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SL-101MA-21

CÓD: 7908433205524

PEFOCE
PERÍCIA FORENSE DO ESTADO DO CEARÁ

Auxiliar de Perícia de Classe A Nível


I
EDITAL Nº 1 – PEFOCE, DE 21 DE MAIO DE 2021
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados. Reconhecimento de tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Domínio da ortografia oficial. Emprego das letras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Emprego da acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de conectores e out-
ros elementos de sequenciação textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Emprego/correlação de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6. Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre termos da
oração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
7. Emprego dos sinais de pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
10. Colocação dos pronomes átonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Reescritura de frases e parágrafos do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Substituição de palavras ou de trechos de texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
13. Retextualização de diferentes gêneros e níveis de formalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
14. Correspondência oficial. Adequação da linguagem ao tipo de documento. Adequação do formato do texto ao gênero. Pressupostos,
implícitos e inferências do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Atualidades
1. Tópicos relevantes e atuais de diversas áreas, tais como política, economia, sociedade, educação, saúde, cultura, tecnologia, energia,
relações internacionais, desenvolvimento sustentável, segurança e ecologia, suas interrelações e suas vinculações históricas . . . 01

Noções de Informática
1. Noções de sistema operacional (ambientes Linux e Windows) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Edição de textos, planilhas e apresentações (ambientes Microsoft Office e BrOffice) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3. Redes de computadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4. Conceitos básicos, ferramentas, aplicativos e procedimentos de Internet e intranet. Programas de navegação (Microsoft Internet Ex-
plorer, Mozilla Firefox, Google Chrome e similares) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5. Programas de correio eletrônico (Outlook Express, Mozilla Thunderbird e similares) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6. Sítios de busca e pesquisa na Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
7. Grupos de discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
8. Redes sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
9. Computação na nuvem (cloud computing) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
10. Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
11. Segurança da informação. Procedimentos de segurança. Noções de vírus, worms e pragas virtuais. Aplicativos para segurança (an-
tivírus, firewall, antispyware etc.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
12. Procedimentos de backup . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
13. Armazenamento de dados na nuvem (cloud storage) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

Noções de Direito Penal e Processual Penal


1. Exame de corpo de delito e perícias em geral (artigos 158 ao 184 do Código Processual Penal Brasileiro) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas; disposições preliminares do Código de Processo Penal15
3. Inquérito policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Ação penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
7. Interceptação telefônica (Lei nº 9.296/1996) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8. Juiz, Ministério Público, acusado, defensor, assistentes e auxiliares da justiça; atos de terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
9. Prisão e liberdade provisória; prisão temporária (Lei nº 7.960/1989) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
10. Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
11. Habeas corpus e seu processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
12. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
ÍNDICE

Noções de Medicina Legal


1. Noções de tanatologia forense: cronotanatognose; morte suspeita; morte súbita; morte agonizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Noções de asfixiologia forense: por constrição cervical (enforcamento, estrangulamento, esganadura); por modificação do meio (afog-
amento, soterramento, confinamento); por sufocação (direta e indireta) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Noções de instrumentos de ação mecânica: ação cortante, perfurante, contundente e mista. Noções de agentes químicos. Noções de
agentes térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4. Noções de sexologia forense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Noções de Laboratório de Análises Forenses


1. Soluções. Densidade. Concentração das soluções: concentração em geral. Diluição de soluções: de mesmo soluto, de solutos difer-
entes, sem ocorrência de reação. Volumetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Sistemas internacionais de pesos e medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3. Noções básicas de segurança no laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4. Estocagem de reagentes químicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. Riscos de incêndios em solventes inflamáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Misturas explosivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Reagentes perigosos pela toxidade e(ou) reatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
8. Lavagem e esterilização de vidraria e de outros materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
9. Preparação de amostras e de materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
10. Secagem de substâncias, Uso e conservação de aparelhagem comum de um laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
11. Portaria 3.204/2004 (Norma técnica de biossegurança) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
12. RDC 222/2018 (Gerenciamento de resíduos de Serviços de Saúde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Noções de Criminalística
1. Locais de crimes contra a pessoa, locais de crime contra o patrimônio, locais de crime de trânsito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Noções de Balística Forense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Noções de Informática Forense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
4. Noções de Documentoscopia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
5. Noções de Identificação Veicular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06

Legislação Especial
1. Identificação criminal (Lei nº 12.037/2009) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Carteira de identidade (Lei nº 7.116/1983, Decreto nº 89.250/1983, Lei nº 5.553/1968) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Registro de identidade civil (Lei nº 9.454/1997 e Decreto n º7.166/2010) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
5. Processo administrativo (Lei nº 9.784/1999) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Abuso de autoridade (Lei nº 4.898/1965) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
7. Juizados especiais cíveis e criminais (Lei nº 9.099/1995) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
LÍNGUA PORTUGUESA
1. Compreensão e interpretação de textos de gêneros variados. Reconhecimento de tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Domínio da ortografia oficial. Emprego das letras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3. Emprego da acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Domínio dos mecanismos de coesão textual. Emprego de elementos de referenciação, substituição e repetição, de conectores e ou-
tros elementos de sequenciação textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Emprego/correlação de tempos e modos verbais. Domínio da estrutura morfossintática do período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
6. Relações de coordenação entre orações e entre termos da oração. Relações de subordinação entre orações e entre termos da ora-
ção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
7. Emprego dos sinais de pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Concordância verbal e nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
10. Colocação dos pronomes átonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Reescritura de frases e parágrafos do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Substituição de palavras ou de trechos de texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
13. Retextualização de diferentes gêneros e níveis de formalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
14. Correspondência oficial. Adequação da linguagem ao tipo de documento. Adequação do formato do texto ao gênero. Pressupostos,
implícitos e inferências do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
LÍNGUA PORTUGUESA

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DE


GÊNEROS VARIADOS. RECONHECIMENTO DE TIPOS E
GÊNEROS TEXTUAIS

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito, Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
ou que faça com que você realize inferências. este processo é intertextualidade.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas Interpretação de Texto
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
Percebeu a diferença? uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
Tipos de Linguagem de um texto.
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
facilite a interpretação de textos. vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
pode ser escrita ou oral. uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po-
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, lêmicos;
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. - Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa-
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões.
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa- O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu-
com a não-verbal. tável).

1
LÍNGUA PORTUGUESA
– Retorne ao texto sempre que necessário. CACHORROS
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os
enunciados das questões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
– Reescreva o conteúdo lido. seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
picos ou esquemas. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
distração, mas também um aprendizado. outro e a parceria deu certo.
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a com-
preensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
do texto. As informações que se relacionam com o tema chamamos de
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
prova. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi- Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can- capaz de identificar o tema do texto!
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
extrapole a visão dele. -secundarias/

IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM


O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia TEXTOS VARIADOS
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- Ironia
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
significativo, que é o texto. com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre novo sentido, gerando um efeito de humor.
o assunto que será tratado no texto. Exemplo:
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia verbal NERO EM QUE SE INSCREVE
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
intenção são diferentes. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Ironia de situação Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Busca de sentidos
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
morte. os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
apreensão do conteúdo exposto.
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
rer algo fora do esperado numa situação. ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
acessadas como forma de gerar o riso. presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.

3
LÍNGUA PORTUGUESA
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.

Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.

Opinião
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
que fazemos do fato.
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
curto.
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
e o do leitor.

4
LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér- Gíria
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
sem coerência.
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
mais direto.
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso.
NÍVEIS DE LINGUAGEM Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
“mina”, “tipo assim”.
Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso. nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

5
LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos e gêneros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali Características principais:
Mas era feita com muito esmero • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Na rua dos bobos, número zero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
(Vinícius de Moraes) gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, gestão/solução).
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
comportamentos, nas leis jurídicas. nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de-
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios.
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Exemplo:
Exemplo: A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se administração política (tese), porque a força governamental certa-
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
perior para formação de oficiais. dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar

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LÍNGUA PORTUGUESA
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Carta de opinião
cobrança efetiva (conclusão). Resenha
Artigo
Tipo textual narrativo Ensaio
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Monografia, dissertação de
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- mestrado e tese de doutorado
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Narrativo Romance
Novela
Características principais: Crônica
• O tempo verbal predominante é o passado. Contos de Fada
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Fábula
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história – Lendas
onisciente).
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
prosa, não em verso. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
nitos e mudam de acordo com a demanda social.
Exemplo:
Solidão INTERTEXTUALIDADE
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
Nelson S. Oliveira ambos: forma e conteúdo.
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
reais/4835684 forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
GÊNEROS TEXTUAIS ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um provérbios, charges, dentre outros.
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem Tipos de Intertextualidade
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela (parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se-
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante
textuais que neles predominam. a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís-
ticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
Descritivo Diário de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Relatos (viagens, históricos, etc.) significa a “repetição de uma sentença”.
Biografia e autobiografia • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Notícia ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Currículo alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Lista de compras mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Cardápio e “graphé” (escrita).
Anúncios de classificados • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Injuntivo Receita culinária textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Bula de remédio entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Manual de instruções Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Regulamento lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Textos prescritivos “citação” (citare) significa convocar.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Expositivo Seminários textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
Palestras termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Conferências • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Entrevistas o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Trabalhos acadêmicos
Enciclopédia
Verbetes de dicionários

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LÍNGUA PORTUGUESA
ARGUMENTAÇÃO confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
enunciador está propondo.
dadeira. Exemplo:
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de cimento. Nunca o inverso.
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- Alex José Periscinoto.
mento de premissas e conclusões. In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
A é igual a B. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
A é igual a C. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
Então: C é igual a A. o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, acreditar que é verdade.
que C é igual a A.
Outro exemplo: Argumento de Quantidade
Todo ruminante é um mamífero. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
A vaca é um ruminante. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
Logo, a vaca é um mamífero. duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão largo uso do argumento de quantidade.
também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, Argumento do Consenso
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o

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LÍNGUA PORTUGUESA
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não por bem determinar o internamento do governador pelo período
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- tal por três dias.
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
carentes de qualquer base científica. Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
Argumento de Existência ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas texto tem sempre uma orientação argumentativa.
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
do que dois voando”. homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa outras, etc. Veja:
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela vam abraços afetuosos.”
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
vios, etc., ganhava credibilidade. O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
Argumento quase lógico fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente injustiça, corrupção).
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais o argumento.
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
indevidas. texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
Argumento do Atributo exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o outros à sua dependência política e econômica”.
que é mais grosseiro, etc.
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade. o assunto, etc).
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
dizer dá confiabilidade ao que se diz. sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - evidência;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - divisão ou análise;
comportamento. - ordem ou dedução;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - enumeração.
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica e até o choro. mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma caracteriza a universalidade.
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu- o efeito. Exemplo:
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Fulano é homem (premissa menor = particular)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e Logo, Fulano é mortal (conclusão)
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
ver as seguintes habilidades: te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o ferro (particular)
mente contrária; O calor dilata o bronze (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o cobre (particular)
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- O ferro, o bronze, o cobre são metais
ria contra a argumentação proposta; Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
ta. Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplos de sofismas: lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Dedução confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Todo professor tem um diploma (geral, universal) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Fulano tem um diploma (particular) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
Indução nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
cular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
– conclusão falsa)
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- sabiá, torradeira.
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
dos nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por- indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa. seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; (Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de- trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria de vista sobre ele.
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina- A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
o relógio estaria reconstruído. ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
relacionadas: metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. - o termo a ser definido;
- o gênero ou espécie;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - a diferença específica.
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco- O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
lha dos elementos que farão parte do texto. ma espécie. Exemplo:
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno. Elemento especie diferença
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- a ser definido específica

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LÍNGUA PORTUGUESA
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças). Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
vra e seus significados.
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
caráter confirmatório que comprobatório.
mentação coerente e adequada.
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, caso, incluem-se
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a mortal, aspira à imortalidade);
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos dos e axiomas);
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- parece absurdo).
cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. cretos, estatísticos ou documentais.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
virtude de, em vista de, por motivo de. evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade

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LÍNGUA PORTUGUESA
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
gumentação: desenvolvidos;
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; sado; apontar semelhanças e diferenças;
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- banos;
dadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- quências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida-
é que gera o controle demográfico”. de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui- é inserida.
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
elaboração de um Plano de Redação. não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
tecnológica cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos- textos caracterizada por um citar o outro.
ta, justificar, criando um argumento básico; A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
(rever tipos de argumentação); de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
quência); mencionar um provérbio conhecido.
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
argumento básico; outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- zá-lo ou ao compará-lo com outros.
mento básico; Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
menos a seguinte: formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
Introdução nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- função social da ciência e da tecnologia; alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
- definições de ciência e tecnologia;
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. Tipos de Intertextualidade
A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
Desenvolvimento plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
vimento tecnológico; Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as dade.
condições de vida no mundo atual;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá- – não exige que haja dedução por parte do leitor;
logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as – apenas apela à compreensão do conteúdos.
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
A intertextualidade implícita:
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto – não é facilmente identificada pelos leitores;
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea- – não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com – não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
outras palavras o que já foi dito. – exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par-
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex- te dos leitores;
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, a compreensão do conteúdo.
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica PONTO DE VISTA
de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces- O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes
so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de
pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com-
programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente- preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir
e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
demagogia praticada pela classe dominante. sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob-
servador e o narrador-personagem.
A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con- Primeira pessoa
siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re- Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra- de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé” o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
cultura é o melhor conforto para a velhice”. vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
só descobrimos ao decorrer da história.
A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro-
dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- Segunda pessoa
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o quase como outro personagem que participa da história.
termo “citação” (citare) significa convocar.
Terceira pessoa
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
Pastiche é uma recorrência a um gênero.
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
a recriação de um texto. por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- leitura não fique confuso.
mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao
produtor e ao receptor de textos.
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am- DOMÍNIO DA ORTOGRAFIA OFICIAL. EMPREGO DAS
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de LETRAS
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
daquela citação ou alusão em questão. ORTOGRAFIA OFICIAL
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita troduzidas as letras k, w e y.
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte, PQRSTUVWXYZ
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida. • Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
A intertextualidade explícita: gui, que, qui.
– é facilmente identificada pelos leitores;
– estabelece uma relação direta com o texto fonte;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Regras de acentuação – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das persônico.
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
sílaba)
Observações:
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
Como era Como fica
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
alcatéia alcateia essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
apóia apoia • Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
apóio apoio • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas rar, cooperação, cooptar, coocupante.
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
mirante.
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
pontapé, paraquedas, paraquedista.
Como era Como fica • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
baiúca baiuca recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
bocaiúva bocaiuva
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: vamos passar para mais um ponto importante.
tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem EMPREGO DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA
e ôo(s).
Acentuação gráfica
Como era Como fica Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
abençôo abençoo com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
crêem creem Vejamos um por um:

– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. aberto.
Já cursei a Faculdade de História.
Atenção: Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. fechado.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, caso afundo mais à frente).
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Sou leal à mulher da minha vida.
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
palavras forma/fôrma. As palavras podem ser:
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
Uso de hífen -já, ra-paz, u-ru-bu...)
Regra básica: – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho- sa-bo-ne-te, ré-gua...)
mem. – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Outros casos (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, • São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
semicírculo. íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
mo, antissocial, ultrassom. R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on- fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
das. • São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
dói, coronéis...)
2. Prefixo terminado em consoante:
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
-bibliotecário.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- tas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas,
nar e fixar as regras. quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro
e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete,
DOMÍNIO DOS MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL. cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, blo-
EMPREGO DE ELEMENTOS DE REFERENCIAÇÃO, SUBS- co de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro,
TITUIÇÃO E REPETIÇÃO, DE CONECTORES E OUTROS fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia. Água. Táxi, mesa,
ELEMENTOS DE SEQUENCIAÇÃO TEXTUAL toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xí-
cara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta,
água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, ci-
Coesão garro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio,
É a ligação entre as partes do texto (palavras, expressões, fra- caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e cane-
ses, parágrafos) por meio de determinados elementos linguísticos. ta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal,
Com ela, fica mais fácil ler e compreender um texto. cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de
Veja um exemplo de texto coeso: fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa,
cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras. Cigarro e
Último Recurso fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigar-
Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, ro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pi-
resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, jama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havía- Ricardo Ramos
mos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante Fonte: https://revistamacondo.wordpress.com/2012/02/29/conto-cir-
os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois cuito-fechado-ricardo-ramos/
o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de
imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; Perceba que não houve nenhum elemento conectando as frases;
outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os houve apenas justaposição de frases. Realmente não houve coesão stric-
sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade to sensu, mas houve total coerência, pois as frases mantêm relações de
mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre sentido. A “incoesão”, ausência de elementos conectores ou referencia-
amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos dores, não prejudicou o sentido do texto, ou seja, a coerência.
quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um
amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.
Clarice Lispector EMPREGO/CORRELAÇÃO DE TEMPOS E MODOS VER-
BAIS. DOMÍNIO DA ESTRUTURA MORFOSSINTÁTICA
Coerência DO PERÍODO
É a relação semântica que se estabelece entre as diversas par-
tes do texto, criando uma unidade de sentido. Está ligada ao enten-
dimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou CLASSES DE PALAVRAS
lê. Enquanto a coesão está para os elementos conectores de ideias
no texto, a coerência está para a harmonia interna do texto, o sen- Substantivo
tido. São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
Muitos professores, infelizmente, ainda ensinam que só há nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
coerência se houver coesão. Não obstante, vejamos: timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.

Coeso e incoerente Classificação dos substantivos


“Os jornalistas se comprometem a divulgar artigos políticos de
maneira polida e imparcial, no entanto eles comumente afligem a SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
opinião daqueles que se empenham em ter um cerne ou um ponto apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/
de vista menos fundamentalista. ” sua estrutura. macaco/João/sabão
Do que o texto fala mesmo? O elemento coesivo “no entanto”
estabelece uma relação de oposição com o quê? Com o fato de os SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
artigos ou os jornalistas afligirem a opinião de quem? Dos leitores, são formados por mais de um porta-voz/
dos jornalistas ou dos artigos políticos? Percebe que há uma confu- radical em sua estrutura. pé-de-moleque
são, que gera uma incompreensão do texto? Logo, podemos dizer SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
que não houve coerência, apesar de ter havido coesão. são os que dão origem a mundo/
outras palavras, ou seja, ela é população
Incoeso e coerente a primeira. /formiga
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme
dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para são formados por outros populacional/formigueiro
cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, radicais da língua.
gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, len- SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
ço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, ca- designa determinado ser /Brasil
deiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, espécie. São sempre iniciados Liberdade
papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de no- por letra maiúscula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ Flexão do Adjetivos


referem-se qualquer ser de cachorro/prima • Gênero:
uma mesma espécie. – Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
no: homem feliz, mulher feliz.
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
própria. Esses seres podem /lobisomem japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
reais ou imaginários. • Número:
SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/ – Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
nomeiam ações, estados, bondade/ número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
qualidades e sentimentos que confiança/ res, japonês/ japoneses.
não tem existência própria, ou lembrança/ – Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
seja, só existem em função de amor/ branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.
um ser. alegria
• Grau:
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/ – Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vito-
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/ rioso (do) que o seu.
de seres da mesma espécie, buquê (de flores) – Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vito-
mesmo quando empregado rioso (do) que o seu.
no singular e constituem um – Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso
substantivo comum. quanto o seu.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS – Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssi-
QUE NÃO ESTÃO AQUI! mo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito fa-
Flexão dos Substantivos moso.
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi- – Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou mais famoso de todos.
uniformes – Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é me-
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta nos famoso de todos.
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina Artigo
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única É uma palavra variável em gênero e número que antecede o
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros. • Classificação e Flexão do Artigos
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá- – Artigos Definidos: o, a, os, as.
veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira O menino carregava o brinquedo em suas costas.
macho/palmeira fêmea. As meninas brincavam com as bonecas.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto – Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a Um menino carregava um brinquedo.
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua). Umas meninas brincavam com umas bonecas.
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, Numeral
o/a estudante, o/a colega. É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1). coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
– Singular: anzol, tórax, próton, casa. • Classificação dos Numerais
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas. – Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau – Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
diminutivo. Quinto ano. Primeiro lugar.
– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra. – Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme. quantidade é multiplicada:
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha O quíntuplo do preço.
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. – Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.
Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substanti- Pronome
vo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam,
composta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo indicando a pessoa do discurso.
por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um ad- • Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em
jetivo: golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.
vespertino).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser va-
riáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às ocul-
tas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

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LÍNGUA PORTUGUESA

RELAÇÕES DE COORDENAÇÃO ENTRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO. RELAÇÕES DE SUBORDINAÇÃO EN-
TRE ORAÇÕES E ENTRE TERMOS DA ORAÇÃO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:

• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.


O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.

• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.

• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.

• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.

• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas


Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de
Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

EMPREGO DOS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organi-
zar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns sinais
gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ...
]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão duplo
[ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de
oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

Ponto de interrogação ( ? )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogativa ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?

Ponto de exclamação ( ! )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa.
Ex: Que bela festa!

Reticências ( ... )
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com breve
espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Ex: Essa festa... não sei não, viu.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Dois-pontos ( : ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. re por alguns motivos:
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. verbo e o adjunto.

Ponto e vírgula ( ; ) Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem


Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, é necessária:
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Ontem, Maria foi à padaria.
ração (frequente em leis), etc. Maria, ontem, foi à padaria.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- À padaria, Maria foi ontem.
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
Travessão ( — ) sário:
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- ção.
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- serem observadas na redação oficial.
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de • Separa aposto.
um diálogo, com ou sem aspas. Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. • Separa vocativo.
Brasileiros, é chegada a hora de votar.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] • Separa termos repetidos.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico Aquele aluno era esforçado, esforçado.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza- ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- efeito, digo.
rem uma nova inserção. O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go- ou seja, de fácil compreensão.
vernador)
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
Aspas ( “ ” ) tos).
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- • Separa orações coordenadas assindéticas.
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo. ideias na cabeça...

Vírgula • Isola o nome do lugar nas datas.


São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden- Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
vírgula: forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
mos” o momento certo de fazer uso dela. mações comprovam, etc.
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o nizar o problema.
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- Concordância Nominal
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
Maria foi à padaria ontem. referem.
Sujeito Verbo Objeto Adjunto Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto-
sa.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Casos Especiais de Concordância Nominal Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
alerta. Mas... há crase, sim!
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma- -me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
ção de palavras compostas:
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. – Expressões fixas
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de crase:
acordo com o substantivo a que se referem: à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von-
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- didas, à medida que, à proporção que.
do advérbios: • NUNCA devemos usar crase:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou – Antes de substantivos masculinos:
meia dúzia de ovos. Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
pé.
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. – Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
plural) usado em sentido generalizador:
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
substantivo estiver determinado por artigo: Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho-
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. mem.

Concordância Verbal – Antes de artigo indefinido “uma”


O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Iremos a uma reunião muito importante no domingo.
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
mes. – Antes de pronomes
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa.
Concordância ideológica ou silepse
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no A quem vocês se reportaram no Plenário?
contexto. Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Blumenau estava repleta de turistas. – Antes de verbos no infinitivo
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
texto.
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto. A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po- frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
líticos. me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise.
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
demonstrativo. as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
dique a eufonia da frase.
• Devemos usar crase:
– Antes palavras femininas:
Próclise
Iremos à festa amanhã
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema.
Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas cientemente.
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. do infinitivo.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui. Exemplos:
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada. Hei de dizer-lhe a verdade.
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa? Tenho de dizer-lhe a verdade.
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Observação
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita! Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se- Devo-lhe dizer tudo.
jam reduzidas: Percebia que o observavam. Estava-lhe dizendo tudo.
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando, Havia-lhe dito tudo.
tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
tentos são para nos prejudicarem. REESCRITURA DE FRASES E PARÁGRAFOS DO TEXTO
Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
indicativo: Trago-te flores. observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
posição em: Saí, deixando-a aflita. nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise:
Apressei-me a convidá-los. Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um proces-
so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
Mesóclise tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
futuro do pretérito que iniciam a oração. melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
Dir-lhe-ei toda a verdade.
Far-me-ias um favor? Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. do processo de escrever do aluno.
Eu lhe direi toda a verdade.
Tu me farias um favor? Operações linguísticas de reescrita:
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
Colocação do pronome átono nas locuções verbais trução do texto escrito.
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal - Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve- mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
Exemplos: várias frases.
Devo-lhe dizer a verdade. - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
Devo dizer-lhe a verdade. do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes - Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
do auxiliar ou depois do principal. mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
Exemplos: ma, ou sobre conjuntos generalizados.
Não lhe devo dizer a verdade. - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
Não devo dizer-lhe a verdade. dificar sua ordem no processo de encadeamento.

Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, Graus de Formalismo


o pronome átono ficará depois do auxiliar. São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases
auxiliar. curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado
entre membros de uma mesma família ou entre amigos).

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LÍNGUA PORTUGUESA
As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
malismo existente na situação de comunicação; com o modo de SUBSTITUIÇÃO DE PALAVRAS OU DE TRECHOS DE TEX-
expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a TO
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe- Paráfrase
cífico de algum campo científico, por exemplo). Ao parafrasear, reescrevemos um texto com nossa própria lin-
guagem, mantendo o conteúdo e a clareza originais. A pontuação
Expressões que demandam atenção adequada, a variação vocabular e novos torneios frásicos assegu-
– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se ram a qualidade da paráfrase.
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, Paráfrase é a “tradução” de um texto em outro, na mesma lín-
aceito gua. É um exercício de leitura aprofundada, porque exige e favorece
– acendido, aceso (formas similares) – idem uma compreensão completa do texto que estamos parafraseando.
– à custa de – e não às custas de É também um excelente exercício de redação, porque amplia nosso
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- domínio das estruturas da linguagem, ao mesmo tempo que propi-
forme cia a ampliação do nosso vocabulário.
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que Um texto parafraseado não deve configurar uma integral subs-
– a meu ver – e não ao meu ver tituição de palavras, mas uma acomodação das ideias a uma lingua-
– a ponto de – e não ao ponto de gem diferente, mais explícita, sem nada acrescentar ou subtrair ao
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal texto original.
– em termos de – modismo; evitar Portanto, parafrasear não é apenas substituir palavras, é en-
– enquanto que – o que é redundância contrar a expressão que recupere a ideia original, por meio de uma
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a nova organização de frases.
– implicar em – a regência é direta (sem em)
– ir de encontro a – chocar-se com Como ler um texto
– ir ao encontro de – concordar com Recomendam-se duas leituras. A primeira, chamaremos de lei-
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se- tura vertical e a segunda, de leitura horizontal.
parado; quando não se pode, junto
– todo mundo – todos Leitura horizontal é a leitura rápida que tem como finalidade o
– todo o mundo – o mundo inteiro contato inicial com o assunto do texto. De posse desta visão geral,
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo podemos passar para o próximo passo.
for substantivo
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo Leitura vertical consiste em uma leitura mais atenta; é o levan-
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando) tamento dos referenciais do texto-base para a perfeita compreen-
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte são. É importante grifar, em cada parágrafo lido, as ideias principais.
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- Após escrever à parte as ideias recolhidas nos grifos, procurando
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). dar uma redação própria, independente das palavras utilizadas pelo
autor do texto.
Expressões não recomendadas
– a partir de (a não ser com valor temporal). Perífrase
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... Trata-se da substituição de um nome comum ou próprio por
uma expressão que a caracterize. Nada mais é do que um circunló-
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). quio, isto é, um rodeio de palavras.
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se-
gundo... Exemplos:
– astro rei (Sol)
– devido a. – última flor do Lácio (língua portuguesa)
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de. – Cidade-Luz (Paris)
– Rainha da Borborema (Campina Grande)
– dito. – Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)
Opção: citado, mencionado.
Existe também um tipo especial de perífrase que se refere so-
– enquanto. mente a pessoas. Tal figura de estilo é chamada de antonomásia
Opção: ao passo que. e baseia-se nas qualidades ou ações notórias do indivíduo ou da
entidade a que a expressão se refere.
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. Exemplos:
– A rainha do mar (Iemanjá)
– no sentido de, com vistas a. – O poeta dos escravos (Castro Alves)
Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.
Síntese
– pois (no início da oração). A síntese é uma técnica de escrita que consiste em reduzir um
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. texto às suas ideias essenciais, com liberdade na ordem e organiza-
ção das ideias.
– principalmente.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Trata-se de um texto que é um tipo especial de composição que às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única in-
consiste em reproduzir, em poucas palavras, o que o autor expres- terpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige
sou amplamente. Desse modo, só devem ser aproveitadas as ideias o uso de certo nível de linguagem. Nesse quadro, fica claro também
essenciais, dispensando-se tudo o que for secundário. que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois
há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor
Resumo dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de
Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos
o autor disse. Saber resumir as ideias expressas em um texto não cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público).
é difícil. Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações
O resumo é uma técnica de escrita que consiste em condensar oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de
as ideias principais de um texto, não introduzindo qualquer comen- tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos
tário e respeitando o sentido, a estrutura e o tipo de enunciação. expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos
Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descri- para comunicações oficiais, regulados pela Portaria no 1 do Ministro
ções detalhadas, cenas ou personagens secundárias. Somente as de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de meio
personagens, os ambientes e as ações mais importantes devem ser século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primei-
registrados. ra edição deste Manual. Acrescente-se, por fim, que a identificação
Resumo é uma apresentação sintética e seletiva das ideias de que se buscou fazer das características específicas da forma oficial
um texto, ressaltando a progressão e a articulação delas. Nele de- de redigir não deve ensejar o entendimento de que se proponha
vem aparecer as principais ideias do autor. a criação – ou se aceite a existência – de uma forma específica de
linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente
se chama burocratês. Este é antes uma distorção do que deve ser a
RETEXTUALIZAÇÃO DE DIFERENTES GÊNEROS E NÍVEIS redação oficial, e se caracteriza pelo abuso de expressões e clichês
DE FORMALIDADE do jargão burocrático e de formas arcaicas de construção de frases.
A redação oficial não é, portanto, necessariamente árida e infensa à
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar com im-
Prezado Candidato, o conteúdo relacionado ao tópico acima pessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâmetros ao uso
supracitado foi abordado anteriormente. que se faz da língua, de maneira diversa daquele da literatura, do
texto jornalístico, da correspondência particular, etc. Apresentadas
essas características fundamentais da redação oficial, passemos à
CORRESPONDÊNCIA OFICIAL. ADEQUAÇÃO DA LIN- análise pormenorizada de cada uma delas.
GUAGEM AO TIPO DE DOCUMENTO. ADEQUAÇÃO DO
FORMATO DO TEXTO AO GÊNERO. PRESSUPOSTOS, A Impessoalidade
IMPLÍCITOS E INFERÊNCIAS DO TEXTO A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela
escrita. Para que haja comunicação, são necessários:
a) alguém que comunique,
O que é Redação Oficial1 b) algo a ser comunicado, e
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira c) alguém que receba essa comunicação.
pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações.
Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do Poder Executivo. A reda- No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço
ção oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Di-
culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. visão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto
Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa
dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro ór-
fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do gão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União. Perce-
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega- be-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos
lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:
Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios fundamentais de a) da ausência de impressões individuais de quem comunica:
toda administração pública, claro está que devem igualmente nor- embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Che-
tear a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe fe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público
que um ato normativo de qualquer natureza seja redigido de forma que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padro-
obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transpa- nização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes
rência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibili- setores da Administração guardem entre si certa uniformidade;
dade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com
um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre
implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. Além de atender concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos,
à disposição constitucional, a forma dos atos normativos obedece temos um destinatário concebido de forma homogênea e impes-
a certa tradição. Há normas para sua elaboração que remontam ao soal;
período de nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigato- c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o uni-
riedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de verso temático das comunicações oficiais se restringe a questões
1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de anos que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe
transcorridos desde a Independência. Essa prática foi mantida no qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na
período republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade, cla- redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exem-
reza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se plo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de
jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser
1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm

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LÍNGUA PORTUGUESA
isenta da interferência da individualidade que a elabora. A concisão, portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros
a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos.
elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologis-
alcançada a necessária impessoalidade. mo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica.

A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais Formalidade e Padronização


A necessidade de empregar determinado nível de linguagem As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é,
nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio ca- obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exi-
ráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalida- gências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é
de. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normati- imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata
vo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou da-
o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em quele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível
sua elaboração for empregada a linguagem adequada. O mesmo (v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento);
se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade
informar com clareza e objetividade. As comunicações que partem no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.
dos órgãos públicos federais devem ser compreendidas por todo e A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária
qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é
o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo
dúvida que um texto marcado por expressões de circulação restrita, padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Ma-
como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jargão técnico, tem nual, exige que se atente para todas as características da redação
sua compreensão dificultada. Ressalte-se que há necessariamente oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. A clareza
uma distância entre a língua falada e a escrita. Aquela é extrema- datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a
mente dinâmica, reflete de forma imediata qualquer alteração de correta diagramação do texto são indispensáveis para a padroniza-
costumes, e pode eventualmente contar com outros elementos ção. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de
que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, etc. normas específicas para cada tipo de expediente.
Para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis por essa
distância. Já a língua escrita incorpora mais lentamente as transfor- Concisão e Clareza
mações, tem maior vocação para a permanência, e vale-se apenas A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do
de si mesma para comunicar. A língua escrita, como a falada, com- texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máxi-
preende diferentes níveis, de acordo com o uso que dela se faça. mo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija
Por exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de de- com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conheci-
terminado padrão de linguagem que incorpore expressões extre- mento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para
mamente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico, não se revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes
há de estranhar a presença do vocabulário técnico correspondente. se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias
Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende ao uso que de ideias. O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao
se faz da língua, a finalidade com que a empregamos. O mesmo princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de empre-
ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, por sua gar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de
finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, eles forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é,
requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de que o não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de
padrão culto é aquele em que a) se observam as regras da gramáti- reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras
ca formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao conjunto dos inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já
usuários do idioma. É importante ressaltar que a obrigatoriedade foi dito. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em
do uso do padrão culto na redação oficial decorre do fato de que todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias
ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou sintáticas re- secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas de-
gionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, talhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias
permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendida compreensão que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior
por todos os cidadãos. relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas. A
Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme
de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de ex- já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como
pressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica empre- claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor.
go de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende
figuras de linguagem próprios da língua literária. Pode-se concluir, estritamente das demais características da redação oficial. Para ela
então, que não existe propriamente um “padrão oficial de lingua- concorrem:
gem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações
oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;
expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das for- b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de en-
mas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se con- tendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação
sagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão restrita, como a gíria e o jargão;
burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a impres-
sua compreensão limitada. A linguagem técnica deve ser empre- cindível uniformidade dos textos;
gada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguís-
indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vo- ticos que nada lhe acrescentam.
cabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento
por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado,

29
LÍNGUA PORTUGUESA
É pela correta observação dessas características que se redige so...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero
com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, e
texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso in-
e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitu- terlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefa-
ra que torna possível sua correção. Na revisão de um expediente, do”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa
deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”.
destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por
terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em de- Emprego dos Pronomes de Tratamento
corrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento obedece
que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre a secular tradição. São de uso consagrado:
é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técni- Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
cos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos
que não possam ser dispensados. A revisão atenta exige, necessa- a) do Poder Executivo;
riamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comu- Presidente da República;
nicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve pro- Vice-Presidente da República;
ceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. Ministros de Estado;
“Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Fe-
Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir. deral;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
As comunicações oficiais Embaixadores;
A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, se- Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de
guir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da cargos de natureza especial;
Redação Oficial. Além disso, há características específicas de cada Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo. Prefeitos Municipais.
Antes de passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns
a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego b) do Poder Legislativo:
dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação Deputados Federais e Senadores;
do signatário. Ministro do Tribunal de Contas da União;
Deputados Estaduais e Distritais;
Pronomes de Tratamento Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
Breve História dos Pronomes de Tratamento
O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem c) do Poder Judiciário:
larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após Ministros dos Tribunais Superiores;
serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos, Membros de Tribunais;
“como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a Juízes;
palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de dis- Auditores da Justiça Militar.
tinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de
pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos
tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a um Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respec-
atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e tivo:
não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei com Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Fede-
eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência, ral.
vossa santidade. ” A partir do final do século XVI, esse modo de
tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor,
de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e de- seguido do cargo respectivo:
pois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em Senhor Senador,
desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de pronomes Senhor Juiz,
de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autorida- Senhor Ministro,
des civis, militares e eclesiásticas. Senhor Governador,

Concordância com os Pronomes de Tratamento No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às


Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indireta) autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma:
apresentam certas peculiaridades quanto à concordância verbal,
nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gra- A Sua Excelência o Senhor
matical (à pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comuni- Fulano de Tal
cação), levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo Ministro de Estado da Justiça
concorda com o substantivo que integra a locução como seu núcleo 70.064-900 – Brasília. DF
sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelên-
cia conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes possessivos A Sua Excelência o Senhor
referidos a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes- Senador Fulano de Tal
soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos- Senado Federal

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LÍNGUA PORTUGUESA
70.165-900 – Brasília. DF taria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze
padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual
A Sua Excelência o Senhor estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para to-
Fulano de Tal das as modalidades de comunicação oficial:
Juiz de Direito da 10a Vara Cível a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
Rua ABC, no 123 pública:
01.010-000 – São Paulo. SP Respeitosamente,
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia in-
Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento ferior:
digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dig- Atenciosamente,
nidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público,
sendo desnecessária sua repetida evocação. Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a au-
Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e toridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, de-
para particulares. O vocativo adequado é: vidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das
Senhor Fulano de Tal, Relações Exteriores.
(...)
Identificação do Signatário
No envelope, deve constar do endereçamento: Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da Repú-
Ao Senhor blica, todas as demais comunicações oficiais devem trazer o nome e
Fulano de Tal o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local de sua assina-
Rua ABC, nº 123 tura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
70.123 – Curitiba. PR
(espaço para assinatura)
Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o em- NOME
prego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem Chefe da Secretária-geral da Presidência da República
o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o
uso do pronome de tratamento Senhor. Acrescente-se que doutor (espaço para assinatura)
não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo NOME
indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em Ministro de Estado da Justiça
comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem
concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura
doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao me-
Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a dese- nos a última frase anterior ao fecho.
jada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a forma
Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comu- O Padrão Ofício
nicações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela fi-
vocativo: nalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com
o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única,
Magnífico Reitor, que siga o que chamamos de padrão ofício. As peculiaridades de
(...) cada um serão tratadas adiante; por ora busquemos as suas seme-
lhanças.
Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a
hierarquia eclesiástica, são:
Partes do documento no Padrão Ofício
O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O voca-
partes:
tivo correspondente é:
a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que
Santíssimo Padre,
o expede:
(...)
Exemplos:
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em co- Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME
municações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo:
Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou b) local e data em que foi assinado, por extenso, com alinha-
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal, mento à direita:
(...) Exemplo:
13
Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações Brasília, 15 de março de 1991.
dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Se-
nhoria Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores c) assunto: resumo do teor do documento
religiosos. Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos Exemplos:
e demais religiosos. Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
Fechos para Comunicações
O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o en-
para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Por- dereço.

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LÍNGUA PORTUGUESA
e) texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado,
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer
– Introdução, que se confunde com o parágrafo de abertura, outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do
na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o documento;
uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre- j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel
-me informar que”, empregue a forma direta; branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos
– Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o texto e ilustrações;
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser
em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição; impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
– Conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente reapresen- m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo
tada a posição recomendada sobre o assunto. Rich Text nos documentos de texto;
n) dentro do possível, todos os documentos elaborados devem
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou apro-
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. veitamento de trechos para casos análogos;
Já quando se tratar de mero encaminhamento de documentos o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem
a estrutura é a seguinte: ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do
– Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: “Of. 123 - relatório
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver produtividade ano 2002”
sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu-
nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos Aviso e Ofício
do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e as-
sunto de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado, — Definição e Finalidade
segundo a seguinte fórmula: Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial pratica-
“Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991, enca- mente idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expe-
minho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990, do Depar- dido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de
tamento Geral de Administração, que trata da requisição do servi- mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
dor Fulano de Tal. ” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento, demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento de
a anexa cópia do telegrama no 12, de 1o de fevereiro de 1991, do assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e,
Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de no caso do ofício, também com particulares.
projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste. ”
– Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer — Forma e Estrutura
algum comentário a respeito do documento que encaminha, pode- Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do padrão
rá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso contrário, ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário (v. 2.1
não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero Pronomes de Tratamento), seguido de vírgula.
encaminhamento. Exemplos:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); Senhora Ministra
g) assinatura do autor da comunicação; e Senhor Chefe de Gabinete
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Signa- Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as seguin-
tário). tes informações do remetente:
– Nome do órgão ou setor;
Forma de diagramação – Endereço postal;
Os documentos do Padrão Ofício5 devem obedecer à seguinte – telefone E endereço de correio eletrônico.
forma de apresentação:
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo Memorando
12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé;
b) para símbolos não existentes na fonte Times New Roman po- — Definição e Finalidade
der-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings; O memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
c) é obrigatória constar a partir da segunda página o número administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquica-
da página; mente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto,
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impres- de uma forma de comunicação eminentemente interna. Pode ter
sos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a ex-
e direta terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem posição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por
espelho”); determinado setor do serviço público. Sua característica principal é
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distân- a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve
cia da margem esquerda; pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos buro-
f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no míni- cráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comuni-
mo, 3,0 cm de largura; cações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio
g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; 5 O documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.
constante neste item aplica-se também à exposição de motivos e à Esse procedimento permite formar uma espécie de processo sim-
mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. Mensagem). plificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões,
h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no
6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não memorando.
comportar tal recurso, de uma linha em branco;

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LÍNGUA PORTUGUESA
— Forma e Estrutura - Se há projetos sobre a matéria no Legislativo;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do padrão - Outras possibilidades de resolução do problema.
ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencio-
nado pelo cargo que ocupa. 4. Custos
Exemplos: Mencionar:
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Ao Sr. Subche- - Se a despesa decorrente da medida está prevista na lei orça-
fe para Assuntos Jurídicos mentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;
- Se é o caso de solicitar-se abertura de crédito extraordinário,
Exposição de Motivos especial ou suplementar;
- Valor a ser despendido em moeda corrente;
— Definição e Finalidade
Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da 5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente
República ou ao Vice-Presidente para: se o ato proposto for medido provisória ou projeto de lei que deva
a) informá-lo de determinado assunto; tramitar em regime de urgência)
b) propor alguma medida; ou Mencionar:
c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo. - Se o problema configura calamidade pública;
- Por que é indispensável a vigência imediata;
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente da - Se se trata de problema cuja causa ou agravamento não te-
República por um Ministro de Estado. nham sido previstos;
Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um Mi- - Se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação já
nistério, a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os prevista.
Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de intermi-
nisterial. 6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medi-
da proposta possa vir a tê-lo)
— Forma e Estrutura 7. Alterações propostas
Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação do 8. Síntese do parecer do órgão jurídico
padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que acompanha a
exposição de motivos que proponha alguma medida ou apresente Com base em avaliação do ato normativo ou da medida pro-
projeto de ato normativo, segue o modelo descrito adiante. A ex- posta à luz das questões levantadas no item 10.4.3.
posição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas A falta ou insuficiência das informações prestadas pode acar-
formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter retar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil,
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma a devolução do projeto de ato normativo para que se complete o
medida ou submeta projeto de ato normativo. exame ou se reformule a proposta. O preenchimento obrigatório do
No primeiro caso, o da exposição de motivos que simplesmen- anexo para as exposições de motivos que proponham a adoção de
te leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República, alguma medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade:
sua estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício. a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se busca
Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Pre- resolver;
sidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do pro-
ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora sigam blema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a edição
também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentá- do ato, em consonância com as questões que devem ser analisadas
rios julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente, na elaboração de proposições normativas no âmbito do Poder Exe-
apontar: cutivo (v. 10.4.3.).
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção da c) conferir perfeita transparência aos atos propostos.
medida ou do ato normativo proposto;
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e even- na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo,
tuais alternativas existentes para equacioná-lo; o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se e
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação pro-
qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema. funda e direta de toda a situação que está a reclamar a adoção de
certa providência ou a edição de um ato normativo; o problema a
Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos
de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de
modelo previsto no Anexo II do Decreto no 4.176, de 28 de março motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade da
de 2002. providência proposta: por que deve ser adotada e como resolverá
Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do Ministério o problema. Nos casos em que o ato proposto for questão de pes-
ou órgão equivalente) nº de 200. soal (nomeação, promoção, ascensão, transferência, readaptação,
reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção,
1. Síntese do problema ou da situação que reclama providên- exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade, aposentadoria),
cias não é necessário o encaminhamento do formulário de anexo à ex-
2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na posição de motivos.
medida proposta Ressalte-se que:
3. Alternativas existentes às medidas propostas – A síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
Mencionar: não dispensa o encaminhamento do parecer completo;
- Se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;

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LÍNGUA PORTUGUESA
– O tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos c) indicação de autoridades.
pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos As mensagens que submetem ao Senado Federal a indicação
comentários a serem ali incluídos. de pessoas para ocuparem determinados cargos (magistrados dos
Tribunais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do
Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que Banco Central, Procurador-Geral da República, Chefes de Missão Di-
a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza, conci- plomática, etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, inci-
são, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do padrão sos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de motivos é privativa para aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado,
a principal modalidade de comunicação dirigida ao Presidente da devidamente assinado, acompanha a mensagem.
República pelos Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden-
encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário te da República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata-
ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo ou em -se de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a
parte. autorização é da competência privativa do Congresso Nacional. O
Presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, quando a
Mensagem ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma comunicação a cada
Casa do Congresso, enviando-lhes mensagens idênticas.
— Definição e Finalidade e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de
É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de submeter
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo Chefe tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso XII
do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar sobre fato do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos legais a
da Administração Pública; expor o plano de governo por ocasião outorga ou renovação da concessão após deliberação do Congresso
da abertura de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional Nacional (Constituição, art. 223, § 3o). Descabe pedir na mensagem
matérias que dependem de deliberação de suas Casas; apresentar a urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § 1o do
veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja art. 223 já define o prazo da tramitação. Além do ato de outorga
de interesse dos poderes públicos e da Nação. Minuta de mensa- ou renovação, acompanha a mensagem o correspondente processo
gem pode ser encaminhada pelos Ministérios à Presidência da Re- administrativo.
pública, a cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens f) encaminhamento das contas referentes ao exercício ante-
mais usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as se- rior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta dias após a
guintes finalidades: abertura da sessão legislativa para enviar ao Congresso Nacional as
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, complemen- contas referentes ao exercício anterior (Constituição, art. 84, XXIV),
tar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou complementar são para exame e parecer da Comissão Mista permanente (Constitui-
enviados em regime normal (Constituição, art. 61) ou de urgência ção, art. 166, § 1o), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
(Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe lembrar que o projeto pode tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento disci-
ser encaminhado sob o regime normal e mais tarde ser objeto de plinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
nova mensagem, com solicitação de urgência. Em ambos os casos, g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
a mensagem se dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a situação
encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da do País e solicitação de providências que julgar necessárias (Cons-
República ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para tituição, art. 84, XI). O portador da mensagem é o Chefe da Casa
que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). Quan- Civil da Presidência da República. Esta mensagem difere das demais
to aos projetos de lei financeira (que compreendem plano pluria- porque vai encadernada e é distribuída a todos os Congressistas em
nual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e créditos adicio- forma de livro.
nais), as mensagens de encaminhamento dirigem-se aos Membros h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
do Congresso Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso Nacio-
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 nal, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde
da Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis fi- se originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou
nanceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma do a lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos,
regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Nacional está nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de san-
o Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 57, § 5o), que co- ção.
manda as sessões conjuntas. As mensagens aqui tratadas coroam o i) comunicação de veto.
processo desenvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 66,
minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das ma- § 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se o veto é
térias objeto das proposições por elas encaminhadas. Tais exames parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto
materializam-se em pareceres dos diversos órgãos interessados no vai publicado na íntegra no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e
assunto das proposições, entre eles o da Advocacia-Geral da União. Estrutura), ao contrário das demais mensagens, cuja publicação se
Mas, na origem das propostas, as análises necessárias constam da restringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto)
exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição j) outras mensagens.
de Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem Também são remetidas ao Legislativo com regular frequência
de encaminhamento ao Congresso. mensagens com:
b) encaminhamento de medida provisória. – Encaminhamento de atos internacionais que acarretam en-
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição, cargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
o Presidente da República encaminha mensagem ao Congresso, – Pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às opera-
dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do ções e prestações interestaduais e de exportação
Senado Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada (Constituição, art. 155, § 2o, IV);
pela Coordenação de Documentação da Presidência da República.

34
LÍNGUA PORTUGUESA
– Proposta de fixação de limites globais para o montante da gens urgentes e para o envio antecipado de documentos, de cujo
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI); conhecimento há premência, quando não há condições de envio do
– Pedido de autorização para operações financeiras externas documento por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele
(Constituição, art. 52, V); e outros. segue posteriormente pela via e na forma de praxe. Se necessário
Entre as mensagens menos comuns estão as de: o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com
– Convocação extraordinária do Congresso Nacional (Constitui- o próprio fax, cujo papel, em certos modelos, se deteriora rapida-
ção, art. 57, § 6o); mente.
– Pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral da
República (art. 52, XI, e 128, § 2o); — Forma e Estrutura
– Pedido de autorização para declarar guerra e decretar mobi- Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a estrutura
lização nacional (Constituição, art. 84, XIX); que lhes são inerentes. É conveniente o envio, juntamente com o
– Pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz documento principal, de folha de rosto, i. é., de pequeno formulário
(Constituição, art. 84, XX); com os dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor-
– Justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua me exemplo a seguir:
prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o);
– Pedido de autorização para decretar o estado de sítio (Cons- Correio Eletrônico
tituição, art. 137);
– Relato das medidas praticadas na vigência do estado de sítio — Definição e finalidade
ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único); Correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e celeridade,
– Proposta de modificação de projetos de leis financeiras transformou-se na principal forma de comunicação para transmis-
(Constituição, art. 166, § 5o); são de documentos.
– Pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem sem
despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda ou rejei- — Forma e Estrutura
ção do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, art. 166, § 8o); Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
– Pedido de autorização para alienar ou conceder terras públi- flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para sua es-
cas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, § 1o); etc. trutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem incompatí-
vel com uma comunicação oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e
— Forma e Estrutura Comunicações Oficiais). O campo assunto do formulário de correio
As mensagens contêm: eletrônico mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a or-
a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, horizon- ganização documental tanto do destinatário quanto do remetente.
talmente, no início da margem esquerda: Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, prefe-
Mensagem no rencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que encaminha al-
b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o cargo gum arquivo deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo.
do destinatário, horizontalmente, no início da margem esquerda; Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o pe-
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; dido de confirmação de recebimento.
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem direita. —Valor documental
A mensagem, como os demais atos assinados pelo Presidente Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de
da República, não traz identificação de seu signatário. correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que possa ser
aceito como documento original, é necessário existir certificação di-
Telegrama gital que ateste a identidade do remetente, na forma estabelecida
em lei.
— Definição e Finalidade
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os proce-
dimentos burocráticos, passa a receber o título de telegrama toda
EXERCÍCIOS
comunicação oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Por
tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos cofres públicos
e tecnologicamente superada, deve restringir-se o uso do telegra- 1. (Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor - Educação Infantil
ma apenas àquelas situações que não seja possível o uso de correio - VUNESP - 2020)
eletrônico ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, tam-
bém em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação Escola inclusiva
deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).
É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros concor-
— Forma e Estrutura dam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a estrutura deficiência.
dos formulários disponíveis nas agências dos Correios e em seu sítio Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre
na Internet. os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma
educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal
Fax perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou
lei em 2015 e criou raízes no tecido social.
— Definição e Finalidade
A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi-
O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é uma for-
cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer
ma de comunicação que está sendo menos usada devido ao desen-
então de alunos com gama tão variada de dificuldades.
volvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de mensa-

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LÍNGUA PORTUGUESA
Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en- de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os
frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que
limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais. eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago.
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis- Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na
corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com- costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher
panhia de colegas na mesma condição. pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende-
com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re-
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2 produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo.
número de professores com alguma formação em educação espe- Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem
cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país. se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras
Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios
aula. no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es- Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S. Paulo.
trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019.
menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno
e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
período regular nas técnicas pedagógicas. possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe- meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele- Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar nos trechos a seguir.
em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con- I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E
funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo. não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró-
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado) prios dejetos.”
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo:
Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do “Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores,
pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses, sofás e até carcaças de automóveis.”
a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal:
colocação dos pronomes. “Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com tornar as salamandras de Čapek.”
deficiência. (incluem-se) IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu-
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro-
mais que 100 mil deles no país. (se contam) duzir um ‘Dom Quixote’”.
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada
sala de aula. (concebe-se) Está correto apenas o que se afirma em
(D) Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de (A) I e II.
receber o aluno... (encarrega-se) (B) I e III.
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmen- (C) II e IV.
te já vamos aprendendo. (confunde-se) (D) III e IV.

2. (Prefeitura de Caranaíba - MG - Agente Comunitário de Saú- 3. (Prefeitura de Birigui - SP - Educador de Creche - VUNESP
de - FCM - 2019) - 2019)

Dieta salvadora Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente bus-


A ciência descobre um micróbio adepto de um ca indícios de que o problema ambiental seja universal (e de fato
alimento abundante: o lixo plástico no mar. é), atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Algu-
ma ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apo-
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o logético; haveria dilemas ambientais em todos os lugares, tempos,
câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des- culturas. É a bambificação(*) da natureza. Necessária, no entanto,
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os como condição de sobrevivência. Há quem tenha encontrado nor-
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também mas ambientais na Bíblia, no Direito grego, e até no Direito romano.
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças São Francisco de Assis, nessa linha, prosaica, seria o santo padroeiro
de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água, das causas ambientais; falava com plantas e animais.
subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instintiva,
para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este é o meu
Guanabara ao Pacífico. argumento, quando muito, e agora utilizo uma categoria freudiana,
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália, a pretensão de proteção ambiental seria pulsional, dado que resiste
China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um a uma pressão contínua, variável na intensidade. Assim, numa di-
micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico mensão qualitativa, e não quantitativa, é que se deveria enfrentar
jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado a questão, que também é cultural. E que culturalmente pode ser
pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o abordada.
das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios,

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LÍNGUA PORTUGUESA
O problema, no entanto, é substancialmente econômico. O que buscam refúgio em outros países costumam ser recebidas com
dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente desconfiança quando não com violência, o que diminui o valor da
passa a ser limite para o avanço da atividade econômica. É nesse imigração como remédio multiuso.
sentido que a chamada internalização da externalidade negativa No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra se-
exige justificativa para uma atuação contra-fática. ria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos estejam
bém rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que a prote- inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento da or-
ção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada no próprio dem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis).
homem. Os geocêntricos piamente entendem que a natureza deva Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do
ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e característi- que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob
cas. Posições se radicalizam. sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016
A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos o de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um tra-
“salto do tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter Benjamin, balhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e
em uma de suas teses sobre a filosofia da história. Qual um tigre transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
mergulhamos no passado, e apenas apreendemos o que interessa A imigração se torna ainda mais tentadora quando se considera
para nossa argumentação. É o que se faz, a todo tempo. que é a resposta perfeita para países desenvolvidos que enfrentam
(Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em: https://www. o problema do envelhecimento populacional.
conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado) Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser maltrata-
dos e até perseguidos quando cruzam a fronteira, especialmente
(*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhe- se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até no Brasil,
cido como “Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência que não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que estão em
na natureza. operação aqui vieses da Idade da Pedra, tempo em que membros
de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que uma solução.
Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados em- De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração,
pregando pronomes, de acordo com a norma-padrão de regência e tomando cuidado para evitar que a chegada dos estrangeiros dê
colocação. pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com inte-
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica tam- ligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
bém rondaria a discussão. / Alguma ingenuidade conceitual pode- por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. É tudo o que
ria marcar o ambientalismo apologético. não estamos fazendo.
(A) ... lhe rondaria ... o poderia marcar (Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
(B) ... rondá-la-ia ... poderia marcar ele colunas/.28.08.2018. Adaptado)
(C) ... rondaria-a ... podê-lo-ia marcar
(D) ... rondaria-lhe ... poderia o marcar Considere as frases:
(E) ... a rondaria ... poderia marcá-lo • países desenvolvidos que enfrentam o problema do envelhe-
cimento populacional. (4º parágrafo)
4. (Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho - PE - Técnico em • ... minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
Saneamento - IBFC - 2019) por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. (6º parágrafo)

Vou-me embora pra Pasárgada, A substituição das expressões em destaque por pronomes está
lá sou amigo do Rei”. de acordo com a norma-padrão de emprego e colocação em:
(M.Bandeira) (A) enfrentam-no; distribuindo-lhes.
(B) o enfrentam; lhes distribuindo.
Quanto à regra de colocação pronominal utilizada, assinale a (C) o enfrentam; distribuindo-as.
alternativa correta. (D) enfrentam-no; lhes distribuindo.
(A) Ênclise: em orações iniciadas com verbos no presente (E) lhe enfrentam; distribuindo-as.
ou pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado
posposto ao verbo. 6. (Prefeitura de Peruíbe - SP – Secretário de escola - VUNESP
(B) Próclise: em orações iniciadas com verbos no presente - 2019)
ou pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado Considere a frase a seguir. Como as crianças são naturalmente
posposto ao verbo. agitadas, cabe aos adultos impor às crianças limites que garantam
(C) Mesóclise: em orações iniciadas com verbos no presente às crianças um desenvolvimento saudável. Para eliminar as repeti-
ou pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado ções da frase, as expressões destacadas devem ser substituídas, em
posposto ao verbo. conformidade com a norma-padrão da língua, respectivamente, por
(E) Próclise: em orações iniciadas com verbos no imperativo
(A) impor-nas ... lhes garantam
afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto ao
(B) impor-lhes ... as garantam
verbo.
(C) impô-las ... lhes garantam
(D) impô-las ... as garantam
5. (Prefeitura de Peruíbe - SP - Inspetor de Alunos - VUNESP
(E) impor-lhes ... lhes garantam
- 2019)

Pelo fim das fronteiras

Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista pura-


mente racional, ela é a solução para vários problemas globais. Mas,
como o mundo é um lugar menos racional do que deveria, pessoas

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LÍNGUA PORTUGUESA
7. (Prefeitura de Blumenau - SC - Professor - Geografia – Ma- 10. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
tutino- FURB – 2019) em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
O tradicional desfile do aniversário de Blumenau, que completa 169 -vermelho.
anos de fundação nesta segunda-feira, teve outra data especial para co- (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino,
memorar: os 200 anos de nascimento do Doutor Hermann Blumenau. infra-assinado.
__________ 15 mil pessoas que estiveram na Rua XV de Novembro nes- (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiêni-
ta manhã acompanhando o desfile, de acordo com estimativa da Funda- co.
ção Cultural, conheceram um pouco mais da vida do fundador do muni- (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
cípio. [...] O desfile também apresentou aspectos da colonização alemã trarregra.
no Vale do Itajaí. Dessa forma, as bandeiras e moradores das 42 cidades (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
do território original de Blumenau, que foi fundado por Hermann, tam- -mencionado.
bém estiveram representadas na Rua XV de Novembro. [...]
Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/desfile-em-blu- 11. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL –
menau-comemora-o-aniversario-da-cidade-e-os-200-anos-do-funda- 2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente
dor>.Acesso em: 02 set. 2019.[adaptado] empregadas e grafadas.
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o
No mesmo excerto “Dessa forma, as bandeiras e moradores poder de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
das 42 cidades do território original de Blumenau, que foi fundado qualquer excesso e violência.
por Hermann, também estiveram representadas na Rua XV de No- (B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
vembro.”, a palavra destacada pertence à classe gramatical: mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
(A) conjunção suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
(B) pronome isso, num modo de intervenção específico.
(C) preposição (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
(D) advérbio poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violen-
(E) substantivo to em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de
revolta que ambos possam suscitar.
8. (Prefeitura de Blumenau - SC - Professor - Português – Ma- (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
tutino - FURB – 2019) der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
corpo dos supliciados.
Determinado, batalhador, estudioso, dedicado e inquieto. Mui- (E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
tos são os adjetivos que encontramos nos livros de história para campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
definir Hermann Blumenau. Desde os primeiros anos da colônia, es- trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
teve determinado a construir uma casa melhor para viver com sua organização em delinqüência.
família, talvez em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.
Infelizmente, nunca concretizou este sonho, porém, nunca deixou 12. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR
de zelar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.[...] – 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
Disponível em: <https://www.blumenau.sc.gov.br/secretarias/funda- (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacida-
cao-cultural/fcblu/memaoria-digital-ao-comemoraacaao-200-anos-dr- de extraordinária de imitar vários estilos musicais.
-blumenau85>. Acesso em: 05 set. 2019. [adaptado] (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
mentos pessoais por meio de sua música.
Sobre a colocação dos pronomes átonos nos excertos: “...talvez (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.” e “...zelar por composições do músico na cultura ocidental.
tudo aquilo que lhe dizia respeito.”, podemos afirmar que ambas (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
as próclises estão corretas, pois o verbo está precedido de palavras sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona-
que atraem o pronome para antes do verbo. Assinale a alternativa gens.
que identifica essas palavras atrativas dos excertos: (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(A) palavras de sentido negativo deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(B) advérbios
(C) conjunções subordinativas 13. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
(D) pronomes demonstrativos ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
(E) pronomes relativos padrão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
9. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
se fundamenta em intertextualidade é: (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morri- (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
do há muito tempo.”
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se 14. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
mete onde não é chamada.” DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a pontuação em:
gente mesmo!” (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
tudo bem.” (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” teiramente pela porta?

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LÍNGUA PORTUGUESA
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
(D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem muito branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os irmãos e
o mundo mágico dos brinquedos.
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arrependeria. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria cuidado com
as palavras, o que entretanto, não acontecia.

15. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteiramente correta a pontuação do seguinte período:
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de pequenas provi-
dências que, tomadas por figurantes aparentemente sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas provi-
dências que tomadas por figurantes, aparentemente sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas providên-
cias, que, tomadas por figurantes aparentemente, sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas provi-
dências, que tomadas por figurantes aparentemente sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de pequenas provi-
dências, que tomadas por figurantes, aparentemente, sem importância, ditam o rumo de toda a história.

16. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
(A) pronome;
(B) adjetivo;
(C) advérbio;
(D) substantivo;
(E) preposição.

17. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
(A) Pronome demonstrativo.
(B) Pronome relativo.
(C) Pronome possessivo.
(D) Pronome pessoal.
(E) Pronome indefinido.

18. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na oração “A abordagem social constitui-se em um processo de trabalho
planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos sublinhados classificam-se, respectivamente, em
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.

19. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está correta.
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que 35% deles fosse despejado em aterros.
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta de lixo.

39
LÍNGUA PORTUGUESA
20. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 23. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDE-
2012) Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as RAL – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado correta-
relações de concordância no texto abaixo. mente por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- (C) Pretendo viajar a Paraíba.
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- (D) Ele gosta de bife à cavalo.
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição 24. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, marcada com o acento, EXCETO em:
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
plural em “deflacionados”. eleitorado pelo resultado final.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do siste-
plural em “Elevaram-se”. ma.
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
as regras de concordância com “economia”. vel.
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o
de singular em “fez aumentar”. sistema.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordân-
cia com “relevantes”. 25. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração e
período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um (a):
21. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a americanas, entre na fila.”
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
acima, na ordem dada, as expressões: subordinadas.
(A) a que – de que; (B) Período, composto por três orações.
(B) de que – com que; (C) Oração, pois possui sentido completo.
(C) a cujas – de cujos; (D) Período, pois é composto por frases e orações.
(D) à que – em que;
(E) em que – aos quais. 26. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS –
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor-
22. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda
2008) Assinale o trecho que apresenta erro de regência. oração.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de (A) Oração coordenada assindética aditiva.
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fecha o (B) Oração coordenada sindética aditiva.
ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a maior taxa (C) Oração coordenada sindética adversativa.
registrada na última década. (D) Oração coordenada sindética explicativa.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere (E) Oração coordenada sindética alternativa.
que serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo
foi a conhecida Comissão Econômica para a América Latina 27. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
(CEPAL). a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momen- exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
to em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, orações.
em que se revela queda no desemprego e até se anuncia a (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada
ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta adversativa.
de novas fontes de petróleo. (B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribu- aditiva.
ída a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com partici- (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
pação menor no conjunto dos bens produzidos pela América tiva.
Latina. (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, adverbial consecutiva.
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo 28. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999)
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior Analise sintaticamente a oração em destaque:
do que o do Brasil. “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
sados” (Machado de Assis).
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
(B) oração subordinada adverbial causal.

40
LÍNGUA PORTUGUESA
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
(D) oração coordenada sindética conclusiva. dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
(E) oração coordenada sindética explicativa. ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
29. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI- Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
(A) subordinada substantiva predicativa; funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
(B) subordinada adjetiva restritiva; coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
(C) subordinada substantiva subjetiva; sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
(D) subordinada substantiva objetiva direta; se tornou uma bomba relógio na região.”
(E) subordinada adjetiva explicativa. Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
30. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
mas nunca à custa de nossos filhos...” Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
sindética adversativa; tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori-
explicativa; dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
bial concessiva; Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
sindética adversativa; FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
concessiva.
34. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
31. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe- I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um fato.
governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
história.”, a oração sublinhada é classificada como: gênero textual editorial.
(A) coordenada assindética; III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(B) subordinada substantiva completiva nominal; que se trata de uma reportagem.
(C) subordinada substantiva objetiva indireta; IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(D) subordinada substantiva apositiva. se trata de um editorial.

32. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS – Analise as assertivas e responda:


2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem, (A) Somente a I é correta.
o seguinte par de palavras: (B) Somente a II é incorreta.
(A) estrondo – ruído; (C) Somente a III é correta
(B) pescador – trabalhador; (D) A III e IV são corretas.
(C) pista – aeroporto;
(D) piloto – comissário; 35. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que
(E) aeronave – jatinho. ainda suja o Brasil”:
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
33. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA no desenvolvimento do assunto.
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é blemas no uso de conjunções e preposições.
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
tem como antônimo: de palavras e da ordem sintática.
(A) fortuna; IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
(B) opulência; temática e bom uso dos recursos coesivos.
(C) riqueza;
(D) escassez; Analise as assertivas e responda:
(E) abundância. (A) Somente a I é correta.
(B) Somente a II é incorreta.
Leia o texto abaixo para responder a questão. (C) Somente a III é correta.
A lama que ainda suja o Brasil (D) Somente a IV é correta.
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)

41
LÍNGUA PORTUGUESA
Leia o texto abaixo para responder as questões. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
UM APÓLOGO — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
Machado de Assis. que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: fico.
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola- Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
— Deixe-me, senhora. muita linha ordinária!
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me 36. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
der na cabeça. e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos elementos dos textos:
outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?”
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
(L.06)
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adian-
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- te, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando faço e mando...” (L.14-15)
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa
isto uma cor poética. E dizia a agulha: comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? eles, furando abaixo e acima.” (L.25-26)
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha
e acima… de costura. Faze como eu, que não abro caminho para nin-
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela guém. Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que 37. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar ou-
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tros valores semânticos além da noção de dimensão, como afetivi-
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- dade, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (A) dimensão e pejoratividade;
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (B) afetividade e intensidade;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (C) afetividade e dimensão;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (D) intensidade e dimensão;
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, (E) pejoratividade e afetividade.
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
perguntou-lhe: 38. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de
Vamos, diga lá. nossa ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)

42
LÍNGUA PORTUGUESA
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agu- Com relação à redação oficial, o emissor é o Serviço Público
lha. Agulha não tem cabeça.” (L.06) (Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção). O
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um assunto é sempre referente às atribuições do órgão que comuni-
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) ca. O destinatário ou receptor dessa comunicação ou é o público, o
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi- conjunto dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos
nária!” (L.43) outros Poderes da União.
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pou- ( ) Certo
co?” (L.25) ( ) Errado

39. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo 43. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. Con-
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre- forme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em
sente no texto: 2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras gra-
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação fadas conforme o Acordo.
equânime em ambientes coletivos de trabalho; I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca-
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
equânime em ambientes coletivos de trabalho; II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di-
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho, retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente.
cada sujeito possui atribuições próprias. III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole- tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação,
sujeito. pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, -Geral.
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
-ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
40. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA – -Executiva, tenente-coronel.
2019)
Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto Assinale a alternativa CORRETA:
afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti- (A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
nado ao presidente do Congresso Nacional é (B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(A) Senhor Presidente. (C) As afirmações II, III e IV estão corretas.
(B) Excelentíssimo Senhor Presidente. (D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
(C) Presidente. (E) As afirmações III, IV e V estão corretas.
(D) Excelentíssimo Presidente.
(E) Excelentíssimo Senhor. 44. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
41. (CÂMARA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - AUXILIAR Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
ADMINISTRATIVO - INSTITUTO AOCP - 2019 ) mentem esses usos.
Referente à aplicação de elementos de gramática à redação ofi- Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
cial, os sinais de pontuação estão ligados à estrutura sintática e têm 1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
várias finalidades. Assinale a alternativa que apresenta a pontuação Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
que pode ser utilizada em lugar da vírgula para dar ênfase ao que 2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
se quer dizer. Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
(A) Dois-pontos. 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona-
(B) Ponto-e-vírgula. mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
(C) Ponto-de-interrogação. de desferir os golpes.
(D) Ponto-de-exclamação.
INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
42. (UNIR - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - ANÁLISES CLÍNICAS- da vírgula em cada frase.
AOCP – 2018) ( ) Para destacar deslocamento de termos.
Pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
Público redige atos normativos e comunicações. Em relação à reda- ( ) Para indicar um aposto.
ção de documentos oficiais, julgue, como VERDADEIRO ou FALSO,
os itens a seguir. A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
(A) 1 – 2 – 3.
A língua tem por objetivo a comunicação. Alguns elementos (B) 2 – 1 – 3.
são necessários para a comunicação: (C) 3 – 1 – 2.
a) emissor, (D) 3 – 2 – 1.
b) receptor,
c) conteúdo,
d) código,
e) meio de circulação,
f) situação comunicativa.

43
LÍNGUA PORTUGUESA

GABARITO 43 E
44 C

1 D
2 A
ANOTAÇÕES
3 E
4 A
______________________________________________________
5 C
______________________________________________________
6 E
7 B ______________________________________________________
8 E ______________________________________________________
9 E
______________________________________________________
10 D
11 B ______________________________________________________

12 C ______________________________________________________
13 B
______________________________________________________
14 E
______________________________________________________
15 A
16 A ______________________________________________________
17 E ______________________________________________________
18 B
______________________________________________________
19 E
20 A ______________________________________________________

21 A ______________________________________________________
22 D ______________________________________________________
23 A
______________________________________________________
24 D
25 B ______________________________________________________
26 C ______________________________________________________
27 C
______________________________________________________
28 E
______________________________________________________
29 A
30 D ______________________________________________________
31 B ______________________________________________________
32 E
______________________________________________________
33 D
34 C _____________________________________________________

35 D _____________________________________________________
36 E
______________________________________________________
37 D
______________________________________________________
38 D
39 D ______________________________________________________
40 B ______________________________________________________
41 B
______________________________________________________
42 A
______________________________________________________

44
ATUALIDADES
1. Tópicos relevantes e atuais de diversas áreas, tais como política, economia, sociedade, educação, saúde, cultura, tecnologia, energia,
relações internacionais, desenvolvimento sustentável, segurança e ecologia, suas interrelações e suas vinculações históricas . . . 01
ATUALIDADES
disponibilizado online, você poderá conferir e checar os fatos e
TÓPICOS RELEVANTES E ATUAIS DE DIVERSAS ÁREAS, fontes de imediato através dos veículos de comunicação virtuais,
TAIS COMO POLÍTICA, ECONOMIA, SOCIEDADE, EDU- tornando a ponte entre o estudo desta disciplina tão fluida e a ve-
CAÇÃO, SAÚDE, CULTURA, TECNOLOGIA, ENERGIA, racidade das informações um caminho certeiro.
RELAÇÕES INTERNACIONAIS, DESENVOLVIMENTO Indicamos ainda que siga atento aos veículos de comunicação
SUSTENTÁVEL, SEGURANÇA E ECOLOGIA, SUAS INTER- de sua região, para manter-se sempre atualizado dos principais as-
RELAÇÕES E SUAS VINCULAÇÕES HISTÓRICAS suntos do dia a dia.

A importância do estudo de atualidades Acesse: https://www.editorasolucao.com.br/materiais


Dentre todas as disciplinas com as quais concurseiros e es- Bons estudos!
tudantes de todo o país se preocupam, a de atualidades tem se
tornado cada vez mais relevante. Quando pensamos em matemá-
tica, língua portuguesa, biologia, entre outras disciplinas, inevita-
velmente as colocamos em um patamar mais elevado que outras
que nos parecem menos importantes, pois de algum modo nos é
ensinado a hierarquizar a relevância de certos conhecimentos des-
de os tempos de escola.
No, entanto, atualidades é o único tema que insere o indivíduo
no estudo do momento presente, seus acontecimentos, eventos
e transformações. O conhecimento do mundo em que se vive de
modo algum deve ser visto como irrelevante no estudo para con-
cursos, pois permite que o indivíduo vá além do conhecimento
técnico e explore novas perspectivas quanto à conhecimento de
mundo.
Em sua grande maioria, as questões de atualidades em con-
cursos são sobre fatos e acontecimentos de interesse público, mas
podem também apresentar conhecimentos específicos do meio po-
lítico, social ou econômico, sejam eles sobre música, arte, política,
economia, figuras públicas, leis etc. Seja qual for a área, as questões
de atualidades auxiliam as bancas a peneirarem os candidatos e se-
lecionarem os melhores preparados não apenas de modo técnico.
Sendo assim, estudar atualidades é o ato de se manter cons-
tantemente informado. Os temas de atualidades em concursos são
sempre relevantes. É certo que nem todas as notícias que você vê
na televisão ou ouve no rádio aparecem nas questões, manter-se
informado, porém, sobre as principais notícias de relevância nacio-
nal e internacional em pauta é o caminho, pois são debates de ex-
trema recorrência na mídia.
O grande desafio, nos tempos atuais, é separar o joio do trigo.
Com o grande fluxo de informações que recebemos diariamente, é
preciso filtrar com sabedoria o que de fato se está consumindo. Por
diversas vezes, os meios de comunicação (TV, internet, rádio etc.)
adaptam o formato jornalístico ou informacional para transmitirem
outros tipos de informação, como fofocas, vidas de celebridades,
futebol, acontecimentos de novelas, que não devem de modo al-
gum serem inseridos como parte do estudo de atualidades. Os inte-
resses pessoais em assuntos deste cunho não são condenáveis de
modo algum, mas são triviais quanto ao estudo.
Ainda assim, mesmo que tentemos nos manter atualizados
através de revistas e telejornais, o fluxo interminável e ininterrupto
de informações veiculados impede que saibamos de fato como es-
tudar. Apostilas e livros de concursos impressos também se tornam
rapidamente desatualizados e obsoletos, pois atualidades é uma
disciplina que se renova a cada instante.
O mundo da informação está cada vez mais virtual e tecnoló-
gico, as sociedades se informam pela internet e as compartilham
em velocidades incalculáveis. Pensando nisso, a editora prepara
mensalmente o material de atualidades de mais diversos campos
do conhecimento (tecnologia, Brasil, política, ética, meio ambiente,
jurisdição etc.) em nosso site.
Lá, o concurseiro encontrará um material completo com ilus-
trações e imagens, notícias de fontes verificadas e confiáveis, exer-
cícios para retenção do conteúdo aprendido, tudo preparado com
muito carinho para seu melhor aproveitamento. Com o material

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ATUALIDADES

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Noções de sistema operacional (ambientes Linux e Windows) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Edição de textos, planilhas e apresentações (ambientes Microsoft Office e BrOffice) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3. Redes de computadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4. Conceitos básicos, ferramentas, aplicativos e procedimentos de Internet e intranet. Programas de navegação (Microsoft Internet Ex-
plorer, Mozilla Firefox, Google Chrome e similares) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
5. Programas de correio eletrônico (Outlook Express, Mozilla Thunderbird e similares) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6. Sítios de busca e pesquisa na Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
7. Grupos de discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
8. Redes sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
9. Computação na nuvem (cloud computing) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
10. Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e programas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
11. Segurança da informação. Procedimentos de segurança. Noções de vírus, worms e pragas virtuais. Aplicativos para segurança (antiví-
rus, firewall, antispyware etc.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
12. Procedimentos de backup . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
13. Armazenamento de dados na nuvem (cloud storage) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL (AMBIENTES LINUX E WINDOWS)

O Linux é um sistema operacional livre baseado no antigo UNIX, desenvolvido nos anos 60.
Ele é uma cópia do Unix feito por Linus Torvalds, junto com um grupo de hackers pela Internet. Seguiu o padrão POSIX (família de
normas definidas para a manutenção de compatibilidade entre sistemas operacionais), padrão usado pelas estações UNIX e desenvolvido
na linguagem de programação, C1.
Linus Torvalds, em 1991, criou um clone do sistema Minix (sistema operacional desenvolvido por Andrew Tannenbaun que era seme-
lhante ao UNIX) e o chamou de Linux2.
LINUS + UNIX = LINUX.

Composição do Linux
Por ser um Sistema Operacional, o Linux tem a função de gerenciar todo o funcionamento de um computador, tanto a parte de hard-
ware (parte física) como a parte de software (parte Lógica).
O Sistema Operacional Linux é composto pelos seguintes componentes.
• Kernel (núcleo): é um software responsável por controlar as interações entre o hardware e outros programas da máquina. O kernel
traduz as informações que recebe ao processador e aos demais elementos eletrônicos do computador. É, portanto, uma série de arquivos
escritos em linguagem C e Assembly, que formam o núcleo responsável por todas as atividades executadas pelo sistema operacional. No
caso do Linux, o código-fonte (receita do programa) é aberto, disponível para qualquer pessoa ter acesso, assim podendo modificá-lo.
• Shell (concha): o intérprete de comandos é a interface entre o usuário e o sistema operacional. A interface Shell funciona como o
intermediário entre o sistema operacional e o usuário graças às linhas de comando escritas por ele. A sua função é ler a linha de comando,
interpretar seu significado, executar o comando e devolver o resultado pelas saídas.
• Prompt de comando: é a forma mais arcaica de o usuário interagir com o Kernel por meio do Shell.

Prompt de comando.3

• Interface gráfica (GUI): conhecida também como gerenciador de desktop/área de trabalho, é a forma mais recente de o usuário
interagir com o sistema operacional. A interação é feita por meio de janelas, ícones, botões, menus e utilizando o famoso mouse. O Linux
possui inúmeras interfaces gráficas, sendo as mais usadas: Unity, Gnome, KDE, XFCE, LXDE, Cinnamon, Mate etc.

1 MELO, F. M. Sistema Operacional Linux. Livro Eletrônico.


2 https://bit.ly/32DRvTm
3 https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2016/09/como-executar-dois-ou-mais-comandos-do-linux-ao-mesmo-tempo.html

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ubuntu com a interface Unity.4

Principais Características do Linux


• Software livre: é considerado livre qualquer programa que pode ser copiado, usado, modificado e redistribuído de acordo com as
necessidades de cada usuário. Em outras palavras, o software é considerado livre quando atende a esses quatro tipos de liberdades defi-
nidas pela fundação.
• Multiusuário: permite que vários usuários acessem o sistema ao mesmo tempo. Geralmente o conceito se aplica a uma rede, na
qual podemos ter um servidor e várias pessoas acessando simultaneamente.
• Código aberto (Open Source): qualquer pessoa pode ter acesso ao código-fonte (receita) do programa.
• Multitarefa: permite que diversos programas rodem ao mesmo tempo, ou seja, você pode estar digitando um texto no Libre Office
Writer e ao mesmo tempo trabalhar na planilha de vendas do Calc, por exemplo. Sem contar os inúmeros serviços disponibilizados pelo
Sistema que estão rodando em background (segundo plano) e você nem percebe.
• Multiplataforma: o Linux roda em diversos tipos de plataformas de computadores, sejam eles x86 (32bits) ou x64 (64bits). As distri-
buições mais recentes do Ubuntu estão abolindo as arquiteturas de 32 bits.
• Multiprocessador: permite o uso de mais de um processador no mesmo computador.
• Protocolos: pode trabalhar com diversos protocolos de rede (TCP/IP).
• Case Sensitive: diferenciar letras maiúsculas (caixa alta) de letras minúsculas (caixa baixa). Exemplo: ARQUIVO1ºdt é diferente de
arquivo1ºdt.

O caractere ponto “.”, antes de um nome, renomeia o arquivo para arquivo oculto.
O caractere não aceito em nomes de arquivos e diretórios no Linux é a barra normal “/”.
• Preemptivo: é a capacidade de tirar de execução um processo em detrimento de outro. O Linux interrompe um processo que está
executando para dar prioridade a outro.
• Licença de uso (GPL): GPL (licença pública geral) permite que os programas sejam distribuídos e reaproveitados, mantendo, porém,
os direitos do autor por forma a não permitir que essa informação seja usada de uma maneira que limite as liberdades originais. A licença
não permite, por exemplo, que o código seja apoderado por outra pessoa, ou que sejam impostas sobre ele restrições que impeçam que
seja distribuído da mesma maneira que foi adquirido.
• Memória Virtual (paginada/paginação): a memória virtual é uma área criada pelo Linux no disco rígido (HD) do computador de
troca de dados que serve como uma extensão da memória principal (RAM).
• Bibliotecas compartilhadas: são arquivos que possuem módulos que podem ser reutilizáveis por outras aplicações. Em vez de o
software necessitar de ter um módulo próprio, poderá recorrer a um já desenvolvido e mantido pelo sistema (arquivo.so).
• Administrador (Super usuário/Root): é o usuário que tem todos os privilégios do sistema. Esse usuário pode alterar tudo que há no
sistema, excluir e criar partições na raiz (/) manipular arquivos e configurações especiais do sistema, coisa que o usuário comum não pode
fazer. Representado pelo símbolo: #.
• Usuário comum (padrão): é o usuário que possui restrições a qualquer alteração no sistema. Esse usuário não consegue causar
danos ao sistema devido a todas essas restrições. Representado pelo símbolo: $.

4 Fonte: http://ninjadolinux.com.br/interfaces-graficas.

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Distribuições do Linux date: mostra a data e a hora atual.
As mais famosas distribuições do Linux são: Red Hat, Ubuntu, df: mostra as partições usadas, espaço livre em disco.
Conectiva, Mandriva, Debian, Slackware, Fedora, Open Suse, Apa- diff arquivo1 arquivo2: indica as diferenças entre dois arqui-
che (WebServer), Fenix, Kurumim, Kali, Kalango, Turbo Linux, Chro- vos, por exemplo: diff calc.c calc2.c.
me – OS, BackTrack, Arch Linux e o Android (Linux usados em dispo- dir: lista os arquivos e diretórios da pasta atual; comando “ls”
sitivos móveis; Smartphone, Tablets, Relógios, etc.). é o mais usado e conhecido para Linux. dir é comando típico do
Windows.
Os Comandos Básicos do Linux du diretório: mostra o tamanho de um diretório.
O Linux entra direto no modo gráfico ao ser inicializado, mas emacs: abre o editor de textos emacs.
também, é possível inserir comandos no sistema por meio de uma fg: colocar a tarefa em foreground (primeiro plano).
aplicação de terminal. Esse recurso é localizável em qualquer dis- file arquivo: mostra informações de um arquivo.
tribuição. Se o computador não estiver com o modo gráfico ativa- find diretório parâmetro termo: o comando find serve para lo-
do, será possível digitar comandos diretamente, bastando se logar. calizar informações. Para isso, deve-se digitar o comando seguido
Quando o comando é inserido, cabe ao interpretador de comandos do diretório da pesquisa mais um parâmetro (ver lista abaixo) e o
executá-lo. O Linux conta com mais de um, sendo os mais conheci- termo da busca. Parâmetros:
dos o bash e o sh. name – busca por nome
Para utilizá-los, basta digitá-los e pressionar a tecla Enter do type – busca por tipo
teclado. É importante frisar que, dependendo de sua distribuição size – busca pelo tamanho do arquivo
Linux, um ou outro comando pode estar indisponível. Além disso, mtime – busca por data de modificação
alguns comandos só podem ser executados por usuários com privi- Exemplo: find /home name tristania
légios de administrador. finger usuário: exibe informações sobre o usuário indicado.
O Linux é case sensitive, ou seja, seus comandos têm que ser free: mostra a quantidade de memória RAM disponível.
digitados em letras minúsculas, salvo algumas letras de comandos grep: procura por um texto dentro de um arquivo.
opcionais, que podem ter tanto em maiúscula como em minúscula, gzip: compactar um arquivo.
mas terá diferença de resposta de uma para a outra. Entre os parâmetros disponíveis, tem-se:
A relação a seguir mostra os comandos seguidos de uma des- -c – extrai um arquivo para a saída padrão;
crição. -d – descompacta um arquivo comprimido;
bg: colocar a tarefa em background (segundo plano). -l – lista o conteúdo de um arquivo compactado;
cal: exibe um calendário. -v – exibe detalhes sobre o procedimento;
cat arquivo: mostra o conteúdo de um arquivo. Por exemplo, -r – compacta pastas;
para ver o arquivo concurso. txt, basta digitar cat concurso.txt. É -t – testa a integridade de um arquivo compactado.
utilizado também para concatenar arquivos exibindo o resultado na halt: desliga o computador.
tela. Basta digitar: $ cat arquivo1 > arquivo2. help: ajuda.
cd diretório: abre um diretório. Por exemplo, para abrir a pasta history: mostra os últimos comandos inseridos.
/mnt, basta digitar cd /mnt. Para ir ao diretório raiz a partir de qual- id usuário: mostra qual o número de identificação do usuário
quer outro, digite apenas cd. especificado no sistema.
Cd–: volta para o último diretório acessado (funciona como a ifconfig: é utilizado para atribuir um endereço a uma interface
função “desfazer”). de rede ou configurar parâmetros de interface de rede.
Cd~: funciona como o “home”, ou seja, vai para o diretório do -a – aplicado aos comandos para todas as interfaces do sistema.
usuário. -ad – aplicado aos comandos para todos “down” as interfaces
Cd..: “volta uma pasta”. do sistema.
chattr: modifica atributos de arquivos e diretórios. -au – aplicado aos comandos para todos “up” as interfaces do
chmod: comando para alterar as permissões de arquivos e di- sistema.
retórios.
chown: executado pelo root permite alterar o proprietário ou Permissões no Linux
grupo do arquivo ou diretório, alterando o dono do arquivo ou gru- As permissões são usadas para vários fins, mas servem princi-
po. palmente para proteger o sistema e os arquivos dos usuários.
# chown usuário arquivo Somente o superusuário (root) tem ações irrestritas no siste-
# chown usuário diretório ma, justamente por ser o usuário responsável pela configuração,
Para saber quem é o dono e qual o grupo que é o proprietário administração e manutenção do Linux. Cabe a ele, por exemplo,
da pasta, basta dar o comando: determinar o que cada usuário pode executar, criar, modificar etc.
# ls -l / A forma usada para determinar o que o usuário pode fazer é a de-
Dessa forma, pode-se ver os proprietários das pastas e dos ar- terminação de permissões.
quivos.
clear: elimina todo o conteúdo visível, deixando a linha de co-
mando no topo, como se o sistema acabasse de ter sido acessado.
cp origem destino: copia um arquivo ou diretório para outro
local. Por exemplo, para copiar o arquivo concurso.txt com o nome
concurso2.txt para /home, basta digitar cp concurso. txt /home/
concurso 2.txt.
cut: o comando cut é um delimitador de arquivos, o qual pode
ser utilizado para delimitar um arquivo em colunas, número de ca-
racteres ou por posição de campo.
Sintaxe: # cut <opções> <arquivo>

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Observe:

Observe que a figura acima exibe uma listagem dos arquivos presentes no Linux. No lado esquerdo, são exibidas as permissões dos
arquivos.

• Detalhando as Permissões

Tipos de arquivos (observe a primeira letra à esquerda):


“d” Arquivo do tipo diretório (pasta)
“-” Arquivo comum (arquivo de texto, planilha, imagens…)
“l” Link (atalho)

Tipos de permissões (o que os usuários poderão fazer com os arquivos):


r: read (ler)
w: writer (gravar)
x: execute (executar)
“-”: não permitido

Tipos de usuários (serão três categorias de usuários):


Proprietário (u)
Grupos de usuários (g)
Usuário comum (o)

Tabela de permissões (a tabela é composta de oito combinações):


0: sem permissão
1: executar
2: gravar
3: gravar/executar
4: ler
5: ler/executar
6: ler/gravar
7: ler/gravar/executar

Comando para alterar uma permissão:


chmod

Estrutura de Diretórios e Arquivos


O Linux, assim como o Windows, possui seu sistema de gerenciamento de arquivos, que pode variar de acordo com a distribuição. Os
mais conhecidos são: Konqueror, Gnome, Dolphin, Krusader, Pcman, XFE.

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Gerenciador de arquivos Dolphin.5

Enquanto no Windows a partição raiz geralmente é “C:\”, os programas são instalados em “C:\Arquivos de Programas” e os arquivos
do sistema em C:\WINDOWS, no GNU/Linux, é basicamente o contrário: o diretório raiz é representado pela barra “/”, que pode ficar ar-
mazenado no disco físico ou em uma unidade de rede, e todos os arquivos e pastas do sistema ficam dentro dele. Vejamos:
/ – diretório raiz, armazena todos os outros.
/bin – armazena os executáveis dos comandos básicos do sistema.
/boot – é onde ficam o kernel e os arquivos de boot (inicialização) do sistema.
/cdrom – o diretório /cdrom não faz parte do padrão FHS, mas você pode encontrá-lo no Ubuntu e em outras versões do sistema
operacional. É um local temporário para CD-ROMs inseridos no sistema. No entanto, o local padrão para a mídia temporária está dentro
do diretório /media.
/dev – dispositivos de entrada/saída (disquete, disco rígido, paca de som etc.). Todos os arquivos contidos nesse diretório (/dev/hda,
/dev/dsp, /dev/fd0 etc) são ponteiros para dispositivos de hardware.
/etc – armazena os arquivos de configuração do sistema, como se fossem o arquivo de registro do Windows.
/home – aqui ficam as pastas e os arquivos dos usuários. O root tem acesso a todas elas, mas cada usuário só tem acesso às suas
próprias pastas.
/lib – bibliotecas do sistema, como se fosse o diretório System32 do Windows.
/lib64 – bibliotecas do sistema, arquitetura 64 bits.
/media – o diretório /media contém subdiretórios em que os dispositivos de mídia removível inseridos no computador são montados.
Por exemplo, quando você insere um CD, DVD, pen drive em seu sistema Linux, um diretório será criado automaticamente dentro do dire-
tório /media. Você pode acessar o conteúdo do CD dentro desse diretório.
/mnt – ponto de montagem para dispositivos de hardware que estão em /dev. O leitor de CD encontrado em /dev/fd0, por exemplo,
será montado em /mnt/cdrom. Ao contrário do Windows, no qual os discos e partições aparecem como C:, D:, E:, no GNU/Linux, eles
aparecem como hda1, hda2, hdb, sdb, CD-ROM etc.
/opt – possui os softwares que não fazem parte da instalação padrão do GNU/Linux.
/proc – é criado na memória (portanto, não ocupa espaço em disco) pelo kernel e fornece informações sobre ele e os processos ativos.
/root – diretório local do superusuário (root).
/run – o diretório /run é relativamente novo e oferece aos aplicativos um local padrão para armazenar arquivos temporários, como
soquetes e identificações de processos. Esses arquivos não podem ser armazenados em /tmp, pois os arquivos localizados em /tmp podem
ser apagados.
/sbin – contém arquivos referentes à administração e manutenção de hardware e software.
/snap – arquivos de implantação e um sistema de gerenciamento de pacotes que foi projetado e construído pela Canonical para o
sistema operacional Ubuntu phone. Com o suporte a Snap instalado em sua distribuição, já é possível instalar aplicativos diversos para o
Linux.
/srv – o diretório /srv contém “dados para serviços prestados pelo sistema”. Se você usa o servidor Apache em um site, provavelmente
armazena os arquivos do seu site em um diretório dentro do /srv.
/sys – a pasta sys tem basicamente a mesma finalidade atribuída ao diretório proc.
/tmp – arquivos temporários.
/usr – é o diretório com o maior número de arquivos, incluindo bibliotecas (/usr/lib) e executáveis (/usr/bin) dos principais programas.
/usr/X11 – arquivos do sistema do gerenciador de janelas.
/usr/man – manuais on-line.
/var – arquivos variáveis, que mudam com frequência.

5 https://linuxdicasesuporte.blogspot.com/2018/02/gerenciador-de-arquivos-dolphin-para.html

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Teclas de Atalhos
Ctrl + Q: fechar o aplicativo ativo.
Ctrl + A: selecionar tudo.
Ctrl + S: salvar o documento ou alterações feitas.
Ctrl + P: imprimir o documento.
Ctrl + C: copiar o conteúdo selecionado.
Ctrl + V: colar o conteúdo da área de transferência.
Ctrl + X: cortar o conteúdo selecionado.

Atalhos de Teclado com o Gnome


Ctrl + Alt + Barra de espaço: reiniciar o Gnome.
Alt + F2: abrir a caixa “Executar comando”.
Alt + F4: fechar a janela atual.
Alt + Tab: alternar entre janelas.
Ctrl + Alt + F1: mudar para o primeiro terminal ou tty1 (sem modo gráfico).
Alt + Print: tirar uma captura de tela da tela ativa.

Atalhos de Terminal
Seta para cima ou para baixo: pesquisar entre o histórico de comandos usados.
Ctrl + C: matar o processo atual ou em execução.
Ctrl + U: excluir a linha atual.

Lançado em 2015, O Windows 10 chega ao mercado com a proposta ousada, juntar todos os produtos da Microsoft em uma única
plataforma. Além de desktops e notebooks, essa nova versão equipará smartphones, tablets, sistemas embarcados, o console Xbox One e
produtos exclusivos, como o Surface Hub e os óculos de realidade aumentada HoloLens6.

Versões do Windows 10
– Windows 10 Home: edição do sistema operacional voltada para os consumidores domésticos que utilizam PCs (desktop e note-
book), tablets e os dispositivos “2 em 1”.
– Windows 10 Pro: o Windows 10 Pro também é voltado para PCs (desktop e notebook), tablets e dispositivos “2 em 1”, mas traz
algumas funcionalidades extras em relação ao Windows 10 Home, os quais fazem com que essa edição seja ideal para uso em pequenas
empresas, apresentando recursos para segurança digital, suporte remoto, produtividade e uso de sistemas baseados na nuvem.
– Windows 10 Enterprise: construído sobre o Windows 10 Pro, o Windows 10 Enterprise é voltado para o mercado corporativo. Os
alvos dessa edição são as empresas de médio e grande porte, e o Sistema apresenta capacidades que focam especialmente em tecnologias
desenvolvidas no campo da segurança digital e produtividade.
– Windows 10 Education: Construída a partir do Windows 10 Enterprise, essa edição foi desenvolvida para atender as necessidades
do meio escolar.
– Windows 10 Mobile: o Windows 10 Mobile é voltado para os dispositivos de tela pequena cujo uso é centrado no touchscreen,
como smartphones e tablets
– Windows 10 Mobile Enterprise: também voltado para smartphones e pequenos tablets, o Windows 10 Mobile Enterprise tem como
objetivo entregar a melhor experiência para os consumidores que usam esses dispositivos para trabalho.
– Windows 10 IoT: edição para dispositivos como caixas eletrônicos, terminais de autoatendimento, máquinas de atendimento para
o varejo e robôs industriais – todas baseadas no Windows 10 Enterprise e Windows 10 Mobile Enterprise.
– Windows 10 S: edição otimizada em termos de segurança e desempenho, funcionando exclusivamente com aplicações da Loja
Microsoft.
– Windows 10 Pro – Workstation: como o nome sugere, o Windows 10 Pro for Workstations é voltado principalmente para uso pro-
fissional mais avançado em máquinas poderosas com vários processadores e grande quantidade de RAM.

Área de Trabalho (pacote aero)


Aero é o nome dado a recursos e efeitos visuais introduzidos no Windows a partir da versão 7.

6 https://estudioaulas.com.br/img/ArquivosCurso/materialDemo/SlideDemo-4147.pdf

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Área de Trabalho do Windows 10.7

Aero Glass (Efeito Vidro)


Recurso que deixa janelas, barras e menus transparentes, parecendo um vidro.

Efeito Aero Glass.8

Aero Flip (Alt+Tab)


Permite a alternância das janelas na área de trabalho, organizando-as de acordo com a preferência de uso.

7 https://edu.gcfglobal.org/pt/tudo-sobre-o-windows-10/sobre-a-area-de-trabalho-do-windows-10/1/
8 https://www.tecmundo.com.br/windows-10/64159-efeito-aero-glass-lancado-mod-windows-10.htm

7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Efeito Aero Flip.

Aero Shake (Win+Home)


Ferramenta útil para quem usa o computador com multitarefas. Ao trabalhar com várias janelas abertas, basta “sacudir” a janela
ativa, clicando na sua barra de título, que todas as outras serão minimizadas, poupando tempo e trabalho. E, simplesmente, basta sacudir
novamente e todas as janelas serão restauradas.

Efeito Aero Shake (Win+Home)

8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Aero Snap (Win + Setas de direção do teclado)
Recurso que permite melhor gerenciamento e organização das janelas abertas.
Basta arrastar uma janela para o topo da tela e a mesma é maximizada, ou arrastando para uma das laterais a janela é dividida de
modo a ocupar metade do monitor.

Efeito Aero Snap.

Aero Peek (Win+Vírgula – Transparência / Win+D – Minimizar Tudo)


O Aero Peek (ou “Espiar área de trabalho”) permite que o usuário possa ver rapidamente o desktop. O recurso pode ser útil quando
você precisar ver algo na área de trabalho, mas a tela está cheia de janelas abertas. Ao usar o Aero Peek, o usuário consegue ver o que
precisa, sem precisar fechar ou minimizar qualquer janela. Recurso pode ser acessado por meio do botão Mostrar área de trabalho (parte
inferior direita do Desktop). Ao posicionar o mouse sobre o referido botão, as janelas ficam com um aspecto transparente. Ao clicar sobre
ele, as janelas serão minimizadas.

Efeito Aero Peek.

Menu Iniciar
Algo que deixou descontente grande parte dos usuários do Windows 8 foi o sumiço do Menu Iniciar.

9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O novo Windows veio com a missão de retornar com o Menu Iniciar, o que aconteceu de fato. Ele é dividido em duas partes: na direita,
temos o padrão já visto nos Windows anteriores, como XP, Vista e 7, com a organização em lista dos programas. Já na direita temos uma
versão compacta da Modern UI, lembrando muito os azulejos do Windows Phone 8.

Menu Iniciar no Windows 10.9

Nova Central de Ações


A Central de Ações é a nova central de notificações do Windows 10. Ele funciona de forma similar à Central de Ações das versões an-
teriores e também oferece acesso rápido a recursos como modo Tablet, Bloqueio de Rotação, Luz noturna e VPN.

Central de ações do Windows 10.10

Paint 3D
O novo App de desenhos tem recursos mais avançados, especialmente para criar objetos em três dimensões. As ferramentas antigas
de formas, linhas e pintura ainda estão lá, mas o design mudou e há uma seleção extensa de funções que prometem deixar o programa
mais versátil.
Para abrir o Paint 3D clique no botão Iniciar ou procure por Paint 3D na caixa de pesquisa na barra de tarefas.

9 https://pplware.sapo.pt/microsoft/windows/windows-10-5-dicas-usar-melhor-menu-iniciar
10 Fonte: https://support.microsoft.com/pt-br/help/4026791/windows-how-to-open-action-center

10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Paint 3D.

Cortana
Cortana é um/a assistente virtual inteligente do sistema operacional Windows 10.
Além de estar integrada com o próprio sistema operacional, a Cortana poderá atuar em alguns aplicativos específicos. Esse é o caso do
Microsoft Edge, o navegador padrão do Windows 10, que vai trazer a assistente pessoal como uma de suas funcionalidades nativas. O as-
sistente pessoal inteligente que entende quem você é, onde você está e o que está fazendo. O Cortana pode ajudar quando for solicitado,
por meio de informações-chave, sugestões e até mesmo executá-las para você com as devidas permissões.
Para abrir a Cortana selecionando a opção na Barra de Tarefas. Podendo teclar ou falar o
tema que deseja.

Cortana no Windows 10.11

Microsot Edge
O novo navegador do Windows 10 veio para substituir o Internet Explorer como o browser-padrão do sistema operacional da Mi-
crosoft. O programa tem como características a leveza, a rapidez e o layout baseado em padrões da web, além da remoção de suporte a
tecnologias antigas, como o ActiveX e o Browser Helper Objects.
Dos destaques, podemos mencionar a integração com serviços da Microsoft, como a assistente de voz Cortana e o serviço de armaze-
namento na nuvem OneDrive, além do suporte a ferramentas de anotação e modo de leitura.
O Microsoft Edge é o primeiro navegador que permite fazer anotações, escrever, rabiscar e realçar diretamente em páginas da Web.
Use a lista de leitura para salvar seus artigos favoritos para mais tarde e lê-los no modo de leitura . Focalize guias abertas para visua-
lizá-las e leve seus favoritos e sua lista de leitura com você quando usar o Microsoft Edge em outro dispositivo.
O Internet Explorer 11, ainda vem como acessório do Windows 10. Devendo ser descontinuado nas próximas atualizações.
Para abrir o Edge clique no botão Iniciar , Microsoft Edge ou clique no ícone na barra de tarefas.

11 https://www.tecmundo.com.br/cortana/76638-cortana-ganhar-novo-visual-windows-10-rumor.htm

11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Microsoft Edge no Windows 10.

Windows Hello
O Windows Hello funciona com uma tecnologia de credencial chamada Microsoft Passport, mais fácil, mais prática e mais segura do
que usar uma senha, porque ela usa autenticação biométrica. O usuário faz logon usando face, íris, impressão digital, PIN, bluetooth do
celular e senha com imagem.
Para acessar o Windows Hello, clique no botão , selecione Configurações > Contas > Opções de entrada. Ou procure por
Hello ou Configurações de entrada na barra de pesquisa.

Windows Hello.

Bibliotecas
As Bibliotecas são um recurso do Windows 10 que permite a exibição consolidada de arquivos relacionados em um só local. Você pode
pesquisar nas Bibliotecas para localizar os arquivos certos rapidamente, até mesmo quando esses arquivos estão em pastas, unidades
ou em sistemas diferentes (quando as pastas são indexadas nos sistemas remotos ou armazenadas em cache localmente com Arquivos
Offline).

12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Tela Bibliotecas no Windows 10.12

One Drive
O OneDrive é serviço um de armazenamento e compartilhamento de arquivos da Microsoft. Com o Microsoft OneDrive você pode
acessar seus arquivos em qualquer lugar e em qualquer dispositivo.
O OneDrive é um armazenamento on-line gratuito que vem com a sua conta da Microsoft. É como um disco rígido extra que está
disponível para todos os dispositivos que você usar.

OneDivre.13

Manipulação de Arquivos
É um conjunto de informações nomeadas, armazenadas e organizadas em uma mídia de armazenamento de dados. O arquivo está
disponível para um ou mais programas de computador, sendo essa relação estabelecida pelo tipo de arquivo, identificado pela extensão
recebida no ato de sua criação ou alteração.
Há arquivos de vários tipos, identificáveis por um nome, seguido de um ponto e um sufixo com três (DOC, XLS, PPT) ou quatro letras
(DOCX, XLSX), denominado extensão. Assim, cada arquivo recebe uma denominação do tipo arquivo.extensão. Os tipos mais comuns são
arquivos de programas (executavel.exe), de texto (texto.docx), de imagens (imagem.bmp, eu.jpg), planilhas eletrônicas (tabela.xlsx) e
apresentações (monografia.pptx).

12 https://agorafunciona.wordpress.com/2017/02/12/como-remover-as-pastas-imagens-da-camera-e-imagens-salvas
13 Fonte: https://tecnoblog.net/286284/como-alterar-o-local-da-pasta-do-onedrive-no-windows-10

13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Pasta
As pastas ou diretórios: não contém informação propriamente dita e sim arquivos ou mais pastas. A função de uma pasta é organizar
tudo o que está dentro das unidades.
O Windows utiliza as pastas do computador para agrupar documentos, imagens, músicas, aplicações, e todos os demais tipos de
arquivos existentes.
Para visualizar a estrutura de pastas do disco rígido, bem como os arquivos nela armazenados, utiliza-se o Explorador de Arquivos.

Manipulação de arquivos e/ou pastas (Recortar/Copiar/Colar)


Existem diversas maneiras de manipular arquivos e/ou pastas.
1. Através dos botões RECORTAR, COPIAR E COLAR. (Mostrados na imagem acima – Explorador de arquivos).
2. Botão direito do mouse.
3. Selecionando e arrastando com o uso do mouse (Atenção com a letra da unidade e origem e destino).

Central de Segurança do Windows Defender


A Central de Segurança do Windows Defender fornece a área de proteção contra vírus e ameaças.
Para acessar a Central de Segurança do Windows Defender, clique no botão , selecione Configurações > Atualização e seguran-
ça > Windows Defender. Ou procure por Windows Defender na barra de pesquisa.

Windows Defender.14
14 Fonte: https://answers.microsoft.com/pt-br/protect/forum/all/central-de-seguran%C3%A7a-do-windows-defender/9ae1b77e-de7c-4ee7-b90f-4bf76ad529b1

14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Lixeira
A Lixeira armazena temporariamente arquivos e/ou pastas ex- EDIÇÃO DE TEXTOS, PLANILHAS E APRESENTAÇÕES
cluídos das unidades internas do computador (c:\). (AMBIENTES MICROSOFT OFFICE E BROFFICE)
Para enviar arquivo para a lixeira:
- Seleciona-lo e pressionar a tecla DEL. Essa versão de edição de textos vem com novas ferramentas e
- Arrasta-lo para a lixeira. novos recursos para que o usuário crie, edite e compartilhe docu-
- Botão direito do mouse sobre o arquivo, opção excluir. mentos de maneira fácil e prática15.
- Seleciona-lo e pressionar CTRL+D. O Word 2016 está com um visual moderno, mas ao mesmo
tempo simples e prático, possui muitas melhorias, modelos de do-
Arquivos apagados permanentemente: cumentos e estilos de formatações predefinidos para agilizar e dar
- Arquivos de unidades de rede. um toque de requinte aos trabalhos desenvolvidos. Trouxe pou-
- Arquivos de unidades removíveis (pen drive, ssd card...). quíssimas novidades, seguiu as tendências atuais da computação,
- Arquivos maiores do que a lixeira. (Tamanho da lixeira é mos- permitindo o compartilhamento de documentos e possuindo inte-
trado em MB (megabytes) e pode variar de acordo com o tamanho gração direta com vários outros serviços da web, como Facebook,
do HD (disco rígido) do computador). Flickr, Youtube, Onedrive, Twitter, entre outros.
- Deletar pressionando a tecla SHIFT.
- Desabilitar a lixeira (Propriedades). Novidades no Word 2016
– Diga-me o que você deseja fazer: facilita a localização e a
Para acessar a Lixeira, clique no ícone correspondente na realização das tarefas de forma intuitiva, essa nova versão possui
área de trabalho do Windows 10. a caixa Diga-me o que deseja fazer, onde é possível digitar um ter-
mo ou palavra correspondente a ferramenta ou configurações que
Outros Acessórios do Windows 10 procurar.
Existem outros, outros poderão ser lançados e incrementados,
mas os relacionados a seguir são os mais populares:
– Alarmes e relógio.
– Assistência Rápida.
– Bloco de Notas.
– Calculadora.
– Calendário.
– Clima.
– E-mail.
– Facilidade de acesso (ferramenta destinada a deficientes fí-
sicos).
– Ferramenta de Captura.
– Gravador de passos.
– Internet Explorer.
– Mapas.
– Mapa de Caracteres.
– Paint.
– Windows Explorer.
– WordPad.
– Xbox.
– Trabalhando em grupo, em tempo real: permite que vários
Principais teclas de atalho usuários trabalhem no mesmo documento de forma simultânea.
CTRL + F4: fechar o documento ativo.
CTRL + R ou F5: atualizar a janela.
CTRL + Y: refazer.
CTRL + ESC: abrir o menu iniciar.
CTRL + SHIFT + ESC: gerenciador de tarefas.
WIN + A: central de ações.
WIN + C: cortana.
WIN + E: explorador de arquivos.
WIN + H: compartilhar.
WIN + I: configurações.
WIN + L: bloquear/trocar conta.
WIN + M: minimizar as janelas.
WIN + R: executar.
WIN + S: pesquisar.
WIN + “,”: aero peek.
WIN + SHIFT + M: restaurar as janelas.
WIN + TAB: task view (visão de tarefas).
WIN + HOME: aero shake.
ALT + TAB: alternar entre janelas.
WIN + X: menu de acesso rápido.
F1: ajuda.
15 http://www.popescolas.com.br/eb/info/word.pdf

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Ao armazenar um documento on-line no OneDrive ou no SharePoint e compartilhá-lo com colegas que usam o Word 2016 ou Word
On-line, vocês podem ver as alterações uns dos outros no documento durante a edição. Após salvar o documento on-line, clique em Com-
partilhar para gerar um link ou enviar um convite por e-mail. Quando seus colegas abrem o documento e concordam em compartilhar
automaticamente as alterações, você vê o trabalho em tempo real.

– Pesquisa inteligente: integra o Bing, serviço de buscas da Microsoft, ao Word 2016. Ao clicar com o botão do mouse sobre qualquer
palavra do texto e no menu exibido, clique sobre a função Pesquisa Inteligente, um painel é exibido ao lado esquerdo da tela do programa
e lista todas as entradas na internet relacionadas com a palavra digitada.
– Equações à tinta: se utilizar um dispositivo com tela sensível ao toque é possível desenhar equações matemáticas, utilizando o dedo
ou uma caneta de toque, e o programa será capaz de reconhecer e incluir a fórmula ou equação ao documento.

– Histórico de versões melhorado: vá até Arquivo > Histórico para conferir uma lista completa de alterações feitas a um documento e
para acessar versões anteriores.
– Compartilhamento mais simples: clique em Compartilhar para compartilhar seu documento com outras pessoas no SharePoint, no
OneDrive ou no OneDrive for Business ou para enviar um PDF ou uma cópia como um anexo de e-mail diretamente do Word.

– Formatação de formas mais rápida: quando você insere formas da Galeria de Formas, é possível escolher entre uma coleção de
preenchimentos predefinidos e cores de tema para aplicar rapidamente o visual desejado.
– Guia Layout: o nome da Guia Layout da Página na versão 2010/2013 do Microsoft Word mudou para apenas Layout16.

16 CARVALHO, D. e COSTA, Renato. Livro Eletrônico.

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Interface Gráfica

Guia de Início Rápido.17

Ao clicar em Documento em branco surgirá a tela principal do Word 201618.

Área de trabalho do Word 2016.

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido


Permite adicionar atalhos, de funções comumente utilizadas no trabalho com documentos que podem ser personalizados de acordo
com a necessidade do usuário.

17 https://www.udesc.br/arquivos/udesc/id_cpmenu/5297/Guia_de_Inicio_Rapido___Word_2016_14952206861576.pdf
18 Melo, F. INFORMÁTICA. MS-Word 2016.

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Faixa de Opções
Faixa de Opções é o local onde estão os principais comandos do Word, todas organizadas em grupos e distribuídas por meio de guias,
que permitem fácil localização e acesso. As faixas de Opções são separadas por nove guias: Arquivos; Página Inicial, Inserir, Design, Layout,
Referências, Correspondências, Revisão e Exibir.

– Arquivos: possui diversas funcionalidades, dentre algumas:


– Novo: abrir um Novo documento ou um modelo (.dotx) pré-formatado.
– Abrir: opções para abrir documentos já salvos tanto no computador como no sistema de armazenamento em nuvem da Microsoft,
One Drive. Além de exibir um histórico dos últimos arquivos abertos.
– Salvar/Salvar como: a primeira vez que irá salvar o documento as duas opções levam ao mesmo lugar. Apenas a partir da segunda
vez em diante que o Salvar apenas atualiza o documento e o Salvar como exibe a janela abaixo. Contém os locais onde serão armazenados
os arquivos. Opções locais como na nuvem (OneDrive).
– Imprimir: opções de impressão do documento em edição. Desde a opção da impressora até as páginas desejadas. O usuário tanto
pode imprimir páginas sequenciais como páginas alternadas.

– Página Inicial: possui ferramentas básicas para formatação de texto, como tamanho e cor da fonte, estilos de marcador, alinhamento
de texto, entre outras.

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Grupo Área de Transferência


Para acessá-la basta clicar no pequeno ícone de uma setinha para baixo no canto inferior direito, logo à frente de Área de Transferên-
cia.
Colar (CTRL + V): cola um item (pode ser uma letra, palavra, imagem) copiado ou recortado.
Recortar (CTRL + X): recorta um item (pode ser uma letra, palavra, imagem) armazenando-o temporariamente na Área de Transferên-
cia para em seguida ser colado no local desejado.
Copiar (CTRL+C): copia o item selecionado (cria uma cópia na Área de Transferência).
Pincel de Formatação (CTRL+SHIFT+C / CTRL+SHIFT+V): esse recurso (principalmente o ícone) cai em vários concursos. Ele permite
copiar a formatação de um item e aplicar em outro.

Grupo Fonte

Fonte: permite que selecionar uma fonte, ou seja, um tipo de letra a ser exibido em seu texto. Em cada texto pode
haver mais de um tipo de fontes diferentes.

Tamanho da fonte: é o tamanho da letra do texto. Permite escolher entre diferentes tamanhos de fonte na lista ou
que digite um tamanho manualmente.

Negrito: aplica o formato negrito (escuro) ao texto selecionado. Se o cursor estiver sobre uma palavra, ela ficará toda
em negrito. Se a seleção ou a palavra já estiver em negrito, a formatação será removida.

Itálico: aplica o formato itálico (deitado) ao texto selecionado. Se o cursor estiver sobre uma palavra, ela ficará toda
em itálico. Se a seleção ou palavra já estiver em itálico, a formatação será removida.

Sublinhado: sublinha, ou seja, insere ou remove uma linha embaixo do texto selecionado. Se o cursor não está em
uma palavra, o novo texto inserido será sublinhado.

Tachado: risca uma linha, uma palavra ou apenas uma letra no texto selecionado ou, se o cursor somente estiver
sobre uma palavra, esta palavra ficará riscada.

Subscrito: coloca a palavra abaixo das demais.

Sobrescrito: coloca a palavra acima das demais.

Cor do realce do texto: aplica um destaque colorido sobre a palavra, assim como uma caneta marca texto.

Cor da fonte: permite alterar a cor da fonte (letra).

Grupo Parágrafo

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Marcadores: permite criar uma lista com diferentes marcadores.

Numeração: permite criar uma lista numerada.

Lista de vários itens: permite criar uma lista numerada em níveis.

Diminuir Recuo: diminui o recuo do parágrafo em relação à margem esquerda.

Aumentar Recuo: aumenta o recuo do parágrafo em relação à margem esquerda.

Classificar: organiza a seleção atual em ordem alfabética ou numérica.

Mostrar tudo: mostra marcas de parágrafos e outros símbolos de formatação ocultos.

Alinhar a esquerda: alinha o conteúdo com a margem esquerda.

Centralizar: centraliza seu conteúdo na página.

Alinhar à direita: alinha o conteúdo à margem direita.

Justificar: distribui o texto uniformemente entre as margens esquerda e direita.

Espaçamento de linha e parágrafo: escolhe o espaçamento entre as linhas do texto ou entre parágrafos.

Sombreamento: aplica uma cor de fundo no parágrafo onde o cursor está posicionado.

Bordas: permite aplicar ou retirar bordas no trecho selecionado.

Grupo Estilo
Possui vários estilos pré-definidos que permite salvar configurações relativas ao tamanho e cor da fonte, espaçamento entre linhas do
parágrafo.

Grupo Edição

CTRL+L: ao clicar nesse ícone é aberta a janela lateral, denominada navegação, onde é possível localizar um
uma palavra ou trecho dentro do texto.

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

CTRL+U: pesquisa no documento a palavra ou parte do texto que você quer mudar e o substitui por outro
de seu desejo.

Seleciona o texto ou objetos no documento.

Inserir: a guia inserir permite a inclusão de elementos ao texto, como: imagens, gráficos, formas, configurações de quebra de página,
equações, entre outras.

Adiciona uma folha inicial em seu documento, parecido como uma capa.

Adiciona uma página em branco em qualquer lugar de seu documento.

Uma seção divide um documento em partes determinadas pelo usuário para que sejam aplicados diferentes
estilos de formatação na mesma ou facilitar a numeração das páginas dentro dela.

Permite inserir uma tabela, uma planilha do Excel, desenhar uma tabela, tabelas rápidas ou converter o texto em tabela e
vice-versa.

Design: esta guia agrupa todos os estilos e formatações disponíveis para aplicar ao layout do documento.

Layout: a guia layout define configurações características ao formato da página, como tamanho, orientação, recuo, entre outras.

Referências: é utilizada para configurações de itens como sumário, notas de rodapé, legendas entre outros itens relacionados a iden-
tificação de conteúdo.

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Correspondências: possui configuração para edição de cartas, mala direta, envelopes e etiquetas.

Revisão: agrupa ferramentas úteis para realização de revisão de conteúdo do texto, como ortografia e gramática, dicionário de sinô-
nimos, entre outras.

Exibir: altera as configurações de exibição do documento.

Formatos de arquivos
Veja abaixo alguns formatos de arquivos suportados pelo Word 2016:
.docx: formato xml.
.doc: formato da versão 2003 e anteriores.
.docm: formato que contém macro (vba).
.dot: formato de modelo (carta, currículo...) de documento da versão 2003 e anteriores.
.dotx: formato de modelo (carta, currículo...) com o padrão xml.
.odt: formato de arquivo do Libre Office Writer.
.rtf: formato de arquivos do WordPad.
.xml: formato de arquivos para Web.
.html: formato de arquivos para Web.
.pdf: arquivos portáteis.

O Microsoft Excel 2016 é um software para criação e manutenção de Planilhas Eletrônicas.


A grande mudança de interface do aplicativo ocorreu a partir do Excel 2007 (e de todos os aplicativos do Office 2007 em relação as
versões anteriores). A interface do Excel, a partir da versão 2007, é muito diferente em relação as versões anteriores (até o Excel 2003). O
Excel 2016 introduziu novas mudanças, para corrigir problemas e inconsistências relatadas pelos usuários do Excel 2010 e 2013.
Na versão 2016, temos uma maior quantidade de linhas e colunas, sendo um total de 1.048.576 linhas por 16.384 colunas.
O Excel 2016 manteve as funcionalidades e recursos que já estamos acostumados, além de implementar alguns novos, como19:
- 6 tipos novos de gráficos: Cascata, Gráfico Estatístico, Histograma, Pareto e Caixa e Caixa Estreita.
- Pesquise, encontra e reúna os dados necessários em um único local utilizando “Obter e Transformar Dados” (nas versões anteriores
era Power Query disponível como suplemento.
- Utilize Mapas 3D (em versões anteriores com Power Map disponível como suplemento) para mostrar histórias junto com seus dados.

Especificamente sobre o Excel 2016, seu diferencial é a criação e edição de planilhas a partir de dispositivos móveis de forma mais fácil
e intuitivo, vendo que atualmente, os usuários ainda não utilizam de forma intensa o Excel em dispositivos móveis.

19 https://ninjadoexcel.com.br/microsoft-excel-2016/

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Tela Inicial do Excel 2016.

Ao abrir uma planilha em branco ou uma planilha, é exibida a área de trabalho do Excel 2016 com todas as ferramentas necessárias
para criar e editar planilhas20.

20 https://juliobattisti.com.br/downloads/livros/excel_2016_basint_degusta.pdf

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
As cinco principais funções do Excel são21:
– Planilhas: Você pode armazenar manipular, calcular e analisar dados tais como números, textos e fórmulas. Pode acrescentar grá-
fico diretamente em sua planilha, elementos gráficos, tais como retângulos, linhas, caixas de texto e botões. É possível utilizar formatos
pré-definidos em tabelas.
– Bancos de dados: você pode classificar pesquisar e administrar facilmente uma grande quantidade de informações utilizando ope-
rações de bancos de dados padronizadas.
– Gráficos: você pode rapidamente apresentar de forma visual seus dados. Além de escolher tipos pré-definidos de gráficos, você
pode personalizar qualquer gráfico da maneira desejada.
– Apresentações: Você pode usar estilos de células, ferramentas de desenho, galeria de gráficos e formatos de tabela para criar apre-
sentações de alta qualidade.
– Macros: as tarefas que são frequentemente utilizadas podem ser automatizadas pela criação e armazenamento de suas próprias
macros.

Planilha Eletrônica
A Planilha Eletrônica é uma folha de cálculo disposta em forma de tabela, na qual poderão ser efetuados rapidamente vários tipos de
cálculos matemáticos, simples ou complexos.
Além disso, a planilha eletrônica permite criar tabelas que calculam automaticamente os totais de valores numéricos inseridos, impri-
mir tabelas em layouts organizados e criar gráficos simples.

Barra de ferramentas de acesso rápido


Essa barra localizada na parte superior esquerdo, ajudar a deixar mais perto os comandos mais utilizados, sendo que ela pode ser
personalizada. Um bom exemplo é o comando de visualização de impressão que podemos inserir nesta barra de acesso rápido.

Barra de ferramentas de acesso rápido.

Barra de Fórmulas
Nesta barra é onde inserimos o conteúdo de uma célula podendo conter fórmulas, cálculos ou textos, mais adiante mostraremos
melhor a sua utilidade.

Barra de Fórmulas.

Guia de Planilhas
Quando abrirmos um arquivo do Excel, na verdade estamos abrindo uma pasta de trabalho onde pode conter planilhas, gráficos, tabe-
las dinâmicas, então essas abas são identificadoras de cada item contido na pasta de trabalho, onde consta o nome de cada um.
Nesta versão quando abrimos uma pasta de trabalho, por padrão encontramos apenas uma planilha.

Guia de Planilhas.

21 http://www.prolinfo.com.br

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Coluna: é o espaçamento entre dois traços na vertical. As colunas do Excel são representadas em letras de acordo com a ordem
alfabética crescente sendo que a ordem vai de “A” até “XFD”, e tem no total de 16.384 colunas em cada planilha.
– Linha: é o espaçamento entre dois traços na horizontal. As linhas de uma planilha são representadas em números, formam um total
de 1.048.576 linhas e estão localizadas na parte vertical esquerda da planilha.

Linhas e colunas.

Célula: é o cruzamento de uma linha com uma coluna. Na figura abaixo podemos notar que a célula selecionada possui um endereço
que é o resultado do cruzamento da linha 4 e a coluna B, então a célula será chamada B4, como mostra na caixa de nome logo acima da
planilha.

Células.

Faixa de opções do Excel (Antigo Menu)


Como na versão anterior o MS Excel 2013 a faixa de opções está organizada em guias/grupos e comandos. Nas versões anteriores ao
MS Excel 2007 a faixa de opções era conhecida como menu.
Guias: existem sete guias na parte superior. Cada uma representa tarefas principais executadas no Excel.
Grupos: cada guia tem grupos que mostram itens relacionados reunidos.
Comandos: um comando é um botão, uma caixa para inserir informações ou um menu.

Pasta de trabalho
É denominada pasta todo arquivo que for criado no MS Excel. Tudo que for criado será um arquivo com extensão: xls, xlsx, xlsm, xltx
ou xlsb.

Fórmulas
Fórmulas são equações que executam cálculos sobre valores na planilha. Uma fórmula sempre inicia com um sinal de igual (=).
Uma fórmula também pode conter os seguintes itens: funções, referências, operadores e constantes.

– Referências: uma referência identifica uma célula ou um intervalo de células em uma planilha e informa ao Microsoft Excel onde
procurar os valores ou dados a serem usados em uma fórmula.
– Operadores: um sinal ou símbolo que especifica o tipo de cálculo a ser executado dentro de uma expressão. Existem operadores
matemáticos, de comparação, lógicos e de referência.

OPERADOR ARITMÉTICO SIGNIFICADO EXEMPLO


+ (Sinal de Adição) Adição 3+3
- (Sinal de Subtração) Subtração 3-1
* (Sinal de Multiplicação) Multiplicação 3*3
/ (Sinal de Divisão) Divisão 10/2

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

% (Símbolo de Percentagem) Percentagem 15%


^ (Sinal de Exponenciação) Exponenciação 3^4

OPERADOR DE COMPARAÇÃO SIGNIFICADO EXEMPLO


> (Sinal de Maior que) Maior do que B2 > V2
< (Sinal de Menor que) Menor do que C8 < G7
>= (Sinal de Maior ou igual a) Maior ou igual a B2 >= V2
=< (Sinal de Menor ou igual a) Menor ou igual a C8 =< G7
<> (Sinal de Diferente) Diferente J10 <> W7

OPERADOR DE REFERÊNCIA SIGNIFICADO EXEMPLO


: (Dois pontos) Operador de intervalo sem exceção B5 : J6
; (Ponto e Vírgula) Operador de intervalo intercalado B8; B7 ; G4

– Constantes: é um valor que não é calculado, e que, portanto, não é alterado. Por exemplo: =C3+5.
O número 5 é uma constante. Uma expressão ou um valor resultante de uma expressão não é considerado uma constante.

Níveis de Prioridade de Cálculo


Quando o Excel cria fórmulas múltiplas, ou seja, misturar mais de uma operação matemática diferente dentro de uma mesma fórmula,
ele obedece a níveis de prioridade.
Os Níveis de Prioridade de Cálculo são os seguintes:
Prioridade 1: Exponenciação e Radiciação (vice-versa).
Prioridade 2: Multiplicação e Divisão (vice-versa).
Prioridade 3: Adição e Subtração (vice-versa).

Os cálculos são executados de acordo com a prioridade matemática, conforme esta sequência mostrada, podendo ser utilizados pa-
rênteses “ () ” para definir uma nova prioridade de cálculo.

Criando uma fórmula


Para criar uma fórmula simples como uma soma, tendo como referência os conteúdos que estão em duas células da planilha, digite
o seguinte:

Funções
Funções são fórmulas predefinidas que efetuam cálculos usando valores específicos, denominados argumentos, em uma determinada
ordem ou estrutura. As funções podem ser usadas para executar cálculos simples ou complexos.
Assim como as fórmulas, as funções também possuem uma estrutura (sintaxe), conforme ilustrado abaixo:

Estrutura da função.

NOME DA FUNÇÃO: todas as funções que o Excel permite usar em suas células tem um nome exclusivo.
Para obter uma lista das funções disponíveis, clique em uma célula e pressione SHIFT+F3.
ARGUMENTOS: os argumentos podem ser números, texto, valores lógicos, como VERDADEIRO ou FALSO, matrizes, valores de erro
como #N/D ou referências de célula. O argumento que você atribuir deve produzir um valor válido para esse argumento. Os argumentos
também podem ser constantes, fórmulas ou outras funções.

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Função SOMA
Esta função soma todos os números que você especifica como argumentos. Cada argumento pode ser um intervalo, uma referência
de célula, uma matriz, uma constante, uma fórmula ou o resultado de outra função. Por exemplo, SOMA (A1:A5) soma todos os números
contidos nas células de A1 a A5. Outro exemplo: SOMA (A1;A3; A5) soma os números contidos nas células A1, A3 e A5.

Função MÉDIA
Esta função calcula a média aritmética de uma determinada faixa de células contendo números. Para tal, efetua o cálculo somando os
conteúdos dessas células e dividindo pela quantidade de células que foram somadas.

Função MÁXIMO e MÍNIMO


Essas funções dado um intervalo de células retorna o maior e menor número respectivamente.

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Função SE
A função SE é uma função do grupo de lógica, onde temos que tomar uma decisão baseada na lógica do problema. A função SE verifica
uma condição que pode ser Verdadeira ou Falsa, diante de um teste lógico.

Sintaxe
SE (teste lógico; valor se verdadeiro; valor se falso)

Exemplo:
Na planilha abaixo, como saber se o número é negativo, temos que verificar se ele é menor que zero.
Na célula A2 digitaremos a seguinte formula:

Função SOMASE
A função SOMASE é uma junção de duas funções já estudadas aqui, a função SOMA e SE, onde buscaremos somar valores desde que
atenda a uma condição especificada:

Sintaxe
SOMASE (intervalo analisado; critério; intervalo a ser somado)
Onde:
Intervalo analisado (obrigatório): intervalo em que a função vai analisar o critério.
Critério (obrigatório): Valor ou Texto a ser procurado no intervalo a ser analisado.
Intervalo a ser somado (opcional): caso o critério seja atendido é efetuado a soma da referida célula analisada. Não pode conter texto
neste intervalo.

Exemplo:
Vamos calcular a somas das vendas dos vendedores por Gênero. Observando a planilha acima, na célula C9 digitaremos a função
=SOMASE (B2:B7;”M”; C2:C7) para obter a soma dos vendedores.

Função CONT.SE
Esta função conta quantas células se atender ao critério solicitado. Ela pede apenas dois argumentos, o intervalo a ser analisado e o
critério para ser verificado.

28
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Sintaxe
CONT.SE (intervalo analisado; critério)
Onde:
Intervalo analisado (obrigatório): intervalo em que a função vai analisar o critério.
Critério (obrigatório): Valor ou Texto a ser procurado no intervalo a ser analisado.

Aproveitando o mesmo exemplo da função anterior, podemos contar a quantidade de homens e mulheres.
Na planilha acima, na célula C9 digitaremos a função =CONT.SE (B2:B7;”M”) para obter a quantidade de vendedores.

O aplicativo Power Point 2016 é um programa para apresentações eletrônicas de slides. Nele encontramos os mais diversos tipos de
formatações e configurações que podemos aplicar aos slides ou apresentação de vários deles. Através desse aplicativo, podemos ainda,
desenvolver slides para serem exibidos na web, imprimir em transparência para projeção e melhor: desenvolver apresentações para pa-
lestras, cursos, apresentações de projetos e produtos, utilizando recursos de áudio e vídeo.
O MS PowerPoint é um aplicativo de apresentação de slides, porém ele não apenas isso, mas também realiza as seguintes tarefas22:
– Edita imagens de forma bem simples;
– Insere e edita áudios mp3, mp4, midi, wav e wma no próprio slide;
– Insere vídeos on-line ou do próprio computador;
– Trabalha com gráficos do MS Excel;
– Grava Macros.

Tela inicial do PowerPoint 2016.

– Ideal para apresentar uma ideia, proposta, empresa, produto ou processo, com design profissional e slides de grande impacto;
– Os seus temas personalizados, estilos e opções de formatação dão ao utilizador uma grande variedade de combinações de cor, tipos
de letra e feitos;
– Permite enfatizar as marcas (bullet points), com imagens, formas e textos com estilos especiais;

22 FRANCESCHINI, M. Ms PowerPoint 2016 – Apresentação de Slides.

29
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Inclui gráficos e tabelas com estilos semelhantes ao dos restantes programas do Microsoft Office (Word e Excel), tornando a apre-
sentação de informação numérica apelativa para o público.
– Com a funcionalidade SmartArt é possível criar diagramas sofisticados, ideais para representar projetos, hierarquias e esquemas
personalizados.
– Permite a criação de temas personalizados, ideal para utilizadores ou empresas que pretendam ter o seu próprio layout.
– Pode ser utilizado como ferramenta colaborativa, onde os vários intervenientes (editores da apresentação) podem trocar informa-
ções entre si através do documento, através de comentários.

Novos Recursos do MS PowerPoint


Na nova versão do PowerPoint, alguns recursos foram adicionados. Vejamos quais são eles.
• Diga-me: serve para encontrar instantaneamente os recursos do aplicativo.
• Gravação de Tela: novo recurso do MS PowerPoint, encontrado na guia Inserir. A Gravação de Tela grava um vídeo com áudio das
ações do usuário no computador, podendo acessar todas as janelas do micro e registrando os movimentos do mouse.

• Compartilhar: permite compartilhar as apresentações com outros usuários on-line para edição simultânea por meio do OneDrive.
• Anotações à Tinta: o usuário pode fazer traços de caneta à mão livre e marca-texto no documento. Esse recurso é acessado por
meio da guia Revisão.

• Ideias de Design: essa nova funcionalidade da guia Design abre um painel lateral que oferece sugestões de remodelagem do slide
atual instantaneamente.

30
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Guia Arquivo
Ao clicar na guia Arquivo, serão exibidos comandos básicos: Novo, Abrir, Salvar, Salvar Como, Imprimir, Preparar, Enviar, Publicar e
Fechar23.

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido24


Localiza-se no canto superior esquerdo ao lado do Botão do Microsoft Office (local padrão), é personalizável e contém um conjunto de
comandos independentes da guia exibida no momento. É possível adicionar botões que representam comandos à barra e mover a barra
de um dos dois locais possíveis.

Barra de Título
Exibe o nome do programa (Microsoft PowerPoint) e, também exibe o nome do documento ativo.

Botões de Comando da Janela

Acionando esses botões, é possível minimizar, maximizar e restaurar a janela do programa PowerPoint.
23 popescolas.com.br/eb/info/power_point.pdf
24 http://www.professorcarlosmuniz.com.br

31
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Faixa de Opções
A Faixa de Opções é usada para localizar rapidamente os comandos necessários para executar uma tarefa. Os comandos são organiza-
dos em grupos lógicos, reunidos em guias. Cada guia está relacionada a um tipo de atividade como gravação ou disposição de uma página.
Para diminuir a desorganização, algumas guias são exibidas somente quando necessário. Por exemplo, a guia Ferramentas de Imagem
somente é exibida quando uma imagem for selecionada.
Grande novidade do Office 2007/2010, a faixa de opções elimina grande parte da navegação por menus e busca aumentar a produti-
vidade por meio do agrupamento de comandos em uma faixa localizada abaixo da barra de títulos25.

Painel de Anotações
Nele é possível digitar as anotações que se deseja incluir em um slide.

Barra de Status
Exibe várias informações úteis na confecção dos slides, entre elas: o número de slides; tema e idioma.

Nível de Zoom
Clicar para ajustar o nível de zoom.

Modos de Exibição do PowerPoint


O menu das versões anteriores, conhecido como menu Exibir, agora é a guia Exibição no Microsoft PowerPoint 2010. O PowerPoint
2010 disponibiliza aos usuários os seguintes modos de exibição:
– Normal,
– Classificação de Slides,
– Anotações,
– Modo de exibição de leitura,
– Slide Mestre,
– Folheto Mestre,
– Anotações Mestras.

25 LÊNIN, A; JUNIOR, M. Microsoft Office 2010. Livro Eletrônico.

32
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

O modo de exibição Normal é o principal modo de edição, onde


você escreve e projeta a sua apresentação.

Criar apresentações
Criar uma apresentação no Microsoft PowerPoint 2013 englo- Então basta começar a digitar.
ba: iniciar com um design básico; adicionar novos slides e conteúdo;
escolher layouts; modificar o design do slide, se desejar, alterando Formatar texto
o esquema de cores ou aplicando diferentes modelos de estrutura Para alterar um texto, é necessário primeiro selecioná-lo. Para
e criar efeitos, como transições de slides animados. selecionar um texto ou palavra, basta clicar com o botão esquerdo
Ao iniciarmos o aplicativo Power Point 2016, automaticamente sobre o ponto em que se deseja iniciar a seleção e manter o botão
é exibida uma apresentação em branco, na qual você pode começar pressionado, arrastar o mouse até o ponto desejado e soltar o bo-
a montar a apresentação. Repare que essa apresentação é montada tão esquerdo.
sem slides adicionais ou formatações, contendo apenas uma caixa Para formatar nossa caixa de texto temos os grupos da guia
de texto com título e subtítulo, sem plano de fundo ou efeito de Página Inicial. O primeiro grupo é a Fonte, podemos através deste
preenchimento. Para dar continuidade ao seu trabalho e criar uma grupo aplicar um tipo de letra, um tamanho, efeitos, cor, etc.
outra apresentação em outro slide, basta clicar em Página Inicial e Fonte: altera o tipo de fonte.
em seguida Novo Slide. Tamanho da fonte: altera o tamanho da fonte.
Negrito: aplica negrito ao texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+N.
Itálico: aplica Itálico ao texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+I.
Sublinhado: sublinha o texto selecionado. Também pode ser
acionado através do comando Ctrl+S.
Tachado: desenha uma linha no meio do texto selecionado.
Sombra de Texto: adiciona uma sombra atrás do texto selecio-
nado para destacá-lo no slide.
Espaçamento entre Caracteres: ajusta o espaçamento entre
caracteres.
Maiúsculas e Minúsculas: altera todo o texto selecionado para
MAIÚSCULAS, minúsculas, ou outros usos comuns de maiúsculas/
minúsculas.
Cor da Fonte: altera a cor da fonte.
Alinhar Texto à Esquerda: alinha o texto à esquerda. Também
pode ser acionado através do comando Ctrl+Q.
Centralizar: centraliza o texto. Também pode ser acionado
através do comando Ctrl+E.
Layout Alinhar Texto à Direita: alinha o texto à direita. Também pode
O layout é o formato que o slide terá na apresentação como ser acionado através do comando Ctrl+G.
títulos, imagens, tabelas, entre outros. Nesse caso, você pode esco- Justificar: alinha o texto às margens esquerda e direita, adicio-
lher entre os vários tipos de layout. nando espaço extra entre as palavras conforme o necessário, pro-
Para escolher qual layout você prefere, faça o seguinte proce- movendo uma aparência organizada nas laterais esquerda e direita
dimento: da página.
1. Clique em Página Inicial; Colunas: divide o texto em duas ou mais colunas.
2. Após clique em Layout;
3. Em seguida, escolha a opção.

