras, de zelar pela manutenção da escola e pelo mo- vênios da mantenedora (municipal, estadual ou federal), advindas
nitoramento das ações e consecução das metas do compromisso”. do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), como Unidade Exe-
Pode-se afirmar, então, que o Conselho Escolar é parte consti- cutora (UEx) de cunho social.
tutiva da estrutura da gestão da escola e deve ser concebido como A APM pode exercer várias finalidades como: colaborar com a
seu órgão máximo de deliberação. Como todo órgão colegiado, o direção da escola para atingir os objetivos educacionais propostos
Conselho Escolar toma decisões coletivas, isso significa que ele só no projeto pedagógico; representar as aspirações da comunidade e
existe enquanto estiver reunido. Vale ressaltar que nenhum mem- dos pais de alunos perante a escola; mobilizar os recursos humanos,
bro do Conselho toma decisões fora do colegiado só porque é mem- materiais e financeiros da comunidade para auxiliar a escola e pro-
bro integrante dele. ver condições que permitam esse fim, como, por exemplo, o esta-
O Conselho Escolar tem como funções as ações deliberativas, belecimento de parcerias; trabalhar para a melhoria do ensino e da
consultivas, mobilizadoras e fiscalizadoras. Sua composição pode aprendizagem; desenvolver atividades de assistência ao escolar nas
assim ser definida: diretor da escola; representante dos alunos; re- áreas socioeconômica e de saúde; conservar e manter a infraestru-
presentante dos pais ou responsáveis pelos alunos; representante tura escolar, os equipamentos e as instalações; promover progra-
dos professores; representante da equipe pedagógica; representan- mação de atividades culturais e de lazer que envolva a participação
te dos trabalhadores da educação não docentes; representante da conjunta de pais, professores, alunos e comunidade; acompanhar
comunidade local. a execução de pequenas obras de construção ou reforma no pré-
Os membros efetivos do Conselho Escolar são representantes dio escolar, verificando os recursos aplicados para posterior presta-
de cada segmento, sendo que o diretor pode ou não ser “membro ção de contas, se for o caso; colaborar na programação do uso do
nato” do conselho, ou seja, o diretor no exercício da função tem a prédio da escola pela comunidade, inclusive nos períodos ociosos,
sua participação assegurada no Conselho Escolar; pode ser escolhi- ampliando-se o conceito de escola como um centro de atividades
do igual número de suplentes. comunitárias; favorecer o entrosamento entre pais e professores
Os suplentes, por sua vez, podem estar presentes em todas as possibilitando informações relativas aos objetivos educacionais e
reuniões, mas apenas com direito a voz, se o membro efetivo esti- as condições financeiras da escola, dentre outros fins que a escola
ver ausente; os conselhos devem ser constituídos por um número assim entender necessários.
ímpar de integrantes, observando a proporcionalidade entre os seg- A APM possui uma organização administrativa, registrada em
mentos. Estatuto próprio, constituída de pessoas eleitas em assembleia
geral, com mandato de dois anos, com o pleito realizado por voto
A forma de escolha dos representantes é feita por eleição ou
secreto, em caso de mais de uma chapa inscrita, ou direto, na ocor-
aclamação, quando há apenas uma chapa concorrendo. As atribui-
rência de chapa única.
ções do Conselho Escolar dependem das diretrizes e normas gerais
do sistema de ensino e das definições da comunidade escolar e lo-
Organiza-se da seguinte forma:
cal.
- Assembleia geral: órgão soberano constituído pela totalidade
Normalmente o que se tem visto nos regimentos dos Conse-
de seus associados, e deve reunir-se, ordinariamente, uma vez por
lhos são as seguintes atribuições: atuar como co-responsável pela
semestre e, extraordinariamente, sempre que necessário;
gestão da escola; participar das questões que envolvem a vida es-
- Diretoria: órgão executivo e coordenador, com reuniões men-
colar dos alunos; participar da discussão sobre questões específicas
sais;
relativas à aprendizagem: projeto pedagógico, avaliação; elaborar o - Conselho deliberativo: órgão que decide e coordena as ações
regimento escolar; participar da elaboração do calendário escolar; da APM, com reuniões semestrais;
participar da elaboração do plano de aplicação de recursos finan- - Conselho fiscal: órgão de controle e fiscalização das ações,
ceiros (junto a APM); participar dos conselhos de classe e de outros deve reunir-se com o conselho deliberativo.
movimentos de avaliação do processo educacional e participar das
discussões e das soluções de problemas cotidianos da escola e que O planejamento das atividades desenvolvidas pela APM é de
sejam de interesse coletivo. suma importância para que os objetivos propostos pela escola se-
jam atingidos.
Concluindo, o Conselho Escolar tem papel estratégico no pro- O trabalho na escola exige organização, boa distribuição e bom
cesso de democratização e de construção da cidadania. Princi- aproveitamento do tempo diante das tarefas e dos recursos utiliza-
palmente porque sua composição assim o permite. Sendo assim, dos, visando ao sucesso dos resultados que se deseja obter.
registra-se a necessidade de que seus conselheiros recebam e pro- A formação continuada dos membros da APM é condição pri-
ponham formação continuada fundamentada em estudos que lhes mordial para que se tenha melhores condições para o exercício da
possibilitem o entendimento da ação política desse órgão dentro função na escola e fora dela, cuja finalidade principal de seu traba-
da escola. lho é o funcionamento da escola em prol do aluno.

Associação de Pais e Mestres (APM) Gremio Estudantil


A Associação de Pais e Mestres (APM) é um órgão de repre- O Grêmio Estudantil é outra forma de organização colegiada na
sentação dos pais e profissionais da escola, que, em uma ação con- escola. Esse colegiado, organizado e composto pelos alunos, pode
junta, objetivam desenvolver medidas de interesse comum, com ser considerado como uma das primeiras oportunidades que os jo-
espírito de liderança, responsabilidade, respeitando a coletividade vens têm em participar de maneira organizada das decisões de uma
educacional e a legislação vigente. instituição, agindo em uma perspectiva política em benefício, no
Constitui-se pessoa jurídica de direito privado, não tem caráter caso da escola, da qualidade de ensino e de aprendizagem.
político-partidário, religioso, racial e nem fins lucrativos; é represen- Assim, os alunos têm voz na administração da escola, apresen-
tada, oficialmente, pelo presidente, e responde pelas obrigações tando suas ideias e opiniões, com uma participação responsável.

116
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Os membros do Grêmio Estudantil devem ser estimulados a - Acompanhar o cumprimento do calendário escolar estabele-
defender os interesses comuns de todos os alunos, em uma ação cido e participar da elaboração de calendário especial, quando ne-
formadora da construção da visão crítica do ato político. cessário, conforme orientações da Secretaria da Educação;
Deve firmar parcerias com a direção escolar, equipe pedagó- - Acompanhar e avaliar a frequência do corpo docente e admi-
gica, professores, funcionários administrativos, Conselho Escolar e nistrativo, certificando-se da emissão da Comunicação de Ocorrên-
Associação de Pais e Mestres, assim o Grêmio terá uma atuação em cia de Frequência – COF para a DIREC/SEC;
prol dos alunos, da escola e da comunidade. - Avaliar o Plano de Formação Continuada da equipe docente,
Um Grêmio que estabelece uma boa rede de relações com os administrativa e dos demais servidores em consonância com o Pro-
sujeitos da comunidade escolar terá mais pessoas comprometidas jeto Político Pedagógico da Escola;
com as ações que pretende realizar.39 - Acompanhar a realização do Censo da Unidade Escolar, assim
como os processos administrativos e as inspeções instauradas na
Funções do Colegiado Escolar: Escola;
- Acompanhar e analisar o plano de aplicação específico para
Função Deliberativa: cada recurso financeiro alocado à escola, zelando por sua correta
- Participar da elaboração do Projeto Político Pedagógico, do aplicação, observados os dispositivos legais pertinentes.
Plano de Gestão e do Regimento Escolar;
- Deliberar, sempre que solicitado pela direção da escola, sobre Função Mobilizadora
o cumprimento das ações disciplinares a que estiverem sujeitos os - Criar mecanismos para estimular a participação da comuni-
dade escolar e local na definição do Projeto Político-Pedagógico, do
estudantes, de acordo com o disposto no Regimento Escolar e no
Plano de Gestão e do Regimento Escolar, promovendo a correspon-
Estatuto da Criança e do Adolescente;
dente divulgação;
- Aprovar, no âmbito da escola, o Regimento Escolar e os proje-
- Manter articulação com a equipe dirigente da unidade esco-
tos de parceria entre a escola e a comunidade;
lar, colaborando para a realização das respectivas atividades com
- Decidir, em grau de recurso, sobre questões de interesse da as famílias e com a comunidade, inclusive, apoiando as ações de
comunidade escolar, no que diz respeito à vida dos estudantes; resgate e conservação do patrimônio escolar;
-Convocar e realizar semestralmente assembleias gerais para - Mobilizar a comunidade local a estabelecer parcerias com a
avaliação do planejamento administrativo, financeiro e pedagógico escola, voltadas para o desenvolvimento do Projeto Político-Peda-
da unidade escolar e extraordinariamente quando a relevância da gógico;
matéria assim exigir, inclusive para decidir sobre a destituição de - Promover a realização de eventos culturais, comunitários e
membro do Colegiado, em virtude de fatos que o incompatibilizem pedagógicos que favoreçam o respeito ao saber do estudante e va-
para o exercício da função. lorizem a cultura local, bem como estimular a instalação de fóruns
de debates que elevem o nível intelectual, técnico e político dos
Função Consultiva: diversos segmentos da comunidade escolar;
- Opinar sobre os assuntos de natureza pedagógica, administra- - Divulgar e fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adoles-
tiva e financeira que lhe forem submetidos à apreciação pela dire- cente;
ção da unidade escolar; - Incentivar a criação de grêmios estudantis e apoiar o seu fun-
- Participar do processo de avaliação de desempenho dos diri- cionamento;
gentes, dos professores, dos coordenadores pedagógicos e demais - Incentivar seus pares a participar de atividades de formação
servidores da escola, ressalvada a competência da Secretaria da continuada, além de promover relações de cooperação e intercâm-
Educação; bio com outros Conselhos/Colegiados Escolares.
- Manifestar-se sobre a proposta curricular, bem como analisar
dados do desempenho da unidade escolar para propor o planeja- Quais as atividades prioritárias a serem desenvolvidas pelo
mento das atividades pedagógicas; Colegiado Escolar?
- Recomendar providências para a melhor utilização do espaço 1. Participar das discussões para elaboração, revisão, imple-
físico, do material didático-pedagógico e da formação do quadro de mentação e avaliação do Projeto Político Pedagógico, do Plano de
pessoal da unidade escolar; Gestão e do Regimento Escolar;
- Participar do processo de avaliação institucional da Escola e 2. Participar da elaboração do calendário escolar e avaliar pe-
riodicamente o seu cumprimento;
opinar sobre os processos que lhe forem encaminhados;
3. Participar da discussão e elaboração do cardápio da meren-
- Opinar sobre o planejamento global e orçamentário da Unida-
da escolar, levando em consideração os hábitos alimentares locais e
de Escolar e deliberar sobre suas prioridades, para fins de aplicação
o valor nutritivo dos alimentos; realizando o acompanhamento da
de recursos a ela destinados;
sua execução e sugerindo adaptações quando necessário;
- Manifestar sobre a prestação de contas referentes aos pro- 4. Participar da elaboração do plano de aplicação dos recursos
gramas e projetos desenvolvidos pela direção da unidade escolar, financeiros alocados na escola e analisar suas respectivas presta-
antes de ser encaminhadas à Secretaria da Educação. ções de contas, antes do encaminhamento à Secretaria da Educa-
ção;
Função Avaliativa 5. Buscar articulação com a equipe gestora, incentivando o de-
- Acompanhar e avaliar, periodicamente e ao final de cada senvolvimento de ações voltadas para a integração entre a escola e
ano letivo, o desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico, bem a comunidade.40
como, o cumprimento do Plano de Gestão e do Regimento Escolar;
- Acompanhar os indicadores educacionais - evasão, aprova-
ção, reprovação - e propor ações pedagógicas e sócio-educativas
para a melhoria do processo educativo na unidade escolar;
39 Fonte: www.portaleducacao.com.br 40 Fonte: www.cescalmeida.com.br - Texto adaptado de Rafael Almeida

117
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Organização social da classe e sua pluralidade dualizada, todas essas atividades era resultado de atividades do dia
Para uma melhor organização da escola e das aulas começou a a dia daquelas pessoas, ou seja, do cotidiano. Contudo a partir do
surgir no início do século XX formas de agrupamento caracterizadas século XVI, nasce à primeira forma de agrupamento que se dava
por grupos fixos e móveis, equipes de trabalho, grupos homogêne- em grupos de cinqüenta a sessenta alunos do mesmo sexo, mes-
os e heterogêneos, oficinas, cantos, estudos individualizados, etc. ma idade, em uma só sala de aula, um só professor ou de diversos
A escola é identificada como um grande grupo, caracterizando professores.
um valor democrático. Configuram relações interpessoais, com dis- Por volta do século XII e XIII, a escolarização tinha basicamente
tribuição de funções, responsabilidades, organização de atividades uma estrutura frouxa que permitia, de um lado, formar pequenos
de caráter social, cultural, lúdico ou esportivo. Para tanto, o termo grupos de alunos para cada professor e, de outro, facilmente ab-
democrático, deve valorizar uma gestão realmente participativa no sorver um grande número de estudantes, por unidade de ensino.
intuito de alcançar os objetivos educacionais. Contudo, esses dois tipos de organização, a partir do século XIV,
Também à escola cabe a tarefa da distribuição de grupos fixos estavam em vias de ser superados, pois suas notórias ineficiências
ou móveis, heterogêneos ou homogêneos, dependendo da finalida- econômicas e pedagógicas cada vez mais ficavam evidentes (cf. HA-
de que se almeja no processo de ensino-aprendizagem. MILTON, 1992).
Focando-se na organização de atividades em sala de aula, tam- Segundo Zabala (1996), Coll (2000), só no final do século XIX e
bém existe um agrupamento que poderá ser dividido em: gran- início do século XX surgem outras formas de organização da escola
de grupo, equipes fixas, móveis ou em um trabalho individual. O que rompe com esse único modelo, assim as estruturas das aulas
grande grupo é uma forma de organização apropriada quando os passam ser de grupos homogêneos e heterogêneos. Assim ao se
conteúdos são factuais, nas equipes fixas o objetivo principal é de considerar essas formas de agrupamento é que se propõem ativida-
organização, garantindo o controle da classe, e também privilegia des organizativas, de convivências, de trabalho, onde se desenvolve
a convivência, permitindo relações pessoais mais próximas. Por úl- atividades de dois ou mais alunos pautada nas investigações, diálo-
timo, as equipes móveis que se caracterizam por possibilidades de gos, trabalhos experimentais, elaboração de dossiês.
aprendizagens com níveis variados de saber. Assim, considerando as bibliografias de Zabala e Coll como nor-
Entretanto, seja qual for o objetivo pedagógico diante dos te teórico, é que investigaremos as formas de agrupamentos que se
grupos, o trabalho individual tem seu valor no processo de ensino- produzem no espaço escolar. Ou seja, investigaremos como ocor-
-aprendizagem, principalmente para memorização de fatos, concei- rem as formas de agrupar meninos e meninas em classe de grande
tos e conteúdos, além da observação e avaliação do ritmo e capaci- grupo, classe fixa, classe móvel e equipes fixas.
dade de cada aluno.
Finalizando, portanto, os objetivos propostos de grupos ou A escola como grande grupo
equipes, seja numa esfera maior, a escola, ou delimitando, as clas- Zabala (1996) apresenta a possibilidade de trabalhar a classe
ses, terão um melhor aproveitamento na observância de seu es- como um grande grupo ou ordenar equipes fixas ou móveis para a
paço, tanto estrutura física, como na questão do tempo disponível realização de projetos ou atividades diferentes. O trabalho da classe
para elaboração de uma boa proposta pedagógica, garantindo uma como grande grupo é o mais comum, mas, pela especificidade da
proveitosa formação educacional. ordenação, é mais adequado para o ensino de fatos, difícil para a
(ZABALA, Antoni. A prática educativa-como ensinar. Porto Alegre: aprendizagem de princípios e conceitos, impossível para a apren-
Artes Médicas, 1998). dizagem de procedimentos e insuficiente para a aprendizagem de
atitudes. Uma vez que o funcionamento do grande grupo implica o
Apesar do relativo desenvolvimento, e de ter ocorrido diversas estabelecimento de controles que, muitas vezes, são autoritários e
mudanças no que se refere às formas de agrupamentos das clas- desrespeitam as necessidades e interesses de alguns participantes.
ses, partindo desse pressuposto Antoni Zabala (1996) em sua obra Nesse aspecto, é importante reconhecer que as características
práticas educativas nós mostra principal da forma de organização da organização grupal estão determinadas primeiro lugar, pela or-
desses alunos em sala, que ainda permanecem até os dias atuais. ganização e pela estrutura de gestão da escola e em segundo lugar
A forma de preparar essas pessoas mais jovens de qualquer grupo pelas atividades que toda escola realiza de forma coletiva, são ins-
social para coletividade na maioria das vezes acontecia através de trumentos ou ferramentas de todo o grupo as atividades vinculadas
processos individualizados, sejam no campo, nas oficinas por parte à gestão, e também são as atividades gerais da escola, de caráter
dos mestres artesãos. cultural, social e esportiva em relação à função ou finalidade, en-
Sabemos que até o final do século XVIII, como vimos a escola contraremos atividades para o prazer, a motivação, a promoção
eram privilégios os nobres, do clero e dos burgueses ricos, lavra- externa a demonstração e o compromisso promovem atitudes de
dores, operários e pobres em geral não tinham acesso a educação compromissos responsabilidade para com os demais.
escolar. Só na metade do século XVIII e com o advento da revolução Os diferentes segmentos da comunidade escolar são igual-
industrial na Europa, é que se vê a vontade de levar a educação a mente básicos na formação dos alunos que devem desempenhar
todos, ou seja, a grande massa. Pestalozzi, Herbart e Froebel foram na definição das normas ou regras de convivências da escola. Os
os educadores que se destacaram durante o século XIX, pelas suas inconvenientes dos grupos/classe fixas estão condicionados pela
inovações que propuseram de modo especial no campo da educa- rigidez que é atribuída já que o corre o risco de fechar-se em si mes-
ção das crianças (PILETTI, 1999, p.127). mo buscando a heterogeneidade, se os alunos têm a mesma idade,
Segundo Ghiraldelli (1987), educação geralmente era transmi- ainda são muito iguais e isso envolve o perigo de que os processos
tida de forma oral, no campo os meninos aprendiam os ofícios dos sejam analisados em relação a um grupo típico.
pais, como cuidar do rebanho, trabalhar a terra para o plantio, as De outro modo, a condição de aprendizagem merece ser ob-
meninas aprendiam os ofícios domésticos que eram passados pelas servado, o contraste entre modelos diferentes de pensar e ativar o
suas mães, como por exemplo, trabalhar na confecção de roupas de surgimento de conflitos cognitivos, a possibilidade de receber ajuda
algodão, fazer os serviços domésticos, cuidarem dos irmãos mais de colegas. Mclaren (1992) denominou os estados interativos onde
novos etc. Geralmente as famílias mais abastardam tinham acesso esses alunos possam trabalhar a coletividade, o diálogo como o for-
a outro tipo de aprendizagens como leitura, escrita, música, teatro talecimento das suas relações com seus colegas, isso nos levam a
e outros saberes, mas todos se tratavam de uma formação indivi- considerar que os grupos classes fixa tenham que ser heterogêneos.

118
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Nesse aspecto, aprendizagem deve-se priorizar o que seja mais Dentro desse raciocínio podemos citar Freire, quando ele fala
obvio para aluno, na sua condição de aprendiz, e qual o conteúdo da educação bancária onde o professor é o detector do saber e o
que se deve ser mais importante nesse processo de criação e cons- aluno e apenas um mero receptor, nessa visão o aluno tem que par-
trução do conhecimento numa visão pedagógica moderna. ticipar no processo de construção desse conhecimento, sendo um
O pensamento pedagógico moderno se caracteriza pelo realis- aluno crítico e que saiba pensar e questionar sobre processos e pro-
mo, que serviria o latim para homens que vão trabalhar nas fabri- blemas desse sistema globalizado do qual fazem partem.
cas, talvez fosse melhor ensinar mecânica, cálculo, mas as classes
dirigentes continuavam aprendendo o latim e grego, um bom cida- Organização da classe em grande grupo
dão deveria recitar algum verso de Horácio ou Ovídio aos ouvidos Ainda é necessário reconhecer que, essa passa ser a forma
apaixonados de sua namorada (LOCK, 2005, 78 p.). mais habitual de organizar as atividades em sala de aula, porém
todos os grupos fazem tudo ao mesmo tempo, desde provas, deba-
Por outro lado, não podemos deixar de pensar as disciplinas e tes, exercícios e outras coisas. Dessa forma, todos os alunos se tor-
as metodologias aplicadas nas práticas educacionais atuais nos es- nam iguais não existindo assim diferenças entre os alunos, partindo
tabelecimentos de ensino, podemos assim fazer um paralelo entre desse pressuposto o grande grupo é a forma apropriada para de-
a idéia de Lock (2005), sobre as práticas pedagógicas usadas nas senvolver as atividades, estimulando assim o aprendizado do aluno.
escolas hoje é as idéias apresentadas por Zabala (1996). Apropriado – ensino de conteúdos factuais, limitado o ensino de
Nesse contexto, as reflexões se estendem também aos conteú- conteúdos conceituais, porque não permitem inter-relações, pou-
dos de aprendizagem. Assim Coll (2000), propõe a classificação dos cas oportunidades de conhecer o processo de elaboração mental
conteúdos em: conceituais – englobam: fatos, conceitos, princípios que cada aluno segue. Dificuldade de prestar a ajuda que o aluno
(“O que se deve saber”); procedimentos: dizem respeito a técnicas precisa. Útil aos conteúdos procedimentos para dar a conhecer a
e métodos (“O que se deve saber fazer”); atitudinais: abrangem va- utilidade do procedimento, técnica ou estratégia, mais difícil poder
lores, atitudes, normas (“Como se deve ser”). propor atividades de aplicação e exercitação necessárias para cada
Zabala (1996) nos mostram a maneira mais convencional de or- aluno.
ganizar grupos de alunos nas escolas, essa forma de agrupamento Porém se o grande grupo não for bem organizado logo come-
ocorre com proporção de 20 a 40 alunos em sala de aula, o fato é çam surgir os problemas, mais ainda sim, se deve trabalhar em
que essa forma histórica tem criado uma barreira intransponível, grupo com os alunos, para que eles aprendam como lidar com um
dificultando a aceitação de outras fórmulas diferentes, é preciso maior número de pessoas. Embora a situação se apresente com-
saber analisar as vantagens e os inconvenientes, assim se devem plexa, é importante reconhecer que o comportamento afetivo dos
aproveitar os pontos positivos e resolver as deficiências que se tem conteúdos atitudinais, possa colocar os alunos diante de conflitos
ocorrido nessa forma de agrupamentos, nesse caso as vantagens ou situações problemáticas, que dificilmente resolveria em grandes
estão relacionadas com o fato de que a forma de organização das grupos.
escolas de tal maneira adequada à estrutura espacial da escola, en- Conteúdos atitudinais podem ser feitos em grandes grupos
tendida pela família e o resto da coletividade. porque o componente cognitivo destes conteúdos exige trabalho
de compreensão, mas os componentes afetivos e comportamen-
Distribuição da escola em grupos classe fixos tais dos conteúdos atitudinais exigem atividades que coloquem os
Conforme Zabala (1996), a convivência do grupo classe fixa, alunos em situações problemáticas ou de conflitos. Situações que
o motivo primordial que o justifica é o fato de oferecer às meninas dificilmente podem se realizar em grande grupo, com exceção da
e meninos um grupo de colegas estável, favorecedor das relações assembléia de alunos. A assembléia é adequada, mas é insuficiente.
interpessoais e das outras vantagens estão relacionados com os fa-
tos de que são a formas em que usualmente se tem organizado as Organização da classe em equipes fixas
escolas através de materiais e recursos didáticos. Conforme Zabala faz-se prioritário nesse momento identificar
Os inconvenientes dos grupos classe fixo estão condicionados as funções necessárias das equipes fixas, a primeira é organizativa e
pela rigidez que lhes é atribuída, já que corre o risco de fechar-se deve favorecer as funções de controle e gestão da classe, a segunda
em si mesmo. Embora se tenha buscado a heterogeneidade, se os é de convivência, já que proporciona os alunos um afetivamente
alunos têm a mesma idade, ainda são muitos iguais isso envolve mais acessível. Sendo assim a função organizativa se resolve atri-
o perigo de que os processos sejam analisados em relação a um buindo a cada equipe, e dentro desta cada aluno tem certas tarefas
grupo típico. determinadas que vá desde a distribuição de espaço e da adminis-
tração dos recursos da aula até a responsabilidade pelo controle e
Distribuição da escola em grupos classe móveis ou flexíveis acompanhamento do trabalho de cada um dos membros das equi-
Entende-se por grupos classe móveis o agrupamento em que pes. Oferecem oportunidades para trabalhar conteúdos atitudinais.
os componentes do grupo classe são diferentes conforme as ati- Oferecem oportunidades de debates, de receber, e dar ajuda (soli-
vidades, e matérias que podem ter professor diferente para cada dariedade e cooperação), aceitação da diversidade.
aluno. Neste caso meninos e meninas de diferentes idades fazem
parte de oficinas que pertencem a diversos grupos, por outro lado, Organização da classe em equipes móveis ou flexíveis:
esta capacidade de ampliar respostas e diversidades de interesses Para Rahme, no caso das equipes flexíveis, a definição dos
e competência de alunos favorecendo cada grupo, existindo assim critérios de enturmação pode variar em relação à necessidade de
uma homogeneização que favorece as tarefas do professor. diversidade para o das equipes fixas. Podem-se usar critérios de
Nesse aspecto deve-se ressaltar que o aluno pode participar homogeneidade, pois o tempo das atividades será mais limitado.
na construção do seu percurso escolar, garantindo uma melhor Pode-se buscar a similaridade de sexos ou de níveis de interesse, ou
predisposição para aprendizagem, dando assim a chance para que se orientar mesmo pela diversidade.
eles assumam um conhecimento mais profundo no seu processo Podem-se, portanto, ao formar equipes móveis baseadas em
educacional. critérios mais homogêneos e outros mais heterogêneos.

119
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Para Zabala (1996), as equipes flexíveis contribuiem para se senvolve energia mental e física livre, mas mortifica a sua physis e
atender as características diferenciais dos alunos; Oportunidade de arruína a sua mente” (Marx 1984, p. 153), este trabalho é realizado
atenção personalidade do professor ao grupo. Período de tempo na situação de alienação.
dos agrupamentos é limitado; eles poderão ser algumas vezes ho- Diante do exposto, ou seja, como ocorreram todos esses pro-
mogêneos e outras heterogêneas; São adequados aos conteúdos cessos de agrupamentos, seja ele histórico ou contemporâneo nós
procedimentais (matemática, artes) dar uma esperança que o processo educacional em nosso País esta
Torna-se necessário entender como ocorreu o papel dos agru- em constante transformação, saindo de longos anos de estagna-
pamentos e mostrar historicamente como foi acontecendo isso ao ção e amnésia intelectual e começando a enxergar uma luz no fim
longo dos séculos e até os nossos dias atuais, isso nós da total liber- do túnel. Hoje apesar de todos os contra tempos que a escola e a
dade de entender e analisar como ocorreram as formas de agrupa- formação do corpo docente enfrentam sabemos que muitas coisas
mentos nas escolas, e saber como se desenvolvem os conceitos os boas vêm acontecendo no que se referem à formação e graduação
procedimentos e as atitudes. Isso nos leva a afirmar que não deve- do professor.
mos ser inflexíveis em nossos atos como educadores. Portanto tem muito a que se melhorar, mas se voltarmos a um
passado recente coisa de 20 anos atrás a coisa era muito pior, falta
Diante de tudo isso, foi possível fazer um paralelo entre o pas- de preparação dos professores, não exigia uma formação especifica
sado e o presente com a finalidade de se entender como funcionou em suas disciplinas, hoje exigem uma formação específica do edu-
e, como funciona a forma de agrupar meninos e meninas nas esco- cador para atuar em sala de aula. A maioria dos estados Brasileiros
las, e como se desenvolvem os processos pedagógicos e metodoló- exige formação dos seus profissionais, exemplo disso podemos ci-
gicos aplicados em sala de aula. tar a educação infantil a maioria dos docentes que atua nessa área
Pode-se entender também como essa educação acontecia no são pós graduado. Porém em futuro bem próximo acreditamos que
passado. Geralmente acontecia de forma individualizada fechada venceremos boa parte desses problemas que educação Brasileira
para cada grupo de pessoas, ou seja, de forma isolada não exis- enfrenta hoje, a estrada é longa, mas acreditamos que estamos no
tiam um local específico tantos os pobres como os ricos, as formas caminho certo para criarmos um país mais igualitário para todos
aprender era totalmente particular de cada grupo de pessoas, en- onde à educação seja prioridade para todos os nossos governan-
quanto as massas aprendiam os ofícios do campo e doméstico, as tes.41
elites tinham acesso a outro tipo de cultura como escrita, leitura,
música, teatro. Trabalho/educação
Isso nos leva a entender que as formas de organização social da
classe só ocorreram apartir do XVI onde se vê a vontade de organi- Trabalho como Princípio Educativo
zar e levar a educação para todos. Só no final do século XIX inicio do Princípios são leis ou fundamentos gerais de uma determinada
século XX surgem às outras formas de organização da escola rom- racionalidade, dos quais derivam leis ou questões mais específicas.
pendo com único modelo existente. Assim dentro do grande gru- No caso do trabalho como princípio educativo, a afirmação remete
po podemos encontrar atividades que nos dão prazer motivando a à relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma o caráter
promoção externa às atitudes os compromissos para com as outras formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por
pessoas. Podem-se também priorizar o que é mais importante na meio do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser hu-
construção desse conhecimento no processo de ensino aprendiza- mano. Seu campo específico de discussão teórica é o materialismo
gem numa visão mais contemporânea. histórico em que se parte do trabalho como produtor dos meios
O trabalho individual é visto de forma que estimule o apren- de vida, tanto nos aspectos materiais como culturais, ou seja, de
dizado e crescimento intelectual do aluno, más para que haja um conhecimento, de criação material e simbólica, e de formas de so-
verdadeiro sucesso no seu desenvolvimento é preciso que o docen- ciabilidade (Marx, 1979).
te tenha objetivos determinados para alcançar, pelo contrário seria Além dessa questão mais geral, há de se considerar o traba-
desnecessário usar esse recurso se o professor não estiver disponí- lho na sociedade moderna e contemporânea onde a produção dos
vel a ajudar esse aluno de forma que se oriente a ele, (o quê?), (o meios de existência se faz dentro do sistema capitalista. Esse se
porquê?), de se desenvolver um trabalho dessa natureza, se não mantém e se reproduz pela apropriação privada de um tempo de
corremos o risco de ser mais um trabalho rotineiro, mecânico e sem trabalho do trabalhador que vende sua força de trabalho ao empre-
atrativo. sário ou empregador, o detentor dos meios de produção. O salário
O que incita, motiva o professor a realizar seu trabalho? Este ou remuneração recebida pelo trabalhador não contempla o tempo
motivo não é totalmente subjetivo (interesse, vocação, amor pe- de trabalho excedente ao valor contratado que é apropriado pelo
las crianças etc.), mas relacionado à necessidade real instigadora dono do capital.
da ação do professor, captada por sua consciência e ligada às con- Historicamente, o ser humano utiliza-se dos bens da nature-
dições materiais ou objetivas em que a atividade se efetiva. Essas za por intermédio do trabalho e, assim, produz os meios de sobre-
condições referem-se aos recursos físicos das escolas, aos materiais vivência e conhecimento. Posto a serviço de outrem, no entanto,
didáticos, à organização da escola em termos de planejamento, nas formas sociais de dominação, o trabalho ganha um sentido
gestão e possibilidades de trocas de experiência, estudo coletivo, ambivalente. É o caso das sociedades antigas e suas formas servis
à duração da jornada de trabalho, ao tipo de contrato de trabalho, e escravistas, e das sociedades modernas e contemporâneas capi-
ao salário etc. talistas. As palavras trabalho, labor (inglês), travail (francês), arbeit
Quando essas condições objetivas de trabalho não permitem (alemão), ponos (grego) têm a mesma raiz de fadiga, pena, sofri-
que o professor se realize como gênero humano, aprimorando-se mento, pobreza que ganham materialidade nas fábricas-conventos,
e desenvolvendo novas capacidades, conduzindo com autonomia fábricas-prisões, fábricas sem salário. A transformação moderna
suas ações, criando necessidades de outro nível e possibilitando sa- do significado da palavra deu-lhe o sentido de positividade, como
tisfazê-las, ou seja, “que, portanto, ele não se afirma, mas se nega argumenta John Locke que descobre o trabalho como fonte de pro-
em seu trabalho, que não se sente bem, mas infeliz, que não de-
41 Fonte: www.sites.google.com

120
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
priedade; Adam Smith que o defende como fonte de toda a riqueza; socialista do início do mesmo século, introduzindo a educação po-
e Karl Marx para quem o trabalho é fonte de toda a produtividade e litécnica com o objetivo de formação humana em todos os seus as-
expressão da humanidade do ser humano (De Decca, 1985). pectos, físico, mental, intelectual, prático, laboral, estético, político,
Em termos cronológicos, essa ambivalência do termo ganha combinando estudo e trabalho.
forma a partir do século XVI, se considerarmos o Renascimento e a Vários autores se debruçaram sobre o tema porque tratava-se
transformação do sentido da palavra trabalho como a mais elevada de defender uma educação que não tivesse apenas fins assisten-
atividade humana e o nascimento das fábricas; ou a partir do sécu- ciais, moralizantes, como aquelas primeiras escolas. Também que
lo XVIII, se considerarmos o industrialismo e a Revolução Industrial não se limitasse a preparar para o trabalho nas fábricas, a exemplo
nos seus primórdios na Inglaterra (De Decca, op. cit.; Iglesias, 1982). da iniciativa do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Se-
Marx (1980) vai realizar o mais completo estudo dos economistas nai), criado no governo de Getúlio Vargas, em 1943. Criticava-se,
que o precederam e a mais aguda crítica ao modo de produção ca- ainda, o tecnicismo voltado ao mercado de trabalho, a adoção do
pitalista e às contradições implícitas nas relações entre o trabalho industrialismo pelo sistema das Escolas Técnicas Federais, criado no
e o capital. mesmo período Vargas.
Desenvolve os conceitos de valor de uso e de valor de troca De outra parte, a idéia de educação politécnica sofria ataques
presentes na mercadoria. Os valores de uso são os objetos produ- por sua inspiração socialista, implantada pelo regime comunista da
zidos para a satisfação das necessidades humanas, como bens de Revolução Russa de 1917 que, tendo por base a obra Marx, busca-
subsistência e de consumo pessoal e familiar. Definem-se pela qua- va a combinação da instrução e do trabalho. Segundo Manacorda
lidade, são as diversas formas de usar as coisas, de transformar os (1989), o marxismo reconhece a “função civilizadora do capital”;
objetos da natureza, gerando cultura e sociabilidade. não rejeita, antes aceita “as conquistas ideais e práticas da burgue-
Mas os mesmos objetos, as mesmas mercadorias que têm uma sia no campo da instrução...: universalidade, laicidade, estatalidade,
existência histórica milenar, quando se tornam objeto de troca, gratuidade, renovação cultural, assunção da temática do trabalho,
quantidades que se equivalem a outras, tempo de trabalho que tem como também a compreensão dos aspectos literário, intelectual,
um equivalente em salário, inserem-se em relações sociais de outra moral, físico, industrial e cívico”. Mas Marx faz dura crítica à burgue-
natureza. Criam-se vínculos de submissão e exploração do produtor sia por não assumir de forma radical e conseqüente a união instru-
e de dominação por parte de quem se apropria do produto e do ção-trabalho (p.296).
tempo de trabalho excedente. Esse gera uma certa quantidade de O Manifesto Comunista (Marx, 1998) é claro quando recomen-
valor que vai propiciar a acumulação e a reprodução do capital in- da: “educação pública e gratuita para todas as crianças. Abolição
vestido inicialmente pelo capitalista (Marx, op. cit., 1º. cap.). do trabalho infantil nas fábricas na sua forma atual. Combinação
O fetiche da mercadoria, o seu caráter misterioso, como diz da educação com a produção material etc.” (p.31). Em O Capital,
Marx, provém da própria forma de produzir valor. “A igualdade dos Marx (1980), explicita a idéia de educação politécnica ou tecnoló-
trabalhos humanos fica disfarçada sob a forma da igualdade dos gica: “Do sistema fabril, como expõe pormenorizadamente Robert
produtos do trabalho como valores; a medida, por meio da dura- Owen, brotou o germe da educação do futuro que combinará o
ção, do dispêndio da força humana do trabalho toma a forma de trabalho produtivo de todos os meninos além de uma certa idade
quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as re- com o ensino e a ginástica, constituindo-se em método de elevar a
lações entre os produtores, nas quais se afirma o caráter social de produção social e de único meio de produzir seres humanos plena-
seus trabalhos, assumem a forma de relação social entre os produ- mente desenvolvidos” (p. 554).
tos do trabalho” (ibid., p. 80). Assim sendo, a discussão sobre o trabalho como princípio edu-
Essa separação do trabalhador de seu próprio fazer é o que cativo esteve associada à discussão sobre a politecnia e sua viabi-
Marx (2004) chamou de alienação (ou estranhamento, dependen- lidade social e política no país. Historicamente, como demonstra a
do da interpretação do tradutor do original alemão). O conceito análise de Fonseca (1986), sempre predominou o conservadorismo
veio a ser desenvolvido posteriormente por autores marxistas (dos das elites, reservando para si a formação literária e científica. Para
quais citamos Meszáros, 1981; Antunes, 2004; Kohan, 2004; Lessa, os trabalhadores prevaleceu a oferta de educação elementar e não
2002). O fenômeno da alienação do trabalho e do trabalhador da universalizada para toda a população. Além disso, o dualismo edu-
riqueza social que ele produz foi expresso e criticado de forma con- cacional se expressa na destinação dos filhos dos trabalhadores ao
tundente por Marx ao analisar as condições de privação e sofrimen- trabalho e ao preparo para as atividades manuais e profissionali-
to dos trabalhadores e de seus filhos nos primórdios da Revolução zantes.
Industrial. Ainda hoje, em todo o mundo, milhões de trabalhadores Essa discussão e sua expressão político-prática retornaram nos
são submetidos a salários de fome, insuficientes para uma vida dig- anos neoliberais de 1990, com a exaração do Decreto n. 2.208/97.
na para eles e suas famílias. Contrariando a LDB (Lei n. 9.394/96) que “tem por finalidade o ple-
No Brasil, diante da penúria e das más condições de vida e de no desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
trabalho de operários e de trabalhadores do campo, ao final da Di- cidadania e qualificação para o trabalho” (art.2º.), implantou-se a
tadura civil-militar, nos anos 1980, foram muito discutidas as pro- separação entre o ensino médio geral e a educação profissional téc-
postas da educação na Constituinte de 1988 e os termos da nova nica de nível médio. Nos anos 2000, em condições políticas polêmi-
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Os pesquisadores e cas, o Governo exarou o Decreto n. 5.154/04 que revogou o anterior
educadores da área trabalho e educação tiveram de enfrentar uma e abriu a alternativa da formação integrada entre a formação geral e
questão fundamental: se o trabalho pode ser alienante e embrute- a educação profissional, técnica e tecnológica de nível médio.
cedor, como pode ser princípio educativo, humanizador, de forma- Do ponto de vista político-pedagógico, tanto a conceituação do
ção humana? trabalho como princípio educativo quanto a defesa da educação po-
No entanto, desde o início do século XX, com a criação das Es- litécnica e da formação integrada, formulada por educadores bra-
colas de Aprendizes e Artífices em 1909, havia a evidência histórica sileiros, pesquisadores da área trabalho e educação, têm por base
da introdução do trabalho (das oficinas, do artesanato, dos traba- algumas fontes básicas teórico-conceituais. Em um primeiro mo-
lhos manuais) em instituições educacionais. E existia a experiência mento, a vertente marxista e gramsciana (Marx, op. cit.; Gramsci,

121
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
1981; Manacorda, 1975 e 1990; Frigotto, 1985; Kuenzer, 1988; Ma- Novas tecnologias
chado, 1989; Saviani, 1989 e 1994; Nosella, 1992; Rodrigues, 1998), A mídia pode ser inserida em sala de aula através dos Recursos
em um segundo, sem abrir mão da vertente gramsciana, a ontologia de Ensino. Estes segundo Gagné (1971, p. 247) “são componentes
do ser social desenvolvida por Lukács (1978 e 1979; Konder, 1980; do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para
Chasin,1982; Ciavatta Franco, 1990; Antunes, 2000; Lessa, 1996). o aluno”. Estes componentes são, além do professor, todos os tipos
Gramsci (op.cit.) propõe a escola unitária que se expressaria de mídias que podem ser utilizadas em sala de aula, tais como, re-
na unidade entre instrução e trabalho, na formação de homens ca- vistas, livros, mapas, fotografias, gravações, filmes etc.
pazes de produzir, mas também de serem dirigentes, governantes. A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abstração
Para isso, seria necessário tanto o conhecimento das leis da natu- dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão aprendendo na
reza como das humanidades e da ordem legal que regula a vida em escola, e podem relacionar a matéria aprendida com fatos reais do
sociedade. seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absolverem os conteú-
Opondo-se à concepção capitalista burguesa que tem por base dos escolares.
a fragmentação do trabalho em funções especializadas e autôno- Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino que
mas, Saviani (1989) defende a politecnia que “postula que o traba- é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiências”, que
lho desenvolva, numa unidade indis solúvel, os aspectos manuais e mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras sem experiência,
intelectuais.... Todo trabalho humano envolve a concomitância do não deve mais ser usado pelo professor, pois os alunos aprendem
exercício dos membros, das mãos e do exercício mental, intelectual. mais quanto mais pratica experiências em torno do que está sendo
Isso está na própria origem do entendimento da realidade humana, ensinado.
enquanto constituída pelo trabalho.” (p. 15). Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de en-
sino são:
Frigotto argumenta em dois sentidos. Primeiro, faz a crítica à • motivar e despertar o interesse dos alunos;
ideologia cristã e positivista de que todo trabalho dignifica o ho- • favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
mem: “Nas relações de trabalho onde o sujeito é o capital e o ho- • aproximar o aluno da realidade;
mem é o objeto a ser consumido, usado, constrói-se uma relação • visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
educativa negativa, uma relação de submissão e alienação, isto é, • oferecer informações e dados;
nega-se a possibilidade de um crescimento integral” (1989, p. 4). • permitir a fixação da aprendizagem;
Segundo, preocupa-se com a análise política das condições em que • ilustrar noções mais abstratas;
trabalho e educação se exercem na sociedade capitalista brasileira; • desenvolver a experimentação concreta.
“como a escola articula os interesses de classe dos trabalhadores...
é preciso pensar a unidade entre o ensino e o trabalho produtivo, Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar atento
o trabalho como princípio educativo e a escola politécnica” (1985, aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria ensinada.
p. 178). Todos esses objetivos podem ser alcançados através de recursos de
Em um segundo momento, a reflexão toma forma tendo por ensino, midiáticos, como, por exemplo, computador, internet, em
base Lukács (op.cit.). Em sua reflexão sobre a ontologia do ser so- que o aluno além de conhecer novas tecnologias, faz também inte-
cial, o autor examina o trabalho como atividade fundamental do ser ração com o mundo e novas informações. O aluno busca algo novo,
humano, ontocriativa, que produz os meios de existência na rela- algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca. Mas não
ção do homem com a natureza, a cultura e o aperfeiçoamento de basta apenas usar a tecnologia, no ambiente de ensino/aprendiza-
gem temos que rever o uso que fazemos de diferentes tecnologias
si mesmo. De outra parte, o trabalho humano assume formas his-
enquanto estratégias, tendo clareza quanto à função do que esta-
tóricas muitas das quais degradantes, penalizantes, nas diferentes
mos utilizando, não basta trocar o livro por um computador se na
culturas, na estrutura capitalista e em suas diversas conjunturas.
prática não promovemos a inclusão do aluno, no que se refere aos
Desse conjunto de idéias e debates foi possível concluir que o
processos de aprendizagem.
trabalho não é necessariamente educativo, depende das condições
O computador é conhecido como uma tecnologia da informa-
de sua realização, dos fins a que se destina, de quem se apropria
ção devido a sua grande capacidade na solução de problemas rela-
do produto do trabalho e do conhecimento que se gera (Ciavatta
cionados a armazenamento, organização e produção de informa-
Franco, op. cit.). Nas sociedades capitalistas, a transformação do
ção de várias áreas do conhecimento. A utilização dessa tecnologia
produto do trabalho de valor de uso para valor de troca, apropriado
pode ser usada de varias formas, como programas de exercício-e-
pelo dono dos meios de produção, conduziu à formação de uma -prática, jogos educacionais, programas de simulação, linguagem de
classe trabalhadora expropriada dos benefícios da riqueza social e programação entre outros, despertando assim um grande interesse
dos saberes que desenvolve. No campo da saúde, como na educa- do aluno.
ção, o que é um direito torna-se uma mercadoria, uma atividade Conforme observado por Valente (1993), o computador não é
como outra qualquer sujeita ao mercado. mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com
Tendo por base as exigências do sistema capitalista, a educa- a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado ocorre
ção profissional modelou-se por uma visão que reduz a formação pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do com-
ao treinamento para o trabalho simples ou especializado para os putador. O processo de interação se torna mais agradável com a
trabalhadores e seus filhos. A introdução do trabalho como princí- presença da multimídia na aprendizagem, pois naquele momento o
pio educativo na atividade escolar ou na formação de profissionais aluno está descobrindo o novo, o contemporâneo.
para a área da saúde, supõe recuperar para todos a dimensão do
conhecimento científico-tecnológico da escola unitária e politéc- Educação, Mídia e Tecnologia
nica, introduzir nos currículos a crítica histórico-social do trabalho A aplicação de novas tecnologias na educação vem modifican-
no sistema capitalista, os direitos do trabalho e o sentido das lutas do o panorama do sistema educacional e, por isso, pode-se falar
históricas no trabalho, na saúde e na educação. 42 de um tipo de aula antes e depois da difusão de mídias integradas
42 Fonte: www.epsjv.fiocruz.br - Por Maria Ciavatta
e tecnologias avançadas de comunicação digital. Os resultados das

122
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
aplicações de tais tecnologias estão criando condições objetivas Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a realidade
para questionarem a real necessidade de se preparar para o ensino dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino e apren-
virtual. Hoje, há a percepção de algumas tendências relativas aos dizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e valer-se da
novos modelos de ensino e aprendizagem de idiomas mediados por tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia Educacional.
computador. Uma dessas tendências é a aprendizagem por meio de Pensada especificamente para trazer inovação e facilitar o processo
Redes Sociais ou Comunidades Virtuais de Aprendizagem. de ensino e aprendizagem, ela aparece nas salas de aula de diversas
Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como maneiras: em novos dispositivos ou gadgets, softwares e soluções
um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolítico e educacionais.
educacional a partir da interface Comunicação/Educação. Mais do É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alunos
que como uma metodologia, no âmbito da didática, o neologismo em sala de aula que ignore completamente as novas tecnologias.
tem sido visto como um parâmetro capaz de mobilizar consciências Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipamentos de últi-
em torno de metas a serem alcanças coletivamente nas diferentes ma geração, com o professor mais tradicional, a interação é sempre
esferas da leitura e da construção do mundo, como propunha Paulo permeada por ela. E não poderia deixar de ser: além dos avanços
Freire. tecnológicos que conquistaram as gerações X e Y (você se lembra
O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os que como enviava mensagens e fazia planos com os amigos antes do
buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e des- smartphone?), os estudantes das novas gerações são nativos digi-
critas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às “ex- tais. Isso significa que a maioria deles nunca conheceu um mundo
sem internet, celular, Google ou redes sociais, dessa forma, o uso
periências escolares” inovadoras e multidisciplinares, previstas na
de tecnologias educacionais se tornou fundamental para potencia-
reforma do ensino
lizar o ensino e principalmente, gerar maior interesse e interação
Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da in-
dos alunos.
formação e o papel da mídia na geração de conteúdos, mensagens
A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à utili-
e apelos comportamentais. zação de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu objetivo
Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, se, é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala de aula – prá-
de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos midiáti- ticas inovadoras, que facilitem e potencializem o processo de en-
cos é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus propósitos sino e aprendizagem. O uso da TE tem sido amplamente discutido
educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valores — presen- no meio acadêmico, na mídia e nos círculos sociais, espaços onde
tes muitas vezes de forma conflituosa no convívio social e assim nem sempre é bem recebido. As maiores críticas dizem respeito à
reproduzidos pela mídia — sejam identificados e revisitados pela sua relação com o papel da escola e do professor e à dificuldade de
educação. É o caso, por exemplo, do consumismo e de uma pouco acesso à tecnologia, especialmente nas escolas da rede pública e
disfarçada indiferença com relação aos desequilíbrios que ocorrem entre estudantes com menor renda familiar.
no mundo; indiferença essa que leva, com certa naturalidade, à ba- Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o foco
nalização dos acontecimentos por parte significativa dos meios de principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dispositivos
informação. tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente, contar com
Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/CEB os equipamentos mais modernos para trabalhar a TE), e sim sobre
nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o ensino de as práticas que o seu uso possibilita. Em outras palavras: ter bem
nove anos, não permanece, contudo, apenas num denuncismo inó- definida a finalidade do uso da tecnologia em sala de aula é mais
cuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cumpridas. importante que os meios e recursos tecnológicos que serão empre-
É necessário, por exemplo, que a escola contribua para trans- gados para tal prática.
formar os alunos em consumidores críticos dos produtos midiáticos E é aí que entra o papel fundamental do professor e do profis-
(meta número 1), ao mesmo tempo em que passem a usar os re- sional da educação no emprego da Tecnologia Educacional: definir
cursos tecnológicos como instrumentos relevantes no processo de quais são os recursos e ferramentas mais adequados para a realida-
aprendizagem (meta número 2). É dessa criticidade do olhar e da de de seus alunos, e também a forma mais relevante de os utilizar
criatividade no uso dos recursos midiáticos que pode surgir uma em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, pode surgir a dúvida:
nova aliança entre o aluno e o professor (meta número 3), favore- com que objetivo um profissional da educação deveria inserir a tec-
cida justamente pelo diálogo que a produção cultural na escola é nologia nas práticas pedagógicas e no dia a dia da sua instituição
de ensino?
capaz de propiciar.
No caso do docente, o parecer que justificou o documento do
Tecnologia Educacional: por que usar?
CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na situação de
Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas da
aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas para as ques-
sociedade têm experimentado uma grande evolução tecnológica.
tões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4: reconhecer o aluno Toda evolução compreende uma mudança na comunicação, nas re-
como partícipe e corresponsável por sua própria educação, sujeito lações sociais e, é claro, no processo de ensino e aprendizagem.
que é de um direito muito especial: o de expressar-se numa socie- Mas, como dissemos no tópico acima, a utilização da Tecnologia
dade plural. Educacional nem sempre é bem recebida – inclusive por educado-
Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no proces- res. A raiz dessa resistência talvez esteja na desinformação sobre as
so de ensino e aprendizagem também está em constante transfor- diferentes possibilidades que ela oferece à educação.
mação. Por esse motivo, não é mais possível estar diante de uma Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia
sala de aula com a expectativa de captar a atenção de toda uma Educacional em sua escola.
turma de crianças e adolescentes e utilizando uma linguagem do - Ampliar o acesso à informação.
século passado. Hoje, não é mais possível falar sobre ecologia, sem - Facilitar a comunicação escola – aluno – família.
falar sobre sustentabilidade e tecnologias limpas. Ou falar sobre - Automatizar processos de gestão escolar.
linguagens, sem mencionar os memes e as fake news. E esses são - Estimular a troca de experiências.
apenas alguns dos exemplos possíveis. - Aproximar o diálogo entre professor e aluno.

123
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
- Possibilitar novas formas de interação. 6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e constante
- Melhorar o desempenho dos estudantes. a professores, alunos e responsáveis.
Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendizagem
Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia di- (AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital é uma
gital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus alunos. maneira de gerar dados de desempenho imediatos para professo-
res, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno pode corrigir
1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende a equívocos enquanto o conteúdo continua “fresco” na memória, em
atenção dos alunos. vez de descobrir dias depois (ou apenas no final do bimestre) que,
O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme- durante todo o tempo, seu desempenho esteve abaixo do espera-
mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. A do. Além disso, professores e responsáveis acompanham de perto a
mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é importante evolução de cada estudante, intervindo e direcionando os estudos
variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças no local e, es- conforme necessário.
pecialmente, experimentar diferentes ferramentas e recursos tec-
nológicos. Quando se buscam novas formas de ensinar e aprender, 7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino ade-
coloca-se uma aura de novidade sobre a rotina de estudos, tornan- quado a cada aluno.
do-a mais interessante e prazerosa. Consequentemente, crescem a A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade de
atenção e o interesse dos alunos pelo assunto em pauta. dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos nos
quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificuldade de
2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolução de compreensão, bem como verificar o desempenho da turma e de
problemas reais. cada aluno, individualmente. A análise desses dados dá autonomia
Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da edu- para que professores, pais e alunos tracem um plano de ensino per-
cação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricu- sonalizado, mais adequado a cada turma e estudante. Também pos-
lar) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da realidade sibilita que o próprio aluno, nas etapas mais avançadas da educação
dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático à sua discipli- básica, direcione seu aprendizado para suas áreas de interesse e da
na, seja por meio da contextualização da informação (aplicação em formação que pretende seguir.
situações reais, apresentação de casos locais) ou dos meios utiliza- Exemplos de usos da Tecnologia Educacional
dos para transmiti-la (tecnologias digitais, canais frequentemente A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação de
utilizados pelas novas gerações). Isso auxilia não apenas na com- diversas maneiras, algumas delas são:
preensão do conteúdo, mas também na visualização e na resolução - em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets e as
de problemas reais que se apresentam no dia a dia do estudante. mesas educacionais;
- em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros digitais;
3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e con- - e em outras soluções educacionais, como a realidade aumen-
tribui para a formação do senso crítico. tada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as plataformas de
Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia digital vídeo.
na educação é a possibilidade de acessar informações atualizadas,
em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela atualização do Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas tornaram-se
livro didático impresso para ter acesso a temas contemporâneos, realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um pouco sobre
questões recentes de vestibulares, dados atualizados e debates so- as possibilidades do uso da Tecnologia Educacional e as diferentes
ciais relevantes. Trabalhar com informações hiperatualizadas con- formas de como ela vem transformando a educação.
tribui para inserir o estudante no debate social e desenvolver seu
senso crítico e de argumentação, preparando-o simultaneamente Ensino híbrido
para os desafios da vida social e acadêmica. A prática de combinar o estudo on e offline, conhecido como
ensino híbrido, é uma grande tendência possibilitada pela Tecnolo-
4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na utiliza- gia Educacional. Ela confere maior autonomia aos estudantes, para
ção da internet e dos recursos digitais. que trilhem seus próprios roteiros de estudo, desenvolvam proje-
A tecnologia digital está presente na vida das novas gerações tos ou atividades de sistematização e de reforço. Também é uma
desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças em idade prática que incentiva e facilita que o aluno desenvolva o hábito do
pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por exemplo. A inser- estudo diário, fora do ambiente escolar.
ção da tecnologia no ambiente escolar ajuda a estabelecer regras
de convivência e segurança nos ambientes virtuais. Também é uma Sala de aula invertida
boa oportunidade para trabalhar a responsabilidade no manuseio e Na sala de aula invertida, o aluno traz para a aula o conheci-
na conservação dos equipamentos digitais. mento prévio sobre o tema que será estudado, adquirido a partir
de textos, vídeos, jogos e outros formatos de conteúdo recomen-
5. A tecnologia digital contribui para democratizar o acesso dados pelo professor – quase sempre no meio digital. A constru-
ao ensino. ção e significação deste conhecimento, no entanto, acontecem em
Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desenvolvi- conjunto, na sala de aula. Assim como o ensino híbrido, a proposta
das com o objetivo de ajudar os profissionais da educação a promo- da sala de aula invertida tem como objetivo colocar o estudante no
ver a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar a favor de papel de protagonista de seu processo de aprendizagem e da sua
uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia digital em sala de própria evolução, engajando também os outros membros do seu
aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de escrita, por exem- núcleo familiar.
plo) pode dar mais autonomia aos estudantes portadores de defi-
ciência, transtornos ou problemas de aprendizagem, ajudando-os a
superar limitações e a desenvolver ao máximo seu potencial.

124
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Gamificação Diálogo
A gamificação, assunto muito comentado no meio educacional Uma ação importante é estimular o diálogo e a troca de expe-
nos últimos anos, consiste em utilizar elementos de jogos digitais riências entre as equipes. Os professores sentem-se mais seguros,
(como avatares, desafios, rankings, prêmios etc.) em contextos que dispostos e motivados a utilizar a tecnologia quando compartilham
diferem da sua proposta original – como na educação. A principal das experiências de seus pares.
vantagem apontada pelos profissionais da educação no uso da ga-
mificação é o aumento no interesse, na atenção e no engajamento Segurança
dos alunos com o conteúdo e as práticas propostas. É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos digi-
tais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos estudantes.
Personalização do ensino
A geração de dados educacionais é extremamente beneficiada Atualização
pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempenho e dos re- A partir do momento em que o professor identifica uma prática
sultados de avaliações objetivas. A partir desses dados, é possível ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnologia, tam-
criar modelos de ensino personalizados, que estejam em sintonia bém é importante pensar na atualização dos planos de aula que
com o momento real de aprendizagem de cada estudante. Assim, o irão nortear essas práticas.
professor tem uma noção mais clara do panorama da turma e pode
agir individualmente e de forma personalizada sobre os pontos po-
Plano de Aula X tecnologia
tenciais e de maior dificuldade de cada estudante.
A partir da modernização de espaços, ferramentas e práticas
educacionais, profissionais da educação em todo o mundo estão
Microlearning
trabalhando por uma transformação cada vez mais profunda e efe-
Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a enor-
me quantidade de informações com as quais temos contato diaria- tiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa transformação
mente ocasionou uma transformação na forma como consumimos é um processo nascido e desenvolvido dentro de cada espaço de
conteúdo. Para que a atenção não seja desviada de pronto, este aprendizagem, baseado em uma mudança de hábitos e paradig-
conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma muito mais frag- mas estabelecidos nas relações diárias entre alunos e professores.
mentada, em vídeos e mensagens breves. Daí surge a expressão Não basta esperar que a transformação chegue até a sala de aula,
microlearning, que consiste na fragmentação de conteúdo educa- ela precisa ter um ponto de partida dentro do ambiente escolar.
cional para que este seja melhor assimilado pelos alunos. O meio Que tal ser um agente dessa mudança na sua escola, começando
digital favorece este tipo de interação, por meio de vídeos, jogos, pelo plano de aula?
animações, apresentações interativas etc. A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda
mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da
Como inserir a tecnologia na minha escola? realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem de-
Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Educacio- senvolver ao longo da Educação Básica a competência para:
nal de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de ensino. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e
Elencamos algumas delas a seguir: comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas di-
versas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar
Diagnóstico por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimen-
Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e professores tos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.
da sua escola. Em que momentos eles estão conectados? A partir (BNCC)
de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que estão pre-
sentes e os sites que acessam? Essa investigação é essencial caso A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de
sua instituição pretenda estabelecer uma conexão verdadeira com aula e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada ao
os seus públicos e propor usos significativos para a Tecnologia Edu- dia a dia da turma.
cacional.
1. Interação em ambientes virtuais
Documentos normativos
Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z estão
As possibilidades para o uso da TE, bem como o destaque da
navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com desen-
sua importância, devem estar previstas dentro do PPP e em outros
voltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e professo-
documentos normativos da instituição de ensino.
res. Incentivar e orientar a interação nesses espaços tem muito a
Investimento acrescentar à prática pedagógica. Procure identificar as tarefas que
É importante relacionar tudo aquilo que a escola possui de su- podem ser transpostas, facilitadas ou repensadas para o meio di-
porte para o uso da tecnologia, para daí desenvolver planos reais gital.
sobre as práticas que podem ser adotadas. Essa relação também As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar gru-
deixa claro aquilo que é preciso melhorar e o investimento que pos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão com te-
pode ser feito com esta finalidade. máticas específicas relacionadas ao conteúdo que está sendo estu-
dado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de aprendizagem,
Capacitação caso a sua escola ou sistema de ensino disponha de um.
De nada adiantam os recursos tecnológicos sem uma equipe de
professores e profissionais capacitados para extrair deles as melho- 2. Textos em formato digital
res práticas pedagógicas. Por isso, a formação dos educadores para O consumo de textos em formato digital é baseado na lingua-
a tecnologia é primordial. gem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O texto em
formato digital permite ampliar o conhecimento acerca de uma te-
mática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar momentos his-

125
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
tóricos, esclarecer vocabulários específicos, entre diversas outras Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalidades
possibilidades. A leitura deixa de ser apenas receptiva para tornar- são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o Google Sli-
-se um processo interativo. des e o Prezi (apresentação de slides e construção de mapas men-
Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital que tais), o PowToon (construção de vídeos e animações – em inglês),
pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em casa. entre outras. Busque também compartilhar experiências e conhe-
Explore também as funcionalidades oferecidas por portais de no- cer as ferramentas utilizadas por outros professores.
tícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto permite
adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de 5. Diferentes formatos de avaliação
conteúdo adicional ao corpo do texto, transformando a forma como A tecnologia também pode convergir para o plano de aula no
lemos e aprendemos. Quando se transforma a forma de ler, modifi- modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e caneta – com
ca-se também a forma de produzir conteúdo. os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue sendo o mé-
O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear, todo de avaliação mais comum, existem formas diferentes de verifi-
afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas entra- car a aprendizagem dos estudantes.
das e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta o modo Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é veri-
como escrevemos, proporcionando a distribuição da inteligência e ficar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como ativi-
cognição. De um lado, diminui a fronteira entre leitor e escritor, tor- dades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também pode
nando-os parte do mesmo processo; do outro, faz com que a escrita desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questionários uti-
seja uma tarefa menos individual para se tornar uma atividade mais lizando ferramentas gratuitas como o Google Forms.
coletiva e colaborativa. O poder e a autoridade ficam distribuídos
pelas imensas redes digitais, facilitando a construção social do co- 6. Aplicativos e softwares educacionais
nhecimento.(MARCUSCHI, Luiz A. O hipertexto como um novo espa- Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de
ço de escrita em sala de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande do conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a realiza-
Sul, 2001. v.4, n. 1, p. 79-111.) ção de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é nenhu-
ma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvimento
A BNCC e os gêneros digitais tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa prática
A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da Base fosse transportada para o meio digital e amplamente difundida nas
Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na leitura, salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pautas mais re-
interpretação e produção dos novos gêneros digitais, como: centes, esse fenômeno é conhecido como gamificação.
- Blogs; Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educação”,
- Tweets; é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos deles
- Mensagens instantâneas; gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do contexto edu-
- Memes; cacional.
- GIFs;
- Vlogs; O que inserir em seu plano
- Fanfics; … e como?
de aula…
- Entre diversos outros.
- Grupos e comunidades nas
Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais devem redes sociais;
ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portuguesa. O tra- 1. Interação em ambientes - Fóruns de discussão;
balho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas virtuais - Ambiente virtual de
do conhecimento, valorizando também o trabalho interdisciplinar aprendizagem;
– como sugere, inclusive, a própria BNCC. - Etc.
- Portais de notícia;
3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo - E-books;
Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula 2. Textos em formato digital
- PDFs interativos;
da sua disciplina é torná-los parte da construção do conhecimento. - Etc.
Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule a interação
por meio dos comentários; organize e deixe disponível para con- - Blog/vlog;
3. Métodos colaborativos de
sulta um banco de textos e artigos com as produções dos alunos; - Banco de textos e artigos;
produção de conteúdo
desenvolva projetos interdisciplinares. - Etc.
O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita, que - Vídeos;
permite construir textos de maneira colaborativa, editando, adicio- 4. Apresentações em - Slides;
nando comentários e enviando feedback em tempo real. No entan- formatos multimídia - Mapas mentais;
to, existem diversas outras ferramentas disponíveis. Procure pelas - Etc.
melhores soluções que conversem com a realidade e as necessida-
- Avaliações online;
des da turma.
- Atividades de fixação e
5. Diferentes formatos de
reforço;
4. Apresentações em formatos multimídia avaliação
- Simulados;
É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano
- Etc.
de aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes formatos
(como vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.) co- - Jogos
6. Aplicativos e softwares
labora para o engajamento da turma. Além disso, pode servir para - Aplicativos educacionais;
educacionais
enriquecer tanto a aula do professor quanto as apresentações dos - Etc.
próprios alunos.

126
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da edu- Evidente, portanto, que, além de uma atribuição do Estado –
cação é uma missão de todo profissional que atua hoje nessa área. que tem o dever de fazê-los zelar pela freqüência escolar (artigo 54,
Procure manter-se atualizado sobre as tendências em tecnologia parágrafo 3º, ECA) –, a responsabilização pela matrícula e acompa-
educacional, acompanhando blogs, revistas e portais de notícia so- nhamento das crianças e jovens no ensino fundamental é compar-
bre o assunto. Troque experiências com outros profissionais e des- tilhada com a família (pais e responsáveis).
cubra novas práticas, soluções e ferramentas que estão surgindo a
cada dia.43 O direito à educação e as medidas protetivas e socioeduca-
tivas
O ECA e a Educação O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a aplicação de
Segundo o ECA (artigo 53), “a criança e o adolescente têm di- medidas protetivas sempre que os direitos nele previstos forem
reito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, ameaçados ou violados, seja pelo Estado, pela sociedade ou pela
preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o traba- própria família. Entre as medidas existentes, há previsão de matrí-
lho”. Nesse sentido, a lei assegura: cula e freqüência obrigatória em estabelecimento oficial de ensino
- Igualdade de condições para o acesso e permanência na es- fundamental (artigo 101, inciso III do ECA).
cola; As medidas de proteção podem ser aplicadas isolada ou cumu-
- Direito de ser respeitado por seus educadores; lativamente com as medidas socioeducativas; estas previstas exclu-
- Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às sivamente aos adolescentes que tenham praticados atos infracio-
instâncias escolares superiores;
nais.
- Direito de organização e participação em entidades estudan-
É importante ressaltar que independentemente da situação do
tis, e
adolescente, esteja ele cumprindo uma sanção pela prática de um
- Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
delito ou não, seu direito à educação formal, bem como outros di-
Para que estes direitos sejam observados, o ECA também esti-
pula os deveres do Estado (artigo 54). São eles: reitos fundamentais, em nada é afetado.
- Garantir ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive A Liberdade Assistida inclui em sua execução o acompanha-
para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; mento da escolarização do adolescente; na Prestação de Serviços à
- Assegurar progressivamente a extensão da obrigatoriedade e Comunidade, o período determinado para o cumprimento da medi-
gratuidade ao ensino médio; da não pode prejudicar o tempo de estudo; a medida de semiliber-
- Oferecer atendimento educacional especializado aos porta- dade comumente vem acompanhada de uma medida protetiva de
dores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; matrícula e freqüência obrigatória em estabelecimento de ensino e,
- Oferecer atendimento em creche e pré-escola às crianças de por fim, quanto à medida privativa de liberdade, os estabelecimen-
zero a seis anos de idade; tos de internação devem necessariamente oferecer escolarização e
- Garantir acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesqui- profissionalização aos adolescentes.
sa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
- Ofertar ensino noturno regular, adequado às condições do O direito à educação aos portadores de deficiências
adolescente trabalhador; Os jovens portadores de deficiência física e/ou psíquica tam-
- Promover atendimento no ensino fundamental, através de bém recebem atenção especial do Estado quando o assunto é ga-
programas suplementares de material didático escolar, transporte, rantia do direito à educação.
alimentação e assistência à saúde.
O não oferecimento ou oferecimento irregular de atendimento
Por fim, é importante lembrar que o acesso ao ensino obrigató- educacional especializado aos portadores de deficiência pode gerar
rio e gratuito é um direito público subjetivo, ou seja, pode sempre uma ação de responsabilidade por ofensa aos direitos das crianças
ser exigido do Estado por parte do cidadão. Assim, caso o Poder e dos adolescentes (artigo 208, inciso II do ECA).
Público não garanta o acesso à educação ou caso não o faça de ma- A Constituição Federal também prevê a “criação de programas
neira regular, o cidadão tem a possibilidade de exigir judicialmente de prevenção e atendimento especializado para os portadores de
que seu direito seja observado, obrigando o Estado a fazê-lo. deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração so-
cial do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamen-
O papel da família no fomento à Educação
to para o trabalho e convivência, e a facilidade de acesso aos bens
A família é um dos três eixos de promoção do direito à Educa-
e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos
ção. Os pais são responsáveis por matricular seus filhos nas institui-
arquitetônicos” (artigo 227, parágrafo 1º, inciso II da CF/88).
ções de ensino e garantir a permanência deles (artigo 55 do ECA).
Outras legislações também garantem proteção especial à edu-
Inclusive, alguns programas públicos de distribuição de renda con-
dicionam o benefício à freqüência escolar dos jovens sob tutela dos cação de jovens portadores de deficiência física e/ou psíquica. A
pais, atestando a família como principal incentivadora dos estudos. LDB, em seu artigo 4º, inciso III, prevê o atendimento educacional
O Estatuto prevê, entre as medidas que são aplicáveis aos pais especializado e gratuito aos jovens com necessidades especiais. Por
ou responsáveis, a obrigação de matricular o filho em estabeleci- fim, complementa a matéria sobre educação especial o seu artigo
mento de ensino e acompanhar sua freqüência e aproveitamento 58: “entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
escolar (artigo 129, inciso V do ECA). modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos portadores de necessida-
des especiais.”

43 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administradores.
com.br

127
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
e a educação como um direito fundamental estrutura-se como 5. (CONSULPLAN/2014) O currículo tem um papel tanto de con-
um dever compartilhado entre Estado, família e sociedade. O Poder servação quanto de transformação e construção dos conhecimen-
Público, como um dos responsáveis pelo fomento à educação, deve tos historicamente acumulados. A perspectiva teórica que trata o
promover ações não só no âmbito de elaboração de políticas públi- currículo como um campo de disputa e tensões, pois o vê implicado
cas (executivo), no âmbito de elaboração de leis (legislativo), mas com questões ideológicos e de poder, denomina-se
também exercendo o papel de protetor e fiscalizador desse direito (A) tecnicista.
(judiciário). (B) crítica.
As diversas instituições do poder público relacionadas neste (C) tradicional.
texto cumprem papéis importantes na garantia dos direitos dos ci- (D) pós-crítica.
dadãos.
Num país marcado por desigualdades como o Brasil, onde a 6. (SEDUC-AM/2014) A respeito da formação de professores
distribuição de direitos espelha essa desigualdade, garantir o direi- para a Educação Especial, assinale a afirmativa incorreta.
to à educação é, sem dúvida, uma prioridade e um passo funda- (A) A proposta inclusiva envolve uma escola cujos professores
mental na consolidação da cidadania.44 tenham um perfil compatível com os princípios educacionais
humanistas.
(B) Os professores estão continuamente atualizando-se, para
conhecer cada vez mais de perto os seus alunos, promover a
EXERCÍCIOS interação entre as disciplinas escolares, reunir os pais, a comu-
nidade, a escola em que exercem suas funções, em torno de
1. (MOURA MELO/2015) Com relação à Educação para a Cida- um projeto educacional que estabeleceram juntos.
dania, podemos afirmar, exceto: (C) A formação continuada dos professores é, antes de tudo,
(A) Estimula o desenvolvimento de competência. uma auto formação, pois acontece no interior das escolas e a
(B) Não se atém à abordagem de temas transversais. partir do que eles estão buscando para aprimorar suas práticas.
(C) Valoriza o desenvolvimento do espírito crítico. (D) As habilitações dos cursos de Pedagogia para formação de
(D) Preocupa-se com o apreço pelos valores democráticos. professores de alunos com deficiência ainda existem em diver-
sos estados brasileiros.
2. (MOURA MELO/2015) Para que o conhecimento seja perti- (E) A inclusão diz respeito a uma escola cujos professores te-
nente, a educação deverá tornar certos fatores evidentes. São eles, nham uma formação que se esgota na graduação ou nos cursos
exceto: de pós-graduação em que se diplomaram.
(A) O global.
(B) O complexo. 7. Sobre a avaliação da aprendizagem, marque V para as afir-
(C) O contexto. mativas verdadeiras e F para as afirmativas falsas.
(D) O unidimensional. ( ) Podemos afirmar que prova escrita, portfólio, trabalhos, tes-
tes, pesquisas, e relatórios são exemplos de instrumentos de ava-
3. (MOURA MELO/2015) O acesso ao ensino fundamental é di- liação.
reito: ( ) A avaliação no contexto atual deve priorizar a nota em detri-
(A) Privado objetivo. mento da qualidade do processo de aprendizagem.
(B) Privado subjetivo. ( ) A avaliação tem diversas funções. Algumas delas são: faci-
(C) Público objetivo. litar o diagnóstico, interpretar os resultados, promover e agrupar
(D) Público subjetivo. os alunos.
( ) A avaliação é uma atividade que informa tanto durante o
4. Alfabetização é um processo complexo que envolve não ape- desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem (avaliação for-
nas habilidades de codificar e decodificar, mas se caracteriza como mativa) quanto no final do processo (avaliação somativa).
um processo ativo por meio do qual a criança constrói e reconstrói ( ) A avaliação é um ritual a serviço da manutenção da ordem e
hipóteses. Dessa forma, assinale a opção CORRETA que expressa o da disciplina em sala de aula.
conceito de alfabetização numa perspectiva mais ampla.
(A) Domínio da relação grafemas/ fonemas, ou seja, decodifi- Assinale a alternativa correta:
cação e codificação. (A) V, F, V, F, F;
(B) Decodificação dos sinais gráficos, transformando as letras (B) F, F, V, V, V;
em sons. (C) V, V, F, V, F;
(C) Desenvolvimento da capacidade de codificar os sons da fala (D) V, F, V, V, F;
em sinais gráficos. (E) F, F, V, V, F.
(D) Aprendizado da leitura e escrita, natureza e funcionamento
do sistema de escrita. 8. (IBFC/2015) A Educação Inclusiva não deve ser confundida
(E) Apropriação de hipóteses de codificar e decodificar os sons como Educação Especial, porém, a segunda esta inclusa na primei-
em sinais gráficos. ra. Em outras palavras, a Educação Inclusiva é a forma de:
(A) Promover a aprendizagem e o desenvolvimento de todos.
(B) Inclusão de jovens e adultos no ensino médio.
(C) Promover a aprendizagem de crianças somente na educa-
ção infantil.
(D) Inclusão de crianças no ensino fundamental.

44 Fonte: www.fundacaotelefonica.org.br

128
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
9.(FEPESE/ Prefeitura de Brusque/SC) Assinale a alternativa 11. (SELECON/2018 Prefeitura de Cuiabá/MT) Segundo Bar-
que completacorretamentea frase abaixo: bosa (2010), a Pedagogia da Infância “constitui-se de um conjunto
“A Pedagogia da Infância admite como pressuposto básico a de fundamentos e indicações de ação pedagógica que tem como
criança como um (…)” referência as crianças e as múltiplas concepções de infância em di-
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Pedagogia da Infância. ferentes espaços educacionais”. A partir dessa consideração, pode-
-se dizer que as propostas pedagógicas baseadas nesta perspectiva
(A) vir a ser. devem considerar:
(B) sujeito de direitos (à provisão, à proteção e à participa- (A) a reprodução de uma pedagogia transmissiva, que prioriza
ção social, com base na Convenção dos Direitos das Crianças que todas crianças realizem a mesma tarefa e ao mesmo tem-
(1989). po, cabendo ao professor ser o transmissor dos saberes hierar-
(C) adulto em miniatura, tendo todas as habilidades já prontas, quizados e às crianças meras receptoras
faltando apenas o seu desabrochar, independentemente de (B) a observação sistemática dos comportamentos da criança,
classe social, sexo ou cultura. ignorando os contextos dos quais fazem parte e a participação
(D) ser que ainda não é adulto. A infância neste caso é a incuba- dos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem e desen-
ção para que ela se torne alguém. volvimento
(E) ser a-histórico, que depende do adulto para construir cul- (C) a elaboração de experiências significativas e interativas,
tura. considerando a criança como um sujeito social e com compe-
tências, cabendo ao professor organizar os espaços e o tempo
10. ACAFE/2017 – SED/SC) Nos dias atuais, em que as socie- de modo a favorecer a participação ativa e a interatividade dela
dades estão centradas cada vez mais na escrita, saber codificar e no processo educativo
decodificar, por meio do código linguístico, tem-se constituído con- (D) a promoção de um clima de bem-estar na creche e pré-es-
dição insuficiente para responder de forma adequada às exigências cola, no qual as crianças se sintam à vontade para, esponta-
do mundo contemporâneo. É necessário ir além da simples apro- neamente, desenvolver propostas interativas com os adultos e
priação do código escrito; é preciso exercer as práticas sociais de demais crianças
leitura e escrita demandadas nas diferentes esferas da sociedade.
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. 12. (VUNESP/2016) Para Vygotsky, o tema do pensamento e da
Florianópolis: IOESC, 2005, p. 23-25. linguagem situa-se entre as questões de psicologia, em que aparece
em primeiro plano, a relação entre as diversas funções psicológicas
Em relação aos conceitos de alfabetização e letramento, mar- e as diferentes modalidades de atividade da consciência. O ponto
que com V as afirmações verdadeiras e com F as falsas, e assinale a central de toda essa questão é
alternativa com a sequência correta. (A) a relação entre o pensamento e a palavra.
( ) Em sentido amplo, a alfabetização é entendida como pro- (B) a relação entre o desenvolvimento e a linguagem.
cesso de apropriação do sistema de escrita, do domínio do sistema (C) a priorização das diversas funções psicológicas.
alfabético-ortográfico. (D) os diversos modos de desenvolver a consciência.
( ) A alfabetização é elemento essencial do letramento que (E) o pensamento e o desenvolvimento ampliado das relações
orienta o indivíduo para que se aproprie do código escrito, aprenda morais.
a ler e escrever e ao mesmo tempo conviva e participe de práticas
reais de leitura e escrita. 13. (Prefeitura de Fortaleza /CE – 2016) É necessário considerar
( ) O letramento refere-se ao processo de inclusão e partici- que as linguagens se inter-relacionam. Quando se volta para cons-
pação na cultura escrita, envolvendo o uso da língua em situações truir conhecimentos sobre diferentes aspectos do seu entorno, a
reais, ou seja, constitui um conjunto de conhecimentos, atitudes e criança elabora suas capacidades linguísticas e cognitivas envolvi-
capacidades indispensáveis para o uso da língua em práticas sociais das na explicação, argumentação e outras capacidades.
que requerem habilidades mais complexas. Indique a alternativa que traz um exemplo de atividade que
( ) A difusão e o emprego do termo letramento passou a ter contempla tal concepção de currículo para a Educação Infantil.
relevância no meio educacional, a partir da década de 1970. Tradu- (A) A escrita de um texto coletivo proposto sobre um tema ou
z-se nas ações pedagógicas que priorizam a memorização dos dife- assunto indicado pela professora ou professor para explicar o
rentes elementos que compõem a língua. conceito de enchentes.
( ) “...letramento significa experienciar situações que envolvam (B) A brincadeira cantada, em que a criança explora as possibi-
as diferentes linguagens de forma crítica e dialógica, sendo os pro- lidades expressivas de seus movimentos e brinca com as pala-
fessores os mediadores.” vras e imita certos personagens.
(A) F - V - F - V - F (C) A condução de um jogo de regras, no qual o professor ou
(B) V - F - F - F - V professora lê as regras para as crianças e cuida para que se obe-
(C) F - V - V - F - V deça a essas regras.
(D) V - F - V - F - V (D) A comemoração de datas cívicas e feriados nacionais como
forma de trabalhar a compreensão do tempo e do calendário.

129
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
14. (VUNESP/2016) O sentido social que se atribui à profissão (B) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refe-
docente está diretamente relacionado à compreensão política da re-se basicamente aos aspectos de organização do trabalho do
finalidade do trabalho pedagógico, ou seja, da concepção que se professor e dos alunos na sala de aula.
tem sobre a relação entre sociedade e escola. Assim, a escola é o (C) Organização das atividades de apoio técnico administrati-
cenário onde alunos e professores, juntos, vão construindo uma vo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho
história que se modifica, amplia, transforma e interfere em diferen- docente.
tes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida e (D) Orientação de atividades que vinculam escola e família –
o da sociedade, numa perspectiva mais ampla. É correto afirmar refere-se às relações entre a escola e o ambiente interno: com
que a escola os alunos, professores e famílias.
(A) é suprassocial, não está ligada a nenhuma classe social es- (E) Organização de atividades que vinculam escola e comunida-
pecífica e serve, indistintamente, a todas. de – refere-se às relações entre a escola e o ambiente externo:
(B) não é capaz de funcionar como instrumento para mudan- com os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, com as
ças, serve apenas para reproduzir as injustiças. organizações políticas e comunitárias.
(C) não tem, de forma alguma, autonomia, é determinada, de
maneira absoluta, pela classe dominante da sociedade. 17. (IFRO/ 2014) Para Vygotsky (1998), não basta delimitar o ní-
(D) é o lugar especialmente estruturado para potencializar a vel de desenvolvimento alcançado por um indivíduo. Dessa forma,
aprendizagem dos alunos. ele demarca dois níveis de desenvolvimento:
(E) tem a tarefa primordial de servir ao poder e não a de atuar (A) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
no âmbito global da sociedade. tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desenvol-
vimento Pessoal) onde a criança consegue realizar tarefas com
15. (IFRO/ 2014) O Projeto Político pedagógico é por si a pró- a ajuda de adultos ou colegas mais próximos.
pria organização do espaço escolar. Ele organiza as atividades admi- (B) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
nistrativas, pedagógicas, curriculares e os propósitos democráticos. tais da criança ainda já estão completadas e ZDP (Zona de De-
Dizer que o Projeto Político pedagógico abrange a organização do senvolvimento Processual) que define funções ainda não ama-
espaço escolar significa dizer que o ambiente escolar é normatizado durecidas, mas em processo de maturação.
por ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto que o (C) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
Projeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos parti- tais da criança já estão completadas e NDP (Nível de Desen-
volvimento Proximal) onde a criança consegue realizar tarefas
cipativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação
com a ajuda de adultos ou colegas mais avançados.
em que a organização do espaço escolar deve abranger.
(D) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas pelo au-
mentais da criança ainda não estão completadas e NDP (Nível
tor?
de Desenvolvimento Processual) onde a criança não consegue
(A) A organização da vida escolar, relacionado à organização
realizar tarefas com a ajuda de adultos ou colegas mais avan-
do trabalho escolar em função de sua especificidade de seus
çados.
objetivos.
(E) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções men-
(B) Organização do processo de ensino e aprendizagem – refe-
tais da criança ainda não estão completadas e ZDP (Zona de
re-se basicamente aos aspectos de organização do trabalho do
Desenvolvimento Proximal) que define funções ainda não ama-
professor e dos alunos na sala de aula. durecidas, mas em processo de maturação.
(C) Organização das atividades de apoio técnico administrati-
vo – tem a função de fornecer o apoio necessário ao trabalho 18. (IFRO/ 2014) Dentro do processo de ensino e aprendiza-
docente. gem, aponte qual o teórico que defende que a criança nasce inse-
(D) Orientação de atividades que vinculam escola e família – rida em um meio social, que é a família, e é nele que estabelece as
refere-se às relações entre a escola e o ambiente interno: com primeiras relações com a linguagem na interação com os outros.
os alunos, professores e famílias. (Nas interações cotidianas, a mediação (necessária intervenção de
(E) Organização de atividades que vinculam escola e comunida- outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça) com o
de – refere-se às relações entre a escola e o ambiente externo: adulto acontecem espontaneamente no processo de utilização da
com os níveis superiores da gestão de sistemas escolar, com as linguagem, no contexto das situações imediatas.)
organizações políticas e comunitárias. (A) Jean Piaget.
(B) Henry Wallon.
16. (IFRO/ 2014) O Projeto Políticopedagógico é por si a própria (C) Paulo Freire.
organização do espaço escolar. Ele organiza as atividades adminis- (D) Louis Althusser.
trativas, pedagógicas, curriculares e os propósitos democráticos. (E) Lev Vygotsky.
Dizer que o Projeto Políticopedagógico abrange a organização do
espaço escolar significa dizer que o ambiente escolar é normatizado 19. (SEE-AC- Professor de Ciências Humanas- FUNCAB/2014)
por ideais comuns a todos que constitui esse espaço, visto que o “Organizar os conteúdos é estruturar a sequência lógica em que
Projeto Político Pedagógico deve ser resultado dos atributos parti- eles serão apresentados ao aluno.” (MALHEIROS, Bruno T. Didática
cipativos. Dessa forma, Libâneo (2001) elenca quatro áreas de ação Geral. Rio de Janeiro: LTC, 2012, p. 97)
em que a organização do espaço escolar deve abranger. Dessa forma, os conteúdos devem ser organizados, consideran-
Qual das alternativas não se refere às áreas elencadas pelo au- do-se três critérios. São eles:
tor? (A) importância do conteúdo; grau de dificuldade; novidade.
(A) A organização da vida escolar, relacionado à organização (B) continuidade; grau de dificuldade; importância do conte-
do trabalho escolar em função de sua especificidade de seus údo.
objetivos. (C) continuidade; sequência; integração.

130
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
(D) sequência; importância do conteúdo; grau de dificuldade. ( ) Possibilita localizar as dificuldades encontradas no processo
(E) integração; facilidade de ensino; importância do conteúdo. de assimilação e produção do conhecimento.

20. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA - BIO- Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de asso-
RIO/2016) O brincar fornece à criança a possibilidade de construir ciação, de cima para baixo.
uma identidade autônoma e criativa. A criança que brinca entra no (A) 3, 2, 1, 1, 1, 3, 2
mundo do trabalho, da cultura e do afeto pela via da: (B) 3, 1, 2, 3, 2, 1, 2
(A) família; (C) 3,1, 2,1, 2,1, 3,1
(B) imaturidade; (D) 1, 3, 2, 3, 1, 2, 2
(C) representação e da experimentação; (E) 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3
(D) coerção.
24. A Lei de Diretrizes e Bases, Lei nº. 9394/96, em seu art. 3º
21. Quanto ao processo de avaliação na educação infantil, ana- enfatiza os princípios norteadores do ensino no Brasil. Analise-os:
lise as assertivas, e em seguida, assinale a alternativa que aponta I. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu-
a(s) correta(s). ra, o pensamento, a arte e o saber.
I. A expectativa em relação à aprendizagem da criança deve es- II. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
tar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram III. Respeito à liberdade e apreço à tolerância.
oferecidas a ela.
II. Deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, Está(ão) correto(s) apenas o(s) princípio(s):
mas sim as situações de aprendizagem que lhe foram oferecidas. (A) I, II
III. Será necessária uma observação cuidadosa das crianças, (B) II
buscando compreender as situações e planejar situações que con- (C) III
tribuam para superação das dificuldades. (D) I, II, III
(A) Apenas I.
(B) Apenas II e III. 25. (IMPARH/2015 - Prefeitura de Fortaleza – CE) A escola con-
(C) Apenas I e III. temporânea, caracterizada por ser democrática, está sempre em
(D) I, II e III. defesa da humanização, baseada nos princípios de respeito e soli-
dariedade humana, busca assegurar uma aprendizagem significati-
22. Sobre a avaliação na Educação Infantil, podemos afirmar va. Na perspectiva de atender aos desafios impostos pela sociedade
que ela: atual, a escola vem se organizando internamente reconhecendo e
(A) deve ser baseada em julgamentos. respeitando as(os):
(B) avalia-se para quantificar o que foi aprendido. (A) políticas públicas, analfabetismos, fisiologias.
(C) faz parte do processo de aprendizagem e é essencial conhe- (B) diferenças, gêneros, diferentes tipos de gestão.
cer cada criança. (C) diversidades, diferenças sociais, potencialidades.
(D) considera o “erro” como parte do resultado final.
(D) intervenções governamentais, participações, articulações.
23. (IF-SC/2015 - IF-SC) A avaliação constitui tarefa complexa
26. ((IMA/2017 - Prefeitura de Penalva/MA) Para a criança ser
que não se resume à realização de provas e atribuição de notas.
bem-sucedida na alfabetização necessita antes de tudo:
Nessa perspectiva autores como Haydt (2000), Sant’anna (2001),
(A) dominar a técnica de ler e escrever com muita cópia e trei-
Luckesi (2002) caracterizam três modalidades de avaliação: diag-
no;
nóstica, formativa e somativa. Em relação às modalidades de ava-
(B) entender a natureza e as funções do nosso sistema de es-
liação associe corretamente a coluna da direita com a coluna da
crita;
esquerda.
(C) entrar na escola já diferenciando a escrita do desenho;
(1) Diagnóstica
(2) Formativa (D) entrar para a escola aos quatro anos pois a escola já começa
(3) Somativa a alfabetizar.

( ) Provoca o distanciamento dos autores que participam do 27. (ACAFE/2017 – SED/SC)“A igualdade de condições para o
processo ensino e aprendizagem. acesso nem sempre é algo que esteja na esfera de abrangência da
( ) Identifica as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos escola.” Entretanto, devemos lembrar que a escola pode canalizar
estudantes com o objetivo de determinar os conteúdos e as estra- as demandas e lutas sociais da comunidade em que está inserida.
tégias de ensino mais adequadas. Nesse sentido é correto afirmar,exceto:
( ) Constitui uma importante fonte de informações para o aten- Fonte: Documento do CONSED - Como articular a função social da
dimento às diferenças culturais, sociais e psicológicas dos alunos. escola com as especificidades e as demandas da comunidade? P.37
( ) Fundamenta-se na verificação do desempenho dos alunos, (A) A escola deve atender seu limite de vagas, pois assim cum-
perante os objetivos de ensino previamente estabelecidos no pla- pre seu papel social. As famílias que ficaram sem atendimento
nejamento. devem procurar seus direitos em outras esferas, não sendo res-
( ) Realizada durante o processo de ensino e aprendizagem, ponsabilidade da equipe gestora seus destinos.
com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por meio (B) Quando se manifesta o problema da falta de vagas, sobre-
de um processo de regulação permanente. tudo no ensino fundamental, o poder público é responsável
( ) Subsidia o planejamento e permite estabelecer o nível de por ele, tanto no âmbito da rede municipal como da estadual.
necessidades iniciais para a realização de um planejamento ade- Nesse sentido, a vaga deve ser assegurada a todas as crianças
quado. e adolescentes.

131
CONHECIMENTO PEDAGÓGICO
(C) A luta para que todas as crianças tenham acesso à escola é (C) reestruturar a prática pedagógica dos professores, tendo
legítima e deve ser assumida não apenas pelos dirigentes es- como eixo o ensino especializado.
colares e do sistema de ensino, como também pelos políticos. (D) aprimorar os sistemas educacionais, tendo como princípio
(D) A equipe gestora de uma escola tem responsabilidade so- a integração.
bre isso. Deve articular-se com a Secretaria de Educação para
ver o que pode ser feito a esse respeito.

28. (IDHTEC/2016 - Prefeitura de Itaquitinga/PE) Na organiza- GABARITO


ção do trabalho pedagógico, o conjunto de atividades ligadas entre
si e planejadas para ensinar um conteúdo etapa por etapa, de forma
gradual, de acordo com objetivos de aprendizagem é denominado: 1 B
(A) Contrato pedagógico.
(B) Projetos de intervenção. 2 D
(C) Atividades interativas. 3 D
(D) Sequência didática.
4 D
(E) Transposição didática.
5 B
29. (ACAFE/2017 – SED/SC) A linguagem não é um meio neutro 6 E
através do qual uma mensagem é enviada. As palavras são carrega-
das de sentido para os falantes. A linguagem é ela própria, criadora 7 D
de significados e produtora de sentidos e como tal deve ser estuda- 8 A
da. Segundo Bakhtin (1990), ela é inseparável do fluxo da interação
9 B
verbal e, portanto, não é transmitida como um produto acabado,
mas como algo que se constitui continuadamente nessa corrente. 10 C
Fonte: Proposta Curricular de Santa Catarina: Estudos Temáticos. 11 C
Florianópolis: IOESC, 2005, p. 21-22.
12 A
Considere a “linguagem no processo de alfabetização”, analise 13 B
as afirmações a seguir e assinale a alternativa que contém todas
14 D
ascorretas.
l.Oralidade e escrita caminham juntas e, portanto, o estudo da 15 D
linguagem requer que sejam trabalhadas de forma a serem consi- 16 E
deradas as suas diferenças e, ao mesmo tempo, suas similaridades,
usos e funções. 17 C
ll.A oralidade é fundamental ao processo de alfabetização. Pela 18 E
fala as crianças constituem-se sujeitos capacitados para a apren-
19 C
dizagem, bem como para a apropriação de conhecimentos novos
ancorados nas suas experiências prévias. 20 C
lll.O aprendizado da fala e da escrita se dá de forma espontâ- 21 D
nea e independente, no contexto de convívio entre os pares.
lV.A fala da criança é tão importante quanto às ações dela de- 22 C
correntes para o alcance dos objetivos educacionais. Na perspectiva 23 B
histórico-cultural, à fala atribui-se importância tão vital que, se não
24 D
for permitido seu uso, muitos indivíduos não conseguirão resolver
seus intentos. 25 C
V.O sistema de escrita implica apenas em codificação de sím- 26 B
bolos.
27 A
(A) II - III - V 28 D
(B) I - II - IV
29 B
(C) III - IV
(D) IV - V 30 A

30. (IF/GO – 2019 – IF/Goiano) A inclusão implica um esforço de


modernização e reestruturação das condições de funcionamento e
organização da maioria das escolas brasileiras, em especial as de
educação básica. No entanto, mudar a escola é enfrentar, de acordo
com Mantoan, estudiosa da questão da inclusão, muitas frentes de
trabalho, cuja tarefa fundamental é:
(A) recriar o modelo educativo da escola, tendo como eixo o
ensino para todos.
(B) reorganizar administrativamente as escolas, tendo como
princípio a normalização.

132
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O
TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS

AS SESMARIAS E ANTIGAS FAZENDAS DA REGIÃO


ANTECEDENTES HISTÓRICOS: AS SESMARIAS NO As primeiras sesmarias distribuídas no “sertão de serra acima
PERÍODO COLONIAL; OS CAMINHOS SERRA ACIMA: do Inhomirim” pelo governo português datam de 1686 a algumas
AS FAZENDAS: CÓRREGO SECO, ITAMARATI, PADRE pessoas que, no momento, se destacavam na vida política e na
CORREIA. A PRESENÇA DE D. PEDRO I NA REGIÃO segurança da Colônia. Mas devido à presença dos índios Coroa-
dos e das dificuldades de subir a serra, somente com o Caminho
A fundação da cidade de Petrópolis está intimamente ligada Novo e com a concessão de novas glebas a sesmeiros, a atividade
ao Imperador D. Pedro I e ao Pe. Correia. Desde que o Imperador econômica desenvolveu a região. Quando Petrópolis foi fundado
pernoitou na fazenda do padre, de passagem pelo Caminho do 130 anos depois, já havia um grande número de fazendas e al-
Ouro que o levaria às Minas Gerais, ficou encantado com a exube- guma atividade industrial entre a baia da Guanabara e Vila Rica,
rância e amenidade do clima. Foi seu desejo, então, adquirir a pro- conforme descreve o Barão de Langsdorff no primeiro volume de
priedade para seu uso e, em especial, para o tratamento de sua seus diários. Assim, o trânsito pelo Caminho Novo era muito gran-
filha, Princesa Dona Paula Mariana, de cinco anos, sempre muito de. Na região onde seria fundado Petrópolis, as fazendas mais
doente e que se recuperou bem quando lá esteve. importantes eram:
Dom Pedro I sentia a necessidade de construir um palácio · Fazenda do Rio da Cidade, na Estrada do Contorno.
fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa não · Fazenda do Pe. Correia, em Corrêas.
habituadas ao calor tropical. Construir um palácio na fazenda do · Fazenda do Córrego Seco, cuja sede era onde hoje está o Ed.
Padre Correia seria muito oportuno pelo excelente clima da re- Pio XII (Rua Marechal Deodoro, no Centro Histórico).
gião, que agradaria aos visitantes estrangeiros. Incomodava tam- · Fazendas Quitandinha, Samambaia, Retiro de São Tomás e
bém ao Imperador a existência de residências muito mais luxuo- São Luiz, Itamaraty, Secretário, que depois deram seus nomes aos
sas que os seus palácios, todos eles muito simples. Um palácio de bairros da cidade e dos distritos.
verão serra acima poderia ser mais qualificado para a sua condi- · Fazenda da Engenhoca, onde hoje está a Estação de Trans-
ção imperial. Além disso, sua filha, a princesinha Da. Paula, que bordo de Corrêas.
tinha sérios problemas de saúde, vindo a falecer prematuramente · Fazenda Mangalarga e Fazenda das Arcas, em Itaipava.
aos dez anos, passou um verão na Fazenda do Padre Correia e · Fazenda Sumidouro, em Pedro do Rio.
se sentiu muito bem, repetindo a estadia muitas vezes. Em 1828, · Fazenda Santo Antônio, na estrada Philúvio Cerqueira (Pe-
D. Pedro I, agora com sua segunda esposa, D. Amélia, continuava trópolis – Teresópolis).
a frequentar a fazenda com Da Paula. A comitiva imperial nunca · Fazenda das Pedras, na Serra das Araras.
tinha menos de cinquenta pessoas e Da. Amélia sentiu que visitas
tão avantajadas estavam trazendo muitos problemas para Da. Ar- A FAZENDA DO Pe. CORREIA e D. PEDRO I
cângela, irmã e herdeira do padre. Pediu então a Dom Pedro que Antônio Tomás de Aquino Correia, filho de Manuel Correia da
comprasse a Fazenda. O Imperador se entusiasmou com a ideia, Silva, nasceu no Rio da Cidade em 1759, estudou na Universidade
mas Da. Arcângela, alegando questões familiares de herança, não de Coimbra e foi ordenado em 1783, passando a ser conhecido
concordou com a venda. Ela mesma, talvez querendo se ver li- como o Padre Correia. Transformou sua propriedade na mais pro-
vre das incômodas e frequentes visitas reais, indicou a Dom Pe- gressiva fazenda da Variante do Caminho Novo, citada por todos
dro I uma fazenda vizinha que estava à venda, a do Córrego Seco, os viajantes estrangeiros que por ali passaram quando o Brasil
pertencente ao Sargento-Mór José Vieira Afonso. Assim D. Pedro abriu seus portos ao comércio internacional. Em 1829, o viajante
comprou o Córrego Seco por vinte contos de réis, preço conside- inglês Robert Walsh cita em seus diários que lá tomou um exce-
rado muito alto para o valor real da fazenda. A escritura de com- lente suco de pêssego. Refere-se também a plantações de café,
pra foi assinada em 1830. mostrando dessa forma a importância da fazenda. A casa grande
D. Pedro I ainda adquiriu outras propriedades no entorno, no da fazenda era enorme, com varanda na frente e muito bonita.
Alto da Serra, em Quitandinha e no Retiro, ampliando a área de Havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amor Divino,
sua fazenda. Ele poderia afinal realizar seu sonho de 1822, cons- cuja imagem está atualmente na igreja de Corrêas. Esse conjunto
truindo um Palácio de Verão. Como enfrentava dificuldades políti- arquitetônico está preservado até hoje como um dos mais antigos
cas na capital, desejando que reinasse paz entre a Nação e o Tro- e valiosos monumentos coloniais petropolitanos.
no, passou a chamar o seu Córrego Seco de Fazenda da Concórdia, O Padre Correia criava gado mais para corte do que para o
onde pretendia construir um palácio. Encarregou o arquiteto real aproveitamento de leite. Como o clima era propício havia o cultivo
Pedro José Pezerat e o engenheiro francês Pierre Taulois de um de cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos, marmelos, milho e
projeto que denominou Palácio da Concórdia, simbolizando a har- maçãs e outras frutas de origem europeia. Mas a principal ativi-
monia que tanto desejava entre a Nação e o ramo brasileiro da dade do Padre Correia era cultivo de milho e a fabricação de ferra-
Casa dos Bragança. Mas a obra não foi realizada, pois no dia 07 de duras para atender à enorme demanda exigida pelas dezenas de
abril de 1831, o Imperador foi obrigado a abdicar para retornar a tropas diárias que pernoitavam na Fazenda. Lá também, existiam
Portugal. muitos escravos. O Padre Correia foi um dos grandes senhores
de terra da região petropolitana. D. Pedro I esteve na fazenda em

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
março de 1822 e retornou várias vezes passando a ter grande ad- nha muita simpatia nem pelo Convento, nem pela Fazenda de Sta.
miração por aquele local. O Padre Correia faleceu em 1824, com Cruz. Em 1850, Dom Afonso, primeiro filho do Imperador, tinha
65 anos, de morte repentina, provavelmente problemas cardía- dois anos e a Família Imperial estava desde o Natal em Sta Cruz,
cos, tendo Da. Arcângela Joaquina da Silva, sua irmã, herdado a quando, sem motivo aparente, o menino apareceu morto no seu
fazenda. berço. O monarca ficou desolado e tomou horror pelo Convento,
decidindo nunca mais ali voltar, passando a se interessar pelo pro-
jeto do seu mordomo. Ele conheceu a Serra da Estrela em 1844,
A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS, O MAJOR DE quando esteve na Fábrica de Pólvora. Em 1845, esteve hospedado
ENGENHEIROS JÚLIO FREDERICO KOELER E A com a imperatriz na casa-grande do Córrego Seco, especialmente
POVOAÇÃO PLANEJADA; A VONTADE DE D. PEDRO preparada desde outubro de 1843 para recebê-lo.
II; A DEDICAÇÃO DE PAULO BARBOSA DA SILVA: O
DECRETO IMPERIAL Nº 155, DE 16 DE MARÇO DE 1843 O MORDOMO-REAL PAULO BARBOSA DA SILVA (1790-1868)
Paulo Barbosa nasceu em Sabará, MG. Aos quatorze anos
Com a abdicação e morte de seu pai em 1834, D. Pedro II era cadete e, em 1810, foi promovido a alferes. Como capitão,
herda essas terras, que passam por vários arrendamentos, até foi transferido para o Imperial Corpo de Engenheiros. No ano
que Paulo Barbosa da Silva, Mordomo da Casa Imperial, teve a de 1825, embarcou para a Europa em viagens de estudos. Com
iniciativa de retomar os planos de Pedro I, de construir um palácio a queda de José Bonifácio, tutor do imperador, o coronel Paulo
de verão no alto da serra da Estrela. Era uma vultosa empreitada Barbosa da Silva passou a ser, por intermédio de uma nomeação,
que iria consumir consideráveis investimentos públicos e privados o Mordomo da Casa Imperial, função que ia desempenhar com
nos anos seguintes, mas o Império, na década 1840-50, estava em grande desenvoltura.
boa condição financeira, com o afastamento dos ingleses da nos- O mordomo Paulo Barbosa, com seu espírito liberal e ecu-
sa economia, com a proibição do tráfego negreiro, que liberava mênico, era contra a escravidão e prestou relevantes serviços ao
capitais para investir e, principalmente, com o “boom” do café. O Império. A sua participação na fundação de Petrópolis foi decisiva
Mordomo já tinha mandado o engenheiro alemão Júlio Frederico quando mobilizou o seu companheiro de arma, o engenheiro Ma-
Koeler construir a Estrada Normal da Serra da Estrela para tornar jor Júlio Frederico Köeler.
possível o acesso de carruagens à Fazenda do Córrego Seco, uma Além disso, foi Ministro Plenipotenciário na Rússia, na Alema-
vez que o Caminho Novo era apenas para tropas de mulas. nha, na Áustria e na França, onde, em 1851, foi demitido de sua
Paulo Barbosa e Koeler elaboraram um plano para fundar o função diplomática. Retornou ao Brasil a chamado de D. Pedro II,
que ele denominou “Povoação-Palácio de Petrópolis”, que com- em 1854, novamente como Mordomo da Casa Imperial, falecendo
preendia a doação de terras da fazenda imperial a colonos livres, em 1868.
que iriam não só levantar a nova povoação, mas, também, seriam
produtores agrícolas. Assim nasceu Petrópolis, com a mentalida- O MAJOR JÚLIO FREDERICO KÖELER (1804-1847)
de de substituir o trabalho escravo pelo trabalho livre. Júlio Frederico Köeler era germânico da Mogúncia, no vale
No dia 16 de março de 1843, o Imperador, que estava com do rio Reno, dominada na época pela França de Napoleão, com
dezoito anos e recém-casado com Da. Teresa Cristina, assinou o suas instituições que valorizavam o mérito e a riqueza em lugar
Decreto Imperial nº 155, que arrendava as terras da fazenda do das convenções e privilégios. Os hábitos e o refinamento france-
Córrego Seco ao Major Koeler para a fundação da “Povoação-Pa- ses marcaram profundamente o temperamento do Mj Köeler e
lácio de Petrópolis”, incluindo as seguintes exigências: orientaram a sua atuação nos primeiros anos da fundação de Pe-
1- Projeto e construção do Palácio Imperial. trópolis.
2- Urbanização de uma Vila Imperial com Quarteirões Impe- Ainda jovem, ingressou no Exército prussiano, chegando a al-
riais. feres. Em 1828, foi contratado para servir no Exército Imperial,
3- Edificação de uma igreja em louvor a São Pedro de Alcân- depois de prestar rigorosos exames perante a Academia Militar do
tara. Rio de Janeiro. Casou-se, em 1830, na catedral de Niterói, com D.
4- Construção de um cemitério. Maria do Carmo Rebelo de Lamare.
5- Cobrar foros imperiais dos colonos moradores. Afastado do Exército por questões políticas quando foram de-
6- Expulsar terceiros das terras ocupadas ilegalmente. mitidos todos os oficiais estrangeiros não naturalizados, Köeler foi
contratado como engenheiro civil na Província do Rio de Janeiro.
O Major Koeler fez a planta geral da povoação-palácio, o pro- Em 1831, já naturalizado cidadão brasileiro, retornou ao Exército
jeto do Palácio Imperial e, em janeiro de 1845, colocou na Bolsa e, nos doze anos seguintes, realizou importantes obras públicas na
de Valores as ações da Companhia de Petrópolis, criada por ele, província, uma delas a construção da Estrada Normal da Estrela,
para a execução de seus planos e projetos. As ações da Compa- que dava acesso a Petrópolis. Em 1843, arrendou a Fazenda Impe-
nhia foram vendidas em quatro meses e dois meses após, a 29 de rial e iniciou o seu trabalho na região.
junho, começaram a chegar os imigrantes alemães para se insta- O plano urbanístico para Petrópolis era complexo porque a
larem e começar o trabalho. Com recursos financeiros e mão-de- cidade deveria ser levantada entre montanhas, aproveitando o
-obra livre, a construção da povoação-palácio estava assegurada. curso dos rios. Ele inverteu o antigo estilo colonial português de
Além disso, os governos provinciais de Caldas Vianna, em 1843, construir as casas com o fundo para os rios que eram utilizados
e Aureliano Coutinho, em 1845, deram integral apoio ao plano apenas como esgoto, como na maioria das nossas cidades. Passou
traçado pelo Mordomo Imperial e por Koeler. a aproveitar os cursos de água para traçar pelas suas margens as
O palácio de verão era uma tradição das monarquias euro- avenidas e as ruas que davam acesso aos bairros. Outro aspecto
peias. A Casa de Bragança, em Portugal, veraneava no Paço Real relevante no plano foi a preocupação com a preservação da natu-
e no Palácio da Pena, ambos em Sintra. No Brasil, desde de Dom reza, determinada pelo seu código de posturas municipais.
João VI, a Família Imperial passava seus verões no Convento Jesu-
íta de Sta Cruz, no Rio de Janeiro, tentando, sem muito sucesso,
se livrar do calor do clima de São Cristóvão. Dom Pedro II não ti-

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
Köeler faleceu num trágico acidente durante um torneio de no terreno do plano urbanístico traçado por Koeler. Foram 600
tiro ao alvo, na Chácara da Terra Santa, de sua propriedade. Sua casais de colonos alemães contratados em 1844, exigindo-se que
curta administração frente à colônia de Petrópolis foi decisiva fossem artífices e artesãos com experiência.
para o que foi realizado nos anos posteriores. Treze navios deixaram Dunquerque com 2.338 imigrantes, o
primeiro deles chegando ao porto de Niterói em 13 de junho e o
último em 7 de novembro de 1845, sendo os imigrantes alojados
EVOLUÇÃO DO POVOADO: A COLONIZAÇÃO em barracões ao lado da igreja matriz. Acertados os trâmites le-
GERMÂNICA; POVOADORES DE OUTRAS ETNIAS; gais, eles foram transferidos para o Arsenal de Guerra do Rio, onde
OS SERVIÇOS, O ARTESANATO, O COMÉRCIO E se acha hoje instalado o Museu Histórico Nacional, ficando por lá
A INDÚSTRIA; FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA E alguns dias e, então, seguiram viagem pela baía da Guanabara e
JUDICIÁRIA. A PASSAGEM DE POVOADO À CIDADE EM pelo rio Inhomirim até o Porto da Estrela. De lá, para o Córrego
1857. A CRIAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL Seco, foram a pé ou a cavalo, com escalas na Fábrica de Pólvora e
no Meio da Serra, onde existiam ranchos para os viajantes.
Como todo povoado colonial, a cidade nasceu de um curato Muitos dos colonos que deixaram Dunquerque não chegaram
em 1845, subordinado a São José do Rio Preto e, um ano depois, a Petrópolis em conseqüência do mau passadio a bordo e do sur-
foi criada a Paróquia de São Pedro de Alcântara, vinculada à Vila to de febres nos depósitos. Outros, especialmente crianças, não
da Estrela. Em 1857, onze anos após, foi elevado a município e resistiram à penosa subida da serra e foram enterrados pelo cami-
cidade, sem passar pela condição de vila, o que era, na ocasião, nho. O diplomata belga, Auguste Ponthoz, em seu livro “Avaliação
inédito. sobre o Brasil”, afirma que 252 imigrantes morreram, sendo 56
Mas o Imperador não desejava essa mudança de status para nos portos ou na viagem para Petrópolis.
sua Petrópolis, pois sabia que nessa condição haveria uma admi- Vieram muito mais alemães católicos do que protestantes. No
nistração municipal interferindo nas suas relações com a cidade. dia 19 de outubro de 1845, na praça Koblenz, dia de São Pedro de
O Coronel Amaro Emílio da Veiga, deputado na Assembleia Pro- Alcântara, num altar ornamentado com flores silvestres, o Padre
vincial, depois de duas tentativas sem sucesso por interferência Luís Gonçalves Dias Correia celebrou uma missa para os católi-
do próprio Imperador, conseguiu aprovar o seu projeto “...elevan- cos e o pastor Frederico Ave-Lallemant professou um culto para
do a povoação de Petrópolis à categoria de cidade, revogando-se os protestantes. O Presidente da Província, Aureliano de Souza e
as leis em contrário.” D. Pedro II ficou enfurecido e retaliou, deter- Oliveira Coutinho, compareceu a essa solenidade, tendo feito um
minando que o Cel. Veiga retornasse ao Exército, impedindo que grande elogio ao trabalho dos colonos.
ele assumisse a presidência da Assembleia Legislativa de Petrópo- Foram muitas as dificuldades iniciais. Logo que aqui chega-
lis, para a qual tinha sido o candidato mais votado nas primeiras ram, foi necessária a compra de 200 cabras para alimentar as
eleições municipais. Desgostoso, o Cel. Veiga pediu a reforma do crianças, já que suas mães não tinham leite, devido às agruras da
Exército, afastando-se da vida pública, mas continuou morando viagem. Köeler planejou uma colônia agrícola em Petrópolis sem
em Petrópolis até falecer, alguns anos depois. Hoje, ele dá nome a estudo prévio da geologia do terreno, o que resultou no fracasso
uma importante rua da cidade. do empreendimento. Os colonos abriram estradas, derrubaram
matas para a construção de residências e semearam suas hortas
A COLONIZAÇÃO ALEMÃ para consumo e foram utilizados nas obras públicas, retificando os
Na primeira metade dos anos 1800, as consequências so- rios, drenando os lodaçais e construindo os prédios da povoação.
ciais e econômicas da Revolução Francesa e da Revolução In- Para tornar mais fácil a adaptação dos colonos alemães à
dustrial resultaram numa difícil condição de vida para os povos nova terra, Koeler nomeou os quarteirões de Petrópolis com o
de língua alemã. A população estava politicamente desiludida e nome de suas regiões de origem, como Mosela, Palatinato, Renâ-
havia discórdia por toda a parte. Ricos e pobres endividados, o nia, Nassau, Bingen, Ingelheim, Simeria, Castelânia, Westphalia.
desemprego era grande no Rhur, o coração do aço alemão, com Ele também homenageou a Família Imperial em dois quarteirões,
muitos problemas nas minas de carvão. Salvo os que viviam da Vila Imperial e Vila Teresa. Em 1854, Otto Reimarus, que conti-
vinicultura, uma parte da população que, movida pela esperança nuou o trabalho de Koeler, criou os quarteirões de Darmstadt,
de vida melhor, deixou tudo e partiu para as Américas. A maioria Woerstadt, Worms e outros. Também prestou homenagem às vá-
dos colonos que chegou a Petrópolis era natural de aldeias locali- rias nacionalidades de imigrantes de Petrópolis, nomeando outros
zadas nos bispados de Treves e Mogúncia, na Renânia e Westphá- quarteirões: Quarteirão Francês, Quarteirão Suíço, Quarteirão
lia, (Grão-Ducado de Hesse-Darmstadt e no Ducado de Nassau), Inglês e mais tarde o Quarteirão Italiano. Para os brasileiros que
região atualmente conhecida pelo nome de Hunsrück, localizada ajudaram a construr Petrópolis, dedicou o Quarteirão Brasileiro e
na confluência dos rios Reno e Mosel. o Quarteirão Mineiro.
Em 1837, aportou no Rio de Janeiro o navio Justine com 238 Hoje, os descendentes dos colonos estão por toda a cida-
imigrantes alemães em viagem para a Austrália. Devido aos maus de e seus nomes de família podem ser encontrados no Obelisco
tratos sofridos a bordo, eles resolveram não seguir viagem, per- do centro da cidade, nos guias telefônicos e dão nomes a ruas e
manecendo no Rio de Janeiro. O Mj Koeler soube da ocorrência e praças. O progresso dos colonos alemães dinamizou Petrópolis,
se entendeu com a Sociedade Colonizadora do Rio de Janeiro para contribuindo para o seu desenvolvimento. O seu trabalho e a sua
trazer os imigrantes para trabalhar na abertura da Estrada Normal lembrança fazem parte da cidade.
da Estrela, pagando uma indenização ao capitão do navio. Assim,
foi dada permissão aos colonos de desembarcarem no Rio de Ja- OUTROS IMIGRANTES COLONIZADORES
neiro. Estes, sob as ordens de Koeler, estiveram primeiramente Os portugueses, principalmente açorianos, alguns antes mes-
trabalhando no Meio da Serra, depois foram para o Itamarati. mos dos alemães, vieram para trabalhar na construção da Estrada
A segunda leva de colonos foi planejada pelos presidentes da da Serra da Estrela, em pedras de cantaria e comércio. Surgiram,
província João Caldas Viana e Aureliano Coutinho para trabalhar em torno da cidade, comunidades portuguesas de floricultores.
em obras na província, mas eles acabaram em Petrópolis, locando

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
Os franceses não vieram todos juntos, foram chegando aos A construção do Hospital Santa Teresa, inaugurado em 1876,
poucos e se dedicaram à alimentação, à educação, à jardinagem e com participação ativa de Dom Pedro II.
à confecção de peças de serralheria. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, criou a a linha
Os italianos, no início, trabalharam na Companhia Petropo- de barcos a vapor e a estrada de ferro que ligava Petrópolis ao
litana de Tecidos, formando uma comunidade com vida própria, Rio de Janeiro. Essa viagem começava no Cais dos Mineiros do
quase independente da cidade. Aos poucos foram se aproximan- Rio e ia até o Porto de Mauá, no fundo da Baía da Guanabara, em
do de outros grupos. Atuaram também em panificação, distribui- pequenos vapores muito confortáveis, com orquestra e sala de re-
ção de jornais e diversas outras. feições; do Porto de Mauá até a Raiz da Serra usava-se a primeira
Já os ingleses se destacaram em hotelaria e transportes. Tam- estrada de ferro do Brasil, em 1854, e daí, em diligências até Pe-
bém merecem destaque os imigrantes suíços, belgas e libaneses, trópolis pela Estrada Normal da Estrela. Em 1883, foi inaugurada
completando a formação cosmopolita do petropolitano. a Estrada de Ferro do Príncipe Grão-Pará, vencendo a Serra da
Estrela em cremalheira, notável obra de engenharia na época, que
substituía as diligências serra acima.
NOS TEMPOS IMPERIAIS; SEDE DE VERÃO DO Hotéis para veranistas e visitantes ilustres foram inaugurados.
GOVERNO; EVOLUÇÃO URBANA E SOCIAL; AS O Hotel Bragança, que funcionou por quase 80 anos e foi derru-
ESTRADAS: FERROVIÁRIA E DE RODAGEM; A bado para a abertura da rua Alencar Lima tinha noventa e dois
EXPANSÃO INDUSTRIAL. D. PEDRO II, A PRINCESA quartos, salões de festas, de bailes e um teatro. Mas havia outros,
ISABEL E OUTRAS PERSONALIDADES EM PETRÓPOLIS como o Hotel Suíço, o João Meyer, ponto de reunião de colonos, o
Hotel Europa, que hospedou o Imperador Maximiliano do México,
Durante todo o 2° Reinado, a presença de D. Pedro II em Pe- em 1848, e o Orleans, onde hoje funciona a Universidade Católica
trópolis se destacou, acima de qualquer outra personalidade, por de Petrópolis, na Rua Barão do Amazonas.
sua influência, pela constância da sua presença e do seu amor à A indústria de tecidos encontrou fatores favoráveis na cidade,
cidade. “Fale-me de Petrópolis”, pedia a quem o visitava no exílio, como o clima úmido, a energia hidráulica e a mão-de-obra qualifi-
pouco antes de falecer. Na colonização, os alemães, que recebe- cada. A Imperial Fábrica de São Pedro de Alcântara, a Companhia
ram toda a proteção e simpatia do Imperador, sempre lhe pres- Petropolitana, a Aurora, a Werner, a Santa Helena, a Da. Isabel e
taram as maiores homenagens, chamando-o de “Unser Kaiser” a Cometa faziam de Petrópolis o mais importante polo têxtil do
(Nosso Imperador). A temporada de verão na Serra da Estrela du- país.
rava até seis meses, de novembro a maio, quando então a tutela A construção de modernas estradas de rodagem facilitava o
imperial era transferida para Petrópolis. Desde 1848, somente nos acesso à cidade. Entre elas, a Estrada para Paty do Alferes, a Estra-
anos difíceis da Guerra do Paraguai, a vilegiatura serrana do im- da Normal da Estrela, que vinha do Porto da Estrela até Petrópolis
perador foi interrompida. Nos dois últimos anos do Império, sua (1843), e a União e Indústria, que ia de Petrópolis para Juiz de
saúde se deteriorou com a diabetes, a ponto de ele se retirar de Fora (1856).
um espetáculo a que assistia no Hotel Bragança. Os médicos e sua Assim, com sua animada vida social, Petrópolis competia com
família procuraram mantê-lo em Petrópolis. Com o Imperador na o Rio de Janeiro durante todo um semestre por ano, levando a
cidade, ela se tornava a capital do Império e centro da atenção na- grande vantagem de oferecer um clima ameno aos seus visitan-
cional. Proclamada a República, foi em Petrópolis que ele recebeu tes. Em consequência, a cidade ostentava um grande número de
a notícia de seu exílio. primeiros lugares no Brasil, como a Estrada Normal da Estrela, a
A cidade se desenvolvia rapidamente, com forte tendência primeira estrada de rodagem de montanha, a União e Indústria,
aristocrática, por força da presença do Imperador e de sua corte a primeira estrada macadamizada, a primeira cidade totalmente
nas temporadas do verão petropolitano. Nobres, políticos, diplo- planejada antes de ser iniciada a sua construção e o primeiro trem
matas, grandes senhores e toda seu “entourage”, ricos negocian- a subir uma montanha.
tes e a intelectualidade da época se transferia para Petrópolis, du-
rante um semestre a cada ano. Palacetes eram construídos para
morada dessa gente abonada. Quem não tinha moradia se hospe- TEMPOS DE REPÚBLICA: O EXÍLIO DA FAMÍLIA
dava em hotéis e casas de família. E a cidade assumia um aspecto IMPERIAL. OS GOVERNADORES E A CIDADE. A CAPITAL
elegante. Muitos desses palacetes hoje fazem parte do patrimô- FLUMINENSE EM PETRÓPOLIS E A RETOMADA,
nio arquitetônico do Centro Histórico da cidade, cuja preservação PELOS PRESIDENTES, DOS VERANEIOS DO IMPERA
é imprescindível para o desenvolvimento turístico e cultural de DOR. GETÚLIO VARGAS E PETRÓPOLIS: A FUNDAÇÃO
Petrópolis. DO MUSEU IMPERIAL. SANTOS-DUMONT E “A
Mas o protocolo da serra era simples, podendo o Imperador ENCANTADA”
ser encontrado circulando pela cidade de vitória ou mesmo a pé.
Eventualmente, entrava na sala de aula de uma escola e passava a IMPORTÂNCIA HISTÓRICA E TURÍSTICA DO MUSEU IMPE-
fazer perguntas aos espantados alunos. Carolina Nabuco contava RIAL
que sua mãe viu certa vez a princesa Isabel saindo de sua casa, O Museu Imperial foi construído com recursos oriundos da
em frente à Catedral, recomendando ao Conde d’Eu: “Gaston, não dotação pessoal do imperador. O prédio teve o projeto original
esqueça a chave do portão!” elaborado pelo próprio Koeler e, após seu falecimento, foi modi-
Sem perder suas características de veraneio, a cidade se mo- ficado por Cristóforo Bonini, que acrescentou o pórtico de granito
dernizava, acompanhando a tendência geral da segunda metade ao corpo central. Para concluir a obra, foram contratados impor-
dos anos 1800. Alguns sinais dessa modernidade são descritos a tantes arquitetos ligados à Academia Imperial de Belas Artes: Jo-
seguir. aquim Cândido Guillobel e José Maria Jacinto Rebelo, com a cola-
O renomado ensino de respeitados colégios como o Kopke, o boração de Manuel Araújo Porto Alegre na decoração.
Calógeras, o de Frederico Stroele, o NS de Sion, o Santa Isabel e as
escolas de educadoras francesas, como as de Mme Dienes, Mme
Taulois e Mme Geslin.

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
II faleceria em Paris. Entre 1893 e 1908, a princesa Isabel, como
única herdeira – sua irmã, a princesa Leopoldina, havia falecido
em 1871 –, alugou o Palácio de Petrópolis para o Educandário
Notre Dame de Sion. Em seguida, entre 1909 e 1939, o Colégio
São Vicente de Paulo funcionou no prédio. Nesse período, grande
parte do mobiliário e demais objetos foram transferidos de local
e de propriedade.
No Colégio São Vicente de Paulo, estudava um apaixonado
por História: Alcindo de Azevedo Sodré. Graças a ele, que sonhava
com a transformação do seu colégio em um museu histórico, o
presidente Getúlio Vargas criou, em 29 de março de 1940, pelo
Decreto-Lei n° 2.096, o Museu Imperial.
A partir de então, uma equipe técnica liderada pelo próprio
Sodré, que se tornaria o primeiro diretor do Museu, tratou de
estudar a história da edificação e localizar peças pertencentes à
O complexo foi enriquecido, ainda na década de 1850, com família imperial em diferentes palácios para ilustrar o século XIX e
o jardim planejado e executado pelo paisagista Jean-Baptiste Bi- o dia a dia de membros da dinastia dos Braganças. Importantes 94
not, sob orientação do jovem imperador. O piso do vestíbulo, em colecionadores nacionais juntaram-se ao projeto, doando objetos
mármore de Carrara e mármore preto originário da Bélgica, foi co- de interesse histórico e artístico. Como resultado, o Museu Impe-
locado em 1854, destacando-se também os assoalhos e as esqua- rial foi inaugurado em 16 de março de 1943, com um significativo
drias em madeiras de lei, como o jacarandá, o cedro, o pau-cetim, acervo de peças relativas ao período imperial brasileiro. Ao longo
o paurosa e o vinhático, procedentes das diversas províncias do das últimas sete décadas, acumulou expressivos conjuntos docu-
Império. Os estuques das salas de jantar, de música, de visitas da mentais, bibliográficos e de objetos graças a generosas doações
imperatriz, de Estado e do quarto de dormir de suas majestades de centenas de cidadãos, totalizando um acervo de quase 300 mil
contribuem para dar graça e beleza aos ambientes do Palácio, um itens.
dos mais importantes monumentos arquitetônicos do Brasil.
SANTOS-DUMONT E “A ENCANTADA”
Já Alberto Santos Dumont empregou toda sua genialidade na
construção, no centro do município, de uma casa de arquitetura
única e extremamente funcional. Construída no antigo morro do
Encanto em 1918, é um chalé tipo alpino francês. Foi desenhada
e planejada por Alberto Santos Dumont para servir de residência
de verão e devido à sua localização foi carinhosamente apelidada
de “A Encantada”. Atualmente, é importante ponto turístico de
Petrópolis.

INDUSTRIA
A primeira fábrica de que se tem notícia foi a fábrica de papel
do Barão de Capanema, situada no Meio da Serra, que, já no ano
de 1859, “fornecia papel para o Mercantil e o Paraíba, os jornais
da época. O primeiro jornal em Petrópolis foi o Mercantil, funda-
do por Bartolomeu Pereira Sudré.
A fábrica de papel deu lugar a Fábrica de Tecidos Cometa, que
possuía inclusive acesso ferroviário para transporte da sua pro-
D. Pedro II adorava a sua residência de verão e a cidade que dução. Hoje, suas ruínas se encontram na localidade de Meio da
se formou ao redor. Suas prolongadas temporadas em Petrópolis Serra.
criaram uma atmosfera favorável para a prática de veraneio ou
vilegiatura, como se dizia à época, iniciada pelo próprio monarca e Fábrica São Pedro de Alcântara
pela aristocracia do Império, seguida pelos presidentes e políticos Situada à margem esquerda do Rio Quitandinha, a Imperial
da República e cultivada por muitos até hoje. Com a proclamação Fábrica de S. Pedro de Alcântara, de fiação e tecidos de algodão,
da República, em 15 de novembro de 1889, houve o banimen- era movida por água represada no mesmo rio.
to da família imperial, que se exilou na Europa. Em dezembro do Os tecidos aí fabricados eram sacos para café, lona para ve-
mesmo ano, a imperatriz d. Teresa Cristina faleceu em Portugal las, fazendas brancas para roupa de trabalho e muitos outros que
e, dois anos depois, em 1891, d. Pedro II faleceria em Paris. Entre substituíam com vantagem os importados da Europa. A fábrica
1893 e 1908, a princesa Isabel, como única herdeira – sua irmã, produzia diariamente 3.500 metros de tecidos e possuía era de
a princesa Leopoldina, havia falecido em 1871 –, alugou o Palácio 120 operários, entre meninos e meninas, mulheres e homens. Em
de Petrópolis para o Educandário Notre Dame de Sion. Em segui- 1867, um grande incêndio destruiu a Imperial Fábrica de S. Pedro
da, entre 1909 e 1939, o Colégio São Vicente de Paulo funcionou de Alcântara.
no prédio. Nesse período, grande parte do mobiliário e demais
objetos foram transferidos de local e de propriedade. Companhia Petropolitana
Com a proclamação da República, em 15 de novembro de Nos anos de 1873 e 1874, foram fundadas a fábrica da Renâ-
1889, houve o banimento da família imperial, que se exilou na nia, e a mesma S. Pedro de Alcântara - e a Companhia Petropoli-
Europa. Em dezembro do mesmo ano, a imperatriz d. Teresa Cris- tana, em Cascatinha, que marcaram o rumo têxtil de Petrópolis.
tina faleceu em Portugal e, dois anos depois, em 1891, d. Pedro

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
A Companhia Petropolitana tinha à frente um cubano, Sr. Ber- 2 de junho de 1858; a segunda eleição deu-se em 7 de setembro
nardo Caymary. O capital era de mil contos - prodigioso para a daquele mesmo 1858, essa também anulada, em 12 de janeiro
época, e possuía 108 teares, 100 operários. Produzia 6.000 me- de 1859.
tros de pano por dia. Proporcionava assistência social, quando Finalmente, em 13 de março de 1859, ocorre a terceira elei-
ainda não se falava disso. Atualmente seus galpões abrigam di- ção cujo resultado fora respeitado e assim tomariam posse, em
versas empresas. 17 de junho de 1859, os primeiros vereadores, 9 dentre os quais,
o Comendador Albino José de Siqueira, segundo vereador mais
Fábrica de tecidos D. Isabel votado que assumira a presidência da Câmara, em substituição ao
A Companhia Fábrica de Tecidos D. Isabel foi fundada em Coronel Amaro Emílio da Veiga que, por ser militar da ativa, não
1889. A fábrica recebeu o nome de D. Isabel em homenagem à recebeu autorização do Ministro da Guerra para exercer o cargo
então princesa Isabel. A fábrica está situada às margens do Rio para o qual fora eleito.
Palatino, antigo Córrego Seco. Assim, os primeiros vereadores de Petrópolis eleitos e empos-
Segundo o escritor Júlio Ambrósio, diferentemente dos esta- sados foram Albino José de Siqueira, Augusto da Rocha Fragoso,
belecimentos fabris anteriores, a Dona Isabel foi constituída por Manoel Francisco de Paula, Manoel Cândido do Nascimento Brito,
capitais petropolitanos, tendo imigrantes alemães de Petrópolis Ignácio José da Silva e João Baptista da Silva, conforme consta-se
como acionistas até a década de 1930. dos registros históricos.
Já a eleição da primeira Câmara Municipal do período repu-
Fábrica Santa Helena blicano foi em 30 de junho de 1892 por meio de voto popular. O
No início do século, a seda era fabricada pela Fábrica de Teci- vereador Antônio Antunes Freire – o mais velho à época –proferiu
dos Santa Helena, localizada no bairro Morin. A unidade foi com- a frase histórica: “Declaro instalada a Câmara Municipal de Petró-
prada pela Ikinha em 2001, mas o espaço foi fundado em 1894. polis”.
Segundo o escritor e professor Norton Ribeiro, ao fim dos Editada a Constituição Fluminense Republicana, em 9 de abril
anos vinte, Petrópolis já contava com um significativo parque in- de 1892, a Lei Estadual número um, de 31 de maio seguinte, es-
dustrial voltado para a produção de tecidos, e alguma tradição tabelece as regras para as eleições destinadas ao preenchimento
com relação à organização de associações. Por meio dos diversos das vagas de vereadores na Câmara Municipal de Petrópolis. À
movimentos, fossem estes grevistas ou não, os operários lutavam época, também ocorreram eleições diretas para a escolha de juí-
em favor da melhoria dos salários e de condições de trabalho. zes de paz no município.
No dia 16 de junho de 1892, na véspera da Câmara Municipal
Fábrica Werner completar os seus 33 anos de existência, ocorreram as primeiras
Localizada no bairro Bingen, foi fundada em 1904 por descen- eleições diretas para vereadores do período republicano.
dentes de alemães e desde então vem produzindo os tecidos mais Vale ressaltar que, até 1916, quando foi criada a Prefeitura
nobres com a mais alta qualidade. e Oswaldo Cruz foi nomeado o primeiro prefeito de Petrópolis, a
A Werner possui máquinas importadas e as matérias primas Câmara Municipal fez o papel tanto de Poder Executivo quanto de
utilizadas são rigorosamente selecionadas. Somente são utiliza- Legislativo no município. Aquela primeira Câmara Municipal repu-
dos os melhores fios e corantes blicana era formada por sete vereadores gerais e cinco distritais
(sendo um representante por distrito).
Os sete mais votados foram os seguintes: Hermogênio Pereira
EVOLUÇÃO POLÍTICO-ECONÔMICA: DA CÂMARA da Silva, José Tavares Guerra, Francisco Cunha e Souza, José da
MUNICIPAL À PREFEITURA: OSWALDO CRUZ, O Cruz Loureiro Jr, José Christiano Ferdinando Finkennauer, Antô-
PRIMEIRO PREFEITO. A INDÚSTRIA TÊXTIL: ÁPICE E nio Antunes Freire e José Henrique Tyne Land. Representando os
DECRÉSCIMO. O HOTEL QUITANDINHA, O COMPLEXO distritos de Petrópolis, foram eleitos: Domingos Manoel Dias (1º
HOTELEIRO, OS PALACETES, A VIDA NOS BAIRROS. A Distrito), Gabriel José Pereira Bastos (2º Distrito), Zózimo da Silva
II GUERRA MUNDIAL E A PRESENÇA DOS PRACINHAS Werneck (3º Distrito), Manoel Pinto da Rocha Cardozo (4º Distri-
PETROPOLITANOS: HONRA E GLÓRIA to) e João Werneck (5º Distrito).

A Câmara Municipal de Petrópolis tem uma rica história que Sobre o Palácio Amarelo
se mistura com a própria história da cidade. Ao longo de seus 162 A Câmara Municipal de Petrópolis funciona no Palácio Amare-
anos de existência, desde sua instalação, no dia 17 de junho de lo, patrimônio histórico da cidade de Petrópolis.
1859 – ainda no período imperial – a Câmara vem sendo o palco
da discussão política do município, do Estado do Rio de Janeiro e
do Brasil.
Quando os movimentos para elevar a então freguesia à ca-
tegoria de cidade surgiram, Petrópolis não tinha nem bem doze
anos de existência. Por insistência – entre outros – do tenente-
-coronel Amaro Emílio da Veiga, o ‘Coronel Veiga’, esse sonho fora
concretizado, passando Petrópolis à categoria de cidade a partir
de 29 de setembro de 1857, sem mesmo ter sido elevada antes à
condição de vila.
Contam os historiadores, que três eleições foram necessárias
para que, de fato, se instalasse a primeira Câmara Municipal da
história de Petrópolis, em 17 de junho de 1859. Em 22 de novem-
bro de 1857 ocorrera a primeira eleição, anulada mais tarde em

138
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
Em meados do século XIX, a moda da corte imperial era cons- Depois, a Câmara passou a funcionar no sobrado que existe
truir casas de verão na cidade imperial. No planejamento da ci- até hoje na esquina das Ruas do Imperador e Nelson de Sá Earp.
dade, todos os terrenos do lado ímpar da atual Rua da Imperatriz
(localização nobre, próximo ao Palácio Imperial), eram especial-
mente destinados pelo Imperador a fidalgos, nobres, altos mem-
bros do exército e pessoas de relação próxima.
O último proprietário particular do Palácio Amarelo foi o Ba-
rão de Guaraciaba, negro, filho de mãe escrava. No entanto, com
a Proclamação da República, todas as Câmaras do país são dissol-
vidas e são realizadas novas eleições, daí surgindo as primeiras
Câmaras Republicanas.
Após passagem por quatro sedes alugadas, a municipalida-
de resolve comprar um imóvel para construir sua Casa. O Palácio
Amarelo parecia perfeito naquele momento, no entanto, o Barão
de Guaraciaba não tinha interesse em vendê-lo. Depois que qua-
tro anos de negociações frustradas, a Câmara ameaça desapro-
priar os jardins da frente do palácio para a construção de um mer-
cado popular. Dessa maneira, em 1894, o Barão foi convencido a
concretizar o negócio.
Uma série de reformas foram feitas para adaptar e ampliar o Em seguida, mudou-se para o antigo prédio da família Kallem-
palácio residencial às necessidades do legislativo petropolitano. bach, no ponto mais central de Petrópolis, próximo ao Obelisco
Tetos de gesso, paredes em volta da escada, claraboia, entre ou- (informação apenas para efeitos de localização, pois o obelisco só
tras melhorias, foram feitas em um primeiro momento. Projeto e foi construído, de fato, em 1957).
execução foram feitos pelo engenheiro Harald Bodtker. Em torno
de 1890 o Salão do Plenário foi construído.
Já em 1896, a pintura artística dos tetos do Palácio Amarelo
foi concluída. Primeiro, o escultor Henrique Levy construiu o teto
de estuque do salão onde são realizadas a sessões. Foram várias
intervenções até transformar o paço em uma belíssima obra de
arte, à altura da cidade e da qualidade da arquitetura do antigo
solar. Credita-se a parte artística do solar ao Levy e ao escultor
José Huss.

Um pouco mais sobre as sedes alugadas:


A partir da instalação da Câmara, que se deu em 17 de junho
de 1859, o poder legislativo funcionou em quatro sedes provisó-
rias diferentes - por quase 40 anos de sua existência, antes de ad-
quirir do Barão de Guaraciaba o Palácio Amarelo. A Câmara teve
passagens por casas nas atuais Ruas Paulo Barbosa, do Imperador Em razão, porém, das enchentes, a Câmara se mudava tempo-
e Nelson de Sá Earp. rariamente para o sobrado anteriormente ocupado pela Farmácia
Simas, na Rua do Imperador (à época, Avenida XV de novembro).
Segundo informações de Walter Bretz, em artigo publicado
na “Tribuna de Petrópolis”, em 17 de junho de 1919, sabemos que
a primeira legislatura funcionou em uma casa na Rua Paulo Barbo-
sa nº12, onde se encontra hoje construído o edifício Rocha.

139
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
Depois de proclamada a República, a Câmara se instalou em dio - incluindo os diversos salões e áreas de lazer – foi adquirida
sede própria, o Palácio Amarelo. A compra foi realizada pelo mé- pelo SESC-Rio, que passou a promover atrações culturais no local.
dico Dr. Hermogênio Silva, que foi Vereador e o responsável por Todo seu luxo estilo rococó hollywoodiano foi restaurado, e hoje é
finalizar a compra junto ao Barão de Guaraciaba. Por isso, o nome possível passear pelos seus largos corredores, imaginando todo o
oficial do Palácio Amarelo é Paço Hermogênio Silva. luxo que foi na época de sua construção.

Fonte: https://www.petropolis.rj.leg.br/institucional/historia Como está o Quitandinha hoje


Estivemos lá em 2019, ano em que o Quitandinha completou
História do Quitandinha 75 anos, e pudemos ver na antiga Sala de Imprensa uma mostra
O Hotel-Cassino Quitandinha começou a ser construído em fotográfica com imagens desde sua construção. As salas abertas à
1941 e foi finalmente inaugurado em 1944. Num momento em visitação foram reformadas e todas contam com uma placa expli-
que o mundo vivia a 2a Guerra Mundial e todas as suas consequ- cativa, em português e inglês, além de ser possível fazer a visita
ências, causou muito espanto que um país como o Brasil - agrário audioguiada ou guiada pessoalmente. A sensação da visita é de
e subdesenvolvido - se metesse a construir o maior hotel da Amé- um mergulho no passado mesmo!
rica Latina. Vale destacar alguns cômodos, que impressionam pela gran-
Idealizado por Joaquim Rolla, um empreendedor mineiro diosidade e pelo luxo. De longe a que mais me impressionou foi a
também proprietário de outros cassinos, acabou batizado como piscina: no formato de um piano de cauda, a profundidade varia
Quitandinha pois esse era o nome da fazenda que ocupava o ter- de 1 a 4 metros, e as pinturas das paredes foram inspiradas na
reno onde foi construído. obra Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne. Além de ser
Todos os números eram gigantes: na sua construção foram térmica, um luxo para a época!
utilizados 2,6 milhões de toneladas de ferro e mais de 23 mil me- O teatro, que acomoda até 1100 pessoas, também é mara-
tros cúbicos de concreto, e cerca de 1500 operários trabalharam vilhoso. Como estivemos lá no carnaval havia uma programação
na obra. Ocupando uma área de 50 mil metros quadrados, o pré- especial e pudemos assistir ali um show de mágica - os malinhas
dio tem seis andares, divididos em 440 apartamentos e 13 gran- adoraram!
des salões com até 10 metros de altura. A cúpula do Salão Mauá O salão D. Pedro - que leva esse nome por causa do enorme
é a maior cúpula em concreto do mundo, medindo 30 m de altura retrato de D. Pedro na parede - era usado como sala de espera e
e 50 m de diâmetro. No entorno do hotel, uma área hoje consi- utilizado para campeonatos de xadrez na época em que o Quitan-
derada nobre da cidade, foram 4 milhões de metros quadrados dinha ainda era cassino.
urbanizados e criada uma rede própria de água e esgoto, de forma Os corredores são deslumbrantes e cheios de detalhes primo-
a suprir o imenso edifício e suas necessidades de lazer, esportes e rosos. Até os banheiros foram reformados de modo a se manter
entretenimento. os detalhes da época da construção!
E o lago em frente ao prédio? No formato de um mapa do Ah, e não podemos esquecer do boliche, cujo salão é todo
Brasil, na sua construção foi utilizada uma quantidade conside- temático e decorado com pinturas e objetos antigos. E é possível
rável de areia da praia de Copacabana, trazida da cidade do Rio jogar, comprando o ingresso específico para acesso ao boliche.
de Janeiro, e sua posição sugere que o Brasil estaria aos pés do A programação cultural do SESC-Quitandinha é extensa e va-
Quitandinha. No mínimo pretensioso, não? riada, com uma programação de qualidade e preços acessíveis, de
Nos primeiros anos áureos após sua inauguração, inúmeras forma a atrair todos os tipos de público. O Quitandinha também
celebridades e personalidades da época passaram por seus salões sediou as últimas edições do famoso Festival de Inverno da região
- nomes como Walt Disney, Greta Garbo e Carmem Miranda se (com exceção desse ano de 2020, cuja programação foi online por
hospedaram no Quitandinha e aproveitaram de sua grandiosa es- conta da pandemia).
trutura. O hotel também sediou a Conferência Interamericana de
1947, com a participação do presidente norte-americano Harry Prezado candidato, disponibilizaremos para complemento
Truman, de Evita Perón e do presidente Getúlio Vargas. de seus estudos o conteúdo do arquivo “Recuperação da Memó-
Mas o grande percalço enfrentado pelo hotel-cassino foi a ria Histórica do Legislativo Petropolitano” na “Área do cliente”
proibição do jogo no Brasil pelo então presidente Gaspar Dutra em nosso site.
em 1946. Sem o cassino para ajudar a sustentar sua imensa e luxu- Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
osa estrutura, o Quitandinha passou a perder hóspedes para ou-
tros hotéis tão luxuosos quanto ele, como o Copacabana Palace, e
passou por um período de muitas dificuldades financeiras. Final- A CULTURA, AS ARTES, O ESPORTE, O PENSAMENTO:
mente, no início da década de 60, o Quitandinha deixou de fun- AS AGREMIAÇÕES CULTURAIS E ESPORTIVAS, O
cionar como hotel e passou a ser um condomínio de luxo, quando CINEMA E O PIONEIRISMO PETROPOLITANO; A
suas unidades foram separadas como apartamentos e vendidas. IMPRENSA, OS MONUMENTOS; AS PERSONALIDADES
Toda a área de lazer passou a fazer parte do condomínio e banca- EM PETRÓPOLIS E SEUS FEITOS: O BARÃO DO RIO
da pelos próprios condôminos. BRANCO E O “TRATA DO DE PETRÓPOLIS”; RAUL
Infelizmente, o número de condôminos não foi o suficiente DE LEONI, O POETA; PETER BRYAN MEDAWAR, O
PETROPOLITANO “PRÊMIO NOBEL DE MEDICINA”,
para manter aquela imensa estrutura - a área de lazer funcio-
ANTÔNIO CARDOSO FONTES, O CIENTISTA DE
nou como clube por alguns anos, mas as dificuldades financeiras
MANGUINHOS.
eram muitas e o Quitandinha enfrentou um tempo de decadên-
cia. Quanto visitei o Quitandinha pela primeira vez, em 2003, deu
pena de ver como o local estava mal cuidado e precisando urgente PERSONALIDADES DE PETRÓPOLIS REPUBLICANA
de reformas, embora continuasse lindo. A cidade que antes se transformava em capital do Império,
Mas a sorte do superlativo Palácio Quitandinha mudou mes- agora se tornava capital da República com presença de expressi-
mo em 2007. Com exceção dos apartamentos, que continuam vas personalidades como Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco,
pertencendo a particulares, toda a parte administrativa do pré- Santos Dumont, Conde Afonso Celso, Hermes da Fonseca e sua

140
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
mulher Nair de Teffé, Pandiá Calógeras, Henrique Lage, Ruy Bar- Medawar, empresário no ramo de pedras semipreciosas e dono
bosa, Joaquim Murtinho, Stefan Zweig e tantas outras. Ficou pre- da Ótica Inglesa, no Rio de Janeiro. Passou a infância em Copaca-
servado o seu ambiente culto, aristocrático e refinado. bana, onde fez o curso primário.
Artistas e intelectuais, por sua vez, transformaram Petrópolis Peter tinha dupla cidadania. A britânica foi atribuída no nasci-
em centro de criação. Ruy Barbosa escreveu na cidade, por volta mento. Quando Peter tinha 13 anos, foi mandado para a Inglater-
de 1920, sua “Oração aos Moços”. ra na companhia de sua irmã Pamela, para cursarem os estudos
Também poderá pisar em lugares por onde passaram per- secundários. Pamela casou-se com Sir David Hunt, secretário par-
sonalidades, como escritor austríaco Stefan Zweig. A antiga resi- ticular de Winston Churchill e embaixador da Inglaterra no Brasil
dência do autor alemão, onde viveu com sua esposa até 1942, foi entre 1969 e 1973. Peter, na época de sua maioridade, recebia
transformada em museu. Stefan Zweig foi um dos mais importan- uma bolsa de estudos do governo britânico. Seu pai solicitou a
tes escritores da língua alemã de todos os tempos. No Brasil, na intervenção de seu padrinho, o então ministro da Aeronáutica
cidade de Petrópolis, passou os seus últimos cinco meses de vida. Salgado Filho, para obter isenção do serviço militar obrigatório no
Foi no Brasil que Zweig escreveu uma de suas obras mais famosas, Brasil e não ter que interromper os estudos na Europa. Mas o
“A novela Xadrez”. Ministro da Guerra do governo Getúlio Vargas, Marechal Eurico
Rui Barbosa foi um dos fundadores da República, tendo sido Gaspar Dutra, não atendeu o pleito. Essa questão fez com que a
o primeiro Ministro da Fazenda. Pela sua notável participação na sua cidadania fosse supostamente perdida e sua nacionalidade
Conferência de Haia, ficou conhecido como o “Águia de Haia”. Cé- brasileira nunca fosse vinculada ao laureado com o prêmio Nobel.
lebre veranista de Petrópolis, veio a falecer em 1923, na sua resi- Peter Medawar estudou biologia e zoologia no Marlborough
dência localizada na atual Rua Ipiranga. College e depois no Magdalen College da Universidade de Oxford,
Vinícius de Moraes passou parte de sua vida em Petrópolis, onde se destacou pelas melhores notas da turma, graduando-se
no anexo da casa do Barão de Mauá, onde, junto com Carlos Lira, em 1935, aos 20 anos de idade. Na School of Pathology traba-
compôs a peça “Pobre Menina Rica”. lhou como assistente de Howard Florey, Prêmio Nobel de 1945
Djanira da Motta e Silva, famosa pintora brasileira, viveu os por seus estudos sobre a penicilina. Com apenas 24 anos obteve
últimos anos de sua vida em sua residência de Petrópolis, localiza- o primeiro lugar em concurso para a cadeira de microbiologia em
da no atual bairro da Samambaia. Oxford.
Gabriela Mistral, poetisa chilena, residia em Petrópolis quan- As pesquisas iniciais de Peter Medawar foram dedicadas à
do foi agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura. cultura de células e à regeneração de nervos periféricos. Foi pio-
neiro no emprego de modelagem matemática em culturas de te-
MÍDIA cidos, aplicando-a na análise do crescimento, morfologia e desen-
A principal emissora de televisão a transmitir notícias relacio- volvimento celular.
nadas à cidade é a InterTV Serra+Mar, além de outras emissoras Em 1960, juntamente com Frank Burnet, recebeu o Nobel de
locais como o SBT Interior Rio (sediado em Nova Friburgo) e a Fisiologia ou Medicina, pela descoberta que os enxertos de pele
Band Interior Rio (sediada em Barra Mansa), que apresentam no- eram rejeitados por uma resposta do sistema imunológico.
tícias da região serrana fluminense, principalmente relacionadas Era um cientista com múltiplos interesses, incluindo ópera,
a Petrópolis e Nova Friburgo. A cidade também possui redes de filosofia e cricket. Era alto (1,95m), robusto, de voz potente, espi-
televisão locais com certa influência: Rede Petrópolis de Televisão, rituoso e sempre bem humorado.
TV Vila Imperial e TV Cidade de Petrópolis, com sedes situadas no A Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro criou
centro. a medalha Peter Medawar como forma de homenagear o ilustre
O principal jornal escrito da cidade é a Tribuna de Petrópolis, conterrâneo e perpetuar seu nome nos meios acadêmicos. Em
um dos mais antigos do país, criado em 1909, publicado de terça a 1990, a The Transplantation Society criou a o Prêmio Medawar ,
domingo, cuja sede se situa no centro. Também merece destaque uma homenagem ao seu cofundador, considerado um dos maio-
o jornal Diário de Petrópolis, publicado diariamente, de grande res prêmios científicos mundiais, que já premiou as maiores ex-
influência na cidade. pressões acadêmicas da imunologia e dos transplantes.
As principais e mais escutadas estações de rádio com sede em
Petrópolis são a Rádio Tribuna FM (88.5 MHz), Rádio UCP (106.3 Raul de Leoni
MHz), Rádio Supernova FM (98.7 MHz) e Rádio Imperial (1550 Poeta brasileiro, Raul de Leoni Ramos, nascido a 30 de ou-
AM). Além destas também são muito escutadas rádios com sede tubro de 1895, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, e falecido a 21
na cidade do Rio de Janeiro, como a Rádio Mix FM Rio, na qual de novembro de 1926, em Itaipava, também no Rio de Janeiro,
já existiu um domínio exclusivo da Rádio MIX em Petrópolis, que movimentou-se entre as áreas do neoparnasianismo e, principal-
posteriormente foi comprado pela Rádio UCP. mente, do simbolismo.
Nos últimos anos, a internet tem se mostrado um dos princi- Raul de Leoni trabalhou também no corpo diplomático brasi-
pais meios de comunicação para notícias. Em Petrópolis, os princi- leiro e, em 1918, esteve destacado em Montevideu, no Uruguai,
pais veículos são o G1 da Região Serrana, o portal on-line da Tribu- depois de ter recusado colocação idêntica no Vaticano. Antes,
na de Petrópolis e do Diário de Petrópolis, além do site Acontece nesse mesmo ano, tinha sido nomeado secretário da Legação do
em Petrópolis, o portal com transmissão ao vivo da TVC 16 (TV Brasil em Cuba, mas nunca chegou a tomar posse do cargo. Per-
Cidade de Petrópolis) e o portal on-line da RPT (Rede Petrópolis maneceu apenas três meses em Montevideu e quando regressou
de Televisão). foi eleito deputado à Assembleia Fluminense. Em 1919, lançou o
seu primeiro livro de poesia, Ode a Um Poeta Morto, uma home-
PETER BRYAN MEDAWAR, O PETROPOLITANO “PRÊMIO NO- nagem a Olavo Bilac, que foi sucedido, três anos mais tarde, por
BEL DE MEDICINA” Luz Mediterrânea. Raul de Leoni nunca se associou abertamente
Peter Brian Medawar nasceu em 28 de fevereiro de 1915 na a nenhuma escola literária, o que levou a que acabasse por ter
cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, uma carreira poética algo discreta em vida, apesar do seu talento
filho da britânica Edith Muriel Dowling e do libanês Nicholas

141
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
ser reconhecido. Em finais do século XX, a sua obra, apesar de órgãos da América Latina e os mausoléus com os restos mortais
pequena, era alvo de aprofundados estudos e cativava inúmeros do imperador Pedro II e D. Teresa Cristina, da Princesa Isabel, do
leitores. Conde D’Eu, além das tumbas do príncipe Pedro de Alcântara de
O poeta destacou-se ainda como desportista tendo ganho Orleans e Bragança e sua esposa D. Elisabeth.
diversas provas de natação e remo em representação do clube
Icaraí. Doente dos pulmões, Raul de Leoni isolou-se em 1923 dos
amigos e família, deixou o trabalho de inspetor numa companhia
de seguros e foi viver para Itaipava, onde acabou por morrer. Raul
de Leoni faleceu a 21 de novembro de 1926 e apenas cerca de 35
anos mais tarde foi editada uma antologia de poemas seus, intitu-
lada Trechos Escolhidos.

