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CÓD: SL-011MR-22

7908433218395

ALESP
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO

Técnico Legislativo
CONCURSO PÚBLICO Nº 01/2022
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Análise, compreensão e interpretação de diversos tipos de textos verbais, não verbais, literários e não literários. Informações literais
e inferências possíveis. Recursos de coesão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Ponto de vista do autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3. Estruturação do texto: relações entre ideias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Significação contextual de palavras e expressões. Sinônimos e antônimos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Sentido próprio e figurado das palavras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6. Classes de palavras: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome,
verbo, advérbio, preposição e conjunção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
7. Sintaxe: período simples; período composto - coordenação e subordinação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
8. Concordância verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
9. Regência verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
10. Colocação pronominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
11. Crase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
12. Voz Ativa e Passiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
13. Pontuação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
14. Ortografia oficial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
15. Acentuação gráfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Raciocínio Lógico-Matemático
1. Operações, expressões e problemas com números naturais. Números fracionários, decimais, inteiros, racionais e reais. . . . . . . . 01
2. Equação de 1º e 2º graus, com variáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
3. Razão e proporção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. Regra de 3 simples e composta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Geometria. Cálculo de área e de volume. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das relações
fornecidas e avalição das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão do processo lógico que, a
partir de um conjunto de hipóteses, conduz, de forma válida, a conclusões determinadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Noções de Informática
1. MS-Windows 10: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência, manipulação de arquivos
e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o conjunto de aplicativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. MS-Office 2016. MS-Word 2016: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas, índices,
inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto. MS-Excel 2016: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas,
colunas, pastas e gráficos, elaboração de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, cam-
pos predefinidos, controle de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados. . . . . . . . . . 10
3. Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos. Internet: navegação na internet,
conceitos de URL, links, sites, busca e impressão de páginas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Redação Oficial
1. Documentos oficiais, tipos, composição e estrutura. Aspectos gerais da Redação Oficial. Correspondência oficial: definição, formali-
dade e padronização; impessoalidade, linguagem dos atos e comunicações oficiais, concisão e clareza, editoração de textos (Manual
de Redação da Presidência da República ʹ 3ª edição, revista, atualizada e ampliada) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
ÍNDICE

Noções de Direito Administrativo


1. Princípios da Administração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Organização administrativa: Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Poderes da Administração: hierárquico; disciplinar; poder normativo e regulamentar; vinculado; discricionário. Poder de polícia: con-
ceito, características, finalidade e limites. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
4. Ato administrativo: conceito; requisitos; atributos; classificação; espécies; discricionariedade e vinculação; invalidação; anulação;
revogação; prescrição; cassação e revalidação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Agentes Públicos: Normas constitucionais concernentes aos servidores públicos (arts. 39 a 41, CF) Servidores públicos: classificação e
características. Regimes jurídicos funcionais: único, estatutário, e de emprego público. Cargo público: conceito e espécies; provimen-
to; estabilidade; vacância; remoção; redistribuição e substituição. Concurso público. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6. Serviços Públicos: conceito, classificação, regulamentação e controle; forma, meios e requisitos; delegação: concessão, permissão,
autorização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
7. Contratos administrativos: conceito, peculiaridades e interpretação. Formalização, execução, inexecução, revisão e rescisão. . . . 55
8. Processo administrativo: conceito, princípios, fases e modalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
9. Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Estadual (Lei Estadual nº 10.177/1998); . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
10. Licitação: conceito, finalidades, princípios e objeto. Obrigatoriedade, dispensa, inexigibilidade e vedação. Modalidades. Procedimen-
to, revogação e anulação. Sanções. Normas gerais de licitação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
11. Controle da Administração. Controle interno e externo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
12. Lei de Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8.429/1992); . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
13. Processo administrativo: conceito, princípios, fases e modalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
14. Processo administrativo no âmbito da administração pública estadual (lei estadual nº 10.177/1998) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
15. Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

Noções de Direito Constitucional


1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: princípios fundamentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políti-
cos; partidos políticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Organização político-administrativa do Estado: Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e territóri-
os. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Poder Executivo. Atribuições e responsabilidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Poder Legislativo: estrutura, funcionamento e atribuições; processo legislativo; fiscalização contábil, financeira e orçamentária;
comissões parlamentares de inquérito. Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (arts. 70 a 75). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Poder Judiciário: disposições gerais; órgãos do Poder Judiciário: organização e competências; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
7. Conselho Nacional de Justiça: composição e competências. Ministério Público; advocacia pública; defensoria pública. . . . . . . . . 18
8. Administração Pública (arts. 37 a 43). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
9. Finanças Públicas (arts. 163 a 169). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Constituição do Estado de São Paulo: Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (arts. 32 a 36). Administração Pública (arts. 111
a 116). Servidores Públicos Civis (arts. 124 a 137). Finanças (arts. 169 a 173). Orçamentos (arts. 174 a 176) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
ÍNDICE

Noções de Administração Pública


1. Modelos teóricos de administração pública. Patrimonialista, burocrático e gerencial. Evolução do Estado brasileiro e as experiências
de reformas administrativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Convergências e divergências entre a gestão pública e a gestão privada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3. Governabilidade, governança e accountability. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4. Características básicas das organizações formais modernas. Tipos de estrutura organizacional, natureza, finalidades e critérios de
departamentalização. Processo organizacional. Planejamento, direção, comunicação, controle e avaliação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5. Organização administrativa. Centralização, descentralização, concentração e desconcentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6. Gestão de pessoas na administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
7. Ética no setor público. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
8. Gestão de suprimentos e logística na administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
9. Planejamento e gestão estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
10. Ferramentas da qualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
11. Gestão de processos. Conceitos da abordagem por processos. Técnicas de mapeamento, análise e melhoria de processos. . . . . 105
12. Sistemas de gestão da qualidade e certificação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
13. Governo eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
14. Gestão por resultados na produção de serviços públicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
15. Indicadores de desempenho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
16. Transparência e controle da administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
17. Controle social e cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
18. Comunicação na gestão pública e na gestão de redes organizacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

Conteúdo Digital Complementar e Exclusivo

Legislação - Direito Administrativo


1. Lei de improbidade administrativa (lei federal nº 8.429/1992) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Processo administrativo: conceito, princípios, fases e modalidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
3. Lei federal nº 12.527/2011 (lei de acesso à informação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Noções de Orçamento Público


1. Princípios Orçamentários. Diretrizes Orçamentá Rias. Processo Orçamentário. Métodos, Técnicas E Instrumentos Do Orçamento Públi-
co; Normas Legais Aplicáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Receita Pública: Categorias, Fontes, Estágios; Dívida Ativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3. Despesa Pública: Categorias, Estágios. Restos A Pagar. Despesas De Exercícios Anteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4. Lei Federal Complementar Nº 101/2000 E Suas Alterações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Atenção
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LÍNGUA PORTUGUESA
1. Análise, compreensão e interpretação de diversos tipos de textos verbais, não verbais, literários e não literários. Informações literais
e inferências possíveis. Recursos de coesão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Ponto de vista do autor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3. Estruturação do texto: relações entre ideias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. Significação contextual de palavras e expressões. Sinônimos e antônimos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
5. Sentido próprio e figurado das palavras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
6. Classes de palavras: emprego e sentido que imprimem às relações que estabelecem: substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome,
verbo, advérbio, preposição e conjunção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
7. Sintaxe: período simples; período composto - coordenação e subordinação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
8. Concordância verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
9. Regência verbal e nominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
10. Colocação pronominal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
11. Crase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
12. Voz Ativa e Passiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
13. Pontuação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
14. Ortografia oficial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
15. Acentuação gráfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
LÍNGUA PORTUGUESA
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
ANÁLISE, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
DIVERSOS TIPOS DE TEXTOS VERBAIS, NÃO VERBAIS, com a não-verbal.
LITERÁRIOS E NÃO LITERÁRIOS. INFORMAÇÕES
LITERAIS E INFERÊNCIAS POSSÍVEIS. RECURSOS DE
COESÃO

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-
ou que faça com que você realize inferências. tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. este processo é intertextualidade.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. Interpretação de Texto
Percebeu a diferença? Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
Tipos de Linguagem bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que de um texto.
facilite a interpretação de textos. A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
pode ser escrita ou oral. texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, - Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po-
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. lêmicos;
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa-
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.

1
LÍNGUA PORTUGUESA
– Separe fatos de opiniões. CACHORROS
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
tável). espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
– Retorne ao texto sempre que necessário. seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
enunciados das questões. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
– Reescreva o conteúdo lido. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
picos ou esquemas. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
outro e a parceria deu certo.
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
distração, mas também um aprendizado. to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a com- falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
preensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. As informações que se relacionam com o tema chamamos de
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
do texto. fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- capaz de identificar o tema do texto!
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na
prova. Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi- -secundarias/
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca TEXTOS VARIADOS
extrapole a visão dele.
Ironia
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo novo sentido, gerando um efeito de humor.
significativo, que é o texto. Exemplo:
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!

Ironia de situação ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-


A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o NERO EM QUE SE INSCREVE
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a principal. Compreender relações semânticas é uma competência
morte. imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
Ironia dramática (ou satírica) -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten- Busca de sentidos
ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé- apreensão do conteúdo exposto.
dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con- Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
da narrativa. citadas ou apresentando novos conceitos.
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história entrelinhas. Deve-seater às ideias do autor, o que não quer dizer
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.
Importância da interpretação
Humor A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- específicos, aprimora a escrita.
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es- de destaque sobre algum assunto de interesse.
tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que berdade para quem recebe a informação.
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
Fato
Diferença entre compreensão e interpretação O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Gêneros Discursivos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Interpretação
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No sas, previmos suas consequências.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
dárias. tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente ças sejam detectáveis.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Exemplos de interpretação:
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
encaminham-se diretamente para um desfecho. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- do que com a filha.
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O Opinião
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais que fazemos do fato.
curto. Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
como horas ou mesmo minutos. anteriores:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin- tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de do que com a filha. Ela foi egoísta.
imagens.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mos expressando nosso julgamento. mais direto.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando NÍVEIS DE LINGUAGEM
analisamos um texto dissertativo.
Definição de linguagem
Exemplo: Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
com o sofrimento da filha. gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
e o do leitor. e caem em desuso.
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
sem coerência.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Gíria (Vinícius de Moraes)
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de comportamentos, nas leis jurídicas.
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode Características principais:
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
de pequenos grupos ou cair em desuso. bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
“mina”, “tipo assim”. • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Linguagem vulgar
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco Exemplo:
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
comida”. na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Linguagem regional que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- perior para formação de oficiais.
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero

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LÍNGUA PORTUGUESA
Características principais: GÊNEROS TEXTUAIS
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são
gestão/solução). passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser-
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e textuais que neles predominam.
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Descritivo Diário
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Relatos (viagens, históricos, etc.)
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Biografia e autobiografia
Notícia
Exemplo: Currículo
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Lista de compras
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Cardápio
administração política (tese), porque a força governamental certa- Anúncios de classificados
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Injuntivo Receita culinária
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Bula de remédio
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Manual de instruções
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Regulamento
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Textos prescritivos
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Expositivo Seminários
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Palestras
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Conferências
cobrança efetiva (conclusão). Entrevistas
Trabalhos acadêmicos
Tipo textual narrativo Enciclopédia
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Verbetes de dicionários
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Carta de opinião
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Resenha
Artigo
Características principais: Ensaio
• O tempo verbal predominante é o passado. Monografia, dissertação de
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- mestrado e tese de doutorado
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
Narrativo Romance
onisciente).
Novela
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
Crônica
prosa, não em verso.
Contos de Fada
Fábula
Exemplo:
Lendas
Solidão
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- nitos e mudam de acordo com a demanda social.
rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
Nelson S. Oliveira ARGUMENTAÇÃO
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
reais/4835684 ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele
propõe.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- ARGUMENTAÇÃO
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu- de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- propõe. Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação,
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. todo texto contém um componente argumentativo. A argumenta-
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de ção é o conjunto de recursos de natureza linguística destinados a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o persuadir a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente
enunciador está propondo. em todo tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pon-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. tos de vista defendidos.
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
mento de premissas e conclusões. que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
A é igual a B. sos de linguagem.
A é igual a C. Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
Então: C é igual a A. voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, escolher entre duas ou mais coisas”.
que C é igual a A. Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
Outro exemplo: vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
Todo ruminante é um mamífero. Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
A vaca é um ruminante. coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
Logo, a vaca é um mamífero. cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
também será verdadeira. domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada enunciador está propondo.
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati- missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
outro fundado há dois ou três anos. mento de premissas e conclusões.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
A é igual a B. tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
A é igual a C. o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
Então: C é igual a B. um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
acreditar que é verdade.
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
que C é igual a A. Argumento de Quantidade
Outro exemplo: É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
Todo ruminante é um mamífero. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
A vaca é um ruminante. duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
Logo, a vaca é um mamífero. desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão largo uso do argumento de quantidade.
também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, Argumento do Consenso
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as
instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati- afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que
vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao
que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
outro fundado há dois ou três anos. mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase carentes de qualquer base científica.
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten- Argumento de Existência
der bem como eles funcionam. É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó- provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas do que dois voando”.
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre-
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori- comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
zado numa dada cultura. vios, etc., ganhava credibilidade.

Tipos de Argumento Argumento quase lógico


Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
mento. Exemplo: chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
Argumento de Autoridade elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
dadeira. Exemplo: tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para indevidas.
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
cimento. Nunca o inverso.
Alex José Periscinoto.
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2

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LÍNGUA PORTUGUESA
Argumento do Atributo - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
que é mais grosseiro, etc. que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, outros à sua dependência política e econômica”.
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
de. dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da o assunto, etc).
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
dizer dá confiabilidade ao que se diz. afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
por bem determinar o internamento do governador pelo período ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al- gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-
guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi- gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo
tal por três dias. de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- comportamento.
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
texto tem sempre uma orientação argumentativa. empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo mica e até o choro.
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
outras, etc. Veja: dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
vam abraços afetuosos.” ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
injustiça, corrupção). essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são ver as seguintes habilidades:
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
o argumento. ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
mente contrária;

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LÍNGUA PORTUGUESA
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o cobre (particular)
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- O ferro, o bronze, o cobre são metais
ria contra a argumentação proposta; Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos- Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
ta. e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- sofisma no seguinte diálogo:
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Lógico, concordo.
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Claro que não!
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar Exemplos de sofismas:
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução. Dedução
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a Todo professor tem um diploma (geral, universal)
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Fulano tem um diploma (particular)
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
da verdade: Indução
- evidência; O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
- divisão ou análise; cular)
- ordem ou dedução; Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
- enumeração. Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão – conclusão falsa)
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo. Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes-
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor.
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun-
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su-
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea-
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não dos nos sentimentos não ditados pela razão.
caracteriza a universalidade. Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
o efeito. Exemplo: pesquisa.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Fulano é homem (premissa menor = particular) todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
Logo, Fulano é mortal (conclusão) pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o ferro (particular) o relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o bronze (particular)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
relacionadas: é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação - o termo a ser definido;
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco- - o gênero ou espécie;
lha dos elementos que farão parte do texto. - a diferença específica.
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca- O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen- ma espécie. Exemplo:
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. Elemento especiediferença
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- a ser definidoespecífica
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
sabiá, torradeira. realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. ou instalação”;
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou dida;d
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
(Garcia, 1973, p. 302304.) cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- diferenças).
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos vra e seus significados.
de vista sobre ele.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
mentação coerente e adequada. uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco- caráter confirmatório que comprobatório.
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu- cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- caso, incluem-se
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está mortal, aspira à imortalidade);
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- dos e axiomas);
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
cífico de relação entre as premissas e a conclusão. desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: parece absurdo).
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior cretos, estatísticos ou documentais.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
virtude de, em vista de, por motivo de. niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, gumentação:
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
assim, desse ponto de vista. Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração dadeira;
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- dade da afirmação;
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, ridade que contrariam a afirmação apresentada;
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con-
que, melhor que, pior que. traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar é que gera o controle demográfico”.
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
elaboração de um Plano de Redação.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
tecnológica a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos- escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
ta, justificar, criando um argumento básico; textos caracterizada por um citar o outro.
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
(rever tipos de argumentação); fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
quência); pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o mencionar um provérbio conhecido.
argumento básico; Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu- má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
mento básico; zá-lo ou ao compará-lo com outros.
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
menos a seguinte: samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
Introdução tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
- função social da ciência e da tecnologia; nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- definições de ciência e tecnologia; alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Tipos de Intertextualidade
Desenvolvimento A intertextualidade acontece quando há uma referência ex-
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer
vimento tecnológico; com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
condições de vida no mundo atual; dade.
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá-
desenvolvidos; logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
sado; apontar semelhanças e diferenças; Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
banos; firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar outras palavras o que já foi dito.
mais a sociedade. A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex-
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto
Conclusão de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse- um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada
quências maléficas; para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces-
apresentados. so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente-
ção: é um dos possíveis. mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica
e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece demagogia praticada pela classe dominante.
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con-
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re-
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra-
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé”
é inserida. (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. cultura é o melhor conforto para a velhice”.

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LÍNGUA PORTUGUESA
A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro- Primeira pessoa
dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
termo “citação” (citare) significa convocar. leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros só descobrimos ao decorrer da história.
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). Segunda pessoa
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
Pastiche é uma recorrência a um gênero. logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
quase como outro personagem que participa da história.
A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
a recriação de um texto. Terceira pessoa
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
produtor e ao receptor de textos. guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi-
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
daquela citação ou alusão em questão. outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a
leitura não fique confuso.
Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte, ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO: RELAÇÕES ENTRE IDEIAS
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
São três os elementos essenciais para a composição de um tex-
A intertextualidade explícita: to: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar
– é facilmente identificada pelos leitores; cada uma de forma isolada a seguir:
– estabelece uma relação direta com o texto fonte;
– apresenta elementos que identificam o texto fonte; Introdução
– não exige que haja dedução por parte do leitor;
– apenas apela à compreensão do conteúdos. É a apresentação direta e objetiva da ideia central do texto. A
introdução é caracterizada por ser o parágrafo inicial.
A intertextualidade implícita: Desenvolvimento
– não é facilmente identificada pelos leitores;
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte; Quando tratamos de estrutura, é a maior parte do texto. O
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte; desenvolvimento estabelece uma conexão entre a introdução e a
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par- conclusão, pois é nesta parte que as ideias, argumentos e posicio-
te dos leitores; namento do autor vão sendo formados e desenvolvidos com a fina-
– exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para lidade de dirigir a atenção do leitor para a conclusão.
a compreensão do conteúdo. Em um bom desenvolvimento as ideias devem ser claras e ap-
tas a fazer com que o leitor anteceda qual será a conclusão.
PONTO DE VISTA DO AUTOR São três principais erros que podem ser cometidos na elabora-
ção do desenvolvimento:
- Distanciar-se do texto em relação ao tema inicial.
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes - Focar em apenas um tópico do tema e esquecer dos outros.
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de - Falar sobre muitas informações e não conseguir organizá-las,
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com- dificultando a linha de compreensão do leitor.
preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir Conclusão
diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob- Ponto final de todas as argumentações discorridas no desen-
servador e o narrador-personagem. volvimento, ou seja, o encerramento do texto e dos questionamen-
tos levantados pelo autor.
Ao fazermos a conclusão devemos evitar expressões como:
“Concluindo...”, “Em conclusão, ...”, “Como já dissemos antes...”.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo

Se caracteriza como um pequeno recuo em relação à margem esquerda da folha. Conceitualmente, o parágrafo completo deve conter
introdução, desenvolvimento e conclusão.
- Introdução – apresentação da ideia principal, feita de maneira sintética de acordo com os objetivos do autor.
- Desenvolvimento – ampliação do tópico frasal (introdução), atribuído pelas ideias secundárias, a fim de reforçar e dar credibilidade
na discussão.
- Conclusão – retomada da ideia central ligada aos pressupostos citados no desenvolvimento, procurando arrematá-los.

Exemplo de um parágrafo bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e conclusão):

“Nesse contexto, é um grave erro a liberação da maconha. Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá
o precário controle que ainda exerce sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura
suficiente para atender à demanda. Enfim, viveremos o caos. ”
(Alberto Corazza, Isto É, com adaptações)

Elemento relacionador: Nesse contexto.


Tópico frasal: é um grave erro a liberação da maconha.
Desenvolvimento: Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O Estado perderá o precário controle que ainda exerce sobre
as drogas psicotrópicas e nossas instituições de recuperação de viciados não terão estrutura suficiente para atender à demanda.
Conclusão: Enfim, viveremos o caos.

SIGNIFICAÇÃO CONTEXTUAL DE PALAVRAS E EXPRESSÕES. SINÔNIMOS E ANTÔNIMOS

Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos que
compõem este estudo.

Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.

O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.

Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

SENTIDO PRÓPRIO E FIGURADO DAS PALAVRAS

Figuras de Linguagem
As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso
linguístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tornando-o
poético.

As figuras de linguagem classificam-se em


- figuras de palavra;
- figuras de pensamento;
- figuras de construção ou sintaxe.

Figuras de palavra: emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um
efeito mais expressivo na comunicação.

Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos conectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente vem
com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase.

Exemplos
...a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)

Encarnado e azul são as cores do meu desejo.


(Carlos Drummond de Andrade)

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal como,
que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a comparação: parecer, assemelhar-se e outros.

Exemplo:
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando você entrou em mim como um sol no quintal.
(Belchior)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
qual não existe uma designação apropriada. na prosódia, mas diferentes no sentido.

Exemplos Exemplo:
– folha de papel Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
– braço de poltrona [erro
– céu da boca quero que você ganhe que
– pé da montanha [você me apanhe
sou o seu bezerro gritando
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- [mamãe.
tidos físicos. (Caetano Veloso)

Exemplo: Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-


Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) duzido por seres animados e inanimados.
mecânica.
(Carlos Drummond de Andrade) Exemplo:
Vai o ouvido apurado
A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste- na trama do rumor suas nervuras
sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen- inseto múltiplo reunido
ça gelada”. para compor o zanzineio surdo
circular opressivo
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade, zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o. da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)
Exemplos
O filósofo de Genebra (= Calvino). Observação: verbos que exprimem os sons são considerados
O águia de Haia (= Rui Barbosa). onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc.

Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que Figuras de sintaxe ou de construção: dizem respeito a desvios
a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida. em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem,
possíveis repetições ou omissões.
Exemplos:
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras) Podem ser formadas por:
Comprei um panamá. (chapéu de Panamá) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
Tomei um Danone. (iogurte) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné- ruptura: anacoluto;
doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural. concordância ideológica: silepse.

Exemplo: Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período,


A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro frase ou verso.
sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
plural) Exemplo:
(José Cândido de Carvalho) Dentro do tempo o universo
[na imensidão.
Figuras Sonoras Dentro do sol o calor peculiar
Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral- [do verão.
mente em posição inicial da palavra. Dentro da vida uma vida me
[conta uma estória que fala
Exemplo: [de mim.
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve- Dentro de nós os mistérios
ladas. [do espaço sem fim!
(Cruz e Sousa) (Toquinho/Mutinho)
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam
Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
verso ou poesia. vírgulas.

Exemplo: Exemplo:
Sou Ana, da cama, Não nos movemos, as mãos é
da cana, fulana, bacana que se estenderam pouco a
Sou Ana de Amsterdam. pouco, todas quatro, pegando-se,
(Chico Buarque) apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical. frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
Exemplo: função sintática definida.
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem
tuge, nem muge. Exemplos:
(Rubem Braga) E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
(Manuel Bandeira)
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter-
mo já expresso. Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres- (José Lins do Rego)
são, dando ênfase à mensagem.
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
Exemplos: pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).
Não os venci. Venceram-me
eles a mim. Exemplo:
(Rui Barbosa) ...em cada olho um grito castanho de ódio.
(Dalton Trevisan)
Morrerás morte vil na mão de um forte. ...em cada olho castanho um grito de ódio)
(Gonçalves Dias)
Silepse:
Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia-
na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado. Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo
ou pronome com a pessoa a que se refere.
Exemplos:
Ouvir com os ouvidos. Exemplos:
Rolar escadas abaixo. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
Colaborar juntos. (Rachel de Queiroz)
Hemorragia de sangue.
Repetir de novo. V. Ex.a parece magoado...
(Carlos Drummond de Andrade)
Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con- Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com
junções, preposições e verbos. o sujeito da oração.

Exemplos: Exemplos:
Compareci ao Congresso. (eu) Os dois ora estais reunidos...
Espero venhas logo. (eu, que, tu) (Carlos Drummond de Andrade)
Ele dormiu duas horas. (durante)
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver)
(Camões) Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas.
(Machado de Assis)
Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior-
mente. Silepse de número: Não há concordância do número verbal
com o sujeito da oração.
Exemplos:
Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes. Exemplo:
(Camilo Castelo Branco) Corria gente de todos os lados, e gritavam.
(Mário Barreto)
Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
(Machado de Assis)
CLASSES DE PALAVRAS: EMPREGO E SENTIDO QUE
Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen- IMPRIMEM ÀS RELAÇÕES QUE ESTABELECEM: SUBS-
tos na frase. TANTIVO, ADJETIVO, ARTIGO, NUMERAL, PRONOME,
VERBO, ADVÉRBIO, PREPOSIÇÃO E CONJUNÇÃO
Exemplos:
Passeiam, à tarde, as belas na avenida. CLASSES DE PALAVRAS
(Carlos Drummond de Andrade)
Substantivo
Paciência tenho eu tido... São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
(Antônio Nobre) nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Classificação dos substantivos b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
sua estrutura. macaco/João/sabão para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
o/a estudante, o/a colega.
SUBSTANTIVOS Macacos-prego/ • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
COMPOSTOS: são formados porta-voz/ – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
por mais de um radical em sua pé-de-moleque – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
estrutura.
SUBSTANTIVOS Casa/ • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
PRIMITIVOS: são os que dão mundo/ diminutivo.
origem a outras palavras, ou população – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
seja, ela é a primeira. /formiga – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
SUBSTANTIVOS Caseiro/mundano/ – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.
DERIVADOS: são formados populacional/formigueiro
por outros radicais da língua. Adjetivo
SUBSTANTIVOS Rodrigo É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substanti-
PRÓPRIOS: designa /Brasil vo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão
determinado ser entre outros /Belo Horizonte/Estátua composta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo
da mesma espécie. São da Liberdade por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um ad-
sempre iniciados por letra jetivo: golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal
maiúscula. vespertino).
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
Flexão do Adjetivos
referem-se qualquer ser de cachorro/prima
• Gênero:
uma mesma espécie.
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
SUBSTANTIVOS Leão/corrente no: homem feliz, mulher feliz.
CONCRETOS: nomeiam seres /estrelas/fadas – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
com existência própria. Esses /lobisomem para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
seres podem ser animadoso /saci-pererê japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.
ou inanimados, reais ou
imaginários. • Número:
SUBSTANTIVOS Mistério/ – Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
ABSTRATOS: nomeiam bondade/ número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
ações, estados, qualidades confiança/ res, japonês/ japoneses.
e sentimentos que não tem lembrança/ – Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
existência própria, ou seja, só amor/ branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.
existem em função de um ser. alegria
• Grau:
SUBSTANTIVOS Elenco (de atores)/ – Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vito-
COLETIVOS: referem-se a um acervo (de obras rioso (do) que o seu.
conjunto de seres da mesma artísticas)/buquê (de flores) – Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vito-
espécie, mesmo quando rioso (do) que o seu.
empregado no singular e – Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso
constituem um substantivo quanto o seu.
comum. – Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssi-
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS mo.
PALAVRAS QUE NÃO ESTÃO AQUI! – Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito fa-
moso.
Flexão dos Substantivos – Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi- mais famoso de todos.
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou – Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é me-
uniformes nos famoso de todos.
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o Artigo
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina É uma palavra variável em gênero e número que antecede o
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em • Classificação e Flexão do Artigos
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros. – Artigos Definidos: o, a, os, as.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá- O menino carregava o brinquedo em suas costas.
veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira As meninas brincavam com as bonecas.
macho/palmeira fêmea. – Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Empregado nas correspondências e textos
Vossa Senhoria
escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pou-
co, pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

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LÍNGUA PORTUGUESA
A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portan-
Conclusivas
to...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante,
Conformativas
etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor,
Comparativas
etc.
Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que,
Consecutivas
etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

SINTAXE: PERÍODO SIMPLES; PERÍODO COMPOSTO - COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase:Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final.


• Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não •
passa no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora
quer comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá in-
de mau humor. veja.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

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LÍNGUA PORTUGUESA
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de
Explicam um termo dito quinta, terão aula de reforço.
anteriormente. SEMPRE serão
acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de
Restringem o sentido de um termo quinta terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de
causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do
Assumem a função de advérbio de dia.
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar
Assumem a função de advérbio de na reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Orações Subordinadas Adverbiais Assumem a função de advérbio de previsto.
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de todos tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono
Assumem a função de advérbio de tinha.
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos
Assumem a função de advérbio de saem de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL

Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amistosa.

Casos Especiais de Concordância Nominal


• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam alerta.

• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na formação de palavras compostas:


Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando • NUNCA devemos usar crase:
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- – Antes de substantivos masculinos:
do advérbios: Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ pé.
Usou meia dúzia de ovos.
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio: plural) usado em sentido generalizador:
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho-
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o mem.
substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. – Antes de artigo indefinido “uma”
Iremos a uma reunião muito importante no domingo.
Concordância Verbal
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: – Antes de pronomes
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa.
mes.
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
Concordância ideológica ou silepse A quem vocês se reportaram no Plenário?
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne- Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
contexto. – Antes de verbos no infinitivo
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
Blumenau estava repleta de turistas.
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
texto. COLOCAÇÃO DOS PRONOMES ÁTONOS
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
sos.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos. culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
demonstrativo. as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
dique a eufonia da frase.
• Devemos usar crase:
– Antes palavras femininas: Próclise
Iremos à festa amanhã Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema.
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de” Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: cientemente.
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Mas... há crase, sim! Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
– Expressões fixas Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
crase: jam reduzidas: Percebia que o observavam.
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às tudo dá.
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- tentos são para nos prejudicarem.
didas, à medida que, à proporção que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL

Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do • Regência Nominal
indicativo: Trago-te flores. A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre- -lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
posição em: Saí, deixando-a aflita. mento é estabelecida por uma preposição.
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: • Regência Verbal
Apressei-me a convidá-los. A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).
Mesóclise Isto pertence a todos.
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
Regência de algumas palavras
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no
futuro do pretérito que iniciam a oração. Esta palavra combina com Esta preposição
Dir-lhe-ei toda a verdade.
Far-me-ias um favor? Acessível a
Apto a, para
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. Atencioso com, para com
Eu lhe direi toda a verdade. Coerente com
Tu me farias um favor?
Conforme a, com
Colocação do pronome átono nas locuções verbais Dúvida acerca de, de, em, sobre
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal Empenho de, em, por
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. Fácil a, de, para,
Exemplos: Junto a, de
Devo-lhe dizer a verdade.
Devo dizer-lhe a verdade. Pendente de
Preferível a
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
Próximo a, de
do auxiliar ou depois do principal.
Exemplos: Respeito a, com, de, para com, por
Não lhe devo dizer a verdade. Situado a, em, entre
Não devo dizer-lhe a verdade.
Ajudar (a fazer algo) a
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, Aludir (referir-se) a
o pronome átono ficará depois do auxiliar.
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. Aspirar (desejar, pretender) a
Assistir (dar assistência) Não usa preposição
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do Deparar (encontrar) com
auxiliar.
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. Implicar (consequência) Não usa preposição
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois Lembrar Não usa preposição
do infinitivo.
Exemplos: Pagar (pagar a alguém) a
Hei de dizer-lhe a verdade. Precisar (necessitar) de
Tenho de dizer-lhe a verdade.
Proceder (realizar) a
Observação Responder a
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Visar ( ter como objetivo a
Devo-lhe dizer tudo.
pretender)
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!

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LÍNGUA PORTUGUESA
Colocação do pronome átono nas locuções verbais
COLOCAÇÃO PRONOMINAL Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve-
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal.
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono- Exemplos:
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma Devo-lhe dizer a verdade.
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou Devo dizer-lhe a verdade.
após o verbo – ênclise.
De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini- Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua- do auxiliar ou depois do principal.
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita, Exemplos:
formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele. Não lhe devo dizer a verdade.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem Não devo dizer-lhe a verdade.
as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju- Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise,
dique a eufonia da frase. o pronome átono ficará depois do auxiliar.
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do
Próclise auxiliar.
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Exemplo: Não lhe havia dito a verdade.

Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade. Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa- do infinitivo.
cientemente. Exemplos:
Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise: Hei de dizer-lhe a verdade.
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Tenho de dizer-lhe a verdade.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada. Observação
Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa? Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante- Devo-lhe dizer tudo.
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor! Estava-lhe dizendo tudo.
Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita! Havia-lhe dito tudo.
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
jam reduzidas: Percebia que o observavam.
CRASE
Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
tudo dá. A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in- é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
tentos são para nos prejudicarem. demonstrativo.
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)
Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. • Devemos usar crase:
– Antes palavras femininas:
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do Iremos à festa amanhã
indicativo: Trago-te flores. Mediante à situação.
Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade! O Governo visa à resolução do problema.
Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre-
posição em: Saí, deixando-a aflita. – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
Apressei-me a convidá-los. Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
Mesóclise vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Mas... há crase, sim!
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no -me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
futuro do pretérito que iniciam a oração. – Expressões fixas
Dir-lhe-ei toda a verdade. Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
Far-me-ias um favor? crase:
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von-
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
Eu lhe direi toda a verdade. direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
Tu me farias um favor? didas, à medida que, à proporção que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• NUNCA devemos usar crase: Os pronomes oblíquos nas construções reflexivas e reciprocas
– Antes de substantivos masculinos: funcionam, como objeto direto ou objeto indireto, dependendo da
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a regência do verbo.
pé.
Exemplos
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou Objeto direto reflexivo
plural) usado em sentido generalizador: Eu me feri com o martelo.
Depois do trauma, nunca mais foi a festas.
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- Objeto indireto reflexivo
mem. Ela se pôs a chorar copiosamente.

– Antes de artigo indefinido “uma” Objeto direto recíproco


Iremos a uma reunião muito importante no domingo. Os torcedores abraçavam-se a cada gol marcado.

– Antes de pronomes Objeto indireto recíproco


Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. Deram-se as mãos e aguardaram o resultado.
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
A quem vocês se reportaram no Plenário? Formação da Voz Passiva
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. Existem dois processos: Analítico e Sintético.

– Antes de verbos no infinitivo Voz Passiva Analítica: Verbo Ser + particípio (-ado / -ido) do
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar. verbo principal.
O jogador será substituído.
VOZ ATIVA E PASSIVA O agente da passiva geralmente é acompanhado da preposição
por, e às vezes de.
São três as vozes verbais: Ativa, Passiva e Reflexão. A ilha ficou cercada de pássaros.

Voz ativa: apresenta sujeito agente, que pratica a ação expres- Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja explí-
sa pelo verbo, a qual recai em um termo paciente (objeto direto). cito na frase: A loja será inaugurada em breve.

Exemplo
O professor instruiu os alunos sobre o trabalho. A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar “ser”, pois o
seu particípio é invariável.
Voz passiva: apresenta sujeito paciente, que recebe a ação ex- Observe:
pressa pelo verbo.
Ele faz o conserto. (presente do indicativo)
Exemplo O conserto é feito por ele. (presente do indicativo)
A igreja foi construída por escravos no século 16.
Em frases com locuções verbais, o verbo “ser” assume o mes-
Voz reflexiva: o sujeito pratica a ação expressa pelo verbo, a mo tempo e modo do verbo principal da voz ativa.
qual recai sobre o próprio sujeito.
Voz Passiva Sintética: verbo na 3ª pessoa, seguido do pronome
Exemplo apassivador “se”:
O cozinheiro cortou-se com a faca. Ouviram-se as rajadas de vento.
Vendeu-se a última caixa de produtos.
A voz reflexiva é sempre construída com o verbo acompanhado
de pronome obliquo de pessoa igual à que o verbo se refere. Geralmente, o agente não vem expresso na voz passiva sinté-
tica.
Pronomes reflexivos
me: a mim mesmo nos: a nos mesmos PONTUAÇÃO
te: a ti mesmo vos: a vos mesmos
se: a si mesmo se: a si mesmos Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema
Voz reflexiva recíproca de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a
Podem indicar a noção de reciprocidade, ação mutua ou corres- organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das
pondida. Os verbos aparecem no plural e podem vir reforçados por pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as
expressões como “um ao outro”, “reciprocamente”, “mutuamente”. funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE-
CHARA, 2009, p. 514)
Exemplo
Os dois abraçavam-se apaixonadamente.

30
LÍNGUA PORTUGUESA
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
sinais gráficos assim distribuídos:os separadores (vírgula [ , ], ponto mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]). rem uma nova inserção.
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
Ponto ( . ) vernador)
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo Aspas ( “ ” )
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
reticências. particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
Estaremos presentes na festa. especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
Ponto de interrogação ( ? ) da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa? Vírgula
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
Ponto de exclamação ( ! ) ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
tiva. vírgula:
Ex: Que bela festa! 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
mos” o momento certo de fazer uso dela.
Reticências ( ... ) 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo. 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
Ex: Essa festa... não sei não, viu. tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.
Dois-pontos ( : ) Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, Mariafoiàpadariaontem.
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. Sujeito VerboObjetoAdjunto
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.

Ponto e vírgula ( ; ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o re por alguns motivos:
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas, 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
ração (frequente em leis), etc. 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- verbo e o adjunto.
bém uma linda decoração e bebidas caras.
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
Travessão ( — ) comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com é necessária:
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- Ontem, Maria foi à padaria.
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir Maria, ontem, foi à padaria.
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- À padaria, Maria foi ontem.
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas. Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. sário:
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
ção.
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
serem observadas na redação oficial.
• Separa aposto.
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
• Separa vocativo.
Brasileiros, é chegada a hora de votar.

31
LÍNGUA PORTUGUESA
• Separa termos repetidos. Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
Aquele aluno era esforçado, esforçado. posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos:
tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, – Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com e ôo(s).
efeito, digo.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
Como era Como fica
ou seja, de fácil compreensão.
abençôo abençoo
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- crêem creem
tos).
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- – Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
• Separa orações coordenadas assindéticas. Atenção:
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as • Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
ideias na cabeça... • Permanece o acento diferencial em pôr/por.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
• Isola o nome do lugar nas datas. dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa palavras forma/fôrma.
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- Uso de hífen
mações comprovam, etc. Regra básica:
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
nizar o problema. mem.

ORTOGRAFIA OFICIAl Outros casos


1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
• Mudanças no alfabeto:O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a das.
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
gui, que, qui. 2. Prefixo terminado em consoante:
Regras de acentuação – Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das -bibliotecário.
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
sílaba) persônico.
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
Como era Como fica
Observações:
alcatéia alcateia
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
apóia apoia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
apóio apoio essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no rar, cooperação, cooptar, coocupante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
mirante.
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
Como era Como fica a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
baiúca baiuca pontapé, paraquedas, paraquedista.
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
bocaiúva bocaiuva usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando Polissílabas: palavras que possuem quatro ou mais sílabas.
muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso Exemplos: mo/da/li/da/de, ad/mi/rá/vel.
vamos passar para mais um ponto importante. Divisão Silábica

Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons - Letras que formam os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs”, e “xc”
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para devem permanecer em sílabas diferentes. Exemplos:
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras. des – cer
Vejamos um por um: pás – sa – ro...

Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre - Dígrafos “ch”, “nh”, “lh”, “gu” e “qu” pertencem a uma única
aberto. sílaba. Exemplos:
Já cursei a Faculdade de História. chu – va
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre quei – jo
fechado.
Meu avô e meus três tios ainda são vivos. - Hiatos não devem permanecer na mesma sílaba. Exemplos:
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este ca – de – a – do
caso afundo mais à frente). ju – í – z
Sou leal à mulher da minha vida.
- Ditongos e tritongos devem pertencer a uma única sílaba.
As palavras podem ser: Exemplos:
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- en – xa – guei
-já, ra-paz, u-ru-bu...) cai – xa
– Paroxítonas:quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, sa-
-bo-ne-te, ré-gua...) - Encontros consonantais que ocorrem em sílabas internas não
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima permanecem juntos, exceto aqueles em que a segunda consoante
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) é “l” ou “r”. Exemplos:
ab – dô – men
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: flau – ta (permaneceram juntos, pois a segunda letra é repre-
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, sentada pelo “l”)
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) pra – to (o mesmo ocorre com esse exemplo)
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, - Alguns grupos consonantais iniciam palavras, e não podem
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS,ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, ser separados. Exemplos:
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) peu – mo – ni – a
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), psi – có – lo – ga
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
dói, coronéis...) Acento Tônico
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais Quando se pronuncia uma palavra de duas sílabas ou mais, há
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) sempre uma sílaba com sonoridade mais forte que as demais.
valor - a sílaba lor é a mais forte.
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- maleiro - a sílaba lei é a mais forte.
nar e fixar as regras.
Classificação por intensidade
DIVISÃO SILÁBICA -Tônica: sílaba com mais intensidade.
- Átona: sílaba com menos intensidade.
A cada um dos grupos pronunciados de uma determinada pa- - Subtônica: sílaba de intensidade intermediária.
lavra numa só emissão de voz, dá-se o nome de sílaba. Na Língua
Portuguesa, o núcleo da sílaba é sempre uma vogal, não existe síla- Classificação das palavras pela posição da sílaba tônica
ba sem vogal e nunca mais que uma vogal em cada sílaba. As palavras com duas ou mais sílabas são classificadas de acor-
Para sabermos o número de sílabas de uma palavra, devemos do com a posição da sílaba tônica.
perceber quantas vogais tem essa palavra. Mas preste atenção, pois
as letras i e u (mais raramente com as letras e e o) podem represen- - Oxítonos: a sílaba tônica é a última. Exemplos: paletó, Paraná,
tar semivogais. jacaré.
- Paroxítonos: a sílaba tônica é a penúltima. Exemplos: fácil, ba-
Classificação por número de sílabas nana, felizmente.
- Proparoxítonos: a sílaba tônica é a antepenúltima. Exemplos:
Monossílabas: palavras que possuem uma sílaba. mínimo, fábula, término.
Exemplos: ré, pó, mês, faz
USOS DE “PORQUE”, “POR QUE”, “PORQUÊ”, “POR QUÊ”
Dissílabas: palavras que possuem duas sílabas.
Exemplos: ca/sa, la/ço. USOS DE “PORQUE”, “POR QUE”, “PORQUÊ”, “POR QUÊ”
O emprego correto das diferentes formas do “porque” sempre
Trissílabas: palavras que possuem três sílabas. gera dúvida. Resumidamente, esses são seus usos corretos:
Exemplos: i/da/de, pa/le/ta.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Perguntas = por que MAIS OU MAS
Respostas = porque
Perguntas no fim das frases = por quê Usadas para adição ou adversidade
Substantivo = (o) porquê As palavras mais ou mas têm sons iguais, mas são escritas de
formas diferentes e cada uma faz parte de uma classificação da
Vejamos uma explicação melhor de cada um: morfologia. Seus significados no contexto também vão mudar de-
pendendo da palavra usada.
Por que? No dia a dia, no discurso informal, é comum ouvir as pessoas
Usamos em perguntas. “Por que” separado e sem acento é usa- falando “mais” quando, na verdade, querem se referir à expressão
do no começo das frases interrogativas diretas ou indiretas, e pode “mas” para dar sentido de oposição à frase. Por isso, é importante
ser substituído por: “pela qual” ou suas variações. falar certo para escrever adequadamente.
Trata-se de um advérbio interrogativo formado da união da Há formas fáceis e rápidas para entender a diferença de quan-
preposição “por” e o pronome relativo “pelo qual”. do usar mais ou mas por meio de substituições de palavras. Elas
Exemplos: Por que está tão quieta? serão explicadas ao longo do texto. Continue lendo este artigo para
Não sei por que tamanho mau humor. nunca mais ter dúvidas sobre o uso destas expressões e ter sucesso
na sua prova.
Porque?
Usamos em respostas. Escrito junto e sem acento, trata-se de Quando usar Mais
conjunção subordinativa causal ou coordenativa explicativa, e pode A palavra “mais” tem sentido de adição, soma, comparação ou
ser substituído por palavras, como “pois”, ou as expressões “para quantidade. É antônima de “menos”. Na dúvida entre mais ou mas,
que” e “uma vez que”. utilize a opção com “i” quando o interlocutor quiser passar a ideia
Por quê? de numeral.
Usamos em perguntas no fim das frases. Escreve-se separado e
com acento circunflexo, e é usado no final das interrogativas diretas Exemplos:
ou de forma isolada. Antes de um ponto mantém o sentido interro- - Mais café, por favor! / + café, por favor!
gativo ou exclamativo. - Seis mais seis é igual a doze. / Seis + seis é igual a doze.
Exemplos: O portão não foi aberto por quê - Quanto mais conhecimento, melhor. / Quanto + conhecimen-
Não vai comer mais? Por quê? to, melhor.
- Iolanda é a garota mais alta da turma. / Iolanda é a garota +
Porquê? alta da turma.
Usamos como substantivo, grafado junto e com acento circun- - Gostaria de mais frutas no café da manhã. / Gostaria de +
flexo. Seu significado é “motivo” ou “razão”, e aparece nas senten- frutas no café da manhã.
ças precedido de artigo, pronome, adjetivo ou numeral com objeti- A forma mais comum de usar “mais” é como advérbio de in-
vo de explicar o motivo dentro da frase. tensidade, mas existem outras opções. Esta palavra pode receber
Exemplo: Não disseram o porquê de tanta tristeza. classificações variadas a depender do contexto da oração. E assumir
a forma de um substantivo, pronome indefinido, advérbio de inten-
Mau e Bom sidade, preposição ou conjunção.
Os Antônimos em questão são adjetivos, ou seja, eles dão ca-
racterística a um substantivo, locução ou qualquer palavra substan- Como identificar
tivada. Seu significado está ligado à qualidade ou comportamentos, Para saber quando deverá ser usado “mais” ao invés de “mas”,
podendo ser tanto sinônimos de “ruim/ótimo” e “maldoso/bondo- troque pelo antônimo “menos”.
so”. As palavras podem se flexionar por gênero e nûmero, se tor- Assim:
nando “má/boa”, “maus/bons” e “más/boas”. Veja alguns exemplos - Mais café, por favor! / Menos café, por favor!
e entenda melhor o seu uso. - Seis mais seis é igual a doze. / Seis menos seis é igual a zero.
Ele é um mau aluno - Quanto mais conhecimento, melhor. / Quanto menos conhe-
Anderson é um bom lutador cimento, pior.
Essa piada foi de mau gosto - Iolanda é a garota mais alta da turma. / Iolanda é a garota
Não sei se você está tendo boas influências menos alta da turma.
- Gostaria de mais frutas no café da manhã. / Gostaria de me-
Mal e Bem nos frutas no café da manhã.
Essas palavras normalmente são usadas como advérbios, ou
seja, elas caracterizam o processo verbal. São advérbios de modo Quando usar Mas
e podem ser sinônimos de “incorretamente/corretamente”, “erra- A palavra “mas”, por ser uma conjunção adversativa, é usada
damente/certamente” e “negativamente/positivamente”. Mal tam- para transmitir ideia de oposição ou adversidade. Ela pode ser subs-
bém pode exercer função de conjunção, ligando dois elementos ou tituída pelas conjunções porém, todavia, contudo, entretanto, no
orações com o significado de “assim que”. Outro uso comum para entanto e não obstante.
estas palavras é o de substantivo, podendo significar uma situação
negativa ou positiva. Veja os exemplos seguidos das funções das Como identificar
palavras em cada um deles para uma compreensão melhor. Para saber quando deve-se usar “mas”, pode-se substituir a pa-
Maria se comportou mal hoje. – Adverbio lavra por outra conjunção.
Eles representaram bem a sala. – Adverbio Exemplos:
Mal começou e já terminou. – Conjunção - Sairei mais tarde de casa, mas (porém) não chegarei atrasado
Eles são o mal da sociedade. – Substantivo no trabalho.
Vocês não sabem o bem que fizeram. – Substantivo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
- É uma ótima sugestão, mas (no entanto) precisa passar pela Compositores: Marisa De Azevedo Monte
gerência.
- Prefiro estudar Português a Matemática, mas (contudo) hoje
tive que estudar Trigonometria. ACENTUAÇÃO GRÁFICA
- Não peguei engarrafamento, mas (entretanto) chegarei atra-
sado na escola. Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
Dica esperta para identificar o “mas” na oração: como você indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
pode ver nos exemplos, a palavra “mas” vem sucedendo uma vírgu- Vejamos um por um:
la. Esta observação se aplica em muitos casos que geram a dúvida
de quando usar “mais ou mas” no texto. Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto.
Além da dica acima, na hora de identificar o uso de mais ou Já cursei a Faculdade de História.
mas, atente-se para a possibilidade da palavra “mas” assumir ca- Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
racterística de substantivo, quando trouxer ideia de defeito, e ad- fechado.
vérbio, quando intensificar ou der ênfase à afirmação. Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
Exemplos: caso afundo mais à frente).
1) Como ideia de defeito: Messias é um bom garoto, mas anda Sou leal à mulher da minha vida.
com más influências.
A frase expressa defeito porque embora Messias seja um bom As palavras podem ser:
garoto, anda com más influências. – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
2) Como ênfase: Carlos é ingênuo, mas tão ingênuo, que todo -já, ra-paz, u-ru-bu...)
mundo tira vantagem disso. – Paroxítonas:quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, sa-
-bo-ne-te, ré-gua...)
A frase passa a ter intensidade quando utilizou-se o termo em – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
negrito. (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)

Observação: a palavra mas não deve ser confundida com más As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
porque esta palavra quando é acentuada passa a ter equivalência • São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
de plural do adjetivo “má”, que é o oposto de “boa”. Exemplo: “As íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
más companhias não renderão um futuro promissor”. • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS,ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
Mais ou mas em composições fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
A seguir, observa-se como as expressões foram usadas na músi- • São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
ca “Mais uma vez”, interpretada por Renato Russo. E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
Mas é claro que o sol dói, coronéis...)
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei • São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
(...) (aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei-
Tem gente que machuca os outros nar e fixar as regras.
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está EXERCÍCIOS
Mas eu sei que um dia
A gente aprende 1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é
Se você quiser alguém em quem confiar a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
Confie em si mesmo se fundamenta em intertextualidade é:
(...) (A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
há muito tempo.”
Compositores: Flavio Venturini / Renato Russo (B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
Na primeira estrofe, observa-se os termos destacados em ne- mete onde não é chamada.”
grito como exemplos de adversidade ou ressalva e adição respecti- (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente
vamente. Já na segunda, tem-se duas ideias de adversidade. mesmo!”
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
Agora, tem-se o exemplo de como Marisa Monte usou “mais tudo bem.”
ou mas” na canção “Mais uma vez”, interpretada por ela. (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
Mais uma vez eu vou te deixar
Mas eu volto logo pra te ver
Vou com saudades no meu coração
Mando notícias de algum lugar.
(..)

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LÍNGUA PORTUGUESA
2. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna- (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. 7. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode ser
(C) “sérios”, “potência”, “após”. retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma pa-
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. drão na seguinte sentença:
(E) “solidária”, “área”, “após”. (A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
3. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
objetivo é a seguinte:
(A) pôr. 8. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
(B) ilhéu. DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
(C) sábio. pontuação em:
(D) também. (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
(E) lâmpada. dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série teiramente pela porta?
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras: (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra- tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
-vermelho. (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in- to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
fra-assinado. irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
trarregra. cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
-mencionado. 9. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
mente correta a pontuação do seguinte período:
5. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003) (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
pregadas e grafadas. nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
qualquer excesso e violência.
providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
importância, ditam o rumo de toda a história.
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
(C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
isso, num modo de intervenção específico.
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
sem importância, ditam o rumo de toda a história.
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas
ta que ambos possam suscitar. providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po- importância, ditam o rumo de toda a história.
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o (E) Os personagens principais de uma história, responsáveis,
corpo dos supliciados. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque-
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
organização em delinqüência. 10. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) –
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo
6. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR – mesmo processo de formação é:
2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é: (A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso;
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade (B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer;
extraordinária de imitar vários estilos musicais. (C) deslealdade, colunista, incrível;
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti- (D) anoitecer, festeiro, infeliz;
mentos pessoais por meio de sua música. (E) reeducação, dignidade, enriquecer.
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
composições do músico na cultura ocidental.
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona-
gens.

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LÍNGUA PORTUGUESA
11. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – 17. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação de concordância no texto abaixo.
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
palavra primitiva foi formada respectivamente é: um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté- tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
tica (en + trist + ecer); ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
(en + triste + cer); receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin- Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
tética (en + trist + ecer); ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi- salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
xal (des + entristecer); Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti- social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
ca (des + entristecer). responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
12. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – plural em “deflacionados”.
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
formada por derivação: em “Elevaram-se”.
(A) parassintética; (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
(B) prefixal; regras de concordância com “economia”.
(C) sufixal; (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
(D) imprópria; singular em “fez aumentar”.
(E) regressiva. (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
com “relevantes”.
13. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é: 18. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
(A) pronome; – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
(B) adjetivo; te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(C) advérbio; (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(D) substantivo; (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(E) preposição. (C) Pretendo viajar a Paraíba.
14. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação (D) Ele gosta de bife à cavalo.
morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
(A) Pronome demonstrativo. 19. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
(B) Pronome relativo. “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
(C) Pronome possessivo. que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
(D) Pronome pessoal. a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
(E) Pronome indefinido. locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
marcada com o acento, EXCETO em:
15. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- (B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli- eleitorado pelo resultado final.
nhados classificam-se, respectivamente, em (C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo. (D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo. vel.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome. (E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo. tema.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
20. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração
16. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor- (a):
reta. “A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo. americanas, entre na fila.”
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros. (A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que subordinadas.
35% deles fosse despejado em aterros. (B) Período, composto por três orações.
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. (C) Oração, pois possui sentido completo.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta (D) Período, pois é composto por frases e orações.
de lixo.

37
LÍNGUA PORTUGUESA
21. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS – 26. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe-
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor- ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
oração. história.”, a oração sublinhada é classificada como:
(A) Oração coordenada assindética aditiva. (A) coordenada assindética;
(B) Oração coordenada sindética aditiva. (B) subordinada substantiva completiva nominal;
(C) Oração coordenada sindética adversativa. (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
(D) Oração coordenada sindética explicativa. (D) subordinada substantiva apositiva.
(E) Oração coordenada sindética alternativa.
Leia o texto abaixo para responder a questão.
22. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia A lama que ainda suja o Brasil
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
orações. A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
sativa. ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva. um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi- Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
tiva. peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu- pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
tiva. anglo-australiana BHP Billiton.
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- A única medida concreta foi a aplicação da multa de R$ 250
bial consecutiva. milhões – sendo que não há garantias de que ela será usada no
local. “O leito do rio se perdeu e a calha profunda e larga se trans-
23. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana- formou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, coordenadora da rede
lise sintaticamente a oração em destaque: de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, sobre o desastre em Ma-
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen- riana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos se tornou uma bomba
sados” (Machado de Assis). relógio na região.”
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal. Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
(B) oração subordinada adverbial causal. de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
(D) oração coordenada sindética conclusiva. barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
(E) oração coordenada sindética explicativa. insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
24. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori-
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
(A) subordinada substantiva predicativa; judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
(B) subordinada adjetiva restritiva; Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
(C) subordinada substantiva subjetiva; o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
(D) subordinada substantiva objetiva direta; FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
(E) subordinada adjetiva explicativa. QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL

25. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No 27. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: fato.
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
mas nunca à custa de nossos filhos...” gênero textual editorial.
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin- III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
dética adversativa; que se trata de uma reportagem.
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex- IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
plicativa; se trata de um editorial.
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver-
bial concessiva; Analise as assertivas e responda:
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada (A) Somente a I é correta.
sindética adversativa; (B) Somente a II é incorreta.
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con- (C) Somente a III é correta
cessiva. (D) A III e IV são corretas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
28. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
ainda suja o Brasil”: agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
no desenvolvimento do assunto. ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro- tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
blemas no uso de conjunções e preposições. c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
de palavras e da ordem sintática. que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
temática e bom uso dos recursos coesivos. a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
Analise as assertivas e responda: bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
(A) Somente a I é correta. alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
(B) Somente a II é incorreta. perguntou-lhe:
(C) Somente a III é correta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(D) Somente a IV é correta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
Leia o texto abaixo para responder as questões. a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Vamos, diga lá.
UM APÓLOGO Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
Machado de Assis. beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola- como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? fico.
— Deixe-me, senhora. Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me muita linha ordinária!
der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. 29. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
outros. a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
— Mas você é orgulhosa. elementos dos textos:
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto… (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre e mando...” (L.14-15)
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
isto uma cor poética. E dizia a agulha: Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é abaixo e acima.” (L.25-26)
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
e acima… e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
Onde me espetam, fico.” (L.40-41)

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LÍNGUA PORTUGUESA
30. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros (C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento
valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade, em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em
pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am-
os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi- pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de
nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: novas fontes de petróleo.
(A) dimensão e pejoratividade; (D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
(B) afetividade e intensidade; percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
(C) afetividade e dimensão; da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
(D) intensidade e dimensão; menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(E) pejoratividade e afetividade. (E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia,
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
31. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna- um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi- que o do Brasil.
vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. 35. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11) o seguinte par de palavras:
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. (A) estrondo – ruído;
Agulha não tem cabeça.” (L.06) (B) pescador – trabalhador;
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um (C) pista – aeroporto;
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) (D) piloto – comissário;
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi- (E) aeronave – jatinho.
nária!” (L.43)
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?” 36. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
(L.25) PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
32. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente tem como antônimo:
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre- (A) fortuna;
sente no texto: (B) opulência;
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação (C) riqueza;
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(D) escassez;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
(E) abundância.
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
37. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA –
cada sujeito possui atribuições próprias.
2019)
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole-
Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do
afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti-
sujeito.
nado ao presidente do Congresso Nacional é
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. (A) Senhor Presidente.
(B) Excelentíssimo Senhor Presidente.
33. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- (C) Presidente.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a (D) Excelentíssimo Presidente.
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (E) Excelentíssimo Senhor.
acima, na ordem dada, as expressões:
(A) a que – de que; 38. (CÂMARA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - AUXILIAR
(B) de que – com que; ADMINISTRATIVO - INSTITUTO AOCP - 2019 )
(C) a cujas – de cujos; Referente à aplicação de elementos de gramática à redação ofi-
(D) à que – em que; cial, os sinais de pontuação estão ligados à estrutura sintática e têm
(E) em que – aos quais. várias finalidades. Assinale a alternativa que apresenta a pontuação
que pode ser utilizada em lugar da vírgula para dar ênfase ao que
34. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) se quer dizer.
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. (A) Dois-pontos.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de (B) Ponto-e-vírgula.
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe- (C) Ponto-de-interrogação.
cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a (D) Ponto-de-exclamação.
maior taxa registrada na última década.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que 39. (UNIR - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - ANÁLISES CLÍNICAS-
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a AOCP – 2018)
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). Pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder
Público redige atos normativos e comunicações. Em relação à reda-
ção de documentos oficiais, julgue, como VERDADEIRO ou FALSO,
os itens a seguir.

40
LÍNGUA PORTUGUESA
A língua tem por objetivo a comunicação. Alguns elementos
são necessários para a comunicação: a) emissor, b) receptor, c) con- GABARITO
teúdo, d) código, e) meio de circulação, f) situação comunicativa.
Com relação à redação oficial, o emissor é o Serviço Público (Minis-
tério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção). O assunto 1 E
é sempre referente às atribuições do órgão que comunica. O desti-
natário ou receptor dessa comunicação ou é o público, o conjunto 2 A
dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos outros 3 A
Poderes da União.
( ) Certo 4 D
( ) Errado 5 B
6 C
40. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )
Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. Con- 7 B
forme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em 8 E
2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras gra-
fadas conforme o Acordo. 9 A
I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca- 10 A
pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di- 11 A
retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente. 12 D
III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
13 A
tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
14 E
IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação, 15 B
pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
-Geral. 16 E
V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró- 17 A
-ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
-Executiva, tenente-coronel. 18 A
19 D
Assinale a alternativa CORRETA: 20 B
(A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
(B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas. 21 C
(C) As afirmações II, III e IV estão corretas. 22 C
(D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
(E) As afirmações III, IV e V estão corretas. 23 E
24 A
41. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
25 D
Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda- 26 B
mentem esses usos. 27 C
Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de 28 D
Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem. 29 E
2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime. 30 D
3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona- 31 D
mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
32 D
de desferir os golpes.
33 A
INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso 34 D
da vírgula em cada frase.
( ) Para destacar deslocamento de termos. 35 E
( ) Para separar adjuntos adverbiais. 36 D
( ) Para indicar um aposto.
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: 37 B
(A) 1 – 2 – 3. 38 B
(B) 2 – 1 – 3. 39 A
(C) 3 – 1 – 2.
(D) 3 – 2 – 1. 40 E
41 C

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LÍNGUA PORTUGUESA
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
1. Operações, expressões e problemas com números naturais. Números fracionários, decimais, inteiros, racionais e reais. . . . . . . . 01
2. Equação de 1º e 2º graus, com variáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
3. Razão e proporção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
4. Regra de 3 simples e composta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Geometria. Cálculo de área e de volume. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
6. Estrutura lógica de relações arbitrárias entre pessoas, lugares, objetos ou eventos fictícios; dedução de novas informações das re-
lações fornecidas e avalição das condições usadas para estabelecer a estrutura daquelas relações. Compreensão do processo lógico
que, a partir de um conjunto de hipóteses, conduz, de forma válida, a conclusões determinadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Números Inteiros
OPERAÇÕES, EXPRESSÕES E PROBLEMAS COM NÚME- Podemos dizer que este conjunto é composto pelos números
ROS NATURAIS. NÚMEROS FRACIONÁRIOS, DECIMAIS, naturais, o conjunto dos opostos dos números naturais e o zero.
INTEIROS, RACIONAIS E REAIS Este conjunto pode ser representado por:

Números Naturais
Os números naturais são o modelo matemático necessário
para efetuar uma contagem.
Começando por zero e acrescentando sempre uma unidade, Subconjuntos do conjunto :
obtemos o conjunto infinito dos números naturais 1)Conjunto dos números inteiros excluindo o zero

{...-2, -1, 1, 2, ...}

2) Conjuntos dos números inteiros não negativos


- Todo número natural dado tem um sucessor
a) O sucessor de 0 é 1. {0, 1, 2, ...}
b) O sucessor de 1000 é 1001.
c) O sucessor de 19 é 20. 3) Conjunto dos números inteiros não positivos

Usamos o * para indicar o conjunto sem o zero. {...-3, -2, -1}

Números Racionais
{1,2,3,4,5,6... . } Chama-se de número racional a todo número que pode ser ex-
presso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0
- Todo número natural dado N, exceto o zero, tem um anteces- São exemplos de números racionais:
sor (número que vem antes do número dado).
Exemplos: Se m é um número natural finito diferente de zero. -12/51
a) O antecessor do número m é m-1. -3
b) O antecessor de 2 é 1.
c) O antecessor de 56 é 55. -(-3)
d) O antecessor de 10 é 9. -2,333...

Expressões Numéricas As dízimas periódicas podem ser representadas por fração,


Nas expressões numéricas aparecem adições, subtrações, mul- portanto são consideradas números racionais.
tiplicações e divisões. Todas as operações podem acontecer em Como representar esses números?
uma única expressão. Para resolver as expressões numéricas utili-
zamos alguns procedimentos: Representação Decimal das Frações
Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais
Se em uma expressão numérica aparecer as quatro operações,
devemos resolver a multiplicação ou a divisão primeiramente, na 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número de-
ordem em que elas aparecerem e somente depois a adição e a sub- cimal terá um número finito de algarismos após a vírgula.
tração, também na ordem em que aparecerem e os parênteses são
resolvidos primeiro.

Exemplo 1
10 + 12 – 6 + 7
22 – 6 + 7
16 + 7
23

Exemplo 2
40 – 9 x 4 + 23 2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas
40 – 36 + 23 lembrando que a dízima deve ser periódica para ser número racio-
4 + 23 nal
27 OBS: período da dízima são os números que se repetem, se
não repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que
Exemplo 3 trataremos mais a frente.
25-(50-30)+4x5
25-20+20=25

1
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma ,
com a e b inteiros e b≠0.

Representação Fracionária dos Números Decimais Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.


1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o
denominador seguido de zeros. – O quociente de dois números irracionais, pode ser um núme-
O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa, ro racional.
um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.
Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional.

– O produto de dois números irracionais, pode ser um número


racional.

Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número na-


tural, se não inteira, é irracional.

Números Reais

2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como


podemos transformar em fração?

Exemplo 1
Transforme a dízima 0, 333... .em fração
Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada
de x, ou seja
X=0,333...

Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por


10.
10x=3,333...

E então subtraímos: Fonte: www.estudokids.com.br


10x-x=3,333...-0,333...
9x=3 Representação na reta
X=3/9
X=1/3

Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212...
Façamos x = 1,1212...
100x = 112,1212... . Intervalos limitados
Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a
Subtraindo: e menores do que b ou iguais a b.
100x-x=112,1212...-1,1212...
99x=111
X=111/99

Números Irracionais Intervalo:[a,b]


Identificação de números irracionais Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b}
– Todas as dízimas periódicas são números racionais.
– Todos os números inteiros são racionais. Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que
– Todas as frações ordinárias são números racionais. b.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais.
– Todas as raízes inexatas são números irracionais.
– A soma de um número racional com um número irracional é
sempre um número irracional.
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número Intervalo:]a,b[
racional. Conjunto:{xϵR|a<x<b}

2
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou Casos
iguais a A e menores do que B. 1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.

Intervalo:{a,b[ 2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.


Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}

Intervalo fechado à direita – números reais maiores que a e


menores ou iguais a b.

3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em


um número positivo.

Intervalo:]a,b]
Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b}

Intervalos Ilimitados
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais me- 4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta
nores ou iguais a b. em um número negativo.

Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x ϵ R|x≤b} 5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal
para positivo e inverter o número que está na base.
Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais me-
nores que b.

Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x ϵ R|x<b} 6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
expoente, o resultado será igual a zero.
Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores
ou iguais a A.

Propriedades
Intervalo:[a,+ ∞[ 1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
Conjunto:{x ϵ R|x≥a} base, repete-se a base e soma os expoentes.

Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores Exemplos:


que a. 24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27

Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x>a} 2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base.
Conserva-se a base e subtraem os expoentes.
Potenciação
Multiplicação de fatores iguais Exemplos:
96 : 92 = 96-2 = 94
2³=2.2.2=8

3
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se De modo geral, se
os expoentes.

Exemplos:
a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * ,
(52)3 = 52.3 = 56
Então:

n
a.b = n a .n b

4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente. igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi-
(4.3)²=4².3² cando.

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos Raiz quadrada de frações ordinárias
elevar separados.
1 1
2  2 2 22 2
Observe: =  = 1 =
3 3 3
32
Radiciação a na
Radiciação é a operação inversa a potenciação
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =
+
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado
é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
radicando.

Raiz quadrada números decimais

Técnica de Cálculo
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se
mais fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números
primos. Veja:
Operações
64 2
32 2
16 2
8 2
4 2 Operações
2 2
1 Multiplicação

64=2.2.2.2.2.2=26 Exemplo
Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
e multiplica.
Divisão

Observe:
Exemplo
1 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 .5 = 3. 5
2 2

Adição e subtração

Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.

4
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
8 2 20 2 A balança deixa os dois lados iguais para equilibrar, a equação
também.
4 2 10 2 No exemplo temos:
2 2 5 5 3x+300
Outro lado: x+1000+500
1 1
E o equilíbrio?
3x+300=x+1500

Quando passamos de um lado para o outro invertemos o sinal


3x-x=1500-300
Caso tenha:
2x=1200
X=600
Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.
Exemplo
Racionalização de Denominadores
(PREF. DE NITERÓI/RJ – Fiscal de Posturas – FGV/2015) A ida-
Normalmente não se apresentam números irracionais com
de de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das idades
radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos
de seus dois filhos, Paulo e Pierre. Pierre é três anos mais velho do
radicais do denominador chama-se racionalização do denominador.
que Paulo. Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da
1º Caso: Denominador composto por uma só parcela
idade que Pedro tem hoje.
A soma das idades que Pedro, Paulo e Pierre têm hoje é:
(A) 72;
(B) 69;
(C) 66;
(D) 63;
(E) 60.

Resolução
2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.
A ideia de resolver as equações é literalmente colocar na lin-
guagem matemática o que está no texto.
“Pierre é três anos mais velho do que Paulo”
Pi=Pa+3

“Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade


Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de
que Pedro tem hoje.”
quadrados no denominador:

A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das


idades de seus dois filhos,
EQUAÇÃO DE 1º E 2º GRAUS, COM VARIÁVEIS Pe=2(Pi+Pa)
Pe=2Pi+2Pa

Lembrando que:
Equação 1º grau
Pi=Pa+3
Equação é toda sentença matemática aberta representada por
uma igualdade, em que exista uma ou mais letras que represen-
Substituindo em Pe
tam números desconhecidos.
Pe=2(Pa+3)+2Pa
Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação redutível
Pe=2Pa+6+2Pa
à forma ax+b=0, em que a e b são números reais, chamados coefi-
Pe=4Pa+6
cientes, com a≠0.

Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numérico de x


que, substituindo no 1º membro da equação, torna-se igual ao 2º
membro.
Pa+3+10=2Pa+3
Pa=10
Nada mais é que pensarmos em uma balança.
Pi=Pa+3
Pi=10+3=13
Pe=40+6=46
Soma das idades: 10+13+46=69
Resposta: B.

5
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Equação 2º grau

A equação do segundo grau é representada pela fórmula geral:

ax2+bx+c=0 Relações entre Coeficientes e Raízes

Onde a, b e c são números reais, a≠0. Dada as duas raízes:

Discussão das Raízes

Soma das Raízes

Se for negativo, não há solução no conjunto dos números


reais. Produto das Raízes

Se for positivo, a equação tem duas soluções:

Composição de uma equação do 2ºgrau, conhecidas as raízes

Podemos escrever a equação da seguinte maneira:


Exemplo
x²-Sx+P=0

Exemplo
Dada as raízes -2 e 7. Componha a equação do 2º grau.

Solução
S=x1+x2=-2+7=5
, portanto não há solução real. P=x1.x2=-2.7=-14
Então a equação é: x²-5x-14=0

Exemplo
(IMA – Analista Administrativo Jr – SHDIAS/2015) A soma das
idades de Ana e Júlia é igual a 44 anos, e, quando somamos os qua-
drados dessas idades, obtemos 1000. A mais velha das duas tem:
(A) 24 anos
(B) 26 anos
(C) 31 anos
(D) 33 anos

Resolução
A+J=44
A²+J²=1000
A=44-J
(44-J)²+J²=1000
1936-88J+J²+J²=1000
2J²-88J+936=0

Dividindo por2:
J²-44J+468=0
Se ∆ < 0 não há solução, pois não existe raiz quadrada real de ∆=(-44)²-4.1.468
um número negativo. ∆=1936-1872=64

Se ∆ = 0, há duas soluções iguais:

Se ∆ > 0, há soluções reais diferentes:

6
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Inequação -Quociente
Na inequação- quociente, tem-se uma desigualdade de funções
fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual uma está dividindo
a outra. Diante disso, deveremos nos atentar ao domínio da função
Substituindo em A que se encontra no denominador, pois não existe divisão por zero.
A=44-26=18 Com isso, a função que estiver no denominador da inequação deve-
Ou A=44-18=26 rá ser diferente de zero.
Resposta: B.
O método de resolução se assemelha muito à resolução de
Inequação uma inequação - produto, de modo que devemos analisar o sinal
Uma inequação é uma sentença matemática expressa por uma das funções e realizar a intersecção do sinal dessas funções.
ou mais incógnitas, que ao contrário da equação que utiliza um sinal
de igualdade, apresenta sinais de desigualdade. Veja os sinais de Exemplo
desigualdade: Resolva a inequação a seguir:
>: maior
<: menor
≥: maior ou igual
≤: menor ou igual x-2≠0
x≠2
O princípio resolutivo de uma inequação é o mesmo da equa-
ção, onde temos que organizar os termos semelhantes em cada
membro, realizando as operações indicadas. No caso das inequa-
ções, ao realizarmos uma multiplicação de seus elementos por
–1com o intuito de deixar a parte da incógnita positiva, invertemos
o sinal representativo da desigualdade.

Exemplo 1
4x + 12 > 2x – 2
4x – 2x > – 2 – 12
2x > – 14
x > –14/2
x>–7
Sistema de Inequação do 1º Grau
Inequação - Produto Um sistema de inequação do 1º grau é formado por duas ou
Quando se trata de inequações - produto, teremos uma desi- mais inequações, cada uma delas tem apenas uma variável sendo
gualdade que envolve o produto de duas ou mais funções. Portanto, que essa deve ser a mesma em todas as outras inequações envol-
surge a necessidade de realizar o estudo da desigualdade em cada vidas.
função e obter a resposta final realizando a intersecção do conjunto Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º grau:
resposta das funções.

Exemplo

a)(-x+2)(2x-3)<0
Vamos achar a solução de cada inequação.
4x + 4 ≤ 0
4x ≤ - 4
x≤-4:4
x≤-1

S1 = {x ϵ R | x ≤ - 1}

Fazendo o cálculo da segunda inequação temos:


x+1≤0
x≤-1

A “bolinha” é fechada, pois o sinal da inequação é igual.

S2 = { x ϵ R | x ≤ - 1}

7
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Calculando agora o CONJUNTO SOLUÇÃO da inequação
Temos: RAZÃO E PROPORÇÃO
S = S1 ∩ S2
Razão

Chama-se de razão entre dois números racionais a e b, com b


0, ao quociente entre eles. Indica-se a razão de a para b por a/bou
a : b.

Exemplo:
Na sala do 1º ano de um colégio há 20 rapazes e 25 moças.
Portanto: Encontre a razão entre o número de rapazes e o número de moças.
(lembrando que razão é divisão)
S = { x ϵ R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]

Inequação 2º grau
Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que pode ser
escrita numa das seguintes formas:
ax²+bx+c>0 Proporção
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0 Proporção é a igualdade entre duas razões. A proporção entre
ax²+bx+c<0 A/B e C/D é a igualdade:
ax²+bx+c≤0
ax²+bx+c≠0

Exemplo
Vamos resolver a inequação3x² + 10x + 7 < 0. Propriedade fundamental das proporções
Numa proporção:
Resolvendo Inequações
Resolver uma inequação significa determinar os valores reais
de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de x que
tornem a expressão 3x² + 10x +7negativa. Os números A e D são denominados extremos enquanto os nú-
meros B e C são os meios e vale a propriedade: o produto dos meios
é igual ao produto dos extremos, isto é:

AxD=BxC

Exemplo: A fração 3/4 está em proporção com 6/8, pois:

Exercício: Determinar o valor de X para que a razão X/3 esteja


em proporção com 4/6.

Solução: Deve-se montar a proporção da seguinte forma:

Segunda propriedade das proporções


Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença dos dois
primeiros termos está para o primeiro, ou para o segundo termo,
S = {x ϵ R / –7/3 < x < –1} assim como a soma ou a diferença dos dois últimos termos está
para o terceiro, ou para o quarto termo. Então temos:

Ou

8
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Quanto MAIS eu ando, MAIS combustível?
Diretamente proporcionais
Se eu dobro a distância, dobra o combustível

Ou Grandezas Inversamente Proporcionais

Duas grandezas variáveis dependentes são inversamente pro-


porcionais quando a razão entre os valores da 1ª grandeza é igual
ao inverso da razão entre os valores correspondentes da 2ª.
Quanto mais....menos...
Ou
Exemplo
Velocidade x Tempo a tabela abaixo:

VELOCIDADE (M/S) TEMPO (S)


Terceira propriedade das proporções 5 200
Qualquer que seja a proporção, a soma ou a diferença dos an- 8 125
tecedentes está para a soma ou a diferença dos consequentes, as-
sim como cada antecedente está para o seu respectivo consequen- 10 100
te. Temos então: 16 62,5
20 50

Quanto MAIOR a velocidade MENOS tempo??


Inversamente proporcional
Ou Se eu dobro a velocidade, eu faço o tempo pela metade.

Diretamente Proporcionais
Para decompor um número M em partes X1, X2, ..., Xn direta-
mente proporcionais a p1, p2, ..., pn, deve-se montar um sistema
com n equações e n incógnitas, sendo as somas X1+X2+...+Xn=M e
Ou p1+p2+...+pn=P.

Ou A solução segue das propriedades das proporções:

Grandezas Diretamente Proporcionais Exemplo


Carlos e João resolveram realizar um bolão da loteria. Carlos
Duas grandezas variáveis dependentes são diretamente pro- entrou com R$ 10,00 e João com R$ 15,00. Caso ganhem o prêmio
porcionais quando a razão entre os valores da 1ª grandeza é igual a de R$ 525.000,00, qual será a parte de cada um, se o combinado
razão entre os valores correspondentes da 2ª, ou de uma maneira entre os dois foi de dividirem o prêmio de forma diretamente pro-
mais informal, se eu pergunto: porcional?
Quanto mais.....mais....