33
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Excluir slide
Selecione o slide com um clique e tecle Delete no teclado.

Salvar Arquivo
Para salvar o arquivo, acionar a guia Arquivo e sem sequência, salvar como ou pela tecla de atalho Ctrl + B.

Inserir Figuras
Para inserir uma figura no slide clicar na guia Inserir, e clicar em um desses botões:
– Imagem do Arquivo: insere uma imagem de um arquivo.
– Clip-Art: é possível escolher entre várias figuras que acompanham o Microsoft Office.
– Formas: insere formas prontas, como retângulos e círculos, setas, linhas, símbolos de fluxograma e textos explicativos.
– SmartArt: insere um elemento gráfico SmartArt para comunicar informações visualmente. Esses elementos gráficos variam desde
listas gráficas e diagramas de processos até gráficos mais complexos, como diagramas de Venn e organogramas.
– Gráfico: insere um gráfico para ilustrar e comparar dados.
– WordArt: insere um texto com efeitos especiais.

Transição de Slides
A Microsoft Office PowerPoint 2016 inclui vários tipos diferentes de transições de slides. Basta clicar no guia transição e escolher a
transição de slide desejada.

Exibir apresentação
Para exibir uma apresentação de slides no Power Point.
1. Clique na guia Apresentação de Slides, grupo Iniciar Apresentação de Slides.
2. Clique na opção Do começo ou pressione a tecla F5, para iniciar a apresentação a partir do primeiro slide.
3. Clique na opção Do Slide Atual, ou pressione simultaneamente as teclas SHIFT e F5, para iniciar a apresentação a partir do slide
atual.

Slide mestre
O slide mestre é um slide padrão que replica todas as suas características para toda a apresentação. Ele armazena informações como
plano de fundo, tipos de fonte usadas, cores, efeitos (de transição e animação), bem como o posicionamento desses itens. Por exemplo, na
imagem abaixo da nossa apresentação multiuso Power View, temos apenas um item padronizado em todos os slides que é a numeração
da página no topo direito superior.
Ao modificar um ou mais dos layouts abaixo de um slide mestre, você modifica essencialmente esse slide mestre. Embora cada layout
de slide seja configurado de maneira diferente, todos os layouts que estão associados a um determinado slide mestre contêm o mesmo
tema (esquema de cor, fontes e efeitos).
Para criar um slide mestre clique na Guia Exibição e em seguida em Slide Mestre.

34
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

LibreOffice
O LibreOffice é uma suíte de escritório livre compatível com os principais pacotes de escritório do mercado. O pacote oferece todas as
funções esperadas de uma suíte profissional: editor de textos, planilha, apresentação, editor de desenhos e banco de dados26. Ele é uma
das mais populares suítes de escritório multiplataforma e de código aberto.

O LibreOffice é um pacote de escritório assim como o MS Office27. Embora seja um software livre, pode ser instalado em vários sis-
temas operacionais, como o MS Windows, Mac OS X, Linux e Unix. Ao longo dos anos, passou por várias modificações em seu projeto,
mudando até mesmo de nome, mas mantendo os mesmos aplicativos.

Aplicativos do LibreOffice
Writer: editor de textos.
Exatensão: .odt
Calc: planilhas eletrônicas.
Extensão: .ods
Impress: apresentação de slides.
Extensão: .odp
Draw: edição gráfica de imagens e figuras.
Extensão: .odg
Base: Banco de dados.
Extensão: .odb
Math: fórmulas matemáticas.
Extensão: .odf

ODF (Open Document Format)


Os arquivos do LibreOffice são arquivos de formato aberto e, por isso, pertencem à família de documentos abertos ODF, ou seja, ODF
não é uma extensão, mas sim, uma família de documentos estruturada internamente pela linguagem XML.

LibreOffice Writer
Writer é o editor de textos do LibreOffice. Além dos recursos usuais de um processador de textos (verificação ortográfica, dicionário
de sinônimos, hifenização, autocorreção, localizar e substituir, geração automática de sumários e índices, mala direta e outros), o Writer
fornece importantes características:
- Modelos e estilos;
- Métodos de layout de página, incluindo quadros, colunas e tabelas;
- Incorporação ou vinculação de gráficos, planilhas e outros objetos;
- Ferramentas de desenho incluídas;
- Documentos mestre para agrupar uma coleção de documentos em um único documento;
- Controle de alterações durante as revisões;
- Integração de banco de dados, incluindo bancos de dados bibliográficos;
- Exportação para PDF, incluindo marcadores.

26 https://www.edivaldobrito.com.br/libreoffice-6-0/
27 FRANCESCHINI, M. LibreOffice – Parte I.

35
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Principais Barras de Ferramentas

28

– Barra de Títulos: exibe o nome do documento. Se o usuário não fornecer nome algum, o Writer sugere o nome Sem título 1.
– Barra de Menu: dá acesso a todas as funcionalidades do Writer, categorizando por temas de funcionalidades.
– Barra de ferramentas padrão: está presente em todos os aplicativos do LibreOffice e é igual para todos eles, por isso tem esse nome
“padrão”.
– Barra de ferramentas de formatação: essa barra apresenta as principais funcionalidades de formatação de fonte e parágrafo.
– Barra de Status: oferece informações sobre o documento e atalhos convenientes para rapidamente alterar alguns recursos.

Principais Menus
Os menus organizam o acesso às funcionalidades do aplicativo. Eles são praticamente os mesmos em todos os aplicativos, mas suas
funcionalidades variam de um para outro.

Arquivo
Esse menu trabalha com as funcionalidades de arquivo, tais como:
– Novo: essa funcionalidade cria um novo arquivo do Writer ou de qualquer outro dos aplicativos do LibreOffice;
– Abrir: abre um arquivo do disco local ou removível ou da rede local existente do Writer;
– Abrir Arquivo Remoto: abre um arquivo existente da nuvem, sincronizando todas as alterações remotamente;
– Salvar: salva as alterações do arquivo local desde o último salvamento;
– Salvar Arquivo Remoto: sincroniza as últimas alterações não salvas no arquivo lá na nuvem;
– Salvar como: cria uma cópia do arquivo atual com as alterações realizadas desde o último salvamento;

Para salvar um documento como um arquivo Microsoft Word29:


1. Primeiro salve o documento no formato de arquivo usado pelo LibreOffice (.odt).
Sem isso, qualquer mudança que se tenha feito desde a última vez em que se salvou o documento, somente aparecerá na versão
Microsoft Word do documento.
2. Então escolha Arquivo → Salvar como. No menu Salvar como.
3. No menu da lista suspensa Tipo de arquivo (ou Salvar como tipo), selecione o tipo de formato Word que se precisa. Clique em Salvar.

A partir deste ponto, todas as alterações realizadas se aplicarão somente ao documento Microsoft Word. Desde feito, a alterado o
nome do documento. Se desejar voltar a trabalhar com a versão LibreOffice do documento, deverá voltar a abri-lo.

28 https://bit.ly/3jRIUme
29 http://coral.ufsm.br/unitilince/images/Tutoriais/manual_libreoffice.pdf

36
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Navegador: permite navegar nos vários objetos existentes no
documento, como tabelas, links, notas de rodapé, imagens etc.

(F5);

– Galeria: exibe imagens e figuras que podem ser inseridas no


documento;
– Tela Inteira: suprime as barras de ferramenta e menus (CTR-
L+SHIFT+J).

Inserir
Nesse menu, é possível inserir inúmeros objetos ao texto, tais
como:
– Quebra de página: insere uma quebra de página e o cursor é
posicionado no início da próxima página a partir daquele ponto em
que a quebra foi inserida;
– Quebra manual: permite inserir uma quebra de linha, de co-
luna e de página;
Salvando um arquivo no formato Microsoft Word. – Figura: insere uma imagem de um arquivo;
– Multimídia: insere uma imagem da galeria LibreOffice, uma
– Exportar como PDF: exporta o arquivo atual no formato PDF. imagem digitalizada de um scanner ou vídeo;
Permite definir restrições de edição, inclusive com senha; – Gráfico: cria um gráfico do Calc, com planilha de dados em-
– Enviar: permite enviar o arquivo atual por e-mail no formato. butida no Writer;
odt,.docx,.pdf. Também permite compartilhar o arquivo por blue- – Objeto: insere vários tipos de arquivos, como do Impress e do
tooth; Calc dentre outros;
– Imprimir: permite imprimir o documento em uma impresso- – Forma: cria uma forma geométrica, tipo círculo, retângulo,
ra local ou da rede; losango etc.;
– Assinaturas digitais: assina digitalmente o documento, ga- – Caixa de Texto: insere uma caixa de texto ao documento;
rantindo sua integridade e autenticidade. Qualquer alteração no – Anotação: insere comentários em balões laterais;
documento assinado viola a assinatura, sendo necessário assinar – Hiperlink: insere hiperlink ou link para um endereço da in-
novamente. ternet ou um servidor FTP, para um endereço de e-mail, para um
documento existente ou para um novo documento (CTRL+K);
Editar – Indicador: insere um marcador ao documento para rápida
Esse menu possui funcionalidades de edição de conteúdo, tais localização posteriormente;
como: – Seção: insere uma quebra de seção, dividindo o documento
– Desfazer: desfaz a(s) última(s) ação(ões); em partes separadas com formatações independentes;
– Refazer: refaz a última ação desfeita; – Referências: insere referência a indicadores, capítulos, títu-
– Repetir: repete a última ação; los, parágrafos numerados do documento atual;
– Copiar: copia o item selecionado para a área de transferência; – Caractere Especial: insere aqueles caracteres que você não
– Recortar: recorta ou move o item selecionado para a área de encontra no teclado do computador, tais como ©, ≥, ∞;
transferência; – Número de Página: insere numeração nas páginas na posição
– Colar: cola o item da área de transferência; atual do cursor;
– Colar Especial: cola o item da área de transferência permitin- – Campo: insere campos de numeração de página, data, hora,
do escolher o formado de destino do conteúdo colado; título, autor, assunto;
– Selecionar Tudo: seleciona todo o documento; – Cabeçalho e Rodapé: insere cabeçalho e rodapé ao docu-
– Localizar: localiza um termo no documento; mento;
– Localizar e Substituir: localiza e substitui um termo do docu-
mento por outro fornecido; Formatar
– Ir para a página: permite navegar para uma página do docu- Esse menu trabalha com a formatação de fonte, parágrafo, pá-
mento. gina, formas e figuras;
– Texto: formata a fonte do texto;
Exibir Pode-se aplicar vários formatos de caracteres usando os botões
Esse outro menu define as várias formas que o documento é da barra de ferramentas Formatação.
exibido na tela do computador. Principais funcionalidades:
– Normal: modo de exibição padrão como o documento será
exibido em uma página;
– Web: exibe o documento como se fosse uma página web
num navegador;
– Marcas de Formatação: exibe os caracteres não imprimíveis,
como os de quebra de linha, de parágrafo, de seção, tabulação e es-
paço. Tais caracteres são exibidos apenas na tela, não são impressas
no papel (CTRL+F10);

37
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Barra de Formatação, mostrando ícones para formatação de caracteres.

– Espaçamento: formata o espaçamento entre as linhas, entre os parágrafos e também o recuo do parágrafo. A
– Alinhar: alinha o parágrafo uniformemente em relação às margens.
Pode-se aplicar vários formatos para parágrafos usando os botões na barra de ferramentas Formatação.

Ícones para formatação de parágrafos.

– Listas: transforma os parágrafos em estrutura de tópicos com marcadores ou numeração.


– Clonar Formatação: essa ferramenta é chamada de “pincel de formatação” no MS Word e faz a mesma função, ou seja, clona a
formatação de um item selecionado e a aplica a outro ;

– Limpar Formatação Direta: limpa a formatação do texto selecionado, deixando a formatação original do modelo do documento;
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado,
sublinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, apli-
car realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Caractere...: diferentemente do MS Word, o Write chama a fonte de caractere.
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado,
sublinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, apli-
car realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Parágrafo...: abre a caixa de diálogo de formatação de parágrafo.
– Marcadores e Numeração: abre a caixa de diálogo de formatação de marcadores e de numeração numa mesma janela. Perceba
que a mesma função de formatação já foi vista por meio dos botões de formatação. Essa mesma formatação é encontrada aqui na caixa
de diálogo de marcadores e numeração;
– Página...: abre a caixa de diálogo de formatação de páginas. Aqui, encontramos a orientação do papel, que é se o papel é horizontal
(paisagem) ou vertical (retrato);
– Figura: formata figuras inseridas ao texto;
– Caixa de Texto e Forma: formata caixas de texto e formas inseridas no documento;
– Disposição do Texto: define a disposição que os objetos como imagens, formas e figuras ficarão em relação ao texto.
– Estilos: esse menu trabalha com estilos do texto. Estilos são o conjunto de formatação de fonte, parágrafo, bordas, alinhamento,
numeração e marcadores aplicados em conjunto. Existem estilos predefinidos, mas é possível também criar estilos e nomeá-los. Também
é possível editar os estilos existentes. Os estilos são usados na criação dos sumários automáticos.

Tabelas
Esse menu trabalha com tabelas. As tabelas são inseridas por aqui, no menu Tabelas. As seguintes funcionalidades são encontradas
nesse menu:
– Inserir Tabela: insere uma tabela ao texto;
– Inserir: insere linha, coluna e célula à tabela existente;
– Excluir: exclui linha, coluna e tabela;
– Selecionar: seleciona célula, linha, coluna e tabela;

38
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Mesclar: mescla as células adjacentes de uma tabela, transformando-as em uma única tabela. Atenção! O conteúdo de todas as
células é preservado;
– Converter: converte texto em tabela ou tabela em texto;
– Fórmulas: insere fórmulas matemáticas na célula da tabela, tais como soma, multiplicação, média, contagem etc.

Ferramentas
Esse menu trabalha com diversas ferramentas, tais como:
– Ortografia e Gramática: essa ferramenta aciona o corretor ortográfico para fazer a verificação de ocorrências de erros em todo o
documento. Ela corrige por alguma sugestão do dicionário, permite inserir novos termos ao dicionário ou apenas ignora as ocorrências
daquele erro (F7);

– Verificação Ortográfica Automática: marca automaticamente com um sublinhado ondulado vermelho as palavras que possuem
erros ortográficos ou que não pertencem ao dicionário (SHIFT+F7);

– Dicionário de Sinônimos: apresenta sinônimos e antônimos da palavra selecionada;


– Idioma: define o idioma do corretor ortográfico;
– Contagem de palavras: faz uma estatística do documento, contando a quantidade de caracteres, palavras, linhas, parágrafos e pá-
ginas;
– Autocorreção: substitui automaticamente uma palavra ou termo do texto por outra. O usuário define quais termos serão substituí-
dos;
– Autotexto: insere automaticamente um texto por meio de atalhos, por exemplo, um tipo de saudação ou finalização do documento;

– Mala Direta: cria uma mala direta, que é uma correspondência endereçada a vários destinatários. É formada por uma correspon-
dência (carta, mensagem de e-mail, envelope ou etiqueta) e por uma lista de destinatários (tabela, planilha, banco de dados ou catálogo
de endereços contendo os dados dos destinatários).

Principais teclas de atalho


CTRL+A: selecionar todo o documento (all).
CTR+B: negritar (bold).
CTRL+C: copiar.
CTRL+D: sublinhar.
CTRL+E: centralizar alinhamento.
CTRL+F: localizar texto (find).
CTRL+G: sem ação.
CTRL+H: localizar e substituir.
CTRL+I: itálico.
CTRL+J: justificar.
CTRL+K: adicionar hiperlink.
CTRL+L: alinhar à esquerda (left).
CTRL+M: limpar formatação.
CTRL+N: novo documento (new).
CTRL+ O: abrir documento existente (open).
CTRL+P: imprimir (print).
CTRL+Q: fechar o aplicativo Writer.
CTRL+R: alinhar à direita (right).
CTRL+S: salvar o documento (save).
CTRL+T: sem ação.
CTRL+U: sublinhar.
CTRL+V: colar.
CTRL+X: recortar.
CTRL+W: fechar o arquivo.
CTRL+Y: refazer última ação.
CTRL+Z: desfazer última ação.

LibreOffice Calc
O Calc é o aplicativo de planilhas eletrônicas do LibreOffice. Assim como o MS Excel, ele trabalha com células e fórmulas.
Outras funcionalidades oferecidas pelo Calc incluem30:
– Funções, que podem ser utilizadas para criar fórmulas para executar cálculos complexos;
– Funções de banco de dados, para organizar, armazenas e filtrar dados;
– Gráficos dinâmicos; um grande número de opções de gráficos em 2D e 3D;
– Macros, para a gravação e execução de tarefas repetitivas; as linguagens de script suportadas incluem LibreOffice Basic, Python,
BeanShell, e JavaScript;
– Capacidade de abrir, editar e salvar planilhas no formato Microsoft Excel;
30 WEBER, J. H., SCHOFIELD, P., MICHEL, D., RUSSMAN, H., JR, R. F., SAFFRON, M., SMITH, J. A. Introdução ao Calc. Planilhas de Cálculo no LibreOffice

39
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Importação e exportação de planilhas em vários formatos, incluindo HTML, CSV, PDF e PostScript.

Planilhas e células
O Calc trabalha como elementos chamados de planilhas. Um arquivo de planilha consiste em várias planilhas individuais, cada uma
delas contendo células em linhas e colunas. Uma célula particular é identificada pela letra da sua coluna e pelo número da sua linha.
As células guardam elementos individuais – texto, números, fórmulas, e assim por diante – que mascaram os dados que exibem e
manipulam.
Cada arquivo de planilha pode ter muitas planilhas, e cada uma delas pode conter muitas células individuais. No Calc, cada planilha
pode conter um máximo de 1.048.576 linhas e 1024 colunas.

Janela principal
Quando o Calc é aberto, a janela principal abre. As partes dessa janela estão descritas a seguir.

Janela principal do Calc e suas partes, sem a Barra lateral.

Principais Botões de Comandos

Assistente de Função: auxilia o usuário na criação de uma função. Organiza as funções por categoria.

Autossoma: insere a função soma automaticamente na célula.

Formatação de porcentagem: multiplica o número por 100 e coloca o sinal de porcentagem ao final dele.

Formatação de número: separa os milhares e acrescenta casas decimais (CTRL+SHIFT+1).

Formatação de data: formata a célula em formato de data (CTRL+SHIFT+3).

Adiciona casas decimais.

Diminui casas decimais.

Filtro: exibe apenas as linhas que satisfazem o critério do filtro da coluna.

Insere gráfico para ilustrar o comportamento dos dados tabulados.

40
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Ordena as linhas em ordem crescente ou decrescente. Pode ser aplicada em várias colunas.

Mesclar e centralizar células: transforma duas ou mais células adjacentes em uma única célula.

Alinhar em cima: alinha o conteúdo da célula na parte superior dela.

Centralizar verticalmente: alinha o conteúdo da célula ao centro verticalmente.

Alinhar embaixo: alinha o conteúdo da célula na parte inferior dela.

Congelar linhas e colunas: fixa a exibição da primeira linha ou da primeira coluna ou ainda permite congelar as linhas acima e
as colunas à esquerda da célula selecionada. Não é proteção de células, pois o conteúdo das mesmas ainda pode ser alterado.

Insere linha acima da linha atual.

Insere linha abaixo da linha atual.

Exclui linhas selecionadas.

Insere coluna à esquerda.

Insere coluna à direita.

Exclui colunas selecionadas.

Barra de título
A barra de título, localizada no alto da tela, mostra o nome da planilha atual. Quando a planilha for recém-criada, seu nome é Sem
título X, onde X é um número. Quando a planilha é salva pela primeira vez, você é solicitado a dar um nome de sua escolha.

Barra de Menu
A Barra de menu é onde você seleciona um dos menus e aparecem vários submenus com mais opções.
– Arquivo: contém os comandos que se aplicam a todo o documento, como Abrir, Salvar, Assistentes, Exportar como PDF, Imprimir,
Assinaturas Digitais e assim por diante.
– Editar: contém os comandos para a edição do documento, tais como Desfazer, Copiar, Registrar alterações, Preencher, Plug-in e
assim por diante.
– Exibir: contém comandos para modificar a aparência da interface do usuário no Calc, por exemplo Barra de ferramentas, Cabeçalhos
de linhas e colunas, Tela Inteira, Zoom e assim por diante.
– Inserir: contém comandos para inserção de elementos em uma planilha; por exemplo, Células, Linhas, Colunas, Planilha, Figuras e
assim por diante.

Inserir novas planilhas


Clique no ícone Adicionar planilha para inserir uma nova planilha após a última sem abrir a caixa de diálogo Inserir planilha. Os se-
guintes métodos abrem a caixa de diálogo Inserir planilha onde é possível posicionar a nova planilha, criar mais que uma planilha, definir
o nome da nova planilha, ou selecionar a planilha de um arquivo.
– Selecione a planilha onde deseja inserir uma nova e vá no menu Inserir > Planilha; ou
– Clique com o botão direito do mouse na aba da planilha onde você deseja inserir uma nova e selecione Inserir planilha no menu de
contexto; ou
– Clique no espaço vazio no final das abas das planilhas; ou
– Clique com o botão direito do mouse no espaço vazio no final das abas das planilhas e selecione Inserir planilha no menu de con-
texto.

41
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Caixa de diálogo Inserir planilha.

– Formatar: contém comandos para modificar o leiaute de uma planilha; por exemplo,
Células, Página, Estilos e formatação, Alinhamento e assim por diante.
– Ferramentas: contém várias funções que auxiliam a verificar e personalizar a planilha, por exemplo, Ortografia, Compartilhar docu-
mento, Macros e assim por diante.
– Dados: contém comandos para manipulação de dados em sua planilha; por exemplo, Definir intervalo, Selecionar intervalo, Classi-
ficar, Consolidar e assim por diante.
– Janela: contém comandos para exibição da janela; por exemplo, Nova janela, Dividir e assim por diante.
– Ajuda: contém links para o sistema de ajuda incluído com o software e outras funções; por exemplo, Ajuda do LibreOffice, Informa-
ções da licença, Verificar por atualizações e assim por diante.

Barra de ferramentas
A configuração padrão, ao abrir o Calc, exibe as barras de ferramentas Padrão e Formatação encaixadas no topo do espaço de trabalho.
Barras de ferramentas do Calc também podem ser encaixadas e fixadas no lugar, ou flutuante, permitindo que você mova para a po-
sição mais conveniente em seu espaço de trabalho.

Barra de fórmulas
A Barra de fórmulas está localizada no topo da planilha no Calc. A Barra de fórmulas está encaixada permanentemente nesta posição
e não pode ser usada como uma barra flutuante. Se a Barra de fórmulas não estiver visível, vá para Exibir no Menu e selecione Barra de
fórmulas.

Barra de fórmulas.

Indo da esquerda para a direita, a Barra de Fórmulas consiste do seguinte:


– Caixa de Nome: mostra a célula ativa através de uma referência formada pela combinação de letras e números, por exemplo, A1. A
letra indica a coluna e o número indica a linha da célula selecionada.

– Assistente de funções : abre uma caixa de diálogo, na qual você pode realizar uma busca através da lista de funções disponí-
veis. Isto pode ser muito útil porque também mostra como as funções são formadas.

– Soma : clicando no ícone Soma, totaliza os números nas células acima da célula e então coloca o total na célula selecionada. Se
não houver números acima da célula selecionada, a soma será feita pelos valores das células à esquerda.

– Função : clicar no ícone Função insere um sinal de (=) na célula selecionada, de maneira que seja inserida uma fórmula na Linha
de entrada.

– Linha de entrada: exibe o conteúdo da célula selecionada (dados, fórmula, ou função) e permite que você edite o conteúdo da célu-
la. Você pode editar o conteúdo da célula diretamente, clicando duas vezes nela. Quando você digita novos dados numa célula, os ícones
de Soma e de Função mudam para os botões Cancelar e Aceitar .

42
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Operadores aritméticos

Operadores aritméticos.

Operadores aritméticos.

Operadores comparativos

Operadores comparativos.

• Principais fórmulas
=HOJE(): insere a data atual do sistema operacional na célula. Essa data sempre será atualizada toda vez que o arquivo for aberto.
Existe uma tecla de atalho que também insere a data atual do sistema, mas não como função, apenas a data como se fosse digitada pelo
usuário. Essa tecla de atalho é CTRL+;.
=AGORA(): insere a data e a hora atuais do sistema operacional. Veja como é seu resultado após digitada na célula.

=SOMA(): apenas soma os argumentos que estão dentro dos parênteses.


=POTÊNCIA(): essa função é uma potência, que eleva o primeiro argumento, que é a base, ao segundo argumento, que é o expoente.
=MÁXIMO(): essa função escolhe o maior valor do argumento.
=MÍNIMO(): essa função faz exatamente o contrário da anterior, ou seja, escolhe o menor valor do argumento.
=MÉDIA(): essa função calcula a média aritmética ou média simples do argumento, que é a soma dos valores dividida pela sua quan-
tidade.
Atenção! Essa função será sempre a média aritmética. Essa função considera apenas valores numéricos e não vazios.
=CONT.SE(): essa função é formada por dois argumentos: o primeiro é o intervalo de células que serão consideradas na operação; o
segundo é o critério.
=SE(): essa função testa valores, permitindo escolher um dentre dois valores possíveis. A sua estrutura é a seguinte:

A condição é uma expressão lógica e dá como resultado VERDADEIRO ou FALSO. O resultado1 é escolhido se a condição for verdadeira;
o resultado2 é escolhido se a condição for falsa. Os resultados podem ser: “texto” (entre aspas sempre), número, célula (não pode inter-
valo, apenas uma única célula), fórmula.
A melhor forma de ler essa função é a seguinte: substitua o primeiro “;” por “Então” e o segundo “;” por “Senão”. Fica assim: se a
condição for VERDADEIRA, ENTÃO escolha resultado1; SENÃO escolha resultado2.

43
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
=PROCV(): a função PROCV serve para procurar valores em um intervalo vertical de uma matriz e devolve para o usuário um valor de
outra coluna dessa mesma matriz, mas da mesma linha do valor encontrado.

Essa é a estrutura do PROCV, na qual “valor” é o valor usado na pesquisa; “matriz” é todo o conjunto de células envolvidas; “coluna_re-
sultado” é o número da coluna dessa matriz onde o resultado se encontra; “valor_aproximado” diz se a comparação do valor da pesquisa
será apenas aproximada ou terá que ser exatamente igual ao procurado. O valor usado na pesquisa tem que estar na primeira coluna da
matriz, sempre! Ou seja, ela procurará o valor pesquisado na primeira coluna da matriz.

Entendendo funções
Calc inclui mais de 350 funções para analisar e referenciar dados31. Muitas destas funções são para usar com números, mas muitos
outros são usados com datas e hora, ou até mesmo texto.
Uma função pode ser tão simples quanto adicionar dois números, ou encontrar a média de uma lista de números. Alternativamente,
pode ser tão complexo como o cálculo do desvio-padrão de uma amostra, ou a tangente hiperbólica de um número.
Algumas funções básicas são semelhantes aos operadores. Exemplos:
+ Este operador adiciona dois números juntos para um resultado. SOMA(), por outro lado adiciona grupos de intervalos contíguos de
números juntos.
* Este operador multiplica dois números juntos para um resultado. MULT() faz o mesmo para multiplicar que SOMA() faz para adicionar

Estrutura de funções
Todas as funções têm uma estrutura similar.
A estrutura de uma função para encontrar células que correspondam a entrada de critérios é:
=BDCONTAR(Base_de_dados;Campo_de_Base_de_dados;CritériosdeProcura)
Uma vez que uma função não pode existir por conta própria, deve sempre fazer parte de uma fórmula. Consequentemente, mesmo
que a função represente a fórmula inteira, deve haver um sinal = no começo da fórmula. Independentemente de onde na fórmula está a
função, a função começará com seu nome, como BDCONTAR no exemplo acima. Após o nome da função vem os seus argumentos. Todos
os argumentos são necessários, a menos que especificados como opcional. Argumentos são adicionados dentro de parênteses e são sepa-
rados por ponto e vírgula, sem espaço entre os argumentos e o ponto e vírgula.

LibreOffice Impress
O Impress é o aplicativo de apresentação de slides do LibreOffice. Com ele é possível criar slides que contenham vários elementos
diferentes, incluindo texto, listas com marcadores e numeração, tabelas, gráficos e uma vasta gama de objetos gráficos tais como clipart,
desenhos e fotografias32.
O Impress também é compatível com o MS PowerPoint, permitindo criar, abrir, editar e salvar arquivos no formato.PPTX.

Janela principal do Impress


A janela principal do Impress tem três partes: o Painel de slides, Área de trabalho, e Painel lateral. Além disso, várias barras de ferra-
mentas podem ser exibidas ou ocultas durante a criação de uma apresentação.

Área de trabalho
A Área de trabalho (normalmente no centro da janela principal) tem cinco abas: Normal, Estrutura de tópicos, Notas, Folheto e Clas-
sificador de slides. Estas cinco abas são chamadas de botões de visualização A área de trabalho abaixo da visualização de botões muda
dependendo da visualização escolhida. Os pontos de vista de espaço de trabalho são descritos em “Visualização da Área de trabalho”’.

31 Duprey, B.; Silva, R. P.; Parker, H.; Vigliazzi, D. Douglas. Guia do Calc, Capítulo 7. Usando Formulas e Funções.
32 SCHOFIELD, P.; WEBER, J. H.; RUSSMAN, H.; O’BRIEN, K.; JR, R. F. Introdução ao Impress. Apresentação no LibreOffice

44
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Janela principal do Impress; ovais indicam os marcadores Ocultar/Exibir.

Painel de slides
O Painel de slides contém imagens em miniaturas dos slides em sua apresentação, na ordem em que serão mostradas, a menos que
você altere a ordem de apresentação de slides. Clicando em um slide neste painel, este é selecionado e colocado na Área e trabalho. Quan-
do um slide está na Área de trabalho, você pode fazer alterações nele.
Várias operações adicionais podem ser realizadas em um ou mais slides simultaneamente no Painel de slides:
– Adicionar novos slides para a apresentação.
– Marcar um slide como oculto para que ele não seja exibido como parte da apresentação.
– Excluir um slide da apresentação se ele não for mais necessário.
– Renomear um slide.
– Duplicar um slide (copiar e colar)

Também é possível realizar as seguintes operações, embora existam métodos mais eficientes do que usar o Painel de slides:
– Alterar a transição de slides seguindo o slide selecionado ou após cada slide em um grupo de slides.
– Alterar o design de slide.

Barra lateral
O Barra lateral tem cinco seções. Para expandir uma seção que você deseja usar, clique no ícone ou clique no pequeno triângulo na
parte superior dos ícones e selecione uma seção da lista suspensa. Somente uma seção de cada vez pode ser aberta.

PROPRIEDADES

Mostra os layouts incluídos no Impress. Você pode escolher o que você quer e usá-lo como ele é, ou modificá-lo para atender às
suas necessidades. No entanto, não é possível salvar layouts personalizados.

PÁGINAS MESTRE

Aqui você define o estilo de página (slide) para sua apresentação. O Impress inclui vários modelos de páginas mestras (slide mestre).
Um deles – Padrão – é branco, e o restante tem um plano de fundo e estilo de texto.

ANIMAÇÃO PERSONALIZADA

Uma variedade de animações podem ser usadas para realçar ou melhorar diferentes elementos de cada slide. A seção Animação
personalizada fornece uma maneira fácil para adicionar, alterar, ou remover animações.

TRANSIÇÃO DE SLIDES

45
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Fornece acesso a um número de opções de transição de slides. O padrão é definido como Sem transição, em que o slide seguinte
substitui o existente. No entanto, muitas transições adicionais estão disponíveis. Você também pode especificar a velocidade de tran-
sição (Lenta, Média, Rápida), escolher entre uma transição automática ou manual, e escolher quanto tempo o slide selecionado será
mostrado (somente transição automática).

ESTILOS E FORMATAÇÃO

Aqui você pode editar e aplicar estilos gráficos e criar estilos novos, mas você só pode editar os estilos de apresentação existentes.
Quando você edita um estilo, as alterações são aplicadas automaticamente a todos os elementos formatados com este estilo em sua
apresentação. Se você quiser garantir que os estilos em um slide específico não sejam atualizados, crie uma nova página mestra para o
slide.

GALERIA

Abre a galeria Impress, onde você pode inserir um objeto em sua apresentação, quer seja como uma cópia ou como um link. Uma
cópia de um objeto é independente do objeto original. Alterações para o objeto original não têm efeito sobre a cópia. Uma ligação per-
manece dependente do objeto original. Alterações no objeto original também são refletidas no link.

NAVEGADOR

Abre o navegador Impress, no qual você pode mover rapidamente para outro slide ou selecionar um objeto em um slide. Recomen-
da-se dar nomes significativos aos slides e objetos em sua apresentação para que você possa identificá-los facilmente quando utilizar a
navegação.

• Principais Funcionalidades e Comandos

Inicia a apresentação do primeiro slide (F5).

Inicia a apresentação do slide atual (SHIFT+F5).

Insere áudio e vídeo ao slide.

Insere caixa de texto ao slide.

Insere novo slide, permitindo escolher o leiaute do slide que será inserido.

Exclui o slide selecionado.

Altera o leiaute do slide atual.

Cria um slide mestre.

Oculta o slide no modo de apresentação.

Cronometra o tempo das animações e transições dos slides no modo de apresentação para posterior exibição automática
usando o tempo cronometrado.

Configura as transições dos slides, ou seja, o efeito de passagem de um para o outro.

Configura a animação dos conteúdos dos slides, colocando efeitos de entrada, ênfase, saída e trajetória.

46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
No modelo cliente-servidor, um processo cliente em uma má-
REDES DE COMPUTADORES quina se comunica com um processo servidor na outra máquina.
O termo processo se refere a um programa em execução.
Uma rede de computadores é formada por um conjunto de Uma máquina pode rodar vários processos clientes e servido-
módulos processadores capazes de trocar informações e comparti- res simultaneamente.
lhar recursos, interligados por um sistema de comunicação (meios
de transmissão e protocolos)33. Equipamentos de redes
Existem diversos equipamentos que podem ser utilizados nas
redes de computadores34. Alguns são:
– Modem (Modulador/Demodulador): é um dispositivo de
hardware físico que funciona para receber dados de um provedor
de serviços de internet através de um meio de conexão como cabos,
fios ou fibra óptica. .Cconverte/modula o sinal digital em sinal ana-
lógico e transmite por fios, do outro lado, deve ter outro modem
para receber o sinal analógico e demodular, ou seja, converter em
sinal digital, para que o computador possa trabalhar com os dados.
Em alguns tipos, a transmissão já é feita enviando os próprios si-
nais digitais, não precisando usar os modens, porém, quando se
transmite sinais através da linha telefônica é necessário o uso dos
modems.
– Placa de rede: possui a mesma tarefa dos modens, porém,
As redes de computadores possuem diversas aplicações co- somente com sinais digitais, ou seja, é o hardware que permite os
merciais e domésticas. computadores se comunicarem através da rede. A função da placa
é controlar todo o recebimento e envio dos dados através da rede.
As aplicações comerciais proporcionam: – Hub: atuam como concentradores de sinais, retransmitindo
– Compartilhamento de recursos: impressoras, licenças de soft- os dados enviados às máquinas ligadas a ele, ou seja, o hub tem a
ware, etc. função de interligar os computadores de uma rede local, recebendo
– Maior confiabilidade por meio de replicação de fontes de da- dados de um computador e transmitindo à todos os computadores
dos da rede local.
– Economia de dinheiro: telefonia IP (VoIP), vídeo conferência, – Switch: semelhante ao hub – também chamado de hub in-
etc. teligente - verifica os cabeçalhos das mensagens e a retransmite
– Meio de comunicação eficiente entre os empregados da em- somente para a máquina correspondente, criando um canal de co-
presa: e-mail, redes sociais, etc. municação exclusiva entre origem e destino.
– Comércio eletrônico. – Roteador: ao invés de ser conectado às máquinas, está co-
nectado às redes. Além de possuir as mesmas funções do switch,
As aplicações domésticas proporcionam: possui a capacidade de escolher a melhor rota que um determinado
– Acesso a informações remotas: jornais, bibliotecas digitais, pacote de dados deve seguir para chegar a seu destino. Podemos
etc. citar como exemplo uma cidade grande e o roteador escolhe o ca-
– Comunicação entre as pessoas: Twitter, Facebook, Instagram, minho mais curto e menos congestionado.
etc. – Access Point (Ponto de acesso – AP): similar ao hub, oferece
– Entretenimento interativo: distribuição de músicas, filmes, sinais de rede em formas de rádio, ou seja, o AP é conectado a uma
etc. rede cabeada e serve de ponto de acesso a rede sem fio.
– Comércio eletrônico.
– Jogos. Meios de transmissão
Existem várias formas de transmitir bits de uma máquina para
Modelo Cliente-Servidor outra através de meios de transmissão, com diferenças em termos
Uma configuração muito comum em redes de computadores de largura de banda, atraso, custo e facilidade de instalação e ma-
emprega o modelo cliente-servidor O cliente solicita o recurso ao nutenção. Existem dois tipos de meios de transmissão: guiados e
servidor: não guiados:
– Meios de transmissão guiados: os cabos de par trançado,
cabo coaxial e fibra ótica;
– Meios de transmissão não guiados: as redes terrestres sem
fios, satélites e raios laser transmitidos pelo ar.

33 NASCIMENTO, E. J. Rede de Computadores. Universidade Federal do Vale do


São Francisco. 34 http://www.inf.ufpr.br/albini/apostila/Apostila_Redes1_Beta.pdf

47
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
flexível e capaz de conduzir um raio ótico. Estas fibras óticas são
agrupadas em um cabo ótico, e podem ser colocadas várias fibras
no mesmo cabo.
Nas fibras óticas, um pulso de luz indica um bit e a ausência de
luz indica zero bit. Para conseguir transmitir informações através da
fibra ótica, é necessário conectar uma fonte de luz em uma ponta
da fibra ótica e um detector na outra ponta, assim, a ponta que vai
transmitir converte o sinal elétrico e o transmite por pulsos de luz, a
ponta que vai receber deve converter a saída para um sinal elétrico.
As fibras óticas possuem quatro características que a diferem
dos cabos de par traçado e coaxial, que são:
– Maior capacidade: possui largura de banda imensa com ve-
locidade de dados de centenas de Gbps por distâncias de dezenas
de quilômetros;
– Menor tamanho e menor peso: são muito finas e por isso,
35
pesam pouco, desta forma, reduz os requisitos de suporte estru-
tural;
Cabos de pares trançado – Menor atenuação: possui menor atenuação comparando
Os pares trançados são o meio de transmissão mais antigo com os cabos de par trançado e coaxial, por isso, é constante em
e ainda mais comum em virtude do custo e desempenho obtido. um intervalo de frequência maior;
Consiste em dois fios de cobre encapados e entrelaçados. Este en- – Isolamento eletromagnético: as fibras óticas não sofrem in-
trelaçado cancela as ondas de diferentes partes dos fios diminuin- terferências externas, à ruído de impulso ou à linha cruzada, e estas
do a interferência. Os pares trançados são comuns em sistemas fibras também não irradiam energia.
telefônicos, que é usado tanto para chamadas telefônicas quanto Esse sistema das fibras óticas funciona somente por um princí-
para o acesso à internet por ADSL, estes pares podem se estender pio da física: quando um raio de luz passa de um meio para outro, o
por diversos quilômetros, porém, quando a distância for muito lon- raio é refratado no limite sílica/ar. A quantidade de refração depen-
ga, existe a necessidade de repetidores. E quando há muitos pa- de das propriedades das duas mídias (índices de refração). Para ân-
res trançados em paralelo percorrendo uma distância grande, são gulos de incidência acima de um certo valor crítico ou acima é inter-
envoltos por uma capa protetora. Existem dois tipos básico deste ceptado dentro da fibra e pode se propagar por muitos quilômetros
cabo, que são: praticamente sem perdas. Podemos classificar as fibras óticas em:
– UTP (Unshielded Twisted Pair – Par trançado sem blinda- – Monomodo: se o diâmetro da fibra for reduzido a alguns
gem): utilizado em redes de baixo custo, possui fácil manuseio e comprimentos de onda, a luz só poderá se propagar em linha reta,
instalação e podem atingir até 100 Mbps na taxa de transmissão sem ricochetear, produzindo assim, uma fibra de modo único (fibra
(utilizando as especificações 5 e 5e). monomodo). Estas fibras são mais caras, porém amplamente utili-
– STP (Shielded Twisted Pair – Par trançado com blindagem): zadas em distâncias mais longas podendo transmitir dados a 100
possui uma utilização restrita devido ao seu custo alto, por isso, é Gbps por 100 quilômetros sem amplificação.
utilizado somente em ambientes com alto nível de interferência ele- – Multimodo: se o raio de luz incidente na fronteira acima do
tromagnética. Existem dois tipos de STP: ângulo critico for refletido internamente, muitos raios distintos es-
1- Blindagem simples: todos os pares são protegidos por uma tarão ricocheteando em diferentes ângulos. Dizemos que cada raio
camada de blindagem. tem um modo específico, desta forma, na fibra multimodo, os raios
2- Blindagem par a par: cada par de fios é protegido por uma são ricocheteados em diferentes ângulos
camada de blindagem.
Tipos de Redes
Cabo coaxial
O cabo coaxial consiste em um fio condutor interno envolto por Redes Locais
anéis isolantes regularmente espaçados e cercado por um condutor As redes locais (LAN - Local Area Networks) são normalmen-
cilíndrico coberto por uma malha. O cabo coaxial é mais resistente à te redes privativas que permitem a interconexão de equipamentos
interferência e linha cruzada do que os cabos de par trançado, além presentes em uma pequena região (um prédio ou uma universidade
de poder ser usado em distâncias maiores e com mais estações. ou que tenha poucos quilômetros de extensão).
Assim, o cabo coaxial oferece mais capacidade, porém, é mais caro As LANs podem ser cabeadas, sem fio ou mistas.
do que o cabo de par trançado blindado. Atualmente as LANs cabeadas mais usadas usam o padrão IEEE
Os cabos coaxiais eram usados no sistema telefônico para lon- 802.3
gas distância, porém, foram substituídos por fibras óticas. Estes ca- Para melhorar a eficiência, cada computador é ligado por um
bos estão sendo usados pelas redes de televisão a cabo e em redes cabo a uma porta de um comutador (switch).
metropolitanas.

Fibras óticas
A fibra ótica é formada pelo núcleo, vestimenta e jaqueta, o
centro é chamado de núcleo e a próxima camada é a vestimenta,
tanto o núcleo quanto a vestimenta consistem em fibras de vidro
com diferentes índices de refração cobertas por uma jaqueta pro-
tetora que absorve a luz. A fibra de vidro possui forma cilíndrica,
35 Fonte: http://eletronicaapolo.com.br/novidades/o-que-e-o-ca-
bo-de-rede-par-trancado

48
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Exemplo de rede WAN.38


Exemplo de rede LAN.36
Nos enlaces de longa distância em redes WAN são usadas tec-
nologias que permitem o tráfego de grandes volumes de dados:
Dependendo do cabeamento e tecnologia usados, essas redes
SONET, SDH, etc.
atingem velocidades de 100Mbps, 1Gbps ou até 10Gbps.
Quando não há cabos, satélites podem ser utilizados em parte
Com a preferência do consumidor por notebooks, as LANs sem
dos enlaces.
fio ficaram bastante populares. O padrão mais utilizado é o IEEE
A sub-rede é em geral operada por uma grande empresa de
802.11 conhecido como Wi-Fi. A versão mais recente, o 802.11n,
telecomunicações conhecida como provedor de serviço de Internet
permite alcançar velocidades da ordem de 300Mbps.
(ISP - Internet Service Provider).
LANs sem fio são geralmente interligadas à rede cabeada atra-
vés de um ponto de acesso.
Topologia de redes
A topologia de rede é o padrão no qual o meio de rede está
• Redes Metropolitanas
conectado aos computadores e outros componentes de rede39. Es-
Uma rede metropolitana (MAN - Metropolitan Area Network)
sencialmente, é a estrutura topológica da rede, e pode ser descrito
é basicamente uma grande versão de uma LAN onde a distância
fisicamente ou logicamente.
entre os equipamentos ligados à rede começa a atingir distâncias
Há várias formas nas quais se pode organizar a interligação en-
metropolitanas (uma cidade).
tre cada um dos nós (computadores) da rede. A topologia física é
Exemplos de MANs são as redes de TV a cabo e as redes IEEE
a verdadeira aparência ou layout da rede, enquanto que a lógica
802.16 (WiMAX).
descreve o fluxo dos dados através da rede.
Existem duas categorias básicas de topologias de rede:
– Topologia física: representa como as redes estão conectadas
(layout físico) e o meio de conexão dos dispositivos de redes (nós
ou nodos). A forma com que os cabos são conectados, e que gene-
ricamente chamamos de topologia da rede (física), influencia em
diversos pontos considerados críticos, como a flexibilidade, veloci-
dade e segurança.
– Topologia lógica: refere-se à maneira como os sinais agem so-
bre os meios de rede, ou a maneira como os dados são transmitidos
através da rede a partir de um dispositivo para o outro sem ter em
conta a interligação física dos dispositivos. Topologias lógicas são
capazes de serem reconfiguradas dinamicamente por tipos espe-
ciais de equipamentos como roteadores e switches.

Topologia Barramento
Todos os computadores são ligados em um mesmo barramento
Exemplo de rede WAN. 37
físico de dados. Apesar de os dados não passarem por dentro de
cada um dos nós, apenas uma máquina pode “escrever” no barra-
• Redes a Longas Distâncias
mento num dado momento. Todas as outras “escutam” e recolhem
Uma rede a longas distâncias (WAN - Wide Area Network) é
para si os dados destinados a elas. Quando um computador estiver
uma rede que cobre uma área geográfica grande, usualmente um
a transmitir um sinal, toda a rede fica ocupada e se outro computa-
país ou continente. Os hospedeiros da rede são conectados por uma
dor tentar enviar outro sinal ao mesmo tempo, ocorre uma colisão
sub-rede de comunicação. A sub-rede é composta de dois elemen-
e é preciso reiniciar a transmissão.
tos: linhas de transmissão e elementos de comutação (roteadores).

36 Fonte: http://www.bosontreinamentos.com.br/redes-computadores/qual-a-
-diferenca-entre-lan-man-e-wan-em-redes-de-dados 38 Fonte: https://10infrcpaulo.wordpress.com/2012/12/11/wan
37 Fonte: https://informaticaeadministracao.wordpress.com/2014/04/22/lan- 39 https://www.oficinadanet.com.br/artigo/2254/topologia_de_redes_vanta-
-man-e-wan gens_e_desvantagens

49
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Vantagens:
– Todos os computadores acessam a rede igualmente;
– Performance não é impactada com o aumento de usuários.

Desvantagens:
– Falha de um computador pode afetar o restante da rede;
– Problemas são difíceis de isolar.
Vantagens: Topologia Malha
– Uso de cabo é econômico; Esta topologia é muito utilizada em várias configurações, pois
– Mídia é barata, fácil de trabalhar e instalar; facilita a instalação e configuração de dispositivos em redes mais
– Simples e relativamente confiável; simples. Todos os nós estão atados a todos os outros nós, como se
– Fácil expansão. estivessem entrelaçados. Já que são vários os caminhos possíveis
por onde a informação pode fluir da origem até o destino.
Desvantagens:
– Rede pode ficar extremamente lenta em situações de tráfego
pesado;
– Problemas são difíceis de isolar;
– Falha no cabo paralisa a rede inteira.

Topologia Estrela
A mais comum atualmente, a topologia em estrela utiliza cabos
de par trançado e um concentrador como ponto central da rede.
O concentrador se encarrega de retransmitir todos os dados para
todas as estações, mas com a vantagem de tornar mais fácil a loca-
lização dos problemas, já que se um dos cabos, uma das portas do Vantagens:
concentrador ou uma das placas de rede estiver com problemas, – Maior redundância e confiabilidade;
apenas o nó ligado ao componente defeituoso ficará fora da rede. – Facilidade de diagnóstico.

Desvantagem:
– Instalação dispendiosa.

Modelos de Referência
Dois modelos de referência para arquiteturas de redes mere-
cem destaque: OSI e TCP/IP.

Modelo de referência ISO OSI (Open Systems Interconnection)


Modelo destinado à interconexão de sistemas abertos. Possui
7 camadas: física, enlace de dados, rede, transporte, sessão, apre-
Vantagens: sentação e aplicação.
– A codificação e adição de novos computadores é simples;
– Gerenciamento centralizado;
– Falha de um computador não afeta o restante da rede.

Desvantagem:
– Uma falha no dispositivo central paralisa a rede inteira.

Topologia Anel
Na topologia em anel os dispositivos são conectados em sé-
rie, formando um circuito fechado (anel). Os dados são transmiti-
dos unidirecionalmente de nó em nó até atingir o seu destino. Uma
mensagem enviada por uma estação passa por outras estações,
através das retransmissões, até ser retirada pela estação destino ou
pela estação fonte.

Modelo OSI.

O modelo OSI não é uma arquitetura de rede, pois não especifi-


ca os serviços e protocolos que devem ser usados em cada camada.
O modelo OSI informa apenas o que cada camada deve fazer:

50
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. Camada física
A sua função é assegurar o transporte de bits através de um meio de transmissão. Dessa forma, as questões de projeto dessa camada
estão ligadas a níveis de tensão, tempo de bit, interfaces elétricas e mecânicas, quantidade de pinos, sentidos da comunicação, etc.

2. Camada de enlace de dados


A sua principal função é transmitir quadros entre duas máquinas ligadas diretamente, transformando o canal em um enlace de dados
confiável.
- Divide os dados em quadros e os envia sequencialmente.
- Regula o tráfego
- Detecta a ocorrência de erros ocorridos na camada física
- Em redes de difusão, uma subcamada de controle de acesso ao meio é inserida para controlar o acesso ao canal compartilhado

3. Camada de rede
A sua função é encaminhar pacotes entre a máquina de origem e a máquina de destino.
- O roteamento pode ser estático ou dinâmico.
- Realiza o controle de congestionamento.
- Responsável pela qualidade de serviço.
- Tem que permitir que redes heterogêneas se comuniquem, sendo assim, deve lidar com questões como endereçamento, tamanho
dos pacotes e protocolos heterogêneos.

4. Camada de transporte
A sua função básica é efetuar a comunicação fim-a-fim entre processos, normalmente adicionando novas funcionalidades ao serviço
já oferecido pela camada de rede. Pode oferecer um canal ponto a ponto livre de erros com entrega de mensagens na ordem correta.

5. Camada de sessão
A sua função é controlar quem fala e quando, entre a origem e o destino (analogia com operações críticas em bancos de dados).

6. Camada de apresentação
A sua função básica é transformar a sintaxe dos dados (forma de representação) sem afetar a semântica. Gerencia estruturas de dados
abstratas.

7. Camada de aplicação
Contém uma série de protocolos necessários para os usuários. É nessa camada que o usuário interage.

Modelo TCP/IP
Arquitetura voltada para a interconexão de redes heterogêneas (ARPANET)
Posteriormente, essa arquitetura ficou conhecida como modelo TCP/IP graças aos seus principais protocolos.
O modelo TCP/IP é composto por quatro camadas: enlace, internet, transporte e aplicação.

Modelo TCP/IP.

1. Camada de enlace
Não é uma camada propriamente dita, mas uma interface entre os hospedeiros e os enlaces de transmissão

2. Camada internet (camada de rede)


Integra toda a arquitetura, mantendo-a unida. Faz a interligação de redes não orientadas a conexão.
Tem o objetivo de rotear as mensagens entre hospedeiros, ocultando os problemas inerentes aos protocolos utilizados e aos tama-
nhos dos pacotes. Tem a mesma função da camada de rede do modelo OSI.
O protocolo principal dessa camada é o IP.

51
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
3. Camada de transporte
Permite que entidades pares (processos) mantenham uma comunicação.
Foram definidos dois protocolos para essa camada: TCP (Transmission Control Protocol) e UDP (User Datagram Protocol).
O TCP é um protocolo orientado a conexões confiável que permite a entrega sem erros de um fluxo de bytes.
O UDP é um protocolo não orientado a conexões, não confiável e bem mais simples que o TCP.

4. Camada de aplicação
Contém todos os protocolos de nível mais alto.

Modelo TCP/IP e seus protocolos.

Modelo OSI versus TCP/IP.

CONCEITOS BÁSICOS, FERRAMENTAS, APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS DE INTERNET E INTRANET. PROGRAMAS DE


NAVEGAÇÃO (MICROSOFT INTERNET EXPLORER, MOZILLA FIREFOX, GOOGLE CHROME E SIMILARES)

Internet
A Internet é uma rede mundial de computadores interligados através de linhas de telefone, linhas de comunicação privadas, cabos
submarinos, canais de satélite, etc40. Ela nasceu em 1969, nos Estados Unidos. Interligava originalmente laboratórios de pesquisa e se cha-
mava ARPAnet (ARPA: Advanced Research Projects Agency). Com o passar do tempo, e com o sucesso que a rede foi tendo, o número de
adesões foi crescendo continuamente. Como nesta época, o computador era extremamente difícil de lidar, somente algumas instituições
possuíam internet.
No entanto, com a elaboração de softwares e interfaces cada vez mais fáceis de manipular, as pessoas foram se encorajando a partici-
par da rede. O grande atrativo da internet era a possibilidade de se trocar e compartilhar ideias, estudos e informações com outras pessoas
que, muitas vezes nem se conhecia pessoalmente.

Conectando-se à Internet
Para se conectar à Internet, é necessário que se ligue a uma rede que está conectada à Internet. Essa rede é de um provedor de acesso
à internet. Assim, para se conectar você liga o seu computador à rede do provedor de acesso à Internet; isto é feito por meio de um con-
junto como modem, roteadores e redes de acesso (linha telefônica, cabo, fibra-ótica, wireless, etc.).

40 https://cin.ufpe.br/~macm3/Folders/Apostila%20Internet%20-%20Avan%E7ado.pdf

52
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
World Wide Web Uma URL tem a seguinte estrutura: protocolo://máquina/ca-
A web nasceu em 1991, no laboratório CERN, na Suíça. Seu minho/recurso.
criador, Tim Berners-Lee, concebeu-a unicamente como uma lin-
guagem que serviria para interligar computadores do laboratório e HTTP
outras instituições de pesquisa, e exibir documentos científicos de É o protocolo responsável pelo tratamento de pedidos e res-
forma simples e fácil de acessar. postas entre clientes e servidor na World Wide Web. Os endereços
Hoje é o segmento que mais cresce. A chave do sucesso da web sempre iniciam com http:// (http significa Hypertext Transfer
World Wide Web é o hipertexto. Os textos e imagens são interli- Protocol, Protocolo de transferência hipertexto).
gados por meio de palavras-chave, tornando a navegação simples
e agradável. Hipertexto
São textos ou figuras que possuem endereços vinculados a
Protocolo de comunicação eles. Essa é a maneira mais comum de navegar pela web.
Transmissão e fundamentalmente por um conjunto de proto-
colos encabeçados pelo TCP/IP. Para que os computadores de uma Navegadores
rede possam trocar informações entre si é necessário que todos os Um navegador de internet é um programa que mostra informa-
computadores adotem as mesmas regras para o envio e o recebi- ções da internet na tela do computador do usuário.
mento de informações. Este conjunto de regras é conhecido como Além de também serem conhecidos como browser ou web bro-
Protocolo de Comunicação. No protocolo de comunicação estão de- wser, eles funcionam em computadores, notebooks, dispositivos
finidas todas as regras necessárias para que o computador de desti- móveis, aparelhos portáteis, videogames e televisores conectados
no, “entenda” as informações no formato que foram enviadas pelo à internet.
computador de origem. Um navegador de internet condiciona a estrutura de um site
Existem diversos protocolos, atualmente a grande maioria das e exibe qualquer tipo de conteúdo na tela da máquina usada pelo
redes utiliza o protocolo TCP/IP já que este é utilizado também na internauta.
Internet. Esse conteúdo pode ser um texto, uma imagem, um vídeo, um
O protocolo TCP/IP acabou se tornando um padrão, inclusive para jogo eletrônico, uma animação, um aplicativo ou mesmo servidor.
redes locais, como a maioria das redes corporativas hoje tem acesso Ou seja, o navegador é o meio que permite o acesso a qualquer
Internet, usar TCP/IP resolve a rede local e também o acesso externo. página ou site na rede.
Para funcionar, um navegador de internet se comunica com
TCP / IP servidores hospedados na internet usando diversos tipos de pro-
Sigla de Transmission Control Protocol/Internet Protocol (Pro- tocolos de rede. Um dos mais conhecidos é o protocolo HTTP, que
tocolo de Controle de Transmissão/Protocolo Internet). transfere dados binários na comunicação entre a máquina, o nave-
Embora sejam dois protocolos, o TCP e o IP, o TCP/IP aparece gador e os servidores.
nas literaturas como sendo:
- O protocolo principal da Internet; Funcionalidades de um Navegador de Internet
- O protocolo padrão da Internet; A principal funcionalidade dos navegadores é mostrar para o
- O protocolo principal da família de protocolos que dá suporte usuário uma tela de exibição através de uma janela do navegador.
ao funcionamento da Internet e seus serviços. Ele decodifica informações solicitadas pelo usuário, através de
códigos-fonte, e as carrega no navegador usado pelo internauta.
Considerando ainda o protocolo TCP/IP, pode-se dizer que: Ou seja, entender a mensagem enviada pelo usuário, solicitada
A parte TCP é responsável pelos serviços e a parte IP é respon- através do endereço eletrônico, e traduzir essa informação na tela
sável pelo roteamento (estabelece a rota ou caminho para o trans- do computador. É assim que o usuário consegue acessar qualquer
porte dos pacotes). site na internet.
O recurso mais comum que o navegador traduz é o HTML, uma
Domínio linguagem de marcação para criar páginas na web e para ser inter-
Se não fosse o conceito de domínio quando fossemos acessar pretado pelos navegadores.
um determinado endereço na web teríamos que digitar o seu en- Eles também podem reconhecer arquivos em formato PDF,
dereço IP. Por exemplo: para acessar o site do Google ao invés de imagens e outros tipos de dados.
você digitar www.google.com você teria que digitar um número IP Essas ferramentas traduzem esses tipos de solicitações por
– 74.125.234.180. meio das URLs, ou seja, os endereços eletrônicos que digitamos na
É através do protocolo DNS (Domain Name System), que é pos- parte superior dos navegadores para entrarmos numa determinada
sível associar um endereço de um site a um número IP na rede. página.
O formato mais comum de um endereço na Internet é algo como Abaixo estão outros recursos de um navegador de internet:
http://www.empresa.com.br, em que: – Barra de Endereço: é o espaço em branco que fica localiza-
www: (World Wide Web): convenção que indica que o ende- do no topo de qualquer navegador. É ali que o usuário deve digitar
reço pertence à web.
a URL (ou domínio ou endereço eletrônico) para acessar qualquer
empresa: nome da empresa ou instituição que mantém o ser-
página na web.
viço.
– Botões de Início, Voltar e Avançar: botões clicáveis básicos
com: indica que é comercial.
que levam o usuário, respectivamente, ao começo de abertura do
br: indica que o endereço é no Brasil.
navegador, à página visitada antes ou à página visitada seguinte.
– Favoritos: é a aba que armazena as URLs de preferência do
URL
usuário. Com um único simples, o usuário pode guardar esses en-
Um URL (de Uniform Resource Locator), em português, Locali-
zador-Padrão de Recursos, é o endereço de um recurso (um arqui- dereços nesse espaço, sendo que não existe uma quantidade limite
vo, uma impressora etc.), disponível em uma rede; seja a Internet, de links. É muito útil para quando você quer acessar as páginas mais
ou uma rede corporativa, uma intranet. recorrentes da sua rotina diária de tarefas.

53
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Atualizar: botão básico que recarrega a página aberta naque- Microsoft Edge
le momento, atualizando o conteúdo nela mostrado. Serve para Da Microsoft, o Edge é a evolução natural do antigo Explorer41.
mostrar possíveis edições, correções e até melhorias de estrutura O navegador vem integrado com o Windows 10. Ele pode receber
no visual de um site. Em alguns casos, é necessário limpar o cache aprimoramentos com novos recursos na própria loja do aplicativo.
para mostrar as atualizações. Além disso, a ferramenta otimiza a experiência do usuário con-
– Histórico: opção que mostra o histórico de navegação do vertendo sites complexos em páginas mais amigáveis para leitura.
usuário usando determinado navegador. É muito útil para recupe-
rar links, páginas perdidas ou revisitar domínios antigos. Pode ser
apagado, caso o usuário queira.
– Gerenciador de Downloads: permite administrar os down-
loads em determinado momento. É possível ativar, cancelar e pau-
sar por tempo indeterminado. É um maior controle na usabilidade
do navegador de internet.
– Extensões: já é padrão dos navegadores de internet terem
um mecanismo próprio de extensões com mais funcionalidades.
Com alguns cliques, é possível instalar temas visuais, plug-ins com Outras características do Edge são:
novos recursos (relógio, notícias, galeria de imagens, ícones, entre – Experiência de navegação com alto desempenho.
outros. – Função HUB permite organizar e gerenciar projetos de qual-
– Central de Ajuda: espaço para verificar a versão instalada do quer lugar conectado à internet.
navegador e artigos (geralmente em inglês, embora também exis- – Funciona com a assistente de navegação Cortana.
tam em português) de como realizar tarefas ou ações específicas – Disponível em desktops e mobile com Windows 10.
no navegador. – Não é compatível com sistemas operacionais mais antigos.

Firefox, Internet Explorer, Google Chrome, Safari e Opera são Firefox


alguns dos navegadores mais utilizados atualmente. Também co- Um dos navegadores de internet mais populares, o Firefox é
nhecidos como web browsers ou, simplesmente, browsers, os na- conhecido por ser flexível e ter um desempenho acima da média.
vegadores são uma espécie de ponte entre o usuário e o conteúdo Desenvolvido pela Fundação Mozilla, é distribuído gratuita-
virtual da Internet. mente para usuários dos principais sistemas operacionais. Ou seja,
mesmo que o usuário possua uma versão defasada do sistema ins-
Internet Explorer talado no PC, ele poderá ser instalado.
Lançado em 1995, vem junto com o Windows, está sendo
substituído pelo Microsoft Edge, mas ainda está disponível como
segundo navegador, pois ainda existem usuários que necessitam de
algumas tecnologias que estão no Internet Explorer e não foram
atualizadas no Edge.
Já foi o mais navegador mais utilizado do mundo, mas hoje per-
deu a posição para o Google Chrome e o Mozilla Firefox.

Algumas características de destaque do Firefox são:


– Velocidade e desempenho para uma navegação eficiente.
– Não exige um hardware poderoso para rodar.
– Grande quantidade de extensões para adicionar novos recur-
sos.
Principais recursos do Internet Explorer: – Interface simplificada facilita o entendimento do usuário.
– Transformar a página num aplicativo na área de trabalho, – Atualizações frequentes para melhorias de segurança e pri-
permitindo que o usuário defina sites como se fossem aplicativos vacidade.
instalados no PC. Através dessa configuração, ao invés de apenas – Disponível em desktop e mobile.
manter os sites nos favoritos, eles ficarão acessíveis mais facilmente
através de ícones. Google Chorme
– Gerenciador de downloads integrado. É possível instalar o Google Chrome nas principais versões do
– Mais estabilidade e segurança. sistema operacional Windows e também no Linux e Mac.
– Suporte aprimorado para HTML5 e CSS3, o que permite uma O Chrome é o navegador de internet mais usado no mundo.
navegação plena para que o internauta possa usufruir dos recursos É, também, um dos que têm melhor suporte a extensões, maior
implementados nos sites mais modernos. compatibilidade com uma diversidade de dispositivos e é bastante
– Com a possibilidade de adicionar complementos, o navega- convidativo à navegação simplificada.
dor já não é apenas um programa para acessar sites. Dessa forma, é
possível instalar pequenos aplicativos que melhoram a navegação e
oferecem funcionalidades adicionais.
– One Box: recurso já conhecido entre os usuários do Google
Chrome, agora está na versão mais recente do Internet Explorer.
Através dele, é possível realizar buscas apenas informando a pala-
vra-chave digitando-a na barra de endereços.
41 https://bit.ly/2WITu4N

54
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O Safari também se destaca em:
– Sincronização de dados e informações em qualquer disposi-
tivo Apple (iOS).
– Tem uma tecnologia anti-rastreio capaz de impedir o direcio-
namento de anúncios com base no comportamento do usuário.
– Modo de navegação privada não guarda os dados das páginas
visitadas, inclusive histórico e preenchimento automático de cam-
pos de informação.
Principais recursos do Google Chrome: – Compatível também com sistemas operacionais que não seja
– Desempenho ultra veloz, desde que a máquina tenha recur- da Apple (Windows e Linux).
sos RAM suficientes. – Disponível em desktops e mobile.
– Gigantesca quantidade de extensões para adicionar novas
funcionalidades. Intranet
– Estável e ocupa o mínimo espaço da tela para mostrar con- A intranet é uma rede de computadores privada que assenta
teúdos otimizados. sobre a suíte de protocolos da Internet, porém, de uso exclusivo de
– Segurança avançada com encriptação por Certificado SSL (HT- um determinado local, como, por exemplo, a rede de uma empresa,
TPS). que só pode ser acessada pelos seus utilizadores ou colaboradores
– Disponível em desktop e mobile. internos42.
Pelo fato, a sua aplicação a todos os conceitos emprega-se à
Opera intranet, como, por exemplo, o paradigma de cliente-servidor. Para
Um dos primeiros navegadores existentes, o Opera segue evo- tal, a gama de endereços IP reservada para esse tipo de aplicação
luindo como um dos melhores navegadores de internet. situa-se entre 192.168.0.0 até 192.168.255.255.
Ele entrega uma interface limpa, intuitiva e agradável de usar. Dentro de uma empresa, todos os departamentos possuem
Além disso, a ferramenta também é leve e não prejudica a qualida- alguma informação que pode ser trocada com os demais setores,
de da experiência do usuário. podendo cada sessão ter uma forma direta de se comunicar com as
demais, o que se assemelha muito com a conexão LAN (Local Area
Network), que, porém, não emprega restrições de acesso.
A intranet é um dos principais veículos de comunicação em cor-
porações. Por ela, o fluxo de dados (centralização de documentos,
formulários, notícias da empresa, etc.) é constante, pretendendo
reduzir os custos e ganhar velocidade na divulgação e distribuição
de informações.
Apesar do seu uso interno, acessando aos dados corporativos,
a intranet permite que computadores localizados numa filial, se co-
nectados à internet com uma senha, acessem conteúdos que este-
Outros pontos de destaques do Opera são:
jam na sua matriz. Ela cria um canal de comunicação direto entre
– Alto desempenho com baixo consumo de recursos e de ener-
a empresa e os seus funcionários/colaboradores, tendo um ganho
gia.
significativo em termos de segurança.
– Recurso Turbo Opera filtra o tráfego recebido, aumentando a
velocidade de conexões de baixo desempenho.
– Poupa a quantidade de dados usados em conexões móveis
(3G ou 4G). PROGRAMAS DE CORREIO ELETRÔNICO (OUTLOOK
– Impede armazenamento de dados sigilosos, sobretudo em EXPRESS, MOZILLA THUNDERBIRD E SIMILARES)
páginas bancárias e de vendas on-line.
– Quantidade moderada de plug-ins para implementar novas E-mail
funções, além de um bloqueador de publicidade integrado. O e-mail revolucionou o modo como as pessoas recebem men-
– Disponível em desktop e mobile. sagem atualmente43. Qualquer pessoa que tenha um e-mail pode
mandar uma mensagem para outra pessoa que também tenha
Safari e-mail, não importando a distância ou a localização.
O Safari é o navegador oficial dos dispositivos da Apple. Pela Um endereço de correio eletrônico obedece à seguinte estru-
sua otimização focada nos aparelhos da gigante de tecnologia, ele tura: à esquerda do símbolo @ (ou arroba) fica o nome ou apelido
é um dos navegadores de internet mais leves, rápidos, seguros e do usuário, à direita fica o nome do domínio que fornece o acesso.
confiáveis para usar. O resultado é algo como:

maria@apostilassolucao.com.br

Atualmente, existem muitos servidores de webmail – correio


eletrônico – na Internet, como o Gmail e o Outlook.
Para possuir uma conta de e-mail nos servidores é necessário
preencher uma espécie de cadastro. Geralmente existe um conjun-
to de regras para o uso desses serviços.
42 https://centraldefavoritos.com.br/2018/01/11/conceitos-basicos-ferramen-
tas-aplicativos-e-procedimentos-de-internet-e-intranet-parte-2/
43 https://cin.ufpe.br/~macm3/Folders/Apostila%20Internet%20-%20
Avan%E7ado.pdf

55
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Correio Eletrônico
Este método utiliza, em geral, uma aplicação (programa de correio eletrônico) que permite a manipulação destas mensagens e um
protocolo (formato de comunicação) de rede que permite o envio e recebimento de mensagens44. Estas mensagens são armazenadas no
que chamamos de caixa postal, as quais podem ser manipuladas por diversas operações como ler, apagar, escrever, anexar, arquivos e
extração de cópias das mensagens.

Funcionamento básico de correio eletrônico


Essencialmente, um correio eletrônico funciona como dois programas funcionando em uma máquina servidora:
– Servidor SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): protocolo de transferência de correio simples, responsável pelo envio de mensa-
gens.
– Servidor POP3 (Post Office Protocol – protocolo Post Office) ou IMAP (Internet Mail Access Protocol): protocolo de acesso de cor-
reio internet), ambos protocolos para recebimento de mensagens.

Para enviar um e-mail, o usuário deve possuir um cliente de e-mail que é um programa que permite escrever, enviar e receber e-mails
conectando-se com a máquina servidora de e-mail. Inicialmente, um usuário que deseja escrever seu e-mail, deve escrever sua mensagem
de forma textual no editor oferecido pelo cliente de e-mail e endereçar este e-mail para um destinatário que possui o formato “nome@
dominio.com.br“. Quando clicamos em enviar, nosso cliente de e-mail conecta-se com o servidor de e-mail, comunicando-se com o pro-
grama SMTP, entregando a mensagem a ser enviada. A mensagem é dividida em duas partes: o nome do destinatário (nome antes do @)
e o domínio, i.e., a máquina servidora de e-mail do destinatário (endereço depois do @). Com o domínio, o servidor SMTP resolve o DNS,
obtendo o endereço IP do servidor do e-mail do destinatário e comunicando-se com o programa SMTP deste servidor, perguntando se o
nome do destinatário existe naquele servidor. Se existir, a mensagem do remetente é entregue ao servidor POP3 ou IMAP, que armazena
a mensagem na caixa de e-mail do destinatário.

Ações no correio eletrônico


Independente da tecnologia e recursos empregados no correio eletrônico, em geral, são implementadas as seguintes funções:
– Caixa de Entrada: caixa postal onde ficam todos os e-mails recebidos pelo usuário, lidos e não-lidos.
– Lixeira: caixa postal onde ficam todos os e-mails descartados pelo usuário, realizado pela função Apagar ou por um ícone de Lixeira.
Em geral, ao descartar uma mensagem ela permanece na lixeira, mas não é descartada, até que o usuário decida excluir as mensagens de-
finitivamente (este é um processo de segurança para garantir que um usuário possa recuperar e-mails apagados por engano). Para apagar
definitivamente um e-mail é necessário entrar, de tempos em tempos, na pasta de lixeira e descartar os e-mails existentes.
– Nova mensagem: permite ao usuário compor uma mensagem para envio. Os campos geralmente utilizados são:
– Para: designa a pessoa para quem será enviado o e-mail. Em geral, pode-se colocar mais de um destinatário inserindo os e-mails de
destino separados por ponto-e-vírgula.
– CC (cópia carbono): designa pessoas a quem também repassamos o e-mail, ainda que elas não sejam os destinatários principais da
mensagem. Funciona com o mesmo princípio do Para.
– CCo (cópia carbono oculta): designa pessoas a quem repassamos o e-mail, mas diferente da cópia carbono, quando os destinatários
principais abrirem o e-mail não saberão que o e-mail também foi repassado para os e-mails determinados na cópia oculta.
– Assunto: título da mensagem.
– Anexos: nome dado a qualquer arquivo que não faça parte da mensagem principal e que seja vinculada a um e-mail para envio ao
usuário. Anexos, comumente, são o maior canal de propagação de vírus e malwares, pois ao abrirmos um anexo, obrigatoriamente ele
será “baixado” para nosso computador e executado. Por isso, recomenda-se a abertura de anexos apenas de remetentes confiáveis e, em
geral, é possível restringir os tipos de anexos que podem ser recebidos através de um e-mail para evitar propagação de vírus e pragas. Al-
guns antivírus permitem analisar anexos de e-mails antes que sejam executados: alguns serviços de webmail, como por exemplo, o Gmail,
permitem analisar preliminarmente se um anexo contém arquivos com malware.
– Filtros: clientes de e-mail e webmails comumente fornecem a função de filtro. Filtros são regras que escrevemos que permitem
que, automaticamente, uma ação seja executada quando um e-mail cumpre esta regra. Filtros servem assim para realizar ações simples e
padronizadas para tornar mais rápida a manipulação de e-mails. Por exemplo, imagine que queremos que ao receber um e-mail de “joao@
blabla.com”, este e-mail seja diretamente descartado, sem aparecer para nós. Podemos escrever uma regra que toda vez que um e-mail
com remetente “joao@blabla.com” chegar em nossa caixa de entrada, ele seja diretamente excluído.

44 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/11/correio-eletronico-webmail-e-mozilla-thunderbird/

56
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

45

Respondendo uma mensagem


Os ícones disponíveis para responder uma mensagem são:
– Responder ao remetente: responde à mensagem selecionada para o autor dela (remetente).
– Responde a todos: a mensagem é enviada tanto para o autor como para as outras pessoas que estavam na lista de cópias.
– Encaminhar: envia a mensagem selecionada para outra pessoa.

Clientes de E-mail
Um cliente de e-mail é essencialmente um programa de computador que permite compor, enviar e receber e-mails a partir de um
servidor de e-mail, o que exige cadastrar uma conta de e-mail e uma senha para seu correto funcionamento. Há diversos clientes de e-mails
no mercado que, além de manipular e-mails, podem oferecer recursos diversos.
– Outlook: cliente de e-mails nativo do sistema operacional Microsoft Windows. A versão Express é uma versão mais simplificada e
que, em geral, vem por padrão no sistema operacional Windows. Já a versão Microsoft Outlook é uma versão que vem no pacote Microsoft
Office possui mais recursos, incluindo, além de funções de e-mail, recursos de calendário.
– Mozilla Thunderbird: é um cliente de e-mails e notícias Open Source e gratuito criado pela Mozilla Foundation (mesma criadora do
Mozilla Firefox).

Webmails
Webmail é o nome dado a um cliente de e-mail que não necessita de instalação no computador do usuário, já que funciona como uma
página de internet, bastando o usuário acessar a página do seu provedor de e-mail com seu login e senha. Desta forma, o usuário ganha
mobilidade já que não necessita estar na máquina em que um cliente de e-mail está instalado para acessar seu e-mail. A desvantagem da
utilização de webmails em comparação aos clientes de e-mail é o fato de necessitarem de conexão de Internet para leitura dos e-mails,
enquanto nos clientes de e-mail basta a conexão para “baixar” os e-mails, sendo que a posterior leitura pode ser realizada desconectada
da Internet.
Exemplos de servidores de webmail do mercado são:
– Gmail
– Yahoo!Mail
– Microsoft Outlook: versão on-line do Outlook. Anteriormente era conhecido como Hotmail, porém mudou de nome quando a Mi-
crosoft integrou suas diversas tecnologias.

45 https://support.microsoft.com/pt-br/office/ler-e-enviar-emails-na-vers%C3%A3o-light-do-outlook-582a8fdc-152c-4b61-85fa-ba5ddf07050b

57
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

46

Diferença entre webmail e correio eletrônico


O webmail (Yahoo ou Gmail) você acessa através de seu navegador (Firefox ou Google Chrome) e só pode ler conectado na internet.
Já o correio eletrônico (Thunderbird ou Outlook) você acessa com uma conexão de internet e pode baixar seus e-mails, mas depois pode
ler na hora que quiser sem precisar estar conectado na internet.

SÍTIOS DE BUSCA E PESQUISA NA INTERNET

Prezado Candidato, o conteúdo relacionado ao tópico acima supracitado foi abordado anteriormente.

GRUPOS DE DISCUSSÃO

Grupos de discussão são ferramentas gerenciáveis pela Internet que permitem que um grupo de pessoas troque mensagens via e-mail
entre todos os membros do grupo. Essas mensagens, geralmente, são de um tema de interesse em comum, onde as pessoas expõem suas
opiniões, sugestões, críticas e tiram dúvidas. Como é um grupo onde várias pessoas podem participar sem, geralmente, ter um pré- requi-
sito, as informações nem sempre são confiáveis.
Existem sites gratuitos, como o Google Groups, o Grupos.com.br, que auxiliam na criação e uso de grupos de discussão, mas um grupo
pode ser montado independentemente, onde pessoas façam uma lista de e – mails e troquem informações.
Para conhecer um pouco mais sobre este assunto, vamos criar um grupo de discussão no Google Groups. Para isso, alguns passos serão
necessários:
1º) Temos que ter um cadastro no Google, como fizemos quando estudamos os sites de busca.
2º) Acessar o site do Google (www.google.com.br) e clicar no menu “Mais” e no item “Ainda mais”.
3º) Entre os diversos produtos que serão expostos, clicar em “Grupos”.

!
Grupos

46 https://www.dialhost.com.br/ajuda/abrir-uma-nova-janela-para-escrever-novo-email

58
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na próxima tela, teremos os passos necessários para criar um A mensagem do convite também será digitada por nós, mas o
grupo, onde clicaremos no botão “Criar um grupo...” nome, o endereço e a descrição do grupo, serão adicionados auto-
maticamente. Nesta página teremos o botão “Convidar”. Quando
clicarmos nele, receberemos a seguinte mensagem:

!
Passo 2 – Criando um grupo Finalização do processo de criação do grupo

Seguiremos alguns passos propostos pelo website. Os convidados a participarem do grupo receberão o convite em
Daremos um nome ao nosso grupo. Neste caso o nome é Pro- seus endereços eletrônicos. A etapa do convite pode ser realizada
fale. Conforme digitamos o nome do grupo, o campo endereço de depois da criação do grupo. Vale lembrar, que em muitos casos, as
e – mail do grupo e endereço do grupo na web vão sendo auto- mensagens de convite são identificadas pelos servidores de mensa-
maticamente preenchidos. Podemos inserir uma descrição grupo, gens como Spams e por esse motivo são automaticamente enviadas
que servirá para ajudar as pessoas a saberem do que se trata esse para a pasta Spam dos destinatários.
grupo, ou seja, qual sua finalidade e tipo de assunto abortado. O proprietário do grupo terá acesso a uma tela onde poderá:
Após a inserção do comentário sobre as intenções do grupo, visualizar os membros do grupo, iniciar um novo tópico de discus-
podemos selecionar se este grupo pode ter conteúdo adulto, nudez são, convidar ou adicionar membros, e ajustar as configurações do
ou material sexualmente explícito. Antes de entrar nesse grupo é seu grupo.
necessário confirmar que você é maior de 18 anos. Quando o proprietário optar por iniciar um novo tópico de dis-
cussão, será aberta uma página semelhante a de criação de um e
Escolheremos também, o nível de acesso entre: – mail. A linha “De”, virá automaticamente preenchida com o nome
“Público – Qualquer pessoa pode ler os arquivos. Qualquer do proprietário e o endereço do grupo. A linha “Para”, também será
pessoa pode participar, mas somente os membros podem postar preenchida automaticamente com o nome do grupo. Teremos que
mensagens.” “Somente para anúncios – Qualquer pessoa pode ler digitar o assunto e a mensagem e clicar no botão “Postar mensa-
os arquivos. Qualquer pessoa pode participar, mas somente os ad- gem”.
ministradores podem postar mensagens.” A mensagem postada pode ser vista no site do grupo, onde as
“Restrito – Para participar, ler e postar mensagens é preciso pessoas podem debater sobre ela (igualando-se assim a um fórum)
ser convidado. O seu grupo e os respectivos arquivos não aparecem ou encaminha via e-mail para outras pessoas.
nos resultados de pesquisa públicos do Google nem no diretório.” O site grupos.com.br funciona de forma semelhante. O pro-
prietário também tem que se cadastrar e inserir informações como
nome do grupo, convidados, descrição e outras, mas ambas as fer-
ramentas acabam tornado o grupo de discussão muito semelhante
ao fórum. Para criar um grupo de discussão da maneira padrão, sem
utilizar ferramentas de gerenciamento, as pessoas podem criar um
e – mail para o grupo e a partir dele criar uma lista de endereços
dos convidados, possibilitando a troca de informações via e – mail.

REDES SOCIAIS

Redes sociais são estruturas formadas dentro ou fora da inter-


net, por pessoas e organizações que se conectam a partir de inte-
resses ou valores comuns47. Muitos confundem com mídias sociais,
porém as mídias são apenas mais uma forma de criar redes sociais,
inclusive na internet.
O propósito principal das redes sociais é o de conectar pessoas.
! Você preenche seu perfil em canais de mídias sociais e interage com
Configurar grupo
as pessoas com base nos detalhes que elas leem sobre você. Po-
de-se dizer que redes sociais são uma categoria das mídias sociais.
Após este passo, teremos que adicionar os membros do grupo
Mídia social, por sua vez, é um termo amplo, que abrange
e faremos isto através de um convite que será enviado aos e – mails
diferentes mídias, como vídeos, blogs e as já mencionadas redes
que digitaremos em um campo especial para esta finalidade. Cada
sociais. Para entender o conceito, pode-se olhar para o que com-
destinatário dos endereços cadastrados por nós receberá um convi-
preendíamos como mídia antes da existência da internet: rádio, TV,
te e deverá aceitá-lo para poder receber as mensagens e participar
do nosso grupo.
47 https://resultadosdigitais.com.br/especiais/tudo-sobre-redes-sociais/

59
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
jornais, revistas. Quando a mídia se tornou disponível na internet,
ela deixou de ser estática, passando a oferecer a possibilidade de
interagir com outras pessoas.
No coração das mídias sociais estão os relacionamentos, que
são comuns nas redes sociais — talvez por isso a confusão. Mídias
sociais são lugares em que se pode transmitir informações para ou-
tras pessoas.
Estas redes podem ser de relacionamento, como o Facebook, O Instagram foi uma das primeiras redes sociais exclusivas para
profissionais, como o Linkedin ou mesmo de assuntos específicos acesso por meio do celular. E, embora hoje seja possível visualizar
como o Youtube que compartilha vídeos. publicações no desktop, seu formato continua sendo voltado para
As principais são: Facebook, WhatsApp, Youtube, Instagram, dispositivos móveis.
Twitter, Linkedin, Pinterest, Snapchat, Skype e agora mais recente- É possível postar fotos com proporções diferentes, além de ou-
mente, o Tik Tok. tros formatos, como vídeos, stories e mais.
Os stories são os principais pontos de inovação do aplicativo.
Facebook Já são diversos formatos de post por ali, como perguntas, enquetes,
Seu foco principal é o compartilhamento de assuntos pessoais vídeos em sequência e o uso de GIFs.
de seus membros. Em 2018, foi lançado o IGTV. E em 2019 o Instagram Cenas,
uma espécie de imitação do TikTok: o usuário pode produzir vídeos
de 15 segundos, adicionando música ou áudios retirados de outro
clipezinho. Há ainda efeitos de corte, legendas e sobreposição para
transições mais limpas – lembrando que esta é mais uma das fun-
cionalidades que atuam dentro dos stories.

Twitter
O Facebook é uma rede social versátil e abrangente, que reúne Rede social que funciona como um microblog onde você pode
muitas funcionalidades no mesmo lugar. Serve tanto para gerar ne- seguir ou ser seguido, ou seja, você pode ver em tempo real as
gócios quanto para conhecer pessoas, relacionar-se com amigos e atualizações que seus contatos fazem e eles as suas.
família, informar-se, dentre outros48.

WhatsApp
É uma rede para mensagens instantânea. Faz também ligações
telefônicas através da internet gratuitamente.

O Twitter atingiu seu auge em meados de 2009 e de lá para cá


está em declínio, mas isso não quer dizer todos os públicos pararam
de usar a rede social.
A rede social é usada principalmente como segunda tela em
A maioria das pessoas que têm um smartphone também o têm que os usuários comentam e debatem o que estão assistindo na
instalado. Por aqui, aliás, o aplicativo ganhou até o apelido de “zap TV, postando comentários sobre noticiários, reality shows, jogos de
zap”. futebol e outros programas.
Para muitos brasileiros, o WhatsApp é “a internet”. Algumas Nos últimos anos, a rede social acabou voltando a ser mais uti-
operadoras permitem o uso ilimitado do aplicativo, sem debitar do lizada por causa de seu uso por políticos, que divulgam informações
consumo do pacote de dados. Por isso, muita gente se informa atra- em primeira mão por ali.
vés dele.
YouTube LinkedIn
Rede que pertence ao Google e é especializada em vídeos. Voltada para negócios. A pessoa que participa desta rede quer
manter contatos para ter ganhos profissionais no futuro, como um
emprego por exemplo.

O YouTube é a principal rede social de vídeos on-line da atuali-


dade, com mais de 1 bilhão de usuários ativos e mais de 1 bilhão de
horas de vídeos visualizados diariamente. A maior rede social voltada para profissionais tem se tornado
cada vez mais parecida com outros sites do mesmo tipo, como o
Instagram Facebook.
Rede para compartilhamento de fotos e vídeos. A diferença é que o foco são contatos profissionais, ou seja: no
lugar de amigos, temos conexões, e em vez de páginas, temos com-
panhias. Outro grande diferencial são as comunidades, que reúnem
interessados em algum tema, profissão ou mercado específicos.
48 https://bit.ly/32MhiJ0

60
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É usado por muitas empresas para recrutamento de profissio- O Skype é uma versão renovada e mais tecnológica do extinto
nais, para troca de experiências profissionais em comunidades e MSN Messenger.
outras atividades relacionadas ao mundo corporativo Contudo, o usuário também pode contratar mais opções de
uso – de forma pré-paga ou por meio de uma assinatura – para
Pinterest realizar chamadas para telefones fixos e chamadas com vídeo em
Rede social focada em compartilhamento de fotos, mas tam- grupo ou até mesmo enviar SMS.
bém compartilha vídeos. É possível, no caso, obter um número de telefone por meio pró-
prio do Skype, seja ele local ou de outra região/país, e fazer ligações
a taxas reduzidas.
Tudo isso torna o Skype uma ferramenta válida para o mundo
corporativo, sendo muito utilizado por empresas de diversos nichos
e tamanhos.

Tik Tok
O Pinterest é uma rede social de fotos que traz o conceito de O TikTok, aplicativo de vídeos e dublagens disponível para iOS e
“mural de referências”. Lá você cria pastas para guardar suas inspi- Android, possui recursos que podem tornar criações de seus usuá-
rações e também pode fazer upload de imagens assim como colocar rios mais divertidas e, além disso, aumentar seu número de segui-
links para URLs externas. dores49.
Os temas mais populares são:
– Moda;
– Maquiagem;
– Casamento;
– Gastronomia;
– Arquitetura;
– Faça você mesmo;
– Gadgets;
– Viagem e design. Além de vídeos simples, é possível usar o TikTok para postar
duetos com cantores famosos, criar GIFs, slideshow animado e sin-
Seu público é majoritariamente feminino em todo o mundo. cronizar o áudio de suas dublagens preferidas para que pareça que
é você mesmo falando.
Snapchat O TikTok cresceu graças ao seu apelo para a viralização. Os
Rede para mensagens baseado em imagens. usuários fazem desafios, reproduzem coreografias, imitam pessoas
famosas, fazem sátiras que instigam o usuário a querer participar da
brincadeira — o que atrai muito o público jovem.

COMPUTAÇÃO NA NUVEM (CLOUD COMPUTING)

Quando se fala em computação nas nuvens, fala-se na possibi-


O Snapchat é um aplicativo de compartilhamento de fotos, ví- lidade de acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela inter-
deos e texto para mobile. Foi considerado o símbolo da pós-moder- net50. Ou seja, não é preciso instalar aplicativos no seu computador
nidade pela sua proposta de conteúdos efêmeros conhecidos como para tudo, pois pode acessar diferentes serviços on-line para fazer
snaps, que desaparecem algumas horas após a publicação. o que precisa, já que os dados não se encontram em um computador
A rede lançou o conceito de “stories”, despertando o interesse específico, mas sim em uma rede.
de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, que diversas vezes tentou ad- Uma vez devidamente conectado ao serviço on-line, é possível
quirir a empresa, mas não obteve sucesso. Assim, o CEO lançou a fun- desfrutar suas ferramentas e salvar todo o trabalho que for feito para
cionalidade nas redes que já haviam sido absorvidas, criando os con- acessá-lo depois de qualquer lugar — é justamente por isso que o seu
correntes WhatsApp Status, Facebook Stories e Instagram Stories. computador estará nas nuvens, pois você poderá acessar os aplicativos
Apesar de não ser uma rede social de nicho, tem um público a partir de qualquer computador que tenha acesso à internet.
bem específico, formado por jovens hiperconectados. Basta pensar que, a partir de uma conexão com a internet, você
pode acessar um servidor capaz de executar o aplicativo desejado,
Skype que pode ser desde um processador de textos até mesmo um jogo
O Skype é um software da Microsoft com funções de videocon- ou um pesado editor de vídeos. Enquanto os servidores executam
ferência, chat, transferência de arquivos e ligações de voz. O serviço um programa ou acessam uma determinada informação, o seu
também opera na modalidade de VoIP, em que é possível efetuar computador precisa apenas do monitor e dos periféricos para que
uma chamada para um telefone comum, fixo ou celular, por um você interaja.
aparelho conectado à internet
Vantagens:
– Não necessidade de ter uma máquina potente, uma vez que
tudo é executado em servidores remotos.
49 https://canaltech.com.br/redes-sociais/tiktok-dicas-e-truques/
50 https://www.tecmundo.com.br/computacao-em-nuvem/738-o-que-e-com-
putacao-em-nuvens-.htm

61
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Possibilidade de acessar dados, arquivos e aplicativos a partir iCloud
de qualquer lugar, bastando uma conexão com a internet para tal O iCloud, serviço de armazenamento da Apple, possuía em um
— ou seja, não é necessário manter conteúdos importantes em um passado recente a ideia principal de sincronizar contatos, e-mails,
único computador. dados e informações de dispositivos iOS. No entanto, recentemente
a empresa também adotou para o iCloud a estratégia de utilizá-lo
Desvantagens: como um serviço de armazenamento na nuvem para usuários iOS.
– Gera desconfiança, principalmente no que se refere à segu- De início, o usuário recebe 5 GB de espaço de maneira gratuita.
rança. Afinal, a proposta é manter informações importantes em um Existem planos pagos para maior capacidade de armazena-
ambiente virtual, e não são todas as pessoas que se sentem à von- mento também.
tade com isso.
– Como há a necessidade de acessar servidores remotos, é pri-
mordial que a conexão com a internet seja estável e rápida, princi-
palmente quando se trata de streaming e jogos.

Exemplos de computação em nuvem


Dropbox
O Dropbox é um serviço de hospedagem de arquivos em nu-
vem que pode ser usado de forma gratuita, desde que respeitado o
limite de 2 GB de conteúdo. Assim, o usuário poderá guardar com
segurança suas fotos, documentos, vídeos, e outros formatos, libe- No entanto, a grande vantagem do iCloud é que ele possui um
rando espaço no PC ou smartphone. sistema muito bem integrado aos seus aparelhos, como o iPhone.
A ferramenta “buscar meu iPhone”, por exemplo, possibilita que
o usuário encontre e bloqueie o aparelho remotamente, além de
poder contar com os contatos e outras informações do dispositivo
caso você o tenha perdido.

Google Drive
Apesar de não disponibilizar gratuitamente o aumento da ca-
pacidade de armazenamento, o Google Drive fornece para os usuá-
rios mais espaço do que os concorrentes ao lado do OneDrive. São
15 GB de espaço para fazer upload de arquivos, documentos, ima-
gens, etc.

Além de servir como ferramenta de backup, o Dropbox tam-


bém é uma forma eficiente de ter os arquivos importantes sempre
acessíveis. Deste modo, o usuário consegue abrir suas mídias e do-
cumentos onde quer que esteja, desde que tenha acesso à Internet.

OneDrive
O OneDrive, que já foi chamado de SkyDrive, é o serviço de ar-
mazenamento na nuvem da Microsoft e oferece inicialmente 15 GB
de espaço para os usuários51. Mas é possível conseguir ainda mais Uma funcionalidade interessante do Google Drive é o seu ser-
espaço gratuitamente indicando amigos e aproveitando diversas viço de pesquisa e busca de arquivos que promete até mesmo re-
promoções que a empresa lança regularmente. conhecer objetos dentro de imagens e textos escaneados. Mesmo
Para conseguir espaço ainda maior, o aplicativo oferece planos que o arquivo seja um bloco de notas ou um texto e você queira
pagos com capacidades variadas também. encontrar algo que esteja dentro dele, é possível utilizar a busca
para procurar palavras e expressões.
Além disso, o serviço do Google disponibiliza que sejam feitas
edições de documentos diretamente do browser, sem precisar fazer
o download do documento e abri-lo em outro aplicativo.

Tipos de implantação de nuvem


Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de nu-
vem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os serviços
cloud contratados serão implementados pela sua gestão de TI52.
Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem:
Para quem gosta de editar documentos como Word, Excel e – Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud
PowerPoint diretamente do gerenciador de arquivos do serviço, terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur-
o OneDrive disponibiliza esse recurso na nuvem para que seja dis- sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento
pensada a necessidade de realizar o download para só então poder via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su-
modificar o conteúdo do arquivo. porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor
de nuvem contratado pela organização.
51 https://canaltech.com.br/computacao-na-nuvem/comparativo-os-principais-
-servicos-de-armazenamento-na-nuvem-22996/ 52 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/

62
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em Além de realizarem manutenções, como atualizações de soft-
nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo ware e aplicação de patch de segurança.
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou Com o software como serviço, os usuários da sua equipe po-
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infraestru- dem conectar o aplicativo pela Internet, normalmente com um na-
tura de computação em nuvem utilizados pela empresa são manti- vegador da web em seu telefone, tablet ou PC.
dos em uma rede privada.
– Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi-
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE GERENCIAMENTO
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu- DE INFORMAÇÕES, ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da
empresa. Pasta
São estruturas que dividem o disco em várias partes de tama-
Tipos de serviços de nuvem nhos variados as quais podem pode armazenar arquivos e outras
A maioria dos serviços de computação em nuvem se enquadra pastas (subpastas)53.
em quatro categorias amplas:
– IaaS (infraestrutura como serviço);
– PaaS (plataforma como serviço);
– Sem servidor;
– SaaS (software como serviço).

Esses serviços podem ser chamados algumas vezes de pilha


da computação em nuvem por um se basear teoricamente sobre
o outro.

IaaS (infraestrutura como serviço)


A IaaS é a categoria mais básica de computação em nuvem.
Com ela, você aluga a infraestrutura de TI de um provedor de servi- Arquivo
ços cloud, pagando somente pelo seu uso. É a representação de dados/informações no computador os
A contratação dos serviços de computação em nuvem IaaS quais ficam dentro das pastas e possuem uma extensão que identi-
(infraestrutura como serviço) envolve a aquisição de servidores e fica o tipo de dado que ele representa.
máquinas virtuais, armazenamento (VMs), redes e sistemas opera-
cionais. Extensões de arquivos

PaaS (plataforma como serviço) EXTENSÃO TIPO


PaaS refere-se aos serviços de computação em nuvem que for-
necem um ambiente sob demanda para desenvolvimento, teste, .jpg, .jpeg, .png, .bpm, .gif, ... Imagem
fornecimento e gerenciamento de aplicativos de software. .xls, .xlsx, .xlsm, ... Planilha
A plataforma como serviço foi criada para facilitar aos desen-
.doc, .docx, .docm, ... Texto formatado
volvedores a criação de aplicativos móveis ou web, tornando-a mui-
to mais rápida. .txt Texto sem formatação
Além de acabar com a preocupação quanto à configuração ou .mp3, .wma, .aac, .wav, ... Áudio
ao gerenciamento de infraestrutura subjacente de servidores, ar-
mazenamento, rede e bancos de dados necessários para desenvol- .mp4, .avi, rmvb, .mov, ... Vídeo
vimento. .zip, .rar, .7z, ... Compactadores
.ppt, .pptx, .pptm, ... Apresentação
Computação sem servidor
A computação sem servidor, assim como a PaaS, concentra-se .exe Executável
na criação de aplicativos, sem perder tempo com o gerenciamento .msl, ... Instalador
contínuo dos servidores e da infraestrutura necessários para isso.
O provedor em nuvem cuida de toda a configuração, planeja- Existem vários tipos de arquivos como arquivos de textos, ar-
mento de capacidade e gerenciamento de servidores para você e quivos de som, imagem, planilhas, etc. Alguns arquivos são univer-
sua equipe. sais podendo ser aberto em qualquer sistema. Mas temos outros
As arquiteturas sem servidor são altamente escalonáveis e que dependem de um programa específico como os arquivos do
controladas por eventos: utilizando recursos apenas quando ocorre Corel Draw que necessita o programa para visualizar. Nós identifi-
uma função ou um evento que desencadeia tal necessidade. camos um arquivo através de sua extensão. A extensão são aquelas
letras que ficam no final do nome do arquivo.
SaaS (software como serviço) Exemplos:
O SaaS é um método para a distribuição de aplicativos de soft- .txt: arquivo de texto sem formatação.
ware pela Internet sob demanda e, normalmente, baseado em as- .html: texto da internet.
sinaturas. .rtf: arquivo do WordPad.
Com o SaaS, os provedores de computação em nuvem hospe- .doc e .docx: arquivo do editor de texto Word com formatação.
dam e gerenciam o aplicativo de software e a infraestrutura subja-
53 https://docente.ifrn.edu.br/elieziosoares/disciplinas/informatica/aula-
cente.
-05-manipulacao-de-arquivos-e-pastas

63
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
É possível alterar vários tipos de arquivos, como um documento do Word (.docx) para o PDF (.pdf) como para o editor de texto do
LibreOffice (.odt). Mas atenção, tem algumas extensões que não são possíveis e caso você tente poderá deixar o arquivo inutilizável.

Nomenclatura dos arquivos e pastas


Os arquivos e pastas devem ter um nome o qual é dado no momento da criação. Os nomes podem conter até 255 caracteres (letras,
números, espaço em branco, símbolos), com exceção de / \ | > < * : “ que são reservados pelo sistema operacional.

Bibliotecas
Criadas para facilitar o gerenciamento de arquivos e pastas, são um local virtual que agregam conteúdo de múltiplos locais em um só.
Estão divididas inicialmente em 4 categorias:
– Documentos;
– Imagens;
– Músicas;
– Vídeos.

Windows Explorer
O Windows Explorer é um gerenciador de informações, arquivos, pastas e programas do sistema operacional Windows da Microsoft54.
Todo e qualquer arquivo que esteja gravado no seu computador e toda pasta que exista nele pode ser vista pelo Windows Explorer.
Possui uma interface fácil e intuitiva.
Na versão em português ele é chamado de Gerenciador de arquivo ou Explorador de arquivos.
O seu arquivo é chamado de Explorer.exe
Normalmente você o encontra na barra de tarefas ou no botão Iniciar > Programas > Acessórios.

54 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/05/conceitos-de-organizacao-e-de-gerenciamento-de-informacoes-arquivos-pastas-e-programas/

64
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Na parte de cima do Windows Explorer você terá acesso a muitas funções de gerenciamento como criar pastas, excluir, renomear, ex-
cluir históricos, ter acesso ao prompt de comando entre outras funcionalidades que aparecem sempre que você selecionar algum arquivo.
A coluna do lado esquerdo te dá acesso direto para tudo que você quer encontrar no computador. As pastas mais utilizadas são as de
Download, documentos e imagens.

Operações básicas com arquivos do Windows Explorer


• Criar pasta: clicar no local que quer criar a pasta e clicar com o botão direito do mouse e ir em novo > criar pasta e nomear ela. Você
pode criar uma pasta dentro de outra pasta para organizar melhor seus arquivos. Caso você queira salvar dentro de uma mesma pasta um
arquivo com o mesmo nome, só será possível se tiver extensão diferente. Ex.: maravilha.png e maravilha.doc
Independente de uma pasta estar vazia ou não, ela permanecerá no sistema mesmo que o computador seja reiniciado
• Copiar: selecione o arquivo com o mouse e clique Ctrl + C e vá para a pasta que quer colar a cópia e clique Ctrl +V. Pode também
clicar com o botão direito do mouse selecionar copiar e ir para o local que quer copiar e clicar novamente como o botão direito do mouse
e selecionar colar.
• Excluir: pode selecionar o arquivo e apertar a tecla delete ou clicar no botão direito do mouse e selecionar excluir
• Organizar: você pode organizar do jeito que quiser como, por exemplo, ícones grandes, ícones pequenos, listas, conteúdos, lista com
detalhes. Estas funções estão na barra de cima em exibir ou na mesma barra do lado direito.
• Movimentar: você pode movimentar arquivos e pastas clicando Ctrl + X no arquivo ou pasta e ir para onde você quer colar o arquivo
e Clicar Ctrl + V ou clicar com o botão direito do mouse e selecionar recortar e ir para o local de destino e clicar novamente no botão direito
do mouse e selecionar colar.

Localizando Arquivos e Pastas


No Windows Explorer tem duas:
Tem uma barra de pesquisa acima na qual você digita o arquivo ou pasta que procura ou na mesma barra tem uma opção de Pesquisar.
Clicando nesta opção terão mais opções para você refinar a sua busca.

Arquivos ocultos
São arquivos que normalmente são relacionados ao sistema. Eles ficam ocultos (invisíveis) por que se o usuário fizer alguma alteração,
poderá danificar o Sistema Operacional.
Apesar de estarem ocultos e não serem exibido pelo Windows Explorer na sua configuração padrão, eles ocupam espaço no disco.

SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO. PROCEDIMENTOS DE SEGURANÇA. NOÇÕES DE VÍRUS, WORMS E PRAGAS VIRTUAIS.


APLICATIVOS PARA SEGURANÇA (ANTIVÍRUS, FIREWALL, ANTI‐SPYWARE ETC.)

Segurança da informação é o conjunto de ações para proteção de um grupo de dados, protegendo o valor que ele possui, seja para um
indivíduo específico no âmbito pessoal, seja para uma organização55.
É essencial para a proteção do conjunto de dados de uma corporação, sendo também fundamentais para as atividades do negócio.
Quando bem aplicada, é capaz de blindar a empresa de ataques digitais, desastres tecnológicos ou falhas humanas. Porém, qualquer
tipo de falha, por menor que seja, abre brecha para problemas.
A segurança da informação se baseia nos seguintes pilares56:
– Confidencialidade: o conteúdo protegido deve estar disponível somente a pessoas autorizadas.
– Disponibilidade: é preciso garantir que os dados estejam acessíveis para uso por tais pessoas quando for necessário, ou seja, de
modo permanente a elas.

55 https://ecoit.com.br/seguranca-da-informacao/
56 https://bit.ly/2E5beRr

65
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Integridade: a informação protegida deve ser íntegra, ou seja, Mecanismos de segurança
sem sofrer qualquer alteração indevida, não importa por quem e Um mecanismo de segurança da informação é uma ação, técni-
nem em qual etapa, se no processamento ou no envio. ca, método ou ferramenta estabelecida com o objetivo de preservar
– Autenticidade: a ideia aqui é assegurar que a origem e auto- o conteúdo sigiloso e crítico para uma empresa.
ria do conteúdo seja mesmo a anunciada. Ele pode ser aplicado de duas formas:
– Controle físico: é a tradicional fechadura, tranca, porta e
Existem outros termos importantes com os quais um profissio- qualquer outro meio que impeça o contato ou acesso direto à infor-
nal da área trabalha no dia a dia. mação ou infraestrutura que dá suporte a ela
Podemos citar a legalidade, que diz respeito à adequação do – Controle lógico: nesse caso, estamos falando de barreiras
conteúdo protegido à legislação vigente; a privacidade, que se re- eletrônicas, nos mais variados formatos existentes, desde um anti-
fere ao controle sobre quem acessa as informações; e a auditoria, vírus, firewall ou filtro anti-spam, o que é de grande valia para evitar
que permite examinar o histórico de um evento de segurança da infecções por e-mail ou ao navegar na internet, passa por métodos
informação, rastreando as suas etapas e os responsáveis por cada de encriptação, que transformam as informações em códigos que
uma delas. terceiros sem autorização não conseguem decifrar e, há ainda, a
certificação e assinatura digital, sobre as quais falamos rapidamente
Alguns conceitos relacionados à aplicação dos pilares no exemplo antes apresentado da emissão da nota fiscal eletrônica.
– Vulnerabilidade: pontos fracos existentes no conteúdo pro-
tegido, com potencial de prejudicar alguns dos pilares de segurança Todos são tipos de mecanismos de segurança, escolhidos por
da informação, ainda que sem intenção profissional habilitado conforme o plano de segurança da informa-
– Ameaça: elemento externo que pode se aproveitar da vulne- ção da empresa e de acordo com a natureza do conteúdo sigiloso.
rabilidade existente para atacar a informação sensível ao negócio.
– Probabilidade: se refere à chance de uma vulnerabilidade ser Criptografia
explorada por uma ameaça. É uma maneira de codificar uma informação para que somen-
– Impacto: diz respeito às consequências esperadas caso o con- te o emissor e receptor da informação possa decifrá-la através de
teúdo protegido seja exposto de forma não autorizada. uma chave que é usada tanto para criptografar e descriptografar a
– Risco: estabelece a relação entre probabilidade e impacto, informação58.
ajudando a determinar onde concentrar investimentos em seguran- Tem duas maneiras de criptografar informações:
ça da informação. • Criptografia simétrica (chave secreta): utiliza-se uma chave
secreta, que pode ser um número, uma palavra ou apenas uma
Tipos de ataques sequência de letras aleatórias, é aplicada ao texto de uma mensa-
Cada tipo de ataque tem um objetivo específico, que são eles57: gem para alterar o conteúdo de uma determinada maneira. Tanto
– Passivo: envolve ouvir as trocas de comunicações ou gravar o emissor quanto o receptor da mensagem devem saber qual é a
de forma passiva as atividades do computador. Por si só, o ataque chave secreta para poder ler a mensagem.
passivo não é prejudicial, mas a informação coletada durante a ses- • Criptografia assimétrica (chave pública): tem duas chaves
são pode ser extremamente prejudicial quando utilizada (adultera- relacionadas. Uma chave pública é disponibilizada para qualquer
ção, fraude, reprodução, bloqueio). pessoa que queira enviar uma mensagem. Uma segunda chave pri-
– Ativos: neste momento, faz-se a utilização dos dados cole- vada é mantida em segredo, para que somente você saiba.
tados no ataque passivo para, por exemplo, derrubar um sistema, Qualquer mensagem que foi usada a chave púbica só poderá
infectar o sistema com malwares, realizar novos ataques a partir da ser descriptografada pela chave privada.
máquina-alvo ou até mesmo destruir o equipamento (Ex.: intercep- Se a mensagem foi criptografada com a chave privada, ela só
tação, monitoramento, análise de pacotes). poderá ser descriptografada pela chave pública correspondente.
A criptografia assimétrica é mais lenta o processamento para
Política de Segurança da Informação criptografar e descriptografar o conteúdo da mensagem.
Este documento irá auxiliar no gerenciamento da segurança Um exemplo de criptografia assimétrica é a assinatura digital.
da organização através de regras de alto nível que representam os • Assinatura Digital: é muito usado com chaves públicas e per-
princípios básicos que a entidade resolveu adotar de acordo com mitem ao destinatário verificar a autenticidade e a integridade da
a visão estratégica da mesma, assim como normas (no nível táti- informação recebida. Além disso, uma assinatura digital não permi-
co) e procedimentos (nível operacional). Seu objetivo será manter te o repúdio, isto é, o emitente não pode alegar que não realizou a
a segurança da informação. Todos os detalhes definidos nelas serão ação. A chave é integrada ao documento, com isso se houver algu-
para informar sobre o que pode e o que é proibido, incluindo: ma alteração de informação invalida o documento.
• Política de senhas: define as regras sobre o uso de senhas nos • Sistemas biométricos: utilizam características físicas da pes-
recursos computacionais, como tamanho mínimo e máximo, regra soa como os olhos, retina, dedos, digitais, palma da mão ou voz.
de formação e periodicidade de troca.
• Política de backup: define as regras sobre a realização de có- Firewall
pias de segurança, como tipo de mídia utilizada, período de reten- Firewall ou “parede de fogo” é uma solução de segurança ba-
ção e frequência de execução. seada em hardware ou software (mais comum) que, a partir de um
• Política de privacidade: define como são tratadas as infor- conjunto de regras ou instruções, analisa o tráfego de rede para
mações pessoais, sejam elas de clientes, usuários ou funcionários. determinar quais operações de transmissão ou recepção de dados
• Política de confidencialidade: define como são tratadas as podem ser executadas. O firewall se enquadra em uma espécie de
informações institucionais, ou seja, se elas podem ser repassadas barreira de defesa. A sua missão, por assim dizer, consiste basica-
a terceiros. mente em bloquear tráfego de dados indesejado e liberar acessos
bem-vindos.
57 https://www.diegomacedo.com.br/modelos-e-mecanismos-de-seguranca- 58 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-protecao-e-se-
-da-informacao/ guranca-da-informacao-parte-2/

66
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Representação de um firewall.59

Formas de segurança e proteção


– Controles de acesso através de senhas para quem acessa, com autenticação, ou seja, é a comprovação de que uma pessoa que está
acessando o sistema é quem ela diz ser60.
– Se for empresa e os dados a serem protegidos são extremamente importantes, pode-se colocar uma identificação biométrica como
os olhos ou digital.
– Evitar colocar senhas com dados conhecidos como data de nascimento ou placa do seu carro.
– As senhas ideais devem conter letras minúsculas e maiúsculas, números e caracteres especiais como @ # $ % & *.
– Instalação de antivírus com atualizações constantes.
– Todos os softwares do computador devem sempre estar atualizados, principalmente os softwares de segurança e sistema operacio-
nal. No Windows, a opção recomendada é instalar atualizações automaticamente.
– Dentre as opções disponíveis de configuração qual opção é a recomendada.
– Sempre estar com o firewall ativo.
– Anti-spam instalados.
– Manter um backup para caso de pane ou ataque.
– Evite sites duvidosos.
– Não abrir e-mails de desconhecidos e principalmente se tiver anexos (link).
– Evite ofertas tentadoras por e-mail ou em publicidades.
– Tenha cuidado quando solicitado dados pessoais. Caso seja necessário, fornecer somente em sites seguros.
– Cuidado com informações em redes sociais.
– Instalar um anti-spyware.
– Para se manter bem protegido, além dos procedimentos anteriores, deve-se ter um antivírus instalado e sempre atualizado.

Códigos maliciosos (Malware)


Códigos maliciosos (malware) são programas especificamente desenvolvidos para executar ações danosas e atividades maliciosas em
um computador61. Algumas das diversas formas como os códigos maliciosos podem infectar ou comprometer um computador são:
– Pela exploração de vulnerabilidades existentes nos programas instalados;
– Pela autoexecução de mídias removíveis infectadas, como pen-drives;
– Pelo acesso a páginas Web maliciosas, utilizando navegadores vulneráveis;
– Pela ação direta de atacantes que, após invadirem o computador, incluem arquivos contendo códigos maliciosos;
– Pela execução de arquivos previamente infectados, obtidos em anexos de mensagens eletrônicas, via mídias removíveis, em páginas
Web ou diretamente de outros computadores (através do compartilhamento de recursos).

Uma vez instalados, os códigos maliciosos passam a ter acesso aos dados armazenados no computador e podem executar ações em
nome dos usuários, de acordo com as permissões de cada usuário.
Os principais motivos que levam um atacante a desenvolver e a propagar códigos maliciosos são a obtenção de vantagens financeiras,
a coleta de informações confidenciais, o desejo de autopromoção e o vandalismo. Além disto, os códigos maliciosos são muitas vezes usa-
dos como intermediários e possibilitam a prática de golpes, a realização de ataques e a disseminação de spam (mais detalhes nos Capítulos
Golpes na Internet, Ataques na Internet e Spam, respectivamente).
A seguir, serão apresentados os principais tipos de códigos maliciosos existentes.

Vírus
Vírus é um programa ou parte de um programa de computador, normalmente malicioso, que se propaga inserindo cópias de si mesmo
e se tornando parte de outros programas e arquivos.
Para que possa se tornar ativo e dar continuidade ao processo de infecção, o vírus depende da execução do programa ou arquivo hos-
pedeiro, ou seja, para que o seu computador seja infectado é preciso que um programa já infectado seja executado.

59 Fonte: https://helpdigitalti.com.br/o-que-e-firewall-conceito-tipos-e-arquiteturas/#:~:text=Firewall%20%C3%A9%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20
de,de%20dados%20podem%20ser%20executadas.
60 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-protecao-e-seguranca-da-informacao-parte-3/
61 https://cartilha.cert.br/malware/

67
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O principal meio de propagação de vírus costumava ser os Algumas das ações maliciosas que costumam ser executadas
disquetes. Com o tempo, porém, estas mídias caíram em desuso e por intermédio de botnets são: ataques de negação de serviço,
começaram a surgir novas maneiras, como o envio de e-mail. Atual- propagação de códigos maliciosos (inclusive do próprio bot), coleta
mente, as mídias removíveis tornaram-se novamente o principal de informações de um grande número de computadores, envio de
meio de propagação, não mais por disquetes, mas, principalmente, spam e camuflagem da identidade do atacante (com o uso de pro-
pelo uso de pen-drives. xies instalados nos zumbis).
Há diferentes tipos de vírus. Alguns procuram permanecer ocul-
tos, infectando arquivos do disco e executando uma série de ativi- Spyware
dades sem o conhecimento do usuário. Há outros que permanecem Spyware é um programa projetado para monitorar as ativida-
inativos durante certos períodos, entrando em atividade apenas em des de um sistema e enviar as informações coletadas para terceiros.
datas específicas. Alguns dos tipos de vírus mais comuns são: Pode ser usado tanto de forma legítima quanto maliciosa, de-
– Vírus propagado por e-mail: recebido como um arquivo ane- pendendo de como é instalado, das ações realizadas, do tipo de
xo a um e-mail cujo conteúdo tenta induzir o usuário a clicar sobre informação monitorada e do uso que é feito por quem recebe as
este arquivo, fazendo com que seja executado. informações coletadas. Pode ser considerado de uso:
– Vírus de script: escrito em linguagem de script, como VBS- – Legítimo: quando instalado em um computador pessoal, pelo
cript e JavaScript, e recebido ao acessar uma página Web ou por próprio dono ou com consentimento deste, com o objetivo de veri-
e-mail, como um arquivo anexo ou como parte do próprio e-mail ficar se outras pessoas o estão utilizando de modo abusivo ou não
escrito em formato HTML. autorizado.
– Vírus de macro: tipo específico de vírus de script, escrito em – Malicioso: quando executa ações que podem comprometer
linguagem de macro, que tenta infectar arquivos manipulados por a privacidade do usuário e a segurança do computador, como mo-
aplicativos que utilizam esta linguagem como, por exemplo, os que nitorar e capturar informações referentes à navegação do usuário
compõe o Microsoft Office (Excel, Word e PowerPoint, entre ou- ou inseridas em outros programas (por exemplo, conta de usuário
tros). e senha).
– Vírus de telefone celular: vírus que se propaga de celular para Alguns tipos específicos de programas spyware são:
celular por meio da tecnologia bluetooth ou de mensagens MMS – Keylogger: capaz de capturar e armazenar as teclas digitadas
(Multimedia Message Service). A infecção ocorre quando um usuá- pelo usuário no teclado do computador.
rio permite o recebimento de um arquivo infectado e o executa. – Screenlogger: similar ao keylogger, capaz de armazenar a po-
sição do cursor e a tela apresentada no monitor, nos momentos em
Worm que o mouse é clicado, ou a região que circunda a posição onde o
Worm é um programa capaz de se propagar automaticamen- mouse é clicado.
te pelas redes, enviando cópias de si mesmo de computador para – Adware: projetado especificamente para apresentar propa-
computador. gandas.
Diferente do vírus, o worm não se propaga por meio da inclu-
são de cópias de si mesmo em outros programas ou arquivos, mas Backdoor
sim pela execução direta de suas cópias ou pela exploração auto- Backdoor é um programa que permite o retorno de um invasor
mática de vulnerabilidades existentes em programas instalados em a um computador comprometido, por meio da inclusão de serviços
computadores. criados ou modificados para este fim.
Worms são notadamente responsáveis por consumir muitos Pode ser incluído pela ação de outros códigos maliciosos, que
recursos, devido à grande quantidade de cópias de si mesmo que tenham previamente infectado o computador, ou por atacantes,
costumam propagar e, como consequência, podem afetar o desem- que exploram vulnerabilidades existentes nos programas instalados
penho de redes e a utilização de computadores. no computador para invadi-lo.
Após incluído, o backdoor é usado para assegurar o acesso fu-
Bot e botnet turo ao computador comprometido, permitindo que ele seja aces-
Bot é um programa que dispõe de mecanismos de comunicação sado remotamente, sem que haja necessidade de recorrer nova-
com o invasor que permitem que ele seja controlado remotamente. mente aos métodos utilizados na realização da invasão ou infecção
Possui processo de infecção e propagação similar ao do worm, ou e, na maioria dos casos, sem que seja notado.
seja, é capaz de se propagar automaticamente, explorando vulne-
rabilidades existentes em programas instalados em computadores. Cavalo de troia (Trojan)
A comunicação entre o invasor e o computador infectado pelo Cavalo de troia, trojan ou trojan-horse, é um programa que,
bot pode ocorrer via canais de IRC, servidores Web e redes do tipo além de executar as funções para as quais foi aparentemente proje-
P2P, entre outros meios. Ao se comunicar, o invasor pode enviar tado, também executa outras funções, normalmente maliciosas, e
instruções para que ações maliciosas sejam executadas, como des- sem o conhecimento do usuário.
ferir ataques, furtar dados do computador infectado e enviar spam. Exemplos de trojans são programas que você recebe ou obtém
Um computador infectado por um bot costuma ser chamado de de sites na Internet e que parecem ser apenas cartões virtuais ani-
zumbi (zombie computer), pois pode ser controlado remotamente, mados, álbuns de fotos, jogos e protetores de tela, entre outros.
sem o conhecimento do seu dono. Também pode ser chamado de
Estes programas, geralmente, consistem de um único arquivo e ne-
spam zombie quando o bot instalado o transforma em um servidor
cessitam ser explicitamente executados para que sejam instalados
de e-mails e o utiliza para o envio de spam.
no computador.
Botnet é uma rede formada por centenas ou milhares de com-
Trojans também podem ser instalados por atacantes que, após
putadores zumbis e que permite potencializar as ações danosas
invadirem um computador, alteram programas já existentes para
executadas pelos bots.
que, além de continuarem a desempenhar as funções originais,
Quanto mais zumbis participarem da botnet mais potente ela
também executem ações maliciosas.
será. O atacante que a controlar, além de usá-la para seus próprios
ataques, também pode alugá-la para outras pessoas ou grupos que
desejem que uma ação maliciosa específica seja executada.

68
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Rootkit talados, permitem que spammers utilizem a máquina para o envio
Rootkit é um conjunto de programas e técnicas que permite de spam, sem o conhecimento do usuário. Enquanto utilizam má-
esconder e assegurar a presença de um invasor ou de outro código quinas comprometidas para executar suas atividades, dificultam a
malicioso em um computador comprometido. identificação da origem do spam e dos autores também. Os spam
Rootkits inicialmente eram usados por atacantes que, após in- zombies são muito explorados pelos spammers, por proporcionar o
vadirem um computador, os instalavam para manter o acesso pri- anonimato que tanto os protege.
vilegiado, sem precisar recorrer novamente aos métodos utilizados Estes filtros são responsáveis por evitar que mensagens indese-
na invasão, e para esconder suas atividades do responsável e/ou jadas cheguem até a sua caixa de entrada no e-mail.
dos usuários do computador. Apesar de ainda serem bastante usa-
dos por atacantes, os rootkits atualmente têm sido também utili- Anti-malwares
zados e incorporados por outros códigos maliciosos para ficarem Ferramentas anti-malware são aquelas que procuram detectar
ocultos e não serem detectados pelo usuário e nem por mecanis- e, então, anular ou remover os códigos maliciosos de um computa-
mos de proteção. dor. Antivírus, anti-spyware, anti-rootkit e anti-trojan são exemplos
de ferramentas deste tipo.
Ransomware
Ransomware é um tipo de código malicioso que torna inacessí-
veis os dados armazenados em um equipamento, geralmente usan- PROCEDIMENTOS DE BACKUP
do criptografia, e que exige pagamento de resgate (ransom) para
restabelecer o acesso ao usuário62.
O pagamento do resgate geralmente é feito via bitcoins. Backup é uma cópia de segurança que você faz em outro dis-
Pode se propagar de diversas formas, embora as mais comuns positivo de armazenamento como HD externo, armazenamento na
sejam através de e-mails com o código malicioso em anexo ou que nuvem ou pen drive por exemplo, para caso você perca os dados
induzam o usuário a seguir um link e explorando vulnerabilidades originais de sua máquina devido a vírus, dados corrompidos ou ou-
em sistemas que não tenham recebido as devidas atualizações de tros motivos e assim possa restaurá-los (recuperá-los)63.
segurança. Backups são extremamente importantes, pois permitem64:
• Proteção de dados: você pode preservar seus dados para que
Antivírus sejam recuperados em situações como falha de disco rígido, atua-
O antivírus é um software de proteção do computador que eli- lização malsucedida do sistema operacional, exclusão ou substitui-
mina programas maliciosos que foram desenvolvidos para prejudi- ção acidental de arquivos, ação de códigos maliciosos/atacantes e
car o computador. furto/perda de dispositivos.
O vírus infecta o computador através da multiplicação dele (có- • Recuperação de versões: você pode recuperar uma versão
pias) com intenção de causar danos na máquina ou roubar dados. antiga de um arquivo alterado, como uma parte excluída de um tex-
O antivírus analisa os arquivos do computador buscando pa- to editado ou a imagem original de uma foto manipulada.
drões de comportamento e códigos que não seriam comuns em
algum tipo de arquivo e compara com seu banco de dados. Com Muitos sistemas operacionais já possuem ferramentas de
isto ele avisa o usuário que tem algo suspeito para ele tomar pro- backup e recuperação integradas e também há a opção de instalar
vidência. programas externos. Na maioria dos casos, ao usar estas ferramen-
O banco de dados do antivírus é muito importante neste pro- tas, basta que você tome algumas decisões, como:
cesso, por isso, ele deve ser constantemente atualizado, pois todos • Onde gravar os backups: podem ser usadas mídias (como CD,
os dias são criados vírus novos.
DVD, pen-drive, disco de Blu-ray e disco rígido interno ou externo)
Uma grande parte das infecções de vírus tem participação do
ou armazená-los remotamente (on-line ou off-site). A escolha de-
usuário. Os mais comuns são através de links recebidos por e-mail
pende do programa de backup que está sendo usado e de ques-
ou download de arquivos na internet de sites desconhecidos ou
tões como capacidade de armazenamento, custo e confiabilidade.
mesmo só de acessar alguns sites duvidosos pode acontecer uma
Um CD, DVD ou Blu-ray pode bastar para pequenas quantidades de
contaminação.
dados, um pen-drive pode ser indicado para dados constantemen-
Outro jeito de contaminar é através de dispositivos de armaze-
te modificados, ao passo que um disco rígido pode ser usado para
namentos móveis como HD externo e pen drive. Nestes casos de-
vem acionar o antivírus para fazer uma verificação antes. grandes volumes que devam perdurar.
Existem diversas opções confiáveis, tanto gratuitas quanto pa- • Quais arquivos copiar: apenas arquivos confiáveis e que
gas. Entre as principais estão: tenham importância para você devem ser copiados. Arquivos de
– Avast; programas que podem ser reinstalados, geralmente, não precisam
– AVG; ser copiados. Fazer cópia de arquivos desnecessários pode ocupar
– Norton; espaço inutilmente e dificultar a localização dos demais dados. Mui-
– Avira; tos programas de backup já possuem listas de arquivos e diretórios
– Kaspersky; recomendados, podendo optar por aceitá-las ou criar suas próprias
– McAffe. listas.
• Com que periodicidade realizar: depende da frequência com
Filtro anti-spam que os arquivos são criados ou modificados. Arquivos frequente-
Spam é o termo usado para referir-se aos e-mails não solici- mente modificados podem ser copiados diariamente ao passo que
tados, que geralmente são enviados para um grande número de aqueles pouco alterados podem ser copiados semanalmente ou
pessoas. mensalmente.
Spam zombies são computadores de usuários finais que foram
comprometidos por códigos maliciosos em geral, como worms,
63 https://centraldefavoritos.com.br/2017/07/02/procedimentos-de-
bots, vírus e cavalos de tróia. Estes códigos maliciosos, uma vez ins-
-backup/
62 https://cartilha.cert.br/ransomware/ 64 https://cartilha.cert.br/mecanismos/

69
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Tipos de backup Desvantagens
• Backups completos (normal): cópias de todos os arquivos, - O acesso depende exclusivamente da internet, portanto, a co-
independente de backups anteriores. Conforma a quantidade de nexão deve ser de qualidade;
dados ele pode ser é um backup demorado. Ele marca os arquivos - Companhias de grande porte precisam ter políticas de segu-
copiados. rança para preservar a integridade dos arquivos;
• Backups incrementais: é uma cópia dos dados criados e al- - Geralmente, os servidores estão no exterior, o que sujeita
terados desde o último backup completo (normal) ou incremental, seus dados à legislação local.
ou seja, cópia dos novos arquivos criados. Por ser mais rápidos e
ocupar menos espaço no disco ele tem maior frequência de backup. Tipos de armazenamento em nuvem
Ele marca os arquivos copiados. Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de
• Backups diferenciais: da mesma forma que o backup incre- nuvem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os ser-
mental, o backup diferencial só copia arquivos criados ou alterados viços cloud contratados serão implementados pela sua gestão de
desde o último backup completo (normal), mas isso pode variar em TI67.
diferentes programas de backup. Juntos, um backup completo e Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem:
um backup diferencial incluem todos os arquivos no computador, • Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud
alterados e inalterados. No entanto, a diferença deste para o incre- terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur-
mental é que cada backup diferencial mapeia as modificações em sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento
relação ao último backup completo. Ele é mais seguro na manipula- via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su-
ção de dados. Ele não marca os arquivos copiados. porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor
• Arquivamento: você pode copiar ou mover dados que deseja de nuvem contratado pela organização.
ou que precisa guardar, mas que não são necessários no seu dia a • Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em
dia e que raramente são alterados. nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infraestru-
tura de computação em nuvem utilizados pela empresa são manti-
ARMAZENAMENTO DE DADOS NA NUVEM (CLOUD dos em uma rede privada.
STORAGE) • Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi-
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu-
O armazenamento de dados na nuvem é quando guardamos
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar
informações na internet através de um provedor de serviços na nu-
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da
vem que gerencia o armazenamento dos dados65.
empresa.
Com este serviço, são eliminados custos com infraestrutura de
armazenamento físico de dados. Além disso, pode-se acessar do- Software para armazenamento em nuvem
cumentos em qualquer lugar ou dispositivo (todos sincronizados). Software de armazenamento cloud são sites, alguns deles vin-
Estes provedores de armazenamento cobram um valor propor- culados a provedores de e-mail e aplicações de escritório, como
cional ao tamanho da necessidade, mantendo os dados seguros. o Google Drive (Google), o One Drive (Microsoft) e o Dropbox. A
Você pode acessar seus dados na nuvem através de protoco- maioria dos sites disponibiliza o serviço gratuitamente e o usuário
los como o SOAP (Simple Object Access Protocol), protocolo desti- paga apenas se contratar planos para expandir a capacidade.
nado à circulação de informações estruturadas entre plataformas
distribuídas e descentralizadas ou usando uma API (Application
Programming Interface, traduzindo, Interface de Programação de
Aplicações) que integra os sistemas que tem linguagens diferentes
EXERCÍCIOS
de maneira rápida e segura.
1. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ/SC - MÉDICO VETERINÁRIO - IE-
Benefícios do armazenamento na nuvem SES/2019) Dentre as utilidades dos serviços de cloud storage (arma-
- Diminuição do custo de hardware para armazenamento, só é zenagem na nuvem), assinale a alternativa INCORRETA:
pago o que realmente necessita e ainda é fácil e rápido aumentar o (A) Acessar arquivos quando estiver sem acesso à internet.
espaço caso necessite; (B) Compartilhar arquivos com os pares.
- As empresas pagam pela capacidade de armazenamento que (C) Acessar arquivos quando não se está no local do seu com-
realmente precisam66; putador, como por exemplo fora do escritório ou em viagens.
- Implantação rápida e fácil; (D) Fazer backup de dados.
- Possibilidade de expandir ou diminuir o espaço por sazonali-
dade; 2. (PREFEITURA DE SÃO/SC - ANALISTA JURÍDICO - IESES/2019)
- Quem contrata gerencia a nuvem diretamente; O armazenamento em cloud ou armazenamento na nuvem, tornou-
- A empresa contratada cuida da manutenção do sistema, -se bastante popular nos últimos anos. Sobre ele, é INCORRETO afir-
backup e replicação dos dados, aquisição de dispositivos para ar- mar que:
mazenamentos extras; (A) Possui restrições de local no acesso dos dados. Podendo
- É uma ferramenta de gestão de dados, pois, estes são arma- ser acessado somente na rede interna da empresa.
zenados de forma organizada. Com uma conexão estável, o acesso (B) Armazena dados na Internet por meio de um provedor de
e compartilhamento é fácil e rápido. computação na nuvem, que gerencia e opera o armazenamen-
to físico de dados como serviço.
(C) É útil pois nem sempre é fácil estimar a quantidade de
65 https://centraldefavoritos.com.br/2018/12/31/armazenamento-de-dados- armazenamento que sua você precisará.
-na-nuvem-cloud-storage/
66 http://www.infortrendbrasil.com.br/cloud-storage/ 67 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/

70
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
(D) Com o armazenamento na nuvem, não é necessário adqui- 6. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ DOS CORDEIROS/PB - TÉCNICO
rir hardware. EM ENFERMAGEM - CPCON/2019) Sobre a computação em nuvem,
assinale a alternativa que apresenta FALSA informação.
3. (CONSÓRCIO DO TRAIRÍ/RN - AGENTE ADMINISTRATIVO (A) Reduz os custos do usuário na aquisição de hardware e
- FUNCERN/2018) Perder arquivos de HD e pen drive é muito co- software.
mum, nos dias de hoje, para evitar a perda de dados importantes, (B) Fornece diversos serviços de computação, dentre os quais,
algumas pessoas utilizarem o serviço de armazenamento na nu- banco de dados, servidores e softwares.
vem. São exemplos de armazenamento em nuvem: (C) O IaaS (infraestrutura como serviço) é uma categoria de
(A) One Drive e Google Talk. serviços de computação em nuvem, responsável pela distri-
(B) Telegram e Dropbox. buição de aplicativos de software pela Internet sob demanda
(C) Google Drive e One Drive. e, normalmente, baseado em assinaturas.
(D) Linkedin e Dropbox. (D) O PaaS (plataforma como serviço) refere-se aos serviços
de computação em nuvem que fornecem um ambiente sob
4. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR- demanda para desenvolvimento, teste, fornecimento e geren-
SOS/2018) São considerados modelos de implantação de compu- ciamento de aplicativos de software.
tação em nuvem: (E) Permite acesso remoto às informações.
I- Nuvem privada (private clouds): compreende uma infraes-
trutura de nuvem operada publicamente por uma organização. Os 7. (IF/GO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - CS-UFG/2018)
serviços são oferecidos para serem utilizados internamente pela Dentre as principais suítes de aplicativos para escritório estão o Li-
própria organização, não estando disponíveis publicamente para breOffice, o Microsoft Office, o iWork e o Google Docs. O LibreOf-
uso geral. fice 6.1 nomeia, respectivamente, o seu programa de planilhas e
II- Nuvem comunidade (community cloud): fornece uma in- a sua ferramenta para criação de apresentações multimídias como
fraestrutura compartilhada por uma comunidade de organizações (A) Spreadsheet, Presentation.
com interesses em comum. (B) Excel e Power Point.
III- Nuvem pública (public cloud): a nuvem é disponibilizada (C) Numbers e Keynote.
publicamente através do modelo pay-per-use. Tipicamente, são (D) Calc e Impress.
oferecidas por companhias que possuem grandes capacidades de
armazenamento e processamento. 8. (IF/TO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - IF/TO/2019)
IV- Nuvem híbrida (hybrid cloud): a infraestrutura é uma com- Quais são as extensões-padrão dos arquivos gerados pelo LibreOffi-
posição de duas ou mais nuvens (privada, comunidade ou pública) ce Writer e LibreOffice Calc, ambos na versão 5.2, respectivamente?
que continuam a ser entidades públicas, porém, conectadas através (A) .odt e .ods
de tecnologia proprietária ou padronizada. (B) .odt e .odg
(C) .ods e .odp
Está correto o contido: (D) .odb e .otp
(A) Apenas na opção I. (E) .ods e .otp
(B) Apenas na opção II.
(C)Apenas nas opções II e III. 9. (UFPEL - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - UFPEL-
(D) Nas opções I, II e III. -CES/2019) Analise as afirmações:
I) O Calc do LibreOffice funciona no Linux mas não no Windows.
5. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR- II) O LibreOffice tem Editor de Texto e Planilha Eletrônica, mas
SOS/2018) O modelo de computação em nuvem é composto por não tem Banco de Dados.
algumas características essenciais, dentre elas: III) A planilha eletrônica do LibreOffice é o Writer.
I- Serviço sob-demanda: as funcionalidades computacionais IV) Arquivos gerados no Calc do LibreOffice no ambiente Linux
são providas automaticamente sem a interação humana com o pro- podem ser abertos pelo Microsoft Excel no ambiente Windows.
vedor do serviço.
II- Amplo acesso aos serviços: os recursos computacionais es- Está(ão) correta(s),
tão disponíveis através da Internet e são acessados via mecanismos (A) III e IV, apenas.
padronizados para que possam ser utilizados por dispositivos mó- (B) I e II, apenas.
veis e portáteis, computadores, etc. (C) II e IV, apenas.
III- Resource pooling: os recursos computacionais (físicos ou (D) IV, apenas.
virtuais) do provedor são utilizados para servir a múltiplos usuários, (E) I, apenas.
sendo alocados e realocados dinamicamente conforme a demanda
do usuário. Nesse cenário, o usuário do serviço não tem a noção da 10. (BANCO DA AMAZÔNIA - TÉCNICO BANCÁRIO - CESGRAN-
localização exata do recurso, mas deve ser capaz de definir a locali- RIO/2018) A imagem abaixo foi extraída da barra de ferramentas
zação em um nível mais alto (país, estado, região). do LibreOffice:

Está correto o contido:


(A) Apenas na opção I.
(B) Apenas na opção II.
(C) Apenas nas opções II e III.
(D) Nas opções I, II e III.
Essa ferramenta é utilizada para
(A) apagar parte da figura.
(B) apagar parte do texto.

71
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
(C) pintar uma área de texto. ( ) A sequência de operações “recortar” e “colar” transfere um
(D) pintar uma área de figura. arquivo de pasta.
(E) copiar a formatação. ( ) A sequência de operações “copiar” e “colar” duplica um ar-
quivo em outra pasta.
11. (CÂMARA MUNICIPAL DE ELDORADO DO SUL/RS - ANALIS-
TA LEGISLATIVO - FUNDATEC/2018) Os operadores matemáticos do Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
software Calc do pacote LibreOffice 5, responsáveis por executar a (A) F F F.
potência e divisão, são, respectivamente: (B) F V V.
(A) ^ / (C) V F V.
(B) * ^ (D) V V F.
(C) * :
(D) ^ : 16. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE AD-
(E) * / MINISTRATIVO - COTEC/2020) Em observação aos conceitos e com-
ponentes de e-mail, faça a relação da denominação de item, pre-
12. (CS-UFG - TÉCNICO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO - sente na 1.ª coluna, com a sua definição, na 2.ª coluna.
CS-UFG/2018) Durante a elaboração de uma apresentação utilizan- Item
do o LibreOffice Impress no Linux Ubuntu, um usuário quer definir 1- Spam
alguns elementos de um slide, como, por exemplo, cores e fontes, 2- IMAP
de uma forma que fiquem padronizados e sejam mostrados em to- 3- Cabeçalho
dos os slides. Qual recurso pode ser usado neste caso? 4- Gmail
(A) Formatação.
(B) Slide root. Definição
(C) Classificador de slides. ( ) Protocolo de gerenciamento de correio eletrônico.
(D) Slide mestre. ( ) Um serviço gratuito de webmail.
( ) Mensagens de e-mail não desejadas e enviadas em massa
13. (PREFEITURA DE EDÉIA/GO - TÉCNICO DE ENFERMAGEM para múltiplas pessoas.
- ITAME/2020) Em relação a arquivos e pastas no sistema operacio- ( ) Uma das duas seções principais das mensagens de e-mail.
nal Windows é correto afirmar:
(A) a extensão da Pasta no Windows é .EXE; A alternativa CORRETA para a correspondência entre colunas é:
(B) arquivos com extensão .xlsx são próprio do Power Point; (A) 1, 2, 3, 4.
(C) a estrutura de uma Pasta pode ser composta com Pastas e (B) 3, 1, 2, 4.
Subpastas; (C) 2, 1, 4, 3.
(D) arquivos com extensão .docx podem ser abertos pelo (D) 2, 4, 1, 3.
software PAINT. (E) 1, 3, 4, 2.