O TURISMO: BENS TURÍSTICOS NATURAIS E


HISTÓRICOS: A CATEDRAL DE PETRÓPOLIS E A CAPELA
IMPERIAL E SEU SIGNIFICADO; A MATA ATLÂNTICA
QUE RESISTE; O TRAÇADO ARQUITETÔNICO E A
EXPANSÃO DO URBANISMO NA PETRÓPOLIS DE HOJE.
OS 5 DISTRITOS E A IMPORTÂNCIA NA ECONOMIA E PLANEJAMENTO
NO TURISMO DO MUNICÍPIO Petrópolis é um notável exemplo dos esforços de imigração
europeia para o Brasil no Segundo Reinado. Concebida pelo major
A Mata Atlântica encontra-se localizada sobre uma imensa ca- Júlio Frederico Koeler, é tida como a segunda cidade projetada
deia montanhosa litorânea que corre ao longo do Oceano Atlân- do Brasil (depois de Recife, projetada na época dos holandeses),
tico, desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste brasileiro. O mu- composta de um núcleo urbano - a cidade (hoje o Centro), onde
nicípio de Petrópolis está contido neste bioma, conhecido como se concentravam o palácio imperial, prédios públicos, comércio e
Floresta Atlântica ou Mata Atlântica, na região da Serra do Mar. As serviços. O Centro seria rodeado por “quarteirões imperiais”, que
árvores do andar superior alcançam, segundo as condições locais, receberiam famílias de agricultores, principalmente alemãs, que
entre 20m e 30m, com emergentes que podem atingir 40m. O gi- hoje compõem bairros do primeiro distrito.
gante da floresta é o jequitibá rosa, que atinge 40m e pode ter até Outros estrangeiros, como açorianos e, posteriormente, ita-
5m de diâmetro. lianos, viriam somar-se ao contingente de imigrantes, sobretudo
A Mata Atlântica encontra-se, infelizmente, em processo de para trabalhar nas indústrias de tecidos e comércio. O pitoresco
extinção. Isto ocorre desde a chegada dos portugueses ao Bra- do projeto de Koeler foi o fato de batizar os quarteirões com no-
sil (1500), quando se iniciou a extração do pau-brasil, importante mes de cidades e acidentes geográficos das regiões (Rheinland-
árvore da Mata Atlântica. Atualmente, a especulação imobiliária, -Westphalen) de onde vinham os colonos alemães: Kastelaum
o corte ilegal de árvores e a poluição ambiental são os principais (Castelânea), Mosel (Mosela), Bingen, Nassau, Ingelheim, Woers-
fatores responsáveis pela extinção desta mata. tadt, Darmstadt e Rheinland (Renânia). As terras foram arrenda-
As principais características da Mata Atlântica são: das para Koeler e, através dele, aos imigrantes, resultando em um
- presença de árvores de médio e grande porte formando sistema de foro e laudêmio (enfiteuse) pago a alguns dos descen-
uma floresta fechada e densa; - rica biodiversidade, com presença dentes de Dom Pedro II até hoje.
de diversas espécies animais e vegetais;
- árvores de grande porte que formam um microclima na ARQUITETURA
mata, gerando sombra e umidade. A cidade possui um conjunto arquitetônico sem igual, do qual
- fauna rica, com presença de diversas espécies de mamíferos, o símbolo mais conhecido é o Palácio Imperial, hoje Museu Impe-
anfíbios, aves, insetos, peixes e répteis. rial. O palácio é a principal construção do chamado “centro his-
tórico”, onde se destaca a Avenida Koeler, ladeada por casarões
Levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e o e palacetes do século XIX. A via é perpendicular à fachada da Ca-
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que Petró- tedral de São Pedro de Alcântara e, no outro sentido, à Praça Ruy
polis não registrou desmatamento na Mata Atlântica no período Barbosa e à fachada da Universidade Católica - constituindo-se,
de 2012 a 2013. O município conta com uma área de 79.580 hec- assim, em um dos mais belos cenários da cidade.
tares, sendo 25.175 de vegetação natural. O estudo só identifica No chamado “centro histórico”, encontram-se, também, cons-
como desmatamento áreas acima de 3 hectares. Entre as cidades truções curiosas como a “Encantada” (casa de verão de Santos
do Rio de Janeiro que mais desmataram, o levantamento aponta Dumont); o Palácio de Cristal; o Palácio Amarelo (Câmara de Vere-
São Fidélis (4ha), Itaguaí (4ha) e Paraty (3ha). Cidades vizinhas a adores); o Palácio Rio Negro, fronteiriço à sede da prefeitura (pa-
Petrópolis, como Areal, São José do Vale do Rio Preto, Três Rios e lácio Sergio Fadel) e construções curiosas, como o “castelinho” do
Paraíba do Sul também não registraram desmatamentos, segundo autodenominado “Duque de Belfort”, na esquina da Koeler com a
o Atlas dos municípios. Praça Ruy Barbosa; ou ainda a antiga casa da família Rocha Miran-
da, na Avenida Ipiranga - mesmo endereço de outra residência da
O Palácio de Cristal mesma família, em estilo sessentista. Linhas modernas também
Estrutura em aço, ferro, metal nobre precursor do moderno estão presentes na casa de Lúcio Costa, no bairro de Samambaia.
aço, foi transportado peça por peça da França para o Rio de Janei-
ro, o Museu Casa de Santos Dumont, a Avenida Koeler, ladeada
por belos casarões, por onde se pode transitar de vitórias e onde
se localiza o Palácio Rio Negro a Catedral São Pedro de Alcânta-
ra, construída em estilo neo‐ gótico, que abriga um dos maiores

142
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
EVENTOS HISTÓRICOS Ali havia a COMPANHIA PETROPOLITANA, uma fábrica italiana
Petrópolis foi palco de acontecimentos e episódios diversos que atraiu várias famílias para esse local, e que foi instituída por
da história do Brasil, como: um decreto imperial em 17 de setembro de 1873, pelo Imperador.
- A inauguração da primeira rodovia pavimentada do Brasil, a Segundo registros de 1906, a fábrica abrigava cerca de 1100 ope-
União e Indústria (1861), ligando a cidade a Juiz de Fora; rários, todos moradores do vilarejo, com uma vida independente.
- A primeira sessão de cinema (1897), com a exibição, através
de “cinematógrapho”, dos primeiros filmes dos irmãos Lumière; Terceiro distrito – ITAIPAVA
- A assinatura do tratado que incorporou o Acre ao Brasil Itaipava é um dos mais procurados lugares da Serra do Rio de
(1903); Janeiro. Famosa por seus shoppings, pousadas, hotéis, comércios,
- A morte de Ruy Barbosa (1923); e por seu clima muito agradável, Itaipava é um lugar muito procu-
- O suicídio do escritor austríaco Stefan Zweig (1942). rado não só pelos fluminenses, mas pelas pessoas do Brasil intei-
- Conferência Interamericana de 1946. Nas dependências do ro, desde cidadãos comuns até celebridades, que caracterizam o
Palácio Quitandinha, ocorreu a assinatura da declaração de guerra local como “lugar de estrelas”, seja de televisão, seja de música.
dos países americanos ao Eixo, durante a Segunda Guerra Mun- Muita gente pensa que Itaipava é uma cidade por causa de seu de-
dial. Realizou-se também, em 1957, a 16ª Conferência Mundial de senvolvimento comercial e do movimento diário de pessoas, mas
Bandeirantes, que contou com representantes de 23 países asso- Itaipava é apenas um dos vários distritos da Cidade de Petrópolis.
ciados à World Association of Girl Guides and Girl Scouts. O Palá- Itaipava concentra várias indústrias em um condomínio industrial,
cio Quitandinha ainda é conhecido como o maior e mais legítimo hotéis e pousadas de muito luxo, e é claro, o Horto Municipal de
palácio do Brasil e, ao lado do Colón, no Uruguai, como o maior Petrópolis, famoso pela diversidade de produtos caseiros. Além
da América Latina. disso, estão em Itaipava o Parque Municipal de Petrópolis, co-
nhecido nacionalmente por suas Exposições Agropecuárias, que
DISTRITOS chegaram a mais de 27 edições, e também pelo Castelo do Barão
A divisão territorial do Município de Petrópolis está regula- de Itaipava, uma linda construção às margens da Estrada União
mentada pela Lei estadual n.º 1255, de 15 de dezembro de 1987, Indústria e da Br-040.
onde consta a sua última alteração espacial, ficando decretado a É claro que não nos podemos esquecer da Feirinha de Itai-
sua divisão em cinco distritos são eles: Petrópolis, Cascatinha, Itai- pava, uma feirinha de malhas famosíssima, localizada na BR040.
pava, Pedro do Rio e Posse.
Quarto distrito - PEDRO DO RIO
Pedro do Rio é um dos maiores distritos de Petrópolis. Pe-
dro do Rio tem economia baseada na Agropecuária. Grande parte
da economia vem da Cervejaria Petrópolis, que está entre as três
maiores do país.

Quinto distrito – POSSE


Localizada a 46km do centro da cidade, a Posse é um distrito
que tem muitas atrações, entre elas o Circuito Eco-Rural Caminhos
do Brejal, um bairro com muitas variedades de atrações turísticas.
A Posse é um distrito que possui 63km² de área e uma população
de 10.000Hab, com uma densidade demográfica de 158Hab/km².

Primeiro distrito - PETRÓPOLIS


No primeiro distrito concentra-se a maior parte da popula-
ção da cidade e também a maior parte do comércio e indústrias.
Sua divisão de bairros é bem densa, pois grande parte deles se
localiza no primeiro distrito, inclusive o centro da cidade, onde
encontramos a prefeitura, os edifícios principais, prédios antigos,
comerciais e residenciais, grandes colégios, lindas avenidas e prin-
cipalmente os museus.

Segundo distrito – CASCATINHA


Cascatinha era um vilarejo que surgiu às margens do Cami-
nho Novo, estrada que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Seu
centro era a antiga fazenda Itamarati, que existia desde o início
do século 18. Acredita-se tenha sido fundada nos anos de 1700.
Quando o Imperador do Brasil - Dom Pedro II fundou a cidade de
Petrópolis, o vilarejo de Cascatinha já existia. Seu nome é dado
devido a uma cascata que há no local.

143
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
• Maio: Semana Nacional dos Museus ‐ comemoração do Dia
OS BENS ARQUITETÔNICOS E SUA UTILIZAÇÃO Internacional de Museus;
CONTEMPORÂNEA: O PALÁCIO SÉRGIO FADEL, O • Junho/Julho: Bauernfest (Festa do Colono Alemão) ‐ o se-
PALACETE MAUÁ, O FÓRUM, A CASA DA PRINCESA gundo maior evento de sua categoria no Brasil; gastronomia típi-
ISABEL, A CASARIO DA AVENIDA KOELER, O TEATRO ca, apresentações música e dança, desfiles.
MUNICIPAL, OS PRÉDIOS ESCOLARES: UNIVERSIDADE • Julho: Festivais de Inverno da Dellarte e do SESC ‐ festivais
CATÓLICA, COLÉGIOS SANTA ISABEL E SANTA
culturais com música, teatro, cinema, artes plásticas, literatura e
CATARINA; O PAÇO HERMOGÊNIO SILVA; O BATALHÃO
gastronomia.
D. PEDRO II. O IPHAN (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
• Agosto: Bunkasai Festival Japonês ‐ Serra Noivas – apresen-
HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL) E SUA MISSÃO DE
tações de profissionais de festas
PRESERVAR E CUIDAR DE TODOS OS BENS CULTURAIS,
• Setembro: Serra Serata ‐ Festa Italiana com gastronomia tí-
TURISMO: GASTRONOMIA, ECOTURISMO EM
PETRÓPOLIS: TRILHAS E CAMINHADAS ECOLÓGICAS; pica e apresentações e Serra Wine Week – gastronomia
CACHOEIRAS E MONTANHISMO; UNIDADES DE • Outubro: Petrópolis Jazz & Blues Festival – festival musical
CONSERVAÇÃO; APA; TURISTA E OS TIPOS DE • Novembro: Petrópolis Gourmet – gastronomia, oficinas,
TURISMO; UM PROJETO URBANÍSTICO PREOCUPADO cursos, etc. e Festival de Cinema – exibições de filmes (foco em
COM O MEIO AMBIENTE; PROBLEMAS AMBIENTAIS obras cinematográficas brasileiras) em diversos locais da cidade,
E OCUPAÇÃO DESORDENADA; PETRÓPOLIS E SEU oficinas, palestras.
MERCADO TURÍSTICO; PONTOS TURÍSTICOS DE • Dezembro: Natal de Luz – corais, teatro, cinema, música
PETRÓPOLIS e exposições em diversos pontos da cidade, iluminação natalina
nas principais ruas “O Plano Diretor de Turismo de Petrópolis, de-
nominado Petrópolis Imperial 2010 – 2019, instituído pela LEI Nº
OS PRÉDIOS ESCOLARES 6771 de 20 de julho de 2010, é elaborado pela Fundação de Cul-
A maior universidade da cidade é a Universidade Católica de tura e Turismo de Petrópolis, subsidiada pelo COMTUR –Conselho
Petrópolis (UCP), que atualmente oferece 28 cursos de graduação, Municipal de Turismo.
além de cursos pós-graduação, mestrado e doutorado. Na cidade,
ainda existem duas universidades públicas, a Universidade do Es- Além do turismo, a economia de Petrópolis também é basea-
tado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Fluminen- da no setor de serviços, sobretudo nas áreas, têxtil, de vestuário e
se (UFF), que oferecem respectivamente os cursos de Arquitetura moveleira. É considerado o maior e mais tradicional polo de moda
e Engenharia de Produção. Há também na cidade uma unidade do fluminense, com destaque para as 900 lojas da Rua Teresa, que
Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca atraem compradores (atacadistas e varejistas) de todo o país. O
(CEFET-RJ), com os cursos de Licenciatura em Física, Bacharelado segmento têxtil representa 14% do PIB do município, e é compos-
em Turismo e Engenharia da Computação. to hoje por 800 indústrias formais que, juntas, produzem 100 mi-
Além destas, a cidade conta com a Faculdade de Medicina lhões de peças por ano. O setor moveleiro conta com cerca de 200
de Petrópolis (FMP), a Faculdade Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE), empresas, oferecendo 1.100 empregos diretos. No que se refere à
a Universidade Estácio de Sá, a Universidade Norte do Paraná produção agrícola, a prioridade é a agricultura orgânica (cultivada
(UNOPAR), a Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio sem agrotóxicos).
de Janeiro (Faculdade Estadual do Rio de Janeiro), que oferece os
cursos de Tecnologia da Informação e Comunicação, entre outros. Gastronomia
O município também possui um dos polos de ensino do Cen- Petrópolis e gastronomia combinam, e não é de hoje. Antes
tro de Ensino à Distância do Estado do Rio de Janeiro, um con- mesmo da fundação da cidade, a tradição já se anunciava, pelas
sórcio formado pelas instituições públicas de ensino superior do mãos laboriosas de nosso primeiro grande empreendedor: o Pa-
estado do Rio de Janeiro. Este consórcio disponibiliza cursos de dre Corrêa. Em sua fazenda, localizada no atual distrito de Corrêas,
graduação gratuitos em Pedagogia, Matemática, Biologia e Segu- o Padre criou um pomar com grande produção de frutos típicos de
rança Pública. O Laboratório Nacional de Computação Científica clima temperado, como cravos, figos, jabuticabas, uvas, pêssegos,
(LNCC) oferece cursos de mestrado e doutorado, gratuitos, nas maçãs e marmelos. Também plantava café e milho. Muitas das
áreas de Computação, Matemática, Biologia, Física e Engenharia. mudas e sementes utilizadas vinham da Europa e se adaptaram
Segundo o IBGE, 96,7% da população de Petrópolis é alfabe- bem ao nosso clima serrano. A produção da fazenda dos Corrêa
tizada, índice próximo à taxa de países como Austrália, Coreia do era disputada na Corte: algo que surpreendia, naqueles primeiros
Sul e Israel. A média nacional é de 91,3%. No campo da educação anos do séc. XIX nos quais as distâncias eram multiplicadas pelas
básica, a rede municipal de ensino atingiu a meta do Índice de dificuldades de transporte e pela ausência das modernas tecnolo-
Desenvolvimento da Educação Básica para 2011 e teve sua nota gias de conservação.
acima das médias do estado e do país. Com a formação do perfil aristocrático da cidade, os nobres
trouxeram consigo os hábitos da boa mesa: e do requinte ao re-
Com a valorização do ecoturismo, Petrópolis oferece uma sé- ceber. Petrópolis, com sua tranquilidade própria, convidava a cha-
rie de trilhas, em meio à mata atlântica; oportunidades de monta- mar os amigos, à noite, para jantares animados e reconfortantes
nhismo; banhos de cachoeira; oferta de cavalgadas, rapel e outros rodadas de café colonial e vinho, no inverno - ou para agradáveis
esportes radicais, nos espaços do Parque Nacional da Serra dos recepções nos jardins e varandas, nas tardes claras de verão. Em
Órgãos, Pedra do Açu, Cachoeira Véu da Noiva, Cachoeira Véu das todas estas ocasiões, a qualidade do serviço era enriquecida pelo
Andorinhas, Pedra Maria Comprida, Gruta do Presidente e outras apuro no preparo e pelos alimentos frescos, variados e de boa
localidades. qualidade produzidos aqui mesmo, na região. Para tornar este
Anualmente, uma programação de eventos mensais atrai tu- caldo ainda mais enriquecido, a cidade logo se tornaria herdeira
ristas do Rio de Janeiro, outros estados e do exterior: dos aromas e sabores de algumas das mais apreciadas culinárias
• Abril: Petrópolis Rural ‐ atividades agropecuárias, exposi- internacionais. À origem portuguesa e africana, customizada com
ções, integração de produtores, leilões; nossos produtos regionais, somaram-se os acentos germânicos,

144
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
cujos pioneiros trouxeram consigo a tradição dos embutidos e Já nos últimos anos do Império, houve uma tentativa mal su-
alimentos defumados, tortas, pães, geleias e outras conservas; e cedida de transformar a região em vinícola, surgindo daí o nome
do preparo especial de peixes de água fria, como as trutas, den- “Vale das Videiras”. A iniciativa coube às famílias Imbeloni e Rispo-
tre outras iguarias. Como a região da Germânia de onde vieram li, imigrantes vindos do sul da Itália.
nossos imigrantes veio a compor, mais tarde, não apenas a atual
Alemanha, mas também boa parte da França, também colocamos
em nossa cozinha os queijos, temperos finos, a manteiga e o cre-
me de leite, em suas variadas tentações. Da Itália, ganhamos a
substanciosa nota das massas, carnes e molhos enriquecidos. E,
logo depois, vieram os sabores exóticos da Arábia e da Ásia. Com
tudo isso, acostumamo-nos a agregar ao nosso cotidiano muito
do requinte delicado de cozinhas regionais e nacionais que, hoje,
são indiscutivelmente consideradas as matrizes da alta gastrono-
mia mundial. Os anos passaram; a vocação se instalou: e virou um
grande negócio e um dos nossos principais atrativos. Diversidade,
qualidade e um time de Chefs renomados fazem de Petrópolis o
5ª melhor pólo gastronômico do país.
O clima privilegiado e o cultivo de produtos de primeira li-
nha - hortaliças especiais, ervas finas, trutas, escargots, cogume- Mesmo nos dias atuais, em pleno século XXI, os limites polí-
los, massas artesanais, doces, entre outros – acabaram por atrair tico-geográficos do Vale das Videiras continuam sem exata defini-
profissionais que instalaram seus bistrôs e restaurantes na cida- ção. O município de Petrópolis avançou em terras que o registro
de. Logo, as regiões de Itaipava, Corrêas, Nogueira, Vale Florido, de imóveis aponta como pertencendo a Vassouras e que hoje se-
Araras e Vale das Videiras formaram o renomado “Vale dos Gour- riam de Miguel Pereira e de Paty do Alferes. De qualquer forma,
mets”: um lugar onde comer bem, num ambiente aconchegante e foi Petrópolis quem assumiu a iniciativa de levar asfalto até o cen-
acompanhado de um excelente vinho também é, acima de tudo, tro do Vale das Videiras, bem como atender a região com coleta
um excelente programa turístico. de lixo e transporte público.
A gastronomia também contribuiu para fazer, de Petrópolis, Atualmente a Fazenda Samambaia é a sede do Instituto Sa-
um dos 65 Municípios Indutores do Turismo Regional, e para fa- mambaia de Ciência Ambiental – ISCA e conta com algumas ati-
zer com que o Ministério do Turismo escolhesse o município para vidades como o Restaurante Taverna do Cônego, o Borboletário
ser um dos quatro do país a lançar o Programa “Caminhos do Sa- Cores da Samambaia, exibição de animais e uma linda horta or-
bor”. Por tudo isso, Petrópolis consta em dois dos mais importan- gânica.
tes guias do setor: o internacional Michelin e o nacional Quatro A Capela dedicada a Santo Antônio possui altar em estilo bar-
Rodas. Nosso polo gastronômico está ganhando proporções tão roco e fica na varanda da sede, totalmente preservada. Foi a pri-
significativas que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, meira capela oficial da Cidade Imperial, tendo sido reconhecida
a Abrasel, presente em 27 estados do país, instalou sua nova sede pelo Vaticano, onde está catalogada.
em Petrópolis. A motivação foi a oportunidade criada com o pro-
grama “Caminhos do Sabor”, do Ministério do Turismo, o que fez ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
com que a Abrasel-Petrópolis já nasça com a missão de atuar em A Área de Proteção Ambiental (APA) de Petrópolis, a primei-
ações pró-turismo e gastronomia do Brasil, com um foco especial ra do país e a única localizada numa área urbana, possui 589,6
em nosso potencial. E não é para menos, se pensarmos que se tra- km2 de área, inclui do primeiro ao terceiro distritos do município
ta de um setor que representa, atualmente 2,4% do PIB brasileiro. de Petrópolis, além de parte dos municípios de Duque de Caxias,
Além disso, como o hábito de alimentação fora de casa é Magé e Guapimirim. Pelas suas características, a APA Petrópolis
crescente e corresponde a 26% dos gastos dos brasileiros com ali- apresenta problemas e soluções únicos e que servem de modelo
mentos, a Abrasel-Petrópolis já envolveu, em abril de 2009, 14 para outras unidades de conservação. Seu principal objetivo é a
restaurantes da região no IV Festival Brasil Sabor: dentre eles, o Preservação dos remanescentes de Mata Atlântica existentes na
Solar Fazenda do Cedro, a Pousada Paraíso Açu, Don Bistrô, Tai Tai região.
Restaurante, Tambo los Incas e o Oliveiras da Serra. As terras de Petrópolis compõem a maior parte da APA Petró-
polis e pertencem ao 1º Distrito em sua porção centro-sul e estão
Turismo nas antigas fazendas da região hoje urbanizadas e integrando os bairros Rocio, Duarte da Silveira,
A Fazenda das Videiras, hoje transformada em pousada, Mosela e Araras, limitando-se e integrando-se com a Rebio do Tin-
mostra-nos a transição do século XVIII para o século XIX e, mais guá (Ibama) e a Reserva Biológica de Araras (IEF/RJ). Além desse
propriamente, testemunha a tentativa de transformar o Vale das distrito, a APA engloba também os distritos de Cascatinha (2º Dis-
Videiras em uma região produtora de uvas. No Brasil Colônia, e trito), Itaipava (3º Distrito) e Pedro do Rio (4º Distrito).
depois no Império, as terras do “Vale das Videiras” pertenciam Criada em 1982, a APA-Petrópolis abrange parte dos muni-
a Vassouras, hoje município limítrofe. Sem nenhuma importância cípios de Petrópolis, Magé, Duque de Caxias e Guapimirim, num
econômica para aquela comarca, pois impróprias para a cultura total de 59.049 hectares. Na prática, funciona como um tampão
intensiva de café, essa região tinha uma importância meramente que impede a degradação dos recursos naturais, uma vez que 50%
geográfica, pois era uma das rotas à disposição dos viajantes que de sua área está coberta por Mata Atlântica. Além disso, é pionei-
vinham ou iam para as fazendas e áreas urbanas de Vassouras, Pa- ra na gestão participativa. Seu Conselho Gestor, criado em 1997,
raíba do Sul, Três Rios, Juiz de Fora e, dali, para seguir para pontos é hoje formado por 78 entidades civis, cujos representantes se
mais distantes, como São João Del Rei, Ouro Preto e Diamantina. reúnem para planejar ações de educação e de recuperação am-
biental, desenvolvimento sustentável e preservação do patrimô-

145
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
nio. Para auxiliar esse trabalho, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Turismo de esportes: a definição adotada pelo Ministério do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) trouxe para a Turismo estabelece que esse tipo de turismo compreende as ativi-
APA-Petrópolis a mais alta tecnologia de gestão ambiental. dades turísticas decorrentes da prática, envolvimento ou observa-
O bairro do Cascatinha é o mais populoso de Petrópolis. A ção de alguma modalidade esportiva.
região guarda a Reserva Biológica da Alcobaça, onde está o ma- Turismo de aventura: compreende os movimentos turísticos
nancial de água que abastece a comunidade. Há mais de 20 anos decorrentes da prática de atividades de aventura de caráter recre-
os moradores fazem aceiro ao redor da reserva para protegê-las ativo e não competitivo. É importante destacar que se consideram
das queimadas, uma ameaça às espécies, principalmente nesta atividades de aventura aquelas cujo prêmio é a superação de seus
época do ano. limites pessoais, caracterizadas como atividades de recreação e
não de competição. Este tipo de turismo, quando organizado ou
UM PROJETO URBANÍSTICO PREOCUPADO COM O MEIO intermediado por prestadores de serviços e operadores de agên-
AMBIENTE cias de turismo, está submetido a normas e regulamentos de se-
O plano urbanístico de Koeler apresentava claras indicações gurança, elaborados pelo Ministério do Turismo, que orientam o
de zoneamento, hierarquização do sistema viário, normas de par- processo de certificação dos serviços.
celamento da terra, de ocupação e construção, sistemas de abas- Turismo de saúde: É aquele praticado por pessoas que se
tecimento d’água e esgotamento sanitário. Pela primeira vez no deslocam em busca de climas ou estações de tratamento onde
Brasil, os rios correm na frente e não nos fundos das residências, possam recuperar a saúde física e/ou mental (EMBRATUR, 1992).
como era usual no padrão colonial português. Koeler rejeitava, Também pode ser chamado de turismo de tratamento ou terápi-
assim, o antigo conceito de que os cursos d’água seriam naturais co, destacando-se para esse fim o termalismo, em razão da valori-
coletores de dejetos. Os rios passam a ser vistos como um com- zação dos agentes naturais de cura (EMBRATUR, sem data).
plemento de arquitetura urbana, a exemplo do que se fazia na Turismo religioso: caracteriza-se pelas atividades turísticas
Europa. decorrentes da busca espiritual e da prática religiosa em espaços
Pela escritura de arrendamento de 26 de julho de 1843, obri- e eventos relacionados às religiões institucionalizadas. Essa ativi-
gava-se Koeler “a levantar a planta da futura Petrópolis e do palá- dade turística está relacionada às religiões institucionalizadas, tais
cio e suas dependências gratuitamente”. Nas palavras de Alcindo como as afro-brasileiras, espíritas, católicas e protestantes, com-
Sodré, “Petrópolis nasceu com a construção do Palácio Imperial”. postas de dogmas, hierarquias, estruturas, templos, rituais e sa-
De fato, foi em torno do palácio que a povoação começou a de- cerdócio. Podem ser citados, como exemplos dessas atividades, as
linear-se. Em suas vizinhanças, ficavam as residências nobres, os peregrinações e romarias, retiros espirituais, visitação a espaços e
edifícios públicos, os edifícios comerciais, a igreja matriz. edificações religiosas, dentre outras.
Turismo rural: é o conjunto de atividades turísticas desenvol-
TIPOS DE TURISMO vidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária,
Vamos conhecer alguns tipos de turismos praticados princi- agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo
palmente no Brasil. Nosso país tem muito a oferecer, sendo neces- o patrimônio cultural e natural da comunidade.
sário o investimento em infraestrutura e marketing para que ele Turismo místico e esotérico: são atividades turísticas relacio-
se desenvolva em toda sua enorme potencialidade na atividade nadas às práticas, crenças e rituais alternativos, que ocorrem em
turística. função da busca da espiritualidade. Caminhadas de cunho espi-
Turismo de sol e praia: caracteriza-se pelas atividades turís- ritual e místico, práticas esotéricas, técnicas de meditação e de
ticas relacionadas à recreação, entretenimento ou descanso em energização, dentre outras, são exemplos deste tipo de atividade
praias por causa da presença de água, sol e calor. turística.
Turismo náutico: caracteriza-se pela utilização de embarca- Ecoturismo: a definição deste tipo turismo vigora desde 1994,
ções náuticas como meio ou como finalidade da movimentação quando a EMBRATUR e o Ministério do Meio Ambiente assim es-
turística, e pode ser classificado em turismo fluvial, turismo em tabeleceram na publicação Diretrizes para uma Política Nacional
represa, turismo lacustre e turismo marítimo. de Ecoturismo: “(...) segmento da atividade turística que utiliza,
Turismo cultural: como fenômeno social, produto da expe- de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva
riência humana, cuja prática aproxima e fortalece as relações sua conservação e busca a formação de uma consciência ambien-
sociais e o processo de interação entre indivíduos e seus grupos talista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o
sociais, ou de culturas diferentes. Está relacionado “à vivência bem-estar da população”. A mesma definição é, ainda hoje, ado-
do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico tada pelo Ministério do Turismo.
e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os Turismo de pesca: compreende as atividades turísticas de-
bens materiais e imateriais da cultura”. correntes da pesca amadora, entendida como atividade de pesca
Turismo de estudos e intercâmbios: constitui-se da movimen- praticada por brasileiros ou estrangeiros com finalidade de lazer,
tação turística gerada por atividades e programas de aprendiza- turismo ou desporto, sem finalidade comercial.
gem e vivência para fins de qualificação, ampliação de conheci- Turismo social: caracteriza-se pela forma de conduzir e pra-
mento e de desenvolvimento pessoal e profissional. ticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportuni-
Turismo cívico: caracterizado por deslocamentos motivados dade, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na
pelo conhecimento de monumentos, fatos, observação e partici- perspectiva da inclusão.
pação em eventos cívicos, que representem a situação presente
ou a memória política e histórica de determinado local. UM PROJETO URBANISTICO PREOCUPADO COM O MEIO
Turismo de negócios e eventos: compreende as atividades AMBIENTE
turísticas decorrentes das relações de interesses profissionais, as- Koeler era bastante preocupado com o meio ambiente, o que
sociativos, institucionais de caráter comercial, técnico-científico, fica patenteado no art. 6º das Instruções para execução do Decre-
promocional e social. to Imperial nº 155, estabelecendo a reserva, no alto das monta-
nhas e colinas, das matas necessárias à conservação das águas.
Pretendia, assim, evitar não só o esgotamento dos recursos hídri-

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
cos, como o deslizamento das encostas, visto que a tênue capa Possui trechos íngremes, é possível praticar o rapel, pois são
arborizada de muitos terrenos íngremes e rochosos os tornava 32 metros de altura de queda d’água e tem um visual imperdível.
predispostos à erosão quando submetidos às chuvas torrenciais Para acessar, é necessário adquirir o ingresso na bilheteria do par-
de verão. O §3º do art. 15 obriga os foreiros “a velar pela con- que.
servação das árvores destinadas ao assombramento das estradas,
ruas, caminhos e praças e das matas reservadas para construção CIRCUITO DAS BROMÉLIAS
sitas em sua frente ou fundos.” Localização: Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Parnaso
O desmatamento aliado à impermeabilização do solo conse- – Corrêas/Bonfim.
quente dos loteamentos indiscriminados – muitos deles clandes- São várias quedas d’água nesse circuito que engloba o Poço
tinos – tem sido a causa determinante do transbordamento dos do Paraíso, o Poço das Bromélias e o Poço da Ducha, perfeito para
cursos d’água por ocasião das chuvas torrenciais. registros fotográficos incríveis e banhos refrescantes em águas
Koeler não se opunha ao crescimento vertical moderado, des- cristalinas.
de que limitada a altura das construções em função da largura
dos logradouros. Essa norma, então, foi totalmente “atropelada”. CACHOEIRA DO JACÓ (CACHOEIRA DA MACUMBA OU CA-
O zoneamento concebido por Koeler foi o primeiro, no Brasil, de- CHOEIRA DOS TREZE)
terminado a prior”, em harmonia com o conjunto do plano. O que Localização: BR 495 – Estrada Petrópolis Teresópolis.
nos impressiona é a sua visão extraordinária ao estabelecer nor- Belíssima cachoeira com vários poços e duas grandes quedas
mas de indiscutível validade ainda nos dias de hoje. d’água, uma delas, com aproximadamente 25 metros de altura e
uma piscina de água cristalina. Fácil acesso e trilha curta de menos
CACHOEIRAS, POÇOS E TRILHAS de 15 minutos até a grande queda.
TRILHA DO MEU CASTELO (CASTELINHO)
Localização: Morin. POÇO NEGRO
No cume, temos uma bela paisagem de toda a Baía de Guana- Localização: Rócio.
bara e Baixada Fluminense. Grande poço de água límpida e refrescante. Uma pequena
queda d’água ao fundo. Acesso muito fácil e uma descida de me-
TRILHA DO CORTIÇO nos de 10 minutos.
Localização: São Sebastião.
Linda vista da Serra Velha de Petrópolis, Morro do Meu Caste- CACHOEIRA DA ROCINHA
lo, Morro dos Vândalos, Cobiçado, Tapera, vista parcial da Baía de Localização: Secretário.
Guanabara e Rio de Janeiro. Possui duas quedas d’água e vários poços, além de praias de
rios, que dão conforto aos visitantes. Acesso fácil com trilha em
TRILHA DO COBIÇADO descida de 5 minutos da rua.
Localização: São Sebastião.
Vista da cidade de Petrópolis, cadeia de montanhas do Par- CACHOEIRA DA REPRESA
que Nacional da Serra dos Órgãos – Parnaso, parcial do Rio de Localização: Caxambú (Santa Isabel).
Janeiro, Rebio Tinguá e Apa Araras. Fica no final da rua que dá acesso ao reservatório da Águas do
Imperador, após as plantações de hortaliças e flores, queda d’água
TRILHA DO BONNET em declive suave e grande poço para banho em águas límpidas.
Localização: Itaipava.
Belíssima vista da Rebio Tinguá, Serra de Petrópolis, vista par- POÇO DO PINHEIRAL (POÇO DO TCHÊ)
cial da cidade, vista do Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Par- Localização: Pinheiral (Bonfim).
naso sede Petrópolis e Caminho do Imperador. Caminho que leva ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos
– Parnaso, fica um pouco antes da entrada principal do parque,
TRILHA DA PEDRA DE ITAIPAVA acesso fácil.
Localização: Itaipava.
Visão total de Itaipava, parte do Vale do Paraíba, em dias de CACHOEIRA DA PONTE FUNDA
amplitude de visão, conseguimos avistar a cadeia de montanhas Localização: Vale das Videiras.
da Serra da Mantiqueira. Fica a apenas 3 minutos da beira da estrada principal, acesso
fácil e tranquilo. Possui queda d’água de 20 metros de altura.
TRILHA DO MORRO DA VENTANIA
Localização: Caxambú. POÇO SÃO PEDRO
Vista do Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Parnaso, San- Localização: Vale das Videiras.
to Aleixo (Magé) e parcial de Petrópolis. Águas límpidas e geladas, mas possui um visual incrível. O
acesso é por uma propriedade particular na beira da estrada prin-
TRILHA DA PEDRA DO ALCOBAÇA cipal e por conta disso, cobram um valor para ajudar na conser-
Localização: Corrêas/Bonfim. vação do local.
Cume relativamente pequeno, mas com uma visão belíssima
da cadeia de montanhas da Rebio Tinguá, bairros altos da cidade PARQUES E PIQUENIQUES
de Petrópolis, Cindacta, Parque Nacional da Serra dos Órgãos –
Parnaso, bairros de Cascatinha e Samambaia. PARQUE NATURAL MUNICIPAL PADRE QUINHA
O Parque Natural Municipal Padre Quinha é um espaço de
CACHOEIRA DO VÉU DA NOIVA lazer e contemplação da natureza em pleno Centro Histórico.
Localização: Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Parnaso Conta com área de 16,7 hectares com estágio avançado de Mata
– Corrêas/Bonfim. Atlântica. O local disponibiliza duas trilhas para caminhada de di-

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
ficuldades baixa e moderada, com extensões de 800m e 830m, Tal processo desencadeou profunda degradação ambiental,
respectivamente, no trajeto de ida e volta. Além disso, oferece que resultou em um relevante aumento de erosões de encostas,
um amplo espaço de ar puro, tranquilidade, com mesas e bancos com significativa descaracterização da mata e grande perda de
disponíveis para refeições e outras atividades. volume d’água potável pelo ressecamento ou contaminação dos
mananciais e nascentes d’água.
PARQUE CRÉMERIE Estima-se que o município de Petrópolis possui, hoje, pelo
Antiga Crémerie Buisson, fábrica de queijos de Jules Buisson, menos, 150 (cento e cinquenta) aglomerados residenciais urba-
fundada em 1845, cujos produtos eram conhecidos em todo Brasil nos com populações de baixa renda, sendo que a quase totalidade
graças à sua excelente qualidade. Mais tarde, a Crémerie foi ad- destas comunidades encontrasse estabelecida em áreas de encos-
quirida pela família Sixel, transformada em hotel e posteriormen- tas ou beira de rios, com ocupações desordenadas, que desca-
te em área pública municipal, com área acima de 40 mil metros racterizaram radicalmente o ambiente natural. Tal fato, aliado ao
quadrados. Local de lazer desde os verões da sociedade da belle precário sistema urbanístico existente nestes locais, acelera o pro-
époque até os dias atuais. Possui quadras de esportes, piscina, cesso erosivo do solo, resultando em centenas de pontos com ris-
lago com pedalinhos, área verde e espaços para piquenique. co de escorregamento de terra e/ou desprendimento de rochas.
Os deslizamentos de encostas são fenômenos naturais, que
PARQUE MUNICIPAL PREFEITO PAULO RATTES podem ocorrer em qualquer área de alta declividade por ocasião
O parque possui ampla área de lazer ao ar livre, que agrada a de chuvas intensas e prolongadas. No entanto, a remoção da ve-
todas as idades. Possui quadras de esporte, ciclovia, aluguel de bi- getação original e a ocupação urbana tendem a tornar mais frágil
cicletas, pista para caminhada, área para piquenique, lanchonete, o equilíbrio naturalmente precário
picadeiro de areia, local para shows e festas populares. Dentro do
parque ainda pode-se encontrar o Horto Municipal Chico Mendes Poluição do Rio Piabanha em Petrópolis
e a Capela São Cristovão, assim como uma sala de exposições, sala O rio de Petrópolis está cada vez mais poluído. A necessidade
de leitura e Centro de Informação Turística. de atenção e cuidado com o meio ambiente é cada vez maior. A
região de Petrópolis, assim como ocorre com a maioria das cida-
PARQUE NACIONAL DA SERRA DOS ÓRGÃOS des brasileiras, sofre com as consequências da poluição hídrica.
O Parque Nacional da Serra dos Órgãos está situado no Vale Avalia-se que boa parte da população da cidade não tenha água
do Bonfim, em Corrêas. Possui uma extensa área de 20 mil hec- encanada ou mesmo sistema de coleta de esgoto. O rio mais fa-
tares que abrange os municípios de Petrópolis, Magé, Teresópolis moso de Petrópolis tem seu nome em homenagem a uma espécie
e Guapimirim. A maior área do parque localiza-se em Petrópo- de peixe que já não sobrevive mais em suas águas. No passado,
lis. Além da paisagem deslumbrante, o ParNaSO possui diversas quando o Piabanha não sofria com a poluição, o peixe era facil-
opções de lazer. Os banhos de cachoeira e as caminhadas para mente encontrado.
apreciar a exuberante vegetação e a fauna da Mata Atlântica são O rio apresenta um elevado índice de poluição. Esgotos, re-
imperdíveis. Outra opção é a Travessia Petrópolis-Teresópolis, fei- jeitos químicos de indústrias instaladas em suas margens, sem
ta em dois ou três dias, percorrendo 42km de trilhas. Para sua se- falar nos rios Palatino e Quitandinha, extremamente poluídos,
gurança, contrate o serviço de guia especializado em ecoturismo. que desembocam no Piabanha, acabam facilitando o aumento de
Acesso por Corrêas. É permitida a entrada com alimentos, porém contaminação.
não há local para piquenique. Acesso com garrafas de vidro e be- Dentre os problemas ambientais que afetam a qualidade das
bidas alcoólicas não é permitido. águas da região, destacam-se, predominantemente, a poluição in-
dustrial e o esgotamento sanitário das residências.
A SEDE PETRÓPOLIS, após autorização da Prefeitura Munici-
pal, abre seus atrativos da PARTE BAIXA. A partir do dia 22/02 o Meio Ambiente – Parque Fluvial
bate e volta no Açu com entrada das 6h às 10h e saída até as 15:30 O Parque Fluvial representará uma área protegida, pois pre-
está liberado. tende, por meio de ações de recuperação da integridade ecológica
das margens e do canal do rio, criar oportunidades para recreação
EMBAIXADORES DO PARNASO e aprendizado da população local e dos visitantes, assegurando o
Para divulgar o parque aos moradores e turistas, um grupo uso público adequado e a valorização do rio e das bacias hidrográ-
de empresários de Petrópolis e Teresópolis – os Embaixadores do ficas como patrimônio ambiental a ser preservado. O projeto faz
Parnaso – oferece opções de hospedagem e entretenimento no parte do conjunto de ações da Secretaria de Estado do Ambiente
entorno do parque. São pousadas, hotel fazenda, albergues, cam- (SEA) para recuperação dos principais cursos de água do Estado
po de aventura e guias que oferecem diversas opções de lazer, tais do Rio de Janeiro, dentre os quais se inscreve, além do Piabanha
como caminhadas, trilhas ecológicas, esportes radicais, atividades e Santo Antônio, os rios Guandu, Macacu e Guapiaçu, Caceribu,
pedagógicas e muitas outras atrações para toda a família. Macaé, São João, Dois Rios, Macabu e Estrela, dentre outros.Com
a implantação do parque, das ações de reflorestamento ribeirinho
PROBLEMAS AMBIENTAIS E A OCUPAÇÃO DESORDENADA e das intervenções complementares será possível a recuperação
A difícil ocupação racional do solo, devido à sua topografia to- das margens e dos canais do Rio Piabanha (26 km) e Santo Antô-
talmente irregular, característica das regiões de serras e maciços nio (6 km).
rochosos foi agravada pelo intenso fluxo migratório das últimas
décadas. Em virtude desse crescimento demográfico e, funda- Águas Subterrâneas em Petrópolis
mentalmente, pela falta, ao longo dos anos, de um planejamento O aquífero principal da região ocupa o conjunto de solos are-
urbano que permitisse o acesso à moradia para todas as camadas nosos e rochas fraturadas e se encontra localizado no vale do rio
econômicas existentes, iniciou-se um processo de ocupação de- Piabanha, aparecendo sob a forma de nascentes (olhos d’água).
sordenada do solo. As fontes de água mineral exploradas na região são de excelente
paladar, leves, cristalinas e radioativas. Apesar disso, o município
vem, de maneira significativa, perdendo o seu grande patrimônio

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aqüífero, seja pelo ressecamento ocasionado pelo avanço indiscri- an a remontar o delicado “quebra-cabeças”. Primeira construção
minado da descaracterização natural através de desmatamentos, préfabricada do país, o palácio foi destinado a ser a sede da Asso-
seja pela sua contaminação, pela deposição de esgoto sanitário ciação Agrícola e Hortícola de Petrópolis. E foi palco de inúmeras
ou ainda pelo chorume resultante da dissolução de despejos só- exposições de plantas e de eventos musicais, além de sediar uma
lidos e líquidos. prévia da Lei Áurea: foi ali que, em 1o abril de 1888, a própria Prin-
cesa Isabel conferiu Títulos de Alforria aos 103 últimos escravos
PRINCIPAIS ATRATIVOS TURÍSTICOS de Petrópolis.

Museu Imperial Catedral São Pedro de Alcântara


O Museu mais visitado do Brasil foi eleito, em 2007, uma das Em estilo neogótico francês, o simples ato de entrar na Cate-
sete maravilhas do Rio de Janeiro. Localizado no antigo Palácio dral São Pedro de Alcântara já é, por si, uma experiência de con-
Imperial, a residência de verão de D. Pedro II teve sua construção tato com uma obra monumental que consumiu a dedicação de
iniciada em 1845 e dado por concluída em 1864. gerações de artífices, engenheiros e artesãos. A porta de entrada,
metalizada, foi executada pela escola de Aprendizes de São Paulo
Museu Casa Santos Dumont segundo desenho de Glash Veiga: cada folha pesa nada menos
O pequeno chalé em estilo alpino que se destaca na Rua do que 2.400 kg. Chegar à torre, porém, é uma vivência inesquecível.
Encanto, Centro Histórico de Petrópolis, é o segundo museu mais Na balaustrada, que abriga o coro, somos recebidos pelo órgão,
visitado da cidade: mensalmente, cerca de nove mil pessoas vêm atualmente em restauração: um dos maiores da América Latina,
conhecer um pouco mais sobre o modo de vida e a personalidade com 2.227 tubos, 33 registros e três teclados manuais.
do inventor que passou à História como o Pai da Aviação. Chegando à torre, com o Centro Histórico aos nossos pés, é
O Chalé todo planejado para atender às necessidades de San- possível apreciar os cinco sinos de bronze, fundidos em Passau,
tos Dumont possui espaços pequenos multiuso e escadas íngre- na Alemanha, que pesam, em conjunto, nove toneladas. O maior
mes, essenciais para que os turistas passem pelos três andares deles, o “S. Pedro de Alcântara”, pesa quatro toneladas e tem uma
da residência, como a principal, onde a pessoa é obrigada a subir vibração particularmente preciosa, que alcança 200 segundos.
com o pé direito – um traço marcante da personalidade supersti- E isso não é tudo. Escadas abaixo, a nave de mais de 70m de
ciosa do inventor. extensão, com quase 20m de altura na abóbada central, também
Para dar acessibilidade aos portadores de deficiência, está em está repleta de obras de arte dignas de cuidadosa apreciação. O
andamento a construção do Centro Cultural 14 Bis. Assim que as corpo original da construção foi todo executado em pedra apare-
obras forem finalizadas, o local começará a ser preparado para re- lhada, com cantaria em granito. A cruz central, de granito negro,
ceber maquete tátil interna e externa, DVD em libras, catálogo em coroa o altar em bronze patinado, ônix e mármore Chiampo Péro-
braile, réplicas de dependências do museu como o banheiro de la. É ali que estão guardadas as relíquias de três Santos Mártires
Santos Dumont, rampa e plataforma eletrônica enclausurada para – Santa Tecla, São Magno e Santa Aurélia – trazidas de Roma pelo
que pessoas com algum tipo de deficiência seja ela física, visual ou Cardeal D. Sebastião Leme. O Cristo e os dois anjos que o ladeiam
auditiva possam conhecer a história do Pai da Aviação. são de bronze, assim como as armas do Império do Brasil, que
O espaço vai contar também com oficinas pedagógicas, café estão no paleoto. Sobre o altar, a inscrição “Et In Terra Pax”.
temático, salas multimídia e de exposições, além de sala de convi- O batistério preserva a memória da primeira igreja da povo-
vência, e ainda será realizada capacitação de pessoal. Para não ha- ação, através da pia batismal transferida para o novo endereço,
ver quebra do testemunho histórico, alguns pontos, como o pas- antes da demolição. Um capítulo a parte são os vitrais, executados
sadiço para o banheiro, não serão e nem poderão ser alterados, por Champneulle (Paris, de 1928 a 1932) e por S. Sargenicht, de
respeitando as limitações do ponto turístico. O acesso ao labo- São Paulo. São eles que inspiram, com seus recortes de luz e cor,
ratório fotográfico, onde funciona a bilheteria, não será possível aqueles que caminham pela nave em forma de ogiva e sustentada
porque a realização de obras nessa parte da casa descaracterizaria por colunas, entre as quais estão dispostas as “Estações da Via
a arquitetura. A fachada também não será modificada. Será criado Sacra” assinadas por G. Berner e que vieram de Paris, em 1928.
um elevador de acesso ao Centro Cultural, seguindo sempre a lei Muitas esculturas em mármore de Carrara estão prontas para fas-
de acessibilidade. cinar o visitante, com destaque para a de 2,80m de altura que
representa o padroeiro. Obra do escultor francês Jean Magrou,
Palácio de Cristal também são de sua autoria as imagens da Sagrada Família e de
Londres, 1879. Em visita ao pavilhão onde se realizara a Expo- Cristo, dos altares laterais, e o conjunto de quase três toneladas
sição Industrial de 1851, o Conde D`Eu, marido da Princesa Isabel, com as imagens jacentes do Imperador Pedro II e da Imperatriz
se encanta com a pureza das linhas do prédio construído em aço Teresa Cristina.
e ferro pudlado, metal então nobre e precursor do moderno aço. O mausoléu foi inaugurado por Getúlio Vargas em 1939, após
“Parente próximo” de outra construção que também se transfor- o traslado dos restos mortais dos imperadores que estavam, des-
maria em um ícone - a Torre Eiffel – o Crystal Palace londrino era de 1921, na Catedral Metropolitana, no Rio de Janeiro. Lateral-
um símbolo da nascente Revolução Industrial, que então flertava mente e ao fundo, no mesmo local, estão as imagens jacentes da
com os prédios pré-fabricados, sonhando aproveitar a luz solar Princesa Isabel e do Conde D´Eu, guardando o local onde a Família
para iluminar, naturalmente, os ambientes de trabalho. Imperial do Brasil encontrou seu descanso definitivo.
Foi a partir daí que surgiu a ideia de construir uma réplica
em Petrópolis, em menor escala, para outra função: ao olhar do Palácio Rio Negro 1913
homem cuja mulher amava botânica, dentro daquela privilegia- Os salões estão arrumados com requinte: afinal, é ali que
da estrutura não deveriam existir máquinas pesadas. Mas, sim, acontecerá o casamento do Presidente da República, Mal. Hermes
um permanente jardim. Encomendando à S. A. Saint-Sauver-Les- da Fonseca, com a polêmica Nair de Tefé. Anos mais tarde, Getúlio
-Arras, o Palácio de Cristal foi transportado em navio, peça por Vargas se hospedaria em seus aposentos em todos os verões de
peça, da França ao Rio de Janeiro. Depois da cuidadosa viagem seu longuíssimo governo: mandou até construir, no subsolo, uma
até Petrópolis, operários da cidade ajudaram o engenheiro Bonje- enorme banheira, no mais puro estilo romano. JK, por sua vez,

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aceitou a sugestão da esposa, Sara, de modernizar parte da deco- Trono de Fátima
ração. Estamos falando do Palácio Rio Negro, residência de verão Idealizado pelo Frei João José – mentor do movimento Ma-
de nada menos que 13 presidentes, que conta uma história que riano em Petrópolis – o Trono de Fátima foi inaugurado em 1947
muita gente desconhece: a da Petrópolis Republicana. De fato, a e está entre os mais bonitos atrativos turísticos da cidade. Locali-
cidade não perdeu o status de preferida dos poderosos depois zado no ponto mais alto do bairro Valparaíso, oferece ao visitante
da Proclamação de República. Na época, o temor do estigma era uma visão panorâmica única da Cidade Imperial. O projeto arqui-
grande: dos 49 anos do Segundo Reinado, D. Pedro II passou pelo tetônico é de Heitor da Silva Costa, que tem como sua obra mais
menos 40 temporadas na cidade, algumas, de cinco meses. Toda famosa o Cristo Redentor.
a Corte era “transportada”, serra acima. Assim, depois de 1889, a
campanha para mostrar a adesão ao novo estado republicano foi Igreja do Sagrado Coração de Jesus
tão intensa que até mesmo leis foram aprovadas, às pressas, para Inaugurada em 1874, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus
que os “comprometedores” nomes das ruas que faziam alusão à nasceu da vontade dos colonos alemães católicos de possuir um
nobreza fossem mudados. Mas a providência era desnecessária: templo próprio. A construção só foi possível com a chegada do
os mandatários da República, em última análise, também estavam padre Teodoro Esch que fundou, na época, uma escola para filhos
acostumados a ter, na cidade, uma referência de conforto, arte, de alemães católicos e uma sociedade de canto para adultos, a
cultura e glamour. Tanto foi assim, que ela continuou a ser a re- Lierdetafel. Foi ele o responsável por angariar fundos para a cons-
sidência de grande parte dos diplomatas enviados ao Brasil até a trução e por conseguir a autorização do uso do terreno localizado
transferência da capital federal para Brasília. E, de 1894 a 1903, na rua Montecaseros, que pertencia à Câmara Municipal. A inicia-
tornou-se até mesmo capital do estado do Rio, em função dos tu- tiva do padre foi totalmente apoiada não só pelos alemães, mas
multos decorrentes da Revolta da Armada que tornaram o Rio de também por portugueses, entre outros imigrantes, tendo recebi-
Janeiro e Niterói, subitamente, inseguros. do, inclusive, doações da Família Imperial.
Em 2006, porém, a administração do prédio retornou ao Go-
verno Federal, depois de 11 anos de utilização pela Prefeitura. Sesc Quitandinha
Atualmente, o Palácio está sendo submetido a obras de recupera- Construído em 1944 por Joaquim Rolla, para ser o maior cas-
ção promovidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico sino hotel da América do Sul, é em estilo normando, apresentan-
Nacional (IPHAN). do em seu interior o estilo “Hollywoodiano”. O estilo normando é
característico dos cassinos europeus que faziam sucesso na Nor-
Palácio Amarelo mandia, antes da Segunda Guerra Mundial, e o interior lembra
Quem observa a Praça Visconde de Mauá, defronte ao Mu- cenários de filmes americanos, daí o estilo no Brasil. Os ambientes
seu Imperial, não pode deixar de notar a imponente construção foram decorados por Doroth Draper, cenógrafa dos filmes famo-
que abriga a Câmara dos Vereadores. Conhecido como Palácio sos de Hollywood.
Amarelo, o prédio foi construído entre 1894 e 1897, no prazo de
terra que pertencera ao Barão de Guaraciaba e que era conside- Casa do Colono
rado uma das áreas mais nobres da povoação. A ideia inicial, de É uma casa simples, de pau-apique, teto de zinco e segura
aproveitar e ampliar a bela residência existente no local foi des- com ripas de coqueiro verde. Mas guarda entre suas paredes a
cartada pelo arquiteto Harald Bodtker, porque o madeiramento e história do imigrante alemão em Petrópolis. Localizada no Quar-
os barrotes do antigo prédio não teriam condições de suportar a teirão Castelânea - cujo nome faz referência à cidade de Kas-
nova estrutura: sendo assim, um novo projeto foi concebido, com tellaum na região germânica de Hunsruck, onde se originaram
a configuração atual. várias famílias que imigraram para Petrópolis - a Casa do Colono
guarda, em seu acervo, utensílios domésticos, fotografias e obje-
Casa da Ipiranga tos pessoais usados pelos pioneiros que construíram a cidade. Os
Construída em 1884 pelo financista José Tavares Guerra, a cômodos que chamam mais atenção são a oficina e a cozinha com
Casa da Ipiranga sempre despertou curiosidade entre os turistas e seu fogão a lenha, o batedor de manteiga, as fôrmas para a feitura
moradores de Petrópolis. Com 125 anos, a propriedade continua do famoso pão alemão, a máquina manual para fazer chucrute,
praticamente intacta – está entre as quatro casas privadas em es- entre outras preciosidades. A construção data de 1847 e foi erigi-
tado original do século XIX no Brasil, segundo o Ministério da Cul- da no então Caminho Colonial (atual Rua Cristóvão Colombo), por
tura - guardando entre suas paredes uma bela história de amor. Johan Gottlieb Kaiser.
Transformada em Museu em 1976, a Casa do Colono nos re-
Theatro D. Pedro mete à adaptação vivida pelo imigrante para viver em terras bra-
Com a antiga grafia que preservava o “h” após o T inicial – sileiras.
abriu suas portas às 15h30m de 02 de janeiro de 1933. Desde a
primeira matinê, já se caracterizava como exemplo de uma ten- Avenida Koeler
dência que marcou época: a entrada, nas tradicionais salas de es- Num dos endereços mais charmosos de Petrópolis, estão pre-
petáculo, das telas do cinematógrafo, a mais nova febre do mun- sentes alguns belos e importantes casarões do século XIX, da Ci-
do do entretenimento. No entanto, foi concebido para ser, desde dade Imperial. Tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio His-
sempre, um teatro, pelo desejo expresso de seu idealizador, Gio- tórico, a Avenida Koeler é passagem obrigatória para os turistas.
vanni D´Ângelo. Lá estão o Palácio Rio Negro; o suntuoso Hotel Solar do Império,
O conjunto pertencia à Empresa D`Ângelo e Cia., que lançou antigo Solar D. Afonso; o Palácio Sérgio Fadel, sede da Prefeitura;
conjuntamente um luxuoso prédio de apartamentos: o Edifício a Casa da Princesa Isabel, entre outras preciosidades, que fazem
D´Ângelo. Os jornais da época destacam a festa de inauguração, da avenida uma verdadeira joia arquitetônica por possuir, em sua
acontecimento marcante em uma Petrópolis que, em plena Repú- extensão, todos os estilos da época.
blica Velha, ainda mantinha o status de polo cultural, herdado do
Período Imperial.

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
Situada entre dois pontos turísticos importantes - a Praça da CLIMA
Liberdade e a Catedral São Pedro de Alcântara - a avenida margeia Nas áreas serranas (C), o relevo atua como fator importante
o Rio Quitandinha que torna o local uma das mais belas vistas ur- no aumento da turbulência do ar (ascendência orográfica), prin-
bano-paisagísticas de Petrópolis. cipalmente na passagem de frentes frias e linhas de instabilidade
(B), quando o ar se eleva e perde temperatura(D), ocasionando
fortes e prolongadas chuvas. A posição geográfica de proximidade
GEOGRAFIA DE PETRÓPOLIS: LOCALIZAÇÃO, com o trópico permite uma forte radiação solar, e a proximidade
ALTITUDE, CLIMA, FAUNA, FLORA, POPULAÇÃO, com a superfície oceânica (A), permite o processo de evaporação,
PRINCIPAIS ACIDENTES GEOGRÁFICOS: ELEVAÇÕES, favorecendo a formação de nuvens que irão provocar as precipi-
RIOS, AVENIDAS E RUAS NO TRAÇADO DA PRIMEIRA tações sobre a Região.
CIDADE PLANEJADA DO BRASIL

Petrópolis está localizada no topo da Serra da Estrela, perten-


cente ao conjunto montanhoso da Serra dos Órgãos, a 845 metros
de altitude média, com sua sede a 810 acima do nível do mar to-
mando como orientação o Obelisco dos Colonizadores Germâni-
cos no centro da Rua do Imperador, Centro Histórico. Segundo os
Decretos‐Lei nº 1.056/43 e 1.255/87, o Município tem como limi-
tes: ao Norte, São José do Vale do Rio Preto; a Leste, Teresópolis,
Guapimirim e Magé; ao Sul, Duque de Caxias e Miguel Pereira; e a
Oeste, Paty de Alferes, Paraíba do Sul e Areal.

O Município de Petrópolis permanece a maior parte do ano


sob o domínio da Massa Tropical Atlântica, originada do Anticiclo-
ne Semifixo do Atlântico. Essa massa possui como características
temperatura e umidades elevadas, e aspectos de homogeneida-
de e estabilidade em consequência de sua constante subsidên-
cia superior e inversão de temperatura. Sua atuação é constante
por todo o ano. A distribuição das precipitações ao longo do ano
(cerca de 2.200 mm anuais) está apresentada na figura a seguir,
podendo se identificar o período chuvoso de novembro a março.
Verifica-se que o mês mais seco é julho, e que as chuvas têm início
no mês de agosto. A temperatura no Município é amena, com mé-
dia anual em torno dos 19°C. No mês mais quente, a temperatura
média pode atingir os 23°C e a média do mês mais frio é de 15°C.

POPULAÇÃO
População de 306.6787 habitantes (estimativa do IBGE para
2020). A maior parte da população está localizada no primeiro
distrito.

RELEVO / GEOMORFOLOGIA
O relevo de Petrópolis seguiu a conformação do Vale da Serra
da Estrela, seu entorno é marcado por um relevo rico onde se des-
tacam encostas abruptas e montanhas de largas pedreiras. Além
disso, Petrópolis abriga, em conjunto com os Municípios de Magé,
Guapimirim e Teresópolis, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Petrópolis conta com duas importantes estradas federais, O Município de Petrópolis faz parte da Região das Escarpas e
permitindo a sua ligação com os maiores centros consumidores Reversos da Serra do Mar, inserida em uma das quatro unidades
do país: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. que compõem esta região, a Unidade Geomorfológica da Serra
dos Órgãos. As rochas encontradas na região são predominan-
temente pertencentes ao complexo granítico – gnáissico - mig-
matítico de idade Pré-Cambriana. Nessas rochas encontram-se
frequentes fraturas e falhas de extensão regional, com fortes con-
sequências na topografia, pois toda região de abrangência destas
unidades foi submetida aos mesmos eventos tectônicos, durante
a era de sua formação.
Essas estruturas geológicas regionais desempenham um im-
portante papel na organização da rede de drenagem e na forma-
ção do relevo Municipal.

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
VEGETAÇÃO Koeler planejou a povoação próximo aos rios tomando certa
A região de Serrana possui vegetação tropical de altitude e distância das margens dos rios para evitar a poluição das águas
está cercada por 50% por Mata Atlântica. A vegetação remanes- com o esgoto das casas.
cente abrange a totalidade de vegetação primária e secundária
em estágio inicial, médio e avançado de regeneração. A EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE TRANSPORTES;
Segundo dados do Zoneamento da Área de Proteção Ambien- BONDES EM PETRÓPOLIS; ÔNIBUS E AUTOMÓVEIS
tal (APA) Petrópolis, os trechos da floresta mais preservados estão EM PETRÓPOLIS; REGRAS DE TRÂNSITO; OS TIPOS
em sua maior parte restritos às áreas de relevo acidentado. Boa DE SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO; TRÂNSITO: DE
parte da mata original foi substituída por culturas e campos an- MULAS E CARROÇAS PARA CARROS; PRINCIPAIS
trópicos. Nas áreas devastadas e depois abandonadas é comum NORMAS DE TRÂNSITO PARA PEDESTRES; NORMAS
a ocorrência de florestas secundárias em diversos estágios suces- DE COMPORTAMENTO E RESPONSABILIDADE DOS
sionais. MOTORISTAS NO TRÂNSITO; ATENÇÃO CICLISTA;
LEI SECA; TRÂNSITO: FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA
PRINCIPAIS ACIDENTES MONTANHOSOS E VELOCIDADE; TRÂNSITO E CIDADANIA:
Serras da Estrela, dos Órgãos e das Araras. O centro urbano de ACESSIBILIDADE; ACIDENTES DE TRÂNSITO;
Petrópolis está localizado no alto da serra da Estrela, cujo nome TRANSPORTE COLETIVO: ATITUDES PARA UM
foi dado pelos viajantes do Caminho do Ouro da Estrada Real, no TRÂNSITO MAIS HUMANO; SEMANA NACIONAL DE
século XVIII, graças à visão da estrela Vésper. EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO; PROBLEMAS COM O
TRÂNSITO: CONGESTIONAMENTO X TRANSPORTE
Picos Principais: PÚBLICO
- Açú: com 2.230m na divisa com Petrópolis e Magé.
- Alcobaça: com 1.811m no bairro do mesmo nome, distrito TRÂNSITO: DE MULAS E CARROÇAS PARA CARROS
de Cascatinha. Desde o descobrimento do Brasil em 1500 e até 1700, a Serra
- Maria Comprida: com 1.926m em Araras onde segundo a Estrela, salvo alguma sondagem exploratória, era desconhecida
lenda local, vive o saci assustando aqueles que querem escalar a dos portugueses por causa do enorme paredão montanhoso de
montanha. 1000m de altura que tinha que ser vencido e também pela pre-
- Taquaril: com 1.869m na divisa de Pedro do Rio. sença de índios bravios que habitavam serra acima.
Somente quando os bandeirantes paulistas descobriram ouro
RIOS nas Minas Gerais é que foi aberto o Caminho Novo, em 1704, para
facilitar a viagem até as vilas mineradoras. O caminho era “novo”
porque havia um outro, o “velho”, desde 1630, constituído de
trilhas e picadas, muito longo e de difícil trânsito, aberto pelos
bandeirantes, saindo de São Paulo e seguindo pelo vale do Rio
Paraíba.
O Caminho Novo foi aberto por Garcia Rodrigues Paes, um
velho bandeirante que conhecia muito bem a região e subia a
serra por onde hoje é a vila de Xerém, na Baixada Fluminense,
seguindo por ali em direção a Paraíba do sul e depois Juiz de Fora
e chegando à região de Ouro Preto, antiga Vila Rica. Em l724, foi
aberta por Bernardo Proença, um rico fazendeiro de Suruí, na Bai-
xada Fluminense, a Variante do Caminho Novo para subir a Serra
da Estrela evitando a perigosa e acidentada passagem por Xerém.
Proença escolheu a atual Serra Velha pelo bairro do Alto da Serra,
de trânsito muito mais fácil e seguro.
A terceira via primitiva de comunicação para as viagens do Rio
a Petrópolis foi a construção da “Calçada das Lajes Soltas de Dom
João VI”. A Estrada também é conhecida como “Calçada de Pedra
do Inhomirim” ou “Caminho do Ouro” e percorre praticamente
a mesma picada de Bernardo Soares Proença (...). Foi concluída
em 1809 e inaugurada pelo imperador durante viagem que fez à
Baixada a fim de conhecer as obras que ordenava para a remode-
O principal rio de Petrópolis é o rio Piabanha, com 74 km de lação do obsoleto Caminho Novo.
extensão e pertencente à bacia do rio Paraíba do Sul, a maior do A subida por toda a Calçada de Pedra até Alto da serra ain-
Estado do Rio de Janeiro. O rio Piabanha nasce no Retiro. Piaba- da trazia dificuldades, pois a via possui muitas curvas fechadas e
nha é uma palavra Tupi que significa:” o que é manchado”. Os rios como ficava praticamente coberta pela Mata Atlântica, permane-
Palatino e Quitandinha atingem o seu ponto de confluência na rua cia por tempo úmida e escorregadia. A Calçada foi construída por
do Imperador, em frente ao Obelisco. Defronte ao Palácio de Cris- escravos em três divisões. Nas extremidades e na parte central
tal, os dois rios se fundem, passando a se chamar Piabanha.O rio possuía grandes blocos pedras que pesavam aproximadamente
Quitandinha nasce nas montanhas da antiga fazenda deste nome 150 quilos cada um,e ainda pedras menores para a junção das
e desce para o centro da cidade.O rio Palatinato é o antigo Cór- maiores.
rego Seco que dava nome a fazenda que existia aqui. Nasce no As pedras maiores foram colocadas de forma que auxiliassem
Morin e desce até o centro passando por trás da antiga Estação as rodas de uma carroça A Calçada de Pedra do Inhomirim, com
Rodoviária, indo encontrar-se com o Quitandinha. calçamento ainda hoje preservado e tombado pelo Instituto Esta-
dual do Patrimônio Artístico e Cultural, o INEPAC, segundo infor-

152
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
mação de José Soares de Souza no volume do Instituto Histórico Atualmente, os desafios do trânsito não são mais mulas e
e Geográfico Brasileiro citado por Eugênio Toulois em l994, “re- carroças, mas as milhares de pessoas em todo o mundo morrem
cebeu um pesado transito de 150.000 animais por ano, e foi con- no trânsito. Excesso de velocidade, álcool, falta de manutenção
siderada na época uma portentosa obra da engenharia brasileira veicular, falta de sinalização são alguns dos motivos que podem
recebendo elogios até l850, quando foi substituída pela Estrada causar graves acidentes, muitos que podem ser evitados.
Normal da Estrela”. “Porém, a via foi utilizada até que fosse con- A violência no trânsito é responsável pela terceira maior cau-
solidada a pavimentação da nova via principal”. sa de mortes no Brasil, ficando atrás apenas das mortes causadas
por doença do coração e doenças como o câncer. A cada ano, o
Bondes número de mortes aumenta, colocando o país entre os que mais
A história dos bondes em Petrópolis foi curta. Começou em registram mortes em acidentes de trânsito no mundo. Os dados
1912, já com veículos elétricos, como se vê na foto abaixo, de au- estatísticos mostram que aproximadamente 40mil brasileiros são
tor desconhecido, tomada na inauguração da via. Petrópolis nun- mortos por ano no trânsito e esses dados não são precisos, tendo
ca teve bondes detração animal sobre trilhos, mas comprou 12 em vista que para os dados estatísticos consideram-se apenas as
veículos usados pela companhia Carris Urbanos no Rio de Janeiro mortes ocorridas no local do acidente, ou seja, aquelas vítimas
em 1885, usando-os com rodas de madeira até cerca de 1900, que são hospitalizadas e que posteriormente venham a falecer
segundo os pesquisadores tadunidense. Em 1911, a Companhia não estão incluídas, o que nos leva a crer que infelizmente o nú-
Brasileira de Energia Eléctrica encarregou Eduardo mero de mortes é ainda maior.
Guinle de construir uma linha de bondes elétricos e enco- Para tentar mudar esse quadro, os governantes concentram
mendou 12 bondes fechados à indústria J. G. Brill. Parte da rota esforços para reduzir os índices dessa realidade trabalhando na
Cascatinha foi inaugurada em 13/12/1912 e o restante em 1913, criação de novas leis e ações preventivas.
usando bitola métrica, em apenas um lado do canal, com os bon-
des circulando pela rota, entre o rio e a via pavimentada. Petrópo-
lis foi a primeira cidade brasileira a ficar sem bondes! Os veículos
foram vendidos para o sistema de bondes da cidade de Campos,
onde operaram até 1964. A construção de um sistema de trólebus
em Petrópolis começou em 1952, mas o projeto foi abandonado e
os veículos, que tinham sido construídos na França pela empresa
Vetra, foram remanejados para Niterói.

Ônibus
A empresa UTIL, União dos Transportes Interurbanos de Luxo,
surgiu em Petrópolis, em 1950, mas mudou sua sede para Juiz de
Fora, onde permanece até a atualidade. As viagens inauguram-se
em abril de 1957, com o serviço de transporte de passageiros por
ônibus entre Petrópolis e Rio de Janeiro.
“Faça o Mínimo. Pelo Máximo – Eu Respeito a Vida” é o tema
Automóveis da campanha de prevenção de acidentes de trânsito lançada na
O primeiro automóvel mesmo, de motor a explosão, do Rio, Semana Nacional do Trânsito pelo prefeito Rubens Bomtempo em
foi de Fernando Guerra Duval, então estudante de engenharia. O setembro de 2014. A iniciativa faz parte do Plano Municipal de
carro era um “Decauville” e aqui circulou em agosto de 1990. Seu Redução de Acidentes no Trânsito.
motor a gasolina era de 2 cilindros. Na falta do combustível, Guer-
ra Duval ia às farmácias e comprava benzina. O carro era aberto,
sem capota. O escapamento era livre e fazia muito barulho. Em
lugar do volante, a direção era em forma de guidon de bicicleta.
O carro de Guerra Duval foi um sucesso no Rio e nas adjacências,
porque ele não circulou apenas na Capital. Andou também em
Petrópolis – para onde foi numa prancha da Estrada de Ferro, pois
não havia estrada – e causou espanto aos vranistas da pacata e
fria Cidade Imperial.

TRÂNSITO
O início da história de Petrópolis está associado ao percurso
percorrido pelos tropeiros, que ligava o interior (Minas Gerais) até
o porto do Rio Janeiro. Era o caminho oficial e exclusivo para o es-
coamento do ouro. Aos tropeiros em trânsito pelo Caminho Novo,
havia um rancho para pousada e uma venda. A Fazenda da Man-
dioca era favorável à recuperação dos tropeiros e dos animais,
pois tinha um riacho próximo e pastagens vizinhas. A fazenda foi
desapropriada em 1826 para que fosse construída em seus terre-
nos a Real Fábrica de Pólvora da Estrela.

153
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
torna o pedestre fisicamente ativo, gerando benefícios na quali-
dade de vida e colaborando na redução de gastos em transportes.
Porém, é preciso considerar alguns cuidados na hora de adotar os
pés como meio de transporte.
A primeira dica é uma das mais importantes: o pedestre sem-
pre tem prioridade em relação ao carro. Lembre-se disso sempre
que estiver no trânsito, o sinal abrir e o pedestre não tiver termi-
nado a travessia.
• O pedestre tem o direito de utilizar os passeios ou passa-
gens apropriadas das vias urbanas e dos acostamentos das vias
rurais para circulação.
• Quando não houver calçada ou não for possível utilizá-la, o
pedestre tem prioridade para circular na rua, em fila única, pelas
bordas da pista, em sentido contrário ao deslocamento de veícu-
los, exceto se a sinalização proibir.
• O ciclista que estiver desmontado, empurrando a bicicleta,
tem os mesmos direitos e deveres do pedestre comum.
• Os pedestres que estiverem atravessando a via nas as faixas
delimitadas para essa finalidade, terão prioridade de passagem,
exceto nos locais com sinalização semafórica, que devem ser res-
peitadas.

Obrigações dos pedestres


- Olhar para os dois lados antes de atravessar uma via.
- Aguardar a passagem do veículo ou sua parada.
- Atravessar sempre em linha reta, sem correr.
- Olhar atentamente para os lados ao descer de um carro ou
ônibus.
- Atravessar sempre na faixa de pedestre.

INTERAÇÃO SOCIAL NO TRÂNSITO


Uma vez que o homem está em constante comunicação com
o ambiente e os indivíduos, é nesse relacionamento que ele en-
contra a sua realização e a satisfação de suas necessidades. O con-
dutor do veículo automotor, o passageiro, o pedestre, o ciclista, o
cavaleiro, o carroceiro, o catador de papel, etc. estão constante-
mente em processo de interação social. Comunicam-se, enfren-
tam problemas de trânsito (estacionamento, engarrafamentos,
horários a cumprir, problemas com o veículo) e fazem uso dos di-
reitos e deveres comuns a todos. Para promover a interação social
no trânsito, é necessário:
• Aceitar a legislação (conhecer e cumprir) e as regras de cir-
culação e conduta.
• Abrir mão, quando necessário, dos seus direitos para res-
peitar o direito alheio.
• Ajudar-se mutuamente a fim de evitar ou solucionar proble-
mas de trânsito.

NORMAS DE COMPORTAMENTO E RESPONSABILIDADES


DOS MOTORISTAS NO TRÂNSITO
As Normas Gerais definem o comportamento correto dos
usuários das vias terrestres, principalmente dos condutores de
veículos. Apesar de serem procedimentos básicos, que todo con-
dutor deveria saber praticar, os erros em manobras, extremamen-
te frequentes, são os responsáveis por grande parte das infrações
e acidentes.
Muitas das Normas de Conduta foram criadas tendo como
objetivo a segurança no trânsito. Há, porém, uma grande diferen-
ça: ao desrespeitar uma norma de circulação e conduta, o con-
dutor estará cometendo uma infração ou crime, sujeitando-se a
Principais normas de trânsito para pedestres multas, medidas administrativas e outras penalidades.
Não importa se você tem carro ou não: na essência você é O bom comportamento no trânsito, o comportamento cor-
pedestre, seja quando opta por um trajeto completo, seja por um reto e educado, que promove a segurança e a tranquilidade de
parcial. Caminhar não é apenas para chegar a algum lugar. Isso todos, é resultante da boa educação do grupo e em outros setores

154
HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
da vida diária. Existem, porém, algumas atitudes, que você pode objetivo da ciclofaixa é estimular a prática de exercícios físicos e o
incorporar ao seu modo de conduzir, que farão com que o trânsito uso de um transporte alternativo. O governo municipal informou
se torne mais humano, seguro e educado. que outras ciclofaixas serão demarcadas nos próximos meses. O
• Ao invés de acelerar quando um condutor pede passagem, espaço reservado para as bicicletas foi um pedido da sociedade,
diminua a velocidade e deixe-o passar. Você não está disputando que chegou a organizar um “pedalaço” no dia 6 de abril. Cerca de
um lugar no pódio. 50 pessoas participaram do movimento.
• Em vez de trafegar lentamente pela esquerda, dificultando
as ultrapassagens, mude de faixa andando pela direita, você tam-
bém chega lá.
• Em vez de buzinar excessivamente no trânsito, mantenha a
calma. Você conhece alguém que goste de buzina?
• Em vez de correr na chuva, ignorando o risco da pista mo-
lhada, diminua sempre a velocidade. O aumento de acidentes,
com tempo ruim, não é mera coincidência.
• Em vez de ficar atrás de um carro, que está indicando que
vai virar à esquerda, ultrapasse pela direita. Esta é a única exceção
à regra de ultrapassagem.
• Em vez de carregar o capacete no braço, use a cabeça. Segu-
rança nunca é demais.
• Ao invés de “furar” o sinal que acabou de ficar vermelho,
aproveitando a lógica insensata de que “o pedestre espera”, pare
o carro na faixa.
Normas de conduta para os ciclistas no trânsito
• não use a bicicleta da mesma forma que se usa um veículo
motorizado
• o caminho mais seguro para a bicicleta pode ser diferente
do automóvel

Nada é mais seguro que:


1. usar o bom senso - use e abuse
2. ser cordial e simpático
3. ser bem visível
4. olhar lá na frente e antecipar os acontecimentos
5. sinalizar bem suas intenções

Sempre!
1. usar equipamento bom
2. ser o mais suave possível na condução da bicicleta TRÂNSITO E CIDADANIA: ACESSIBILIDADE
3. preservar energia para o momento necessário Acessibilidade, de acordo com informações do Governo Fede-
4. respeitar os outros e muito em especial os pedestres 5 ral, significa permitir que pessoas com deficiências ou mobilida-
. pedalar à direita, em linha reta a 1 metro dos obstáculos de reduzida alcancem e utilizem, com segurança e autonomia, os
espaços urbanos e edificações e, assim, participem de atividades
Onde os acidentes acontecem? que incluem o uso de produtos, serviços e informação. Hoje, es-
• 95% dos acidentes acontecem nos cruzamentos e esquinas tima-se que mais de 24,5 milhões de Brasileiros possuem alguma
• na contramão deficiência. No que diz respeito ao trânsito, significa ter ônibus
• é muito difícil colisão por trás do ciclista (não fique olhando e automóveis adaptados, guias rebaixadas e marcações nas cal-
para trás) çadas, semáforos com sinais sonoros, supressão de todo tipo de
barreiras no caminho, entre outros.
Nunca!
• contramão NÃO! É a situação mais perigosa para o ciclista Estacionamentos
• bebida definitivamente não dá pedal Estacionamentos externos ou internos das edificações de uso
público ou de uso coletivo, ou naqueles localizados nas vias públi-
Uma vida de qualidade: cas, são reservados, pelo menos, dois por cento do total de vagas
• hidratação constante; alimentação e alongamentos corre- para veículos que transportem pessoa portadora de deficiência fí-
tos; dormir bem e ser feliz! sica ou visual. No mínimo, uma dessas vagas deve ser demarcada
• repense seu bairro, cidade ou área. em locais próximos à entrada principal ou ao elevador, de fácil
acesso à circulação de pedestres, com especificações técnicas de
A instalação da ciclofaixa, na Avenida Barão do Rio Branco, desenho e traçado conforme o estabelecido nas normas técnicas
gerou uma série de discussões sobre o assunto nos últimos dias. de acessibilidade da ABNT.
A iniciativa chamou a atenção da mídia petropolitana, das redes
sociais e até da OAB Petrópolis. A questão da segurança no local, Adaptações para transportes coletivos
tanto para quem frequenta a ciclofaixa, quanto para os próprios Cada meio de transporte possui suas necessidades de adap-
motoristas, foi o que motivou o publicitário David Faraco, da Do It tação. Nos meios de transporte rodoviários, por exemplo, é obri-
Comunicação, a promover uma campanha de conscientização. O gatório que haja assentos reservados para deficientes e para seus

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HISTÓRIA, GEOGRAFIA, TURISMO E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO DE PETRÓPOLIS
acompanhantes. Além disso, elevadores ou rampas auxiliam o OS TIPOS DE SINALIZAÇÃO UTILIZADOS EM TRÂNSITO SÃO:
transporte de deficientes físicos que utilizem cadeira de rodas no 1° SONORA – por buzina (veículo), apito (policial ou agente de
momento de embarque e desembarque. trânsito) e por sirene (veículos de emergência)
De acordo com a Lei Federal nº 8.899, é concedido passe livre 2° LUMINOSA - semáforo, faróis, lanternas e setas dos veícu-
às pessoas portadoras de deficiência, comprovadamente caren- los, adesivos retro refletores e luzes de alerta intermitentes dos
tes, no sistema de transporte coletivo interestadual. As empresas veículos de emergência.
devem reservar duas vagas nos ônibus para passageiros com essas 3° HORIZONTAL – são as faixas e símbolos pintados nas ruas,
características. avenidas e rodovias, também em áreas reservadas de estaciona-
Para o transporte aéreo comercial, foi produzida uma norma mento e guias de calçadas.
que estabelece, entre outras obrigatoriedades e recomendações, 4° VERTICAL – são as placas fixadas em poste ou suporte ver-
que seja destinado assento de corredor, com braços removíveis tical em rodovias, ruas e avenidas.
ou escamoteáveis, para pessoas em cadeiras de rodas. 5° POR GESTO – esta é executada pela polícia ou agente de
trânsito. Vale lembrar que prevalece sobre todas as outras.

Placas de advertência: têm, na maioria das vezes, formato


retangular, fundo amarelo e letras ou símbolos na cor preta. Estas
placas avisam o motorista de situações que ele encontrará logo
adiante e às quais deve se estar bem atento para evitar acidentes.

Placas de indicação: possuem formatos e cores diversos, mas


todas têm como função orientar e dar localização ao motorista.

Semáforos: sua função é controlar, ao mesmo tempo, o fluxo


de veículos e pedestres, controlar somente o fluxo de veículos ou
PROBLEMAS COM O TRÂNSITO: CONGESTIONAMENTOS X apenas o fluxo de pedestres.
TRANSPORTES PÚBLICOS
Até os anos 1950, bondes e trens eram os transportes mais Referências bibliográficas:
populares. As distâncias a percorrer eram pequenas e o sistema Disponível em https://www.petropolis.rj.gov.br
público atendia às necessidades da maioria. Incomodava, porém, Disponível em https://educaemcasa.petropolis.rj.gov.br/uploads/
quem tinha dinheiro para importar carros. Esses queriam mais es-
paço na rua. Afirmavam que bondes “atrapalhavam o trânsito”. Pedagógico Material integrado de História, Geografia, Turis-
A popularização do automóvel significou o quase abandono mo e Educação para o Trânsito de Petrópolis Ensino Fundamental
do transporte coletivo. Esse cenário só mudaria de rumo nos anos 6º ano ao 9º ano
1990, quando prefeituras apostaram na melhoria do transporte Petrópolis Imperial Press Kit
público como solução para os congestionamentos – Curitiba foi a
maior vitrine. A receita consistia na adoção de bilhetes que valem ANOTAÇÕES
por mais de uma viagem, pistas de ônibus exclusivas e uma tabela
de horários confiável. ______________________________________________________
Os congestionamentos custam muito dinheiro, prejudicam a
saúde da população e atrapalham o crescimento do país. Portan- ______________________________________________________
to, resolver (ou amenizar) o problema não é apenas uma questão
______________________________________________________
de conforto e bem estar - é também um importante incentivo ao
desenvolvimento econômico e social. ______________________________________________________

LEI SECA ______________________________________________________


A Lei Seca foi promulgada em 2008 com objetivo de reduzir
os acidentes provocados por motoristas embriagados no Brasil, ______________________________________________________
endurecendo as punições contra quem bebe antes de pegar o vo-
lante. ______________________________________________________
No Brasil, porém, não se pode obrigar um suspeito a produzir
______________________________________________________
provas contra si mesmo. Agora, o futuro da Lei Seca está nas mãos
do Supremo Tribunal Federal. Uma ação direta de inconstitucio- ______________________________________________________
nalidade questiona o artigo, que fixa o limite de álcool no sangue
e a possibilidade de recusa do teste do bafômetro. Números dão ______________________________________________________
uma ideia da gravidade do problema que o STF tem em mãos: em
2011, 18% dos brasileiros declararam ter bebido cinco ou mais ______________________________________________________
doses em uma única noitada no mês anterior. Desses, 10% admiti-
ram ter voltado para casa guiando. Atualmente, o Brasil é o quinto ______________________________________________________
país com o maior número de vítimas no trânsito, atrás apenas de
Índia, China, Estados Unidos e Rússia. ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)

TÍTULO III
LEI Nº 9.394/96 (LEI DE DIRETRIZES E BASES DA Do Direito à Educação e do Dever de Educar
EDUCAÇÃO NACIONAL) E SUAS ALTERAÇÕES
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: (Redação
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
TÍTULO I c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
Da Educação II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos
de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se de- III - atendimento educacional especializado gratuito aos edu-
senvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e or- e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis,
ganizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensi-
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, no; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do traba- para todos os que não os concluíram na idade própria; (Redação
lho e à prática social. dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da
TÍTULO II criação artística, segundo a capacidade de cada um;
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições
do educando;
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos,
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem com características e modalidades adequadas às suas necessidades
por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. condições de acesso e permanência na escola;
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes prin- VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da edu-
cípios: cação básica, por meio de programas suplementares de material
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es- didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; (Re-
cola; dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultu- IX – padrões mínimos de qualidade do ensino, definidos como
ra, o pensamento, a arte e o saber; a variedade e a quantidade mínimas, por aluno, de insumos indis-
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; pensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendiza-
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; gem adequados à idade e às necessidades específicas de cada estu-
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; dante, inclusive mediante a provisão de mobiliário, equipamentos
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; e materiais pedagógicos apropriados; (Redação dada pela Lei nº
VII - valorização do profissional da educação escolar; 14.333, de 2022)
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino
e da legislação dos sistemas de ensino; fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir
IX - garantia de padrão de qualidade; do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. (Incluído pela Lei
X - valorização da experiência extraescolar; nº 11.700, de 2008).
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práti- Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, durante o
cas sociais. período de internação, ao aluno da educação básica internado para
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tem-
pela Lei nº 12.796, de 2013) po prolongado, conforme dispuser o Poder Público em regulamen-
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo to, na esfera de sua competência federativa. (Incluído pela Lei nº
da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018) 13.716, de 2018).
IV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural e iden- Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direito público
titária das pessoas surdas, surdo-cegas e com deficiência auditiva. subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associa-
(Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) ção comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra

157
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o § 3ºAs instituições de ensino implementarão progressivamen-
poder público para exigi-lo. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de te, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e adaptações necessá-
2013) rias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas neste
§ 1o O poder público, na esfera de sua competência federativa, artigo.(Incluído pela Lei nº 13.796, de 2019) (Vigência)
deverá: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 4ºO disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em idade que se refere o art. 83 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.796, de
escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram a educa- 2019)(Vigência) (Vide parágrafo único do art. 2)
ção básica; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
II - fazer-lhes a chamada pública; TÍTULO IV
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à es- Da Organização da Educação Nacional
cola.
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público as- Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
segurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nos organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de
termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e ensino.
modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de
legais. educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais
tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na hipótese instâncias educacionais.
do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos
sumário a ação judicial correspondente. termos desta Lei.
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento)
garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela ser impu- I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com
tada por crime de responsabilidade. os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensi- II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições ofi-
no, o Poder Público criará formas alternativas de acesso aos diferen- ciais do sistema federal de ensino e o dos Territórios;
tes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior. III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus
crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade. sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obri-
(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) gatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva;
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguin- IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Fe-
tes condições: deral e os Municípios, competências e diretrizes para a educação
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e do infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os
respectivo sistema de ensino; currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar forma-
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade ção básica comum;
pelo Poder Público; IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos para identifica-
art. 213 da Constituição Federal. ção, cadastramento e atendimento, na educação básica e na edu-
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de cação superior, de alunos com altas habilidades ou superdotação;
ensino pública ou privada, de qualquer nível, é assegurado, no exer- (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
cício da liberdade de consciência e de crença, o direito de, mediante V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educa-
prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula ção;
marcada para dia em que, segundo os preceitos de sua religião, seja VI - assegurar processo nacional de avaliação do rendimento
vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe atribuir, a cri- escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração
tério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades
prestações alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. e a melhoria da qualidade do ensino;
5º da Constituição Federal: (Incluído pela Lei nº 13.796, de 2019) VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-gra-
(Vigência) duação;
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realiza- VIII - assegurar processo nacional de avaliação das instituições
da em data alternativa, no turno de estudo do aluno ou em outro de educação superior, com a cooperação dos sistemas que tiverem
horário agendado com sua anuência expressa; (Incluído pela Lei nº responsabilidade sobre este nível de ensino;
13.796, de 2019) (Vigência) IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar,
II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pes- respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e
quisa, com tema, objetivo e data de entrega definidos pela institui- os estabelecimentos do seu sistema de ensino. (Vide Lei nº 10.870,
ção de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.796, de 2019) (Vigência) de 2004)
§ 1ºA prestação alternativa deverá observar os parâmetros cur- § 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional
riculares e o plano de aula do dia da ausência do aluno. (Incluído de Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade
pela Lei nº 13.796, de 2019) (Vigência) permanente, criado por lei.
§ 2ºO cumprimento das formas de prestação alternativa de que § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a União
trata este artigo substituirá a obrigação original para todos os efei- terá acesso a todos os dados e informações necessários de todos os
tos, inclusive regularização do registro de frequência. (Incluído pela estabelecimentos e órgãos educacionais.
Lei nº 13.796, de 2019)(Vigência) § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser delega-
das aos Estados e ao Distrito Federal, desde que mantenham insti-
tuições de educação superior.
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:

158
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições ofi- IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de
ciais dos seus sistemas de ensino; combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na ofer- sistemática (bullying), no âmbito das escolas;(Incluído pela Lei nº
ta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição 13.663, de 2018)
proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz
ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma des- nas escolas.(Incluído pela Lei nº 13.663, de 2018)
sas esferas do Poder Público; XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em de prevenção e enfrentamento ao uso ou dependência de drogas.
consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, in- (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
tegrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios; Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabe-
respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e lecimento de ensino;
os estabelecimentos do seu sistema de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta
V - baixar normas complementares para o seu sistema de en- pedagógica do estabelecimento de ensino;
sino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos;
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de
o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto menor rendimento;
no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009) V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento,
(Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competên- VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as
cias referentes aos Estados e aos Municípios. famílias e a comunidade.
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições ofi- democrática do ensino público na educação básica, de acordo com
ciais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e pla- as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
nos educacionais da União e dos Estados; I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; projeto pedagógico da escola;
III - baixar normas complementares para o seu sistema de en- II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
sino; escolares ou equivalentes.
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escola-
do seu sistema de ensino; res públicas de educação básica que os integram progressivos graus
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira,
com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em ou- observadas as normas gerais de direito financeiro público.
tros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plena- Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: (Regulamen-
mente as necessidades de sua área de competência e com recursos to)
acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Fede- I - as instituições de ensino mantidas pela União;
ral à manutenção e desenvolvimento do ensino. II - as instituições de educação superior mantidas pela iniciativa
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. privada;(Redação dada pela Lei nº 13.868, de 2019)
(Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) III - os órgãos federais de educação.
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal
integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sis- compreendem:
tema único de educação básica. I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: II - as instituições de educação superior mantidas pelo Poder
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Público municipal;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e finan- III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas e
ceiros; mantidas pela iniciativa privada;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula es- IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, res-
tabelecidas; pectivamente.
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada do- Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de educa-
cente; ção infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, integram seu
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor ren- sistema de ensino.
dimento; Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando pro- I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação
cessos de integração da sociedade com a escola; infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela
se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimen- iniciativa privada;
to dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica III – os órgãos municipais de educação.
da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009) Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classi-
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos ficam-se nas seguintes categorias administrativas: (Regulamento)
alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta (Regulamento)
por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, man-
nº 13.803, de 2019) tidas e administradas pelo Poder Público;

159
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por
pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão par-
III - comunitárias, na forma da lei.(Incluído pela Lei nº 13.868, cial, desde que preservada a sequência do currículo, observadas as
de 2019) normas do respectivo sistema de ensino;
§ 1º As instituições de ensino a que se referem os incisos II e IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de sé-
III do caput deste artigo podem qualificar-se como confessionais, ries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria,
atendidas a orientação confessional e a ideologia específicas. (Inclu- para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componen-
ído pela Lei nº 13.868, de 2019) tes curriculares;
§ 2º As instituições de ensino a que se referem os incisos II e III V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes
do caput deste artigo podem ser certificadas como filantrópicas, na critérios:
forma da lei.(Incluído pela Lei nº 13.868, de 2019) a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno,
Art. 20. (Revogado pela Lei nº 13.868, de 2019) com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e
dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
TÍTULO V finais;
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com
atraso escolar;
CAPÍTULO I c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante ve-
Da Composição dos Níveis Escolares rificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino fun- paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento es-
damental e ensino médio; colar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em seus
II - educação superior. regimentos;
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o
CAPÍTULO II disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de
DA EDUCAÇÃO BÁSICA ensino, exigida a frequência mínima de setenta e cinco por cento do
total de horas letivas para aprovação;
Seção I VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escola-
Das Disposições Gerais res, declarações de conclusão de série e diplomas ou certificados de
conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino médio,
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no tra- para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de ensino ofe-
balho e em estudos posteriores. recer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anu- de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. (Incluído pela Lei
ais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de nº 13.415, de 2017)
estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência § 2o Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de educação
e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre de jovens e adultos e de ensino noturno regular, adequado às con-
que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar. dições do educando, conforme o inciso VI do art. 4o. (Incluído pela
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se Lei nº 13.415, de 2017)
tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsá-
no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. veis alcançar relação adequada entre o número de alunos e o pro-
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades fessor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento.
locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista
sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas das condições disponíveis e das características regionais e locais,
previsto nesta Lei. estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino funda-
será organizada de acordo com as seguintes regras comuns: mental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para o complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabeleci-
ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas por um mí- mento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caracterís-
nimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo ticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos
reservado aos exames finais, quando houver; (Redação dada pela educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
Lei nº 13.415, de 2017) § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática,
do ensino fundamental, pode ser feita: o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveita- política, especialmente do Brasil.
mento, a série ou fase anterior, na própria escola; § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões re-
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras gionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação
escolas; básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
c) independentemente de escolarização anterior, mediante § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógica da
avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento escola, é componente curricular obrigatório da educação básica,
e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou eta- sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação dada pela Lei nº
pa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de 10.793, de 1º.12.2003)
ensino;

160
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis ho- I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos
ras; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº 10.793, ordem democrática;
de 1º.12.2003) II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em si- cada estabelecimento;
tuação similar, estiver obrigado à prática da educação física; (Incluí- III - orientação para o trabalho;
do pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas des-
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro de portivas não-formais.
1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural,
V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua
VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, espe-
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribui- cialmente:
ções das diferentes culturas e etnias para a formação do povo bra- I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais
sileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia. necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto ano, II - organização escolar própria, incluindo adequação do calen-
será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº 13.415, dário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;
de 2017) III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as lingua- Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indígenas
gens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o e quilombolas será precedido de manifestação do órgão normati-
deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de 2016) vo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa
§ 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério dos sis- apresentada pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico
temas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas trans- do impacto da ação e a manifestação da comunidade escolar. (Inclu-
versais de que trata o caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de ído pela Lei nº 12.960, de 2014)
2017)
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá com- Seção II
ponente curricular complementar integrado à proposta pedagógica Da Educação Infantil
da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas)
horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006, de 2014) Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica,
§ 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até
de todas as formas de violência contra a criança, o adolescente e a 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e so-
mulher serão incluídos, como temas transversais, nos currículos de cial, complementando a ação da família e da comunidade. (Redação
que trata o caput deste artigo, observadas as diretrizes da legisla- dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
ção correspondente e a produção e distribuição de material didá- Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
tico adequado a cada nível de ensino. (Redação dada pela Lei nº I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três
14.164, de 2021) anos de idade;
§ 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluída entre II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos
os temas transversais de que trata o caput. (Incluído pela Lei nº de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
13.666, de 2018) Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de cará- as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
ter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de 2013)
aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desen-
pelo Ministro de Estado da Educação. (Incluído pela Lei nº 13.415, volvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para
de 2017) o acesso ao ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de 2013)
ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distri-
história e cultura afro-brasileira e indígena. (Redação dada pela Lei buída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacio-
nº 11.645, de 2008). nal; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo in- III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diá-
cluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam rias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral;
a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos ét- (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
nicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-es-
luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e colar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do
indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade total de horas; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econô- V - expedição de documentação que permita atestar os proces-
mica e política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela sos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. (Incluído pela
Lei nº 11.645, de 2008). Lei nº 12.796, de 2013)
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira
e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de Seção III
todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artís- Do Ensino Fundamental
tica e de literatura e história brasileiras. (Redação dada pela Lei nº
11.645, de 2008). Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observa- 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis)
rão, ainda, as seguintes diretrizes: anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, me-
diante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

161
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do edu-
meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; cando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema po- adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aper-
lítico, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta feiçoamento posteriores;
a sociedade; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, in-
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo cluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia inte-
em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação lectual e do pensamento crítico;
de atitudes e valores; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de so- dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no
lidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a ensino de cada disciplina.
vida social. Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá direitos
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fun- e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme diretrizes
damental em ciclos. do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas do conheci-
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por mento: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
série podem adotar no ensino fundamental o regime de progres- I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº 13.415,
são continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino- de 2017)
-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº 13.415,
ensino. de 2017)
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela Lei
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de nº 13.415, de 2017)
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei nº
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a 13.415, de 2017)
distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata o caput do
situações emergenciais. art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar harmoni-
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoria- zada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a partir do
mente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adoles- contexto histórico, econômico, social, ambiental e cultural. (Incluí-
centes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, do pela Lei nº 13.415, de 2017)
que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino mé-
produção e distribuição de material didático adequado. (Incluído dio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação física,
pela Lei nº 11.525, de 2007). arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído como § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática será obri-
tema transversal nos currículos do ensino fundamental. (Incluído gatório nos três anos do ensino médio, assegurada às comunidades
pela Lei nº 12.472, de 2011). indígenas, também, a utilização das respectivas línguas maternas.
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte in- (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
tegrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos § 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamente,
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, asse- o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas estran-
gurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas geiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de acor-
quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, do com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
de 22.7.1997) sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos § 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base Nacio-
para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão nal Comum Curricular não poderá ser superior a mil e oitocentas
as normas para a habilitação e admissão dos professores. (Incluído horas do total da carga horária do ensino médio, de acordo com a
pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída 2017)
pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos con- § 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho espera-
teúdos do ensino religioso. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) dos para o ensino médio, que serão referência nos processos na-
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo cionais de avaliação, a partir da Base Nacional Comum Curricular.
menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo pro- (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
gressivamente ampliado o período de permanência na escola. § 7o Os currículos do ensino médio deverão considerar a for-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas mação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado
alternativas de organização autorizadas nesta Lei. para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais. (Incluído pela Lei nº
em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. 13.415, de 2017)
§ 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
Seção IV processual e formativa serão organizados nas redes de ensino por
Do Ensino Médio meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas, semi-
nários, projetos e atividades on-line, de tal forma que ao final do
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com ensino médio o educando demonstre: (Incluído pela Lei nº 13.415,
duração mínima de três anos, terá como finalidades: de 2017)
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos ad- I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presi-
quiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
de estudos; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)

162
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela Base § 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o
Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que deve- ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o siste-
rão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos cur- ma de créditos com terminalidade específica. (Incluído pela Lei nº
riculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibi- 13.415, de 2017)
lidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação dada pela Lei nº § 11. Para efeito de cumprimento das exigências curriculares
13.415, de 2017) do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer com-
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº petências e firmar convênios com instituições de educação a distân-
13.415, de 2017) cia com notório reconhecimento, mediante as seguintes formas de
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº comprovação: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada pela II - experiência de trabalho supervisionado ou outra experiên-
Lei nº 13.415, de 2017) cia adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela Lei nº 13.415,
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada pela de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) III - atividades de educação técnica oferecidas em outras ins-
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº 13.415, tituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº 13.415, de
de 2017) 2017)
§ 1o A organização das áreas de que trata o caput e das respec- IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupacionais;
tivas competências e habilidades será feita de acordo com critérios (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
estabelecidos em cada sistema de ensino. (Redação dada pela Lei V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou
nº 13.415, de 2017) estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela Lei nº
III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de 2008) 13.415, de 2017)
§ 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) § 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de es-
§ 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto iti- colha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional previs-
nerário formativo integrado, que se traduz na composição de com- tas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
ponentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular - BNCC
e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V do caput. Seção IV-A
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
§ 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de vagas
na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio cursar Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Capítulo,
mais um itinerário formativo de que trata o caput. (Incluído pela Lei o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá
nº 13.415, de 2017) prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. (Incluído pela Lei
§ 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação nº 11.741, de 2008)
com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela Lei nº Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, faculta-
13.415, de 2017) tivamente, a habilitação profissional poderão ser desenvolvidas nos
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor pro- próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com
dutivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias e instituições especializadas em educação profissional. (Incluído pela
fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos estabelecidos pela Lei nº 11.741, de 2008)
legislação sobre aprendizagem profissional; (Incluído pela Lei nº Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível médio será
13.415, de 2017) desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela Lei nº 11.741, de
II - a possibilidade de concessão de certificados intermediários 2008)
de qualificação para o trabalho, quando a formação for estruturada I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº 11.741,
e organizada em etapas com terminalidade. (Incluído pela Lei nº de 2008)
13.415, de 2017) II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha conclu-
§ 7o A oferta de formações experimentais relacionadas ao inci- ído o ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
so V do caput, em áreas que não constem do Catálogo Nacional dos Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível médio
Cursos Técnicos, dependerá, para sua continuidade, do reconheci- deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
mento pelo respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo de I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes curriculares
três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação; (In-
no prazo de cinco anos, contados da data de oferta inicial da forma- cluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
ção. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) II - as normas complementares dos respectivos sistemas de en-
§ 8o A oferta de formação técnica e profissional a que se refere sino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou em parce- III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos de
ria com outras instituições, deverá ser aprovada previamente pelo seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Conselho Estadual de Educação, homologada pelo Secretário Esta- Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível médio ar-
dual de Educação e certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído ticulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei, será
pela Lei nº 13.415, de 2017) desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 9o As instituições de ensino emitirão certificado com validade I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído o
nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio ao prosse- ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a conduzir
guimento dos estudos em nível superior ou em outros cursos ou o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma
formações para os quais a conclusão do ensino médio seja etapa instituição de ensino, efetuando-se matrícula única para cada alu-
obrigatória. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) no; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)

163
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino médio CAPÍTULO III
ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) Da Educação Profissional e Tecnológica
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as oportu- (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
nidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de
2008) Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as opor- dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis
tunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei nº 11.741, de e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência
2008) e da tecnologia. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios de § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao desen- ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção
volvimento de projeto pedagógico unificado. (Incluído pela Lei nº de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do res-
11.741, de 2008) pectivo sistema e nível de ensino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissional téc- 2008)
nica de nível médio, quando registrados, terão validade nacional e § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguin-
habilitarão ao prosseguimento de estudos na educação superior. tes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissio-
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional técnica de nal; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
nível médio, nas formas articulada concomitante e subsequente, II – de educação profissional técnica de nível médio; (Incluído
quando estruturados e organizados em etapas com terminalidade, pela Lei nº 11.741, de 2008)
possibilitarão a obtenção de certificados de qualificação para o tra- III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-
balho após a conclusão, com aproveitamento, de cada etapa que -graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
caracterize uma qualificação para o trabalho. (Incluído pela Lei nº § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de gradua-
11.741, de 2008) ção e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne a objetivos,
características e duração, de acordo com as diretrizes curriculares
Seção V nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação. (In-
Da Educação de Jovens e Adultos cluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articula-
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles ção com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação
que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de tra-
fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento balho. (Regulamento) (Regulamento) (Regulamento)
para a educação e a aprendizagem ao longo da vida. (Redação dada Art. 41. O conhecimento adquirido na educação profissional e
pela Lei nº 13.632, de 2018) tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação,
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jo- reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão
vens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade de estudos. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as Art. 42. As instituições de educação profissional e tecnológi-
características do alunado, seus interesses, condições de vida e de ca, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais,
trabalho, mediante cursos e exames. abertos à comunidade, condicionada a matrícula à capacidade de
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a per- aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade.
manência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
complementares entre si.
§ 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se, pre- CAPÍTULO IV
ferencialmente, com a educação profissional, na forma do regula- DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
mento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames su- Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
pletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito
habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. científico e do pensamento reflexivo;
§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento,
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maio- aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
res de quinze anos; no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua for-
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de mação contínua;
dezoito anos. III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica,
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educan- visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e
dos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do
exames. homem e do meio em que vive;
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científi-
cos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comu-
nicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas
de comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural
e profissional e possibilitar a correspondente concretização, inte-
grando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estru-
tura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

164
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo pre- § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo respon-
sente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços es- sável por sua manutenção acompanhará o processo de saneamento
pecializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de e fornecerá recursos adicionais, se necessários, para a superação
reciprocidade; das deficiências.
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, § 3o No caso de instituição privada, além das sanções previs-
visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação tas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação poderá resultar
cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. em redução de vagas autorizadas e em suspensão temporária de
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da novos ingressos e de oferta de cursos. (Incluído pela Lei nº 13.530,
educação básica, mediante a formação e a capacitação de profissio- de 2017)
nais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento § 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante procedi-
de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares. mento específico e com aquiescência da instituição de ensino, com
(Incluído pela Lei nº 13.174, de 2015) vistas a resguardar os interesses dos estudantes, comutar as pe-
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos e nalidades previstas nos §§ 1oe 3o deste artigo por outras medidas,
programas: (Regulamento) desde que adequadas para superação das deficiências e irregulari-
I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis dades constatadas. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)
de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos § 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal de-
estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que tenham con- verão adotar os critérios definidos pela União para autorização de
cluído o ensino médio ou equivalente; (Redação dada pela Lei nº funcionamento de curso de graduação em Medicina. (Incluído pela
11.632, de 2007). Lei nº 13.530, de 2017)
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, indepen-
o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em pro- dente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de trabalho
cesso seletivo; acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos exames finais,
III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestra- quando houver.
do e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e ou- § 1o As instituições informarão aos interessados, antes de cada
tros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e período letivo, os programas dos cursos e demais componentes cur-
que atendam às exigências das instituições de ensino; riculares, sua duração, requisitos, qualificação dos professores, re-
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requi- cursos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir
sitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino. as respectivas condições, e a publicação deve ser feita, sendo as 3
§ 1º O resultado do processo seletivo referido no inciso II do (três) primeiras formas concomitantemente: (Redação dada pela lei
caput deste artigo será tornado público pela instituição de ensino nº 13.168, de 2015)
superior, sendo obrigatórios a divulgação da relação nominal dos I - em página específica na internet no sítio eletrônico oficial da
classificados, a respectiva ordem de classificação e o cronograma instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: (Incluído pela
das chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para pre- lei nº 13.168, de 2015)
enchimento das vagas constantes do edital, assegurado o direito a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como título
do candidato, classificado ou não, a ter acesso a suas notas ou in- “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
dicadores de desempenho em provas, exames e demais atividades b) a página principal da instituição de ensino superior, bem
da seleção e a sua posição na ordem de classificação de todos os como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a for-
candidatos.(Redação dada pela Lei nº 13.826, de 2019) ma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma finali-
§ 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições dade, deve conter a ligação desta com a página específica prevista
públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao can- neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
didato que comprove ter renda familiar inferior a dez salários míni- c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio eletrô-
mos, ou ao de menor renda familiar, quando mais de um candidato nico, deve criar página específica para divulgação das informações
preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015) de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
§ 3o O processo seletivo referido no inciso II considerará as d) a página específica deve conter a data completa de sua últi-
competências e as habilidades definidas na Base Nacional Comum ma atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino su-
Art. 45. A educação superior será ministrada em instituições de perior, por meio de ligação para a página referida no inciso I; (Inclu-
ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abran- ído pela lei nº 13.168, de 2015)
gência ou especialização. (Regulamento) (Regulamento) III - em local visível da instituição de ensino superior e de fácil
Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
como o credenciamento de instituições de educação superior, terão IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de
prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, após proces- acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, ob-
so regular de avaliação. (Regulamento) (Regulamento) (Vide Lei nº servando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015)
10.870, de 2004) a) caso o curso mantenha disciplinas com duração diferencia-
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências even- da, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela lei nº 13.168, de
tualmente identificadas pela avaliação a que se refere este artigo, 2015)
haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o caso, em de- b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início das
sativação de cursos e habilitações, em intervenção na instituição, aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
em suspensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou em c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo docente
descredenciamento. (Regulamento) (Regulamento) (Vide Lei nº até o início das aulas, os alunos devem ser comunicados sobre as
10.870, de 2004) alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei nº
13.168, de 2015)

165
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de ensi- Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às uni-
no superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) versidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular de I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas
cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela lei nº de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas
13.168, de 2015) gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de en-
c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em sino; (Regulamento)
cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele cur- II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas
so ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação profissional as diretrizes gerais pertinentes;
do docente e o tempo de casa do docente, de forma total, contínua III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa cien-
ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) tífica, produção artística e atividades de extensão;
§ 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade insti-
estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos tucional e as exigências do seu meio;
de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em con-
poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as sonância com as normas gerais atinentes;
normas dos sistemas de ensino. VI - conferir graus, diplomas e outros títulos;
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores, salvo VII - firmar contratos, acordos e convênios;
nos programas de educação a distância. VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de inves-
§ 4º As instituições de educação superior oferecerão, no perío- timentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, bem
do noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade como administrar rendimentos conforme dispositivos institucio-
mantidos no período diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas nais;
instituições públicas, garantida a necessária previsão orçamentária. IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma previs-
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quan- ta no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos;
do registrados, terão validade nacional como prova da formação X - receber subvenções, doações, heranças, legados e coope-
recebida por seu titular. ração financeira resultante de convênios com entidades públicas e
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas privadas.
próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições não-uni- § 1º Para garantir a autonomia didático-científica das univer-
versitárias serão registrados em universidades indicadas pelo Con- sidades, caberá aos seus colegiados de ensino e pesquisa decidir,
selho Nacional de Educação. dentro dos recursos orçamentários disponíveis, sobre: (Redação
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que te- I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; (Reda-
nham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se ção dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
os acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação. II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela Lei nº
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por 13.490, de 2017)
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por uni- III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada pela
versidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e Lei nº 13.490, de 2017)
avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equivalente IV - programação das pesquisas e das atividades de extensão;
ou superior. (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017)
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a trans- V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada pela
ferência de alunos regulares, para cursos afins, na hipótese de exis- Lei nº 13.490, de 2017)
tência de vagas, e mediante processo seletivo. VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma 13.490, de 2017)
da lei. (Regulamento) § 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas a
Art. 50. As instituições de educação superior, quando da ocor- setores ou projetos específicos, conforme acordo entre doadores e
rência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus cursos a universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017)
alunos não regulares que demonstrarem capacidade de cursá-las § 3o No caso das universidades públicas, os recursos das doa-
com proveito, mediante processo seletivo prévio. ções devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com destina-
Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas ção garantida às unidades a serem beneficiadas. (Incluído pela Lei
como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de sele- nº 13.490, de 2017)
ção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos desses Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público goza-
critérios sobre a orientação do ensino médio, articulando-se com os rão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para atender às
órgãos normativos dos sistemas de ensino. peculiaridades de sua estrutura, organização e financiamento pelo
Art. 52. As universidades são instituições pluridisciplinares de Poder Público, assim como dos seus planos de carreira e do regime
formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, jurídico do seu pessoal. (Regulamento) (Regulamento)
de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se carac- § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições as-
terizam por: (Regulamento) (Regulamento) seguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas poderão:
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e admi-
sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto nistrativo, assim como um plano de cargos e salários, atendidas as
de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; normas gerais pertinentes e os recursos disponíveis;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação aca- II - elaborar o regulamento de seu pessoal em conformidade
dêmica de mestrado ou doutorado; com as normas gerais concernentes;
III - um terço do corpo docente em regime de tempo integral. III - aprovar e executar planos, programas e projetos de investi-
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades espe- mentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, de acor-
cializadas por campo do saber. (Regulamento) (Regulamento) do com os recursos alocados pelo respectivo Poder mantenedor;
IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;

166
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas pe- titivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como
culiaridades de organização e funcionamento; para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas
VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com artística, intelectual ou psicomotora;
aprovação do Poder competente, para aquisição de bens imóveis, V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais su-
instalações e equipamentos; plementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras providên- Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro nacional de
cias de ordem orçamentária, financeira e patrimonial necessárias alunos com altas habilidades ou superdotação matriculados na edu-
ao seu bom desempenho. cação básica e na educação superior, a fim de fomentar a execução
§ 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser esten- de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento pleno das po-
didas a instituições que comprovem alta qualificação para o ensino tencialidades desse alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
ou para a pesquisa, com base em avaliação realizada pelo Poder Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com altas
Público. habilidades ou superdotação, os critérios e procedimentos para in-
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orça- clusão no cadastro referido no caput deste artigo, as entidades res-
mento Geral, recursos suficientes para manutenção e desenvolvi- ponsáveis pelo cadastramento, os mecanismos de acesso aos dados
mento das instituições de educação superior por ela mantidas. do cadastro e as políticas de desenvolvimento das potencialidades
Art. 56. As instituições públicas de educação superior obedece- do alunado de que trata o caput serão definidos em regulamento.
rão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabele-
órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos cerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins
da comunidade institucional, local e regional. lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação es-
Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão se- pecial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.
tenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa
inclusive nos que tratarem da elaboração e modificações estatutá- preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com defi-
rias e regimentais, bem como da escolha de dirigentes. ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o pro- ou superdotação na própria rede pública regular de ensino, inde-
fessor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas. pendentemente do apoio às instituições previstas neste artigo. (Re-
(Regulamento) dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)

CAPÍTULO V CAPÍTULO V-A


DA EDUCAÇÃO ESPECIAL (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos des-
ta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencial- Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para
mente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su- em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em
perdotação. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues de
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializa- surdos, classes bilíngues de surdos, escolas comuns ou em polos de
do, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, surdo-cegos,
educação especial. com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou superdotação ou com outras deficiências associadas, optantes
ou serviços especializados, sempre que, em função das condições pela modalidade de educação bilíngue de surdos. (Incluído pela Lei
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes nº 14.191, de 2021)
comuns de ensino regular. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educacio-
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput des- nal especializado, como o atendimento educacional especializado
te artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao longo da bilíngue, para atender às especificidades linguísticas dos estudantes
vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo único do art. 60 surdos. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018) § 2º A oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com ano, na educação infantil, e se estenderá ao longo da vida. (Incluído
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habili- pela Lei nº 14.191, de 2021)
dades ou superdotação: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 3º O disposto no caput deste artigo será efetivado sem prejuí-
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organi- zo das prerrogativas de matrícula em escolas e classes regulares, de
zação específicos, para atender às suas necessidades; acordo com o que decidir o estudante ou, no que couber, seus pais
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem ou responsáveis, e das garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que incluem,
virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor para os surdos oralizados, o acesso a tecnologias assistivas. (Incluí-
tempo o programa escolar para os superdotados; do pela Lei nº 14.191, de 2021)
III - professores com especialização adequada em nível médio Art. 60-B. Além do disposto no art. 59 desta Lei, os sistemas de
ou superior, para atendimento especializado, bem como professo- ensino assegurarão aos educandos surdos, surdo-cegos, com defici-
res do ensino regular capacitados para a integração desses educan- ência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou super-
dos nas classes comuns; dotação ou com outras deficiências associadas materiais didáticos
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva in- e professores bilíngues com formação e especialização adequadas,
tegração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para em nível superior. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho compe-

167
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Parágrafo único. Nos processos de contratação e de avaliação § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios ado-
periódica dos professores a que se refere o caput deste artigo serão tarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência em cursos
ouvidas as entidades representativas das pessoas surdas. (Incluído de formação de docentes em nível superior para atuar na educação
pela Lei nº 14.191, de 2021) básica pública. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios in-
TÍTULO VI centivarão a formação de profissionais do magistério para atuar na
Dos Profissionais da Educação educação básica pública mediante programa institucional de bolsa
de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de li-
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar bási- cenciatura, de graduação plena, nas instituições de educação supe-
ca os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados rior. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
em cursos reconhecidos, são: (Redação dada pela Lei nº 12.014, de § 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota mínima
2009) em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino médio como
I – professores habilitados em nível médio ou superior para a pré-requisito para o ingresso em cursos de graduação para forma-
docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; ção de docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE.
(Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009) (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pe- § 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
dagogia, com habilitação em administração, planejamento, super- § 8o Os currículos dos cursos de formação de docentes terão
visão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de por referência a Base Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei
mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº 13.415, de 2017)
nº 12.014, de 2009) Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inciso
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de cur- III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo técnico-peda-
so técnico ou superior em área pedagógica ou afim. (Incluído pela gógico, em nível médio ou superior, incluindo habilitações tecnoló-
Lei nº 12.014, de 2009) gicas. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos respec- Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os
tivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas afins à profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em
sua formação ou experiência profissional, atestados por titulação instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de edu-
específica ou prática de ensino em unidades educacionais da rede cação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecno-
pública ou privada ou das corporações privadas em que tenham lógicos e de pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
atuado, exclusivamente para atender ao inciso V do caput do art. Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de edu-
36; (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) cação básica a cursos superiores de pedagogia e licenciatura será
V - profissionais graduados que tenham feito complementação efetivado por meio de processo seletivo diferenciado. (Incluído pela
pedagógica, conforme disposto pelo Conselho Nacional de Educa- Lei nº 13.478, de 2017)
ção. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput des-
Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, te artigo os professores das redes públicas municipais, estaduais e
de modo a atender às especificidades do exercício de suas ativida- federal que ingressaram por concurso público, tenham pelo menos
des, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades três anos de exercício da profissão e não sejam portadores de diplo-
da educação básica, terá como fundamentos: (Incluído pela Lei nº ma de graduação. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
12.014, de 2009) § 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta de cur-
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhe- sos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios adicionais
cimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competên- de seleção sempre que acorrerem aos certames interessados em
cias de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009) número superior ao de vagas disponíveis para os respectivos cur-
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios sos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei nº § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem definidos em
12.014, de 2009) regulamento pelas universidades, terão prioridade de ingresso os
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, professores que optarem por cursos de licenciatura em matemáti-
em instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei ca, física, química, biologia e língua portuguesa. (Incluído pela Lei
nº 12.014, de 2009) nº 13.478, de 2017)
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: (Re-
far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, gulamento)
como formação mínima para o exercício do magistério na educação I - cursos formadores de profissionais para a educação básica,
infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a ofere- inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docen-
cida em nível médio, na modalidade normal. (Redação dada pela lei tes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino
nº 13.415, de 2017) fundamental;
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em II - programas de formação pedagógica para portadores de di-
regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a con- plomas de educação superior que queiram se dedicar à educação
tinuada e a capacitação dos profissionais de magistério. (Incluído básica;
pela Lei nº 12.056, de 2009). III - programas de educação continuada para os profissionais de
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais educação dos diversos níveis.
de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a Art. 64. A formação de profissionais de educação para adminis-
distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). tração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacio-
§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará pre- nal para a educação básica, será feita em cursos de graduação em
ferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso de re- pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de
cursos e tecnologias de educação a distância. (Incluído pela Lei nº ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional.
12.056, de 2009).

168
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. mencionadas neste artigo as operações de crédito por antecipação
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior de receita orçamentária de impostos.
far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos míni-
de mestrado e doutorado. mos estatuídos neste artigo, será considerada a receita estimada
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por universidade na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o caso, por lei que
com curso de doutorado em área afim, poderá suprir a exigência de autorizar a abertura de créditos adicionais, com base no eventual
título acadêmico. excesso de arrecadação.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as efe-
profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos tivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos per-
dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: centuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas a cada
I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e trimestre do exercício financeiro.
títulos; § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa da
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com li- União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ocorrerá
cenciamento periódico remunerado para esse fim; imediatamente ao órgão responsável pela educação, observados os
III - piso salarial profissional; seguintes prazos:
IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada
na avaliação do desempenho; mês, até o vigésimo dia;
V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, in- II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo dia
cluído na carga de trabalho; de cada mês, até o trigésimo dia;
VI - condições adequadas de trabalho. III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final de
§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício pro- cada mês, até o décimo dia do mês subsequente.
fissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção mo-
das normas de cada sistema de ensino. (Renumerado pela Lei nº netária e à responsabilização civil e criminal das autoridades com-
11.301, de 2006) petentes.
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8o Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e desenvolvi-
do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de mento do ensino as despesas realizadas com vistas à consecução
magistério as exercidas por professores e especialistas em educa- dos objetivos básicos das instituições educacionais de todos os ní-
ção no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em veis, compreendendo as que se destinam a:
estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e mo- I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e de-
dalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção mais profissionais da educação;
de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagó- II - aquisição, manutenção, construção e conservação de insta-
gico. (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006) lações e equipamentos necessários ao ensino;
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao Dis- III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao ensino;
trito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos públicos IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas visando
para provimento de cargos dos profissionais da educação. (Incluído precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à expansão do
pela Lei nº 12.796, de 2013) ensino;
V - realização de atividades-meio necessárias ao funcionamen-
TÍTULO VII to dos sistemas de ensino;
Dos Recursos financeiros VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas públicas
e privadas;
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os ori- VII - amortização e custeio de operações de crédito destinadas
ginários de: a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do Dis- VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção de
trito Federal e dos Municípios; programas de transporte escolar.
II - receita de transferências constitucionais e outras transfe- Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e desenvol-
rências; vimento do ensino aquelas realizadas com:
III - receita do salário-educação e de outras contribuições so- I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de ensino,
ciais; ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que não vise,
IV - receita de incentivos fiscais; precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade ou à sua ex-
V - outros recursos previstos em lei. pansão;
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoi- II - subvenção a instituições públicas ou privadas de caráter as-
to, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte e cinco sistencial, desportivo ou cultural;
por cento, ou o que consta nas respectivas Constituições ou Leis III - formação de quadros especiais para a administração públi-
Orgânicas, da receita resultante de impostos, compreendidas as ca, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos;
transferências constitucionais, na manutenção e desenvolvimento IV - programas suplementares de alimentação, assistência mé-
do ensino público. (Vide Medida Provisória nº 773, de 2017) (Vigên- dico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras formas de
cia encerrada) assistência social;
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para beneficiar
União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Es- direta ou indiretamente a rede escolar;
tados aos respectivos Municípios, não será considerada, para efeito VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação,
do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. quando em desvio de função ou em atividade alheia à manutenção
e desenvolvimento do ensino.

169
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e desenvol- TÍTULO VIII
vimento do ensino serão apuradas e publicadas nos balanços do Das Disposições Gerais
Poder Público, assim como nos relatórios a que se refere o § 3º do
art. 165 da Constituição Federal. Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, prioritariamente, agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios,
na prestação de contas de recursos públicos, o cumprimento do dis- desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para
posto no art. 212 da Constituição Federal, no art. 60 do Ato das Dis- oferta de educação escolar bilingue e intercultural aos povos indí-
posições Constitucionais Transitórias e na legislação concernente. genas, com os seguintes objetivos:
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito Fe- I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recu-
deral e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de oportunida- peração de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identi-
des educacionais para o ensino fundamental, baseado no cálculo do dades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
custo mínimo por aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade. II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo será informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade na-
calculado pela União ao final de cada ano, com validade para o ano cional e demais sociedades indígenas e não-índias.
subsequente, considerando variações regionais no custo dos insu- Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração,
mos e as diversas modalidades de ensino. desenvolverão programas integrados de ensino e pesquisa, para
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Estados oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos estudantes
será exercida de modo a corrigir, progressivamente, as disparidades surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos
de acesso e garantir o padrão mínimo de qualidade de ensino. com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula associadas, com os seguintes objetivos: (Incluído pela Lei nº 14.191,
de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e a de 2021)
medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito Federal I - proporcionar aos surdos a recuperação de suas memórias
ou do Município em favor da manutenção e do desenvolvimento históricas, a reafirmação de suas identidades e especificidades e a
do ensino. valorização de sua língua e cultura; (Incluído pela Lei nº 14.191, de
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo será defini- 2021)
da pela razão entre os recursos de uso constitucionalmente obriga- II - garantir aos surdos o acesso às informações e conhecimen-
tório na manutenção e desenvolvimento do ensino e o custo anual tos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais socieda-
do aluno, relativo ao padrão mínimo de qualidade. des surdas e não surdas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas
União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada esta- de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades
belecimento de ensino, considerado o número de alunos que efeti- indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pes-
vamente frequentam a escola. quisa.
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser exercida § 1º Os programas serão planejados com audiência das comu-
em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios se es- nidades indígenas.
tes oferecerem vagas, na área de ensino de sua responsabilidade, § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos
conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
número inferior à sua capacidade de atendimento. I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo an- cada comunidade indígena;
terior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos Estados, II - manter programas de formação de pessoal especializado,
Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei, sem prejuízo de destinado à educação escolar nas comunidades indígenas;
outras prescrições legais. III - desenvolver currículos e programas específicos, neles in-
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas públi- cluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas co-
cas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou munidades;
filantrópicas que: IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático es-
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam resul- pecífico e diferenciado.
tados, dividendos, bonificações, participações ou parcela de seu § 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de ou-
patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; tras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, nas
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; universidades públicas e privadas, mediante a oferta de ensino e
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola de assistência estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no senvolvimento de programas especiais. (Incluído pela Lei nº 12.416,
caso de encerramento de suas atividades; de 2011)
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos recebidos. Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destina- Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro
dos a bolsas de estudo para a educação básica, na forma da lei, para como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. (Incluído pela Lei nº
os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver fal- 10.639, de 9.1.2003)
ta de vagas e cursos regulares da rede pública de domicílio do edu- Art. 79-C. A União apoiará técnica e financeiramente os siste-
cando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente mas de ensino no provimento da educação bilíngue e intercultural
na expansão da sua rede local. às comunidades surdas, com desenvolvimento de programas inte-
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão pode- grados de ensino e pesquisa. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
rão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante § 1º Os programas serão planejados com participação das
bolsas de estudo. comunidades surdas, de instituições de ensino superior e de en-
tidades representativas das pessoas surdas. (Incluído pela Lei nº
14.191, de 2021)

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos no Pla- Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação própria
no Nacional de Educação, terão os seguintes objetivos: (Incluído poderá exigir a abertura de concurso público de provas e títulos para
pela Lei nº 14.191, de 2021) cargo de docente de instituição pública de ensino que estiver sen-
I - fortalecer as práticas socioculturais dos surdos e a Língua do ocupado por professor não concursado, por mais de seis anos,
Brasileira de Sinais; (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 da Constituição
II - manter programas de formação de pessoal especializado, Federal e 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
destinados à educação bilíngue escolar dos surdos, surdo-cegos, Art. 86. As instituições de educação superior constituídas como
com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades universidades integrar-se-ão, também, na sua condição de institui-
ou superdotação ou com outras deficiências associadas; (Incluído ções de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, nos
pela Lei nº 14.191, de 2021) termos da legislação específica.
III - desenvolver currículos, métodos, formação e programas
específicos, neles incluídos os conteúdos culturais correspondentes TÍTULO IX
aos surdos; (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) Das Disposições Transitórias
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático
bilíngue, específico e diferenciado. (Incluído pela Lei nº 14.191, de Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um ano
2021) a partir da publicação desta Lei.
§ 3º Na educação superior, sem prejuízo de outras ações, o § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação des-
atendimento aos estudantes surdos, surdo-cegos, com deficiência ta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano Nacional de
auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdota- Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes, em
ção ou com outras deficiências associadas efetivar-se-á mediante sintonia com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.
a oferta de ensino bilíngue e de assistência estudantil, assim como § 2º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletiva-
(Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) mente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº 11.330, de 2006)
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a vei- I - (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
culação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
modalidades de ensino, e de educação continuada. (Regulamento) b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
(Regulamento) c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos
especiais, será oferecida por instituições especificamente creden- insuficientemente escolarizados;
ciadas pela União. III - realizar programas de capacitação para todos os professo-
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de res em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da edu-
exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a dis- cação a distância;
tância. IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de progra- do seu território ao sistema nacional de avaliação do rendimento
mas de educação a distância e a autorização para sua implementa- escolar.
ção, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver co- § 4º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de 2013)
operação e integração entre os diferentes sistemas. (Regulamento) § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a progres-
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento diferenciado, são das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental
que incluirá: para o regime de escolas de tempo integral.
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais de § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao Distrito
radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios de co- Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos seus Muni-
municação que sejam explorados mediante autorização, concessão cípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art. 212 da Cons-
ou permissão do poder público; (Redação dada pela Lei nº 12.603, tituição Federal e dispositivos legais pertinentes pelos governos
de 2012) beneficiados.
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente edu- Art. 87-A. (VETADO). (Incluído pela lei nº 12.796, de 2013)
cativas; Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Público, adaptarão sua legislação educacional e de ensino às disposições
pelos concessionários de canais comerciais. desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir da data de sua publi-
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições de cação. (Regulamento) (Regulamento)
ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições desta § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos e
Lei. regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos respectivos
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de rea- sistemas de ensino, nos prazos por estes estabelecidos.
lização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal sobre a § 2º O prazo para que as universidades cumpram o disposto
matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, de 2008) nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.788, Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham a
de 2008) ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da publicação
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, admitida desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino.
a equivalência de estudos, de acordo com as normas fixadas pelos Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime an-
sistemas de ensino. terior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo Conselho
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser apro- Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, pelos órgãos
veitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas respectivas institui- normativos dos sistemas de ensino, preservada a autonomia uni-
ções, exercendo funções de monitoria, de acordo com seu rendi- versitária.
mento e seu plano de estudos. Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

171
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de 20 I - linguagens e suas tecnologias;
de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, não II - matemática e suas tecnologias;
alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de 1995 e 9.192, III - ciências da natureza e suas tecnologias;
de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de IV - ciências humanas e sociais aplicadas.
agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais leis § 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o caput
e decretos-lei que as modificaram e quaisquer outras disposições do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá estar har-
em contrário. monizada à Base Nacional Comum Curricular e ser articulada a
partir do contexto histórico, econômico, social, ambiental e cul-
LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017. tural.
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino
Altera as Leis n º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, física, arte, sociologia e filosofia.
de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Pro- obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às comu-
fissionais da Educação, a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, nidades indígenas, também, a utilização das respectivas línguas
aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o maternas.
Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº § 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obrigatoriamen-
11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à te, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar outras línguas es-
Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. trangeiras, em caráter optativo, preferencialmente o espanhol, de
acordo com a disponibilidade de oferta, locais e horários definidos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso pelos sistemas de ensino.
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base Na-
cional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e oitocen-
Art. 1º O art. 24 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 tas horas do total da carga horária do ensino médio, de acordo
, passa a vigorar com as seguintes alterações : com a definição dos sistemas de ensino.
“Art. 24. ........................................................... § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho espe-
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para rados para o ensino médio, que serão referência nos processos
o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas por um nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Comum Curri-
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o cular.
tempo reservado aos exames finais, quando houver; § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a for-
................................................................................. mação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho voltado
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do para a construção de seu projeto de vida e para sua formação nos
caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino mé- aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais.
dio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de ensino § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação
oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos mil horas processual e formativa serão organizados nas redes de ensino por
anuais de carga horária, a partir de 2 de março de 2017. meio de atividades teóricas e práticas, provas orais e escritas, se-
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de edu- minários, projetos e atividades on-line , de tal forma que ao final
cação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, adequado do ensino médio o educando demonstre:
às condições do educando, conforme o inciso VI do art. 4º .” (NR) I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presi-
Art. 2º O art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 dem a produção moderna;
, passa a vigorar com as seguintes alterações: II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem.”
“Art. 26. ........................................................... Art. 4º O art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996
................................................................................. , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões re- “ Art. 36 . O currículo do ensino médio será composto pela
gionais, constituirá componente curricular obrigatório da educa- Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos, que
ção básica. deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos
................................................................................. curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a pos-
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto sibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
ano, será ofertada a língua inglesa. I - linguagens e suas tecnologias;
................................................................................. II - matemática e suas tecnologias;
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos III - ciências da natureza e suas tecnologias;
sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
transversais de que trata o caput . V - formação técnica e profissional.
.................................................................................. § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das res-
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de cará- pectivas competências e habilidades será feita de acordo com cri-
ter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de térios estabelecidos em cada sistema de ensino.
aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação I - (revogado);
pelo Ministro de Estado da Educação.” (NR) II - (revogado);
Art. 3º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , passa a .................................................................................
vigorar acrescida do seguinte art. 35-A: § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto
“ Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá di- itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de
reitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, conforme componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular -
diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas seguintes áreas BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V
do conhecimento: do caput .