Exemplo
Distância percorrida e combustível gasto

DISTÂNCIA (KM) COMBUSTÍVEL (LITROS)


13 1
26 2
39 3
52 4

9
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Carlos ganhará R$210000,00 e Carlos R$315000,00. 480x=1200
Inversamente Proporcionais X=25
Para decompor um número M em n partes X1, X2, ..., Xn inver-
samente proporcionais a p1, p2, ..., pn, basta decompor este número Regra de três composta
M em n partes X1, X2, ..., Xn diretamente proporcionais a 1/p1, 1/p2, Regra de três composta é utilizada em problemas com mais de
..., 1/pn. A montagem do sistema com n equações e n incógnitas, duas grandezas, direta ou inversamente proporcionais.
assume que X1+X2+...+ Xn=M e além disso
Exemplos:
1) Em 8 horas, 20 caminhões descarregam 160m³ de areia. Em
5 horas, quantos caminhões serão necessários para descarregar
125m³?

Solução: montando a tabela, colocando em cada coluna as


cuja solução segue das propriedades das proporções: grandezas de mesma espécie e, em cada linha, as grandezas de es-
pécies diferentes que se correspondem:

GEOMETRIA. CÁLCULO DE ÁREA E DE VOLUME

REGRA DE 3 SIMPLES E COMPOSTA Ângulos


Denominamos ângulo a região do plano limitada por duas se-
mirretas de mesma origem. As semirretas recebem o nome de la-
Regra de três simples dos do ângulo e a origem delas, de vértice do ângulo.
Regra de três simples é um processo prático para resolver pro-
blemas que envolvam quatro valores dos quais conhecemos três
deles. Devemos, portanto, determinar um valor a partir dos três já
conhecidos.

Passos utilizados numa regra de três simples:


1º) Construir uma tabela, agrupando as grandezas da mesma
espécie em colunas e mantendo na mesma linha as grandezas de
espécies diferentes em correspondência.
2º) Identificar se as grandezas são diretamente ou inversamen-
te proporcionais.
3º) Montar a proporção e resolver a equação. Ângulo Agudo: É o ângulo, cuja medida é menor do que 90º.
Um trem, deslocando-se a uma velocidade média de 400Km/h,
faz um determinado percurso em 3 horas. Em quanto tempo faria
esse mesmo percurso, se a velocidade utilizada fosse de 480km/h?

Solução: montando a tabela:

1) Velocidade (Km/h) Tempo (h)

400 ----- 3
480 ----- X

2) Identificação do tipo de relação: Ângulo Obtuso: É o ângulo cuja medida é maior do que 90º.

VELOCIDADE Tempo
400 ↓ ----- 3↑
480 ↓ ----- X↑

Obs.: como as setas estão invertidas temos que inverter os nú-


meros mantendo a primeira coluna e invertendo a segunda coluna
ou seja o que está em cima vai para baixo e o que está em baixo na
segunda coluna vai para cima

VELOCIDADE Tempo
400 ↓ ----- 3↓
480 ↓ ----- X↓

10
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Ângulo Raso: Altura de um triângulo é o segmento que liga um vértice a um
- É o ângulo cuja medida é 180º; ponto da reta suporte do lado oposto e é perpendicular a esse lado.
- É aquele, cujos lados são semi-retas opostas.
Na figura, é uma altura do .

Um triângulo tem três alturas.

Ângulo Reto:
- É o ângulo cuja medida é 90º;
- É aquele cujos lados se apoiam em retas perpendiculares.

Mediatriz de um segmento de reta é a reta perpendicular a


esse segmento pelo seu ponto médio.

Na figura, a reta m é a mediatriz de .

Triângulo

Elementos

Mediana
Mediana de um triângulo é um segmento de reta que liga um
vértice ao ponto médio do lado oposto.
Na figura, é uma mediana do ABC.
Um triângulo tem três medianas.

Mediatriz de um triângulo é uma reta do plano do triângulo


que é mediatriz de um dos lados desse triângulo.
Na figura, a reta m é a mediatriz do lado do .
Um triângulo tem três mediatrizes.

A bissetriz de um ângulo interno de um triângulo intercepta o


lado oposto

Bissetriz interna de um triângulo é o segmento da bissetriz de


um ângulo do triângulo que liga um vértice a um ponto do lado
oposto. Classificação
Na figura, é uma bissetriz interna do .
Um triângulo tem três bissetrizes internas. Quanto aos lados

Triângulo escaleno: três lados desiguais.

Triângulo isósceles: Pelo menos dois lados iguais.

11
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Desigualdade entre Lados e ângulos dos triângulos
Num triângulo o comprimento de qualquer lado é menor que
a soma dos outros dois. Em qualquer triângulo, ao maior ângulo
opõe-se o maior lado, e vice-versa.

QUADRILÁTEROS
Quadrilátero é todo polígono com as seguintes propriedades:
- Tem 4 lados.
- Tem 2 diagonais.
- A soma dos ângulos internos Si = 360º
- A soma dos ângulos externos Se = 360º

Triângulo equilátero: três lados iguais. Trapézio: É todo quadrilátero tem dois paralelos.

Quanto aos ângulos - é paralelo a


- Losango: 4 lados congruentes
Triângulo acutângulo: tem os três ângulos agudos - Retângulo: 4 ângulos retos (90 graus)
- Quadrado: 4 lados congruentes e 4 ângulos retos.

Observações:
- No retângulo e no quadrado as diagonais são congruentes
(iguais)
Triângulo retângulo: tem um ângulo reto - No losango e no quadrado as diagonais são perpendiculares
entre si (formam ângulo de 90°) e são bissetrizes dos ângulos inter-
nos (dividem os ângulos ao meio).

Áreas

1- Trapézio: , onde B é a medida da base maior, b é a


medida da base menor e h é medida da altura.

2 - Paralelogramo: A = b.h, onde b é a medida da base e h é a


medida da altura.
Triângulo obtusângulo: tem um ângulo obtuso
3 - Retângulo: A = b.h

4 - Losango: , onde D é a medida da diagonal maior e d


é a medida da diagonal menor.

5 - Quadrado: A = l2, onde l é a medida do lado.

12
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Polígono
Chama-se polígono a união de segmentos que são chamados
lados do polígono, enquanto os pontos são chamados vértices do
polígono.

Ângulos Externos

Diagonal de um polígono é um segmento cujas extremidades


são vértices não-consecutivos desse polígono.

A soma dos ângulos externos=360°


Teorema de Tales
Se um feixe de retas paralelas tem duas transversais, então a
razão de dois segmentos quaisquer de uma transversal é igual à ra-
zão dos segmentos correspondentes da outra.
Dada a figura anterior, O Teorema de Tales afirma que são váli-
das as seguintes proporções:

Número de Diagonais

Exemplo

Ângulos Internos
A soma das medidas dos ângulos internos de um polígono con-
vexo de n lados é (n-2).180
Unindo um dos vértices aos outros n-3, convenientemente es-
colhidos, obteremos n-2 triângulos. A soma das medidas dos ângu-
los internos do polígono é igual à soma das medidas dos ângulos
internos dos n-2 triângulos.

Semelhança de Triângulos
Dois triângulos são semelhantes se, e somente se, os seus ân-
gulos internos tiverem, respectivamente, as mesmas medidas, e os
lados correspondentes forem proporcionais.

13
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Casos de Semelhança Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo
1º Caso: AA(ângulo - ângulo)
Se dois triângulos têm dois ângulos congruentes de vértices Considerando o triângulo retângulo ABC.
correspondentes, então esses triângulos são congruentes.

2º Caso: LAL(lado-ângulo-lado)
Se dois triângulos têm dois lados correspondentes proporcio-
nais e os ângulos compreendidos entre eles congruentes, então es-
ses dois triângulos são semelhantes.

Temos:

3º Caso: LLL (lado - lado - lado)


Se dois triângulos têm os três lado correspondentes proporcio-
nais, então esses dois triângulos são semelhantes.

Fórmulas Trigonométricas

Relação Fundamental
Existe uma outra importante relação entre seno e cosseno de
um ângulo. Considere o triângulo retângulo ABC.

Neste triângulo, temos que: c²=a²+b²


Dividindo os membros por c²

14
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Posições Relativas de Duas Retas
Duas retas no espaço podem pertencer a um mesmo plano.
Nesse caso são chamadas retas coplanares. Podem também não
estar no mesmo plano. Nesse caso, são denominadas retas rever-
sas.

Retas Coplanares
Como
a) Concorrentes: r e s têm um único ponto comum

Todo triângulo que tem um ângulo reto é denominado trian-


gulo retângulo.
O triângulo ABC é retângulo em A e seus elementos são:

-Duas retas concorrentes podem ser:

1. Perpendiculares: r e s formam ângulo reto.


2. Oblíquas: r e s não são perpendiculares.

a: hipotenusa
b e c: catetos
h: altura relativa à hipotenusa
m e n: projeções ortogonais dos catetos sobre a hipotenusa b) Paralelas: r e s não têm ponto comum ou r e s são coinci-
dentes.
Relações Métricas no Triângulo Retângulo
Chamamos relações métricas as relações existentes entre os
diversos segmentos desse triângulo. Assim:

1. O quadrado de um cateto é igual ao produto da hipotenusa


pela projeção desse cateto sobre a hipotenusa.

2. O produto dos catetos é igual ao produto da hipotenusa pela


altura relativa à hipotenusa.

3. O quadrado da altura é igual ao produto das projeções dos


catetos sobre a hipotenusa.

4. O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos


catetos (Teorema de Pitágoras).

15
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
ESTRUTURAS LÓGICAS
ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES ARBITRÁRIAS Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições.
ENTRE PESSOAS, LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos
FICTÍCIOS; DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES DAS atribuir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos.
RELAÇÕES FORNECIDAS E AVALIÇÃO DAS CONDIÇÕES Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.
USADAS PARA ESTABELECER A ESTRUTURA DAQUELAS
RELAÇÕES. COMPREENSÃO DO PROCESSO LÓGICO Elas podem ser:
QUE, A PARTIR DE UM CONJUNTO DE HIPÓTESES, • Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógi-
CONDUZ, DE FORMA VÁLIDA, A CONCLUSÕES DETER- co verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto,
MINADAS não é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem?
– Fez Sol ontem?
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO - Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a
Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver proble- televisão.
mas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das dife- - Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, am-
rentes áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura bíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro
de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte do meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1
consiste nos seguintes conteúdos:
- Operação com conjuntos. • Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO
- Cálculos com porcentagens. valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será conside-
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geomé- rada uma frase, proposição ou sentença lógica.
tricos e matriciais.
- Geometria básica. Proposições simples e compostas
- Álgebra básica e sistemas lineares. • Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém
- Calendários. nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
- Numeração. proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas
- Razões Especiais. p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
- Análise Combinatória e Probabilidade.
- Progressões Aritmética e Geométrica. • Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógi-
cas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO simples. As proposições compostas são designadas pelas letras lati-
nas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de
Argumentação. ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas
por duas proposições simples.
ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL
Proposições Compostas – Conectivos
O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem As proposições compostas são formadas por proposições sim-
figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação ples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que
temporal envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo. podemos vê na tabela a seguir:
O mais importante é praticar o máximo de questões que envol-
vam os conteúdos:
- Lógica sequencial
- Calendários

RACIOCÍNIO VERBAL

Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar


conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de ha-
bilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma
vaga. Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteli-
gência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do
conhecimento por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um
trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirma-
ções, selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das in-
formações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as in-
formações ou opiniões contidas no trecho)
C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é
verdadeira ou falsa sem mais informações)

16
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

17
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

18
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

19
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Conectivos (conectores lógicos)
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

20
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

21
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

22
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

Conectivo “ou” (v)


Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

23
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Conectivo “ou” (v)
Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

• Mais sobre o Conectivo “ou”


– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

Conectivo “Se e somente se” (↔)


Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

24
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

Ordem de precedência dos conectivos:


O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

25
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo: Propriedades
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo- • Reflexiva:
sição ~P ∧ P é: – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
(A) uma tautologia. – Uma proposição complexa implica ela mesma.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição. • Transitiva:
(D) uma contingência. – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
(E) uma disjunção. Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
Resolução: – Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
Montando a tabela teremos que:
Regras de Inferência
P ~p ~p ^p • Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
V F F tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
V F F sições verdadeiras já existentes.
F V F
Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
F V F

Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante


de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-


q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira.
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente • Silogismo Disjuntivo
temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-


tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica
que pode ou não existir entre duas proposições.
• Modus Ponens
Exemplo:

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia: • Modus Tollens

- Somente uma contradição implica uma contradição:

26
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Tautologias e Implicação Lógica – Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
• Teorema uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...) ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Observe que: Teremos duas possibilidades.
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências
• Regra do Silogismo Hipotético

Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no


conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.
Princípio da inconsistência
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica • Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”
p ^ ~p ⇒ q Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
sição q. mo que dizer “nenhum B é A”.
Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a grama (A ∩ B = ø):
condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira
ou falsa.
• Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”
Vejamos algumas formas: Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
- Todo A é B. posição:
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.
Onde temos que A e B são os termos ou características dessas
proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.

– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição


categórica em afirmativa ou negativa.

27
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” Exemplos:
tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- (DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”. Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é:
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B” (A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par-
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três dos.
representações possíveis: (B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos.
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
não miam alto.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
(E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
pardo.

Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.
O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o mos a alternativa B.
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
que Algum B não é A. A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
• Negação das Proposições Categóricas são pardos NÃO miam alto.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as Resposta: C
seguintes convenções de equivalência:
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
uma proposição categórica particular. afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. (A) Todos os não psicólogos são professores.
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, (B) Nenhum professor é psicólogo.
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca, (C) Nenhum psicólogo é professor.
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, (D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
uma proposição de natureza afirmativa. (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
Em síntese:
Resolução:
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E

• Equivalência entre as proposições


Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.

28
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo:
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco.
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco. NENHUM
E
(C) Todo número natural é diferente de cinco. AéB
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco. Existe pelo menos um elemento que
pertence a A, então não pertence a B, e
Resolução: vice-versa.
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede-
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To-
dos e Nenhum, que também são universais.

Existe pelo menos um elemento co-


mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das seguin-
tes formas:
ALGUM
I
AéB

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:


ALGUM
O
TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS A NÃO é B

TODO Perceba-se que, nesta sentença, a aten-


A ção está sobre o(s) elemento (s) de A que
AéB
não são B (enquanto que, no “Algum A é
Se um elemento pertence ao conjunto A, B”, a atenção estava sobre os que eram B,
então pertence também a B. ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B

29
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Exemplo: Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO Segundo as afirmativas temos:
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de (A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que pelo menos um dos cinemas é considerado teatro.
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama
nos afirma isso

- Existem teatros que não são cinemas

(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-


cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que
todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura
também não é cinema.

- Algum teatro é casa de cultura

Resposta: E

30
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
Exemplo: menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
P1: Todos os cientistas são loucos. Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
P2: Martiniano é louco. lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
Q: Martiniano é um cientista. de uma total dissociação entre os dois conjuntos.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

Argumentos Válidos
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas.

Exemplo: Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença


O silogismo... “Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
P1: Todos os homens são pássaros. comum.
P2: Nenhum pássaro é animal. Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
Q: Portanto, nenhum homem é animal. vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CONTE-


ÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido,
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!

• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli-


do?
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé-
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
essa frase da seguinte maneira: junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!

31
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Argumentos Inválidos Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não
Dizemos que um argumento é inválido – também denominado gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este ar-
ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade gumento é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado
das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu- (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
são. - É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de cho-
colate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não!
Exemplo: Pode ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círcu-
P1: Todas as crianças gostam de chocolate. lo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)!
P2: Patrícia não é criança. Enfim, o argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate. veracidade da conclusão!

Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois Métodos para validação de um argumento
as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão. Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam 1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada
de chocolate. quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO,
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade ALGUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti- 2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada
fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri- quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocor-
meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”. re quando nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e
nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se
na construção da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para
cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a des-
vantagem de ser mais trabalhoso, principalmente quando envolve
várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e consi-
derando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a vali-
dade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibi-
lidade do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades.
Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobri-
remos o valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em
verdade, para que o argumento seja considerado válido.
Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é
criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da 4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, conside-
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa- rando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da
crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto, conclusão de maneira direta, mas somente por meio de análises
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do mais complicadas.
diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

32
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Em síntese: Resolução pelo 3º Método
Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa!
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa,
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am-
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o
argumento é ou NÃO VÁLIDO.

Resolução pelo 4º Método


Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere-
mos:
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda-
deiro!
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas
verdadeiras! Teremos:
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver-
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo:
r é verdadeiro.
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi!

Exemplo: Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no


Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido: 4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si-
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que
(p ∧ q) → r o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido!
_____~r_______
~p ∨ ~q Exemplos:
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as
Resolução: seguintes proposições sejam verdadeiras.
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum • Quando chove, Maria não vai ao cinema.
ou nenhum? • Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
à pergunta seguinte. • Quando Fernando está estudando, não chove.
• Durante a noite, faz frio.
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi-
ções simples? Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o item subsecutivo.
2º método. Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- ( ) Certo
ção simples ou uma conjunção? ( ) Errado
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos Resolução:
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos: A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta A = Chove
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso B = Maria vai ao cinema
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método! C = Cláudio fica em casa
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo D = Faz frio
3º e pelo 4º métodos. E = Fernando está estudando
F = É noite
A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
Lembramos a tabela verdade da condicional:

33
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa, utilizando isso temos:


O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando. // B → ~E
Iniciando temos:
4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove tem
que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V). // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria vai
ao cinema tem que ser V.
2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio sai
de casa tem que ser F.
5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V). // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode ser
V ou F.
1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V

Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
Resposta: Errado

(PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada, então
Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.

Resolução:
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão o
valor lógico (V), então:
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F) → V

(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V


(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

34
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA
Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

35
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria
Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).

36
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está − Luiz não viajou para Fortaleza.
resolvido:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS Luiz N N N
Carlos Engenheiro Patrícia Arnaldo N N
Luís Médico Maria Mariana N N S N
Paulo Advogado Lúcia Paulo N N
Exemplo: Agora, completando o restante:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS- Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En-
TRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia
todos para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curi-
tiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram,
sabe-se que: Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; Luiz N S N N
− Mariana viajou para Curitiba;
Arnaldo S N N N
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza. Mariana N N S N
Paulo N N N S
É correto concluir que, em janeiro,
(A) Paulo viajou para Fortaleza. Resposta: B
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia. Quantificador
(D) Mariana viajou para Salvador. É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
(E) Luiz viajou para Curitiba. tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica.
Resolução:
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA

Tipos de quantificadores
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Luiz N • Quantificador universal (∀)
Arnaldo N O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:

Mariana
Paulo

− Mariana viajou para Curitiba;

Exemplo:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador Todo homem é mortal.
Luiz N N A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
Arnaldo N N mortal.
Na representação do diagrama lógico, seria:
Mariana N N S N
Paulo N

− Paulo não viajou para Goiânia;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
Mariana N N S N mem.
Paulo N N A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
2ª) Se José é homem, então José é mortal.

A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.


A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
(x) (A (x) → B).

37
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão Resolução:
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional. A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:
Aplicando temos: – Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for- – Se é cavalo, então é um animal.
ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
+ 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira? de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador, de conclusão).
a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul- Resposta: B
gar, logo, é uma proposição lógica.
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi-
• Quantificador existencial (∃) ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.
O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R)
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Exemplo: Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade.
é: – 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais.
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
O quantificador existencial tem a função de elemento comum. x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co- reto.
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃ Resposta: CERTO
(x)) (A (x) ∧ B).

Aplicando temos: EXERCÍCIOS


x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença 1. (PREFEITURA DE SALVADOR /BA - TÉCNICO DE NÍVEL
será verdadeira? SUPERIOR II - DIREITO – FGV/2017) Em um concurso, há 150 can-
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, didatos em apenas duas categorias: nível superior e nível médio.
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos Sabe-se que:
julgar, logo, é uma proposição lógica. • dentre os candidatos, 82 são homens;
• o número de candidatos homens de nível superior é igual ao
ATENÇÃO: de mulheres de nível médio;
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B” • dentre os candidatos de nível superior, 31 são mulheres.
é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é O número de candidatos homens de nível médio é
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”. (A) 42.
(B) 45.
Forma simbólica dos quantificadores (C) 48.
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). (D) 50.
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B). (E) 52.
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).

Exemplos:
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
(D) Nenhum animal é cavalo.

38
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
2. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS- De acordo com esses dados, ao longo da existência desse pré-
CONCURSOS/2017) Raoni, Ingrid, Maria Eduarda, Isabella e José dio comercial, a fração do total de situações de risco de incêndio
foram a uma prova de hipismo, na qual ganharia o competidor que geradas por descuidos ao cozinhar corresponde à
obtivesse o menor tempo final. A cada 1 falta seriam incrementados (A) 3/20.
6 segundos em seu tempo final. Ingrid fez 1’10” com 1 falta, Maria (B) 1/4.
Eduarda fez 1’12” sem faltas, Isabella fez 1’07” com 2 faltas, Raoni (C) 13/60.
fez 1’10” sem faltas e José fez 1’05” com 1 falta. Verificando a colo- (D) 1/5.
cação, é correto afirmar que o vencedor foi: (E) 1/60.
(A) José
(B) Isabella 7. (ITAIPU BINACIONAL - PROFISSIONAL NÍVEL TÉCNICO I
(C) Maria Eduarda - TÉCNICO EM ELETRÔNICA – NCUFPR/2017) Assinale a alterna-
(D) Raoni tiva que apresenta o valor da expressão

3. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA - MS-


CONCURSOS/2017) O valor de √0,444... é:
(A) 0,2222...
(B) 0,6666...
(C) 0,1616...
(D) 0,8888... (A) 1.
(B) 2.
4. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2017) (C) 4.
Se, numa divisão, o divisor e o quociente são iguais, e o resto é 10, (D) 8.
sendo esse resto o maior possível, então o dividendo é (E) 16.
(A) 131.
(B) 121. 8. (UNIRV/GO – AUXILIAR DE LABORATÓRIO – UNIRV-
(C) 120. GO/2017)
(D) 110.
(E) 101. Qual o resultado de ?

5. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2017) As expressões (A) 3


numéricas abaixo apresentam resultados que seguem um padrão (B) 3/2
específico: (C) 5
(D) 5/2
1ª expressão: 1 x 9 + 2
2ª expressão: 12 x 9 + 3 9. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO MUNICIPAL E SUPERVISOR
3ª expressão: 123 x 9 + 4 – FGV/2017) Suponha que a # b signifique a - 2b .
...
7ª expressão: █ x 9 + ▲ Se 2#(1#N)=12 , então N é igual a:
(A) 1;
Seguindo esse padrão e colocando os números adequados no (B) 2;
lugar dos símbolos █ e ▲, o resultado da 7ª expressão será (C) 3;
(D) 4;
(A) 1 111 111. (E) 6.
(B) 11 111. 10. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO MUNICIPAL E SUPERVI-
(C) 1 111. SOR – FGV/2017) Uma equipe de trabalhadores de determinada
(D) 111 111. empresa tem o mesmo número de mulheres e de homens. Certa
(E) 11 111 111. manhã, 3/4 das mulheres e 2/3 dos homens dessa equipe saíram
para um atendimento externo.
6. (TST – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2017) Durante um trei-
namento, o chefe da brigada de incêndio de um prédio comercial Desses que foram para o atendimento externo, a fração de mu-
informou que, nos cinquenta anos de existência do prédio, nunca lheres é:
houve um incêndio, mas existiram muitas situações de risco, feliz- (A) 3/4;
mente controladas a tempo. Segundo ele, 1/13 dessas situações (B) 8/9;
deveu-se a ações criminosas, enquanto as demais situações haviam (C) 5/7;
sido geradas por diferentes tipos de displicência. Dentre as situa- (D) 8/13;
ções de risco geradas por displicência, (E) 9/17.

− 1/5 deveu-se a pontas de cigarro descartadas inadequada-


mente;
− 1/4 deveu-se a instalações elétricas inadequadas;
− 1/3 deveu-se a vazamentos de gás e;
− As demais foram geradas por descuidos ao cozinhar.

39
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
11. (IPRESB/SP - ANALISTA DE PROCESSOS PREVIDENCIÁ- 14. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Na figura
RIOS- VUNESP/2017) Um terreno retangular ABCD, com 40 m de abaixo, ABCD é um quadrado de lado 10; E, F, G e H são pontos
largura por 60 m de comprimento, foi dividido em três lotes, con- médios dos lados do quadrado ABCD e são os centros de quatro
forme mostra a figura. círculos tangentes entre si.

Sabendo-se que EF = 36 m e que a área do lote 1 é 864 m², o


perímetro do lote 2 é A área da região sombreada, da figura acima apresentada, é
(A) 100 m. (A)100 - 5π .
(B) 108 m. (B) 100 - 10π .
(C) 112 m. (C) 100 - 15π .
(D) 116 m. (D)100 - 20π .
(E) 120 m. (E)100 - 25π .

12. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Conside- 15. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) No cubo
re um triângulo retângulo de catetos medindo 3m e 5m. Um segun- de aresta 10, da figura abaixo, encontra-se representado um plano
do triângulo retângulo, semelhante ao primeiro, cuja área é o dobro passando pelos vértices B e C e pelos pontos P e Q, pontos médios,
da área do primeiro, terá como medidas dos catetos, em metros: respectivamente, das arestas EF e HG, gerando o quadrilátero BCQP.
(A) 3 e 10.
(B) 3√2 e 5√2 .
(C) 3√2 e 10√2 .
(D)5 e 6.
(E) 6 e 10.

13. (TJ/RS - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FAURGS/2017) Na figura


abaixo, encontra-se representada uma cinta esticada passando em
torno de três discos de mesmo diâmetro e tangentes entre si.

A área do quadrilátero BCQP, da figura acima, é


(A) 25√5.
(B) 50√2.
(C) 50√5.
(D)100√2 .
(E) 100√5.

16. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA -


MSCONCURSOS/2017) O triângulo retângulo em B, a seguir, de
Considerando que o diâmetro de cada disco é 8, o comprimen- vértices A, B e C, representa uma praça de uma cidade. Qual é a
to da cinta acima representada é área dessa praça?
(A) 8/3 π + 8 .
(B) 8/3 π + 24.
(C) 8π + 8 .
(D) 8π + 24.
(E) 16π + 24.

40
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
(A) 120 m² 20. (TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO- VU-
(B)90 m² NESP/2017) A figura seguinte, cujas dimensões estão indicadas em
(C) 60 m² metros, mostra as regiões R1 e R2 , ambas com formato de triângu-
(D) 30 m² los retângulos, situadas em uma praça e destinadas a atividades de
recreação infantil para faixas etárias distintas.
17. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU-
NESP/2017) A figura, com dimensões indicadas em centímetros,
mostra um painel informativo ABCD, de formato retangular, no qual
se destaca a região retangular R, onde x > y.

Se a área de R1 é 54 m², então o perímetro de R2 é, em metros,


igual a
(A) 54.
(B) 48.
(C) 36.
(D) 40.
(E) 42.

21. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA –


Sabendo-se que a razão entre as medidas dos lados correspon- MSCONCURSOS/2017)
dentes do retângulo ABCD e da região R é igual a 5/2 , é correto
afirmar que as medidas, em centímetros, dos lados da região R, in-
dicadas por x e y na figura, são, respectivamente, Seja a expressão definida em 0< x < π/2 .
(A) 80 e 64. Ao simplificá-la, obteremos:
(B) 80 e 62. (A) 1
(C) 62 e 80. (B) sen²x
(D) 60 e 80. (C)cos²x
(E) 60 e 78. (D)0

18. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU- 22. (SAP/SP - AGENTE DE SEGURANÇA PENITENCIÁRIA –
NESP/2017) O piso de um salão retangular, de 6 m de comprimento, MSCONCURSOS/2017) Fábio precisa comprar arame para cercar
foi totalmente coberto por 108 placas quadradas de porcelanato, um terreno no formato a seguir, retângulo em B e C. Considerando
todas inteiras. Sabe-se que quatro placas desse porcelanato cobrem que ele dará duas voltas com o arame no terreno e que não terá per-
exatamente 1 m2 de piso. Nessas condições, é correto afirmar que das, quantos metros ele irá gastar? (considere √3 =1,7; sen30º=0,5;
o perímetro desse piso é, em metros, igual a cos30º=0,85; tg30º=0,57).
(A) 20.
(B) 21.
(C) 24.
(D) 27.
(E) 30.

19. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO MUNICIPAL E SUPERVI-


SOR – FGV/2017) O proprietário de um terreno retangular resolveu (A) 64,2 m
cercá-lo e, para isso, comprou 26 estacas de madeira. Colocou uma (B) 46,2 m
estaca em cada um dos quatro cantos do terreno e as demais igual- (C)92,4 m
mente espaçadas, de 3 em 3 metros, ao longo dos quatro lados do (D) 128,4 m
terreno.
O número de estacas em cada um dos lados maiores do terre-
no, incluindo os dois dos cantos, é o dobro do número de estacas
em cada um dos lados menores, também incluindo os dois dos can-
tos.

A área do terreno em metros quadrados é:


(A) 240;
(B) 256;
(C) 324;
(D) 330;
(E) 372.

41
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
23. (IPRESB/SP - ANALISTA DE PROCESSOS PREVIDENCI- 28. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO ADMINISTRATIVO-
ÁRIOS- VUNESP/2017) Uma gráfica precisa imprimir um lote de FGV/2017) Quando era jovem, Arquimedes corria 15km em
100000 folhetos e, para isso, utiliza a máquina A, que imprime 5000 1h45min. Agora que é idoso, ele caminha 8km em 1h20min.
folhetos em 40 minutos. Após 3 horas e 20 minutos de funciona- Para percorrer 1km agora que é idoso, comparado com a época
mento, a máquina A quebra e o serviço restante passa a ser fei- em que era jovem, Arquimedes precisa de mais:
to pela máquina B, que imprime 4500 folhetos em 48 minutos. O (A) 10 minutos;
tempo que a máquina B levará para imprimir o restante do lote de (B) 7 minutos;
folhetos é (C) 5 minutos;
(A) 14 horas e 10 minutos. (D) 3 minutos;
(B) 14 horas e 05 minutos. (E) 2 minutos.
(C) 13 horas e 45 minutos.
(D) 13 horas e 30 minutos. 29. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO ADMINISTRATIVO-
(E) 13 horas e 20 minutos. FGV/2017) Lucas foi de carro para o trabalho em um horário de
trânsito intenso e gastou 1h20min. Em um dia sem trânsito intenso,
24. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU- Lucas foi de carro para o trabalho a uma velocidade média 20km/h
NESP/2017) Renata foi realizar exames médicos em uma clínica. Ela maior do que no dia de trânsito intenso e gastou 48min.
saiu de sua casa às 14h 45 min e voltou às 17h 15 min. Se ela ficou A distância, em km, da casa de Lucas até o trabalho é:
durante uma hora e meia na clínica, então o tempo gasto no trânsi- (A) 36;
to, no trajeto de ida e volta, foi igual a (B) 40;
(A) 1/2h. (C) 48;
(B) 3/4h. (D) 50;
(C) 1h. (E) 60.
(D) 1h 15min.
(E) 1 1/2h. 30. (EMDEC - ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JR – IBFC/2016)
Carlos almoçou em certo dia no horário das 12:45 às 13:12. O total
25. (CÂMARA DE SUMARÉ – ESCRITURÁRIO – VU- de segundos que representa o tempo que Carlos almoçou nesse dia
NESP/2017) Uma indústria produz regularmente 4500 litros de é:
suco por dia. Sabe-se que a terça parte da produção diária é dis- (A) 1840
tribuída em caixinhas P, que recebem 300 mililitros de suco cada (B) 1620
uma. Nessas condições, é correto afirmar que a cada cinco dias a (C) 1780
indústria utiliza uma quantidade de caixinhas P igual a (D) 2120
(A) 25000.
(B) 24500. 31. (ANP – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESGRAN-
(C) 23000. RIO/2016) Um caminhão-tanque chega a um posto de abasteci-
(D) 22000. mento com 36.000 litros de gasolina em seu reservatório. Parte
(E) 20500. dessa gasolina é transferida para dois tanques de armazenamento,
enchendo-os completamente. Um desses tanques tem 12,5 m3, e o
26. (UNIRV/GO – AUXILIAR DE LABORATÓRIO – UNIRV- outro, 15,3 m3, e estavam, inicialmente, vazios.
GO/2017) Uma empresa farmacêutica distribuiu 14400 litros de Após a transferência, quantos litros de gasolina restaram no
uma substância líquida em recipientes de 72 cm3 cada um. Sabe-se caminhão-tanque?
que cada recipiente, depois de cheio, tem 80 gramas. A quantidade (A) 35.722,00
de toneladas que representa todos os recipientes cheios com essa (B) 8.200,00
substância é de (C) 3.577,20
(A) 16 (D) 357,72
(B) 160 (E) 332,20
(C) 1600
(D) 16000 32. (DPE/RR – AUXILIAR ADMINISTRATIVO – FCC/2015)
Raimundo tinha duas cordas, uma de 1,7 m e outra de 1,45 m. Ele
27. (MPE/GO – OFICIAL DE PROMOTORIA – MPEGO/2017) precisava de pedaços, dessas cordas, que medissem 40 cm de com-
João estuda à noite e sua aula começa às 18h40min. Cada aula tem primento cada um. Ele cortou as duas cordas em pedaços de 40 cm
duração de 45 minutos, e o intervalo dura 15 minutos. Sabendo-se de comprimento e assim conseguiu obter
que nessa escola há 5 aulas e 1 intervalo diariamente, pode-se afir- (A) 6 pedaços.
mar que o término das aulas de João se dá às: (B) 8 pedaços.
(A) 22h30min (C) 9 pedaços.
(B) 22h40min (D) 5 pedaços.
(C) 22h50min (E) 7 pedaços.
(D) 23h
(E) Nenhuma das anteriores

42
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

GABARITO

1. Resposta: B.
150-82=68 mulheres 9. Resposta: C.
Como 31 mulheres são candidatas de nível superior, 37 são de 2-2(1-2N)=12
nível médio. 2-2+4N=12
Portanto, há 37 homens de nível superior. 4N=12
82-37=45 homens de nível médio. N=3

2. Resposta: D. 10. Resposta: E.


Como o tempo de Raoni foi 1´10” sem faltas, ele foi o vencedor. Como tem o mesmo número de homens e mulheres:

3. Resposta: B.
Primeiramente, vamos transformar a dízima em fração
X=0,4444....
10x=4,444... Dos homens que saíram:
9x=4

Saíram no total

4. Resposta: A.
Como o maior resto possível é 10, o divisor é o número 11 que
é igua o quociente.
11x11=121+10=131
11. Resposta: D
5. Resposta: E.
A 7ª expressão será: 1234567x9+8=11111111

6. Resposta: D.

Gerado por descuidos ao cozinhar:

Mas, que foram gerados por displicência é 12/13(1-1/13)

7. Resposta: C.

96h=1728
H=18

Como I é um triângulo:
8. Resposta: D. 60-36=24
X²=24²+18²
X²=576+324
X²=900
X=30

43
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
Como h=18 e AD é 40, EG=22

Perímetro lote 2: 40+22+24+30=116

12. Resposta: B A sombreada=100-25π

15. Resposta: C
CQ é hipotenusa do triângulo GQC.
01. CQ²=10²+5²
CQ²=100+25
CQ²=125
CQ=5√5
A área do quadrilátero seria CQ⋅BC
A=5√5⋅10=50√5

16. Resposta: C
Para saber a área, primeiro precisamos descobrir o x.

17²=x²+8²
289=x²+64
Lado=3√2 X²=225
Outro lado =5√2 X=15

13. Resposta: D 17. Resposta: A


Observe o triângulo do meio, cada lado é exatamente a mesma
medida da parte reta da cinta.

Que é igual a 2 raios, ou um diâmetro, portanto o lado esticado


tem 8x3=24 m
A parte do círculo é igual a 120°, pois é 1/3 do círculo, como são 5y=320
três partes, é a mesma medida de um círculo. Y=64
O comprimento do círculo é dado por: 2πr=8π
Portanto, a cinta tem 8π+24

14. Resposta: E
Como o quadrado tem lado 10,a área é 100. 5x=400
X=80

18. Resposta: B.
108/4=27m²
6x=27
X=27/6

O perímetro seria

19. Resposta: C
O lado AF e AE medem 5, cada um, pois F e E é o ponto Médio Número de estacas: x
X²=5²+5² X+x+2x+2x-4=26 obs: -4 é porque estamos contando duas ve-
X²=25+25 zes o canto
X²=50 6x=30
X=5√2 X=5
X é o diâmetro do círculo, como temos 4 semi círculos, temos
2 círculos inteiros. Temos 5 estacas no lado menor, como são espaçadas a cada 3m
4 espaços de 3m=12m
A área de um círculo é Lado maior 10 estacas
9 espaços de 3 metros=27m
A=12⋅27=324 m²

44
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
20. Resposta: B Já foram impressos 25000, portanto faltam ainda 75000
4500-------48
75000------x
X=3600000/4500=800 minutos
800/60=13,33h
13 horas e 1/3 hora
13h e 20 minutos

9x=108
X=12
Para encontrar o perímetro do triângulo R2:

24. Resposta: C.
Como ela ficou 1hora e meia na clínica o trajeto de ida e volta
demorou 1 hora.

25. Resposta: A.
4500/3=1500 litros para as caixinhas
Y²=16²+12² 1500litros=1500000ml
Y²=256+144=400 1500000/300=5000 caixinhas por dia
Y=20 5000.5=25000 caixinhas em 5 dias

Perímetro: 16+12+20=48 26. Resposta: A.


14400litros=14400000 ml
21. Resposta: C

1-cos²x=sen²x
200000⋅80=16000000 gramas=16 toneladas

27. Resposta: B.
5⋅45=225 minutos de aula
22. Resposta: D 225/60=3 horas 45 minutos nas aulas mais 15 minutos de in-
tervalo=4horas
18:40+4h=22h:40

28. Resposta: D.
1h45min=60+45=105 minutos
15km-------105
1--------------x
X=7 minutos
1h20min=60+20=80min
8km----80
1-------x
X=6 X=10minutos
A diferença é de 3 minutos

29. Resposta: B.
V------80min
V+20----48
Quanto maior a velocidade, menor o tempo(inversamente)
Y=10,2
2 voltas=2(12+18+10,2+6+18)=128,4m

23. Resposta: E. 80v=48V+960


3h 20 minutos-200 minutos 32V=960
5000-----40 V=30km/h
x----------200 30km----60 min
x=1000000/40=25000 x-----------80

45
RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO
______________________________________________________

______________________________________________________
60x=2400 ______________________________________________________
X=40km
______________________________________________________
30 Resposta: B.
12:45 até 13:12 são 27 minutos ______________________________________________________
27x60=1620 segundos
______________________________________________________
31. Resposta: B.
______________________________________________________
1m³=1000litros
36000/1000=36 m³ ______________________________________________________
36-12,5-15,3=8,2 m³x1000=8200 litros
______________________________________________________
32.Resposta: E.
1,7m=170cm ______________________________________________________
1,45m=145 cm
170/40=4 resta 10 ______________________________________________________
145/40=3 resta 25
4+3=7 ______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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46
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
1. MS-Windows 10: conceito de pastas, diretórios, arquivos e atalhos, área de trabalho, área de transferência, manipulação de arquivos
e pastas, uso dos menus, programas e aplicativos, interação com o conjunto de aplicativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. MS-Office 2016. MS-Word 2016: estrutura básica dos documentos, edição e formatação de textos, cabeçalhos, parágrafos, fontes,
colunas, marcadores simbólicos e numéricos, tabelas, impressão, controle de quebras e numeração de páginas, legendas, índices,
inserção de objetos, campos predefinidos, caixas de texto. MS-Excel 2016: estrutura básica das planilhas, conceitos de células, linhas,
colunas, pastas e gráficos, elaboração de tabelas e gráficos, uso de fórmulas, funções e macros, impressão, inserção de objetos, cam-
pos predefinidos, controle de quebras e numeração de páginas, obtenção de dados externos, classificação de dados. . . . . . . . . . 10
3. Correio Eletrônico: uso de correio eletrônico, preparo e envio de mensagens, anexação de arquivos. Internet: navegação na internet,
conceitos de URL, links, sites, busca e impressão de páginas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

MS-WINDOWS 10: CONCEITO DE PASTAS, DIRETÓRIOS, ARQUIVOS E ATALHOS, ÁREA DE TRABALHO, ÁREA DE
TRANSFERÊNCIA, MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS E PASTAS, USO DOS MENUS, PROGRAMAS E APLICATIVOS,
INTERAÇÃO COM O CONJUNTO DE APLICATIVOS

Lançado em 2015, O Windows 10 chega ao mercado com a proposta ousada, juntar todos os produtos da Microsoft em uma única
plataforma. Além de desktops e notebooks, essa nova versão equipará smartphones, tablets, sistemas embarcados, o console Xbox One e
produtos exclusivos, como o Surface Hub e os óculos de realidade aumentada HoloLens1.

Versões do Windows 10

– Windows 10 Home: edição do sistema operacional voltada para os consumidores domésticos que utilizam PCs (desktop e note-
book), tablets e os dispositivos “2 em 1”.
– Windows 10 Pro: o Windows 10 Pro também é voltado para PCs (desktop e notebook), tablets e dispositivos “2 em 1”, mas traz
algumas funcionalidades extras em relação ao Windows 10 Home, os quais fazem com que essa edição seja ideal para uso em pequenas
empresas, apresentando recursos para segurança digital, suporte remoto, produtividade e uso de sistemas baseados na nuvem.
– Windows 10 Enterprise: construído sobre o Windows 10 Pro, o Windows 10 Enterprise é voltado para o mercado corporativo. Os
alvos dessa edição são as empresas de médio e grande porte, e o Sistema apresenta capacidades que focam especialmente em tecnologias
desenvolvidas no campo da segurança digital e produtividade.
– Windows 10 Education: Construída a partir do Windows 10 Enterprise, essa edição foi desenvolvida para atender as necessidades
do meio escolar.
– Windows 10 Mobile: o Windows 10 Mobile é voltado para os dispositivos de tela pequena cujo uso é centrado no touchscreen,
como smartphones e tablets
– Windows 10 Mobile Enterprise: também voltado para smartphones e pequenos tablets, o Windows 10 Mobile Enterprise tem como
objetivo entregar a melhor experiência para os consumidores que usam esses dispositivos para trabalho.
– Windows 10 IoT: edição para dispositivos como caixas eletrônicos, terminais de autoatendimento, máquinas de atendimento para
o varejo e robôs industriais – todas baseadas no Windows 10 Enterprise e Windows 10 Mobile Enterprise.
– Windows 10 S: edição otimizada em termos de segurança e desempenho, funcionando exclusivamente com aplicações da Loja
Microsoft.
– Windows 10 Pro – Workstation: como o nome sugere, o Windows 10 Pro for Workstations é voltado principalmente para uso pro-
fissional mais avançado em máquinas poderosas com vários processadores e grande quantidade de RAM.

Área de Trabalho (pacote aero)


Aero é o nome dado a recursos e efeitos visuais introduzidos no Windows a partir da versão 7.

Área de Trabalho do Windows 10.2

1 https://estudioaulas.com.br/img/ArquivosCurso/materialDemo/SlideDemo-4147.pdf
2 https://edu.gcfglobal.org/pt/tudo-sobre-o-windows-10/sobre-a-area-de-trabalho-do-windows-10/1/

1
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Aero Glass (Efeito Vidro)
Recurso que deixa janelas, barras e menus transparentes, parecendo um vidro.

Efeito Aero Glass.3

Aero Flip (Alt+Tab)


Permite a alternância das janelas na área de trabalho, organizando-as de acordo com a preferência de uso.

Efeito Aero Flip.

3 https://www.tecmundo.com.br/windows-10/64159-efeito-aero-glass-lancado-mod-windows-10.htm

2
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Aero Shake (Win+Home)
Ferramenta útil para quem usa o computador com multitarefas. Ao trabalhar com várias janelas abertas, basta “sacudir” a janela
ativa, clicando na sua barra de título, que todas as outras serão minimizadas, poupando tempo e trabalho. E, simplesmente, basta sacudir
novamente e todas as janelas serão restauradas.

Efeito Aero Shake (Win+Home)

Aero Snap (Win + Setas de direção do teclado)


Recurso que permite melhor gerenciamento e organização das janelas abertas.
Basta arrastar uma janela para o topo da tela e a mesma é maximizada, ou arrastando para uma das laterais a janela é dividida de
modo a ocupar metade do monitor.

Efeito Aero Snap.


Aero Peek (Win+Vírgula – Transparência / Win+D – Minimizar Tudo)

3
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
O Aero Peek (ou “Espiar área de trabalho”) permite que o usuário possa ver rapidamente o desktop. O recurso pode ser útil quando
você precisar ver algo na área de trabalho, mas a tela está cheia de janelas abertas. Ao usar o Aero Peek, o usuário consegue ver o que
precisa, sem precisar fechar ou minimizar qualquer janela. Recurso pode ser acessado por meio do botão Mostrar área de trabalho (parte
inferior direita do Desktop). Ao posicionar o mouse sobre o referido botão, as janelas ficam com um aspecto transparente. Ao clicar sobre
ele, as janelas serão minimizadas.

Efeito Aero Peek.

Menu Iniciar
Algo que deixou descontente grande parte dos usuários do Windows 8 foi o sumiço do Menu Iniciar.
O novo Windows veio com a missão de retornar com o Menu Iniciar, o que aconteceu de fato. Ele é dividido em duas partes: na direita,
temos o padrão já visto nos Windows anteriores, como XP, Vista e 7, com a organização em lista dos programas. Já na direita temos uma
versão compacta da Modern UI, lembrando muito os azulejos do Windows Phone 8.

Menu Iniciar no Windows 10.4

4 https://pplware.sapo.pt/microsoft/windows/windows-10-5-dicas-usar-melhor-menu-iniciar

4
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Nova Central de Ações
A Central de Ações é a nova central de notificações do Windows 10. Ele funciona de forma similar à Central de Ações das versões an-
teriores e também oferece acesso rápido a recursos como modo Tablet, Bloqueio de Rotação, Luz noturna e VPN.

Central de ações do Windows 10.5

Paint 3D
O novo App de desenhos tem recursos mais avançados, especialmente para criar objetos em três dimensões. As ferramentas antigas
de formas, linhas e pintura ainda estão lá, mas o design mudou e há uma seleção extensa de funções que prometem deixar o programa
mais versátil.
Para abrir o Paint 3D clique no botão Iniciar ou procure por Paint 3D na caixa de pesquisa na barra de tarefas.

Paint 3D.

5 Fonte: https://support.microsoft.com/pt-br/help/4026791/windows-how-to-open-action-center

5
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Cortana
Cortana é um/a assistente virtual inteligente do sistema operacional Windows 10.
Além de estar integrada com o próprio sistema operacional, a Cortana poderá atuar em alguns aplicativos específicos. Esse é o caso
do Microsoft Edge, o navegador padrão do Windows 10, que vai trazer a assistente pessoal como uma de suas funcionalidades nativas. O
assistente pessoal inteligente que entende quem você é, onde você está e o que está fazendo. O Cortana pode ajudar quando for solicita-
do, por meio de informações-chave, sugestões e até mesmo executá-las para você com as devidas permissões.
Para abrir a Cortana selecionando a opção na Barra de Tarefas. Podendo teclar ou falar o
tema que deseja.

Cortana no Windows 10.6

Microsot Edge
O novo navegador do Windows 10 veio para substituir o Internet Explorer como o browser-padrão do sistema operacional da Mi-
crosoft. O programa tem como características a leveza, a rapidez e o layout baseado em padrões da web, além da remoção de suporte a
tecnologias antigas, como o ActiveX e o Browser Helper Objects.
Dos destaques, podemos mencionar a integração com serviços da Microsoft, como a assistente de voz Cortana e o serviço de armaze-
namento na nuvem OneDrive, além do suporte a ferramentas de anotação e modo de leitura.
O Microsoft Edge é o primeiro navegador que permite fazer anotações, escrever, rabiscar e realçar diretamente em páginas da Web.
Use a lista de leitura para salvar seus artigos favoritos para mais tarde e lê-los no modo de leitura . Focalize guias abertas para visu-
alizá-las e leve seus favoritos e sua lista de leitura com você quando usar o Microsoft Edge em outro dispositivo.
O Internet Explorer 11, ainda vem como acessório do Windows 10. Devendo ser descontinuado nas próximas atualizações.
Para abrir o Edge clique no botão Iniciar , Microsoft Edge ou clique no ícone na barra de tarefas.

Microsoft Edge no Windows 10.

6 https://www.tecmundo.com.br/cortana/76638-cortana-ganhar-novo-visual-windows-10-rumor.htm

6
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Windows Hello
O Windows Hello funciona com uma tecnologia de credencial chamada Microsoft Passport, mais fácil, mais prática e mais segura do
que usar uma senha, porque ela usa autenticação biométrica. O usuário faz logon usando face, íris, impressão digital, PIN, bluetooth do
celular e senha com imagem.
Para acessar o Windows Hello, clique no botão , selecione Configurações > Contas > Opções de entrada. Ou procure por
Hello ou Configurações de entrada na barra de pesquisa.

Windows Hello.

Bibliotecas
As Bibliotecas são um recurso do Windows 10 que permite a exibição consolidada de arquivos relacionados em um só local. Você pode
pesquisar nas Bibliotecas para localizar os arquivos certos rapidamente, até mesmo quando esses arquivos estão em pastas, unidades
ou em sistemas diferentes (quando as pastas são indexadas nos sistemas remotos ou armazenadas em cache localmente com Arquivos
Offline).

Tela Bibliotecas no Windows 10.7


7 https://agorafunciona.wordpress.com/2017/02/12/como-remover-as-pastas-imagens-da-camera-e-imagens-salvas

7
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
One Drive
O OneDrive é serviço um de armazenamento e compartilhamento de arquivos da Microsoft. Com o Microsoft OneDrive você pode
acessar seus arquivos em qualquer lugar e em qualquer dispositivo.
O OneDrive é um armazenamento on-line gratuito que vem com a sua conta da Microsoft. É como um disco rígido extra que está
disponível para todos os dispositivos que você usar.

OneDivre.8

Manipulação de Arquivos
É um conjunto de informações nomeadas, armazenadas e organizadas em uma mídia de armazenamento de dados. O arquivo está
disponível para um ou mais programas de computador, sendo essa relação estabelecida pelo tipo de arquivo, identificado pela extensão
recebida no ato de sua criação ou alteração.
Há arquivos de vários tipos, identificáveis por um nome, seguido de um ponto e um sufixo com três (DOC, XLS, PPT) ou quatro letras
(DOCX, XLSX), denominado extensão. Assim, cada arquivo recebe uma denominação do tipo arquivo.extensão. Os tipos mais comuns são
arquivos de programas (executavel.exe), de texto (texto.docx), de imagens (imagem.bmp, eu.jpg), planilhas eletrônicas (tabela.xlsx) e
apresentações (monografia.pptx).

Pasta
As pastas ou diretórios: não contém informação propriamente dita e sim arquivos ou mais pastas. A função de uma pasta é organizar
tudo o que está dentro das unidades.
O Windows utiliza as pastas do computador para agrupar documentos, imagens, músicas, aplicações, e todos os demais tipos de
arquivos existentes.
Para visualizar a estrutura de pastas do disco rígido, bem como os arquivos nela armazenados, utiliza-se o Explorador de Arquivos.

Manipulação de arquivos e/ou pastas (Recortar/Copiar/Colar)


Existem diversas maneiras de manipular arquivos e/ou pastas.
1. Através dos botões RECORTAR, COPIAR E COLAR. (Mostrados na imagem acima – Explorador de arquivos).
2. Botão direito do mouse.
3. Selecionando e arrastando com o uso do mouse (Atenção com a letra da unidade e origem e destino).

8 Fonte: https://tecnoblog.net/286284/como-alterar-o-local-da-pasta-do-onedrive-no-windows-10

8
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Central de Segurança do Windows Defender


A Central de Segurança do Windows Defender fornece a área de proteção contra vírus e ameaças.
Para acessar a Central de Segurança do Windows Defender, clique no botão , selecione Configurações > Atualização e seguran-
ça > Windows Defender. Ou procure por Windows Defender na barra de pesquisa.

Windows Defender.9

Lixeira
A Lixeira armazena temporariamente arquivos e/ou pastas excluídos das unidades internas do computador (c:\).
Para enviar arquivo para a lixeira:
- Seleciona-lo e pressionar a tecla DEL.
- Arrasta-lo para a lixeira.
- Botão direito do mouse sobre o arquivo, opção excluir.
- Seleciona-lo e pressionar CTRL+D.

Arquivos apagados permanentemente:


- Arquivos de unidades de rede.
- Arquivos de unidades removíveis (pen drive, ssd card...).
- Arquivos maiores do que a lixeira. (Tamanho da lixeira é mostrado em MB (megabytes) e pode variar de acordo com o tamanho do
HD (disco rígido) do computador).

9 Fonte: https://answers.microsoft.com/pt-br/protect/forum/all/central-de-seguran%C3%A7a-do-windows-defender/9ae1b77e-de-
7c-4ee7-b90f-4bf76ad529b1

9
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
- Deletar pressionando a tecla SHIFT.
- Desabilitar a lixeira (Propriedades). MS-OFFICE 2016. MS-WORD 2016: ESTRUTURA BÁSICA
DOS DOCUMENTOS, EDIÇÃO E FORMATAÇÃO DE TEX-
Para acessar a Lixeira, clique no ícone correspondente na TOS, CABEÇALHOS, PARÁGRAFOS, FONTES, COLUNAS,
área de trabalho do Windows 10. MARCADORES SIMBÓLICOS E NUMÉRICOS, TABELAS,
IMPRESSÃO, CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO
Outros Acessórios do Windows 10 DE PÁGINAS, LEGENDAS, ÍNDICES, INSERÇÃO DE OB-
JETOS, CAMPOS PREDEFINIDOS, CAIXAS DE TEXTO.
Existem outros, outros poderão ser lançados e incrementados, MS-EXCEL 2016: ESTRUTURA BÁSICA DAS PLANILHAS,
mas os relacionados a seguir são os mais populares: CONCEITOS DE CÉLULAS, LINHAS, COLUNAS, PASTAS
– Alarmes e relógio. E GRÁFICOS, ELABORAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS,
– Assistência Rápida. USO DE FÓRMULAS, FUNÇÕES E MACROS, IMPRES-
– Bloco de Notas. SÃO, INSERÇÃO DE OBJETOS, CAMPOS PREDEFINIDOS,
– Calculadora. CONTROLE DE QUEBRAS E NUMERAÇÃO DE PÁGINAS,
– Calendário. OBTENÇÃO DE DADOS EXTERNOS, CLASSIFICAÇÃO DE
– Clima. DADOS
– E-mail.
– Facilidade de acesso (ferramenta destinada a deficientes fí- Microsoft Office
sicos).
– Ferramenta de Captura.
– Gravador de passos.
– Internet Explorer.
– Mapas.
– Mapa de Caracteres.
– Paint.
– Windows Explorer.
– WordPad.
– Xbox.

Principais teclas de atalho


CTRL + F4: fechar o documento ativo.
CTRL + R ou F5: atualizar a janela.
CTRL + Y: refazer.
CTRL + ESC: abrir o menu iniciar.
CTRL + SHIFT + ESC: gerenciador de tarefas.
WIN + A: central de ações.
WIN + C: cortana.
WIN + E: explorador de arquivos. O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos essenciais para
WIN + H: compartilhar. uso pessoal e comercial, ele conta com diversas ferramentas, mas
WIN + I: configurações. em geral são utilizadas e cobradas em provas o Editor de Textos –
WIN + L: bloquear/trocar conta. Word, o Editor de Planilhas – Excel, e o Editor de Apresentações –
WIN + M: minimizar as janelas. PowerPoint. A seguir verificamos sua utilização mais comum:
WIN + R: executar.
WIN + S: pesquisar. Word
WIN + “,”: aero peek. O Word é um editor de textos amplamente utilizado. Com ele
WIN + SHIFT + M: restaurar as janelas. podemos redigir cartas, comunicações, livros, apostilas, etc. Vamos
WIN + TAB: task view (visão de tarefas). então apresentar suas principais funcionalidades.
WIN + HOME: aero shake.
ALT + TAB: alternar entre janelas. • Área de trabalho do Word
WIN + X: menu de acesso rápido. Nesta área podemos digitar nosso texto e formata-lo de acordo
F1: ajuda. com a necessidade.

10
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Iniciando um novo documento
Limpa a formatação

• Marcadores
Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se-
guinte forma:

Podemos então utilizar na página inicial os botões para operar


diferentes tipos de marcadores automáticos:

A partir deste botão retornamos para a área de trabalho do


Word, onde podemos digitar nossos textos e aplicar as formatações
desejadas.

• Alinhamentos • Outros Recursos interessantes:


Ao digitar um texto, frequentemente temos que alinhá-lo para
atender às necessidades. Na tabela a seguir, verificamos os alinha- GUIA ÍCONE FUNÇÃO
mentos automáticos disponíveis na plataforma do Word.
- Mudar
Forma
GUIA PÁGINA TECLA DE Página - Mudar cor
ALINHAMENTO
INICIAL ATALHO inicial de Fundo
Justificar (arruma a direito - Mudar cor
e a esquerda de acordo Ctrl + J do texto
com a margem
- Inserir
Alinhamento à direita Ctrl + G Tabelas
Inserir
- Inserir
Centralizar o texto Ctrl + E Imagens

Alinhamento à esquerda Ctrl + Q


Verificação e
Revisão correção ortográ-
• Formatação de letras (Tipos e Tamanho) fica
Presente em Fonte, na área de ferramentas no topo da área de
trabalho, é neste menu que podemos formatar os aspectos básicos
de nosso texto. Bem como: tipo de fonte, tamanho (ou pontuação),
se será maiúscula ou minúscula e outros itens nos recursos auto- Arquivo Salvar
máticos.
Excel
O Excel é um editor que permite a criação de tabelas para cál-
culos automáticos, análise de dados, gráficos, totais automáticos,
dentre outras funcionalidades importantes, que fazem parte do dia
a dia do uso pessoal e empresarial.
GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO São exemplos de planilhas:
– Planilha de vendas;
Tipo de letra – Planilha de custos.

Tamanho Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-


tomaticamente.

Aumenta / diminui tamanho • Mas como é uma planilha de cálculo?


– Quando inseridos em alguma célula da planilha, os dados são
calculados automaticamente mediante a aplicação de fórmulas es-
Recursos automáticos de caixa-altas
pecíficas do aplicativo.
e baixas
– A unidade central do Excel nada mais é que o cruzamento
entre a linha e a coluna. No exemplo coluna A, linha 2 ( A2 )

11
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Fórmulas de comum interesse

MÉDIA (em um intervalo de


=MEDIA(célula X:célulaY)
células)
MÁXIMA (em um intervalo
=MAX(célula X:célulaY)
de células)
MÍNIMA (em um intervalo
=MIN(célula X:célulaY)
de células)

PowerPoint
O PowerPoint é um editor que permite a criação de apresenta-
ções personalizadas para os mais diversos fins. Existem uma série
de recursos avançados para a formatação das apresentações, aqui
veremos os princípios para a utilização do aplicativo.
– Podemos também ter o intervalo A1..B3 • Área de Trabalho do PowerPoint

– Para inserirmos dados, basta posicionarmos o cursor na cé- Nesta tela já podemos aproveitar a área interna para escre-
lula, selecionarmos e digitarmos. Assim se dá a iniciação básica de ver conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas ou até
uma planilha. mesmo excluí-las. No exemplo a seguir, perceba que já movemos as
caixas, colocando um título na superior e um texto na caixa inferior,
• Formatação células também alinhamos cada caixa para ajustá-las melhor.

Perceba que a formatação dos textos é padronizada. O mesmo


tipo de padrão é encontrado para utilizarmos entre o PowerPoint,
• Fórmulas básicas o Word e o Excel, o que faz deles programas bastante parecidos,
no que diz respeito à formatação básica de textos. Confira no tópi-
ADIÇÃO =SOMA(célulaX;célulaY) co referente ao Word, itens de formatação básica de texto como:
alinhamentos, tipos e tamanhos de letras, guias de marcadores e
SUBTRAÇÃO =(célulaX-célulaY)
recursos gerais.
MULTIPLICAÇÃO =(célulaX*célulaY)
DIVISÃO =(célulaX/célulaY)

12
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Especificamente sobre o PowerPoint, um recurso amplamente
utilizado a guia Design. Nela podemos escolher temas que mudam
a aparência básica de nossos slides, melhorando a experiência no
trabalho com o programa.

Tendo passado pelos aspectos básicos da criação de uma apre-


sentação, e tendo a nossa pronta, podemos apresentá-la bastando
clicar no ícone correspondente no canto inferior direito.

Um último recurso para chamarmos atenção é a possibilidade


Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo, obtendo vários de acrescentar efeitos sonoros e interativos às apresentações, le-
no mesmo formato. Assim liberamos uma série de miniaturas, pe- vando a experiência dos usuários a outro nível.
las quais podemos navegador, alternando entre áreas de trabalho.
A edição em cada uma delas, é feita da mesma maneira, como já Office 2013
apresentado anteriormente. A grande novidade do Office 2013 foi o recurso para explorar
a navegação sensível ao toque (TouchScreen), que está disponível
nas versões 32 e 64. Em equipamentos com telas sensíveis ao toque
(TouchScreen) pode-se explorar este recurso, mas em equipamen-
tos com telas simples funciona normalmente.
O Office 2013 conta com uma grande integração com a nuvem,
desta forma documentos, configurações pessoais e aplicativos po-
dem ser gravados no Skydrive, permitindo acesso através de smar-
tfones diversos.

• Atualizações no Word
– O visual foi totalmente aprimorado para permitir usuários
trabalhar com o toque na tela (TouchScreen);
– As imagens podem ser editadas dentro do documento;
– O modo leitura foi aprimorado de modo que textos extensos
agora ficam disponíveis em colunas, em caso de pausa na leitura;
– Pode-se iniciar do mesmo ponto parado anteriormente;
– Podemos visualizar vídeos dentro do documento, bem como
editar PDF(s).

• Atualizações no Excel
– Além de ter uma navegação simplificada, um novo conjunto
de gráficos e tabelas dinâmicas estão disponíveis, dando ao usuário
Percebemos agora que temos uma apresentação com quatro melhores formas de apresentar dados.
slides padronizados, bastando agora editá-lo com os textos que se – Também está totalmente integrado à nuvem Microsoft.
fizerem necessários. Além de copiar podemos mover cada slide de
uma posição para outra utilizando o mouse. • Atualizações no PowerPoint
As Transições são recursos de apresentação bastante utilizados – O visual teve melhorias significativas, o PowerPoint do Offi-
no PowerPoint. Servem para criar breves animações automáticas ce2013 tem um grande número de templates para uso de criação
para passagem entre elementos das apresentações. de apresentações profissionais;
– O recurso de uso de múltiplos monitores foi aprimorado;
– Um recurso de zoom de slide foi incorporado, permitindo o
destaque de uma determinada área durante a apresentação;
– No modo apresentador é possível visualizar o próximo slide
antecipadamente;

13
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
– Estão disponíveis também o recurso de edição colaborativa – Outro recurso que foi implementado foi o “Ler em voz alta”.
de apresentações. Ao clicar no botão o Word vai ler o texto para você.

Office 2016
O Office 2016 foi um sistema concebido para trabalhar junta-
mente com o Windows 10. A grande novidade foi o recurso que
permite que várias pessoas trabalhem simultaneamente em um
mesmo projeto. Além disso, tivemos a integração com outras fer-
ramentas, tais como Skype. O pacote Office 2016 também roda em
smartfones de forma geral.

• Atualizações no Word
– No Word 2016 vários usuários podem trabalhar ao mesmo
tempo, a edição colaborativa já está presente em outros produtos,
mas no Word agora é real, de modo que é possível até acompanhar • Atualizações no Excel
quando outro usuário está digitando; – Foram adicionadas novas fórmulas e gráficos. Tendo como
– Integração à nuvem da Microsoft, onde se pode acessar os destaque o gráfico de mapas que permite criar uma visualização de
documentos em tablets e smartfones; algum mapa que deseja construir.
– É possível interagir diretamente com o Bing (mecanismo de
pesquisa da Microsoft, semelhante ao Google), para utilizar a pes-
quisa inteligente;
– É possível escrever equações como o mouse, caneta de to-
que, ou com o dedo em dispositivos touchscreen, facilitando assim
a digitação de equações.

• Atualizações no Excel
– O Excel do Office 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
riores, mas agora com uma maior integração com dispositivos mó-
veis, além de ter aumentado o número de gráficos e melhorado a
questão do compartilhamento dos arquivos.

• Atualizações no PowerPoint
– O PowerPoint 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
riores, agora com uma maior integração com dispositivos moveis,
além de ter aumentado o número de templates melhorado a ques-
tão do compartilhamento dos arquivos;
– O PowerPoint 2016 também permite a inserção de objetos
3D na apresentação.

Office 2019
O OFFICE 2019 manteve a mesma linha da Microsoft, não hou-
ve uma mudança tão significativa. Agora temos mais modelos em
3D, todos os aplicativos estão integrados como dispositivos sensí-
veis ao toque, o que permite que se faça destaque em documentos.

• Atualizações no Word
– Houve o acréscimo de ícones, permitindo assim um melhor
desenvolvimento de documentos;

14
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Atualizações no PowerPoint
– Foram adicionadas a ferramenta transformar e a ferramenta
de zoom facilitando assim o desenvolvimento de apresentações;
– Inclusão de imagens 3D na apresentação.

• MAN: Rede Metropolitana, abrange uma cidade, por exem-


plo.

Office 365
O Office 365 é uma versão que funciona como uma assinatura
semelhante ao Netflix e Spotif. Desta forma não se faz necessário
sua instalação, basta ter uma conexão com a internet e utilizar o
Word, Excel e PowerPoint.

Observações importantes:
– Ele é o mais atualizado dos OFFICE(s), portanto todas as me-
lhorias citadas constam nele; • WAN: É uma rede com grande abrangência física, maior que
– Sua atualização é frequente, pois a própria Microsoft é res- a MAN, Estado, País; podemos citar até a INTERNET para entender-
ponsável por isso; mos o conceito.
– No nosso caso o Word, Excel e PowerPoint estão sempre atu-
alizados.

CORREIO ELETRÔNICO: USO DE CORREIO ELETRÔNI-


CO, PREPARO E ENVIO DE MENSAGENS, ANEXAÇÃO
DE ARQUIVOS. INTERNET: NAVEGAÇÃO NA INTERNET,
CONCEITOS DE URL, LINKS, SITES, BUSCA E IMPRES-
SÃO DE PÁGINAS

Tipos de rede de computadores


• LAN: Rele Local, abrange somente um perímetro definido.
Exemplos: casa, escritório, etc.

Navegação e navegadores da Internet

• Internet
É conhecida como a rede das redes. A internet é uma coleção
global de computadores, celulares e outros dispositivos que se co-
municam.

15
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Procedimentos de Internet e intranet
Através desta conexão, usuários podem ter acesso a diversas informações, para trabalho, laser, bem como para trocar mensagens,
compartilhar dados, programas, baixar documentos (download), etc.

• Sites
Uma coleção de páginas associadas a um endereço www. é chamada web site. Através de navegadores, conseguimos acessar web
sites para operações diversas.

• Links
O link nada mais é que uma referência a um documento, onde o usuário pode clicar. No caso da internet, o Link geralmente aponta
para uma determinada página, pode apontar para um documento qualquer para se fazer o download ou simplesmente abrir.

Dentro deste contexto vamos relatar funcionalidades de alguns dos principais navegadores de internet: Microsoft Internet Explorer,
Mozilla Firefox e Google Chrome.

Internet Explorer 11

• Identificar o ambiente

O Internet Explorer é um navegador desenvolvido pela Microsoft, no qual podemos acessar sites variados. É um navegador simplifi-
cado com muitos recursos novos.
Dentro deste ambiente temos:
– Funções de controle de privacidade: Trata-se de funções que protegem e controlam seus dados pessoais coletados por sites;
– Barra de pesquisas: Esta barra permite que digitemos um endereço do site desejado. Na figura temos como exemplo: https://www.
gov.br/pt-br/
– Guias de navegação: São guias separadas por sites aberto. No exemplo temos duas guias sendo que a do site https://www.gov.br/
pt-br/ está aberta.
– Favoritos: São pastas onde guardamos nossos sites favoritos
– Ferramentas: Permitem realizar diversas funções tais como: imprimir, acessar o histórico de navegação, configurações, dentre ou-
tras.

Desta forma o Internet Explorer 11, torna a navegação da internet muito mais agradável, com textos, elementos gráficos e vídeos que
possibilitam ricas experiências para os usuários.

16
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Características e componentes da janela principal do Internet Explorer

À primeira vista notamos uma grande área disponível para visualização, além de percebemos que a barra de ferramentas fica automa-
ticamente desativada, possibilitando uma maior área de exibição.

Vamos destacar alguns pontos segundo as indicações da figura:


1. Voltar/Avançar página
Como o próprio nome diz, clicando neste botão voltamos página visitada anteriormente;

2. Barra de Endereços
Esta é a área principal, onde digitamos o endereço da página procurada;

3. Ícones para manipulação do endereço da URL


Estes ícones são pesquisar, atualizar ou fechar, dependendo da situação pode aparecer fechar ou atualizar.

4. Abas de Conteúdo
São mostradas as abas das páginas carregadas.

5. Página Inicial, favoritos, ferramentas, comentários

6. Adicionar à barra de favoritos

Mozila Firefox

Vamos falar agora do funcionamento geral do Firefox, objeto de nosso estudo:

17
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Vejamos de acordo com os símbolos da imagem:

1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Voltar para a página inicial do Firefox

5 Barra de Endereços

6 Ver históricos e favoritos Vejamos de acordo com os símbolos da imagem:

Mostra um painel sobre os favoritos (Barra,


7 1 Botão Voltar uma página
Menu e outros)
Sincronização com a conta FireFox (Vamos 2 Botão avançar uma página
8
detalhar adiante)
3 Botão atualizar a página
9 Mostra menu de contexto com várias opções
4 Barra de Endereço.
– Sincronização Firefox: Ato de guardar seus dados pessoais na
internet, ficando assim disponíveis em qualquer lugar. Seus dados 5 Adicionar Favoritos
como: Favoritos, históricos, Endereços, senhas armazenadas, etc.,
sempre estarão disponíveis em qualquer lugar, basta estar logado 6 Usuário Atual
com o seu e-mail de cadastro. E lembre-se: ao utilizar um computa-
dor público sempre desative a sincronização para manter seus da- Exibe um menu de contexto que iremos relatar
7
dos seguros após o uso. seguir.

Google Chrome O que vimos até aqui, são opções que já estamos acostuma-
dos ao navegar na Internet, mesmo estando no Ubuntu, percebe-
mos que o Chrome é o mesmo navegador, apenas está instalado
em outro sistema operacional. Como o Chrome é o mais comum
atualmente, a seguir conferimos um pouco mais sobre suas funcio-
nalidades.

• Favoritos
No Chrome é possível adicionar sites aos favoritos. Para adi-
cionar uma página aos favoritos, clique na estrela que fica à direita
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido, e
O Chrome é o navegador mais popular atualmente e disponi- pronto.
biliza inúmeras funções que, por serem ótimas, foram implementa- Por padrão, o Chrome salva seus sites favoritos na Barra de Fa-
das por concorrentes. voritos, mas você pode criar pastas para organizar melhor sua lista.
Vejamos: Para removê-lo, basta clicar em excluir.

• Sobre as abas
No Chrome temos o conceito de abas que são conhecidas tam-
bém como guias. No exemplo abaixo temos uma aba aberta, se qui-
sermos abrir outra para digitar ou localizar outro site, temos o sinal
(+).
A barra de endereços é o local em que se digita o link da página
visitada. Uma outra função desta barra é a de busca, sendo que ao
digitar palavras-chave na barra, o mecanismo de busca do Google é
acionado e exibe os resultados.

18
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Histórico
O Histórico no Chrome funciona de maneira semelhante ao Firefox. Ele armazena os endereços dos sites visitados e, para acessá-lo,
podemos clicar em Histórico no menu, ou utilizar atalho do teclado Ctrl + H. Neste caso o histórico irá abrir em uma nova aba, onde pode-
mos pesquisá-lo por parte do nome do site ou mesmo dia a dia se preferir.

• Pesquisar palavras
Muitas vezes ao acessar um determinado site, estamos em busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso, utilizamos o atalho
do teclado Ctrl + F para abrir uma caixa de texto na qual podemos digitar parte do que procuramos, e será localizado.

• Salvando Textos e Imagens da Internet


Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.

• Downloads
Fazer um download é quando se copia um arquivo de algum site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.). Neste caso,
o Chrome possui um item no menu, onde podemos ver o progresso e os downloads concluídos.

• Sincronização
Uma nota importante sobre este tema: A sincronização é importante para manter atualizadas nossas operações, desta forma, se por
algum motivo trocarmos de computador, nossos dados estarão disponíveis na sua conta Google.
Por exemplo:
– Favoritos, histórico, senhas e outras configurações estarão disponíveis.
– Informações do seu perfil são salvas na sua Conta do Google.

No canto superior direito, onde está a imagem com a foto do usuário, podemos clicar no 1º item abaixo para ativar e desativar.

19
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

Safari

O Safari é o navegador da Apple, e disponibiliza inúmeras funções implementadas.


Vejamos:

• Guias

– Para abrirmos outras guias podemos simplesmente teclar CTRL + T ou

Vejamos os comandos principais de acordo com os símbolos da imagem:

1 Botão Voltar uma página

2 Botão avançar uma página

3 Botão atualizar a página

4 Barra de Endereço.

20
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
• Histórico e Favoritos
5 Adicionar Favoritos

6 Ajustes Gerais

7 Menus para a página atual.

8 Lista de Leitura

Perceba que o Safari, como os outros, oferece ferramentas bas-


tante comuns.
Vejamos algumas de suas funcionalidades:

• Lista de Leitura e Favoritos


No Safari é possível adicionar sites à lista de leitura para pos-
terior consulta, ou aos favoritos, caso deseje salvar seus endere-
ços. Para adicionar uma página, clique no “+” a que fica à esquerda
da barra de endereços, digite um nome ou mantenha o sugerido e
pronto. • Pesquisar palavras
Por padrão, o Safari salva seus sites na lista de leitura, mas você Muitas vezes, ao acessar um determinado site, estamos em
pode criar pastas para organizar melhor seus favoritos. Para remo- busca de uma palavra ou frase específica. Neste caso utilizamos o
vê-lo, basta clicar em excluir. atalho do teclado Ctrl + F, para abrir uma caixa de texto na qual po-
demos digitar parte do que procuramos, e será localizado.

• Salvando Textos e Imagens da Internet


Vamos navegar até a imagem desejada e clicar com o botão
direito do mouse, em seguida salvá-la em uma pasta.

• Downloads
Fazer um download é quando se copia um arquivo de um al-
gum site direto para o seu computador (texto, músicas, filmes etc.).
Neste caso, o Safari possui um item no menu onde podemos ver o
progresso e os downloads concluídos.

21
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Correio Eletrônico • Preparo e envio de mensagens
O correio eletrônico, também conhecido como e-mail, é um
serviço utilizado para envio e recebimento de mensagens de texto
e outras funções adicionais como anexos junto com a mensagem.

Para envio de mensagens externas o usuário deverá estar co-


nectado a internet, caso contrário ele ficará limitado a sua rede lo-
cal.
Abaixo vamos relatar algumas características básicas sobre o
e-mail
– Nome do Usuário: é o nome de login escolhido pelo usuário
na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: joaodasilva, no caso este é
nome do usuário;
– @ : Símbolo padronizado para uso em correios eletrônicos;
– Nome do domínio a que o e-mail pertence, isto é, na maioria • Boas práticas para criação de mensagens
das vezes, a empresa; – Uma mensagem deverá ter um assunto. É possível enviar
mensagem sem o Assunto, porém não é o adequado;
Vejamos um exemplo: joaodasilva@gmail.com.br / @hotmail. – A mensagem deverá ser clara, evite mensagens grandes ao
com.br / @editora.com.br extremo dando muitas voltas;
– Caixa de Entrada: Onde ficam armazenadas as mensagens – Verificar com cuidado os destinatários para o envio correto
recebidas; de e-mails, evitando assim problemas de envios equivocados.
– Caixa de Saída: Onde ficam armazenadas as mensagens ainda
não enviadas; • Anexação de arquivos
– E-mails Enviados: Como o próprio nome diz, é onde ficam os
e-mails que foram enviados;
– Rascunho: Guarda as mensagens que você ainda não termi-
nou de redigir;
– Lixeira: Armazena as mensagens excluídas.