14. (PREFEITURA DE BRASÍLIA DE MINAS/MG - ENGENHEIRO 17. (PREFEITURA DE BRASÍLIA DE MINAS/MG - ENGENHEIRO
AMBIENTAL - COTEC/2020) Acerca do Windows Explorer, analise as AMBIENTAL - COTEC/2020) LEIA as afirmações a seguir:
seguintes afirmações e assinale V para as verdadeiras e F para as I - É registrada a data e a hora de envio da mensagem.
falsas. II - As mensagens devem ser lidas periodicamente para não
( ) - A partir da versão do Windows 10 em diante, a ferramenta acumular.
Windows Explorer passou a se chamar Navegador de Arquivos. III - Não indicado para assuntos confidenciais.
( ) - É considerada uma das ferramentas mais importantes do IV - Utilizada para comunicações internacionais e regionais,
Sistema Operacional Windows. economizando despesas com telefone e evitando problemas com
( ) - Existem basicamente três formas de acessá-lo: no Menu fuso horário.
Iniciar, acionando as teclas do Windows + a letra E ou clicando no V - As mensagens podem ser arquivadas e armazenadas, per-
ícone com o desenho de uma pasta, localizada na Barra de Tarefas. mitindo-se fazer consultas posteriores.
( ) - Tem recebido novos incrementos a cada nova versão, pas-
sando a oferecer também suporte a novos recursos, como reprodu- São vantagens do correio eletrônico aquelas dispostas em ape-
ção de áudio e vídeo. nas:
( ) - Trata-se de uma espécie de pasta utilizada somente para (A) I, IV e V.
movimentar os arquivos do computador. (B) I, III e IV.
(C) II, III e V.
A sequência CORRETA das afirmações é (D) II, IV e V.
(A) F, V, F, V, F. (E) III, IV e V.
(B) V, F, F, V, V.
(C) F, V, V, V, F. 18. (PREFEITURA DE AREAL - RJ - TÉCNICO EM INFORMÁTICA -
(D) F, V, F, F, V. GUALIMP/2020) São características exclusivas da Intranet:
(A) Acesso restrito e Rede Local (LAN).
15. (PREFEITURA DE SANTA LUZIA/MG - ARQUIVISTA - (B) Rede Local (LAN) e Compartilhamento de impressoras.
IBGP/2018) Sobre as operações de manipulação de pastas e arqui- (C) Comunicação externa e Compartilhamento de Dados.
vos no Windows 7, assinale V para afirmativas verdadeiras e F para (D) Compartilhamento de impressoras e Acesso restrito.
as falsas.
( ) A operação “mover pasta para” equivale à sequência de ope-
rações “copiar” e “colar”.

72
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
19. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE AD- 24. (RIOPRETOPREV - ANALISTA PREVIDENCIÁRIO - FCC/2019)
MINISTRATIVO - COTEC/2020) Os termos internet e World Wide O computador de um usuário foi infectado por um ransomware, um
Web (WWW) são frequentemente usados como sinônimos na lin- tipo de malware que:
guagem corrente, e não são porque (A) torna inacessíveis os dados armazenados no computador,
(A) a internet é uma coleção de documentos interligados (pá- geralmente usando criptografia, e exige pagamento de resgate
ginas web) e outros recursos, enquanto a WWW é um serviço (via bitcoins) para restabelecer o acesso ao usuário.
de acesso a um computador. (B) após identificar potenciais computadores alvos, efetua có-
(B) a internet é um conjunto de serviços que permitem a co- pias de si mesmo e tenta enviá-las para estes computadores,
nexão de vários computadores, enquanto WWW é um serviço por e-mail, chat etc.
especial de acesso ao Google. (C) monitora e captura informações referentes à navegação ou
(C) a internet é uma rede mundial de computadores especial, digitação do usuário, e envia estas informações ao atacante.
enquanto a WWW é apenas um dos muitos serviços que fun- (D) assegura o acesso futuro do atacante ao computador com-
cionam dentro da internet. prometido, permitindo que ele seja acessado remotamente
(D) a internet possibilita uma comunicação entre vários por meio do protocolo Telnet.
computadores, enquanto a WWW, o acesso a um endereço (E) torna o computador um zumbi, sendo controlado remota-
eletrônico. mente e desferindo automaticamente ataques de negação de
(E) a internet é uma coleção de endereços eletrônicos, en- serviço a redes e servidores determinados pelo atacante.
quanto a WWW é uma rede mundial de computadores com
acesso especial ao Google. 25. (COREN/AC - AGENTE FISCAL - QUADRIX/2019) No que diz
respeito ao sítio de busca Google, às noções de vírus, worms e pra-
20. (PREFEITURA DE PINTO BANDEIRA/RS - AUXILIAR DE SER- gas virtuais e aos procedimentos de backup, julgue o item.
VIÇOS GERAIS - OBJETIVA/2019) Sobre a navegação na internet, Diferentemente dos vírus, os spywares não conseguem captu-
analisar a sentença abaixo: rar as teclas do computador quando pressionadas.
Os acessos a sites de pesquisa e de notícias são geralmente rea- ( ) Certo ( ) Errado
lizados pelo protocolo HTTP, onde as informações trafegam com o
uso de criptografia (1ª parte). O protocolo HTTP não garante que 26. (PREFEITURA DE CUNHA PORÃ/SC - ENFERMEIRO - INS-
os dados não possam ser interceptados (2ª parte). A sentença está: TITUTO UNIFIL/2020) Considerando os conceitos de segurança da
(A) Totalmente correta. informação e os cuidados que as organizações e particulares devem
(B) Correta somente em sua 1ª parte. ter para proteger as suas informações, assinale a alternativa que
(C) Correta somente em sua 2ª parte. não identifica corretamente um tipo de backup.
(D) Totalmente incorreta. (A) Backup Incremental.
(B) Backup Excepcional.
21. (CÂMARA DE SÃO JOÃO DE MERITI/RJ - ANALISTA LEGIS- (C) Backup Diferencial.
LATIVO - FUNRIO/2018) No sistema operacional Linux, o diretório (D) Backup Completo ou Full.
onde se encontram os arquivos de configuração e aplicativos do sis-
tema tais como Apache é conhecido como: 27. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ/SC - MÉDICO VETERINÁRIO -
(A) /etc ESES/2019) As cópias de segurança (backup) são imprescindíveis
nas organizações. Elas podem ser armazenadas de diversas formas.
(B) /lib
O tipo de backup onde cópias são feitas apenas dos arquivos que
(C) /Bin
foram modificados desde a última interação é denominado:
(D) /sys
(A) Backup diferencial.
(E) /cfg
(B) Backup cumulativo.
(C) Backup completo.
22. (PREFEITURA DE SOLÂNEA/PB - TÉCNICO EM ENFERMA-
(D) Backup incremental.
GEM - CPCON/2019) O comando Linux, que mostra os arquivos que
estão na pasta em que o usuário está naquele momento, está repre- 28. (PREFEITURA DE VINHEDO/SP - GUARDA MUNICIPAL -
sentado na alternativa: IBFC/2020) Leia atentamente a frase abaixo referente às Redes de
(A) list Computadores:
(B) mv “_____ significa _____ e é um conjunto de _____ que pertence
(C) cat a uma mesma organização, conectados entre eles por uma rede,
(D) file numa _____ área geográfica”.
(E) ls Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente
as lacunas.
23. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR- (A) LAN / Local Area Network / computadores / pequena
SOS/2018) Um vírus de computador é um software malicioso que (B) MAN / Much Area Network / computadores / grande
é desenvolvido por programadores geralmente inescrupulosos. Tal (C) MAN / Much Area Network / roteadores / pequena
como um vírus biológico, o programa infecta o sistema, faz cópias (D) LAN / Local Area Network / roteadores / grande
de si e tenta se espalhar para outros computadores e dispositivos
de informática. 29. (PREFEITURA DE ÁGUIA BRANCA/ES - TÉCNICO EM INFOR-
As alternativas a seguir apresentam exemplos de vírus de com- MÁTICA - IDCAP/2018) Analise o trecho e assinale a alternativa que
putador, exceto o que se apresenta na alternativa: completa corretamente a lacuna:
(A) Vírus de boot. O _________ é um protocolo da camada de Transporte, não
(B) Crackers. orientado a conexões, não confiável e bem mais simples que o TCP.
(C) Cavalo de troia. (A) SSH.
(D) Time Bomb. (B) UDP.

73
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
(C) IP.
(D) ISP.
(E) HTTP.

30. (PREFEITURA DE PORTÃO/RS - MÉDICO - OBJETIVA/2019) Para que a segurança da informação seja efetiva, é necessário que os
serviços disponibilizados e as comunicações realizadas garantam alguns requisitos básicos de segurança. Sobre esses requisitos, assinalar
a alternativa CORRETA:
(A) Repúdio de ações realizadas, integridade, monitoramento e irretratabilidade.
(B) Protocolos abertos, publicidade de informação, incidentes e segurança física.
(C) Confidencialidade, integridade, disponibilidade e autenticação.
(D) Indisponibilidade, acessibilidade, repúdio de ações realizadas e planejamento.

31. (PREFEITURA DE SENTINELA DO SUL/RS - FISCAL - OBJETIVA/2020) Considerando-se o Internet Explorer 11, marcar C para as
afirmativas Certas, E para as Erradas e, após, assinalar a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
(---) No Windows 10, é necessário instalar o aplicativo do Internet Explorer.
(---) É possível fixar o aplicativo do Internet Explorer na barra de tarefas do Windows 10.

(A) C - C.
(B) C - E.
(C) E - E.
(D) E – C

32. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE SOCIAL - COTEC/2020) Um usuário de computador realiza comumente um
conjunto de atividades como copiar, recortar e colar arquivos utilizando o Windows Explorer. Dessa forma, existe um conjunto de ações
de usuários, como realizar cliques com o mouse e utilizar-se de atalhos de teclado, que deve ser seguido com o fim de realizar o trabalho
desejado. Assim, para mover um arquivo entre partições diferentes do sistema operacional Windows 10, é possível adotar o seguinte
conjunto de ações:
(A) Clicar sobre o arquivo com o botão direito do mouse, mantendo-o pressionado e mover o arquivo para a partição de destino e
escolher a ação de colar.
(B) Clicar sobre o arquivo com o botão esquerdo do mouse, mantendo-o pressionado e mover o arquivo para a partição de destino.
Por fim soltar o botão do mouse.
(C) Clicar sobre o arquivo com o botão direito do mouse, mantendo-o pressionado e mover o arquivo para a partição de destino. Por
fim soltar o botão do mouse.
(D) Clicar uma vez sobre o arquivo com o botão direito do mouse e mover o arquivo para a partição de destino.
(E) Clicar sobre o arquivo com o botão direito do mouse, mantendo-o pressionado e mover o arquivo para a partição de destino e
escolher a ação de mover.

33. (PREFEITURA DE BRASÍLIA DE MINAS/MG - ENGENHEIRO AMBIENTAL - COTEC/2020) Sobre organização e gerenciamento de
informações, arquivos, pastas e programas, analise as seguintes afirmações e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas.
( ) - Arquivos ocultos são arquivos que normalmente são relacionados ao sistema. Eles ficam ocultos, pois alterações podem danificar
o Sistema Operacional.

( ) - Existem vários tipos de arquivos, como arquivos de textos, arquivos de som, imagem, planilhas, sendo que o arquivo .rtf só é
aberto com o WordPad.
( ) - Nas versões Vista, 7, 8 e 10 do Windows, é possível usar criptografia para proteger todos os arquivos que estejam armazenados
na unidade em que o Windows esteja instalado.
( ) - O Windows Explorer é um gerenciador de informações, arquivos, pastas e programas do sistema operacional Windows da Micro-
soft.
( ) - São bibliotecas padrão do Windows: Programas, Documentos, Imagens, Músicas, Vídeos.

A sequência CORRETA das afirmações é:


(A) F, V, V, F, F.
(B) V, F, V, V, F.
(C) V, F, F, V, V.
(D) F, V, F, F, V.
(E) V, V, F, V, F.

34. (TJ/DFT - ESTÁGIO - CIEE/2019) O PowerPoint permite, ao preparar uma apresentação, inserir efeitos de transições entre os slides.
Analise os passos para adicionar a transição de slides.
( ) Selecionar Opções de Efeito para escolher a direção e a natureza da transição
( ) Selecionar a guia Transições e escolher uma transição; selecionar uma transição para ver uma visualização.
( ) Escolher o slide no qual se deseja adicionar uma transição.
( ) Selecionar a Visualização para ver como a transição é exibida.

74
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
A sequência está correta em
(A) 3, 2, 1, 4.
(B) 1, 2, 3 ,4.
(C) 3, 4, 1, 2.
(D) 1, 4, 2, 3.

35. (PREFEITURA DE TAUBATÉ/SP - AUDITOR PLENO - INSTITUTO EXCELÊNCIA/2019) Utilizando o Microsoft Word 2016 para formatar
o texto em um documento como colunas. Qual das alternativas contém o caminho certo para realizar essa ação?
(A) Selecione o texto - Guia Inserir - Opção Colunas.
(B) Selecionar o texto - Guia Layout - Opção Colunas.
(C) Selecione o texto - Guia Página Inicial - Opção Colunas.
(D) Nenhuma das alternativas.

36. (TJ/RN - TÉCNICO DE SUPORTE SÊNIOR - COMPERVE/2020) Um técnico de suporte recebeu uma planilha elaborada no Microsoft
Excel, com os quantitativos de equipamentos em 3 setores diferentes e o valor unitário em reais de cada equipamento, conforme imagem
abaixo.

Para que uma célula mostre o valor em reais do somatório dos valores de todos os equipamentos do departamento de informática,
seria necessário utilizar a fórmula:
(A) =SOMA(B3:B8 + C3:C8)
(B) =SOMA(B3:B8 * C3:C8)
(C) =SOMA(B3:B8 * D3:D8)
(D) =SOMA(B3:B8 + D3:D8)

GABARITO

1 A
2 A
3 C
4 C
5 D
6 C
7 D
8 A
9 D
10 E
11 A
12 D
13 C
14 C

75
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

15 B ANOTAÇÕES
16 D
17 A ______________________________________________________
18 B ______________________________________________________
19 C
______________________________________________________
20 C
21 A ______________________________________________________
22 E ______________________________________________________
23 B
______________________________________________________
24 A
______________________________________________________
25 ERRADO
26 B ______________________________________________________
27 D ______________________________________________________
28 A
______________________________________________________
29 B
30 C ______________________________________________________

31 E ______________________________________________________
32 E
______________________________________________________
33 B
______________________________________________________
34 A
35 B ______________________________________________________
36 B ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________

76
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
1. Exame de corpo de delito e perícias em geral (artigos 158 ao 184 do Código Processual Penal Brasileiro) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Aplicação da lei processual no tempo, no espaço e em relação às pessoas; disposições preliminares do Código de Processo Penal15
3. Inquérito policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Ação penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
7. Interceptação telefônica (Lei nº 9.296/1996) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
8. Juiz, Ministério Público, acusado, defensor, assistentes e auxiliares da justiça; atos de terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
9. Prisão e liberdade provisória; prisão temporária (Lei nº 7.960/1989) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
10. Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
11. Habeas corpus e seu processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
12. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
postergado.
diferido,
é
aqui,
contraditório,
O
tempo.
o
com
desaparecer
podem
violência
de
si-nais
cujos
corporal,
lesão
por
pericial
exame
um
de
caso
o
como
probató-ria,
fonte
da
desaparecimento
do
virtude
em
novamente,
produ-zida
ser
como
tem
não
que
aquela
é
repetível”
não
“prova
postergado.A
diferido,
é
aqui,
contra-ditório,
O
perpetuado.
ser
deve
provar
pretende
se
que
o
qual
pelo
motivo
tempo,
do
decurso
do
razão
em
prova,
da
objeto
do
desapareci-mento
de
risco
existe
que
em
aquela
é
cautelar”
“prova
distingui-las.A
se

expressões,
das
sinonímia
pela
clama
que
posicionamento
exista
Embora
convicção.
sua
formar
para
utilizar
se
juiz
o
poderia
quais
as
inquisitória,
fase
a
durante
ainda
regra
em
produzidas
provas,
três
estas
a
refere
se
CPP,
155,
art.
do
caput
do
final,
parte
A
antecipada”.
“prova
e
repetível”,
não
“prova
cautelar”,
“Prova
civil”.
lei
na
estabelecidas
restrições
as
obser-vadas
serão
pessoas
das
estado
ao
quanto
“Somente
CPP:
art.155,
do
único
parágrafo
no
previstos
casos
nos
salvo
provas,
de
meios
aos
quanto
restrições
havendo
não
seja,
ou
ampla,
forma
de
feitas
ser
devem
investigações
as
Real,
Verdade
da
Princípio
o
CPP).Sob
(art.201,
ofendido
do
depoimento
o
e
CPP)
(art.197,
réu
do
confissão
a
CPP),
(art.169,
delito
o
ocorreu
que
em
local
no
perícia
a
existe
prova,
de
meios
de
exemplo
Como
legítimos.
moralmente
são
últimos
os
e
lei
da
através
estabelecidos
são
primeiros
Os
inomi-nados.
quanto
nominados
tanto
ser
podem
prova
de
meios
lei.Os
em
inseridos
meios
estes
não
ou
estando
expos-tos,
fatos
dos
veracidade
a
quanto
julgador
do
convencimento
o
possibilita
que
aquilo
tudo
é
prova
de
meio
palavras,
outras
partes.Em
pelas
alegados
fatos
dos
acerca
con-vicção
sua
a
formar
para
juiz
pelo
utilizado
instrumento
o
É
processo.
do
dentro
real
verdade
da
busca
à
indiretamente,
ou
direta
servir,
possa
que
alegação
ou
documento
fato,
todo
é
prova
de
ProvaMeio
de
Meios
comprovação.
a
para
suficiente
sen-do
não
evento,
um
de
ocorrência
da
probabilidade
uma
à
conduz
apenas
que
prova
a
é
incompleta):
ou
(imperfeita
plena
não
fato.-
um
de
existência
da
certeza
absoluta
uma
à
julgador
o
con-duzir
de
capaz
é
que
prova
a
é
completa):
ou
(perfeita
plena
efeito:-
ou
valor
ao
Quanto
provando.d)
está
se
que
fato
o
sobre
juiz
do
convencimento
o
para
elemento
de
sir-va
que
materialidade
qualquer
em
consiste
que
a
é
material:
etc.-
autenticadas
fotografias
cartas,
exemplo
por
como,
gravação
ou
escrito
documento
de
através
originada
prova
a
é
documental:
ofendido.-
pelo
ou
(confissão)
acusado
próprio
pelo
testemunhas,
por
produzidas
ser
podem
pro-vas
Essas
CPP).
§1º,
(art.221,
escrito
por
vezes
algumas
e
oral
sub-jetiva
declaração
de
através
produzida
prova
a
é
testemunhal:
forma:-
à
Quanto
etc.c)
peritos,
dois
por
assinado
pericial
laudo
um
crime,
um
presenciou
quem
de
testemunho
o
exemplo,
por
como,
asseve-rados
fatos
dos
veracidade
a
mostrar
objetivo
como
tem
que
e
humana
consciente
vontade
da
surgida
prova
uma
é
pessoal:
etc.-
vítima,
da
ensanguen-tada
camisa
uma
exemplo,
por
como,
crime
um
de
vestígios
possua
que
coisa
ou
objeto
em
encontrada
prova
uma
é
real:
causa:-
ou
sujeito
ao
Quanto
b)
provar.
quer
se
que
fato
determinado
um
a
chegar
de
intuito
o
com
lógica
construção
de
processo
um
de
necessidade
a

caso,
Neste
provar.
busque
se
que
fato
do
existência
a
indução,
ou
dedução
por
infira,
se
qual
do
fato
uma
afirma
indireta:
EXERCÍCIOSGABARITOANOTAÇÕES__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________-
lógica.
construção
nenhuma
de
necessi-tando
não
instantânea,
forma
de
fato
o
apresenta
direta:
objeto:-
ao
Quanto
saber:a)
a
prova,
a
classificam
que
critérios
alguns
ProvaExistem
Da
real.Classificação
verdade
da
princípio
o
respeitar
fazer
de
finalidade
a
com
somente
determinará
que
o
instrutório,
poder
seu
de
utilizando-se
produzir,
a
provas
de
rol
o
completar
apenas
eventualmente,
juiz,
ao
res-tando
prova,
de
objeto
ser
deverão
que
fatos
os
essencialmente
defi-nem
que
partes
as
são
que
concluir
podemos
contexto,
processual.Neste
economia
a
visando
fatos,
estes
somente
à
ater-se
julga-dor
o
devendo
prova,
da
objeto
o
delimitar
por
acabam
mesmos
os
isso,
Ocorrendo
alegações.
suas
de
veracidade
a
demonstrem
que
acontecimentos
como
assim
eles,
à
favoráveis
argumentos
apresen-tar
irão
réu
o
quanto
autor
o
tanto
processo,
um
veridicidade.Durante
sua
de
comprovação
da
necessitam
que
coisas
ou
fatos
os
todos
significa
prova
de
objeto
O
prova.
de
objeto
e
prova
da
objeto
entre
diferença

que
destacar
prova.Cabe
da
objeto
o
como
caracterizar-se-á
crime
este
homicídio,
de
crime
do
prática
a
pes-soa
determinada
à
imputar
Público
Ministério
do
hipótese
circuns-tâncias”.Na
suas
as
todas
com
réu
ao
imputados
fatos
dos
verdade
a
É
Público.
Ministério
pelo
feita
penal
imputação
à
base
de
serve
que
probandum’
‘thema
o
é
seja,
Ou
penal.
caso
o
versa
quais
os
sobre
fatos
os
São
valor.
de
juízo
um
emitir
possa
que
de
fim
a
juiz,
pelo
conhecido
ser
deve
que
acontecimento
o
fato,
o
coisa,
a
é
prova
da
objeto
“O
Rangel:
Paulo
de
ensinamentos
os
com
acordo
prova.De
de
meios
novos
pelos
demonstrados
ser
poderão
lei
da
vigência
da
antes
ocorridos
crimes
Os
curso.
em

processos
os
abarcan-do
instantânea,
incidência
terão
alterações
tais
existentes,

normas
as
altera
ou
prova,
de
meio
novo
um
disciplina
legislador
o
Se
imediata.
aplicação
tendo
processual,
natureza
de
são
provas
às
atinentes
normas
as

fatos.
dos
realidade
da
demonstração
para
constitucional
vertente
com
subjetivo
direito
verdadeiro
É
defesa.
de
e
ação
de
direito
do
desempenho
ao
inerente
sendo
fatos,
dos
verdade
da
demonstração
à
ligada
intimamente
está
prova
absolvição.A
à
levar
pode
que
motivos
dos
um
é
prova
de
ausência
a
porque,
Justamente
alguém.
condenar
se
para
essencial,
sim,
é,
prova
a
que
dizer
significa
Isso
magistrado.
do
convencimento
de
processo
do
formação
na
comple-mentar
função
apenas
terão
Estes
investigatória.
fase
a
durante
colhidos
informativos
elementos
nos
exclusivamente
fundar
se
convic-ção,
livre
sua
nessa
juiz,
o
poderá
não
que
informar,
convicção.Vale
livre
sua
formar
a
juiz
o
auxiliar
de
imediata
finalida-de
a
com
ainda,
e
delitiva,
materialidade
e
autoria
de
indícios
meros
eram
antes
que
do
consolidação
a
almejando
defesa,
ampla
da
e
contraditório
do
luz
à
produzida
ser
deve
prova
a
acusação),
uma
embasar
a
suficiente
investigação
de
meio
outro
qualquer
em
produzidos
ser
informativos
elementos
os
podendo
dispensável,
é
inquérito,
o
que

regra,
(em
policial
inquérito
do
fase
a
durante
produzidos
aqueles
são
informativos
elementos
os
causa.Enquanto
da
decorrer
o
para
essenciais
elementos
os
sobre
juiz
do
convicção
da
trata-se
Assim,
fato.
um
de
não
ou
existência
da
acerca
magistrado
do
convicção
à
destinam
quais
os
exemplo),
por
(peritos,
terceiros
por
ou
juiz
pelo
partes,
pelas
produ-zidas
ser
podem
que
provas
de
conjunto
num
consiste
PROVAProva
BRASILEIRO).
PENAL
PROCESSUAL
CÓDIGO
DO
184
AO
158
(ARTIGOS
GERAL
EM
PERÍCIAS
E
DELITO
DE
CORPO
DE
PENAL1EXAME
PROCESSUAL
E
PENAL
DIREITO
DE
NOÇÕES
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
- indireta: afirma uma fato do qual se infira, por dedução ou
EXAME DE CORPO DE DELITO E PERÍCIAS EM GERAL indução, a existência do fato que se busque provar. Neste caso, há a
(ARTIGOS 158 AO 184 DO CÓDIGO PROCESSUAL PENAL necessidade de um processo de construção lógica com o intuito de
BRASILEIRO). PROVA chegar a um determinado fato que se quer provar.

Prova consiste num conjunto de provas que podem ser produ- b) Quanto ao sujeito ou causa:
zidas pelas partes, pelo juiz ou por terceiros (peritos, por exemplo), - real: é uma prova encontrada em objeto ou coisa que possua
os quais destinam à convicção do magistrado acerca da existência vestígios de um crime como, por exemplo, uma camisa ensanguen-
ou não de um fato. Assim, trata-se da convicção do juiz sobre os tada da vítima, etc.
elementos essenciais para o decorrer da causa. - pessoal: é uma prova surgida da vontade consciente humana
Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos e que tem como objetivo mostrar a veracidade dos fatos asseve-
durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito, rados como, por exemplo, o testemunho de quem presenciou um
crime, um laudo pericial assinado por dois peritos, etc.
é dispensável, podendo os elementos informativos ser produzidos
c) Quanto à forma:
em qualquer outro meio de investigação suficiente a embasar uma
- testemunhal: é a prova produzida através de declaração sub-
acusação), a prova deve ser produzida à luz do contraditório e da
jetiva oral e algumas vezes por escrito (art.221, §1º, CPP). Essas pro-
ampla defesa, almejando a consolidação do que antes eram meros vas podem ser produzidas por testemunhas, pelo próprio acusado
indícios de autoria e materialidade delitiva, e ainda, com a finalida- (confissão) ou pelo ofendido.
de imediata de auxiliar o juiz a formar sua livre convicção. - documental: é a prova originada através de documento escrito
Vale informar, que não poderá o juiz, nessa sua livre convic- ou gravação como, por exemplo cartas, fotografias autenticadas etc.
ção, se fundar exclusivamente nos elementos informativos colhidos - material: é a que consiste em qualquer materialidade que sir-
durante a fase investigatória. Estes terão apenas função comple- va de elemento para o convencimento do juiz sobre o fato que se
mentar na formação do processo de convencimento do magistrado. está provando.
Isso significa dizer que a prova é, sim, essencial, para se condenar
alguém. Justamente porque, a ausência de prova é um dos motivos d) Quanto ao valor ou efeito:
que pode levar à absolvição. - plena (perfeita ou completa): é a prova que é capaz de con-
A prova está intimamente ligada à demonstração da verdade duzir o julgador à uma absoluta certeza da existência de um fato.
dos fatos, sendo inerente ao desempenho do direito de ação e de - não plena (imperfeita ou incompleta): é a prova que apenas
defesa. É verdadeiro direito subjetivo com vertente constitucional conduz à uma probabilidade da ocorrência de um evento, não sen-
para demonstração da realidade dos fatos. Já as normas atinentes do suficiente para a comprovação.
às provas são de natureza processual, tendo aplicação imediata. Se
o legislador disciplina um novo meio de prova, ou altera as normas Meios de Prova
já existentes, tais alterações terão incidência instantânea, abarcan- Meio de prova é todo fato, documento ou alegação que possa
do os processos já em curso. Os crimes ocorridos antes da vigência servir, direta ou indiretamente, à busca da verdade real dentro do
da lei poderão ser demonstrados pelos novos meios de prova. processo. É o instrumento utilizado pelo juiz para formar a sua con-
De acordo com os ensinamentos de Paulo Rangel: “O objeto vicção acerca dos fatos alegados pelas partes.
da prova é a coisa, o fato, o acontecimento que deve ser conhecido Em outras palavras, meio de prova é tudo aquilo que possibilita
pelo juiz, a fim de que possa emitir um juízo de valor. São os fatos o convencimento do julgador quanto a veracidade dos fatos expos-
sobre os quais versa o caso penal. Ou seja, é o ‘thema probandum’ tos, estando ou não estes meios inseridos em lei.
que serve de base à imputação penal feita pelo Ministério Público. Os meios de prova podem ser tanto nominados quanto inomi-
É a verdade dos fatos imputados ao réu com todas as suas circuns- nados. Os primeiros são estabelecidos através da lei e os últimos são
tâncias”. moralmente legítimos. Como exemplo de meios de prova, existe a
Na hipótese do Ministério Público imputar à determinada pes- perícia no local em que ocorreu o delito (art.169, CPP), a confissão
soa a prática do crime de homicídio, este crime caracterizar-se-á do réu (art.197, CPP) e o depoimento do ofendido (art.201, CPP).
como o objeto da prova. Sob o Princípio da Verdade Real, as investigações devem ser
Cabe destacar que há diferença entre objeto da prova e objeto feitas de forma ampla, ou seja, não havendo restrições quanto aos
de prova. O objeto de prova significa todos os fatos ou coisas que meios de provas, salvo nos casos previstos no parágrafo único do
necessitam da comprovação de sua veridicidade. art.155, CPP: “Somente quanto ao estado das pessoas serão obser-
Durante um processo, tanto o autor quanto o réu irão apresen- vadas as restrições estabelecidas na lei civil”.
tar argumentos favoráveis à eles, assim como acontecimentos que
demonstrem a veracidade de suas alegações. Ocorrendo isso, os “Prova cautelar”, “prova não repetível”, e “prova antecipada”.
mesmos acabam por delimitar o objeto da prova, devendo o julga- A parte final, do caput do art. 155, CPP, se refere a estas três
dor ater-se à somente estes fatos, visando a economia processual. provas, produzidas em regra ainda durante a fase inquisitória, as
Neste contexto, podemos concluir que são as partes que defi- quais poderia o juiz se utilizar para formar sua convicção. Embora
nem essencialmente os fatos que deverão ser objeto de prova, res- exista posicionamento que clama pela sinonímia das expressões, há
tando ao juiz, eventualmente, apenas completar o rol de provas a se distingui-las.
produzir, utilizando-se de seu poder instrutório, o que determinará A “prova cautelar” é aquela em que existe risco de desapareci-
somente com a finalidade de fazer respeitar o princípio da verdade mento do objeto da prova, em razão do decurso do tempo, motivo
real. pelo qual o que se pretende provar deve ser perpetuado. O contra-
ditório, aqui, é diferido, postergado.
Classificação Da Prova A “prova não repetível” é aquela que não tem como ser produ-
Existem alguns critérios que classificam a prova, a saber: zida novamente, em virtude do desaparecimento da fonte probató-
ria, como o caso de um exame pericial por lesão corporal, cujos si-
a) Quanto ao objeto: nais de violência podem desaparecer com o tempo. O contraditório,
- direta: apresenta o fato de forma instantânea, não necessi- aqui, é diferido, postergado.
tando de nenhuma construção lógica.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
A “prova antecipada”, por fim, é aquela produzida com obser- ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma norma consti-
vância do contraditório real (ou seja, o contraditório não é diferido tucional (ex.: a prova obtida não respeitou a inviolabilidade de do-
como nas duas hipóteses anteriores), perante a autoridade judicial, micílio assegurada pela Constituição), enquanto a “prova ilegítima”
mas em momento processual distinto daquele previamente previs- é aquela violadora dos procedimentos previstos para sua realização
to pela lei (podendo sê-lo até mesmo antes do processo). O melhor (tais procedimentos são aqueles regularmente previstos no Código
exemplo é a oitiva da testemunha para perpetuar a memória da de Processo Penal e legislação especial).
prova, disposta no art. 225, da Lei Processual Penal. Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua conse-
quência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo esta
Fatos que não precisam ser provados. ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acompanhar
São eles: o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as provas deri-
A) Fatos notórios. É o caso da chamada “verdade sabida” (ex.: vadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada”,
não se precisa provar que dia vinte e cinco de dezembro é Natal, importada do direito norte-americano, também serão inadmissí-
conforme o calendário cristão ocidental); veis, salvo se existirem como fonte independente, graças à “Teoria
B) Fatos axiomáticos, intuitivos. São aqueles evidentes (ex.: “X” da Fonte Independente” (considera-se fonte independente aquela
é atingido e despedaçado por um trem. Não será preciso um exame prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, pró-
para se apurar que a causa da morte foi o choque com o trem); prios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir
C) Presunções legais. São aquelas decorrentes da lei, valendo ao fato objeto da prova).
lembrar que, em se tratando de presunção relativa, contudo, admi-
tir-se-á prova em contrário; Ônus da prova.
D) Fatos desnecessários ao deslindes da lide. São os “fatos inú- De acordo com o art. 156, caput, do Código de Processo Pe-
teis” (ex.: “X” morreu de envenenamento por comida. Pouco impor- nal, a prova da alegação incumbirá a quem o fizer, embora isso não
ta saber se a carne estava bem ou mal passada); obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes de iniciada a ação
E) O direito, como regra. O direito não precisa ser provado, sal- penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
vo em se tratando de direito estadual, municipal, costumeiro, ou relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionali-
estrangeiro, se assim o requerer o juiz. dade da medida (inciso I), ou determine, no curso da instrução ou
Posto isto, fazendo uma análise em sentido contrário, fatos que antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
não sejam notórios, que não sejam axiomáticos, que não sejam dúvida sobre ponto relevante (inciso II). Esse poder de atuação do
desnecessários, que não sejam presunções legais, e que não digam juiz é também conhecido por “gestão da prova” (por ser o juiz, na-
respeito, como regra, necessitam ser provados. turalmente, um “gestor da prova”).

“Prova nominada”, “prova inominada”, “prova típica”, “prova Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e
atípica”, e “prova irritual”. transportada documentalmente para outro. Apesar da valia positi-
A “prova nominada” é aquela cujo “nomen juris” consta da lei va acentuada que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada não
(ex.: prova pericial). pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal, como re-
A “prova inominada” é aquela cujo “nomen juris” não consta gra, cada fato apurado numa lide depende de sua própria prova.
da lei, mas que é admitida por força do “Princípio da Liberdade Pro- Contudo, podem acontecer casos em que um determinado fato
batória”. já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha sido de-
A “prova típica” é aquela cujo procedimento probatório está vidamente em outros autos, caso em que a prova emprestada pode
previsto na lei. se revelar um eficaz aliado na busca pela verdade real.
A “prova atípica” é aquela cujo procedimento não está previsto Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem aos
em lei. autos com o “contraditório montado” do outro processo, isto é, no
A “prova irritual” é aquela colhida sem a observância de mode- processo recebedor terão as partes a oportunidade de questionar a
lo previsto em lei. Trata-se de prova ilegítima. própria validade desta bem como de tentar desqualificá-la.
Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser em-
Princípios relacionados à prova penal. prestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há mais,
São eles, além do Princípio da Liberdade Probatória, já mencio- como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma prova
nado anteriormente, em um rol exemplificativo: será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o respeito a en-
A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da presun- tendimento minoritário neste sentido, não parece ser o melhor ar-
ção de não-culpabilidade). Todos são considerados inocentes, até gumento defender que a prova emprestada, por si só, não pode ser
que se prove o contrário por sentença condenatória transitada em suficiente para condenar alguém.
julgado;
B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado a TÍTULO VII
produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode DA PROVA
mentir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio, e
tem direito à consulta prévia e reservada com seu advogado, como CAPÍTULO I
exemplos; DISPOSIÇÕES GERAIS
C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios
ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas de modo Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação às normas prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se sobrepor aos tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos
direitos fundamentalmente consagrados na Constituição Federal. na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
“Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão
diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o entendi- observadas as restrições estabelecidas na lei civil.
mento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero “provas

2
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, O perito dará atenção a todos os elementos, que se vinculem ao
porém, facultado ao juiz de ofício: fato principal, sobretudo o que possa influir na aplicação da pena.
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser- b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se torna
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem desapare-
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sen- cido os elementos materiais. Essa substituição do exame objetivo
tença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois não há corpo,
relevante.   embora haja o delito. Cabe ressaltar que o exame indireto somen-
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do te deve ser realizado caso não seja possível à realização do exame
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação direto.
a normas constitucionais ou legais.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito po-
salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e derá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte
independente das primeiras. Perícia Criminal
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, se- A perícia criminal é uma atividade técnico-científica prevista no
guindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou Código de Processo Penal, indispensável para elucidação de crimes
instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. quando houver vestígios. A atividade é realizada por meio da ciên-
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declara- cia forense, responsável por auxiliar na produção do exame pericial
da inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado e na interpretação correta de vestígios. Os peritos desenvolvem
às partes acompanhar o incidente. suas atribuições no atendimento das requisições de perícias prove-
§ 4° (VETADO) nientes de delegados, procuradores e juízes inerentes a inquéritos
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inad- policiais e a processos penais. A perícia criminal, ou criminalística,
missível não poderá proferir a sentença ou acórdão. (Incluído pela é baseada nas seguintes ciências forenses: química, biologia, geo-
Lei nº 13.964, de 2019) logia, engenharia, física, medicina, toxicologia, odontologia, docu-
mentoscopia, entre outras, as quais estão em constante evolução.
Exame de Corpo de Delito e Perícias em Geral A perícia requisitada pela Autoridade Policial, Ministério Pú-
O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal, sobre blico e Judiciário, é a base decisória que direciona a investigação
cuja análise é realizada a perícia criminal a fim de determinar fato- policial e o processo criminal. Como já mencionado, a prova pericial
res como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc., através é indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser
do exame de corpo de delito. dispensada sequer quando o criminoso confessa a prática do delito.
Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não A perícia é uma modalidade de prova que requer conhecimentos
transeunte”), o exame de corpo de delito se torna indispensável, especializados para a sua produção, relativamente à pessoa física,
não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contu- viva ou morta, implicando na apreciação, interpretação e descrição
do, que não sendo possível o exame de corpo de delito, por have- escrita de fatos ou de circunstâncias, de presumível ou de evidente
rem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir- interesse judiciário.
-lhe a falta (art. 167, CPP). O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infra-
Muitos confundem o “corpo de delito” com o “exame de cor- ção penal, devidamente estudados por profissionais especializados,
po de delito”. Explico. Dá-se o nome de “corpo de delito” ao local permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que
do crime com todos os vestígios materiais deixados pela infração forma este ocorreu e, quando possível e necessário, identificando
penal. Trata-se dos elementos corpóreos sensíveis aos sentidos hu- todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o criminoso e outras
manos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc. Contudo, “corpo”, pessoas que possam de alguma forma ter relação com o crime, as-
não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas a tudo que sim como o meio pelo qual se perpetrou o crime, com a determi-
possa estar envolvido com o delito, como um fio de cabelo, uma nação do tipo de ferramenta ou arma utilizada no delito. Apesar de
mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma porta arrombada o laudo pericial não ser a única prova, e entre as provas não haver
etc. Em outras palavras, “corpo de delito” é o local do crime com to- hierarquia, ocorre que, na prática, a prova pericial acaba tendo pre-
dos os seus vestígios; “exame de corpo de delito” é o laudo técnico valência sobre as demais. Isto se dá pela imparcialidade e objetivi-
que os peritos fazem nesse determinado local, analisando-se todos dade da prova técnico-científica enquanto que as chamadas provas
os referidos vestígios. subjetivas dependam do testemunho ou interpretação de pessoas,
Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie, podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capa-
fica claro que a confissão do acusado, antes considerada a “rainha cidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de
das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma am- má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos.
pla gama de vícios que podem maculá-la, como a coação e a assun-
ção de culpa meramente para livrar alguém de um processo-crime. Perito
Com relação aos peritos importante trazer ao estudo o que pre-
Corpo de delito direto e indireto vê o Código de Processo Penal em seu artigo 159, vejamos: “O exa-
a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados pelo me de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos nos- oficial, portador de diploma de curso superior”. Na falta de perito
sos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos sensí- oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, portado-
veis, objetivos, devem ser objetos de prova, obtida pelos meios que ras de diploma de curso superior preferencialmente na área espe-
o direito fornece. Os técnicos dirão da sua natureza, estabelecerão cifica, dentre as que tiveram habilitação técnica relacionada com a
o nexo entre eles e o ato ou omissão, pelo qual se incrimina o acusa- natureza do exame. Estes prestarão o compromisso de e finalmente
do. O corpo de delito deve realizar-se o mais rapidamente possível, desempenhar o cargo.
logo que se tenha conhecimento da existência do fato.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes, será possível designar a atuação de mais de um perito oficial, bem
quanto à perícia: requer a oitiva dos peritos para esclarecerem a como à parte será facultada a indicação de mais de um assistente
prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intimação técnico;
e os quesitos ou questões a serem esclarecidos sejam encaminha-
dos com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresen- Autópsia
tar as respostas em laudo complementar. A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após
A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo ou o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
mesmo após a sentença, em situações especiais. Sua função não julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão
termina com a reprodução de sua análise, mas se continua além declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de morte violenta,
dessa apreciação, por meio do juízo de valor sobre os fatos, o que bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver
se torna o diferencial da função de testemunha. Ou seja, a diferença infração penal que apurar ou quando as lesões externas permitirem
entre testemunha e perito é que a primeira é solicitada porque já precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame in-
tem conhecimento do fato e o segundo para que conheça e expli- terno para a verificação de alguma circunstância relevante (art. 162,
que os fundamentos da questão discutida, por meio de uma análise parágrafo único, CPP);
técnica científica.
A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas cau- Exumação de cadáver
sas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos não oficiais, Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providenciará
assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação é obriga- que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência,
tória com um “compromisso formal de bem e fielmente desempe- da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput, CPP). Nes-
nharem a sua missão, declarando como verdadeiro o que encon- te caso, o administrador do cemitério público/particular indicará
trarem e descobrirem e o que em suas consciências entenderam”. o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. Agora, havendo
Os peritos terão um prazo máximo de 10 (dez) dias para ela- dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, se procederá ao
boração do laudo pericial, podendo este prazo ser prorrogado, em reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou re-
casos excepcionais, a requerimento dos peritos, conforme dispõe o partição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se
parágrafo único do artigo 160 do Código de Processo Penal. Apenas auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o
em casos de suspeição comprovada ou de impedimento previsto cadáver, com todos os sinais e indicações (art. 166, CPP);
em lei é que se eximem os peritos da aceitação.
Fotografia dos cadáveres
Atividades Desenvolvidas Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que
As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande com- forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as
plexidade e de natureza especializada, tendo por objeto executar lesões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164,
com exclusividade os exames de corpo de delito e todas as perícias CPP). Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos,
criminais necessárias à instrução processual penal, nos termos das quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas,
normas constitucionais e legais em vigor, exercendo suas atribui- esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados (art. 165,
ções nos setores periciais de: Acidentes de Trânsito, Auditoria Fo- CPP);
rense, Balística Forense, Documentoscopia, Engenharia Legal, Perí-
cias Especiais, Fonética Forense, Identificação Veicular, Informática, Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstáculo
Local de Crime Contra a Pessoa, Local de Crime Contra o Patrimô- à subtração da coisa.
nio, Meio Ambiente, Multimídia, Papiloscopia, dentre outros. A fun- Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obs-
ção mais relevante do Perito Criminal é a busca da verdade material táculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos,
com base exclusivamente na técnica. Não cabe ao Perito Criminal além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos,
acusar ou suspeitar, mas apenas examinar os fatos e elucidá-los. por quais meios e em que época presumem ter sido o fato praticado
Desventrar todos os aspectos inerentes aos elementos investiga- (art. 171, CPP);
dos, do ponto exclusivamente técnico.
Material guardado em laboratório para nova perícia.
Responsabilidades Civil e Penal do Perito Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material sufi-
Aos peritos oficiais ou inoficiais são exigidas obrigações de or- ciente para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sempre que
dem legal e a ilicitude de suas atividades caracteriza-se como viola- conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas,
ção a um dever jurídico, algumas delas com possíveis repercussões provas microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP);
a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se dizer que os peritos
na área civil são considerados auxiliares da justiça, enquanto na pe- Incêndio
rícia criminal são os servidores públicos. Quanto ao fiel cumprimen- No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em
to do dever de ofício, os primeiros prestam compromissos a cada que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida
vez que são designados pelo juiz e, os segundos, o compromisso ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as
está implícito com a posse no cargo público, a não ser nos casos dos demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato (art.
chamados peritos nomeados ad hoc. 173, CPP);

Laudo pericial Exame para reconhecimento de escritos.


O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias, Deve-se observar, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva, o
podendo este prazo ser prorrogado em casos excepcionais a re- seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito
querimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descreverão será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para a com-
minuciosamente o que examinarem, e responderão aos eventuais paração, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
quesitos formulados. Tratando-se de perícia complexa, isto é, aque- reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de
la que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
II); a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para
documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públi- o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos,
cos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retira- temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de
dos (inciso III); quando não houver escritos para a comparação ou suas características originais, bem como o controle de sua posse;
forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
escreva o que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver au- VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do ves-
sente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá tígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações re-
ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a ferentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária
pessoa será intimada a escrever (inciso IV); relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio,
Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo, po- código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, pro-
dendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP). tocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
CAPÍTULO II VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do
DO EXAME DE CORPO DE DELITO, DA CADEIA DE CUSTÓDIA E vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas caracterís-
DAS PERÍCIAS EM GERAL ticas biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado de-
(REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.964, DE 2019) sejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito;
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo condições adequadas, do material a ser processado, guardado para
a confissão do acusado. realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vin-
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame culação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº
de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído 13.964, de 2019)
pela Lei nº 13.721, de 2018) X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio,
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído pela respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante
Lei nº 13.721, de 2018) autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferen-
deficiência. (Incluído pela Lei nº 13.721, de 2018) cialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário
Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização
os procedimentos utilizados para manter e documentar a história de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, § 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou pro-
para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento cesso devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão
até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) central de perícia oficial de natureza criminal responsável por de-
§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do talhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964,
local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais de 2019)
seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remo-
de 2019) ção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por
§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude proces-
potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsá- sual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
vel por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio
§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, será determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei nº
constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluído 13.964, de 2019)
pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com
Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e
do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº
2019) 13.964, de 2019)
I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de po- § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar
tencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído pela suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau
Lei nº 13.964, de 2019) de resistência adequado e espaço para registro de informações so-
II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, de- bre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
vendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai pro-
aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído
III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se en- pela Lei nº 13.964, de 2019)
contra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na
área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do res-
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produ- ponsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações
zido pelo perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei nº referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
13.964, de 2019) 2019)
IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à aná- § 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do
lise pericial, respeitando suas características e natureza; (Incluído novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter
V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestí-
vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo gios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central
com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste- de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964,
rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a de 2019)
coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de proto- Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual-
colo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais quer dia e a qualquer hora.
e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distri- Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do
buição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julga-
condições ambientais que não interfiram nas características do ves- rem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no
tígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) auto.
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio de- Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o sim-
verão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocor- ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal
rência no inquérito que a eles se relacionam. (Incluído pela Lei nº que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a
13.964, de 2019) causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armaze- verificação de alguma circunstância relevante.
nado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a au-
hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) toridade providenciará para que, em dia e hora previamente marca-
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou par-
do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ticular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. No
ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encon-
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser trar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a autoridade
devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluído procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.
pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to-
ou condições de armazenar determinado material, deverá a autori- das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime.
dade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os
referido material em local diverso, mediante requerimento do dire- peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto-
tor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído gráficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu-
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identifi-
cação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e auten-
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
ticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a
tação técnica relacionada com a natureza do exame.
identificação do cadáver.
§ 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por
fielmente desempenhar o encargo.
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá su-
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de prir-lhe a falta.
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pe-
quesitos e indicação de assistente técnico. ricial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou
juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. ou de seu defensor.
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, § 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto
quanto à perícia: de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou § 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decor-
os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados ra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as § 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela
respostas em laudo complementar; prova testemunhal.
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pare- Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra-
ceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para
§ 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que
que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esque-
órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de mas elucidativos.
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações
a sua conservação. do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências
§ 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma dessas alterações na dinâmica dos fatos.
área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma-
de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente terial suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que
técnico. conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreve- microfotográficas, desenhos ou esquemas.
rão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesi- Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimen-
tos formulados. to de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo má- peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instru-
ximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos ex- mentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato
cepcionais, a requerimento dos peritos. praticado.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coi- Do Interrogatório do Acusado e da Confissão
sas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime. Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em meio
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos de defesa do acusado (em outros tempos, já houve divergência se
procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos au- consistiria o interrogatório em meio de defesa ou mero meio de
tos e dos que resultarem de diligências. prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado ficar em silêncio,
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e mentir, ser acompanhado por seu advogado, deixar de responder às
o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado perguntas que lhe forem feitas etc.
para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode ser
valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra); assisti-
fato. do tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de defesa);
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a seguir);
comparação de letra, observar-se-á o seguinte: B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação pre-
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será vista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da dou-
intimada para o ato, se for encontrada; trina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de inter-
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos rogatório.
que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente re-
conhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não Sua realização é excepcional. Ele somente será utilizado se para
houver dúvida; prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa- de que o preso integra organização criminosa ou de que, por ou-
me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos tra razão, possa fugir durante o deslocamento; se para viabilizar a
públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser participação do réu neste ato processual, quando haja relevante di-
retirados; ficuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem outra circunstância pessoal; ou se para impedir a influência do réu
insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escre- no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível
va o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar colher o depoimento destas por videoconferência; se for necessário
certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que por questão de gravíssima utilidade pública.
se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever. Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão fun-
Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados damentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes. Ainda,
para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a da decisão que determinar a realização do interrogatório por video-
eficiência. conferência, as partes deverão ser intimadas com, no mínimo, dez
Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos dias de antecedência.
até o ato da diligência. Também, antes do interrogatório por videoconferência, o preso
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de todos os
far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação pri- atos da audiência única de instrução e julgamento.
vada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e reserva-
deprecante. da do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer modalidade
Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão trans- de interrogatório judicial);
critos na precatória. C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento bi-
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela au- fásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusado (o
toridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou
assinado pelos peritos. profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade,
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto vida pregressa, se foi preso ou processado alguma vez, se houver
respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao exame, suspensão condicional ou condenação e qual foi a pena imposta
também pela autoridade. caso o indivíduo tenha sido processado, obviamente); e sobre os
Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, fatos (será perguntado ao interrogando se é verdadeira a acusação
que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em suas que lhe é feita, onde estava ao tempo em que foi cometida a infra-
folhas por todos os peritos. ção e se teve notícia desta, sobre as provas já apuradas, se conhece
Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consig- as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, se conhece
nadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de ou- o instrumento com que foi praticada a infração ou qualquer objeto
tro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade que com esta se relacione e tenha sido apreendido, e, se não sendo
nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade pode- verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atri-
rá mandar proceder a novo exame por outros peritos. buí-la e se conhece, então, quem teria sido o autor da infração, se
Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso tem algo mais a alegar em sua defesa etc.);
de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado, se-
mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. rão interrogados separadamente (art. 191, CPP);
Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresentadas
proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente. por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo,
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito;
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito e do
Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, observar- mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP);
-se-á o disposto no art. 19. F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como in-
autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando térprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo (art.
não for necessária ao esclarecimento da verdade. 192, parágrafo único, CPP);

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o interro- tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, des-
gando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio de de que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
intérprete (art. 193, CPP); finalidades:
H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder a I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada
novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual- suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que,
quer das partes (art. 196, CPP). por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual,
Confissão. quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em
A confissão, como qualquer outro meio de prova, destina-se à juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;
apuração da verdade dos fatos. III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado sobre vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;
ram para a infração. IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.
A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a con- § 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório
fissão seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pelos crité- por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias
rios adotados para outros elementos de prova, e para sua aprecia- de antecedência.
ção o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, § 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po-
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concor- derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de
dância. Pode ser, por exemplo, que a confissão esteja ocorrendo todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que
sob coação, ou mesmo para acobertar a real autoria do delito. Logo, tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.
hoje não há mais se falar na confissão como “rainha das provas”, § 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá
como era no sistema inquisitorial; ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor;
B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará se realizado por videoconferência, fica também garantido o acesso
confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do con- a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor
vencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Adjetiva que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência
Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, não se do Fórum, e entre este e o preso.
presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como é possível § 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a rea-
de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da formação de lização de atos processuais por sistema de videoconferência será
seu convencimento, autoriza-se que a autoridade judicial utilize tal fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como tam-
silêncio como mais um (e não como item exclusivo) dos elementos bém pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.
em prol da sua convicção; § 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser tomada nos §§ 1o e 2o deste artigo.
por termo nos autos; § 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no
D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quando que couber, à realização de outros atos processuais que dependam
o confidente simplesmente confessa, sem agregar ou modificar in- da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, re-
formações constantes dos autos); complexa (quando o réu reconhe- conhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou
ce vários fatos criminosos); ou qualificada (quando o réu confessa tomada de declarações do ofendido.
agregando fatos novos e modificativos que até então não eram sa- § 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompa-
bidos, ou, ainda que sabidos, não eram comprovados por outros nhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.
meios); § 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a
E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode ser existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma de-
que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada obsta ficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cui-
que a parte não confessada também tenha sido praticada por este dados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº
acusado. Neste caso, os outros elementos de prova serão funda- 13.257, de 2016)
mentais para a descoberta da autoria (ou não) da parte não confes- Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do
sada); e retratável (admite-se “voltar atrás” na confissão. Isso não inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
representa empecilho a que o indivíduo seja condenado mesmo de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de
tendo se retratado da confissão, caso o conjunto probatório aponte não responder perguntas que lhe forem formuladas.
que foi o acusado, de fato, quem praticou a infração). Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,
não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
CAPÍTULO III Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so-
DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO bre a pessoa do acusado e sobre os fatos.
§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre
Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judi- a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lu-
ciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado na gar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi
presença de seu defensor, constituído ou nomeado. preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo
§ 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala pró- do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual
pria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que es- a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais.
tejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério § 2o Na segunda parte será perguntado sobre:
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a pu- I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita;
blicidade do ato. II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató- deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso esteve antes da prática da infração ou depois dela;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo mo-
teve notícia desta; tivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo moti-
IV - as provas já apuradas; vo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante auxílio
V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por das autoridades policiais;
inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será comuni-
VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, cado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado
ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreen- da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e res-
dido; pectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art. 201, §2º,
VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à eluci- CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço
dação dos antecedentes e circunstâncias da infração; por ele indicado, admitindo-se, por sua opção, o uso de meio ele-
VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa. trônico (art. 201, §3º, CPP);
Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem como
partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as per- durante sua realização, será reservado espaço separado para o ofendi-
guntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. do (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender necessário, poderá o juiz
Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar, a expensas
parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas. do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, CPP). Por fim, o juiz deverá
Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os mo- tomar as providências necessárias à preservação da intimidade, vida
tivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar
a infração, e quais sejam. segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras infor-
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados se- mações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição
paradamente. aos meios de comunicação (art. 201, §6º, CPP).
Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo
será feito pela forma seguinte: CAPÍTULO V
I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que DO OFENDIDO
ele responderá oralmente;
II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, responden- Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e
do-as por escrito; perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pre-
III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e suma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por
do mesmo modo dará as respostas. termo as suas declarações.
Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever, § 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem moti-
intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habi- vo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.
litada a entendê-lo. § 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos
Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data
interrogatório será feito por meio de intérprete. para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mante-
Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou nham ou modifiquem.
não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. § 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endere-
Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interroga- ço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de
tório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. meio eletrônico.
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização,
CAPÍTULO IV será reservado espaço separado para o ofendido.
DA CONFISSÃO § 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendi-
do para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psi-
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados cossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor
para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz ou do Estado.
deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando § 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação
se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância. da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, de-
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do poimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito
juiz. para evitar sua exposição aos meios de comunicação.
Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será
tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195. Testemunhas
Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo É a pessoa sem qualquer interesse no deslinde da lide proces-
do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em sual penal, que apenas relata à autoridade judicial sua percepção
conjunto. sobre os fatos, em face do que viu, ouviu ou sentiu (ela utiliza-se,
veja, de sua percepção sensorial).
Qualificação e Oitiva do Ofendido Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo Pe-
O “ofendido” é o titular do direito lesado ou posto em perigo. nal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a
verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu
É a vítima, e, como tal, suas declarações correspondem à versão
nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua profissão, lugar
que lhe cabe dos fatos, tendo, consequencialmente, natureza pro-
onde exerce a atividade, se é parente de alguma das partes e em
batória.
que grau, bem como relatar o que souber.
Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal, sem-
A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas
pre que possível o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referidas,
circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as
das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e das “de
provas que possa indicar, tomando-se por termo suas declarações.
antecedentes”.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição
com o número máximo previsto em lei. por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
serem compromissadas. presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP);
Os informantes são aquelas pessoas que não prestam compro- L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da Re-
misso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por isso, bas- pública, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Ministros de
tante reduzido. Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos Secretários
As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados Estaduais, dos
antes delas a elas fazerem menção. membros do Poder Judiciário, dos membros do Ministério Público,
As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio. dos Ministros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e do
As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato do Distrito Federal. Estes serão inquiridos em local, dia e hora previa-
processo, como o interrogatório, por exemplo. mente designados pelo juiz (art. 221, caput, CPP). Ademais, o Pre-
As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato que sidente da República, o Vice-Presidente da República, o Presidente
presenciaram do Senado, o Presidente da Câmara dos Deputados, e o Ministro
As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que ou- Presidente do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela pres-
viram dizer por palavras de outros. tação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas formu-
As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações re- ladas pelas partes e deferidas pelo juiz lhe serão transmitidas por
levantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referirem, ofício (art. 221, §1º, CPP);
primordialmente, a condições pessoais do acusado; M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados junto à
B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa pode sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP);
ser testemunha, como regra. O depoimento será prestado oralmen- N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do mandado
te, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Não se deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em
vedará a testemunha, contudo, acesso a meros breves apontamen- que servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art. 221,
tos para que não se esqueça de nada; §3º, CPP);
C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o des- O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora da
cendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o irmão jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência,
e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão obrigados mediante carta precatória (que não suspenderá a instrução crimi-
a depor, salvo se não for possível, por outro modo, obter-se a prova nal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale lembrar que,
do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP); aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva da testemunha
D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar se- de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defen-
gredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela parte sor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da au-
interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP); diência de instrução e julgamento (art. 222, §3º, CPP);
E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar testemu- P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o que
nho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos menores de se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a particula-
quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em linha reta, ridade de que as cartas rogatórias somente serão expedidas se de-
cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho adotivo do acusado monstrada previamente sua imprescindibilidade, arcando a parte
(art. 208, CPP); requerente com os cursos do envio (art. 222-A, CPP);
F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas serão Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da prova”.
ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do que foi É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal, segun-
falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP). O juiz deve do o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por
advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de falso testemu- enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da
nho (art. 210, caput, parte final, CPP). As perguntas serão formula- instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re-
das pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz querimento de qualquer das partes, tomar-lhes antecipadamente
aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a o depoimento.
causa ou importarem na repetição de outra já repetida. R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordiná-
G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade ou rio, este número é de oito no máximo para cada parte (art. 401,
velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por ve- CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de no má-
lhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem ximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedimento suma-
(art. 220, CPP); ríssimo, três é o número máximo de testemunhas de cada parte; e
H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando a no plenário do júri o número máximo é de cinco testemunhas para
testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intér- cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ainda, que de acordo com
prete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput, CPP); o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, não será computada como
I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão da
surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusado causa. Também não entrarão nessa contagem o mero informante e
para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP); a mera testemunha referida (art. 401, §1º, CPP).
J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo. Se,
regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer sem CAPÍTULO VI
motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a DAS TESTEMUNHAS
sua apresentação ou determinar que seja conduzida por oficial de
justiça, que poderá solicitar o auxílio de força pública (art. 218, CPP); Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha.
K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se o Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa
juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, te- de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado, devendo
mor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua pro-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
fissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo,
de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou-
relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por
as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade. ela, depois de lido na presença de ambos.
Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar
permitido à testemunha trazê-lo por escrito. humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao
Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto, ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a
breve consulta a apontamentos. inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade des-
Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, sa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquiri-
o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, podendo, ção, com a presença do seu defensor.
entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo. Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas
Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os mo-
depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou tivos que a determinaram.
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de
o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au-
não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida
fato e de suas circunstâncias. por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, sal- prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de
vo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu tes- desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên-
temunho. cia.
Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze) velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem
anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206. Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os se-
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras nadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governa-
testemunhas, além das indicadas pelas partes. dores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias
que as testemunhas se referirem. Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito
souber que interesse à decisão da causa. Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em lo-
Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, cal, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.
de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das § 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi-
outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso tes- dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo
temunho. Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e defe-
realização, serão reservados espaços separados para a garantia da ridas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.
incomunicabilidade das testemunhas. § 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade superior.
Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que § 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art.
alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade, 218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente
comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação
remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instau-
do dia e da hora marcados.
ração de inquérito.
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz
Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plená-
será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se,
rio de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiência
para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
(art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, após
partes.
a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a
§ 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução cri-
testemunha à autoridade policial.
minal.
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes direta- § 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento,
mente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos
induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem autos.
na repetição de outra já respondida. § 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz pode- testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
rá complementar a inquirição. outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea-
apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
fato. julgamento.
Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demons-
contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que trada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte re-
a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará con- querente com os custos de envio.
signar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos
excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código.
previstos nos arts. 207 e 208. Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacional,
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respostas.
tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re- Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
produzindo fielmente as suas frases. proceder-se-á na conformidade do art. 192.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um dos, entre acusados e testemunha, entre testemunhas, entre acu-
ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples sado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre ofendidos etc. (as
omissão, às penas do não-comparecimento. combinações são múltiplas, veja-se).
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que expli-
por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo quem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já devem ter
da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re- sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se a termo o
querimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o ato de acareação.
depoimento.
CAPÍTULO VIII
Do Reconhecimento DA ACAREAÇÃO
O reconhecimento de pessoas/coisas é o ato pelo qual alguém
verifica e confirma (ou nega) a identidade de pessoa ou coisa que Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre
lhe é mostrada. acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou teste-
De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconhecimen- munha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre
to” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser reconhecida relevantes.
(inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se pretender será Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que
colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/coisas que com ela expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato de
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o acareação.
reconhecimento a apontá-la (inciso II); se houver razão para recear Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di-
que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de inti- virjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer
midação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à
não veja aquela (inciso III) (de acordo com o parágrafo único, do art. autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcre-
226, CPP, o disposto neste inciso não terá aplicação na fase da ins- vendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos
trução criminal ou em plenário de julgamento); do ato de reconhe- pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim
cimento se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente,
pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta
testemunhas presenciais (inciso IV). diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao
Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas chamadas processo e o juiz a entenda conveniente.
a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará
a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas Dos Documentos
(art. 228, CPP). Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar
documentos em qualquer fase do processo.
CAPÍTULO VII A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quaisquer
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, serão
DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS
considerados documentos, com fulcro na cabeça do art. 232, CPP.
Inclusive, à fotografia do documento, devidamente autenticada, se
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconheci-
dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único, CPP).
mento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada
com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, por exem-
a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
plo. O conceito de documento é muito mais amplo que o de “ins-
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca-
trumento”, portanto;
da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer se- B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da Lei
melhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios
apontá-la; criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibidas pelo res-
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o pectivo destinatário para defesa de seu direito (ainda que não haja
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não consentimento do remetente);
diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a auto- C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz
ridade providenciará para que esta não veja aquela; tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de
subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos,
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. se possível (art. 234, CPP);
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá apli- D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em lín-
cação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. gua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa
cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável. idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP);
Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o re- E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi-
conhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas. que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante re-
querimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
Da Acareação que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP);
Sempre que houver divergência de declarações sobre fatos ou F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma
circunstâncias relevantes, a acareação será admitida, com supedâ- dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
neo no art. 229, caput, do Código de Processo Penal, entre acusa- quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP);

12
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código de Se tal vestígio, após devidamente analisado, interpretado e as-
Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a leitura sociado com os minuciosos exames laboratoriais e dados da inves-
de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado tigação policial do fato, enquadrando-se em toda a sua moldura,
aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se tiver estabelecida a sua inequívoca relação com o fato delituoso e
ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição a leitura de com as pessoas com este relacionadas, aí ele terá se transformado
jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos, em indício.
gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro Atesta-se, dessa forma, o que, com muita precisão, proprie-
meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato dade e singeleza distingue o eminente mestre Professor Gilberto
submetida à apreciação e julgamento dos jurados). Porto, em seu já referido Manual de Criminalística: “o vestígio enca-
minha; o indício aponta”.
CAPÍTULO IX
DOS DOCUMENTOS CAPÍTULO X
DOS INDÍCIOS
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão
apresentar documentos em qualquer fase do processo. Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e pro-
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instru- vada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
mentos ou papéis, públicos ou particulares. -se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente au-
tenticada, se dará o mesmo valor do original. Da Busca e Apreensão
Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por Trata-se de medida cuja essência visa evitar o desaparecimen-
meios criminosos, não serão admitidas em juízo. to de provas, podendo ser realizada tanto na fase inquisitorial como
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo durante a ação penal. A apreensão, neste diapasão, nada mais é
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não que o resultado da busca, isto é, se a busca resulta frutífera, proce-
haja consentimento do signatário. de-se à apreensão da coisa buscada.
Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento re- A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240, §1º,
lativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará, CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP);
independentemente de requerimento de qualquer das partes, para B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acor-
sua juntada aos autos, se possível. do com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domiciliar
Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares serão sub- é comumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”); para
metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenticidade. apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos (alínea
Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de “b”); para apreender instrumentos de falsificação ou de contrafa-
sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor ção e objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”); para apreen-
público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade. der armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime
Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando conferidas ou destinados a fim delituoso (alínea “d”); para descobrir objetos
com o original, em presença da autoridade. necessários à prova de infração ou à defesa do réu (alínea “e”); para
Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo, apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
quando não exista motivo relevante que justifique a sua conserva- poder, quando haja suspeita de que o conhecimento de seu conteú-
ção nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Minis- do possa ser útil à elucidação do fato (alínea “f”); para apreender
tério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando trasla- pessoas vítimas de crimes (alínea “g”); e para colher qualquer ele-
do nos autos. mento de convicção (alínea “h”).
Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a bus-
Dos Indícios ca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de que
É todo e qualquer fato sinal, marca ou vestígio, conhecido e alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas
provado, que, possua relação necessária ou possível com outro letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo visto acima;
fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a existência des- C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada de
te último. ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242, CPP);
O Art 239 do CPP define indício como: “a circunstância conheci- D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, confor-
da e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, me o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a casa em
concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”. que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário
ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que
Quando falamos em “indícios” temos que ter cuidado para não terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem (inciso I); mencio-
confundir estes com os “vestígios”, posto que para os leigos em cri- nar os motivos e o fim da diligência (inciso II); ser subscrito pelo
minalística e na linguagem destituída de características jurídicas, escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir (inciso III);
depreende-se que vestígios e indícios praticamente se constituem se houver ordem de prisão, esta constará do próprio texto do man-
em sinônimos. dado de busca (§1º);
Para Aurélio Buarque de Holanda Pereira, em seu novo Dicioná- E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será per-
rio da Língua Portuguesa, vestígio é: “Sinal que homem ou animal mitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusa-
deixa com os pés no lugar por onde passa; rastro, rasto, pegada, do, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. 243,
pista; no sentido figurado, indício, sinal, pista, rastro, rasto”. §2º, CPP);
Entretanto, sob o enfoque criminalístico e também processua- F) Busca independente de mandado. A busca pessoal indepen-
lístico, há que se ter em mente a perfeita delimitação e diferen- derá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
ciação entre cada um dos vocábulos. Assim, qualquer marca, fato, suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
sinal, que seja detectado em local onde haja sido praticado um fato objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a me-
delituoso é, em princípio, um vestígio. dida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, CPP);

13
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domicilia- Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
res serão executadas durante o dia, salvo se o morador consentir prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja
que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, os execu- na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
tores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem os re- corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de
presente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245, caput, busca domiciliar.
CPP). Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, sal-
H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar somen- vo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de pe-
te pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma Comissão netrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao
Parlamentar de Inquérito, por exemplo, não tem competência para morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir
determinar busca domiciliar. a porta.
Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser § 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamen-
feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuência te sua qualidade e o objeto da diligência.
do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do critério § 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e for-
misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha nascido o çada a entrada.
sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não tenha se posto). § 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de for-
I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra ça contra coisas existentes no interior da casa, para o descobrimen-
mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo to do que se procura.
da diligência; § 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes os
J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou seus moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à diligência
agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda qualquer vizinho, se houver e estiver presente.
que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no § 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o
encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente morador será intimado a mostrá-la.
autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência § 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imedia-
desta (art. 250, caput, CPP). tamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus
agentes.
CAPÍTULO XI § 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstan-
DA BUSCA E DA APREENSÃO ciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo
do disposto no § 4o.
Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal. Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior,
§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões quando se tiver de proceder a busca em compartimento habitado
a autorizarem, para: ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em comparti-
a) prender criminosos; mento não aberto ao público, onde alguém exercer profissão ou
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; atividade.
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada,
objetos falsificados ou contrafeitos; os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na busca, se o requerer.
prática de crime ou destinados a fim delituoso; Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que não
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa moleste os moradores mais do que o indispensável para o êxito da
do réu; diligência.
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não
em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu importar retardamento ou prejuízo da diligência.
conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no
g) apreender pessoas vítimas de crimes; território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando,
h) colher qualquer elemento de convicção. para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa,
§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada sus- devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da di-
peita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos men- ligência ou após, conforme a urgência desta.
cionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior. § 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em
Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária não seguimento da pessoa ou coisa, quando:
a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a
expedição de mandado.
seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;
Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque-
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por infor-
rimento de qualquer das partes.
mações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo
Art. 243. O mandado de busca deverá:
removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
encalço.
realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
§ 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
sofrê-la ou os sinais que a identifiquem; duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências,
II - mencionar o motivo e os fins da diligência; entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
o fizer expedir. modo que não se frustre a diligência.
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
mandado de busca.
§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder
do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo
de delito.

14
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Como exceção, os tratados, as convenções e as regras de di-
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO, NO ESPA- reito internacional podem ser aplicadas, excluindo-se a jurisdição
ÇO E EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS; DISPOSIÇÕES PRELI- pátria. Tal fato acontece por conta da imunidade diplomática, po-
MINARES DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL sitivada na Convenção de Viena, aprovado pelo Decreto Legislativo
nº 103/1964.
DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 Exemplo: A regra é a aplicação do processo penal para todos
os crimes praticados em território brasileiro. Porém, uma pessoa
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL com imunidade diplomática, como embaixadores, secretários de
embaixada, familiares, além de funcionários de organizações inter-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que Ihe nacionais, como a ONU, serão submetidos à lei material (Código
confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei: Penal) de seu país, consequentemente a lei processual penal de seu
país também.
LIVRO I
DO PROCESSO EM GERAL
INQUÉRITO POLICIAL
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Inquérito Policial
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi- O inquérito policial é um procedimento administrativo investi-
leiro, por este Código, ressalvados: gatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente em um
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela auto-
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presiden- ridade policial, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar
te da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos em juízo.
crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia-
III - os processos da competência da Justiça Militar; do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados
IV - os processos da competência do tribunal especial (Consti- em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber,
tuição, art. 122, no 17); as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe-
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a
Parágrafo único.Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro- procedimento especial.
cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item
regulam não dispuserem de modo diverso. anterior, é de “procedimento administrativo investigatório”. E, se é
Art. 2oA lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem pre- administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre ele
juízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. as nulidades previstas no Código de Processo Penal para o proces-
Art. 3oA lei processual penal admitirá interpretação extensiva so, nem os princípios do contraditório e da ampla defesa.
e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios ge- Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito policial
rais de direito. não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de
provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que,
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELA- excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com
ÇÃO ÀS PESSOAS observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ-
ção antecipada de provas, por exemplo.
Lei Processual Penal no tempo A finalidade do inquérito policial é justamente a apuração do
Ao contrário da lei penal, a lei processual penal no tempo, uma crime e sua autoria, e à colheita de elementos de informação do
vez em vigência, tem aplicação imediata, ou seja, passa a atingir delito no que tange a sua materialidade e seu autor.
todos os processos que ainda se encontram em curso, não impor-
tando situações gravosas que possam ser originadas ao acusado. “Notitia criminis”
Tal afirmação ocorre em virtude do princípio do efeito imediato ou É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um fato
da aplicação imediata. delituoso que tenha sido praticado. São as seguintes suas espécies:
A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autoridade
Importante esclarecer que os atos praticados anteriormen- policial toma conhecimento do fato por meio de suas atividades
te da nova lei não serão invalidados, em decorrência do princípio corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qualquer desco-
tempus regit actum. bre uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa);
Como exemplo: O Código de Processo Penal atualmente é de B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autoridade
1941. Caso tenhamos um novo Código de Processo Penal em 2019, policial toma conhecimento do fato por meio de um expediente
todos os atos praticados na vigência da lei de 1941 continuam vali- escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; requerimento
dos, sendo que somente a partir da vigência do Código de 2019 (e da vítima);
consequente revogação do Código de 1941) que passarão a serem C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autorida-
validos os atos com base no novo Código. de policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio do
auto de prisão em flagrante.
Lei Processual Penal no espaço
A lei processual penal no espaço aplica-se em com base no “Delatio criminis”
princípio da territorialidade absoluta, ou seja, o processo penal é Nada mais é que uma espécie de notitia criminis, consiste na
aplicado em todo território brasileiro. comunicação de uma infração penal à autoridade policial, feita por
qualquer pessoa do povo.

15
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Características do inquérito policial Grau de Cognição
- Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Penal, Consiste no valor probatório a criar um juízo de verossimilhan-
todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzi- ça, assim, não é um juízo de certeza da autoria delitiva a fase de
das a escrito (ou a termo) ou datilografadas e, neste caso, rubrica- inquérito policial. Compete à fase processual a análise probatória
das pela autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de de autoria.
ser peça escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante
tal fase sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo; Identificação criminal
Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autorida- Envolve a identificação fotográfica e a identificação datiloscó-
de assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato pica. Antes da atual Constituição Federal, a identificação criminal
ou exigido pelo interesse da sociedade. era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988, inclusive,
Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo art.
aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade 5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identificado não será subme-
policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, tido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas em lei”.
XIV, da Lei nº 8.906/94 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Bra- A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es-
sil - e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o
atos já documentados nos autos, independentemente de procura- qual a identificação criminal somente será cabível quando houver
ção, para assegurar direito de assistência do preso e investigado. fundada dúvida quanto à identidade do menor.
Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e ir- Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Crimi-
restrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos nosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de pes-
autos, mas não em relação às diligências em andamento. soas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos será realizada independentemente de identificação civil.
já documentados, é cabível Reclamação ao STF para ter acesso às Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para
informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habeas tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos
corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente,
mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações
prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele. criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência a
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado.
se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº
nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos 12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à de delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um
instauração de inquérito contra os requerentes. art. 3º com situações em que ela será possível:
Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de
doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua ca- falsificação (inciso I);
racterística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado B) Quando o documento apresentado for insuficiente para
nos atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II);
contra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descu- C) Quando o indiciado portar documentos de identidade distin-
bra mais sobre um cidadão em situações como a investigação de tos, com informações conflitantes entre si (inciso III);
vida pregressa anterior a um contrato de trabalho. D) Quando a identificação criminal for essencial para as inves-
- Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem am- tigações policiais conforme decidido por despacho da autoridade
pla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da sen- judiciária competente, de ofício ou mediante representação da
tença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta
hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual lei
colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto
(acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal pode-
(art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não há
rá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil
uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na fase
genético;
do inquérito, tal como ocorre no momento processual, devendo
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros nomes
estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem sur-
ou diferentes qualificações (inciso V);
gindo.
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou
- Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade
da localidade da expedição do documento apresentado impossibi-
para realizar aquelas diligências investigativas que ela julga mais litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI).
adequadas para aquele caso.
- Peça oficiosa/oficial. Pode ser instaurada de oficio. Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil
- Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial ele genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis
se torna indisponível. O delegado não pode arquivar o inquérito genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art.
policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judicial, 5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados de-
mediante requerimento do promotor de justiça. vem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins
Valor probatório diversos do previsto na lei ou em decisão judicial.
Fernando Capez ensina que, “o inquérito tem valor probatório
meramente relativo, pois serve de base para a denúncia e para as Aplicação do Princípio da Insignificância no Inquérito Policial
medidas cautelares, mas não serve sozinho para sustentar sentença O princípio da insignificância tem origem no Direito Romano.
condenatória, pois os elementos colhidos no inquérito o foram de E refere-se, então, à relevância ou à insignificância dos objetos das
modo inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa.” lides. Vale analise sobre a relevância jurídica do ato praticado pelo
autor do delito e sua significância para o bem jurídico tutelado.

16
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
No caso do Direito Penal, não se trata de um princípio previsto Condução Coercitiva no Inquérito Policial
na legislação. É, por outro lado, uma construção doutrinária. E foi A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pessoa
assimilado, então, pela jurisprudência. é levada à presença de autoridade policial ou judiciária. É comando
A depender da natureza do fato, os prejuízos ocasionados po- impositivo, que independente da voluntariedade da pessoa, admi-
dem ser considerados ínfimos ou insignificante. E, desse modo, in- tindo-se o uso de algemas nos limites da Súmula 11 do Supremo
cidir o princípio da bagatela para absolvição do réu. Tribunal Federal.
Nessa perspectiva, dispõe, então, o art. 59 do Código Penal:
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à Incomunicabilidade do indiciado preso
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circuns- De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal, seria
tâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quando
da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para conveniente à investigação ou quando houvesse interesse da so-
reprovação e prevenção do crime... ciedade
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o
Como o Princípio da Insignificância decorre de uma construção Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re-
histórica, doutrinária e jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de
houve por bem fixar critérios que direcionem a aplicabilidade ou forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente
não da ‘insignificância’ aos casos concretos. Para tanto, estabele- revogado.
ceu os seguintes critérios, de observação cumulativa:
- a mínima ofensividade da conduta do agente; Prazo para conclusão do inquérito policial
- a ausência de periculosidade social da ação; De acordo com o Código de Processo Penal, em se tratando de
- o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclu-
- a inexpressividade da lesão jurídica provocada. são. Já em se tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para
conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e
Não há qualquer dúvida de que o princípio da insignificância necessárias diligências.
pode ser aplicado pelo magistrado ou tribunal quando verificada a Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze
presença dos mencionados requisitos autorizadores e se tratar de dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66,
crimes que admitam a sua aplicação. da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta
No entanto, apesar de ainda controverso, a jurisprudência dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
atual vem sendo direcionada no sentido de que não é possível a Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de
analise jurídica da conduta do acusado, em sede de inquérito po- trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado sol-
licial, para então aplicar desde logo o princípio da insignificância to. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
diante de eventual atipicidade da conduta imputada ao autor do Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Economia
ilícito. Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será sempre de
Para o STJ, a resposta é negativa. A análise quanto à insignifi- dez dias.
cância ou não do fato seria restrita ao Poder Judiciário, em juízo, a E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro-
posteriori. Cabe à autoridade policial o dever legal de agir em fren- cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do venci-
te ao suposto fato criminoso. Este entendimento consta do Infor- mento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo
mativo 441 do STJ: Penal.

A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus a Conclusão do inquérito policial


paciente condenado pelos delitos de furto e de resistência, reconhe- De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é con-
cendo a aplicabilidade do princípio da insignificância somente em cluído com a confecção de um relatório pela autoridade policial, no
relação à conduta enquadrada no art. 155, caput, do CP (subtração qual se deve relatar, minuciosamente, e em caráter essencialmente
de dois sacos de cimento de 50 kg, avaliados em R$ 45). Asseverou- descritivo, o resultado das investigações. Em seguida, deve o mes-
-se, no entanto, ser impossível acolher o argumento de que a refe- mo ser enviado à autoridade judicial.
rida declaração de atipicidade teria o condão de descaracterizar a Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relatório,
legalidade da ordem de prisão em flagrante, ato a cuja execução o em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), em
apenado se opôs de forma violenta. cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quanto à
Segundo o Min. Relator, no momento em que toma conheci- tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas.
mento de um delito, surge para a autoridade policial o dever legal Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável,
de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da incidência do logo, a sua falta não tornará inquérito inválido.
princípio da insignificância é realizado apenas em momento pos-
terior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias ati- Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério
nentes ao caso concreto. Logo, configurada a conduta típica descri- Público
ta no art. 329 do CP, não há de se falar em consequente absolvição Recebido o inquérito policial, tem o agente do Ministério Públi-
nesse ponto, mormente pelo fato de que ambos os delitos imputa- co as seguintes opções:
dos ao paciente são autônomos e tutelam bens jurídicos diversos. A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça é
HC 154.949-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/8/2010. o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos co-
lhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta
Indiciamento ação por intermédio da denúncia;
O ato de “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infra- B) Requerimento de diligências. Somente quando forem indis-
ção penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. pensáveis;
C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investigado
não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que constitua, en-
contra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo se

17
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignificância”, por exem- de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via
plo, o agente ministerial pode solicitar o arquivamento do inquérito do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento
à autoridade judicial; investigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape-
D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua com- nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente
petência, o membro do MP suscita a questão, para que a autorida- ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do
de judicial remeta os autos à justiça competente; direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias
E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Confor- ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento;
me o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de compe- B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento des-
tência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos juris- favorável à possibilidade investigatória do Ministério Público, tem-
dicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se estabelece -se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais,
entre órgãos do Ministério Público. fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o
membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condena-
Arquivamento do inquérito policial ção de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a
No arquivamento, uma vez esgotadas todas as diligências cabí- defesa por seu advogado caso não tenha condições financeiras de
veis, percebendo o órgão do Ministério Público que não há indícios conduzir uma investigação particular. Também, fala-se que o Minis-
suficientes de autoria e/ou prova da materialidade delitiva, ou, em tério Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de
outras palavras, em sendo caso de futura rejeição da denúncia (art. inquérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria
395 do CPP) ou de absolvição sumária (397 do CPP), deverá ser for- “querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas
mulado ao juiz pedido de arquivamento do inquérito policial. Quem são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão
determina o arquivamento é o juiz por meio de despacho. O arqui- legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério
vamento transmite uma ideia de “encerramento” do IP. Público.
Assim, quem determina o arquivamento do inquérito é a auto-
ridade judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Ministé- Controle externo da atividade policial
rio Público. Disso infere-se que, nem a autoridade policial, nem o O controle externo da atividade policial é aquele realizado pelo
membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, podem Ministério Público no exercício de sua atividade fiscalizatória em
promover o arquivamento de ofício. Ademais, em caso de ação prol da sociedade (art. 127 e 129, II, da Constituição Federal de
penal privada, o juiz pode promover o arquivamento caso assim 1988) e em virtude de mandamento constitucional expresso (art.
requeira o ofendido. 129, VII, da Constituição Federal de 1988).

Desarquivamento Vejamos o que estabelece a norma processual em relação ao


Quem pode desarquivar o Inquérito Policial é do Ministério Pú- Inquérito Policial nos termos do Código de Processo Penal.
blico, quando surgem fatos novos. Assim, deve a autoridade policial
representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos novos TÍTULO II
que podem dar ensejo a nova investigação. Vejamos o mencionada DO INQUÉRITO POLICIAL
na Súmula 524do STF:
“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requeri- Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades poli-
mento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, ciais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
sem novas provas”. apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não ex-
Trancamento do inquérito policial cluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometi-
Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo da a mesma função.
possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa extintiva Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será ini-
da punibilidade, e de ausência de elementos indiciários relativos à ciado:
autoria e materialidade. Ou seja, é cabível quando a investigação é I - de ofício;
absolutamente infundada, abusiva, não indica o menor indício de II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministé-
prova da autoria ou da materialidade. Aqui a situação é de paralisa- rio Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver quali-
ção do inquérito policial, determinada através de acórdão proferi- dade para representá-lo.
do no julgamento de habeas corpus que impede o prosseguimento § 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que
do IP. possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
Investigação pelo Ministério Público b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos
Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no sen- e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da in-
tido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se fração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
confirmou com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da Cons- são e residência.
tituição Federal no sentido de que a apuração de infrações penais § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
caberia apenas aos órgãos policiais -, há se disponibilizar argumen- inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
tos favoráveis e contrários a tal prática: § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da exis-
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- tência de infração penal em que caiba ação pública poderá, ver-
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada balmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- verificada a procedência das informações, mandará instaurar in-
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, quérito.
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios representação, não poderá sem ela ser iniciado.

18
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida-
poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha quali- des judiciárias;
dade para intentá-la. IV - representar acerca da prisão preventiva.
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração pe- Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no
nal, a autoridade policial deverá: § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de-
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem zembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13
o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri- de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro
minais; do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar,
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
liberados pelos peritos criminais; privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
do fato e suas circunstâncias; Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de
IV - ouvir o ofendido; 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do I - o nome da autoridade requisitante;
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respec- II - o número do inquérito policial; e
tivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ou- III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável
vido a leitura; pela investigação.
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca- Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes
reações; relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização
de delito e a quaisquer outras perícias; judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo dati- ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos
loscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de ante- adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
cedentes; localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.(Incluído
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vis- pela Lei nº 13.344, de 2016)
ta individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude § 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamen-
e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais- to da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofre-
quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu quência.
temperamento e caráter. § 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qual-
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de quer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme
eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pes- disposto em lei;
soa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel ce-
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido lular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá pro- única vez, por igual período;
ceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contra- III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será
rie a moralidade ou a ordem pública. necessária a apresentação de ordem judicial.
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto § 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial de-
no Capítulo II do Título IX deste Livro. verá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas,
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro- contado do registro da respectiva ocorrência policial.
cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri- § 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze)
cadas pela autoridade. horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestado-
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o ras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibi-
indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventiva- lizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais,
mente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
solto, mediante fiança ou sem ela. Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a
apurado e enviará autos ao juiz competente. juízo da autoridade.
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às institui-
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser ções dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
encontradas. investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
pelo juiz. ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (In-
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito.
cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei-
§ 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investi-
xa, sempre que servir de base a uma ou outra.
gado deverá ser citado da instauração do procedimento investiga-
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial:
tório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessá-
oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº
rias à instrução e julgamento dos processos;
13.964, de 2019)
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Minis-
tério Público;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com au-
sência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade AÇÃO PENAL
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que es-
tava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para Com o fato delituoso, nasce para o Estado o direito de buscar e
que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor punir um culpado. Esta busca punição necessitam respeitar um per-
para a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, curso que, prejudicialmente, em geral se dá pelo inquérito policial,
de 2019) e, judicialmente, se inicia com a ação penal.
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) A ação penal consiste no direito de buscar junto ao Estado tu-
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) tela jurisdicional para decidir sobre um determinado problema que
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) concretamente se apresenta.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos ser-
vidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Pressupostos processuais
Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respei- Os pressupostos processuais e as condições da ação são os re-
to a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei quisitos, sem os quais não pode o juiz sequer examinar a situação
nº 13.964, de 2019) deduzida.
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador Pressupostos processuais são aqueles que possibilitam a cons-
pela autoridade policial. tituição e desenvolvimento válidos do processo.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução Há duas correntes a respeito do tema: uma inclui nos pressu-
do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, im- postos processuais todos os requisitos necessários ao nascimento
prescindíveis ao oferecimento da denúncia. e desenvolvimento válido e regular do processo; outra, uma ten-
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar au- dência mais restritiva dos pressupostos processuais, entende como
tos de inquérito. únicos requisitos o pedido, a capacidade de quem o formula e a
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela investidura do destinatário.
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autorida- Pressupostos processuais, nessa visão restrita, seriam os requi-
de policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas sitos mínimos para a existência de um processo válido, de uma re-
tiver notícia. lação jurídica regular, sem qualquer nexo com a situação de direito
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos material deduzida na demanda.
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda- A grande vantagem dessa posição consiste exatamente em res-
rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão saltar a autonomia da relação processual frente à de direito subs-
entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. tancial. Aquela teria seus requisitos básicos, fundamentais, que não
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces- guardam qualquer elo com esta última.
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Deste modo, pode-se afirmar que existem pressupostos de
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem existência e de validade do processo. Sejam completos ou restritos
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer os pressupostos processuais, fato é que, para emitir o provimento
anotações referentes a instauração de inquérito contra os reque- final sobre o caso concreto, o magistrado precisa que o processo se
rentes. desenvolva sem vícios.
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre Sem prejuízo, vamos elencar os pressupostos processuais indi-
de despacho nos autos e somente será permitida quando o interes- cados pela corrente mais restritiva:
se da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. O primeiro pressuposto processual, portanto, refere-se à capa-
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de cidade para ser parte. Assim, não podem oferecer denúncia aquele
três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a re- que não integre o Ministério Público ou queixa o ente desprovido
querimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Públi- da condição de pessoa – natural, jurídica ou judiciária.
co, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso Nestas circunstâncias, incabível, por exemplo, a denúncia ofe-
III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de recida apenas por “estagiário”, ou a queixa apresentada por pessoa
27 de abril de 1963) falecida ou por sociedade de fato.
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver À capacidade para ser parte acrescenta-se a capacidade postu-
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em latória, isto é, de estar em juízo regularmente representado.
uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar Logo, para o recebimento de queixa-crime, não basta o seu
diligências em circunscrição de outra, independentemente de pre- oferecimento pelo ofendido, devendo estar firmada por advogado,
catórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compa- com os poderes específicos, observados os requisitos do art. 44, do
reça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em Código de Processo Penal. Tais requisitos são essenciais para que o
sua presença, noutra circunscrição. pedido possa ser aceito.
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz com- Ausentes os pressupostos relativos às partes, a denúncia ou
petente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação a queixa deverão ser rejeitadas, de acordo com a redação do art.
e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que 396, parágrafo único, primeira parte, do Código de Processo Penal.
tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à Além dos pressupostos relativos às partes, a inicial acusatória
pessoa do indiciado. deve ser oferecida a quem tem jurisdição, poder para decidir a cau-
sa, isto é, a juiz regularmente investido no cargo. Assim, absoluta-
mente nula a ação penal recebida por juiz afastado de suas funções
ou aposentado.
Tratando-se de juízo incompetente, todavia, somente são pas-
síveis de anulação os atos decisórios, devendo o processo, ao ser
declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente, conforme
previsão do art. 567, do Código de Processo Penal.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Condições da Ação Penal A) A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com to-
Tratam-se de condições que regulam o exercício do direito. das as suas circunstâncias, a qualificação do acusado (ou esclareci-
Com efeito, estas condições podem ser genéricas ou específicas. mentos pelos quais se possa identificá-lo), a classificação do crime
1 Condições genéricas. São aquelas que devem estar presen- e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41, CPP). A ausên-
tes em toda e qualquer ação penal. São elas: cia destes requisitos pode levar à inépcia da denúncia.
A) Possibilidade jurídica do pedido. O pedido formulado deve Também, a impossibilidade de identificar o acusado com seu
encontrar amparo no ordenamento jurídico, ou seja, deve se referir verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação pe-
a uma providência admitida pelo direito objetivo. Deve ser um fato nal, quando certa a identidade física. Assim, se descoberta poste-
típico; riormente a qualificação, basta fazer retificação por termo nos au-
B) Legitimidade para agir. Deve-se perguntar “quem pode”, e tos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes (art. 259, CPP);
“contra quem se pode” manejar ação penal. B) Na hipótese de concurso de agentes, ou em crimes de con-
A regra geral é a de que no polo ativo da ação penal pública curso necessário, a denúncia deve especificar a conduta de cada
figura o Ministério Público. No polo ativo da ação penal de iniciativa um. É posicionamento pacífico no Supremo Tribunal Federal e no
privada figura o ofendido. No polo passivo, sendo a ação penal pú- Superior Tribunal de Justiça de que a “denúncia genérica” deve ser
blica ou privada, figurará o provável autor do fato delituoso maior de todo evitada, por prejudicar o direito de defesa do(s) agente(s)
de dezoito anos; envolvido(s);
C) Interesse de agir. Composto pelo trinômio necessidade/ade- C) É possível “denúncia alternativa”? Neste caso, o agente mi-
quação/utilidade. nisterial pede a condenação por um crime “X”, ou, caso isso não
Pela necessidade, analisa-se até que ponto a existência de ação fique provado, que seja o agente condenado, com a mesma narra-
penal é fundamental para esclarecimento da causa. Pode ser que tiva acusatória fática, pelo crime “Y”.
em um determinado caso uma solução extrajudicial seja muito me- Diverge amplamente a doutrina quanto a essa possibilidade:
lhor, por exemplo. quem entende que isso não é possível, ampara-se no argumento
Já a adequação consiste no enquadramento da medida busca- de que isso torna a acusação incerta e causa insegurança jurídica
da por meio da ação penal com o instrumento apto a isso. Assim, a ao acusado; quem entende que isso é possível, afirma que, como o
título ilustrativo, caso se deseje trancar uma ação penal cuja única acusado se defende meramente de fatos, e não de uma tipificação
sanção cominada ao delito seja a de multa, não se mostra como imposta, nada obsta que subsista um crime em detrimento de ou-
medida mais adequada à utilização do habeas corpus, já que não tro e a condenação por um ou por outro seja pedida na acusação;
há risco à liberdade de locomoção, mas sim por meio do mandado D) Pouco importa a definição jurídica que o agente ministerial
de segurança. atribui ao acusado. Este sempre se defenderá dos fatos narrados, e
Por fim, a utilidade consiste na eficácia prática que uma ação não do tipo penal imputado;
deve ter. Se não há nada a ser apurado, ou não há qualquer sanção E) Com base no art. 46, CPP, o prazo para oferecimento da
a ser aplicada, inútil e desnecessária será a ação penal; denúncia (que é um prazo de natureza processual penal, isto é,
D) Justa causa. Trata-se de condição genérica da ação prevista contado da forma do art. 798, CPP) será de cinco dias, estando o
apenas no processo penal (art. 395, III, CPP), mas não no processo réu preso (contado da data em que o órgão do Ministério Público
civil. Consiste em se obter o mínimo de provas indispensável para o receber o inquérito policial), e de quinze dias, estando o réu solto
início de um processo, até para com isso não submeter o cidadão à ou afiançado. Agora, se o agente do MP tiver dispensado o inqué-
situação degradante e embaraçosa que desempenha a persecução rito, o prazo para a exordial acusatória contar-se-á da data em que
criminal na vida de uma pessoa. tiver recebido as peças informativas substitutivas do procedimento
administrativo investigatório (art. 46, §1º, CPP).
2 Condições específicas. São condições exigidas apenas para Há, ainda, prazos especiais na legislação extravagante para
alguns delitos. Assim, por exemplo, nos crimes de ação de inicia- oferecimento de denúncia, como o de dez dias para crime eleitoral,
tiva pública condicionada, indispensável será o oferecimento de o de dez dias para tráfico de drogas, o de quarenta e oito horas
representação pelo ofendido, nos termos do art. 39, do Código de para crime de abuso de autoridade, e o de dois dias para crimes
Processo Penal, ou a requisição do Ministro da Justiça, em se tra- contra a economia popular;
tando de crime contra a honra praticado contra o Presidente da F) De acordo com o art. 395, CPP, a denúncia será rejeitada
República, contra chefe de governo estrangeiro, conforme art. 145, quando for manifestamente inepta (inciso I); quando faltar pressupos-
parágrafo único, do Código Penal; no crime de induzimento a erro to processual ou condição para o exercício da ação penal (inciso II);
essencial e ocultação de impedimento (art. 236,do CP), constitui e quando faltar justa causa para o exercício da ação penal (inciso III);
condição específica da ação penal – queixa – o trânsito em julgado G) Da decisão que recebe a denúncia não cabe qualquer recur-
da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o ca- so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado de
samento. Ainda podemos citar o laudo pericial nos crimes contra a segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de im-
propriedade imaterial; o exame preliminar em crimes de tóxicos; a pugnação. Já da que rejeita a denúncia ou a acolhe apenas parcial-
representação do ofendido etc. mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP.
Deste modo, ausente condição específica de procedibilidade Vale lembrar apenas que, excepcionalmente, na Lei nº
exigida pela lei, de rigor será a rejeição da denúncia ou queixa. 9.099/95, de acordo com seu art. 82, a rejeição da inicial acusatória
Classificação / Espécies das ações penais. desafia o recurso de apelação.
A classificação das ações penais observa, em regra, o titular
para sua propositura. Súmula 707 do STF: “constitui nulidade a falta de intimação do de-
1 Ação penal pública. É de iniciativa exclusiva do Ministério Pú- nunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição
blico (órgão do Estado, composto por promotores e procuradores da denúncia, não suprimindo a nomeação do defensor dativo”.
de justiça no âmbito estadual, e por procuradores da República, no 1.1 Ação penal pública incondicionada. É a regra no ordena-
federal). Na ação pública vigora o princípio da obrigatoriedade, ou mento processual penal. Para que ação penal seja de outra espécie,
seja, havendo indícios suficientes, surge para o Ministério Público isso deve estar expressamente previsto. Se não houver previsão di-
o dever de propor a ação. A peça processual que dá início à ação versa, entende-se pública a ação penal.
penal pública é a denúncia, sendo suas características principais:

21
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Com efeito, a titularidade da ação penal pública incondicio- G) Retratação da retratação da representação. Trata-se de
nada é do Ministério Público, com fundamento no art. 129, I, da uma nova representação, ou seja, o agente representou, se retra-
Constituição Federal, que a exercerá por meio de denúncia, como tou, e então se retrata da retratação. Ela é possível, desde que den-
já dito. tro do prazo decadencial de seis meses;
H) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja re-
1.2 Ação penal pública condicionada. O Ministério Público de- presentação. A representação oferecida não vincula o agente mi-
pende do implemento de uma condição, que pode ser a represen- nisterial a oferecer denúncia se averiguar que o fato descrito não
tação do ofendido, ou a requisição do Ministro da Justiça. constitui delito, ou, ainda que constitua, não mais é possível sua
A sua titularidade também compete ao Ministério Público, que punibilidade;
o faz por meio de denúncia. A diferença é que, enquanto na ação I) Requisição do Ministro da Justiça. É condição específica de
pública incondicionada não carece o MP de qualquer autorização, procedibilidade (ex.: crimes contra a honra do Presidente da Repú-
na condicionada fica o órgão ministerial subordinado justamente blica, nos moldes do art. 145, CP). Trata-se, essencialmente, de ato
a uma autorização prévia que se faz por meio de representação/ político praticado pelo Ministro da Justiça, endereçado ao Ministé-
requisição. rio Público na figura de seu Procurador Geral;
Os princípios que norteiam esta espécie de ação são os mes- J) A requisição do Ministro da Justiça está sujeita a prazo de-
mos da ação penal pública incondicionada. cadencial? Não. O crime contra o qual se exige a requisição está
Com efeito, há se estudar algumas questões pertinentes à re- sujeito à prescrição, mas a requisição do Ministro da Justiça não se
presentação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça: sujeita a prazo decadencial;
A) Representação do ofendido. É a manifestação do ofendido K) Possibilidade de retratação da requisição. Há divergência na
ou de seu representante legal no sentido de que tem interesse doutrina. Para uma primeira corrente, não se admite retratação da
na persecução penal do fato delituoso. Ela deve ser oferecida por requisição, justamente pela grande natureza política que este ato
pessoa maior de dezoito anos através de advogado, ou, se menor importa; para uma segunda corrente, essa retratação é, sim, admi-
de dezoito anos, é o representante legal deste quem procura um tida, desde que feita antes do oferecimento da peça acusatória. O
advogado para que o faça. Se houver colisão de interesses entre o posicionamento que vem se consolidando na doutrina bem como
menor e seu representante, nomeia-se curador especial, na forma nos Tribunais é que não é cabível a retratação da requisição (Touri-
do art. 33, do Código de Processo Penal. nho Filho, Fernando Capez).
Ademais, com fundamento no primeiro parágrafo, do art. 24, L) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja requi-
CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente sição. Vale o mesmo que foi dito para a representação.
por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge
(ou convivente), ao ascendente, ao descendente, ou irmão; 2 Ação penal de iniciativa privada. Trata-se de oportunidade
B) Natureza jurídica da representação do ofendido. Em regra, conferida ao ofendido de oferecer queixa-crime, caso entenda ter
a representação funciona como condição específica de procedibili- sido vítima de delito. Vale dizer que, como a regra no silêncio do
dade aos processos que ainda não tiveram início. Por outro lado, se legislador é a ação penal pública incondicionada, para que a ação
o processo já está em andamento, a representação passa a ser uma penal seja de iniciativa privada deve haver previsão legal neste sen-
condição de prosseguibilidade da ação penal, já que, para que o tido.
processo prossiga, uma condição superveniente tem de ser sanada; Importante ainda, discorrer sobre algumas das características
C) Forma da representação do ofendido. Trata-se de peça sem principais da queixa-crime:
rigor formal, bastando que fique devidamente demonstrado o in- A) De acordo com o art. 30, do Código de Processo Penal, ao
teresse da vítima ou de seu representante legal em representar o ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo (querelan-
ofensor. Conforme o art. 39, da Lei Processual Penal, o direito de te) caberá intentar ação privada contra o ofensor (querelado). Ade-
representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procura- mais, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente
dor com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na
feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade poli- ação passará ao cônjuge (ou convivente), ascendente, descendente,
cial. Ato contínuo, o primeiro parágrafo do mencionado dispositivo ou irmão (se houver colisão de interesses entre o menor e seu re-
prevê que a representação feita oralmente ou por escrito, sem as- presentante, nomeia-se curador especial, na forma do art. 33, do
sinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu represen- Código de Processo Penal).
tante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou Como se não bastasse, de acordo com o art. 36, CPP, se compa-
autoridade policial, presente o órgão do MP, quando a este houver recer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o
sido dirigida. Por fim, o parágrafo segundo do art. 39 prevê que a cônjuge (ou convivente), e, em seguida, o parente mais próximo da
representação conterá todas as informações que possam servir à ordem de enumeração constante do art. 31 (cônjuge, ascendente,
apuração do fato e da autoria; descendente, irmão), podendo, entretanto, qualquer delas prosse-
guir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone;
D) Direcionamento da representação. É feita à autoridade po- B) Com supedâneo no art. 44, CPP, a queixa poderá ser dada
licial, ao Ministério Público, ou ao juiz, pessoalmente ou por repre- por procurador com poderes especiais, devendo constar do ins-
sente com procuração atribuidora de poderes especiais para tal; trumento do mandado o nome do querelante e a menção do fato
E) Prazo para oferecimento da representação. Assim como a criminoso (salvo quando tais esclarecimentos dependerem de dili-
queixa-crime, a representação está sujeita ao prazo decadencial de gências que devem previamente ser requeridas no juízo criminal);
seis meses, em regra contados do conhecimento da autoria. Tra- C) A queixa-crime deve conter todos os elementos da denúncia
ta-se de prazo penal, isto é, o dia do início é contabilizado (art. 10, previstos no art. 41, CPP, valendo a mesma ressalva feita no art.
CP); 259, da Lei Processual;
F) Retratação da representação. Antes do oferecimento da de- D) De acordo com o art. 45, CPP, a queixa, ainda quando a ação
núncia pode ocorrer a retratação. Depois de oferecida a denúncia, penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério
não é mais possível retratar-se da representação. Eis o teor do art. Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes
25, do Código de Processo Penal; do processo;

22
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
E) O prazo para oferta de queixa-crime é decadencial de seis Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
meses, contados com a natureza de prazo penal (art. 10, CP) do co- intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de pro-
nhecimento da autoridade delitiva, tal como o prazo para a repre- va, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do que-
sentação do ofendido nos delitos de ação penal pública condicionada à relante, retomar a ação como parte principal (o terceiro parágrafo,
representação. A exceção ao início da contagem de prazo se dá no caso do art. 100, CP, também trata da ação penal privada supletiva que
do crime previsto no art. 236, do Código Penal (crime de induzimento aqui se estuda).
a erro essencial e ocultação de impedimento ao casamento), em que Vale lembrar que, para caber tal ação, é necessária deliberada
o prazo de seis meses para queixa começa a contar do trânsito em desídia do agente do Ministério Público. Caso tal membro não te-
julgado da sentença que anule o casamento no âmbito cível, conforme nha ofertado denúncia, porque entendeu não ser o caso, desauto-
disposto no parágrafo único do aludido dispositivo; rizado fica o agente ofendido a manejar a ação privada subsidiária
F) Da decisão que recebe a queixa não cabe qualquer recurso, da pública.
devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado de Por fim, cabe ressaltar que caso o Ministério Público retome a
segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de ação penal manejada pelo querelante subsidiário por negligência
impugnação. Já da que rejeita a queixa ou a acolhe apenas parcial- deste, a doutrina costuma designar tal retomada de “ação penal
mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP. indireta”.
Isto posto, feitas estas considerações acerca da queixa-crime,
há se discorrer sobre as espécies de ação penal privada. Seguem os dispositivos legais previstos no Código de Processo
Penal sobre Ação Penal.
2.1 Ação penal exclusivamente privada. É possível sucessão
processual, já que, apesar de competir ao ofendido a iniciativa de TÍTULO III
manejo, o art. 31, CPP permite que cônjuge (ou convivente), ascen- DA AÇÃO PENAL
dente, descendente ou irmão nela prossigam no caso de morte do
ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial. Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
Dentro de tal postulado, temos ainda que estudar dois institu- denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exi-
gir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
tos, a saber, o perdão da vítima e a perempção.
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
O perdão é ato bilateral, isto é, precisa ser aceito pelo impu-
§1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado au-
tado (ao contrário da renúncia, que é ato unilateral). Ocorre quan-
sente por decisão judicial, o direito de representação passará ao
do já instaurado o processo (não é pré-processual como a renúncia);
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
é irretratável; pode ser expresso ou tácito (o silêncio do acusado, de
§2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do
acordo com o art. 58, CPP, implica aceitação do perdão); processual ou
patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
extrajudicial (de acordo com o art. 59, CPP, a aceitação do perdão fora
será pública.
do processo constará de declaração assinada pelo querelado, ou por Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida
seu representante legal, ou por procurador com poderes especiais); e a denúncia.
por fim, pode ser ofertado até o trânsito em julgado da sentença final. Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o
Já a perempção, prevista no art. 60, CPP, revela a desídia do auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela
querelante quando, iniciada a ação penal, deixa de promover o an- autoridade judiciária ou policial.
damento do processo durante trinta dias seguidos (inciso I); quan- Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciati-
do, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, não va do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública,
comparece em juízo para prosseguir no processo dentro do prazo fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e
de sessenta dias qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (res- indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
salvado o disposto no art. 36, CPP) (inciso II); quando o querelante Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
deixa de comparecer sem motivo justificado a qualquer ato do pro- quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do
cesso a que deva estar presente (inciso III, primeira parte); quando Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autori-
o querelante deixa de formular o pedido de condenação nas alega- dade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão
ções finais (inciso III, segunda parte); quando, sendo o querelante ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação
pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor (inciso IV); dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
2.2 Ação penal privada personalíssima. Não é possível a su- o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
cessão processual. No caso de morte da vítima, extingue-se a puni- dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão
bilidade por não admitir sucessão (ex: o delito previsto no art. 236, da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
do Código Penal). respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
É como se vê, um direito personalíssimo e intransferível. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-
Os princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente privada mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamen-
também se aplicam à ação penal privada personalíssima. to do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão
a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº
2.3 Ação penal privada subsidiária da pública (ou ação penal 13.964, de 2019)
privada supletiva). Somente é cabível diante da inércia deliberada Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investi-
do Ministério Público. gado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração
De acordo com o inciso LIX, do art. 5º, da Constituição Federal, penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a
será admitida ação penal privada nos crimes de ação pública, se 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
esta não for intentada no prazo legal. No mesmo sentido, o art. 29, persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprova-
d Código Processual Penal, regulamenta o preceito constitucional ção e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajus-
e prevê que será admitida ação privada nos crimes de ação públi- tadas cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964,
ca, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério de 2019)

23
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impos- § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não
sibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo 13.964, de 2019)
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri- § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no
me; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comu-
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por nicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de
período correspondente à pena mínima cominada ao delito dimi- denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
nuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da exe- § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal
cução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezem- pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Públi-
bro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) co como justificativa para o eventual não oferecimento de suspen-
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Códi- § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecu-
go Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada ção penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, ex-
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função ceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente pela Lei nº 13.964, de 2019)
lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução pe-
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada nal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. (In-
pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá re-
se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de au- querer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
mento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
nº 13.964, de 2019) Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação públi-
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguin- ca, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério
tes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substituti-
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados va, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
Especiais Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
de 2019) querelante, retomar a ação como parte principal.
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para represen-
probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou tá-lo caberá intentar a ação privada.
profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado au-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) sente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da
transação penal ou suspensão condicional do processo; e (Incluído parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para pro-
pela Lei nº 13.964, de 2019) mover a ação penal.
§1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou
despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao
familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de
próprio sustento ou da família.
sexo feminino, em favor do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964,
§2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade
de 2019)
policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por
Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo in-
enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou
vestigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua volun- requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
tariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu processo penal.
defensor, e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devol- tante legal.
verá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a Art. 35. Revogado pela Lei nº 9.520/97.
proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defen- Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
sor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante
sua execução perante o juízo de execução penal. (Incluído pela Lei desista da instância ou a abandone.
nº 13.964, de 2019) Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representa-
atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequa- das por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou,
ção a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.
de 2019) Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu re-
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Mi- presentante legal, decairá no direito de queixa ou de representa-
nistério Público para a análise da necessidade de complementação ção, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia
das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29,
nº 13.964, de 2019) do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

24
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de quei- Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada
xa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com po-
24, parágrafo único, e 31. deres especiais.
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pes- Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor
soalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante de- que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito
claração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Públi- de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
co, ou à autoridade policial. Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assi- a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o re-
natura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante cusar.
legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autori- Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o
dade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
houver sido dirigida. tante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do
§2º A representação conterá todas as informações que possam outro, não produzirá efeito.
servir à apuração do fato e da autoria. Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado
§3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a auto- mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses
ridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao cura-
remetê-lo-á à autoridade que o for. dor que o juiz Ihe nomear.
§4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este re- Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á,
duzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.
proceda a inquérito. Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com pode-
§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se res especiais.
com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o dis-
a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no posto no art. 50.
prazo de quinze dias. Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os
meios de prova.
juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública,
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos
remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos neces-
autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o
sários ao oferecimento da denúncia.
aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato crimi-
silêncio importará aceitação.
noso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado
Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a puni-
ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação
bilidade.
do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo constará de
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou
Art. 43. Revogado pela Lei nº 11.719/08.
procurador com poderes especiais.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante quei-
especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do
xa, considerar-se-á perempta a ação penal:
querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais escla-
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
recimentos dependerem de diligências que devem ser previamente
andamento do processo durante 30 dias seguidos;
requeridas no juízo criminal.
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca-
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo,
ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem cabe-
dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem
rá intervir em todos os termos subsequentes do processo.
couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo jus-
preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
tificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extin-
inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
guir sem deixar sucessor.
em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer ex-
§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial,
tinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em
que tiver recebido as peças de informações ou a representação
Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministério Públi-
§2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, conta-
co, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado,
do da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos,
ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o pra-
e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não
zo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco
tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.
dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.
Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da
clarecimentos e documentos complementares ou novos elementos
certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará
de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer auto-
extinta a punibilidade.
ridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obri-
gará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.
Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação
a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

25
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Congresso Constituinte, não existe nenhum impedimento para a
COMPETÊNCIA realização de um julgamento militar que tenha como acusado um
civil.
Competência As leis militares, Código Penal Militar, Código de Processo Penal
A competência é o critério de distribuição entre os vários ór- Militar, Leis Especiais Militares, definem as situações em que um
gãos do Poder Judiciário das atividades relativos ao desempenho civil poderá ser julgado por um juiz ou Tribunal Militar. Se um civil
da jurisdição. praticar um crime de furto em local sujeito a administração militar,
Todo juiz é dotado do poder de solucionar litígios. Em nome como por exemplo um quartel, poderá responder a uma ação penal
do próprio Estado, está dotado de poderes para fazer a entrega da militar perante a justiça militar federal de 1ª instância.
prestação jurisdicional. Exatamente esse poder de dizer o direito, A Justiça Militar Estadual tem competência para processar e
esse poder de solucionar conflitos é a jurisdição. julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes milita-
É importante salientar que o poder jurisdicional é privativo do res definidos em lei. Os crimes militares estão definidos no Código
estado-juiz. Entretanto, em face de uma expansão territorial, de de- Penal Militar, CPM, e nas Leis Militares Especiais. Deve-se observar,
terminadas pessoas (ratione personae) e de determinas matérias que por força de disposição constitucional a Justiça Militar Estadual
(ratione materiae), o exercício desse poder de aplicar o direito (abs- tem competência apenas e tão somente para julgar os militares es-
trato) ao caso concreto sofre limitações, nascendo daí a noção de taduais, que são os integrantes das Forças Auxiliares (Polícias Mili-
competência jurisdicional. Pode-se, pois, conceituar a competência tares e Corpos de Bombeiros Militares).
como sendo “o âmbito, legislativamente delimitado, dentro no qual Se um civil praticar um crime de furto em um quartel da Polí-
o órgão exerce seu Poder Jurisdicional. cia Militar do Estado de São Paulo ou qualquer outro Estado mem-
bro da Federação, este será processado e julgado perante a Justiça
1. Competência Material Comum do Estado, com fundamento no Código Penal e Código de
A distribuição da competência é feita, no Brasil, a partir da pró- Processo Penal.
pria Constituição Federal, que a atribui:
a) ao Supremo Tribunal Federal (art. 102); Competência da Justiça Eleitoral
b) ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105); A Justiça Eleitoral julga os crimes previstos no Código Eleitoral.
c) à Justiça Federal (arts. 108 e 109) Não temos juízes eleitorais em primeira instância, geralmente
d) às justiças especiais: os juízes estaduais cumulam tal função e, por tal motivo, caso exista
- Eleitoral; a interposição de recurso contra decisão praticada por este Juiz no
- Militar; exercício da competência eleitoral este deverá ser direcionado aos
- Trabalhista; Tribunais Regionais Eleitorais, e não aos Tribunais de Justiça que es-
tes normalmente estão subordinados.
e) à justiça estadual.
2 Competência pelo lugar da infração
Competência da Justiça Federal A competência pelo lugar da infração (competência ratione
É definida pela própria Constituição da República. Pode ser loci), via de regra, é determinada pelo lugar em que se consumar o
competência ratione personae (art. 109, incisos I, II e VIII) e com- delito, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
petência ratione materiae (art. 109, incisos III, X e XI). Como se vê, último ato de execução.
Justiça Federal não é justiça especial, é também justiça comum, é Convém ressaltar que: “a competência pelo lugar da infração,
justiça ordinária, assim como a justiça estadual. também chamada de competência de foro ou territorial, determina
qual será a comarca competente para o julgamento do fato crimino-
Competência da Justiça Estadual so. Esse critério é o mais utilizado porque inibe a conduta de todas
A ela pertence tudo o que não estiver afeto às outras “justi- as pessoas que vivem no local e tomaram conhecimento do fato
ças”. Por exceção, o que não for da justiça especial nem da federal, e, além disso, possibilita maior agilidade à colheita de provas sem
a competência será da justiça estadual. Mesmo algumas causas, que seja necessária a expedição de cartas precatórias para oitiva de
que, por sua natureza, seriam da justiça federal, são cometidas pela testemunha, realização de perícias, etc..”
Constituição da República à justiça estadual.
3 Competência pelo domicílio ou residência do réu
Competência da Justiça Militar A competência pelo domicílio ou residência do réu, também
A justiça militar julga exclusivamente crimes militares. chamada de foro subsidiário, está disposta no artigo 72 do CPP, o
Existem crimes militares próprios e impróprios. O crime militar qual determina que; “não sendo conhecido o lugar da infração, a
próprio é aquele que só está previsto no Código Penal Militar, e que competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu”.
só poderá ser cometido por militar, como aqueles contra a autorida- É válido frisar um exemplo, bem ilustrativo, abordado por Tou-
de ou disciplina militar ou contra o serviço militar e o dever militar. rinho Filho, que diz: “suponha-se que um cadáver apareça boian-
Já o crime militar impróprio está previsto ao mesmo tempo, tanto do nas águas do Tietê, na comarca de Bariri. Foi ele arrastado pela
no Código Penal Militar como na legislação penal comum, ainda que correnteza. Constatou-se ter havido homicídio. Das investigações
de forma um pouco diversa (roubo, homicídio, estelionato, estupro, levadas a cabo, descobriu-se quem foi o criminoso. Este não soube
etc.) e via de regra, poderá ser cometido por civil. A competência explicar o local do crime. Disse apenas que ocorrera bem distante.
da Justiça Militar foi estabelecida pelo texto constitucional de 1988. Nessa hipótese, o processo deve tramitar pelo foro do domicílio ou
A Justiça Militar Federal tem competência para processar e jul- residência do réu”.
gar os militares integrantes das Forças Armadas, Marinha de Guer- Excepcionalmente, nos casos de ação penal privada exclusiva,
ra, Exército, Força Aérea Brasileira, civis e assemelhados. No Estado o autor poderá escolher o foro de domicílio ou da residência do
democrático de Direito, que tem como fundamento a observância réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. É o chamado foro
de uma Constituição estabelecida pela vontade popular por meio alternativo, que não se aplica ao caso de ação penal privada subsi-
de uma Assembleia Nacional Constituinte, no caso do Brasil um diária.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
4 Competência pela natureza da infração ge da relevância do desempenho do cargo pela pessoa e devido a
Uma vez fixada a competência pelo lugar da infração ou pelo isso, não pode ser confundida com o privilégio, uma vez que este
domicílio ou residência do réu (art. 69, I eII, do CPP), será necessário constitui um benefício concedido à pessoa.
fixar a justiça competente em razão da natureza da infração (ratione
materiae), melhor ainda, em razão da matéria. 8 Modificações de competência
Oportuno se torna dizer que: “a jurisdição (justiça) pode ser Es- Pela modificação de competência podemos entender que há
pecial, que se divide em Justiça Militar e Justiça Eleitoral; e Comum, regras sobre competência material e funcional, que por sua vez po-
que se divide em Justiça Federal e Justiça Estadual. A competência derão ser modificadas nas hipóteses de prorrogação de foro, dele-
pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização gação (interna ou externa) e desaforamento.
judiciária (federal ou estadual), salvo a competência privativa do A prorrogação da competência é: “a possibilidade de substitui-
Tribunal do Júri, cuja competência é atribuída pela Constituição Fe- ção da competência de um juízo por outro, podendo ser necessária
deral. ou voluntária; a necessária decorre das hipóteses de conexão (é o
O Tribunal do Júri tem a competência para julgar os crimes do- nexo, a dependência recíproca que as coisas e os fatos guardam en-
losos contra a vida. tre si) e continência (como o próprio nome já diz é quando uma cau-
Em relação à jurisdição especial, a Constituição Federal deter- sa está contida na outra, não sendo possível a cisão); e a voluntária
mina que compete à Justiça Eleitoral (art. 121 da CF), julgar os cri- ocorre nos casos de incompetência territorial quando não oposta à
mes eleitorais e os seus conexos. A Constituição Federal também exceção no momento oportuno (caso em que ocorre a preclusão),
prevê a competência da Justiça Militar (art. 124 da CF), qual seja, ou nos casos de foro alternativo”.
processar e julgar os crimes militares previstos em lei. A delegação é o ato pelo qual um juiz transfere para o outro a
Além do mais, a Constituição Federal também prevê a com- atribuição jurisdicional que é sua. Essa delegação pode ocorrer de
petência da jurisdição comum (federal ou estadual), por exemplo, duas formas, interna ou externa. A delegação interna ocorre nos
compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos a casos de juízes substitutos e juízes auxiliares do titular do Juízo,
bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça melhor ainda, é quando um juiz cede a outro a competência para
Militar (art. 109, IX, da CF). praticar atos no processo, inclusive decisórios, cabe entendermos
Finalmente, a Justiça Comum Estadual tem a competência resi- que neste caso não há uma modificação de competência, mas sim
dual. Em outras palavras, é competência da Justiça Estadual tudo o de atribuições. Já a delegação externa é utilizada nos casos em que
que não for de competência das jurisdições federal e especial. os atos são praticados em juízos diferentes, isto é, quando há o uso
das cartas precatórias, rogatórias e de ordem.
5 Competência por prevenção e distribuição O desaforamento nada mais é do que o instituto privativo dos
Através da distribuição (art. 69, IV, do CPP), haverá a fixação da crimes de competência do Tribunal do Júri. Nos casos em que hou-
competência do juízo quando, houver mais de um juiz igualmente ver necessidade desse instituto, o pedido poderá ser proposto pela
competente em uma mesma circunscrição judiciária. Outrossim, acusação (MP ou querelante, em casos de ação privada subsidiá-
“se na mesma comarca existirem vários juízes igualmente compe- ria), por representação do juiz, pelo assistente de acusação ou a
tentes para o julgamento do caso, considerar-se-á competente pelo requerimento do acusado e será endereçado ao Tribunal de Justiça.
critério da prevenção aquele que se adiantar aos demais quanto Neste sentido, a Súmula 712 do STF diz que “é nula a decisão que
à prática de alguma providência processual ou extraprocessual determina o desaforamento de processo da competência do júri
(exemplo: a decretação da prisão preventiva, a concessão de fiança, sem audiência da defesa”.
o reconhecimento de pessoas ou coisas)”.
9 Competência absoluta e relativa
6 Competência por conexão ou continência Chama-se competência absoluta, visto que as competências
Há conexão (art. 69, V, do CPP) quando duas ou mais infrações em razão da matéria e a por prerrogativa de função, tem conteúdo
estão ligadas por um liame, sendo que estes crimes devem ser jul- de interesse público e, por isso, não podem ser prorrogadas e nem
gados em um só processo em virtude da existência desse nexo. modificadas pelas partes e o seu reconhecimento, que pode ocorrer
Além disso, “há continência quando uma coisa está contida em em qualquer tempo ou grau de jurisdição, gera nulidade absoluta
outra, não sendo possível a separação. No processo penal a con- do processo.
tinência é também uma forma de modificação da competência e Para entendermos competência relativa, é indispensável uma
não de fixação dela”. Ademais, ocorrerá a continência (art. 69, V, breve análise da Súmula 706 do STF que diz; “é relativa a nulidade
do CPP) quando duas ou mais pessoas são acusadas pelo mesmo decorrente da inobservância da competência penal por prevenção”.
crime, ou se o comportamento do indivíduo configurar concurso Outrossim, na competência territorial, na qual o que prevalece é o
formal, aberratio criminis (resultado diverso daquele pretendido) interesse privado de uma das partes, é prorrogável se não for alega-
com duplo resultado e aberratio ictus (erro na execução). da no tempo oportuno e é capaz de gerar, se comprovado o prejuízo
Diante do exposto, nota-se que a continência e a conexão são pela parte interessada, apenas a nulidade relativa do ato ou de uma
critérios de prorrogação de competência e não de fixação. Outros- fase do processo.
sim, a existência de continência e conexão ocasionará a reunião de
processos e prorrogação da competência. Todavia, segundo a Sú- 10 Competência por compensação
mula 235 do STJ “a conexão não determina a reunião dos processos, Quando há mais de um juiz na Comarca, que são igualmente
se um deles já foi julgado”. capazes de julgar a matéria criminal, há a distribuição alternativa
entre eles. Porém, excepcionalmente, os tribunais e juízos de 1°
7 Competência por prerrogativa de função grau alteram o critério de distribuição, deixando de sortear em
Cumpre-nos assinalar que a competência por prerrogativa de determinados casos, havendo necessidade de uma compensação
função (art.69, VII, do CPP) ou competência ratione personae (em posterior. Ou então, quando um magistrado receber mais processos
razão da pessoa) é determinada pela função da pessoa, ou melhor, que deveria, será realizada uma compensação pelo outro.
é garantia inerente ao cargo ou função. Ademais, a prerrogativa sur-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
11. Competência por suspeição CAPÍTULO II
Nas situações previstas no art. 254 do CPP, em um rol não taxa- DA COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU
tivo, há um vício externo que igualmente veda a atuação do juiz na-
quele determinado processo. Nessas situações, há presunção rela- Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competên-
tiva de parcialidade do juiz (juris tantum), motivo pelo qual ele deve cia regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.
se declarar suspeito e, se não o fizer, as partes poderão recusá-lo, § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência fir-
oferecendo a exceção de suspeição (artigos 95 e seguintes do CPP). mar-se-á pela prevenção.
Funda-se na falta de imparcialidade do julgador e tem por ob- § 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu
jetivo afastar o juiz suspeito, não gerando o deslocamento do juízo, paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimen-
mas tão somente o afastamento do julgador. to do fato.
Portanto, o juiz suspeito não é competente a julgar tal proces- Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante
so. poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda
quando conhecido o lugar da infração.
Com o objetivo de complementar seus estudos, seguem os arti-
gos legais referentes a jurisdição e competência previstos no Código CAPÍTULO III
de Processo Penal: DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO

Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi- Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada
leiro, por este Código, ressalvados: pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; do Tribunal do Júri.
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes pre-
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presiden- vistos nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 125,
te da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.
crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); § 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassifi-
III - os processos da competência da Justiça Militar; cação para infração da competência de outro, a este será remetido
IV - os processos da competência do tribunal especial (Consti- o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que,
tuição, art. 122, no 17); em tal caso, terá sua competência prorrogada.
V - os processos por crimes de imprensa. § 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro- atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto
cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regu- no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal
lam não dispuserem de modo diverso. do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).

(...) CAPÍTULO IV
TÍTULO V DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO
DA COMPETÊNCIA
Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz
I - o lugar da infração: igualmente competente.
II - o domicílio ou residência do réu; Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da con-
III - a natureza da infração; cessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qual-
IV - a distribuição; quer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação
V - a conexão ou continência; penal.
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função. CAPÍTULO V
DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA
CAPÍTULO I
DA COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido prati-
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar cadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por vá-
em que for praticado o último ato de execução. rias pessoas, umas contra as outras;
§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em
facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou van-
que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
tagem em relação a qualquer delas;
§ 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
território nacional, será competente o juiz do lugar em que o cri-
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
me, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu
Art. 77. A competência será determinada pela continência
resultado.
quando:
§ 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos
competência firmar-se-á pela prevenção. arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal.
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou con-
praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência tinência, serão observadas as seguintes regras:
firmar-se-á pela prevenção.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem
da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção
pena mais grave; da verdade.
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior nú- Art. 86. Ao Supremo Tribunal Federal competirá, privativamen-
mero de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravida- te, processar e julgar:
de; I - os seus ministros, nos crimes comuns;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predomi- Presidente da República;
nará a de maior graduação; III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, preva- Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os em-
lecerá esta. baixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de res-
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de pro- ponsabilidade.
cesso e julgamento, salvo: Art. 87. Competirá, originariamente, aos Tribunais de Apela-
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; ção o julgamento dos governadores ou interventores nos Estados
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de me- ou Territórios, e prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secre-
nores. tários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e órgãos do
§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em Ministério Público.
relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152.
§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, CAPÍTULO VIII
se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
ocorrer a hipótese do art. 461.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde hou-
de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados ver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou con- águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem
tinência, ainda que no processo da sua competência própria venha como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão pro-
o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassi- cessados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que
fique a infração para outra que não se inclua na sua competência, tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País,
continuará competente em relação aos demais processos. pela do último em que houver tocado.
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competên- Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional,
cia por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infra- dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou
ção ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço
a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e
Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem ins- julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o
taurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalen- pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a
te deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, aeronave.
salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade Art. 91. Quando incerta e não se determinar de acordo com as
dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou normas estabelecidas nos arts. 89 e 90, a competência se firmará
de unificação das penas. pela prevenção.

CAPÍTULO VI
DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA (LEI Nº 9.296/1996)
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez
que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou LEI Nº 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996
com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ain- Regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição
da que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, Federal.
§ 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
CAPÍTULO VII cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
DA COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qual-
quer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supre-
processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de
mo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais
ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça.
Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação
Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante
do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática.
eles por crimes comuns e de responsabilidade.
Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações te-
lefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em § 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
infração penal; § 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; (quinze) dias, renovável por decisão judicial por iguais períodos,
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no má- se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando
ximo, com pena de detenção. presente atividade criminal permanente, habitual ou continuada.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, § 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as re-
devidamente justificada. gras previstas na legislação específica para a interceptação telefôni-
Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ca e telemática. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada
I - da autoridade policial, na investigação criminal; por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou
II - do representante do Ministério Público, na investigação cri- após esta, em virtude de requerimento do Ministério Público ou da
minal e na instrução processual penal. parte interessada.
Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo
conterá a demonstração de que a sua realização é necessária à apu- Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado ou de
ração de infração penal, com indicação dos meios a serem empre- seu representante legal.
gados. Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunica-
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja ções telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta
formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pressu- ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial
postos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão ou com objetivos não autorizados em lei: (Redação dada pela Lei
será condicionada à sua redução a termo. nº 13.869. de 2019)
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Reda-
sobre o pedido. ção dada pela Lei nº 13.869. de 2019)
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial
indicando também a forma de execução da diligência, que não po- que determina a execução de conduta prevista no caput deste ar-
derá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma tigo com objetivo não autorizado em lei. (Incluído pela Lei nº
vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. 13.869. de 2019)
Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os Art. 10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagné-
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Pú- ticos, ópticos ou acústicos para investigação ou instrução criminal
blico, que poderá acompanhar a sua realização. sem autorização judicial, quando esta for exigida: (Incluído pela
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comuni- Lei nº 13.964, de 2019)
cação interceptada, será determinada a sua transcrição. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluí-
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o do pela Lei nº 13.964, de 2019)
resultado da interceptação ao juiz, acompanhado de auto circuns- § 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlo-
tanciado, que deverá conter o resumo das operações realizadas. cutores. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3° Recebidos esses elementos, o juiz determinará a providên- § 2º A pena será aplicada em dobro ao funcionário público que
cia do art. 8° , ciente o Ministério Público. descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam
Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata a captação ambiental ou revelar o conteúdo das gravações enquan-
esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos to mantido o sigilo judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
especializados às concessionárias de serviço público. Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 8° A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer Art. 12. Revogam-se as disposições em contrário.
natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos do in-
quérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das
diligências, gravações e transcrições respectivas.
Parágrafo único. A apensação somente poderá ser realizada JUIZ, MINISTÉRIO PÚBLICO, ACUSADO, DEFENSOR,
imediatamente antes do relatório da autoridade, quando se tratar ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUSTIÇA; ATOS DE TER-
de inquérito policial (Código de Processo Penal, art.10, § 1°) ou na CEIROS
conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do dis-
posto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal. Juiz
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser De acordo com o art. 251, do Código de Processo Penal, ao juiz
autorizada pelo juiz, a requerimento da autoridade policial ou do incumbirá prover a regularidade do processo e manter a ordem no
Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéti- curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força
cos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído pela Lei nº 13.964, pública.
de 2019) Assim, para garantir a regularidade do processo, o juiz exerce
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e os seguintes poderes:
igualmente eficazes; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) a) de polícia: para garantir o desenvolvimento regular e impe-
II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e parti- dir atos capazes de perturbar o bom andamento do processo;
cipação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superio- b) jurisdicionais: que compreendem atos ordinatórios, que or-
res a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas. (Incluído denam e impulsionam o processo; e
pela Lei nº 13.964, de 2019) c) instrutórios: que compreendem a colheita de provas.
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o
local e a forma de instalação do dispositivo de captação ambiental. Garantias
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) São elas, de acordo com o art. 95, da Constituição Federal:

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
A) Vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após D) Se tiver aconselhado qualquer das partes (inciso IV);
dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse perío- E) Se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das
do, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos partes (inciso V);
demais casos, de sentença judicial transitada em julgado (inciso I); F) Se for sócio, acionista ou administrador de sociedade inte-
B) Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na ressada no processo (inciso VI).
forma do art. 93, VIII, da Constituição Federal (inciso II);
C) Irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. Urge ressaltar que o impedimento ou suspeição decorrente
37, X e XI, 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I, todos da CF (inciso de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento
IV). (união estável) que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descen-
dentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes,
Vedações impostas aos juízes não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro
Aos juízes é vedado (parágrafo único, do art. 95, da Constitui- ou enteado de quem for parte no processo (art. 255, CPP).
ção): Urge ressalvar, por fim, que a suspeição não poderá ser decla-
A) Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun- rada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósi-
ção, salvo uma de magistério (inciso I); to der motivo para criá-la (art. 256, CPP).
B) Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa-
ção em processo (inciso II); TÍTULO VIII
C) Dedicar-se à atividade político-partidária (inciso III); DO JUIZ, DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DO ACUSADO E DEFEN-
D) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- SOR, DOS ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUSTIÇA
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
as exceções previstas em lei (inciso IV); CAPÍTULO I
E) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, DO JUIZ
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-
tadoria ou exoneração (inciso V). Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo
e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal
Hipóteses em que o juiz não poderá exercer jurisdição fim, requisitar a força pública.
De acordo com o art. 252, do Código de Processo Penal, o juiz Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em
não poderá exercer jurisdição no processo em que: que:
A) Tiver funcionado seu cônjuge (convivente) ou parente, con- I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou
sanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público,
defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade po-
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito (inciso I);
licial, auxiliar da justiça ou perito;
B) Ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções
ou servido como testemunha (inciso II);
ou servido como testemunha;
C) Tiver funcionado como juiz de outra instância, pronuncian-
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronuncian-
do-se, de fato ou de direito, sobre a questão (inciso III);
do-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
D) Ele próprio ou seu cônjuge (convivente) ou parente, con-
sanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito (inciso IV). afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for
parte ou diretamente interessado no feito.
Ademais, nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo
processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou
afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive (art. afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
253, CPP).
Há se tomar cuidado, neste prumo, com as hipóteses previstas Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá
nestes dois artigos. Aqui, veda-se ao juiz o exercício de jurisdição. ser recusado por qualquer das partes:
Algo totalmente diferente do art. 254, que traz causas de suspei- I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
ção/impedimento. Enquanto nos arts. 252 e 253 se disciplina um II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver res-
“não atuar” do juiz (já que o dispositivo é claro ao falar que o jul- pondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso
gador “não exercerá jurisdição”), no art. 254, que se verá a seguir, haja controvérsia;
até pode o magistrado receber o processo para julgar, embora não III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até
deva (ou melhor, não possa) fazê-lo por questão de vício de impar- o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a pro-
cialidade. cesso que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
Hipóteses de suspeição/impedimento do juiz V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das
São elas (art. 254, CPP): partes;
A) Se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles (in- Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade inte-
ciso I); ressada no processo.
B) Se ele, seu cônjuge (convivente), ascendente ou descenden- Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentes-
te, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo ca- co por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver
ráter criminoso haja controvérsia (inciso II); dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissol-
C) Se ele, seu cônjuge (convivente), ou parente, consanguíneo, vido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o
ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou res- sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte
ponder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das par- no processo.
tes (inciso III);

31
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhe- Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos
cida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou
criá-la. parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o ter-
ceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável,
Ministério Público as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
A atividade do Ministério Público é de suma importância na
seara penal, seja porque titular da ação penal pública (art. 129, I, Acusado E Seu Defensor
CF), seja porque fiscal da lei. Eis as duas funções que lhe são expres- Conforme o art. 261, CPP, nenhum acusado, ainda que ausente
samente atribuídas em rol meramente exemplificativo pelos dois ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Nesta fre-
incisos do art. 257, do Diploma Processual Penal. quência, de acordo com a Súmula nº 523, do Supremo Tribunal Fe-
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à fun- deral, no processo penal, a falta de defesa constitui nulidade abso-
ção jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem ju- luta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo
rídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e individuais para o réu.
indisponíveis. Neste diapasão, são seus princípios institucionais, Com isso, deve ficar superado qualquer entendimento quanto
previstos no primeiro parágrafo, do art. 127, da Constituição Fede- à possibilidade de se imaginar um réu no processo penal, qualquer
ral: que seja a gravidade do delito, desprovido de defesa e de defen-
A) A unidade. Todos os membros do Ministério Público formam sor. Uma prova dessa necessidade pode ser observada no segundo
um órgão único; parágrafo, do art. 396-A, CPP, segundo o qual não apresentada a
B) A indivisibilidade. Todos os membros do Ministério Público resposta à acusação no prazo legal, ou se o acusado, citado, não
formam um órgão indivisível; constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, conce-
C) A independência funcional. A independência funcional de- dendo-lhe vista dos autos pelo prazo de dez dias.
corre da autonomia do Ministério Público, que é tanto administrati- Ato contínuo, a defesa do acusado divide-se em autodefesa
va, como normativa e financeira. (que é aquela exercida pelo próprio acusado, como quando sim-
plesmente assinala no mandado de intimação o seu interesse de
Garantias atribuídas aos membros do Ministério Público recorrer da decisão) e em defesa técnica (que é aquela feita por
São elas (art. 128, §5º, I, CF): profissional competente e especializado). Neste sentido, consoante
A) Vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo o parágrafo único, do art. 261, CPP, a defesa técnica, quando reali-
perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado zada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através
(alínea “a”); de manifestação fundamentada.
B) Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, me- Se o acusado não tiver defensor, lhe será nomeado um pelo
diante decisão da maioria absoluta de órgão colegiado do Ministé- juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de
rio Público, assegurada ampla defesa, obviamente (alínea “b”); sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação
C) Irredutibilidade de subsídio, em regra (alínea “c”). (art. 263, caput, CPP).
A constituição de defensor independerá de instrumento de
Vedações aos membros do Ministério Público mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório (art.
São elas (art. 128, §5º, II, CF): 266, CPP). Este defensor tanto poderá ser um advogado particular,
A) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorá- como um advogado dativo, como um defensor público.
rios, percentagens ou custas processuais (alínea “a”); Ainda, o defensor não poderá abandonar o processo senão por
B) Exercer a advocacia (alínea “b”); motivo imperioso, comunicando previamente o juiz, sob pena de
C) Participar de sociedade comercial, na forma de lei (alínea multa de dez a cem salários mínimos, sem prejuízo das demais san-
“c”); ções cabíveis (art. 265, caput, CPP). A audiência poderá ser adiada
D) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra fun- se o defensor, por motivo justificado, não puder comparecer (art.
ção pública, salvo uma de magistério (alínea “d”); 265, §1º, CPP).
E) Exercer atividade político-partidária, em regra (alínea “e”);
F) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- CAPÍTULO III
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas DO ACUSADO E SEU DEFENSOR
as exceções previstas em lei (alínea “f”).
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o
Suspeição/impedimento/proibição do exercício de jurisdição seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação
do membro do Ministério Público penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no cur-
Consoante o art. 258, CPP, os órgãos do Ministério Público não so do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for
funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos
seu cônjuge (convivente), ou parente, consanguíneo ou afim, em li- autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
nha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se esten- Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interro-
dem, no que lhe for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e gatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não
aos impedimentos dos juízes. possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua
presença.
CAPÍTULO II Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condu-
DO MINISTÉRIO PÚBLICO ção, os requisitos mencionados no art. 352, no que Ihe for aplicável.
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido,
Art. 257. Ao Ministério Público cabe: será processado ou julgado sem defensor.
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defen-
estabelecida neste Código; e sor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação
II - fiscalizar a execução da lei. fundamentada.