172
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
.................................................................................. IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos res-
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de va- pectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de áreas
gas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino médio afins à sua formação ou experiência profissional, atestados por
cursar mais um itinerário formativo de que trata o caput . titulação específica ou prática de ensino em unidades educacio-
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação nais da rede pública ou privada ou das corporações privadas em
com ênfase técnica e profissional considerará: que tenham atuado, exclusivamente para atender ao inciso V do
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor pro- caput do art. 36;
dutivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo parcerias V - profissionais graduados que tenham feito complementa-
e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos estabelecidos ção pedagógica, conforme disposto pelo Conselho Nacional de
pela legislação sobre aprendizagem profissional; Educação.
II - a possibilidade de concessão de certificados intermediá- ........................................................................” (NR)
rios de qualificação para o trabalho, quando a formação for estru- Art. 7º O art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996
turada e organizada em etapas com terminalidade. , passa a vigorar com as seguintes alterações:
§ 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao in- “ Art. 62 . A formação de docentes para atuar na educação
ciso V do caput , em áreas que não constem do Catálogo Nacional básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena,
dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua continuidade, do reco- admitida, como formação mínima para o exercício do magistério
nhecimento pelo respectivo Conselho Estadual de Educação, no na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino funda-
prazo de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos Cursos mental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da data de oferta ini- ..................................................................................
cial da formação. § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes terão
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se refe- por referência a Base Nacional Comum Curricular.” (NR)
re o inciso V do caput , realizada na própria instituição ou em par- Art. 8º O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
ceria com outras instituições, deverá ser aprovada previamente aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , passa
pelo Conselho Estadual de Educação, homologada pelo Secretário a vigorar com a seguinte redação:
Estadual de Educação e certificada pelos sistemas de ensino. “ Art. 318 . O professor poderá lecionar em um mesmo esta-
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com valida- belecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse a
de nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio ao pros- jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente, assegura-
seguimento dos estudos em nível superior ou em outros cursos ou do e não computado o intervalo para refeição.” (NR)
formações para os quais a conclusão do ensino médio seja etapa Art. 9º O caput do art. 10 da Lei nº 11.494, de 20 de junho de
obrigatória. 2007 , passa a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII:
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, o “Art. 10. ...........................................................
ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o siste- .................................................................................
ma de créditos com terminalidade específica. XVIII - formação técnica e profissional prevista no inciso V do
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências curricula- caput do art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 .
res do ensino médio, os sistemas de ensino poderão reconhecer ........................................................................” (NR)
competências e firmar convênios com instituições de educação Art. 10. O art. 16 do Decreto-Lei nº 236, de 28 de fevereiro de
a distância com notório reconhecimento, mediante as seguintes 1967 , passa a vigorar com as seguintes alterações:
formas de comprovação: “Art. 16. ...........................................................
I - demonstração prática; .................................................................................
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra experiên- § 2º Os programas educacionais obrigatórios deverão ser
cia adquirida fora do ambiente escolar; transmitidos em horários compreendidos entre as sete e as vinte
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras ins- e uma horas.
tituições de ensino credenciadas; § 3º O Ministério da Educação poderá celebrar convênios com
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocupacionais; entidades representativas do setor de radiodifusão, que visem ao
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais ou cumprimento do disposto no caput , para a divulgação gratuita
estrangeiras; dos programas e ações educacionais do Ministério da Educação,
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou bem como à definição da forma de distribuição dos programas
educação presencial mediada por tecnologias. relativos à educação básica, profissional, tecnológica e superior e
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de a outras matérias de interesse da educação.
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional § 4º As inserções previstas no caput destinam-se exclusiva-
previstas no caput .” (NR) mente à veiculação de mensagens do Ministério da Educação,
Art. 5º O art. 44 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 com caráter de utilidade pública ou de divulgação de programas e
, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º : ações educacionais.” (NR)
“Art. 44. ........................................................... Art. 11. O disposto no § 8º do art. 62 da Lei nº 9.394, de 20
.................................................................................. de dezembro de 1996 , deverá ser implementado no prazo de dois
§ 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará as anos, contado da publicação da Base Nacional Comum Curricular.
competências e as habilidades definidas na Base Nacional Comum Art. 12. Os sistemas de ensino deverão estabelecer cronogra-
Curricular.” (NR) ma de implementação das alterações na Lei no 9.394, de 20 de
Art. 6º O art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 dezembro de 1996 , conforme os arts. 2º, 3º e 4º desta Lei, no
, passa a vigorar com as seguintes alterações: primeiro ano letivo subsequente à data de publicação da Base Na-
“Art. 61. ........................................................... cional Comum Curricular, e iniciar o processo de implementação,
................................................................................. conforme o referido cronograma, a partir do segundo ano letivo
subsequente à data de homologação da Base Nacional Comum
Curricular.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 13. Fica instituída, no âmbito do Ministério da Educação, Parágrafo único. O Conselho Deliberativo do FNDE disporá,
a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Mé- em ato próprio, sobre condições, critérios operacionais de distri-
dio em Tempo Integral. buição, repasse, execução e prestação de contas simplificada do
Parágrafo único. A Política de Fomento de que trata o caput apoio financeiro.
prevê o repasse de recursos do Ministério da Educação para os Es- Art. 18. Os Estados e o Distrito Federal deverão fornecer, sem-
tados e para o Distrito Federal pelo prazo de dez anos por escola, pre que solicitados, a documentação relativa à execução dos re-
contado da data de início da implementação do ensino médio in- cursos recebidos com base no parágrafo único do art. 13 ao Tribu-
tegral na respectiva escola, de acordo com termo de compromisso nal de Contas da União, ao FNDE, aos órgãos de controle interno
a ser formalizado entre as partes, que deverá conter, no mínimo: do Poder Executivo federal e aos conselhos de acompanhamento
I - identificação e delimitação das ações a serem financiadas; e controle social.
II - metas quantitativas; Art. 19. O acompanhamento e o controle social sobre a trans-
III - cronograma de execução físico-financeira; ferência e a aplicação dos recursos repassados com base no pará-
IV - previsão de início e fim de execução das ações e da con- grafo único do art. 13 serão exercidos no âmbito dos Estados e do
clusão das etapas ou fases programadas. Distrito Federal pelos respectivos conselhos previstos no art. 24
Art. 14. São obrigatórias as transferências de recursos da da Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007 .
União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cumpridos os Parágrafo único. Os conselhos a que se refere o caput anali-
critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei e no regulamen- sarão as prestações de contas dos recursos repassados no âmbito
to, com a finalidade de prestar apoio financeiro para o atendimen- desta Lei, formularão parecer conclusivo acerca da aplicação des-
to de escolas públicas de ensino médio em tempo integral cadas- ses recursos e o encaminharão ao FNDE.
tradas no Censo Escolar da Educação Básica, e que: Art. 20. Os recursos financeiros correspondentes ao apoio
I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tempo inte- financeiro de que trata o parágrafo único do art. 13 correrão à
gral a partir da vigência desta Lei de acordo com os critérios de conta de dotação consignada nos orçamentos do FNDE e do Mi-
elegibilidade no âmbito da Política de Fomento, devendo ser dada nistério da Educação, observados os limites de movimentação, de
prioridade às regiões com menores índices de desenvolvimento empenho e de pagamento da programação orçamentária e finan-
humano e com resultados mais baixos nos processos nacionais de ceira anual.
avaliação do ensino médio; e Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça ao dis- Art. 22. Fica revogada a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005
posto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro de 1996 .
§ 1º A transferência de recursos de que trata o caput será
realizada com base no número de matrículas cadastradas pelos ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA –
Estados e pelo Distrito Federal no Censo Escolar da Educação Bá- LEI Nº 8.069/90
sica, desde que tenham sido atendidos, de forma cumulativa, os
requisitos dos incisos I e II do caput . LEI FEDERAL Nº 8.069/90 – DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA
§ 2º A transferência de recursos será realizada anualmente, a CRIANÇA E DO ADOLESCENTE;
partir de valor único por aluno, respeitada a disponibilidade orça-
mentária para atendimento, a ser definida por ato do Ministro de O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal
Estado da Educação. (8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos
§ 3º Os recursos transferidos nos termos do caput poderão das crianças e adolescentes em todo o Brasil.
ser aplicados nas despesas de manutenção e desenvolvimento Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em partes
previstas nos incisos I, II, III , V e VIII do caput do art. 70 da Lei nº geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codificações
9.394, de 20 de dezembro de 1996 , das escolas públicas partici- existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda
pantes da Política de Fomento. parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho
§ 4º Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado ter, no tutelar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.
momento do repasse do apoio financeiro suplementar de que tra- A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem
ta o caput , saldo em conta de recursos repassados anteriormen- distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos
te, esse montante, a ser verificado no último dia do mês anterior como sujeitos de direitos e deveres, considerados como pessoas em
ao do repasse, será subtraído do valor a ser repassado como apoio desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta do Estado.
financeiro suplementar do exercício corrente. O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos,
§ 5º Serão desconsiderados do desconto previsto no § 4º os proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e
recursos referentes ao apoio financeiro suplementar, de que trata social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e
o caput , transferidos nos últimos doze meses. da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade.
Art. 15. Os recursos de que trata o parágrafo único do art. 13 O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
serão transferidos pelo Ministério da Educação ao Fundo Nacional educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
do Desenvolvimento da Educação - FNDE, independentemente da respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para
celebração de termo específico. meninos e meninas, e também aborda questões de políticas de
Art. 16. Ato do Ministro de Estado da Educação disporá sobre atendimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre
o acompanhamento da implementação do apoio financeiro suple- outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados
mentar de que trata o parágrafo único do art. 13. à Constituição da República de 1988.
Art. 17. A transferência de recursos financeiros prevista no Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze
parágrafo único do art. 13 será efetivada automaticamente pelo anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida
FNDE, dispensada a celebração de convênio, acordo, contrato ou entre doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto,
instrumento congênere, mediante depósitos em conta-corrente excepcionalmente, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de
específica. idade, em situações que serão aqui demonstradas.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será 5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes.
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, 6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas
violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que seja, sócio-educativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores.
devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos 7. Expedir notificações em casos de sua competência.
seus direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que 8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e
a criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, adolescentes, quando necessário.
mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o 9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições orçamentaria para planos e programas de atendimento dos direitos
dignas de existência. da criança e do adolescente.
As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguardar 10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias,
a família natural ou a família substituta, sendo está ultima para que estas se defendam de programas de rádio e televisão que
pela guarda, tutela ou adoção. A guarda obriga a prestação de contrariem princípios constitucionais bem como de propaganda de
assistência material, moral e educacional, a tutela pressupõe todos produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao
os deveres da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos meio ambiente.
incompletos, já a adoção atribui condição de filho, com mesmos 11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações
direito e deveres, inclusive sucessórios. judiciais de perda ou suspensão do pátrio poder.
A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispensável 12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-
à organização social, conforme preceitua o art. 226 da CR/88. Não governamentais que executem programas de proteção e
sendo regra, mas os adolescentes correm maior risco quando fazem socioeducativos.
parte de famílias desestruturadas ou violentas.
Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade da
filhos, não constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
recursos materiais, sob pena da perda ou a suspensão do pátrio desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor,
poder. havendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra alguma
Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou criança ou adolescente, serão obrigatoriamente comunicados ao
qualquer deles e seus descendentes, descumpra qualquer de suas Conselho Tutelar para providências cabíveis.
obrigações, a criança ou adolescente serão colocados em família Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a
substituta mediante guarda, tutela ou adoção. delinquência é uma realidade social, principalmente nas grandes
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado cidades, sem previsão de término, fazendo com que tenha
no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, tratamento diferenciado dos crimes praticados por agentes
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre imputáveis.
da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos
Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no incompletos são denominados atos infracionais passíveis de
desenvolvimento familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao aplicação de medidas socioeducativas. Os dispositivos do Estatuto
máximo a estabilidade emocional, econômica e social. da Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são o responsável, quanto o menor devem ser instados a modificarem
fatores que interferem diretamente no desenvolvimento das atitudes, definindo sanções para os casos mais graves.
crianças e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, cuja conduta
inseridos na entidade familiar. sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para os
Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça imputáveis, poderão sofrer sanções específicas aquelas descritas no
ou violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto estatuto como medidas socioeducativas.
que cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas
comercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e respondem pela prática de ato infracional cuja sanção será desde
explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de a adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou
conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. responsável, orientação, apoio e acompanhamento, matricula e
Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tutelar frequência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa
composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local, de auxílio à família, encaminhamento a tratamento médico,
regularmente eleitos e empossados, encarregado pela sociedade psicológico ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até,
de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. colocação em família substituta.
O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competentes Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputáveis)
a salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes nas que pratica algum ato infracional, além das medidas protetivas
hipóteses em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus já descritas, a autoridade competente poderá aplicar medida
pais e responsáveis, bem como aos direitos e deveres previstos na socioeducativa de acordo com a capacidade do ofensor,
legislação do ECA e na Constituição. São deveres dos Conselheiros circunstâncias do fato e a gravidade da infração, são elas:
Tutelares: 1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de e assinada pelos adolescentes e genitores sob os riscos do
proteção. envolvimento em atos infracionais e sua reiteração,
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medidas 2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja
pertinentes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo da
3. Promover a execução de suas decisões, podendo vítima,
requisitar serviços públicos e entrar na Justiça quando alguém, 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo
injustificadamente, descumprir suas decisões. conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade social,
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o
Estatuto tenha como infração administrativa ou penal.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e
enfretamento da prática de atos infracionais, na medida em que educar a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os sem
atua juntamente com a família e o controle por profissionais nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem como é
(psicólogos e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Juventude, utilizado por grupos criminosos para livrar-se de responsabilidades
5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez que criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa.
exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo durante o Cabe ao Estado zelas para que as crianças e adolescentes se
dia, mas restringe sua liberdade no período noturno, mediante desenvolvam em condições sociais que favoreçam a integridade
recolhimento em entidade especializada física, liberdade e dignidade. Contudo, não se pode atribuir tal
6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extrema responsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do estatuto
do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à privação total da da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do
liberdade. Aplicada em casos mais graves e em caráter excepcional. que o produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm
importância fundamental no comportamento dos mesmos.1
Antes da sentença, a internação somente pode ser determinada
pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada Últimas alterações no ECA
baseada em fortes indícios de autoria e materialidade do ato As mais recentes:
infracional. São quatro os pontos modificados no ECA durante a atual
Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de administração:
internação têm a obrigação de: - A instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez
1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os na Adolescência, na lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019;
adolescentes; - A criação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas - na
2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de lei nº 13.812, de 16 de março 2019;
restrição na decisão de internação, - A mudança na idade mínima para que uma criança ou
3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e adolescente possa viajar sem os pais ou responsáveis e sem
dignidade ao adolescente, autorização judicial, passando de 12 para 16 anos - na mesma lei
4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação nº 13.812;
dos vínculos familiares, - A mudança na lei sobre a reeleição dos conselheiros tutelares,
5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda que agora podem ser reeleitos por vários mandatos consecutivos,
infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área em vez de apenas uma vez - lei 13.824, de 9 de maio 2019.
de lazer e atividades culturais e desportivas.
6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo Lei nº 13.509/17, publicada em 22 de novembro de 2017
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade altera o ECA ao estabelecer novos prazos e procedimentos para o
competente. trâmite dos processos de adoção, além de prever novas hipóteses
de destituição do poder familiar, de apadrinhamento afetivo e
Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser disciplinar a entrega voluntária de crianças e adolescentes à adoção.
implementadas até que sejam completados 18 anos de idade.
Contudo, o cumprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos Lei Federal nº 13.431/2017 – Lei da Escuta Protegida
casos de internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA. Esta lei estabelece novas diretrizes para o atendimento de
Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas crianças ou adolescentes vítimas ou testemunhas de violências,
no Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação e que frequentemente são expostos a condutas profissionais
com a reeducação e a ressocialização dos menores infratores. não qualificadas, sendo obrigados a relatar por várias vezes,
Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato ou para pessoas diferentes, violências sofridas, revivendo
infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder desnecessariamente seu drama.
o perdão (remissão), como forma de exclusão do processo, se Denominada “Lei da Escuta Protegida”, essa lei tem como
atendido às circunstâncias e consequências do fato, contexto social, objetivo a proteção de crianças e adolescentes após a revelação da
personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação violência sofrida, promovendo uma escuta única nos serviços de
no ato infracional. atendimento e criando um protocolo de atendimento a ser adotado
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui por todos os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos.
medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento
a programa de proteção a família, inclusão em programa de Lei 13.436, de 12 de abril de 2017 - Garantia do direito a
orientação a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a acompanhamento e orientação à mãe com relação à amamentação
tratamento psicológico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos Esta lei introduziu no artigo 10 do ECA uma responsabilidade
ou programas de orientação, obrigação de matricular e acompanhar adicional para os hospitais e demais estabelecimentos de atenção
o aproveitamento escolar do menor, advertência, perda da guarda, à saúde de gestantes, públicos e particulares: daqui em diante
destituição da tutela e até suspensão ou destituição do pátrio poder. eles estão obrigados a acompanhar a prática do processo de
O importante é observar que as crianças e os adolescentes não amamentação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
podem ser considerados autênticas propriedades de seus genitores, enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar.
visto que são titulas de direitos humanos como quaisquer pessoas, Lei 13.438, de 26 de abril de 2017 – Protocolo de Avaliação de
dotados de direitos e deveres como demonstrado. riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de Esta lei determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) será
parte da sociedade brasileira, que o considera excessivamente obrigado a adotar protocolo com padrões para a avaliação de
paternalista em relação aos atos infracionais cometidos por crianças riscos ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses
e adolescentes, uma vez que os atos infracionais estão ficando cada de idade. A lei estabelece que crianças de até 18 meses de
vez mais violentos e reiterados.
1 Fonte: www.ambito-juridico.com.br – Texto adaptado de Cláudia
Mara de Almeida Rabelo Viegas / Cesar Leandro de Almeida Rabelo

176
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
idade façam acompanhamento através de protocolo ou outro Dispõe a Lei 8.069/1990 que nenhuma criança ou adolescente
instrumento de detecção de risco. Esse acompanhamento se dará será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação,
em consulta pediátrica. Por meio de exames poderá ser detectado exploração, violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa
precocemente, por exemplo, o transtorno do espectro autista, o que seja, devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente
que permitirá um melhor acompanhamento no desenvolvimento aos seus direitos fundamentais.
futuro da criança.
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.
Lei nº 13.440, de 8 de maio de 2017 – Aumento na penalização
de crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
Esta lei promoveu a inclusão de mais uma penalidade no artigo outras providências.
244-A do ECA. A pena previa reclusão de quatro a dez anos e multa
nos crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes. Agora O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso
o texto está acrescido de perda de bens e que os valores advindos Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
dessas práticas serão revertidos em favor do Fundo dos Direitos
da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Título I
Distrito Federal) em que foi cometido o crime. Das Disposições Preliminares

Lei nº 13.441, de 8 de maio de 2017 - Prevê a infiltração de Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao
agentes de polícia na internet com o fim de investigar crimes adolescente.
contra a dignidade sexual de criança e de adolescente Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa
Esta lei prevê a infiltração policial virtual no combate aos crimes até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
contra a dignidade sexual de vulneráveis. A nova lei acrescentou ao doze e dezoito anos de idade.
ECA os artigos 190-A a 190-E e normatizou a investigação em meio Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
cibernético. excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e
um anos de idade.
Revogação do artigo 248 que versava sobre trabalho doméstico Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
de adolescentes fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
Foi revogado o artigo 248 do ECA que possibilitava a integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
regularização da guarda de adolescentes para o serviço doméstico. outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
A Constituição Brasileira proíbe o trabalho infantil, mas este artigo facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
estabelecia prazo de cinco dias para que o responsável, ou novo em condições de liberdade e de dignidade.
guardião, apresentasse à Vara de Justiça de sua cidade ou comarca Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a
o adolescente trazido de outra localidade para prestação de serviço todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento,
doméstico, o que, segundo os autores do projeto de lei que resultou situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
na revogação do artigo, abria espaço para a regularização do deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem,
trabalho infantil ilegal. condição econômica, ambiente social, região e local de moradia
ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a
Lei 13.306 de 2016 publicada no dia 04 de julho, alterou o comunidade em que vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Estatuto da Criança e do Adolescente fixando em cinco anos a Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
idade máxima para o atendimento na educação infantil.2 geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
(8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura,
das crianças e adolescentes em todo o Brasil. à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em partes comunitária.
geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codificações Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho circunstâncias;
tutelar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais. b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
Na presente Lei estão dispostos os procedimentos de adoção relevância pública;
(Livro I, capítulo V), a aplicação de medidas socioeducativas (Livro II, c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais
capítulo II), do Conselho Tutelar (Livro II, capítulo V), e também dos públicas;
crimes cometidos contra crianças e adolescentes. d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos, relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade. crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos
meninos e meninas, e também aborda questões de políticas de e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
atendimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados
à Constituição da República de 1988.
2 Fonte: www.equipeagoraeupasso.com.br/www.g1.globo.com

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Título II disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas
Dos Direitos Fundamentais que contribuam para a redução da incidência da gravidez na
adolescência. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)
Capítulo I Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto no
Do Direito à Vida e à Saúde caput deste artigo ficarão a cargo do poder público, em conjunto com
organizações da sociedade civil, e serão dirigidas prioritariamente
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida ao público adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019)
e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive
em condições dignas de existência. aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.
Art. 8 o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas § 1 o Os profissionais das unidades primárias de saúde
e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de
ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós- ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e à
natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada alimentação complementar saudável, de forma contínua. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 1 o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais § 2 o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal
da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de
§ 2 o Os profissionais de saúde de referência da gestante leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à
estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o direito saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de
§ 3 o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegurarão prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar II - identificar o recém-nascido mediante o registro de
responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe,
o acesso a outros serviços e a grupos de apoio à amamentação. sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) administrativa competente;
§ 4 o Incumbe ao poder público proporcionar assistência III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como
como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado prestar orientação aos pais;
puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
§ 5 o A assistência referida no § 4 o deste artigo deverá ser necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento
prestada também a gestantes e mães que manifestem interesse em do neonato;
entregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a
se encontrem em situação de privação de liberdade. (Redação dada permanência junto à mãe.
pela Lei nº 13.257, de 2016) VI - acompanhar a prática do processo de amamentação,
§ 6 o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe
acompanhante de sua preferência durante o período do pré-natal, permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já
do trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) (Vigência)
13.257, de 2016) § 1º Os testes para o rastreamento de doenças no recém-
§ 7 o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento nascido serão disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, no
materno, alimentação complementar saudável e crescimento e âmbito do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), na
desenvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer forma da regulamentação elaborada pelo Ministério da Saúde, com
a criação de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento implementação de forma escalonada, de acordo com a seguinte
integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) ordem de progressão: (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021)
§ 8 o A gestante tem direito a acompanhamento saudável Vigência
durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo- I – etapa 1: (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por a) fenilcetonúria e outras hiperfenilalaninemias; (Incluída pela
motivos médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
§ 9 o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante b) hipotireoidismo congênito; (Incluída pela Lei nº 14.154, de
que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem 2021) Vigência
como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. c) doença falciforme e outras hemoglobinopatias; (Incluída
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher d) fibrose cística; (Incluída pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia e) hiperplasia adrenal congênita; (Incluída pela Lei nº 14.154,
em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às de 2021) Vigência
normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para f) deficiência de biotinidase; (Incluída pela Lei nº 14.154, de
o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino 2021) Vigência
competente, visando ao desenvolvimento integral da criança. g) toxoplasmose congênita; (Incluída pela Lei nº 14.154, de
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 2021) Vigência
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção II – etapa 2: (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
da Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na a) galactosemias; (Incluída pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência
semana que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de b) aminoacidopatias; (Incluída pela Lei nº 14.154, de 2021)
Vigência

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
c) distúrbios do ciclo da ureia; (Incluída pela Lei nº 14.154, de Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos
2021) Vigência da Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade
d) distúrbios da betaoxidação dos ácidos graxos; (Incluída pela ao atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância
Lei nº 14.154, de 2021) Vigência com suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza,
III – etapa 3: doenças lisossômicas; (Incluído pela Lei nº 14.154, formulando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em
de 2021) Vigência rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela
IV – etapa 4: imunodeficiências primárias; (Incluído pela Lei nº Lei nº 13.257, de 2016)
14.154, de 2021) Vigência Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas
V – etapa 5: atrofia muscular espinhal. (Incluído pela Lei nº de assistência médica e odontológica para a prevenção das
14.154, de 2021) Vigência enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e
§ 2º A delimitação de doenças a serem rastreadas pelo teste campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos.
do pezinho, no âmbito do PNTN, será revisada periodicamente, § 1 o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos
com base em evidências científicas, considerados os benefícios do recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do
rastreamento, do diagnóstico e do tratamento precoce, priorizando parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
as doenças com maior prevalência no País, com protocolo de § 2 o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde
tratamento aprovado e com tratamento incorporado no Sistema bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integral
Único de Saúde. (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência e intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à
§ 3º O rol de doenças constante do § 1º deste artigo poderá ser mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
expandido pelo poder público com base nos critérios estabelecidos § 3 o A atenção odontológica à criança terá função educativa
no § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.154, de 2021) Vigência protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer, por
§ 4º Durante os atendimentos de pré-natal e de puerpério meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto
imediato, os profissionais de saúde devem informar a gestante e os e no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre saúde
acompanhantes sobre a importância do teste do pezinho e sobre as bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
eventuais diferenças existentes entre as modalidades oferecidas no § 4 o A criança com necessidade de cuidados odontológicos
Sistema Único de Saúde e na rede privada de saúde. (Incluído pela especiais será atendida pelo Sistema Único de Saúde. (Incluído pela
Lei nº 14.154, de 2021) Vigência Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado § 5 º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus
voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento
Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta
acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu
da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017)
§ 1 o A criança e o adolescente com deficiência serão atendidos, (Vigência)
sem discriminação ou segregação, em suas necessidades gerais de
saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação dada Capítulo II
pela Lei nº 13.257, de 2016) Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
§ 2 o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade,
outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
reabilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
de cuidado voltadas às suas necessidades específicas. (Redação sociais garantidos na Constituição e nas leis.
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
§ 3 o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou aspectos:
frequente de crianças na primeira infância receberão formação I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários,
específica e permanente para a detecção de sinais de risco para ressalvadas as restrições legais;
o desenvolvimento psíquico, bem como para o acompanhamento II - opinião e expressão;
que se fizer necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) III - crença e culto religioso;
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;
cuidados intermediários, deverão proporcionar condições para a VI - participar da vida política, na forma da lei;
permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
nos casos de internação de criança ou adolescente. (Redação dada Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
pela Lei nº 13.257, de 2016) integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
providências legais. (Redação dada pela Lei nº 13.010, de 2014) violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
§ 1 o As gestantes ou mães que manifestem interesse Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação
Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família
§ 2 o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
entrada, os serviços de assistência social em seu componente
especializado, o Centro de Referência Especializado de Assistência

179
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de § 3 o A manutenção ou a reintegração de criança ou
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela Lei adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer
nº 13.010, de 2014) outra providência, caso em que será esta incluída em serviços e
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (Incluído programas de proteção, apoio e promoção, nos termos do § 1 o do
pela Lei nº 13.010, de 2014) art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva caput do art. 129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de
aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente 2016)
que resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) § 4 o Será garantida a convivência da criança e do adolescente com
a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas periódicas
b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimento
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de institucional, pela entidade responsável, independentemente de
tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: (Incluído autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
pela Lei nº 13.010, de 2014) § 5 o Será garantida a convivência integral da criança com a mãe
a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) adolescente que estiver em acolhimento institucional. (Incluído
b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de pela Lei nº 13.509, de 2017)
2014) § 6 o A mãe adolescente será assistida por equipe especializada
c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em
os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento,
socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de será encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído
crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los pela Lei nº 13.509, de 2017)
que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante § 1 o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissional
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro da Justiça da Infância e da Juventude, que apresentará relatório à
pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos
às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a do estado gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
gravidade do caso: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) 2017)
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de § 2 o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá
proteção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência social
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) para atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; 2017)
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) § 3 o A busca à família extensa, conforme definida nos termos
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo máximo
especializado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período. (Incluído pela
V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Lei nº 13.509, de 2017)
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão § 4 o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências não existir outro representante da família extensa apto a receber
legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) a guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a
extinção do poder familiar e determinar a colocação da criança
Capítulo III sob a guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária de entidade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou
institucional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Seção I § 5 o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de
Disposições Gerais ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve ser
manifestada na audiência a que se refere o § 1 o do art. 166 desta
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei nº 13.509,
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família de 2017)
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em § 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o
ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação genitor nem representante da família extensa para confirmar a
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) intenção de exercer o poder familiar ou a guarda, a autoridade
§ 1 o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em judiciária suspenderá o poder familiar da mãe, e a criança será
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação colocada sob a guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-
reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade la. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe § 7 o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze)
interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada dias para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data
pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em do término do estágio de convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509,
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. de 2017)
28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 8 o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada
§ 2 o A permanência da criança e do adolescente em programa em audiência ou perante a equipe interprofissional - da entrega da
de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18 criança após o nascimento, a criança será mantida com os genitores,
(dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o
superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

180
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 9 o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimento, § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a
respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (Incluído pela Lei nº destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação
13.509, de 2017) por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem
§ 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crianças igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha
acolhidas não procuradas por suas famílias no prazo de 30 (trinta) ou outro descendente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
dias, contado a partir do dia do acolhimento. (Incluído pela Lei nº Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
13.509, de 2017) decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
acolhimento institucional ou familiar poderão participar de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de alude o art. 22. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
2017) Vigência
§ 1 o O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar
à criança e ao adolescente vínculos externos à instituição para Seção II
fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o Da Família Natural
seu desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo,
educacional e financeiro. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros de adoção, desde que Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada
cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
de que fazem parte. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a
§ 3 o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescente criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e
a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
13.509, de 2017) Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser
§ 4 o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio
será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, com termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro
prioridade para crianças ou adolescentes com remota possibilidade documento público, qualquer que seja a origem da filiação.
de reinserção familiar ou colocação em família adotiva. (Incluído Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
pela Lei nº 13.509, de 2017) nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar
§ 5 o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados descendentes.
pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados por Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito
órgãos públicos ou por organizações da sociedade civil. (Incluído personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
pela Lei nº 13.509, de 2017) exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição,
§ 6 o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os observado o segredo de Justiça.
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária Seção III
competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Da Família Substituta
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas Subseção I
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Disposições Gerais
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica
de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
solução da divergência. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, § 1 o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
de 2009) Vigência previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações considerada. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
judiciais. § 2 o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos necessário seu consentimento, colhido em audiência. (Redação
iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de § 3 o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de
transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar
direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº ou minorar as consequências decorrentes da medida. (Incluído pela
13.257, de 2016) Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui § 4 o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela
motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar . ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência existência de risco de abuso ou outra situação que justifique
§ 1 o Não existindo outro motivo que por si só autorize a plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-
decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos
sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída fraternais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção. § 5 o A colocação da criança ou adolescente em família substituta
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento
posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o apoio § 1 o A inclusão da criança ou adolescente em programas
dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento
de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº institucional, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e
12.010, de 2009) Vigência excepcional da medida, nos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº
§ 6 o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou 12.010, de 2009)
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda § 2 o Na hipótese do § 1 o deste artigo a pessoa ou casal
obrigatório: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá receber
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e a criança ou adolescente mediante guarda, observado o disposto
cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas instituições, nos arts. 28 a 33 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
desde que não sejam incompatíveis com os direitos fundamentais Vigência
reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; (Incluído pela § 3 o A União apoiará a implementação de serviços de
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência acolhimento em família acolhedora como política pública, os quais
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de deverão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de
sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; (Incluído crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas,
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
federal responsável pela política indigenista, no caso de crianças § 4 o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distritais
e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento em
interprofissional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência própria família acolhedora. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá Subseção III
transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades Da Tutela
governamentais ou não-governamentais, sem autorização judicial.
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa
medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção. de até 18 (dezoito) anos incompletos. (Redação dada pela Lei nº
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará 12.010, de 2009) Vigência
compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia
mediante termo nos autos. decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica
necessariamente o dever de guarda. (Expressão substituída pela Lei
Subseção II nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Guarda Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer
documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art.
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, 1.729 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil ,
moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão,
detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. (Vide ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato,
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados
tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade,
de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e
a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la.
direito de representação para a prática de atos determinados. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24.
de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários.
§ 4 o Salvo expressa e fundamentada determinação em Subseção IV
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a Da Adoção
medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento
da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de segundo o disposto nesta Lei.
prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, § 1 o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se
a pedido do interessado ou do Ministério Público. (Incluído pela Lei deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção
nº 12.010, de 2009) Vigência da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência do parágrafo único do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010,
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de 2009) Vigência
de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar. § 2 o É vedada a adoção por procuração. (Incluído pela Lei nº
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 3 o Em caso de conflito entre direitos e interesses do § 1 o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o
adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante
prevalecer os direitos e os interesses do adotando. (Incluído pela tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
Lei nº 13.509, de 2017) constituição do vínculo. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos Vigência
à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos § 2 o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa
adotantes. da realização do estágio de convivência. (Redação dada pela Lei nº
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com 12.010, de 2009) Vigência
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o § 2 o -A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo
de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão
matrimoniais. fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, 13.509, de 2017)
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou § 3 o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
concubino do adotante e os respectivos parentes. domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias,
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e prorrogável por até igual período, uma única vez, mediante decisão
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária. fundamentada da autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, 13.509, de 2017)
independentemente do estado civil. (Redação dada pela Lei nº § 3 o -A. Ao final do prazo previsto no § 3 o deste artigo, deverá
12.010, de 2009) Vigência ser apresentado laudo fundamentado pela equipe mencionada no §
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do 4 o deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da adoção
adotando. à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2 o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes § 4 o O estágio de convivência será acompanhado pela equipe
sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
a estabilidade da família. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
2009) Vigência execução da política de garantia do direito à convivência familiar,
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais que apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do
velho do que o adotando. deferimento da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 4 o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex- Vigência
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que § 5 o O estágio de convivência será cumprido no território
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio nacional, preferencialmente na comarca de residência da criança ou
de convivência tenha sido iniciado na constância do período de adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada,
convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que residência da criança. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
justifiquem a excepcionalidade da concessão. (Redação dada pela Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se
§ 5 o Nos casos do § 4 o deste artigo, desde que demonstrado fornecerá certidão.
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais,
compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei n o 10.406, bem como o nome de seus ascendentes.
de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil . (Redação dada pela Lei nº § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
12.010, de 2009) Vigência registro original do adotado.
§ 6 o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após § 3 o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência.
procedimento, antes de prolatada a sentença. (Incluído pela Lei nº (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência § 4 o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais constar nas certidões do registro. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. de 2009) Vigência
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar § 5 o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e,
o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do
curatelado. prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do § 6 o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
representante legal do adotando. adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança nos §§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido de 2009) Vigência
destituídos do poder familiar . (Expressão substituída pela Lei nº § 7 o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
12.010, de 2009) Vigência julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no §
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, 6 o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do
será também necessário o seu consentimento. óbito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência com § 8 o O processo relativo à adoção assim como outros a
a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa) dias, ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu
observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiaridades armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a
do caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) sua conservação para consulta a qualquer tempo. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção em § 9 o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
que o adotando for criança ou adolescente com deficiência ou com manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior
doença crônica. (Incluído pela Lei nº 12.955, de 2014) comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de
período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. pretendentes habilitados residentes no País com perfil compatível e
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) interesse manifesto pela adoção de criança ou adolescente inscrito
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem nos cadastros existentes, será realizado o encaminhamento da
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual criança ou adolescente à adoção internacional. (Redação dada pela
a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar Lei nº 13.509, de 2017)
18 (dezoito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado
Vigência em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em
também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu programa de acolhimento familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. 2009) Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público.
familiar dos pais naturais. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de 2009) Vigência § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos
foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção. Vigência
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta 12.010, de 2009) Vigência
aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. II - for formulada por parente com o qual a criança ou
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; (Incluído
os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
no art. 29. III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda
§ 3 o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de
técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato
§ 4 o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os
no § 3 o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei.
em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio interessadas em adotar criança ou adolescente com deficiência,
dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde,
execução da política municipal de garantia do direito à convivência além de grupo de irmãos. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o
§ 5 o Serão criados e implementados cadastros estaduais pretendente possui residência habitual em país-parte da Convenção
e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. (Incluído Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promulgada pelo
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Decreto n o 3.087, de 21 junho de 1999 , e deseja adotar criança em
§ 6 o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes outro país-parte da Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
fora do País, que somente serão consultados na inexistência de de 2017)
postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § § 1 o A adoção internacional de criança ou adolescente
5 o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar
§ 7 o As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção comprovado: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao
informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema. caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação
§ 8 o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 da criança ou adolescente em família adotiva brasileira, com a
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em comprovação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes
condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar habilitados residentes no Brasil com perfil compatível com a criança
na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida ou adolescente, após consulta aos cadastros mencionados nesta
sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos Lei; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
no § 5 o deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído pela III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de
desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, internacional, com posterior comunicação às Autoridades Centrais
observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Incluída Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência próprio da internet. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2 o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência § 3 o Somente será admissível o credenciamento de organismos
aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou que: (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
adolescente brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de
Vigência Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central
§ 3 o A adoção internacional pressupõe a intervenção das do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando
Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção para atuar em adoção internacional no Brasil; (Incluída pela Lei nº
internacional. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 4º (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - satisfizerem as condições de integridade moral, competência
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos países
previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações: respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Incluída
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação
ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação e experiência para atuar na área de adoção internacional; (Incluída
à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento
está situada sua residência habitual; (Incluída pela Lei nº 12.010, jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade
de 2009) Vigência Central Federal Brasileira. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar Vigência
que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá § 4 o Os organismos credenciados deverão ainda: (Incluído pela
um relatório que contenha informações sobre a identidade, a Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e
situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país
os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade
(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Central Federal Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório Vigência
à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e
Federal Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou
IV - o relatório será instruído com toda a documentação experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas
necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade
interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão
pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência; (Incluída federal competente; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - estar submetidos à supervisão das autoridades competentes
V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;
e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
tradução, por tradutor público juramentado; (Incluída pela Lei nº IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada
12.010, de 2009) Vigência ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no
solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulante período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia
estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; (Incluída pela Federal; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório
a nacional, além do preenchimento por parte dos postulantes à será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil,
medida dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;
deferimento, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do país de acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes
internacional, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da
(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. (Incluída pela Lei nº
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da 12.010, de 2009) Vigência
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança ou § 5 o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4 o deste
adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade Central artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão de
Estadual. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência seu credenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1 o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, § 6 o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional encarregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá
sejam intermediados por organismos credenciados. (Incluída pela validade de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência
§ 2 o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira
o credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 7 o A renovação do credenciamento poderá ser concedida § 2 o O pretendente brasileiro residente no exterior em país não
mediante requerimento protocolado na Autoridade Central Federal ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no Brasil,
Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do respectivo deverá requerer a homologação da sentença estrangeira pelo
prazo de validade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 8 o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a Vigência
adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país
território nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem
§ 9 o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade
determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, bem Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos
como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e
as características da criança ou adolescente adotado, como idade, determinará as providências necessárias à expedição do Certificado
cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto de Naturalização Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, Vigência
instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e § 1 o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério
certidão de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão
2009) Vigência se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança ou do
qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
crianças e adolescentes adotados (Incluído pela Lei nº 12.010, de § 2 o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista
2009) Vigência no § 1 o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos requerer o que for de direito para resguardar os interesses da
credenciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à
Central Federal Brasileira e que não estejam devidamente Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade
comprovados, é causa de seu descredenciamento. (Incluído pela Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem.
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país
representados por mais de uma entidade credenciada para atuar na de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de origem
cooperação em adoção internacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda, na
de 2009) Vigência hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente ser
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o
fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. (Incluído
renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de
organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes Capítulo IV
de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
com crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem
a devida autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação,
Vigência visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-
ou suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que se-lhes:
julgar necessário, mediante ato administrativo fundamentado. I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência escola;
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e II - direito de ser respeitado por seus educadores;
descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
organismos estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de às instâncias escolares superiores;
adoção internacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas. IV - direito de organização e participação em entidades
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência estudantis;
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residência,
efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
da Criança e do Adolescente (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) (Redação dada pela Lei nº 13.845, de 2019)
Vigência Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência
Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país do processo pedagógico, bem como participar da definição das
ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha propostas educacionais.
sido processado em conformidade com a legislação vigente no país Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações
de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar medidas
referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou
reingresso no Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dependência de drogas ilícitas. (Incluído pela Lei nº 13.840, de
§ 1 o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do 2019)
Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologada Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:
pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os
2009) Vigência que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao
ensino médio;

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016) I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da cinco horas do dia seguinte;
criação artística, segundo a capacidade de cada um; II - perigoso, insalubre ou penoso;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
do adolescente trabalhador; desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
VII - atendimento no ensino fundamental, através de IV - realizado em horários e locais que não permitam a
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, freqüência à escola.
alimentação e assistência à saúde. Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público educativo, sob responsabilidade de entidade governamental
subjetivo. ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder adolescente que dele participe condições de capacitação para o
público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da exercício de atividade regular remunerada.
autoridade competente. § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
responsável, pela freqüência à escola. § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. não desfigura o caráter educativo.
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; outros:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
esgotados os recursos escolares; II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
III - elevados níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências Título III
e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, Da Prevenção
metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças
e adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. Capítulo I
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores Disposições Gerais
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
criação e o acesso às fontes de cultura. violação dos direitos da criança e do adolescente.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas
programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo
infância e a juventude. físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não
violentas de educação de crianças e de adolescentes, tendo como
Capítulo V principais ações: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho I - a promoção de campanhas educativas permanentes para
a divulgação do direito da criança e do adolescente de serem
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
anos de idade, salvo na condição de aprendiz. (Vide Constituição cruel ou degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos
Federal) humanos; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Tutelar,
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico- com os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação entidades não governamentais que atuam na promoção, proteção
de educação em vigor. e defesa dos direitos da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos nº 13.010, de 2014)
seguintes princípios: III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais
I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular; de saúde, educação e assistência social e dos demais agentes que
II - atividade compatível com o desenvolvimento do atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente; adolescente para o desenvolvimento das competências necessárias
III - horário especial para o exercício das atividades. à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e ao
Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada enfrentamento de todas as formas de violência contra a criança e o
bolsa de aprendizagem. adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de
assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. conflitos que envolvam violência contra a criança e o adolescente;
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
trabalho protegido.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a atenção pré- no horário recomendado para o público infanto juvenil, programas
natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o objetivo com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
de promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão,
ou degradante no processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, apresentação ou exibição.
de 2014) Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de programação
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação conjunta em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em
focados nas famílias em situação de violência, com participação desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente.
de profissionais de saúde, de assistência social e de educação e de Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir,
órgãos de promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária a
adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) que se destinam.
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com Art. 78. As revistas e publicações contendo material
deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e políticas impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser
públicas de prevenção e proteção. (Incluído pela Lei nº 13.010, de comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu
2014) conteúdo.
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegidas
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar com embalagem opaca.
ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infanto-
contra crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas,
2014) crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela munições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa
comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, por e da família.
razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem
cuidado, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de
na forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão, jogos, assim entendidas as que realizem apostas, ainda que
culposos ou dolosos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) eventualmente, cuidarão para que não seja permitida a entrada e
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, a permanência de crianças e adolescentes no local, afixando aviso
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e para orientação do público.
serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento. Seção II
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da Dos Produtos e Serviços
prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
adotados. Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará I - armas, munições e explosivos;
em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta II - bebidas alcoólicas;
Lei. III - produtos cujos componentes possam causar dependência
física ou psíquica ainda que por utilização indevida;
Capítulo II IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo
Da Prevenção Especial seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano
físico em caso de utilização indevida;
Seção I V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
Espetáculos Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente
em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regulará autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.
as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a natureza
deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários Seção III
em que sua apresentação se mostre inadequada. Da Autorização para Viajar
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos
públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza (dezesseis) anos poderá viajar para fora da comarca onde reside
do espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa
classificação. autorização judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões § 1º A autorização não será exigida quando:
e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança
etária. ou do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável. b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos
estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
comprovado documentalmente o parentesco; Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social,
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização
ou responsável. do atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou ato infracional;
responsável, conceder autorização válida por dois anos. VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução
dispensável, se a criança ou adolescente: das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista
expressamente pelo outro através de documento com firma na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução
reconhecida. se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
exterior. participação dos diversos segmentos da sociedade. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parte Especial VIII - especialização e formação continuada dos profissionais
que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância,
Título I incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre
Da Política de Atendimento desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos
Capítulo I da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade no
Disposições Gerais atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento
integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações infantil e sobre prevenção da violência. (Incluído pela Lei nº 13.257,
governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do de 2016)
Distrito Federal e dos municípios. Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
I - políticas sociais básicas; adolescente é considerada de interesse público relevante e não
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência será remunerada.
social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de
violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências; (Redação Capítulo II
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Das Entidades de Atendimento
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, Seção I
abuso, crueldade e opressão; Disposições Gerais
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável,
crianças e adolescentes desaparecidos; Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento
da criança e do adolescente. e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar a crianças e adolescentes, em regime de: (Vide)
o período de afastamento do convívio familiar e a garantir o I - orientação e apoio sócio-familiar;
efetivo exercício do direito à convivência familiar de crianças e II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
adolescentes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - colocação familiar;
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de IV - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar 12.010, de 2009) Vigência
e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou V - prestação de serviços à comunidade; (Redação dada pela Lei
de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com nº 12.594, de 2012) (Vide)
deficiências e de grupos de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
2009) Vigência 2012) (Vide)
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
I - municipalização do atendimento; 2012) (Vide)
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional VIII - internação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos § 1 o As entidades governamentais e não governamentais
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada deverão proceder à inscrição de seus programas, especificando
a participação popular paritária por meio de organizações os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
III - criação e manutenção de programas específicos, observada qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que
a descentralização político-administrativa; fará comunicação ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do
adolescente;

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 2 o Os recursos destinados à implementação e manutenção § 1 o O dirigente de entidade que desenvolve programa de
dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os
dotações orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
áreas de Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, § 2 o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas
observando-se o princípio da prioridade absoluta à criança e ao de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade
adolescente preconizado pelo caput do art. 227 da Constituição judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado
Federal e pelo caput e parágrafo único do art. 4 o desta Lei. (Incluído acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência família, para fins da reavaliação prevista no § 1 o do art. 19 desta Lei.
§ 3 o Os programas em execução serão reavaliados pelo (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, § 3 o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Executivo
no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qualificação
renovação da autorização de funcionamento: (Incluído pela Lei nº dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em programas
12.010, de 2009) Vigência de acolhimento institucional e destinados à colocação familiar de
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder Judiciário,
às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado Ministério Público e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei nº 12.010,
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, de 2009) Vigência
em todos os níveis; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4 o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciária
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atestadas competente, as entidades que desenvolvem programas de
pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça da acolhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio
Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) do Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão
Vigência o contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
III - em se tratando de programas de acolhimento institucional cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegração (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso. § 5 o As entidades que desenvolvem programas de acolhimento
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência familiar ou institucional somente poderão receber recursos
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão públicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e
funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos finalidades desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao § 6 o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigente
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade. de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar ou
§ 1 o Será negado o registro à entidade que: (Incluído pela Lei nº institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apuração
12.010, de 2009) Vigência de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal. (Incluído
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; § 7 o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos em
b) não apresente plano de trabalho compatível com os acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação de
princípios desta Lei; educadores de referência estáveis e qualitativamente significativos,
c) esteja irregularmente constituída; às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades básicas,
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. incluindo as de afeto como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257,
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e de 2016)
deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado Art. 93. As entidades que mantenham programa de
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de
em todos os níveis. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação
§ 2 o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, da autoridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do (vinte e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena
Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua de responsabilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
renovação, observado o disposto no § 1 o deste artigo. (Incluído pela Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias
princípios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência para promover a imediata reintegração familiar da criança ou
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da do adolescente ou, se por qualquer razão não for isso possível
reintegração familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) ou recomendável, para seu encaminhamento a programa de
Vigência acolhimento familiar, institucional ou a família substituta, observado
II - integração em família substituta, quando esgotados os o disposto no § 2 o do art. 101 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010,
recursos de manutenção na família natural ou extensa; (Redação de 2009) Vigência
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação; I - observar os direitos e garantias de que são titulares os
V - não desmembramento de grupos de irmãos; adolescentes;
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
entidades de crianças e adolescentes abrigados; restrição na decisão de internação;
VII - participação na vida da comunidade local; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
VIII - preparação gradativa para o desligamento; unidades e grupos reduzidos;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e
educativo. dignidade ao adolescente;

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação II - às entidades não-governamentais:
dos vínculos familiares; a) advertência;
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
vínculos familiares; d) cassação do registro.
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de § 1 o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados
necessários à higiene pessoal; nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados representado perante autoridade judiciária competente para
à faixa etária dos adolescentes atendidos; as providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e dissolução da entidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
farmacêuticos; Vigência
X - propiciar escolarização e profissionalização; § 2 o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; não governamentais responderão pelos danos que seus agentes
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o
acordo com suas crenças; descumprimento dos princípios norteadores das atividades de
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; proteção específica. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo Vigência
máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade
competente; Título II
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre Das Medidas de Proteção
sua situação processual; Capítulo I
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de Disposições Gerais
adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas;
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
adolescentes; são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
XVIII - manter programas destinados ao apoio e ameaçados ou violados:
acompanhamento de egressos; I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
cidadania àqueles que não os tiverem; III - em razão de sua conduta.
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e
circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou Capítulo II
responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento Das Medidas Específicas de Proteção
da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que
possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser
§ 1 o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a
deste artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento qualquer tempo.
institucional e familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
Vigência necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
entidades utilizarão preferencialmente os recursos da comunidade. Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem das medidas: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em caráter I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de
temporário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos
reconhecer e reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal;
de maus-tratos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação de
Seção II toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à proteção
Da Fiscalização das Entidades integral e prioritária dos direitos de que crianças e adolescentes são
titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais III - responsabilidade primária e solidária do poder público:
referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a
Público e pelos Conselhos Tutelares. adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão casos por esta expressamente ressalvados, é de responsabilidade
apresentados ao estado ou ao município, conforme a origem das primária e solidária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da
dotações orçamentárias. municipalização do atendimento e da possibilidade da execução de
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento programas por entidades não governamentais; (Incluído pela Lei nº
que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da 12.010, de 2009) Vigência
responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos: IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
I - às entidades governamentais: intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos
a) advertência; da criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for
b) afastamento provisório de seus dirigentes; devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; interesses presentes no caso concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010,
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. de 2009) Vigência

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança § 2 o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para
e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências
direito à imagem e reserva da sua vida privada; (Incluído pela Lei nº a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou
12.010, de 2009) Vigência adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido
competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de
conhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da § 3 o Crianças e adolescentes somente poderão ser
criança e do adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) encaminhados às instituições que executam programas de
Vigência acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na
a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº
ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é 12.010, de 2009) Vigência
tomada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e 2009) Vigência
o adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na proteção pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às medidas III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-
que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou extensa los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ou, se isso não for possível, que promovam a sua integração em IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio
família adotiva; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, § 4 o Imediatamente após o acolhimento da criança ou
respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
compreensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual
seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da de atendimento, visando à reintegração familiar, ressalvada a
forma como esta se processa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de
Vigência autoridade judiciária competente, caso em que também deverá
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescente, contemplar sua colocação em família substituta, observadas as
em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de regras e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, Vigência
têm direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da § 5 o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade
medida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará
devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva
observado o disposto nos §§ 1 o e 2 o do art. 28 desta Lei. (Incluído dos pais ou do responsável. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. § 6 o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído
98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
seguintes medidas: I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo nº 12.010, de 2009) Vigência
de responsabilidade; II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a
oficial de ensino fundamental; criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável,
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por
de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a
adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
em regime hospitalar ou ambulatorial; 2009) Vigência
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, § 7 o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a
12.010, de 2009) Vigência necessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência § 8 o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
§ 1 o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são responsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional
medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista
transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em
para colocação em família substituta, não implicando privação de igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

192
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 9 o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração Título III
da criança ou do adolescente à família de origem, após seu Da Prática de Ato Infracional
encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação,
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Capítulo I
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das Disposições Gerais
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a crime ou contravenção penal.
destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada
de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do a idade do adolescente à data do fato.
poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão
complementares ou de outras providências indispensáveis ao as medidas previstas no art. 101.
ajuizamento da demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
2017) CAPÍTULO II
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou DOS DIREITOS INDIVIDUAIS
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas
sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
familiar e institucional sob sua responsabilidade, com informações senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e
pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as fundamentada da autoridade judiciária competente.
providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos
em família substituta, em qualquer das modalidades previstas no responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de
art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência seus direitos.
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde
Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade
Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por
Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de ele indicada.
políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
permanência em programa de acolhimento. (Incluído pela Lei nº Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada
12.010, de 2009) Vigência pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-
serão acompanhadas da regularização do registro civil. (Vide Lei nº se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada
12.010, de 2009) Vigência a necessidade imperiosa da medida.
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo
judiciária. dúvida fundada.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de
que trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos, CAPÍTULO III
gozando de absoluta prioridade. DAS GARANTIAS PROCESSUAIS
§ 3 o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado
procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
previsto pela Lei n o 8.560, de 29 de dezembro de 1992. (Incluído sem o devido processo legal.
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as
§ 4 o Nas hipóteses previstas no § 3 o deste artigo, é dispensável seguintes garantias:
o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,
Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do mediante citação ou meio equivalente;
suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se
encaminhada para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias
Vigência à sua defesa;
§ 5 o Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer III - defesa técnica por advogado;
tempo, do nome do pai no assento de nascimento são isentos de IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados,
multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. na forma da lei;
(Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
§ 6 o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida competente;
do reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável
a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de em qualquer fase do procedimento.
2016)

193
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Capítulo IV Seção V
Das Medidas Sócio-Educativas Da Liberdade Assistida

Seção I Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se


Disposições Gerais afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar,
auxiliar e orientar o adolescente.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade
I - advertência; ou programa de atendimento.
II - obrigação de reparar o dano; § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
III - prestação de serviços à comunidade; seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada
IV - liberdade assistida; ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério
V - inserção em regime de semi-liberdade; Público e o defensor.
VI - internação em estabelecimento educacional; Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua outros:
capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. I - promover socialmente o adolescente e sua família,
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em
prestação de trabalho forçado. programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do
mental receberão tratamento individual e especializado, em local adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
adequado às suas condições. III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100. e de sua inserção no mercado de trabalho;
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI IV - apresentar relatório do caso.
do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da autoria
e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, Seção VI
nos termos do art. 127. Do Regime de Semi-liberdade
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que
houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado
desde o início, ou como forma de transição para o meio
Seção II aberto, possibilitada a realização de atividades externas,
Da Advertência independentemente de autorização judicial.
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização,
Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes
será reduzida a termo e assinada. na comunidade.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se,
Seção III no que couber, as disposições relativas à internação.
Da Obrigação de Reparar o Dano
Seção VII
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos Da Internação
patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o
adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade,
por outra forma, compense o prejuízo da vítima. sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
poderá ser substituída por outra adequada. § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a
critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação
Seção IV judicial em contrário.
Da Prestação de Serviços à Comunidade § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua
manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na máximo a cada seis meses.
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação
excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, excederá a três anos.
escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
programas comunitários ou governamentais. adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as liberdade ou de liberdade assistida.
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de
ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
à jornada normal de trabalho. § 7 o A determinação judicial mencionada no § 1 o poderá ser
revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. (Incluído pela
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
quando:

194
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça Art. 127. A remissão não implica necessariamente o
ou violência a pessoa; reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em
anteriormente imposta. lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação.
§ 1 o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser
não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expresso
judicialmente após o devido processo legal. (Redação dada pela Lei do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério
nº 12.594, de 2012) (Vide) Público.
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo
outra medida adequada. Título IV
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado
ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
compleição física e gravidade da infração. I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive comunitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação
provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas. dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
entre outros, os seguintes: orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
Ministério Público; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; freqüência e aproveitamento escolar;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a
solicitada; tratamento especializado;
V - ser tratado com respeito e dignidade; VII - advertência;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela VIII - perda da guarda;
mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; IX - destituição da tutela;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; X - suspensão ou destituição do poder familiar . (Expressão
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos
pessoal; IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou
salubridade; abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade
XI - receber escolarização e profissionalização; judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: do agressor da moradia comum.
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o
desde que assim o deseje; adolescente dependentes do agressor. (Incluído pela Lei nº 12.415,
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de de 2011)
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles
porventura depositados em poder da entidade; Título V
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos Do Conselho Tutelar
pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Capítulo I
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente Disposições Gerais
a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios
e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo
mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos
contenção e segurança. nesta Lei.
Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrativa
Capítulo V do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar
Da Remissão como órgão integrante da administração pública local, composto de
5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para mandato
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para de 4 (quatro) anos, permitida recondução por novos processos de
apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público escolha. (Redação dada pela Lei nº 13.824, de 2019)
poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar,
atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto serão exigidos os seguintes requisitos:
social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou I - reconhecida idoneidade moral;
menor participação no ato infracional. II - idade superior a vinte e um anos;
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da III - residir no município.
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou
extinção do processo.

195
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento
horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto à e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção
remuneração dos respectivos membros, aos quais é assegurado o social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
direito a: (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser
I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, de revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo
2012) interesse.
II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
(um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído pela Lei nº Capítulo III
12.696, de 2012) Da Competência
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência
V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012) constante do art. 147.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal
e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao Capítulo IV
funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação Da Escolha dos Conselheiros
continuada dos conselheiros tutelares. (Redação dada pela Lei nº
12.696, de 2012) Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a
serviço público relevante e estabelecerá presunção de idoneidade responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança
moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012) e do Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público. (Redação
dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
Capítulo II § 1 o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar
Das Atribuições do Conselho ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada
4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: ano subsequente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas 12.696, de 2012)
nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a § 2 o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de
VII; janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. (Incluído pela
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as Lei nº 12.696, de 2012)
medidas previstas no art. 129, I a VII; § 3 o No processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar,
III - promover a execução de suas decisões, podendo para é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao
tanto: eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, brindes de pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
serviço social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de Capítulo V
descumprimento injustificado de suas deliberações. Dos Impedimentos
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido
criança ou adolescente; e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora,
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
competência; madrasta e enteado.
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro,
judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o na forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao
adolescente autor de ato infracional; representante do Ministério Público com atuação na Justiça da
VII - expedir notificações; Infância e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança distrital.
ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da Título VI
proposta orçamentária para planos e programas de atendimento Do Acesso à Justiça
dos direitos da criança e do adolescente;
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra Capítulo I
a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Disposições Gerais
Constituição Federal ;
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à qualquer de seus órgãos.
família natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância
reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) hipótese de litigância de má-fé.
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio
familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público,

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais,
e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o
por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou disposto no art. 209;
processual. V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial à entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis;
criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidirem VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações
com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de contra norma de proteção à criança ou adolescente;
representação ou assistência legal ainda que eventual. VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar,
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e aplicando as medidas cabíveis.
administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente
se atribua autoria de ato infracional. nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infância
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não e da Juventude para o fim de:
poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
referência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, b) conhecer de ações de destituição do poder familiar , perda
inclusive, iniciais do nome e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº ou modificação da tutela ou guarda; (Expressão substituída pela Lei
10.764, de 12.11.2003) nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento;
refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou
judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a materna, em relação ao exercício do poder familiar ; (Expressão
finalidade. substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando
Capítulo II faltarem os pais;
Da Justiça da Infância e da Juventude f) designar curador especial em casos de apresentação de
queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou
Seção I extrajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;
Disposições Gerais g) conhecer de ações de alimentos;
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento dos
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas registros de nascimento e óbito.
especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através de
Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
habitantes, dotá-las de infra-estrutura e dispor sobre o atendimento, I - a entrada e permanência de criança ou adolescente,
inclusive em plantões. desacompanhado dos pais ou responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
Seção II b) bailes ou promoções dançantes;
Do Juiz c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma II - a participação de criança e adolescente em:
da lei de organização judiciária local. a) espetáculos públicos e seus ensaios;
Art. 147. A competência será determinada: b) certames de beleza.
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciária
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta levará em conta, dentre outros fatores:
dos pais ou responsável. a) os princípios desta Lei;
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autoridade b) as peculiaridades locais;
do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, c) a existência de instalações adequadas;
continência e prevenção. d) o tipo de freqüência habitual ao local;
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autoridade e) a adequação do ambiente a eventual participação ou
competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde freqüência de crianças e adolescentes;
sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente. f) a natureza do espetáculo.
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações
será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade de caráter geral.
judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a
sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras Seção III
do respectivo estado. Dos Serviços Auxiliares
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
para: Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância
aplicando as medidas cabíveis; e da Juventude.
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
do processo; atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na
audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento,

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a § 1 o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre determinará, concomitantemente ao despacho de citação e
manifestação do ponto de vista técnico. independentemente de requerimento do interessado, a realização
Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores de estudo social ou perícia por equipe interprofissional ou
públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela multidisciplinar para comprovar a presença de uma das causas de
realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies suspensão ou destituição do poder familiar, ressalvado o disposto
de avaliações técnicas exigidas por esta Lei ou por determinação no § 10 do art. 101 desta Lei, e observada a Lei n o 13.431, de 4 de
judicial, a autoridade judiciária poderá proceder à nomeação de abril de 2017 . (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
perito, nos termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março § 2 o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas,
de 2015 (Código de Processo Civil) . (Incluído pela Lei nº 13.509, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional
de 2017) ou multidisciplinar referida no § 1 o deste artigo, de representantes
do órgão federal responsável pela política indigenista, observado o
Capítulo III disposto no § 6 o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509,
Dos Procedimentos de 2017)
§ 3º A concessão da liminar será, preferencialmente, precedida
Seção I de entrevista da criança ou do adolescente perante equipe
Disposições Gerais multidisciplinar e de oitiva da outra parte, nos termos da Lei nº
13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído pela Lei nº 14.340, de 2022)
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam- § 4º Se houver indícios de ato de violação de direitos de criança
se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação ou de adolescente, o juiz comunicará o fato ao Ministério Público
processual pertinente. e encaminhará os documentos pertinentes. (Incluído pela Lei nº
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade 14.340, de 2022)
absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias,
nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem produzidas e
a eles referentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos.
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus § 1 o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro § 2 o O requerido privado de liberdade deverá ser citado
para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº pessoalmente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
13.509, de 2017) § 3 o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder a procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar,
procedimento previsto nesta ou em outra lei, a autoridade judiciária deverá, havendo suspeita de ocultação, informar qualquer pessoa
poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências da família ou, em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que
necessárias, ouvido o Ministério Público. voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar, nos termos
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o do art. 252 e seguintes da Lei n o 13.105, de 16 de março de 2015
fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de (Código de Processo Civil) . (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos. § 4 o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10 (dez)
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a
localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Seção II Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família,
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual
incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do da intimação do despacho de nomeação.
poder familiar terá início por provocação do Ministério Público ou Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
de quem tenha legítimo interesse. (Expressão substituída pela Lei liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento da
nº 12.010, de 2009) Vigência citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. (Incluído
Art. 156. A petição inicial indicará: pela Lei nº 12.962, de 2014)
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente de qualquer repartição ou órgão público a apresentação de
e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de pedido documento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das
formulado por representante do Ministério Público; partes ou do Ministério Público.
III - a exposição sumária do fato e o pedido; Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido concluído
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o o estudo social ou a perícia realizada por equipe interprofissional
rol de testemunhas e documentos. ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o
ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do poder familiar requerente, e decidirá em igual prazo. (Redação dada pela Lei nº
, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da 13.509, de 2017)
causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
mediante termo de responsabilidade. (Expressão substituída pela das partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
e 1.638 da Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
§ 2 o (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
§ 3 o Se o pedido importar em modificação de guarda, será Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão
obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou também os requisitos específicos.
adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou
compreensão sobre as implicações da medida. (Incluído pela Lei nº suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente
12.010, de 2009) Vigência ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos
identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os casos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado.
de não comparecimento perante a Justiça quando devidamente (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
citados. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 1 o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação
§ 5 o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva. I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes,
(Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) devidamente assistidas por advogado ou por defensor público, para
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10
vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando (dez) dias, contado da data do protocolo da petição ou da entrega
este for o requerente, designando, desde logo, audiência de da criança em juízo, tomando por termo as declarações; e (Incluído
instrução e julgamento. pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1º (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº
§ 2 o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, 13.509, de 2017)
serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer § 2 o O consentimento dos titulares do poder familiar será
técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe
sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público, interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial,
pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por mais 10 no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. (Incluído
(dez) minutos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3 o A decisão será proferida na audiência, podendo a § 3 o São garantidos a livre manifestação de vontade dos
autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das informações.
leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
13.509, de 2017) § 4 o O consentimento prestado por escrito não terá validade se
§ 4 o Quando o procedimento de destituição de poder familiar não for ratificado na audiência a que se refere o § 1 o deste artigo.
for iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade de (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
nomeação de curador especial em favor da criança ou adolescente. § 5 o O consentimento é retratável até a data da realização da
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) audiência especificada no § 1 o deste artigo, e os pais podem exercer
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da data de
será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notória prolação da sentença de extinção do poder familiar. (Redação dada
inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços para pela Lei nº 13.509, de 2017)
preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação em § 6 o O consentimento somente terá valor se for dado após
família substituta. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) o nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a Vigência
suspensão do poder familiar será averbada à margem do registro § 7 o A família natural e a família substituta receberão a devida
de nascimento da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a
12.010, de 2009) Vigência serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
Seção III municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Redação
Da Destituição da Tutela dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de
para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional,
couber, o disposto na seção anterior. decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
Seção IV Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou
Da Colocação em Família Substituta do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue
ao interessado, mediante termo de responsabilidade. (Incluído pela
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
colocação em família substituta: Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á
cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste; vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias,
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
especificando se tem ou não parente vivo; perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus lógico da medida principal de colocação em família substituta, será
pais, se conhecidos;

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
observado o procedimento contraditório previsto nas Seções II e III Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios
deste Capítulo. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) de participação de adolescente na prática de ato infracional, a
Vigência autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá Público relatório das investigações e demais documentos.
ser decretada nos mesmos autos do procedimento, observado o Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
disposto no art. 35. infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o compartimento fechado de veículo policial, em condições
disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do
será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados
12.010, de 2009) Vigência pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do
adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em
Seção V sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Adolescente Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante
do Ministério Público notificará os pais ou responsável para
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das
será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária. polícias civil e militar.
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior,
infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial o representante do Ministério Público poderá:
competente. I - promover o arquivamento dos autos;
Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada para II - conceder a remissão;
atendimento de adolescente e em se tratando de ato infracional III - representar à autoridade judiciária para aplicação de
praticado em co-autoria com maior, prevalecerá a atribuição da medida sócio-educativa.
repartição especializada, que, após as providências necessárias e Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida
conforme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria. a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos
mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
deverá: judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida.
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos
adolescente; ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado,
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; e este oferecerá representação, designará outro membro do
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento
da materialidade e autoria da infração. ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a a homologar.
lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério
circunstanciada. Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão,
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a
adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação educativa que se afigurar a mais adequada.
ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo § 1º A representação será oferecida por petição, que conterá
impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e,
gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
segurança pessoal ou manutenção da ordem pública. § 2º A representação independe de prova pré-constituída da
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial autoria e materialidade.
encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do
Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente,
boletim de ocorrência. será de quarenta e cinco dias.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo,
que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação,
prazo de vinte e quatro horas. observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados
a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição do teor da representação, e notificados a comparecer à audiência,
policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em acompanhados de advogado.
dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior. autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
encaminhará imediatamente ao representante do Ministério judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando
Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua Seção V-A
apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investigação de
judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional. Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança e de Adolescente
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características
definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com
transferido para a localidade mais próxima. o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240 , 241 , 241-A
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente , 241-B , 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A , 217-A , 218 ,
aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não (Código Penal) , obedecerá às seguintes regras: (Incluído pela Lei nº
podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de 13.441, de 2017)
responsabilidade. I – será precedida de autorização judicial devidamente
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites da
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público;
podendo solicitar opinião de profissional qualificado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou
ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão. representação de delegado de polícia e conterá a demonstração
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de de sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes
internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados
judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas
constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência pessoas; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
em continuação, podendo determinar a realização de diligências e III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem
estudo do caso. prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva
de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei nº
defesa prévia e rol de testemunhas. 13.441, de 2017)
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas § 1 º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes do
diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, término do prazo de que trata o inciso II do § 1 º deste artigo.
será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada § 2 º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1 º deste artigo,
um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
que em seguida proferirá decisão. I – dados de conexão: informações referentes a hora, data,
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP)
comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei nº
a autoridade judiciária designará nova data, determinando sua 13.441, de 2017)
condução coercitiva. II – dados cadastrais: informações referentes a nome e
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado
processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou
antes da sentença. código de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, § 3 º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
desde que reconheça na sentença: admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. (Incluído
I - estar provada a inexistência do fato; pela Lei nº 13.441, de 2017)
II - não haver prova da existência do fato; Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão
III - não constituir o fato ato infracional; encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela autorização da
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
ato infracional. 2017)
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos
adolescente internado, será imediatamente colocado em liberdade. autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o
internação ou regime de semi-liberdade será feita: sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
I - ao adolescente e ao seu defensor; Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e
responsável, sem prejuízo do defensor. materialidade dos crimes previstos nos arts. 240 , 241 , 241-A , 241-
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á B , 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A , 217-A , 218 , 218-A e
unicamente na pessoa do defensor. 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá Penal) . (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de
observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão § 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, poderão
incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as
sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações circunstâncias da infração.
necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído pela § 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á
Lei nº 13.441, de 2017) a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos motivos
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta do retardamento.
Seção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído pela Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação
Lei nº 13.441, de 2017) de defesa, contado da data da intimação, que será feita:
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na
praticados durante a operação deverão ser registrados, gravados, presença do requerido;
armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado,
juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei nº que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou
13.441, de 2017) a seu representante legal, lavrando certidão;
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for
caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e apensados encontrado o requerido ou seu representante legal;
ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não
assegurando-se a preservação da identidade do agente policial sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal.
infiltrado e a intimidade das crianças e dos adolescentes envolvidos. Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público, por
cinco dias, decidindo em igual prazo.
Seção VI Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária
Da Apuração de Irregularidades em Entidade de procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo necessário,
Atendimento designará audiência de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão
entidade governamental e não-governamental terá início mediante sucessivamente o Ministério Público e o procurador do requerido,
portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais
Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
resumo dos fatos. sentença.
Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o Seção VIII
afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
fundamentada. Da Habilitação de Pretendentes à Adoção
Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de
dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil,
indicar as provas a produzir. apresentarão petição inicial na qual conste: (Incluído pela Lei nº
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a 12.010, de 2009) Vigência
autoridade judiciária designará audiência de instrução e julgamento, I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
intimando as partes. Vigência
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a Vigência
autoridade judiciária em igual prazo. III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo casamento, ou declaração relativa ao período de união estável;
de dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
oficiará à autoridade administrativa imediatamente superior ao IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de
afastado, marcando prazo para a substituição. Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela Lei nº
judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades 12.010, de 2009) Vigência
verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem VI - atestados de sanidade física e mental (Incluído pela Lei nº
julgamento de mérito. 12.010, de 2009) Vigência
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela Lei nº
entidade ou programa de atendimento. 12.010, de 2009) Vigência
VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído pela Lei
Seção VII nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Apuração de Infração Administrativa às Normas de Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e
Proteção à Criança e ao Adolescente oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo
de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade Vigência
administrativa por infração às normas de proteção à criança e ao I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
adolescente terá início por representação do Ministério Público, interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se
ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas Vigência
testemunhas, se possível.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 4 o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
postulantes em juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº 12.010, adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil
de 2009) Vigência escolhido, haverá reavaliação da habilitação concedida. (Incluído
III - requerer a juntada de documentos complementares e a pela Lei nº 13.509, de 2017)
realização de outras diligências que entender necessárias. (Incluído § 5 o A desistência do pretendente em relação à guarda para
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência fins de adoção ou a devolução da criança ou do adolescente depois
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe do trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, exclusão dos cadastros de adoção e na vedação de renovação da
que deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que habilitação, salvo decisão judicial fundamentada, sem prejuízo das
permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o demais sanções previstas na legislação vigente. (Incluído pela Lei nº
exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz 13.509, de 2017)
dos requisitos e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação
de 2009) Vigência à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual
§ 1 o É obrigatória a participação dos postulantes em período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária.
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
execução da política municipal de garantia do direito à convivência Capítulo IV
familiar e dos grupos de apoio à adoção devidamente habilitados Dos Recursos
perante a Justiça da Infância e da Juventude, que inclua preparação
psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância
ou de adolescentes com deficiência, com doenças crônicas ou com e da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas
necessidades específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei n o 5.869, de
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil) , com as seguintes
§ 2 o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória adaptações: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
da preparação referida no § 1 o deste artigo incluirá o contato com I - os recursos serão interpostos independentemente de
crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou preparo;
institucional, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o
da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude e dos grupos prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de 10
de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo (dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
programa de acolhimento familiar e institucional e pela execução III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão
da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. revisor;
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3 o É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhidos V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
institucionalmente ou por família acolhedora sejam preparados VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
por equipe interprofissional antes da inclusão em família adotiva. VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado,
no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;
judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão
das diligências requeridas pelo Ministério Público e determinará remeterá os autos ou o instrumento à superior instância dentro
a juntada do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido
audiência de instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de
de 2009) Vigência pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou prazo de cinco dias, contados da intimação.
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149
juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos caberá recurso de apelação.
ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito desde
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusivamente
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito nos no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacional ou
cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação para se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao
a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação e adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis. Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser
§ 1 o A ordem cronológica das habilitações somente poderá recebida apenas no efeito devolutivo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses de 2009) Vigência
previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e
a melhor solução no interesse do adotando. (Incluído pela Lei nº de destituição de poder familiar, em face da relevância das
12.010, de 2009) Vigência questões, serão processados com prioridade absoluta, devendo
§ 2 o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem,
trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional. em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do
§ 3 o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, será Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dispensável a renovação da habilitação, bastando a avaliação por
equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos
julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social,
conclusão. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições.
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis
julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresentar previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas
oralmente seu parecer. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei.
Vigência § 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem outras,
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público.
de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar § 3º O representante do Ministério Público, no exercício de
o descumprimento das providências e do prazo previstos nos artigos suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre criança
anteriores. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ou adolescente.
§ 4º O representante do Ministério Público será responsável
Capítulo V pelo uso indevido das informações e documentos que requisitar,
Do Ministério Público nas hipóteses legais de sigilo.
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII
Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei deste artigo, poderá o representante do Ministério Público:
serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica. a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o
Art. 201. Compete ao Ministério Público: competente procedimento, sob sua presidência;
I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo; b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade
II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou
infrações atribuídas a adolescentes; acertados;
III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços
procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar , públicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescente,
nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como fixando prazo razoável para sua perfeita adequação.
oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte,
Justiça da Infância e da Juventude; (Expressão substituída pela Lei atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos
nº 12.010, de 2009) Vigência e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos
IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer
a especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de diligências, usando os recursos cabíveis.
contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso,
de crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98; será feita pessoalmente.
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta
proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a
à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º requerimento de qualquer interessado.
inciso II, da Constituição Federal ; Art. 205. As manifestações processuais do representante do
VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los: Ministério Público deverão ser fundamentadas.
a) expedir notificações para colher depoimentos ou
esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, Capítulo VI
requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar; Do Advogado
b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
autoridades municipais, estaduais e federais, da administração Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável,
direta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide
investigatórias; poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através de
c) requisitar informações e documentos a particulares e advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmente
instituições privadas; ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e
e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de gratuita àqueles que dela necessitarem.
ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude; Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem
assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas defensor.
judiciais e extrajudiciais cabíveis; § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos sua preferência.
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao § 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de
adolescente; nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar
juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por
penal do infrator, quando cabível; ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à
remoção de irregularidades porventura verificadas;

204
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Capítulo VII § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado
Coletivos poderá assumir a titularidade ativa.
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às
responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial.
ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular: Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por
I - do ensino obrigatório; esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes.
II - de atendimento educacional especializado aos portadores § 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do
de deficiência; Código de Processo Civil.
III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero § 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou
a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016) agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá
educando; ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado
V - de programas suplementares de oferta de material didático- de segurança.
escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
fundamental; obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, da obrigação ou determinará providências que assegurem o
à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às resultado prático equivalente ao do adimplemento.
crianças e adolescentes que dele necessitem; § 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
VII - de acesso às ações e serviços de saúde; justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando
privados de liberdade. o réu.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e § 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na
promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido
direito à convivência familiar por crianças e adolescentes. (Incluído do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência prazo razoável para o cumprimento do preceito.
X - de programas de atendimento para a execução das medidas § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado
socioeducativas e aplicação de medidas de proteção. (Incluído pela da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) se houver configurado o descumprimento.
XI - de políticas e programas integrados de atendimento à Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo
criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência. Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo
(Incluído pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência) município.
§ 1 o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da § 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida
próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciativa
e pela Lei. (Renumerado do Parágrafo único pela Lei nº 11.259, de aos demais legitimados.
2005) § 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará
§ 2 o A investigação do desaparecimento de crianças ou depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com
adolescentes será realizada imediatamente após notificação aos correção monetária.
órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos,
aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte para evitar dano irreparável à parte.
interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser
necessários à identificação do desaparecido. (Incluído pela Lei nº condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de
11.259, de 2005) peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão.
foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas sentença condenatória sem que a associação autora lhe promova
a competência da Justiça Federal e a competência originária dos a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual
tribunais superiores. iniciativa aos demais legitimados.
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os
ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: honorários advocatícios arbitrados na conformidade do § 4º do art.
I - o Ministério Público; 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os Civil) , quando reconhecer que a pretensão é manifestamente
territórios; infundada.
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação
um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de
autorização da assembléia, se houver prévia autorização estatutária. responsabilidade por perdas e danos.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses e direitos adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
de que cuida esta Lei. quaisquer outras despesas.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público Seção II
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe Dos Crimes em Espécie
informações sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e
indicando-lhe os elementos de convicção. Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente
Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter
tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos
de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu
providências cabíveis. responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento,
Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do
requerer às autoridades competentes as certidões e informações neonato:
que julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze Pena - detenção de seis meses a dois anos.
dias. Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar
perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem
dias úteis. como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
§ 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as Pena - detenção de seis meses a dois anos.
diligências, se convencer da inexistência de fundamento para Parágrafo único. Se o crime é culposo:
a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade,
fundamentadamente. procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato
§ 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária
arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave, competente:
no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público. Pena - detenção de seis meses a dois anos.
§ 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério apreensão sem observância das formalidades legais.
público, poderão as associações legitimadas apresentar razões Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela
escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação
ou anexados às peças de informação. à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à
§ 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e pessoa por ele indicada:
deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme Pena - detenção de seis meses a dois anos.
dispuser o seu regimento. Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,
§ 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Público para o ajuizamento da ação. Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997 :
Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985 . ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Título VII Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta Lei
Capítulo I em benefício de adolescente privado de liberdade:
Dos Crimes Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Seção I Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária,
Disposições Gerais membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra Pena - detenção de seis meses a dois anos.
a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o
disposto na legislação penal. tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas de colocação em lar substituto:
da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
ao Código de Processo Penal. Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública terceiro, mediante paga ou recompensa:
incondicionada. Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou
caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 efetiva a paga ou recompensa.
(Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao
servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância
ocorrência de reincidência. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019) das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência. (Incluído Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou
pela Lei nº 13.869. de 2019) fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
correspondente à violência.

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela
registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, Lei nº 11.829, de 2008)
envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº II – membro de entidade, legalmente constituída, que
11.829, de 2008) inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos
dada pela Lei nº 11.829, de 2008) neste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor
coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores,
ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade
quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído pela
2008) Lei nº 11.829, de 2008)
§ 2 o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete § 3 o As pessoas referidas no § 2 o deste artigo deverão manter
o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de 2008)
exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente
II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração,
de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008) montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra
III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, 2008)
preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído
título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. pela Lei nº 11.829, de 2008)
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma
envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
11.829, de 2008) Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
dada pela Lei nº 11.829, de 2008) praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído
publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de pela Lei nº 11.829, de 2008)
sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica pela Lei nº 11.829, de 2008)
envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo
2008) cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído ato libidinoso; (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
pela Lei nº 11.829, de 2008) II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim
§ 1 o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente
11.829, de 2008) explícita. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão
fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 2 o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1 o deste artigo Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar,
são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou
oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo explosivo:
ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela
de 2008) Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda
fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente,
sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) componentes possam causar dependência física ou psíquica:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
pela Lei nº 11.829, de 2008) Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato
§ 1 o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de não constitui crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 13.106,
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. de 2015)
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar,
§ 2 o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou
finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial, sejam
das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização
quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, indevida:
de 2008) Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

207
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres
definidos no caput do art. 2 o desta Lei, à prostituição ou à exploração inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem
sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação o dobro em caso de reincidência.
(Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado
o direito de terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou
de 2017) da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:
§ 1 o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009).
responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009).
ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído § 1 º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de
pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento
§ 2 o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluído pela Lei nº
licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. 12.038, de 2009).
(Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000) § 2 º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá
(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009).
praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei:
nº 12.015, de 2009) Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
§ 1 o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem o dobro em caso de reincidência.
pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo
eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do
Lei nº 12.015, de 2009) local de exibição, informação destacada sobre a natureza da
§ 2 o As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no certificado
de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar de classificação:
incluída no rol do art. 1 o da Lei n o 8.072, de 25 de julho de 1990 . Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009) o dobro em caso de reincidência.
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
Capítulo II representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a
Das Infrações Administrativas que não se recomendem:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada
Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de
estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré- espetáculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade.
escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo ou
de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação sem aviso de sua classificação: (Expressão declarada inconstitucional
de maus-tratos contra criança ou adolescente: pela ADI 2.404).
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada
o dobro em caso de reincidência. em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar
Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de a suspensão da programação da emissora por até dois dias.
atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III, Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere
VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: classificado pelo órgão competente como inadequado às crianças
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
o dobro em caso de reincidência. Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do
devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze
documento de procedimento policial, administrativo ou judicial dias.
relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato infracional: Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se programação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída
o dobro em caso de reincidência. pelo órgão competente:
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmente, Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracional, de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o
ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos que fechamento do estabelecimento por até quinze dias.
lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, direta Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79
ou indiretamente. desta Lei:
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando-
de rádio ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da
autoridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação revista ou publicação.
(Expressão declarada inconstitucional pela ADIN 869). Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o
Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência) empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso
de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua
participação no espetáculo:

208
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o Comunitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. (Redação
fechamento do estabelecimento por até quinze dias. dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a § 2 o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direitos
instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e da criança e do adolescente fixarão critérios de utilização, por
no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais
Vigência receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes e
reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência para programas de atenção integral à primeira infância em áreas
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que de maior carência socioeconômica e em situações de calamidade.
deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados § 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da
à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a comprovação
institucional ou familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. (Incluído
Vigência pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de § 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a forma
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos Direitos da
imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais referidos neste
tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
seu filho para adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 5 o Observado o disposto no § 4 o do art. 3 o da Lei n o 9.249, de
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil 26 de dezembro de 1995 , a dedução de que trata o inciso I do caput
reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência : (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite
programa oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à em conjunto com outras deduções do imposto; e (Incluído pela Lei
convivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no nº 12.594, de 2012) (Vide)
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - não poderá ser computada como despesa operacional na
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015) Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o inciso
mil reais); (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015) II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento Anual. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
comercial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação dada § 1 o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
pela Lei nº 13.106, de 2015) os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na
declaração: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Disposições Finais e Transitórias I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. (Incluído
publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo sobre pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de § 2 o A dedução de que trata o caput : (Incluído pela Lei nº
atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do 12.594, de 2012) (Vide)
Livro II. I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto sobre
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do caput do
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às diretrizes art. 260; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
e princípios estabelecidos nesta Lei. II - não se aplica à pessoa física que: (Incluído pela Lei nº 12.594,
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos de 2012) (Vide)
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, a) utilizar o desconto simplificado; (Incluído pela Lei nº 12.594,
estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas de 2012) (Vide)
integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os b) apresentar declaração em formulário; ou (Incluído pela Lei
seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) nº 12.594, de 2012) (Vide)
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado c) entregar a declaração fora do prazo; (Incluído pela Lei nº
pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e (Redação 12.594, de 2012) (Vide)
dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) III - só se aplica às doações em espécie; e (Incluído pela Lei nº
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas 12.594, de 2012) (Vide)
pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o disposto IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em
no art. 22 da Lei n o 9.532, de 10 de dezembro de 1997 . (Redação vigor. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) § 3 o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data
§ 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 1997) (Produção de de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto,
efeito) observadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal
§ 1 o -A. Na definição das prioridades a serem atendidas com do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e municipais § 4 o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no
dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as § 3 o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando
disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto

209
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. (Incluído
legais previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
(Vide) Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será
§ 5 o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto se
Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano- o leilão for determinado por autoridade judiciária. (Incluído pela Lei
calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da nº 12.594, de 2012) (Vide)
Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e nacional Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e
concomitantemente com a opção de que trata o caput , respeitado 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo de 5
o limite previsto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594, (cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Receita
de 2012) (Vide) Federal do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das
ser deduzida: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas nacional, estaduais, distrital e municipais devem: (Incluído pela Lei
que apuram o imposto trimestralmente; e (Incluído pela Lei nº nº 12.594, de 2012) (Vide)
12.594, de 2012) (Vide) I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as a gerir os recursos do Fundo; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente. (Incluído pela (Vide)
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) II - manter controle das doações recebidas; e (Incluído pela Lei
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do nº 12.594, de 2012) (Vide)
período a que se refere a apuração do imposto. (Incluído pela Lei nº III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do
12.594, de 2012) (Vide) Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os seguintes
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem dados por doador: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
ser efetuadas em espécie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, a) nome, CNPJ ou CPF; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
de 2012) (Vide) (Vide)
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em
depositadas em conta específica, em instituição financeira pública, bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260. (Incluído Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil
Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das dará conhecimento do fato ao Ministério Público. (Incluído pela Lei
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nº 12.594, de 2012) (Vide)
nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo presidente Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão
do Conselho correspondente, especificando: (Incluído pela Lei nº amplamente à comunidade: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
12.594, de 2012) (Vide) (Vide)
I - número de ordem; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) I - o calendário de suas reuniões; (Incluído pela Lei nº 12.594,
(Vide) de 2012) (Vide)
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
endereço do emitente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) atendimento à criança e ao adolescente; (Incluído pela Lei nº
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do doador; 12.594, de 2012) (Vide)
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e (Incluído beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; (Incluído
V - ano-calendário a que se refere a doação. (Incluído pela Lei pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
nº 12.594, de 2012) (Vide) IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário
§ 1 o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser e o valor dos recursos previstos para implementação das ações, por
emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados mês a projeto; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
mês. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por
§ 2 o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de dados
a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; e
ou em relação anexa ao comprovante, informando também se (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores. VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá: nacional, estaduais, distrital e municipais. (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) 12.594, de 2012) (Vide)
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documentação Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Comarca,
hábil; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos fiscais referidos
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos, no art. 260 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts.
pessoa jurídica; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação judicial
III - considerar como valor dos bens doados: (Incluído pela Lei proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a
nº 12.594, de 2012) (Vide) requerimento ou representação de qualquer cidadão. (Incluído
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última declaração pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
do imposto de renda, desde que não exceda o valor de mercado;
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

210
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será
República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita Federal veiculada em linguagem clara, compreensível e adequada a crianças
do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6
contendo a relação atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
e do Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, com Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
a indicação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das publicação.
contas bancárias específicas mantidas em instituições financeiras Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
públicas, destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos. ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá as Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964 , e 6.697, de 10
instruções necessárias à aplicação do disposto nos arts. 260 a 260- de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições
K. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) em contrário.
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da
criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e 102º da
que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão República.
efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que FERNANDO COLLOR
pertencer a entidade. Bernardo Cabral
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados Carlos Chiarelli
e municípios, e os estados aos municípios, os recursos referentes Antônio Magri
aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam Margarida Procópio
criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos
seus respectivos níveis.
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, LEI Nº 13.146/2015 - LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO DA
as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade PESSOA COM DEFICIÊNCIA (ESTATUTO DA PESSOA
judiciária. COM DEFICIÊNCIA)
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações: LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015.
1) Art. 121 ...............................................................
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
menor de catorze anos. LIVRO I
2) Art. 129 ............................................................... PARTE GERAL
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das TÍTULO I
hipóteses do art. 121, § 4º. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. CAPÍTULO I
3) Art. 136............................................................... DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
contra pessoa menor de catorze anos. Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
4) Art. 213 ............................................................... Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a as-
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: segurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos
Pena - reclusão de quatro a dez anos. direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência,
5) Art. 214............................................................... visando à sua inclusão social e cidadania.
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos: Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os
Pena - reclusão de três a nove anos.» Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo
1973 , fica acrescido do seguinte item: nº 186, de 9 de julho de 2008 , em conformidade com o procedi-
“Art. 102 ............................................................... mento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República Fe-
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “ derativa do Brasil , em vigor para o Brasil, no plano jurídico externo,
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto nº 6.949,
administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e de 25 de agosto de 2009 , data de início de sua vigência no plano
mantidas pelo poder público federal promoverão edição popular interno.
do texto integral deste Estatuto, que será posto à disposição das Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos da impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
criança e do adolescente. ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de de condições com as demais pessoas.
comunicação social. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) § 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsi-
cossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e
considerará: (Vigência) (Vide Decreto nº 11.063, de 2022)
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

211
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais; trica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abaste-
III - a limitação no desempenho de atividades; e cimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam
IV - a restrição de participação. as indicações do planejamento urbanístico;
§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias
deficiência. (Vide Lei nº 13.846, de 2019) (Vide Lei nº 14.126, de e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elemen-
2021) tos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modifica-
Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: ção ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para uti- elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares,
lização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equi- terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes
pamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comuni- de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer
cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros outros de natureza análoga;
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou priva- IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por
dos de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou
com deficiência ou com mobilidade reduzida; temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilida-
II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, pro- de, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, ges-
gramas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem neces- tante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso;
sidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Aco-
de tecnologia assistiva; lhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas) localizadas
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipa- em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas,
mentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas que possam contar com apoio psicossocial para o atendimento das
e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos
atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobili- com deficiência, em situação de dependência, que não dispõem de
dade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade condições de autossustentabilidade e com vínculos familiares fragi-
de vida e inclusão social; lizados ou rompidos;
IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou compor- XI - moradia para a vida independente da pessoa com defici-
tamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem ência: moradia com estruturas adequadas capazes de proporcionar
como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilida- serviços de apoio coletivos e individualizados que respeitem e am-
de, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao pliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência;
acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família,
entre outros, classificadas em: que, com ou sem remuneração, assiste ou presta cuidados básicos
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas ativida-
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo; des diárias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos com profissões legalmente estabelecidas;
e privados; XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce ativida-
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios des de alimentação, higiene e locomoção do estudante com defi-
de transportes; ciência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em insti-
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou tuições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimen-
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de tos identificados com profissões legalmente estabelecidas;
informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tec- XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com de-
nologia da informação; ficiência, podendo ou não desempenhar as funções de atendente
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que im- pessoal.
peçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com defici-
ência em igualdade de condições e oportunidades com as demais CAPÍTULO II
pessoas; DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o aces-
so da pessoa com deficiência às tecnologias; Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abran- oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma es-
ge, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de pécie de discriminação.
Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sina- § 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda
lização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispo- forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que
sitivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o
os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades funda-
meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in- mentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adapta-
cluindo as tecnologias da informação e das comunicações; ções razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes § 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de
necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional benefícios decorrentes de ação afirmativa.
e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma
que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, cruel-
de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os di- dade, opressão e tratamento desumano ou degradante.
reitos e liberdades fundamentais; Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança,
obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, sa- o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.
neamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elé-

212
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pes- TÍTULO II
soa, inclusive para: DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
I - casar-se e constituir união estável; CAPÍTULO I
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; DO DIREITO À VIDA
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de
ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planeja- Art. 10. Compete ao poder público garantir a dignidade da pes-
mento familiar; soa com deficiência ao longo de toda a vida.
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização Parágrafo único. Em situações de risco, emergência ou estado
compulsória; de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comu- vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua pro-
nitária; e teção e segurança.
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a
como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a
as demais pessoas. institucionalização forçada.
Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade competente Parágrafo único. O consentimento da pessoa com deficiência
qualquer forma de ameaça ou de violação aos direitos da pessoa em situação de curatela poderá ser suprido, na forma da lei.
com deficiência. Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa
Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes e os com deficiência é indispensável para a realização de tratamento,
tribunais tiverem conhecimento de fatos que caracterizem as viola- procedimento, hospitalização e pesquisa científica.
ções previstas nesta Lei, devem remeter peças ao Ministério Público § 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de cura-
para as providências cabíveis. tela, deve ser assegurada sua participação, no maior grau possível,
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar para a obtenção de consentimento.
à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos § 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência
referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à materni- em situação de tutela ou de curatela deve ser realizada, em cará-
dade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto
ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e
transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao desde que não haja outra opção de pesquisa de eficácia comparável
lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecno- com participantes não tutelados ou curatelados.
lógicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida sem
e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Pro- morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior inte-
tocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu resse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis.
bem-estar pessoal, social e econômico.
CAPÍTULO II
SEÇÃO ÚNICA DO DIREITO À HABILITAÇÃO E À REABILITAÇÃO
DO ATENDIMENTO PRIORITÁRIO
Art. 14. O processo de habilitação e de reabilitação é um direito
Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendi- da pessoa com deficiência.
mento prioritário, sobretudo com a finalidade de: Parágrafo único. O processo de habilitação e de reabilitação
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; tem por objetivo o desenvolvimento de potencialidades, talentos,
II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendi- habilidades e aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais,
mento ao público; atitudinais, profissionais e artísticas que contribuam para a conquis-
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tec- ta da autonomia da pessoa com deficiência e de sua participação
nológicos, que garantam atendimento em igualdade de condições social em igualdade de condições e oportunidades com as demais
com as demais pessoas; pessoas.
IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais Art. 15. O processo mencionado no art. 14 desta Lei baseia-se
acessíveis de transporte coletivo de passageiros e garantia de segu- em avaliação multidisciplinar das necessidades, habilidades e po-
rança no embarque e no desembarque; tencialidades de cada pessoa, observadas as seguintes diretrizes:
V - acesso a informações e disponibilização de recursos de co- I - diagnóstico e intervenção precoces;
municação acessíveis; II - adoção de medidas para compensar perda ou limitação fun-
VI - recebimento de restituição de imposto de renda; cional, buscando o desenvolvimento de aptidões;
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e admi- III - atuação permanente, integrada e articulada de políticas
nistrativos em que for parte ou interessada, em todos os atos e di- públicas que possibilitem a plena participação social da pessoa com
ligências. deficiência;
§ 1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acom- IV - oferta de rede de serviços articulados, com atuação inter-
panhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, setorial, nos diferentes níveis de complexidade, para atender às ne-
exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste artigo. cessidades específicas da pessoa com deficiência;
§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a priori- V - prestação de serviços próximo ao domicílio da pessoa com
dade conferida por esta Lei é condicionada aos protocolos de aten- deficiência, inclusive na zona rural, respeitadas a organização das
dimento médico. Redes de Atenção à Saúde (RAS) nos territórios locais e as normas
do Sistema Único de Saúde (SUS).
Art. 16. Nos programas e serviços de habilitação e de reabilita-
ção para a pessoa com deficiência, são garantidos:

213
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - organização, serviços, métodos, técnicas e recursos para § 5º As diretrizes deste artigo aplicam-se também às institui-
atender às características de cada pessoa com deficiência; ções privadas que participem de forma complementar do SUS ou
II - acessibilidade em todos os ambientes e serviços; que recebam recursos públicos para sua manutenção.
III - tecnologia assistiva, tecnologia de reabilitação, materiais e Art. 19. Compete ao SUS desenvolver ações destinadas à pre-
equipamentos adequados e apoio técnico profissional, de acordo venção de deficiências por causas evitáveis, inclusive por meio de:
com as especificidades de cada pessoa com deficiência; I - acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, com
IV - capacitação continuada de todos os profissionais que parti- garantia de parto humanizado e seguro;
cipem dos programas e serviços. II - promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis,
Art. 17. Os serviços do SUS e do Suas deverão promover ações vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado integral
articuladas para garantir à pessoa com deficiência e sua família a dos agravos relacionados à alimentação e nutrição da mulher e da
aquisição de informações, orientações e formas de acesso às polí- criança;
ticas públicas disponíveis, com a finalidade de propiciar sua plena III - aprimoramento e expansão dos programas de imunização
participação social. e de triagem neonatal;
Parágrafo único. Os serviços de que trata o caput deste artigo IV - identificação e controle da gestante de alto risco.
podem fornecer informações e orientações nas áreas de saúde, de Art. 20. As operadoras de planos e seguros privados de saúde
educação, de cultura, de esporte, de lazer, de transporte, de previ- são obrigadas a garantir à pessoa com deficiência, no mínimo, todos
dência social, de assistência social, de habitação, de trabalho, de os serviços e produtos ofertados aos demais clientes.
empreendedorismo, de acesso ao crédito, de promoção, proteção Art. 21. Quando esgotados os meios de atenção à saúde da
e defesa de direitos e nas demais áreas que possibilitem à pessoa pessoa com deficiência no local de residência, será prestado atendi-
com deficiência exercer sua cidadania. mento fora de domicílio, para fins de diagnóstico e de tratamento,
garantidos o transporte e a acomodação da pessoa com deficiência
CAPÍTULO III e de seu acompanhante.
DO DIREITO À SAÚDE Art. 22. À pessoa com deficiência internada ou em observação
é assegurado o direito a acompanhante ou a atendente pessoal, de-
Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com vendo o órgão ou a instituição de saúde proporcionar condições
deficiência em todos os níveis de complexidade, por intermédio do adequadas para sua permanência em tempo integral.
SUS, garantido acesso universal e igualitário. § 1º Na impossibilidade de permanência do acompanhante
§ 1º É assegurada a participação da pessoa com deficiência na ou do atendente pessoal junto à pessoa com deficiência, cabe ao
elaboração das políticas de saúde a ela destinadas. profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-la por
§ 2º É assegurado atendimento segundo normas éticas e téc- escrito.
nicas, que regulamentarão a atuação dos profissionais de saúde e § 2º Na ocorrência da impossibilidade prevista no § 1º deste ar-
contemplarão aspectos relacionados aos direitos e às especificida- tigo, o órgão ou a instituição de saúde deve adotar as providências
des da pessoa com deficiência, incluindo temas como sua dignidade cabíveis para suprir a ausência do acompanhante ou do atendente
e autonomia. pessoal.
§ 3º Aos profissionais que prestam assistência à pessoa com Art. 23. São vedadas todas as formas de discriminação contra a
deficiência, especialmente em serviços de habilitação e de reabilita- pessoa com deficiência, inclusive por meio de cobrança de valores
ção, deve ser garantida capacitação inicial e continuada. diferenciados por planos e seguros privados de saúde, em razão de
§ 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à pes- sua condição.
soa com deficiência devem assegurar: Art. 24. É assegurado à pessoa com deficiência o acesso aos
I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe serviços de saúde, tanto públicos como privados, e às informações
multidisciplinar; prestadas e recebidas, por meio de recursos de tecnologia assistiva
II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que neces- e de todas as formas de comunicação previstas no inciso V do art.
sários, para qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manuten- 3º desta Lei.
ção da melhor condição de saúde e qualidade de vida; Art. 25. Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quan-
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambu- to privados, devem assegurar o acesso da pessoa com deficiência,
latorial e internação; em conformidade com a legislação em vigor, mediante a remoção
IV - campanhas de vacinação; de barreiras, por meio de projetos arquitetônico, de ambientação
V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e de interior e de comunicação que atendam às especificidades das
atendentes pessoais; pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e mental.
VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orien- Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de violência
tação sexual da pessoa com deficiência; praticada contra a pessoa com deficiência serão objeto de notifi-
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertili- cação compulsória pelos serviços de saúde públicos e privados à
zação assistida; autoridade policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos
VIII - informação adequada e acessível à pessoa com deficiência Direitos da Pessoa com Deficiência.
e a seus familiares sobre sua condição de saúde; Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se violên-
IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desen- cia contra a pessoa com deficiência qualquer ação ou omissão, pra-
volvimento de deficiências e agravos adicionais; ticada em local público ou privado, que lhe cause morte ou dano ou
X - promoção de estratégias de capacitação permanente das sofrimento físico ou psicológico.
equipes que atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, no aten-
dimento à pessoa com deficiência, bem como orientação a seus
atendentes pessoais;
XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção,
medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, conforme as nor-
mas vigentes do Ministério da Saúde.

214
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
CAPÍTULO IV XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de con-
DO DIREITO À EDUCAÇÃO dições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no
sistema escolar;
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiên- XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da
cia, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis educação e demais integrantes da comunidade escolar às edifica-
e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máxi- ções, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as moda-
mo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, lidades, etapas e níveis de ensino;
sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, inte- XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
resses e necessidades de aprendizagem. XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade públicas.
escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade
com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III,
negligência e discriminação. V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer
implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumpri-
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalida- mento dessas determinações.
des, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; § 2º Na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a ga- a que se refere o inciso XI do caput deste artigo, deve-se observar
rantir condições de acesso, permanência, participação e aprendiza- o seguinte:
gem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação
que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena; básica devem, no mínimo, possuir ensino médio completo e certifi-
III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento cado de proficiência na Libras; (Vigência)
educacional especializado, assim como os demais serviços e adap- II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados
tações razoáveis, para atender às características dos estudantes à tarefa de interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e
com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em con- pós-graduação, devem possuir nível superior, com habilitação, prio-
dições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua ritariamente, em Tradução e Interpretação em Libras. (Vigência)
autonomia; Art. 29. (VETADO).
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira lín- Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e permanência
gua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior e de
língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas; educação profissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambien- adotadas as seguintes medidas:
tes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos es- I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas de-
tudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a pendências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços;
participação e a aprendizagem em instituições de ensino; II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos méto- campos específicos para que o candidato com deficiência informe
dos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamen- os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários
tos e de recursos de tecnologia assistiva; para sua participação;
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para
de atendimento educacional especializado, de organização de re- atendimento às necessidades específicas do candidato com defici-
cursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilida- ência;
de pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnolo-
VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas fa- gia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo
mílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar; candidato com deficiência;
IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvi- V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo
mento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissio- candidato com deficiência, tanto na realização de exame para sele-
nais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e ção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação
os interesses do estudante com deficiência; e comprovação da necessidade;
X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, dis-
de formação inicial e continuada de professores e oferta de forma- cursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística
ção continuada para o atendimento educacional especializado; da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da
XI - formação e disponibilização de professores para o atendi- língua portuguesa;
mento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Li-
Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio; bras.
XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de
recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades CAPÍTULO V
funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e partici- DO DIREITO À MORADIA
pação;
XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna,
tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as de- no seio da família natural ou substituta, com seu cônjuge ou com-
mais pessoas; panheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a vida indepen-
XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível dente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva.
superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas § 1º O poder público adotará programas e ações estratégicas
relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos de para apoiar a criação e a manutenção de moradia para a vida inde-
conhecimento; pendente da pessoa com deficiência.

215
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 2º A proteção integral na modalidade de residência inclusi- Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de traba-
va será prestada no âmbito do Suas à pessoa com deficiência em lho e emprego promover e garantir condições de acesso e de per-
situação de dependência que não disponha de condições de autos- manência da pessoa com deficiência no campo de trabalho.
sustentabilidade, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos. Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedo-
Art. 32. Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados rismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativismo e o asso-
com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsá- ciativismo, devem prever a participação da pessoa com deficiência
vel goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria, e a disponibilização de linhas de crédito, quando necessárias.
observado o seguinte:
I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades SEÇÃO II
habitacionais para pessoa com deficiência; DA HABILITAÇÃO PROFISSIONAL E REABILITAÇÃO PROFIS-
II - (VETADO); SIONAL
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibili-
dade nas áreas de uso comum e nas unidades habitacionais no piso Art. 36. O poder público deve implementar serviços e progra-
térreo e de acessibilidade ou de adaptação razoável nos demais pi- mas completos de habilitação profissional e de reabilitação profis-
sos; sional para que a pessoa com deficiência possa ingressar, continuar
IV - disponibilização de equipamentos urbanos comunitários ou retornar ao campo do trabalho, respeitados sua livre escolha,
acessíveis; sua vocação e seu interesse.
V - elaboração de especificações técnicas no projeto que per- § 1º Equipe multidisciplinar indicará, com base em critérios
mitam a instalação de elevadores. previstos no § 1º do art. 2º desta Lei, programa de habilitação ou de
§ 1º O direito à prioridade, previsto no caput deste artigo, será reabilitação que possibilite à pessoa com deficiência restaurar sua
reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas uma vez. capacidade e habilidade profissional ou adquirir novas capacidades
§ 2º Nos programas habitacionais públicos, os critérios de fi- e habilidades de trabalho.
nanciamento devem ser compatíveis com os rendimentos da pes- § 2º A habilitação profissional corresponde ao processo des-
soa com deficiência ou de sua família. tinado a propiciar à pessoa com deficiência aquisição de conheci-
§ 3º Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas uni- mentos, habilidades e aptidões para exercício de profissão ou de
dades habitacionais reservadas por força do disposto no inciso I do ocupação, permitindo nível suficiente de desenvolvimento profis-
caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão disponibilizadas sional para ingresso no campo de trabalho.
às demais pessoas. § 3º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro-
Art. 33. Ao poder público compete: fissional e de educação profissional devem ser dotados de recursos
I - adotar as providências necessárias para o cumprimento do necessários para atender a toda pessoa com deficiência, indepen-
disposto nos arts. 31 e 32 desta Lei; e dentemente de sua característica específica, a fim de que ela possa
II - divulgar, para os agentes interessados e beneficiários, a polí- ser capacitada para trabalho que lhe seja adequado e ter perspecti-
tica habitacional prevista nas legislações federal, estaduais, distrital vas de obtê-lo, de conservá-lo e de nele progredir.
e municipais, com ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade. § 4º Os serviços de habilitação profissional, de reabilitação pro-
fissional e de educação profissional deverão ser oferecidos em am-
CAPÍTULO VI bientes acessíveis e inclusivos.
DO DIREITO AO TRABALHO § 5º A habilitação profissional e a reabilitação profissional de-
SEÇÃO I vem ocorrer articuladas com as redes públicas e privadas, espe-
DISPOSIÇÕES GERAIS cialmente de saúde, de ensino e de assistência social, em todos os
níveis e modalidades, em entidades de formação profissional ou
Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de diretamente com o empregador.
sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em § 6º A habilitação profissional pode ocorrer em empresas por
igualdade de oportunidades com as demais pessoas. meio de prévia formalização do contrato de emprego da pessoa
§ 1º As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qual- com deficiência, que será considerada para o cumprimento da re-
quer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho aces- serva de vagas prevista em lei, desde que por tempo determinado e
síveis e inclusivos. concomitante com a inclusão profissional na empresa, observado o
§ 2º A pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de disposto em regulamento.
oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favorá- § 7º A habilitação profissional e a reabilitação profissional aten-
veis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual derão à pessoa com deficiência.
valor.
§ 3º É vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência SEÇÃO III
e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas DA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO TRABA-
etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames LHO
admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão pro-
fissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência
plena. no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunida-
§ 4º A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao des com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista
acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de car- e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de aces-
reira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos sibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a
pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais adaptação razoável no ambiente de trabalho.
empregados. Parágrafo único. A colocação competitiva da pessoa com defi-
§ 5º É garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilida- ciência pode ocorrer por meio de trabalho com apoio, observadas
de em cursos de formação e de capacitação. as seguintes diretrizes:

216
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - prioridade no atendimento à pessoa com deficiência com § 1º É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em for-
maior dificuldade de inserção no campo de trabalho; mato acessível à pessoa com deficiência, sob qualquer argumento,
II - provisão de suportes individualizados que atendam a neces- inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade
sidades específicas da pessoa com deficiência, inclusive a disponi- intelectual.
bilização de recursos de tecnologia assistiva, de agente facilitador e § 2º O poder público deve adotar soluções destinadas à elimi-
de apoio no ambiente de trabalho; nação, à redução ou à superação de barreiras para a promoção do
III - respeito ao perfil vocacional e ao interesse da pessoa com acesso a todo patrimônio cultural, observadas as normas de acessi-
deficiência apoiada; bilidade, ambientais e de proteção do patrimônio histórico e artís-
IV - oferta de aconselhamento e de apoio aos empregadores, tico nacional.
com vistas à definição de estratégias de inclusão e de superação de Art. 43. O poder público deve promover a participação da pes-
barreiras, inclusive atitudinais; soa com deficiência em atividades artísticas, intelectuais, culturais,
V - realização de avaliações periódicas; esportivas e recreativas, com vistas ao seu protagonismo, devendo:
VI - articulação intersetorial das políticas públicas; I - incentivar a provisão de instrução, de treinamento e de re-
VII - possibilidade de participação de organizações da socieda- cursos adequados, em igualdade de oportunidades com as demais
de civil. pessoas;
Art. 38. A entidade contratada para a realização de processo II - assegurar acessibilidade nos locais de eventos e nos serviços
seletivo público ou privado para cargo, função ou emprego está prestados por pessoa ou entidade envolvida na organização das ati-
obrigada à observância do disposto nesta Lei e em outras normas vidades de que trata este artigo; e
de acessibilidade vigentes. III - assegurar a participação da pessoa com deficiência em jo-
gos e atividades recreativas, esportivas, de lazer, culturais e artísti-
CAPÍTULO VII cas, inclusive no sistema escolar, em igualdade de condições com as
DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL demais pessoas.
Art. 44. Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de
Art. 39. Os serviços, os programas, os projetos e os benefícios esporte, locais de espetáculos e de conferências e similares, serão
no âmbito da política pública de assistência social à pessoa com de- reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência,
ficiência e sua família têm como objetivo a garantia da segurança de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o
de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do desen- disposto em regulamento.
volvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária, § 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem
para a promoção do acesso a direitos e da plena participação social. ser distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade,
§ 1º A assistência social à pessoa com deficiência, nos termos em todos os setores, próximos aos corredores, devidamente sina-
do caput deste artigo, deve envolver conjunto articulado de serviços lizados, evitando-se áreas segregadas de público e obstrução das
do âmbito da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial, saídas, em conformidade com as normas de acessibilidade.
ofertados pelo Suas, para a garantia de seguranças fundamentais § 2º No caso de não haver comprovada procura pelos assen-
no enfrentamento de situações de vulnerabilidade e de risco, por tos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser ocupados por
fragilização de vínculos e ameaça ou violação de direitos. pessoas sem deficiência ou que não tenham mobilidade reduzida,
§ 2º Os serviços socioassistenciais destinados à pessoa com observado o disposto em regulamento.
deficiência em situação de dependência deverão contar com cui- § 3º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem
dadores sociais para prestar-lhe cuidados básicos e instrumentais. situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, 1
Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua (um) acompanhante da pessoa com deficiência ou com mobilidade
meios para prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua reduzida, resguardado o direito de se acomodar proximamente a
família o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da grupo familiar e comunitário.
Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 . § 4º Nos locais referidos no caput deste artigo, deve haver,
obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência acessíveis,
CAPÍTULO VIII conforme padrões das normas de acessibilidade, a fim de permitir a
DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL saída segura da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzi-
da, em caso de emergência.
Art. 41. A pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de § 5º Todos os espaços das edificações previstas no caput deste
Previdência Social (RGPS) tem direito à aposentadoria nos termos artigo devem atender às normas de acessibilidade em vigor.
da Lei Complementar nº 142, de 8 de maio de 2013 . § 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões,
recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência. (Vi-
CAPÍTULO IX gência)
DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO § 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá
LAZER ser superior ao valor cobrado das demais pessoas.
Art. 45. Os hotéis, pousadas e similares devem ser construídos
Art. 42. A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao es- observando-se os princípios do desenho universal, além de adotar
porte, ao turismo e ao lazer em igualdade de oportunidades com as todos os meios de acessibilidade, conforme legislação em vigor.
demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso: (Vigência) (Reglamento)
I - a bens culturais em formato acessível; § 1º Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar,
II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades pelo menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis,
culturais e desportivas em formato acessível; e garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível.
III - a monumentos e locais de importância cultural e a espaços § 2º Os dormitórios mencionados no § 1º deste artigo deverão
que ofereçam serviços ou eventos culturais e esportivos. ser localizados em rotas acessíveis.

217
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
CAPÍTULO X Art. 51. As frotas de empresas de táxi devem reservar 10% (dez
DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com deficiência.
(Vide Decreto nº 9.762, de 2019) (Vigência)
Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com § 1º É proibida a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores
deficiência ou com mobilidade reduzida será assegurado em igual- adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com deficiência.
dade de oportunidades com as demais pessoas, por meio de iden- § 2º O poder público é autorizado a instituir incentivos fiscais
tificação e de eliminação de todos os obstáculos e barreiras ao seu com vistas a possibilitar a acessibilidade dos veículos a que se refere
acesso. o caput deste artigo.
§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte cole- Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1
tivo terrestre, aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições, conside- (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada
ram-se como integrantes desses serviços os veículos, os terminais, conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota. (Vide Decreto nº
as estações, os pontos de parada, o sistema viário e a prestação do 9.762, de 2019) (Vigência)
serviço. Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo,
§ 2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos
sempre que houver interação com a matéria nela regulada, a ou- manuais de freio e de embreagem.
torga, a concessão, a permissão, a autorização, a renovação ou a
habilitação de linhas e de serviços de transporte coletivo. TÍTULO III
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos DA ACESSIBILIDADE
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen- CAPÍTULO I
dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público DISPOSIÇÕES GERAIS
responsável pela prestação do serviço.
Art. 47. Em todas as áreas de estacionamento aberto ao pú- Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pessoa com de-
blico, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, ficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente
devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.
pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem Art. 54. São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei
pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, des- e de outras normas relativas à acessibilidade, sempre que houver
de que devidamente identificados. interação com a matéria nela regulada:
§ 1º As vagas a que se refere o caput deste artigo devem equi- I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de
valer a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma) comunicação e informação, a fabricação de veículos de transporte
vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho coletivo, a prestação do respectivo serviço e a execução de qual-
e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes de acessibi- quer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva;
lidade. II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autori-
§ 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exi- zação ou habilitação de qualquer natureza;
bir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, a III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização
ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que discipli- de recursos públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal,
narão suas características e condições de uso. contrato, convênio ou instrumento congênere; e
§ 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo
sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do art. 181 da e de financiamento internacionais por entes públicos ou privados.
Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasi- Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que tratem
leiro) . (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência) do meio físico, de transporte, de informação e comunicação, inclu-
§ 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é vinculada sive de sistemas e tecnologias da informação e comunicação, e de
à pessoa com deficiência que possui comprometimento de mobili- outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de
dade e é válida em todo o território nacional. uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como
Art. 48. Os veículos de transporte coletivo terrestre, aquaviário na rural, devem atender aos princípios do desenho universal, tendo
e aéreo, as instalações, as estações, os portos e os terminais em como referência as normas de acessibilidade.
operação no País devem ser acessíveis, de forma a garantir o seu § 1º O desenho universal será sempre tomado como regra de
uso por todas as pessoas. caráter geral.
§ 1º Os veículos e as estruturas de que trata o caput deste arti- § 2º Nas hipóteses em que comprovadamente o desenho uni-
go devem dispor de sistema de comunicação acessível que disponi- versal não possa ser empreendido, deve ser adotada adaptação ra-
bilize informações sobre todos os pontos do itinerário. zoável.
§ 2º São asseguradas à pessoa com deficiência prioridade e se- § 3º Caberá ao poder público promover a inclusão de conteú-
gurança nos procedimentos de embarque e de desembarque nos dos temáticos referentes ao desenho universal nas diretrizes curri-
veículos de transporte coletivo, de acordo com as normas técnicas. culares da educação profissional e tecnológica e do ensino superior
§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos e na formação das carreiras de Estado.
veículos, as empresas de transporte coletivo de passageiros depen- § 4º Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem
dem da certificação de acessibilidade emitida pelo gestor público desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de auxílio à pes-
responsável pela prestação do serviço. quisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados para
Art. 49. As empresas de transporte de fretamento e de turismo, o desenho universal.
na renovação de suas frotas, são obrigadas ao cumprimento do dis- § 5º Desde a etapa de concepção, as políticas públicas deverão
posto nos arts. 46 e 48 desta Lei. (Vigência) considerar a adoção do desenho universal.
Art. 50. O poder público incentivará a fabricação de veículos Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a mudança de
acessíveis e a sua utilização como táxis e vans , de forma a garantir uso de edificações abertas ao público, de uso público ou privadas
o seu uso por todas as pessoas. de uso coletivo deverão ser executadas de modo a serem acessíveis.

218
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 1º As entidades de fiscalização profissional das atividades de CAPÍTULO II
Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao anotarem a responsabi- DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO
lidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade profis-
sional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previs- Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet
tas em legislação e em normas técnicas pertinentes. mantidos por empresas com sede ou representação comercial no
§ 2º Para a aprovação, o licenciamento ou a emissão de certi- País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiên-
ficado de projeto executivo arquitetônico, urbanístico e de instala- cia, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as
ções e equipamentos temporários ou permanentes e para o licen- melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas interna-
ciamento ou a emissão de certificado de conclusão de obra ou de cionalmente.
serviço, deve ser atestado o atendimento às regras de acessibilida- § 1º Os sítios devem conter símbolo de acessibilidade em des-
de. taque.
§ 3º O poder público, após certificar a acessibilidade de edifi- § 2º Telecentros comunitários que receberem recursos públi-
cação ou de serviço, determinará a colocação, em espaços ou em cos federais para seu custeio ou sua instalação e lan houses devem
locais de ampla visibilidade, do símbolo internacional de acesso, na possuir equipamentos e instalações acessíveis.
forma prevista em legislação e em normas técnicas correlatas. § 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º des-
Art. 57. As edificações públicas e privadas de uso coletivo já te artigo devem garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de seus
existentes devem garantir acessibilidade à pessoa com deficiência computadores com recursos de acessibilidade para pessoa com de-
em todas as suas dependências e serviços, tendo como referência ficiência visual, sendo assegurado pelo menos 1 (um) equipamento,
as normas de acessibilidade vigentes. quando o resultado percentual for inferior a 1 (um).
Art. 58. O projeto e a construção de edificação de uso privado Art. 64. A acessibilidade nos sítios da internet de que trata o
multifamiliar devem atender aos preceitos de acessibilidade, na for- art. 63 desta Lei deve ser observada para obtenção do financiamen-
ma regulamentar. (Regulamento) to de que trata o inciso III do art. 54 desta Lei.
§ 1º As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo proje- Art. 65. As empresas prestadoras de serviços de telecomunica-
to e pela construção das edificações a que se refere o caput deste ções deverão garantir pleno acesso à pessoa com deficiência, con-
artigo devem assegurar percentual mínimo de suas unidades inter- forme regulamentação específica.
namente acessíveis, na forma regulamentar. Art. 66. Cabe ao poder público incentivar a oferta de apare-
§ 2º É vedada a cobrança de valores adicionais para a aquisição lhos de telefonia fixa e móvel celular com acessibilidade que, entre
de unidades internamente acessíveis a que se refere o § 1º deste outras tecnologias assistivas, possuam possibilidade de indicação e
artigo. de ampliação sonoras de todas as operações e funções disponíveis.
Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos espaços públi- Art. 67. Os serviços de radiodifusão de sons e imagens devem
cos, o poder público e as empresas concessionárias responsáveis permitir o uso dos seguintes recursos, entre outros:
pela execução das obras e dos serviços devem garantir, de forma I - subtitulação por meio de legenda oculta;
segura, a fluidez do trânsito e a livre circulação e acessibilidade das II - janela com intérprete da Libras;
pessoas, durante e após sua execução. III - audiodescrição.
Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de acessibi- Art. 68. O poder público deve adotar mecanismos de incentivo
lidade previstas em legislação e em normas técnicas, observado o à produção, à edição, à difusão, à distribuição e à comercialização
disposto na Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , nº 10.257, de livros em formatos acessíveis, inclusive em publicações da admi-
de 10 de julho de 2001 , e nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 : nistração pública ou financiadas com recursos públicos, com vistas
I - os planos diretores municipais, os planos diretores de trans- a garantir à pessoa com deficiência o direito de acesso à leitura, à
porte e trânsito, os planos de mobilidade urbana e os planos de informação e à comunicação.
preservação de sítios históricos elaborados ou atualizados a partir § 1º Nos editais de compras de livros, inclusive para o abas-
da publicação desta Lei; tecimento ou a atualização de acervos de bibliotecas em todos os
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de uso e níveis e modalidades de educação e de bibliotecas públicas, o po-
ocupação do solo e as leis do sistema viário; der público deverá adotar cláusulas de impedimento à participação
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; de editoras que não ofertem sua produção também em formatos
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; e acessíveis.
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e pânico. § 2º Consideram-se formatos acessíveis os arquivos digitais
§ 1º A concessão e a renovação de alvará de funcionamento que possam ser reconhecidos e acessados por softwares leitores
para qualquer atividade são condicionadas à observação e à certifi- de telas ou outras tecnologias assistivas que vierem a substituí-los,
cação das regras de acessibilidade. permitindo leitura com voz sintetizada, ampliação de caracteres, di-
§ 2º A emissão de carta de habite-se ou de habilitação equiva- ferentes contrastes e impressão em Braille.
lente e sua renovação, quando esta tiver sido emitida anteriormen- § 3º O poder público deve estimular e apoiar a adaptação e a
te às exigências de acessibilidade, é condicionada à observação e à produção de artigos científicos em formato acessível, inclusive em
certificação das regras de acessibilidade. Libras.
Art. 61. A formulação, a implementação e a manutenção das Art. 69. O poder público deve assegurar a disponibilidade de
ações de acessibilidade atenderão às seguintes premissas básicas: informações corretas e claras sobre os diferentes produtos e servi-
I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e reserva ços ofertados, por quaisquer meios de comunicação empregados,
de recursos para implementação das ações; e inclusive em ambiente virtual, contendo a especificação correta de
II - planejamento contínuo e articulado entre os setores envol- quantidade, qualidade, características, composição e preço, bem
vidos. como sobre os eventuais riscos à saúde e à segurança do consumi-
Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, mediante solici- dor com deficiência, em caso de sua utilização, aplicando-se, no que
tação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extratos e cobran- couber, os arts. 30 a 41 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 .
ças de tributos em formato acessível.

219
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 1º Os canais de comercialização virtual e os anúncios publi- CAPÍTULO IV
citários veiculados na imprensa escrita, na internet, no rádio, na DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E POLÍTI-
televisão e nos demais veículos de comunicação abertos ou por CA
assinatura devem disponibilizar, conforme a compatibilidade do
meio, os recursos de acessibilidade de que trata o art. 67 desta Lei, Art. 76. O poder público deve garantir à pessoa com deficiência
a expensas do fornecedor do produto ou do serviço, sem prejuízo todos os direitos políticos e a oportunidade de exercê-los em igual-
da observância do disposto nos arts. 36 a 38 da Lei nº 8.078, de 11 dade de condições com as demais pessoas.
de setembro de 1990 . § 1º À pessoa com deficiência será assegurado o direito de vo-
§ 2º Os fornecedores devem disponibilizar, mediante solicita- tar e de ser votada, inclusive por meio das seguintes ações:
ção, exemplares de bulas, prospectos, textos ou qualquer outro tipo I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os mate-
de material de divulgação em formato acessível. riais e os equipamentos para votação sejam apropriados, acessíveis
Art. 70. As instituições promotoras de congressos, seminários, a todas as pessoas e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a
oficinas e demais eventos de natureza científico-cultural devem instalação de seções eleitorais exclusivas para a pessoa com defici-
oferecer à pessoa com deficiência, no mínimo, os recursos de tec- ência;
nologia assistiva previstos no art. 67 desta Lei. II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a de-
Art. 71. Os congressos, os seminários, as oficinas e os demais sempenhar quaisquer funções públicas em todos os níveis de go-
eventos de natureza científico-cultural promovidos ou financiados verno, inclusive por meio do uso de novas tecnologias assistivas,
pelo poder público devem garantir as condições de acessibilidade e quando apropriado;
os recursos de tecnologia assistiva. III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda
Art. 72. Os programas, as linhas de pesquisa e os projetos a eleitoral obrigatória e os debates transmitidos pelas emissoras de
serem desenvolvidos com o apoio de agências de financiamento televisão possuam, pelo menos, os recursos elencados no art. 67
e de órgãos e entidades integrantes da administração pública que desta Lei;
atuem no auxílio à pesquisa devem contemplar temas voltados à IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tan-
tecnologia assistiva. to, sempre que necessário e a seu pedido, permissão para que a
Art. 73. Caberá ao poder público, diretamente ou em parceria pessoa com deficiência seja auxiliada na votação por pessoa de sua
com organizações da sociedade civil, promover a capacitação de escolha.
tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profis- § 2º O poder público promoverá a participação da pessoa com
sionais habilitados em Braille, audiodescrição, estenotipia e legen- deficiência, inclusive quando institucionalizada, na condução das
dagem. questões públicas, sem discriminação e em igualdade de oportuni-
dades, observado o seguinte:
CAPÍTULO III I - participação em organizações não governamentais relacio-
DA TECNOLOGIA ASSISTIVA nadas à vida pública e à política do País e em atividades e adminis-
tração de partidos políticos;
Art. 74. É garantido à pessoa com deficiência acesso a produ- II - formação de organizações para representar a pessoa com
tos, recursos, estratégias, práticas, processos, métodos e serviços deficiência em todos os níveis;
de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade III - participação da pessoa com deficiência em organizações
pessoal e qualidade de vida. que a representem.
Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de me-
didas, a ser renovado em cada período de 4 (quatro) anos, com a TÍTULO IV
finalidade de: (Regulamento) DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com oferta
de linhas de crédito subsidiadas, específicas para aquisição de tec- Art. 77. O poder público deve fomentar o desenvolvimento
nologia assistiva; científico, a pesquisa e a inovação e a capacitação tecnológicas, vol-
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de importação tados à melhoria da qualidade de vida e ao trabalho da pessoa com
de tecnologia assistiva, especialmente as questões atinentes a pro- deficiência e sua inclusão social.
cedimentos alfandegários e sanitários; § 1º O fomento pelo poder público deve priorizar a geração de
III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção na- conhecimentos e técnicas que visem à prevenção e ao tratamento
cional de tecnologia assistiva, inclusive por meio de concessão de de deficiências e ao desenvolvimento de tecnologias assistiva e so-
linhas de crédito subsidiado e de parcerias com institutos de pes- cial.
quisa oficiais; § 2º A acessibilidade e as tecnologias assistiva e social devem
IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e de ser fomentadas mediante a criação de cursos de pós-graduação, a
importação de tecnologia assistiva; formação de recursos humanos e a inclusão do tema nas diretrizes
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos recursos de áreas do conhecimento.
de tecnologia assistiva no rol de produtos distribuídos no âmbito do § 3º Deve ser fomentada a capacitação tecnológica de institui-
SUS e por outros órgãos governamentais. ções públicas e privadas para o desenvolvimento de tecnologias as-
Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os sistiva e social que sejam voltadas para melhoria da funcionalidade
procedimentos constantes do plano específico de medidas deverão e da participação social da pessoa com deficiência.
ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos. § 4º As medidas previstas neste artigo devem ser reavaliadas
periodicamente pelo poder público, com vistas ao seu aperfeiçoa-
mento.
Art. 78. Devem ser estimulados a pesquisa, o desenvolvimen-
to, a inovação e a difusão de tecnologias voltadas para ampliar o
acesso da pessoa com deficiência às tecnologias da informação e
comunicação e às tecnologias sociais.

220
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Parágrafo único. Serão estimulados, em especial: § 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas
I - o emprego de tecnologias da informação e comunicação de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo
como instrumento de superação de limitações funcionais e de bar- ano.
reiras à comunicação, à informação, à educação e ao entretenimen- Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados
to da pessoa com deficiência; aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
II - a adoção de soluções e a difusão de normas que visem a am- § 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio
pliar a acessibilidade da pessoa com deficiência à computação e aos corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à
sítios da internet, em especial aos serviços de governo eletrônico. saúde, ao trabalho e ao voto.
§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo cons-
LIVRO II tar da sentença as razões e motivações de sua definição, preserva-
PARTE ESPECIAL dos os interesses do curatelado.
TÍTULO I § 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao
DO ACESSO À JUSTIÇA nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vín-
CAPÍTULO I culo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.
DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será exigida
a situação de curatela da pessoa com deficiência.
Art. 79. O poder público deve assegurar o acesso da pessoa Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger
com deficiência à justiça, em igualdade de oportunidades com as os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela,
demais pessoas, garantindo, sempre que requeridos, adaptações e será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a reque-
recursos de tecnologia assistiva. rimento do interessado, nomear, desde logo, curador provisório,
§ 1º A fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência em o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de
todo o processo judicial, o poder público deve capacitar os mem- Processo Civil .
bros e os servidores que atuam no Poder Judiciário, no Ministério
Público, na Defensoria Pública, nos órgãos de segurança pública e TÍTULO II
no sistema penitenciário quanto aos direitos da pessoa com defici- DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
ência.
§ 2º Devem ser assegurados à pessoa com deficiência subme- Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em
tida a medida restritiva de liberdade todos os direitos e garantias a razão de sua deficiência:
que fazem jus os apenados sem deficiência, garantida a acessibili- Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
dade. § 1º Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se a vítima encon-
§ 3º A Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão as trar-se sob cuidado e responsabilidade do agente.
medidas necessárias à garantia dos direitos previstos nesta Lei. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é
Art. 80. Devem ser oferecidos todos os recursos de tecnologia cometido por intermédio de meios de comunicação social ou de
assistiva disponíveis para que a pessoa com deficiência tenha garan- publicação de qualquer natureza:
tido o acesso à justiça, sempre que figure em um dos polos da ação Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
ou atue como testemunha, partícipe da lide posta em juízo, advoga- § 3º Na hipótese do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar,
do, defensor público, magistrado ou membro do Ministério Público. ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do in-
Parágrafo único. A pessoa com deficiência tem garantido o quérito policial, sob pena de desobediência:
acesso ao conteúdo de todos os atos processuais de seu interesse, I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do ma-
inclusive no exercício da advocacia. terial discriminatório;
Art. 81. Os direitos da pessoa com deficiência serão garantidos II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de infor-
por ocasião da aplicação de sanções penais. mação na internet.
Art. 82. (VETADO). § 4º Na hipótese do § 2º deste artigo, constitui efeito da con-
Art. 83. Os serviços notariais e de registro não podem negar ou denação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do
criar óbices ou condições diferenciadas à prestação de seus servi- material apreendido.
ços em razão de deficiência do solicitante, devendo reconhecer sua Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão,
capacidade legal plena, garantida a acessibilidade. benefícios, remuneração ou qualquer outro rendimento de pessoa
Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput des- com deficiência:
te artigo constitui discriminação em razão de deficiência. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o
CAPÍTULO II crime é cometido:
DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testa-
menteiro ou depositário judicial; ou
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de pro-
exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com fissão.
as demais pessoas. Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será subme- de saúde, entidades de abrigamento ou congêneres:
tida à curatela, conforme a lei. Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as
de tomada de decisão apoiada. necessidades básicas de pessoa com deficiência quando obrigado
§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui por lei ou mandado.
medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às
circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.

221
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio ele- I - quando for de interesse do poder público, o agente promo-
trônico ou documento de pessoa com deficiência destinados ao re- verá o contato necessário com a pessoa com deficiência em sua re-
cebimento de benefícios, proventos, pensões ou remuneração ou à sidência;
realização de operações financeiras, com o fim de obter vantagem II - quando for de interesse da pessoa com deficiência, ela apre-
indevida para si ou para outrem: sentará solicitação de atendimento domiciliar ou fará representar-
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. -se por procurador constituído para essa finalidade.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço) se o Parágrafo único. É assegurado à pessoa com deficiência aten-
crime é cometido por tutor ou curador. dimento domiciliar pela perícia médica e social do Instituto Nacio-
nal do Seguro Social (INSS), pelo serviço público de saúde ou pelo
TÍTULO III serviço privado de saúde, contratado ou conveniado, que integre o
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS SUS e pelas entidades da rede socioassistencial integrantes do Suas,
quando seu deslocamento, em razão de sua limitação funcional e
Art. 92. É criado o Cadastro Nacional de Inclusão da Pessoa com de condições de acessibilidade, imponha-lhe ônus desproporcional
Deficiência (Cadastro-Inclusão), registro público eletrônico com a fi- e indevido.
nalidade de coletar, processar, sistematizar e disseminar informa- Art. 96. O § 6º -A do art. 135 da Lei nº 4.737, de 15 de julho de
ções georreferenciadas que permitam a identificação e a caracte- 1965 (Código Eleitoral) , passa a vigorar com a seguinte redação:
rização socioeconômica da pessoa com deficiência, bem como das “Art. 135. .................................................................
barreiras que impedem a realização de seus direitos. ........................................................................................
§ 1º O Cadastro-Inclusão será administrado pelo Poder Executi- § 6º -A. Os Tribunais Regionais Eleitorais deverão, a cada elei-
vo federal e constituído por base de dados, instrumentos, procedi- ção, expedir instruções aos Juízes Eleitorais para orientá-los na es-
mentos e sistemas eletrônicos. colha dos locais de votação, de maneira a garantir acessibilidade
§ 2º Os dados constituintes do Cadastro-Inclusão serão obti- para o eleitor com deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusi-
dos pela integração dos sistemas de informação e da base de dados ve em seu entorno e nos sistemas de transporte que lhe dão acesso.
de todas as políticas públicas relacionadas aos direitos da pessoa ....................................................................................” (NR)
com deficiência, bem como por informações coletadas, inclusive Art. 97. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada
em censos nacionais e nas demais pesquisas realizadas no País, de pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 , passa a vigorar
acordo com os parâmetros estabelecidos pela Convenção sobre os com as seguintes alterações:
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. “Art. 428. ..................................................................
§ 3º Para coleta, transmissão e sistematização de dados, é fa- ...........................................................................................
cultada a celebração de convênios, acordos, termos de parceria ou § 6º Para os fins do contrato de aprendizagem, a comprova-
contratos com instituições públicas e privadas, observados os requi- ção da escolaridade de aprendiz com deficiência deve considerar,
sitos e procedimentos previstos em legislação específica. sobretudo, as habilidades e competências relacionadas com a pro-
§ 4º Para assegurar a confidencialidade, a privacidade e as li- fissionalização.
berdades fundamentais da pessoa com deficiência e os princípios ...........................................................................................
éticos que regem a utilização de informações, devem ser observa- § 8º Para o aprendiz com deficiência com 18 (dezoito) anos ou
das as salvaguardas estabelecidas em lei. mais, a validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação
§ 5º Os dados do Cadastro-Inclusão somente poderão ser utili- na CTPS e matrícula e frequência em programa de aprendizagem
zados para as seguintes finalidades: desenvolvido sob orientação de entidade qualificada em formação
I - formulação, gestão, monitoramento e avaliação das políticas técnico-profissional metódica.” (NR)
públicas para a pessoa com deficiência e para identificar as barrei- “Art. 433. ..................................................................
ras que impedem a realização de seus direitos; ...........................................................................................
II - realização de estudos e pesquisas. I - desempenho insuficiente ou inadaptação do aprendiz, salvo
§ 6º As informações a que se refere este artigo devem ser dis- para o aprendiz com deficiência quando desprovido de recursos de
seminadas em formatos acessíveis. acessibilidade, de tecnologias assistivas e de apoio necessário ao
Art. 93. Na realização de inspeções e de auditorias pelos órgãos desempenho de suas atividades;
de controle interno e externo, deve ser observado o cumprimen- ..................................................................................” (NR)
to da legislação relativa à pessoa com deficiência e das normas de Art. 98. A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 , passa a vigo-
acessibilidade vigentes. rar com as seguintes alterações:
Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a pes- “Art. 3º As medidas judiciais destinadas à proteção de interes-
soa com deficiência moderada ou grave que: ses coletivos, difusos, individuais homogêneos e individuais indis-
I - receba o benefício de prestação continuada previsto no art. poníveis da pessoa com deficiência poderão ser propostas pelo Mi-
20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 , e que passe a exer- nistério Público, pela Defensoria Pública, pela União, pelos Estados,
cer atividade remunerada que a enquadre como segurado obriga- pelos Municípios, pelo Distrito Federal, por associação constituída
tório do RGPS; há mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, por autarquia, por
II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de empresa pública e por fundação ou sociedade de economia mista
prestação continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção dos in-
dezembro de 1993 , e que exerça atividade remunerada que a en- teresses e a promoção de direitos da pessoa com deficiência.
quadre como segurado obrigatório do RGPS. .................................................................................” (NR)
Art. 95. É vedado exigir o comparecimento de pessoa com de- “Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5
ficiência perante os órgãos públicos quando seu deslocamento, em (cinco) anos e multa:
razão de sua limitação funcional e de condições de acessibilidade, I - recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar,
imponha-lhe ônus desproporcional e indevido, hipótese na qual se- cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de
rão observados os seguintes procedimentos: ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de
sua deficiência;

222
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - obstar inscrição em concurso público ou acesso de alguém II - para o filho, a pessoa a ele equiparada ou o irmão, de am-
a qualquer cargo ou emprego público, em razão de sua deficiência; bos os sexos, pela emancipação ou ao completar 21 (vinte e um)
III - negar ou obstar emprego, trabalho ou promoção à pessoa anos de idade, salvo se for inválido ou tiver deficiência intelectual
em razão de sua deficiência; ou mental ou deficiência grave;
IV - recusar, retardar ou dificultar internação ou deixar de pres- ...................................................................................
tar assistência médico-hospitalar e ambulatorial à pessoa com de- § 4º (VETADO).
ficiência; ...................................................................................” (NR)
V - deixar de cumprir, retardar ou frustrar execução de ordem “Art. 93. (VETADO):
judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei; I - (VETADO);
VI - recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis II - (VETADO);
à propositura da ação civil pública objeto desta Lei, quando requi- III - (VETADO);
sitados. IV - (VETADO);
§ 1º Se o crime for praticado contra pessoa com deficiência V - (VETADO).
menor de 18 (dezoito) anos, a pena é agravada em 1/3 (um terço). § 1º A dispensa de pessoa com deficiência ou de beneficiário
§ 2º A pena pela adoção deliberada de critérios subjetivos para reabilitado da Previdência Social ao final de contrato por prazo de-
indeferimento de inscrição, de aprovação e de cumprimento de terminado de mais de 90 (noventa) dias e a dispensa imotivada em
estágio probatório em concursos públicos não exclui a responsa- contrato por prazo indeterminado somente poderão ocorrer após
bilidade patrimonial pessoal do administrador público pelos danos a contratação de outro trabalhador com deficiência ou beneficiário
causados. reabilitado da Previdência Social.
§ 3º Incorre nas mesmas penas quem impede ou dificulta o in- § 2º Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe estabelecer
gresso de pessoa com deficiência em planos privados de assistência a sistemática de fiscalização, bem como gerar dados e estatísticas
à saúde, inclusive com cobrança de valores diferenciados. sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por pessoas
§ 4º Se o crime for praticado em atendimento de urgência e com deficiência e por beneficiários reabilitados da Previdência So-
emergência, a pena é agravada em 1/3 (um terço).” (NR) cial, fornecendo-os, quando solicitados, aos sindicatos, às entida-
Art. 99. O art. 20 da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990 , passa des representativas dos empregados ou aos cidadãos interessados.
a vigorar acrescido do seguinte inciso XVIII: § 3º Para a reserva de cargos será considerada somente a con-
“Art. 20. ...................................................................... tratação direta de pessoa com deficiência, excluído o aprendiz com
.............................................................................................. deficiência de que trata a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
XVIII - quando o trabalhador com deficiência, por prescrição, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
necessite adquirir órtese ou prótese para promoção de acessibili- § 4º (VETADO).” (NR)
dade e de inclusão social. “Art. 110-A. No ato de requerimento de benefícios operacio-
..................................................................................” (NR) nalizados pelo INSS, não será exigida apresentação de termo de
Art. 100. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código curatela de titular ou de beneficiário com deficiência, observados
de Defesa do Consumidor) , passa a vigorar com as seguintes alte- os procedimentos a serem estabelecidos em regulamento.”
rações: Art. 102. O art. 2º da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991
“Art. 6º ....................................................................... , passa a vigorar acrescido do seguinte § 3º :
............................................................................................ “Art. 2º .........................................................................
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput .............................................................................................
deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado § 3º Os incentivos criados por esta Lei somente serão conce-
o disposto em regulamento.” (NR) didos a projetos culturais que forem disponibilizados, sempre que
“Art. 43. ...................................................................... tecnicamente possível, também em formato acessível à pessoa com
............................................................................................ deficiência, observado o disposto em regulamento.” (NR)
§ 6º Todas as informações de que trata o caput deste artigo Art. 103. O art. 11 da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 , passa
devem ser disponibilizadas em formatos acessíveis, inclusive para a a vigorar acrescido do seguinte inciso IX:
pessoa com deficiência, mediante solicitação do consumidor.” (NR) “Art. 11. .....................................................................
Art. 101. A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , passa a vigorar ............................................................................................
com as seguintes alterações: IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilida-
“Art. 16. ...................................................................... de previstos na legislação.” (NR)
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não Art. 104. A Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 , passa a vigo-
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos rar com as seguintes alterações:
ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou defi- “Art. 3º .....................................................................
ciência grave; ..........................................................................................
............................................................................................ § 2º ...........................................................................
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de ..........................................................................................
21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectu- V - produzidos ou prestados por empresas que comprovem
al ou mental ou deficiência grave; cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para pessoa com
.................................................................................” (NR) deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que atendam
“Art. 77. ..................................................................... às regras de acessibilidade previstas na legislação.
............................................................................................ ...........................................................................................
§ 2º .............................................................................. § 5º Nos processos de licitação, poderá ser estabelecida mar-
............................................................................................ gem de preferência para:
I - produtos manufaturados e para serviços nacionais que aten-
dam a normas técnicas brasileiras; e

223
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
II - bens e serviços produzidos ou prestados por empresas que Parágrafo único. Para os efeitos deste Código, são consideradas
comprovem cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para vias terrestres as praias abertas à circulação pública, as vias inter-
pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e nas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades au-
que atendam às regras de acessibilidade previstas na legislação. tônomas e as vias e áreas de estacionamento de estabelecimentos
...................................................................................” (NR) privados de uso coletivo.” (NR)
“Art. 66-A. As empresas enquadradas no inciso V do § 2º e no “Art. 86-A. As vagas de estacionamento regulamentado de que
inciso II do § 5º do art. 3º desta Lei deverão cumprir, durante todo trata o inciso XVII do art. 181 desta Lei deverão ser sinalizadas com
o período de execução do contrato, a reserva de cargos prevista em as respectivas placas indicativas de destinação e com placas infor-
lei para pessoa com deficiência ou para reabilitado da Previdência mando os dados sobre a infração por estacionamento indevido.”
Social, bem como as regras de acessibilidade previstas na legislação. “Art. 147-A. Ao candidato com deficiência auditiva é assegura-
Parágrafo único. Cabe à administração fiscalizar o cumprimen- da acessibilidade de comunicação, mediante emprego de tecnolo-
to dos requisitos de acessibilidade nos serviços e nos ambientes de gias assistivas ou de ajudas técnicas em todas as etapas do processo
trabalho.” de habilitação.
Art. 105. O art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 , § 1º O material didático audiovisual utilizado em aulas teóricas
passa a vigorar com as seguintes alterações: dos cursos que precedem os exames previstos no art. 147 desta Lei
“Art. 20. ...................................................................... deve ser acessível, por meio de subtitulação com legenda oculta
............................................................................................. associada à tradução simultânea em Libras.
§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação conti- § 2º É assegurado também ao candidato com deficiência audi-
nuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impe- tiva requerer, no ato de sua inscrição, os serviços de intérprete da
dimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou Libras, para acompanhamento em aulas práticas e teóricas.”
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode “Art. 154. (VETADO).”
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade “Art. 181. ...................................................................
de condições com as demais pessoas. ..........................................................................................
............................................................................................ XVII - .........................................................................
§ 9º Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e Infração - grave;
de aprendizagem não serão computados para os fins de cálculo da .................................................................................” (NR)
renda familiar per capita a que se refere o § 3º deste artigo. Art. 110. O inciso VI e o § 1º do art. 56 da Lei nº 9.615, de 24 de
............................................................................................. março de 1998 , passam a vigorar com a seguinte redação:
§ 11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste “Art. 56. ....................................................................
artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da con- ...........................................................................................
dição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnera- VI - 2,7% (dois inteiros e sete décimos por cento) da arrecada-
bilidade, conforme regulamento.” (NR) ção bruta dos concursos de prognósticos e loterias federais e simila-
Art. 106. (VETADO). res cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-
Art. 107. A Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995 , passa a vigorar -se esse valor do montante destinado aos prêmios;
com as seguintes alterações: .............................................................................................
“Art. 1º É proibida a adoção de qualquer prática discriminató- § 1º Do total de recursos financeiros resultantes do percentual
ria e limitativa para efeito de acesso à relação de trabalho, ou de de que trata o inciso VI do caput , 62,96% (sessenta e dois inteiros
sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, e noventa e seis centésimos por cento) serão destinados ao Comitê
situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% (trinta e sete inteiros e quatro
outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de proteção à criança centésimos por cento) ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), de-
e ao adolescente previstas no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição vendo ser observado, em ambos os casos, o conjunto de normas
Federal. ” (NR) aplicáveis à celebração de convênios pela União.
“Art. 3º Sem prejuízo do prescrito no art. 2º desta Lei e nos dis- ..................................................................................” (NR)
positivos legais que tipificam os crimes resultantes de preconceito Art. 111. O art. 1º da Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000
de etnia, raça, cor ou deficiência, as infrações ao disposto nesta Lei , passa a vigorar com a seguinte redação:
são passíveis das seguintes cominações: “Art. 1º As pessoas com deficiência, os idosos com idade igual
..................................................................................” (NR) ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes, as pes-
“Art. 4º ........................................................................ soas com crianças de colo e os obesos terão atendimento prioritá-
I - a reintegração com ressarcimento integral de todo o período rio, nos termos desta Lei.” (NR)
de afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas, Art. 112. A Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , passa a
corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais; vigorar com as seguintes alterações:
....................................................................................” (NR) “Art. 2º .......................................................................
Art. 108. O art. 35 da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995 I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para uti-
, passa a vigorar acrescido do seguinte § 5º : lização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equi-
“Art. 35. ...................................................................... pamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comuni-
............................................................................................. cação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros
§ 5º Sem prejuízo do disposto no inciso IX do parágrafo único serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou priva-
do art. 3º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 , a pessoa com dos de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa
deficiência, ou o contribuinte que tenha dependente nessa condi- com deficiência ou com mobilidade reduzida;
ção, tem preferência na restituição referida no inciso III do art. 4º e II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou compor-
na alínea “c” do inciso II do art. 8º .” (NR) tamento que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem
Art. 109. A Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilida-
de Trânsito Brasileiro) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 2º ...........................................................

224
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
de, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao Parágrafo único. O passeio público, elemento obrigatório de
acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, urbanização e parte da via pública, normalmente segregado e em
entre outros, classificadas em: nível diferente, destina-se somente à circulação de pedestres e,
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços quando possível, à implantação de mobiliário urbano e de vegeta-
públicos e privados abertos ao público ou de uso coletivo; ção.” (NR)
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos “Art. 9º ........................................................................
e privados; Parágrafo único. Os semáforos para pedestres instalados em
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios vias públicas de grande circulação, ou que deem acesso aos servi-
de transportes; ços de reabilitação, devem obrigatoriamente estar equipados com
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer mecanismo que emita sinal sonoro suave para orientação do pe-
entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que dificulte ou destre.” (NR)
impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens e de “Art. 10-A. A instalação de qualquer mobiliário urbano em área
informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tec- de circulação comum para pedestre que ofereça risco de acidente
nologia da informação; à pessoa com deficiência deverá ser indicada mediante sinalização
III - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimento de tátil de alerta no piso, de acordo com as normas técnicas pertinen-
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o tes.”
qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua “Art. 12-A. Os centros comerciais e os estabelecimentos congê-
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condi- neres devem fornecer carros e cadeiras de rodas, motorizados ou
ções com as demais pessoas; não, para o atendimento da pessoa com deficiência ou com mobi-
IV - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por lidade reduzida.”
qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou Art. 113. A Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 (Estatuto da
temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilida- Cidade) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
de, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, ges- “Art. 3º ......................................................................
tante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso; ............................................................................................
V - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com de- III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Esta-
ficiência, podendo ou não desempenhar as funções de atendente dos, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de
pessoal; moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento
VI - elemento de urbanização: quaisquer componentes de básico, das calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e
obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação, sa- dos demais espaços de uso público;
neamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elé- IV - instituir diretrizes para desenvolvimento urbano, inclusive
trica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abaste- habitação, saneamento básico, transporte e mobilidade urbana,
cimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam que incluam regras de acessibilidade aos locais de uso público;
as indicações do planejamento urbanístico; .................................................................................” (NR)
VII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias “Art. 41. ....................................................................
e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elemen- ...........................................................................................
tos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modifica- § 3º As cidades de que trata o caput deste artigo devem ela-
ção ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses borar plano de rotas acessíveis, compatível com o plano diretor no
elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, qual está inserido, que disponha sobre os passeios públicos a serem
terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes implantados ou reformados pelo poder público, com vistas a ga-
de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques e quaisquer rantir acessibilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade
outros de natureza análoga; reduzida a todas as rotas e vias existentes, inclusive as que concen-
VIII - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipa- trem os focos geradores de maior circulação de pedestres, como
mentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas os órgãos públicos e os locais de prestação de serviços públicos e
e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à privados de saúde, educação, assistência social, esporte, cultura,
atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobili- correios e telégrafos, bancos, entre outros, sempre que possível de
dade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade maneira integrada com os sistemas de transporte coletivo de pas-
de vida e inclusão social; sageiros.” (NR)
IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abran- Art. 114. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
ge, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Civil) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sina- “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente
lização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispo- os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
sitivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, I - (Revogado);
os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, II - (Revogado);
meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, in- III - (Revogado).” (NR)
cluindo as tecnologias da informação e das comunicações; “Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à manei-
X - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, pro- ra de os exercer:
gramas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem neces- .....................................................................................
sidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
de tecnologia assistiva.” (NR) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não pu-
“Art. 3º O planejamento e a urbanização das vias públicas, dos derem exprimir sua vontade;
parques e dos demais espaços de uso público deverão ser conce- .............................................................................................
bidos e executados de forma a torná-los acessíveis para todas as Parágrafo único . A capacidade dos indígenas será regulada por
pessoas, inclusive para aquelas com deficiência ou com mobilidade legislação especial.” (NR)
reduzida. “Art. 228. .....................................................................

225
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
............................................................................................. “TÍTULO IV
II - (Revogado); DA TUTELA, DA CURATELA E DA TOMADA DE DECISÃO
III - (Revogado); APOIADA”
.............................................................................................
§ 1º .............................................................................. Art. 116. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igual- 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar
dade de condições com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados acrescido do seguinte Capítulo III:
todos os recursos de tecnologia assistiva.” (NR)
“Art. 1.518 . Até a celebração do casamento podem os pais ou “CAPÍTULO III
tutores revogar a autorização.” (NR) DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA
“Art. 1.548. ...................................................................
I - (Revogado); Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo
....................................................................................” (NR) qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas
“Art. 1.550. .................................................................. idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua con-
............................................................................................. fiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da
§ 1º .............................................................................. vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários
§ 2º A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade para que possa exercer sua capacidade.
núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade direta- § 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a
mente ou por meio de seu responsável ou curador.” (NR) pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo
“Art. 1.557. ................................................................ em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compro-
............................................................................................ missos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico ir- o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que
remediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e devem apoiar.
transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a § 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido
saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das pessoas ap-
IV - (Revogado).” (NR) tas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.
“Art. 1.767. .................................................................. § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de deci-
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não pu- são apoiada, o juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva
derem exprimir sua vontade; do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pes-
II - (Revogado); soas que lhe prestarão apoio.
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; § 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efei-
IV - (Revogado); tos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos
....................................................................................” (NR) limites do apoio acordado.
“Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve § 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação
ser promovido: negocial pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contra-
............................................................................................. to ou acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao
IV - pela própria pessoa.” (NR) apoiado.
“Art. 1.769 . O Ministério Público somente promoverá o proces- § 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou pre-
so que define os termos da curatela: juízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa
I - nos casos de deficiência mental ou intelectual; apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério
............................................................................................ Público, decidir sobre a questão.
III - se, existindo, forem menores ou incapazes as pessoas men- § 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão in-
cionadas no inciso II.” (NR) devida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa
“Art. 1.771. Antes de se pronunciar acerca dos termos da cura- apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Pú-
tela, o juiz, que deverá ser assistido por equipe multidisciplinar, en- blico ou ao juiz.
trevistará pessoalmente o interditando.” (NR) § 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e
“Art. 1.772. O juiz determinará, segundo as potencialidades da nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra
pessoa, os limites da curatela, circunscritos às restrições constantes pessoa para prestação de apoio.
do art. 1.782, e indicará curador. § 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o tér-
Parágrafo único. Para a escolha do curador, o juiz levará em mino de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoia-
conta a vontade e as preferências do interditando, a ausência de da.
conflito de interesses e de influência indevida, a proporcionalidade § 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua par-
e a adequação às circunstâncias da pessoa.” (NR) ticipação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu
“Art. 1.775-A . Na nomeação de curador para a pessoa com de- desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.
ficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais § 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber,
de uma pessoa.” as disposições referentes à prestação de contas na curatela.”
“Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I do art. 1.767 rece- Art. 117. O art. 1º da Lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005 ,
berão todo o apoio necessário para ter preservado o direito à convi- passa a vigorar com a seguinte redação:
vência familiar e comunitária, sendo evitado o seu recolhimento em “Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual acompa-
estabelecimento que os afaste desse convívio.” (NR) nhada de cão-guia o direito de ingressar e de permanecer com o
Art. 115. O Título IV do Livro IV da Parte Especial da Lei nº animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar com abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo, desde
a seguinte redação: que observadas as condições impostas por esta Lei.
.............................................................................................