Ao escrever mensagens, temos os seguintes campos:


– Para: é o campo onde será inserido o endereço do destinatá-
rio do e-mail;
– CC: este campo é usado para mandar cópias da mesma men-
sagem. Ao usar esse campo os endereços aparecerão para todos os
destinatários envolvidos;
– CCO: sua funcionalidade é semelhante ao campo anterior, no
entanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos da Uma função adicional quando criamos mensagens é de ane-
mensagem; xar um documento à mensagem, enviando assim juntamente com
– Assunto: campo destinado ao assunto da mensagem; o texto.
– Anexos: são dados que são anexados à mensagem (imagens,
programas, música, textos e outros); • Boas práticas para anexar arquivos à mensagem
– Corpo da Mensagem: espaço onde será escrita a mensagem. – E-mails tem limites de tamanho, não podemos enviar coisas
que excedem o tamanho, estas mensagens irão retornar;
• Uso do correio eletrônico – Deveremos evitar arquivos grandes pois além do limite do
– Inicialmente o usuário deverá ter uma conta de e-mail; e-mail, estes demoram em excesso para serem carregados.
– Esta conta poderá ser fornecida pela empresa ou criada atra- Computação de nuvem (Cloud Computing)
vés de sites que fornecem o serviço. As diretrizes gerais sobre a cria-
ção de contas estão no tópico acima; • Conceito de Nuvem (Cloud)
– Uma vez criada a conta, o usuário poderá utilizar um cliente
de e-mail na internet ou um gerenciador de e-mail disponível;
– Atualmente existem vários gerenciadores disponíveis no
mercado, tais como: Microsoft Outlook, Mozila Thunderbird, Opera
Mail, Gmail, etc.;
– O Microsoft outlook é talvez o mais conhecido gerenciador
de e-mail, dentro deste contexto vamos usá-lo como exemplo nos
tópicos adiante, lembrando que todos funcionam de formas bas-
tante parecidas.

A “Nuvem”, também referenciada como “Cloud”, são os servi-


ços distribuídos pela INTERNET que atendem as mais variadas de-
mandas de usuários e empresas.

22
NOÇÕES DE INFORMÁTICA

A internet é a base da computação em nuvem, os servidores remotos detêm os aplicativos e serviços para distribuí-los aos usuários
e às empresas.
A computação em nuvem permite que os consumidores aluguem uma infraestrutura física de um data center (provedor de serviços
em nuvem). Com acesso à Internet, os usuários e as empresas usam aplicativos e a infraestrutura alugada para acessarem seus arquivos,
aplicações, etc., a partir de qualquer computador conectado no mundo.
Desta forma todos os dados e aplicações estão localizadas em um local chamado Data Center dentro do provedor.
A computação em nuvem tem inúmeros produtos, e esses produtos são subdivididos de acordo com todos os serviços em nuvem,
mas os principais aplicativos da computação em nuvem estão nas áreas de: Negócios, Indústria, Saúde, Educação, Bancos, Empresas de
TI, Telecomunicações.

• Armazenamento de dados da nuvem (Cloud Storage)

A ideia de armazenamento na nuvem ( Cloud Storage ) é simples. É, basicamente, a gravação de dados na Internet.
Este envio de dados pode ser manual ou automático, e uma vez que os dados estão armazenados na nuvem, eles podem ser acessados
em qualquer lugar do mundo por você ou por outras pessoas que tiverem acesso.
São exemplos de Cloud Storage: DropBox, Google Drive, OneDrive.
As informações são mantidas em grandes Data Centers das empresas que hospedam e são supervisionadas por técnicos responsáveis
por seu funcionamento. Estes Data Centers oferecem relatórios, gráficos e outras formas para seus clientes gerenciarem seus dados e
recursos, podendo modificar conforme a necessidade.
O armazenamento em nuvem tem as mesmas características que a computação em nuvem que vimos anteriormente, em termos de
praticidade, agilidade, escalabilidade e flexibilidade.
Além dos exemplos citados acima, grandes empresas, tais como a IBM, Amazon, Microsoft e Google possuem serviços de nuvem que
podem ser contratados.

23
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
OUTLOOK
O Microsoft Outlook é um gerenciador de e-mail usado principalmente para enviar e receber e-mails. O Microsoft Outlook também
pode ser usado para administrar vários tipos de dados pessoais, incluindo compromissos de calendário e entradas, tarefas, contatos e
anotações.

Funcionalidades mais comuns:

PARA FAZER ISTO ATALHO CAMINHOS PARA EXECUÇÃO


1 Entrar na mensagem Enter na mensagem fechada ou click Verificar coluna atalho
2 Fechar Esc na mensagem aberta Verificar coluna atalho
3 Ir para a guia Página Inicial Alt+H Menu página inicial
4 Nova mensagem Ctrl+Shift+M Menu página inicial => Novo e-mail
5 Enviar Alt+S Botão enviar
6 Delete Excluir (quando na mensagem fechada) Verificar coluna atalho
7 Pesquisar Ctrl+E Barra de pesquisa
8 Responder Ctrl+R Barra superior do painel da mensagem
9 Encaminhar Ctrl+F Barra superior do painel da mensagem
10 Responder a todos Ctrl+Shift+R Barra superior do painel da mensagem
11 Copiar Ctrl+C Click direito copiar
12 Colar Ctrl+V Click direito colar
13 Recortar Ctrl+X Click direito recortar
14 Enviar/Receber Ctrl+M Enviar/Receber (Reatualiza tudo)
15 Acessar o calendário Ctrl+2 Canto inferior direito ícone calendário
16 Anexar arquivo ALT+T AX Menu inserir ou painel superior
17 Mostrar campo cco (cópia oculta) ALT +S + B Menu opções CCO

Endereços de e-mail
• Nome do Usuário – é o nome de login escolhido pelo usuário na hora de fazer seu e-mail. Exemplo: joaodasilva, no caso este é nome
do usuário;
• @ – Símbolo padronizado para uso;
• Nome do domínio – domínio a que o e-mail pertence, isto é, na maioria das vezes, a empresa. Vejamos um exemplo real: joaodasil-
va@solucao.com.br;
• Caixa de Entrada – Onde ficam armazenadas as mensagens recebidas;
• Caixa de Saída – Onde ficam armazenadas as mensagens ainda não enviadas;
• E-mails Enviados – Como próprio nome diz, e aonde ficam os e-mails que foram enviados;
• Rascunho – Guarda as mensagens que ainda não terminadas;
• Lixeira – Armazena as mensagens excluídas;

24
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Escrevendo e-mails Criar nova mensagem de e-mail
Ao escrever uma mensagem, temos os seguintes campos:
• Para – é o campo onde será inserido o endereço do destina-
tário do e-mail;
• CC – este campo é usado para mandar cópias da mesma men-
sagem. Ao usar este campo os endereços aparecerão para todos os
destinatários envolvidos.
• CCO – sua funcionalidade é semelhante ao campo anterior,
no entanto os endereços só aparecerão para os respectivos donos;
• Assunto – campo destinado ao assunto da mensagem.
• Anexos – são dados que são anexados à mensagem (imagens,
programas, música, textos e outros.)
• Corpo da Mensagem – espaço onde será escrita a mensagem.

Contas de e-mail Ao clicar em novo e-mail é aberto uma outra janela para digita-
É um endereço de e-mail vinculado a um domínio, que está ção do texto e colocar o destinatário, podemos preencher também
apto a receber e enviar mensagens, ou até mesmo guarda-las con- os campos CC (cópia), e o campo CCO (cópia oculta), porém esta
forme a necessidade. outra pessoa não estará visível aos outros destinatários.

Adicionar conta de e-mail


Siga os passos de acordo com as imagens:

Enviar
De acordo com a imagem a seguir, o botão Enviar fica em evi-
dência para o envio de e-mails.

A partir daí devemos seguir as diretrizes sobre nomes de e-mail,


referida no item “Endereços de e-mail”.

25
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Encaminhar e responder e-mails Adicionar assinatura de e-mail à mensagem
Funcionalidades importantes no uso diário, você responde a Um recurso interessante, é a possibilidade de adicionarmos
e-mail e os encaminha para outros endereços, utilizando os botões assinaturas personalizadas aos e-mails, deixando assim definida a
indicados. Quando clicados, tais botões ativam o quadros de texto, nossa marca ou de nossa empresa, de forma automática em cada
para a indicação de endereços e digitação do corpo do e-mail de mensagem.
resposta ou encaminhamento.

Adicionar, abrir ou salvar anexos


A melhor maneira de anexar e colar o objeto desejado no corpo
do e-mail, para salvar ou abrir, basta clicar no botão corresponden-
te, segundo a figura abaixo:

26
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
Imprimir uma mensagem de e-mail 5. (IBASE PREF. DE LINHARES – ES) Quando locamos servido-
Por fim, um recurso importante de ressaltar, é o que nos pos- res e armazenamento compartilhados, com software disponível e
sibilita imprimir e-mails, integrando-os com a impressora ligada ao localizados em Data-Centers remotos, aos quais não temos acesso
computador. Um recurso que se assemelha aos apresentados pelo presencial, chamamos esse serviço de:
pacote Office e seus aplicativos. (A) Computação On-Line.
(B) Computação na nuvem.
(C) Computação em Tempo Real.
(D) Computação em Block Time.
(E) Computação Visual

6. (CESPE – SEDF) Com relação aos conceitos básicos e modos


de utilização de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimen-
tos associados à Internet, julgue o próximo item.
Embora exista uma série de ferramentas disponíveis na Inter-
net para diversas finalidades, ainda não é possível extrair apenas o
áudio de um vídeo armazenado na Internet, como, por exemplo, no
EXERCÍCIOS Youtube (http://www.youtube.com).
( ) Certo
( ) Errado
1. (FGV-SEDUC -AM) O dispositivo de hardware que tem como
principal função a digitalização de imagens e textos, convertendo as 7. (CESP-MEC WEB DESIGNER) Na utilização de um browser, a
versões em papel para o formato digital, é denominado execução de JavaScripts ou de programas Java hostis pode provocar
(A) joystick. danos ao computador do usuário.
(B) plotter. ( ) Certo
(C) scanner. ( ) Errado
(D) webcam.
(E) pendrive. 8. (FGV – SEDUC -AM) Um Assistente Técnico recebe um e-mail
com arquivo anexo em seu computador e o antivírus acusa existên-
2. (CKM-FUNDAÇÃO LIBERATO SALZANO) João comprou um cia de vírus.
novo jogo para seu computador e o instalou sem que ocorressem Assinale a opção que indica o procedimento de segurança a ser
erros. No entanto, o jogo executou de forma lenta e apresentou adotado no exemplo acima.
baixa resolução. Considerando esse contexto, selecione a alterna- (A) Abrir o e-mail para verificar o conteúdo, antes de enviá-lo
tiva que contém a placa de expansão que poderá ser trocada ou ao administrador de rede.
adicionada para resolver o problema constatado por João. (B) Executar o arquivo anexo, com o objetivo de verificar o
(A) Placa de som tipo de vírus.
(B) Placa de fax modem (C) Apagar o e-mail, sem abri-lo.
(C) Placa usb (D) Armazenar o e-mail na área de backup, para fins de moni-
(D) Placa de captura toramento.
(E) Placa de vídeo (E) Enviar o e-mail suspeito para a pasta de spam, visando a
analisá-lo posteriormente.
3. (CKM-FUNDAÇÃO LIBERATO SALZANO) Há vários tipos de pe-
riféricos utilizados em um computador, como os periféricos de saída 9. (CESPE – PEFOCE) Entre os sistemas operacionais Windows
e os de entrada. Dessa forma, assinale a alternativa que apresenta 7, Windows Vista e Windows XP, apenas este último não possui ver-
um exemplo de periférico somente de entrada. são para processadores de 64 bits.
(A) Monitor ( ) Certo
(B) Impressora ( ) Errado
(C) Caixa de som
(D) Headphone 10. (CPCON – PREF, PORTALEGRE) Existem muitas versões do
(E) Mouse Microsoft Windows disponíveis para os usuários. No entanto, não é
uma versão oficial do Microsoft Windows
4. (VUNESP-2019 – SEDUC-SP) Na rede mundial de computado- (A) Windows 7
res, Internet, os serviços de comunicação e informação são disponi- (B) Windows 10
bilizados por meio de endereços e links com formatos padronizados (C) Windows 8.1
URL (Uniform Resource Locator). Um exemplo de formato de ende- (D) Windows 9
reço válido na Internet é: (E) Windows Server 2012
(A) http:@site.com.br
(B) HTML:site.estado.gov 11. (MOURA MELO – CAJAMAR) É uma versão inexistente do
(C) html://www.mundo.com Windows:
(D) https://meusite.org.br (A) Windows Gold.
(E) www.#social.*site.com (B) Windows 8.
(C) Windows 7.
(D) Windows XP.

27
NOÇÕES DE INFORMÁTICA
12. (QUADRIX CRN) Nos sistemas operacionais Windows 7 e 18. (FUNDEP – UFVJM-MG) Assinale a alternativa que apresen-
Windows 8, qual, destas funções, a Ferramenta de Captura não exe- ta uma ação que não pode ser realizada pelas opções da aba “Pági-
cuta? na Inicial” do Word 2010.
(A) Capturar qualquer item da área de trabalho. (A) Definir o tipo de fonte a ser usada no documento.
(B) Capturar uma imagem a partir de um scanner. (B) Recortar um trecho do texto para incluí-lo em outra parte
(C) Capturar uma janela inteira do documento.
(D) Capturar uma seção retangular da tela. (C) Definir o alinhamento do texto.
(E) Capturar um contorno à mão livre feito com o mouse ou (D) Inserir uma tabela no texto
uma caneta eletrônica
19. (CESPE – TRE-AL) Considerando a janela do PowerPoint
2002 ilustrada abaixo julgue os itens a seguir, relativos a esse apli-
13. (IF-PB) Acerca dos sistemas operacionais Windows 7 e 8, cativo.
assinale a alternativa INCORRETA: A apresentação ilustrada na janela contém 22 slides ?.
(A) O Windows 8 é o sucessor do 7, e ambos são desenvolvidos
pela Microsoft.
(B) O Windows 8 apresentou uma grande revolução na interfa-
ce do Windows. Nessa versão, o botão “iniciar” não está sem-
pre visível ao usuário.
(C) É possível executar aplicativos desenvolvidos para Windows
7 dentro do Windows 8.
(D) O Windows 8 possui um antivírus próprio, denominado
Kapersky.
(E) O Windows 7 possui versões direcionadas para computado- ( ) Certo
res x86 e 64 bits. ( ) Errado

14. (CESPE BANCO DA AMAZÔNIA) O Linux, um sistema multi- 20. (CESPE – CAIXA) O PowerPoint permite adicionar efeitos so-
tarefa e multiusuário, é disponível em várias distribuições, entre as noros à apresentação em elaboração.
quais, Debian, Ubuntu, Mandriva e Fedora. ( ) Certo
( ) Certo ( ) Errado
( ) Errado
GABARITO
15. (FCC – DNOCS) - O comando Linux que lista o conteúdo de
um diretório, arquivos ou subdiretórios é o
(A) init 0. 1 C
(B) init 6.
(C) exit 2 E
(D) ls. 3 E
(E) cd.
4 D
16. (SOLUÇÃO) O Linux faz distinção de letras maiúsculas ou 5 B
minúsculas
6 ERRADO
( ) Certo
( ) Errado 7 CERTO
8 C
17. (CESP -UERN) Na suíte Microsoft Office, o aplicativo
(A) Excel é destinado à elaboração de tabelas e planilhas eletrô- 9 CERTO
nicas para cálculos numéricos, além de servir para a produção 10 D
de textos organizados por linhas e colunas identificadas por nú-
meros e letras. 11 A
(B) PowerPoint oferece uma gama de tarefas como elaboração 12 B
e gerenciamento de bancos de dados em formatos .PPT.
13 D
(C) Word, apesar de ter sido criado para a produção de texto, é
útil na elaboração de planilhas eletrônicas, com mais recursos 14 CERTO
que o Excel. 15 D
(D) FrontPage é usado para o envio e recebimento de mensa-
gens de correio eletrônico. 16 CERTO
(E) Outlook é utilizado, por usuários cadastrados, para o envio 17 A
e recebimento de páginas web.
18 D
19 CERTO
20 CERTO

28
REDAÇÃO OFICIAL
1. Documentos oficiais, tipos, composição e estrutura. Aspectos gerais da Redação Oficial. Correspondência oficial: definição, formalida-
de e padronização; impessoalidade, linguagem dos atos e comunicações oficiais, concisão e clareza, editoração de textos (Manual de
Redação da Presidência da República ʹ 3ª edição, revista, atualizada e ampliada) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
REDAÇÃO OFICIAL

DOCUMENTOS OFICIAIS, TIPOS, COMPOSIÇÃO E ES- pref. Prefixo


TRUTURA. ASPECTOS GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL. pres. Presente
CORRESPONDÊNCIA OFICIAL: DEFINIÇÃO, FORMALI- Res. Resolução do Congresso Nacional
DADE E PADRONIZAÇÃO; IMPESSOALIDADE, LINGUA-
GEM DOS ATOS E COMUNICAÇÕES OFICIAIS, CONCI- RICD Regimento Interno da Câmara dos Deputados
SÃO E CLAREZA, EDITORAÇÃO DE TEXTOS (MANUAL RISF Regimento Interno do Senado Federal
DE REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA ʹ 3ª
s. Substantivo
EDIÇÃO, REVISTA, ATUALIZADA E AMPLIADA)
s.f. Substantivo feminino
A terceira edição do Manual de Redação da Presidência da s.m. Substantivo masculino
República foi lançado no final de 2018 e apresenta algumas mu- SEI! Sistema Eletrônico de Informações
danças quanto ao formato anterior. Para contextualizar, o manu-
sing. Singular
al foi criado em 1991 e surgiu de uma necessidade de padronizar
os protocolos à moderna administração pública. Assim, ele é re- tb. Também
ferência quando se trata de Redação Oficial em todas as esferas v. Ver ou verbo
administrativas.
v.g. verbi gratia
O Decreto de nº 9.758 de 11 de abril de 2019 veio alte-
rar regras importantes, quanto aos substantivos de tratamento. var. pop. Variante popular
Expressões usadas antes (como: Vossa Excelência ou Excelen-
tíssimo, Vossa Senhoria, Vossa Magnificência, doutor, ilustre ou A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela
ilustríssimo, digno ou digníssimo e respeitável) foram retiradas escrita. Para que haja comunicação, são necessários:
e substituídas apenas por: Senhor (a). Excepciona a nova regra a) alguém que comunique: o serviço público.
quando o agente público entender que não foi atendido pelo de- b) algo a ser comunicado: assunto relativo às atribuições do
creto e exigir o tratamento diferenciado. órgão que comunica.
c) alguém que receba essa comunicação: o público, uma ins-
A redação oficial é tituição privada ou outro órgão ou entidade pública, do Poder
A maneira pela qual o Poder Público redige comunicações Executivo ou dos outros Poderes.
oficiais e atos normativos e deve caracterizar-se pela: clareza e Além disso, deve-se considerar a intenção do emissor e a
precisão, objetividade, concisão, coesão e coerência, impesso- finalidade do documento, para que o texto esteja adequado à
alidade, formalidade e padronização e uso da norma padrão da situação comunicativa. Os atos oficiais (atos de caráter norma-
língua portuguesa. tivo) estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, regulam
o funcionamento dos órgãos e entidades públicos. Para alcançar
tais objetivos, em sua elaboração, precisa ser empregada a lin-
SINAIS E ABREVIATURAS EMPREGADOS
guagem adequada. O mesmo ocorre com os expedientes oficiais,
• Indica forma (em geral sintática) inaceitável ou cuja finalidade precípua é a de informar com clareza e objetivi-
agramatical dade.
§ Parágrafo
Atributos da redação oficial:
adj. adv. Adjunto adverbial
• clareza e precisão;
arc. Arcaico • objetividade;
art.; arts. Artigo; artigos • concisão;
• coesão e coerência;
cf. Confronte
• impessoalidade;
CN Congresso Nacional • formalidade e padronização; e
Cp. Compare • uso da norma padrão da língua portuguesa.
EM Exposição de Motivos
f.v. Forma verbal
fem. Feminino
ind. Indicativo
ICP - Brasil Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira
masc. Masculino
obj. dir. Objeto direto
obj. ind. Objeto indireto
p. Página
p. us. Pouco usado
pess. Pessoa
pl. Plural

1
REDAÇÃO OFICIAL

CLAREZA PRECISÃO • Uso de conjunção (estabelecer ligação entre orações, perío-


dos ou parágrafos).
Para a obtenção de clareza, su- O atributo da precisão comple- A redação oficial é elaborada sempre em nome do serviço pú-
gere-se: menta a clareza e caracteriza- blico e sempre em atendimento ao interesse geral dos cidadãos.
a) utilizar palavras e expres- -se por: Sendo assim, os assuntos objetos dos expedientes oficiais não de-
sões simples, em seu sentido a) articulação da linguagem vem ser tratados de outra forma que não a estritamente impessoal.
comum, salvo quando o texto comum ou técnica para a per- As comunicações administrativas devem ser sempre for-
versar sobre assunto técnico, feita compreensão da ideia mais, isto é, obedecer a certas regras de forma. Isso é válido
hipótese em que se utilizará veiculada no texto; tanto para as comunicações feitas em meio eletrônico, quanto
nomenclatura própria da área; b) manifestação do pensamen- para os eventuais documentos impressos. Recomendações:
b) usar frases curtas, bem es- to ou da ideia com as mesmas • A língua culta é contra a pobreza de expressão e não con-
truturadas; apresentar as ora- palavras, evitando o emprego tra a sua simplicidade;
ções na ordem direta e evitar de sinonímia com propósito • O uso do padrão culto não significa empregar a língua de
intercalações excessivas. Em meramente estilístico; e modo rebuscado ou utilizar figuras de linguagem próprias do es-
certas ocasiões, para evitar c) escolha de expressão ou tilo literário;
ambiguidade, sugere-se a ado- palavra que não confira duplo • A consulta ao dicionário e à gramática é imperativa na re-
ção da ordem inversa da ora- sentido ao texto. dação de um bom texto.
ção;
c) buscar a uniformidade do
tempo verbal em todo o texto; O único pronome de tratamento utilizado na comunicação com
d) não utilizar regionalismos e agentes públicos federais é “senhor”, independentemente do
neologismos; nível hierárquico, da natureza do cargo ou da função ou da oca-
e) pontuar adequadamente o sião.
texto; Obs. O pronome de tratamento é flexionado para o feminino
f) explicitar o significado da e para o plural.
sigla na primeira referência a
ela; e São formas de tratamento vedadas:
g) utilizar palavras e expres- I - Vossa Excelência ou Excelentíssimo;
sões em outro idioma apenas II - Vossa Senhoria;
quando indispensáveis, em III - Vossa Magnificência;
razão de serem designações IV - doutor;
ou expressões de uso já con- V - ilustre ou ilustríssimo;
sagrado ou de não terem exata VI - digno ou digníssimo; e
tradução. Nesse caso, grafe-as VII - respeitável.
em itálico.
Todavia, o agente público federal que exigir o uso dos pro-
Por sua vez, ser objetivo é ir diretamente ao assunto que se nomes de tratamento, mediante invocação de normas especiais
deseja abordar, sem voltas e sem redundâncias. Para conseguir referentes ao cargo ou carreira, deverá tratar o interlocutor do
isso, é fundamental que o redator saiba de antemão qual é a mesmo modo. Ademais, é vedado negar a realização de ato ad-
ideia principal e quais são as secundárias. A objetividade conduz ministrativo ou admoestar o interlocutor nos autos do expedien-
o leitor ao contato mais direto com o assunto e com as informa- te caso haja erro na forma de tratamento empregada.
ções, sem subterfúgios, sem excessos de palavras e de ideias. É O endereçamento das comunicações dirigidas a agentes pú-
errado supor que a objetividade suprime a delicadeza de expres- blicos federais não conterá pronome de tratamento ou o nome
são ou torna o texto rude e grosseiro. do agente público. Poderão constar o pronome de tratamento e
Conciso é o texto que consegue transmitir o máximo de o nome do destinatário nas hipóteses de:
informações com o mínimo de palavras. Não se deve de forma I – A mera indicação do cargo ou da função e do setor da ad-
alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é, não ministração ser insuficiente para a identificação do destinatário; ou
se deve eliminar passagens substanciais do texto com o único II - A correspondência ser dirigida à pessoa de agente públi-
objetivo de reduzi-lo em tamanho. Trata-se, exclusivamente, co específico.
de excluir palavras inúteis, redundâncias e passagens que nada Até a segunda edição deste Manual, havia três tipos de ex-
acrescentem ao que já foi dito. pedientes que se diferenciavam antes pela finalidade do que
É indispensável que o texto tenha coesão e coerência. Tais pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com o objetivo
de uniformizá-los, deve-se adotar nomenclatura e diagramação
atributos favorecem a conexão, a ligação, a harmonia entre os
únicas, que sigam o que chamamos de padrão ofício.
elementos de um texto. Percebe-se que o texto tem coesão e
Consistem em partes do documento no padrão ofício:
coerência quando se lê um texto e se verifica que as palavras, as
• Cabeçalho: O cabeçalho é utilizado apenas na primeira página
frases e os parágrafos estão entrelaçados, dando continuidade
do documento, centralizado na área determinada pela formatação.
uns aos outros. Alguns mecanismos que estabelecem a coesão e
No cabeçalho deve constar o Brasão de Armas da República no topo
a coerência de um texto são:
da página; nome do órgão principal; nomes dos órgãos secundários,
• Referência (termos que se relacionam a outros necessários
quando necessários, da maior para a menor hierarquia; espaçamento
à sua interpretação);
entrelinhas simples (1,0). Os dados do órgão, tais como endereço,
• Substituição (colocação de um item lexical no lugar de ou-
telefone, endereço de correspondência eletrônica, sítio eletrônico
tro ou no lugar de uma oração); oficial da instituição, podem ser informados no rodapé do documen-
• Elipse (omissão de um termo recuperável pelo contexto); to, centralizados.

2
REDAÇÃO OFICIAL
• Identificação do expediente:
a) nome do documento: tipo de expediente por extenso, com todas as letras maiúsculas;
b) indicação de numeração: abreviatura da palavra “número”, padronizada como Nº;
c) informações do documento: número, ano (com quatro dígitos) e siglas usuais do setor que expede o documento, da menor
para a maior hierarquia, separados por barra (/);
d) alinhamento: à margem esquerda da página.

• Local e data:
a) composição: local e data do documento;
b) informação de local: nome da cidade onde foi expedido o documento, seguido de vírgula. Não se deve utilizar a sigla da uni-
dade da federação depois do nome da cidade;
c) dia do mês: em numeração ordinal se for o primeiro dia do mês e em numeração cardinal para os demais dias do mês. Não se
deve utilizar zero à esquerda do número que indica o dia do mês;
d) nome do mês: deve ser escrito com inicial minúscula;
e) pontuação: coloca-se ponto-final depois da data;
f) alinhamento: o texto da data deve ser alinhado à margem direita da página.

• Endereçamento: O endereçamento é a parte do documento que informa quem receberá o expediente. Nele deverão constar :
a) vocativo;
b) nome: nome do destinatário do expediente;
c) cargo: cargo do destinatário do expediente;
d) endereço: endereço postal de quem receberá o expediente, dividido em duas linhas: primeira linha: informação de localida-
de/logradouro do destinatário ou, no caso de ofício ao mesmo órgão, informação do setor; segunda linha: CEP e cidade/unidade da
federação, separados por espaço simples. Na separação entre cidade e unidade da federação pode ser substituída a barra pelo ponto
ou pelo travessão. No caso de ofício ao mesmo órgão, não é obrigatória a informação do CEP, podendo ficar apenas a informação
da cidade/unidade da federação;
e) alinhamento: à margem esquerda da página.

• Assunto: O assunto deve dar uma ideia geral do que trata o documento, de forma sucinta. Ele deve ser grafado da seguinte
maneira:
a) título: a palavra Assunto deve anteceder a frase que define o conteúdo do documento, seguida de dois-pontos;
b) descrição do assunto: a frase que descreve o conteúdo do documento deve ser escrita com inicial maiúscula, não se deve
utilizar verbos e sugere-se utilizar de quatro a cinco palavras;
c) destaque: todo o texto referente ao assunto, inclusive o título, deve ser destacado em negrito;
d) pontuação: coloca-se ponto-final depois do assunto;
e) alinhamento: à margem esquerda da página.

• Texto:

NOS CASOS EM QUE NÃO SEJA USADO PARA ENCAMINHA- QUANDO FOREM USADOS PARA ENCAMINHAMENTO DE
MENTO DE DOCUMENTOS, O EXPEDIENTE DEVE CONTER A DOCUMENTOS, A ESTRUTURA É MODIFICADA:
SEGUINTE ESTRUTURA:
a) introdução: em que é apresentado o objetivo da comunica- a) introdução: deve iniciar com referência ao expediente que so-
ção. Evite o uso das formas: Tenho a honra de, Tenho o prazer licitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver
de, Cumpre-me informar que. Prefira empregar a forma direta: sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da co-
Informo, Solicito, Comunico; municação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados com-
b) desenvolvimento: em que o assunto é detalhado; se o texto pletos do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signa-
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tra- tário e assunto de que se trata) e a razão pela qual está sendo
tadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à ex- encaminhado;
posição; e b) desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer al-
c) conclusão: em que é afirmada a posição sobre o assunto. gum comentário a respeito do documento que encaminha, po-
derá acrescentar parágrafos de desenvolvimento. Caso contrário,
não há parágrafos de desenvolvimento em expediente usado
para encaminhamento de documentos.

Em qualquer uma das duas estruturas, o texto do documento deve ser formatado da seguinte maneira:
a) alinhamento: justificado;
b) espaçamento entre linhas: simples;
c) parágrafos: espaçamento entre parágrafos: de 6 pontos após cada parágrafo; recuo de parágrafo: 2,5 cm de distância da mar-
gem esquerda; numeração dos parágrafos: apenas quando o documento tiver três ou mais parágrafos, desde o primeiro parágrafo.
Não se numeram o vocativo e o fecho;

3
REDAÇÃO OFICIAL
d) fonte: Calibri ou Carlito; corpo do texto: tamanho 12 pon- k) arquivamento: dentro do possível, todos os documentos
tos; citações recuadas: tamanho 11 pontos; notas de Rodapé: elaborados devem ter o arquivo de texto preservado para con-
tamanho 10 pontos. sulta posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
e) símbolos: para símbolos não existentes nas fontes indica- gos. Deve ser utilizado, preferencialmente, formato de arquivo
das, pode-se utilizar as fontes Symbol e Wingdings. que possa ser lido e editado pela maioria dos editores de texto
utilizados no serviço público, tais como DOCX, ODT ou RTF.
• Fechos para comunicações: O fecho das comunicações l) nome do arquivo: para facilitar a localização, os nomes
oficiais objetiva, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, dos arquivos devem ser formados da seguinte maneira: tipo do
saudar o destinatário. documento + número do documento + ano do documento (com
a) Para autoridades de hierarquia superior a do remetente, 4 dígitos) + palavras-chaves do conteúdo.
inclusive o Presidente da República: Respeitosamente,
b) Para autoridades de mesma hierarquia, de hierarquia in-
ferior ou demais casos: Atenciosamente,

• Identificação do signatário: Excluídas as comunicações as-


sinadas pelo Presidente da República, todas as demais comuni-
cações oficiais devem informar o signatário segundo o padrão:
a) nome: nome da autoridade que as expede, grafado em
letras maiúsculas, sem negrito. Não se usa linha acima do nome
do signatário;
b) cargo: cargo da autoridade que expede o documento, re-
digido apenas com as iniciais maiúsculas. As preposições que li-
guem as palavras do cargo devem ser grafadas em minúsculas; e
c) alinhamento: a identificação do signatário deve ser cen-
tralizada na página. Para evitar equívocos, recomenda-se não
deixar a assinatura em página isolada do expediente. Transfira
para essa página ao menos a última frase anterior ao fecho.

• Numeração de páginas: A numeração das páginas é obri-


gatória apenas a partir da segunda página da comunicação. Ela
deve ser centralizada na página e obedecer à seguinte formata-
ção:
a) posição: no rodapé do documento, ou acima da área de 2
cm da margem inferior; e
b) fonte: Calibri ou Carlito.

Quanto a formatação e apresentação, os documentos do pa-


drão ofício devem obedecer à seguinte forma:
a) tamanho do papel: A4 (29,7 cm x 21 cm);
b) margem lateral esquerda: no mínimo, 3 cm de largura;
c) margem lateral direita: 1,5 cm;
d) margens superior e inferior: 2 cm;
e) área de cabeçalho: na primeira página, 5 cm a partir da
margem superior do papel;
f) área de rodapé: nos 2 cm da margem inferior do docu-
mento;
g) impressão: na correspondência oficial, a impressão pode
ocorrer em ambas as faces do papel. Nesse caso, as margens es-
querda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas pares
(margem espelho);
h) cores: os textos devem ser impressos na cor preta em pa-
pel branco, reservando-se, se necessário, a impressão colorida
para gráficos e ilustrações;
i) destaques: para destaques deve-se utilizar, sem abuso, o
negrito. Deve-se evitar destaques com uso de itálico, sublinha-
do, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou
qualquer outra forma de formatação que afete a sobriedade e a
padronização do documento;
j) palavras estrangeiras: palavras estrangeiras devem ser
grafadas em itálico;

4
REDAÇÃO OFICIAL
Os documentos oficiais podem ser identificados de acordo a) Encaminhamento de proposta de emenda constitucional,
com algumas possíveis variações: de projeto de lei ordinária, de projeto de lei complementar e os
a) [NOME DO EXPEDIENTE] + CIRCULAR: Quando um órgão que compreendem plano plurianual, diretrizes orçamentárias,
envia o mesmo expediente para mais de um órgão receptor. A orçamentos anuais e créditos adicionais.
sigla na epígrafe será apenas do órgão remetente. b) Encaminhamento de medida provisória.
b) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO: Quando mais de c) Indicação de autoridades.
um órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente para um d) Pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presi-
único órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes constarão dente da República se ausentarem do país por mais de 15 dias.
na epígrafe. e) Encaminhamento de atos de concessão e de renovação de
c) [NOME DO EXPEDIENTE] + CONJUNTO CIRCULAR: Quando concessão de emissoras de rádio e TV.
mais de um órgão envia, conjuntamente, o mesmo expediente f) Encaminhamento das contas referentes ao exercício an-
para mais de um órgão receptor. As siglas dos órgãos remetentes terior.
constarão na epígrafe. g) Mensagem de abertura da sessão legislativa.
h) Comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
Nos expedientes circulares, por haver mais de um receptor, o i) Comunicação de veto.
órgão remetente poderá inserir no rodapé as siglas ou nomes j) Outras mensagens remetidas ao Legislativo, ex. Aprecia-
dos órgãos que receberão o expediente. ção de intervenção federal.
As mensagens contêm:
Exposição de motivos (EM) a) brasão: timbre em relevo branco;
É o expediente dirigido ao Presidente da República ou ao b) identificação do expediente: MENSAGEM Nº, alinhada à
VicePresidente para: margem esquerda, no início do texto;
a) propor alguma medida; c) vocativo: alinhado à margem esquerda, de acordo com o
b) submeter projeto de ato normativo à sua consideração; ou pronome de tratamento e o cargo do destinatário, com o recuo
c) informa-lo de determinado assunto. de parágrafo dado ao texto;
d) texto: iniciado a 2 cm do vocativo;
A exposição de motivos é dirigida ao Presidente da Repú- e) local e data: posicionados a 2 cm do final do texto, ali-
blica por um Ministro de Estado. Nos casos em que o assunto nhados à margem direita. A mensagem, como os demais atos
tratado envolva mais de um ministério, a exposição de motivos assinados pelo Presidente da República, não traz identificação
será assinada por todos os ministros envolvidos, sendo, por essa de seu signatário.
razão, chamada de interministerial. Independentemente de ser A utilização do e-mail para a comunicação tornou-se prática
uma EM com apenas um autor ou uma EM interministerial, a comum, não só em âmbito privado, mas também na administra-
sequência numérica das exposições de motivos é única. A nume- ção pública. O termo e-mail pode ser empregado com três sentidos.
ração começa e termina dentro de um mesmo ano civil. Dependendo do contexto, pode significar gênero textual, endere-
A exposição de motivos é a principal modalidade de comuni- ço eletrônico ou sistema de transmissão de mensagem eletrônica.
cação dirigida ao Presidente da República pelos ministros. Além Como gênero textual, o e-mail pode ser considerado um documen-
disso, pode, em certos casos, ser encaminhada cópia ao Con- to oficial, assim como o ofício. Portanto, deve-se evitar o uso de
gresso Nacional ou ao Poder Judiciário. linguagem incompatível com uma comunicação oficial. Como en-
O Sistema de Geração e Tramitação de Documentos Oficiais dereço eletrônico utilizado pelos servidores públicos, o e-mail deve
(Sidof) é a ferramenta eletrônica utilizada para a elaboração, a ser oficial, utilizando-se a extensão “.gov.br”, por exemplo. Como
redação, a alteração, o controle, a tramitação, a administração e sistema de transmissão de mensagens eletrônicas, por seu baixo
a gerência das exposições de motivos com as propostas de atos custo e celeridade, transformou-se na principal forma de envio e
a serem encaminhadas pelos Ministérios à Presidência da Repú- recebimento de documentos na administração pública.
blica. Nos termos da Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto
de 2001, para que o e-mail tenha valor documental, isto é, para
que possa ser aceito como documento original, é necessário exis-
Ao se utilizar o Sidof, a assinatura, o nome e o cargo do signatário tir certificação digital que ateste a identidade do remetente, se-
são substituídos pela assinatura eletrônica que informa o nome gundo os parâmetros de integridade, autenticidade e validade ju-
do ministro que assinou a exposição de motivos e do consultor rídica da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICPBrasil.
jurídico que assinou o parecer jurídico da Pasta. O destinatário poderá reconhecer como válido o e-mail sem
certificação digital ou com certificação digital fora ICP-Brasil;
A Mensagem é o instrumento de comunicação oficial entre contudo, caso haja questionamento, será obrigatório a repetição
os Chefes dos Poderes Públicos, notadamente as mensagens en- do ato por meio documento físico assinado ou por meio eletrô-
viadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para nico reconhecido pela ICP-Brasil. Salvo lei específica, não é dado
informar sobre fato da administração pública; para expor o pla- ao ente público impor a aceitação de documento eletrônico que
no de governo por ocasião da abertura de sessão legislativa; para não atenda os parâmetros da ICP-Brasil.
submeter ao Congresso Nacional matérias que dependem de deli- Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é
beração de suas Casas; para apresentar veto; enfim, fazer comuni- sua flexibilidade. Assim, não interessa definir padronização da
cações do que seja de interesse dos Poderes Públicos e da Nação. mensagem comunicada. O assunto deve ser o mais claro e es-
Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos minis- pecífico possível, relacionado ao conteúdo global da mensagem.
térios à Presidência da República, a cujas assessorias caberá a Assim, quem irá receber a mensagem identificará rapidamente
redação final. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao do que se trata; quem a envia poderá, posteriormente, localizar
Congresso Nacional têm as seguintes finalidades: a mensagem na caixa do correio eletrônico.

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REDAÇÃO OFICIAL
O texto dos correios eletrônicos deve ser iniciado por uma saudação. Quando endereçado para outras instituições, para recep-
tores desconhecidos ou para particulares, deve-se utilizar o vocativo conforme os demais documentos oficiais, ou seja, “Senhor” ou
“Senhora”, seguido do cargo respectivo, ou “Prezado Senhor”, “Prezada Senhora”.
Atenciosamente é o fecho padrão em comunicações oficiais. Com o uso do e-mail, popularizou-se o uso de abreviações como
“Att.”, e de outros fechos, como “Abraços”, “Saudações”, que, apesar de amplamente usados, não são fechos oficiais e, portanto, não
devem ser utilizados em e-mails profissionais.
Sugere-se que todas as instituições da administração pública adotem um padrão de texto de assinatura. A assinatura do e-mail
deve conter o nome completo, o cargo, a unidade, o órgão e o telefone do remetente.
A possibilidade de anexar documentos, planilhas e imagens de diversos formatos é uma das vantagens do e-mail. A mensagem
que encaminha algum arquivo deve trazer informações mínimas sobre o conteúdo do anexo.
Os arquivos anexados devem estar em formatos usuais e que apresentem poucos riscos de segurança. Quando se tratar de do-
cumento ainda em discussão, os arquivos devem, necessariamente, ser enviados, em formato que possa ser editado.
A correção ortográfica é requisito elementar de qualquer texto, e ainda mais importante quando se trata de textos oficiais.
Muitas vezes, uma simples troca de letras pode alterar não só o sentido da palavra, mas de toda uma frase. O que na correspondên-
cia particular seria apenas um lapso na digitação pode ter repercussões indesejáveis quando ocorre no texto de uma comunicação
oficial ou de um ato normativo. Assim, toda revisão que se faça em determinado documento ou expediente deve sempre levar em
conta também a correção ortográfica.

HÍFEN ASPAS ITÁLICO NEGRITO E SUBLINHADO


Emprega-se itálico em:
As aspas têm os seguintes em- a) títulos de publicações (livros,
O hífen é um sinal usado para:
pregos: revistas, jornais, periódicos
a) ligar os elementos de pala-
a) antes e depois de uma ci- etc.) ou títulos de congressos,
vras compostas: vice-ministro;
tação textual direta, quando conferências, slogans, lemas
b) para unir pronomes átonos Usa-se o negrito para realce de pala-
esta tem até três linhas, sem sem o uso de aspas (com inicial
a verbos: agradeceu-lhe; e vras e trechos. Deve-se evitar o uso
utilizar itálico; maiúscula em todas as pala-
c) para, no final de uma linha, de sublinhado para realçar palavras
b) quando necessário, para vras, exceto nas de ligação);
indicar a separação das síla- e trechos em comunicações oficiais.
diferenciar títulos, termos b) palavras e as expressões em
bas de uma palavra em duas
técnicos, expressões fixas, latim ou em outras línguas es-
partes (a chamada translinea-
definições, exemplificações e trangeiras não incorporadas ao
ção): com-/parar, gover-/no.
assemelhados. uso comum na língua portu-
guesa ou não aportuguesadas.

PARÊNTESES E TRAVESSÃO USO DE SIGLAS E ACRÔNIMOS


Os parênteses são empregados para intercalar, em um texto, ex- Para padronizar o uso de siglas e acrônimos nos atos normativos, se-
plicações, indicações, comentários, observações, como por exem- rão adotados os conceitos sugeridos pelo Manual de Elaboração de
plo, indicar uma data, uma referência bibliográfica, uma sigla. Textos da Consultoria Legislativa do Senado Federal (1999), em que:
O travessão, que é representado graficamente por um hífen pro- a) sigla: constitui-se do resultado das somas das iniciais de um título;
longado (–), substitui parênteses, vírgulas, dois-pontos. e
b) acrônimo: constitui-se do resultado da soma de algumas sílabas
ou partes dos vocábulos de um título.

Sintaxe é a parte da Gramática que estuda a palavra, não em si, mas em relação às outras, que, com ela, se unem para exprimir
o pensamento. Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos elementos que compõem uma oração:

SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO + ADJUNTO ADVERBIAL


O sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada na oração. De acordo com a gramática normativa, o sujeito
da oração não pode ser preposicionado. Ele pode ter complemento, mas não ser complemento.

Embora seja usada como recurso estilístico na literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos textos oficiais, pois muitas vezes
dificulta a compreensão.

A omissão de certos termos, ao fazermos uma comparação, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na língua escrita,
pois compromete a clareza do texto: nem sempre é possível identificar, pelo contexto, o termo omitido. A ausência indevida de um
termo pode impossibilitar o entendimento do sentido que se quer dar a uma frase.
Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de todo texto
oficial, deve-se atentar para as construções que possam gerar equívocos de compreensão. A ambiguidade decorre, em geral, da
dificuldade de identificar-se a que palavra se refere um pronome que possui mais de um antecedente na terceira pessoa.
A concordância é o processo sintático segundo o qual certas palavras se acomodam, na sua forma, às palavras de que depen-
dem. Essa acomodação formal se chama flexão e se dá quanto a gênero e número (nos adjetivos – nomes ou pronomes), números
e pessoa (nos verbos). Daí, a divisão: concordância nominal e concordância verbal.

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REDAÇÃO OFICIAL

CONCORDÂNCIA VERBAL CONCORDÂNCIA NOMINAL


O verbo concorda com seu sujeito em pessoa e número. Adjetivos (nomes ou pronomes), artigos e numerais concor-
dam em gênero e número com os substantivos de que dependem.

Regência é, em gramática, sinônimo de dependência, subordinação. Assim, a sintaxe de regência trata das relações de depen-
dência que as palavras mantêm na frase. Dizemos que um termo rege o outro que o complementa. Numa frase, os termos regentes
ou subordinantes (substantivos, adjetivos, verbos) regem os termos regidos ou subordinados (substantivos, adjetivos, preposições)
que lhes completam o sentido.
Os sinais de pontuação, ligados à estrutura sintática, têm as seguintes finalidades:
a) assinalar as pausas e as inflexões da voz (a entoação) na leitura;
b) separar palavras, expressões e orações que, segundo o autor, devem merecer destaque; e
c) esclarecer o sentido da frase, eliminando ambiguidades.
A vírgula serve para marcar as separações breves de sentido entre termos vizinhos, as inversões e as intercalações, quer na ora-
ção, quer no período. O ponto e vírgula, em princípio, separa estruturas coordenadas já portadoras de vírgulas internas. É também
usado em lugar da vírgula para dar ênfase ao que se quer dizer.
Emprega-se este sinal de pontuação para introduzir citações, marcar enunciados de diálogo e indicar um esclarecimento, um
resumo ou uma consequência do que se afirmou.
O ponto de interrogação, como se depreende de seu nome, é utilizado para marcar o final de uma frase interrogativa direta. O pon-
to de exclamação é utilizado para indicar surpresa, espanto, admiração, súplica etc. Seu uso na redação oficial fica geralmente restrito
aos discursos e às peças de retórica.
O uso do pronome demonstrativo obedece às seguintes circunstâncias:
a) Emprega-se este(a)/isto quando o termo referente estiver próximo ao emissor, ou seja, de quem fala ou redige.
b) Emprega-se esse(a)/isso quando o termo referente estiver próximo ao receptor, ou seja, a quem se fala ou para quem se redige.
c) Emprega-se aquele(a)/aquilo quando o termo referente estiver distante tanto do emissor quanto do receptor da mensagem.
d) Emprega-se este(a) para referir-se ao tempo presente;
e) Emprega-se esse(a) para se referir ao tempo passado;
f) Emprega-se aquele(a)/aquilo em relação a um tempo passado mais longínquo, ou histórico.
g) Usa-se este(a)/isto para introduzir referência que, no texto, ainda será mencionado;
h) Usa-se este(a)para se referir ao próprio texto;
i) Emprega-se esse(a)/isso quando a informação já foi mencionada no texto.
A Semântica estuda o sentido das palavras, expressões, frases e unidades maiores da comunicação verbal, os significados que
lhe são atribuídos. Ao considerarmos o significado de determinada palavra, levamos em conta sua história, sua estrutura (radical,
prefixos, sufixos que participam da sua forma) e, por fim, o contexto em que se apresenta.
Sendo a clareza um dos requisitos fundamentais de todo texto oficial, deve-se atentar para a tradição no emprego de determi-
nada expressão com determinado sentido. O emprego de expressões ditas de uso consagrado confere uniformidade e transparência
ao sentido do texto. Mas isso não quer dizer que os textos oficiais devam limitar-se à repetição de chavões e de clichês.
Verifique sempre o contexto em que as palavras estão sendo utilizadas. Certifique-se de que não há repetições desnecessárias
ou redundâncias. Procure sinônimos ou termos mais precisos para as palavras repetidas; mas se sua substituição for comprometer
o sentido do texto, tornando-o ambíguo ou menos claro, não hesite em deixar o texto como está.
É importante lembrar que o idioma está em constante mutação. A própria evolução dos costumes, das ideias, das ciências, da
política, enfim da vida social em geral, impõe a criação de novas palavras e de formas de dizer.
A redação oficial não pode alhear-se dessas transformações, nem incorporá-las acriticamente. Quanto às novidades vocabula-
res, por um lado, elas devem sempre ser usadas com critério, evitando-se aquelas que podem ser substituídas por vocábulos já de
uso consolidado sem prejuízo do sentido que se lhes quer dar.
De outro lado, não se concebe que, em nome de suposto purismo, a linguagem das comunicações oficiais fique imune às cria-
ções vocabulares ou a empréstimos de outras línguas. A rapidez do desenvolvimento tecnológico, por exemplo, impõe a criação de
inúmeros novos conceitos e termos, ditando de certa forma a velocidade com que a língua deve incorporá-los. O importante é usar o
estrangeirismo de forma consciente, buscar o equivalente português quando houver ou conformar a palavra estrangeira ao espírito
da Língua Portuguesa.
O problema do abuso de estrangeirismos inúteis ou empregados em contextos em que não cabem, é em geral causado ou pelo
desconhecimento da riqueza vocabular de nossa língua, ou pela incorporação acrítica do estrangeirismo.
• A homonímia é a designação geral para os casos em que palavras de sentidos diferentes têm a mesma grafia (os homônimos
homógrafos) ou a mesma pronúncia (os homônimos homófonos).
• Os homógrafos podem coincidir ou não na pronúncia, como nos exemplos: quarto (aposento) e quarto (ordinal), manga (fruta)
e manga (de camisa), em que temos pronúncia idêntica; e apelo (pedido) e apelo (com e aberto, 1ª pess. Do sing. Do pres. Do ind.
Do verbo apelar), consolo (alívio) e consolo (com o aberto, 1ª pess. Do sing. Do pres. Do ind. Do verbo consolar), com pronúncia
diferente. Os homógrafos de idêntica pronúncia diferenciam-se pelo contexto em que são empregados.
• Já o termo paronímia designa o fenômeno que ocorre com palavras semelhantes (mas não idênticas) quanto à grafia ou à
pronúncia. É fonte de muitas dúvidas, como entre descrição (ato de descrever) e discrição (qualidade do que é discreto), retificar
(corrigir) e ratificar (confirmar).

7
REDAÇÃO OFICIAL
No Estado de Direito, as normas jurídicas cumprem a tarefa questionada sem contemplar, de forma detida e racional, as al-
de concretizar a Constituição. Elas devem criar os fundamentos ternativas possíveis ou as causas determinantes desse estado de
de justiça e de segurança que assegurem um desenvolvimento coisas negativo. Outras vezes, deixa-se orientar por sentimento
social harmônico em um contexto de paz e de liberdade. Esses inverso, buscando, pura e simplesmente, a preservação do sta-
complexos objetivos da norma jurídica são expressos nas fun- tus quo.
ções: Essas duas posições podem levar, nos seus extremos, a uma
I) de integração: a lei cumpre função de integração ao com- imprecisa definição dos objetivos. A definição da decisão legis-
pensar as diferenças jurídico-políticas no quadro de formação da lativa deve ser precedida de uma rigorosa avaliação das alterna-
vontade do Estado (desigualdades sociais, regionais); tivas existentes, seus prós e contras. A existência de diversas al-
II) de planificação: a lei é o instrumento básico de organiza- ternativas para a solução do problema não só amplia a liberdade
ção, de definição e de distribuição de competências; do legislador, como também permite a melhoria da qualidade da
III) de proteção: a lei cumpre função de proteção contra o decisão legislativa.
arbítrio ao vincular os próprios órgãos do Estado; Antes de decidir sobre a alternativa a ser positivada, devem-
IV) de regulação: a lei cumpre função reguladora ao direcio- -se avaliar e contrapor as alternativas existentes sob dois pontos
nar condutas por meio de modelos; de vista: a) De uma perspectiva puramente objetiva: verificar se
V) de inovação: a lei cumpre função de inovação na ordem a análise sobre os dados fáticos e prognósticos se mostra con-
jurídica e no plano social. sistente; b) De uma perspectiva axiológica: aferir, com a utiliza-
ção de critérios de probabilidade (prognósticos), se os meios a
Requisitos da elaboração normativa: serem empregados mostram-se adequados a produzir as conse-
• Clareza e determinação da norma; quências desejadas. Devem-se contemplar, igualmente, as suas
• Princípio da reserva legal; deficiências e os eventuais efeitos colaterais negativos.
• Reserva legal qualificada (algumas providências sejam pre- O processo de decisão normativa estará incompleto caso se
cedidas de específica autorização legislativa, vinculada à deter- entenda que a tarefa do legislador se encerre com a edição do
minada situação ou destinada a atingir determinado objetivo); ato normativo. Uma planificação mais rigorosa do processo de
• Princípio da legalidade nos âmbitos penal, tributário e ad- elaboração normativa exige um cuidadoso controle das diversas
ministrativo; consequências produzidas pelo novo ato normativo.
• Princípio da proporcionalidade; É recomendável que o legislador redija as leis dentro de um
• Densidade da norma (a previsão legal contenha uma disci- espírito de sistema, tendo em vista não só a coerência e a har-
plina suficientemente concreta); monia interna de suas disposições, mas também a sua adequada
• Respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à inserção no sistema jurídico como um todo. Essa sistematização
coisa julgada; expressa uma característica da cientificidade do Direito e cor-
• Remissões legislativas (se as remissões forem inevitáveis, responde às exigências mínimas de segurança jurídica, à medida
sejam elas formuladas de tal modo que permitam ao intérprete que impedem uma ruptura arbitrária com a sistemática adotada
apreender o seu sentido sem ter de compulsar o texto referido). na aplicação do Direito. Costuma-se distinguir a sistemática da
lei em sistemática interna (compatibilidade teleológica e au-
Além do processo legislativo disciplinado na Constituição sência de contradição lógica) e sistemática externa (estrutura
(processo legislativo externo), a doutrina identifica o chamado da lei).
processo legislativo interno, que se refere à forma de fazer ado- Regras básicas a serem observadas para a sistematização do
tada para a tomada da decisão legislativa. texto do ato normativo, com o objetivo de facilitar sua estrutu-
Antes de decidir sobre as providências a serem tomadas, é ração:
essencial identificar o problema a ser enfrentado. Realizada a a) matérias que guardem afinidade objetiva devem ser tra-
identificação do problema em decorrência de impulsos externos tadas em um mesmo contexto ou agrupamento;
(manifestações de órgãos de opinião pública, críticas de segmen- b) os procedimentos devem ser disciplinados segundo a or-
tos especializados) ou graças à atuação dos mecanismos próprios dem cronológica, se possível;
de controle, o problema deve ser delimitado de forma precisa. c) a sistemática da lei deve ser concebida de modo a permitir
A análise da situação questionada deve contemplar as cau- que ela forneça resposta à questão jurídica a ser disciplinada; e
sas ou o complexo de causas que eventualmente determinaram d) institutos diversos devem ser tratados separadamente.
ou contribuíram para o seu desenvolvimento. Essas causas po- • O artigo de alteração da norma deve fazer menção expres-
dem ter influências diversas, tais como condutas humanas, de- sa ao ato normativo que está sendo alterado.
senvolvimentos sociais ou econômicos, influências da política • Na hipótese de alteração parcial de artigo, os dispositivos
nacional ou internacional, consequências de novos problemas que não terão o seu texto alterado serão substituídos por linha
técnicos, efeitos de leis antigas, mudanças de concepção etc. pontilhada, cujo uso é obrigatório para indicar a manutenção e a
Para verificar a adequação dos meios a serem utilizados, de- não alteração do trecho do artigo.
ve-se realizar uma análise dos objetivos que se esperam com a O termo “republicação” é utilizado para designar apenas a
aprovação da proposta. A ação do legislador, nesse âmbito, não hipótese de o texto publicado não corresponder ao original as-
difere, fundamentalmente, da atuação do homem comum, que sinado pela autoridade. Não se pode cogitar essa hipótese por
se caracteriza mais por saber exatamente o que não quer, sem motivo de erro já constante do documento subscrito pela au-
precisar o que efetivamente pretende. toridade ou, muito menos, por motivo de alteração na opinião
A avaliação emocional dos problemas, a crítica generaliza- da autoridade. Considerando que os atos normativos somente
da e, às vezes, irrefletida sobre o estado de coisas dominante produzem efeitos após a publicação no Diário Oficial da União,
acabam por permitir que predominem as soluções negativistas, mesmo no caso de republicação, não se poderá cogitar a existên-
que têm por escopo, fundamentalmente, suprimir a situação cia de efeitos retroativos com a publicação do texto corrigido.

8
REDAÇÃO OFICIAL
Contudo, o texto publicado sem correspondência com aquele • Decretos regulamentares: Os decretos regulamentares são
subscrito pela autoridade poderá ser considerado inválido com atos normativos subordinados ou secundários.
efeitos retroativos. • Decretos autônomos: Limita-se às hipóteses de organiza-
Já a retificação se refere aos casos em que texto publicado ção e funcionamento da administração pública federal, quando
corresponde ao texto subscrito pela autoridade, mas que conti- não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de
nha lapso manifesto. A retificação requer nova assinatura pelas órgãos públicos, e de extinção de funções ou cargos públicos,
autoridades envolvidas e, em muitos casos, é menos convenien- quando vagos.
te do que a mera alteração da norma. Portaria é o instrumento pelo qual Ministros ou outras au-
A correção de erro material que não afete a substância do toridades expedem instruções sobre a organização e o funcio-
ato singular de caráter pessoal e as retificações ou alterações da namento de serviço, sobre questões de pessoal e outros atos de
denominação de cargos, funções ou órgãos que tenham tido a sua competência.
denominação modificada em decorrência de lei ou de decreto
superveniente à expedição do ato pessoal a ser apostilado são O processo legislativo abrange não só a elaboração das leis
realizadas por meio de apostila. O apostilamento é de compe- propriamente ditas (leis ordinárias, leis complementares, leis
tência do setor de recurso humanos do órgão, autarquia ou fun- delegadas), mas também a elaboração das emendas constitu-
dação, e dispensa nova assinatura da autoridade que subscreveu cionais, das medidas provisórias, dos decretos legislativos e das
o ato originário. resoluções.
Atenção: Deve-se ter especial atenção quando do uso do A iniciativa é a proposta de edição de direito novo. A iniciati-
apostilamento para os atos relativos à vacância ou ao provimen- va comum ou concorrente compete ao Presidente da República,
to decorrente de alteração de estrutura de órgão, autarquia ou a qualquer Deputado ou Senador, a qualquer comissão de qual-
fundação pública. O apostilamento não se aplica aos casos nos quer das Casas do Congresso, e aos cidadãos – iniciativa popu-
quais a essência do cargo em comissão ou da função de confian- lar. A Constituição confere a iniciativa da legislação sobre certas
ça tenham sido alterados, tais como nos casos de alteração do matérias, privativamente, a determinados órgãos, denominada
nível hierárquico, transformação de atribuição de assessoramen- de iniciativa reservada. A Constituição prevê, ainda, sistema de
to em atribuição de chefia (ou vice-versa) ou transferência de iniciativa vinculada, na qual a apresentação do projeto é obriga-
cargo para unidade com outras competências. Também deve-se tória. Nesse caso, o Chefe do Executivo Federal deve encaminhar
alertar para o fato que a praxe atual tem sido exigir que o apos- ao Congresso Nacional os projetos referentes às leis orçamentá-
tilamento decorrente de alteração em estrutura regimental seja rias (plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias e o orça-
realizado na mesma data da entrada em vigor de seu decreto. mento anual).
A estrutura dos atos normativos é composta por dois ele-
mentos básicos: a ordem legislativa e a matéria legislada. A or- A disciplina sobre a discussão e a instrução do projeto de lei é
dem legislativa compreende a parte preliminar e o fecho da lei confiada, fundamentalmente, aos Regimentos das Casas Legis-
ou do decreto; a matéria legislada diz respeito ao texto ou ao lativas.
corpo do ato.
A lei ordinária é ato normativo primário e contém, em re- Emenda é a proposição apresentada como acessória de
gra, normas gerais e abstratas. Embora as leis sejam definidas, outra proposição. Nem todo titular de iniciativa tem poder de
normalmente, pela generalidade e pela abstração (lei material), emenda. Essa faculdade é reservada aos parlamentares. Se, en-
estas contêm, não raramente, normas singulares (lei formal ou tretanto, for de iniciativa do Poder Executivo ou do Poder Ju-
ato normativo de efeitos concretos). diciário, o seu titular também pode apresentar modificações,
As leis complementares são um tipo de lei que não têm a acréscimos, o que fará por meio de mensagem aditiva, dirigida
rigidez dos preceitos constitucionais, e tampouco comportam ao Presidente da Câmara dos Deputados, que justifique a ne-
a revogação por força de qualquer lei ordinária superveniente. cessidade do acréscimo. A apresentação de emendas a qualquer
Com a instituição de lei complementar, o constituinte buscou projeto de lei oriundo de iniciativa reservada é autorizada, desde
resguardar determinadas matérias contra mudanças céleres ou que não implique aumento de despesa e que tenha estrita per-
apressadas, sem deixá-las exageradamente rígidas, o que difi- tinência temática.
cultaria sua modificação. A lei complementar deve ser aprovada A Constituição não impede a apresentação de emendas ao
pela maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Na- projeto de lei orçamentária. Elas devem ser, todavia, compatíveis
cional. com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias e
Lei delegada é o ato normativo elaborado e editado pelo devem indicar os recursos necessários, sendo admitidos apenas
Presidente da República em decorrência de autorização do Po- aqueles provenientes de anulação de despesa. A Constituição
der Legislativo, expedida por meio de resolução do Congresso veda a propositura de emendas ao projeto de lei de diretrizes
Nacional e dentro dos limites nela traçados. Medida provisória é orçamentárias que não guardem compatibilidade com o plano
ato normativo com força de lei que pode ser editado pelo Presi- plurianual.
dente da República em caso de relevância e urgência. Decretos A votação da matéria legislativa constitui ato coletivo das
são atos administrativos de competência exclusiva do Chefe do Casas do Congresso. Realiza-se, normalmente, após a instrução
Executivo, destinados a prover as situações gerais ou individuais, do projeto nas comissões e dos debates no plenário. A sanção é
abstratamente previstas, de modo expresso ou implícito, na lei. o ato pelo qual o Chefe do Executivo manifesta a sua anuência ao
• Decretos singulares ou de efeitos concretos: Os decretos projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo. Verifica-se aqui a
podem conter regras singulares ou concretas (por exemplo, de- fusão da vontade do Congresso Nacional com a do Presidente,
cretos referentes à questão de pessoal, de abertura de crédito, da qual resulta a formação da lei.
de desapropriação, de cessão de uso de imóvel, de indulto, de
perda de nacionalidade, etc.).

9
REDAÇÃO OFICIAL
O veto é o ato pelo qual o Chefe do Poder Executivo nega (I) Margem lateral direita: 1,5 cm;
sanção ao projeto – ou a parte dele –, obstando à sua conversão (II) Margem lateral esquerda: no mínimo, 3 cm de largura;
em lei. Dois são os fundamentos para a recusa de sanção: a) in- (III) Margem superior e inferior: 2 cm; e
constitucionalidade; ou b) contrariedade ao interesse público. (IV) Tamanho do papel: A5 (14,8 cm x 21 cm).
O veto deve ser expresso e motivado, e oposto no prazo de
15 dias úteis, contado da data do recebimento do projeto, e co- Quais estão corretas?
municado ao Congresso Nacional nas 48 horas subsequentes à (A) Apenas I.
sua oposição. O veto não impede a conversão do projeto em lei, (B) Apenas I e III.
podendo ser superado por deliberação do Congresso Nacional. (C) Apenas II e IV.
A promulgação e a publicação constituem fases essenciais (D) Apenas I, II e III.
da eficácia da lei. A promulgação das leis compete ao Presiden- (E) Apenas II, III e IV.
te da República. Ela deverá ocorrer dentro do prazo de 48 ho-
ras, decorrido da sanção ou da superação do veto. Nesse último 3. (CPCON - 2019 - PREFEITURA DE GUARABIRA - PB - AGEN-
caso, se o Presidente não promulgar a lei, competirá a promulga- TE ADMINISTRATIVO)
ção ao Presidente do Senado Federal, que disporá, igualmente, O Manual de Redação da Presidência da República estabe-
de 48 horas para fazê-lo; se este não o fizer, deverá fazê-lo o lece o emprego de somente dois fechos diferentes para todas as
Vice-Presidente do Senado Federal, em prazo idêntico. modalidades de comunicação oficial. Marque (V) ou (F), confor-
O período entre a publicação da lei e a sua entrada em vigor me sejam verdadeiras ou falsas as proposições.
é chamado de período de vacância ou vacatio legis. Na falta de ( ) Para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
disposição especial, vigora o princípio que reconhece o decurso pública: Respeitosamente.
de um lapso de tempo entre a data da publicação e o termo ini- ( ) Para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
cial da obrigatoriedade (45 dias). inferior: Atenciosamente.
Podem-se distinguir seis tipos de procedimento legislativo: ( ) Para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re-
a) procedimento legislativo normal: Trata da elaboração pública: Atenciosamente.
das leis ordinárias (excluídas as leis financeiras e os códigos) e ( ) Para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia
complementares. inferior: Respeitosamente.
b) procedimento legislativo abreviado: Este procedimento ( ) Tal regra também é aplicável a comunicações dirigidas a
dispensa a competência do Plenário, ocorrendo, por isso, a de- autoridades estrangeiras.
liberação terminativa sobre o projeto de lei nas próprias Comis-
sões Permanentes. Marque a alternativa que contém a sequência CORRETA de
c) procedimento legislativo sumário: Entre as prerrogativas preenchimento dos parênteses.
regimentais das Casas do Congresso Nacional existe a de conferir (A) V, V, V, F e F.
urgência a certas proposições. (B) V, V, F, F e F
d) procedimento legislativo sumaríssimo: Existe nas duas (C) F, F, F, V e V.
Casas do Congresso Nacional mecanismo que assegura delibe- (D) F, F, F, F e V.
ração instantânea sobre matérias submetidas à sua apreciação. (D) V, V, F, F e V.
e) procedimento legislativo concentrado: O procedimento
legislativo concentrado tipifica-se, basicamente, pela apresenta-
ção das matérias em reuniões conjuntas de deputados e senado- GABARITO
res. Ex. para leis financeiras e delegadas.
f) procedimento legislativo especial: Nesse procedimento,
englobam-se dois ritos distintos com características próprias, um 1 C
destinado à elaboração de emendas à Constituição; outro, à de
códigos. 2 D
3 B
EXERCÍCIOS

1. (OBJETIVA - 2019 - PREFEITURA DE SÃO JOÃO DA URTIGA


- RS - AGENTE ADMINISTRATIVO)
ANOTAÇÕES
Segundo o Manual de Redação da Presidência da República,
a finalidade básica da Redação Oficial é comunicar com:
______________________________________________________
(A) Subjetividade e máxima clareza.
(B) Subjetividade e máxima imprecisão.
(C) Objetividade e máxima clareza. ______________________________________________________
(D) Objetividade e máxima imprecisão.
______________________________________________________
2. (FUNDATEC - 2019 - PREFEITURA DE NOVO HORIZONTE -
SP - AGENTE ADMINISTRATIVO) ______________________________________________________
Segundo o Manual de Redação da Presidência da República
(2018), os documentos do padrão ofício devem obedecer à se- ______________________________________________________
guinte formatação, entre outras:

10
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Princípios da Administração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Organização administrativa: Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Poderes da Administração: hierárquico; disciplinar; poder normativo e regulamentar; vinculado; discricionário. Poder de polícia: con-
ceito, características, finalidade e limites. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
4. Ato administrativo: conceito; requisitos; atributos; classificação; espécies; discricionariedade e vinculação; invalidação; anulação; re-
vogação; prescrição; cassação e revalidação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Agentes Públicos: Normas constitucionais concernentes aos servidores públicos (arts. 39 a 41, CF) Servidores públicos: classificação e
características. Regimes jurídicos funcionais: único, estatutário, e de emprego público. Cargo público: conceito e espécies; provimen-
to; estabilidade; vacância; remoção; redistribuição e substituição. Concurso público. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6. Serviços Públicos: conceito, classificação, regulamentação e controle; forma, meios e requisitos; delegação: concessão, permissão,
autorização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
7. Contratos administrativos: conceito, peculiaridades e interpretação. Formalização, execução, inexecução, revisão e rescisão. . . . 55
8. Processo administrativo: conceito, princípios, fases e modalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
9. Processo Administrativo no âmbito da Administração Pública Estadual (Lei Estadual nº 10.177/1998); . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
10. Licitação: conceito, finalidades, princípios e objeto. Obrigatoriedade, dispensa, inexigibilidade e vedação. Modalidades. Procedimen-
to, revogação e anulação. Sanções. Normas gerais de licitação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
11. Controle da Administração. Controle interno e externo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
12. Lei de Improbidade Administrativa (Lei Federal nº 8.429/1992); . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
13. Processo administrativo: conceito, princípios, fases e modalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
14. Processo administrativo no âmbito da administração pública estadual (lei estadual nº 10.177/1998) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
15. Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO

Conceito
De início, convém ressaltar que o estudo desse ramo do Direito, denota a distinção entre o Direito Administrativo, bem como entre as
normas e princípios que nele se inserem.
No entanto, o Direito Administrativo, como sistema jurídico de normas e princípios, somente veio a surgir com a instituição do Estado
de Direito, no momento em que o Poder criador do direito passou também a respeitá-lo. Tal fenômeno teve sua origem com os movimen-
tos constitucionalistas, cujo início se deu no final do século XVIII. Por meio do novo sistema, o Estado passou a ter órgãos específicos para
o exercício da Administração Pública e, por isso, foi necessário a desenvoltura do quadro normativo disciplinante das relações internas da
Administração, bem como das relações entre esta e os administrados. Assim sendo, pode considerar-se que foi a partir do século XIX que
o mundo jurídico abriu os olhos para a existência do Direito Administrativo.
Destaca-se ainda, que o Direito Administrativo foi formado a partir da teoria da separação dos poderes desenvolvida por Montes-
quieu, L’Espirit des Lois, 1748, e acolhida de forma universal pelos Estados de Direito. Até esse momento, o absolutismo reinante e a junção
de todos os poderes governamentais nas mãos do Soberano não permitiam o desenvolvimento de quaisquer teorias que visassem a reco-
nhecer direitos aos súditos, e que se opusessem às ordens do Príncipe. Prevalecia o domínio operante da vontade onipotente do Monarca.
Conceituar com precisão o Direito Administrativo é tarefa difícil, uma vez que o mesmo é marcado por divergências doutrinárias, o
que ocorre pelo fato de cada autor evidenciar os critérios que considera essenciais para a construção da definição mais apropriada para o
termo jurídico apropriado.
De antemão, ao entrar no fundamento de algumas definições do Direito Administrativo,
Considera-se importante denotar que o Estado desempenha três funções essenciais. São elas: Legislativa, Administrativa e Jurisdicio-
nal.
Pondera-se que os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são independentes, porém, em tese, harmônicos entre si. Os poderes
foram criados para desempenhar as funções do Estado. Desta forma, verifica-se o seguinte:

Funções do Estado
> Legislativa
>> Administrativa
>>> Jurisdicional

Poderes criados para desenvolver as funções do estado


> Legislativo
>> Executivo
>>> Judiciário

Infere-se que cada poder exerce, de forma fundamental, uma das funções de Estado, é o que denominamos de FUNÇÃO TÍPICA.

PODER LEGISLATIVO PODER EXECUTIVO PODER JUDICIÁRIO


FUNÇÃO TÍPICA Legislar Administrativa Judiciária
Redigir e organizar o regramento Administração e gestão Julgar e solucionar conflitos por intermé-
ATRIBUIÇÃO
jurídico do Estado estatal dio da interpretação e aplicação das leis.

Além do exercício da função típica, cada poder pode ainda exercer as funções destinadas a outro poder, é o que denominamos de
exercício de FUNÇÃO ATÍPICA. Vejamos:

PODER LEGISLATIVO PODER EXERCUTIVO PODER JUDICIÁRIO


Tem-se por função atípica desse
Tem-se como função atípica desse Tem-se por função atípica desse
poder, por ser típica do Poder
poder, por ser típica do Poder poder, por ser típica do Poder
Executivo: Fazer licitação para
FUNÇÃO ATÍPICA Judiciário: O julgamento do Presi- Legislativo: A edição de Medida
realizar a aquisição de equipa-
dente da República por crime de Provisória pelo Chefe do Execu-
mentos utilizados em regime
responsabilidade. tivo.
interno.

Diante da difícil tarefa de conceituar o Direito Administrativo, uma vez que diversos são os conceitos utilizados pelos autores moder-
nos de Direito Administrativo, sendo que, alguns consideram apenas as atividades administrativas em si mesmas, ao passo que outros,
optam por dar ênfase aos fins desejados pelo Estado, abordaremos alguns dos principais posicionamentos de diferentes e importantes
autores.
No entendimento de Carvalho Filho (2010), “o Direito Administrativo, com a evolução que o vem impulsionando contemporaneamen-
te, há de focar-se em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, sendo, uma, de caráter interno, que existe entre as pessoas adminis-
trativas e entre os órgãos que as compõem e, a outra, de caráter externo, que se forma entre o Estado e a coletividade em geral.” (2010,
Carvalho Filho, p. 26).

1
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Como regra geral, o Direito Administrativo é conceituado como — Observação importante: Note que os conceitos classificam o
o ramo do direito público que cuida de princípios e regras que disci- Direito Administrativo como Ramo do Direito Público fazendo sem-
plinam a função administrativa abrangendo entes, órgãos, agentes pre referência ao interesse público, ao inverso do Direito Privado,
e atividades desempenhadas pela Administração Pública na conse- que cuida do regulamento das relações jurídicas entre particulares,
cução do interesse público. o Direito Público, tem por foco regular os interesses da sociedade,
Vale lembrar que, como leciona DIEZ, o Direito Administrativo trabalhando em prol do interesse público.
apresenta, ainda, três características principais:
Por fim, depreende-se que a busca por um conceito comple-
1 – constitui um direito novo, já que se trata de disciplina re- to de Direito Administrativo não é recente. Entretanto, a Adminis-
cente com sistematização científica; tração Pública deve buscar a satisfação do interesse público como
2 – espelha um direito mutável, porque ainda se encontra em um todo, uma vez que a sua natureza resta amparada a partir do
contínua transformação; momento que deixa de existir como fim em si mesmo, passando a
3 – é um direito em formação, não se tendo, até o momento, existir como instrumento de realização do bem comum, visando o
concluído todo o seu ciclo de abrangência. interesse público, independentemente do conceito de Direito Ad-
ministrativo escolhido.
Entretanto, o Direito Administrativo também pode ser concei-
tuado sob os aspectos de diferentes óticas, as quais, no deslindar Objeto
desse estudo, iremos abordar as principais e mais importantes para De acordo com a ilibada autora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a
estudo, conhecimento e aplicação. formação do Direito Administrativo como ramo autônomo, fadado
• Ótica Objetiva: Segundo os parâmetros da ótica objetiva, o de princípios e objeto próprios, teve início a partir do instante em
Direito Administrativo é conceituado como o acoplado de normas que o conceito de Estado de Direito começou a ser desenvolvido,
que regulamentam a atividade da Administração Pública de atendi- com ampla estrutura sobre o princípio da legalidade e sobre o prin-
mento ao interesse público. cípio da separação de poderes. O Direito Administrativo Brasileiro
• Ótica Subjetiva: Sob o ângulo da ótica subjetiva, o Direito não surgiu antes do Direito Romano, do Germânico, do Francês e
Administrativo é conceituado como um conjunto de normas que do Italiano. Diversos direitos contribuíram para a formação do Di-
comandam as relações internas da Administração Pública e as re- reito Brasileiro, tais como: o francês, o inglês, o italiano, o alemão
lações externas que são encadeadas entre elas e os administrados. e outros. Isso, de certa forma, contribuiu para que o nosso Direito
Nos moldes do conceito objetivo, o Direito Administrativo é pudesse captar os traços positivos desses direitos e reproduzi-los
tido como o objeto da relação jurídica travada, não levando em de acordo com a nossa realidade histórica.
conta os autores da relação. Atualmente, predomina, na definição do objeto do Direito Ad-
O conceito de Direito Administrativo surge também como ele- ministrativo, o critério funcional, como sendo o ramo do direito que
mento próprio em um regime jurídico diferenciado, isso ocorre por estuda a disciplina normativa da função administrativa, indepen-
que em regra, as relações encadeadas pela Administração Pública dentemente de quem esteja encarregado de exercê-la: Executivo,
ilustram evidente falta de equilíbrio entre as partes. Legislativo, Judiciário ou particulares mediante delegação estatal”,
Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de (MAZZA, 2013, p. 33).
Coimbra, Fernando Correia, o Direito Administrativo é o sistema Sendo o Direito Administrativo um ramo do Direito Público, o
de normas jurídicas, diferenciadas das normas do direito privado, entendimento que predomina no Brasil e na América Latina, ainda
que regulam o funcionamento e a organização da Administração que incompleto, é que o objeto de estudo do Direito Administrati-
Pública, bem como a função ou atividade administrativa dos órgãos vo é a Administração Pública atuante como função administrativa
administrativos. ou organização administrativa, pessoas jurídicas, ou, ainda, como
Correia, o intitula como um corpo de normas de Direito Pú- órgãos públicos.
blico, no qual os princípios, conceitos e institutos distanciam-se do De maneira geral, o Direito é um conjunto de normas, princí-
Direito Privado, posto que, as peculiaridades das normas de Direito pios e regras, compostas de coercibilidade disciplinantes da vida
Administrativo são manifestadas no reconhecimento à Administra- social como um todo. Enquanto ramo do Direito Público, o Direito
ção Pública de prerrogativas sem equivalente nas relações jurídico- Administrativo, nada mais é que, um conjunto de princípios e regras
-privadas e na imposição, em decorrência do princípio da legalida- que disciplina a função administrativa, as pessoas e os órgãos que a
de, de limitações de atuação mais exatas do que as que auferem os exercem. Desta forma, considera-se como seu objeto, toda a estru-
negócios particulares. tura administrativa, a qual deverá ser voltada para a satisfação dos
Entende o renomado professor, que apenas com o apareci- interesses públicos.
mento do Estado de Direito acoplado ao acolhimento do princípio São leis específicas do Direito Administrativo a Lei n. 8.666/1993
da separação dos poderes, é que seria possível se falar em Direito que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, insti-
Administrativo. tui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá
Oswaldo Aranha Bandeira de Mello aduz, em seu conceito ana- outras providências; a Lei n. 8.112/1990, que dispõe sobre o regime
lítico, que o Direito Administrativo juridicamente falando, ordena a jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
atividade do Estado quanto à organização, bem como quanto aos fundações públicas federais; a Lei n. 8.409/1992 que estima a recei-
modos e aos meios da sua ação, quanto à forma da sua própria ta e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 1992 e a
ação, ou seja, legislativa e executiva, por intermédio de atos jurídi- Lei n. 9.784/1999 que regula o processo administrativo no âmbito
cos normativos ou concretos, na consecução do seu fim de criação da Administração Pública Federal.
de utilidade pública, na qual participa de forma direta e imediata,
e, ainda como das pessoas de direito que façam as vezes do Estado.