32
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 262. Ao acusado menor dar-se-á curador. Ainda, ao assistente será permitido propor meios de prova, re-
Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor querer perguntas às testemunhas, participar do debate oral e ar-
pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro razoar os recursos interpostos pelo Ministério Público ou por ele
de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilita- próprio (art. 271, caput, CPP). A título ilustrativo, o art. 598, CPP,
ção. prevê que, nos crimes de competência do tribunal do júri ou do juiz
Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério
pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz. Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas elen-
Art. 264. Salvo motivo relevante, os advogados e solicitadores cadas no art. 31, CPP (cônjuge, convivente, ascendente e irmão),
serão obrigados, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor
a prestar seu patrocínio aos acusados, quando nomeados pelo Juiz. apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo. Isso significa que,
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão habilitado ou não, diante da desídia ministerial, poderá o assistente
por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de recorrer via apelação.
multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das Noutro exemplo, há se defender a revogação tácita da Súmula
demais sanções cabíveis. nº 208, do Supremo Tribunal Federal, a qual dispõe que o assisten-
§1º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o te do Ministério Público não pode recorrer extraordinariamente
defensor não puder comparecer. da decisão concessiva de habeas corpus. A revogação tácita de tal
§2º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura dispositivo deve-se à grande tendência de legitimação recursal do
da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento assistente de acusação.
de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, Dando prosseguimento às funções do assistente, o juiz, ouvido
ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato. o agente ministerial, decidirá acerca da realização das provas pro-
Art. 266. A constituição de defensor independerá de instrumen- postas pelo assistente (art. 271, §1º, CPP). O processo prosseguirá
to de mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório. independentemente de nova intimação do assistente quando este,
Art. 267. Nos termos do art. 252, não funcionarão como defen- intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou
sores os parentes do juiz. do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprova-
do (art. 271, §2º, CPP). O Ministério Público será ouvido previamen-
Assistente te sobre a admissão do assistente (art. 272, CPP).
O assistente o é do Ministério Público, e será representado pelo
ofendido ou seu representante legal, ou, na falta destes, qualquer Decisão que admite ou não a figura do assistente
pessoa mencionada no art. 31, CPP (cônjuge, convivente, ascenden- Do despacho que admitir ou não o assistente, preceitua o art.
te, irmão). 273, da Lei Processual, não caberá recurso, devendo, entretanto,
Convém frisar, apenas, que o co-réu no mesmo processo não constar dos autos o pedido e a decisão.
poderá intervir como assistente do Ministério Público (art. 270,
CPP). CAPÍTULO IV
A finalidade de sua participação nos autos tanto pode se dar DOS ASSISTENTES
em razão de ver aplicada uma pena condizente à gravidade do dano
ao acusado (num clamor meramente de justiça), como interessado Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir,
em futura reparação civil partindo-se de decreto penal. como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu represen-
Afinal, vale lembrar que, a depender da espécie de decisão pe- tante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no art.
nal, se poderá ou não manejar a ação civil ex delicto. São muitos, 31.
pois, os interesses envolvidos: se a decisão penal afirmar catego- Art. 269. O assistente será admitido enquanto não passar em
ricamente que o fato não ocorreu, isso faz coisa julgada no cível e julgado a sentença e receberá a causa no estado em que se achar.
impede a ação de reparação; se a decisão penal aplicar uma pena Art. 270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir
como assistente do Ministério Público.
branda, provavelmente a reparação possível de ser pleiteada será
em um valor menor; se a decisão aplicar pena grave, provavelmente
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova,
a reparação pleiteada será maior. Veja-se, portanto, que a despeito
requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados,
de entendimento minoritário que defende a inconstitucionalidade
participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Mi-
da figura do assistente de acusação, são muitos os interesses em
nistério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, §1º, e
jogo defendidos por este agente que só recentemente vem tendo
598.
seu prisma de atuação maximizado.
§1º O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da reali-
Nem todo tipo de delito admite a figura do assistente de acusa- zação das provas propostas pelo assistente.
ção. Para que isso seja possível, mister se faz que o delito tenha um §2º O processo prosseguirá independentemente de nova inti-
sujeito passivo determinado. Em um delito contra o meio ambiente, mação do assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer
p. ex., não é possível a figura assistencial, dada a absoluta impro- a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de
priedade de se saber quais foram, realmente, os sujeitos passivos força maior devidamente comprovado.
do delito. Art. 272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a
A admissão do assistente é possível enquanto não passar em admissão do assistente.
julgado a sentença (lembrando que o assistente receberá a causa no Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não
estado em que esta se encontrar) (art. 269, CPP). Durante a audiên- caberá recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e
cia de instrução, debates e julgamento, do procedimento comum, a decisão.
o assistente terá o prazo de dez minutos para falar (prorrogáveis)
após a fala do membro do Ministério Público. Já no procedimento Funcionários Do Poder Judiciário – Serventuários Da Justiça
do júri, o assistente somente será admitido se tiver requerido sua Segundo o ilustre jurista Guilherme de Souza Nucci, as expres-
habilitação até cinco dias antes da data da sessão de julgamento na sões funcionários e serventuários da justiça são termos correlatos,
qual pretende atuar (art. 430, CPP). pois, denominam tanto os ocupantes de cargos públicos efetivos,

33
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
como também os ocupantes de cargo ou função comissionados, Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem
desde que pagos pelo Estado e estejam a serviço do Poder Judiciá- justa causa, provada imediatamente:
rio, a exemplo, os escrivães, escreventes, oficiais de justiça, dentre a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
outros. b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
Durante toda a instrução processual, vários atos são realizados c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja
pelos funcionários da justiça, em decorrência das atribuições ine- feita, nos prazos estabelecidos.
rentes aos próprios cargos ou funções, de acordo com as respec- Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa
tivas normas regulamentadoras, em regra, são os chamados atos causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.
ordinatórios que independem de despacho e podem ser praticados Art. 279. Não poderão ser peritos:
de ofício. I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada
De acordo com o art. 274 do Código de Processo Penal, es- nos ns. I e IV do art. 69 do Código Penal;
tendem-se aos funcionários da justiça as disposições relativas aos II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opina-
casos de impedimento e suspeição dos juízes. Nesses casos, estes do anteriormente sobre o objeto da perícia;
deverão abster-se de servir no processo e imediatamente prestar III - os analfabetos e os menores de 21 anos.
declaração nos autos, de acordo com o art. 112 do referido diplo- Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o
ma. Caso isto não ocorra, o impedimento poderá ser argüido pelas disposto sobre suspeição dos juízes.
partes, através do instrumento da exceção de suspeição, nos ter- Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados
mos do art. 105 do CPP. aos peritos.

Peritos e Intérpretes
São os auxiliares do juízo, isto é, agentes que, embora não ser-
vidores da justiça propriamente ditos, fornecem esclarecimentos e PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA; PRISÃO TEMPO-
conhecimentos específicos acerca de determinados temas quando RÁRIA (LEI Nº 7.960/1989)
consultados.
Os peritos e intérpretes, ainda quando não-oficiais, estão su- Prisões
jeitos à disciplina judiciária, e as partes não intervirão em sua no- A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu-
meação. Em contrapartida, o perito/intérprete não poderá se furtar mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda-
de seu ofício de forma injustificável, sob pena de multa, e, se for o das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em
caso, condução coercitiva (também incorrerão em multa se deixa- caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional,
rem de atender à intimação ou a chamado de autoridade, se não pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará
comparecerem no dia e local designados para o exame, ou se não as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du-
derem o laudo ou concorrerem para que a perícia não seja feita nos rante a fase investigatória ou judicial.
prazos estabelecidos). De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as
Ademais, de acordo com o art. 279, do Código de Processo, não medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo
poderão ser peritos os que estiverem sujeitos à interdição de direito Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda-
mencionada no art. 47, I (proibição de exercício de cargo, função ou de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade
atividade pública) e II (proibição do exercício de profissão, atividade para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução crimi-
ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou auto- nal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de
rização do poder público), do Código Penal (inciso I); os que tiverem infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à
prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
o objeto da perícia (inciso II); bem como os analfabetos e menores indiciado ou acusado (inciso II).
de vinte e um anos (inciso III). Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação
quando da análise de imposição de prisão processual/medida cautelar
Por fim, há se lembrar que é extensivo aos peritos e intérpre- diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso, a prisão
tes, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição de juízes preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais brando,
(art. 280, CPP). pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem. Qualquer
coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar a imposição de
Vamos acompanhar a seguir os dispositivos contidos no Código
medida cautelar de natureza diversa da prisão processual.
de Processo Penal referente ao assunto:
Espécies
CAPÍTULO V
São três espécies de prisão cautelar:
DOS FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA
a) Prisão em Flagrante;
b) Prisão Temporária;
Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se
aos serventuários e funcionários da justiça, no que Ihes for aplicável. c) Prisão Preventiva.

CAPÍTULO VI Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as


DOS PERITOS E INTÉRPRETES prisões, medidas cautelares e liberdade provisória:

Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à TÍTULO IX
disciplina judiciária. DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito. PROVISÓRIA
Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a
aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
salvo escusa atendível. ser aplicadas observando-se a:

34
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia-
evitar a prática de infrações penais; tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. 13.964, de 2019)
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido
cumulativamente. o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre-
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri- gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida
mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre-
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do ga do preso, com declaração de dia e hora.
Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem-
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi- plar do mandado, se este for o documento exibido.
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de-
prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.
das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi- prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, § 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre-
de 2019) cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunicação.
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações § 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor medida.
outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven- Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis-
tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re- tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse-
dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
lho Nacional de Justiça para essa finalidade.
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a
§ 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão determina-
medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo
da no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional de Justiça,
para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra-
ainda que fora da competência territorial do juiz que o expediu.
zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta-
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando
da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado-
não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser-
tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade
vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por
outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta- do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este
da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali- providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). deste artigo.
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo
condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei que a decretou.
nº 13.964, de 2019) § 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativamen- informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
te cominada pena privativa de liberdade. Pública.
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimi-
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do dade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-
domicílio. -se o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis- § 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res- Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de
pectivo mandado. outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão
Parágrafo único. O mandado de prisão: no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori-
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade; dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran-
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, te, providenciará para a remoção do preso.
alcunha ou sinais característicos; § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; quando:
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo-
infração; ra depois o tenha perdido de vista;
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução. b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com em que o procure, for no seu encalço.
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o § 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida-
não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina- de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até
da por duas testemunhas. que fique esclarecida a dúvida.

35
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão
desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com
mandado e o intime a acompanhá-lo. os respectivos regulamentos.
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên- Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto-
cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe- ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros
tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re-
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do produzido o teor do mandado original.
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Art. 298 - (Revogado).
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá- Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado
vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori-
realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada averiguar a autenticidade desta.
pela Lei nº 13.434, de 2017) Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será de execução penal.
intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe- Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a la-
decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, vratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da insti-
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre- tuição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autorida-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se des competentes.
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa in-
comunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará Prisão em flagrante
a prisão. A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção
oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen-
se proceda contra ele como for de direito. dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição
Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis- Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual
posto no artigo anterior, no que for aplicável. afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...”
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis- A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi-
posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em
de condenação definitiva: flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba
I - os ministros de Estado; de acontecer”.
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os pre- seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
feitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; flagrante delito.
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados; Funções da prisão em flagrante
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; São elas:
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, do A) Evitar a fuga do infrator;
Distrito Federal e dos Territórios; B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios;
VI - os magistrados; C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito.
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
República; Procedimento do flagrante
VIII - os ministros de confissão religiosa; O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente
IX - os ministros do Tribunal de Contas; descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal:
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci- o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
dade para o exercício daquela função; cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e meira parte, CPP);
Territórios, ativos e inativos. B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da pri- sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas
são comum. respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art.
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es- 304, caput, parte final, CPP);
pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci- C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se-
mento. rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo, Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306,
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor- caput, CPP);
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi- D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado
co adequados à existência humana. fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco-
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança,
o preso comum. e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja)
mesmos do preso comum. (art. 304, §1º, CPP);

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocorre
prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as- se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumentos,
siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre- armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da
sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu- infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta-
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te- tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o
nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante.
falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta
pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível.
legal (art. 305, CPP); Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribunal
F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do fla-
encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e grante pela polícia torna impossível a sua consumação;
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca- G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que
minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art. o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não,
306, §1º, CPP); e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para
E) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante
preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o
com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado;
(art. 306, §2º, CPP); H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma-
F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com o quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au-
próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015, CNJ) toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado
e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá rela- somente para prendê-lo em flagrante).
xar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em preventiva I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante
(quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de Processo protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que
Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas cautelares o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita
diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória com ou sem de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente,
fiança (art. 310, CPP); encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi-
G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato em nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”).
estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do de-
ver legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos no art. Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per-
23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário
acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados
a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. 310, pará- alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo-
grafo único, CPP). samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá
os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer-
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
(art. 308, CPP). o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309, nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde
CPP). que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

Espécies/modalidades de flagrante Apresentação espontânea do acusado


Vejamos a classificação feita pela doutrina: Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria
policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante
flagrante; não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pessoa apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em fla- no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
grante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade; de prisão preventiva.
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver- Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co- alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal; acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/
D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase fla- jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de
grante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo após, que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em
pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situa- flagrante.
ção que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua previsão está
no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual Penal. CAPÍTULO II
Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta DA PRISÃO EM FLAGRANTE
perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e
delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante; seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - relaxar a prisão ilegal; ou
I - está cometendo a infração penal; II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre-
II - acaba de cometê-la; sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da da prisão; ou
infração; III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje- § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
flagrante delito enquanto não cessar a permanência. de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou- te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre- comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se- de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem de 2019)
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que inte-
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a gra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma
autoridade, afinal, o auto. de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con- ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
enviará os autos à autoridade que o seja. omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso
prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as- do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre- audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
sentação do preso à autoridade. ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre-
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons- Prisão preventiva
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe-
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por repre-
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) sentação da autoridade policial. (art. 311, CPP).
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta- vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in-
do o compromisso legal. quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en- previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre-
contre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas-
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante re- Pressupostos da prisão preventiva
cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. da prisão. São pressupostos:
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do delicti”;
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado bertatis”.
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido ime-
diatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato de-
Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
lituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.
penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efe-
“indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
tuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais próximo.
contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza
Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique
depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.
realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de um
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
eventual decreto condenatório definitivo.
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria-
2019) mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto-

38
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem Recurso de decisão acerca da prisão preventiva
pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir
da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal, requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando
ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito.
da prisão). Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga-
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa
Motivos da prisão preventiva da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses aci-
Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem ma vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi- maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal
ciente de autoria. A saber: instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual-
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do quer entendimento consolidado sobre o tema.
agente. Necessidade de afastamento do convívio social. De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com há previsão recursal).
a sociedade;
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei- Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94 indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
(“Lei Antitruste”); torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada em
C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que situações especiais, desde que se comprove a real existência da ex-
o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é cepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de Processo
proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não Penal).
teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem
auxiliar no deslinde da lide; CAPÍTULO III
D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demonstrado DA PRISÃO PREVENTIVA
concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., inviabilizando
futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão preventiva Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
por este motivo; cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau- cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri- Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº autoridade policial.
12.403/2011. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do impu- rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
tado, veio com a Lei 13.964/2019. da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
Hipóteses em que se admite prisão preventiva autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
São elas, de acordo com o art. 312, CPP: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I); de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. Lei nº 13.964, de 2019)
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
II); tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defi- medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019.
ciência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgên- Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
cia (inciso III); decretação da prisão preventiva:
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-
máxima superior a 4 (quatro) anos;
-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liberdade
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em senten-
após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a manu-
ça transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput
tenção da medida) (parágrafo único).
do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-
digo Penal;
Revogação da prisão preventiva
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mu-
Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au-
lher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência,
toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre-
ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se para garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
sobrevierem razões que a justifiquem. IV - (Revogado).
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver
prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter- dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-
mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP.. necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser

39
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do
se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com Medidas cautelares diversas da prisão em espécie
a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de- Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei nº
corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou 12.403/2011 São elas:
recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có- ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de
digo Penal. novas infrações (inciso II);
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão C) Proibição de manter contato com pessoa determinada quan-
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada do, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado ou acu-
pela Lei nº 13.964, de 2019) sado deva permanecer distante (inciso III);
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis- cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica- (inciso IV);
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei fixos (inciso V);
nº 13.964, de 2019) F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão deci- sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
dida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite-
13.964, de 2019) ração (inciso VII);
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; (inciso VIII);
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar agora, também o foi para o prisma processual.
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí-
do pela Lei nº 13.964, de 2019) O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas da
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revo- prisão.
gar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como nova- execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
mente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Reda- liberdade somente quando estritamente necessário, também assim
ção dada pela Lei nº 13.964, de 2019) passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da prisão
Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em úl-
emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada timo caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di-
Medidas cautelares diversas da prisão versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento
Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabíveis processual.
na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acusado ou a Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
concessão de liberdade provisória, em dois extremos antagonicamen- cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
te opostos que desconsideravam hipóteses em que nem a liberdade e Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
nem o aprisionamento cautelar eram as medidas mais adequadas. Em ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen-
razão disso, após o advento da “Nova Lei de Prisões”, inúmeras opções te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
são conferidas no vácuo deixado entre o claustro e a liberdade, opções fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-
estas conhecidas por “medidas cautelares diversas da prisão”. lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão
Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar
tas no art. 282 do CPP, sendo estes: diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente.
- Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares diver-
evitar a prática de infrações penais; sas da prisão.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do
uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medi-
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é das cautelares.
perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada
diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter-
lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi- ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar
co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer- o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se
da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora- Liberdade provisória, com ou sem fiança
ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz
devida fundamentação feita pela autoridade policial. deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga-
rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons-
CAPÍTULO IV tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou
DA PRISÃO DOMICILIAR nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança.
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória,
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada:
com autorização judicial. A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi- lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
ciliar quando o agente for: concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº
I - maior de 80 (oitenta) anos; 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber-
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri-
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber-
6 (seis) anos de idade ou com deficiência; dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa da
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese em
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido substituí-
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) do por redação absolutamente diferente da anterior. Assim, confor-
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do me entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade provisória
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
nº 13.257, de 2016) B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
dos requisitos estabelecidos neste artigo. os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
CAPÍTULO V por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- diversas da prisão;
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não
ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma
de novas infrações; legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”,
III - proibição de manter contato com pessoa determinada de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a
ou acusado dela permanecer distante; cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu-
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri-
cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de de obrigações.
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
fixos; Recurso em sede de liberdade provisória
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a decisão
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido estri-
de sua utilização para a prática de infrações penais; to. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo ser
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas meio
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- autônomo de impugnação.
cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal)
e houver risco de reiteração; Fiança
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua existên-
IX - monitoração eletrônica. cia como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicionan-
§ 1º ao §3º (Revogados). te ou não da concessão de liberdade provisória.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci- “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma-
dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio-
de Processo Penal). nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca- beneficiário;
sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP). C) Aumentada em até mil vezes (inciso III).
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Penal,
não será concedida fiança: Destinação da Fiança
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as
art. 5º, XLII, da Constituição Federal; seguintes providências:
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- A) Pagamento de custas;
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. B) Indenização do dano;
323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede- C) Pagamento de prestação pecuniária;
ral; D) Pagamento de multa;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- E) Remanescente será devolvido.
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323,
inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal; Objeto da Fiança
A) Depósito em dinheiro;
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an- B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer C) Títulos da dívida pública;
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de D) Hipoteca de imóvel.
Processo Penal (art. 324, inciso I);
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II); Perda da fiança
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Tal posta, independentemente do regime, a fiança será dada por perdi-
dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lavagem de da. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu valor,
Capitais” são insuscetíveis de fiança; deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver obri-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema gado, será recolhido ao fundo penitenciário.
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta lei, Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se presen- estrito (art. 581, VII, CPP).
tes os motivos ensejadores da prisão preventiva.
Cassação da fiança
Valor da fiança A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
periculosidade, bem como a importância provável das custas do Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual ção.
Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
nos seguintes limites: estrito (art. 581, V, CPP).
A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior Reforço da fiança
a quatro anos (inciso I); Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja por-
B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da que o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova tipifica-
pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos ção do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja porque
(inciso II). ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque ocorreu
Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro- a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal reforço
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi- não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança inidônea).
to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em senti-
pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em do estrito (art. 581, V, CPP).
primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais
preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a CAPÍTULO VI
fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA
determinado pela sua cotação em Bolsa.
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
Dispensa/redução/aumento da fiança da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória,
Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319
poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP): deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). Código.
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não
sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa seja superior a 4 (quatro) anos.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi-
Art. 323. Não será concedida fiança: tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos.
I - nos crimes de racismo; Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona-
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; de fiança.
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e,
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a
II - em caso de prisão civil ou militar; prisão.
III - (Revogado). Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista
da prisão preventiva (art. 312). do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
conceder nos seguintes limites: em julgado a sentença condenatória.
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con-
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me-
superior a 4 (quatro) anos; diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o 48 (quarenta e oito) horas.
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
(quatro) anos. pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a niária e da multa, se o réu for condenado.
fiança poderá ser: Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Penal).
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Código.
do processo, até final julgamento. Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a será cassada em qualquer fase do processo.
comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a
para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica-
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada. ção do delito.
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- Art. 340. Será exigido o reforço da fiança:
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias II - quando houver depreciação material ou perecimento dos
de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
será encontrado. pedras preciosas;
Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um III - quando for inovada a classificação do delito.
livro especial, com termos de abertura e de encerramento, nume- Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido
rado e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destina- à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for reforçada.
do especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:
escrivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com-
dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos. parecer, sem motivo justo;
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri- II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 e do processo;
328, o que constará dos autos. III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em com a fiança;
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos IV - resistir injustificadamente a ordem judicial;
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca V - praticar nova infração penal dolosa.
inscrita em primeiro lugar. Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
§ 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au- Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
toridade. perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
§ 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívi- sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
da pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, da prisão preventiva.
e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian-
ônus. ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do
cumprimento da pena definitivamente imposta.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a
custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será reco- presença de apenas um requisito.
lhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções ça dos três requisitos conjuntamente.
previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos
ao fundo penitenciário, na forma da lei. três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os Não há um entendimento prevalente, todavia.
encargos a que o réu estiver obrigado.
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por Prazo da prisão temporária
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão
órgão do Ministério Público. temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- caso de comprovada e extrema necessidade.
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão temporá-
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 ria será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. comprovada e extrema necessidade.
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus-
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o Procedimento da prisão temporária
disposto no § 4o do art. 282 deste Código. O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
7.960/89:
Prisão temporária A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo querimento do Ministério Público (na hipótese de representação da
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Ministé-
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo Pe- rio Público);
nal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro horas,
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- contados a partir do recebimento da representação ou do requeri-
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. mento;
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
plenamente constitucional. solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da submetê-lo a exame de corpo de delito;
Lei nº 7.960/89: D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri-
são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e servirá
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in-
como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá ser
quérito policial (inciso I);
executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a princi-
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
pal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta pela Lei
elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso
nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente recolhia o indiví-
II);
duo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade judicial disso);
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, mente, separados dos demais detentos);
CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá
158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art. ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con-
159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento versão da medida em prisão preventiva.
ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte
(art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância Mandado de prisão
alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c. É o instrumento emanado da autoridade competente para a
art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual- execução da prisão, prevista no artigo 285.
quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56),
tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III). LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989

Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte: Dispõe sobre prisão temporária
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decretar
a prisão temporária? Há várias posições na doutrina. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado do
requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois requisi- Art. 1° Caberá prisão temporária:
tos ao menos. I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer § 8ºInclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; cômputo do prazo de prisão temporária. (Redação dada pela Lei nº
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer 13.869. de 2019)
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-
indiciado nos seguintes crimes: riamente, separados dos demais detentos.
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, fica
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
e 2°); “Art. 4° ...............................................................
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
2° e 3°); Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940) do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem-
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combina- porária.
ção com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
2.848, de 1940) Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPON-
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado SABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
com art. 285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; Os crimes praticados por funcionários públicos, no exercício de
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro sua função, encontram-se previstos nos artigos 312 a 326 do Có-
de 1956), em qualquer de sua formas típicas; digo Penal. Já seu processo e procedimento, encontra-se previsto
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro entre os artigos 513 e 518 do Código de Processo Penal, os quais
de 1976); analisaremos neste tópico.
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de Inicialmente, importante destacar que os crimes funcionais po-
junho de 1986). dem ser:
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº a) Crimes funcionais próprios: são os crimes que só podem ser
13.260, de 2016) praticados por funcionário público, ou seja, a ausência desta con-
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da dição leva à atipicidade da conduta. Ex: a concussão e a corrupção
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis- passiva;
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual b) Crimes funcionais impróprios: são aqueles crimes que tam-
período em caso de extrema e comprovada necessidade. bém podem ser praticados por particulares, ocorrendo tão somen-
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o te uma nova tipificação. A inexistência da condição de funcionário
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. público leva à desclassificação para outra infração. Ex: o Peculato,
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser que se for cometido por particular é crime de apropriação indébita.
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do Inicialmente, o artigo 513 do CPP dispõe que nos crimes funcio-
requerimento. nais, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou jus-
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério tificação que façam presumir a existência do delito e que poderão
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta- ser obtidas vias inquérito policial, ou com declaração fundamenta-
do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e da da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas.
submetê-lo a exame de corpo de delito. Apresentada a denúncia ou queixa, o juiz, preliminarmente
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de deverá, antes de notificar o funcionário supostamente infrator,
prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e verificar se a denúncia ou queixa possui todas as formalidades ne-
servirá como nota de culpa. cessárias exigidas por lei. Não estando presentes todos os requi-
§ 4º-AO mandado de prisão conterá necessariamente o perío- sitos, caberá ao juiz não recebê-las, gerando coisa julgada formal,
do de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste ar- de maneira que vencido o vício a demanda poderá ser novamente
tigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. (Incluído proposta.
pela Lei nº 13.869. de 2019) O artigo 514 do CPP faz uma ressalva que o procedimento em
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- estudo se aplica apenas aos crimes afiançáveis. Importante ressal-
ção de mandado judicial. tar que antes da vigência da Lei nº. 12.403/11, em se tratando de
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso crimes funcionais, os únicos crimes inafiançáveis eram o Excesso de
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. Exação (CP, art.316, §1º) e a Facilitação de Contrabando ou Desca-
§ 7ºDecorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au- minho (CP, art. 318), conforme dispunha o art. 323 do CPP. Contu-
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente do, com o advento da Lei 12.403/11, passaram a ser inafiançáveis
de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso somente os Crimes Hediondos e os a eles equiparados, sendo viável
em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da a aplicação da fiança aos demais
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído Estando a denúncia em ordem e, caso o crime seja afiançável,
pela Lei nº 13.869. de 2019) o juiz notificará o funcionário público acusado para que o mesmo
apresente resposta por escrito dentro de quinze dias (defesa pre-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
liminar). Tal resposta antecede ao próprio recebimento da peça CAPÍTULO II
acusatória, de maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES
utilizados pelo defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
base no art. 395, do Código de Processo Penal.
No tocante a defesa preliminar, conforme entendimento do Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públi-
Supremo Tribunal Federal (STF), tem-se que a falta de notificação cos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a
do acusado para apresentar a resposta prevista ainda no artigo 514 queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justifica-
do CPP, acarretará na nulidade do processo, conforme RT 572/412, ção que façam presumir a existência do delito ou com declaração
in verbis: fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer
“Artigo 514 do CPP. Falta de notificação do acusado para res- dessas provas.
ponder, por escrito, em caso de crime afiançável, apresentada a Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa
denúncia. Relevância da falta, importando nulidade do processo, em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação
porque atinge o princípio fundamental da ampla defesa. Evidência do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze
do prejuízo.” dias.
E, nos termos dos Art. 515 do CPP, durante os quinze dias con- Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado,
cedidos de prazo para que o funcionário público ofereça resposta, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defen-
os autos ficarão armazenados em cartório, onde poderão ser exa- sor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.
minados pelo infrator ou por seu defensor. Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o pra-
Após recebida a resposta do funcionário público, juiz definirá zo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório,
se receberá ou não a denúncia. onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor.
Caso decida pelo não recebimento da queixa ou denúncia, o Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com docu-
juiz devera justificar sua decisão em despacho fundamentado, nos mentos e justificações.
termos do artigo 516, CPP. Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho
Já no caso de recebimento da denúncia ou da queixa, será o fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu
acusado citado e o processo seguirá o rito comum, previsto para os defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.
crimes punidos com reclusão, encontrados nos artigos 517 e 518 do Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado cita-
Código de Processo Penal. do, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I.
Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do proces-
Vejamos as particularidades relativas a este procedimento: so, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro.
Hipótese de cabimento. O rito aqui reproduzido tem cabimen-
to quando o crime imputado a funcionário público for afiançável,
e, ainda, desde que o funcionário não tenha foro privilegiado por
prerrogativa de função; HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO
Infrações que comportam a aplicação de tal rito. São aquelas
previstas nos arts. 312 a 326, do Código Penal (peculato, concussão, O habeas corpus teria sua origem remota no direito romano,
corrupção passiva, facilitação de contrabando ou descaminho, pre- onde todo o cidadão podia reclamar a exibição do homem livre de-
varicação, condescendência criminosa, violência arbitrária, aban- tido ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, conhecida por
dono de função etc.); interdictum de libero homine exhibendo. Entretanto, somente se
delineou um instrumento que possa ser identificado como habeas
Notificação do acusado. De acordo com o art. 514, do Códi- corpus a partir da “Magna Carta”, em 1.215, imposta pelos barões
go de Processo Penal, nos crimes afiançáveis, estando a denúncia/ ingleses ao rei João Sem-Terra, especialmente com o writ of habeas
queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a noti- corpus ad subjiciendum, daí evoluindo cada vez mais por meio do
ficação do acusado para responder por escrito, no prazo de quinze habeas corpus Act de 1.679 e do habeas corpus Act de 1.816. Do di-
dias (é esta característica que torna especial o procedimento). Tal reito inglês foi levado para as colônias da América do Norte, sendo,
resposta antecede ao próprio recebimento da peça acusatória, de posteriormente, incorporado na Constituição de 1.787 dos Estados
maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos utilizados pelo Unidos da América.
defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com base no art. 395, No Brasil o habeas corpus entrou, pela primeira vez, na nossa
do Código de Processo Penal. legislação, de forma expressa, com a promulgação do Código de
Há se tomar especial atenção, contudo, em relação à Súmula Processo Criminal, em 1.832 (art. 340), embora estivesse contido
nº 330, STJ, segundo a qual é desnecessária a resposta preliminar implicitamente na Constituição do Império de 1.824 (art. 179, § 8º).
de que trata o art. 514, CPP, na ação penal instruída por inquérito Atualmente, na Constituição da República de 1988, o habeas cor-
policial. Parcela considerável da doutrina discorda de tal posicio- pus está previsto no art. 5º, inciso LXVII.
namento, alegando que, esteja ou não a ação penal instruída por O HC é uma ação constitucional de natureza jurídica de ação
inquérito policial (ou elemento informativo equivalente), continua penal destinada especificamente à proteção da liberdade de loco-
tal defesa a ser obrigatória, por observância da cláusula do devido moção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de
processo legal, do contraditório, e da ampla defesa. É este, inclu- poder.
sive, o posicionamento prevalente no Supremo Tribunal Federal, Está previsto na Constituição da República, e será concedido
nada obstante a Súmula do Superior Tribunal de Justiça; sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer viola-
D) Recebimento da denúncia/queixa. Com o recebimento da ção ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
inicial acusatória, o procedimento segue as mesmas regras do pro- abuso de poder.
cedimento ordinário. Preventivamente, o HC é ajuizado quando o cerceio de liber-
dade estiver em vias de se concretizar. Repressivamente, quando a
Assim dispõe o Código de Processo Penal acerca do assunto: violação da liberdade de locomoção já tiver se concretizado.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
A ação do HC é de conhecimento, podendo dela resultar uma I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art.
tutela declaratória, constitutiva ou, até mesmo, condenatória, mas 101, I, g, da Constituição;
sempre tendo caráter mandamental, já que desnecessária e ine- II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência
xistente fase posterior de execução para dar efetividade à ordem. ou coação forem atribuídos aos governadores ou interventores dos
Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou a seus
Condições da Ação secretários, ou aos chefes de Polícia.
As condições de ação devem ser vistas da mesma forma que § 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou
nas demais ações. coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior juris-
Assim, temos como primeira condição de ação a possibilida- dição.
de jurídica do pedido, que consiste na ausência de vedação legal a § 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrati-
determinada demanda, como ocorre com a vedação constitucional va, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor per-
ao HC para combater punições disciplinares militares (art. 142, § tencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu
2º, CR/88). recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado
Admite-se a utilização do HC como sucedâneo recursal, quando de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a
não houver recurso apto a proteger a liberdade da pessoa. Nesse prisão exceder o prazo legal.
caso, a sentença que decidir o HC terá efeitos em outro processo. Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá
Logo, para tal, este último processo não pode já ter sido encerrado. termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com os
fundamentos daquela.
A causa de pedir no Habeas Corpus é a violação à liberdade de Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nuli-
ir e vir do indivíduo. O HC pode se dirigir contra a prisão ilegal, con- dade do processo, este será renovado.
tra a ameaça de prisão e contra inquérito policial, procedimento Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas
criminal ou processo penal cuja conclusão possa resultar em pena corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou
privativa de liberdade. evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Pú-
De acordo com o art. 648 do CPP, a coação considerar-se-á ile- blico cópia das peças necessárias para ser promovida a responsabi-
gal quando: lidade da autoridade.
a) Não houver justa causa; Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Pú-
b) Alguém estiver preso por mais tempo do que determina a
blico.
lei;
§ 1o A petição de habeas corpus conterá:
c) Quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer
d) Houver cessado o motivo que autorizou a coação;
violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou
e) Não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que
ameaça;
a lei autoriza;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de
f) O processo for manifestamente nulo;
simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;
g) Estiver extinta a punibilidade. c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quan-
do não souber ou não puder escrever, e a designação das respecti-
Senão vejamos: vas residências.

§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de


CÓDIGO PROCESSUAL PENAL ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo ve-
rificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação
CAPÍTULO X ilegal.
DO HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o ofi-
cial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que embaraçar
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as infor-
ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua mações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar. paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos
mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que incorrer.
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas
I - quando não houver justa causa; corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que de- que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apela-
termina a lei; ção impor as multas.
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar
para fazê-lo; necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este Ihe seja
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; imediatamente apresentado em dia e hora que designar.
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido
em que a lei a autoriza; mandado de prisão contra o detentor, que será processado na for-
VI - quando o processo for manifestamente nulo; ma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da
VII - quando extinta a punibilidade. prisão e apresentado em juízo.
Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdi- Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará
ção, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em a sua apresentação, salvo:
que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora. I - grave enfermidade do paciente;
Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a
habeas corpus: detenção;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de com-
ou pelo tribunal. petência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como nos de
Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se recurso das decisões de última ou única instância, denegatórias de
encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de doença. habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, o disposto
Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente nos artigos anteriores, devendo o regimento interno do tribunal es-
estiver preso. tabelecer as regras complementares.
Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violên-
cia ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.
Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente,
o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DI-
horas. REITO PROCESSUAL PENAL
§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em
liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão. Princípios são os bases que alicerçam determinada legislação,
§ 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem podendo estarem expressos na ordem jurídica positiva ou implíci-
a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse ime- tos segundo uma dedução lógica, importando em diretrizes para o
diatamente o constrangimento. elaborador, aplicador e intérprete das normas.
§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o pacien- Dita Celso Antônio Bandeira de Melo acerca dos princípios que
te admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que po- “o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um siste-
derá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade ma”.
os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial O direito processual penal por se tratar de uma ciência, têm
ou aos do processo judicial. princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou
ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo- sejam, específicos do direito processual penal.
-conduto assinado pelo juiz.
§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade Princípios do direito processual penal brasileiro
que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a
fim de juntar-se aos autos do processo. Princípio do Devido Processo Legal
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja O Princípio do devido processo legal está consagrado, na legis-
o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará lação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa assegurar a
de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabele-
cido a lei.
por via postal.
Este princípio divide-se em: devido processo legal material, ou
Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de
seja trata acerca da regularidade do próprio processo legislativo, e
Apelação, a petição de habeas corpus será apresentada ao secre-
ainda o devido processo legal processual, que se refere a reg ulari-
tário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou
dade dos atos processuais.
da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro
O devido processo legal engloba todas as garantias do direito
tiver de reunir-se.
de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da re-
cursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. O pro-
Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o
cesso deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o interesse
presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que
coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daque- obedecer a prescrição legal, e principalmente necessitando atender
les requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for a Constituição.
apresentada a petição.
Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordena- Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, “nin-
das, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indefe- guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-
rido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou cesso legal”.
turma, para que delibere a respeito. A palavra bens, utilizado pelo inciso, está empregado em sen-
Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas tido amplo, a alcançar tanto bens materiais como os imateriais. Na
corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar- ação muitas vezes a discussão versa sobre interesses de natureza
-se o julgamento para a sessão seguinte. não material, como a honra, a dignidade, etc, e as consequências
Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. de uma sentença judicial não consistem apenas em privar alguém
Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na vota- de sua liberdade ou de seus bens, mas, podem também representar
ção, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a um mandamento, uma ordem, um ato constitutivo ou desconstitu-
decisão mais favorável ao paciente. tivo, uma declaração ou determinação de fazer ou não fazer.
Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assina- Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de
da pelo presidente do tribunal, câmara ou turma, será dirigida, por algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, que
ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou autoridade que constituem consequência da regularidade processual:
exercer ou ameaçar exercer o constrangimento. a) Não identificação criminal de quem é civilmente identificado
Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedece- (inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela Lei nº
rá ao disposto no art. 289, parágrafo único, in fine. 10.054/00);
Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabele- b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judicial
cerão as normas complementares para o processo e julgamento do (inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão admi-
pedido de habeas corpus de sua competência originária. nistrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal;

48
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88); Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. Entre
d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à fa- as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa de liber-
mília do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988); dades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Corpus, para a
e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fami- liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande preocupação
liar ao acusado (inciso LXIII, CF/88); com as prisões, tutelando a liberdade contra elas em várias oportu-
f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo interro- nidades, direta e indiretamente, impondo limitações e procedimen-
gatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988); tos a serem observados para firmar a regularidade da prisão, meios
g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liberdade e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e medidas
provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI, CF/88); para sanar e questionar a prisão.
h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções dis- Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Federal
postas no texto constitucional (LXVII, CF/88). asseguram a liberdade de locomoção dentro do território nacional
(inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena (inciso XLV),
Princípio da inocência cuidam do princípio do contraditório e da ampla defesa, assim
O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser consi- como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, respectivamente),
derado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que
condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88). constitui que
O princípio é também denominado de princípio do estado de “Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem
inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a inquérito escrita e fundamentada da autoridade competente...”;
policial ou processo judicial, ainda que neste seja condenado, o ci-
dadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em jul- O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será imediata-
gado da sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao mente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece
acusado deve ser digno e respeitoso, evitando-se estigmatizações. que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei
A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de cul- admitir a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança;
pabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e a sua o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto
autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso de dúvida, de- obrigação alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, pres-
cide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação creve que conceder-se-habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
legal no princípio do in dubio pro reo. julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também pres-
Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, deven- creve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa conde-
do, por conseguinte, toda prisão processual estar fundada em dois nada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do
requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti. tempo fixado na sentença.
Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim, o di- Princípio da publicidade
reito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não poderá Todo processo é público, isto, é um requisito de democracia e
acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade pe- de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segre-
nal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos sobre do de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a transparên-
os quais o acusado calou-se, bem como o imputado não pode ser cia da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possi-
obrigado a produzir prova contra si mesmo. bilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e
de estar presente em audiência, revela-se como um instrumento de
Princípio do juiz natural fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito.
O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da Cons- A regra é que a publicidade seja irrestrita (também denomi-
tituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamento por um nada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o interesse
juiz competente, segundo regras objetivas (de competência) previa- social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados nos arts. 5º,
mente estabelecidas no ordenamento jurídico, bem como, a proi- LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, CPP). Giza-se que
bição de criação de tribunais de exceção, constituídos à posteriori quando verificada a necessidade de restringir a incidência do prin-
a infração penal, ou seja, após da prática da violação, e especifica- cípio em questão, esta limitação não poderá dirigir-se ao advogado
mente para julgá-la. do Réu ou ao órgão de acusação. Contudo, quanto a esse aspecto,
o Superior Tribunal de Justiça, em algumas decisões, tem permitido
O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucional, que seja restringido, em casos excepcionais, o acesso do advogado
com competência conferida pela Constituição Federativa do Brasil aos autos do inquérito policial. Sendo assim, a regra geral a publi-
ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão pré-constituí- cidade, e o segredo de justiça a exceção, urge que a interpretação
do pode exercer a jurisdição, no âmbito predefinido pelas normas do preceito constitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só
de competência assim, o referido princípio é uma garantia do juris- se admitir o segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma.
dicionado, da jurisdição e do próprio magistrado, porque confere
ao primeiro direito de julgamento por autoridade judicante pre- A publicidade traz maior regularidade processual e a justiça
viamente constituída, garante a imparcialidade do sistema jurisdi- da decisão do povo.
cional e cerca o magistrado de instrumentos assecuratórios de sua
competência, regular e anteriormente fixada. Princípio da verdade real
A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
Princípio da legalidade da prisão daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portanto, o
A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades, processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a verdade
colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no real.
intuito de assegurá-las.

49
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
No processo penal o juiz tem o dever de investigar a verdade Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI,
real, procurar saber como realmente os fatos se passaram, quem coerentemente afirmaram que “se for entendido que as condutas
realmente praticou-os e em que condições se perpetuou, para dar previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, torna-se
base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferentemente da área absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da denúncia, pois
civil, o valor da confissão não é extraordinário porque muitas vezes amplia o rol dos legitimados para propositura de ação penal, em
o confidente afirma ter cometido um ato criminoso, sem que o te- total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que estabelece a com-
nha de fato realizado. petência privativa do Ministério Público”.
Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a
sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu sur- Princípio da disponibilidade
girem, não poderá se instaurado novo processo em decorrência do É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se dos
mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação será possível institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio exclusivo
que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder autônomo de inves- das ações privadas.
tigação, apesar da inatividade do promotor de justiça e da parte
contrária. O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem abrir
A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas oriun- mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito de acu-
das da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor dizer verda- sar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, poderá o
de processual, porque, por mais que o juiz procure fazer uma re- prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, o renunciará
construção histórica e verossímil do fato objeto do processo, muitas de maneira expressa ou tácita, causas extas que o isenta de sanção.
vezes o material de que ele se vale poderá conduzi-lo ao erro, isto é,
a uma falsa verdade real. Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal ,
poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, quer
Princípio do livre convencimento perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando assim lu-
O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de Pro- gar à perempção, ou seja, prescrição do processo. Atente-se que
cesso Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhecimento mesmo após proferida a sentença condenatória, o titular da ação
que eventualmente tenha além das provas constantes nos autos, pode perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transitado
pois, o que não estiver dentro do processo equipara-se a inexistên- em julgado.
cia. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o
juiz. Tratando-se este princípio de excelente garantia par impedir Princípio da oportunidade
julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exte- Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu re-
riorização da livre convicção formada pelo juiz em face de provas presentante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou não a
apresentadas nos autos. ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade somente será
valido ante ação penal privada.
Princípio da oficialidade O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao seu
Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípios representante legal, o direito de invocar a prestação jurisdicional.
da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade funda- Contudo não havendo interesse do ofendido em processar o seu
-se no interesse público de defesa social. injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda que a autorida-
Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), compreen- de policial surpreenda um indivíduo praticando um delito de alçada
de-se que a segurança também é um direito individual, sendo com- privada, não poderá prendê-lo em flagrante se o ofendido ou quem
petência do estado provê-la e assegurá-la por meio de seus órgãos. o represente legalmente não o permitir. Poderá apenas intervir
O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da se- para que não ocorra outras conseqüência. A autoridade policial não
gurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de Pro- pode, por exemplo, dar-lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para
cesso Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o art. 129, lavratura de auto de prisão em flagrante, sem o consentimento do
inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do Ministério ofendido.
Público no tocante à ação penal pública.
O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece as exce-
Princípio da indisponibilidade
ções ao princípio da oficialidade em relação a ação penal privada; e
Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal privada subsidiária
também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver-
da pública.
gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou
Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação pe-
outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar o
nal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14, da Lei
entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de in-
nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados “crimes”
de responsabilidade do Presidente da República. disponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisando-
Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, pa- -se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibilidade,
rágrafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se que os no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno.
delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcionada pela
Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liberdade. A puni- Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é dupla,
ção esta restrita à perda do cargo com a inabilitação para a função com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E, por estas
pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da Constituição Fede- razões, o representante do Ministério Público além de ser acusador,
ral, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. tem legitimidade e, em determinados casos, o dever de recorrer em
favor do Réu, requerendo-lhe benefícios, etc. Por isso, o Ministério
Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” de Público não se enquadra como “parte” na relação formada no pro-
responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 e pelo cesso penal, estabelecendo-se meramente como órgão encarrega-
art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas sim infra- do de expor os fatos delituosos e representar o interesse social na
ções político-administrativas, que acarretam o “impeachment” do sua apuração.
Presidente da República.

50
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o Minis- O delito necessariamente para os órgãos da persecução, surge
tério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto na mes- conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir a conduta
ma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e fiscalizará a delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o exercício da ação
execução da lei, forte no art 257, da referida lei. Necessário se faz penal pública sem se inspirar em motivos políticos ou de utilida-
enxergar, que não se tratam de desistências, visto que receberá a de social. A necessidade do Ministério Público invocar razões que
denúncia, quanto ao mérito da causa criminal, o que lhe é termi- o dispensem do dever de propor a ação falam bem alto em favor
nantemente proibido, mas quando à viabilidade acusatória, e ainda da tese oposta.
assim, o não recebimento da denúncia deverá ser justificado, como
diz o dispositivo. Tratando-se, na realidade, de um verdadeiro juízo Para o exercício da ação são indispensáveis determinados re-
de admissibilidade da denúncia, onde são verificadas as condições quisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato típico
da ação e a definição do quadro probatório. não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um mínimo
de suporte probatório. Porém, se não oferecer denúncia, o Minis-
Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato, há que tério Público deve dar as razões do não oferecimento da denúncia.
se justificar o abordamento da ação penal que o motivou, aqui não Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, poderá ele respon-
poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei lhe conferiu a in- der pelo crime de prevaricação
cumbência de custos legis, com certeza, deve também ter atribuído
a estes instrumentos para o seu exercício. Porém, se verificar que Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções
não há causa que embase o prosseguimento do feito ou da ação distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con-
penal, o promotor ou procurador deve agir da seguinte forma: afir- dutas, convocação de determinados crimes em contravenções,
mando que em face de aparente contradição, entre a conduta do dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor
representante do Ministério Público que, como autor, não pode potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acordo
desistir da ação penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qua- com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de direito
lidade de fiscal da lei, não pode concordar com o prosseguimento ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz homologará
de uma ação juridicamente inviável, sendo a única intelecção que a transação penal.
entende-se ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da
ação penal é de que o MP não poderá desistir da ação penal se re- Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente
conhecer que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para processuais, existem outros, igualmente importantes, que devem
a sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. Afinal,
como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que ofender
Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não instau-
uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo material,
ração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267, incisos
ao passo que este é o espírito, que o anima”.
VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar impetrando
uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços e serviços da
Máquina Judiciária.
EXERCÍCIOS
O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao invés
de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do inquérito, 1. Acerca da aplicação da lei processual no tempo e no espaço
o juiz caso considere improcedente as alegações invocadas pelo MP, e em relação às pessoas, julgue os itens a seguir.
fará a remessa do referido inquérito ao Procurador-Geral, e, este I O Brasil adota, no tocante à aplicação da lei processual penal
por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá o pedido de arquiva- no tempo, o sistema da unidade processual.
mento do referido inquérito. II Em caso de normas processuais materiais — mistas ou híbri-
das —, aplica-se a retroatividade da lei mais benéfica.
Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de Justiça III Para o regular processamento judicial de governador de es-
não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que haja uma tado ou do Distrito Federal, é necessária a autorização da respectiva
justificada recusa. casa legislativa — assembleia legislativa ou câmara distrital.

Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum o Assinale a opção correta.


juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua vez, (A) Apenas o item I está certo.
ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e assim (B) Apenas o item II está certo.
sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir o intuito (C) Apenas os itens I e III estão certos.
de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova lei. É certo e (D) Apenas os itens II e III estão certos.
não se pode negar que com a mobilidade que a lei proporciona ao (E) Todos os itens estão certos.
Ministério Público, à primeira vista pode se sentir que a barganha
está sendo facilitada, mas fica a certeza de que não é este advento 2. Sobre a aplicação da lei processual penal no tempo e no es-
que se vê aventar esta possibilidade, pois, como já sustentou-se a paço, analise os itens a seguir.
recusa do MP não será um ato discricionário, tampouco livre do de- I. A lei processual penal entra em vigor e passa a ser aplicada
ver de motivação. imediatamente, mesmo nas hipóteses em que o delito já tenha sido
cometido, o acusado já esteja sendo processado e extinga modali-
Princípio da legalidade dade de defesa.
O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o dever II. Aplica-se a lei processual penal brasileira quando o crime é
de promover a ação penal. cometido por cidadão brasileiro no exterior e ali o autor passa a ser
processado.
O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. Ba- III. Nos crimes cometidos em embarcações estrangeiras priva-
seado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos míni- das estacionadas em portos brasileiros, aplica-se a lei processual
mos para impetrar a ação penal. penal de seu país de origem.

51
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
IV. O cumprimento de sentença penal condenatória emitida 5. Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processual penal
por autoridade estrangeira não se submete a exame de legalidade e da aplicação da lei processual no tempo, no espaço, analise as
e correspondência de crimes, cabendo ao juiz criminal aplica-la de assertivas e indique a alternativa correta:
imediato. I - A lei processual penal tem aplicação imediata, nos termos
do art. 2º do Código de Processo Penal. O legislador pátrio adotou
Assinale a alternativa correta. o princípio do tempus reget actum, não existindo efeito retroativo.
(A) Apenas I e II estão corretos II - A lei processual penal se submete ao princípio da retroati-
(B) Apenas I e IV estão incorretos vidade in mellius, devendo ter incidência imediata sobre todos os
(C) Apenas II e III estão incorretos processos em andamento, independentemente de o crime haver
(D) Apenas III e IV estão corretos sido cometido antes ou depois de sua vigência, desde que seja mais
(E) I, II, III e IV estão incorretos benéfica.
III - A busca pela verdade real constitui princípio que rege o
3. Com relação às regras da lei processual no espaço e no tem- Direito Processual Penal. A produção das provas, porque constitui
po, o Código de Processo Penal vigente adota, respectivamente, os garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo Juiz,
princípios da lex fori e da aplicação imediata. Com base nessa infor- de ofício, quando julgar necessário.
mação, é correto afirmar que IV - O princípio da verdade real comporta algumas exceções,
(A) as normas do Código de Processo Penal vigente são como o descabimento de revisão criminal contra sentença absolu-
inaplicáveis, ainda que subsidiariamente, no âmbito da Justiça tória.
Militar e aos processos da competência do tribunal especial. V - A lei processual penal não admitirá interpretação extensi-
(B) delegado de polícia estadual, que é informado , sobre a va e aplicação analógica, mas admitirá o suplemento dos princípios
prática de crime cometido por promotor de justiça estadual, gerais do direito.
está autorizado expressamente por lei, a instaurar inquérito
policial para a apuração dos fatos. (A) Apenas as assertivas II, III e IV são verdadeiras.
(C) é possível a prisão em flagrante de magistrado estadual (B) Apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
por delegado de polícia estadual, quando se tratar de crime (C) Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras.
inafiançável, sendo obrigatória apenas a comunicação ao (D) Apenas as assertivas III, IV e V são verdadeiras.
presidente do tribunal de justiça a que estiver vinculado para (E) Apenas as alternativas I, III, e V são verdadeiras.
evitar vício do ato.
(D) a lei processual penal tem aplicação aos processos em 6. (PC-MA - PERITO CRIMINAL – CESPE/2018) A respeito do
trâmite no território brasileiro, contudo, uma hipótese de inquérito policial, assinale a opção correta.
exclusão da jurisdição pátria é a imunidade dos agentes diplo- (A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
máticos e seus familiares que com eles vivam. em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato cri-
(E) a lei processual penal atende a regra do tempus reígit minoso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação
actum, porém a repetição de atos processuais anteriores é prévia da procedência das informações.
exigida por lei em observância da interpretação constitucional, (B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a
além disso, não é possível alcançar os processos que apuram instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido
condutas delitivas consumadas antes da sua vigência. caberá reclamação ao Ministério Público.
(C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministério
04. Em relação ao direito processual penal, assinale a opção Público não poderá alterar a classificação do crime definida
correta. pela autoridade policial.
(A) De acordo com o procedimento especial de apuração dos (D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi-
crimes de responsabilidade dos funcionários públicos contra a mento administrativo pré-processual destinado à apuração
administração pública, previsto no CPP, recebida a denúncia e das infrações penais e da sua autoria.
cumprida a citação, o juiz notificará o acusado para responder (E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o in-
a acusação por escrito, dentro do prazo legal. quérito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia.
(B) A interceptação telefônica será determinada pelo juiz na
hipótese de o fato investigado constituir infração penal punida 7. (PC-SC - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – FEPESE/2017) É
com pena de detenção. correto afirmar sobre o inquérito policial.
(C) A decisão que autoriza a interceptação telefônica deve ser (A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente,
fundamentada, indicando a forma de execução da diligência, quando apresentada por qualquer pessoa do povo
que não poderá exceder o prazo legal nem ser prorrogada, sob (B) A representação do ofendido é condição indispensável
pena de nulidade. para a abertura de inquérito policial para apurar a prática de
(D) A lei processual penal brasileira adota o princípio da abso- crime de ação penal pública condicionada.
luta territorialidade em relação a sua aplicação no espaço: não (C) O Ministério Público é parte legítima e universal para
cabe adotar lei processual de país estrangeiro no cumprimen- requerer a abertura de inquérito policial afim de investigar a
to de atos processuais no território nacional. prática de crime de ação penal pública ou privada.
(E) A lei processual penal não admite o uso da analogia ou da (D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial
interpretação extensiva, em estrita observância ao princípio a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal
da legalidade. privada.
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido.

52
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
8. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016) (D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos
Pode-se afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conheci- legais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no
mento da prática da infração penal deverá: processo penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor pro-
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên- batório da prova originalmente produzida.
cias periciais pretendem fazer. (E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte- produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada. tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de- colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais. repetíveis e antecipadas.
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para
seus respectivas familiares. 12. (PC/GO - AGENTE DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES-
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste- PE/2016) No que diz respeito às provas no processo penal, assinale
munhas que presenciaram o fato. a opção correta.
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova
9. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES- pericial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
PE/2016) Acerca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale a (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
opção correta. ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a desnecessária a produção de outras provas.
ser apurado, poderá ser presidido por representante do MP, (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão
mediante prévia determinação judicial nesse sentido. ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em
vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a outros elementos de prova.
ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial. (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
adotado na fase inquisitorial. to, menoridade, filiação e cidadania.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemu-
independentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto nha é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser
que a superação dos prazos de investigação tem o efeito de presidido pelo delegado de polícia.
encerrar a persecução penal na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir reque- 13. (PC/DF - PERITO CRIMINAL - IADES/2016) O Código de
rimento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu repre- Processo Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam a
sentante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso produção das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às
ao juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184
delituoso. da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos crimes
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a
10. (PC/PE - ESCRIVÃO DE POLÍCIA - CESPE/2016) O inqué- prova testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.
rito policial (B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado
(A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido durante o dia.
oferecida e a ação penal dela depender. (C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
(B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por
determinação da autoridade judicial.
contraditório ao indiciado.
(D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo
(C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
ação penal pública incondicionada.
do acusado.
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público
(E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias
se tratar-se de crime de ação penal privada. sejam realizadas por dois peritos oficiais.
(E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
penal pública incondicionada. 14. (PC/GO - ESCRIVÃO DE POLÍCIA SUBSTITUTO - CES-
PE/2016) Quanto à prova pericial, assinale a opção correta.
11. (TJ-MS - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA FIM - PUC- (A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial
-PR/2017) Sobre a prova no direito processual penal, marque a al- para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto
ternativa CORRETA. mediante arrombamento, prevalecendo em tais situações a
(A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, qualificadora do delito.
inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre (B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se
umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas durante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvi-
por uma fonte independente das primeiras. da, sendo vedada a sua realização durante a noite.
(B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do (C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participação
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em da defesa na produção da prova pericial na fase investigatória,
conjunto. antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo pericial.
(C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, (D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um
que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir- perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas
-se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto, idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas
tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame,
violar o princípio constitucional da ampla defesa. sejam nomeadas para tal atividade.

53
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu re- 18. (TJ/RS - JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO – VUNESP/2018)
sultado vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser A respeito das provas, assinale a alternativa correta.
contrária à conclusão do laudo pericial. (A) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do pro-
cesso, as provas ilegítimas, assim entendidas as obtidas em
15. (AL/MS - AGENTE DE POLÍCIA LEGISLATIVO - FCC/2016) violação a normas constitucionais ou legais.
Sobre o exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos (B) A pessoa que nada souber que interesse à decisão da cau-
preconizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar: sa será computada como testemunha.
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa- (C) O exame para o reconhecimento de escritos, tal como o
riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de reconhecimento fotográfico, não tem previsão legal.
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as (D) O juiz não tem iniciativa probatória.
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do (E) A falta de exame complementar, em caso de lesões corpo-
exame. rais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os 19. (PC-SC - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – FEPESE/2017) De
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que acordo com a norma processual penal, a busca e apreensão:
instrumentos, por que meios e em que época presumem ter (A) será apenas domiciliar, não podendo ter como objeto
sido o fato praticado. pessoa.
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou (B) deverá sempre ser precedida de mandado judicial.
rejeitá-lo, no todo ou em parte. (C) quando feita em mulher, somente poderá ser realizada por
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o outra mulher.
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo (D) poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de
supri-lo a confissão do acusado. qualquer das partes.
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto- (E) deverá ocorrer na presença, indispensável, do Ministério
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando Público.
não for necessária ao esclarecimento da verdade.
20. (PC/SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VUNESP/2018)
16. (PC/PA - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUNCAB/2016) No que concerne ao regramento específico das provas no CPP,
A prova em matéria processual penal tem por finalidade formar a (A) o “reconhecimento de pessoas” em sede policial é diligên-
convicção do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um cia que não requer qualquer formalidade, sendo facultado
fato tido como criminoso. No que tange aos meios de prova, o Códi- ao Delegado, caso deseje, alinhar várias pessoas para que o
go de Processo Penal dispõe: reconhecedor aponte o autor do crime.
(A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qual- (B) a “acareação” é meio de prova expressamente previsto
quer dia e a qualquer hora. em lei, mas não se a admite entre acusados, sendo possível,
(B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável apenas, entre testemunhas.
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo (C) o ascendente pode se recusar a ser “testemunha”, mas,
supri-lo a confissão do acusado. caso não o faça, deverá prestar compromisso de dizer a ver-
(C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza- dade.
dos por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (D) consideram-se “documentos” para fins de prova quaisquer
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma escritos, instrumentos ou papéis públicos, excluídos, expressa-
pessoa idônea, portadora de diploma de curso superior prefe- mente, os particulares.
rencialmente na área específica. (E) a pessoa vítima de crime pode ser objeto de “busca e
(D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas apreensão”.
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o 21. De acordo com a Lei n.º 9.296/1996, a interceptação de
que declararão no auto. comunicações telefônicas
(E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem (A) poderá ser determinada de ofício por delegado.
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal não poderá (B) não será admitida se a prova puder ser obtida por outros
suprir-lhe a falta. meios disponíveis.
(C) será admitida somente nos casos de crimes em que a pena
17. (PC/PE - ESCRIVÃO DE POLÍCIA - CESPE/2016) Com rela- mínima for igual ou superior a dois anos de detenção.
ção ao exame de corpo de delito, assinale a opção correta. (D) será conduzida por membro do Ministério Público, com
(A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indireta- vistas ao delegado, que poderá acompanhar os procedimen-
mente pela confissão do acusado se os vestígios já tiverem tos.
desaparecido. (E) poderá ser prorrogada a cada trinta dias, desde que respei-
(B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o tado o prazo máximo legal de trezentos e sessenta dias.
exame de corpo de delito de modo indireto.
(C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame comple- 22. Em relação à prova obtida por meio de interceptação tele-
mentar poderá ser suprida pela prova testemunhal. fônica e ao sigilo telefônico, assinale a opção correta, tendo como
(D) Depende de mandado judicial a realização de exame de referência a Lei n.º 9.296/1996 e o entendimento doutrinário e ju-
corpo de delito durante o período noturno. risprudencial dos tribunais superiores.
(E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz (A) A prova obtida por força de interceptação telefônica
poderá negar a sua realização, se entender que é desnecessá- judicialmente autorizada poderá, a título de prova empres-
rio ao esclarecimento da verdade. tada, subsidiar denúncia em outro feito que investigue crime
apenado com detenção.

54
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
(B) A quebra do sigilo de dados telefônicos pertinentes aos da- 26. (CÂMARA DE CAMPO LIMPO PAULISTA/SP - PROCURA-
dos cadastrais de assinante e aos números das linhas chama- DOR JURÍDICO – VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos
das e recebidas submete-se à disciplina da referida legislação. do artigo 295 do CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais
(C) A referida lei de regência condiciona a possibilidade de é do que o recolhimento em local distinto da prisão comum – entre
imposição da medida de interceptação telefônica na fase outros,
de investigação criminal à instauração do inquérito policial (A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Religio-
competente. sa.
(D) Para a determinação da interceptação telefônica, é neces- (B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal
sário juízo de certeza a respeito do envolvimento da pessoa a de Trânsito.
ser investigada na prática do delito em apuração. (C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Mi-
(E) Gravação telefônica realizada por um dos interlocutores nistro do Tribunal de Contas.
sem o conhecimento do outro e sem autorização judicial ca- (D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem-
racteriza meio ilícito de prova por violar o direito à intimidade bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
constitucionalmente protegido. (E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer
das faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de
23. No que tange a interceptação das comunicações telefônicas Rendas.
e a disposições relativas a esse meio de prova, previstas na Lei n.º
9.296/1996, assinale a opção correta. 27. (PC/AC - AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - IBADE/2017) Sobre
(A) A referida medida poderá ser determinada no curso da o tema prisão preventiva assinale a alternativa correta.
investigação criminal ou da instrução processual destinada à (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen-
apuração de infração penal punida, ao menos, com pena de sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos
detenção. reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem
(B) A existência de outros meios para obtenção da prova não passado pelo regime disciplinar diferenciado.
impedirá o deferimento da referida medida. (B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser
(C)O deferimento da referida medida exige a clara descrição lavrado e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
do objeto da investigação, com indicação e qualificação dos (C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e
investigados, salvo impossibilidade manifesta justificada. necessariamente a quantidade da pena privativa e de multa,
(D) A utilização de prova obtida a partir da referida medida bem como eventual pena pecuniária.
para fins de investigação de fato delituoso diverso imputado a (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
terceiro não é admitida. hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do
(E) A decisão judicial autorizadora da referida medida não domicílio.
poderá exceder o prazo máximo de quinze dias, prorrogável (E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
uma única vez pelo mesmo período. pectivo mandado, salvo quando, por questão de urgência,
nos crimes inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem
24. Nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de verbal do juiz.
investigação criminal ou instrução processual penal, a quebra do
sigilo de comunicações telefônicas pode ser determinada 28. (PRF - POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – CESPE/2019)
(A) pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público. Em decorrência de um homicídio doloso praticado com o uso de
(B) pelo Poder Judiciário, somente. arma de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de
(C) por autoridade policial e pelo Ministério Público. que o autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo
(D) pela fiscalização tributária, somente. cuja placa e características foram informadas. O veículo foi abor-
(E) pelo Ministério Público, somente. dado por policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio
montado cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acre-
25. Assinale a alternativa correta com relação às disposições ditavam estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao
processuais penais especiais. condutor do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em
(A) A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais sua posse e que, supostamente, tinha sido utilizada no crime.
Criminais é aplicável aos crimes praticados contra a violência Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.
doméstica. De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa-
(B) Na colaboração premiada em crimes de organização ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
criminosa, o juiz poderá reduzir a pena privativa de liberdade ( )CERTO
em até 1/3, desde que a personalidade do colaborador, a ( )ERRADO
natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social
do fato criminoso sejam adequadas à benesse. 29. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Com rela-
(C) O juiz está adstrito às condições previstas na Lei na hipóte- ção aos meios de prova e os procedimentos inerentes a sua colhei-
se de oferecimento de proposta de suspensão condicional do ta, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo item.
processo. A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo
(D) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e va- sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja ocor-
lores deve ser observado o procedimento processual especial rendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modalidades
previsto na legislação em vigor. próprio, impróprio ou ficto.
(E) Não será deferida a interceptação de comunicações tele- ( ) CERTO
fônicas quando o fato criminoso investigado for punido, no ( ) ERRADO
máximo, com pena de detenção.

55
NOÇÕES DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
30. (SEJUS/PI - AGENTE PENITENCIÁRIO - NUCEPE/2016)
Samuel teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é GABARITO
alfaiate, quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é pos-
sível dizer:
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é 1 B
policial. 2 E
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito)
horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local. 3 D
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter 4 D
dado voz de prisão a Samuel.
5 C
(D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se
este tivesse cometido o crime contra sua genitora. 6 D
(E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele 7 B
tivesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual
tentara esfaquear sua madrasta. 8 C
9 C
31. (PC/AC - DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL - IBADE/2017)
Tendo em vista a correta classificação, considera-se em flagrante 10 A
delito quem: 11 E
(A) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
12 C
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração, ou
seja, flagrante impróprio. 13 D
(B) acaba de cometer a infração penal, ou seja, flagrante 14 D
próprio.
(C) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou 15 A
por qualquer pessoa em situação que faça presumir ser autor 16 D
da infração, ou seja, flagrante presumido.
(D) é preso por flagrante provocado. 17 C
(E) está cometendo a infração penal, ou seja, crime imperfei- 18 E
to. 19 D
32. (PC/PA - INVESTIGADOR DE POLÍCIA CIVIL - FUN- 20 E
CAB/2016) A prisão em flagrante consiste em medida restritiva de 21 B
liberdade de natureza cautelar e processual. Em relação às espécies
de flagrante, assinale a alternativa correta. 22 A
(A) Flagrante próprio constitui-se na situação do agente que, 23 C
logo depois, da prática do crime, embora não tenha sido per-
24 B
seguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos
ou papéis que demonstrem, por presunção, ser ele o autor da 25 E
infração. 26 A
(B) Flagrante preparado é a possibilidade que a polícia possui
de retardar a realização da prisão em flagrante, para obter 27 D
maiores dados e informações a respeito do funcionamento, 28 CERTO
componentes e atuação de uma organização criminosa.
(C) Flagrante presumido consiste na hipótese em que o agente 29 CERTO
concluiu a infração penal, ou é interrompido pela chegada de 31 C
terceiros, mas sem ser preso no local do delito, pois consegue
31 B
fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia,
da vítima ou de qualquer pessoa do povo. 32 D
(D) Flagrante esperado é a hipótese viável de autorizar a
prisão em flagrante e a constituição válida do crime. Não há
agente provocador, mas simplesmente chega à polícia a notí-
cia de que um crime será cometido, deslocando agentes para
o local, aguardando-se a ocorrência do delito, para realizara
prisão.
(E) Flagrante impróprio refere-se ao caso em que a polícia se
utiliza de um agente provocador, induzindo ou instigando o
autor a praticar um determinado delito, para descobrir a real
autoridade e materialidade de outro.

56
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
1. Noções de tanatologia forense: cronotanatognose; morte suspeita; morte súbita; morte agonizante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Noções de asfixiologia forense: por constrição cervical (enforcamento, estrangulamento, esganadura); por modificação do meio (afo-
gamento, soterramento, confinamento); por sufocação (direta e indireta) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
3. Noções de instrumentos de ação mecânica: ação cortante, perfurante, contundente e mista. Noções de agentes químicos. Noções de
agentes térmicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
4. Noções de sexologia forense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo
NOÇÕES DE TANATOLOGIA FORENSE: CRONOTANA- desaparecimento definitivo de toda atividade biológica do organis-
TOGNOSE; MORTE SUSPEITA; MORTE SÚBITA; MORTE mo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da vida
AGONIZANTE inicio da decomposição.

A TANATOLOGIA vem do grego tanathos (morte) tem como raiz Tanotognose


o Indo-europeu dhwen, “dissipar-se, extinguir-se” + logia (estudo), É a parte da Tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da
MORTE: do latim “mors, mortis”, de “mori” (morrer) e CADÁVER: realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mais difícil quanto
do latim “caro data vermis” (carne dada aos vermes). Temos então mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenô-
Tanatologia a área da medicina legal que se ocupa da morte e os menos transformativos do cadáver. Então, o perito observará dois
fenômenos a ela relacionados. tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais ne-
A conceituação da morte é de extremamente dificultosa, assim gativos, imediatos e consecutivos, e os transformativos, destrutivos
como, em algumas oportunidades, o diagnóstico da realidade de ou conservadores.
morte.
Há 460 a .C., Hipócrates definia o quadro de morte: “Testa Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais nega-
enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente cercado de coloração tivos
escura, têmporas endurecidas, epiderme seca e lívida, pêlos das Logo após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e
narinas e cílios encobertos por uma espécie de poeira, córneas de estruturas, como o pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos
um branco fosco, pálpebras semi-cerradas e fisionomia nitidamen- imediatos ou precoces. Tais sinais são considerados de probabilida-
te irreconhecível”. Durante muitos anos definiu-se morte como a de, ou seja, indicam a possibilidade de morte e são denominados
cessação da circulação (morte circulatória) e da respiração (morte por alguns autores como período de morte aparente, por outros
respiratória). são chamados de morte intermediária.
Até recentemente aceitava-se conceituar a morte como o ces- 1. perda da consciência;
sar total e permanente das funções vitais. Atualmente, este con- 2. abolição do tônus muscular com imobilidade;
ceito foi ampliado a partir do conhecimento de que a morte não 3. perda da sensibilidade;
é um puro e simples cessar das funções vitais, mas sim uma gama 4. relaxamento dos esfíncteres;
de processos que se desencadeiam durante um período de tempo, 5. cessação da respiração;
comprometendo diferentes órgãos. 6. cessação dos batimentos cardíacos;
Atualmente prevalecem dois conceitos de morte: a morte ce- 7. ausência de pulso;
rebral, indicada pela cessação da atividade elétrica do cérebro e a 8. fácies hipocrática;
morte circulatória, indicada por parada cardíaca irreversível às ma- 9. pálpebras parcialmente cerradas.
nobras de ressuscitação e outras técnicas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define morte como: Fenômenos consecutivos
Cessação dos sinais vitais a qualquer tempo após o nascimento Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos,
sem possibilidade de ressuscitamento. Como a morte se apresenta tardios ou consecutivos, indicativos de certeza da morte. Tais sinais
como um processo (dinâmico) e não como um evento (estático), constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações de
quando se coloca a questão: “Quando ocorreu a morte?” a resposta coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da morte
é dada quando se consegue definir o momento em que o processo (morte real).
de morte atingiu o seu ponto irreversível 1. resfriamento paulatino do corpo;
2. rigidez cadavérica;
Modalidades do Evento Morte: 3. espasmo cadavérico;
- morte anatômica - É o cessamento total e permanente de 4. manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
todas as grandes funções do organismo entre si e com o meio am- 5. dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da
biente. pele e das mucosas dos lábios; modificações dos globos oculares;
- morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, com- mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da
preende-se ser a morte histológica um processo decorrente da an- tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.
terior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem
paulatinamente. De modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da
- morte aparente – estados patológicos do organismo simulam temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas, depois 1°C por
a morte, podendo durar horas, sendo possível a recuperação pelo hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em
emprego imediato e adequado de socorro médico. O adjetivo “apa- torno de 20 horas nas crianças, e de 24 à 26 horas nos adultos.
rente” nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a man-
assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil per- chas vinhosas. São observados nas regiões de declive, devido ao
sistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar acúmulo (deposição) sangüíneo por atração gravitacional. Apare-
horas. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte cem ½ hora após a parada cardíaca, podendo mudar de posição
aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado. quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não
- morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e dura- mudam mais de posição, fenômeno denominado de fixação.
dora das funções circulatórias, respiratórias e nervosas, associada A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora
à cianose e palidez marmórea, porém acontecendo a reanimação após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço, tronco e extre-
com manobras terapêuticas. midades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O re-
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns autores. é a laxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denominada
que precede a absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro está- Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável.
gio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são relata-
das neste tipo de morte.

1
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Fenômenos Transformativos 4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e
Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um da fauna cadavérica destrói os resíduos tissulares, inclusive os liga-
processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracte- mentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamen-
rizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos te livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes resis-
lisossomos, uma das organelas citoplasmáticas. tem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a
Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o apa- fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura
recimento da mancha verde abdominal na região inguinal direita habitual, tornando-se mais leves e frágeis.
(porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela
produção bacteriana de hidreto de enxofre que, por sua vez, determina - Maceração
a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre “ocupa” Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líqui-
o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemoglobina. do, sendo caracterizada por putrefação atípica, enrugamento teci-
A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca, dual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda).
progride para as outras regiões abdominais e depois para o corpo São conhecidas duas formas:
todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados ·Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que per-
a mancha verde pode aparecer no tórax. manecem, após a morte, em lagos, rios e mares.
Os fenômenos transformativos compreendem os destrutivos ·Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-
(autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumifica- -útero.
ção e saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão
intensas que a vida se torna absolutamente impossível. São, portan- É um fenômeno de transformação destrutiva em que a pele do
to, sinais de certeza da realidade de morte. cadáver, que se encontra em meio contaminado, se torna enruga-
da e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com
Fenômenos destrutivos diminuição de consistência inicial, achatamento do ventre e libera-
ção dos ossos de suas partes de sustentação, dando a impressão de
- Autólise estarem soltos; ocorre quando o cadáver ficou imerso em líquido,
Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas in- como os afogados, feto retido no útero materno.
tracelulares, determinando lise dos tecidos seguida de acidificação, Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está
por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente representada pelo surgimento lento, nos três primeiros dias, de flic-
diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por tenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a rup-
diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os tura das flictenas confere ao líquido amniótico cor vermelho-parda-
fenômenos intra e extracelulares de decomposição. centa, e a separação da pele de quase toda a superfície corporal, a
partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No terceiro
- Putrefação grau, destaca-se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, do sub-
É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que merso ou do feto retido intrauterinamente, e, em torno do 15.° dia
se inicia, logo após a autólise, pela ação de micróbios aeróbios, post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre os
anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção inicial do
outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral
grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o sinal mais
torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire acentuada
precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, pos-
cifose, pela pressão uterina.
teriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a
tonalidade verde-enegrecida conferindo ao morto aspecto bastan-
Fenômenos conservadores
te escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção;neles
a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do
- Mumificação
corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápi-
da putrefação, se faz em quatro períodos: da e acentuada a desidratação.
1.º) Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões
tegumentos, originada pela combinação do hidrogênio sulfurado de clima quente e seco e de arejamento intensivo suficiente para
nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina, impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatí-
surge, em nosso meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando, vos. Assim podem ser encontradas múmias naturais, sem caixão.
em média, 7 dias. A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente
2.°) Período gasoso - Os gases internos da putrefação migram pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa
para a periferia provocando o aparecimento na superfície corporal dessecação corporal.
de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confere As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido
ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especial- em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea, ressoan-
mente na face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compressão do à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e den-
do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas esvaziam- tes conservados.
-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio fica nu. O ânus se entrea-
bre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases de putrefação - Saponificação
inflando intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal É um processo transformativo de conservação em que o cadá-
com estalo. O odor característico da putrefação se deve ao apareci- ver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão ou cera (adi-
mento do gás sulfidrico. Esse período dura em média duas semanas. pocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalan-
3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida do odor de queijo rançoso; as condições exigidas para o surgimento
das partes moles do cadáver pela ação conjunta das bactérias e da da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permite
fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde gradativamente a embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio re-
a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela es- gularmente avançado de putrefação.
queletização.

2
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A saponificação atinge comumente segmentos limitados do - Morte reflexa
cadáver; pode, entretanto, raramente, comprometê-lo em sua É aquela em que se faz presente a tensão emocional, ou seja,
totalidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habi- uma irritação nervosa (excitação) de origem externa, exercida em
tualmente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das fun-
valas comuns de grandes dimensões. ções circulatórias e respiratórias.

- Outros tipos Cronotanatognose


São conhecidos outros fenômenos conservativos como: É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da
- Refrigeração: em ambientes muito frios. morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, não obedecendo ao
- Corificação: desidratação tegumentar com aspecto de couro rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferen-
submetido a tratamento industrial. tes corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrínsecos,
- Fossilização: fenômeno conservativo de longa duração. como as condições do terreno e da temperatura e umidade am-
- Petrificação: substituição progressiva das estruturas biológi- biental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão
cas por minerais, dando um aspecto de pedra com manutenção da exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. O
morfologia dos restos mortais. seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal
e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse suces-
sório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenômenos,
Tipos de Morte
a saber:
Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, vio-
lentas ou suspeitas. Alguns autores incluem outros tipos, como a mor-
Resfriamento do cadáver
te reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitório, como
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir,
nos casos de afogados brancos, estudados em Asfixiologia. As mortes o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o restabeleci-
violentas são divididas em acidentais, homicidas e suicidas. mento do equilíbrio térmico com o meio ambiente.
Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em: Rigidez cadavérica
- Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nys-
é inesperada. ten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na face, nuca
- Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4
item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o indiví- horas; nos membros superiores, 4 a 6 horas; nos membros inferiores,
duo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida; 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece progressiva-
por exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no mente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, cedendo lugar
coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o de- à flacidez muscular, após 36 a 48 horas de permanência do óbito.
safeto; ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça,
escreve bilhete de despedida (situações não usuais, mas possíveis). Livores
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitual-
O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica” mente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitivamente no período de
é possível com provas especiais, denominadas docimásticas, que 8 a 12 horas após a morte.
estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo,
como glicogênio e adrenalina. Mancha verde abdominal
Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre
“Declaração de Óbito”, documento que contém o Atestado de Óbito 18 a 24 horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo
e que originará a Certidão de Óbito. do 3.° ao 5.° dia após a morte
Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença
ou evento que deu início à cadeia de eventos que culminou com a Gases de putrefação
morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação de O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mes-
Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realizadas ma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação.
pelos Institutos Médico-Legais.
Decréscimo de peso
- Morte natural Tem valor relativo por sofrer importantes variações determi-
É aquela que sobrevém por causas patológicas ou doenças, nadas pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente. Aceita-se, no
como malformação na vida uterina. entanto, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de
8g/kg de peso nas primeiras 24 horas após o falecimento.
- Morte suspeita
É aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de Crioscopia do sangue
forma inesperada, sem causa evidente e com sinais de violência de- O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de
finidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica, -0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para afirmar a causa ju-
daí a necessidade da perícia e investigação. rídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio
líquido em que ela ocorreu.
- Morte súbita
É aquela que acontece de forma inesperada e imprevista, em Cristais do sangue putrefato
segundos ou minutos. São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâ-
minas cristalóides muito frágeis, entrecruzadas e agrupadas, inco-
- Morte agônica lores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e
É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais castanha, pelo iodo, passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia
ocorre em tempo longo e neste caso, os livores hipostáticos for-
no sangue putrefato.
mam-se mais lentamente.

3
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Fauna cadavérica Na maioria dos casos, no fim da autópsia chega-se à conclusão
O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem que estas mortes súbitas são mortes de causa natural, por proces-
relativo valor conclusivo na determinação da tanatocronognose, sos patológicos mais ou menos insidiosos que nunca levaram a ví-
embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa se- tima ao médico ou a referenciar queixas objetivas ou subjetivas a
qüência e regularidade, nas diferentes fases putrefativas adiantadas familiares e amigos. Estes, colhidos pelo inesperado da situação, e
do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as le- perante a perda de um ente querido, colocam por vezes a hipótese
giões sucessoras, representadas por um grupo de oito. de se tratar de uma morte violenta e daí que muitas destas mortes
São elas: acabem por ser submetidas a autópsia médico-legal.
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia; Infelizmente, muitos médicos, alguns por desconhecimento do
2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias; conceito médico-legal de morte súbita, outros por um medo atávico
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte; inexplicável de atribuir a causa de morte mais provável face aos ele-
4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito; mentos clínicos e circunstânciais disponíveis, acabam por escrever
5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há no certificado de óbito “morte súbita de causa indeterminada”.
mais de 10 meses; Todos os dias, os serviços médico-legais são confrontados com
6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no ca- a “morte súbita de causa indeterminada” na sequência de mortes
dáver, 10 à 12 meses; de indivíduos com antecedentes patológicos relevantes, de doen-
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e ças crónicas com agudizações potencialmente letais, de doenças
tendões deixando os ossos livres. neoplásicas em fases terminais, de doenças infecto-contagiosas em
8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os fase terminal, no decurso de internamentos hospitalares de dias ou
resquícios orgânicos porventura deixados pelas precedentes.1 semanas por doença de causa natural.
Este tipo de prática, leva a que os serviços médico-legais aca-
Premoriência bem por ser confrontados por uma percentagem de “morte súbita
Há situações que podem ser identificadas como a perda do de causa indeterminada” que ronda os 40% do total das autópsias
direito sucessório, um delas é a chamada premoriência, ou seja, realizadas, o que como é óbvio não deveria acontecer.
a morte do herdeiro antos do falecimento do autor da herança, É evidente que a maior parte desta percentagem não corres-
exemplo, morrendo o filho antes do pai, não há que se falar em ponde efetivamente à verdadeira situação médico-legal de morte
direito sucessório, pois o pré-morto esta excluído da sucessão. súbita, talvez nem 5% deste total corresponda a casos com verda-
Segundo Maria Berenice, na sucessão legítima, somente os deiro interesse médico-legal.
descendentes do herdeiro pré-morto é que herdam, mas por direito
de representação do pré-morto. Questões médico-legais a responder pela autópsia em casos
Na sucessão testamentária, o falecimento do beneficiado an- de morte súbita
tes do testador não gera direito de representação, o legado caduca. - causa da morte
Havendo outros herdeiros instituídos com relação ao mesmo bem, - morte natural ou violenta
a morte de um transfere o seu quinhão aos demais, ocorrendo o - se morte violenta
direito de acrescer. Se não houver a nomeação de substitutos, o -- suicídio
quinhão retorna a legítima. -- homicídio
Por fim, a premoriência é o evento determinante da época da -- acidente
morte de uma pessoa, que é anterior a o autor da herança.
Principais causas de morte súbita por aparelhos e sistemas
Comoriência no adulto
Quando acontece o falecimento, no mesmo evento de dois
ou mais parentes ou de pessoas vinculadas por liame sucessório, Morte súbita com origem no sistema cardio-vascular
a falta de precisão sobre o momento da morte de cada um pode É a causa de morte súbita mais frequente no mundo ocidental.
trazer sérias complicações e dificultar a transmissão da herança aos Em cerca de 25% dos casos, a morte súbita é a primeira manifesta-
herdeiros. ção de doença cardio-vascular.
A comoriência é a presunção de morte simultânea entre duas Normalmente durante a autópsia dispensa-se uma atenção es-
ou mais pessoas. pecial ao coração e ao estudo das artérias coronárias. Muitas destas
De acordo com Maria Berenice, não havendo a possibilidade mortes revelam doença coronária de pelo menos dois vasos.
de saber quem é o herdeiro de quem, a lei presume que a mor- Nem sempre o diagnóstico macroscópico de enfarte agudo de
te ocorreu simultaneamente, desaparecendo o vínculo sucessório miocárdio é fácil (menos de 25% para alguns autores) e até o exame
entre ambos, assim, um não herda do outro e os bens de cada um histológico pode não dar grandes informações.
passam aos seus respectivos herdeiros. Dado que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a
Conforme Maria Berenice cita Carvalho dos Santos, sustentado morte por vezes é muito curto, não permite um conjunto de altera-
que, ocorrendo o falecimentos mesmo de lugares diversos, se exis- ções a nível celular que possibilite um diagnóstico histológico.
tir mútuo direito sucessório entre os mortos, não havendo meios Algumas das alterações do ritmo cardíaco podem ser poten-
de se verificar quem faleceu primeiro, é possível por analogia reco- cialmente mortais muito rapidamente se não forem prontamente
nhecer a comoriência.2 revertidas (Ex. fibrilação ventricular). Nestes casos os achados de
autópsia são muito escassos, inespecíficos e há uma dificuldade no
Morte Súbita diagnóstico.
É a morte inesperada que acontece em pessoa considerada
saudável ou tida como tal, e pela forma como ocorre levanta sus- Principais causas de morte no adulto
peita de poder tratar-se de uma morte violenta. - doença coronária/enfarte
- cardiomiopatias
1 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br
- miocardites
2 Por Ricardo K. Foitzik

4
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- aneurisma dissecante da aorta Exemplos contumazes podem ser citados:
- arritmias - Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica
ou incurável, como neoplasias, vindo o doente a óbito longe das
Principais causas de morte súbita com origem no sistema ner- vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente,
voso central : conhecedor de todo o histórico do paciente, não poderá se furtar
- acidentes vasculares a fornecer o atestado de óbito, pois se “suspeita” de alguma coisa
- meningites tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do
- estado de mal epiléptico quê suspeita.
- No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambu-
Principais causas de morte morte súbita com origem no siste- latório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém melhor do que o mé-
ma respiratório: dico assistente para formular as hipóteses de “causa mortis”. Não
- tromboembolia pulmonar é porque o paciente não se encontra hospitalizado que o médico
- estado de mal asmático poderá classificar a morte como de causa suspeita.
- hemoptise
- aspiração de corpo estranho Suspeita de quê ?
- pneumotórax espontâneo - O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem
verificadas as queixas e de se fazer um diagnóstico clínico ou atra-
Principais causas de morte morte súbita com origem no siste- vés de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio,
ma digestivo: por exemplo. O médico assistente é o único profissional que poderá
- hematemeses (ruptura de varizes esofágicas, úlceras) atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado
- pancreatite aguda necro-hemorrágica de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas
- peritonite de hospital. Um infarto do miocárdio recente tem grande proba-
- enfarte intestinal bilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil
diagnóstico clínico (gráfico mais laboratorial).4
Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
ma endócrino Diagnose Diferencial Das Lesões “Ante” E “Post Mortem”
- diabetes - bioquímica do humor vítreo ( glicose > 200 mg/dl ) O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas fo-
- insuficiência suprarrenal aguda (Sindrome de Waterhouse- ram causadas:
-Friederichesen)3 a) bem antes da morte;
b) imediatamente antes da morte
Morte Suspeita c) logo após a morte;
As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte d) certo tempo após a morte.
violenta, até que se prove em contrário, trazendo para a sua com-
preensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspei- - Lesões Intra- Vitam- são lesões que ocorrem no corpo huma-
ção deve haver uma pergunta: suspeita de quê? Ou seja, para que no durante a vida, com características específicas como: infiltração
haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita, da malha tecidual, coagulação, presença abundante de leucóci-
vinculado a uma justificativa. É o caso do familiar ou de terceiros tos,etc. Reação Vital.
que conhecem desvios do contexto social e comportamental do - Lesões Post- Mortem- são lesões que ocorrem após a morte,
falecido, ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tra- não possuem Reação Vital.
tamento médico e até de ação de terceiros. Em qualquer destes
casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de As lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam)
comunicar a uma autoridade policial ou ao Ministério Público, que devem ser diferenciadas daquelas que adquiridas depois da morte
solicitarão, pelos procedimentos habituais, a perícia médico-legal. (post mortem), principalmente para estimar a causa da morte.
A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa A reação vital será o elemento diferencial entre as lesões intra
desconhecida, mesmo que súbita. Esta é um tipo de morte natural vitam e post mortem e consiste em um conjunto de sinais macros-
que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica para cópicos, microscópicos e químicos tissulares (histoquímicos, enzi-
classificação como morte suspeita. A “causa mortis” para ser conhe- máticos e bioquímicos) e que ocorrem somente quando as lesões
cida, merecerá avaliação necroscópica clínica e anátomo-patológica forma provocadas com a vítima estando viva e não após a sua mor-
para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma perícia médi- te (Vanrell, 2007)
co-legal. A perícia oficial é desnecessária e somente será solicitada Utilizando-se como referência Vanrell (2007), resumi-se a se-
pela autoridade policial, nestes casos, por intuição ocasional, por guir os sinais característicos de lesões ante mortem:
desconhecimento de causa em sua função ou por falta de mecanis-
mo administrativo institucional municipal de Serviço de Verificação Sinais macroscópicos
de Óbitos. 1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão
É importante que todo médico entenda que quando enganado produzida no vivo aloja-se no interior do corpo sob forma de gran-
em sua boa fé, tendo ele exarado a Declaração de Óbito e, após, des coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é
surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não terá sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não
culpa por ter sido enganado. Até dentro de hospitais isto pode acon- coagula..
tecer, conforme casos recentemente estampados em noticiário. 2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocon-
O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não tundentes mostram as margens afastadas, devido à retração dos
deverá gratuitamente alegar suspeição distância, ou criar suspeita tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os mús-
sem fundamentação. culos perdem a contratilidade.

3 Fonte: www.medicina.med.up.pt 4 Fonte: www.portalmedico.org.br

5
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações
significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele es- NOÇÕES DE ASFIXIOLOGIA FORENSE: POR CONSTRI-
coriada é sinal seguro de lesão pos mortem. ÇÃO CERVICAL (ENFORCAMENTO, ESTRANGULAMEN-
4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatis- TO, ESGANADURA); POR MODIFICAÇÃO DO MEIO
mo, e se apagam lenta e paulatinamente. No cadáver não ocorrem (AFOGAMENTO, SOTERRAMENTO, CONFINAMENTO);
essas contínuas variações de tonalidades cromáticas. POR SUFOCAÇÃO (DIRETA E INDIRETA)
5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas
cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse modo, é a inflamação A palavra “asfixia” é derivada da palavra grega asphyxia, que
importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem significa “sem pulso” (a + sphyxia), pois anteriormente acreditava-
antes da morte. -se que nas artérias circulava o pneuma. No entanto, atualmente a
6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações de- asfixia é entendida como a supressão ou retardamento da circula-
pendem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à oblitera- ção do sangue.
ção súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou O termo acima mencionado refere-se à situação na qual o ho-
por um corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo. mem é sujeito a energias físico-químicas que impedem a passagem
7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de de ar nas vias aéreas, causando alteração na função respiratória, de
uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1 ou 2 meses. forma a inibir a hematose, podendo levar à óbito o indivíduo.
8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as O oxigênio chega aos tecidos por meio dos mecanismos, de
flictenas contendo líquido límpido ou citrino, leucócitos, cloreto de acordo com a sequência abaixo:
sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâ- 1) Ventilação pulmonar;
neo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma 2) Hemoglobina;
nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes as- 3) Circulação; e
sestam-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido 3) Trocas gasosas.
desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.
9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se Asfixiologia:
forma nos afogados que reagiram à proximidade da morte cedo fo- Entende-se por Asfixologia, de acordo com entendimento mé-
ram retirados do meio líquido. dico-legal, como a síndrome causada pela ausência de oxigênio no
10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e ar, em diversas circunstâncias, derivado de impedimento por causa
no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas fortuita, violenta e externa.
no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuli- Desta forma, quando a asfixia é verificada, o oxigênio contido nos
gem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos pulmões é consumido, de forma que o gás carbônico é acumulado.
que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e con-
teúdo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos Fisiopatologia e Sintomatologia:
de reação vital.5 As síndromes hipoxêmicas ou anoxêmicas podem ter causas
externas ou internas.
Provas microscópicas Verifica-se que as asfixias mecânicas ocorrem mais frequente-
Prova de Verderau: determinação de leucócitos/hemácias no mente por causas externas. Entretanto, é válido mencionar que por
foco da lesão e em qualquer uma outra parte do corpo afastada diversas situações as trocas gasosas são obstadas em virtude de di-
dele. ficuldade de oxigenação em órgãos distintos dos respiratórios, tais
Prova histológica: verificação microscópica da presença de um como o tecido, sangue ou nervos, o que gera uma asfixia derivada
infiltrado ou exsudato leucocitário em volta de lesão. de causa interna.
Conforme verificado acima, o oxigênio chega aos tecidos por
Avaliação histopatológica: meio da ventilação pulmonar, hemoglobina, circulação e trocas ga-
4-8 horas: infiltração de leucócitos neutrófilos polimorfonu- sosas. Cada mecanismo poderá ocasionar anoxia diferente, confor-
cleares. me abaixo:
12 horas: presença de monócitos
48 horas: máximo de exsudação (em traumatismos assépticos) 1. Anoxia de ventilação ou anoxica:
30 dia: crescimento epitelial, proliferação de fibroblastos e Pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
neoformação vascular (capilares de neoformação). a) quando há diminuição da concentração de ar no ambiente,
40 a 50 dia: aparecimento de fibras colágenas de forma que a hemoglobina do sangue arterial atinge nível de con-
70 dia: tecido fibroso cicatricial (nas lesões de pequena exten- centração baixo;
são). b) quando é verificada compressão mecânica das vias aéreas;
c) quando há alterações na dinâmica respiratória (compressão
Prova histoquímicas enzimáticas: aumento de algumas enzimas do tórax, pneumotórax, derrames pleurais, paralisias diafragmáti-
como a fosfatase alcalina, fosfatase ácida, aminopeptidade, este- cas); e
rase e ATP-ase podem auxiliar na estimativa da idade em horas da d) quando há dificuldade nas trocas gasosas alveolares (EAP,
lesão, variando de 1 a 8 horas. silicoses e esclerose pulmonar).
Provas bioquímicas: análise quantitativa da presença de hista-
Em tais situações, é verificada oxigenação insuficiente do san-
mina ou serotonina presentes em traumas teciduais, no entanto,
gue nos pulmões.
só são reconhecíveis se realizadas até uma hora antes da morte e
estão presentes no corpo até 5 dias após a morte.6
2. Anoxia anêmica: é verificada quando há diminuição qualita-
tiva e/ou quantitativa de hemoglobina (e. G. intoxicação pelo CO2
ou venenos meta-hemoglobinizantes, nas anemias crônicas ou nas
5 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br grandes hemorragias). Nesses casos, há diminuição da capacidade
6 Fonte: www.portaleducacao.com.br de oxigenação do sangue.

6
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
3. Anoxia de circulação e de estase: derivada de alterações que 4ª fase
afetam a pequena e grande circulação (e. G. Insuficiência circulató- Fase cardíaca
ria periférica, embolia das artérias pulmonares e coarctação da aor- sofrimento do miocárdio, quando os batimentos do coração
ta). Desta forma, ocorrem transtornos circulatórios que dificultam são lentos, arrítmicos e quase imperceptíveis ao pulso, embora
ou inviabilizam a chegada de sangue oxigenado aos capilares. possam persistir por algum tempo até a parada dos ventrículos em
diástole e somente as aurículas continuam com alguma contração,
4. Anoxia tissular ou histotóxica: surge quando da queda da mas incapazes de impulsionar o sangue.
tensão diferencial arteriovenosa de oxigênio ou quando ocorre a
inibição de enzimas oxidantes celulares, como nos casos de intoxi- Características Gerais das Asfixias Mecânicas:
cações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio sulfurado. Ocor- Características que podem originar um diagnóstico se verifica-
rem em tais situações mecanismos tóxicos que impedem o aprovei- das em conjunto. No entanto, os sinais verificados não são constan-
tamento de oxigênio pelos tecidos. tes, tampouco patognomônico. Em outras palavras, as caracterís-
ticas são abundantes e variáveis, sendo divididas de acordo com a
Evolução das asfixias: situação, em internas e externas.
Na evolução das asfixias podem ocorrer 2 tipos de anoxias: (i)
com acapnéia (sem acúmulo de gás carbônico); ou com hipercap- Sinais internos:
neia (com a presença de gás carbônico). Na primeira hipótese são
englobadas as asfixias mecânicas e no segundo o mal das monta- Equimoses viscerais (ou Manchas de Tardieu):
nhas. Equimoses puntiformes dos pulmões e do coração. São peque-
Na anoxia com acapneia, há a perda de CO2 derivado do au- nas e localizam-se geralmente sobre a pleura visceral, no pericárdio,
mento da frequência respiratória, o que torna o sangue mais alca- no pericrânio e, em crianças, no timo. São manchas de tonalidade
lino. Pode-se verificar transtornos psíquicos, sensoriais, motores e violácea, de número variável, esparsas ou em aglomerações. São
com frequência hiper-reflexia. É produzido poliglobulia e irritabili- mais comuns na infância e na adolescência.
dade dos centros nervosos, ainda com a consciência mantida. Pos-
teriormente, a respiração é diminuída até que em um momento há Aspectos do sangue:
o aumento da pressão arterial e a diminuição dos batimentos, sur- Tonalidade do sangue negra, exceto quando a morte se deu por
gindo os espasmos musculares, convulsões e inconsciência. Depois monóxido de carbono, na qual a tonalidade será acarminado. Não
disso, há depressão dos centros nervosos, parada da respiração, é encontrado no coração coágulos cruóricos (negros) ou fibrinosos
colapso vascular, vasodilatação profunda, relaxamento vascular, ar- (brancos) e a fluidez, embora de alto valor do diagnóstico, não cons-
reflexia e morte aparente de 3 (três) minutos, até sobrevir a morte. titui sinal patognomônico.
Na anoxia com hipercapnéia, os efeitos iniciais diferem-se da
anoxia com acapnéia, mas os momentos finais são semelhantes. Congestão polivisceral:
Isto se explica em razão da hipercapnéia atuar sobre os centros ner- Os órgãos que se apresentam mais congestos são o fígado e o
vosos, o que aumenta as reações próprias da anoxia, principalmen- mesentério, sendo que o baço, na maioria das vezes, se mostra com
te no que se refere à taquicardia e a pressão arterial, bem como pouco sangue devido as suas contrações durante a asfixia (Sinal de
as convulsões tônico-clônicas oriundas da ação excitadora do gás Étienne Martin).
carbônico. Nesta forma de asfixia, consome-se o oxigênio existente
nos pulmões e no sangue, ao mesmo tempo em que o CO2 progres- Distensão e edema dos pulmões:
sivamente se acumula. Presença de quantidade relativa de sangue líquido espumoso
Com todas essas alterações fisiológicas, é possível se estabele- nos pulmões.
cer um cronograma, estabelecendo-se suas diversas fases da asfixia
com o aparecimento das manifestações clínicas: Sinais externos:

1ª fase Manchas de hipóstase:


Fase cerebral Precoces, abundantes e de tonalidade escura, variando essa
Surgimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipo- tonalidade, nas asfixias por monóxido de carbono.
timias. Em cerca de um minuto e meio, ocorre a perda do conheci-
mento de forma brusca e rápida, surgindo bradipnéia taquisfigmia. Congestão da face:
Sinal constante e frequente em tipos especiais de asfixia, espe-
2ª fase cialmente na compressão torácica, ocasionando a máscara equimó-
Fase de excitação cortical e medular tica da face, por estase mecânica da veia cava superior.
Caracterizada convulsões generalizadas e contração dos mús-
culos respiratórios e faciais, além de relaxamento dos esfíncteres Equimoses da pelé e das mucosas:
com emissão de matéria fecal e urina devido aos movimentos pe- Arredondadas e de pequenas dimensões, formando agrupamen-
ristálticos do intestino e da bexiga. Há também a presença de bradi- tos em determinadas regiões, principalmente na face, no tórax e pesco-
cardia e aumento da pressão arterial. ço, tomando tonalidade mais escura nas áreas de declive. As equimo-
ses das mucosas são encontradas mais frequentemente na conjuntiva
3ª fase palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na mucosa nasal.
Fase respiratória
Verifica-se lentidão e superficialidade dos movimentos respira- Fenômenos cadavéricos:
tórios e insuficiência ventricular direita, o que contribui para acele- Livores de decúbito mais extensos, escuros e precoces. O es-
rar o processo de morte. friamento do cadáver se verifica em proporção mais lenta; a rigidez
cadavérica, ainda que mais lenta, mostra-se intensa e prolongada e
a putrefação é muito mais precoce mais acelerada que nas demais
causas de morte.

7
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Cogumelo de espuma: B) Sinais internos:
Formado por uma bola de finas bolhas de espuma que cobre a 1.Presença de líquido nas vias respiratórias;
boca e as narinas que continua pelas vias aéreas inferiores. 2.Presença de corpos estranhos no líquido das vias respirató-
rias dos afogados macro e microscópicos;
Projeção da língua e exoftalmia: 3.Diluição do sangue: esse fenômeno é devido à entrada de
Verificados comumente nas asfixias mecânicas. No entanto, água no sistema circulatório;
podem ser verificados os sinais em cadáveres por causa diversa. 4.Lesões dos pulmões: os pulmões podem encontrar-se au-
mentados, crepitantes e distendidos, e com enfisema aquoso e
Afogamento: equimoses subpleurais;
Modalidade de asfixia mecânica, originada pela entrada de um 5.Presença de líquidos no ouvido médio;
meio líquido ou semi-líquido nas vias respiratórias, impedindo a 6.Presença de líquidos no sistema digestivo: encontra-se no es-
passagem do ar até os pulmões. tômago e nas primeiras alças do intestino delgado, sob a forma de
conteúdo espumoso;
Fisiopatologia e sintomas: 7.Hemorragia etmoidal: zona azulada no compartimento ante-
A morte por afogamento geralmente passa por 3 fases: rior da base do crânio de cada lado;
(I) fase de defesa (dividida em dois períodos: o de surpresa e o 8.Hemorragia temporal: zona azulada na face ântero-superior
de dispneia); da parte petrosa do osso temporal;
(II) fase de resistência (caracterizada pela parada dos movimen- 9.Exame radiológico: mostra a opacidade dos seios maxilares,
tos respiratórios como mecanismo de defesa); e como prova de reação vital.
(III) fase de exaustão (término da resistência pela exaustão e 10.Exame histológico: do pulmão do afogado.
início de inspiração profunda e do processo de asfixia, com perda de 11.Sinais gerais de asfixia: congestão polivisceral, equimoses
consciência, insensibilidade e morte). Tourdes descreve 3 períodos nos músculos do pescoço e do tórax.
no afogamento experimental em animais: 12.Laboratório: existem exames laboratoriais considerados in-
dispensáveis no estudo do afogado. A princípio no caso de cadáver
1) Período de resistência ou de dispnéia: putrefeito ou desconhecido, no sentido de descobrir uma identifi-
Após uma inspiração de surpresa, retém, energicamente a cação. Depois, os chamados exames específicos, com o propósito
respiração, procurando ao mesmo tempo defender-se, enquanto a de diagnosticar o próprio afogamento, do tipo de líquido e, quando
consciência permanece lúcida, conservando os movimentos refle- possível, também, o local onde se verificou o afogamento;
xos.
2) Período de grandes inspirações e convulsões: Putrefação e flutuação dos afogados: o cadáver que é retirado
É caracterizado por uma série de inspirações profundas com da água sofre com o ar, uma aceleração do processo putrefativo.
penetração violenta de líquidos nos pulmões e perda da consciên- Numa primeira fase, em virtude da densidade do corpo ser maior
cia. que a do líquido de imersão, a tendência do cadáver é ir para o fun-
3) Período de morte aparente: do. Numa segunda fase, com o aparecimento dos gases da putrefa-
Ausência da respiração e dos reflexos, perda da sensibilidade; o ção, o cadáver flutuará. Numa terceira fase, com a rotura dos teci-
coração permanece batendo até surgir à morte real. dos moles e o esvaziamento dos gases, a densidade do corpo volta a
prevalecer sobre a da água e ocorre a segunda imersão. Finalmente
Sinais cadavéricos do afogado: numa quarta fase, com a diminuição do peso específico do corpo, o
cadáver voltará a superfície, ocorrendo a segunda flutuação.
A) Sinais externos:
1.Pelé anserina: ocorre com a contração dos músculos eretores Causas jurídicas de morte no afogamento: Em muitas oportu-
dos pêlos, tornando os folículos salientes, devido à rigidez cadavé- nidades, a tarefa de determinar se o afogamento foi causado por
rica; homicídio, suicídio ou acidente passa a ser o mais importante. Essa
2.Retração do mamilo, do pênis e do saco escrotal; é uma questão que nem sempre pode ser respondida pelos legistas,
3.Temperatura baixa da pelé: os corpos dos afogados têm a mas sim pela perícia criminal, junto das provas obtidas durante a
temperatura diminuída rapidamente, devido ao equilíbrio térmico investigação.
no meio líquido;
4.Maceração da epiderme: localizam-se principalmente nas Diagnóstico do afogamento: há três ocasiões no afogamento
mãos e nos pés, destacando-se como se fossem verdadeiros dedos que se tornam importantes num estudo médico-legal. Primeira-
de luva, inclusive desprendendo-se das unhas; mente, se a morte ocorreu por afogamento típico, se foi de modo
5.Tonalidade mais clara dos livores cadavéricos: atingem tona- natural ou violenta. Depois, se o indivíduo morreu dentro da água
lidade rósea; ou se o cadáver foi colocado no meio líquido para simular um afo-
6.Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as gamento.
unhas: ocorre pela resistência do indivíduo ao se debater no plano
mais profundo da água; Local do afogamento: Nem sempre o local de onde é retirado o
7.Mancha verde de putrefação: localiza-se na parte inferior do cadáver corresponde ao local onde se verificou o afogamento. Isso
pescoço; dependerá de um estudo maior, que dependerá, principalmente,
8.Equimose da face das conjuntivas: a região ocular recebe to- das correntes aquáticas.
nalidade avermelhada;
9.Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos: ocor- Cronologia do afogamento: É muito importante saber o tempo
re devido ao tempo que o cadáver permanece em ambiente aquá- de permanência do cadáver dentro da água e sua transformação
tico; após a morte. Isso é feito analisando o estado de maceração e do
10.Embebição cadavérica: os tecidos ficam mergulhados, difi- estágio de putrefação cadavérica, levando-se em conta que nos afo-
cultando a desidratação. gados esses processos são sempre mais rápidos.

8
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Enforcamento: Tempo necessário para morte no enforcamento: Será variável
O enforcamento é uma modalidade de asfixia mecânica que se de indivíduo para indivíduo. A morte pode ser rápida, por inibição,
caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias respira- ou demorar cerca de 5 a 10 minutos.
tórias, em decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo,
agindo o peso do próprio corpo da vitima como força ativa. É mais Aspecto do cadáver: A posição da cabeça se mostra voltada
comum em suicídios, entretanto nada impede ocorrer acidentes, para o lado contrário do nó, tocando o tórax. A face pode apre-
ou até mesmo homicídio. A morte pode ocorrer por oclusão da tra- sentar-se branca ou arroxeada (variando de acordo com o grau de
quéia, por compressão dos vasos do pescoço, por estimulação do compressão vascular), e equimoses palpebrais. Pode se verificar a
pneumogástrico, por inibição nervosa ou por herniação bulba. presença de líquido ou sangue pela boca e narinas. A língua é cia-
nótica e sempre projetada além das arcadas dentárias e os olhos
Modo de Execução: protusos. No enforcamento completo, os membros inferiores estão
Deve-se considerar: a natureza e disposição do laço, o ponto de suspensos e os superiores, colados ao corpo, com os punhos cerra-
inserção superior e o ponto de suspensão do corpo. dos mais ou menos fortemente. Na forma incompleta os membros
O laço que aperta do pescoço pode ser de várias naturezas; assumem as mais variadas posições.
e podemos classificá-los de acordo com sua consistência: os cha- A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento. As man-
mados laços moles, constituídos por lençóis, cortinas e gravatas; os chas de hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com
chamados laços duros, constituídos por cordões, cordas, e fios de maior intensidade nas extremidades dos membros, surgindo tam-
arame; e os chamados semirrígidos, como os cintos de couro. Sua bém equimoses post mortem. Devido ao tempo de suspensão e a
disposição é sempre em torno do pescoço, sendo mais frequente fluidez do sangue, podem-se observar as áreas manchas de hipós-
a presença de uma única volta, porém existem casos onde são en- tases as chamadas púrpurashipostásticas, as quais podem ser con-
contradas várias voltas. A posição é sempre na parte posterior ou fundidas com petéquias hemorrágicas.
lateral e, muito raramente o nó pode assumir uma posição anterior
do pescoço. Sinais Externos: A maior evidência está no sulco do pescoço,
São múltiplos os locais que servem como ponto de apoio para de suma importância no diagnóstico do enforcamento. Estão pre-
prender o laço, desde telhados, ramos de árvores, trinco de portas, sentes em todos os casos, exceto nas suspensões de curta duração,
entre outros. nos laços excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o
Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que laço e o pescoço, um corpo mole. Na maioria das vezes, sulco é
o corpo fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de apoio; único, podendo, no entanto, apresentar-se duplo, triplo ou múltiplo
e suspensão atípica ou incompleta, quando se apoia parcialmente quando esse laço envolve várias vezes o pescoço. O sulco situa-se
os pés, joelhos, ou qualquer outra parte do corpo. na posição superior do pescoço, mais alta do que o ponto onde fi-
xou primeiro laço, para depois deslizar até o ponto de apoio da ca-
Evolução: beça, dirigindo em sentido do nó, obliquamente, de baixo para cima
As lesões por enforcamento dependerão da gravidade, que po- e de diante para trás (sulco típico). Quanto mais delgado o laço mais
dem ser classificadas como lesão local ou à distância, que determi- profundo o sulco, levando-se em consideração, ainda, o tempo de
nará a velocidade da morte por enforcamento. permanência do corpo sob a ação do laço.
De acordo a evolução da lesão surgem fenômenos apresenta-
dos durante o enforcamento: Sinais encontrados nos sulcos dos enforcados:
- Período Inicial – Começa com o corpo, abandonado e sob ação ·Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco.
de seu próprio peso, levando a constrição do pescoço, zumbidos, ·Sinal de Ponsold: livores cadavéricos em placas, por cima e por
sensações luminosas na vista, sensação de calor e perda da cons- baixo das bordas do sulco.
ciência produzida pela interrupção da circulação cerebral. ·Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes ao
- Período intermediário – Caracteriza-se por convulsões e ex- fundo do sulco.
citação do corpo proveniente dos fenômenos respiratórios, pela ·Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por
impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio (hi- baixo das bordas do sulco.
poxemia) e aumentando o gás carbônico (hipercapnéia). Associa-se ·Sinal de Bonnet: marca de trama no laço
a esses fenômenos a pressão do feixe vásculo-nervoso do pescoço, ·Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada no fundo
comprimindo o nervo vago. do sulco.
- Período final: Surgem sinais de morte aparente ate o apare- ·Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco.
cimento da morte real, com cessação da respiração da circulação. ·Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.

Fenômenos da sobrevivência: Existem casos de pessoas que Não confundir o sulco dos enforcados com o sulco natural do
ao serem retiradas ainda com vida, morrem depois sem voltar à pescoço das crianças, com sulcos produzidos pela gravata, com os
consciência devido ao grande sofrimento cerebral. Ou ainda que, sulcos patológicos, com o sulco dos adultos obesos e com os sulcos
mesmo recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo artificiais causados pelo laço das gravatas apertadas.
depois. Por fim existem os que sobrevivem acompanhados de uma
ou outra desordem. Tais manifestações podem ser locais ou gerais: Sinais Internos:
Locais: O sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou lesando Os sinais internos existem em grande número, e podem ser di-
profundamente a pelé. Dor, afasia e disfagia relativas à compressão vididos em:
dos órgãos cervicais e congestão dos pulmões.
Gerais: São referentes aos fenômenos asfíxicos e circulatórios, 1) Sinais Locais
levando, às vezes, ao coma, amnésia, perturbações psíquicas, liga- ·Lesões dos vasos: incidem sobre as artérias. Excepcionalmente
das a confusão mental e à depressão; paralisia da bexiga, do reto e podem incidir sobre as veias. O Sinal de Amussat, constituído da
da uretra. secção transversal da túnica íntima da artéria carótida, é comum
nas proximidades de sua bifurcação. Essas roturas podem ser úni-

9
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
cas ou múltiplas, superficiais ou profundas, visíveis a olho nu ou Sinais:
não. São mais encontradas nos laços finos e duros. O referido sinal
é mais encontrado na artéria do lado oposto do nó. A) Sinais externos:
·Lesões na parte profundada pelé e da tela subcutânea do pes- 1) Aspecto da face e do pescoço: A face no estrangulamen-
coço: caracterizada por sufusões hemorrágicas da parte profunda to geralmente se mostra tumefeita e violácea devido à obstrução
da pelé e da tela subcutânea. Essas alterações são mais frequentes quase sempre completa da circulação venosa e arterial; os lábios
e intensas no lado contrário ao nó. e as orelhas arroxeados, podendo surgir espuma rósea ou sangui-
·Lesões da coluna vertebral: nos casos de queda brusca do cor- nolenta das narinas e boca. A língua se projeta alem das arcadas
po, podem surgir fraturas ou luxações de vértebras cervicais. dentarias e é extremamente escura. Dos meatos acústicos externos,
·Lesões do aparelho laríngeo: fratura das cartilagens tireóide e poderá fluir sangue. Equimoses de pequenas dimensões na face,
cricóide, e fratura do osso hióide. nas conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax.
2) Sulco: Quanto mais consistente e duro for o laço, mais cons-
2) Sinais a Distância tante é o sulco. Pode ser único, duplo ou múltiplo. A direção é di-
São encontrados das asfixias em geral, como congestão poli- ferente do enforcamento, pois se apresenta no sentido horizontal,
visceral, sangue fluido e escuro, pulmões distendidos, equimoses podendo, no entanto, ser ascendente ou descendente, como nos
viscerais e espuma sanguinolenta na traquéia e nos brônquios. casos de homicídio, em que o agente puxa o laço para trás e para
cima. Sua profundidade é uniforme e não há descontinuidade, po-
Mecanismos da morte por enforcamento: dendo verificar-se a superposição do sulco onde a parte do laço se
Morte por asfixia mecânica: naturalmente, é levado a pensar cruza. As bordas são cianóticas e elevadas, e o leito é deprimido e
que a ação do laço no pescoço interrompe a passagem de ar res- apergaminhado. Geralmente o sulco está situado por baixo da car-
pirável aos pulmões. Porém existem argumentos que fogem a esse tilagem tireóide. Não é raro se encontrarem nas proximidades do
princípio: sulco do estrangulamento rastros ou estrias ungueais.
1) Nos cadáveres enforcados, nem sempre se encontram as le-
sões típicas de asfixia; B) Sinais internos:
2) A constrição do laço não se manifesta exatamente sobre a
traquéia e a laringe, e sim muito mais acima. Lesões nos planos profundos do pescoço:
3) Certas observações experimentais demonstram que mesmo a) Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço: A tela
os animais traqueostomizados e, por conseguinte, com passagem subcutânea e a musculatura subjacente ao sulco apresentam-se
de ar livre, morrem invariavelmente por enforcamento. Então pen- infiltradas por sangue. Essas lesões, quando se trata de estrangu-
samos que se o indivíduo morre por asfixia mecânica no enforca- lamento, pelo fato de o laço imprimir força de mesma intensidade
mento, não é precisamente por constrição da laringe e da traquéia, em torno do pescoço e agir em sentido horizontal, apresentam a
e sim por outro mecanismo de asfixia, como obstrução das vias res- mesma distribuição e altura em todo o perímetro nos planos inter-
piratórias pelo rechaçamento da base da língua para cima e para nos do pescoço.
trás, por ação do próprio laço sobre a parede posterior da laringe. b) Lesões da laringe: Podem acarretar lesões nas cartilagens ti-
reóide e cricóide e no osso hióide.
Morte por obstrução da circulação: Interrupção da circulação c) Lesões à distância: Estão representadas pelos sinais clássicos
venosa pela constrição do laço no pescoço contribui apenas no fe- de asfixia vistos no estudo geral sobre o tema.
nômeno da constrição da face. Sem dúvidas o mais importante é a d) Lesões das artérias carótidas: Manifestadas macroscopica-
obstrução da passagem de sangue arterial pelas carótidas, acarre- mente quase sempre em ambos os lados, na túnica íntima, pelos
tando em perturbações cerebrais pela anóxia. sinais de Amussat e Lesser (roturas transversais) e, na túnica adven-
tícia, pelos sinais de Friedberg (infiltração hemorrágica) e de Étien-
Morte por inibição devido à compressão dos elementos nervo- ne Martin (rotura transversal). Pelas mesmas razoes alegadas para
sos do pescoço: O laço exerce pressão sobre o feixe vásculo-nervoso os tecidos moles do pescoço, essas lesões arteriais têm, em quase
do pescoço. Principalmente o nervo vago. Isso de demonstra basi- todas às vezes, a mesma intensidade e se colocam numa mesma
camente nos casos de sobrevivência nos quais se manifestam sinais altura.
laríngeos ou manifestações cardíacas e respiratórias observadas
pela compressão daquele nervo ou dos seios carotídeos. Fisiopatologia: Na morte por estrangulamento, três são os fa-
tores que interferem:
Estrangulamento 1.Compressão dos vasos do pescoço: Compromete mais inten-
No estrangulamento, a morte se dá pela constrição do pescoço samente as veias jugulares que as artérias carótidas, e estas menos
por um laço acionado por uma força estranha, obstruindo a pas- que as artérias vertebrais, fazendo com que o sangue do segmento
sagem de ar aos pulmões, interrompendo a circulação do sangue cefálico fique bloqueado.
ao encéfalo e comprimindo os nervos do pescoço. Nesse tipo de 2.Compressão dos nervos do pescoço: tem influência mais de-
morte, ao contrario do enforcamento, o corpo da vitima atua passi-
cisiva na morte por estrangulamento, cujo mecanismo mais bem
vamente e a força constritiva do laço age de forma ativa.
explicado é a inibição.
O acidente e o suicídio nesta modalidade são raríssimos. Mais
3.Asfixia: Resulta da interrupção da passagem do ar atmosfé-
comum é o estrangulamento-homicidio, principalmente quando a
rico ate os pulmões pela constrição do pescoço comprimindo a la-
vítima é inferior em forças ou é tomada de surpresa. Constitui uma
ringe. Na morte por estrangulamento, a asfixia é mais decisiva que
forma não muito rara de infanticídio.
no enforcamento, principalmente devido à posição do laço. Expe-
riências demonstram que a traquéia se oblitera com uma pressão
Sintomatologia: No estrangulamento, os sintomas são varia-
dos conforme a sua maneira: lenta, violenta ou contínua. Normal- de 25kg.
mente, o estrangulamento passa por três períodos: resistência, per-
da da consciência e convulsões, asfixia e morte aparente. Depois,
surge a morte real.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Enforcamento / Estrangulamento No presente trabalho, inegável alegar que a asfixia pode ser
considerada um dos processos mais importantes do ponto de vista
Força da medicina legal.
- para cima Desta forma, foi possível compreender cada fase que o organis-
- variável mo passa nos diferentes tipos de anóxia e, desta forma, encaixá-la
em um dos processos mecânicos de asfixia, sejam as produzidas
Sulco por confinamento, monóxido de carbono, sufocação, soterramento,
- acima da laringe afogamento, enforcamento, estrangulamento e esganadura.
- alto Assim, as diversas interpretações são absolutamente funda-
- interrompido no nó mentais para esclarecer duvidas e chegar a diversas conclusões es-
- pergaminhado senciais não só legalmente, mas também socialmente, trazendo in-
- profundidade variável clusive esclarecimentos e conforto à família das vítimas, bem como
- direção oblíqua ascendente possibilitando traçar o caminho para se chegar até o suspeito do
- sobre o laringe crime.7
- baixo
- contínuo
- não pergaminhado - escoriado NOÇÕES DE INSTRUMENTOS DE AÇÃO MECÂNICA:
- profundidade uniforme AÇÃO CORTANTE, PERFURANTE, CONTUNDENTE E
-direção horizontal MISTA.NOÇÕES DE AGENTES QUÍMICOS.NOÇÕES DE
AGENTES TÉRMICOS
Violência
- sem outros sinais
- sinais de violência A Traumatologia Forense é o ramo da Medicina Legal que es-
tuda as lesões corporais resultantes de traumatismos de ordem
Fraturas material ou moral, danoso ao corpo ou à saúde física ou mental
- laringe (Croce; 115)
- hióide Tem por objeto o estudo dos efeitos na pessoa das agressões
- lig. Intervertebrais físicas e morais, como também a determinação de seus agentes causa-
- raras dores. Este reconhecimento é feito através do exame pericial na vítima,
bem como no local do crime, denominado exame de corpo de delito,
Cianose o corpo do delito ao contrario do que muitos pensam não é apenas
- bloqueio carotídeo a vitima, mas todo o local e instrumentos utilizados para a pratica do
- menos comum delito, pelo qual se atribui a extensão dos danos provocados.
- sem bloqueio carotídeo
- cianose cérvico-facial Exame pericial
- congestão meníngica O exame deve ser requerido por autoridade legalmente com-
- congestão cerebral petente (p. ex., um delegado de polícia), dirigido a um médico legis-
- equimose palpebral ta competente (ou órgão do qual o mesmo seja funcionário). Este
- equimose conjuntival requerimento deve conter alguns elementos imprescindíveis para a
realização do laudo, tais como a completa identificação da pessoa,
Esganadura a hora, local e finalidade do exame.
É um tipo de asfixia mecânica que se verifica pela constrição O laudo pericial tem como norma geral uma narrativa contínua,
do pescoço pelas mãos, ao obstruir a passagem do ar atmosférico que é feita à medida que o exame é realizado. Nele deve constar,
pelas vias respiratórias até os pulmões. É sempre homicida, sendo de forma abreviada e sucinta, apenas constando-se o que for essen-
impossível a forma suicida ou acidental. cial, a narrativa dos fatos proferida pela vítima.
O perito deve assinalar as lesões ou sua ausência (hipótese em
Sintomatologia: Pela própria dinâmica da esganadura, é difícil que o perito esquivar-se de proceder a exame, expondo seus moti-
precisar exatamente os períodos e o tempo decorrido nestes tipos vos), os locais e tipos de lesão.
de morte, que tanto pode ser por asfixia, como por inibição, devido
à compressão dos elementos nervosos do pescoço. A esganadura Exame complementar
vem sempre acompanhada de outras lesões, principalmente as Por diferir o Direito penal a natureza delituosa da lesão cor-
traumáticas, provenientes de outras agressões como ferimentos na poral consoante sua gravidade, é mister um exame suplementar,
região posterior da cabeça, equimoses em redor da boca, escoria- decorridos trinta dias do fato. Neste exame o perito assinala a pre-
ções nas mãos e nos antebraços, todas elas decorrentes da luta e, sença ou não das seqüelas da(s) lesão(ões), bem como o grau de
por isso, chamadas de lesões de defesa. incapacitação gerada por ela(s) na vítima.

Fisiopatologia: Na esganadura, interferem, principalmente Registros


no mecanismo de morte, a asfixia e os fenômenos decorrentes da O exame traumatológico deve ser indicado através de meio físi-
compressão nervosa do pescoço. A obliteração vascular é interesse co apropriado - desde o preenchimento de planilhas impressas, até
insignificante. Aqui, tudo faz crer que a asfixia é o principal elemen- a filmagem do examinado.
to responsável pelo êxito letal. Conforme asseveram William Douglas, Abouch V. Krymchanto-
Entender a profundidade e complexidade por trás de cada de- wki & Flávio Granato Duque, na obra Medicina Legal à luz do Direito
talhe que passaria despercebido pela maioria das pessoas torna a Penal e Processual Penal, 2ª edição. Rio de Janeiro: Impetus, 2001:
figura do médico-legista ainda mais essencial na sociedade.
7 Fonte: www.marianareina.jusbrasil.com.br

11
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
“A Traumatologia Forense estuda os traumas, lesões, instrumentos e ações vulnerantes, visando elucidar a dinâmica dos fatos. Trauma é o
resultado da ação vulnerante que possui energia capaz de produzir a lesão, como ensina Roberto Blanco. Lesão nada mais será que o dano
tecidual temporário ou permanente, resultante do trauma.”
“Nas contusões ativas, o instrumento vulnerante vem de encontro à superfície corpórea . Ex.: soco. Nas contusões passivas, a super-
fície corpórea (a vítima) vai de encontro ao instrumento vulnerante. Ex.: a pessoa cai e bate a cabeça no solo. Assim, a atuação pode ser
ativa/direta, passiva/indireta ou mista (a combinação de ambas)”.

Quantificação do Dano: Lesões Corporais


O artigo 186, do código civil brasileiro, declara como lesão corporal “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ouim-
prudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O dano deve resultar em alteração
objetiva, mensurável, observável, mesmo que fugaz na estrutura orgânica ou psíquica da pessoa, relacionada à ação causadora.
As lesões corporais podem ser leves (sem consequência para a vítima, são as mais comuns na perícia e as mais frequentes são as
causadas por ação contundente como edema traumático, escoriações, equimoses), graves (lesões que ofendem a integridade corporal,
incapacitam por mais de um mês ou debilitam permanentemente quaisquer de seus membros, sentidos, funções, acelera o parto, se
mulher grávida, ou põe em perigo a vida do indivíduo) e gravíssimas (resulta em incapacidade permanente, enfermidade incurável, perda,
inutilização de membro, sentido, função, deformidade permanente e aborto, em caso de grávidas), segundo a lei penal, sendo classificadas
pelo resultado (consequências) sob o critério anatômico e funcional, no organismo da vítima.

Outros tipos de lesão:


a) Lesões corporais seguida de morte: ofende a integridade corporal ou a saúde do paciente, provoca-lhe a morte sem querer esse
resultado, nem assumir o risco de produzi-lo.
b) Lesão corporal qualificadora agravante: produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insi-
dioso ou cruel.
Os agentes lesivos – forma ou instrumento que resulta em lesão no organismo – podem ser classificados em natureza física (mecânica,
térmica, elétrica), química (tóxicos, venenos e cáusticos), biológicas (agentes infecciosos) ou mistos (naturezas diversas).

Lesão corporal.
Definição: qualquer simples alteração causada à integridade corporal de maneira culposa ou dolosa, na estrutura anatômica ou mes-
mo histológica de uma pessoa.
Um beliscão ou um tapa é o bastante para caracterizar uma ofensa à integridade corporal de outrem.
Lesão corporal leve: lesões resultantes da ofensa a integridade corporal ou à saúde de outrem, excetuando-se as lesões graves e gra-
víssimas.
Lesão corporal grave: quando resultam em incapacidade para as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, debilida-
de de membro, sentido ou função, deformidade permanente, aceleração de parto.
Lesão corporal gravíssima: incapacidade permanente para o trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou função, deformi-
dade permanente, aborto.
Lesão corporal seguida de morte: resulta quando, o agente alheio ao dolo, lesa a vítima produzindo-lhe a morte. O agente não assumiu
quis o desfecho. A ação é dolosa, mas o resultado é culposo.8

Lesões e mortes por arma branca


As armas podem ser manuais (instrumentos perfurantes, cortantes, perfuro-cortantes e corto-contundentes, embora possam ser
arremessados) ou de arremesso, que podem ser simples (são totalmente jogadas contra o oponente) ou complexas (dispararam projéteis
contra o oponente).

Instrumentos Perfurantes
São instrumentos formados por uma ponta continuada com uma haste mais cilíndrica e de acordo com o diâmetro podem ser de pe-
queno calibre (alfinetes, agulhas e espinhos) e médio calibre (pregos pequenos, furador de gelo e a sovela). Transformam a energia cinética
através de uma ponta, exercendo pressão e afastando as fibras dos tecidos conforme a penetração.
Para a ocorrência das lesões, a ação pode ser ativa, quando o instrumento atinge o corpo parado ou quase em repouso (picada por
agulha de injeção, agressões com furadores) e passiva, quando o corpo em movimento choca com o instrumento localizado em um ante-
paro (pisar em um prego ou cair sobre grade com elemento pontiagudo).

8Fonte: www.aulademedicinalegal.blogspot.com.br

12
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Instrumentos cortantes
Nesta categoria destacam-se os instrumentos cortantes como cacos de vidro, pedaços de folha metálica e até mesmo folha de papel.
Transferem energia cinética por deslizamento e leve pressão através de uma borda aguçada (gume ou fio).
As lesões possuem predomínio da extensão em relação à profundidade. Podem ser superficiais, no entanto podem ser observadas
feridas mais profundas penetrando em cavidades, pois dependem da região do corpo atingida e da força, bem como o estado do gume. As
lesões apresentam bordas regulares, com vertentes planas e ângulo muito agudo, com profundidade maior na porção correspondente ao
terço inicial. Podem causar mutilações em nariz, orelha, ponta dos dedos, pênis.
A gravidade está relacionada com a região atingida. As lesões mais graves são as de engorjamento podendo até levar ao óbito. Em
certos casos, o agressor não possui a intenção de matar e sim deformar a vítima.
Em relação aos aspectos médico-legais, a causa jurídica em caso de morte deve ser orientada pela disposição, número e localização
das feridas. Nos casos que apresentam ferida incisa na face anterior do punho, existência de cicatrizes anteriores e presença de lesões de
defesa podem contribuir para a investigação de suicídio e homicídio. Dentro das lesões por instrumento cortante, predominam as aciden-
tais, principalmente as decorrentes de atividades profissionais.

Intrumentos perfuro-cortantes
Estes instrumentos possuem uma ponta e um ou mais gume e transferem a sua energia cinética por pressão através da ponta e por
deslizamento dos gumes que seccionam as fibras dos tecidos. De acordo com as faces apresentadas no instrumento, lisas ou ásperas, as
bordas das feridas se apresentarão normais ou escoriadas, respectivamente. As lesões possuem predominância da profundidade sobre a
extensão, no entanto a sua forma varia com o número de gumes.
As lesões em botoeira com um dos ângulos bem mais agudo que o outro são ocasionadas por instrumentos que apresentam apenas
um gume. As lesões em fenda com ângulos bastante agudos são ocasionadas por instrumentos de dois gumes. As lesões estreladas com
bordas curvas e convexas em direção ao centro da ferida são ocasionadas por instrumentos com mais de dois gumes.
As lesões podem ser classificadas em superficiais, penetrante (mais graves) e transfixantes. O trajeto constitui-se por um túnel em
forma de fenda nas feridas por instrumentos de um ou dois gumes. Observa-se retração dos tecidos, ao longo do trajeto, tendo a fenda
bordas afastadas de modo desigual, principalmente nos planos musculares. Em superfícies ósseas, a penetração pode deixar a sua forma
impressa em baixo relevo e pode ocorrer da própria lamina quebrar e ficar parcialmente encravada.
O agravamento se dá pela penetração de grandes cavidades do organismo ou acometimento de víscera ou vaso sanguíneo calibroso,
mas nas feridas superficiais pode ocorrer secção de vasos arteriais, nervos e tendões, principalmente se predominar a ação cortante.
Em relação aos aspectos médico-legais, interessam os casos de suicídio, com lesões em região precordial, punho ou pescoço. No ato
da perícia ou necrópsia, é importante deixar a pele desnuda para avaliar o golpe. Para o diagnóstico, é importante que não haja lesões de
defesa, porém a existência de apenas uma lesão não descarta a hipótese de homicídio.