226
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
§ 2º O disposto no caput deste artigo aplica-se a todas as mo- Art. 124. O § 1º do art. 2º desta Lei deverá entrar em vigor em
dalidades e jurisdições do serviço de transporte coletivo de passa- até 2 (dois) anos, contados da entrada em vigor desta Lei.
geiros, inclusive em esfera internacional com origem no território Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir discrimina-
brasileiro.” (NR) dos, a partir da entrada em vigor desta Lei, para o cumprimento dos
Art. 118. O inciso IV do art. 46 da Lei nº 11.904, de 14 de janeiro seguintes dispositivos:
de 2009 , passa a vigorar acrescido da seguinte alínea “k”: I - incisos I e II do § 2º do art. 28 , 48 (quarenta e oito) meses;
“Art. 46. ...................................................................... II - § 6º do art. 44, 84 (oitenta e quatro) meses; (Redação
........................................................................................... dada pela Lei nº 14.159, de 2021)
IV - .............................................................................. III - art. 45 , 24 (vinte e quatro) meses;
........................................................................................... IV - art. 49 , 48 (quarenta e oito) meses.
k) de acessibilidade a todas as pessoas. Art. 126. Prorroga-se até 31 de dezembro de 2021 a vigência da
.................................................................................” (NR) Lei nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 .
Art. 119. A Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012 , passa a vigo- Art. 127. Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e
rar acrescida do seguinte art. 12-B: oitenta) dias de sua publicação oficial .
“Art. 12-B. Na outorga de exploração de serviço de táxi, reser-
var-se-ão 10% (dez por cento) das vagas para condutores com de-
ficiência. LEIS Nº 10.639/03 E 11.645/2008 – HISTÓRIA E
§ 1º Para concorrer às vagas reservadas na forma do caput des- CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA.
te artigo, o condutor com deficiência deverá observar os seguintes
requisitos quanto ao veículo utilizado: LEI N° 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
I - ser de sua propriedade e por ele conduzido; e
II - estar adaptado às suas necessidades, nos termos da legis- Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que esta-
lação vigente. belece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
§ 2º No caso de não preenchimento das vagas na forma esta- currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temáti-
belecida no caput deste artigo, as remanescentes devem ser dispo- ca “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
nibilizadas para os demais concorrentes.”
Art. 120. Cabe aos órgãos competentes, em cada esfera de go- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
verno, a elaboração de relatórios circunstanciados sobre o cumpri- Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
mento dos prazos estabelecidos por força das Leis nº 10.048, de 8
de novembro de 2000 , e nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000 , Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a
bem como o seu encaminhamento ao Ministério Público e aos ór- vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
gãos de regulação para adoção das providências cabíveis. “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
Parágrafo único. Os relatórios a que se refere o caput deste ar- médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre
tigo deverão ser apresentados no prazo de 1 (um) ano a contar da História e Cultura Afro-Brasileira.
entrada em vigor desta Lei. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste
Art. 121. Os direitos, os prazos e as obrigações previstos nesta artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta
Lei não excluem os já estabelecidos em outras legislações, inclusive dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na for-
em pactos, tratados, convenções e declarações internacionais apro- mação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo
vados e promulgados pelo Congresso Nacional, e devem ser apli- negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História
cados em conformidade com as demais normas internas e acordos do Brasil.
internacionais vinculantes sobre a matéria. § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasi-
Parágrafo único. Prevalecerá a norma mais benéfica à pessoa leira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
com deficiência. especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Art. 122. Regulamento disporá sobre a adequação do disposto Brasileiras.
nesta Lei ao tratamento diferenciado, simplificado e favorecido a § 3o (VETADO)”
ser dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte, “Art. 79-A. (VETADO)”
previsto no § 3º do art. 1º da Lei Complementar nº 123, de 14 de “Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro
dezembro de 2006 . como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
Art. 123. Revogam-se os seguintes dispositivos: (Vigência) Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
I - o inciso II do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.008, de 21 de março
de 1995 ; LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.
II - os incisos I, II e III do art. 3º da Lei nº 10.406, de 10 de janei-
ro de 2002 (Código Civil); Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modifica-
III - os incisos II e III do art. 228 da Lei nº 10.406, de 10 de janei- da pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as
ro de 2002 (Código Civil); diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
IV - o inciso I do art. 1.548 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
2002 (Código Civil); e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
V - o inciso IV do art. 1.557 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 (Código Civil); O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso
VI - os incisos II e IV do art. 1.767 da Lei nº 10.406, de 10 de Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
janeiro de 2002 (Código Civil);
VII - os arts. 1.776 e 1.780 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
2002 (Código Civil). 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

227
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e nível, os conteúdos e objetivos são organizados em quatro ciclos,
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estu- cada um correspondente ao 6º,7º,8º e 9º anos. Essa estratégia
do da história e cultura afro-brasileira e indígena. previne a que os conteúdos e os objetivos sejam segmentados de
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo in- forma excessiva, garantindo que os conhecimentos sejam aborda-
cluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam dos da forma menos parcelada possível. 
a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos PCNs do Ensino Médio: a reforma do Ensino Médio (realizada
étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a pelo MEC), com base em uma política de desenvolvimento social,
luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e priorizou as ações na área da educação. Essa alteração foi neces-
indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade sária devido à revolução informática, que produziu profundas mu-
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, eco- danças na área do conhecimento, intensificada pela incorporação
nômica e política, pertinentes à história do Brasil. das novas tecnologias. Assim, a formação do estudante do Ensino
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasi- Médio passou a priorizara aquisição de conhecimentos básicos,
leira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbi- a preparação científica e a capacidade de lidar com diferentes
to de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação tecnologias relacionadas às áreas profissionais. Diante dessa pers-
artística e de literatura e história brasileiras.” (NR) pectiva, a proposta é que os professores formem alunos com habi-
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. lidades na pesquisa, na busca informações, na sua análise e sele-
ção. Enfim, o novo Ensino Médio busca desenvolver nos alunos a
capacidade de aprender, criar e formular. A organização dos PCNs
PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS também precisou seguir essa reforma, tendo seus ciclos organiza-
HUMANOS – 2007 dos das seguintes formas:  
• Bases Legais
Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi- • Linguagens, Códigos e suas Tecnologias  
lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em • Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias  
nosso site. • Ciências Humanas e suas Tecnologias  
• National Curriculum Parameters Secondary Education  
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
• Ciências Humanas e suas Tecnologias 
• Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias 
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN’S): • Linguagens, Códigos e suas Tecnologias  
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS, NATUREZA, OBJETIVOS E
CONTEÚDOS PROPOSTOS Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão disponíveisna ín-
tegra no portal oficial do MEC conforme segue:
Parâmetros Curriculares Nacionais http://portal.mec.gov.br/expansao-da-rede-federal/
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) são diretrizes 195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/
criadas pelo Governo Federal, para normatizar aspectos básico 12640-parametros-curriculares-nacionais-1o-a-4o-series
inerentes a cada disciplina, com o propósito de nortear o trabalho
dos educadores no sentido de garantir aos alunos a formação e
http://portal.mec.gov.br/pnaes/195-secretarias-112877938/
cidadãos conscientes para exercerem sua cidadania. Os PCNs parâ-
seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curricula-
metros compreendem as redes pública e privada de ensino, de
res-nacionais-5o-a-8o-series
acordo com o nível de escolaridade dos estudantes. O uso desses
parâmetros não é obrigatório, todavia, esses recursos constituem
http://portal.mec.gov.br/programa-saude-da-escola/
um importante instrumento para transformação da didática de
195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/
ensino e de conteúdo.  
12598-publicacoes-sp-265002211
Organização dos PCNs:  os PCNs se organizam em ciclos, essa es-
trutura tem como objetivo principal a superação da segmentação
em excesso, gerada pela regulamentação seriada, e buscar pelo PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (LEI Nº 13.005/2014)
conhecimento integrado.  
PCNs do 1º ao 5º ano: voltadas para o ensino fundamen-
tal, esse parâmetros são segmentados em áreas, porém, sempre O Plano Nacional de Educação (PNE) consiste em um conjunto
procurando integração entre elas. Assim, os parâmetros são dividi- de medidas a serem adotas de forma gradual ao logo dos seus 10
dos em Matemática, Língua Portuguesa, História, Geografia, Ciên- anos de vigência (de 2014 a 2024). Tais ações foram pensadas de
cias Naturais, Educação Física e Artes.  A abordagem de questões forma colaborativa entre todas as entidades da federação (União,
segue os temas meio ambiente, saúde, ética, pluralidade cultural e Estados, Municípios e Distrito Federal), com o propósito de equa-
orientação sexual. No que diz respeito à inclusão desses tópicos na lizar e desenvolver o ensino, especialmente em nível fundamental,
grade curricular, a finalidade é um tratamento transversal, uma mas, consequentemente, expandindo-se para os ensinos profissio-
que tem se apresentado em muitas experiências tanto do Brasil nalizante e superior.
como em outros países, em que questões sociais passaram a cons- As metas previstas no PNE se distribuem em quatro grandes
tituir a própria concepção especulativa dos campos de estudo e de blocos:
seus componentes curriculares.  - O primeiro diz respeito a expansão do ensino básico, garantin-
PCNs do 6º ao 9º ano: para os alunos desse nível de educa- do uma expansão do ensino obrigatório e de qualidade;
ção, os PCNs abrem com a apresentação da concepção da área. - O segundo grupo de metas diz respeito à valorização da di-
Posteriormente, são apresentados os objetivos gerais dessa área, versidade presente no país, além da diminuição da disparidade da
que dizem respeito às habilidades que os estudantes devem de- educação, visando sempre aumentar a equidade educacional;
senvolver no decorrer do curso obrigatório, esclarecendo a contri- - O terceiro grupo de metas se refere a uma melhor preparação
buição característica das diversas áreas do conhecimento. Nesse e valorização dos profissionais da educação;

228
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
- O quarto e último grupo se refere às medidas de expansão do 9. Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou
ensino superior. mais para 93,5% até 2015.
Objetivos e diretrizes 10. Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de
A adoção e implementação do PNE em escala nacional pauta-se jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio, na forma inte-
na possibilidade de erradicação do analfabetismo, universalização e grada à educação profissional.
superação das desigualdades educacionais, com foco em erradicar 11. Triplicar as matrículas da educação profissional técnica de
toda e qualquer forma de discriminação. Também se prevê melho- nível médio.
rar a qualidade da formação, inclusive a profissional, a promoção 12. Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para
da cultura, a tecnologia e a ciência nacional, mas levando em conta 50%.
o respeito aos direitos humanos, à sustentabilidade e diversidade 13. Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a pro-
socioambiental. porção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exer-
A garantia dessas ações se dará pelo estabelecimento de meta cício.
de aplicação do PIB, destinando-se os recursos necessários. Assim, 14. Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-gradu-
também seria garantida uma melhor e maior qualificação e valo- ação stricto sensu.
rização dos profissionais da educação, medida essencial para que 15. Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Es-
todas as outras possam ser concretizadas. tados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de um ano de
vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissionais
Execução e fiscalização da educação. Com isso, assegurar-se-á que todos os professores e
A elaboração e execução das metas do plano deverão ter como as professoras da educação básica possuam formação específica de
base os dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí- nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conheci-
lios), do senso demográfico e educacional mais recentes, para que mento em que atuam.
elas reflitam as realidades locais valorizando a particularidades e 16. Formar, em nível de pós-graduação, 50% dos professores da
diferenças inerentes ao território brasileiro. educação básica, até o último ano de vigência deste PNE.
Além de observar as diferenças e peculiaridades regionais no 17. Valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públi-
estabelecimento das metas, também será da alçada de uma sé- cas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio
rie de organizações – Ministério da Educação (MEC), Comissão de
ao dos (as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até
Educação das casas do Congresso, Conselho Nacional de Educa-
o final do sexto ano de vigência deste PNE.
ção (CNE) e o Fórum Nacional de Educação – fiscalizar e garantir o
18. Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos
cumprimento das diretrizes estabelecidas. O sistema de fiscalização
de Carreira para os (as) profissionais da educação básica e superior
mencionado será realizado sempre com um intervalo de dois anos.
pública de todos os sistemas de ensino.
No primeiro semestre do nono ano de execução desde plano
19. Assegurar condições, no prazo de dois anos, para a efetiva-
(entre janeiro e junho de 2023), o Poder Executivo Federal deverá
ção da gestão democrática da educação.
encaminhar ao Congresso Nacional o projeto de lei que referenciará
o Plano Nacional de Educação a ser aplicado no período subsequen- 20. Ampliar o investimento público em educação pública de
te. forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB do País no quin-
to ano de vigência desta Lei.
Metas do PNE
Para fornecer ao candidato uma noção sobre os propósitos do Em vista de seu caráter de abrangência nacional em todas as
PNE, confira resumidamente as 20 metas estabelecidas para a déca- esferas, a execução do PNE demandará uma grande colaboração
da. Observe que, por estar o PNE em plena vigência, há metas que entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal, pois estes entes
mencionam anos já encerrados, tais como 2015 e 2016). federados deverão, na medida do necessário, adaptar suas políticas
1. Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola locais para que seja possível a execução das metas pré-estabeleci-
para as crianças de quatro a cinco anos de idade e ampliar a oferta das pelo plano.
de educação infantil em creches, de forma a atender, no mínimo, Dentre todas as estratégias de aplicação e execução do PNE,
50% das crianças de até três anos até o final da vigência do PNE. existe um grande enfoque na constituição da Educação Básica e na
2. Universalizar o ensino fundamental de nove anos para toda formação e melhor qualificação dos professores, em todos os ní-
a população de seis a 14 anos e garantir que pelo menos 95% dos veis.3
alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último
ano de vigência deste PNE. LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014.
3. Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a
população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigên- Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras pro-
cia deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para vidências.
85%.
4. Universalizar, para a população de quatro a 17 anos com de- A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
ficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilida- cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
des ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento Art. 1o É aprovado o Plano Nacional de Educação - PNE, com vi-
educacional especializado. gência por 10 (dez) anos, a contar da publicação desta Lei, na forma
5. Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do ter- do Anexo, com vistas ao cumprimento do disposto no art. 214 da
ceiro ano do ensino fundamental. Constituição Federal.
6. Oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% Art. 2o São diretrizes do PNE:
das escolas públicas. I - erradicação do analfabetismo;
7. Fomentar a qualidade da educação básica em todas as eta- II - universalização do atendimento escolar;
pas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendiza-
gem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb.
8. Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos.
3 Fonte: www.concursosnobrasil.com.br

229
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em programas de
promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de dis- financiamento estudantil e o financiamento de creches, pré-esco-
criminação; las e de educação especial na forma do art. 213 da Constituição
IV - melhoria da qualidade da educação; Federal.
V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase § 5o Será destinada à manutenção e ao desenvolvimento do en-
nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; sino, em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. 212
VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação da Constituição Federal, além de outros recursos previstos em lei, a
pública; parcela da participação no resultado ou da compensação financeira
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do pela exploração de petróleo e de gás natural, na forma de lei especí-
País; fica, com a finalidade de assegurar o cumprimento da meta prevista
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públi- no inciso VI do art. 214 da Constituição Federal.
cos em educação como proporção do Produto Interno Bruto - PIB, Art. 6o A União promoverá a realização de pelo menos 2 (duas)
que assegure atendimento às necessidades de expansão, com pa- conferências nacionais de educação até o final do decênio, prece-
drão de qualidade e equidade; didas de conferências distrital, municipais e estaduais, articuladas
IX - valorização dos (as) profissionais da educação; e coordenadas pelo Fórum Nacional de Educação, instituído nesta
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, Lei, no âmbito do Ministério da Educação.
à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. § 1o O Fórum Nacional de Educação, além da atribuição referida
no caput:
Art. 3o As metas previstas no Anexo desta Lei serão cumpridas
I - acompanhará a execução do PNE e o cumprimento de suas
no prazo de vigência deste PNE, desde que não haja prazo inferior
metas;
definido para metas e estratégias específicas.
II - promoverá a articulação das conferências nacionais de edu-
Art. 4o As metas previstas no Anexo desta Lei deverão ter como cação com as conferências regionais, estaduais e municipais que as
referência a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, o precederem.
censo demográfico e os censos nacionais da educação básica e su- § 2o As conferências nacionais de educação realizar-se-ão com
perior mais atualizados, disponíveis na data da publicação desta Lei. intervalo de até 4 (quatro) anos entre elas, com o objetivo de avaliar
Parágrafo único. O poder público buscará ampliar o escopo das a execução deste PNE e subsidiar a elaboração do plano nacional de
pesquisas com fins estatísticos de forma a incluir informação deta- educação para o decênio subsequente.
lhada sobre o perfil das populações de 4 (quatro) a 17 (dezessete) Art. 7o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
anos com deficiência. atuarão em regime de colaboração, visando ao alcance das metas e
Art. 5o A execução do PNE e o cumprimento de suas metas se- à implementação das estratégias objeto deste Plano.
rão objeto de monitoramento contínuo e de avaliações periódicas, § 1o Caberá aos gestores federais, estaduais, municipais e do
realizados pelas seguintes instâncias: Distrito Federal a adoção das medidas governamentais necessárias
I - Ministério da Educação - MEC; ao alcance das metas previstas neste PNE.
§ 2o As estratégias definidas no Anexo desta Lei não elidem a
II - Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e Comis- adoção de medidas adicionais em âmbito local ou de instrumentos
são de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; jurídicos que formalizem a cooperação entre os entes federados,
III - Conselho Nacional de Educação - CNE; podendo ser complementadas por mecanismos nacionais e locais
IV - Fórum Nacional de Educação. de coordenação e colaboração recíproca.
§ 1o Compete, ainda, às instâncias referidas no caput: § 3o Os sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e
I - divulgar os resultados do monitoramento e das avaliações dos Municípios criarão mecanismos para o acompanhamento local
nos respectivos sítios institucionais da internet; da consecução das metas deste PNE e dos planos previstos no art.
II - analisar e propor políticas públicas para assegurar a imple- 8o.
mentação das estratégias e o cumprimento das metas; § 4o Haverá regime de colaboração específico para a implemen-
III - analisar e propor a revisão do percentual de investimento tação de modalidades de educação escolar que necessitem consi-
público em educação. derar territórios étnico-educacionais e a utilização de estratégias
que levem em conta as identidades e especificidades socioculturais
§ 2o A cada 2 (dois) anos, ao longo do período de vigência des-
e linguísticas de cada comunidade envolvida, assegurada a consulta
te PNE, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
prévia e informada a essa comunidade.
Anísio Teixeira - INEP publicará estudos para aferir a evolução no
§ 5o Será criada uma instância permanente de negociação e
cumprimento das metas estabelecidas no Anexo desta Lei, com in- cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
formações organizadas por ente federado e consolidadas em âm- nicípios.
bito nacional, tendo como referência os estudos e as pesquisas de § 6o O fortalecimento do regime de colaboração entre os Esta-
que trata o art. 4o, sem prejuízo de outras fontes e informações re- dos e respectivos Municípios incluirá a instituição de instâncias per-
levantes. manentes de negociação, cooperação e pactuação em cada Estado.
§ 3o A meta progressiva do investimento público em educação § 7o O fortalecimento do regime de colaboração entre os Muni-
será avaliada no quarto ano de vigência do PNE e poderá ser am- cípios dar-se-á, inclusive, mediante a adoção de arranjos de desen-
pliada por meio de lei para atender às necessidades financeiras do volvimento da educação.
cumprimento das demais metas. Art. 8o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão
§ 4o O investimento público em educação a que se referem o elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar os
inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a meta 20 do Anexo planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, me-
desta Lei engloba os recursos aplicados na forma do art. 212 da tas e estratégias previstas neste PNE, no prazo de 1 (um) ano conta-
Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições Constitu- do da publicação desta Lei.
cionais Transitórias, bem como os recursos aplicados nos progra- § 1o Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos
mas de expansão da educação profissional e superior, inclusive na de educação estratégias que:
forma de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas

230
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
I - assegurem a articulação das políticas educacionais com as rendimento escolar, assegurada a compatibilidade metodológica
demais políticas sociais, particularmente as culturais; entre esses sistemas e o nacional, especialmente no que se refere
II - considerem as necessidades específicas das populações do às escalas de proficiência e ao calendário de aplicação.
campo e das comunidades indígenas e quilombolas, asseguradas a Art. 12. Até o final do primeiro semestre do nono ano de vi-
equidade educacional e a diversidade cultural; gência deste PNE, o Poder Executivo encaminhará ao Congresso
III - garantam o atendimento das necessidades específicas na Nacional, sem prejuízo das prerrogativas deste Poder, o projeto de
educação especial, assegurado o sistema educacional inclusivo em lei referente ao Plano Nacional de Educação a vigorar no período
todos os níveis, etapas e modalidades; subsequente, que incluirá diagnóstico, diretrizes, metas e estraté-
IV - promovam a articulação interfederativa na implementação gias para o próximo decênio.
das políticas educacionais. Art. 13. O poder público deverá instituir, em lei específica, con-
§ 2o Os processos de elaboração e adequação dos planos de tados 2 (dois) anos da publicação desta Lei, o Sistema Nacional de
educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de que Educação, responsável pela articulação entre os sistemas de ensino,
trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação em regime de colaboração, para efetivação das diretrizes, metas e
de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil. estratégias do Plano Nacional de Educação.
Art. 9o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
aprovar leis específicas para os seus sistemas de ensino, discipli- Brasília, 25 de junho de 2014; 193o da Independência e 126o
nando a gestão democrática da educação pública nos respectivos da República.
âmbitos de atuação, no prazo de 2 (dois) anos contado da publica- DILMA ROUSSEFF
ção desta Lei, adequando, quando for o caso, a legislação local já Guido Mantega
adotada com essa finalidade. José Henrique Paim Fernandes
Art. 10. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e os or- Miriam Belchior
çamentos anuais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.6.2014 - Edi-
Municípios serão formulados de maneira a assegurar a consignação ção extra
de dotações orçamentárias compatíveis com as diretrizes, metas e
estratégias deste PNE e com os respectivos planos de educação, a ANEXO
fim de viabilizar sua plena execução. METAS E ESTRATÉGIAS
Art. 11. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica,
coordenado pela União, em colaboração com os Estados, o Distri- Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-esco-
to Federal e os Municípios, constituirá fonte de informação para a la para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar
avaliação da qualidade da educação básica e para a orientação das a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no
políticas públicas desse nível de ensino. mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos
§ 1o O sistema de avaliação a que se refere o caput produzirá, até o final da vigência deste PNE.
no máximo a cada 2 (dois) anos:
I - indicadores de rendimento escolar, referentes ao desempe- Estratégias:
nho dos (as) estudantes apurado em exames nacionais de avalia- 1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, os Es-
ção, com participação de pelo menos 80% (oitenta por cento) dos tados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de expansão das
(as) alunos (as) de cada ano escolar periodicamente avaliado em respectivas redes públicas de educação infantil segundo padrão na-
cada escola, e aos dados pertinentes apurados pelo censo escolar cional de qualidade, considerando as peculiaridades locais;
da educação básica; 1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja inferior a
II - indicadores de avaliação institucional, relativos a caracterís- 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de frequência à edu-
ticas como o perfil do alunado e do corpo dos (as) profissionais da cação infantil das crianças de até 3 (três) anos oriundas do quinto
educação, as relações entre dimensão do corpo docente, do corpo de renda familiar per capita mais elevado e as do quinto de renda
técnico e do corpo discente, a infraestrutura das escolas, os recur- familiar per capita mais baixo;
sos pedagógicos disponíveis e os processos da gestão, entre outras 1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração, levan-
relevantes. tamento da demanda por creche para a população de até 3 (três)
§ 2o A elaboração e a divulgação de índices para avaliação da anos, como forma de planejar a oferta e verificar o atendimento da
qualidade, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica demanda manifesta;
- IDEB, que agreguem os indicadores mencionados no inciso I do § 1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, normas,
1o não elidem a obrigatoriedade de divulgação, em separado, de procedimentos e prazos para definição de mecanismos de consulta
cada um deles. pública da demanda das famílias por creches;
§ 3o Os indicadores mencionados no § 1o serão estimados por 1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas
etapa, estabelecimento de ensino, rede escolar, unidade da Federa- as normas de acessibilidade, programa nacional de construção e re-
ção e em nível agregado nacional, sendo amplamente divulgados, estruturação de escolas, bem como de aquisição de equipamentos,
ressalvada a publicação de resultados individuais e indicadores por visando à expansão e à melhoria da rede física de escolas públicas
turma, que fica admitida exclusivamente para a comunidade do res- de educação infantil;
pectivo estabelecimento e para o órgão gestor da respectiva rede. 1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, ava-
§ 4o Cabem ao Inep a elaboração e o cálculo do Ideb e dos indi- liação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos,
cadores referidos no § 1o. com base em parâmetros nacionais de qualidade, a fim de aferir a
§ 5o A avaliação de desempenho dos (as) estudantes em exa- infraestrutura física, o quadro de pessoal, as condições de gestão,
mes, referida no inciso I do § 1o, poderá ser diretamente realizada os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade, entre outros
pela União ou, mediante acordo de cooperação, pelos Estados e indicadores relevantes;
pelo Distrito Federal, nos respectivos sistemas de ensino e de seus 1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches cer-
Municípios, caso mantenham sistemas próprios de avaliação do tificadas como entidades beneficentes de assistência social na área
de educação com a expansão da oferta na rede escolar pública;

231
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) profis- 2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municí-
sionais da educação infantil, garantindo, progressivamente, o aten- pios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5º do art.
dimento por profissionais com formação superior; 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendiza-
1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de gem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum
pesquisa e cursos de formação para profissionais da educação, de curricular do ensino fundamental;
modo a garantir a elaboração de currículos e propostas pedagógi- 2.3) criar mecanismos para o acompanhamento individualiza-
cas que incorporem os avanços de pesquisas ligadas ao processo de do dos (as) alunos (as) do ensino fundamental;
ensino-aprendizagem e às teorias educacionais no atendimento da 2.4) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do
população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos; acesso, da permanência e do aproveitamento escolar dos benefici-
1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das ários de programas de transferência de renda, bem como das situa-
comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas res- ções de discriminação, preconceitos e violências na escola, visando
pectivas comunidades, por meio do redimensionamento da distri- ao estabelecimento de condições adequadas para o sucesso escolar
buição territorial da oferta, limitando a nucleação de escolas e o dos (as) alunos (as), em colaboração com as famílias e com órgãos
deslocamento de crianças, de forma a atender às especificidades públicos de assistência social, saúde e proteção à infância, adoles-
dessas comunidades, garantido consulta prévia e informada; cência e juventude;
1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar a oferta 2.5) promover a busca ativa de crianças e adolescentes fora da
do atendimento educacional especializado complementar e suple- escola, em parceria com órgãos públicos de assistência social, saú-
mentar aos (às) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do de e proteção à infância, adolescência e juventude;
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, assegurando 2.6) desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de
a educação bilíngue para crianças surdas e a transversalidade da maneira articulada, a organização do tempo e das atividades di-
educação especial nessa etapa da educação básica; dáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando as
1.12) implementar, em caráter complementar, programas de
especificidades da educação especial, das escolas do campo e das
orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das áreas de
comunidades indígenas e quilombolas;
educação, saúde e assistência social, com foco no desenvolvimento
2.7) disciplinar, no âmbito dos sistemas de ensino, a organiza-
integral das crianças de até 3 (três) anos de idade;
ção flexível do trabalho pedagógico, incluindo adequação do calen-
1.13) preservar as especificidades da educação infantil na orga-
nização das redes escolares, garantindo o atendimento da criança dário escolar de acordo com a realidade local, a identidade cultural
de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que atendam a e as condições climáticas da região;
parâmetros nacionais de qualidade, e a articulação com a etapa es- 2.8) promover a relação das escolas com instituições e movi-
colar seguinte, visando ao ingresso do (a) aluno(a) de 6 (seis) anos mentos culturais, a fim de garantir a oferta regular de atividades
de idade no ensino fundamental; culturais para a livre fruição dos (as) alunos (as) dentro e fora dos
1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do espaços escolares, assegurando ainda que as escolas se tornem po-
acesso e da permanência das crianças na educação infantil, em es- los de criação e difusão cultural;
pecial dos beneficiários de programas de transferência de renda, 2.9) incentivar a participação dos pais ou responsáveis no
em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de assis- acompanhamento das atividades escolares dos filhos por meio do
tência social, saúde e proteção à infância; estreitamento das relações entre as escolas e as famílias;
1.15) promover a busca ativa de crianças em idade correspon- 2.10) estimular a oferta do ensino fundamental, em especial
dente à educação infantil, em parceria com órgãos públicos de as- dos anos iniciais, para as populações do campo, indígenas e quilom-
sistência social, saúde e proteção à infância, preservando o direito bolas, nas próprias comunidades;
de opção da família em relação às crianças de até 3 (três) anos; 2.11) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino fun-
1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração da damental, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas
União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, levanta- de profissionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante;
mento da demanda manifesta por educação infantil em creches e 2.12) oferecer atividades extracurriculares de incentivo aos (às)
pré-escolas, como forma de planejar e verificar o atendimento; estudantes e de estímulo a habilidades, inclusive mediante certa-
1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo integral, mes e concursos nacionais;
para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, conforme estabe- 2.13) promover atividades de desenvolvimento e estímulo a
lecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. habilidades esportivas nas escolas, interligadas a um plano de disse-
minação do desporto educacional e de desenvolvimento esportivo
Meta 2: universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos nacional.
para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir
que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos conclu-
Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para
am essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência
toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar, até
deste PNE.
o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrícu-
Estratégias: las no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento).
2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, deverá, até o Estratégias:
final do 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e enca- 3.1) institucionalizar programa nacional de renovação do ensi-
minhar ao Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta no médio, a fim de incentivar práticas pedagógicas com abordagens
pública nacional, proposta de direitos e objetivos de aprendizagem interdisciplinares estruturadas pela relação entre teoria e prática,
e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do ensino fundamental; por meio de currículos escolares que organizem, de maneira flexí-
vel e diversificada, conteúdos obrigatórios e eletivos articulados em
dimensões como ciência, trabalho, linguagens, tecnologia, cultura e
esporte, garantindo-se a aquisição de equipamentos e laboratórios,

232
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
a produção de material didático específico, a formação continuada 3.13) implementar políticas de prevenção à evasão motivada
de professores e a articulação com instituições acadêmicas, espor- por preconceito ou quaisquer formas de discriminação, criando
tivas e culturais; rede de proteção contra formas associadas de exclusão;
3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração 3.14) estimular a participação dos adolescentes nos cursos das
com os entes federados e ouvida a sociedade mediante consulta áreas tecnológicas e científicas.
pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional
de Educação - CNE, até o 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, Meta 4: universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (de-
proposta de direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimen- zessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
to para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos nos mento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação
tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com vistas a básica e ao atendimento educacional especializado, preferencial-
garantir formação básica comum; mente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educa-
3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municí- cional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, esco-
pios, no âmbito da instância permanente de que trata o § 5o do art. las ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
7o desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendiza- Estratégias:
gem e desenvolvimento que configurarão a base nacional comum 4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Manuten-
curricular do ensino médio; ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
3.4) garantir a fruição de bens e espaços culturais, de forma Profissionais da Educação - FUNDEB, as matrículas dos (as) estudan-
regular, bem como a ampliação da prática desportiva, integrada ao tes da educação regular da rede pública que recebam atendimento
currículo escolar; educacional especializado complementar e suplementar, sem pre-
3.5) manter e ampliar programas e ações de correção de fluxo juízo do cômputo dessas matrículas na educação básica regular, e
do ensino fundamental, por meio do acompanhamento individu- as matrículas efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado,
alizado do (a) aluno (a) com rendimento escolar defasado e pela na educação especial oferecida em instituições comunitárias, con-
adoção de práticas como aulas de reforço no turno complementar, fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o
estudos de recuperação e progressão parcial, de forma a reposicio- poder público e com atuação exclusiva na modalidade, nos termos
ná-lo no ciclo escolar de maneira compatível com sua idade; da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007;
3.6) universalizar o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, 4.2) promover, no prazo de vigência deste PNE, a universali-
fundamentado em matriz de referência do conteúdo curricular do zação do atendimento escolar à demanda manifesta pelas famílias
ensino médio e em técnicas estatísticas e psicométricas que permi- de crianças de 0 (zero) a 3 (três) anos com deficiência, transtornos
tam comparabilidade de resultados, articulando-o com o Sistema globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB, e promover sua observado o que dispõe a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
utilização como instrumento de avaliação sistêmica, para subsidiar que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional;
políticas públicas para a educação básica, de avaliação certificado- 4.3) implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos multifun-
ra, possibilitando aferição de conhecimentos e habilidades adqui- cionais e fomentar a formação continuada de professores e profes-
ridos dentro e fora da escola, e de avaliação classificatória, como soras para o atendimento educacional especializado nas escolas
critério de acesso à educação superior; urbanas, do campo, indígenas e de comunidades quilombolas;
3.7) fomentar a expansão das matrículas gratuitas de ensino 4.4) garantir atendimento educacional especializado em salas
médio integrado à educação profissional, observando-se as pecu- de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especiali-
liaridades das populações do campo, das comunidades indígenas e zados, públicos ou conveniados, nas formas complementar e suple-
quilombolas e das pessoas com deficiência; mentar, a todos (as) alunos (as) com deficiência, transtornos globais
3.8) estruturar e fortalecer o acompanhamento e o monitora- do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matricu-
mento do acesso e da permanência dos e das jovens beneficiários lados na rede pública de educação básica, conforme necessidade
(as) de programas de transferência de renda, no ensino médio, identificada por meio de avaliação, ouvidos a família e o aluno;
quanto à frequência, ao aproveitamento escolar e à interação com 4.5) estimular a criação de centros multidisciplinares de apoio,
o coletivo, bem como das situações de discriminação, preconceitos pesquisa e assessoria, articulados com instituições acadêmicas e
e violências, práticas irregulares de exploração do trabalho, consu- integrados por profissionais das áreas de saúde, assistência social,
mo de drogas, gravidez precoce, em colaboração com as famílias e pedagogia e psicologia, para apoiar o trabalho dos (as) professores
com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à ado- da educação básica com os (as) alunos (as) com deficiência, trans-
lescência e juventude; tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdo-
3.9) promover a busca ativa da população de 15 (quinze) a 17 tação;
(dezessete) anos fora da escola, em articulação com os serviços de 4.6) manter e ampliar programas suplementares que promo-
assistência social, saúde e proteção à adolescência e à juventude; vam a acessibilidade nas instituições públicas, para garantir o aces-
3.10) fomentar programas de educação e de cultura para a po- so e a permanência dos (as) alunos (as) com deficiência por meio
pulação urbana e do campo de jovens, na faixa etária de 15 (quinze) da adequação arquitetônica, da oferta de transporte acessível e da
a 17 (dezessete) anos, e de adultos, com qualificação social e pro- disponibilização de material didático próprio e de recursos de tec-
fissional para aqueles que estejam fora da escola e com defasagem nologia assistiva, assegurando, ainda, no contexto escolar, em todas
no fluxo escolar; as etapas, níveis e modalidades de ensino, a identificação dos (as)
3.11) redimensionar a oferta de ensino médio nos turnos diur-
alunos (as) com altas habilidades ou superdotação;
no e noturno, bem como a distribuição territorial das escolas de
4.7) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira
ensino médio, de forma a atender a toda a demanda, de acordo
de Sinais - LIBRAS como primeira língua e na modalidade escrita da
com as necessidades específicas dos (as) alunos (as);
Língua Portuguesa como segunda língua, aos (às) alunos (as) surdos
3.12) desenvolver formas alternativas de oferta do ensino mé-
e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em
dio, garantida a qualidade, para atender aos filhos e filhas de profis-
escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas, nos termos do
sionais que se dedicam a atividades de caráter itinerante;
art. 22 do Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts.

233
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
24 e 30 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên- 4.17) promover parcerias com instituições comunitárias, con-
cia, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o
surdos-cegos; poder público, visando a ampliar as condições de apoio ao aten-
4.8) garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a exclusão dimento escolar integral das pessoas com deficiência, transtornos
do ensino regular sob alegação de deficiência e promovida a articu- globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
lação pedagógica entre o ensino regular e o atendimento educacio- matriculadas nas redes públicas de ensino;
nal especializado; 4.18) promover parcerias com instituições comunitárias, con-
4.9) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o
acesso à escola e ao atendimento educacional especializado, bem poder público, visando a ampliar a oferta de formação continuada
como da permanência e do desenvolvimento escolar dos (as) alu- e a produção de material didático acessível, assim como os servi-
nos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e ços de acessibilidade necessários ao pleno acesso, participação e
altas habilidades ou superdotação beneficiários (as) de programas aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais
de transferência de renda, juntamente com o combate às situações do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação matricula-
de discriminação, preconceito e violência, com vistas ao estabele- dos na rede pública de ensino;
cimento de condições adequadas para o sucesso educacional, em 4.19) promover parcerias com instituições comunitárias, con-
colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de assistência fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o
social, saúde e proteção à infância, à adolescência e à juventude; poder público, a fim de favorecer a participação das famílias e da
4.10) fomentar pesquisas voltadas para o desenvolvimento de sociedade na construção do sistema educacional inclusivo.
metodologias, materiais didáticos, equipamentos e recursos de tec- Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do
nologia assistiva, com vistas à promoção do ensino e da aprendiza- 3o (terceiro) ano do ensino fundamental.
gem, bem como das condições de acessibilidade dos (as) estudan- Estratégias:
tes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas 5.1) estruturar os processos pedagógicos de alfabetização, nos
habilidades ou superdotação; anos iniciais do ensino fundamental, articulando-os com as estra-
4.11) promover o desenvolvimento de pesquisas interdiscipli- tégias desenvolvidas na pré-escola, com qualificação e valorização
nares para subsidiar a formulação de políticas públicas interseto- dos (as) professores (as) alfabetizadores e com apoio pedagógico
riais que atendam as especificidades educacionais de estudantes específico, a fim de garantir a alfabetização plena de todas as crian-
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha- ças;
bilidades ou superdotação que requeiram medidas de atendimento 5.2) instituir instrumentos de avaliação nacional periódicos
especializado; e específicos para aferir a alfabetização das crianças, aplicados a
4.12) promover a articulação intersetorial entre órgãos e po- cada ano, bem como estimular os sistemas de ensino e as escolas a
líticas públicas de saúde, assistência social e direitos humanos, criarem os respectivos instrumentos de avaliação e monitoramen-
em parceria com as famílias, com o fim de desenvolver modelos to, implementando medidas pedagógicas para alfabetizar todos os
de atendimento voltados à continuidade do atendimento escolar, alunos e alunas até o final do terceiro ano do ensino fundamental;
na educação de jovens e adultos, das pessoas com deficiência e 5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais
transtornos globais do desenvolvimento com idade superior à faixa para a alfabetização de crianças, assegurada a diversidade de mé-
etária de escolarização obrigatória, de forma a assegurar a atenção todos e propostas pedagógicas, bem como o acompanhamento dos
integral ao longo da vida; resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas, deven-
4.13) apoiar a ampliação das equipes de profissionais da edu- do ser disponibilizadas, preferencialmente, como recursos educa-
cação para atender à demanda do processo de escolarização dos cionais abertos;
(das) estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvol- 5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais
vimento e altas habilidades ou superdotação, garantindo a oferta e de práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a alfabetiza-
de professores (as) do atendimento educacional especializado, pro- ção e favoreçam a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos
fissionais de apoio ou auxiliares, tradutores (as) e intérpretes de (as) alunos (as), consideradas as diversas abordagens metodológi-
Libras, guias-intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, cas e sua efetividade;
prioritariamente surdos, e professores bilíngues; 5.5) apoiar a alfabetização de crianças do campo, indígenas,
4.14) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, indi- quilombolas e de populações itinerantes, com a produção de
cadores de qualidade e política de avaliação e supervisão para o materiais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos de
funcionamento de instituições públicas e privadas que prestam acompanhamento que considerem o uso da língua materna pelas
atendimento a alunos com deficiência, transtornos globais do de- comunidades indígenas e a identidade cultural das comunidades
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação; quilombolas;
4.15) promover, por iniciativa do Ministério da Educação, nos 5.6) promover e estimular a formação inicial e continuada de
professores (as) para a alfabetização de crianças, com o conheci-
órgãos de pesquisa, demografia e estatística competentes, a obten-
mento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas
ção de informação detalhada sobre o perfil das pessoas com defi-
inovadoras, estimulando a articulação entre programas de pós-gra-
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
duação stricto sensu e ações de formação continuada de professo-
ou superdotação de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos;
res (as) para a alfabetização;
4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos de-
5.7) apoiar a alfabetização das pessoas com deficiência, consi-
mais cursos de formação para profissionais da educação, inclusive
derando as suas especificidades, inclusive a alfabetização bilíngue de
em nível de pós-graduação, observado o disposto no caput do art.
pessoas surdas, sem estabelecimento de terminalidade temporal.
207 da Constituição Federal, dos referenciais teóricos, das teorias
de aprendizagem e dos processos de ensino-aprendizagem rela- Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo,
cionados ao atendimento educacional de alunos com deficiência, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou su- pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da
perdotação; educação básica.

234
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Estratégias:
6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educação básica pública em tempo integral, por meio de atividades de acompa-
nhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência dos (as) alunos (as)
na escola, ou sob sua responsabilidade, passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação
progressiva da jornada de professores em uma única escola;
6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobiliário adequado para
atendimento em tempo integral, prioritariamente em comunidades pobres ou com crianças em situação de vulnerabilidade social;
6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por
meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, audi-
tórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material didático e da formação de recursos
humanos para a educação em tempo integral;
6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos públicos,
como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários;
6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da rede pública
de educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de forma concomitante e em arti-
culação com a rede pública de ensino;
6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades de amplia-
ção da jornada escolar de alunos (as) das escolas da rede pública de educação básica, de forma concomitante e em articulação com a rede
pública de ensino;
6.7) atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo integral, com base em
consulta prévia e informada, considerando-se as peculiaridades locais;
6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educacional especializado complementar e
suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições especializadas;
6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada para o efetivo
trabalho escolar, combinado com atividades recreativas, esportivas e culturais.

Meta 7: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendiza-
gem de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Ideb:

IDEB 2015 2017 2019 2021


Anos iniciais do ensino funda-
5,2 5,5 5,7 6,0
mental
Anos finais do ensino fundamen-
4,7 5,0 5,2 5,5
tal
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2

Estratégias:
7.1) estabelecer e implantar, mediante pactuação interfederativa, diretrizes pedagógicas para a educação básica e a base nacional
comum dos currículos, com direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos (as) alunos (as) para cada ano do ensino funda-
mental e médio, respeitada a diversidade regional, estadual e local;
7.2) assegurar que:
a) no quinto ano de vigência deste PNE, pelo menos 70% (setenta por cento) dos (as) alunos (as) do ensino fundamental e do ensino
médio tenham alcançado nível suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu
ano de estudo, e 50% (cinquenta por cento), pelo menos, o nível desejável;
b) no último ano de vigência deste PNE, todos os (as) estudantes do ensino fundamental e do ensino médio tenham alcançado nível
suficiente de aprendizado em relação aos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de seu ano de estudo, e 80% (oitenta
por cento), pelo menos, o nível desejável;
7.3) constituir, em colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, um conjunto nacional de indicadores de
avaliação institucional com base no perfil do alunado e do corpo de profissionais da educação, nas condições de infraestrutura das escolas,
nos recursos pedagógicos disponíveis, nas características da gestão e em outras dimensões relevantes, considerando as especificidades
das modalidades de ensino;
7.4) induzir processo contínuo de autoavaliação das escolas de educação básica, por meio da constituição de instrumentos de avalia-
ção que orientem as dimensões a serem fortalecidas, destacando-se a elaboração de planejamento estratégico, a melhoria contínua da
qualidade educacional, a formação continuada dos (as) profissionais da educação e o aprimoramento da gestão democrática;
7.5) formalizar e executar os planos de ações articuladas dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a educação
básica pública e às estratégias de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à formação de professores e pro-
fessoras e profissionais de serviços e apoio escolares, à ampliação e ao desenvolvimento de recursos pedagógicos e à melhoria e expansão
da infraestrutura física da rede escolar;
7.6) associar a prestação de assistência técnica financeira à fixação de metas intermediárias, nos termos estabelecidos conforme pac-
tuação voluntária entre os entes, priorizando sistemas e redes de ensino com Ideb abaixo da média nacional;

235
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
7.7) aprimorar continuamente os instrumentos de avaliação da qualidade do ensino fundamental e médio, de forma a englobar o en-
sino de ciências nos exames aplicados nos anos finais do ensino fundamental, e incorporar o Exame Nacional do Ensino Médio, assegurada
a sua universalização, ao sistema de avaliação da educação básica, bem como apoiar o uso dos resultados das avaliações nacionais pelas
escolas e redes de ensino para a melhoria de seus processos e práticas pedagógicas;
7.8) desenvolver indicadores específicos de avaliação da qualidade da educação especial, bem como da qualidade da educação bilín-
gue para surdos;
7.9) orientar as políticas das redes e sistemas de ensino, de forma a buscar atingir as metas do Ideb, diminuindo a diferença entre as
escolas com os menores índices e a média nacional, garantindo equidade da aprendizagem e reduzindo pela metade, até o último ano de
vigência deste PNE, as diferenças entre as médias dos índices dos Estados, inclusive do Distrito Federal, e dos Municípios;
7.10) fixar, acompanhar e divulgar bienalmente os resultados pedagógicos dos indicadores do sistema nacional de avaliação da edu-
cação básica e do Ideb, relativos às escolas, às redes públicas de educação básica e aos sistemas de ensino da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, assegurando a contextualização desses resultados, com relação a indicadores sociais relevantes, como
os de nível socioeconômico das famílias dos (as) alunos (as), e a transparência e o acesso público às informações técnicas de concepção e
operação do sistema de avaliação;
7.11) melhorar o desempenho dos alunos da educação básica nas avaliações da aprendizagem no Programa Internacional de Avalia-
ção de Estudantes - PISA, tomado como instrumento externo de referência, internacionalmente reconhecido, de acordo com as seguintes
projeções:

PISA 2015 2018 2021

Média dos resultados em matemática, leitura e ciências 438 455 473

7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para a educação infantil, o ensino fun-
damental e o ensino médio e incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem,
assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com preferência para softwares livres e recursos educacionais abertos,
bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas;
7.13) garantir transporte gratuito para todos (as) os (as) estudantes da educação do campo na faixa etária da educação escolar obriga-
tória, mediante renovação e padronização integral da frota de veículos, de acordo com especificações definidas pelo Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia - INMETRO, e financiamento compartilhado, com participação da União proporcional às necessidades
dos entes federados, visando a reduzir a evasão escolar e o tempo médio de deslocamento a partir de cada situação local;
7.14) desenvolver pesquisas de modelos alternativos de atendimento escolar para a população do campo que considerem as especi-
ficidades locais e as boas práticas nacionais e internacionais;
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, o acesso à rede mundial de computadores em banda larga de alta velo-
cidade e triplicar, até o final da década, a relação computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de educação básica, promovendo a
utilização pedagógica das tecnologias da informação e da comunicação;
7.16) apoiar técnica e financeiramente a gestão escolar mediante transferência direta de recursos financeiros à escola, garantindo
a participação da comunidade escolar no planejamento e na aplicação dos recursos, visando à ampliação da transparência e ao efetivo
desenvolvimento da gestão democrática;
7.17) ampliar programas e aprofundar ações de atendimento ao (à) aluno (a), em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
7.18) assegurar a todas as escolas públicas de educação básica o acesso a energia elétrica, abastecimento de água tratada, esgotamen-
to sanitário e manejo dos resíduos sólidos, garantir o acesso dos alunos a espaços para a prática esportiva, a bens culturais e artísticos e a
equipamentos e laboratórios de ciências e, em cada edifício escolar, garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência;
7.19) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de reestruturação e aquisição de equipamentos para
escolas públicas, visando à equalização regional das oportunidades educacionais;
7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas públi-
cas da educação básica, criando, inclusive, mecanismos para implementação das condições necessárias para a universalização das biblio-
tecas nas instituições educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, inclusive a internet;
7.21) a União, em regime de colaboração com os entes federados subnacionais, estabelecerá, no prazo de 2 (dois) anos contados da
publicação desta Lei, parâmetros mínimos de qualidade dos serviços da educação básica, a serem utilizados como referência para infra-
estrutura das escolas, recursos pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem como instrumento para adoção de medidas para a
melhoria da qualidade do ensino;
7.22) informatizar integralmente a gestão das escolas públicas e das secretarias de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, bem como manter programa nacional de formação inicial e continuada para o pessoal técnico das secretarias de educação;
7.23) garantir políticas de combate à violência na escola, inclusive pelo desenvolvimento de ações destinadas à capacitação de edu-
cadores para detecção dos sinais de suas causas, como a violência doméstica e sexual, favorecendo a adoção das providências adequadas
para promover a construção da cultura de paz e um ambiente escolar dotado de segurança para a comunidade;
7.24) implementar políticas de inclusão e permanência na escola para adolescentes e jovens que se encontram em regime de liberda-
de assistida e em situação de rua, assegurando os princípios da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente;
7.25) garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a história e as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar ações edu-
cacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008, assegurando-se a implementação
das respectivas diretrizes curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com fóruns de educação para a diversidade étnico-racial,
conselhos escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil;

236
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
7.26) consolidar a educação escolar no campo de populações Meta 8: elevar a escolaridade média da população de 18 (de-
tradicionais, de populações itinerantes e de comunidades indígenas zoito) a 29 (vinte e nove) anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12
e quilombolas, respeitando a articulação entre os ambientes esco- (doze) anos de estudo no último ano de vigência deste Plano, para
lares e comunitários e garantindo: o desenvolvimento sustentável as populações do campo, da região de menor escolaridade no País
e preservação da identidade cultural; a participação da comunida- e dos 25% (vinte e cinco por cento) mais pobres, e igualar a esco-
de na definição do modelo de organização pedagógica e de gestão laridade média entre negros e não negros declarados à Fundação
das instituições, consideradas as práticas socioculturais e as formas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
particulares de organização do tempo; a oferta bilíngue na educa-
ção infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, em língua Estratégias:
materna das comunidades indígenas e em língua portuguesa; a re- 8.1) institucionalizar programas e desenvolver tecnologias para
estruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta de programa correção de fluxo, para acompanhamento pedagógico individuali-
para a formação inicial e continuada de profissionais da educação; zado e para recuperação e progressão parcial, bem como priorizar
e o atendimento em educação especial; estudantes com rendimento escolar defasado, considerando as es-
7.27) desenvolver currículos e propostas pedagógicas espe- pecificidades dos segmentos populacionais considerados;
cíficas para educação escolar para as escolas do campo e para as 8.2) implementar programas de educação de jovens e adultos
comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os conteúdos cul- para os segmentos populacionais considerados, que estejam fora
turais correspondentes às respectivas comunidades e considerando da escola e com defasagem idade-série, associados a outras estra-
o fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna tégias que garantam a continuidade da escolarização, após a alfa-
de cada comunidade indígena, produzindo e disponibilizando ma- betização inicial;
teriais didáticos específicos, inclusive para os (as) alunos (as) com 8.3) garantir acesso gratuito a exames de certificação da con-
deficiência; clusão dos ensinos fundamental e médio;
7.28) mobilizar as famílias e setores da sociedade civil, articu- 8.4) expandir a oferta gratuita de educação profissional técnica
lando a educação formal com experiências de educação popular e por parte das entidades privadas de serviço social e de formação
cidadã, com os propósitos de que a educação seja assumida como profissional vinculadas ao sistema sindical, de forma concomitante
responsabilidade de todos e de ampliar o controle social sobre o ao ensino ofertado na rede escolar pública, para os segmentos po-
cumprimento das políticas públicas educacionais; pulacionais considerados;
7.29) promover a articulação dos programas da área da edu- 8.5) promover, em parceria com as áreas de saúde e assistência
cação, de âmbito local e nacional, com os de outras áreas, como social, o acompanhamento e o monitoramento do acesso à escola
saúde, trabalho e emprego, assistência social, esporte e cultura, específicos para os segmentos populacionais considerados, identi-
possibilitando a criação de rede de apoio integral às famílias, como ficar motivos de absenteísmo e colaborar com os Estados, o Distri-
condição para a melhoria da qualidade educacional; to Federal e os Municípios para a garantia de frequência e apoio à
7.30) universalizar, mediante articulação entre os órgãos res- aprendizagem, de maneira a estimular a ampliação do atendimento
ponsáveis pelas áreas da saúde e da educação, o atendimento aos desses (as) estudantes na rede pública regular de ensino;
8.6) promover busca ativa de jovens fora da escola pertencen-
(às) estudantes da rede escolar pública de educação básica por
tes aos segmentos populacionais considerados, em parceria com as
meio de ações de prevenção, promoção e atenção à saúde;
áreas de assistência social, saúde e proteção à juventude.
7.31) estabelecer ações efetivas especificamente voltadas para
a promoção, prevenção, atenção e atendimento à saúde e à integri-
Meta 9: elevar a taxa de alfabetização da população com 15
dade física, mental e emocional dos (das) profissionais da educação, (quinze) anos ou mais para 93,5% (noventa e três inteiros e cinco
como condição para a melhoria da qualidade educacional; décimos por cento) até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, er-
7.32) fortalecer, com a colaboração técnica e financeira da radicar o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% (cinquenta por
União, em articulação com o sistema nacional de avaliação, os siste- cento) a taxa de analfabetismo funcional.
mas estaduais de avaliação da educação básica, com participação, Estratégias:
por adesão, das redes municipais de ensino, para orientar as polí- 9.1) assegurar a oferta gratuita da educação de jovens e adul-
ticas públicas e as práticas pedagógicas, com o fornecimento das tos a todos os que não tiveram acesso à educação básica na idade
informações às escolas e à sociedade; própria;
7.33) promover, com especial ênfase, em consonância com as 9.2) realizar diagnóstico dos jovens e adultos com ensino fun-
diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a formação de lei- damental e médio incompletos, para identificar a demanda ativa
tores e leitoras e a capacitação de professores e professoras, biblio- por vagas na educação de jovens e adultos;
tecários e bibliotecárias e agentes da comunidade para atuar como 9.3) implementar ações de alfabetização de jovens e adultos
mediadores e mediadoras da leitura, de acordo com a especificida- com garantia de continuidade da escolarização básica;
de das diferentes etapas do desenvolvimento e da aprendizagem; 9.4) criar benefício adicional no programa nacional de transfe-
7.34) instituir, em articulação com os Estados, os Municípios e rência de renda para jovens e adultos que frequentarem cursos de
o Distrito Federal, programa nacional de formação de professores e alfabetização;
professoras e de alunos e alunas para promover e consolidar políti- 9.5) realizar chamadas públicas regulares para educação de
ca de preservação da memória nacional; jovens e adultos, promovendo-se busca ativa em regime de cola-
7.35) promover a regulação da oferta da educação básica pela boração entre entes federados e em parceria com organizações da
iniciativa privada, de forma a garantir a qualidade e o cumprimento sociedade civil;
da função social da educação; 9.6) realizar avaliação, por meio de exames específicos, que
7.36) estabelecer políticas de estímulo às escolas que melhora- permita aferir o grau de alfabetização de jovens e adultos com mais
rem o desempenho no Ideb, de modo a valorizar o mérito do corpo de 15 (quinze) anos de idade;
docente, da direção e da comunidade escolar.

237
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
9.7) executar ações de atendimento ao (à) estudante da educa- prática, nos eixos da ciência, do trabalho, da tecnologia e da cultura
ção de jovens e adultos por meio de programas suplementares de e cidadania, de forma a organizar o tempo e o espaço pedagógicos
transporte, alimentação e saúde, inclusive atendimento oftalmoló- adequados às características desses alunos e alunas;
gico e fornecimento gratuito de óculos, em articulação com a área 10.7) fomentar a produção de material didático, o desenvolvi-
da saúde; mento de currículos e metodologias específicas, os instrumentos
9.8) assegurar a oferta de educação de jovens e adultos, nas de avaliação, o acesso a equipamentos e laboratórios e a formação
etapas de ensino fundamental e médio, às pessoas privadas de li- continuada de docentes das redes públicas que atuam na educação
berdade em todos os estabelecimentos penais, assegurando-se for- de jovens e adultos articulada à educação profissional;
mação específica dos professores e das professoras e implementa- 10.8) fomentar a oferta pública de formação inicial e continu-
ção de diretrizes nacionais em regime de colaboração; ada para trabalhadores e trabalhadoras articulada à educação de
9.9) apoiar técnica e financeiramente projetos inovadores na educação jovens e adultos, em regime de colaboração e com apoio de entida-
de jovens e adultos que visem ao desenvolvimento de modelos adequados des privadas de formação profissional vinculadas ao sistema sindi-
às necessidades específicas desses (as) alunos (as); cal e de entidades sem fins lucrativos de atendimento à pessoa com
9.10) estabelecer mecanismos e incentivos que integrem os deficiência, com atuação exclusiva na modalidade;
segmentos empregadores, públicos e privados, e os sistemas de en- 10.9) institucionalizar programa nacional de assistência ao es-
sino, para promover a compatibilização da jornada de trabalho dos tudante, compreendendo ações de assistência social, financeira e
empregados e das empregadas com a oferta das ações de alfabeti- de apoio psicopedagógico que contribuam para garantir o acesso, a
zação e de educação de jovens e adultos; permanência, a aprendizagem e a conclusão com êxito da educação
9.11) implementar programas de capacitação tecnológica da de jovens e adultos articulada à educação profissional;
população jovem e adulta, direcionados para os segmentos com 10.10) orientar a expansão da oferta de educação de jovens e
baixos níveis de escolarização formal e para os (as) alunos (as) com adultos articulada à educação profissional, de modo a atender às
deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede Federal de pessoas privadas de liberdade nos estabelecimentos penais, asse-
Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as universidades, as gurando-se formação específica dos professores e das professoras e
cooperativas e as associações, por meio de ações de extensão de- implementação de diretrizes nacionais em regime de colaboração;
senvolvidas em centros vocacionais tecnológicos, com tecnologias 10.11) implementar mecanismos de reconhecimento de sabe-
assistivas que favoreçam a efetiva inclusão social e produtiva dessa res dos jovens e adultos trabalhadores, a serem considerados na
população; articulação curricular dos cursos de formação inicial e continuada e
9.12) considerar, nas políticas públicas de jovens e adultos, as dos cursos técnicos de nível médio.
necessidades dos idosos, com vistas à promoção de políticas de er-
radicação do analfabetismo, ao acesso a tecnologias educacionais e Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técni-
atividades recreativas, culturais e esportivas, à implementação de ca de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos
programas de valorização e compartilhamento dos conhecimentos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público.
e experiência dos idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento
e da velhice nas escolas.
Estratégias:
Meta 10: oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento)
11.1) expandir as matrículas de educação profissional técnica
das matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos funda-
de nível médio na Rede Federal de Educação Profissional, Científi-
mental e médio, na forma integrada à educação profissional.
ca e Tecnológica, levando em consideração a responsabilidade dos
Estratégias: Institutos na ordenação territorial, sua vinculação com arranjos pro-
10.1) manter programa nacional de educação de jovens e adul- dutivos, sociais e culturais locais e regionais, bem como a interiori-
tos voltado à conclusão do ensino fundamental e à formação profis- zação da educação profissional;
sional inicial, de forma a estimular a conclusão da educação básica; 11.2) fomentar a expansão da oferta de educação profissional
10.2) expandir as matrículas na educação de jovens e adultos, técnica de nível médio nas redes públicas estaduais de ensino;
de modo a articular a formação inicial e continuada de trabalhado- 11.3) fomentar a expansão da oferta de educação profissional
res com a educação profissional, objetivando a elevação do nível de técnica de nível médio na modalidade de educação a distância, com
escolaridade do trabalhador e da trabalhadora; a finalidade de ampliar a oferta e democratizar o acesso à educação
10.3) fomentar a integração da educação de jovens e adultos profissional pública e gratuita, assegurado padrão de qualidade;
com a educação profissional, em cursos planejados, de acordo com 11.4) estimular a expansão do estágio na educação profissional
as características do público da educação de jovens e adultos e con- técnica de nível médio e do ensino médio regular, preservando-se
siderando as especificidades das populações itinerantes e do cam- seu caráter pedagógico integrado ao itinerário formativo do aluno,
po e das comunidades indígenas e quilombolas, inclusive na moda- visando à formação de qualificações próprias da atividade profis-
lidade de educação a distância; sional, à contextualização curricular e ao desenvolvimento da ju-
10.4) ampliar as oportunidades profissionais dos jovens e ventude;
adultos com deficiência e baixo nível de escolaridade, por meio do 11.5) ampliar a oferta de programas de reconhecimento de sa-
acesso à educação de jovens e adultos articulada à educação pro- beres para fins de certificação profissional em nível técnico;
fissional; 11.6) ampliar a oferta de matrículas gratuitas de educação pro-
10.5) implantar programa nacional de reestruturação e aqui- fissional técnica de nível médio pelas entidades privadas de forma-
sição de equipamentos voltados à expansão e à melhoria da rede ção profissional vinculadas ao sistema sindical e entidades sem fins
física de escolas públicas que atuam na educação de jovens e adul- lucrativos de atendimento à pessoa com deficiência, com atuação
tos integrada à educação profissional, garantindo acessibilidade à exclusiva na modalidade;
pessoa com deficiência; 11.7) expandir a oferta de financiamento estudantil à educação
10.6) estimular a diversificação curricular da educação de jo-
profissional técnica de nível médio oferecida em instituições priva-
vens e adultos, articulando a formação básica e a preparação para
das de educação superior;
o mundo do trabalho e estabelecendo inter-relações entre teoria e

238
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
11.8) institucionalizar sistema de avaliação da qualidade da de 12 de julho de 2001, na educação superior, de modo a reduzir
educação profissional técnica de nível médio das redes escolares as desigualdades étnico-raciais e ampliar as taxas de acesso e per-
públicas e privadas; manência na educação superior de estudantes egressos da escola
11.9) expandir o atendimento do ensino médio gratuito inte- pública, afrodescendentes e indígenas e de estudantes com defici-
grado à formação profissional para as populações do campo e para ência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
as comunidades indígenas e quilombolas, de acordo com os seus ou superdotação, de forma a apoiar seu sucesso acadêmico;
interesses e necessidades; 12.6) expandir o financiamento estudantil por meio do Fundo
11.10) expandir a oferta de educação profissional técnica de de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei no 10.260,
nível médio para as pessoas com deficiência, transtornos globais do de 12 de julho de 2001, com a constituição de fundo garantidor do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; financiamento, de forma a dispensar progressivamente a exigência
de fiador;
11.11) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cur- 12.7) assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de
sos técnicos de nível médio na Rede Federal de Educação Profissio- créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e
nal, Científica e Tecnológica para 90% (noventa por cento) e elevar, projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritaria-
nos cursos presenciais, a relação de alunos (as) por professor para mente, para áreas de grande pertinência social;
20 (vinte); 12.8) ampliar a oferta de estágio como parte da formação na
11.12) elevar gradualmente o investimento em programas de educação superior;
assistência estudantil e mecanismos de mobilidade acadêmica, vi- 12.9) ampliar a participação proporcional de grupos historica-
sando a garantir as condições necessárias à permanência dos (as) mente desfavorecidos na educação superior, inclusive mediante a
estudantes e à conclusão dos cursos técnicos de nível médio; adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;
11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais no 12.10) assegurar condições de acessibilidade nas instituições
acesso e permanência na educação profissional técnica de nível de educação superior, na forma da legislação;
médio, inclusive mediante a adoção de políticas afirmativas, na for- 12.11) fomentar estudos e pesquisas que analisem a necessi-
ma da lei; dade de articulação entre formação, currículo, pesquisa e mundo
11.14) estruturar sistema nacional de informação profissional, do trabalho, considerando as necessidades econômicas, sociais e
articulando a oferta de formação das instituições especializadas em culturais do País;
educação profissional aos dados do mercado de trabalho e a con- 12.12) consolidar e ampliar programas e ações de incentivo à
sultas promovidas em entidades empresariais e de trabalhadores mobilidade estudantil e docente em cursos de graduação e pós-gra-
Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior duação, em âmbito nacional e internacional, tendo em vista o enri-
para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e quecimento da formação de nível superior;
três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) 12.13) expandir atendimento específico a populações do cam-
anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo me- po e comunidades indígenas e quilombolas, em relação a acesso,
nos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento permanência, conclusão e formação de profissionais para atuação
público. nessas populações;
12.14) mapear a demanda e fomentar a oferta de formação
Estratégias: de pessoal de nível superior, destacadamente a que se refere à
12.1) otimizar a capacidade instalada da estrutura física e de formação nas áreas de ciências e matemática, considerando as ne-
recursos humanos das instituições públicas de educação superior, cessidades do desenvolvimento do País, a inovação tecnológica e a
mediante ações planejadas e coordenadas, de forma a ampliar e melhoria da qualidade da educação básica;
interiorizar o acesso à graduação; 12.15) institucionalizar programa de composição de acervo di-
12.2) ampliar a oferta de vagas, por meio da expansão e inte- gital de referências bibliográficas e audiovisuais para os cursos de
riorização da rede federal de educação superior, da Rede Federal de graduação, assegurada a acessibilidade às pessoas com deficiência;
Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do sistema Univer- 12.16) consolidar processos seletivos nacionais e regionais
sidade Aberta do Brasil, considerando a densidade populacional, a para acesso à educação superior como forma de superar exames
oferta de vagas públicas em relação à população na idade de refe- vestibulares isolados;
rência e observadas as características regionais das micro e mesor- 12.17) estimular mecanismos para ocupar as vagas ociosas em
regiões definidas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e cada período letivo na educação superior pública;
Estatística - IBGE, uniformizando a expansão no território nacional; 12.18) estimular a expansão e reestruturação das instituições
12.3) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cur- de educação superior estaduais e municipais cujo ensino seja gra-
sos de graduação presenciais nas universidades públicas para 90% tuito, por meio de apoio técnico e financeiro do Governo Federal,
(noventa por cento), ofertar, no mínimo, um terço das vagas em cur- mediante termo de adesão a programa de reestruturação, na forma
sos noturnos e elevar a relação de estudantes por professor (a) para de regulamento, que considere a sua contribuição para a amplia-
18 (dezoito), mediante estratégias de aproveitamento de créditos e ção de vagas, a capacidade fiscal e as necessidades dos sistemas de
inovações acadêmicas que valorizem a aquisição de competências ensino dos entes mantenedores na oferta e qualidade da educação
de nível superior; básica;
12.4) fomentar a oferta de educação superior pública e gratuita 12.19) reestruturar com ênfase na melhoria de prazos e qua-
prioritariamente para a formação de professores e professoras para lidade da decisão, no prazo de 2 (dois) anos, os procedimentos
a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, adotados na área de avaliação, regulação e supervisão, em relação
bem como para atender ao défice de profissionais em áreas espe- aos processos de autorização de cursos e instituições, de reconheci-
cíficas; mento ou renovação de reconhecimento de cursos superiores e de
12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência estudantil credenciamento ou recredenciamento de instituições, no âmbito
dirigidas aos (às) estudantes de instituições públicas, bolsistas de do sistema federal de ensino;
instituições privadas de educação superior e beneficiários do Fundo
de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei no 10.260,

239
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
12.20) ampliar, no âmbito do Fundo de Financiamento ao Es- dos estudantes obtenham desempenho positivo igual ou superior
tudante do Ensino Superior - FIES, de que trata a Lei nº 10.260, a 75% (setenta e cinco por cento) nesse exame, em cada área de
de 12 de julho de 2001, e do Programa Universidade para Todos - formação profissional;
PROUNI, de que trata a Lei no 11.096, de 13 de janeiro de 2005, os 13.9) promover a formação inicial e continuada dos (as) profis-
benefícios destinados à concessão de financiamento a estudantes sionais técnico-administrativos da educação superior.
regularmente matriculados em cursos superiores presenciais ou a
distância, com avaliação positiva, de acordo com regulamentação Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós-
própria, nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação; -graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de
12.21) fortalecer as redes físicas de laboratórios multifuncio- 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores.
nais das IES e ICTs nas áreas estratégicas definidas pela política e
estratégias nacionais de ciência, tecnologia e inovação. Estratégias:
14.1) expandir o financiamento da pós-graduação stricto sensu
Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar
por meio das agências oficiais de fomento;
a proporção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo
14.2) estimular a integração e a atuação articulada entre a Co-
exercício no conjunto do sistema de educação superior para 75%
ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CA-
(setenta e cinco por cento), sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta
PES e as agências estaduais de fomento à pesquisa;
e cinco por cento) doutores.
14.3) expandir o financiamento estudantil por meio do Fies à
Estratégias: pós-graduação stricto sensu;
13.1) aperfeiçoar o Sistema Nacional de Avaliação da Educação 14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto
Superior - SINAES, de que trata a Lei no 10.861, de 14 de abril de sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecnologias de
2004, fortalecendo as ações de avaliação, regulação e supervisão; educação a distância;
13.2) ampliar a cobertura do Exame Nacional de Desempenho 14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades étni-
de Estudantes - ENADE, de modo a ampliar o quantitativo de es- co-raciais e regionais e para favorecer o acesso das populações do
tudantes e de áreas avaliadas no que diz respeito à aprendizagem campo e das comunidades indígenas e quilombolas a programas de
resultante da graduação; mestrado e doutorado;
13.3) induzir processo contínuo de autoavaliação das institui- 14.6) ampliar a oferta de programas de pós-graduação stricto
sensu, especialmente os de doutorado, nos campi novos abertos
ções de educação superior, fortalecendo a participação das comis-
em decorrência dos programas de expansão e interiorização das
sões próprias de avaliação, bem como a aplicação de instrumentos
instituições superiores públicas;
de avaliação que orientem as dimensões a serem fortalecidas, des-
14.7) manter e expandir programa de acervo digital de referên-
tacando-se a qualificação e a dedicação do corpo docente; cias bibliográficas para os cursos de pós-graduação, assegurada a
13.4) promover a melhoria da qualidade dos cursos de pedago- acessibilidade às pessoas com deficiência;
gia e licenciaturas, por meio da aplicação de instrumento próprio de 14.8) estimular a participação das mulheres nos cursos de pós-
avaliação aprovado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educa- -graduação stricto sensu, em particular aqueles ligados às áreas de
ção Superior - CONAES, integrando-os às demandas e necessidades Engenharia, Matemática, Física, Química, Informática e outros no
das redes de educação básica, de modo a permitir aos graduandos campo das ciências;
a aquisição das qualificações necessárias a conduzir o processo pe- 14.9) consolidar programas, projetos e ações que objetivem
dagógico de seus futuros alunos (as), combinando formação geral a internacionalização da pesquisa e da pós-graduação brasileiras,
e específica com a prática didática, além da educação para as re- incentivando a atuação em rede e o fortalecimento de grupos de
lações étnico-raciais, a diversidade e as necessidades das pessoas pesquisa;
com deficiência; 14.10) promover o intercâmbio científico e tecnológico, na-
13.5) elevar o padrão de qualidade das universidades, direcio- cional e internacional, entre as instituições de ensino, pesquisa e
nando sua atividade, de modo que realizem, efetivamente, pes- extensão;
quisa institucionalizada, articulada a programas de pós-graduação 14.11) ampliar o investimento em pesquisas com foco em de-
stricto sensu; senvolvimento e estímulo à inovação, bem como incrementar a for-
mação de recursos humanos para a inovação, de modo a buscar
13.6) substituir o Exame Nacional de Desempenho de Estudan-
o aumento da competitividade das empresas de base tecnológica;
tes - ENADE aplicado ao final do primeiro ano do curso de gradua-
14.12) ampliar o investimento na formação de doutores de
ção pelo Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, a fim de apurar
modo a atingir a proporção de 4 (quatro) doutores por 1.000 (mil)
o valor agregado dos cursos de graduação; habitantes;
13.7) fomentar a formação de consórcios entre instituições pú- 14.13) aumentar qualitativa e quantitativamente o desempe-
blicas de educação superior, com vistas a potencializar a atuação nho científico e tecnológico do País e a competitividade internacio-
regional, inclusive por meio de plano de desenvolvimento institu- nal da pesquisa brasileira, ampliando a cooperação científica com
cional integrado, assegurando maior visibilidade nacional e interna- empresas, Instituições de Educação Superior - IES e demais Institui-
cional às atividades de ensino, pesquisa e extensão; ções Científicas e Tecnológicas - ICTs;
13.8) elevar gradualmente a taxa de conclusão média dos cur- 14.14) estimular a pesquisa científica e de inovação e promover
sos de graduação presenciais nas universidades públicas, de modo a formação de recursos humanos que valorize a diversidade regio-
a atingir 90% (noventa por cento) e, nas instituições privadas, 75% nal e a biodiversidade da região amazônica e do cerrado, bem como
(setenta e cinco por cento), em 2020, e fomentar a melhoria dos a gestão de recursos hídricos no semiárido para mitigação dos efei-
resultados de aprendizagem, de modo que, em 5 (cinco) anos, pelo tos da seca e geração de emprego e renda na região;
menos 60% (sessenta por cento) dos estudantes apresentem de- 14.15) estimular a pesquisa aplicada, no âmbito das IES e das
sempenho positivo igual ou superior a 60% (sessenta por cento) ICTs, de modo a incrementar a inovação e a produção e registro de
no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE e, no patentes.
último ano de vigência, pelo menos 75% (setenta e cinco por cento)

240
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
Meta 15: garantir, em regime de colaboração entre a União, os 15.12) instituir programa de concessão de bolsas de estudos
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no prazo de 1 (um) ano para que os professores de idiomas das escolas públicas de edu-
de vigência deste PNE, política nacional de formação dos profissio- cação básica realizem estudos de imersão e aperfeiçoamento nos
nais da educação de que tratam os incisos I, II e III do caput do art. países que tenham como idioma nativo as línguas que lecionem;
61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, assegurado que 15.13) desenvolver modelos de formação docente para a edu-
todos os professores e as professoras da educação básica possuam cação profissional que valorizem a experiência prática, por meio da
formação específica de nível superior, obtida em curso de licencia- oferta, nas redes federal e estaduais de educação profissional, de
tura na área de conhecimento em que atuam. cursos voltados à complementação e certificação didático-pedagó-
gica de profissionais experientes.
Estratégias:
15.1) atuar, conjuntamente, com base em plano estratégico
Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta
que apresente diagnóstico das necessidades de formação de profis-
sionais da educação e da capacidade de atendimento, por parte de por cento) dos professores da educação básica, até o último ano
instituições públicas e comunitárias de educação superior existen- de vigência deste PNE, e garantir a todos (as) os (as) profissionais
tes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e defina obrigações da educação básica formação continuada em sua área de atuação,
recíprocas entre os partícipes; considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos
15.2) consolidar o financiamento estudantil a estudantes ma- sistemas de ensino.
triculados em cursos de licenciatura com avaliação positiva pelo
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - SINAES, na Estratégias:
forma da Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, inclusive a amor- 16.1) realizar, em regime de colaboração, o planejamento es-
tização do saldo devedor pela docência efetiva na rede pública de tratégico para dimensionamento da demanda por formação con-
educação básica; tinuada e fomentar a respectiva oferta por parte das instituições
15.3) ampliar programa permanente de iniciação à docência a públicas de educação superior, de forma orgânica e articulada às
estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de apri- políticas de formação dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
morar a formação de profissionais para atuar no magistério da edu- cípios;
cação básica; 16.2) consolidar política nacional de formação de professores e
15.4) consolidar e ampliar plataforma eletrônica para organizar professoras da educação básica, definindo diretrizes nacionais, áre-
a oferta e as matrículas em cursos de formação inicial e continuada as prioritárias, instituições formadoras e processos de certificação
de profissionais da educação, bem como para divulgar e atualizar das atividades formativas;
seus currículos eletrônicos; 16.3) expandir programa de composição de acervo de obras
15.5) implementar programas específicos para formação de didáticas, paradidáticas e de literatura e de dicionários, e programa
profissionais da educação para as escolas do campo e de comunida- específico de acesso a bens culturais, incluindo obras e materiais
des indígenas e quilombolas e para a educação especial; produzidos em Libras e em Braille, sem prejuízo de outros, a serem
15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura disponibilizados para os professores e as professoras da rede públi-
e estimular a renovação pedagógica, de forma a assegurar o foco no ca de educação básica, favorecendo a construção do conhecimento
aprendizado do (a) aluno (a), dividindo a carga horária em formação e a valorização da cultura da investigação;
geral, formação na área do saber e didática específica e incorpo- 16.4) ampliar e consolidar portal eletrônico para subsidiar
rando as modernas tecnologias de informação e comunicação, em a atuação dos professores e das professoras da educação básica,
articulação com a base nacional comum dos currículos da educação disponibilizando gratuitamente materiais didáticos e pedagógicos
básica, de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE; suplementares, inclusive aqueles com formato acessível;
15.7) garantir, por meio das funções de avaliação, regulação e 16.5) ampliar a oferta de bolsas de estudo para pós-graduação
dos professores e das professoras e demais profissionais da educa-
supervisão da educação superior, a plena implementação das res-
ção básica;
pectivas diretrizes curriculares;
16.6) fortalecer a formação dos professores e das professoras
15.8) valorizar as práticas de ensino e os estágios nos cursos de
das escolas públicas de educação básica, por meio da implementa-
formação de nível médio e superior dos profissionais da educação,
ção das ações do Plano Nacional do Livro e Leitura e da instituição
visando ao trabalho sistemático de articulação entre a formação de programa nacional de disponibilização de recursos para acesso a
acadêmica e as demandas da educação básica; bens culturais pelo magistério público.
15.9) implementar cursos e programas especiais para assegu-
rar formação específica na educação superior, nas respectivas áreas Meta 17: valorizar os (as) profissionais do magistério das redes
de atuação, aos docentes com formação de nível médio na modali- públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento
dade normal, não licenciados ou licenciados em área diversa da de médio ao dos (as) demais profissionais com escolaridade equivalen-
atuação docente, em efetivo exercício; te, até o final do sexto ano de vigência deste PNE.
15.10) fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e
tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas respecti- Estratégias:
vas áreas de atuação, dos (as) profissionais da educação de outros 17.1) constituir, por iniciativa do Ministério da Educação, até
segmentos que não os do magistério; o final do primeiro ano de vigência deste PNE, fórum permanente,
15.11) implantar, no prazo de 1 (um) ano de vigência desta Lei, com representação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
política nacional de formação continuada para os (as) profissionais Municípios e dos trabalhadores da educação, para acompanhamen-
da educação de outros segmentos que não os do magistério, cons- to da atualização progressiva do valor do piso salarial nacional para
truída em regime de colaboração entre os entes federados; os profissionais do magistério público da educação básica;

241
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
17.2) constituir como tarefa do fórum permanente o acompa- 18.8) estimular a existência de comissões permanentes de pro-
nhamento da evolução salarial por meio de indicadores da Pesquisa fissionais da educação de todos os sistemas de ensino, em todas as
Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, periodicamente divul- instâncias da Federação, para subsidiar os órgãos competentes na
gados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística elaboração, reestruturação e implementação dos planos de Carrei-
- IBGE; ra.
17.3) implementar, no âmbito da União, dos Estados, do Dis- Meta 19: assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a
trito Federal e dos Municípios, planos de Carreira para os (as) pro- efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios
fissionais do magistério das redes públicas de educação básica, ob- técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comuni-
servados os critérios estabelecidos na Lei no 11.738, de 16 de julho dade escolar, no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e
de 2008, com implantação gradual do cumprimento da jornada de apoio técnico da União para tanto.
trabalho em um único estabelecimento escolar;
17.4) ampliar a assistência financeira específica da União aos Estratégias:
entes federados para implementação de políticas de valorização 19.1) priorizar o repasse de transferências voluntárias da União
dos (as) profissionais do magistério, em particular o piso salarial na área da educação para os entes federados que tenham aprova-
nacional profissional. do legislação específica que regulamente a matéria na área de sua
Meta 18: assegurar, no prazo de 2 (dois) anos, a existência de abrangência, respeitando-se a legislação nacional, e que considere,
planos de Carreira para os (as) profissionais da educação básica e conjuntamente, para a nomeação dos diretores e diretoras de esco-
superior pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de la, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a partici-
Carreira dos (as) profissionais da educação básica pública, tomar pação da comunidade escolar;
como referência o piso salarial nacional profissional, definido em 19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos (às) con-
lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206 da Constituição Fe- selheiros (as) dos conselhos de acompanhamento e controle social
deral. do Fundeb, dos conselhos de alimentação escolar, dos conselhos
regionais e de outros e aos (às) representantes educacionais em de-
Estratégias: mais conselhos de acompanhamento de políticas públicas, garan-
18.1) estruturar as redes públicas de educação básica de modo
tindo a esses colegiados recursos financeiros, espaço físico adequa-
que, até o início do terceiro ano de vigência deste PNE, 90% (no-
do, equipamentos e meios de transporte para visitas à rede escolar,
venta por cento), no mínimo, dos respectivos profissionais do ma-
com vistas ao bom desempenho de suas funções;
gistério e 50% (cinquenta por cento), no mínimo, dos respectivos
19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
profissionais da educação não docentes sejam ocupantes de cargos
a constituírem Fóruns Permanentes de Educação, com o intuito de
de provimento efetivo e estejam em exercício nas redes escolares a
coordenar as conferências municipais, estaduais e distrital bem
que se encontrem vinculados;
como efetuar o acompanhamento da execução deste PNE e dos
18.2) implantar, nas redes públicas de educação básica e supe-
seus planos de educação;
rior, acompanhamento dos profissionais iniciantes, supervisionados
19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, a cons-
por equipe de profissionais experientes, a fim de fundamentar, com
tituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e associações de
base em avaliação documentada, a decisão pela efetivação após o pais, assegurando-se-lhes, inclusive, espaços adequados e condi-
estágio probatório e oferecer, durante esse período, curso de apro- ções de funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação
fundamento de estudos na área de atuação do (a) professor (a), orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas re-
com destaque para os conteúdos a serem ensinados e as metodolo- presentações;
gias de ensino de cada disciplina; 19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de conselhos
18.3) realizar, por iniciativa do Ministério da Educação, a cada escolares e conselhos municipais de educação, como instrumentos
2 (dois) anos a partir do segundo ano de vigência deste PNE, prova de participação e fiscalização na gestão escolar e educacional, inclu-
nacional para subsidiar os Estados, o Distrito Federal e os Municí- sive por meio de programas de formação de conselheiros, assegu-
pios, mediante adesão, na realização de concursos públicos de ad- rando-se condições de funcionamento autônomo;
missão de profissionais do magistério da educação básica pública; 19.6) estimular a participação e a consulta de profissionais da
18.4) prever, nos planos de Carreira dos profissionais da edu- educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos
cação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, licenças político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar
remuneradas e incentivos para qualificação profissional, inclusive e regimentos escolares, assegurando a participação dos pais na ava-
em nível de pós-graduação stricto sensu; liação de docentes e gestores escolares;
18.5) realizar anualmente, a partir do segundo ano de vigência 19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, adminis-
deste PNE, por iniciativa do Ministério da Educação, em regime de trativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de ensino;
colaboração, o censo dos (as) profissionais da educação básica de 19.8) desenvolver programas de formação de diretores e gesto-
outros segmentos que não os do magistério; res escolares, bem como aplicar prova nacional específica, a fim de
18.6) considerar as especificidades socioculturais das escolas subsidiar a definição de critérios objetivos para o provimento dos
do campo e das comunidades indígenas e quilombolas no provi- cargos, cujos resultados possam ser utilizados por adesão.
mento de cargos efetivos para essas escolas;
18.7) priorizar o repasse de transferências federais voluntárias, Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública
na área de educação, para os Estados, o Distrito Federal e os Muni- de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do
cípios que tenham aprovado lei específica estabelecendo planos de Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de vigência
desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB
Carreira para os (as) profissionais da educação;
ao final do decênio.

Estratégias:

242
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
20.1) garantir fontes de financiamento permanentes e sus- 20.10) caberá à União, na forma da lei, a complementação de
tentáveis para todos os níveis, etapas e modalidades da educação recursos financeiros a todos os Estados, ao Distrito Federal e aos
básica, observando-se as políticas de colaboração entre os entes Municípios que não conseguirem atingir o valor do CAQi e, poste-
federados, em especial as decorrentes do art. 60 do Ato das Dis- riormente, do CAQ;
posições Constitucionais Transitórias e do § 1o do art. 75 da Lei no 20.11) aprovar, no prazo de 1 (um) ano, Lei de Responsabili-
9.394, de 20 de dezembro de 1996, que tratam da capacidade de dade Educacional, assegurando padrão de qualidade na educação
atendimento e do esforço fiscal de cada ente federado, com vistas a básica, em cada sistema e rede de ensino, aferida pelo processo
atender suas demandas educacionais à luz do padrão de qualidade de metas de qualidade aferidas por institutos oficiais de avaliação
nacional;
educacionais;
20.2) aperfeiçoar e ampliar os mecanismos de acompanha-
20.12) definir critérios para distribuição dos recursos adicionais
mento da arrecadação da contribuição social do salário-educação;
dirigidos à educação ao longo do decênio, que considerem a equali-
20.3) destinar à manutenção e desenvolvimento do ensino,
em acréscimo aos recursos vinculados nos termos do art. 212 da zação das oportunidades educacionais, a vulnerabilidade socioeco-
Constituição Federal, na forma da lei específica, a parcela da partici- nômica e o compromisso técnico e de gestão do sistema de ensino,
pação no resultado ou da compensação financeira pela exploração a serem pactuados na instância prevista no § 5o do art. 7o desta Lei
de petróleo e gás natural e outros recursos, com a finalidade de
cumprimento da meta prevista no inciso VI do caput do art. 214 da EXERCÍCIOS
Constituição Federal;
20.4) fortalecer os mecanismos e os instrumentos que assegu-
rem, nos termos do parágrafo único do art. 48 da Lei Complementar 1. O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
no 101, de 4 de maio de 2000, a transparência e o controle social (RCNEI) relata que o movimento é a primeira manifestação na
na utilização dos recursos públicos aplicados em educação, espe- vida do ser humano. Isso porque desde a vida uterina a criança
cialmente a realização de audiências públicas, a criação de portais realiza movimentos, e ao nascer, cada vez mais adquire controle
eletrônicos de transparência e a capacitação dos membros de con- sobre os mesmos e expressam novas maneiras de se movimen-
selhos de acompanhamento e controle social do Fundeb, com a co- tar. Nesse sentido não é correto afirmar em relação ao movi-
laboração entre o Ministério da Educação, as Secretarias de Educa- mento como dimensões do desenvolvimento infantil que
ção dos Estados e dos Municípios e os Tribunais de Contas da União, (A) o movimento é a mudança de viver e pensar, deslocação
dos Estados e dos Municípios; ou o simples ato de mover. Por meio dele a criança estabelece
20.5) desenvolver, por meio do Instituto Nacional de Estudos e contatos com outras pessoas e objetos. Assim, as capacidades
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, estudos e acompanha- psicológicas desenvolvem-se por meio das atividades motoras,
mento regular dos investimentos e custos por aluno da educação capazes de construir um mundo mental mais complexo.
básica e superior pública, em todas as suas etapas e modalidades; (B) o movimento não é um puro deslocamento no espaço, nem
20.6) no prazo de 2 (dois) anos da vigência deste PNE, será im- uma adição pura e simples de concentrações musculares; o
plantado o Custo Aluno-Qualidade inicial - CAQi, referenciado no movimento tem um significado de relação e de interação afeti-
conjunto de padrões mínimos estabelecidos na legislação educacio- va com o mundo exterior.
nal e cujo financiamento será calculado com base nos respectivos (C) o movimento humano é toda linguagem exercida pela crian-
insumos indispensáveis ao processo de ensino-aprendizagem e será ça atuando sobre o ambiente.
progressivamente reajustado até a implementação plena do Custo (D) o movimento é um puro deslocamento no espaço, nem
Aluno Qualidade - CAQ; uma adição pura e simples de concentrações musculares; o
20.7) implementar o Custo Aluno Qualidade - CAQ como pa- movimento não tem um significado de relação e de interação
râmetro para o financiamento da educação de todas etapas e afetiva com o mundo exterior.
modalidades da educação básica, a partir do cálculo e do acom-
panhamento regular dos indicadores de gastos educacionais com 2. Segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil
investimentos em qualificação e remuneração do pessoal docente e (1998, p.25) “as brincadeiras que compõem o repertório infantil
dos demais profissionais da educação pública, em aquisição, manu- e que variam conforme a cultura regional apresentam-se como
tenção, construção e conservação de instalações e equipamentos oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no
necessários ao ensino e em aquisição de material didático-escolar, plano motor”. Com base no referencial sobre brincadeiras, assi-
alimentação e transporte escolar; nale a alternativa que condiz com essa ideia.
20.8) o CAQ será definido no prazo de 3 (três) anos e será conti- (A) As brincadeiras proporcionam muitos benefícios, pois de-
nuamente ajustado, com base em metodologia formulada pelo Mi- senvolvem a cooperação, as regras, o respeito ao próximo, as
nistério da Educação - MEC, e acompanhado pelo Fórum Nacional diferenças entre outros.
de Educação - FNE, pelo Conselho Nacional de Educação - CNE e (B) As brincadeiras não despertam a curiosidade, desenvolvem
pelas Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e de Edu- uma parte da concentração, da atenção, da motivação e da
cação, Cultura e Esportes do Senado Federal; criatividade nas crianças.
20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211 da (C) As brincadeiras e jogos fazem a criança crescer, pois, na
Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei complemen- maioria das vezes, proporciona um desinteresse em procurar
tar, de forma a estabelecer as normas de cooperação entre a União, soluções para os conflitos e não estimula alternativas para dar
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em matéria educa- continuidade à atividade lúdica proposta.
cional, e a articulação do sistema nacional de educação em regime (D) As brincadeiras têm por objetivo estimular apenas o lúdico,
de colaboração, com equilíbrio na repartição das responsabilidades sem finalidade de ensino e aprendizagem.
e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redistributiva e
supletiva da União no combate às desigualdades educacionais re-
gionais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste;

243
LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
3. Segundo o RCNEI (1998, vol.1, p. 21-22) “as crianças con- 7. Carla, de 11 anos de idade, com os pais destituídos do po-
stroem o conhecimento a partir das _______________ que es- der familiar, cresce em entidade de acolhimento institucional faz
tabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. dois anos, sem nenhum interessado em sua adoção habilitado nos
O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas cadastros nacional ou internacional. Sensibilizado com a situação
sim, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e res- da criança, um advogado, que já possui três filhos, sendo um ado-
significação”. Assinale a alternativa que preenche corretamente tado, deseja acompanhar o desenvolvimento de Carla, auxiliando-a
a lacuna. nos estudos e, a fim de criar vínculos com sua família, levando-a
(A) interações para casa nos feriados e férias escolares. De acordo com o Estatuto
(B) sugestões da Criança e do Adolescente, de que forma o advogado conseguirá
(C) imposições obter a convivência temporária externa de Carla com sua família?
(D) divisões (A) Acolhimento familiar.
(B) Guarda estatutária.
4. De acordo com as disposições constitucionais acerca da Or- (C) Tutela.
dem Social, assinale a afirmativa incorreta. (D) Apadrinhamento.
(A) A pesquisa científica básica e tecnológica receberá trata-
mento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o 8. Considere o texto constante da Política Nacional de Educa-
progresso da ciência, tecnologia e inovação. ção Especial na perspectiva da Educação Inclusiva para responder
(B) A educação básica pública terá como fonte adicional de fi- à questão.
nanciamento a contribuição social do salário-educação, reco- Relacione os documentos legais (1; 2; 3) a que se referem (a;
lhida pelas empresas na forma da lei. b; c).
(C) A União, os Estados e o Distrito Federal estão obrigados a 1. Jomtien (Tailândia – 1990).
vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi- 2. Declaração de Salamanca/1994.
cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica. 3. Lei no 8.069/1990.
(D) Incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental a. Estatuto da Criança e do Adolescente.
em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a b. Satisfação das necessidades básicas da aprendizagem de to-
preservação do meio ambiente. das as crianças, jovens e adultos.
(E) Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensi- c. Proclama que as escolas comuns representam o meio mais
no fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou eficaz para combater as atitudes discriminatórias.
responsáveis, pela frequência à escola. A correlação correta é:
(A) 1-a; 2-b; 3-c.
5. No que se refere à questão dos recursos públicos destinados (B) 1-b; 2-c; 3-a.
à educação previstos na Constituição Federal, assinale a alternativa (C) 1-c; 2-a; 3-b.
correta: (D) 1-c; 2-b; 3-a.
(A) São destinados à educação em geral, independentemente (E) 1-b; 2-a; 3-c.
de sua categoria administrativa.
(B) São destinados apenas às escolas públicas. 9. Segundo o Art. 208 da Constituição Federal de 1988, o dever
(C) São destinados às escolas públicas e escolas sem fins lucrati- do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia da
vos de cunho comunitário, filantrópico ou confessional. educação básica obrigatória e gratuita a partir de que idade?
(D) São destinados ás escolas de municípios com baixo IDH ape- (A) 3 (três) anos.
nas. (B) 4 (quatro) anos.
(E) São destinados apenas ao ensino fundamental enquanto (C) 5 (cinco) anos.
etapa obrigatória. (D) 6 (seis) anos.
(E) 7 (sete) anos
6. No Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 4o, desta-
cam-se os seguintes aspectos: 10. (PREFEITURA DE BATAGUASSU/MS - PROFESSOR DE
É dever da ...... , da comunidade, da sociedade em geral e do EDUCAÇÃO FÍSICA - PREFEITURA DE BATAGUASSU/MS/2021)
...... assegurar, com absoluta prioridade a efetivação dos direitos Nas Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial (MEC/
referentes à ...... , à saúde , à alimentação, à educação [...] e à con- SECADI), em todas as etapas e modalidades da educação básica, o
vivência familiar e ...... . atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o
Preenchem as lacunas da frase acima, correta e respectivamen- desenvolvimento dos estudantes, constituindo:
te, (A) serviço paralelo de apoio familiar.
(A) família − poder público − moradia escolar − religiosa (B) outras atividades de escolarização.
(B) escola − SUS − educação − habitacional (C) oferta sazonal nos sistemas educacionais.
(C) escola − conselho tutelar − vida − comunitária (D) oferta obrigatória dos sistemas de ensino.
(D) família − conselho tutelar − moradia − escolar
(E) família − poder público − vida − comunitária

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LEGISLAÇÃO (POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA)
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GABARITO
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1 D
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2 A
3 A ______________________________________________________
4 C ______________________________________________________
5 C
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6 E
7 D ______________________________________________________

8 B ______________________________________________________
9 B ______________________________________________________
10 D
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor da Educação Básica - Educação Infantil e Anos Iniciais

Processo de desenvolvimento
ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Conhecer a criança e o adolescente implica em identificar o
processo do seu desenvolvimento nos vários aspectos de sua evo-
Vamos aqui analisar e compreender como os aspectos psicológi- lução: biológicos, psicológicos, sociais. Entender como se dá o cres-
cos refletem nas crianças ao longo de seu desenvolvimento. cimento e amadurecimento físico, de que maneira acontece o de-
senvolvimento cognitivo, mental, de que forma as emoções atuam
A Infância e dirigem a vida do indivíduo, e como o homem se desenvolve no
A infância é uma fase da vida onde se fazem grandes aprendiza- aspecto social, bem como as formas de interação desses aspectos
gens e se adquirem diversas competências quer ao nível pessoal quer e forças do desenvolvimento, levando-se em consideração os as-
na relação com os outros e com o mundo em redor. Por estas razões, é pectos herdados e os assimilados são postulados e tratados pela
uma fase muito importante no desenvolvimento de uma pessoa mas Psicologia do Desenvolvimento.
também muito sensível. A criança e o adolescente são seres que estão por vir a ser. Não
Acontecimentos traumáticos e perdas significativas, carências completaram a sua formação, não atingiram a maturidade dos seus
afetivas, grandes mudanças, problemas de saúde, são alguns exem- órgãos e nem das suas funções. Necessitam de tempo, de oportuni-
plos de situações que podem comprometer o desenvolvimento sau- dade e de adequada estimulação para efetivar tais tarefas. Enquan-
dável da criança. to isso, precisam de proteção, afeição e cuidados especiais.
Por vezes, a criança tem dificuldade em manifestar ao adulto A Psicologia do Desenvolvimento como ramo da ciência psico-
aquilo que sente e chorar, gritar e fazer birras são as formas que esta lógica constitui-se no estado sistemático da personalidade humana,
encontra para expressar e exteriorizar os seus pensamentos, senti- desde a formação do indivíduo, no ato da fecundação até o estágio
mentos e desejos. terminal da vida, ou seja, a velhice.
É importante estar-se atento aos sinais de alerta. Alguns sinais Como ciência comportamental, a psicologia do desenvolvimen-
de alerta podem ser: a criança recusar-se a comer, não brincar, não to ocupa-se de todos os aspectos do desenvolvimento e estuda
querer ir para a escola, ter dificuldade em dormir ou terrores notur- homem como um todo, e não como segmentos isolados de dada
nos, isolar-se das outras crianças, ter uma relação exclusiva com a realidade biopsicológica. De modo integrado, portanto, a psicolo-
mãe ou outro membro da família, entre outros. gia do desenvolvimento estuda os aspectos cognitivos, emocionais,
Quando alguma destas situações está presente, normalmente, sociais e morais da evolução da personalidade, bem como os fato-
a criança está a tentar comunicar-nos algo e é importante que con- res determinantes de todos esses aspectos do comportamento do
sigamos perceber o seu pedido de ajuda, caso contrário, a proble- indivíduo.
mática poderá agravar-se e persistir durante a adolescência e idade Como área de especialização no campo das ciências comporta-
adulta. Por vezes, pode ser necessário um acompanhamento mais mentais, argumenta Charles Woorth (1972), a psicologia do desen-
específico de forma a ultrapassar com êxito qualquer problemática volvimento se encarrega de salientar o fato de que o comportamen-
que possa existir. to ocorre num contexto histórico, isto é, ela procura demonstrar
a integração entre fatores passados e presentes, entre disposições
A Adolescência hereditárias incorporadas às estruturas e funções neurofisiológicas,
A adolescência é um período de grandes transformações a ní- as experiências de aprendizagem do organismo e os estímulos atu-
vel biológico, psicológico e social. É o período de transição para a ais que condicionam e determinam seu comportamento.
vida adulta de consolidação da identidade e comporta vários e no-
vos desafios como a autonomia em relação aos pais, alterações no Processos básicos no Desenvolvimento Humano
desenvolvimento sexual, o relacionamento com o grupo de pares e Muitos autores usam indiferentemente as palavras desenvol-
com o sexo oposto, a preparação para uma profissão, entre outras. vimento e crescimento. Entre estes encontram-se Mouly (1979) e
É um período de procura, de grandes escolhas, e por isso, tam- Sawrey e Telford (1971). Outros, porém, como Rosa, Nerval (1985) e
bém um período de grandes dúvidas. Por estas razões a adolescên- Bee (1984-1986), preferem designar como crescimento as mudan-
cia é uma altura de grandes conflitos pessoais e interpessoais que ças em tamanho, e como desenvolvimento as mudanças em com-
terão influência na formação da personalidade do indivíduo. plexidade, ou o plano geral das mudanças do organismo como um
Por vezes, pelas exigências que este período de vida comporta, todo.
os adolescentes podem desenvolver alguns problemas ou dificulda- Mussen (1979), associa a palavra desenvolvimento a mudanças
des, tendo uma maior propensão para o desenvolvimento de per- resultantes de influências ambientais ou de aprendizagem, e o cres-
turbações do comportamento alimentar, comportamentos disrrup- cimento às modificações que dependem da maturação.
tivos e/ou delinquentes, abuso de substâncias, depressão, etc. Por Diante dos estudos e leituras realizados, torna-se evidente e
esta razão, pode-se agir de forma preventiva, fazendo-se um acom- necessário o estabelecimento de uma diferenciação conceitual des-
panhamento psicológico de forma a ajudar o adolescente a lidar ses termos, vez que, constantemente encontramos os estudiosos
com os conflitos internos e com as dificuldades que vão surgindo ao dessa área referindo-se a um outro termo, de acordo com a situa-
longo deste período crucial para a sua formação enquanto pessoa.1 ção focalizada. Desta forma, preferimos conceituar o crescimento
como sendo o processo responsável pelas mudanças em tamanho
1 Fonte: www.psicologosassociados.net

247
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
e sujeito às modificações que dependem da maturação, e o desen- Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, por Anne
volvimento como as mudanças em complexidade ou o plano geral Anastasi, que publicou um artigo no Psychological Review, sobre o
das mudanças do organismo como um todo, e que sofrem, além da problema da hereditariedade e meio na determinação do compor-
influência do processo maturacional, a ação maciça das influências tamento humano.
ambientais, ou da aprendizagem (experiência, treino). O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o proble-
Através da representação gráfica, que se segue, ilustramos o ma, tanto do ponto de vista teórico como nos seus aspectos meto-
conceito de crescimento e desenvolvimento, evidenciando a inter- dológicos. Isso não significa que o problema tenha sido resolvido
veniência dos fatores que o determinam: Hereditariedade, meio ou mas, pelo menos, ajudou os estudiosos a formularem a pergunta
ambiente, maturação e aprendizagem (experiência, treino). adequada pois, como se sabe, fazer a pergunta certa é fundamental
a qualquer pesquisa científica relevante.
Exemplificando o uso do conceito de crescimento e desenvol- Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução proposta
vimento: por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio de outras fontes
É evidente que a mão de uma criança é bem menor do que a de informação.
mão de um adulto normal. Pelo processo normal do crescimento, A discussão do problema hereditariedade versus meio encon-
a mão da criança atinge o tamanho normal da mão do adulto na tra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se admite que
medida em que ela cresce fisicamente. Dizemos, portanto, que, no tanto os fatores hereditários como os fatores do meio são impor-
caso, houve crescimento dessa parte do corpo. A mão de um adulto tantes na determinação do comportamento do indivíduo. A heran-
normal é diferente da mão de uma criancinha, não somente por ça genética representa o potencial hereditário do organismo que
causa do seu tamanho. Ela é diferente, sobretudo, por causa de sua poderá ser desenvolvido dependendo do processo de interação
maior capacidade de coordenação de movimentos e de uso. Neste com o meio, mas que determina os limites da ação deste.
caso, podemos fazer alusão ao processo de desenvolvimento, que Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que determinado
se refere mais ao aspecto qualitativo (coordenação dos movimen- traço de personalidade resulte da influência conjunta de fatores
tos da mão, desempenho), sem excluir, todavia, alguns aspectos hereditários e mesológicos, uma diferença específica nesse traço
quantitativos (aumento do tamanho da mão). Nota-se, entretanto, entre indivíduos ou entre grupos pode resultar de um dos fatores
que essa distinção entre crescimento e desenvolvimento nem sem- apenas, seja o genético seja o ambiente. Determinar exatamente
pre pode ser rigorosamente mantida, porque em determinadas fa- qual dos dois ocasiona tal diferença ainda é um problema na meto-
ses da vida os dois processos são, praticamente, inseparáveis. dologia da pesquisa.
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais deve
A questão da hereditariedade e do meio no desenvolvimento ser qual o fator mais importante para o desenvolvimento, ou quan-
humano to pode ser atribuído à hereditariedade e quanto pode ser atribuído
A controvérsia hereditariedade e meio como influências ge- ao meio, mas como cada um desses fatores opera em cada circuns-
radoras e propulsoras do desenvolvimento humano tem ocupado, tância. É, pois, portanto, mais preocupada com a questão de como
através dos anos, lugar de relevância no contexto geral da psicolo- os fatores hereditários e ambientais interagem do que propriamen-
gia do desenvolvimento. te com o problema de qual deles é o mais importante, ou de quanto
A princípio, o problema foi estudado mais do ponto de vista entra de cada um na composição do comportamento do indivíduo.
filosófico, salientando-se, de um lado, teorias nativistas, como a de Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de intera-
Rousseau, que advogava a existência de ideias inatas, e, de outro ção variam de acordo com as diferentes condições e, com respeito
lado, as teorias baseadas no empirismo de Locke, segundo o qual aos fatores hereditários, ela usa vários exemplos ilustrativos desse
todo conhecimento da realidade objetiva resulta da experiência, processo interativo.
através dos órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fato- O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a idiotia
res do meio. amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento intelectual do
Particularmente, no contexto da psicologia do desenvolvimen- indivíduo será prejudicado como resultado de desordens metabóli-
to, o problema da hereditariedade e do meio tem aparecido em cos hereditárias. Até onde se sabe, não há qualquer fator ambiental
relação a vários tópicos. Por exemplo, no estudo dos processos que possa contrabalançar essa deficiência genética. Portanto, o in-
perceptivos, os psicólogos da Gestalt advogaram que os fatores divíduo que sofreu essa desordem metabólica no seu processo de
genéticos são mais importantes à percepção do que os fatores do formação será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante
meio. Por outro lado, cientistas como Hebb (1949) defendem a po- que seja o meio em que viva.
sição empirista, segundo a qual os fatores da aprendizagem são de
essencial importância ao processo perceptivo. Na área de estudo Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano
da personalidade encontramos teorias constitucionais como as de O desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a
Kretschmer e Sheldon que advogam a existência de fatores inatos vida, isto é, na concepção, e a acompanha, sendo agente de modi-
determinantes do comportamento do indivíduo, enquanto outros, ficações e aquisições.
como Bandura, em sua teoria da aprendizagem social, afirmam que A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, isto é,
os fatores de meio é que, de fato, modelam a personalidade huma- antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, o tron-
na. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns psicólogos co, os braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos de-
como Gesell e Thompson (1941) se preocupam mais com o pro- senvolvem-se na mesma ordem, e aproximadamente nas mesmas
cesso da maturação como fato biológico, enquanto outros se preo- idades pré-natais em todos os fatos.
cupam, mais, com o processo de aprendizagem, como é o caso de Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito
Gagné (1977), Deese e Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao complexos, tanto antes quanto após o nascimento, o desenvolvi-
estudo da inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior ênfa- mento humano ocorre de acordo com certo número de princípios
se aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), enquanto gerais, os quais veremos a seguir.
outros salientam mais os fatores do meio, como o faz Kagan (1969).

248
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Primeiro: O crescimento e as mudanças no comportamento são Esse resultado é o produto de sua herança de um potencial alto ou
ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem em sequências in- de um ambiente mais estimulante no lar? Muito provavelmente, é
variáveis. Todos os fetos podem mover a cabeça antes de poderem o resultado da interação dos dois fatores.
abrir as mãos. Após o nascimento, há padrões definidos de cresci- Podemos considerar as influências genéticas sobre caracterís-
mento físico e de aumentos nas capacidades motoras e cognitivas. ticas específicas como altura, inteligência ou agressividade, mas,
Toda criança consegue sentar-se antes de ficar de pé, fica de pé an- na maior parte dos casos de funções psicológicas as contribuições
tes de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar um exatas dos fatores hereditários são desconhecidas. Para tais carac-
quadrado. Todos os bebês passam pela mesma sequência de está- terísticas, as perguntas relevantes são: quais das potencialidades
gios no desenvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pronun- genéticas do indivíduo serão realizadas no ambiente físico, social e
ciam certos sons antes de outros e formam sentenças simples antes cultural em que ele ou ela se desenvolve? Que limites para o desen-
de pronunciar sentenças complexas. Certas capacidades cognitivas volvimento das funções psicológicas são determinados pela consti-
precedem outras, invariavelmente. Todas as crianças podem classi- tuição genética do indivíduo?
ficar objetos ou colocá-los em série, levando em consideração o ta- Muitos aspectos do físico e da aparência são fortemente in-
manho, antes de poder pensar logicamente, ou formular hipóteses. fluenciados por fatores genéticos - sexo, cor dos olhos e da pele,
A natureza ordenada do desenvolvimento físico e motor inicial forma do rosto, altura e peso. No entanto, fatores ambientais po-
está ilustrada pelas tendências .direcionais.. Uma dessas tendên- dem exercer forte influência mesmo em algumas dessas caracte-
cias é chamada cefalocaudal ou da cabeça aos pés, isto é, a direção rísticas que são basicamente determinadas pela hereditariedade.
do desenvolvimento de qualquer forma e função vai da cabeça para Por exemplo, os filhos de judeus, nascidos na América do Norte,
os pés. Por exemplo, os botões dos braços do feto surgem antes dos de pais que para lá imigraram há duas gerações, tornaram-se mais
botões das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que altos e mais pesados do que seus pais, irmãos e irmãs nascidos no
as pernas estejam bem formadas. estrangeiro. As crianças da atual geração, nos Estados Unidos e em
No instante, a fixação visual e a coordenação olho-mão estão outros países do Ocidente, são mais altas e pesadas e crescem mais
desenvolvidas muito antes que os braços e as mãos possam ser rapidamente do que as crianças de gerações anteriores.
usadas com eficiência para tentar alcançar e agarrar objetos. A di- Evidentemente, os fatores ambientais, especialmente a ali-
reção seguinte do desenvolvimento é chamada próximo-distal, ou mentação e as condições de vida afetam o físico e a rapidez do cres-
de dentro para fora. Isso significa que as partes centrais do corpo cimento.
amadurecem mais cedo e se tornam funcionais antes das partes Fatores genéticos influenciam características do temperamen-
que se situam na periferia. Movimentos eficientes do braço e ante- to, tais como tendência para ser calmo e relaxado ou tenso e pron-
braço precedem os movimentos dos pulsos, mãos e dedos. O braço to a reagir. A hereditariedade pode também estabelecer os limites
e a coxa são controlados voluntariamente antes do antebraço, da superiores, além dos quais a inteligência não pode se desenvolver.
perna, das mãos e dos pés. Os primeiros atos do infante são difusos Como e sob que condições as características temperamentais ou
grosseiros e indiferenciados, envolvendo o corpo todo ou grandes de inteligência se manifestarão, depende, não obstante de muitos
segmentos do mesmo. Pouco a pouco, no entanto, esses movimen- fatores do ambiente. Crianças com bom potencial intelectual, ge-
tos são substituídos por outros, mais refinados, diferenciados e neticamente determinado, não parecem muito inteligentes se são
precisos - uma tendência evolutiva do maciço para o específico dos educadas em ambientes monótonos e não estimulantes, ou se não
grandes para os pequenos músculos. As tentativas iniciais do bebê tiverem motivação para usar seu potencial.
para agarrar um cubo, por exemplo, são muito desajeitadas quando Em suma, as contribuições relativas das forças hereditárias e
comparadas aos movimentos refinados do polegar e do indicador ambientais variam de características para características. Quando
que ele poderá executar alguns meses depois. Seus primeiros pas- se pergunta sobre as possíveis influências genéticas no comporta-
sos no andar são indecisos e implicam movimentos excessivos. No mento, devemos sempre estar atentos às condições nas quais as
entanto, pouco a pouco, começa a andar de modo mais gracioso e características se manifestam. No que diz respeito à maior parte
preciso. das características comportamentais, as contribuições dos fatores
hereditários são desconhecidas e indiretas.
Segundo: O desenvolvimento é padronizado e contínuo mas
nem sempre uniforme e gradual. Quarto: Todas as características e capacidades do indivíduo, as-
Há períodos de crescimento físico muito rápido - nos chama- sim como as mudanças de desenvolvimento, são produtos de dois
dos surtos do crescimento - e de incrementos extraordinários nas processos básicos, embora complexos, que são os seguintes: ma-
capacidades psicológicas. Por exemplo, a altura do bebê e seu peso turação (mudanças orgânicas neurofisiológicas e bioquímicas que
aumentam enormemente durante o primeiro ano, e os pré-adoles- ocorrem no corpo do indivíduo e que são relativamente indepen-
centes e adolescentes também crescem de modo extremamente dentes de condições ambientais externas, de experiências ou de
rápido. Os órgãos genitais desenvolve-se muito lentamente duran- práticas) e experiência (aprendizagem e treino).
te a infância, mas de modo muito rápido durante a adolescência. Como a aprendizagem e a maturação quase sempre interagem
Durante o período pré-escolar, ocorrem rápidos aumentos no vo- é difícil separar seus efeitos ou especificar suas contribuições rela-
cabulário e nas habilidades motoras e, por volta da adolescência, tivas ao desenvolvimento psicológico. Com certeza, o crescimento
a capacidade individual para resolver problemas lógicos apresenta pré-natal e as mudanças na proporção do corpo e na estrutura do
um progresso notável. sistema nervoso são antes produtos de processos de maturação
que de experiências. Em contraste, o desenvolvimento das habilida-
Terceiro: Interações complexas entre a hereditariedade, isto é, des motoras e das funções cognitivas depende da maturação, de ex-
fatores genéticos, e o ambiente (a experiência) regulam o curso do periência e da interação entre os dois processos. Por exemplo, são
desenvolvimento humano. É, portanto, extremamente difícil distin- as forças de maturação entre os dois processos que determinam,
guir os efeitos dos dois conjuntos de determinantes sobre caracte- em grande parte, quando a criança está pronta para andar. Restri-
rísticas específicas observadas. Considere-se, por exemplo, o caso ções ao exercício da locomoção não adiam seu começo, a nãos ser
da filha de um bem sucedido homem de negócios e de uma advo- que sejam extremas. Muitos infantes dos índios bopis são mantidos
gada. O quociente intelectual da menina é 140, o que é muito alto. em berços durante a maior parte do tempo de seus primeiros três

249
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
meses de vida, e mesmo durante parte do dia, após esse período repreensão. Dentro de muito pouco tempo, houve aumentos no-
inicial. Portanto, têm muito pouca experiência ou oportunidade de táveis no número de respostas dirigidos aos colegas, de respostas
exercitar os músculos utilizados habitualmente no andar. No entan- agressivas declinou rapidamente. Do mesmo modo, diversas carac-
to, começam a andar com a mesma idade que as outras crianças. terísticas de personalidade, muitos motivos e respostas sociais são
Reciprocamente, nãos e pode ensinar recém-nascidos e ficar de pé aprendidos através do contato direto com um ambiente que reforça
ou andar antes que ser equipamento neural e muscular tenha ama- certas respostas e pune ou ignora outras.
durecido o suficiente. Quando essas habilidades motoras básicas Respostas complexas podem, também, ser aprendidas de
forem adquiridas, no entanto, elas melhoram com a experiência e outro modo pela observação dos outros. O repertório comporta-
prática. O andar torna-se mais coordenado e mais gracioso à medi- mental de uma criança expande-se consideravelmente, através da
da que os movimentos inúteis são eliminados; os passos mais lon- aprendizagem por observação. Esse fato tem sido muitas vezes de-
gos, coordenados e rápidos. monstrado em experimentos envolvendo grande variedade de res-
A aquisição da linguagem e o desenvolvimento das habilida- postas. Nesses experimentos, as crianças são expostas a um modelo
des cognitivas são, também, resultados da interação entre as forças que executa diversos tipos de ações, simples ou complexas, verbais
de experiência e da maturação. Assim, embora as crianças não co- ou motoras, agressivas, dependentes ou altruísticas. As crianças
mecem a falar ou juntar palavras antes de atingirem certo nível de do grupo de controle não observam o modelo. Posteriormente, as
maturidade física, pouco importando quanto ensinamento lhes for crianças são observadas para se determinar até que ponto copiam
ministrado, obviamente a linguagem que vierem a adquirir depen- e imitam o comportamento mostrado pelo modelo. Os resultados
de de suas experiências, isto é, da linguagem que ouvem os outros demonstram que aprendizagem por observação é muito eficiente.
falar. Sua facilidade verbal será, pelo menos parcialmente, função As crianças do grupo experimental geralmente imitam as respostas
do apoio e das recompensas que recebem quando expressam ver- do modelo, ao passo que as do grupo de controle não exibem essas
balmente. respostas. Note-se que não foi necessário o reforço para adquirir ou
Qualogamente, as crianças não adquirirão certas habilidades para provocar respostas imitativas.
intelectuais ou cognitivos, enquanto não tiverem atingido determi- Obviamente, a criança não tem de aprender como responder a
nado grau de maturidade. Por exemplo, até o estágio o que Piaget cada situação nova. Depois de uma resposta ter-se associado a um
denomina operacional - aproximadamente entre seis e sete anos estímulo ou arranjo ambiental, ela têm probabilidade de ser trans-
as crianças só conseguem lidar com objetos, eventos e represen- ferida a situações similares. Esse é o princípio da generalização do
tações desses. Mas não conseguem lidar com ideias ou conceitos. estímulo. Se a criança aprendeu a acariciar seu próprio cão, poderá
Antes de atingirem o estágio operacional não dispõem do concei- acariciar outros cães, especialmente os semelhantes ao seu.
to de conservação a ideia de que a qualidade de uma substância,
como a argila não muda simplesmente porque sua forma mudou Sexto: Há períodos críticos ou sensíveis ao desenvolvimento a
de esférica, digamos a cilíndrica. Uma vez atingido o estágio das certos órgãos do corpo e de certas funções psicológicas. Se ocorrem
operações concretas e tendo acumulado mais experiências ligadas interferências no desenvolvimento normal durante esses períodos,
à noção de conservação, podem, agora aplicá-la a outras qualida- é possível que surjam deficiências, ou disfunções permanentes.
des. Podem compreender que o comprimento, a massa, o número Por exemplo, há períodos críticos no desenvolvimento do coração,
e o peso permanecem constantes, apesar de certas mudanças na olhos, rins e pulmões do feto. Se o curso do desenvolvimento nor-
aparência externa. mal for interrompido em um desses períodos por exemplo, em con-
Quinto: características de personalidade e respostas social, sequência de rubéola ou de infecção causada por algum vírus da
incluindo-se motivos, respostas emocionais e modos habituais de mãe, a criança pode sofrer um dano orgânico permanente.
reagir, são em grande proporção aprendidos, isto é, são o resultado Erick Erikson, psicanalista eminente de crianças, além de teóri-
de experiência e prática ou exercício. Com isso, não se pretende co, considera que o primeiro ano de vida é um período crítico para
negar o princípio de que fatores genéticos e de maturação desem- o desenvolvimento de confiança nos outros. O infante que não for
penham importante papel na determinação do que e como o indi- objeto de calor humano e de amor, e que não for satisfeito em suas
víduo aprende. necessidades durante esse período, corre o risco de não desenvol-
A aprendizagem vem sendo, desde há muito, uma das áreas ver um sentido de confiança, por conseguinte, de não ser sucedido
centrais de pesquisa e teoria em psicologia e muitos princípios im- posteriormente na formação de relações sociais satisfatórias: De
portantes de aprendizagem foram estabelecidos. Há três tipos de modo análogo, parece haver um período crítico ou de .prontidão.
aprendizagem que são de importantes critica no desenvolvimento para a aprendizagem de várias tarefas, como ler ou andar de bici-
da personalidade e no desenvolvimento social. cleta. A criança que não aprende tais tarefas durante esses períodos
A primeira e mais tradicional abordagem da aprendizagem é pode ter grandes dificuldades em aprendê-las posteriormente.
c condicionamento operante ou instrumental, uma resposta que
já está no repertório da criança é recompensada ou reforçada por Sétimo: As experiências das crianças, em qualquer etapa do
alimento, prazer, aprovação ou alguma outra recompensa material. desenvolvimento, afetam ser desenvolvimento posterior. Se uma
Torne-se, em consequência, fortalecida, isto é, há maior probabili- mulher grávida sofrer problemas severos de desnutrição, a criança
dade de que essa resposta se repita. Por exemplo, ao reforçarmos em formação pode não desenvolver o número normal de células ce-
ou recompensarmos crianças de três meses cada vez que elas voca- rebrais e, portanto, nasce com deficiência mental. Os infantes que
lizem (sorrindo-lhes ou tocando-lhes levemente na barriga), ocorre passam os primeiros meses em ambientes muitos monótonos e não
um aumento marcante na frequência de vocalização das crianças. estimulantes parecem ser deficientes em atividades cognitivas e
Muitas das respostas das crianças são modificadas ou modela- apresentam desempenho muito fraco em testes de funcionamento
das através do condicionamento operante. Num estudo, cada crian- intelectual em idades posteriores.
ça de uma classe pré-escolar foi recompensada pela aprovação do A criança que recebe pouco afeto, amor e atenção no primeiro
professor por toda resposta social que desse e outras crianças e ano de vida não desenvolve a autoconfiança nem a confiança nos
cada vez que manifestasse um comportamento de cooperação ou outros no início da vida e, provavelmente, será, na adolescência,
de ajuda a outras crianças. Respostas agressivas, como bater, im- desajustada e emocionalmente instável.
portunar, gritar e quebrar objetos, foram ignoradas ou punidas por

250
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Estágios evolutivos e tarefas evolutivas a aquisição dessas habilidades se der no tempo próprio, os ajus-
Embora criticado por algumas teorias, o conceito de estágios tamento delas dependentes serão feitos naturalmente, através de
evolutivos é uma ideia constante nos estudos atuais da psicologia todo o processo evolutivo. Caso contrário, haverá, sempre, déficits
do desenvolvimento. Enquanto aquelas teorias interpretam o de- em todo tipo de ajustamento que requer tais habilidades como con-
senvolvimento humano como algo contínuo, desenvolvendo-se o dição fundamental. Em termos gerais do organismo, podemos dizer
comportamento humano de maneira gradual, na direção de sua que se uma tarefa evolutiva for realizada na fase crítica adequada,
maturidade, as teorias que preconizam a existência de estágios evo- as fases subsequentes da evolução do indivíduo serão mais facil-
lutivos (de Freud, Erickson, Sullivan, Piaget e muitos outros) tendem mente alcançadas em termos do seu ajustamento pessoal. Se, por
a ver o desenvolvimento humano como algo descontínuo. Segundo outro lado, o organismo deixar de realizar uma tarefa evolutiva, ou
essas teorias, o curso do desenvolvimento humano se dá por meio se houver falhas no processo em qualquer das suas partes, os ajus-
de mudanças mais ou menos bruscas, na história do organismo. tamentos nas fases subsequentes serão mais difíceis e, em alguns
Mussem et ali (1974), afirmam que cada estágio do desenvolvi- casos, podem até deixar de ocorrer. As tarefas evolutivas abrangem
mento humano, segundo essas teorias, representam um padrão de vários aspectos do processo evolutivo, incluindo o crescimento físi-
características inter-relacionadas. Cada estágio de desenvolvimento co, o desempenho intelectual, ajustamento emocionais e sociais, as
representa uma evolução de estágio anterior, mas, ao mesmo tem- atitudes com relação ao próprio eu, é realidade objetiva, bem como
po, cada um deles se caracteriza por funções qualitativamente dife- a formação dos padrões típicos de comportamento e a elaboração
rentes. De acordo com essas teorias o desenvolvimento psicológico de um sistema de valores.
do indivíduo ocorrem de maneira progressiva através de estágios
fixos e invariáveis, cada indivíduo tendo que atravessar os mesmos Segundo Havighurst, há três aspectos principais da tarefa evo-
estágios, na mesma sequência. Conforme Jean Piaget (1973) existe lutiva.
fundamento biológico para a teoria de estágios evolutivos, em ou- O primeiro se refere à maturação biológica, tal como aprender
tro contexto (1997), considerando as estruturas principais, diz que e andar, a falar, etc.
os estágios cognitivos tem uma propriedade sequencial, isto é, apa- O segundo se refere às pressões sociais, tais como aprender a
recem em ordem fixa de sucessão, pois cada um deles é necessário ler, a comportar-se como cidadão responsável e várias outras for-
para a formação do seguinte. mas do comportamento social.
Os embriologistas dão evidências em favor da teoria dos es- O terceiro aspecto se refere aos valores pessoais que consti-
tágios evolutivos. Falam da existência de períodos críticos para o tuem a personalidade de cada indivíduo, que resulta de processos
desenvolvimento do zigoto, ou seja .fases críticas. em que se deter- de interação das forças orgânicas e ambientais.
minadas mudanças não ocorrem na célula dentro de cada intervalo Para cada estágio da vida humana, há certas tarefas evolutivas
e em dada sequência, o desenvolvimento do organismo pode so- que devem ser incorporadas aos padrões de experiências e de com-
frer danos permanentes. Os estágios do desenvolvimento humano portamento do indivíduo.
se caracterizam pela organização dos comportamentos típicos que
ocorrem simultaneamente em determinado estádio evolutivo. Há, Teorias do desenvolvimento humano
portanto, certos padrões de comportamento que caracterizam cada A complexidade do desenvolvimento humano de certo modo
estágio da evolução psicológica do indivíduo, sem, contudo, impli- exige uma complexa metodologia para seu estudo. Dentre as es-
car que tais comportamentos sejam de natureza estática. tratégias para o estudo de desenvolvimento da personalidade sa-
Os estágios evolutivos se caracterizam, também por mudan- lientam-se a teoria dos estágios evolutivos, as teorias diferenciais,
ças qualitativas, com relação a estágios anteriores. Pode acontecer, ipsativas e da aprendizagem social. A teoria dos estágios evolutivos
também, que num determinado estágio evolutivo várias mudanças procura estabelecer leis gerais do desenvolvimento humano.
ocorram simultaneamente. É o caso, por exemplo, da adolescên- Advogando a existência de diferentes níveis qualitativos da or-
cia. Num período relativamente curto, o indivíduo muda em muitas ganização, através dos quais, invariavelmente, passam todos os in-
significativas maneiras. Nesta fase da vida o adolescente se torna divíduos de determinada espécie. As teorias diferenciais, por outro
biologicamente capaz de reproduzir a espécie, experimenta acele- lado, procuram estabelecer leis que permitem predizer os fatores
rado crescimento físico, seguido, logo depois , por uma quase para- determinados das diferenças individuais de subgrupos no processo
lisação nesse processo, e seu desenvolvimento mental atinge prati- evolutivo. Para os adeptos das teorias ipsativas o que interessa é ve-
camente o ponto culminantes, em termos de suas potencialidades rificar o que muda e o que permanece constante através da história
para o raciocínio abstrato. evolutiva de cada indivíduo. As teorias da aprendizagem social pro-
Outro conceito de fundamental importância para o estudo da curam explicar o processo evolutivo do ser humano em temos das
psicologia do desenvolvimento é a noção de tarefa evolutiva. De- técnicas de condicionamento, e tentam explicar o comportamento
senvolvido, principalmente, por Havighurst (1953), esse conceito como simples relação estímulo-resposta.
tem sido de grande utilidade para o estudo da evolução do compor- Dentre as muitas teorias do desenvolvimento humano salien-
tamento humano. tamos quatro que evidenciam como de maior importância: a teoria
A pressuposição fundamental desse conceito é a de que .viver psicanalítica de Freud, a teoria interpessoal de Sullivan, a teoria psi-
é aprender, e crescer ou desenvolver-se é, também, aprender.. Há cossocial de Erickson, e a teoria cognitiva de Jean Piaget.
certas tarefas ou habilidades que o indivíduo tem que aprender para Teoria Psicanalítica de Freud - Existem críticas a essa teoria pelo
poder ser considerado como pessoa de desenvolvimento adequado fato de não haver Freud, para estabelecer suas conclusões, feito
e satisfatoriamente ajustado, conforme as expectativas da socieda- seus estudos com crianças, e sim, com adultos psicologicamente
de. Segundo essa teoria, à semelhança do que acontece nas teorias doentes. E há sérias restrições à teoria freudiana da personalida-
de estágios evolutivos, há fases críticas no processo do desenvolvi- de, especialmente por ela baseada, exclusivamente, no método de
mento humano, isto é, período em que tais tipos de aprendizagem observação clínica e fundamentada na psicopatologia. Reconhece-
ou ajustamento devem acontecer. O organismo, por assim dizer, mos, entretanto, a grande intuição de Freud e sua notável contribui-
encontra-se em condições ótimas para que tal ajustamento ocorra. ção para o estudo do comportamento humano. Convém salientar
Por exemplo, há um momento em que o organismo da criança está que mais recentemente tem havido sérias tentativas no sentido
maturacionalmente pronto para aprender a falar, a andar, etc. Se de testar, experimentalmente, algumas das hipóteses levantadas

251
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
por Freud, como atestam o trabalho de Lindzey e Hall, Silvermam Sullivan é psicanalista, mas dá muita ênfase aos fatores sociais
e outros. Segundo Hall e Lindzey (1970), Freud foi o primeiro a re- do comportamento humano. As relações interpessoais constitui a
conhecer a estrita relação existente sobre o processo evolutivo e a base da personalidade. Na infância, a experiência básica é o medo
personalidade humana. ou ansiedade, resultante da inter-relação com a figura materna.
Embora hoje a influência da teoria psicanalítica não seja tão Através da empatia a criança incorpora personificações positivas e
grande como antes, no campo da psicologia do desenvolvimento, negativas. Nesse período ela forma, também, diferentes autoima-
ela perdura através de reformulações que procuram operacionali- gens: o .bom-eu., o .mau-eu. e o .não-eu.. A idade juvenil é a grande
zar, para fins de pesquisa experimental, alguns dos conceitos funda- fase do processo de socialização. A criança aprende a subordinação
mentais elaborados pelo criador da Psicanálise. e a acomodação social bem como a lidar com o conceito de auto-
Parece razoável dizer-se que, de todas as teorias de personali- ridade.
dade até hoje formuladas, a teoria de Freud é a que mais se apro- A pré-adolescência se caracteriza pela necessidade de com-
xima daquilo que chamam os autores de paradigma na história das panheirismo com pessoas do mesmo sexo e pela capacidade de
ciências. apreciar as necessidades e sentimentos do outro. Na primeira ado-
É verdade que podemos fazer restrições à teoria freudiana do lescência o indivíduo se torna cônscio de três necessidade básicas:
desenvolvimento da personalidade, mas há certos pontos que mes- paixão, intimidade e segurança pessoal, e procura meios de inte-
mo os que não concordam com Freud têm dificuldade em negar. grá-los adequadamente. A segunda adolescência marca o início das
Por exemplo, a tese de que existe uma relação de causa e efeito no relações interpessoais amadurecidas. Na fase adulta o eu se apre-
processo evolutivo, partindo da infância até a vida adulta, parece senta estável e idealmente livre da excessiva ansiedade.
indiscutível à luz das evidências disponíveis. Se bem que o determi- Erickson salienta os aspectos culturais do processo evolutivo
nismo absoluto do passado, implícito na teoria freudiana, mereça da personalidade. Há oito estágios nesse processo, cada um deles
restrições, não se pode negar que experiências prévias são impor- apresenta duas alternativas: quando o estágio evolutivo é satisfato-
tantes na determinação de futuros padrões de comportamento. riamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável;
A grande ênfase da teoria freudiana, quanto ao processo da quando não é atingido, o resultado será uma personalidade emo-
evolução psicológica do homem, concentra-se nos primeiros anos cionalmente imatura ou desajustada. Na infância o indivíduo adqui-
de vida. Daí o fato de que, até recentemente os estudos da psi- re confiança básica ou desconfiança básica. Na meninice ele pode
cologia do desenvolvimento, que sofreram durante muito tempo adquirir o senso de autonomia ou, então, o sentimento de vergo-
grande influência da psicanálise, limitavam-se à infância e à adoles- nha e dúvida. Na fase lúdica a criança pode desenvolver a atitude
cência. A rigor, a psicanálise clássica não tem muito a dizer sobre o de iniciativa ou, quando lhe falta o estímulo do meio, pode desen-
desenvolvimento da personalidade após a adolescência, pois o es- volver o sentimento de culpa e de inadequação. Na idade escolar
tágio genital representa, praticamente, o ponto final e até mesmo, o indivíduo se identifica com o ethos tecnológico de sua cultura
ideal da evolução psicossexual do ser humano. Mais tarde, Freud adquirindo o senso de indústria ou, na ausência dessas condições,
tentou ampliar a extensão desse processo evolutivo, ao elaborar a pode desenvolver o sentimento de inferioridade. Na adolescência a
teoria do impulso para a morte, ou, mais especificamente, a teoria crise psicossocial é o encontro da identidade do indivíduo. Quando
do comportamento agressivo. Não chegou a deixar marcas signifi- isso não ocorre, dá-se a difusão da identidade com repercussões
cativas às demais fases da evolução psicológica do homem, além negativas através de toda a vida.
da infância e da adolescência. Coube a outros psicanalistas a tarefa A vida adulta compreende três fases: adulto jovem, caracteriza-
de ampliar a teoria freudiana quanto a esse aspecto. É o caso, por da por intimidade e solidariedade, do ângulo positivo, e isolamento,
exemplo, de Harry Sullivan e especialmente o de Erik Erikson. do lado negativo; adultícia que se caracteriza ou pela geratividade
A teoria freudiana salienta os conceitos de energia psíquica e ou pela estagnação; e a maturidade que apresenta a integridade ou
de fatores inconscientes de comportamento como ponto de parti- desespero como alternativas.
da. Os impulsos básicos são eros - impulso para a vida, e agressão A teoria cognitiva de Jean Piaget exerce hoje relevante papel
- impulso para a morte. A estrutura da personalidade concebida em todas as áreas da psicologia e, principalmente, nos campos
originalmente, em termos topográficos como consciente, pré-cons- aplicados da educação e da psicoterapia. Abandonando a ideia de
ciente e inconsciente, é substituída pelo conceito dinâmico do id, avaliar o nível de inteligência de um indivíduo por meio de suas res-
que representa as forças biológicas, instintivas da personalidade; postas aos itens de determinados testes, Piaget adotou um método
e ego, que representa o princípio da realidade, e o superego, que clínico através do qual procura acompanhar o processo do pensa-
representa as forças repressivas da sociedade. Há cinco estágios mento da criança para daí chegar ao conceito de inteligência como
da evolução psicossexual: a fase oral, período da vida em que, pra- capacidade geral de adaptação do organismo.
ticamente, a única fonte de prazer é a zona oral do corpo, e que Os conceitos fundamentais da teoria de Piaget são: esquema,
apresenta como principal característica psicológica a dependência ou estrutura, que é a unidade estrutural do desenvolvimento cogni-
emocional. tivo; assimilação, processo pelo qual novos objetos são incorporado
A fase anal, caracterizada pela retentividade, a fase fálica, na aos esquemas; acomodação, que ocorre quando novas experiên-
qual surge o Complexo de Édipo, e o que se caracteriza pelo exi- cias modificam esquemas; equilibração, resolução de tensão entre
bicionismo. A fase latente, em que a energia libidinosa é canaliza- assimilação e acomodação; operação, rotina mental caracterizada
da para outros fins e a fase genital, que representa o alvo ideal do por sua reversibilidade e que representa o elemento principal do
desenvolvimento humano. No processo evolutivo o indivíduo pode processo do desenvolvimento cognitivo. O desenvolvimento cogni-
parar numa fase imatura. Nesse caso se diz que houve uma fixação. tivo se dá em quatro período: o período sensório-motor, caracteri-
O indivíduo pode, também, voltar a formas imaturas do comporta- zado pelas atividades reflexas; o período pré-operacional, em que
mento, em cujo caso se diz que houve uma regressão. Mecanismos a criança pode lidar simbolicamente com certos aspectos da reali-
de defesas são formas pelas quais o eu procura manter sua integri- dade, mas seu pensamento ainda se caracteriza pela responsabili-
dade. Dentro de certos limites são considerados normais. Quando, dade; o período das operações concretas, em que a criança adquire
porém, ultrapassam esses limites, tornam-se patogênicos. o esquema de conservação; e o período das operações formais,
caracterizado pelo pensamento proposicional e que representa o
ideal da evolução cognitiva do ser humano.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Estágio ou períodos de desenvolvimento da vida humana O mecanismo de transmissão hereditária é altamente com-
Os psicólogos do desenvolvimento humano são unânimes em plexo, mas ao nível do presente texto ele consiste essencialmente
estabelecerem fases, períodos para determinar nas várias etapas da no encontro de uma célula germinal masculina e uma feminina. Os
vida do indivíduo. genes, unidades genéticas que fornecem a base do desenvolvimen-
São assim circunscritas por apresentarem características e pa- to, são diretamente responsáveis pela transmissão do patrimônio
drões de si mesmas semelhantes. hereditário.
Sucedem-se, naturalmente, uma a outra, desde o momento da Existe uma diferença fundamental entre fatores genéticos e fa-
concepção até à velhice. tores congênitos no processo de desenvolvimento. Genético só é
Para atender aos objetivos do trabalho, focalizaremos as pri- aquilo que o indivíduo recebe através dos genes. Congênito é tudo
meiras fases de vida até à adolescência. aquilo que influencia desenvolvimento do indivíduo, e que foi ad-
Tomando por base a classificação dos estágios evolutivos se- quirido durante a vida intrauterina, mas não é transmitido através
gundo Jean Piaget, o grande estudioso da gênese e desenvolvimen- dos genes. Ex.: a sífilis é uma doença congênita, porque pode ser
to dos processos cognitivos da criança, existem quatro períodos no adquirida durante a vida intrauterina, mas não é transmitida atra-
desenvolvimento humano: vés dos genes. Logo, a sífilis não é hereditária.
1 - Período sensório-motor: de 0 a 2 anos Durante a vida intrauterina, o indivíduo pode receber a influ-
2 - Período pré-operacional: de 2 a 7 anos ência de vários fatores que determinarão o curso do seu desenvol-
2.1. Pensamento simbólico pré-conceitual: 2 a 4 anos vimento. Dentre esses fatores, salientam-se a idade e a dieta da
2.2. Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos gestante e o uso abusivo de tóxicos, infecções e da própria irradia-
3 - Período das operações intelectuais concretas: 7 a 12 anos ção. Enfermidades que podem ser transmitidas ao indivíduo na vida
4 - Período das operações intelectuais abstratas: dos 12 anos intrauterina, como a sífilis, a rubéola e a diabete, prejudicam o de-
em diante. senvolvimento normal do ser humano.
Analisaremos, a seguir, de maneira muito sucinta, os períodos
Além de serem observados os períodos ou estágios acima, os do desenvolvimento humano, a partir do nascimento, focalizando
estudiosos da psicologia do desenvolvimento humano estabelece- as áreas ou aspectos em cada um deles.
ram áreas ou aspectos para esse estudo. Embora o ser humano seja Segundo Piaget, cada período é caracterizado pelo que de
um todo, integrado, sabemos que existem setores ou áreas para melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os
as quais são dirigidas as atividades e o comportamento humanos, indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequ-
ainda que sejam profundamente interligados. Desta forma, para ência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das
estudo e análise apropriados, o desenvolvimento é estudado nos características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais,
aspectos físico, mental/cognitivo, emocional/ afetivo, social. Muitas sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e
vezes empregam-se outras divisões, agrupando diferentemente as não uma norma rígida.
áreas: psicofísica, sócio-emocional, psicossocial, psicomotora, etc.
Período sensório-motor - 0 a 2 anos
As tarefas evolutivas do processo de desenvolvimento humano Esse período diz respeito ao desenvolvimento do recém-nasci-
são, sobretudo: do e do latente.
a) ter um corpo sadio, forte, residente, desenvolvido; É a fase em que predomina o desenvolvimento das percepções
b) usá-lo como instrumento de expressão e de comunicação e dos movimentos.
social, como meio de participar da vida social, de colaborar com os O desenvolvimento físico é acelerado, pois constitui-se no su-
outros na responsabilidade de fazer sua vida e de melhorar sua qua- porte para o aparecimento de novas habilidades. O desenvolvimen-
lidade e, enfim, uma base consistente sobre a qual a pessoa possa to ósseo, muscular e neurológico permite a emergência e novos
desenvolver o seu espírito; comportamentos, como sentar-se, engatinhar, andar, o que propi-
c) formar o intelecto até alcançar a etapa do pensamento abs- ciará um domínio maior do ambiente.
trato, imprescindível para se compreender com mais profundidade Essa fase do processo é caracterizada por uma série de ajusta-
e realidade humana; mentos que o organismo tem de fazer, em função das demandas
d) alcançar o equilíbrio emocional; do meio. É evidente que o processo de adaptação do organismo
e) a integração social; não se limita a essa fase da vida, mas o que acontece ao indivíduo
f) a consciência moral; nessa fase é crucial na importância para todo o processo do desen-
g) compreender o seu papel, em seu tempo, na comunidade volvimento.
em que vive e ter condições de assumi-lo, decisão e capacidade de Em termos do conceito de tarefas evolutivas, Havighurst as-
realizá-lo. sinala como sendo as principais dessa fase da vida as seguintes:
Para iniciar o estudo das fases do desenvolvimento humano, é aprender a andar e a tomar alimentos sólidos. Aprender a falar e a
necessário que seja focalizado o período que antecede o nascimen- controlar o processo de eliminação de produtos excretórios. Apren-
to, tão importante e decisivo que é para o desenvolvimento, ante- der a diferença básica entre os sexos e a alcançar estabilidade fisio-
rior ao período pré-natal. A vida começa, a rigor, no momento em lógica. Formar conceitos sobre a realidade física e social, aprender
que as células germinais procedentes de seus pais se encontram. as formas básicas do relacionamento emocional e a adquirir as ba-
Modernamente, o desenvolvimento pré-natal tem sido focalizado ses de um sistema de valores.
sob três perspectivas, a saber: do ponto de vista dos fatores heredi- Segundo Piaget, nessa etapa inicial o indivíduo se encontra na
tários, da influência do ambiente durante a vida intrauterina, e do fase sensório-motora do seu desenvolvimento cognitivo. Essa fase
efeito das atitudes das pessoas que constituem o mundo significa- compreende seis sub-fases, a saber: o uso dos reflexos, as reações
tivo da criança. circulares primárias e secundárias, reações circulares, terciárias, e a
O estudo da inter-relação entre esses fatores revela a impor- invenção de novos significados para as coisas através de combina-
tância do desenvolvimento pré-natal sobre as fases subsequentes ções mentais.
do processo evolutivo do ser humano.