2
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O Direito Administrativo tem importante papel na identificação — Lei em sentido estrito
do seu objeto e o seu próprio conceito e significado foi de grande Refere-se à Lei feita pelo Parlamento, pelo Poder Legislativo
importância à época do entendimento do Estado francês em dividir por meio de lei ordinária e lei complementar. Engloba também, ou-
as ações administrativas e as ações envolvendo o poder judiciário. tras normas no mesmo nível como, por exemplo, a medida provisó-
Destaca-se na França, o sistema do contencioso administrativo com ria que possui o mesmo nível da lei ordinária. Pondera-se que todos
matéria de teor administrativo, sendo decidido no tribunal admi- mencionados são reputados como fonte primária (a lei) do Direito
nistrativo e transitando em julgado nesse mesmo tribunal. Definir o Administrativo.
objeto do Direito Administrativo é importante no sentido de com-
preender quais matérias serão julgadas pelo tribunal administrati- B) Doutrina
vo, e não pelo Tribunal de Justiça. Tem alto poder de influência como teses doutrinadoras nas
Depreende-se que com o passar do tempo, o objeto de estu- decisões administrativas, como no próprio Direito Administrativo.
do do Direito Administrativo sofreu significativa e grande evolução, A Doutrina visa indicar a melhor interpretação possível da norma
desde o momento em que era visto como um simples estudo das administrativa, indicando ainda, as possíveis soluções para casos
normas administrativas, passando pelo período do serviço público, determinados e concretos. Auxilia muito o viver diário da Adminis-
da disciplina do bem público, até os dias contemporâneos, quando tração Pública, posto que, muitas vezes é ela que conceitua, inter-
se ocupa em estudar e gerenciar os sujeitos e situações que exer- preta e explica os dispositivos da lei.
cem e sofrem com a atividade do Estado, assim como das funções
e atividades desempenhadas pela Administração Pública, fato que Exemplo:
leva a compreender que o seu objeto de estudo é evolutivo e dinâ- A Lei n. 9.784/1999, aduz que provas protelatórias podem ser
mico acoplado com a atividade administrativa e o desenvolvimento recusadas no processo administrativo. Desta forma, a doutrina ex-
do Estado. Destarte, em suma, seu objeto principal é o desempe- plicará o que é prova protelatória, e a Administração Pública poderá
nho da função administrativa. usar o conceito doutrinário para recusar uma prova no processo
administrativo.
Fontes
Fonte significa origem. Neste tópico, iremos estudar a origem C) Jurisprudência
das regras que regem o Direito Administrativo. Trata-se de decisões de um tribunal que estão na mesma dire-
Segundo Alexandre Sanches Cunha, “o termo fonte provém do ção, além de ser a reiteração de julgamentos no mesmo sentido.
latim fons, fontis, que implica o conceito de nascente de água. En-
tende-se por fonte tudo o que dá origem, o início de tudo. Fonte do Exemplo:
Direito nada mais é do que a origem do Direito, suas raízes históri- O Superior Tribunal de Justiça (STJ), possui determinada juris-
cas, de onde se cria (fonte material) e como se aplica (fonte formal), prudência que afirma que candidato aprovado dentro do número
ou seja, o processo de produção das normas. São fontes do direito: de vagas previsto no edital tem direito à nomeação, aduzindo que
as leis, costumes, jurisprudência, doutrina, analogia, princípio geral existem diversas decisões desse órgão ou tribunal com o mesmo
do direito e equidade.” (CUNHA, 2012, p. 43). entendimento final.

Fontes do Direito Administrativo: — Observação importante: Por tratar-se de uma orientação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública, a
A) Lei jurisprudência não é de seguimento obrigatório. Entretanto, com as
A lei se estende desde a constituição e é a fonte primária e prin- alterações promovidas desde a CFB/1988, esse sistema orientador
cipal do Direito Administrativo e se estende desde a Constituição da jurisprudência tem deixado de ser a regra.
Federal em seus artigos 37 a 41, alcançando os atos administrativos
normativos inferiores. Desta forma, a lei como fonte do Direito Ad- Exemplo:
ministrativo significa a lei em sentido amplo, ou seja, a lei confec- Os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo Supremo
cionada pelo Parlamento, bem como os atos normativos expedidos Tribunal Federal na ação direta de inconstitucionalidade (ADI), na
pela Administração, tais como: decretos, resoluções, ação declaratória constitucionalidade (ADC) e na arguição de des-
Incluindo tratados internacionais. cumprimento de preceito fundamental, e, em especial, com as sú-
Desta maneira, sendo a Lei a fonte primária, formal e primor- mulas vinculantes, a partir da Emenda Constitucional nº. 45/2004.
dial do Direito Administrativo, acaba por prevalecer sobre as de- Nesses ocorridos, as decisões do STF acabaram por vincular e obri-
mais fontes. E isso, prevalece como regra geral, posto que as demais gar a Administração Pública direta e indireta dos Poderes da União,
fontes que estudaremos a seguir, são consideradas fontes secundá- dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos dis-
rias, acessórias ou informais. postos no art. 103-A da CF/1988.
A Lei pode ser subdividida da seguinte forma:
D) Costumes
— Lei em sentido amplo Costumes são condutas reiteradas. Assim sendo, cada país,
Refere-se a todas as fontes com conteúdo normativo, tais Estado, cidade, povoado, comunidade, tribo ou população tem os
como: a Constituição Federal, lei ordinária, lei complementar, me- seus costumes, que via de regra, são diferentes em diversos aspec-
dida provisória, tratados internacionais, e atos administrativos nor- tos, porém, em se tratando do ordenamento jurídico, não poderão
mativos (decretos, resoluções, regimentos etc.). ultrapassar e ferir as leis soberanas da Carta Magna que regem o
Estado como um todo.

3
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Como fontes secundárias e atuantes no Direito Administrati- Optando pela segunda opção, as novas entidades passarão a
vo, os costumes administrativos são práticas reiteradas que devem compor a Administração Indireta do ente que as criou e, por possu-
ser observadas pelos agentes públicos diante de determinadas si- írem como destino a execução especializado de certas atividades,
tuações. Os costumes podem exercer influência no Direito Admi- são consideradas como sendo manifestação da descentralização
nistrativo em decorrência da carência da legislação, consumando por serviço, funcional ou técnica, de modo geral.
o sistema normativo, costume praeter legem, ou nas situações em
que seria impossível legislar sobre todas as situações. Desconcentração e Descentralização
Os costumes não podem se opor à lei (contra legem), pois ela Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in-
é a fonte primordial do Direito Administrativo, devendo somente terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim
auxiliar à exata compreensão e incidência do sistema normativo. sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre
Exemplo: de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe
Ao determinar a CFB/1988 que um concurso terá validade de a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica.
até 2 anos, não pode um órgão, de forma alguma, atribuir por efei- Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra-
to de costume, prazo de até 10 anos, porque estaria contrariando ção direta como na administração indireta de todos os entes fede-
disposição expressa na Carta Magna, nossa Lei Maior e Soberana. rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen-
Ressalta-se, com veemente importância, que os costumes podem tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União,
gerar direitos para os administrados, em decorrência dos princípios os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em
da lealdade, boa-fé, moralidade administrativa, dentre outros, uma âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais,
vez que um certo comportamento repetitivo da Administração Pú- dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e
blica gera uma expectativa em sentido geral de que essa prática de- as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias
verá ser seguida nas demais situações parecidas agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista,
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação.
— Observação importante: Existe divergência doutrinária em Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários
relação à aceitação dos costumes como fonte do Direito Adminis- órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas
trativo. No entanto, para concursos, e estudos correlatos, via de jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos
regra, deve ser compreendida como correta a tese no sentido de estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su-
que o costume é fonte secundária, acessória, indireta e imediata bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi-
do Direito Administrativo, tendo em vista que a fonte primária e nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia.
mediata é a Lei. Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés
de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado
Nota - Sobre Súmulas Vinculantes transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a
Nos termos do art. 103 - A da Constituição Federal, ‘‘o Supremo outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado.
Tribunal Federal poderá, de ofício ou mediante provocação, por de- Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin-
cisão de dois terços de seus membros, após decisões reiteradas que do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser-
versam sobre matéria constitucional, aprovar súmulas que terão viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário que transfere e a que acolhe as atribuições.
e à administração pública direta e indireta”.
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos
Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA: ADMINISTRAÇÃO e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei
DIRETA E INDIRETA, CENTRALIZADA E de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de
DESCENTRALIZADA forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização
e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au-
Administração direta e indireta mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos
A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- (art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex-
dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis-
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O por sobre a organização e o funcionamento, denota-se que poderá
vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto.
compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais,
os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con-
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu-
administrativa de maneira centralizada. ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os
Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi- de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do
nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de órgão. Vejamos:
maneira descentralizada.
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer- ÓRGÃO — é criado por meio de lei.
cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona- ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des-
lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu- de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação
lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público ou a extinção de outros órgãos.
ou de direito privado para esta finalidade. ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu-
nal de Contas da União.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pessoas administrativas Empresas Públicas
Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad- Sociedades de Economia Mista
ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias, São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di-
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de
mista. empresas estatais.
De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia
reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas
e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan-
existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in- tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos
direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido, dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco-
uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os nomia mista.
entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado-
entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu-
funções para as quais foram criadas de forma correta. cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida
pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais
Pessoas políticas prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma
As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons- legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma
tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os exclusiva e prioritária pelo direito público.
Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo
Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político. Observação importante: todas as empresas estatais, sejam
Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco-
se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven- nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado.
çadas na Constituição Federal.
Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois, O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida-
ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público
entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço
leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público,
Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte- nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina
rística que se encontra presente somente no âmbito da República que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati- sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
vos. a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade
econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con-
Autarquias corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno, reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti-
criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e tuição Federal, que assim determina:
típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias, Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per-
determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia- mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional
lização. ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A
As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda-
do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta-
sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. ção de serviços, dispondo sobre:
Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço sociedade;
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva-
tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra-
vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo balhistas e tributários;
regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie-
as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- nações, observados os princípios da Administração Pública;
cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi-
a que estão vinculadas. nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri- V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili-
gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do dade dos administradores
ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que
a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica- Vejamos em síntese, algumas características em comum das
mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re- empresas públicas e das sociedades de economia mista:
gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais • Devem realizar concurso público para admissão de seus em-
situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no pregados;
âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na • Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga- constitucional;
toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo • Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
Poder. bem como ao controle do Poder Legislativo;

5
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Não estão sujeitas à falência; Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os
• Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis- serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por
trativo no que se refere às suas atividades-meio; intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los
• Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza-
constitucionalmente; ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo,
• Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis- outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior-
lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores. mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é
Fundações e outras entidades privadas delegatárias estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Identifica-se no processo de criação das fundações privadas, Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili-
duas características que se encontram presentes de forma contun- zação de bens públicos e servidores públicos.
dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa. Organizações da sociedade civil de interesse público
O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988 São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado,
conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre- sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu-
dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe- tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da
deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência
de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza- do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com
ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos:
das autarquias. Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em
Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun- qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi- da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
Autárquica. I – promoção da assistência social;
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
Observação importante: a autarquia é definida como serviço histórico e artístico;
personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é conceitu- III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
ada como sendo um patrimônio de forma personificada destinado complementar de participação das organizações de que trata esta
a uma finalidade específica de interesse social. Lei;
IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
Vejamos como o Código Civil determina:
plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...)
V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo-
No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis-
luntariado;
tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado.
VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações
bate à pobreza;
da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a
Administração Pública. IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- e crédito;
mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
que o foro de ambas é na Justiça Federal. direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
Delegação Social manos, da democracia e de outros valores universais;
Organizações sociais XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
As organizações sociais são entidades privadas que recebem ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- neste artigo.
sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma receber a qualificação. Vejamos:
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá I – as sociedades comerciais;
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam de categoria profissional;
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec- III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali- fundações;
ficação de OSs. V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;

6
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú- 1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te-
de e assemelhados; nham sido autorizadas por lei;
VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas 2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú-
mantenedoras; blico (serviços sociais não exclusivos do Estado);
VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra- 3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público;
tuito e suas mantenedoras; 4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por
IX – as Organizações Sociais; isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi-
X – as cooperativas; nistração
5. Pública e ao Tribunal de Contas;
Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade 6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga-
e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi- do parcialmente por normas direito público;
cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de
constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me- não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam-
nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n. bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi-
13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que reta.
o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor
da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri-
acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999, vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de
deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es- algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá-
tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a
a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos, conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en-
consultorias, cooperação técnica e assessoria. tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo
ser modificado de maneira parcial por normas de direito público.
Entidades de utilidade pública
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em
seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta- PODERES DA ADMINISTRAÇÃO: HIERÁRQUICO; DIS-
tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o CIPLINAR; PODER NORMATIVO E REGULAMENTAR;
setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor. VINCULADO; DISCRICIONÁRIO. PODER DE POLÍCIA:
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, FINALIDADE E LIMITES.
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública,
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem-
plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil Poder Hierárquico
de interesse público (OSCIP). Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de seus
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda- órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e subordi-
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da nação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia.
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga- A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos. em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de com-
Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de- petências e a hierarquia.
mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não Em decorrência da amplitude das competências e das res-
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa ponsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda a
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufici- função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
ência da sociedade. agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e agen-
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos tes integrantes da Administração Pública.
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de ma-
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor neira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que se
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ordens
tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação de subor-
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que dinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas, como o
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de o imedia-
civil de interesse público. to superior avocar atribuições, bem como a atribuição de rever os
O termo publicização também é atribuído a um segundo sen- atos dos agentes subordinados.
tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
fins lucrativos. de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, XII,
No que condizente às características das entidades que com- da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional de re-
põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten- presentar contra o seu superior caso este venha a agir com ilegali-
de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: dade, omissão ou abuso de poder.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Registra-se que a delegação de atribuições é uma das mani- O superior também pode rever os atos dos seus subordinados,
festações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir a como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los,
outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte dos convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação do
atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely Lopes interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato adminis-
Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a algu- trativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido o ato vi-
mas regras, sendo elas: ciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se
A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um Po- que pode ocorrer de duas formas:
der a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto da a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato
Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, que válido se tornar inconveniente ou inoportuna;
ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a dele- b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios.
gar ao Chefe do Executivo a edição de lei. No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre po-
B) É impossível a delegação de atos de natureza política. Exem- derá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos
plos: o veto e a sanção de lei; atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a
C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determina- revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
da autoridade, não podem ser delegadas; tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver
D) O subordinado não pode recusar a delegação; sido criado o direito subjetivo para o particular.
E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
autorização do delegante. Observação importante: “revisão” do ato administrativo não
Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da dele- se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A revisão de
gação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece os ato é condizente à avaliação por parte da autoridade superior em
ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as seguin- relação à manutenção ou não de ato que foi praticado por seu su-
tes regras relacionadas a esse assunto: bordinado, no qual o fundamento é o exercício do poder hierárqui-
co. Já na reconsideração, a apreciação relativa à manutenção do
• A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
ato administrativo é realizada pela própria autoridade que confec-
delegada se não houver impedimento legal;
cionou o ato, não existindo, desta forma, manifestação do poder
• A delegação de competência é sempre exercida de forma par-
hierárquico.
cial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular não
detém o poder de delegar todas as suas atribuições; Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
• A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes do
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de suas fun-
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos ções típicas constitucionais. No entanto, os membros dos Poderes
e agentes não subordinados à hierarquia. Judiciário e Legislativo também estão submetidos à relação de hie-
Não podem ser objeto de delegação: rarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas ou adminis-
• A edição de atos de caráter normativo; trativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é legalmente
• A decisão de recursos administrativos; obrigado a adotar o posicionamento do Presidente do Tribunal no
• As matérias de competência exclusiva do órgão ou autorida- julgamento de um processo de sua competência, porém, encontra-
de; -se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens daquela autorida-
de quando versarem a respeito do horário de funcionamento dos
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua revo- serviços administrativos da sua Vara.
gação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da lei. Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação
Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os po- não se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordi-
deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e nação decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da
os objetivos da delegação e também o recurso devidamente cabível mesma pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de super-
à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da atribuição visão ou do poder de tutela que a Administração Direta detém so-
delegada. bre as entidades da Administração Indireta.
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela Esquematizando, temos:
autoridade delegante como forma de transferência não definitiva
de atribuições, devendo as decisões adotadas por delegação, men-
cionar de forma clara esta qualidade, que deverá ser considerada
como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de procedi-
mento contrário ao da delegação de competência, vindo a ocor-
rer quando o superior assume ou passa a desenvolver as funções
que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina, a norma
geral, é a possibilidade de avocação pelo superior hierárquico de
qualquer competência do subordinado, ressaltando-se que nesses
casos, a competência a ser avocada não poderá ser privativa do ór-
gão subordinado.
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências do
órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e tem-
porário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e im-
preterivelmente justificados.

8
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Poder conferido à autoridade admi- 2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém
nistrativa para distribuir e dirimir funções do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam
PODER em escala de seus órgãos, que estabelece às regulamentações de polícia administrativa.
HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordina- 3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder ge-
ção entre os servidores que estiverem sob ral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem
a sua hierarquia. crimes ou contravenções penais.
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o
A edição de atos de caráter normativo poder disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação
NÃO PODEM SER deve ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance
A decisão de recursos administrativos como um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina adminis-
OBJETO
DE DELEGAÇÃO As matérias de competência exclusiva trativa cometer infração, a única opção que restará ao gestor será
do órgão ou autoridade aplicar á situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a
Por revogação: quando a manutenção aplicação da pena é ato vinculado. Quando existente, a discriciona-
riedade refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das
DESFAZIMENTO do ato válido se tornar inconveniente ou
inoportuna sanções legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito adminis-
DO ATO
trativo não é predominável o princípio da pena específica que se re-
ADMINISTRATIVO Por anulação: quando o ator apresen- fere à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional
tar vícios e da exata sanção cabível.
Em resumo, temos:
Poder Disciplinar
O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder de Poder Disciplinar
autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades aos • Apura infrações e aplica penalidades;
servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à discipli- • Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é
na administrativa em decorrência de determinado vínculo específi- preciso que possua vínculo funcional com a administração;
co. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o agente que • A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de
possuir vínculo certo e preciso com a Administração, não importan- processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao
do que esse vínculo seja de natureza funcional ou contratual. contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que
Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar é seja aplicada a penalidade disciplinar cabível;
decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de distri- • Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
buição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma mes- sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação.
ma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determinar o
cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordinado, Poder regulamentar
o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado às determi- Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
nações do seu superior ou descumprindo o dever funcional, o seu o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do Po-
chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas no estatuto fun- der Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
cional. destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder de e eficaz execução.
alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o Po- A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão po-
der Público, a exemplo daqueles contratados para prestar serviços der regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, asseme-
à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe relação de lhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam esta expres-
hierarquia entre o particular e a Administração, o pressuposto para são somente para se referirem à faculdade de editar regulamentos
a aplicação de sanções de forma direta não é o poder hierárqui- conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, a usam com
co, mas sim o princípio da supremacia do interesse público sobre conceito mais amplo, acoplando também os atos gerais e abstra-
o particular. tos que são emitidos por outras autoridades, tais como: resoluções,
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e portarias, regimentos, deliberações e instruções normativas. Há
punir crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo ainda uma corrente que entende essas providências gerais e abs-
instituto e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado tratas editadas sob os parâmetros e exigências da lei, com o fulcro
somente àqueles que possuem vínculo específico com a Adminis- de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de manifestações do
tração de forma funcional ou contratual, o segundo é exercido so- poder normativo.
mente sobre qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente à
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deve- competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para editar
rão ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtor- regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder normati-
nos ou pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, vo” para os demais atos normativos emitidos por outras espécies de
denota-se que o vínculo entre a Administração Pública e o adminis- autoridades da Administração Direta e Indireta, como por exemplo,
trado é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
do poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação Registra-se que os regulamentos são publicados através de
funcional ou contratual com a Administração. decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
Em suma, temos: por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem vín- última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
culo específico com a Administração Pública. determinado nome a um prédio público.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em razão de os regulamentos serem editados sob forma con- A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos
dizente de decreto, é comum serem chamados de decretos regu- para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto,
lamentares, decretos de execução ou regulamentos de execução. o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que
Podemos classificar os regulamentos em três espécies diferen- abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos
tes: servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base
A) Regulamento executivo; em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições e
B) Regulamento independente ou autônomo; privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de regula-
c) Regulamento autorizado. mentação dos requisitos de promoção, como demonstra o próprio
Vejamos a composição de cada em deles: estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. 10, pará-
grafo único da Lei 8.112/1990.
Regulamento Executivo Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto
Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições 8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos e es-
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por um re- tabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais Rodoviá-
gulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, qualquer rios Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de “resultado
lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, até mes- satisfatório na avaliação de desempenho no interstício considerado
mo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. Para isso, para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da mesma forma,
suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda conveniente a expressão “resultado satisfatório” também é eivada de subjetivi-
detalhar a sua execução. dade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo dispositivo regulamentar
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. Sen- designou que para o efeito de promoção, seria considerado satisfa-
do geral pelo fato de não possuir destinatários determinados ou tório o alcance de oitenta por cento das metas estipuladas em ato
determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam nas do dirigente máximo do órgão.
situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre hipóteses Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do dirigente
que, se e no momento em que forem verificadas no mundo con- máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é o estabe-
creto, passarão a gerar as consequências abstratamente previstas. lecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no condizente
Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui conteúdo à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores para o
material de lei, porém, com ela não se confunde sob o aspecto for- efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, diante da
mal. regulamentação, erigiu a existência de vinculação da autoridade ad-
O ato de regulamento executivo é constituído por importantes ministrativa referente ao percentual considerado satisfatório para
funções. São elas: o efeito de promoção dos servidores, critério que inclusive já foi
uniformizado.
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa Embora exista uma enorme importância em termos de pratici-
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade quan- dade, denota-se que os regulamentos de execução gozam de hie-
do a lei confere ao agente público determinada quantidade de li- rarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem jurídica,
berdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade e criando direitos ou obrigações, nem contrariando, ampliando ou
margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação restringindo as disposições da lei regulamentada. São, em resumo,
de um regulamento executivo que estipula regras de observância atos normativos considerados secundários que são editados pelo
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a execução dos atos
proceder no fiel cumprimento da lei. normativos primários elaborados pelas leis.
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento o exer- Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos à
cício da discricionariedade administrativa, o Chefe do Poder Exe- lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso Na-
cutivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a estabelecer cional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos parâme-
autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o espaço para tros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama de “veto
a discussão de casos e fatos sem importância para a administração legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o Chefe do Exe-
pública. cutivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo Parlamento.
Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
É interpretada no contexto da primeira, posto que o regula- em função de o Presidente da República entender que o projeto
mento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente cum- de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
prida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, fato o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei aplicada. o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer por
Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores na car- exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre jurídico.
reira de Policial Rodoviário Federal. Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento venha a
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário ao inte-
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidu- resse público, uma vez que tal norma somente deve detalhar como
ra no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será indubitavelmen-
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por te cumprida. Destarte, se o Parlamento entende que o decreto edi-
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe tado dentro do poder regulamentar é contrário ao interesse públi-
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º. co, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que lhe dá o sustento.
Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
Executivo no exercício da autotutela.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Regulamento independente ou autônomo nalidade reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado
Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, tam- em ADI porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de
bém adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento exe- opção. Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou
cutivo, esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo isso claro. E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle
o poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma difuso, quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucio-
lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado nalidade indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta
ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e reflexa. É uma opção da Corte para que não se realize o velho adá-
diretamente da Constituição. gio: ‘muita jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387-
A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a fi- 0/DF, Rel. Min. Marco Aurélio).
gura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar
a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a de-
inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88. legação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção a
Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutri- essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece
na é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser ob-
que o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispo- jeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da
sitivo constitucional, que estabelece a competência do Presidente República e ao Advogado
da República para dispor, mediante decreto, sobre organização e Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único
funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar do art. 84 da Constituição Federal.
em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos
públicos. Regulamento autorizado ou delegado
Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento
na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o Presi- apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também men-
dente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos públi- ciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou dele-
cos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Cuida-se gado.
de uma xucra hipótese de abandono do princípio do paralelismo De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário
das formas. Isso por que em decorrência do princípio da hierarquia não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de
das normas, se um instituto jurídico for criado por intermédio de forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
determinada espécie normativa, sua extinção apenas poderá ser aos órgãos administrativos.
veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de superior Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
hierarquia. técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos pa- controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a dou-
râmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia extingui- trina maior tem aceitado que as competências para regular deter-
-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, deixando minadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio legislador
de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado permitiu para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do fenômeno da
que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça por decreto. deslegalização, por meio do qual a normatização sai da esfera da lei
Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto autônomo, mas para a esfera do regulamento autorizado.
nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo fato de tal de- No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limita-
creto não gozar de generalidade e abstração, não regulamentando do somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade,
determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de um ato de efeitos ele busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas téc-
concretos, amplamente desprovido de natureza regulamentar. nicas não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expres-
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento sa determinação legal.
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, desta- Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
ca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, en- confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
contra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que justifica ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um decreto aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a configurar na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução por-
que, embora seja um ato normativo secundário que retira sua força
ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto é inconsti-
jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao contrá-
tucional porque exorbitou do poder regulamentar. Assim, havendo
rio do que ocorre com este último no qual sua destinação é apenas
agressão direta à Constituição, a lei, com certeza pode ser conside-
a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
rada inconstitucional, mas não o decreto que a regulamenta. Agora,
Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de regu-
em se tratando do decreto autônomo, infere-se que este é norma
lamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo disso
primária, vindo a fundamentar-se no próprio texto constitucional,
é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo em vista
de forma a ser possível uma agressão direta à Constituição Federal
que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo fato de
de 1988, legitimando desta maneira, a instauração de processo de
estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
controle de constitucionalidade. Assim sendo, podemos citar a lição
Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa de-
do Supremo Tribunal Federal: terminação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limi-
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso tes da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, sido adotados com frequência para a fixação de normas técnicas,
por conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tri- como por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agên-
bunal Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucio- cias reguladoras.

11
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos Prescrição
A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública Fe-
fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e deral, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação pu-
os regulamentos administrativos ou de organização. nitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia,
Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de
regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver
passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da
com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos Administração também for considerado crime, a prescrição deverá
regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que es- se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º.
tes estabelecem normas sobre a organização administrativa ou que Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação
se relacionam aos particulares que possuem um vínculo específico de execução da administração pública federal relativa a crédito não
com o Estado, como por exemplo, os concessionários de serviços tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação
públicos ou que possuem um contrato com a Administração. em vigor, desde que devidamente contados da constituição defini-
De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece tiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com sua
destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos, redação incluída pela Lei 11.941/2009.
é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibi-
liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação especí- lidade de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no
fica com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor curso do processo, quando o procedimento administrativo vir a fi-
grau de discricionariedade em relação aos regulamentos adminis- car paralisado por mais de três anos, desde que pendente de des-
trativos. pacho ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados
Esquematicamente, temos: de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que
haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorren-
ESPÉCIES DE Regulamentos jurídicos ou normativos te da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º.
REGULAMENTO Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação
QUANTO AOS Regulamentos administrativos ou de punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso
DESTINATÁRIOS organização das seguintes hipóteses:
A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por
meio de edital;
Poder de Polícia
B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
fato; pela decisão condenatória recorrível;
para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício
C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
de direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o inte-
expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
resse público.
Administração Pública Federal.
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de em
Limites
determinadas situações específicas, quando o interessado inter-
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim
romper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a suspensão
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está
do prazo prescricional para aplicação das sanções de polícia, nos
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos
parâmetros do art. 3.º.
fins, aos motivos ou ao objeto.
Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de po-
9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
lícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de pro-
processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
porcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, a
art. 5.º.
medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito de
atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por exem-
Atributos
plo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente pos-
Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder de
suía licença do poder público para atuar como revenda de roupas,
polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilida-
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura.
de. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas características
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a in-
estão presentes de forma simultânea em todos os atos de polícia.
terditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria
Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada atri-
desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade,
buto:
seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas.
Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que este-
Discricionariedade
jam eivados de vícios de legalidade ou que se demostrem despro-
Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em re-
porcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Poder Judici-
lação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de polí-
ário por meio do controle judicial, ou, pela própria administração
cia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de polícia
no exercício da autotutela.
seja a regra, em determinadas situações o exercício do poder de
polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que a autori-
dade responsável possa executar qualquer tipo de opção.
Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, compare-
mos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização,
respectivamente. Em se tratando do caso do alvará de licença, de-
preende-se que o ato é vinculado, significando que a licença não
poderá ser negada quando o requerente estiver preenchendo os
requisitos legais para sua obtenção.

12
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Diga-se de passagem, que isso ocorre com a licença para dirigir, Coercibilidade
para construir bem como para exercer certas profissões, como a É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja
de enfermagem, por exemplo. Referente à hipótese de alvará de imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos,
autorização, mesmo o requerente atendendo aos requisitos da lei, a o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está
Administração Pública poderá ou não conceder a autorização, posto consignado à dependência da concordância do particular para que
que esse ato é de natureza discricionária e está sujeito ao juízo de tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indisso-
conveniência e oportunidade da autoridade administrativa. É o que ciável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoe-
ocorre, por exemplo, coma autorização para porte de arma, bem xecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
como para a produção de material bélico. Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida
como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se
Autoexecutoriedade confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do
Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da auto- desdobramento do atributo da autoexecutoriedade.
executoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir
e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem Poder de polícia originário e poder de polícia delegado
intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comer- Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é
cial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo
poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo como fundamento a própria repartição de competências materiais
desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988.
tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz
excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito pú-
para fazer cessar o ato de polícia abusivo. blico da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser
Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder
são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma de polícia originário.
que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sen- Como uma das mais claras manifestações do princípio segun-
do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo do o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no
não estando prevista expressamente em lei, se houver situação de exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações
urgência que demande a execução direta da medida. O que infere e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilida-
que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato de po- de envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara ma-
lícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exem- nifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão pre-
plo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, como sentes características ínsitas ao regime jurídico de direito público,
o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de
caso específico, se o poder público tiver a pretensão de cobrar o delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado,
mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo ne- ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF).
cessário que promova a execução judicial da dívida. Esquematizando, temos:
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a execu-
DISCRICIONARIEDADE AUTOEXECUTORIEDADE COERCIBILIDADE
toriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibili-
dade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar decisões Liberdade de Faculdade de a
executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a escolha da autori- Administração deci- Faz com que
concordância destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade dade pública em dir e executar dire- o ato seja imposto
de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a relação à conveni- tamente sua decisão ao particular, con-
necessidade de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando ência e oportunida- por seus próprios cordando este, ou
for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como de do exercício do meios, sem interven- não.
exemplo, um depósito antigo de carros que esteja ameaçado de poder de polícia. ção do Judiciário.
desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar
que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E não Uso e abuso de poder
sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece
de mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade). de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em
a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios atendimento à consecução dos fins públicos.
indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilida- No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder,
de de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as mul- venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para
tas de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se
meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocor-
da apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e re tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa
da demolição de prédio. que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por
Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:
que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou
em situações de urgência.

13
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a au- de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a
toridade atua extrapolando os limites da sua competência. emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida provi-
• Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a dência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de direito
autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po- privado e não público.
rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser
ao interesse público como um todo. praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que
Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem
pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por como, os entes da Administração Indireta e particulares, como
intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle ju- acontece com as permissionárias e com as concessionárias de ser-
dicial. viços públicos.
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não apre-
sentar caráter de definitividade, está sujeito a controle por órgão
ATO ADMINISTRATIVO: CONCEITO; REQUISITOS; ATRI- jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, compreendemos
BUTOS; CLASSIFICAÇÃO; ESPÉCIES; DISCRICIONARIE- que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade pro-
DADE E VINCULAÇÃO; INVALIDAÇÃO; ANULAÇÃO; RE- veniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais ampara-
VOGAÇÃO; PRESCRIÇÃO; CASSAÇÃO E REVALIDAÇÃO das pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito públi-
co, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a controle
judicial específico.
Conceito
Em suma, temos:
Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade
“toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais am-
que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, res- paradas pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito
guardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a con-
obrigações aos administrados ou a si própria”. trole judicial específico.
Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a
declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de ATOS ADMINISTRATIVOS EM SENTIDO AMPLO
direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”. Atos de Direito Privado
O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez, Atos materiais
explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os Atos políticos
regulamentos. Contratos
No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato
administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do Atos normativos
Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos
concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas
públicas, manifestada mediante providências jurídicas complemen- Requisitos
tares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência
legitimidade por órgão jurisdicional”. de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência,
B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a
anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta for- falta ou o defeito desses elementos pode resultar.
ma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele expos- De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em
ta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidan-
exemplo, bem como os atos abstratos. do o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente.
Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está
análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos concei-
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer
tos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos funda-
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para
mentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada in-
De antemão, é importante observar que, embora o exercício
competente em termos jurídicos para executar tal tarefa.
da função administrativa consista na atividade típica do Poder Exe- Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades pú-
cutivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função blicas, de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação
de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos. Civil (ANAC) não possui competência para conferir o passaporte e
Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem no- liberar a entrada de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o
mear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios controle de imigração brasileiro é atividade exclusiva e privativa da
legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece que em Polícia Federal.
todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exerci- Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo
da que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos, não é função o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às
exclusiva do Poder Executivo. pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar
Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício o desempenho de suas atividades.
da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inú- A competência possui como fundamento do seu instituto a di-
meras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado, visão do trabalho com ampla necessidade de distribuição do con-
desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico junto das tarefas entre os agentes públicos. Desta forma, a distri-

14
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
buição de competências possibilita a organização administrativa Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a
do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis a cada pessoa avocação, que podem ser definidas da seguinte forma:
política, órgão ou agente. a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por in-
Relativo à competência com aplicação de multa por infração à termédio do qual um órgão administrativo ou um agente público
legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas, a União delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de executar
é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o imposto e tam- parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a delegação
bém para estabelecer as respectivas infrações e penalidades. Já em é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico inferior.
relação à instituição do tributo e cominação de penalidades, que No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando justifi-
é de competência do legislativo, dentre os Órgãos Constitucionais cadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha hie-
da União, o Órgão que possui tal competência, é o Congresso Na- rárquica.
cional no que condizente à fiscalização e aplicação das respectivas Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a atri-
penalidades. buição da autoridade delegante, que continua competente para o
exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que foi
Em relação às fontes, temos as competências primária e secun- delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de
dária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos abaixo: atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre
a) Competência primária: quando a competência é estabeleci- em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos.
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando
da pela lei ou pela Constituição Federal.
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também pode-
b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
rá revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormen-
normas de organização, editadas pelos órgãos de competência pri-
te. Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de
mária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão ou
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer
agente que possui competência primária. impedimentos legais vigentes.
Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de forma É importante conhecer a respeito da delegação de competên-
aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico informan- cia o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo
do a distribuição de competências, como a matéria, o território, a Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal,
hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao critério da incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, dis-
matéria, é a criação do Ministério da Saúde. pondo em seus arts. 11 a 14:
Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendên-
cias Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia, Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da Re- delegação e avocação legalmente admitidos.
ceita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Ver- Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
dade que trabalham na investigação de violações graves de Direitos houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que resulta tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
na combinação dos critérios da matéria e do tempo. mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
A competência possui como características: tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
vez que se trata de um poder-dever de ambos. delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vonta- presidentes.
de da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo: I - a edição de atos de caráter normativo;
diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e II - a decisão de recursos administrativos;
da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos dade.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
a crimes considerados menos graves.
cados no meio oficial.
c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes
com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra pessoa.
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob-
Frise-se que a delegação de competência não provoca a transfe-
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva
rência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de deter- de exercício da atribuição delegada.
minadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela
poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a autoridade delegante.
delegação. § 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar
d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente, explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de-
quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente legado.
estas normas poderão alterá-la. Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que
e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, so-
não tenha sido utilizada por muito tempo. cial, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável
f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de
em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente
mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias e
tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do delega-
prática. do, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação.

15
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Importante ressaltar: c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato
Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercí- está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública
cio de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segu- ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo
rança ou a medida judicial. de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento.
Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamen- Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem
to do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da
poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada. teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta
Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada, deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados
todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deve- válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato.
rão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada. Em suma, temos:

Seguindo temos:

a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação e


se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer para si
de forma temporária o devido exercício de competências legalmen-
te estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente inferio-
res. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da linha
de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente de
poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de dele-
gação:

• Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e


temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competên-
cia é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
autoridade avocante. Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma
• Já na revogação de delegação, anteriormente, a competên- das características do princípio da impessoalidade. Nesse diapasão,
cia já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou
achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delega- prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que seu compor-
ção, voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por tamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse públi-
cunho de mão própria. co. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo
de ato administrativo.
Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever ser exer- Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies
cido com autocontrole, o poder originário de avocar competência de finalidade pública. São elas:
também se constitui em regra na Administração Pública, uma vez a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse públi-
que é inerente à organização hierárquica como um todo. Entretan- co considerado de forma geral.
to, conforme a doutrina de forma geral, o órgão superior não pode b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico pre-
avocar a competência do órgão subordinado em se tratando de visto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado
competências exclusivas do órgão ou de agentes inferiores atribu- ato.
ídas por lei. Exemplo: Secretário de Segurança Pública, mesmo es- Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a
tando alguns degraus hierárquicos acima de todos os Delegados da lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato.
Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si a competência para
presidir determinado inquérito policial, tendo em vista que esta Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finali-
competência é exclusiva dos titulares desses cargos. dades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado desvio
Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não
mencionarmos a respeito dos vícios de competência que é concei- pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser convalidado.
tuado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágra-
com a competência do agente que o pratica que se subdivide em: fo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se veri-
a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o fica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele
ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo além previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”.
das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a pra- Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência
ticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre po- estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser
derá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser
que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso. praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício
b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce de finalidade.
atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se ve-
atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casa- rifica em duas hipóteses. São elas:
mentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz. a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo
de punição.

16
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a Motivo
finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de inte- O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que
resse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perse- estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo.
guir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando interesse Quando a autoridade administrativa não tem margem para de-
público. cidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato
administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao
Em resumo, temos: ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prá-
Específica ou Imediata e tica do ato.
FINALIDADE PÚBLICA
Geral ou Mediata
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se
Ato praticado com finalidade trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser
diversa da prevista em Lei. verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática
e do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo
DESVIO DE FINALIDADE
Ato praticado formalmente empírico da situação prevista em lei.
OU DESVIO DE PODER
com finalidade prevista em Lei, po- Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato adminis-
rém, visando a atender a fins pes- trativo depende da presença adjunta dos motivos de fato e de direi-
soais de autoridade. to, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de
previsão normativa bem como a ocorrência, de fato concreto que
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas dis- se integre à tal previsão.
tintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas: De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocor-
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o rer nas seguintes situações:
modo de exteriorização do ato administrativo. a) quando o motivo é inexistente.
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no b) quando o motivo é falso.
conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem c) quando o motivo é inadequado.
como todas as formalidades que devem ser destacadas e observa-
das no seu curso de formação. É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e
Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se motivação. Vejamos:
simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo • Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do
que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto ato administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrati-
exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da for- vo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legíti-
mação do ato administrativo. mo ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
• Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sen-
Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade do a declaração das razões que motivaram à edição do ato. Já a mo-
de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra é tivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos,
o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser reves- via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela
tido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que ele seja lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por vício
escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista de forma, e não de motivo.
que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibi- Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o
lidade de se manifestar de outra forma, como acontece nas ordens processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o se-
verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou, guinte:
ainda, por exemplo, quando um agente de trânsito transmite orien- Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
tações para os condutores de veículos através de silvos e gestos. indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à forma e II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra, III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
considera-se plenamente possível a convalidação do ato adminis- pública;
trativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é tatório;
requisito primordial à validade do ato. V - decidam recursos administrativos;
Devemos explanar também que a motivação declarada e escri- VI - decorram de reexame de ofício;
ta dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando for de VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira, ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja vício de for- VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
ma, mas não vício de motivo. ção de ato administrativo.
Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela au- Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve
toridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração
elemento motivo. de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, infor-
mações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte inte-
grante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva-
ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está
sendo admitida no direito brasileiro.

17
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A motivação dos atos administrativos a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspen-
É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a res- são por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica.
peito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos motivos b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para
determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exi- evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo.
gindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele só terá c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de
validade se os motivos declarados forem verdadeiros. dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas
nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por au-
Exemplo toridade pública ou flagradas no teste do bafômetro.
A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de ser- d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pes-
vidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de soas específicas para a ocupação noturna de determinado trecho
ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto
venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualida- é tido como imoral.
de habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o Atributos do Ato Administrativo
interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua pontua- Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito
lidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos
ser anulada. são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos pri-
É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes vados.
pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente
aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado. ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento,
Em suma, temos: bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado
• Motivo do ato administrativo pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro.
— Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos
edição do ato administrativo. atos administrativos são:
— Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma abs-
trata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo. • Presunção de legitimidade
— Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos
que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei, ca- atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos
racterizando o motivo de direito. administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a
VÍCIOS DE MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade,
Inexistente os atos administrativos presumem-se editados em conformidade
Falso com a lei, até que se prove o contrário.
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e
Inadequado
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
• Teoria dos motivos determinantes presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da
— O ato administrativo possui sua validade vinculada aos moti- presunção de que o ato administrativo foi editado em conformida-
vos expostos mesmo que não seja exigida a motivação. de com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzi-
— Só é aplicada apenas se o ato conter motivação. das pela administração são verdadeiras.
— STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos
quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
está adequado à realidade fática”. entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
Objeto contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado por
O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá sub-
sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras pala- metê-lo ao controle pela própria administração pública, bem como
vras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática não
da alteração da situação jurídica que o ato administrativo se propõe está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações falsas,
a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus efeitos.
objeto é a punição do transgressor. Denota-se que a principal consequência da presunção de vera-
Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve cidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido, relembremos
ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os pa- que em regra, segundo os parâmetros jurídicos, o dever de provar
drões aceitos como éticos e justos. é de quem alega o fato a ser provado. Desta maneira, se o particu-
Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir lar “X” alega que o particular “Y” cometeu ato ilícito em prejuízo
os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse sen- do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que está alegando, de
tido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os maneira que, em nada conseguir provar os fatos, “Y” não poderá
seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos: ser punido.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Imperatividade Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria Syl-
Em decorrência desse do atributo, os atos administrativos são via Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato admi-
impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da nistrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela
concordância destes. Infere-se que a imperatividade é provenien- lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim sendo,
te do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá em consonância com esse atributo, para cada finalidade que a Ad-
editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações ministração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato pre-
para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado viamente definido na lei.
em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio
possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar
expressa concordância. atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o
Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperativida- atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da
de, característica presente exclusivamente nos atos que impõem autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberda-
obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o ato de para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por exem- inominados.
plo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda, quan- Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se
do possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão, atestado que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontran-
ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade. do presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer
impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha a
• Autoexecutoriedade firmar com o particular um contrato inominado desprovido de regu-
Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem exe- lamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de atender
cutados diretamente pela Administração Pública, por intermédio de tanto ao interesse público como ao interesse particular.
meios coercitivos próprios, sem que seja necessário a intervenção
prévia do Poder Judiciário. Classificação dos Atos Administrativos
Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do inte- A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada
resse público, típico do regime de direito administrativo, fato que à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse
acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente à motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classifica-
rapidez e eficiência. ções mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade
No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a autoexecuto- prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante
riedade somente é possível quando estiver expressamente previs- abordagem nas provas de concursos públicos.
ta em lei, ou, quando se tratar de medida urgente, que não sendo
adotada de imediato, ocasionará, por sua vez, prejuízo maior ao a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Os
interesse público. atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários deter-
minados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que de
EXEMPLOS DE ATOS ADMINISTRATIVOS AUTOEXECUTÓRIOS uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas que
correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o Regula-
Apreensão de mercadorias impróprias para o consumo humano mento do Imposto de Renda.
Demolição de edifício em situação de risco
• Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários
Internação de pessoa com doença contagiosa
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que
Dissolução de reunião que ameace a segurança será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será
plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos deter-
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da pres- minados em si.
tação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular que
considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa Exemplo:
livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da defesa O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por
dos seus direitos. outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-se: o ato
de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos desti-
Tipicidade natários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS
De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita
a tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem
fato de tal característica não estabelecer um privilégio da adminis- ser atos vinculados e discricionários.
tração, mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de • Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
que a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que com-
atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, de- provados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória,
veremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para a construção
que apenas são considerados atributos as prerrogativas que aca- de imóvel.
bam por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administra- • Já os discricionários são aqueles em que a Administração
ção toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada. Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância
com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar de-
cisões quando e como o ato será praticado, com a definição de seu
conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos admi- blico. Isso ocorreu na aplicação da prova para Assistente Jurídico
nistrativos podem ser atos de império, de gestão e de expediente. do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto
• Atos de império são atos por meio dos quais a Administra- o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja prática dependa de
ção Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequibili-
usando o poder de império para impô-los de modo unilateral e co- dade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato
ercitivo aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabeleci- administrativo composto”.
mentos comerciais.
Espécies
d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos quais O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos
a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas prove- administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos
nientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de admi- normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e
nistração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais com os atos punitivos.
particulares.
Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam • Atos normativos
a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos. Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é es-
miuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução
Exemplo: da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais,
Uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de for- não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas,
ma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos.
contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.
• Já os atos de expediente são tidos como aqueles que im- Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos po-
pulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante e dem ser:
sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos
papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos. chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de
Exemplo: forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das
Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as Casas Legislativas.
devidas análises”. O decreto é de suma importância no direito brasileiro, moti-
vo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser
e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos classificados em decreto geral e individual. Vejamos:
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras
simples, complexos e compostos.
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta apli-
• O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas
cação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do
um órgão da administração pública, pouco importando se esse ór-
Imposto de Renda”.
gão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específi-
servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
ca de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua publicação
como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
produz de imediato, efeitos concretos.
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples cole-
giado.
Exemplo:
• O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou
Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem
mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os para fim de desapropriação.
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto re-
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado. gulamentar, também designado de decreto de execução. A doutrina
É importante não confundir ato complexo com procedimento o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato com- permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance possam ir além da-
plexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de queles do que é permitido por Lei.
um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo pra- Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
ticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. Pon-
de um ato final e principal”. dera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo
admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional 32/2001,
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de que predispõe a competência privativa do Presidente da República
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de para dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamen-
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem to da administração federal, quando não incorrer em aumento de
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos, despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos.
um principal e outro acessório.
• Atos ordinatórios
Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Mei- Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem
relles, para quem o ato administrativo composto “é o que resulta da ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro de dis-
vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte ciplinar as relações internas da Administração Pública. Detalhare-
de outro, para se tornar exequível”. A mencionada definição, em- mos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as instruções, as
bora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas exa- circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e
minadoras na elaboração de questões de provas de concurso pú- os despachos.

20
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela c) Autorização: é detentora de características iguais às da per-
autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar a missão, vindo a constituir ato administrativo discricionário permis-
atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo: as instru- sionário do exercício de atividade específica pelo particular ou,
ções que ordenam os atos que devem ser usados de forma interna ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que a per-
na análise do pedido de utilização de bem público formalizado uni- missão, a autorização possui como características: o ato de consen-
camente por particular. timento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo.
Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretan-
to, de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência. d) Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador
Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados por do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público
Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos corre- específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual
latos aos respectivos Ministérios. o particular preencha devidamente os requisitos legais
Portarias: são atos administrativos respectivamente editados
por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe do • Atos enunciativos
Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria de- São atos administrativos que expressam opiniões ou, ain-
terminando a instauração de processo disciplinar específico. da, que certificam fatos no campo da Administração Pública. A dou-
Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos ordena- trina reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres,
dores da adoção de conduta específica em circunstâncias especiais. as certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos:
Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de obra públi- a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar
ca. a opinião do agente público a respeito de determinada questão de
Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se res- ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de
ponsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico.
e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como de De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espé-
entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição de cies de pareceres. São eles:
informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por meio 1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação
de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de Saú- para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não
de. vincula a autoridade competente;
Despachos: são atos administrativos eivados de poder decisó- 2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessaria-
rio ou apenas de mero expediente praticados em processos admi- mente elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a
nistrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo disciplinar, opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade
é emitido despacho especifico determinando a oitiva de testemu- responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o pa-
nhas. recer de forma motivada;
3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado de
• Atos negociais forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade adminis-
Também chamados de atos receptícios, são atos administrati- trativa com o dever de acatá-lo.
vos de caráter administrativo editados a pedido do particular, com
o fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos
Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, po-
desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão. rém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas.
Vejamos: *Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal
a) Licença: possui algumas características. São elas: consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais,
— Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado, indepen-
legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a li- dentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de certidões em
cença; repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de
— Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Admi- situações de interesse pessoal”.
nistração se torna conivente com o exercício da atividade privada
como um todo; c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às
— Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência
particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício. de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as cer-
tidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do
b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário do- ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos
tado da permissão do exercício de atividades específicas realizadas públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de re-
pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado bem pú- tratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos da
blico. Exemplo: a permissão para uso de bem público específico. Administração Pública.
A permissão é dotada de características essenciais. São elas:
— Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Ad- d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem
ministração Pública concorda com o exercício da atividade privada, o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos
bem como da utilização de bem público por particulares; pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar
— Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
administrativa é dotada de liberdade de análise referente à conve- contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda
niência e à oportunidade do ato administrativo; de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°,
— Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações.
somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não ape-
nas de direito subjetivo ao ato.

21
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Atos punitivos Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por
Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos
são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de in- ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu
teresses dos administrados que vierem a atuar em desalento com efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes
a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer situações:
forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na edi-
ção de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição Cassação
Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas te- É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido
nham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar
da legalidade. continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção
Podemos dividir as sanções em dois grupos: do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo
1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com supe- sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua
dâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos particu- execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento
lares em geral. Exemplo: multa de trânsito. de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de prosti-
2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com em- tuição.
basamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às demais
pessoas que se encontram especialmente vinculadas à Administra- Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de
ção Pública. Exemplo: reprimenda imposta à determinada empresa um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua vincu-
contratada pela Administração. lação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar.
Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de de-
multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições monstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar
de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido
espécie: fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse entendimento,
Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com
aos administrados. extravagante insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento
Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou suspen- a administração estaria apta a propor a cassação do ato adminis-
sivos do exercício de atividades diversas. trativo.
Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada
aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia ser
população em risco. proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agen-
Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, a tes de fiscalização em descumprimento às condições de subsistên-
autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas à cia do ato, bem como por ato revisional que implicasse auditoria,
coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, si- acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de
tuação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para mo- dados públicas.
mento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da medi- Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos pa-
da, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização feita recidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação ad-
de forma prévia no processo administrativo, situação por intermé- vém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
dio da qual, a ampla defesa será postergada para momento ulterior. para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo
Sanções disciplinares: também chamadas de sanções funcio- que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato
nais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores públicos ocorreu na formação do ato.
e aos administrados possuidores de relação jurídica especial com a
Administração Pública, desde que tenha sido constatada a violação Anulação
ao ordenamento jurídico, bem como aos termos do negócio jurídi- É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
co. Um exemplo disso, é a demissão de servidor público que tenha de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
cometido falta grave. e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
*Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas aos de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou
particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, as legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do
sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de sujei- ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o
ção especial de administrados específicos do poder disciplinar da ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por conse-
Administração Pública, como é o caso dos servidores e contratados. guinte, revogá-lo, e não o anular.
Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para o exterior Diferentemente da revogação, que mantém incidência somen-
da Administração - as chamadas sanções externas - as sanções dis- te sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos
ciplinares são aplicadas no interior da Administração Pública, - as discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato
denominadas sanções internas. de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalida-
de.
Extinção do ato administrativo Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de Poder Judiciário.
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de au-
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, totutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF:
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do be-
neficiário.

22
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a prin-
cípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a qual-
A Administração Pública pode declarar quer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos
SÚMULA 346
a nulidade dos seus próprios atos. limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di
A Administração pode anular seus pró- Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos:
prios atos, quando eivados de vícios a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a aná-
que os tornam ilegais, porque deles lise de conveniência e oportunidade;
não se originam direitos; ou revogá- b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não
SÚMULA 473 -los, por motivo de conveniência ou retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam
oportunidade, respeitados os direitos próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando
adquiridos, e ressalvada, em todos os transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público,
casos, a apreciação judicial. após o gozo do direito, não há como revogar o ato;
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o
praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de autori-
Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser in- dade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou
vocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade, deixou de ser competente para revogá-lo;
bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportuni- d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados,
dade. votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela
A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por lei;
provocação do interessado. e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada
Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exer- novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior;
cício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato admi- f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito
nistrativo havendo pedido do interessado. adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF.
Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria
Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo legal- Convalidação
mente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando
de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclu-
uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio sive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora.
da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez
o exercício da autotutela. que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos
os efeitos.
Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua
âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez,
destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos, passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos.
contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios
norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e
estipulação de prazos diferentes em outras esferas. anuláveis.
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi
Revogação incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão, o
É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela pró- art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibi-
pria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade, lidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos sanáveis,
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao interes-
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento se público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e per- à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento tem sido
feito se torna inconveniente ao interesse público, a administração aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de
pública poderá suprimi-lo por meio da revogação. dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a
A revogação resulta de um controle de conveniência e oportu- esfera federal e também com fundamento na prevalência doutriná-
nidade do ato administrativo promovido pela própria Administra- ria vigente.
ção que o editou. Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurispru-
É fundamental compreender que a revogação somente pode dência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em determina-
atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que das lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do
quando a administração está à frente do motivo que ordena a prá- princípio da segurança jurídica.
tica do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, não
lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a Decadência Administrativa
conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta ma- O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direi-
neira, não havendo possibilidade de análise de mérito para a edição to existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo deter-
do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja des- minado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda
feito pela revogação. no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu titular, que
não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.

23
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo AGENTES PÚBLICOS: NORMAS CONSTITUCIONAIS
previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a CONCERNENTES AOS SERVIDORES PÚBLICOS (ARTS.
única forma de expressão do direito coincide conaturalmente com 39 A 41, CF) SERVIDORES PÚBLICOS: CLASSIFICAÇÃO E
o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se con- CARACTERÍSTICAS. REGIMES JURÍDICOS FUNCIONAIS:
funde com o exercício da ação para manifestá-lo”. ÚNICO, ESTATUTÁRIO, E DE EMPREGO PÚBLICO. CAR-
Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o dis- GO PÚBLICO: CONCEITO E ESPÉCIES; PROVIMENTO;
posto legal sobre a decadência do direito de a administração pú- ESTABILIDADE; VACÂNCIA; REMOÇÃO; REDISTRIBUI-
blica anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses ÇÃO E SUBSTITUIÇÃO. CONCURSO PÚBLICO.
vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
Artigo 54. O direito da administração de anular os atos admi- Conceito
nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo,
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as
salvo comprovada má-fé. concernentes à Administração Pública e seus agentes como um
§ 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de todo.
decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. A designação “agente público” tem sentido amplo e serve para
§ 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer me- conceituar qualquer pessoa física exercente de função pública, de
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali- forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou administra-
dade do ato.” tiva, com investidura definitiva ou transitória.
O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi prati- Espécies (classificação)
cado. Isso significa que durante esse decurso, o administrado per- Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as ca-
manecerá submetido a revisões ou anulações do ato administrativo tegorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores públicos
que o beneficia. civis, militares e particulares em colaboração com o serviço público.
Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, o ad-
ministrado poderá ter suas relações com a administração consolida- Vejamos cada classificação detalhadamente:
das contando com a proteção da segurança jurídica.
Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Agentes políticos
Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbên-
sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu: cia de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos.
“No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal,
dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam, os
essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder Legisla-
tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não tivo como Senadores, Deputados e Vereadores.
para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo,
estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em deca- com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de car-
dência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina do gos comissionados, de livre nomeação e exoneração.
Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar de
proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a transpare-
de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético, cer que os demais agentes que exercem, com alto grau de autono-
social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive, mia, categorias da soberania do Estado em decorrência de previsão
as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável constitucional, como é o caso dos membros do Ministério Público,
o fato de que o Poder Público não se submente também a essa da Magistratura e dos Tribunais de Contas.
consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo de-
curso do tempo.” Servidores Públicos Civis
Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas
de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas
promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e jurídicas da Administração Indireta em função da relação de traba-
Administração Pública, suprimindo da administração o poder de lho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos co-
usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato adminis- fres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas
trativo, o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interes- jurídicas.
sadas. Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públi-
Em resumo, é de grande importância o posicionamento adota- cos em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação
do pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só tempo, aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores
propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de conta- militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas
gem do prazo decadencial. de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores pú-
blicos para se referir somente aos servidores públicos civis.
De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, os
servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte ma-
neira:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos A despeito da criação de cargos, vejamos:
pelo regime estatutário. a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
Servidores ou empregados públicos: são os servidores contra- desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
tados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos. b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do
Servidores temporários: são os contratados por determinado Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respec-
período de tempo com o objetivo de atender à necessidade tempo- tivos Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação
rária de excepcional interesse público. Exercem funções públicas, de cargos para o Ministério Público.
mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos por regime c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade federativa. transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os mi- (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
litares eram tratados como “servidores militares”. Militares são Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha, estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios, ocupado, só poderá ser extinto por lei.
que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pe-
los cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve-
estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submeti- jamos:
dos à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
categoria propícia de agentes públicos. razão do regime de progressão do servidor na carreira.
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus
Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares titulares.
alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral,
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas Em relação às garantias e características especiais que lhe são
com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; licença conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos;
à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade e assis- e comissionados. Vejamos:
tência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o nascimen-
to até cinco anos de idade em creches e pré-escolas. Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per-
Ademais, os servidores militares estão submetidos por força da manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es-
Constituição Federal a determinadas regras próprias dos servidores ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público.
públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, irredutibili- Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art.
dade de vencimentos, dentre outras peculiaridades. 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri-
Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas algu- buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma-
mas vedações que constituem direito dos demais agentes públicos, neira temporária, em função da confiança depositada pela autori-
como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como da greve dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende
e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos políti- de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu
cos. ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade
nomeante.
Cargo, Emprego e Função Pública
Para que haja melhor organização na Administração Pública, os Emprego
servidores públicos são amparados e organizados a partir de qua- Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito
dros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos, empre- de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que
gos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma pessoa também chamados de celetistas ou empregados públicos.
jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos internos. A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo
que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do
Cargo empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do ser-
O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei vidor titular de cargo público é de natureza estatutária.
8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribui- No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os
ções e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas au-
devem ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos consi- tarquias e fundações públicas de direito público, levando em conta
derar o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional a restauração da redação originária do caput do art. 39 da CF/1988
da Administração Pública a ser preenchido por um servidor público. (ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado é o esta-
Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados, trans- tutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência entre o re-
formados e extinguidos por força de lei. gime estatutário e o celetista relativo aos entes que, anteriormente
Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do Po- à concessão da medida cautelar mencionada, tenham realizado
der Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção de contratações e admissões no regime de emprego público. No to-
cargos, empregos e funções públicas. cante às pessoas de Direito Privado da Administração Indireta como
Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não as empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que mes- públicas de direito privado, infere-se que somente é possível a exis-
mo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou veto do tência de empregados públicos, nos termos legais.
chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que são leis
sem sanção.

25
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Função Pública Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será tor-
Função pública também é uma espécie de ocupação de agen- nado sem efeito o ato de sua designação para função de confiança,
te público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos se não entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, ob-
existem determinadas atribuições que também são exercidas por servado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n. 9.527, de
servidores públicos, mas no entanto, essas funções não compõem 10.12.97).
a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego público, Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para
como por exemplo, das funções exercidas por servidores contrata- posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração,
dos temporariamente, em razão de excepcional interesse público, tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de ser-
com base no art. 37, IX, da CFB/88. vidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo
Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, desempe- a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação.
nhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego público.
Além disso, existem funções de chefia, direção e assessoramento Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a
para as quais o legislador não cria o cargo respectivo, já que serão um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administra-
exercidas com exclusividade por ocupantes de cargos efetivos, nos ção Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em
termos do art. 37, V, da CFB/88. que pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento de-
rivado somente será possível de ser concretizado, se o agente pro-
Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da vier de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento
CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão, originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de dire- carreira.
ção, chefia e assessoramento. Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público
de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento
Regimente Jurídico originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira
Provimento por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia
Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo ser- e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma
vidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do qual defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula vincu-
ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo as lante nº 43 do Supremo Tribunal Federal
funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa.
Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade de pro-
cargos públicos em dois grupos. São eles: vimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que
Provimento originário: é ato administrativo que designa um não integra a carreira na qual anteriormente investido.
cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores
daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública. Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado
O provimento originário é a única forma de nomeação reco- permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas característi-
nhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro, ressal- cas específicas. Vejamos:
te-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público de
provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, a or- Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira ense-
dem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque-se que o jando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais altos, na
momento da nomeação configura discricionariedade do adminis- carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade e mereci-
trador, na qual devem ser respeitados os prazos do concurso públi- mento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha ingressado,
co, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, devendo, por mediante aprovação em concurso público no serviço público, bem
conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito dos requisitos como mediante assunção de cargo escalonado em carreira.
para a ocupação do cargo. Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira
Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de
ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas a forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento.
garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne servidor Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível
público, o particular deverá assinar o termo de posse, se submeten- assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por exem-
do a todas as normas estatuárias da instituição. plo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o cargo
O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a inves- de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que tal
tidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da Lei situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem a
8.112/90. realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi
De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse é abolida pela Constituição Federal de 1988.
de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de pro-
vimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a devi- Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação dis-
da comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por meio posta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor
de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3° da lei em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por
8.112/90. este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese,
Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o ser- o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo,
vidor público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que sofreu
iniciar a exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1° em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta limita-
do Estatuto dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das ção mediante a apresentação de laudo laboral expedido por junta
Fundações Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente a impos-
respeitado este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos: sibilidade de o agente se manter no exercício de suas atividades de
trabalho.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de ven- d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se en-
cimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido pelo contra em disponibilidade, para assumir cargo com funções com-
servidor em virtude da readaptação. patíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto o
cargo que antes ocupava.
Observação importante: esta modalidade de provimento deri- Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a ex-
vado independe da existência de cargo vago na carreira, porque ain- tinção ou declaração de desnecessidade de determinado cargo pú-
da que este não exista, o servidor sempre terá direito de ser readap- blico, o servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser
tado e poderá exercer suas funções no novo cargo como excedente. demitido ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilida-
Caso não haja nenhum cargo na carreira, com funções compatíveis, de. Nesses casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma
o servidor poderá ser aposentado por invalidez. Para que haja rea- temporária, mantendo o vínculo com a administração pública.
daptação, não há necessidade de a limitação ter ocorrido por causa Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilida-
do exercício do labor ou da função. A princípio, independentemen- de, porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo
te de culpa, o servidor tem direito a ser readaptado. cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento
será obrigatório.
Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servi-
dor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções de cargo Observação importante: o aproveitamento é obrigatório tan-
específico e retorna às suas atividades. Esse provimento pode ocor- to para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre porque
rer de quatro formas. São elas: a Administração Pública não pode deixar de executar o aproveita-
mento para nomear novos candidatos, da mesma forma que o ser-
a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retor- vidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo a recu-
no do servidor público aposentado ao exercício do cargo público. sar o aproveitamento.
A reversão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez,
quando cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de Vacância
laudo médico oficial, o poder público toma conhecimento de que As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do
os motivos que ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo pú-
insubsistentes, do que resulta a obrigatoriedade de retorno do ser- blico vago. É um fato administrativo que informa que o cargo públi-
vidor ao cargo. co não está provido e poderá preenchido por novo agente.
A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas:
Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado de
forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos dispostos a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado
em lei, a legislação ordena que havendo interesse da Administração pela Administração Pública, o servidor público passa para a inati-
Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, que a aposenta- vidade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, a
doria tenha sido de forma voluntária, que o agente público já tives- aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente ou
se, antes, adquirido estabilidade quando no exercício da atividade, por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas para
que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos anteriores à so- que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas seguintes
licitação e também que haja cargo vago, no momento da petição maneiras:
de reversão.
• Falecimento
b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer o Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse do
retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava anterior- servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente inviá-
mente, em decorrência da anulação do ato de demissão. vel a ocupação do cargo.
Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a demis-
são do servidor estável por decisão judicial ou administrativa, pon- • Exoneração
derando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por tudo Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder
que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal. público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dan-
do fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse.
c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, tra-
ta-se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do servi-
ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses: dor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo se
• Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro car- restará desfeito e o cargo vago.
go: quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual
já havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor co-
serviço público. meter infração funcional, prevista em lei e será punível com a perda
• Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação ex- do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 em for-
posta, na situação prática apresentada anteriormente, através da ma de sanção aplicada ao servidor que cometer.
qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é poste- Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que são configu-
riormente reintegrado. radas como condutas consideradas graves. Em determinados casos,
definidos pelo legislador, a demissão proporá de forma automática
Observação importante: A recondução não gera direito à per- a indisponibilidade dos bens do servidor até que esse faça os de-
cepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim, o vidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando de situações mais
servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a remu- extremas, o legislador vedará por completo a o retorno do servidor
neração deste cargo. ao serviço público.

27
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos
defesa. cargos públicos, nos termos da lei.
Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos, ve-
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que jamos:
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada em
inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do ór- Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
gão competente. desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde
que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do Minis-
retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação tério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respectivos
ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação de
de outro, acopladas num só ato. cargos para o Ministério Público.

d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público, Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
cargo mais elevado na carreira de ingresso. (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.

e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servi- Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
dor tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova, estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o ocupado, só poderá ser extinto por lei.
primeiro. Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve-
Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida pela jamos:
Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos, será
necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não fazen- Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
do o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias, por podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da lei, razão do regime de progressão do servidor na carreira.
processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da penali-
dade de demissão do servidor. Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus
titulares.
Efetividade
A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo Em relação às garantias e características especiais que lhe são
que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14, conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos;
que garante a permanência no serviço público outorgada ao servi- e comissionados. Vejamos:
dor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo de
provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio proba- Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per-
tório e aprovado numa avaliação específica e especial de desempe- manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es-
nho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor que ocupa ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público.
cargo de provimento efetivo.
Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art.
titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende 37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri-
explicitamente da aprovação em concurso público. buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma-
Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo de neira temporária, em função da confiança depositada pela autori-
provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo. Entretan- dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende
to, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua permanên- de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu
cia no serviço público, a estabilidade, depois de três anos de exercí- ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade
cio, desde que seja aprovado no estágio probatório. nomeante.

Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun- Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções
ções públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretan-
Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados, to, a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art.
transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder 84, VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da
Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo, dis- República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de
por sobre a criação, transformação e extinção de cargos, empregos decreto, quando estes se encontrarem vagos.
e funções públicas. O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, a
Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, o processo de consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver seme-
criação não depende apenas de lei, mas sim de uma norma que lhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou Leis Or-
mesmo apesar de possuir a mesma hierarquia de lei, não está na gânicas, também podem extinguir por decreto funções ou cargos
dependência de deliberação executiva com sanção ou veto do chefe públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios.
do Executivo. Referidas normas, em geral, são chamadas de Reso-
luções.

28
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções pú- CARGOS DA CÂMARA a iniciativa é privativa dessa Casa
blicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei DOS DEPUTADOS (CFB, art. 51, IV);
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo
estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que CARGOS DO SENADO a iniciativa é privativa dessa Casa (CF,
não se admite a edição de decreto com essa finalidade. FEDERAL art. 52, XIII);

Remuneração Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos


A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art. Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Le-
37, a seguinte redação: gislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ).
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, as- Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais,
segurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distin- dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e
ção de índices; dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso
Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presiden-
Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse dispo- te da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão
sitivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica para constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é reali-
que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em sentido zada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto Legislativo
amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que cada alte- do Congresso Nacional.
ração de remuneração de cargo público deverá ser feita através da Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribu-
edição de lei ordinária específica para tratar desse assunto. nal Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral
anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve
O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3 7 men- ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder
ciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso ordenamento Executivo de cada Federação.
jurídico através da EC 19/1998, que é de medida obrigatória para O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final,
alguns cargos e facultativa para outros. garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos
Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal, “servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de
o subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acrésci- índices.
mo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de A Constituição da República em seu texto original, usava os ter-
representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse mos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No entanto,
paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie remu- a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões deixaram
neração em sentido amplo. de existir e o texto constitucional passou a se referir aos servidores
Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha usado civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores militares,
o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com frequ- apenas como “militares.
ência para indicar a remuneração dos servidores estatutários que Também em seu texto original e primitivo, a Constituição Fe-
não percebem subsídio. deral de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices de
Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis e
um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC
vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens pecu- 18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou
niárias estabelecidas em lei. da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, o
Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao deter- que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser apli-
minar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”, está, cado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais como
em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias, vencimen- espécie do gênero “servidores públicos”.
tos e subsídios que os servidores públicos estatutários podem re- A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por
ceber. período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC
Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo cita- 19/1998.
do dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para o pa- O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o
gamento ou quitação de serviços profissionais prestados em uma fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor,
relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime traba- devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar
lhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das Leis de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de
do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados públicos um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de
recebem salário. “aumento impróprio”.
Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege,
para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as re- Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que
munerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com a o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implantada
Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as re-
que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, pode- estruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais,
mos resumir das seguintes formas: pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação
com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral,
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão
A iniciativa é privativa do de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os
CARGO DO PODER
Presidente da República Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a
EXECUTIVO FEDERAL
(CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”); cada ano.

29
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Registre-se que a remuneração do servidor público é submeti- Perceba que a regra do teto remuneratório também e plena-
da aos valores mínimo e máximo. mente aplicável às empresas públicas e às sociedades de economia
Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos ser- mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da União, dos
vidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º, da CF).No
inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total entanto, se essas entidades não vierem a receber recursos públicos
da remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base. para a quitação de despesas de custeio e de pessoal, seus empre-
Sobre o assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante gados não estarão submetidos ao teto remuneratório previsto no
16. art. 37, XI, da CF.
Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo não Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se existen-
foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o STF, te um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a todos os Po-
a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao forne- deres da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo este,
cimento das condições materiais para a correta prestação do ser- o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso,
viço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto, denota-se referente a esse teto geral, existem tetos específicos aplicáveis aos
que os militares são enquadrados em um sistema que não se con- Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
funde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez que estes Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que a
têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios (RE remuneração dos servidores públicos não podem exceder o subsí-
570177/MG). dio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode ultra-
Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema Cor- passar os limites a seguir:
te editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que “não Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador;
viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados Es-
salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial”. taduais e Distritais;
Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos Desembargado-
Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto remune- res do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do subsídio dos
ratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC 41/2003. Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é nos termos da
Vejamos: Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, aos Procuradores
e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não integrem o Poder
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun- Judiciário.
ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, no
fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a cada
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório local
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do res-
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa- pectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio dos
mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou- Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem ado-
tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, tar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de emenda
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li- às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei Orgânica do
mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a Constituição Fe-
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do deral, o limite local único não deve ser aplicado aos subsídios dos
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração dos
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen- agentes públicos não poder exceder o teto geral e também não
tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto mu-
Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável nicipal.
este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em seu
aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucio- bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder Legislati-
nal nº 41, 19.12.2003). vo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo
O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto ao Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta norma tem
afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o subsídio sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo genérico, ao
dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da adminis- contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, que explici-
tração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer tamente estabelece limites precisos para os tetos remuneratórios.
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
nicípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes Direitos e deveres
políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes pú-
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pesso- blicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime
ais ou de qualquer outra natureza. Referente às parcelas de caráter jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias
indenizatório, estas não serão computadas para efeito de cálculo do e das fundações públicas federais, é importante explanar que além
teto remuneratório. do vencimento - base, a lei prevê que o servidor federal poderá re-
ceber vantagens pecuniárias, sendo elas:

Indenizações
Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de despe-
sas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. São
previstos por determinação legal, os seguintes tipos de indeniza-
ções a serem pagas ao servidor federal:

30
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não
instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do ser- se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no
viço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança de prazo de cinco dias.
domicílio em caráter permanente. Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do pre-
A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não visto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas em
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, excesso no prazo de cinco dias.
com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida
ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no
afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo. exercício de serviço de interesse público realizar despesas com a
O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a remune- utilização de meio próprio de locomoção para a execução de servi-
ração do servidor, e não pode exceder a importância corresponden- ços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art. 60 da
te a três meses de remuneração. Lei 8.112/90).
Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado
pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo, b) Auxílio - moradia: é o ressarcimento das despesas devida-
passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companhei- mente comprovadas e realizadas pelo servidor público com aluguel
ro, não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem devidamen-
segunda ajuda de custo. te administrado por empresa hoteleira, no decurso do prazo de um
Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as mês após a comprovação da despesa pelo servidor.
despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser
arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem, Para fazer jus ao recebimento do auxílio - moradia, o servidor
bagagem e bens pessoais. deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art.
Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família, 60-B). Vejamos:
por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio - moradia ao servidor se aten-
para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
do óbito. I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor;
Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando, II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel
sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30 funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
dias. III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te-
nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi-
Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo,
somente é devida aos servidores que, no interesse da Administra- incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção,
ção, forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, pará- nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela
grafo único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção Lei nº 11.355, de 2006).
ocorrer em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba
de custo não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público auxílio - moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu-
caráter permanente, por meio de processo seletivo de remoção, par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo - Direção
não terá direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Es-
REsp 1.531.494/SC). pecial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído pela Lei nº
11.355, de 2006).
Diárias VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função
São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em re-
caráter eventual ou transitório para outro ponto do território nacio- lação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído pela
nal ou para o Exterior, que também fará jus a passagens destinadas Lei nº 11.355, de 2006).
a indenizar as despesas extraordinárias com pousada, alimentação VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido
e locomoção urbana. no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo
As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in-
eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se ferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº
o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo 11.355, de 2006).
(art. 58, § 2º). VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração
Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº
mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião, 11.355, de 2006).
constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas, IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006.
ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes, (Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007).
cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o
brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão
da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º).
A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida Gratificações
pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos de esti-
sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas pêndio, que acopladas ao vencimento constituem a remuneração
extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º). do servidor público.

31
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se Adicionais
que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à saúde
aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar a exposi-
e adicionais: ção aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público, podemos
a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- resumi-los da seguinte forma:
sessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo-
exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição será fixado por lei es- cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe-
pecífica. riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador habitualmente colocam em risco a sua vida.
da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12 da b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro, por exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento da Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de exercí- remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
cio será considerada como mês integral. trabalho.
c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas No entanto, somente será permitido serviço extraordinário
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo- limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74.
cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe- c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
habitualmente colocam em risco a sua vida. exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor. balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
trinta segundos (art. 75).
trabalho.
d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e dis-
(art. 73). No entanto, somente será permitido serviço extraor-
ciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente de
dinário para atender a situações excepcionais e temporárias, res-
peitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74). solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, um
e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en- adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das
tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno, assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta-
cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra- gem será considerada no cálculo do adicional de férias.
balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores
hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou
trinta segundos (art. 75). em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos,
f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e condições e limites fixados em regulamento (art. 71).
disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, Observação importante: O direito ao adicional de insalubrida-
um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das de ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos
férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, § 2º).
assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta- O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de
gem será considerada no cálculo do adicional de férias. insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não
h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º).
assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso Férias
de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem
instituído no âmbito da administração pública federal; participar de ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado,
banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias.
curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal,
questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários
candidatos; participar da logística de preparação e de realização de federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990.
concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde-
Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada
nação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições permanentes
ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de dois
e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame ves-
períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço, com
tibular ou de concurso público ou supervisionar essas atividades.
exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art. 77).
Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contem-
plava o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto, Entretanto, o servidor que opera direta em permanência constante
o dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado. com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas, terá direi-
Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos servido- to ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais de atividade
res que à época da revogação restavam munidos de direito adquiri- profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a acumulação
do à sua percepção. desses períodos (art. 79).