Instrumentos corto-contundentes
São associação de instrumento cortante + instrumento contundente = machado, guilhotina.
Têm uma massa significativa e gume.
O mecanismo de ação = massa + pressão (ou vibração ou velocidade) + deslizamento.
Massa + Pressão + Deslizamento = Decapitação

13
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Traumatologia forense. abaixo desses limites. Pode ser única ou múltipla, e a profundidade
Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, da lesão é variável, detendo-se, em geral, na laringe, dependendo
produzidos sobre o corpo humano. da intensidade do uso do instrumento, alcançando a coluna cervical.
O meio ambiente pode impor ao ser humano, as mais diversifi- Deve-se observar também que, se o ferimento for numa direção
cadas formas de energias causadoras de danos pessoais. transversal ou obliqua, entende-se como elementar para determinar a
causa jurídica da morte, daí, poderemos analisar se houve suicídio, ao
Classificação: qual o instrumento cortante é empunhado pela mão direito, em que se
1- Agentes mecânicos (instrumentos) predomina a direção transversal ou descendente para a direita, tam-
2- Agentes físicos bém pode ocorrer em direção oposta, se quando for canhoto.
3- Agentes químicos A profundidade da lesão é maior no inicio e no final a vitima
4- Agentes físico-químicos perde suas forças.
5- Agentes biológicos (contágios) Nos homicídios, aparecem características distintas, pois o autor
6- Agentes mistos da lesão coloca-se por trás da vitima, provocando um ferimento da
esquerda para a direita, se destro, em sentido horizontal, se voltado
1-Agentes mecânicos ou instrumentais: denominam-se como para cima.
conjuntos de objetos, agidos de uma mesma maneira, produzem 2) Degolamento: São lesões provocadas por instrumento cor-
lesões semelhantes, sendo divididos em: tante na região posterior do pescoço, na nuca. É indicio de homicí-
a) Instrumento perfurante dio, principalmente se o ferimento for profundo e a lesão encontra-
b) Instrumento cortante -se localizada na medula.
c) Instrumento contundente 3) Decapitação: É a separação da cabeça do corpo, podendo
d) Instrumento perfuro-cortante ser oriunda de outras formas de ação além da cortante. Pode ser
e) Instrumento corto-contundente acidental, suicida ou homicida.
f) Instrumento perfuro-contundente
C) Instrumento contundente:
É todo agente mecânico, liquido gasoso ou sólido, rombo, que,
A) Instrumento perfurante:
atuando violentamente por pressão, explosão, flexão, torção, suc-
Ação: por pressão, por meio de sua ponta, empurrados por
ção, percussão, distensão, compressão, descompressão, arrasta-
uma força cujo sentido corresponde ao seu eixo longitudinal. Obje-
mento, deslizamento, contragolpe, ou mesmo de forma mista, trau-
tos longos e de pontas afiladas.
matiza o organismo (CROCE: 272).
Ex. Pregos, alfinetes, agulhas, estiletes, etc.
Ação: por pressão e/ou deslizamento sobre uma superfície
Ferimento: punctório ou puntiforme
mais ou menos plana.
Características: a ferida apresenta uma forma da projeção da
Ex. tijolos, pedras, mãos, pés, cassetetes, etc. Tais ferimentos
secção transversa do objeto. Profundidade sobre a superfície exter-
na, que é muito pequena. podem ter como conseqüência ações como explosão, compressão,
Atravessa-se o instrumento um segmento ou órgão do corpo, descompressão, tração, torção, contragolpe, ou, formas mistas.
chama-se punctório transfixaste.
Tipos de lesões:
B) Instrumento cortante: - Contusão: é a denominada como genérica do derramamento
Ação: por pressão e deslizamento sobre o seu fio ou gume. O de sangue nos interstícios tissulares, sem qualquer efração dos tegu-
aprofundamento depende da pressão ou fio, mas a extensão da le- mentos, consequente a uma lesão traumática sobre o organismo. Tra-
são depende do deslizamento do instrumento. Deverá ser forte o ta-se de uma lesão fechada com comprometimento do tecido celular
bastante para vencer a resistência da pele. Objetos que apresentem subcutâneo e integridade real ou aparente na pele e nas mucosas.
um bordo longo e fino. - Ferida contusa: é a contusão que adveio da continuidade pela
Ex. Navalhas, lâminas de barbear, bisturi, faca, estilhaço de vi- ação traumática do instrumento vulnerante; é a contusão aberta.
dro, papel, capim-navalha, etc.
Ferimento: Inciso Características: apresenta forma irregular, por vezes estrelada,
Características: a ferida apresenta forma linear reta ou curvilí- com bordos irregulares, anfractuosos e macerado, fundo irregular,
nea, com predomínio do comprimento sobre a profundidade, mar- com pontes de tecido unindo uma borda à outra. Os tecidos próxi-
gens nítidas e regulares; ausência de contusão em torno da lesão, mos apresentam-se também como traumatizados, como às vezes
devido gume se limitar a secção dos tecidos, sem mortificação; pre- esmagados, conforme o caso.
domínio sobre a largura e a profundidade, extremidade mais su-
perficial e em forma de cauda de escoriação, ao qual é produzida Há uma classificação médico-legal, portanto:
na epiderme no instante que precede a ação final do instrumento • Eritema: área avermelhada no local contundido devido a alte-
sobre a pele; corte perpendicular, aspecto angular em formato de ração local da circulação. É transitório, desaparecendo nas próximas
um “v” de abertura externa, se o instrumento cortante agiu linear- 24 horas. Temos como exemplo: tapas, empurrões, bofetadas, etc.
mente; hemorragia abundante. • Edema traumático: aumento difuso de volume, por acumulo de
Tipos de lesões produzidas por instrumentos cortantes: Nos líquido intercelular. Por motivo de alteração traumática da permeabi-
instrumentos cortantes provocados por lesões no pescoço, pode- lidade dos vasos capilares ocorre um extravasamento de líquido nos
mos classificar em: espaços intersticiais. Podem desaparecer em menos de 24 horas.
1) Esgorjamento, • Equimose: extravasamento de sangue para dentro dos teci-
2) Degolamento e dos, cujas malhas ficam aprisionadas as hemácias, formando uma
3) Decapitação mancha de coloração, de inicio, violácea.
• Hematoma: solução de continuidade superficial que atinge a
1) Esgorjamento: São lesões incisas, de profundidade variável, epiderme e eventualmente parte da derme. Tem sua evolução, sem
situando-se na face anterior ou antero – lateral do pescoço, entre deixar cicatriz ou produzindo alterações muito discretas na pele,
a laringe e o osso hióide, ou sobre a laringe, raramente acima ou formando manchas hipocrômicas como único sinal.

14
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Há que mencionar também que as lesões tidas profundas são • Zona de equimose: é uma aréola violácea, originada duran-
causadas pela forma do instrumento gerando uma violência consi- te a passagem do projétil através da pele, quando pequenos va-
derada grande. Assim, temos: sos sanguíneos e capilares são tracionados e rompidos, formando
• Fratura: perda de continuidade óssea, parcial ou total equimoses em torno do ferimento. Somente podem ser produzidos
• Luxação perda de continuidade de articular, podendo ou não quando a vitima estiver com vida.
se acompanhar de ruptura de ligamentos articulares. • Zona de tatuagem: trata-se de disparos à queima-roupa ou
• Ruptura visceral: lesão que atinge órgãos das cavidades cra- apoiados, pelos grânulos de pólvora combusta ou incombusta, que
nianas, torácica e abdominal. Frequentemente, as vísceras mais le- acompanham a bala de perto, incrustando-se mais ou menos pro-
sadas são o fígado e o baço. fundamente na pele da região atingida. Além disso, é uma incidên-
cia de que o orifício de entrada de tiro ser de curta distancia.
D) Instrumento pérfuro-cortante: • Zona de esfumaçamento: Também conhecida pela doutrina,
Ação: predomínio de profundidade sobre o comprimento; os como zona de tatuagem falsa, resulta do depósito de fumaça e de
bordos nítidos e lisos e as margens não apresentam traumas de partículas de carvão, muito leves, que se acumulam sobre a epider-
contusão. A lesão provocada chama-se “ferimento em botoreira”, me, mas tem ter força suficiente de penetração. Pode ser removida
por apresentar-se um ângulo agudo e outro canto arredondado, simplesmente pela lavagem da pele.
nos instrumentos de gume só, ou ambos os ângulos agudos, como • Zona de queimadura ou chamuscamento: decorre da ação do
instrumentos com dois gumes, mas se houver três gumes, a forma calor e dos gases quentes que saem do cano da arma, queimando
de ferimento poderá reproduzir a forma do instrumento quanto ao pelos e a epiderme. Se localizado na região da pele, apresenta a
número de gumes. aparência enrugada e seca, de aparência vermelho-escura, e com
Há, portanto, uma classificação quanto aos ferimentos pode cheiro característico. Já nos pelos, apresentam-se queimados e
ser: quebradiços.
• Penetrantes: atingem uma cavidade, com tórax ou abdômen,
e terminam em fundo-de-saco; Nos disparos de arma de fogo, o projétil ocasiona o orifício de
• Transfixantes: atravessam um segmento do corpo, tendo por entrada e elementos de vizinhança ou zona de contornos, indepen-
característica física, uma pequena cauda no local do gume. dente do tipo de tiro.
Não poderemos nos esquecer que, o tamanho do ferimento Assim, há três situações:
nem sempre corresponde à largura da lâmina que o produzir, po- 1) Tiro encostado ou apoiado: neste caso, o projétil pode pene-
dendo, inclusive ser menor, devido a elasticidade da pele, ou maior trar ou mesmo refluir, produzindo o chamado efeito “mina”
devido a retração dos tecidos adjacentes. Características: orifício de bordas denteadas, desarranjadas e
evertidas, este último decorre da violência da força de expansão
E) Instrumento corto-contundente: dos gases. O diâmetro é maior que o projétil, com bordas volta-
Ação: contunde por pressão devido a animação e corta pelo das para fora, devido à explosão dos tecidos subcutâneos. Normal-
fio ou gume grosseiro. São objetos pesados com superfície romba e mente, não há a presença de zona de esfumaçamento e de zona de
gume pouco afiado. tatuagem, eis que os elementos de disparo penetram no próprio
Ex. Facão, machado, enxada, dentes, etc. ferimento.
Tipo de ferimento: Corto-contundente 2) Tiro a queima roupa ou de pequena distancia: o alvo é atin-
Características: apresentam bordos pouco regulares, sem cau- gido pelos gases aquecidos dos disparos e pela chama resultante da
da, fundo anfractuoso e presença de equimose e edema traumático queima da pólvora.
junto às margens. São ferimentos extensos, profundos e provoca- Características: ocorrência de calor, fumaça e grânulos de pól-
dos por fraturas, conforme o peso do instrumento e da força com vora em combustão, bem como todas as impurezas provindas do
que conduziu o instrumento. cano da arma. Predomina-se pelo arrancamento da epiderme devi-
do o movimento rotatório do projétil, enxugo, tatuagem, esfumaça-
F) Instrumento perfuro-contundente: mento e queimadura.
Ação: inicialmente “amassa” e afasta o os tecidos por ação de 3) Tiro a distancia: o alvo é atingido pelo projétil somente.
sua ponta romba devido sua extremidade, porém de diâmetro pe- Características: a boca de fogo fica a mais de 50 centímetros
queno. do alvo e só projétil alcança o alvo, formando um orifício de bordos
Ex. espeto sem ponta, chaves de fenda, ponteira de guarda- invertidos com orla de contusão e enxugo e orla equimotica. Não
-chuva e, classicamente, projéteis de arma de fogo (balas) apresenta os efeitos secundários do tiro.9
Ferimento: Pérfuro-contuso
Características: apresentam bordos irregulares, com maior pre- Lesões e mortes por ação contundente
domínio da profundidade sobre a superfície e caráter penetrante Instrumento contundente é todo objeto rombo, capaz de agir
ou transfixante. traumaticamente sobre o organismo.
Normalmente, as lesões tidas típicas são armas de fogo, ao A ação causadora da lesão contusa pode ser por pressão, por
qual, agem por impulsão e rotação, determinando a formação de deslizamento ou ambas. A regra é a causação por instrumento duro
um orifício e de zonas de contorno junto à pele em que depende da e rombo, como é o caso de paus, pedras, barras de ferro etc.
incidência do tiro, portanto, se for obliquo, perpendicular, ou mes- Vale consignar que, excepcionalmente, a água e o ar podem
mo tangencial, como também sua distancia. causar lesões contundentes. Não é incomum pessoas terem lesões,
Podemos analisar uma breve classificação, quanto aos tipos de muitas delas graves, derivadas de mergulhos, cujo choque com a
zona, como: água vem a causar danos. A água funciona como um verdadeiro
• Zona de contusão: caracteriza-se por uma aréola apergami- “muro” em que a pessoa se choca, a depender de velocidade, al-
nhada, escura, de poucos milímetros de largura, que circunda o tura, incidência etc. O deslocamento abrupto de ar, causado por
bordo do orifício, resultante do impacto e da pressão rotatória feita explosões, também pode causar lesões contundentes.
pelo projétil contra a pele.
9Por Luiz Fernando Pereira

15
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os instrumentos contundentes têm como seus maiores exem- Entre a epiderme e a derme, encontramos a crista da papila,
plos, como já dissemos, paus, pedras, martelos, bastões, bengalas, onde ficam os vasos sanguíneos, linfáticos e os terminais nervosos.
barras de ferro etc. Nas escoriações, que são feridas contusas superficiais, não
Também são contundentes as ações provocadas por chutes, ocorre cicatrização, mas sim regeneração. A pele se regenera, de
socos, cabeçadas ou outras formas de ataque e defesa usadas pelo baixo para cima. No início deste processo, é possível determinar-se
homem. a data da lesão.
Sabemos que outros podem ser os geradores dessas lesões, A crosta se forma com a substância que escorre da escoriação.
como, por exemplo, os atropelamentos. Por fim, note-se que tam- Ela nos fornece dois importantes elementos de informação: sua cor
bém pode funcionar como instrumento contundente uma super- e o seu deslocamento. Com o tempo, a crosta vai escurecendo e se
fície resistente contra a qual o corpo se choque (uma parede, o descolando, das bordas para o centro.
chão), nas lesões passivas. Quando a lesão atinge só a epiderme, temos a ruptura de vasos
Não deve ser esquecida, em momento algum, a classificação linfáticos, ficando a crosta amarelada. Na lesão que atinge a derme,
quanto à atuação ativa ou passiva dos instrumentos. Reprisando, a crosta já é pardo-avermelhada, pois a lesão atinge os vasos san-
nas contusões ativas o instrumento vulnerante vem de encontro à guíneos que passam na derme.
superfície corpórea (ex.: um martelo que atinja o rosto da vítima); Havendo pressão acentuada no local, a lesão ficará apergami-
nas contusões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de en- nhada, tanto no vivo quanto no morto. Não havendo infecção (que
contro ao instrumento vulnerante (ex.: a pessoa se lança contra um gera tom amarelado e purulento), a regeneração leva de 20 a 30
muro, a vítima cai e sua cabeça vai de encontro ao solo, ou, ainda, o dias.
indivíduo que despenca de um precipício). Também são chamadas Pouco antes da morte ou após esta, não há tempo para a for-
de diretas (ativas) ou indiretas (passivas). Há a combinação de am- mação da crosta. Forma-se apenas uma placa apergaminhada. Nos
bas, as lesões mistas. casos de comprometimento da derme, há resolução com formação
Em geral, as lesões são classificadas também em leves (super- de cicatriz.
ficiais) ou profundas. Segundo Roberto Blanco, é importante a observação da forma,
Como já foi mencionado, a localização das lesões tem grande da localização e da evolução das escoriações, pois podem determi-
valor médico-legal, porque ajuda na elucidação da verdade. Lesões nar como foram produzidas, o motivo do seu aparecimento e a data
na face interna das coxas, nas nádegas: dão notícia, geralmente, de em que foram produzidas.
agressões sexuais, como estupro consumado ou tentado.
Lesões semilunares no pescoço noticiam tentativa de esgana- 3. EQUIMOSE – O agente vulnerandi age com maior intensida-
dura. Lesões no antebraço e nas mãos (principalmente nas palmas) de do que na rubefação, mas ainda se preserva a integridade e a
podem ser as conhecidas lesões de defesa. Lesões de defesa, diga- elasticidade da pele. Os vasos superficiais rompem-se, causando
-se logo, são aquelas resultantes do esforço da vítima em se defen- extravasamento de sangue internamente, o qual fica entremeado
der. Por exemplo, ao tentar evitar uma agressão a facadas, a vítima nas tramas teciduais. O fenômeno dá coloração à pele, em virtude
certamente terá lesões em suas mãos e braços. Roberto Blanco da transparência desta. A pele não se arrebenta, mas sim os vasos
anota ainda as lesões de hesitação que, de acordo com ele, são abaixo dela.
aquelas produzidas pela hesitação, incerteza da vítima em produzir Em resumo, equimoses são derrames sanguíneos nos quais o
uma lesão fatal; são as lesões características de suicídio. sangue extravasado se infiltra e coagula nas malhas dos tecidos do
A depender de inúmeros fatores, principalmente a forma e for- corpo.
ça da agressão, existirão diversas modalidades de lesões com reper- As equimoses podem ser superficiais ou profundas. Há tam-
cussões e consequências diferentes, que devem ser estudadas de bém as equimoses causadas pela emoção (equimoses emotivas).
acordo com suas particularidades: rubefações, escoriações, equi- A equimose à distância ocorre quando a lesão está em um lugar
moses, bossas e hematomas, feridas contusas, fraturas, luxações, e a equimose, em outro. Isto acontece pela ação da gravidade sobre
subluxações, roturas viscerais e esmagamentos. o sangue.
Saiba-se também que as equimoses profundas podem levar de
1. RUBEFAÇÃO – Congestão de pouca intensidade. Ex.: uma bo- quatro a cinco dias para aparecer sob a pele.
fetada de mão aberta. Espectro equimótico é a mudança da coloração da equimose,
Por desaparecer em pouco tempo (minutos ou horas), é pre- com o passar do tempo. O estudo da variação da cor da equimose
ciso rapidez na efetivação do exame pericial para configurá-la em no processo de recuperação é útil para determinar a data aproxima-
função do seu caráter fugaz. da da lesão. Foi observado primeiramente por Legrand du Saulle,
Há, em grau menor, o eritema leigamente chamado de verme- que emprestou seu nome ao fenômeno.
lhidão ou eritema traumático, que é a forma mais insignificante ou Este fenômeno só ocorre nos vivos. Toma por base lesões de
branda de lesão. tamanho médio. A mudança é causada pela decomposição do san-
Tanto é assim que os tribunais, em geral, sequer consideram gue. O pigmento da hemácia (glóbulo vermelho) tem ferro, que é o
o eritema como ofensa à integridade física ou à saúde. Por vezes, elemento cuja decomposição dá a variação cromática, ao longo do
nesse caso, punem a agressão como contravenção (vias de fato). tempo e da recuperação tecidual. O fenômeno ocorre até haver a
Em um grau um pouco maior que o eritema traumático, encon- reabsorção completa do sangue extravasado pelo organismo.
traremos a rubefação, que desaparece com cerca de seis a 24 horas, As equimoses nas regiões conjuntival e da bolsa escrotal, por
dependendo da área ou local atingido, da sua irrigação sanguínea e serem estas regiões densamente vascularizadas, não passam pelo
da intensidade da ação contundente. espectro equimótico. Normalmente, estas regiões ficam vermelhas
até a cura. O ex-diretor do IML, Iran Barbieri, apresenta a seguinte
2. ESCORIAÇÃO – O instrumento contundente age tangen- sequência: cor avermelhada (um a dois dias), cor azulada (três a
cialmente à superfície corpórea, produzindo o arrancamento da cinco dias), cor violácea (seis a oito dias), cor esverdeada (nove a 12
epiderme, deixando a derme descoberta. Em suma, é toda perda dias), cor amarelada (13 a 20 dias) e, após este prazo, volta a pele à
epidérmica traumática. A epiderme é a primeira camada do tecido coloração normal.
humano, ao passo que a derme é a segunda.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Hélio Gomes dá a seguinte sequência na coloração: vermelho- to de sangue para o tecido subcutâneo. Como o sangue não conse-
-escuro, violeta, negro, azul, verde, amarelo. Flamínio Fávero apre- gue se espalhar por todos os tecidos moles, permanece agrupado
senta uma quase igual: vermelho-escuro, roxo, violáceo, azul, verde (colecionado), formando o hematoma. Em suma, os hematomas
e amarelo. Devergie e Tourdes, embora com datações diferentes, são coleções sanguíneas produzidas pelo sangue derramado.
consignam a seguinte ordem: vermelho, violáceo, azulado, esver- A bossa ocorre quando o hematoma faz protrusão na pele. Isto
deado, amarelado. Os prazos, lembre-se, variam em consequência, ocorre na hipótese de a lesão estar sobre região óssea (ex.: canela,
principalmente, da extensão da equimose. testa) e abaixo de pele com pouco tecido mole na circunvizinhança.
É importante o conhecimento sobre como diferençar uma O sangue, sem poder “empurrar” a pele e os tecidos subjacentes
equimose intra vitam de uma equimose post mortem. Naquela, o para os lados e para baixo, pressiona a própria pele para cima. São
sangue se coagula entre as malhas dos tecidos, existe infiltração os famosos “galos”.
leucocitária na região, verifica-se o índice de Verderau, há reação Flamínio Fávero difere a bossa do hematoma de forma diferen-
inflamatória etc.; já na equimose post mortem, o sangue não se te. Para ele, as bossas são coleções pequenas e, os hematomas, as
coagula, não existe infiltração leucocitária, não há alteração do ín- coleções maiores.
dice de Verderau, não há reação inflamatória etc. No entanto, discordamos porque a presença de uma bossa
Roberto Blanco anota os tipos especiais de equimoses. depende fundamentalmente do local onde houve extravasamento
a) Petéquias – equimoses puntiformes, como cabeças de alfi- sanguíneo, e não da quantidade do mesmo.
nete, frequentes nas mortes rápidas, septicemias, asfixias, coquelu- Diferença entre equimose e hematoma. Na equimose, o san-
che. Decorrem do aumento da permeabilidade dos vasos capilares gue se infiltra nas malhas do tecido subcutâneo; no hematoma, o
por hipoxia (diminuição do oxigênio) e/ou aumento da pressão nes- sangue se coleciona (aglomera) em determinado ponto, formando
tes vasos (hipertensão capilar). verdadeiras bolsas. No entanto, ambos podem ocorrer simultanea-
b) Manchas equimóticas lenticulares de Tardieu – têm o tama- mente e aparecer aos olhos do examinador em períodos de dias
nho de uma lentilha, sendo patognomônicas de asfixias mecânicas que se seguem.
do tipo sufocação direta (patognomônicas vem de patognomonia, Hélio Gomes ensina que “algumas das indicações citadas a pro-
que é o estudo dos sinais e/ou sintomas considerados característi- pósito do valor médico-legal das escoriações podem aplicar-se aos
cos das doenças). hematomas.”
c) Manchas subpleurais de Paltauf – ocorre nos casos de afo-
gamento e insuficiência respiratória aguda. São extensas e de con- 5. FERIDA CONTUSA – Aqui, o agente agressor promove a perda
tornos irregulares. da integralidade da pele ou vence a sua elasticidade. A integridade
d) Cianose cérvico-facial ou máscara equimótica de Morestin tecidual da pele passa a não ser suficiente para mantê-la e a pele
– ocorre nos casos de compressão do tórax (sufocação indireta). A é rompida. As feridas contusas são lesões abertas. Esta arrebenta-
pressão do tórax mantém os vasos cervicais e faciais cheios de san- ção atinge a derme (camada abaixo da epiderme ou pele) e possui
gue, causando o fenômeno. várias graduações, desde as lesões mais leves até as lesões lácero-
e) Equimoses perianais ou vulvo-vaginais – ocorrem como contundentes.
decorrência de parasitoses locais e das alterações dermatológicas A graduação varia de acordo com a profundidade atingida pela
provenientes da coceira ou prurido, que obrigam o seu portador lesão e, portanto, da dimensão da ação contundente aplicada. As
a coçar e arranhar a região, sobretudo em infecções, comuns no lesões lácerocontundentes são as mais graves, uma vez que podem
Brasil, pelo verme oxiúros. atingir e comprometer os músculos, os tendões e até as articula-
Não confundir com aquelas causadas por atos libidinosos. ções. Além disso, podem gerar prejuízos funcionais ou estéticos, já
f ) Mobilidade equimótica – noticiam-se aqui as equimoses que que a derme é atingida e a resolução tecidual se dá por cicatrização,
se deslocam do ponto de contusão para regiões mais afastadas e as com consequências penais (art. 129, e §§, do CP).
equimoses profundas, que só se fazem visíveis com quatro a cinco Características das feridas contusas. As feridas contusas apre-
dias. sentam bordos de ângulos irregulares, com feridas escoriadas ou
g) Equimose retrofaringeana de Brouardel – indica constrição equimosadas. Os tecidos apresentam traves de tecido íntegro e de
do pescoço (compressão da faringe contra a coluna vertebral). tecido ferido. O fundo da lesão é “sujo”, isto é, desigual, irregular,
h) Equimose nos tecidos moles subjacentes à pele do pescoço – com traves de tecido são e traves de tecido lesionado.
indica agressão, por estrangulamento, enforcamento, esganadura A pele próxima ao ferimento se descola. São feridas de cicatri-
ou mera contusão local. zação difícil.
i) Equimoses de etiologia não mecânica – devem-se diferenciar A ferida contusa é o contrário da ferida incisa, que é aquela
as equimoses decorrentes de trauma mecânico ou psíquico e as feita por instrumento cortante, que fica com a cicatrização “certa”
chamadas equimoses espontâneas. As equimoses não traumáticas (ex.: feita por faca, lâmina de barbear). O corte feito com bisturi é
são chamadas de púrpura e decorrem de entidades mórbidas que denominado por alguns lesão cirúrgica
evoluem deixando manchas arroxeadas (equimoses) pelo corpo. A diferença entre lesões/feridas contusas e incisas é constante-
j) Equimose à distância – equimoses que surgem em pontos mente objeto de questionamento em concursos.
completamente diferentes do local onde ocorreu a lesão. Podem
decorrer dos efeitos sistêmicos que o trauma exerce no organismo 6. FRATURAS – Correspondem a uma solução de continuidade
ou do escoamento de sangue, em razão da força da gravidade. dos ossos. Podem ser diretas ou indiretas, fechadas ou abertas, co-
Roberto Blanco classifica, ainda, como tipos especiais de equi- minutivas (ou fragmentadas) etc. É direta quando o trauma atinge o
mose, os hematomas e as bossas sanguíneas (o material que se acu- local fraturado, e indireta em caso contrário. A fratura fechada não
mula na cavidade neoformada é o sangue) e serosa (o material que se comunica com o exterior do corpo e a aberta é aquela em que
se acumula na cavidade é a linfa extravasada). a ferida permite ver o foco da fratura (ex.: numa ferida contusa ou
cortocontusa). Fratura exposta é aquela em que os fragmentos ós-
4. HEMATOMA – Aqui, a pele resiste pela sua elasticidade, mas seos extrapolam os limites do corpo da vítima. Fratura cominutiva é
os vasos (artérias e veias) mais calibrosos, que estão em camadas aquela em que fragmentos ósseos ficam isolados do osso fraturado.
abaixo da mesma, podem se romper, resultando em extravasamen-

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
As fraturas podem ser classificadas, ainda, como traumáticas tremidades, como braços e pernas, aplique-se imediatamente um
ou verdadeiras. Existem fraturas causadas pelo próprio peso do garrote ou torniquete, para impedir que a mioglobina tenha acesso
corpo da vítima, por patologias ou esforço imoderado. Aqui, temos à corrente sanguínea e ocorram suas consequências. A mioglobina
as fraturas espontâneas ou patológicas, que devemos exemplifi- é o pigmento muscular liberado quando a fibra é esmagada e ento-
car com uma situação bastante comum e litigante com os idosos. pe os túbulos renais, impedindo a filtração do sangue e levando à
A fratura patológica do colo do fêmur é geralmente decorrente de morte por insuficiência renal aguda.
osteoporose (porosidade óssea por desmineralização ou perda de
cálcio pelo osso, comum no envelhecimento, principalmente entre 10. Lesões produzidas por artefatos explosivos – “Chama-se de
idosos que não ingerem cálcio suficiente e que não se exercitam explosão um mecanismo produzido pela transformação química de
regularmente) e acarreta a queda aparentemente espontânea do determinadas substâncias que, de forma violenta e brusca, produz
idoso. Tanto este como sua família frequentemente interpretam a uma quantidade excessiva de gases com capacidade de causar ma-
fratura como consequência da queda, e não como deve ser encara- lefícios à vida ou à saúde de um ou de vários indivíduos. (...) As
da, sendo a queda a consequência de uma fratura. Aqui, o simples lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação mecâni-
fato de o idoso se virar para olhar para trás ou se levantar mais ca e por ação da onda explosiva. As primeiras são provenientes do
rapidamente pode ocasionar a fratura e a queda consequente. De material que compõe o artefato e dos escombros que atingem as
acordo com Roberto Blanco, as fraturas podem ocorrer pela com- vítimas. As outras são decorrentes das ondas de pressão e sucção,
pressão, flexão ou torção. que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast injury.
A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e pro-
7. LUXAÇÃO – É a perda definitiva (mas não irreversível) de duzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompa-
contato entre as superfícies articulares, e segue-se, via de regra, de nhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca
rotura de ligamentos. Esta perda pode ser transitória, com o retor- e rapidamente numa velocidade muito grande, a pouca distância da
no da articulação e suas superfícies ao seu sítio anatômico normal, vítima e, mais grave, em locais fechados.
mas deve ser lembrado que, apesar disto, as lesões ligamentares Segundo William, essa força, para produzir lesões no homem,
que permitiram a ocorrência da luxação permanecem e devem ser deve ser no mínimo de 3 libras por polegada quadrada.
lembradas e citadas na caracterização da gravidade da lesão para As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos
efeito de pena. órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e
Como exemplos, citamos a luxação de quadril, ombro, joelho consistência. A lesão mais comum é a rotura do tímpano”.
e mandíbula. Nesses casos, será comum a ocorrência repetida da
luxação até que a mesma seja corrigida cirurgicamente. As sublu- 11. Encravamento – “É uma modalidade de ferimento produzi-
xações também podem ocorrer e não representam perda definitiva da pela penetração de um objeto afiado e consistente, em qualquer
das superfícies articulares, mas sim parciais e, consequentemente, parte do corpo”. Quase sempre é acidental.
com menores sequelas funcionais e médico-legais. 12. Empalamento – Forma especial de encravamento. “Carac-
teriza-se pela penetração de um objeto de grande eixo longitudinal,
8. ROTURA VISCERAL – O traumatismo, aqui, atinge as vísceras; na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região
ocorre ruptura dos órgãos internos. As vísceras maciças e mais frá- perianal. As lesões são sempre múltiplas e variadas, sua profun-
geis irão se romper. Ex.: o baço, o fígado. didade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objeto
A ruptura visceral pode ser gerada pela ação de onda de expan- contusivo.”
são gasosa e onda de vácuo (sucção), causadas, sequencialmente, 13. A tropelamento ferroviário – Ocorre a redução do corpo a di-
por explosão (BLAST), ou seja, situações que provoquem grande versos e irregulares fragmentos conhecidos como espostejamento.
pressão no organismo. É importante notar que pode haver roturas “Nos casos de suicídio, em geral se observa a secção transversal
parciais, que aparentemente não provocam alterações na vítima do corpo ao nível do pescoço ou do abdome. Nos acidentes, é mais
até terem decorrido várias horas, quando os sintomas decorrentes comum a secção das pernas. Em ambas as situações, o que chama a
do extravasamento interno de sangue e/ou do conteúdo visceral atenção é a presença acentuada das reações vitais das lesões como
começam a provocar sintomas e sinais no organismo. Logo, nem manchas equimóticas, infiltrados hemorrágicos dos tecidos e placas
sempre uma rotura visceral, de um baço, por exemplo, após um gol- de sangue coagulado.
pe ou trauma direto causado por outro agente, pode se manifestar Nos atropelamentos post mortem para dissimular homicídio,
durante as primeiras 12 horas do mecanismo causador da agressão. nota-se um grande número de lesões sem reação vital e apenas se
veem tais reações nas lesões produzidas dolosamente. Por fim, nas
9. ESMAGAMENTO – Se atinge a maior parte da superfície cor- situações de dissimulação de morte natural, por vezes para adquirir
poral, pode representar uma das lesões mais graves, causadas por vantagens de seguro, observam-se vestes manchadas de sangue e
ação contundente. Consiste na compressão completa e destrutiva todas as lesões sem qualquer manifestação de reação vital”.
do corpo, resultando da forte pressão apenas uma massa amorfa.
Deve-se ressaltar a importância médico-legal e trabalhista das le- 14. Lesões por precipitação – “Pele intacta ou pouco afetada,
sões por esmagamento parcial ou setorizado. Por vezes, o esma- roturas internas e graves das víceras maciças e fraturas ósseas de
gamento do dedo polegar destrói a capacidade que o homem tem características variáveis”.10
de fazer a apreensão de objetos, o que, para alguns, pode significar
toda sua capacidade de trabalho ou lazer. Lesões por armas brancas
Deve–se conhecer a definição de síndrome de esmagamento A “arma branca” mais comummente utilizada é a tradicional
ou de CRUSH. faca de cozinha (Daéid, Cassidy, & McHugh, 2008) (Hainsworth,
É o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam as conse- Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A maioria das
quências deletérias, causadas pela compressão do corpo por lon- mortes, que são atribuídas a facadas, é causada por objectos cuja
go período, liberando produtos tóxicos (mioglobina, ureia etc.), os função principal não é a de uma arma ofensiva (Daéid, Cassidy, &
quais atacarão principalmente os rins e, geralmente, são fatais. É McHugh, 2008).
importante então que, diante de situações de esmagamento de ex-
10 Fonte: www.impetus.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Daí que para caracterizar as lesões corporais infligidas por arma branca, baseamo-nos na definição actual: “todo o objecto ou instru-
mento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante, perfurante, ou corto-contundente…”. Portanto, não podemos assumir
que quando se fala de arma branca, se destina apenas a descrever lesões provocadas por facas.
As armas brancas, assim como outros objectos lançados manualmente, são considerados portadores de baixa energia. Causam lesões
pela sua superfície cortante, pela sua ponta ou por ambas (Calabuig, 2005). No entanto, algumas armas brancas além de causar lesões ao
longo do seu trajecto, podem originar, ocasionalmente, lesões secundárias em redor (Carvalho, 2005).
De acordo com lei e com o mecanismo de acção, as armas brancas podem causar quatro tipos distintos de lesões, que se denominam
respectivamente, feridas incisas, feridas perfurantes, feridas perfuro-incisas e por último feridas corto-contundentes.
Estas armas têm, normalmente, lâminas planas, semelhantes às facas de cozinha, canivetes ou navalhas com comprimento entre os
dez e os treze centímetros (DiMaio & DiMaio, 2001).
Uma faca é composta por duas secções fundamentais: a lâmina (ver a figura 3A) e o punho (ver a figura 3B). São diversas as partes
que as constituem (ver a figura 3).

Figura 3- Partes constituintes de uma faca A - Lâmina B – Punho


Fonte: http://www.armabranca.com/2009/10/16/a-anatomia-da-faca/

LESÕES INCISAS
As lesões incisas, normalmente, não são fatais (DiMaio & DiMaio, 2001). A maior parte das vítimas, dão entrada habitualmente em
serviços de urgência e são tratadas com alguns pontos de sutura, não acarretando grandes cuidados de saúde. Resultam cicatrizes finas e
de aspecto linear (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na terminologia utilizada pelos vários autores, este tipo de lesão por mecanismo de ação cortante, pode ter diferentes denominações,
lesões cortantes ou lesões incisas (DiMaio & DiMaio, 2001).
A utilização do termo lesão incisa, deriva do resultado da incisão verificada numa intervenção cirúrgica (França, 2008) (Jorge & Dantas,
2003). O termo lesão cortante está relacionado com a ação do instrumento utilizado (Martins, 2005). Assim, a lesão resultante de qualquer
instrumento de ação cortante, é denominada incisa (Martins, 2005)(Saukko & Knight, 2004).
A faca é um exemplo clássico de instrumento cortante, que provoca lesões incisas. Co-existem outro tipo de instrumentos que pos-
suem também uma aresta cortante (como um pedaço de vidro, papel ou metal), que são capazes de provocar o mesmo tipo de ferimento
(DiMaio & DiMaio, 2001).
As feridas incisas são, em geral, mais compridas do que profundas (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001)
(Aguiar, 1958). Este facto encontra explicação na ação deslizante do instrumento, na extensão usual do gume, no movimento “em arco”
exercido pelo braço do agressor e nas curvaturas das muitas regiões ou segmentos do corpo. No entanto, a extensão da ferida é quase
sempre menor da que realmente foi produzida, pela elasticidade da pele e pela retração dos tecidos moles lesados. Nas regiões onde esses
tecidos estão mais ou menos fixos, como por exemplo, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, essas dimensões são teoricamente
iguais (França, 2008) (Aguiar, 1958).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A forma linear das feridas incisas deve-se à ação cortante por deslizamento empregue pelo instrumento. Quando o instrumento
atua perpendicularmente à pele, no sentido das fibras musculares, a ferida conserva-se linear, retilínea e com bordos aproximados. Se o
instrumento percorre os tecidos moles num sentido transversal às fibras musculares, a ferida assume uma forma ovalar ou elíptica com
considerável afastamento dos bordos. Possuem as paredes lisas e regulares (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
A regularidade dos bordos das feridas, bem como a regularidade do fundo da lesão são devidas ao gume mais o menos afiado do
instrumento utilizado. Os bordos das feridas são, geralmente retilíneos, pela ação de deslizamento. As feridas podem apresentar-se curvas
ou em “zig-zag” (ver a figura 4A), ou com aspecto interrompido pelo enrugamento momentâneo ou permanente da região atingida (ver a
figura 4B). No entanto, a regularidades dos bordos das feridas é mantida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar,
1958).
A ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida é outra característica díspar. É raro observar-se escoriações, feridas contusas
ou equimoses nos bordos ou à volta da ferida devido à ação rápida e deslizante do instrumento e ainda, pelo fio de gume afiado, que não
permite uma forma de pressão muito intensa sobre os tecidos lesados. Também não se observam pontes de tecido íntegro a unir as ver-
tentes da ferida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958).

Figura 4 - Bordos das feridas incisas sobre pregas cutâneas A - Ferida em “zig-zag” B - Ferida interrompida Fonte: Aguiar, A. (1958).
Medicina Legal: Traumatologia Forense. Lisboa: Empresa Universidade Editora.

Nas feridas incisas, normalmente, a hemorragia é abundante. Quanto mais reduzida for a espessura do instrumento e mais afiado
o gume, maior a profundidade da lesão e a maior riqueza vascular da região atingida, mais abundante será a hemorragia. A hemorragia
deve-se à maior retração dos tecidos superficiais e à fácil secção dos vasos, que, não sofrendo hemostasia traumática, deixam os seus ori-
fícios naturalmente permeáveis. A distância entre os bordos da ferida relaciona-se com a elasticidade e a tonicidade dos tecidos (França,
2008) (Wolfbert, 2003).
A distância é maior onde os tecidos cutâneos são mais tensos pela ação muscular, como no pescoço, e, ao contrário, como na palma
das mãos e na planta dos pés, onde estas tensões não são tão evidentes (França, 2008).
Como a elasticidade e a retração dos tecidos moles são diferentes nos diversos planos corporais, mais acentuados à superfície do que
na fáscia subjacente, as vertentes da ferida são cortadas obliquamente (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
Apresentam perfil de corte de aspecto angular, de abertura para fora, ou seja, bem afastadas da superfície e o seu término em ângulo
agudo, em forma de V quando o instrumento atua de forma perpendicular (ver a figura 5). Quando o instrumento atua em sentido oblíquo,
ou em forma de bisel, não apresenta término em face angular (França, 2008).

Figura 5 - Vertente angular das feridas incisas Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury assesment, documen-
tation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical Forensic Medicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp. 127-158). Totowa: Humana
Press.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Por norma, o instrumento cortante deixa no final da lesão, e apenas na epiderme, uma pequena escoriação, chamada cauda de escoriação. Ao
determinar-se cauda de escoriação, subentende-se que é a parte final da acção que provocou a lesão (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004).
Por outro lado, outros autores, consideram que cauda de escoriação é consequente do contato inicial do instrumento com a epiderme
e pode ocorrer na entrada, na saída ou na entrada e na saída do instrumento (Wolfbert, 2003)(Aguiar, 1958).
Contudo, poderemos estar perante um pleonasmo, visto que caudal é o término, sinónimo de terminal, fim ou saída, e não início da
ação ou entrada. Este elemento tem grande importância na determinação da direção do ferimento, no tipo de crime e na posição do agres-
sor, elementos fundamentais no diagnóstico diferencial entre homicídio, suicídio e acidente (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A profundidade da ferida é mais superficial no início e no fim (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958). O centro da
ferida é mais profunda, dado ao deslizamento do instrumento e direção semicurva reflexa do braço do agressor ou pela curvatura da re-
gião corporal atingida (ver a figura 6). No entanto, esta profundidade raramente é acentuada. O prognóstico desses ferimentos é de pouca
gravidade, a não ser que sejam profundos e venham a atingir grandes vasos, nervos, e até mesmo órgãos (França, 2008).

Figura 6 - Vista lateral e superior de uma lesão incisa


Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Existem algumas exceções relativas as extremidades e profundidade das feridas cortantes, entre elas (Aguiar, 1958):
- Se um instrumento atuar em qualquer direção sobre uma região corporal curva (joelhos, região glútea), a lesão resultante terá as
duas extremidades ou cauda de escoriação, ou seja, dois traços escoriados na superfície da epiderme.
- Se um instrumento atuar perpendicularmente e transversalmente sobre uma região corporal de forma cilíndrica ou semi-cilíndrica
(braço, perna, dedo, dorso pé, dorso da mão, dorso do nariz), a lesão resultante terá as duas extremidades com características de cauda
de escoriação.
- Se o instrumento abordar uma região corporal encurvada na direção oblíqua ou transversa à curvatura percorrendo tecidos moles
até encontrar algo que o detenha (ossos, dentes), a lesão resultante terá as extremidades invertidas, ou seja, a extremidade inicial com
aspecto de cauda e a extremidade final talhada a pique.
- Caso do instrumento atue com violência sobre regiões corporais convexas, percorrendo a pele sobre tecido ósseo, em direção a um
dos seus bordos, até encontrar uma camada de tecidos moles (omoplata). A lesão resultante terá a extremidade inicial com características
de cauda e a extremidade final talhada a pique e profunda, dado a repentina falta de apoio ósseo.
- Se o instrumento atuar com obstinação nos tecidos moles poucos consistentes até atingir uma abertura natural (boca, narina), a
lesão resultante terá a extremidade inicial com aspecto da cauda, e a extremidade final espessa e profunda.
Embora os “cortes” nos tecidos, sejam a forma mais comum deste tipo de lesões, existe um conjunto suis generis de ferimentos, que
está associado a formas mais violentas, com nomenclatura e propriedades específicas:
- Esquartejamento, caracteriza-se pela divisão do corpo em partes (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Espostejamento, despedeçamento, sec-
cionamento ou esquartejamento, os dois primeiros preferíveis a este último que, à letra significa divisão em quatro (Pinto da Costa, 2004).
- Decapitação, quando há separação da cabeça do tronco. Embora, possa também ser oriunda de outros tipos de instrumentos, para
além dos cortantes (França, 2008) (Wolfbert, 2003);
- Esgorjamento é representado pela presença de uma longa ferida transversal na face anterior do pescoço, com significativa profun-
didade, lesando não só os tecidos subcutâneos como também estruturas internas (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Quando a lesão se
encontra na face posterior do pescoço denomina-se, degolamento (Wolfbert, 2003).
- Haraquiri são feridas profundas da parede abdominal, as lesões resultantes deste ritual são as grandes hemorragias, eviscerações e
eventrações (França, 2008)

O diagnóstico das feridas produzidas por ação cortante é relativamente fácil. No entanto, a dificuldade encontrada prende-se com
a distinção dos mais diversos instrumentos, porventura, utilizados (França, 2008) (Lynch, 2006) (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
Distintos instrumentos podem provocar lesões com características semelhantes.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Por exemplo, um corte na pele com sete vírgula seis centímetros de comprimento pode ter sido provocado por uma lâmina de quinze
vírgula seis centímetros, uma lâmina de cinco vírgula um centímetros, uma lâmina de barbear, uma navalha, ou até mesmo por um pedaço
de vidro (DiMaio & DiMaio, 2001).
É também difícil de assegurar a quantidade de força aplicada no instrumento para produzir a lesão, visto que depende diretamente da
configuração e forma afiada do instrumento, bem como da resistência, quando existe, da roupa da vítima (Lynch, 2006).
Contudo, existe alguma relação entre a lesão e o tipo de instrumento utilizado, estado e número de gumes e a maneira de sua aplica-
ção (Aguiar, 1958).
No caso de existir uma série de feridas incisas que se cruzem, é importante conhecer a ordem de entrada do instrumento na pele, a
fim de relacionar com a possível direção do instrumento. Como a segunda lesão foi produzida sobre a primeira, os bordos, já afastados,
cooptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a primeira a ser produzida, a outra não segue um trajeto em linha reta, chamado
Sinal de Chavigny (ver a figura 7) (França, 2008) (Aguiar, 1958).

Figura 7 – Ordem das feridas. Sinal de Chavigny


Fonte: http://www.malthus.com.br

Juridicamente a avaliação das feridas incisas, pode ser um dado de exclusão ou inclusão, num possível crime, daí a sua descrição por-
menorizada ser essencial à investigação forense.

LESÕES PERFURANTES
A força implicada na agressão, capaz de perfurar a pele, depende da configuração e a agudeza da ponta do instrumento. Quanto mais
pontiaguda for a ponta, menos força é necessária aplicar, logo, mais fácil de penetrar na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). Uma vez entrada
a ponta, mais facilmente todo instrumento penetrará na pele e tecidos adjacentes com pouca força aplicada, a não ser que encontre uma
estrutura sólida, como um osso ou dente (DiMaio & DiMaio, 2001).
Pregos, florete, estiletes e furador de gelos são exemplos de instrumentos mais comuns neste tipo de lesões. (Calabuig, 2005)
A dimensão e tipo de instrumento são essenciais para a compreensão das lesões, bem como para a investigação criminal (Saukko &
Knight, 2004). As características das lesões perfurantes devem ser precisas no que respeita à abertura e ao trajecto. A abertura da lesão
não depende apenas da dimensão e forma do instrumento, mas também depende da região anatómica e propriedades da pele atingida
(França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
O orifício de entrada da lesão pode ter várias configurações, de acordo com o tipo de instrumento utilizado e a região anatómica
atingida (Aguiar, 1958).
A superfície de secção tem uma configuração variável consoante a forma do instrumento, e por outro lado, conforme a disposição das
linhas de Langer.
A configuração do ferimento permite presumir a da secção transversal do instrumento perfurante. Devido à elasticidade da pele, os
bordos da lesão tendem a ser mais curvilíneos que os bordos da secção do instrumento (ver a figura 8) (Calabuig, 2005).

Figura 8 – Configurações de lesões por instrumentos perfurantes Adaptado: Calabuig, G. (2005). Medicina Legal e Toxicologia. Barce-
lona, 6ª Edição: Masson.

22
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Se o instrumento perfurante é cilíndrico – cónico ou cónico, LESÕES PERFURO-INCISAS
de ponta aguçada, o orifício produzido é punctiforme, circular ou Estas lesões resultam sempre de um objeto suficientemente
linear; se tem ponta romba, o orifício originado apresenta forma afiado e estreito, capaz de rasgar os tecidos cutâneos (Lynch, 2006).
irregular (Aguiar, 1958). A arma mais comumente utilizada na produção deste tipo de
O orifício de saída, quando existe, é muito parecido ao da en- lesão é também a faca, em virtude da sua forma cortante e ponta
trada, no entanto, tem os bordos invertidos (França, 2008). aguçada (Lynch, 2006) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio,
Quando o instrumento perfurante penetra a pele, a forma das 2001).
lesões assume um aspecto diferente, obedecendo às Leis de Filhos Este tipo de lesão perfuro-incisa é descrito como o mais asso-
e Langer (França, 2008) (Calabuig, 2005) (Wolfbert, 2003): ciado a homicídios (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio
- Primeira Lei de Filhos: As soluções de continuidade dessas & DiMaio, 2001). Considerando que a maioria apenas causa lesões
feridas, quando é retirado o instrumento, assemelham-se às pro- superficiais, atingindo a pele e tecido adiposo, tornam-se muitas
duzidas por instrumentos de dois gumes ou tomam a aparência de vezes fatais quanto penetram estruturas vitais (Saukko & Knight,
“casa botão” ou botoeira; 2004) (Jorge & Dantas, 2003) (Aguiar, 1958).
- Segunda Lei de Filhos: Quando essas feridas se mostram As lesões perfuro-incisas são capazes de refletir mais informa-
numa região onde as linhas de força tenham um só sentido, o seu ção sobre o instrumento casuístico ou arma que a causou, pois ob-
maior eixo tem sempre a mesma direção; jetos redondos, deixam marcas arredondadas, objetos quadrados
- Lei de Langer: Quando um instrumento perfurante lesa um produzem uma lesão quadrada, etc., algo que não se verifica numa
ponto ou uma zona de convergência de diferentes sistemas de fibras lesão incisa (Lynch, 2006).
elásticas com direção divergente, a extremidade da lesão assume o A aparência de uma lesão originada por instrumentos perfuro-
aspecto da ponta de seta, de triângulo ou mesmo de quadrilátero. -cortantes depende da forma (ver a figura 9) e força aplicada, e da
parte do instrumento que é penetrada e/ou que entra em contato
As feridas produzidas por instrumentos perfurantes, de acordo com a pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
com a região atingida, tomam as seguintes direções (França, 2008):
- Pescoço: Linha média: no sentido dos músculos hióides; Face
lateral: no sentido do músculo esternocleidomastoídeo; Face poste-
rior: no sentido do músculo trapézio.
-Tórax: Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo
peitoral maior ou no sentido do músculo serrátil maior; Face poste-
rior: no sentido do músculo romboíde.
- Abdómen: Linha média: no sentido dos músculos retos ab-
dominais; Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo
oblíquo maior; Face posterior: no sentido dos feixes do músculo
transverso.
- Membro superior: Face anterior: Braço - no sentido dos feixes
do músculo bicep braquial. Antebraço - no sentido dos feixes do
pronador redondo e do flexor radial do carpo; Face posterior: Braço
- no sentido dos feixes do deltoíde; no sentido do tríceps braquial.
Antebraço - no sentido dos feixes do músculo extensor dos dedos.
- Membro inferior: Face anterior: Coxa - no sentido dos feixes
do músculo costureiro; no sentido dos feixes do músculo reto da
perna. Perna - no sentido dos feixes do músculo tibial anterior; Face
posterior: Coxa - no sentido dos feixes dos músculos isqui-tibiais.
Perna - no sentido dos feixes do músculo gémeo.
- Região glútea: No sentido dos feixes do músculo grande glúteo.

O trajeto dependerá, no que diz respeito à sua profundidade, Figura 9 - Formas de lesões associadas aos diferentes instru-
do tamanho do instrumento ou da pressão exercida pelo agressor. mentos A – Elíptica B – “Cauda de peixe” C – Oval com contusão
No entanto, não se pode estabelecer o comprimento do meio Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury
perfurante pela profundidade da penetração, uma vez quem de assesment, documentation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical
nem sempre é penetrado em toda a sua extensão e pode variar, Forensic Medicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp. 127-158).
essa profundidade, com a posição da vítima. Por outro lado, a pro- Totowa: Humana Press.
fundidade da penetração pode ser maior que o próprio comprimen-
to do instrumento, quando atinge uma região onde haja depres- A descrição das características da lesão depende da relação
sibilidade dos tecidos superficiais, como no abdómen. Lacassagne existente entre o tipo de arma utilizado, e particularidades da mes-
apelidou estas lesões de “feridas em harmónio” (França, 2008). ma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, parale-
A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina lamente, a profundidade, a direção, a inclinação, os movimentos
Legal centra-se no facto de serem esses instrumentos inoculares dentro dos tecidos, a extração da arma bem como as propriedades
de infecção, pois as feridas produzidas, embora aparentemente pe- da pele nos diferentes locais anatómicos (Saukko & Knight, 2004)
quenas, são profundas. (DiMaio & DiMaio, 2001).
A gravidade destas lesões depende do carácter vital dos órgãos Se o instrumento possui ponta e arestas, as lesões produzidas
e estruturas atingidas ou da eventualidade de infecções superve- diferenciam-se conforme a forma arredondada ou afiada das mes-
nientes. mas. Os instrumentos com arestas afiadas originam feridas em fen-
A sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida e, mais da ou rasgo com bordos ou irradiações de acordo como o número
raramente, de origem acidental ou suicida (França, 2008). de gumes. São tanto mais nítidos, quanto mais afiadas forem estas

23
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
arestas. Se os instrumentos possuem arestas rombas, resultam feri-
das irregulares, acrescidas de pequenas lacerações em redor, com-
patíveis com as arestas (Aguiar, 1958).
O tipo de fio de gume determina a aparência dos bordos das fe-
ridas: linear e recta, esfolada e macerada ou irregular e contundida.
Se o fio de gume é rombo, os bordos da ferida são incertos (DiMaio
& DiMaio, 2001).
Também é possível encontrar junto dos bordos da ferida, con-
tusões ou equimoses modeladas impressas pelo impacto do cabo
da arma na pele (Lynch, 2006) (Hammer, Moynihan, & Pagliaro,
2006) (Wolfbert, 2003). Figura 11 - Configuração da lesão produzida por lâmina com
Se uma lesão é provocada pela superfície plana de uma lâmi- um gume
na obliquamente, a ferida terá uma margem biselada de um lado e Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
arredondada do outro, indicando a direção a partir do qual o instru-
mento entrou (DiMaio & DiMaio, 2001). As lesões causadas por instrumentos de dois gumes apresen-
O orifício de entrada e o aspecto da lesão na pele é determina- tam uma fenda de bordos iguais e ângulos agudos (ver a figura 12)
do não só pela forma da lâmina, mas também pelas propriedades (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958). Os instrumentos
da pele e local anatómico (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958). correlacionados são os punhais e as facas de dois gumes (Aguiar,
Se a pele é penetrada enquanto esticada ou estirada, resulta 1958).
uma lesão comprida e fina, enquanto que, quando os tecidos estão
relaxados a ferida apresenta menores dimensões.
As linhas de Langer influenciam o aspecto da lesão, pois estas
são aproximadamente iguais de indivíduo para indivíduo, o que tor-
na mais fácil estabelecer padrões de lesões.
Se uma lesão é provocada perpendicularmente a estas fibras, o
aspecto é uma fenda mais ou menos larga, pois as fibras elásticas da
pele esticam os bordos da ferida, separando-os (ver a figura 10A).
Se a lâmina penetrar paralelamente às linhas de Langer, a le-
são resultante é uma fenda fina e estreita, com pouco espaço entre
os bordos (ver a figura 10B). A elasticidade dos tecidos não produz
grande deformação no orifício de entrada e, com frequência é pos-
sível presumir a configuração do instrumento.
Figura 12 - Configuração da lesão produzida por lâmina com
dois gumes
Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Os instrumentos de três gumes originam feridas com forma


triangular ou estrelada (ver a figura 13) (França, 2008) (Wolfbert,
2003).

Figura 10 - Características do orifício de entrada em lesões


produzidas pelo mesmo instrumento Adaptado: DiMaio, V. J., &
DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC
Press

As lesões assumem forma de botoeira ou “casa botão”, quando


infligidas por instrumentos de um gume, com uma fenda regular, e Figura 13 - Configuração da lesão produzida por lâmina com
quase linear, com um ângulo agudo (gume) e outro arredondado três gumes
(costas) (França, 2008) (Aguiar, 1958) (Wolfbert, 2003). É caracte- Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
rístico de lesões provocadas por facas, canivetes, navalhas, pedaços
de vidro, etc. (ver a figura 11) (Aguiar, 1958). Por vezes, há deformação do orifício de entrada, face à movi-
mentação da mão que manipula o instrumento ou movimento da
própria vítima, quer alargando a lesão quando há inclinação na saí-
da (ver a figura 14A), quer mudando a forma, quando há rotação
depois de introduzida no corpo (ver a figura 14B) (França, 2008)
(Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001).

24
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Outra possível configuração de uma lesão, causada por um
instrumento perfuro-cortante, que pode assemelhar-se à forma de
uma lágrima (ver a figura 17). Este formato deve-se à introdução
total da lâmina até ao ricasso, pequeno espaço entre o fim do fio de
gume e a guarda da faca, zona esta não cortante, daí o formato dos
bordos não ser angulado (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 14 - Modificações da lesão pelo movimento da mão A -


alargamento por inclinação B - rotação da mão
Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
Figura 17 - Lesão em formato de lágrima A –Zona mais su-
Deste modo, devido ao movimento nestas lesões, o compri- perficial (Ricasso) B – Zona mais profunda da lesão originada pelo
mento da ferida pode ser igual, superior ou inferior à largura da gume Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Patho-
lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001). logy. Nova York - 2 Edição: CRC Press
Esta movimentação do instrumento ou da vítima, produz lesões
em forma de L ou Y, chamadas também de ferimentos em “cauda Se uma faca é introduzida numa região corporal com muita vio-
de andorinha” (ver a figura 15). O aspecto destas lesões deve-se ao lência, a sua guarda pode ficar “tatuada” na pele, uma vez que não
facto do agressor cravar a lâmina numa direção e, ao retirá-la (pos- é penetrada (DiMaio & DiMaio, 2001).
sivelmente para desferir outro golpe), o fazer noutra direção ou por, Se o instrumento é cravado num movimento descendente a mar-
entretanto, a vítima se ter movido. ca da guarda é visível na região superior (ver a figura 18A) e viceversa
(ver a figura 18B). A marca da guarda é simétrica se o instrumento é
introduzido em linha reta na pele. (ver a figura 18C). Assim sendo, por
vezes os bordos são redondos ou contundidos, pela entrada da lâmina
até a guarda, eliminando angulações deixadas pelo fio de gume.

Figura 15 - Lesão característica em “cauda de andorinha”


Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology.
Nova York - 2 Edição: CRC Press

Uma primeira lesão é causada pela penetração da lâmina, e uma


segunda pelo movimento da vítima ou de retirada do instrumento. Uma
variação desta lesão é observada na extremidade da lesão, quando o ins-
trumento é apenas ligeiramente rodado, ou o movimento da vítima é dis- Figura 18 – Tipo de “tatuagens” da guarda da faca A- Sentido
creto, ganhando a forma de um V invertido ou bifurcado (ver a figura 16). descendente B- Sentido ascendente C- Sentido recto D- Sentido
esquerda direita e obliquo Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D.
(2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Se a direção for oblíqua, a tatuagem é mais evidente na mar-


gem da lesão compatível com o sentido da penetração, (ver a figura
18D), inclinação de baixo para cima e da esquerda para a direita.
Se o instrumento possui ponta com um ou dois gumes, o orifí-
cio de entrada vai variar nas suas dimensões de acordo com: estado
do gume, grau de inclinação do instrumento, mudança de posição
do instrumento ao ser extraído do corpo, movimentos do instru-
mento dentro corpo e características dos tecidos na área corporal
infligida (Aguiar, 1958). Assim:
- Se o instrumento possui gumes afiados e atuar perpendicular-
mente à região corporal, as dimensões do orifício de entrada cor-
respondem, sensivelmente, à largura do instrumento.
- Se por outro lado, o instrumento possui gumes rombos e
Figura 16 - Lesão em forma de V invertido ou bifurcado Adap- atuar perpendicularmente, as dimensões do orifício de entrada são
tado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova menores do que a sua penetração, relacionado com a elasticidade
York - 2 Edição: CRC Press dos tecidos.

25
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Se o instrumento atuar em direção oblíqua à epiderme, as Durante a retirada do instrumento as fibras elásticas e muscula-
dimensões da ferida serão superiores às do instrumento em cau- res dos órgãos sólidos atingidos, ou o tecido elástico da pele podem
sa, e tanto maiores quanto mais tangenciais for a penetração e a contrair-se de encontro à lâmina e limpar os vestígios de sangue
amplitude dos movimentos no momento da saída. Após o crivar do presentes na mesma. A roupa pode também eliminar vestígios de
instrumento nos tecidos, a ferida adquirirá maiores dimensões, se o sangue do instrumento no momento da retirada. Se a lâmina não
mesmo for manipulado no interior dos tecidos, ou em movimentos tem sangue, é necessário verificar se existe no cabo, ou local onde
de luta, defesa ou fuga da vítima. o agressor segurou a arma. Analisar o instrumento na totalidade é
A determinação da largura da lâmina do instrumento perfu- vital, pois pode conter algum vestígio biológico passível de ser reco-
ro-cortante, a partir da dimensão da lesão em fenda só é possível lhido ADN, para análise (DiMaio & DiMaio, 2001).
quando se tem noção do tipo de instrumento utilizado. No caso de São raras as situações em que a arma fica retida no corpo, para
instrumentos perfuro-cortantes com uma lâmina de feitio trian- a remover o dedo polegar e o dedo indicador devem agarrar os la-
gular, as dimensões do ferimento dependem da profundidade do dos do cabo imediatamente adjacentes à pele. Isto permite evitar
canal de penetração (ver a figura 19B). Noutros casos, a largura da que o profissional de saúde toque ou manipule local que esteve em
lâmina é mais ou menos uniforme pelo que as dimensões do feri- contato com a mão do agressor, onde poderão estar as impressões
mento refletem, com aproximação, as da lâmina qualquer que seja digitais do mesmo (DiMaio & DiMaio, 2001).
o seu grau de penetração (ver a figura 19A) (Calabuig, 2005). Quanto à profundidade atingida pode ser igual, superior ou
inferior ao comprimento da lâmina do instrumento (DiMaio &
DiMaio, 2001).
Se a lâmina do instrumento não for introduzida na sua totali-
dade, a profundidade da lesão será, assim, menor que o seu com-
primento. Quando atinge uma região corporal em que a superfície
é depressível (como a parede de abdomen) a lâmina produz uma
lesão mais profunda do que o seu próprio comprimento (ver a figu-
ra 20) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 19 - Diferentes tipos de lâmina A- Lâmina de forma


uniforme em todo o comprimento e largura B- Lâmina de forma
triangular Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic
Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Com a lâmina A (figura 19A), independentemente da profun-


didade a largura da lesão é no mínimo do tamanho da lâmina. As
dimensões da lesão dependem da profundidade com que a lâmina
B (figura 19B) penetra nos tecidos.
Na maioria dos casos, através da observação da lesão, o sumo
de informação possível de deduzir é a largura máxima da lâmina,
uma estimativa do comprimento da lâmina e se possui apenas um
único gume. Ao proceder à medição das dimensões da lesão con-
vém aproximar o mais possível os bordos da ferida, no caso de uma
lesão perpendicular ou oblíqua as linhas de Langer, para se tentar
corrigir as deformações introduzidas pela tensão elástica dos teci-
dos (DiMaio & DiMaio, 2001).
Nunca se pode vincular um determinado instrumento a uma Figura 20 - Superfície do corpo depressível (parede de abdó-
lesão, a menos que o instrumento tenha ficado retido no corpo ou men). A lâmina produz uma lesão mais profunda do que o seu
pequenos fragmentos soltos pertencentes ao instrumento. Por ou- próprio comprimento.
tro lado, se o instrumento é identificado, por comparação é possível Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
associar o instrumento à lesão causada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na maioria dos casos quando se questiona se determinada Portanto, a maior ou menor penetração do instrumento, assim
arma foi a que produziu um ferimento específico, pode-se apenas como a sua maior ou menor gravidade, dependem não só das ca-
referir que pode ter sido. Aferir com certeza que a lâmina do crime racterísticas dos instrumentos e da força imprimida, mas também
era de serrilha ou dentada é raro (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio da região corporal afetada (França, 2008) (Jorge & Dantas, 2003)
& DiMaio, 2001). (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
Todos os instrumentos presumíveis de terem causado um cri- A distância mínima entre a pele e os diferentes órgãos internos
me, devem ser analisados quanto à presença de sangue ou tecidos. foi determinada por Connor et al. (Connor et al. citado por DiMaio
Qualquer vestígio de sangue ou tecido, presente no instrumento, & DiMaio, 2001) (ver a tabela 1). No entanto, estas distâncias esti-
pode ser extraído o ADN, para possível identificação da vítima e/ou madas podem ser menores dependendo da força da compressão na
do agressor (DiMaio & DiMaio, 2001). pele e no tecido subcutâneo pelo impulso do instrumento (DiMaio
É possível que o instrumento não tenha vestígios de sangue a & DiMaio, 2001).
nível microscópico mesmo após a sua utilização (DiMaio & DiMaio,
2001). Na perfuração de órgãos sólidos, a hemorragia ocorre ape-
nas quando o instrumento é retirado, porque a sua pressão in situ,
previne-a (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).

26
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

A determinação da força necessária para perfurar os tecidos é muito subjetiva e difícil de ser quantificada (Hainsworth, Delaney, &
Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A única forma de mensurar a força é baseada no conhecimento de senso comum como: “força ligei-
ra”, “força moderada”, “força considerável” e em alguns casos “força extrema” (Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (Payne-James, Crane,
& Hinchliffe, 2005) (Saukko & Knight, 2004).
Esta última classificação fica reservada para situações em que o instrumento colide com um osso e fica empalado, quando penetra o
crânio ou quando o instrumento deixa contusões ou equimoses modeladas impressas pelo impacto da sua extremidade na pele (Saukko
& Knight, 2004).

Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição da força máxima necessária para a penetração do instrumento na pele,
no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões generalistas (Saukko & Knight, 2004):
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais resistente à penetração, seguida pelos músculos.
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é de,
relativamente, de menor importância.
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, particularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento é
firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido projetado.
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a
pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, torna-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos estão
esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana de um “tambor”.
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plantas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos ins-
trumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, ou de
uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a dos homens ou jovens.
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondulações e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconteça.
Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer força
adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem. Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumento até
ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcance regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força exercida. É
incorreto afirmar que para causar uma lesão profunda é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências mostram que após
a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo impossível, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda, devido a ruptura re-
pentina dos tecidos.
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não é ne-
cessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se a ponta
é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura enquanto o próprio corpo se espeta sozinho.
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de meia-idade.
Contudo é necessária mais força do que se de um espaço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resistentes, mas um violento golpe
de uma rígida e afiada lâmina pode facilmente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos tensos como o miocárdio, fígado e rim
são facilmente trespassados por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que a da pele e da cartilagem.

Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rutty,
2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e correlação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, é possível
indicar em termos comparativos a força necessária para infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o tipo e
espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pouco esforço
para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instrumento de lâmina não afiada, romba e de um gume.
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de maior
força para serem penetrados do que os tecidos moles, como o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam a quantificar
a força que foi necessária para os lesar. Num estudo realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária para penetrar uma

27
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
lâmina de dez centímetros de profundidade, em diferentes tecidos que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se
e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan et al. citado por a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura
DiMaio & DiMaio, 2001). enquanto o próprio corpo se espeta sozinho.
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na - Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal,
pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de
(quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir- meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um es-
gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito paço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resisten-
quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen- tes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode fa-
ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso- cilmente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos
lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula tensos como o miocárdio, fígado e rim são facilmente trespassados
cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que
vinte e dois quilogramas (dois newton). a da pele e da cartilagem.
- A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma lâ-
mina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão com Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo
dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de muita agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rutty,
força. 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e corre-
- A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto lação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, é pos-
de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem sível indicar em termos comparativos a força necessária para infligir
mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa, um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força - Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte
aplicada pela indumentária. afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o
tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta
Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pou-
da força máxima necessária para a penetração do instrumento na co esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instru-
pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões mento de lâmina não afiada, romba e de um gume.
generalistas (Saukko & Knight, 2004): - Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de
resistente à penetração, seguida pelos músculos. maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam
do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo
de, relativamente, de menor importância. realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, parti- para penetrar uma lâmina de dez centímetros de profundidade, em
cularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan
é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001).
penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido proje-
tado. Determinou-se que a força média necessária para penetrar na
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas
do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a (quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir-
pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, tor- gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito
na-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen-
estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso-
de um “tambor”. lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plan- cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula
tas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos vinte e dois quilogramas (dois newton).
instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando - A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma lâ-
comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, mina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão com
ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de muita
dos homens ou jovens. força.
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondula- - A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto
ções e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconte- de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem
ça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa,
pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força
força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem. aplicada pela indumentária.
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumen-
to até ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcance CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS POR OUTROS OB-
regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força exer- JETOS
cida. É incorreto afirmar que para causar uma lesão profunda é ne- Quando o instrumento utilizado para causar lesão não é a arma
cessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências mostram branca típica, uma faca, a ferida pode ter uma aparência particular de-
que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo impossí- vido à natureza incomum da arma. São diversos os instrumentos utili-
vel, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda, devido zados como arma, desde picadores de gelo, garfos, chaves de fenda,
a ruptura repentina dos tecidos. tesouras, dardos, flechas, entre outros (DiMaio & DiMaio, 2001).
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por As características gerais das lesões originadas por facas apli-
exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não cam-se igualmente a outros objetos cortantes. Ambos atuam por
é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar corte e perfuração.

28
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Lâminas de barbear e pedaços de vidro partido têm bordos Mais característico é a lesão produzida quando as duas lâminas
extremamente afiados de modo que, quando aplicados tangencial- da tesoura estão fechadas e penetram a pele. Uma tesoura com
mente à pele ou num pequeno ângulo, o resultado pode ser uma lâminas longas e estreitas, e que as mesmas se fecham quase com-
lesão exuberante (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001). pletamente uma na outra, o aspecto da ferida é compatível com
Embora estas armas casuais sejam normalmente utilizadas uma faca espessa (Saukko & Knight, 2004). Assumem uma forma
para cortar, longos pedaços de vidro podem ser, por vezes inadver- oval com margens escoriadas (Calabuig, 2005) (ver a figura 9C).
tidamente, agentes de perfuração. O longo pedaço pode partir e No entanto algumas tesouras, têm as lâminas de aço rebita-
permanecer numa ferida profunda, que pode ser ignorada se a en- das a um suporte contínuo com os punhos. Isso pode produzir uma
trada é pequena (Saukko & Knight, 2004). marca que pode alterar o padrão normal, provocando bordos irre-
As feridas infligidas por garrafas partidas tendem a ter como gulares (Saukko & Knight, 2004).
características um aglomerado de lesões de diferentes tamanhos, Quando a tesoura tem os ramos abertos é comum observar-se
formas e profundidades. Apresentam gumes afiados, mas ásperos duas pequenas feridas de forma linear e que se colocam em forma
e provocam diferenças na profundidade de penetração na pele. A de V completo ou incompleto, podendo inclusive mostrar nas extre-
maioria das feridas fatais, provocadas por garrafas partidas tem in- midades proximais, que correspondem ao lado cortante da tesoura,
tenção homicida, ocasionalmente suicídio, e, raramente acidental uma pequena cauda de escoriação (Calabuig, 2005).
(DiMaio & DiMaio, 2001). Algumas tesouras têm uma dupla ponta afiada, mas a maio-
Feridas provocadas com picador de gelo são pouco encontra- ria das tesouras domésticas, de alfaiate ou tesoura de costura são
das atualmente, visto já não ser um objeto comum. Os picadores bastante rombas, quando fechadas, logo, é necessário uma força
de gelo produzem uma lesão pequena e redonda, ou em fenda que considerável para a fazer atravessar a pele. São prova contra o argu-
pode ser facilmente confundida com estilhaços ou balas de calibre mento de defesa acidental e a favor da utilização como arma (Sau-
vinte e dois. Uma única ferida provocada pelo picador pode ser kko & Knight, 2004).
perdida num exame superficial do corpo, especialmente se houver Às vezes, há pequenas separações laterais, no centro da ferida
pouca ou ausência de hemorragia externa (DiMaio & DiMaio, 2001). projetando a dobradiça ou parafuso no centro da tesoura (Saukko &
Se a vítima é ferida com um garfo de churrasco, grupos de duas Knight, 2004). Isto é, se o parafuso que une as duas lâminas é proe-
ou três lesões, dependendo do número de dentes do mesmo, sur-
minente, pode produzir uma laceração angular na parte média de
gem na pele. Cada uma destas lesões está igualmente espaçada de
uma das margens da pele. Se as duas lâminas estão separadas, duas
acordo com o espaço existente entre os dentes do garfo (DiMaio &
lesões serão produzidas, uma por cada lâmina (DiMaio & DiMaio,
DiMaio, 2001).
2001).
A perfuração da pele com um garfo de cozinha geralmente não
Existem também outras referências de lesões fatais, infligidas
é possível. O que se constata é um padrão de três ou quatro, de-
por canetas, lápis e tacos de bilhar partidos, com configurações
pendendo do número de dentes, abrasões ou feridas penetrantes
pouco padronizadas (DiMaio & DiMaio, 2001). Todos estes instru-
superficialmente na pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
mentos acima descritos, com exceção das flechas e dos virotões,
Lesões provocadas por chaves de fendas podem mostrar con-
figurações muito particulares, por exemplo se a arma é uma chave não são consideradas legalmente armas brancas. Não estão expres-
estrela. Em tais casos, a ponta em forma de X causa uma ferida cir- sos na letra da lei como tal.11
cular com quatro cortes espaçados e uma margem de abrasão. A
chave de fendas tradicional, de apenas um raio, produz uma fenda, Lesões por projéteis de fogo
como uma arma branca, com extremidades quadradas e com mar- O ferimento por arma de fogo, também conhecido como trau-
gens escoriadas. Assim, não se pode ter certeza absoluta se esta ma balístico, é uma forma de trauma físico ocasionado por projéteis
ferida foi produzida por uma chave de fenda ou se por uma faca disparados por armas de fogo. Os traumas balísticos mais comuns
com uma lâmina estreita e romba, introduzida até a guarda (DiMaio derivam de armas usadas em conflitos armados, esportes civis,
& DiMaio, 2001). atividades recreativas e atividades criminosas. Os ferimentos por
As feridas causadas por espadas e lanças são praticamente armas de fogo podem, pois, ser intencionais ou não intencionais.
desconhecidas. Existem algumas descrições apenas de lesão por
espada e ocasionalmente, a referência de mortes causadas por fle- Qual é o mecanismo fisiológico dos ferimentos por armas de
chas ou virotões. A aparência da ferida depende da ponta da flecha. fogo?
Flechas de tiro ao alvo, têm a ponta com terminação cónica. Eles Quando a bala atravessa os tecidos, inicialmente esmagando-
produzem feridas em que a entrada na pele tem aparência seme- -os e depois dilacerando-os, o espaço deixado forma uma cavidade.
lhante a ferimentos de bala. As flechas de caça têm entre dois a Balas de alta velocidade criam uma onda de pressão que força os
cinco gumes cortantes (quatro ou cinco são os mais comuns). As tecidos para longe, criando uma cavidade temporária ou cavidade
feridas produzidas são cruzadas ou em forma de X com os quatro secundária, que muitas vezes é maior que a própria bala.
gumes. Os bordos da ferida são incisos, sem qualquer escoriação O grau de rompimento dos tecidos causado por um projétil
(DiMaio & DiMaio, 2001). está relacionado à cavitação que o projétil cria ao passar pelos te-
Lesões por tesouras são triviais, são um objeto comum e de cidos. Uma bala com energia suficiente terá um efeito de cavitação
fácil acesso (Saukko & Knight, 2004). As características das lesões maior que a lesão penetrante. A cavidade temporária é dada pelo
realizadas com tesouras, diferem consoante a forma da tesoura e alongamento radial do dano ao tecido em redor da ferida da bala,
dependem se a tesoura estava aberta ou fechada no momento da que momentaneamente deixa um espaço vazio causado por altas
invasão na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). pressões em torno do projétil.
Se está fechada, a ponta da tesoura rasga a pele em vez de a A velocidade da bala é o determinante mais importante da le-
cortar, produzindo uma lesão linear ou ovalar, mas com margens são tecidual, embora a massa do projétil também contribua para a
escoriadas. Se estiver aberta e apenas uma lâmina espetar os teci- energia total que danifica os tecidos. A velocidade inicial de uma
dos da vítima, então as lesões são praticamente idênticas às de uma bala é amplamente dependente do tipo da arma de fogo. As balas
ferida provocada por uma faca (Calabuig, 2005). geralmente viajam em uma linha relativamente reta ou fazem uma
11 Fonte: www.repositorio-aberto.up.pt

29
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
volta se um osso for atingido. Mais comumente, as balas não se No abdômen estão o estômago, o intestino delgado, o cólon, o
fragmentam, mas os danos secundários causados por fragmentos fígado, o baço, o pâncreas, os rins, a coluna vertebral, o diafragma,
de osso quebrado são uma complicação comum. a aorta descendente e outros vasos e nervos abdominais. Os tiros
no abdômen podem, pois, causar sangramento grave, liberação do
Quais são as principais características dos ferimentos por ar- conteúdo intestinal, peritonite, ruptura de órgãos, comprometi-
mas de fogo? mento respiratório e déficits neurológicos. A avaliação inicial mais
Os danos ocasionados por projéteis disparados por armas de importante de uma ferida a bala no abdômen é se há sangramento
fogo dependem da potência da arma, das características da bala, da descontrolado, inflamação do peritônio ou derrame de conteúdo
sua velocidade, do ponto de entrada no corpo e das estruturas atin- intestinal. A ultrassonografia ajuda a identificar sangramento intra-
gidas por ele. As feridas de bala podem ser devastadoras, porque a -abdominal e radiografias podem ajudar a determinar a trajetória e
trajetória e a fragmentação das balas podem ser imprevisíveis após a fragmentação da bala. No entanto, o modo preferido de geração
a entrada. Além disso, ferimentos por arma de fogo envolvem um de imagens é a tomografia computadorizada.
grande grau de destruição do tecido nas proximidades, devido aos Os quatro principais componentes das extremidades são os-
efeitos físicos do projétil. sos, vasos, nervos e tecidos moles. As feridas de bala podem, assim,
O efeito prejudicial imediato de uma bala é tipicamente uma causar sangramentos graves, fraturas, déficits nervosos e danos aos
hemorragia grave e com ela o risco potencial de choque hipovolê- tecidos moles. Dependendo da extensão da lesão, o tratamento
mico. Isso é tanto mais verdadeiro quando o projétil rompe algum pode variar desde o cuidado superficial da ferida até a amputação
vaso sanguíneo de grande calibre. Efeitos devastadores e às vezes do membro.
letais podem ocorrer quando uma bala atinge um órgão vital, como Pessoas com sinais graves de lesão vascular também requerem
o coração, os pulmões ou o fígado, ou danifica um componente do intervenção cirúrgica imediata, no entanto, nem todas as pessoas
sistema nervoso central, como a medula espinhal ou o cérebro. feridas por tiros no peito exigem cirurgia. Para pessoas sem sinais
Causas comuns de morte após ferimento por arma de fogo in- graves de lesão vascular, deve-se comparar a pressão arterial no
cluem hemorragia, hipóxia causada por pneumotórax, lesão catas- membro lesionado à do membro não lesionado, a fim de avaliar
trófica no coração e vasos sanguíneos maiores e danos no cérebro melhor a possível lesão vascular. Se os sinais clínicos forem sugesti-
ou em outras partes do sistema nervoso central. Ferimentos por vos de lesão vascular, a pessoa pode ser submetida à cirurgia. Além
arma de fogo, quando não são fatais, frequentemente deixam se- do manejo vascular, as pessoas devem ser avaliadas quanto a lesões
quelas severas e duradouras e, por vezes, incapacitantes. nos ossos, tecidos moles e nervos.
As lesões por projéteis de alta energia têm se tornado mais fre-
Como o médico trata os ferimentos por armas de fogo? quentes ultimamente, em função do aumento da violência urbana
O manejo pode variar conforme o caso, desde observação e associado ao contrabando de armas de guerra para traficantes e
tratamento de feridas locais até intervenção cirúrgica urgente. As mafiosos. Isto leva à necessidade de cirurgiões e médicos-legistas
atenções iniciais para uma ferida por arma de fogo são as mesmas conhecerem os mecanismos e as lesões causadas por estes agentes
que para qualquer outro caso de traumatismo agudo. lesivos. As lesões de entrada, os trajetos e as saídas são estudados
Para assegurar que as funções vitais estejam intactas, deve-se com base na experiência pessoal do autor e em revisão de literatu-
avaliar e proteger as vias aéreas e a coluna cervical, manter venti- ra. A variação da forma das entradas de acordo com a velocidade e
lação e oxigenação adequadas, avaliar e controlar o sangramento a forma dos projéteis é interpretada sob a luz dos princípios físicos
para manter a perfusão orgânica, realizar exame neurológico bá-
da balística terminal. As cavidades permanente e temporária são
sico, expor todo o corpo e procurar por outras lesões, pontos de
estudadas quanto ao seu mecanismo de formação, sua forma, volu-
entrada e pontos de saída e manter a temperatura corporal.
me e posição ao longo do trajeto.
O conhecimento do tipo de arma, número de disparos, direção
Projéteis de alta velocidade têm energia suficiente para atra-
e distância do tiro, perda de sangue e avaliação dos sinais vitais po-
vessar o crânio e sair (lesão dita perfurante). O calor e a aceleração
dem ser úteis para direcionar o gerenciamento.
radial produzidos pela bala são maiores. O aumento instantâneo da
pressão intracraniana pode ser da ordem de 40 atmosferas, o que
Os efeitos dos ferimentos por arma de fogo dependem da
região atingida. Um ferimento de bala no pescoço pode ser parti- chega a provocar fraturas no teto das órbitas e contusões distantes,
cularmente perigoso devido ao grande número de estruturas ana- como nas amígdalas cerebelares.12
tômicas vitais existentes (laringe, traqueia, faringe, esôfago, vasos
sanguíneos importantes, tireoide, medula espinhal, nervos crania- ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA
nos, nervos periféricos, cadeia simpática e plexo braquial). O local de crime constitui-se em uma diligência das mais im-
Tiros no tórax podem causar sangramento grave, comprome- portantes na Criminalística moderna. Preservá-lo significa garantir
timento respiratório, hemotórax, contusão pulmonar, lesão tra- a sua integridade para a colheita de vestígios que esclarecerão ou
queobrônquica, lesão cardíaca, lesão7 esofágica e lesão do sistema auxiliarão no esclarecimento da mecânica dos fatos. É, pois, a con-
nervoso. Isso porque a anatomia do tórax inclui a parede torácica, tribuição concreta e decisória no esclarecimento da causa jurídica
costelas, coluna vertebral, medula espinhal, feixes nervosos inter- da morte.
costais, pulmões, brônquios, coração, aorta, grandes vasos, esôfa- Assim, entende-se por local de crime a região do espaço em
go, ducto torácico e diafragma. que o mesmo ocorreu, bem como toda uma porção do espaço com-
As atenções iniciais são particularmente importantes, devi- preendida em um raio que, tendo por origem o ponto no qual é
do ao alto risco de lesões diretas nos pulmões, no coração e nos constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares
grandes vasos. O primeiro exame deve ser uma radiografia de tó- em que se presume que hajam sido praticados, pelo criminoso, ou
rax. Adicionalmente podem ser feitas ultrassonografia, tomografia criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à consu-
computadorizada de tórax, ecocardiograma, angiografia, esofagos- mação do delito, e que com esses tenha relação direta.
copia, esofagografia e broncoscopia. Pessoas assintomáticas com O local de crime pode ser subdividido entre corpo de delito e
radiografia normal de tórax podem ser observadas com repetição os vestígios. Do ponto de vista da perícia técnica atual, corpo de de-
de exames clínicos e de imagem a cada 6 horas, para garantir que lito se trata de qualquer ente material relacionado a um crime, no
não haja desenvolvimento de pneumotórax ou hemotórax.
12 Fonte: www.abc.med.br/www.anatpat.unicamp.br

30
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
qual se possa fazer um exame pericial. É, pois, o elemento principal local, seja ela socorrista, segurança ou brigadista, deverá providen-
de um local de crime, em torno do qual estão os vestígios e para o ciar que o mesmo não se altere até a chegada dos peritos. Assim
qual convergem as evidências, de modo que, se retirado do local da preceitua o art. 169 do Código de Processo Penal (CPP).
morte, descaracterizaria por completo a ocorrência, tornando-a, via Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra-
de regra, inexistente. ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para
Já os vestígios constituem-se em qualquer marca, objeto ou que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que
sinal que possa ter relação com o fato investigado. A existência poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esque-
do vestígio pressupõe a existência de um agente provocador (que mas elucidativos. (CPP)
o causou ou contribuiu para tanto), bem como do local em que o Não obstante cada local de crime obter suas peculiaridades,
vestígio se materializou. Aquele vestígio que, após analisado pelo qualquer ambiente pode ser local de ato criminoso. O local do cri-
perito, apresenta relação direta com o fato investigado, trata-se da me constitui-se frágil e delicado sendo, portanto necessário extre-
evidência. mo cuidado para que provas não se percam.
O termo “indício” está explícito no artigo 239 do Código de Cada local de crime é único e exige do perito criminal uma sé-
Processo Penal: “Considera-se indício a circunstância conhecida e rie de cuidados no planejamento e na organização de suas funções
provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con- visando alcançar a verdade dos fatos. Durante o transcorrer do exa-
cluir-se a existência de outra ou outras circunstância.” Embora o me pericial, os requisitos podem mudar à medida que novos ele-
conceito seja semelhante, não se confunde com o termo “evidên- mentos sejam reconhecidos, e o perito criminal terá que se adaptar
cias”, por ser aquele definido na fase processual, além de carregar ao novo cenário. (BRANDÃO, Humberto. 2012)
consigo elementos não só materiais, mas também outros de natu- Quatro são os critérios que classificam o local do crime. Tais
reza subjetiva. critérios fazem referência à localização, à área, à natureza e os ves-
O exame dos objetos e das vestes do morto, bem como o pró- tígios existentes no local do ato ilícito. O primeiro critério é de sim-
prio exame do cadáver e pesquisas em laboratório, são hoje tarefas ples identificação, a localização refere-se apenas a identificação do
da Perícia Criminal, uma vez que se entende não incluir nesse tipo perímetro do local do crime, ou seja, se a área é urbana ou rural.
de atividade pericial apenas o exame do óbito externo do cadáver, Já o segundo critério diz respeito à área: se o ato criminoso
mas tudo que é encontrado em suas imediações ou que se relacio- ocorreu em local interno ou externo, ou seja, se o ato criminoso
nem ao fato. ocorreu dentro de um ambiente físico fechado (residências, lojas)
Destarte, hodiernamente, a presença do médico legista no ou em local aberto (rua, praça).
local de crime não tem mais grande relevância, uma vez que tais Os locais internos e externos se subdividem em ambiente me-
atividades podem ser perfeitamente executadas pelos técnicos em diato ou imediato. Este se compreende como o espaço ocupado
Criminalística. Nesses casos, a atuação indispensável do médico le- pelo corpo de delito e o seu entorno e aquele se refere à área adja-
gista se dá no necrotério, no estudo das lesões violentas provenien- cente ao local imediato.
tes de diferentes formas de energias, a fim de sondar e investigar a Quando se estuda o critério da natureza do local do ato cri-
natureza de tais lesões. minoso, foca-se em duas questões que se pautam na natureza da
França (2014) menciona que, sendo a Criminalística moderna área e na natureza do ato, sendo elas respectivamente: onde o ato
uma ciência bem definida, exercida por profissionais de alto nível ocorreu e o que ocorreu?
que contam inclusive com conhecimentos de Medicina Legal em Por fim, o critério do local do crime onde os vestígios podem ser
seu currículo, podem esses realizar seus trabalhos sem a interferên- encontrados são classificados como idôneos, inidôneos ou relaciona-
cia de outros profissionais. Ademais, esta interferência, quando se dos. Este é compreendido como qualquer lugar sem ligação geográfica
dá, pode não ajudar. Isso por que ainda que o médico legista possa direta com o local do crime, mas que, no entanto possa conter alguma
auxiliar na natureza jurídica da lesão ou da morte, em sua formação informação que se relacione ou auxilie no exame pericial.
médico-científica não há nenhuma noção de criminalística e, tendo O local do crime idôneo são aqueles locais que não foram vio-
seus laudos conflitados com os dos peritos criminais, pode acabar lados se mantendo preservados. Ao contrário os inidôneos se refe-
por contribuir para o trabalho da defesa. rem aqueles que foram violados perdendo a sua integridade.
Quando da ocorrência de um crime, a polícia militar ou outra Conforme estabelecido no artigo 158 do Código de Processo
autoridade competente, como primeiro a chegar, na condição de Penal (CPP), quando a infração deixar vestígios, a perícia será ne-
representante do Estado, tem o dever de zelar para que os proce- cessária e indispensável mesmo quando houver a confissão do acu-
dimentos implementados no local obedeça aos parâmetros legais. sado. In verbis:
A perícia no local de crime trata-se de uma diligência processual Art. 158 Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
penal veiculada em um instrumento chamado laudo do local, uma o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo
das colunas sobre as quais se apoiará no diagnóstico delimitador da a confissão do acusado.
causa jurídica da morte. Por isso, deve haver no local uma preser- Assim, quando a análise preliminar demonstrar a existência de
vação rigorosa, a fim de resguardar todas as evidências, evitando vestígios ou evidências que possam elucidar os eventos do crime e
ao máximo alterações produzidas por curiosos ou profissionais des- justifiquem a necessidade da perícia, esta deve ser acionada para
preparados. Ressalta-se, ainda, o cuidado e respeito à legalidade que o processamento do local do crime seja feito de forma ade-
dos procedimentos de inquérito e processuais, posto que as provas quada.
devem ser obtidas de modo lícito, conforme aduz Greco (2013). No entendimento de como deve ser realizada a perícia, subdi-
Dessa forma, percebe-se a relevância dos procedimentos de vide-se o trabalho da polícia e do perito propriamente dito. Ambos
isolamento e preservação do local de crime, para a ocorrência de
possuem acesso ao local a ser analisado e funções e atribuições dis-
um trabalho pericial que proporcione a máxima exatidão no que
tintas de como proceder.
concerne a análise dos vestígios.
A entrada da autoridade policial no local do crime deve ocorrer
pela parte mais acessível, sendo feita, se possível, uma trajetória re-
Local do crime e o trabalho dos policiais e peritos
tilínea única entre o corpo de delito e a entrada do local. É essencial
Para que ocorra uma elucidação eficaz na ocorrência de um
que toda a movimentação do policial seja meticulosa e cautelosa, a
crime, necessário se faz a realização da perícia no local da pratica
fim de não comprometer o trabalho dos peritos.
do ato criminoso. Para tanto, a autoridade que primeiro chegar ao

31
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A cautela dos policiais ao adentrarem o local só pode ser inob- to que cabe ao laudo pericial a função de informar, esclarecer, de-
servada em caso de socorro da vítima, para o real conhecimento do monstrar e convencer, através de seu conteúdo lógico, quem tem o
fato ou para se evitar um mal maior, como no caso dos incêndios. poder de julgar.
Após constatar a veracidade da denúncia, cabe ao policial, ain- O trabalho dos peritos é fundamental e demasiadamente meti-
da, comunicar a autoridade competente do ocorrido e isolar o local culoso. Este ao chegar ao local do crime deve se atentar para qual-
a fim de preservar todos os vestígios lá existentes. Todo o procedi- quer vestígio que possa elucidar como o ato delituoso aconteceu.
mento está estabelecido no Código de Processo Penal bem como na Ao fim da análise do local, é competência do perito a elaboração de
Lei 8.862/1994 que parcialmente o modificou. um laudo, o qual constará as percepções do especialista acerca do
O perito criminal Décio de Moura Mallmith, leciona o seguinte local do crime e do possível culpado pelo ato delituoso. Essencial,
acerca do trabalho do perito em locais de crime: este laudo será de grande importância para a formação de um juízo
A presença dos peritos no local do delito, todavia, não substituí de valor daqueles que possuem o condão de julgamento acerca do
as ações da autoridade policial, a qual caberá, além dos procedi- caso em análise.
mentos para isolar a cena do crime e impedir o acesso de qualquer
elemento alheio à equipe da perícia, ações que possibilitem a segu- https://erikatamires.jusbrasil.com.br/
rança dos peritos e sua equipe, viabilizando deste modo a conclusão
do trabalho pericial. Os trabalhos periciais no local de uma ocorrên- Toxicomanias e embriaguez
cia findam quando o peritoesgotar todas as possibilidades de exa- A toxicomania é geralmente expressão de um desajuste da
mes e se der por satisfeito com os mesmos, momento em que ele personalidade, sendo raro os casos de pessoas emocionalmente
autorizará à Autoridade Policial a remover a interdição do sítio do estáveis que se tornam viciadas. O recurso às drogas ocorre, em
delito. A Autoridade Policial, entretanto, poderá optarpor manter o regra, em casos de debilidade mental e graves defeitos de caráter,
local isolado, quando a interdição mostrar-se imprescindível para os constituindo processo de fuga diante de problemas e dificuldades.
trabalhos preliminares de investigação. A escassa margem de recuperações e curas efetivas, nos casos gra-
Com a chegada dos peritos, os policiais devem discorrer sobre ves de toxicomania de opiáceos e drogas de efeitos semelhantes,
todo o ocorrido, narrando inclusive uma possível “contaminação” bem demonstra que a ação repressiva em relação ao viciado cons-
do local do crime. Ou seja, deve ser passado aos peritos como foi a titui remédio inadequado, a ser empregado com cautela, dentro de
movimentação policial no sítio e se algum vestígio foi acidentalmen- visão mais ampla do problema.
te ou deliberadamente retirado do ambiente. A Organização Mundial de Saúde, preferiu definir toxicomania:
Nos casos em que o local do crime observou um resultado mor- estado de intoxicação crônica e periódica, produzido pelo contínuo
te, o procedimento padrão está descrito no CPP. Em geral, quando consumo de uma droga. Suas características essenciais são: 1. A ne-
o crime resultar em uma vítima fatal, trabalha-se com cautela e efi- cessidade ou o desejo dominador de continuar a tomar a droga e
ciência redobrada, posto que nestes casos é comum a aglomeração de obtê-la por qualquer meio; 2. tendência ao aumento da dose;
popular que pode comprometer significativamente a cena do crime. 3. dependência psíquica, e, geralmente, física do uso da droga; 4.
O trabalho do perito em si, deve ser exercido com demasiada efeito prejudicial ao indivíduo e à sociedade.
paciência, atenção e metodologia criteriosa. É a correta análise dos Muito difundida é a definição de Dr. MATTEI: “Venenos que
vestígios do local o ponto crucial para entender como ocorreu o ato agem eletivamente sobre o cortex cerebral, suscetíveis de promo-
criminoso. A título de curiosidade citam-se exemplos de como ob- ver agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes,
jetos e vestígios do ambiente onde ocorreu o crime, podem auxiliar sem determinar envenenamente agudo e morte, mas capazes de
em sua definição e, se necessário, na identificação do criminoso. gerar estado de necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios de
Para o olho do perito, objetos quebrados e móveis desarru- abstinência, alterações somática e psíquicas profundas e progres-
mados podem significar luta, perseguição ou tentativa de fuga. Por sivas”. Essa definição refere-se, no entanto, a um grupo pequeno
outro lado, cartas, bilhetes, embalagens de medicamentos e copos de entorpecentes, e mesmo assim impropriamente. Ela assinala
como características, a ação sobre o cortex cerebrasl, a euforia, a
com restos de bebida, demonstram um ato criminoso sem o uso da
tolerância e a dependência física. Nesse sentido são as definições
violência, ou mesmo um suicídio. A presença de manchas de san-
farmacológicas de um modo geral, as quais somente se aplicam aos
gue ou produtos de limpeza distantes do cadáver revela, por ve-
opiáceos e às drogas sintéticas de efeitos análogos, bem como aos
zes, uma mobilização do corpo, enquanto impressões digitais e/ou
barbitúricos, anfetaminas e possivelmente aos tranqüilizantes. Essa
pegadas determinam geralmente quantas pessoas participaram do
definição não se aplica à cocaina e seus derivados, nem à maconha,
ato e auxiliam na identificação da vítima ou do criminoso.
pois nelas a tolerância é nula ou muito reduzida, não havendo de-
Durante o processamento da cena do crime, principalmente
pendência física.
nos casos de morte violenta, a arma do crime pode ser encontrada.
Chama-se tolerância a alteração provocada no organismo, esta-
Neste momento o perito em ação conjunta com o médico legista, belecendo a necessidade de doses crescentes, sem provocar enve-
deve comparar as possíveis lesões que o objeto pode inferir com as nenamento agudo. A dependência física não se confunde com o há-
reais lesões evidenciadas no corpo da vítima. bito, que é substancialmente um fenômeno psíquico e emocional,
Ao fim do trabalho pericial, o perito elaborará um laudo com como o vício de fumar. A dependência física implica numa modifi-
todas as informações percebidas no ambiente do crime, incluindo cação da composição química do organismo, de tal sorte que deixa
nesse até se a movimentação policial prejudicou na análise do local. de existir funcionamento normal se a droga não estiver presente.
Através desse laudo o perito informa a autoridade policial e judi- Há aqui uma ação físico-química, podendo ser tornados toxicôma-
ciária todas as suas percepções acerca da cena do crime e do ato nos também os animais. Em conseqüência, as crises de abstinência,
delituoso em si. quando há dependência física, constituem uma realidade dramáti-
A elaboração do laudo deve atender a critérios objetivos e ser ca, que não pode ser simulada.
didático. É composto por preâmbulo, introdução, transcrição de Assim a descreve DE ROPP: “Cerca de doze horas após a última
quesitos, conclusão, em que se é emitido o juízo de valor, e fecho, dose de morfina ou heroína, o viciado começa a tornar-se intran-
onde há a autenticação do documento a fim de que o mesmo possa qüilo. Uma sensação de fraqueza o domina; ele boceja, tem clafrios
servir como prova judicial. A metodologia exigida é essencial, pos- e súa, tudo a um só tempo, enquanto uma descarga d’água vem de

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
seus olhos e dentro do nariz, a qual ele compara a “água quente -se o modelo epigenético que “compreende a herança genética das
escorrendo na boca”. Por algumas horas, lança-se ele em agitação vulnerabilidades e sua modulação ao longo dos anos pelos efeitos
anormal e sono intranqüilo, que os viciados chamam de yen sleep. ambientais” (p.55) Por seu caráter complexo, a dependência quí-
Ao despertar, dezoito ou vinte horas após a sua última dose da dro- mica é comparada a doenças como a diabetes e a hipertensão, em
ga, o viciado começa a penetrar nas últimas profundezas de seu decorrência do seu efeito genético ser proveniente de vários genes
inferno pessoal. Os bocejos podem ser tão violentos que causem que atuam em conjunto, gerando uma situação de vulnerabilidade,
deslocamento das mandíbulas; o muco aquoso escorre pelo nariz junto à ação ambiental (MESSAS; VALLADA FILHO, 2004).
e lágrimas copiosas caem dos olhos, As pupilas ficam largamente No relatório de neurociências sobre o consumo e a dependên-
dilatadas; os cabelos e pelo ficam eriçados, tornando-se a pele fria, cia de substâncias psicoativas, produzido pela OMS, a dependência
com o aspecto típico da pele de ganso, o que, na linguagem dos é vista como um transtorno cerebral, que causa alterações nas fun-
viciados é chamado de cold turkey, nome que também se aplica ao ções cerebrais, desde o nível molecular e celular até alterações em
tratamento da toxicomania por meio de abrupta retirada do tóxico. processos cognitivos complexos. A possibilidade de herança genéti-
Então, acrescentando-se às misérias do viciado, seu abdome come- ca, que venha a explicar as variações de consumo também é abor-
ça a agir com violência fantástica: grandes ondas de contração pas- dada no documento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).
sam sobre as paredes do estômago, causando vômitos explosivos, Além da perspectiva dos determinantes hereditários, as ciên-
frequentemente manchados de sangue. Tão extremas são as con- cias biológicas se valeram de outro modelo explicativo, baseado nas
trações dos intestinos, que a superfície do abdome parece corruga- descrições dos quadros explicativos da abstinência, que justifica-
da e cheia de nós, como se um emaranhado de serpentes estivesse vam o uso contínuo de uma substância, para evitar o sofrimento
em luta sob a pele. A dor abdominal é severa e aumenta rapida- causado por sua falta no organismo. Mesmo não sendo corrobora-
mente. Depois de oito a doze horas, os sintomas constantes come- da pela prática, a ideia da abstinência como suficiente para explicar
çam de novo. Se não se ministra a droga, os sintomas começam a causa da dependência e outras questões do uso de drogas, foram
a decrescer por si mesmo ao sexto ou sétimo dia, mas o paciente e são até hoje, bastante difundidas (CRUZ, 2002; GARCIA-MIJARES;
é deixado desesperadamente enfraquecido, nervoso, inquieto, so- SILVA, 2006).
frendo de renitente colite”. A crise de abstinência provoca também, A compreensão do fenômeno da dependência, pelo modelo
segundo outros observadores, fortes alucinações. A subministração biológico de doença é criticável na medida em que: [...] baseia-se
da proga transforma imediatamente o quadro. HARRIS ISBELL, di- em modelos genéticos controversos e em generalizações questio-
retor do Centro de Pesquisas do Hospital de Lexington, destinado à náveis de determinados experimentos para o fenômeno da depen-
cura de toxicômanos, afirmou: “Constitui uma experiência dramáti- dência como um todo; não descreve uma história natural da relação
ca observar uma pessoa miseravelmente mal receber uma injeção do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de uma teoria
endovenosa de morfina, e vê-la dentro de trinta minutos barbeada, da dependência; não abrange grande contingente de casos que,
limpa, rindo e dizendo pilhérias”. embora não preencham critérios para sua inclusão nesta categoria
nosológica, correlacionam-se com taxas de morbidade e mortalida-
O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi entendi- de diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas (SILVEIRA,
do como uma doença. Até o séc. XIX atrelava-se à uma deficiência 1996 p.11).
de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o consu- Se por um lado, a ideia de doença implica na ausência ou
mo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o abrandamento da responsabilidade do sujeito sobre seus atos,
uso e a falta dele, a concepção de doença sobre este último (sem principalmente sobre a condição de estar doente, acompanhado
controle), passa a ser largamente adotada. Dessa maneira, por ser por concepções que perpetuam a noção de incurabilidade e impo-
considerada como doença, diversos investimentos são feitos com tência diante do mal (CRUZ, 2002). O compartilhamento massivo
o objetivo de identificar a(s) causa(s) da dependência (BERRIDGE, da perspectiva que analisa o problema através de suposições sobre
1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). distúrbios de personalidade, oriundos de causas orgânicas, endos-
Nas ciências biológicas, as hipóteses etiológicas, baseiam-se sam o imaginário de que o contexto social, pouco tem a ver com
na ideia de predisposição orgânica e hereditária de alguns sujei- o desenvolvimento e a manutenção da condição de dependente
tos, que interferem na vulnerabilidade para o desenvolvimento da (MOTA, 2007).
dependência. Essas concepções surgiram num contexto em que as
ciências positivistas, ganhavam notoriedade ao propor medidas Compreensões psicológicas
combativas para os problemas sociais, a exemplo da criminalidade, Formada por sistemas teóricos distintos, a psicologia não dis-
do alcoolismo e da prostituição (MOTA, 2007). põe de uma teoria comum sobre a (s) causa (s) da dependência
No trecho abaixo, podemos vislumbrar o entendimento do fe- de substâncias psicoativas. Como resultado, encontramos a elabo-
nômeno, no século XIX, através das ideias da predisposição fisioló- ração de diferentes hipóteses, que dão destaque a determinados
gica: [...] a insanidade hereditária deve-se à transmissão de pai para elementos, de acordo com sua leitura acerca do funcionamento
filho, não de pensamentos anormais, mas sim do próprio tecido psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o meio.
cerebral mórbido, onde originam-se tais pensamentos. De maneia Contudo, as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de
similar, o bebedor não transmite a sua prole o desejo intenso pelo aprendizagem (modelo comportamental) se destacaram na produ-
álcool, mas sim o tecido corporal orgânico anormal, que dá origem ção de possíveis explicações para uma conduta adicta. De forma re-
a este desejo (HARLEY, 1884 apud BERRIDGE, 1994, p. 18). sumida, nos modelos psicanalíticos, a dependência é compreendida
A medicina foi uma das disciplinas que se entusiasmaram, com como um sintoma e não necessariamente como causa. Na tentativa
as possibilidades de resolução dos problemas sociais, através da de viver continuamente sobre o domínio do princípio do prazer, o
aplicação dos conhecimentos hereditários, que caracteriza a euge- sujeito incorpora a sua rotina um hábito de consumo de substâncias
nia, utilizando-as para fundamentar suas práticas (MOTA, 2007). psicoativas que vem a gerar a dependência (MOTA, 2007).
Seguindo essa tendência, as associações entre a hereditarie- Por sua vez, no modelo inspirado nas teorias de aprendizagem,
dade e a dependência continuam a ser pesquisados, com vistas a a dependência se originaria a partir de uma estratégia habitual de
esclarecer os enigmas da etiologia que as categorias diagnósticas automedicação, na tentativa de debelar sentimentos como ansie-
psiquiátricas, não foram capazes de solucionar. Para tal, emprega- dade, raiva ou depressão (MOTA, 2007).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Na abordagem sistêmica, o foco da atenção terapêutica recai consequências aversivas (na saúde, trabalho, família) são maiores
sobre as relações interpessoais que se dão no seio familiar, entendi- do que os reforços propiciados pelo consumo (GARCIA-MIJARES;
da como um sistema de forças (SEADI, 2007). Nessa perspectiva, o SILVA 2006)?
conceito de dependência é entendido enquanto um mecanismo na- Frente a essas objeções, teorias atuais da dependência que en-
tural de adaptação, em que o sujeito busca uma solução para ques- tendem o problema como resultante de um processo de aprendi-
tões que exigem uma resposta adaptada. Desta maneira, recorre-se zagem, onde a substância e os estímulos associados a seus efeitos
a droga como algo que irá conferir ao sujeito uma competência rela- adquirem controle potente sobre o comportamento, são propostas
cional que lhe falta em determinados contextos (SUDBRACK, 2000). para explicar a etiologia da dependência. Apresentaremos essas
Outra visão, dentro da abordagem sistêmica, enxerga o sujeito teorias, que se diferenciam quanto aos processos de aprendizagem
dependente como portador do sintoma da disfunção familiar, que envolvidos (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
contribui para a manutenção da mesma, na medida em que seu A teoria comportamental como escolha, desenvolvida por
consumo retira o foco dos problemas relacionais existentes entre Heyman (1996 apud GARCIAMIJARES; SILVA, 2006), entende que a
os outros membros da família (ORTH, 2005). dependência é um processo em que o consumo repetido da subs-
Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência tância, diminui progressivamente o valor reforçador de outras ativi-
constitui-se como uma possibilidade de escolha dentre as possí- dades, por serem as substâncias psicoativas um reforçador atípico
veis disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de psicoativos, (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
é tida como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o A estratégia de escolha que controla o comportamento do
seu projeto de existir (OLIVEIRA, 2007). Para a Gestalt-terapia, de indivíduo é base da explicação para o desenvolvimento da depen-
base fenomenológica- existencial, as pessoas reconhecidas como dência. Nesses casos, o sujeito se vale da estratégia de melhoração
dependentes, estão fora de seu equilíbrio ótimo, frequentemente (sic), que tem como objetivo obter o maior benefício no momento,
incapazes de perceber quais as suas necessidades. Ocorrendo en- ou seja, escolhem-se as alternativas, que possuam maior taxa de re-
tão, alterações nos processos funcionais de contato e afastando, forço local. A escolha em recorrer a essa estratégia varia de acordo
distorcendo a existência do sujeito enquanto ser unificado (TELLE- com as contingências. (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
GEN, 1984; PIMENTEL, 2003 Apud OLIVEIRA, 2007). Outra teoria que visa explicar a dependência é a teoria da sen-
Com o foco na reestruturação de cognições disfuncionais, a sibilização, que propõe que a dependência acontece porque a ad-
teoria cognitiva acredita que a dependência é resultado da intera- ministração repetida de uma substância psicoativa causa mudanças
ção entre o contato inicial com a droga e as cognições que se forma- cerebrais (sensibilização neural), que tornam os sistemas associa-
rão por influência das crenças básicas (SILVA; SERRA, 2004). dos à motivação, hipersensíveis aos efeitos das substâncias. Desta
A partir de crenças básicas disfuncionais, o sujeito faz suposi- forma, qualquer estímulo associado à substância psicoativa acar-
ções de como deverá agir diante de situações específicas, criando retará num comportamento de procura e consumo da substância
uma espécie de ciclo, repetindo o mesmo comportamento em oca- (GARCIAMIJARES;SILVA, 2006).
siões similares. Para aliviar o desconforto, em decorrência dos sen- Por fim, a teoria neurobiológica de Kalivas e outros (2005
timentos suscitados pela crença básica disfuncional, criam-se então apud GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006), integra as duas primeiras,
as chamadas estratégias compensatórias. Nesse caso o consumo de descrevendo as mudanças no circuito do reforço que acontecem
uma substância psicoativa, como estratégia compensatória, poderá no processo de dependência. O consumo repetido de psicoativos
desenvolver um novo grupo de crenças que manterá relação com a produziria mudanças no sistema nervoso, em vias dopaminérgicas
crença básica (SILVA, 2004). e glutamatérgicas especificas, que ocasionariam a diminuição do
Por representarem os modelos que mais contribuíram para o valor reforçador de estímulos naturais, com o aumento da resposta
entendimento da dependência, iremos discorrer sobre as hipóteses à estímulos associados com a substancia, alterando o comporta-
comportamentais mais atuais para a etiologia do problema. mento de escolha (GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).
No que concernem as técnicas, a abordagem comportamen-
Perspectiva comportamental tal possui grande reconhecimento no tratamento da dependência,
Para a teoria comportamental, todo comportamento é conse- sendo largamente recomendados por guias terapêuticos médicos,
quência da interação do indivíduo com seu ambiente. São os even- pela sua aceitabilidade na área psiquiátrica (SONENREICH; ESTE-
tos ambientais que determinam o comportamento, e não a cons- VÃO; FILHO, 2000).
ciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e É importante ressaltar a existência de diversas terapias denomi-
nadas cognitivocomportamentais, havendo em comum entre elas a
a extinção de determinados comportamentos são explicadas pelos
influência da cognição sobre o comportamento e a modificação do
conceitos de reforço e punição.
comportamento que pode ser realizado por mudanças cognitivas
Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são en-
(MARQUES; SILVA, 2000).
tendida como um estímulo cuja função dependerá das consequên-
Entretanto, mesmo com o reconhecimento e a recomendação
cias produzidas e do contexto em que é administrada. A repetição
sobre a utilização das técnicas oriundas das teorias comportamen-
do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substancia, ou seja,
tais e cognitivas, nos casos de dependência de álcool, cerca de 50
a substancia pode desempenhar um papel de reforçador positivo,
a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos (RA-
onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria relacio- MOS; WOITOWITZ, 2004). Para nós, esse tipo de dado é importan-
nado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse consu- te na medida em que aponta para a necessidade de produção de
mo. Na função de reforçador negativo, o aumento do consumo da explicações plurais, que explorem elementos distintos do fenôme-
substância se justificaria pela retirada de algo aversivo, desagradá- no, e assim, contribuam na construção de propostas terapêuticas
vel, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência (GARCIA- capazes de agregar aqueles que não se beneficiem dos métodos
MIJARES; SILVA, 2006). padrões.
Entretanto, o modelo do reforço possui restrições para expli-
car a dependência. Se o comportamento não é controlado somente Perspectiva psicanalítica
pelos reforçadores, mas também pelos punidores (que diminuem a O foco deste conteúdo na compreensão da teoria psicanalítica,
probabilidade do comportamento), como justificar a manutenção em relação ao fenômeno da dependência, se deu em virtude do
do comportamento de consumir substâncias psicoativas, quando as reconhecimento da influência fundamental da psicanálise, para a

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
clínica psicológica. O método psicanalítico, operou uma mudança Foram as investigações de Radó (1926), com a elaboração do
em relação aos métodos terapêuticos da clínica médica, ao dar à conceito de orgasmo farmacogênico (apoiado no conceito de or-
escuta o lugar central na busca diagnóstica, em contraponto às ob- gasmo alimentar do erotismo oral), que tiveram um efeito marcante
servações e uso de complexas tecnologias, lançados mão pela clíni- no pensamento psicanalítico. O consumo da substância psicoativa
ca biomédica (MOREIRA et al., 2007). é articulado no registro da oralidade, de forma que o sujeito toxi-
A tarefa diagnóstica passou a objetivar o conhecimento e re- cômano viveria a demanda repetida da incorporação de um objeto
conhecimento das formas de aparecimento dos transtornos, indo capaz de lhe restituir a completude perdida do orgasmo alimentar.
além da identificação categórica, mas detectando e interpretando (BUCHER, 1992; BIRMAN, 2005).
o funcionamento de organizações psíquicas inconscientes, próprias A influência dessa perspectiva fez com que surgissem inter-
das alterações manifestas (SAURÍ, 2001). pretações que abordam uma relação materna insatisfatória, como
Para a investigação de um consumo prejudicial de substâncias se o toxicômano buscasse com a substância psicoativa, uma figura
psicoativas (dependência), o método psicanalítico foi além das materna preenchedora, que lhe faltou na história infantil (BUCHER,
constatações biológicas e observáveis através do comportamento 1992; BIRMAN, 2005; MOTA, 2007).
do sujeito. Pois, diante das particularidades que diferenciam as toxi- As críticas direcionadas a essa interpretação da toxicomania,
comanias dos outros fenômenos psicopatológicos, o conhecimento se dão pela falta de relação com uma dimensão estrutural dessa
sobre este, só se dá a partir da fala do sujeito identificado como modalidade de funcionamento mental (BIRMAN, 2005). A busca
toxicômano (BUCHER, 1992). por uma estrutura exclusiva da toxicomania provoca discordância
Então, à constatação de que a dinâmica inconsciente possuía entre os trabalhos pósfreudianos, Zafiropoulos (1984) e Olivenstein
um papel importante no desenvolvimento da dependência, abriu- (1983) pressupõem uma estrutura, ou uma preexistência para a
-se espaço para a produção de várias teorias dinâmicas sobre a gê- toxicomania, que é de difícil definição (BUCHER, 1992). Por outro
nese dos comportamentos aditivos (MOTA, 2007). lado, Melman (1989), acredita que é a droga que cria o estado de
A produção dessas teorias não garantiu à psicanálise um corpus adição por provocar “a suspensão da existência” (MELMAN, 1989
teórico consistente, que se atenha sobre a drogadição, em suas di- apud BUCHER, 1992). Ao questionar essa ideia, Freda (1989), en-
versas formas de uso, incluindo a toxicomania. Essa constatação é dossa o lugar do sujeito no desenvolvimento de uma dependência,
vista com surpresa, tendo em vista que o fenômeno pode suscitar
dizendo que “é o toxicômano que faz a droga”, pois conceder aos
diversos questionamentos passíveis de serem explorados pela psi-
efeitos das substâncias psicoativas a preeminência sobre o desen-
canálise (BUCHER, 1992). No entanto, as críticas apresentadas por
volvimento da toxicomania é concordar com um determinismo me-
Bucher (1992), sobre a escassez de estudos na teoria psicanalítica
cânico que torna inviável uma concepção de sujeito (FREDA, 1989
sobre a toxicomania, não desconsidera as reflexões psicanalíticas
apud BUCHER, 1992).
sobre o assunto, mas a falta de articulação entre as hipóteses de-
Sem chegar a uma resposta final, sobre a existência ou não de
senvolvidas pelas diversas escolas.
uma quarta estrutura, permanece a ideia de que a manifestação to-
Porém, antes de expor algumas interpretações, é preciso fa-
xicomaníaca, não é exclusiva de uma das três estruturas propostas
zer algumas considerações sobre o termo toxicomania, que nasceu
(neurose, psicose, perversão). Sendo a importância de cada estru-
no campo médico, no fim do século XIX, associado aos sentidos de
tura, na relação estabelecida com o objeto droga (GIANESI, 2005).
degenerescência, imoralidade e paixão. A psicanálise passa a utili-
A manutenção das hipóteses do estado-limite e a hipótese da
zá-lo para se referir à intoxicação crônica de substâncias psicoativas
problemática narcísica, por considerá-las mais cautelosas, críticas,
(BENTO, 2006; RIBEIRO, 2008). As primeiras investigações de Freud,
autocríticas e mais adequadas para passarem pelo “crivo da ex-
sobre as substâncias psicoativas, em especial a cocaína, foram rea-
periência clínica” (BUCHER, 1992 p.281), é defendida por Bucher
lizadas enquanto atuava como neurologista. Seu interesse era em
(1992), tendo o estado atual da questão. A primeira, desenvolvida
relação aos possíveis benefícios da cocaína ao organismo. Desde
por Glover (1932), postula que tal estado é criado por uma reação
este momento que podemos chamar de pré psicanalíticos, a abor-
específica em decorrência de fantasias sexuais primitivas. Estas
dagem empreendida por Freud ia de encontro com as formulações
operariam uma transição entre a fase psicótica precoce e a fase
psiquiátricas da época, que creditavam à cocaína a causa por algu-
neurótica (BUCHER, 1992).
ma espécie de lesão funcional (RIBEIRO, 2008).
A referência ao narcisismo, concebida por Freud, destaca as
Inicialmente, as hipóteses freudianas sobre o consumo de co-
substâncias psicoativas como a alternativa mais interessante na
caína, acreditavam que o organismo poderia ser capaz de realizar
tentativa de amenizar o mal-estar, causado pela renúncia da satis-
uma maior quantidade de trabalho com um menor gasto de ener-
fação total dos desejos. Essa característica dos psicoativos passou a
gia, promovendo um efeito econômico. Em seguida, surgiu a pro-
ser vista, como capaz de promover um redirecionamento da libido
posição de que os efeitos da cocaína seriam diferentes para cada
investida nos objetos, para o eu (ego), de tal forma que há um de-
pessoa. A semelhança entre os efeitos da cocaína e os efeitos da
sinvestimento do mundo externo, que quando bem-sucedido, oca-
libido, que intoxicam o corpo, produzindo o efeito da economia da
siona o abandono de outras atividades (RIBEIRO, 2008).
energia, também é observada nas formulações pré-psicanalíticas e
Por fim, o recurso da droga pode ser usado para lidar com a dor
são reconsideradas quando, uma possível relação entre as toxico-
de existir, o sofrimento de sua divisão subjetiva, o insuportável do im-
manias e o narcisismo são propostas. Foi a partir da fundação da
possível da relação sexual e o mal-estar existente na cultura e nos laços
psicanálise, que Freud passou a enfatizar o papel desempenhado
sociais. E é essa diversidade de objetivos, para os quais as substâncias
pelas substâncias psicoativas na economia psíquica (RIBEIRO, 2008).
psicoativas podem ser utilizadas, que denotam as singularidades que
Em suas teorizações e constantes mudanças, Freud situou a depen-
cada sujeito irá estabelecer com as drogas (OLIVEIRA, 2010).13
dência não na relação do humano com a substância, mas no vinculo de-
senvolvido com o objeto, ou ainda, na forma como o objeto permite ao
A toxicomania como doença mental e seus efeitos no proces-
sujeito relacionar-se com os outros ao seu redor (RIBEIRO, 2008).
so penal brasileiro
Apesar dessas investigações com a cocaína, a problemática das
A compreensão exata das doenças mentais incapacitantes e
toxicomanias se encontra escassa no percurso freudiano. Existem
seus efeitos no processo penal é assunto de alta relevância jurídi-
referências esparsas à psicose alcoólica e indagações sobre a re-
ca com expressivos efeitos na relação processual. Especialmente,
lação da mania com a ingestão das drogas estimulantes (BIRMAN,
2005). 13 Fonte: www.psicologia.pt/www.fragoso.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
se ficar comprovado mediante exame de insanidade mental que o funções e respostas fisiológicas. As perturbações estão na relação
acusado, ao momento da ação ou omissão, era incapaz de entender direta dos efeitos farmacológicos agudos da substância consumida
e querer o caráter ilícito do fato será ele absolvido com aplicação e desaparecem com o tempo, com cura completa, salvo nos casos
de medida de segurança com especial finalidade terapêutica. Esta é em que surgiram lesões orgânicas ou outras complicações. (on line,
a previsão expressa do artigo 26 em combinação com o artigo 96 e 2017)
incisos do Código Penal (Brasil, 2012) Neste contexto, podemos dizer que que a drogadição ou to-
O estudo das doenças mentais é assunto alta relevância e que xicomania pode gerar ou a isenção de pena quando total ou a re-
corriqueiramente assola os juristas do Brasil em face a sua comple- dução facultativa da pena quando parcial e ocorrida no momento
xidade na medicina legal. Da mesma forma, os limites dos efeitos da conduta.
dependência química, seja ela qual for, devem ser estudados com Júlio Fabrini Mirabete (1985), em abalizada doutrina leciona
precisão a fim de se ter a melhor resposta penal possível. sobre o assunto que:
O vício ou drogadição tem sido causa de grandes estudos e a “O agente que pratica a conduta quando sujeito à ação dessas
medicina legal tem se dedicado ferozmente a pontuar os proble- substâncias tóxicas é tratado pela lei nos mesmos termos reserva-
mas sociais e jurídicos causados pelo uso indiscriminado de subs- dos ao ébrio etílico (excetuados os crimes relacionados ao tráfico e
tânciaspsicoativas. Esta questão toma um contorno mais profundo porte de drogas, sujeitos a legislação especial.”
quando avaliada para a caracterização da responsabilidade penal. Tecnicamente falando, a luta do direito processual penal ho-
A presença de tais substâncias o organismo pode ter reflexos dierno é justamente o de tentar chegar o mais próximo possível de
sobre a culpabilidade do agente, a saber: uma verdade real ou substancial, tornando inadmissível na esfera
“O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro penal as constatações baseadas em ficções ou presunções.
lugar, como repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo A Constituição Federal alerta para a necessidade da utilização
resultado, ou responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser do máximo de cautela na busca das provas quando do julgamento
entendido como exigência de que a pena não seja infligida senão de uma determinada conduta. Assim, a prova deve gerar no ma-
quando a conduta do sujeito, mesmo associada causalmente a um gistrado a convicção de que necessita para o seu pronunciamento,
resultado, lhe seja reprovável. … Para além de simples laços subjeti- declarando a existência ou não da responsabilidade criminal.
vos entre o autor e o resultado objetivo de sua conduta, assinala-se Dessa feita, se o réu faz uso de substâncias químicas psicoa-
a reprovabilidade da conduta como núcleo da ideia de culpabilida- tivas capazes de alterar a sua conduta e compreensão dos fatos
de, que passa a funcionar como fundamento e limite da pena. As sociais que o cercam, necessita-se consequentemente de peritos
relações entre culpabilidade e pena constituem matéria polêmica, determinem qual o grau de intervenção física que estas substâncias
que integra a teoria do crime, onde a estrutura e as funções dog- provocam no mesmo. Logo, a constatação de insanidade mental do
máticas da culpabilidade, seja na economia do crime, seja na funda- acusado associada a produção de provas é assunto tecnicamente
mentação da pena, são minuciosamente examinadas. Em primeiro interligado e que pode gerar reflexos no conteúdo do julgamento.
lugar, pois, o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da Para se delimitar melhor a extensão das toxicomanias e segun-
responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma respon- do as pesquisas de saúde pública, sociais e educacionais da Organi-
sabilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre zação das Nações Unidas, constantes do site do Instituto de Medi-
a conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídi- cina Social e Criminologia de São Paulo, podemos distinguir quatro
co. É indispensável a culpabilidade. No nível do processo penal, a tipos de usuários:
exigência de provas quanto a esse aspecto conduz ao aforisma ‘a “Usuário experimental ou experimentador: limita-se a experi-
culpabilidade não se presume’, que, no terreno dos crimes culposos mentar uma ou várias drogas, por diversos motivos, como curio-
(negligentes), nos quais os riscos de uma consideração puramente sidade, desejo de novas experiências, pressão de grupo etc. Via de
causal entre a conduta e o resultado são maiores, figura como cons- regra, este contato não ultrapassará as primeiras vezes.
tante estribilho em decisões judiciais: ‘a culpa não se presume’. A Usuário ocasional: utiliza um ou vários produtos, de vez em
responsabilidade penal é sempre subjetiva’ (BATISTA,1990) quando, se o ambiente for favorável e a droga disponível. Nestes
A embriaguez provocada pelo álcool ou outra substância de casos, os pesquisadores não identificam o desenvolvimento de de-
efeitos análogos, voluntária ou culposa, não exclui a imputabilidade pendência, nem corte das relações afetivas, sociais ou profissionais.
penal. A respeito, ver inciso II do art. 28 do Código Penal. Todavia, Usuário habitual ou “funcional”: faz uso frequente de drogas.
os parágrafos desse artigo fazem duas exceções na apuração da res- Em suas relações sociais já é possível se verificar uma certa dissolu-
ponsabilidade penal. O primeiro diz respeito à embriaguez comple- ção. Mesmo assim, ainda tem uma vida social razoável, embora de
ta decorrente de caso fortuito ou força maior, que retira totalmen- forma precária e correndo riscos de dependência. É aquele usuário
te, ao tempo da ação ou da omissão, a capacidade de entendimento vulgarmente chamado como “viciado”.
do caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse Usuário dependente ou “disfuncional” (dependente, toxicôma-
entendimento – inteira incapacidade. No segundo momento, a Lei no, drogativo, farmacodependente, dependente químico): estes são
se manifesta sobre a embriaguez proveniente de caso fortuito ou os casos mais severos. O indivíduo que alcança esse estágio vive
força maior que diminui, mas não extermina, ao tempo da ação ou pela droga e para a droga, quase que exclusivamente. Rompe vín-
omissão, a capacidade de entendimento do caráter ilícito do fato ou culos sociais e afetivos, o que acaba por leva-lo ao isolamento e
de determinar-se de acordo com esse entendimento – não possuir à marginalização, acompanhados, eventualmente, de decadência
plena capacidade. física e moral.”
Observa-se, portanto, a necessidade premente de se definir Temos que aceitar, portanto, que a identificação do grau de
com a máxima exatidão possível o que se compreende tecnicamen-
envolvimento dos autores de delitos com substâncias psicoativas
te por embriaguez ou intoxicação aguda provocada por substâncias
depende de informação fornecida por perito da área após análise
químicas conhecida como drogadição. Levando em consideração as
clínica e laboratorial e deve ser devidamente considerada pelo juiz
consequências legais, normalmente se adota o conceito do CID-10,
de direito de acordo com o seu livre convencimento motivado e se
que assim é discriminado:
balizando em todas as características acima descritas.
“Estado consequente ao uso de uma substância psicoativa e
Os artigos 45 até 47 da própria Lei Federal nº 11.343, de 26 de
compreendendo perturbações da consciência, das faculdades cog-
agosto de 2006, dizem expressamente que:
nitivas, da percepção, do afeto ou do comportamento, ou de outras

36
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
“Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependên- 2ª. SÉRIE
cia, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de 1) Se pelas características fisiológicas-psiquícas apresentadas
droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha pelo réu é possível concluir, pelo menos aproximadamente, ser ele
sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender portador de distúrbio mental predisponente a atos de violência
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse 2) Se estando o réu sob o efeito de bebida alcoólica, maconha
entendimento. ou cocaina, perdeu a capacidade de entender o caráter criminoso
Parágrafo único.Quando absolver o agente, reconhecendo, por do fato que estava praticando?
força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste 3) Em caso negativo de dois (2), mesmo entendendo o caráter
artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá deter- criminoso do fato que praticava, estava impossibilitado de determi-
minar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento nar-se diante deste entendimento?”
médico adequado.
Art. 46.As penas podem ser reduzidas de um terço a dois ter- A proposta de quesitos como acima exemplificados atende a
ços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, necessidade de se questionar dos peritos responsáveis a extensão
o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena dos efeitos das substâncias químicas que, se incapacitantes, podem
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se levar a absolvição dos réus com a aplicação de medidas de seguran-
de acordo com esse entendimento. ça com especial finalidade terapêutica.
Art. 47.Na sentença condenatória, o juiz, com base em avalia-
ção que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para Posição da jurisprudência sobre o tema.
tratamento, realizada por profissional de saúde com competência A questão da toxicomania ou drogadição tem sido objeto de
específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, obser- intensos debates na jurisprudência, havendo vários precedentes
vado o disposto no art. 26 desta Lei.” sobre o assunto que já reconheceram que a sua incidência ocasiona
Diante das descrições legais supra ditas, podemos entender importantes reflexos na decisão judicial impondo-se medida de se-
que se o corpo probatório contido nos autos indicar que o réu é gurança com especial finalidade terapêutica.
dependente do uso de substâncias psicoativas, será imprescindível Em julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já se
a realização de exame pericial para a averiguação da capacidade entendeu que se o réu ao tempo da ação, por doença mental (in-
plena de entendimento do caráter ilícito do fato e/ou de autode- toxicação por múltiplas substâncias psicoativas, estado alterado de
terminação conforme esse entendimento. Vale ressaltar que a Lei
consciência e distimia) é totalmente incapaz de entender o caráter
Penal mantém o critério biopsicológico na apuração da responsa-
ilícito de seus atos e, também, totalmente incapaz de determinar-se
bilidade penal.
de forma diversa da que se conduziu deve-se nos termos do artigo
26 do Código Penal impor o reconhecimento da inimputabilidade
Proposta de quesitos acerca da toxicomania ou drogadição.
penal que isenta o agente de pena (Brasil, 2014).
Havendo, portanto, a possibilidade técnica de que os acusados
No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já en-
em processo penal sofram de transtornos de comportamento de-
tendeu que é necessária a internação de dependente químico para
correntes da dependência química, fato que poderá influenciar no
tratamento psiquiátrico e de desintoxicação, atestado em relatório
livre convencimento motivado do julgador e nos termos do artigo
149[iii] do Código de Processo Penal propõe-se a seguinte forma de médico como meio hábil a reduzir o risco de morte bem como o
quesitos a serem respondidos pelos peritos técnicos: perigo de dano irreparável à saúde do paciente interessado (Brasil,
2013).
1ª. SÉRIE Não menos importante é o entendimento proferido pelo Supe-
1) Se é possível, através dos exames clínicos ou de laboratório, rior Tribunal Militar que, na mesma esteira do raciocínio exarou a
procedidos na pessoa do Réu, concluir ser ele dependente de subs- decisão que se o réu no incidente de insanidade mental respondeu
tâncias químicas psicoativas capazes de causar distúrbios compor- positivamente ao quesito relativo à existência de doença mental
tamentais de natureza violenta? sofrendo de síndrome de dependência de cocaína e transtorno de
2) Qual é a diagnose? personalidade emocionalmente instável impõe-se medida de segu-
3) Em caso positivo, que substância pode ter sido usada pelo rança na modalidade de tratamento ambulatorial (Brasil, 2004).
réu, quando da prática criminosa? Por fim, em importante e recente julgado, o Supremo Tribunal
4) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da Federal no voto proferido pela Excelentíssima Ministra Rosa Weber
capacidade de entendimento? Normal, abolida, reduzida. entendeu que a prisão preventiva não é o instrumento processual
5) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da penal hábil para enfrentar a situação pessoal do paciente diante dos
capacidade de determinação? normal, abolida, reduzida. fortes indícios de que seja portador de enfermidade mental capaz
6) Se o próprio réu afirmou ao perito ser usuário de substância de sujeitá-lo a medida de segurança futura com relatos de interna-
entorpecente? mentos e de tratamento ambulatorial anteriores, de diagnósticos
7) Em caso positivo, se quando fez essa afirmação informou ao psicóticos, de adição a drogas e de déficit de atenção. No caso julga-
perito qual a substância mais consumida por ele? do a “dúvida sobre a integridade mental do acusado” (artigo 149 do
8) Em caso positivo de sete (7), se dentre essas substâncias pos- Código de Processo Penal) orientou a Corte Suprema que a prisão
sivelmente usadas pelo Réu, pode-se incluir a erva cannabis cativa fosse substituída por regime de internação provisória compulsória
lineu, vulgarmente conhecida como maconha e∕ou cocaína e∕ou conforme artigo 319, VII do CPP (Brasil, 2015).
cack? Como se pode notar pelos julgados compilados o processo pe-
9) Em caso positivo de sete (7) ou oito (8), pela gravidade e vio- nal não pode desprezar o fato de que a drogadição ou toxicomania
lência do ato criminoso praticado pelo Réu, pode-se afirmar, ou pelo pode causar doenças mentais graves e, desde que provada tal situa-
menos supor, com razoável margem de acerto, que o réu estava sob ção, é juridicamente possível imposição de medidas de segurança.
o efeito de uma ou algumas das drogas mencionadas em sete (7) ou A luta do processo penal é a busca da verdade real para o al-
oito (8), quando da prática dos atos descritos na Denúncia ? cance da justiça. Se ficar comprovado através de exame técnico,
denominado incidente de insanidade mental que réu em razão de

37
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
dependência de drogas não poderia entender o caráter ilícito a con- ou superficiais causam pele vermelha, inchada e dolorida, e não
duta ser-lhe-á aplicada medida de segurança com especial finalida- causam bolha. As queimaduras de segundo grau causam a forma-
de terapêutica. ção de bolhas e a pele sob a bolha pode estar ligeiramente entorpe-
Embora a compreensão de limitações mentais incapacitantes cida. As queimaduras de terceiro grau fazem com que a pele fique
em razão de toxicomania seja tecnicamente difícil é notório que preta ou branca, e geralmente é indolor devido a danos nos nervos.
determinadas substâncias que geram drogadição causam incapaci-
dade de entender o caráter ilícito de condutas criminosas e de se Diagnóstico
determinar de acordo com o livre arbítrio e entendimento pessoal. O diagnóstico é feito com base nos sintomas e examinando a
A lei 11.343 de 2006, conhecida como lei de drogas proíbe em pele queimada.
todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a
colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser Tratamento
extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização le- O tratamento depende do grau e da extensão das lesões. Em
gal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, primeiro lugar, a pessoa deve ser removida da fonte do calor. Pe-
das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito quenas queimaduras de primeiro ou segundo grau podem ser res-
de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso (Brasil, 2006). friadas sob água corrente durante alguns minutos. As pessoas que
Delimitar o mecanismo de ação das drogas sob o organismo sofrem queimaduras maiores e mais graves devem ser tratadas por
humano é questão de elevada importância. Se através do incidente serviços de emergência e unidades de queimados especializadas.
de insanidade mental se comprovar que a droga usada foi deter- O tratamento de emergência envolve dar fluidos, manter a pessoa
minante ou influenciadora na compreensão e entendimento sob a aquecida e prevenir infecções. Uma vez que o perigo imediato te-
prática do crime impor-se-á, inevitavelmente, a medida de seguran- nha passado, a pessoa afetada pode receber enxertos de pele para
ça com especial finalidade terapêutica.14 ajudar a pele a crescer e reduzir as cicatrizes. Complicações, como
infecções em feridas, são tratadas com antibióticos à medida que
Lesões e morte por ação térmica, por ação elétrica, por baro- ocorrem.
patias e por ação química
A lesão térmica, também conhecida como queimadura, é uma Prevenção
das lesões domésticas mais comuns, principalmente causadas por A melhor prevenção para queimaduras é seguir as precauções
líquidos quentes ou fogo. Podem ser leves ou emergências com de segurança ao manusear fogo, líquidos quentes ou produtos quí-
risco de vida, dependendo da porcentagem de superfície do cor- micos. Isso inclui supervisionar as crianças enquanto cozinham, en-
po queimada. O tratamento depende da gravidade da lesão e das quanto tomam banho e quando estão próximas de uma fonte de
possíveis complicações, varia de cuidados com feridas menores ao calor ou chama.
tratamento em uma unidade especial de queimaduras, incluindo
medicamentos, curativos ou cirurgia. A recuperação após pequenas Prognóstico
queimaduras superficiais geralmente é boa. Quanto mais profun- O prognóstico para pequenas queimaduras superficiais é bom
da a queimadura, maior a probabilidade de ficar com cicatriz. As visto que raramente formam grandes cicatrizes ou infectam, e
queimaduras que cobrem grandes áreas do corpo têm perspectivas curam dentro de alguns dias ou semanas. Queimaduras extensas
piores. exigem tratamento intensivo e a pele geralmente forma cicatrizes.15
Quanto à profundidade, as queimaduras podem ser classifica-
das como: Lesões elétricas
- 1º grau: atingem as camadas superficiais da pele. Apresen- Poucas descobertas têm tido um impacto tão grande na cultura
tam vermelhidão, inchaço e dor local suportável, sem a formação da humanidade quanto à geração e distribuição de energia elétrica
de bolhas; produzida pelo homem, pois o desenvolvimento desta mudou há-
- 2º grau: atingem as camadas mais profundas da pele. Apre-
bitos e possibilitou o avanço tecnológico da sociedade moderna.
sentam bolhas, pele avermelhada, manchada ou com coloração
Níveis danosos de corrente elétrica passando através dos te-
variável, dor, inchaço, despreendimento de camadas da pele e
cidos corporais causam lesão por vários e distintos mecanismos
possível estado de choque;
fisiopatológicos voltagem-dependente. Durante décadas a lesão
- 3º grau: atingem todas as camadas da pele e podem chegar
elétrica era vista simplesmente como uma forma de queimadura
aos ossos. Apresentam pouca ou nenhuma dor e a pele branca ou
térmica. Embora a queimadura térmica seja um componente que
carbonizada.
às vezes possa ser dominante, existem outros efeitos do campo
Riscos elétrico fisiopatologicamente significantes. Estes efeitos são depen-
Uma queimadura térmica é um dano à pele causado pelo calor. dentes do circuito, da voltagem e da amperagem da corrente que
A gravidade das queimaduras é classificada por quão profunda é a flui através dos tecidos. Forças elétricas podem alterar e destruir
queimadura e quanto do corpo é afetado. As causas comuns são o tecidos biológicos e seus vasos de um modo totalmente não depen-
fogo, líquidos quentes (especialmente em crianças), radiação e luz dente do calor.
ultravioleta (como a luz solar ou camas de bronzeamento). As le- O trauma elétrico é verdadeiramente um problema médico
sões térmicas podem afetar qualquer pessoa, mas tendem a afetar interdisciplinar: envolve cirurgia, imaginologia, anestesia, neuro-
as crianças e as pessoas mais velhas com mais frequência do que logia, psiquiatria, fisioterapia, medicina ocupacional, enfermagem,
adolescentes e adultos. As lesões térmicas provavelmente ocorrem dentre outros. Uma discussão das características fisiopatológicas
por acidente, mas também podem ser um sinal de abuso. dessas lesões envolvem teorias de campo elétrico, eletroquímica,
biologia celular, fisiologia, neuropsicologia e outras disciplinas.
Sintomas Avanços recentes no diagnóstico por imagem são importantes
Os sintomas e a aparência de uma queimadura dependem do na compreensão de mudanças significativas nos tecidos lesados
grau de queimadura (profundidade da pele afetada pela queimadu- pela ação direta da corrente elétrica quando isto não é facilmente
ra). Existem três graus diferentes. As queimaduras de primeiro grau detectado pela inspeção ou exame físico.
14 Fonte: www.ambitojuridico.com.br 15 Fonte: www.ada.com