253
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Apesar da importância dos aspectos biológicos do desenvolvi- de outros cuidados, mas por sua própria sobrevivência. Nesta fase
mento humano nessa fase, os aspectos psicossociais dessa evolução da vida, a mãe é praticamente a única fonte de prazer da criança e
são os de maior interesse para a psicologia do desenvolvimento. a atitude básica da mãe para com ela determinará a sua atitude bá-
Dentre os aspectos mais importantes do desenvolvimento sica perante a vida. A essa fase oral corresponde uma característica
psicossocial salientam-se os seguintes: a aquisição da linguagem psicológica chamada caráter oral. O indivíduo é dependente emo-
articulada, cujo processo se completará no período pré-operacio- cionalmente de outros. Aparece aglutonomia, o alcoolismo.
nal, é que constitui elementos de fundamental importância para os
outros aspectos do desenvolvimento humano; o desenvolvimento Período pré-operacional - 2 a 7 anos
emocional, através do qual o indivíduo deixa de funcionar a ní- É grande o interesse dos estudiosos sobre a fase da vida huma-
vel puramente biológico e passa ao processo de socialização dos na. Corresponde ao período pre-escolar, considerado a idade áurea
seus próprios atributos fisiológicos e a aquisição do senso moral, da vida, pois é nesse período que o organismo se torna estrutural-
que permite ao indivíduo a formulação de um sistema de valores mente capacitado para o exercício de atividades psicológicas mais
no qual, em muitas circunstâncias, as necessidades secundárias se complexas, como o uso da linguagem articulada. Quase todas as
tornam mais salientes e decisivas do que as próprias necessidades teorias do desenvolvimento humano admitem que a idade de es-
psicológicas ou primárias. tudo é de fundamental importância na vida humana, por ser esse o
Na fase do nascimento aos dois anos de vida as estruturas bá- período em que os fundamentos da personalidade do indivíduo lan-
sicas da personalidade são lançadas. çados na fase anterior começam a tomar formas claras e definidas.
A figura materna, ou substituta, é muito importante para essa Existe um enorme volume de trabalho científico sobre esse pe-
formação, bem como a forma ou a maneira como o indivíduo rece- ríodo, que em termos de pesquisa, em consequente formulação de
be o alimento da figura materna tem profundas repercussões sobre teorias sobre esta fase do desenvolvimento.
seu futuro comportamento em termos da modelagem de sua per- O período pré-operacional é caracterizado por consideráveis
sonalidade. O contato físico é, também, de vital importância para o mudanças físicas, as quais são um desafio para os pais e educado-
desenvolvimento emocional do indivíduo. res, como para as próprias crianças. A terminologia período pre-
Com relação à aquisição do senso moral, sabemos que o mes- -operacional foi dada por Piaget e se refere ao desenvolvimento
mo vai ser incorporado através da aprendizagem social dos valores. cognitivo. No mundo moderno Piaget é, talvez, a figura de maior
Ela é relativa ao meio que o produziu. A princípio o comportamen- relevo no estudo do desenvolvimento dos processos cognitivos do
to moral da criança é de caráter imitativo e mais ou menos guiado ser humano. De acordo com esse cientista, o período pré-operacio-
pelos impulsos. O conceito de certo ou errado para a criança é uma nal é dividido em dois estágios: de dois a quatro anos de idade, em
função de prazer ou de sofrimento que sua ação é capaz de produ- que a criança se caracteriza pelo pensamento egocêntrico, e dos
zir. Esse conceito ainda não é concebido em termos do bem ou do quatro aos sete anos, em que ela se caracteriza pelo pensamento
mal que a criança fez aos outros. Nessa idade a criança ainda não intuitivo. As operações mentais da criança nessa idade se limitam
tem a capacidade intelectual de considerar os efeitos de sua ação aos significados imediatos do mundo infantil.
sobre outras pessoas. Consequentemente ela não sente a necessi- Enquanto no período anterior ao pensamento e raciocínio da
dade de modificar seu comportamento, a não ser quando sua ação criança são limitados a objetos e acontecimentos imediatamente
lhe produz algum desconforto. Isto quer dizer que a criança nessa presentes e diretamente percebidos, no período pré-operacional,
idade ainda não tem propriamente uma consciência moral; ela ain- ao contrário a criança começa a usar símbolos mentais _ imagens
da não tem a capacidade de sentir-se .culpada.. ou palavras que representam objetos que não estão presentes. São
Segundo a teoria psicanalítica, o período de treinamento de características dessa fase o egocentrismo infantil, o animismo, o ar-
toalete desempenha importante papel na formação dos conceitos tificialismo e o finalismo. Também inexiste o conceito de invariância
morais do indivíduo. Aqui pela primeira vez, o indivíduo se defronta e a noção de reversibilidade.
com os conceitos do certo e do errado. Daí, segundo a teoria, o É adquirida a linguagem articulada, e passa por uma sequência
começo de um superego ou de uma consciência moral. Do ponto de de aquisições. A criança nesta fase precisa aprender novas maneiras
vista do desenvolvimento da personalidade, a natureza desse treino de se comportar em seus relacionamentos. Freud descreve os anos
de toalete é de grande significação. pré-escolares como sendo o tempo do conflito de Édipo (para os
Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor nesse particular, meninos) e do complexo de Eletra (para as meninas). Segundo Erik-
ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente meticulosa e su- son, a tarefa primordial da criança nessa idade é resolver o conflito
persensível, sempre perseguido pelo sentimento de culpa. entre a iniciativa e a culpa. Quando os pais são capazes de tratar os
Se, por outro lado, não houve qualquer restrição ao seu com- filhos aplicando a dosagem certa da permissividade e de autorida-
portamento nesse período, ele pode se tornar um tipo humano de- de, as crianças acham mais fácil desenvolver um senso de autono-
sorganizado e com tendências absolutistas prejudiciais a si mesmo mia pessoal.
e à sociedade. O ideal, portanto, seria uma atitude comedida para Nesse estágio, a criança aprende a assumir os papéis sexuais
que se possa antecipar um desenvolvimento normal da personali- considerados aceitáveis pelos pais e pela sociedade.
dade do indivíduo. Os relacionamentos sociais e as atividades lúdicas preparam a
De acordo com Freud, ao primeiro ano de vida o indivíduo está criança para lidar com um mundo mais vasto, fora do círculo fami-
na fase ORAL da evolução psicossexual, ou seja, todo o senso de liar.
prazer que o indivíduo experimenta provem das zonas orais do seu
corpo. A primeira ou única sensação de prazer que a criança expe- Os aspectos mais importantes do desenvolvimento psicossexu-
rimenta é através da boca, pela ingestão de alimentos. O alimento al da idade pré-operacional abrangem os seguintes pontos:
não se refere a simples incorporação de material nutritivo, mas in- 1) a formação de um conceito do .eu., facilitado pela aquisição
clui uma gama de relações humanas e de afetos implícitos no pro- da linguagem articulada;
cesso da alimentação. Uma das características mais óbvias de uma 2) a definição da identidade sexual do indivíduo através da qual
criança nessa idade é sua dependência do mundo adulto, especial- ele aprende a se comportar de acordo com as expectações da so-
mente da figura materna. A criança depende dos outros não só para ciedade;
lhe fornecer o senso do prazer e conforto através da alimentação e

254
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
3) a aquisição de sua consciência moral que vai além da simples ça era inteiramente heteronômica, segundo Piaget, agora ela tende
limitação do comportamento do mundo adulto e que é capaz de a ser autonômica. Uma das melhores evidências dessa mudança de
levar o indivíduo a se sentir culpado em face da violação das regras orientação é a capacidade de sentir-se culpada, e não somente com
de conduta do seu meio social; medo de ser apanhada em falta e castigada.
4) o desenvolvimento dos padrões de agressão que resulta de Os padrões de agressão da criança de idade escolar são influen-
vários fatores dentre os quais se salientam: a severa punição física, ciados por três fatores principais, a saber: pelos pais, pelos com-
identificação com o agressor e a frustração; panheiros e pelos meios de comunicação de massa. Quanto aos
5) as motivações básicas do senso de competência e a neces- pais, os fatores que mais afetam esses padrões de agressão são a
sidade de realização, ambas muito dependentes das condições do rejeição e o castigo físico demasiado severo. Os grupos de parceria
meio e da fundamental importância para o desenvolvimento ade- modificam esses padrões criando rivalidade intergrupal e reduzindo
quado do ser humano. a cooperação entre grupos competitivos. Os meios de comunicação
de massa oferecem modelos de violência, que tendem a aumentar
Período das operações concretas - 7 a 12 anos a agressão dos indivíduos que já possuem certo grau de revolta con-
É a fase escolar, também chamada de período das operações tra as instituições sociais.
concretas. Nesta fase da vida, o crescimento físico é mais lento do
que em fases anteriores, as diferenças resultantes do fator sexo co- Período das operações formais - 12 anos aos 21 anos
meçam a se acentuar mais nitidamente. Corresponde ao período chamado adolescência, que significa
Do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo o indivíduo crescer ou desenvolver-se até a maturidade.
se encontra, na idade escolar, no estágio das operações concretas, Durante muitos séculos, o termo adolescência foi definido qua-
segundo a teoria de Piaget. O pensamento da criança nessa idade se que exclusivamente, em função dos seus aspectos biológicos.
apresenta as características de reversibilidade e de associação que Adolescência e puberdade eram usadas como palavras sinônimas.
lhe permitem interpretar eventos independentemente do seu ar- Modernamente, entretanto, a adolescência deixou de ser um
ranjo atual. Nesse estágio, entretanto, a criança ainda se limita, em conceito puramente biológico e passou a ter, sobretudo, uma co-
termos cognitivos, ao seu mundo imediato e concretamente real. notação psicossocial. É baseado neste conceito que Munuss (1971),
Este período, ou idade escolar, segundo a teoria freudiana, define adolescência em termos sociológicos, psicológicos e crono-
corresponde ao estágio latente, assim designado por que nela a li- lógicos.
bido não exerce grande influência no comportamento observável Cronologicamente, a adolescência, ao menos nas culturas oci-
do indivíduo, visto que praticamente toda a sua energia é utilizada dentais, é o período da vida humana que vai dos doze ou treze anos
no sentido de adquirir as competências básicas para a vida em so- até mais ou menos aos vinte dois ou vinte e quatro anos de idade,
ciedade. O ponto mais importante a salientar nesta fase da vida, admitindo-se consideráveis variações. Tanto de ordem individual e,
no contexto da teoria psicanalítica, é o conceito de mecanismo de sobretudo, de ordem cultural.
defesa, dos quais se distinguem a negação, a identificação com o Sociologicamente, adolescência seria o período de transição
agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a regressão, a em que o indivíduo passa de um estado de dependência do seu
racionalização e a projeção. mundo maior para uma condição de autonomia e, sobretudo, em
Segundo a teoria de Erickson, a crise psicossocial da idade es- que o indivíduo começa a assumir determinadas funções e respon-
colar se encontra nos pólos industriais versus inferioridade. Depen- sabilidades características do mundo adulto.
dendo do resultado da solução dessa crise evolutiva, o indivíduo Do ponto de vista psicológico, a adolescência é o período crí-
pode emergir como ser capaz e produtivo, ou como alguém com tico de definição da identidade do .eu., cujas repercussões podem
um profundo e persistente sentimento de incompetência e de in- ser de graves consequências para o indivíduo e a sociedade.
ferioridade. Vale ressaltar a diferença entre os termos puberdade, pubes-
Nessa idade, de acordo com Sullivan, o indivíduo adquire os cência e adolescência. A puberdade é o estágio evolutivo em que
conceitos de “subordinação social” que podem ajudá-lo a ajustar-se o indivíduo alcança a sua maturidade sexual. A data exata em que
à vida em sociedade. Nesta idade, os “padrões supervisores” contri- ocorre o amadurecimento sexual do ser humano, diz Munuss, varia
buem para a formação de uma autoimagem através das expectati- de acordo com fatores de ordem sócioeconômica e geográfica. Por
vas do mundo social do indivíduo. Mas, sobretudo, a idade escolar é exemplo, a maturidade sexual tende a ocorrer mais cedo em indiví-
importante porque nela a criança adquire o conceito de “orientação duos que vivem em climas temperados e que pertencem a classes
na vida”, através do qual ela realiza a integração dos vários fatores sociais mais elevadas. Em zonas tropicais, e também por influência
sócioemocionais do processo de desenvolvimento. de fatores nutricionais, esse amadurecimento sexual tende a ocor-
No ajustamento psicossocial os grupos de parceria e a esco- rer um pouco mais tarde. Pubescência seria o período, também
la representam relevante papel. Os grupos de parceria oferecem à chamado de pré-adolescência, caracterizado pelas mudanças bio-
criança nessa idade certo apoio social, modelos humanos a imitar, lógicas associadas com a maturação sexual. É o período de desen-
a noção fundamental dos diferentes papéis que os indivíduos exer- volvimento fisiológico durante o qual as funções reprodutoras ama-
cem na sociedade, e certos padrões de autoavaliação. Por sua vez, durecem; é filogenético e inclui o aparecimento de características
a escola oferece à criança a oportunidade de lidar com figuras que sexuais secundárias e a maturidade fisiológica dos órgãos sexuais
representam autoridade fora do ambiente do lar. primários. Estas mudanças ocorrem num período de aproximada-
No período das operações concretas, ou seja, época deno- mente dois anos. Adolescência é um conceito mais amplo e inclui
minada fase escolar, o autoconceito assume forma mais definida, mudanças consideráveis nas estruturas da personalidade e nas fun-
especialmente porque aqui a criança aprende que é um indivíduo ções que o indivíduo exerce na sociedade. Em síntese, o conceito
diferente dos demais. É assim que ela é tratada por seus profes- moderno de adolescência não se confunde com puberdade, como
sores e colegas. Esse tratamento recebido e também dispensado fato biológico, nem tampouco com pubescência, como estágio de
aos outros contribui para acentuar a identidade sexual da criança transição marcada por grandes mudanças fisiológicas. Adolescência
de idade escolar. Quanto ao conceito de moralidade nessa fase é um conceito psicossocial. Representa uma fase crítica no processo
da vida, talvez o ponto mais importante seja a mudança quanto à evolutivo me que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajusta-
orientação ou ponto de referência. Antes, a decisão moral da crian- mentos de ordem pessoal e de ordem social. Entre estes ajustamen-

255
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tos, temos a luta pela independência financeira e emocional, a es- As principais tarefas evolutivas da adolescência, segundo Havi-
colha de uma vocação e a própria identidade sexual. Como conceito ghurst, são as seguintes: aceitar e aproveitar ao máximo o próprio
psicossocial, a adolescência não está necessariamente limitada corpo; estabelecer relações sociais mais adultas com companheiros
aos fatores cronológicos. Em determinadas sociedades primitivas, de ambos os sexos; chegar a ser independente dos pais e de outros
a adolescência é bastante curta e termina com os ritos de passa- adultos, dos pontos de vista emocional e pessoal; escolha de uma
gem em que os indivíduos, principalmente os de sexo masculino, ocupação e preparação para a mesma; preparação para o noivado
são admitidos no mundo adulto. Na maioria das culturas ocidentais, e o matrimônio; desenvolvimento de civismo; conquista de uma
entretanto, a adolescência se prolonga por mais tempo e pode-se identidade pessoal, uma escala de valores e uma filosofia de vida.
dizer que a ausência de ritos de passagem torna essa fase de transi- Do ponto de vista cognitivo e segundo Jean Piaget, o adolescen-
ção um período ambíguo da vida humana. Portanto, diz Munuss, só te está no estágio das operações formais. Segundo Piaget, o amadu-
se pode falar sobre o término da adolescência em termos de idade recimento biológico do adolescente torna possível a aquisição das
cronológica à luz do contexto sóciocultural do indivíduo. O que, de operações formais, que representam o ponto máximo do processo
fato, marca o fim da adolescência são os ajustamentos normais do do desenvolvimento cognitivo. As operações formais, entretanto,
indivíduo aos padrões de expectativas da sociedade com relação às não são um dado a priori, mas dependem da interação do organis-
populações adultas. mo com o meio. A aquisição das operações formais é de fundamen-
Do ponto de vista de um conceito psicossocial da adolescên- tal importância, especialmente em face do enorme progresso das
cia, podemos dizer, como observa Hurlock (1975), que ela é um ciências naturais em nosso século. Elas são, também, necessárias a
período de transição na vida humana. O adolescente não é mais todo o processo de ajustamento social do adolescente.2
criança, porém, ainda não é adulto. Esta condição ambígua tende a
gerar confusão na mente do adolescente, que não sabe exatamente
qual o papel que tem na sociedade. Esta confusão começa a de- APRENDENDO A APRENDER
saparecer na medida em que o adolescente define sua identidade
psicológica. A adolescência é, também, um período de mudanças Quando entendida na perspectiva do senso comum, a relação
significativas na vida humana. Hurlock fala de quatro mudanças de ensino-aprendizagem é linear; assim, quando há ensino, deve ne-
profunda repercussão nessa fase. A primeira delas é a elevação do cessariamente haver aprendizagem.
tônus emocional, cuja intensidade depende da rapidez com que as Ao inverso, quando não houve aprendizagem, não houve en-
mudanças físicas e psicológicas ocorrem na experiência do indiví- sino. Desse modo, o ensino é subordinado à aprendizagem. Essa
duo. A segunda mudança significativa dessa fase da vida é decor- subordinação é expressa em concepções que compreendem o pro-
rente do amadurecimento sexual que ocorre quando o adolescente fessor como facilitador da aprendizagem, ou ainda como mediador
se encontra inseguro com relação a si mesmo, a suas habilidades do conhecimento.
e seus interesses. O adolescente experimenta nesta fase da vida o Aqui a proposta é discutir referências teóricas e metodológicas
sentimento de instabilidade, especialmente em face do tratamen- que possam revelar uma concepção não linear da relação em foco,
to muito ambíguo que recebe do seu mundo exterior. Em terceiro bem como criticar as concepções de professor facilitador e profes-
lugar, as mudanças que ocorrem no seu corpo, nos seus interesses sor mediador.
e nas suas funções sociais, criam problemas para o adolescente por- A mediação no campo educacional é geralmente considerada
que, muitas vezes, ele não sabe o que o grupo espera dele. E, final- como o produto de uma relação entre dois termos distintos que,
mente, há mudanças consideráveis na vida do adolescente quanto por meio dela podem ser homogeneizados. Essa homogeneização
ao sistema de valores. Muitas coisas que antes eram importantes, elimina a diferença entre eles e, por conseguinte, a possibilidade de
para ele, passam a ser consideradas como algo de ordem secun- conflito entre ambos. Portanto, quando se compreende a mediação
dária, a capacidade intelectual do adolescente lhe dá condição de como o resultado, como um produto, a necessária relação entre
analisar de modo crítico o sistema de valores a que foi exposto e dois termos se reduz à sua soma, o que resulta na sua anulação mú-
a que, até então, respondem de modo mais ou menos automáti- tua, levando-os ao equilíbrio. Essa ideia concebe a mediação como
co. Porém, agora o adolescente está em busca de algo que lhe seja o resultado da aproximação entre dois termos que, embora distin-
próprio, algo pelo qual ele possa assumir responsabilidade pessoal. tos no início, quando totalmente separados, tendem a igualar-se à
Daí, então, as lutas por que passa o ser humano nessa fase da vida, medida que se aproximam um do outro.
no sentido da vida, no sentido de definir seu próprio sistema de Em estudos desse contexto discute-se o conceito de mediação
valores, seus próprios padrões de comportamento moral. local, indicando que mediar implica solucionar conflitos por meio
A adolescência é, também, um período em que o indivíduo tem de ações educativas. Assim, a mediação restringe-se a uma ação
que lutar contra o estereótipo social e contra uma autoimagem dis- pragmática, circunscrita a uma situação de conflito. Este entendi-
torcida dele decorrente. A cultura tende a ver o adolescente como mento da mediação não é muito distante daquele em que ela é
um indivíduo desajeitado, irresponsável e inclinado às mais varia- compreendida na situação da sala de aula.
das formas de comportamento antissocial. A mediação na sala de aula é também pragmática, pois preten-
Por sua vez, o adolescente vai desenvolvendo uma autoima- de que o aluno aprenda de modo imediato. Nos dois casos, em que
gem que reflete, de alguma forma, esse estereótipo da sociedade. mediar é agir de modo pragmático, todo conflito pode ser “solucio-
Essa condição indesejável ordinariamente cria conflitos entre pais nado”, e o aluno pode “aprender”.
e filhos, entre o adolescente e a escola, entre o adolescente e a Para compreendermos a mediação na sala de aula, é preciso,
sociedade em geral. em primeiro lugar, estabelecermos que o estudante está sempre
A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações, no plano do imediato, e o professor está, ou deveria estar, no pla-
mesmo que não sejam sempre, realistas. De acordo com o próprio no do mediato. Assim, entre eles se estabelece uma mediação que
Piaget, nessa fase da vida a possibilidade é mais importante do que visa, como já o dissemos, a superação do imediato no mediato. Em
a realidade. Com o amadurecimento normal do ser humano é que outras palavras, o estudante deve superar a sua compreensão ime-
ele vai aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável. diata e ascender a outra que é mediata. E isso só pode ocorrer pela
Na adolescência, como nas demais fases da vida, o indivíduo ação do professor que medeia com o aluno, estabelecendo com ele
tem que cumprir tarefas evolutivas.
2 Fonte: www.cedeca.org.br

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
uma tensão que implica negar o seu cotidiano. Por outro lado, o alu- Quando se compreende a relação ensino-aprendizagem na
no tentará trazer o professor para o cotidiano vivido por ele, aluno, sala de aula como mediação, o ensino e aprendizagem são opostos
negando, assim, o conhecimento veiculado pelo professor. Nessa entre si e se relacionam por meio de uma tensão dialética. Desse
luta de contrários – professor e aluno, conhecimento sistematizado modo, esses termos, apesar de negarem-se mutuamente, se com-
pela humanidade e experiência cotidiana – é que se dá a media- pletam, mas, como já o dissemos, essa unidade não se estabelece
ção; e ela ocorre nos dois sentidos, tanto do professor para o aluno de modo linear.
quanto do a É uma luta de contrários. Neste artigo, conceituaremos primeiro o ensino e, pela sua
Esse modo de compreender a mediação não aceita a ideia do negação, conceituaremos aprendizagem. Sabemos da dificuldade
professor mediador do conhecimento, tampouco a noção de pro- de conceituar esses dois termos, pois de modo geral os estudiosos
fessor facilitador da aprendizagem. da área de educação e os professores, talvez por influência das pe-
Essas duas acepções são equivocadas, porque, em primeiro dagogias contemporâneas, não o fazem; pois preocupam-se quase
lugar, o professor não é o único mediador, pois o aluno também exclusivamente com o “como ensinar”, ou mais precisamente como
medeia, e, em segundo lugar, a mediação não se estabelece com facilitar a aprendizagem dos alunos.
o conhecimento e sim entre o aluno e o professor. Trata-se de uma A ideia principal que informa o nosso conceito de ensino é a
automediação no segundo sentido atribuído por Mészáros; ou seja, de que ele expressa a relação que o professor estabelece com o
a mediação entre o homem e os outros homens: aluno para o pro- conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade. Assim,
fessor. Em outros termos, a mediação, na escola, é um processo que o ensino constitui-se de três atividades distintas a serem desenvol-
ocorre a sala de aula e promove a superação do imediato no media- vidas pelo professor.
to por meio de uma tensão dialética entre pólos opostos. A primeira consiste em, diante de um tema, selecionar o que
deve ser apresentado aos alunos; por exemplo, no tema “Revolução
A relação entre o homem e a natureza é ‘automediadora’ Francesa”, próprio da História, selecionar o que é mais importante
num duplo sentido. Primeiro, porque é a natureza que propicia a ensinar aos alunos da 5ª série (nomenclatura brasileira). Já o pro-
mediação entre si mesma e o homem; segundo, porque a própria fessor do 1º ano do Ensino Médio deve defrontar-se com a mesma
atividade mediadora é apenas um atributo do homem, localizado pergunta; a mesma situação se coloca ao professor universitário
numa parte específica da natureza. Assim,na atividade produtiva, encarregado de abordá-lo. Dessa forma, o docente deve preocu-
sob o primeiro desses dois aspectos ontológicos a natureza faz a par-se em compatibilizar a seleção do conhecimento a ser ensina-
mediação entre si mesma e a natureza; e, sob o segundo aspecto do com a possibilidade de aprendizagem dos alunos. Nos dias de
ontológico - em virtude do fato de ser a atividade produtiva ine- hoje, é bastante comum que a seleção seja abrangente; e isso pode
rentemente social - o homem faz a mediação ente si mesmo e os levar os professores a apresentarem aos seus alunos informações
demais homens. (Mészáros, 1981, p.77-78) supérfluas, que, quando confundidas com conhecimento, não lhes
Sendo a mediação na sala de aula uma automediação, não po- permitem fazer as sínteses necessárias para a superação do cotidia-
demos abrir mão da relação direta entre professor e aluno. Desse no, produzindo neles uma “erudição balofa” que pode ao contrário
modo, não podemos substituí-la por falsos mediadores, como por encerrá-los na vida cotidiana. Esse equívoco ocorre, por exemplo,
exemplo, a exibição de filmes quando a temática não corresponde quando o professor de História, ao abordar a Revolução francesa,
àquela tratada pelo professor, ou a execução aleatório de atividades preocupa-se com detalhes da vida privada de Maria Antonieta ou
de ensino. Os professores que se utilizam com frequência desses com a moda ditada por Luís XV. Ainda exemplificando, o mesmo
recursos nutrem a esperança de que essas práticas sejam capazes pode ocorrer com o professor de Literatura que expõe aos alunos
de estabelecer mediações que eles, os professores, talvez não se os períodos literários e seus principais expoentes sem apresentar as
sintam seguros para desenvolver. Alguns professores precisam ser relações entre os autores, bem como entre os períodos literários,
lembrados de que sala de aula não é sala de cinema nem oficina de ocultando assim a historicidade inerente à literatura.
terapia ocupacional. A erudição balofa pode também estar presente nas disciplinas
Os professores que se utilizam desses artifícios o fazem muitas ligadas às ciências naturais; ela tem levado os professores a acredi-
vezes no intuito de facilitar a aprendizagem; porém, sendo a rela- tar que quanto maior a quantidade de informações mais os alunos
ção entre o ensino e a aprendizagem uma luta de contrários, não sabem.
há como facilitá-la. Ao inverso, o professor deve dificultar a vida A segunda atividade desenvolvida pelo professor é a organiza-
cotidiana do aluno inserindo nela o conhecimento, e, dessa forma, ção, ou seja, diante da seleção feita a partir de um tema é preciso
negando-a. Pois, na vida cotidiana não há conhecimento e sim ex- organizar esta seleção para apresentá-la aos alunos. Desde o mo-
periência. Desse modo, não há como facilitar o que é difícil. Apren- mento em que fazemos a seleção já não podemos falar mais em te-
der é difícil. mas; devemos preocupar-nos com os conceitos que os constituem.
será sempre necessário que ela [criança] se fatigue a fim de Agora o que o professor deve fazer é organizar os conceitos e as
aprender e que se obrigue a privações e limitações de movimento relações entre eles. Esse processo, de acordo com Lefebvre (1983),
físico isto é que se submeta a um tirocínio psicofísico. Deve-se con- implica dois movimentos: a retrospecção e a prospecção.
vencer a muita gente que o estudo é também um trabalho e muito A retrospecção permite que o estudante compreenda o pro-
fatigante com um tirocínio particular próprio, não só muscular-ner- cesso de formação e desenvolvimento do conceito abordado e a
voso mas intelectual: é um processo de adaptação, é um hábito ad- prospecção possibilita o entendimento do estado atual do conceito
quirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento. (Gramsci, a partir das relações que o conceito estudado estabelece com ou-
1985, p. 89) tros, tanto com aqueles que o corroboram quanto com os que a
Como assinala Gramsci, a aprendizagem depende do esforço ele se opõem. A prospecção do conceito permite o estabelecimento
pessoal de cada estudante. É claro que o professor sempre pode- de relações interdisciplinares, a que temos chamado de interdisci-
rá intervir, de modo direto, neste processo, auxiliando o aluno. Ele plinaridade conceitual para distingui-la daquela que é corrente na
deve esforçar-se para que os estudantes aprendam, mas não pode escola, a interdisciplinaridade temática. Não podemos ensinar por
minimizar nem esconder as dificuldades inerentes à aprendizagem. meio do tema, devemos fazê-lo por meio do conceito. Evitamos o
uso da expressão conteúdo de ensino em virtude da sua impreci-
são. Quando a organização do ensino é baseada nos processos de

257
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
retrospecção e prospecção de conceitos, o fundamental são as re- mento dos demais momentos da organização didática do processo,
lações que se estabelecem nos dois processos. No primeiro, elas apenas responde a uma questão metodológica para seu melhor
dizem respeito ao desenvolvimento do conceito, à oposição entre a tratamento.
sua origem e o estado atual, no segundo, elas tratam dos vínculos No universo da educação, especialmente no ambiente esco-
entre conceitos. Assim, podemos afirmar que ensinar é fazer rela- lar a palavra didática está presente de forma imperativa, afinal são
ções. Por isso, ensinar é tão difícil quanto aprender. componentes fundamentais do cotidiano escolar os materiais didá-
A terceira tarefa do professor é transmitir aos alunos aqui- ticos, livros didáticos, projetos didáticos e a própria didática como
lo que foi previamente selecionado e organizado. Dessa forma, a um instrumento qualificador do trabalho do professor em sala de
transmissão é a única etapa do processo de ensino que ocorre efeti- aula. Afinal, a partir do significado atribuído à didática no campo
vamente na sala de aula. Em que pese o preconceito sobre a palavra educacional, é comum ouvir que o professor x ou y é um bom pro-
transmissão, não abrimos mão dela, porque é isso o que o professor fessor porque tem didática.
faz na sala de aula. É na transmissão do conhecimento que ocorrem Para as teorias da educação, porém, a didática é mais do que
as mediações entre professores e alunos. um termo utilizado para representar a dicotomia entre o bom e o
Se o ensino é a relação que o professor estabelece com o co- mal professor ou para designar os materiais utilizados no ambiente
nhecimento, a aprendizagem ao contrário é a relação que o estu- escolar. Termo de origem grega (didaktiké), a didática foi instituída
dante estabelece com o conhecimento e, portanto, é nela que a no século XVI como ciência reguladora doensino.
mediação se efetiva: pela superação do imediato no mediato. Mais tarde Comenius atribuiu seu caráter pedagógico ao defini-
Não é possível discutir a aprendizagem como fizemos com o -la como a arte de ensinar.
ensino, porque ela é de cunho singular e, dessa forma, ocorre de
modo diverso em cada estudante. A discussão da aprendizagem Nos dias atuais, a definição de didática ganhou contornos mais
na perspectiva deste texto, ou seja, em oposição ao ensino, ainda amplos e deve ser compreendida enquanto um campo de estudo
deve ser elaborada e, certamente, não poderá sê-lo pela psicologia, que discute as questões que envolvem os processos de ensino.
mas sim pela filosofia. A única possibilidade, ainda que remota no Nessa perspectiva a didática pode ser definida como um ramo da
âmbito da psicologia, estaria no desenvolvimento do pensamento ciência pedagógica voltada para a formação do aluno em função de
de Vigotski, desde que compreendido numa perspectiva filosófica, finalidades educativas e que tem como objeto de estudo os proces-
pois a psicologia como ciência tem por objeto o comportamento, e sos de ensino e aprendizageme as relações que se estabelecem en-
aprender não é o mesmo que comportar-se, em que pese o esforço tre o ato de ensinar (professor) e o ato de aprender (aluno). Nesta
das pedagogias contemporâneas em desenvolver esta associação. perspectiva a didática passa a abordar o ensino ou a arte de ensinar
Do nosso ponto de vista, o que a psicologia, no seu estado atual, como um trabalho de mediação de ações pré-definidas destinadas
pode fazer é controlar a aprendizagem, o que é diferente de com- à aprendizagem, criando condições e estratégias que assegurem a
preendê-la. Quando a relação ensino-aprendizagem é tomada na construção do conhecimento.
perspectiva da mediação no seu sentido original, ao mesmo tempo Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa pro-
em que não há uma relação direta entre ensino e aprendizagem, por princípios, formas e diretrizes que são comuns ao ensino de
não há também uma desvinculação desses dois processos. Ou seja, todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prática de
para haver aprendizagem, necessariamente deve haver ensino. ensino, mas se propõe a compreender a relação que se estabelece
Porém, eles não ocorrem de modo simultâneo. Dessa forma, o entre três elementos: professor, aluno e a matéria a ser ensinada.
professor pode desenvolver o ensino – selecionar, organizar e trans- Ao investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem media-
mitir o conhecimento – e o aluno pode não aprender. das por um ato didático, procura compreender também as relações
Para que o aluno aprenda, ele precisa desenvolver sua síntese que o aluno estabelece com os objetos do conhecimento. Para isso
singular do conhecimento transmitido, e isso se dá pelo confron- privilegia a análise das condições de ensino e suas relações com os
to, por meio da negação mútua, desse conhecimento com a vida objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino.
cotidiana do aluno. Como cada aluno tem um cotidiano, e o co- Entretanto, postular que o campo de estudo da Didática é res-
nhecimento é aprendido por meio da síntese já explicitada, o co- ponsável por produzir conhecimentos sobre modos de transmissão
nhecimento não pode ser aprendido igualmente por todos os alu- de conteúdos curriculares através de métodos e conhecimentos
nos, embora aquele transmitido pelo professor seja único. Assim, não deve reduzir a Didática a visão de estudo meramente tecnicis-
a relação ensino-aprendizagem na perspectiva aqui apresentada ta. Ao contrário, a produção de conhecimentos sobre as técnicas de
expressa o vínculo dialético entre unidade e diversidade. Por isso, ensino oriundos desse campo de estudo tem por objetivo tornar
o conhecimento transmitido pelo professor pode ser uno e aquele a pratica docente reflexiva, para que a ação do professor não seja
aprendido pelo aluno pode ser diverso. A unidade e a diversidade uma mera reprodução de estratégias presentes em livros didáticos
são opostos que se completam, ou e é próprio do humano. ou manuais de ensino. Não basta ao professor reproduzir pressu-
postos teóricos ou programas disciplinares pré-estabelecidos, as
A organização didática do processo de ensino-aprendizagem informações acumuladas na prática ao longo do processo ensino-
Passa por três momentos importantes: o planejamento, a -aprendizagem devem despertar a capacidade crítica capaz de pro-
execução e a avaliação. Como processo, esses momentos sempre porcionar questionamentos e reflexões sobre essas informações a
se apresentam inacabados, incompletos, imperfeitos, flexíveis e fim de garantir uma transformação na prática. Como um processo
abertos a novas reformulações e contribuições dos professores e em constante transformação, a formação do educador exige esta
dos próprios alunos, com a finalidade de aperfeiçoá-los de manei- interligação entre a teoria e a prática como forma de desenvolvi-
ra continua e permanente à luz das teorias mais contemporâneas. mento da capacidade crítica profissional.3
Como processo, esses momentos também se apresentam interliga-
dos uns ao outros, sendo difícil identificarem onde termina um para Ensino e conteúdo escolar: a importância da mediação
dar lugar ao outro e vice-versa. Há execução e avaliação enquanto Uma observação atenta às práticas pedagógicas, revela a exis-
se planeja; há planejamento e avaliação enquanto se executa; há tência, na escola, de um encaminhamento metodológico há muito
planejamento e execução enquanto se avalia. No texto pretende- consagrado. É priorizada uma forma de ensino em que a introdução
mos estudar o Planejamento, deixando claro que separar o planeja-
3 Fonte: www.infoescola.com

258
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de novos conceitos segue sempre a mesma estrutura: um peque- e valendo-se da observação ou manipulação, os conceitos espon-
no texto, às vezes, com apenas uma frase, acompanhado de vários tâneos são, essencialmente, empíricos e vinculados a traços sen-
exemplos. Após a apresentação do conceito, surgem os exercícios soriais, dados diretamente pelo objeto, por isto nem sempre este
que, normalmente, exigem a reprodução das mesmas palavras e saber contextualiza os fatos, nem sempre se constitui numa via de
exemplos citados. Na sequência, um novo texto apresenta um novo compreensão das próprias experiências vividas. Espera-se, portan-
conceito e a dinâmica se repete. Pode-se constatar que, apesar de to, que a escola trabalhe com conhecimentos que ultrapassem as
o ensino centrar-se em conceitos, não há preocupação com a aqui- impressões/explicações imediatas.
sição ou formação destes, isto é, com a elaboração de novos signi- Possibilidade esta propiciada pela aprendizagem de conceitos
ficados. científicos, organizados em um sistema de inter-relações. Tal apren-
Os textos, exemplos e exercícios levam, tão somente, à identifi- dizagem exige operações mentais complexas que dirigem a cons-
cação de conceitos. Solicita-se a classificação de objetos em deter- ciência ao próprio conceito, ao ato do pensamento. O conhecimen-
minadas categorias e não a formação de categorias. Um exemplo to desvincula-se, desta forma, do objeto particular, evidenciando,
disto está, inclusive, explícito nos objetivos propostos por muitos em primeiro plano, as relações de generalidade.
planejamentos: identificar, reconhecer, nomear, classificar, citar... Conforme Davydov (1988), quanto mais alto o nível de genera-
Ao aluno resta a tarefa de “fixar” ou reconhecer atributos num âm- lização, mais abstrato e teórico será o pensamento, sendo a capa-
bito previamente definido. Esta forma escolar de ensino tem como cidade de pensar abstratamente, interpretada por ele, como índice
representante maior o livro didático. E, embora, após várias críti- de um elevado nível de desenvolvimento do pensamento.
cas dirigidas a esses manuais, algumas escolas tenham deixado de Sobre esta questão, Kostiuk (1977, p. 53) explica: “...o que a
adotá-los, não raro, mantêm o modelo de apresentação, fixação e criança adquire nas relações com os adultos e com os seus coetâ-
avaliação dos conteúdos, tradicionalmente incorporado como sen- neos a leva sucessivamente à organização da sua própria ativida-
do a forma de ensinar e aprender. Diante desse ensino é importante de, ao aparecimento de novas características psico-intelectuais”.
perguntar: tal sistema assegura o desenvolvimento no aluno, das O autor prossegue: promover o desenvolvimento no âmbito da
capacidades necessárias ao homem na sociedade atual? educação escolar significa organizar essa interação, dar à criança
Para que o saber escolar e, junto com ele, as capacidades pos- elementos — de conteúdo e método — para que ela, por meio do
sam ser apreendidos pelo aluno e reconstruídos internamente, em saber científico, conheça a realidade sócio-cultural da qual é parte;
pensamento, é preciso que, antes, estejam claros e devidamente forme concepções, conceitos; adquira habilidade para abstrair, ge-
articulados na relação entre professor, conhecimento, aluno. Em neralizar, relacionar e deduzir; enfim, que esse saber mediatizado
função de ser, ainda, bastante presente a concepção de que o de- gere a curiosidade, a iniciativa, a independência na assimilação de
senvolvimento precede a aprendizagem, o ensino, na maioria das novos conhecimentos.
escolas, não é organizado com a intenção de promover o desen-
volvimento cognitivo dos alunos. Note-se que as funções psicointe- Do potencial de desenvolvimento no processo ensino/apren-
lectuais, para se tornarem propriedades individuais, elaboram-se, dizagem
necessariamente, primeiro no plano externo, das interações. Não Há uma relação íntima e complexa entre aprendizagem, de-
se trata de uma construção isolada do sujeito, ao contrário, ela é senvolvimento e ensino. A este último compete criar condições
sócio-individual. Como escreve Kostiuk (1977, p. 68-9): “O desen- necessárias para que o desenvolvimento se realize: “O processo
volvimento psíquico não é uma simples réplica das influências edu- educativo, ao colocar a criança perante novos fins e novas tarefas,
cativas a que a criança está sujeita, não é uma simples acumulação ao colocar novas perguntas e procurar os meios necessários, con-
quantitativa estratificada daquilo que a criança adquire nos diferen- duz o desenvolvimento” (Kostiuk, 1977, p. 67). No entanto, essa
tes atos da atividade escolar ou de outro gênero. Há uma seleção, dependência não é unilateral. A educação, por sua vez, serve-se do
uma transformação interna, uma reorganização, uma amálgama, desenvolvimento da criança, do que ela já dispõe em termos de
uma interação, em conseqüência do que uma característica pode conhecimentos e capacidades. Assim, fica configurada uma relação
desaparecer quando aparece e se desenvolve outra”. de cumplicidade mútua entre ensino, aprendizagem e desenvolvi-
A educação interfere diretamente na atividade cognoscitiva e mento, destacando-se que, no início, o primeiro tem a incumbência
afetiva da criança, na passagem do senso comum para o pensamen- de provocar os demais.
to mais elaborado, científico. Na idade pré-escolar, a aprendizagem As noções adquiridas socialmente, sobretudo por meio da lin-
não é sistematicamente planejada, as regulações provenientes da- guagem, não resultam apenas numa acumulação quantitativa de
queles com quem a criança convive são menos intensas e criterio- sistemas de associações que refletem a ação no mundo exterior. Es-
sas. Já no período de escolarização, ela é submetida a um processo sas aquisições modificam qualitativamente as formas de atividade
intencional de elaboração do conhecimento, isto é, previamente cognitiva, favorecendo o desenvolvimento de múltiplas capacida-
planejado. Aqui, as funções cognitivas se complexificam, aumen- des. Além do que, produzem constantes reorganizações no sistema
tando, por decorrência, a responsabilidade do professor, que par- nervoso central, as quais refletem-se, principalmente, na qualidade
ticipa próxima e intensamente desse processo. Os alunos, de um do pensamento. Bogoyavlensky e Menchinskaya (1977) postulam
modo ou de outro, estão à mercê de seus desígnios. Os conteúdos que o conteúdo escolar exerce uma influência extremamente sig-
escolares, os mecanismos de raciocínio e de análise, empregados nificativa na formação dos processos cognoscitivos e nos modos de
pelo professor, se apreendidos pelos alunos, tornam-se instrumen- pensamento. Esclarecem, ainda, que nem toda aprendizagem de
tos do pensamento também destes últimos. conteúdo resulta em desenvolvimento de capacidades e operações
Segundo Vygotsky (1989), a criança não inicia sua aprendi- mentais.
zagem na escola, ao contrário, quando ingressa nesta instituição, A aprendizagem resulta em desenvolvimento quando a criança
traz consigo inúmeros e variados conteúdos aprendidos com seus aplica as operações mentais, apreendidas em uma dada situação,
familiares, em outras instituições, enfim em seu dia-a-dia. Estes em outras diferentes, e o faz com desenvoltura. O professor pode e
conhecimentos prévios, espontâneos, são transmitidos informal- deve atuar nesse processo formativo, mantendo com o aluno uma
mente nas interações firmadas diariamente com as pessoas de seu interação pautada na consciência da co-responsabilidade.
grupo imediato e/ou por intermédio dos meios de comunicação.
Por serem formados em situações cotidianas, de maneira imediata

259
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Ao se discutir as imbricações entre aprendizagem, desenvolvi- vem a percepção, a memória, o raciocínio e que e transformam,
mento e ensino, é preciso considerar, também, os dois níveis de aos poucos, em ações intra-individuais, constituindo-se no ponto
desenvolvimento descritos por Vygotsky (1988): o nível real, que de apoio para uma próxima aprendizagem.
equivale a conceitos, valores, regras e funções já estabelecidos e o Quando um conteúdo é ensinado, o objetivo não é que o aluno
nível potencial, que diz respeito a esses mesmos processos, porém, simplesmente repita palavras sem compreender o que está dizen-
em formação. Lembrando que, no primeiro nível, o sujeito é auto- do. A finalidade é levá-lo a reelaborar, a atribuir significados com
-suficiente em seu desempenho, enquanto no segundo ele requer diferentes palavras e com um vocabulário que lhe pertença, sem
apoio, orientação. Pois bem, um ensino que apenas se utiliza de deixar de expressar os significados essenciais, de modo coerente
capacidades e conceitos já formados não faz sentido. O ensino só se com a realidade e cientificamente aceitos. Com isso, não se está
justifica se for capaz de produzir a formação de novas capacidades, dizendo que basta o aluno ampliar seu vocabulário ou suas defini-
principalmente, de análise (abstração) e síntese (generalização) ções. A aprendizagem requer o estabelecimento de relações entre
junto à aprendizagem de novos conceitos, incidindo, assim, sobre a os termos, reconhecendo-os em diferentes contextos e situações.
forma e conteúdo do pensamento do aluno. Em outras palavras, se Implica expor e confrontar idéias e explicações sobre determinados
provocar e levar a efeito níveis mais plásticos de desenvolvimento fenômenos, percebendo as limitações e a necessidade de transfor-
psíquico em geral e intelectivo em particular. “O único bom ensino mar informações em conhecimentos que auxiliem na elaboração de
é o que se adianta ao desenvolvimento” (Vygotsky, 1998, p. 114). E, projetos e em simulações e comparações que ultrapassem as ativi-
isto pode ser tanto no sentido de completar processos em forma- dades escolares. A aprendizagem vai além da apropriação de um
ção, como no sentido de desencadear outros. conteúdo específico e significa, também, o desenvolvimento de ca-
O que deve desafiar e ocupar os professores não são as ativida- pacidades cognitivas que possibilitem a ação sobre o conhecimento
des nas quais os alunos desempenham-se sozinhos com declarada reelaborado.
competência, pois essas pouco ou nada acrescentam ao desen- Quando uma palavra nova é aprendida pela criança, o seu de-
volvimento. Cabe a eles, isto sim, preocuparem-se e ocuparem-se senvolvimento mal começou: a palavra é primeiramente uma gene-
com os conteúdos, as atividades, nos quais o desempenho do alu- ralização do tipo mais primitivo; à medida que o intelecto da criança
no depende de mediação, de ensino. Para Vygotsky (1988), se bem se desenvolve, é substituída por generalizações de um tipo cada vez
organizado e conduzido, o ensino ativa todo um grupo de funções mais elevado — processo este que acaba por levar à formação dos
mentais. Uma ativação que, evidentemente, não se efetiva sem a verdadeiros conceitos. O desenvolvimento dos conceitos, ou dos sig-
aprendizagem, quer dizer, sem a reapropriação interna do expe- nificados das palavras, pressupõe o desenvolvimento de muitas fun-
rienciado no plano interativo. Por isso, o ensino e a aprendizagem ções intelectuais: atenção deliberada, memória lógica, abstração,
constituem um momento intrinsecamente necessário ao desenvol- capacidade para comparar e diferenciar. (...) A experiência prática
vimento, na criança, das características psíquicas humanas. Não um mostra também que o ensino direto de conceitos é impossível e in-
ensino mecanicista, naturalizado e enciclopédico. Está-se falando frutífera. Um professor que tenta fazer isso geralmente não obtém
do ensino que promove a reflexão, a análise, a síntese. qualquer resultado, exceto o verbalismo vazio, uma repetição de pa-
Parafraseando Kostiuk (1977), uma das grandes responsabilida- lavras pela criança, semelhante à de um papagaio, que simula um
des do ensino escolar é a formação do pensamento abstrato, lógico. conhecimento dos conceitos correspondentes, mas que na realidade
O valor, a importância, desse raciocínio não está na sua formação oculta um vácuo (Vygotsky, 1991, p. 71-2).
em si, mas no que ele pode possibilitar em termos de reflexões que Na escola, normalmente, a aprendizagem e, consequentemen-
transcendam o imediato, o aparente; em termos de entendimento te, a eficiência do ensino, são atestadas pela capacidade do aluno
da realidade social, do que somos e do que podemos ser. Quando repetir os conceitos tal como lhe foram ensinados. Completar, citar
a preocupação vai além da forma pela forma e toma como objeto o exemplos, ligar, responder a perguntas objetivas, identificar, são ati-
conteúdo — que, a um só tempo, a constitui e é por ela veiculado vidades geralmente solicitadas. Em exercícios propostos logo após
— então, não é qualquer referencial metodológico que fundamenta um texto, espera-se a reprodução das mesmas palavras e frases
o conteúdo escolar no sentido de permitir essa espécie de desen- com as quais o conceito foi definido, sendo comuns questões em
volvimento. que uma única palavra as responde.
O autor chama atenção para a necessidade de os conteúdos se- Exemplos do que ora se afirma pode ser encontrado no livro
rem trabalhados com vistas a desvendar o modo como a sociedade didático “Ciências”, quando diz: “Durante a fotossíntese as folhas
se organiza, suas contradições, avanços e retrocessos, em resumo, produzem ................., um açúcar que é usado pela planta para pro-
o movimento de transformação social e, nele, a origem e mudança duzir seus ..................”. Se a exigência é uma frase completa, basta
dos conteúdos, dos conceitos científicos, dos valores, etc. que o aluno transcreva os dizeres do texto: “Com o que começa a
A educação exerce uma expressiva influência sobre a atividade fecundação das flores? ..................................................................”.
autônoma da criança, na aquisição de experiências sociais, particu- (Barros, 1998, p. 13-4). Em atividades desta natureza não há espaço
larmente contribuindo para que sejam construídas novas modalida- para o aluno falar, argumentar, posicionar-se, enfim. Em outras pa-
des de ações. Isto leva a solidificar a idéia de que a aprendizagem lavras, não são criadas condições para que o aluno pense e escreva
produz condições necessárias ao desenvolvimento psico-intelectual cientificamente, realizando análises e sínteses. Com isso, no ensino,
da criança. À medida que ela interage com o ambiente social, este desvincula-se a aprendizagem de conteúdos da possibilidade de de-
social cada vez mais se transforma em propriedade individual. O senvolvimento das capacidades de abstração e generalização que
conteúdo que a criança adquire nas interações, contraídas com o próprio conceito científico pemitiria realizar. A repetição de pa-
adultos ou outras crianças, faz com que ela o utilize para organizar lavras — visando a fixação — artificializa a linguagem, sem que ela
ou reorganizar suas ações, bem como contribui para que surjam e/ seja incorporada como elemento de comunicação e instrumento de
ou se completem novas características psicológicas. Exemplo disso compreensão do real.
são as ações mentais que se formam na criança por meio das ativi- Dependendo da qualidade do ensino, os conteúdos escolares
dades cognitivas interindividuais entre crianças e adulto, que se dão não se apresentam como um elenco de informações para ser re-
pelas comunicações verbais, isto é, pelas situações que envolvem tido na memória até a primeira avaliação, mas como elementos
diálogos com perguntas e respostas em que o aluno precisa unir que elevam a condição cognitiva da criança. Por exemplo, quando
palavras, reelaborando seu sentido, e pelas atividades que envol- a criança assimila um determinado conteúdo, espera-se que este

260
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
proporcione o desenvolvimento da capacidade de compreender, Diante da necessidade de um pensamento reflexivo, da análise
analisar, estabelecer relações entre diferentes situações, sintetizar. dos fenômenos em suas dimensões social, científica e política, as
É importante, pois, que o professor organize o ensino, articulando disciplinas precisam comunicar entre si, a partir de “...um objeto
o conteúdo escolar à realidade concreta, de modo a que se perceba comum diante do qual os objetos particulares de cada uma delas
como esteconteúdo se traduz na vida real de todos e, logicamente, constituem subobjetos” (Machado, 1996, p. 193). Se o conteúdo for
na vida de cada um. tratado cientificamente, de forma a que ajude a interpretar a reali-
Esta reflexão permite inferir que o significado das atividades dade, o pensamento e os argumentos serão formados neste senti-
desenvolvidas na escola é dado pelo conteúdo propagado nas in- do; se for um conteúdo descontextualizado, que limita a análise aos
terações, ou seja, nas regulações que o interlocutor — professor e/ aspectos externos do objeto, do fenômeno, o saber adquirido não
ou outras crianças — exerce no ensino. Permite, ainda, dizer que será um saber com significado para a vivência em sociedade, nem
ensinar não se limita à transmissão de definições, fórmulas, dados, para o desenvolvimento cognitivo do aluno.
regras, etc. Quando, na escola, é concebido nesta perspectiva, o en- Quando o aluno participa de interações em que o conteúdo é
sino se confunde com “quadro cheio” de conteúdos, na maioria das ampliado e expressa a realidade atual, em que vários textos e for-
vezes fragmentados em diferentes disciplinas, organizados em uni- mas de leitura são contemplados, certamente sua capacidade de
dades e subunidades, na medida exata para uma aula, que, juntas, argumentar diante de um texto/fenômeno, a partir de reflexões que
não formam um todo articulado. envolvem a negociação com outros significados presentes, transfor-
Hoje, o conhecimento se multiplica e se renova num espaço mar-se-á qualitativamente, ultrapassando os aspectos aparentes ou
de tempo tão curto, como jamais foi imaginado. As informações que dizem respeito apenas à organização interna de um conteúdo.
estão disponíveis sob as mais variadas fontes e formas. Portanto, Amplia-se o pensamento interpretativo e reflexivo, diante de afir-
está criada a necessidade de repensar o que se ensina, como se mações e situações vivenciadas posteriormente. Em conseqüência
ensina e para que se ensina, numa época em que fica cada vez mais dessa espécie de ensino, por certo, o aluno será capaz de modificar
evidente que os indivíduos precisam pensar — capacidade que se ou dar melhor organicidade a seus conceitos, dialogar ou refletir
acredita ser caracteristicamente humana. Porém, o conteúdo do sobre dados obtidos em atividades empíricas, tendo fundamentos
pensamento é uma construção social. Assume contornos delinea- teóricos que explicitem o imediato e, ainda, dialogar consigo mes-
dos nas experiências conjuntas. O ensino deve considerar os de- mo, numa atividade que busque conferir consistência/coerência
safios, as necessidades postas pelas mudanças sociais que se veri- a seus próprios argumentos. Neste processo, percebesse que os
ficam em função das transformações no trabalho, promovendo as conceitos vão sendo formados em decorrência das ligações entre
capacidades que a reconversão produtiva está solicitando. Todavia, diferentes pontos, antes em processo embrionário e sem sentido.
para além dessas necessidades imediatas, o ensino precisa tomar Um ensino que pretende desenvolver o pensamento analítico,
como parâmetro a reflexão, o questionamento, a compreensão da discute o saber científico no movimento de transformação da socie-
realidade social, das leis que a regulam. Assim, o grande desafio do dade. Faz a leitura dos valores, das múltiplas relações entre socie-
ensino é contribuir para o desenvolvimento da capacidade de lidar dade e cultura, entre sociedade, ciência e tecnologia; interpreta os
com as informações, saber interpretá-las, e, mais que isso, formar mecanismos dos quais a “indústria cultural”, como a definem Ador-
para a abstração reflexiva. no e Horkheimer (1985), se utiliza para, (de)formar o indivíduo, com
Concordando com Sampaio (1998, p. 8), o que se busca “... não características oriundas da sociedade do consumo, da competitivi-
é o domínio de uma lista de conteúdos, de programas fragmenta- dade e, ao mesmo tempo, levá-lo a pensar que sua consciência é
dos em anos e séries lineares e cumulativos, mas sim o domínio de livre e individual. Cabe, então, à escola organizar sua ação educativa
‘chaves de leitura’ desse mundo, traduzidos por eixos ou núcleos or- com vistas à formação político-social, que se caracteriza por uma
ganizadores (...), capaz de abrigar e dar sentido às novas afirmações consciência esclarecida, capaz de exercer a cidadania. “A domina-
que os alunos venham a obter de diferentes fontes”. ção progressiva da técnica pode ser entendida como um engodo,
Um ensino que persegue as finalidades acima mencionadas, se ela, ao invés do esclarecimento, criar um obstáculo à formação
evidentemente prioriza conteúdos/conhecimentos interdisciplina- dos indivíduos autônomos, independentes e capazes de julgar e de
res, explora vários aspectos que envolvem um tema e promove a decidir conscientemente” (Costa, 1994, p. 183).
compreensão destes conteúdos sem perder o sentido social que lhe A análise das múltiplas e profundas imbricações entre aprendi-
são peculiar. O ensino de partes isoladas, na esperança de que o zagem, desenvolvimento e ensino não se esgota aqui. Nesse deba-
aluno consiga, sozinho, estabelecer as relações necessárias, revela te, desencadeado e mantido principalmente pela reconfiguração no
uma concepção de aprendizagem como acúmulo de informações mundo do trabalho — que atinge todos os campos da sociedade e,
desconexas, desconsiderando que fora da escola o saber aparece por conseguinte, da vida dos homens — os educadores ainda têm
materializado em situações que entrelaçam diferentes áreas. muito a dizer. A questão das relações entre esses três processos,
Essa necessidade de romper com a fragmentação, percebida que na verdade compõem uma única unidade, dado que são indis-
também por Monteiro Lobato, aparece explicitamente na fala de solúveis, vem sendo abordada na academia e no interior de em-
alguns de seus personagens: presas, como demonstram os estudos feitos por Machado (1995).
— Outra coisa que não entendo — disse Narizinho, é esse negó- Sabe-se que a educação disputa a direção ético-política do conheci-
cio de várias Ciências. Se a ciência é o estudo das coisas do mundo mento, da formação do indivíduo, com o poder de mercado instituí-
ela deveria ser uma só, porque o mundo é um só. Mas vejo Física, do. Nesse sentido, não é demais repetir que aos educadores com-
Geografia, Química, Geometria, Biologia, um bando enorme. Eu pete apreender as necessidades de sobrevivência sócio-individuais
quero uma ciência só. e ensinar objetivando a adaptação imediata. O ensino regular não
— Essa divisão da Ciência em várias ciências — explicou D. pode negar-se às demandas da produção, sob pena de sucatear as
Benta, os sábios fizeram para comodidade nossa. Mas quando forças criadas até aqui. Contudo, a educação estará sendo medíocre
você toma um objeto qualquer, nele encontra matéria para todas e cerceadora se ignorar a necessidade de se ultrapassar os limites
as Ciências. Este livro aqui, por exemplo. Para estudá-lo sob todos postos pelo mercado. Não se pode tomar as exigências econômicas
os aspectos, temos de recorrer à Física, à Química, à Geometria, à como referência máxima, isto é, como ponto de partida e de che-
História, à Biologia, a todas as Ciências, inclusive o que nele está gada na formação do sujeito. O ensino há que ter como finalidade
escrito, são coisas do espírito (Monteiro Lobato, s/d, p. 407). maior a educação com vistas às necessidades sociais, que, qualita-

261
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tivamente, transcendem em muito a informação e/ou a formação - O planejador é visto como o principal agente de mudança,
almejada pelo capital. A educação não pode mudar a sociedade, desconsiderando-se os fatores sociais, políticos, culturais que en-
até porque é parte dela, mas pode gerar um clima favorável à trans- gendram a ação, o que se traduz numa visão messiânica daquele
formação. Para tanto, é preciso ter clareza sobre as capacidades a que planeja. Essa visão do planejador geralmente conduz a certo
serem perseguidas na escola, sobre a identidade da aprendizagem voluntarismo utópico.
e do desenvolvimento que se busca promover e, a partir daí, a es- - Ao mesmo tempo em que, por um lado, há uma secundari-
pécie de ensino a ser empreendida.4 zação das dimensões social, política, cultural da realidade, por ou-
tro lado, prevalece a tendência de se explicar essa realidade e as
mudanças que nela acontecem como resultantes, basicamente, da
PLANEJAMENTO CURRICULAR CENTRADO NA dimensão econômica que a permeia.
CRIANÇA
O planejamento estratégico
Planejamento: concepções O planejamento estratégico, por sua vez, se desenvolveu den-
O planejamento não deve ser tomado apenas como mais um tro de uma concepção de administração estratégica que se articula
procedimento administrativo de natureza burocrática, decorrente aos modelos e padrões de organização da produção, construídos
de alguma exigência superior ou mesmo de alguma instância ex- no contexto das mudanças do mundo do trabalho e da acumulação
terna à instituição. Ao contrário, ele deve ser compreendido como flexível, a partir da segunda metade do século XX. Essa concepção
mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos, de administração e de planejamento procura definir a direção a ser
segmentos e setores que constituem essa instituição e participam seguida por determinada organização, especialmente no que se
da mesma. refere ao âmbito de atuação, às macropolíticas e às políticas fun-
A preocupação com o planejamento se desenvolveu, principal- cionais, à filosofia de atuação, aos macroobjetivos e aos objetivos
mente, no mundo do trabalho, no contexto das teorias administra- funcionais, sempre com vistas a um maior grau de interação dessa
tivas do campo empresarial. organização com o ambiente.
Essas teorias foram se constituindo nas chamadas escolas de Essa interação com o ambiente, no entanto, é compreendida
administração, que têm influenciado o campo da administração como a análise das oportunidades e ameaças do meio ambiente, de
escolar. Para muitos teóricos e profissionais, os princípios por elas forma a estabelecer objetivos, estratégias e ações que possibilitem
defendidos seriam aplicáveis em qualquer campo da vida social e um aumento da competitividade da empresa ou da organização.
ou do setor produtivo, inclusive na gestão da educação e da escola. Em síntese, o planejamento estratégico concebe e realiza o pla-
Essa influência deixa suas marcas também no que se refere ao nejamento dentro um modelo de decisão unificado e homogeneiza-
planejamento, à medida que o mesmo assumiu uma centralidade dor, que pressupõe os seguintes elementos básicos:
cada vez maior, a partir dos princípios e métodos definidos por - determinação do propósito organizacional em termos de va-
Taylor e os demais teóricos que o seguiram. Isso porque, a partir do lores, missão, objetivos, estratégias, metas e ações, com foco em
taylorismo, assim como das teorias administrativas que o tomaram priorizar a alocação de recursos
como referência, uma das principais tarefas atribuídas à gerência - análise sistemática dos pontos fortes e fracos da organização,
foram o planejamento e o controle do processo de trabalho. inclusive com a descrição das condições internas de resposta ao
Na verdade, o formalismo e a burocratização do processo de ambiente externo e à forma de modificá-las, com vistas ao fortale-
planejamento no campo educacional decorrem, em boa medida, cimento dessa organização
das marcas deixadas pelos modelos de organização do trabalho - delimitação dos campos de atuação da organização
voltados, essencialmente, para a busca de uma maior produtivida- - engajamento de todos os níveis da organização para a conse-
de, eficiência e eficácia da gestão e do funcionamento da escola. cução dos fins maiores.
Isso secundariza os processos participativos, de trabalho coletivo e
do compromisso social, requeridos pela perspectiva da gestão de- Em contraposição a esses modelos de planejamento, a pers-
mocrática da educação. É o caso, por exemplo, dos modelos e das pectiva da gestão democrática da educação e da escola pressupõe
concepções de planejamento orientadas pelo horizonte do plane- o planejamento participativo como concepção e modelo de plane-
jamento tradicional ou normativo e do planejamento estratégico. jamento. O planejamento participativo deve, pois, enquanto me-
Mas, em contraposição a esses modelos, se construiu a pers- todologia de trabalho, constituir a base para a construção e para a
pectiva do planejamento participativo. realização do Projeto Políticopedagógico da escola.
O planejamento participativo não possui um caráter meramen-
O planejamento tradicional ou normativo te técnico e instrumental, à medida que parte de uma leitura de
O planejamento tradicional ou normativo trabalha em uma mundo crítica, que apreende e denuncia o caráter excludente e de
perspectiva em que o planejamento é definido como mecanismo injustiça presente em nossa realidade. As características de tal rea-
por meio do qual se obteria o controle dos fatores e das variáveis lidade, por sua vez, decorrem, dentre outros fatores, da falta ou da
que interferem no alcance dos objetivos e resultados almejados. impossibilidade de participação e do fato de a atividade humana
Nesse sentido, ele assume um caráter determinista em que o objeto acontecer em todos os níveis e aspectos. Nessa perspectiva, a parti-
do plano, a realidade, é tomada de forma estática, passiva, pois, em cipação se coloca como requisito fundamental para uma nova edu-
tese, tende a se submeter às mudanças planejadas. cação, uma nova escola, uma nova ordem social, uma participação
Ao lado dessas características, outros elementos marcam o pla- que pressupõe e aponta para a construção coletiva da escola e da
nejamento normativo: própria sociedade.
- Há uma ênfase nos procedimentos, nos modelos já estrutura- O planejamento participativo na educação e na escola traz con-
dos, na estrutura organizacional da instituição, no preenchimento sigo, ainda, duas dimensões fundamentais: o trabalho coletivo e o
de fichas e formulários, o que reduz o processo de planejamento a compromisso com a transformação social.
um mero formalismo. O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da
escola. É preciso que os diferentes segmentos e atores que cons-
troem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões
4 Fonte: www.core.ac.uk

262
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
e significados. Isso porque o caráter educativo da escola não resi- Dentro do planejamento de ensino, deve-se desenvolver um
de apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e processo de decisão sobre a atuação concreta por parte dos pro-
aprendizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que fessores, na sua ação pedagógica, envolvendo ações e situações
aí se desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteúdos que do cotidiano que acontecem através de interações entre alunos e
transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se professores.
desenvolve acontece também nos momentos e espaços de diálogo, O professor que deseja realizar uma boa atuação docente sabe
de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores, nas que deve participar, elaborar e organizar planos em diferentes ní-
práticas e modelos de gestão vivenciados. veis de complexidade para atender, em classe, seus alunos. Pelo en-
De outra parte, o compromisso com a transformação social volvimento no processo ensino-aprendizagem, ele deve estimular a
coloca como horizonte a construção de uma sociedade mais justa, participação do aluno, a fim de que este possa, realmente, efetuar
solidária e igualitária, e uma das tarefas da educação e da escola é uma aprendizagem tão significativa quanto o permitam suas possi-
contribuir para essa transformação. bilidades e necessidades.
Por certo, como já analisamos em outros momentos neste cur- O planejamento, neste caso, envolve a previsão de resultados
so, a escola pode desempenhar o papel de instrumento de repro- desejáveis, assim como também os meios necessários para os al-
dução do modelo de sociedade dominante, à medida que reproduz cançar. A responsabilidade do mestre é imensa. Grande parte da
no seu interior o individualismo, a fragmentação social e uma com- eficácia de seu ensino depende da organicidade, coerência e flexibi-
preensão ingênua e pragmática da realidade, do conhecimento e lidade de seu planejamento.
do próprio homem. O planejamento de ensino é que vai nortear o trabalho do pro-
Em contrapartida, a educação e a escola articuladas com a fessor e é sobre ele que far-se-á uma reflexão maior neste texto.
transformação social implicam uma nova compreensão do conhe-
cimento, tomado agora como saber social, construção histórica, Fases do planejamento de ensino e sua importância no pro-
instrumento para compreensão e intervenção crítica na realidade. cesso de ensino-aprendizagem
Concebem o homem na sua totalidade e, portanto, visam a sua for- O planejamento faz parte de um processo constante através
mação integral: biológica, material, social, afetiva, lúdica, estética, do qual a preparação, a realização e o acompanhamento estão inti-
cultural, política, entre outras. mamente ligados. Quando se revisa uma ação realizada, prepara-se
uma nova ação num processo contínuo e sem cortes. No caso do
A partir dos aspectos aqui destacados, é possível definir os se- planejamento de ensino, uma previsão bem-feita do que será reali-
guintes elementos básicos que definem e caracterizam o planeja- zado em classe, melhora muito o aprendizado dos alunos e aperfei-
mento participativo: çoa a prática pedagógica do professor. Por isso é que o planejamen-
- Distanciam-se daqueles modelos de organização do traba- to deve estar “recheado” de intenções e objetivos, para que não se
lho que separa, no tempo e no espaço, quem toma as decisões de torne um ato meramente burocrático, como acontece em muitas
quem as executa, escolas. A maneira de se planejar não deve ser mecânica, repetitiva,
- Conduzem à práxis (ver conceito na Sala Ambiente Projeto pelo contrário, na realização do planejamento devem ser considera-
Vivencial) enquanto ação de forma refletida, pensada, dos, combinados entre si, os seguintes aspectos:
- Pressupõem a unidade entre pensamento e ação, 1) Considerar os alunos não como uma turma homogênea, mas
- O poder é exercido de forma coletiva, a forma singular de apreender de cada um, seu processo, suas hipó-
- Implicam a atuação permanente e organizada de todos os teses, suas perguntas a partir do que já aprenderam e a partir das
segmentos envolvidos com o trabalho educativo, suas histórias;
- Constituem-se num avanço, na perspectiva da superação da 2) Considerar o que é importante e significativo para aquela
organização burocrática do trabalho pedagógico escolar, assentado turma. Ter claro onde se quer chegar, que recorte deve ser feito na
na separação entre teoria e prática. História para escolher temáticas e que atividades deverão ser im-
plementadas, considerando os interesses do grupo como um todo.
O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação so-
cial colocam, pois, o planejamento participativo como perspectiva Para considerar os conhecimentos dos alunos é necessário pro-
fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão demo- por situações em que possam mostrar os seus conhecimentos, suas
crática da escola. Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo hipóteses durante as atividades implementadas, para que assim
de planejamento se constituem como a base para a construção do forneçam pistas para a continuidade do trabalho e para o planeja-
Projeto Políticopedagógico da escola. mento das ações futuras.
O planejamento participativo implica, ainda, o aprofundamen- É preciso pensar constantemente para quem serve o planeja-
to crescente, a discussão e a reflexão sobre o tema da participação. mento, o que se está planejando e para quê vão servir as suas ações.
Sobre essa temática, na Sala Ambiente Projeto Vivencial, importan- Algumas indagações auxiliam quando se está construindo um
tes elementos são destacados também. planejamento. Seguem alguns exemplos:
- O que pretende-se fazer, por quê e para quem?
Referência: - Que objetivos pretendem-se alcançar?
SILVA, M. S. P. Planejamento e Práticas da Gestão Escolar. Planejamen- - Que meios/estratégias são utilizados para alcançar tais obje-
to: concepções. Escola de gestores. MEC. tivos?
- Quanto tempo será necessário para alcançar os objetivos?
PLANEJAMENTO DE ENSINO - Como avaliar se os resultados estão sendo alcançados?
Em se tratando da prática docente, faz- se necessário ainda
mais desenvolver um planejamento. Neste caso, o ensino, tem É a partir destas perguntas e respectivas respostas que são de-
como principal função garantir a coerência entre as atividades que terminadas algumas fases dentro do planejamento:
o professor faz com seus alunos e, além disso, as aprendizagens que - Diagnóstico da realidade;
pretende proporcionar a eles. Então, pode-se dizer que a forma de - Definição do tema e Fase de preparação;
planejar deve focar a relação entre o ensinar e o aprender. - Avaliação.

263
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Dentro desta perspectiva, Planejar é: elaborar – decidir que Nesta fase, ainda, serão determinados, primeiramente os ob-
tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacio- jetivos gerais e, em seguida, os objetivos específicos. Também são
nal é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo selecionados e organizados os conteúdos, os procedimentos de en-
de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final sino, as estratégias a serem utilizadas, bem como os recursos, sejam
que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir eles materiais e/ou humanos.
essa distância e para contribuir mais para o resultado final estabe-
lecido; executar – agir em conformidade com o que foi proposto; e Avaliação
avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das É por meio da avaliação que, segundo Lück, poder-se-á:
ações, bem como cada um dos documentos deles derivados”(GAN- a) demonstrar que a ação produz alguma diferença quanto ao
DIN, 2005, p.23). desenvolvimento dos alunos;
b) promover o aprimoramento da ação como consequência
Fases do Planejamento de sugestões resultantes da avaliação. Além disso, toda avaliação
deve estar intimamente ligada ao processo de preparação do plane-
Diagnóstico da Realidade: jamento, principalmente com seus objetivos. Não se espera que a
Para que o professor possa planejar suas aulas, a fim de aten- avaliação seja simplesmente um resultado final, mas acima de tudo,
der as necessidades dos seus alunos, a primeira atitude a fazer, é seja analisada durante todo o processo; é por isso que se deve pla-
“sondar o ambiente”. O médico antes de dizer com certeza o que nejar todas as ações antes de iniciá-las, definindo cada objetivo em
seu paciente tem, examina-o, fazendo um “diagnóstico” do seu pro- termos dos resultados que se esperam alcançar, e que de fato possa
blema. E, da mesma forma, deve acontecer com a prática de ensi- ser atingível pelo aluno. As atividades devem ser coerentes com os
no: o professor deve fazer uma sondagem sobre a realidade que se objetivos propostos, para facilitar o processo avaliativo e devem ser
encontram os seus alunos, qual é o nível de aprendizagem em que elaborados instrumentos e estratégias apropriadas para a verifica-
estão e quais as dificuldades existentes. Antes de começar o seu ção dos resultados.
trabalho, o professor deve considerar, segundo Turra et alii, alguns
aspectos, tais como: A avaliação é algo mais complexo ainda, pois está ligada à práti-
- as reais possibilidades do seu grupo de alunos, a fim de me- ca do professor, o que faz com que aumente a responsabilidade em
lhor orientar suas realizações e sua integração à comunidade; bem planejar. Dalmás fala sobre avaliação dizendo que:
- a realidade de cada aluno em particular, objetivando oferecer Assumindo conscientemente a avaliação, vive-se um processo
condições para o desenvolvimento harmônico de cada um, satisfa- de ação-reflexão-ação. Em outras palavras, parte-se do planeja-
zendo exigências e necessidades biopsicossociais; mento para agir na realidade sobre a qual se planejou, analisam-se
- os pontos de referência comuns, envolvendo o ambiente es- os resultados, corrige-se o planejado e retorna-se à ação para pos-
colar e o ambiente comunitário; teriormente ser esta novamente avaliada.
- suas próprias condições, não só como pessoa, mas como pro- Como se pode perceber, a avaliação só vem auxiliar o planeja-
fissional responsável pela orientação adequada do trabalho escolar. mento de ensino, pois é através dela que se percebem os progres-
sos dos alunos, descobrem-se os aspectos positivos e negativos que
A partir da análise da realidade, o professor tem condições de surgem durante o processo e busca-se, através dela, uma constante
elaborar seu plano de ensino, fundamentado em fatos reais e signi- melhoria na elaboração do planejamento, melhorando consequen-
ficativos dentro do contexto escolar. temente a prática do professor e a aprendizagem do aluno. Portan-
to, ela passa a ser um “norte” na prática docente, pois, “faz com que
Definição do tema e preparação: o grupo ou pessoa localize, confronte os resultados e determine a
Feito um diagnóstico da realidade, o professor pode iniciar o continuidade do processo, com ou sem modificações no conteúdo
seu trabalho a partir de um tema, que tanto pode ser escolhido ou na programação”.
pelo professor, através do julgamento da necessidade de aplicação
do mesmo, ou decidido juntamente com os alunos, a partir do in- Importância do planejamento no processo de ensino-apren-
teresse deles. Planejar dentro de uma temática, denota uma preo- dizagem
cupação em não fragmentar os conhecimentos, tornando-os mais Nos últimos anos, a questão de como se ensina tem se desloca-
significativos. do para a questão de como se aprende. Frequentemente ouvia-se
Na fase de preparação do planejamento são previstos todos os por parte dos professores, a seguinte expressão: “ensinei bem de
passos que farão parte da execução do trabalho, a fim de alcançar a acordo com o planejado, o aluno é que não aprendeu”. Esta expres-
concretização e o desenvolvimento dos objetivos propostos, a par- são era muito comum na época da corrente tecnicista, em que se
tir da análise do contexto da realidade. Em outras palavras, pode-se privilegiava o ensino. Mas quando, ao passar do tempo, foi-se refle-
dizer que esta é a fase da decisão e da concretização das ideias. tindo sobre a questão da construção do conhecimento, o questiona-
A tomada de decisão é que respalda a construção do futuro mento foi maior, no sentido da preocupação com a aprendizagem.
segundo uma visão daquilo que se espera obter [...] A tomada de No entanto, não se quer dizer aqui que só se deve pensar na
decisão corresponde, antes de tudo, ao estabelecimento de um questão do aprendizado. Se realmente há a preocupação com a
compromisso de ação sem a qual o que se espera não se conver- aprendizagem, deve-se questionar se a forma como se planeja tem
terá em realidade. Cabe ressaltar que esse compromisso será tanto em mente também o ensino, ou seja, deve haver uma correlação
mais sólido, quanto mais seja fundamentado em uma visão crítica entre ensino-aprendizagem.
da realidade na qual nos incluímos. A tomada de decisão implica, A aprendizagem na atualidade é entendida dentro de uma vi-
portanto, nossa objetiva e determinada ação para tornar concretas são construtivista como um resultado do esforço de encontrar sig-
as situações vislumbradas no plano das ideias. nificado ao que se está aprendendo. E esse esforço é obtido através
da construção do conhecimento que acontece com a assimilação,
a acomodação dos conteúdos e que são relacionados com antigos
conhecimentos que constantemente vão sendo reformulados e/ou
“reesquematizados” na mente humana.

264
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Numa perspectiva construtivista, há que se levar em conta a permanente interação entre os educadores e entre os próprios
os conhecimentos prévios dos alunos, a aprendizagem a partir da educandos” (Fusari, 1989, p.10). Assim, ele requer o conhecimento
necessidade, do conflito, da inquietação e do desequilíbrio tão fa- da realidade escolar, tanto quanto espaço inserido na sociedade lo-
lado na teoria de Piaget. E é aí que o professor, como mediador cal, quanto a realidade dos estudantes de uma determinada classe.
do processo de ensino-aprendizagem, precisa definir objetivos e os Como etapa do planejamento de ensino se tem, ainda, a própria
rumos da ação pedagógica, responsabilizando-se pela qualidade do elaboração do plano, a execução, a avaliação e o aperfeiçoamento
ensino. do mesmo.
Por sua vez, o plano de ensino é um documento mais elabora-
Essa forma de planejar considera a processualidade da apren- do, contendo a(s) proposta(s) de trabalho, os objetivos e as tarefas
dizagem cujo avanço no processo se dá a partir de desafios e pro- do trabalho docente para um ano ou semestre letivo em torno da
blematizações. Para tanto, é necessário, além de considerar os disciplina e dos conteúdos previstos em currículo. Como documen-
conhecimentos prévios, compreender o seu pensamento sobre as to, o plano de ensino é dividido por unidades seqüências, no qual se
questões propostas em sala de aula. situam: a justificativa e os pressupostos da disciplina, os objetivos
O ato de aprender acontece quando o indivíduo atualiza seus gerais e específicos, os conteúdos, o desenvolvimento metodológi-
esquemas de conhecimento, quando os compara com o que é novo, co e a bibliografia.
quando estabelece relações entre o que está aprendendo com o O currículo não se traduz apenas em um documento oficial que
que já sabe. E, isso exige que o professor proponha atividades que delimita diretrizes àquilo que deve ser ensinando nas escolas. Ele é
instiguem a curiosidade, o questionamento e a reflexão frente aos um processo que se dá na confluência entre as práticas docentes e
conteúdos. Além disso, ao propiciar essas condições, ele exerce um as demandas sociais. Por isso, para além de se considerar as neces-
papel ativo de mediador no processo de aprendizagem do aluno, sidades de formação na elaboração de um currículo, este deve ser
intervindo pedagogicamente na construção que o mesmo realiza. analisado em todo o processo, pois faz surgir o currículo moldado
Para que de fato, isso aconteça, o professor deve usar o plane- pelos professores, o currículo em ação, o currículo realizado e o cur-
jamento como ferramenta básica e eficaz, a fim de fazer suas inter- rículo avaliado.
venções na aprendizagem do aluno. É através do planejamento que Planejar as atividades de ensino é o meio pelo qual se procura
são definidos e articulados os conteúdos, objetivos e metodologias otimizar o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Por
são propostas e maneiras eficazes de avaliar são definidas. O plane- isso, o planejamento, o plano de ensino e o plano de aula se consti-
jamento de ensino, portanto, é de suma importância para uma prá- tuem como ferramentas para auxiliar o trabalho docente na busca
tica eficaz e consequentemente para a concretização dessa prática, dos objetivos de ensino e de aprendizagem.5
que acontece com a aprendizagem do aluno.
Se de fato o objetivo do professor é que o aluno aprenda, atra- Plano de Ensino e Plano de Aula
vés de uma boa intervenção de ensino, planejar aulas é um compro- Anastasiou e Alves (2009) explicam que durante muito tempo
misso com a qualidade de suas ações e a garantia do cumprimento as ações dos professores eram organizadas a partir dos planos de
de seus objetivos. ensino que “tinham como centro do pensar docente o ato de en-
sinar; portanto, a ação docente era o foco do plano” (2009, p. 64).
Referência: Atualmente as propostas ressaltam a importância da construção de
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como Ferra- um processo de parceria em sala de aula com o aluno deslocando
menta Básica do Processo Ensino-Aprendizagem. UNICENTRO - Revista o foco da ação docente e do ensino para a aprendizagem, ou seja,
Eletrônica Lato Sensu, 2008 o protagonista para a ser o aluno conforme defendem as teorias
construtivistas e sociointeracionistas.
Planejamento de Aula Dentro desse contexto, o planejamento assume tamanha im-
Planejar as atividades é o meio pelo qual se procura otimizar portância a ponto de se constituir como objeto de teorização e se
o tempo e garantir os objetivos que se pretende atingir. Na área da desenvolve a partir da ação do professor que envolve: “decidir a
educação o planejamento adquire fundamental importância uma cerca dos objetivos a ser alcançados pelos alunos, conteúdo pro-
vez que se tem como intenção maior o processo de aprendizagem gramático adequado para o alcance dos objetivos, estratégias e
dos educandos. Nesse sentido é preciso seguir às seguintes pergun- recursos que vai adotar para facilitar a aprendizagem, critérios de
tas: avaliação, etc.” (GIL, 2012, p. 34).
. quais os objetivos de aprendizagem que se pretende alcançar? O plano de ensino ou programa da disciplina deve conter os
. em quanto tempo é preciso para executar as atividades de dados de identificação da disciplina, ementa, objetivos, conteúdo
ensino? programático, metodologia, avaliação e bibliografia básica e com-
. de que modo, ou como, executar as atividades de ensino? plementar da disciplina.
. quais recursos didáticos serão necessários? Entretanto, Gandim (1994), Barros (2007?), Gil (2012), Anasta-
. o que e como analisar o processo de ensino e de aprendiza- siou e Alaves (2009) afirmam que não há um modelo fixo a ser se-
gem a fim de avaliar se os objetivos estão sendo alcançados? guido. Devem apresentar uma sequência coerente e os elementos
necessários para o processo de ensino e de aprendizagem.
As perguntas acima circulam o trabalho docente em todas as Será o plano de ensino que norteará o trabalho docente e faci-
etapas do planejamento do processo de ensino. O planejamento se litará o desenvolvimento da disciplina pelos alunos. Além disso, ao
dá por várias formas. Entre elas destacamos o plano de ensino e o elaborar o plano de ensino, o professor deve se questionar: O que
plano de aula. eu quero que meu aluno aprenda? Para isso, o plano de ensino deve
Os termos planejamento de ensino e plano de ensino são to- ser norteado pelo perfil do aluno que o curso vai formar e também
mados, normalmente, na linguagem corrente da escola, como sinô- de acordo com as concepções do projeto pedagógico de um curso.
nimos. No entanto, eles não querem dizer a mesma coisa. O plane-
jamento de ensino é o processo que envolve “a atuação concreta
dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envol-
vendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo
5 Fonte: www.mtm.ufsc.br

265
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
É importante destacar que o plano é um tipo de planejamen- O plano de ensino poderá ser alterado ao longo do período
to que busca a previsão mais global para as atividades de uma de- conforme transcorrer o processo de ensino e aprendizagem. O mes-
terminada disciplina durante o período do curso (período letivo ou mo difere do plano de aula que será um roteiro para o professor
semestral) e que pode sofrer mudanças ao longo do período letivo ministrar cada uma das aulas elencadas no plano de ensino.
por diversos fatores internos e externos. O plano de aula é um instrumento que sistematiza todos os co-
Para sua elaboração, os professores precisam considerar o co- nhecimentos, atividades e procedimentos que se pretende realizar
nhecimento do mundo, o perfil dos alunos e o projeto pedagógico numa determinada aula, tendo em vista o que se espera alcançar
da instituição, para então tratar de seus elementos que constituem como objetivos junto aos alunos segundo Libâneo (1993).
o plano de ensino. O plano de aula trata de um detalhamento do plano de curso/
Dessa forma, o plano de ensino inicia com um cabeçalho para ensino, devido à sistematização que faz das unidades deste plano,
identificar a instituição, curso, disciplina, código da disciplina, carga criando uma situação didática concreta de aula. Gil (2012, p. 39)
horária, dia e horário da aula, nome e contato do professor. Logo explica que “o que difere o plano de ensino do plano de aula é a
em seguida, devem vir os seguintes itens: especificidade com conteúdos pormenorizados e objetivos mais
- Ementa da disciplina – A ementa deve ser composta por um operacionais”.
parágrafo que declare quais os tópicos que farão parte do conteúdo Para elaborar o plano de aula, é necessário que seja construí-
da disciplina limitando sua abrangência dentro da carga horária mi- do o plano de ensino levando em consideração as suas fases: “pre-
nistrada. Deve ser escrita de forma sucinta e objetiva e deve estar paração e apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desen-
de acordo com o projeto político pedagógico do curso. O professor volvimento da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios,
não pode alterar a ementa e uma disciplina sem antes ser aprovada recapitulação, sistematização); aplicação e avaliação” (LIBÂNEO,
pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) de cada curso. 1993, p.241). Além disso, o controle do tempo ajuda o professor a
- Objetivos da disciplina – De acordo com Gil (2012, p. 37) “re- se orientar sobre quais etapas ele poderá se detiver mais.
presentam o elemento central do plano e de onde derivam os de- Com base no plano de ensino, o professor ao preparar suas au-
mais elementos”. Deve ser redigido em forma de tópicos devem ser las, vai organizar um cronograma separando o conteúdo programá-
escolhidos entre dois e cinco objetivos para se atingir a ementa. tico em módulos para cada aula contemplando atividades e leituras
Podem ser divididos em objetivo geral e específico. Iniciam com para serem feitas e discutidas em aula ou em casa. Para cada aula,
verbos escritos na voz ativa e são parágrafos curtos apenas indi- é necessário ter um plano de aula para facilitar a sistematização das
cando a ação (não colocar a metodologia). Os objetivos englobam atividades e atingir os objetivos propostos.
o que os alunos deverão conhecer, compreender, analisar e avaliar O plano de aula segundo Libâneo (1993) é um instrumento que
ao longo da disciplina. Por isso devem ser construídos em forma de sistematiza todos os conhecimentos, atividades e procedimentos
frases que iniciam com verbos indicando a ação. Podem ser divi- que se pretende realizar numa determinada aula, tendo em vista o
didos em objetivo geral e específicos. Exemplos de verbos usados que se espera alcançar como objetivos junto aos alunos.
nos objetivos: Conhecer, apontar, criar, identificar, descrever, clas- Ele é um detalhamento do plano de curso, devido à sistemati-
sificar, definir, reconhecer, compreender, concluir, demonstrar, de- zação que faz das unidades deste plano, criando uma situação di-
terminar, diferenciar, discutir, deduzir, localizar, aplicar, desenvolver, dática concreta de aula. Para seu melhor aproveitamento, “os pro-
empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, traçar, fessores devem levar em consideração as suas fases: preparação e
analisar, comparar, criticar, debater, diferenciar, discriminar, inves- apresentação de objetivos, conteúdos e tarefas; desenvolvimento
tigar, provar, sintetizar, compor, construir, documentar, especificar, da matéria nova; consolidação (fixação de exercícios, recapitulação,
esquematizar, formular, propor, reunir, voltar, avaliar, argumentar, sistematização); aplicação; avaliação” (LIBÂNEO, 1993, p.241). Além
contratar, decidir, escolher, estimar, julgar, medir, selecionar. disso, o controle do tempo ajuda o professor a se orientar sobre
- Conteúdo programático – o conteúdo programático deve ser quais etapas ele poderá se deter mais.
a descrição dos conteúdos elencados na ementa. É importante es- Um plano de aula deve conter as seguintes etapas:
clarecer que o conteúdo programático difere do eixo temático pois 1 – O tema abordado: o assunto, o conteúdo a ser trabalhado;
o conteúdo programático cobre a totalidade da disciplina e o eixo 2 – Os objetivos gerais a serem alcançados: o que os alunos
temático se aplica a uma parte ou capítulo do conteúdo. Deve estar irão conseguir atingir com esse trabalho; com o estudo desse tema.
estruturado em seções (ou módulos) detalhando os assuntos gerais Os objetivos específicos: relacionados a cada uma das etapas de
e específicos que serão abordados ao longo da disciplina contem- desenvolvimento do trabalho;
plados dentro da ementa. 3 – As etapas previstas: mais precisamente uma previsão de
- Avaliação – É importante que o professor deixe claro no plano tempo, onde o professor organiza tudo que for trabalhado em pe-
de ensino como ocorrerá a avaliação (preferencialmente formativa, quenas etapas;
sistemática e periódica), indicando claramente os critérios usados, 4 – A metodologia que o professor usará: a forma como irá tra-
pesos, formas de avaliação, entre outras informações pertinentes balhar, os recursos didáticos que auxiliarão a promover o aprendiza-
para que o professor tenha esse instrumento para tomada de deci- do e a circulação do conhecimento no plano da sala de aula;
são e o aluno saiba como será avaliado. A avaliação compreende to- 5 – A avaliação: a forma como o professor irá avaliar, se em
dos os instrumentos e mecanismos que o professor verificará se os prova escrita, participação do aluno, trabalhos, pesquisas, tarefas
objetivos estão sendo atingidos ao longo da disciplina. Dessa forma, de casa, etc.
deve ser uma avaliação processual e registrada constantemente 6 – A bibliografia: todo o material que o professor utilizou para
acerca da aprendizagem do aluno com base nas metodologias pro- fazer o seu planejamento. É importante tê-los em mãos, pois caso
postas que podem verificadas por meio da aplicação de exercícios, os alunos precisem ou apresentem interesse, terá como passar as
provas, atividades individuais e/ou grupais, pesquisas de campo e informações. Cada um desses aspectos irá depender das intenções
observação periódicas registrada em diários de classe. do professor, sendo que este poderá fazer combinados prévios com
os alunos, sobre cada um deles.6

6 Fonte: www2.unirio.br

266
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Seguindo a mesma trajetória dos países desenvolvidos, o final
PROCESSOS DE APRENDIZAGEM DA LEITURA A DA do século XX impôs a praticamente todos os povos a exigência da
ESCRITA língua escrita não mais como meta de conhecimento desejável, mas
como verdadeira condição para a sobrevivência e a conquista da
A alfabetização é um termo muito conhecido para quem não cidadania. Foi no contexto das grandes transformações culturais,
é da área da educação: todos sabem instintivamente que, quando sociais, políticas, econômicas e tecnológicas que o termo “letra-
falamos sobre alguém ser alfabetizado, quer dizer que essa pessoa mento” surgiu, ampliando o sentido do que tradicionalmente se
aprendeu a ler e a escrever. conhecia por alfabetização (Soares, 2003).
No entanto, o termo alfabetização científica não é tão familiar, Hoje, tão importante quanto conhecer o funcionamento do
inclusive entre as pessoas que trabalham com educação. Em meio sistema de escrita é poder se engajar em práticas sociais letradas,
a tantas definições confusas e até a um uso excessivo do termo em respondendo aos inevitáveis apelos de uma cultura grafocêntrica.
contextos não tão apropriados, a alfabetização científica perman- Assim,
ece sendo um tema muito falado, mas pouco aplicado. Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por
Se, no início da década de 80, os estudos acerca da psicogê- um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os
nese da língua escrita trouxeram aos educadores o entendimento aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade (Tfouni,
de que a alfabetização, longe de ser a apropriação de um código, 1995, p. 20).
envolve um complexo processo de elaboração de hipóteses sobre Com a mesma preocupação em diferenciar as práticas escola-
a representação linguística; os anos que se seguiram, com a emer- res de ensino da língua escrita e a dimensão social das várias ma-
gência dos estudos sobre o letramento, foram igualmente férteis na nifestações escritas em cada comunidade, Kleiman, apoiada nos
compreensão da dimensão sócio-cultural da língua escrita e de seu estudos de Scribner e Cole, define o letramento como
aprendizado. Em estreita sintonia, ambos os movimentos, nas suas ... um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto
vertentes teórico-conceituais, romperam definitivamente com a se- sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos.
gregação dicotômica entre o sujeito que aprende e o professor que As práticas específicas da escola, que forneciam o parâmetro de
ensina. Romperam também com o reducionismo que delimitava a prática social segundo a qual o letramento era definido, e segundo
sala de aula como o único espaço de aprendizagem. a qual os sujeitos eram classificados ao longo da dicotomia alfabeti-
Reforçando os princípios antes propalados por Vygotsky e Pia- zado ou não-alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição,
get, a aprendizagem se processa em uma relação interativa entre o apenas um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve
sujeito e a cultura em que vive. Isso quer dizer que, ao lado dos pro- alguns tipos de habilidades mas não outros, e que determina uma
cessos cognitivos de elaboração absolutamente pessoal (ninguém forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. (1995, p. 19)
aprende pelo outro), há um contexto que, não só fornece informa- Mais do que expor a oposição entre os conceitos de “alfabe-
ções específicas ao aprendiz, como também motiva, dá sentido e tização” e “letramento”, Soares valoriza o impacto qualitativo que
“concretude” ao aprendido, e ainda condiciona suas possibilidades este conjunto de práticas sociais representa para o sujeito, extrapo-
efetivas de aplicação e uso nas situações vividas. Entre o homem e lando a dimensão técnica e instrumental do puro domínio do siste-
o saberes próprios de sua cultura, há que se valorizar os inúmeros ma de escrita:
agentes mediadores da aprendizagem (não só o professor, nem só Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de
a escola, embora estes sejam agentes privilegiados pela sistemática um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja:
pedagogicamente planejada, objetivos e intencionalidade assumi- o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer
da). a arte e ciência da escrita. Ao exercício efetivo e competente da
O objetivo do presente artigo é apresentar o impacto dos estu- tecnologia da escrita denomina-se Letramento que implica habili-
dos sobre o letramento para as práticas alfabetizadoras. dades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir
Capitaneada pelas publicações de Angela Kleiman, (95) Magda diferentes objetivos (In Ribeiro, 2003, p. 91).
Soares (95, 98) e Tfouni (95), a concepção de letramento contribuiu Ao permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza, siste-
para redimensionar a compreensão que hoje temos sobre: a) as di- matize, confronte, induza, documente, informe, oriente-se, reivin-
mensões do aprender a ler e a escrever; b) o desafio de ensinar a ler dique, e garanta a sua memória, o efetivo uso da escrita garante-lhe
e a escrever; c) o significado do aprender a ler e a escrever, c) o qua- uma condição diferenciada na sua relação com o mundo, um estado
dro da sociedade leitora no Brasil d) os motivos pelos quais tantos não necessariamente conquistado por aquele que apenas domina o
deixam de aprender a ler e a escrever, e e) as próprias perspectivas código (Soares, 1998). Por isso, aprender a ler e a escrever implica
das pesquisas sobre letramento. não apenas o conhecimento das letras e do modo de decodificá-las
(ou de associá-las), mas a possibilidade de usar esse conhecimento
As dimensões do aprender a ler e a escrever em benefício de formas de expressão e comunicação, possíveis, re-
Durante muito tempo a alfabetização foi entendida como mera conhecidas, necessárias e legítimas em um determinado contexto
sistematização do “B + A = BA”, isto é, como a aquisição de um có- cultural. Em função disso,
digo fundado na relação entre fonemas e grafemas. Em uma socie- Talvez a diretriz pedagógica mais importante no trabalho (...dos
dade constituída em grande parte por analfabetos e marcada por professores), tanto na pré-escola quanto no ensino médio, seja a
reduzidas práticas de leitura e escrita, a simples consciência fonoló- utilização da escrita verdadeira nas diversas atividades pedagógi-
gica que permitia aos sujeitos associar sons e letras para produzir/ cas, isto é, a utilização da escrita, em sala, correspondendo às for-
interpretar palavras (ou frases curtas) parecia ser suficiente para mas pelas quais ela é utilizada verdadeiramente nas práticas sociais.
diferenciar o alfabetizado do analfabeto. Nesta perspectiva, assume-se que o ponto de partida e de chegada
Com o tempo, a superação do analfabetismo em massa e a do processo de alfabetização escolar é o texto: trecho falado ou
crescente complexidade de nossas sociedades fazem surgir maiores escrito, caracterizado pela unidade de sentido que se estabelece
e mais variadas práticas de uso da língua escrita. Tão fortes são os numa determinada situação discursiva. (Leite, p. 25)
apelos que o mundo letrado exerce sobre as pessoas que já não
lhes basta a capacidade de desenhar letras ou decifrar o código da
leitura.

267
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O desafio de ensinar a ler e a escrever Assim como a autora, é preciso reconhecer o mérito teórico e
Partindo da concepção da língua escrita como sistema formal conceitual de ambos os termos. Balizando o movimento pendular
(de regras, convenções e normas de funcionamento) que se legiti- das propostas pedagógicas (não raro transformadas em modismos
ma pela possibilidade de uso efetivo nas mais diversas situações e banais e mal assimilados), a compreensão que hoje temos do fenô-
para diferentes fins, somos levados a admitir o paradoxo inerente meno do letramento presta-se tanto para banir definitivamente as
à própria língua: por um lado, uma estrutura suficientemente fe- práticas mecânicas de ensino instrumental, como para se repensar
chada que não admite transgressões sob pena de perder a dupla na especificidade da alfabetização. Na ambivalência dessa revolu-
condição de inteligibilidade e comunicação; por outro, um recurso ção conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do
suficientemente aberto que permite dizer tudo, isto é, um sistema ensino da língua escrita: o alfabetizar letrando.
permanentemente disponível ao poder humano de criação (Geral-
di, 93). 2) O embate ideológico
Como conciliar essas duas vertentes da língua em um único sis- Mais severo do que o embate conceitual, a oposição entre os
tema de ensino? Na análise dessa questão, dois embates merecem dois modelos descritos por Street (1984) representa um posiciona-
destaque: o conceitual e o ideológico. mento radicalmente diferente, tanto no que diz respeito às concep-
ções implícita ou explicitamente assumidas quanto no que tange à
1) O embate conceitual pratica pedagógica por elas sustentadas.
Tendo em vista a independência e a interdependência entre al- O “Modelo Autônomo”, predominante em nossa sociedade,
fabetização e letramento (processos paralelos, simultâneos ou não, parte do princípio de que, independentemente do contexto de pro-
mas que indiscutivelmente se complementam), alguns autores con- dução, a língua tem uma autonomia (resultado de uma lógica intrín-
testam a distinção de ambos os conceitos, defendendo um único e seca) que só pode ser apreendida por um processo único, normal-
indissociável processo de aprendizagem (incluindo a compreensão mente associado ao sucesso e desenvolvimento próprios de grupos
do sistema e sua possibilidade de uso). Em uma concepção progres- “mais civilizados”.
sista de “alfabetização” (nascida em oposição às práticas tradicio- Contagiada pela concepção de que o uso da escrita só é legiti-
nais, a partir dos estudos psicogenéticos dos anos 80), o processo mo se atrelada ao padrão elitista da “norma culta” e que esta, por
de alfabetização incorpora a experiência do letramento e este não sua vez, pressupõe a compreensão de um inflexível funcionamento
passa de uma redundância em função de como o ensino da língua lingüístico, a escola tradicional sempre pautou o ensino pela pro-
escrita já é concebido. Questionada formalmente sobre a “novida- gressão ordenada de conhecimentos: aprender a falar a língua do-
de conceitual” da palavra “letramento”, Emilia Ferreiro explicita as- minante, assimilar as normas do sistema de escrita para, um dia
sim a sua rejeição ao uso do termo: (talvez nunca) fazer uso desse sistema em formas de manifestação
Há algum tempo, descobriram no Brasil que se poderia usar previsíveis e valorizadas pela sociedade. Em síntese, uma prática
a expressão letramento. E o que aconteceu com a alfabetização? reducionista pelo viés lingüístico e autoritária pelo significado polí-
Virou sinônimo de decodificação. Letramento passou a ser o estar tico; uma metodologia etnocêntrica que, pela desconsideração do
em contato com distintos tipos de texto, o compreender o que se aluno, mais se presta a alimentar o quadro do fracasso escolar.
lê. Isso é um retrocesso. Eu me nego a aceitar um período de deco- Em oposição, o “Modelo Ideológico” admite a pluralidade das
dificação prévio àquele em que se passa a perceber a função social práticas letradas, valorizando o seu significado cultural e contexto
do texto. Acreditar nisso é dar razão à velha consciência fonológica. de produção. Rompendo definitivamente com a divisão entre o
(2003, p. 30) “momento de aprender” e o “momento de fazer uso da aprendiza-
Note-se, contudo, que a oposição da referida autora circuns- gem”, os estudos lingüísticos propõem a articulação dinâmica e re-
creve-se estritamente ao perigo da dissociação entre o aprender a versível entre “descobrir a escrita” (conhecimento de suas funções
escrever e o usar a escrita (“retrocesso” porque representa a volta e formas de manifestação), “aprender a escrita” (compreensão das
da tradicional compreensão instrumental da escrita). Como árdua regras e modos de funcionamento) e “usar a escrita” (cultivo de
defensora de práticas pedagógicas contextualizadas e signifcativas suas práticas a partir de um referencial culturalmente significativo
para o sujeito, o trabalho de Emília Ferreiro, tal como o dos estudio- para o sujeito).
sos do letramento, apela para o resgate das efetivas práticas sociais O esquema abaixo pretende ilustrar a integração das várias di-
de língua escrita o que faz da oposição entre eles um mero embate mensões do aprender a ler e escrever no processo de alfabetizar
conceitual. letrando:
Tomando os dois extremos como ênfases nefastas à aprendi-
zagem da língua escrita (priorizando a aprendizagem do sistema ou
privilegiando apenas as práticas sociais de aproximação do aluno
com os textos), Soares defende a complementaridade e o equilíbrio
entre ambos e chama a atenção para o valor da distinção termino-
lógica:
Porque alfabetização e letramento são conceitos freqüente-
mente confundidos ou sobrepostos, é importante distingui-los, ao
mesmo tempo que é importante também aproximá-los: a distinção
é necessária porque a introdução, no campo da educação, do con-
ceito de letramento tem ameaçado perigosamente a especificidade
do processo de alfabetização; por outro lado, a aproximação é ne-
cessária porque não só o processo de alfabetização, embora distin-
to e específico, altera-se e reconfigura-se no quadro do conceito
de letramento, como também este é dependente daquele. (2003,
p. 90)

268
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de leitura e es- auxiliar no processo ensino-aprendizagem da alfabetização, poden-
crita e respondam aos apelos da cultura grafocêntrica, podendo in- do seus estudos serem melhor aplicados para o desenvolvimento
serir-se criticamente na sociedade, a aprendizagem da língua escri- da alfabetização com efeitos mais eficientes.
ta deixa de ser uma questão estritamente pedagógica para alçar-se Podem-se perceber alguns avanços nos próprios materiais
à esfera política, evidentemente pelo que representa o investimen- didáticos atuais, onde contém algumas citações e referências a
to na formação humana. Nas palavras de Emilia Ferreiro, livros e pesquisas linguísticas, porém, através de novas pesqui-
A escrita é importante na escola, porque é importante fora dela sas e análise da realidade, poderia haver uma utilização maior e
e não o contrário. (2001) melhor desses conhecimentos para o progresso do ensino e da
Retomando a tese defendida por Paulo Freire, os estudos sobre aprendizagem no processo de Alfabetização.
o letramento reconfiguraram a conotação política de uma conquis- No entanto, muito pouco se conhece sobre a aplicação da Lin-
ta – a alfabetização - que não necessariamente se coloca a serviço guística na Alfabetização. Cagliari (2004, p.8) afirma que “só recen-
da libertação humana. Muito pelo contrário, a história do ensino no temente tem havido a participação significativa de linguistas em
Brasil, a despeito de eventuais boas intenções e das “ilhas de ex- projetos educacionais” o que está auxiliando nas novas propostas
celência”, tem deixado rastros de um índice sempre inaceitável de didáticas para a alfabetização, mas ainda é muito pouco, pois, como
analfabetismo agravado pelo quadro nacional de baixo letramento. esse mesmo autor afirma, a maioria dos professores colabora com
o fracasso escolar por não identificarem a função da Linguística na
Perspectivas das pesquisas sobre letramento Alfabetização ou nem saberem o que é a Linguística.
Embora o termo “letramento” remeta a uma dimensão com- Cabe ressaltar ainda as contribuições de grande relevância que
plexa e plural das práticas sociais de uso da escrita, a apreensão de a Linguística vem fazendo nos estudos sobre a aprendizagem da lei-
uma dada realidade, seja ela de um determinado grupo social ou tura e da escrita, renovando as práticas educativas desse processo,
de um campo específico de conhecimento (ou prática profissional) na tentativa de facilitá-lo. Muitos são os estudos feitos nessas áre-
motivou a emergência de inúmeros estudos a respeito de suas es- as: de um lado os pedagogos buscando novas alternativas para a
pecificidades. É por isso que, nos meios educacionais e acadêmicos, alfabetização e, de outro, os linguistas apresentando novos e não
vemos surgir a referência no plural “letramentos”. menos importantes estudos sobre a aprendizagem e funcionamen-
Mesmo correndo o risco de inadequação terminológica, ganha- to da língua. Vale lembrar, que as duas ciências ? a Pedagogia e a
mos a possibilidade de repensar o trânsito do homem na diversidade Linguística - são essenciais e complementam-se.
dos “mundos letrados”, cada um deles marcado pela especificidade Ressignificando a alfabetização
de um universo. Desta forma, é possível confrontar diferentes reali- A alfabetização tem sido repensada constantemente para
dades, como por exemplo o “letramento social” com o “letramento acompanhar as mudanças culturais que vêm acontecendo através
escolar”; analisar particularidades culturais, como por exemplo o da rapidez da comunicação, com meios como a TV e, principal-
“letramento das comunidades operárias da periferia de São Paulo”, mente a Internet. A Linguística tem auxiliado nessa estruturação,
ou ainda compreender as exigências de aprendizagem em uma área embora recente como afirma Cagliari (2004), mas como considera
específica, como é o caso do “letramento científico”, “letramento Josefi (2002, p.8) “Percebe-se, hoje, a expressiva (e indispensável)
musical” o “letramento da informática ou dos internautas”. Em cada presença dos linguistas nos eventos em que se discute a alfabet-
um desses universos, é possível delinear práticas (comportamentos ização.” Observa-se, através dos livros didáticos, a grande tendên-
exercidos por um grupo de sujeitos e concepções assumidas que cia à valorização do uso da linguagem feita pelas crianças e a ex-
dão sentido a essas manifestações) e eventos (situações compar- ploração que pode ser feita das variações que ela apresenta.
tilhadas de usos da escrita) como focos interdependentes de uma
mesma realidade (Soares, 2003). A aproximação com as especifici- Essa variação se dá por vários motivos, entre eles os region-
dades permite não só identificar a realidade de um grupo ou cam- ais, mas o que mais distingue as crianças é a vivência familiar e as
po em particular (suas necessidades, características, dificuldades, condições financeiras em que ela vive. A maior dificuldade encon-
modos de valoração da escrita), como também ajustar medidas de trada é que a criança que chega à escola pública é diferente das que
intervenção pedagógica, avaliando suas consequências. No caso de o professor ou os livros didáticos idealizam, pois ela é da periferia
programas de alfabetização, a relevância de tais pesquisas é assim das grandes cidades. Como diz Golbert (1988, p. 10):
defendida por Kleiman: Essa, representante legítima da maior parcela da população
Se por meio das grandes pesquisas quantitativas, podemos co- infantil brasileira, é filha de operários que, na melhor das hipóteses
nhecer onde e quando intervir em nível global, os estudos acadêmi- têm o 1º grau completo. Dispõe de poucos materiais de escrita em
cos qualitativos, geralmente de tipo etnográfico, permitem conhe- sua casa, talvez um jornal que chega eventualmente [...] seus pais
cer as perspectivas específicas dos usuários e os contextos de uso não têm tempo e disposição para ler ou contar histórias, as quais
e apropriação da escrita, permitindo, portanto, avaliar o impacto poderiam abrir-lhes as portas para o mundo abstrato da linguagem.
das intervenções e até, de forma semelhante à das macro análises, Além de ter a criança não freqüentou a pré-escola, desconhece o
procurar tendências gerais capazes de subsidiar as políticas de im- que seja uma sala de aula ou convívio organizado com outras cri-
plementação de programas. (2001, p. 269)7 anças, teve poucos contatos significativos com lápis, papel, tintas
e lápis de cor.
Aspectos linguísticos da alfabetização.
De acordo com os estudos realizados, serão descritos em cin- Há também outras realidades muito mais precárias, como colo-
co seções alguns aspectos relevantes, explicando algumas carac- ca a mesma autora, que fazem com que a variação linguística e o
terísticas da alfabetização embasada na Linguística, considerando tempo de aprendizagem da leitura e da escrita sejam diferentes e
as práticas atuais e algumas práticas possíveis nesse sentido. para alguns, considerado mais demorado.
Considerando as muitas mudanças ocorridas na cultura edu-
cacional, e o avanço científico da Linguística, observa-se, segundo É pelo confronto com essas realidades e diferentes característi-
alguns autores como Cagliari (2004), Tasca (1990), Josefi (2002), cas que não é mais possível pensar em uma alfabetização uniforme,
Golbert (1988), Brito (2009), entre outros, que essa ciência poderá em que não se leve em conta as especificidades de cada um. Gol-
bert (1988, p.14) afirma ainda que:
7 Por Silvia M. Gasparian Colello

269
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Não é mais admissível que a alfabetização seja concebida como assim, o dia-a-dia do processo ensino-aprendizagem da leitura e da
um processo existente dentro das paredes da sala de aula, desen- escrita com planejamentos mais dinâmicos e apropriados às expec-
cadeando a partir da utilização de um método de ensino (no qual tativas das crianças.
os elementos de escrita são representados numa seqüência prees- Pode-se afirmar, então, como Josefi (2002, p.3) que “os conhe-
tabelecida e rígida), num tempo, espaço e ritmo controlado pelo cimentos lingüísticos são, portanto, imprescindíveis para o profes-
professor. sor, em uma tarefa tão complexa como a de alfabetizar». A partir
disso, não há mais como duvidar da introdução da Linguística na
É nesse sentido que a Linguística vem contribuindo para esse Alfabetização, no entanto, alguns professores ainda não têm con-
processo, como constata Josefi (2002, p.2) dizendo que “Tal fato, hecimento das características didáticas indicadas nos estudos dessa
talvez, constitua-se na principal contribuição para a ressignificação ciência, o que faz com que ainda tenhamos algumas dificuldades de
da alfabetização na escola, onde a compreensão de teorias sobre modernização da metodologia dessa etapa da escolarização.
os processos de aquisição da leitura e da escrita passa a ser mais
importante do que a escolha de uma determinada metodologia.” A prática linguística na alfabetização
Entre as mudanças ocorridas com a introdução da Linguística na
Alfabetização está a troca do método fônico (criado pelo linguis- No início da alfabetização
ta Bloomfield, que consiste em aprender a escrever decorando os Todas as oito professoras entrevistadas preocupam-se com a
sons das letras, num processo mecânico) para a concepção constru- bagagem de conhecimentos, de coordenação motora e/ou a re-
tivista que se dá muito mais pelos aspectos sociais ? características alidade em que vive a clientela que recebem no início da Alfabet-
dos educandos ? do que pela livre escolha dos professores, já que a ização, porém apenas uma citou a preocupação com as expectati-
comunicação mundial está muito mais ágil e as pessoas estão cada vas que essas crianças teriam em relação à escrita.
vez mais informadas e, talvez conscientes da sua linguagem. Con- Cagliari (2004) diz sobre isso que se deveria perguntar às cri-
sequentemente elas estão indo para a escola sabendo muito mais anças o que elas acham da escrita, para que serve na comunidade
coisas do mundo e podendo contribuir muito mais com as infor- em que vivem e o que pretendem fazer com esse conhecimento.
mações trabalhadas em aula, gerando, assim, um certo desconforto Essa preocupação é, talvez, a mais importante, pois, além de
em quem acredita que o professor é o dono do saber, pois os alunos proporcionar um planejamento de atividades de acordo com o que
demonstram mais agitação e descontentamento com o que é dis- os alunos esperam, tornando, assim, a aprendizagem muito mais
cutido em aula. atraente, para a Linguística, são essas informações que vão emba-
Essas informações devem ser bem aproveitadas para que o sar o trabalho, pois o foco é a linguagem usada no momento, já
processo de desvendamento da leitura e da escrita seja mais in- que essa ciência estuda o que e como está sendo falado, ouvido,
teressante. O que a Linguística coloca é a necessidade de, além do escrito, para, a partir daí, detectar as variações, as dificuldades e
processo fônico, levar os alunos a entender como se dá a formação as patologias.
da escrita e o desenvolvimento da leitura, pensar sobre isso e criar
suas próprias hipóteses para apropriar-se desses instrumentos co- No final da alfabetização
municativos de forma completa e bem estruturada. Já sobre o que as professoras esperam dos alunos no final da
primeira série, tivemos respostas que indicam variações dos obje-
Considerações sobre a linguística tivos do 1º ano de Alfabetização. Umas esperam que eles estejam
A Linguística, como ciência que estuda a linguagem verbal, alfabetizados, já sendo leitores, outras que estejam motivados
oral ou escrita humana, sem interesse em ditar regras, segundo a aprender a ler e/ou tenham conhecimentos básicos como os
Orlandi (1999), começou no início do século XX e, desde então, números e as letras e duas citam a prontidão da coordenação mo-
está integrando-se à Alfabetização, naturalmente, por esta ser a tora.
aprendizagem do objeto de estudo daquela. Segundo Tasca (1990), De acordo com a Revista Nova Escola (2009), algumas expecta-
a Linguística auxilia a professora alfabetizadora na escolha de ativ- tivas para o 1º ano seria inferir o conteúdo de um texto com base
idades mais apropriadas para a dificuldade do aluno. Também diz no título, ler textos de memória, confrontar idéias, opiniões e in-
que compete à Linguística aplicada munir a professora de instru- terpretações, conhecer as representações das letras maiúsculas im-
mentos para diagnosticar desvios de leitura e escrita, além de ex- prensa, produzir textos de memória de acordo com a sua hipótese
ercícios terapêuticos e de reeducação da linguagem, ajudando, de escrita, escrever usando a hipótese silábica, reescrever histórias
além disso, na construção de medidas de avaliação. ditando ou de próprio punho, produzir escritos de sua autoria ? bil-
Os estudos feitos pela Linguística ajudaram na elaboração de hetes, cartas [...].
novos conceitos para a Alfabetização, novas crenças e consequen- Como vimos, a Linguística, em seus diversos ramos, tem ex-
temente novas práticas, dando conta de que, como afirma Cagliari pandido seus estudos e contribuído de forma consistente sobre a
(2004), a criança, para aprender a falar, não precisou de ditados, prática da alfabetização. Seus estudos propiciaram ajudar alguns
memorização de regras, repetição de fonemas e sílabas, que nen- professores na busca de soluções para as dificuldades dos alunos,
huma mãe preocupa-se em ensinar a seu filho a ordem das palavras com atividades que possibilitam diversificar o pensamento linguísti-
nas frases e, no entanto, toda criança sabe qual ordem é possível co da criança, fazendo-a explorar seus conhecimentos e ampliá-los.
ou não usar. Sendo assim, o ensino das sílabas simples para de- A proposta linguística para a Alfabetização, que se iniciou com
pois as mais complexas, na Alfabetização é inapropriado e limita o o método fônico, foi adquirindo novas propostas, para métodos que
aprendizado do alfabetizando. contemplam mais o pensamento, a criação de hipóteses, o uso de
A partir dessas construções, constata-se que “o educador, variações da fala, fazendo a leitura e escritas mais próximas da real-
lançando mão de conhecimentos da Linguística, passou a ver a cri- idade das crianças e não algo distante, repetitivo e cansativo.
ança como sujeito do processo de aquisição da leitura e da escrita: Por essas dificuldades e fatores relativos à Alfabetização é que
um sujeito que, ao chegar à escola, já traz uma representação do se torna imperativo ter em mãos materiais didáticos que facilitem
que seja ler e escrever”, como afirma Josefi (2002), transformando, a vida do professor e do aluno. Devem ser materiais práticos, com
atividades contextualizadas e próximas das realidades das crianças,
abrangendo conhecimentos apropriados e permitindo a ação da cri-

270
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ança como sujeito da aprendizagem sem repetições desnecessárias. A linguagem escrita é usada em…
Além disso, não se pode abrir mão de jogos, brincadeiras, músicas, - cartas;
parlendas, entre outros materiais que possibilitam a ampliação lin- - e-mails;
guística e o pensamento sobre o seu uso pelas crianças. - bilhetes;
Enfim, podemos constatar as muitas contribuições da Linguísti- - jornais;
ca na Alfabetização, que podem ser ampliados e com certeza serão, - revistas;
pois os linguistas e pedagogos estão constantemente buscando no- - sites;
vas propostas para adequar o ensino da leitura e da escrita à atu- - livros;
alidade.8 -…

A linguagem oral e a linguagem escritas são duas manifesta- Apesar das diferenças existentes entre a linguagem oral e a lin-
ções da linguagem verbal, ou seja, da linguagem feita através de guagem escrita, não podemos considerar uma mais complexa ou
palavras. Tanto a linguagem oral como a linguagem escrita visam importante do que a outra, uma vez que existem vários níveis de
estabelecer comunicação. formalidade e informalidade na oralidade e na escrita.
Há momentos que exigem uma linguagem falada extremamen-
Características da linguagem oral te cuidada, como entrevistas de emprego, discursos, apresentações
- Há uma maior aproximação entre emissor e receptor. públicas,… Há também situações em que uma linguagem escrita
- Estabelece um contato direto com o destinatário. mais descontraída e próxima da oralidade é aceitável, como em
- É mais espontânea e informal, usufruindo de maior liberdade. chats, fóruns, mensagens do celular,…
- Há uma maior tolerância relativamente ao cumprimento da
norma culta. Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita
- É passageira e encontra-se em permanente renovação, não Livro baseado em documentos produzidos pelos professores da
deixando qualquer registro. Escola Municipal Casas de Barcelona, Espanha, que desenvolvem há
- Não requer escolarização, sendo um processo aprendido so- algum tempo um trabalho bastante inovador junto aos seus alunos.
cialmente. Têm obtido grandes resultados no que diz respeito ao interesse dos
- Usa recursos extralinguísticos como entonação, gestos, postu- mesmos em aprender. Além de apresentar as bases psicopedagógi-
ra e expressões faciais que facilitam a compreensão da mensagem. cas que fundamentam o trabalho com a leitura e a escrita, o texto
- Não ocorre sempre linearidade de pensamento, sendo possív- traz toda a emoção dos relatos dos professores diante do espantoso
el a existência de rupturas e desvios no raciocínio. interesse e consequente progresso de seus alunos. A sua publicação
- Apresenta repetições e erros que não podem ser corrigidos. no Brasil é de grande importância num momento em que tanto se
- Apresenta maioritariamente um vocabulário reduzido e con- discute a qualidade da formação dos nossos professores.
struções frásicas mais simples.
A produção da escrita
Características de linguagem escrita As crianças têm ideias próprias sobre como se escreve o que
- Há um maior distanciamento entre emissor e receptor. pensam e formulam hipóteses de como isso ocorre ao expressar-se
- Estabelece um contato indireto com o destinatário. por meio da escrita, essas hipóteses vão sendo progressivamente
- É mais formal, sendo mais pensada e planejada. testadas pelas crianças até estas se tornarem alfabetizadas. A com-
- Há um maior rigor gramatical e exigência de cumprimento da preensão da natureza alfabética do sistema de escrita e o desen-
norma culta. volvimento da consciência fonológica estimulam desenvolvimento
- Tem duração no tempo e pode ser relida inúmeras vezes infantil à medida que promovem a competência simbólica da cri-
porque tem registro escrito. ança. “A produção escrita, o trabalho com produção de textos tem
- Requer escolarização e uma aprendizagem formal da escrita. como finalidade formar escritores competentes, capazes de pro-
- Todas as indicações necessárias para a compreensão da men- duzir textos coerentes, coesos e eficazes”. (PCN‟S, 1997, p. 65).
sagem são feitas através de pontuação e das próprias palavras. É importante que no início a crianças tenha bastante contato
- Exige linearidade, ou seja, a existência de uma sequência de com a linguagem escrita diversificada no seu ambiente. Esses con-
pensamento clara e estruturada. tatos permitiram descobrir, instigar a curiosidade fazendo pergun-
- Possibilita a revisão do conteúdo e a correção dos erros. tas ou deduções e assim vão aprendendo o significado da escrita. A
- Deve apresentar um vocabulário variado e construções frási- criança passa por diferentes hipóteses provisórias para chegar ao
cas mais elaboradas. resultado dessas primeiras “escritas” infantis pode aparecer desde
o um rabisco, ou desenhos até se apropriar de toda a complexidade
Quando usar a linguagem oral e a linguagem escrita? do sistema da escrita.
Essas duas formas de linguagem são usadas diariamente pelos A relação com que o sujeito quer representar e os meios que
falantes. emprega para criar diferenciações entre as representações são os
A linguagem oral é usada em… chamados aspectos construtivos. E quando estamos na presença
- conversas; dos mesmos é que constamos que houve uma produção escrita.
- diálogos; Nessa visão, as investigações feitas por Teberosky; Cardoso (1991)
- apresentações; mostram que a escrita infantil segue uma linha regular de evolução,
- telefonemas; independente da procedência dos sujeitos quanto a meios cul-
- aulas; turais, situações educativas, língua etc.
- entrevistas; De acordo com os aspectos centrais da linha da evolução psico-
-… genética da língua escrita, identificam-se três grandes períodos en-
tre si, dentro dos quais cabem múltiplas subdivisões.
Primeiro período: caracteriza-se pela distinção entre modo de
representação irônico e não irônico.
8 Fonte: www.webartigos.com – Por Lisiane Raupp da Costa

271
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Segundo período: ocorre à construção de formas de diferen- la e o meio social. Ao atribuir novos significados ao ler e ao escrever,
ciação, o aprendiz busca exercer um controle progressivo das var- a escola assume uma função educativa digna e os de professores
iações sobre os eixos qualitativos e quantitativos. querem ser reconhecidos como produtores de cidadania, que
Terceiro período: marcado pela fonetização da escrita, que se ofereça as novas gerações possibilidades efetivas de compreensão
inicia com um período silábico e culmina em um período alfabético. e transformação da sua realidade social e pessoal.
(TEBEROSKY; CARDOSO, 1991, p. 64). Torna-se, então um referencial, ocupando o ponto principal de
Assim, os aspectos conceituais presentes na evolução psi- um processo compreensivo que orienta aos alunos frente a uma
cológica da escrita se iniciam a partir da relação de semelhanças sociedade pluralista, com permanentes mudanças. Consciente de
com objetivos, o que permitirá as crianças desenvolver outras que o acesso ao mundo da escrita é, em parte, responsabilidade da
possibilidades de aprendizagem. E nesse processo, cabe à escola escola, é importante que o professor conceba a alfabetização e o le-
aprimorar esses conhecimentos, permitindo melhor desenvolvi- tramento como fenômenos complexos e perceba que são múltiplas
mento, linguagem e consciência da criança para adquirir saberes e as possibilidades de uso da leitura e da escrita na sociedade. Assim,
habilidades, respeitando cada nível de desenvolvimento desta. Ao as práticas em sala de aula devem estar orientadas de modo que se
trabalhar com a linguagem escrita, o professor deve compreender provoca a alfabetização na perspectiva do letramento.
que o aluno se relaciona de modo concreto com as condições de
sua produção. Nesse sentido, é preciso considerar que a produção Fonte
do discurso (oral e escrito) ocorre em um determinado contexto SILVA, A. B. da. Alfabetizar letrando: desafios e possibilidades na esco-
histórico social e que se delineia de formas diversificadas segundo la normal. Princesa Isabel – PB, 2014
o contexto e as intenções do produtor do discurso.
Vale dizer, então que tudo aquilo que a criança escreve merece Referência
ser respeitado e valorizado. Trata-se, pois, de tomar essas con- TEBEROSKY, Ana e CARDOSO, Beatriz (Org.). Reflexões sobre o ensino
struções como ponto de partida para o ensino. Ao preparar os es- da leitura e da escrita. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
tímulos para a escrita das crianças, o professor deve estar atento
para que seus alunos tenham uma atitude participativa, de forma Desenvolvimento linguístico e desenvolvimento cognitivo
que não sejam apenas ouvintes, mas produtores de texto. Esse es- Aprendizagem é toda mudança de comportamento em res-
tímulo começa quando o professor escreve para os alunos a histori- posta a experiências anteriores porque envolve o sujeito como
as dos desenhos que eles fizeram, auxilia na escrita de um relatório um todo, considerando todos os seus aspectos, sendo eles psico-
das atividades realizadas em um passeio ou excursão, auxilia o reg- lógicos, biológicos e sociais. Se algum desses aspectos estiver em
istro das tarefas realizadas em grupo, enfim, participa diretamente desequilíbrio haverá a dificuldade de aprendizagem.
de toda de toda a escrita inicial, na fase em que as crianças ainda Segundo Piaget (1973) , a aprendizagem só se dá com a de-
não têm a independência necessária para realizar isso sozinha. sordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito.
É importante que os professores envolvam simultaneamente, a É necessário obter contato com o difícil, com o incomodo para
aprendizagem na direção da alfabetização e letramento, porque es- desestruturar o já existente e em seguida estruturá-lo novamen-
tes requerem habilidade motora, perspectiva e cognitiva no traçado te, com a pesquisa e também motivações tanto intrínseca como
das letras e reflexão sobre o sistema de escrita e suscitam questões extrínseca para obter a aprendizagem, ressaltando que a motiva-
sobre a grafia das palavras, ao mesmo tempo em que são oportuni- ção intrínseca é mais importante porque o sujeito tem que estar
dades às crianças de vivenciarem importantes funções da escrita. interessado em aprender, sendo que a junção dos dois (intrín-
Essa capacidade de uso da escrita também podem ser ensi- seca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor
nadas e aprendidas nas escolas desde cedo no trabalho que alia aprendizagem do sujeito.
alfabetização e letramento. Produzir um texto não é copiar um es- O processo do conhecimento se dá na interação entre sujeito
crito. Esse movimento deve ser sempre ressaltado, mesmo que se e objeto, esta interação Piaget (1973) chama de assimilação e
ofereçam às crianças alguns textos para interpretação, é importante acomodação.
que elas sejam alertadas que textos têm donos e nós devemos usar Assimilação para Piaget (1973) é“(...) uma integração a es-
nossas próprias palavras para interpretar o que o autor quis regis- truturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais
trar. Cada tipo de texto exige um procedimento diferenciado a cada ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem des-
genro discursivo tem uma estrutura própria e uma função. Essa var- continuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruí-
iedade deve ser explorada na sala de aula. das, mas simplesmente acomodando-se à nova situação”. Sim-
Enfim, ensinar a escrever é uma tarefa de uma escola disposta plificando, o processo de assimilação é a articulação das idéias
a olhar de frente as dificuldades, não apontando a penas os erros já existentes com as que estão sendo aprendidas de forma que
do passado, mas lançar desafios, pois temos uma nova clientela adapta o novo conhecimento com as estruturas cognitivas exis-
inserida numa nova realidade. Trabalhar com o texto implica tra- tentes.
balhar com as dúvidas, com os erros, e acertos porque escrever não Acomodação é toda mudança de comportamento, alteração
é produzir velhas copias, pois as copias são apenas repetições. do sujeito, este só acontece quando o sujeito se transforma, am-
Nesse sentido, a prática de ler e escrever desenvolve-se através plia ou muda os seus esquemas. Esquema é a estrutura da ação,
de responsabilidades partilhadas entre professores e alunos, nas ou seja, nós vamos integrando uma determinada coisa com outra
quais o primeiro atua como guia, apoio, mediador de cultura, e o se- coisa que já entramos em contato anteriormente, assim vamos
gundo como sujeito ativo da aprendizagem. Em consequência disso articulando o já conhecido com o que está sendo apresentado,
à sala de aula se torna um lugar de pensar, de reflexão compartilha- mudando ou ampliando o esquema já existente.
da, de participação e de diálogo. Constituindo-se em um ambiente Não há assimilação sem acomodação e vice-versa, mas pode
de aprendizagem, que gera e possibilita múltiplas situações de lei- acontecer o predomínio de uma ou de outra, para ocorrer este
tura e escrita como atividade relevante e comprometidas. processo é preciso que o sujeito tenha situações problemas que
O professor parte dos conhecimentos prévios e experiências desafiem sua inteligência.
dos alunos e oferece atividades significativas, favorecendo a com-
preensão do que está sendo feito através das relações entre a esco-

272
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Para Piaget (1973) o desenvolvimento cognitivo é dividido As operações lógicas é a ocorrência mais importante neste
em quatro estágios. O estágio Sensório motor vai aproximada- estágio porque as ações cognitivas internalizadas permitem que
mente entre 0 à 24 meses. Aqui a criança vai percebendo aos a criança chegue a conclusões lógicas, sendo elas controladas
pouco o seu meio e age sobre ele, o bebê age puramente através pela atividade cognitiva e não mais pela percepção e construídas
de reflexos, com o tempo ele percebe que certos movimentos e a partir das estruturas anteriores como uma função de assimila-
atitudes movem o seu externo, por exemplo, o choro, ela perce- ção e acomodação.
be que ao chorar vai vir alguém acudi-la, neste período há várias O estágio do Pensamento formal acontece após os 12 anos,
assimilações e acomodações que criam esquemas de ação. Há a criança ou adolescente começa ter um pensamento hipotéti-
algumas características neste estágio: a primeira é o reflexo, na co – dedutivo, ou seja, começa a levantar hipóteses e deduzir
qual ela não se diferencia do mundo exterior; a segunda são as conclusões. O adolescente usa esquemas aprendidos dos está-
primeiras diferenciações, existe uma coordenação entre mão e gios anteriores para fortalecer as hipóteses deste estágio, assim
boca, uma diferenciação entre pegar e sugar, surgem os primei- ele vai aprimorando cada vez mais os estágios anteriores. Deste
ros sentimentos como a alegria, a tristeza, o prazer e desprazer, estágio em diante o que ocorre é o aperfeiçoamento dos estágios
que estão ligados a ação; a terceira é a reprodução de eventos in- passados.
teressantes; a quarta é a coordenação de esquemas, ou seja, ela Para Pain (1985), o processo de aprendizagem se inscreve
começa a usar um esquema em outras coisas para ver se obtém o na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição
mesmo resultado, por exemplo, a criança balança um chocalho e mais ampla da palavra educação, atribuindo quatro funções in-
vê que aquilo faz barulho, ao pegar outro objeto ela vai balançar terdependentes:
para ver se aquilo também fará barulho; a quinta é a experimen- a) Função mantenedora da educação: garante a continuida-
tação, invenção de novos meios, a criança passa a inventar novos de da espécie humana por meio da aprendizagem de normas que
comportamentos, ações a partir da tentativa e erro, consegue regem a ação.
a inteligência quando consegue solucionar problemas; a sexta é b) Função socializadora da educação: através da linguagem,
a representação, ela começa a ter um sentimento de escolha, o do habitat transforma o indivíduo em sujeito social.
que quer ou não fazer. c) Função repressora da educação: um instrumento de con-
O estágio Pré – operatório vai aproximadamente entre 2 à trole que tem por objetivo conservar.
6 anos. Aqui a criança possui uma capacidade simbólica, uso de d) Função transformadora da educação: transforma o sujei-
símbolos mentais como a linguagem e imagens, nesta fase há to, de formas peculiares de expressão revolucionária a partir de
uma explosão da lingüística, algumas características deste está- mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições
gio são: primeira – a imitação diferida ou imitação de objetos dis- do sistema.
tantes; segunda – jogo simbólico é também imitativo, a criança
não se preocupa se o outro irá entendê-la, ela se preocupa com o Na tentativa de uma definição da patologia da aprendiza-
seu entendimento, é uma forma de se auto-expressar; terceira – gem, ela a define como um sintoma, no sentido de que o não
desenho, é a sua forma de deixar uma marca, ela desenha o que - aprender não configura um quadro permanente, mas ingressa
quer, sendo ou não real; quarta – imagem mental, as imagens são em uma constelação peculiar de comportamentos, assim, o seu
estáticas, são imagens que representa o interno, algo que já foi diagnóstico está constituído pelo seu significado.
passado; quinta – linguagem falada, a criança começa a falar uma A aprendizagem possui dois tipos de condições: as externas,
palavra como se fosse uma frase, aos pouco ela vai aumentando na qual é comum a criança com problema de aprendizagem apre-
o seu repertório vocábulo. sentar algum déficit real do meio devido a confusão dos estímu-
Neste estágio há também as características do pensamento los, a falta de ritmo ou a velocidade com que são brindados ou
infantil, que são: egocentrismo – é a incapacidade de se colocar a pobreza ou carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê
no ponto de vista do outro (por volta dos 4 ou 5 anos), a criança rapidamente favorecida mediante um material discriminado com
acha que todo mundo pensa como ela, então ela não questio- clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução de
na ninguém, por volta dos 6 ou 7 anos ela começa a ceder as trabalho e de acordo com um ritmo apropriado para cada aquisi-
pressões das pessoas que vivem a seu redor, ela começa a se ção e as internas que estão ligadas a três aspectos: o corpo como
questionar porque gera um conflito, assim ela começa a perceber organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos, sendo
que cada um pensa de um jeito; raciocínio transformacional – é a mediador da ação; a cognição, ou seja, à presença de estruturas
incapacidade para raciocinar com sucesso sobre transformações, capazes de organizar os estímulos do conhecimento; condições
a criança não focaliza a transformação; centração – a criança cen- internas que estão ligadas à dinâmica de comportamento.
tra alguma coisa limitadamente, não a vê como um todo, ela é in- A aprendizagem será cada vez mais rápida quando o sujeito
capaz de explorar todos os aspectos, ela leva em consideração a sentir a necessidade e urgência na compreensão daquilo que está
percepção e não o raciocínio. Após os 6 ou 7 anos o pensamento sendo apresentado.
da criança toma uma posição apropriada. Segundo Fernández (2001), é importante levar em conside-
O estágio Operatório concreto vai aproximadamente entre ração as estruturas cognitivas e a estrutura desejante do sujeito,
7 à 11anos. Aqui a criança desenvolve processos de pensamento porque um depende do outro, é necessário que o sujeito tenha
lógico, não apresenta dificuldades na solução de problemas de desejo, pois este impulsiona o sujeito a querer aprender e este
conservação e apresenta argumentos corretos para suas respos- querer faz com que o sujeito tenha uma relação com o objeto de
tas, a criança descentra suas percepções e acompanha as trans- conhecimento. Para ter essa relação o sujeito precisa ter uma
formações, ela também começa a ser mais social saindo da sua organização lógica, que depende dos fatores cognitivos. No lado
fase egocêntrica ao fazer o uso da linguagem, a fala é usada com do objeto de conhecimento ocorre a significação simbólica que
a intenção de se comunicar, ela percebe que as pessoas podem depende dos fatores emocionais. Todo sujeito tem a sua moda-
pensar e chegar a diferentes conclusões, sendo elas diferentes lidade de aprendizagem e os seus meios de construir o próprio
das suas, ela interage mais com as pessoas, quando aparece um conhecimento, e isto depende de cada um para construir o seu
conflito ela usa o raciocínio para resolver. saber.

273
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O sujeito constrói esse saber a partir do momento que ele des produzidas no ambiente humano em que a criança se de-
tem uma relação com o conhecimento, com quem oferece e com senvolve e permite-lhe apropriar-se da experiência das gerações
a sua história. Para que o conhecimento seja assimilado, é preci- precedentes.
so que o sujeito seja ativo, transforme e incorpore o seu saber, A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma carac-
esquecendo de conhecimentos prévios que já não servem mais, terística específica da espécie humana e supõe um equipamento
é importante também que o ensinante dê significado para este anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos
novo conhecimento, despertando o desejo de querer saber do periféricos e sistema nervoso central apropriado e em adequado
aprendente. O modo como uma pessoa relaciona-se com o co- estado de funcionamento. Contudo, a aquisição de linguagem é
nhecimento se repete e muda ao longo de sua vida nas diferentes um processo sócio-histórico.
áreas. A formação de neurônios e sua migração para regiões apro-
O conhecimento acontece quando alguns esquemas opera- priadas do cérebro são efetuadas quase que inteiramente duran-
ram e utilizam diferentes situações de aprendizagem, é um mol- te o período de desenvolvimento pré-natal. Entretanto, as fases
de relacional e móvel que se transforma com o uso, é a orga- neurais da linguagem não se restringem definitivamente ao mo-
nização do conjunto de aspectos (conscientes, inconscientes e mento do nascimento.
pré-conscientes) da ordem da significação, da lógica, da simbóli- O córtex cerebral é dotado de grande plasticidade funcional
ca, da corporeidade e da estética, tal organização ocorre espon- durante os primeiros anos de vida. A especialização do hemis-
taneamente, isto se chama modalidade de aprendizagem, segun- fério esquerdo para a linguagem, mesmo que dependa de uma
do Fernández, sendo que o problema de aprendizagem ocorre disposição pré-formada, só se estabelece progressivamente,
quando essa modalidade se enrijece, congela. graças às interações da criança com parceiros linguísticos de seu
Cada pessoa tem uma modalidade singular de aprendiza- ambiente O desenvolvimento da linguagem apoia-se em forte
gem, que se organiza a partir dos ensinante (família e escola), motivação para se comunicar verbalmente com outra pessoa,
considerando a criança como um ser aprendente e que tem capa- motivação parcialmente inata, mas enriquecida durante o pri-
cidade para pensar; do espaço saudável, ou seja, onde seja pos- meiro ano de vida nas experiências interpessoais com a mãe, pai,
sível fazer perguntas; das experiências vividas com satisfação em irmãos e outros educadores.
relação ao aprender; do reconhecimento de si mesmo como au- As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um
tor; dos espaços objetivos e subjetivos, onde o jogar seja aceito; processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver
de uma possível relação com sujeitos da mesma idade; do modo procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apro-
de circulação do conhecimento nos grupos de pertencimento: fa- priar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma di-
mília, escola, contexto comunitário ligência ativa de integração do bebê em Formas pré-construídas
É importante ressaltar que o sujeito é sempre ativo, é autor da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes
do seu conhecimento, ele constrói sua modalidade de aprendi- apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às
zagem e a sua inteligência que marcará uma forma particular de formas de relações interpessoais, quanto às palavras da língua e
relacionar-se, buscar e construir conhecimentos, um posiciona- suas condições de uso.
mento de sujeito diante de si mesmo como autor de seu pensa- Com base nisso, as crianças se apropriam progressivamen-
mento. te das regras de ação e de comunicação que surgem em seu
O aprender significa também “perder” algo velho, mas utili- entorno, pondo-as em prática em sua atividade e em suas pri-
zando-o para construir o novo, é o reconhecimento da passagem meiras produções verbais. Em seguida, interiorizam tais regras
do tempo, do processo construtivo, o qual remete necessaria- e elaboram uma linguagem interior constituída de significações
mente, à autoria. Aprender é historiar-se, pois, sem esse sujeito verbais contextualizadas e organizada de acordo com uma lógica
ativo e autor que significa o mundo, aprendizagem será apenas da ação, ou lógica implicativa. Cada descoberta provoca novas
uma tentativa de cópia. interrogações.
Para aprender precisamos entender e analisar a relação en- O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir
tre futuro e passado, assim entenderemos todo o processo de sons da fala são o precursor mais direto da linguagem. Os be-
aprendizagem, ou seja, o sujeito tem que ser biógrafo de sua his- bês logo discriminam sons, são sensíveis a entonações, passam
tória. seletivamente a reagir a sons próprios de sua língua materna en-
Concluímos que a aprendizagem é uma mudança de com- quanto esquecem outros.
portamento, assimilações e informações nas quais o sentido Tal desenvolvimento vai se enriquecer com a formação da
de aprender não é impor barreiras e limites para a criatividade capacidade tanto de categorização de objetos, que será à base da
e disponibilidade de cada ser. O desenvolvimento de uma boa denominação e da referência, como de imitação e memória, ne-
aprendizagem é a integração de aspectos: afetivo, físico, emocio- cessárias para reproduzir padrões vocais e gestuais. Esse traba-
nal, social e intelectual do aprendiz, ocasionando uma motivação lho formativo se prolongará por toda a vida, especialmente por
interna e construindo o conhecimento a todo o momento. meio da educação escolar, e garantirá a aquisição, reprodução e
transformação das significações sociais culturalmente construí-
O desenvolvimento linguístico da criança das.
Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não consti- Durante o primeiro ano de vida, diferentes capacidades co-
tuem apenas atos motores, mas são instrumentos para a realiza- municativas e cognitivas convergem para formar, em torno dos
ção de atividades simbólicas, como, por exemplo, marchar para oito aos dez meses, um conjunto de habilidades necessárias à
ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explora- emergência da competência linguística propriamente dita. Nessa
dor de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura. fase, há um início de compreensão, quando a criança dá respos-
Além disso, a criança nasce em um mundo onde estão pre- tas apropriadas a certos pedidos ou proibições. Logo se observa
sentes sistemas simbólicos diversos socialmente elaborados, uma etapa de produção das primeiras palavras (em torno dos
particularmente o sistema linguístico. Este perpassa as ativida- onze aos treze meses) e uma de explosão do vocabulário (entre
dezoito e vinte meses), quando a criança experimenta a possibi-
lidade de generalizar os vocábulos que domina.

274
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A emergência da capacidade de combinar palavras, ainda Silábica:
que de modo telegráfico, é detectada em torno dos vinte meses,
sendo seguida de um período de gramaticalização (com início va-
riado), quando a criança se preocupa em dominar a estrutura da
língua, embora com criações próprias (ex: “Eu bebi e fazi”).
O sistema linguístico é operável em torno dos quatro aos cin-
co anos, época em que a criança domina o essencial do sistema
fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de muitas
palavras em sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das
formas morfológicas e sintáticas de sua língua.
A partir dos cinco anos, ocorrem novos progressos: o domí-
nio de certas estruturas linguísticas mais complexas (o modo con-
dicional e a voz passiva), a reorganização semântica progressiva
dos subsistemas linguísticos (a criança emprega um mesmo ter-
mo em um sentido diferente do sentido do adulto), o desenvol-
vimento de artigos e pronomes que asseguram coesão aos seus
discursos e o desenvolvimento da capacidade de ajustar sua fala
ao seu interlocutor (por exemplo, à idade ou ao papel social dele),
além da preocupação com a correção das palavras e frases e da Nessa fase a escrita já representa uma relação entre os ter-
brincadeira com a linguagem, quando a criança, com frequência mos,entre a grafia e a parte falada. Para cada parte falada (sílaba
e de modo proposital, rompe algumas regras e convenções. oral ) a criança atribui uma grafia, ou seja, uma letra escrita.
Tal sistema continua a se reorganizar e aperfeiçoar até a pré- Por exemplo, quando escreve a palavra ‘’MÃO’’, pode uti-
-adolescência, enriquecido pelas experiências culturais das crian- lizar apenas uma letra, pautando-se na hipótese silábica, onde
ças, particularmente por sua vivência escolar.9 vai corresponder o número de letras com a quantidade de vezes
que ela abriu a boca para falar, ou pode ainda utilizar dois ou três
As etapas do processo de alfabetização símbolos, pois não acredita que possa se escrever apenas com
Analisando os estudos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky uma letra.
sobre a psicogênese da língua escrita, compreende-se uma outra Nessa fase, pode também ser dividida em dois níveis: o pri-
meneira de ver a aquisição do código escrito que é realizado pe- meiro, silábico sem valor sonoro, onde a crianças representa
las crianças.“A leitura e a escrita não dependem exclusivamente cada sílaba por uma letra qualquer, sem nenhuma relação com o
da habilidade que o alfabetizando apresenta de ‘somar pedaços som que ela representa. O segundo é o silábico com valor sonoro
de escrita’, e sim, antes disso, de compreender como funciona onde em cada sílaba é representada por uma vogal ou consoante
a estrutura da língua e a forma como é utilizada na sociedade”. que expressa o som correspondente.
Ferreiro e Teberosky pbservam que tentando compreender
a escrita, as crianças criam teorias que se desenvolvem como: a Silábico-alfabética:
pré-silábica, a silábica, a silábico-alfabética e a alfabética. São as
chamadas hipóteses.

Pré silábica:

Essa fase se caracteriza em dois níveis. No primeiro,as crian-


ças tentam diferenciar os desenhos da escrita, indentificando o
que se pode ler. No segundo nível, constroem princípios que vão
acompanhá-las no processo de alfabetização, como: é preciso Nesta fase a criança vê que não é possível escrever apenas
um determinado número de letras para que haja algo, de fato, com uma letra para cada sílaba. Como essa é uma transição da
escrito (em torno de três) e o princípio de que há uma variedade ‘’silábica’’ para a ‘’alfabética’’, a criança começa a escrever al-
de caracteres para que se consiga ler.Para escrever, a criança vai gumas vezes representando a sílaba inteira, e em outras usando
utilizar letras aleatórias, geralmente as que contém em seu nome uma letra para cada sílaba.
e sem uma quantidade significativa.

9 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/www.portaleducacao.com.br

275
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
São exemplos de escritas silábico-alfabéticas: A segunda refere-se às segmentações, das posições se é no
- CAVLU (cavalo) inicio, se é o meio ou no fim, podem obter tamanhos diferencia-
- JABUTCAA (jabuticaba) dos, compostos por fonemas, sílabas, intrassílabas e rimas.
- MNINO (menino)
- CADRA (cadeira) As relações entre consciência fonológica e alfabetização
Existem muitos processos cognitivos que precisam ser de-
Nível Alfabético: senvolvidos para que a alfabetização seja garantida: uma dessas
habilidades essenciais é a consciência fonológica.
Pra começo de conversa, vamos visitar brevemente o con-
ceito de metacognição. Trata-se de uma habilidade de aprender
como nós mesmos aprendemos e tornar isso um processo cons-
ciente. Esta é uma capacidade que pode ser desenvolvida, sim,
pelo educador – e daí a importância de nós, professores, conhe-
cermos os processos de neurocognição, a fim de melhor auxiliar-
mos nossos alunos a entenderem como eles aprendem.
A partir desse conceito, partimos para consciência metalin-
guística, ou seja, a capacidade de refletir e analisar intencional-
mente sobre a língua. Por exemplo, uma criança aprende a falar
sem conhecer as unidades linguísticas, mas com a escrita ocorre
de modo diferente: é importante conhecer e refletir sobre a lin-
guagem para estar consciente e aprender de forma mais eficien-
te.
Consciência fonológica não se resume a ficar segmentando e
repentindo palavras – não é sinônimo de método fônico. Abrange
muitas outras habilidades que não são restritas à repetição de
Nessa fase a criança conhece o valor sonoro de algumas ou fonemas.
todas as letras e consegue agrupá-las formando sílabas. Estando “Para aprender a ler e escrever é necessário que a criança
nesse nível não quer dizer que a criança já saiba ler e escrever tome consciência das relações entre os sons da fala e a sua repre-
corretamente .Ainda escrevem: Xinelo, Coziha, caza, etc. sentação gráfica” – Magda Soares

É importante ressaltar que cada criança tem seu ritmo. Espe- Dicas importantes:
ra-se que aos 7 anos ela já domine de maneira razoável a leitura e - Dissociar do conteúdo semântico das palavras
escrita. Claro que esse processo começa muito antes, pois desde - Ter sensibilidade para manipular as unidades linguísticas
muito pequenas as crianças já fazem a leitura de sua própria ma- - Trabalhar desde a Educação Infantil
neira: lê placas nas ruas, gravuras nos livros etc. - Fazer atividades com consciência de:
Uma criança que convive com o estímulo da leitura, com cer- - Rimas e aliterações
teza, terá mais interesse, e provavelmente, o processo de alfabe- - Sílabas
tização será mais fácil.10 - Palavras
- Fonemas
A importância da consciência fonológica na alfabetização
Segundo Morais (2012), a consciência fonológica é um con- Como trabalhar com estas diferentes consciências?
junto de habilidades no qual se caracterizam os segmentos sono- Em relação àsrimas, é importante trabalhar com as con-
ros das palavras. sonantes (palavras que terminam com as mesmas letras, por
A capacidade de refletir sobre as unidades sonoras de forma exemplo, café e boné) e as assonantes (coincidência na vogal,
consciente, compreendido mais especificamente como habilida- mas consoantes diferentes, por exemplo, cachimbo e domingo).
des metafonológicas. Portanto, devemos evitar falar para as crianças que as rimas só
Trabalhar essas segmentações na alfabetização ampliara o aparecem quando escrevemos palavras com o mesmo final.
campo de possibilidades cognitivas do aluno, e não reduzirá a - Jogo com rimas (pode ser oral, escrito e com desenhos):
processos tradicionais, repetitivos, que enfatizam a memoriza- “Coloquei o meu pião na minha _____”, “Lavo minha mão com
ção de silabas, pelo contrário, trabalhar a consciência fonológica água e ____”…;
exige um processo de sistema de ensino alfabético que enfatiza - Charadas: “Dica: todas terminarão com ão” – “Nome de fru-
o letramento, descaracterizando um processo sem intervenções ta laranja por dentro”, “Onde esquentamos a comida”…
pedagógicas mais sistemáticas. As aliterações são as repetições de sílabas ou fonemas ini-
Ou seja, a consciência fonológica não significa treinos fonê- ciais, muito trabalhadas a partir de trava-linguas e parlendas (por
micos exaustivos como requisitos para alfabetização, como a re- exemplo, “O rato roeu a roupa do rei de Roma”).
lação do fonema (som) e grafema (letra).
Segundo Morais (2012), existem duas fontes de variações, a Consciência silábica não é ficar repentindo mecanicamente
primeira é um processo cognitivo sobre as partes das palavras, as sílabas canônicas (ba, be, bi, bo, bu), mas tornar consciente o
separando os pedaços, juntando, contando, comparando, iden- conhecimento da pauta sonora e saber que aquelas sílabas re-
tificando semelhanças e falar palavras parecidas com segmentos presentam uma sonoridade.
sonoros iguais. - Marcar sílaba com os dedos, adesivos, tampinhas de gar-
rafa ou outro material concreto para identificar quantas vezes
foram faladas;
10Fonte: www.alfabetizandoeletrando10.blogspot.com

276
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
- Trabalhar com as diferentes formatações de sílabas (V+V, De acordo com Perrenoud (2000, p. 26) “durante muito tem-
C+V, C+C+V…); po a tarefa do professor era assimilada à aula magistral seguida
- Jogo de dicas, sempre com a mesma sílaba inicial (por de exercícios”. Com as novas tecnologias essa concepção de en-
exemplo, “BA”): “O macaco come muito!”, “A mamãe usa na sino mudou. As novas tecnologias se tornaram então excelentes
boca”, “Parte no corpo”; ferramentas de apoio ao processo educacional. E para essa ade-
- Sequência de palavras dentro de um campo semântico: rência às novas tecnologias faz-se necessária competência por
“leão, gato, elefante e ca…”, “régua, borracha, lápis e ca…”; parte do docente. “A noção de competência designará aqui uma
- Subtração e adição de sílabas em palavras (o que acontece capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para en-
se eu tirar o “sa” de “sapato”?); frentar um tipo de situações. (PERRENOUD, 2000, p. 26).
O professor que utiliza em sala de aula, de mídias como: ví-
- Dividir as palavras em sílabas e contar quantas divisões fo- deos, slides de apresentações em powerpoint, áudios, computa-
ram feitas; dores ou tablets percebem que estas são excelentes ferramentas
- Link do material “As letras falam”. deensino- aprendizagem, e dizem, consequentemente à novas
formas de conhecimento, que conforme nos aponta Edgar Morin
Consciência fonêmicaé o processo mais complexo, pois tra- em “Sete saberes necessários à educação do futuro”, diz respeito
ta-se da menor das unidades linguísticas. É o dar-se conta de que à “uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenô-
cada letra representa um som. meno da percepção em que os olhos recebem estímulos lumino-
- Subtrair ou adicionar fonemas; sos que são transformados, decodificados, transportados a um
- Palavras iguais apenas com o primeiro fonema diferente outro código” (MORIN, 2002, p. 20).
(mola, bola, cola, gola…);
- Leitura de frases onde os fonemas se repetem e pedir que Tecnologia para alfabetizar e letrar no século XXI
os alunos identifiquem qual é; A competência é a base para a formação da cidadania que,
- Ditado fonético: a professora faz os sons os alunos escre- por conseguinte, diz respeito àquilo que buscamos dentro do
vem a letra correspondente; processo educacional. Cada vez mais novas demandas são exi-
- Contar o número de sons de cada sílaba gidas do cidadão. Isso implica numa revisão do processo educa-
cional. Implica também numa evolução que remete a sairmos
A tecnologia a favor da alfabetização do modelo tradicional, do quadro e do giz para o quadro branco
Para viver em sociedade o homem precisa se comunicar. em que não há mais giz, para a lousa virtual e para os sistemas
Pode ser por meio de uma simples mensagem escrita, uma con- interativos de comunicação. Estamos falando da informática na
versa ao telefone, um e-mail, um assovio, uma discussão olho educação, da tecnologia na informação. E também da evolução
no olho. Pode ainda ser numa aula, numa palestra, por meio de no processo educacional que necessitam evoluir. Logo, é impor-
uma notícia de jornal, um programa de rádio, um livro publicado. tante levarmos em consideração que “… o conhecimento deve
Não há nada de novo nisso. O homem sempre buscou formas se referir ao global. O global sendo, bem entendido, a situação
de se comunicar. Contudo, por que, então, falamos, atualmen- de nosso planeta, onde, evidentemente, os acidentes locais têm
te, em era da comunicação? Responder a este questionamento repercussão sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os
no leva a ponderarmos que a internet aproxima as pessoas de acidentes locais…” (MORIN, p. 04).
tal forma que podemos nos comunicar sincronicamente com Para Morin, esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que
alguém do outro lado do mundo. Situações que demandavam tudo está conectado” (MORIN, p. 09). Ou seja, os paradigmas anti-
meses para que as pessoas interagissem. Nesta perspectiva po- gos devem ser quebrados. É isso que se propõe à nova conjuntura
demos arrazoar ainda que cada pessoa hoje é ‘repórter’ do seu social: a informática e a tecnologia de informação na educação.
próprio mundo. Isso implica dizer que as pessoas, atualmente, Neste sentido, a escola sempre ficou um pouco para traz.
podem se posicionar sobre qualquer fato, publicar no seu blog, Deste modo, na hora em que se muda um paradigma tem-se
entrar no jornal e fazer um comentário sobre um fato que acabou que mudar a forma de tratar isso porque a escola faz parte de
de acontecer. Logo, a internet possibilita uma comunicação em uma sociedade, a mídia faz parte de uma sociedade. A sociedade
rede, uma divulgação da realidade instantaneamente e em rede, é midiatizada, ou seja, pensa de acordo com a lógica de mídia.
o que converge para a educação do futuro, explicitada por Edgar Logo, a escola também terá de pensar no mesmo sentido a fim de
Morin, que afirma que: “a educação do futuro deverá ser o ensi- que cumpra o seu papel. A informática nada mais é do que o pro-
no primeiro e universal centrado na condição humana” (MORIN, cesso de gerar informações de forma automática. E a informática
2002, p. 47). é proporcionada hoje em sala de aula, principalmente através do
A internet faz parte de um processo contemporâneo, é um uso do computador. Nós temos o notebook, o desktop, o note-
processo de comunicação de massa unilateral. A possibilidade de book, temos hoje os tablets, e pagerem geral, além dos celulares.
democratização que ela nos coloca é real. É na parte de transmissão de informações que reside a gran-
Através da internet começamos a perceber que não somente de importância desse processo porque enquanto tínhamos com-
o universo escolar, mas todos os espaços necessitam do seu uso. putadores isolados, capazes de armazenar e processar informa-
Ela tem um impacto na forma como as pessoas trabalham, se ções isso não despertava muito interesse do educando. Mas a
divertem, e é claro, aprendem. partir do momento que estamos conectados em rede e somos
Mas como incorporar as tecnologias como abordagem comu- capazes de transmitir informações o educando passou a ter mais
nicativa? Como criar condições para os estudantes exercitarem interesse pela questão da informática na sala de aula.
a capacidade de selecionar a informação, resolver problemas e No que tange às aplicações de um computador, eles são usa-
transformar informação em conhecimento? Quais os desafios dos nos negócios, na medicina e na saúde pública, na educação, na
que viemos enfrentando? Porque adotar uso de novas tecnolo- engenharia, manufatura, política, entretenimento, etc. Ora, então
gias em sala de aula? porque não ter o computador na sala de aula, se ele é utilizado em
todos os segmentos da sociedade moderna em que vivemos hoje.
É óbvio que ele também terá que ser usado em sala de aula.