32
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de
de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º). doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras-
to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas
É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação
férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir por perícia médica oficial.
daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício. § 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do
Infere-se que o gozo do período de férias é decisão exclusiva- servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamen-
mente discricionária da administração, que só o fará se compreen- te com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário,
der que o pedido atende ao interesse público. na forma do disposto no inciso II do art. 44.
No condizente à remuneração das férias, depreende-se que § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de condições:
férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78). remuneração do servidor;
Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro neração.
período (art. 78, § 5º). § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em comis- partir da data do deferimento da primeira licença concedida.
são, terá o direito de receber indenização relativa ao período das § 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re-
férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata pro- muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em
porção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda de um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §
fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e
indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês II do § 2º.
em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º). § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
Observação importante: o STJ vem aplicando de forma pacífica poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse em outro condições:
cargo inacumulável, sem solução de continuidade no tempo de I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem indenizadas remuneração do servidor;
transfere-se para o novo cargo, ainda que este último tenha remu- II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
neração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/DF, Rel. Min. neração.
Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe 20.10.2008). § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
partir da data do deferimento da primeira licença concedida.
§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re-
Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser goza-
muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em
das sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como exceção,
um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §
a lei estabelece dispositivo que determina que as férias somente
3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e
poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80 da Lei
II do § 2º.
8112/90:
§ 2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro
a) calamidade pública;
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Po-
b) comoção interna;
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da Adminis-
d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxi- tração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o
ma do órgão ou entidade. exercício de atividade compatível com o seu cargo.
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con-
Licenças cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe-
São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se cífica.
afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até
com o tipo de licença. 30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car-
A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas: go.
Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença: Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração,
I - por motivo de doença em pessoa da família; durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro
III - para o serviço militar; de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
IV - para atividade política; § 1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
V - para capacitação; desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
VI - para tratar de interesses particulares; assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
VII - para desempenho de mandato classista; partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
VIII - para tratamento de saúde; Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.
IX - Licença por acidente em serviço (art. 211); § 2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se-
X - Licença à Gestante (art. 207); guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
XI - Licença à Adotante (art. 210); vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
XII – Licença Paternidade (art. 208).
Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte expla-
nação:

33
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse gozar, como prê-
poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do mio pela assiduidade de três meses de licença, com a remuneração
cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses, do cargo efetivo. A legislação vigente à época facultava ao servidor
para participar de curso de capacitação profissional. gozar a licença ou contar em dobro o período da licença para efeito
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao de aposentadoria (o que atualmente não é mais possível, já que
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo de contribuição fictí-
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo cio para aposentadoria). Entretanto, em análise ao caso específico
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. daqueles que adquiriram legitimamente o direito antes da supres-
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer são legal, o STJ entende pacificamente que “o servidor aposentado
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. tem direito à conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re- e contada em dobro, sob pena de enriquecimento sem causa da
muneração para o desempenho de mandato em confederação, fe- Administração Pública” (AgRg no AREsp 270.708/RN).
deração, associação de classe de âmbito nacional, sindicato repre-
sentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, Concessões
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade Três são as espécies de concessão:
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi- a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se au-
ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII sentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas
do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser- seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue;
vados os seguintes limites: por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecuti-
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) vos em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companhei-
servidores; ro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta ou tutela e irmãos.
mil) associados, 4 (quatro) servidores; b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão de
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor estu-
8 (oito) servidores. dante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário es-
§ 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para colar e o da repartição, sendo exigida a compensação de horário; ao
cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des- servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessida-
de que cadastradas no órgão competente. de por junta médica oficial, independentemente de compensação
§ 2º. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
renovada, no caso de reeleição. deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica
Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento oficial, independentemente da compensação de horário; ao servi-
de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem dor que atue como instrutor em curso instituído no âmbito da ad-
prejuízo da remuneração a que fizer jus. ministração pública federal ou que participe de banca examinadora
de concursos, vinculado à compensação de horário a ser efetivada
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120
no prazo de até um ano.
(cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados
§ 1º . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servi-
gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
dor estudante que mudar de sede no interesse da administração é
§ 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima,
partir do parto.
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época,
§ 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even-
independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse benefí-
to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta,
cio se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou
reassumirá o exercício.
enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos
§ 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art. 99, pará-
terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. grafo único).
Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos. Direito de petição
Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do servi-
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra- dor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de direi-
balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois to ou interesse legítimo.
períodos de meia hora. O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de
Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso.
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido à auto-
de licença remunerada. ridade competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente
criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este (art. 105).
artigo será de 30 (trinta) dias. Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de reconsi-
Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor deração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou profe-
acidentado em serviço. rido a primeira decisão, não podendo ser renovado.
De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá re-
Observação importante: a licença-prêmio não faz mais parte curso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de re-
do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida pela Lei consideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente in-
9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, encerrado terpostos.

34
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade guns serviços públicos. Em outro momento, tais serviços públicos
imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a também passaram a ter sua prestação delegada a outras pessoas
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais auto- jurídicas, que por sua vez, eram criadas pelo próprio Estado para
ridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade a que esse fim específico. Eram as empresas públicas e sociedades de
estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando continui- economia mista, que possuem regime jurídico de direito privado,
dade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, a juízo cujo serviço era mais eficaz para que fossem executados os serviços
da autoridade competente e em caso de provimento do pedido de comerciais e industriais.
reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à Esses acontecimentos acabaram por prejudicar os critérios uti-
data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109, parágrafo úni- lizados pela doutrina para definir serviço público como um todo.
co da Lei 8112/90. Denota-se que o elemento subjetivo foi afetado pelo fato de as pes-
O prazo para interposição de recurso ou de pedido de recon- soas jurídicas de direito público terem deixado de ser as únicas a
sideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência, pelo prestar tais serviços, posto que esta incumbência também passou
interessado, da decisão recorrida (art. 108). a ser delegada aos particulares, como é o caso das concessionárias,
Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110, em permissionárias e autorizatárias. Já o elemento material foi atingido
cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposen- em decorrência de algumas atividades que outrora não eram tidas
tadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial e como de interesse público, mas que passaram a ser exercidas pelo
créditos resultantes das relações de trabalho; em 120 dias, nos de- Estado, 8como por exemplo, como se deu com o serviço de loterias.
mais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei. O elemento formal, por sua vez, também foi bastante atingido, na
forma que aduz que nem todos os serviços públicos são prestados
Em relação à prescrição, merece também destaque: sob regime de exclusividade pública, como por exemplo, a aplica-
Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser re- ção de algumas normas de direito do consumidor e de direito civil
levada pela administração; o pedido de reconsideração e o recurso, a contratos feitos entre os particulares e a entidade prestadora de
quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111); o prazo de serviço público de forma geral.
prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado Assim sendo, em razão dessas inovações, os autores passaram,
ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato não for publi- por sua vez, a comentar em crise na noção de serviço público. Ho-
cado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90). diernamente, os critérios anteriormente mencionados continuam
sendo utilizados para definir serviço público, porém, não é exigido
que os três elementos se façam presentes ao mesmo tempo para
SERVIÇOS PÚBLICOS: CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, que o serviço possa ser considerado de utilidade pública, passan-
REGULAMENTAÇÃO E CONTROLE; FORMA, MEIOS E do a existir no campo doutrinário diversas definições, advindas do
REQUISITOS; DELEGAÇÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO, uso isolado de um dos elementos ou da combinação existente entre
AUTORIZAÇÃO eles.
Registra-se, que além da enorme variedade de definições ad-
Conceito vindas da combinação dos critérios subjetivo, material e formal, é
de suma importância compreendermos que o vocábulo “serviço
De modo geral, não havendo a existência de um conceito legal
público” pode ser considerado sob dois pontos de vista, sendo um
ou constitucional de serviço público, a doutrina se encarregou de
subjetivo e outro objetivo. Façamos um breve estudo de cada um
buscar uma definição para os contornos do instituto, ato que foi re-
deles:
alizado com a adoção, sendo por algumas vezes isolada, bem como
em outras, de forma combinadas, vindo a utilizar-se dos critérios
Sentido objetivo
subjetivo, material e formal. Vejamos a definição conceitual de cada
Infere-se que tal expressão é usada para fazer alusão ao sujeito
em deles:
responsável pela execução da atividade. Exemplo: determinada au-
tarquia com o dever de prestar de serviços para a área da educação.
Critério subjetivo
Aduz que o serviço público se trata de serviço prestado pelo Sentido objetivo ou material
Estado de forma direta. Nesse sentido, a administração pública está coligada à diversas
atividades que são exercidas pelo Estado, por intermédio de seus
Critério material agentes, órgãos e entidades na diligência eficaz da função adminis-
Sob esse crivo, serviço público é a atividade que possui como trativa estatal.
objetivo satisfazer as necessidades coletivas. Destaque-se, por oportuno, que o vocábulo serviço público
sempre está se referindo a uma atividade, ou, ainda, a um conjunto
Critério formal de atividades a serem exercidas, sem levar em conta qual o órgão
Segundo esse critério, serviço público é o labor exercido sob ou a entidade que as exerce.
o regime jurídico de direito público denegridor e desmesurado do Mesmo com os aspectos expostos, boa parte da doutrina ain-
direito comum. da usa de definições de caráter amplo e restrito do vocábulo ser-
viço público. Para alguns, tal vocábulo se presta a designar todas
Passando o tempo, denota-se que o Estado foi se distanciando as funções do Estado, tendo em vista que nesse rol estão inclusas
dos princípios liberais, passando a desenvolver também atividades as funções administrativa, legislativa e judiciária. Já outra corrente
comerciais e industriais, que, diga se de passagem, anteriormente doutrinária, utiliza-se de um conceito com menor amplitude, vindo
eram reservadas somente à iniciativa privada. De outro ângulo, foi a incluir somente as funções administrativas e excluindo, por sua
verificado em determinadas situações, que a estrutura de organiza- vez, as funções legislativa e judiciária. Destarte, infere-se que den-
ção do Estado não se encontrava adequada à execução de todos os tre aquelas doutrinas que adotam um sentido mais restrito, existem
serviços públicos. Por esse motivo, o Poder Público veio a delegar ainda as que excluem do conceito atividades importantes advindas
a particulares com o intuito de responsabilidade, a prestação de al- do exercício do poder de polícia, de intervenção e de fomento.

35
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Denota-se com grande importância, que o direito brasileiro Subjetivo: Por meio do qual o serviço público está sempre sob
acaba por diferenciar de forma expressa o serviço público e o poder a total responsabilidade do Estado. No entanto, registra-se que ao
de polícia. Em campo tributário, por exemplo, no disposto em seus Estado como um todo, é permitido delegar determinados serviços
arts. 77 e 78, o Código Tributário Nacional dispõe do ensino e deter- públicos, desde que sempre por intermediação dos parâmetros da
minação de duas atuações como fatos geradores diversos do tribu- lei e sob regime de concessão ou permissão, bem como por meio de
to de nome taxa. Nesse diapasão de linha diferenciadora, a ESAF, na licitação. Denota-se que nesse caso, é o próprio Estado que escolhe
aplicação da prova para Procurador do Distrito Federal/2007, veio os serviços que são considerados serviços públicos. Como exem-
a considerar como incorreta a afirmação: “o exercício da atividade plo, podemos citar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica,
estatal de polícia administrativa constitui a prestação de um serviço dentre outros serviços pertinentes à Administração Pública. Esse
público ao administrado”. elemento determina que o serviço público deve ser prestado pelo
De forma geral, a doutrina entende que os elementos subjetivo, Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pessoas jurídi-
material e formal tradicionalmente utilizados para definir serviço cas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a terceiros
público, continuam de forma ampla a servir a esse propósito, desde para que possam prestá-lo.
que estejam combinados e harmonizados com o fito de acoplar de
forma correta, as contemporâneas figuras jurídicas que vêm sendo Formal: A princípio, o regime jurídico é de Direito Público, ou
inseridas e determinadas pelo legislador com força de lei, com o parcialmente público, sob o manto do qual o serviço público deverá
fulcro de oferecer conveniência e utilidades, bem como de atender ser prestado. No entanto, quando particulares prestam seus servi-
as constantes necessidades da população que sempre acontecem ços em conjunto com o Poder Público, ressalta-se que o regime ju-
de forma mutante, a exemplo das parcerias público-privadas, das rídico é considerado como híbrido. Isso por que nesse caso, poderá
OSCIPs e organizações sociais. haver a permanência do Direito Público ou do Direito Privado nos
Nesse sentido, com o objetivo de reinterpretar o elemento ditames da lei. Porém, em ambas as situações, a responsabilidade
subjetivo em consonância com o atual estágio de evolução do di- será sempre objetiva.
reito administrativo, podemos afirmar que a caracterização de um
serviço como público, em tempos contemporâneos passou a não Material: Por intermédio desse elemento, o serviço público de-
exigir mais que a prestação seja realizada pelo Estado, mas apenas verá sempre prestar serviços condizentes a uma atividade de inte-
que ele passe a deter, nos termos legais dispostos na Constituição resse público como um todo. Denota-se que por meio da aplicação
Federal de 1988, a titularidade de tal serviço. Em relação a esse desse elemento, o objetivo do serviço público será sempre o de sa-
aspecto, destacamos a importância de não vir a confundir a expres- tisfazer de forma concreta as necessidades da coletividade.
siva titularidade do serviço com sua efetiva prestação. Registe-se Esquematizando, temos:
que o titular do serviço, trata-se do sujeito que detém a atribuição
legal constitucional para vir a prestá-lo. Via de regra, aquele que de- Elementos constitutivos dos serviços públicos
tém a titularidade do serviço não se encontra obrigado a prestá-lo
de forma direta através de seus órgãos, mas tem o dever legal de Subjetivo - determina que o serviço público deve ser presta-
promover-lhe a prestação, de forma direta por meio de seu aparato do pelo Estado ou pelos seus entes delegados, ou seja, por pesso-
administrativo, ou, ainda, mediante a legal delegação a particulares as jurídicas criadas pelo Estado ou por concessões e permissões a
realizada por meio de concessão, permissão ou autorização. terceiros para que possam prestá-lo.
De maneira igual, contemporaneamente, o critério material
considerado de forma isolada não é suficiente para definir um ser- Formal - o regime jurídico é de Direito Público, ou parcial-
viço como público. Isso ocorre pelo fato de existirem determinadas mente público, sob o manto do qual o serviço público deverá ser
atividades relativas aos direitos sociais como saúde e educação, por prestado.
exemplo, que apenas podem ser enquadradas no conceito quando
forem devidamente prestadas pelo Estado, levando em conta que Material - o serviço público deverá sempre prestar serviços
a execução desses serviços por particulares deve ser denominada condizentes a uma atividade de interesse público como um todo.
como serviço privado.
Finalmente, em relação ao critério formal, nos tempos moder- Subjetivo - é o próprio Estado que escolhe os serviços que
nos, infere-se que não é mais necessário que o regime jurídico ao são considerados serviços públicos. Como exemplo, podemos ci-
qual está submetido o serviço público seja realizado de maneira in- tar: os Correios, a radiodifusão e a energia elétrica, dentre outros
tegral de direito público, sendo que em algumas situações, acaba serviços pertinentes à Administração Pública.
existindo um sistema híbrido que é formado por regras e normas
de direito público e privado, principalmente em se tratando de caso Formal - poderá haver a permanência do Direito Público ou
de serviços públicos nos quais sua prestação tenha sido delegada a do Direito Privado nos ditames da lei. Porém, em ambas as situa-
terceiros. ções, a responsabilidade será sempre objetiva.
Observação importante: Com o entendimento acima mencio- Material - por meio da aplicação desse elemento, o objetivo
nado, a ilustre Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro acaba por do serviço público será sempre o de satisfazer de forma concreta
definir serviço público como sendo toda a atividade material que a as necessidades da coletividade.
lei atribui ao Estado, para que este a exerça de forma direta ou por
intermédio de seus delegados, com o condão de satisfazer de forma
concreta as necessidades da coletividade, sob regime jurídico total
ou parcialmente público.

Elementos Constitutivos
Os elementos do serviço público podem ser classificados sob os
seguintes aspectos:

36
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Regulamentação e Controle Considera-se que a Lei Federal 8.987/1995, em obediência ao
Tanto a regulamentação quanto o controle do serviço público mandamento constitucional foi editada estabelecendo normas ge-
são realizados de maneira regular pelo Poder Público. Isso ocorre neralizadas como um todo em matéria de concessão e permissão
em qualquer sentido, ainda que o serviço esteja delegado por con- de serviços públicos, devendo tais normas, ser aplicáveis à União,
cessão, permissão ou autorização, uma vez que nestas situações, Estados, Distrito Federal e Municípios, da mesma forma que a Lei
deverá o Estado manter sua titularidade e, ainda que haja situações Federal 9.074/1995, que, embora tenha o condão de estipular re-
adversas e problemas durante a prestação, poderá o Poder Público gras especificamente voltadas a serviços de competência da União,
interferir para que haja a regularização do seu funcionamento, com trouxe também em seu bojo, pouquíssimas regras gerais que po-
fundamento sempre na preservação do interesse público. dem ser aplicadas a todos os entes federados.
Ressalta-se que esses serviços são controlados e também fisca- Em relação à forma de prestação dos serviços públicos, depre-
lizados pelo Poder Público, que deve intervir em caso de má pres- ende-se que estes podem ser prestados de forma centralizada ou
tação, sendo que isso é uma obrigação que lhe compete segundo descentralizada, sendo a primeira forma caracterizada quando o
parâmetros legais. serviço público for prestado pela própria pessoa jurídica federativa
A esse respeito, dispõe a Lei 8997 de 1995 em seus arts. 3º e que detém a sua titularidade e a segunda forma, quando, em várias
32, respectivamente: situações, o ente político titular de determinado serviço público,
Art. 3º. As concessões e permissões sujeitar-se-ão à fiscalização embora continue mantendo a sua titularidade, termina por transfe-
pelo poder concedente responsável pela delegação, com a coopera- rir a pessoas diferentes e desconhecida à sua estrutura administra-
ção dos usuários. tiva, a responsabilidade pela prestação.
Art. 32. O poder concedente poderá intervir na concessão, com Lembremos que o ente político, mesmo ao transferir a respon-
o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como sabilidade pela prestação de serviços públicos a terceiros, sempre
o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares e le- poderá conservar a sua titularidade, fato que lhe garante a manu-
gais pertinentes. tenção da competência para regular e controlar a prestação dos
serviços delegados a outrem.
Deve-se registrar também, que outro aspecto que deve ser en- A descentralização dos serviços públicos pode ocorrer de duas
fatizado com destaque em relação à regulamentação e ao contro- maneiras:
le dos serviços públicos, são os requisitos do serviço e direito dos 1. Por meio de outorga ou delegação legal: por meio da qual o
usuários, sendo que o primeiro deles é a permanência, que possui Estado cria uma entidade que poderá ser autarquia, fundação pú-
como atributo, impor a continuidade do serviço. Logo após, temos blica sociedade de economia mista ou empresa pública, transferin-
o requisito da generalidade, por meio do qual, os serviços devem do-lhe, por meios legais a execução de um serviço público.
ser prestados de maneira uniforme para toda a coletividade. Em se- 2. Por meio de delegação ou delegação negocial: por intermé-
guida, surge o requisito da eficiência, por intermédio do qual é exi- dio da qual, o Poder Público detém o poder de transferir por contra-
gida a eficaz atualização do serviço público. Em continuidade, vem to ou ato unilateral a execução ampla do serviço, desde que o ente
a modicidade, por meio da qual, infere-se que as tarifas que são co- delegado preste o serviço em nome próprio e por sua conta e risco,
bradas dos usuários devem ser eivadas de valor razoável e por fim, sob o controle do Estado e dentro da mesma pessoa jurídica.
a cortesia, que por seu intermédio, entende-se que o tratamento Esclarece-se ainda, a título de conhecimento, que a delegação
com o usuário público em geral, deverá ser oferecido com presteza. negocial admite a titularidade exclusiva do ente delegante sobre
Havendo descumprimento de quaisquer dos requisitos retro o serviço a ser delegado. Em se tratando de serviços nos quais a
mencionados, afirma-se que o usuário do serviço terá em suas mãos titularidade não for exclusiva do Poder Público, como educação e
o direito pleno de recorrer ao Poder Judiciário para exigir a correta saúde, por exemplo, o particular que tiver a pretensão de exercê-lo
prestação desses serviços. Neste mesmo sentido, destaca-se que a não estará dependente de delegação do Estado, uma vez que tais
greve de servidores públicos, não poderá jamais ultrapassar o direi- atos de exercício de educação e saúde, quando forem prestados por
to dos usuários dos serviços essenciais, que se tratam daqueles que particulares, não serão mais considerados como serviços públicos,
por decorrência de sua natureza, colocam a sobrevivência, a vida e mas sim como atividade econômica da iniciativa privada.
a segurança da sociedade em risco se estiverem ausentes. Em outras palavras, os serviços públicos podem ser executados
nas formas:
Formas de prestação e meios de execução Direta: Quando é prestado pela própria administração pública
O art. 175 da Constituição Federal de 1988 determina, que por intermédio de seus próprios órgãos e agentes.
compete ao Poder Público, nos parâmetros legais, de forma direta Indireta: Quando o serviço público é prestado por intermé-
ou sob regime de concessão ou permissão a prestação de serviços dio de entidades da Administração Pública indireta ou, ainda, de
públicos de forma geral. De acordo com esse mesmo dispositivo, as particulares, por meio de delegação, concessão, permissão e au-
concessões e permissões de serviços públicos deverão ser sempre torização. Esta forma de prestação de serviço, deverá ser sempre
precedidas de licitação. sobrepujada de licitação, formalizada por meio de contrato admi-
Entretanto, o parágrafo único do art. 175 da Carta Magna dis- nistrativo, seguida de adesão com prazo previamente estipulado
põe a implementação de lei para regulamentar as seguintes refe- e que por ato bilateral, buscando somente transferir a execução,
rências: porém, jamais a titularidade que deverá sempre permanecer com
I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias o poder outorgante.
de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão;
II – os direitos dos usuários;
III – política tarifária;
IV – a obrigação de manter serviço adequado.

37
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em resumo, temos: Já a concessão de serviço público antecedida de execução de
obra pública pode ser como “a construção, total ou parcial, conser-
vação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de
interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante licita-
ção, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio
de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por
sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária
seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço
ou da obra por prazo determinado” (art. 2º, III). Como hipótese de
exemplo, citamos a concessão a particular, vitorioso de processo
licitatório por construção e conservação de rodovia, com o conse-
quente pagamento realizado mediante a cobrança de pedágio aos
Transferência da execução do particulares que vierem a utilizar da via.
DESCENTRALIZAÇÃO serviço para outra pessoa física ou Pondera-se que a diferença entre as duas modalidades de con-
jurídica. cessão comum está apenas no objeto. Perceba que na concessão
simples, o objeto do contrato é somente a execução de atividade
Divisão interna do serviço com que foi caracterizada como sendo serviço público, ao passo que na
DESCONCENTRAÇÃO outros órgãos da mesma pessoa ju- concessão de serviço público antecedida da execução de obra pú-
rídica. blica existe uma duplicidade de objeto, sendo que o primeiro deles
se refere ao ajuste existente entre o poder concedente e o conces-
Delegação sionário para que certa obra pública seja executada. Em relação ao
Concessão segundo, a prestação do serviço público existe na exploração am-
Ocorre a delegação negocial de serviços públicos mediante: plamente econômica do serviço ou da obra.
concessão, permissão ou autorização.
Nesse tópico, não esgotaremos todas as formas de concessões • Direitos e obrigações dos usuários
existentes e suas formas de aplicação e execução nos serviços públi- Nos ditames do art. 7º da Lei 8.987/1995, os direitos e obriga-
cos, porém destacaremos as mais importantes e mais cobradas em ções dos usuários dos serviços públicos delegados são os seguintes:
provas de concursos públicos e áreas afins. a) Receber serviço adequado;
Conforme o Ordenamento Jurídico Brasileiro, as concessões de b) Receber do poder concedente e da concessionária informa-
serviços públicos podem ser divididas em duas espécies: ções para a defesa de interesses individuais ou coletivos;
1ª) Concessões comuns, que estão sob a égide das leis c) Obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre
8.987/1995 e 9.074/1995 e 2ª, que subdividem em: concessão de vários prestadores de serviços, quando for o caso, observadas as
serviços públicos e concessão de serviço público precedida da exe- normas do poder concedente;
cução de obra pública. d) Levar ao conhecimento do poder público e da concessioná-
2ª) Concessões especiais, que são as parcerias público-privadas ria as irregularidades de que tenham conhecimento, referentes ao
previstas na Lei 11.079/2004, sujeitas a alguns dispositivos da Lei serviço prestado;
8.987/1995. Se subdividindo em duas categorias: concessão patro- e) Comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos prati-
cinada e concessão administrativa. cados pela concessionária na prestação do serviço;
A concessão comum de serviço público é uma modalidade de f) Contribuir para a permanência das boas condições dos bens
contrato administrativo por intermédio do qual a Administração Pú- públicos pelos quais lhes são prestados os serviços.
blica transfere delegação a pessoa jurídica ou, ainda, a consórcio de Ademais, as concessionárias de serviços públicos, de direito
empresas a execução de certo serviço público pertencente à sua público e privado, nos Estados e no Distrito Federal, são legalmente
titularidade, na qual o concessionário é obrigado, por meio de con- obrigadas a dispor ao consumidor e ao usuário, desde que dentro
tratos legais a executar o serviço delegado em nome próprio, por do mês de vencimento, o mínimo de seis datas como opção para
sua conta e risco, sendo sujeito a controle e fiscalização do poder escolherem os dias de vencimento de seus débitos a serem adim-
concedente e remunerado através de tarifa paga pelo usuário ou plidos, nos termos do art. 7º-A, da Lei 8.987/1995.
outra modalidade de remuneração advinda da exploração do ser- 1. Serviço adequado
viço. Exemplo: as receitas adquiridas por empresas de transporte Os usuários detêm o direito de receber um serviço público
coletivo que cobram por comerciais constantes na parte traseira adequado. Esse direito encontra-se regulamentado pelo seguinte
dos ônibus. dispositivo:
Conforme mencionado, existem duas modalidades de conces-
são comum, quais sejam: a concessão de serviço público, também Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação
conhecida como concessão simples e a concessão de serviço públi- de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, confor-
co antecedida de execução por meio de obra pública. me estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
A concessão de serviço público ou concessão simples, pode ser contrato.
definida pela lei como a “delegação da prestação de serviço público, § 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regula-
feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de ridade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalida-
concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que de- de, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
monstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e
por prazo determinado” (art. 2º, II). Denota-se que além do conhecimento da previsão no citado
dispositivo, é importante compreendermos o significado prático de
cada condição citada, com o objetivo de garantir que cada exigência
legal seja cumprida para a qualificação do serviço como adequado.
Desta forma, temos:

38
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
1 – Regularidade: exige que os serviços públicos sejam presta- Cláusulas do contrato de concessão
dos de forma a garantir a estabilidade e a manutenção dos requi- Nos ditames dos arts. 23 e 23-A da Lei 8.987/1995, as cláusu-
sitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia com a lei e las do contrato de concessão tratam de modo geral sobre o modo,
com o regulamento que disciplina a matéria. a forma e as condições de prestação dos serviços; os direitos e as
2 – Continuidade: impõe que o serviço público, uma vez insti- obrigações do concedente, do concessionário e dos usuários; os po-
tuído, seja prestado de forma permanente e sem interrupção, com deres de fiscalização do concedente; a obrigação do concessionário
exceção de situações de emergência, bem como a que advém de de prestar contas; ou e disciplinam aspectos relativos à extinção da
razões de ordem técnica ou de segurança das instalações elétricas, concessão.
por exemplo. Infere-se que as cláusulas podem ser divididas em: cláusulas
3 – Eficiência: refere-se à obtenção de resultados eficazes na essenciais obrigatórias em qualquer contrato de concessão, quer
prestação do serviço público, exigindo que o serviço seja realiza- seja concessão simples, quer seja concessão de serviço público pre-
do de acordo com uma adequada relação de custo/benefício, para, cedida de obra pública, cláusulas obrigatórias apenas nos contratos
com isso, evitar desperdícios. de concessão de serviço público precedida da execução de obra pú-
4 – Segurança: deverão os serviços públicos respeitar padrões, blica e cláusulas facultativas. Vejamos, em síntese:
bem como normas de segurança, de forma a preservar a integri-
dade da população de modo geral e dos equipamentos utilizados. (São obrigatórias nas concessões):
5 – Atualidade: possui como foco o impedimento de que o I – objeto, área e prazo da concessão;
prestador se encontre alheio às inovações tecnológicas, suprimindo II – modo, forma e condições de prestação do serviço;
o investimento em termos de disponibilização aos usuários das me- III – critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores
lhorias de qualidade e amplitude do serviço. da qualidade do serviço;
6 – Generalidade: deve oferecer a garantia de que o serviço IV – preço do serviço, critérios e procedimentos para o reajuste
seja ofertado da forma mais abrangente possível. e a revisão das tarifas;
7 – Cortesia: o prestador do serviço deverá tratar o usuário de
V – direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da
forma educada e gentil.
concessionária, inclusive os relacionados às previsíveis necessida-
8 – Modicidade das tarifas: aduz que o valora a ser pago pela
des de futura alteração e expansão do serviço e consequente mo-
prestação dos serviços, deverá, nos parâmetros legais, ser estabe-
dernização, aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e das
lecido de acordo com os padrões de razoabilidade, buscando evitar
que os prestadores de serviços venham o obter lucros extraordiná- instalações;
rios causando prejuízo aos usuários econômico-financeiros do con- VI – direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização
trato firmado com a administração. do serviço;
VII – forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos,
Observação importante: A celebração de qualquer espécie de dos métodos e práticas de execução do serviço, bem como a indi-
contrato de concessão ou permissão de serviço público deve ser cação dos órgãos competentes para exercê-la; simples e nas con-
realizada mediante licitação, conforme previsto no art. 175 da Cons- cessões de serviço público precedida da execução de obra pública
tituição Federal. Concernente às concessões, a Lei 8.987/1995 de- (art. 23,caput);
terminou que a delegação dependerá da realização de prévio pro- VIII – penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita
cedimento licitatório para que seja escolhido o concessionário, na a concessionária e sua forma de aplicação;
modalidade obrigatória da concorrência. Sendo a modalidade licita- IX – casos de extinção da concessão;
tória regulada pela Lei de Licitações e Contratos, Lei 8.666/1993, e X – bens reversíveis;
tema dos próximos tópicos de estudo, mais adiante, detalharemos XI – critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indeni-
com maior aprofundamento sobre este importante tema. zações devidas à concessionária, quando for o caso;
XII – condições para prorrogação do contrato;
Passemos a abordar a respeito do prazo que a Administração XIII – à obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de
Pública permite à concessão na execução dos serviços públicos contas da concessionária ao poder concedente;
como um todo. A Lei 8.987/1995 estabelece que a concessão sim- XIV – exigência da publicação de demonstrações financeiras
ples de serviço público ou a concessão de serviço público prece- periódicas da concessionária; e
dida de obra pública deverá ser realizada por prazo determinado, XV – o foro e o modo amigável de solução das divergências con-
mas não define quais seriam os limites desse prazo. Assim sendo, tratuais.
caberá à lei reguladora específica de cada serviço público, devida-
mente editada pelo ente federado detentor de competência para Cláusulas obrigatórias somente nas concessões de serviços
prestá-lo, aditar definindo qual o prazo de duração do contrato de públicos precedidas de obras públicas (art. 23, parágrafo único)
concessão. Caso o legislador competente não estabeleça qualquer
I – estipular os cronogramas físico-financeiros de execução das
prazo, deverá, por conseguinte, o poder concedente fixá-lo no ato
obras vinculadas à concessão; e
da minuta do contrato de concessão, que se encontra afixado como
II – exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,
anexo no edital da licitação. Denota-se que o prazo deve ser razo-
das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.
ável, de forma a permitir o abatimento dos investimentos a serem
realizados pelo concessionário.
Referente às concessões advindas de parceria público-priva- Cláusulas facultativas (art. 23-A)
da, infere-se que a vigência de tais contratos deverá ser sempre I – o contrato de concessão poderá prever o emprego de meca-
compatível com o abatimento dos investimentos realizados, não nismos privados para resolução de disputas decorrentes ou relacio-
podendo ser sendo inferior a 5 e nem superior a 35 anos, já restan- nadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil
do-se incluído nesse prazo eventual prorrogação nos termos da Lei e em língua portuguesa, nos termos da Lei 9.307, de 23.09.1996;
11.079/2004, art. 5º, I. II – qualquer outra que não seja obrigatória.

39
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
É importante, demonstrar que o contrato de concessão é firma- D) A concessionária perder as condições econômicas, técnicas
do tendo em vista, não apenas oferecimento da melhor proposta, ou operacionais para manter a adequada prestação do serviço con-
mas incluindo também as características referentes à pessoa con- cedido; a concessionária não cumprir as penalidades impostas por
tratada, devendo o concessionário demonstrar capacidade técnica infrações, nos devidos prazos;
e econômico-financeira que faça haver a presunção de que haverá E) A concessionária não atender a intimação do poder conce-
a perfeita execução do serviço. A esse aspecto, a doutrina deno- dente no sentido de regularizar a prestação do serviço; e
mina de contrato firmado intuitu personae, que se trata da prática F) A concessionária não atender a intimação do poder conce-
de eventual transferência da concessão para outra pessoa jurídica, dente para, em 180 dias, apresentar a documentação relativa à re-
bem como do controle societário da concessionária, sem prévia avi- gularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da Lei
so ou autorização do poder concedente, vindo a implicar a caduci- 8.666, de 21.06.1993.
dade que nada mais é do que a extinção da concessão.
3 – Rescisão
Intervenção na concessão De acordo com a Lei 8.987/1995 a rescisão é a forma de ex-
A intervenção na concessão encontra-se submetida a um pro- tinção da concessão, por iniciativa da respectiva concessionária,
cedimento formal. De antemão, o poder concedente, por meio de quando esta se encontrar motivada pelo descumprimento de nor-
ato do Chefe do Poder Executivo, ao tomar conhecimento da falta mas contratuais advindas do poder concedente, nos ditames do art.
de adequação da prestação do serviço ou do descumprimento pela 39. Nesta hipótese, sendo a autoexecutoriedade privilégio aplicável
concessionária das normas pertinentes, edita o decreto de inter- somente à Administração Pública, para que o concessionário possa
rescindir o contrato de concessão, deverá fazê-lo por intermédio de
venção que deverá conter a designação do interventor, o prazo da
ação judicial, sendo que os serviços prestados pela concessionária
intervenção e os objetivos e limites da medida nos ditames do le-
não deverão ser interrompidos e nem mesmo paralisados em hi-
gais pertinentes.
pótese alguma, até que a decisão judicial que determine a rescisão
Declarada a intervenção por intermédio de decreto, o poder
transite em julgado.
concedente deverá, no prazo de até 30 dias, realizar a instauração
de procedimento administrativo com o fito de comprovar as causas 4 – Anulação
determinadas na medida e apurar as responsabilidades. Esse proce- Trata-se de hipótese de extinção do contrato de concessão em
dimento administrativo deverá ser concluído em até 180 dias, sob decorrência de vício de legalidade, que pode, via de regra, ser de-
pena de ser considerada inválida a intervenção, nos termos do art. clarado por via administrativa ou judicial.
33, § 2º da Lei 8987/95.
5 – Falência ou extinção da empresa concessionária e faleci-
Extinção da concessão mento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual
A concessão pode ser extinta por várias causas, colocando A Lei 8.987/1995, embora a Lei 8.987/95 mencione esse tópico
fim à prestação dos serviços pelo concessionário. O art. 35 da Lei como formas de extinção da concessão no art. 35, VI, nada dispõe
8.987/1995, prevê de forma expressa algumas causas de extinção em relação aos efeitos dessas hipóteses de extinção. No entendi-
da concessão. Sendo elas: o advento do termo contratual; a encam- mento de José dos Santos Carvalho Filho, tais fatos acabam por
pação; a caducidade; a rescisão; a anulação; e a falência ou extinção provocar a extinção de pleno direito do contrato, pelo fato de que
da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titu- tornam inviável a execução do serviço público objeto do ajuste.
lar, em se tratando de empresa individual.
Pondera-se que além das causas anteriores, previstas na legis- 6 – Desafetação do serviço público
lação e adotadas pela doutrina, a extinção da concessão de serviço A Lei 8.987/1995 não se refere e nem minucia a desafetação
público também pode ocorrer por: desafetação do serviço; distrato; de serviço público como causa de extinção da concessão. Entretan-
ou renúncia da concessionária. to, no entender de Diógenes Gasparini, a desafetação do serviço
Vejamos: público em decorrência de lei também é hipótese de extinção da
concessão, tendo em vista que a desafetação ocorre no momento
1 – Encampação (ou resgate) em que uma lei torna público um serviço.
Consiste na extinção da concessão em decorrência da retoma-
da do serviço pelo poder concedente durante o prazo da concessão, 7 – Distrato (acordo)
Mesmo não havendo referência legal à extinção da concessão
por motivos de interesse público.
por intermédio de acordo ou distrato entre o poder concedente e
a concessionária, esta hipótese não foi vedada pela legislação. Por
2 – Caducidade (ou decadência)
esse motivo, boa parte da doutrina vem admitindo a extinção an-
Consiste na extinção do contrato de concessão de serviço pú-
tecipada da concessão de forma amigável e também consensual.
blico em decorrência de inexecução total ou parcial do contrato,
por razões que devem ser imputadas à concessionária. Poderá ser 8 – Renúncia da concessionária
declarada pelo poder concedente pelas seguintes maneiras, nos Nesse caso, a lei também não menciona essa hipótese como
termos do art. 38, § 1º, I a VII: maneira de extinção da concessão. Porém, o ilustre Diogo de Figuei-
A) O serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou redo Moreira Neto, a renúncia da concessionária será aceita como
deficiente, tendo por base as normas, critérios, indicadores e parâ- forma de extinção da concessão, a partir do momento em que hou-
metros definidores da qualidade do serviço; ver previsão contratual nesse sentido vindo a disciplinar-lhe as de-
B) A concessionária descumprir cláusulas contratuais ou dispo- vidas consequências.
sições legais ou regulamentares concernentes à concessão;
C) A concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tan-
to, ressalvadas as hipóteses decorrentes de caso fortuito ou força
maior;

40
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nota importante acerca da concessão: Direcionado à segunda observação a ser feita, trata-se de uma
• Outro efeito da extinção da concessão é a assunção imediata relação à precariedade do vínculo, que de antemão, pode vir a ser
do serviço pelo poder concedente, ficando este autorizado a ocupar extinto a qualquer tempo, havendo ou não indenização. Registra-
as instalações e a utilizar todos os bens reversíveis, tendo em vista a se que o texto da lei acabou por usar designação imprópria de re-
necessidade de dar continuidade à prestação do serviço público nos vogação do contrato, tendo em vista que este não é revogado, é
parâmetros do art. 35, §§ 2º e 3º. rescindido, o que se dá de forma contrária do ato administrativo
• Independente da causa da extinção da concessão, os bens re- que é sujeito à revogação. De qualquer maneira, a precariedade do
versíveis que ainda não se encontrem amortizados ou depreciados vínculo encontra-se relacionada à possibilidade de extinção sem o
deverão ser indenizados ao concessionário, sob pena de, se não o pagamento de indenização.
fizer, haver enriquecimento sem causa do poder concedente. Pondera-se que todo e qualquer tipo de contrato administra-
tivo, desde que esteja justificado pelo interesse público, pode ser
Permissão rescindido de forma unilateral pela Administração Pública, não con-
O art. 175 da Constituição Federal Brasileira determina que figurando esse aspecto apenas uma particularidade do contrato de
“incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob permissão de serviços públicos.
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a Infere-se que quando a rescisão do contrato de concessão não
prestação de serviços públicos”. for causada pelo concessionário, acarretará em direito a percepção
Passível de observação, o ditado dispositivo constitucional não de indenização pelos prejuízos sofridos, uma vez que a concessão é
faz nenhum tipo de referência relativa à autorização de serviços pú- impreterivelmente celebrada por prazo certo. No tocante à permis-
blicos. Entretanto, denota-se que existe a admissão da delegação são, existem contradições, pois existem doutrinadores que enten-
de serviços públicos por intermédio de autorização com fulcro nos dem que a permissão sempre ocorre, via de regra, por prazo certo
art. 21, XI e XII, e art. 223 da Constituição Federal. Desta forma, e determinado, ao passo que outros doutrinadores defendem que
infere-se que a delegação de serviços públicos pode ser realizada a permissão ocorre, de antemão, por prazo indeterminado, porém,
por meio de concessão, permissão ou autorização. Tratada anterior- também admitem que ocorre prazo determinado, desde que tal
mente, passemos a explorar os demais institutos. dispositivo esteja fixado no edital da correspondente licitação. Essa
Infere-se que a Lei 8.987/1995 não traz em seu bojo muitos última posição, é a que a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro
dispositivos relacionados à permissão de serviços públicos, vindo defende, para quem a fixação de prazo de vigência da permissão faz
a limitar-se a estabelecer o seu conceito. A permissão de serviço com que desapareçam as diferenças existentes entre os institutos
público, nos ditames da lei, pode ser conceituada como “a delega- da permissão e da concessão. Por conseguinte, em se tratando da
ção, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços permissão por prazo determinado, ressalta-se que não existe a pre-
públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que cariedade do vínculo, vindo, desta forma, o permissionário obter o
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e ris- direito de indenização quando não der causa à rescisão deste.
co” (art. 2º, IV). Já o art. 40 da mesma Lei dispõe:
Art. 40. A permissão de serviço público será formalizada me- Em síntese, vejamos as principais características da concessão
diante contrato de adesão, que observará os termos desta Lei, das e da permissão de serviços públicos:
demais normas pertinentes e do edital de licitação, inclusive quanto
à precariedade e à revogabilidade unilateral do contrato pelo poder PERMISSÃO DE CONCESSÃO DE
concedente. SERVIÇO PÚBLICO SERVIÇO PÚBLICO
Proveniente do exposto, podemos expor com destaque as prin-
cipais características da permissão de serviço público. São elas: • Forma de delegação de
a) É uma forma de delegação de serviços públicos; serviço público; • Forma de delegação de
b) Deve ser precedida de licitação pública, mas a Lei não de- • Depende de licitação, serviço público;
termina a modalidade licitatória a ser seguida (diferencia-se da mas a lei não • Depende de licitação na
concessão de serviço público que exige a licitação na modalidade • Predetermina a modali- modalidade obrigatória da con-
concorrência); dade licitatória; corrência;
c) É formalizada por meio de um contrato de adesão, de natu- • Possui natureza precária, • Não possui natureza pre-
reza precária, uma vez que a lei prevê que pode ser revogado de havendo controvérsias na dou- cária;
maneira unilateral pelo poder concedente (diferencia-se das con- trina; • Os concessionários só
cessões de serviço público que não possuem natureza precária); e • Os permissionários po- podem ser pessoa jurídica ou
d) Os permissionários podem ser pessoas físicas ou jurídicas dem ser pessoa física ou pessoa consórcio de empresas.
(diferencia-se das concessões de serviço público em razão de os jurídica.
concessionários somente poderem ser pessoa jurídica ou consórcio
de empresas). Autorização
Por motivos importantes relacionados às características ante- De acordo com o entendimento da doutrina, a autorização se
riores, destacamos algumas observações. constitui em ato administrativo unilateral, discricionário e precário
Relativo a primeira, aduz-se que todo contrato administrativo por intermédio do qual, o poder público detém o poder de delegar
é um contrato de adesão, posto que a minuta do contrato deve ser a execução de um serviço público de sua titularidade, possibilitando
redigida pela Administração, bem como integra todos os anexos do que o particular o realize em seu próprio benefício. Nos ditames
edital de licitação apresentado. Desta maneira, aquele que vence a de Hely Lopes Meirelles, “serviços autorizados são aqueles que o
licitação e, por sua vez, assina o contrato, passa a aderir somente ao Poder Público, por ato unilateral, precário e discricionário, consente
que foi estipulado pela Administração Pública, não podendo haver na sua execução por particular para atender a interesses coletivos
discussões sobre as cláusulas contratuais. Assim ocorrendo, tanto a instáveis ou emergência transitória”.
concessão quanto a permissão de serviço público estarão se cons-
tituindo em contrato de adesão, sendo que essa circunstância, não
serve para diferenciar os dois institutos.

41
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Depreende-se que a autorização de serviço público não é de- Hely Lopes Meirelles ensina que serviços próprios do Estado
pendente de licitação, posto que esta somente é exigível para a rea- “são aqueles que se relacionam intimamente com as atribuições do
lização de contrato. Sendo a autorização ato administrativo, enten- Poder Público, como: segurança, polícia, higiene e saúde públicos
de- se que não deverá ser precedida de procedimento licitatório. etc., sendo que para a execução destes, a Administração utiliza de
Entretanto, se houver uma quantidade limitada de autorizações a seu poder de hierarquia sobre os administrados. Por esse motivo,
serem fornecidas e existindo determinada pluralidade de possíveis infere-se que só devem ser prestados por órgãos ou entidades pú-
interessados, em atendimento ao princípio da isonomia, é neces- blicas, sem delegação a particulares”. Por sua vez, os serviços im-
sário que se faça um processo seletivo para facilitar a escolha dos próprios do Estado “são os que não afetam substancialmente as ne-
entes que serão autorizados pelo Poder Público. cessidades da comunidade, mas satisfazem interesses comuns de
Caso o ato de autorização seja precário, pode de antemão, ser seus membros, e, por isso, a Administração os presta remunerada-
revogado a qualquer tempo, desde que seja por motivo de interesse mente, por seus órgãos ou entidades descentralizadas (autarquias,
público, suprimindo o direito à indenização por parte do eventual empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações go-
prejudicado. No entanto, a exemplo de exceção, existindo estabele- vernamentais), ou delega sua prestação a concessionários, permis-
cimento de prazo para a autorização, ressalta-se que o vínculo aca- sionários ou autorizatários”.
ba por perder a precariedade, passando a ser cabível o direito de
indenização em se tratando de caso de revogação da autorização. c) Serviços administrativos, econômicos (comerciais ou indus-
Demonstramos, por fim, que embora seja tradição se definir a triais) e sociais
autorização como ato administrativo discricionário, a Lei Geral de São constituídos por atividades promovidas pelo Poder Público
Telecomunicações determina que a autorização de serviço de te- com o fulcro de atender às necessidades internas requeridas pela
lecomunicações é ato administrativo vinculado, nos parâmetros da Administração. Também podem preparar outros serviços que deve-
Lei 9.472/1997, art. 131, § 1º, de forma a não existir possibilidade rão ser prestados ao público, como por exemplo, as estações expe-
de a administração denegar a prática da atividade para os particu- rimentais e a imprensa oficial.
lares que vierem a preencher devidamente as condições objetivas e Nos ditames da lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o serviço
subjetivas necessárias comercial ou industrial é aquele que a Administração Pública exe-
cuta, direta ou indiretamente, com o objetivo de atender às neces-
Classificação sidades coletivas de ordem econômica, tendo como supedâneo no
Existem vários critérios adotados para classificar os serviços, art. 175 da Constituição Federal, a exemplo dos serviços de teleco-
dentre os quais, vale à pena destacar os seguintes: municações, dentre outros.
Já o serviço público social, cuida-se daquele que atende a ne-
a) Serviços públicos propriamente ditos (essenciais) e serviços
cessidades coletivas, em áreas cuja atuação do Estado é considera-
de utilidade pública (não essenciais)
da de caráter essencial, a exemplo dos serviços de educação, saúde
Em relação aos serviços públicos propriamente ditos, afirma-
e previdência. De acordo com a doutrina dominante, tais serviços,
-se que são serviços classificados como essenciais à sobrevivência
quando são prestados pela iniciativa privada não são considerados
da sociedade e do próprio Estado. Como exemplo, podemos citar
como serviços públicos, mas sim como serviços de natureza priva-
o serviço de Polícia Judiciária e Administrativa. Tendo em vista que
da.
tais serviços exigem a prática de atos de império relacionados aos
administrados, denota-se que os mesmos só podem ser prestados
de forma direta pelo Estado, sem a necessidade de delegação a ter- d) Serviços uti singuli (singulares) e uti universi (coletivos)
ceiros. Concernente aos serviços de utilidade pública, aduz-se que Também chamados de serviços singulares ou individuais, os
são aqueles cuja prestação é de bom proveito à coletividade, tendo serviços uti singuli são aqueles cuja finalidade é a satisfação indivi-
em vista que, mesmo que estes visem a facilitação da vida do indiví- dual e direta das necessidades do indivíduo. Esses serviços têm usu-
duo na sociedade como um todo, não são considerados essenciais, ários determinados, sendo, por esse motivo, possível a mensuração
podendo, por esse motivo, ser executados de forma direta pelo Es- de forma individualizada da utilização de cada usuário. São incluí-
tado ou ter sua prestação delegada a particulares. Exemplo: a água dos nessa categoria os serviços de fornecimento de água, energia
tratada, o transporte coletivo, dentre outros. elétrica, telefone, etc. que podem ser remunerados por intermédio
de taxa ou tarifa.
b) Serviços próprios e impróprios Os serviços uti universi, também conhecidos como serviços uni-
A classificação de serviços públicos próprios e impróprios é versais, coletivos ou gerais, são os serviços prestados à coletividade,
apresentada com variações de sentido na doutrina. porém, são usufruídos somente de forma indireta pelos indivíduos.
No entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a doutri- Exemplos: serviço de iluminação pública, defesa nacional, dentre
na clássica classifica como serviços públicos próprios aqueles que, outros. Denota-se que os serviços uti universi, de modo geral são
em decorrência de sua importância, o Estado passa a assumir como prestados a usuários indeterminados e indetermináveis, não sendo
seus e os coloca em execução de forma direta por intermédio de por esse motivo, passíveis de ter seu uso individualizado. Além disso
seus agentes, ou, ainda, indireta que ocorre mediante delegação são custeados através de impostos ou contribuições especiais. Por
a terceiros concessionários ou permissionários. Referente aos ser- esse motivo, o STF editou a Súmula 670 (posteriormente convertida
viços públicos impróprios, são aqueles que, embora atendam às na Súmula Vinculante 41), na qual predomina o entendimento de
necessidades coletivas, não estão sendo executados pelo Estado, que “o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado me-
nas suas formas direta ou indireta, mas estão autorizados, regula- diante taxa”, uma vez que se trata de serviço uti universi.
mentados e fiscalizados pelo Poder Público. Exemplo: as institui-
ções financeiras, de seguro e previdência privada, dentre outros. Por fim, ressalta-se que há uma correlação entre a conceitua-
Entretanto, a própria autora explica que os serviços considerados ção do serviço como uti universi ou uti singuli e o seu custeio, pois,
impróprios pela retro mencionado corrente doutrinária, em sentido quando o serviço é uti singuli, é possível identificar o usuário e men-
jurídico, sequer poderiam ser considerados serviços públicos, tendo cionar a utilização da expressão a “conta” deve ser paga pelo pró-
em vista que a lei não atribui a sua prestação ao Estado. prio usuário, mediante o implemento de taxa, preço ou tarifa. Em se

42
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tratando de serviço uti universi, quando não é possível saber quem b) reserva de lei: o tratamento de determinadas matérias deve
são os usuários de forma individualizada, pois, o usuário é a “coleti- ser formalizado pela legislação, excluindo o uso de outros atos com
vidade”, nem quantificar o uso, a “conta” é paga pela coletividade, caráter normativo.
mediante o recolhimento de impostos ou contribuições especiais. Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado como o
principal conceito para a configuração do regime jurídico-adminis-
Princípios trativo, tendo em vista que segundo ele, a administração pública só
Os princípios jurídicos solidificam os valores fundamentais da poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos executivos,
ordem jurídica. Em razão de sua fundamentalidade e abertura lin- agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De acordo com o
guística, os princípios se espalham sobre todo o sistema jurídico, princípio em análise, todo ato que não possuir base em fundamen-
vindo a garantindo-lhe harmonia e coerência. tos legais é ilícito.
Os princípios jurídicos são classificados a partir de dois crité-
rios. Partindo da amplitude de aplicação no sistema normativo, os Princípio da impessoalidade
princípios podem ser divididos em três espécies: Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
a) Princípios fundamentais: são princípios que representam duas interpretações possíveis:
as decisões políticas de estrutura do Estado, servindo de base para a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Pública
todas as demais normas constitucionais, como por exemplo: prin- deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico aos
cípios republicanos, federativo, da separação de poderes, dentre particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas a
outros; discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II, da
b) Princípios gerais: via de regra, se referem a importantes es- CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao trata-
pecificações dos princípios fundamentais, embora possuam menor mento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram em
grau de abstração e acabam por se espalhar sobre todo o ordena- posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a igualdade
mento jurídico. Exemplos: os princípios da isonomia e da legalidade; material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °, da Lei
c) Princípios setoriais ou especiais: se destinam à aplicação de 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos para
certo tema, capítulo ou título da Constituição. Exemplos: princípios portadores de deficiência.
da Administração Pública dispostos no art. 37 da CRFB: legalidade, b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
Já a segunda classificação, acaba por levar em conta a menção toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
expressa ou implícita dos princípios em seus textos normativos. São educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
eles: 37, § 1.°, da CRFB : “dela não podendo constar nomes, símbolos
a) Princípios expressos: são os que se encontram expressa- ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
mente mencionados no texto da norma. Exemplos: princípios da servidores públicos” .
Administração Pública que são elencados no art. 37 da CRFB);
b) Princípios implícitos: são os reconhecidos pela doutrina e Princípio da moralidade
pela jurisprudência advindo da interpretação sistemática do orde- Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a atua-
namento jurídico. Exemplos: princípios da razoabilidade e da pro- ção administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria. Nesse dia-
porcionalidade, da segurança jurídica. pasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999 ordena ao
Em relação ao processo administrativo, denota-se que estes administrador nos processos administrativos, a autêntica “atuação
são regulados por leis infraconstitucionais e que também elencam segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Exemplo:
outros princípios do Direito Administrativo. A nível federal, registra- a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula Vinculante 13
-se que o art. 2. ° da Lei 9.784/1999 cita a existência dos seguintes do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da mencionada
princípios: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, propor- súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina em geral não
cionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança parece apropriado, tendo em vista que o princípio da moralidade é
jurídica, interesse público e eficiência. um princípio geral e aplicável a toda a Administração Pública, vindo
a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.
Sem qualquer tipo de dependência da quantidade de princípios
elencados pelo ordenamento e pela doutrina, podemos destacar, Princípio da publicidade
para fins de estudo os principais princípios do Direito Administrati- Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos
vo: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art.
razoabilidade, proporcionalidade, finalidade pública (supremacia 2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a
do interesse público sobre o interesse privado), continuidade, auto- transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com
tutela, consensualidade/participação, segurança jurídica, confiança o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vin-
legítima e boa-fé. do a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos
Vejamos a definição e a importância de cada um deles: praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a
atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos
Princípio da legalidade Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de Di-
Previsto no art. 37 da CRFB/1988, é conceituado como um pro- reito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais,
duto do Liberalismo, que pregava a superioridade do Poder Legisla- com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados por
tivo na qual a legalidade se divide em dois importantes desdobra- lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a produ-
mentos: ção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade de mo-
a) supremacia da lei: a lei acaba por prevalecer e tem preferên- tivação dos atos administrativos.
cia sobre os atos da Administração;

43
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da eficiência b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998, do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para alcan-
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática pela çar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público terá
Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência está relacio- o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos funda-
nado de forma íntima com a necessidade de célere efetivação das mentais.
finalidades públicas dispostas no ordenamento jurídico. Exemplo: c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma tí-
duração razoável dos processos judicial e administrativo, nos dita- pica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
mes do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, inserido pela EC 45/2004), atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual
bem como o contrato de gestão no interior da Administração (art. a restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justifica-
37 da CRFB) e com as Organizações Sociais (Lei 9.637/1998). da, tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que que será efetivado.
garantem sua eficiência:
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna Princípio da supremacia do interesse público sobre o interes-
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem pio- se privado (princípio da finalidade pública)
rar a situação de outrem. É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas de tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número de categorias:
pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”). a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de ativi-
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação dades administrativas que são prestadas à coletividade, como por
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade do exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento, dentre
serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros as- outros.
pectos. b) interesse público secundário: trata-se do interesse do pró-
prio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-se
Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade ligando de forma expressa à noção de interesse do erário, imple-
mentado através de atividades administrativas instrumentais que
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna
são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no di-
Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
reito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial
público e ao patrimônio público.
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu cará- Princípio da continuidade
ter procedimental (procedural due process of law: direito ao contra- Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
ditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais) para, tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due process of ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos contra satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
abusos do Estado). Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço pú-
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem sendo blico, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem como da do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, demons- serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigen-
trando ser um dos mais importantes instrumentos de defesa dos tes e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito
direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. às condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das te- pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
orias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao ho- Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não
mem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser
na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento em prestado sempre na medida em que a necessidade da população
que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a propor- vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da ne-
cionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio Estado cessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser prestado
de Direito. sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a população ne-
Embora haja polêmica em relação à existência ou não de di- cessita de forma permanente da disponibilidade do serviço. Exem-
ferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da pro- plos: hospitais, distribuição de energia, limpeza urbana, dentre ou-
porcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da fungibi- tros.
lidade entre os mencionados princípios que se relacionam e forma
Princípio da autotutela
paritária com os ideais igualdade, justiça material e racionalidade,
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de re-
vindo a consubstanciar importantes instrumentos de contenção dos
ver os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de
excessos cometidos pelo Poder Público.
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência
O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas
subprincípios: 346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999.
a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
pretendido.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades, Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela Objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos par-
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal ticulares;
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. Subjetiva: está ligada à relação com o caráter psicológico da-
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que quele que atuou em conformidade com o direito. Esta caracteriza-
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos ante ção da confiança legítima depende em grande parte da boa-fé do
à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos parti- particular, que veio a crer nas expectativas que foram geradas pela
culares de modo geral. atuação do Estado.
Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifi-
Princípios da consensualidade e da participação ca-se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade tor- abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que termi-
naram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo fato nam por surpreender os seus receptores.
de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo a fazer Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança jurí-
a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais freios dica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé, com
contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo a supedâneo em fundamento constitucional que se encontra implí-
atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões cito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.° da
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico perfei-
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os to e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da CRFB/1988.
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos. Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio a 9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança legíti-
assumir um importante papel no condizente ao processo de iden- ma, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
tificação de interesses públicos e privados que se encontram sob a a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
tutela da Administração Pública. no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualida- confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
de e da participação, a administração termina por voltar-se para a confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação jurídi-
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações ca que mantém com a Administração; ou confiança do afetado de
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para que as suas expectativas são razoáveis;
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade admi-
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando o nistrativa, que, independentemente do caráter vinculante, orien-
ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do in- tam o cidadão a adotar determinada conduta;
teresse público, mas sim em forma de atividade aberta para a cola- c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma situa-
boração dos indivíduos, passando a ter importância o momento do ção jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao patrimônio
consenso e da participação. jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade é confiável;
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na toma- d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a con-
da de decisões administrativas está refletido em alguns institutos fiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou to-
jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de informações, con- lerância da Administração); e
selhos municipais, ombudsman, debate público, assessoria externa e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obriga-
ou pelo instituto da audiência pública. Salienta-se: a decisão final ções no caso.
é do Poder Público; entretanto, ele deverá orientar sua decisão o
mais próximo possível em relação à síntese extraída na audiência do
interesse público. Nota-se que ocorre a ampliação da participação LICITAÇÃO: CONCEITO, FINALIDADES, PRINCÍPIOS E
dos interessados na decisão”, o que poderá gerar tanto uma “atu- OBJETO. OBRIGATORIEDADE, DISPENSA, INEXIGIBILI-
ação coadjuvante” como uma “atuação determinante por parte de DADE E VEDAÇÃO. MODALIDADES. PROCEDIMENTO,
interessados regularmente habilitados à participação” (MOREIRA REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO. SANÇÕES. NORMAS GE-
NETO, 2006, p. 337-338). RAIS DE LICITAÇÃO
Desta forma, o princípio constitucional da participação é o pio-
neiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico- Princípios
-políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos Diante do cenário atual, pondera-se que ocorreram diversas
seus institutos participativos e consensuais. mudanças na Lei de Licitações. Porém, como estamos em fase
de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primei-
Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da ros anos, as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na
boa-fé aplicação para processos que começaram na Lei anterior, deverão
Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da continuar a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que
boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si. começarem após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos
com a aplicação da nova Lei.
O princípio da segurança jurídica está dividido em dois senti- Aprovada recentemente, a Nova Lei de Licitações sob o nº.
dos: 14.133/2.021, passou por significativas mudanças, entretanto, no
Objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em que tange aos princípios, manteve o mesmo rol do art. 3º da Lei nº.
conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido, 8.666/1.993, porém, dispondo sobre o assunto, no Capítulo II, art.
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB); 5º, da seguinte forma:
Subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas relacio-
nadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios do contrato, afirma-se que esta não poderá ser levada em consi-
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, deração, caso não haja regra editalícia ou legal que a preveja como
da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, passível de fazer interferências no julgamento das propostas.
da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do Princípios da moralidade e da probidade administrativa
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da A Lei 8.666/1993, Lei de Licitações, considera que os princípios
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economi- da moralidade e da probidade administrativa possuem realidades
cidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as distintas. Na realidade, os dois princípios passam a informação de
disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1.942, (Lei que a licitação deve ser pautada pela honestidade, boa-fé e ética,
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). isso, tanto por parte da Administração como por parte dos entes
O objetivo da Lei de Licitações é regular a seleção da proposta licitantes. Sendo assim, para que um comportamento seja conside-
que for mais vantajosa para a Administração Pública. No condizente rado válido, é imprescindível que, além de ser legalizado, esteja nos
à promoção do desenvolvimento nacional sustentável, entende-se ditames da lei e de acordo com a ética e os bons costumes. Exis-
que este possui como foco, determinar que a licitação seja destina- tem desentendimentos doutrinários acerca da distinção entre esses
da com o objetivo de garantir a observância do princípio constitu- dois princípios. Alguns autores empregam as duas expressões com
cional da isonomia. o mesmo significado, ao passo que outros procuram diferenciar
Denota-se que a quantidade de princípios previstos na lei não os conceitos. O que perdura, é que, ao passo que a moralidade é
é exaustiva, aceitando-se quando for necessário, a aplicação de ou- constituída em um conceito vago e sem definição legal, a probidade
tros princípios que tenham relação com aqueles dispostos de forma administrativa, ou melhor dizendo, a improbidade administrativa
expressa no texto legal. possui contornos paramentados na Lei 8.429/1992.
Verificamos, por oportuno, que a redação original do caput do
art. 3º da Lei 8.666/1993 não continha o princípio da promoção do Princípio da Publicidade
desenvolvimento nacional sustentável e que tal menção expressa, Possui a Administração Pública o dever de realizar seus atos pu-
apenas foi inserida com a edição da Lei 12.349/2010, contexto no blicamente de forma a garantir aos administrados o conhecimento
qual foi criada a “margem de preferência”, facilitando a concessão do que os administradores estão realizando, e também de manei-
de vantagens competitivas para empresas produtoras de bens e ra a possibilitar o controle social da conduta administrativa. Em se
serviços nacionais. tratando especificamente de licitação, determina o art. 3º, § 3º, da
Lei 8.666/1993 que “a licitação não será sigilosa, sendo públicos e
Princípio da legalidade acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
A legalidade, que na sua visão moderna é chamado também de conteúdo das propostas, até a respectiva abertura”.
juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda atividade Advindo do mesmo princípio, qualquer cidadão tem o direito
de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento licitatório. de acompanhar o desenvolvimento da licitação, desde que não in-
A lei serve para ser usada como limite de base à atuação do gestor terfira de modo a atrapalhar ou impedir a realização dos trabalhos
(Lei 8.666/1993, art. 4º, in fine).
público, representando, desta forma, uma garantia aos administra-
A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que “a publici-
dos contra as condutas abusivas do Estado.
dade é tanto maior, quanto maior for a competição propiciada pela
No âmbito das licitações, pondera-se que o princípio da lega-
modalidade de licitação; ela é a mais ampla possível na concorrên-
lidade é fundamental, posto que todas as fases do procedimento
cia, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior
licitatório se encontram estabelecidas na legislação. Considera-se
número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o
que todos os entes que participarem do certame, têm direito pú-
valor do contrato dispensa maior divulgação. “
blico subjetivo de fiel observância do procedimento paramentado
Todo ato da Administração deve ser publicado de forma a for-
na legislação por meio do art. 4° da Lei 8.666/1993, podendo, caso
necer ao cidadão, informações acerca do que se passa com as ver-
venham a se sentir prejudicados pela ausência de observância de
bas públicas e sua aplicação em prol do bem comum e também por
alguma regra, impugnar a ação ou omissão na esfera administrativa obediência ao princípio da publicidade.
ou judicial.
Diga-se de passagem, não apenas os participantes, mas qual- Princípio da eficiência do interesse público
quer cidadão, pode por direito, impugnar edital de licitação em de- Trata-se de um dos princípios norteadores da administração
corrência de irregularidade na aplicação da lei, vir a representar ao pública acoplado aos da legalidade, finalidade, motivação, razoabili-
Ministério Público, aos Tribunais de Contas ou aos órgãos de con- dade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
trole interno em face de irregularidades em licitações públicas, nos da segurança jurídica e do interesse público.
termos dos arts. 41, § 1º, 101 e 113, § 1º da Lei 8666/1993. Assim sendo, não basta que o Estado atue sobre o manto da
legalidade, posto que quando se refere serviço público, é essencial
Princípio da impessoalidade que o agente público atue de forma mais eficaz, bem como que
Com ligação umbilical ao princípio da isonomia, o princípio da haja melhor organização e estruturação advinda da administração
impessoalidade demonstra, em primeiro lugar, que a Administra- pública.
ção deve adotar o mesmo tratamento a todos os administrados que Vale ressaltar que o princípio da eficiência deve estar subme-
estejam em uma mesma situação jurídica, sem a prerrogativa de tido ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a
quaisquer privilégios ou perseguições. Por outro ângulo, ligado ao atuação administrativa agindo de forma contrária ao ordenamento
princípio do julgamento objetivo, registra-se que todas as decisões jurídico, posto que por mais eficiente que seja, ambos os princípios
administrativas tomadas no contexto de uma licitação, deverão ob- devem atuar de forma acoplada e não sobreposta.
servar os critérios objetivos estabelecidos de forma prévia no edital Por ser o objeto da licitação a escolha da proposta mais vanta-
do certame. Desta forma, ainda que determinado licitante venha a josa, o administrador deverá se encontrar eivado de honestidade ao
apresentar uma vantagem relevante para a consecução do objeto cuidar da Administração Pública.

46
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da Probidade Administrativa Boa parte da doutrina afirma o princípio da transparência não é
A Lei de Licitações trata dos princípios da moralidade e da pro- um princípio independente, o incorporando ao princípio da publici-
bidade administrativa como formas distintas uma da outra. Os dois dade, posto ser o seu entendimento que uma das inúmeras funções
princípios passam a noção de que a licitação deve ser configurada do princípio da publicidade é o dever de manter intacta a trans-
pela honestidade, boa-fé e ética, tanto por parte da Administração parência dos atos das entidades públicas. Entretanto, o princípio
Pública, como por parte dos licitantes. Desta forma, para que um da transparência pode ser diferenciado do princípio da publicida-
comportamento tenha validade, é necessário que seja legal e esteja de pelo fato de que por intermédio da publicidade, existe o dever
em conformidade com a ética e os bons costumes. das entidades públicas consistente na obrigação de divulgar os seus
Existe divergência quanto à distinção entre esses dois princí- atos, uma vez que nem sempre a divulgação de informações é feita
pios. Alguns doutrinadores usam as duas expressões com o mesmo de forma transparente.
significado, ao passo que outros procuram diferenciar os conceitos. O Superior Tribunal de Justiça entende que o “direito à infor-
O correto é que, enquanto a moralidade se constitui num conceito mação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição
vago, a probidade administrativa, ou melhor dizendo, a improbida- Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da
de administrativa se encontra eivada de contornos definidos na Lei Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Ob-
8.429/1992. jetiva e do Princípio da Confiança […].” (STJ. RESP 200301612085,
Herman Benjamin – Segunda Turma, DJE DATA:19/03/2009).
Princípio da igualdade
Conhecido como princípio da isonomia, decorre do fato de que Princípio da eficácia
a Administração Pública deve tratar, de forma igual, todos os licitan- Por meio desse princípio, deverá o agente público agir de for-
tes que estiverem na mesma situação jurídica. O princípio da igual- ma eficaz e organizada promovendo uma melhor estruturação por
dade garante a oportunidade de participar do certame de licitação, parte da Administração Pública, mantendo a atuação do Estado
todos os que tem condições de adimplir o futuro contrato e proíbe, dentro da legalidade.
ainda a feitura de discriminações injustificadas no julgamento das Vale ressaltar que o princípio da eficácia deve estar submetido
propostas. ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a atuação
Aplicando o princípio da igualdade, o art. 3º, I, da Lei administrativa contrária ao ordenamento jurídico, por mais eficien-
8.666/1993, veda de forma expressa aos agentes públicos admitir, te que seja, na medida em que ambos os princípios devem atuar de
prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação por meio de edital maneira conjunta e não sobrepostas.
ou convite, as cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem
o seu caráter de competição, inclusive nos casos de sociedades co- Princípio da segregação de funções
operativas, e estabeleçam preferências ou diferenças em decorrên- Trata-se de uma norma de controle interno com o fito de evitar
cia da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de falhas ou fraudes no processo de licitação, vindo a descentralizar o
“qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o poder e criando independência para as funções de execução opera-
específico objeto do contrato”, com ressalva ao disposto nos §§ 5º a cional, custódia física, bem como de contabilização
Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido de determina-
12 do mesmo artigo, e no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991.
da tarefa, fará a sua parte no condizente ao desempenho de fun-
Ante o exposto, conclui-se que, mesmo que a circunstância
ções, evitando que nenhum empregado ou seção administrativa
restrinja o caráter de competição do certame, se for pertinente ou
venha a participar ou controlar todas as fases relativas à execução e
relevante para o objeto do contrato, poderá ser incluída no instru-
controle da despesa pública, vindo assim, a possibilitar a realização
mento de convocação do certame. de uma verificação cruzada.
O princípio da isonomia não impõe somente tratamento igua- O princípio da segregação de funções, advém do Princípio da
litário aos assemelhados, mas também a diferenciação dos desi- moralidade administrativa e se encontra previsto no art. 37, caput,
guais, na medida de suas desigualdades. da CFB/1.988 e o da moralidade, no Capítulo VII, seção VIII, item
3, inciso IV, da IN nº 001/2001 da Secretaria Federal de Controle
Princípio do Planejamento Interno do Ministério da Fazenda.
A princípio, infere-se que o princípio do planejamento se en-
contra dotado de conteúdo jurídico, sendo que é seu dever fixar o Princípio da motivação
dever legal do planejamento como um todo. O princípio da motivação predispõe que a administração no
Registra-se que a partir deste princípio, é possível compreen- processo licitatório possui o dever de justificar os seus atos, vindo
der que a Administração Pública tem o dever de planejar toda a a apresentar os motivos que a levou a decidir sobre os fatos, com
licitação e também toda a contratação pública de forma adequada a observância da legalidade estatal. Desta forma, é necessário que
e satisfatória. Assim, o planejamento exigido, é o que se mostre de haja motivo para que os atos administrativos licitatórios tenham
forma eficaz e eficiente, bem como que se encaixe a todos os outros sido realizados, sempre levando em conta as razões de direito que
princípios previstos na CFB/1.988 e na jurisdição pátria como um levaram o agente público a proceder daquele modo.
todo.
Desta forma, na ausência de justificativa para realizar o pla- Princípio da vinculação ao edital
nejamento adequado da licitação e do contrato, ressalta-se que a Trata-se do corolário do princípio da legalidade e da objetivi-
ausência, bem como a insuficiência dele poderá vir a motivar a res- dade das determinações de habilidades, que possui o condão de
ponsabilidade do agente público. impor tanto à Administração, quanto ao licitante, a imposição de
que este venha a cumprir as normas contidas no edital de maneira
Princípio da transparência objetiva, porém, sempre zelando pelo princípio da competitividade.
O princípio da transparência pode ser encontrado dentro da Denota-se que todos os requisitos do ato convocatório devem
aplicação de outros princípios, como os princípios da publicidade, estar em conformidade com as leis e a Constituição, tendo em vista
que se trata de ato concretizador e de hierarquia inferior a essas
imparcialidade, eficiência, dentre outros.
entidades.