38
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Assim, podemos afirmar que as lesões elétricas assumem im- A voltagem e a duração do contato são os principais fatores que
portância considerável não só devido aos graus variáveis de lesão determinam a extensão e profundidade das lesões. A amperagem,
cutânea associada a grande destruição de tecidos profundos. Mas estreitamente relacionada à lesão tecidual e mortalidade, raramen-
também devido ao alto índice de seqüelas resultantes, na maioria te pode ser determinada, uma vez que no geral a resistência nos di-
dos casos em pessoas jovens, e que não raro tornam-se definitiva- ferentes tecidos não pode ser determinada nos acidentes elétricos,
mente incapacitados. sendo conhecida apenas a voltagem.
A resistência varia com a limpeza, umidade e espessura da
Epidemiologia: pele (estrato cutâneo), podendo ir de 10.000 ohms/cm a menos de
Queimaduras causadas por eletricidade representam uma pe- 1.000 ohms/cm, com uma média de 5.000 ohms/cm de pele seca
quena porção das admissões em unidades de queimados, porém normal. A elevação do gradiente de voltagem na pele produzirá rup-
revelam um dos mais agressivos tipos de injúria térmica. Corres- turas com voltagens relativamente baixas permitindo a passagem
pondem de 5 a 15% dos casos de pacientes hospitalizados por quei- da corrente para o interior do corpo.
maduras e a superfície corporal média atingida é de 15%. As correntes elétricas são arbitrariamente divididas em baixa
A maioria das vítimas com quadros sérios está entre 20-30 anos voltagem, de 500-1.000 volts, e alta voltagem, superior a 1.000
de idade e geralmente se acidenta no trabalho, onde predominam volts. Os acidentes domésticos comumente se enquadram no pri-
as lesões com alta voltagem (aproximadamente dois terços de to- meiro tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.
dos os acidentes fatais ocorrem no trabalho e mais de um quarto A corrente de alta tensão tende a percorrer um caminho mais
ocorrem em atividades domésticas). curto entre o ponto de entrada e a terra e freqüentemente a vítima
Na casuística do HU-FMUSP, dos 818 pacientes internados por é atirada longe e as alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia)
queimaduras no período de julho de 1991 a setembro de 1993, são mais raras, sendo mais comum a depressão do centro respira-
2,81% foram vítimas de queimaduras elétricas. Destes, 65,2% tive- tório com parada respiratória.As lesões por baixas tensões produ-
ram acometimento dos membros superiores. Este estudo está de zem queimaduras menos extensas, mas podem causar a morte por
acordo com anteriores, que mostram o membro superior como o fibrilação ventricular.
local mais freqüente atingido. Isso se deve ao fato destes acidentes Se compararmos entre corrente alternada e contínua, a pri-
ocorrer, na maioria das vezes, o ato de segurar um objeto eletrica- meira é muito mais perigosa, pois produz contraturas musculares
mente carregado. que mantém a vítima presa ao condutor e pode levar a fraturas e
Acidentes elétricos em crianças se devem principalmente ao parada cardio-respiratória. A corrente contínua, por sua vez, causa
contato com fios e tomadas, e ao fato de puxa-los ou coloca-los na uma contratura muscular que afasta a vítima do condutor interrom-
boca. Em geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos ou pendo rapidamente o circuito. As correntes que mais interferem na
faces comprometidas. São queimaduras raras, porém sua gravidade contratilidade miocárdica estão entre 40 e 150 ciclos por segundo.
reside na ocorrência de lesões desfigurantes. Realizou-se um estu- A corrente de uso doméstico, na maioria dos paises, encontra-se
do retrospectivo, considerando 19 casos consecutivos operados na nessa faixa (em geral 60 ciclos por segundo).
Clínica Ivo Pitanguy. Em todos eles havia lesão em lábio por queima- Embora não seja possível predizer-se o caminho exato que a
dura elétrica e a faixa etária mais acometida foi de 0 a 8 anos, sendo corrente irá seguir no organismo, se ela atravessar órgão vitais,
mais freqüente no sexo masculino. Crianças maiores são mais pro- como coração e cérebro, os danos serão maiores. Observa-se, con-
pensas a acidentes por alta voltagem peridomiciliar relacionados a tudo, que qualquer órgão pode ser acometido, seja por lesão direta
atividades lúdicas ou de caráter experimental (soltar pipa, subir no ou por falência de outros órgãos afetados.
telhado). Em nosso meio são cada vez mais freqüentes as lesões Os vários tecidos do corpo possuem resistência específicas ao
apresentadas pelos “surfistas ferroviários”. fluxo da corrente sendo em ordem decrescente, osso, gordura, ten-
Acredita-se também que o risco de choque elétrico aumente dão, pele, músculo, vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior
durante os dias quentes de verão porque a resistência do corpo é resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura torna-o mais
freqüentemente diminuída pela sudorese. resistente à lesão térmica, ao passo que vasos e nervos possuem
menos resistência mas são mais susceptíveis à lesão térmica.
Fisiopatologia das lesões produzidas pela corrente elétrica Quanto maior a resistência da pele, tanto mais grave a queima-
Eletricidade pode ser conceituada como um fluxo de elétrons dura local, quanto menor a resistência maior os efeitos sistêmicos.
de átomo a átomo através de um condutor. O efeito de uma cor- Devido à grande resistência da pele, a eletricidade ao atravessa-la
rente elétrica sobre o tecido biológico depende da voltagem (for- produz intensas alterações estruturais conhecidas como “marcas
ça que faz com que os elétrons passem de um átomo para outro), de corrente”. Estas lesões têm características diferentes daquelas
amperagem (quantidade de corrente que passa por um condutor que habitualmente se observam nas lesões térmica comuns. Após
durante um determinado período de tempo), resistência (força que a penetração da corrente elétrica na pele, ela passa rapidamente
se opões ao fluxo de elétrons) e tipo de corrente (contínua – fluxo através do corpo ao longo das linhas de menor resistência, isto é,
de elétrons se dá num único sentido, ou alternada – se o fluxo de através dos fluidos tissulares e ao longo dos vasos sanguíneos, onde
elétrons se alterna em direções opostas de forma regular). pode causar degeneração das paredes e formação de trombos. A le-
Quando um corpo se torna condutor de corrente elétrica para são vascular freqüentemente ocorre a alguma distância da lesão ini-
o solo, as lesões produzidas resultam da conversão de energia elé- cial e concorre para a natureza progressiva da destruição tecidual.
trica em energia térmica. A extensão da lesão tecidual e o calor Em certos casos, parece que todo o corpo serve como um condutor,
gerados pelas correntes elétricas se dão em função da resistência pois surgem sinais retardados de destruição vascular e nervosa.
de cada tecido e sua sensibilidade à destruição térmica, sendo ex- Nas lesões por alta voltagem, a corrente faz um percurso direto
plicados pela fórmula de Joule, onde: a quantidade de calor (DQ) é entre os pontos de entrada e saída, geralmente divergindo entre 2
diretamente proporcional ao quadrado da intensidade da corrente pontos e reduzindo a lesão centralmente. Além disso, observa-se
(I2), à resistência dos tecidos (DR)e à duração do contato (DT). que o meio interno funciona como condutor de resistência unifor-
me, sendo o calor gerado com a passagem da corrente uma conse-
DQ = I2 x DR x DT qüência do diâmetro do condutor. Isso explica a presença de lesões
mais intensas nos membros que no tronco, uma vez que quanto

39
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
menor o diâmetro de um condutor, maior a resistência e o calor Ela é seca e indolor, com bordos geralmente bem definidos, sendo
gerado. Por isso as lesões dos membros costumam ser mais graves. a necrose o aspecto dominante da lesão. A necrose profunda no
Nos membros superiores as temperaturas mais elevadas são ob- tecido subcutâneo e músculos é comum. Partes da túnica média
servadas ao nível do punho e da musculatura flexora do antebraço podem estar enfraquecidas pela desintegração celular, e se a trom-
onde o diâmetro é menor e a concentração de estruturas é menor. bose não ocorrer, as lesões podem levar a hemorragias graves.
b) As queimaduras que se seguem ao salto de um arco elétrico
Arco Voltaico: de um condutor para a pele estão associados principalmente com
Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre os corpos, as correntes de alta tensão.
nele o circuito se completa mesmo sem que a vítima tenha tocado c) O terceiro tipo de lesão é a queimadura por chama, quei-
no condutor. A vítima torna-se parte do circuito. A corrente elétrica, maduras essas que resultam da ignição das roupas por centelhas
nesse caso, move-se externamente ao corpo, a partir do ponto de elétricas ou arcos elétricos. Essas queimaduras em características
contato para o solo. de queimadura térmica comum. Elas são freqüentemente de es-
Essas queimaduras estão associadas à corrente de alta tensão e pessura total pela prolongada exposição do paciente estonteado à
a profundidade depende de quão próxima está da pele. As mesmas chama.
são graves já que o arco elétrico tem uma temperatura de 2.500oC.
O problema do arco elétrico é de particular interesse médico le- Lesões por eletricidade são descritas como feridas tipo “ice-
gal. Acredita-se que o arco ocorra em condições atmosféricas co- berg” porque, muitas vezes, a aparência da queimadura na pele
muns, em linhas de alta tensão aproximadamente 2.5 cm para cada não indica a quantidade de danos musculares e ósseos subjacentes.
20.000 volts. Geralmente, a lesão cutânea é menor do que a destruição profunda
das estruturas adjacentes.
Lesão por raio: Grande parte dos pacientes possui sítios cutâneos demons-
A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por raio são tráveis de entrada e saída de corrente. As regiões de entrada são
extremamente varáveis. Geralmente a vítima está desacordada. Ela comumente notadas nas extremidades superiores ou dorso, e os
pode conservar a respiração espontânea ou tornar-se inconsciente, pontos de saída nos membros inferiores como joelhos e pés.
sem pulso e com parada respiratória. Não deve necessariamente As vítimas de queimaduras por alta tensão freqüentemente,
ser tida como morta, devendo iniciar manobras de ressuscitação perdem momentaneamente a consciência e em alguns casos po-
oferecendo assistência respiratória e cardíaca. Pacientes submeti- dem entrar em coma por hemorragia ou edema cerebral secundá-
dos a grave lesão por raio parecem suportar períodos prolongados rio à lesão elétrica do Sistema Nervoso Central.
de apnéia, talvez por cessação do metabolismo, de modo que o pro- Nervos periféricos são muito sensíveis a forças elétricas e são
cesso degenerativo é retardado. comumente acometidos em vítimas de choque elétrico. Os sinto-
Se o paciente vítima de raio sobrevive, o tratamento precoce mas incluem anestesia, parestesias ou disestesias. Paralisias são
deve incluir a administração de diuréticos osmóticos, grandes volu- pouco comuns. Algumas vezes os sintomas são permanentes. Os
mes de líquidos e alcalinização da urina visto que há extensos danos nervos mediano, ulnar e radial apresentam uma alta incidência de
disfunção persistente. É muito comum haver sintomas neurológicos
musculares levando a mioglobinúria.
periféricos a despeito de estudos neurofisiológicos normais.
Vítimas de choque elétrico freqüentemente apresentam desor-
Características Clínicas:
dens do Sistema Nervoso Autônomo, em particular, distrofia simpá-
A lesão local pode variar desde uma lesão puntiforme a uma
tica reflexa e hipertensão.
necrose extensa de todas as estruturas. Os pontos de entrada, em
Quando a disfunção nervosa periférica é documentada, a asso-
geral, apresentam carbonização com depressão central e os pontos
ciação da desordem autonômica chamada de causalgia.
de saída são em geral menores e mostram a pele evertida como se a
Alterações da função cerebral podem ser tanto transitórias
corrente houvesse “empurrado” a pele para sair. As lesões extensas quanto permanentes, com possíveis mudanças permanentes mes-
se comportam como a síndrome de esmagamento e os músculos mo sem injúria tecidual.
lesados podem liberar grande quantidade de mioglobina, que atin- Quando a corrente elétrica passa através do cérebro ou medula
ge o máximo em torno da primeira hora podendo levar à obstrução espinhal podem ocorrer lesões permanentes.
dos túbulos renais e necrose tubular aguda. É comum também ocorrer lesões permanentes da personalida-
Em áreas de maior resistência (diâmetro menor), as lesões tem de, confusão, problemas de aprendizagem e memória, concentra-
a característica de serem “progressivas” e de manifestação tardia. ção, funções intelectuais e, o que é mais raro, afasia. A mais comum
Pacientes com trauma elétrico por alta voltagem geralmen- complicação neurofisiológica é a perda de memória. Problemas
te possuem uma lesão em forma de “casaco negro” na superfície psiquiátricos incluem fobia, ansiedade, irritabilidade, depressão e
da pele que é resultante da vaporização do contato com o metal. psicose.
Quando esta cobertura é retirada da pele, a injúria, propriamente As alterações cardíacas, em geral, regridem espontaneamente
dita, é visível. algumas horas após a lesão e a mais freqüente é a fibrilação ventri-
As feridas da lesão elétrica são extremamente variáveis, depen- cular, mas em alguns casos, observamos alterações do segmento ST
dendo do tipo e da intensidade da corrente, dos tecidos pelos quais e taquicardia persistirem por algumas semanas. Decorre, em geral,
a corrente passou e o grau de contato. da ação direta da corrente elétrica sobre a musculatura cardíaca, ou
Essas lesões podem ser divididas em 3 categorias: então, sobre as células ganglionares nela contidas. Em outros casos,
a) a verdadeira lesão elétrica é causada pela passagem de uma a parada cardíaca pode resultar de uma inibição do coração por es-
corrente elétrica através da pele após o contato com o condutor. tímulos dos centros vagais da medula. Os pacientes que morrem
As feridas de entrada e saída características geralmente significam nesta situação se apresentam pálidos e é chamada “morte branca”.
destruição local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica A parada cardíaca mais tardia pode surgir em seguida a uma
é irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos secos, depri- parada respiratória não suficientemente tratada. O fator determi-
midos e dá a aparência que a corrente elétrica explodiu quando fez nante neste caso é a anóxia do miocárdio. Os doentes quando mor-
sua saída. Geralmente a lesão aparece como uma área isquêmica, rem se apresentam cianosados, sendo este tipo de acidente conhe-
de um amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se chamuscado. cido por “morte azul”.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Uma queixa comum é dor precordial semelhante à angina de Se o coração não está batendo, há provavelmente fibrilação
peito associada à dispnéia. ventricular e a massagem cardíaca deve ser feita até que o paciente
Complicações pulmonares agudas estão limitadas a danos pleu- possa ser removido para um local onde seja possível a desfibrilação.
rais, resultando em efusões e pneumunites lobulares, diretamente A recuperação das vítimas de energia elétrica será tanto mais
adjacentes à área do ponto de contato. Essas complicações são fre- problemática quanto mais tardiamente for instituída a terapêutica
qüentemente evidentes ao fim da primeira semana. As infecções apropriada. Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode
pulmonares são geralmente o resultado de infecções sistêmicas ou lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais como os do
complicações da terapêutica inalatória prolongada. sistema nervoso.
Quanto às lesões vasculares, a trombose venosa se observa Além da avaliação cardiorrespiratória é necessário verificar
mais freqüentemente em queimaduras de membros superiores e o estado hemodinâmico e as lesões apresentadas pela vítima na
membros inferiores. chegada ao hospital. Sabe-se que na queimadura elétrica por alta
As lesões arteriais se observam em zonas expostas como a face voltagem não existe relação entre superfície de pele queimada e
palmar das mãos e podem ocasionar quadros isquêmicos distais a lesão tecidual profunda. É importante avaliar a situação vascular
por trombose aguda. A perfusão distal do membro pode também dos membros, possíveis lesões viscerais e traumatismos associados
ser comprometida por edema importante. Existem também possi- (fraturas, traumatismos de tórax, ferimentos em geral, etc).
bilidades de complicações tardias como as dilatações aneurismáti- É necessário monitorizar o paciente através de: registro cardíaco e
cas com perfurações da parede arterial que provocam hemorragias saturação de oxigênio, temperatura, diurese e monitorização hemodi-
agudas, quadros de trombose, infecções e trombose de zonas ad- nâmica (cateter de Swan Ganz) em determinados casos. Se a urina tem
jacentes. a cor de vinho do Porto ou um vermelho escurecido, há indubitavel-
A lesão renal manifestada como insuficiência caracteriza uma mente lesão muscular maciça, e a urina contém mioglobina.
complicação freqüente devido ao choque hipovolêmico, depósito Em relação à reposição hídrica nas vítimas de queimadura elé-
de mioglobina nos túbulos renais, CID por destruição de hemácias e trica não é útil a utilização de fórmulas orientativas em função da
liberação de hemoglobina. superfície corporal queimada. As lesões elétricas resultam numa
As lesões hematológicas caracterizam-se por uma leucocitose perda imediata de líquidos para a área dos tecidos subseqüente
na fase aguda associada a hemoconcentração e maior liberação de a liberação de mioglobina a partir das células musculares para a
granulócitos a nível medular. A trombocitopenia ocorre em uma faz circulação. A administração de líquidos deve realizar-se em função
mais tardia.Uma leucopenia neutropênica pode ser indício de uma da resposta hemodinâmica e renal. A excessiva eliminação de pig-
sepse por Gram negativo. mentos pela urina e seu depósito nos túbulos renais resulta num
Como complicação rara de acidente por alta voltagem pode- risco aumentado de insuficiência renal aguda, por isso é prioritário
mos citar aplasia medular aguda com depleção total da mielopoie- manter uma diurese horária entre 50 e 100 ml/hora em adultos e
se. 2ml/Kg/hora em crianças, podendo ser útil o uso de diuréticos os-
Um achado freqüente em autópsia após lesões elétricas são as móticos, como o manitol, sempre que o aporte de líquido for su-
hemorragias submucosas espalhadas através do trato gastrointesti- ficiente. A alcalinização da urina com a utilização de bicarbonato
nal. Essas sugerem que haja uma lesão intra-abdominal por efeito de sódio IV (1 mEq/Kg) reduz também a precipitação de pigmentos
direto da corrente. nos túbulos. Na falta de resposta renal, mesmo em situações de
Um problema diagnóstico ocorre nas lesões elétricas do abdo- hiperhidratação, pode-se utilizar cloridrato de dopamina em doses
me, pois é difícil determinar se há ou não lesão intra-abdominal baixas (1-2 ug/Kg/min).
presente. A avaliação cuidadosa dos sinais e sintomas intra-abdo- Na reposição inicial deve-se utilizar líquido isotônico. Para as
minais é importante, deve-se evitar fazer um diagnóstico de íleo queimaduras menores de pequena voltagem, pouca terapêutica
paralítico associado com lesão elétrica e esquecer-se de que a lesão de reposição é necessária. Já quando há um maior dano elétrico,
intestinal como resultado da corrente pode estar presente. grandes volumes de líquidos são necessários. Nestes casos, a lesão
Em alguns casos pode haver fraturas ósseas geradas pela vio- elétrica é bastante similar à lesão por esmagamento, e uma quanti-
lenta contratura muscular induzida pelas lesões de corrente alter- dade maciça de líquidos deve ser usada para reposição.
nada. Está indicada a utilização de hemofiltração artério-venosa con-
A queimadura elétrica na cabeça ou pescoço pode resultar tar- tínua na IRA aguda precoce e no curso da evolução do paciente que
diamente em catarata de um ou ambos os olhos. não responde ao tratamento médico habitual. A hemofiltração per-
Às vezes, os sintomas são permanentes impedindo o paciente mite o controle e ajuste constante do balanço hidroeletrolítico com
de retornar ao trabalho. vantagens evidentes sobre a hemodiálise intermitente.
Quando a lesão é meramente uma queimadura térmica e não
Tratamento: há evidência de lesão elétrica verdadeira, a manipulação hídrica
deve seguir os princípios usuais de reposição em queimaduras tér-
a) Princípios Gerais micas.
Os pacientes com lesões elétricas merecem controles analíticos
· Reanimação Inicial: sangüíneos como hemograma, provas de coagulação, bioquímica
Em primeiro lugar a vítima deve ser afastada da corrente o mais geral incluindo eletrólitos, gasometria, etc... .
rapidamente possível. Aquele que presta socorro deve estar certo
de que a corrente está desligada antes de tocar a vítima para evitar · Profilaxia antibiótica
ser lesado também. A antibioticoterapia sistêmica deve ser instituída mais incisi-
O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem pode produzir vamente no queimado por eletricidade do que nas queimaduras
mortes imediatas por parada cardíaca ou cardiorrespiratória, por térmicas, por causa da grande destruição tecidual, entretanto esta
isto as manobras de reanimação mediante massagem cardíaca ex- abordagem precoce continua sendo controversa.
terna e respiração artificial são necessárias para evitar a morte ime- A cobertura antibiótica, quando indicada, deve atuar sobre
diata da vítima. Staphylococcus aureus. Em queimaduras com necrose tissulares
profundas importantes também pode-se realizar cobertura frente
a antibióticos.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
·Profilaxia antitetânica dos defeitos no mesmo ato cirúrgico. As queimaduras em dedos
A profilaxia antitetânica é obrigatória por ser o tétano uma exigem, muitas vezes, a utilização de retalhos da vizinhança ou pe-
complicação de extrema freqüência em queimados. diculados com bom aporte vascular.

b) Evolução das queimaduras elétricas. . Queimadura elétrica por alta voltagem


Geralmente as queimaduras elétricas afetam uma superfície O tratamento cirúrgico tem por objetivo eliminar grandes
cutânea relativamente pequena, especialmente as produzidas por massas de tecidos desvitalizados para favorecer a recuperação dos
correntes de baixa voltagem. Estas últimas, exceto no período ini- transtornos gerais do grande queimado, controlar a infecção e dimi-
cial não apresentam complicações importantes. nuir a morbidade de seqüelas.
As queimaduras de relativa extensão por alta voltagem elevam A localização mais freqüente da queimadura é nas extremida-
consideravelmente o número de complicações devido à magnitude des, especialmente as superiores. Na avaliação das lesões, deve-se
das lesões, aparentemente ocultas, dos tecidos profundos, sendo o valorizar os pontos de entrada e saída, a localização da queimadura,
tratamento cirúrgico inicial mais extenso. Nestes pacientes a com- a evidência de dano muscular e a situação vascular do membro.
plicação mais grave na fase inicial é a insuficiência renal aguda, sen- Deve-se considerar possíveis lesões nervosas em queimaduras lo-
do as causas mais freqüentes de morte a sepse, o choque séptico e calizadas sobre o antebraço e punho, a intensidade do edema pro-
a falência de múltiplos órgãos. Estas complicações podem ser evi- ximal e a possível instalação de uma síndrome compartimental. Em
tadas pela detecção precoce dos primeiros sinais de infecção, por lesões torácicas e abdominais é importante verificar a possibilidade
alteração nos parâmetros clínicos e culturas seriadas. de dano visceral. No comprometimento da cabeça, o crânio oferece
A infecção por Pseudomonas aeruginosa pode aparecer tar- na maioria dos casos, proteção suficiente para evitar comprometi-
diamente, sendo que hemoculturas negativas não excluem essa mento cerebral.
possibilidade; e sempre deve ser suspeitada na vigência de sinais Nas queimaduras por alta voltagem, pode ser necessária algu-
de gravidade como: deterioração da função renal, instabilidade he- mas medidas cirúrgicas urgentes, como escaratomia, fasciotomia e
modinâmica com decréscimo da saturação de oxigênio, febre alta, amputação em alguns casos.
aparecimento brusco ou agravamento da coagulopatia de consumo A escaratomia está indicada em queimaduras de membros
e leucopenia neutropênica. circulares, semicirculares ou quando existe um edema intenso. As
No queimado elétrico a evolução clínica vai influenciar a preco- incisões devem evitar que fiquem expostos os troncos nervosos ou
cidade do tratamento cirúrgico. as artérias principais. As queimaduras da parede torácica também
requerem uma atuação imediata.
c) Conduta em relação aos tecidos desvitalizados A fasciotomia está indicada quando há edema importante em
Nas queimaduras por eletricidade o tempo da ressecção dos membros ou em tecidos profundos que elevem a pressão intracom-
tecidos desvitalizados é controverso. Enquanto um grupo de auto- partimental acima de 30 mmHg ou quando o critério clínico assim
res preconiza ressecção imediata, outro grupo prefere faze-la mais o aconselhe. Ao realizar a fasciotomia gera-se uma ferida ampla,
tardiamente. sendo aconselhável sua cobertura com retalhos ou enxertos de pele
Realmente, nem todas as queimaduras resultantes de acidente se os tecidos profundos que ficam expostos não estão queimados.
por eletricidade podem ser consideradas como verdadeiras quei- Se, ao contrário, os tecidos profundos apresentam-se afetados pela
maduras elétricas. Muitas dessas queimaduras comuns e o trata- queimadura, é aconselhável o tratamento com antimicrobianos tó-
mento em nada se diferenciam daquele empregado nas queimadu- picos (creme de sulfadiazina de prata).
ras por outros agentes. Não é freqüente que se proceda como medida urgente a am-
Na avaliação e tratamento das lesões causadas por eletricidade putação de um membro, exceto naqueles casos nos quais deve-se
deve-se levar em conta uma série de fatores tais como: caracterís- evitar complicações ou quando o membro ou segmento distal seja
ticas evolutivas próprias das lesões elétricas, topografia das lesões absolutamente inviável. Nestes casos, o nível proximal de amputa-
elétricas, extensão e localização das queimaduras associadas. ção é difícil de estabelecer, pela existência de grave deterioração
A necrobiose das lesões por eletricidade apresenta caráter pro- muscular próximos a zonas de laceração cutânea.
gressivo, sendo difícil o reconhecimento precoce da quantidade de
tecidos cuja vitalidade foi ou será comprometida de modo irreversí- d) Conduta em relação ao fechamento das áreas cruentas
vel. Geralmente um segundo e algumas vezes um terceiro desbrida- Na cobertura de áreas cruentas onde há exposição de estru-
mento serão necessários. A trombose após uma lesão elétrica priva turas profundas como tendões, vasos, nervos e ossos, retalhos
as fibras musculares de seu suprimento sangüíneo, seguindo-se sua pediculados são preferidos, pois estas áreas constituem mau leito
morte. nutriente aos enxertos de pele. Os transplantes pediculados garan-
tem sua própria nutrição assim como nutrem e protegem melhor as
. Queimadura elétrica por baixa voltagem estruturas expostas.
Esses pacientes requerem internação hospitalar para observa- Nos casos em que se torna difícil a utilização de retalhos devido
ção. Podem ocorrer alterações eletrocardiográficas que se resolvem a localização e extensão das lesões, inicialmente são usados os en-
espontaneamente. xertos de pele. Estes devem ser colocados de preferência sobre as
O tratamento cirúrgico, que raramente tem caráter de urgên- áreas granulantes que circundam as estruturas que não granulam.
cia, deve considerar a localização das lesões para evitar seqüelas Em alguns casos, ocorre até a integração de enxertos colocados
funcionais importantes. sobre pequenas porções de tendões expostos.
Uma atitude habitual é esperar a resolução do edema em zo- Nos casos de enxertos colocados como pontes sobre pequenas
nas próximas e a demarcação das queimaduras menos profundas, áreas de ossos expostos, a nutrição é garantida através de sua peri-
periféricas e da lesão principal, em torno de até 72 horas. feria pelas porções restantes dos enxertos que se apóiam em bom
Mesmo para um cirurgião experiente, é difícil estabelecer a di- leito nutriente. Mesmo quando os enxertos em contato com ossos e
ferenciação de tecidos viáveis nas excisões imediatas. Em queima- tendões expostos não sobrevivem, a melhoria das condições locais
duras de mãos e dedos com comprometimento de tecidos profun- resultantes do fechamento das áreas granulantes circunvizinhas fa-
dos, deve-se considerar prioritária a excisão precoce com cobertura vorece a cobertura de tais estruturas pelo tecido de granulação. A

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
posterior retração desse tecido e sua cobertura pelo epitélio vizi- de tecido necrótico. Insuficiência cardíaca e renal causados por li-
nho resolve o problema, se não de modo definitivo, pelo menos beração de mioglobina na circulação deve ser prevenida. Atenção
provisoriamente. deve ser direcionada maximizando manutenção tecidual e preve-
Quando segmentos maiores de ossos são expostos, deve ser nindo tardiamente complicações esqueléticas e neuromusculares.
feito o reavivamento do osso através da ressecção de toda a tábua Procedimentos reconstrutivos de transferência tecidual sadio à
externa, pondo-se a descoberto a medular de ossos chatos ou, nos distância são necessários para otimizar a transferência de tecidos
ossos longos, a ressecção de porções variáveis da camada compacta remanescentes. Finalmente, a menos que o paciente esteja em rea-
até planos onde o sangramento seja mais fácil. A cobertura do osso bilitação psicológica, o real benefício de outros tratamentos mais
pelo tecido de granulação acontece dias depois. sofisticados podem não ser plenamente satisfatórios. Essas ressal-
A técnica da utilização de enxertos de pele é mais simples, de vas são importantes para que o tratamento do paciente obtenha
execução mais rápida e interfere menos intensamente com o trata- êxito.
mento das demais lesões. É freqüente o enxerto intermediário de No futuro, novos “guidelines” para o tratamento de trauma
pele constituir boa cobertura definitiva para estas áreas. Quando elétrico serão baseados num claro entendimento das característi-
isto não ocorre, eles podem, em qualquer tempo, ser substituídos cas fisiopatológicas. Essas estratégias irão permitir uma melhora do
por retalhos pediculados, os quais serão executados em melhores diagnóstico por imagem e a reversão da lesão da membrana celu-
condições (ausência de infecção ou grave comprometimento do es- lar. Além do mais, interações fisiopatológicas do sistema orgânico e
tado geral do paciente). complexos bioquímicos não requerem cuidados especiais. Se alcan-
çado sucesso pesquisas devem melhorar o prognóstico de vítimas
e) Conduta em relação às amputações após o choque elétrico.16
As amputações nas lesões por eletricidade são mais freqüentes
do que nas queimaduras por outros agentes. Baropatia
Nas lesões por eletricidade, a indicação da amputação não Um barotrauma é uma manifestação patológica ligada a varia-
apresenta caráter de urgência, pois as necrobioses dos tecidos que ções de pressão no interior do corpo. Pode ser causado, por exem-
levam à amputação se apresentam secas, produzindo no organismo plo, por um avião mal pressurizado ou por problemas durante um
repercussões relativamente pequena nos primeiros dias. mergulho.
A espera de alguns dias fornecerá uma melhor delimitação dos Podem ser cavitárias ou plasmáticas.
tecidos a serem ressecados e evita a possibilidade de novas necro- A doença da descompressão é um distúrbio no qual o nitrogê-
bioses no coto de amputação. Este fato é mais importante quando nio dissolvido no sangue e nos tecidos devido a uma pressão eleva-
se trata de pequenos segmentos lesados, pois as necrobioses pro- da forma bolhas quando a pressão diminui.
duzem pouca repercussão sobre o estado geral dos pacientes e, por - Os sintomas podem incluir fadiga e dor nos músculos e arti-
menor que sejam os segmentos poupados, há um grande benefício culações.
do ponto de vista funcional. - No tipo mais grave, os sintomas podem ser semelhantes aos
Quando as amputações em grandes segmentos não podem ser do acidente vascular cerebral ou podem incluir dormência, formiga-
feitas com boa margem de segurança, deve ser preferido o método mento, fraqueza no braço ou perna, instabilidade, vertigem (tontei-
aberto. Neste caso faz-se o desbridamento de tecidos mortificados, ra), dificuldade respiratória e dor no peito.
preservando os tecidos viáveis. Em tempo posterior, quando houver - As pessoas são tratadas com oxigenoterapia e recompressão
estabilização das condições locais e gerais dos pacientes, serão fei- (oxigênio de alta pressão ou hiperbárico).
tas as correções necessárias no coto. - Limitar a profundidade e duração dos mergulhos e a velocida-
de da subida pode ajudar a prevenir.
As características de patogênese e fisiopatologia das lesões elé-
tricas são muito mais complexas do que se pensava. As contribui- O ar é composto principalmente por nitrogênio e oxigênio. Vis-
ções de dano térmicas e puramente elétricas dependem da duração to que o ar submetido a uma pressão elevada se comprime, cada
da passagem da corrente elétrica, na orientação das células, na lo- inspiração efetuada em profundidades contém muito mais molé-
calização, e outros fatores. Se o tempo de contato é curto, mecanis- culas do que uma inspiração feita à superfície. Como o organismo
mos não-térmicos de destruição celular serão mais importantes e a utiliza continuamente o oxigênio, de forma geral, o excesso de mo-
destruição será relativamente restrita à membrana celular. Entre- léculas de oxigênio respiradas sob uma pressão elevada não se acu-
tanto se o tempo de contato é maior, destruição por calor predomi- mula. Contudo, o excesso de moléculas de nitrogênio se acumula
na e toda a célula é afetada diretamente. Esses parâmetros também no sangue e nos tecidos.
determinam a destruição anatômica da lesão. À medida que a pressão externa diminui durante a subida após
A lesão pelo mecanismo de Joule não está esclarecida como o mergulho ou ao deixar um ambiente de ar comprimido, o nitro-
dependente do tamanho celular, embora células maiores são mais gênio acumulado, que não pode ser expirado de imediato, forma
vulneráveis à lise de sua membrana por eletroplessão. Células so- bolhas no sangue e nos tecidos. Essas bolhas podem se expandir e
brevivem a uma ruptura temporária da membrana plasmática sob lesionar os tecidos ou obstruir os vasos sanguíneos de muitos ór-
apropriadas circunstâncias ou se a terapia for rapidamente instituí- gãos, quer seja diretamente, quer seja dando origem a pequenos
da. Se a permeabilidade de membrana é a condição patológica pri- coágulos de sangue. Essa obstrução dos vasos sanguíneos causa
mária celular, então, a lesão tecidual pode ser evitável e o próximo dor e vários outros sintomas às vezes semelhantes, por exemplo,
passo é identificar a técnica que reverta a lesão prontamente. aos do acidente vascular cerebral (como fraqueza súbita num lado
O padrão atual de tratamento para lesão elétrica requer uma do corpo, dificuldade respiratória, tontura) ou até mesmo sintomas
equipe multidisciplinar, UTI bem equipada e avaliações periódicas parecidos com os da gripe. As bolhas de nitrogênio também provo-
por médicos especialistas. Hospitais universitários com Centro de cam inflamação, causando inchaço e dor em músculos, articulações
Queimados devem ser os locais ideais de tratamento de vítimas por e tendões.
trauma elétrico. Após ressuscitação inicial, esforços são direciona-
dos primariamente para prevenção de perda tecidual através da
síndrome compartimental, neuropatias compressivas ou presença
16 Fonte: www.siteantigo.portaleducacao.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O risco de desenvolver a doença de descompressão aumenta Doença de descompressão tipo II (mais grave)
com muitos dos seguintes fatores: O tipo mais grave de doença de descompressão tem como
- Certos defeitos cardíacos, como forame oval patente ou de- consequência mais frequente o aparecimento de sintomas neuro-
feito do septo atrial lógicos, que vão desde um entorpecimento até paralisia e morte. A
- Água fria medula espinhal é particularmente vulnerável.
- Desidratação Os sintomas de envolvimento da medula espinhal podem in-
- Viagem aérea após mergulhar cluir dormência, formigamento, fraqueza ou uma combinação des-
- Esforço ses nos braços, pernas ou em ambos. Uma leve debilidade ou for-
- Fadiga migamento pode evoluir em horas para uma paralisia irreversível.
- Aumento de pressão (ou seja, a profundidade do mergulho) A incapacidade de urinar ou incapacidade de controlar a micção ou
- Tempo despendido em um ambiente pressurizado a defecação também pode ocorrer. A dor no abdômen e nas costas
- Obesidade também é comum.
- Idade avançada Os sintomas de envolvimento cerebral que, em sua maioria,
- Subida rápida são semelhantes aos da embolia gasosa, incluem
- Dor de cabeça
Visto que o excesso de nitrogênio se mantém dissolvido nos te- - Confusão
cidos corporais durante, pelo menos, 12 horas depois de cada imer- - Dificuldade para falar
são, as pessoas que realizam várias imersões durante um dia têm - nVisão dupla
mais probabilidade de sofrer da doença de descompressão do que
quem realiza uma única imersão. Uma viagem aérea 12 a 24 horas A perda de consciência é rara.
após o mergulho (como no final de umas férias) expõe as pessoas Os sintomas de envolvimento do ouvido interno, como ver-
a uma pressão atmosférica ainda mais baixa, fazendo com que a tigem grave, zumbido nos ouvidos e perda de audição, ocorrem
doença de descompressão seja ligeiramente mais provável. quando os nervos do ouvido interno são afetados.
É possível que se formem bolhas de nitrogênio nos pequenos Os sintomas de envolvimento dos pulmões causados por bo-
vasos sanguíneos ou nos próprios tecidos. Os tecidos adiposos, lhas de gases que percorrem as veias até os pulmões provocam
como os do cérebro e medula espinhal, são particularmente pro- tosse, dor no peito e agravam progressivamente a dificuldade para
pensos a sofrer da doença, porque o nitrogênio se dissolve rapida- respirar (a asfixia). Os casos graves, que são raros, podem resultar
mente na gordura. em choque e morte.
- A doença de descompressão tipo I tende a ser leve e afeta
principalmente as articulações, a pele e os vasos linfáticos. Efeitos tardios da doença de descompressão
- A doença de descompressão tipo II, que pode trazer risco à A osteonecrose disbárica (às vezes chamada necrose óssea
vida, muitas vezes afeta os sistemas dos órgãos vitais, incluindo o avascular) pode ser um efeito tardio da doença de descompressão,
cérebro e a medula espinhal, o sistema respiratório e o sistema cir- ou pode ocorrer na ausência de doença de descompressão. Ela
culatório. envolve a destruição de tecido ósseo, sobretudo nos ombros e no
quadril. A osteonecrose disbárica pode produzir dor persistente e
Sintomas incapacidade grave. Essas lesões raramente ocorrem entre os mer-
Os sintomas da doença de descompressão geralmente mani- gulhadores recreativos, mas são mais comuns entre as pessoas que
festam-se de forma mais lenta do que os da embolia gasosa e do trabalham num ambiente de ar comprimido e entre os mergulhado-
barotrauma pulmonar. Apenas metade das pessoas com doença res que trabalham num habitat subaquático em águas profundas.
de descompressão apresenta sintomas ao fim de 1 hora depois de Muitas vezes, não há eventos iniciais específicos que a pessoa possa
chegar à superfície, ao passo que 90% manifestam sintomas após 6 identificar como a fonte dos sintomas, quando eles aparecem.
Esses trabalhadores ficam expostos a uma pressão elevada du-
horas. É normal que os sintomas comecem aos poucos e demorem
rante longos períodos e a sua doença pode não ser detectada. Os
algum tempo até alcançar o seu ponto máximo de efeito. Os primei-
mergulhadores técnicos, que mergulham em grandes profundida-
ros sintomas podem ser
des em comparação aos mergulhadores recreativos, podem correr
- Fadiga
um maior risco que os mergulhadores recreativos. A osteonecrose
- Perda de apetite
disbárica geralmente não causa sintomas, mas se ocorrer perto de
- Dor de cabeça
uma articulação pode progredir gradualmente, ao longo de meses
- Vaga sensação de doença
ou anos, a uma artrite grave e incapacitante. Quando ocorre um
dano articular grave, o único tratamento possível é a substituição
Doença de descompressão tipo I (menos grave) da articulação.
O tipo menos grave (ou forma musculoesquelética) da doen- Problemas neurológicos permanentes, como uma paralisia par-
ça de descompressão, muitas vezes chamada doença dos mergu- cial, geralmente resultam de tratamento tardio ou inadequado para
lhadores, normalmente provoca dor. A dor tende a se manifestar os sintomas da medula espinhal. No entanto, em alguns casos, o
geralmente nas articulações dos braços ou das pernas, costas ou dano é tão grave que não pode ser corrigido nem mesmo com tra-
músculos. Por vezes, é difícil localizar a região. A dor pode ser leve tamento adequado. Os tratamentos repetidos com oxigênio numa
ou intermitente no início, mas pode se intensificar de forma cons- câmara de pressão elevada parecem ajudar algumas pessoas a se
tante e tornar-se grave. A dor pode ser aguda ou pode ser descrita recuperarem de danos na medula espinhal.
como profunda ou como algo que está perfurando o osso. Piora
com o movimento. Diagnóstico
Os sintomas menos comuns incluem coceira, pele mosqueada,
linfonodos inchados, erupção cutânea e fadiga aguda. Esses sinto- - Avaliação de um médico
mas não são potencialmente mortais, mas podem preceder proble- A doença de descompressão é reconhecida pela natureza dos
mas mais perigosos. sintomas e por seu aparecimento associado ao mergulho. Exames
como tomografia computadorizada (TC) ou imagem por ressonân-

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
cia magnética (RM), por vezes, demonstram anomalias no cérebro Terapia por recompressão
ou na medula espinhal, mas não são confiáveis. No entanto, a tera- Qualquer outro sintoma da doença de descompressão indica
pia de recompressão é iniciada antes de se obterem os resultados a necessidade de um tratamento numa câmara de pressão eleva-
de uma TC ou de uma RM, exceto quando o diagnóstico não está da (de recompressão ou de oxigênio hiperbárico), porque a terapia
claro ou quando o estado do mergulhador é estável. A RM costuma de recompressão repõe a circulação sanguínea normal e o oxigênio
ser o diagnóstico de osteonecrose disbárica. nos tecidos afetados. Depois da recompressão, a pressão é redu-
zida aos poucos, com pausas preestabelecidas, para que os gases
Prevenção em excesso tenham tempo de abandonar o organismo sem causar
Os mergulhadores procuram prevenir a doença de descom- lesões. Uma vez que os sintomas podem voltar a surgir ou podem
pressão evitando a formação de bolhas gasosas. Eles fazem isso li- piorar após as primeiras 24 horas, submete-se a tratamento mesmo
mitando a profundidade e a duração dos mergulhos até o ponto em as pessoas que apresentam apenas dor moderada ou transitória ou
que não seja necessário fazer paradas de descompressão durante a sintomas neurológicos.
subida (aquilo que entre os mergulhadores é conhecido como limi- A terapia de recompressão é benéfica até 48 horas depois do
tes sem paradas) ou, então, subindo com paradas de descompres- mergulho e deve ser aplicada mesmo que chegar à câmara mais
são, como se especifica em diretrizes confiáveis, como na tabela de próxima suponha uma viagem longa. Durante o tempo de espera e
descompressão em Descompressão gasosa, um capítulo do United o de transporte, deve ser administrado oxigênio com uma máscara
States Navy Diving Manual (Manual de Mergulho da Marinha dos facial muito bem ajustada e líquidos por via oral ou por via intra-
Estados Unidos). venosa. Um atraso prolongado no tratamento aumenta o risco de
Nestes textos, é descrito um padrão de subida que, geralmente, lesões permanentes.17
permite eliminar o excesso de nitrogênio sem causar lesões. Mui-
tos mergulhadores levam consigo um dispositivo computadorizado Ação química
portátil submersível que analisa continuamente a profundidade e o Toxicologia é a ciência que estuda a natureza e o mecanismo
tempo de permanência. O computador calcula a tabela de descom- das lesões tóxicas nos organismos vivos expostos aos venenos. Se-
pressão para um regresso seguro à superfície e indica quando são gundo definição deCasarett: “Toxicologia é a ciência que define os
necessárias paradas de descompressão. limites de segurança dos agentes químicos, entendendo-se como
Além de se guiar por um gráfico ou por tabelas computadori- segurança a probabilidade de uma substância não produzir danos
zadas para a subida, muitos mergulhadores fazem uma parada de em condições especiais”.
segurança durante uns minutos, a cerca de 4,5 metros da superfície. Veneno é toda substância que incorporada ao organismo vivo,
No entanto, o cumprimento desses procedimentos não elimina produz por sua natureza, sem atuar mecanicamente, e em determi-
o risco de sofrer da doença de descompressão. Um pequeno nú- nadas concentrações, alterações da fisico-química celular, transitó-
mero de casos de descompressão ocorre depois de mergulhos sem rias ou definitivas, incompatíveis com a saúde ou a vida.
paradas. A persistência da doença de descompressão pode se dever Paracelso, no século XVI já estabelecia o aforismo básico: “To-
ao fato de tabelas e programas existentes não fazerem referência das as coisas são venenosas, é a dose que transforma algo em ve-
completa à variação nos fatores de risco entre diferentes mergulha- neno”.
dores ou ao fato de algumas pessoas não respeitarem as recomen-
dações das tabelas ou dos computadores. Intoxicação Exógena ou Envenenamento:
Também são necessárias outras precauções: É o resultado da contaminação de um ser vivo por um produto
- Após vários dias de imersões, recomenda-se passar um pe- químico, excluindo reações imunológicas tais como alergias e infec-
ríodo de 12 a 24 horas (por exemplo, 15 horas) na superfície, antes ções.
de se fazer uma viagem aérea ou de se deslocar a uma altitude su- Para que haja a ocorrência do envenenamento são necessários
perior. três fatores: substância, vítima em potencial e situação desfavorá-
- As pessoas que se recuperaram por completo de uma doença vel.
de descompressão leve devem evitar praticar mergulho durante um Toxicidade é a capacidade de uma substância produzir efeitos
período de, pelo menos, duas semanas. Após a doença de descom- prejudiciais ao organismo vivo.
pressão grave, é melhor esperar mais tempo (pelo menos um mês)
e ser avaliado por um médico antes de mergulhar novamente. Fases da Toxicologia
- As pessoas que sofreram uma doença de descompressão, A Toxicologia tem sido caracterizada através dos séculos por
apesar de terem seguido as recomendações da tabela de imersão circunstâncias que podem situá-la em três fases:
ou do computador, poderão voltar a mergulhar apenas depois de a) Descoberta dos tóxicos na natureza: alimentos, plantas e
uma meticulosa avaliação médica para detectar fatores subjacentes animais;
de risco, como uma anomalia cardíaca. b) Fins primitivos e homicidas: arsênico, cianeto, estricnina, etc;
c) Toxicologia Moderna: Intoxicações profissionais, alimenta-
Tratamento res, iatrogênicas, etc.
- Oxigênio
- Às vezes, terapia de recompressão Ciências Da Toxicologia
A Toxicologia busca o conhecimento das manifestações pro-
Cerca de 80% das pessoas se recuperam completamente. duzidas pelos venenos no organismo e tudo que se relaciona aos
Os mergulhadores com apenas prurido, erupção cutânea e fa- mesmos. Por suas variadas áreas de interesse é uma ciência multi-
diga em geral não precisam ser submetidos à recompressão, mas disciplinar, pois é integrada por várias ciências:
devem permanecer sob observação, pois podem apresentar sinto- • Química Toxicológica: Estrutura Química e Identificação dos
mas mais sérios. A respiração de oxigênio puro através de uma más- Tóxicos.
cara bem ajustada pode proporcionar algum alívio. • Toxicologia Farmacológica: Efeitos Biológicos e Mecanismos
de Ação.
17 Fonte: www.msdmanuals.com

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Toxicologia Clínica: Sintomatologia, Diagnóstico e Terapêuti- Há também elevada ocorrência de acidentes por animais peço-
ca. nhentos representando para alguns estados do Brasil o maior per-
• Toxicologia Ocupacional: Prevenção, Higiene do Trabalho. centual de envenenamentos registrados.
• Toxicologia Forense: Implicações de Ordem Legal e Social.
• Epidemiologia das Intoxicações. Alguns grupos de agentes que causam intoxicações e suas ca-
• Toxicologia Ambiental. racterísticas
• Toxicologia dos Alimentos.
Medicamentos:
Estas ciências interessam, portanto, aos profissionais de várias Tipo mais freqüente de intoxicação em todo o mundo, inclusive
áreas: médicos, sanitaristas, farmacêuticos, ecologistas, veteriná- no Brasil. Ocorre frequentemente em crianças e em tentativas de
rios, biólogos, psicólogos, etc., cada um visualizando o veneno por suicídio.
uma determinada ótica.
Domissanitários:
Programas de Toxicovigilancia Produtos de composição e toxicidade variada, responsável por
Centros Antiveneno têm como missão e responsabilidade o muitos envenenamentos.
controle, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das intoxica- Alguns são produzidos ilegalmente por “fábricas de fundo de
ções exógenas, e para isto devem desenvolver ações de toxicovigi- quintal”, e comercializados de “porta em porta”.
lância permanentes. Geralmente tem maior concentração, causando envenena-
mentos com maior freqüência e de maior gravidade que os fabri-
Ações de Toxicovigilância cados legalmente.
1. Identificação de problemas: estudos epidemiológicos, ava-
liação de riscos; Inseticidas de uso Doméstico:
2. Medidas de controle dos produtos: proibição, restrição, uso São pouco tóxicos quando usados de forma adequada. Podem
controlado; causar alergias e envenenamento, principalmente em pessoas sen-
3. Desenvolvimento de ações conjuntas com órgãos de Saúde, síveis. A desinsetização em ambientes domiciliar, comercial, hospi-
Vigilância e Meio Ambiente públicos e privados, Justiça, Órgãos de talar, etc., por pessoa ou “empresa” não capacitada pode provocar
Classe, etc.; envenenamento nos aplicadores, moradores, animais domésticos,
4. Capacitação de profissionais em Toxicologia; trabalha-dores e principalmente em pessoas internadas, ao se utili-
5. Conscientização da população: campanhas educativas, divul- zarem produtos tóxicos nestes ambientes.
gação das medidas de prevenção e controle.
Pesticidas de Uso Agrícola:
Epidemiologia das Intoxicações São as principais causas de registro de óbitos no Brasil, princi-
Os produtos químicos são indispensáveis para o desenvolvi- palmente pelo uso inadequado e nas tentativas de suicídio.
mento das atividades do homem, à prevenção e cura das doenças
e ao aumento da produtividade agrícola. Entretanto, o uso inade- Raticidas:
quado e abusivo tem causado efeitos adversos à saúde humana e à No Brasil, só estão autorizados os raticidas à base de anticoa-
integridade do meio ambiente, ocasionando acidentes individuais, gulantes cumarínicos. São grânulos ou iscas, pouco tóxicos e mais
coletivos e de grandes proporções: as catástrofes químicas. eficazes que os clandestinos, porque matam o rato, eliminam as co-
A ocorrência de envenenamentos é um grave problema de saú- lônias. A utilização de produtos altamente tóxicos, proibidos para o
de pública em todos os países do mundo, tendo duplicado nos úl- uso doméstico tem provocado envenenamentos graves e óbitos18
timos 10 anos, devido principalmente à grande quantidade de pro-
dutos químicos lançados, anualmente, no mercado para consumo A toxicologia forense é uma ciência multidisciplinar que busca
das populações. mostrar a verdade de um fato perante a lei, mas também identificar
Nos países desenvolvidos pode atingir a 2% da população e e quantificar os efeitos prejudiciais associados a produtos tóxicos,
naqueles em desenvolvimento a 3%. Os Estados Unidos estimam ou seja, qualquer substância que pode provocar danos ou produzir
a ocorrência anual de 4 milhões de exposições tóxicas, sendo regis- alterações no organismo, no seguimento de solicitações proces-
trados cerca de 2 milhões, 50% em menores de 5 anos. No Brasil, suais de investigação criminal, sendo apoiada fundamentalmente
as estimativas são de 3 milhões de intoxicações anuais, a maioria na toxicologia analítica.
sem registro devido à subnotificação e às dificuldades de diagnós- Em 1958, Gisbert Calabuig o definiu como um conjunto de co-
tico. As estatísticas variam em função dos padrões culturais, sociais nhecimentos aplicáveis na resolução dos problemas toxicológicos
e econômicos. Nos países desenvolvidos há maior ocorrência de in- que levantam em sede do Direito; já Paul Matte, 1970 disse que é
toxicações por produtos químicos e medicamentos e nos países em um estudo e aplicação da toxicologia ao direito para encontrar a
desenvolvimento, além desses agentes, por animaispeçonhentos, verdade em causas civis, criminais e sociais com o objetivo de que
plantas venenosas e pesticidas agrícolas. O Brasil, sendo um gran- não causem injustiças a nenhum membro da sociedade.
de pólo industrial tem elevado percentual de intoxicações por pro- É uma ciência importantíssima e ligada diretamente ao Direito,
dutos químicos em todas as fases: fabricação, manipulação, trans- pois com ela e a partir dela, pode- se inocentar ou acusar um réu,
porte, e descarte. É grande consumidor de medicamentos sendo no caso de suspeita de homicídio utilizando drogas ou venenos, es-
estas intoxicações provocadas por automedicação, superdosagens, tabelecendo um nexo causal entre o evento e o efeito tóxico. É essa
iatrogenias, acidentes e tentativas de suicídio. Nosso país é também ciência que determina o agente químico causador da morte, e pos-
grande consumidor de pesticidas, e estas intoxicações ocorrem de- sibilita quantificá-lo, dando a sociedade uma resposta sobre o fato.
vido ao uso excessivo e indiscriminado destes produtos, desconhe- Mas, para que isso ocorra de forma idônea e segura, necessi-
cimento dos trabalhadores rurais dos perigos dos mesmos, falta de ta de um procedimento anterior à análise que se chama cadeia de
equipamento de proteção individual (EPI) e principalmente pelo custódia, que é um procedimento onde se documenta toda a ação
uso doméstico de pesticidas de elevado potencial tóxico, fabricados desde o recipiente, coleta, até o descarte final da amostra. Segun-
exclusivamente para fins agrícolas. 18 Fonte: www.saude.ba.gov.br

46
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
do CHASIN, ela se divide em duas fases, externa e interna: a fase As substâncias coagulantes desidratem os tecidos, formando
externa seria o transporte do local de coleta até a chegada ao labo- escaras endurecidas, de cores diferentes, dependendo da substân-
ratório. A interna refere-se ao procedimento interno no laboratório, cia.Por exemplo, o ácido sulfúrico provoca escaras esbranquiçadas.
realizado pelo toxicologista, até o descarte das amostras. As substâncias liquefacientes são os álcalis, soda cáustica, li-
Uma cadeia de custódia, realizada com seriedade faz com que quefacientes provocam escara úmida, amolecidas pela liquefação
todo o procedimento seja confiável. Com as amostras preservadas dos tecidos.
corretamente, a análise mostra um resultado real, apontando como Sua ação depende não só da natureza química da substância
ocorreu o fato. como também da sua concentração e da região atingida, assim áci-
Em uma morte súbita, por exemplo, primeiramente é acionada do e álcalis diluídos não danificam a pele.Uma substância que não
a polícia militar que irá até o local do crime para averiguação e isola- produz dano à pele pode lesar irreparavelmente a córnea.Importa
mento da área para preservação correta das evidências para poder também o tempo de contato entre a substância e o tecido atingido.
determinar o que é vestígio; a autoridade policial (delegado), chega As lesões provocadas por cáusticos são denominadas generica-
em seguida e os últimos são os peritos criminais. mente vitiolagem, qualquer que seja a substância usada, em razão
Os peritos criminais iniciam a cadeia de custódia, que contri- do nome popular do ácido sulfúrico, óleo de vitríolo, que foi muito
bui para manter e documentar a história cronológica da evidência, usado no passado.
para rastrear a posse e o manuseio da amostra a partir do preparo Causa jurídica-geralmente a intenção é provocar lesão corpo-
do recipiente coletor, da coleta, do transporte, do recebimento, da ral, deformar a vítima daí a região mais atingida ser a face, o pes-
análise e do armazenamento. coço, tórax e escápulas. Esta eventualidade é hoje em dia rara no
As amostras devem ser manuseadas de forma cautelosa, para nosso meio.São comuns os acidentes, domésticos e industriais.
tentar evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que A morte por ação cáustica é também eventualidade rara mas
possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em ques- não impossível.
tão. O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, para
tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o laudo téc- Veneno
nico produzido, com teor irrefutável. A sequência dos fatos é es- A legislação atual não define o que seja venenoso, deixando a
sencial: quem e como manuseou, onde o vestígio foi obtido, como critério do perito esta conceituação.
armazenou. A Consolidação das Leis Penais diz em seu artigo 296 parágrafo
Nas análises toxicológicas post mortem estabelece a causa e a único: “Veneno é toda substância mineral ou orgânica que ingerida
forma de intoxicação ou morte por meio da análise de vários fluidos no organismo ou aplicada ao seu exterior, sendo absorvida, deter-
e tecidos obtidos durante a necropsia. As amostras utilizadas neste mine a morte, ponhe em perigo a vida ou altere profundamente a
caso são humor vítreo, conteúdo gástrico, sangue periférico, san- saúde.” Esta definição satisfaz as exigências médico legais.
gue cardíaco, fígado, bile, cérebro, urina, que pode determinar se Em outras palavras – Veneno é toda substância que absorvida
ocorreu uma overdose, suicídio, intoxicação acidental, homicídio e e atuando química ou bioquimicamente sobre o organismo lesa a
qual a substância utilizada, seja fármaco ou drogas lícitas ou ilícitas. integridade corporal ou a saúde do indivíduo.
Ao final das análises toxicológicas, o profissional emite um lau- Envenenamento são as lesões mortais ou não, provocadas pe-
do que deverá constar os resultados das análises e este será funda- los venenos.
mental para encerrar o caso policial. Da definição de veneno, podemos inferir diferença fundamen-
Essa é uma área de atuação que está em alta, pois os concur- tal com os cáusticos.Para atuar como veneno, a substância precisa
sos estão cada vez mais concorridos e as vagas cada vez maiores. ser absorvida e por reação química ou bioquímica determinar uma
Para ser um toxicologista forense, necessita possuir graduação em lesão corporal ou perturbação funcional que pode chegar à morte.
bacharel e realizar uma especialização em toxicologia, já para ser Encontramos substâncias venenosas nos 3 reinos da natureza:
perito criminal, precisa ter diploma de graduação em bacharel nas mineral, vegetal e animal.Não se inclui no grupo de venenos a ação
áreas determinadas pelo edital e prestar concurso público.19 de microorganismo e suas toxinas, incluímos poréma secreção de
certos animais, cobra, insetos, aracnídeos.Em medicina legal, não
Caustico e Veneno se faz a clássica distinção da parasitologia entre peçonha e veneno.

Energias de Ordem Química Vias de absorção dos venenos.


Segundo Flamínio Fávero, são aquelas que atuam por substân- Os venenos podem ser introduzidos no organismo pelas mes-
cias que entram em reação com os tecidos. mas vias que são introduzidas os medicamentos.
São as que agem através de reações químicas com os tecidos. A ação de certas substâncias varia de acordo com a via de pe-
Modos de ação. netração (curare veneno de cobra são inócuos por via oral, pois são
Podem agir de modo localizado ou de modo sistêmico, daí a digeridos no estômago).
divisão em cáusticos e venenosos.
A) Pele.A pele é impermeável à maioria das substâncias, porém
Cáusticos alguns inseticidas, gases de guerra podem ser absorvidos pela pele
Cáustico é toda substância que quando colocada em contato íntegra.
com um tecido, com ele reage desorganizando-o.Podem agir exter-
namente ou internamente. B) Mucosas.Aparelho digestivo (gástrica, intestinal, retal)
Aparelho respiratório
Classificação Ocular
Classificam-se em coagulantes e liquefacientes.São substâncias Nasal
coagulantes os ácidos fortes, como o sulfúrico, o clorídrico, nítrico, Genito urinária
sais metálicos como nitrato de prata, permanganato de potássio,
essências como terebentina, sabina. C) Serosas.
D) Tecido celular subcutâneo.
19 Fonte: www.portaleducacao.com.br

47
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
E) Via muscular. Associação com Outras Substâncias ou Veículos
F) Via sanguínea. Esta associação poderá diminuir ou aumentar a ação do vene-
no.Associação de cianeto de potássio com ácido, fósforo com gor-
Eliminação dos Venenos dura aumentam a ação dos venenos.Cianeto com açúcar tem sua
Absorvida a substância cai na corrente sanguínea, em tempo ação diminuída.
variável, de acordo com a substância e a via de introdução (mais
rápida por via sanguínea e respiratória que por via oral e cutânea), Via de Penetração
distribuindo-se por todo o organismo, sendo metabolizada princi- Tem grande importância a via de penetração do veneno.Cura-
palmente no fígado, fixando-se nos órgãos, de acordo com as afini- re, veneno de cobra, por via oral são inativos. Estricnina, tártaro
dades da substância com os diversos componentes do organismo. hemético têm sua ação aumentada por via oral.
Por exemplo: álcool com grande afinidade pela água concentra-se
mais no sangue e no liquor; fósforo com grande afinidade pela gor- Com Relação ao Indivíduo
dura é encontrado na medula óssea, embora suas ações possam se
fazer seletivamente em outros órgãos, dependendo aí das altera- Idade
ções que provoquem nas funções destes.Serão então eliminados na De um modo geral, as idades extremas são mais sensíveis aos
forma da própria substância ou então transformados. venenos (criança e velhos).As crianças são mais sensíveis aos opiá-
Como principais vias de eliminação, temos: ceos, porém são mais resistentes à atorpina.
A) Aparelho digestivo:
vômito – (mercúrio,cobre) Estado de saúde
diarréia – (mercúrio, cobre) Doenças hepáticas, renais, pulmonares que prejudicarão a me-
bile – (cobre, arsênico, mercúrio) tabolização ou a eliminação ou a eliminação do veneno aumentará
a ação do veneno.
B) Urina (cobra, arsênico, antimônio, fósforo)
C) Pulmões – (arsênico, cobre, substâncias voláteis-álcool, éter, Tolerância
gasolina, querosene, clorofórmio, ácido cianídrico, gás sulfídrico). Algumas pessoas têm resistência a determinadas por uso repe-
D) Suor – (chumbo, antimônio, arsênico) tido da substância.Viciados em morfinas fazem uso de dose muitas
E) Saliva – (mercúrio, morfina, cocaína) vezes maior que a dose letal para as pessoas não habituadas ao seu
F) Leite – (bismuto, mercúrio) uso.
G) Cabelos – (arsênico)
H) Unhas – (arsênico) Idiossincrasia
I) Placenta – (sabina) Do mesmo modo que uma pessoa pode ter sua resistência au-
mentada, poderá tê-la diminuída.20
O tempo de eliminação do veneno varia conforme sua nature-
za, dose, via de absorção, estado de saúde da vítima, etc. ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO-QUÍMICA
Quanto à forma de eliminação, existem também variações con- A palavra “asfixia” é derivada da palavra grega asphyxia, que
forme as substâncias.Assim, muitas substâncias são eliminadas in significa “sem pulso” (a + sphyxia), pois anteriormente acreditava-
natura (éter).Outras são oxidadas ou reduzidas e eliminadas após -se que nas artérias circulava o pneuma. No entanto, atualmente a
sua transformação (barbitúricos, cocaína); isto é muito importante asfixia é entendida como a supressão ou retardamento da circula-
em uma perícia. ção do sangue.
O termo acima mencionado refere-se à situação na qual o ho-
Modificação da Ação dos Venenos mem é sujeito a energias físico-químicas que impedem a passagem
A ação ou efeito das substâncias sobre os indivíduos variam de ar nas vias aéreas, causando alteração na função respiratória, de
não só pela natureza da substância como também com outros fato- forma a inibir a hematose, podendo levar à óbito o indivíduo.
res que podem modificar esta aça.Temos fatores que são ligados à O oxigênio chega aos tecidos por meio dos mecanismos, de
própria substância, outros referentes ao individuo. acordo com a sequência abaixo:
1) Ventilação pulmonar;
Condições Modificadoras da Ação Referente ao Veneno: 2) Hemoglobina;
3) Circulação; e
Dose 3) Trocas gasosas.
As substâncias só agem a partir de uma determinada quanti-
dade que é calculada por quilo de peso.Dependendo da dose, uma Asfixiologia:
substância poderá ser alimento, medicamento ou veneno.Potássio, Entende-se por Asfixologia, de acordo com entendimento mé-
por exemplo, é alimento, medicamento, porém se injetado na veia dico-legal, como a síndrome causada pela ausência de oxigênio no
rapidamente e em quantidade grande causará a morte.A própria ar, em diversas circunstâncias, derivado de impedimento por causa
água quando ingerida em grande quantidade como acontece com fortuita, violenta e externa.
alguns doentes mentais, causará distúrbios eletrolíticos; será vene- Desta forma, quando a asfixia é verificada, o oxigênio contido
no. nos pulmões é consumido, de forma que o gás carbônico é acumu-
lado.
Forma de Administração
Quanto mais solúvel, mais eficaz sua ação.Para ser absorvida e Fisiopatologia e Sintomatologia:
ser eficaz, a substância deve ser solúvel ou tornar-se solúvel. As síndromes hipoxêmicas ou anoxêmicas podem ter causas
externas ou internas.

20 Fonte: www.juridicohightech.com.br

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Verifica-se que as asfixias mecânicas ocorrem mais frequente- Vendo sob a ótica da saúde pública, a OMS definiu a violência
mente por causas externas. Entretanto, é válido mencionar que por sexual como “o uso intencional da força ou o poder físico, de fato
diversas situações as trocas gasosas são obstadas em virtude de di- ou como ameaça, contra uma pessoa ou um grupo ou comunidade,
ficuldade de oxigenação em órgãos distintos dos respiratórios, tais que cause ou tenha possibilidade de causar lesões, morte, danos
como o tecido, sangue ou nervos, o que gera uma asfixia derivada psicológicos, transtornos do desenvolvimento ou privações”.
de causa interna. A violência sexual é um fenômeno universal que atinge todas
Conforme verificado acima, o oxigênio chega aos tecidos por as classes sociais, culturas, religiões e etnias e tem conotações
meio da ventilação pulmonar, hemoglobina, circulação e trocas ga- muito próximas dos demais delitos, em seus aspectos etiológicos
sosas. Cada mecanismo poderá ocasionar anoxia diferente, confor- e estatísticos, em que se sobrelevem no conjunto de suas causas
me abaixo: os fatores socioeconômicos. O êxodo que favorece o crescimento
populacional da periferia das grandes cidades, o desemprego, o uso
1. Anoxia de ventilação ou anoxica: de drogas, o alcoolismo, a influência dos meios de comunicação, a
Pode ocorrer nas seguintes hipóteses: falta de justiça e a insegurança são os elementos que fomentam e
a) quando há diminuição da concentração de ar no ambiente, fazem crescer esses tipos de crimes.
de forma que a hemoglobina do sangue arterial atinge nível de con- As maiores vítimas dessa violência são exatamente as frações
centração baixo; mais desprotegidas da sociedade: as mulheres e as crianças. E o
b) quando é verificada compressão mecânica das vias aéreas; estupro é a forma de violência sexual mais comum.
c) quando há alterações na dinâmica respiratória (compressão Por outro lado, o registro crimino gráfico da violência sexual e
do tórax, pneumotórax, derrames pleurais, paralisias diafragmáti- seu conteúdo perverso projetam-se além da expectativa mais alar-
cas); e mista. Verifica-se nos dias que correm uma prevalência delinquen-
d) quando há dificuldade nas trocas gasosas alveolares (EAP, cial que extrapola os índices tolerados e as feições convencionais.
silicoses e esclerose pulmonar). Uma criminalidade diferente, anômala e muito estranha na sua
Em tais situações, é verificada oxigenação insuficiente do san- maneira de agir e na insensata motivação. Esses tipos de delitos,
gue nos pulmões. mesmo com seus vestígios bem evidentes, são deixados sem repa-
ração porque a vítima quando criança não é capaz de entender o
2. Anoxia anêmica: é verificada quando há diminuição qualita- caráter da ofensa, ou ciente se cala por medo, vergonha ou por cul-
tiva e/ou quantitativa de hemoglobina (e. G. intoxicação pelo CO2 pa de seus responsáveis.
ou venenos meta-hemoglobinizantes, nas anemias crônicas ou nas Muito mais que antes, esses tipos de delitos se tornam muito
grandes hemorragias). Nesses casos, há diminuição da capacidade frequentes e ameaçadores, e impõe-se a necessidade de investir
de oxigenação do sangue. cada vez mais na contribuição técnica e científica como fator de
3. Anoxia de circulação e de estase: derivada de alterações que excelência da prova, assim como no aprimoramento dos quadros
afetam a pequena e grande circulação (e. G. Insuficiência circulató- periciais.
ria periférica, embolia das artérias pulmonares e coarctação da aor- Torna-se imperioso que se amplie e melhore a qualidade das
ta). Desta forma, ocorrem transtornos circulatórios que dificultam perícias médico-legais, pois só assim os elementos constitutivos do
ou inviabilizam a chegada de sangue oxigenado aos capilares. corpo de delito terão seu destino ligado ao interesse da justiça. Não
4. Anoxia tissular ou histotóxica: surge quando da queda da há outra forma de avaliar um fato de origem criminal que não seja
tensão diferencial arteriovenosa de oxigênio ou quando ocorre a através da análise da prova.
inibição de enzimas oxidantes celulares, como nos casos de intoxi-
cações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio sulfurado. Ocor- Objetivos periciais
rem em tais situações mecanismos tóxicos que impedem o aprovei- A perícia em Sexologia Criminal tem um significado muito par-
tamento de oxigênio pelos tecidos. ticular e grave pelos fatos e circunstâncias que ela encerra: tanto
pela complexidade das estruturas estudadas como em face da deli-
cadeza do momento. Por isso, toda prudência é pouca quando dos
NOÇÕES DE SEXOLOGIA FORENSE procedimentos periciais e quando da afirmação ou negação da exis-
tência das práticas contra a liberdade sexual.
Além disso, o laudo deve ser redigido em uma linguagem cla-
Sexologia Médico-legal ra, objetiva, inteligível e simples, sem a presunção das tipificações
Em Sexologia médico-legal vê-se a sexualidade do ponto de vis- penais, mas de modo a permitir àqueles que venham a analisá-lo
ta normal, anormal e criminoso. Sexologia criminal, também cha- condições de uma compreensão fácil sobre o fato que se quer apu-
mada de Sexologia forense, é a parte da Medicina Legal que trata rar. Cabe, dessa maneira, descrever minuciosamente as lesões e as
das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos con- particularidades ali encontradas, ajudando a entender o que de in-
tra a dignidade e a liberdade sexual. sondável e misterioso existe nelas, não só em relação à quantidade
A violência sexual não é apenas uma agressão ao corpo, à se- e à qualidade do dano, mas também como o modo ou a ação pela
xualidade e à liberdade do homem ou da mulher, mas acima de qual foram produzidas.
tudo uma agressão à própria cidadania. Apesar de tudo que já se Desse modo, não se pode aceitar pura e simplesmente a no-
disse sobre essa violação à liberdade sexual e de todas as propostas minação do achado, mas em que elementos e alterações funda-
em favor de penas mais severas para seus autores, fica a amarga mentou-se o perito para fazer a afirmação ou a negação de uma
sensação de que pouco se fez até agora. conjunção carnal, por exemplo. Só assim o laudo alcançará seu ver-
Hoje a tendência é ampliar seu conceito para além do ato ou da dadeiro destino: o de apontar com clareza à autoridade julgadora,
tentativa de uma prática sexual, incluindo também as insinuações, no momento de valorizar a prova, as condições para o seu melhor
os comentários e as divulgações de caráter sexual, desde que de entendimento.
forma coativa ou constrangedora. Para se terem as necessárias condições de exercer tal ativida-
de legispericial, é preciso não apenas que o exame se verifique em
local recatado, em respeito à dignidade e à privacidade de quem se

49
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
examina, mas ainda em ambiente com condições de higiene e de 1. A receptora não deve conhecer a identidade do doador;
fácil e tranquila visualização dos possíveis achados periciais, sendo 2. o doador não deve conhecer a identidade da receptora.
recomendável que o exame seja feito em mesas ginecológicas com Isto implica que apenas uma pessoa pode conhecer a identida-
suporte para os pés e, sempre que possível, com a presença de fa- de de uma e de outro: o médico responsável pela operação, o que
miliares adultos ou pessoa de confiança da vítima ou de enfermei- faz a eleição do doador, tendo em vista consequências que possam
ras, a não ser que a presença delas possa inibir a vítima de contar os surgir na gravidez e na higidez do novo ser. Assim, toda responsabi-
detalhes necessários à investigação dos fatos. lidade recai única e exclusivamente na pessoa do operador.
Resta evidente, portanto, que a função do perito, em casos
dessa ordem, é descrever minuciosamente as lesões e as particula- Além disso, não se pode deixar de cogitar algumas situações
ridades, quando existentes, explorando bem as características que que continuam reclamando uma posição, tais como:
elas encerram e respondendo com clareza aos quesitos formulados. 1. o tempo de congelação;
Por outro lado, em face da gravidade que cerca algumas das 2. o destino dos embriões excedentes;
infrações que resultam de tais exames, exige-se que o indicado para 3. a condição jurídica do embrião congelado;
essa perícia médico-legal seja alguém não apenas com habilitação 4. a natureza jurídica da obrigação na reprodução assistida;
legal e profissional em medicina, mas que tenha também a capa- 5. a comercialização do material genético;
citação e a experiência necessárias no trato dessas questões, pois 6. a doação do útero.
para tanto não se exigem apenas o título de médico, mas educação
médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, no- Consentimento dos interessados
ção clara da maneira como deverá responder aos quesitos e prática O médico deve ter da paciente e de seu esposo ou companhei-
na redação de laudo. ro, quando houver, o consentimento, pois esse é o primeiro dever:
Diga-se também, que, em exames desse jaez, não se devem o de informação. Esse consentimento deve ser obtido depois das
usar expressões de sentido dúbio ou vago nem utilizar palavras inú- informações necessárias, em que fiquem bem claras as vantagens
teis e imprecisas, pois, se assim o fizer, o laudo, além de não permi- e desvantagens, assim como os riscos inerentes aos procedimentos
tir uma decisão exata, só servirá para criar dúvidas e confusão em utilizados em uma reprodução assistida.
quem julga. Em suma, a exigência que obriga o médico a obter o consenti-
mento esclarecido das partes está justificada pelo fato de elas te-
Reprodução assistida rem o direito de autodeterminar-se no que é suficiente e necessário
Entende-se por reprodução assistida (RA) o conjunto de proce- sobre a conduta proposta, não só porque elas querem, mas porque
dimentos que contribui na resolução dos problemas da infertilidade na opinião do profissional é o melhor para elas.
humana, facilitando assim o processo de procriação quando outras Tudo isso na medida da compreensão das pessoas envolvidas.
terapêuticas ou condutas tenham sido ineficazes para a solução e Deve ficar patente que o médico não as induziu, e se existia ou não
obtenção da gravidez desejada. um tratamento alternativo.
Não havia uma denominação satisfatória para essa técnica:
fertilização artificial, fecundação artificial, fecundação por meios Transtornos da sexualidade e da identidade sexual
artificiais, impregnação artificial, concepção artificial, semeadura Faz parte da sexualidade de um indivíduo seu instinto sexual.
artificial, inseminação artificial, fecundação in vitro, ou fertilização Esta qualidade se manifesta pela atração sexual que ele tem por
matrimonial. Hoje, a expressão mais aceita é reprodução assistida outra pessoa, levando em conta certos valores culturais positivos
(RA). construídos como um patrimônio durante toda sua existência.
A reprodução assistida tecnicamente pode ser realizada por Se este instinto se equilibra dentro dos padrões de normali-
métodos de fecundação interna, por transferência transabdominal, dade, teremos o ideal. Todavia, vez por outra, surgem distúrbios,
intrauterina e intra-abdominal de gametos, fecundação in vitro com transtornos, perversões e alterações da identidade sexual capazes
transferência uterina de ovo fecundado, com doação de óvulo, com de comprometer a segurança das pessoas e o equilíbrio da socieda-
doação de embrião e transferência de embriões congelados, po- de. Isto nada tem a ver com a preferência sexual como é o caso da
dendo essas técnicas ser efetivadas de forma homóloga (material homossexualidade.
do marido) ou heteróloga (material de doador). A sexualidade é sempre um assunto que, ao ser tratado, im-
A reprodução assistida pode adotar duas modalidades com- põe certo cuidado. Ultimamente vem-se notando uma irrefreável
pletamente distintas em seus aspectos morais, filosóficos, sociais, inflação dessa forma de literatura, cujo interesse é atrair os menos
jurídicos e religiosos: avisados a veredas da sexomania e do erotismo. Tem sido comum
1. a reprodução assistida intraconjugal, homóloga ou autorre- falar de sexo a qualquer pretexto, ou até sem pretexto algum, utili-
produção; zando-se falsos conceitos científicos ou escamoteados por propósi-
2. a reprodução assistida extraconjugal, heteróloga ou heteror- tos pouco recomendáveis.
reprodução. No relacionamento sexual nos homens e nas mulheres, não
existe apenas a satisfação da posse carnal. Há, isto sim, uma com-
A reprodução assistida homóloga é plenamente aceita e não pensação afetiva que ultrapassa a simples exigência instintivo-ma-
fere os princípios da Moral e do Direito. Essa prática, feita em uma terial e que oferece significações maiores.
mulher com o sêmen de seu próprio esposo, em casos de infertili- O perigo está no fato de que a juventude, ávida de inovações,
dade matrimonial, é hoje plenamente admitida. impregnada de sexo e erotismo, possa deixar-se arrastar por uma
A reprodução assistida heteróloga envolve várias pessoas ao ideologia sexual, definida por alguns como forma de realização, mas
mesmo tempo, cujas funções, responsabilidades, direitos e reações que, na maioria das vezes, leva-os a terríveis frustrações.
temos que avaliar com todo cuidado a fim de darmos uma definição Assim, transtornos da sexualidade são distúrbios qualitativos
mais precisa. Essas pessoas são: a mulher, o esposo (quando existe), ou quantitativos do instinto sexual, fantasias ou comportamento
o médico, o doador, a esposa do doador (quando existe), o filho que recorrente e intenso que ocorrem de forma inabitual, também cha-
venha a nascer e a sociedade (pessoa moral). mados de parafilias, podendo existir como sintoma em uma pertur-
Os autores que defendem a heterorreprodução são concordes bação psíquica, como intervenção de fatores orgânicos glandulares
em dois pontos de vista: e simplesmente como questão da preferência sexual.

50
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Anafrodisia Erotomania
É a diminuição ou deteriorização do instinto sexual no homem É uma forma de erotismo extremamente mórbida. O indivíduo
devido, geralmente, a uma doença nervosa ou glandular, podendo é levado por uma ideia fixa de amor e tudo nele gira em torno desta
acometer indivíduos jovens e aparentemente sadios, ou como sin- paixão, que domina e avassala todos os seus instantes. É a hipérbo-
toma de pré-impotência. le do amor platônico.
Não se pode admitir a normalidade em uma pessoa inteira- Quase sempre é casto e virgem e, muito raramente, a erotoma-
mente incapaz ao coito, e sua importância médico-legal está nos nia surge como sintoma isolado.
casos de anulação de casamento, por defeito físico irremediável,
anterior e desconhecido na época do matrimônio. Frotteurismo
Esta modalidade de desvio da sexualidade, não muito rara,
Frigidez caracteriza-se pela forma como certos indivíduos aproveitam-se
Trata-se do distúrbio do instinto sexual que se caracteriza pela das aglomerações em transportes públicos ou em outros locais de
diminuição do apetite sexual na mulher, devido a vaginismo ou ajuntamento humano, com o objetivo de esfregar ou encostar seus
doenças psíquicas ou glandulares. órgãos genitais, principalmente em mulheres, ou tocar seus seios
Há uma frigidez temporária, e a mulher só alcança um limiar se- e genitais, sem que a outra pessoa perceba ou identifique suas in-
xual máximo em torno dos 25 a 30 anos. É também o mais comum tenções.
dos distúrbios sexuais, chegando-se até a acreditar não se tratar de
casos de anomalia. Exibicionismo
Em muitas situações, a culpa cabe ao marido ou aos parceiros, Os portadores deste transtorno da preferência sexual são leva-
que não procuram levar a mulher ao orgasmo, pelo egoísmo da an- dos pela obsessão impulsiva de mostrar seus órgãos genitais, sem
tecipação, acabando por torná-la frígida, ou pela forma desastrosa convite para a cópula, apenas por um estranho prazer incontrolável.
e violenta dos primeiros coitos, criando um verdadeiro horror ao Uma maneira irresistível e curiosa de satisfação sexual.
ato sexual. Finalmente, pode ter como causa certas condutas se- Procuram quase sempre os mesmos lugares, em horas certas.
xuais, como a homossexualidade, cada vez mais insinuante e mais Chama-se de autagonistofilia o estímulo de ser visto por outras pes-
comum. soas durante o ato sexual.

Anorgasmia Narcisismo
É uma disfunção sexual rara e se constitui, como o próprio É a admiração pelo próprio corpo ou o culto exagerado de sua
nome sugere, na condição de o homem não alcançar o orgasmo. própria personalidade e cuja excitação sexual tem como referência
Aqui o indivíduo se instrumentaliza para o coito, mas não atinge o o próprio corpo.
clímax da relação sexual, não lhe faltando, inclusive, as manifesta-
ções eróticas e o desejo sexual. Mixoscopia
O mais comum nestes casos é o homem perder pouco a pouco Este transtorno da preferência sexual, também conhecido
o interesse pela relação sexual. Esta síndrome não tem por contra- como escoptofilia, caracteriza-se pelo prazer erótico despertado
ponto a frigidez (feminina), pois esta se caracteriza desde o início em certos indivíduos em presenciar o coito de terceiros. Também
pela perda ou profunda diminuição do apetite sexual. proposto como a expressão “teleagnia” – volúpia de ver.

Erotismo Fetichismo
Manifesta-se pela tendência abusiva dos atos sexuais. No ho- Este transtorno se apresenta como uma fixação sexual por uma
mem, chama-se satiríase e, na mulher, ninfomania. determinada parte do corpo ou por objetos pertencentes à pessoa
Na satiríase, existem a ereção, o ardor sexual e a consumação amada. É próprio desta perturbação o apego aos olhos, mãos, ma-
do ato com ejaculação. Tem sempre uma causa patológica. mas, cabelos, lenços, luvas ou qualquer outro objeto pertencente
Não se deve confundir com priapismo, cuja característica é a ao ente querido.
ereção patológica, contínua, dolorida, sem ejaculação, proveniente Esse objeto deixa de ser uma lembrança para personificar-se e
quase sempre de causas psíquicas. A satiríase é manifestada por tornar-se elemento primordial na excitação do sexo.
ereção quase permanente, repetidas ejaculações e excessivo ardor
genésico, podendo estar ou não acompanhada de delírios e aluci- Travestismo fetichista
nações. Também conhecido como eonismo fetichista ou autoginefília é
A ninfomania ou uteromania pode levar a doente ao crime, ao uma forma de parafilia. É muito mais comum em indivíduos do sexo
escândalo e à prostituição. Há duas formas: uma crônica, menos masculino, adultos e heterossexuais.
perigosa, que se caracteriza por grande exaltação sexual, e outra, Em geral, trata-se de situações em que o portador utiliza diver-
de forma aguda, de prognóstico sombrio, levando à loucura ou à sos tipos de roupas femininas na ocasião da relação sexual.
morte. Muitos complementam tal ritual utilizando maquiagem, ador-
nos e alguns trejeitos do sexo oposto. Fora essas manifestações da
Autoerotismo sexualidade, ele se apresenta e se comporta como heterossexual.
É o transtorno no qual o gozo sexual prescinde da presença do
sexo oposto. É o coito sem parceiro, apenas na contemplação de um Lubricidade senil
retrato, de uma escultura ou na presença de uma pessoa amada. A manifestação sexual exagerada, em idades mais avançadas,
Por isso, é chamado de coito psíquico de Hammond, em que o é sempre sinal de perturbações patológicas, como demência senil
erotismo e o orgasmo surgem independentemente de manobras ou ou paralisia geral progressiva. Em geral, a idade da vítima é bem
da presença de alguém. inversa da idade do delinquente.
Alguns deles podem ser até impotentes, satisfazendo-se ape-
nas em ver e apalpar as partes sexuais, principalmente de crianças.
Ou na satisfação de relatar em detalhes as cenas eróticas.

51
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
E o mais triste e desolador é saber que essa lubricidade cos- Donjuanismo
tuma surgir em pessoas cuja longa existência foi proba, honesta e Não é uma entidade muito rara. Compõe-se de uma persona-
correta. lidade que se manifesta compulsivamente às conquistas amorosas,
sempre de maneira ruidosa e exibicionista, que noutra coisa não re-
Pluralismo flete senão em uma forma consciente ou inconsciente de autoafir-
Também chamado de troilismo. Manifesta-se pela prática se- mação.
xual em que participam três ou mais pessoas. Os franceses cha- Em geral, ocorre no sexo masculino, e as pessoas não têm a viri-
mam-no de ménage à trois, e, no Brasil, é conhecido vulgarmente lidade que tentam aparentar, podendo, inclusive, ser hipossexuais.
como “suruba”.
Os participantes podem ser em número variado de pessoas, Travestismo
predominando homens ou mulheres, e as ações se manifestam des- O travestismo é um transtorno da identidade sexual. Pode
de a prática de cópula vaginal até as últimas das perversões sexuais. ocorrer entre indivíduos heterossexuais, que se sentem impelidos a
Esses distúrbios traduzem um elevado grau de desajustamento mo- vestir-se com roupas de pessoas do sexo oposto, fato esse que lhes
ral e sexual. rende gratificação sexual.
Em geral, nesse tipo de erotopatia, o indivíduo é reservado e
Swapping comedido e se traveste de maneira discreta e quase furtiva; muitos
É uma prática heterossexual que se realiza entre integrantes deles, apenas no recato dos seus lares e para satisfação somente
de dois ou mais casais, em que se verifica a troca de parceiros de sua.
forma consentida, havendo inclusive em certos casos o sorteio de
cômodos onde a mulher aguarda o sorteado. Andromimetofilia e ginemimetofilia
É uma forma de parafilia que se caracteriza pela atração que
Gerontofilia tem determinado indivíduo do sexo masculino só por mulheres
Conhecida também por cronoinversão, ou presbiofilia, a geron- vestidas de homem, as quais agem e se representam sexualmente
tofilia é a atração de certos indivíduos ainda jovens por pessoas de como homem, adotando ele o comportamento de mulher. Quando
excessiva idade. Na maioria das vezes, são do sexo masculino e pro- ocorre o inverso, chama-se ginemimetofilia.
curam, em ambientes reservados, mulheres velhas para a prática
sexual. Urolagnia
É o prazer sexual pela excitação de ver alguém no ato da micção
Cromoinversão ou apenas em ouvir o ruído da urina ou ainda urinando sobre a par-
É a propensão erótica de certos indivíduos por outros de cor ceira ou esta sobre o parceiro. É também chamado de undinismo.
diferente. Como exemplo, podemos citar os portugueses na sua ir-
resistível predileção às nossas mulatas. Coprofilia
Isto, dentro de um certo limite, não há o que se considerar Também chamada escatofilia, é a perversão em que o ato se-
anormal. O fato constitui gravidade quando se torna obsessivo e xual se prende ao ato da defecação ou ao contato das próprias fe-
compulsivo. zes.
Os portadores dessa inacreditável aberração costumam rondar
Etnoinversão as latrinas públicas pelo prazer de observarem o ato de defecar, o
Não deixa de ser uma variante de cromoinversão e de fetichis- que lhes traz profunda excitação.
mo. A etnoinversão é a manifestação erótica por pessoas de raças
diferentes. Clismafilia
Além de constituir um tipo raro de distúrbio sexual, não se mos- Caracteriza-se esta preferência sexual pelo prazer obtido pelo
tra como problema médico-legal relevante. Nesta forma de predile- indivíduo que introduz ou faz introduzir grande quantidade de água
ção sexual, não se considera apenas a cor da pele, mas um conjunto ou líquidos no reto, sob a forma de enema, lavagem ou clister.
de caracteres somatopsicoculturais que integram determinadas et- Seu nome vem do grego klisma, que quer dizer clister. É uma
nias e que se fazem chamativos e atrativos da etnoinversão. modalidade muito rara nessas preferências mais bizarras.
Riparofilia
Coprolalia
Essa estranha perversão da sexualidade é mais comum no sexo
Esta aberração consiste na necessidade de alguns indivíduos
masculino e se manifesta pela atração de certos indivíduos por mu-
em proferir ou ouvir de alguém palavras obscenas a fim de excitá-
lheres desasseadas, sujas, de baixa condição social e higiênica. Há
-los. Tais palavras poderão ser ditas antes do coito, no sentido de se
homens que preferem manter relações sexuais com mulheres em
estimularem sexualmente.
época da menstruação.
Outros preferem ouvi-las durante o ato, no intuito de alcan-
Entre tais pervertidos, há aqueles que, mesmo pertencendo às
classes sociais privilegiadas, procuram manter relações sexuais com çarem o orgasmo. É muito conhecido o sabor mórbido de certas
os chamados “moradores de rua”. Entre as mulheres, estes casos pessoas em escrever obscenidades em banheiros públicos ou dese-
são mais raros. nharem figuras imorais.

Dolismo Edipismo
Esta expressão é oriunda de um anglicismo (doll = boneca) e É a tendência ao incesto, isto é, o impulso do ato sexual com
caracteriza-se pela atração que o indivíduo tem por bonecas e ma- parentes próximos. Pesquisadores da sexologia, chegaram à conclu-
nequins, mirando-as ou exibindo-as, ou até mesmo chegando à re- são, em seus estudos, de que a relação incestuosa é muito rara,
lação sexual com elas. e, quando acontece, o autor ou os autores padecem de profundas
Em geral, nesta forma de perversão sexual, o indivíduo utiliza a alterações do caráter, sendo mais comum entre as personalidades
boneca como fetiche ou se identifica com a figura humana que ela psicopáticas do tipo amoral.
personifica.

52
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Bestialismo Homossexualidade
Também chamado zoofilismo, ou coitus bestiarum, é a satis- Nota-se, com o passar dos anos, que a homossexualidade dei-
fação sexual com animais domésticos. Indivíduos portadores desta xou de ser um transtorno da identidade sexual para se constituir em
aberração muitas vezes são impotentes com mulheres. mais uma forma de manifestação da sexualidade. Também não se
Realizam-se sexualmente com galinhas, patos, cavalos, vacas pode dizer que ela seja uma opção sexual.
ou cabras. É mais frequente no campo, entre os pastores, vaqueiros Não é mais aceita, como se pensava antes, uma opção da se-
e moços de estrebaria. xualidade porque nesta o indivíduo escolheria suas preferências. Na
homossexualidade ele não tem o que escolher porque ele já nasce
Onanismo determinado por um conjunto de fatores que o faz se entender e se
É o impulso obsessivo à excitação dos órgãos genitais, comum realizar sexualmente com pessoas do mesmo sexo.
na puberdade. Atingindo essa obsessão na idade adulta, tem a co- Esta orientação sexual é inata, determinada biologicamente e
notação de psicopatia. antes mesmo do nascimento do indivíduo. Assim, o termo correto
para designar a heterossexualidade ou homossexualidade é “prefe-
Vampirismo rência sexual” ou “orientação sexual”.
Forma rara de transtorno da sexualidade, caracterizando-se Quando feminina, a homossexualidade também pode ser cha-
pelo modo de satisfação erótica quando na presença de certa quan- mada por alguns de safismo, lesbianismo ou tribadismo.
tidade de sangue, ou, em algumas vezes, obtida através de morde- Há necessidade de que se faça distinção entre a homossexuali-
duras na região lateral do pescoço. dade, intersexualidade, transexualidade e travestismo:
Na homossexualidade existe uma atração entre indivíduos do
Necrofilia mesmo sexo. Na intersexualidade, ou sexo dúbio, o indivíduo apre-
Um dos tipos mais torpes de perversão sexual é a necrofilia. senta-se com a genitália externa e/ou interna sem diferença, como
Manifesta-se pela obsessão e impulsão de praticar atos sexuais com se a natureza não tivesse se definido sobre o gênero do indivíduo.
cadáveres. Na transexualidade, o indivíduo sente-se inconformado com
Muitos desses indivíduos chegam a penetrar nos cemitérios e seu estado sexual, o qual geralmente, não admite a prática homos-
violar os corpos retirados dos túmulos. Outros se satisfazem com o sexual. No travestismo, a pessoa sente-se gratificada com o uso de
ato de masturbar-se diante do cadáver. vestes, maneirismos e atitudes do sexo oposto e tende à homosse-
xualidade.
Sadismo
É o desejo e a satisfação sexual realizados com o sofrimento da Transexualidade
pessoa amada, exercido pela crueldade do pervertido, indo muitas A transexualidade ou síndrome de disforia sexual é aquele que
vezes até a morte. Os atrativos e os predicados da outra pessoa não mais chama a atenção, pela sua complexidade e por seus desafios
são bastantes para incitar-lhe o instinto. às questões sociais e jurídicas. Define-se como uma pseudossíndro-
É também chamado algolagnia ativa (algor – dor; lagnea – de- me psiquiátrica, profundamente dramática e desconcertante, na
vassidão). qual o indivíduo se conduz como se pertencesse ao gênero oposto.
Trata-se, pois, de uma inversão psicossocial, uma aversão e
Masoquismo uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a pro-
É o prazer sexual infligido pelo sofrimento físico ou moral. testarem e insistirem em uma forma de cura por meio da cirurgia de
reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu desejado
Autoestrangulamento erótico gênero.
Também chamado de autoasfixia ou hipoxifilia, o autoestran-
gulamento tem sido incluído nos tipos de sadismo e masoquismo
e constitui-se em uma modalidade de transtorno da sexualidade
caracterizado pelo prazer obtido por meio da privação do oxigê- EXERCÍCIOS
nio. São utilizados garrotes, ataduras, sacos de plásticos, máscaras,
compressão torácica e até mesmo certas substâncias químicas à 01. (VUNESP/2018 – TJ/SP) Em relação à prova testemunhal, é
base de nitritos voláteis, as quais reduzem temporariamente o oxi- correto afirmar:
gênio cerebral. (A) a testemunha não é obrigada a comparecer para depor
Não é tão rara a morte por acidente nestes tipos de parafilias sobre fatos que lhe acarretem grave dano.
(accidental autoerotic death – AAD) devido principalmente à falta (B) ela não comporta a qualificação jurídica de prova nova
de controle na administração destas substâncias ou por defeito no para efeito de ação rescisória.
funcionamento dos artefatos utilizados. (C) reputa-se impedido de depor sob compromisso legal aque-
le que tiver interesse no litígio.
Pigmalianismo (D) como regra, ela será indeferida quando o fato só puder ser
É o amor desvairado pelas estátuas. É também conhecido como comprovado por documento ou prova pericial.
agalmatofilia.
02. (VUNESP/2017 – DPE/RO) É correto afirmar sobre o exame
Pedofilia de corpo de delito e das perícias em geral:
Pedofilia, também conhecida como paidofilia, efebofilia ou he- (A) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza-
befilia, é um transtorno da sexualidade que se caracteriza por uma dos por dois peritos oficiais, portadores de diploma de curso
predileção sexual primária por crianças ou menores pré-púberes, superior.
que vai dos atos obscenos até a prática de atentados violentos ao (B) não há previsão legal no Código de Processo Penal acerca
pudor e ao estupro, denotando sempre graves comprometimentos da formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
psíquicos e morais de seus autores. (C) quando a infração deixar vestígios, é possível dispensar o
exame de corpo de delito.

53
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
(D) em caso de lesões corporais, a falta de exame complemen- (E) O desenvolvimento mental incompleto ou retardado, tecni-
tar não pode ser suprida pela prova testemunhal. camente denominado oligofrenia, está diretamente relaciona-
(E) se desaparecerem os vestígios, é possível que a prova tes- do à ocorrência de epilepsia.
temunhal supra a ausência de exame de corpo de delito.
06. (FUNCAB/PC-RO)Identidade médico-legal é o conjunto de
03. (CESPE/2018 - PC-SE) A respeito de identificação médico-le- características apresentadas por um indivíduo que o torna único.
gal, de aspectos médico-legais das toxicomanias e lesões por ação Assinale a opção INCORRETA acerca da identificação médico-legal.
elétrica, de modificadores da capacidade civil e de imputabilidade (A) O sistema de identificação dactiloscópica de Vucetich é
penal, julgue o item que se segue. um processo de grande valia e de extraordinário efeito, por-
O termo eletroplessão é utilizado para se referir a lesões pro- que apresenta os requisitos essenciais para um bom método:
duzidas por eletricidade industrial, enquanto o termo fulguração unicidade, praticabilidade, imutabilidade e classificabilidade;
é empregado para se referir a lesões produzidas por eletricidade só não apresenta o requisito de perenidade.
natural. (B)Identificação médico-legal pode ser realizada em um indi-
() CERTO víduo vivo ou em cadáver, inteiro, espostejado ou reduzido a
() ERRADO ossos.
(C) Na identificação médico-legal, são considerados os seguin-
04. (CESPE/2016 – PC-PE) Sexologia forense é o ramo da medi- tes parâmetros: idade, sexo, raça, estatura e peso, pois, partin-
cina legal que trata dos exames referentes aos crimes contra a liber- do-se do geral, chega-se ao particular, ao indivíduo.
dade sexual, além de tratar de aspectos relacionados à reprodução. (D) Características ocasionais, tais como a presença de tatu-
Acerca do exame médico-legal e dos crimes nessa área, assinale a agens, calos de fraturas ósseas e próteses dentárias, ósseas
opção correta. ou de outros tipos, não possuem valor para a antropologia
(A) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois forense.
aspectos: o estado puerperal e a mãe matar o próprio filho. (E) Medidas de dimensões de ossos longos e comparações
(B) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura com tabelas podem dar ideia da estatura de indivíduos quan-
do feto, independentemente de sua viabilidade e das causas do vivos.
da eliminação.
(C) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na 07. (FUNCAB/2015 - PC-AC) Acerca dos tipos de morte, assinale
ausência de cuidados mínimos necessários à manutenção das a assertiva correta.
condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só (A) A morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou
estará caracterizado se for cometido pela mãe. perturbação funcional provocada por agentes naturais, de
(D) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas causa externa.
aos quesitos sobre a ocorrência de conjunção carnal ou ato (B)A causa médica da morte se divide em natural ou violenta.
libidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam (C) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instan-
vestígios. taneamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas com
estado de saúde delicado.
(E) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente,
(D) A morte violenta é aquela que tem como causa deter-
a integridade do hímen pode não ser necessária, desde que
minante a ação abrupta e intensa, física ou química, sobre o
outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve
organismo, de causa interna.
relação sexual.
(E) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instan-
taneamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas em
05. (CESPE/2016 - PC-PE) Psiquiatria forense é o ramo da me-
aparente estado de boa saúde.
dicina legal que trata de questões relacionadas ao funcionamento
da mente e sua interface com a área jurídica. O estabelecimento do 08. (FUNDATEC/2018 - PC-RS) Em relação às asfixias por cons-
estado psíquico no momento do cometimento do delito e a capa- trição cervical, analise as afirmações abaixo, assinalando V, se ver-
cidade de entendimento desse ato são dependentes das condições dadeiras, ou F, se falsas.
de sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que também in- ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
fluenciam na forma de percepção e no relato do evento, com im- quando diagnosticado indica a ocorrência de suicídio.
portância direta para o operador do direito, na tomada a termo e ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
na análise dos depoimentos. A respeito de psiquiatria forense e dos necessita que o peso do corpo da vítima acione o laço. Desta forma,
múltiplos aspectos ligados a essa área, assinale a opção correta. os casos descritos como enforcamento, mas nos quais a vítima não
(A) A surdo-mudez é motivo de desqualificação do testemu- estava completamente suspensa (pés não tocando o solo) devem
nho, da confissão e da acareação, pois, sendo causa de desen- ser classificados como “montagem” (tentativa de ocultação de ho-
volvimento mental incompleto, impede a comunicação. micídio).
(B) Nos atos cometidos, pode haver variação na capacidade de ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
entendimento, por doente mental ou por indivíduo sob efeito não necessita do peso do corpo da vítima para ocorrer.
de substâncias psicotrópicas ou entorpecentes, do caráter ilíci- ( ) A esganadura pode ser consequência de suicídio ou de ho-
to do ato por ele cometido; cabe ao perito buscar determinar, micídio.
e assinalar no laudo pericial, o estado mental no momento do
delito. A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima
(C) A perturbação mental, por ser de grau leve quando compa- para baixo, é:
rada a doença mental, não reflete na capacidade cível nem na (A) V – V – F – F.
imputabilidade penal. (B) V – F – V – V.
(D) Em indivíduos com intoxicação aguda pelo álcool, obser- (C) F – V – F – F.
vam-se estados de automatismos e estados crepusculares. (D) F – F – V – V.
(E) F – F – F – F.

54
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
09. (CESPE/2016 - PC-GO) No que diz respeito às provas no pro-
cesso penal, assinale a opção correta.
ANOTAÇÕES
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova
pericial médica, que não pode ser suprida por testemunho. ______________________________________________________
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se ______________________________________________________
desnecessária a produção de outras provas.
(C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ______________________________________________________
ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar
o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em ______________________________________________________
outros elementos de prova.
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos ______________________________________________________
relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
______________________________________________________
to, menoridade, filiação e cidadania.
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemu- ______________________________________________________
nha é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser
presidido pelo delegado de polícia. ______________________________________________________

10. (FUNDEP (Gestão de Concursos)/2019 - MPE-MG) Marque ______________________________________________________


a alternativa incorreta:
(A) Em relação ao crime de infanticídio, a lei brasileira não ______________________________________________________
adotou o critério psicológico, mas sim o critério fisiopsicológi-
co, levando em conta o desequilíbrio oriundo do processo do ______________________________________________________
parto. ______________________________________________________
(B) A incidência da qualificadora do feminicídio, prevista no
artigo 121, § 2°, VI, do Código Penal, reclama situação de ______________________________________________________
violência praticada por homem ou por mulher contra a mulher
em situação de vulnerabilidade, num contexto caracterizado ______________________________________________________
por relação de poder e submissão. Pode-se ainda afirmar
que, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a ______________________________________________________
qualificadora em análise é de natureza subjetiva.
(C) O perdão judicial constitui causa extintiva de punibilidade ______________________________________________________
que afasta os efeitos da sentença condenatória e, diferente-
______________________________________________________
mente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para
gerar efeitos. ______________________________________________________
(D) No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coe-
xistência das circunstâncias privilegiadoras com as qualificado- ______________________________________________________
ras de natureza objetiva.
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 D ______________________________________________________
2 E
_____________________________________________________
3 CERTO
_____________________________________________________
4 A
5 B ______________________________________________________
6 D ______________________________________________________
7 E
______________________________________________________
8 E
9 C ______________________________________________________
10 B ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

55
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

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56
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
1. Soluções. Densidade. Concentração das soluções: concentração em geral. Diluição de soluções: de mesmo soluto, de solutos diferen-
tes, sem ocorrência de reação. Volumetria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Sistemas internacionais de pesos e medidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3. Noções básicas de segurança no laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4. Estocagem de reagentes químicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. Riscos de incêndios em solventes inflamáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Misturas explosivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Reagentes perigosos pela toxidade e(ou) reatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
8. Lavagem e esterilização de vidraria e de outros materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
9. Preparação de amostras e de materiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
10. Secagem de substâncias, Uso e conservação de aparelhagem comum de um laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
11. Portaria 3.204/2004 (Norma técnica de biossegurança) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
12. RDC 222/2018 (Gerenciamento de resíduos de Serviços de Saúde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Coloides
SOLUÇÕES. DENSIDADE. CONCENTRAÇÃO DAS SOLU- São misturas homogêneas que possuem moléculas ou íons gi-
ÇÕES: CONCENTRAÇÃO EM GERAL. DILUIÇÃO DE SO- gantes. O diâmetro médio de suas partículas é de 1 a 1.000nm. Este
LUÇÕES: DE MESMO SOLUTO, DE SOLUTOS DIFEREN- tipo de mistura dispersa facilmente a luz, por isso são opacas, não
TES, SEM OCORRÊNCIA DE REAÇÃO. VOLUMETRIA são translúcidas.
Podem ser sólidas, líquidas ou gasosas.
As misturas podem ser homogêneas ou heterogêneas. O termo coloide vem do grego e significa “cola”. Foi proposto
As misturas homogêneas possuem uma fase distinta. As mistu- por Thomas Grahm, em 1860, para as denominar as substâncias
ras heterogêneas possuem duas ou mais fases distintas. como o amido, cola, gelatina e albumina, que se difundiam na água
Solução é uma mistura homogênea entre duas ou mais subs- lentamente, em comparação com as soluções verdadeiras (água e
tâncias. O processo utilizado para obter essa mistura é chamado de açúcar, por exemplo).
dissolução. Apesar dos coloides parecerem homogêneos a olho nu, a ní-
Uma solução é sempre formada pelo soluto e pelo solvente. vel microscópico são heterogêneos. Isso porque não são estáveis e
quase sempre precipitam.
Exemplos: maionese, shampoo, leite de magnésia, neblina, ge-
latina na água, leite, creme.

Suspensão
Suspensão são misturas com grandes aglomerados de áto-
mos, íons e moléculas. O tamanho médio das partículas é acima
de 1.000nm.
Exemplos: terra suspensa em água, fumaça negra (partículas
de carvão suspensas no ar).

Soluto – substância que será dissolvida. Coeficiente de solubilidade


Solvente – substância que dissolve. Quando adicionamos sal a um copo com água, dependendo da
A água é chamada de solvente universal. Isso porque ela dissol- quantidade colocada neste copo, o sal se dissolverá ou não.
ve muitas substâncias e está presente em muitas soluções. O mesmo acontece quando colocamos muito açúcar no café
As soluções podem ser formadas por qualquer combinação en- preto. Nem todo o açúcar se dissolverá no café. A quantidade que
volvendo os três estados físicos da matéria: sólido, líquido e gasoso. não se dissolver ficará depositada no fundo.
Exemplos de soluções no nosso dia a dia: O coeficiente de solubilidade é a quantidade necessária de
- álcool hidratado uma substância para saturar uma quantidade padrão de solvente,
- acetona em determinada temperatura e pressão.
- água mineral Em outras palvras, a solubilidade é definida como a concentra-
- soro fisiológico ção de uma substância em solução, que está em equilíbrio com o
soluto puro, a uma dada temperatura.
Tipos de dispersão
Dispersão – são sistemas nos quais uma substância está dis- Exemplos:
seminada, sob a forma de pequenas partículas, em uma segunda AgNO3 – 330g/100mL de H2O a 25°C
substância. NaCl – 357g/L de H2O a 0°C
Um exemplo é a mistura entre água e areia em um copo. No AgCl – 0,00035g/100mL de H2O a 25°C
início, a mistura fica turva, mas com o passar do tempo, as partícu-
las maiores vão se depositando no fundo do copo. Veja que o AgCl é muito insolúvel. Quando o coeficiente de so-
Mesmo assim, a água ainda fica turva na parte de cima. A água lubilidade é quase nulo, a substância é insolúvel naquele solvente.
não ficará totalmente livre de areia. Quando dois líquidos não se misturam, chamamos de líquidos
De acordo com o tamanho das partículas, podemos classificar imiscíveis (água e óleo, por exemplo).
essas dispersões em solução verdadeira, coloide e suspensão. Quando dois líquidos se misturam em qualquer proporção, ou
Veja a seguir o diâmetro médio das partículas dispersas: seja, o coeficeinte de solubilidade é infinito, os líquidos são miscí-
ves (água e álcool, por exemplo).
Dispersão Diâmetro médio
Classificação das soluções quanto à quantidade de soluto
Soluções verdadeiras Entre 0 e 1nm De acordo com a quantidade de soluto dissolvida na solução,
Coloides Entre 1 e 1.000nm podemos classificá-las em: solução saturada, solução insaturada e
solução supersaturada.
Suspensões Acima de 1.000nm
Solução saturada
Obs. 1nm (nanômetro) = 1.10-9m São aquelas que atingiram o coeficiente de solubilidade. Está
no limite da saturação. Contém a máxima quantidade de soluto dis-
Solução verdadeira solvido, está em equilíbrio com o soluto não dissolvido em deter-
São misturas homogêneas translúcidas, com diâmetro médio minada temperatura.
das partículas entre 0 e 1nm. Dizer que uma solução é saturada é o mesmo que dizer que a
solução atingiu o ponto de saturação.
Exemplos: açúcar na água, sal de cozinha na água, álcool hi-
dratado.

1
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Solução insaturada (não saturada)
São aquelas que contêm menos soluto do que o estabelecido
pelo coeficiente de solubilidade.
Não está em equilíbrio, porque se for adicionado mais soluto,
ele se dissolve até atingir a saturação.

Solução supersaturada
São aquelas que contêm mais soluto do que o necessário para
formar uma solução saturada, em determinada temperatura.
Ultrapassa o coeficiente de solubilidade. São instáveis e po-
dem precipitar, formando o chamado precipitado (ppt) ou corpo
de chão. Curva de Solubilidade de alguns sais
FONTE: furg.br/furg/depto/quimica/solubi.html

Curvas de solubilidade
São gráficos que apresentam variação dos coeficientes de solu-
bilidade das substâncias em função da temperatura.
Veja os coeficientes de solubilidade do nitrato de potássio em
100g de água.
A partir destes dados é possível montar a curva de solubilidade.

Temperatura (°C) (g) KNO3 /100g de água


0 13,3
10 20,9
20 31,6
30 45,8 FONTE: luizclaudionovaes.sites.uol.com.br/solub.1.gif
40 63,9
Observando o gráfico acima sobre a solubilidade de alguns sais,
50 85,5 responda:
60 110
70 138 1) Qual o soluto mais solúvel a 0°C?
É o KI, porque solubiliza quase 130g em 100g de água.
80 169
90 202 2) Qual o C.S. aproximado do NaNO3 a 20°C?
90
100 246
3) Se a temperatura de uma solução baixar de 70°C para 50°C,
qual será aproximadamente a massa
do KBr que precipitará?
70°C = 90g
50°C = 80g
Então: 90-80 = 10g

4) Qual sal tem a solubilidade prejudicada pelo aquecimento?


Na2SO4

5) Se o KNO3 solubiliza 90g em 100g de água a 50°C, quanto


Para qualquer ponto em cima da curva de solublidade, a solu- solubilizará quando houver 50g de água?
ção é saturada.
Para qualquer ponto acima da curva de solubilidade, a solução
é supersaturada.
Para qualquer ponto abaixo da curva de solubilidade, a solução
é insaturada.
Através do gráfico também é possível observar que a solubili- x = 45g de sal KNO3
dade aumenta com o aumento da temperatura.
Em geral, isso ocorre porque quando o soluto se dissolve com 6) Que tipo de solução formaria 80g do sal NH4Cl a 20°C?
absorção de calor (dissolução endotérmica), as substâncias que se Solução supersaturada.
dissolvem com liberação de calor (dissolução exotérmica) tendem
a ser menos solúveis a quente.

2
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Soluções importantes no cotidiano

Ácido acético Ácido Acético a 4% Temperar alimentos Onde:


C = concentração comum (g/L)
Álcool hidratado Hidratado 96% Álcool doméstico,
m1 = massa do soluto (g)
empregado em
V = volume da solução (L)
limpeza
Soda cáustica NaOH (líquido) Remoção de crosta de Exemplo:
gorduras e fabricação Qual a concentração comum em g/L de uma solução de 3L com
de sabão 60g de NaCl?
Soro fisiológico NaCl (aquoso) 0,9% Medicina e limpeza de
lentes de contato
Formol Metanal 40% Conservação de tecido
animal
Aliança de ouro Ouro 18 quilates Joalheria
Água sanitária Hipoclorito de Bactericida e alvejante
sódio a 5%

Quanto à proporção do soluto/solvente Concentração comum é diferente de densidade, apesar da fór-


A solução pode ser: mula ser parecida. Veja a diferença:
- Concentrada: grande quantidade de soluto em relação ao sol-
vente.
Exemplo: H2SO4 conc = ácido sulfúrico 98% + água
- Diluída: pequena quantidade de soluto em relação ao solven- A densidade é sempre da solução, então:
te.
Diluir significa adicionar mais solvente puro a uma determina-
da solução.
Exemplo: água + pitada de sal de cozinha.

Tipos de concentração
Concentração é o termo que utilizamos para fazer a relação
entre a quantidade de soluto e a quantidade de solvente em uma
solução.
As quantidades podem ser dadas em massa, volume, mol, etc. Na concentração comum, calcula-se apenas a msoluto, ou seja,
m1.
Observe:
m1= 2g Molaridade (M)
n2 = 0,5mol A molaridade de uma solução, ou concentração em quantidade
V = 14L de matéria (mol/L), é a relação entre o número de mols de soluto e
Cada grandeza tem um índice. Utilizamos índice: o volume da solução em litros.
1 = para quantidades relativas ao soluto
2 = para quantidades relativas ao solvente
nenhum índice = para quantidades relativas à solução

Exemplos: Onde:
massa de 2g do soluto NaCl: m1= 2g M = molaridade (mol/L)
número de mols de 0,5mol do solvente água: n2 = 0,5mol n1= número de mols do soluto (mol)
volume da solução de 14L: V = 14L V = volume da solução (L)
As concentrações podem ser:
1. Concentração comum O cálculo da molaridade é feito através da fórmula acima ou
2. Molaridade por regra de três. Outra fórmula que utilizamos é para achar o nú-
3. Título mero de mols de um soluto:
4. Fração molar
5. Normalidade

Estudaremos a seguir cada uma delas.

Concentração comum (C) Onde:


A concentração comum de uma solução é a relação entre a n = número de mols (mol)
massa do soluto em gramas e o volume da solução em litros. m1 = massa do soluto (g)
MM = massa molar (g/mol)

3
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Exemplo: qual a molaridade de uma solução de 3L com 87,75g O percentual varia de 0 a 100.
de NaCl?

ou

Para encontrar o valor percentual através do título:

Relação entre concentração comum, densidade e título:

Relação entre outras grandezas:

Ou simplesmente:

Podemos utilizar uma única fórmula unindo a molaridade e o


número de mols:

Acompanhe os exemplos:
1) Uma solução contém 8g de NaCl e 42g de água. Qual o título
Onde: em massa da solução? E seu título percentual?
M = molaridade (mol/L)
m1 = massa do soluto (g)
MM1= massa molar do soluto (g/mol)
V = volume da solução (L)
%=?
Título ( ) e percentual (%)
É a relação entre soluto e solvente de uma solução dada em
percentual (%). Os percentuais podem ser:

- Percentual massa/massa ou peso/peso: %m/m ; %p/p

- Percentual massa/volume: %m/V ; %p/V

- Percentual volume/volume: %v/v 2) No rótulo de um frasco de HCl há a seguinte informação:


título percentual em massa = 36,5%
densidade = 1,18g/mL

Qual a molaridade desse ácido?

Exemplos: Transformar o percentual em título:


NaCl 20,3% = 20,3g em 100g de solução
50% de NaOH = 50g de NaOH em 100mL de solução (m/v)
46% de etanol = 46mL de etanol em 100mL de solução (v/v)
O título não possui unidade. É adimensional. Ele varia entre 0 Depois aplicar a fórmula:
e 1.

4
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES

Para achar a molaridade:

Normalidade (N ou η)
Chamamos de normalidade a relação entre o equivalente-gra-
ma do soluto e o volume da solução.
Fração molar (x) A unidade é representada pela letra N (normal). Está em de-
A fração molar é uma unidade de concentração muito utilizada suso, mas ainda pode ser encontrada em alguns rótulos nos labo-
em físico-química. ratórios.
Pode ser encontrado o valor da fração molar do soluto e tam-
bém do solvente. É uma unidade adimensional.

Onde:
ou N = normalidade (N)
nEqg1 = número de equivalente-grama do soluto
V = volume da solução

ou Como calcular o equivalente-grama?


Então: Para ácido:

Onde:
Onde: 1Eácido = 1 equivalente-grama do ácido
x = fração molar da solução MM = massa molar
x1= fração molar do soluto
x2 = fração molar do solvente Exemplo:
n1= n°de mol do soluto Quantas gramas tem 1E (um equivalente-grama) de HCl?
n2 = n° de mol do solvente
n = n° de mol da solução

Observação:
Para base:

Onde:
1Ebase = 1 equivavelnte-grama da base
Exemplo: MM = massa molar
Adicionando-se 52,0g de sacarose, C12H22O11, a 48,0g de água
para formar uma solução, calcule a fração molar da sacarose nesta Exemplo:
solução: Quantos equivalentes-grama tem em 80g de NaOH?

Para achar a fração molar do soluto (sacarose):

5
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Para sal: Para esta fórmula, sempre M1 e V1 são mais concentrados e M2
e V2 são mais diluídos.

Exemplo:
Um químico deseja preparar 1500mL de uma solução 1,4mol/L
Onde: de ácido clorídrico (HCl), diluindo uma solução 2,8mol/L do mesmo
1Esal = 1 equivavelnte-grama do sal ácido. Qual o volume de solução que havia na primeira solução a
MM = massa molar ser diluída?
Exemplo: Dados:
Quantas gramas tem 1E de NaCl?

Resumindo as três fórmulas, o equivalente-grama pode ser


dado por:

Onde:
MM = massa molar
x = n° de H+, n° de OH- ou n° total de elétrons transferidos
Algumas relações entre normalidade, molaridade e massa:

Observe que as unidades de volume foram mantidas em mL.


Se uma das unidades for diferente, deve-se transformar para litros.

Exemplo de cálculo envolvendo normalidade: Mistura de soluções


Qual a massa de ácido sulfúrico (H2SO4) contida em 80mL de - De mesmo soluto: na mistura de soluções de mesmo soluto,
sua solução 0,1N? não há reação química entre estas soluções. Neste caso, o valor do
volume final é a soma das soluções.
Dados:
MM = 98g/mol
V = 80mL = 0,08L
N = 0,1N
m1= ?
Calcular o equivalente-grama:
Onde:
C = concentração comum (g/L)
M = molaridade (mol/L)
V = volume (L)

Exemplo:
Calcular a massa: Qual a molaridade de uma solução de NaOH formada pela mis-
tura de 60mL de solução a 5mol/L com 300mL de solução a 2mol/L?

Diluição
Consiste em adicionar mais solvente puro a uma determinada
solução.
A massa de uma solução após ser diluída permance a mesma,
não é alterada, porém a sua concentração e o volume se alteram.
Enquanto o volume aumenta, a concentração diminui. Veja a fór-
mula:

-
Onde: De diferentes solutos que reagem entre si: ocorre reação en-
M1 = molaridade da solução 1 tre as substâncias que compõem a mistura. Para que a reação seja
M2 = molaridade da solução 2 completa entre os solutos, os volumes misturados devem obedecer
V1 = volume da solução 1 a proporção estequiométrica que corresponde à reação química.
V2 = volume da solução 2 Veja as fórmulas utilizadas:

6
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Reação de Neutralização: Titulação
É um método de análise volumétrica que consiste em deter-
minar a concentração de ácido ou de base através de um volume
gasto de uma das soluções com molaridade conhecida.
Este método é muito utilizado em laboratórios químicos, sendo
utilizadas as seguintes vidrarias e reagentes:
- erlenmeyer (vidro usado para guardar e preparar soluções);
- bureta (tubo de vidro graduado em milímetros com torneira);
- indicador ácido-base (fenolftaleína, alaranjado de metila, etc).

Pode-se usar a seguinte fórmula:

Onde: Na bureta, coloca-se a solução de concentração conhecida, a


xa = número de H+ qual é adicionada a uma alíquota (porção) da solução com concen-
xb= número de OH- tração a ser determinada.
O momento em que o indicador muda de cor chamamos de
Estes cálculos também podem ser feitos por regra de três e
ponto de final ou ponto de equivalência. Anota-se o volume gasto
utilizando as outras fórmulas. Exemplo:
na bureta.
Juntando-se 300mL de HCl 0,4mol/L com 200mL de NaOH
Através deste volume, podemos estabelecer as quantidades,
0,6mol/L, pergunta-se quais serão as molaridades da solução final
em mol, que reagiram entre si.
com respeito:
a) ao ácido:
Ánalise Volumétrica
b) à base:
Análise volumétrica ou volumetria é um procedimento labora-
c) ao sal formado:
torial em que utilizamos certo volume de uma solução de concen-
Montar a reação química:
tração conhecida para determinar a concentração de outra solução.
O volume da solução de concentração conhecida será determinado
quando ela reagir completamente com a solução de concentração
desconhecida, ou seja, as soluções envolvidas devem reagir entre
si.
Calcular n (número de mol) do ácido e da base:
Os instrumentos mais utilizados para medir um determinado
volume são:
• Pipeta

Se forma 0,12mol de ácido e também de base e a proporção


estequiométrica é 1:1, então a molaridade final de ácido e de base
é zero, porque reagiu todo o soluto.
Para calcular a molaridade do sal (antes achar o volume final):

Exemplo de pipeta utilizada na medição do volume

7
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
• Bureta Os números em azul significam:
1) Suporte universal;
2) Garra (utilizada para segurar a bureta);
3) Erlenmeyer (recebe a solução de concentração desconhe-
cida);
4) Agitador magnético (utilizado para agitar a solução presente
no erlenmeyer);
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5) Bureta (recebe a solução de concentração conhecida).

Ao erlenmeyer é adicionado um volume da solução de concen-


tração desconhecida com o indicador fenolftaleína (imediatamente
a solução ficará rosa). Na bureta, é colocado certo volume da solu-
ção de concentração conhecida. Em seguida, a solução ácida da bu-
reta é diretamente gotejada na solução básica no erlenmeyer. Esse
gotejamento dura até que a solução básica torne-se incolor, mo-
A bureta é um importante equipamento de medida volumétrica mento o qual chamamos de ponto de viragem, que indica que toda
a base presente na solução reagiu completamente com o ácido.
A medida do volume é feita pela avaliação da altura do cha-
mado menisco, que nada mais é do que a região superficial do lí-
quido que apresenta aspecto retangular ou abaulado (formato de
gota), a depender da espessura do recipiente. Quanto mais largo
for o recipiente, mais retangular será o menisco; quanto mais fino
for o recipiente, mais abaulado ele será. Para avaliar o menisco, o
olho deve estar exatamente na sua altura e devemos utilizar como
referência a região de baixo, se o menisco for retangular, ou a pon-
ta, se abaulado. Veja uma representação de uma avaliação:

No ponto de viragem, a solução deixa de ser rosa e passa a ser


incolor

Observação: Se a solução de concentração desconhecida for


a do ácido, quando ela receber o indicador fenolftaleína, ficará in-
color. Assim, o ponto de viragem na titulação acontecerá quando a
solução ácida ficar rosa ao receber a solução básica da bureta.
Por fim, para determinar a concentração da solução básica,
Para avaliar um menisco, é importante que os olhos estejam na basta utilizar a seguinte equação:
direção dele
Ma.Va = Mb.Vb
Na análise volumétrica, o equipamento mais utilizado é a bure- Ma = molaridade do ácido;
ta. Isso acontece porque, como o método envolve reações químicas Va = volume do ácido;
e estas podem processar-se de forma rápida, a bureta permite que Mb = molaridade da base;
o líquido seja liberado em sua ponta em gotas, o que possibilita que Vb = volume da base.
interrompamos a saída do líquido de forma mais controlada.
Acompanhe agora um exemplo de como é realizado o cálculo
Um dos procedimentos mais utilizados dentro da volumetria de uma solução que apresenta molaridade desconhecida.
é a titulação. Trata-se de uma análise volumétrica que envolve a
ocorrência de uma reação entre um ácido e uma base ou vice-ver- 1º) 30 mL de uma solução de base desconhecida foi adicionada
sa. Os equipamentos necessários para a sua realização estão repre- a um erlenmeyer com o objetivo de realizar uma titulação para de-
sentados na imagem a seguir: terminar sua concentração (molaridade). Na bureta foram adicio-
nados 50 mL de uma solução de ácido de concentração 0,2 mol/L.
Após o gotejamento da solução ácida e até que a solução básica
fosse titulada, observou-se que foram utilizados 20 mL da solução
ácida na titulação. Determine a molaridade da solução básica uti-
lizada.

Dados do exercício:
Vb = 30 mL
Mb = ?
Ma = 0,2 mol/L
Va = 20 mL
Representação da aparelhagem utilizada em uma titulação

8
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Como a molaridade do ácido e seu volume são, respectivamen-
te, 0,2 mol/L e 20 mL, e o volume da base utilizada é de 30 mL,
basta utilizar a fórmula da titulação:

Ma.Va = Mb.Vb
0,2.20 = Mb.30 Sabendo que a massa atômica do elemento cloro é igual a
4 = Mb.30 35,5u podemos afirmar que:
4 = Mb Massa média do átomo de Cl=35,5u
30 Massa média do átomo de Cl=35,5 x massa de 1/12 do átomo
Mb = 0,133 mol/L de 12C.
Massa média do átomo de x massa do átomo de 12C,
É a forma de calcular quantidades de reagentes e produtos em
uma reação química. Envolve cálculos matemáticos simples para Observe que não existe átomo de Cl com massa igual a 35,5 u;
conhecer a proporção correta de substâncias a serem usadas. esse é o valor médio da massa do átomo de 12C.
Unidade de massa atômica: A massa atômica é a massa de um A maioria dos elementos é formada por mistura de diferen-
átomo medida em unidade de massa atômica, sendo simbolizada tes isótopos, em proporção constante. Essa proporção varia de um
por “u”. 1 u equivale a um doze avos (1/12) da massa de um átomo elemento para outro, mas para um elemento é constante. Desse
de carbono-12 (isótopo natural do carbono mais abundante que maneira, a massa atômica dos elementos é também constante.
possui seis prótons e seis nêutrons, ou seja, um total de número de Nos elementos formados por um único isótopo, a massa atô-
massa igual a 12). Sabe-se que 1 u é igual a 1,66054 . 10-24 g. mica do seu único isótopo será também a massa atômica do ele-
mento.

Exemplo: Elemento químico flúor

Veja no quadro abaixo o resumo das informações importantes


Massa Atômica (MA) adquiridas até o momento:
A massa atômica de um átomo é sua massa determinada em
u, ou seja, é a massa comparada com 1/12 da massa do 12C.As Massa molecular (MM)
massas atômicas dos diferentes átomos podem ser determinadas A massa molecular de uma substância é a massa da molécula
experimentalmente com grande precisão, usando um aparelho de- dessa substância expressa em unidades de massa atômica (u).Nu-
nominado espectrômetro de massa. Para facilitar os cálculos não mericamente, a massa molecular é igual à soma das massas atômi-
necessário utilizar os valores exatos, assim faremos um “arredon- cas de todos os átomos constituintes da molécula.
damento” para o número inteiro mais próximo:
Exemplos:
Exemplos: H2⇒H = 1u , como são dois hidrogênios = 2u
- O = 16u
Massa atômica do 4,0030u - 4u - H2O = 2u (H2) + 16u (O) = 18u

Massa atômica do 18,9984u - 19u Mol e Constante de Avogadro


Massa atômica do 26,9815u - 27u Com base na resolução recente da IUPAC, definimos que:
-Mol é a unidade de quantidade de matéria.
Massa Atômica de um Elemento -Constante de Avogadro é o número de átomo de 12C contidos
Massa atômica de um elemento é a média ponderada das mas- em 0,012Kg de 12C. Seu valor é 6,02x1023 mol-1.
sas atômicas dos átomos de seus isótopos constituintes.
Assim, o cloro é formado pelos isótopos 35Cl e 37C, na propor- Massa Molar (M)
ção: A massa molar de um elemento é a massa de um mol de áto-
35
Cl= 75,4% MA= 34,997u mos, ou seja, 6,02x1023 átomos desse elemento. A unidade mais
37
Cl= 24,6% MA= 36,975u usada para a massa molar é g.mol-1.
Numericamente, a massa molar de um elemento é igual à sua
massa atômica.

Exemplos:
1) Massa atômica do Cl=35,453u
Como a massa atômica de um isótopo é aproximadamente Massa molar do Cl= 35,453 g.mol-1.
igual ao seu número de massa, a massa atômica de um elemento é
aproximadamente igual à média ponderada dos números de massa Interpretação: Um mol de átomos do elemento Cl (mistura dos
de sesu isótopos constituintes. Assim, a massa atômica aproximada isótopos 35Cl e 37Cl), ou seja, 6,02x1023 átomos do elemento Cl pe-
do cloro será: sam 35,453 gramas.

9
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
2) Massa atômica da água, H2O = 18u
Massa molar: um mol de moléculas, ou seja, 6,02x1023 moléculas de H2O pesam 18,0 gramas.

Cálculos estequiométricos
O cálculo das quantidades das substâncias envolvidas numa reação química é chamado de cálculo estequiométricos — palavra deri-
vada do grego stoicheia = partes mais simples e metreim = medida. São cálculos que envolvem proporções de átomos em uma sustância
ou que relacionam-se com proporções de coeficientes de uma equação química.
As bases para o estudo da estequiometria das reações químicas foram lançadas por cientistas que conseguiram expressar matemati-
camente as regularidades que ocorrem nas reações químicas, através das Leis das Combinações Químicas.
Essas leis foram divididas em dois grupos:
- Leis ponderais: relacionam as massas dos participantes de uma reação.
- Lei volumétrica: relaciona os volumes dos participantes de uma reação.

Conduta de Resolução
Na estequiometria, os cálculos serão estabelecidos em função da lei de Proust e Gay-Lussac, neste caso para reações envolvendo
gases e desde que estejam todos nas mesmas condições de pressão e temperatura.Assim, devemos tomar os coeficientes da reação devi-
damente balanceados, e, a partir deles, estabelecer a proporção em mols dos elementos ou substâncias da reação.

Exemplo: reação de combustão do álcool etílico:

C2H6O + O2 → CO2 + H2O

Após balancear a equação, ficamos com:

Após o balanceamento da equação, pode-se realizar os cálculo, envolvendo os reagentes e/ou produtos dessa reação, combinando
as relações de várias maneiras:

Importante:
- Uma equação química só estará corretamente escrita após o acerto dos coeficientes, sendo que, após o acerto, ela apresenta signi-
ficado quantitativo.
- Relacionar os coeficientes com mols. Teremos assim uma proporção inicial em mols;
- Estabelecer entre o dado e a pergunta do problema uma regra de três. Esta regra de três deve obedecer aos coeficientes da equação
química e poderá ser estabelecida, a partir da proporção em mols, em função da massa, em volume, número de moléculas, entre outros,
conforme dados do problema.

Tipos de Cálculos Estequiométricos

RELAÇÃO QUANTIDADE RELAÇÃO ENTRE QUANTIDADE RELAÇÃO ENTRE MASSA E RELAÇÃO ENTRE MASSA E
EM MOLS EM MOLS E MASSA MASSA VOLUME
Os dados do problema e as Os dados do problema são Os dados do problema e Os dados do problema
quantidades incógnitas pedidas expressos em termos de as quantidades incógnitas são expressos em termos
são expressos em termos de quantidade em mols (ou massa) e pedidas são expressos em de massa e a quantidade
quantidade em mols. a quantidade incógnita é pedida termos de massa. incógnita é pedida em
em massa (ou quantidade em volume**
mols).

10
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
**Caso o sistema não se encontre nas CNTP, deve-se calcular - conhecer as fórmulas dos reagentes e dos produtos;
a quantidade em mols do gás e, a seguir, através da equação de - escrever a equação sempre da seguinte forma: reagentes =>
estado, determinar o volume correspondente. produtos

Cálculos envolvendo excesso de reagente Quando mais de um reagente, ou mais de um produto, partici-
Quando o enunciado do exercício fornecer quantidades de 2 parem da reação, as fórmulas das substâncias serão separadas pelo
reagente, precisamos verificar qual deles estará em excesso, após sinal “+ “;
terminada a reação. As quantidades de substâncias que participam - se for preciso, colocar números, chamados coeficientes este-
da reação química são sempre proporcionais aos coeficientes da quiométricos, antes das fórmulas das substâncias de forma que a
equação. Se a quantidade de reagente estiver fora da proporção equação indique a conservação dos átomos. Esse procedimento é
indicada pelos coeficientes da equação, reagirá somente a parte chamado balanceamento ou acerto de coeficientes de uma equa-
que se encontra de acordo com a proporção; a parte que estiver a ção.
mais não reage e é considerada excesso.Por outro lado, o reagente
que for totalmente consumido (o que não estiver em excesso) pode Utilizando as regras acima para representar a formação da
ser denominado de reagente limitante porque ele determina o final água temos:
da reação química no momento em que for totalmente consumido. - reagentes: hidrogênio e oxigênio; produto: água.
- fórmulas das substâncias: hidrogênio: H2; oxigênio: 02; água:
Cálculos envolvendo Pureza H20.
Com frequência as substâncias envolvidas no processo quími- - equação: H2 + 02 => H2O.
co não são puras. Assim, podemos esquematicamente dividir uma - acerto dos coeficientes: a expressão acima indica que uma
amostra em duas partes: a parte útil e as mas impurezas. molécula de hidrogênio (formada por dois átomos) reage com uma
-Parte útil ou parte pura: reage no problema - p% molécula de oxigênio (formada por dois átomos) para formar uma
-Impurezas: não reagem no processo do problema - i% molécula de água (formada por dois átomos de hidrogênio e um de
oxigênio). Vemos, portanto, que a expressão contraria a lei da con-
Diante disso, é importante calcularmos a massa referente à servação dos átomos (lei da conservação das massas), pois antes
parte pura, supondo que as impurezas não participam da reação. da reação existiam dois átomos de oxigênio e, terminada a reação,
Grau de pureza (p) é o quociente entre a massa da substância pura existe apenas um. No entanto, se ocorresse o desaparecimento de
e a massa total da amostra (substância impura). algum tipo de átomo a massa dos reagentes deveria ser diferente
da massa dos produtos, o que não é verificado experimentalmente.

Como dois átomos de oxigênio (na forma de molécula 02) inte-


ragem, é lógico supor que duas moléculas de água sejam formadas.
Sistema em que o rendimento não é total Mas como duas moléculas de água são formadas por quatro áto-
Quando uma reação química não produz as quantidades de mos de hidrogênio, serão necessárias duas moléculas de hidrogê-
produto esperadas, de acordo com a proporção da reação química, nio para fornecer essa quantidade de átomos. Assim sendo, o me-
dizemos que o rendimento não foi total. Rendimento de uma rea- nor número de moléculas de cada substância que deve participar
ção é o quociente entre a quantidade de produto realmente obtida da reação é: hidrogênio, duas moléculas; oxigênio, uma molécula;
e a quantidade esperada, de acordo com a proporção da equação água, duas moléculas.
química. A equação química que representa a reação é: 2 H2 + 02 => 2
H20 (que é lida da seguinte maneira: duas moléculas de hidrogênio
Reações de Neutralização, Dupla Troca, Simples Troca, Redu- reagem com uma molécula de oxigênio para formar duas moléculas
ção, Oxidação de água.)
Reações Químicas Lei Volumétrica das Reações Químicas
A queima de uma vela, a obtenção de álcool etílico a partir de Estudos realizados por Gay-Lussac levaram-no, em 1808, a con-
açúcar e o enferrujamento de um pedaço de ferro são exemplos de cluir:
transformações onde são formadas substâncias com propriedades Lei de Gay-Lussac: Os volumes de gases que participam de uma
diferentes das substâncias que interagem. Tais transformações são reação química, medidos nas mesmas condições de pressão e tem-
chamadas reações químicas. As substâncias que interagem são cha- peratura, guardam entre si uma relação constante que pode ser
madas reagentes e as formadas, produtos. expressa através de números inteiros.
No final do século XVIII, estudos experimentais levaram os Assim, por exemplo, na preparação de dois litros de vapor
cientistas da época a concluir que as reações químicas obedecem a d’água devem ser utilizados dois litros de hidrogênio e um litro de
certas leis. Estas leis são de dois tipos: oxigênio, desde que os gases estejam submetidos às mesmas con-
- leis ponderais: tratam das relações entre as massas de rea- dições de pressão e temperatura. A relação entre os volumes dos
gentes e produtos que participam de uma reação; gases que participam do processo será sempre: 2 volumes de hidro-
- leis volumétricas: tratam das relações entre volumes de gases gênio; 1 volume de oxigênio; 2 volumes de vapor d’água. A tabela a
que reagem e são formados numa reação. seguir mostra diferentes volumes dos gases que podem participar
desta reação.
Equações Químicas
Os químicos utilizam expressões, chamadas equações quími- hidrogênio + oxigênio => Vapor d’água
cas, para representar as reações químicas. 20 cm3 10 cm3 20 cm3
Para se escrever uma equação química é necessário: 180 dm3 90 dm3 180 dm3
- saber quais substâncias são consumidas (reagentes) e quais 82 ml 41 ml 82 ml
são formadas (produtos); 126 l63 l 126 l

11
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Observe que nesta reação o volume do produto (vapor d’água) - decomposição da amônia:
é menor do que a soma dos volumes dos reagentes (hidrogênio e 2 NH3(g) N2(g) + 3 H2(g)
oxigênio). Esta é uma reação que ocorre com contração de volume,
isto é, o volume dos produtos é menor que o volume dos reagentes. - síntese de cloreto de hidrogênio:
Existem reações entre gases que ocorrem com expansão de volu- H2(g) + Cl2(g) 2 HC1(g)
me, isto é, o volume dos produtos é maior que o volume dos rea-
gentes, como por exemplo na decomposição do gás amônia: Massas Relativas de Átomos e Moléculas
A hipótese de Avogadro permitiu, mesmo sendo impossível de-
amônia => hidrogênio + nitrogênio terminar a massa de uma molécula, comparar as massas de várias
2 vol. 3 vol 1 vol. moléculas. Em outras palavras a hipótese de Avogadro permitiu cal-
cular quantas vezes uma molécula é mais leve ou mais pesada do
Em outras reações gasosas o volume se conserva, isto é, os vo- que a outra. Vejamos como isso pode ser feito.
lumes dos reagentes e produtos são iguais. E o que acontece, por Sabe-se que 10 litros de gás hidrogênio, submetido a 0ºC e 1
exemplo, na síntese de cloreto de hidrogênio: atm, pesam 0,892 grama e que o mesmo volume de oxigênio, nas
mesmas condições de pressão e temperatura, pesa 14,3 gramas.
hidrogênio + cloro => cloreto de hidrogênio Como, tanto os volumes dos gases, como as condições de pressão e
1 vol. 1 vol. 2 vol. temperatura em que se encontram são iguais, as amostras gasosas
são formadas pelo mesmo número de moléculas. Podemos, então,
Hipótese de Avogadro escrever:
Em 1811, na tentativa de explicar a lei volumétrica de Gay-Lus- - massa de uma molécula de oxigênio/massa de uma molécula
sac, Amadeo Avogadro propôs que amostras de gases diferentes, de hidrogênio = 14,3g/0,893g = 16
ocupando o mesmo volume e submetidas às mesmas condições de - o que mostra que uma molécula de oxigênio é 16 vezes mais
pressão e temperatura, são formadas pelo mesmo número de mo- pesada que uma molécula de hidrogênio.
léculas. Tomando-se como exemplo a formação de vapor d’água
(todos os gases submetidos às mesmas condições de pressão e Tipos de Reações Químicas
temperatura) temos: As reações químicas costumam ocorrer acompanhadas de al-
hidrogênio + oxigênio => vapor d’água guns efeitos que podem dar uma dica de que elas estão aconte-
dados experimentais 2 vol. 1 vol. 2 vol. cendo.
hip. de Avogadro 2a moléc. a moléc. 2a moléc. Vamos ver quais são estes efeitos?
dividindo por a 2 moléc. 1 moléc. 2 moléc. Saída de gases
Formação de precipitado
ou seja, a relação entre os volumes dos gases que reagem e Mudança de cor
que são formados numa reação é a mesma relação entre o número Alterações de calor
de moléculas participantes. Vamos estudar alguns tipos de reações químicas.
A hipótese de Avogadro também permitiu a previsão das fór-
mulas moleculares de algumas substâncias. E o que foi feito, por Reações de Síntese
exemplo, para a substância oxigênio. Como uma molécula de oxi- Estas reações são também conhecidas como reações de com-
gênio, ao reagir com hidrogênio para formar água, produz o dobro posição ou de adição. Neste tipo de reação um único composto é
de moléculas de água, é necessário que ela se divida em duas par- obtido a partir de dois compostos.
tes iguais. Portanto, é de se esperar que ela seja formada por um Vamos ver uma ilustração deste tipo de reação!
número par de átomos. Por simplicidade, Avogadro admitiu que a
molécula de oxigênio deveria ser formada por dois átomos. Reações de Decomposição
Raciocinando de maneira semelhante ele propôs que a molé- Como o próprio nome diz, este tipo de reação é o inverso da
cula de hidrogênio deveria ser diatômica e a de água triatômica, anterior (composição), ou seja, ocorrem quando a partir de um úni-
formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. co composto são obtidos outros compostos. Estas reações também
Estas suposições a respeito da constituição das moléculas de são conhecidas como reações de análise.
água, oxigênio e hidrogênio concordam com as observações expe-
rimentais acerca dos volumes dessas substâncias que participam Reações de Simples Trocas
da reação. Estas reações ocorrem quando uma substância simples reage
Atualmente, sabe-se que a hipótese levantada por Avogadro é com uma substância composta para formar outra substância sim-
verdadeira, mas, por razões históricas, sua proposição ainda é cha- ples e outra composta. Estas reações são também conhecidas como
mada de hipótese. reações de deslocamento ou reações de substituição.
Outra decorrência da hipótese de Avogadro é que os coeficien-
tes estequiométricos das equações que representam reações entre Reações de Dupla Troca
gases, além de indicar a proporção entre o número de moléculas Estas reações ocorrem quando duas substâncias compostas re-
que reage, indica, também, a proporção entre os volumes das subs- solvem fazer uma troca e formam-se duas novas substâncias com-
tâncias gasosas que participam do processo, desde que medidas postas.
nas mesmas condições de pressão e temperatura. Podemos exem-
plificar este fato com as equações das reações descritas anterior- Redução e Oxidação
mente: Na classificação das reações químicas, os termos oxidação e
redução abrangem um amplo e diversificado conjunto de proces-
- síntese de vapor d’água: sos. Muitas reações de oxirredução são comuns na vida diária e nas
2 H2(g) + 02(g) 2 H2O(g) funções vitais básicas, como o fogo, a ferrugem, o apodrecimento
das frutas, a respiração e a fotossíntese.