277
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O computador é uma máquina programável, capaz de rea- A influência do computador no processo de alfabetização e
lizar uma grande variedade de tarefas. Quando mostramos que letramento não pode ser deixado de lado e neste sentido é im-
estas tarefas envolvem atividades do cotidiano do educando ele portante salientar as atividades realizadas para o desenvolvimen-
passa a ter maior interesse nas tarefas. to das habilidades referentes ao uso do computador. Conhecer
Vídeo, áudio, imagem, tudo isso é extremamente sedutor e saber utilizar essa mídia é fundamental, principalmente para
para o jovem de hoje. Os textos e os números nem sempre o são. crianças que já nasceram em uma época onde o computador é
Porém, vídeos, imagens e sons envolvem o jovem e o adolescen- utilizado para realizar inúmeras tarefas simples do cotidiano.
te numa proporção que a maioria de nós não é capaz ainda de E diante de toda essa conjuntura Moran (2005) nos lembra
mensurar. que o novo profissional deverá, portanto, “integrará melhor as
Assim sendo, a sala de aula deve preparar o indivíduo para tecnologias com a afetividade, o humanismo e a ética. Será um
o mundo. Se o mundo é permeado de informática e de compu- professor mais criativo, experimentador, orientador de proces-
tadores, a sala de aula também deve fazer uso do computador e sos de aprendizagem […] ”Assim utilizar a tecnologia com crian-
da informática e de forma interligada à internet para preparar o ças traz benefícios para o desenvolvimento da alfabetização e do
educando para o mundo. letramento e também pelo simples fato de ensinar aos alunos a
utilizá-la para melhorar a vida.
Convivemos com o desafio de educar numa sociedade que E nesta ótica, podemos compreender o que nos traz a au-
se transforma aceleradamente, que se faz e desfaz com uma im- tora Magda Soares no que tange ao letramento, pois conforme
pressionante rapidez. entendimento da autora, a criança quando vem à escola, dá con-
A informática no contexto educacional torna-se uma impor- tinuidade a um trabalho de letramento que ela já vinha desenvol-
tante ferramenta que visa proporcionar o aprendizado de modo vendo dentro do seio da família e da sociedade como um todo, e,
mais dinamizado, até mesmo pelo fato do computador, a infor- em contato, com outros textos, com outros gêneros, com ativida-
mática e a conexão em rede estarem presentes em todos os as- des que o professor estimula, como por exemplo, ouvir cantigas,
pectos da vida social e da vida cultural do ser humano hoje que cantar músicas de roda, declamar poemas, produzir poemas, ter
vive na área urbana na nossa sociedade moderna. contato com brincadeiras, com jogos, ler e escutar fábulas, con-
Há algum tempo que se diz que o ensino de línguas, por tos maravilhosos. Esse trabalho tem continuidade e dentro dele
exemplo, é o ensino para a comunicação. No entanto esse ensino é perfeitamente possível empreender também um trabalho de
ficava dentro da sala de aula ‘didatizado’, simulado. alfabetização.
Hoje os professores ao utilizarem a internet, colocarem seus Perrenould nos aponta para os saberes necessários à educa-
alunos para utilizarem as ferramentas da internet, há possibili- ção do futuro, e convergente a isso, podemos ainda apreender
dade de se fazer práticas sociais da linguagem reais. Quando nos que é muito importante, durante a fase escolar da criança e da
referimos às práticas sociais está se refere ao sentido do aluno vida dela, não deixarmos de lado o espírito lúdico, o espírito da
poder não apenas simular que está escrevendo uma carta para brincadeira. É importante também que os professores fiquem,
alguém, criticando algo, mas de fazer essa crítica em um blog, portanto, atentos a essa questão, de modo que turmas inseridas,
por exemplo, onde outras pessoas podem entrar, interagir com por exemplo, no 1º ou 2º ano, que são os anos voltados para
ele e comunicar. a alfabetização tenham a leveza necessária para que a criança
As ferramentas que nós dispomos atualmente, como o pró- não se sinta numa escola presa naquele sentido tradicional de
prio celular, as máquinas fotográficas são de uso muito fácil. estudar, como Paulo Freire em seus textos nos chama a atenção,
Muitas pessoas são capazes de fazerem um vídeo, de fotografar, mas para que, o trabalho de letramento e de alfabetização tenha
editar fotografias e publicar na internet fazendo com que outras a mesma leveza, assim como essa criança brinca com os amigos
pessoas vejam e interajam com o autor desses produtos. na hora do intervalo, na rua, com a família em casa, portanto,
A tecnologia tornou-se um dos componentes para uma edu- poderíamos usar o termo “educação libertadora” no sentido frei-
cação de qualidade. Contudo, a educação de qualidade tem um riano, de modo que, a criança brincando com jogos, ouvindo mú-
espectro muito maior do que somente o uso das tecnologias. sicas, cantando músicas, sendo feitas, a partir daí atividades de
Portanto, ela contribui, mas não é o único elemento. A forma- reflexão em torno do sistema alfabético da língua de forma que
ção dos professores, gestores e da própria escola, o trabalho co- a criança levante hipóteses da escrita de algumas palavras, sobre
laborativo em torno de um projeto pedagógico consistente e a o seu próprio nome, sobre os nomes dos colegas, de forma que
participação de todos faz parte dessa educação maior que é a tudo isso seja levando também para uma produção de texto que
educação que procuramos, uma educação democrática, inclusiva resulte em alguns projetos.11
e uma educação que promove o processo de ensino e aprendiza-
gem ao longo da vida. A perspectiva infantil na fase da alfabetização
Portanto, as tecnologias são importantes como apoio, haja Acima nós já abordamos as fases da alfabetização, de forma
vista que a educação de qualidade pode ser feita até sem uso que faremos agora uma pequena abordagem sobre o assunto.
das tecnologias, mas no mundo atual, no mundo já conectado, Atualmente fala-se muito de uma escolarização precoce. Isto
em rede, ficaria inadequado trabalhar todos esses conteúdos é, a criança passa pelo processo de alfabetização antes dos seis
sem essa mediação que usamos no cotidiano, no dia a dia, no anos de idade, saindo da Educação Infantil alfabetizada. No en-
trabalho. tanto, quando isso acontece, os pequenos acabam passando o
Como nos expõe Moran (2000, p. 50), “é preciso educar para maior tempo do dia dentro da sala de aula. Embora isso possa pa-
usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecno- recer positivo inicialmente, também faz com que tenham menos
logias, que facilitem a evolução dos indivíduos”, pois, conforme o tempo para realizaratividades ao ar livre, que tanto auxiliam no
autor, quando a criança chega à escola os processos fundamen- seu desenvolvimento físico, no amadurecimento do cérebro, na-
tais de aprendizagens já estão desenvolvidos de forma significati- socialização afetivae também em seuprocesso de aprendizagem.
va. E por esta via, concomitantemente, urge também a educação
para as mídias, para compreendê-las, criticá-las e utilizá-las de
forma mais abrangente possível.
11 Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br

278
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Qual o momento ideal para iniciar o processo de alfa- Tipos de Textos
betização? Antes de mais nada, para produzir um bom texto é muito
Sobre o período ideal paraalfabetização infantil, há especia- importante conhecer os diversos tipos de textos existentes, para
listas que defendem que na primeira infância, a criança precisa que seja coerente com a proposta.
ser criança. Ou seja, preencher seu tempo com brincadeiras e
atividades ao ar livre. Por outro lado, alguns profissionais acre- Assim, os principais tipos de textos são:
ditam que a antecipação do processo de alfabetização beneficia - Dissertação: texto argumentativo e opinativo, por exem-
o avanço cognitivo dos pequenos. É preciso que exista um equi- plo, artigos, resenhas, ensaios, monografias, etc.
líbrio entre a etapa inicial da alfabetização e o estímulo motor, - Narração: narra fatos, acontecimentos ou ações de perso-
considerando que os pré-escolares estão em idade propícia para nagens num determinado tempo e espaço, por exemplo, crôni-
o desenvolvimento de uma série dehabilidadespessoais e inter- cas, novelas, romances, lendas, etc.
pessoais que são vitais para fomentar acriatividade. - Descrição: descreve objetos, pessoas, animais, lugares ou
Acredita-se que o exercício que mais se adapta ao processo acontecimentos, por exemplo, diários, relatos, biografias, currí-
de aprendizagem na Educação Infantil, consiste em apresentar culos, etc.
uma didática que estimula a curiosidade dos pequenos através
de atividades lúdicas e sensoriais. Além disso, é recomendável Psicomotricidade
que nesta didática contenham materiais que apresentem infor- Segundo o portal da Associação Brasileira de Psicomotri-
malmente o início da escrita – letras e palavras, levando em con- cidade a Psicomotricidade é uma ciência que estuda o homem
sideração a não obrigação do aprendizado formal nesta etapa. através do seu corpo em movimento, em relação ao seu mundo
Refletindo sobre aimportância do brincarpara o desenvol- interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber,
vimento infantil nos primeiros anos de vida, acreditamos que o atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo.Den-
ideal é que o processo de alfabetização não aconteça de maneira tre outras habilidades que a criança pode desenvolver através
precoce. Mas isso não significa que não seja possível apresen- das atividades em sala de aula estão a aprendizagem da leitura e
tar as letras e palavras aos pequenos antes disso. Pelo contrário! da escrita que exige boa coordenação óculo-manual para acom-
Existem diferentes formas de estimular e preparar a criança para panhar as linhas de uma página com os olhos ou os dedos, boa
o momento da alfabetização. Confira algumas dicas que prepa- percepção auditiva para perceber os diferentes sons das letras
ramos para ajudar você a iniciar este processo em casa com seu e boa percepção visual para reconhecer as diferenças entre as
filho. Lembrando que é importante que este seja um momento consoantes. A função do psicomotricista é interagir com a crian-
prazeroso, leve e sem obrigatoriedade alguma! ça e identificar suas dificuldades e potenciais para poder criar
estratégias que contribuam para o seu desenvolvimento motor,
1. Contação de histórias afetivo e psicológico. Dentre suas funções estão a avaliação, a
A leitura é imprescindível neste processo, pois é ela que ofe- prevenção, o cuidado com a criança na relação com o ambiente
rece à criança um universo mágico e ilimitado de palavras, unin- e processos de desenvolvimento, tendo por objetivo atuar nas
do diferentes significados que fazem sentido no universo infantil. dimensões do esquema e da imagem corporal em conformidade
com o movimento, a afetividade e a cognição.
2.Ouvir e Cantar
O universo infantil é repleto decantigasque já fazem parte do O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele
repertório da criança ainda na barriga da mãe. Inseri-las na rotina quanto os objetos que o rodeiam formam um conjunto de re-
do seu pequeno é muito bom para auxiliar o desenvolvimento da lações que se estruturam com grande complexidade: daí a ne-
musicalidade. Cante-as para ele, assim as palavras já vão sendo cessidade de percebe-las e representá-las mentalmente. O de-
assimiladas, facilitando o processo de alfabetização infantil. senvolvimento dele dar-se-á pela apropriação de linguagens e de
formas cognitivas mais complexas existentes em seu contorno
3.Apresente diversos materiais cultural, a qual ocorre nos inúmeros em que ele estabelece e per-
Neste processo é interessante que você apresente diferentes cebe relações com elementos de sua cultua e as avalia.
tipos de leituras. Tais como, revistas, jornais, panfletos, receitas, Desde o nascimento, graças à maturação do sistema nervoso
etc. Não se esqueça de fazer a leitura destes materiais de manei- e à realização de tarefas variadas com diferentes parceiros em
ra pausada para que o pequeno leitor consiga assimilar todo o situações cotidianas, a criança desenvolve seu corpo e os movi-
conteúdo apresentado a ele.12 mentos que com ele pode realizar. Os mecanismos que usa para
orientar o tronco e as mãos em relação a um estímulo visual, por
PRODUÇÃO DE TEXTOS exemplo, são complexos e acionados à medida que ela manipu-
A produção de textos é o ato de expor por meio de palavras la e encaixa objetos, lança-os longe e os recupera, os empurra,
as ideias, sendo uma ação deveras importante. puxa, prende e solta. Locomove-se, assume posturas e expressa-
Saber produzir um texto pode ser um pré-requisito para con- -se por gestos, que são cada vez mais ampliados.
seguir um emprego, uma vaga na faculdade, dentre outros. De início o recém-nascido pode apenas diferenciar seu
Pessoas que escrevem bons textos conseguem se expressar próprio corpo do mundo que o rodeia. Depois toma a si mes-
melhor. A leitura, intimamente ligada à escrita, é um ato essen- mo como referência para perceber o entorno. Ao movimentar
cial para se produzir um bom texto. o corpo no espaço, recebe informações próprio- perceptivas (ci-
Enquanto lemos estamos ampliamos nosso vocabulário e, nestésicas, labirínticas) e externo- perceptivas (especialmente vi-
consequentemente, nosso universo interpretativo. Ou seja, com suais) necessárias para interpretar e organizações relações entre
o ato da leitura estamos aumentando nossa capacidade de en- os elementos, formulando uma representação daquele espaço.
tender melhor tudo que nos rodeia. A motricidade também se desenvolve por meio da manipulação
Assim, é muito importante saber escrever bons textos, e so- de objetos de diferentes formas, cores, volumes, pesos e textu-
bretudo, ter o hábito da leitura. ras. Ao alterar sua colocação postural conforme lida com esses
12 Fonte: www.leiturinha.com.br

279
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
objetos, variando as superfícies de contato com eles, a criança ciais que trabalham diferentes competências ou instituem ritos
trabalha diversos segmentos corporais com contrações muscula- de formação de habilidades e atitudes julgadas básicas para o
res de diferentes intensidades. Nesse esforço, ela se desenvolve. desenvolvimento social das novas gerações.
Se, até aproximadamente os 6 anos, a criança tem uma pers- De início, pensamento e linguagem têm origens diversas. Há
pectiva egocêntrica na sua percepção das relações que estabele- o pensar sensório-motor e a linguagem não cognitiva, por exem-
ce com elementos do espaço- proximidade e distância, ordem e plo, os balbucios. No entanto, ambos os elementos convergem
inclusão, continuidade e ruptura, etc.- a partir daquela idade vai no desenvolvimento para a formação do pensamento discursivo.
assumir cada vez mais pontos de vista externos a si mesma para A habilidade da criança para refletir sobre a definição de uma
compreender o mundo. palavra é uma capacidade multifacetada e de lento desenvolvi-
Os recursos de que as crianças dispõem, contudo, não cons- mento, com precursores cognitivos e linguísticos. Incapaz de de-
tituem apenas atos motores, mas são instrumentos para a reali- finir uma impressão, a criança simplesmente a exprime, usando
zação de atividades simbólicas, como por exemplo, marchar para uma linguagem exclamativa. Incapaz de “pensar” um fenômeno,
ser um soldado ou arrastar-se com cuidado para ser um explora- fixando suas características essenciais e descartando as acessó-
dor de tesouros, simbolismos que aprende de sua cultura. Além rias, ela verbaliza apenas seus elementos mais notáveis.
disso, a criança nasce em um mundo onde estão presentes siste- O relato infantil de determinado caso ou evento não busca o
mas simbólicos diversos socialmente elaborados, particularmen- equilíbrio entre causas e efeitos, a proporcionalidade entre ação
te o sistema linguístico. Este perpassa as atividades produzidas e resultado, a coerência entre as partes. É formado pelo enca-
no ambiente humano em que a criança se desenvolve e permite- deamento de circunstâncias. A descrição de algo pela criança re-
-lhe apropriar-se da experiência das gerações precedentes. quer- lhe coordenar as próprias impressões e processos mentais.
A capacidade de adquirir a língua de seu grupo é uma carac- Implica processo gestual, ideomotor, ou identificação do objeto
terística específica da espécie humana e supõe um equipamento consigo mesmo, estabilizando-o. Por sua vez, as tarefas de definir
anatômico e neurofisiológico adaptado, particularmente órgãos e de explicar supõem um movimento de isolamento de palavras
periféricos e sistema nervoso central apropriados e em adequa- dentro de um universo e sua reintegração em um todo, trazendo
do estado de funcionamento. Contudo, a aquisição da linguagem elementos perceptivos, linguísticos e cognitivos de modo forte-
é um processo sócio- histórico. O desenvolvimento da linguagem mente indissociável.
apoia-se em forte motivação para se comunicar verbalmente As respostas infantis parecem indicar a dificuldade do pen-
com outra pessoa, motivação parcialmente inata, mas enriqueci- samento de identificar, diferenciar e relacionar sucessão, causa-
da durante o primeiro ano de vida nas experiências interpessoais lidade e pertinência de elementos, de estabelecer relações como
com a mãe, pai, irmãos e outros educadores. as de lugar, tempo, movimento e causalidade. Os discursos dos
As crianças engajam-se, desde o primeiro momento, em um professores, dos pais e da mídia interagem com as condições
processo de comunicação no qual são estimuladas a desenvolver psicológicas das crianças em cada idade, produzindo importante
procedimentos que lhes permitem questionar o mundo e apro- combinação de processos pelos quais signos culturais são pes-
priar-se dele. Desde cedo o entorno humano empreende uma di- soalmente interpretados e apropriados por elas.
ligência ativa de integração do bebê em formas pré-construídas A capacidade da criança de recombinar sinais e sentidos, res-
da língua: nas atividades conjuntas, parceiros mais experientes pondendo de forma sempre nova a cada situação, interage com
apresentam-lhe normas relativas tanto aos comportamentos e às a tentativa sistemática das instituições educacionais de controlar
formas de relações interpessoais como às palavras da língua e suas respostas.
suas condições de uso. Devemos transformar as formas como práticas educativas sã
O desenvolvimento da capacidade de perceber e produzir pensadas e considerar a interação social como o elemento mais
sons da fala é o precursor mais direto da linguagem. Os bebês importante para promover oportunidades de aprendizagem e
logo discriminam sons, são sensíveis a entonações, passam se- desenvolvimento
letivamente a reagir a sons próprios de sua língua materna en-
quanto esquecem outros. Tal desenvolvimento vai se enriquecer O papel da educação psicomotora na escola
com a formação da capacidade tanto de categorização de obje- É por meio do corpo que a criança realiza as suas primeiras
tos, que será a base da denominação e da referência, como de trocas com o mundo e se forma psicologicamente. O desenvolvi-
imitação e memória, necessárias para reproduzir padrões vocais mento da Psicomotricidade na criança envolve várias áreas que
e gestuais. Esse trabalho formativo se prolongará por toda a vida, vão desde a maturação do sistema nervoso, processos neuro-
especialmente por meio da educação escolar, e garantirá a aqui- motores, pré-requisitos, coordenação, chegando até mesmo ao
sição, reprodução e transformação das significações sociais cul- corpo e a emoção. 
turalmente construídas. A psicomotricidade é um termo empregado para a concep-
O sistema linguístico é operável em torno dos 4 a 5anos, épo- ção de um movimento organizado, integrado, por meio de expe-
ca em que a criança domina o essencial do sistema fonológico, riências vividas pelo indivíduo e cuja ação é o resultado de sua
conhece o sentido e as condições de uso de muitas palavras em individualidade, linguagem e sua socialização. Assim, o desenvol-
sua cultura e utiliza corretamente a maior parte das formas mor- vimento psicomotor da criança é sem dúvida um fator indispen-
fológicas e sintáticas de sua língua. A partir dos5anos ocorrem sável para a sua aprendizagem, pois se a aquisição for precoce
novos progressos. Tal sistema continua a se reorganizar e aper- pode ser compensada mais tarde por um atraso. Isto significa que
feiçoar até a pré-adolescência, enriquecido pelas experiências o ideal é que a criança possa integrar cada um de seus processos
culturais das crianças, particularmente por sua vivência escolar. antes de incorporar um novo. Todo desenvolvimento psicomotor
A construção social dos conhecimentos em ambientes socio- é realizado por meio de uma adaptação a estímulos externos, ou
culturais específicos dependem assim da comunidade de inter- seja, organismo e meio ambiente são dependentes um do outro,
câmbio à qual pertence o aprendiz e dos ambientes de apren- surgindo o raciocínio e a socialização dos desejos. 
dizagem criados como recurso para a aprendizagem. Nesses A psicomotricidade não é algo como uma técnica nova ou
ambientes, tempos, espaços e atividades definem práticas so- até mesmo uma corrente de pensamento, mas sim, uma ciência
com fins educativos e que emprega o movimento humano. O que

280
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
se pretende esclarecer é que este movimento do corpo trás be- A teoria de Piaget: Conheça as fases do desenvolvimento
nefícios à criança em desenvolvimento e no processo de apren- infantil
dizagem, tornando o ensinar e aprender algo mais tranquilo e O que as crianças são capazes de aprender em cada estágio
prazeroso, frente aos desafios que a criança enfrenta ao adentrar de seu desenvolvimento? Como suas habilidades para reagir e
a escola. E isto faz com que a sua alfabetização seja mais aprovei- interagir com o ambiente se desenvolvem e em que ordem?
tada e prazerosa, evitando futuros problemas de aprendizagem. Essas foram algumas das perguntas que o psicólogo francês
Jean Piaget respondeu em 1952, quando publicou sua teoria so-
Piaget e o Desenvolvimento da Inteligência bre o desenvolvimento cognitivo em crianças.
Estudar Piaget é laborioso uma vez que a amplitude de sua A pesquisa de Piaget começou com seu interesse sobre como
obra atinge vários pontos de observação. as crianças reagiam aos ambientes. Acontece que suas observa-
Seria irreal articular que sintetizo Piaget aqui em poucas li- ções começaram a divergir do pensamento da época, o levando
nhas, já que dedicar se a entenderPiaget é devotaranos de envol- a criar uma nova teoria sobre desenvolvimento cognitivo que se
vimento comsua obra. tornou a mais conhecida e influente até hoje.
Jean Piaget investigou através da Psicologia da Inteligência
como se desdobra a gênese do pensamento humano. Os quatro estágios cognitivos do desenvolvimento infantil
Destaco alguns pontos importantes de sua teoria que são A teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget suge-
notáveis. re que as crianças passam por quatro estágios diferentes de de-
A Epistemologia genética é uma junção do que é natural, senvolvimento mental. Sua teoria se concentra não apenas na
inerente ao ser humano, com o meio que o cerca, diz respeito compreensão de como as crianças adquirem conhecimento, mas
ao desenvolvimento (gênese) da inteligência , demonstra comoo também na própria natureza da inteligência.
homem constrói a inteligência.
O crescimento da inteligência surge muito mais por reorgani- Fase sensório-motora: Nascimento até cerca de 2 anos
zações mentais, para se obtermais possibilidade de assimilação. Durante este estágio, as crianças aprendem sobre o mundo
Esse desenvolvimento ocorre empírico e reflexivo, é o processo por meio dos seus sentidos e da manipulação de objetos. A prin-
da criança pensar sobre o mundo e pensar sobre sua ação sobre cipal conquista durante este estágio é a permanência do objeto,
o mundo. ou seja, saber que um objeto ainda existe, mesmo que você não
A criança muito pequena age como um cientista, ela conse- possa vê-lo.
gue pesquisar as causas de um fenômeno, daí parte-se da ideia Isso requer a capacidade de formar uma representação men-
de que o ser humano busca conhecimento. A criança tem essa tal dos objetos.
necessidade de construir tudo, mesmo o que pareça mais eviden-
te, é a percepção do universo que a cerca. Fase pré-operacional: De 2 a 7 anos
Durante esse estágio, as crianças desenvolvem a imaginação
Os conceitos de Piaget acerca do desenvolvimento são: e a memória. Elas também são capazes de entender a ideia de
Assimilação- quando o sujeito entra em contato com o meio, passado e futuro, e interpretar as coisas simbolicamente.
retira a informação dele, se organiza à sua maneira e interpreta. O pensamento nessa fase ainda é egocêntrico, desse modo,
Acomodação- conceito contrário ao senso comum, as estru- a criança tem dificuldade em ver o ponto de vista dos outros.
turas mentais se modificam para dar conta da singularidade do
objeto. Estágio operacional concreto: 7 a 11 anos
Equilibração- o sujeito entra em contato com o objeto novo e Durante esse estágio, as crianças se tornam mais conscientes
fica em conflito, acomoda-se (modifica-se para dar conta). do sentimento dos outros e dos eventos externos. Elas vão se
Piaget afirma que infância é marcada por etapas de adap- tornando menos egocêntricas, começando a entender que nem
tação aos meios físico e social. Nela são formadas as estruturas todos compartilham seus pensamentos, crenças ou sentimentos.
cognitivas e o desenvolvimento da inteligência , um desenvolvi- Para Piaget, esse estágio é um grande ponto de virada no
mento não linear, mas em saltos, intermitente. Em uma lógica desenvolvimento cognitivo da criança, pois marca o início do
que sempre será substituída por outra mais avançada. pensamento lógico ou operacional. Isso significa que a criança
pode resolver as coisas internamente em sua cabeça, em vez de
São três os estágios mais relevantes do desenvolvimento apenas fisicamente.
da inteligência:
1- Sensório motor (0 a 24 meses) Estágio operacional formal: 11 anos ou mais
2- Pré operatório (02 a 07 anos) O estágio operacional formal começa aproximadamente aos
3- Operatório (7 anos em diante) onze anos e dura até a idade adulta. Durante esse estágio, as
crianças são capazes de usar a lógica para resolver problemas,
De 7 a 12 anos Operatório concreto. planejar seu futuro e ver o mundo ao seu redor.

De 12 anos em diante Operatório formal. Os componentes básicos de sua teoria


Piaget se auto denominou construtivista e dizia que o conhe- Piaget acreditava que as crianças assumem um papel ativo
cimento se realizava através de construções restauradas conti- no processo de aprendizagem, agindo como pequenos cientistas
nuamente por uma conexão com o real, o conhecimento não está enquanto realizam experimentos, fazem observações e apren-
pré formado , nem no sujeito, nem nos objetos, o que existe é dem sobre o mundo.
uma ordenação e como resultado uma construção e reconstru- À medida que as crianças interagem com o mundo ao seu
ção contínua. redor, elas vão adicionando novos conhecimentos, se baseando
no que já conhecem e adaptando ideias anteriores.

281
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Deste modo, o desenvolvimento cognitivo seria uma reorga- cação. Seria, talvez, desnecessário dizer que não fogem à regra as
nização progressiva dos processos mentais, que evolui de acordo ações que se envolvem diretamente com o corpo, como é o caso da
com a maturação biológica e a experiência ambiental. Educação Física.
Em sua teoria, Piaget descreve alguns componentes básicos Torna-se bastante difícil falar do corpo, pois esquecemos ou fo-
para esse processo: mos levados a nos esquecer que somos corpo, de que nossas comu-
nicações cotidianas com o mundo ocorrem através dele e com ele.
Esquemas: os blocos de construção do conhecimento Mas é fundamental que se pense a questão do corpo na educação,
Os esquemas são os conjuntos de representações mentais procurando desvelar as concepções e valores, bem como os reais
que relacionamos com o mundo, que permitem que possamos significados que estão implícitos nas ações escolares, visto que,
entender e responder a situações. Ou seja, eles são a maneira de como fala Paulo Freire que:
organizar o conhecimento que temos do mundo.
Esse conhecimento fica armazenado em blocos, cada um “A conscientização não pode existir fora da ‘práxis’, ou melhor,
relacionado a um aspecto do mundo, incluindo objetos, ações sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de ma-
e conceitos abstratos. Esses esquemas podem ser considerados neira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que
como um manual para o cérebro, dizendo ao indivíduo como rea- caracteriza os homens”.
gir a certos estímulos ou informações recebidos.
Como estamos sempre recebendo novas informações e estí- Observando o cotidiano das práticas pedagógicas, começamos
mulos, esses esquemas estão em constante processo de transi- a nos interrogar sobre os porquês de determinados procedimentos,
ção e reorganização. atitudes, posturas assumidas, pelos professores, alunos e pais. Nas
conversas, olhares, reuniões ou comportamentos diante de situa-
Os processos de transição: assimilação e acomodação ções concretas, pode perceber que o corpo faz parte daquilo que
Jean Piaget via o crescimento intelectual como um processo Paulo Freire denominou cultura do silêncio, onde o corpo segue
de adaptação ao mundo, que poderia ocorrer por meio dos se- ordens de cima. Pensar é difícil; dizer a palavra, proibido. A esco-
guintes modos: la silencia a ação corporal-verbal que não esteja de acordo com as
normas estabelecidas. Assim procedendo, está criando um homem,
Assimilação uma mulher para a passividade, para a submissão, para aceitar as
Durante a assimilação, a criança utiliza um esquema já exis- regras do jogo”.
tente para lidar com um novo objeto ou situação. Por exemplo, As atividades propostas pelos professores não despertam a
uma criança de dois anos vê uma maçã, mas anteriormente ela criatividade, a curiosidade, o interesse pelas descobertas; não é es-
apenas conhecia o que era uma laranja. Por ver uma fruta com timulado o gosto pela pergunta.
formato parecido, a criança ira pensar que a maçã também é uma Os alunos são induzidos a responderem aquilo que o profes-
laranja. sor quer ouvir, geralmente uma resposta que ele já sabe. Duvidar,
criticar as atividades tidas como corretas é visto até como um ato
Acomodação de indisciplina e, muitas vezes, aqueles que se atrevem a resistir e
A acomodação acontece quando a criança não consegue as- contestar são punidos, discriminados e rotulados de maus alunos.
similar a informação em um esquema já existente, então ela pre- Além disso, assim como na família, o corpo é envolto de mis-
cisa alterá-lo, ou criar um novo esquema. térios: muitas coisas que dizem respeito a eles são proibidas; não
Continuando com o exemplo acima, quando a mãe da crian- se fala e quase não se toca em determinadas partes do corpo. Re-
ça explicar que apesar do formato aquela é uma fruta diferente, forçam-se os tabus que têm passado de geração em geração, sem
a criança irá reorganizar o seu esquema sobre “laranja”, sabendo que as maiorias dos educadores se preocupem em questioná-los
da existência de outras frutas. em profundidade.
Freire, com procedência, diz que os educandos são transforma-
O conceito de equilíbrio dos em seres passivos, que recebem os conteúdos, os conhecimen-
Quando os esquemas existentes de uma criança são capazes tos, de forma autoritária: muitas vezes impostos pelas Secretarias
de explicar o que ela percebe ao redor, diz-se que ela está em um de Educação às escolas, que, por sua vez, os impõem aos professo-
estado de equilíbrio. No entanto, quando novas informações não res, e estes aos alunos, de maneira completamente desvinculada da
podem ser encaixadas em esquemas existentes, ela entra em um realidade daqueles a quem se destinam.
incômodo estado de desequilíbrio. Essa passividade se expressa, regularmente, também a nível
Como não gostamos de estar frustrados, procuraremos res- corporal. É com o corpo que entramos em contato com o mundo,
taurar o equilíbrio dominando o novo desafio. Deste modo, po- o experienciamos, conhecendo seus detalhes, possibilidades e li-
demos dizer que o equilíbrio é a força que impulsiona o processo mites. A escola, por meio do cerceamento das ações corporais e
de aprendizagem. espontâneas e do desenvolvimento de atividades repetidas e roti-
Esses conceitos criados por Piaget revolucionaram o enten- neiras, busca o disciplinamento e controle, impondo pensamentos,
dimento sobre o desenvolvimento infantil, fazendo com que a ritmos, posturas e movimentos padronizados.
teoria piagetiana se tornasse a mais importante na área, guiando Segundo Silva na escola para a transformação, terá que existir
professores e especialistas até a atualidade. liberdade de movimentos, de expressão, de exploração de mate-
rial concreto, de convívio grupal, de vivência do corpo. Além disso,
A CORPOREIDADE NA ESCOLA acreditamos que, assim como Freire propõe que o alfabetizador
A educação desenvolvida nas escolas públicas está a merecer tome como ponto de partida o universo vocabular da população
uma reflexão, um repensar das ações em busca de novos caminhos. com que ele trabalha, o educador transformador deve partir do co-
Tem-se verificado, de forma generalizada nas diversas áreas de nhecimento corporal concreto de seus alunos.
conhecimento, que os professores que ali trabalham não se inter- Leal em suas experiências com alfabetização em uma escola na
rogam sobre o que fazem, para que e a quem interessa essa edu- favela da Rocinha/RJ observou que as brincadeiras das crianças são
uma de suas principais manifestações espontâneas. Através delas,

282
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
articulam todo o seu universo: os seus desejos, a sua sexualidade, Durante o feudalismo, quando a classe explorada tinha como
o seu desespero, a vida e a morte. Constatou ainda que, enquanto propriedade o sujeito que ela explorava, os trabalhadores estavam
na favela elas conseguiam se organizar para brincar e jogar, mas na presos a terra. Já no capitalismo o processo foi alterado: os traba-
escola não conseguiam fazer o mesmo. lhadores foram libertos da terra, mas isto implicou dupla dependên-
De nossa parte, também observamos que, no recreio, elas são cia do capital - são livres para vender a força de trabalho e subor-
capazes de se organizar, seguindo, por exemplo, nas brincadeiras e dinados ao comércio de produtos necessários à sua sobrevivência.
jogos, as regras por elas estabelecidas de comum acordo. Entende- O homem, em última instância, ao vender a sua força de trabalho,
mos que as crianças, na sala de aula, não conseguem se organizar vende o seu corpo ao capitalista, que paga uma quantidade mínima
como no recreio porque o professor centraliza todas as decisões, para repor as energias gastar e continuar no processo de produção.
não permitindo que elas exercitem seus conhecimentos, decidam A sociedade capitalista moderna, para atingir as finalidades, di-
e se organizem. rige a energia dos homens para o trabalho em proporções sem pre-
Soma-se a isso o fato de que as representações e os significa- cedentes, levando-os a tornarem-se alheios ao seu mundo, à natu-
dos que a escola e os adultos em geral têm sobre as brincadeiras e reza, às coisas e às pessoas que rodeiam, bem como a si próprios. O
jogos são diferentes daqueles das crianças. Segundo Oliveira, en- que interessa à organização industrial é um corpo com movimentos
quanto para o adulto brincar significa entreter-se com coisas ame- eficientes, úteis, funcionais, treinados e ritmados para a produção.
nas, esquecer, ainda que de maneira passageira, as desilusões e É desinteressante como mostra, que o corpo fale e que se expresse,
momentos de tensão, a criança, através do brinquedo, fazem sua que se comunique, mas interessa que produza, obedeça aos ritmos
incursão no mundo, trava contato com os desafios e busca saciar que são impostos, adaptando-se às necessidades da produção, sem
sua curiosidade de tudo conhecer. Esse autor afirma ainda que, no questioná-las.
brinquedo infantil, práticas e interpretações sociais estão represen- A sociedade em que vivemos é gestada em longo processo de
tadas, e sua análise nos propicia uma incursão nos problemas eco- instituições que moldam o indivíduo articulando-o ideologicamente
nômicos, socioculturais e políticos existentes em nossa sociedade. à ordem, reprimindo as suas manifestações anormais e recompen-
sando as normais. A escola, como parte da sociedade onde se inse-
Na medida em que estamos cientes de que para qualquer re, está marcada por essas ações.
transformação social é preciso ir além do senso comum, buscamos
neste estudo fazer uma reflexão crítica sobre nossas constatações O corpo na escola capitalista
do cotidiano escolar. É neste sentido que, a seguir, procuramos con- Alves afirma que Marx, em seus escritos, dizia que o capitalis-
textualizar historicamente as ações que se exercem sobre e no cor- mo é uma educação do corpo, que é ensinado a se esquecer de to-
po, a forma como têm sido interpretados as brincadeiras e jogos na dos os seus sentidos eróticos, sendo transformado apenas no local
educação e, conhecendo seus reais significados e sua importância de um sentido - sentido da posse - onde a sociedade transforma o
para o desenvolvimento das crianças, descobrirem como podemos desejo de ter e de usar na principal preocupação do homem.
resgatar a corporeidade. A escola utiliza-se de uma variedade de situações em seu co-
tidiano para fazer tal educação. Podem-se notar, através dos pro-
Algumas concepções de corpo gramas, conteúdos, dos horários, dos deslocamentos em filas, uma
Medida fazendo um relato histórico de como o corpo tem sido infinidade de modelos de ações que devem ser seguidos e cumpri-
visto através dos tempos, propõe algumas interrogações: o que é dos por todos. Nesse sentido, Foucault e Guimarães afirmam que
verdadeiramente o corpo? Como a humanidade o concebeu através um dos objetivos da escola é controlar o corpo, através de atitudes
dos tempos? de submissão e docilidade que ocorrem nos exercícios que esqua-
A partir dessas interrogações expõe o pensamento dos gran- drinham o tempo, o espaço, os movimentos, gestos e atitudes dos
des filósofos da Antiguidade e medievais, que viam o corpo como alunos. As ocupações ocorrem de maneira determinada, por meio
instrumento da alma (doutrina da instrumentação do corpo). Essa de ritmos coletivos e obrigatórios: aquisição dos mesmos conhe-
concepção conforme Medina foi abandonada com Descartes, que cimentos, os mesmos tipos de provas e exames. O professor, que
desenvolveu uma forma de dualismo “onde o corpo e a alma são possui um poder aparente nas decisões, exerce na sala de aula um
substâncias diferentes e independentes”. Para ele, o homem é fun- poder concreto ao nível do corpo dos alunos. Ao determinar que
damentalmente espírito, o que fica expresso na afirmação: Penso, eles executem as ações definidas por ele, influi também na criação
logo existo. O pensamento cartesiano continua a vigorar em nossa de um homem disciplinado, cumpridor de ordens que, ao chegar ao
sociedade, o que pode ser percebido em determinadas atividades sistema de produção, como trabalhador, possa cumprir o que este
através da valorização a elas dada, como é o caso do trabalho ma- lhe reserva: produção com o máximo rendimento, de preferência
nual e intelectual, sendo este mais valorizado. sem interrogações.
Já em nosso século, o filósofo Merleau Ponty vai se contrapuser Medina afirma que na determinação de nossa corporeidade há
a essa posição, com a afirmação “Eu sou meu corpo” - existo, logo marcada influência da infraestrutura socioeconômica.
penso. E, ainda, Cruz mostra que: Se vivemos num sistema capitalista, dependente, altamente
Merleau Ponty considera que a alma e o corpo, que ingenua- hierarquizado em níveis sociais, não só a escola como também o
mente Descartes separou e cuja separação influenciou o pensamen- homem, o corpo e suas manifestações culturais, serão produto ou
to universal, não podem ser novamente reunidos por um simples subproduto das estruturas que caracterizam este sistema.
decreto exterior que faça um, objeto do outros. Esta união na ver- No entanto, o autor chama a atenção para o fato de que as
dade se expressa em cada um dos movimentos ao longo de nossa relações ocorrem de forma dialética e jamais descontextualizada
existência. historicamente. É preciso que se veja em que níveis os fenômenos
acontecem, quais são os determinantes e quais são os determina-
Mas foi a partir de Marx que o corpo pôde ser visto com outras dos nessas relações.
dimensões, passando a revelar determinados dramas da existência
humana. Através de sua análise sobre as relações de trabalho, ele
trouxe à tona, de maneira indireta, a questão do corpo.

283
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Brincar e jogar: o resgate da corporeidade É através do corpo que a criança, desde os primeiros dias de
Ao falarmos sobre brincadeiras, brinquedos e jogos, procura- vida, realiza brincadeiras que são fundamentais para o seu desen-
remos estabelecer algumas diferenças entre estes termos para que volvimento e crescimento. Bandet & Sarazanas afirmam que o cor-
se possa compreender os seus significados no contexto deste tra- po é o primeiro brinquedo que a criança utiliza para brincar.
balho.
Bettelhem e Oliveira são dois dos autores que se preocupam “O primeiro brinquedo da criança, objeto de sua atenção e es-
com esses conceitos, porém têm posições não totalmente conver- panto, é realmente o corpo humano, quer se trate do seu próprio
gentes. O primeiro estabelece uma distinção entre brincadeira e corpo, quer se trate do corpo de sua mãe”.
jogo: brincadeira não é pautada por regras, a não ser aquelas que a
própria criança impõe às atividades podendo alterá-las a qualquer Se observarmos a criança num berço, notaremos que ela não
momento; os jogos possuem regras e estrutura definidas e aspec- vê os brinquedos que lhe são oferecidos prematuramente. Ela brin-
tos competitivos que se aproximam mais do jeito do adulto passar ca com os dedos, mexendo uns após os outros, cruza, puxa os da
o tempo. Este autor afirma ainda que, ao brincar, a criança busca mão esquerda com a mão direita, olha para a mão. Aproximada-
um equilíbrio dentro de si mesmo, enquanto, no jogo, ela procura mente até os três meses, ela brinca quase exclusivamente com os
harmonizar-se em conformidade com a estratégia de seu oponen- dedos, cabelos, orelhas. A partir daí começa a ter interesse pelo
te. A criança na brincadeira estabelece uma ordem interna e no mundo exterior, descobre agora o corpo da mãe, passa-lhe a mão
jogo aceita e trabalha com a ordem externa, a fim de atingir seus pelo rosto, puxa-lhe os cabelos, enfia-lhe os dedos nos olhos e na-
objetivos. Já Oliveira entende que tanto as brincadeiras quanto os riz. Os acessórios da roupa da mãe despertam-lhe a curiosidade.
jogos são prática coletiva, que exigem uma série de conhecimen- À medida que a criança amplia suas experiências, o seu corpo
tos e regras que estabelecem uma diferença entre o brinquedo e a já não lhe basta, e aparece, então, o primeiro brinquedo. Através
brincadeira. das brincadeiras e jogos, constrói esquemas motores, exercita-se
Trata-se, primeiramente, de um objeto palpável, finito e ma- os repetindo, integra-os a novos tipos de comportamentos, avança
terialmente construído, podendo-se construir segundo formar em novas descobertas. No entanto, como nos lembra Chateau que:
variadas de criação, desde aquelas artesanais até as inteiramente (...) barbante, vara, traço são símbolos menos carregados de
industrializadas, sendo que o brinquedo separa-se da brincadeira e sentido do que o corpo: com o seu corpo a criança pode representar
do jogo, de vez que ambos se expressam muito mais por uma ação um mundo de objetos. Em primeiro lugar, seres humanos, eviden-
do que propriamente por um objeto. Nunca será demais insistir que temente; também seres vivos, coelhos, ursos, etc. Até objetos ina-
essa associação do brinquedo ao objeto e do jogo e da brincadeira nimados (...).
à ação não é mutuamente excludente, tanto a manipulação de um Os adultos, na maioria das vezes, não reconhecem a importân-
brinquedo qualquer implica necessariamente uma ação, enquanto cia da brincadeira infantil, que é vista como um mero passatem-
um jogo ou brincadeira socorre-se de objetos, suportes materiais po, destituída de significação. No entanto, na Carta dos Direitos da
para se realizarem. Criança, está escrito O direito de brincar, justamente porque, como
Por outro lado, Piaget não estabelece tais distinções, denomi- nos demonstram vários especialistas, é através das brincadeiras
nando jogo toda a atividade lúdica infantil. Porém ele realiza uma que ela busca entender o mundo: por exemplo, Bettelheim nos
classificação dos jogos, de acordo com a complexidade de suas es- lembra que ao brincar imitando os adultos, a criança tenta com-
truturas: o jogo de exercício, que é o que não supõe qualquer téc- preendê-los.
nica particular; o jogo simbólico, que implica a representação de
um objeto ausente, e o jogo de regra, que supõe relações sociais ou Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender
interindividuais. como ela vê e constrói o mundo - o que ela gostaria que ele fosse
De nossa parte, neste estudo, nos inclinamos pelos estudos quais as suas preocupações e que problemas a estão assediando.
estabelecido por Piaget, mas entendemos que as brincadeiras pos- Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em
suem regras definidas pelas próprias crianças, enquanto o jogo tem palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para pas-
regras definidas “oficialmente”, mas do jeito do adulto de jogar. sar o tempo, se bem que os adultos que a observam possam pen-
sar assim. Mesmo quando entre numa brincadeira, em parte para
As brincadeiras e jogos no desenvolvimento da criança preencher momentos vazios, sua escolha é motivada por processos
Huizinga teorizando sobre os jogos, afirma que, além das fun- íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo
ções de homo sapiens, que é raciocinar, e a do homo faber, que é com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar
de fabricar objetos, há nos homens e animais uma terceira, a do é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a
homo ludens, onde o jogo é quem propicia a sua realização e se entendemos.
caracteriza como: Como exemplo dessa linguagem secreta, vários autores escla-
recem a importância que as repetições das brincadeiras têm para
...uma atividade livre, conscientemente tomada como ‘não se- as crianças. Enquanto para os adultos estas ações são percebidas
ria’ e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de ab- como coisa chata e irritante, para ela executar mais uma vez a sua
sorver o jogador intensa e totalmente. É uma atividade desligada brincadeira expressa que ela está procurando compreender o que
de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter está fazendo. Bettelheim apresenta como significado:
lucro, praticada dentro de limites especiais e temporais próprios, A repetição verdadeira nos padrões de brinquedo é um sinal
segundo uma certa ordem e certas regras. Promove a formação de de que a criança está lutando com questões de grande importância
grupos sociais com a tendência a rodearem-se de segredos e a sub- para ela, e de que, embora ainda não tenha sido capaz de encontrar
linharem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio dos uma solução do problema que explora através da brincadeira, con-
disfarces em outros meios semelhantes. tinua a procurá-lo.

284
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Já Benjamim afirma ser esta uma lei fundamental desenvolvida Este mesmo autor relata que, em uma pesquisa realizada em
pela criança antes das leis particulares e regras que regem a totali- escolas elementares de Viena, foi constatado que 80% das crianças
dade de seus brinquedos: da 1ª série fracassaram porque não tinham desenvolvido a atitude
(...) para a criança ela é a alma do jogo; nada a alegra mais do de trabalho em seus jogos antes de ingressar na escola.
que ‘mais uma vez’. O ímpeto obscuro pela repetição não é aqui no Mas cabe aqui uma pergunta: Por que, mesmo tendo vários
jogo menos poderosos, menos manhoso do que o impulso sexual no autores escritos sobre a importância dos jogos e brincadeiras na
amor(...) A criança volta a criar para si o fato vivido, começa mais vida das crianças, a escola quase concretiza a hipótese de Chateau
uma vez do início (...). A essência do brincar não é ‘fazer como se’, fazendo com que elas parem de brincar de uma hora para outra,
mas ‘fazer sempre de novo’, transformação da experiência mais co- deixando os seus pátios e suas salas de aula silenciosa?
movente em hábito.
Como já vimos, a escola capitalista mais que propiciar o desen-
Chateu vê a repetição no jogo como um esboço de ordem: volvimento das crianças da classe trabalhadora tem como objetivo
Alguns jogos tornam-se verdadeira obsessão, uma criança de discipliná-las para tornar o seu trabalho cada vez mais produtivo e
oito anos bate até cem vezes as teclas de um piano, sem se cansar, lucrativo. É neste sentido que concordamos plenamente com Tho-
outra não para de abrir uma caixa (...). Um aluno da escola mater- maz (1986, p. 6) e outros quando afirmam que:
nal é ainda muito voltado para a repetição, podendo, por exemplo, Seria ilusão pensar que bastaria recomendar que os professo-
subir cem vezes seguidas os três degraus de uma escada (...). Os rit- res propusessem jogos e exercícios diferentes. A questão exige a for-
mos são uma repetição ainda mais precoce. Pode-se falar de ritmos mação de novos conteúdos práticos, exige também a veiculação de
vitais como o ritmo do sono, o da febre (...). Não é de se espantar compromissos por todos os canais que conduzem para onde possa
que também os jogos das crianças sejam sempre comandados por agir como força de pressão.
esse amor ao ritmo e à repetição. Os autores apontam os papéis que um jogo pode estabelecer
quando proposto pelo professor às crianças como um pacote, com
É por tudo isso que não podemos conceber a criança sem ri- regras, técnicas, táticas, organização, materiais prontos. À criança
sos e sem brincadeiras. Como disse Chateau se as crianças de uma ficara como alternativa jogar, exercitando-se segundo as determi-
hora para outra parassem de brincar, os pátios das escolas ficassem nações do professor, em habilidades mais desenvolvidas, até atingir
silenciosos, as vozes, os gritos fossem desajeitados, silenciosos e as determinações do professor, em habilidades mais desenvolvidas,
sem inteligência. Aquelas crianças que não brincam podem sofrer até atingir uma performance julgada satisfatória também pelo pro-
interrupções intelectuais, pois deixam de exercitar processos men- fessor. Quando o apito soa, é sinal que não está havendo atuação
tais importantes para o seu desenvolvimento. conforme o estabelecido pelo sistema. As recompensas e punições
Se para a própria criança, ela brinca apenas porque isso lhe dá são maneiras de estabelecer o condicionamento das crianças, bus-
prazer, na verdade, como nos esclarece Bettelheim a atividade lúdi- cando a disciplina, a ordem e a hierarquia que devem ser obede-
ca é uma necessidade que tem sua fonte na pressão de problemas cidas, ocultando as relações de poder que se expressam nestas
não resolvidos. ações. Aqui ocorre o desenvolvimento à subserviência, mas não a
(...) brincar é uma atividade com conteúdos simbólicos que as inteligência: desenvolve-se a obediência às regras, mas não a com-
crianças usam para resolver, num nível inconsciente, problemas que preensão de normas de respeito individual e social. Procura-se cer-
não têm condições de resolver na realidade; através da brincadeira ta habilidade motora, mas não a criatividade.
adquirem um sentimento de controle que no momento estão longe
de possuir. No entanto, vejamos: se a alternativa fosse jogar, seguindo uma
orientação geral, trabalhando com as crianças a elaboração de re-
É assim que, representando as suas fantasias no mundo do faz gras, das técnicas, os resultados seriam completamente diferentes.
de conta, a criança vai construindo uma ponte entre a sua subjeti- Frei Betto, por exemplo, quando na prisão, percebendo o poder
vidade e o mundo exterior, ao mesmo tempo em que aprende a ter que esta instituição exerce sobre o corpo, desenvolveu um trabalho
respeito pelas limitações que a realidade lhe impõe. com os presidiários, tendo como princípio pedagógico de sempre
fazer um trabalho a partir dos elementos fornecidos pelas experiên-
Da “morte” para a vida do brincar e jogar na escola cias vitais anteriores. Realiza exercícios, expressão corporal e tea-
A criança, ao ingressar na escola, enfrenta uma série de impo- tro. A partir da boca, utilizada como órgão de expressão - trabalho
sições dos adultos que levam a uma grande quebra no ritmo de sua de descontração da palavra -, levava os presos a tomarem consciên-
atividade lúdica. Ela, que passa a maior parte do tempo a brincar e cia de como o sistema age sobre o corpo, tornando-o um objeto.
jogar passa, agora, várias horas imobilizadas e presas às cadeiras, Assim procedendo, o educador tem como principal objetivo fa-
executando tarefas que não exigem quase nenhum movimento. Na zer com que os indivíduos desenvolvam elementos fundamentais à
maioria das vezes, o brincar passa a ser condicionado à realização sua cidadania, onde as diferenças sociais, os preconceitos, as inabi-
das tarefas escolares: Só brinca se realizar os deveres. As atividades lidades não fiquem escamoteados e camuflados. Simbolicamente,
da escola são vistas como “coisa séria”, enquanto que brincar e jo- o jogo representa o indivíduo e sua vida em sociedade. Tendo o
gar ficam em um plano secundário. jogo tais características, é preciso que essas representações ocor-
No entanto, Chateau afirma que dos jogos origina-se outra ati- ram em liberdade, que as condições se explicitem claramente. De-
vidade: o trabalho. Para ele, jogar é uma tarefa que exige um deter- nunciá-las, refletir sobre elas, aprendê-las e superá-las é o papel da
minado esforço e se impõe como um trabalho. Ao aceitar participar educação transformadora.
de um grupo de jogo, a criança também aceita um determinado
código lúdico, como um contrato social implícito, diz que: Questões a serem articuladas pela leitura do cotidiano
Para o grande, o jogo é cumprir uma função, ter lugar na equi- A partir de nossa prática com trabalhos que envolvem dire-
pe; o jogo, como o trabalho, é, por conseguinte, social. Por ele, a tamente o corpo, observamos que nas escolas os conhecimentos
criança toma contato com as outras - se habitua a considerar o pon- que os alunos têm de seus ritmos e movimentos e suas formas de
to de vista de outrem, e sair de seu egocentrismo original. O jogo é expressão não são valorizados. O fato constatado por outros auto-
a atividade do grupo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
res de que a escola impõe, de forma autoritária, uma variedade de tejam divididas especialmente em grupos, o trabalho coletivo não
atividades estranhas à realidade concreta deles, atinge também a existe. Até mesmo a ajuda mútua entre as crianças não é permitida,
corporeidade. como fica evidenciado no exemplo abaixo:
A ação pedagógica da escola, baseando-se no princípio de
que as crianças da periferia não têm conhecimentos, lhes impõe Cuida do teu nariz, senão ele cresce.
atitudes corporais - as boas maneiras no falar, caminhar, sentar-se, Quando as crianças saem dos seus lugares, a professora, às ve-
alimentar-se, brincar, etc. -, que são completamente diferentes de zes de maneira sutil, outras, veemente, chama a atenção para que
suas experiências vivenciadas fora da escola. Aquelas que não acei- elas permaneçam sentadas. Um das formas de controle observadas
tam as imposições da escola, que não se deixam levar pela passi- se constata pelo seguinte episódio:
vidade e submissão, que resistem em defesa de sua corporeidade, “Uma criança está caminhando pela sala. A professora pergun-
são discriminadas de muitas maneiras: são rotuladas como maus ta elevando a voz: “Já fizeste o tema” ?!” Se a criança responder que
alunos, bagunceiros; recebem notas baixas; assinam caderninhos; fez, ela então diz: “Me traz aqui para eu ver”. Se responder que não,
seus pais são chamados, sofrem suspensões e até mesmo são ex- ela diz: “Então senta para fazer”.
pulsos da escola. Olhem aqui é outra maneira utilizada para chamar a atenção
Enquanto educadores preocupados e comprometidos com a das crianças que estão se distraindo com atividade como: brincar,
transformação real e efetiva do sistema escolar, entendemos que movimentar-se pela sala, conversar. A corporeidade da professora
é necessário que se articulem todos os caminhos possíveis para a altera-se: seu olhar torna-se insistente, o rosto contrai-se, a voz pas-
sua concretização. E, nesse sentido, podemos afirmar que a corpo- sa da fala clama para os gritos:
reidade na educação sistemática e nas brincadeiras e jogos estão a
merecer uma compreensão de uma dimensão mais ampla. “Olha aqui! Não grita!”.

Neste estudo, abordaremos a problemática da corporeidade na Na sala de aula, a mesa da professora está em uma posição
escola envolvendo as seguintes questões: espacial, de tal forma que, através de um único olhar, ela possa
- Como a escola, através da educação sistemática, tem cons- manter o controle de todas as crianças. Este é o olhar do aparelho
truído uma corporeidade (gestos, movimentos, ritmos, pensamen- disciplinar, descrito por Foucault que diz:
tos, etc.)?
- Que corporeidade as crianças constroem e/ou expressam “(...) olho perfeito a que nada escapa e centro aos quais todos
através de brincadeiras e jogos? os olhares convergem”.
- Como a corporeidade construída e expressada nas brincadei-
ras e jogos das crianças poderá contribuir para a transformação da Outra expressão, também muito usada pela professora para
escola? controlar a espontaneidade das crianças, é: Agora não, só depois.
O depois, geralmente, não acontece, porque não há tempo. O pre-
A Sala de Aula: Espaço de Controle da Corporeidade das sente é sempre jogado para o futuro. A prioridade é sempre dada
Crianças às tarefas escolares, e aquilo que as crianças querem realizar é per-
Agora, convidamos o leitor a entrar conosco neste estranho manentemente postergado:
espaço - lugar das coisas sérias, do não, do só depois... - que o coti-
diano inevitável nos faz parecer corriqueiro, sem novidades, e que “Gente! Olhem aqui! Primeiro façam o tema para depois con-
é, para as crianças, um lugar onde é sempre a mesma coisa ou tem versar”.
que cópia do quadro e fazer os trabalhos. Sem pretensão de esgo-
tar a análise dessa realidade que, como bem nos lembra Morais, A escola leva as crianças a controlarem seus desejos, impon-
contém muitas realidades, abordaremos como e porque o controle do-lhes outros, que nunca é o presente, o agora, mas alguma coisa
da espontaneidade das crianças recai principalmente sobre os seus que acontecerá no futuro, o depois. Existirá forma mais eficaz de
corpos. transformar crianças “impulsivas” em alunos dóceis e obedientes?
A sineta anuncia um novo momento. Filas se formam: de um
lado, meninos; de outro, meninas. Corpo de sexos diferente não Escrevo para poder passar.
pode ficar perto. Novo portão, este no interior da escola, se abre. Estudo para quando crescer ensinar de professor.
Enfileiradas, as crianças sobem as escadas, acompanhadas pelas Aprendo para passar, para quando ser grande, ser alguém.
advertências da professora: Não corram! Não saiam do lugar! Não
falem! Mas quais seriam os genuínos desejos das crianças?
O último cadeado é aberto e eis a sala de aula. As crianças, na sala de aula, enquanto realizam as tarefas esco-
Assim como Freitas, encontramos na sala de aula vários meca- lares, falam de seu cotidiano, de suas brincadeiras. Poucas vezes se
nismos do controle disciplinar analisados por Foucault: a divisão do referem ao que estão fazendo; pelo contrário, geralmente, contam
tempo, o quadriculamento do espaço, a distribuição dos corpos em o que fez no dia anterior ou planejam o que farão após saírem da
fila, a constante vigilância, as sanções normatizadoras. escola. O brincar está no centro de seus desejos. Sempre que po-
A organização da sala de aula foi aparentemente modificada, dem, transformam uma situação da sala de aula em brincadeira. Nas
passando das filas de carteiras a classes aglutinadas, de tal forma sacolas e nos bolsos carregam pequenos brinquedos... Além disso,
que, sentando-se em círculo, as crianças se dispõem como se tra- elas criam comportamentos de resistência ao controle da profes-
balhassem em grupo. No entanto, a ideia de que algo mudou não sora. Um deles é pedir para ir ao banheiro ainda que sob reclamos
resiste além da primeira impressão, pois as relações sociais estabe- dela: Por que não foram antes? É lógico que as crianças querem se
lecidas na sala de aula não se alterariam em sua essência. Cada alu- levantar, caminhar, brincar. Quando saem da sala de aula eles ficam
no possui um lugar e um grupo fixos, determinados pela professora. brincando de escorregar no corrimão da escada. Em outras pala-
Os critérios de disposição das crianças prolongam as discriminações vras, podemos dizer que o brincar é a atividade que, para a criança,
existentes em nossa sociedade: as brancas separadas das pretas; as tem significação, a tal ponto que um menino chegou a dizer:
crianças do morro não andam com as da vila. Embora as crianças es-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
“Na escola fico sem fazê nada, só escrevo. Para ser melhor te- Da para imaginar o que representa para uma criança, que
ria que escrever e brincar de escrever em aula, depois eu ia para o passou sete anos se movimentando, ser subitamente ‘amarrada’ e
recreio”. ‘amordaçada’ para, como se diz, ‘aprender’ o que é, para ela, uma
linguagem, às vezes, totalmente estranha? A linguagem da imobi-
Assim, o ato de escrever está tão distante de seu mundo in- lidade e do silêncio? Seria o mesmo que pegar um professor idoso,
fantil que equivale a nada fazer. Com isso não estamos querendo que há muito deixou de praticar atividades físicas, a não ser as mais
dizer que a escola não deva ensinar as crianças a escrever e dei- triviais, e obrigá-los a correr por alguns quilômetros em ritmo ace-
xá-las em seu mundo do faz-de-conta. O que estranhamos - e nos lerado. A violência seria idêntica. O interessante é que nós, profes-
perguntamos por quê - é a forma como a escola introduz as tarefas sores, não suportamos a mobilidade da criança, mas queremos que
escolares na vida da criança. Nas salas de aula, a brincadeira não ela suporte nossa imobilidade.
entra; é o lugar das coisas sérias. No que diz respeito especialmente
à escrita, vemos a criança, quando fora da escola, rabiscando no A escola detém a mobilidade espontânea dos alunos para ra-
papel, riscando o chão com gravetos, pedras, etc. - riscos e rabis- cionalizar os seus movimentos, enfatizando a produção de gestos
cos cheios de significados; na sala em que são propostos exercícios mecânicos e estereotipados. Nesse sentido, concordamos com Silva
mecânicos e repetitivos de traçar sobre linhas pontilhadas que não quando diz que a escola faz um treinamento de iniciação ao taylo-
lhe dizem nada. São os chamados exercícios preparatórios. Mas rismo:
preparatórios para que? Certamente não é para aprender a ler e Fragmenta-se inicialmente, ao máximo, o processo de trabalho
escrever, sobretudo tendo em vista as páginas e páginas escritas a fim de torná-lo mais rentável para no fim recompô-lo. Assim, por
por diversos autores a respeito do assunto, onde afirmam que não exemplo, fragmentam-se a escrita em suas unidades mínimas, os
é o treinamento de habilidades que levam as crianças a assimilarem traços, verticais, horizontais... que compõem as letras. Treinam-se
esse objeto social, que é a língua escrita. Ferreiro é uma das autoras mesmos até seu perfeito domínio, para depois recompô-lo nas le-
que defende que: tras.
A partir dessa análise fica evidente que a educação vigente na
(...) as crianças devem resolver sérios problemas conceituais sala de aula tem como base não o prazer, a alegria e as emoções da
para chegarem a compreender quais são as características da língua descoberta, mas sim o sofrimento e a dor com que o trabalhador
que a escrita alfabética representa e de que maneira apresenta es- deve se acostumar para produzir. Com o passar do tempo, essa dor
tas características. A repetição e memorização têm pouco ou nada e sofrimento são vistos como naturais. Assim, por exemplo, vimos
a ver com a superação destas dificuldades. crianças que censuravam as brincadeiras, considerando preguiço-
sos aqueles que só querem brincar. Eis aqui a origem da representa-
Pelo contrário, autores como Vigotsky, por exemplo, nos relata ção ideológica - que permanece ao longo de séculos de que a crian-
brincadeiras onde os objetos são transformados em símbolos de ça aprende através do castigo. O diálogo entre a professora e o avô
outras crianças, atividade fundamental para aquisição da língua es- de um aluno ilustra a atualidade disso:
crita. - Como está o Rodrigo?
Num outro jogo, pegamos o relógio e, de acordo com novos - Impossível! Só quer brincar e brigar. Não faz nada!
procedimentos, explicamos: ‘Agora isto é uma padaria’. Uma crian- - A Senhora pode fazer qualquer coisa para ele aprender, pois,
ça imediatamente pegou uma caneta e, colocando-a atravessada quando eu estava na escola, ficava de castigo ajoelhado em grãos
sobre o relógio, dividindo-o em duas metades, disse: ‘Tudo bem, de milho.
esta é a farmácia e esta é a padaria’. O velho significado tornou- - O senhor sabe, eu não posso bater nas crianças. Mas o seu
-se assim independente e funcionou como uma condição para o neto teve por que puxar?
novo(...) Assim, um objeto adquire uma função de signo, com uma - É. Eu era terrível na escola, aprontava em aula. Mas não diga
história própria ao longo do desenvolvimento, tornando-se, dessa nada. Ele não sabe disso.
fase, independente dos gestos das crianças. Isso representa um
simbolismo de segunda ordem e, como ele se desenvolve no brin- A partir das constatações acima, faz-se necessário que todas
quedo, consideramos a brincadeira do faz-de-conta como um dos aquelas práticas desenvolvidas nas escolas, sobretudo, aquelas que
grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem escri- trabalham diretamente com o corpo - a educação física -, que aque-
ta - que é um sistema de simbolismo de segunda ordem. les educadores comprometidos com uma práxis transformadora,
As observações na sala de aula respaldam a opinião desses au- partem do conhecimento e da organização das próprias crianças.
tores: Um processo educativo que gere contradições na busca de cons-
cientização. Neste caso, já não há lugar para os conhecimentos em
“Um dia as crianças se opunham à ‘escrever’ e copiar do qua- forma de pacotes, onde o poder de decisão fica centrado no pro-
dro, ao passo que, quando foram para o pátio, com pedaços de giz, fessor, sendo o aluno um ser passivo que executa ordens, aonde as
escreveram e desenharam durante longo tempo as mais variadas regras, técnicas, táticas, organização e outros materiais vêm todos
formas de mensagens”. elaborados. Às crianças resta como alternativa, jogar, brincar, de-
Conforme vimos anteriormente, segundo Foucault e Guima- senhar, obedecendo às determinações do professor, conforme as
rães a escola, na sociedade capitalista, possui como um dos obje- exigências por ele julgadas pertinentes.
tivos controlarem o corpo das crianças da classe trabalhadora, de Aqui está se desenvolvendo uma criança para submeter-se às
maneira sistemática, impondo-lhes uma variedade de comporta- regras e não para compreendê-las como necessárias ao convívio so-
mentos que futuramente servirão de sustentáculo ao sistema de cial. Neste processo a ser instaurado, o professor terá que possuir a
produção. Assim, ao chegarem à escola, as crianças são condiciona- sensibilidade para estar atento às iniciativas das crianças e, sempre
das a obedecerem ao toque da sineta. É hora de iniciar a produção. que possível, desenvolver um processo de desequilíbrio para que
Na sala de aula, os seus corpos passam a ser imobilizados, ficando elas avancem na aquisição de novos conhecimentos. Terá que in-
longo tempo presos às cadeiras, tal qual o operário fica preso à sua tervir nas discussões, fazer perguntar, fornecer pistas que ajudem
máquina. Freire com muita prioridade nos dá a exata dimensão da no encaminhamento de soluções para os problemas surgidos, mas
violência que isso significa: sempre, como propõe João Batista Freire, o ponto de partida deve

287
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ser o conhecimento das crianças. Porém, para partir do conheci- de colaboração coletiva que tem a capacidade de harmonizar as di-
mento das crianças, o professor deverá mudar a sua forma de re- ferenças entre os grupos e fazer valer o que é melhor para todos,
lação com as crianças e com o conhecimento; já não mais será o especialmente para os alunos.
detentor de um saber pronto e acabado, mas agora o conhecimento Afinal, toda e qualquer proposta está voltada ao desenvolvi-
e as relações serão construídos coletivamente pelo grupo. mento e aprimoramento intelectual, social e educacional dos alu-
nos, levando em consideração suas necessidades.
Fonte Uma proposta pedagógica que preveja aulas de algum idioma
FIGUEIREDO, M. X. B. A corporeidade na escola: brincadeiras, jogos e estrangeiro fora do horário escolar pode revelar-se uma excelente
desenhos - Pelotas: Editora Universitária-UFPEL, 2009. estratégia em instituições com alunos predominantemente perten-
centes a classes mais baixas e que não possuem condições finan-
ceiras de arcar com cursos de línguas, por exemplo. Por outro lado,
PROPOSTA PEDAGÓGICA. EIXOS NORTEADORES E essa mesma proposta pode não render frutos em escolas com alu-
PRÁTICA PEDAGÓGICA nos de classe média ou alta.
Esses exemplos demonstram, na prática, a importância extre-
A proposta pedagógica da escola está prevista na Lei de Dire- ma de inserir todos na discussão e formulação da proposta pedagó-
trizes e Bases da Educação de 1996 e tem como objetivo principal gica. Ela deve estar, acima de tudo, alinhada ao local, comunidade
garantir a autonomia das instituições de ensino no que se refere à e público-alvo que atende para que gere os resultados esperados.
gestão de suas questões pedagógicas. Na prática, trata-se de um Também é essencial que a proposta pedagógica esteja em cons-
documento que define a linha orientadora de todas as ações da es- tante revisão, realinhamento e replanejamento. De nada adianta
cola, desde sua estrutura curricular até suas práticas de gestão. convocar os esforços de todos na elaboração desse documento se
A proposta pedagógica geralmente está baseada em uma linha ele ficar engavetado e só for revisto ao final de cada ano.
educacional proposta e descrita em determinada teoria pedagógi-
ca, como o Construtivismo, por exemplo, que tem ganhado muita Qual sua importância?
força ultimamente. Porém, independentemente da linha teórica A proposta pedagógica da escola é o documento que define a
que determinada escola deseja seguir, é necessário esclarecer que sua identidade e determina como ela irá se relacionar com todos os
cada uma delas possui seus próprios valores, dificuldades, vanta- envolvidos na comunidade escolar.
gens e desvantagens, que podem ser adaptados a diferentes reali- Uma instituição de ensino que possui uma proposta pedagógi-
dades escolares. ca bem elaborada e eficiente poderá observar impactos muito signi-
Contudo, a Lei de Diretrizes e Bases não se constitui em um ficativos na captação e retenção de alunos, na qualidade do ensino
conjunto de normas rígidas, que devem ser seguidas literalmente. por ela promovido e nos níveis de satisfação e contentamento do
Dessa maneira, essa flexibilidade permite que cada escola esteja corpo docente, dos alunos e de suas respectivas famílias.
livre para elaborar sua proposta pedagógica de acordo com seus Entretanto, para que se possa obter resultados consistentes,
interesses, de seus alunos e da comunidade onde está inserida. é crucial que se consiga alinhar teoria e prática. Um planejamento
Entretanto, apesar de poder adaptar os conteúdos e disciplinas meticuloso e que conte com a participação de todos, a preparação
com certa liberdade, as instituições de ensino devem estar aten- dos materiais adequados à proposta, a organização do currículo e,
tas às orientações contidas nas diretrizes curriculares elaboradas principalmente, uma excelente formação continuada do corpo do-
pelo Conselho Nacional de Educação e nos Parâmetros Curricula- cente são itens essenciais quando se fala em uma proposta pedagó-
res Nacionais (PCN). Além disso, a Base Nacional Comum Curricular gica realmente eficiente.13
(BNCC) estabelece uma série de aprendizagens que devem ser le-
cionadas, assim como dez competências gerais que os alunos de-
vem desenvolver ao longo da Educação Básica. FUNÇÃO SÓCIO-POLÍTICA E PEDAGÓGICA
Um ponto importante para se ter em mente é que a proposta
pedagógica é um dos pilares do Projeto Político Pedagógico (PPP) A escola tem como função criar uma forte ligação entre o for-
das escolas. Ainda assim, vale ressaltar que o PPP vai além, ao con- mal e teórico, ao cotidiano e prático. Reúne os conhecimentos com-
templar também as diretrizes sobre a formação dos professores e provados pela ciência ao conhecimento que o aluno adquire em sua
para a gestão administrativa. rotina, o chamado senso comum. Já o professor, é o agente que
possibilita o intermédio entre escola e vida, e o seu papel principal
Quem participa e o que deve conter a proposta pedagógica é ministrar a vivência do aluno ao meio em que vive.
da escola?
Independentemente da teoria que sirva como base para a es- Função social da escola
truturação de uma proposta pedagógica, a questão mais importan- A escola, principalmente a pública, é espaço democrático
te e que funciona como uma garantia de sua real efetividade é a dentro da sociedade contemporânea. Servindo para discutir suas
participação e contribuição de todos os envolvidos na comunidade questões, possibilitar o desenvolvimento do pensamento crítico,
escolar. trazer as informações, contextualizá-las e dar caminhos para o alu-
Professores, alunos, coordenação, pais e comunidade devem no buscar mais conhecimento. Além disso, é o lugar de sociabili-
opinar, comentar e apresentar tópicos que sejam relevantes e ade- dade de jovens, adolescentes e também de difusão sóciocultural.
quados à realidade da instituição e ao local onde está inserida. Mas é preciso considerar alguns aspectos no que se refere a sua
função social e a realidade vivida por grande parte dos estudantes
Como fazer isso? brasileiros.
A melhor opção, sem dúvida, está na promoção de espaços
para que cada parte envolvida no processo educacional possa ex-
por seus argumentos e interesses. Dessa forma, cria-se um espaço
13 Fonte: www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/www.proesc.com/www.infoescola.
com/www.somospar.com.br

288
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Na atualidade alguns discursos tenham ganhado força na teoria sair do estado de oprimido, de miserável. Perde-se em valores e
da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática valorações, não consegue discernir situações e atitudes, vive para
educacional e na contradição existente entre teoria e prática pro- o trabalho e trabalha para sobreviver. Sendo levado a esquecer de
duzem certas conformações e acomodações entre os educadores. que é um ser humano, um integrante do meio social em que vive,
Muitos atribuem a problemática da educação às situações as- um cidadão capaz de transformar a realidade que o aliena, o exclui.
sociadas aos valores humanos, como a ausência e/ou ruptura de Há uma contribuição de Saviani (2000, p.36) que a respeito do
valores essenciais ao convívio humano. Assim, como alegam de- homem considera “(...) existindo num meio que se define pelas co-
spreparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas, ordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determi-
cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos, na-o em todas as suas manifestações.” Vê-se a relação da escola
currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos na formação do homem e na forma como ela reproduz o sistema
outros fatores, tudo em busca da redução de custos. de classes.
Todas essas questões contribuem de fato para a crise educa- Para Duarte (2003) assim como para Saviani (1997) o trabalho
cional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa educativo produz nos indivíduos a humanidade, alcançando sua
problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde finalidade quando os indivíduos se apropriam dos elementos cul-
eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que turais necessários a sua humanização.
impedem a qualidade na educação? O essencial do trabalho educativo é garantir a possibilidade do
Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa homem tornar-se livre, consciente, responsável a fim de concre-
surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual. tizar sua humanização. E para issotanto a escola como as demais
Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas, esferas sociaisdevem proporcionar a procura, a investigação, a re-
descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como flexão, buscando razões para a explicação da realidade, uma vez
a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lu- que é através da reflexão e do diálogo que surgem respostas aos
cro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na problemas.
ideologia do sistema. Saviani (2000, p.35) questiona “(...) a educação visa o homem;
Um sistema que prega a acumulação privada de bens de pro- na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada
dução, formando uma concepção de mundo e de poder baseada para a promoção do homem?” E continua sua indagação ao refle-
no acumular sempre para consumir mais, onde quanto mais bens tir “(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve
possuir, maior será o poder que exercerá sobre a sociedade, acaba sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os
por provocar diversos problemas para a população, principalmente tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes
para as classes menos favorecidas, como: falta de qualidade na ed- épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante.”
ucação, ineficiência na saúde, aumento da violência, tornando os Os espaços educativos, principalmente aqueles de formação de
sistemas públicos, muitas vezes, caóticos. educadores devem orientar para a necessidade da relação subje-
Independentemente do discurso sobre a educação, ele sempre tividade-objetividade, buscando compreender as relações, uma vez
terá uma base numa determinada visão de homem, dentro e em que, os homens se constroem na convivência, na troca de experiên-
função de uma realidade histórica e social específica. Acredita-se cias. É função daqueles que educam levar os alunos a romperem
que a educação baseia-se em significações políticas, de classe. Fre- com a superficialidade de uma relação onde muitos se relacionam
itag (1980) ressalta a frequente aceitação por parte de muitos estu- protegidos por máscaras sociais, rótulos.
diosos de que toda doutrina pedagógica, de um modo ou de outro, A educação, vista de um outro paradigma, enquanto mecanis-
sempre terá como base uma filosofia de vida, uma concepção de mo de socialização e de inserção social aponta-se como o caminho
homem e, portanto, de sociedade. para construção da ética. Não usando-a para cumprir funções ou
Ainda segundo Freitag (1980, p.17) a educação é responsável realizar papéis sociais, mas para difundir e exercitar a capacidade de
pela manutenção, integração, preservação da ordem e do equilíbrio, reflexão, de criticidade e de trabalho não-alienado.
e conservação dos limites do sistema social. E reforça “para que o (...) sem ingenuidade, cabe reconhecer os limites impostos pela
sistema sobreviva, os novos indivíduos que nele ingressam precis- exploração, pela exclusão social e pela renovada força da violência,
am assimilar e internalizar os valores e as normas que regem o seu da competição e do individualismo. Assim, se a educação e a ética
funcionamento.” não são as únicas instâncias fundamentais, é inegável reconhecer
A educação em geral, designa-se com esse termo a trans- que, sem a palavra, a participação, a criatividade e apolítica, muito
missão e o aprendizado das técnicas culturais, que são as técnicas pouco, ou quase nada, podemos fazer para interferir nos contextos
de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo complexos do mundo contemporâneo. Esse é o desafio que diz res-
de homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se peito a todos nós. (RIBEIRO; MARQUES; RIBEIRO 2003, p.93)
contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em A escola não pode continuar a desenvolver o papel de agência
conjunto, de modo mais ou menos ordenado e pacífico. Como o produtora de mão de obra. Seu objetivo principal deve ser formar o
conjunto dessas técnicas se chama cultura, uma sociedade humana educando como homem humanizado e não apenas prepará-lo para
não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração o exercício de funções produtivas, para ser consumidor de produ-
para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa tos, logo, esvaziados, alienados, deprimidos, fetichizados.14
transmissão chama-se educação. (ABBAGNANO, 2000, p. 305-306)
Assim a educação não alienada deve ter como finalidade a for-
mação do homem para que este possa realizar as transformações
sociais necessárias à sua humanização, buscando romper com o os
sistemas que impedem seu livre desenvolvimento.
A alienação toma as diretrizes do mundo do trabalho no seio
da sociedade capitalista e no modo como esse modelo de produção
nega o homem enquanto ser, pois a maioria das pessoas vive ap-
enas para o trabalho alienado, não se completa enquanto ser, tem
como objetivo atingir a classe mais alta da sociedade ou, ao menos,
14 Fonte: www.webartigos.com

289
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A quarta e última dimensão é a relacional, que se refere às di-
ESPAÇO E TEMPO ferentes relações que se estabelecem dentro da sala de aula. Tais
relações são influenciadas pelos diferentes arranjos instituídos,
Segundo os estudos de Zabalza, Forneiro, Barbosa e Vascon- tais como: a distribuição dos alunos por faixa etária; a forma como
cellos o desenvolvimento do conceito de espaço pode ser analisado se constitui a construção de regras na relação professor/criança; a
a partir de três dimensões. A primeira vincula-se aos aspectos es- divisão do trabalho que acontece no pequeno ou grande grupo; a
téticos – acolhedor, belo, proporcional; a segunda, aos funcionais interação do professor durante o desenvolvimento das atividades
– adequados, com recursos disponíveis, exercendo sua finalidade propostas. Todas essas questões e muitas outras configuram uma
educativa; e a terceira, por fim, aos ambientais – o frio, o calor, a determinada dimensão relacional do ambiente. O ambiente, nessa
luminosidade, a segurança. Essas três dimensões estão implicadas, perspectiva, é visto como movimento, e não como algo estático –
segundo os autores, no trabalho pedagógico dos professores e na um ambiente vivo, que existe à medida que os elementos que o
aprendizagem e no desenvolvimento das crianças na educação in- compõem possam interagir entre si.
fantil. Em outras palavras, o espaço é pedagógico e o tempo é múl- Para Barbosa, “[...] um ambiente é um espaço construído, que
tiplo – biológico, institucional, coletivo, simbólico. se define nas relações com os seres humanos por ser organizado
Para Zabalza, a educação infantil tem características muito par- simbolicamente pelas pessoas responsáveis pelo seu funcionamen-
ticulares no que se refere à organização dos espaços. O autor sinali- to e também pelos seus usuários.” O espaço físico, por sua vez, é o
za que a infância precisa de espaços amplos, bem diferenciados, de lugar de desenvolvimento de “[...] múltiplas habilidades e sensa-
fácil acesso e especializados, em que as crianças possam movimen- ções e, a partir da sua riqueza e diversidade, ele desafia permanen-
tar-se, interagir, viver e conviver, desenvolvendo-se integralmente. temente aqueles que o ocupam”.
Salienta a necessidade de os espaços oferecerem oportunidades “Esse desafio constrói-se pelos símbolos e pelas linguagens que
diversas de interação e de aprendizagem, sejam elas coletivas, en- o transformam e o recriam continuamente.” (BARBOSA).
volvendo grupos de crianças e adultos, ou mesmo individualizadas, Segundo Vasconcellos, “as organizações do ambiente da creche
nas quais os objetos dispostos sejam o foco da atenção. transmitem mensagens sobre a criança e os modos e jeitos de lidar
Forneiro estabelece, conceitualmente, uma distinção impor- com ela, pois carregam consigo marcas simbólicas e históricas”. As-
tante entre espaço e ambiente. Refere-se aos espaços como “[...] sim, quando analisamos ambientes construídos por educadores é
locais para a atividade caracterizada pelos objetos, pelos materiais necessário, sobretudo, considera-los não como um produto, pronto
didáticos, pelo mobiliário e pela decoração.” Os espaços, com seus e acabado, mas um processo.
qualificativos físicos, constituem locais de aprendizagem e desen- Ambiente e espaço são definidos nas suas especificidades e
volvimento. O ambiente, por sua vez, corresponde ao conjunto do compreendidos pelos autores, e também por nós, como aspectos
espaço físico e das relações que nele se estabelecem (FORNEIRO). importantes a serem considerados nos processos de aprendizagem
O termo ambiente, procedente do latim, significa “ao que cerca ou e desenvolvimento, necessitando de estudo e planejamento para as
envolve”; dito de outra forma poderia ser assim definido como sen- dimensões que os envolvem.
do uma estrutura física na qual se encontram objetos, pessoas, rela- Assim sendo, deve-se considerar a organização do espaço na
ções, formas, cores, sons entre outros estímulos que se relacionam educação infantil para que ela se volte ao real interesse do grupo
dentro de uma estrutura física que os contem ao mesmo tempo em de crianças, observando sempre as características e as preferências
que é contido por eles. dessas crianças como, por exemplo, o espaço em que preferem
Essa autora estabelece quatro dimensões claramente defini- estar, o que gostam de brincar, o que atrai sua atenção, como se
das, mas inter-relacionadas para caracterizar o ambiente sendo elas comunicam e interagem entre si e com o educador. Desta forma
a dimensão física, a funcional, a temporal e a relacional. é necessário que as atividades sejam planejadas de forma a pro-
A dimensão Física refere-se ao aspecto material do ambiente, porcionar experiências significativas para a criança possibilitando a
ou seja, o espaço físico, suas condições estruturais, objetos e toda aprendizagem e as interações sociais.
sua organização. Trata-se da arquitetura, da decoração, da forma Pensar o espaço é, portanto, compreender as questões físico-
como estão estruturadas as disposições de materiais e divisórias, -materiais como os elementos de cor, texturas, piso, altura de jane-
o pátio, o parque infantil, as possibilidades de arranjos espaciais e las, altura das maçanetas das portas, os móveis, a louça do banheiro
físicos do que se denomina instituição de educação infantil. (torneira, cuba, vaso sanitário, porta toalhas, entre outros), a di-
A segunda dimensão, a funcional, relaciona-se com a forma de mensão métrica das salas, corredores, refeitórios, banheiros, hall
utilização dos espaços, sua polivalência e o tipo de atividade ao qual de entrada; a interligação entre estes espaços; o desenho arquite-
se destinam. Os espaços multifuncionais podem ser usados autono- tônico e suas formas. Além das possibilidades de interação entre
mamente pela criança, mas com a orientação do professor. Nesse crianças e adultos, o espaço exige cuidados e especificidades que
sentido, um mesmo espaço pode assumir diferentes funções. Por podem promover a interação da criança com o mundo externo, per-
exemplo, ao mesmo tempo em que um espaço no fundo da sala de mitindo a visualização do que se passa lá fora: olhar a chuva, o sol,
aula serve para que as crianças sentem com o professor, para contar a neblina, os transeuntes, os animais; isto, e muito mais pode ser
historias, pode também se utilizados para fins diversos, como corte considerado parte da organização, da rotina e processo educativo
e colagem de figuras, brincadeiras com massinha de modelar entre que se desencadeia na educação infantil.
outras. Segundo Maévi Anabel Nono, convém ressaltar que a organi-
A terceira dimensão, a temporal, diz respeito à organização do zação do espaço deve ter como objetivo a promoção do desenvol-
tempo para cada atividade a ser desenvolvida, portanto dos mo- vimento integral da criança que é o objetivo da Educação Infantil.
mentos em que serão utilizados os diferentes espaços. O tempo As pesquisas de Maria da Graça Souza Horn apontam que a for-
de cada atividade esta diretamente relacionada ao espaço em que ma como é organizado o material, os móveis, a utilização das cores,
se realiza cada uma delas com o tempo de brincar nos cantos, de aromas entre outros estímulos, bem como esse espaço é ocupado
contar histórias, de utilizar os brinquedos, o tempo do lanche, do tanto pelos adultos quanto pelas crianças, bem como a interação
parque entre outros. Sendo assim, a dimensão temporal pode ser entre todos esses elementos, revelam a concepção pedagógica. As-
entendida também como relacionada à organização da rotina de
uma instituição de educação infantil.

290
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
sim, quanto mais bem organizado esse espaço a ser utilizado pelas As educadoras trazem ainda algumas sugestões para pensar-
crianças, quanto maior a apresentação de estímulos e desafios, me- mos acerca do espaço para os bebês nas creches. Segundo elas, a
lhor ele favorecerá o desenvolvimento integral desta criança. partir da observação de sua própria prática, perceberam que [...]
Sendo assim, as escolas de educação infantil devem considerar existe uma boa forma de arrumar o berçário, organizando-o com
a organização dos ambientes como sendo parte importante de sua colchonetes, caixas vazadas, móveis baixos, que permitem ao edu-
proposta pedagógica. cador observar todo o movimento da sala e o bebê também. Dessa
Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e forma, o bebê pode tranquilamente ir à busca de um objeto que
aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano tenha despertado sua curiosidade, pois ele está vendo que o educa-
do educador que atua nesse cenário. Portanto, qualquer profes- dor continua na sala. Isso possibilita a ele interagir mais com outros
sor tem, na realidade, uma concepção pedagógica explicitada no bebês. O educador fica então disponível para aqueles que estão exi-
modo como planeja suas aulas, na maneira como se relaciona com gindo sua atenção naquele momento. (ROSSETTI-FERREIRA).
as crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula. Carvalho e Meneghini enfatizam que “O educador organiza o
Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com espaço de acordo com suas ideias sobre desenvolvimento infantil
a ideia de que as crianças aprendem através da memorização de e de acordo com seus objetivos, mesmo sem perceber”. Quando o
conceitos; se mantém uma atitude autoritária sem discutir com as educador ou a educadora de Educação Infantil organiza sua sala em
crianças as regras do convívio em grupo; se privilegia a ocupação espaços vazios, com poucos móveis, objetos e equipamentos, ele se
dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde somente vale, conforme escrevem as educadoras na obra de Rossetti-Ferrei-
ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é emi- ra et al. de um arranjo espacial aberto.
nentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional. Para as educadoras Mara e Renata, nesse tipo de arranjo acon-
Conforme Farias, a pedagogia se faz no espaço realidade e o espaço, tece aquilo que descrevemos no parágrafo anterior, ou seja, a maio-
por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da ria das crianças fica em volta do educador, solicitando sua atenção,
relação pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda sem ter outra atividade a fazer. Dessa forma, “O educador acaba
exemplificando, em uma concepção educacional que compreende não tendo muita chance de manter um contato mais prolongado
o ensinar e o aprender em uma relação de mão única, ou seja, o com nenhuma criança. Às vezes nem pode atender a todas, mesmo
professor ensina e o aluno aprende, toda a organização do espa- que rapidamente” (ROSSETTI-FERREIRA et al.).
ço girará em torno da figura do professor. As mesas e as cadeiras Afim de contribuir para que professores e professoras pensem
ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e todas as ações sobre o espaço que oferecem para as crianças em creches e pré-es-
das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e colas, a educadora Mara Campos de Carvalho (ROSSETTI-FERREIRA
aquiescência. (HORN). et al.) faz algumas análises dos ambientes infantis e conclui que eles
Alguns educadores e pesquisadores têm voltado sua atenção devem estar organizados de modo a promover o desenvolvimento
para a organização dos espaços para o cuidado e educação de be- da identidade pessoal de cada criança, o desenvolvimento de diver-
bês. Cândida Bertolini e Ivanira B. Cruz enfatizam que “Os espaços sas competências como, por exemplo, poder tomar água sozinha
e objetos de uma creche devem estar a favor do desenvolvimento e alcançar o interruptor de luz, oportunidades para movimentos
sadio dos bebês, propiciando-lhes experiências novas e diversifica- corporais diversos, a estimulação dos sentidos, a sensação de segu-
das” (ROSSETTI-FERREIRA). rança e confiança e, finalmente ,oportunidades para contato social
Maria A. S. Martins, Cândida Bertolini, Marta A. M. Rodriguez e privacidade.
e Francisca F. Silva, no capítulo intitulado “Um lugar gostoso para o Paulo de Camargo analisa os “Desencontros entre Arquitetura
bebê”, publicado na obra de Rossetti-Ferreira et al, (2007) obser- e Pedagogia” em reportagem na qual conversa com arquitetos e
vam que, normalmente, o espaço destinado aos bebês na grande educadores sobre os espaços nas escolas de Educação Infantil. Os
parte das creches é tomado por berços, restando poucas possibili- arquitetos entrevistados por Paulo de Camargo ressaltam a necessi-
dades para que os pequenos explorem o ambiente e se locomovam dade de que as creches e pré-escolas sejam construídas levando-se
por toda parte, com segurança. As educadoras pensaram em uma em conta que elas serão ocupadas e utilizadas por crianças.
organização espacial diferente desta, na tentativa de proporcionar Um dos arquitetos entrevistados, Paulo Sophia, esclarece que,
aos bebês um espaço atraente para seu desenvolvimento. para conceber uma escola, tenta se colocar no lugar da criança, pro-
Para elas, “O berçário deve ter espaços programados para dar curando notar como ela irá olhar ou perceber o espaço. Para esse
à criança oportunidade de se movimentar, interagindo tanto com arquiteto, as crianças têm uma relação própria com o espaço, bas-
objetos como com outros bebês. Deve oferecer ao bebê situações tante diferente daquela dos adultos.
desafiadoras, possibilitando o desenvolvimento de suas capacida- Outra arquiteta entrevistada por Paulo de Camargo é Ana Bea-
des.” (ROSSETTI-FERREIRA et al). triz Goulart de Faria, envolvida com diversos projetos de arquitetura
As educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca pensaram educativa. Ana Beatriz observa que na maioria dos municípios bra-
o espaço de seu berçário, levando em conta três partes da sala: o sileiros, os espaços de Educação Infantil seguem modelos-padrão
chão, o teto e as paredes. Em cada uma dessas partes, elas enxer- elaborados muito longe daqueles territórios, desconsiderando sua
garam possibilidades de garantir experiências interessantes e de- geografia, sua história, sua cultura, suas políticas para a infância.
safios para as crianças, por meio do uso de divisórias de diversos Para ela, “São projetos-modelo elaborados para uma infância sem
tamanhos e em diversas alturas, caixas de papelão recortadas e fala” (CAMARGO).
transformadas, brinquedos, canaletas para os bebês passarem por Paulo de Camargo também entrevista a arquiteta Adriana
dentro, muretas para impedi-los de seguir em frente e obrigá-los a Freyberger, segundo a qual é preciso que se dê mais atenção aos
experimentar outros trajetos, cortinas, espelhos, móbiles etc. espaços da escola de Educação Infantil que vão além da sala de ati-
Ainda a respeito do espaço para os bebês, as educadoras aler- vidades. Pátios e refeitórios devem ser cuidadosamente organiza-
tam: “Os espaços devem ser sempre atraentes e estimulantes para dos, já que são espaços de aprendizagem.
os bebês. Portanto, eles devem ser observados, avaliados e muda- Para Adriana, pensar o espaço significa pensar além da estru-
dos pelos educadores na medida em que eles se desenvolvem e se tura física. É preciso, segundo ela, planejar os materiais, jogos e
interessam por coisas novas.” (ROSSETTI-FERREIRA). brinquedos adequados ao projeto pedagógico da instituição. A ar-

291
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quiteta ressalta a importância do uso de materiais de qualidade nas É por essa razão que a esta discussão cabe focalizar o termo
creches e pré-escolas e da atenção ao número adequado de crian- disciplinamento como categoria central de análise e também como
ças para cada espaço, evitando-se o excesso de crianças por sala. parte integrante da educação das crianças em idade de educação
infantil. Sobretudo no espaço, o disciplinamento é imprescindível.
Outras considerações sobre a organização do espaço físico e Ele permitirá atingir o objetivo de compreender quais são as estra-
do tempo na educação infantil tégias de disciplinamento, pois é através da disciplina que podere-
De acordo com o sentido semântico apresentado por Fornei- mos observar as ações possíveis de autorregulação da criança no
ro sobre o conceito de espaço, compreendemos que ele significa espaço educativo e seus mecanismos para essa ação. Logicamen-
“[...] extensão indefinida, meio sem limites que contém todas as te que não se pode descartar o contexto como influente, porém a
extensões finitas. Parte dessa extensão que ocupa cada corpo”. De estrutura social e político-educacional estão de tal forma posta e
acordo com esse conceito de espaço pressupõe-se o espaço como desenvolvida ao longo da história que “autoriza” a educadora, por
sendo algo físico que pode ser preenchido por objetos. Uma “caixa” meio dos próprios elementos constitutivos de sala (carteiras, ma-
que pode ser ocupada, esta é uma forma abstrata de ver extrema- teriais didáticos, disciplinas, regras de convivência e obediência), a
mente comum entre os adultos; no entanto, a percepção da criança práticas de disciplinamento. Isso pressupõe pensar que desde os
sobre o espaço é diferente, tendo em vista que ela ainda não desen- primórdios da modernidade o homem se preocupa com a questão
volveu a capacidade de abstração do adulto. da disciplina.
O espaço pode ser compreendido, ainda, dentro da noção de
ambiente apontada por Forneiro que postula que o ambiente é o O espaço educativo e as práticas de disciplinamento
conjunto do espaço físico e mais a relação que se estabelece nele. Pensar em disciplinamento implica pensar em tecnologias de
Estas relações são descritas como afetos, relações interpessoais en- individualização e de normatização do corpo infantil, na produção
tre as crianças, entre crianças e adultos, crianças e sociedade em de sujeito dócil e útil. Estas tecnologias enfatizam como a escola e
seu conjunto. O espaço não é neutro. Ele permeia as relações esta- o Centro de Educação Infantil produzem e controlam através da or-
belecidas e as influencia, na medida em que chega até o sujeito e ganização do espaço físico o disciplinamento na criança. Kant no sé-
propõe suas mensagens, implicitamente. Espaço é tudo e é indisso- culo XVII já preconizava que “[...] a falta de disciplina é um mal pior
ciado da noção de ambiente. que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao
Indo um pouco além desta visão formal e utilitária do espa- passo que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um de-
ço, podemos percebê-lo também como um “[...]espaço de vida, no feito da disciplina”. Não há pretensão de afirmar se autor está cor-
qual a vida acontece e se desenvolve: é um conjunto completo”. reto ou não, porém Kant, com esta ideia, permite que se promova
Esta visão pode ser considerada vitalista porque se adapta à forma um debate sobre a disciplina na escola. Kant foi o primeiro filósofo
como a criança vê o espaço, pois ela o sente e o vê; portanto, “[...] a caracterizar a escola moderna como responsável pelo disciplina-
é grande, pequeno, claro, escuro, é poder correr ou ficar quieto, mento dos corpos infantis nos espaços da instituição e concebe que
é silêncio, é barulho” (BATTINI apud FORNEIRO), a criança não o a disciplina impede o homem de desviar do seu caminho, tendo
concebe abstratamente, pois ainda não tem desenvolvida esta ca- como dever estreitá-lo, contê-lo, e através da educação instrumen-
pacidade. O que a criança pode ver restringe-se ao concreto, ao talizá-lo para que retorne ao seu estado humano, ou seja, todo e
palpável. A criança vê o espaço da escola, da sua casa como algo qualquer manifestação de indisciplinamento às normas o homem
concreto, e a partir do seu imaginário infantil o lugar para ela só é se torna selvagem, animal. A disciplina submete o homem às leis da
atrativo se puder interagir e vivenciar o ato de brincar. A partir disso humanidade e o faz sentir a sua força, mas todo este processo de
podemos dizer que a infância é uma etapa diferenciada do mundo disciplinamento deve acontecer bem cedo; sendo assim, as crianças
adulto; portanto, o seu modo de ver a vida é baseado no poder de devem ser mandadas ainda pequenas à escola para que a disciplina
manipular os objetos e criar formas lúdicas com eles. tenha seu efeito sobre o seu corpo.
Tonucci faz uma leitura crítica a partir de imagens sobre a influ- A criança desde cedo é adaptada ao modelo escolar na edu-
ência que a escola e a família exercem sobre a criança procurando cação infantil, pois na hora de fazer atividade deve ficar sentada e
organizar o mundo dela com bases na noção de mundo do adulto. atenta ao que a professora está explicando, e a criança que foge às
Sabe-se que a forma como a criança percebe o espaço é dife- regras é considerada sem limites e é preciso garantir mecanismos
rente da lógica do adulto. O adulto o organiza, muitas vezes, não que a façam ter disciplina com o espaço e tempo da sala. A partir
considerando a relevância da participação da criança na construção disso é possível pensar que a criança se torna criança, homem, mu-
dele. Cabe aos professores o olhar atento para as especificidades lher pela educação e ela é aquilo que a educação faz dela (KANT).
do sujeito infantil e organizar o espaço de maneira que contemple Para Assmann e Nunes, a arte das distribuições como uma ca-
o jogo, o brincar e o despertar do imaginário infantil. O espaço edu- tegoria foucaultiana sobre as práticas disciplinares pressupõe que
cativo deve ser prazeroso e voltado às necessidades de cada faixa “[...] a disciplina é um tipo de organização do espaço”. Ela é uma dis-
etária na primeira infância. tribuição dos sujeitos nos espaços escolares. No espaço educativo
Ao falar de um espaço educativo não se pode deixar de men- da educação infantil, trata-se de fechar, esquadrinhar e, por vezes,
cionar a intrínseca relação entre espaço e organização. Nesse caso, cercar estes lugares geometricamente para que não ocorra difusão
percebemos a presença da geometria cartesiana como forma bas- das crianças. Para Duclós, a geometria cartesiana se pauta na im-
tante marcante para organizar espaços. Ele é um lugar geralmente portância da ordem e da medida. Para Descartes, na geometria não
retangular, planejado, medido, ordenado, estabelecendo de manei- há dúvidas, ela é universal e simples. Assim, constituem-se a mo-
ra disciplinada os móveis e objetos; cada objeto em seu lugar de- dernidade e as formas da organização do espaço educativo como
terminado. Em se tratando de sala de aula há o espaço do brincar e verdades únicas, obtendo-se através das disposições dos materiais
contar histórias, o espaço para as atividades e para o lanche. Cabe e objetos pedagógicos uma lógica capitalista, moderna, geométrica,
salientar que juntamente com a forma disciplinada dos equipamen- lógico-matemática produzindo assim a infância.
tos da sala de aula há a disciplina do tempo. A organização do tem- Portanto, analisa-se como a constituição do espaço, juntamen-
po em determinada atividade e espaço para cada momento da aula. te com a organização colabora na não difusão das crianças pelo es-
paço educativo. Cada espaço tem sua função e seu tempo de ser
utilizado. Foucault, dentro da categoria arte das distribuições, de-

292
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
nomina uma subdivisão intitulada localização funcional, que tem pela professora, destinados a funções específicas, como o cantinho
como pressuposto compreender os espaços disciplinares como es- do brincar, das atividades pedagógicas e da leitura, propiciando, as-
paços úteis. sim, o disciplinamento da criança.
A organização do espaço colabora na criação de espaço útil,
pois em determinado momento as crianças se dirigem aos canti- O tempo na educação infantil
nhos e deles é possível abstrair o máximo de proveito para que Outro aspecto a ser considerado no contexto da educação
assim a professora possa realizar seu trabalho com rapidez e efici- infantil é a questão do tempo. Segundo Horn, Zabalza e Barbosa
ência. Além disso, ajuda a professora a vigiar e visualizar todas as na educação infantil sempre se deve considerar a rotina, uma vez
crianças ao mesmo tempo. Para exemplificar ainda mais, no espaço que ela que irá nortear o trabalho do educador. Por rotina deve-
de atividades as crianças recortam, pintam, desenham, aprendem mos compreender a distribuição das atividades no tempo em que a
várias coisas. No espaço do brincar as crianças montam jogos, re- criança fica na instituição, tanto no aspecto do cuidado quanto nas
presentam e imitam papéis sociais, pode-se averiguar que cada es- brincadeiras e atividades didáticas. De acordo com o Referencial
paço tem sua função e ele deve colaborar na utilidade econômica Curricular Nacional para a Educação Infantil “A rotina representa,
do corpo e torná-lo docilizado em relação ao ambiente. também, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático,
Para Foucault quadriculamento “[...] é o princípio de localiza- ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A
ção imediata. [...] cada indivíduo no seu lugar e cada lugar um in- rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de
divíduo. O espaço disciplinar tende a se dividir em tantas parcelas aprendizagens orientadas” (RCNEI).
quando corpos ou elementos há repartir”. O quadriculamento exi- A partir da organização do tempo e das atividades, as crianças
ge, portanto, para a eficácia do poder disciplinar uma repartição, e educadores ficam mais seguros, diminuem-se os níveis de ansie-
um enquadramento das crianças no espaço. Quanto mais houver dade frente às novas situações e também se torna possível otimizar
criação de espaços e organização do tempo em cada espaço, maior o tempo escolar, possibilitando uma melhor estruturação do tra-
é a eficácia do poder disciplinar. balho a ser realizado pelo educador. Convém ressaltar aqui que o
educador deve ser flexível para alterar a rotina sempre que se fizer
Algumas considerações necessário.
É central dizer aqui que a escola é um espaço que não é neutro. A organização da rotina nas instituições infantis é importante
Do mesmo modo ocorre com as instituições de educação infantil. A para a construção da noção de tempo nas crianças, possibilitando a
não neutralidade é comprovada quando se verifica que, por meio percepção do tempo das atividades e a antecipação, pelas crianças,
da organização e ocupação deste, planeja-se e propostas de traba- dos momentos que virão. Essa percepção, é importante também
lho são desenvolvidas. A criança que integra algum espaço educati- para auxiliar os educadores a situarem-se na sequencia das ações
vo passa a ser “educada” e a relacionar-se com os objetos e mate- que realizarão ao longo do dia.
riais ali presentes e também terá seu comportamento modificado, O tempo deve ser organizado pelo educador de acordo com
ou seja, disciplinado. as necessidades dos educandos, adaptando a rotina conforme às
Quando se aborda a questão do disciplinamento, a primeira demandas das crianças.
impressão é a do sentido pejorativo a que esta palavra nos remete, A padronização e a regulação da rotina podem desrespeitar
porém esta categoria contribuiu significativamente na elaboração os diferentes ritmos dos pequenos, limitando em um único ritmo
das análises, pois não possui conotação negativa. Foucault ajuda a o tempo institucional. A rotina estruturada deve regular os educa-
compreender esta questão quando postula que a disciplina é um dores, mas não deve ser regra absoluta, deve considerar os ritmos
tipo de organização. Acrescenta que a disciplina é um conjunto de variados das crianças, que aos poucos devem incorporá-la.
técnicas de distribuição dos corpos infantis nos espaços escolares e Podemos entender que há dois tempos na escola: um tempo
que tem como objetivos espaços individualizados, classificatórios e da criança e um tempo da instituição. Deste modo, Oliveira afirma
combinatórios, a fim de que as práticas disciplinares se incorporem que “há dois lados na consideração do tempo na Educação Infantil.
nos sujeitos. Um deles focaliza a rotina diária da instituição, que orienta em es-
A educação infantil é um tempo diferente do tempo do ensino pecial o trabalho dos profissionais que nela trabalham. O outro foco
fundamental, portanto, precisam-se projetar espaços físicos que está na jornada das crianças, a sequencia das atividades e experiên-
atendam ao ritmo de “ser criança” e deve-se considerar a neces- cias que elas vivenciam a cada dia”.
sidade de que elas participem da organização do espaço e tempo, Segundo Janaína S. S. Ramos a esse respeito, Batista ressalta
estabelecendo com os profissionais que atuam com ela, momentos que “na creche há indícios de que as atividades são propostas para
de interação decisórios na produção destes espaços e tempos. A o grupo de crianças independente da diversidade de ritmos cultu-
criança precisa encontrar no espaço educativo algo que não seja rais das mesmas. Todas as crianças são levadas a desenvolver ao
uma pré- escolarização, mas sim um ambiente que prime pela cul- mesmo tempo e no mesmo espaço uma mesma atividade propos-
tura infantil, seus valores e ansiedades. A infância é produzida por ta pela professora. Trabalha-se com uma suposta homogeneidade
meio de subjetivações e não se evidencia o estabelecimento da e uniformidade dos comportamentos das crianças. Parece que há
existência de uma única e correta ideia sobre a criança, mas sim ela uma busca constante pela uniformização das ações das crianças em
na sua relação com os familiares, professores(as) e amigos(as). A torno de um suposto padrão de comportamento. Se espera que a
infância é algo de nossos saberes, de nossas tecnologias (LARROSA). criança comporte-se como aluno: aluno obediente, aluno ordeiro,
O espaço escolar é estabelecido dentro da lógica moderna de aluno disciplinado, entre outras”.
espaço fixo, sendo constituído e organizado por meio de discursos Nesse caso, não só ocorre a padronização de atividades como
pedagógicos permeados de subjetividades. Evidenciam-se à luz das o tempo destinado a elas. Barbosa acrescenta, ainda, que em al-
leituras que nos Centros de Educação Infantil as salas de aula têm gumas escolas existe uma sequência fixa de atividades que ocor-
fortes marcas “escolarizantes” (carteiras e cadeiras, quadro de giz rem ao longo do expediente escolar, que geralmente são nomeadas
e atividades pedagógicas). Os espaços podem, muitas vezes, serem como a “hora de”. Estas atividades são cronometradas e subdividi-
organizados em espaços funcionais, ou seja, espaços construídos das em atividades pedagógicas e atividades de socialização. Além
disso, o tempo parece preso a amarras de pressupostos e ideias
pré-concebidas que promovem uma prática sem autocrítica, empo-

293
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
brecendo a compreensão da dinâmica das relações sociais. Ainda da, ou ainda ter problemas de saúde. Por isso, Piotto et al. apontam
segundo Batista “A lógica da rotina da creche também parece ser que, ao auxiliar a criança na alimentação, desde que se possibilite a
fragmentada, pois separa o tempo de educar, do tempo de cuidar, autonomia, é possível uma relação satisfatória entre aluno e profes-
do tempo de brincar, do tempo de aprender, do tempo de ensinar, sor. No que se diz respeito a jogos e brincadeiras, é necessário que
entre outras. O tempo na creche parece ser recortado minuciosa- o educador tenha ciência da necessidade dessa atividade no coti-
mente: há um tempo pré-determinado para “todos” comer na mes- diano infantil, como é proposto no RCNEI “Para que o faz-de-conta
ma hora, banhar na mesma hora, dormir na mesma hora, brincar torne-se de fato, uma prática cotidiana entre as crianças é preciso
e aprender. Parece ser possível dizer que esta organização, antes que se organize na sala um espaço para essa atividade, separado
de estar centrada nas necessidades das crianças, obedece a uma por uma cortina, biombo ou recurso qualquer, no qual as crianças
lógica temporal regida basicamente pela sequenciação hierárquica poderão se esconder, fantasiar-se, brincar, sozinhas ou em grupos,
e burocrática da rotina”. de casinha, construir uma nave espacial ou um trem etc”. (BRASIL)
Assim, o educador deve perceber, ainda, em quais momen- Sendo assim, o educador deve procurar trazer à sala de aula a
tos as atividades permanentes são viáveis e necessárias, sempre possibilidade do jogo e da brincadeira em um espaço reservado de
considerando o contexto sociocultural da proposta pedagógica da preferência claro e com materiais dispostos para as crianças, ter um
instituição, pois as atividades permanentes promovem o desenvol- tempo disponível para essa atividade, tendo consciência de suas
vimento da autonomia e construção da identidade das crianças, e três funções no momento do faz-de-conta. Santos mostra que o
cada atividade propõe diversas situações seja de cuidado, higiene educador exerce várias funções: A primeira delas é a função de “ob-
ou prazer. servador”, na qual o professor procura intervir o mínimo possível,
Considerando alguns momentos importantes na rotina na Edu- de maneira a garantir a segurança e o direito à livre manifestação de
cação Infantil, a roda de conversa, por exemplo, é uma atividade todos. A segunda função é a de “catalisador”, procurando, através
permanente que possibilita a exteriorização dos sentimentos e da observação, descobrir necessidades, e os desejos implícitos na
emoções dos alunos, como também de suas preferências e desejos, brincadeira para poder enriquecer o desenrolar de tal atividade. E,
essa ação também pode ser utilizada para a contação de histórias finalmente, de “participante ativo” nas brincadeiras, atuando como
em que os alunos, a partir de sua imaginação, podem reinventar um mediador das relações que se estabelecem e das situações sur-
personagens e reviver situações que o faz-de-conta promove. A esse gidas, em proveito do desenvolvimento saudável e prazeroso da
respeito Amorim acrescenta: “É na rodinha da conversa que, entre criança. Além disso, ele deve propor às crianças uma conversa so-
outros assuntos, planejamos os nossos momentos; inicialmente é bre suas brincadeiras, pois, de acordo com Dornelles, essa atividade
realizado por nós e apresentado ao grupo, mas gradativamente vai “Proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perce-
sendo feito junto com as crianças”. ber como os outros o veem, auxilia na criação de interesses comum,
A atividade de higiene, outra atividade da rotina, é uma opor- uma razão para que se possa interagir com o outro”. Estabelecendo,
tunidade de promover a autonomia dos infantes, levando em consi- ainda, situações de aprendizagens e enriquecimento cultural a par-
deração que deve ser proporcionada a eles a possibilidade de faze- tir da intervenção do educador. O educador tem à sua disposição,
rem sozinhos, ou com pouca intervenção do adulto. O momento do um universo de possibilidades de jogos e brincadeiras que, segundo
banho, atividade relaxante, refrescante e que promove a limpeza da Barbosa e Horn, podem ser individuais, em grupo, nos mais diferen-
pele, deve ser cuidadosamente preparado pelos educadores para tes espaços, com os mais diversos materiais, podendo, ainda, dis-
que seja realizado com segurança, provendo condições materiais por de jogos sensoriais, naturais ou musicais. Nos ateliês ou oficinas
e respeitando regras sanitárias. Além disso, deve-se possibilitar, na de artes visuais ou musicais, é preciso que o educador possa não
organização dessa ação, que ela se torne uma atividade lúdica e de apenas estabelecer relações de cuidado com as crianças pequenas
aprendizagem para as crianças. Segundo Mello e Vitória: “O banho como também de aprendizagem. Gomes indica o trabalho artístico
pode ser facilitado e enriquecido, oferecendo brinquedos, potes de como importante para que as crianças possam explorar o mundo à
diversos tamanhos, buchas variadas. Podem ser organizadas algu- sua volta. No entanto, por muito tempo a arte foi entendida super-
mas brincadeiras com bolhinhas de sabão, livros de plástico, reta- ficialmente e de modo arbitrário. Melo afirma que “As Artes Visu-
lhos de tecido etc.”. É necessário também que durante o momento ais foram apresentadas por muito tempo aos alunos de Educação
do banho, o faz-de-conta esteja presente através das interações da Infantil como meros passatempos, voltada para a recreação, sem
imaginação da criança com o ambiente e objetos disponíveis, pois, conter articulação com o conteúdo acumulado do campo da Arte, a
de acordo com Guimarães “O banheiro se transforma em floresta, cultura e a estética. O Ensino de Arte era visto como uma forma de
castelo encantado, piscina, quadra de esportes para competições auto expressão da criança, onde o educador não se fazia influente”.
na hora de se trocar, salão de cabeleireiro, lojas de roupas... mas é Por essa razão, o trabalho com Artes na Educação Infantil deve
claro que nem sempre são usados esses recursos de faz de conta. transcender o caráter de mero passatempo para o de linguagem.
Muitas vezes o banho fica mais gostoso só com músicas, com todo A fim de que a criança tenha contato com a linguagem artística,
mundo falando baixinho para ouvir uma história enquanto se tro- é necessário o planejamento deste início de relação. Além disso,
cam, lendo gibis, ou nos chuveiros externos durante o verão, apeli- segundo Vasconcelos e Rosseti-Ferreira, a iniciação dos temas artís-
dados aqui de cachoeiras”. ticos a serem trabalhados podem ser sugeridos a partir de passeios
Durante a organização das atividades cabe ao educador avaliar variados, visitas a exposições, museus e artistas ou, melhor ainda,
as características do seu grupo de alunos e transformar o banho em artista e artesãos vindo visitar a instituição para compartilhar com
uma atividade prazerosa. Segundo Mello e Vitória, para o momento as crianças a sua arte. É imprescindível nessa organização de ateliês
do banho deve se pensar em espaços que facilitem o processo de e oficinas, a oferta de materiais e superfícies para maior liberda-
independência das crianças. Já no momento da alimentação, que de criativa da criança e, sua experimentação resultará num melhor
também deve ser prazeroso e agradável, o educador pode organizar aprimoramento sensorial ao lidar com diversos tipos de materiais.
outra oportunidade de socialização das crianças através das conver- As atividades diversificadas podem estar envolvidas em um projeto
sas informais, também promovendo a autonomia na hora da esco- em que se possa trabalhar os mais diversos assuntos, o importante
lha dos alimentos e da quantidade a ser ingerida, pois em certos é que as atividades tenham um objetivo e não sejam descontextu-
momentos algumas crianças se recusam a alimentar-se, seja para alizadas. Pelo contrário, devem integrar-se de forma a levar ao alu-
gerar tensão ou chamar a atenção dos adultos, ou por estar distraí- no a uma totalidade. Vários projetos relacionados ao faz-de-conta

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
podem ser desenvolvidos, tais como a construção de um cenário Desmatamento na Amazônia: de acordo com o Ministério do
para uma viagem intergaláctica; a confecção de fantasias para brin- Meio Ambiente, grande parte da extração de madeira ocorre em
car de bumba-meu-boi; construir castelos de reis e rainhas; cenas áreas públicas, em unidades de preservação e em territórios indí-
de histórias e contos de fadas etc. Pode-se planejar um projeto de genas, sendo, portanto, de procedência predatória e ilegal. Sendo
realização de um circo, por exemplo, com todas as crianças da Ins- a Floresta Amazônica importante agente de controle das alterações
tituição, envolvendo cada grupo em função da idade e das capaci- climáticas, detém aproximadamente de 35% de todo o carbono
dades (BRASIL). (CO2) existente nas florestas tropicais do planeta. Especialistas es-
timam que chega a 40% a redução de carbono provocada pelo des-
As atividades devem, portanto, estimular a curiosidade e o in- matamento na Amazônia (LETRAS AMBIENTAIS, 2018)16.
teresse das crianças. Agassi et al mostram um exemplo interessante
em que, a partir da curiosidade dos alunos ao saberem que o pai de 2) Queimadas
um deles criava minhocas, foi construído na escola um minhocário, Apesar de ocorrerem também pelas causas naturais, os incên-
para saber onde as minhocas viviam, o que comiam, como respi- dios florestais provocados por ações socioeconômicas, diretamente
ravam etc. Criaram também um minhoscópio, pois transportaram relacionadas ao desmatamento, são umas das principais causas da
o minhocário para um aquário e puderam, a partir daí, observar o devastação dos biomas. Dentre os principais danos causados pelas
que as minhocas fazem debaixo da terra. Como uma pesquisa puxa queimadas, estão:
a outra, as crianças também quiseram cultivar plantas medicinais, • a emissão de quantidades elevadas de carbono por matas
promovendo, assim, diversos saberes a partir da própria curiosida- nativas, que, reforçadas por longos períodos de estiagem intensas,
de delas. Por isso, a organização das atividades permanentes exige estimulam as alterações climáticas
uma observação e compreensão do professor das necessidades e • a combustão do manto vegetal extrai os nutrientes da terra,
gostos da criança, para que o dia-a-dia na instituição seja envolven- que, com isso, fica desprotegida dos agentes erosivos, especialmen-
te e proveitoso. te os eólicos e os hídricos, antecipando desertificação na Caatinga
e em outros biomas
Fonte • oferece ameaça à diversidade biológica dos biomas
Maria Ghisleny de Paiva Brasil disponível em http://www.estudosda- • provoca a salinização das águas e seca nascentes
crianca.com.br/resources/anais/1/1407100683_ARQUIVO_MariaGhis-
lenyBrasil-CongressoLusoBrasileiro_1_.pdf Queimadas no Pantanal: realizadas para colheita da cana-de-
Maévi Anabel Nono disponível em http://www.acervodigital.unesp.br/ -açúcar e da limpeza dos pastos, as queimadas no Pantanal emitem
bitstream/123456789/297/1/01d13t08.pdf gases de efeito estufa, prejudiciais ao meio ambiente.
Dorcas Tussi e Alexandra F. L. de Souza disponível em Queimadas na Caatinga: nesse bioma, onde a agricultura é ba-
http://www.partes.com.br/educacao/espacotempodisciplinamento. seada no corte e nas queimadas, os danos afetam diretamente a
asp extinção de espécies da flora e da fauna e na produtividade do solo.
Manuela A. Crosera e Maria Paula Zurawski, disponível em http://ve- Queimadas na Amazônia: as queimadas são praticadas ampla-
racruz.edu.br/doc/ise_tcc_manuela_assuncao_crosera.pdf mente, pois beneficiam o crescimento agropecuário.
Janaína S. S. Ramos disponível em http://periodicos.ufrn.br/saberes/ Queimadas no Cerrado: bioma onde são comuns os incêndios
article/view/1076/923 naturais, mesmo assim, essa proporção é pequena. As queimadas
antrópicas, ante técnicas agrícolas que ignoram a sustentabilidade,
constituem a princípio da atividade econômica local.
MEIO AMBIENTE. CONVIVÊNCIA E INTERAÇÃO SOCIAL
3) Desertificação
A relação entre crescimento econômico e a preservação am- Processo de deterioração dos solos causado por longos perí-
biental tem sido uma grande preocupação dos governos e até odos de seca extrema e pela perda acelerada de nutrientes, o que
mesmo das indústrias, por dois motivos principais: 1) a prática de transforma o local em um cenário desértico.
qualquer atividade econômica somente é possível se os aspectos do Desertificação na caatinga: além de ser o bioma mais degra-
ambiente provedor da energia e dos meios materiais não tiverem dado do território brasileiro, é o mais susceptível à desertificação,
sofrido danos; 2) além dos lucros com a produtividade, o cresci- conforme o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertifica-
mento econômico está diretamente relacionado com o âmbito so- ção e Mitigação dos Efeitos da Seca. As ações humanas que mais in-
cial, assim, deve-se levar em conta a qualidade de vida e a própria tensificam a degradação da caatinga e sua paisagem desértica são:
vida, que é a maior das riquezas (FARIAS, 2019)15. • queimadas para criação de plantações e pastos
• falta de técnicas apropriadas para o manuseio do solo, junta-
1) Desmatamento mente às práticas da pecuária extensiva
Atividade econômica que ameaça a maioria dos biomas brasi- • extração da floresta primitiva para a produzir carvão vegetal e
leiros, em geral, para atender às distintas finalidades relacionadas lenha, utilizados na produção de gesso e na siderurgia
ao crescimento econômico. Os impactos mais sérios do desmata-
mento são: 4) Atividade mineradora
• maior risco de extinção de animais selvagem A contaminação das águas e dos solos é o principal impacto
• perda da biodiversidade ambiental causado pela mineração.
• prejuízo do ciclo hidrológico e da manutenção do clima, entre Impactos da mineração no Cerrado: bioma mais afetado pela
outras serventias ecológicas proporcionadas pela floresta intensa e irregular prática mineradora, tem as águas de seus rios
• degradação dos ecossistemas dos biomas contaminadas com mercúrio e, consequentemente, a erosão dos
solos e a obstrução dos cursos dos rios.
15 FARIAS, Talden. A proteção do meio ambiente e a garantia do desenvol-
vimento econômico. Conjur, 2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.
br/2019-mai-04/ambiente-juridico-protecao-meio-ambiente-desenvolvimento- 16 Letras Ambientais. Biomas do Brasil, 2018. Disponível em: <https://www.
-economico>. Acesso em 17 Fev 2021 letrasambientais.org.br/posts/biomas-do-brasil>. Acesso em 17 Fev 2021

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Casos de grandes proporções: o Programa das Nações Unidas A atitude é um processo dinâmico que vai se desenvolvendo no
para o Meio Ambiente (PNUMA) aponta vários pisodios de conta- decorrer da vida mediante situações que estão em sua volta como
minação ambiental, decorrentes das atividades extrativistas e mi- escola, família, trabalho. Trillo(2000) relata que “atitude é mas uma
neradoras: condição adaptável as circunstâncias: surgem e mantém-se inter-
• despejo de resíduos tóxicos em córregos na Floresta Amazô- ação que individuo tem com os que o rodeiam”.
nica A escola é fator importante no desenvolvimento da atitude,
• vazamentos de petróleo em Loreto pois no decorrer de nossa vida se passa boa parte do tempo numa
• Rompimentos das barragems de rejeitos Fundão, em Mariana unidade de ensino, o que proporciona uma inserção de conheci-
(MG), em 2015, do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). O pri- mento.
meiro caro foi levantado pela Agência da Organização das Nações Segundo Trillo (2000, p.28) a escola através ações educati-
Unidas (ONU) como advertência de ameaça relacionada à atividade vas, proporciona os estímulos necessários na natureza para a con-
mineradora para os ecossistemas naturais do Brasil. O segundo, ou- strução de valores.
tro episódio devastador de despejo de substâncias nocivas no meio [...] Do ponto de vista da teoria das atitudes, pelo nos casos em
ambiente. Em ambas as tragédias, a devastação ambiental e o saldo que se acedeu ao seu estudo a partir de casos de delineamentos
de mortos e desaparecidos constituem as mais graves consequên- vinculados a educação, não surgem controvérsias importantes no
cias da atividade econômica no Brasil. que se refere ao facto de se tratar ou não natureza humana sus-
ceptíveis de serem estimulados através da ação educativa. Ou seja,
5) Grandes projetos de Infraestrutura parece existir um acordo geral segundo o qual as atitudes e os va-
Aberturas de rodovias, construções de usinas hidrelétricas e lores poderiam se ensinados na escola [...]
suas barragens, enfim, o desenvolvimento de extensas obras de in- As ações das atitudes começam a se desenvolver logo na cri-
fraestrutura causam graves prejuízos ao meio ambiente em todos ança quando ela esta rodeada de exemplos de família, amigos e
os biomas do Brasil, deteriorando sua vegetação nativa e contami- principalmente pelos ensinamentos da escola. É interessante que
nando os rios. quando se tem um ambiente favorável e principalmente dos pais,
Grandes projetos na Amazônia: obras para geração de energia acompanhando e orientando a criança, percebe-se a construção de
elétrica emitem volumes prejudiciais de dióxido de carbono e me- boas atitudes.
tano estimulam as mudanças climáticas. De acordo com Trillo (200, p.35) as crianças imitam os compor-
tamentos em sua volta, de maneira que são estimuladas através de
exemplos de atitudes positivas, o que proporciona a autoestima.
O PROFESSOR COMO MEDIADOR [...] Nesta perspectiva, os mecanismos básicos da aquisição
são a imitação e o esforço. As crianças pequenas vão imitando os
Função social do educador comportamentos que observam a sua volta e, desta forma, esses
Quando se fala na função social do professor, observa-se que comportamentos vão se fixando ou desaparecendo, como conse-
existe um conjunto de situações relacionadas como atitudes, va- quência do reforço positivo ou negativo que recebem (em forma de
lores, éticas, que formam itens fundamentais para o seu desenvolvi- aprovação e reconhecimento dos outros ou em forma de autograti-
mento no papel da educação. No primeiro momento ira se fazer um ficação: sentir-se bem, reforçar a própria autoestima, etc [...]
análise sobre as atitudes e valores de ensino, e em seguida sobre o Um ponto importante no processo de construção das atitudes
papel da educação no desenvolvimento de competências éticas e esta o papel do professor. Ele tem a função de criar um processo de
de valores. aprendizagem dinâmico entendendo a necessidade e diversidade
Percebe-se que existe uma série de fatores que se relacionam do aluno, mostrando os caminhos corretos para o desenvolvimento
com o processo de aprendizagem, que envolvem professor, aluno das atitudes.
e escola. Esses fatores são: Atitudes e valores vão se formando ao Segundo Trillo ( 2000, p.44) o professor tem que ter a habili-
longo da vida, através de influências sociais; A escola tem papel fun- dade de estimular os alunos através de trabalhos dinâmicos de ex-
damental no desenvolvimento das atitudes e valores através de um pressão pessoal, em meio a diversidade e perspectivas diferentes,
modelo pedagógico eficiente; O ensino e a aprendizagem estão rel- acompanhando e valorizando os pontos dos trabalhos, de modo a
acionados num processo de desenvolvimento das atitudes e valores enriquecer as atitudes dos aluno.
de acordo com a diversidade cultural; O Professor como ponte de [...] O professor /a que procura nos trabalhos a expressão pes-
ligação entre a escola e o aluno, proporcionando o desenvolvimen- soal dos seus estudantes, e que os adverte valorará a originalidade
to das atitudes no processo de aprendizagem. como um dos pontos importantes dos seus trabalhos, esta a estabe-
Quando se fala em atitude, é comum escutar frases como: ela lecer as bases de uma atitude de expressão livre. E se isto ampliar,
é uma pessoa de atitude, ou não vejo que ela tenha atitude. Mas no sentido em que, numa fase posterior do processo, cada um de-
afinal o que é atitude. verá ir expondo e justificando as suas conclusões pessoais, parece
De acordo com Trilo (2000, p.26) atitude é algo interno que provável que a atitude de trabalho pessoal será enriquecida com
se manifesta através de um estado mental e emocional, e que não a componente de reflexão e a que diz respeito a diversidade e as
tem como ser realizadas medições para avaliação de desempenho e diferentes perspectivas sobre as coisas [...]
não esta exposto de forma que possam ser visualizados de maneira As atitudes de valores de ensino é um processo dinâmico e
clara. construtivo, e cada vez mais necessita da presença da escola, pro-
[...] Que se trata de uma dimensão ou de um processo interi- fessor, aluno e demais ambientes sociais, visto que o processo de
or das pessoas, uma espécie de substrato que orienta e predispõe aprendizagem se torna eficiente e eficaz, quando todos os envolvi-
atuar de uma determinada maneira. Caso se trate de um estado dos tenham discernimento de trabalhar o conhecimento tomando
mental e emocional interior, não estará acessível diretamente (não atitudes corretas de acordo com os valores éticos, morais e sociais.
será visível de fora e nem se poderá medir) se não através de suas
manifestações internas. [...]

296
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O Papel da Educação no Desenvolvimento de Competências Éti- A utilização de recursos de ensino diminui o nível de abstração
cas e de Valores dos alunos, pois eles vêem na prática o que estão aprendendo na
Desenvolver a educação alinhada a ferramentas como ética e escola, e podem relacionar a matéria aprendida com fatos reais do
valores não é tarefa fácil quando se depara com uma diversidade de seu cotidiano. Desta forma é mais fácil eles absolverem os conteú-
situações que se encontra na sociedade do mundo de hoje. dos escolares.
A educação não é a única alternativa para todas as dificuldades Dale (1966) criou uma classificação de recursos de ensino que
que se encontra no mundo atual. Mas, a educação significa um im- é bastante utilizada. Ele nos trouxe o “cone de experiências”, que
portante caminho para que o conhecimento, seja uma semente de mostra que o ensino verbalizado, uso de palavras sem experiência,
uma nova era para ser plantada e que cresça para dar bons frutos não deve mais ser usado pelo professor, pois os alunos aprendem
para sociedade. mais quanto mais pratica experiências em torno do que está sendo
De acordo com Johann (2009, p.19) a ética é um fator primor- ensinado.
dial na educação, pois já é parte do principio da existência humana.
[...] Se a educação inclui a ética como uma condição para que Segundo Dale (1966), os objetivos do uso dos recursos de en-
ela se construa de acordo com a sua tarefa primordial, antes de sino são:
tudo, buscaremos compreender o que se entende por educar e de • motivar e despertar o interesse dos alunos;
que tarefa se trata aqui. Para explicitar o conceito de educação que • favorecer o desenvolvimento da capacidade de observação;
assumimos ao relacioná-la com a ética, começaremos por contex- • aproximar o aluno da realidade;
tualizar a existência humana, razão da emergência do fenômeno • visualizar ou concretizar os conteúdos da aprendizagem;
educativo e das exigências éticas [...] • oferecer informações e dados;
Percebe-se a importância da ética no processo de aprendizagem, • permitir a fixação da aprendizagem;
onde alunos professores e escolas, devem selar este principio na • ilustrar noções mais abstratas;
troca de informações para o crescimento do conhecimento. • desenvolver a experimentação concreta.
Os valores a serem desenvolvidos como uma competência ed-
ucacional, é um desafio para escolas, professores e alunos devido a Para utilização dos recursos de ensino é preciso estar atento
diversidade social, em que tem que ter um alinhamento flexível do aos seus objetivos, eficácia e função em relação à matéria ensinada.
modelo pedagógico das escolas e da didática do professor. Todos esses objetivos podem ser alcançados através de recursos de
Segundo Araujo e Puig ( 2007, p.35) os valores mundo educa- ensino, midiáticos, como, por exemplo, computador, internet, em
cional devem ser construídos com base num envolto de ferramen- que o aluno além de conhecer novas tecnologias, faz também inte-
tas como democracia, cidadania e direitos humanos, de modo que ração com o mundo e novas informações. O aluno busca algo novo,
estes valores a todo instante se relacionam com a diversidade social algo atrativo, e a educação deve acompanhar essa busca. Mas não
no ambiente interno e externo da escola. basta apenas usar a tecnologia, no ambiente de ensino/aprendiza-
[...] Assim o universo educacional em que os sujeitos vivem de- gem temos que rever o uso que fazemos de diferentes tecnologias
vem estar permeados por possibilidades de convivência cotidiana enquanto estratégias, tendo clareza quanto à função do que esta-
com valores éticos e instrumentos que facilitem as relações inter- mos utilizando, não basta trocar o livro por um computador se na
pessoais pautadas em valores vinculados a democracia, a cidada- prática não promovemos a inclusão do aluno, no que se refere aos
nia e aos direitos humanos. Com isso, fugimos de um modelo de processos de aprendizagem.
educação em valores baseado exclusivamente baseado em aulas O computador é conhecido como uma tecnologia da informa-
de religião, moral ou ética e compreendemos que a construção de ção devido a sua grande capacidade na solução de problemas rela-
valores se da a todo instante, dentro e fora da escola. Se a escola e a cionados a armazenamento, organização e produção de informa-
sociedade propiciarem possibilidades constantes e significativas de ção de várias áreas do conhecimento. A utilização dessa tecnologia
convívio com temáticas éticas, haverá maior probabilidade de que pode ser usada de varias formas, como programas de exercício-e-
tais valores sejam construídos pelo sujeitos [...] -prática, jogos educacionais, programas de simulação, linguagem de
Contudo, a função social do professor é um ambiente bem programação entre outros, despertando assim um grande interesse
complexo de se analisar, visto que ela esta relacionada a situações do aluno.
como atitudes, valores e éticas, estes itens de grande importân- Conforme observado por Valente (1993), o computador não é
cia para o desenvolvimento além do professor, mas para escolas e mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com
alunos, pois a sociedade em que se vive, é cada vez mais diversifi- a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o aprendizado ocorre
cada, exigindo do professor flexibilidade de métodos de ensino, e pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do com-
das escolas modelos pedagógicos mais dinâmicos, para satisfazer a putador. O processo de interação se torna mais agradável com a
necessidade dos alunos diversificados a fim de construir uma socie- presença da multimídia na aprendizagem, pois naquele momento o
dade com conhecimento.17 aluno está descobrindo o novo, o contemporâneo.

Educação, Mídia e Tecnologia


NOVAS TECNOLOGIAS A aplicação de novas tecnologias na educação vem modifican-
do o panorama do sistema educacional e, por isso, pode-se falar
A mídia pode ser inserida em sala de aula através dos Recursos de um tipo de aula antes e depois da difusão de mídias integradas
de Ensino. Estes segundo Gagné (1971, p. 247) “são componentes e tecnologias avançadas de comunicação digital. Os resultados das
do ambiente da aprendizagem que dão origem à estimulação para aplicações de tais tecnologias estão criando condições objetivas
o aluno”. Estes componentes são, além do professor, todos os tipos para questionarem a real necessidade de se preparar para o ensino
de mídias que podem ser utilizadas em sala de aula, tais como, re- virtual. Hoje, há a percepção de algumas tendências relativas aos
vistas, livros, mapas, fotografias, gravações, filmes etc. novos modelos de ensino e aprendizagem de idiomas mediados por
computador. Uma dessas tendências é a aprendizagem por meio de
Redes Sociais ou Comunidades Virtuais de Aprendizagem.
17 Fonte: www.meuartigo.brasilescola.uol.com.br

297
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Afirma-se que a Educomunicação apresenta-se, hoje, como É raro ver qualquer tipo de interação entre professor e alunos
um paradigma, um conceito orientador de caráter sociopolítico e em sala de aula que ignore completamente as novas tecnologias.
educacional a partir da interface Comunicação/Educação. Mais do Mesmo em uma sala de aula desprovida de equipamentos de últi-
que como uma metodologia, no âmbito da didática, o neologismo ma geração, com o professor mais tradicional, a interação é sempre
tem sido visto como um parâmetro capaz de mobilizar consciências permeada por ela. E não poderia deixar de ser: além dos avanços
em torno de metas a serem alcanças coletivamente nas diferentes tecnológicos que conquistaram as gerações X e Y (você se lembra
esferas da leitura e da construção do mundo, como propunha Paulo como enviava mensagens e fazia planos com os amigos antes do
Freire. smartphone?), os estudantes das novas gerações são nativos digi-
O fato permite e facilita um diálogo permanente entre os que tais. Isso significa que a maioria deles nunca conheceu um mundo
buscam dar respostas tanto às questões vitais anunciadas e des- sem internet, celular, Google ou redes sociais, dessa forma, o uso
critas nas diretrizes propostas pelo poder público quanto às “ex- de tecnologias educacionais se tornou fundamental para potencia-
periências escolares” inovadoras e multidisciplinares, previstas na lizar o ensino e principalmente, gerar maior interesse e interação
reforma do ensino dos alunos.
Trata-se de um percurso que leva em conta a sociedade da in- A Tecnologia Educacional é um conceito que diz respeito à utili-
formação e o papel da mídia na geração de conteúdos, mensagens zação de recursos tecnológicos para fins pedagógicos. Seu objetivo
e apelos comportamentais. é trazer para a educação – seja dentro ou fora de sala de aula – prá-
Segundo a justificativa do CNE que embasa o documento, se, ticas inovadoras, que facilitem e potencializem o processo de en-
de um lado, “é importante a escola valer-se dos recursos midiáti- sino e aprendizagem. O uso da TE tem sido amplamente discutido
cos é, igualmente, fundamental submetê-los aos seus propósitos no meio acadêmico, na mídia e nos círculos sociais, espaços onde
educativos”. Nesse sentido, o texto propõe que valores — presen- nem sempre é bem recebido. As maiores críticas dizem respeito à
tes muitas vezes de forma conflituosa no convívio social e assim sua relação com o papel da escola e do professor e à dificuldade de
reproduzidos pela mídia — sejam identificados e revisitados pela acesso à tecnologia, especialmente nas escolas da rede pública e
educação. É o caso, por exemplo, do consumismo e de uma pouco entre estudantes com menor renda familiar.
disfarçada indiferença com relação aos desequilíbrios que ocorrem Mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, o foco
no mundo; indiferença essa que leva, com certa naturalidade, à ba- principal da Tecnologia Educacional não está sobre os dispositivos
nalização dos acontecimentos por parte significativa dos meios de tecnológicos (a escola não precisa, obrigatoriamente, contar com
informação. os equipamentos mais modernos para trabalhar a TE), e sim sobre
Em relação ao universo da comunicação, a Resolução CNE/CEB as práticas que o seu uso possibilita. Em outras palavras: ter bem
nº. 7, de 14/12/2010, que estipula as diretrizes para o ensino de definida a finalidade do uso da tecnologia em sala de aula é mais
nove anos, não permanece, contudo, apenas num denuncismo inó- importante que os meios e recursos tecnológicos que serão empre-
cuo. Ao contrário, estabelece metas a serem cumpridas. gados para tal prática.
É necessário, por exemplo, que a escola contribua para trans- E é aí que entra o papel fundamental do professor e do profis-
formar os alunos em consumidores críticos dos produtos midiáticos sional da educação no emprego da Tecnologia Educacional: definir
(meta número 1), ao mesmo tempo em que passem a usar os re- quais são os recursos e ferramentas mais adequados para a realida-
cursos tecnológicos como instrumentos relevantes no processo de de de seus alunos, e também a forma mais relevante de os utilizar
aprendizagem (meta número 2). É dessa criticidade do olhar e da em suas práticas pedagógicas. Ainda assim, pode surgir a dúvida:
criatividade no uso dos recursos midiáticos que pode surgir uma com que objetivo um profissional da educação deveria inserir a tec-
nova aliança entre o aluno e o professor (meta número 3), favore- nologia nas práticas pedagógicas e no dia a dia da sua instituição
cida justamente pelo diálogo que a produção cultural na escola é de ensino?
capaz de propiciar.
No caso do docente, o parecer que justificou o documento do Tecnologia Educacional: por que usar?
CNE entende que “muitas vezes terá que se colocar na situação de Ao longo das últimas décadas praticamente todas as áreas da
aprendiz e buscar junto com os alunos as respostas para as ques- sociedade têm experimentado uma grande evolução tecnológica.
tões suscitadas”. Surge, aqui, a meta número 4: reconhecer o aluno Toda evolução compreende uma mudança na comunicação, nas re-
como partícipe e corresponsável por sua própria educação, sujeito lações sociais e, é claro, no processo de ensino e aprendizagem.
que é de um direito muito especial: o de expressar-se numa socie- Mas, como dissemos no tópico acima, a utilização da Tecnologia
dade plural. Educacional nem sempre é bem recebida – inclusive por educado-
Assim como a tecnologia, a comunicação envolvida no proces- res. A raiz dessa resistência talvez esteja na desinformação sobre as
so de ensino e aprendizagem também está em constante transfor- diferentes possibilidades que ela oferece à educação.
mação. Por esse motivo, não é mais possível estar diante de uma Listamos aqui alguns dos motivos para utilizar a Tecnologia
sala de aula com a expectativa de captar a atenção de toda uma Educacional em sua escola.
turma de crianças e adolescentes e utilizando uma linguagem do - Ampliar o acesso à informação.
século passado. Hoje, não é mais possível falar sobre ecologia, sem - Facilitar a comunicação escola – aluno – família.
falar sobre sustentabilidade e tecnologias limpas. Ou falar sobre - Automatizar processos de gestão escolar.
linguagens, sem mencionar os memes e as fake news. E esses são - Estimular a troca de experiências.
apenas alguns dos exemplos possíveis. - Aproximar o diálogo entre professor e aluno.
Para estabelecer uma comunicação verdadeira com a realidade - Possibilitar novas formas de interação.
dos estudantes das novas gerações, o processo de ensino e apren- - Melhorar o desempenho dos estudantes.
dizagem necessita, invariavelmente, levar em conta e valer-se da
tecnologia. Dessa necessidade emergiu a Tecnologia Educacional. Vamos analisar alguns motivos por que o uso da tecnologia di-
Pensada especificamente para trazer inovação e facilitar o processo gital em sala de aula pode melhorar o desempenho dos seus alunos.
de ensino e aprendizagem, ela aparece nas salas de aula de diversas
maneiras: em novos dispositivos ou gadgets, softwares e soluções
educacionais.

298
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
1. A tecnologia digital desperta maior interesse e prende equívocos enquanto o conteúdo continua “fresco” na memória, em
a atenção dos alunos. vez de descobrir dias depois (ou apenas no final do bimestre) que,
O uso da tecnologia digital na educação contribui enorme- durante todo o tempo, seu desempenho esteve abaixo do espera-
mente para o engajamento dos estudantes na dinâmica de aula. A do. Além disso, professores e responsáveis acompanham de perto a
mente humana é apaixonada por novidades. Por isso, é importante evolução de cada estudante, intervindo e direcionando os estudos
variar a rotina de estudos, fazer pequenas mudanças no local e, es- conforme necessário.
pecialmente, experimentar diferentes ferramentas e recursos tec-
nológicos. Quando se buscam novas formas de ensinar e aprender, 7. A tecnologia digital permite traçar um plano de ensino
coloca-se uma aura de novidade sobre a rotina de estudos, tornan- adequado a cada aluno.
do-a mais interessante e prazerosa. Consequentemente, crescem a A tecnologia digital permite gerar uma grande quantidade de
atenção e o interesse dos alunos pelo assunto em pauta. dados educacionais. É possível identificar temas e conceitos nos
quais os estudantes apresentam maior facilidade ou dificuldade de
2. A tecnologia digital auxilia na percepção e na resolu- compreensão, bem como verificar o desempenho da turma e de
ção de problemas reais. cada aluno, individualmente. A análise desses dados dá autonomia
Grande parte dos artigos e discussões recentes na área da edu- para que professores, pais e alunos tracem um plano de ensino per-
cação (inclusive a recém-aprovada Base Nacional Comum Curricu- sonalizado, mais adequado a cada turma e estudante. Também pos-
lar) diz que é preciso aproximar o conteúdo estudado da realidade sibilita que o próprio aluno, nas etapas mais avançadas da educação
dos alunos. Experimente dar um sentido mais prático à sua discipli- básica, direcione seu aprendizado para suas áreas de interesse e da
na, seja por meio da contextualização da informação (aplicação em formação que pretende seguir.
situações reais, apresentação de casos locais) ou dos meios utiliza-
dos para transmiti-la (tecnologias digitais, canais frequentemente Exemplos de usos da Tecnologia Educacional
utilizados pelas novas gerações). Isso auxilia não apenas na com- A Tecnologia Educacional pode estar presente na educação de
preensão do conteúdo, mas também na visualização e na resolução diversas maneiras, algumas delas são:
de problemas reais que se apresentam no dia a dia do estudante. - em gadgets (dispositivos), como a lousa digital, os tablets e as
mesas educacionais;
3. A tecnologia digital insere os jovens no debate social e - em softwares, como os aplicativos, os jogos e os livros digitais;
contribui para a formação do senso crítico. - e em outras soluções educacionais, como a realidade aumen-
Uma das principais vantagens da aplicação da tecnologia digital tada, os ambientes virtuais de aprendizagem e as plataformas de
na educação é a possibilidade de acessar informações atualizadas, vídeo.
em tempo real. Não é mais preciso aguardar pela atualização do
livro didático impresso para ter acesso a temas contemporâneos, Diversas práticas e iniciativas educacionais apenas tornaram-se
questões recentes de vestibulares, dados atualizados e debates so- realidade com o uso da TE. A seguir, vamos falar um pouco sobre
ciais relevantes. Trabalhar com informações hiperatualizadas con- as possibilidades do uso da Tecnologia Educacional e as diferentes
tribui para inserir o estudante no debate social e desenvolver seu formas de como ela vem transformando a educação.
senso crítico e de argumentação, preparando-o simultaneamente
para os desafios da vida social e acadêmica. Ensino híbrido
A prática de combinar o estudo on e offline, conhecido como
4. A tecnologia digital trabalha a responsabilidade na ensino híbrido, é uma grande tendência possibilitada pela Tecnolo-
utilização da internet e dos recursos digitais. gia Educacional. Ela confere maior autonomia aos estudantes, para
A tecnologia digital está presente na vida das novas gerações que trilhem seus próprios roteiros de estudo, desenvolvam proje-
desde muito cedo. É extremamente comum ver crianças em idade tos ou atividades de sistematização e de reforço. Também é uma
pré-escolar utilizando tablets e smartphones, por exemplo. A inser- prática que incentiva e facilita que o aluno desenvolva o hábito do
ção da tecnologia no ambiente escolar ajuda a estabelecer regras estudo diário, fora do ambiente escolar.
de convivência e segurança nos ambientes virtuais. Também é uma
boa oportunidade para trabalhar a responsabilidade no manuseio e Sala de aula invertida
na conservação dos equipamentos digitais. Na sala de aula invertida, o aluno traz para a aula o conhecimen-
to prévio sobre o tema que será estudado, adquirido a partir de tex-
5. A tecnologia digital contribui para democratizar o tos, vídeos, jogos e outros formatos de conteúdo recomendados pelo
acesso ao ensino. professor – quase sempre no meio digital. A construção e significação
Hoje existem diversas ferramentas e metodologias desenvolvi- deste conhecimento, no entanto, acontecem em conjunto, na sala de
das com o objetivo de ajudar os profissionais da educação a promo- aula. Assim como o ensino híbrido, a proposta da sala de aula inverti-
ver a democratização do acesso ao ensino e a trabalhar a favor de da tem como objetivo colocar o estudante no papel de protagonista
uma educação mais inclusiva. O uso da tecnologia digital em sala de de seu processo de aprendizagem e da sua própria evolução, enga-
aula (na forma de recursos sonoros, visuais e de escrita, por exem- jando também os outros membros do seu núcleo familiar.
plo) pode dar mais autonomia aos estudantes portadores de defi-
ciência, transtornos ou problemas de aprendizagem, ajudando-os a Gamificação
superar limitações e a desenvolver ao máximo seu potencial. A gamificação, assunto muito comentado no meio educacional
nos últimos anos, consiste em utilizar elementos de jogos digitais
6. A tecnologia digital oferece feedback imediato e cons- (como avatares, desafios, rankings, prêmios etc.) em contextos que
tante a professores, alunos e responsáveis. diferem da sua proposta original – como na educação. A principal
Nas escolas que utilizam um ambiente virtual de aprendizagem vantagem apontada pelos profissionais da educação no uso da ga-
(AVA), transferir as tarefas e avaliações para o meio digital é uma mificação é o aumento no interesse, na atenção e no engajamento
maneira de gerar dados de desempenho imediatos para professo- dos alunos com o conteúdo e as práticas propostas.
res, alunos e responsáveis. Dessa maneira, o aluno pode corrigir

299
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Personalização do ensino Atualização
A geração de dados educacionais é extremamente beneficiada A partir do momento em que o professor identifica uma prática
pelo uso da TE, pois simplifica a aferição do desempenho e dos re- ou rotina que poderia ser inovada com o uso da tecnologia, tam-
sultados de avaliações objetivas. A partir desses dados, é possível bém é importante pensar na atualização dos planos de aula que
criar modelos de ensino personalizados, que estejam em sintonia irão nortear essas práticas.
com o momento real de aprendizagem de cada estudante. Assim, o
professor tem uma noção mais clara do panorama da turma e pode Plano de Aula X tecnologia
agir individualmente e de forma personalizada sobre os pontos po- A partir da modernização de espaços, ferramentas e práticas
tenciais e de maior dificuldade de cada estudante. educacionais, profissionais da educação em todo o mundo estão
trabalhando por uma transformação cada vez mais profunda e efe-
Microlearning tiva no processo de ensino e aprendizagem. Essa transformação
Tanto para as novas gerações quanto para as anteriores, a enor- é um processo nascido e desenvolvido dentro de cada espaço de
me quantidade de informações com as quais temos contato diaria- aprendizagem, baseado em uma mudança de hábitos e paradig-
mente ocasionou uma transformação na forma como consumimos mas estabelecidos nas relações diárias entre alunos e professores.
conteúdo. Para que a atenção não seja desviada de pronto, este Não basta esperar que a transformação chegue até a sala de aula,
conteúdo aparece em nosso dia a dia de forma muito mais frag- ela precisa ter um ponto de partida dentro do ambiente escolar.
mentada, em vídeos e mensagens breves. Daí surge a expressão Que tal ser um agente dessa mudança na sua escola, começando
microlearning, que consiste na fragmentação de conteúdo educa- pelo plano de aula?
cional para que este seja melhor assimilado pelos alunos. O meio A chegada da Base Nacional Comum Curricular deixa ainda
digital favorece este tipo de interação, por meio de vídeos, jogos, mais evidente a necessidade de trazer a tecnologia para dentro da
animações, apresentações interativas etc. realidade das escolas. Segundo a BNCC, os estudantes devem de-
senvolver ao longo da Educação Básica a competência para:
Como inserir a tecnologia na minha escola? Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e
Existem medidas essenciais para inserir a Tecnologia Educacio- comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas di-
nal de maneira relevante no dia a dia de sua instituição de ensino. versas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar
Elencamos algumas delas a seguir: por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos.
Diagnóstico (BNCC)
Antes de mais nada, é preciso entender os alunos e professores
da sua escola. Em que momentos eles estão conectados? A partir A seguir, apresentamos 6 ideias para atualizar seu plano de
de quais dispositivos? Quais são as redes sociais em que estão pre- aula e trabalhar a tecnologia de maneira relevante e integrada ao
sentes e os sites que acessam? Essa investigação é essencial caso dia a dia da turma.
sua instituição pretenda estabelecer uma conexão verdadeira com
os seus públicos e propor usos significativos para a Tecnologia Edu- 1. Interação em ambientes virtuais
cacional. Desde a primeira infância, os estudantes da Geração Z estão
navegando em ambientes virtuais. Eles comunicam-se com desen-
Documentos normativos voltura no meio digital, às vezes mais do que seus pais e professo-
As possibilidades para o uso da TE, bem como o destaque da res. Incentivar e orientar a interação nesses espaços tem muito a
sua importância, devem estar previstas dentro do PPP e em outros acrescentar à prática pedagógica. Procure identificar as tarefas que
documentos normativos da instituição de ensino. podem ser transpostas, facilitadas ou repensadas para o meio di-
gital.
Investimento As ferramentas para isso são abundantes: é possível criar gru-
É importante relacionar tudo aquilo que a escola possui de su- pos e comunidades nas redes sociais; fóruns de discussão com te-
porte para o uso da tecnologia, para daí desenvolver planos reais máticas específicas relacionadas ao conteúdo que está sendo estu-
sobre as práticas que podem ser adotadas. Essa relação também dado; ou mesmo utilizar um ambiente virtual de aprendizagem,
deixa claro aquilo que é preciso melhorar e o investimento que caso a sua escola ou sistema de ensino disponha de um.
pode ser feito com esta finalidade.
2. Textos em formato digital
Capacitação O consumo de textos em formato digital é baseado na lingua-
De nada adiantam os recursos tecnológicos sem uma equipe de gem hipertextual e em uma forma de leitura não linear. O texto em
professores e profissionais capacitados para extrair deles as melho- formato digital permite ampliar o conhecimento acerca de uma te-
res práticas pedagógicas. Por isso, a formação dos educadores para mática, elucidar e ilustrar conceitos, contextualizar momentos his-
a tecnologia é primordial. tóricos, esclarecer vocabulários específicos, entre diversas outras
possibilidades. A leitura deixa de ser apenas receptiva para tornar-
Diálogo -se um processo interativo.
Uma ação importante é estimular o diálogo e a troca de expe- Muitos materiais didáticos já possuem uma versão digital que
riências entre as equipes. Os professores sentem-se mais seguros, pode ser aproveitada como recurso em sala de aula ou em casa.
dispostos e motivados a utilizar a tecnologia quando compartilham Explore também as funcionalidades oferecidas por portais de no-
das experiências de seus pares. tícia online, e-books, PDFs interativos etc. O hipertexto permite
adicionar links, imagens, vídeos, referências e diversos formatos de
Segurança conteúdo adicional ao corpo do texto, transformando a forma como
É preciso estimular o uso consciente e seguro dos recursos digi- lemos e aprendemos. Quando se transforma a forma de ler, modifi-
tais, por parte tanto das equipes da escola quanto dos estudantes. ca-se também a forma de produzir conteúdo.

300
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O hipertexto, pela sua natureza não sequencial e não linear, 5. Diferentes formatos de avaliação
afeta não só a maneira como lemos, possibilitando múltiplas entra- A tecnologia também pode convergir para o plano de aula no
das e múltiplas formas de prosseguir, mas também afeta o modo modo de avaliação. Por mais que a prova em papel e caneta – com
como escrevemos, proporcionando a distribuição da inteligência e os alunos em fila e vigiados pelo professor – continue sendo o mé-
cognição. De um lado, diminui a fronteira entre leitor e escritor, tor- todo de avaliação mais comum, existem formas diferentes de verifi-
nando-os parte do mesmo processo; do outro, faz com que a escrita car a aprendizagem dos estudantes.
seja uma tarefa menos individual para se tornar uma atividade mais Caso a sua escola utilize um sistema de ensino, uma dica é veri-
coletiva e colaborativa. O poder e a autoridade ficam distribuídos ficar se ele disponibiliza avaliações em formato digital, como ativi-
pelas imensas redes digitais, facilitando a construção social do co- dades de fixação e reforço, provas e simulados. Você também pode
nhecimento.(MARCUSCHI, Luiz A. O hipertexto como um novo espa- desenvolver suas próprias avaliações, pesquisas e questionários uti-
ço de escrita em sala de aula. Linguagem e Ensino, Rio Grande do lizando ferramentas gratuitas como o Google Forms.
Sul, 2001. v.4, n. 1, p. 79-111.)
6. Aplicativos e softwares educacionais
A BNCC e os gêneros digitais Utilizar elementos lúdicos para facilitar o entendimento de
A tecnologia está presente ao longo de todo o texto da Base conceitos, além de estimular e engajar os estudantes para a realiza-
Nacional Comum Curricular. Ela aparece especialmente na leitura, ção de tarefas, das mais simples as mais complexas, não é nenhu-
interpretação e produção dos novos gêneros digitais, como: ma novidade na área da educação. No entanto, o desenvolvimento
- Blogs; tecnológico ocorrido nos últimos anos possibilitou que essa prática
- Tweets; fosse transportada para o meio digital e amplamente difundida nas
- Mensagens instantâneas; salas de aula em diferentes partes do mundo. Nas pautas mais re-
- Memes; centes, esse fenômeno é conhecido como gamificação.
- GIFs; Ao buscar no App Store ou Play Store, na categoria “Educação”,
- Vlogs; é possível encontrar inúmeros jogos e aplicativos – muitos deles
- Fanfics; gratuitos – que podem ser aproveitados dentro do contexto edu-
- Entre diversos outros. cacional.

Se engana quem pensa que os novos gêneros digitais devem O que inserir em seu plano
ser trabalhados apenas pelo professor de Língua Portuguesa. O tra- … e como?
de aula…
balho com esses gêneros pode ser explorado em diferentes áreas
do conhecimento, valorizando também o trabalho interdisciplinar - Grupos e comunidades nas
– como sugere, inclusive, a própria BNCC. redes sociais;
1. Interação em ambientes - Fóruns de discussão;
3. Métodos colaborativos de produção de conteúdo virtuais - Ambiente virtual de
Uma maneira de engajar os estudantes com o plano de aula aprendizagem;
da sua disciplina é torná-los parte da construção do conhecimento. - Etc.
Mobilize a criação de um blog para a turma e estimule a interação - Portais de notícia;
por meio dos comentários; organize e deixe disponível para con- - E-books;
sulta um banco de textos e artigos com as produções dos alunos; 2. Textos em formato digital
- PDFs interativos;
desenvolva projetos interdisciplinares. - Etc.
O Google Docs, por exemplo, é uma ferramenta gratuita, que per-
mite construir textos de maneira colaborativa, editando, adicionando - Blog/vlog;
3. Métodos colaborativos de
comentários e enviando feedback em tempo real. No entanto, existem - Banco de textos e artigos;
produção de conteúdo
diversas outras ferramentas disponíveis. Procure pelas melhores solu- - Etc.
ções que conversem com a realidade e as necessidades da turma. - Vídeos;
4. Apresentações em - Slides;
4. Apresentações em formatos multimídia formatos multimídia - Mapas mentais;
É importante empregar recursos tecnológicos ao seu plano - Etc.
de aula, uma vez que o uso de materiais em diferentes formatos
- Avaliações online;
(como vídeos, apresentações em slides, mapas mentais etc.) co-
5. Diferentes formatos de - Atividades de fixação e reforço;
labora para o engajamento da turma. Além disso, pode servir para
avaliação - Simulados;
enriquecer tanto a aula do professor quanto as apresentações dos
- Etc.
próprios alunos.
Algumas ferramentas que apresentam essas funcionalidades - Jogos
6. Aplicativos e softwares
são o YouTube (edição e compartilhamento de vídeos), o Google Sli- - Aplicativos educacionais;
educacionais
des e o Prezi (apresentação de slides e construção de mapas men- - Etc.
tais), o PowToon (construção de vídeos e animações – em inglês),
entre outras. Busque também compartilhar experiências e conhe- Pensar novas formas de utilização da tecnologia a favor da edu-
cer as ferramentas utilizadas por outros professores. cação é uma missão de todo profissional que atua hoje nessa área.
Procure manter-se atualizado sobre as tendências em tecnologia
educacional, acompanhando blogs, revistas e portais de notícia so-
bre o assunto. Troque experiências com outros profissionais e des-
cubra novas práticas, soluções e ferramentas que estão surgindo a
cada dia.18
18 Fonte: www.blog.sae.digital/www.revistas.usp.br/www.administradores.