47
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nos ditames do art. 3º da Lei nº 8.666/93, a licitação destina-se Princípio da proporcionalidade
a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a O princípio da proporcionalidade, conhecido como princípio
seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a pro- da razoabilidade, possui como objetivo evitar que as peculiaridades
moção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada determinadas pela Constituição Federal Brasileira sejam feridas ou
e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da le- suprimidas por ato legislativo, administrativo ou judicial que possa
galidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publi- exceder os limites por ela determinados e avance, sem permissão
cidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento no âmbito dos direitos fundamentais.
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
O princípio da vinculação ao instrumento convocatório princí- Princípio da celeridade
pio se destaca por impor à Administração a não acatar qualquer Devidamente consagrado pela Lei nº 10.520/2.002 e conside-
proposta que não se encaixe nas exigências do ato convocatório, rado um dos direcionadores de licitações na modalidade pregão, o
sendo que tais exigências deverão possuir total relação com o obje- princípio da celeridade trabalha na busca da simplificação de pro-
to da licitação, com a lei e com a Constituição Federal. cedimentos, formalidades desnecessárias, bem como de intransi-
gências excessivas, tendo em vista que as decisões, sempre que for
Princípio do julgamento objetivo possível, deverão ser aplicadas no momento da sessão.
O objetivo desse princípio é a lisura do processo licitatório. De
acordo com o princípio do julgamento objetivo, o processo licitató- Princípio da economicidade
rio deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório, Sendo o fim da licitação a escolha da proposta que seja mais
para o julgamento das propostas apresentadas, devendo seguir de vantajosa para a Administração Pública, pondera-se que é neces-
forma fiel ao disposto no edital quando for julgar as propostas. sário que o administrador esteja dotado de honestidade ao cuidar
Esse princípio possui o condão de impedir quaisquer interpre- coisa pública. O princípio da economicidade encontra-se relaciona-
tações subjetivas do edital que possam favorecer um concorrente e, do ao princípio da moralidade e da eficiência.
por consequência, vir a prejudicar de forma desleal a outros. Sobre o assunto, no que condiz ao princípio da economicidade,
entende o jurista Marçal Justen Filho, que “… Não basta honestida-
de e boas intenções para validação de atos administrativos. A eco-
Princípio da razoabilidade
nomicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente
Trata-se de um princípio de grande importância para o contro-
sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”. (Justen Filho,
le da atividade administrativa dentro do processo licitatório, posto
1998, p.66).
que se incumbe de impor ao administrador, a atuação dentro dos
requisitos aceitáveis sob o ponto de vista racional, uma vez que ao Princípio da licitação sustentável
trabalhar na interdição de decisões ou práticas discrepantes do mí- Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “o princípio da susten-
nimo plausível, prova mais uma vez ser um veículo de suma im- tabilidade da licitação ou da licitação sustentável liga-se à ideia de
portância do respeito à legalidade, na medida em que é a lei que que é possível, por meio do procedimento licitatório, incentivar a
determina os parâmetros por intermédio dos quais é construída a preservação do meio ambiente”.
razão administrativa como um todo. Esse princípio passou a constar de maneira expressa do contido
Pondera-se que o princípio da razoabilidade se encontra aco- na Lei 8.666/1993 depois que o seu art. 3º sofreu alteração pela Lei
plado ao princípio da proporcionalidade, além de manter relação 12.349/2010, que incluiu entre os objetivos da licitação a promoção
com o princípio da finalidade, uma vez que, caso não seja atendida do desenvolvimento nacional sustentável.
a razoabilidade, a finalidade também irá ficar ferida. Da mesma maneira, a Lei 12.462/2011, que institui o Regime
Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), dispõe o desenvolvi-
Princípio da competitividade mento nacional sustentável como forma de princípio a ser obser-
O princípio da competição se encontra relacionado à competiti- vado nas licitações e contratações regidas por seu diploma legal.
vidade e às cláusulas que são responsáveis por garantir a igualdade Assim, prevê a mencionada Lei que as contratações realizadas com
de condições para todos os concorrentes licitatórios. Esse princípio fito no Regime Jurídico Diferenciado de Contratações Públicas de-
se encontra ligado ao princípio da livre concorrência nos termos do vem respeitar, em especial, as normas relativas ao art. 4º, § 1º:
inciso IV do art. 170 da Constituição Federal Brasileira. Desta manei- A) disposição final ambientalmente adequada dos resíduos só-
ra, devido ao fato da lei recalcar o abuso do poder econômico que lidos gerados pelas obras contratadas;
pretenda eliminar a concorrência, a lei e os demais atos normativos B) mitigação por condicionantes e compensação ambiental,
pertinentes não poderão agir com o fulcro de limitar a competitivi- que serão definidas no procedimento de licenciamento ambiental;
dade na licitação. c) utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprova-
Assim, havendo cláusula que possa favorecer, excluir ou infrin- damente, reduzam o consumo de energia e recursos naturais;
gir a impessoalidade exigida do gestor público, denota-se que esta D) avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação
urbanística;
poderá recair sobre a questão da restrição de competição no pro-
E) proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e
cesso licitatório.
imaterial, inclusive por meio da avaliação do impacto direto ou indi-
Obs. importante: De acordo com o Tribunal de Contas, não é
reto causado pelas obras contratadas;
aceitável a discriminação arbitrária no processo de seleção do con-
F) acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com
tratante, posto que é indispensável o tratamento uniforme para si- mobilidade reduzida.
tuações uniformes, uma vez que a licitação se encontra destinada
a garantir não apenas a seleção da proposta mais vantajosa para a Princípios correlatos
Administração Pública, como também a observância do princípio Além dos princípios anteriores determinados pela Lei
constitucional da isonomia. Acórdão 1631/2007 Plenário (Sumá- 8.666/1993, a doutrina revela a existência de outros princípios que
rio). também são atinentes aos procedimentos licitatórios, dentre os
quais se destacamos:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da obrigatoriedade sidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas
Consagrado no art. 37, XXI, da CF, esse princípio está disposto ofertas dos demais licitantes, nos ditames do art. 44, parag. 2°da
no art. 2º do Estatuto das Licitações. A determinação geral é que Lei 8.666/1993.
as obras, serviços, compras, alienações, concessões, permissões e
locações da Administração Pública, quando forem contratadas por Competência Legislativa
terceiros, sejam precedidas da realização de certame licitatório, A União é munida de competência privativa para legislar sobre
com exceção somente dos casos previstos pela legislação vigente. normas gerais de licitações, em todas as modalidades, para a admi-
nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
Princípio do formalismo Federal e dos Municípios, conforme determinação do art. 22, XXVII,
Por meio desse princípio, a licitação se desenvolve de acordo da CFB/1988.
com o procedimento formal previsto na legislação. Assim sendo, o Desse modo, denota-se que de modo geral, as normas edita-
art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 determina que “o pro- das pela União são de observância obrigatória por todos os entes
cedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrati- federados, competindo a estes, editar normas específicas que são
vo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração aplicáveis somente às suas próprias licitações, de modo a comple-
Pública”. mentar a disciplina prevista na norma geral sem contrariá-la.
Nessa linha, a título de exemplo, a competência para legislar
Princípio do sigilo das propostas supletivamente não permite: a) a criação de novas modalidades li-
Até a abertura dos envelopes licitatórios em ato público ante- citatórias ou de novas hipóteses de dispensa de licitação; b) o esta-
cipadamente designado, o conteúdo das propostas apresentadas belecimento de novos tipos de licitação (critérios de julgamento das
pelos licitantes deve ser mantido em sigilo nos termos do art. 43, propostas); c) a redução dos prazos de publicidade ou de recursos.
§ 1º, da Lei 8.666/1993. Deixando claro que violar o sigilo de pro- É importante registrar que a EC 19/1998, em alteração ao art.
postas apresentadas em procedimento licitatório, ou oportunizar 173, § 1º, da Constituição Federal, anteviu que deverá ser editada
a terceiro a oportunidade de devassá-lo, além de prejudicar os de- lei com o fulcro de disciplinar o estatuto jurídico da empresa pú-
mais licitantes, constitui crime tipificado no art. 94 do Estatuto das blica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
Licitações, vindo a sujeitar os infratores à pena de detenção, de 2 explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
(dois) a 3 (três) anos, e multa; bens ou de prestação de serviços, sendo que esse estatuto deverá
dispor a respeito de licitação e contratação de obras, serviços, com-
Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor pras e alienações, desde que observados os princípios da adminis-
Significa que a Administração não pode, ao concluir o procedi- tração pública.
mento, atribuir o objeto da licitação a outro agente ou ente que não A mencionada modificação constitucional, teve como objeti-
seja o vencedor. Esse princípio, também impede que seja aberta vo possibilitar a criação de normas mais flexíveis sobre licitação e
nova licitação enquanto for válida a adjudicação anterior. contratos e com maior adequação condizente à natureza jurídica
Registra-se que a adjudicação é um ato declaratório que ga- das entidades exploradoras de atividades econômicas, que traba-
rante ao vencedor que, vindo a Administração a celebrar um con- lham sob sistema jurídico predominantemente de direito privado.
trato, o fará com o agente ou ente a quem foi adjudicado o objeto.
O Maior obstáculo, é o fato de que essas instituições na maioria das
Entretanto, mesmo que o objeto licitado tenha sido adjudicado, é
vezes entram em concorrência com a iniciativa privada e precisam
possível que não aconteça a celebração do contrato, posto que a
ter uma agilidade que pode, na maioria das situações, ser prejudi-
licitação pode vir a ser revogada de forma lícita por motivos de in-
cada pela necessidade de submissão aos procedimentos burocráti-
teresse público, ou anulada, caso seja constatada alguma irregula-
cos da administração direta, autárquica e fundacional.
ridade Insanável.
Em observância e cumprimento à determinação da Constitui-
ção Federal, foi promulgada a Lei 13.303/2016, Lei das Estatais, que
Princípio da competitividade
criou regras e normas específicas paras as licitações que são dirigi-
É advindo do princípio da isonomia. Em outras palavras, ha-
vendo restrição à competição, de maneira a privilegiar determi- das por qualquer empresa pública e sociedade de economia mista
nado licitante, consequentemente ocorrerá violação ao princípio da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ponde-
da isonomia. Por esse motivo, como manifestação do princípio da ra-se que tais regras forma mantidas pela nova Lei de Licitações, Lei
competitividade, tem-se a regra de que é proibido aos agentes pú- nº: 14.133/2.021 em seu art. 1º, inciso I.
blicos “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, De acordo com as regras e normas da Lei 13.303/2016, tais em-
cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem presas públicas e sociedades de economia mista não estão dispen-
o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades coope- sadas do dever de licitar. Mas estão somente adimplindo tal obriga-
rativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da natu- ção com seguimento em procedimentos mais flexíveis e adequados
ralidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra a sua natureza jurídica. Assim sendo, a Lei 8.666/1993 acabou por
circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto não mais ser aplicada às estatais e às suas subsidiárias.
do contrato”, com exceção do disposto nos §§ 5º a 12 deste art. e Entretanto, com a entrada em vigor da nova Lei de Licitações de
no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991” . nº. 14.133/2.021, advinda do Projeto de Lei nº 4.253/2020, obser-
Convém mencionar que José dos Santos Carvalho Filho, enten- va-se que ocorreu um impacto bastante concreto para as estatais
de que o dispositivo legal mencionado anteriormente é tido como naquilo que se refere ao que a Lei nº 13.303/16 expressa ao reme-
manifestação do princípio da indistinção. ter à aplicação das Leis nº 8.666/93 e Lei nº 10.520/02.
Nesse sentido, denota-se em relação ao assunto acima que são
Princípio da vedação à oferta de vantagens imprevistas pontos de destaque com a aprovação da Nova Lei de Licitações de
É um corolário do princípio do julgamento objetivo. No referen- nº. 14.133/2.021:
te ao julgamento das propostas, a comissão de licitação não poderá, 1) O pregão, sendo que esta modalidade não será mais regula-
por exemplo, considerar qualquer oferta de vantagem que não es- da pela Lei nº 10.520/02, que consta de forma expressa no art. 32,
teja prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos sub- IV, da Lei nº 13.303/16;

49
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
2) As normas de direito penal que deverão ser aplicadas na Ressalta-se que além das mencionadas hipóteses previstas de
seara dos processos de contratação, que, por sua vez, deixarão de forma exemplificativa na legislação, sempre que for impossível a
ser regulados pelos arts. 89 a 99 da Lei nº 8.666/93; e competição, o procedimento de inexigibilidade de licitação deverá
3) Os critérios de desempate de propostas, sendo que a Lei ser adotado.
nº 13.303/16 dispõe de forma expressa, dentre os critérios de de- Vale destacar com grande importância, ainda, em relação ao
sempate contidos no art. 55, inc. III, a adoção da previsão que se inc. III da Nova Lei de Licitações, que nem todo serviço técnico espe-
encontra inserida no § 2º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, que por sua cializado está apto a ensejar a inexigibilidade de licitação, fato que
vez, passará a ter outro tratamento pela Nova Lei de Licitações. se verificará apenas se ao mesmo tempo, tal serviço for de natureza
singular e o seu prestador for dotado de notória especialização. O
Dispensa e inexigibilidade serviço de natureza singular é reconhecido pela sua complexidade,
Verificar-se-á a inexigibilidade de licitação sempre que houver relevância ou pelos interesses públicos que estiverem em jogo, vin-
inviabilidade de competição. Com a entrada em vigor da Nova Lei do demandar a contratação de prestador com a devida e notória
de Licitações, Lei nº. 14.133/2.021 no art. 74, I, II e III, foi disposto especialização.
as hipóteses por meio das quais a competição é inviável e que, por- Por sua vez, a legislação considera como sendo de notória
tanto, nesses casos, a licitação é inexigível. Vejamos: especialização, aquele profissional ou empresa que o conceito no
âmbito de sua especialidade, advindo de desempenho feito ante-
riormente como estudos, experiências, publicações, organização,
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição,
equipe técnica, ou de outros atributos e requisitos pertinentes com
em especial nos casos de:
suas atividades, que permitam demonstrar e comprovar que o seu
I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou
trabalho é essencial e o mais adequado à plena satisfação do objeto
contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor,
do contrato.
empresa ou representante comercial exclusivos;
Vale mencionar que em situações práticas, a contratação de
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente
serviços especializados por inexigibilidade de licitação tem criado
ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela
várias controvérsias, principalmente quando se refere à contrata-
crítica especializada ou pela opinião pública;
ção de serviços de advocacia e também de contabilidade.
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados
Conforme já estudado, a licitação é tida como dispensada
de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou quando, mesmo a competição sendo viável, o certame deixou de
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para ser realizado pelo fato da própria lei o dispensar. Tem natureza dife-
serviços de publicidade e divulgação: rente da ausência de exigibilidade da licitação dispensável porque
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou proje- nesta, o gestor tem a possibilidade de decidir por realizar ou não o
tos executivos; procedimento.
b) pareceres, perícias e avaliações em geral; A licitação dispensada está acoplada às hipóteses de alienação
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras de bens móveis ou imóveis da Administração Pública. Em grande
ou tributárias; parte das vezes, quando, ao pretender a Administração alienar bens
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou ser- de sua propriedade, sejam estes móveis ou imóveis, deverá proce-
viços; der à realização de licitação. No entanto, em algumas situações, em
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; razão das peculiaridades do caso especifico, a lei acaba por dispen-
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; sar o procedimento, o que é verificado, por exemplo, na hipótese da
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico; doação de um bem para outro órgão ou entidade da Administração
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e en- Pública de qualquer esfera de governo. Ocorre que nesse caso, a
saios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento Administração já determinou previamente para qual órgão ou en-
de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais tidade irá doar o bem. Assim sendo, não existe a necessidade de
serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso; realização do certame licitatório.
IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de
credenciamento; Critérios de Julgamento
V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de ins- Os novos critérios de julgamento tratam-se das referências
talações e de localização tornem necessária sua escolha. que são utilizadas para a avaliação das propostas de licitação. Regis-
Em entendimento ao inc. I, afirma-se que o fornecedor exclu- tra-se que as espécies de licitação encontram-se dotadas de carac-
sivo, vedada a preferência de marca, deverá a comprovar a exclu- terísticas e exigências diversas, sendo que as espécies de licitação
sividade por meio de atestado fornecido pelo órgão de registro do tendem sempre a variam de acordo com seus prazos e ritos espe-
comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o cíficos como um todo. Com a aprovação da Lei 14.133/2.021 em
serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, seu art. 33, foram criados novos tipos de licitação designados para
ainda, pelas entidades equivalentes. a compra de bens e serviços. Sendo eles: menor preço, maior des-
Em relação ao inc. II do referido diploma legal, verifica-se a dis- conto, melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior
pensabilidade da exigência de licitação para a contratação de profis- lance (leilão), maior retorno econômico.
sionais da seara artística de forma direta ou através de empresário, Vejamos:
levando em conta que este deverá ser reconhecido publicamente. Menor preço
Por fim, o inc. III, aduz sobre a contratação de serviços técnicos Trata-se do principal objetivo da Administração Pública que é
especializados, de natureza singular, com profissionais ou empresas o de comprar pelo menor preço possível. É o critério padrão bási-
de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de co e o mais utilizado em qualquer espécie de licitação, inclusive o
publicidade e divulgação. pregão. Desta forma, vence, aquele que apresentar o preço menor
entre os participantes do certame, desde que a empresa licitante
atenda a todos os requisitos estipulados no edital.

50
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesta espécie de licitação, vencerá a proposta que oferecer e Desta forma, depreende-se que a pretensão da Administração
comprovar maiores vantagens para a Administração Pública, ape- não se trata somente da obra, do serviço ou do bem propriamente
nas em questões de valores, o que, na maioria das vezes, termina dito, mas sim do resultado econômico que tenha mais vantagens
por prejudicar a população, tendo em vista que ao analisar apenas advindas dessas prestações, razão pela qual, a melhor proposta de
a questão de menor preço, nem sempre irá conseguir contratar um ajuste trata-se daquela que oferece maior retorno econômico à ma-
trabalho de qualidade. quina pública.

Maior desconto Modalidades


Pondera-se que caso a licitação seja julgada pelo critério de
maior desconto, o preço com o valor estimado ou o máximo aceitá- De antemão, infere-se que com o advento da nova Lei de Lici-
vel, deverá constar expressamente do edital. Isso acontece, por que tações de nº. 14.133/2.021, foram excluídas do diploma legal da
nessas situações específicas, a publicação do valor de referência da Lei 8.666/1.993 as seguintes modalidades de licitação: tomada de
Administração Pública é extremamente essencial para que os pro- preços, convite e RDC – Lei 12.462/2.011. Desta forma, de acordo
ponentes venham a oferecer seus descontos. com a Nova Lei de Licitações, são modalidades de licitação: con-
Denota-se que o texto de lei determina que a administração li- corrência, concurso, leilão, pregão e diálogo competitivo.
citante forneça o orçamento original da contratação, mesmo que tal Lembrando que conforme afirmado no início desse estudo,
orçamento tenha sido declarado sigiloso, a qualquer instante tanto pelo fato do ordenamento jurídico administrativo estar em fase de
para os órgãos de controle interno quanto externo. Esse fato é de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primeiros anos
grande importância para a administração Pública, tendo em vista as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na aplicação
que a depender do mercado, a divulgação do orçamento original no para processos que começaram na Lei anterior, deverão continuar
instante de ocorrência da licitação acarretará o efeito âncora, fazen- a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que começarem
do com que os valores das propostas sejam elevados ao patamar após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos com a aplica-
ção da nova Lei.
mais aproximado possível no que diz respeito ao valor máximo que
a Administração admite.
Concorrência
Com fundamento no art. 29 da Lei 14.133/2.021, concorrência
Melhor técnica ou conteúdo artístico
é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na
Nesse tipo de licitação, a escolha da empresa vencedora leva fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requi-
em consideração a proposta que oferecer mais vantagem em ques- sitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de
tão de fatores de ordem técnica e artística. Denota-se que esta es- seu objeto.
pécie de licitação deve ser aplicada com exclusividade para serviços Em termos práticos, trata-se a concorrência de modalidade
de cunho intelectual, como ocorre na elaboração de projetos, por licitatória conveniente para contratações de grande aspecto. Isso
exemplo incluindo-se nesse rol, tanto os básicos como os executi- ocorre, por que a Lei de Licitações e Contratos dispôs uma espécie
vos como: cálculos, gerenciamento, supervisão, fiscalização e ou- de hierarquia quando a definição da modalidade de licitação acon-
tros pertinentes à matéria. tece em razão do valor do contrato. Ocorre que quanto maiores
forem os valores envolvidos, mais altos e maiores serão o nível de
Técnica e preço publicidade bem como os prazos estipulados para a realização do
Depreende-se que esta espécie de licitação é de cunho obriga- procedimento. Em alguns casos, não obstante, é permitido uso da
tório quando da contratação de bens e serviços na área tecnológica modalidade de maior publicidade no lugar das de menor publicida-
como de informática e áreas afins, e também nas modalidade de de, jamais o contrário.
concorrência, segundo a nova lei de Licitações. Nesse caso espe- Nesta linha de pensamento, a regra passa a exigir o uso da con-
cífico, o licitante demonstra e apresenta a sua proposta e a docu- corrência para valores elevados, vindo a permitir que seja realizada
mentação usando três envelopes distintos, sendo eles: o primeiro a tomada de preços ou concorrência para montantes de cunho in-
para a habilitação, o segundo para o deslinde da proposta técnica e termediário e convite (ou tomada de preços ou concorrência), para
o terceiro, com o preço, que deverão ser avaliados nessa respectiva contratos de valores mais reduzidos. Os gestores, na prática, ge-
ordem. ralmente optam por utilizar a modalidade licitatória que seja mais
simplificada dentro do possível, de maneira a evitar a submissão a
Maior lance (leilão) prazos mais extensos de publicidade do certame.
Nos ditames da nova Lei de Licitações, esse critério se encon-
tra restrito à modalidade de leilão, disciplina que estudaremos nos Concurso
próximos tópicos. Disposto no art. 30 da Nova Lei de Licitações, esta modalidade
de licitação pode ser utilizada para a escolha de trabalho técnico,
científico ou artístico. Vejamos o que dispõe a Nova Lei de Licita-
Maior retorno econômico
ções:
Registra-se que esse tema se trata de uma das maiores novida-
Art. 30. O concurso observará as regras e condições previstas
des advindas da Nova Lei de Licitações, pelo fato desse requisito ser
em edital, que indicará:
um tipo de licitação de uso para licitações cujo objeto e fulcro sejam I - a qualificação exigida dos participantes;
uma espécie de contrato de eficiência. II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho;
Assim dispõe o inc. LIII do Art. 6º da Nova Lei de Licitações: III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser
LIII - contrato de eficiência: contrato cujo objeto é a prestação concedida ao vencedor.
de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento
de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante,
na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contra-
tado com base em percentual da economia gerada;

51
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Parágrafo único. Nos concursos destinados à elaboração de A classificação a respeito das formas de pregão está também
projeto, o vencedor deverá ceder à Administração Pública, nos ter- eivada de diferenças. Infere-se que no pregão presencial, o prego-
mos do art. 93 desta Lei, todos os direitos patrimoniais relativos ao eiro deverá fazer a seleção de todas as propostas de até 10% acima
projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e da melhor proposta e as classificar para a fase de lances. Havendo
oportunidade das autoridades competentes. ausência de propostas que venham a atingir esses 10%, restarão
selecionadas, por conseguinte, as três melhores propostas.
Leilão Diversamente do que ocorre no pregão eletrônico, levando em
Disposto no art. 31 da Nova Lei de Licitações, o leilão poderá conta que todos os participantes são classificados e tem o direito de
ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela auto- participar da fase na qual ocorrem os lances por meio do sistema,
ridade competente da Administração, sendo que seu regulamento dentro dos parâmetros pertinentes ao horário indicado no edital ou
deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais. carta convite.
Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro Inicia-se a fase de lances do pregão presencial com o lance da
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia- licitação que possui a maior proposta, vindo a seguir, por conse-
mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de jul- guinte, a lista decrescente até alcançar ao menor valor.
gamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas, É importante destacar que no pregão eletrônico, os lances são
utilizados como parâmetro máximo, os percentuais definidos na lei lançados no sistema na medida em que os participantes vão ofer-
que regula a referida profissão e observados os valores dos bens a tando, devendo ser sempre de menor valor ao último lance que por
serem leiloados este foi ofertado. Assim, lances são lançados e registrados no siste-
O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de ma, até que esta fase venha a se encerrar.
habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase Desde o início da Sessão, no pregão presencial o pregoeiro de-
de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo verá se informar de antemão, quem são os participantes, tendo em
licitante vencedor, na forma definida no edital. vista que estes se identificam no momento do em que fazem o cre-
denciamento.
No pregão eletrônico, até que chegue a fase de habilitação,
Quaisquer interessados podem participar do leilão. Denota-se
o pregoeiro não possui a informação sobre quem são os licitantes
que o bem será vendido para o licitante que fizer a oferta de maior
participantes, para evitar conluio.
lance, o qual deverá obrigatoriamente ser igual ou superior ao valor
A intenção de recorrer no pregão presencial, deverá por parâ-
de avaliação do bem.
metros legais, ser manifestada e eivada com as motivações ao final
A realização do leilão poderá ser por meio de leiloeiro oficial ou da Sessão.
por servidor indicado pela Administração, procedendo-se conforme No pregão eletrônico, havendo a intenção de recorrer, deverá
os ditames da legislação pertinente. de imediato a parte interessada se manifestar, devendo ser regis-
trado no campo do sistema de compras pertinente, no qual deverá
Destaca-se ainda, que algumas entidades financeiras da Admi- conter as exposições com a motivação da interposição.
nistração indireta executam contratos de mútuo que são garantidos
por penhor e que, restando-se vencido o contrato, se a dívida não Diálogo competitivo
for liquidada, promover-se-á o leilão do bem empenhado que deve- Com supedâneo no art. 32 da Nova Lei de Licitações, modali-
rá seguir as regras pertinentes à Lei de licitações. dade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a Admi-
nistração:
Pregão Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata-
Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata- ções em que a Administração:
-se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço, I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns. a) inovação tecnológica ou técnica;
Existem duas maneiras de ocorrência dos pregões, sendo estas nas b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade
formas eletrônica e presencial. satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e
Pondera-se que a Lei geral que rege os pregões é a Lei c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas
10.520/02. No entanto, em âmbito federal, o pregão presencial é com precisão suficiente pela Administração;
fundamentado e regulamentado pelo Decreto3.555/00, já o pregão II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as
eletrônico, por meio do Decreto 5.450/05. alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com desta-
Os referidos decretos, em razão da natureza institucional de que para os seguintes aspectos:
processamento dos pregões, são estabelecidos por meio de regras a) a solução técnica mais adequada;
diferentes que serão adotadas pelo Poder Público. b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já defi-
Em âmbito federal, a modalidade pregão é obrigatória para nida;
c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato.
contratação de serviços e bens comuns. No entanto, o Decreto
5.459/05 determina que a forma eletrônica é, via de regra, prefe-
Obs. Importante: § 1º, inc. VIII , Lei 14.133/2021- a Adminis-
rencial.
tração deverá, ao declarar que o diálogo foi concluído, juntar aos
Ressalta-se que aqueles que estiverem interessados em partici-
autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de
par do pregão presencial, deverão comparecer em hora e local nos diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital con-
quais deverá ocorrer a Sessão Pública, onde será feito o credencia- tendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades
mento, devendo ainda, apresentar os envelopes de proposta, bem e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta
como os documentos pertinentes. mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 (sessenta) dias úteis,
Referente ao pregão eletrônico, deverão os interessados fazer para todos os licitantes pré-selecionados na forma do inciso II deste
cadastro no sistema de compras a ser usado pelo ente licitante, vin- parágrafo apresentarem suas propostas, que deverão conter os ele-
do, por conseguinte, cadastrar a sua proposta. mentos necessários para a realização do projeto.

52
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Habilitação, Julgamento e recursos 5. Maior lance, no caso de leilão;
Habilitação 6. Maior retorno econômico.
Com determinação expressa no Capítulo VI da Nova Lei de Lici- Observa-se que os títulos por si só já dão a noção a respeito do
tações, art. 62, denota-se que a habilitação se mostra como a fase seu funcionamento, bem como já foram estudados anteriormente
da licitação por meio da qual se verifica o conjunto de informações nesta obra. Entretanto, é possível afirmar que a maior novidade,
e documentos necessários e suficientes para demonstrar a capaci- trata-se do critério de maior retorno econômico, que é uma espécie
dade do licitante de realizar o objeto da licitação. de licitação usada somente para certames cujo objeto seja contrato
Registra-se no dispositivo legal, que os critérios inseridos foram de eficiência de forma geral.
renovados pela Nova Lei, como por exemplo, a previsão em lei de Nesta espécie de contrato, busca-se o resultado econômico
aceitação de balanço de abertura. que proporcione a maior vantagem advinda de uma obra, serviço
No que condiz à habilitação econômico-financeira, com supe- ou bem, motivo pelo qual, a melhor proposta deverá ser aquela que
dâneo legal no art. 68 da Nova Lei, observa-se que possui utilidade trouxer um maior retorno econômico.
para demonstrar que o licitante se encontra dotado de capacidade
para sintetizar com suas possíveis obrigações futuras, devendo a Recursos
mesma ser comprovada de forma objetiva, por intermédio de coefi- Com base legal no art. 71 da nova Lei de Licitações, não ocor-
cientes e índices econômicos que deverão estar previstos no edital rendo inversão de fases na licitação, pondera-se que os recursos em
e devidamente justificados no processo de licitação. face dos atos de julgamento ou habilitação, deverão ser apresenta-
De acordo com a Nova lei, os documentos exigidos para a ha- dos no término da fase de habilitação, tendo em vista que tal ato
bilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito de falência ex- deverá acontecer em apenas uma etapa.
pedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por último, exige-se Caso os licitantes desejem recorrer a despeito dos atos do jul-
o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios sociais, salvo das gamento da proposta e da habilitação, denota-se que deverão se
empresas que foram constituídas no lapso de menos de dois anos. manifestar de imediato o seu desejo de recorrer, logo após o térmi-
Registra-se que base legal no art. 66 da referida Lei, habilita- no de cada sessão, sob pena de preclusão
ção jurídica visa a demonstrar a capacidade de o licitante exercer Havendo a inversão das fases com a habilitação de forma pre-
direitos e assumir obrigações, e a documentação a ser apresentada cedente à apresentação das propostas, bem como o julgamento,
por ele limita-se à comprovação de existência jurídica da pessoa e, afirma-se que os recursos terão que ser apresentados em dois in-
quando cabível, de autorização para o exercício da atividade a ser tervalos de tempo, após a fase de habilitação e após o julgamento
contratada. das propostas.
Já o art. 67, dispõe de forma clara a respeito da documentação
exigida para a qualificação técnico-profissional e técnico-operacio- Adjudicação e homologação
nal. Vejamos: O Direito Civil Brasileiro conceitua a adjudicação como sendo
Art. 67. A documentação relativa à qualificação técnico-profis- o ato por meio do qual se declara, cede ou transfere a propriedade
sional e técnico-operacional será restrita a: de uma pessoa para outra. Já o Direito Processual Civil a conceitua
I - apresentação de profissional, devidamente registrado no como uma forma de pagamento feito ao exequente ou a terceira
conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de pessoa, por meio da transferência dos bens sobre os quais incide
atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou ser- a execução.
viço de características semelhantes, para fins de contratação; Ressalta-se que os procedimentos legais de adjudicação têm
II - certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse- início com o fim da fase de classificação das propostas. Adilson
lho profissional competente, quando for o caso, que demonstrem Dallari (1992:106), doutrinariamente separando as fases de classi-
capacidade operacional na execução de serviços similares de com- ficação e adjudicação, ensina que esta não é de cunho obrigatório,
plexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem embora não seja livre.
como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do Podemos conceituar a homologação como o ato que perfaz o
art. 88 desta Lei; encerramento da licitação, abrindo espaço para a contratação. Ho-
III - indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare- mologação é a aprovação determinada por autoridade judicial ou
lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da administrativa a determinados atos particulares com o fulcro de
licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe téc- produzir os efeitos jurídicos que lhes são pertinentes.
nica que se responsabilizará pelos trabalhos; Considera-se que a homologação do processo de licitação re-
IV - prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe- presenta a aceitação da proposta. De acordo com Sílvio Rodrigues
cial, quando for o caso; (1979:69), a aceitação consiste na “formulação da vontade concor-
V - registro ou inscrição na entidade profissional competente, dante e envolve adesão integral à proposta recebida.”
quando for o caso; Registre-se por fim, que a homologação vincula tanto a Admi-
VI - declaração de que o licitante tomou conhecimento de todas nistração como o licitante, para buscar o aperfeiçoamento do con-
as informações e das condições locais para o cumprimento das obri- trato.
gações objeto da licitação.
Registro de preços
Julgamento Registro de preços é a modalidade de licitação que se encontra
Sob a vigência do nº. 14.133/2.021, a Nova Lei de Licitações apropriada para possibilitar diversas contratações que sejam conco-
trouxe em seu art. 33, a nova forma de julgamento, sendo que de mitantes ou sucessivas, sem que haja a realização de procedimento
agora em diante, as propostas deverão ser julgadas de acordo sob de licitação de forma específica para cada uma destas contratações.
os seguintes critérios: Registra-se que o referido sistema é útil tanto a um, quanto a
1. Menor preço; mais órgãos pertencentes à Administração.
2. Maior desconto;
3. Melhor técnica ou conteúdo artístico;
4. Técnica e preço;

53
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
De modo geral, o registro de preços é usado para compras cor- I - realização prévia de ampla pesquisa de mercado;
riqueiras de bens ou serviços específicos, em se tratando daqueles II - seleção de acordo com os procedimentos previstos em re-
que não se sabe a quantidade que será preciso adquirir, bem como gulamento;
quando tais compras estiverem sob a condição de entregas parcela- III - desenvolvimento obrigatório de rotina de controle;
das. O objetivo destas ações é evitar que se formem estoques, uma IV - atualização periódica dos preços registrados;
vez que estes geram alto custo de manutenção, além do risco de V - definição do período de validade do registro de preços;
tais bens vir a perecer ou deteriorar. VI - inclusão, em ata de registro de preços, do licitante que acei-
Por fim, vejamos os dispositivos legais contidos na Nova lei de tar cotar os bens ou serviços em preços iguais aos do licitante vence-
Lictações que regem o sistema de registro de preços: dor na sequência de classificação da licitação e inclusão do licitante
Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará que mantiver sua proposta original.
as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre: § 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regu-
I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a lamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispen-
quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida; sa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de
II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, serviços por mais de um órgão ou entidade.
no caso de serviços, de unidades de medida; Art. 83. A existência de preços registrados implicará compro-
III - a possibilidade de prever preços diferentes: misso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obri-
a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais dife- gará a Administração a contratar, facultada a realização de licita-
rentes; ção específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente
b) em razão da forma e do local de acondicionamento; motivada.
c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do Art. 84. O prazo de vigência da ata de registro de preços será de
lote; 1 (um) ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que
d) por outros motivos justificados no processo; comprovado o preço vantajoso.
IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em Parágrafo único. O contrato decorrente da ata de registro de
quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se preços terá sua vigência estabelecida em conformidade com as dis-
nos limites dela; posições nela contidas.
V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor
preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no Revogação e anulação da licitação
mercado; De antemão, em relação à revogação e a anulação do proce-
VI - as condições para alteração de preços registrados; dimento licitatório, aplica-se o mesmo raciocínio, posto que caso
VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de servi- tenha havido vício no procedimento, busca-se por vias legais o a
ço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante possibilidade de corrigi-lo. Em se tratando de caso de vício que não
vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com se possa sanar, ou haja a impossibilidade de saná-lo, a anulação se
a ordem de classificação; impõe. Entretanto, caso não exista qualquer espécie de vício no cer-
VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais tame, mas, a contratação tenha sido deixada de ser considerada de
de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de interesse público, impõe-se a aplicação da revogação.
validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de Nos ditames do art. 62 da Lei nº 13.303/2016, após o início da
ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto fase de apresentação de lances ou propostas, “a revogação ou a
no edital; anulação da licitação somente será efetivada depois de se conceder
IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços aos licitantes que manifestem interesse em contestar o respectivo
e suas consequências ato prazo apto a lhes assegurar o exercício do direito ao contraditó-
§ 1º O critério de julgamento de menor preço por grupo de rio e à ampla defesa”.
itens somente poderá ser adotado quando for demonstrada a invia- Já na seara da lei nº 8.666/93, ressalta-se que a norma tratou
bilidade de se promover a adjudicação por item e for evidenciada a de limitar a indicar, por meio do art. 49, §3º, que em caso de des-
sua vantagem técnica e econômica, e o critério de aceitabilidade de fazimento do processo licitatório, ficará assegurado o contraditório
preços unitários máximos deverá ser indicado no edital. e a ampla defesa.
§ 2º Na hipótese de que trata o § 1º deste artigo, observados Por fim, registra-se que em se tratando da obrigatoriedade da
os parâmetros estabelecidos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 23 desta Lei, aprovação de espaço aos licitantes interessados no exercício do di-
a contratação posterior de item específico constante de grupo de reito ao contraditório e à ampla defesa, de forma anterior ao ato
itens exigirá prévia pesquisa de mercado e demonstração de sua de decisório de revogação e anulação, criou-se de forma tradicio-
vantagem para o órgão ou entidade. nal diversos debates tanto na doutrina quanto na jurisprudência
§ 3º É permitido registro de preços com indicação limitada a nacional. Um exemplo da informação acima, trata-se dos diversos
unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido, julgados que ressalvam a aplicação contida no art. 49, §3º da Lei
apenas nas seguintes situações: 8.666/1.993 nas situações de revogação de licitação antes de sua
I - quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão ou homologação. Pondera-se que esse entendimento afirma que o
entidade não tiver registro de demandas anteriores; contraditório e a ampla defesa apenas seriam exigíveis quando o
II - no caso de alimento perecível; procedimento de licitação tiver sido concluído.
III - no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento Obs. Importante: Ainda que em situações por meio das quais é
de bens. considerado dispensável dar a oportunidade aos licitantes do con-
§ 4º Nas situações referidas no § 3º deste artigo, é obrigatória traditório e a ampla defesa, a obrigação da administração em mo-
a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação tivar o ato revogatório não será afastada, uma vez que devendo se
de outro órgão ou entidade na ata. ater aos princípios da transparência e da motivação, o gestor por
§ 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para força de lei, deverá sempre evidenciar as razões pelas quais foram
a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de fundamentadas a conclusão pela revogação do certame, bem como
engenharia, observadas as seguintes condições: os motivos de não prosseguir com o processo licitatório.

54
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Breves considerações adicionais acerca das mudanças no pro- Contratos de Direito Privado firmados pela Administração:
cesso de licitação após a aprovação da Lei 14.133/2.021 são aqueles comandados por normas de Direito Privado.
• Com a aprovação da Nova Lei, nos ditames do §2º do art. 17,
será utilizada como regra geral, a forma eletrônica de contratação Princípios
para todos os procedimentos licitatórios. Princípio da legalidade
• Como exceção, caso seja preciso que a forma de contratação Disposto no art. 37 da CRFB/1988, recebe um conceito como
seja feita presencialmente, o órgão deverá expor os motivos de fato um produto do Liberalismo, que propagava evidente superioridade
e de direito no processo administrativo, porém, ficará incumbido da do Poder Legislativo por intermédio da qual a legalidade veio a ser
obrigação de gravar a sessão em áudio e também em vídeo. bipartida em importantes desdobramentos:
• O foco da Nova Lei, é buscar o incentivo para o uso do siste- 1) Supremacia da lei: a lei prevalece e tem preferência sobre os
ma virtual nos certames, vindo, assim, a dar mais competitividade, atos da Administração;
segurança e isonomia para as licitações de forma geral. 2) Reserva de lei: a apreciação de certas matérias deve ser for-
• A Nova Lei de Licitações criou o PNCP (Portal Nacional de malizada pela legislação, deletando o uso de outros atos de caráter
Contratações Públicas), que irá servir como um portal obrigatório. normativo.
• Todos os órgãos terão obrigação de divulgar suas licitações, Todavia, o princípio da legalidade deve ser conceituado como o
sejam eles federais, estaduais ou municipais. principal conceito para a configuração do regime jurídico-adminis-
• Art. 20. Os itens de consumo adquiridos para suprir as de- trativo, tendo em vista que segundo ele, a administração pública só
mandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de poderá ser desempenhada de forma eficaz em seus atos executivos,
qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finali- agindo conforme os parâmetros legais vigentes. De acordo com o
dades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo. princípio em análise, todo ato que não possuir base em fundamen-
• Art. 95, § 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com tos legais é ilícito.
a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação
de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de va- Princípio da impessoalidade
lor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Consagrado de forma expressa no art. 37 da CRFB/1988, possui
• São atos da Administração Pública antes de formalizar ou duas interpretações possíveis:
prorrogar contratos administrativos: verificar a regularidade fiscal a) igualdade (ou isonomia): dispõe que a Administração Públi-
do contratado; consultar o Cadastro Nacional de Empresas idôneas ca deve se abster de tratamento de forma impessoal e isonômico
e suspensas (CEIS) e punidas (CNEP). aos particulares, com o fito de atender a finalidade pública, vedadas
• A Nova Lei de Licitações inseriu vários crimes do Código Pe- a discriminação odiosa ou desproporcional. Exemplo: art. 37, II, da
nal, no que se refere às licitações, dentre eles, o art. 337-H do Có- CRFB/1988: concurso público. Isso posto, com ressalvas ao trata-
digo Penal de 1.940: mento que é diferenciado para pessoas que estão se encontram em
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo- posição fática de desigualdade, com o fulcro de efetivar a igualdade
dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor material. Exemplo: art. 37, VIII, da CRFB e art. 5.0, § 2. °, da Lei
do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a 8.112/1990: reserva de vagas em cargos e empregos públicos para
Administração Pública sem autorização em lei, no edital da licitação portadores de deficiência.
ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatu- b) proibição de promoção pessoal: quem faz as realizações
ra com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade: públicas é a própria entidade administrativa e não são tidas como
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. feitos pessoais dos seus respectivos agentes, motivos pelos quais
toda a publicidade dos atos do Poder Público deve possuir caráter
Perturbação de processo licitatório educativo, informativo ou de orientação social, nos termos do art.
• Os valores fixados na Lei, serão anualmente corrigidos pelo 37, § 1. °, da CRFB: “dela não podendo constar nomes, símbolos
IPCA-E, nos termos do art. 182: O Poder Executivo federal atua- ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades
lizará, a cada dia 1º de janeiro, pelo Índice Nacional de Preços ao ou servidores públicos”.
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que venha a subs-
tituí-lo, os valores fixados por esta Lei, os quais serão divulgados no Princípio da moralidade
PNCP. Disposto no art. 37 da CRFB/1988, presta-se a exigir que a atua-
ção administrativa, respeite a lei, sendo ética, leal e séria. Nesse dia-
pasão, o art. 2. °, parágrafo único, IV, da Lei 9.784/1999 ordena ao
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: CONCEITO, PECULIA- administrador nos processos administrativos, a autêntica “atuação
RIDADES E INTERPRETAÇÃO. FORMALIZAÇÃO, EXECU- segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”. Exemplo:
ÇÃO, INEXECUÇÃO, REVISÃO E RESCISÃO a vedação do ato de nepotismo inserido da Súmula Vinculante 13
do STF. Entretanto, o STF tem afastado a aplicação da mencionada
súmula para os cargos políticos, o que para a doutrina em geral não
No desempenho da função administrativa, o Poder Público parece apropriado, tendo em vista que o princípio da moralidade é
empraza diversas relações jurídicas com pessoas físicas e jurídicas, um princípio geral e aplicável a toda a Administração Pública, vindo
públicas e privadas. A partir do momento em que tais relações se a alcançar, inclusive, os cargos de natureza política.
constituem por intermédio da manifestação bilateral da vontade
das partes, afirmamos que foi celebrado um contrato da Adminis-
tração.
Denota-se que os contratos da Administração podem ser nas
formas:
Contratos Administrativos: são aqueles comandados pelas
normas de Direito Público.

55
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da publicidade na Alemanha, dignidade constitucional, a partir do momento em
Sua função é impor a divulgação e a exteriorização dos atos que a doutrina e a jurisprudência passaram a afirmar que a propor-
do Poder Público, nos ditames do art. 37 da CRFB/1988 e do art. cionalidade seria um princípio implícito advindo do próprio Estado
2. ° da Lei 9.784/1999). Ressalta-se com grande importância que a de Direito.
transparência dos atos administrativos guarda estreita relação com Embora haja polêmica em relação à existência ou não de di-
o princípio democrático nos termos do art. 1. ° da CRFB/1988), vin- ferenças existentes entre os princípios da razoabilidade e da pro-
do a possibilitar o exercício do controle social sobre os atos públicos porcionalidade, de modo geral, tem prevalecido a tese da fungibi-
praticados pela Administração Pública em geral. Denota-se que a lidade entre os mencionados princípios que se relacionam e forma
atuação administrativa obscura e sigilosa é característica típica dos paritária com os ideais igualdade, justiça material e racionalidade,
Estados autoritários. Como se sabe, no Estado Democrático de Di- vindo a consubstanciar importantes instrumentos de contenção dos
reito, a regra determinada por lei, é a publicidade dos atos estatais, excessos cometidos pelo Poder Público.
com exceção dos casos de sigilo determinados e especificados por O princípio da proporcionalidade é subdividido em três
lei. Exemplo: a publicidade é um requisito essencial para a produ- subprincípios:
ção dos efeitos dos atos administrativos, é uma necessidade de mo- a) Adequação ou idoneidade: o ato praticado pelo Estado será
tivação dos atos administrativos. adequado quando vier a contribuir para a realização do resultado
pretendido.
b) Necessidade ou exigibilidade: em decorrência da proibição
Princípio da eficiência
do excesso, existindo duas ou mais medidas adequadas para alcan-
Foi inserido no art. 37 da CRFB, por intermédio da EC 19/1998,
çar os fins perseguidos de interesse público, o Poder Público terá
com o fito de substituir a Administração Pública burocrática pela
o dever de adotar a medida menos agravante aos direitos funda-
Administração Pública gerencial. O intuito de eficiência está relacio-
mentais.
nado de forma íntima com a necessidade de célere efetivação das c) Proporcionalidade em sentido estrito: coloca fim a uma
finalidades públicas dispostas no ordenamento jurídico. Exemplo: típica consideração, no caso concreto, entre o ônus imposto pela
duração razoável dos processos judicial e administrativo, nos dita- atuação do Estado e o benefício que ela produz, motivo pelo qual
mes do art. 5.0, LXXVIII, da CRFB/1988, inserido pela EC 45/2004), a restrição ao direito fundamental deverá ser plenamente justifica-
bem como o contrato de gestão no interior da Administração (art. da, tendo em vista importância do princípio ou direito fundamental
37 da CRFB) e com as Organizações Sociais (Lei 9.637/1998). que será efetivado.
Em relação à circulação de riquezas, existem dois critérios que
garantem sua eficiência: Princípio da supremacia do interesse público sobre o interes-
a) eficiência de Pareto (“ótimo de Pareto”): a medida se torna se privado (princípio da finalidade pública)
eficiente se conseguir melhorar a situação de certa pessoa sem pio- É considerado um pilar do Direito Administrativo tradicional,
rar a situação de outrem. tendo em vista que o interesse público pode ser dividido em duas
b) eficiência de Kaldor-Hicks: as normas devem ser aplicadas categorias:
de forma a produzir o máximo de bem-estar para o maior número a) interesse público primário: encontra-se relacionado com a
de pessoas, onde os benefícios de “X” superam os prejuízos de “Y”). necessidade de satisfação de necessidades coletivas promovendo
Ressalte-se, contudo, em relação aos critérios mencionados justiça, segurança e bem-estar através do desempenho de ativi-
acima, que a eficiência não pode ser analisada apenas sob o prisma dades administrativas que são prestadas à coletividade, como por
econômico, tendo em vista que a Administração possui a obrigação exemplo, os serviços públicos, poder de polícia e o fomento, dentre
de considerar outros aspectos fundamentais, como a qualidade do outros.
serviço ou do bem, durabilidade, confiabilidade, dentre outros as- b) interesse público secundário: trata-se do interesse do pró-
pectos. prio Estado, ao estar sujeito a direitos e obrigações, encontra-se
ligando de forma expressa à noção de interesse do erário, imple-
Princípios da razoabilidade e da proporcionalidade mentado através de atividades administrativas instrumentais que
Nascido e desenvolvido no sistema da common law da Magna são necessárias ao atendimento do interesse público primário.
Carta de 1215, o princípio da razoabilidade o princípio surgiu no di- Exemplos: as atividades relacionadas ao orçamento, aos agentes
público e ao patrimônio público.
reito norte-americano por intermédio da evolução jurisprudencial
da cláusula do devido processo legal, pelas Emendas 5.’ e 14.’ da
Princípio da continuidade
Constituição dos Estados Unidos, vindo a deixar de lado o seu cará-
Encontra-se ligado à prestação de serviços públicos, sendo que
ter procedimental (procedural due process of law: direito ao contra-
tal prestação gera confortos materiais para as pessoas e não pode
ditório, à ampla defesa, dentre outras garantias processuais) para, ser interrompida, levando em conta a necessidade permanente de
por sua vez, incluir a versão substantiva (substantive due process of satisfação dos direitos fundamentais instituídos pela legislação.
law: proteção das liberdades e dos direitos dos indivíduos contra Tendo em vista a necessidade de continuidade do serviço pú-
abusos do Estado). blico, é exigido regularidade na sua prestação. Ou seja, prestador
Desde seus primórdios, o princípio da razoabilidade vem sendo do serviço, seja ele o Estado, ou, o delegatório, deverá prestar o
aplicado como forma de valoração pelo Judiciário, bem como da serviço de forma adequada, em consonância com as normas vigen-
constitucionalidade das leis e dos atos administrativos, demons- tes e, em se tratando dos concessionários, devendo haver respeito
trando ser um dos mais importantes instrumentos de defesa dos às condições do contrato de concessão. Em resumo, a continuidade
direitos fundamentais dispostos na legislação pátria. pressupõe a regularidade, isso por que seria inadequado exigir que
O princípio da proporcionalidade, por sua vez origina-se das te- o prestador continuasse a prestar um serviço de forma irregular.
orias jusnaturalistas dos séculos XVII e XVIII, a partir do momento Mesmo assim, denota-se que a continuidade acaba por não
no qual foi reconhecida a existência de direitos perduráveis ao ho- impor que todos os serviços públicos sejam prestados diariamente
mem oponíveis ao Estado. Foi aplicado primeiramente no âmbito e em período integral. Na realidade, o serviço público deverá ser
do Direito Administrativo, no “direito de polícia”, vindo a receber, prestado sempre na medida em que a necessidade da população

56
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
vier a surgir, sendo lícito diferenciar a necessidade absoluta da ne- Princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
cessidade relativa, onde na primeira, o serviço deverá ser prestado boa-fé
sem qualquer tipo interrupção, tendo em vista que a população ne- Os princípios da segurança jurídica, da confiança legítima e da
cessita de forma permanente da disponibilidade do serviço. Exem- boa-fé possuem importantes aspectos que os assemelham entre si.
plos: hospitais, distribuição de energia, limpeza urbana, dentre ou- O princípio da segurança jurídica está dividido em dois senti-
tros. dos:
a) objetivo: estabilização do ordenamento jurídico, levando em
Princípio da autotutela conta a necessidade de que sejam respeitados o direito adquirido,
Aduz que a Administração Pública possui o poder-dever de re- o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (art. 5.°, XXXVI, da CRFB);
ver os seus próprios atos, seja no sentido de anulá-los por vício de b) subjetivo: infere a proteção da confiança das pessoas rela-
legalidade, ou, ainda, para revogá-los por motivos de conveniência cionadas às expectativas geradas por promessas e atos estatais.
e de oportunidade, de acordo com a previsão contida nas Súmulas
346 e 473 do STF, e, ainda, como no art. 53 da Lei 9.784/1999. Já o princípio da boa-fé tem sido dividido em duas acepções:
A autotutela designa o poder-dever de corrigir ilegalidades, a) objetiva: diz respeito à lealdade e à lisura da atuação dos
bem como de garantir o interesse público dos atos editados pela particulares;
própria Administração, como por exemplo, a anulação de ato ilegal b) subjetiva: está ligada a relação com o caráter psicológico
e revogação de ato inconveniente ou inoportuno. daquele que atuou em conformidade com o direito. Esta caracteri-
Fazendo referência à autotutela administrativa, infere-se que zação da confiança legítima depende em grande parte da boa-fé do
esta possui limites importantes que, por sua vez, são impostos ante particular, que veio a crer nas expectativas que foram geradas pela
à necessidade de respeito à segurança jurídica e à boa-fé dos parti- atuação do Estado.
culares de modo geral. Condizente à noção de proteção da confiança legítima, verifi-
ca-se que esta aparece em forma de uma reação frente à utilização
Princípios da consensualidade e da participação abusiva de normas jurídicas e de atos administrativos que termi-
Segundo Moreira Neto, a participação e a consensualidade tor- nam por surpreender os seus receptores.
naram-se decisivas para as democracias contemporâneas, pelo fato Em decorrência de sua amplitude, princípio da segurança jurí-
de contribuem no aprimoramento da governabilidade, vindo a fazer dica, inclui na sua concepção a confiança legítima e a boa-fé, com
a praticar a eficiência no serviço público, propiciando mais freios supedâneo em fundamento constitucional que se encontra implí-
contra o abuso, colocando em prática a legalidade, garantindo a cito na cláusula do Estado Democrático de Direito no art. 1.° da
atenção a todos os interesses de forma justa, propiciando decisões
CRFB/1988, na proteção do direito adquirido, do ato jurídico perfei-
mais sábias e prudentes usando da legitimidade, desenvolvendo a
to e da coisa julgada de acordo com o art. 5.0, XXXVI, da CRFB/1988.
responsabilidade das pessoas por meio do civismo e tornando os
Por fim, registra-se que em âmbito infraconstitucional, o
comandos estatais mais aceitáveis e mais fáceis de ser obedecidos.
princípio da segurança jurídica é mencionado no art. 2. ° da Lei
Desta forma, percebe-se que a atividade de consenso entre o
9.784/1999, vindo a ser caracterizado por meio da confiança legíti-
Poder Público e particulares, ainda que de maneira informal, veio a
ma, pressupondo o cumprimento dos seguintes requisitos:
assumir um importante papel no condizente ao processo de iden-
a) ato da Administração suficientemente conclusivo para gerar
tificação de interesses públicos e privados que se encontram sob a
no administrado (afetado) confiança em um dos seguintes casos:
tutela da Administração Pública.
confiança do afetado de que a Administração atuou corretamente;
Assim sendo, com a aplicação dos princípios da consensualida-
de e da participação, a administração termina por voltar-se para a confiança do afetado de que a sua conduta é lícita na relação jurídi-
coletividade, vindo a conhecer melhor os problemas e aspirações ca que mantém com a Administração; ou confiança do afetado de
da sociedade, passando a ter a ter atividades de mediação para que as suas expectativas são razoáveis;
resolver e compor conflitos de interesses entre várias partes ou b) presença de “signos externos”, oriundos da atividade admi-
entes, surgindo daí, um novo modo de agir, não mais colocando o nistrativa, que, independentemente do caráter vinculante, orien-
ato como instrumento exclusivo de definição e atendimento do in- tam o cidadão a adotar determinada conduta;
teresse público, mas sim em forma de atividade aberta para a cola- c) ato da Administração que reconhece ou constitui uma situa-
boração dos indivíduos, passando a ter importância o momento do ção jurídica individualizada (ou que seja incorporado ao patrimônio
consenso e da participação. jurídico de indivíduos determinados), cuja durabilidade é confiável;
De acordo com Vinícius Francisco Toazza, “o consenso na toma- d) causa idônea para provocar a confiança do afetado (a con-
da de decisões administrativas está refletido em alguns institutos fiança não pode ser gerada por mera negligência, ignorância ou to-
jurídicos como o plebiscito, referendo, coleta de informações, con- lerância da Administração); e
selhos municipais, ombudsman, debate público, assessoria externa e) cumprimento, pelo interessado, dos seus deveres e obriga-
ou pelo instituto da audiência pública. Salienta-se: a decisão final ções no caso.
é do Poder Público; entretanto, ele deverá orientar sua decisão o
mais próximo possível em relação à síntese extraída na audiência do Elementos
interesse público. Nota-se que ocorre a ampliação da participação Aduz-se que sobre esta matéria, a lei nada menciona a respei-
dos interessados na decisão”, o que poderá gerar tanto uma “atu- to, porém, a doutrina tratou de a conceituar e estabelecer alguns
ação coadjuvante” como uma “atuação determinante por parte de paradigmas. Refere-se à classificação que a doutrina faz do contrato
interessados regularmente habilitados à participação” (MOREIRA administrativo. Desta forma, o contrato administrativo é:
NETO, 2006, p. 337-338). 1) Comutativo: trata-se dos contratos de prestações certas e
Desta forma, o princípio constitucional da participação é o pio- determinadas. Possui prestação e contraprestação já estabelecidas
neiro da inclusão dos indivíduos na formação das tutelas jurídico- e equivalentes. Nesta espécie de contrato, as partes, além de rece-
-políticas, sendo também uma forma de controle social, devido aos berem da outra prestação proporcional à sua, podem apreciar ime-
seus institutos participativos e consensuais. diatamente, verificando previamente essa equivalência. Ressalta-se

57
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
que o contrato comutativo se encontra em discordância do contrato K) Natureza de contrato de adesão – as cláusulas dos contratos
aleatório que é aquele contrato por meio do qual, as partes se ar- administrativos devem ser fixadas de forma unilateral pela Admi-
riscam a uma contraprestação que por ora se encontra desconheci- nistração.
da ou desproporcional, dizendo respeito a fatos futuros. Exemplo: Registra-se que deve constar no edital da licitação, a minuta
contrato de seguro, posto que uma das partes não sabe se terá que do contrato que será celebrado. Desta maneira, os licitantes ao
cumprir alguma obrigação, e se tiver, nem sabe qual poderá ser. fazerem suas propostas, estão acatando os termos contratuais es-
Com referência a esse tipo de contrato, aduz o art. 4 do Decre- tabelecidos pela Administração. Ainda que o contrato não esteja
to-Lei n.7.568/2011: precedido de licitação, a doutrina aduz que é sempre a adminis-
Art. 4º A celebração de convênio ou contrato de repasse com tração quem estabelece as cláusulas contratuais, pelo fato de estar
entidades privadas sem fins lucrativos será precedida de chama- vinculada às normas e também ao princípio da indisponibilidade do
mento público a ser realizado pelo órgão ou entidade concedente, interesse público;
visando à seleção de projetos ou entidades que tornem mais eficaz L) Caráter intuitu personae – por que os contratos administrati-
o objeto do ajuste. (Redação dada pelo Decreto n. 7.568, de 2011) vos são firmados tomando em conta as características pessoais do
2) Oneroso: por ter natureza bilateral, comporta vantagens contratado. Por esta razão, de modo geral, é proibida a subcontra-
para ambos os contraentes, tendo em vista que estes sofrem um tação total ou parcial do objeto contratado, a associação do contra-
sacrifício patrimonial equivalente a um proveito almejado. Existe tado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem
um benefício recebido que corresponde a um sacrifício, por meio como a fusão, cisão ou incorporação, cuja desobediência é motivo
do qual, as partes gozam de benefícios e deveres. Ocorre de forma para rescisão contratual (art. 78, VI, Lei 8.666/1993). Entretanto, a
contrária do contrato gratuito, como a doação, posto que neste, só regra anterior é amparada pelo art. 72 da mesma lei, que determina
uma das partes possui obrigação, que é entregar o bem, já a outra, a possibilidade de subcontratação de partes de obra, serviço ou for-
não tem. necimento, até o limite admitido pela Administração. Aduz-se que a
3) Formal: é dotado de condições específicas previstas na legis- possibilidade de subcontratação é abominada pela doutrina, tendo
lação para que tenha validade. A formalização do contrato encon- em vista vez que permite que uma empresa que não participou por
tra-se paramentada no art. 60 Lei 8.666/1993. Denota-se, por opor- meios legais da licitação de forma indireta, acabe contratando com
tuno, que o contrato administrativo é celebrado pela forma escrita, o Poder Público, o que ofende o princípio da licitação previsto no
nos ditames art. 60, parágrafo único. art. 37, XXI, da Constituição Federal.

Características Formalização
A doutrina não é unânime quanto às características dos contra- Em regra, os contratos administrativos são precedidos da reali-
tos administrativos. Ainda assim, de modo geral, podemos aduzir zação de licitação, ressalvado nas hipóteses por meio das quais a lei
que são as seguintes: estabelece a dispensa ou inexigibilidade deste procedimento. Além
A) Presença da Administração Pública – nos contratos admi- disso, a minuta do futuro contrato a ser firmado pela Administração
nistrativos, a Administração Pública atua na relação contratual na com o licitante vencedor, constitui anexo do edital de licitação, dele
posição de Poder Público, por esta razão, é dotada de um rol de sendo parte integrante (art. 40, § 2º, III).
prerrogativas que acabam por a colocar em posição de hierarquia Os contratos administrativos são em regra, formais e escritos.
diante do particular, sendo que tais prerrogativas se materializam Registre-se que o instrumento de contrato, á ato obrigatório
nas cláusulas exorbitantes; nas situações de concorrência ou de tomadas tomada de preços,
B) Finalidade pública – do mesmo modo que nos contratos de bem como ainda nas situações de dispensa ou inexigibilidade de
direito privado, nos contratos administrativos sempre deverá estar licitação, nas quais os valores contratados estejam elencados nos
presente a incessante busca da satisfação do interesse público, sob limites daquelas duas modalidades licitatórias.
pena de incorrer em desvio de poder; Aduz-se que nos demais casos, o termo de contrato será facul-
C) Procedimento legal – são estabelecidos por meio de lei pro- tativo, fato que enseja à Administração adotar o instrumento con-
cedimentos de cunho obrigatório para a celebração dos contratos tratual ou, ainda, vir a optar por substituí-lo por outro instrumento
administrativos, que contém, dentre outras medidas, autorização hábil a documentar a avença, conforme quadro a seguir (art. 62, §
legislativa, justificativa de preço, motivação, autorização pela auto- 2º):
ridade competente, indicação de recursos orçamentários e licita- Todo contrato administrativo tem natureza de contrato de ade-
ção;
são, pois todas as cláusulas contratuais são fixadas pela Adminis-
D) Bilateralidade – independentemente de serem de direito
tração. Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são
privado ou de direito público, os contratos são formados a partir de
fixadas por apenas uma das partes, no caso do contrato administra-
manifestações bilaterais de vontades da Administração contratante
tivo, a Administração.
e do particular contratado;
E) Consensualidade – são o resultado de um acordo de vonta-
Prazo
des plenas e livres, e não de ato impositivo;
Tendo em vista que os contratos administrativos devem ter
F) Formalidade – não basta que haja a vontade das partes para
prazo determinado, sua vigência deve ficar adjunta à vigência dos
que o contrato administrativo se aperfeiçoe, sendo necessário o
respectivos créditos orçamentários. Assim sendo, em regra, os con-
cumprimento de determinações previstas na Lei 8.666/1993;
H) Onerosidade – o contrato possui valor econômico conven- tratos terão duração de um ano, levando em conta que esse é o
cionado; prazo de vigência dos créditos orçamentários que são passados aos
I) Comutatividade – os contratos exigem equidade das presta- órgãos e às entidades. Nos ditames da Lei 4.320/1964, o crédito
ções do contratante e do contratado, sendo que estas devem ser orçamentário tem duração de um ano, vindo a coincidir com o ano
previamente definidas e conhecidas; civil.
J) Caráter sinalagmático – constituído de obrigações recíprocas Entretanto, o art. 57 da Lei 8.666/1993 determina outras situa-
tanto para a Administração contratante como para o contratado; ções que não seguem ao disposto na regra acima. Vejamos:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas me- Desta maneira, percebe-se que o contrato administrativo per-
tas estabelecidas no Plano Plurianual, os quais poderão ser prorro- mite de forma regulamentada, que haja alteração em suas cláu-
gados se houver interesse da Administração e desde que isso tenha sulas durante sua execução. Registre-se que contrato não é um
sido previsto no ato convocatório; documento rígido e inflexível, tendo em vista que o mesmo pode
• À prestação de serviços a serem executados de forma contí- sofrer alterações para que venha a se adequar às modificações que
nua, que poderão ter a sua duração prorrogada por iguais e suces- forem preciso durante a execução contratual. Além disso, a lei fixa
sivos períodos com vistas à obtenção de preços e condições mais percentuais por meio dos quais a Administração pode promover al-
vantajosas para a administração, limitada a sessenta meses; (Reda- terações no objeto do contrato, restando o contratado obrigado a
ção dada pela Lei nº 9.648, de 1998); acatar as modificações realizadas, desde que dentro dos percentu-
• Ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de ais fixados pela legislação.
informática, podendo a duração estender-se pelo prazo de até 48
(quarenta e oito) meses após o início da vigência do contrato. Revisão
De acordo com a Carta Magna, toda programação de longo pra- A princípio, denota-se que as causas que justificam a inexecu-
zo do Governo tem o dever de estar contida do plano plurianual. ção contratual possuem o condão de gerar apenas a interrupção
Desta maneira, estando o contrato contemplado nessa programa- momentânea da execução contratual, bem como a total impos-
ção a longo prazo – PPA –, sua duração será estendida enquanto sibilidade de sua conclusão com a consequente rescisão. Em tais
existir a previsão nessa lei específica. situações, pelo ato de as situações não decorrem de culpa do con-
Em relação aos serviços contínuos na Administração Pública, tratado, este poderá vir a paralisar a execução de forma que não
denota-se que são aqueles que exigem uma permanência do servi- seja considerado descumpridor. Assegurado pela CFB/1988, em seu
ço. Sendo uma espécie de serviço que é mais coerente manter por art. 37, XXI, o equilíbrio econômico-financeiro da relação contratual
um período maior ao invés de ficar renovando e trocando todos os consiste na manutenção das condições de pagamento estabeleci-
anos. Por isso, em razão da Lei n. 12.349/2010, foi acrescentado das quando do início do contrato, de forma que a relação se mante-
mais um dispositivo que determina que o contrato pode ter dura- nha estável entre as obrigações do contratado e haja correta e justa
ção superior a um ano, que é a regra geral retribuição da Administração pelo fornecimento do bem, execução
de obra ou prestação de serviço.
Alteração Havendo qualquer razão que cause a alteração do contrato sem
Em consonância com o art. 65 da Lei 8.666/1993, Lei de Lici- que o contratado tenha culpa, tal razão terá que ser restabelecida.
tações, a Administração Pública possui o poder de fazer alterações Registra-se que essa garantia é de cunho constitucional. Nesse sen-
durante a execução de seus contratos de maneira unilateral, inde- tido, caso o contrato seja atingido por acontecimentos posteriores
pendentemente da vontade do ente contratado. à sua celebração, vindo a onerar o contratado, o equilíbrio econô-
Infere-se aqui, que o contrato administrativo possui o condão mico-financeiro inicial deverá, nos termos legais que lhe assiste, ser
de ser alterado unilateralmente ou por meio de acordo. Além dis- restabelecido por intermédio da recomposição contratual. Desta
so, ressalte-se que as alterações unilaterais podem ser de ordem maneira, a inexecução sem culpa do contratado virá a acarretar a
qualitativa ou quantitativa. Vejamos o dispositivo legal acerca do revisão contratual, caso tenha havido alteração do equilíbrio eco-
assunto: nômico-financeiro
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser altera-
dos, com as devidas justificativas, nos seguintes casos: Prorrogação
I - unilateralmente pela Administração: Via regra geral, os contratos administrativos regidos pela Lei
a) quando houver modificação do projeto ou das especifica- 8.666/1993 possuem duração determinada e vinculada à vigência
ções, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; dos respectivos créditos orçamentários. No entanto, há exceções a
b) quando necessária a modificação do valor contratual em de- essa regra nas seguintes situações:
corrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, a) Quando o contrato se referir à execução dos projetos cujos
nos limites permitidos por esta Lei; produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no Plano
II - por acordo das partes: Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução; da Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato con-
b) quando necessária a modificação do regime de execução da vocatório (art. 57, I);
obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de b) Quando o contrato for relativo à prestação de serviços a se-
verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais ori- rem executados de forma contínua, que poderão ter a sua duração
ginários; prorrogada por iguais e sucessivos períodos visando à obtenção de
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada
por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o valor a 60 meses (art. 57, II);
inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com rela- c) No caso do aluguel de equipamentos e da utilização de pro-
ção ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contra- gramas de informática, podendo a duração estender-se pelo prazo
prestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço; de até 48 meses após o início da vigência do contrato (art. 57, IV);
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicial- d) Nos contratos celebrados com dispensa de licitação pelos
mente entre os encargos do contratado e a retribuição da adminis- seguintes motivos:
tração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento, I) possibilidade de comprometimento da segurança nacional;
objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro ini- II) para as compras de material de uso das forças armadas,
cial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou exceto materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver
previsíveis porém de consequências incalculáveis, retardadores ou necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de
impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força apoio logístico naval, aéreo e terrestre;
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econô- III) para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou pres-
mica extraordinária e extracontratual. (Redação dada pela Lei nº tados no País, que envolvam, cumulativamente, alta complexidade
8.883, de 1994) tecnológica e defesa nacional;

59
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
IV) para contratação de empresas relacionadas à pesquisa e de- lei de dispensa ou inexigibilidade de licitação, como acontece por
senvolvimento tecnológico, conforme previsto nos arts. 3º, 4º, 5º e exemplo, quando o contrato original é extinto, vindo a faltar ínfima
20 da Lei 10.973/2004. parte da obra, serviço ou fornecimento para concluída, ou quando
Denota-se que esses contratos terão vigência por até 120 me- durante a execução, surge a necessidade de reparação ou amplia-
ses, por interesse da Administração (art. 57, V, dispositivo incluído ção não prevista, mas que pode ser feita pelo pessoal e equipamen-
pela Lei 12.349, de 2010). tos que já se encontram em atividade.
É importante registrar que em se tratando de casos de contra- Via regra geral, a renovação é realizada por meio de nova lici-
tos celebrados com dispensa de licitação por motivos de emergên- tação, com a devida observância de todas as formalidades legais.
cia ou calamidade pública, a duração do contrato deverá se esten- Ocorrendo isso, a lei impõe vedações ao estabelecimento no edital
der apenas pelo período necessário ao afastamento da urgência, de cláusulas que venham a favorecer o atual contratado em preju-
tendo prazo máximo de 180 dias, contados da ocorrência da emer- ízo dos demais concorrentes, com exceção das que prevejam sua
gência ou calamidade, vedada a sua prorrogação (art. 24, IV). indenização por equipamentos ou benfeitorias que serão utilizados
Embora a lei determine a proibição da prorrogação de contrato pelo futuro contratado.
com fundamento na dispensa de licitação por emergência ou cala-
midade pública, ressalta-se que o TCU veio a consolidar entendi- Reajuste contratual
mento de que pode haver exceções a essa regra em algumas hipó- Reajuste contratual é uma das formas de reequilíbrio econô-
teses restritas, advindas de fato superveniente, e também, desde mico-financeiro dos contratos. É caracterizado por fazer parte de
que a duração do contrato se estenda por período de tempo razo- uma fórmula prevista no contrato que é utilizada para proteger os
ável e suficiente para enfrentar a situação emergencial (AC- 1941- contratados dos efeitos inflacionários.
Infere-se que a Lei 8.666/1993, no art. 55, III, prevê o reajus-
39/07-P).
te como cláusula estritamente necessária em todo contrato a que
Em análise ao art. 57, § 3º, da Lei 8.666/1993, percebe-se que
estabeleça o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-
este proíbe a existência de contrato administrativo com prazo de
-base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de
vigência indeterminado. No entanto, tal regra não é aplicada ao
atualização monetária entre a data do adimplemento das obriga-
contrato de concessão de direito real de uso de terrenos públicos ções e a do efetivo pagamento.
para finalidades específicas de regularização fundiária de interes-
se social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, Execução e inexecução
aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comuni- Por determinação legal a execução do contrato será acompa-
dades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modali- nhada e também fiscalizada por um representante advindo da Ad-
dades de interesse social em áreas urbanas, que poderá ser firmado ministração designado, sendo permitida a contratação de terceiros
por tempo certo ou indeterminado (Decreto-lei 271/1967, art. 7º, para assisti-lo e subsidiá-lo de informações relativas a essa atribui-
com redação dada pela Lei 11.481/2007). ção.
Afirma-se que a princípio, as partes devem se prestar ao fiel Deverá ser anotado em registro próprio todas as ocorrências
cumprimento dos prazos previstos nos contratos. Entretanto, exis- pertinentes à execução do contrato, determinando o que for pre-
tem situações nas quais não é possível o cumprimento da avença no ciso à regularização das faltas bem como dos defeitos observados.
prazo originalmente previsto. Ocorrendo isso, a lei admite a prorro- Ressalta-se, que tanto as decisões como as providências que ultra-
gação dos prazos contratuais, desde que tal fato seja justificado e passarem a competência do representante deverão ser requeridas
autorizado de forma antecedente pela autoridade competente para a seus superiores em tempo suficiente para a adoção das medidas
celebrar o contrato, o que é aceito pela norma nos casos em que que se mostrarem pertinentes.
houver (art. 57, § 1º): Em relação ao contratado, deverá manter preposto, admitido
A) alteração do projeto ou especificações, pela Administração; pela Administração, no local da obra ou serviço, para representá-lo
B) superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estra- na execução contratual. O contratado possui como obrigação o de-
nho à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condi- ver de reparar, corrigir, remover, reconstruir ou substituir, às suas
ções de execução do contrato; custas, no total ou em parte, o objeto do contrato no qual forem
C) interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo encontrados vícios, defeitos ou incorreções advindas da execução
de trabalho por ordem e no interesse da Administração; aumento ou de materiais empregados.
das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos limites per- Além do exposto a respeito do contratado, este também é res-
mitidos por essa Lei; ponsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a
terceiros, advindos de sua culpa ou dolo na execução contratual,
D) impedimento de execução do contrato por fato ou ato de
não excluindo ou reduzindo essa responsabilidade a fiscalização ou
terceiro reconhecido pela Administração em documento contem-
o acompanhamento por meio do órgão interessado. O contratado
porâneo à sua ocorrência; omissão ou atraso de providências a car-
também se encontra responsável pelos encargos trabalhistas, previ-
go da Administração, inclusive quanto aos pagamentos previstos de
denciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.
que resulte, diretamente, impedimento ou retardamento na exe-
cução do contrato, sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos Em se tratando da inexecução do contrato, percebe-se que a
responsáveis. mesma está prevista no art. 77 da Lei de licitações 8.666/93. Veja-
mos:
Renovação Art. 77 - A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua
Cuida-se a renovação do contrato da inovação no todo ou em rescisão com as consequências contratuais e as previstas em lei ou
parte do ajuste, desse que mantido seu objeto inicial. A finalidade regulamento.
da renovação contratual é a manutenção da continuidade do servi-
ço público, tendo em vista a admissão da recontratação direta do Observação importante: Cumpre Ressaltar que a Administra-
atual contratado, isso, desde que as circunstâncias a justifiquem e ção Pública responde solidariamente com o contratado pelos encar-
permitam seu enquadramento numa das hipóteses dispostas por gos previdenciários resultantes da execução do contrato

60
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que a inexecução pode ocorrer de forma parcial ou Anulação
total, posto que ocorrendo a inexecução parcial de uma das partes, Apenas a Administração Pública detém o poder de executar a
não é observado um prazo disposto em cláusula específica em ha- anulação unilateral. Isso significa que caso o contratado ou outro
vendo a inexecução total, se o contratado não veio a executar o ob- interessado desejem fazer a anulação contratual, terão que recorrer
jeto do contrato. Infere-se que qualquer dessas situações são passí- às esferas judiciais para conseguir a anulação. A anulação do contra-
veis de propiciar responsabilidade para o inadimplente, resultando to é advinda de ilegalidade constatada na sua execução ou, ainda,
em sanções contratuais e legais proporcionais à falta cometida pela na fase de licitação, posto que os vícios gerados no procedimento
parte inadimplente, vindo tais sanções a variar desde as multas, a licitatório causam a anulação do contrato.
revisão ou a rescisão do contrato. Nos parâmetros do art. 59 da Lei de Licitações, é demonstrado
Registre-se que a inexecução do contrato pode ser o resulta- que a nulidade não possui o condão de exonerar a Administração
do de um ato ou omissão da parte contratada, tendo tal parte agi- do dever de indenização ao contratado pelo que este houver feito
do com negligência, imprudência e imperícia. Podem também ter até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos causados
acontecido causas justificadoras por meio das quais o contratan- comprovados, desde que não lhe seja imputável, vindo a promover
te tenha dado causa ao descumprimento das cláusulas contratu- a responsabilização de quem deu motivo ao ocorrido. Assim sendo,
ais, vindo a agir sem culpa, podendo se desvencilhar de qualquer caso ocorra anulação, o contratado deverá auferir ganhos pelo que
responsabilidade assumida, tendo em vista que o comportamento já executou, pois, caso contrário, seria considerado enriquecimen-
ocorreu de forma alheia à vontade da parte. to ilícito da Administração Pública. Porém, caso seja o contratado
Por fim, ressalte-se que a inexecução total ou parcial do contra- que tenha dado causa à nulidade, infere-se que este não terá esse
to enseja à Administração Pública o poder de aplicar as sanções de mesmo direito.
natureza administrativa dispostas no art. 87:
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Adminis- Observação importante: A anulação possui efeito ex tunc, ou
tração poderá, garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seja, retroativo (voltado para o sentido passado), posto que a lei
seguintes sanções: dispõe que ela acaba por desconstituir os efeitos produzidos e im-
I – advertência; pede que se produzam novos efeitos.
II – multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou
no contrato; Revogação
III – suspensão temporária de participação em licitação e impe- A questão da possibilidade de desfazimento do processo de
dimento de contratar com a Administração, por prazo não superior licitação e do contrato administrativo por meio da própria Adminis-
a 2 (dois) anos; tração Pública é matéria que não engloba discussões doutrinárias e
IV – declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com jurisprudenciais. Inclusive, o controle interno dos atos administra-
tivos se encontra baseado no princípio da autotutela, que se trata
a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determi-
do poder - dever da Administração Pública de revogar e anular seus
nantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante
próprios atos, desde que haja justificação pertinente, com vistas a
a própria autoridade que aplicou a penalidade, que será concedida
preservar o interesse público, bem como sejam respeitados o devi-
sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos
do processo legal e os direitos e interesses legítimos dos destinatá-
resultantes e após decorrido o prazo da sanção aplicada com base
rios, conforme determina a Súmula 473 do STF. Vejamos:
no inciso anterior.
Súmula 473 do STF - A administração pode anular seus próprios
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
Cláusulas exorbitantes
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
De todas as características, essa é a mais importante. As Cláu-
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
sulas exorbitantes conferem uma série de poderes para a Adminis- em todos os casos, a apreciação judicial.
tração em detrimento do contratado. Mesmo que de forma implíci- Conforme determinação do art. 49 da Lei Federal 8.666/93,
ta, se encontram presentes em todos os contratos administrativos. assim preceitua quanto ao desfazimento dos processos licitatórios:
São também chamadas de cláusulas leoninas, porque só dão
esses poderes para a Administração Pública, consideradas como Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedi-
exorbitantes porque saem fora dos padrões de normalidade, vindo mento somente poderá revogar a licitação por razões de interesse
a conferir poderes apenas a uma das partes. público decorrente de fato superveniente devidamente compro-
O contratado não pode se valer das cláusulas exorbitantes ou vado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo
leoninas em contrato de direito privado, tendo em vista a ilegali- anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros,
dade de tal ato, posto que é ilegal nesses tipos de contratos, além mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.
disso, as partes envolvidas devem ter os mesmos direitos e obriga- Para efeitos de rescisão unilateral do contrato administrativo,
ções. Havendo qualquer tipo de cláusula em contrato privado que por motivos de interesse público, a discricionariedade administra-
atribua direito somente a uma das partes, esta cláusula será ilegal tiva exige que a questão do interesse público deve ser justificada
e leonina. em fatos de grande relevância, o que torna insuficiente a simples
São exemplos de cláusulas exorbitantes: a viabilidade de alte- alegação do interesse público, se restarem ausentes a comprovação
ração unilateral do contrato por intermédio da Administração, sua das lesões advindas da manutenção do contrato e das circunstân-
rescisão unilateral, a fiscalização do contrato, a possibilidade de cias extraordinárias, bem como dos danos irreparáveis ou de difícil
aplicação de penalidades por inexecução e a ocupação, na hipótese reparação.
de rescisão contratual.
Extinção e Consequências
A extinção do contrato administrativo diz respeito ao término
da obrigação vinculada existente entre a Administração e o contra-
tado, podendo ocorrer de duas maneiras, sendo elas:

61
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A) de maneira ordinária, pelo cumprimento do objeto (ex.: na Isso não quer dizer que toda alteração deveria ser feita para
finalização da construção de instituição pública) ou pelo aconteci- adicionar valor ao contrato original, tendo em vista que também
mento do termo final já previsto no contrato (ex.: a data final de um pode ser para diminuir, isso, desde que se comprove por vias ade-
contrato de fornecimento de forma contínua); quadas que o valor do serviço ou produto contratado se encontra
B) de maneira extraordinária, pela anulação ou pela rescisão acima do valor proposto inicialmente, ocasionado por deflação ou
contratual. queda de valores nos insumos, produtos ou serviços, ou até mesmo
Em relação à extinção ordinária, denota-se que esta não com- em decorrência de uma desvalorização cambial. Além disso, o Po-
porta maiores detalhamentos, sendo que as partes, ao cumprir suas der Público não tem a obrigação de pagar além do que se propôs,
obrigações, a consequência natural a ocorrer é a extinção do víncu- nem valor menor ao acordado inicialmente, devendo sempre haver
lo obrigacional, sem maiores necessidades de manifestação por via equilíbrio em relação aos pactos contratuais.
administrativa ou judicial. Os artigos 57, 58 3 65 da Lei 8666/93, aliados aos artigos 9 1e
Já a extinção extraordinária do contrato por meio da anulação, 10 da Lei Federal nº 8987/95, conforme descrição, se completam
considera-se que a lei prevê consequências diferentes para o caso em relação a esse tema e, se referindo ao princípio da legalidade,
de haver ou não haver culpa do contratado no fato que deu causa à existe a necessidade de se apreciar os contratos sujeitos aos entes
rescisão contratual. Existindo culpa do contratado pela rescisão do públicos. Vejamos:
contrato, as consequências são as seguintes (art. 80, I a IV): Art. 57: A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará
1) assunção imediata do objeto do contrato, no estado e local adstrita à vigência dos respectivos créditos orçamentários, exceto
em que se encontrar, por ato próprio da Administração; quanto aos relativos:
2) ocupação e utilização provisória do local, instalações, equi- § 1º. Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e
pamentos, material e pessoal empregados na execução do contra- de entrega admitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do
to, necessários à sua continuidade, que deverá ser precedida de contrato e assegurada a manutenção de seu equilíbrio econômico-
autorização expressa do Ministro de Estado competente, ou Secre- -financeiro, desde que ocorra algum dos seguintes motivos, devida-
tário Estadual ou Municipal, conforme o caso (art. 80, § 3º); mente autuados em processo:
3) execução da garantia contratual, para ressarcimento da Ad- I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
ministração, e dos valores das multas e indenizações a ela devidos; II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho
4) retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite à vontade das partes, que altere fundamentalmente as condições
dos prejuízos causados à Administração. de execução do contrato;
III - interrupção da execução do contrato ou diminuição do rit-
Em síntese, temos: mo de trabalho por ordem e no interesse da Administração;
IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contra-
EXTINÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO to, nos limites permitidos por esta Lei;
ORDINÁRIA EXTRAORDINÁRIA V - impedimento de execução do contrato por fato ou ato de
terceiro reconhecido pela Administração em documento contempo-
I –Pelo cumprimento do objeto; râneo à sua ocorrência;
I – Pela anulação;
II – Pelo advento do termo final do VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Administra-
II – Pela rescisão.
contrato. ção, inclusive quanto aos pagamentos previstos de que resulte, dire-
tamente, impedimento ou retardamento na execução do contrato,
Equilíbrio Econômico-financeiro sem prejuízo das sanções legais aplicáveis aos responsáveis.
Em alusão ao tratamento do equilíbrio econômico - contratual, Como se observa, existe previsão explicita na Lei no. 8666/93,
a Constituição Federal de 1.988 em seu art. 37, inciso XXI dispõe o art. 57, § 1º., I, II, III, IV, V, VI, de que o contrato deve ser equilibrado
seguinte: sempre que houver uma das condições dos incisos I a VI, de forma
Art. 37: A administração pública direta e indireta, de qualquer que o legislador previu quais as hipóteses que se encaixam para o
dos poderes da União, dos Estados e dos Municípios obedecerá aos
equilíbrio. Entretanto, não apresenta de forma clara, cabendo ao
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
administrador agir com legalidade e bom senso nos casos concretos
eficiência e também, ao seguinte:
específicos. No entanto, a aludida previsão não se restringe somen-
XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
te ao art. 57, § 1º, incisos I, II, III, IV, V e VI da Lei no. 8666/93, tendo
serviços, compras e alienações serão contratados mediante proces-
previsão ainda no art. 58 do mesmo diploma legal. Vejamos:
so de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos
Art. 58: O regime jurídico dos contratos administrativos ins-
os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pa-
tituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a
gamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos
prerrogativa de:
da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação téc-
nica e econômica, indispensáveis à garantia do cumprimento das I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às
obrigações. finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contra-
Denota-se que os mencionados dispositivos determinam que tado;
as condições efetivas da proposta devem ser mantidas, não tendo II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no in-
como argumentar de maneira contrária no que diz respeito à le- ciso I do art. 79 desta Lei;
galidade da modificação do valor contratual original, com o obje- III – fiscalizar-lhes a execução;
tivo de equilibrar o que foi devidamente avençado e pactuado no IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial
momento da assinatura, bem como ao que foi disposto a pagar a do ajuste;
contratante ao contratado. V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente
bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do
contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração admi-
nistrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipó-
tese de rescisão do contrato Administrativo.