12
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Oxidação é o processo químico em que uma substância per- reação, a massa global desses reagentes. Desse modo, o número
de elétrons, partículas elementares de sinal elétrico negativo. O de átomos iniciais de cada reagente se mantém quando a reação
mecanismo inverso, a redução, consiste no ganho de elétrons por atinge o equilíbrio.
um átomo, que os incorpora a sua estrutura interna. Tais proces- Em cada processo desse tipo, existe uma relação de propor-
sos são simultâneos. Na reação resultante, chamada oxirredução ção fixa e única entre as moléculas. Uma molécula de oxigênio, por
ou redox, uma substância redutora cede alguns de seus elétrons exemplo, se une a duas de hidrogênio para formar duas moléculas
e, consequentemente, se oxida, enquanto outra, oxidante, retém de água. Essa proporção é a mesma para todas as vezes que se pro-
essas partículas e sofre assim um processo de redução. Ainda que cura obter água a partir de seus componentes puros: 2H2 + O2 ->
os termos oxidação e redução se apliquem às moléculas em seu 2H2O
conjunto, é apenas um dos átomos integrantes dessas moléculas A reação descrita, que é redox por se terem alterado os nú-
que se reduz ou se oxida. meros de oxidação do hidrogênio e do oxigênio em cada um dos
membros, pode ser entendida como a combinação de duas reações
Número de oxidação. Para explicar teoricamente os mecanis- iônicas parciais:
mos internos de uma reação do tipo redox é preciso recorrer ao H2 -> 2H+ + 2e- (semi-oxidação)
conceito de número de oxidação, determinado pela valência do 4e- + 2H+ + O2 -> 2OH- (semi-redução)
elemento (número de ligações que um átomo do elemento pode
fazer), e por um conjunto de regras deduzidas empiricamente: Em que os elétrons ganhos e perdidos representam-se com e- e
(1) quando entra na constituição das moléculas monoatômi- os símbolos H+ e OH- simbolizam respectivamente os íons hidrogê-
cas, diatômicas ou poliatômicas de suas variedades alotrópicas, o nio e hidroxila. Em ambas as etapas, a carga elétrica nos membros
elemento químico tem número de oxidação igual a zero; iniciais e finais da equação deve ser a mesma, já que os processos
(2) o oxigênio apresenta número de oxidação igual a -2, em são independentes entre si.
todas as suas combinações com outros elementos, exceto nos pe- Para fazer o balanceamento da reação global, igualam-se as
róxidos, quando esse valor é -1; reações iônicas parciais, de tal maneira que o número de elétrons
(3) o hidrogênio tem número de oxidação +1 em todos os seus doados pelo agente redutor seja igual ao número de elétrons rece-
compostos, exceto aqueles em que se combina com os ametais, bidos pelo oxidante, e procede-se a sua soma:
quando o número é -1; e
(4) os outros números de oxidação são determinados de tal (H2 -> 2H+ + 2e-) x 2
maneira que a soma algébrica global dos números de oxidação de (4e- + 2H+ + O2 -> 2OH-)      x 1
uma molécula ou íon seja igual a sua carga efetiva. Assim, é possível --------------------------------------------
determinar o número de oxidação de qualquer elemento diferente 2H2 + 4e- + 2H+ + O2 -> 4H+ + 4e- + 2OH-
do hidrogênio e do oxigênio nos compostos que formam com esses o que equivale a:
dois elementos. 2H2 + O2 -> 2H2O
pois os elétrons se compensam e os íons H+ e OH- se unem
Assim, o ácido sulfúrico (H2SO4) apresenta, para seu elemen- para formar a água.
to central (enxofre), um número de oxidação n, de forma que seja
nula a soma algébrica dos números de oxidação dos elementos in- Nesses mecanismos se apóia o método generalizado de balan-
tegrantes da molécula: 2.(+1) + n + 4.(-2) = 0, logo, n = +6 ço de reações redox, chamado íon-elétron, que permite determinar
Em toda reação redox existem ao menos um agente oxidante e as proporções exatas de átomos e moléculas participantes. O méto-
um redutor. Em terminologia química, diz-se que o redutor se oxi- do íon-elétron inclui as seguintes etapas:
da, perde elétrons, e, em conseqüência, seu número de oxidação (1) notação da reação sem escrever os coeficientes numéricos;
aumenta, enquanto com o oxidante ocorre o oposto. (2) determinação dos números de oxidação de todos os áto-
mos participantes;
Oxidantes e redutores. Os mais fortes agentes redutores são (3) identificação do agente oxidante e redutor e expressão de
os metais altamente eletropositivos, como o sódio, que facilmente suas respectivas equações iônicas parciais;
reduz os compostos de metais nobres e também libera o hidrogê- (4) igualação de cada reação parcial e soma de ambas, de tal
nio da água. Entre os oxidantes mais fortes, podem-se citar o flúor forma que sejam eliminados os elétrons livres;
e o ozônio. (5) eventual recomposição das moléculas originais a partir de
O caráter oxidante e redutor de uma substância depende dos possíveis íons livres.
outros compostos que participam da reação, e da acidez e alcalini-
dade do meio em que ela ocorre. Tais condições variam com a con- Métodos de Balanceamento
centração de elementos ácidos. Entre as reações tipo redox mais Método das Tentativas: Como o nome já sugere, consiste na
conhecidas -- as reações bioquímicas -- inclui-se a corrosão, que escolha de números arbitrários de coeficientes estequiométricos.
tem grande importância industrial. Assim, apesar de mais simples, pode se tornar a forma mais traba-
Um caso particularmente interessante é o do fenômeno cha- lhosa de balancear uma equação.
mado auto-redox, pelo qual um mesmo elemento sofre oxidação
e redução na mesma reação. Isso ocorre entre halogênios e hidró- Método Algébrico: Utiliza-se de um conjunto de equações,
xidos alcalinos. Na reação com o hidróxido de sódio a quente, o onde as variáveis são os coeficientes estequiométricos. Sendo que,
cloro (0) sofre auto-redox: se oxida para clorato (+5) e se reduz para essas equações podem ser solucionadas por substituição, escalona-
cloreto (-1): 6Cl + 6NaOH -> 5NaCl- + NaClO3 + 3H2O mento ou por matrizes (através de determinantes).
Exemplo: NH4NO3 → N2O + H2O
Balanço das reações redox. As leis gerais da química estabele-
cem que uma reação química é a redistribuição das ligações entre Passo 1: Identificar os coeficientes.
os elementos reagentes e que, quando não há processos de ruptura aNH4NO3 → bN2O + cH2O
ou variação nos núcleos atômicos, conserva-se, ao longo de toda a

13
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Passo 2: Igualar as atomicidades de cada elemento respeitando Passo 3: Acrescentar os coeficientes restantes
a regra da proporção atômica. Assim, deve-se multiplicar a atomici- Para completar o balanceamento, pode-se realizar o mesmo
dade de cada elemento da molécula pelo coeficiente estequiomé- procedimento utilizado no lado dos reagentes (multiplicando a
trico identificado anteriormente. variação de Nox pela atomicidade do elemento na molécula) ou
Para o nitrogênio: 2a = 2b (pois existem 2 átomos de N na mo- realizar o método de tentativas. A primeira opção é a mais viável,
lécula NH4NO3) embora para equações mais simples (como a indicada como exem-
Para o hidrogênio: 4a = 2c plo) possa ser utilizado o segundo método. O fato é que ambos os
Para o oxigênio: 3a = b + c métodos devem levar à mesma resposta final.
Como a atomicidade do carbono no CO2 é igual a 1, multipli-
Ou seja, o número de átomos de cada elemento deve ser igual cando-se pela variação do Nox 2, obtém-se o coeficiente 2 para o
no lado dos reagentes e no lado dos produtos. FeO. Do mesmo modo, sendo a variação de Nox do ferro igual a 2/3,
multiplicando-se pela atomicidade 1 na molécula de FeO, obtém-se
Passo 3: Resolver o sistema de equações o coeficiente 2/3 para o CO2. Agora, basta balancear o lado dos pro-
Se 2a = 2b, tem-se que a = b. dutos: Fe3O4 + CO → 2FeO + 2/3CO2
Se 4a = 2c, tem-se que 2a = c. Como os coeficientes devem ser os menores valores inteiros
possíveis, deve-se multiplicar a equação por 3/2 a fim de retirar o
Portanto, atribuindo-se o valor arbitrário 2 para o coeficiente coeficiente fracionário do CO2:
a, tem-se: Fe3O4 + CO → 3FeO + CO2
a = 2, b = 2, c = 4.
Método Íon-Elétron: Baseia-se na divisão da reação global de
Mas, como os coeficientes devem ser os menores valores in- oxirredução em duas semi-equações. Sendo que, para a semi-equa-
teiros possíveis: ção de redução deve-se acrescentar os elétrons no lado dos rea-
a = 1, b = 1, c = 2. gentes e o ânion no lado dos produtos. De forma análoga, para a
semi-equação de oxidação, deve-se adicionar os elétrons no lado
Passo 4: Substituir os valores obtidos na equação original dos produtos junto à espécie oxidada, enquanto que no lado de
1NH4NO3 → 1N2O + 2H2O, ou simplesmente, NH4NO3 → N2O + reagentes deve estar a espécie mais reduzida.
2H2O Exemplo: CuSO4 + Ni → NiSO4 + Cu

Método Redox: Baseia-se nas variações dos números de oxida- Passo 1: Identificar as espécies que sofrem oxidação e redução
ção dos átomos envolvidos de modo a igualar o número de elétrons No composto CuSO4, o cobre possui Nox +2 e transforma-se em
cedidos com o número de elétrons ganhos. Se no final do balancea- cobre puro com Nox 0. Assim como, o Níquel puro passa do estado
mento redox faltar compostos a serem balanceados, deve-se vol- 0 para o estado de oxidação +2. Portanto, o cobre 2+ sofre redução
tar para o método das tentativas e completar com os coeficientes e o níquel oxidação.
restantes.
Passo 2: Escrever as semi-equações
Exemplo: Fe3O4 + CO → FeO + CO2 Cu2+ + 2e → Cu
Ni → Ni2+ + 2e
Passo 1: Identificar os átomos que sofrem oxirredução e calcu- Passo 3: Somar as semi-equações de modo a balanceá-las e
lar as variações dos respectivos números de oxidação. Sabendo-se cancelar os elétrons cedidos com os ganhos
que o Nox do oxigênio é -2 para todos os compostos envolvidos. Cu2+ + Ni → Ni2+ + Cu, ou simplesmente, CuSO4 + Ni → NiSO4 +
O Nox do Ferro varia de +8/3 para +2. E, o Nox do carbono de +2 Cu
para +4.
Caso a quantidade de elétrons cedidos e ganhos não fosse
Portanto, o ferro se reduz e o carbono se oxida. igual, as duas semi-equações deveriam ser multiplicadas por nú-
ΔFe = 8/3 – 2 = 2/3 (variação de Nox do ferro) meros inteiros de modo a equilibrar as cargas. Se a equação inicial
ΔC = 4 – 2 = 2 (variação de Nox do carbono) possuir íons H+ em um dos lados ou átomos de oxigênio, também
em um dos lados, deve-se balancear a primeira espécie com molé-
Passo 2: Multiplicar a variação de Nox pela respectiva atomici- culas de hidrogênio e a segunda com moléculas de água.
dade no lado dos reagentes e atribuir o valor obtido como o coe-
ficiente estequiométrico da espécie que sofreu processo reverso. RELAÇÕES MASSA E MOL
Assim, o número obtido pela multiplicação da variação de Nox do Antes de introduzir o conceito de massa molar e número de
ferro pela sua atomicidade deve ser atribuído como o coeficiente mol, vejamos algumas definições importantes nesse contexto:
estequiométrico da molécula de CO.
Para o ferro: 2/3 . 3 = 2 → Termo molar
Para o carbono: 2 . 1 = 2 Molar vem da palavra molécula, mas o que exatamente é uma
molécula? É o conjunto de átomos que se ligam por meio de liga-
Portanto, o coeficiente do Fe3O4 é igual a 2, e o coeficiente do ções químicas.
CO também.
2Fe3O4 + 2CO → FeO + CO2 → Massa molecular (MM)
É possível calcular a massa de uma molécula pela soma das
Simplificando-se os coeficientes para os menores valores intei- massas atômicas de cada átomo que forma a respectiva molécula.
ros possíveis, tem-se: O resultado é denominado de Massa Molecular (MM).
Fe3O4 + CO → FeO + CO2 Qual seria a massa molecular do gás Sulfídrico (H2S), por exem-
plo?

14
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Primeiro é preciso saber qual é a massa atômica de cada átomo, que é dada pela Tabela Periódica dos elementos.

• Massa atômica do hidrogênio (H) = 1 u.m.a. (unidade por massa atômica)


• Massa atômica do enxofre (S) = 32,1 u.m.a.

A massa molecular é a soma das massas atômicas dos átomos.

Obs.: o Hidrogênio da molécula de H2S possui coeficiente 2, por isso, é preciso multiplicar sua massa por 2. Calculando:
Massa molecular do H2S = 1 • 2 + 32,1 = 34,1 u
                                              (H) + (S) = (H2S)
Massa molar e o número de mol

Já a massa molar, assim como o número de mol, relaciona-se com a Constante de Avogadro (6,02 x 1023) por meio do seguinte con-
ceito:
‘’O número de entidades elementares contidas em 1 mol correspondem à constante de Avogadro, cujo valor é 6,02 x 1023 mol-1.’’
Sendo assim, a massa molar é a massa de 6,02 x 1023 entidades químicas e é expressa em g/mol.

Mapa Mental - Mol

Exemplo: H2S
• Massa Molecular = 34,1 u
• Massa molar (M) = 34,1 g/mol
Isso quer dizer que, em 34,1 g/mol de gás sulfídrico, temos 6,02 x 1023 moléculas ou 1 mol de moléculas de gás sulfídrico.

Conclusão
A massa molecular e a massa molar possuem os mesmos valores, o que as difere é a unidade de medida. A massa molar relaciona-se
com o número de mols que é dado pela constante de Avogadro.
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/massa-molar-numero-mol.htm

EXCESSO DE REAGENTES, REAGENTE LIMITANTE


Segundo a Lei Ponderal de Proust, denominada de Lei das Proporções Constantes, as reações sempre ocorrem em proporções defini-
das e constantes. Por exemplo, a reação de formação da amônia é realizada na proporção de 1 mol de gás nitrogênio para 3 mols de gás
hidrogênio, conforme mostrado pelos coeficientes estequiométricos na equação abaixo:
1 N2(g) + 3 H2(g) → 2 NH3(g)

Se essa reação for realizada numa proporção diferente dessa, então teremos um reagente em excesso e um reagente limitante. No
caso de reagirmos 1 mol de N2(g)com apenas 2 mols de H2(g), veremos claramente que a quantidade de hidrogênio é menor do que a reque-
rida pela relação estequiométrica, então ele é o reagente limitante da reação.

15
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Reagente limitante é aquele que limita a quantidade de produto que pode ser produzido na reação. Isso significa que quando o rea-
gente limitante é totalmente consumido, a reação para, mesmo tendo ainda outros reagentes.
Todos os outros reagentes que sobrarem são considerados reagentes em excesso.
Para entender isso, vamos fazer uma analogia: imagine que temos que montar todos os conjuntos possíveis entre parafusos e duas
porcas. Digamos que temos 5 parafusos e 12 porcas. Nesse caso, os parafusos atuam como os reagentes limitantes e as porcas como os
reagentes em excesso, porque iremos parar de montar os conjuntos quando os parafusos acabarem e irão sobrar ainda duas porcas.
Para resolver questões que envolvem reagentes limitantes e em excesso, podemos seguir as três etapas mostradas abaixo:

Vejamos um exemplo:

Considere a seguinte reação corretamente balanceada:


6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)

a) Determine o reagente limitante e o reagente em excesso dessa reação quando 5,52g de sódio reage com 5,10 g de Al2O3.
b) Qual é a massa de alumínio produzida?
c) Qual é a massa do reagente em excesso que permanecerá sem reagir no final do processo?

Resolução:
a) Vamos seguir os três passos citados para resolver a letra “a”:

1º Passo:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
A massa molar do Na é 23 g/mol e do Al2O3 é 102 g/mol. Determinando a quantidade em mols (n) de cada reagente:
n = m/MM
nNa = 5,52g / 23 g/mol → nNa = 0,24 mol
nAl2O3= 5,10g / 102 g/mol → nAl2O3 = 0,05 mol

2º Passo:
Fazer a relação estequiométrica para descobrir a quantidade de Al2O3 necessária para reagir com 0,24 mol de Na:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
6 mol ----- 1 mol
0,24 mol---- x
x = 0,04 mol

3º Passo:
O cálculo anterior mostrou que seria necessário 0,04 mol de Al2O3 para reagir totalmente com 0,24 mol de Na. Mas, o 1º passo mos-
trou que na verdade temos uma massa maior do que essa, que é de 0,05 mol de Al2O3. Assim, o Al2O3(s) é o reagente em excesso e o Na é
o reagente limitante.

b) Para saber qual é a massa de alumínio produzida, basta relacionar com a quantidade do reagente limitante que temos, isto é, do
sódio:
6 Na(l) + Al2O3(s) → 2 Al(l) + 3 Na2O(s)
6 mol de Na ---- 2 mol de Al
6 mol . 23 g/mol de Na ----- 2 mol . 27 g/mol de Al
138 g de Na ---- 54 g de Al
5,52 g de Na ---- y
y = 54 . 5,52
           138
y = 2,16 g de Al serão produzidos.

16
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
c) Para saber a massa de reagente em excesso (Al2O3) que irá O cálculo indica que seriam esperadas 0,84g de AgCl, caso ti-
sobrar, basta diminuir a quantidade que foi colocada para reagir no véssemos um rendimento teórico de 100%. Entretanto, sabemos
início pela quantidade que de fato reagiu: que a massa obtida deste produto foi de 0,60g, portanto, podemos
0,05 mol ----- 5,10 g calcular o rendimento da reação química, também através de uma
0,04 mol ---- w regra de três simples. Nesta, consideramos como 100% a massa de
w = 0,04 . 5,10 produto esperada e relacionamos a massa obtida com a variável,
           0,05 conforme podemos observar abaixo:
w = 4,08 g de Al2O3 reagiram
5,10 – 4,08 = 1,02 g de Al2O3 restaram.
Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/reagente-excesso-
-reagente-limitante.htm

RENDIMENTO DE REAÇÕES QUÍMICAS E GRAU DE PUREZA


DE REAGENTES
Uma reação química não pode ser considerada como um sis-
tema ideal, ou seja, que poderá ser previsto quantitativamente em
exatidão. Vários fatores podem estar envolvidos em um processo
laboratorial cujo resultado obtido não satisfez o teorizado. “A pa- Observamos dessa forma que o rendimento reacional foi de
lavra estequiometria vem do grego e significa medir algo que não 71,42%, o que nos demonstra erros operacionais durante o proce-
pode ser dividido. Ela foi empregada pela primeira vez pelo quí- dimento laboratorial de síntese ou qualidade inferior dos reagentes
mico alemão J. B. Richter, que em 1972 publicou Anfangsgründe utilizados, os quais não permitiram que obtivéssemos a massa es-
der Stöchyometrie (Fundamentos de Estequiometria). Hoje a es- perada (0,84g) do produto considerado, mas apenas 0,6g, validan-
tequiometria compreende os requisitos atômicos das substâncias do a afirmação de que a maioria dos processos laboratoriais não
que participam de uma reação química, particularmente no que diz ocorre de modo ideal.
respeito ao peso”. Fonte: https://www.infoescola.com/quimica/rendimento-de-uma-reacao-
Por exemplo, uma dada reação química de precipitação entre -quimica/
1g de nitrato de prata (AgNO3) e 0,34g de cloreto de sódio (NaCl),
massas sem excesso, após pesada a massa precipitada de um dos Grau de pureza de reagentes
produtos formados, o cloreto de prata (AgCl), após isolamento por Muitas substâncias usadas como matérias-primas em proces-
filtração seguida por evaporação, observou-se um valor levemente sos industriais não são puras, ou seja, não contêm somente os seus
abaixo do esperado, equivalente a 0,6g deste sal. Esse fato deve- componentes principais, mas contêm também certo grau de impu-
-se principalmente a fatores de impurezas dos reagentes utilizados. rezas, isto é, de outras substâncias que não participam das reações
Essa reação em questão está equacionada abaixo, e está previa- desejadas presentes em sua constituição.
mente com seus coeficientes estequiométricos ajustados, ou seja, É importante determinar em laboratório qual é o grau de pure-
a massa dos reagentes é igual à massa dos produtos, juntamente za da substância, pois, para ser usada no processo industrial, essas
com os pesos moleculares das espécies envolvidas. impurezas terão que ser eliminadas. Por essa razão, talvez o gasto
que se terá nesse processo não justifique a quantidade de produto
que será obtida, portanto, pode tornar a aplicação em escala indus-
trial inviável economicamente.
O grau de pureza dos reagentes (p) é a relação entre a massa
da substância pura e a massa total da amostra. A porcentagem de
pureza (p%) é a porcentagem da massa da substância pura em rela-
ção à massa total da amostra.
Dessa forma, deve-se primeiramente calcular a massa teórica Por exemplo, o calcário possui como constituinte principal o
esperada de AgCl, para então compará-la com a massa realmente carbonato de cálcio (CaCO3(s)). Mas nas jazidas em que esse mi-
obtida. O método empregado pode ser uma regra de três simples, neral é coletado, geralmente ele vem com impurezas, como areia,
considerando-se apenas um dos produtos envolvidos, uma vez que carvão e outras substâncias em menor quantidade. A partir do car-
não há excesso de reagentes. Usaremos para fins de cálculos o bonato de cálcio, produz-se, por exemplo, a cal virgem (óxido de
AgNO3, o qual terá sua massa molecular relacionada à massa mole- cálcio – CaO(s)). Para garantir um rendimento bom desse produto,
cular do produto em destaque; na primeira linha da regra de três. é necessário determinar então o grau de pureza do calcário. Nesse
Na segunda linha, relacionaremos a massa que reage com a massa caso, temos que o grau de pureza é quantas partes de carbonato de
teórica esperada do produto. cálcio existem em 100 partes de calcário.
Considere que temos uma amostra de calcário de 250 g, sendo
que 225 g é de carbonato e 25 g é de impurezas. Temos então que
o grau de pureza (p) dessa amostra de calcário é dado por:
p = 225
250

p = 0,9

A porcentagem de pureza (p%) é dada por:


250 ---------- 100 %
225 ---------- p%
p% = 90%

17
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
ou
p% = p . 100%
p% = 0,9 . 100%
p% = 90%
Fonte: https://alunosonline.uol.com.br/quimica/pureza-reagentes.htm

SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PESOS E MEDIDAS

Sistema Internacional de Unidades


O sistema de unidades de medida mais utilizado nos dias atuais é o SI (Sistema Internacional de Unidades), que antigamente era cha-
mado de MKS (metro, quilograma e segundo).

Utilizamos, também, múltiplos e submúltiplos das grandezas físicas. Observe a tabela abaixo.

Principais grandezas

COMPRIMENTO
Metro (m): É o comprimento da trajetória percorrida pela luz no vácuo, durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de segundo
(Unidade de Base ratificada pela 17ª CGPM – 1983). A velocidade da luz no vácuo é c = 299.792,458 km/s.

18
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Unidades de comprimento tradicionais: Unidades de massa inglesas:
• Quilômetro (km): 1.000 m, • libra ou pound (lb): 453,59 g ou 0,453 kg;
• palmo: 22 cm; • tonelada inglesa: 1.016 kg; tonelada norte-americana:
• braça: 2,2m; 907 kg;
• légua: 6 km; • onça (oz): 28,35 g ou 0,028 kg;
• légua brasileira: 6,6 km. • onça troy: 31,10 g ou 0,031 kg.

Unidades de comprimento inglesas: TEMPO


• Polegada (in): 2,54 cm ou 0,0254 m; Segundo (s): tempo correspondente a 9.192. 631.770 ciclos de
• pé (ft): 30,48 cm ou 0,3048 m; radiações emitidas entre dois níveis de energia do átomo de césio
• jarda (yd): 91,44 cm ou 0,9144 m; 133.
• milha (mi): 1.609 m; Unidades de tempo tradicionais:
• milha náutica: 1.852 m. • minuto (min): 60s;
• hora (h): 60min ou 3.600s;
Distâncias astronômicas: • dia (d): 24h ou 1.440min ou 86. 400s;
• Ano-luz: distância percorrida pela luz no vácuo em 1 ano, • ano sideral: 365d 6h 9min 9,5s;
igual a 9,46 trilhões de quilômetros ou 946 × 1010 km; • ano trópico: 365d 5h 48min 45,8s.
• parsec: 3,258 anos-luz ou 30,82 trilhões de quilômetros
ou 3. 082 × 10¹o km; VELOCIDADE
• unidade astronômica (uA): distância média entre a Terra e Metro por segundo (m/s): distância percorrida em um segun-
o Sol igual a 150 milhões de quilômetros ou 150 × 106 km. do.
Unidades de velocidade tradicionais:
ÁREA • quilômetro por hora (km/h): 1/3,6 m/s ou 0,27777 m/s.
Metro quadrado (m²): área de um quadrado com lado igual a
um metro. Unidades de velocidade inglesas:
Unidades de área tradicionais: • milha por hora (mi/h): 1,609 km/h ou 0,4469 m/s;
• quilômetro quadrado (km²): 1.000.000 m²; • nó (milha náutica por hora): 1,852 km/h ou 0,5144 m/s.
• hectare (ha): 10.000 m²;
• alqueire mineiro: 48.400 m²; Velocidade da luz: 299. 792. 458 m/s.
• alqueire paulista: 24.200 m².
VELOCIDADE ANGULAR
Unidades de área inglesas: Radiano por segundo (rad/s): velocidade de rotação de um cor-
• polegada quadrada: 6,4516 cm² ou 0,00064516 m²; po.
• pé quadrado: 929,03 cm² ou 0,092903 m². Unidade de velocidade angular tradicional:
• Rotação por minuto (rpm): p/30 rad/s
VOLUME ACELERAÇÃO
Metro cúbico (m³): cubo com arestas iguais a um metro. • Metro por segundo ao quadrado (m/s²): constante de va-
Unidade de volume tradicional: riação de velocidade.
• Litro (l): 0,001 m³. • Radiano por segundo ao quadrado (rad/s²): constante de
variação de velocidade angular.
Unidades de volume inglesas:
• Galão inglês: 4,546 l ou 0,004546 m³; FREQUÊNCIA
• Galão norte-americano: 3,785 l ou 0,003785 m³. • Hertz (Hz): número de ciclos completos por segundo (Hz
s-¹)
ÂNGULO PLANO
Radiano (rad ou rd): ângulo plano entre dois raios de um círcu- FORÇA
lo que forma um arco de circunferência com o comprimento igual Newton (N): força que imprime uma aceleração de 1 m/s² a
ao do raio. uma massa de 1 kg (kgm/s²), na direção da força.
Unidades de ângulo plano tradicionais – Unidade de força tradicional:
• grau (º): /180 rad; • Quilograma-força (kgf): 9,8N.
• minuto (‘): /10. 800;
• segundo (“): /648. 000 rad; ENERGIA
• número : 3,1416. Joule (J): energia necessária para uma força de 1N produzir um
deslocamento de 1m (J N/m).
ÂNGULO SÓLIDO Unidades de energia tradicionais:
Esterradiano (sr): ângulo sólido que, tendo o vértice no centro • Watt-hora (Wh): 3. 600 J;
de uma esfera, leva a um corte em sua superfície com área igual a • quilowatt-hora (kWh): 3.600.000 J ou 3.600 kJ,
de um quadrado com lados iguais ao raio da esfera. • eletrovolt (eV): 1,6021 × 10 J;
• caloria (cal): 4,1 J;
MASSA • quilocaloria (kcal): 4. 184 J.
Quilograma (kg): massa do protótipo internacional do quilogra-
ma, um padrão construído com uma liga de platina e irídio. POTÊNCIA
Unidades de massa tradicionais: Watt (W): potência necessária para exercer uma energia de 1
• quilate: 0,2 g ou 0,002 kg; J durante um segundo (W J/s). O fluxo de energia (elétrica, sonora,
• tonelada métrica (t): 1.000 kg. térmica ou luminosa) também é medido em watt.

19
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Unidade de potência tradicional: QUANTIDADE DE MATÉRIA
• Horse-power (HP) ou cavalo-vapor (cv): 735,5 W. Mol (símbolo mol): quantidade de matéria de um sistema que reú-
ne tantas entidades elementares (partículas que devem ser especifica-
INTENSIDADE ENERGÉTICA das) quanto o número de átomos contidos em 0,012 kg de carbono.
Watt por esterradiano (W/sr): intensidade do fluxo de energia
no interior de um ângulo sólido igual a 1sr. INTENSIDADE LUMINOSA
Candela (cd): intensidade luminosa emitida em uma determi-
PRESSÃO nada direção por uma fonte de radiação monocromática com fre-
Pascal (Pa): força constante de 1N sobre uma superfície plana quência igual a 540 × 10¹² Hz e com uma intensidade energética de
de 1m² (Pa N/m²). 1/683 watt por esterradiano.
Unidades de pressão tradicionais:
• Milímetro de mercúrio (mmHg): 133,32 Pa; FLUXO LUMINOSO
• atmosfera (atm): 101. 325 Pa. Lúmem (lm): fluxo luminoso com intensidade de 1cd emitido
no interior de um ângulo sólido igual a 1sr (lm cd/sr).
CORRENTE ELÉTRICA
Ampère (A): corrente elétrica constante capaz de produzir uma ILUMINAMENTO
força igual a 2 × 10 N entre dois condutores de comprimento infini- Lux (lx): iluminamento de uma superfície plana de 1 m² que
to e seção transversal desprezível, situados no vácuo e com 1 m de recebe um fluxo luminoso perpendicular de 1lm (lx lm/m²).
distância entre si.
INFORMÁTICA
CARGA ELÉTRICA • Bit: menor unidade de armazenamento de informações
Coulomb (C): quantidade de eletricidade com intensidade em computadores e sistemas informatizados.
constante de 1A que atravessa a seção de um condutor durante • Byte: é a unidade básica de memória de computadores,
1s (C sA). igual a 8 bits contíguos.
Unidade de carga elétrica tradicional: • Kilobit (kbit): 1.024 bits de informação. Kilobyte (kbyte):
• Ampère-hora (Ah): 3.600 C. 1.024 bytes. Megabytes: 1.048.576 bytes.

DIFERENÇA DE POTENCIAL Múltiplos e submúltiplos


Volt (V): tensão elétrica existente entre duas seções transver- Na página do Inmetro podemos ver a tabela apresentada a se-
sais de um condutor percorrido por uma corrente constante de 1A, guir. Os múltiplos quilo, k, (mil, igual a 103 ), mega, M, (milhão,
quando a frequência dissipada entre as duas seções é igual a 1W igual a 106 ) e giga, G, (bilhão, igual a 109 ) são bem comuns. Há
(V W/A). outros comuns em física, mas menos empregados no nosso dia a
dia. O crescimento vertiginoso da capacidade de memória dos com-
putadores, por exemplo, está tornando popular o próximo múltiplo
RESISTÊNCIA ELÉTRICA dessa sequência, o tera, T, (1012), com a palavra “terabytes”.
Ohm (Ω): resistência de um elemento de um circuito que, sub-
metido a uma diferença de potencial de 1V entre seus terminais, Múltiplos:
faz circular uma corrente constante de 1A ( V/A).

CAPACITÂNCIA ELÉTRICA
Farad (F): capacitância de um elemento de um circuito que, ao
ser carregado com uma quantidade de eletricidade constante igual
a 1C, apresenta uma tensão constante igual a 1V (F C/V).

INDUTÂNCIA ELÉTRICA
Henry (H): indutância de um elemento passivo de um circuito
em cujos terminais se induz uma tensão constante de 1V quando
percorrido por uma corrente que varia na razão de 1A por segundo
(H Vs/A ou Ws).

TEMPERATURA Submúltiplos:
Kelvin (K): fração de 1/273,16 da temperatura termodinâmica
do ponto tríplice da água, que corresponde às condições de tempe-
ratura e pressão em que a água em estado líquido, o vapor de água
e o gelo estão em perfeito equilíbrio. O ponto zero da escala (0°K) é
igual ao zero absoluto (-273,15°C).
Unidades de temperatura tradicionais –
• Escala Celsius (°C): 0°C = 273°K e 1°C = 274°K;
• Escala Fahrenheit (F): 0°F = 255,33°K ou -17,77°C, 1°F =
255,78°K ou -17,22°C.

20
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Para formar o múltiplo ou submúltiplo de uma unidade, basta
colocar o nome do prefixo desejado na frente do nome desta uni-
dade. O mesmo se dá com o símbolo.

Relações e múltiplos importantes

A unidade da esquerda é sempre 10 vezes maior que sua vizi- Ordem de grandeza
nha da direita. Dizer a ordem de grandeza de um número significa indicar a
Os múltiplos do metro mais importantes são o centímetro e o potência de 10 (dez) mais adequada para representá-lo. Assim, a
quilômetro. ordem de grandeza do número 90 será 102, pois a potência de 10
1 km = 1000 m = 103 m mais perto de 90 é o número 100 (102). Porém, a ideia de “mais
1 cm = 0,01 m = 10-2 m próximo” não deve ser levada ao pé da letra, porque a ordem de
Em relação, principalmente, ao volume, existem unidades fora grandeza do número 40, por exemplo, é 102 apesar de 40 ser mais
do SI que são importantes como o litro (L). próximo de 10. A seguir, veremos como calcular corretamente a
1L = 1 dm3 = 10-3 m3 ordem de grandeza de um número.

Massa Notação Científica


O múltiplo mais importante do grama é o quilograma (kg). Escrever uma medida na notação científica é escrevê-la com
1 kg = 1000 g = 103 g apenas um algarismo, diferente de ZERO, antes da vírgula e fazer o
ajuste com potências de 10.

Exemplo: Colocar em notação científica os seguintes números:


120 = 1,20 . 102
1523 = 1,523 . 103
103,45 = 1,0345 . 102

A unidade da esquerda é sempre 10 vezes maior que sua vizi- Algarismos Significativos
nha da direita. Os Algarismos Significativos de uma medida são os algarismos
corretos mais o algarismo duvidoso, que será sempre o último.
Transformando-se uma medida de uma unidade maior para Vejamos um exemplo com uma fita métrica:
outra menor, deve-se dividir por 10 elevado ao número de níveis
percorridos, do contrário, deve-se multiplicar por 10 elevado ao nú-
mero de níveis percorridos.
n → número de casas percorridas

Você pode dizer que a medida do segmento acima é 3,7m. O


algarismo 3 é um algarismo correto, fornecido pelo aparelho com o
qual você está fazendo a medida.
O algarismo 7 decorreu de uma avaliação, por isso ele é o alga-
rismo duvidoso. Esta medida possui dois algarismos significativos.

Transformações de unidades:
Para transformar uma unidade em outra, basta muitas vezes
Tempo consultar uma tabela, ou usar um “fator”, como o 3,6 no caso de
Em nossa sociedade dividimos o tempo de várias formas: se- conversão de m/s em km/h. No entanto agora queremos que você
gundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, mi- aprenda como essas tabelas são construídas, ou como esses fato-
lênios e etc. Sendo assim, no estudo da mecânica é essencial que res são calculados. É isso que vamos cobrar em provinhas e pro-
saibamos converter essas diversas formas. vas! Acostume-se a não usar a “regra de três”. Essa regra só pode
No SI, a unidade de tempo é o segundo (s). ser usada quando as grandezas são diretamente proporcionais – o
1 min = 60 s que nem sempre ocorre com transformações de unidades, princi-
1 h = 60 min = 3600 s palmente se não temos um “fator de conversão”, mas informação
sobre a relação entre as unidades uma a uma.
Transformar unidades é muito fácil: basta colocar, no lugar da
unidade, o seu valor na nova unidade desejada. Depois basta fazer
as contas. O resultado dessas contas é o tal “fator” de conversão,
presente nas inúmeras tabelas disponíveis.

21
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Sistema Internacional de unidades, SI
O SI é definido a partir de 7 grandezas - e unidades - funda- NOÇÕES BÁSICAS DE SEGURANÇA NO LABORATÓRIO
mentais:
1. distância, medida em metros, com símbolo m; O laboratório é um ambiente extremamente hostil. Convivem
2. massa, medida em quilogramas, com símbolo kg; no mesmo espaço equipamentos, reagentes, soluções, microrga-
3. tempo, medido em segundos, com símbolo s; nismos, pessoas, papéis, livros, amostras, entre outros elementos.
4. corrente elétrica, mediada em Ampères, símbolo A; Para que esse sistema funcione de forma adequada e segura, tor-
5. temperatura termodinâmica, medida em kelvins, com sím- na-se necessário:
bolo K; - Disciplina;
6. Quantidade de matéria, medida em mols, símbolo mol 1 ; - Respeito às normas e legislações pertinentes;
7. Intensidade luminosa, medida em candelas, símbolo cd. - Trabalhar no contexto da qualidade e da Biossegurança;
- Consciência ética.
Em mecânica vamos lidar mais com as unidades de distância,
massa e tempo. Há várias unidades derivadas destas sete funda- O ambiente laboratorial deve ser entendido como um sistema
mentais, como a unidade de velocidade (m/s), força (N) ou área complexo, onde existem interações constantes entre os fatores hu-
(m2 ). Algumas dessas unidades derivadas têm nomes especiais, manos, ambientais, tecnológicos, educacionais e normativos. Essas
como a unidade de força, chamada de newton, mas que no fun- interações, muitas vezes, favorecem a ocorrência de acidentes.
do corresponde a kg.m/s2 , a unidade de energia, o joule (J), que - O laboratório deve ser amplo para permitir o trabalho com
corresponde a kg.m2 /s2 ou ainda a unidade de carga elétrica, o segurança e para facilitar a limpeza e manutenção;
Coulomb, que equivale a A.s (a carga que passa por um fio condutor - Paredes, tetos e chão devem ser fáceis de limpar, impermeá-
, em um segundo, quando a corrente nesse fio é um ampère). veis a líquidos e resistentes aos agentes químicos propostos para
Há várias unidades muito usadas no dia a dia (e como conse- sua limpeza e desinfecção;
quência em problemas de física e engenharia), mas que não fazem - Cada laboratório deverá conter uma pia para lavagem das
parte do SI, como calorias (unidade de energia), litro (unidade de mãos que funcionem automaticamente ou que sejam acionadas
volume), tonelada (unidade de massa), quilômetros por hora (uni- com o pé ou com o joelho;
dade de velocidade) ou o byte (unidade de memória de computa- - É recomendável que a superfície das bancadas seja imper-
dor). Também, há outros sistemas de unidades, como o CGS, que meável à água e resistente ao calor moderado e aos solventes orgâ-
adota para unidades fundamentais de distância, massa e tempo o nicos, ácidos, álcalis e substâncias químicas usadas para a descon-
centímetro, a grama e o segundo, e tem como unidade de força o taminação da superfície de trabalho;
dina. - Os móveis do laboratório deverão ser capazes de suportar car-
gas e usos previstos. As cadeiras e outros móveis utilizados devem
Relações entre as Grandezas Físicas ser cobertos com material que não seja tecido e que possa ser facil-
Normalmente a variação de uma grandeza acarreta a variação mente descontaminado;
de outras grandezas com ela relacionadas. Esta interdependência - Os espaços entre as bancadas, cabines e equipamentos de-
pode ser descrita e analisada por meio de equações e gráficos. verão ser suficientes de modo a permitir fácil acesso para limpeza;
- Se o laboratório possuir janelas que se abram para o exterior,
Grandezas diretamente proporcionais estas deverão conter telas de proteção contra insetos;
São aquelas grandezas onde a variação de uma provoca a va- - Iluminação deve ser adequada para todas as atividades;
riação da outra numa mesma razão. Se uma dobra a outra dobra, se - Os materiais de uso diário podem ficar em estoque pequeno
uma triplica a outra triplica, se uma é divida em duas partes iguais dentro do laboratório, porém nunca sobre as bancadas. O restante
a outra também é divida à metade. do material de consumo deve ser estocado em área própria, fora
Grandezas inversamente proporcionais das dependências do laboratório;
Uma grandeza é inversamente proporcional quando operações - Autoclave deve estar disponível no mesmo prédio dos labo-
inversas são utilizadas nas grandezas. Por exemplo, se dobramos ratórios;
uma das grandezas temos que dividir a outra por dois, se triplica- - A área destinada à guarda de objetos pessoais e ao armaze-
mos uma delas devemos dividir a outra por três e assim sucessi- namento de alimentos para consumo diário, deve estar fora do la-
vamente. A velocidade e o tempo são considerados grandezas in- boratório;
versas, pois aumentarmos a velocidade, o tempo é reduzido, e se - Em caso de falta de energia elétrica, setores que dispõem de
diminuímos a velocidade, o tempo aumenta. freezer, câmaras frias e fluxos laminares que necessitam ficar con-
tinuamente ligados, devem ter geradores que se ligam automatica-
Análise dimensional mente;
A Análise dimensional é útil na previsão, verificação e reso- - As áreas do ambiente de laboratório devem ser adequada-
lução de equações que relacionam as diversas grandezas físicas. mente sinalizadas de forma a facilitar a orientação dos usuários, ad-
Este procedimento auxilia também a minimizar a necessidade de vertir quanto aos riscos existentes e restringir o acesso de pessoas
memorização das equações e fórmulas. Quando fazemos análise não autorizadas.
dimensional, estamos preocupados com as dimensões das grande-
zas físicas, e nos baseamos no fato de que os dois lados de uma A Bioética (cuja finalidade é compreender e resolver questões
expressão algébrica que representa uma lei física devem sempre éticas relacionadas aos avanços tecnológicos da Biologia e da Medi-
ter a mesma dimensão (ou seja, devem ser medidos nas mesmas cina e questões que de alguma forma influenciam as nossas vidas)
unidades). está apoiada em quatro princípios:
- Autonomia;
- Não-maleficência;
- Beneficência;
- Justiça.

22
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Princípio da autonomia - É o respeito à vontade, à crença, aos
valores morais do indivíduo e à sua intimidade. Discussões sobre os
limites morais da eutanásia, do aborto, entre outros, estão no con-
texto deste princípio. As pessoas têm o direito de decidir sobre as
questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. Em indivíduos in-
telectualmente deficientes, e no caso de menores de 18 anos, este
princípio deve ser exercido pela família ou pelo responsável legal.
Princípio da beneficência - Assegura o bem-estar das pessoas,
evitando danos, e garante que sejam atendidos seus interesses.
Busca-se a maximização do benefício e a minimização dos agravos.
Princípio da não-maleficência - Assegura que sejam minorados
ou evitados danos físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. É
universalmente consagrado através do aforismo hipocrático pri-
mum non nocere (primeiro não prejudicar).
Princípio da justiça - Exige equidade, ou seja, a obrigação ética
de tratar cada indivíduo de acordo com o que é moralmente correto
e adequado e de dar a cada um o que lhe é devido.

Todo laboratório deve ser sinalizado de forma a facilitar a


orientação dos usuários e advertir quanto aos potenciais riscos pre-
sentes no local. A utilização correta e o respeito à sinalização de
segurança são entendidos como barreiras primárias das medidas
de contenção. As cores não dispensam o emprego de outras formas
de prevenção de acidentes e deverão ser acompanhadas dos sinais
convencionais ou da identificação por palavras.

As Boas Práticas de Laboratório (BPL) são um conjunto de ações


que tem como objetivo proporcionar a diminuição dos riscos do
ambiente laboratorial. Estas medidas são constituídas por ativida-
des organizacionais do ambiente de trabalho e por procedimentos
básicos como a utilização de Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) e Equipamentos de Proteção Coletivos (EPCs), limpeza e hi-
gienização do ambiente laboratorial entre outras.

Recomendações BPL (Disponível na NR-32).


- Higienização e limpeza adequada do ambiente;
- O laboratório deve dispor de um manual de Biossegurança;
- Os produtos químicos tóxicos devem estar devidamente iden-
tificados e armazenados
- Equipamentos de risco devem ser dispostos em área segura
(ex. autoclave, contêiner de nitrogênio etc.);
- Para sua segurança, procure conhecer os perigos oferecidos
pelos produtos químicos utilizados no seu laboratório;
- O laboratório deve manter uma pasta com as Fichas de Infor-
mações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ) em local visível
e de fácil acesso;
- Evitar transportar materiais químicos ou biológicos de um lu-
gar para outro no laboratório;
- Utilizar armários próprios para guardar objetos pessoais;
- O ambiente laboratorial deve ser bem iluminado;
- A sinalização de emergência deve estar presente nos labora-
tórios;
- O laboratório deve possuir caixa de primeiros socorros e pes-
soal treinado para utilizá-los;

23
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
- Os extintores devem estar dentro do prazo de validade e com pressão dentro dos limites de normalidade;
- Identificar as tomadas quanto à voltagem;
- O laboratório deve fornecer quantidades suficientes de EPI e EPC;
- Usar corretamente os equipamentos;
- Manter protocolo de rotina acessível em caso de acidentes;
- Nunca pipetar com a boca, usar pipetadores automáticos, manuais ou peras de borracha;
- Não comer, beber, preparar alimentos ou utilizar cosméticos no laboratório;
- Evitar levar as mãos à boca, nariz, cabelo, olhos e ouvidos no laboratório;
- Lavar as mãos antes e após os experimentos;
- Utilizar jaleco apenas dentro do laboratório;
- Utilizar sempre sapato fechado;
- Manter os cabelos presos;
- Manter as unhas curtas e limpas;
- O ideal é não usar lentes de contato no laboratório, mas, caso seja necessário, não manipulá-las e utilizar óculos de proteção;
- Não usar colar, anéis, pulseiras, brincos e piercing dentro do laboratório;
- Sempre usar luvas ao manipular materiais potencialmente infectantes;
- Não manipular objetos de uso coletivo como, por exemplo, maçanetas e telefone, enquanto estiver usando luvas;
- Saber onde ficam os EPCs e como utilizá-los;
- Utilizar cabine de segurança biológica sempre que manipular materiais que precisem de proteção contra contaminação;
- Não atender celular quando estiver dentro do laboratório;
- Manter a organização na bancada;
- Evitar trabalhar sozinho no laboratório

Lavagem das mãos


É necessário antes e depois da manipulação de materiais dentro do laboratório. Deve-se utilizar água corrente e sabão.

Fique atento: O uso de luvas de proteção para manipulação de materiais biológicos e químicos não substitui a lavagem correta das
mãos.

ESTOCAGEM DE REAGENTES QUÍMICOS

Os produtos químicos devem ter um controle rígido na estocagem, pois são produtos extremamente sensíveis.
Tipos
• Voláteis;
• Tóxicos;
• Corrosivos;
• Inflamáveis;
• Explosivos;
• Peroxidáveis.

Os produtos possuem características próprias que devem ser levadas em consideração na estocagem e armazenagem, tais como:
— O local de armazenagem deve ser amplo, muito ventilado com grande exaustão e dotado de prateleiras largas e seguras.

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NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
— Instalação elétrica segura e a prova de explosões. Extremamente inflamáveis
— Todos os produtos deverão estar identificados. flash point < 0 oC, PE < 35 oC. Ex: gases combustíveis (H2, CH4,-
— Verificar o prazo de validade e descartar os produtos ven- C2H6, C2H4, etc), CO, HCN.
cidos. flash point < 23 oC, PE < 38 oC. Ex: acetaldeído, éter dietílico,
— Não armazenar vidraria junto com os reagentes. dissulfeto de carbono.
— Jamais fumar no local.
— Sempre estocar os líquidos mais perigosos nas partes infe- Facilmente inflamáveis
riores da prateleira. ponto de autoignição < temperatura ambiente. Ex: Mg, Al, Zn,
— Sempre estocar os produtos separados por família. Zr em pó e seus derivados orgânicos, fósforo branco, propano, bu-
— Sempre em caso dúvida consultar o superior. tano, H2S
23 oC < flash point < 38 oC, PE < 100 oC. Maioria dos solventes
Outro ponto de atenção é ao tempo em que cada tipo de pro- orgânicos substâncias sólidas que em contato com a umidade do ar
duto pode ficar estocado. ou água desprendam gases facilmente inflamáveis em quantidades
perigosas. Ex: hidretos metálicos.
Produtos com tarja vermelha Produtos com Tarja amarela
Inflamáveis
Tempo máximo: 12 meses 38 oC < flash point < 94 oC.
(Risco de polimerização
Tempo máximo: 3 meses
com início de formação de A maioria dos solventes são facilmente inflamáveis.
peróxidos)
Cuidados para evitar incêndios nos laboratórios:
- Nunca aquecer líquidos inflamáveis com chamas;
RISCOS DE INCÊNDIOS EM SOLVENTES INFLAMÁVEIS - Antes de acender uma chama certifique-se que não há vaza-
mento de gases e afaste líquidos inflamáveis a uma distância de 4m;
- Não conceder vários aparelhos em uma única tomada;
Um incêndio é um processo no qual se desenrola uma reação - As capelas para trabalhos com inflamáveis voláteis devem ter
de combustão, que para iniciar e se propagar, precisa de três com- sistema elétrico a prova de choque;
ponentes básicos: energia ou calo, combustível e comburente (O2 - Não armazenar líquidos inflamáveis em geladeiras domésti-
do ar). cas;
Dependendo do material combustível, os incêndios podem ser - O aquecimento de líquidos inflamáveis deve ser em banho-
classificados internacionalmente como: -maria ou em balões com mantas aquecidas em perfeito estado;
Classe A - envolvendo materiais sólidos inflamáveis (madeira,
- As salas de recuperação de solventes devem conter tomadas
plásticos, tecidos, papelão).
a prova de explosão e nunca usar fogo;
Classe B - envolvendo líquidos inflamáveis (álcoois, cetonas de-
- Não trabalhar com líquidos corrosivos ou voláteis perto de
rivadas de petróleo, ...).
aparelhos elétricos;
Classe C – em equipamentos elétricos energizados.
- Fios desencapados ocasionando choques elétricos ou curto
Classe D – em materiais piro fosfóricos.
circuitos;
- Não fazer reparos em instrumentos sem desconectar da rede
Materiais combustíveis e inflamáveis
1. Deve-se utilizar a chama do bico de Bunsen apenas o tem- elétrica.
po necessário e ao terminar o trabalho, extingui-la o mais rápido
possível. Os materiais devem ser devidamente rotulados com as seguin-
2. Não utilizar a chama do bico de Bunsen para aquecer próxi- tes informações: origem, identidade, composição, data de produ-
ma de materiais combustíveis ou inflamáveis. Não se recomenda ção, validade, condições de estocagem e informações de periculosi-
proceder a uma destilação a pressão reduzida utilizando uma cha- dade (simbologias de risco e de prevenção).
ma devido à possibilidade de superaquecimento local.
3. Remover todos os materiais combustíveis e inflamáveis da Exemplos de simbologias de riscos
área de trabalho antes de acender qualquer chama. Os símbolos de segurança são, no Brasil, normatizados pela As-
4. Avisar todos no laboratório quando estiver realizando qual- sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Servem para lem-
quer procedimento que utilize líquidos ou gases combustíveis ou brar o risco do manuseio do produto, representando nos pictogra-
inflamáveis. mas os primeiros sintomas com o contato com a substância.
5. Guardar todos os materiais combustíveis e inflamáveis apro-
priadamente.
6. Ao trabalhar com chama, evitar fazê-lo próximo a solventes
e a equipamentos que possam gerar faíscas. Trabalhar sempre com
uma ventilação adequada se uma atmosfera inflamável pode ser
gerada, por exemplo, ao pipetar solventes inflamáveis.

A inflamabilidade depende de uma série de parâmetros Flash


point (ponto de ignição): temperatura acima da qual uma substân-
cia desprende suficiente vapor para produzir fogo quando em con-
tato com o ar e uma fonte de ignição ponto de autoignição: tempe-
ratura acima da qual uma substância desprende vapor suficiente
para produzir fogo espontaneamente quando em contato com o ar
pressão de vapor ponto de ebulição.

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NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Exemplos de simbologias de prevenção

Quando se trata de armazenamento de materiais, algumas regras devem ser estabelecidas e seguidas a risco, de modo a manter a
integridade dos mesmos.
Cada material, deverá ser reservado um local definido e identificado, bem como se estabelecer um sistema de identificação e codifica-
ção de cada produto. Estabelecendo-se também um fluxo de movimentação para os materiais de grande porte, pesados e que necessitam
de cuidados especiais.
Produtos considerados perigosos (gases explosivos e inflamáveis, substâncias explosivas, comburentes e radioativas), os produtos
químicos e os solventes inflamáveis serão armazenados em local apropriado, devidamente demarcado, livre de interferência (ambiental e
pessoal) e sinalizado.

Descarte de solventes inflamáveis


1. O descarte de solventes inflamáveis ou combustíveis em recipientes maiores que 4 l é restrito e somente deve ser utilizado em caso
onde existam facilidades para sua retirada sob esta forma. O descarte de líquidos combustíveis ou inflamáveis deve ser realizado em uma
capela com a exaustão em funcionamento.
2. A quantidade máxima de solvente com ponto de ebulição menor que 37.8°C que pode ser estocada no laboratório é de 10 l.

MISTURAS EXPLOSIVAS

Em um laboratório de química manipulamos diversos produtos químicos e, portanto, temos que ter cuidados com a nossa segurança
e das pessoas que compartilham este ambiente.
Quanto às misturas explosivas temos os seguintes pontos de atenção:
Ácido Perclórico
• Em contato com a pele, olhos e mucosas causa queimaduras;
• Em contato com materiais combustíveis e oxidantes (ex. HNO3), inclusive madeira (da própria capela) geram percloratos formando
compostos explosivos.
• Utilizar capelas especiais revestidas de aço inox.
• O ácido perclórico e muito explosivo quando anidro. A concentração não deve exceder a 72%.

Ácido Acético
O ácido Acético quando concentrado causa:
• Irritação, conjuntivites, lacrimação, corrosão dos dentes, irritação das mucosas;
• Pode causar a morte por edema pulmonar em uma exposição elevada;
• Pode formar também misturas explosivas em contato com o ar produzindo incêndios.

Estireno
• Pode formar peróxidos explosivos, causar intoxicação, afetar o sistema respiratório irritação da pelo e olhos.

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NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Algumas recomendações sobre a estrutura laboratorial

• É essencial o uso de EPI para a proteção contra vapores, pós, explosão de vidros,
EPIs (equipamentos de proteção individual)
quebras, lâminas, etc.
• Os vidros devem ser resistentes e seguros contra respingos e os impactos de
Vidraria
partículas.
Produtos químicos peroxidáveis • Ficar atento às características do líquido, pois podem reagir com ar.
Nunca descartar solventes ou resíduos
• Este ato pode formar uma mistura explosiva com o Oxigênio do ar.
inflamáveis no esgoto
• Este ato pode formar misturas explosivas com alguns gases, além de acarretar
Não utilizar tubulações ou conexões sujas de
problemas nos instrumentos de análise.
óleo ou graxas
• As tubulações deverão ser limpas previamente.

Manipulação de gases – procedimentos e cuidados


• Atenta-se ao local nunca deixando os cilindros expostos em locais de pedestres ou veículos;
• Atenta-se para nunca manusear os cilindros sem o capacete correto;
• Utilizar cintas metálicas ou correntes para prender os cilindros na parede;
• Não movimentar cilindros de gás com o regulador de pressão instalado;
• Utilizar o carrinho correto para transporte do cilindro;
• Separar os cilindros cheios dos vazios;
• Separar os cilindros de gases combustíveis dos gases oxidantes;
• Utilizar sinalizações de segurança e armazenar o cilindro em local arejado em área definida;
• Se a instalação necessitar, utilizar instalações elétricas à prova de explosão.

Misturas explosivas do ar atmosférico com gases

Gás Mistura explosiva % de gás em volume no ar Ponto ºC de ignição


Acetileno
Amoníaco de 2,50 a 80,00 300
Ciclopropano
de 16,00 a 27,00 651
de 2,41 a 10,30 498
Etano de 3,12 a 15,00 510
Etileno de 3,02 a 34,00 543
Gás sulfídrico de 4,30 a 45,50 260
GLP de 1,60 a 9,50 445
Hidrogênio de 4,10 a 74,00 580
Metano de 5,30 a 13,90 537
Propano de 2,37 a 9,50 466
Propileno de 2,00 a 11,10 497

Abaixo temos símbolos e indicações de perigo para produtos químico segundo a NBR 7500 da ABNT:

27
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Esterilização
REAGENTES PERIGOSOS PELA TOXIDADE E(OU) REATI- É o processo que garante a eliminação de qualquer forma de
VIDADE vida. Esta destruição pode ser feita através de métodos físico e/ou
químicos. São exemplos de esterilização:
Sabemos que a manipulação de produtos químicos é muito pe- - por calor úmido: autoclavagem;
rigosa e o manipulador deve ter conhecimento e extremo cuidado - por calor seco: aquecimento em forno estufa ou Forno de
para lidar com produto químicos. Pauster;
Abaixo relatamos consequências relacionadas ao mal uso de - por filtração: filtros com membranas de 0,2 µ para produtos
alguns reagentes: líquidos que se alteram com o calor. Exemplos: plasma, soro e ar
atmosférico (filtro HEPA);
Exposição a Solventes - por agentes químicos: utilizado em materiais que não supor-
• Atuam no sistema nervoso central. tam os processos com altas temperaturas. Um dos agentes utiliza-
• Produzem a perda de memória de curto tempo. dos é o óxido de etileno.
• Causam efeito narcótico, podendo chegar a provocar aluci-
nações. Alguns exemplos:
• Possuem efeitos tóxicos generalizados em diversos órgãos Autoclavação: procedimento de inativação com calor úmido à
tais como vista, pele, fígado etc. alta pressão. Utilizado para descontaminação de utensílios labora-
toriais e materiais para descarte. Recomenda-se que os materiais
Solventes Clorados sejam autoclavados com duração de, no mínimo, 45 minutos em
• São Anestésicos e de efeito sobre as vísceras. temperatura de 121º C. Os materiais limpos devem ser esterilizados
• Eles podem causar câncer hepático (fígado). de 20 a 30 minutos em temperatura de 121º C.
• Solventes clorados quando queimados produzem “fosgênio”
que é um gás tóxico que causa edema pulmonar como efeito retar- Estufa ou Forno de Pauster: é o procedimento por inativação
dado. Exemplos: clorofórmio, cloreto de metileno, percloretileno. com altas temperaturas. Efetivo para materiais que não suportam
umidade, como metais, porque não corrói nem enferruja.
Álcoois - Condições padrões de esterilização: 170º C durante 90 minu-
• Possuem efeitos anestésicos sobre o sistema nervoso. tos ou 160º C por 120 minutos. Acima de 180º C não são recomen-
• Álcool metílico – Possuem ação tóxica primeiramente, diri- dadas porque podem causar alterações nas ligas metálicas, princi-
gida sobre o nervo ótico. Muito lentamente eliminado pelo orga- palmente nos pontos de solda.
nismo.
• Álcoois superiores – de tipos propílicos, butílicos e amílicos. Agentes químicos para inativar os agentes biológicos (Fiocruz,
Possuem ação tóxica no fígado. 2005)

Sintomas de Intoxicação aguda provocada por Solventes


• Causam tonturas - anorexia (falta de apetite);
• Causam descoordenação dos movimentos – diarreia;
• Causam dores de cabeça - perda de consciência;
• Causam cansaço – morte;
• Causam náuseas.

Sintomas de Intoxicação crônica provocada por Solventes


• Causam cansaço – impotência e redução da libido;
• Causam tonturas – ansiedade;
• Causam dores de cabeça – depressão;
• Causam apatia – intolerância ao álcool;
• Causam perda de memória e capacidade de concentração.

LAVAGEM E ESTERILIZAÇÃO DE VIDRARIA E DE OU-


TROS MATERIAIS Agentes físicos para inativar os agentes biológicos (Fiocruz,
2005)

A desinfecção do laboratório deve ser feita junto com os pro-


cedimentos de limpeza e executada por pessoal treinado. É acon-
selhável usar vassouras do tipo esfregão ou rodo com pano ume-
decido em desinfetante. O uso de vassouras comuns coloca em
suspensão partículas, que podem se depositar novamente no piso
e nas bancadas.

Limpeza
É o processo de remoção de partículas ou material orgânico.

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NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Técnica de desinfecção É necessário o uso de luvas de borracha, óculos de proteção
Nas superfícies onde ocorrer derramamento de substâncias (ou escudo facial), avental e botas de borracha. O frasco a ser limpo
corporais ou sangue, incluindo respingos, deve-se: com estas soluções deve ser perlavado com detergente e água cor-
• Remover a matéria orgânica com papel toalha ou pano e pro- rente e, se necessário, seco previamente. Pipetas podem ser colo-
ceder à limpeza. cadas em uma proveta de 1000 mL, apoiadas sobre uma esponja de
• No caso de piso ou paredes: espuma colocada no fundo da proveta para amortecer o impacto.
- Realizar, primeiramente, a limpeza com sabão ou detergente Sua retirada pode ser feita com uma pinça cuja ponta seja revestida
na superfície a ser desinfetada, com o auxílio do rodo. com fita veda-rosca ou tubo de borracha.
-Enxaguar e secar. Mas atenção: o uso da solução sulfocrômica deve ser abando-
- Após a limpeza, aplicar o desinfetante na área que foi retira- nado devido aos riscos a que expõe o laboratorista, bem como pe-
da a matéria orgânica, deixando o tempo necessário para ação do los riscos ambientais.
produto (seguir orientação do fabricante). Se necessário, realizar Para a lavagem de vidrarias que tenham entrado em contato
enxágue e secagem. com micotoxinas, enxaguá-las com metanol (com os cuidados ne-
• Se mobiliário: cessários também para a manipulação desta substância), retirar
- Realizar limpeza com sabão ou detergente na superfície a ser (armazenando para descarte posterior adequado), adicionando em
desinfetada, com o auxílio de panos de mobília. seguida solução de hipoclorito de sódio a 1% e, após cerca de duas
- Após limpeza do mobiliário, realizar a fricção com álcool a horas, solução de acetona a 5%. Aguardar trinta minutos, enxaguar
70% ou outro desinfetante. e prosseguir com a lavagem usual, como para outras vidrarias.

Manuseio da vidraria de laboratório


1. Vidraria danificada deve sempre ser consertada ou descar- PREPARAÇÃO DE AMOSTRAS E DE MATERIAIS
tada.
2. Ao trabalhar com tubos ou conexões de vidro, deve-se utili-
zar uma proteção adequada para as mãos. O preparo e a diluição de soluções fazem parte da rotina de
3. Utilizar proteção adequada nas mãos ao manusear vidros qualquer laboratório. Independente de qual seja o seu experimento
quebrados. ou análise, um dos primeiros passos será realizar a preparação de
4. Familiarizar-se com as instruções apropriadas ao utilizar vi- reagentes.
draria para fins específicos. A maioria dos laboratórios possuem as soluções armazenadas
5. Descartar vidraria quebrada em recipientes plásticos ou de em uma concentração mais alta, seja por conveniência ou para evi-
metal etiquetados e que não sejam utilizados para coleta de outros tar a contaminação. Por isso, fazem as diluições de acordo com a
tipos de materiais de descarte. demanda e necessidade para determinado experimento.
6. Descartar a vidraria contaminada como recomendado. Por Entender e usar os termos apropriados é essencial e há vários
exemplo, quando utilizada em microbiologia, a vidraria quebrada deles usados em associação com soluções. Alguns deles são:
deve ser esterilizada em autoclave antes de ser dispensada para co- • Solução química: é a mistura homogênea formada por dois
leta em recipiente apropriado. Lâmpadas fluorescentes e resíduos componentes, o soluto e o solvente.
químicos não devem ser jogados nos coletores de lixo tradicionais, • Soluto: é a substância que se dissolve em uma solução.
devem ser descartados em recipientes diferentes e identificados • Solvente: é a substância na qual o soluto será dissolvido para
com etiquetas. formação de um novo produto.
• Diluição: é a adição de solvente em uma solução, que diminui
Lavagem de vidrarias a concentração do soluto.
Ao término de um trabalho, todas as peças e recipientes de- • Concentração: é utilizada para fazer a relação entre a quanti-
vem passar por um processo rigoroso de lavagem. O profissional dade de soluto e a quantidade de solvente em uma solução.
que realizou o trabalho deve fazer uma lavagem preliminar do ma- • Solução estoque: solução concentrada. Pode ser armazena-
terial antes de entregá-lo à pessoa responsável pela limpeza final, da e diluída conforme necessário, fornecendo soluções de menor
evitando que ela se acidente pelo desconhecimento da natureza concentração.
dos resíduos contidos nos frascos ou pela mistura com outros rea-
gentes incompatíveis. Soluções
Cada laboratório deve usar um processo de lavagem que lhe • Sistema homogêneo de dois ou mais componentes
seja conveniente. Em geral, este processo utiliza detergente (inclu- • Composta por SOLUTO (subst. que se dissolve) + SOLVENTE
sive os destinados especificamente a laboratórios) ou sabão, tor- (subs. que dissolve o soluto).
nando o material escorregadio e por isto recomenda-se usar luvas • Podem ser classificadas:
de borracha antiderrapantes para proteger as mãos de arestas cor- - Quanto ao estado físico: sólida, líquidas ou gasosas.
tantes e evitar irritações de pele pelo contato constante com produ- - Quanto à condutividade elétrica: iônicas ou moleculares
tos químicos e agentes de limpeza. - Quanto à proporção soluto/solvente: concentrada, diluída,
Pode-se colocar uma placa de borracha (com abertura no cen- saturada e supersaturada.
tro) no fundo da pia para atenuar eventuais quedas das peças de
vidro. Muitos laboratórios utilizam, além de detergentes específicos • Densidade: relação entre massa e o volume da solução ex-
para laboratórios, soluções sulfonítricas, soluções de ácido nítrico pressa usualmente em g/mL e g/cm3
ou clorídrico, hidróxido de potássio em álcool e outras, no proces- D=m/v
so de lavagem. Estes materiais podem ser altamente corrosivos e
reativos e seu contato com a pele pode gerar queimaduras. Dessa • Concentração comum: relação entra massa de soluto por vo-
forma, sua preparação e uso devem ser feitos por pessoal treinado, lume de solução expressa usualmente em gramas por litro (g/L).
com extremo cuidado. C=m/v

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NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
• Concentração molar ou molaridade: relação entre número de mols do soluto por volume de solução expressa usualmente em mol
por litro (mol/L).
M=n/v

• Percentual: indica a massa ou volume de soluto contido na solução, relacionando usualmente m/m, v/v e m/v, cuja expressão é %.

• Diluição: consiste em diminuir a concentração de determinada solução, através da adição de solvente.


C1xV1 = C2xV2

Diluições seriadas
Uma diluição seriada é uma técnica na qual se realizam várias diluições progressivas. Inicia com a solução mais concentrada chegando
a soluções menos concentradas, amplificando o fator de diluição rapidamente.
A fonte do material de diluição (soluto) para cada etapa é proveniente do material diluído da etapa anterior. Em uma diluição em série,
o fator de diluição total é o produto dos fatores de diluição em cada etapa. Assim, se você tiver uma diluição 1/2, seu fator de diluição é 2,
todas as diluições seguintes serão multiplicadas por 2.
A técnica é útil quando há escassez do volume do concentrado ou do diluente, havendo necessidade de minimizar seu uso, ou quando
há necessidade de diversas diluições, por exemplo, na determinação de um título ou na contagem de microrganismos.

Rotulagem
Os rótulos em um laboratório são utilizados para identificação de reagentes, soluções, amostras e outras sustâncias.
Sendo um meio apropriado para identificação é de fundamental importância, devendo ser tratado de forma especial para que nunca
deixe dúvidas sobre o conteúdo do recipiente. No ambiente laboratorial são encontrados três tipos de rótulos: rótulos preparados pelo
próprio laboratório, rótulos elaborados pelos fornecedores e rótulos que acompanham amostras coletadas. Nenhum frasco de reagente ou
solução preparado pelo laboratório deve ficar sem identificação, devendo conter informações indispensáveis sobre o conteúdo do frasco.
É importante informar sobre o tipo de substância usada na solução, sua fórmula molecular, a concentração final, a data do preparo, nome
do responsável, se necessário a validade, temperatura de estocagem, forma de manuseio, cuidados, uso de EPI’s e presença de impurezas.

Cuidados gerais para a escolha, coleta, manuseio e preservação das amostras biológicas:
• Preparo do cliente quanto à dieta, repouso, uso de medicamentos e instruções necessárias para as coletas realizadas pelo próprio
paciente.
• Utilização de materiais adequados para cada amostra a ser coletada.
• Utilização de conservadores e anticoagulantes, de acordo com a amostra e exame a ser feito.
• Identificação clara e conferida das amostras coletadas.
• Armazenamento de acordo com as normas técnicas (refrigeração, proteção de luz, tempo, etc.).
• Processamento no tempo indicado.
• Cuidados técnicos de assepsia são também necessários, a fim de evitar a contaminação do paciente, do operador e da amostra
coletada.

Armazenagem
Como regra geral, produtos químicos não devem ser estocados por ordem alfabética. Separe todos os reagentes em grupos quimica-
mente compatíveis. Armazenar os diferentes grupos separados entre si por barreiras físicas.
Os seguintes grupos devem ser segregados:
1. Ácidos e bases. Separe os ácidos orgânicos de ácidos inorgânicos
2. Agentes oxidantes de redutores
3. Materiais potencialmente explosivos.
4. Materiais reativos com água.

30
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
5. Substâncias pirofóricas.
6. Materiais formadores de peróxidos
7. Materiais que sofrem polimerização
8. Químicos que envolvem perigo: inflamáveis, tóxicos, carcinogênicos
9. Químicos incompatíveis

Procedimentos gerais:
- Ácido perclórico deve ser separado de todas outras substâncias.
- Ácido Nítrico deve ser separado de todas outras substâncias.
- Ácido fluorídrico deve ser separado de todas outras substâncias.
- Metais reativos devem ser estocados em armário para inflamáveis.
- Mercúrio deve ser armazenado em frascos resistentes e acondicionado em bandejas (recipiente secundário).
- Químicos carcinogênicos e altamente tóxicos devem ser estocados em armários isolados e ventilados
-Inflamáveis inorgânicos e orgânicos devem ser armazenados separadamente em armários para inflamáveis. Verifique incompatibili-
dade entre os inflamáveis orgânicos para uma segregação adequada.
- Materiais extremamente tóxicos ou perigosos devem ter embalagem dupla e inquebrável. Dessecadores podem ser utilizados para
este fim.
- A separação, pela distância ou por barreiras físicas, deve ser para prevenir a mistura de dois incompatíveis no caso de queda e quebra
de recipientes.
- Os produtos químicos quando dispostos lado a lado, deverão estabelecer posições que se neutralizem entre si e nos locais previa-
mente definidos e sinalizados.
- Os produtos químicos deverão ser armazenados rotulados nos locais previamente definidos e sinalizados+
- Todas as regras citadas devem ser aplicadas no armazenamento de frascos contendo resíduos químicos.

SECAGEM DE SUBSTÂNCIAS, USO E CONSERVAÇÃO DE APARELHAGEM COMUM DE UM LABORATÓRIO

Equipamentos de laboratório requerem condições ambientais apropriadas para o devido funcionamento, além de locais para instala-
ção livres de interferências (vibrações, correntes de ar, incidência de luz solar, umidade e calor) e, no tocante à instalação na rede elétrica,
devem ser conectados a tomadas adequadamente aterradas (CARVALHO, 1999).

Equipamentos básicos de laboratório


O emprego de um dado equipamento ou material depende dos objetivos e das condições em que a experiência será executada. Con-
tudo, na maioria dos casos, a seguinte correlação pode ser feita:

Material de vidro
1. Tubo de ensaio: utilizado principalmente para efetuar reações químicas em pequena escala.
2. Béquer: recipiente com ou sem graduação utilizado para o preparo de soluções, aquecimento de líquido, recristalização, etc.
3. Erlenmeyer: frasco utilizado para aquecer líquidos ou para efetuar titulações.
4. Kitassato: frasco de paredes espessas, munido de saída lateral e usado em filtração sob sucção.
5. Funil: utilizado na transferência de líquidos de um frasco para outro ou para efetuar filtrações simples.
6. Bureta: equipamento calibrado para medida precisa de volume de líquidos. Permite o escoamento do líquido e é muito utilizada
em titulações.
7. Balão volumétrico: recipiente calibrado, de precisão, destinado a conter um determinado volume de líquido, a uma dada tempera-
tura; utilizado no preparo de soluções de concentração definidas.
8. Proveta ou cilindro graduado: frasco com graduação, destinado a medidas aproximadas de volume de líquidos.
9. Pipeta: equipamento calibrado para medida precisa de volume de líquidos. Existem dois tipos de pipetas: (a) pipeta graduada e (b)
pipeta volumétrica. A primeira é utilizada para escoar volumes variáveis e a segunda para escoar volumes fixos de líquidos.
10. Bastão de vidro: usado na agitação e transferência de líquidos. Quando envolvido em uma de suas extremidades por um tubo de
látex, é chamado de policial e é empregado na remoção quantitativa de precipitados.
11. Cuba de vidro ou cristalizador: recipiente geralmente utilizado para conter misturas refrigerantes, e finalidades diversas.
12. Dessecador: utilizado no armazenamento de substâncias quando se necessita de uma atmosfera com baixo teor de umidade.
Também pode ser utilizado para manter as substâncias sob pressão reduzida.

31
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES

13. Condensador: equipamento destinado à condensação de vapores, em (a) destilação ou (b) aquecimentos sob refluxo.
14. Funil de separação: equipamento para separar líquidos não miscíveis.
15. Funil de adição: equipamentos para adição de soluções em sistemas fechados.
16. Pesa-filtro: recipiente destinado à pesagem de sólidos.
17. Balão de fundo chato: frasco destinado a armazenar líquidos.
18. Balão de fundo redondo: recipiente utilizado para aquecimento de soluções em destilações e aquecimentos sob refluxo.
19. Termômetro: instrumento de medidas de temperatura.
20. Vidro de relógio: usado, geralmente, para cobrir béqueres contendo soluções e finalidades diversas.

Material de porcelana
21. Funil de Büchner: utilizado em filtração por sucção, devendo ser acoplado a um kitassato.
22. Cápsula: usada para efetuar evaporação de líquidos.
23. Cadinho: usado para a calcinação de substâncias.
24. Almofariz e pistilo: destinados à pulverização de sólidos. Além de porcelana, podem ser feitos de ágata, vidro ou metal.

32
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES

Material metálico
25. Suporte (a) e garra (b): peças metálicas usadas para montar aparelhagens em geral.
26. Bico de gás (Bunsen): fonte de calor destinada ao aquecimento de material não inflamáveis.
27. Tripé: usado como suporte, principalmente de telas e triângulos.
28. Plataforma elevatória: usado para ajustar altura de aparelhagens em geral.
29. Tela de amianto: tela metálica, contendo amianto, utilizada para distribuir uniformemente o calor, durante o aquecimento de reci-
pientes de vidro à chama de um bico de Bunsen.
30. Triângulo de ferro com porcelana: usado principalmente como suporte em aquecimento de cadinhos.

Manutenção dos equipamentos de laboratório


1. Os equipamentos de laboratório devem ser inspecionados e mantidos em condições por pessoas qualificadas para este trabalho. A
frequência de inspeção depende do risco que o equipamento possui, das instruções do fabricante ou quando necessário pela utilização.
Os registros contendo inspeções, manutenções e revisões dos equipamentos, devem ser guardados e arquivados pelo líder do laboratório.
2. Todos os equipamentos devem ser guardados adequadamente para prevenir quebras ou perda de componentes do mesmo.
3. Quando possível, os equipamentos devem possuir filtros de linha que evitem sobrecarga, devido à queda de energia elétrica e
posterior restabelecimento da mesma.

Material elétrico
31. Capela: servem para conter e trabalhar com reações que utilizem ou produzam vapores tóxicos, irritantes ou inflamáveis, man-
tendo o laboratório livre de tais componentes. Com a janela corrediça abaixada, a capela fornece uma barreira física entre o técnico de
laboratório e a reação química. Todos os procedimentos envolvendo a liberação de materiais voláteis, tóxicos ou inflamáveis devem ser
realizados em uma capela para eliminar os riscos.
Atenção: As capelas não são uma proteção contra explosões. Quando existe risco de explosão, outras medidas adicionais devem ser
tomadas para proteção individual.

32. Estufa: equipamento empregado na secagem de materiais, por aquecimento, em geral até 200 °C.
33. Manta elétrica: utilizada no aquecimento de líquidos inflamáveis, contidos em balão de fundo redondo.
34. Chapa elétrica: utilizada no aquecimento de líquidos inflamáveis, contidos em béqueres ou erlenmeyer.
35. Centrífuga: instrumento que serve para acelerar a sedimentação de sólidos em suspensão em líquidos.

33
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES

Aparelhos e equipamentos elétricos


1. Todos os equipamentos elétricos devem ter certificado de qualidade ao serem adquiridos ou serem aprovados quando de sua
aquisição.
2. Não se devem utilizar extensões para ligar aparelhos a instalações permanentes.
3. Utilizar interruptores com circuito de fio terra quando existir o risco de que o operador esteja em contato com água e com equipa-
mento elétrico simultaneamente.
4. Somente pessoal qualificado e treinado está autorizado a consertar ou modificar equipamentos elétricos ou eletrônicos.

Referências Bibliográficas:
Guia de boas práticas laboratoriais - Hospital das Clínicas – FMUSP
Introdução a Segurança e Técnicas em Laboratório – Governos do Ceará
MOLINARO, Etelcia Moraes - Conceitos e Métodos para a formação de profissionais em laboratórios de saúde: volume 1 / Rio de Janeiro: EPSJV;
IOC, 2009.

PORTARIA 3.204/2004 (NORMA TÉCNICA DE BIOSSEGURANÇA)

Prezado Candidato, a Portaria, em questão, é do ano de 2010 e não de 2004. Acreditamos que tenha ocorrido um erro de digitação no
momento que o edital estava sendo elaborado.
De todo modo, caso ocorra qualquer retificação, iremos dispobilizar o conteúdo em nosso site oficial, conforme segue:
https://www.editorasolucao.com.br/materiais
Bons estudos!

PORTARIA Nº 3.204, DE 20 DE OUTUBRO DE 2010

Aprova Norma Técnica de Biossegurança para Laboratórios de Saúde Pública.

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Cons-
tituição, e
Considerando a necessidade dos Laboratórios de Saúde Pública implantar e garantir a execução de medidas de Biossegurança;
Considerando que as medidas de Biossegurança devem estar articuladas com o sistema de gestão da qualidade;
Considerando a necessidade de tornar claros e objetivos os requisitos de Biossegurança para a aplicação por parte da Direção e pro-
fissionais dos Laboratórios de Saúde Pública; e
Considerando que a Portaria Nº 2606/GM/MS, de 28 de dezembro de 2005, e a Portaria Nº 70/SVS/MS, de 8 de julho de 2008, exigem
que os laboratórios implementem medidas de Biossegurança, resolve:

Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo a esta Portaria, Norma Técnica de Biossegurança para Laboratórios de Saúde Pública, que nor-
teiam a implantação do Sistema de Gestão em Biossegurança.
Art. 2º Determinar que estes requisitos sejam observados e exigidos durante as atividades de avaliação e supervisão, realizadas pela
Secretaria de Vigilância em Saúde, as unidades laboratoriais das sub-redes vinculadas às Redes de Vigilância Epidemiológica e de Saúde
Ambiental;
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
JOSÉ GOMES TEMPORÃO

34
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
ANEXO 3.1.9. Documento:
NORMA TÉCNICA - qualquer informação ou instrução incluindo declaração de po-
lítica, livros, procedimentos, especificações, tabelas de calibração,
REQUISITOS GERAIS DE BIOSSEGURANÇA PARA LABORATÓ- intervalos de referência biológica e suas origens, gráficos, pôsteres,
RIOS DE SAÚDE PÚBLICA avisos, memorandos, softwares, desenhos, planos, documentos de
origem externa tais como regulamentos, normas, procedimentos
1. Objetivo de exames. Estes podem estar contidos em qualquer meio apro-
Esta Norma especifica os requisitos gerais de Biossegurança, priado.
para a competência em realizar atividades laboratoriais, de forma a
prevenir, controlar, reduzir e/ou eliminar os fatores de risco ineren- 3.1.10. Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC):
tes aos processos de trabalho que possam comprometer a saúde - todo o equipamento de uso coletivo destinado a proteger a
humana, animal, vegetal, o meio ambiente a qualidade do trabalho saúde do trabalhador, a comunidade e o meio ambiente, dos riscos
realizado. inerentes às atividades laboratoriais.

2. Campo de Aplicação 3.1.11. Equipamentos de Proteção Individual (EPI):


Esta Norma é aplicável às unidades laboratoriais integrantes - todo o equipamento ou produto de uso individual, utilizado
do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (SISLAB), que pelo trabalhador, destinado a proteger a sua saúde dos riscos ine-
realizam atividades de vigilância em saúde, independente do nú- rentes às atividades laboratoriais.
mero de pessoas ou da extensão do escopo das atividades.
3.1.12. Indicadores de qualidade em Biossegurança:
3. Definições - são parâmetros para monitorar e avaliar a eficácia da im-
3.1.1 Para efeito desta Norma são utilizadas as seguintes de- plantação das políticas e ações institucionais em Biossegurança,
finições. que devem considerar, entre outras, as condições de infraestrutu-
3.1.2. Alvará sanitário / licença de funcionamento / licença sa- ra predial, de equipamentos, o uso de boas práticas e capacitação
nitária: profissional.
- documento expedido pelo órgão sanitário competente, Es-
tadual, Municipal ou do Distrito Federal, que autoriza o funciona- 3.1.13. Insumo:
mento dos estabelecimentos que exerçam atividades sob regime - designação genérica do conjunto dos meios ou materiais uti-
de vigilância sanitária. lizados em um processo para geração de um produto ou serviço.

3.1.3. Atividades laboratoriais: 3.1.14. Laboratório:


- ações relacionadas à realização de ensaios in vitro e in vivo. - unidades integrantes do SISLAB.

3.1.4. Avaliação de risco: 3.1.15. Nível de Biossegurança:


- é o processo pelo qual é identificado o nível de contenção - consiste na combinação de práticas e técnicas de laborató-
mais apropriado para o trabalho seguro em um laboratório, em rio, equipamentos de proteção e instalações laboratoriais. Define a
função das características dos agentes de risco: biológicos, quími- contenção necessária ao trabalho com agentes biológicos, de for-
cos, físicos, ergonômico e de acidentes, bem como do procedimen- ma segura para os seres humanos, os animais e o ambiente. Aplica-
to analítico utilizado. -se também ao manejo de animais.

3.1.5. Barreira de contenção: 3.1.16. Rastreabilidade:


- conjunto formado por procedimentos, equipamentos e insta- - capacidade de recuperação do histórico, da aplicação ou da
lações, utilizados para o manejo de agentes de risco, objetivando a localização daquilo que está sendo considerado, por meio de iden-
redução ou eliminação de riscos à saúde humana, animal e vegetal, tific
o meio ambiente e a qualidade do trabalho realizado. ações registradas.
3.1.17. Resíduos de Serviços de Saúde:
3.1.6. Biossegurança: - são todos aqueles resultantes de atividades exercidas nos
- é a condição de segurança alcançada por um conjunto de serviços de saúde, que por suas características, necessitam de pro-
ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar os fa- cessos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento
tores de risco inerentes às atividades que possam comprometer a prévio à sua disposição final.
saúde humana, animal e vegetal, o meio ambiente e a qualidade do
trabalho realizado. 3.1.18. Risco:
- probabilidade de ocorrência de efeitos adversos à saúde hu-
3.1.7. Calibração: mana, animal e ao ambiente.
- conjunto de operações que estabelece, em condições espe-
cificadas, a relação entre valores de grandezas indicados por um 3.1.19. Serviços de Saúde:
instrumento ou sistema de medição, ou valores representados por a) serviços relacionados com o atendimento à saúde humana
medida materializada ou material de referência e os corresponden- ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de tra-
tes valores realizados por padrões. balhos de campo, laboratórios analíticos de produtos para saúde,
necrotérios, funerárias e serviços onde se realizam atividades de
3.1.8. Contenção: embalsamamento;
- termo usado para descrever os métodos de segurança utiliza- b) serviços de medicina legal; drogarias e farmácias, inclusive
dos no manejo de agentes de risco em meio laboratorial. as de manipulação;
c) estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde;

35
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
d) centros de controle de zoonoses; designada como Comissão de Qualidade e Biossegurança. O núme-
e) distribuidores de produtos farmacêuticos; ro de componentes deve ser representativo das diversas áreas do
f) importadores; laboratório.
g) distribuidores e produtores de materiais e controles de diag- Nota 2: Em laboratório com número de profissionais abaixo
nóstico in vitro; de cinco, é suficiente a designação de um responsável, conforme
h) unidades móveis de atendimento à saúde; a alínea “g”. Neste caso, os profissionais poderão ter mais de uma
i) serviços de acupuntura; função.
j) serviços de tatuagem,
l) entre outros similares. 4.1.7. O laboratório deve monitorar e avaliar a eficácia da im-
plantação das políticas institucionais em Biossegurança, por meio
3.1.20. Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública: de indicadores de qualidade em Biossegurança.
- conjunto de redes nacionais de laboratórios, organizadas em 4.1.8. Sistema de Gestão em Biossegurança:
sub-redes, por agravos ou programas, de forma hierarquizada por 4.1.8.1. A política de Biossegurança deve estar definida na
grau de complexidade das atividades relacionadas à vigilância em declaração da Direção do laboratório e ser documentada em um
saúde compreendendo a vigilância epidemiológica e vigilância em Manual de Biossegurança. Esta política deve ser concisa, estar dis-
saúde ambiental, vigilância sanitária e assistência médica. ponível e incluir o seguinte:
a) propósito do sistema de gestão com relação a Biosseguran-
3.1.21. Sistema da Gestão da Qualidade: ça;
- estratégia de administração orientada a criar consciência de b) comprometimento da Direção com a conformidade desta
qualidade em todos os processos organizacionais escritos em polí- Norma, com a melhoria contínua e a eficácia das ações em Biosse-
ticas, programas, procedimentos e instruções que devem ser docu- gurança; e
mentadas e comunicadas a todo pessoal pertinente. c) requisito de que todos os profissionais familiarizem-se com
a documentação de Biossegurança e implementem as políticas e
4. Requisitos Gerenciais procedimentos em seus trabalhos.
4.1. Organização e gerenciamento
4.1.1. O laboratório deve ser uma entidade legalmente respon- Nota: Caso o laboratório tenha o Sistema de Gestão da Qua-
sável. lidade implantado recomenda-se que a política de Biossegurança
4.1.2. É responsabilidade do laboratório, realizar suas ativida- seja parte integrante deste.
des atendendo aos requisitos desta Norma.
4.1.3. Quaisquer atividades realizadas por terceiros para o la- 4.1.8.2. O laboratório deve possuir um Manual de Biossegu-
boratório devem também atender aos requisitos desta Norma. rança, que descreva as Políticas do Sistema de Gestão de Biossegu-
4.1.4. O laboratório deve estabelecer e documentar políticas, rança e a estrutura da documentação utilizada. Deve ser mantido
processos, programas ou quaisquer outras ações relativas à Biosse- sob a autoridade e responsabilidade do coordenador (ou qualquer
gurança, que abranjam todas as atividades realizadas nas depen- outra definição) do Sistema de Gestão em Biossegurança e conter
dências, unidades temporárias ou móveis e de campo. os seguintes itens mínimos:
4.1.5. As políticas e procedimentos relativos às ações de Bios- a) descrição geral do laboratório e sua personalidade jurídica;
segurança do laboratório devem estar em conformidade, mas não b) declaração da política de Biossegurança;
se restringir às “Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção c) organograma;
com Agentes Biológicos” do Ministério da Saúde ou outra(s) que d) responsabilidades relacionadas à execução das ações em
vier(em) a substituí-la(s) e demais legislações especificas vigentes. Biossegurança;
4.1.6. A Direção do laboratório deve: e) análise crítica do Sistema de Gestão em Biossegurança, pela
a) assegurar a manutenção e a melhoria das políticas em Bios- Direção;
segurança, mesmo que haja mudanças no sistema de gestão; f) controle de documentos;
b) garantir por meio de recursos financeiros, humanos e tecno- g) infraestrutura laboratorial;
lógicos, a implantação e o acompanhamento das políticas institu- h) gestão de serviços, instrumentos, equipamentos, insumos
cionais de Biossegurança; e reagentes;
c) assegurar a proteção das informações confidenciais; i) auditorias em Biossegurança;
d) estabelecer as políticas e procedimentos para assegurar a j) equipamentos de segurança;
proteção dos equipamentos e agentes de risco manipulados e/ou k) educação continuada;
armazenados; l) vigilância em saúde do trabalhador;
e) definir na estrutura organizacional e gerencial do laborató- m) gerenciamento de resíduos de serviços de saúde;
rio o sistema de gestão em Biossegurança, seu lugar na organização n) transporte de amostras e insumos;
principal, responsabilidades e as suas relações com as demais uni- o) segurança química;
dades organizacionais; p) radioproteção;
f) constituir uma Comissão Interna de Biossegurança (CIB), vin- q) qualidade de insumos;
culada ao mais alto nível gerencial; e r) trabalho com animais;
g) designar um profissional e seu substituto, de seu quadro fun- s) emergência e contingência;
cional, membro da CIBS, de nível universitário, com conhecimento t) trabalho de campo;
técnico e experiência nas funções designadas, para implantar e im- u) segurança predial, física e patrimonial;
plementar as políticas institucionais de Biossegurança. v) manutenção preventiva e corretiva;
w) qualificação, calibração e certificação de equipamentos; e
Nota 1: Caso o laboratório tenha implantado Sistema de Ges- x) sistema de comunicação e informação de risco.
tão da Qualidade e possua uma Comissão da Qualidade, a CIB po-
derá ser parte integrante desta. Neste caso, a comissão deverá ser

36
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
Nota: Caso o laboratório tenha Manual da Qualidade, os temas 4.1.12.1.2. A não-conformidade deve ser documentada, regis-
relativos à Biossegurança pode ser parte integrante deste. Em ra- trada, analisada, investigada para determinação da causa funda-
zão disto, recomenda-se que o referido manual passa-se a chamar, mental do problema, implementadas ações corretivas e, quando
Manual da Qualidade e Biossegurança. apropriado, proceder às ações preventivas.
4.1.13. Auditorias internas em Biossegurança.
4.1.8.3. Controle de documentos. 4.1.13.1. O laboratório deve, periodicamente e de acordo com
4.1.8.3.1. O laboratório deve estabelecer e manter procedi- um cronograma e procedimentos pré-determinados, realizar audi-
mentos para controlar os documentos e informações que fazem torias internas das suas atividades para verificar se estas continuam
parte do Sistema de Gestão em Biossegurança. a atender aos requisitos do Sistema de Gestão em Biossegurança e
4.1.8.3.1.1. Todos os documentos elaborados e revisados, inte- desta Norma.
grantes do Sistema de Gestão em Biossegurança, devem ser anali- 4.1.13.2. O coordenador da CIB deve ser o responsável pelo
sados criticamente e aprovados para uso, por profissional autoriza- planejamento e efetivação das auditorias, conforme o cronograma.
do pela direção do laboratório, antes de serem emitidos.
4.1.8.3.1.2. Deve ser estabelecida uma lista mestra ou um pro- Estas auditorias devem ser realizadas por profissionais treina-
cedimento equivalente, para controle de documentos, que iden- dos e qualificados, ou seja, sempre que os recursos permitirem, in-
tifique a situação da revisão atual e a distribuição destes e estar dependentes das atividades auditadas.
prontamente disponível para evitar o uso dos documentos inváli-
dos ou obsoletos. Nota 1: Caso o laboratório tenha em seu Sistema de Gestão da
4.1.8.3.1.3. As alterações nos documentos devem ser feitas Qualidade, programa de auditorias internas, os requisitos de Bios-
pelo mesmo profissional que elaborou, salvo disposição em con- segurança poderão ser parte integrante deste.
trário. Nota 2: É recomendável que o ciclo de auditoria interna seja
completado em um ano.
Neste caso o profissional designado deve ter acesso à infor-
mação prévia pertinente, para subsidiar sua análise crítica e apro- 4.1.14. Análise crítica pela Direção:
vação. 4.1.14.1. A Direção do laboratório deve realizar periodicamen-
te uma análise crítica do Sistema de Gestão em Biossegurança,
4.1.8.3.1.4. Os documentos do Sistema de Gestão em Biosse- para assegurar sua contínua adequação, eficácia e introdução de
gurança devem ser univocamente identificados. Esta identificação mudanças e/ou melhorias necessárias. A análise crítica deve con-
deve incluir a autoridade emitente, data da emissão, identificação siderar:
da revisão, paginação e número total de páginas. a) adequação das políticas e procedimentos;
4.1.9. Aquisição de serviços, instrumentos, equipamentos, in- b) resultados de auditorias internas recentes;
sumos, reagentes ou materiais relevantes. c) ações corretivas e preventivas;
4.1.9.1. O laboratório deve ter uma política e procedimentos d) avaliações realizadas por organizações externas;
para seleção e compra de serviços, instrumentos, equipamentos, e) mudanças nas atividades; e
insumos, reagentes e outros materiais relevantes, de acordo com f) recomendações para melhoria contínua do sistema.
os requisitos exigidos pelo Sistema de Gestão em Biossegurança.
Devem existir procedimentos para compra, recebimento e arma- 5. Requisitos Técnicos
zenamento. 5.1. O laboratório deve dispor de procedimentos em Biossegu-
4.1.9.2. O laboratório deve garantir que os serviços, instrumen- rança ou incluí-los nos procedimentos técnicos.
tos, equipamentos, insumos, reagentes e outros materiais relevan- 5.2. O laboratório deve documentar e disponibilizar instruções
tes sejam utilizados somente após verificação prévia, quanto ao específicas de Biossegurança para coleta, manuseio, acondiciona-
atendimento às especificações dos requisitos exigidos. mento, identificação, transporte e armazenamento de amostras e
4.1.10. O laboratório deve aprimorar continuamente a eficácia insumos.
de seu Sistema de Gestão por meio do uso da política e objetivos de 5.2.1. No armazenamento de produtos químicos deve ser ob-
Biossegurança, resultados das auditorias internas, análise de dados servada a compatibilidade química.
e análise crítica pela Direção. 5.2.2. O laboratório deve possuir procedimentos para movi-
4.1.11. O laboratório deve estabelecer os níveis de contenção mentação, transporte, armazenamento, manuseio e utilização dos
relativos às atividades desenvolvidas, de acordo com avaliação de gases, de acordo com as disposições da legislação vigente.
risco realizada. 5.3. O laboratório deve documentar e disponibilizar procedi-
mentos específicos de Biossegurança para manejo de materiais
Nota: O laboratório deve proceder à avaliação de risco sempre perfuro-cortantes.
que houver qualquer alteração da rotina de trabalho. 5.4. O laboratório deve documentar e disponibilizar proce-
dimentos específicos de Biossegurança para manejo de animais,
4.1.12. Identificação e controle de não-conformidades e ações quando aplicável.
corretivas e preventivas. 5.5. O laboratório deve documentar e disponibilizar procedi-
4.1.12.1. O laboratório deve ter uma política e procedimentos mentos específicos de Biossegurança para radioisótopos, quando
a serem implementados, quando se detectam quaisquer aspectos aplicável.
não conformes, relacionados aos requisitos exigidos pelo Sistema 5.6. O laboratório deve documentar e disponibilizar proce-
de Gestão em Biossegurança ou com os requisitos desta Norma. dimentos específicos de Biossegurança para trabalho de campo,
4.1.12.1.1. Após a identificação de não-conformidades deve quando aplicável.
ser designado um responsável para a resolução do problema, com 5.7. O laboratório deve documentar e disponibilizar procedi-
o acompanhamento do coordenador da CIB, para fins de supervi- mentos específicos de Biossegurança para limpeza, desinfecção e
são e determinação da retomada das atividades. esterilização.

37
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
5.8. O laboratório deve dispor de local e equipamentos de se- 5.19. Equipamentos
gurança apropriados ao manuseio de produtos químicos que im- 5.19.1. O laboratório deve disponibilizar e exigir o uso de equi-
pliquem riscos ao meio ambiente, à segurança e à saúde do traba- pamentos de proteção coletiva e individual, adequados aos níveis
lhador. de Biossegurança exigidos, de acordo com as atividades realiza-
5.9. O laboratório deve manter procedimentos para o manu- das, em conformidade com as “Diretrizes Gerais para o Trabalho
seio e armazenamento de produtos químicos. em Contenção com Agentes Biológicos” ou outra(s) que vier(em) a
substituí-la(s) e demais legislações especificas vigentes.
Nota: Nas áreas laboratoriais não é permitido o armazenamen- 5.19.2. O laboratório deve assegurar o funcionamento adequa-
to de produtos químicos em volumes superiores à metodologia do dos equipamentos de proteção coletiva, através da qualificação,
aplicada e que não estejam em uso. certificação e manutenção periódica.
5.19.3. O laboratório deve assegurar que todos os equipamen-
5.10. O laboratório deve manter fichas de informação de segu- tos de proteção individual utilizados na instituição possuam Certifi-
rança sobre produtos químicos nas quais deve conter, mas não se cado de Aprovação emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
restringir, as seguintes informações:
a) quanto às características e às formas de utilização do pro- 5.20. Infraestrutura laboratorial
duto; 5.20.1. O laboratório deve possuir e prover, em conformida-
b) quanto aos riscos à segurança e à saúde do trabalhador e ao de com as “Diretrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com
meio ambiente, considerando as formas de utilização; Agentes Biológicos” ou outra(s) que vier(em) a substituí-la(s) e de-
c) quanto às medidas de proteção coletiva, individual e contro- mais legislações especificas vigentes, as instalações adequadas aos
le médico da saúde dos trabalhadores; níveis de biossegurança exigidos às atividades a serem realizadas.
d) quanto às condições de armazenamento; e
e) quanto aos procedimentos em situações de emergência. 6. Referências normativas
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO/
5.11. Os reagentes/soluções devem estar rotulados apropria- IEC 17025:2005. Requisitos Gerais para Competência de Laborató-
damente para indicar procedência, identidade, concentração, ris- rios de Ensaio e Calibração. Rio de Janeiro.
cos potenciais (corrosivo, inflamável, tóxico, entre outros) e dados - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnolo-
de estabilidade, incluindo data de preparação, data em que foi ini- gia e Insumos Estratégicos. Diretrizes Gerais para o Trabalho em
ciado o seu uso, data de validade, instruções específicas de armaze- Contenção com Material Biológico. Brasília: Ministério da Saúde,
namento, número do lote e simbologia de risco. 2004. 60p.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saú-
Nota: As embalagens de produtos químicos não devem ser reu- de. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Biossegurança em
tilizadas. Laboratórios Biomédicos e de Microbiologia. Brasília: Ministério da
Saúde, 2004. Tradução do inglês: Biosafety in microbiological and
5.12. O laboratório deve possuir programas e procedimentos biomedical laboratories 4ª ed.
de manutenção corretiva e preventiva, calibração e certificação, - BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria Nº 3.214, de 8 de ju-
dos equipamentos de segurança e instalações. nho de 1978. Normas regulamentadoras. In: Segurança e Medicina
5.13. O laboratório deve dispor de programa e procedimentos do Trabalho. 29. ed. São Paulo: Atlas, 1995. 489 p.
de vigilância em saúde do trabalhador, de acordo com a legislação - BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria Nº 485,
vigente e deve incluir, mas não se limitar a: exames médicos, pro- de 11 de novembro de 2005. Aprova a norma Regulamentadora
grama de imunização e acompanhamento sorológico, notificação 32. Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde. DOU de
de acidentes e incidentes e notificação compulsória de doenças 16/11/2005 - Seção I.
ocupacionais, conforme legislação vigente, para o estabelecimento - INMETRO. NIT DICLA 083:2001. Norma Interna para Imple-
do nexo causal. mentar Sistema de Qualidade em Laboratórios Clínicos.
5.13.1. O laboratório deve manter os registros das ativida- - ODA, L.M.; ÁVILA, S.M. (Org). Biossegurança em Laboratórios
des, ocorrências, protocolos e prontuários a fim de possibilitar a de Saúde Pública. Brasília: Ministério da saúde, 1998.
rastreabilidade e a proposição de ações preventivas e corretivas a - RDC Nº 306, de 7 de dezembro de 2004 - Dispõe sobre o Re-
eventuais acidentes e incidentes e mantê-los arquivados, conforme gulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços
disposto pela legislação vigente. de Saúde.
5.14. O laboratório deve possuir programa e procedimentos de - RDC Nº 302, de 13 de outubro de 2005 - Dispõe sobre o Re-
comunicação e informação em Biossegurança que possibilite a to- gulamento Técnico para Funcionamento de Laboratórios Clínicos.
dos os profissionais terem ciência dos riscos a que estão expostos.
5.15. O laboratório deve possuir programa de educação conti-
nuada em Biossegurança e manter os registros destas atividades. RDC 222/2018 (GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE
5.16. O laboratório deve dispor de políticas para o gerencia- SERVIÇOS DE SAÚDE)
mento dos resíduos e possuir um Programa de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos de Saúde (PGRSS), conforme a legislação vigente.
5.17. O laboratório deve possuir plano e procedimentos de Prezado Candidato, devido ao formato do material, iremos
emergência e contingência em Biossegurança. disponibilizar o conteúdo na íntegra em nosso site oficial, confor-
5.18. Para o trabalho com radiações ionizantes o laboratório me segue: https://www.editorasolucao.com.br/materiais
deve atender às disposições estabelecidas pelas normas específicas Bons estudos!
da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN.

38
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
5. (Prefeitura de Ministro Andreazza - RO - Técnico em Labora-
EXERCÍCIOS tório - IBADE – 2020) Observe a imagem:

1. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) Bios-


segurança em laboratório é de fundamental importância para a pre-
venção, eliminação ou minimização de riscos à saúde do técnico.
Em relação aos equipamentos de proteção individual (EPI’s), pode-
-se afirmar que
(A) o uso é facultativo, de acordo com a legislação trabalhista.
(B) o uso de máscara de proteção respiratória é dispensável
quando se utiliza capela para o manuseio de reagentes volá-
teis.
(C) a utilização de luvas de borracha natural, neoprene ou PVC
é recomendada para o contato com formaldeído.
(D) aventais descartáveis são de uso obrigatório para o prepa-
ro de corantes e soluções.
(E) sapatilhas esterilizadas confeccionadas em algodão são
resistentes à ação de ácidos e bases.

2. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) O uso


adequado das capelas de segurança química requer alguns proce-
dimentos, como
(A) manter o rosto do operador no interior da mesma.
(B) desconectar o equipamento do sistema de geração emer-
gencial de energia elétrica.
(C) colocar os materiais necessários no interior do equipamen-
to ou deixá-los próximos. A figura mostra um item de vidraria adequado à realização de:
(D) movimentar os braços rapidamente, de fora para dentro. (A) medidas aproximadas de líquidos.
(E) desligar de imediato a exaustão ao terminar o serviço. (B) aquecimento de líquidos.
(C) reações químicas onde ocorrem desprendimento de gases.
3. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) De (D) separação de líquidos imiscíveis.
acordo com a Organização das Nações Unidas, ONU, a classificação (E) filtração a vácuo.
de risco para produtos perigosos está representada por pictogra-
mas, exemplificados a seguir, que significam, respectivamente, 6. (Prefeitura de Barra dos Coqueiros - SE – Biólogo - CESPE /
CEBRASPE – 2020) O álcool a 70% é um desinfetante utilizado em
laboratórios e que contém álcool etílico e água (deionizada), ou
seja, uma solução aquosa de álcool. A quantidade de álcool pode
ser avaliada segundo a fração em volume ou a fração em massa.
Com relação ao álcool a 70% e a múltiplos aspectos relacionados
aos conhecimentos básicos de técnicas, materiais e normas de se-
gurança laboratoriais, é correto afirmar que
(A) a pera de sucção é recomendada para dosagens de subs-
(A) perigo, explosivo, fogo e atenção. tâncias químicas sem a necessidade do uso de equipamento
(B) tóxico, inflamável, corrosivo e perigo. de proteção individual (EPI) pelo usuário em contato com esse
(C) oxidante, inflamável, corrosivo e explosivo. instrumento.
(D) explosivo, inflamável, oxidante e perigo. (B) a produção de álcool a 70% requer uma dosagem de álcool
(E) explosivo, oxidante, inflamável e atenção. etílico e água na proporção de 7:1.
(C) a passagem de placas de Petri pela autoclave inviabiliza o
4. (Prefeitura de Ministro Andreazza - RO - Técnico em Labo- preparo de cultura bacteriológica nessas placas.
ratório - IBADE – 2020) São recomendações em relação ao uso e (D) o álcool a 70% pertence ao grupo de reagentes corrosivos,
manutenção de vidrarias nos laboratórios: por isso se deve evitar usá-lo em procedimentos de laborató-
I - A vidraria deve ser lavada imediatamente após o uso. Se uma rios destinados ao ensino de biologia.
lavagem completa não for possível, coloque-a de molho em água. (E) a capela de laboratório possibilita ao profissional preparar
II- Pode-se secar todas as vidrarias de laboratório com pano, o álcool a 70% com segurança, minimizando-se os riscos de
toalha ou secador de ar. contato com o produto que pode causar irritação dos olhos.
III - Em alguns casos contendo incrustações, pode ser necessá-
rio deixar a vidraria de molho durante a noite em água morna com 7. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) O uso
sabão diluído. É recomendável esfregar a vidraria com uma escova. adequado das capelas de segurança química requer alguns proce-
dimentos, como
Dos itens acima descritos somente: (A) manter o rosto do operador no interior da mesma.
(A) I está correto. (B) desconectar o equipamento do sistema de geração emer-
(B) II está correto. gencial de energia elétrica.
(C) I e III estão corretos (C) colocar os materiais necessários no interior do equipamen-
(D) I e II estão corretos. to ou deixá-los próximos.
(E) II e III estão corretos.

39
NOÇÕES DE LABORATÓRIO DE ANÁLISES FORENSES
(D) movimentar os braços rapidamente, de fora para dentro.
(E) desligar de imediato a exaustão ao terminar o serviço. GABARITO

8. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) De


acordo com os conceitos estabelecidos, assinale a alternativa cor- 1 C
reta. 2 C
(A) Esterilização é a destruição de todos os microrganismos,
inclusive esporulados, através de processo químico ou físico. 3 D
(B) Desinfecção é a eliminação de microrganismos, inclusive 4 C
esporulados, através de processo químico ou físico.
5 A
(C) Limpeza é eliminação de microrganismos, exceto espo-
rulados, de materiais ou artigos inanimados, com auxílio de 6 E
desinfetantes. 7 C
(D) Descontaminação é a eliminação de microrganismos da
pele, mucosa ou tecidos vivos, com auxílio de antissépticos, 8 A
substâncias microbiocidas ou microbiostáticas. 9 C
(E) Assepsia é a remoção mecânica e/ou química de sujidades
em geral, (oleosidade, umidade, matéria orgânica, poeira, 10 B
entre outros) de determinado local.

9. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) Ana-


ANOTAÇÕES
lise a imagem.
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O símbolo representado na figura relaciona-se a
______________________________________________________
(A) sinal de perigo.
(B) risco químico. ______________________________________________________
(C) risco biológico.
(D) sinal de radiação. ______________________________________________________
(E) risco de explosão.
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10. (EBSERH - Técnico em Citopatologia - VUNESP – 2020) Assi-
nale a alternativa que apresenta, respectivamente, os nomes corre- ______________________________________________________
tos para a vidraria representada a seguir.
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(A) Erlenmeyer, bequer, balão volumétrico e proveta.
(B) Balão volumétrico, erlenmeyer, bequer e proveta graduada. ______________________________________________________
(C) Erlenmeyer, proveta graduada, balão volumétrico e bequer.
(D) Proveta graduada, bequer, balão volumétrico e erlenmeyer. ______________________________________________________
(E) Bequer, erlenmeyer, proveta graduada e balão volumétrico.
______________________________________________________

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40
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
1. Locais de crimes contra a pessoa, locais de crime contra o patrimônio, locais de crime de trânsito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Noções de Balística Forense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Noções de Informática Forense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
4. Noções de Documentoscopia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
5. Noções de Identificação Veicular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Evidências físicas
LOCAIS DE CRIMES CONTRA A PESSOA, LOCAIS DE O êxito do processo pode estar devidamente relacionado ao
CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO, LOCAIS DE CRIME DE estado dos sinais e indícios no momento em que são coletados
TRÂNSITO
Proteção da cena
Definição: em geral, o local do crime pode ser conceituado Tem início quando o primeiro agente policial chega à cena do
como o espaço físico onde tenha sucedido um crime elucidado ou delito, tendo finalização a partir da liberação da cena da custódia
que ainda requeira esclarecimento, mas que, fundamentalmente, policial.
apresente configuração ou aspectos de um delito e que, assim, de-
mande diligência policial. É no local do crime que as polícias judici- Isolamento
ária e ostensiva se encontram, onde a primeira atua na seguridade Além da atenção aos vestígios encontrados e cuidado para que
da aplicação da lei penal, prevenindo e reprimindo potenciais in- não sejam eliminados ou mesmo modificadas suas localizações e
fratores; enquanto a segunda tem a função da ordem, prevenindo disposições, é elementar que o local seja isolado.
quaisquer possíveis violações ou restabelecendo-a regularidade.
Vigilância
Classificação dos locais de crime Diligência importante do procedimento de preservação do lo-
cal do crime, a vigilância empreendida pelos oficiais de polícia tem
A. Quanto à Preservação o objetivo de impossibilitar que pessoas não autorizadas ingressem
• Locais preservados idôneos ou não violados: são os locais de no local e também que chuvas e outras eventuais ações de agentes
crime inalterados, conservados no estado imediatamente original da natureza provoquem quaisquer alterações no local.
à prática do delito, sem que haja modificações das condições dos Artigo 6º, incisos I, II e III, do Código de Processo Penal (1941),
objetos após a ocorrência, até o momento da perícia. constitui norma que estabelece, a respeito da preservação do local
• Locais não preservados, inidôneos ou violados: são locais do crime:
que cujas condições deixadas pelo autor do fato criminal sofreram
alterações antes da chegada e acolhimento dos peritos. As altera- “I – se possível e conveniente, dirigir-se ao local, providencian-
ções, geralmente, se verificam nas disposições iniciais dos indícios, do para que se não alterem o estado e conservação das coisas, en-
ou mesmo no acréscimo ou subtração destes, o que modifica quais- quanto necessário;
quer estados das coisas. II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
B. Quanto à Disposição dos vestígios III – colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
• Local relacionado: outros locais com relação com o fato do fato e suas circunstancias;”
• Local imediato: onde ocorreu o fato
• Local mediato: adjacências da área; comum marcas de paga- Vestígios e indícios encontrados nos locais de crime
das, objetos caídos, etc. Definição de vestígios: quaisquer objetos, sinais ou marcas que
possam estar relacionados ao fato investigado. Todos os vestígios
C. Quanto à Natureza encontrados na cena do delito, num primeiro momento, são rele-
• Local de homicídio vantes para elucidação dos fatos.
• Local de suicídio Agente provocador: revelado pela existência de vestígios, são
• Local de crime contra a natureza o que causou ou contribuiu para a ocorrência; o vestígio em si pode
• Local do dano se tratar do resultado da ação do agente provocador.
• Local do incêndio
• Local de crime de trânsito Classificação dos vestígios
• Local de arrombamento • Vestígio verdadeiro: trata-se de uma depuração completa
• Local de explosão dos elementos localizados na cena do crime, constituindo-se verda-
deiros apenas aqueles que foram gerados diretamente pelo agente
D. Quanto ao ambiente de autoria do delito e, ainda, resultantes diretos das ações da prá-
• Local interno: prédio ou dentro de um terreno cercado tica criminal.
• Local externo: terreno baldio sem obstáculos, logradouro • Vestígio Ilusório: qualquer componente encontrado no local
• Locais relacionados: duas ou mais áreas com implicação no do crime que não tenha relação direta às ações dos infratores, e sua
mesmo crime produção não tenha ocorrido propositalmente.
• Vestígio forjado: ao contrário do vestígio ilusório, há uma in-
Preservação de locais de crime tenção na produção desse tipo de vestígio.
Aplicabilidade: a não alteração do local do crime aplica-se, uni-
camente, no contexto dos crimes materiais Definição de Indícios: de acordo com o CPP, artigo no 239, indí-
cio é a “circunstância conhecida e provada que, tendo relação com
o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou
Importância outras circunstâncias”.
Elaboração de laudos periciais: se houver, por exemplo, a re- Indícios X evidências: embora as definições que o CPP apre-
moção de um cadáver do lugar original deixado pelo autor do fato, senta a respeito desses dois conceitos serem muito semelhantes, o
essa ação compromete seriamente, as devidas conclusões em torno termo indício foi estabelecido para a fase processual, logo, para eta-
da ação criminosa e mesmo na descoberta e busca do autor; perícia pa pós-perícia, ou seja, a designação indício abrange não somente
criminal: a preservação do local do crime concretiza a usa materia- os componentes materiais de que se dedica a perícia, mas também
lidade e facilita a aplicação das técnicas forenses aborda elementos de natureza subjetiva – característicos do âmbito
da polícia judiciária.

1
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Perícia de local de crime: abrange os exames aplicados em Ademais, o exame no cadáver precisa ser minucioso:
uma parcela do ambiente onde tenha ocorrido um delito e para • Procurar ferimentos;
coletar dados que deem suporte às análises e comparações a fim • Procurar os orifícios de entrada e de saída do projétil, e
de constatar a eventualidade de o crime ter sido executado de um suas localizações.
modo determinado. Propósito: elucidar as circunstâncias em que o Por fim, é necessário avaliar os próprios projéteis e estojos en-
crime ocorreu. contrados no local. A finalidade disto é fazer a identificação mediata
da arma (microcomparação balística) que causou a lesão, caso ne-
• Locais de morte nhuma seja encontrada.
O local da morte é fundamental para desvendar a autoria e ma- Tais procedimentos aptos para a investigação no local de morte
terialidade delitiva. Neste sentido, o art. 6 do CPP determina que a por arma de fogo resumem-se em diligência processual penal vei-
autoridade policial logo que tiver conhecimento da infração penal culada através do laudo de local, documento fundamental para a
deve: investigação.
 dirigir-se ao local, providenciando para que não se alte- Tudo isso, em suma, visa determinar a causa jurídica da morte,
rem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos estabelecer a diagnose diferencial entre homicídio, suicídio e aci-
criminais; dente.
 apreender os objetos que tiverem relação com o fato,
após liberados pelos peritos criminais; o Local de morte por instrumentos contundentes, cortan-
 colher todas as provas que servirem para o esclarecimen- tes, perfurantes ou mistos
to do fato e suas circunstâncias.
Quando no local de morte verifica-se um instrumento contun-
o Morte violenta dente, algumas conclusões passam a ser óbvias:
Morte violente é considerada toda aquela que não é natural – • A lesão é contusa;
ex. homicídio, suicídio, acidente. • Na ação ocorreu pressão, percussão, arrastamento ou
Os locais de morte aparentemente natural costumam ser es- tração;
cassos em vestígios, já que normalmente há uma única pessoa en- • Foram utilizados pau, cassete, chão ou muro.
volvida (a própria vítima) e ela não contribui intencionalmente para
o resultado. Quando se trata de instrumento cortante (cauda de escoria-
Em caso de morte violenta, o local do crime precisa ser preser- ção), o instrumento ao tocar a pele exerce uma força maior que vai
vado, uma vez que todo e qualquer elemento pode vir a contribuir se desacelerando. Com isso:
com as investigações. Ex. armas, manchas, substâncias, posição do • A ferida se aprofunda e depois vai se superficializando;
corpo, janelas, portas, trancas, vidro, arremesso de objetos etc. • O ponto mais profundo marca o início do golpe;
Inclusive, já foi considerada verdadeira a seguinte assertiva • O ponto mais superficial marca o final do golpe.
pela banca Cespe (PCSE 2020): A forma de execução de um homicí-
dio pode ser definida a partir da observação da posição do cadáver Lesão de hesitação Lesão de defesa
no local do crime, dos vestígios biológicos e de eventuais elementos
balísticos arrecadados. Lesão múltipla, comum em suicí-
Localizadas na mão.
Ademais, é importante diferenciar o exame perinecroscópico dio.
do exame de necropsia:
1) O exame perinecroscópico consiste no exame externo do Instrumentos cortantes podem causar, ainda, esquartejamen-
cadáver, feito pelo perito criminal, ainda no local de crime. to e castração.
2) O exame perinecroscópico não deve ser confundido com o
exame de necropsia, que é aquele realizado pelo perito médico-le-
gista, normalmente nas instalações do Instituto de Medicina Legal
(IML). Os instrumentos perfurantes, por sua vez, possuem as seguin-
tes características:
o Local de morte por arma de fogo • Lesão: Punctória ou puntiforme;
O tema local de morte por arma de fogo está intrinsecamente • Ação: de pressão;
ligado com lesões perfurocontundentes. Estas lesões são ferimen- • Instrumentos como alfinete, agulha etc.
tos produzidos por projéteis de arma de fogo, cabo de guarda-chu-
va, chave de fenda, entre outros. Assim, é comum esta situação em
homicídio. o Local de morte provocada por asfixia.
Em uma investigação, para entender os fatos que desencade- As asfixias fazem parte da Traumatologia e são espécie de ener-
aram a morte, o perito criminal deve analisar os vestígios, as posi- gia físico-químicas. Consideram-se fases da asfixia a) a Dispneia ins-
ções dos objetos, e, também, do cadáver. Aliás, o ambiente todo piratória; b) dispneia expiratória; c) parada respiratória.
merece cuidado. Quem vê uma pessoa asfixiada pode notar cor azulada, língua
Em um local de morte por arma de fogo, regra geral, o ambien- para fora, equimoses. Por dentro, o sangue fica fluido e escuro,
te deve ser vasculhado e fotografado. Ex. fotografa-se os pontos de equimoses viscerais, sangue nas vísceras, hemorragia, edema e efi-
impactos de projéteis. sema pulmonar.
Outro ponto importante é determinar a distância, a origem e a
direção do disparo. Por meio de tais constatações é possível estabe- A asfixia pode ser por:
lecer a provável trajetória do disparo. • Enforcamento (forma laço, em regra suicídio ou aciden-
tal);
• Estrangulamento (forma laço, em regra homicida);
• Esganadura (sem laço, com as mãos – sempre homicida).

2
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Classe F
NOÇÕES DE BALÍSTICA FORENSE
sabres, matracas e outras armas brancas geralmente emprega-
das nas artes marciais ou apenas com função ornamental
BALÍSTICA FORENSE réplicas de armas de fogo
armas de fogo inutilizadas com a função apenas ornamental
Arma de fogo: conceito e classificação
Classe G
Conceito: arma de fogo pode ser definida como um artefato
eficaz no disparo de um ou mais projéteis em alta velocidade, por réplicas de armas de fogo para atividades recreativas
meio de uma dinâmica pneumática causada pela expansão de ga- armas de sinalização
ses gerados pela queima da carga de projeção (proponente) de alta armas de ar comprimido de aquisição livre
velocidade.

Classificação: as armas de fogo, bem como suas munições, são Cartucho de munição de arma de fogo: conceito e divisão
classificadas conforme sua utilização, sua finalidade e o grau de pe-
rigosidade. De acordo com esses critérios, são divididas nas classes Cartucho: é a parcela de munição das armas de fogo, seja de
A, B, C, D, E, F e G. retrocarga ou de percussão. Seus componentes são espoleta (res-
ponsável pela ignição), pólvora (carga propelente), projétil (item a
Classe A: em geral, são proibidas ser impulsionado pelo cano da arma) e estojo (abriga os demais
componentes).
todo instrumento ou mecanismo desenvolvido exclusivamente
para uso como arma ofensiva Munição: artefato arremessado a partir de qualquer tipo de
armas de fogo ou armas brancas representadas na forma de arma, sendo, portanto, uma flecha arremessada por um arco, uma
outro utensílio bola de ferro ou de pedra arremessada de um antigo canhão, etc.
estiletes; facas borboleta ou de abertura automática ou mesmo Praticamente todas as armas funcionam a partir de algum tipo de
de arremesso; boxes e estrelas de lançar munição.
armas brancas que não tenham efeito ao exercício de qualquer munições descartáveis: minas terrestres, granadas, mísseis e
atividade comerciais, industriais, florestais, cinegéticas, agrícolas, bombas.
desportivas, domésticas, ou cujos valores artístico ou histórico não munições-alvo: ogivas e balas que criam efeito em um alvo.
se enquadrem como itens de coleção. munições bélicas: seu arremesso independe de propelentes
bastões extensíveis ou elétricos, de uso exclusivo das forças e químicos, disparando projéteis por meio da chamada impulsão ele-
serviços de segurança ou das Forças Armadas tromagnética.
as armas de fogo fabricadas sem anuência
as armas de fogo alteradas ou transformadas Componentes básicos da munição para arma de fogo: espoleta,
detonador, pólvora, propelente, explosivo, projétil, estojo.
Classe B: armas de fogo curtas semiautomáticas ou de repeti-
ção Identificação das armas de fogo
Procedimento: a identificação remota das armas de fogo se re-
Classe C aliza por meio da análise comparativa dos indícios materiais causa-
dos por tais armas nos componentes da sua munição. Uma arma de
armas de ar comprimido de aquisição condicionada fogo pode deixar vestígios que possibilitem a sua identificação em
armas de fogo longas semiautomáticas, de cano de alma estria- elementos como projéteis, cápsulas de espoletamento e estojos.
da, de tiro a tiro e de repetição A identificação das armas de fogo, geralmente, é restrita às suas
armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição viabilidades técnicas, pelas condições do material disponível para
armas de fogo de calibre até 6mm ou .22 análise e de sua natureza. Para que se obtenha padrões mais apro-
. priados, é necessário que ocorra a reprodução das circunstâncias da
Classe D ocorrência que deu origem ao estojo ou projétil objeto de estudo.
(RABELO, 1995).1
armas de fogo longas de tiro a tiro de cano de alma lisa
armas de fogo longas semiautomáticas ou de repetição, de Distância e efeitos dos tiros: efeitos primários e secundários,
cano de alma lisa com um comprimento superior a 60cm tiro encostado, tiro à curta distância, tiro à distância e tiros aciden-
tal (conceito e causa)
Classe E
Efeitos primários do tiro: são aqueles gerados pelo projétil, o
aerossóis de defesa com gás, com concentração máxima de 5% elemento primário do tiro, em consequência da atividade mecânica
de gás de pimenta (oleoresina de capsicum ou capsaicina) e que na tentativa de superar a resistência apresentada pelo alvo, sendo
não possam ser confundidas com outras armas assim, característicos do orifício de entrada. Tais efeitos acontecem
armas elétricas até 200.000 V, com dispositivo que não permi- a despeito da distância do tiro e envolvem quatro tipos de efeitos:
tam serem confundidas com outros instrumentos

1 RABELO, Eraldo. Balística Forense. 3. ed. Porto Alegre: Sagra


Luzzatto, 1995.

3
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
O orifício em si (orifício deixado pela passagem do projétil) a
orla de enxugo (distinguida pelo projétil que, percorrendo o próprio NOÇÕES DE INFORMÁTICA FORENSE
eixo, é coberto de impurezas da pólvora e dos resíduos que pene-
traram)
A orla de contusão (ocorre penetração do projétil, no exato NOÇÕES DE INFORMÁTICA FORENSE
momento de rompimento da pele, constituindo orla contundida e ​A informática forense também chamada de forense digital, pe-
escoriada) rícia forense computacional ou computação forense, é uma área
A auréola equimótica (decorrente do de sangue de sangue cau- que visa suprir com evidências eletrônicas a área judicial.
sado pela ruptura de minúsculos vasos situados nos arredores do
ferimento). Ciências Forenses
É um conjunto multidisciplinar aplicado ao uso judicial. Dentro
Efeitos secundários do tiro: são aqueles produzidos pelos com- deste contexto, a informática forense pode avaliar um computador,
ponentes expelidos pela boca do cano da arma, além do projétil. celular, e-mails, etc., aplica-se a resolução e entendimento de situ-
Sua massa é variável e sua dispersão é diferente para cada com- ações ocorridas de possíveis crimes analisando-se os meios digitais.
ponente. Assim, o alcance dos componentes secundários varia, da Tipos de crimes digitais
mesma forma que os efeitos identificados. Por apresentarem uma ▪ Crimes que ocorrem fora do ambiente digital
delimitação difusa, os efeitos secundários são denominados de zo- São crimes que utilizam o meio digital para o fim criminoso,
nas e não orlas, e podem ocorrer separadamente ou em sincronia. como por exemplo: Troca de mensagens, e-mails, armazenamento
Os efeitos secundários se dividem em três tipos: de dados, provas de corrupção.
zona de chamuscamento: também chamada de zona de chama ▪ Crimes que ocorrem dentro do ambiente digital
ou de queimadura, é gerada pelos gases inflamados e superaqueci- Crimes que se passam diretamente no meio digital, tais como:
dos que se soltam por conta dos tiros encostados, atingindo o alvo invasão de um computador, Invasão de um Site, hackamento de da-
e, finalmente, provocando queimadura de pele na região dos pelos dos em geral, etc.
e das vestimentas. “Dentro do contexto acima, forense digital é a ciência que visa
zona de esfumaçamento: produzida pelo armazenamento da entender este ambiente, fazendo a coleta, preservação e a aquisi-
fuligem originada da partir combustão da pólvora em torno do ori- ção de evidencias para serem aceitas e utilizadas no âmbito judi-
fício de entrada. cial.”
zona de tatuagem: também chamada de “halo”, é consequên-
cia do absorvimento de resquícios de semicombustão e combustão Métodos de coleta de material
da pólvora, além das e das partículas compactas do projétil. — In vivo
• É realizada no local onde o equipamento está (in loco) com o
Tiro encostado: ocorre quando a boca do cano da arma encos- equipamento ligado e funcionando;
ta no alvo, permitindo que a lesão seja gerada pela atividade dos • Diminui a chance de adulteração;
gases provenientes da deflagração da pólvora e do próprio projétil. • Pode se analisar mídias, senhas armazenadas em cache, tra-
O orifício de entrada é amplo e irregular e, em geral, de abertura fego em rede, etc.
superior do que a do projétil que causou.
Post-Mortem
Tiro à curta distância: ocorre quando o projétil é disparado em • É realizada em outro local com o equipamento desligado; é
direção ao alvo a uma distância suficiente para produzir o ferimento muito comum para análise de HD.
de entrada e os efeitos secundários. A lesão do tiro à curta distân-
cia pode apresentar extremidade elíptica ou arredondada; zonas de
tatuagem ou de queimadura ou de esfumaçamento ou mesmo de Exemplos práticos
compressão de gases; aréola equimótica. O tiro à queima-roupa é
um tipo de tiro à curta distância. Crime Processo Investigativo
• Análise das evidências tais como
Tiro à distância: ocorre quando cano da arma e alvo se encon- rastros, log, etc.;
tram separados por 40 a 50 centímetros. Não apresenta efeitos Invasão pela • Dados cronológicos data e hora;
secundários do tiro; tiro perpendicular, cujo resultado, em geral, é Internet • Rotas e programas, conteúdo das
uma lesão cujo diâmetro é menor que o do projetil. informações;
• Rastreamento do IP.
Tiro acidental: é caracterizado como o disparo provocado em
Armazenamento • Descobrir o autor do crime;
situações incomuns, sem o acionamento regular e intencional dos
e disseminação de • Descobrir o site que armazena tal
dispositivos descarga.Em geral, o tiro acidental ocorre em função
material proibido material.
de falhas e defeitos nos dispositivos gerais e de segurança da arma
que também podem provocar acidentes. Não é raro que o tiro aci- Disponibilização-
• Apreensão do computador;
dental, seja confundido com o disparo acidental; este, porém, acon- de contéudo impró-
• Coleta de dados demonstrando a
tece ocorre sem que haja o acionamento do mecanismo de disparo prio pela internet
preservação das evidencias.
(aperto de gatilho), por qualquer anormalidade dos dispositivos da (Pedofilia, racis-
arma e em raras excessões. mo e etc...)

4
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
O trabalho do perito digital é complexo, pois muitas vezes Empirismo científico: essa fase se resumiu na busca pelo res-
técnicas não convencionais são utilizadas visto que o usuário fre- tabelecimento da perícia gráfica como uma prática confiável, e,
quentemente pode apagar copiar, e mover arquivos que seriam de para isso, foram tomadas duas medidas: 1) o pessoal não era mais
interesse da perícia, e o equipamento por vezes pode estar modifi- convocado em meios aos infratores; 2) passaram a ser testados no-
cado, ou com conteúdo hospedado em provedores internacionais, vos processos e metodologias, com destaque para o emprego da
dificultando investigações. linguagem técnico científica. O desenvolvimento de ciências como
química e física, exatamente nesse período, além do surgimento da
NOÇÕES DE DOCUMENTOSCOPIA fotografia, foi de grande importância para a recuperação da con-
fiabilidade da perícia de documentos. Além do aprimoramento do
vocabulário, com termos amplamente rebuscados, a elaboração
DOCUMENTOSCOPIA dos laudos periciais passou a contar com o auxílio do aparelho mi-
croscópio e de recursos fotográficos e químicos. Essa curta fase,
Conceito: documentoscopia é a disciplina forense relacionada que perdurou do final do século XIX até o início do século XX, ficou
à criminalística que se aplica à pesquisa, às metodologias e às técni- marcada pelo esforço de impressionar e valorizar o processo, uma
cas especializadas empregadas pela criminologia documental com bem sucedida tentativa de resgate da credibilidade da perícia grá-
o objetivo de verificar a legitimidade ou ilegitimidade do item de fica. Essa fase lutou com recursos empíricos e com as faculdades
estudo pericial e indicar sua origem e autoria. Devido à multipli- excepcionais, vulgares ou naturais.
cidade das documentações existentes, os processos efetuados são
divididos em categorias incumbidas pela testagem de suas caracte- Sinceridade técnico-científica: concluindo o circuito de especia-
rísticas. Entre os principais processos da documentoscopia, desta- lidades da perícia, essa terceira fase é marcada por uma abordagem
cam-se: mais técnica e metodológica, em detrimento da subjetividade e da
grafotécnica (exame da escrita manual) parcialidade, as principais bases dos períodos anteriores (BORGES,
exame de moedas metálicas e de papel-moeda 2018). Nesse período, as faculdades naturais se associam a técnicas
exame da autenticidade dos selos de investigação embasadas nas experiências fotográficas e químicas
análise de tintas, entre escrita mecânica e à mão mecanografia e na observação racional, etc. Assim, de 1908, quando o espanhol
(análise da escrita mecânica) Constâncio Bernaldo de Quiroz estabeleceu os três períodos da
averiguação dos padrões de alinhamento e de formatação, constituição e desenvolvimento da Polícia Científica, vigora a since-
bem como das fontes aplicadas no documento e sobreposição de ridade técnico-científica.
fotos, entre outros parâmetros
Conceito de documento e seu aspecto jurídico (artigos 231 ao
Origem etimológica e sua filiação científica 238 do Código de Processo Penal)
Etimologia: o termo documentoscopia é derivado de docu- Definição de documento: em suma, documento é todo instru-
ments, vocábulo latino, e de skopein, do grego. O primeiro dos mento que reproduza manifestação de pensamento ou vontade. Em
termos suporte de escritos, impressões ou gravações, e o segundo pormenores, entende-se por documento todo registro de um fato
significa observar. Assim, etimologicamente, define-se a documen- ou conhecimento, o que inclui impressões gráficas em geral, assi-
toscopia como análise de documentos. naturas e escritas, papéis, marcas, mídias de todos os tipos, áudios,
Filiação Científica: como supracitado, a documentoscopia é vídeos, imagens, fotografias, entre outros. Com o desenvolvimento
uma ciência forense, uma subdisciplina da Criminologia. das tecnologias, hoje em dia é possível que o termo documento
seja aplicado, inclusive, no propósito de reconhecer o qualquer tra-
Histórico com três ciclos: empirismo romântico, empirismo balho elaborado em processador textual e salvo em arquivo eletrô-
científico e sinceridade técnico-científica nico (MEDEIROS, 2020)3.

Empirismo romântico: na Antiguidade, as perícias eram reali- Aspecto jurídico do documento (Código de Processo Penal)
zadas com a finalidade de identificar fraudes em documentos ou Art. 231. do CPP - trata da importância do documento como
mesmo o autor de uma escrita. Essa fase ficou conhecida com em- prova documental: ”Salvo os casos expressos em lei, as partes po-
pirismo romântico, pois autoridades e peritos valiam-se dos modos derão apresentar documentos em qualquer fase do processo.”
intuitivo e primitivo, inclusive de crenças e fantasias, para revelar Art. 232 do CPP -trata da abrangência do documento, do que
indícios de falsificação. (BORGES, 2018)2. Essa falta de base cientí- pode ser considerado documento: “Consideram-se documentos
fica levou a uma sucessão de erros jurídicos, causando amplas sus- quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particula-
peitas em relação às provas demostradas, e, consequentemente, res. Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente au-
resultando no caso que ficou conhecido como a tragédia de Drey- tenticada, se dará o mesmo valor do original.”
fus, a fraude que revoltou os franceses. Predominava o equívoco, Art. 233 do CPP - trata das Cartas particulares, prevendo a in-
quando as autoridades de polícia eram convocadas em meio aos violabilidade da correspondência e das comunicações telegráficas
próprios infratores pois estes eram conhecedores dos malfeitores e telefônicas: “As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
e de suas obras. Assim, a perícia de documentos, ou perícia gráfi- meios criminosos, não serão admitidas em juízo. Parágrafo único.
ca, como também era chamado esse processo de identificação de As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatá-
falsidade nos documentos, sofreu grande declínio, passando a não rio, para a defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento
gozar de credibilidade diante da sociedade. O empirismo romântico do signatário.”
durou, portanto, desde a Antiguidade, até o final do século XIX.