301
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
No entanto, embora muitos dos conceitos que fundamentam
A CRIANÇA E O NÚMERO tais aprendizagens se manifestem no uso cotidiano dos números,
de medidas ou mesmo no trato de formas geométricas, isso não sig-
Apesar da crença que aflora do senso comum de que, para nifica, necessariamente, a aprendizagem dos conceitos. Não é pelo
aprender Matemática, o sujeito primeiro precisa ser alfabetizado, fato de uma criança utilizar estratégias de contagem em determina-
e apesar do esforço de estudiosos da área para desmistificá-la, a da prática social (na feira, por exemplo) que ela se apropriou teori-
compreensão de que processos de apropriação dos conhecimentos camente do número ou tenha consciência da estrutura do sistema
matemáticos ocorrem associados aos de alfabetização e letramento de numeração decimal. Mas, se ela “usa” o número, isso não é su-
não chega, ainda, a ser facilmente constatada nas práticas de esco- ficiente? Qual é o problema? O problema é que o uso não garante
larização das crianças das escolas brasileiras. a apropriação do conceito e, sem ele, é impossível avançar com
Se compreendermos que as crianças não precisam, primeira- consistência na aprendizagem. No exemplo, a criança que apenas
mente, aprender as letras para só depois aprenderem números, “usa” o número provavelmente terá dificuldades para compreender
formas e outros entes matemáticos, é possível pensarmos em pro- o sentido das operações aritméticas e sua generalização algébrica.
cessos de organização do ensino que, ao mesmo tempo que consid- Por outro lado, nas práticas sociais os conceitos podem ser ap-
erem a especificidade da infância, favoreçam e potencializem difer- ropriados de forma socialmente significada, além de favorecerem
entes aprendizagens. Como afirma Vigostki (2010, p. 325), que o sujeito possa externar e materializar a sua aprendizagem. A
[...] o desenvolvimento intelectual da criança não é distribuí- discussão sobre a relevância das práticas sociais na aprendizagem
do nem realizado pelo sistema de matérias. Não se verifica que a tem se refletido nas pesquisas sobre a alfabetização e o letramen-
aritmética desenvolve isolada e independentemente umas funções to, ao indicarem inicialmente a alfabetização com o processo de
enquanto a escrita desenvolve outras. aquisição do código da escrita e o letramento como o uso da escrita
Uma vez que a criança não aprende por “fatias” separadas por em práticas e situações sociais (Kleiman, 1995).
áreas do conhecimento, também a prática escolar para crianças No entanto, segundo Soares (2004, p. 14), não se trata de optar
pequenas deve priorizar situações de ensino nas quais diferentes por um ou outro caminho, mas de compreender a interdependên-
conhecimentos possam se integrar. cia desses processos, uma vez que
No desenvolvimento dessas situações de ensino intencional- [...] a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de
mente selecionadas, os conteúdos específicos manifestam- se de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades
forma mediada pela ação dos professores e socialmente significada de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no con-
na atividade infantil. texto da e por meio da aprendizagem das relações fonemagrafema,
Alguns recursos teóricos e metodológicos podem auxiliar os isto é, em dependência da alfabetização.
professores a planejar uma prática pautada nessa integração. A De forma semelhante, alguns pesquisadores da área da edu-
importância da mediação e das situações lúdicas, por exemplo, cação matemática têm proposto o uso das expressões “alfabet-
não pode ser ignorada na busca dessa prática para o ensino da ização matemática” e “letramento matemático” (ou numeramen-
Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental. to), associando a primeira à “aquisição da linguagem matemática
Nesse sentido, propomos estabelecer aqui, com aqueles que formal e de registro escrito” (Fonseca, 2007), e a segunda expressão
se dedicam ao ensino nesta etapa da formação infantil, um diálogo a processos de uso de conceitos matemáticos em práticas sociais.
sobre alguns elementos que possam fundamentar as práticas ped- Há ainda, segundo a autora, uma vertente da educação matemática
agógicas voltadas para o ensino da Matemática, no intuito de pro- que relaciona o numeramento a uma noção mais ampla de letra-
porcionar às crianças a apropriação do conhecimento matemático mento, a qual incluiria tanto as práticas sociais quanto as condições
de maneira lúdica e repleta de significado. do sujeito para se inserir e atender às demandas dessas práticas
permeadas pela linguagem escrita.
Alfabetização matemática ou letramento em matemática? Compreendida a noção de letramento dessa forma mais
Assim como na língua materna, a aprendizagem de noções abrangente, também a noção de numeramento assumiria outra
básicas de diferentes áreas do conhecimento constitui- se como dimensão. Assim, segundo Fonseca (2007), “não se trataria, por-
condição essencial para a construção de uma cidadania crítica, por tanto, de um fenômeno de letramento matemático, paralelo ao do
meio da qual os sujeitos não apenas se integrem passivamente à so- letramento, mas de numeramento como uma das dimensões do le-
ciedade, mas tenham condições e instrumentos simbólicos para in- tramento” (grifos do autor). Segundo Mendes (2005), compreender
tervir ativamente na busca da transformação dessa realidade social. o numeramento como uma dimensão do letramento implica rever
A escrita traz consigo uma história atrelada às necessidades do a própria visão de escrita, ampliando-a de modo que envolva
homem em comunicar de modo eficaz suas descobertas, nos mais também outros códigos de representação para além do alfabético,
diversos campos do conhecimento, para atender variados interess- por exemplo, o numérico e o simbólico.
es sociais. Na sua evolução, civilizações tais como a dos babilônios, Na dimensão histórico-cultural do conhecimento os
egípcios, fenícios, gregos e romanos se destacaram, tanto para a conceitos trazem em si encarnados processos de significação
evolução da escrita que comunica descobertas no amplo sentido, gestados nas relações humanas historicamente estabelecidas en-
como na escrita que se refere à linguagem matemática especifica- tre os sujeitos que, segundo Moura (2013a), “participaram de sua
mente. criação ao resolverem um problema que requereu partilhar ações
No caso do ensino da Matemática, a aprendizagem dos númer- em que a linguagem foi necessária.”.
os e suas operações; de instrumentos para a leitura e análise de A escola é o espaço privilegiado no qual, de modo intencional,
dados em listas, gráficos e tabelas; de estratégias de medição de os conteúdos constituem-se como “objetos de uma atividade que
grandezas, uso de unidades de medidas e produção de estimativas; tem como finalidade fazer com que os sujeitos que dela participam
de noções geométricas básicas, constituem, de forma geral, o foco se apropriem tanto desses objetos como do modo de lidar com
do trabalho pedagógico esperado para as primeiras séries do Ensino eles” (p. 88-89).
Fundamental (Brasil, 1997; 2012). Embora os termos “numeramento”, “alfabetização matemática”
e “letramento matemático” apareçam em diferentes publicações e
documentos, seu uso e o sentido que lhes é atribuído não é con-
com.br

302
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
senso. Concordamos com Moura (2013, p. 131-132) quando afirma da criação de unidade, a comparação entre a unidade e a gran-
que, para além dos termos utilizados na aprendizagem matemática, deza a ser medida, a quantificação dessa comparação ), então esse
é fundamental a compreensão acerca dos processos humanos de processo pode tornar-se consciente para a criança e possibilitar a
significação dos conhecimentos matemáticos básicos, seus signos apropriação do conceito científico de modo que esse “possa ser
e o que representam, de modo a garantir “a aprendizagem de um conscientizado pelos alunos na condição de um instrumento de
modo geral de lidar com os símbolos de forma a permitir o perma- generalização” (Sforni, 2006, p. 6).
nente acesso a outros conhecimentos nos quais a matemática se A apropriação de conceitos científicos dá-se dessa forma, por
faz presente”. meio de uma atividade humana consciente, na qual as ações real-
izadas pelo sujeito são repletas de sentido, de modo que “a inte-
Educação matemática, apropriação de conceitos e desenvolvi- riorização não é resultado mecânico da atividade externa em det-
mento do pensamento teórico rimento de seus componentes psíquicos internos” (Martins, 2007,
O entendimento de que a apropriação de conceitos matemáti- p.70). Portanto, em qualquer idade, ou fase, ou etapa do processo
cos pode se dar de forma mais efetiva, de forma significada, em sua de aprendizagem do homem, estar em atividade é condição para a
relação com as práticas sociais não significa que o uso de noções aprendizagem, o que vem a ocorrer se o aprendiz for movido por
matemáticas diluídas nas práticas sociais seja suficiente para a alguma necessidade e por motivos que o levem a se aproximar do
aprendizagem dos conceitos matemáticos. Tais distorções esva- conhecimento que os professores pretendem ensinar (Leontiev,
ziam o papel social da escola de socialização dos conhecimentos 1983).
humanos historicamente produzidos e considerados relevantes de Uma vez que a aprendizagem dos conceitos científicos não se
serem aprendidos pelas novas gerações. Segundo Moura (2013), dá de maneira espontânea, cabe à escola organizar situações de en-
As visões culturalistas podem levar à falsa ideia de que as cri- sino que coloquem as crianças diante de situações cuja resolução
anças estão impregnadas pela visão dos números no seu meio e necessite do conceito que se deseja ensinar e, ao mesmo tempo,
que já têm o motivo necessário para buscar compreendê-los. Não, de forma mediada pelos professores, possibilitem a superação da
isto não corresponde à verdade. Apropriar-se de um conceito, como superficialidade do contexto e a exploração de características es-
é para todo o processo de apropriação de significado, deve ser re- senciais dos conceitos, em direção à abstração.
sultado de uma atividade do sujeito, motivado, que se apropria das De forma geral, podemos dizer que educar pressupõe uma
significações a partir de suas potencialidades e de um motivo pes- mediação entre a cultura e os educandos, de tal modo que, nesse
soal (Moura, 2013, p. 134). processo, o sujeito interioriza, transforma e garante a continuidade
A distinção entre a utilização de conceitos em situações cotid- desta cultura. Nos ambientes escolares, elementos da cultura tor-
ianas e a apropriação conceitual voltada para generalização tem nam-se objeto de ensino ao serem intencionalmente selecionados
como fundamento a distinção proposta por Vigotski (2009) en- e socialmente validados como conteúdos escolares (Moura, 1996a).
tre conceitos cotidianos (ou espontâneos) e conceitos científicos. Em um sentido histórico-cultural, o conhecimento matemáti-
Sforni (2006) destaca que uma das principais distinções entre am- co que se torna objeto de ensino traz em si, nos elementos que o
bos se refere à tomada de consciência pelo sujeito, uma vez que, constituem, a história de sua produção e de seu desenvolvimento e
no processo de apropriação de conceitos cotidianos, a consciência suas formas de organização.
está focada no contexto de utilização; por sua vez, no caso da apro- Segundo Leontiev (1978), tais elementos estão impregnados
priação de conceitos científicos, é necessária a consciência voltada nos objetos porque são produtos de transformações realizadas pe-
intencionalmente para o conceito. los seres humanos ao longo de um processo histórico de produção
Nas palavras de Vigotski (2009, p. 243), temos que “no campo material e intelectual que foi culturalmente estruturado, constituin-
dos conceitos científicos ocorrem níveis mais elevados de tomada do a sua significação ou significado social.
de consciência do que nos conceitos espontâneos”. No ensino da Matemática, o conhecimento sobre a história
[...] apesar de na sua origem histórica a matemática apresentar da produção do conceito (as necessidades que o motivaram, as
vínculos diretos com as necessidades práticas, mais tarde evoluiu soluções encontradas para responder a essa necessidade, suas con-
sobre proposições abstratas que, com ajuda da lógica formal, culm- tradições e seus impasses) permite que os professores proponham
inaram em sistemas dedutivos, como ocorre, por exemplo, com os situações de ensino que coloquem para as crianças necessidades
conceitos geométricos euclidianos que, segundo Sánchez Vázquez análogas, o que não significa reproduzir o seu contexto histórico de
(2007), “têm sua origem nos objetos reais sobre os quais se exercia produção.
sua atividade prática, objetos cujas propriedades reais foram sub- As mediações feitas pelos educadores no sentido da explic-
metidas a um processo de generalização e abstração” (p. 246). itação do conceito matemático para a criança precisam considerar
Podemos verificar essa diferenciação entre a apropriação de que cada conhecimento “tem uma história, um desenvolvimento
conceitos cotidianos e de conceitos científicos analisando uma situ- que se fez dentro de certas lógicas
ação bastante comum no ensino de medidas e grandezas nas séries [...] o modo de se conhecer certos conteúdos é quase que
iniciais que é o seu uso em receitas culinárias. Em geral, é proposto perseguir o modo de construí-los” (Moura, 2001, p. 159).
às crianças o uso de diferentes unidades de medida (colher, xícara, A educação escolar diferencia-se de outras instâncias educati-
copo etc.). vas pela intencionalidade de ensinar conceitos científicos e favore-
O fato de a criança utilizar essas medidas possui o mérito de cer o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes; ou
favorecer uma aproximação com diferentes unidades de medida seja, é o pensamento que se utiliza dos próprios conceitos, e não de
não padronizadas, porém não permite a apropriação do conceito situações particulares que os representem (Davídov, 1982).
de medida. Se a proposta se reduz a esse uso, sendo o preparo da Pensando desse modo, os processos de apropriação dos con-
receita o foco da ação da criança, podemos dizer que sua abord- ceitos matemáticos básicos relacionam-se com processos mais ge-
agem é o conceito cotidiano. rais de letramento, quando se considera um indivíduo letrado como
Por outro lado, se, tomando como situação desencadeadora aquele que aprende não somente determinadas técnicas para ler,
a receita, os professores estabelecerem mediações com o objeti- escrever e contar, mas sim a usá-las de forma consciente em dif-
vo de tornar explícito para as crianças o conceito de medição (a erentes contextos e práticas sociais. Isso porque apenas a apro-
diferenciação entre grandezas discretas e contínuas, a necessidade priação conceitual que compreende as relações internas e externas

303
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
do próprio conceito permite ao sujeito tal autonomia em seu uso. volvimento. Compreendida dessa forma, a atividade principal da
De acordo com Leontiev (1983, p. 193), para se apropriar de um criança “pré-escolar” é a atividade lúdica, o jogo ou a brincadeira
conceito, (Leontiev, 1988). No entendimento de Vigotski (1991), a relação
[...] não basta memorizar as palavras, não basta compreender brinquedo-desenvolvimento pode, em muitos sentidos, ser com-
inclusive as ideias e os sentimentos nelas contidos, é necessário parada com a relação instrução- -desenvolvimento. Uma de suas
ademais que essas ideias e sentimentos se tornem determinantes principais características é que, em ambos os contextos, as crianças
internos da personalidade. A relação entre a matemática e as ne- elaboram e desenvolvem habilidades e conhecimentos socialmente
cessidades práticas é por vezes mais direta. É indiscutível a con- disponíveis, os quais internalizará.
tribuição dos grandes descobrimentos marítimos da Idade Mod- Para Leontiev (1988), isso se dá pelo fato de que o mundo obje-
erna no desenvolvimento da trigonometria. Segundo Sánchez tivo do qual a criança é consciente está continuamente se expandin-
Vázquez (2007), “[...] o cálculo probabilístico converteu-se [...], em do, pois, além dos objetos que constituem seu ambiente próximo
uma necessidade na medida em que se estendia o comércio exte- (com os quais ela vinha até então operando em suas atividades),
rior inglês em relação com o crescimento do poderio colonial da esse mundo inclui também os objetos com os quais os adultos op-
Inglaterra, o que elevava as perdas e riscos comerciais” (p. 247). eram, mas a criança não consegue operar, por estarem ainda além
Contudo, tem-se que considerar a autonomia da teoria “para con- de sua capacidade física. O domínio desses objetos desafia a cri-
stituir-se em relação direta, seja como prolongamento ou negação ança, que, pelas ações com eles realizadas, expande o domínio do
dela, com uma teoria já existente” (p. 247). Deve-se então destacar seu mundo. No brincar, ela amplia sua possiblidade real de realizar
a importância de se considerar que em seu desenvolvimento a atividades como cozinhar, dirigir um carro, ser professor ou mecâni-
Matemática se estrutura para atender exigências teóricas de co, por exemplo. Assim, podemos entender que as “brincadeiras
outras ciências e necessidades da própria técnica. das crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo
Do ponto de vista das tarefas atribuídas aos professores, or- é a percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos”
ganizar o ensino para o desenvolvimento dos conceitos científi- (Facci, 2004, p. 69).
cos nas crianças é um importante compromisso de sua prática Da discrepância entre o motivo da criança e a sua ação, nasce a
pedagógica, o que demanda a organização intencional das ações. situação imaginária. Porém, a ação no brinquedo não é imaginária.
Assim sendo, o processo de ensino pode ser considerado como a Ao contrário, há uma ação real, uma operação real e imagens reais
passagem da atividade espontânea da criança para “a atividade or- de objetos reais enquanto que a criança cria uma situação imag-
ganizada e dirigida para o objetivo” (Talizina, 2009). Uma vez que a inária para o desenvolvimento da ação. Assim é que, por exemplo,
aprendizagem ocorre em atividade, o desafio da organiza ção do um pedaço de madeira assume a função de uma colher ou uma ar-
ensino é planejar situações educativas que sejam desafiadoras e gola assume a função do volante de um carro. Para Vigotski (1991),
lúdicas e, ao mesmo tempo, coloquem para as crianças a necessi- a ação em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir seu
dade do conceito que se quer ensinar. comportamento não somente pela percepção imediata dos objetos
Assim, se o objetivo é ensinar as primeiras noções de fração, a ou pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo sig-
criança precisa se deparar com a necessidade de representar partes nificado dessa situação, em que as ações surgem das ideias e não
de um todo contínuo; por exemplo, em situações de medição, o que das coisas. Ao brincar, a criança passa a entender o que na vida
se relaciona com a necessidade histórica que levou à criação dessa real passou despercebido, experimentando e transformando as re-
representação de partes pelos egípcios. gras de comportamento às situações imaginárias criadas na ação
A resolução dessas situações deve dar-se sempre de modo de brincar.
mediado e compartilhado entre as crianças. Os professores devem Ao brincar ou jogar, a criança potencializa sua possibilidade
explorar também a relação entre os conceitos e seus usos sociais, de aprender e de se apropriar de novos conhecimentos. Isso se dá
além do interesse e a curiosidade da criança no compartilhamento porque, segundo Vigotski (1991), ao brincar, a criança se coloca um
de experiências, interpretações e descobertas sobre as característi- nível acima da sua atual situação de aprendizagem, do que real-
cas essenciais dos fenômenos inerentes aos conteúdos a serem es- iza fora do jogo. Assim, o jogo cria uma “zona de desenvolvimento
tudados. A mediação dos docentes durante todo o processo de res- próximo”, permitindo que a criança atue acima de seu “nível de de-
olução é condição fundamental para explicitar o conceito presente senvolvimento real”.
no contexto explorado, superando a atividade apenas empírica e Segundo Vigotski (1991), o nível de desenvolvimento real é
favorecendo o desenvolvimento do pensamento teórico. determinado pela capacidade de solucionar problemas de modo
independente, e o nível de desenvolvimento potencial é determi-
O jogo no ensino e a atividade principal da criança nado pela capacidade de solucionar problemas com a orientação,
No decorrer da vida, diferentes atividades têm a possibilidade ou ajuda de adultos e, ainda, com a colaboração de parceiros mais
de potencializar a aprendizagem. Isso porque se relacionam com os capazes.
interesses e motivos de os sujeitos realizarem-nas. Para Leontiev Relacionando a atividade lúdica com a aprendizagem, temos
(1988), elas são denominadas “atividades principais”, não porque que “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
ocorram com maior frequência ou porque sejam predominantes brinquedo, aquisições que no futuro tornar- -se-ão seu nível básico
no tempo que o sujeito lhe dedica, mas porque são aquelas nas de ação real e moralidade” (Vigotski, 1991, p. 131).
quais ocorre mais intensamente a apropriação uma vez que se con- No desenvolvimento de jogos com regras, a atividade lúdica
stituem como a principal forma de relacionamento do sujeito com a subordina-se a certas condições atreladas à realização de certo
realidade (Facci, 2004, p. 66). objetivo. A partir dos jogos com regras ocorre, segundo Leontiev
Assim, a atividade principal não se trata daquela frequente- (1988), um momento essencial para o desenvolvimento da psique
mente encontrada em certo nível de desenvolvimento, mas, segun- da criança, quando ela introduz em sua atividade um elemento
do Leontiev (1988, p. 122), é aquela moral manifesto pela obediência à regra. Para o autor, a relevân-
[...] em conexão com a qual ocorrem as mais importantes mu- cia desse acontecimento está no fato de que este elemento moral
danças do desenvolvimento psíquico da criança e dentro da qual surge da própria atividade da criança e não sob a forma de “uma
se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da máxima moral abstrata que ela tenha ouvido” (p. 139).
transição da criança para um novo e mais elevado nível de desen-

304
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Assim, o jogo ou a brincadeira pode constituir-se como im- Durante o estágio operacional concreto, a criança atinge o uso
portante recurso metodológico nos processos de ensino e de das operações completamente lógicas pela primeira vez. O pensa-
aprendizagem, se considerado de forma intencional e em relação mento deixa de ser dominado pelas percepções e a criança torna-se
com o conceito que se pretende ensinar. No por meio da brincadei- capaz de resolver problemas que existem ou existiram (são concre-
ra desencadeada por jogos ou por histórias, as crianças se deparem tos) em sua experiência.
com as necessidades de contar, registrar contagens, socializar esses No que diz respeito à percepção e a resolução de problemas,
registros, organizar dados. Piaget (1990) escreveu:
Por meio dos jogos e na ação compartilhada entre as crianças
sob a mediação dos professores, tais necessidades passam a ser ne- “O exemplo da seriação é particularmente claro a esse respeito.
cessidades para as crianças em atividade lúdica, explorando a im- Quando se trata de ordenar uma dezena de varetas pouco diferen-
aginação e a criatividade. A atividade lúdica pode ser explorada no tes entre si (de maneira a necessitar de comparações duas a duas),
ensino da Matemática por favorecer aprendizagens de “estruturas os sujeitos do primeiro nível pré-operatório procedem por pares
matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação”, desenvolvendo (uma pequena e uma grande, etc.) ou por trios (uma pequena, uma
“sua capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender concei- média e uma grande, etc.), mas sem poder em seguida coordená-las
tos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las” (Grando, numa série única.
2008, p. 26).
Algumas ações desenvolvidas pelas crianças ao jogar podem Os sujeitos do segundo nível chegam à série correta, mas por
ser comparadas com as ações adequadas ao processo de resolução tentativa e erro. No presente nível, em contrapartida, eles utilizam
de problemas. Além disso, é possível estabelecermos paralelos en- com frequência um método exaustivo que consiste em procurar pri-
tre as etapas do jogo e as etapas da resolução de problemas (Mou- meiro o menor dos elementos, depois o menor dos que restam, e
ra, 1991; 1996; Grando, 2008). Em ambos, parte-se de uma situação assim por diante. Ora vê-se que tal método equivale a admitir de
desencadeadora (jogo ou problema), há uma exploração inicial do antemão que um elemento E qualquer serão, ao mesmo tempo,
conceito presente na situação, levantamento de hipóteses ou es- maior do que as varetas já colocadas, ou seja, E > D, C, B, A, e me-
tratégias, verificação de hipótese ou testagem de estratégias, aval- nor que aqueles que ainda faltam colocar, ou seja, E<F, G, H, etc. A
iação, reelaboração na direção de atingir o objetivo (vencer o jogo novidade consiste, portanto, em utilizar as relações > e <, não com
ou resolver o problema). exclusão de uma pela outra ou por alternâncias assistemáticas no
Para exemplificar essa possibilidade de articulação entre jogo e decorrer de tentativas, mas simultaneamente”. (p. 29)
resolução de problema, Moura (1991, p. 52) apresenta uma propos- A criança operacional concreta não é egocêntrica em pensa-
ta de organização do ensino para favorecer a aprendizagem do si- mento como são as crianças pré-operacionais. A criança no estágio
gno numérico: operacional concreto pode assumir o ponto de vista dos outros e a
Algumas formas de levar as crianças à compreensão do signo sua linguagem é comunicativa e social
numérico podem ser, por exemplo, contando-lhes uma história, Tais crianças podem descentrar a percepção e atentar para as
fazendo-as viver uma situação na qual seja necessário o controle transformações. A reversibilidade do pensamento é desenvolvida.
de quantidades ou ainda sugerindo- lhes um jogo em que se deve As duas operações intelectuais importantes que se desenvolvem
marcar a quantidade de pontos a ser comunicada à classe vizinha são as seriações e as classificações; logo adiante tratar-se deste as-
através de um símbolo criado pelos jogadores. Isto deve ser feito sunto de uma maneira mais detalhada.
de forma que vá ficando claro o sentido da representação, o caráter
histórico-social do signo e como se pode melhorar os processos de Fonte
comunicações humanas. http://pedagogiaaopedaletra.com/formacao-pensamento-logico-ma-
Esse autor defende ainda que, nos anos iniciais, é possível ex- tematico/
plorar mais intensamente a perspectiva da resolução de problemas
como um jogo para a criança uma vez que o que os aproxima é o A estrutura das operações infralógicas: a construção do Espa-
lúdico. Ele propõe que situações- problema possam ser trabalhadas ço e do tempo
pedagogicamente com a estrutura do jogo, em situações coletivas Segundo Coutinho (1992), no decorrer deste estágio (opera-
e por meio de um “problema em movimento”, como exposto na tório concreto), o indivíduo adquire vários conhecimentos, como
proposta apresentada pelo autor. a capacidade de consolidar as conservações de número, ou as ope-
rações infralógicas que são referentes à conservação física: peso,
Fonte volume e substância. Há também a constituição do espaço, que se
MORETTI Vanessa Dias, Neusa Maria Marques de Souza. Educação trata da conservação de comprimento, superfície, perímetros, ho-
matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: princípios e rizontais e verticais e a constituição do tempo e do movimento (co-
práticas pedagógicas. Editora Cortez. 2015 ordenação entre tempo e velocidade). As operações infralógicas e
lógicas aparecem neste período de desenvolvimento, sempre com
O pensamento operatório concreto base em algo concreto, pois ainda não está formada a capacidade
PENSAMENTO OPERATÓRIO CONCRETO: 7 AOS 10 ANOS de abstração, que acontece apenas no período operatório formal
Piaget verificou que o estágio das operações concretas é um (sujeitos de 11 ou 12 anos em diante).
período de transição entre o pensamento pré-operacional e o pen- Assim, o período operatório concreto é o penúltimo estágio
samento formal. Com relação a isto, Piaget (1990) escreve: “… ja- para se chegar ao nível mais elevado de raciocínio: a abstração. Ten-
mais se observam começos absolutos no decorrer do desenvolvi- do-se em vista a ideia de Piaget e Inhelder (2002, p.90), “a constru-
mento, e o que é novo decorre ou de diferenciações progressivas ou ção dos números inteiros efetua-se, na criança, em estreita conexão
de coordenações graduais, ou das duas coisas ao mesmo tempo.” com a das seriações e inclusões de classes”. O indivíduo, neste perí-
(p. 29). odo, compreende os números operatórios, não se tratando de ape-
nas contá-los verbalmente, mas também de conservar os conjuntos
numéricos, não levam em consideração os arranjos espaciais. Nesse
período operatório concreto, a criança pensa de forma lógica e con-

305
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
creta, ou seja, se baseando no que é perceptivo. Segundo Goulart tação o que já havia construído no plano da ação. Assim, a criança
(2005) neste estágio, as operações lógico-matemáticas partem dos vai evoluindo, pois antes tudo estava centrado em suas próprias
objetos como “tentando reuni-los em classes, ordená-los, multipli- ações, e agora passa para um estado de descentração, que implica
cá-los, etc., mas não ocupam o objeto de maneira interna” (p. 67). em relações objetivas com os acontecimentos, objetos e pessoas. A
Também já estão desenvolvidos vários esquemas de conserva- descentração que se precisa para alcançar as operações se baseia
ção: quantidade, peso, volume e espacial, formados com base em também no universo social e não apenas no físico (GOULART, 2005).
uma estruturação lógico matemática. “As noções de conservação se Do ponto de vista das relações interindividuais, a criança segundo
constituem paralelamente à elaboração das estruturas lógicas ma- Piaget (2003, p. 41) “depois dos sete anos, torna-se capaz de coo-
temáticas de classes, relações e número” (p. 68). Um exemplo de perar, porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o
conservação de peso é a experiência realizada por Piaget em apre- dos outros, dissociando-os para coordená-lo”.
sentar à criança duas bolas de massas de modelar (do mesmo tama- Neste estágio as crianças discutem os diferentes pontos de vis-
nho e quantidade) e transformar na frente da criança uma massa de tas podendo respeitar e compreender a opinião do colega e justifi-
modelar em formato de bola e outra massa em formato de salsicha. car e defender a própria, assim o egocentrismo desaparece quase
Em estágios anteriores, a criança poderia dizer que a massa de totalmente. Baseado em Goulart (2005). Neste período, a organi-
modelar em formato de salsicha possui mais massa que a outra, zação social passa a ser de grupos, ou seja, começa-se a formar
pois é maior. Já agora, no estágio das operações concretas, a crian- grupos de amigos fixos, ao invés do sujeito ficar trocando de amiza-
ça diz que se trata da mesma quantidade e apenas o formato foi des o tempo todo. Com isso, a criança passa a participar de grupos
alterado. maiores, no papel de líder do grupo ou admitindo outro líder. O
Tendo em vista o que foi discutido por Chiarottino (1972), no sujeito conversa com mais pessoas, porém nem sempre tem a ca-
momento em que a criança diz que não muda a massa, pois não co- pacidade de discutir ideias diferentes para alcançar uma conclusão
locamos nada e nem retiramos, se tem a conservação de quantida- conjunta final.
de, volume ou peso. Ou então no momento em que a criança pensa Assim sendo, no início deste estágio, os sujeitos possuem difi-
que se pode refazer a massa em bolinha ou a massa em salsicha se culdades em estabelecer um diálogo crítico de modo que possam
tem a reversibilidade simples e, segundo Chiarottino (1972, p. 22), chegar a um acordo em conjunto. Outro progresso alcançado nes-
“faz apelo a uma reversibilidade por “reciprocidade” fundada na te estágio é que a criança já estabelece compromissos com outros
compensação: o objeto B é mais longo, mas é mais fino”. sujeitos. A afetividade nas relações sociais aumenta neste período,
Agora todos os argumentos dos sujeitos são coordenados, dife- relacionando-se com o desenvolvimento cognitivo. “Vale a pena
rente do nível pré-operatório anteriormente descrito. Afirma Gou- lembrar que as relações interindividuais têm uma importância sig-
lart (2005) neste estágio a criança também já desenvolve noções de nificativa no desenvolvimento das operações lógicas, que são acima
tempo, espaço, velocidade, ordem e causalidade. A reversibilidade de tudo cooperações” (p. 64).
também é algo adquirido neste período, ou seja, a capacidade de Desta forma, considera-se que o desenvolvimento cognitivo
representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior, possui relação com o afetivo. Conforme discute Piaget (2003), na
anulando a transformação observada. Segundo Goulart (2005, p. fase de nove anos ocorre uma evolução na afetividade, pois a co-
63), é “uma ação pode voltar ao ponto de partida ou ser anulada operação entre os sujeitos passa a coordenar os pontos de vista
através de uma operação mental”. Um exemplo: coloca-se suco em em uma reciprocidade, com autonomia e coesão. As brincadeiras
dois copos e depois se despeja o mesmo suco em outros copos, começam a ser substituídas pelos jogos e competições, apesar das
de formatos diferentes, para que o sujeito deste período diga se as crianças apresentarem dificuldades nos estabelecimentos das re-
quantidades continuam iguais. gras.
A resposta é afirmativa, pois a criança já tem a capacidade de Os sujeitos desta fase privilegiam as regras e excluem a trapaça,
diferenciar aspectos e é capaz de “refazer” a ação; entretanto, se porém não consideram a mesma proibida, violando o acordo que
a criança tivesse menos de seis anos, a mesma poderia negar tal realizou entre os colegas sobre o jogo, se necessário. Em relação à
afirmação, pois ainda não raciocinaria de modo reversível. A criança “mentira”, a mesma já é bem compreendida, porém na maioria dos
neste período está apta para resolver os cálculos matemáticos in- sujeitos desta idade privilegia o sentimento de justiça. Estes jogos
terligados, pois com base na subtração se tem a adição e na divisão são importantes para o desenvolvimento integral da criança, pois
se tem a multiplicação. E percebe que para se chegar a um deter- estimulam a socialização, o desenvolvimento moral e o intelectual.
minado resultado matemático, poderá ir por vários caminhos, não Tendo em vista o que foi discutido por La Taille (1992), a inteligência
tendo um único e acabado. do indivíduo somente se desenvolve com interações sociais. Assim,
Assim sendo, o pensamento é livre para resolver estes proble- neste estágio de desenvolvimento, os sujeitos atingem uma forma
mas (PIAGET; INHELDER, 2002). Neste estágio, de acordo com Pia- de equilíbrio nas relações sociais, ou seja, já expressam um equilí-
get (2003), o indivíduo inicia o processo de reflexão, ou seja, pensa brio nas trocas intelectuais.
antes de agir, diferente do estágio pré-operatório, em que o sujeito Neste estágio, o sujeito atinge o grau máximo da socialização
agia por intuição. do pensamento, havendo um interesse maior em participar de brin-
De acordo com Piaget (2003), o sujeito tem a capacidade de cadeiras coletivas e com regras. Porém, o sujeito ainda é heterôno-
organizar o mundo de forma lógica ou operatória, não se limitan- mo (regras impostas), ou seja, acredita que as regras de todas as
do mais a uma representação imediata, mas ainda dependendo do coisas vêm de alguém superior, pensando que não tem autonomia
mundo concreto para desenvolver a abstração. Assim, este período para modificar algo com base em sua vontade, de acordo com Cou-
é caracterizado por uma lógica interna consistente e pela habilidade tinho (1992) entre oito e nove anos, no entanto, o sujeito já começa
de solucionar problemas concretos. Nesta fase, já começa também a oscilar entre a heteronomia e autonomia.
a compreender a conservação de volume, massa e comprimento.
A criança já não é mais tão egocêntrica, ou seja, não está mais
tão centrada em si mesma e já consegue se colocar abstratamen-
te no lugar do outro, dando-se um aumento da empatia com os
sentimentos e as atitudes com os outros. É a partir deste estágio
que o sujeito se torna capaz de reconstruir no plano da represen-

306
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Em seguida, com a sua inserção na fase de autonomia, o sujeito A autora elaborou seis princípios de ensino, sob três títulos
atinge a consciência moral, e a partir daí as suas atitudes e deveres que servem para orientar o trabalho com matemática, e assim ser à
são guiados com base em sua significação e necessidade. Mesmo base da prática pedagógica com as crianças.
na ausência de uma pessoa adulta, o indivíduo se comporta da mes- O primeiro título é encorajar a criança a estar alerta e colocar
ma maneira, pois já possui consciência dos fins éticos e morais. todos os tipos de objetos, eventos e ações em todas as espécies de
relações, e, portanto considera-se este o objetivo mais importante
Fonte para os educadores, pois a criança que pensa ativamente na sua
SOUZA, N. M. de; WECHSLER, A. M. Reflexões sobre a teoria piage- vida diária, pensa sobre muitas coisas simultaneamente, e o profes-
tiana: o estágio operatório concreto. Cadernos de Educação: Ensino e sor têm um papel crucial de indiretamente encorajar a autonomia
Sociedade, Bebedouro/SP, 1 (1): 134-150, 2014. de pensamento, principalmente quando há uma situação de con-
flitos, onde a criança pode desenvolver a mobilidade e coerência
A estrutura das operações concretas e o pensamento lógico do pensamento, ou seja, raciocinar logicamente, inventar argumen-
matemático: a construção do número; tos que façam sentido e sejam convincentes, no entanto existem
crianças que não são de alguma forma envolvidas em situação com
A CRIANÇA E O NÚMERO DE CONSTANCE KAMII enorme quantidade de relações ou situações, agem passivamente,
No livro “A Criança e o Número de Constance Kamii”, ela nos pois são forçadas a se submeterem a obediência, mas com a inter-
convida a compreender o significado dos conceitos matemáticos venção do professor ele pode promover ou impedir o pensamento
com fundamentos nas teorias de Jean Piaget, apresentando de ma- da criança.
neira bem simples e abrangente como a criança começa o proces- O segundo princípio focaliza em encorajar a criança a pensar
so de construção dos números. Esta compreensão poderá ajudar o sobre número e a quantificação dos objetos, e do ponto de vista do
professor a entender onde o aluno tem mais dificuldade na apren- desenvolvimento da criança em relação à matemática, nessa idade
dizagem da matemática. Ela nos esclarece que as crianças de quatro entre quatro e seis anos elas se interessam por contar e compa-
anos acreditam que uma determinada quantidade de objetos se al- rar quantidades, e quando observamos isso ficamos convencidos
tera em função da disposição destes numa superfície. Por exemplo, que o pensamento numérico pode desenvolver naturalmente sem
se uma professora coloca oito pedaços de isopor enfileirados e en- nenhum tipo de lições artificiais, nas aulas de matemáticas que
tregam outros oito pedaços para a criança enfileirar, a tendência é seguem métodos tradicionalistas. Quando a professora encora-
que a criança os disponha de forma mais espaçada e que, por causa ja a criança a quantificar logicamente, a fazer conjuntos com ob-
desse espaçamento, acredite ter enfileirado mais pedaços. jetos móveis, há uma diferença em ter a contagem mecânica e a
O sucesso escolar depende muito da habilidade de pensar au- contagem escolhida pela criança para resolver um problema real
tônomo e criticamente da perspectiva de vida em grupo. Assim, o na sua própria maneira, uma vez que a criança constrói a lógica da
objetivo para ensinar o número é o da construção que a criança correspondência um-a-um por abstração reflexiva, dessa forma as
faz à sua maneira, incluindo a quantificação de objetos e inevitavel- atividades ou exercícios tradicionais como as cartilhas, são comple-
mente ela consegue construir o número. Kamii diz que o meio am- tamente supérfluas.
biente pode indiretamente facilitar o desenvolvimento do raciocí- O terceiro princípio é a interação social com os colegas e pro-
nio-lógico, ou pode retardar, isso se dá nas diferenças interculturais fessores, onde Piaget, em suas pesquisas afirma ser importante a
e socioeconômicas. Na teoria piagetiana, há uma diferença entre os troca de ideias entre os colegas, e comprovado que o choque de
símbolos e os signos. opiniões que surgem e os esforços para resolver certas situações
De acordo com Piaget, o conhecimento se dá em três níveis: entre eles envolve a autonomia, a confiança e habilidades matemá-
o conhecimento físico, conhecimento lógico matemático e conhe- ticas. Nos jogos, por exemplo, principalmente em grupo as crian-
cimento social. O conhecimento físico é aquele ligado ao mundo ças estão mentalmente muito mais ativas e críticas e conseguem
concreto, ou observável dos objetos, desse modo o professor deve aprender a depender delas mesmas para saber se o seu raciocínio
explorar as atividades matemáticas que trabalham com as proprie- está correto ou não. Ao afirmar isso, não significa que o professor
dades físicas como o peso e a cor. O conhecimento lógico-mate- não interfira na construção do conhecimento, ou se ausentar, mas
mático se desenvolve através das relações mentais com o objeto. permitir a autonomia intelectual. Na sala de aula, o professor deve
As noções de igualdade, comparação, quantidade, classificação induzir o aluno a pensar numericamente não com respostas pron-
são exemplos de conhecimento lógico matemático. Desse modo, a tas, mas que o aluno reflita e faça sua própria construção, assim
criança progride no desenvolvimento do conhecimento e começa a encorajar a autonomia da criança, a criação de um ambiente ma-
construir individualmente a noção de número, a partir dos tipos de terial e escolar que encoraje a autonomia e o pensamento, já que
relações dela com os objetos. as relações são criadas interiormente e instruídas por outra pessoa.
Para Piaget, o desenvolvimento da autonomia deve estar no Ele precisa criar condições para relacionar objetos, relacionando-
centro de qualquer proposta educativa. Autonomia é o ato de ser -os, quantificando-os e interagindo socialmente. O educador deve
governado por si próprio, o oposto de heteronomia que significa pensar sobre as contribuições pedagógicas dentro do âmbito do
ser governado por outra pessoa. É muito importante destacar que a número. O professor através da observação do comportamento da
autonomia é indissociavelmente social, moral e intelectual. Portan- criança deve estar atento não para corrigir a resposta, mas de des-
do o conceito de números não pode ser “ensinado” às crianças pela cobrir como foi que a criança fez o erro, assim ele pode corrigir o
via da apresentação e repetição desse conceito pelo professor. Elas processo de raciocino.
precisam construir estruturas mentais para abarcar esse conceito
e a melhor forma de fazer isso é estimulando-as a colocar todas as Há inúmeras situações em sala de aula, para estimular o pen-
coisas em todos os tipos de relações. samento numérico das crianças. O conhecimento matemático, é
O conceito de número ainda está se formando nas crianças, construído pelas crianças dentro do contexto da mesma, então não
e estes conceitos não podem ser ensinados, mas sim construído, adianta “ensinar” o conceito matemático se não for através de si-
elas devem ser encorajadas a pensar sobre os números, relacionar tuações que conduzam à quantificação de objetos, de forma lúdica,
e interagir com autonomia utilizando os conceitos já trazidos da sua como os jogos em grupo e a vida diária. A quantificação constitui
vida para dentro do ambiente escolar e fazendo novas relações. uma parte inevitável da vida diária, e no trabalho com criança pe-

307
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quena essa tarefa de quantificação deve acontecer de maneira na- pedagógico na área do ensino da matemática são os interesses da
tural e significativa. Alguns exemplos a ser citados que auxilia na criança e as demandas de conteúdos que ela apresenta que deve
aprendizagem é a distribuição de materiais (divisão), na divisão e estar dentro de nossa pratica pedagógica.
coletas dos objetos (composição aditiva), no registro de informa-
ções, na arrumação da sala (quantificação numérica). Os jogos FONTE:
também proporcionam condições de desenvolver o pensamento http://metodologiadamatematica.blogspot.com.br
lógico-matemático e começa a fazer representações, desenvolve as
estruturas mentais indispensáveis para a construção e conservação Referência
de números. KAMII, Constance. A Criança e o Número. Campinas: Papirus, 1993.
Com relação ao jogo como recurso para auxiliar a aprendiza-
gem, Kamii traz que a criança precisa ser encorajada na troca de O Sistema de Numeração: Um Problema Didático
ideias sobre como querem jogar e mostra diversos modelos de jo-
gos e brincadeiras que podem ser aproveitados na aprendizagem Delia Lerner e Patrícia Sadovsky
da criança: dança das cadeiras, jogos com tabuleiros, jogos de bara-
lho, jogos com bolinha de gude, jogos da memória, etc. A relação entre os grupamentos e a escrita numérica tem sido
O jogo com alvos, como bolinhas de gude e o de boliche, é bom um problema para as crianças nas experiências escolares o que tem
para a contagem de objetos e a comparação de quantidades, o jogo levado pesquisadores e educadores realizarem esforços, com expe-
de esconder envolve divisão de conjuntos, adição e subtração, as rimentos de recursos didáticos diversos, para tornar real a noção de
corridas e brincadeiras de pegar, envolve quantificação e ordenação agrupamentos numéricos às crianças nas series iniciais. A gravidade
de objetos. do problema foi detectada através de entrevistas com crianças que
Então se percebe que a inteligência se desenvolve ao ser usa- não eram trabalhadas nos programas que usavam estes recursos.
do ativamente e deve assim ser encorajado o pensamento, pois há Elas utilizavam métodos convencionais nas operações de adição e
inúmeras maneiras naturais e indiretas para o professor estimular subtração (vai um) sem entenderem os conceitos de unidades, de-
a criação de todos os tipos de relações em ter espécies e eventos, zenas e centenas. Mesmo naquelas que pareciam acertar, não de-
e dentro de um quadro de referência piagetiana, que pela abstra- monstravam entender os algarismos convencionais na organização
ção reflexiva se dá a construção de uma estrutura numérica pela de nosso sistema de numeração. (Lerner, D 1992). As dificuldades
criança. foram detectadas e analisadas em crianças de vários países. Cha-
mou a atenção dos pesquisadores o fato das crianças não entende-
Deve-se ainda respeitar os níveis de aprendizagem pela qual a rem os princípios do sistema numérico. Foi verificado que as práti-
criança passa. cas pedagógicas não consideravam os aspectos sociais e históricos
-No nível I a criança não consegue fazer um conjunto que tenha vividos pelas crianças, ou seja, o dia-dia que traziam para escola
o mesmo número que outro; não era importante quando os alunos chegavam à escola, e mesmo
-No nível II ela já consegue fazer um conjunto com o mesmo no decorrer do ano letivo; a preocupação estava centrada apenas
número, no entanto não consegue conservar a igualdade numérica na fixação da representação gráfica. Era necessário compreender
de dois conjuntos; o caminho mental que essas crianças percorriam para adquirirem
-No nível III ela já consegue conservar os números. Já construiu este conhecimento. Para tornar claro esse fenômeno, iniciaram
uma estrutura numérica que se tornou forte o suficiente para tor- pela elaboração de situações didáticas. Assim foi necessário testá-
ná-la apta a ver objetos numericamente, em vez de espacialmente. -las em aula para descobrir os aspectos relevantes para as crianças
no sistema de numeração, tais como: as ideias elaboradas sobre os
Por ser uma colocação construtivista do pensamento pigeatia- números, formulação de problemas e conflitos existentes. Foi por
no este livro é importante nas salas de aula podendo fazer grandes meio de entrevistas com as crianças de 5 a 8 anos que se esclare-
mudanças na forma de ensinar o número para crianças. Kamii fez ceu o caminho que percorrem, de forma significativa, na construção
uma grande reflexão sobre a criança e o número, com um grande de conceito de número. Através das ideias, justificações e conflitos
conteúdo didático que irão ajudar os educadores nesta tarefa de demonstrados nas respostas foi possível traçar novas linhas de tra-
transmitir da melhor forma as aulas de matemática de um modo balho didático.
mais atual.
Piaget mostra que a criança não constrói o número, aprenden- - História dos conhecimentos que as crianças elaboram a res-
do a contar, memorizando, repetindo e exercitando, pois, a estrutu- peito da numeração escrita
ra lógica matemática do número não pode ser ensinada, ela é cons- A pergunta levantada pelos pesquisadores é: como as crianças
truída pela própria criança, dentro de seu contexto do dia-a-dia de compreendem e interpretam os conhecimentos vivenciados no seu
maneira natural e significativa, através de estímulos do professor, cotidiano no meio social familiar de utilização da numeração escri-
resolvendo situações problemas, enfrentando situações de confli- ta? A hipótese era que as crianças elaboram critérios próprios para
tos que envolva diversos tipos de relações. produzir representações numéricas e que a construção da notação
O professor precisa levar em conta que a importância das pro- convencional não segue a ordem da sequência numérica. Para bus-
postas de atividades numéricas para encorajar as crianças a pensar car a resposta às hipóteses levantadas, situações experimentais,
sobre os números, interagir com seus colegas e criar condições do através de jogos foram projetadas e relacionadas à comparação de
sujeito fazer uso social da matemática, também faz parte do apren- números. Através das respostas das crianças entrevistadas chegou-
dizado. Sabemos então que o que vai orientar o nosso trabalho -se a suposição que elas elaboram uma hipótese de “quanto maior
a quantidade de algarismos de um número, maior é o número”, ou
“primeiro número é quem manda”.
As crianças usam como critério de comparação de números
maiores ou menores elaborando a partir da interação com a nu-
meração escrita, quando ainda não conhecem a denominação oral
dos números que comparam. Ao generalizarem estes critérios, ou-

308
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tras crianças mostraram dificuldades com afirmações contraditó- lificação e não quantificação. Desta forma as crianças apropriam-se
rias quando afirmavam que “o numeral 112 é maior que 89, por progressivamente da escrita convencional dos números a partir da
que tem mais números, mas logo muda apontando para o 89 como vinculação com a numeração falada. Mas pergunta-se, como fazem
maior por que - 8 mais 9 é 17 -, então é mais.” Assim concluiu-se isto? Elas supõem que a numeração escrita se vincula estritamente
que a elaboração de critério de comparação é importante para a à numeração falada, e sabem também que em nosso sistema de nu-
compreensão da numeração escrita. (p. 81). A posição dos algaris- meração a quantidade de algarismos está relacionada à magnitude
mos como critério de comparação ou “o primeiro é quem manda” do número representado.
Um dos argumentos usados pelas crianças respondentes é que ao
comparar os números com a mesma quantidade de algarismos, di- - Do conflito à notação convencional
ziam que, a posição dos algarismos é determinada pela função no Há momentos em que a criança manipula a contradição entre
sistema de números (por exemplo: que 31 é maior que 13 por que o suas conceitualizações sem conflito. Às vezes centram-se exclusiva-
3 vem primeiro). Assim elas descobrem que além da quantidade de mente na quantidade de algarismos das suas escritas que produzi-
algarismos, a magnitude do número é outra característica específi- ram, e parece ignorar qualquer outra consideração a respeito do
ca dos sistemas posicionais. valor dos números representados. Assim também parece claro que
Tais respostas não são precedidas de conhecimentos das razões não é suficiente conhecer o valor dos números para tomar cons-
que originaram as variações. Para as crianças da 1a série que ainda ciência do conflito entre quantidade de número e a numeração fa-
não conhecem as dezenas, mas conseguem ver a magnitude do nú- lada. Em outros momentos a criança parece alternar os sistemas
mero, fazem a seguinte comparação: o 31 é maior porque o 3 de 31 de conceitualizações dos números. Em outro momento, o conflito
é maior que o 2 do 25. Assim “os dados sugerem que as crianças se aparece, pois ao vincular a criança a numeração falada na produção
apropriam primeiro da escrita convencional da potência de base.” da escrita, mostra-se insatisfeita achando que é muito algarismo.
Exemplo: Ao pedir-se para escreverem seis mil trezentos e quarenta
- Papel da numeração falada e cinco, fazem 600030045. Ao mesmo tempo escrevem 63045. Isto
Os conceitos elaborados pelas crianças a respeito dos números mostra que nesse momento encontra-se em conflito pela aproxi-
são baseados na numeração falada e em seu conhecimento descri- mação da escrita convencional e a falada. O conflito é percebido
ta convencional dos “nós”. “Para produzir os números cuja escrita após compararem e corrigirem a escrita numérica feita por eles
convencional ainda não haviam adquirido, as crianças misturavam mostrando uma solução mais ou menos satisfatória. É percebido
os símbolos que conheciam colocando-os de maneira tal, que se que pouco a pouco a criança vai tomando consciência das contra-
correspondiam com a ordenação dos termos na numeração fala- dições procurando superar o conflito, mas sem saber como; pou-
da” (p.92). Sendo assim, ao fazerem comparações de sua escrita, o co a pouco através da ressignificação da relação entre a escrita e
fazem como resultado de uma correspondência com a numeração a numeração falada elaboram ferramentas para superar o conflito.
falada, e por ser esta não posicional. “Na numeração falada a jus- Essa parece ser uma importante etapa para progredir na escrita nu-
taposição de palavras supõe sempre uma operação aritmética de mérica convencional. Portanto, as crianças produzem e interpretam
soma ou de multiplicação - elas escrevem um número e pensam escritas convencionais antes de poder justificá-las através da “lei
no valor total desse número. Como exemplo: duzentos e cinquen- de agrupamento recursivo”. Sendo assim torna-se importante no
ta e quatro - escrevem somando 200+ 50+ 4 ou 200504 e quatro ensino da matemática considerar a natureza do objeto de conhe-
mil escrevem 41000- dando a ideia de multiplicação”. A numeração cimento como valorizar as conceitualizações das crianças à luz das
escrita regular é mais fechada que a numeração falada. É regular propriedades desse objeto.
porque a soma e a multiplicação, são utilizadas sempre pela multi-
plicação de cada algarismo pela potência da base correspondente, - Relações entre o que as Crianças sabem e a organização posi-
e se somam aos produtos que resultam dessas multiplicações.” É cional do sistema de numeração.
fechada porque não existe nenhum vestígio das operações aritmé- Devido a convivência com a linguagem numérica não perce-
ticas racionais envolvidas, sendo deduzidas a partir da posição que bemos a distinção entre a propriedade dos números e a proprie-
ocupam os algarismos. Ex: 4815 = 4x 103 + 8x102 + 1x 101 + 5x10. dade da notação numérica, ou seja, das propriedades do sistema
Através destes insipientes resultados acima citados, é possí- que usamos para representá-lo. As propriedades dos números são
vel deduzir “uma possível progressão nas correspondências entre universais, enquanto que as leis que regem os diferentes sistemas
o nome e a notação do número até a compreensão das relações de numeração não o são. Por exemplo: oito é menor que dez é um
aditivas e multiplicativas envolvidas na numeração falada”. As crian- conceito universal, pois em qualquer lugar, tempo ou cultura será
ças que realizam a escrita não-convencional o fazem a semelhança assim. O que muda é a justificativa para esta afirmação, pois varia
da numeração falada, pois demonstraram em suas escritas numé- de acordo com os sistemas qualitativos e quantitativos dos núme-
ricas que as diferentes modalidades de produção coexistem para ros ou posicionai dos algarismos.
os números posicionados em diferentes intervalos da sequência ao
escreverem qualquer número convencionalmente com dois ou três - A posicionalidade é responsável pela relação quantidade de
algarismos em correspondência com a forma oral. Exemplo: podem algarismos e valor dos números.
escrever cento e trinta e cinco em forma convencional (135), mas A criança começa pela detecção daquilo que é observável no
representam mil e vinte e cinco da seguinte forma: 100025. Mesmo contexto da interação social e a partir deste ponto os números são
aquelas crianças que escrevem convencionalmente os números en- baseados na numeração falada e em seu conhecimento da escrita
tre cem e duzentos, podem não generalizar esta modalidade a ou- convencional (“dos nós”).
tras centenas. Por exemplo, escrevem 80094 (oitocentos e noventa
e quatro). Assim é que a relação numeração fala/numeração escrita - Questionamento do enfoque usualmente adotado para o sis-
não é unidirecional. Observa-se também que a numeração falada tema de numeração
intervém na conceitualização da escrita numérica. O que parece é O ensino da notação numérica pode ter modalidade diversa
que algumas crianças demonstram que utilizam um critério para como: trabalhar passo a passo através da administração de conhe-
elaborar a numeração escrita. Assim acham que mil e cem e cem cimento de forma “cômoda quotas anuais” - metas definidas por
mil sejam a mesma coisa, pois elaboram o elemento símbolo, qua- série - ou através do saber socialmente estabelecido. Pergunta-se:

309
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
é compatível trabalhar com a graduação do conhecimento? Ou seja, processo de construção do conhecimento. No trabalho de ensinar
traçar um caminho de início e fim, determinado pelo saber oficial? e aprender um sistema de representação será necessário criar si-
E qual é o saber oficial? E o que se estar administrando de conheci- tuações que permitam mostrar a organização do sistema, como ele
mento numérico nas aulas? O processo passo a passo e aperfeiçoa- funciona e quais suas propriedades, pois o sistema de numeração é
damente, não parece compatível com a natureza da criança, pois carregado de significados numéricos como, os números, a relação
elas pensam em milhões e milhares, elaboram critérios de compara- de ordem e as operações aritméticas. Portanto comparar e operar,
ção fundamentados em categorias. Podem conhecer números gran- ordenar, produzir e interpretar, são os eixos principais para a orga-
des e não saber lidar com os números menores. Os procedimentos nização das situações didáticas propostas.
que as crianças utilizam para resolver as operações tem vantagens
que não podem ser depreciadas se comparadas com procedimen- - Situações didáticas vinculadas à relação de ordem
tos usuais da escola. No esforço para alcançar a compreensão das O entendimento do sistema decimal posicionai está diretamen-
crianças no sistema de numeração e não a simples memorização é te ligada a relação de ordem. Por isto as atividades devem estar
que muitos educadores leem utilizado diferentes recursos para ma- centradas na comparação, vinculada à ordenação do sistema. Al-
terializar o grupamento numérico. Alguns utilizam sistemas de có- guns exemplos podem melhorar o entendimento dessas relações,
digos para traduzir símbolos dando a cada grupamento uma figura são elas: simulação de uma loja para vender balas, em pacotes de
diferente como, triângulo para potências de 10, quadradinho para diferentes quantidades. Ao sugerir que as crianças decidam qual
potências de 100, ou a semelhança do sistema egípcio para traba- o preço de cada tipo de pacote, estarão fazendo comparações em
lhar a posicionalidade de um número ou empregam o ábaco como conjunto com os colegas, notações, comparam as divergências, ar-
estratégia para as noções de agrupar e reagrupar a fim de levar a gumentam e discutem as ideias, orientadas por uma lógica. Assim
compreensão da posicionalidade. No entanto todos estes pressu- os critérios de comparação podem não ser colocados imediatamen-
postos não são viáveis por razões próprias da natureza da criança, te em ação por todas as crianças, pois algumas irão realizar com
como também considerando o ambiente social, no qual convivem maior ou menor esforço o ordenamento, outras ordenam parcial-
com os números. As crianças buscam desde cedo a notação numé- mente alguns números, e os demais se limitam a copiar a que os
rica. Querem saber o mais cedo possível, como funciona, para que outros colegas fizeram. Todos nesta atividade se interagem.
serve, como e quando se usa. Inicialmente, não se interessam pela Os primeiros têm a oportunidade de fundamentar sua produ-
compreensão dos mesmos e sim pela sua utilidade. Dessa forma, ção e conceitualizar os recursos que já utilizavam. As crianças que
a compreensão passa a ser o ponto de chegada e não de partida. ordenam parcialmente aprendem ao longo da situação, levantam
Outro problema com as aulas de aritmética é que os professores perguntas e confirmam as ideias que não tinham conseguido asso-
oferecem respostas para aquilo que as crianças não perguntam e ciar. As crianças que não exteriorizaram nenhuma resposta, também
ainda ignoram as suas perguntas e respostas. se indagam e podem obter respostas que não tinham encontrado.
As crianças que se limitam copiar, é importante que o professor as
- Mostrando a vida numérica da aula estimule com intervenções orientadas para desenvolver nelas o tra-
O ensino do sistema de numeração como objeto de estudo pas- balho autônomo. Também devem ser estimuladas a perguntarem a
sa por diversas etapas, definições e redefinições, para então, ser de- si mesmas antes de ir aos outros, recorrer ao que sabem e desco-
vidamente compreendida. Usar a numeração escrita envolve pro- brir seus próprios conhecimentos, e que são capazes de resolver os
dução e interpretação das escritas numéricas, estabelecimento de problemas. Enfim, deve ser incentivada a autonomia. Uma segunda
comparações como apoio para resolver ou representar operações. experiência é aquela que pode usar materiais com numeração se-
Inicialmente o aprendiz, ao utilizar a numeração escrita encontra quencial com fita métrica, régua, paginação de livros, numeração
problemas que podem favorecer a melhor compreensão do siste- das casas de uma rua. Todas estas atividades ajudam as crianças
ma, pois através da busca de soluções torna possível estabelecer buscarem por si mesmas as informações que precisam. No trabalho
novas relações; leva às reflexões, argumentações, a validação dos conjunto todas as crianças leem oportunidade de aprender, mesmo
conhecimentos adquiridos, e ao início da compreensão das regula- que em ritmos diferentes, aprendem com o trabalho cooperativo na
ridades do sistema. construção do conhecimento.
Outra proposta de atividade pode ser direcionada a interpre-
- O sistema de numeração na aula. tação da escrita numérica no contexto de uso social do cotidiano
A seguir serão discutidas algumas ideias sobre os princípios que de cada uma. Pode ser realizado através de: comparação de suas
orientam o trabalho didático através da reflexão da regularidade no idades, de preços, datas, medidas e outras. Experiências como: for-
uso da numeração escrita. As regularidades aparecem como justifi- mar lista de preços, fazer notas fiscais, inventariar mercadorias, etc.
cação das respostas e dos procedimentos utilizados pelas crianças Através de experiências semelhantes, é possível levar as crianças
ou como descobertas, necessários para tornar possível a generaliza- considerar a relevância da relação de ordem numérica. As ativida-
ção, ou a elaboração de procedimentos mais econômicos. P.117 As- des desenvolvidas produzem efeito no sentido de modificar a es-
sim, a análise das regularidades da numeração escrita é uma fonte crita, ou da interpretação originalmente realizada. A longe prazo,
de insubstituível no progresso da compreensão das leis do sistema. devem ser capazes de montar e utilizar estratégias de relação de
O uso da numeração escrita como ponto de partida para a reflexão ordem para resolver problemas de produção e interpretação. Se
deve, desde o início ser trabalhada com os diferentes intervalos da nas atividades a professora detecta que determinado número leem
sequência numérica, através de trabalho com problemas, com a diferentes notações na turma, deve trabalhar com argumentações
numeração escrita desafiadora para a condução de resoluções, de até que cheguem a interpretação correta. Percebe-se através dos
forma que cada escrita se construa em função das relações signifi- argumentos utilizados pelas crianças a busca pela relação de or-
cativas que mantem com as outras. Os desafios e argumentações dem, mesmo naquelas que utilizaram anotações não convencio-
levam as crianças serem capazes de resolver situações-problema nais, a ponto de transformarem a partir de sucessivas discussões e
que ainda não foram trabalhadas e à socialização do conhecimento objeções que elas fazem a si próprias.
do grupo. As experiências nas aulas são de caráter provisório, às A relação numeração falada/numeração escrita é um cami-
vezes complexas, mas são inevitáveis, porque no trabalho didático nho que as crianças transitam em duas direções: da sequência oral
é obrigado a considerar a natureza do sistema de numeração como como recurso para compreensão da escrita numérica e como se-

310
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quência da escrita como recurso para reconstruir o nome do núme- razões das regularidades de forma significativa. Busca resposta para
ro. Para isso é importante desenvolver atividades que favoreçam a organizar os sistemas, para novas descobertas da numeração es-
aplicação de regularidade podendo ser observado nas situações de crita.
comparação, de produção ou interpretação. Mas pergunta-se: quais
as regularidades necessárias trabalhar na contagem dos números? Fonte:
Estabelecer as regularidades tem o objetivo de tornar possível a http://novaescola.org.br/biblioteca-virtual/didatica-matematica-refle-
formulação de problemas dirigidos às crianças, mas também para xoes-psicopedagogicas-brousseau-584736.shtml
que adquiriram ferramentas para autocriticar as escritas baseadas http://www.professorefetivo.com.br/resumos/O-Sistema-de-Numera-
na correspondência com a numeração falada e na contagem dos cao-Um-Problema-Didatico.html
números. Exemplo: as dezenas com dois algarismos, as centenas
com três algarismos. Depois do nove vem o zero e passa-se para o A aprendizagem significativa:
número seguinte.
Atividades espontâneas e exploratórias;
Como intervir para que as crianças avancem na manipulação Construção do objeto matemático: da operação física à ope-
da sequência oral? ração mental;
Pode-se sugerir as crianças que procurem um material que te-
nha sequência correspondente e descubra-se por si mesma a re- Atividade lúdica: os jogos, seus significados, seus valores e
gularidade. Buscar nos números de um a cem quais os que termi- suas finalidades.
nam em nove, identificar e nomear os números seguintes do nove.
Esta é uma atividade de interpretação e tão importante quanto a Aprendizagem significativa
produção na contagem dos números. Exemplo: Como descobrir as Por teorias de aprendizagem podemos observar três modalida-
semelhanças e diferenças entre os números de um a quarenta. Lo- des gerais: cognitiva, afetiva e psicomotora.
calizar em todos os números de dois dígitos que terminam em nove A primeira, cognitiva, pode ser entendida como aquela resul-
e anotar qual é o seguinte de cada um deles. Esta atividade pode ser tante do armazenamento organizado na mente do ser que aprende.
encontrada em materiais como calendário, régua e fita métrica. Um A segunda, afetiva, resulta de experiências e sinais internos, tais
critério importante para trabalhar é estabelecer primeiro as regu- como, prazer, satisfação, dor e ansiedade. Já a terceira, psicomo-
laridades para um determinado intervalo. A partir daí passar a sua tora, envolve respostas musculares adquiridas por meio de treino
generalização através do uso de materiais que contenham números e prática.
maiores. A teoria de David Ausubel foca a aprendizagem cognitiva e,
Só então o indivíduo começa a questionar o seu significado. As como tal, propõe uma explicação teórica do processo de aprendi-
crianças são capazes de inventar algarismos próprios e colocam em zagem.
jogo as propriedades das operações como conhecimento implícito Ausubel baseia-se na premissa de que existe uma estrutura na
sobre o sistema de numeração, importante para descobrir as leis qual organização e integração de aprendizagem se processam. Para
que regem o sistema. Ao estudar o que acontece quando se rea- ele, o fator que mais influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno
lizam as somas é possível estabelecer regularidades referentes ao já sabe ou o que pode funcionar como ponto de ancoragem para as
que muda e ao que se conserva. As atividades como colocar preços novas ideias.
em artigos de lojas, contar notas de dez em dez, fazer lista de pre- “A aprendizagem significativa, conceito central da teoria de Au-
ço, colocar novos preços aos que já tem, contar livros das prate- subel, envolve a interação da nova informação com uma estrutura
leiras das estantes de uma biblioteca, e ao comparar a numeração de conhecimento específica, a qual define como conceito subsun-
das páginas de um jornal, é possível analisar o que transforma nos çor”.
números quando lhes soma dez, utilizar dados nos aspectos multi- As informações no cérebro humano, segundo Ausubel, se orga-
plicativos em que cada ponto do dado vale dez e vão anotando a nizam e formam uma hierarquia conceitual, na qual os elementos
pontuação de cada um dos participantes do grupo. A partir desta mais específicos de conhecimento são ligados e assimilados a con-
atividade são levadas a refletir sobre o que fizeram e sobre a função ceitos mais gerais.
multiplicativa e relacioná-la com a interpretação aditiva. Desta for- Uma hierarquia de conceitos representativos de experiências
ma, levá-los a uma maior compreensão do valor posicional. Através sensoriais de um indivíduo significa, para ele, uma estrutura cog-
de diferentes comparações estabelecem regularidades numéricas nitiva.
para os dezes e os cens e refletir sobre a organização do sistema. Ausubel considera que a assimilação de conhecimentos ocorre
sempre que uma nova informação interage com outra existente na
As crianças têm oportunidade de formular regras e leis para estrutura cognitiva, mas não com ela como um todo; o processo
as operações com números e concentram nas representações nu- contínuo da aprendizagem significativa acontece apenas com a in-
méricas. tegração de conceitos relevantes.
Para contrapor essa teoria, Piaget não considera o progresso
Na segunda série a calculadora pode ser introduzida, desde cognitivo consequência da soma de pequenas aprendizagens pon-
que de forma adequada, pois leva as crianças aprofundarem suas tuais, mas sim um processo de equilibração desses conhecimentos.
reflexões, tomarem consciência das operações numéricas e torna Assim, a aprendizagem seria produzida quando ocorresse um dese-
possível que cada um detecte por si mesma quando é que estão quilíbrio ou um conflito cognitivo.
corretas e o que não está certo, autocorrija os erros e formule re- No entanto, Piaget não enfatiza o conceito de aprendizagem.
gras que permitam antecipar a operação que levará ao resultado Sua teoria é de desenvolvimento cognitivo, não de aprendizagem.
procurado. Assim, refletir sobre o sistema de numeração e sobre Nesta perspectiva, Piaget considera que só há aprendizagem (au-
as operações aritméticas levam as crianças a formularem leis para mento de conhecimento) quando o esquema de assimilação sofre
acharem procedimentos mais econômicos. Leva a indagações das acomodação.

311
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A aprendizagem significativa desenvolvida por Ausubel propõe- Neste texto queremos chamar a atenção para mais uma possi-
-se a explicar o processo de assimilação que ocorre com a criança na bilidade de colocar os alunos em um cenário propício para fazer ma-
construção do conhecimento a partir do seu conhecimento prévio. temática, no qual eles poderão criar estratégias, fazer suposições
Dessa forma, para que ocorra uma aprendizagem significativa de respostas, o que em Matemática costumamos chamar de “fazer
é necessário: disposição do sujeito para relacionar o conhecimento; conjecturas”. Quando nós introduzimos novas expressões, mesmo
material a ser assimilado com “potencial significativo”; e existência nos anos iniciais, as crianças começam a ampliar seu vocabulário,
de um conteúdo mínimo na estrutura cognitiva do indivíduo, com gostam de utilizar tais expressões até mesmo em contextos que não
subsunçores em suficiência para suprir as necessidades relaciona- são da Matemática. Além de fazerem suposições, precisam testar
das. a resposta obtida para se certificarem de que ela está de acordo
Na teoria de Ausubel, o processo de assimilação é fundamental com a solicitação feita. Nesse processo, elas estarão verificando se
para a compreensão do processo de aquisição e organização de sig- as suas conjecturas são “plausíveis”, isto é, se elas se confirmaram,
nificados na estrutura cognitiva. ou não.
Basta o educador primeiramente sondar o repertório do aluno Fazer a verificação do resultado de uma conta ou do resultado
para provocar na criança uma aprendizagem significativa. As assi- obtido para um problema é parte integrante do trabalho com a ma-
milações podem ser simples, como dosar os ingredientes para fazer temática e precisa ser incentivada constantemente. Experimente
um bolo e utilizar essa mesma experiência com os conceitos de cál- propor a divisão de 157 por 15. Não raro os alunos respondem: “o
culos, grandezas e medidas da matemática. resultado é 1 e o resto 7”. Nesse caso o procedimento do algoritmo
Com isso, os modos de ensinar desconectados dos alunos po- prevaleceu. Se nós professores apenas corrigirmos a conta, pode
dem ser modificados para a articulação de seus conhecimentos, no não se ter garantida a compreensão do aluno. Nesse sentido, seria
uso de linguagens diferenciadas, significativas, com a finalidade de importante construir uma tarefa na qual uma das ideias da divisão
compreender e relacionar os fenômenos estudados. pudesse ser acionada. Por exemplo, a ideia de medição está intrín-
seca ao problema (quantas vezes uma quantidade cabe em outra):
Fonte “Os 157 alunos da escola participarão do estudo do meio no zooló-
Texto adaptado BRUINI, E. C. gico. A Prefeitura do Município será a responsável pelo transporte
de todos esses estudantes, utilizando as Vans de transporte escolar,
Atividades espontâneas e exploratórias que têm capacidade para 15 pessoas. Quantas Vans serão neces-
Neste texto nos referimos às investigações matemáticas por sárias para que todos os estudantes desta escola participem desse
meio de aulas exploratório/investigativas. A proposta é apresentar estudo?”. É bem provável que a ocorrência da resposta equivocada,
a investigação matemática e seu uso em sala de aula com vistas à “o resultado é 1 e o resto 7” seja consideravelmente menor.
possibilidade de construção de conhecimentos. É necessário esclarecer o nosso entendimento por tarefa
O ponto de partida para que a sala de aula possa ser um am- no contexto das aulas de investigação/exploração matemática.
biente de aprendizagem, no qual as crianças se envolvam em “criar, Conforme apresentado em Lamonato e Passos (2011), a palavra
inventar modos diferentes de se fazer matemática”, deveria ser o tarefa, tem origem na palavra inglesa task, que significa uma
desafio. A criança se interessa por tarefas desafiantes. Para que isso proposta de trabalho feita pelo professor aos alunos, os quais se
ocorra, nós, professores, precisamos criar tarefas ou situações-pro- envolvem em atividade matemática para poder resolvê-la. Assim
blema de tal forma que a solução não possa ser obtida rapidamen- sendo, tarefa não está sendo utilizada como sinônimo de lição de
te, por meio de uma conta. Será necessário envolver a criança de casa, como comumente ocorre nas escolas brasileiras. A tarefa,
modo que ela se sinta desafiada a descobrir o que precisaria fazer portanto, será utilizada neste texto como uma proposta, oral ou
quando a proposta é aberta. escrita, que o professor faz para seus alunos.
Normalmente, aos alunos cabe resolver problemas que lhes No processo de resolução de uma tarefa, é importante obser-
são solicitados; raramente lhes é proposta a elaboração de proble- var que tanto os alunos quanto os professores se envolvem na ati-
mas. A investigação/exploração matemática em turmas dos anos vidade. Em determinados momentos os papéis são diferenciados.
iniciais pode ser uma maneira de possibilitar aos alunos a proposi- Será o professor o responsável pelas mediações e intervenções
ção de problemas, partindo-se de uma situação ou questão aberta. para que os alunos aceitem o desafio de encontrar a resposta para
A investigação matemática permite ao aluno pensar a partir de uma a proposta colocada. Nós, professores, temos a intencionalidade na
situação na qual se prevê que ele fará observações e descobertas; proposta da tarefa, diferente da do aluno.
cometerá erros e acertos e, fundamentalmente, deverá tomar deci- Como explicam Nacarato, Mengali e Passos (2009, p. 84), na
sões. Em síntese, esta é a essência da investigação matemática que sala de aula onde ocorre investigação matemática poderá haver ne-
entendemos para a Educação Básica: questões ou situações abertas gociação de significados. Nesse contexto, professor e alunos têm
que promovam a tomada de decisões sobre o percurso a ser per- experiências e conhecimentos diferentes: o professor detém o co-
corrido. nhecimento a ser ensinado, consegue estabelecer relações com ou-
Quando a criança se sente desafiada frente a uma situação-pro- tros conceitos e já tem uma expectativa e uma intencionalidade, ao
blema para a qual não tem a resposta e nem um caminho inicial, ela propor uma situação a ser resolvida. O aluno é o aprendiz, aquele
precisa traçar um plano. Esse plano pode vir a partir de questões para quem, muitas vezes, o conceito matemático não tem significa-
postas por ela própria. Ao fazer isso, ela se coloca em um movi- do algum. No entanto, numa atividade autêntica, ambos – profes-
mento de resolução de problema. Vale lembrar que em qualquer sor e aluno – estão interessados na ocorrência de aprendizagens e,
nível de ensino os problemas precisam fazer sentido para quem os no processo de negociação, cada um assume seu papel.
resolve, , que trata dos saberes matemáticos e outros campos do Os questionamentos que o professor pode fazer a seus alunos
saber e que foram estudados na formação de 2014. Apresenta-se são decisivos para o desenvolvimento da atividade pretendida. Há
como um dos objetivos do currículo das escolas “levar os alunos a que se considerar que em aulas com investigações/explorações ma-
desenvolverem a capacidade para enfrentar e resolver problemas temáticas os tempos disponibilizados são diferentes das aulas con-
de variados tipos e finalidades” (BRASIL, 2014, p. 12). sideradas tradicionais. As tarefas de características exploratório/
investigativas demandam uma organização da turma, geralmente
em grupo, para que os alunos possam trocar ideias e discutir estra-

312
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
tégias. A proposta do pesquisador norte-americano Van de Walle
(2009) para a dinâmica de resolução de problemas pode ser consi-
derada nas aulas de investigações matemáticas. O autor explica que
não basta o professor apresentar um problema, sentar e esperar
que os alunos resolvam. Como mencionamos, o professor tem um
papel fundamental: ele será o responsável pela criação e manuten-
ção de um ambiente matemático motivador e estimulante para que
a aula aconteça. Van de Walle (2009) propõe que a aula tenha três
momentos: antes, durante e depois. No primeiro momento, o pro-
fessor deverá se certificar de que os alunos estão preparados para
a tarefa proposta, assegurando-se de que os problemas estejam no Os estudantes foram divididos em trios e cada um dos trios re-
nível cognitivo deles. Durante a resolução, os alunos trabalham e o cebeu uma folha com a tarefa. O critério utilizado para a formação
professor acompanha, observa, certifica-se de que todos estão en- dos grupos foi a proximidade de saberes na resolução de problemas
volvidos na tarefa. Depois será o momento de socialização – o pro- diários.
fessor ouve todos os grupos, sem avaliações, deixando aos próprios Este critério teve como objetivo possibilitar a participação de
alunos a discussão das estratégias apresentadas. Somente ao final todos nos grupos. Seria possível questionar se grupos com maior
de todo esse processo o professor formaliza os novos conceitos e heterogeneidade não seriam mais adequados, porém eu preferi uti-
conteúdos construídos. lizar a atividade para conhecer o que cada grupo conseguiria produ-
Em uma investigação/exploração matemática, o professor é zir, sendo uma nova experiência para mim também.
quem escolhe um ponto de partida e os alunos é que definem os Logo que receberam a tabela de números, os grupos iniciaram
problemas dentro da situação e tentam resolvê-los por seus pró- a observação. Todos encontraram ao menos uma relação. Até mes-
prios caminhos. É diferente, portanto, da perspectiva de resolução mo os grupos formados por estudantes que apresentam menor au-
de problemas. Uma investigação/exploração matemática é uma ta- tonomia em outros tipos de atividades, como pode ser observado
refa aberta, que possui um grau de indeterminação no que é dado, na figura a seguir.
no que é pedido ou em ambos. Podemos dizer então que tarefas
investigativas são aquelas que apresentam um caráter aberto, pos-
sibilitando aos alunos trilharem diferentes caminhos ao resolvê-las
e possivelmente poderão chegar em diferentes resultados, de acor-
do com o caminho escolhido.
Naquele contexto, verificamos que é necessário construir uma
estratégia para resolver o problema proposto e que nem sempre a
estratégia escolhida é bem-sucedida, necessitando de ajustes. Tal
procedimento tem certa semelhança com a investigação/explora-
ção matemática.
Lamonato e Passos (2011), entendem a exploração-investiga-
ção matemática como:
[...] um meio pelo qual pode ocorrer a aprendizagem da Ma-
temática em um processo que busca possibilitar ao estudante mo-
mentos de produção/criação de seus conhecimentos matemáticos,
respeitando o nível de desenvolvimento em que ele se encontra.
Investigar é procurar o que ainda não se conhece; investigar é ques-
tionar e procurar responder. Para investigar, é necessário querer Durante a discussão, os estudantes desse grupo observaram a
saber; para investigar, é preciso estar curioso. sequência de uma linha e de uma coluna. Após a minha interven-
Trazemos a seguir a narrativa da Professora Nacir, exemplifi- ção, questionando se “isto acontece apenas com uma das linhas e
cando o caráter aberto de uma tarefa. Podemos observar que os com uma das colunas?”, eles perceberam que esta era uma regula-
dilemas de uma professora dos anos iniciais, que não é especialista ridade válida para todas as linhas e colunas da tabela.
em Matemática, faz parte do fazer docente.

UMA INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS

Professora Nacir Aparecida Bertini

EMEF Professora Thereza dos Anjos Puoli – Descalvado – SP


O trabalho com investigação matemática chegou até mim
quando tive a oportunidade de conhecer uma pesquisa de mestra-
do que abordava este assunto. Tal conhecimento despertou meu
interesse em desenvolver atividades investigativas com minha tur-
ma, então selecionei uma atividade para iniciar o trabalho. A tarefa
escolhida foi a seguinte:

313
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Porém, os grupos formados por estudantes que sempre bus- Nesse tipo de tarefa, não temos o controle do que os alunos
cavam resolver os problemas que eram propostos de formas “tra- responderão, descobrirão, enfim, não há um roteiro de respostas
dicionais”, não conseguiram estabelecer alguma relação entre os corretas. Dá insegurança? Sim, isso causa insegurança no início!
números apresentados na tabela, contudo escreveram o que obser- Propor uma tarefa sem saber o que os estudantes farão é um de-
varam, como indicado a seguir. safio.
Antes de iniciar as atividades, pensei muito sobre como seria:
Será que as crianças conseguirão perceber alguma relação? E se
elas não encontrarem nenhuma relação, o que farei? E se elas en-
contrarem alguma relação que eu não consiga discutir? Será que
conseguirei fazer as intervenções adequadas para que elas consi-
gam compreender?
Tantas dúvidas e inseguranças foram possíveis de ser supera-
das com muito estudo e observação prática. Porém, todas as vezes
que essas atividades são realizadas, algo inusitado acontece, o que
é ótimo!

Devido ao caráter aberto da tarefa, a investigação na aula dos


anos iniciais possibilita a vivência do aluno com a formulação de
questões, de testagens, de argumentação e de discussão de ideias.
O ambiente fica propício para a negociação de significados. Como
ensina Freire (1996, p. 26), “nas condições de verdadeira aprendiza-
gem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da cons-
trução e reconstrução do saber ensinado”.
Lamonato e Passos (2011, p. 64) explicam as etapas de uma
investigação matemática: A primeira etapa – a exploração e a for-
mulação de questões – constitui os momentos iniciais da atividade,
Os estudantes observaram que as colunas eram formadas por em que os alunos observam ou recolhem dados, buscam diferen-
números pares ou por números ímpares, porém não perceberam ças, semelhanças, regularidades e põem questões que buscarão
que eram “intercaladas”; somente descreveram o que viam. Tam- desvendar. Posteriormente, a formulação de conjecturas consis-
bém não observaram outras relações. te num processo de elaboração de hipóteses para suas questões,
Após a realização da atividade nos grupos, fizemos a socializa- explicações que serão testadas e reformuladas, utilizando-se de
ção do que cada um observou. Nesse momento foi imprescindível exemplos e contraexemplos, caminhando, assim, para a justificação
que retomassem as suas anotações, dando sentido ao registro. As- das conjecturas, com o uso de argumentações, provas ou demons-
sim, os estudantes de cada grupo explicaram para a turma o que trações. E, finalmente, a avaliação do trabalho prevê a discussão,
haviam constatado na tabela. Alguns estudantes tomaram a frente a argumentação, a socialização e o debate, processos estes nem
no momento da socialização, explicando para os colegas o que ha- sempre lineares, mas que abarcam a negociação de significados em
viam encontrado. As relações observadas na tabela foram escritas diversos momentos.
coletivamente: Uma tarefa pode ou não ter a propriedade de ser investigativa
- as linhas (horizontal) aumentam da esquerda para a direita e isso não depende somente dela, depende também do conheci-
de 1 em 1; mento prévio da turma, como afirma Ponte (2006). Se os alunos,
- as linhas (horizontal) diminuem da direita para a esquerda de por exemplo, já resolveram uma situação parecida ou já aprende-
1 em 1; ram alguma técnica para resolver questões daquele tipo, a tarefa
- uma diagonal aumenta/diminui de 5 em 5; não proporcionará uma investigação por parte deles.
- a outra diagonal aumenta/diminui de 3 em 3; O professor, ao decidir trabalhar com um tipo de tarefa que tira
- as colunas ímpares (1 e 3) têm os números pares; dele o poder de previsão e de controle, passa a trabalhar com a im-
- as colunas pares (2 e 4) têm os números ímpares; previsibilidade, como assinalado na narrativa da professora Nacir.
- embaixo de toda a coluna tem reticências porque significa É preciso enfrentar seus medos e suas inseguranças, sem permitir
que tem mais números. que estes o impeçam de seguir adiante. Freire, em um diálogo com
Shor (FREIRE; SHOR, 1986), argumenta que sentir medo é normal,
Estas relações foram o início do trabalho e representam o que faz parte da condição humana como uma manifestação de estar
os alunos conseguiram elaborar. Foi possível dar continuidade a vivo e por isso não é algo que diminui o homem, não se tem, assim,
este trabalho com outras atividades e reflexões, o que possibilitou a motivo para escondê-lo ou para negá-lo, mas o que não se pode
discussão das nomenclaturas envolvendo a linguagem matemática permitir é que este medo o imobilize.
e de alguns conceitos, tais como sucessor, antecessor, múltiplos e Uma possibilidade de se introduzir as investigações/explora-
divisores. ções matemáticas em turmas com crianças de 6, 7 e 8 anos é o
Após ter realizado atividades deste tipo, pude observar que os professor investigar junto com elas. Na pesquisa realizada por La-
alunos começaram a apresentar atitudes investigativas quando o monato (2007), uma das professoras participantes do grupo assim
estudo era de outros componentes curriculares. Por exemplo, du- procedeu. Ao mesmo tempo em que a professora ensinava as crian-
rante o estudo de ortografia, um dos alunos chamou a atenção para ças a investigar, ela também se colocou no papel de investigadora.
uma regularidade e completou dizendo: “Olha, é como na atividade O Caso de Ensino foi criado a partir da experiência vivida pela
de matemática, a gente pode encontrar coisas que viram regras”. professora Guilhermina, participante da pesquisa mencionada, ao
Ouvir comentários como esse dos meus alunos, depois de um tem- desenvolver uma tarefa exploratória/investigativa, procurando tra-
po de trabalho, reforça a validade deste tipo de atividade e me aju- zer algumas situações críticas que ocorrem na prática docente.
dou a continuar investindo em atividades “abertas”. De acordo com Mizukami (2000), o caso de ensino é um do-

314
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
cumento descritivo de situações escolares reais, ou não, que com- que a bolinha era “circular” e a caixa, “quadrada”, não daria certo.
põe uma história com começo, meio e fim, apresenta um incidente Guilhermina aproveitou a ocasião e apresentou para a turma fi-
crítico, o contexto de ocorrência da situação, os personagens en- guras planas, representadas em uma cartolina. Pediu para os alunos
volvidos, as atitudes – ou falta de atitudes – do docente diante do identificassem entre os retângulos, aqueles que seriam quadrados.
incidente, assim como descreve os pensamentos, os sentimentos Conversou com os alunos se poderiam chamar a abertura da cai-
e os motivos do professor. Além disso, o texto pode apresentar a xa de sabonete de quadrado. Eles diziam que a forma da caixa de
solução da situação crítica e todo o processo vivido pelo professor sabonete tinha lados “mais compridos”, mas Guilhermina não os
é narrado: o problema, as hipóteses, as reflexões sobre o problema, corrigiu, considerou que para crianças de 6 anos, essa observação
os meios pensados para resolvê-lo e o desfecho da situação. estava adequada.
Os alunos experimentaram em qual embalagem seria mais
O CASO DA PROFESSORA GUILHERMINA adequado “encaixar” a bolinha e concluíram que o rolinho (suporte
A professora Guilhermina leciona em uma turma de 1o ano do do papel higiênico) era a mais adequada, pois também era redon-
Ensino Fundamental e participa de um grupo de estudos a respeito do. A professora percebeu que as crianças utilizavam vocabulário
das investigações matemáticas. As discussões no grupo motivaram- próximo ao matemático para expressar o conhecimento que tinham
-na a colocar em ação uma proposta de construir um brinquedo a das formas geométricas e, à medida que mencionavam as formas,
partir de sucatas. Ela pretendia trabalhar com as crianças algumas ela questionava se realmente correspondia à forma existente no
noções de geometria, assim, decidiu construir com as crianças um objeto, fazendo as intervenções adequadas. Os alunos compararam
brinquedo: um bilboquê. Escolheu esse jogo porque seria possível a forma prismática da caixa de sabonete com o formato esférico da
aproveitar uma brincadeira infantil para explorar conceitos geomé- bolinha de isopor e confirmaram que a caixa de sabonete deveria
tricos. Além disso, seria possível que seu aluno que tem baixa visão ser excluída.
pudesse participar plenamente. A análise do rolinho suporte do papel higiênico foi um caso à
Guilhermina pesquisou sobre o jogo, que consiste em uma bola parte: a bolinha ficava equilibrada no que seria a “base” do cilindro.
(ou conoide) de madeira, furada e presa a um cordão e que, após Os alunos compararam com o tamanho da abertura do copo feito
atirada para o ar deve, ao cair, encaixar em um bastonete a que está de garrafa PET.
amarrada. O aluno com baixa visão manuseava os objetos e verificava o
tamanho das “bocas” do copo feito com a garrafa PET e do rolinho
suporte do papel higiênico, comparando com o tamanho da bolinha
de isopor. Ele percebeu que o encaixe para esse jogo seria melhor
com o uso do rolinho.
Assim como esse aluno, os demais comparavam as embala-
gens: a bolinha entrava no copo feito com garrafa PET. Eles decidi-
ram pelo rolinho suporte do papel higiênico. Os elementos geomé-
tricos do cilindro e da esfera não foram discutidos por Guilhermina.
Mais uma exploração/investigação matemática ocorreu: de-
terminar qual a medida do comprimento do barbante para que o
jogo pudesse ser jogado. Guilhermina e os alunos precisaram ex-
perimentar vários comprimentos para o barbante de modo que o
jogo fosse possível.

Guilhermina preparou a tarefa levando para a escola algumas


sucatas: caixas de sabonete, garrafas PET de 1 litro cortadas como
copos, rolinhos – suporte do papel higiênico, um rolo de barbante,
bolinhas de isopor (medindo cerca de 3 cm de diâmetro).
Ela colocou esses materiais sobre uma das mesinhas da sala.
Explicou para a turma que eles construiriam um brinquedo com su-
catas, como de costume, pois a escola tem um projeto de recicla-
gem e aquele brinquedo iria fazer parte desse projeto.
A professora informou que fariam um bilboquê e perguntou
se conheciam o brinquedo. Alguns alunos responderam afirmativa-
mente. Ela não apresentou modelo do brinquedo, pois queria que
eles analisassem os materiais disponíveis que poderiam ser úteis
para construí-lo.
À medida que as crianças levantavam hipóteses a respeito do
que poderia consistir no “bastonete”, Guilhermina pedia para que As crianças e Guilhermina exploraram características geométri-
as crianças verificassem qual seria a escolha das sucatas para a sua cas de cada objeto para a construção do brinquedo. Podemos dizer
construção. As crianças experimentavam equilibrar a bolinha de que a tarefa proposta por ela teve uma intencionalidade. Crianças,
isopor na caixa de sabonete e no copo com garrafa PET. Logo elas
perceberam que a caixa de sabonete não seria adequada: diziam

315
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
que na ocasião ainda não estavam alfabetizadas, discutiram pos- de tudo que descobrir. Mesmo assim, no momento em que a tarefa
sibilidades, testaram a funcionalidade de objetos para que o jogo for proposta, outras questões poderão ser colocadas pelos alunos.
pudesse ser realizado. A brincadeira deu o tom da atividade! A riqueza de ideias que poderão surgir deverá ser encarada como o
desafio do novo. E mais que isso, confirmando que nós estamos em
Para nos auxiliar a refletir sobre o relato, podemos nos pautar um movimento constante de aprendizagem, principalmente com
em algumas questões: nossos alunos.
1. Que momentos críticos poderiam ser identificados no Caso
da professora Guilhermina? Fonte
2. Considerando que os elementos geométricos do cilindro e da BRASIL (MEC/SEB/DAGE). Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade
esfera não foram discutidos por Guilhermina, o que poderia ter sido Certa: Alfabetização matemática na perspectiva do letramento. Cader-
feito nessa situação? no 07. Brasília: MEC, SEB, 2015.
3. Se a turma fosse de 3o ano, como a aula poderia ter sido
conduzida? Construção do objeto matemático: da operação física à ope-
ração mental; atividade lúdica: os jogos, seus significados, seus
Momentos como esses podem gerar perguntas não previstas valores e suas finalidades
pelo professor e provocar dúvidas, mas também podem revelar
êxitos para que o professor confie e permaneça no caminho que A Contextualização na Formação Matemática
escolheu. Caso esses êxitos não apareçam de imediato, o professor
precisará de alguém que lhe garanta que está no caminho certo, Articulação entre o novo e o já adquirido
como sugerem Freire e Shor (1986). Nesse sentido é que sugerimos Os conhecimentos e habilidades não correspondem a capaci-
que propostas dessa natureza sejam socializadas no interior das es- dades prontas, acabadas, guardadas em gavetas para serem usadas
colas, com os demais professores, de modo que no grupo ocorram quando for preciso. Eles estão feitos e se fazem, constantemente,
reflexões a respeito de acertos e equívocos. Um trabalho com par- na experiência de cada situação, quando são mobilizados conheci-
cerias contribui para manter a confiança na busca de mudanças. mentos e habilidades já adquiridos, ao mesmo tempo em que se
Em um ambiente de resolução de problemas, o professor pode constroem o que ainda não se sabe e aquilo que é necessário saber.
dirigir a discussão de natureza argumentativa em Matemática, na Uma das ideias mais destacadas nas novas tendências educa-
direção das tarefas exploratório/ investigativas. Em grupo, os alunos cionais é a de que a criança, ao chegar à escola, traz muitos conheci-
dialogam, apresentam hipóteses, argumentam para defender seu mentos e habilidades matemáticas adquiridos em suas experiências
ponto de vista. As aulas nessa perspectiva fazem com que as crian- nos diversos meios sociais em que circula. É indispensável que a
ças incorporem ao vocabulário questionamentos que começam a escola, em particular o professor, possa estabelecer as articulações
se fazer presentes no estudo de outros componentes curriculares, apropriadas entre esses conhecimentos e as habilidades já adquiri-
como assinalado pela Professora Nacir. Eles passam a indagar “e dos e aqueles que serão vivenciados pela criança. É o difícil diálo-
se?” nas mais diversas situações, tornando a aula um ambiente in- go entre o que provém, de um lado, do senso comum, da intuição,
tenso de comunicação de ideias. das informações vagas, das estratégias pessoais e, do outro, dos
O processo de ensinar em uma aula de investigação/exploração conhecimentos e das habilidades mais sistematizadas e universais
matemática rompe com a cultura comumente existente na esco- que fazem parte do ensino escolar. Esse diálogo é particularmente
la de que os problemas deveriam ser propostos para confirmar se desafiador quando se trata da criança nos primeiros anos da esco-
o aluno aprendeu determinado conteúdo. Criar uma cultura e um laridade.
ambiente de sala de aula em que os alunos estejam encorajados Os educadores matemáticos têm defendido a ideia de que os
a questionar, experimentar, avaliar, explorar e sugerir explicações conceitos relevantes para a formação matemática atual devem ser
é possível, embora não seja simples. Além disso, não pode ser co- abordados desde o início da formação escolar. Isso vale mesmo
locada em ação sem um planejamento cuidadoso. Já discutimos a para conceitos que podem atingir níveis elevados de complexidade,
importância da organização do trabalho pedagógico da Matemática como os de número racional, probabilidade, semelhança, simetria,
no ciclo da alfabetização no Caderno 1 (BRASIL, 2014) e verificamos entre muitos outros. Tal ponto de vista apoia-se na concepção de
que o planejamento e replanejamento faz parte de nossas ações que a construção de um conceito pelas pessoas processa-se no de-
profissionais. correr de um longo período, de estágios mais intuitivos aos mais
Propor que as crianças descubram padrões e regularidades é formais. Além disso, um conceito nunca é isolado, mas se integra a
um tipo de tarefa que possibilita esse ambiente de aprendizagem. um conjunto de outros por meio de relações, das mais simples às
Van de Walle (2009, p. 32), propõe, por exemplo, uma exploração mais complexas. Dessa maneira, não se deve esperar que a aprendi-
numérica do tipo: “Alguma vez você notou que 6 + 7 é igual a 5 + 8 zagem de conceitos e procedimentos se realize de forma completa
e a 4 + 9?” Qual o padrão que existe? Quais as relações que podem e num período curto de tempo. Por isso, ela é mais efetiva quan-
ser expressas? As crianças podem explorar essa soma e investigar do os conteúdos são revisitados, de forma progressiva, ampliada e
outras, descobrindo padrões. Ao apresentar tarefas como essas, o aprofundada, durante todo o percurso escolar. Convém lembrar, no
professor estará proporcionando um ambiente de investigação ma- entanto, que esses vários momentos devem ser sempre bem arti-
temática, sua mediação será no sentido de possibilitar a circulação culados, em especial, evitando-se a fragmentação ou as retomadas
de ideias e discussões coletivas. repetitivas.
Outra situação de investigação matemática proposta pelo au-
tor citado também possibilita um rico ambiente de aprendizagem: Conexões internas à Matemática escolar
Quando dois números ímpares são multiplicados, o resultado é ím- Ao longo de sua evolução, o conhecimento matemático foi
par; mas se os mesmos números forem somados ou subtraídos, o sendo organizado em disciplinas e subdisciplinas, como Aritmética,
que acontece? Álgebra, Geometria, Estatística, probabilidade, entre outras. Essas
Experimente propor essa tarefa para seus alunos, mas, antes divisões, paralelamente, foram repercutindo na matemática esco-
disso, planeje como a tarefa poderá ser executada. Coloque-se no lar. Na seção “Os campos de conteúdos da matemática escolar”, vis-
lugar de seus alunos e preveja o que poderá ocorrer. Faça registro ta anteriormente, foi mencionada uma possibilidade de organizar

316
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
o conhecimento em campos de conteúdos da Matemática para o As práticas sociais como fonte de contextualizações
Ensino Fundamental que pode ser associado às disciplinas acima A Matemática, como todo conhecimento, é produzida pelos
referidas. homens em sua interação com os outros homens e com o mundo.
Entretanto, nem a Matemática, nem a sua vertente escolar Assim, o conhecimento matemático liga-se, sempre, a algum con-
devem ser encaradas como uma justaposição de subdisciplinas es- texto. No entanto, essas ligações não são, em geral, explícitas e nem
tanques, mas como um conjunto de conhecimentos bem articula- fáceis de serem desvendadas. Um dos sinais dessa dificuldade pode
dos entre si. O conceito de número e as operações numéricas, por ser identificado nos legítimos reclamos dos estudantes: Por que é
exemplo, permeiam todas as áreas da Matemática, e a resolução preciso estudar isso? Prá que serve a Matemática que nos tentam
de equações algébricas repousa em propriedades dos sistemas nu- ensinar?
méricos. Uma razão da inclusão das grandezas e medidas como um Cabe, então, aos responsáveis pela formação escolar, um im-
campo específico entre os que compõem a Matemática escolar re- portante papel: buscar conexões que deem significado aos conteú-
side na riqueza de suas conexões com outros campos da Matemá- dos matemáticos. Nesse sentido, já foram mencionadas, em seções
tica. Por exemplo, a origem dos números decimais e das frações é anteriores deste trabalho, conexões entre os subcampos da própria.
inseparável do problema da medida de grandezas.
Outra articulação desejada é a que se deve estabelecer entre Matemática e também as várias ligações dela com outros sa-
os vários significados de um mesmo conceito no interior da pró- beres.
pria Matemática escolar. Por exemplo, a operação de adição está Contudo, devem ser buscadas contextualizações que incluam
associada às ideias de juntar, comparar e acrescentar. Além disso, um leque mais variado de vivências dos estudantes. Quando se tra-
também é importante buscar conexões entre as diversas represen- ta, em particular, das crianças dos anos iniciais do Ensino Funda-
tações de um mesmo conteúdo. É o caso das figuras geométricas, mental, uma excelente fonte de contextualizações pode ser encon-
que podem ser associadas a objetos do mundo físico, a desenhos trada no universo infantil: vida doméstica; esportes; brincadeiras e
ou a entes abstratos definidos com base em princípios lógicos. jogos, histórias, músicas e em tantas outras atividades.
É um desafio fascinante tentar o diálogo do saber matemático
Ligações entre a Matemática e outras disciplinas: a interdisci- – para muitos, tido como árido e pouco acessível – com a riqueza
plinaridade do imaginário das crianças e com a simplicidade dos seus jogos e de
Em anos recentes, têm se multiplicado as análises sobre a ma- suas brincadeiras, sempre marcados pelo “faz de conta”.
neira como as disciplinas escolares estão organizadas e o papel que Outras contextualizações podem ser construídas com base em
desempenham no ensino e na aprendizagem, com destaque para atividades de compra e venda, reais ou fictícias, que contribuem
a necessária incorporação da perspectiva da interdisciplinaridade. para a atribuição de significado às operações básicas. Lidar com
Nesse debate, critica-se a fragmentação do saber ensinado nas es- preços de mercadorias em diversas embalagens ou com contas de
colas, alimentada pela organização do currículo em disciplinas jus- água, luz e telefone, por exemplo, permite um contato importante
tapostas e estanques, que competem por seu espaço e seus objeti- com os conceitos de grandezas e de medidas, além de propiciar dis-
vos particulares, distanciando-se do diálogo com outras disciplinas. cussões de natureza socioeconômica, desde que compatíveis com o
A prática da interdisciplinaridade ainda é rara. Para ser efeti- mundo da criança.
vamente praticada e ampliada, ela requer transformações amplas, Mas, é preciso cuidado com contextualizações artificiais, em
que se estendam a todo o sistema educacional: os currículos, as que as situações apresentadas são apenas pretexto para a obtenção
modalidades de avaliação, a organização do tempo e dos espaços de números a serem usados em operações matemáticas. Por exem-
na escola, o livro didático, entre outros. Essa prática exige, em espe- plo, recorrer-se às alturas dos montes Everest (8 844 m) e Aconcá-
cial, mudanças nas formações inicial e continuada dos educadores, gua (6 959 m), exibidos em belas imagens, para “contextualizar” a
que exercem inegável papel na moldagem de suas concepções. multiplicação de 8 844 por 6 959.
Convém observar, no entanto, que interdisciplinaridade não Também é preciso cautela no uso de desenhos ou de imagens
deve implicar uma diminuição da importância das áreas específicas para “tornar mais concreta” a medição ou a comparação entre com-
do conhecimento. Ao contrário, uma perspectiva interdisciplinar primentos. Por exemplo, no desenho em perspectiva de um dado
adequada nutre-se do aprofundamento nas várias áreas do saber. de jogar, suas arestas não possuem, em geral, o mesmo compri-
Para o diálogo interdisciplinar, é necessário que cada área es- mento, como têm na realidade.
pecífica contribua com saberes consistentes e aprofundados, que
não sejam meras justaposições de conhecimentos superficiais, mas O aluno e o saber matemático
que ―de fato ― favoreçam conexões significativas entre esses co- As necessidades cotidianas fazem com que os alunos desenvol-
nhecimentos. vam uma inteligência essencialmente prática, que permite reconhe-
Para tanto, é necessário um duplo movimento: em um senti- cer problemas, buscar e selecionar informações, tomar decisões e,
do, procurar interligar vários saberes; buscar temas comuns a di- portanto, desenvolver uma ampla capacidade para lidar com a ati-
ferentes campos do conhecimento; tentar construir modelos para vidade matemática. Quando essa capacidade é potencializada pela
situações complexas presentes na realidade; em outro, buscar escola, a aprendizagem apresenta melhor resultado.
aprofundar o conhecimento disciplinar; construir modelos para um No entanto, apesar dessa evidência, tem-se buscado, sem su-
recorte específico da realidade. Encontrar a organização e o tempo cesso, uma aprendizagem em Matemática pelo caminho da repro-
pedagógicos para garantir esse conjunto de ações constitui em um dução de procedimentos e da acumulação de informações; nem
dos maiores desafios para a concretização da perspectiva interdis- mesmo a exploração de materiais didáticos tem contribuído para
ciplinar na escola atual. uma aprendizagem mais eficaz, por ser realizada em contextos pou-
Convém mencionar que várias experiências têm sido propostas co significativos e de forma muitas vezes artificial.
para incorporar a interdisciplinaridade na escola, como a pedago- É fundamental não subestimar a capacidade dos alunos,
gia de projetos, o trabalho com temas integradores e com temas reconhecendo que resolvem problemas, mesmo que razoavelmente
transversais. complexos, lançando mão de seus conhecimentos sobre o assunto
e buscando estabelecer relações entre o já conhecido e o novo.

317
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O significado da atividade matemática para o aluno também Numa perspectiva de trabalho em que se considere a criança
resulta das conexões que ele estabelece entre ela e as demais dis- como protagonista da construção de sua aprendizagem, o papel
ciplinas, entre ela e seu cotidiano e das conexões que ele percebe do professor ganha novas dimensões. Uma faceta desse papel é
entre os diferentes temas matemáticos. a de organizador da aprendizagem; para desempenhá-la, além de
Ao relacionar ideias matemáticas entre si, podem reconhecer conhecer as condições socioculturais, expectativas e competência
princípios gerais, como proporcionalidade, igualdade, composição cognitiva dos alunos, precisará escolher o(s) problema(s) que pos-
e inclusão e perceber que processos como o estabelecimento de sibilita(m) a construção de conceitos/procedimentos e alimentar o
analogias, indução e dedução estão presentes tanto no trabalho processo de resolução, sempre tendo em vista os objetivos a que se
com números e operações como em espaço, forma e medidas. propõe atingir.
O estabelecimento de relações é tão importante quanto a ex- Além de organizador, o professor também é consultor nesse
ploração dos conteúdos matemáticos, pois, abordados de forma processo. Não mais aquele que expõe todo o conteúdo aos alunos,
isolada, os conteúdos podem acabar representando muito pouco mas aquele que fornece as informações necessárias, que o aluno
para a formação do aluno, particularmente para a formação da ci- não tem condições de obter sozinho. Nessa função, faz explana-
dadania. ções, oferece materiais, textos, etc.
Outra de suas funções é como mediador, ao promover a con-
O professor e o saber matemático frontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições em
O conhecimento da história dos conceitos matemáticos preci- que cada aluno pode intervir para expor sua solução, questionar,
sa fazer parte da formação dos professores para que tenham ele- contestar. Nesse papel, o professor é responsável por arrolar os
mentos que lhes permitam mostrar aos alunos a Matemática como procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover
ciência que não trata de verdades eternas, infalíveis e imutáveis, o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e
mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de no- valorizar as soluções mais adequadas. Ele também decide se é ne-
vos conhecimentos. cessário prosseguir o trabalho de pesquisa de um dado tema ou se
Além disso, conhecer os obstáculos envolvidos no processo de é o momento de elaborar uma síntese, em função das expectativas
construção de conceitos é de grande utilidade para que o professor de aprendizagem previamente estabelecidas em seu planejamento.
compreenda melhor alguns aspectos da aprendizagem dos alunos. Atua como controlador ao estabelecer as condições para a rea-
O conhecimento matemático formalizado precisa, necessaria- lização das atividades e fixar prazos, sem esquecer-se de dar o tem-
mente, ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/ po necessário aos alunos.
aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimu-
não são passíveis de comunicação direta aos alunos. Essa conside- la a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria
ração implica rever a ideia, que persiste na escola, de ver nos obje- interação adulto/criança. A confrontação daquilo que cada criança
tos de ensino cópias fiéis dos objetos da ciência. pensa com o que pensam seus colegas, seu professor e demais pes-
Esse processo de transformação do saber científico em saber soas com quem convive é uma forma de aprendizagem significativa,
escolar não passa apenas por mudanças de natureza epistemoló- principalmente por pressupor a necessidade de formulação de ar-
gica, mas é influenciado por condições de ordem social e cultural gumentos (dizendo, descrevendo, expressando) e a de comprová-
que resultam na elaboração de saberes intermediários, como apro- -los (convencendo, questionando).
ximações provisórias, necessárias e intelectualmente formadoras. É Além da interação entre professor e aluno, a interação entre
o que se pode chamar de contextualização do saber. alunos desempenha papel fundamental na formação das capacida-
Por outro lado, um conhecimento só é pleno se for mobilizado des cognitivas e afetivas. Em geral, explora-se mais o aspecto afe-
em situações diferentes daquelas que serviram para lhe dar origem. tivo dessas interações e menos sua potencialidade em termos de
Para que sejam transferíveis a novas situações e generalizados, os construção de conhecimento.
conhecimentos devem ser descontextualizados, para serem con-
textualizados novamente em outras situações. Mesmo no ensino Trabalhar coletivamente, por sua vez, supõe uma série de
fundamental, espera-se que o conhecimento aprendido não fique aprendizagens, como:
indissoluvelmente vinculado a um contexto concreto e único, mas • perceber que além de buscar a solução para uma situação
que possa ser generalizado, transferido a outros contextos. proposta devem cooperar para resolvê-la e chegar a um consenso;
• saber explicitar o próprio pensamento e tentar compreender
As relações professor-aluno e aluno-aluno o pensamento do outro;
Tradicionalmente, a prática mais frequente no ensino de Ma- • discutir as dúvidas, assumir que as soluções dos outros fazem
temática era aquela em que o professor apresentava o conteúdo sentido e persistir na tentativa de construir suas próprias ideias;
oralmente, partindo de definições, exemplos, demonstração de • incorporar soluções alternativas, reestruturar e ampliar a
propriedades, seguidos de exercícios de aprendizagem, fixação e compreensão acerca dos conceitos envolvidos nas situações e, des-
aplicação, e pressupunha que o aluno aprendia pela reprodução. se modo, aprender.
Considerava-se que uma reprodução correta era evidência de que Essas aprendizagens só serão possíveis na medida em que o
ocorrera a aprendizagem. professor proporcionar um ambiente de trabalho que estimule o
Essa prática de ensino mostrou-se ineficaz, pois a reprodução aluno a criar, comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar ideias.
correta poderia ser apenas uma simples indicação de que o aluno É importante atentar para o fato de que as interações que
aprendeu a reproduzir mas não apreendeu o conteúdo. ocorrem na sala de aula — entre professor e aluno ou entre alunos
É relativamente recente, na história da Didática, a atenção ao — devem ser regulamentadas por um “contrato didático” no qual,
fato de que o aluno é agente da construção do seu conhecimento, para cada uma das partes, sejam explicitados claramente seu papel
pelas conexões que estabelece com seu conhecimento prévio num e suas responsabilidades diante do outro.
contexto de resolução de problemas.
Naturalmente, à medida que se redefine o papel do aluno pe-
rante o saber, é preciso redimensionar também o papel do profes-
sor que ensina Matemática no ensino fundamental.

318
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Alguns caminhos para “fazer Matemática” na sala de aula Considerados esses princípios, convém precisar algumas carac-
É consensual a ideia de que não existe um caminho que possa terísticas das situações que podem ser entendidas como problemas.
ser identificado como único e melhor para o ensino de qualquer Um problema matemático é uma situação que demanda a rea-
disciplina, em particular, da Matemática. No entanto, conhecer lização de uma sequência de ações ou operações para obter um re-
diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental sultado. Ou seja, a solução não está disponível de início, no entanto
para que o professor construa sua prática. Dentre elas, destacam- é possível construí-la.
se algumas. Em muitos casos, os problemas usualmente apresentados aos
alunos não constituem verdadeiros problemas, porque, via de re-
O Recurso à Resolução de Problemas gra, não existe um real desafio nem a necessidade de verificação
Resolução de problemas é um caminho para o ensino de Mate- para validar o processo de solução.
mática que vem sendo discutido ao longo dos últimos anos. O que é problema para um aluno pode não ser para outro, em
A História da Matemática mostra que ela foi construída como função do seu nível de desenvolvimento intelectual e dos conheci-
resposta a perguntas provenientes de diferentes origens e contex- mentos de que dispõe.
tos, motivadas por problemas de ordem prática (divisão de terras,
cálculo de créditos), por problemas vinculados a outras ciências (Fí- Resolver um problema pressupõe que o aluno:
sica, Astronomia), bem como por problemas relacionados a investi- • elabore um ou vários procedimentos de resolução (como, por
gações internas à própria Matemática. exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses);
Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempe- • compare seus resultados com os de outros alunos;
nhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóte- • valide seus procedimentos.
ses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimen- Resolver um problema não se resume em compreender o que
tos adquiridos anteriormente pelos alunos. foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequa-
A prática mais frequente consiste em ensinar um conceito, pro- dos. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode
cedimento ou técnica e depois apresentar um problema para ava- ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas
liar se os alunos são capazes de empregar o que lhes foi ensinado. não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido.
Para a grande maioria dos alunos, resolver um problema significa Além disso, é necessário desenvolver habilidades que permi-
fazer cálculos com os números do enunciado ou aplicar algo que tam pôr à prova os resultados, testar seus efeitos, comparar dife-
aprenderam nas aulas. rentes caminhos, para obter a solução. Nessa forma de trabalho, o
Desse modo, o que o professor explora na atividade matemáti- valor da resposta correta cede lugar ao valor do processo de reso-
ca não é mais a atividade, ela mesma, mas seus resultados, defini- lução.
ções, técnicas e demonstrações. O fato de o aluno ser estimulado a questionar sua própria res-
Consequentemente, o saber matemático não se apresenta ao posta, a questionar o problema, a transformar um dado problema
aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um numa fonte de novos problemas, evidencia uma concepção de en-
conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbó- sino e aprendizagem não pela mera reprodução de conhecimentos,
lico, abstrato e incompreensível. mas pela via da ação refletida que constrói conhecimentos.
Nesse caso, a concepção de ensino e aprendizagem subjacente
é a de que o aluno aprende por reprodução/imitação. O Recurso à História da Matemática
A História da Matemática, mediante um processo de transposi-
Ao colocar o foco na resolução de problemas, o que se defende ção didática e juntamente com outros recursos didáticos e metodo-
é uma proposta que poderia ser resumida nos seguintes princípios: lógicos, pode oferecer uma importante contribuição ao processo de
• o ponto de partida da atividade matemática não é a definição, ensino e aprendizagem em Matemática.
mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mos-
ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a trar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em di-
exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos ferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre
precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las; os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente,
• o problema certamente não é um exercício em que o alu- o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores
no aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático.
operatório. Só há problema se o aluno for levado a interpretar o Além disso, conceitos abordados em conexão com sua história
enunciado da questão que lhe é posta e a estruturar a situação que constituem-se veículos de informação cultural, sociológica e an-
lhe é apresentada; tropológica de grande valor formativo. A História da Matemática
• aproximações sucessivas ao conceito são construídas para re- é, nesse sentido, um instrumento de resgate da própria identidade
solver certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza cultural.
o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, re- Em muitas situações, o recurso à História da Matemática pode
tificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode esclarecer ideias matemáticas que estão sendo construídas pelo
observar na história da Matemática; aluno, especialmente para dar respostas a alguns “porquês” e, des-
• o aluno não constrói um conceito em resposta a um proble- se modo, contribuir para a constituição de um olhar mais crítico
ma, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num sobre os objetos de conhecimento.
campo de problemas. Um conceito matemático se constrói articu-
lado com outros conceitos, por meio de uma série de retificações e O Recurso às Tecnologias da Informação
generalizações; As técnicas, em suas diferentes formas e usos, constituem um
• a resolução de problemas não é uma atividade para ser de- dos principais agentes de transformação da sociedade, pelas impli-
senvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas cações que exercem no cotidiano das pessoas.
uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contex-
to em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes
matemáticas.

319
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Estudiosos do tema mostram que escrita, leitura, visão, audi- No jogo, mediante a articulação entre o conhecido e o imagina-
ção, criação e aprendizagem são capturados por uma informática do, desenvolve-se o autoconhecimento — até onde se pode chegar
cada vez mais avançada. Nesse cenário, insere-se mais um desafio — e o conhecimento dos outros — o que se pode esperar e em que
para a escola, ou seja, o de como incorporar ao seu trabalho, apoia- circunstâncias.
do na oralidade e na escrita, novas formas de comunicar e conhecer. Para crianças pequenas, os jogos são as ações que elas repetem
Por outro lado, também é fato que o acesso a calculadoras, sistematicamente mas que possuem um sentido funcional (jogos de
computadores e outros elementos tecnológicos já é uma realidade exercício), isto é, são fonte de significados e, portanto, possibilitam
para parte significativa da população. compreensão, geram satisfação, formam hábitos que se estruturam
Estudos e experiências evidenciam que a calculadora é um ins- num sistema. Essa repetição funcional também deve estar presente
trumento que pode contribuir para a melhoria do ensino da Ma- na atividade escolar, pois é importante no sentido de ajudar a crian-
temática. A justificativa para essa visão é o fato de que ela pode ça a perceber regularidades.
ser usada como um instrumento motivador na realização de tarefas Por meio dos jogos as crianças não apenas vivenciam situações
exploratórias e de investigação. que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e a pensar por
Além disso, ela abre novas possibilidades educativas, como a analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser
de levar o aluno a perceber a importância do uso dos meios tec- imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produ-
nológicos disponíveis na sociedade contemporânea. A calculadora toras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para
é também um recurso para verificação de resultados, correção de se submeterem a regras e dar explicações.
erros, podendo ser um valioso instrumento de auto avaliação. Além disso, passam a compreender e a utilizar convenções e
Como exemplo de uma situação exploratória e de investigação regras que serão empregadas no processo de ensino e aprendiza-
que se tornaria imprópria sem o uso de calculadora, poder-se-ia gem. Essa compreensão favorece sua integração num mundo social
imaginar um aluno sendo desafiado a descobrir e a interpretar os bastante complexo e proporciona as primeiras aproximações com
resultados que obtém quando divide um número sucessivamen- futuras teorizações.
te por dois (se começar pelo 1, obterá 0,5; 0,25; 0,125; 0,0625; Em estágio mais avançado, as crianças aprendem a lidar com
0,03125; 0,015625). Usando a calculadora, terá muito mais condi- situações mais complexas (jogos com regras) e passam a compreen-
ções de prestar atenção no que está acontecendo com os resulta- der que as regras podem ser combinações arbitrárias que os joga-
dos e de construir o significado desses números. dores definem; percebem também que só podem jogar em função
O fato de, neste final de século, estar emergindo um conheci- da jogada do outro (ou da jogada anterior, se o jogo for solitário). Os
mento por simulação, típico da cultura informática, faz com que o jogos com regras têm um aspecto importante, pois neles o fazer e o
computador seja também visto como um recurso didático cada dia compreender constituem faces de uma mesma moeda.
mais indispensável. A participação em jogos de grupo também representa uma
Ele é apontado como um instrumento que traz versáteis pos- conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um
sibilidades ao processo de ensino e aprendizagem de Matemática, estímulo para o desenvolvimento do seu raciocínio lógico.
seja pela sua destacada presença na sociedade moderna, seja pelas Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuí-
possibilidades de sua aplicação nesse processo. no que eles provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por
Tudo indica que seu caráter lógico-matemático pode ser um isso, é importante que os jogos façam parte da cultura escolar, ca-
grande aliado do desenvolvimento cognitivo dos alunos, principal- bendo ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa dos
mente na medida em que ele permite um trabalho que obedece a diferentes jogos e o aspecto curricular que se deseja desenvolver. 
distintos ritmos de aprendizagem.
Embora os computadores ainda não estejam amplamente dis- Fonte
poníveis para a maioria das escolas, eles já começam a integrar mui- SANTOS, M. C. dos; LIMA, P. F. Considerações sobre a Matemática no
tas experiências educacionais, prevendo-se sua utilização em maior Ensino Fundamental. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.
escala em curto prazo. Isso traz como necessidade a incorporação php?option=com_docman&task=doc_download&gid=7166&Itemid=
de estudos nessa área, tanto na formação inicial como na formação PCN – Matemática
continuada do professor do ensino fundamental, seja para poder
usar amplamente suas possibilidades ou para conhecer e analisar Conhecimentos básicos de matemática indispensáveis a um
softwares educacionais. professor
Quanto aos softwares educacionais é fundamental que o pro- Dentre outros Conhecimentos Básicos já estudados neste
fessor aprenda a escolhê-los em função dos objetivos que pretende material, segue os conteúdos abaixo para complementar seus
atingir e de sua própria concepção de conhecimento e de aprendi- estudos.
zagem, distinguindo os que se prestam mais a um trabalho dirigido
para testar conhecimentos dos que procuram levar o aluno a intera- Alfabetização matemática ou letramento em matemática?
gir com o programa de forma a construir conhecimento. Assim como na língua materna, a aprendizagem de noções bá-
O computador pode ser usado como elemento de apoio para sicas de diferentes áreas do conhecimento constitui-se como condi-
o ensino (banco de dados, elementos visuais), mas também como ção essencial para a construção de uma cidadania crítica, por meio
fonte de aprendizagem e como ferramenta para o desenvolvimento da qual os sujeitos não apenas se integrem passivamente à socieda-
de habilidades. O trabalho com o computador pode ensinar o aluno de, mas tenham condições e instrumentos simbólicos para intervir
a aprender com seus erros e a aprender junto com seus colegas, ativamente na busca da transformação dessa realidade social.
trocando suas produções e comparando-as. A escrita traz consigo uma história atrelada às necessidades do
homem em comunicar de modo eficaz suas descobertas, nos mais
O Recurso aos Jogos diversos campos do conhecimento, para atender variados interes-
Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está ses sociais. Na sua evolução, civilizações tais como a dos babilônios,
presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos egípcios, fenícios, gregos e romanos se destacaram, tanto para a
processos psicológicos básicos; supõe um “fazer sem obrigação ex-
terna e imposta”, embora demande exigências, normas e controle.

320
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
evolução da escrita que comunica descobertas no amplo sentido, Na dimensão histórico-cultural do conhecimento os conceitos
como na escrita que se refere à linguagem matemática especifica- trazem em si encarnados processos de significação gestados nas re-
mente. lações humanas historicamente estabelecidas entre os sujeitos que,
No caso do ensino da Matemática, a aprendizagem dos núme- segundo Moura (2013a), “participaram de sua criação ao resolve-
ros e suas operações; de instrumentos para a leitura e análise de rem um problema que requereu partilhar ações em que a lingua-
dados em listas, gráficos e tabelas; de estratégias de medição de gem foi necessária.”. A escola é o espaço privilegiado no qual, de
grandezas, uso de unidades de medidas e produção de estimativas; modo intencional, os conteúdos constituem-se como “objetos de
de noções geométricas básicas, constituem, de forma geral, o foco uma atividade que tem como finalidade fazer com que os sujeitos
do trabalho pedagógico esperado para as primeiras séries do Ensino que dela participam se apropriem tanto desses objetos como do
Fundamental (Brasil, 1997; 2012). modo de lidar com eles” (p. 88-89).
No entanto, embora muitos dos conceitos que fundamentam Embora os termos “numeramento”, “alfabetização matemáti-
tais aprendizagens se manifestem no uso cotidiano dos números, ca” e “letramento matemático” apareçam em diferentes publica-
de medidas ou mesmo no trato de formas geométricas, isso não ções e documentos, seu uso e o sentido que lhes é atribuído não
significa, necessariamente, a aprendizagem dos conceitos. Não é é consenso. Concordamos com Moura (2013, p. 131-132) quan-
pelo fato de uma criança utilizar estratégias de contagem em deter- do afirma que, para além dos termos utilizados na aprendizagem
minada prática social (na feira, por exemplo) que ela se apropriou matemática, é fundamental a compreensão acerca dos processos
teoricamente do número ou tenha consciência da estrutura do sis- humanos de significação dos conhecimentos matemáticos básicos,
tema de numeração decimal. Mas, se ela “usa” o número, isso não é seus signos e o que representam, de modo a garantir “a apren-
suficiente? Qual é o problema? O problema é que o uso não garan- dizagem de um modo geral de lidar com os símbolos de forma a
te a apropriação do conceito e, sem ele, é impossível avançar com permitir o permanente acesso a outros conhecimentos nos quais a
consistência na aprendizagem. No exemplo, a criança que apenas matemática se faz presente”.
“usa” o número provavelmente terá dificuldades para compreender
o sentido das operações aritméticas e sua generalização algébrica. Educação matemática, apropriação de conceitos e desenvolvi-
Por outro lado, nas práticas sociais os conceitos podem ser mento do pensamento teórico
apropriados de forma socialmente significada, além de favorecerem O entendimento de que a apropriação de conceitos matemá-
que o sujeito possa externar e materializar a sua aprendizagem. A ticos pode se dar de forma mais efetiva, de forma significada, em
discussão sobre a relevância das práticas sociais na aprendizagem sua relação com as práticas sociais não significa que o uso de no-
tem se refletido nas pesquisas sobre a alfabetização e o letramento, ções matemáticas diluídas nas práticas sociais seja suficiente para a
ao indicarem inicialmente a alfabetização com o processo de aqui- aprendizagem dos conceitos matemáticos. Tais distorções esvaziam
sição do código da escrita e o letramento como o uso da escrita em o papel social da escola de socialização dos conhecimentos huma-
práticas e situações sociais (Kleiman, 1995). nos historicamente produzidos e considerados relevantes de serem
No entanto, segundo Soares (2004, p. 14), não se trata de optar aprendidos pelas novas gerações. Segundo Moura (2013),
por um ou outro caminho, mas de compreender a interdependên- As visões culturalistas podem levar à falsa ideia de que as crian-
cia desses processos, uma vez que ças estão impregnadas pela visão dos números no seu meio e que
[...] a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de já têm o motivo necessário para buscar compreendê-los. Não, isto
práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades não corresponde à verdade. Apropriar-se de um conceito, como é
de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no con- para todo o processo de apropriação de significado, deve ser resul-
texto da e por meio da aprendizagem das relações fonemagrafema, tado de uma atividade do sujeito, motivado, que se apropria das
isto é, em dependência da alfabetização. significações a partir de suas potencialidades e de um motivo pes-
soal (Moura, 2013, p. 134).
De forma semelhante, alguns pesquisadores da área da edu- A distinção entre a utilização de conceitos em situações coti-
cação matemática têm proposto o uso das expressões “alfabetiza- dianas e a apropriação conceitual voltada para generalização tem
ção matemática” e “letramento matemático” (ou numeramento), como fundamento a distinção proposta por Vigotski (2009) entre
associando a primeira à “aquisição da linguagem matemática for- conceitos cotidianos (ou espontâneos) e conceitos científicos. Sfor-
mal e de registro escrito” (Fonseca, 2007), e a segunda expressão ni (2006) destaca que uma das principais distinções entre ambos
a processos de uso de conceitos matemáticos em práticas sociais. se refere à tomada de consciência pelo sujeito, uma vez que, no
Há ainda, segundo a autora, uma vertente da educação matemática processo de apropriação de conceitos cotidianos, a consciência
que relaciona o numeramento a uma noção mais ampla de letra- está focada no contexto de utilização; por sua vez, no caso da apro-
mento, a qual incluiria tanto as práticas sociais quanto as condições priação de conceitos científicos, é necessária a consciência voltada
do sujeito para se inserir e atender às demandas dessas práticas intencionalmente para o conceito. Nas palavras de Vigotski (2009,
permeadas pela linguagem escrita. p. 243), temos que “no campo dos conceitos científicos ocorrem ní-
Compreendida a noção de letramento dessa forma mais abran- veis mais elevados de tomada de consciência do que nos conceitos
gente, também a noção de numeramento assumiria outra dimen- espontâneos”.
são. Assim, segundo Fonseca (2007), “não se trataria, portanto, de [...] apesar de na sua origem histórica a matemática apresentar
um fenômeno de letramento matemático, paralelo ao do letramen- vínculos diretos com as necessidades práticas, mais tarde evoluiu
to, mas de numeramento como uma das dimensões do letramento” sobre proposições abstratas que, com ajuda da lógica formal, culmi-
(grifos do autor). naram em sistemas dedutivos, como ocorre, por exemplo, com os
Segundo Mendes (2005), compreender o numeramento como conceitos geométricos euclidianos que, segundo Sánchez Vázquez
uma dimensão do letramento implica rever a própria visão de escri- (2007), “têm sua origem nos objetos reais sobre os quais se exercia
ta, ampliando-a de modo que envolva também outros códigos de sua atividade prática, objetos cujas propriedades reais foram sub-
representação para além do alfabético, por exemplo, o numérico e metidas a um processo de generalização e abstração” (p. 246).
o simbólico. Podemos verificar essa diferenciação entre a apropriação de
conceitos cotidianos e de conceitos científicos analisando uma si-
tuação bastante comum no ensino de medidas e grandezas nas sé-

321
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ries iniciais que é o seu uso em receitas culinárias. Em geral, é pro- A educação escolar diferencia-se de outras instâncias educati-
posto às crianças o uso de diferentes unidades de medida (colher, vas pela intencionalidade de ensinar conceitos científicos e favore-
xícara, copo etc.). O fato de a criança utilizar essas medidas possui cer o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes; ou
o mérito de favorecer uma aproximação com diferentes unidades seja, é o pensamento que se utiliza dos próprios conceitos, e não de
de medida não padronizadas, porém não permite a apropriação do situações particulares que os representem (Davídov, 1982).
conceito de medida. Se a proposta se reduz a esse uso, sendo o Pensando desse modo, os processos de apropriação dos con-
preparo da receita o foco da ação da criança, podemos dizer que ceitos matemáticos básicos relacionam-se com processos mais ge-
sua abordagem é o conceito cotidiano. rais de letramento, quando se considera um indivíduo letrado como
Por outro lado, se, tomando como situação desencadeadora a aquele que aprende não somente determinadas técnicas para ler,
receita, os professores estabelecerem mediações com o objetivo de escrever e contar, mas sim a usá-las de forma consciente em di-
tornar explícito para as crianças o conceito de medição (a diferen- ferentes contextos e práticas sociais. Isso porque apenas a apro-
ciação entre grandezas discretas e contínuas, a necessidade da cria- priação conceitual que compreende as relações internas e externas
ção de unidade, a comparação entre a unidade e a grandeza a ser do próprio conceito permite ao sujeito tal autonomia em seu uso.
medida, a quantificação dessa comparação ), então esse processo De acordo com Leontiev (1983, p. 193), para se apropriar de um
pode tornar-se consciente para a criança e possibilitar a apropria- conceito,
ção do conceito científico de modo que esse “possa ser conscien- [...] não basta memorizar as palavras, não basta compreender
tizado pelos alunos na condição de um instrumento de generaliza- inclusive as ideias e os sentimentos nelas contidos, é necessário
ção” (Sforni, 2006, p. 6). ademais que essas ideias e sentimentos se tornem determinantes
A apropriação de conceitos científicos dá-se dessa forma, por internos da personalidade.
meio de uma atividade humana consciente, na qual as ações rea-
lizadas pelo sujeito são repletas de sentido, de modo que “a inte- A relação entre a matemática e as necessidades práticas é por
riorização não é resultado mecânico da atividade externa em de- vezes mais direta. É indiscutível a contribuição dos grandes desco-
trimento de seus componentes psíquicos internos” (Martins, 2007, brimentos marítimos da Idade Moderna no desenvolvimento da
p.70). Portanto, em qualquer idade, ou fase, ou etapa do processo trigonometria. Segundo Sánchez Vázquez (2007), “[...] o cálculo
de aprendizagem do homem, estar em atividade é condição para a probabilístico converteu-se [...], em uma necessidade na medida
aprendizagem, o que vem a ocorrer se o aprendiz for movido por em que se estendia o comércio exterior inglês em relação com o
alguma necessidade e por motivos que o levem a se aproximar do crescimento do poderio colonial da Inglaterra, o que elevava as per-
conhecimento que os professores pretendem ensinar (Leontiev, das e riscos comerciais” (p. 247). Contudo, tem-se que considerar
1983). a autonomia da teoria “para constituir-se em relação direta, seja
como prolongamento ou negação dela, com uma teoria já existen-
Uma vez que a aprendizagem dos conceitos científicos não se te” (p. 247). Deve-se então destacar a importância de se considerar
dá de maneira espontânea, cabe à escola organizar situações de en- que em seu desenvolvimento a Matemática se estrutura para aten-
sino que coloquem as crianças diante de situações cuja resolução der exigências teóricas de outras ciências e necessidades da própria
necessite do conceito que se deseja ensinar e, ao mesmo tempo, técnica.
de forma mediada pelos professores, possibilitem a superação da Do ponto de vista das tarefas atribuídas aos professores, orga-
superficialidade do contexto e a exploração de características es- nizar o ensino para o desenvolvimento dos conceitos científicos nas
senciais dos conceitos, em direção à abstração. crianças é um importante compromisso de sua prática pedagógica,
De forma geral, podemos dizer que educar pressupõe uma o que demanda a organização intencional das ações. Assim sendo,
mediação entre a cultura e os educandos, de tal modo que, nesse o processo de ensino pode ser considerado como a passagem da
processo, o sujeito interioriza, transforma e garante a continuidade atividade espontânea da criança para “a atividade organizada e diri-
desta cultura. Nos ambientes escolares, elementos da cultura tor- gida para o objetivo” (Talizina, 2009). Uma vez que a aprendizagem
nam-se objeto de ensino ao serem intencionalmente selecionados ocorre em atividade, o desafio da organização do ensino é planejar
e socialmente validados como conteúdos escolares (Moura, 1996a). situações educativas que sejam desafiadoras e lúdicas e, ao mesmo
Em um sentido histórico-cultural, o conhecimento matemático tempo, coloquem para as crianças a necessidade do conceito que
que se torna objeto de ensino traz em si, nos elementos que o cons- se quer ensinar. Assim, se o objetivo é ensinar as primeiras noções
tituem, a história de sua produção e de seu desenvolvimento e suas de fração, a criança precisa se deparar com a necessidade de repre-
formas de organização. Segundo Leontiev (1978), tais elementos sentar partes de um todo contínuo; por exemplo, em situações de
estão impregnados nos objetos porque são produtos de transfor- medição, o que se relaciona com a necessidade histórica que levou
mações realizadas pelos seres humanos ao longo de um processo à criação dessa representação de partes pelos egípcios.
histórico de produção material e intelectual que foi culturalmente A resolução dessas situações deve dar-se sempre de modo
estruturado, constituindo a sua significação ou significado social. mediado e compartilhado entre as crianças. Os professores devem
No ensino da Matemática, o conhecimento sobre a história da explorar também a relação entre os conceitos e seus usos sociais,
produção do conceito (as necessidades que o motivaram, as solu- além do interesse e a curiosidade da criança no compartilhamento
ções encontradas para responder a essa necessidade, suas contra- de experiências, interpretações e descobertas sobre as característi-
dições e seus impasses) permite que os professores proponham cas essenciais dos fenômenos inerentes aos conteúdos a serem es-
situações de ensino que coloquem para as crianças necessidades tudados. A mediação dos docentes durante todo o processo de re-
análogas, o que não significa reproduzir o seu contexto histórico de solução é condição fundamental para explicitar o conceito presente
produção. As mediações feitas pelos educadores no sentido da ex- no contexto explorado, superando a atividade apenas empírica e
plicitação do conceito matemático para a criança precisam conside- favorecendo o desenvolvimento do pensamento teórico.
rar que cada conhecimento “tem uma história, um desenvolvimen-
to que se fez dentro de certas lógicas [...] o modo de se conhecer O jogo no ensino e a atividade principal da criança
certos conteúdos é quase que perseguir o modo de construí-los” No decorrer da vida, diferentes atividades têm a possibilidade
(Moura, 2001, p. 159). de potencializar a aprendizagem. Isso porque se relacionam com os
interesses e motivos de os sujeitos realizarem-nas. Para Leontiev

322
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
(1988), elas são denominadas “atividades principais”, não porque Relacionando a atividade lúdica com a aprendizagem, temos
ocorram com maior frequência ou porque sejam predominantes no que “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
tempo que o sujeito lhe dedica, mas porque são aquelas nas quais brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico
ocorre mais intensamente a apropriação uma vez que se consti- de ação real e moralidade” (Vigotski, 1991, p. 131).
tuem como a principal forma de relacionamento do sujeito com a No desenvolvimento de jogos com regras, a atividade lúdica
realidade (Facci, 2004, p. 66). subordina-se a certas condições atreladas à realização de certo
Assim, a atividade principal não se trata daquela frequente- objetivo. A partir dos jogos com regras ocorre, segundo Leontiev
mente encontrada em certo nível de desenvolvimento, mas, segun- (1988), um momento essencial para o desenvolvimento da psique
do Leontiev (1988, p. 122), é aquela da criança, quando ela introduz em sua atividade um elemento mo-
[...] em conexão com a qual ocorrem as mais importantes mu- ral manifesto pela obediência à regra. Para o autor, a relevância des-
danças do desenvolvimento psíquico da criança e dentro da qual se acontecimento está no fato de que este elemento moral surge
se desenvolvem processos psíquicos que preparam o caminho da da própria atividade da criança e não sob a forma de “uma máxima
transição da criança para um novo e mais elevado nível de desen- moral abstrata que ela tenha ouvido” (p. 139).
volvimento.
Compreendida dessa forma, a atividade principal da criança Assim, o jogo ou a brincadeira pode constituir-se como impor-
“pré-escolar” é a atividade lúdica, o jogo ou a brincadeira (Leontiev, tante recurso metodológico nos processos de ensino e de apren-
1988). No entendimento de Vigotski (1991), a relação brinquedo- dizagem, se considerado de forma intencional e em relação com o
-desenvolvimento pode, em muitos sentidos, ser comparada com a conceito que se pretende ensinar. No caso da Matemática, é pos-
relação instrução-desenvolvimento. Uma de suas principais carac- sível planejar situações nas quais, por meio da brincadeira desen-
terísticas é que, em ambos os contextos, as crianças elaboram e de- cadeada por jogos ou por histórias, as crianças se deparem com as
senvolvem habilidades e conhecimentos socialmente disponíveis, necessidades de contar, registrar contagens, socializar esses regis-
os quais internalizará. tros, organizar dados. Por meio dos jogos e na ação compartilhada
Para Leontiev (1988), isso se dá pelo fato de que o mundo obje- entre as crianças sob a mediação dos professores, tais necessidades
tivo do qual a criança é consciente está continuamente se expandin- passam a ser necessidades para as crianças em atividade lúdica, ex-
do, pois, além dos objetos que constituem seu ambiente próximo plorando a imaginação e a criatividade. A atividade lúdica pode ser
(com os quais ela vinha até então operando em suas atividades), explorada no ensino da Matemática por favorecer aprendizagens
esse mundo inclui também os objetos com os quais os adultos ope- de “estruturas matemáticas, muitas vezes de difícil assimilação”,
ram, mas a criança não consegue operar, por estarem ainda além de desenvolvendo “sua capacidade de pensar, refletir, analisar, com-
sua capacidade física. O domínio desses objetos desafia a criança, preender conceitos matemáticos, levantar hipóteses, testá-las e
que, pelas ações com eles realizadas, expande o domínio do seu avaliá-las” (Grando, 2008, p. 26).
mundo. No brincar, ela amplia sua possiblidade real de realizar ati- Algumas ações desenvolvidas pelas crianças ao jogar podem
vidades como cozinhar, dirigir um carro, ser professor ou mecânico, ser comparadas com as ações adequadas ao processo de resolu-
por exemplo. Assim, podemos entender que as “brincadeiras das ção de problemas. Além disso, é possível estabelecermos parale-
crianças não são instintivas e o que determina seu conteúdo é a los entre as etapas do jogo e as etapas da resolução de problemas
percepção que a criança tem do mundo dos objetos humanos” (Fac- (Moura, 1991; 1996; Grando, 2008). Em ambos, parte-se de uma
ci, 2004, p. 69). situação desencadeadora (jogo ou problema), há uma exploração
Da discrepância entre o motivo da criança e a sua ação, nasce a inicial do conceito presente na situação, levantamento de hipóteses
situação imaginária. Porém, a ação no brinquedo não é imaginária. ou estratégias, verificação de hipótese ou testagem de estratégias,
Ao contrário, há uma ação real, uma operação real e imagens reais avaliação, reelaboração na direção de atingir o objetivo (vencer o
de objetos reais enquanto que a criança cria uma situação imaginá- jogo ou resolver o problema).
ria para o desenvolvimento da ação. Assim é que, por exemplo, um Para exemplificar essa possibilidade de articulação entre jogo
pedaço de madeira assume a função de uma colher ou uma argola e resolução de problema, Moura (1991, p. 52) apresenta uma pro-
assume a função do volante de um carro. Para Vigotski (1991), a posta de organização do ensino para favorecer a aprendizagem do
ação em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir seu com- signo numérico:
portamento não somente pela percepção imediata dos objetos ou Algumas formas de levar as crianças à compreensão do signo
pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo significado numérico podem ser, por exemplo, contando-lhes uma história,
dessa situação, em que as ações surgem das ideias e não das coisas. fazendo-as viver uma situação na qual seja necessário o controle
Ao brincar, a criança passa a entender o que na vida real passou de quantidades ou ainda sugerindo-lhes um jogo em que se deve
despercebido, experimentando e transformando as regras de com- marcar a quantidade de pontos a ser comunicada à classe vizinha
portamento às situações imaginárias criadas na ação de brincar. através de um símbolo criado pelos jogadores. Isto deve ser feito
Ao brincar ou jogar, a criança potencializa sua possibilidade de de forma que vá ficando claro o sentido da representação, o caráter
aprender e de se apropriar de novos conhecimentos. Isso se dá por- histórico-social do signo e como se pode melhorar os processos de
que, segundo Vigotski (1991), ao brincar, a criança se coloca um comunicações humanas.
nível acima da sua atual situação de aprendizagem, do que realiza
fora do jogo. Assim, o jogo cria uma “zona de desenvolvimento pró-
ximo”, permitindo que a criança atue acima de seu “nível de desen-
volvimento real”.
Segundo Vigotski (1991), o nível de desenvolvimento real é
determinado pela capacidade de solucionar problemas de modo
independente, e o nível de desenvolvimento potencial é determi-
nado pela capacidade de solucionar problemas com a orientação,
ou ajuda de adultos e, ainda, com a colaboração de parceiros mais
capazes.

323
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Esse autor defende ainda que, nos anos iniciais, é possível ex- alunos, que podem desenvolver formas de registros e estratégias
plorar mais intensamente a perspectiva da resolução de problemas próprias. Estes são validados para, somente depois, serem discuti-
como um jogo para a criança uma vez que o que os aproxima é o dos e sistematizados, com o auxílio do professor. Ao docente cabe,
lúdico. Ele propõe que situações-problema possam ser trabalhadas por fim, ajudar o aluno a aproximar o conhecimento gerado por ele
pedagogicamente com a estrutura do jogo, em situações coletivas do que é estabelecido na Matemática.
e por meio de um “problema em movimento”, como exposto na
proposta apresentada pelo autor. A concretização de algumas linhas metodológicas
Há obras didáticas de Matemática que adotam, de forma mais
Fonte consistente, uma ou outra das duas metodologias esboçadas. O
MORETTI Vanessa Dias, Neusa Maria Marques de Souza. Educação mais frequente, no entanto, são as que optam por mesclar esses
matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: princípios e dois modelos. Forma-se, assim, uma gama complexa de metodolo-
práticas pedagógicas. Editora Cortez. 2015 gias que caminham para a resolução de problemas, mas ainda car-
regam muitos aspectos do “ensino tradicional”.
A METODOLOGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM NOS LIVROS Em geral, é comum o uso da condução do trabalho por meio
DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA de sequências de atividades propostas ao aluno, em que há uma
variação no modo como o conteúdo é sistematizado ou apresen-
Verônica Gitirana tado. No entanto, a existência dessas sequências de atividades não
João Bosco Pitombeira de Carvalho caracteriza uma genuína metodologia de resolução de problemas.
Algumas vezes, em um processo bem próximo a uma metodo-
Neste capítulo, são discutidas várias metodologias de ensino e logia “tradicional”, a introdução de ideias ou procedimentos é fei-
aprendizagem, identificadas na análise dos livros didáticos de Ma- ta com o uso de vários gêneros textuais, como quadrinhos, textos
temática destinados aos cinco primeiros anos do Ensino Fundamen- explicativos, protocolos de alunos. Alguns são bastante atraentes,
tal. Nosso objetivo é refletir sobre como a escolha de uma deter- mas seguidos das “tradicionais” sequências de atividades em que
minada proposta metodológica traz consequências para o trabalho os conhecimentos introduzidos são aplicados.
docente em sala de aula. Há diversas outras variações em torno dessa proposta meto-
A elaboração de uma obra didática envolve concepções sobre dológica. Uma delas insere textos entre as atividades, ou mesmo
educação e a respeito da Matemática e sua aprendizagem. São es- no próprio enunciado delas, os quais apresentam, pouco a pouco,
sas concepções que também devem orientar a escolha de uma obra os conteúdos relevantes, antes de serem aplicados. Nesses casos,
didática e a condução do trabalho docente por linhas metodológi- a ênfase está na aprendizagem por aplicação do conhecimento
cas próprias, visto que a maioria dessas obras não usa metodologias transmitido, em que se busca dirigir o aluno bem rapidamente a
bem definidas. Ao contrário, elas podem empregar uma diversidade uma conclusão. A Matemática aí é vista como uma ciência estan-
delas, como a chamada metodologia de “ensino tradicional”, a de que, acabada, sendo que a aprendizagem do aluno se dará por re-
resolução de problemas, ou a de modelagem matemática, entre petição; ou seja, quanto mais ele repetir os procedimentos mais e
outras. melhor aprenderá.
Entre as várias metodologias propostas, destacam-se as do Dessa forma, o aluno é, muitas vezes, levado a acreditar que
“ensino tradicional” e a metodologia de resolução de problemas, não é capaz de construir um raciocínio matemático sem repetir pro-
por serem contraditórias em quase todos os aspectos. Porém, não cedimentos convencionais. Também pode pensar que só é válido o
se pretende aqui aprofundar o debate a respeito desta polaridade, tipo de Matemática que se encontra no livro, ou que é exposto pelo
mas apenas tentar descrever as duas linhas metodológicas, mesmo professor. E isso termina por tolher a sua coragem de pensar livre-
que resumidamente. Salientamos que, nos próprios livros didáticos mente. Professor, em casos assim, é importante, que você procure
analisados, não há uma distinção clara entre elas. Além disso, temos complementar as atividades de maneira que seu aluno possa explo-
observado que os professores de Matemática têm incorporado, às rar as ideias matemáticas antes de ter os procedimentos conven-
suas concepções sobre o ensino e a aprendizagem de Matemáti- cionais e os conceitos matemáticos formalizados. Essas atividades
ca, metodologias que vão da “tradicional” à de resolução de pro- precisam ser valorizadas, permitindo que os alunos, ao resolvê-las,
blemas, passando por diversos estágios intermediários. Notamos, cheguem às ideias matemáticas, desenvolvam estratégias próprias
ainda, que em sua prática de sala de aula, muitas vezes, o professor e participem da construção do seu próprio conhecimento. Para isso,
mobiliza alternadamente essas várias metodologias. antes de chegar aos procedimentos e enunciados formalizados, o
A metodologia de “ensino tradicional” caracteriza-se pela aluno precisa mobilizar estratégias e representações próprias, que
transmissão de conteúdos matemáticos por meio da apresentação o auxiliem a pensar e a estruturar o seu raciocínio. São elas que
de conceitos, procedimentos e propriedades, seguida de atividades servem, além disso, de suporte para a aquisição das estratégias e
nas quais o aluno deve aplicar o conhecimento que foi exposto. representações convencionais que são indispensáveis para a comu-
Muitas vezes, essa transmissão de conteúdos é feita com apoio de nicação matemática.
exercícios resolvidos. Segundo a concepção de aprendizagem que
está por trás dessa metodologia, é por meio do treinamento de pro- Vários estudos e pesquisas constatam que, por não haver va-
cedimentos e da repetição de noções que o aluno irá interiorizar o lorização das estratégias próprias, muitos alunos apagam as suas
conhecimento matemático. Nesse caso, porém, não há espaço para contas e procedimentos, deixando para o professor apenas a res-
a autonomia do aluno, para que ele desenvolva estratégias próprias posta final.
e possa criar e aplicar procedimentos diferentes daqueles já expla- Por outro lado, na metodologia de resolução de problemas
nados. cabe ao docente, com o auxílio do livro didático, inclusive do ma-
Uma escolha metodológica bem distinta é a que se pauta, nual do professor: planejar as atividades que propiciem as situações
essencialmente, na participação do aluno nas resoluções de pro- adequadas para que os conhecimentos matemáticos “aflorem” do
blemas, os quais devem ser planejados e organizados de forma a ato de resolver problemas; mediar o trabalho dos alunos; e, por
favorecer que os conhecimentos visados “aflorem”. Nesse caso, os fim, auxiliá-los na aproximação entre o conhecimento construído e
conhecimentos resultam da construção coletiva ou individual dos o conhecimento formal matemático (a sistematização).

324
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Algumas obras didáticas incluem essas sistematizações nas se- • Marcam pontos as duplas que encontrarem o tesouro em um
quências de atividades, às vezes em seções destacadas, indicadas tempo determinado pelo professor.
por ícones, e há aquelas que só apresentam as orientações sobre • Em seguida, o professor reserva um pequeno tempo para
como o docente pode fazer as sistematizações no manual do pro- que, nas duplas, os alunos discutam suas representações.
fessor. Também há coleções que trazem apenas sequências de ati- • Os pontos são computados e inicia-se uma segunda rodada;
vidades, sem uma proposta de sistematização. Nestes casos, cabe a o segundo aluno da dupla tem de esconder o tesouro novamente.
você, professor, decidir quando e como os conteúdos matemáticos Ao final, ganha o jogo a dupla que fizer mais pontos.
precisarão ser sintetizados. Em geral, a leitura do manual do profes- Neste jogo, as crianças trabalham a representação do espaço
sor é um bom apoio nesse sentido. no plano. Ao trocarem as plantas, a necessidade de um colega co-
No processo de sistematização, lembre-se de que o nível em municar ao outro onde está o tesouro escondido, auxilia a criança
que essa sistematização deve ser feita dependerá, basicamente, do que desenhou a validar a sua representação ou, revê-la, caso seja
desenvolvimento do aluno. Por exemplo: se uma criança não conse- necessário. E vice-versa. Ao final do jogo, ou em aulas seguintes,
gue perceber que o total de bombons que estão em dois saquinhos, é importante buscar sistematizar as evoluções dos desenhos das
um com 4 bombons e outro com 3, pode ser obtido a partir da con- crianças, discutindo, por exemplo, a lateralidade da posição dos
tagem de bombons do primeiro saquinho somado com a quantida- objetos, os pontos de referências utilizados, a proporcionalidade,
de obtida por contagem no outro, mas precisa juntar os conteúdos dentre outros aspectos, que dependem do desenvolvimento dos
dos dois saquinhos e contá-los, ela não entenderá a adição 4 + 3 alunos.
como forma e processo sistematizado para a solução de problemas
de composição de duas quantidades discretas. Para esta criança, a
solução ainda é juntar os objetos e contá-los.

O uso dos jogos e materiais concretos


O jogo é um recurso didático bastante recomendado pelos es-
tudos em Educação Matemática e está muito presente nos livros
dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Além de valorizarem o
aspecto lúdico da aprendizagem, os jogos têm papel importante na
integração da criança ao contexto escolar. Podem auxiliar o aluno,
com a ajuda do professor, a: construir o conhecimento matemático
em grupo; entender e discutir as regras de ação e negociar ideias e
decisões; além de desenvolver comunicações matemáticas e vali-
dá-las. Amarelinha, trilhas, tabuleiros, cara ou coroa, boliche, caça
ao tesouro, memória, são alguns dos diversos jogos que é possível
experimentar com as crianças. Também é importante trazer para a
sala de aula os jogos próprios da cultura de sua região, conhecidos
por seus alunos, e suscitar a exploração dos conteúdos matemáti-
cos neles envolvidos.
Assim pensado, o jogo é mais um recurso para a aprendizagem
da Matemática. Contudo, é muito importante deixar que a criança
o viva, de início, em seu aspecto puramente lúdico, sem grandes
interrupções. Pode haver situações em que a exploração e a sis-
tematização dos conteúdos envolvidos não surjam naturalmente
ao longo das partidas. Professor, nessa situação, você precisará se
preparar para discutir e sistematizar tais conhecimentos junto com
os alunos.
Algumas obras já incluem, geralmente na sequência dos jogos,
seções destinadas à exploração dos conhecimentos matemáticos
envolvidos. Isso pode ser entendido no exemplo seguinte, do jogo
de caça ao tesouro, adaptado para trabalhar a representação do
espaço da escola por meio de planta-baixa.