62
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos con- do alteração unilateral do contrato que afete o seu inicial equilíbrio
tratos administrativos não poderão ser alteradas sem prévia con- econômico-financeiro, o poder concedente deverá restabelecê-lo,
cordância do contratado. concomitantemente à alteração.
§ 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômi- Art. 10º. Sempre que forem atendidas as condições do contra-
co-financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mante- to, considera-se mantido seu equilíbrio econômico-financeiro.
nha o equilíbrio contratual. Atentos às fundamentações legais, observamos que parte na
Assim, o legislador ao repetir no art. 58 da Lei 8666/93 o direi- inicial da Constituição Federal, verifica-se que na Administração Pú-
to ao equilíbrio contratual, fica bastante clara a preocupação em blica é possível haver o equilíbrio econômico-financeiro, entretan-
manter a igualdade entre as partes. Note que o parágrafo 2º prevê to, há diversas dúvidas a respeito da utilização do ajuste contratual,
respeito ao direito do contratado, uma vez que é admitido que a principalmente pela ausência de conhecimento da legislação, o que
administração, desde que seja motivos de interesse público se ne- acaba por causar problemas de ordem econômica, tanto em relação
gue a equilibrar um contrato que esteja resultando em prejuízos ao ao contratado quanto ao contratante. Registre-se, por fim, que o
contratado, desde que o fato do prejuízo se encaixe em uma das pacto contratual deve ser mantido durante o período completo de
hipóteses dispostas no art. 57, Lei no. 8666/93. Proposta que não execução, e o equilíbrio financeiro acaba por se tornar a ferramenta
pode ser executada, não é passível de equilíbrio. mais adequada para proporcionar essa condição.
Ante o exposto, acrescenta-se ainda que a Lei 8666/93 destaca
o equilíbrio no art. 65, I e II. Vejamos: Convênios e terceirização
Art. 65: Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, Os convênios podem ser definidos como os ajustes entre o
com as devidas justificativas, nos seguintes casos: Poder Público e entidades públicas ou privadas, nos quais estejam
I - unilateralmente pela Administração: estabelecidos a previsão de colaboração mútua, com o fito de reali-
a) quando houver modificação do projeto ou das especifica- zação de objetivos de interesse comum.
ções, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; Não obstante, o convênio possua em comum com o contrato
b) quando necessária a modificação do valor contratual em de- o fato de ser um acordo de vontades, com este não se confunde.
corrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, Denota-se que pelo convênio, os interesses dos signatários são
nos limites permitidos por esta Lei; comuns, ao passo que nos contratos, os interesses são opostos e
II - por acordo das partes: contraditórios.
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução; Em decorrência de tal diferença de interesses, é que se alude
b) quando necessária a modificação do regime de execução da que nos contratos existem partes e nos convênios existem partíci-
obra ou serviço, bem como do modo de fornecimento, em face de pes.
verificação técnica da inaplicabilidade dos termos contratuais ori-
De acordo com o art. 116 da Lei 8.666/1993, a celebração de
ginários;
convênio, acordo ou ajuste por meio dos órgãos ou entidades da
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento,
Administração Pública depende de antecedente aprovação de com-
por imposição de circunstâncias supervenientes, mantido o valor
petente plano de trabalho a ser proposto pela organização interes-
inicial atualizado, vedada a antecipação do pagamento, com rela-
sada, que deverá conter as seguintes informações:
ção ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contra-
A) identificação do objeto a ser executado;
prestação de fornecimento de bens ou execução de obra ou serviço;
B) metas a serem atingidas;
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicial-
C) etapas ou fases de execução;
mente entre os encargos do contratado e a retribuição da Adminis-
D) plano de aplicação dos recursos financeiros;
tração para a justa remuneração da obra, serviço ou fornecimento,
E) cronograma de desembolso;
objetivando a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro ini- F) previsão de início e fim da execução do objeto e, bem assim,
cial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos imprevisíveis, ou da conclusão das etapas ou fases programadas;
previsíveis porém de consequências incalculáveis, retardadores ou
impeditivos da execução do ajustado, ou ainda, em caso de força Em relação à terceirização na esfera da Administração Pública,
maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econô- depreende-se que é exigida do administrador muito cuidado, posto
mica extraordinária e extracontratual. que, embora haja contrariamento ao art. 71 da Lei 8.666/93, a dívi-
Verifica-se que o art. 65 determina que, de início, deve haver da trabalhista das empresas terceirizadas acabam por recair sobre
o restabelecimento do que foi pactuado no contrato avençado, o órgão tomador dos serviços, que é o que chamamos de respon-
devendo ser dotados de equilíbrio os encargos, bem como a retri- sabilidade subsidiária. Assim sendo, o administrador público deverá
buição da administração para que haja justa remuneração, sendo exigir garantias, bem como passar a acompanhar o cumprimento
mantidas as condições originais do termo contratual. Em se tratan- das obrigações trabalhistas advindos da empresa prestadora de ser-
do, especificamente da concessão de serviço público, a Lei 8.987/95 viços, com fito especial quando do encerramento do contrato.
dispõe no art. 9º a revisão de tarifa como uma forma de equilíbrio Registre-se que a responsabilidade subsidiária pela tomadora
financeiro. Vejamos: dos serviços é o que entende a Justiça do trabalho, com base no
Art. 9º: A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo Enunciado nº 331, item IV editado pelo Tribunal Superior do Traba-
preço da proposta vencedora da licitação e preservada pelas re- lho – TST, que aduz:
gras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no contrato. § 2º. “O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do
Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos
fim de manter-se o equilíbrio econômico-financeiro. § 3º. Ressal- serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da
vados os impostos sobre a renda, a criação, alteração ou extinção administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das
de quaisquer tributos ou encargos legais, após a apresentação da empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que
proposta, quando comprovado seu impacto, implicara a revisão da haja participado da relação processual e constem também do título
tarifa, para mais ou para menos, conforme o caso. § 4º. Em haven- executivo judicial.”

63
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Com fulcro no Enunciado retro citado, denota-se que incon- Controle Judicial
táveis são as decisões condenatórias à Administração Pública, em Registremos, a princípio, que o controle judicial da Administra-
relação ao pagamento de obrigações trabalhistas que cabem de for- ção Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder Judiciário, quan-
ma original à empresa prestadora de serviços, onerando o erário, do em exercício de função jurisdicional, sobre os atos administra-
vindo a contrariar o que se espera da Terceirização que é a redução tivos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do próprio Poder
de custos à Administração Pública. Judiciário. O controle judicial é aquele por meio do qual, o Poder
Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional, aprecia a juridicida-
de que engloba a regularidade, a legalidade e a constitucionalidade
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO. da conduta administrativa.
CONTROLE INTERNO E EXTERNO Denota-se que o controle externo da Administração por meio
do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
Controle exercido pela Administração Pública (controle inter- Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
no) como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes de injunção e o habeas data.
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade de
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os direi- jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de juris-
tos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do Poder dição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder Judiciário
tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja sujei- possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a inferir que
ta a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em sentido pró-
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria prio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de serem modi-
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos ficadas.
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida pela
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo en-
tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob vi- contram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário.
gilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem ser É importante registrar que o fundamento da adoção do siste-
vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu veto ma de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se encontra
derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não concor- inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual ficou es-
dando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a entender tabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder de incumbir lesão ou ameaça a direito”.
a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir o conflito, Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o sistema
como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da Repúbli- de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso administrati-
ca. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), que são vo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a função juris-
indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente da Repú- dicional é exercida por duas estruturas orgânicas que são regidas
blica, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das Casas do
de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária e a Justiça
Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma espécie de
Administrativa, posto que cada uma profere decisão com força de
controle prévio.
coisa julgada no âmbito de suas competências.
Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Di-
Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema
reito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos que
de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais
possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais instru-
administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver
mentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se mantenha
litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça Ad-
sempre consolidada com o direito, visando ao interesse público e
ministrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do Poder
mantendo o respeito aos direitos dos administrados.
Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade confli-
pode ser interno ou externo. Vejamos: tos que envolvam somente particulares.
• Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder sobre- Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via
pondo condutas que são praticadas na direção desse mesmo Poder, de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade do
ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica da Administração ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os Magis-
indireta sobre atos que foram praticados pela própria pessoa jurídi- trados não apreciam o mérito do ato administrativo, não analisando
ca da qual faz parte. No controle interno o órgão controlador encon- a conveniência e a oportunidade da prática do ato.
tra-se inserido na estrutura administrativa que deve ser controlada. Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, pois de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a
esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores controlar decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi-
os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em resumo, o nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não é cabível
controle interno que venha a depender da existência de hierarquia no exercício da função jurisdicional a revogação do ato administra-
entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas chefias so- tivo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato.
bre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de controle in- É de suma importância destacar que o controle judicial possui
terno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as atribuições, abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos dis-
não dependendo de hierarquia para o exercício de suas prerroga- cricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de
tivas. validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma,
• Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutu- é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto os
ra do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos, discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou ilegiti-
quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar midade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados pelo
as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário. Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle jurisdicio-
nal.

64
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém sobre
geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses previs-
de alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pes- tas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque caso con-
soa que tenha a pretensão de provocar o controle da administração trário, haveria inferiorização do princípio da separação dos poderes.
pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a Acontece que em razão disso, não podem leis ordinárias, comple-
ação cabível para o alcance desse objetivo. mentares ou Constituições Estaduais predispor outras modalidades
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies de de controle diversas das que são previstas na Constituição Federal,
ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou ame- sob risco de ferir o mesmo princípio.
aça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: o habeas De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle le-
corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A relação das gislativo: o político e o financeiro.
ações que dão possibilidade ao controle judicial da Administração O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais de
será sempre a título de exemplificação, tendo em vista que o con- contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade e de
trole pode ser exercido, inclusive, por intermédio de ação judicial mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo, con-
ordinária sem denominação especial ou específica. forme o caso.

Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no di- Formas de controle político:


reito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um 1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF, art.
49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter-
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato
nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação
patrimônio nacional; autorizar o Presidente da República a declarar
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes
guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transi-
editadas pela Corte Suprema.
tem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamen-
te, ressalvados os casos previstos em lei complementar; autorizar
Controle Legislativo o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do
O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legisla- País, quando a ausência exceder a quinze dias; aprovar o estado de
tivo sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou sus-
ocorre por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o pender qualquer uma dessas medidas; sustar os atos normativos
objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. limites de delegação legislativa; julgar anualmente as contas pres-
O controle legislativo, também denominado de controle parla- tadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a
mentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce poder execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar, diretamente,
sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder Judi- ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluí-
ciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho dos os da administração indireta; apreciar os atos de concessão e
da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; aprovar
um controle externo sobre os demais Poderes. iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; au-
Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve torizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federa- recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar,
do, posto que não somente o princípio da simetria, como também previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área
as regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os superior a dois mil e quinhentos hectares.
âmbitos federal, estadual, municipal e distrital.
Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o bicamera- 2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52):
lismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal composto por processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República
duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta por represen- nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Esta-
tantes do povo e o Senado Federal que é composto por represen- do e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
tantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; processar e
De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamen- julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
tar pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora do
União nos crimes de responsabilidade; autorizar operações exter-
Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do Con-
nas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do
gresso Nacional ou de cada Casa.
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por propos-
Levando em conta o princípio da simetria de organização, as ta do Presidente da República, limites globais para o montante da
regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que lhes cou- dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
ber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal e distrital, Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as opera-
desde que realizadas as devidas adaptações, principalmente aque- ções de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito
las que advém do fato de nos planos estadual, municipal e distrital a Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades
organização do Poder Legislativo serem do tipo unicameral. controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre limites e con-
Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislati- dições para a concessão de garantia da União em operações de cré-
vo também possui o poder de exercer o controle interno sobre os dito externo e interno; estabelecer limites globais e condições para
seus próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e
estará realizando um controle administrativo interno. Esse é o mo- dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a
tivo pelo qual quando falamos no controle parlamentar, estamos exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do
abordando somente o controle externo exercido pelo Poder Legis- término de seu mandato; aprovar previamente, por voto secreto,
lativo. após arguição pública, a escolha de:

65
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição; Em esquema básico, temos:
• Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
sidente da República; Financeiro: é exercido com o auxílio dos
• Governador de Território; tribunais de contas.
• Presidente e diretores do Banco Central; CONTROLE
• Procurador-Geral da República; LEGISLATIVO Político: alcança aspectos de legalidade
• Titulares de outros cargos que a lei determinar. ESPÉCIES e de mérito, vindo a ser preventivo, concomi-
• Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em tante ou repressivo.
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca-
ráter permanente; Controle pelos Tribunais de Contas
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF, Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e do exercício do controle externo da Administração Pública. São ór-
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presiden- gãos especializados e não integram a estrutura administrativa do
te da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer es-
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. pécie de relação hierárquica.
Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos Depu- de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
tados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos dire- do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
tamente subordinados à Presidência da República para prestarem, tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determina- Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o TCU
do, importando crime de responsabilidade a ausência sem justifi- (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais de
cação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal de Con-
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Mi- tas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal, percebe-se
nistros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente a organização dos tribunais de contas não ocorre de maneira uni-
subordinados à Presidência da República, importando em crime de forme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter criado até a
responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no prazo de trin- CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função de prestar auxí-
ta dias, bem como a prestação de informações falsas. lio ao Poder Legislativo municipal no exercício do controle externo é
Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe espe- normalmente repassada ao Tribunal de Contas do respectivo Estado
cial destaque referente ao controle exercido pelas comissões parla- que é dotado de atribuições de controle ao das administrações es-
mentares de inquérito (CPIs). tadual e municipal.
As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os
certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal
típicas do Parlamento que é a função de fiscalização. próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo
De acordo com a Constituição Federal, as comissões parlamen- o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais Tri-
tares de inquérito possuem poderes de investigação que são pró- bunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros,
prios das autoridades judiciais, além de outros poderes que estão número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal
previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são criadas de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em conjun- conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele
to ou de forma separada mediante pugnação de um terço de seus Município.
membros, com o objetivo de apurar fato determinado e por prazo Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais”
certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso, serão en- de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em
caminhadas ao Ministério Público, para que este órgão promova a sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter
responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos termos dispos- de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas
tos no art. 58, § 3º da CFB/1988. pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito
Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação, de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de
a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta for-
judicial para: ma, o interessado não poderá interpor um recurso para o Judiciário
• realizar as diligências que entender necessárias; em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com o fulcro
• convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir tes- de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante o órgão
temunhas sob compromisso e ouvir indiciados; jurisdicional competente com o objetivo de anular o mencionado
• requisitar de órgãos públicos informações e documentos de julgado.
qualquer natureza; Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e
• requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de ins- as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou
peções e auditorias que entender necessárias. um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um
Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a controle externo associada a um controle interno executado por
CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre cada órgão sobre seus agentes e seus atos.
por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas
as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal,
bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ).

66
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de con- B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
trolar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in-
e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange de pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, opera- a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
cional e patrimonial, levando em conta os aspectos da legalidade, erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta
de receitas. e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos contá- Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
beis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, é veri- comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
ficado o verdadeiro ingresso das receitas, através de comprovantes e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
de depósito ou transferência de recursos, bem como a realização de fundamento legal do ato concessório;
forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os seus tradicionais C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do
estágios de licitação, empenho, liquidação e pagamento. Por sua Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e
vez, o controle orçamentário é aquele que acompanha a execução auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacio-
do orçamento, que é a legislação em que se encontram as receitas nal e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legis-
previstas e também as despesas fixadas. Em referência ao controle lativo, Executivo e
operacional, ressaltamos que o mesmo trata de diversos aspectos Judiciário, e demais entidades referidas na letra b;
do desempenho da atividade administrativa, como por exemplo, D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
numa auditoria operacional, pode ser computado o tempo médio de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
que o usuário usa esperando por atendimento médico em uma uni- nos termos do tratado constitutivo;
dade do sistema público de saúde. Finalmente, temos o controle E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
patrimonial, que cuida da fiscalização do patrimônio público. União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
diversas normas jurídicas. por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comis-
O controle de legitimidade atua complementando o controle sões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera-
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além da cional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse diapa- realizadas;
são, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade do ato G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
e a obediência aos princípios constitucionais como a moralidade ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que es-
administrativa, por exemplo. tabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à uti- causado ao erário;
lização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele, pre- H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro-
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
tende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos da
ilegalidade;
melhor relação custo-benefício.
I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comu-
Destaca-se que o controle externo também investiga se hou-
nicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
ve a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir
abusos apurados.
despesas de custeio das entidades beneficiadas.
As subvenções podem ser de duas espécies. São elas: subven-
Observação: As normas retro mencionadas acima relativas ao
ções sociais e subvenções econômicas.
Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à organi-
A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de institui- zação, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Es-
ções públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que tados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos
não possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964, de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da
art. 12, § 3º, I. CFB/1988.
B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de
empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrí- Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de
cola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II. Contas
Registra-se, que o controle externo também se incumbe de Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e
apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários mecanis- “julgar contas”.
mos que tornam possível a renúncia de receita, como por exemplo: Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribu-
a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da alíquota ou da nais de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a
base de cálculo de tributo que implique sua redução. emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo
Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é
controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas competência do Poder
da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988: Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta ma-
A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da neira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas pelo
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos Go-
sessenta dias a contar de seu recebimento; vernadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; a do
Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do Distrito
Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras muni-
cipais.

67
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Existe uma particularidade em relação ao parecer que o tri-
bunal de contas do Estado ou do município emite a respeito das LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI FEDERAL
contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos termos Nº 8.429/1992)
do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, emitido
pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito deve anual- IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
mente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços
dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, é por essa razão A improbidade administrativa é a falta de probidade do servi-
que grande parte da doutrina afirma que nessa hipótese, o parecer dor no exercício de suas funções ou de governantes no desempe-
prévio é relativamente vinculante, não sendo absolutamente vin- nho das atividades próprias de seu cargo. Os atos de improbidade
culante pelo fato de poder ser superado, porém, como a superação administrativa importam a suspensão dos direitos políticos, a perda
depende de quórum qualificado, tem-se uma vinculação relativa. da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só do Erário (patrimônio da administração), na forma e gradação pre-
deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer di- vistas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
zer que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produ- Com a inclusão do princípio da moralidade administrativa no
zir efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em texto constitucional houve um reflexo da preocupação com a ética
caso do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer na Administração Pública, para evitar a corrupção de servidores.
do Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo A matéria é regulada no plano constitucional pelo art. 37, §4º,
possui natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegi- da Constituição Federal, e no plano infraconstitucional pela Lei Fe-
bilidade do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcor- deral Nº 8.429, de 02.06.1992, que dispõe sobre “as sanções apli-
rido o julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores cáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no
(RE 729.744/MG e RE 848.826/DF). exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração
De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte de pública direta, indireta ou fundacional.”
Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais dos Prefei- A lei 8.429/92 pune os atos de improbidade praticados por
tos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou inconstitucio- qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração.
nal dispositivo de constituição estadual que permitia às Câmaras Agente público, para os efeitos desta lei, é todo aquele que exer-
Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas pelos prefeitos, ce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
independentemente do parecer do Tribunal de Contas do Estado, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
quando este não fosse oferecido no prazo de 180 dias. (ADI 3.077/ investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função. Con-
SE). tudo, a lei também poderá ser aplicada, àquele que, mesmo não
Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para jul- sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
gar as contas dos administradores e demais responsáveis por verba improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou in-
pública, bens e valores públicos da administração direta e indireta, direta.
inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Os atos que constituem improbidade administrativa podem ser
Poder Público, e ainda, as contas dos entes que ensejarem e de- divididos em quatro espécies:
rem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte 1. Ato de improbidade administrativa que importa enriqueci-
prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no art. 71, III da mento ilícito (art. 9º)
CFB/1988. 2) Ato de improbidade administrativa que importa lesão ao erá-
Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que ao rio (art. 10)
julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que cau-
sarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas 3) Ato de improbidade administrativa decorrente de concessão
imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário (art. 10-
caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas A)
que imputam débito ou multa terão validade de título executivo 4) Ato de improbidade administrativa que atenta contra os
nos termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a princípios da administração pública (art. 11).
quem foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a refe-
rida importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer Confira a lei completa no material complementar digital dispo-
a cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de nível em sua Área do Aluno
uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma
ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de
decisão da corte de contas. PROCESSO ADMINISTRATIVO: CONCEITO, PRINCÍPIOS,
Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas que FASES E MODALIDADES
imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de títu-
lo executivo, sua execução independe da inscrição em dívida ati- Processo administrativo
va. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever to-
dos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que O Processo Administrativo Disciplinar tem como objetivo apu-
ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição dá rar possíveis infrações disciplinares e, conforme o caso, aplicar a
possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na Lei penalidade cabível.
6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de van- As regras disciplinares são de competência de cada ente fede-
tagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba por rativo, que irão regular os devidos procedimentos disciplinares de
submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em que seus respectivos servidores públicos.
ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a admi- Na esfera federal, temos o nosso estudo baseado na Lei
nistração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos. 8.112/90, sendo o estatuto dos servidores públicos. Vale destacar,
que as regras estatutárias não podem desrespeitar os princípios e
as regras constitucionais.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Dentro da Lei 8.112/90 existem três modalidades de Processo necessário analisar a presença de elementos concretos na denúncia
Administrativo Disciplinar, logo nas três hipóteses, por se tratar de anônima.
processo administrativo disciplinar é possível à existência de uma De modo que, ao receber a denúncia anônima a Autoridade
penalidade ao final. São modalidades do PAD: competente não pode abrir um PAD de prontidão. Mas, caso a Au-
I. Processo Administrativo Disciplinar Simplificado/ Sindicância toridade verifique elementos concretos nesta denúncia anônima,
(Art. 145 da Lei 8.112/90): possui como objetivo a apuração das instaura-se um PAD de sindicância investigatório, se neste proces-
condutas que em tese são de menor potencial ofensivo, pressupõe so for confirmado os elementos instaura-se um PAD propriamente
então que os tipos de penalidade a serem aplicadas aqui possuem dito, para apurar a fundo as infrações e aplicar as penalidades ne-
natureza leve. cessárias.
Caso ao dar início a esta modalidade de PAD e, verifica-se a não O PAD Propriamente Dito pode ser instaurado de prontidão
existência do fato, o PAD é arquivado, uma vez que está ausente de caso verifique-se uma conduta gravíssima, de uma denúncia clara
provas/ elementos probatórios. (pessoa assumi a responsabilidade), desta forma percebe-se que a
sindicância não é pré-requisito para a instauração do PAD, desde
Por outro lado, caso o PAD simplificado seja confirmado, apli-
que a denúncia seja clara.
ca-se uma advertência, ou então, uma suspensão de até 30 dias ao
Um dos elementos da Portaria que instaura o PAD é o afasta-
servidor público.
mento preventivo da servidor público (Ato Administrativo – Porta-
Assim, a punição para condutas do servidor público de natu-
ria). Esse afastamento ocorre, pois muitas vezes, os demais servi-
reza leve é de advertência ou suspensão de até 30 dias. Nota-se dores não se sentem confortáveis em testemunharem algo com o
que caso conclua-se, diante da apuração do PAD simplificado, que a acusado ainda ocupando o cargo, pois ele poderia utilizar sua in-
infração é gravíssima, finaliza-se o PAD simplificado e instaura-se o fluência – por exemplo, se vocês testemunharem acontecerá algo.
PAD propriamente dito. Assim, o afastamento é utilizado como um acautelamento do Admi-
Ex. Ocorre uma denuncia de um servidor, que está vendendo nistrador Público em relação ao processo administrativo disciplinar.
pão de mel dentro da administração pública, as pessoas sabem que Vale ressaltar que o afastamento temporário não é uma puni-
este servidor não sabe cozinhar. A autoridade recebe a informação. ção, tendo em vista que ainda não houve PAD. Sendo assim, neste
Sabe-se que essa conduta não é gravíssima, assim abre-se um PAD afastamento é razoável que o servidor público continue recebendo
simplificado para apurar a situação, mas com a informação de que a sua remuneração. O prazo de afastamento temporário do servidor
a pessoa não sabe cozinhar, ao abrir o PAD simplificado ele não se público é de no máximo 60 dias, prorrogáveis, desde que justificá-
confirma, assim arquiva-se. No caso de confirmação, por exemplo, vel, por mais 60 dias (Art. 147 da Lei 8.112/90).
não era pão de mel, mas cocada, aqui não se arquiva o processo, Caso passe o período total de 120 dias (60 + 60 prorrogáveis), e
mas aplica-se uma advertência. a Autoridade necessite de mais tempo para a investigação, não tem
Obs. Cuidado com o termo sindicância, na doutrina do Direito como aumentar o prazo e o servidor continuar afastado, assim o
Administrativo em Geral (Processo Administrativo – Lei 9.784/99), servidor retorna para o seu cargo e o PAD continua.
existe o termo sindicância, no sentido investigativo-inquisitório e O Ato Administrativo que instaura o PAD indica o nome de três
acusatória- punitivo. Assim, dentro do Processo Administrativo Ge- servidores públicos para compor uma Comissão Processante. Ou
ral, existem duas modalidades de sindicância. seja, uma autoridade instaura o PAD, sendo somente os Ministros
O PAD simplificado possui uma sindicância punitiva/acusatória, que possuem competência para tanto, entretanto não são os Minis-
uma vez que ao final ela apresenta uma penalidade. Esta distinção tros que tocam o Processo Administrativo Disciplinar, mas sim uma
ocorre, pois, caso esteja-se diante de uma sindicância investigati- Comissão Processante.
va/ inquisitória, não é necessário fornecer a ninguém o direito de Dentro do ato de instauração o Ministro já indica os servido-
ampla defesa e contraditório, uma vez que não se está acusando res públicos, sendo a regra geral que a Comissão Processante seja
ninguém, mas apenas investigando. composta por três Servidores Estáveis (estabilidade é um requisito
– Artigo 149 da Lei 8.112/90). Um desses três Servidores será Presi-
Não existe muitas regras sobre o processo administrativo dis-
dente da Comissão, este tem que ter o cargo superior ou similar ao
ciplinar simplificado, de modo que, de maneira geral, utiliza-se o
do servidor púbico acusado.
procedimento do propriamente dito como margem.
A regra geral prevê a estabilidade, pois esta funciona como
O prazo para a conclusão de um PAD simplificado é de 30 dias,
uma garantia do servidor público que compõe a comissão, de modo
ou seja, após o início da sindicância tem-se 30 dias para encerrar, a garantir que este não pode ser retirado/ perder o cargo a não ser
podendo ser prorrogados por mais 30 dias. nas hipóteses do artigo 41 da CF, ou seja, não sofro o risco de ser
II. Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito: utili- ameaça a ser mandada embora. (Obs. Não pode estar este Servidor
zado nos casos de infrações gravíssimas. Este processo administra- Público somente no cargo de comissão, uma vez que cargos em co-
tivo disciplinar possui três fases, sendo elas: missão não possuem a estabilidade).
* Primeira Fase: Compreende a instauração do processo. Para a Obs. É muito comum na jurisprudência quando se anula um
instauração do processo é necessário que o Administrador Público processo administrativo, anula-se a comissão processante em um
tome conhecimento de uma conduta indisciplinar, assim, é preciso sentido geral. Assim qual é o ato que a autoridade competente tem
conhecer a conduta, para depois instaurar um PAD.
que fazer? Instaurar um novo PAD, com a nomeação de novas pes-
*Diante de uma denuncia anônima é preciso instaurar o PAD? A
soas para compor a comissão processante, uma vez que a anterior
Lei 8.112/90 de a entender que a denuncia anônima está vedada de
foi desfeita, pois não garantiu a ampla defesa e o contraditório.
maneira geral para evitar o chamado denuncismo. Uma vez que, a
Caso anteriormente tenha ocorrido alguma nulidade que tenha ge-
Lei fala que a denúncia deve ser clara, demonstrando seu endereço,
nome, ou seja, você tem que ser responsável pela sua denúncia – rado o desfazimento da comissão processante, pode esta mesma
assumir a responsabilidade. Ocorre que, nessa situação, ao exigir comissão ser escolhida novamente. Assim, a Comissão Processante
que a denúncia seja sempre clara, pode estar evitando que certas só não pode ser a mesma caso esta não garanta o contraditório e a
denúncias cheguem à Administração Pública. Assim, conclui-se que ampla defesa.
a denúncia anônima não deve ser desconsiderada de fato, sendo A Suspensão e Advertência podem ser aplicadas no PAD, no
momento em que o Servidor Público é suspenso ou advertido,

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
começa a correr um prazo para o cancelamento desse registro de Obs. É possível emprestar provas produzidas em processos ju-
penalidades na sua ficha de servidor público. De modo que, após dicias em andamento? Sim, desde que esta prova emprestada seja
3 (para o caso de advertência) ou 5 (para a suspensão) anos o servi- lícita.
dor cometa outro ilícito/ não sofra nenhuma outra sanção, ele não Obs. É necessário que se dê a possibilidade de participação de
será considerado como reincidente. Assim, aqui não se cancela os advogado, não podendo ser vedada a sua participação no PAD.
efeitos da suspensão e da advertência, mas o Registro de Penalida- Esta situação do Advogado gerou a Súmula Vinculante nº 5 do
des em sua ficha. STF, que prevê que a falta de defesa técnica, ou seja, de advoga-
Prazo de Prescrição do PAD: o Servidor Público no exercício da do em um PAD não ofende a Constituição Federal. Entretanto o STJ
sua atividade, pratica uma conduta em que a penalidade típica é acredita que é necessária a presença do advogado no PAD. O que
demissão, assim, o poder público / administração pública, tem o vale, neste caso, é a posição do STF na Súmula Vinculante nº 5.
prazo de 5 anos, a partir do conhecimento do fato da conduta pela - Defesa
autoridade competente para abrir um PAD, sob pena de prescrição. - Relatório
Caso a conduta leve a suspensão do servidor, a Administração
* Terceira Fase: Julgamento
Pública tem dois anos, a partir do conhecimento da conduta, para
abrir o PAD sob pena de prescrição.
Confira a lei completa no material complementar digital dispo-
Por outro lado, caso a conduta leve a advertência ao servidor,
nível em sua Área do Aluno
a Administração Pública tem 180 dias, a partir do conhecimento da
conduta, para abrir o PAD, sob pena de prescrição.
Vale ressaltar, que nos três casos acima (demissão, suspen-
são e advertência), caso a Autoridade competente, tome conheci- PROCESSO ADMINISTRATIVO NO ÂMBITO DA ADMI-
mento da conduta e não instaure o PAD ela sofre as sanções da Lei NISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL (LEI ESTADUAL Nº
8.112/90, ou seja, assume a responsabilidade. 10.177/1998)
Ademais, importante ressaltar que no momento em que o PAD
é aberto, o prazo prescricional do mesmo se interrompe até a de- LEI Nº 10.177, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1998
cisão da autoridade competente (Art. 142, § 3º da Lei 8.112/90).
Entretanto existem discussões acerca da razoabilidade desse tempo Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
de decisão da autoridade competente, de modo que a previsão le- Pública Estadual
gal diverge da jurisprudencial. O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
A lei entende que a Autoridade tem o tempo necessário para Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo
se chegar a uma decisão, já a jurisprudência, entende que, uma vez a seguinte lei:
interrompido o prazo prescricional do PAD, após 140 dias, diante TÍTULO I
da ausência de uma decisão pela autoridade competente, o pra- DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
zo prescricional volta a correr. Isto é, uma vez instaurado o PAD, a
autoridade competente tem 140 dias para concluí-lo, uma vez que Artigo 1.º - Esta lei regula os atos e procedimentos adminis-
o PAD normalmente deve durar 60 dias, prorrogáveis por mais 60, trativos da Administração Pública centralizada e descentralizada do
após isso a autoridade competente tem 20 dias para julgá-lo – to- Estado de São Paulo, que não tenham disciplina legal específica.
talizando 140 dias. Parágrafo único - Considera-se integrante da Administração
* Segunda Fase: esta se subdivide em: descentralizada estadual toda pessoa jurídica controlada ou manti-
- Inquérito Administrativo: é tocado pela Comissão Processan- da, direta ou indiretamente, pelo Poder Público estadual, seja qual
te, composta por três servidores públicos que possuem estabilida- for seu regime jurídico.
Artigo 2.º - As normas desta lei aplicam-se subsidiariamente
de.
aos atos e procedimentos administrativos com disciplina legal es-
- Instrução do Processo: nesta fase mantem-se a regra funda-
pecífica.
mental inserida no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Em
Artigo 3.º - Os prazos fixados em normas legais específicas pre-
que, toda fase de Processo Administrativo Disciplinar será acom-
valecem sobre os desta lei.
panhada pelo Servidor acusado, uma vez que, caso não tenha este
acompanhamento não existirá a possibilidade do contraditório e
TÍTULO II
nem da ampla defesa.
DOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Outro princípio que rege esta fase é o Princípio da Oficialidade,
no sentido de que a Comissão Processante ao tocar o inquérito ad-
Artigo 4.º - A Administração Pública atuará em obediência aos
ministrativo age de ofício, não sendo necessário que a Autoridade
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
Administrativa de comandos para a Comissão Processante.
razoabilidade, finalidade, interesse público e motivação dos atos
Nesta fase também é necessário buscar a verdade material/
administrativos.
real, ou seja, a verdade mais próxima do que realmente aconteceu,
Artigo 5.º - A norma administrativa deve ser interpretada e apli-
nesse sentido, pode se falar que o PAD é muito parecido com o pro-
cada da forma que melhor garanta a realização do fim público a que
cesso penal.
se dirige.
Durante a Instrução do Processo serão tomadas todas as me-
Artigo 6.º - Somente a lei poderá:
didas necessárias como, por exemplo: oitiva de testemunhas, pe-
I - criar condicionamentos aos direitos dos particulares ou im-
rícias, acareações, sempre com a possibilidade de o servidor pú-
por-lhes deveres de qualquer espécie; e
blico causado intervir no procedimento, ou seja, apresentar seus
II - prever infrações ou prescrever sanções.
próprios laudos, testemunhas.
Nota-se que caso ocorra à violação ao contraditório e a ampla
defesa, o PAD deverá ser arquivado.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
TÍTULO III prejuízo à Administração ou a terceiros ou quando se tratar de ato
DOS ATOS ADMINISTRATIVOS impugnado.
§ 2.º - A convalidação será sempre formalizada por ato moti-
CAPÍTULO I vado.
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
CAPÍTULO III
Artigo 7.º - A Administração não iniciará qualquer atuação ma- DA FORMALIZAÇÃO DOS ATOS
terial relacionada com a esfera jurídica dos particulares sem a pré-
via expedição do ato administrativo que lhe sirva de fundamento, Artigo 12 - São atos administrativos:
salvo na hipótese de expressa previsão legal. I - de competência privativa:
a) do Governador do Estado, o Decreto;
CAPÍTULO II b) dos Secretários de Estado, do Procurador Geral do Estado e
DA INVALIDADE DOS ATOS dos Reitores das Universidades, a Resolução;
c) dos órgãos colegiados, a Deliberação;
Artigo 8.º - São inválidos os atos administrativos que desaten- II - de competência comum:
dam os pressupostos legais e regulamentares de sua edição, ou os a) a todas as autoridades, até o nível de Diretor de Serviço; as
princípios da Administração, especialmente nos casos de: autoridades policiais; aos dirigentes das entidades descentraliza-
I - incompetência da pessoa jurídica, órgão ou agente de que das, bem como, quando estabelecido em norma legal específica, a
emane; outras autoridades administrativas, a Portaria;
II - omissão de formalidades ou procedimentos essenciais; b) a todas as autoridades ou agentes da Administração, os de-
III - impropriedade do objeto; mais atos administrativos, tais como Ofícios, Ordens de Serviço, Ins-
IV - inexistência ou impropriedade do motivo de fato ou de di- truções e outros.
reito; § 1.º - Os atos administrativos, excetuados os decretos, aos
V - desvio de poder; quais se refere a Lei Complementar n. 60, de 10 de julho de 1972, e
VI - falta ou insuficiência de motivação. os referidos no Artigo 14 desta lei, serão numerados em séries pró-
Parágrafo único - Nos atos discricionários, será razão de inva- prias, com renovação anual, identificando-se pela sua denomina-
lidade a falta de correlação lógica entre o motivo e o conteúdo do ção, seguida da sigla do órgão ou entidade que os tenha expedido.
ato, tendo em vista sua finalidade. § 2.º - Aplica-se na elaboração dos atos administrativos, no que
Artigo 9.º - A motivação indicará as razões que justifiquem a couber, o disposto na Lei Complementar n. 60, de 10 de julho de
edição do ato, especialmente a regra de competência, os funda- 1972.
mentos de fato e de direito e a finalidade objetivada.
Parágrafo único - A motivação do ato no procedimento admi- Artigo 13 - Os atos administrativos produzidos por escrito in-
nistrativo poderá consistir na remissão a pareceres ou manifesta- dicarão a data e o local de sua edição, e conterão a identificação
ções nele proferidos. nominal, funcional e a assinatura da autoridade responsável.
Artigo 10 - A Administração anulará seus atos inválidos, de ofí- Artigo 14 - Os atos de conteúdo normativo e os de caráter geral
cio ou por provocação de pessoa interessada, salvo quando: serão numerados em séries específicas, seguidamente, sem reno-
- Inciso I declarado inconstitucional, em controle concentrado, vação anual.
pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADI nº 6.019, com mo- Artigo 15 - Os regulamentos serão editados por decreto, obser-
dulação de efeitos, para que: vadas as seguintes regras:
I - nenhum regulamento poderá ser editado sem base em lei,
1- sejam mantidas as anulações já realizadas pela Adminis- nem prever infrações, sanções, deveres ou condicionamentos de
tração até a publicação da ata do julgamento de mérito da ADI direitos nela não estabelecidos;
(23/04/2021), desde que tenham observado o prazo de 10 (dez) II - os decretos serão referendados pelos Secretários de Estado
anos; em cuja área de atuação devam incidir, ou pelo Procurador Geral do
Estado, quando for o caso;
2- seja aplicado o prazo decadencial de 10 (dez) anos aos casos III - nenhum decreto regulamentar será editado sem exposição
em que, em 23/04/2021, já havia transcorrido mais da metade do de motivos que demonstre o fundamento legal de sua edição, a fi-
tempo fixado na lei declarada inconstitucional (aplicação, por ana- nalidade das medidas adotadas e a extensão de seus efeitos;
logia, do art. 2.028 do Código Civil) e IV - as minutas de regulamento serão obrigatoriamente subme-
tidas ao órgão jurídico competente, antes de sua apreciação pelo
3- para os demais atos administrativos já praticados, seja o pra- Governador do Estado.
zo decadencial de 5 (cinco) anos contado a partir da publicação da
ata do julgamento de mérito da ADI (23/04/2021). CAPÍTULO IV
II - da irregularidade não resultar qualquer prejuízo; DA PUBLICIDADE DOS ATOS
III - forem passíveis de convalidação.
Artigo 11 - A Administração poderá convalidar seus atos invá- Artigo 16 - Os atos administrativos, inclusive os de caráter ge-
lidos, quando a invalidade decorrer de vício de competência ou de ral, entrarão em vigor na data de sua publicação, salvo disposição
ordem formal, desde que: expressa em contrário.
I - na hipótese de vício de competência, a convalidação seja Artigo 17 - Salvo norma expressa em contrário, a publicidade
feita pela autoridade titulada para a prática do ato, e não se trate dos atos administrativos consistirá em sua publicação no Diário
de competência indelegável; Oficial do Estado, ou, quando for o caso, na citação, notificação ou
II - na hipótese de vício formal, este possa ser suprido de modo intimação do interessado.
eficaz. Parágrafo único - A publicação dos atos sem conteúdo norma-
§ 1.º - Não será admitida a convalidação quando dela resultar tivo poderá ser resumida.

71
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO V dicatos poderão exercer o direito de petição, em defesa dos direitos
DO PRAZO PARA A PRODUÇÃO DOS ATOS e interesses coletivos ou individuais de seus membros.
Artigo 24 - Em nenhuma hipótese, a Administração poderá re-
Artigo 18 - Será de 60 (sessenta) dias, se outra não for a de- cusar-se a protocolar a petição, sob pena de responsabilidade do
terminação legal, o prazo máximo para a prática de atos adminis- agente.
trativos isolados, que não exijam procedimento para sua prolação,
ou para a adoção, pela autoridade pública, de outras providências SEÇÃO III
necessárias à aplicação de lei ou decisão administrativa. DA INSTRUÇÃO
Parágrafo único - O prazo fluirá a partir do momento em que, à
vista das circunstâncias, tornar-se logicamente possível a produção Artigo 25 - Os procedimentos serão impulsionados e instruídos
do ato ou a adoção da medida, permitida prorrogação, quando ca- de ofício, atendendo-se à celeridade, economia, simplicidade e uti-
bível, mediante proposta justificada. lidade dos trâmites.
Artigo 26 - O órgão ou entidade da Administração estadual que
CAPÍTULO VI necessitar de informações de outro, para instrução de procedimen-
DA DELEGAÇÃO E DA AVOCAÇÃO to administrativo, poderá requisitá-las diretamente, sem observân-
cia da vinculação hierárquica, mediante ofício, do qual uma cópia
Artigo 19 - Salvo vedação legal, as autoridades superiores po- será juntada aos autos.
derão delegar a seus subordinados a prática de atos de sua compe-
tência ou avocar os de competência destes. Parágrafo único - Os documentos digitalizados juntados aos
Artigo 20 - São indelegáveis, entre outras hipóteses decorren- autos por advogados privados têm a mesma força probante dos ori-
tes de normas específicas: ginais, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adulte-
I - a competência para a edição de atos normativos que regu- ração antes ou durante a tramitação do processo, e a autenticação
lem direitos e deveres dos administrados; de cópias de documentos físicos exigidos na forma da lei poderá ser
II - as atribuições inerentes ao caráter político da autoridade; feita pelo órgão administrativo ou pelo advogado constituído para
III - as atribuições recebidas por delegação, salvo autorização os fins específicos desta lei. (NR)
expressa e na forma por ela determinada;
IV - a totalidade da competência do órgão; - Parágrafo único incluído pela Lei nº 16.331, de 24/01/2019.
V - as competências essenciais do órgão, que justifiquem sua Artigo 27 - Durante a instrução, os autos do procedimento ad-
existência. ministrativo permanecerão na repartição competente.
Parágrafo único - O órgão colegiado não pode delegar suas fun- Artigo 28 - Quando a matéria do processo envolver assunto de
ções, mas apenas a execução material de suas deliberações. interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
motivado, autorizar consulta pública para manifestação de tercei-
TITULO IV ros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parte
DOS PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS interessada.
CAPÍTULO I § 1.º - A abertura da consulta pública será objeto de divulgação
NORMAS GERAIS pelos meios oficiais, a fim de que os autos possam ser examinados
pelos interessados, fixando-se prazo para oferecimento de alega-
SEÇÃO I ções escritas.
DOS PRINCÍPIOS § 2.º - O comparecimento à consulta pública não confere, por
si, a condição de interessado no processo, mas constitui o direito de
Artigo 21 - Os atos da Administração serão precedidos do pro- obter da Administração resposta fundamentada.
cedimento adequado à sua validade e à proteção dos direitos e in- Artigo 29 - Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade,
teresses dos particulares. diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú-
Artigo 22 - Nos procedimentos administrativos observar-se-ão, blica para debates sobre a matéria do processo.
entre outros requisitos de validade, a igualdade entre os adminis- Artigo 30 - Os órgãos e entidades administrativas, em matéria
trados e o devido processo legal, especialmente quanto à exigência relevante, poderão estabelecer outros meios de participação dos
de publicidade, do contraditório, ampla defesa e, quando for o caso, administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa-
do despacho ou decisão motivados. ções legalmente reconhecidas.
§ 1.º - Para atendimento dos princípios previstos neste artigo, Artigo 31 - Os resultados da consulta e audiência pública e de
serão assegurados às partes o direito de emitir manifestação, de outros meios de participação dos administrados deverão ser acom-
oferecer provas e acompanhar sua produção, de obter vista e de panhados da indicação do procedimento adotado.
recorrer.
§ 2.º - Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- SEÇÃO IV
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam DOS PRAZOS
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.
Artigo 32 - Quando outros não estiverem previstos nesta lei
SEÇÃO II ou em disposições especiais, serão obedecidos os seguintes prazos
DO DIREITO DE PETIÇÃO máximos nos procedimentos administrativos:
I - para autuação, juntada aos autos de quaisquer elementos,
Artigo 23 - É assegurado a qualquer pessoa, física ou jurídica, publicação e outras providências de mero expediente: 2 (dois) dias;
independentemente de pagamento, o direito de petição contra ile- II - para expedição de notificação ou intimação pessoal: 6 (seis)
galidade ou abuso de poder e para a defesa de direitos. dias;
Parágrafo único - As entidades associativas, quando expressa- III - para elaboração e apresentação de informes sem caráter
mente autorizadas por seus estatutos ou por ato especial, e os sin- técnico ou jurídico: 7 (sete) dias;

72
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
IV - para elaboração e apresentação de pareceres ou informes CAPÍTULO II
de caráter técnico ou jurídico: 20 (vinte) dias, prorrogáveis por 10 DOS RECURSOS
(dez) dias quando a diligência requerer o deslocamento do agente
para localidade diversa daquela onde tem sua sede de exercício; SEÇÃO I
V - para decisões no curso do procedimento: 7 (sete) dias; DA LEGITIMIDADE PARA RECORRER
VI - para manifestações do particular ou providências a seu car-
go: 7 (sete) dias; Artigo 37 - Todo aquele que for afetado por decisão administra-
VII - para decisão final: 20 (vinte) dias; tiva poderá dela recorrer, em defesa de interesse ou direito.
VIII - para outras providências da Administração: 5 (cinco) dias. Artigo 38 - À Procuradoria Geral do Estado compete recorrer,
§ 1.º - O prazo fluirá a partir do momento em que, à vista das de ofício, de decisões que contrariarem Súmula Administrativa ou
circunstâncias, tornar-se logicamente possível a produção do ato ou Despacho Normativo do Governador do Estado, sem prejuízo da
a adoção da providência. possibilidade de deflagrar, de ofício, o procedimento invalidatório
§ 2.º - Os prazos previstos neste artigo poderão ser, caso a caso, pertinente, nas hipóteses em que já tenha decorrido o prazo re-
prorrogados uma vez, por igual período, pela autoridade superior, cursal.
à vista de representação fundamentada do agente responsável por
seu cumprimento. SEÇÃO II
Artigo 33 - O prazo máximo para decisão de requerimentos de
qualquer espécie apresentados à Administração será de 120 (cento DA COMPETÊNCIA PARA CONHECER DO RECURSO
e vinte) dias, se outro não for legalmente estabelecido.
§ 1.º - Ultrapassado o prazo sem decisão, o interessado poderá Artigo 39 - Quando norma legal não dispuser de outro modo,
considerar rejeitado o requerimento na esfera administrativa, salvo será competente para conhecer do recurso a autoridade imediata-
previsão legal ou regulamentar em contrário. mente superior àquela que praticou o ato.
§ 2.º - Quando a complexidade da questão envolvida não per- Artigo 40 - Salvo disposição legal em contrário, a instância má-
mitir o atendimento do prazo previsto neste artigo, a autoridade xima para o recurso administrativo será:
cientificará o interessado das providências até então tomadas, sem I - na Administração centralizada, o Secretário de Estado ou au-
prejuízo do disposto no parágrafo anterior. toridade a ele equiparada, excetuados os casos em que o ato tenha
§ 3.º - O disposto no § 1.° deste artigo não desonera a autorida- sido por ele praticado originariamente; e
de do dever de apreciar o requerimento. II - na Administração descentralizada, o dirigente superior da
pessoa jurídica.
SEÇÃO V Parágrafo único - O disposto neste artigo não se aplica ao recur-
DA PUBLICIDADE so previsto no Artigo 38.
SEÇÃO III
Artigo 34 - No curso de qualquer procedimento administrativo, DAS SITUAÇÕES ESPECIAIS
as citações, intimações e notificações, quando feitas pessoalmente
ou por carta com aviso de recebimento, observarão as seguintes Artigo 41 - São irrecorríveis, na esfera administrativa, os atos de
regras: mero expediente ou preparatórios de decisões.
I - constitui ônus do requerente informar seu endereço para Artigo 42 - Contra decisões tomadas originariamente pelo Go-
correspondência, bem como alterações posteriores; vernador do Estado ou pelo dirigente superior de pessoa jurídica da
II - considera-se efetivada a intimação ou notificação por carta Administração descentralizada, caberá pedido de reconsideração,
com sua entrega no endereço fornecido pelo interessado; que não poderá ser renovado, observando-se, no que couber, o re-
III - será obrigatoriamente pessoal a citação do acusado, em gime do recurso hierárquico.
procedimento sancionatório, e a intimação do terceiro interessado, Parágrafo único - O pedido de reconsideração só será admitido
em procedimento de invalidação; se contiver novos argumentos, e será sempre dirigido à autoridade
IV - na citação, notificação ou intimação pessoal, caso o desti- que houver expedido o ato ou proferido a decisão.
natário se recuse a assinar o comprovante de recebimento, o servi-
dor encarregado certificará a entrega e a recusa; SEÇÃO IV
V - quando o particular estiver representado nos autos por pro- DOS REQUISITOS DA PETIÇÃO DE RECURSO
curador, a este serão dirigidas as notificações e intimações, salvo
disposição em contrário. Artigo 43 - A petição de recurso observará os seguintes requi-
Parágrafo único - Na hipótese do inciso III, não encontrado o in- sitos:
teressado, a citação ou a intimação serão feitas por edital publicado I - será dirigida à autoridade recorrida e protocolada no órgão
no Diário Oficial do Estado. a que esta pertencer;
Artigo 35 - Durante a instrução, será concedida vista dos autos II - trará a indicação do nome, qualificação e endereço do re-
ao interessado, mediante simples solicitação, sempre que não pre- corrente;
judicar o curso do procedimento. III - conterá exposição, clara e completa, das razões da incon-
Parágrafo único - A concessão de vista será obrigatória, no pra- formidade.
zo para manifestação do interessado ou para apresentação de re- Artigo 44 - Salvo disposição legal em contrário, o prazo para
cursos, mediante publicação no Diário Oficial do Estado. apresentação de recurso ou pedido de reconsideração será de 15
Artigo 36 - Ao advogado e assegurado o direito de retirar os (quinze) dias contados da publicação ou notificação do ato.
autos da repartição, mediante recibo, durante o prazo para mani- Artigo 45 - Conhecer-se-á do recurso erroneamente designado,
festação de seu constituinte, salvo na hipótese de prazo comum. quando de seu conteúdo resultar induvidosa a impugnação do ato.

73
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
SEÇÃO V
DOS EFEITOS DOS RECURSOS
CAPÍTULO III
Artigo 46 - O recurso será recebido no efeito meramente devo- DOS PROCEDIMENTOS EM ESPÉCIE
lutivo, salvo quando:
I - houver previsão legal ou regulamentar em contrário; e SEÇÃO I
II - além de relevante seu fundamento, da execução do ato re- DO PROCEDIMENTO DE OUTORGA
corrido, se provido, puder resultar a ineficácia da decisão final.
Parágrafo único - Na hipótese do inciso II, o recorrente pode- Artigo 52 - Regem-se pelo disposto nesta Seção os pedidos de
rá requerer, fundamentadamente, em petição anexa ao recurso, a reconhecimento, de atribuição ou de liberação do exercício do di-
concessão do efeito suspensivo. reito.
Artigo 53 - A competência para apreciação do requerimento
SEÇÃO VI será do dirigente do órgão ou entidade encarregados da matéria
DA TRAMITAÇÃO DOS RECURSOS versada, salvo previsão legal ou regulamentar em contrário.
Artigo 54 - O requerimento será dirigido à autoridade compe-
Artigo 47 - A tramitação dos recursos observará as seguintes tente para sua decisão, devendo indicar:
regras: I - o nome, a qualificação e o endereço do requerente;
I - a petição será juntada aos autos em 2 (dois) dias, contados II - os fundamentos de fato e de direito do pedido;
da data de seu protocolo; III - a providência pretendida;
II - quando os autos em que foi produzida a decisão recorri- IV - as provas em poder da Administração que o requerente
da tiverem de permanecer na repartição de origem para quaisquer pretende ver juntadas aos autos.
outras providências cabíveis, o recurso será autuado em separado, Parágrafo único - O requerimento será desde logo instruído
trasladando-se cópias dos elementos necessários; com a prova documental de que o interessado disponha.
III - requerida a concessão de efeito suspensivo, a autoridade Artigo 55 - A tramitação dos requerimentos de que trata esta
recorrida apreciará o pedido nos 5 (cinco) dias subseqüentes; Seção observará as seguintes regras:
IV - havendo outros interessados representados nos autos, se- I - protocolado o expediente, o órgão que o receber providen-
rão estes intimados, com prazo comum de 15 (quinze) dias, para ciará a autuação e seu encaminhamento à repartição competente,
oferecimento de contra-razões; no prazo de 2 (dois) dias;
V - com ou sem contra-razões, os autos serão submetidos ao II - o requerimento será desde logo indeferido, se não atender
órgão jurídico, para elaboração de parecer, no prazo máximo de 20 aos requisitos dos incisos I a IV do artigo anterior, notificando-se o
(vinte) dias, salvo na hipótese do Artigo 38; requerente;
VI - a autoridade recorrida poderá reconsiderar seu ato, nos 7 III - se o requerimento houver sido dirigido a órgão incompe-
(sete) dias subseqüentes; tente, este providenciará seu encaminhamento à unidade adequa-
VII - mantido o ato, os autos serão encaminhados à autoridade da, notificando-se o requerente;
competente para conhecer do recurso, para decisão, em 30 (trinta)
dias. IV - a autoridade determinará as providências adequadas à
§ 1.º - As decisões previstas nos incisos III, VI e VII serão enca- instrução dos autos, ouvindo, em caso de dúvida quanto à matéria
minhadas, em 2 (dois) dias, à publicação no Diário Oficial do Estado. jurídica, o órgão de consultoria jurídica;
§ 2.º - Da decisão prevista no inciso III, não caberá recurso na V - quando os elementos colhidos puderem conduzir ao inde-
esfera administrativa. ferimento, o requerente será intimado, com prazo de 7 (sete) dias,
Artigo 48 - Os recursos dirigidos ao Governador do Estado se- para manifestação final;
rão, previamente, submetidos à Procuradoria Geral do Estado ou VI - terminada a instrução, a autoridade decidirá, em despacho
ao órgão de consultoria jurídica da entidade descentralizada, para motivado, nos 20 (vinte) dias subseqüentes;
parecer, a ser apresentado no prazo máximo de 20 (vinte) dias. VII - da decisão caberá recurso hierárquico.
Artigo 56 - Quando duas ou mais pessoas pretenderem da Ad-
SEÇÃO VII ministração o reconhecimento ou atribuição de direitos que se ex-
DA DECISÃO E SEUS EFEITOS cluam mutuamente, será instaurado procedimento administrativo
para a decisão, com observância das normas do artigo anterior, e
Artigo 49 - A decisão de recurso não poderá, no mesmo pro- das ditadas pelos princípios da igualdade e do contraditório.
cedimento, agravar a restrição produzida pelo ato ao interesse do
recorrente, salvo em casos de invalidação. SEÇÃO II
Artigo 50 - Ultrapassado, sem decisão, o prazo de 120 (cento e DO PROCEDIMENTO DE INVALIDAÇÃO
vinte) dias contado do protocolo do recurso que tramite sem efei-
to suspensivo, o recorrente poderá considerá-lo rejeitado na esfera Artigo 57 - Rege-se pelo disposto nesta Seção o procedimento
administrativa. para invalidação de ato ou contrato administrativo e, no que cou-
§ 1.º - No caso do pedido de reconsideração previsto no Artigo ber, de outros ajustes.
42, o prazo para a decisão será de 90 (noventa) dias. Artigo 58 - O procedimento para invalidação provocada obser-
§ 2.º - O disposto neste artigo não desonera a autoridade do vará as seguintes regras:
dever de apreciar o recurso. I - o requerimento será dirigido à autoridade que praticou o ato
Artigo 51 - Esgotados os recursos, a decisão final tomada em ou firmou o contrato, atendidos os requisitos do Artigo 54;
procedimento administrativo formalmente regular não poderá ser II - recebido o requerimento, será ele submetido ao órgão de
modificada pela Administração, salvo por anulação ou revisão, ou consultoria jurídica para emissão de parecer, em 20 (vinte) dias;
quando o ato, por sua natureza, for revogável. III - o órgão jurídico opinará sobre a procedência ou não do
pedido, sugerindo, quando for o caso, providências para a instrução

74
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
dos autos e esclarecendo se a eventual invalidação atingirá tercei- cação no Diário Oficial do Estado;
ros; VIII - da decisão caberá recurso.
IV - quando o parecer apontar a existência de terceiros interes- Artigo 64 - O procedimento sancionatório será sigiloso até de-
sados, a autoridade determinará sua intimação, para, em 15 (quin- cisão final, salvo em relação ao acusado, seu procurador ou terceiro
ze) dias, manifestar-se a respeito; que demonstre legítimo interesse.
V - concluída a instrução, serão intimadas as partes para, em 7 Parágrafo único - Incidirá em infração disciplinar grave o servi-
(sete) dias, apresentarem suas razões finais; dor que, por qualquer forma, divulgar irregularmente informações
VI - a autoridade, ouvindo o órgão jurídico, decidirá em 20 (vin- relativas à acusação, ao acusado ou ao procedimento.
te) dias, por despacho motivado, do qual serão intimadas as partes;
VII - da decisão, caberá recurso hierárquico. SEÇÃO IV
Artigo 59 - O procedimento para invalidação ofício observará DO PROCEDIMENTO DE REPARAÇÃO DE DANOS
as seguintes regras:
I - quando se tratar da invalidade de ato ou contrato, a autori- Artigo 65 - Aquele que pretender, da Fazenda Pública, res-
dade que o praticou, ou seu superior hierárquico, submeterá o as- sarcimento por danos causados por agente público, agindo nessa
sunto ao órgão de consultoria jurídica; qualidade, poderá requerê-lo administrativamente, observadas as
II - o órgão jurídico opinará sobre a validade do ato ou contra- seguintes regras:
to, sugerindo, quando for o caso, providências para instrução dos I - o requerimento será protocolado na Procuradoria Geral do
autos, e indicará a necessidade ou não da instauração de contradi- Estado, até 5 (cinco) anos contados do ato ou fato que houver dado
tório, hipótese em que serão aplicadas as disposições dos incisos IV causa ao dano;
a VII do artigo anterior. II - o protocolo do requerimento suspende, nos termos da legis-
Artigo 60 - No curso de procedimento de invalidação, a auto- lação pertinente, a prescrição da ação de responsabilidade contra o
ridade poderá, de ofício ou em face de requerimento, suspender Estado, pelo período que durar sua tramitação;
a execução do ato ou contrat , para evitar prejuízos de reparação III - o requerimento conterá os requisitos do Artigo 54, deven-
onerosa ou impossível. do trazer indicação precisa do montante atualizado da indenização
Artigo 61 - Invalidado o ato ou contrato, a administração toma- pretendida, e declaração de que o interessado concorda com as
rá as providências necessárias para desfazer os efeitos produzidos, condição contidas neste artigo e no subsequente;
salvo quanto a terceiros de boa fé, determinando a apuração de IV - o procedimento, dirigido por Procurador do Estado, obser-
eventuais responsabilidades. vará as regras do Artigo 55;
V - a decisão do requerimento caberá ao Procurador Geral do
SEÇÃO III Estado ou ao dirigente da entidade descentralizada, que recorrerão
DO PROCEDIMENTO SANCIONATÓRIO de ofício ao Governador, nas hipóteses previstas em regulamento;
VI - acolhido em definitivo o pedido, total ou parcialmente, será
Artigo 62 - Nenhuma sanção administrativa será aplicada à pes- feita, em 15 (quinze) dias,a inscrição, em registro cronológico, do
soa física ou jurídica pela administração Pública, sem que lhe seja valor atualizado do débito, intimando-se o interessado;
assegurada ampla defesa, em procedimento sancionatório. VII - a ausência de manifestação expressa do interessado, em
Parágrafo único - No curso do procedimento ou, em caso de ex- 10 (dez) dias, contados da intimação, implicará em concordância
trema urgência, antes dele, a Administração poderá adotar as me- com o valor inscrito; caso não concorde com esse valor, o interessa-
didas cautelares estritamente indispensáveis à eficácia do ato final. do poderá, no mesmo prazo, apresentar desistência, cancelando-se
Artigo 63 - O procedimento sancionatório observará, salvo le- a inscrição e arquivando-se os autos;
gislação específica, as seguintes regras: VIII - os débitos inscritos até 1.° de julho serão pagos até o últi-
I - verificada a ocorrência de infração administrativa, será ins- mo dia útil do exercício seguinte, à conta de dotação orçamentária
taurado o respectivo procedimento para sua apuração; específica;
II - o ato de instauração, expedido pela autoridade competente, IX - o depósito, em conta aberta em favor do interessado, do
indicará os fatos em que se baseia e as normas pertinentes à infra- valor inscrito, atualizado monetariamente até o mês do pagamento,
ção e à sanção aplicável; importará em quitação do débito;
III - o acusado será citado ou intimado, com cópia do ato de X - o interessado, mediante prévia notificação à Administração,
instauração, para, em 15 (quinze) dias, oferecer sua defesa e indicar poderá considerar indeferido seu requerimento caso o pagamento
as provas que pretende produzir; não se realize na forma e no prazo previstos nos incisos VIII e IX.
IV - caso haja requerimento para produção de provas, a autori- § 1.º - Quando o interessado utilizar-se da faculdade prevista
dade apreciará sua pertinência, em despacho motivado; nos incisos VII, parte final, e X, perderá qualquer efeito o ato que
V - o acusado será intimado para: tiver acolhido o pedido, não se podendo invocá-lo como reconheci-
a) manifestar-se, em 7 (sete) dias, sobre os documentos junta- mento da responsabilidade administrativa.
dos aos autos pela autoridade, se maior prazo não lhe for assinado § 2.º - Devidamente autorizado pelo Governador, o Procurador
em face da complexidade da prova; Geral do Estado poderá delegar, no âmbito da Administração cen-
b) acompanhar a produção das provas orais, com antecedência tralizada, a competência prevista no inciso V, hipótese em que o
mínima de 2 (dois) dias; delegante tornar-se-á a instância máxima de recurso.
c) formular quesitos e indicar assistente técnico, quando neces- Artigo 66 - Nas indenizações pagas nos termos do artigo ante-
sária prova pericial, em 7 (sete) dias; rior, não incidirão juros, honorários advocatícios ou qualquer outro
d) concluida a instrução, apresentar, em 7 (sete) dias, suas ale- acréscimo.
gações finais; Artigo 67 - Na hipótese de condenação definitiva do Estado ao
VI - antes da decisão, será ouvido o órgão de consultoria jurí- ressarcimento de danos, deverá o fato ser comunicado ao Procura-
dica; dor Geral do Estado, no prazo de 15 (quinze) dias, pelo órgão encar-
VII - a decisão, devidamente motivada, será proferida no prazo regado de oficiar no feito, sob pena de responsabilidade.
máximo de 20 (vinte) dias, notificando-se o interessado por publi- Artigo 68 - Recebida a comunicação, o Procurador Geral do Es-

75
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tado, no prazo de 10 (dez) dias, determinará a instauração de pro- II - as informações serão fornecidas no prazo máximo de 10
cedimento, cuja tramitação obedecerá o disposto na Seção III para (dez) dias úteis, contados do protocolo do requerimento;
apuração de eventual responsabilidade civil de agente público, por III - as informações serão transmitidas em linguagem clara e
culpa ou dolo. indicarão, conforme for requerido pelo interessado:
Parágrafo único - O Procurador Geral do Estado, de ofício, de- a) o conteúdo integral do que existir registrado;
terminará a instauração do procedimento previsto neste artigo, b) a fonte das informações e dos registros;
quando na forma do Artigo 65, a Fazenda houver ressarcido extra- c) o prazo até o qual os registros serão mantidos;
judicialmente o particular. d) as categorias de pessoas que, por suas funções ou por neces-
Artigo 69 - Concluindo-se pela responsabilidade civil do agen- sidade do serviço, tem, diretamente, acesso aos registros;
te, será ele intimado para, em 30 (trinta) dias, recolher aos cofres e) as categorias de destinatários habilitados a receber comuni-
públicos o valor do prejuízo suportado pela Fazenda, atualizado mo- cação desses registros; e
netariamente. f) se tais registros são transmitidos a outros órgãos estaduais, e
Artigo 70 - Vencido, sem o pagamento, o prazo estipulado no quais são esses órgãos.
artigo anterior, será proposta, de imediato, a respectiva ação judi- Artigo 79 - Os dados existentes, cujo conhecimento houver sido
cial para cobrança do débito. ocultado ao interessado, quando de sua solicitação de informações,
Artigo 71 - Aplica-se o disposto nesta Seção às entidades des- não poderão, em hipótese alguma, ser utilizados em quaisquer pro-
centralizadas, observada a respectiva estrutura administrativa. cedimentos que vierem a ser contra o mesmo instaurados.
Artigo 80 - Os órgãos ou entidades da Administração, ao coletar
SEÇÃO V informações, devem esclarecer aos interessados:
DO PROCEDIMENTO PARA OBTENÇÃO DE CERTIDÃO I - o caráter obrigatório ou facultativo das respostas;
II - as conseqüências de qualquer incorreção nas respostas;
Artigo 72 - É assegurada, nos termos do Artigo 5.° , XXXIV, “b”, III - os órgãos aos quais se destinam as informações; e
da Constituição Federal, a expedição de certidão sobre atos, con- IV - a existência do direito de acesso e de retificação das infor-
tratos, decisões ou pareceres constantes de registros ou autos de mações.
procedimentos em poder da Administração Pública, ressalvado o Parágrafo único - Quando as informações forem colhidas me-
disposto no Artigo 75. diante questionários impressos, devem eles conter os esclareci-
Parágrafo único - As certidões serão expedidas sob a forma de mentos de que trata este artigo.
relato ou mediante cópia reprográfica dos elementos pretendidos. Artigo 81 - É proibida a inserção ou conservação em fichário ou
Artigo 73 - Para o exercício do direito previsto no artigo ante- registro de dados nominais relativos a opiniões políticas, filosóficas
rior, o interessado deverá protocolar requerimento no órgão com- ou religiosas, origem racial, orientação sexual e filiação sindical ou
petente, independentemente de qualquer pagamento, especifican- partidária.
do os elementos que pretende ver certificados.
Artigo 74 - O requerimento será apreciado, em 5 (cinco) dias Artigo 82 - É vedada a utilização, sem autorização prévia do in-
úteis, pela autoridade competente, que determinará a expedição teressado, de dados pessoais para outros fins que não aqueles para
da certidão requerida em prazo não superior a 5 (cinco) dias úteis. os quais foram prestados.
Artigo 75 - O requerimento será indeferido, em despacho moti-
vado, se a divulgação da informação solicitada colocar em compro- SEÇÃO VII
vado risco a segurança da sociedade ou do Estado, violar a intimi- DO PROCEDIMENTO PARA RETIFICAÇÃO DE INFORMAÇÕES
dade de terceiros ou não se enquadrar na hipótese constitucional. PESSOAIS
§ 1.º - Na hipótese deste artigo, a autoridade competente, an-
tes de sua decisão, ouvirá o órgão de consultoria jurídica, que se Artigo 83 - Qualquer pessoa tem o direito de exigir, da Admi-
manifestará em 3 (três) dias úteis. nistração:
§ 2.º - Do indeferimento do pedido de certidão caberá recurso. I - a eliminação completa de registros de dados falsos a seu res-
Artigo 76 - A expedição da certidão independerá de qualquer peito, os quais tenham sido obtidos por meios ilícitos, ou se refiram
pagamento quando o requerente demonstrar sua necessidade para às hipóteses vedadas pelo Artigo 81;
a defesa de direitos ou esclarecimento de situações de interesse II - a retificação, complementação, esclarecimento ou atuali-
pessoal. zação de dados incorretos, incompletos, dúbios ou desatualizados.
Parágrafo único - Nas demais hipóteses,o interessado deverá Parágrafo único - Aplicam-se ao procedimento de retificação as
recolher o valor correspondente, conforme legislação específica. regras contidas nos Artigos 54 e 55.
Artigo 84 - O fichário ou o registro nominal devem ser comple-
SEÇÃO VI tados ou corrigidos, de ofício, assim que a entidade ou órgão por
DO PROCEDIMENTO PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES eles responsável tome conhecimento da incorreção, desatualização
PESSOAIS ou caráter incompleto de informações neles contidas.
Artigo 85 - No caso de informação já fornecida a terceiros, sua
Artigo 77 - Toda pessoa terá direito de acesso aos registros no- alteração será comunicada a estes, desde que requerida pelo inte-
minais que a seu respeito constem em qualquer espécie de fichário ressado, a quem dará cópia da retificação.
ou registro,informatizado ou não, dos órgãos ou entidades da Admi-
nistração, inclusive policiais. SEÇÃO VIII
Artigo 78 - O requerimento para obtenção de informações ob- DO PROCEDIMENTO DE DENÚNCIA
servará as seguintes regras:
I - o interessado apresentará, ao órgão ou entidade do qual pre- Artigo 86 - Qualquer pessoa que tiver conhecimento de viola-
tende as informações, requerimento escrito manifestando o desejo ção da ordem jurídica, praticada por agentes administrativos, pode-
de conhecer tudo o que a seu respeito conste das fichas ou registros rá denunciá-la à Administração.
existentes; Artigo 87 - A denúncia conterá a identificação do seu autor,

76
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
devendo indicar o fato e suas circunstâncias, e, se possível, seus
responsáveis ou beneficiários. EXERCÍCIOS
Parágrafo único - Quando a denúncia for apresentada verbal-
mente, a autoridade lavrará termo, assinado pelo denunciante. 1. No contexto histórico, o conceito de Estado veio a surgir por
Artigo 88 - Instaurado o procedimento administrativo, a auto- intermédio do antigo conceito de cidade, da polis grega e da civitas
ridade responsável determinará as providências necessárias à sua romana. Em meados do século XXI o vocábulo Estado passou a ser
instrução, observando-se os prazos legais e as seguintes regras: utilizado com o significado moderno de força, poder e soberania.
I - é obrigatória a manifestação do órgão de consultoria jurídica; ( ) CERTO
II - o denunciante não é parte no procedimento, podendo, en- ( ) ERRADO
tretanto, ser convocado para depor;
III - o resultado da denúncia será comunicado ao autor, se este 2. O Estado pode ser conceituado como um ente, sujeito de
assim o solicitar. direitos, que possui como elementos: o povo, o território e a sobe-
Artigo 89 - Incidirá em infração disciplinar grave a autoridade rania. Nos dizeres de Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino (2010, p.
que não der andamento imediato, rápido e eficiente ao procedi- 13), “Estado é pessoa jurídica territorial soberana, formada pelos
mento regulado nesta Seção. elementos povo, território e governo soberano”.
( ) CERTO
TÍTULO V ( ) ERRADO
DISPOSIÇÕES FINAIS
3. Para Carvalho Filho (2010), “o Direito Administrativo, com a
Artigo 90 - O descumprimento injustificado, pela Administra- evolução que o vem impulsionando contemporaneamente, há de
ção, dos prazos previstos nesta lei gera responsabilidade disciplinar, focar-se em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, sendo,
imputável aos agentes públicos encarregados do assunto, não im- uma, de caráter interno, que existe entre as pessoas administrativas
plicando, necessariamente, em nulidade do procedimento. e entre os órgãos que as compõem e, a outra, de caráter externo.
§ 1.º - Respondem também os superiores hierárquicos que se ( ) CERTO
omitirem na fiscalização dos serviços de seus subordinados, ou que ( ) ERRADO
de algum modo concorram para a infração.
§ 2.º - Os prazos concedidos aos particulares poderão ser de- 4. Constituir um direito novo, espelhar um direito mutável e ser
volvidos, mediante requerimento do interessado, quando óbices um direito em formação são as principais características do Direito
injustificados, causados pela Administração, resultarem na impos- Administrativo, segundo DIEZ.
sibilidade de atendimento do prazo fixado. ( ) CERTO
Artigo 91 - Os prazos previstos nesta lei são contínuos, salvo ( ) ERRADO
disposição expressa em contrário, não se interrompendo aos do-
mingos ou feriados. 5. (CESPE-2013-TRE/MS-TÉCNICO JUDICIÁRIO-ÁREA ADMINIS-
Artigo 92 - Quando norma não dispuser de forma diversa, os TRATIVA) Com referência aos atos administrativos, assinale a opção
prazos serão computados excluindo-se o dia do começo e incluin- correta.
do-se o do vencimento. (A) A União ao alugar um imóvel particular para instalar nova
§ 1.º - Só se iniciam e vencem os prazos em dia de expediente sede de um TRE, pratica ato administrativo.
no órgão ou entidade. (B) Ato administrativo é a declaração do Estado que produz
§ 2.º - Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime
subseqüente se, no dia do vencimento, o expediente for encerrado jurídico de direito público ou privado e sujeita a controle pelo
antes do horário normal. Poder judiciário.
Artigo 93 - Esta lei entrará em vigor em 120 (cento e vinte) dias (C) Competência é um dos elementos do ato administrativo
contados da data de sua publicação. que faculta ao agente a transferência de atribuições a outros
Artigo 94 - Revogam-se as disposições em contrário, especial- agentes públicos, as quais, uma vez delegadas, não poderão ser
mente o Decreto-lei n. 104, de 20 de junho de 1969 e a Lei n. 5.702, avocadas pelo delegante.
de 5 de junho de 1987. (D) Os atos administrativos, quando editados, avocam para si a
Palácio dos Bandeirantes, 30 de dezembro de 1998. presunção absoluta de legitimidade.
(E) O motivo do ato não se confunde com a motivação da auto-
ridade administrativa, pois a motivação diz respeito às forma-
lidades do ato.
LEI FEDERAL Nº 12.527/2011 (LEI DE ACESSO À INFOR-
MAÇÃO)
6. Quando praticados de forma regular os atos de gestão, pas-
sam a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos. Exem-
Prezado(a), visto o formato e extensão da legislação solicitada, plo: uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de
o material será disponibilizado em sua Área do Aluno. Não deixe de forma vinculante entre a administração e o locatário aos ter-
conferir. mos do contrato, acaba por gerar direitos e deveres para am-
bos.
( ) CERTO
( ) ERRADO

7. (CESPE- 2010-TRE-MT- TÉCNICO JUDICIÁRIO- ÁREA ADMINIS-


TRATIVA) Acerca da classificação de agentes públicos, e tendo em
vista os cargos, os empregos e as funções na administração pública,
assinale a opção correta.