2 BORGES, Verônica Gila de Amorim. Autenticidade de docu-


mentos arquivísticos. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 3 MEDEIROS, Flavio Meirelles. Código de Processo Penal Co-
2018. Disponível em <http://www.ccsa.ufpb.br/>. Acesso em 16 mentado. Disponível em:<laviomeirellesmedeiros.com.br:> Acesso
Mai 2021. em 16 Mai 2021.

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NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Art. 234 do CPP - trata da atuação do juiz de ofício limitada e - Esta lei afirma que o cérebro do ser humano é criador do ges-
também da busca domiciliar do documento: “Se o juiz tiver notícia to gráfico, onde ocorre a formação da imagem das letras e outros
da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação símbolos da escrita. Assim, uma vez que os músculos estejam ade-
ou da defesa, providenciará, independentemente de requerimento quados à função, a produção escrita ocorrerá sempre com as mes-
de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível.” mas e exatas características.
Art. 235 do CPP - trata do exame grafotécnico e da autentici-
dade e perícia: “A letra e firma dos documentos particulares serão 2a Lei do grafismo: “Quando se escreve, o “eu” está em ação,
submetidas a exame pericial, quando contestada a sua autentici- mas o sentimento quase inconsciente de que o “eu” age passa por
dade.” alternativas contínuas de intensidade e de enfraquecimento. Ele
Art. 236 do CPP - trata da tradução dos documentos: ”Os do- está no seu máximo de intensidade onde existe um esforço a fazer,
cumentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada ime- isto é, nos inícios, e no seu mínimo de intensidade onde o movi-
diata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na mento escritural é secundado pelo impulso adquirido, isto é, nas
falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.” extremidades”.
Art. 237 do CPP - trata da cópia autenticada do documento (pú- - Essa Lei se aplica nos contextos de anonimografia, no qual
blicas-formas): ”As públicas-formas só terão valor quando conferi- os primeiros empenhos de disfarces são muito mais enfatizados,
das com o original, em presença da autoridade. porém, porém, perdem a intensidade conforme a escrita vai se de-
Art. 238 do CPP - trata da devolução dos documentos: ”Os do- senvolvendo; autor vai aproximando-se, cada vez mais, da caligrafia
cumentos originais, juntos a processo findo, quando não exista mo- natural, permitindo que a evidenciarão de elementos que possam
tivo relevante que justifique a sua conservação nos autos, poderão, denunciá-lo.
mediante requerimento, e ouvido o Ministério Público, ser entre-
gues à parte que os produziu, ficando traslado nos autos.” 3a Lei do grafismo: “Não se pode modificar voluntariamente
em um dado momento sua escrita natural senão introduzindo no
Nomenclatura técnica dos documentos seu traçado a própria marca do esforço que foi feito para obter a
modificação”.
Mandados - Essa lei, geralmente, é aplicável nos contextos de autofalsi-
Certidões ficação, porém, pode ser aplicada em outros casos de simulação.
Alvarás
Autos 4a Lei do grafismo: “O escritor que age em circunstâncias em
Cartas que o ato de escrever é particularmente difícil, traça instintivamen-
Despachos te ou as formas de letras que lhe são mais costumeiras, ou as for-
Ofícios mas de letras mais simples, de um esquema fácil de ser construído”.
Sentenças Essa lei se aplica para casos em que escrever se torna árduo,
Formais como escritas geradas em situações e posições, como em suportes
Ajuizamentos inapropriados, em veículos em movimento, por indivíduos enfer-
Editais mos, etc. Nesses casos, predominará a lei do mínimo esforço, o que
resultará em letras de forma, esquemas pouco habituais, abrevia-
ções e simplificações.
Sinonímia
Conceito: sinonímia é a relação que se constitui entre as pala-
vras cujos significados se assemelham. É importante ressaltar que NOÇÕES DE IDENTIFICAÇÃO VEICULAR
se trata, apenas, de conformidade, afinidade de sentido, não equi-
valência. Aos termos que apresentam sentidos semelhantes deno-
minam-se sinônimos. Para realização deste trabalho, foram efetuadas pesquisas jun-
A sinonímia documental: para a documentoscopia, a observân- to às seguintes instituições:
cia da sinonímia é importante para se realizar o controle do voca-
bulário presente no documento. A sinonímia também é importante a) DIVECAR - Divisão de investigação sobre furto e roubos de
nos planos classificação e nos documentos examinados, como o veículos e cargas do Departamento de Investigações sobre o Crime
emprego de tipos documentais diferentes para integrar uma mes- organizado (DEIC) da Polícia Civil do Estado de São Paulo – atua de
ma espécie tipo documental. forma especializada no combate ao crime organizado envolvendo
furto e roubo de veículos e cargas no estado de São Paulo. É a maior
Princípios fundamentais e leis do grafismo equipe especializada neste setor do País, possuindo, em 2009, cerca
de 180 policiais;
Princípio que rege as quatro Leis do grafismo: ”a escrita é indivi- b) Setor de Identificação Veicular do Núcleo de Crimes contra
dual e inconfundível, e suas leis independem d4o alfabeto utilizado o Patrimônio doInstituto de Criminalística de São Paulo da Supe-
para a sua produção” (CAMPERLINGO, 2018).6 rintendência de PolíciaTécnico-Científica do Estado de São Paulo –
1a Lei do grafismo: “O gesto gráfico está sob a influência ime- atua de forma especializada noexame de veículos com o objetivo
diata do cérebro. Sua forma não é modificada pelo órgão escritor se de determinar a existência de adulteraçõese identificação das gra-
este funciona normalmente e se encontra suficientemente adapta- vações originais. Em virtude quantidade de ocorrênciascriminais,
do à sua função.” (conforme estatística oficial, no ano de 2008 o Instituto deCrimina-
lística de São Paulo realizou 11980 exames de identificação veicular)
é o Setor mais atuante no País neste tipo de trabalho.
c) REPLACE – gerência especializada na recuperação de veícu-
4 6 CAMPERLINGO, Luciana. Perícia grafotécnica - a escrita
los da Companhia de Seguro Porto Seguro.
pode revelar seus sentimentos. Conserto Consultoria, 2018. Dispo-
nível em: <https://www.migalhas.com.br>. Acesso em 19 Mai 2021.

6
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
“MODI OPERANDI” SOBRE FURTO E ROUBO DE VEÍCULOS A primeira constitui na verificação da originalidade do “espe-
lho”. Denomina-se“espelho” o documento impresso com os cam-
Conforme pesquisa efetuada junto aos órgãos oficiais especia- pos estruturados a serem preenchidoscom os dados do veículo e do
lizados na área,existe um equilíbrio entre a ocorrência de furtos e proprietário. O Ministério das Cidades providencia aimpressão des-
roubos de veículos. Pelascaracterísticas técnicas, os veículos mais ses espelhos e distribui para os diversos Estados da União confor-
antigos, ou seja, com mais de dez anos deexistência, são mais furta- mea necessidade. Cada Estado é responsável pela custódia e preen-
dos, e, os veículos quanto mais novos, mais roubados. chimento destesespelhos. O espelho onde são impressos os dados
Para um melhor esclarecimento, no furto o veículo é subtraído relativos ao veículo apresentadiversos dispositivos de segurança,
sem o emprego de violência ou grave ameaça contra a pessoa, e, no destacando-se a impressão por calcografia,imagem latente, fundo
roubo, existe tal violência ou ameaça com impressão off-set, filigrana, fundo invisível, microtexto,papel
Outro aspecto importante envolvendo furto e roubo de veícu- de segurança e número identificador. Trata-se de uma peça com
los é a finalidade da ocorrência deste delito. De acordo com Cacca- elevado níveltécnico de confecção e de segurança, necessitando do
vali (2006), temos três finalidades distintas: examinador um treinamentoespecífico e o uso de equipamentos
a) ser utilizado para a realização de outros delitos e abando- adequados para verificação de suaautenticidade. Em operações de
nado posteriormente, sendo devolvido ao verdadeiro proprietário fiscalização de campo, dificilmente o agente terácondições e tempo
após sua localização, sem alteração dos respectivos pontos de iden- de realizar o exame utilizando todos os recursos necessários, fo-
tificação; cando sua verificação em vestígios de adulteração mais evidentes,
b) ser comercializado com outra identificação após a adultera- como rasurasna identificação do número do espelho e do Estado
ção dos respectivos pontos de identificação; emissor e a ausência decalcografia e imagem latente.
c) ser desmontado para comercialização de suas peças com a A segunda verifica a autenticidade dos dados inseridos no do-
destruição dos respectivos pontos de identificação. cumento. Com aimplantação do sistema RENAVAM, pode-se verifi-
Em virtude das circunstâncias que envolvem estes delitos, no- car a autenticidade dos dadosexistentes no documento do veículo
tadamente ofato de uma parcela significativa dos veículos furtados apresentado quando da atuação fiscalizadora.Dentre os diversos
ou roubados não serlocalizada, não se pode obter uma previsão dados cadastrais existentes nesse documento, as principaisinfor-
confiável que determine a quantidade deveículos produto de furto/ mações a serem confrontadas pelo agente fiscalizador, tendo como
roubo que são utilizados em cada uma das finalidadesmenciona- base depesquisa a placa de identificação, são as características do
das, contudo, conforme pesquisa efetuada em diversos sítios ele- veículo, seu número deidentificação (VIN), a data de impressão do
trônicos4acredita-se que a maioria destes veículos são ilicitamente documento e o número de identificaçãodo espelho. Em alguns Esta-
enviados a “desmanches”para sua desmontagem e comercialização dos da União, o respectivo DETRAN insere nodocumento a respecti-
de seus componentes va identificação do motor do veículo.
A finalidade descrita na alínea “a”, ou seja, o roubo ou furto do Finalmente, na terceira etapa temos a verificação da autenti-
veículo parasua utilização em outro delito e depois abandoná-lo, cidade da formade preenchimento do documento. A maioria dos
depende, notadamente, darealização de um policiamento preven- DETRANs do Brasil preenche osdocumentos dos veículos por meio
tivo mais efetivo, contudo, algumas dasmedidas que serão propos- de sistema automatizado, deixando nestaimpressão características
tas para as finalidades “b” e “c” também surtirão efeitopara esta que permitem o seu rastreamento. Com treinamentoespecífico, o
circunstância. agente fiscalizador pode determinar se o documento examinado
A finalidade descrita na alínea “b”, ou seja, o roubo ou furto do atendeàs características de impressão do respectivo DETRAN.
veículo parasua comercialização após a adulteração de seus pontos Existem diversas maneiras de se adulterar um documento de
de identificação, em virtudeda realidade brasileira, será estudado veículo,contudo, em virtude da qualidade técnica de sua impressão,
baseando-se na legislação nacional vigente ena experiência dos a mais comum é aobtenção de um “espelho” original (furtado ou
profissionais das áreas envolvidas no tema, notadamente,compa- extraviado do DETRAN) epreenchimento com os dados do veículo
nhias de seguro e polícias estaduais. ilícito. A realização das etapas do exameacima descritas, quando
A finalidade descrita na alínea “c”, ou seja, o roubo ou furto do efetuadas por um profissional qualificado, permite aapreensão de
veículo paraposterior desmontagem com remoção dos seus pontos documentos de origem criminosa.
de identificação ecomercialização de seus componentes, será estu-
dado com base na realidadenacional e pela experiência vivida por TIPOS DE ADULTERAÇÕES DOS PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO
outros países, notadamente, a Argentina emembros da Comunida- DOS VEÍCULOS
de Européia, que adotaram uma série de medidas que forammen-
suradas, apresentando dados estatísticos que possibilitam avaliar a De acordo com Caccavali (2006), ao longo dos anos, diversos
eficiênciade sua aplicação. sistemas foram aplicados na adulteração dos caracteres identifica-
dores de veículos automotores, tendo-se atribuído designação aos
ADULTERAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO DO VEÍCULO processos de adulteração, da forma como segue:
a) AUSÊNCIA DA NUMERAÇÃO DE CHASSI – neste processo a
Para que um veículo objeto de furto ou roubo possa adquirir numeração dochassi é removida por meio de uso de instrumento
condições de sercomercializado novamente, além das alterações atuante a guisa de abrasivo, de percussão ou de corte, com o obje-
que devem ser efetuadas nos seusrespectivos pontos de identifica- tivo de dificultar a identificaçãodo veículo.
ção, este veículo precisa apresentar documentaçãocorrespondente b) REGRAVAÇÃO – consiste na remoção parcial ou total da nu-
à nova identificação que recebeu após a adulteração. Dessa forma,o meração de identificação do veículo, normalmente por meio do uso
exame da documentação do veículo é de extrema importância e é de instrumento abrasivo, para posterior gravação de outra nume-
prática rotineirados agentes fiscalizadores. ração.
Quanto ao exame da autenticidade dos documentos do veículo
(CRLV e CRV), podemos dividi-lo em três etapas:

7
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
c) ADULTERAÇÃO SIMPLES – é aquela em que um ou mais ca- REGRAVAÇÃO
racteres sofre a alteração em sua configuração inicial por meio de
rebatimento por sobreposição, dando origem a leitura de outro. É Podem ser considerados como regravação os tipos de adulte-
o caso da alteração do caractere “3” para “8”, “5” para “6”, “F” para ração descritoscomo REGRAVAÇÃO, ADULTERAÇÃO SIMPLES, RE-
“E”, “P” para “R” e outros. COBRIMENTO DA PEÇASUPORTE, COLOCAÇÃO DE CHAPA METÁLI-
d) RECOBRIMENTO DA PEÇA SUPORTE – é o recobrimento par- CA SOBRE A SUPERFÍCIE DAGRAVAÇÃO ORIGINAL e OCULTAÇÃO DA
cial ou total da numeração de identificação do chassi por meio do NUMERAÇÃO ORIGINAL EREGRAVAÇÃO PRÓXIMA AO LOCAL. Como
uso de massa plástica, estanho, etc., para posterior gravação de ou- foi mencionado anteriormente, oadulterador possui um veículo
tra numeração. produto de furto/roubo e deseja obter vantagemeconômica com a
e) COLOCAÇÃO DE CHAPA METÁLICA SOBRE A SUPERFÍCIE DA comercialização deste veículo. Obviamente, não irá comercializálo
GRAVAÇÃO ORIGINAL – consiste no recobrimento parcial ou total com suas identificações originais, pois seria facilmente encontrado
da numeração de identificação do chassi por meio de chapa metáli- pelos órgãosfiscalizadores do Governo. Dessa forma, ele tomará
ca (utilizando solda ou material adesivo) onde será efetuada a nova providências com o objetivo demodificar os pontos de identificação
gravação de identificação do veículo. desse veículo, transformando-o em outro quenão apresenta queixa
f) SUBSTITUIÇÃO DA PEÇA SUPORTE – neste processo ocorre a de furto/roubo. Em virtude do Sistema RENAVAM, o adulterador
substituição parcial ou total da região onde se encontra gravada a não consegue criar um novo número de identificação para este ve-
numeração de identificação do chassi. Também conhecida no meio ículoque possui, sendo obrigado a utilizar um número já existente
policial como “transplante” ou “implante”. no sistema, originandoo que popularmente se denomina de “veí-
g) OCULTAÇÃO DA NUMERAÇÃO ORIGINAL E REGRAVAÇÃO culo dublê”. Dependendo do conhecimentoespecífico na área, do
PRÓXIMA AO LOCAL – consiste na remoção da numeração original acesso às informações do veículo original e dos recursostécnicos
do chassi e regravação em local próximo. Este processo também é disponíveis, o adulterador irá modificar uma determinada quanti-
utilizado nos casos em que o local da gravação da numeração de dade depontos de identificação do veículo produto de furto/roubo.
identificação do chassi sofreu alteração pela montadora. Destarte, teremos veículosadulterados com diversos níveis de qua-
h) REMONTAGEM – é o aproveitamento de uma das partes do lidade técnica, desde os mais simples, sendofacilmente apreendi-
veículo, dianteira ou traseira, onde se encontra a gravação do chassi dos em vistorias, até os mais bem elaborados, necessitando deexa-
para ser remontada em veículo produto de furto ou roubo. me específico elaborado por profissionais experientes para serem
Não obstante a detalhada divisão acima descrita e tomando- apreendidos.A seguir está descrito os procedimentos mais comuns
-se por base asrespostas obtidas pelos Peritos Criminais do Insti- de adulterações efetuadosnos pontos de identificação dos veículos
tuto de Criminalística de São Paulo,que no ano de 2008 realizaram previstos na legislação brasileiraconsiderando-se o tipo de adulte-
aproximadamente 12.000 exames perícias deIdentificação Veicular, ração da regravação:
na essência, notadamente após a criação do sistema RENAVAM, a) placas de identificação – não é raro encontrar em um veículo
podem-se dividir os tipos de adulterações ocorridas nos veículos ilícito(adulterado ou produto de furto/roubo) um par de placas de
em trêsgrandes ramos, ou seja, a regravação, na qual o adulterador identificaçãooriginal, ou seja, a identificação da placa corresponde
modifica todos ospontos de identificação de um veículo produto de ao veículo original e foiproduzido dentro dos critérios previstos na
furto/roubo, transformando-o emum “dublê” de um veículo exis- legislação de sua época defabricação, inclusive sua lacração, acarre-
tente e em condições normais de circulação, otransplante ou im- tando a existência de dois pares deplaca de identificação originais
plante, ou seja, o adulterador possui um veículo legalizado que,por com a mesma série alfanumérica, uminstalado no veículo original e
algum motivo apresenta baixo valor comercial (acidente de trânsi- o outro no veículo ilícito. Esta circunstânciaesta diretamente rela-
to, porexemplo), e retira deste veículo todos seus pontos de identi- cionada com o fato de que, na maioria dos Estados daUnião, o ser-
ficação, implantando emoutro veículo produto de furto/roubo e a viço de confecção das placas e de lacração é terceirizado, sendoape-
ausência da numeração do chassi, ondenão se deseja modificar as nas fiscalizado pelo Governo. No caso do adulterador não conseguir
identificações do veículo para futura comercialização,promovendo, umpar de placas com as características originais de fabricação e de
apenas, a destruição dos seus pontos de identificação com o objeti- lacração, eleserá obrigado a modificar os dispositivos de segurança
vode dificultar a obtenção de sua identificação original. deste ponto deidentificação, ou seja, o “lacre” e o respectivo arame
Seguramente, a qualidade técnica da adulteração efetuada e as características defabricação da placa previstas na legislação.
pelo processo detransplante ou implante é melhor, e, a par do fato Estas alterações normalmentesão perceptíveis na realização de um
da documentação ser original, umavez que o veículo que serviu exame mais detalhado, contudo, com oveículo em movimento não
para remoção dos pontos de identificação existelegalmente, alguns são facilmente notadas. Em virtude da existênciade diversos pa-
dos pontos de identificação existentes no veículo adulteradoreal- drões de lacração nos Estados da União, da falta dedisponibilização
mente são originais, pois, tiveram origem do veículo com baixo va- destes padrões em sistema e do fácil acesso dosadulteradores aos
lor comercial. critérios originais de emplacamento, este ponto deidentificação dos
Ainda de acordo com as informações obtidas junto aos Peritos veículos não apresenta um bom nível de segurança.
Criminais domencionado Instituto de Criminalística, foi efetuado b) número de identificação veicular (VIN) – conforme previsto
um detalhamento dosprocedimentos para cada um dos tipos de na Resolução 024/98 do CONTRAN:
adulterações. a gravação do número de identificação veicular (VIN) no chassi
oumonobloco, deverá ser feita, no mínimo, em um ponto de loca-
lização,de acordo com as especificações vigentes e formatos esta-
belecidospela NBR 3 nº 6066 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas –ABNT, em profundidade mínima de 0,2 mm.

8
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Na regravação, o adulterador desbasta a gravação do número e) número de identificação do motor – as Resoluções 199/2006,
deidentificação veicular original ou utiliza algum dos outros proces- 250/2007 e282/2008 do CONTRAN tratam especificamente da gra-
sosmencionados e efetua gravação de outro número de identifica- vação de identificaçãodos motores que equipam os veículos aqui
ção veicular.Esta circunstância pode ser verificada pelo exame do no Brasil. Não obstante o fato deter ocorrido uma evolução no
revestimento de pinturaque recobre a região da gravação do nú- combate a ocorrência de delitos envolvendoeste conjunto com a
mero de identificação do veículoutilizando-se solvente adequado, edição dessas resoluções, ainda assim estamosdistantes de uma
uma vez que a pintura original do fabricantenão sofre a ação deste circunstância segura aos consumidores. As montadorasnacionais
solvente, pela verificação do verso da chapa onde seencontra a gra- não realizam esforço algum para tornar a identificação dos moto-
vação, buscando vestígios de rebatimento, pela análise doprocesso resdos veículos mais segura, nem ao menos a criação de um padrão
de confecção da gravação (cunhagem, ponto a ponto, ponto sobre- deidentificação e cadastramento na BIN (Base de Índice Nacional)
ponto e a laser) e pela configuração dos respectivos caracteres e normatizado.Esta é a única base de dados disponível para pesquisa
aindacorroborada pelo ataque químico (exame metalográfico) na dos órgãosfiscalizadores. Em um veículo adulterado por regravação,
respectivasuperfície de gravação, objetivando a revelação de carac- ou o motor será original, sendo verificada pela pesquisa a BIN em
teres latentes. uma operação defiscalização, ou será regravado, sendo necessária
c) número seqüencial de produção (VIS) gravado nos vidros do a realização de examesespecíficos nos Institutos de Criminalística
veículo – conforme previsto na Resolução 024/98 do CONTRAN: para verificação destacircunstância.
além da gravação no chassi ou monobloco, os veículos serãoi-
dentificados, no mínimo, com os caracteres VIS (número seqüen- IMPLANTE OU TRANSPLANTE
cialde produção) previsto na NBR 3 nº 6066, podendo ser, a critério
dofabricante, por gravação, na profundidade mínina de 0,2 mm, Podem ser considerados como implante ou transplante os tipos
quandoem chapas ou plaqueta colada, soldada ou rebitada, des- deadulteração descritos como SUBSTITUIÇÃO DA PEÇA SUPORTE
trutívelquando de sua remoção, ou ainda por etiqueta autocolante eREMONTAGEM. Como foi mencionado anteriormente, o adultera-
e tambémdestrutível no caso de tentativa de sua remoção, nos se- dor possui umveículo lícito que perdeu o valor comercial (compra-
guintescompartimentos e componentes: do de leilão ou sinistrado e semseguro) e deseja recuperar o valor
I – na coluna da porta dianteira lateral direita. de comercialização desse veículo. Obviamente,não irá consertar ou
II – no compartimento do motor. reformar esse veículo, pois esta opção não apresenta vantagemeco-
III – em um dos pára-brisas e em um dos vidros traseiros, quan- nômica alguma. Dessa forma, ele tomará providências com o obje-
do existentes. tivo conseguirum veículo semelhante, proveniente de furto/roubo
IV – em pelo menos dois vidros de cada lado do veículo, quan- e irá modificar os pontos deidentificação desse veículo, transfor-
do existentes, excetuados os quebra-ventos. mando-o no veículo lícito que possui. O veículolícito que perdeu o
Para atender o previsto quanto à existência do número seqüen- valor comercial encontra-se inserido no Sistema RENAVAM epossui
cial deprodução nos vidros do veículo, as montadoras optaram por a respectiva documentação original e emitida pelo DETRAN. Depen-
gravaçãoefetuada por meio de processo químico (ácido fluorídrico) dendo doconhecimento específico na área e dos recursos técnicos
na parte externados vidros. Este processo permite aos adulterado- disponíveis, o adulteradorirá modificar uma determinada quanti-
res a remoção do respectivonúmero por meio da ação de instru- dade de pontos de identificação do veículoproduto de furto/roubo
mento atuante a guisa de abrasivo e aregravação de outro número para transformá-lo no veículo lícito, contudo, sua atividadefica mais
seqüencial. Se o mencionado processo de desbaste e regravação facilitada, uma vez que ele possui as informações originais e alguns
for efetuado com equipamento específico, o agentefiscalizador ou dospontos de identificação do veículo lícito. Mesmo assim, teremos
perito não possui condições técnicas de verificar a ocorrênciadesta veículos adulteradoscom diversos níveis de qualidade técnica, des-
circunstância. de os mais simples, sendo facilmenteapreendidos em vistorias, até
os mais bem elaborados, necessitando de exameespecífico elabo-
d) número seqüencial de produção (VIS) gravado nas etiquetas rado por profissionais experientes para serem apreendidos. Ospro-
de identificação– as etiquetas de identificação utilizadas pelas mon- cedimentos mais comuns de adulterações efetuados nos pontos de
tadoras nacionais etambém pelas empresas importadoras de veícu- identificaçãodos veículos previstos na legislação brasileira conside-
los aqui no Brasil, sãoproduzidas pela 3M do Brasil e recebem a gra- rando-se o tipo de adulteraçãodo implante:
vação do número VIS quandoda produção do veículo na montadora
ou importadora. Estas etiquetasmedem 5,5 x 1,5 cm e apresentam a) placas de identificação – conforme descrito na adulteração
um elevado nível de segurança, sendo talcircunstância motivada por regravação,não é raro encontrar em um veículo ilícito (adulte-
pelo fato de exibirem elementos de identificaçãolatentes, visíveis rado ou produto defurto/roubo) um par de placas de identificação
somente com a utilização de equipamento específicodenominado original, ou seja, a identificaçãoda placa corresponde ao veículo
CONFIRM (verificador de laminado de segurança), e pelo fato de- original e foi produzida dentro dos critérios previstos na legislação
serem destrutíveis quando da tentativa de remoção. As alterações de sua época de fabricação, inclusive sua lacração.Na adulteração
produzidasnessas etiquetas, quando da adulteração de um veículo por implante esta circunstância é ainda mais comum, uma vezque
por regravação, sãopassíveis de verificação no exame realizado com o adulterador possui o veículo lícito e sua documentação, possibili-
a utilização do mencionadoequipamento, contudo, pelas informa- tando,desta forma, a utilização de placas de identificação e lacração
ções coletadas no Setor de IdentificaçãoVeicular do Instituto de Cri- dentro dospadrões utilizados pelo DETRAN no veículo proveniente
minalística de São Paulo, evidenciou-se o fato deexistir um elevado de furto/roubo já comseus pontos de identificação originais adul-
número de veículos adulterados contendo as respectivasetiquetas terados.
de identificação originais (apresentando o número VIS do veículoa- b) número de identificação veicular (VIN) – conforme previsto
dulterado). Pela legislação vigente, estas etiquetas de identificação na Resolução 024/98 do CONTRAN:
podemser reemitidas pelas montadoras. Essa possibilidade de nova
emissão sem acriação de dispositivo de controle pelo Governo fa-
cilita o fato de veículosadulterados possuírem etiquetas “originais”.

9
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
A gravação do número de identificação veicular (VIN) no chassi No intento de se determinar os principais aspectos operacio-
oumonobloco, deverá ser feita, no mínimo, em um ponto de loca- nais da atividadevoltada a fiscalizar a existência de adulterações em
lização,de acordo com as especificações vigentes e formatos esta- veículos, foi solicitado a 92 policiais em serviço nestas delegacias es-
belecidospela NBR 3 nº 6066 da Associação Brasileira de Normas pecializadas da DIVECAR, querespondessem ao questionário cons-
Técnicas –ABNT, em profundidade mínima de 0,2 mm. tante no APÊNDICE A deste trabalho, com asseguintes indagações:

No implante, o adulterador, normalmente, “recorta” a região a) Do sistema atual de identificação de veículos, no seu enten-
da gravação donúmero de identificação veicular original, existente der, quais são os pontos positivos?
no veículo lícito, eimplanta, por meio de cordões de soldadura e b) Do sistema atual de identificação de veículos, no seu enten-
acabamento de funilaria, noveículo produto de furto/roubo, que, der, quais são os pontos negativos?
previamente, teve a mesma regiãoremovida. Para constatação da c) Para facilitar e melhorar seu desempenho como policial da
ocorrência desta circunstância, o agentefiscalizador deve ter experi- DIVECAR, o que você modificaria no atual sistema de identificação
ência na área e equipamentos específicos pararealização do exame. de veículos?
c) número seqüencial de produção (VIS) gravado nos vidros do Após detida análise das respostas elaboradas pelos policiais
veículo – o adulterador irá utilizar os mesmos processos de modifi- acima mencionados, constatou-se que:
cação mencionados na adulteração por regravação. a) Referente à indagação descrita no item “a”, os pontos posi-
d) número seqüencial de produção (VIS) gravado nas etiquetas tivos do sistema de identificação atual de veículos que facilitam a
de identificação – como mencionado no item anterior, o adultera- atividade profissional de fiscalização são:
dor irá utilizar os mesmos processos de modificação mencionados - a utilização da identificação do veículo baseada na norma
na adulteração por regravação. ABNT NBR3 6066 (VIN);
e) número de identificação do motor – prevalece o descrito - a quantidade de pontos de identificação existentes nos veí-
na adulteração por regravação, contudo, em virtude do adultera- culos;
dor possuir o veículo lícito, existe a possibilidade da remoção do - a facilidade de pesquisa na BIN (Base de Identidade Nacional).
motor deste veículo lícito e a instalação deste conjunto no veículo b) Referente à indagação descrita no item “b”, os pontos nega-
produto de furto/roubo, quando da sua adulteração. Destarte, em tivos do sistema de identificação atual de veículos que prejudicam a
um veículo adulterado por implante, ou o motor será original, não atividade profissional de fiscalização são:
apresentando incoerência alguma com os dados existentes no Sis- - a dificuldade de localização de alguns pontos de identificação
tema RENAVAM, ou será regravado, sendo necessária a realização dos veículos, notadamente, a gravação de identificação do motor;
de exames específicos nos Institutos de Criminalística para verifica- - a facilidade que os adulteradores encontram para modificar
ção desta circunstância. alguns dos pontos de identificação dos veículos;
- a inexistência de padronização das montadoras para gravação
AUSÊNCIA DA NUMERAÇÃO DO CHASSI e cadastramento da identificação do motor dos veículos.
c) Referente à indagação descrita no item “c”, as principais mo-
Neste tipo de adulteração, não se deseja a obtenção de van- dificações que os policiais efetuariam no atual sistema de identifi-
tagemeconômica com a comercialização do veículo adulterado, cação de veículos são:
sendo que o principalobjetivo é a utilização do veículo, produto de - criação de novos pontos de identificação nos veículos, ou seja,
furto ou roubo, como meio detransporte. Dessa maneira, para não aumentar a quantidade de pontos de identificação, notadamente,
deixar vestígios que permitam a identificaçãodo veículo e, conse- na respectiva parte estrutural do veículo;
qüentemente, a caracterização da ocorrência do crime de furtoou - criação de identificações eletrônicas que permitam leitura por
roubo, o adulterador preocupa-se, tão-somente, em destruir os meio de equipamento de fácil utilização;
pontos deidentificação do veículo. Dê acordo com a jurisprudência, - maior facilidade de obter informações das montadoras.
o crime de destruição desinal identificador do veículo (artigo 311
do Código Penal) apresenta caracterizaçãomais complexa, enquan- PESQUISA FEITA JUNTO A PERITOS CRIMINAIS
to o de receptação (artigo 180 do mesmo código) é mais fácilde ser
caracterizado. A destruição dos sinais identificadores do veículo por Conforme estatística oficial do Instituto de Criminalística do
serefetuada por meio de instrumento atuante a guisa de abrasivo Estado de SãoPaulo, no ano de 2008, foram realizados 11980 exa-
(desbaste dasuperfície), de percussão (obliteração dos caracteres mes de Identificação Veicular.Tais exames têm como principal ob-
de identificação) ou de corte(remoção da identificação), sendo esse jetivo inferir sobre a autenticidade dos pontos deidentificação dos
tipo de adulteração extremamente comumde ocorrer com motoci- veículos e, no caso de adulteração, determinar suas identificaçõe-
cletas. soriginais. Nos setores com maior demanda, o exame é realizado
por equipeespecializada, sendo o Perito Criminal responsável pela
ATIVIDADE POLICIAL DE FISCALIZAÇÃO DE VEÍCULO atividade. No intento de sedeterminar os principais aspectos opera-
cionais envolvendo a atividade pericialvoltada a determinar a exis-
PESQUISA FEITA JUNTO A POLICIAIS CIVIS tência de adulterações em veículos, foi efetuada consultaa diversos
peritos especializados na atividade de identificação veicular, con-
Na Polícia Civil do Estado de São Paulo, a atividade envolvendo cluindose que as principais dificuldades são:
o combateao crime de furto e roubo de veículos possui uma Divi-
são Especializada noDepartamento de Investigações sobre o Crime a) Pouca quantidade de pontos de identificação que permitam
Organizado (DEIC) denominadaDIVECAR. Esta Divisão é composta a revelação da gravação original de identificação dos veículos;
por 04 (quatro) Delegacias Especializadas,apresentando um efetivo b) dificuldade de localização de alguns pontos de identificação
de aproximadamente 180 policiais (efetivo em novembrode 2009). dos veículos, notadamente, o motor;
c) possibilidade de modificação de alguns pontos de identifica-
ção dos veículos com qualidade técnica satisfatória, dificultando a
verificação;

10
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
d) falta de equipamentos específicos que permitam, com maior Da análise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR
facilidade, a revelação das gravações originais de identificação dos ao item a do questionário, ou seja, “Do sistema atual de identifi-
veículos no caso de adulteração; cação de veículos, no seu entender, quais são os pontos positivos”,
e) dificuldade no acesso de informações junto às montadoras. destaca-se:
a) Do primeiro ponto positivo, “a utilização da identificação do
No contexto policial, o Perito Criminal atua somente median- veículo baseada na norma ABNT NBR3 6066 (VIN)”, obtém-se a fun-
te requisição, ouseja, ele não participa da atividade de fiscalização, ção “PADRONIZAR IDENTIFICAÇÃO”.
atuando após a suspeita eapreensão de um veículo. A importância b) Do segundo ponto positivo, “a quantidade de pontos de
da determinação das principais dificuldadesencontradas por este identificação existentes nos veículos”, obtém-se a função “DIVERSI-
profissional se deve ao fato de que a verificação daautenticidade FICAR PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO”.
dos pontos de identificação de um veículo, bem como, no caso c) Do terceiro ponto positivo, “a facilidade de pesquisa na BIN
deveículo adulterado, a obtenção das identificações originais, são (Base de Identidade Nacional)”, obtém-se a função “FACILITAR
exclusivas de sua atividade. Desta maneira, sua atuação visa, de ACESSO A INFORMAÇÃO”.
maneira mais geral, a recuperaçãode um veículo produto de furto/
roubo e a devolução desse veículo ao seuproprietário original. Da análise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR ao
item b do questionário, ou seja, “Do sistema atual de identificação
DETERMINAÇÕES DAS FUNÇÕES VOLTADAS A IDENTIFICAÇÃO de veículos, no seu entender, quais são os pontos negativos”, des-
VEICULAR NO BRASIL taca-se:
a) Do primeiro ponto negativo, “a dificuldade de localização de
Considerando-se como principal objetivo dos critérios de iden- alguns pontos de identificação dos veículos, notadamente, a gra-
tificação de umveículo o atendimento das necessidades do consu- vação de identificação do motor”, obtém-se a função “FACILITAR
midor, pode-se afirmar que a“segurança” que estes critérios trans- LOCALIZAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO”.
mitem ao veículo é fator muito importante, ouseja, a dificuldade b) Do segundo ponto negativo, “a facilidade que os adultera-
que este sistema consegue produzir para se furtar/roubar eadul- dores encontram para modificar alguns dos pontos de identificação
terar um veículo medirá a sua eficiência. Adotando-se esta linha dos veículos”, obtém-se a função “DIFICULTAR ADULTERAÇÃO PON-
de raciocínio econsiderando-se que a “violência” varia conforme TOS DE IDENTIFICAÇÃO”.
a região em que se está, érazoável admitir-se critérios de identifi- c) Do terceiro ponto negativo, “a inexistência de padronização
cação de veículos diferentes para as diversasregiões. Sabemos que das montadoras para gravação e cadastramento da identificação do
no mundo, no ano de 2008, o leste europeu viveu umarealidade motor dos veículos”, obtém-se a função “PADRONIZAR IDENTIFICA-
semelhante à do Brasil e muito diferente a de países como Japão ÇÃO”.
eEstados Unidos, isto se levando em consideração o delito de furto
e roubo deveículos. Destarte, o fato de se considerar o ponto de Da análise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR
vista da segurança paradeterminação das funções desejadas para ao item c do questionário, ou seja, “Para facilitar e melhorar seu
os critérios de identificação dos veículosé adequado para um país desempenho como policial da DIVECAR, o que você modificaria no
com uma realidade como a do Brasil. atual sistema de identificação de veículos”, destaca-se:
a) Da primeira modificação, “Criação de novos pontos de iden-
Para a determinação das funções desejadas, efetuou-se o estu- tificação nos veículos, ou seja, aumentar a quantidade de pontos
do separado de cada grupo de profissionais indagados. de identificação, notadamente, na respectiva parte estrutural do
Da análise das entrevistas efetuadas com os Peritos Criminais, veículo”, obtém-se a função “DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFI-
destaca-se: CAÇÃO”.
a) Do item a, “Pouca quantidade de pontos de identificação b) Da segunda modificação, “Criação de identificações eletrô-
que permitam a revelação da gravação original de identificação dos nicas que permitam leitura por meio de equipamento de fácil utili-
veículos”, obtém-se a função “DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFI- zação”, obtém-se a função “DIFICULTAR ADULTERAÇÃO PONTOS DE
CAÇÃO”. IDENTIFICAÇÃO”.
b) Do item b, “Dificuldade de localização de alguns pontos de c) Da terceira modificação, “maior facilidade de obter infor-
identificação dos veículos, notadamente, o motor”, obtém-se a fun- mações das montadoras”, obtém-se a função “FACILITAR ACESSO
ção “FACILITAR LOCALIZAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO”. A INFORMAÇÃO”.
c) Do item c, “Possibilidade de modificação de alguns pontos
de identificação dos veículos com qualidade técnica satisfatória, di- Confrontando-se as funções obtidas das fontes pesquisadas,
ficultando a verificação”, obtém-se a função “DIFICULTAR ADULTE- obtém-se que os critérios de identificação dos veículos adequados
RAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO”. para a realidade brasileira devem apresentar, além de individualizar
d) O item d, “Falta de equipamentos específicos que permitam, o veículo, as seguintes funções:
com maiorfacilidade, a revelação das gravações originais de identi- 1) DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO;
ficação dos veículosno caso de adulteração”, não está diretamente 2) FACILITAR LOCALIZAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO;
relacionado com o sistema deidentificação atual de veículos e sim 3) DIFICULTAR ADULTERAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO;
com a estrutura do Instituto deCriminalística, contudo, mesmo as- 4) PERMITIR REVELAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO;
sim, pode-se obter uma função deste item,ou seja, “PERMITIR RE- 5) FACILITAR ACESSO A INFORMAÇÃO;
VELAÇÃO PONTOS DE IDENTIFICAÇÃO”. 6) PADRONIZAR IDENTIFICAÇÃO.
e) O item e, “Dificuldade no acesso de informações junto às
montadoras”,igualmente, não está diretamente relacionado com o
sistema de identificaçãoatual de veículos e sim com a legislação e
estrutura das montadoras,contudo, da mesma forma, pode-se ob-
ter uma função deste item, ou seja,“FACILITAR ACESSO A INFORMA-
ÇÃO”.

11
NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA
Da leitura das funções obtidas para os critérios de identificação (C)Petéquias são equimoses pontuais que eventualmente, po-
dos veículos adequados para a realidade brasileira, percebe-se que dem estar associadas ao enforcamento quando presentes, por
as necessidades dos profissionais envolvidos na área da segurança, exemplo, na conjuntiva ocular.
tecnicamente, podem ser atendidas pelas montadoras nacionais e (D)São sinônimos de enforcamento, a esganadura e o estran-
importadoras. De acordo com a legislação brasileira, osistema de gulamento.
identificação atual, vigente desde janeiro de 1999, atende parcial- (E)Se o perito médico legista encontrar uma lesão perfurocon-
menteou não atende a maioria das funções descritas. tusa, de entrada, no palato da vítima, então a hipótese de sui-
cídio por asfixia será a mais provável.
EXERCÍCIOS 4. A respeito da classificação dos locais de crime e do isolamen-
to de local, assinale a alternativa correta.
1. (AOCP/2018 – ITEP/RN) A Criminalística pode ser definida (A) A garagem de uma residência, onde haja ocorrido a subtra-
como ção de várias mesas e cadeiras, quanto à natureza da área, é
(A) uma disciplina autônoma, integrada pelos diferentes ramos local de crime externo.
do conhecimento técnico-científico, auxiliar e informativa das (B) Se um homicídio foi praticado no interior do quarto da víti-
atividades policiais e judiciárias de investigação criminal, tendo ma, a sala da residência, distante 5 metros do quarto, quanto à
por objeto o estudo dos vestígios materiais extrínsecos à pes- divisão, é local imediato.
soa física, no que tiver de útil à elucidação e à prova das infra- (C) Se, após uma colisão entre um veículo e uma motocicleta, o
ções penais e, ainda, à identificação dos autores respectivos. condutor do veículo prestou imediato socorro ao motociclista,
(B) a parte da jurisprudência que tem por objeto o estabeleci- levando-o ao hospital e retornando ao local do sinistro, com o
mento de regras que dirigem a conduta do perito e na forma veículo, antes da chegada dos peritos, então o local da colisão,
que lhe cumpre dar às suas declarações verbais ou escritas. quanto à preservação, é local idôneo.
(C) o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos des- (D) Se, no interior da residência, o marido desfecha vários gol-
tinados a servir ao Direito, cooperando na elaboração, na inter- pes de faca em sua esposa e, após matá-la, transporta o corpo
pretação e na execução dos dispositivos legais, no campo de da vítima até um lote baldio, onde o joga, então o lote baldio,
ação da ciência aplicada. quanto à divisão, é local relacionado.
(D) o ramo das ciências que se ocupa em elucidar as questões (E) Embora imprescindível para garantir as condições de se
da administração da justiça civil e criminal que podem ser re- realizar um exame pericial da melhor forma possível, não há
solvidas somente à luz dos conhecimentos médicos. norma legal que determine a tomada de iniciativas para o iso-
(E) a área do direito penal que se ocupa da doutrina criminal lamento e a preservação de locais de infrações penais, a fim de
envolvida na elucidação material do fato, sendo prescindível à resguardarem os vestígios conforme foram produzidos durante
elucidação de crimes que deixam vestígios e regida por leis jurí- a ocorrência do crime.
dicas e ritos processuais rígidos e imutáveis e cujos resultados e
apontamentos são de origem empírica, ambígua e inextricável. 5. Com relação a local de crime e a exame pericial, assinale a
opção correta.
2. (FUNDATEC/2017 – IFP/RS) São princípios fundamentais da (A) O exame pericial de local destina-se, precipuamente, a de-
terminar a causa da morte da vítima.
Perícia Criminalística:
(B) A vítima de homicídio, em regra, deve ser individualizada
(A) Observação, contextualização, descrição, discussão e docu-
ainda no local do crime e antes do exame pericial.
mentação.
(C) Local relacionado abrange o corpo de delito, seu entorno e
(B) Comunicação, análise, interpretação, discussão e declara-
espaços que contenham vestígios materiais do crime.
ção.
(D) O local do crime é dividido, para efeitos de preservação,
(C) Observação, análise, interpretação, descrição e documen-
apenas em local imediato e em local relacionado.
tação.
(E) Em casos de morte violenta, o exame perinecroscópico deve
(D) Visualização, comunicação, análise, interpretação e docu-
ser realizado pelo perito criminal ainda no local do crime.
mentação.
(E) Recomendação, verificação, descrição, discussão e declara-
ção.
GABARITO
3. Durante um levantamento de local de crime, o Perito Crimi-
nal constatou um cadáver em situação de enforcamento por sus-
pensão completa. Populares afirmavam que a vítima era depressiva 1 A
e que já havia tentado o suicídio antes. O perito, entretanto, estra- 2 C
nhou a escassez de petéquias na conjuntiva ocular da vítima e san-
3 C
gramento oriundo da cavidade oral. Diante da situação hipotética
apresentada, assinale a alternativa correta. 4 D
(A)No enforcamento, como modalidade de asfixia por constri- 5 E
ção do pescoço, o sulco decorrente do laço e presente no pes-
coço da vítima é oblíquo e contínuo, portanto sem interrupção
na altura do nó.
(B)A afirmação de populares é suficiente para concluir pela
hipótese de suicídio, independentemente de qualquer outro
elemento de ordem material ou médico legal que possa ser
avaliado no local ou no cadáver.

12
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
1. Identificação criminal (Lei nº 12.037/2009) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Carteira de identidade (Lei nº 7.116/1983, Decreto nº 89.250/1983, Lei nº 5.553/1968) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Registro de identidade civil (Lei nº 9.454/1997 e Decreto n º7.166/2010) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Improbidade administrativa (Lei nº 8.429/1992) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
5. Processo administrativo (Lei nº 9.784/1999) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Abuso de autoridade (Lei nº 4.898/1965) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
7. Juizados especiais cíveis e criminais (Lei nº 9.099/1995) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
§ 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL (LEI Nº 12.037/2009) perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou compor-
tamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero,
LEI Nº 12.037, DE 1º DE OUTUBRO DE 2009 consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos
humanos, genoma humano e dados genéticos.
Dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, § 2º dados constantes dos bancos de dados de perfis genéti-
regulamentando o art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal. cos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins
O VICE – PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial.
PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional § 3º As informações obtidas a partir da coincidência de perfis
decreta e eu sanciono a seguinte Lei: genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por
perito oficial devidamente habilitado.
Art. 1º O civilmente identificado não será submetido a identifi-
cação criminal, salvo nos casos previstos nesta Lei. Art. 6º É vedado mencionar a identificação criminal do indi-
ciado em atestados de antecedentes ou em informações não des-
Art. 2º A identificação civil é atestada por qualquer dos seguin- tinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado da sentença
tes documentos: condenatória.
I – carteira de identidade;
II – (Revogado pela Medida Provisória nº 905, de 2019) Art. 7º No caso de não oferecimento da denúncia, ou sua re-
jeição, ou absolvição, é facultado ao indiciado ou ao réu, após o ar-
III – carteira profissional;
quivamento definitivo do inquérito, ou trânsito em julgado da sen-
IV – passaporte;
tença, requerer a retirada da identificação fotográfica do inquérito
V – carteira de identificação funcional;
ou processo, desde que apresente provas de sua identificação civil.
VI – outro documento público que permita a identificação do
indiciado.
Art. 7º-A. A exclusão dos perfis genéticos dos bancos de dados
Parágrafo único. Para as finalidades desta Lei, equiparam-se
ocorrerá: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
aos documentos de identificação civis os documentos de identifica-
I - no caso de absolvição do acusado; ou (Incluído pela Lei nº
ção militares. 13.964, de 2019)
II - no caso de condenação do acusado, mediante requerimen-
Art. 3º Embora apresentado documento de identificação, pode- to, após decorridos 20 (vinte) anos do cumprimento da pena. (Incluí-
rá ocorrer identificação criminal quando: do pela Lei nº 13.964, de 2019)
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsifica-
ção; Art. 7º-B. A identificação do perfil genético será armazenada
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido
cabalmente o indiciado;
pelo Poder Executivo.
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, com
informações conflitantes entre si;
Art. 7º-C. Fica autorizada a criação, no Ministério da Justiça e
IV – a identificação criminal for essencial às investigações poli-
Segurança Pública, do Banco Nacional Multibiométrico e de Impres-
ciais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que
sões Digitais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial,
§ 1º A formação, a gestão e o acesso ao Banco Nacional Multi-
do Ministério Público ou da defesa;
biométrico e de Impressões Digitais serão regulamentados em ato
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou di-
ferentes qualificações; do Poder Executivo federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da § 2º O Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digi-
localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a tais tem como objetivo armazenar dados de registros biométricos,
completa identificação dos caracteres essenciais. de impressões digitais e, quando possível, de íris, face e voz, para
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados de- subsidiar investigações criminais federais, estaduais ou distritais.
verão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de in- (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
vestigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o § 3º O Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digi-
indiciado. tais será integrado pelos registros biométricos, de impressões digi-
tais, de íris, face e voz colhidos em investigações criminais ou por
Art. 4º Quando houver necessidade de identificação criminal, ocasião da identificação criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
a autoridade encarregada tomará as providências necessárias para 2019)
evitar o constrangimento do identificado. § 4º Poderão ser colhidos os registros biométricos, de impres-
sões digitais, de íris, face e voz dos presos provisórios ou definitivos
Art. 5º A identificação criminal incluirá o processo datiloscópi- quando não tiverem sido extraídos por ocasião da identificação cri-
co e o fotográfico, que serão juntados aos autos da comunicação minal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
da prisão em flagrante, ou do inquérito policial ou outra forma de § 5º Poderão integrar o Banco Nacional Multibiométrico e de
investigação. Impressões Digitais, ou com ele interoperar, os dados de registros
Parágrafo único. Na hipótese do inciso IV do art. 3º, a identifi- constantes em quaisquer bancos de dados geridos por órgãos dos
cação criminal poderá incluir a coleta de material biológico para a Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário das esferas federal, esta-
obtenção do perfil genético. dual e distrital, inclusive pelo Tribunal Superior Eleitoral e pelos Ins-
titutos de Identificação Civil. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 5º-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético § 6º No caso de bancos de dados de identificação de natureza
deverão ser armazenados em banco de dados de perfis genéticos, civil, administrativa ou eleitoral, a integração ou o compartilhamen-
gerenciado por unidade oficial de perícia criminal. to dos registros do Banco Nacional Multibiométrico e de Impres-

1
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
sões Digitais será limitado às impressões digitais e às informações d) registro geral no órgão emitente, local e data da expedição;
necessárias para identificação do seu titular. (Incluído pela Lei nº e) nome, filiação, local e data de nascimento do identificado,
13.964, de 2019) bem como, de forma resumida, a comarca, cartório, livro, folha e
§ 7º A integração ou a interoperação dos dados de registros número do registro de nascimento;
multibiométricos constantes de outros bancos de dados com o Ban- f) fotografia, no formato 3 x 4 cm, assinatura e impressão digi-
co Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais ocorrerá por tal do polegar direito do identificado;
meio de acordo ou convênio com a unidade gestora. (Incluído pela g) assinatura do dirigente do órgão expedidor. (Vide Lei nº
Lei nº 13.964, de 2019) 14.129, de 2021) (Vigência)
§ 8º Os dados constantes do Banco Nacional Multibiométrico e Art 4º - Desde que o interessado o solicite a Carteira de Identi-
de Impressões Digitais terão caráter sigiloso, e aquele que permitir dade conterá, além dos elementos referidos no art. 3º desta Lei, os
ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei números de inscrição do titular no Programa de Integração Social -
ou em decisão judicial responderá civil, penal e administrativamen- PIS ou no Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público
te. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) - PASEP e no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda.
§ 9º As informações obtidas a partir da coincidência de regis- § 1º - O Poder Executivo Federal poderá aprovar a inclusão de
tros biométricos relacionados a crimes deverão ser consignadas em outros dados opcionais na Carteira de Identidade.
laudo pericial firmado por perito oficial habilitado. (Incluído pela Lei § 2º - A inclusão na Carteira de Identidade dos dados referi-
nº 13.964, de 2019) dos neste artigo poderá ser parcial e dependerá exclusivamente da
§ 10. É vedada a comercialização, total ou parcial, da base de apresentação dos respectivos documentos com probatórios.
dados do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais. Art 5º - A Carteira de Identidade do português beneficiado pelo
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Estatuto da Igualdade será expedida consoante o disposto nesta Lei,
§ 11. A autoridade policial e o Ministério Público poderão re- devendo dela constar referência a sua nacionalidade e à Convenção
querer ao juiz competente, no caso de inquérito ou ação penal ins- promulgada pelo Decreto nº 70.391, de 12 de abril de 1972.
taurados, o acesso ao Banco Nacional Multibiométrico e de Impres- Art 6º - A Carteira de Identidade fará prova de todos os dados
sões Digitais. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) nela incluídos, dispensando a apresentação dos documentos que
lhe deram origem ou que nela tenham sido mencionados.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art 7º - A expedição de segunda via da Carteira de Identidade
será efetuada mediante simples solicitação do interessado, vedada
Art. 9º Revoga-se a Lei nº 10.054, de 7 de dezembro de 2000. qualquer outra exigência, além daquela prevista no art. 2º desta Lei.
Art 8º - A Carteira de Identidade de que trata esta Lei será expe-
Brasília, 1º de outubro de 2009; 188º da Independência e 121º dida com base no processo de identificação datiloscópica.
da República. Art 9º - A apresentação dos documentos a que se refere o art.
2º desta Lei poderá ser feita por cópia regularmente autenticada.
Art 10 - O Poder Executivo Federal aprovará o modelo da Car-
teira de Identidade e expedirá as normas complementares que se
CARTEIRA DE IDENTIDADE (LEI Nº 7.116/1983, DECRE- fizerem necessárias ao cumprimento desta Lei.
TO Nº 89.250/1983, LEI Nº 5.553/1968) Art 11 - As Carteiras de Identidade emitidas anteriormente à
vigência desta Lei continuarão válidas em todo o território nacional.
LEI Nº 7.116, DE 29 DE AGOSTO DE 1983 Art 12 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art 13 - Revogam-se as disposições em contrário.
Assegura validade nacional as Carteiras de Identidade regula sua Brasília, em 29 de agosto de 1983; 162º da Independência e
expedição e dá outras providências. 95º da República.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Na-


cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Prezado Candidato o Decreto 89.250/1983 foi revogado pelo
Art 1º - A Carteira de Identidade emitida por órgãos de Iden- Decreto 9.278/2018
tificação dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios tem fé
pública e validade em todo o território nacional.
Art 2º - Para a expedição da Carteira de Identidade de que trata DECRETO Nº 9.278, DE 5 DE FEVEREIRO DE 2018
esta Lei não será exigida do interessado a apresentação de qualquer
outro documento, além da certidão de nascimento ou de casamen- Regulamenta a Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, que asse-
to. gura validade nacional às Carteiras de Identidade e regula sua
§ 1º - A requerente do sexo feminino apresentará obrigatoria- expedição.
mente a certidão de casamento, caso seu nome de solteira tenha
sido alterado em conseqüência do matrimônio. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso da atribuição que lhe
§ 2º - O brasileiro naturalizado apresentará o Certificado de Na- confere o art. 84, caput , inciso IV, da Constituição, e tendo em vista
turalização. o disposto na Lei nº 7.116, de 29 de agosto de 1983, na Lei nº 9.049,
§ 3o É gratuita a primeira emissão da Carteira de Identidade. de 18 de maio de 1995, e na Lei nº 13.444, de 11 de maio de 2017,
(Incluído pela Lei nº 12.687, de 2012) DECRETA :
Art 3º - A Carteira de Identidade conterá os seguintes elemen-
tos: Âmbito de aplicação
a) Armas da República e inscrição “República Federativa do Bra- Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei nº 7.116, de 29 de agos-
sil”; to de 1983 , para estabelecer os procedimentos e os requisitos para
b) nome da Unidade da Federação; a emissão de Carteira de Identidade por órgãos de identificação dos
c) identificação do órgão expedidor; Estados e do Distrito Federal.

2
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Validade documental § 1º A incorporação do número de inscrição no CPF à Carteira
Art. 2º A Carteira de Identidade tem fé pública e validade em de Identidade será precedida de consulta e validação com a base de
todo o território nacional. dados administrada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do
Ministério da Fazenda.
Documentos exigidos para emissão § 2º Na hipótese de o requerente da Carteira de Identidade
Art. 3º Para a expedição da Carteira de Identidade, será exigido não estar inscrito no CPF, o órgão de identificação realizará a sua
do requerente a apresentação somente da certidão de nascimento inscrição, caso tenha integração com a base de dados da Secretaria
ou de casamento. da Receita Federal do Brasil do Ministério Fazenda.
§ 1º Na hipótese de o nome do requerente ter sido alterado
em consequência de matrimônio, ele apresentará a certidão de ca- Verificação do DNI
samento. Art. 7º Na expedição da Carteira de Identidade será realizada
§ 2º O brasileiro naturalizado apresentará o ato de naturaliza- a validação biométrica com a Base de Dados da ICN para aferir a
ção publicado no Diário Oficial da União. conformidade com o Documento Nacional de Identificação - DNI.
§ 3º O português beneficiado pelo disposto no § 1º do art. 12 Parágrafo único. O disposto no caput e no inciso I do § 1º do
da Constituição fará prova da condição mediante a apresentação do art. 8º está condicionado à existência de compartilhamento de da-
ato de outorga de igualdade de direitos e obrigações civis e de gozo dos entre o órgão de identificação e o Tribunal Superior Eleitoral.
dos direitos políticos no Brasil publicado no Diário Oficial da União.
§ 4º A expedição de segunda via da Carteira de Identidade será Informações incluídas a pedido
efetuada mediante simples solicitação do interessado, vedada a for- Art. 8º Será incluído na Carteira de Identidade, mediante re-
mulação de exigências não previstas neste Decreto. querimento:
I - o número do DNI;
Gratuidade da emissão II - o Número de Identificação Social - NIS, o número no Progra-
Art. 4º É gratuita a primeira emissão da Carteira de Identidade. ma de Integração Social - PIS ou o número no Programa de Forma-
ção do Patrimônio do Servidor Público - PASEP;
Informações essenciais III - o número do Cartão Nacional de Saúde;
Art. 5º A Carteira de Identidade conterá: IV - o número do Título de Eleitor;
I - as Armas da República Federativa do Brasil e a inscrição “Re- V - o número do documento de identidade profissional expedi-
pública Federativa do Brasil”; do por órgão ou entidade legalmente autorizado;
II - a identificação da unidade da Federação que a emitiu; VI - o número da Carteira de Trabalho e Previdência Social;
III - a identificação do órgão expedidor; VII - o número da Carteira Nacional de Habilitação;
IV - o número do registro geral no órgão emitente e o local e a VIII - o número do Certificado Militar;
data da expedição; IX - o tipo sanguíneo e o fator Rh;
V - o nome, a filiação e o local e a data de nascimento do iden- X - as condições específicas de saúde cuja divulgação possa
tificado; contribuir para preservar a saúde ou salvar a vida do titular; e
VI - o número único da matrícula de nascimento ou, se não XI - o nome social.
houver, de forma resumida, a comarca, o cartório, o livro, a folha e § 1º A comprovação das informações de que tratam os incisos I
o número do registro de nascimento; a VIII do caput será feita por meio, respectivamente:
VII - fotografia, no formato 3x4cm, a assinatura e a impressão I - da validação biométrica com a base de dados da ICN;
digital do polegar direito do identificado; II - dos cartões de inscrição no NIS, no PIS ou no PASEP;
VIII - a assinatura do dirigente do órgão expedidor; e III - do Cartão Nacional de Saúde;
IX - a expressão “Válida em todo o território nacional”. IV - do Título de Eleitor;
§ 1º Poderá ser utilizado pelo órgão de identificação como o nú- V - do documento de identidade profissional expedido por ór-
mero do registro geral de que trata o inciso IV do caput o número de gão ou entidade legalmente autorizado;
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda - CPF. VI - da Carteira de Trabalho e Previdência Social;
§ 2º A matrícula de que trata o inciso VI do caput seguirá os VII - da Carteira Nacional de Habilitação;
padrões constantes de provimento do Conselho Nacional de Justiça. VIII - do Certificado Militar;
§ 3º A conferência dos dados de que trata o inciso VI do caput IX - do resultado de exame laboratorial; e
poderá ser realizada pelo órgão de identificação junto: (Redação X - do atestado médico ou documento oficial que comprove
dada pelo Decreto nº 9.376, de 2018) a vulnerabilidade ou a condição particular de saúde que se deseje
I - à Central Nacional de Informações do Registro Civil - CRC Na- preservar, nos termos do inciso X do caput .
cional, por meio de credenciamento, acordo ou convênio; e (In-
§ 2º Em substituição aos documentos de que tratam os incisos
cluído pelo Decreto nº 9.376, de 2018)
I a VIII do caput , será aceita a apresentação de documento de iden-
II - ao Sistema Nacional de Informações de Registro Civil - SIRC,
tidade válido para todos os fins legais do qual constem as informa-
independentemente de convênio. (Incluído pelo Decreto nº
ções a serem comprovadas.
9.376, de 2018)
§ 3º A comprovação pelo interessado das informações de que
§ 4º Para os fins do disposto no inciso VII do caput , padrões
tratam os incisos II a X do caput será dispensada na hipótese do
biométricos seguirão as recomendações do Comitê Gestor da Iden-
órgão de identificação ter acesso às informações por meio de base
tificação Civil Nacional - ICN.
eletrônica de dados de órgão ou entidade públicos.
Informações do CPF § 4º O nome social de que trata o inciso XI do caput :
Art. 6º Será incorporado, de ofício, à Carteira de Identidade, o I - será incluído:
número de inscrição no CPF sempre que o órgão de identificação a) mediante requerimento escrito do interessado;
tiver acesso a documento comprobatório ou à base de dados admi- b) com a expressão “nome social”;
nistrada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério c) sem prejuízo da menção ao nome do registro civil no verso
da Fazenda. da Carteira de Identidade; e

3
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
d) sem a exigência de documentação comprobatória; e Parágrafo único. O código de barras bidimensional de que trata
II - poderá ser excluído por meio de requerimento escrito do o inciso VI do caput permitirá a consulta da validade do documento
interessado. em sistema próprio ou diretamente em sítio eletrônico oficial do
§ 5º O requerimento de que trata a alínea “a” do inciso I do órgão expedidor.
§ 4º será arquivado no órgão de identificação, juntamente com o
histórico de alterações do nome social. Carteira de Identidade em cartão
Art. 14. A Carteira de Identidade em cartão terá as seguintes
Apresentação dos documentos mencionados na Carteira de características de segurança:
Identidade I - substrato polimérico em policarbonato, na dimensão 85,6x54
Art. 9º A Carteira de Identidade fará prova de todos os dados mm, que conterá microchip de aproximação;
nela incluídos e dispensará a apresentação dos documentos que II - no anverso: (Redação dada pelo Decreto nº 9.577, de
nela tenham sido mencionados. 2018)
a) tarja em guilhoche eletrônico contendo microletras com a
Apresentação dos documentos por cópia autenticada expressão “CARTEIRA DE IDENTIDADE” grafada em letras maiúscu-
Art. 10. A apresentação dos documentos de que trata o caput las;
e o § 1º do art. 3º poderá ser feita por meio de cópia autenticada. b) tarja contendo a expressão “REPÚBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL” grafada em letras maiúsculas;
Modelo da Carteira de Identidade c) fundo numismático contendo as Armas da República Fede-
Art. 11. A Carteira de Identidade será emitida em cartão ou em rativa do Brasil;
papel. d) imagem fantasma com a fotografia do titular localizada no
Parágrafo único. É facultada ao órgão de identificação a expedi- canto superior direito;
ção da Carteira de Identidade em meio eletrônico, sem prejuízo da e) fundo com tinta invisível reativa à fonte de luz ultravioleta
expedição em meio físico. contendo as Armas da República República Federativa do Brasil; e
f) fundo numismático com o nome e a imagem do brasão da
Requisitos da Carteira de Identidade em papel unidade da Federação; e
Art. 12. A Carteira de Identidade em papel será confeccionada III - no verso: (Redação dada pelo Decreto nº 9.577, de
nas dimensões 96x65mm em papel filigranado com fibras invisíveis 2018)
reagentes à luz ultravioleta, preferencialmente em formulário pla- a) fundo numismático contendo as Armas da República Repú-
no, impressa em talho doce e offset . blica Federativa do Brasil;
Art. 13. A Carteira de Identidade em papel conterá as seguintes b) tarja em guilhoche eletrônico contendo microletras com os
características de segurança: seguintes textos incorporados, conforme o disposto no modelo que
I - tarja em talho doce que: consta do Anexo , grafados em letras maiúsculas:
a) será impressa em duas tonalidades da cor verde (calcografia 1. “CARTEIRA DE IDENTIDADE”;
em duas cores); 2. “ LEI Nº 7.116, DE 29 DE AGOSTO DE 1983 ”; e
3. “VÁLIDA EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL”;
b) conterá a imagem latente com a palavra “Brasil” em ambos
c) relevo tátil com o Selo da República; (Redação dada pelo
os lados;
Decreto nº 9.577, de 2018)
c) conterá faixa de microletra negativa, contornando interna-
d) fundo com tinta invisível reativa à fonte de luz ultravioleta,
mente a tarja, com a expressão “CARTEIRA DE IDENTIDADE” grafada
que conterá as Armas da República Federativa do Brasil; e
em letras maiúsculas;
e) código de barras, nos termos do disposto no parágrafo único
d) conterá faixa de microletra positiva, contornando externa-
do art. 13.
mente a tarja, com a expressão “CARTEIRA DE IDENTIDADE” grafada
em letras maiúsculas; e Carteira de Identidade em meio eletrônico
e) conterá os seguintes textos incorporados, conforme o dis- Art. 15. A Carteira de Identidade em meio eletrônico:
posto no modelo que consta do Anexo , grafados em letras maiús- I - atenderá aos requisitos de segurança, integridade, validade
culas: jurídica e interoperabilidade, nos termos das recomendações do
1. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL; Comitê Gestor da ICN; e
2. CARTEIRA DE IDENTIDADE; II - permitirá a checagem dos dados pelas autoridades públicas
3. LEI Nº 7.116, DE 29 DE AGOSTO DE 1983 ; e com ou sem conexão à internet.
4. VÁLIDA EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL;
II - no anverso, fundo numismático, impresso em offset , con- Obrigação dos modelos deste Decreto
tendo efeito íris e geométrico e as Armas da República Federativa Art. 16. Os órgãos de identificação não poderão utilizar padrões
do Brasil, impressos com tinta invisível reativa à fonte de luz ultra- de Carteira de Identidade que não atenda a todos os requisitos es-
violeta; tabelecidos neste Decreto.
III - no verso, fundo numismático com o nome da unidade da Parágrafo único. O Comitê Gestor da ICN formulará recomen-
Federação e a imagem do seu brasão; dações complementares ao padrões estabelecidos neste Decreto.
IV - perfuração mecânica da sigla do órgão de identificação so- Aprovação dos modelos de Carteira de Identidade
bre a fotografia do titular, quando for o caso; Art. 17. Os modelos de Carteira de Identidade em papel e em
V - numeração tipográfica, sequencial, no verso ou em código cartão são os constantes do Anexo .
de barras; Parágrafo único. Compete ao Comitê Gestor de ICN aprovar o
VI - código de barras bidimensional, no padrão QR Code , ge- modelo da Carteira de Identidade em meio eletrônico.
rado a partir de algoritmo específico do órgão de identificação; e
VII - película com a imagem das Armas da República Federativa Validade da Carteira de Identidade
do Brasil com tinta invisível reativa à fonte de luz ultravioleta. Art. 18. A Carteira de Identidade terá validade por prazo inde-
terminado.

4
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 19. A Carteira de Identidade poderá ter a validade negada § 2º - Quando o documento de identidade for indispensável
pela: para a entrada de pessoa em órgãos públicos ou particulares, serão
I - alteração dos dados nela contidos, quanto ao ponto espe- seus dados anotados no ato e devolvido o documento imediata-
cífico; mente ao interessado. (Incluído pela Lei nº 9.453, de 20/03/97)
II - existência de danos no meio físico que comprometam a ve- Art. 3º Constitui contravenção penal, punível com pena de pri-
rificação da autenticidade; são simples de 1 (um) a 3 (três) meses ou multa de NCR$ 0,50 (cin-
III - alteração das características físicas do titular que gere dúvi- quenta centavos) a NCR$ 3,00 (três cruzeiros novos), a retenção de
da fundada sobre a identidade; ou qualquer documento a que se refere esta Lei.
IV - mudança significativa no gesto gráfico da assinatura. Parágrafo único. Quando a infração for praticada por prepos-
Parágrafo único. Se o titular for pessoa enferma ou idosa, não to ou agente de pessoa jurídica, considerar-se-á responsável quem
poderá ser negada a validade de Carteira de Identidade com funda- houver ordenado o ato que ensejou a retenção, a menos que haja ,
mento nos incisos III e IV do caput . pelo executante, desobediência ou inobservância de ordens ou ins-
Art. 20. O português beneficiado pelo disposto no § 1º do art. truções expressas, quando, então, será este o infrator.
12 da Constituição que perder essa condição e o brasileiro que Art. 4º O Poder Executivo regulamentará a presente Lei dentro
perder a nacionalidade, conforme o disposto no § 4º do art. 12 da do prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data de sua publicação.
Constituição , terão a Carteira de Identidade recolhida pela polícia Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.
federal e encaminhada ao órgão de identificação expedidor para
cancelamento.

Disposições transitórias REGISTRO DE IDENTIDADE CIVIL (LEI Nº 9.454/1997 E


Art. 21. A partir de 1º de março de 2022, os órgãos de identifi- DECRETO N º7.166/2010)
cação estarão obrigados a adotar os padrões de Carteira de Identi-
dade estabelecidos neste Decreto. (Redação dada pelo Decreto LEI Nº 9.454, DE 7 DE ABRIL DE 1997
nº 10.636, de 2021)
Art. 22. Permanecem válidas as Carteiras de Identidade expedi- Institui o número único de Registro de Identidade Civil e dá outras
das de acordo com os padrões anteriores a este Decreto. providências.

Revogações O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-


Art. 23. Ficam revogados: cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
I - o Decreto nº 89.250, de 27 de dezembro de 1983 ;
II - o Decreto nº 89.721, de 30 de maio de 1984 ; e Art. 1o É instituído o número único de Registro de Identidade
III - o Decreto nº 2.170, de 4 de março de 1997 . Civil, pelo qual cada cidadão brasileiro, nato ou naturalizado, será
identificado em suas relações com a sociedade e com os organis-
Vigência mos governamentais e privados. (Redação dada pela Lei
Art. 24. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. nº 12.058, de 2009)
Parágrafo único. (VETADO)
Brasília, 5 de fevereiro de 2018; 197º da Independência e 130º I - (VETADO)
da República. II - (VETADO)
III - (VETADO)
Art. 2o É instituído o Cadastro Nacional de Registro de Iden-
LEI Nº 5.553, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1968 tificação Civil, destinado a conter o número único de Registro de
Identidade Civil, acompanhado dos dados de identificação de cada
Dispõe sobre a apresentação e uso de documentos de identifi- cidadão. (Redação dada pela Lei nº 12.058, de 2009)
cação pessoal. Art. 3º O Poder Executivo definirá a entidade que centralizará
as atividades de implementação, coordenação e controle do Cadas-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Na- tro Nacional de Registro de Identificação Civil, que se constituirá em
órgão central do Sistema Nacional de Registro de Identificação Civil.
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
§ 1o Fica a União autorizada a firmar convênio com os Esta-
dos e o Distrito Federal para a implementação do número único de
Art. 1º A nenhuma pessoa física, bem como a nenhuma pessoa
registro de identificação civil. (Redação dada pela Lei nº
jurídica, de direito público ou de direito privado, é lícito reter qual-
12.058, de 2009)
quer documento de identificação pessoal, ainda que apresentado
§ 2º Os órgãos regionais exercerão a coordenação no âmbito de
por fotocópia autenticada ou pública-forma, inclusive comprovante
cada Unidade da Federação, repassando aos órgãos locais as instru-
de quitação com o serviço militar, título de eleitor, carteira profis-
ções do órgão central e reportando a este as informações e dados
sional, certidão de registro de nascimento, certidão de casamento, daqueles.
comprovante de naturalização e carteira de identidade de estran- § 2o Os Estados e o Distrito Federal, signatários do convênio,
geiro. participarão do Sistema Nacional de Registro de Identificação Civil e
Art. 2º Quando, para a realização de determinado ato, for exi- ficarão responsáveis pela operacionalização e atualização, nos respec-
gida a apresentação de documento de identificação, a pessoa que tivos territórios, do Cadastro Nacional de Registro de Identificação Civil,
fizer a exigência fará extrair, no prazo de até 5 (cinco) dias, os dados em regime de compartilhamento com o órgão central, a quem caberá
que interessarem devolvendo em seguida o documento ao seu exi- disciplinar a forma de compartilhamento a que se refere este parágra-
bidor. fo. (Redação dada pela Lei nº 12.058, de 2009)
§ 1º - Além do prazo previsto neste artigo, somente por ordem Art. 4º Será incluída, na proposta orçamentária do órgão cen-
judicial poderá ser retido qualquer documento de identificação pes- tral do sistema, a provisão de meios necessários, acompanhada do
soal. (Renumerado pela Lei nº 9.453, de 20/03/97) cronograma de implementação e manutenção do sistema.

5
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 5º O Poder Executivo providenciará, no prazo de cento e O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso
oitenta dias, a regulamentação desta Lei e, no prazo de trezentos e Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:
sessenta dias, o início de sua implementação.
Art. 7º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. CAPÍTULO I
Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente
República. público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada
ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº 8.429/1992) o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA desta lei.
A improbidade administrativa é a falta de probidade do servi- Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades des-
dor no exercício de suas funções ou de governantes no desempe- ta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de
nho das atividades próprias de seu cargo. Os atos de improbidade entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou
administrativa importam a suspensão dos direitos políticos, a perda creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação
da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cin-
do Erário (patrimônio da administração), na forma e gradação pre- qüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se,
vistas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
Com a inclusão do princípio da moralidade administrativa no contribuição dos cofres públicos.
texto constitucional houve um reflexo da preocupação com a ética Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
na Administração Pública, para evitar a corrupção de servidores. aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunera-
A matéria é regulada no plano constitucional pelo art. 37, §4º, ção, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
da Constituição Federal, e no plano infraconstitucional pela Lei Fe- outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
deral Nº 8.429, de 02.06.1992, que dispõe sobre “as sanções apli- função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
cáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
pública direta, indireta ou fundacional.” para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qual-
A lei 8.429/92 pune os atos de improbidade praticados por quer forma direta ou indireta.
qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração. Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são
Agente público, para os efeitos desta lei, é todo aquele que exer- obrigados a velar pela estrita observância dos princípios de legalida-
ce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, de, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assun-
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de tos que lhe são afetos.
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função. Con- Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou
tudo, a lei também poderá ser aplicada, àquele que, mesmo não omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o
sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de integral ressarcimento do dano.
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou in- Art. 6° No caso de enriquecimento ilícito, perderá o agente pú-
direta. blico ou terceiro beneficiário os bens ou valores acrescidos ao seu
Os atos que constituem improbidade administrativa podem ser patrimônio.
divididos em quatro espécies: Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimô-
1. Ato de improbidade administrativa que importa enriqueci- nio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade
mento ilícito (art. 9º) administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério
2) Ato de improbidade administrativa que importa lesão ao erá- Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.
rio (art. 10) Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput
3) Ato de improbidade administrativa decorrente de concessão deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressar-
ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário (art. 10- cimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do
A) enriquecimento ilícito.
4) Ato de improbidade administrativa que atenta contra os Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio pú-
princípios da administração pública (art. 11). blico ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta
lei até o limite do valor da herança.

CAPÍTULO II
LEI Nº 8.429/1992 E SUAS ALTERAÇÕES (IMPROBIDADE ADMI-
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
NISTRATIVA)
SEÇÃO I
LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPOR-
TAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos
casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importan-
emprego ou função na administração pública direta, indireta ou do enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patri-
fundacional e dá outras providências monial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função,
emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta
lei, e notadamente:

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri-
imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire- vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do à espécie;
agente público; III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper-
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren-
cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
preço superior ao valor de mercado; legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne- bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
mercado; por preço inferior ao de mercado;
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou serviço por preço superior ao de mercado;
ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° VI - realizar operação financeira sem observância das normas
desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
ou terceiros contratados por essas entidades; nea;
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser-
ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es-
de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual- pécie;
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação tivos, ou dispensá-los indevidamente;
em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens das em lei ou regulamento;
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda,
lei; bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi-
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, co;
cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
agente público; gular;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con- XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te- queça ilicitamente;
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
atividade; de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera- nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara- objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa-
ção a que esteja obrigado; da sem observar as formalidades previstas na lei;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
tidades mencionadas no art. 1° desta lei; dades previstas na lei
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incor-
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no poração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de
art. 1° desta lei. bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela adminis-
tração pública a entidades privadas mediante celebração de parce-
SEÇÃO II rias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM aplicáveis à espécie;
PREJUÍZO AO ERÁRIO XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa pela administração pública a entidade privada mediante celebração
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou mentares aplicáveis à espécie;
dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida-
desta lei, e notadamente: des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorpora- mentares aplicáveis à espécie;
XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise
ção ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,
das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
pública com entidades privadas;
tidades mencionadas no art. 1º desta lei;

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, per-
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- da dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão
irregular. dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil
XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou credití-
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação cios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
irregular. jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se
SEÇÃO II-A houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DECORREN- três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor
TES DE CONCESSÃO OU APLICAÇÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIO da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o
FINANCEIRO OU TRIBUTÁRIO Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qual- da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.
quer ação ou omissão para conceder, aplicar ou manter benefício IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública,
financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa
do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributá-
rio concedido.
SEÇÃO III Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN- levará em conta a extensão do dano causado, assim como o provei-
TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA to patrimonial obtido pelo agente.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que aten- CAPÍTULO IV


ta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou DA DECLARAÇÃO DE BENS
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, lega-
lidade, e lealdade às instituições, e notadamente: Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio-
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou nados à apresentação de declaração dos bens e valores que com-
diverso daquele previsto, na regra de competência; põem o seu patrimônio privado, a fim de ser arquivada no serviço
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício; de pessoal competente.
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão § 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes,
das atribuições e que deva permanecer em segredo; dinheiro, títulos, ações, e qualquer outra espécie de bens e valores
IV - negar publicidade aos atos oficiais; patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e, quando for o caso,
V - frustrar a licitude de concurso público; abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou compa-
VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; nheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência
VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei- econômica do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios
ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou de uso doméstico.
econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço. § 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data
VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização em que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, em-
e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú- prego ou função.
blica com entidades privadas. § 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço
IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilida- público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público
de previstos na legislação. que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo de-
X - transferir recurso a entidade privada, em razão da prestação terminado, ou que a prestar falsa.
de serviços na área de saúde sem a prévia celebração de contrato, § 4º O declarante, a seu critério, poderá entregar cópia da de-
convênio ou instrumento congênere, nos termos do parágrafo úni- claração anual de bens apresentada à Delegacia da Receita Federal
co do art. 24 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. (Incluído na conformidade da legislação do Imposto sobre a Renda e proven-
pela Lei nº 13.650, de 2018) tos de qualquer natureza, com as necessárias atualizações, para su-
prir a exigência contida no caput e no § 2° deste artigo .
CAPÍTULO III
DAS PENAS CAPÍTULO V
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDI-
Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e ad- CIAL
ministrativas previstas na legislação específica, está o responsável
pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que po- Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
dem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
gravidade do fato: tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos § 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o va- conhecimento.
lor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder § 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, di- despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es-
reta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica tabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade processos regidos por esta Lei o disposto no art. 221, caput e § 1o,
determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de do Código de Processo Penal.
servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 § 13. Para os efeitos deste artigo, também se considera pessoa
a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratan- jurídica interessada o ente tributante que figurar no polo ativo da
do de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos obrigação tributária de que tratam o § 4º do art. 3º e o art. 8º-A da
disciplinares. Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003.
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis- Art. 17-A. VETADO: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de Art. 18. A sentença que julgar procedente ação civil de repa-
procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im- ração de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente
probidade. determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso,
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
de Contas poderá, a requerimento, designar representante para
acompanhar o procedimento administrativo. CAPÍTULO VI
Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a co- DAS DISPOSIÇÕES PENAIS
missão representará ao Ministério Público ou à procuradoria do
órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do se- Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida-
qüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecido ilici- de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor
tamente ou causado dano ao patrimônio público. da denúncia o sabe inocente.
§ 1º O pedido de sequestro será processado de acordo com o Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
disposto nos arts. 822 e 825 do Código de Processo Civil. Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su-
§ 2° Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exa- jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à
me e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras imagem que houver provocado.
mantidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos trata- Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos
dos internacionais. políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con-
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será pro- denatória.
posta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa com-
dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar. petente poderá determinar o afastamento do agente público do
§ 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração d exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remune-
e acordo de não persecução cível, nos termos desta Lei. (Redação ração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe:
§ 2º A Fazenda Pública, quando for o caso, promoverá as ações I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo
necessárias à complementação do ressarcimento do patrimônio quanto à pena de ressarcimento;
público. II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle
§ 3o No caso de a ação principal ter sido proposta pelo Minis- interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas.
tério Público, aplica-se, no que couber, o disposto no § 3o do art. 6o Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Minis-
da Lei no 4.717, de 29 de junho de 1965. tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati-
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade. no art. 14, poderá requisitar a instauração de inquérito policial ou
§ 5o A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para procedimento administrativo.
todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto. CAPÍTULO VII
§ 6o A ação será instruída com documentos ou justificação que DA PRESCRIÇÃO
contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade
ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previs-
de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive tas nesta lei podem ser propostas:
as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil. I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de
§ 7o Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará au- cargo em comissão ou de função de confiança;
tuá-la e ordenará a notificação do requerido, para oferecer mani- II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para
festação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço públi-
justificações, dentro do prazo de quinze dias. co, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
§ 8o Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, III - até cinco anos da data da apresentação à administração
em decisão fundamentada, rejeitará a ação, se convencido da ine- pública da prestação de contas final pelas entidades referidas no
xistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da parágrafo único do art. 1o desta Lei.
inadequação da via eleita.
§ 9o Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresen- CAPÍTULO VIII
tar contestação. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
§ 10. Da decisão que receber a petição inicial, caberá agravo
de instrumento.
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
§ 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode-
Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de
rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo par a contes-
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições
tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei
em contrário.
nº 13.964, de 2019)
§ 11. Em qualquer fase do processo, reconhecida a inadequa-
Rio de Janeiro, 2 de junho de 1992; 171° da Independência e
ção da ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem julga-
mento do mérito. 104° da República.
§ 12. Aplica-se aos depoimentos ou inquirições realizadas nos

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
* Primeira Fase: Compreende a instauração do processo. Para a
PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI Nº 9.784/1999) instauração do processo é necessário que o Administrador Público
tome conhecimento de uma conduta indisciplinar, assim, é preciso
Processo administrativo conhecer a conduta, para depois instaurar um PAD.
O Processo Administrativo Disciplinar tem como objetivo apu- *Diante de uma denuncia anônima é preciso instaurar o PAD? A
rar possíveis infrações disciplinares e, conforme o caso, aplicar a Lei 8.112/90 de a entender que a denuncia anônima está vedada de
penalidade cabível. maneira geral para evitar o chamado denuncismo. Uma vez que, a
As regras disciplinares são de competência de cada ente fede- Lei fala que a denúncia deve ser clara, demonstrando seu endereço,
rativo, que irão regular os devidos procedimentos disciplinares de nome, ou seja, você tem que ser responsável pela sua denúncia –
seus respectivos servidores públicos. assumir a responsabilidade. Ocorre que, nessa situação, ao exigir
Na esfera federal, temos o nosso estudo baseado na Lei que a denúncia seja sempre clara, pode estar evitando que certas
8.112/90, sendo o estatuto dos servidores públicos. Vale destacar, denúncias cheguem à Administração Pública. Assim, conclui-se que
que as regras estatutárias não podem desrespeitar os princípios e a denúncia anônima não deve ser desconsiderada de fato, sendo
as regras constitucionais. necessário analisar a presença de elementos concretos na denúncia
Dentro da Lei 8.112/90 existem três modalidades de Processo anônima.
Administrativo Disciplinar, logo nas três hipóteses, por se tratar de De modo que, ao receber a denúncia anônima a Autoridade
processo administrativo disciplinar é possível à existência de uma competente não pode abrir um PAD de prontidão. Mas, caso a Au-
penalidade ao final. São modalidades do PAD: toridade verifique elementos concretos nesta denúncia anônima,
I. Processo Administrativo Disciplinar Simplificado/ Sindicância instaura-se um PAD de sindicância investigatório, se neste proces-
(Art. 145 da Lei 8.112/90): possui como objetivo a apuração das so for confirmado os elementos instaura-se um PAD propriamente
condutas que em tese são de menor potencial ofensivo, pressupõe dito, para apurar a fundo as infrações e aplicar as penalidades ne-
então que os tipos de penalidade a serem aplicadas aqui possuem cessárias.
natureza leve. O PAD Propriamente Dito pode ser instaurado de prontidão
Caso ao dar início a esta modalidade de PAD e, verifica-se a não caso verifique-se uma conduta gravíssima, de uma denúncia clara
existência do fato, o PAD é arquivado, uma vez que está ausente de (pessoa assumi a responsabilidade), desta forma percebe-se que a
provas/ elementos probatórios. sindicância não é pré-requisito para a instauração do PAD, desde
Por outro lado, caso o PAD simplificado seja confirmado, apli- que a denúncia seja clara.
ca-se uma advertência, ou então, uma suspensão de até 30 dias ao Um dos elementos da Portaria que instaura o PAD é o afasta-
servidor público. mento preventivo da servidor público (Ato Administrativo – Porta-
Assim, a punição para condutas do servidor público de natu- ria). Esse afastamento ocorre, pois muitas vezes, os demais servi-
reza leve é de advertência ou suspensão de até 30 dias. Nota-se dores não se sentem confortáveis em testemunharem algo com o
que caso conclua-se, diante da apuração do PAD simplificado, que a acusado ainda ocupando o cargo, pois ele poderia utilizar sua in-
infração é gravíssima, finaliza-se o PAD simplificado e instaura-se o fluência – por exemplo, se vocês testemunharem acontecerá algo.
PAD propriamente dito. Assim, o afastamento é utilizado como um acautelamento do Admi-
Ex. Ocorre uma denuncia de um servidor, que está vendendo nistrador Público em relação ao processo administrativo disciplinar.
pão de mel dentro da administração pública, as pessoas sabem que Vale ressaltar que o afastamento temporário não é uma puni-
este servidor não sabe cozinhar. A autoridade recebe a informação. ção, tendo em vista que ainda não houve PAD. Sendo assim, neste
Sabe-se que essa conduta não é gravíssima, assim abre-se um PAD afastamento é razoável que o servidor público continue recebendo
simplificado para apurar a situação, mas com a informação de que a sua remuneração. O prazo de afastamento temporário do servidor
a pessoa não sabe cozinhar, ao abrir o PAD simplificado ele não se público é de no máximo 60 dias, prorrogáveis, desde que justificá-
confirma, assim arquiva-se. No caso de confirmação, por exemplo, vel, por mais 60 dias (Art. 147 da Lei 8.112/90).
não era pão de mel, mas cocada, aqui não se arquiva o processo, Caso passe o período total de 120 dias (60 + 60 prorrogáveis), e
mas aplica-se uma advertência. a Autoridade necessite de mais tempo para a investigação, não tem
Obs. Cuidado com o termo sindicância, na doutrina do Direito como aumentar o prazo e o servidor continuar afastado, assim o
Administrativo em Geral (Processo Administrativo – Lei 9.784/99), servidor retorna para o seu cargo e o PAD continua.
existe o termo sindicância, no sentido investigativo-inquisitório e O Ato Administrativo que instaura o PAD indica o nome de três
acusatória- punitivo. Assim, dentro do Processo Administrativo Ge- servidores públicos para compor uma Comissão Processante. Ou
ral, existem duas modalidades de sindicância. seja, uma autoridade instaura o PAD, sendo somente os Ministros
O PAD simplificado possui uma sindicância punitiva/acusatória, que possuem competência para tanto, entretanto não são os Minis-
uma vez que ao final ela apresenta uma penalidade. Esta distinção tros que tocam o Processo Administrativo Disciplinar, mas sim uma
ocorre, pois, caso esteja-se diante de uma sindicância investigati- Comissão Processante.
va/ inquisitória, não é necessário fornecer a ninguém o direito de Dentro do ato de instauração o Ministro já indica os servido-
ampla defesa e contraditório, uma vez que não se está acusando res públicos, sendo a regra geral que a Comissão Processante seja
ninguém, mas apenas investigando. composta por três Servidores Estáveis (estabilidade é um requisito
Não existe muitas regras sobre o processo administrativo dis- – Artigo 149 da Lei 8.112/90). Um desses três Servidores será Presi-
ciplinar simplificado, de modo que, de maneira geral, utiliza-se o dente da Comissão, este tem que ter o cargo superior ou similar ao
procedimento do propriamente dito como margem. do servidor púbico acusado.
O prazo para a conclusão de um PAD simplificado é de 30 dias, A regra geral prevê a estabilidade, pois esta funciona como
ou seja, após o início da sindicância tem-se 30 dias para encerrar, uma garantia do servidor público que compõe a comissão, de modo
podendo ser prorrogados por mais 30 dias. a garantir que este não pode ser retirado/ perder o cargo a não ser
nas hipóteses do artigo 41 da CF, ou seja, não sofro o risco de ser
II. Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito: utili- ameaça a ser mandada embora. (Obs. Não pode estar este Servidor
zado nos casos de infrações gravíssimas. Este processo administra- Público somente no cargo de comissão, uma vez que cargos em co-
tivo disciplinar possui três fases, sendo elas: missão não possuem a estabilidade).

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Obs. É muito comum na jurisprudência quando se anula um Nesta fase também é necessário buscar a verdade material/
processo administrativo, anula-se a comissão processante em um real, ou seja, a verdade mais próxima do que realmente aconteceu,
sentido geral. Assim qual é o ato que a autoridade competente tem nesse sentido, pode se falar que o PAD é muito parecido com o pro-
que fazer? Instaurar um novo PAD, com a nomeação de novas pes- cesso penal.
soas para compor a comissão processante, uma vez que a anterior foi Durante a Instrução do Processo serão tomadas todas as me-
desfeita, pois não garantiu a ampla defesa e o contraditório. Caso an- didas necessárias como, por exemplo: oitiva de testemunhas, pe-
teriormente tenha ocorrido alguma nulidade que tenha gerado o des- rícias, acareações, sempre com a possibilidade de o servidor pú-
fazimento da comissão processante, pode esta mesma comissão ser blico causado intervir no procedimento, ou seja, apresentar seus
escolhida novamente. Assim, a Comissão Processante só não pode ser próprios laudos, testemunhas.
a mesma caso esta não garanta o contraditório e a ampla defesa. Nota-se que caso ocorra à violação ao contraditório e a ampla
A Suspensão e Advertência podem ser aplicadas no PAD, no defesa, o PAD deverá ser arquivado.
momento em que o Servidor Público é suspenso ou advertido, Obs. É possível emprestar provas produzidas em processos ju-
começa a correr um prazo para o cancelamento desse registro de dicias em andamento? Sim, desde que esta prova emprestada seja
penalidades na sua ficha de servidor público. De modo que, após lícita.
3 (para o caso de advertência) ou 5 (para a suspensão) anos o servi- Obs. É necessário que se dê a possibilidade de participação de
dor cometa outro ilícito/ não sofra nenhuma outra sanção, ele não advogado, não podendo ser vedada a sua participação no PAD.
será considerado como reincidente. Assim, aqui não se cancela os Esta situação do Advogado gerou a Súmula Vinculante nº 5 do
efeitos da suspensão e da advertência, mas o Registro de Penalida- STF, que prevê que a falta de defesa técnica, ou seja, de advoga-
des em sua ficha. do em um PAD não ofende a Constituição Federal. Entretanto o STJ
Prazo de Prescrição do PAD: o Servidor Público no exercício da acredita que é necessária a presença do advogado no PAD. O que
sua atividade, pratica uma conduta em que a penalidade típica é vale, neste caso, é a posição do STF na Súmula Vinculante nº 5.
demissão, assim, o poder público / administração pública, tem o - Defesa
prazo de 5 anos, a partir do conhecimento do fato da conduta pela - Relatório
autoridade competente para abrir um PAD, sob pena de prescrição.
Caso a conduta leve a suspensão do servidor, a Administração * Terceira Fase: Julgamento
Pública tem dois anos, a partir do conhecimento da conduta, para
abrir o PAD sob pena de prescrição.
Por outro lado, caso a conduta leve a advertência ao servidor, LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999
a Administração Pública tem 180 dias, a partir do conhecimento da
conduta, para abrir o PAD, sob pena de prescrição. Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
Vale ressaltar, que nos três casos acima (demissão, suspen- Pública Federal.
são e advertência), caso a Autoridade competente, tome conheci- O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
mento da conduta e não instaure o PAD ela sofre as sanções da Lei cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
8.112/90, ou seja, assume a responsabilidade.
Ademais, importante ressaltar que no momento em que o PAD CAPÍTULO I
é aberto, o prazo prescricional do mesmo se interrompe até a de- DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
cisão da autoridade competente (Art. 142, § 3º da Lei 8.112/90).
Entretanto existem discussões acerca da razoabilidade desse tempo Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad-
de decisão da autoridade competente, de modo que a previsão le- ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,
gal diverge da jurisprudencial. visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e
A lei entende que a Autoridade tem o tempo necessário para ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
se chegar a uma decisão, já a jurisprudência, entende que, uma vez § 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
interrompido o prazo prescricional do PAD, após 140 dias, diante Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
da ausência de uma decisão pela autoridade competente, o pra- de função administrativa.
zo prescricional volta a correr. Isto é, uma vez instaurado o PAD, a § 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:
autoridade competente tem 140 dias para concluí-lo, uma vez que I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
o PAD normalmente deve durar 60 dias, prorrogáveis por mais 60, ministração direta e da estrutura da Administração indireta;
após isso a autoridade competente tem 20 dias para julgá-lo – to- II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade
talizando 140 dias. jurídica;
III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder
* Segunda Fase: esta se subdivide em: de decisão.
- Inquérito Administrativo: é tocado pela Comissão Processan- Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
te, composta por três servidores públicos que possuem estabilida-
princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro-
de.
porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran-
- Instrução do Processo: nesta fase mantem-se a regra funda-
ça jurídica, interesse público e eficiência.
mental inserida no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Em
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observa-
que, toda fase de Processo Administrativo Disciplinar será acom-
dos, entre outros, os critérios de:
panhada pelo Servidor acusado, uma vez que, caso não tenha este
I - atuação conforme a lei e o Direito;
acompanhamento não existirá a possibilidade do contraditório e
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia to-
nem da ampla defesa.
tal ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;
Outro princípio que rege esta fase é o Princípio da Oficialidade, III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada
no sentido de que a Comissão Processante ao tocar o inquérito ad- a promoção pessoal de agentes ou autoridades;
ministrativo age de ofício, não sendo necessário que a Autoridade IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e
Administrativa de comandos para a Comissão Processante. boa-fé;

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus
hipóteses de sigilo previstas na Constituição; fundamentos;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri- V - data e assinatura do requerente ou de seu representante.
gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita- Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada
mente necessárias ao atendimento do interesse público; de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o in-
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter- teressado quanto ao suprimento de eventuais falhas.
minarem a decisão; Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem
direitos dos administrados; pretensões equivalentes.
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi- tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formula-
nistrados; dos em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale-
gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, CAPÍTULO V
nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de DOS INTERESSADOS
litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas Art. 9o São legitimados como interessados no processo admi-
as previstas em lei; nistrativo:
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem pre- I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de
juízo da atuação dos interessados; direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re-
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me- presentação;
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos
aplicação retroativa de nova interpretação. ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
III - as organizações e associações representativas, no tocante a
CAPÍTULO II direitos e interesses coletivos;
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quan-
to a direitos ou interesses difusos.
Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Ad- Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os
ministração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados: maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato nor-
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que mativo próprio.
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de
suas obrigações; CAPÍTULO VI
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em DA COMPETÊNCIA
que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter có-
pias de documentos neles contidos e conhecer as decisões profe- Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
ridas; administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
III - formular alegações e apresentar documentos antes da deci- delegação e avocação legalmente admitidos.
são, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
quando obrigatória a representação, por força de lei. tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
CAPÍTULO III tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, presidentes.
sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - expor os fatos conforme a verdade; I - a edição de atos de caráter normativo;
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; II - a decisão de recursos administrativos;
III - não agir de modo temerário; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- dade.
rar para o esclarecimento dos fatos. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
cados no meio oficial.
CAPÍTULO IV § 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes
DO INÍCIO DO PROCESSO transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a de exercício da atribuição delegada.
pedido de interessado. § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au-
Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos em toridade delegante.
que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar ex-
conter os seguintes dados: plicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo dele-
I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige; gado.
II - identificação do interessado ou de quem o represente; Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
III - domicílio do requerente ou local para recebimento de co- relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de
municações; competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi- § 1o A intimação deverá conter:
camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad-
unidade fundacional competente em matéria de interesse especial. ministrativa;
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo II - finalidade da intimação;
administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor III - data, hora e local em que deve comparecer;
grau hierárquico para decidir. IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se
representar;
CAPÍTULO VII V - informação da continuidade do processo independente-
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO mente do seu comparecimento;
VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser- § 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias
vidor ou autoridade que: úteis quanto à data de comparecimento.
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; § 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste- via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao que assegure a certeza da ciência do interessado.
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; § 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte- ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por
ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro. meio de publicação oficial.
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento § 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância
deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se de atuar. das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su-
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi- pre sua falta ou irregularidade.
mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco-
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte- administrado.
ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti-
e afins até o terceiro grau. do direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo
objeto de recurso, sem efeito suspensivo. que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos
CAPÍTULO VIII de outra natureza, de seu interesse.
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
CAPÍTULO X
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de DA INSTRUÇÃO
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir.
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
autoridade responsável. de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces-
§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações
será exigido quando houver dúvida de autenticidade. probatórias.
§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá § 1o O órgão competente para a instrução fará constar dos au-
ser feita pelo órgão administrativo. tos os dados necessários à decisão do processo.
§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas sequencial- § 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados
mente e rubricadas. devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas
no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar obtidas por meios ilícitos.
o processo. Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro- motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou a parte interessada.
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele § 1o A abertura da consulta pública será objeto de divulgação
participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo- pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos-
tivo de força maior. sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale-
Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado gações escritas.
até o dobro, mediante comprovada justificação. § 2o O comparecimento à consulta pública não confere, por si,
Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial- a condição de interessado do processo, mas confere o direito de
mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser
o local de realização. comum a todas as alegações substancialmente iguais.
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
CAPÍTULO IX diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú-
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS blica para debates sobre a matéria do processo.
Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria
Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de
administrativo determinará a intimação do interessado para ciência administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa-
de decisão ou a efetivação de diligências. ções legalmente reconhecidas.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou- Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emi-
tros meios de participação de administrados deverão ser apresen- tir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o
tados com a indicação do procedimento adotado. conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de deci-
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên- são, objetivamente justificada, encaminhando o processo à autori-
cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali- dade competente.
zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre-
sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a CAPÍTULO XI
ser juntada aos autos. DO DEVER DE DECIDIR
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale-
gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir
instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou recla-
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão mações, em matéria de sua competência.
registrados em documentos existentes na própria Administração Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Ad-
responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór- ministração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorro-
gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos gação por igual período expressamente motivada.
documentos ou das respectivas cópias.
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da CAPÍTULO XII
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- DA MOTIVAÇÃO
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria
objeto do processo. Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados na indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
motivação do relatório e da decisão. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. pública;
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão tatório;
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, V - decidam recursos administrativos;
forma e condições de atendimento. VI - decorram de reexame de ofício;
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór- VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
omissão, não se eximindo de proferir a decisão. VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao ção de ato administrativo.
interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o § 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, po-
não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec- dendo consistir em declaração de concordância com fundamentos
tiva apresentação implicará arquivamento do processo. de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que,
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência neste caso, serão parte integrante do ato.
ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan- § 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode
do-se data, hora e local de realização. ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte-
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- ressados.
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior § 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comis-
prazo. sões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo
§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti- escrito.
do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva
apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso. CAPÍTULO XIII
§ 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO PROCES-
emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e SO
ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade
de quem se omitiu no atendimento. Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita,
Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re-
previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e nunciar a direitos disponíveis.
estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res- § 1o Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia
ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór- atinge somente quem a tenha formulado.
gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes. § 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso,
Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração
manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for considerar que o interesse público assim o exige.
legalmente fixado. Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces-
Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar
poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente.
prévia manifestação do interessado.
Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a ob-
ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que
o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote-
gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
CAPÍTULO XIV Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo
de cinco dias úteis, apresentem alegações.
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan- Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de I - fora do prazo;
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. II - perante órgão incompetente;
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis- III - por quem não seja legitimado;
trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários IV - após exaurida a esfera administrativa.
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, § 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto-
salvo comprovada má-fé. ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.
§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de de- § 2o O não conhecimento do recurso não impede a Administra-
cadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer me- administrativa.
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali- Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con-
dade do ato. firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci-
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão são recorrida, se a matéria for de sua competência.
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen- Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder
tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad- decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi-
ministração. cado para que formule suas alegações antes da decisão.
Art. 64-A.Se o recorrente alegar violação de enunciado da sú-
CAPÍTULO XV mula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso explici-
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO tará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, con-
forme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de Art. 64-B.Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação fun-
razões de legalidade e de mérito. dada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á ciência à
autoridade prolatora e ao órgão competente para o julgamento do recur-
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão,
so, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos
a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará
semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível,
à autoridade superior.
administrativa e penal.(Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006). Vigência
§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra-
Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san-
tivo independe de caução.
ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
§ 3oSe o recorrente alegar que a decisão administrativa contra-
quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí-
ria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora
veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabili- agravamento da sanção.
dade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído pela
Lei nº 11.417, de 2006).Vigência CAPÍTULO XVI
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três DOS PRAZOS
instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa.
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo: Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin-
cesso; do-se o do vencimento.
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente § 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se-
afetados pela decisão recorrida; guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente
III - as organizações e associações representativas, no tocante a ou este for encerrado antes da hora normal.
direitos e interesses coletivos; § 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo.
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses § 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a
difusos. data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque-
Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o pra- le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês.
zo para interposição de recurso administrativo, contado a partir da Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado,
ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida. os prazos processuais não se suspendem.
§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis-
trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir CAPÍTULO XVII
do recebimento dos autos pelo órgão competente. DAS SANÇÕES
§ 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser
prorrogado por igual período, ante justificativa explícita. Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe-
Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa-
qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree- zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa.
xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem CAPÍTULO XVIII
efeito suspensivo. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou
incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente
efeito suspensivo ao recurso. os preceitos desta Lei.

15
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 69-A.Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão CAPÍTULO II
ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como DOS SUJEITOS DO CRIME
parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;(In- Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qual-
cluído pela Lei nº 12.008, de 2009). quer agente público, servidor ou não, da administração direta, indi-
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído reta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
pela Lei nº 12.008, de 2009). do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo,
III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). mas não se limitando a:
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equipara-
neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitan- das;
te, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui- II - membros do Poder Legislativo;
losante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da III - membros do Poder Executivo;
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, IV - membros do Poder Judiciário;
síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, V - membros do Ministério Público;
com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
doença tenha sido contraída após o início do processo.(Incluído Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos des-
pela Lei nº 12.008, de 2009). ta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
§ 1oA pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra- qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
tiva competente, que determinará as providências a serem cumpri- emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput
das. (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). deste artigo.
§ 2oDeferida a prioridade, os autos receberão identificação pró-
pria que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído pela CAPÍTULO III
Lei nº 12.008, de 2009). DA AÇÃO PENAL
§ 3o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
§ 4o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). Art. 3º (VETADO).
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada. (Promulgação partes vetadas)
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar
ABUSO DE AUTORIDADE (LEI Nº 4.898/1965) a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, inter-
LEI Nº 4.898/65 por recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
(Revogado pela Lei nº 13.869, de 2019) retomar a ação como parte principal.
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6
LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo para ofe-
recimento da denúncia.
Dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade; altera a Lei nº
7.960, de 21 de dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho CAPÍTULO IV
de 1996, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e a Lei nº 8.906, de DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE
4 de julho de 1994; e revoga a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de DIREITOS
1965, e dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal). SEÇÃO I
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 4º São efeitos da condenação:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo
seguinte Lei: crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na senten-
ça o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
CAPÍTULO I considerando os prejuízos por ele sofridos;
DISPOSIÇÕES GERAIS II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função
pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos;
Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, come- III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
tidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput
funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em cri-
sido atribuído. me de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso declarados motivadamente na sentença.
de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade es-
pecífica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a tercei- SEÇÃO II
ro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal. DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de
fatos e provas não configura abuso de autoridade. Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privati-
vas de liberdade previstas nesta Lei são:
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

16
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência,
pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
e das vantagens; I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade
III - (VETADO). pública;
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser apli- II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
cadas autônoma ou cumulativamente. autorizado em lei;
III - (VETADO).
CAPÍTULO V III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: (Pro-
DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA mulgação partes vetadas)
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas indepen- prejuízo da pena cominada à violência.
dentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabí- Art. 14. (VETADO).
veis. Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guar-
descreverem falta funcional serão informadas à autoridade compe- dar segredo ou resguardar sigilo:
tente com vistas à apuração. Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são inde- Parágrafo único. (VETADO).
pendentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com
existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido o interrogatório: (Promulgação partes vetadas)
decididas no juízo criminal. I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio;
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no ad- ou
ministrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado
o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em ou defensor público, sem a presença de seu patrono.
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de di- Art. 16. (VETADO).
reito. Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao
preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante
CAPÍTULO VI sua detenção ou prisão: (Promulgação partes vetadas)
DOS CRIMES E DAS PENAS Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como respon-
Art. 9º (VETADO). sável por interrogatório em sede de procedimento investigatório de
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifes- infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mes-
ta desconformidade com as hipóteses legais: (Promulgação partes mo falsa identidade, cargo ou função.
vetadas) Art. 17. (VETADO).
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante delito
que, dentro de prazo razoável, deixar de: ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações:
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de plei-
de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; to de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando mani- da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia:
festamente cabível.’ Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou in- Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que,
vestigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar as providên-
comparecimento ao juízo: cias tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que
Art. 11. (VETADO). o seja.
Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em fla- Art. 20. (VETADO).
grante à autoridade judiciária no prazo legal: Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reser-
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. vada do preso com seu advogado: (Promulgação partes vetadas)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso,
temporária ou preventiva à autoridade judiciária que a decretou; o réu solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservada-
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer mente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de
pessoa e o local onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-
indicada; -se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) de audiência realizada por videoconferência.
horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou
prisão e os nomes do condutor e das testemunhas; espaço de confinamento:
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de pri- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
são temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na
de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de mesma cela, criança ou adolescente na companhia de maior de
executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei
promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adoles-
legal. cente).

17
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependên- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo
cias, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determina- prazo para execução ou conclusão de procedimento, o estende de
ção judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. do fiscalizado.
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste Art. 32. (VETADO).
artigo, quem: Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado aces-
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fran- so aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado,
quear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências; ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de
II - (VETADO); infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a ob-
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as tenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências
21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, sigilo seja imprescindível: (Promulgação partes vetadas)
ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre. Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclu-
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de in- sive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal:
vestigação ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo
criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: ou função pública ou invoca a condição de agente público para se exi-
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. mir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a condu- Art. 34. (VETADO).
ta com o intuito de: Art. 35. (VETADO).
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por ex- Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de
cesso praticado no curso de diligência; ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o va-
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informa- lor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demons-
ções incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência tração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:
ou do processo. Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcio- Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de
nário ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a processo de que tenha requerido vista em órgão colegiado, com o
admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:
o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apu- Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
ração: Art. 38. (VETADO).
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio
pena correspondente à violência. de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de concluídas as apurações e formalizada a acusação: (Promulgação
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: partes vetadas)
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de pro-
va, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conheci- CAPÍTULO VII
mento de sua ilicitude. DO PROCEDIMENTO
Art. 26. (VETADO).
Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento in- Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos
vestigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de previstos nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº
alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei
funcional ou de infração administrativa: nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância CAPÍTULO VIII
ou investigação preliminar sumária, devidamente justificada. DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação
com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989,
a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou passa a vigorar com a seguinte redação:
acusado: “Art.2º ........................................................................................
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. ...............
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, ....................................................................................................
policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse ....................
de investigado: § 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perío-
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. do de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste
Parágrafo único. (VETADO). artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.
Art. 30. (VETADO). ....................................................................................................
Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou ad- .....................
ministrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe § 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au-
inocente: (Promulgação partes vetadas) toridade responsável pela custódia deverá, independentemente de
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em
Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrasti- liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da pri-
nando-a em prejuízo do investigado ou fiscalizado: são temporária ou da decretação da prisão preventiva.

18
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no CAPÍTULO II
cômputo do prazo de prisão temporária.” (NR) DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa
a vigorar com a seguinte redação: SEÇÃO I
“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunica- DA COMPETÊNCIA
ções telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta
ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para concilia-
ou com objetivos não autorizados em lei: ção, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexida-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. de, assim consideradas:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário
que determina a execução de conduta prevista no caput deste arti- mínimo;
go com objetivo não autorizado em lei.” (NR) II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo
Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Civil;
Criança e do Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte III - a ação de despejo para uso próprio;
art. 227-A: IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não ex-
“Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do cedente ao fixado no inciso I deste artigo.
caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 § 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
(Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por I - dos seus julgados;
servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quaren-
ocorrência de reincidência. ta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, desta Lei.
nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência.” § 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as
Art. 43. (VETADO). causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a
acrescida do seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas) resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho
‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advo- patrimonial.
gado previstos nos incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei: § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’” em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste arti-
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, go, excetuada a hipótese de conciliação.
e o § 2º do art. 150 e o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Jui-
7 de dezembro de 1940 (Código Penal). zado do foro:
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde
vinte) dias de sua publicação oficial. aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha
estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS (LEI Nº para reparação de dano de qualquer natureza.
9.099/1995) Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser pro-
posta no foro previsto no inciso I deste artigo.
LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995
SEÇÃO II
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá DO JUIZ, DOS CONCILIADORES E DOS JUÍZES LEIGOS
outras providências.
Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: valor às regras de experiência comum ou técnica.
Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais
justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências
CAPÍTULO I
do bem comum.
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça,
recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em
Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Jus-
Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de
tiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos
experiência.
Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento
Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a
e execução, nas causas de sua competência. advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, de suas funções.
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. SEÇÃO III
DAS PARTES

Art. 8º Não poderão ser partes, no processo instituído por esta


Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas de direito público, as
empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
§ 1o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado
Especial: (Redação dada pela Lei nº 12.126, de 2009)

19
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direi- SEÇÃO V
to de pessoas jurídicas; (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009) DO PEDIDO
II - as pessoas enquadradas como microempreendedores indi-
viduais, microempresas e empresas de pequeno porte na forma da Art. 14. O processo instaurar-se-á com a apresentação do pedi-
Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006; (Redação do, escrito ou oral, à Secretaria do Juizado.
dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014) § 1º Do pedido constarão, de forma simples e em linguagem
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da So- acessível:
ciedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei no 9.790, de 23 I - o nome, a qualificação e o endereço das partes;
de março de 1999; (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009) II - os fatos e os fundamentos, de forma sucinta;
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos ter- III - o objeto e seu valor.
mos do art. 1o da Lei no 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. (Incluí- § 2º É lícito formular pedido genérico quando não for possível
do pela Lei nº 12.126, de 2009) determinar, desde logo, a extensão da obrigação.
§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, independente- § 3º O pedido oral será reduzido a escrito pela Secretaria do
mente de assistência, inclusive para fins de conciliação. Juizado, podendo ser utilizado o sistema de fichas ou formulários
Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes impressos.
comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advoga- Art. 15. Os pedidos mencionados no art. 3º desta Lei poderão
do; nas de valor superior, a assistência é obrigatória. ser alternativos ou cumulados; nesta última hipótese, desde que
§ 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes com- conexos e a soma não ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.
parecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou Art. 16. Registrado o pedido, independentemente de distribui-
firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária ção e autuação, a Secretaria do Juizado designará a sessão de con-
prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma ciliação, a realizar-se no prazo de quinze dias.
da lei local. Art. 17. Comparecendo inicialmente ambas as partes, instau-
§ 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por rar-se-á, desde logo, a sessão de conciliação, dispensados o registro
advogado, quando a causa o recomendar. prévio de pedido e a citação.
§ 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto Parágrafo único. Havendo pedidos contrapostos, poderá ser
aos poderes especiais. dispensada a contestação formal e ambos serão apreciados na mes-
§ 4o O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, ma sentença.
poderá ser representado por preposto credenciado, munido de car-
ta de preposição com poderes para transigir, sem haver necessida- SEÇÃO VI
de de vínculo empregatício. (Redação dada pela Lei nº 12.137, de DAS CITAÇÕES E INTIMAÇÕES
2009)
Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de inter- Art. 18. A citação far-se-á:
venção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. I - por correspondência, com aviso de recebimento em mão
Art. 11. O Ministério Público intervirá nos casos previstos em própria;
lei. II - tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, median-
te entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente
SEÇÃO IV identificado;
DOS ATOS PROCESSUAIS III - sendo necessário, por oficial de justiça, independentemen-
te de mandado ou carta precatória.
Art. 12. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar- § 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e hora para
-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de orga- comparecimento do citando e advertência de que, não compare-
nização judiciária. cendo este, considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais, e
Art. 12-A. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei será proferido julgamento, de plano.
ou pelo juiz, para a prática de qualquer ato processual, inclusive § 2º Não se fará citação por edital.
para a interposição de recursos, computar-se-ão somente os dias § 3º O comparecimento espontâneo suprirá a falta ou nulidade
úteis. (Incluído pela Lei nº 13.728, de 2018) da citação.
Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preen- Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista para cita-
cherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os ção, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação.
critérios indicados no art. 2º desta Lei. § 1º Dos atos praticados na audiência, considerar-se-ão desde
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha ha- logo cientes as partes.
vido prejuízo. § 2º As partes comunicarão ao juízo as mudanças de endere-
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ço ocorridas no curso do processo, reputando-se eficazes as inti-
ser solicitada por qualquer meio idôneo de comunicação. mações enviadas ao local anteriormente indicado, na ausência da
§ 3º Apenas os atos considerados essenciais serão registrados comunicação.
resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafa-
das ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita SEÇÃO VII
magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em DA REVELIA
julgado da decisão.
§ 4º As normas locais disporão sobre a conservação das peças Art. 20. Não comparecendo o demandado à sessão de conci-
do processo e demais documentos que o instruem. liação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão ver-
dadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário
resultar da convicção do Juiz.

20
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
SEÇÃO VIII Parágrafo único. O autor poderá responder ao pedido do réu na
DA CONCILIAÇÃO E DO JUÍZO ARBITRAL própria audiência ou requerer a designação da nova data, que será
desde logo fixada, cientes todos os presentes.
Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as
partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando- SEÇÃO XI
-lhes os riscos e as consequências do litígio, especialmente quanto DAS PROVAS
ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo Art. 32. Todos os meios de prova moralmente legítimos, ainda
ou por conciliador sob sua orientação. que não especificados em lei, são hábeis para provar a veracidade
§ 1º Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homo- dos fatos alegados pelas partes.
logada pelo Juiz togado mediante sentença com eficácia de título Art. 33. Todas as provas serão produzidas na audiência de ins-
executivo.(Incluído pela Lei nº 13.994, de 2020). trução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, po-
§ 2º É cabível a conciliação não presencial conduzida pelo Jui- dendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, imper-
zado mediante o emprego dos recursos tecnológicos disponíveis de tinentes ou protelatórias.
transmissão de sons e imagens em tempo real, devendo o resultado Art. 34. As testemunhas, até o máximo de três para cada parte,
da tentativa de conciliação ser reduzido a escrito com os anexos comparecerão à audiência de instrução e julgamento levadas pela
pertinentes.(Incluído pela Lei nº 13.994, de 2020). parte que as tenha arrolado, independentemente de intimação, ou
Art. 23. Se o demandado não comparecer ou recusar-se a par- mediante esta, se assim for requerido.
ticipar da tentativa de conciliação não presencial, o Juiz togado pro- § 1º O requerimento para intimação das testemunhas será
ferirá sentença.(Redação dada pela Lei nº 13.994, de 2020) apresentado à Secretaria no mínimo cinco dias antes da audiência
Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de de instrução e julgamento.
comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei. § 2º Não comparecendo a testemunha intimada, o Juiz poderá
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independente- determinar sua imediata condução, valendo-se, se necessário, do
mente de termo de compromisso, com a escolha do árbitro pelas concurso da força pública.
partes. Se este não estiver presente, o Juiz convocá-lo-á e designa- Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir
rá, de imediato, a data para a audiência de instrução. técnicos de sua confiança, permitida às partes a apresentação de
§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos. parecer técnico.
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos crité- Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofí-
rios do Juiz, na forma dos arts. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir cio ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou
por equidade. coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe
Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias subsequen- relatará informalmente o verificado.
tes, o árbitro apresentará o laudo ao Juiz togado para homologação Art. 36. A prova oral não será reduzida a escrito, devendo a sen-
por sentença irrecorrível. tença referir, no essencial, os informes trazidos nos depoimentos.
Art. 37. A instrução poderá ser dirigida por Juiz leigo, sob a su-
SEÇÃO IX pervisão de Juiz togado.
DA INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
SEÇÃO XII
DA SENTENÇA
Art. 27. Não instituído o juízo arbitral, proceder-se-á imediata-
mente à audiência de instrução e julgamento, desde que não resul-
Art. 38. A sentença mencionará os elementos de convicção do
te prejuízo para a defesa. Juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiên-
Parágrafo único. Não sendo possível a sua realização imediata, cia, dispensado o relatório.
será a audiência designada para um dos quinze dias subsequentes, Parágrafo único. Não se admitirá sentença condenatória por
cientes, desde logo, as partes e testemunhas eventualmente pre- quantia ilíquida, ainda que genérico o pedido.
sentes. Art. 39. É ineficaz a sentença condenatória na parte que exce-
Art. 28. Na audiência de instrução e julgamento serão ouvidas der a alçada estabelecida nesta Lei.
as partes, colhida a prova e, em seguida, proferida a sentença. Art. 40. O Juiz leigo que tiver dirigido a instrução proferirá sua
Art. 29. Serão decididos de plano todos os incidentes que pos- decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz togado, que poderá
sam interferir no regular prosseguimento da audiência. As demais homologá-la, proferir outra em substituição ou, antes de se mani-
questões serão decididas na sentença. festar, determinar a realização de atos probatórios indispensáveis.
Parágrafo único. Sobre os documentos apresentados por uma Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação
das partes, manifestar-se-á imediatamente a parte contrária, sem ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado.
interrupção da audiência. § 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três
Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reuni-
SEÇÃO X dos na sede do Juizado.
DA RESPOSTA DO RÉU § 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representa-
das por advogado.
Art. 30. A contestação, que será oral ou escrita, conterá toda Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, conta-
matéria de defesa, exceto argüição de suspeição ou impedimento dos da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as
do Juiz, que se processará na forma da legislação em vigor. razões e o pedido do recorrente.
Art. 31. Não se admitirá a reconvenção. É lícito ao réu, na con- § 1º O preparo será feito, independentemente de intimação,
testação, formular pedido em seu favor, nos limites do art. 3º desta nas quarenta e oito horas seguintes à interposição, sob pena de de-
Lei, desde que fundado nos mesmos fatos que constituem objeto serção.
da controvérsia. § 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para ofe-
recer resposta escrita no prazo de dez dias.

21
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o III - a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na
Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a própria audiência em que for proferida. Nessa intimação, o vencido
parte. será instado a cumprir a sentença tão logo ocorra seu trânsito em
Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da gravação julgado, e advertido dos efeitos do seu descumprimento (inciso V);
da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13 desta Lei, correndo IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em
por conta do requerente as despesas respectivas. julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser
Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão de julga- verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova ci-
mento. tação;
Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fa-
ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta zer, o Juiz, na sentença ou na fase de execução, cominará multa diá-
e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fun- ria, arbitrada de acordo com as condições econômicas do devedor,
damentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão. para a hipótese de inadimplemento. Não cumprida a obrigação, o
Art. 47. (VETADO) credor poderá requerer a elevação da multa ou a transformação da
condenação em perdas e danos, que o Juiz de imediato arbitrará,
SEÇÃO XIII seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa vencida
DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO de obrigação de dar, quando evidenciada a malícia do devedor na
execução do julgado;
Art. 48. Caberão embargos de declaração contra sentença ou VI - na obrigação de fazer, o Juiz pode determinar o cumpri-
acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil. (Redação mento por outrem, fixado o valor que o devedor deve depositar
dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) para as despesas, sob pena de multa diária;
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de VII - na alienação forçada dos bens, o Juiz poderá autorizar o
ofício. devedor, o credor ou terceira pessoa idônea a tratar da alienação
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por es- do bem penhorado, a qual se aperfeiçoará em juízo até a data fixa-
crito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da da para a praça ou leilão. Sendo o preço inferior ao da avaliação, as
decisão. partes serão ouvidas. Se o pagamento não for à vista, será oferecida
Art. 50. Os embargos de declaração interrompem o prazo para caução idônea, nos casos de alienação de bem móvel, ou hipoteca-
a interposição de recurso. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de do o imóvel;
2015) (Vigência) VIII - é dispensada a publicação de editais em jornais, quando
se tratar de alienação de bens de pequeno valor;
SEÇÃO XIV IX - o devedor poderá oferecer embargos, nos autos da execu-
DA EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO ção, versando sobre:
MÉRITO a) falta ou nulidade da citação no processo, se ele correu à re-
velia;
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em b) manifesto excesso de execução;
lei: c) erro de cálculo;
I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das au- d) causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, su-
diências do processo; perveniente à sentença.
II - quando inadmissível o procedimento instituído por esta Lei Art. 53. A execução de título executivo extrajudicial, no valor de
ou seu prosseguimento, após a conciliação; até quarenta salários mínimos, obedecerá ao disposto no Código de
III - quando for reconhecida a incompetência territorial; Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta Lei.
IV - quando sobrevier qualquer dos impedimentos previstos no § 1º Efetuada a penhora, o devedor será intimado a compare-
art. 8º desta Lei; cer à audiência de conciliação, quando poderá oferecer embargos
V - quando, falecido o autor, a habilitação depender de senten- (art. 52, IX), por escrito ou verbalmente.
ça ou não se der no prazo de trinta dias; § 2º Na audiência, será buscado o meio mais rápido e eficaz
VI - quando, falecido o réu, o autor não promover a citação dos para a solução do litígio, se possível com dispensa da alienação judi-
sucessores no prazo de trinta dias da ciência do fato. cial, devendo o conciliador propor, entre outras medidas cabíveis, o
§ 1º A extinção do processo independerá, em qualquer hipóte- pagamento do débito a prazo ou a prestação, a dação em pagamen-
se, de prévia intimação pessoal das partes. to ou a imediata adjudicação do bem penhorado.
§ 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a § 3º Não apresentados os embargos em audiência, ou julgados
ausência decorre de força maior, a parte poderá ser isentada, pelo improcedentes, qualquer das partes poderá requerer ao Juiz a ado-
Juiz, do pagamento das custas. ção de uma das alternativas do parágrafo anterior.
§ 4º Não encontrado o devedor ou inexistindo bens penhorá-
SEÇÃO XV veis, o processo será imediatamente extinto, devolvendo-se os do-
DA EXECUÇÃO cumentos ao autor.

Art. 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Jui- SEÇÃO XVI


zado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Código de Proces- DAS DESPESAS
so Civil, com as seguintes alterações:
I - as sentenças serão necessariamente líquidas, contendo a Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro
conversão em Bônus do Tesouro Nacional - BTN ou índice equiva- grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas.
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art.
lente;
42 desta Lei, compreenderá todas as despesas processuais, inclusi-
II - os cálculos de conversão de índices, de honorários, de juros
ve aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada
e de outras parcelas serão efetuados por servidor judicial;
a hipótese de assistência judiciária gratuita.

22
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 55. A sentença de primeiro grau não condenará o vencido § 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha ha-
em custas e honorários de advogado, ressalvados os casos de liti- vido prejuízo.
gância de má-fé. Em segundo grau, o recorrente, vencido, pagará as § 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá
custas e honorários de advogado, que serão fixados entre dez por ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.
cento e vinte por cento do valor de condenação ou, não havendo § 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos ha-
condenação, do valor corrigido da causa. vidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução
Parágrafo único. Na execução não serão contadas custas, salvo e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equiva-
quando: lente.
I - reconhecida a litigância de má-fé; Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado,
II - improcedentes os embargos do devedor; sempre que possível, ou por mandado.
III - tratar-se de execução de sentença que tenha sido objeto de Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o
recurso improvido do devedor. Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção
do procedimento previsto em lei.
SEÇÃO XVII Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso
DISPOSIÇÕES FINAIS de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma
individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será
Art. 56. Instituído o Juizado Especial, serão implantadas as obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de
curadorias necessárias e o serviço de assistência judiciária. justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou
Art. 57. O acordo extrajudicial, de qualquer natureza ou valor, ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
poderá ser homologado, no juízo competente, independentemente Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-
de termo, valendo a sentença como título executivo judicial. -se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.
Parágrafo único. Valerá como título extrajudicial o acordo cele- Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de
brado pelas partes, por instrumento escrito, referendado pelo ór- citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimen-
gão competente do Ministério Público. to acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua
Art. 58. As normas de organização judiciária local poderão es- falta, ser-lhe-á designado defensor público.
tender a conciliação prevista nos arts. 22 e 23 a causas não abran-
gidas por esta Lei. SEÇÃO II
Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao DA FASE PRELIMINAR
procedimento instituído por esta Lei.
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da
CAPÍTULO III ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imedia-
DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS tamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-
DISPOSIÇÕES GERAIS -se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do ter-
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados mo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o com-
ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julga- promisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante,
mento e a execução das infrações penais de menor potencial ofen- nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá
sivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domi-
pela Lei nº 11.313, de 2006) cílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum 10.455, de 13.5.2002))
ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo
continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da com- possível a realização imediata da audiência preliminar, será desig-
posição dos danos civis. (Incluído pela Lei nº 11.313, de 2006) nada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofen- Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvi-
sivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a dos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do
que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006) Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o res-
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, econo- ponsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarece-
mia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a rá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da
reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
privativa de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.603, de 2018) Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por concilia-
dor sob sua orientação.
SEÇÃO I Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, re-
DA COMPETÊNCIA E DOS ATOS PROCESSUAIS crutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis
em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar Justiça Criminal.
em que foi praticada a infração penal. Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar- homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia
-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme de título a ser executado no juízo civil competente.
dispuserem as normas de organização judiciária. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa priva-
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preen- da ou de ação penal pública condicionada à representação, o acor-
cherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os do homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou repre-
critérios indicados no art. 62 desta Lei. sentação.

23
LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada § 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, se-
imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de rão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à
representação verbal, que será reduzida a termo. audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na au- § 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma pre-
diência preliminar não implica decadência do direito, que poderá vista no art. 67 desta Lei.
ser exercido no prazo previsto em lei. Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade
ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamen- de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Mi-
to, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena nistério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75
restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. desta Lei.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando
Juiz poderá reduzi-la até a metade. imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de cri- para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a
me, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir
cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates
deste artigo; orais e à prolação da sentença.
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a perso- § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instru-
nalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser ção e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que conside-
necessária e suficiente a adoção da medida. rar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, as-
será submetida à apreciação do Juiz. sinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo au- relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
tor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os ele-
que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para mentos de convicção do Juiz.
impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sen-
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apela- tença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta
ção referida no art. 82 desta Lei. de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não na sede do Juizado.
constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins § 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados
previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu de-
aos interessados propor ação cabível no juízo cível. fensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido
do recorrente.
SEÇÃO III § 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita
DO PROCEDIMENTO SUMARIÍSSIMO no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não hou- fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
ver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não § 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento
ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério pela imprensa.
Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver § 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos,
necessidade de diligências imprescindíveis. a súmula do julgamento servirá de acórdão.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença
base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dis- ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou omissão. (Redação
pensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim § 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou
médico ou prova equivalente. oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permiti- § 2o Os embargos de declaração interrompem o prazo para a
rem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá reque- interposição de recurso. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015)
rer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do (Vigência)
parágrafo único do art. 66 desta Lei. § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser ofe-
recida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e SEÇÃO IV
as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências DA EXECUÇÃO
previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo,
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumpri-
entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e ime-
mento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado.
diatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiên-
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta
cia de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o
a punibilidade, determinando que a condenação não fique constan-
Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.
do dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a con-
dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de
instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou versão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos
apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias an- termos previstos em lei.
tes de sua realização.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restri- Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as au-
tivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada diências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades
perante o órgão competente, nos termos da lei. a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de
acordo com audiências previamente anunciadas.
SEÇÃO V Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e ins-
DAS DESPESAS PROCESSUAIS talarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar da
vigência desta Lei.
Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação Parágrafo único. No prazo de 6 (seis) meses, contado da pu-
de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as des- blicação desta Lei, serão criados e instalados os Juizados Especiais
pesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual. Itinerantes, que deverão dirimir, prioritariamente, os conflitos exis-
tentes nas áreas rurais ou nos locais de menor concentração popu-
SEÇÃO VI lacional. (Redação dada pela Lei nº 12.726, de 2012)
DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após
a sua publicação.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de 1965 e
especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos cri- a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
mes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual
ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministé-
rio Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do EXERCÍCIOS
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, 01. Em relação aos Juizados Especiais Criminais, correto afirmar
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão con- que
dicional da pena (art. 77 do Código Penal). (A) a competência será determinada pelo lugar em que foi
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presen- praticada a infração penal ou pelo domicílio da vítima, a crité-
ça do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, rio desta.
submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: (B) cabível a interposição de recurso em sentido estrito, no
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; prazo de 05 (cinco) dias, contra a decisão de rejeição da
II - proibição de frequentar determinados lugares; denúncia ou queixa, com abertura de vista para apresentação
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem au- das razões em 08 (oito) dias.
torização do Juiz; (C) não cabe recurso especial contra decisão proferida por
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmen- turma recursal, competindo a esta, porém, processar e julgar
te, para informar e justificar suas atividades. mandado de segurança contra ato de juizado especial.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica su-
(D) cabem embargos de declaração, no prazo de 05 (cinco)
bordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação
dias, quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade,
pessoal do acusado.
contradição ou omissão, sem interrupção, contudo, do prazo
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o bene-
para a interposição de recurso.
ficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
(E) os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se
motivo justificado, a reparação do dano.
em horário noturno e em qualquer dia da semana, incabível,
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser
porém, a prática em outras comarcas.
processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir
qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a 02. Em ação penal privada, pedido de suspensão condicional
punibilidade. do processo
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do (A) não é cabível, assim como a transação penal, porque tanto
processo. esse pedido quanto a transação penal são exclusivos de ações
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, penais públicas.
o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. (B) é cabível, desde que oferecido pelo Ministério Público, por
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos ser um direito público subjetivo do acusado.
penais cuja instrução já estiver iniciada. (Vide ADIN nº 1.719-9) (C) não é cabível, diferentemente da transação penal, haja
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito vista expressa disposição legal.
da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999) (D) é cabível, desde que oferecido pelo ofendido.
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação (E) é cabível somente em favor do réu, haja vista a possibili-
para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu repre- dade de ofensa ao princípio da indivisibilidade da ação penal
sentante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, privada.
sob pena de decadência.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Pe- 03. No juizado especial criminal, a sentença
nal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei. I poderá sujeitar o réu a pena restritiva de direitos.
II não poderá substituir pena privativa de liberdade por pena
CAPÍTULO IV restritiva de direitos.
DISPOSIÇÕES FINAIS COMUNS III não poderá aplicar a extinção da punibilidade em decorrên-
cia da prescrição.
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Espe- IV deverá absolver o acusado sempre que identificar incompe-
ciais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e competên- tência material do juizado para a causa.
cia.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Assinale a opção correta. 08. (IGP/SC - Papiloscopista – IESES/2017). De acordo com a lei
(A) Apenas o item I está certo. 12,037/2009, que dispõe sobre a identificação criminal do civilmen-
(B) Apenas o item II está certo. te identificado, embora apresentado documento de identificação,
(C) Apenas os itens I e IV estão certos. poderá ocorrer identificação criminal quando:
(D) Apenas os itens II e III estão certos. I. O indiciado portar documentos de identidade distintos, com
(E) Apenas os itens III e IV estão certos. informações conflitantes entre si.
II. Constar de registros policiais o uso de outros nomes ou dife-
04. Em se tratando de sentença condenatória proferida no jui- rentes qualificações.
zado especial criminal, a dosimetria da pena III. A identificação criminal for essencial às investigações poli-
(A) será obrigatória somente no caso de pena privativa de ciais, segundo despacho da autoridade policial competente.
liberdade cumulada com multa. IV. O documento apresentar rasura ou tiver indício de falsifi-
(B) será obrigatória no caso de sentença que fixa pena privati- cação.
va de liberdade. V. O estado de conservação ou a distância temporal ou da lo-
(C) não se aplica, independentemente da pena imposta. calidade da expedição do documento apresentado impossibilite a
(D) será obrigatória somente no caso de pena privativa de completa identificação dos caracteres essenciais.
liberdade por período igual ou superior a dois anos.
(E) será obrigatória somente no caso de o juiz substituir a A sequência correta é:
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. (A) Apenas as assertivas II, III, IV e V estão corretas.
(B) Apenas a assertiva III está incorreta.
05. Nos casos de crimes em que a pena mínima cominada é (C) As assertivas I, II, III, IV e V estão corretas.
igual ou inferior a um ano, o Ministério Público poderá oferecer a (D) Apenas as assertivas II e IV estão corretas.
suspensão condicional do processo no momento
(A) da audiência de instrução. 09. (PC/DF - Papiloscopista Policial – FUNIVERSA) A Lei n.º
(B) da audiência preliminar. 12.037/2009 dispõe acerca da identificação criminal do indivíduo
(C) da lavratura do termo, antes da sentença. civilmente identificado, estando correto afirmar que
(D) do oferecimento da denúncia. (A) basta a juntada do procedimento datiloscópico aos autos
(E) da audiência de conciliação. da comunicação da prisão em flagrante para o processo de
identificação criminal.
06. (POLITEC/MT - Papiloscopista – UFMT/2017). Quanto à (B) não é vedado informar a identificação criminal de indiví-
possibilidade de identificação criminal, regulamentada pela Lei n° duo indiciado nos atestados de antecedentes destinados à
12.037/2009, assinale a afirmativa correta. justiça.
(A) O indiciado será identificado criminalmente se, no momen- (C) o civilmente identificado não será submetido à identifica-
to do flagrante, portar passaporte emitido pela Polícia Federal ção criminal.
e não portar a carteira de identidade emitida por órgão esta- (D) a identificação civil só poderá ser atestada pela carteira de
dual de Segurança Pública. identidade, pela carteira de trabalho ou por meio da apresen-
(B) A identificação criminal incluirá o processo datiloscópico e tação de um passaporte.
o fotográfico. (E) os documentos de identificação civil, no tocante à identifi-
(C) O indiciado deverá ser identificado criminalmente se cação criminal do civilmente identificado, são equiparados aos
constar registro criminal anteriormente com o mesmo nome documentos de identificação militar.
registrado no documento civil apresentado.
(D) A identificação criminal em nenhuma hipótese incluirá a 10. (PC/GO - Papiloscopista – FUNIVERSA). Quanto à identifi-
coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético cação criminal, é correto afirmar que
e inclusão no Banco de dados de DNA. (A) a identificação criminal dar-se-á por meio dos processos
datiloscópico e fotográfico.
07. (DPE/RO - Defensor Público Substituto – VUNESP/2017). A (B) a carteira de identificação funcional e a carteira profissio-
respeito da identificação criminal do civilmente identificado, assina- nal não são documentos de identificação civil válidos para se
le a alternativa correta. excluir a necessidade de uma identificação criminal.
(A) É obrigatório mencionar a identificação criminal do indi- (C) o civilmente identificado por meio de documento de
ciado em atestados de antecedentes ou em informações não identificação civil válido não será submetido à identificação
destinadas ao juízo criminal, antes do trânsito em julgado da criminal.
sentença condenatória. (D) os documentos de identificação militares não se equi-
(B) Em sendo processado criminalmente, o civilmente identifi- param aos documentos de identificação civil para excluir a
cado será sempre submetido à identificação criminal. necessidade de identificação criminal, devendo para tal serem
(C) A identificação do perfil genético será armazenada em validados pela apresentação concomitante da carteira de
banco de dados, sem reserva de sigilo. identidade ou da carteira de trabalho.
(D) No caso de absolvição, é facultado ao réu, após o trânsito (E) a identificação criminal, mesmo diante da apresentação da
em julgado da sentença, requerer a retirada da identificação carteira de identidade, poderá ocorrer quando for essencial
fotográfica do processo, desde que apresente provas de sua às investigações criminais, independentemente de decisão da
identificação civil. autoridade judiciária competente.
(E) É facultada na identificação criminal a realização do pro-
cesso datiloscópico.

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LEGISLAÇÃO ESPECIAL

GABARITO ANOTAÇÕES

1 C ______________________________________________________
2 D ______________________________________________________
3 A
______________________________________________________
4 B
5 D ______________________________________________________

6 B ______________________________________________________
7 D
______________________________________________________
8 B
9 E ______________________________________________________

10 A ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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______________________________________________________ ______________________________________________________

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