Caça ao Tesouro
Jogadores: duplas de alunos. Assim como os jogos, várias outras atividades propiciam que o
aluno desenvolva a atitude de buscar validar suas construções, um
Material: papel e lápis; um objeto por dupla Regras: conteúdo atitudinal importante para o desenvolvimento do conhe-
• O professor determina um ambiente da escola no qual os cimento matemático. Muitas vezes, a validação é feita pelo profes-
tesouros serão escondidos. sor, por meio da correção. No entanto, diversas metodologias apre-
• Cada dupla escolhe um aluno que esconderá o tesouro. sentam esse aspecto como elemento inerente, ou que faz parte da
• O aluno escolhido esconde o tesouro sem que o colega realização da atividade, como no caso do jogo citado.
veja. Os materiais concretos são outro recurso didático muito uti-
• Após esconder o tesouro, faz uma planta-baixa do ambiente lizado no ensino da Matemática, graças ao suporte que fornecem
marcando um x no local em que o tesouro foi escondido. para a execução de procedimentos e operações matemáticos. Por
(Não é permitido escrever palavras na planta-baixa). exemplo, utiliza-se muito o material dourado para trabalhar com o
• A planta-baixa é, então, entregue ao colega da dupla que tem aluno a troca de dezenas por unidades ou de centenas por dezenas.
de usá-la para encontrar o tesouro. Esse uso o ajuda a perceber, mais facilmente, os agrupamentos e

325
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
as trocas próprios das operações com os números no sistema de número abaixo do traço ( ), aparecem com outras notações no
numeração decimal. O ábaco também é muito empregado para au- cotidiano. Esta mesma fração, em textos correntes, costuma
xiliar a criança a perceber, concretamente, os agrupamentos que se aparecer representada como ½, ou ser identificada pelos termos
realizam quando operamos com o sistema decimal de numeração. meio, metade. Aplicar o conhecimento matemático à vida
Cada vez mais, os livros didáticos vêm incorporando esses ma- cotidiana também exige que saibamos identificar essas diversas
teriais. Neles encontramos representados o ábaco, o material dou- notações como referentes a um mesmo elemento matemático.
rado, fichas, réguas de cuisinaire, cédulas e moedas, dobraduras, É nesse sentido que o uso de vários tipos de textos, o resgate do
dentre outros. Mas é preciso estar atento para assegurar a manipu- conhecimento cultural e dos conhecimentos prévios auxiliará o
lação desses materiais por parte da criança, mesmo que o livro não aluno a ampliar o seu conhecimento matemático.
dê orientações nesse sentido.
Fazer atividades apenas com desenhos do material concreto Aspectos gráfico-editoriais do material para manuseio
não substitui de forma alguma o seu manuseio. Ao contrário, mui- Em sua grande maioria, os livros didáticos oferecem moldes
tas vezes, essas atividades tornam-se desmotivadoras, como pode para recorte ou reprodução, como apoio ao professor na elabora-
acontecer ao solicitarmos ao aluno que desenhe placas de material ção dos materiais necessários ao desenvolvimento das atividades.
dourado, com 100 cubinhos cada uma, para somar. Alguns livros Ao utilizar esses recursos, é preciso levar em conta o aluno, em
utilizam o desenho dos materiais concretos, muitas vezes, apenas particular, o seu nível de desenvolvimento motor. Uma criança pe-
para orientar a sua utilização. Nesse caso, professor, o ideal é cuidar, quena tem dificuldade para recortar peças muito reduzidas, curvas
com antecedência, da preparação do material a ser trabalhado na ou cheias de detalhes. Assim, antes de solicitar que ela corte todo
sala, criando condições para que os alunos o manuseiem efetiva- o material, avalie sua capacidade motora. De posse dessas infor-
mente. Você será mais bem-sucedido se evitar o uso dos materiais mações, aproveite também para estimular o desenvolvimento das
desenhados. habilidades motoras de seus alunos.
Os materiais concretos foram concebidos para serem manipu- É bem complicado montar sólidos por meio de planificações
lados pelos alunos. Só assim eles propiciam o início da construção com papéis de espessura muito reduzida, como a de uma folha de
dos conceitos e procedimentos básicos da Matemática. papel ofício. Mesmo para adultos, a montagem de um cubo nessas
Entre os diversos materiais concretos utilizados no ensino e condições é tarefa árdua. Para facilitar esse trabalho, é possível colar
aprendizagem da matemática escolar, você pode e deve adaptar os moldes para recortes em cartolinas, por exemplo. Da mesma
aqueles que são propostos no livro didático, de forma a adequá-los maneira, os moldes das peças do tangram serão manipulados
aos alunos, respeitando os seus conhecimentos prévios e, principal- mais facilmente se forem colados sobre pedaços de papelão ou de
mente, valorizando sua cultura. isopor, todos provenientes da reciclagem de material. Isto facilitará
Os seus alunos, com certeza, usam o dinheiro desde muito à criança ter o material manipulável em condições de uso durante
cedo e conhecem o seu valor. Assim, a utilização de cédulas e moe- todo o ano.
das é uma excelente oportunidade para trabalhar grupamentos É importante que você, professor, procure reproduzir, em
e o uso de “números com vírgula”, os números decimais. Ao usar papel ou papelão, os moldes que de fato dão suporte ao trabalho
materiais concretos já conhecidos da criança, você pode aproveitar de manuseio. O emprego de materiais de reciclagem é sempre uma
conhecimentos socialmente construídos, e tornar os conteúdos ma- ótima opção. Por exemplo, é possível construir-se um ábaco com
temáticos mais próximos de seu cotidiano. O uso de nosso sistema palitos de churrasco, tampas de refrigerantes e uma caixa de pasta
monetário é uma ótima contextualização para estudar números e de dente como suporte.
operações.
Lembre-se: caso a sua escola não disponha de materiais con- Fonte
cretos caros, você mesmo, com seus alunos, pode construir muitos CARVALHO, João Bosco Pitombeira F. de. (coord.). Matemática: Ensino
deles, usando material de sucata. Não hesite. Envolva a turma na Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
construção e utilização desses materiais. Básica, 2010. (Coleção Explorando o Ensino; v. 17)

A simbologia matemática EIXOS: ESPAÇO E FORMA, GRANDEZAS E MEDIDAS, NÚMEROS


A simbologia matemática tem sido um aspecto importante E OPERAÇÕES TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO.
para a produção do conhecimento matemático, assim como para a
sua comunicação. Nossa simbologia atual começou a ser instituída Números e Operações
com o matemático francês François Viète (1540 a 1603), e foi aper- Ao longo do ensino fundamental os conhecimentos numéricos
feiçoada por René Descartes (1596 a 1650) e muitos outros. são construídos e assimilados pelos alunos num processo dialético,
Apesar de sua importância, os símbolos são instrumentos para em que intervêm como instrumentos eficazes para resolver deter-
o desenvolvimento da Matemática, e não um objeto de estudo em minados problemas e como objetos que serão estudados, conside-
si mesmo, como ocorre em algumas tendências de ensino mais tra- rando-se suas propriedades, relações e o modo como se configu-
dicional. Segundo esta tendência, é necessário primeiro aprender ram historicamente.
a linguagem matemática, para depois utilizá-la. Acreditamos, ao Nesse processo, o aluno perceberá a existência de diversas ca-
contrário, que esta simbologia deve ser ensinada, pouco a pouco, tegorias numéricas criadas em função de diferentes problemas que
e utilizada à medida que seja necessária. Ou seja, o que se defende a humanidade teve que enfrentar — números naturais, números
é que ela não se transforme em objeto de estudo para as crianças, inteiros positivos e negativos, números racionais (com representa-
mas em um instrumento que as auxilie no pensar matemático e lhes ções fracionárias e decimais) e números irracionais. À medida que
permita entender e se comunicar matematicamente. se deparar com situações-problema — envolvendo adição, subtra-
É nesse sentido, professor, que pode ser bem interessante ção, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação —, ele irá am-
aproximar as representações matemáticas escolares das notações pliando seu conceito de número.
matemáticas utilizadas no cotidiano, nas diversas profissões e
culturas. As frações que, na escola, são normalmente denotadas
por um número, um traço abaixo deste número, e outro

326
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Com relação às operações, o trabalho a ser realizado se con- Com relação à probabilidade, a principal finalidade é a de que
centrará na compreensão dos diferentes significados de cada uma o aluno compreenda que grande parte dos acontecimentos do co-
delas, nas relações existentes entre elas e no estudo reflexivo do tidiano são de natureza aleatória e é possível identificar prováveis
cálculo, contemplando diferentes tipos — exato e aproximado, resultados desses acontecimentos. As noções de acaso e incerteza,
mental e escrito. que se manifestam intuitivamente, podem ser exploradas na esco-
Embora nas séries iniciais já se possa desenvolver uma pré-ál- la, em situações nas quais o aluno realiza experimentos e observa
gebra, é especialmente nas séries finais do ensino fundamental que eventos (em espaços equiprováveis).
os trabalhos algébricos serão ampliados; trabalhando com situa-
ções-problema, o aluno reconhecerá diferentes funções da álgebra
(como modelizar, resolver problemas aritmeticamente insolúveis, JOGOS E BRINCADEIRAS
demonstrar), representando problemas por meio de equações
(identificando parâmetros, variáveis e relações e tomando conta- O lúdico é importante na educação infantil é através dele que
to com fórmulas, equações, variáveis e incógnitas) e conhecendo a a criança vem a desenvolver habilidades para a aprendizagem se
“sintaxe” (regras para resolução) de uma equação. efetivar.
A educação lúdica sempre esteve presente em todas as épocas
Espaço e Forma entre os povos e estudiosos, sendo de grande importância no de-
Os conceitos geométricos constituem parte importante do senvolvimento do ser humano na educação infantil e na sociedade.
currículo de Matemática no ensino fundamental, porque, por meio Os jogos e brinquedos sempre estiveram presentes no ser hu-
deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe mano desde a antiguidade, mas nos dias de hoje a visão sobre o lú-
permite compreender, descrever e representar, de forma organiza- dico é diferente. Implicam-se o seu uso e em diferentes estratégias
da, o mundo em que vive. em torno da pratica no cotidiano.
A Geometria é um campo fértil para se trabalhar com situa- Para que o lúdico contribua na construção do conhecimento
ções-problema e é um tema pelo qual os alunos costumam se in- faz-se necessário que o educador direcione toda a atividade estabe-
teressar naturalmente. O trabalho com noções geométricas contri- leça os objetivos fazendo com que a brincadeira tenha um caráter
bui para a aprendizagem de números e medidas, pois estimula a pedagógico e não uma mera brincadeira, promovendo assim, inte-
criança a observar, perceber semelhanças e diferenças, identificar ração social e o desenvolvimento de habilidades intelectivas.
regularidades e vice-versa.
Além disso, se esse trabalho for feito a partir da exploração dos Contexto Histórico da Ludicidade
objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas, desenhos, es- A história da humanidade a partir da Idade Média mostra que
culturas e artesanato, ele permitirá ao aluno estabelecer conexões os jogos, embora sempre presentes nas atividades sócio educa-
entre a Matemática e outras áreas do conhecimento. cionais, não eram vistos como um recurso pedagógico capaz de
promover a aprendizagem, mas tendo como foco as atividades
Grandezas e Medidas recreativas
Este bloco caracteriza-se por sua forte relevância social, com Ariés (1981) afirma que:
evidente caráter prático e utilitário. Na vida em sociedade, as gran- Na Idade Média, os jogos eram basicamente destinados aos
dezas e as medidas estão presentes em quase todas as atividades homens, visto que as mulheres e as crianças não eram considera-
realizadas. Desse modo, desempenham papel importante no currí- das cidadãos e, por conseguinte, estando sempre à margem, não
culo, pois mostram claramente ao aluno a utilidade do conhecimen- participavam de todas as atividades organizadas pela sociedade.
to matemático no cotidiano. Porém, em algumas ocasiões nas quais eram realizadas as festas
As atividades em que as noções de grandezas e medidas são da comunidade, o jogo funcionava como um grande elemento de
exploradas proporcionam melhor compreensão de conceitos relati- união entre as pessoas.
vos ao espaço e às formas. São contextos muito ricos para o traba- Ariès, relata que apenas os homens tinham o privilegio de
lho com os significados dos números e das operações, da ideia de participar dos jogos, pois nesse período as mulheres e as crianças
proporcionalidade e escala, e um campo fértil para uma abordagem não exerciam esse direito, por não serem considerados cidadãos.
histórica. Na Idade Média as crianças eram vista como adultos em miniaturas
e tinham que trabalhar, raramente os meninos eram inseridos nas
Tratamento da Informação brincadeiras.
A demanda social é que leva a destacar este tema como um Apesar de todas essas restrições, nos momentos festivos os jo-
bloco de conteúdo, embora pudesse ser incorporado aos anterio- gos eram considerados um instrumento de união e integração entre
res. A finalidade do destaque é evidenciar sua importância, em fun- a comunidade.
ção de seu uso atual na sociedade. No Renascimento, inicia-se o período no qual uma nova con-
Integrarão este bloco estudos relativos a noções de estatística, cepção de infância desponta e tem como características o desen-
de probabilidade e de combinatória. Evidentemente, o que se pre- volvimento da inteligência mediante o brincar, alterando a ideia
tende não é o desenvolvimento de um trabalho baseado na defini- anterior de que o jogo era somente uma distração.
ção de termos ou de fórmulas envolvendo tais assuntos. Sobre isto, Kishimoto (2002, p. 62) afirma que:
Com relação à estatística, a finalidade é fazer com que o aluno O renascimento vê a brincadeira como conduta livre que favo-
venha a construir procedimentos para coletar, organizar, comunicar rece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. Por isso,
e interpretar dados, utilizando tabelas, gráficos e representações foi adotada como instrumento de aprendizagem de conteúdos es-
que aparecem frequentemente em seu dia-a-dia. colares. Para se contrapor aos processos verbalistas de ensino, à
Relativamente à combinatória, o objetivo é levar o aluno a lidar palmatória vigente, o pedagogo deveria dar forma lúdica aos con-
com situações-problema que envolvam combinações, arranjos, per- teúdos.
mutações e, especialmente, o princípio multiplicativo da contagem. A autora confirma a informação de que durante o Renascimen-
to o jogo serviu para divulgar princípios de moral, ética e conteúdos
de áreas como história e geografia, com base de que o lúdico era

327
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
uma conduta livre que favorecia o desenvolvimento da inteligên- lidade pela permanência do aluno na escola, para adquirir valores,
cia, facilitando o estudo. Iniciando um processo de entendimento melhorar os relacionamentos entre os colegas na sociedade que é
por parte das sociedades, com relação a algumas especificidades um direito de todos.
infantis, mudando a concepção de que as crianças eram adultas em O sentido real, verdadeiro, funcional da educação lúdica estará
miniatura. garantindo se o educador estiver preparado para realizá-lo. Nada
No Romantismo o jogo aparece como conduta típica e espon- será feito se ele não tiver um profundo conhecimento sobre os fun-
tânea da criança, que com sua consciência poética do mundo, re- damentos essenciais da educação lúdica, condições suficientes para
conhece a mesma como uma natureza boa, mais que um ser em socializar o conhecimento e predisposição para levar isso adiante
desenvolvimento com características próprias, embora passageiras, (ALMEIDA, 2000, p.63)
a criança é vista como um ser que imita e brinca dotada de espon- Encontra-se nos dias de hoje, lugares que ainda não colocaram
taneidade e liberdade, semelhante à alma do poeta. em seu cotidiano, atividades lúdicas para enriquecer as ferramen-
Froebel 1913, foi influenciado pelo grande movimento de seu tas para o processo de ensino e aprendizagem. A educação lúdica
tempo em favor do jogo. Ao elaborar sua teoria da lei da conexão sempre esteve presente em todas as épocas, é ainda desvalorizado
interna, percebe que o jogo resulta em benefícios intelectuais, mo- em algumas instituições defasando o processo de construção de co-
rais e físicos e o constitui como elemento importante no desenvol- nhecimento.
vimento integral da criança.
Nesse contexto, o lúdico torna-se uma das formas adequadas Os Vários Olhares Sobre a Ludicidade
para a aprendizagem dos conteúdos escolares, em que o professor Existem muitos olhares, e muitos contares de pessoas que vi-
deverá usá-lo como uma ferramenta fundamental na prática peda- vem, pensam e escrevem sobre a ludicidade, nos possibilitando ter
gógica. ideias do papel e da importância deste termo tão discutido e utiliza-
O lúdico no contexto histórico do Brasil surgiu por meio de raí- do na educação infantil.
zes folclóricas nos quais diversos estudos clássicos apontam que as Evoluímos muito no discurso a cerca do brincar e reconhece-
origens brasileiras são provenientes da mistura de três raças, ne- mos cada vez mais seu significado para a criança e suas possibilida-
gros, índios e portugueses durante o processo de sua colonização. des nas áreas da educação, cultura e lazer. Abordaremos aqui três
Em virtude da ampla miscigenação étnica a partir do primeiro Teorias: a Sociantropológica, Filosófica e Psicológica, como exem-
grupo de colonização, fica difícil precisar a contribuição especifica plos desta vastidão de “olhares’ sobre a ludicidade”.
de brancos, negros e índios nos jogos tradicionais infantis atuais no Nesses “vários olhares sobre a ludicidade” percebe-se que
Brasil. não há uma concordância entre suas ideias, muito pelo contrário
É bastante conhecida a influencia portuguesa através de ver- as dissonâncias foram fundamentais para que houvesse diferentes
sos, advinhas e parlendas. embasamentos teórico-metodológico que sustentaram suas obras.
Sobre isso Kishimoto (2002, p.22), afirma que: Nas teorias Socioantropológicas verifica-se o ato de brincar
Desde os primórdios da colonização a criança brasileira vem como uma ação psicológico onde o brincar seria oposto a realidade.
sendo ninada com cantigas de origem portuguesas. E grande parte Sobre isto Brougère afirma:
dos jogos tradicionais popularizados no mundo inteiro como, jogo Brincar é visto como um mecanismo psicológico que garante ao
o de saquinho (ossinho), amarelinha, bolinha de gude, jogo de bo- sujeito manter certa distância em relação ao real, fiel na concepção
tão, pião e outros, chegou ao Brasil, sem dúvida por intermédio dos de Freud, que vê no brincar o modelo do princípio de prazer oposto
primeiros portugueses. Posteriormente, no Brasil receberam novas ao princípio da realidade. Brincar torna-se o arquétipo de toda ativi-
influencias aglutinando-se com outros elementos folclóricos como, dade cultural que, como a arte, não se limita a uma relação simples
o do povo negro e do índio. como o real. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.19)
Kishimoto relata que as brincadeiras e as cantigas que fazem Essa concepção traduz a psicologização contemporânea do
parte da cultura brasileira, receberam fortes influencias dos portu- brincar, ou seja, tenta justificar a necessidade de um individuo de
gueses, não descartando a contribuição de outras culturas de po- se isolar das influências do mundo, durante uma brincadeira.
vos, como a do negro e do índio. Ainda sobre esta concepção Brougère afirma:
Muitos pesquisadores denominam o século XXI como o sécu- Concepções como essas apresentam o defeito de não levar em
lo da ludicidade. Periodo que a diversão, lazer e entretenimento, conta a dimensão social da atividade humana que o jogo, tanto
apresentam-se como condições muito pesquisadas pela sociedade. quanto outros comportamentos não podem descartar. Brincar não
E por tornar-se a dimensão lúdica alvo de tantas atenções e desejos, é uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada
faz-se necessário e fundamental resgatar sua essência, dedicando de uma significação social precisa que, como outras, necessitam de
estudos e pesquisas no sentido de evocar seu real significado. aprendizagem. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.20)
Dalla Valle, (2010, p.22) relata que: A concepção socioantropológica, também garante que o pro-
independente do tempo historico; o ato de brincar possibilita cesso de aprendizagem é que torna possível o ato de brincar, pois
uma ordenação da realidade, uma oportunidade de lidar com re- afirma que antes que a criança brinque ela tem que aprender a
gras e manifestações culturais, além de lidar com outro, seus an- brincar, reconhecendo assim certas características essenciais do
seios, experimentando sensações de perda e vitória. jogo como o aspecto fictício que possui alguns deles. A respeito dis-
Dalla Valle, considera que a importância do brincar não depen- to, Brougère, afirma:
de do espaço e nem do tempo o qual está inserido, em qualquer Há, portanto, estruturas preexistentes que definem a ativida-
contexto desempenha muito bem seu papel de oportunizar a crian- de lúdica em geral, e cada brincadeira em particular, e a criança
ça à compreensão de regras, de estar em grupo e poder absorver as aprende antes de utiliza-la em novos contextos, sozinha, ou em
para sua vida manifestações culturais e emoções novas por meio brincadeiras solitárias, ou então com outras crianças. (O Brincar e
das brincadeiras infantis. suas teorias, 2002, p.22)
Após essa rápida análise da teoria Socioantropológica perce-
É por isso que a proposta de incluir as atividades lúdicas na be-se que para ela o jogo é antes de tudo um lugar de construção
educação infantil vem sendo discutida por muitos pensadores e de uma cultura lúdica e que para o jogo existir tem que haver uma
educadores, que a formação do educador seja de total responsabi- cultura pré-existente a ele.

328
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
É dentro do quadro do Romantismo que o jogo aparece como Esta concepção afirma que o jogo tem o fator decisivo para as-
conduta típica e espontânea da criança. Nascendo neste período segurar o desenvolvimento natural da criança, pós relata que todos
as Teorias filosóficas onde podemos citar como um dos maiores os povos em todos os tempos contaram com os jogos como parte
contribuintes desta teoria o Filósofo Froebel reconhecido como o importante da educação de crianças, especialmente de crianças pe-
“psicólogo da infância”, ele acreditou na criança, enalteceu sua per- quenas.
feição, valorizou sua liberdade e desejou a expressão na natureza
infantil por meio de brincadeiras livres e espontâneas. Brinquedoteca: Um Espaço de Construção do Lúdico.
Sobre isto Kishimoto afirma que Froebel: As brinquedotecas no Brasil começaram a surgir nos anos 80.
Sustenta que a repreensão e a ausência de liberdade à criança Como toda ideia nova, apesar do encantamento que desperta, tem
impedem a ação estimuladora da atividade espontânea, considera- que enfrentar dificuldades não somente para conseguir sobreviver
da elemento essencial no desenvolvimento físico, intelectual e mo- economicamente, mas também para se impor como instituição re-
ral. (O Brincar e suas teorias, p.60) conhecida e valorizada a nível educacional.
De acordo com a afirmação acima se percebe o quanto é im- A incorporação do jogo como recurso para desenvolver e edu-
portante para a criança que esta em fase de desenvolvimento a li- car a criança, especialmente da faixa pré-escolar, cresce paralela-
berdade de brincar, de experimentar, e de ter a oportunidade de mente à expansão de creches, estimulada por movimentos sociais
criar e recriar, possibilitando-a desenvolver suas habilidades físicas, de reivindicações populares.
intelectuais e morais. Cunha (2009, p.13) afirma que:
Sobre esta teoria e sobre a prática froebeliana há quem afirme Dento do contexto social brasileiro, a oportunização do brincar
que teria havido uma ruptura da prática à passagem a prática, pós assumiu, através da brinquedoteca, características próprias, volta-
haveria jardineiras comandando a cultura infantil a partir de orien- das para a necessidade de melhor atender as crianças e as famí-
tações minuciosas, destinadas à aquisição de conteúdos escolares. lias brasileiras. Como consequência deste fato, seu papel dentro do
E por fim, as Teorias Psicológicas, essa teoria contempla a con- campo da educação cresceu e hoje podemos afirmar, com seguran-
cepção de que toda a atividade é lúdica desde que ela exerça por ça, que ela é um agente de mudança do ponto de vista educacional.
si mesma (pela criança), sem que seja pressionada por outro indi- Cunha relata que, no Brasil as Brinquedotecas vêm ganhando
viduo. espaço no contexto educacional melhorando significativamente o
Segundo Dantas, Esta teoria é marcada pela dialética Wallonia- aprendizado, com características específicas, como o brincar livre-
na, que afirma-se simultaneamente um estado atual e uma tendên- mente com finalidade educativa, atendendo as necessidades da co-
cia futura: as atividades surgem liberadas, livres, exercendo-se pelo munidade escolar.
simples prazer que encontram em fazê-lo.( O Brincar e suas teorias, A mesma tem como objetivo proporcionar estímulos para que
2002, p.113). a criança possa brincar livremente e por ser um local onde as crian-
Como exemplo de uma ação que esta dentro desta concepção ças permanecem por algumas horas, é um espaço onde acontece
é o ato do andar de um bebê, como afirma Heloysa Dantas: Em cer- uma interação educacional. E as pessoas que trabalham na brin-
to sentido, pode-se dizer que toda a motricidade infantil é lúdica, quedoteca são educadores preocupados com a felicidade e com o
marcada por uma expressividade que supera de longe a instrumen- desenvolvimento emocional, social e intelectual das crianças.
talidade. (O Brincar e suas teorias, 2002, p. 114) FROEBEL (1912, p.) concebe o brincar como “atividade livre e
O que compreende a revolução do brincar esta teoria afirma espontânea, responsável pelo desenvolvimento físico, moral, cogni-
que não somente durante a fase de se guando é um bebê que ocor- tivo. E os dons e brinquedos como objetos que subsidiam as ativi-
re o mesmo padrão lúdico, mas se repete mais tarde em novos pa- dades infantis.”
tamares do desenvolvimento. como afirma Heloysa Dantas, O gra- De acordo com Froebel, por meio da atividade livre, que as
fismo é um bom exemplo de anterioridade do gesto em relação à brinquedotecas podem proporcionar, a criança desenvolve sua es-
intenção: a criança de três a quatro anos dirá que ainda não sabe o trutura física e psíquica, permitindo que a mesma cresça livremen-
que esta desenhando, por que ainda não acabou.(O Brincar e suas te. Já os brinquedos irão ajudar na realização das atividades que
teorias, 2002, p.116) serão aplicadas. E assim a criança aprende com aquilo que lhe é
Esta concepção também busca justificar o porquê de que as natural, o brincar.
crianças têm facilidades em aprender a manusear certos objetos, Segundo Nylse Helena da Silva Cunha, Presidente da Associa-
o qual os adultos encontram dificuldades. De acordo com Dantas, ção Brasileira de Brinquedotecas (ABB): a Brinquedoteca é um es-
Brincar com palavras, com letras, com o computador: manuseá-los paço preparado para estimular a criança a brincar, possibilitando
livremente, ludicamente, antes de dar a este manuseio um caráter o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um
instrumental.[...] as crianças aprendem informática mais depressa ambiente especialmente lúdico. É um lugar onde tudo convida a
do que os adultos brincam com o computador, antes de tentar “usa- explorar, a sentir, a experimentar.
-lo para”. (O Brincar e suas teorias, 2002, p.116) De acordo com Cunha a brinquedoteca proporciona a criança
Nesta teoria reforça-se a ideia de que o brincar aproxima-se de estímulos para que ela possa desenvolver suas capacidades, permi-
fazer arte, como afirma Heloysa Dantas. tindo que mesma tenha acesso a brinquedos diversificados em um
Pela reiteração do termo brincar quero sublinhar o caráter ca- ambiente apropriado e cheio de atrativos, onde ela possa explorar
prichoso e gratuito destas atividades, em que o adulto propõe mas e se desenvolver cognitivamente.
não impõe, convida mas não obriga, mantém a liberdade através Ressalta-se então, a importância da brinquedoteca no meio
da oferta de possibilidades alternativas. (O Brincar e suas teorias, educacional como espaço que propicia diversos estímulos num mo-
p. 117) mento tão decisivo como a infância, pois é nesta fase que ocorre
Dentro desta concepção também estão envolvidos relações en- o desenvolvimento harmonioso e consciente do educando, o que
tre o jogo e o trabalho, sobre isso, Heloysa Dantas afirma que, para permite ampliar suas habilidades e capacidades de forma global.
Dewey o trabalho aparece como objetivação do pensamento, como
aquela atividade que pode adicionar ao prazer do processo o bene-
ficio do produto. (O Brincar e suas teorias, p.118)

329
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Pode-se dizer que a Brinquedoteca é um espaço que permite Portanto, é fundamental a importância no que diz respeito a
na contemporaneidade, o resgate em vivenciar o lúdico esquecido utilização das brincadeiras e dos jogos no processo ensino peda-
pelas pessoas, e negado às crianças. Mas, acima de tudo como des- gógico, diante dos conteúdos que podem ser ensinados por inter-
taca CUNHA (2001, p. 16), ela tem a função de «fazer as crianças médio de atividades lúdicas em que a criança fica em contato com
felizes, este é o objetivo mais importante». em diferentes atividades manipulando vários materiais, tais como
Cunha afirma que, a Brinquedoteca proporciona à criança a fe- jogos educativos, os didáticos, os jogos de construção e os apoios
licidade do brincar de forma livre e muito significativa para o desen- de expressão.
volvimento físico e cognitivo da criança. Considerando esses fatores, o desenvolvimento da diversidade
A principal implicação educacional da brinquedoteca é a valo- de materiais obriga a necessidade de adequar os mesmos, quanto
rização da atividade lúdica, que tem como consequência o respeito ao espaço da brincadeira contribui para o desenvolvimento cogni-
às necessidades afetivas da criança. Promovendo o respeito à crian- tivo, físico, emocional, social e moral, sem que se perca a caracte-
ça, contribui para diminuir a opressão dos sistemas educacionais rística do brincar como ação livre, iniciada e mantida pela criança.
extremamente rígidos. A importância do espaço lúdico na construção do conhecimen-
Além de resgatar o direito à infância, a brinquedoteca tenta to é oportunizar a criança observar o mundo imaginado por ela, e
salvar a criatividade e a espontaneidade da criança tão ameaçada quando ela vê esta realidade de maneira muito distorcida, procura-
pela tecnologia educacional de massa. Nos últimos anos, a tecnolo- mos conversar com a mesma, esclarecendo as coisas, fazendo com
gia e a ciência obtiveram avanços significativos sob todos os âmbi- que a criança fique mais perto da nossa realidade.
tos, refletidos na sociedade atual. Mas, no que tange à infância e o Esta é uma das formas de brincar mais saudáveis para o de-
desenvolvimento da criança, houve progressos e regressos. senvolvimento da criança, razão pelo qual o “faz-de-conta” infantil
O brincar, por exemplo, faz parte e interfere no desenvolvimen- deve ser tratado e subsidiado com seriedade, atribuindo o papel re-
to das crianças, e progressivamente, estudiosos da área da Psicolo- levante no ato de brincar e na constituição do pensamento infantil.
gia, da Pedagogia e outras ciências, reconheceram a relevância do É brincando e jogando, que a criança revela seu estado cognitivo,
brincar para o desenvolvimento global das crianças. visual, auditivo, tátil, motor, modo de aprender e entrar em uma
Todavia, ocorreram regressos quanto ao espaço, tempo, obje- relação cognitiva com o mundo.
tos, condições de segurança, de liberdade e o convívio social que Para melhor compreensão é interessante o que Pinto (2003,
comprometeram as brincadeiras na fase infantil devido ao surgi- p.65) nos diz:
mento da modernidade e avanços tecnológicos. O espaço lúdico não precisa ficar restrito a quatro paredes, ao
Santos (2009, p.55) relata que: brinquedo industrializado é contrario, deve fluir por todo o ambiente, dentro e fora das classes.
projetado pelo adulto para a criança, conforme concepção que o Um dos objetivos desse espaço é favorecer o encontro de crianças,
adulto possui, não cabendo a criança criar ou acrescentar nada e, para brincar, jogar, fazer amigos, propiciar a convivência alegre e
em muitos momentos, devido ao alto custo do objeto, nem mesmo descontraída dos frequentadores.
brincar com liberdade. Quando o brinquedo é oferecido como pro- Seguindo o pensamento da autora, esse espaço a criança inte-
va de status, para satisfazer a vaidade do adulto, as recomendações rage com o meio físico, com outras crianças e com adultos, cons-
quanto ao uso são tantas, que restringem a atividade lúdica. truindo assim, regras de convivência e competência, treina suas ha-
Segundo Santos muitos brinquedos tecnológicos, que geral- bilidades e capacidades de ganhar ou perder, saber respeitar suas
mente vem com muitas funções que só um adulto consegue ma- diferenças dos outros, aprender a lutar por seus direitos, defender
nipular, inibindo o desenvolvimento da criança, pois limitam a cria- seu espaço, mas respeitar o do amigo. Parecem coisas tão simples e
tividade e a liberdade da mesma. E pelo fato de muitas vezes este tão óbvias, mas são muito difíceis de fazer na prática.
brinquedo ter um alto custo, o adulto acaba fazendo muitas reco- Essas atividades lúdicas têm objetivos diversos, usadas para di-
mendações restringindo o ato de brincar. vertir, outras vezes para socializar, promover a união de grupos e,
num enfoque pedagógico serve como instrumento para transmitir
As Brincadeiras e as Novas Tecnologias conhecimentos. É fato que nossa cultura e, talvez, mais ainda a das
As brincadeiras despertam nas crianças várias ações ao concre- crianças, absorveu a mídia e, de um modo privilegiado, a televisão.
tizar as regras do jogo, seja ela qual for, as mesmas procuram se en- A televisão transformou a vida e a cultura da criança. Ela influenciou
volver nessa brincadeira, e em relação ao lúdico os brinquedos e as particularmente na cultura ludicidade.
brincadeiras relacionam-se diretamente com a criança, porém, não Essa cultura lúdica não está fechada em torno de si mesma; ela
se confundem com o jogo, que aparece com significações opostas integra elementos externos que influenciam a brincadeira: atitudes
e contraditórias, visto que a brincadeira se destaca como uma ação e capacidades, cultura e meio social. Ela está imersa na cultura geral
livre e sendo supervisionada pelo adulto. à qual a criança pertence. A cultura retira elementos do repertório
de imagens que representa a sociedade no seu conjunto, é preciso
Diante disto Pinto (2003, p.27) afirma que: que se pense na importância da imitação na brincadeira. A mesma
Brinquedos e brincadeiras aparecem com significações opos- incorpora, também, elementos presentes na televisão, fornecedora
tas e contraditórias: a brincadeira é vista como uma ação livre, já generosa de imagens variadas.
o brinquedo expressa qualquer objeto que serve de suporte para as Pelas ficções, pelas diversas imagens que mostra, a televisão
brincadeiras livre ou fica atrelado ao ensino de conteúdos escolares. fornece às crianças conteúdo para suas brincadeiras. Elas se trans-
Para a autora esse elementos que constituem o brinquedo e a formam, por meio das brincadeiras, em personagens vistos na te-
brincadeira são definidas como regras preestabelecidas que exigem levisão. De qualquer modo, a televisão tornou-se uma fornecedora
certas habilidades das crianças. Entretanto, a brincadeira é uma essencial, senão exclusiva, dos suportes de brincadeira, o que só
ação que não exige um objeto-brinquedo para acontecer, é jogando pode reforçar sua presença junto à criança.
que a elas constroem conhecimentos que ajudará no seu desempe- Numa sociedade que fragmenta os contextos culturais, a tele-
nho escolar. Ao brincar a criança faz uma releitura do seu contexto visão oferece uma referência comum, um suporte de comunicação.
sociocultural, em que a mesma amplia, modifica, cria e recria por A mesma não se opõe à brincadeira, mas alimenta-a, influencia-a,
meio dos papeis que irão representar. estrutura-a na medida em que a brincadeira não nasceu do nada,

330
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
mas sim daquilo com o que a criança é confrontada, reciprocamen- A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para
te, a brincadeira permite à criança apropriar-se de certos conteúdos resolução dos problemas que as rodeiam. A criança, por meio da
da televisão. brincadeira, reproduz o discurso externo e o internaliza, construin-
A televisão tem influência sobre a imagem do brinquedo e so- do seu próprio pensamento.
bre seu uso e, é claro, estimula o consumo de alguns deles. Seja De acordo com Vigotsky (1984, p.97): a brincadeira cria para as
diretamente por intermédio das emissões dos programas ou indire- crianças uma “zona de desenvolvimento proximal” que não é outra
tamente através dos brinquedos que se adaptaram à sua lógica, a coisa senão a distância entre o nível de desenvolvimento real, deter-
televisão intervém muito profundamente na brincadeira da criança, minado pela capacidade de resolver independentemente um pro-
na sua cultura lúdica. blema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através
Quando o aluno se volta para a sociedade atual, por meio da da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou
informática, não está apenas frente a um novo instrumento de con- com a colaboração de um companheiro mais capaz.
sumo ou brinquedo. O computador estrutura um novo recorte da Vigotsky afirma que, por meio do brincar origina-se na criança
realidade. Um recorte que possibilita ao usuário recriar uma parte a zona de desenvolvimento proximal que se define por funções que
da realidade. Este fato nunca antes tinha acontecido nas dimensões ainda não amadureceram, mas que estão em processo de matura-
atuais. ção, funções que estão presente nas crianças em estado embrio-
Pesquisas apontam que computador, videogames, filme e pro- nário.
grama de TV com conteúdo adequado estimulam a seleção de infor- Por meio das atividades lúdicas, a criança reproduz muitas si-
mação, a capacidade de dedução e a lógica. tuações vividas em seu cotidiano, as quais, pela imaginação e pelo
Entretanto, com o desenvolvimento das sociedades e das trans- faz-de-conta, são reelaboradas.
formações tecnológicas tudo isso se altera. As produções gradativa- Esta representação do cotidiano se dá por meio da combina-
mente se tornaram mais sofisticadas intelectualmente. O capitalis- ção entre experiências passadas e novas possibilidades de interpre-
mo criou um novo modelo de saber, onde a tecnologia assume uma tações e reproduções do real, de acordo com suas afeições, neces-
dinâmica cada vez maior. sidades, desejos e paixões. Estas ações são fundamentais para a
Com a criação da rede de computadores, e principalmente da atividade criadora do homem.
internet, não basta apenas o sujeito aprender a lidar com as infor- Negrine (1994), em estudos realizados sobre aprendizagem e
mações mais gerais. É preciso aprofundá-las, decodificando-as em desenvolvimento infantil, afirma que “quando a criança chega à es-
toda a sua complexidade. Isto porque agora o sujeito está sozinho cola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas
frente ao processo de transmissão e produção/reprodução das in- vivências, grande parte delas através da atividade lúdica”.
formações. De acordo com Negrine é fundamental que os professores te-
A base de informações maiores não virá dos professores, mas nham conhecimento do saber que a criança construiu na interação
dos próprios computadores que poderão ser acionados nos lares, com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua proposta
nas bibliotecas ou na própria escola. O professor se tornará então pedagógica. E por meio de investigações, brincadeiras o educador
um orientador de formas de estudo mais adaptadas as necessida- consegue conhecer a realidade e o conhecimento prévio que cada
des dos alunos. (Santos, Santa Marli. p.80.) criança traz consigo.
Cabe aos professores, se quiserem participar deste processo A criança por muito tempo foi considerada um adulto em mi-
de transformação social e uma constante reciclagem. Um professor niatura. Ela tem características próprias e para se tornar um adulto,
atualizado é aquele que tem olhos no futuro e a ação no presente, ela precisa percorrer todas as etapas de seu desenvolvimento físico,
para não perder as possibilidades que o momento atual continua- cognitivo, social e emocional. Seu primeiro apoio nesse desenvol-
mente lhe apresenta. (Santos, Santa Marli. p.80.) vimento é a família, posteriormente, esse grupo se amplia com os
As Contribuições do Lúdico na Construção do Conhecimento colegas de brincadeiras e a escola.
O brincar é uma atividade constante na vida de toda criança, A brincadeira lúdica vem ampliando sua importância, deixando
algo que lhe é natural e muito importante para o seu desenvolvi- de ser um simples divertimento e tornando-se uma ponte entre a
mento. As brincadeiras, para a criança, constituem atividades pri- infância e a vida adulta.
márias que trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, inte-
lectual e social e a maneira como a mesma brinca reflete sua forma A Brincadeira Despertando a Criatividade
de pensar e agir. O jogo simbólico ou de faz-de-conta, particularmente, é ferra-
Negrine (1994, p.19) afirma que: as contribuições das ativida- menta para a criação da fantasia, necessária a leituras não conven-
des lúdicas no desenvolvimento integral indicam que elas contri- cionais do mundo. Abre caminho para autonomia, a criatividade,
buem poderosamente no desenvolvimento global da criança e que a exploração de significados e sentidos. Atua também sobra a ca-
todas as dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligên- pacidade da criança de imaginar e representar outras formas de
cia, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, expressão.. .
sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a pro- Trata-se de oferecer à criança os brinquedos que, por sua for-
gressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança. ma, sentido e manipulação, criarão possibilidades de desenvolver o
Negrine relata que o lúdico é uma atividade de grande eficá- raciocínio através do jogo.
cia na construção do desenvolvimento infantil, pois o brincar gera A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contri-
um espaço para pensar, e que por meio deste a criança avança no bui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições
raciocínio, desenvolve o pensamento, estabelece contatos sociais, para uma transformação significativa da consciência infantil, por
compreende o meio, satisfaz desejos, desenvolve habilidades, co- exigir das crianças formas mais complexa de relacionamentos com
nhecimentos e criatividade. As interações que o brincar e o jogo o mundo. Isso ocorre em virtude das características da brincadeira.
oportunizam favorecem a superação do egocentrismo, que é natu- Os objetos manipulados na brincadeira, especialmente, são
ral em toda criança, desenvolvendo a solidariedade e a socialização. usados de modo simbólico, como um substituto para os outros,
por intermédio de gestos imitativos reprodutores das posturas, ex-
pressões e verbalizações que ocorrem no ambiente da criança. Na
verdade, só o fato de colocarmos o material a disposição da criança

331
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
permite que ela desenvolva sua atividade real. Com o material a te, tudo de uma maneira envolvente, em que ela desprende ener-
criança age, e nessa idade toda a aprendizagem ocorre por meio gia, imagina, constrói suas normas e cria alternativas para resolver
da ação. imprevistos que surgem no ato de brincar.
É através da apercepção criativa, mais do qualquer outra coisa, Por essa razão, Callois apud Ferreira (199?) afirma que:
que o individuo sente que a vida é digna de ser vivida. O brinquedo não se constitui numa aprendizagem do trabalho.
Muitos indivíduos experimentaram suficientemente o viver Ele não prepara um ofício definido, mas admite que pode introduzir
criativo para reconhecer, de maneira tantalizante, a forma não cria- na vida em seu conjunto geral fazendo crescer as capacidades de
tiva pela qual estão vivendo, como se estivessem presos à criativi- superar os obstáculos ou de enfrentar dificuldades.
dade de outrem, ou de uma máquina. Portanto, o brinquedo facilita a compreensão da realidade, é
Viver de maneira criativa ou viver de maneira não criativa cons- muito mais um processo do que um produto, não é o fim de uma
tituem alternativas que podem ser nitidamente contrastadas. atividade ou o resultado de uma experiência, por ser essencial-
A criatividade que estamos estudando relaciona-se com abor- mente dinâmico. O brinquedo possibilita a emergência de com-
dagem do individuo a realidade externa. Supondo-se uma capaci- portamentos espontâneos e improvisados, exigindo movimenta-
dade cerebral razoável, inteligência suficiente para capacitar o in- ção física, emocional, além de provocar desafio mental. E neste
divíduo a tornar-se uma pessoa ativa e a tomar parte na vida da contexto, a criança só ou com companheiros integra-se ou volta-
comunidade, tudo o que acontece é criativo. -se contra o ambiente em que está.
Segundo Marzollo e Lloyd ( 1972, p.162): “a criatividade é basi- Por outro lado, o padrão do desempenho e normas cabe aos
camente uma atitude, que ocorrem facilmente entre as crianças pe- participantes criar; há liberdade para tomar decisões. A direção
quenas, mas que precisa ser mantida e reforçada para não ser sacri- que o brinquedo segue é determinada pelas variáveis de persona-
ficada no nosso mundo excessivamente lógico”. Assim, brincando, a lidade da criança, do grupo e do contexto social em que as mes-
criança vai, pouco a pouco, organizando suas relações emocionais; mas vivem. O brinquedo é a essência da infância; é o veículo do
isso vai dando a ela condições para desenvolver relações sociais, crescimento, o caminho que dá à criança condições para explorar
aprendendo a se conhecer melhor e a conhecer e a aceitar a exis- o mundo, tanto quanto o adulto, possibilitando descobrir e enten-
tência dos outros. der seus sentimentos, as suas ideias e sua forma de reagir. Assim,
A criatividade também está situada no domínio cognitivo, mas uma criança, ao se apropriar de uma boneca, poderá denominá-la
exerce um influencia mais forte sobre o domino afetivo, e tem rela- de mãe ou de qualquer outra pessoa, dependendo do momento
ção com a expressão pessoal e a interpretação de emoções, pensa- em que se passar a brincadeira. Nesse instante, é liberada a criati-
mentos e ideias: Moyles, 2002, p.82) considera que “é um processo vidade, a imaginação, o significado, a especificidade.
mais importante do que qualquer produto especifico para a criança Ao término desse estudo conclui-se que o lúdico é uma forma
pequena, como podemos constatar”. As crianças criam e recriam facilitadora de aprendizado. Com ele a criança desenvolve aspec-
constantemente ideias e imagens que lhes permitem representar tos afetivos, cognitivos, motores e sociais., podendo assim inte-
e entender a si mesmas e suas ideias sobre a realidade. As ativida- ragir com o meio em que vive de forma dinâmica e prazerosa. O
des expressivas das crianças de quatro anos inicialmente vão re- jogo, a brincadeira e o brinquedo não podem ser ignorados nas
presentar aquilo que as impressionou em situações de vida real, fases iniciais da vida da criança e, infelizmente, é o que aconte-
mas dentro de um ano ou dois as crianças rapidamente se tornam ce quando muito professores, em função de não terem acesso a
mais imaginativas e criativas, na medida em que sua capacidade de informações mais precisas sobre o lúdico, acabam agindo de ma-
simbolizar aumenta. neira tradicional, deixando de utilizar esse elemento facilitador no
Meek, (1985, p. 41) afirma que: processo de formação de um cidadão crítico e reflexivo.
A criatividade e a imaginação estão enraizadas no brincar de Precisamos incentivar os professores para trabalharem de
todas as crianças pequenas e, portanto, são partes do repertório de forma dinamizadora, criando atividades que possam chamar a
todas as crianças, não de minorias talentosas. Ela diz enfaticamente atenção da criança no ambiente escolar, possibilitando a constru-
que elas constituem a base da verdadeira educação. ção de ideias e conceitos que contribuam na sua vida como seres
Poderíamos dizer que o brincar leva naturalmente à criativida- que vivem, lutam e participam em uma sociedade que precisa lu-
de, porque em todos os níveis do brincar as crianças precisam usar tar pelos direitos humanos. O bom êxito de toda atividade lúdica
habilidades e processos que proporcionam oportunidades de ser pedagógica depende exclusivamente do adequado preparo e lide-
criativo. rança do professor.
Para ser criativo é preciso ousar ser diferente, requer tempo e Brougére (2000) tem razão em afirmar que: Encontramo-nos
imaginação, o que está disponível para a maioria das crianças, re- frente a uma brincadeira que sujeita a conteúdos definidos social-
quer autoconfiança, algum conhecimento, receptividade, senso de mente, não é mais brincadeira, transformou-se em uma atividade
absurdo e a capacidade de brincar. Tudo isso faz parte da infância e, controlada pela mestra que se utiliza na educação para manter os
muito disso precisa ser estimulado com mais vigor no contexto da alunos interessados em sua proposta.
escola e da educação. Portanto, a realidade observada dessa prática na pesquisa mos-
tra que, com o passar do tempo, esta dificuldade também estará su-
A Função do Brinquedo para o Desenvolvimento Integral do perada. Mas, na educação, o agora é mais importante que o ontem,
Ser Humano devendo servir de base para as decisões do amanhã e um estudo
Através do brinquedo, a criança inicia sua integração social; detalhado de todas as questões permitirá mudanças gradativas que
aprende a conviver com os outros, a situar-se frente ao mundo que não devem servir apenas para a escola em questão, mas também
a cerca, pois brincar não é perda de tempo, nem simplesmente uma para professores e administradores escolares que, assim, oferece-
maneira de preencher o tempo, pois a criança que não tem a opor- rão melhores condições de crescimento e aproveitamento na esco-
tunidade para brincar é como um peixe fora da água. Portanto, o la. Ao estabelecermos uma proposta de relações educativas demo-
brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, já que cráticas, voltadas para a participação societária, engajamo-nos nas
se envolve afetivamente, convive socialmente e opera mentalmen-

332
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
distintas estruturas de apresentação para o exercício da cidadania. sua capacidade de brincar, tornando-se, assim, mais disponíveis
Afinal, educar o ser humano é prepará-lo para a vida, independente para as crianças enquanto parceiros e incentivadores de brincadei-
dos desafios que possamos encontrar.19 ras.20

RECREAÇÃO E LAZER A importância das brincadeiras na educação.


Embora, atualmente, a importância do brincar para o desenvol- Hoje, as questões referentes à infância têm sido objeto de no-
vimento infantil seja amplamente reconhecida, é comum observar- tícias e debates porém, entre nós, parece ainda não estar claro o
mos crianças, por vezes muito pequenas, com uma rotina bastante significado do termo.
atribulada, tomada por diversas atividades e compromissos. Muitas Apesar da dificuldade em conhecer as diferentes infâncias e
vezes, fica difícil encontrarmos alguma brecha, na correria do dia a como viviam as crianças nos distintos povos, o pouco que se sabe
dia dessas crianças, na qual elas possam, simplesmente, ter espaço sobre elas deve-se aos objetos que utilizavam e às atividades que
e tempo para brincar. Mas, afinal, por que o brincar é considerado mais praticaram em suas vidas, ou seja, seus brinquedos e suas
algo tão importante para o desenvolvimento das crianças? brincadeiras.
Deve-se ressaltar, porém, que grande parte das brincadeiras
Segundo Vygotsky (1989) - o brincar cria a chamada zona de teve origem nos costumes populares cujas práticas eram mais re-
desenvolvimento proximal, impulsionando a criança para além do alizadas pelos adultos do que pelas próprias crianças, mostrando
estágio de desenvolvimento que ela já atingiu. Ao brincar, a crian- assim o desconhecimento da infância.
ça se apresenta além do esperado para a sua idade e mais além
do seu comportamento habitual. Para Vygotsky, o brincar também Com o Concílio de Trento, os jogos e brincadeiras foram con-
libera a criança das limitações do mundo real, permitindo que ela siderados pecaminosos pela Igreja Católica e banidos da cultura
crie situações imaginárias. Ao mesmo tempo é uma ação simbóli- popular, permanecendo sua realização entre os pequenos. No en-
ca essencialmente social, que depende das expectativas e conven- tanto, dadas as transformações pelas quais vêm passando a socie-
ções presentes na cultura. Quando duas crianças brincam de ser dade, eles tendem a desaparecer se nós educadores não fizermos
um bebê e uma mãe, por exemplo, elas fazem uso da imaginação, um movimento de resgate das atividades lúdicas ressaltando sua
mas, ao mesmo tempo, não podem se comportar de qualquer for- importância para o desenvolvimento da criança.
ma; devem, sim, obedecer às regras do comportamento esperado É importante salientar, que as brincadeiras infantis que ainda
para um bebê e uma mãe, dentro de sua cultura. Caso não o façam, persistem em todo o mundo são quase sempre jogos muito simples
correm o risco de não serem compreendidas pelo companheiro de e divertidos. Não demandam objetos, desenvolvem muitas habili-
brincadeira. dades e, historicamente, se originaram de práticas culturais e reli-
Brincar com outras crianças é muito diferente de brincar so- giosas realizadas pelos adultos ao longo dos tempos.
mente com adultos. O brinquedo entre pares possui maior varieda- Quanto aos brinquedos, objetos feitos para brincar, muitos
de de estratégias de improviso, envolve mais negociações e é mais constituem o único registro da vida dos pequenos em algumas
criativo (Sawyer, 1997). Assim, ao brincar com seus companheiros, épocas, sabendo-se que, em sua grande maioria, chegaram até nós
a criança aprende sobre a cultura em que vive, ao mesmo tempo após terem sido encontrados junto aos túmulos das crianças ou de
em que traz novidades para a brincadeira e ressignifica esses ele- seus mestres.
mentos culturais. Aprende, também, a negociar e a compartilhar Evidentemente que muitos desses objetos pertenceram aos
objetos e significados com as outras crianças. pequenos das classes mais abastadas da população, ou seja, da
O brincar também permite que a criança tome certa distância nobreza ou da aristocracia, sendo poucos registros daqueles per-
daquilo que a faz sofrer, possibilitando-lhe explorar, reviver e ela- tencentes às camadas populares ou aos filhos de escravos, até
borar situações que muitas vezes são difíceis de enfrentar. Autores mesmo porque viver a infância, do ponto de vista da importância
clássicos da psicanálise, como Freud (1908) e Melanie Klein (1932, dos pequenos em várias sociedades, pode ter sido um privilégio de
1955), ressaltam a importância do brincar como um meio de ex- poucos.
pressão da criança, contexto no qual ela elabora seus conflitos e De qualquer forma, as crianças, em diferentes momentos his-
demonstra seus sentimentos, ansiedades desejos e fantasias. tóricos e em diversos povos, deixaram-nos um legado importante,
Já Winnicott (1975), pediatra e psicanalista inglês, faz referên- seus brinquedos e brincadeiras, dando pistas aos estudiosos da ma-
cia à dimensão de criação presente no brincar. Segundo esse autor, neira como viviam.
é muito mais importante o uso que se faz de um objeto e o tipo de Sabe-se, portanto, que muitos jogos e brincadeiras não se ori-
relação que se estabelece com ele do que propriamente o objeto ginaram entre as crianças, mas entre os adultos que nem sempre os
usado. A ênfase está no significado da experiência para a criança. utilizavam enquanto divertimento, mas como ritos religiosos carre-
Brincando, ela aprende a transformar e a usar os objetos, ao mes- gados de conteúdos simbólicos.
mo tempo em que os investe e os “colore” conforme sua subjetivi- Dentre eles podemos lembrar, por exemplo, do jogo Real de
dade e suas fantasias. Isso explica por que, muitas vezes, um urso Ur encontrado na Mesopotâmia, com peças de madrepérola e lápis
de pelúcia velho e esfarrapado tem mais importância para uma lazuli e o Senet, muito comum entre os egípcios cujo tabuleiro era
criança do que um brinquedo novo e repleto de recursos, como lu- de ébano e as peças, os bailarinos, eram de ouro.
zes, cores, sons e movimento. Este jogo tinha um significado religioso simbolizando a passa-
Dessa forma, percebe-se como o brincar é algo essencial para gem do mundo terrestre para a outra vida.
o desenvolvimento infantil. Uma criança que não consegue brincar Muitos jogos de percurso que existem ainda hoje tiveram sua
deve ser objeto de preocupação. Disponibilizar espaço e tempo origem no Senet e foram se modificando.
para brincadeiras, portanto, significa contribuir para um desenvol- Além do Senet, que parece ter sido um jogo de adultos, sabe-
vimento saudável. É importante também que os adultos resgatem -se que na Antiguidade, também as crianças egípcias tinham vários
brinquedos. Era comum entre elas o uso de bolas coloridas de argila

19 Fonte: www.webartigos.com – Por Angela da Conceição Pena/Maria Augus-


ta Lima das Neves 20 Texto adaptado de Fernanda Martins Marques e Helenise Lopes Ebersol

333
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
com pedras dentro para atrair a atenção. Possuíam, também, ani- É importante salientar que embora, à primeira vista os roma-
mais de madeira com a cabeça articulada e os olhos de vidro, além nos parecem ter criado muitas atividades lúdicas, a história mos-
de bonecas confeccionadas com diversos materiais, inclusive ouro. trou que a maioria delas não passou de atividades já conhecidas e
Embora a presença de bonecas entre diversos grupos humanos praticadas pelos egípcios e gregos.
parece estar mais ligada à religião, com o tempo elas acabaram por Além dos romanos, os chineses também tiveram importantes
representar a figura feminina, quer através da maternagem, quer contribuições do ponto de vista lúdico. Da China parece ter vindo
como mensageiras da moda. o jogo de palitos ou de varetas de bambu, cuja prática era comum
Os gregos tiveram grandes contribuições no universo lúdico especialmente entre os adultos. Através dele os oráculos consulta-
infantil. Entre eles, as crianças comumente se divertiam com brin- vam as divindades.
quedos de cerâmica e com o aro, um arco que rolava pelo chão. As pipas ou papagaios, como são chamados entre nós, também
Em 400 a. C., Hipócrates, o “Pai da Medicina”, como era conhecido, tiveram sua origem no Oriente o os registros de seu uso antecedem
já recomendava sua prática como um excelente exercício para as ao nascimento de Cristo, quando um general chinês utilizou-os para
pessoas de fraca constituição física. Sua popularização, entretanto, enviar mensagens à tropas sitiadas.
acabou ocorrendo somente no século XIX. Mas não foram só os antigos que deixaram suas heranças cul-
Dada a sua forma cúbica, os astrágalos dos carneiros (ossos do turais mantidas através das práticas lúdicas infantis. Também os
joelho), parecem ter sido os ancestrais dos dados. Na Grécia eram indígenas Mesoamericanos e brasileiros tiveram importantes con-
usados como uma forma de consulta aos deuses, por essa razão, tribuições nessa área.
uma vez lançados ao ar e dependendo da posição em que caiam Entre os indígenas mexicanos (olmecas, astecas e maias) o jogo
tinham um significado. era mais do que uma diversão. Tinha um caráter religioso. O mais
Naquele país os dados confeccionados com ossos, conchas e conhecido e praticado era o jogo da pelota (bola) A bola feita de lá-
varetas parecem ter sido usados pelo herói Palamedes para distrair tex, pesava entre 3 e 4 quilos. A quadra em forma de I representava
suas tropas durante a guerra de Tróia. Também na Odisséia de Ho- o universo, a bola o sol em sua viagem diária pelo céu e as regras do
mero há uma passagem em que os pretendentes da rainha Pené- jogo indicavam a luta do bem contra o mal.
lope jogavam dados sobre peles de boi, diante do palácio real de As crianças dessas civilizações aprendiam no convívio com os
Ítaca. adultos, o que nos leva a deduzir que as atividades dos pequenos
Mas não só os mesopotâmios, egípcios e gregos nos deixaram confundiam-se com as dos mais velhos, uma vez que meninos e me-
algumas brincadeiras como herança, os romanos, os chineses, os ninas tinham os tinham como modelos a serem seguidos.
indígenas mesoamericanos e brasileiros também. Apesar da violência de algumas práticas lúdicas, sabe-se que,
Os romanos, graças a algumas ruínas encontradas em várias entre aqueles indígenas, os pais tinham muito afeto e consideração
partes da Europa, tiveram importantes contribuições na área lúdi- pelas suas crianças.
ca.As ruínas de Conímbriga, em Portugal, ou de Tarragona, na Es- Os indígenas brasileiros também nos deixaram um importante
panha, guardam importantes testemunhos da infância de nossos legado no plano dos brinquedos e brincadeiras .Ao tratar do assun-
antepassados. to, Altmann (1999) mostrou que a princípio a criança é seu próprio
No que diz respeito a Conímbriga, segundo Namora (2000) en- brinquedo. A exploração do seu corpo e do corpo materno torna-
contramos nas suas coleções até o presente momento, um interes- ram-se interessantes brincadeiras. A observação da natureza e a
sante e precioso conjunto de jogos e brinquedos que chegaram até utilização de folhas, troncos e sementes, acabam transformando-se
nós cuja origem remonta à antiguidade clássica. Dentre eles está o em objetos-brinquedos dando asas à imaginação infantil.
Labirinto de Creta, conhecido também como Labirinto do Minotau- Folhas e cascas de árvores servem como fôrma para os objetos
ro, usado para decorar os pisos dos quartos das crianças. de barro, utilizados durante as brincadeiras.
Flautas e apitos de ossos, dados e objetos miniaturizados do O barro, colhido pelas mães na beira dos rios, triturado, mo-
mundo adulto faziam parte da cultura infantil romana. delado e seco, recebe inúmeros adornos de sementes ou penas,
No Museu de Tarragona pode-se observar a existência de uma dando origem às mais diferentes figuras.
boneca de marfim, com braços e pernas articulados, que testemu- Assim, mesmo que as bonecas indígenas não tenham sido
nha o papel que tal objeto representou na vida das crianças roma- transmitidas à cultura brasileira pela cultura europeia, elas surgem
nas. como a representação da maternagem e são geralmente de barro,
Historicamente é possível perceber que, entre os romanos, apresentando seios fartos, nádegas grandes, tentando imitar mu-
não apenas as crianças possuíam atividades lúdicas, mas os jovens lher grávida .
e adultos também. Assim, os labirintos, o jogo de damas, o jogo do Também é com o barro que as crianças xavantes, por exem-
soldado e inúmeras outras atividades eram praticadas por aquele plo, ainda hoje constroem suas casas. Primeiro espetam os paus
povo. Tais exemplos mostram que algumas atividades lúdicas eram no chão e como essa atividade é mais difícil de fazer, costumam a
comuns a todas as pessoas, não sendo, portanto reservadas apenas reaproveitar casas construídas pelas maiores que já as abandona-
às crianças. ram. Usam, ainda para a decoração os materiais encontrados na
Conta-se que a amarelinha pode ter sido criada pelos soldados natureza.
romanos como forma de entreter as crianças pelos locais por onde Além do barro, as crianças indígenas usam a madeira para con-
passavam. Como as estradas eram pavimentadas com pedras, a su- feccionar seus brinquedos. É com os troncos de árvores que elas
perfície tornava-se ideal para a prática da atividade, difundindo-se, constroem o bodoque _ arma manejada por elas_ para abater ca-
posteriormente, por toda a Europa. ças, aves e lagartixas.
Sabe-se, ainda, que as crianças romanas jogavam bolinhas de É, ainda, com madeira e barro que os indígenas confeccionam
gude, cuja origem não se pode precisar. Inicialmente, usavam no- piões que fazem girar eximiamente, num movimento ágil das mãos.
zes, pedras e grãos de cereais. Das cabaças surgem os chocalhos utilizados para espantar os
É interessante notar, por exemplo, que no Líbano hoje, o jogo maus espíritos, transformando-se, também, em instrumentos de
de bolinhas de gude é realizado na época da Páscoa, quando são festividades ou cerimônias religiosas. Com fios entrelaçados entre
utilizados ovos no lugar das bolinhas sendo posteriormente ingeri- os dedos das mãos, constroem inúmeras figuras dando asas à ima-
dos pelas crianças e adultos. ginação, que é o caso da cama-de-gato.

334
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Espetam penas no sabugo do milho, que atiram ao ar. Confec- Por outro, como as famílias atualmente estão menores, há um
cionam petecas com base de palha de milho ou de couro. Divertem- grande número de crianças que brincam sozinhas e, por vezes, ape-
-se em atividades lúdicas coletivas imitando os animais. Garantem nas com um animal de estimação. Logo, a falta de relacionamento
sua cultura. com os outros tanto dificulta a construção de um repertório de brin-
Muitas das brincadeiras realizadas pelas crianças, ainda hoje, cadeiras quanto favorece ao empobrecimento cultural.
são produtos de diferentes culturas e deveriam ser preservadas. Outro obstáculo para o desenvolvimento do brincar e a preser-
Em sua pesquisa, a estudiosa Renata Meirelles (2007) inves- vação da cultura da infância é questão do espaço físico. Por todas as
tigou os brinquedos e brincadeiras que ainda persistem entre as partes vive-se o problema da insegurança e isso tem afetado parti-
crianças brasileiras. Estão entre elas as brincadeiras de roda, o pião cularmente as crianças.
feito com diferentes materiais, inclusive com tampas dos frascos de Embora a maior parte dos pais entrevistados tivesse colocado
detergente, a amarelinha também chamada de macaca, o caracol, que o local onde os pequenos mais brincam ainda é o quintal, so-
as brincadeiras de mão, os currupios, os brinquedos que reprodu- bretudo em cidades do Norte, Nordeste e Centro Oeste, o espaço
zem o meio adulto feitos de materiais naturais ou de sucata, as cin- comum, mencionado pelos pais das diferentes regiões brasileiras
co marias, a cama de gato, as pernas de pau, o cavalo de pau, a para a prática das atividades lúdicas é a escola .
casinha, a bolinha de gude e o elástico. Tal escolha não está associada à garantia da cultura, mas à exis-
No entanto, as transformações que vimos sofrendo produto de tência de uma segurança maior, a grande preocupação da famílias
um mundo globalizado, caracterizado pelo crescimento da urbani- atualmente Outro entrave em relação à brincadeira é a falta de tem-
zação, da industrialização e aumento no consumo, têm ameaçado po das próprias crianças. O trabalho infantil e as atividades domés-
a infância, sua cultura e seu direito à brincadeira. A infância está ticas por um lado e o excesso de atividades extra-curriculares, por
desaparecendo, porque as crianças estão se transformando em outro, têm se constituído em grandes impedimentos à realização
adultas antes do tempo. A cultura, porque uma vez distantes do do brincar. Especialmente as atividades extra-curriculares têm sido
repertório infantil, muitas brincadeiras desaparecerão carregando impostas às crianças dada a grande ansiedade dos pais por conta de
consigo saberes milenares. Quanto ao direito à brincadeira, ele só fornecer elementos para que os filhos entrem rapidamente no mer-
parece existir no papel, pois, na prática a realidade é bem outra. cado de trabalho. Embora participar de atividades extra-curricula-
Diante desse quadro surgem algumas questões que merecem res seja um privilégio das crianças de classes mais altas, os pais das
ser analisadas Do que brincam, hoje, as crianças brasileiras? Como classes baixas têm as mesmas preocupações, mas como dependem
e onde realizam suas brincadeiras, quais os seus parceiros? Até que muitas vezes da mão de obra infantil para aumentar o orçamento
ponto elas ainda possuem o direito à infância? familiar, não têm condições de oferecer outras atividades aos filhos.
Uma investigação realizada por Dodge e Carneiro (2007) com De qualquer forma as crianças estão privadas do brincar, da
pais, de crianças entre 6 e 12 anos, dos diversos segmentos sociais, cultura lúdica e de viver a sua infância.
em 77 municípios brasileiros das diversas regiões do país , obser- Aí vem a última questão. Como ficam os profissionais da educa-
vou-se que além de se modificarem, as atividades lúdicas realizadas ção diante desta nova realidade?
antigamente estão desaparecendo. As brincadeiras mais comuns, Recentemente vem sendo manchete dos jornais o fato de que
ou seja, realizadas por seus filhos pelo menos três vezes na semana as mazelas da educação são consequências do despreparo dos seus
eram assistir TV, vídeos e DVDs, brincar com animal de estimação, profissionais. Evidentemente que não será possível esgotar o deba-
cantar e ouvir música, desenhar, andar de bicicleta, patins, patine- te à questão.
tes, carrinhos de rolimã, jogar bola, brincar de pega-pega, polícia-e- Penso que nós profissionais da educação temos que engrossar
-ladrão, esconde-esconde, brincar de boneca, brincar com coleções cada vez mais, a luta pelo direito ao brincar na infância, o direito
e ficar no computador. de a criança viver essa etapa tão importante da sua vida e a escola
A TV e os demais equipamentos tecnológicos, vídeo-games, foi apontada como o lócus onde a brincadeira pode se realizar com
jogos de internet, vêm crescendo assustadoramente entre os pe- segurança e também onde os pequenos dispõem de parceiros para
quenos. Enquanto os últimos ainda, constituem o universo de uma isso.
pequena camada da população, a primeira tem sido um movimento Falta a nós, professores, nos apropriarmos desse tipo de co-
universal. Isso não significa negar a sua existência, mas analisá-la de nhecimento, aumentarmos nossos repertórios, observarmos e re-
forma mais criteriosa de modo que não traga tantas consequências gistrarmos os avanços proporcionados pelo brincar, utilizando-o
funestas às nossas crianças. não apenas como uma metodologia de trabalho, mas como uma
Quanto ao computador e os vídeos embora se constituam em forma de possibilitar à criança a descoberta do mundo que a cerca
equipamentos reservados, no Brasil, ainda, a uma classe social mais e resgatar a cultura.
privilegiada, são aspirados pelas crianças e pais com condições eco- Os países desenvolvidos estão atentos para isso. Por que o Bra-
nômicas inferiores. E isso nos parece uma viagem sem volta. sil não pode perseguir esta meta?
Tais alterações, contudo, não ocorreram somente no plano das Diante de todas as reflexões concordo com a educadora britâ-
escolhas das brincadeiras, mas puderam ser observadas também no nica Catty Nutbrown para quem “ Parar para ouvir um avião no céu,
que tange aos companheiros, aos espaços e aos tempos de brincar. agachar-se para observar uma joaninha numa folha, sentar numa
A atividade lúdica para ser aprendida necessita de parceiros, rocha para ver as ondas se espatifarem contra o cais _ as crianças
pais, amigos, irmãos, professores... Eis a grande dificuldade. têm sua própria agenda e noção de tempo. Conforme descobrem
Por um lado, a falta de disponibilidade de tempo dos pais e das mais sobre o mundo e seu ligar nele, esforçam-se para não ser
gerações mais velhas de estarem com seus filhos, facilita o desco- apressadas pelos adultos. Precisamos ouvir suas vozes”. (Relatório
nhecimento de repertórios de brincadeiras. O brincar se aprende Global:2007,p.1)21
num processo de imitação, portanto os pequenos só podem apren-
der com seus pares, sejam eles adultos ou crianças.

21 Por Maria Ângela Barbato Carneiro

335
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O jogos e sua importância na educação Dinello indica que “pelo jogo, a psicomotricidade da criança se
Atualmente, nossa sociedade vive inserida num contexto de desenvolve num processo prático de maturação e de descobrimento
diversidade de formas e meios de comunicação, no qual é essen- do mundo circundante.”
cial ser competente na leitura e compreensão das diferentes lin- Dessa maneira, pode-se dizer que no jogo há uma importância
guagens. do desenvolvimento psicomotor para aquisições mais elaboradas,
Embora se reconheça facilmente essas diferentes modalidades como as intelectuais. Oliveira valida esse entendimento, ao afirmar
de comunicação (expressões gestuais ou corporais; formas visuais; que: Muitas das dificuldades apresentadas pelos alunos podem ser
formas gráficas e verbais), o que se tem visto na realidade, de forma facilmente sanadas no âmbito da sala de aula, bastando para isto
geral, é somente o uso da leitura e escrita como representações que o professor esteja mais atento e mais consciente de sua respon-
convencionais nas atividades escolares. Compreendendo a inevitá- sabilidade como educador e despenda mais esforço e energia para
vel incorporação das outras formas de comunicação nas instituições ajudar a aumentar o potencial motor, cognitivo e afetivo do aluno.
escolares, o presente artigo pretende falar da inclusão do jogo nas Assim sendo, devemos estimular os jogos como fonte de aprendi-
diferentes modalidades de comunicação que permeiam nossa so- zagem.
ciedade. Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati-
O jogo como instrumento de aprendizagem é um recurso de vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que
extremo interesse aos educadores, uma vez que sua importância o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis
está diretamente ligada ao desenvolvimento do ser humano em que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo,
uma perspectiva social, criativa, afetiva, histórica e cultural. favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação.
O jogo é uma oportunidade de desenvolvimento. Jogando a Como consequência a criança fica mais calma, relaxada, e aprende
criança experimenta, inventa, descobre, aprende e confere habili- a pensar, estimulando sua inteligência.
dades. Sua inteligência e sua sensibilidade estão sendo desenvolvi- Segundo Bettelhein; os jogos mudam à medida que as crianças
das. A qualidade de oportunidades que são oferecidas à criança por crescem. Então, muda-se a compreensão em relação aos proble-
meio de jogos garante que suas potencialidades e sua afetividade mas diversos que começam a ocupar suas mentes. É jogando que
se harmonizem. Dessa maneira, pode-se dizer que o jogo é impor- as crianças descobrem o que está a sua volta, começando a se rela-
tante, não somente para incentivar a imaginação nas crianças, mas cionar com a vida, percebendo os objetos e o espaço que seu corpo
também para auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais e ocupa no mundo em que vivem. Por meio de brincadeiras, como
cognitivas. o faz de conta, o jogo simbólico, a vivência de papeis, criando e
A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino ludus, que sig- recriando situações agradáveis ou não; a criança pode realizar ativi-
nifica diversão, brincadeira e que é tido como um recurso capaz de dades próprias do mundo adulto.
promover um ambiente planejado, motivador, agradável e enrique- Para Vygotsky, “... é na brincadeira que a criança se comporta
cido, possibilitando a aprendizagem de várias habilidades. Dessa além do comportamento habitual de sua idade, além de seu com-
maneira, alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem portamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinque-
podem aproveitar-se do jogo como recurso facilitador na compre- do como se ela fosse maior do que é na realidade... o brinquedo
ensão dos diferentes conteúdos pedagógicos. fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da
Piaget afirma: “O jogo é, portanto, sob as suas formas essen- consciência da criança”.
ciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação Assim que as crianças vão crescendo e se desenvolvendo emo-
do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento neces- cional e cognitivamente, elas começam a colocar outras pessoas em
sário e transformando o real em função das necessidades múltiplas suas brincadeiras, e é percebendo a presença do outro que come-
do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem çam a ser respeitadas as regras e os limites. Os jogos com regras
que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, exigem raciocínio e estratégia.
jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, Dessa maneira, quando uma criança se mostra capaz de seguir
sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil” uma regra, nota-se que seu relacionamento com outras crianças e
Hoje o jogo representa uma ferramenta ideal da aprendizagem, até mesmo com adultos melhora, reforçando a ideia de que os jo-
na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno. O jogo gos influenciam no processo de aprendizagem das crianças, respei-
ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece tando seu tempo e ritmo de assimilação e aprendizado.
sua personalidade. Jogando, as crianças podem colocar desafios e questões para
Em educação, a utilização de um programa que estimule a ati- serem por elas mesmas resolvidas, dando margem para que criem
vidade psicomotora, especialmente por meio do jogo, permite que hipóteses de soluções para os problemas colocados.
o desempenho psicomotor da criança enquanto joga alcance níveis Isso acontece porque o pensamento da criança evolui a partir
que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo de suas ações. Assim, por meio do jogo o indivíduo pode brincar na-
favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. turalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade
Como consequência, a criança fica mais calma, relaxada e aprende criativa. Os jogos não são apenas uma forma de divertimento: são
a pensar, estimulando sua inteligência. Nesse contexto, precisa- meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectu-
mos elucidar os pontos de contato com a realidade, a fim de que al. Para manter seu equilíbrio com o mundo, a criança precisa brin-
o jogo seja significativo para a criança. Por meio da observação do car, criar e inventar. Com jogos e brincadeiras, a criança desenvolve
desempenho das crianças com seus jogos podemos avaliar o nível o seu raciocínio e conduz o seu conhecimento de forma descontraí-
de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam- da e espontânea: no jogar, ela constrói um espaço de experimenta-
-se suas potencialidades e, ao observá-las, poderemos enriquecer ção, de transição entre o mundo interno e externo.
sua aprendizagem, fornecendo por meio dos jogos os “nutrientes”
do seu desenvolvimento. Ou seja, brincando e jogando a criança
terá oportunidade de desenvolver capacidades indispensáveis à sua
futura formação e atuação profissional, tais como: atenção, afetivi-
dade, concentração e outras habilidades perceptuais psicomotoras.

336
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Jogos e brincadeiras nos pedem uma posição desses profissionais sobre os problemas
Quando abordamos assuntos relacionados à Educação Infantil, sociais, mas como alguém que tem opinião formada sobre os assun-
sabemos que se trata da faixa etária de zero a cinco anos de idade, tos mais emergentes e que está disposto ao diálogo, ao conflito, à
conforme recente definição da Lei n.11.114, de 16 de maio de 2005, problematização do seu saber. (RUIZ, 2003, s/p).
e que essa faixa etária compreende a primeira etapa da educação O professor pode ser sim um agente de transformação, princi-
básica palmente em situações que exigem um posicionamento firme de
A inserção da criança na instituição da Educação Infantil repre- sua parte. Não apenas na sala de aula, mas na sociedade, no am-
senta uma das oportunidades dela ampliar os seus conhecimentos biente escolar ou universitário e estar atento ás discussões no que
na sua nova fase de vida, ela vivência aprendizagens inéditas que se refere ao mundo à sua volta. É importante, participar de grupos
passam a compor seu universo, que envolve uma diversidade de de estudos, envolverem-se em pesquisas, incentivar seus alunos a
relações e de atitudes; maneiras alternativas de comunicação entre buscarem sempre a conhecer mais.
as pessoas; o estabelecimento de regras e de limites e um conjunto O professor, em vez de ser um agente de transformação nos
de valores culturais e morais que são transmitidos a elas. processos de ensino e aprendizagem, é utilizado como instrumento
A aceitação e a utilização de jogos e brincadeiras como uma a serviço de interesses que regem os modelos educacionais instituí-
estratégia no processo de ensinar e do aprender têm ganhado força dos nas escolas e nas universidades. Com isso, aqueles profissionais
entre os educadores e pesquisadores nesses últimos anos, por con- preocupados com a melhoria do ensino e com a educação, são tidos
siderarem, em sua grande maioria uma forma de trabalho pedagó- como problema, tendo em vista à concepção conservadora predo-
gico que estimula o raciocínio e favorece a vivência de conteúdos e minante ainda na sociedade
a relação com situações do cotidiano O professor tem que partir de experiências e conhecimentos
O jogo como estratégia de ensino e de aprendizagem em sala dos alunos e oferecer atividades significativas, favorecendo-as com-
de aula deve favorecer a criança a construção do conhecimento preensão do que está sendo feito por intermédio do estabeleci-
científico, proporcionando a vivência de situações reais ou imaginá- mento de relações entre escola e o meio social.
rias, propondo à criança desafios e instigando-a a buscar soluções
para as situações que se apresentam durante o jogo, levando-a a ALGUMAS FUNÇÕES DO PROFESSOR FRENTE AOS JOGOS
raciocinar, trocar ideias e tomar decisões. Uma das responsabilidades do educador é promover a socia-
O brincar é, portanto, uma atividade natural, espontânea e lização entre os alunos, auxiliando-os, dentro da sua faixa etária e
necessária para criança, constituindo-se em uma peça importan- potencialidades, a conviver com seus grupos, enfatizando o grupo
tíssima a sua formação seu papel transcende o mero controle de escolar. Independentemente do nível de educação, as ações peda-
habilidades. É muito mais abrangente. Sua importância é notável, gógicas visam, de certa maneira, promover a boa convivência social,
já que, por meio dessas atividades, a criança constrói o seu próprio o conhecimento do outro e o respeito pela diferença.
mundo. (SANTOS, 1995, p.4) As atividades lúdicas escolhidas pelos educadores, além de
Em sua visão é pela brincadeira que a criança aprende sobre a oportunizarem diversão e aprendizado como própria função peda-
natureza, os eventos sociais, a dinâmica interna e a estrutura de seu gógica, devem considerar, também, o desenvolvimento das pessoas
corpo. A criança que brinca livremente, no seu nível, à sua maneira, envolvidas.
não está apenas explorando o mundo ao seu redor, mas também O trabalho pedagógico com o conhecimento pode adquirir
comunicando sentimentos, ideias, fantasias, intercambiando o real maior significado na medida em que é desenvolvido por meio de
e o imaginário. diferentes abordagens metodológicas.
O brincar está relacionado ao prazer. Uma brincadeira criativa O jogo, atividades lúdicas, brincadeiras, se usados adequada-
ou não deve sempre proporcionar prazer à criança. mente, contribuem significativamente na construção e compre-
Além disso, enquanto estimula o desenvolvimento intelectual ensão do conhecimento, é uma atividade essencial no desenvolvi-
da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos mais mento e na aprendizagem da criança, é importante que o professor
necessários ao seu crescimento, como persistência, perseverança, conheça cada tipo e seu objetivo, para promover um trabalho de
raciocínio, companheirismo, entre outros qualidade nesse aspecto A brincadeira ou o jogo somente tem va-
Dessa forma, o brincar e o jogar, na Educação Infantil, devem lidade se usado na hora certa, e essa hora é determinada pelo pro-
ser visto como uma estratégia utilizada pelo educador e deve pri- fessor, ele é quem determina para o aluno qual o objetivo do jogo,
vilegiar o ensino dos conteúdos da realidade, tendo o brincar um das regras e do tempo Durante todo o processo de desenvolvimen-
lugar de destaque no planejamento pedagógico. to físico, moral e social da criança, os ambientes em que elas estão
inseridas e as brincadeiras espontâneas ou dirigidas podem contri-
O PAPEL DO PROFESSOR COMO AGENTE DE TRANSFORMA- buir de forma significativa na sua formação integral. É importante à
ÇÃO criança brincar, pois ela irá se desenvolver permeada por relações
Uma vez que o professor é responsável pela orientação, seja cotidianas e, assim, vai construindo sua identidade, a imagem de si
teórica, metodológica e técnica, pode-se considerar que, nesse sen- e do mundo que a cerca.
tido, ele é um agente transformador, tendo em vista que contribui A criança é um ser sociável que se relaciona com o mundo que
para a transformação dos seus alunos. a cerca. De acordo com sua compreensão e potencialidades, ela
Tal realidade exige, portanto consciência crítica de todos os brinca espontaneamente e independentemente de seu ambiente e
que trabalham com a educação. O importante é saber que ainda contexto. Por isso, quanto maior o número de brincadeiras infantis
hoje não se pode esquecer essa consciência crítica, de questionar inseridas nas atividades pedagógicas, maior será o desenvolvimen-
diante das políticas educacionais existentes. Para Ruiz (2003, s/p), to da criança. Mas, por isso, deve-se respeitar cada uma das fases
o profissional da educação precisa ter uma posição muito clara, isto de seu desenvolvimento, a fim de que os objetivos sejam atingidos
é, primar pela mudança. Para autora:
Os papéis dos profissionais de educação necessitam ser repen-
sado. Esses não podem mais agir de forma neutra nessa sociedade
de conflito, não pode ser ausente apoiando-se apenas nos conte-
údos, métodos e técnicas, não pode mais ser omisso, pois os alu-

337
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Para ter essa disposição para acolher, importa estar atento a
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ela. Não nascemos naturalmente com ela, mas sim a construímos,
a desenvolvemos, estando atentos ao modo como recebemos as
A avaliação da aprendizagem escolar se faz presente na vida de coisas. Se antes de ouvirmos ou vermos alguma coisa já estamos
todos nós que, de alguma forma, estamos comprometidos com atos julgando, positiva ou negativamente, com certeza, não somos capa-
e práticas educativas. Pais, educadores, educandos, gestores das zes de acolher. A avaliação só nos propiciará condições para a ob-
atividades educativas públicas e particulares, administradores da tenção de uma melhor qualidade de vida se estiver assentada sobre
educação, todos, estamos comprometidos com esse fenômeno que a disposição para acolher, pois é a partir daí que podemos construir
cada vez mais ocupa espaço em nossas preocupações educativas. qualquer coisa que seja.
O que desejamos é uma melhor qualidade de vida. No caso
deste texto, compreendo e exponho a avaliação da aprendizagem Por uma compreensão do ato de avaliar
como um recurso pedagógico útil e necessário para auxiliar cada Assentado no ponto de partida acima estabelecido, o ato de
educador e cada educando na busca e na construção de si mesmo e avaliar implica dois processos articulados e indissociáveis: diagnos-
do seu melhor modo de ser na vida. ticar e decidir. Não é possível uma decisão sem um diagnóstico, e
A avaliação da aprendizagem não é e não pode continuar sendo um diagnóstico, sem uma decisão é um processo abortado.
a tirana da prática educativa, que ameaça e submete a todos. Chega Em primeiro lugar, vem o processo de diagnosticar, que consti-
de confundir avaliação da aprendizagem com exames. A avaliação tui-se de uma constatação e de uma qualificação do objeto da ava-
da aprendizagem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmi- liação. Antes de mais nada, portanto, é preciso constatar o estado
ca e construtiva, diversa dos exames, que não são amorosos, são de alguma coisa (um objeto, um espaço, um projeto, uma ação, a
excludentes, não são construtivos, mas classificatórios. A avaliação aprendizagem, uma pessoa...), tendo por base suas propriedades
inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, margina- específicas. Por exemplo, constato a existência de uma cadeira e seu
lizam. estado, a partir de suas propriedades ‘físicas’ (suas características):
No que se segue, apresento aos leitores alguns entendimentos ela é de madeira, com quatro pernas, tem o assento estofado, de
básicos para compreender e praticar a avaliação da aprendizagem cor verde... A constatação sustenta a configuração do ‘objeto’,ten-
como avaliação e não, equivocadamente, como exames. do por base suas propriedades, como estão no momento. O ato de
avaliar, como todo e qualquer ato de conhecer, inicia-se pela cons-
Antes de mais nada, uma disposição psicológica necessária ao tatação, que nos dá a garantia de que o objeto é como é. Não há
avaliador possibilidade de avaliação sem a constatação.
O ato de avaliar, devido a estar a serviço da obtenção do me- A constatação oferece a ‘base material’ para a segunda parte
lhor resultado possível, antes de mais nada, implica a disposição do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atribuir uma qua-
de acolher. Isso significa a possibilidade de tomar uma situação da lidade, positiva ou negativa, ao objeto que está sendo avaliado. No
forma como se apresenta, seja ela satisfatória ou insatisfatória agra- exemplo acima, qualifico a cadeira como satisfatória ou insatisfa-
dável ou desagradável, bonita ou feia. Ela é assim, nada mais. Aco- tória, tendo por base as suas propriedades atuais. Só a partir da
lhê-la como está é o ponto de partida para se fazer qualquer coisa constatação, é que qualificamos o objeto de avaliação. A partir dos
que possa ser feita com ela. Avaliar um educando implica, antes de dados constatados é que atribuímos-lhe uma qualidade.
mais nada, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, Entretanto, essa qualificação não se dá no vazio. Ela é esta-
para, a partir daí, decidir o que fazer. belecida a partir de um determinado padrão, de um determinado
A disposição de acolher está no sujeito do avaliador, e não no critério de qualidade que temos, ou que estabelecemos, para este
objeto da avaliação. O avaliador é o adulto da relação de avaliação, objeto. No caso da cadeira, ela está sendo qualificada de satisfató-
por isso ele deve possuir a disposição de acolher. Ele é o detentor ria ou insatisfatória em função do quê? Ela, no caso, será satisfa-
dessa disposição. E, sem ela, não há avaliação. Não é possível ava- tória ou insatisfatória em função da finalidade à qual vai servir. Ou
liar um objeto, uma pessoa ou uma ação, caso ela seja recusada ou seja, o objeto da avaliação está envolvido em uma tessitura cultu-
excluída, desde o início, ou mesmo julgada previamente. Que mais ral (teórica), compreensiva, que o envolve. Mantendo o exemplo
se pode fazer com um objeto, ação ou pessoa que foram recusados, acima, a depender das circunstâncias onde esteja a cadeira, com
desde o primeiro momento? Nada, com certeza! suas propriedades específicas, ela será qualificada de positiva ou de
Imaginemos um médico que não tenha a disposição para aco- negativa. Assim sendo, uma mesma cadeira poderá ser qualificada
lher o seu cliente, no estado em que está; um empresário que não como satisfatória para um determinado ambiente, mas insatisfa-
tenha a disposição para acolher a sua empresa na situação em que tória para um outro ambiente, possuindo as mesmas propriedades
está; um pai ou uma mãe que não tenha a disposição para acolher específicas. Desde que diagnosticado um objeto de avaliação, ou
um filho ou uma filha em alguma situação embaraçosa em que se seja, configurado e qualificado, há algo, obrigatoriamente, a ser
encontra. Ou imaginemos cada um de nós, sem disposição para nos feito, uma tomada de decisão sobre ele. O ato de qualificar, por
acolhermos a nós mesmos no estado em que estamos. As doenças, si, implica uma tomada de posição – positiva ou negativa –, que,
muitas vezes, não podem mais sofrer qualquer intervenção curativa por sua vez, conduz a uma tomada de decisão. Caso um objeto seja
adequada devido ao fato de que a pessoa, por vergonha, por medo qualificado como satisfatório, o que fazer com ele? Caso seja qua-
social ou por qualquer outra razão, não pode acolher o seu próprio lificado como insatisfatório, o que fazer com ele? O ato de avaliar
estado pessoal, protelando o momento de procurar ajuda, chegan- não é um ato neutro que se encerra na constatação. Ele é um ato
do ao extremo de ‘já não ter muito mais o que fazer!’. dinâmico, que implica na decisão de ‘o que fazer’. Sem este ato de
A disposição para acolher é, pois, o ponto de partida para qual- decidir, o ato de avaliar não se completa. Ele não se realiza. Chegar
quer prática de avaliação. É um estado psicológico oposto ao estado ao diagnóstico é uma parte do ato de avaliar. A situação de ‘diagnos-
de exclusão, que tem na sua base o julgamento prévio. O julgamen- ticar sem tomar uma decisão’ assemelha-se à situação do náufrago
to prévio está sempre na defesa ou no ataque, nunca no acolhimen- que, após o naufrágio, nada com todas as suas forças para salvar-se
to. A disposição para julgar previamente não serve a uma prática de e, chegando às margens, morre, antes de usufruir do seu esforço.
avaliação, porque exclui. Diagnóstico sem tomada de decisão é um curso de ação avaliativa
que não se completou.

338
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Como a qualificação, a tomada de decisão também não se faz Assentados no acolhimento do nosso educando, podemos pra-
num vazio teórico. Toma-se decisão em função de um objetivo que ticar todos os atos educativos, inclusive a avaliação. E, para avaliar,
se tem a alcançar. Um médico toma decisões a respeito da saúde o primeiro ato básico é o de diagnosticar, que implica, como seu
de seu cliente em função de melhorar sua qualidade de vida; um primeiro passo, coletar dados relevantes, que configurem o estado
empresário toma decisões a respeito de sua empresa em função de de aprendizagem do educando ou dos educandos. Para tanto, ne-
melhorar seu desempenho; um cozinheiro toma decisões a respeito cessitamos instrumentos. Aqui, temos três pontos básicos a levar
do alimento que prepara em função de dar-lhe o melhor sabor pos- em consideração: 1)dados relevantes; 2) instrumentos; 3) utilização
sível, e assim por diante. dos instrumentos.
Em síntese, avaliar é um ato pelo qual, através de uma dispo- Cada um desses pontos merece atenção.
sição acolhedora, qualificamos alguma coisa (um objeto, ação ou Os dados coletados para a prática da avaliação da aprendiza-
pessoa), tendo em vista, de alguma forma, tomar uma decisão so- gem não podem ser quaisquer. Deverão ser coletados os dados es-
bre ela. senciais para avaliar aquilo que estamos pretendendo avaliar. São
Quando atuamos junto a pessoas, a qualificação e a decisão o dados que caracterizam especificamente o objeto em pauta de
necessitam ser dialogadas. O ato de avaliar não é um ato impositi- avaliação. Ou seja, a avaliação não pode assentar-se sobre dados
vo, mas sim um ato dialógico, amoroso e construtivo. Desse modo, secundários do ensino-aprendizagem, mas, sim, sobre os que efeti-
a avaliação é uma auxiliar de uma vida melhor, mais rica e mais vamente configuram a conduta ensinada e aprendida pelo educan-
plena, em qualquer de seus setores, desde que constata, qualifica do. Caso esteja avaliando aprendizagens específicas de matemática,
e orienta possibilidades novas e, certamente, mais adequadas, por- dados sobre essa aprendizagem devem ser coletados e não outros;
que assentadas nos dados do presente. e, assim, de qualquer outra área do conhecimento. Dados essen-
ciais são aqueles que estão definidos nos planejamentos de ensino,
Avaliação da aprendizagem escolar a partir de uma teoria pedagógica, e que foram traduzidos em prá-
Vamos transpor esse conceito da avaliação para a compreen- ticas educativas nas aulas.
são da avaliação da aprendizagem escolar. Tomando as elucidações Isso implica que o planejamento de ensino necessita ser pro-
conceituais anteriores, vamos aplicar, passo a passo, cada um dos duzido de forma consciente e qualitativamente satisfatória, tanto
elementos à avaliação da aprendizagem escolar. do ponto de vista científico como do ponto de vista político-peda-
Iniciemos pela disposição de acolher. Para se processar a ava- gógico.
liação da aprendizagem, o educador necessita dispor-se a acolher o Por outro lado, os instrumentos de avaliação da aprendizagem,
que está acontecendo. Certamente o educador poderá ter alguma também, não podem ser quaisquer instrumentos, mas sim os ade-
expectativa em relação a possíveis resultados de sua atividade, mas quados para coletar os dados que estamos necessitando para con-
necessita estar disponível para acolher seja lá o que for que estiver figurar o estado de aprendizagem do nosso educando. Isso implica
acontecendo. Isso não quer dizer que ‘o que está acontecendo’ seja que os instrumentos:
o melhor estado da situação avaliada. Importa estar disponível para a) sejam adequados ao tipo de conduta e de habilidade que
acolhê-la do jeito em que se encontra, pois só a partir daí é que se estamos avaliando (informação, compreensão, análise, síntese,
pode fazer alguma coisa. aplicação...);
Mais: no caso da aprendizagem, como estamos trabalhando b) sejam adequados aos conteúdos essenciais planejados e,
com uma pessoa – o educando –, importa acolhê-lo como ser hu- de fato, realizados no processo de ensino (o instrumento necessita
mano, na sua totalidade e não só na aprendizagem específica que cobrir todos os conteúdos que são considerados essenciais numa
estejamos avaliando, tais como língua portuguesa, matemática, determinada unidade de ensino-aprendizagem;
geografia.... c) adequados na linguagem, na clareza e na precisão da comu-
Acolher o educando, eis o ponto básico para proceder ativida- nicação (importa que o educando compreenda exatamente o que
des de avaliação, assim como para proceder toda e qualquer prática se está pedindo dele); adequados ao processo de aprendizagem do
educativa. Sem acolhimento, temos a recusa. E a recusa significa a educando (um instrumento não deve dificultar a aprendizagem do
impossibilidade de estabelecer um vínculo de trabalho educativo educando, mas, ao contrário, servir-lhe de reforço do que já apren-
com quem está sendo recusado. deu. Responder as questões significativas significa aprofundar as
A recusa pode se manifestar de muitos modos, desde os mais aprendizagens já realizadas.).
explícitos até os mais sutis. A recusa explícita se dá quando deixa-
mos claro que estamos recusando alguém. Porém, existem modos Um instrumento de coleta de dados pode ser desastroso, do
sutis de recusar, tal como no exemplo seguinte. só para nós, em ponto de vista da avaliação da aprendizagem, como em qualquer
nosso interior, sem dizer nada para ninguém, julgamos que um alu- avaliação, na medida em que não colete, com qualidade, os dados
no X ‘é do tipo que dá trabalho e que não vai mudar’. Esse juízo, por necessários ao processo de avaliação em curso. Um instrumento
mais silencioso que seja em nosso ser, está lá colocando esse edu- inadequado ou defeituoso pode distorcer completamente a reali-
cando de fora. E, por mais que pareça que não, estará interferindo dade e, por isso, oferecer base inadequada para a qualificação do
em nossa relação com ele. Ele sempre estará fora do nosso círculo objeto da avaliação e, consequentemente, conduzir a uma decisão
de relações. Acolhê-lo significa estar aberto para recebê-lo como é. também distorcida.
E só vendo a situação como é podemos compreendê-la para, dialo- Será que nossos instrumentos de avaliação da aprendizagem,
gicamente, ajudá-lo. utilizados no cotidiano da escola, são suficientemente adequados
Isso não quer dizer aceitar como certo tudo que vem do edu- para caracterizar nossos educandos? Será que eles coletam os da-
cando. Acolher, neste caso, significa a possibilidade de abrir espaço dos que devem ser coletados? Será que eles não distorcem a rea-
para a relação, que, por si mesma, terá confrontos, que poderão ser lidade da conduta de nossos educandos, nos conduzindo a juízos
de aceitação, de negociação, de redirecionamento. Por isso, a recu- distorcidos?
sa consequentemente impede as possibilidades de qualquer rela- Quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste, redação,
ção dialógica, ou seja, as possibilidades da prática educativa. O ato monografia, dramatização, exposição oral, arguição, etc. – neces-
de acolher é um ato amoroso, que traz ‘para dentro’, para depois (e sitam manifestar qualidade satisfatória como instrumento para
só depois) verificar as possibilidades do que fazer. ser utilizado na avaliação da aprendizagem escolar, sob pena de

339
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
estarmos qualificando inadequadamente nossos educandos e, Temos, pois, uma situação qualificada, um diagnóstico. O que
consequentemente, praticando injustiças. Muitas vezes, nossos fazer com ela? O ato avaliativo, só se completará, como dissemos
educandos são competentes em suas habilidades, mas nossos ins- nos preliminares deste estudo, com a tomada de decisão do que
trumentos de coleta de dados são inadequados e, por isso, os jul- fazer com a situação diagnosticada.
gamos, incorretamente, como incompetentes. Na verdade, o defei- Caso a situação de aprendizagem diagnosticada seja satisfató-
to está em nossos instrumentos, e não no seu desempenho. Bons ria, que vamos fazer com ela? Caso seja insatisfatória, que vamos
instrumentos de avaliação da aprendizagem são condições de uma fazer com ela? A situação diagnosticada, seja ela positiva ou ne-
prática satisfatória de avaliação na escola. gativa, e o ato de avaliar, para se completar, necessita da tomada
Ainda uma palavra sobre o uso dos instrumentos. Como nós nos de decisão A decisão do que fazer se impõe no ato de avaliar, pois,
utilizamos dos instrumentos de avaliação, no caso da avaliação da em si mesmo, ele contém essa possibilidade e essa necessidade. A
aprendizagem? Eles são utilizados, verdadeiramente, como recur- avaliação não se encerra com a qualificação do estado em que está
sos de coleta de dados sobre a aprendizagem de nossos educandos, o educando ou os educandos Ela obriga a decisão, não é neutra. A
ou são utilizados como recursos de controle disciplinar, de ameaça avaliação só se completa com a possibilidade de indicar caminhos
e submissão de nossos educandos aos nossos desejos? Podemos mais adequados e mais satisfatórios para uma ação, que está em
utilizar um instrumento de avaliação junto aos nossos educandos, curso. O ato de avaliar implica a busca do melhor e mais satisfatório
simplesmente, como um recurso de coletar dados sobre suas con- estado daquilo que está sendo avaliado.
dutas aprendidas ou podemos utilizar esse mesmo instrumento A avaliação da aprendizagem, deste modo, nos possibilita levar
como recurso de disciplinamento externo e aversivo, através da à frente uma ação que foi planejada dentro de um arcabouço teóri-
ameaça da reprovação, da geração do estado de medo, da submis- co, assim como político. Não será qualquer resultado que satisfará,
são, e outros. Afinal, aplicamos os instrumentos com disposição de mas sim um resultado compatível com a teoria e com a prática pe-
acolhimento ou de recusa dos nossos educandos? Ao aplicarmos dagógica que estejamos utilizando.
os instrumentos de avaliação, criamos um clima leve entre nossos Em síntese, avaliar a aprendizagem escolar implica estar dis-
educandos ou pesaroso e ameaçador? Aplicar instrumentos de ava- ponível para acolher nossos educandos no estado em que estejam,
liação exige muitos cuidados para que não distorçam a realidade, para, a partir daí, poder auxiliá-los em sua trajetória de vida. Para
desde que nossos educandos são seres humanos e, nessa condição, tanto, necessitamos de cuidados com a teoria que orienta nossas
estão submetidos às múltiplas variáveis intervenientes em nossas práticas educativas, assim como de cuidados específicos com os
experiências de vida. atos de avaliar que, por si, implicam em diagnosticar e renegociar
Coletados os dados através dos instrumentos, como nós os uti- permanentemente o melhor caminho para o desenvolvimento, o
lizamos? Os dados coletados devem retratar o estado de aprendi- melhor caminho para a vida. Por conseguinte, a avaliação da apren-
zagem em que o educando se encontra. Isto feito, importa saber dizagem escolar não implica aprovação ou reprovação do educan-
se este estado é satisfatório ou não. Daí, então, a necessidade que do, mas sim orientação permanente para o seu desenvolvimento,
temos de qualificar a aprendizagem, manifestada através dos da- tendo em vista tornar-se o que o seu SER pede.
dos coletados. Para isso, necessitamos utilizar-nos de um padrão de
qualificação. O padrão, ao qual vamos comparar o estado de apren- Diante do exposto, é possível desenvolver a avaliação para
dizagem do educando, é estabelecido no planejamento de ensino, propiciar a aprendizagem?
que, por sua vez, está sustentado em uma teoria do ensino. Assim, Pensar na avaliação como instrumento que propicia a aprendi-
importa, para a prática da qualificação dos dados de aprendizagem zagem é assumir uma concepção de que essa atividade não tem fim
dos educandos, tanto a teoria pedagógica que a sustenta, como o em si mesmo, mas que possa propiciar ao educando a possibilidade
planejamento de ensino que fizemos. de confrontar seus conhecimentos e (re) construí-los.
A teoria pedagógica dá o norte da prática educativa e o pla- Sendo assim, a avaliação da aprendizagem passa a ser um
nejamento do ensino faz a mediação entre a teoria pedagógica e a instrumento que auxiliará o educador a atingir seus objetivos pro-
prática de ensino na aula. Sem eles, a prática da avaliação escolar postos em sua prática educativa. A avaliação sob essa ótica deve
não tem sustentação. ser tomada na perspectiva diagnóstica, servindo como mecanismo
Deste modo, caso utilizemos uma teoria pedagógica que con- para detectar as dificuldades e possibilidades de desenvolvimento
sidera que a retenção da informação basta para o desenvolvimento do educando.
do educando, os dados serão qualificados diante desse entendi- A avaliação precisa ser concebida como feedback para que o
mento. Porém, caso a teoria pedagógica utilizada tenha em conta professor possa redimensionar sua prática pedagógica, propiciando
que, para o desenvolvimento do educando, importa a formação assim, a melhoria do processo ensino-aprendizagem.
de suas habilidades de compreender, analisar, sintetizar, aplicar..., Sabe-se que no atual processo educacional a avaliação é usada
os dados coletados serão qualificados, positiva ou negativamente, simplesmente para classificar os alunos, o que não tem contribuído
diante dessa exigência teórica. para melhorar a aprendizagem.
Assim, para qualificar a aprendizagem de nossos educandos, Portanto, ela pode possibilitar ao educador o entendimento de
importa, de um lado, ter clara a teoria que utilizamos como suporte como o aluno está reagindo frente ao conhecimento explorado.
de nossa prática pedagógica, e, de outro, o planejamento de ensi- É preciso lembrar que cada aluno reage diferentemente um
no, que estabelecemos como guia para nossa prática de ensinar no do outro frente à construção conhecimento. Sendo assim, não se
decorrer das unidades de ensino do ano letivo. Sem uma clara e pode exigir que todo educando se desenvolva igualmente em todos
consistente teoria pedagógica e sem um satisfatório planejamento os componentes curriculares. Nesse sentido, é preciso diversificar
de ensino, com sua consequente execução, os atos avaliativos serão mais as atividades avaliativas e explorar mais os trabalhos em gru-
praticados aleatoriamente, de forma mais arbitrária do que o são po, em parceria, para que os alunos possam estar contribuindo uns
em sua própria constituição. Serão praticados sem vínculos com a com os outros nos conhecimentos que apreenderam.
realidade educativa dos educandos.
Realizados os passos anteriores, chegamos ao diagnóstico. Ele
é a expressão qualificada da situação, pessoa ou ação que estamos
avaliando.

340
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Conclui-se então que, a reflexão da ação pedagógica assim Também Noizet e Caverni (1985) e Cardinet (1993) se referem
como a busca da fundamentação teórica e prática devem ser uma à avaliação como um processo de verificação de objetivos, em que
constante no trabalho do educador, para que o mesmo possa redi- a produção escolar dos alunos é comparada a um modelo. Para o
mensionar a sua atuação na mira da melhoria do processo ensino- último autor, o processo de avaliação contribui para a eficácia do
-aprendizagem. ensino, porque consiste na observação e interpretação dos seus
A qualidade de vida deve estar sempre posta à nossa frente. efeitos. No limite, permite orientar as decisões necessárias ao bom
Ela é o objetivo. Não vale a pena o uso de tantos atalhos e tantos funcionamento da escola.
recursos, caso a vida não seja alimentada tendo em vista o seu flo- De Ketele (1993) referencia, também, a avaliação ao processo
rescimento livre, espontâneo e criativo. A prática da avaliação da de verificação de objetivos previamente definidos. Segundo este
aprendizagem, para manifestar-se como tal, deve apontar para a autor, é no próprio processo de ensino-aprendizagem que surge a
busca do melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e avaliação, funcionando como um mecanismo que verifica se os ob-
não voltada para a seleção de uns poucos, como se comportam os jetivos pretendidos são efetivamente atingidos.
exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso Atribuindo à descrição do processo um papel importante na
mesmo, democrática e amorosa. Por ela, por onde quer que se pas- avaliação, Stufflebeam (1985) refere que é preciso, primeiro, identi-
se, não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há sub- ficar as necessidades educacionais e só depois elaborar programas
missão, mas sim liberdade. Não há medo, mas sim espontaneidade de avaliação centrados no processo educativo, para que seja possí-
e busca. Não há chegada definitiva, mas sim travessia permanente, vel aperfeiçoar este processo. O modelo C.I.P.P., sugerido por este
em busca do melhor. Sempre!22 autor, procura definir a avaliação como um processo racional onde
existe um contexto (C), uma entrada ou input (I), um processo (P)
Uma das tarefas que mais realizamos na nossa vida cotidiana é e um produto (P). A informação recolhida com a avaliação permite
a tarefa de avaliar, nos seus mais variados sentidos, que pode ir des- aos agentes educativos reunirem dados para tomarem decisões,
de a análise simples de “que roupa usar para sair”, avaliando se está subsequentemente.
frio ou calor, ou até mesmo que atividades desenvolveremos hoje. Comparar a avaliação a um sistema de comunicação é a pers-
No nosso dia-a-dia, de acordo com as necessidades, possibilidades pectiva apresentada por outros autores, como Cardinet (1993), que
e desejos, estamos fazendo escolhas ou tomando decisões, carac- considera a avaliação como um sistema de comunicação entre pro-
terizando o que denominamos de uma avaliação informal. Esta é fessores e alunos, por meio de um processo sistemático de coleta
a avaliação que fazemos, quase que automaticamente, mas existe de informação.
outro tipo de avaliação - avaliação formal ou sistemática - que é re- Para além da verificação de objetivos, Scriven (1967) considera
gulamentada por outros dados. Ela exige objetivos bem definidos, que na avaliação há uma descrição com um julgamento, ou seja,
critérios selecionados e está direcionada para um processo ou um são apreciados os objetivos de ensino. Este autor foi o primeiro a
resultado de uma situação, atividade ou um dado específico, e deve definir os conceitos de avaliação formativa e somativa, que serão
levar em consideração o contexto onde ela se realiza. É neste tipo abordados mais adiante.
de avaliação que se insere a avaliação educacional. Perrenoud (1978, 1982), por seu lado, considera que a ava-
No sistema educacional, a avaliação é usada para a coleta de liação participa na gênese da desigualdade existente ao nível da
informação, necessária aos diversos componentes do sistema (os aprendizagem e do êxito dos alunos. Segundo ele, avaliação escolar,
responsáveis pela determinação das políticas educacionais; os di- na sua forma corrente, é uma avaliação de referência normativa. A
retores de escolas; os professores; os alunos) em sua tomada de função reprodutora da escola, para o autor, concretiza-se através
decisões. de práticas avaliativas de referência normativa que reproduzem as
A avaliação educacional pode ser considerada como um dos desigualdades sociais.
temas que, ao serem abordados, sempre requerem um exercício Entende-se, hoje, que a avaliação é uma atividade subjetiva,
de “olhar para o passado” para entender o que reserva o futuro. envolvendo mais do que medir, a atribuição de um valor de acordo
“Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos com critérios que envolvem diversos problemas técnicos e éticos.
percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos”
(Luckesi, 1995, p. 43). Características e funções  da avaliação
A avaliação caracteriza-se de acordo com vários aspectos:
Os diversos conceitos de avaliação Quanto à forma pode ser:
Começou-se a falar na avaliação aplicada à educação com Ty- (i) escrita, com respostas curtas (as que requerem a marcação
ler (1949), considerado como o pai da avaliação educacional. Ele a de alternativas de respostas) ou discursivas (aquelas em que os alu-
encara como a comparação constante entre os resultados dos alu- nos constroem e redigem uma resposta);
nos, ou o seu desempenho e objetivos, previamente definidos. A (ii) oral;
avaliação é, assim compreendida, o processo de determinação da (iii) por observação e anotações sobre o objeto;
extensão com que os objetivos educacionais se realizam. (iv) por análise documental;
Outros autores - Bloom, Hastings e Madaus (1971) - também (v) por monitoramento do objeto de estudo, estando ele sob
relacionam a avaliação com a verificação de objetivos educacionais. influência da inserção ou retirada de um fator ambiental.
Em função da finalidade da avaliação, consideram três tipos de
avaliação: uma preparação inicial para a aprendizagem, uma veri- Quanto às funções:
ficação da existência de dificuldades por parte do aluno durante a De acordo com a sua finalidade, pode-se identificar os seguin-
aprendizagem e o controle sobre se os alunos atingiram os objetivos tes tipos de avaliação:
fixados previamente. Os tipos de avaliação referidos representam, • somativa - realizada em uma única oportunidade, relativa
respectivamente, a avaliação diagnóstica, a avaliação formativa e a aos processos ocorridos num período de tempo passado; por isso
avaliação certificativa. também é uma avaliação final, cujas funções se destinam a verificar
se os objetivos inicialmente estabelecidos são os resultados alcan-
çados ao término de um processo, sendo que sua aplicação está
geralmente voltada para a certificação, promoção ou seleção;
22 Fonte: www.institucional.educacao.ba.gov.br – Por Cipriano Carlos Luckesi

341
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
• formativa - é contínua pois se realiza ao longo de todo o processo educacional e tem como finalidade permitir o acompanhamen-
to e análise dos pontos fortes e fracos desse processo, para que se possa aperfeiçoá-lo quando ainda estiver ocorrendo.
• diagnóstica  - é inicial, quando aplicada no início do processo que se quer avaliar, tendo, por exemplo, a função de identificar o
estágio de aprendizagem ou desenvolvimento em que os alunos se encontram, esclarecendo aquilo que eles já detêm dos pré-requisitos
necessários ao ingresso numa nova etapa de ensino. Também pode ocorrer num momento durante o processo de ensino e aprendizagem
quando, por exemplo, buscam-se as causas do fracasso que possa ocorrer na aprendizagem.

Quanto a quem avalia: de acordo com quem a realiza, existem três tipos de avaliação: a autoavaliação, a heteroavaliação e a avalia-
ção mista ou coavaliação:
Autoavaliação: neste caso, quem emite o juízo de valor sobre o que é examinado é o próprio objeto da avaliação, ou seja, o avaliador
é o próprio avaliado.
A autoavaliação tem um enorme potencial formativo e permite que as pessoas e as organizações conheçam suas potencialidades e
limitações, além de permitir a reflexão sobre a própria realidade, que é um passo essencial no processo de sua transformação.
Por exemplo, a autoavaliação docente é um bom ponto de partida para a melhora dos processos de ensino-aprendizagem; a avaliação
da aprendizagem pelos próprios alunos permite que eles descubram seus erros, o que gera mais facilmente o conflito cognitivo necessário
para toda aprendizagem.
A heteroavaliação: ao contrário da autoavaliação, a heteroavaliação é realizada por uma outra pessoa ou por uma equipe. Pode ser
executada, por exemplo, pelo professor ao avaliar seus alunos, pelo diretor de uma escola ao avaliar o trabalho docente, por uma Secreta-
ria Municipal ou Estadual de Educação ou mesmo pelo Ministério da Educação, ao avaliarem escolas ou redes. 
É muito útil para conhecimento de aspectos do processo com os quais os avaliadores e os avaliados estão muito envolvidos, pois o
avaliador lança um olhar externo sobre o objeto da avaliação, podendo assim contribuir com visões diferentes das do avaliado sobre a
função da educação, os padrões de desempenho desejável e os métodos de avaliação.
Como exemplo de heteroavaliações podem ser citadas as avaliações feitas pelos professores em sala de aula, os vestibulares, as ava-
liações dos sistemas nacionais de educação ou as de programas educacionais, entre outras.
A coavaliação: neste processo participam tanto agentes externos (como os gestores e financiadores) quanto aqueles que executam
quotidianamente a educação formal. Este tipo de avaliação possibilita a formulação de diferentes pontos de vista sobre a valoração do
objeto avaliado e o contraste de resultados.
A avaliação dos sistemas de ensino, por exemplo, deve se basear também na avaliação das escolas por si próprias. Neste caso, além
de ser avaliada por agentes externos, cada escola deve se autoavaliar em função de seus programas, projetos, materiais pedagógicos,
recursos, professores, gestão, pessoal de apoio, alunos e infraestrutura.  “A avaliação deve passar de um discurso de descrição e julgamen-
to para um discurso de diálogo”  (Nevo, 1988).  Toda a comunidade da escola deve ser preparada para poder combinar os produtos das
heteroavaliações e autoavaliações.

Principais características da avaliação e seus focos intra e extraescolares

Principais Avaliação com foco em objetos dimensionais Avaliação com foco em objetos dimensionais em
características no âmbito da escola âmbitos extraescolares
Na maioria das vezes é aplicada na forma de testes
Geralmente realizada por meio de testes
escritos e questionários socioeconômicos, mas também
Quanto à forma escritos ou orais, podendo ser utilizadas outras
pode ser realizada de outras formas, como a investigação
formas
documental
Geralmente a função somativa tem sido en-
Quanto à fatizada, mas acredita-se que o ideal é a aplicação Pode apresentar quaisquer funções inclusive reunin-
função das outras duas funções (diagnóstica e formativa) do as duas ou as três numa única avaliação
em complementação a esta
Quanto à rela- Pode-se concretizar como autoavaliação, Assim como a avaliação no âmbito escolar, pode
ção sujeito-objeto heteroavaliação ou coavaliação apresentar as três relações entre sujeito e objeto
Quanto ao foco Os processos e resultados das ações de ensi- Os processos e resultados da educação enquanto
de interesse no-aprendizagem fenômeno social
Investiga e atende aos interesses da comu- O universo que investiga e os interesses a que
Quanto à ampli-
nicade escolar imediata (pais, alunos, diretores, atende amiúde são muito extensos, voltando-se para a
tude/extensão
professores, corpo de funcionários da escola) sociedade como um todo ou para parcelas da mesma

Os diversos tipos de avaliação educacional


O mais tradicional objeto da avaliação educacional é o aluno, que, durante todo o ano escolar, é avaliado por seus professores. No
entanto, os focos de interesse da avaliação são cada vez mais diversificados, tornando mais frequentes e mesmo comuns, no cotidiano
da sociedade, as referências à avaliação de cursos, de escolas, de instituições, de professores, de diretores, de rendimento dos alunos, de
desempenho dos sistemas de ensino, de materiais didáticos, de currículos, de experiências e inovações educacionais, etc. Considerando
o desenvolvimento e a produção acadêmica da área, é possível afirmar que quase todos os aspectos da educação e também fatores a ela
relacionados são passíveis de se tornar objeto de avaliação.

342
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A existência deste leque tão grande de interesses e possibili- a obrigação de atribuir uma nota para cada aluno e que esta nota
dades na área da avaliação educacional torna imprescindível, em seja a responsável pela aprovação ou reprovação e em sua forma-
qualquer projeto de avaliação, a delimitação e a definição precisa ção pouco se ouviu falar em avaliação.
do objeto a ser avaliado. A precisão e qualidade da resposta à per- Segundo VASCONCELLOS (1998) a resistência a mudanças pode
gunta o que avaliar definem o nível e a abrangência da avaliação, ter diferentes origens, falta de conhecimento, falta de segurança
assim como os indicadores a serem considerados, os dados a serem em fazer o novo, defesa natural diante de situações novas, entre
coletados e como todas as informações serão analisadas. outros.
 Assim, o processo de avaliação pode abranger o sistema edu- Para HOFFMANN (2000) alcançar a qualidade de ensino signifi-
cacional de um país, ou uma rede de ensino, ou um grupo de es- ca desenvolver o máximo de seus alunos, tornando a aprendizagem
colas, ou uma escola, ou uma turma de alunos, ou até mesmo um possível no seu sentido amplo, alcançada pela criança a partir das
único aluno.     oportunidades que o meio oferece.
 O entendimento de que todo processo educacional é compos- De acordo com HOFFMANN (2000), em uma perspectiva cons-
to por diferentes aspectos e sofre influências de fatores externos a trutivista uma educação de qualidade oferece oportunidades amplas
ele faz com que os projetos de avaliação sejam abrangentes e te- e desafiadoras para a construção do conhecimento, é responsável por
nham diversos objetos de interesse, para os quais existem instru- tornar a aprendizagem possível, já em uma perspectiva tradicional a
mentos específicos de avaliação, como por exemplo: a aprendiza- qualidade de ensino se dá através de padrões pré-estabelecidos, pa-
gem dos alunos, os condicionantes socioeconômicos e culturais dos drões comparativos e critérios de promoção, neste sentido a qualidade
alunos, o perfil do professorado, a prática docente, as condições de passa a ser confundida com quantidade.
funcionamento das escolas, as características da gestão escolar e o Ainda segundo a mesma autora em uma perspectiva mediado-
clima organizacional, entre outros. ra a qualidade de ensino é desenvolver o aluno no máximo de seu
Por isso, é tendência atual da avaliação educacional o desenvol- potencial, não há limites e nem critérios pré-estabelecidos, porém
vimento de projetos que buscam articular, compatibilizar e utilizar objetivos bem definidos e planejados, sem que haja uma padroni-
distintos modelos, ferramentas e instrumentos, de modo a melhor zação de notas e valores.
apreender os multifacetados aspectos do processo educacional, ob- Ao definir objetivos o professor deve delinear as ações educati-
jeto da avaliação.23 vas e este processo deve ocorrer respeitando a realidade escolar do
aluno, sua história e a comunidade em que está inserido, devendo
A avaliação mediadora considerar as possibilidades e limites que este cenário educativo
A avaliação mediadora propõe um modelo baseado no dialo- lhe oferece.
go e aproximação do professor com o seu aluno de forma que as O critério essencial e necessário para a avaliação mediadora é
práticas de ensino sejam repensadas e modificadas de acordo com que o professor conheça seu aluno, ou seja, o professor deve co-
a realidade sócio-cultural de seus alunos, nesta perspectiva de ava- nhecer sua realidade, compreender sua cultura, seu modo de falar,
liação o erro é considerado como parte do processo na construção e pensar, e isto se dá “através de perguntas, fazendo-lhe novas e de-
do conhecimento e não como algo passível de punição, na visão safiadoras questões, na busca de alternativas para uma ação edu-
mediadora o professor é capaz de criar situações desafiadoras que cativa voltada para a autonomia moral e intelectual”, HOFFMANN
tornem capaz a reflexão e ação tornando a aprendizagem mais sig- (2000, p. 34).
nificativa. A avaliação mediadora propõe uma ação reflexiva da aprendi-
A avaliação mediadora possibilita ao aluno construir seu co- zagem, ao invés de uma avaliação classificatória, de julgamento de
nhecimento, respeitando e valorizando suas idéias, ou seja, faz com resultados.
que o aluno coloque em prática toda sua vivência. A avaliação mediadora destina-se a conhecer, não apenas para
O processo de aprendizagem torna-se continuo através da ava- compreender, mas também para promover ações em benefícios aos
liação mediadora, uma vez que o professor possui ferramentas de educandos, o professor tem como papel participar do sucesso ou
intervenção adequadas para que os alunos se apropriem de conhe- do fracasso dos alunos, ou seja, o professor tem a responsabilidade
cimentos significativos, sem o sentimento de obrigação, ou seja, o de através de uma prática reflexiva conhecer o seu aluno e iden-
aprendizado ocorre de maneira natural com mais facilidade de in- tificar a maneira adequada de promover a aprendizagem levando
ternalização do conteúdo aplicado em sala de aula. em conta seus conhecimentos anteriores, o professor terá que pos-
Partindo deste pressuposto é possível indagar se de fato as for- suir uma postura reflexiva e uma formação continuada para saber
mas tradicionais de avaliação são eficientes ou é necessário mudar avaliar o aluno, avaliar a si mesmo e avaliar a avaliação que deverá
esta prática para que realmente seja possível uma aprendizagem ser permanente, pois se o aluno fracassar não será apenas sua res-
significativa e não apenas estudar para tira boas notas. ponsabilidade, mas também do professor que ao avaliar seu aluno
s práticas avaliativas são questionadas principalmente devido à constantemente deve realizar as devidas interferências buscando
questão da melhoria da qualidade de ensino, ou seja, que só é pos- novos caminhos e alternativas para que a aprendizagem ocorra.
sível modificar as formas de se avaliar nas escolas se a qualidade da Para HOFFMANN (2000) é responsabilidade do educador tra-
educação melhorar, segundo HOFFMANN (2000, p. 11) “as escolas balhar a individualidade do seu aluno, respeitando suas diferenças
justificam os seus temores em realizar mudanças em decorrência com o intuito de formar jovens autônomos, críticos e cooperativos.
de sérias resistências das famílias com relação a inovações”. Na avaliação mediadora o professor ao propor uma tarefa de-
fine suas intenções, pois sua prática é uma ação que deve ser pla-
A sociedade como um todo acredita que a avaliação quando é nejada, sistemática e intuitiva, e parte de duas premissas básicas:
realizada no sistema tradicional torna-se mais eficiente e responsá- confiança na possibilidade dos alunos construírem suas próprias
vel por uma escola mais competente. verdades e valorização de suas manifestações e interesses, ou seja,
Há também certa resistência por parte dos professores em mo- o aluno passa a ser o centro do processo de ensino, deixando de
dificar suas práticas avaliativas, pois segundo HOFFMAN (2005), sua lado a educação bancária onde o aluno é apenas um depósito de
formação e educação foi toda pautada no sistema tradicional, com ideias e não agente atuante na aprendizagem.

23 Fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br – Por Maria Cândida Trigo

343
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A mediação é aproximação, diálogo, que assume um papel de É necessário que o professor acompanhe seu aluno, no sentido
grande relevância na educação, é o acompanhamento do jeito de de estar junto dele e caminhar junto dele para que seja possível
ser de cada aluno, bem como da sua história pessoal e familiar, nela a observação passo a passo de seus resultados individuais, porém
o tempo do aluno deve ser respeitado, pois ele é sujeito e produtor segundo HOFFMANN (2000), acompanhamento e diálogo por si só
de seu conhecimento, exemplificando, em uma mesma atividade os não conduzem a uma avaliação mediadora, pois nesta prática o diá-
alunos apresentarão reações diferentes de entendimento, riqueza logo é muito mais que uma conversa e o acompanhamento é muito
em suas respostas e até mesmo nas manifestações. mais que observar os alunos realizarem uma tarefa, na mediação
Um professor mediador preocupa-se com a aprendizagem de dialogar é refletir em conjunto e acompanhar é favorecer o vir a
seu aluno e tem a observação como um aliado na construção do ser, realizando ações educativas que possibilitem novas descober-
conhecimento, ao observar seu aluno o mesmo é capaz de iden- tas, proporcionando vivências enriquecedoras e favorecedoras à
tificar suas habilidades e trabalhá-las plenamente e também suas ampliação do saber.
dificuldades procurando alternativas junto ao aluno para transfor-
mar a aprendizagem em um momento prazeroso e levar o aluno a Ao utilizar a avaliação mediadora o professor é capaz de co-
perceber sua importância para a construção de seu próprio conhe- nhecer cada um de seus alunos e utilizar a prática da observação
cimento. e acompanhamento para que possa adequar o ensino a cada um
Através da avaliação mediadora o professor deve utilizar a pro- como um processo individualizado.
va para pensar em novas estratégias pedagógicas que ele deverá Avaliar vai além de atribuir uma nota ou um valor, ao estudar
utilizar para interagir com seus alunos, e para que isto aconteça a avaliação mediadora, foi possível entender que para a aprendi-
de forma eficaz e significativa o professor deve levar em conta os zagem tornar-se efetiva é necessário integrar a avaliação a todo o
conhecimentos prévios de seus alunos, estes devem ser explora- processo de ensino-aprendizagem e não a um momento isolado,
dos e trabalhados, pois são necessários para que o professor possa pois desta forma o aluno é avaliado por tudo o que produziu e o
abordar novos temas e como uma fonte confiável para detectar as que apreendeu.
dificuldades de aprendizagens, bem como para indicar novos rumos A visão mediadora oferece tanto ao professor quanto ao alu-
e estratégias a serem utilizadas. no momentos de reflexão e diálogo, para que juntos possam traçar
Na avaliação mediadora é importante que o professor seja novos objetivos, através de uma visão menos centralizada do saber,
reflexivo e que tome decisões coerentes, coloque-as em prática nesta perspectiva o aluno tem sua devida importância no processo
avaliando-as e ajustando-as progressivamente, conforme suas ex- de ensino que deve estar inserido em sua realidade e planejado
periências e as necessidades de seus alunos, pois estes estão sem- para que seja objeto de interesse e participação coletiva.
pre evoluindo, em diferentes ritmos à medida que o professor os A construção de um diálogo também é essencial para que a
provoca a prosseguir sempre. avaliação mediadora alcance seus objetivos, pois o professor ao
Para que o aluno seja orientado a uma prática reflexiva de aná- aproximar-se de seus alunos, ao conhecê-los é capaz de dar signifi-
lise de suas aprendizagens é necessário que o professor mobilize cados ao que o aluno precisa conhecer, ou seja, integrar a aprendi-
este aluno a partir de ações do cotidiano tais como: comentários, zagem aos conhecimentos prévios de seus alunos.24
novas perguntas e orientações para a continuidade de seus estudos
traçando metas pessoais e coletivas de enfrentamento de dificulda-
des e de avanços em determinadas áreas. DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA
A visão tradicional é aquela em que o professor primeiro ensina EDUCAÇÃO INFANTIL (RESOLUÇÃO Nº 5 DE 17/12/09)
e depois pergunta, na visão mediadora, as perguntas assumem um
caráter permanente de mobilização, ou seja, professores e alunos DCN – Educação Infantil
questionam-se, buscam informações pertinentes para construir No Brasil, durante o estado novo até a década 50, as crianças
conceitos e resolver problemas, as condições de aprendizagem foram consideradas cidadãos do futuro; mas só a partir promulga-
definem as condições de avaliação, pois se cria um ambiente de ção da Constituição Federal de 1988, é que passaram a ser reconhe-
investigação e intervenção, adequadas à observação de cada aluno. cidas como cidadãos portadores de direitos, um deles é o acesso à
Segundo HOFFMANN (2000) a aprendizagem acontece em educação infantil. A partir de então, o campo da Educação Infantil
tempos diferentes para cada aluno, pois é um processo de natureza passou a receber fortalecimento nas práticas pedagógicas objeti-
individual, o importante é apontar rumos do caminho e torná-lo tão vando o desenvolvimento das crianças, assim, articulada às Diretri-
sedutor a ponto de aguçar a curiosidade do aluno para o que ainda zes Curriculares Nacionais da Educação Básica, esta resolução nº 5,
está por vir. de 17 de dezembro de 2009 foi elaborada para orientar tais práticas
A avaliação deve ser organizada de forma a favorecer a apren- pedagógicas.
dizagem dos alunos, promovendo a evolução dos alunos, mas aci- Para iniciar a discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-
ma de tudo respeitando o tempo de cada um. nais para a Educação Infantil é necessário inicialmente, esclarecer
De acordo com HOFFMANN (2000) é o aluno quem determina alguns termos:
o seu próprio tempo de aprendizagem e é no cotidiano escolar que  Educação Infantil: Se refere à primeira etapa da educação
estas condições se revelam, uma tarefa igual não é cumprida por básica oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam
todos ao mesmo tempo, desta forma ao desenvolver um projeto como espaços institucionais não domésticos que constituem esta-
o professor deve ter um planejamento flexível, pois este pode ou belecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cui-
não acabar dentro do tempo esperado, por isso é importante que o dam de crianças de 0 a 5 anos de idade.
professor avalie todo tempo os objetivos esperados e os rumos to-  Criança: Atualmente considerado um sujeito de direitos
mados pelo grupo de alunos, diversificando o seu fazer pedagógico. que, constrói sua identidade pessoal e coletiva produzindo cultura.
Um fator muito importante na avaliação mediadora é o diálo-  Currículo: Atividades que relacionam as práticas diárias
go, que nesta concepção é entendido como uma conversa como com o conhecimento prévio de cada aluno, objetivando o desenvol-
o aluno, pois é através dele que o professor vai se aproximar de vimento de crianças de 0 a 5 anos de idade;
seu aluno e despertar o interesse e a atenção pelo conteúdo a ser
transmitido.
24 Por Giovana Gomes de Macedo Luz/Fabio Pestana Ramos

344
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
 Proposta Pedagógica:É um documento de base norteado- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
ra da aprendizagem e desenvolvimento das crianças de que se trata. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
É elaborado num processo coletivo, com a participação da direção,
dos professores e da comunidade escolar. CÂMARA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009 (*)
Quanto à matrícula da criança, esta deve ocorrer na idade en-
tre 0 e 5 anos nas creches e pré-escolas próximas às residências, Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil
onde ficarão em tempo parcial (de 0 à 4h diárias) ou integral (igual O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Na-
ou > 7h diárias). cional de Educação, no uso de suas atribuições legais, com funda-
mento no art. 9º, § 1º, alínea “c” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
As propostas pedagógicas de Educação Infantil deverão ainda: de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro
respeitar os princípios éticos, políticos e estéticos das crianças en- de 1995, e tendo em vista o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, homo-
volvidas; ampliar os diferentes conhecimentos infantis; promover logado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação,
educação e cuidado, além de igualdade e sociabilidade entre as publicado no DOU de 9 de dezembro de 2009, resolve:
crianças. Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares
A articulação da proposta pedagógica objetiva garantir à crian- Nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organiza-
ça apropriação de diferentes linguagens, proteção, direito à saúde, ção de propostas pedagógicas na Educação Infantil.
à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação In-
convivência e à interação com outras crianças. fantil articulam-se com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Edu-
Quanto à organização do espaço, tempo e materiais, estes deve- cação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos
rão atingir os objetivos lançados na proposta pedagógica, enfatizando definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
a brincadeira como eixo global de atuação e respeitando à pluralidade de Educação, para orientar as políticas públicas na área e a elabora-
cultural: culturas africanas; afro-brasileiras; combate ao racismo e à ção, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas
discriminação; valorização da criança como ser humano. e curriculares.
Quanto ao processo de avaliação, as instituições de Educação Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um
Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do tra- conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os sa-
balho a fim de verificar o desenvolvimento das crianças, sem objeti- beres das crianças com os conhecimentos que fazem parte do pa-
vo de seleção, promoção ou classificação, garantindo: a observação trimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de
crítica; continuidade dos processos de aprendizagem; explanação modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5
dos objetivos atingidos. anos de idade.
Para organizar as diretrizes das quais se trata neste artigo, a Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão
Coordenação Geral de Educação Infantil do MEC estabeleceu víncu- considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é su-
lo com diferentes autoridades na área da educação em vários can- jeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas
tos do Brasil, incluindo: Universidades Federais e Estaduais, grupos cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva,
de pesquisas, conselheiros tutelares, ministério público, sindicatos, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta,
secretários e conselheiros, especialistas e muito mais, desta forma, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade,
a elaboração de orientações para a implementação das diretrizes produzindo cultura.
supracitadas é dever do Ministério da Educação, e a Secretaria de Art. 5º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Bási-
Educação Básica, por meio da Coordenação Geral de Educação In- ca, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam
fantil continuará elaborando estratégias em caráter de debate de- como espaços institucionais não domésticos que constituem es-
mocrático, a fim de atender as exigências que melhor representem tabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e
a qualidade da formação e preparação infantil.25 cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em
jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão
Síntese: competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.
O atendimento em creches e pré-escolas como direito social § 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil
das crianças se afirma na Constituição de 1988, com o reconheci- pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
mento da Educação Infantil como dever do Estado com a Educação. § 2° É obrigatória a matrícula na Educação Infantil de crianças
O processo que resultou nessa conquista teve ampla participação que completam 4 ou 5 anos até o dia 31 de março do ano em que
dos movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos ocorrer a matrícula.
movimentos de trabalhadores, dos movimentos de redemocratiza- § 3º As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de março
ção do país, além, evidentemente, das lutas dos próprios profissio- devem ser matriculadas na Educação Infantil.
nais da educação. § 4º A frequência na Educação Infantil não é pré-requisito para
Desde então, o campo da Educação Infantil vive um intenso a matrícula no Ensino Fundamental.
processo de revisão de concepções sobre educação de crianças em § 5º As vagas em creches e pré-escolas devem ser oferecidas
espaços coletivos, e de seleção e fortalecimento de práticas peda- próximas às residências das crianças.
gógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das § 6º É considerada Educação Infantil em tempo parcial, a jor-
crianças. Em especial, têm se mostrado prioritárias as discussões nada de, no mínimo, quatro horas diárias e, em tempo integral, a
sobre como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos jornada com duração igual ou superior a sete horas diárias, com-
em creches e como assegurar práticas junto às crianças de quatro preendendo o tempo total que a criança permanece na instituição.
e cinco anos que prevejam formas de garantir a continuidade no Art. 6º As propostas pedagógicas de Educação Infantil devem
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, sem respeitar os seguintes princípios:
antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fun- I – Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade
damental. e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes
culturas, identidades e singularidades.
25Fonte: www.psicoativo.com - Por André Pontes Silva.

345
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
II – Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticida- § 2º Garantida a autonomia dos povos indígenas na escolha dos
de e do respeito à ordem democrática. modos de educação de suas crianças de 0 a 5 anos de idade, as
III – Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e propostas pedagógicas para os povos que optarem pela Educação
da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas Infantil devem:
e culturais. I - proporcionar uma relação viva com os conhecimentos, cren-
Art. 7º Na observância destas Diretrizes, a proposta pedagógica ças, valores, concepções de mundo e as memórias de seu povo;
das instituições de Educação Infantil deve garantir que elas cum- II - reafirmar a identidade étnica e a língua materna como ele-
pram plenamente sua função sociopolítica e pedagógica: mentos de constituição das crianças;
I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usu- III - dar continuidade à educação tradicional oferecida na famí-
fruam seus direitos civis, humanos e sociais; lia e articular-se às práticas sócio-culturais de educação e cuidado
II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e comple- coletivos da comunidade;
mentar a educação e cuidado das crianças com as famílias; IV - adequar calendário, agrupamentos etários e organização
III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre de tempos, atividades e ambientes de modo a atender as deman-
adultos e crianças quanto a ampliação de saberes e conhecimentos das de cada povo indígena.
de diferentes naturezas; § 3º - As propostas pedagógicas da Educação Infantil das crian-
IV - promovendo a igualdade de oportunidades educacionais ças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores arte-
entre as crianças de diferentes classes sociais no que se refere ao sanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária,
acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância; quilombolas, caiçaras, povos da floresta, devem:
V - construindo novas formas de sociabilidade e de subjetivi- I - reconhecer os modos próprios de vida no campo como fun-
dade comprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabi- damentais para a constituição da identidade das crianças morado-
lidade do planeta e com o rompimento de relações de dominação ras em territórios rurais;
etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguísti- II - ter vinculação inerente à realidade dessas populações, suas
ca e religiosa. culturas, tradições e identidades, assim como a práticas ambiental-
Art. 8º A proposta pedagógica das instituições de Educação In- mente sustentáveis;
fantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos III - flexibilizar, se necessário, calendário, rotinas e atividades
de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e apren- respeitando as diferenças quanto à atividade econômica dessas po-
dizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, pulações;
à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brinca- IV - valorizar e evidenciar os saberes e o papel dessas popu-
deira, à convivência e à interação com outras crianças. lações na produção de conhecimentos sobre o mundo e sobre o
§ 1º Na efetivação desse objetivo, as propostas pedagógicas ambiente natural;
das instituições de Educação Infantil deverão prever condições para V - prever a oferta de brinquedos e equipamentos que respei-
o trabalho coletivo e para a organização de materiais, espaços e tem as características ambientais e socioculturais da comunidade.
tempos que assegurem: Art. 9º As práticas pedagógicas que compõem a proposta cur-
I - a educação em sua integralidade, entendendo o cuidado ricular da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as
como algo indissociável ao processo educativo; interações e a brincadeira, garantindo experiências que:
II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da
cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural da criança; ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que
III - a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias, o possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e
respeito e a valorização de suas formas de organização; respeito pelos ritmos e desejos da criança;
IV - o estabelecimento de uma relação efetiva com a comuni- II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens
dade local e de mecanismos que garantam a gestão democrática e e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de ex-
a consideração dos saberes da comunidade; pressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;
V - o reconhecimento das especificidades etárias, das singula- III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apre-
ridades individuais e coletivas das crianças, promovendo interações ciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com
entre crianças de mesma idade e crianças de diferentes idades; diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos;
VI - os deslocamentos e os movimentos amplos das crianças IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, re-
nos espaços internos e externos às salas de referência das turmas lações quantitativas, medidas, formas e orientações espaçotempo-
e à instituição; rais;
VII - a acessibilidade de espaços, materiais, objetos, brinque- V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas ativi-
dos e instruções para as crianças com deficiência, transtornos glo- dades individuais e coletivas;
bais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação; VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a
VIII - a apropriação pelas crianças das contribuições histórico- elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pes-
-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, euro- soal, auto-organização, saúde e bem-estar;
peus e de outros países da América; VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crian-
IX - o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação ças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e
das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasilei- de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade;
ras, bem como o combate ao racismo e à discriminação; VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento,
X - a dignidade da criança como pessoa humana e a proteção o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em
contra qualquer forma de violência – física ou simbólica – e negli- relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;
gência no interior da instituição ou praticadas pela família, preven- IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças
do os encaminhamentos de violações para instâncias competentes. com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráfi-
cas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;

346
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhe- (A) Planejar, observar, corrigir e documentar
cimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, (B) Observar, registar, planejar e executar
assim como o não desperdício dos recursos naturais; (C) Planejar, observar, registrar e documentar
XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das (D) Observar, planejar, registrar e excutar
manifestações e tradições culturais brasileiras;
XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, com- 2- Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente
putadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desen-
midiáticos. volvimento”. (apud DAVIS e OLIVEIRA, 1993, p. 56). Um ambiente
Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elaboração da que permite que o educador perceba a maneira como a criança
proposta curricular, de acordo com suas características, identidade transpõe a sua realidade, seus anseios, suas fantasias. Os ambien-
institucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, es- tes devem ser ______________________________.
tabelecerão modos de integração dessas experiências. (A) estabelecidos de acordo com os objetivos dos educadores
Art. 10. As instituições de Educação Infantil devem criar pro- (B) planejados de forma a satisfazer as necessidades da criança
cedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e para (C) estritamente voltados às praticas curriculares
avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de sele- (D) de acordo com a faixa etária das crianças
ção, promoção ou classificação, garantindo:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadei- 3- _________________________________________ é uma
ras e interações das crianças no cotidiano; metodologia de trabalho educacional que tem por objetivo orga-
II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e nizar a construção dos conhecimentos em torno de metas previa-
crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); mente definidas, de forma coletiva, entre alunos e professores.
III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio No trecho acima estamos nos referindoà:
da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de (A) Análise Pedagógica
transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educa- (B) Análise Curricular
ção Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/ (C) Pedagogia Plena
pré-escola e transição pré-escola/Ensino Fundamental); (D) Pedagogia de Projetos
IV - documentação específica que permita às famílias conhecer
o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desen- 4- O papel do educador, em suas intervenções, é o de esti-
volvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil; mular, observar e mediar, criando situações de aprendizagem sig-
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil. nificativa. É fundamental que este saiba produzir perguntas perti-
Art. 11. Na transição para o Ensino Fundamental a proposta pe- nentes que façam os alunos pensarem a respeito do conhecimento
dagógica deve prever formas para garantir a continuidade no pro- que se espera construir, pois uma das tarefas do educador é, não só
cesso de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitan- fazer o aluno pensar, mas acima de tudo, ensiná-lo a pensar certo.
do as especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que Podemos afirmar que:
serão trabalhados no Ensino Fundamental. (A) As duas frases estão corretas
Art. 12. Cabe ao Ministério da Educação elaborar orientações (B) A primeira frase está correta e a segunda incorreta
para a implementação dessas Diretrizes. (C) As duas frases estão incorretas
Art. 13. A presente Resolução entrará em vigor na data de sua (D) A primeira frase esta incorreta e a segunda correta
publicação, revogando-se as disposições em contrário, especial-
mente a Resolução CNE/CEB nº 1/99. 5- Segundo Vygotsky (1991), a “brincadeira possui três carac-
terísticas: a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes
em todos os tipos de brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais,
DIRETRIZES EDUCACIONAIS DO MUNICÍPIO DE naquelas de faz-de-conta, como nas que exigem regras.”. Podemos
PETRÓPOLIS então afirmar que:
(A) Os jogos e as brincadeiras aumentam os laços de amizade
Prezado candidato, as “Diretrizes educacionais do Município (B) Os jogos e as brincadeiras têm como objetivo desenvolver a
de PETRÓPOLIS” não foram disponibilizadas para editora, entre- aprendizagem pela compreensão do mundo e do saber.
tanto, para auxiliar em seus estudos o conteúdo do “Documento (C) Apenas os jogos tem sentido real de aprendizagem
Orientador Curricular 2020” está disponível na “Área do cliente” (D) nenhuma das alternativas acima
em nosso site.
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. 6- _______________________é um grande campo a ser de-
senvolvido para o desenvolvimento integral da criança, pois através
EXERCÍCIOS das brincadeiras que a criança descobre a si mesma e o outro e
também um elemento significativo e indispensável que leva a crian-
ça a aprender com prazer e ao mesmo tempo interando-a com o
1- A concretização da avaliação de contexto na Educação In- mundo em que vive. Estamos nos referindo a:
fantil sugere, além do aprofundamento das temáticas emergidas (A) interação
da prática pedagógica, na relação direta com as crianças, sujeitos (B) sociabilidade
principais do processo educativo, a promoção de uma “consciên- (C) ludicidade
cia pedagógica”, nos(as) professores(as), na busca de práticas que (D) experimentação
garantam umconceito de qualidade. Significa dizer que a avaliação
precisa estar vinculada aos demais processos educativos:

347
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
7- De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida (C) São usadas para substituir as técnicas e metodologias con-
como um processo no qual o indivíduo: vencionais, como, por exemplo, o livro, o quadro de giz e o mi-
(A) constrói a gramática e em suas variações, sendo chamada meógrafo.
de alfabetismo a capacidade de ler, compreender, e escrever (D) Os resultados serão favoráveis graças ao grande preparo da
textos, e operar números. equipe docente para qualquer eventualidade, ao longo do pro-
(B) constrói a gramatica e saber decifrar os numeros cesso ensino-aprendizagem.
(C) constrói a gramática e apenas lê e escreve (E) A obtenção de resultados qualitativos no processo educa-
(D) constrói a gramática sabe e operar números. cional escolar com o uso dessas tecnologias depende da forma
como elas são introduzidas e utilizadas nesse processo.
8- O desenvolvimento da linguagem se divide em dois está-
dios: 12. (ICAP). A contribuição da escola é a de:
(A) pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo (A) Não eleger a cidadania como eixo vertebrador da educação
os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa escolar.
palavras. (B) Colocar-se contra valores e práticas sociais.
(B) balbucio, quando o bebê usa de modo comunicativo os (C) Desenvolver um projeto de educação comprometida com
sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na
palavras. realidade para transformá-la.
(C) pré – lingüístico, quando o bebê usa de modo comunicativo (D) Desrespeitar princípios e descomprometer-se com as pers-
os sons, sem palavras ou gramática; e o silabico, quando usa pectivas e decisões que as favoreçam.
palavras. (E) Não valorizar conhecimentos que permitam desenvolver as
(D) pré – balbucio, quando o bebê usa de modo comunicativo capacidades necessárias para a participação efetiva.
os sons, sem palavras ou gramática; e o lingüístico, quando usa
palavras. 13. Acerca da função sociocultural da escola, assinale a opção
correta.
9- “Expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, (A) Os conteúdos escolares devem ser transmitidos aos estu-
sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização dantes para que eles aprendam a se comportar em sociedade.
de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensio- (B) A escola deve focar especificamente o desenvolvimento in-
nal, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na telectual de seus alunos, enfatizando a assimilação de conteú-
escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, dos científicos.
entalhes etc.” (C) A escola deve estar vinculada às questões sociais e aos valo-
Na frase acima se refere às: res democráticos, visando à construção da cidadania.
(A) Artes do Movimento (D) A escola deve desempenhar seu papel independentemen-
(B) Artes Visuais te do momento histórico e das questões sociais vividas pelo
(C) Artes Sensoriais aluno.
(D) Artes do Aprendizado
14. (ESAF/MF) A respeito da Formação Continuada dos Profis-
10. (ICAP) Um projeto pedagógico poderá ser orientado por sionais da Educação, assinale a opção correta.
três grandes diretrizes: (A) A preparação de docentes para todas as etapas da educação
I. Posicionar-se em relação às questões sociais e interpretar a básica é compromisso público de Estado e exige que se tenha
tarefa educativa como uma intervenção na realidade no momento uma articulação entre formação inicial nos diferentes níveis de
presente; ensino e o sistema de avaliação.
II. Não tratar os valores apenas como conceitos ideais; (B) A Lei n.11.502, de julho de 2010, atribui ao Inep a respon-
III. Incluir essa perspectiva no ensino dos conteúdos das áreas sabilidade pela formação de professores da educação básica –
de conhecimento escolar. uma prioridade do Ministério da Educação.
(C) A Política Nacional de Formação de Professores tem como
Assinale a alternativa correta: objetivo manter a oferta e melhorar a qualidade nos cursos de
(A) Apenas o item I está correto. formação dos docentes.
(B) Apenas o item II está correto. (D) O tema é de tamanha relevância que foi criado um grupo de
(C) Apenas o item III está correto. trabalho nacional para resolver as questões e propor mudanças
(D) Apenas os itens I e III estão corretos. na formação dos professores.
(E) Todos os itens estão corretos. (E) O MEC criou a Rede Nacional de Formação Continuada de
Professores em 2004 com o objetivo de contribuir para a me-
11. (FUNCAB/MPE/RO) As Novas Tecnologias em Educação, lhoria da formação dos professores e alunos.
tais como o uso da informática, a utilização da internet, da mul-
timídia e de outros recursos ligados às linguagens digitais de que 15. (IF-SC) A avaliação constitui tarefa complexa que não se re-
atualmente se dispõe, estão cada vez mais presentes nas escolas sume à realização de provas e atribuição de notas. Nessa perspec-
para qualificar o processo educativo. Sobre elas, é correto afirmar: tiva autores como Haydt (2000), Sant’anna (2001), Luckesi (2002)
(A) Em nada ou muito pouco vêm colaborar para tornar o pro- caracterizam três modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa
cesso ensino-aprendizagem mais prazeroso, eficiente e de qua- e somativa. Em relação às modalidades de avaliação associe corre-
lidade. tamente a coluna da direita com a coluna da esquerda.
(B) A integração das novas tecnologias à educação deverá ocor- (1) Diagnóstica
rer de forma aleatória, sem o estabelecimento de objetivos es- (2) Formativa
pecíficos ou projetos próprios, pois o que importa é oferecer (3) Somativa
aos alunos o acesso ao computador.

348
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
( ) Provoca o distanciamento dos autores que participam do 18. (UPENET/IAUPE– UPE) Na educação contemporânea, a or-
processo ensino e aprendizagem. ganização curricular tem como foco
( ) Identifica as aptidões iniciais, necessidades e interesses dos (A) a organização sequencial de disciplinas de um curso.
estudantes com o objetivo de determinar os conteúdos e as estra- (B) o conjunto de atividades planejadas para um curso.
tégias de ensino mais adequadas. (C) o processo dinâmico de organização e construção do conhe-
( ) Constitui uma importante fonte de informações para o aten- cimento pelo estudante.
dimento às diferenças culturais, sociais e psicológicas dos alunos. (D) o percurso da vida educacional e profissional de uma pes-
( ) Fundamenta-se na verificação do desempenho dos alunos, soa.
perante os objetivos de ensino previamente estabelecidos no pla- (E) as normas e orientações dadas durante um programa ou
nejamento. ( ) Realizada durante o processo de ensino e aprendiza- curso.
gem, com a finalidade de melhorar as aprendizagens em curso, por
meio de um processo de regulação permanente.
( ) Subsidia o planejamento e permite estabelecer o nível de GABARITO
necessidades iniciais para a realização de um planejamento ade-
quado.
1 C
( ) Possibilita localizar as dificuldades encontradas no processo
de assimilação e produção do conhecimento. 2 B
3 D
Assinale a alternativa que contém a ordem CORRETA de asso-
ciação, de cima para baixo. 4 A
(A) 3, 2, 1, 1, 1, 3, 2 5 B
(B) 3, 1, 2, 3, 2, 1, 2
6 C
(C) 3,1, 2,1, 2,1, 3,1
(D) 1, 3, 2, 3, 1, 2, 2 7 A
(E) 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3 8 A
16. (IBADE/SEE/PB) O processo de ensino pelo qual a matéria 9 C
(conteúdos, conhecimentos sobre determinado fato, aconteci- 10 E
mento ou fenômeno natural) é estudada no seu relacionamento
11 E
com fatos sociais a ela conexos é denominado:
(A) conversação didática. 12 C
(B) trabalho em grupo. 13 C
(C) trabalho independente.
(D) estudo do meio. 14 C
(E) elaboração conjunta. 15 B

17. (IF/SC) Ao estudar a questão do planejamento na prática 16 D


docente, Sandra M. Corazza afirma que “a ação pedagógica é uma 17 B
forma de política cultural, exigindo por isso uma intervenção inten-
18 C
cional que é, sem dúvida, de ordem ética. (...) implica respeito e
responsabilidade para com esta nossa ação e para com os sujei-
tos dela integrantes, seus grupos sociais e suas culturas. (...) Então,
como ir para a escola (significada como um território de luta por
ANOTAÇÕES
sentidos e identidades) e exercer uma pedagogia (entendida como
uma forma de política cultural), sem planejar nossas ações? Ora, ______________________________________________________
agir assim demonstraria que, no mínimo, não levamos muito a sério
as responsabilidades pedagógicas e políticas do nosso trabalho!”. ______________________________________________________
(COFRAZZA, Sandra Mara. Planejamento de ensino como es-
tratégia de política cultural. In: MO REI IRA, Antonio Flavio B. (Org.). ______________________________________________________
Currículo: questões atuais. Campinas: Papirus, 1997, p. 121)
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A partir das ideias exportas acima, pode-se afirmar que:
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(A) a ação didática pretende superar as dificuldades de apren-
dizagem dos alunos e os desafios da prática pedagógica atual. ______________________________________________________
(B) o ato de planejar é fundamental para efetivar uma ação di-
dática ética e politicamente responsável. ______________________________________________________
(C) a responsabilidade do profissional docente passa por um
saber-fazer que vai além do planejar, passando pela luta por ______________________________________________________
uma sociedade sem desigualdade.
(D) a ação pedagógica pode prescindir do planejamento e assu- ______________________________________________________
me-se como fazer fundamentalmente prático e vivencial.
(E) a intervenção intencional, ou seja, a ação didática constitui ______________________________________________________
o ato maior da educação, o que deixa o planejamento em se-
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gundo plano.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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