77
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
(A) Não podem ser considerados agentes públicos os detento- 1988, enseja ao alcance das hipóteses de omissão estatal, posto
res de mandatos eletivos, pois, além de serem investidos nos que, nestas situações, o dano não decorre, exatamente da ação de
cargos mediante eleição, e não por nomeação, eles desempe- um agente do Estado, mas sim da atitude de um terceiro, denotan-
nham funções por prazo determinado. do que a omissão do Estado apenas contribui para o resultado.
(B) Os servidores contratados por tempo determinado para ( ) CERTO
atender a necessidade temporária de excepcional interesse ( ) ERRADO
público, precisamente por exercerem atividades temporárias, 13. Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de
estarão vinculados a emprego público, e não a cargo público. serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme
(C) Os particulares em colaboração com o poder público são estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo con-
considerados agentes públicos, mesmo que prestem serviços trato.
ao Estado sem vínculo empregatício e sem remuneração. ( ) CERTO
(D) Os servidores das fundações públicas, empresas públicas e ( ) ERRADO
sociedades de economia mista são contratados sob o regime
da legislação trabalhista e ocupam emprego público. 14. O princípio da regularidade exige que os serviços públicos
(E) Nos termos da CF, a investidura em cargo, emprego ou fun- sejam prestados de forma a garantir a estabilidade e a manutenção
ção pública depende de aprovação prévia em concurso público dos requisitos essenciais, sendo prestados em perfeita harmonia
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a com a lei e com o regulamento que disciplina a matéria.
complexidade do cargo, emprego ou função. ( ) CERTO
( ) ERRADO
8. (FCC - 2009- MPE-SE-TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO) 15. O Tribunal de Contas da União tem entendido que o vínculo
A remuneração por meio subsídio em parcela única é obrigatória firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da Admi-
para: nistração Pública com Organizações da Sociedade Civil de Interesse
(A) os Ministros dos Tribunais Superiores, os Desembargadores Público não é demandante de processo de licitação.
do Tribunal de justiça e os juízes equivalentes em nível Muni- ( ) CERTO
cipal. ( ) ERRADO
(B) o chefe do Poder Executivo c respectivos auxiliares, bem
como os dirigentes superiores das entidades da administração 16. Podemos incluir entre as entidades que compõem o Ter-
indireta. ceiro Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade
(C) os detentores de mandato eletivo, os Ministros de Estado c pública, os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por
os Secretários Estaduais e Municipais. exemplo, as organizações sociais (OS) e as organizações da socieda-
(D) o membro de Poder, os detentores de mandato eletivo e os de civil de interesse público (OSCIP).
ocupantes de cargo de chefia ou comissão. ( ) CERTO
(E) o Presidente da República, os Governadores de Estado e os ( ) ERRADO
Prefeitos Municipais, apenas.
17. O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de
9. Poder disciplinar é o poder de investigar e punir crimes e controlar de maneira interna os atos dos órgãos dos outros Poderes
contravenções penais não se referem ao mesmo instituto e não se e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de
confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado somente àqueles controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange de
que possuem vínculo específico com a Administração de forma fun- forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, opera-
cional ou contratual, o segundo é exercido somente sobre qualquer cional e patrimonial, levando em conta os aspectos da legalidade,
indivíduo que viole as leis penais vigentes. legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia
( ) CERTO de receitas.
( ) ERRADO ( ) CERTO
( ) ERRADO
10. A sanção disciplinar possui natureza administrativa; advém
do poder disciplinar e é aplicável sobre as pessoas que possuem 18. O controle de legitimidade atua complementando o contro-
vínculo específico com a Administração Pública. A sanção de po- le de legalidade, não permitindo a apreciação de outros aspectos
lícia possui natureza administrativa; advém do poder de polícia e além da adequação formal da conduta à legislação pertinente.
aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam às regulamentações ( ) CERTO
de polícia administrativa. Já a sanção penal possui natureza penal; ( ) ERRADO
decorre do poder geral de persecução penal e aplica-se sobre as
pessoas que cometem crimes ou contravenções penais. 19. As subvenções sociais são destinadas ao custeio de insti-
( ) CERTO tuições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural que
( ) ERRADO possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964, art.
12, § 3º, I, ao passo que as subvenções econômicas são as destina-
11. Atos comissivos são aqueles por meio dos quais o agen- das ao custeio de empresas públicas ou privadas de caráter indus-
te público atua de forma positiva causando danos a um terceiro. trial, comercial, agrícola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964,
Exemplo: um condutor de veículo automotor e servidor do Estado, art. 12, § 3º, II.
embriagado e sob o efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela ( ) CERTO
um pedestre. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO 20. Os Tribunais de Contas não possuem competência distinta
para julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
12. Afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição Federal de por verba pública, bens e valores públicos da administração direta

78
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
e indireta, inclusive das fundações e sociedades instituídas e manti- ______________________________________________________
das pelo Poder Público, e ainda, as contas dos entes que ensejarem
e derem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que re- ______________________________________________________
sulte prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no art. 71,
III da CFB/1988. ______________________________________________________
( ) CERTO
______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
GABARITO
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1 ERRADO
2 CERTO ______________________________________________________
3 CERTO ______________________________________________________
4 CERTO
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5 E
6 CERTO ______________________________________________________
7 C ______________________________________________________
8 C
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9 CERTO
10 CERTO ______________________________________________________
11 CERTO ______________________________________________________
12 ERRADO
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13 CERTO
14 CERTO ______________________________________________________
15 CERTO ______________________________________________________
16 CERTO
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17 ERRADO
18 ERRADO ______________________________________________________
19 ERRADO ______________________________________________________
20 ERRADO
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ANOTAÇÕES
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79
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: princípios fundamentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políti-
cos; partidos políticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Organização político-administrativa do Estado: Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e territó-
rios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Poder Executivo. Atribuições e responsabilidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Poder Legislativo: estrutura, funcionamento e atribuições; processo legislativo; fiscalização contábil, financeira e orçamentária; comis-
sões parlamentares de inquérito. Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (arts. 70 a 75). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Poder Judiciário: disposições gerais; órgãos do Poder Judiciário: organização e competências; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
7. Conselho Nacional de Justiça: composição e competências. Ministério Público; advocacia pública; defensoria pública. . . . . . . . . 18
8. Administração Pública (arts. 37 a 43). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
9. Finanças Públicas (arts. 163 a 169). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Constituição do Estado de São Paulo: Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária (arts. 32 a 36). Administração Pública (arts. 111
a 116). Servidores Públicos Civis (arts. 124 a 137). Finanças (arts. 169 a 173). Orçamentos (arts. 174 a 176) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Fundamentos, também chamados de princípios fundamentais
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO (art. 1º, CF), são diferentes dos objetivos fundamentais da Repú-
BRASIL DE 1988: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS blica Federativa do Brasil (art. 3º, CF). Assim, enquanto os funda-
mentos ou princípios fundamentais representam a essência, cau-
— Princípios fundamentais sa primária do texto constitucional e a base primordial de nossa
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união República Federativa, os objetivos estão relacionados à destinação,
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti- ao que se pretende, às finalidades e metas traçadas no texto cons-
tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: titucional que a República Federativa do Estado brasileiro anseia
I - a soberania; alcançar.
II - a cidadania O Estado brasileiro é democrático porque é regido por normas
III - a dignidade da pessoa humana; democráticas, pela soberania da vontade popular, com eleições
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei livres, periódicas e pelo povo, e de direito porque pauta-se pelo
nº 13.874, de 2019). respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias funda-
V - o pluralismo político. mentais, refletindo a afirmação dos direitos humanos. Por sua vez,
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por o Estado de Direito caracteriza-se pela legalidade, pelo seu sistema
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta de normas pautado na preservação da segurança jurídica, pela se-
Constituição. paração dos poderes e pelo reconhecimento e garantia dos direitos
fundamentais, bem como pela necessidade do Direito ser respeito-
Os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988 so com as liberdades individuais tuteladas pelo Poder Público.
estão previstos no art. 1º da Constituição e são:
A soberania, poder político supremo, independente interna-
cionalmente e não limitado a nenhum outro na esfera interna. É o
poder do país de editar e reger suas próprias normas e seu ordena- DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS
mento jurídico. E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DIREITOS SO-
A cidadania é a condição da pessoa pertencente a um Estado, CIAIS; DIREITOS DE NACIONALIDADE; DIREITOS POLÍ-
dotada de direitos e deveres. O status de cidadão é inerente a todo TICOS; PARTIDOS POLÍTICOS
jurisdicionado que tem direito de votar e ser votado.
A dignidade da pessoa humana é valor moral personalíssimo — Direitos e deveres individuais e coletivos
inerente à própria condição humana. Fundamento consistente no Os direitos e deveres individuais e coletivos são todos aqueles
respeito pela vida e integridade do ser humano e na garantia de previstos nos incisos do art. 5º da Constituição Federal.
condições mínimas de existência com liberdade, autonomia e igual-
dade de direitos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, pois é atra-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-
vés do trabalho que o homem garante sua subsistência e contribui
sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
para com a sociedade. Por sua vez, a livre iniciativa é um princípio
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
que defende a total liberdade para o exercício de atividades econô-
micas, sem qualquer interferência do Estado.
Princípio da igualdade entre homens e mulheres:
O pluralismo político que decorre do Estado democrático de
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
Direito e permite a coexistência de várias ideias políticas, consubs-
termos desta Constituição;
tanciadas na existência multipartidária e não apenas dualista. O
Brasil é um país de política plural, multipartidária e diversificada e
não apenas pautada nos ideais dualistas de esquerda e direita ou Princípio da legalidade e liberdade de ação:
democratas e republicanos. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
Importante mencionar que união indissolúvel dos Estados, Mu- coisa senão em virtude de lei;
nicípios e do Distrito Federal é caracterizada pela impossibilidade
de secessão, característica essencial do Federalismo, decorrente da Vedação de práticas de tortura física e moral, tratamento de-
impossibilidade de separação de seus entes federativos, ou seja, o sumano e degradante:
vínculo entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios é indis- III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
solúvel e nenhum deles pode abandonar o restante para se trans- mano ou degradante;
formar em um novo país.
Quem detém a titularidade do poder político é o povo. Os go- Liberdade de manifestação do pensamento e vedação do ano-
vernantes eleitos apenas exercem o poder que lhes é atribuído pelo nimato, visando coibir abusos e não responsabilização pela veicu-
povo. lação de ideias e práticas prejudiciais:
Além de ser marcado pela união indissolúvel dos Estados e IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
Municípios e do Distrito Federal, a separação dos poderes estatais nimato;
– Executivo, Legislativo e Judiciário é também uma característica
do Estado Brasileiro. Tais poderes gozam, portanto, de autonomia e Direito de resposta e indenização:
independência no exercício de suas funções, para que possam atuar V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
em harmonia. além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Liberdade religiosa e de consciência:


VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

1
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência Direito de propriedade e sua função social:
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; XXII - é garantido o direito de propriedade;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença re- XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir Intervenção do Estado na propriedade:
prestação alternativa, fixada em lei; XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
Liberdade de expressão e proibição de censura: diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí- previstos nesta Constituição;
fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
Proteção à imagem, honra e intimidade da pessoa humana: prietário indenização ulterior, se houver dano;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano Pequena propriedade rural:
material ou moral decorrente de sua violação; XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
Proteção do domicílio do indivíduo: pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran-
te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, Direitos autorais:
por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência). XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
Proteção do sigilo das comunicações: ros pelo tempo que a lei fixar;
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl- a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei es- à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
tabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
desportivas;
penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996).
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
Liberdade de profissão:
pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis-
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais pri-
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
vilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às cria-
ções industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
Acesso à informação:
e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar-
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

Liberdade de locomoção, direito de ir e vir: Direito de herança:


XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, XXX - é garantido o direito de herança;
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane- XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
cer ou dele sair com seus bens; regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
Direito de reunião: do “de cujus”;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo-
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde Direito do consumidor:
que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con-
mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade com- sumidor;
petente;
Direito de informação, petição e obtenção de certidão junto
Liberdade de associação: aos órgãos públicos:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor-
a de caráter paramilitar; mações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
estatal em seu funcionamento; sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011).
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do paga-
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- mento de taxas:
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
necer associado; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa
XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto- de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
extrajudicialmente;

2
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Princípio da proteção judiciária ou da inafastabilidade do con- Princípio da intranscendência da pena:
trole jurisdicional: XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden-
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
ou ameaça a direito; bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
Segurança jurídica:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico Individualização da pena:
perfeito e a coisa julgada; XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
outras, as seguintes:
Direito adquirido é aquele incorporado ao patrimônio jurídico a) privação ou restrição da liberdade;
de seu titular e cujo exercício não pode mais ser retirado ou tolhido. b) perda de bens;
Ato jurídico perfeito é a situação ou direito consumado e defi- c) multa;
nitivamente exercido, sem nulidades perante a lei vigente. d) prestação social alternativa;
Coisa julgada é a matéria submetida a julgamento, cuja sen- e) suspensão ou interdição de direitos;
tença transitou em julgado e não cabe mais recurso, não podendo,
portanto, ser modificada. Proibição de penas:
XLVII – não haverá penas:
Tribunal de exceção:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
art. 84, XIX;
O juízo ou tribunal de exceção seria aquele criado exclusiva-
b) de caráter perpétuo;
mente para o julgamento de um fato específico já acontecido, onde
c) de trabalhos forçados;
os julgadores são escolhidos arbitrariamente. A Constituição veda
tal prática, pois todos os casos devem se submeter a julgamento d) de banimento;
dos juízos e tribunais já existentes, conforme suas competências e) cruéis.
pré-fixadas.
Estabelecimentos para cumprimento de pena:
Tribunal do Júri: XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
que lhe der a lei, assegurados: Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos:
a) a plenitude de defesa; XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física
b) o sigilo das votações; e moral;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra Direito de permanência e amamentação dos filhos pela pre-
a vida; sidiária mulher:
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que pos-
Princípio da legalidade, da anterioridade e da retroatividade sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta-
da lei penal: ção;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominação legal; Extradição:
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
Princípio da não discriminação: comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direi- gas afins, na forma da lei;
tos e liberdades fundamentais; LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime
político ou de opinião;
Crimes inafiançáveis, imprescritíveis e insuscetíveis de graça
e anistia:
Direito ao julgamento pela autoridade competente
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres-
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela au-
critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
toridade competente;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecen-
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion- Devido Processo Legal:
dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento). devido processo legal;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e Contraditório e a ampla defesa:
o Estado Democrático. LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
• Crimes inafiançáveis e imprescritíveis: Racismo e ação de acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Demo- com os meios e recursos a ela inerentes;
crático;
• Crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça e anistia: Prá- Provas ilícitas:
tica de Tortura, Tráfico de drogas e entorpecentes, terrorismo e cri- LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
mes hediondos. meios ilícitos;

3
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Presunção de inocência: a) partido político com representação no Congresso Nacional;
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em jul- b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal-
gado de sentença penal condenatória; mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados;
Identificação criminal:
LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identifi- Mandado de Injunção:
cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Regulamento). LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
Ação Privada Subsidiária da Pública: liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona-
LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se lidade, à soberania e à cidadania;
esta não for intentada no prazo legal;
Habeas data:
A publicidade dos atos processuais e o segredo de Justiça: LXXII – conceder-se-á habeas data:
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processu- a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
ais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
de entidades governamentais ou de caráter público;
Legalidade da prisão: b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or- por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente,
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- Ação Popular:
litar, definidos em lei; LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
Comunicabilidade da prisão: entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
do preso ou à pessoa por ele indicada; da sucumbência;

Informação ao preso: Assistência Judiciária:


LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí- aos que comprovarem insuficiência de recursos;
lia e de advogado;
Indenização por erro judiciário:
Identificação dos responsáveis pela prisão: LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
sua prisão ou por seu interrogatório policial;
Gratuidade de serviços públicos:
Relaxamento da prisão ilegal: LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for-
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori- ma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)
dade judiciária; a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
Garantia da liberdade provisória: LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidada-
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; nia (Regulamento).

Prisão civil: Princípio da Celeridade Processual:


LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon- LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
alimentícia e a do depositário infiel; celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004).
Habeas corpus:
LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer Aplicabilidade das normas de direitos e garantias fundamen-
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda- tais:
de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen-
tais têm aplicação imediata.
Mandado de Segurança: Assim, todas as normas relativas aos direitos e garantias funda-
LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger di- mentais são autoaplicáveis.
reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for Rol é exemplificativo:
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
buições do Poder Público; excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado tados, ou dos tratados internacionais em que a República Federati-
por: va do Brasil seja parte.

4
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
O rol dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 não é taxativo, Seguro-Desemprego:
mas sim exemplificativo. Os direitos e garantias ali expressos não II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
excluem outros de caráter constitucional, decorrentes de princípios
constitucionais, do regime democrático, ou de tratados internacio- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS):
nais. III – fundo de garantia do tempo de serviço;

Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos Salário mínimo:


§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu- IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado,
manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa-
em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem- mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
bros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação
deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261, para qualquer fim;
de 2015, DEC 9.522, de 2018).
Com a Emenda Constitucional n° 45 de 2004, as normas de Piso salarial:
tratados internacionais sobre direitos humanos passaram a ser re- V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
conhecidas como normas de hierarquia constitucional, porém, so- trabalho;
mente se aprovadas pelas duas casas do Congresso por 3/5 de seus
membros em dois turnos de votação. Irredutibilidadade do salário:
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção
Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal Internacional: ou acordo coletivo;
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter-
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído pela Proteção aos que percebem remuneração variável:
Emenda Constitucional nº 45, de 2004). VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que
O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição do Tribunal percebem remuneração variável;
Penal Internacional, também conhecido por Corte ou Tribunal de
Haia, instituído pelo Estatuto de Roma e ratificado em 20 de junho Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina:
de 2002 pelo Brasil. A Emenda Constitucional n° 45/2004, deu a VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração inte-
esta adesão força constitucional. O objetivo do TPI é identificar e gral ou no valor da aposentadoria;
punir autores de crimes contra a humanidade.
— Direitos sociais Remuneração superior por trabalho noturno:
Os chamados Direitos Sociais são aqueles que visam garantir IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
qualidade de vida, a melhoria de suas condições e o desenvolvi- Proteção do salário contra retenção dolosa:
mento da personalidade. São meios de se atender ao princípio basi- X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
lar da dignidade humana e estão previstos no art. 6º, CF. retenção dolosa;
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- Participação nos lucros:
dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação dada muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-
pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015). sa, conforme definido em lei;

Do direito ao trabalho Salário-família:


Os direitos relativos aos trabalhadores podem ser de duas or- XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
dens: dor de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda
- Direitos individuais, previstos no art. 7º, CF; Constitucional nº 20, de 1998).
- Direitos coletivos dos trabalhadores, previstos nos arts. 9º a
11, CF. Jornada de Trabalho:
XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas di-
Os direitos individuais dos trabalhadores são aqueles destina- árias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
dos a proteger a relação de trabalho contra uma profunda desigual- horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
dade, de modo a compatibilizar a função laboral com a dignidade e coletiva de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
o bem-estar do trabalhador que é a parte hipossuficiente da relação
trabalhista. Jornada especial para turnos ininterruptos de revezamento:
XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
outros que visem à melhoria de sua condição social:
Repouso (ou descanso) semanal remunerado (DSR):
Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa: XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária mingos;
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
indenização compensatória, dentre outros direitos; Pagamentos de horas extras:
XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mí-
nimo, em cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59
§ 1º).

5
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Férias remuneradas: Proibição de distinção do trabalho:
XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
terço a mais do que o salário normal; intelectual ou entre os profissionais respectivos;

Licença à gestante: Trabalho do menor:


XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salá- XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
rio, com a duração de cento e vinte dias; menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Re-
Licença-paternidade: dação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei; • De 14 a 16 anos: Só pode trabalhar na condição de aprendiz.
• De 16 a 18 anos: É vedado o exercício de trabalho noturno,
Proteção da mulher no mercado de trabalho: perigoso ou insalubre.
XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante • A partir de 18 anos: Trabalho normal.
incentivos específicos, nos termos da lei;
Igualdade ao trabalhador avulso:
Aviso Prévio: XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no empregatício permanente e o trabalhador avulso
mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
Empregados domésticos:
Redução dos riscos do trabalho: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalha-
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de dores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X,
normas de saúde, higiene e segurança; XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII
e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim-
Adicional por atividades penosas, insalubres ou perigosas: plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e
XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida-
insalubres ou perigosas, na forma da lei; des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
a sua integração à previdência social (Redação dada pela Emenda
Aposentadoria: Constitucional nº 72, de 2013).
XXIV – aposentadoria;
Os Direitos Coletivos dos Trabalhadores “são aqueles exerci-
dos pelos trabalhadores, coletivamente ou no interesse de uma co-
Assistência aos filhos pequenos: letividade” (LENZA, 2019, p. 2038) e compreendem:
XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o Liberdade de Associação Profissional Sindical: prerrogativa
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; dos trabalhadores para defesa de seus interesses profissionais e
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). econômicos.
Direito de Greve: direito de abstenção coletiva e simultânea
Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de tra- do trabalho, de modo organizado para defesa de interesses dos
balho: trabalhadores. Importante mencionar que serviços considerados
XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de essenciais e inadiáveis à sociedade não podem ser paralisados to-
trabalho; talmente para o exercício do direito de greve. Ademais, o STF (2017)
entende que servidores que atuam diretamente na área de segu-
Proteção em face da automação: rança pública não podem entrar em greve em nenhuma hipótese.
XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei; Direito de Participação Laboral: assegura a participação dos
trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
Seguro contra acidentes de trabalho: em que interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre- discussão.
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando Direito de Representação na Empresa: Nos termos do art. 11,
incorrer em dolo ou culpa; CF: nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada
a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de
Ação trabalhista nos prazos prescricionais: promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha- — Direitos de nacionalidade
dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do A nacionalidade é a condição de sujeito natural do Estado, que
contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional pode participar dos atos pertinentes à nação. A atribuição da nacio-
nº 28, de 2000). nalidade se dá por dois critérios:
Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em território na-
Não discriminação: cional;
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de fun- Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacional, mesmo
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou nascido no exterior.
estado civil; O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis, mitigado por cri-
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário térios do jus sanguinis. O art. 12 da Constituição Federal elenca os
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; direitos da nacionalidade, dividindo os brasileiros em dois grandes
grupos: os brasileiros natos e os naturalizados.

6
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 12 São brasileiros: II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:(Redação
I - natos: dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es-
pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; trangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei- 1994).
ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa- b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
tiva do Brasil; brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra- permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;
sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com- (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela Extradição, repatriação, deportação e expulsão
nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucio- A extradição, repatriação, deportação e expulsão são medidas
nal nº 54, de 2007). do Estado soberano para enviar uma pessoa que se encontra refu-
II - naturalizados: giada em seu território a outro Estado estrangeiro.
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, Segundo o Ministério da Justiça (2021), a extradição é um ato
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi- de cooperação internacional que consiste na entrega de uma pes-
dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; soa, acusada ou condenada por um ou mais crimes, ao país que
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na Re- a reclama. Não haverá extradição de brasileiro nato. Também não
pública Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade bra- opinião.
sileira (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, Repatriação é medida administrativa consistente no processo
de 1994). de devolução voluntária de uma pessoa ao seu local de origem ou
de cidadania, por estar impedida de permanecer em território bra-
Cargos privativos do brasileiro nato: (art. 12, § 3º, CF) sileiro após determinado período.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: A deportação será aplicada nas hipóteses de entrada ou esta-
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; da irregular de estrangeiros no território nacional e a repatriação
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ocorre quando o clandestino é impedido de ingressar em território
III - de Presidente do Senado Federal; nacional pela fiscalização fronteiriça e aeroportuária brasileira.
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; A expulsão consiste em medida administrativa de retirada com-
V - da carreira diplomática; pulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada
VI - de oficial das Forças Armadas. com o impedimento de reingresso por prazo determinado, configu-
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda rado pela prática de crimes em território brasileiro.
Constitucional nº 23, de 1999). O banimento, que é a entrega de um brasileiro para julgamento
Naturalização no exterior, prática comum na época da ditadura militar, é vedado
A naturalização é um meio derivado, de aquisição secundária pela Constituição.
da nacionalidade brasileira, permitida ao estrangeiro ou apátrida — Direitos políticos
que preencher determinados requisitos. Os Direitos Políticos visam assegurar a participação do cidadão
Também chamado de heimatlos, o apátrida é aquele que não na vida política e estrutural de seu Estado, garantindo-lhe o acesso
possui nenhuma nacionalidade, já o polipátrida é aquele que tem à condução da coisa pública. Abrangem o poder que qualquer ci-
mais de uma nacionalidade. dadão tem na condução dos destinos de sua coletividade, de uma
A Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração trata de forma direta ou indireta, ou seja, sendo eleito ou elegendo repre-
diversas questões acerca da nacionalidade e do processo de natu- sentantes junto aos poderes públicos.
ralização, sendo vedada a diferenciação arbitrária entre brasileiros Cidadania e nacionalidade são conceitos distintos, logo nacio-
natos e naturalizados. nal é diferente de cidadão. A condição de nacional é um pressupos-
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros to para a de cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status de
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder participar
do processo governamental, sobretudo pelo voto.
Portugueses: Nos termos do art. 14 da Constituição Federal a soberania po-
Aos portugueses com residência permanente no país serão pular é exercida pelo sufrágio (voto) universal, direto e secreto, com
atribuídos os mesmos direitos dos brasileiros, desde que haja re- valor igual para todos. Ademais, estabelece também os instrumen-
ciprocidade. tos de participação semidireta pelo povo.
Plebiscito: manifestação popular do eleitorado que decide
Art. 12 acerca de uma determinada questão. Assim, em termos práticos, é
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se feita uma pergunta à qual responde o eleitor. É uma consulta prévia
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os à elaboração da lei.
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons- Referendo: manifestação popular, em que o eleitor aprova ou
tituição (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº rejeita uma atitude governamental, normalmente uma lei ou proje-
3, de 1994). to de lei já existente.
Iniciativa Popular: é o direito de uma parcela da população (1%
Perda da Nacionalidade: do eleitorado) apresentar ao Poder Legislativo um projeto de lei
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: que deverá ser examinado e votado. Os eleitores também podem
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em usar deste instrumento em nível estadual e municipal.
virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Alistamento eleitoral (direitos políticos ativos): § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú-
Consiste na capacidade de votar, participar de plebiscito e re- blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
ferendo, subscrever projeto de lei de iniciativa popular e de propor devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do
ação popular e se dá através do alistamento eleitoral, obrigatório pleito.
para os maiores de dezoito anos e facultativo para os maiores de
dezesseis e menores de dezoito, para os analfabetos e para os maio- Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos alguns requisitos:
res de setenta anos. § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con-
São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos durante serviço dições:
militar obrigatório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
foram convocados a prestar serviço militar. da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
Elegibilidade eleitoral (direitos políticos passivos): autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
Os direitos políticos passivos consistem na possibilidade de ser da diplomação, para a inatividade.
votado, ou seja, na elegibilidade que é a capacidade eleitoral passi-
va consistente na possibilidade de o cidadão pleitear determinados O Mandato Eletivo pode ser impugnado:
mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que preenchi- § 10O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
dos os devidos requisitos. Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí-
da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: fraude;
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos; § 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
III - o alistamento eleitoral; de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; manifesta má-fé.
V - a filiação partidária; Regulamento.
VI - a idade mínima de: Suspensão e Perda dos Direitos Políticos
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se dar,
Senador; respectivamente, de forma definitiva ou temporária. Ocorrerá a
b) 30 para Governador e Vice-Governador de Estado e do Dis- perda quando houver cancelamento da naturalização por sentença
trito Federal; transitada em julgado, no caso de recusa em cumprir obrigação a
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distri- todos imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar
tal, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; obrigatório). Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos se dá
d) 18 anos para Vereador. enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, enquanto não re-
toma a capacidade civil, o indivíduo terá seus direitos políticos sus-
Inelegibilidades: pensos; readquirindo-a, alcançará, novamente o status de cidadão.
A Constituição não menciona exaustivamente todas hipóteses Também são passíveis de suspensão os condenados criminalmente
de inelegibilidade, apenas fixa algumas. Em regra: (com sentença transitado em julgado). Cumprida a pena, readqui-
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. rem os direitos políticos; no caso de improbidade administrativa, a
suspensão será, da mesma forma, temporária.
Há também a inelegibilidade derivada do casamento ou do pa- Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
rentesco com o Presidente da República, com os Governadores de suspensão só se dará nos casos de:
Estado e do Distrito Federal e com os Prefeitos, ou com quem os I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o côn- III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du-
juge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou rarem seus efeitos;
por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
— Partidos Políticos
Quanto à Reeleição e desincompatibilização, a Emenda Consti- Partidos políticos são associações de pessoas de ideologia e in-
tucional nº 16 trouxe a possibilidade de reeleição para o chefe dos teresses comuns, com a finalidade de exercer o poder a partir da
Poderes Executivos federal, estadual, distrital e municipal. Ao con- vontade popular, determinando o governo e a orientação política
trário do sistema americano de reeleição, que permite apenas a re- nacional. Juridicamente, são verdadeiras instituições, pessoas jurí-
condução por um período somente, no Brasil, após o período de um dicas de direito privado, constituídas na forma da lei civil, perante
mandato, o governante pode voltar a se candidatar para o posto. o Registro Civil de Pessoas Jurídicas e que gozam de imunidade e
autonomia para gerir sua organização interna.
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do No Brasil, o pluralismo político é um dos fundamentos da Repú-
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi- blica, e diferente de outras nações aqui não foi instituído o dualis-
tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único mo. (direita e esquerda ou democratas e republicanos). Os partidos
período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional políticos têm liberdade de organização partidária, sendo livres a
nº 16, de 1997). criação, fusão, incorporação e a sua extinção, observados o caráter

8
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
nacional, a proibição de subordinação e recebimento de recursos IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros
financeiros de entidades ou governo estrangeiros, a vedação da uti- países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí-
lização de organização paramilitar, além do dever de prestar contas das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
à Justiça Eleitoral e do funcionamento parlamentar de acordo com áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
a lei. as referidas no art. 26, II; Redação dada pela Emenda Constitucional
De acordo com a Lei das Eleições, coligações partidárias são nº 46, de 2005).
permitidas. V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona
Os partidos políticos, uma vez devidamente constituídos e re- econômica exclusiva;
gistrados no TSE, têm direito a recursos do fundo partidário e aces- VI - o mar territorial;
so gratuito ao rádio e à televisão para fins de propaganda eleitoral. VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
. VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTA- e pré-históricos;
DO: ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS, XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS Todo ente federativo possui suas competências. Competência
é o poder legal de uma autoridade pública para a prática de atos
administrativos e tomada de decisões.
— Estado federal brasileiro, União, Estados, Distrito Federal,
Como ente federativo, a União possui competências adminis-
municípios e territórios trativas que lhe são exclusivas (art. 21, CF), competências legisla-
tivas privativas (art. 22, CF), competências administrativas comuns
Estado Federal Brasileiro com Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, CF) e competên-
São elementos do Estado a soberania, a finalidade, o povo e o cias legislativas concorrentes com Estados, Distrito Federal e Muni-
território. Assim, Dalmo de Abreu Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) cípios (art. 24, CF).
define Estado como “a ordem jurídica soberana que tem por fim o
bem comum de um povo situado em determinado território”. Estados
A Constituição de 1988 adotou a forma republicana de gover- O Brasil é composto de estados federados que gozam de uma
no, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de autonomia, consubstancianda na capacidade de auto-organização,
Estado. Note tratar-se de três definições distintas. auto-legislação, auto-governo e autoadministração.
Os Estados podem se formar a partir de incorporação, subdi-
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: visão ou desmembramento, que por sua vez, pode se dar por ane-
• Forma de Estado: Federação xação ou formação. A incorporação ou fusão é a junção de dois ou
• Forma de Governo: República mais Estados para formação de um único Estado novo. A cisão ou
• Regime de Governo: Democrático subdivisão é a separação de um Estado em dois ou mais Estados
• Sistema de Governo: Presidencialismo autônomos e independentes. E, o desmembramento consiste na
separação de parte de um Estado para formação de um novo Estado
O federalismo é a forma de Estado marcado essencialmente (formação) ou anexação a outro Estado já existente.
pela união indissolúvel dos entes federativos, ou seja, pela impossi- As competências estaduais estão previstas no art. 25, CF e os
bilidade de secessão, separação. São entes da federação brasileira: bens dos Estados estão elencados no art. 26, CF:
a União; os Estados-Membros; o Distrito Federal e os Municípios. Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui-
Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é considerado lai- ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui-
co, mantendo uma posição de neutralidade em matéria religiosa, ção.
admitindo o culto de todas as religiões, sem qualquer intervenção. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes
sejam vedadas por esta Constituição.
União § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con-
A União é o ente federativo com dupla personalidade. Inter- cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada
namente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, com a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (Reda-
autonomia financeira, administrativa e política e capacidade de au- ção dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995).
to-organização, autogoverno, autolegislação e autoadministração. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
Internacionalmente, a União é soberana e representa a República regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerrogativas da so- constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte-
berania do Estado brasileiro. Os bens da União são todos aqueles grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi-
elencados, no art. 20, CF. cas de interesse comum.
São bens da União os previstos no art. 20, CF: Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser I - As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
atribuídos; e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, tes de obras da União;
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de ou terceiros;
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

9
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Municípios § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observa-
O Município, que também é um ente federado que possui au- das as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com
tonomia administrativa (autoadministração) e política (auto-organi- a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual
zação, autogoverno e capacidade normativa própria). E, vinculado duração.
ao Estado onde se localiza, depende na sua criação, incorporação, § 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
fusão ou desmembramento, de lei estadual dentro do período de- o disposto no art. 27.
terminado por lei complementar federal, além da realização de ple- § 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Dis-
biscito. trito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do
Sua capacidade de auto-organização consiste na possibilidade corpo de bombeiros militar (Redação dada pela Emenda Constitu-
da elaboração da lei orgânica própria. O município possui o Poder cional nº 104, de 2019).
Executivo, exercido pelo Prefeito e o Poder Legislativo, exercido
pela Câmara Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na es- Atualmente, não existe no Brasil nenhum Território. Com a
fera municipal. É regido por lei orgânica, nos termos do art. 29, CF. CF/88, os territórios de Roraima e Amapá foram transformados em
A Constituição prevê ainda a composição das Câmaras Municipais Estados e Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Per-
e o subsídio dos vereadores, de acordo com a quantidade de habi- nambuco.
tantes do município.
A competência dos municípios está elencada no art. 30, CF.
Art. 30. Compete aos Municípios: PODER EXECUTIVO. ATRIBUIÇÕES E
I - legislar sobre assuntos de interesse local; RESPONSABILIDADES
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem O Poder Executivo é o órgão constitucional cuja função princi-
como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres- pal é a prática dos atos de chefia de estado, de governo e de admi-
tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; nistração, mas de forma atípica, também legisla através da edição
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação de Medidas Provisórias e julga contenciosos administrativos.
estadual; Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú-
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces- blica, auxiliado pelos Ministros de Estado.
são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o
de transporte coletivo, que tem caráter essencial; Chefe de Estado e Chefe de Governo
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e O Brasil adota o presidencialismo, que tem unificadas na figura
do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen- do Presidente da República as funções do Chefe de Estado e Chefe
tal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) de Governo. Portanto, o Poder Executivo brasileiro é monocrático.
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e Como chefe de Estado, o presidente representa o país nas suas re-
do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; lações internacionais e como chefe de governo exerce a liderança
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo- nacional, gerindo o país política e administrativamente.
rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e O presidente será eleito por maioria absoluta de votos, não
da ocupação do solo urbano; computados os em branco e os nulos. Entende-se por maioria ab-
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, soluta, mais que a metade, o número subsequente à metade, ou
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. a metade +1 do número total de votantes. Quando o candidato
mais votado não alcança a maioria absoluta, realiza-se segundo tur-
A fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios se dá no entre os dois mais votados. A maioria absoluta é diferente da
sob duas modalidades: controle externo, exercido pela Câmara Mu- maioria simples, que consiste no maior resultado da votação, inde-
nicipal e o controle interno, exercido pelo próprio executivo munici- pendentemente de exigência de quórum percentual relacionado à
pal, nos termos do art. 31, CF. quantidade total de votantes

Distrito Federal — Atribuições e responsabilidades do presidente da Repúbli-


O Distrito Federal é reconhecido como ente integrante da Fe- ca
deração e goza de autonomia política, embora não se enquadre Como chefe de Governo e Estado, compete ao Presidente da
nem como estado-membro ou município. Sua principal função é República as atribuições e responsabilidades trazidas nos artigos
servir como sede do Governo Federal e não pode haver divisões em 84, CF.
municípios. O Distrito Federal não possui constituição, mas lei orgâ- Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
nica própria, que define os princípios básicos de sua organização, I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;
suas competências e a organização de seus poderes governamen- II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção
tais, nos termos do art. 32, CF. superior da administração federal;
III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, nesta Constituição;
reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla- expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
Constituição. VI - dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela Emen-
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legisla- da Constitucional nº 32, de 2001).
tivas reservadas aos Estados e Municípios. a) organização e funcionamento da administração federal,
quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de
2001).

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (In- Ordem de sucessão presidencial no caso de impedimento ou
cluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001). vacância:
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus Em caso de impedimento ou vacância do cargo de Presidente,
representantes diplomáticos; este será substituído pelo: Vice-presidente, Presidente da Câmara
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujei- dos Deputados, Presidente do Senado Federal e Presidente do Su-
tos a referendo do Congresso Nacional; premo Tribunal Federal, nesta ordem.
IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; r.
X - decretar e executar a intervenção federal;
XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Na- PODER LEGISLATIVO: ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO
cional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a si- E ATRIBUIÇÕES; PROCESSO LEGISLATIVO; FISCALI-
tuação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; ZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA;
XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se ne- COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. FISCA-
cessário, dos órgãos instituídos em lei; LIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear (ARTS. 70 A 75)
os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promo-
ver seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são
privativos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de — Estrutura
02/09/99) O Poder Legislativo no Brasil é bicameral, ou seja, composto
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Minis- por duas casas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, a pri-
tros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Go- meira constituída por representantes do povo e a segunda, por re-
vernadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o pre- presentantes dos Estados-Membros e do Distrito Federal (LENZA,
sidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando 2019). Câmara e Senado formam o Congresso Nacional.
determinado em lei; Já o Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal, distrital
XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do e dos Territórios Federais, é do tipo unicameral, composto por uma
Tribunal de Contas da União; única casa legislativa, sendo a Assembleia Legislativa, composta pe-
XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Consti- los Deputados Estaduais, em âmbito estadual, e a Câmara Munici-
tuição, e o Advogado-Geral da União; pal, composta pelos Vereadores em âmbito municipal.
XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos As casas Legislativas são geralmente formadas por três instân-
do art. 89, VII; cias: mesa diretora, comissões e plenário.
XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho A mesa diretora tem funções administrativas sobre o funciona-
de Defesa Nacional; mento da Casa, e o presidente da mesa é o responsável pelo proces-
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autori- so legislativo. É ele quem organiza a pauta das reuniões e, portanto,
zado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocor- decide quais assuntos serão examinados pelo plenário. Tem o poder
rida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, de obstruir as decisões do Executivo ou os projetos de lei dos par-
decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; lamentares se não os colocar em votação. A mesa do Congresso
XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congres- Nacional é presidida pelo presidente do Senado.
so Nacional; As comissões podem ser permanentes, definidas pelos respec-
XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; tivos regimentos internos, com o poder para discutir e votar alguns
XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que projetos de lei sem passar pelo plenário, e temporárias, criadas
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per- para tratar de assuntos específicos. As comissões também podem
maneçam temporariamente; realizar audiências públicas com entidades da sociedade civil, con-
XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o pro- vocar autoridades e cidadãos para prestar informações.
jeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento O Plenário é a instância máxima e soberana no Legislativo para
previstos nesta Constituição; qualquer decisão. Nas votações, a decisão de cada um dos parla-
XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de mentares é influenciada por vários fatores, dentre eles o programa
sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe- do partido político ao qual cada parlamentar é filiado e os compro-
rentes ao exercício anterior; missos assumidos com as chamadas bases eleitorais.
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma
da lei; — Funcionamento e atribuições
XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos
do art. 62; Atribuições e competência do Congresso Nacional
XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. A maioria das pessoas se preocupa muito com as eleições para
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as os cargos do Executivo, dando menos importância aos Deputados
atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, Federais, Estaduais, Senadores e Vereadores municipais, entretan-
aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao to, a esses representantes competem uma função típica tão impor-
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas tante quanto a de governar e administrar: a legislatura. São eles os
respectivas delegações. responsáveis por pensarem e fazerem as leis que regem todo o país
e são aplicadas pelo Poder Judiciário.
Requisitos de elegibilidade do Presidente e Vice-Presidente Compete ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente
— Ser brasileiro nato; da República, nos termos do art. 48, CF, dispor sobre todas as maté-
— Estar no gozo dos direitos políticos; rias de competência da União, especialmente sobre:
— Ter mais de trinta e cinco anos; — Sistema tributário, arrecadação e distribuição de rendas;
— Não ser inelegível; — Plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual,
— Possuir filiação partidária. operações de crédito, dívida pública e emissões de curso forçado;

11
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
— Fixação e modificação do efetivo das Forças Armadas; — Aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a ativida-
— Planos e programas nacionais, regionais e setoriais de de- des nucleares;
senvolvimento; — Autorizar referendo e convocar plebiscito;
— Limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e — Autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveita-
bens do domínio da União; mento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas mine-
— Incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de rais;
Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembleias Legisla- — Aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras
tivas; públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares (LEN-
— Transferência temporária da sede do Governo Federal; ZA, 2019, p. 887).
— Concessão de anistia;
— Organização administrativa, judiciária, do Ministério Público Competências privativas da Câmara dos Deputados e do Se-
e da Defensoria Pública da União e dos Territórios, e organização ju- nado Federal
diciária e do Ministério Público do Distrito Federal (EC n. 69/2012); As matérias de competência privativa dos Deputados Federais
— Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e não dependerão de sanção presidencial, nos termos do art. 48,
funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, “b”, já caput, CF e estão previstas no art. 51, CF. Tais atribuições, geram
que, quando vagos os cargos ou funções públicas, caberá ao Presi- espécies normativas materializadas por meio de resoluções.
dente, mediante decreto, dispor sobre a extinção;
— Criação e extinção de Ministérios e órgãos da Administração Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
Pública (confira, também, o art. 88 da CF/88, alterado pela EC n. I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de
32/2001); processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
— Telecomunicações e radiodifusão; Ministros de Estado;
— Matéria financeira, cambial e monetária, instituições finan- II - proceder à tomada de contas do Presidente da República,
ceiras e suas operações; quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessen-
— Moeda, seus limites de emissão e montante da dívida mo- ta dias após a abertura da sessão legislativa;
biliária federal; III - elaborar seu regimento interno;
— Fixação do subsídio dos Ministros do STF, observado o que IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, cria-
dispõem os arts. 39, § 4º; 150, II; 153, III; e 153, § 2.º, I (LENZA, ção, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de
2019, p. 886). seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remune-
ração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes
Também compete exclusivamente ao Congresso Nacional, nos orçamentárias; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
termos do art. 49, CF: de 1998).
— Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos in- V - eleger membros do Conselho da República, nos termos do
ternacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao art. 89, VII.
patrimônio nacional;
— Autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a ce- O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e
lebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo terri- do Distrito Federal e tem a mesma relevância e força dada à Câmara
tório nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados dos Deputados.
os casos previstos em lei complementar (cf. LC n. 90/97, com as Segundo Lenza (2019) cada Estado e o Distrito Federal elegerão
alterações introduzidas pela LC n. 149/2015); 3 Senadores, sendo que cada Senador será eleito com 2 suplentes
— Autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se para o mandato de 8 anos, portanto, duas legislaturas. São requisi-
ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias; tos para a candidatura dos Senadores: ser brasileiro nato ou natura-
— Aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autori- lizado, maior de 35 anos, estar em pleno exercício dos direitos po-
zar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; líticos; ter domicílio eleitoral na circunscrição; alistamento eleitoral
— Sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem e filiação partidária.
do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
— Mudar temporariamente sua sede; Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
— Fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Se- I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da Re-
nadores, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4.º, 150, II, pública nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de
153, III, e 153, § 2.º, I; Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
— Fixar os subsídios do Presidente e do Vice-Presidente da nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles (Redação dada
República e dos Ministros de Estado, observado o que dispõem os pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99);
arts. 37, XI, 39, § 4.º, 150, II, 153, III, e 153, § 2.º, I; II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal,
— Julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacio-
República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de nal do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Ad-
governo; vogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade (Redação
— Fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004);
Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pú-
indireta; blica, a escolha de:
— Zelar pela preservação de sua competência legislativa em a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
face da atribuição normativa dos outros Poderes; b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
— Apreciar os atos de concessão e renovação de concessão de sidente da República;
emissoras de rádio e televisão; c) Governador de Território;
— Escolher dois terços dos membros do Tribunal de Contas da d) Presidente e diretores do banco central;
União; e) Procurador-Geral da República;

12
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
f) titulares de outros cargos que a lei determinar; O processo legislativo brasileiro é o indireto ou representativo,
IV - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em pelo qual o povo escolhe seus mandatários (parlamentares), que
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- receberão de forma autônoma poderes para decidir sobre os as-
ráter permanente; suntos de sua competência constitucional. Há quatro espécies de
V - autorizar operações externas de natureza financeira, de in- processos ou procedimentos legislativos, o comum ou ordinário, o
teresse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e sumário, os especiais e os especialíssimos.
dos Municípios; O processo legislativo ordinário se destina à elaboração das leis
VI - fixar, por proposta do Presidente da República, limites glo- ordinárias, caracterizando-se pela sua maior extensão. O processo
bais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, legislativo sumário, difere-se do ordinário apenas pela existência de
do Distrito Federal e dos Municípios; prazo para que o Congresso Nacional delibere sobre determinado
VII - dispor sobre limites globais e condições para as operações assunto. Os processos legislativos especiais são estabelecidos para
de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Fede- a elaboração das emendas à Constituição, leis complementares, leis
ral e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades contro- delegadas, medidas provisórias, decretos-legislativos e resoluções.
ladas pelo Poder Público federal; E, o especialíssimo é previsto para leis financeiras e orçamentárias.
VIII - dispor sobre limites e condições para a concessão de ga- São basicamente três as etapas ou fases do processo legislativo
rantia da União em operações de crédito externo e interno; brasileiro, havendo divergências doutrinárias: a iniciativa, a consti-
IX - estabelecer limites globais e condições para o montante da tutiva, que compreende a deliberação parlamentar, com a discus-
dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; são e votação, e a deliberação executiva, através da sanção ou veto,
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada e a complementar, que compreende a promulgação e a publicação.
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal; As hipóteses da iniciativa são: geral, concorrente, privativa, po-
XI - aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exone- pular, conjunta, do art. 67 e a parlamentar ou extraparlamentar. De
ração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término maneira ampla, a CF atribui competência às seguintes pessoas e aos
de seu mandato; órgãos, conforme prevê o art. 61, caput (iniciativa geral): qualquer
XII - elaborar seu regimento interno; Deputado Federal ou Senador da República; Comissão da Câmara
XIII - dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional; Pre-
criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções sidente da República; Supremo Tribunal Federal; Tribunais Superio-
de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva re- res; Procurador-Geral da República e cidadãos (LENZA, 2019).
muneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de dire- A fase constitutiva expressa a conjugação de vontades do legis-
trizes orçamentárias (Redação dada pela Emenda Constitucional nº lativo (deliberação parlamentar - discussão e votação) e do executi-
19, de 1998); vo (deliberação executiva - sanção ou veto). A discussão e votação
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Su-
art. 89, VII. premo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, bem como os
XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tribu- projetos de iniciativa concorrente dos Deputados ou de Comissões
tário Nacional, em sua estrutura e seus componentes, e o desempe- da Câmara, os de iniciativa do Procurador-Geral da República e, na-
nho das administrações tributárias da União, dos Estados e do Dis- turalmente, os de iniciativa popular terão início na Câmara dos De-
trito Federal e dos Municípios (Incluído pela Emenda Constitucional putados, sendo esta, portanto, a casa iniciadora e o Senado Federal,
nº 42, de 19.12.2003). em todas essas hipóteses lembradas, a casa revisora.Perante o Se-
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcio- nado Federal são propostos somente os projetos de lei de iniciativa
nará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se dos Senadores ou de Comissões do Senado, funcionando, nesses
a condenação, que somente será proferida por dois terços dos vo- casos, a Câmara dos Deputados como casa revisora (LENZA, 2019).
tos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito Ainda segundo Lenza (2019), terminada a fase de discussão
anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais e votação, aprovado o projeto de lei, deverá ele ser encaminhado
sanções judiciais cabíveis. para a apreciação do Chefe do Executivo para sanção, concordân-
cia, ou veto, discordância total ou parcial. A sanção poderá ser ex-
— Processo legislativo pressa ou tácita e representa o momento em que o projeto de lei
O processo legislativo é o conjunto de regras constitucional- se transforma em lei, para promulgação. Em caso de discordância,
mente previstas para elaboração das normas e leis previstas no art. poderá o Presidente da República vetar o projeto de lei, total ou
59, CF, pelo Poder Legislativo. parcialmente, no prazo de 15 dias úteis, contados da data do rece-
bimento. O veto deverá ser sempre expresso e justificado, podendo
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: ser considerado inconstitucional (veto jurídico), ou contrário ao in-
I - emendas à Constituição; teresse público (veto político). O veto é irretratável, porém, relativo,
II - leis complementares; podendo ser derrubado em sessão conjunta da Câmara e do Sena-
III - leis ordinárias; do, dentro de 30 dias a contar de seu recebimento, pelo voto da
IV - leis delegadas; maioria absoluta dos Deputados e Senadores.
V - medidas provisórias; A fase final ou complementar do processo legislativo compre-
VI - decretos legislativos; ende a promulgação e a publicação. A promulgação é o ato de vali-
VII - resoluções. dade da lei, ainda não eficaz. E a publicação é o ato de se dar publi-
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, cidade a nova lei, inserindo o conteúdo do texto no Diário Oficial.
redação, alteração e consolidação das leis. Com a publicação se estabelece o momento da obrigatoriedade
do cumprimento da lei. Em regra, a lei começa a vigorar em todo
o país, 45 dias depois de sua publicação, nos termos da Lei de In-
trodução às Normas do Direito Brasileiro. Excepcionalmente, a Lei
também pode entrar em vigor na data de sua publicação.

13
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
— Fiscalização contábil, financeira e orçamentária VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de des-
A fiscalização contábil, financeira e orçamentária dos órgãos da pesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que
União e da Administração Pública são de competência interna do estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
sistema de controle de cada Poder e externo, do Congresso Nacio- causado ao erário;
nal, com auxílio do Tribunal de Contas. IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro-
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, ope- ilegalidade;
racional e patrimonial da União e das entidades da administração X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, co-
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, municando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de abusos apurados.
controle interno de cada Poder. § 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado dire-
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurí- tamente pelo Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao
dica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou Poder Executivo as medidas cabíveis.
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União § 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de nature- noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo ante-
za pecuniária (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de rior, o Tribunal decidirá a respeito.
1998). § 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito
ou multa terão eficácia de título executivo.
O Tribunal de Contas da União é o órgão auxiliar e de orienta- § 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral
ção do Poder Legislativo, embora autônomo e a ele não subordina- e anualmente, relatório de suas atividades.
do, praticando atos de natureza administrativa, concernentes, ba- Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art.
sicamente, à fiscalização. Deve, portanto, examinar rotineiramente 166, §1º, diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que
as contas públicas, nos termos do art. 71 e seguintes da Constitui- sob a forma de investimentos não programados ou de subsídios não
ção Federal: aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsá-
vel que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessá-
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, rios.
será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual § 1º Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes
compete: insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em § 2º Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão,
sessenta dias a contar de seu recebimento; se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis à economia pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação.
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Mi-
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas nistros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa jurisdição em todo o território nacional, exercendo, no que couber,
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao as atribuições previstas no art. 96.
erário público; § 1º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomea-
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de dos dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:
admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder idade;
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em II - idoneidade moral e reputação ilibada;
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o financeiros ou de administração pública;
fundamento legal do ato concessório; IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva ati-
IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, vidade profissional que exija os conhecimentos mencionados no in-
do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções ciso anterior.
e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, ope- § 2º Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão esco-
racional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes lhidos:
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no I - um terço pelo Presidente da República, com aprovação do
inciso II; Senado Federal, sendo dois alternadamente dentre auditores e
V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista
de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta, tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e mere-
nos termos do tratado constitutivo; cimento;
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela II - dois terços pelo Congresso Nacional.
União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mes-
congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município; mas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e van-
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacio- tagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-
nal, por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas -lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do
Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, art. 40 (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspe- § 4º O auditor, quando em substituição a Ministro, terá as mes-
ções realizadas; mas garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das
demais atribuições da judicatura, as de juiz de Tribunal Regional
Federal.

14
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário mante-
rão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finali- PODER JUDICIÁRIO: DISPOSIÇÕES GERAIS; ÓRGÃOS
dade de: DO PODER JUDICIÁRIO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊN-
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria- CIAS; CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA: COMPOSI-
nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da ÇÃO E COMPETÊNCIAS
União;
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à — Disposições gerais
eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimo- Mais do que o Poder incumbido da função e prestação jurisdi-
nial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como cional, é o Poder Judiciário o guardião da Constituição e garantidor
da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; dos direitos fundamentais. A função jurisdicional só pode ser de-
III - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan- sempenhada pelo Poder Judiciário, único poder capaz de produzir
tias, bem como dos direitos e haveres da União; decisões que venham se revestir da força de coisa julgada.
IV - apoiar o controle externo no exercício de sua missão insti- O Judiciário não é subordinado ao governo e suas principais
tucional. características são a independência, autonomia a imparcialidade,
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhe- fundamentais para que a lei possa ser aplicada ao caso concreto até
cimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciên- mesmo em desfavor do governo e da administração.
cia ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade A função típica do Poder Judiciário é a prestação jurisdicional,
solidária. mas este também exerce funções atípicas, legislativas, como a edi-
§ 2º Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato ção de normas regimentais de seus órgãos, e administrativas, como
é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou a concessão de férias aos seus membros e serventuários e o provi-
ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União. mento dos cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição.
Para garantir a independência do exercício da jurisdição, os
Embora tenha o nome de Tribunal, é órgão administrativo que membros do Poder judiciário gozam de algumas garantias, tais
não exerce função judicial. Entretanto, apesar de não ser órgão ju- como: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de venci-
dicial, o cumprimento de suas decisões é obrigatório. O Tribunal mentos.
de Contas pode responsabilizar entidades e agentes por débitos ir-
regulares e aplicar multas, nos termos da lei, decisões, essas, que — Órgãos do poder judiciário
têm eficácia de título executivo. Pode determinar também que se Conforme art. 92, CF são órgãos do Poder Judiciário:
adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei. — Supremo Tribunal Federal (STF);
A aprovação de contas pelo Tribunal de Contas não afasta o seu — Conselho Nacional de Justiça (CNJ);
exame pelo Legislativo ou pelo Judiciário. — Superior Tribunal de Justiça (STJ);
O modelo federal deverá ser seguido pelos Estados-membros, — Tribunal Superior do Trabalho (TST);
Distrito Federal e Municípios, inclusive em relação à composição e — Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (TRFs);
modo de investidura dos respectivos conselheiros, respeitando-se — Tribunais e Juízes do Trabalho (TRTs);
as proporcionalidades de escolha entre o Poder Executivo e o Poder — Tribunais e Juízes Eleitorais (TREs);
Legislativo, nos mesmos moldes da Constituição Federal. — Tribunais e Juízes Militares (TJM);
— Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Terri-
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no tórios (TJs).
que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais
de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e
e Conselhos de Contas dos Municípios. os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os todo o território nacional.
Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Con- O CNJ é um órgão do Poder Judiciário, entretanto, goza de au-
selheiros. tonomia e independência e não está hierarquicamente subordina-
do a nenhum outro órgão de nenhuma das instâncias. Também não
— Comissões parlamentares de inquérito está acima do STF ou abaixo dele, pois exerce a fiscalização dos atos
De modo geral, as comissões parlamentares são organismos de todos os outros órgãos e o controle disciplinar de todos os mem-
instituídos em cada Câmara, para uma determinada finalidade, bros do Judiciário.
como estudar e examinar as proposições legislativas e apresentar
pareceres. As CPIs são comissões investigativas temporárias, desti-
nadas a averiguação e apuração de fato certo e determinado e es-
tão disciplinadas no art. 58, § 3.º, da CF/88, na Lei n. 1.579/52 (alte-
rada pelas Leis 10.679/2003 e 13.367/2016), na Lei n. 10.001/2000,
na LC n. 105/2001 e nos Regimentos Internos das Casas Legislativas.
As CPIs serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Sena-
do Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimen-
to de 1/3 da totalidade de seus membros, com indicação precisa
do fato a ser apurado na investigação parlamentar e do prazo certo
para o desenvolvimento e conclusão dos trabalhos.
Além de ouvir testemunhas e investigados as CPIs podem de-
terminar quebra do sigilo fiscal, bancário e de dados, inclusive te-
lefônicos.
.

15
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O STF é o órgão máximo e a mais alta instância do Judiciário brasileiro. É o guardião da Constituição Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de
lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993),
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Mi-
nistros e o Procurador-Geral da República;

c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas enti-
dades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos
estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única ins-
tância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999).
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos
processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade
dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e
qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso
Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de
um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitu-
cional nº 45, de 2004).
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão;
b) o crime político;

16
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal
em única ou última instância, quando a decisão recorrida: de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
a) contrariar dispositivo desta Constituição; pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Mi-
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face litar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil
desta Constituição. integrantes (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (In- 2004).
cluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tri- ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a com-
bunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emen- petência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal com-
da Constitucional nº 3, de 17/03/93). petente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supre- graduação das praças (Redação dada pela Emenda Constitucional
mo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nº 45, de 2004).
nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao
esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela Emenda Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar
Constitucional nº 45, de 2004). e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Constitu-
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demons- cional nº 45, de 2004).
trar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas § 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizada-
no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a ad- mente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno
missão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitu- (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
cional nº 45, de 2004). § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicio-
Por sua vez, o STJ é a corte jurisdicional responsável por unifor- nal, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
mizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, composta por equipamentos públicos e comunitários (Incluído pela Emenda Cons-
33 ministros. titucional nº 45, de 2004).
Segundo dados do próprio site do STJ (2021), é de sua res-
ponsabilidade a solução definitiva dos casos civis e criminais que — Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
não envolvam matéria constitucional nem a justiça especializada. Segundo conceitua o próprio site do CNJ (2021), o Conselho
O principal tipo de processo julgado pelo STJ é o recurso especial, Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfei-
que serve fundamentalmente para que o tribunal resolva interpre- çoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no
tações divergentes sobre um determinado dispositivo de lei. que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e pro-
É ainda de responsabilidade do STJ resolver crimes de autori- cessual, desenvolvendo políticas judiciárias que promovam a efeti-
dades, magistrados e políticos, federalizar processos de grande vio- vidade e a unidade do Poder Judiciário, orientadas para os valores
lação de Direitos Humanos, julgar habeas corpus, habeas data ou de justiça e paz social, impulsionando cada vez mais a efetividade
mandado de segurança, contra ato ilegal de governadores, desem- da Justiça brasileira.
bargadores ou conselheiros de tribunais de contas e outras autori-
dades, bem como habeas corpus e mandados de segurança nega- Composição
dos em 2ª instância pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Federais. Criado com a Emenda Constitucional nº 45, o Conselho Nacio-
É também responsável pela administração da Justiça Federal e por nal de Justiça é composto por 15 (quinze) membros com mandato
solucionar conflitos de competência entre Tribunais. Todas as suas de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, nos termos do art.
competências estão expressas no art. 105, CF (STJ, 2021). 103-B, CF, sendo: o Presidente do Supremo Tribunal Federal; um
Já os Tribunais de Justiça compreendem a 2ª instância do ju- Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo
diciário brasileiro e os juízes estaduais ou juízes de direito corres- tribunal; um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado
pondem à primeira instância da Justiça comum. Cada estado tem pelo respectivo tribunal; um desembargador de Tribunal de Justiça,
seu tribunal. Os tribunais são também responsáveis pelos Juizados indicado pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz estadual, indicado
Especiais Cíveis e Criminais suas Turmas recursais, regidos pela Lei pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz de Tribunal Regional Fede-
9099/1995, e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cida- ral, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz federal, indi-
dania – CEJUSCs. Em sede de 1ª instância, os juízes de direito são os cado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz de Tribunal Regional
responsáveis pelas diversas varas, espalhadas nas comarcas. Cada do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um juiz
tribunal será responsável por sua organização estrutural. do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um mem-
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os bro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral
princípios estabelecidos nesta Constituição. da República; um membro do Ministério Público estadual, escolhi-
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados
do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tri- pelo órgão competente de cada instituição estadual; dois advoga-
bunal de Justiça. dos, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de incons- Brasil; dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
titucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Fe-
em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitima- deral. É sempre presidido pelo Presidente do STF.
ção para agir a um único órgão.

17
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Competências III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a pro-
— Elaborar projetos, propostas ou estudos sobre matérias de teção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
competência do CNJ e apresentá-los nas sessões plenárias ou reu- interesses difusos e coletivos;
niões de Comissões, observada a pauta fixada pelos respectivos IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representa-
Presidentes; ção para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos pre-
— Requisitar de quaisquer órgãos do Poder Judiciário, do CNJ e vistos nesta Constituição;
de outras autoridades competentes as informações e os meios que V - defender judicialmente os direitos e interesses das popula-
considerem úteis para o exercício de suas funções; ções indígenas;
— Propor à Presidência a constituição de grupos de trabalho ou VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
Comissões necessários à elaboração de estudos, propostas e proje- sua competência, requisitando informações e documentos para ins-
tos a serem apresentados ao Plenário do CNJ; truí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma
— Propor a convocação de técnicos, especialistas, representan- da lei complementar mencionada no artigo anterior;
tes de entidades ou autoridades para prestar os esclarecimentos VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de
que o CNJ entenda convenientes; inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas ma-
— Pedir vista dos autos de processos em julgamento; nifestações processuais;
— Participar das sessões plenárias para as quais forem regular- IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
mente convocados; compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
— Despachar, nos prazos legais, os requerimentos ou expe-
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
dientes que lhes forem dirigidos;
§ 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis
— Desempenhar as funções de Relator nos processos que lhes
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipó-
forem distribuídos (CNJ, 2021)..
teses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
§ 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas
MINISTÉRIO PÚBLICO; ADVOCACIA PÚBLICA; por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da res-
DEFENSORIA PÚBLICA pectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
Para a efetiva a prestação jurisdicional não basta que existam § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á me-
os juízes e tribunais. O acesso à Justiça só é possível graças a algu- diante concurso público de provas e títulos, assegurada a partici-
mas funções essenciais: o Ministério Público, a Advocacia Pública, a pação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exi-
Advocacia e a Defensoria Pública. gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.
— Ministério público
O Ministério Público é instituição permanente e essencial ao — Advocacia pública
Judiciário, atuando como custus legis – fiscal da lei, na defesa da A Advocacia Pública é a instituição que representa a União, ju-
ordem jurídica, regime democrático e dos interesses individuais e dicial e extrajudicialmente, que, assim como todo ente jurídico, tem
coletivos. O MP está fora da estrutura dos demais poderes da Re- seus problemas e interesses, que precisam ser defendidos perante
pública, consagrando sua total autonomia e independência para o o Poder Público. Assim, é a Advocacia-Geral da União, chefiada por
cumprimento de suas funções sempre em defesa dos direitos, ga- um Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente
rantias e prerrogativas da sociedade. da República, entre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de
Constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas gran- notável saber jurídico e reputação ilibada e integrada por muitos
des Instituições, sem que haja qualquer relação de hierarquia e su- advogados que atuam vinculados e subordinados à defesa dos in-
bordinação entre elas: o Ministério Público da União, que compre- teresses da nação.
ende o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho; É importante não confundir a Advocacia Pública com advocacia
o Ministério Público Militar, o Ministério Público do Distrito Federal gratuita ou Assistência Judiciária. A assessoria jurídica prestada gra-
e Territórios; e o Ministério Público dos Estados. tuitamente ao cidadão se dá pela Defensoria Pública ou por órgãos
Os membros do Ministério Público Federal são os procuradores de assistência judiciária, normalmente municipais, que contratam
da República e os do Ministério Público dos Estados e do Distrito
profissionais para tal fim, ou ainda, por nomeação de advogados
Federal são os Promotores e Procuradores de Justiça.
dativos feita pelos Tribunais. Também não se pode confundir Procu-
São princípios institucionais do Ministério Público: a unidade, a
radores do Estado com Procuradores de Justiça ou Procuradores da
indivisibilidade, a independência funcional e o princípio do promo-
República, que não são advogados, mas sim membros do Ministério
tor natural. Ao Ministério Público compete a função de custos legis
(fiscal da lei), a defesa do patrimônio público e os direitos constitu- Público Estadual e Federal.
cionais do cidadão, além de ter poder investigativo, dentre tantas
outras funções de grande relevância elencadas no art. 129, CF e na — Defensoria Pública
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93). Função essencial individualizada da advocacia pela Emenda
Constitucional nº 80/2014, a Defensoria Pública é instituição per-
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: manente do Estado, que também tem como finalidade primordial a
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma orientação jurídica e a defesa do cidadão em todos os graus, carac-
da lei; teriza-se por garantir o acesso à justiça aos mais necessitados. Pos-
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi- sui autonomia funcional e administrativa, competindo-lhe a promo-
ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constitui- ção dos direitos humanos, a defesa, em todos os graus, judicial e
ção, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos e a orientação ju-
rídica dos cidadãos que não possuem recursos financeiros suficien-

18
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
tes para a contratação de um advogado particular. A independência PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
funcional no desempenho de suas atribuições, a inamovibilidade,
a irredutibilidade de vencimentos e a estabilidade são também L Legalidade
garantias dos defensores públicos. São princípios institucionais da I Impessoalidade
Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência
M Moralidade
funcional. O ingresso na carreira de defensor também deve se dar
por concurso público. P Publicidade
Diante da omissão constitucional sobre a necessidade de o de- E Eficiência
fensor público continuar inscrito nos quadros da OAB, dada a si-
militude das atividades da Defensoria Pública com a advocacia, se LIMPE
discute nos Tribunais superiores a obrigatoriedade da inscrição na
OAB para os defensores públicos. Passemos ao conceito de cada um deles:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essen- Princípio da Legalidade


cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expres- De acordo com este princípio, o administrador não pode agir
são e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a ou deixar de agir, senão de acordo com a lei, na forma determinada.
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, O quadro abaixo demonstra suas divisões.
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal (Redação dada
A Administração Pública
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014).
Em relação à Administração somente pode fazer o que a lei
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da
Pública permite → Princípio da Estrita
União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas
Legalidade
gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira,
providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e tí- O Particular pode fazer tudo que
Em relação ao Particular
tulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade a lei não proíbe
e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais
(Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Princípio da Impessoalidade
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas au- Em decorrência deste princípio, a Administração Pública deve
tonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta servir a todos, sem preferências ou aversões pessoais ou partidá-
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes rias, não podendo atuar com vistas a beneficiar ou prejudicar de-
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º (Incluído terminadas pessoas, uma vez que o fundamento para o exercício de
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). sua função é sempre o interesse público.
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da
União e do Distrito Federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº Princípio da Moralidade
74, de 2013). Tal princípio caracteriza-se por exigir do administrador público
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a uni- um comportamento ético de conduta, ligando-se aos conceitos de
dade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se probidade, honestidade, lealdade, decoro e boa-fé.
também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. A moralidade se extrai do senso geral da coletividade represen-
96 desta Constituição Federal (Incluído pela Emenda Constitucional tada e não se confunde com a moralidade íntima do administrador
nº 80, de 2014). (moral comum) e sim com a profissional (ética profissional).
O Artigo 37, § 4º da CF elenca as consequências possíveis, devi-
do a atos de improbidade administrativa:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTS. 37 A 43)
SANÇÕES AO COMETIMENTO DE ATOS DE IMPROBIDADE
Disposições gerais e servidores públicos ADMINISTRATIVA
A expressão Administração Pública em sentido objetivo traduz
a ideia de atividade, tarefa, ação ou função de atendimento ao inte- Suspensão dos direitos políticos (responsabilidade política)
resse coletivo. Já em sentido subjetivo, indica o universo dos órgãos Perda da função pública (responsabilidade disciplinar)
e pessoas que desempenham função pública. Indisponibilidade dos bens (responsabilidade patrimonial)
Conjugando os dois sentidos, pode-se conceituar a Administra-
ção Pública como sendo o conjunto de pessoas e órgãos que de- Ressarcimento ao erário (responsabilidade patrimonial)
sempenham uma função de atendimento ao interesse público, ou
seja, que estão a serviço da coletividade. Princípio da Publicidade
O princípio da publicidade determina que a Administração Pú-
Princípios da Administração Pública blica tem a obrigação de dar ampla divulgação dos atos que pratica,
Nos termos do caput do Artigo 37 da CF, a administração públi- salvo a hipótese de sigilo necessário.
ca direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, A publicidade é a condição de eficácia do ato administrativo e
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de tem por finalidade propiciar seu conhecimento pelo cidadão e pos-
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. sibilitar o controle por todos os interessados.
As provas de Direito Constitucional exigem com frequência a
memorização de tais princípios. Assim, para facilitar essa memori-
zação, já é de praxe valer-se da clássica expressão mnemônica “LIM-
PE”. Observe o quadro abaixo:

19
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Princípio da Eficiência V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servi-
Segundo o princípio da eficiência, a atividade administrativa dores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem
deve ser exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional, preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e per-
evitando atuações amadorísticas. centuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribui-
Este princípio impõe à Administração Pública o dever de agir ções de direção, chefia e assessoramento;
com eficiência real e concreta, aplicando, em cada caso concreto, a VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
medida, dentre as previstas e autorizadas em lei, que mais satisfaça ciação sindical;
o interesse público com o menor ônus possível (dever jurídico de VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
boa administração). definidos em lei específica;
Em decorrência disso, a administração pública está obrigada a VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
desenvolver mecanismos capazes de propiciar os melhores resul- para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
tados possíveis para os administrados. Portanto, a Administração sua admissão;
Pública será considerada eficiente sempre que o melhor resultado IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
for atingido. terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público;
Disposições Gerais na Administração Pública X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que
O esquema abaixo sintetiza a definição de Administração Pú- trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por
blica: lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, asse-
gurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA de índices;
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
DIRETA INDIRETA ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
Autarquias (podem ser qualificadas fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
como agências reguladoras) Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
Federal mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pen-
Fundações (autarquias e fundações
Estadual sões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente
podem ser qualificadas como agên-
Distrital ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra na-
cias executivas)
Municipal tureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos
Sociedades de economia mista
Empresas públicas Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite,
nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Entes Cooperados
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Exe-
Não integram a Administração Pública, mas prestam serviços de cutivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
interesse público. Exemplos: SESI, SENAC, SENAI, ONG’s Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por
As disposições gerais sobre a Administração Pública estão elen- cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo
cadas nos Artigos 37 e 38 da CF. Vejamos: Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite
aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defen-
CAPÍTULO VII sores Públicos;
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder
Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Execu-
SEÇÃO I tivo;
DISPOSIÇÕES GERAIS XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es-
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer serviço público;
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí- XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público
pios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, mora- não serão computados nem acumulados para fins de concessão de
lidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: acréscimos ulteriores;
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e em-
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim pregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos incisos XI
como aos estrangeiros, na forma da lei; e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de apro- XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
vação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em
de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, qualquer caso o disposto no inciso XI:
na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em a) a de dois cargos de professor;
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
anos, prorrogável uma vez, por igual período; saúde, com profissões regulamentadas;
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de convo- XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções
cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de pro- e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de
vas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursa- economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; ou indiretamente, pelo poder público;
XVIII - a administração fazendária e seus servidores fiscais te-
rão, dentro de suas áreas de competência e jurisdição, precedência
sobre os demais setores administrativos, na forma da lei;

20
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às
autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
mia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni-
caso, definir as áreas de sua atuação; cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- geral.
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a re-
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, muneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os
serviços, compras e alienações serão contratados mediante pro- cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos
cesso de licitação pública que assegure igualdade de condições a e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exo-
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações neração.
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos ter- § 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
mos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação tórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas de
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das caráter indenizatório previstas em lei.
obrigações. § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo,
XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito,
Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funciona- mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como
mento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respecti-
terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e vo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco
atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam- subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor- § 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser re-
mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, adaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabili-
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto- dades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
ridades ou servidores públicos. capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta condição,
desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a
para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori-
nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos termos
gem. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
da lei.
§ 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom-
I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (In-
em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
cluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
§ 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser-
dos serviços; vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que
II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor- não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que
mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência
e XXXIII; social. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
III - a disciplina da representação contra o exercício negligente Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica
ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública. e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as se-
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a sus- guintes disposições:
pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponi- I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital,
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos pra- emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remunera-
ticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ção;
ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. III - investido no mandato de Vereador, havendo compatibili-
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- dade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. IV - em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos
de cargo ou emprego da administração direta e indireta que possi- os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;
bilite o acesso a informações privilegiadas. V - na hipótese de ser segurado de regime próprio de previ-
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos dência social, permanecerá filiado a esse regime, no ente federativo
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser de origem. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- 2019)
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de
desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direi-
tos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.”

21
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Servidores Públicos Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores
Os servidores públicos são pessoas físicas que prestam serviços titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário,
à administração pública direta, às autarquias ou fundações públi- mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores
cas, gerando entre as partes um vínculo empregatício ou estatutá- ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
rio. Esses serviços são prestados à União, aos Estados-membros, ao preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (Redação dada pela
Distrito Federal ou aos Municípios. Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
As disposições sobre os Servidores Públicos estão elencadas § 1º O servidor abrangido por regime próprio de previdência
dos Artigos 39 a 41 da CF. Vejamos: social será aposentado: (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 103, de 2019)
SEÇÃO II I - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em
DOS SERVIDORES PÚBLICOS que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese
em que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios verificação da continuidade das condições que ensejaram a conces-
instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e são da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente federativo;
planos de carreira para os servidores da administração pública dire- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ta, das autarquias e das fundações públicas. (Vide ADIN nº 2.135-4) II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta
instituirão conselho de política de administração e remuneração de e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;
pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Po- III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade,
deres (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem,
(Vide ADIN nº 2.135-4) e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo- idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Cons-
nentes do sistema remuneratório observará: tituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os
demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
cargos componentes de cada carreira;
de 2019)
II - os requisitos para a investidura;
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores
III - as peculiaridades dos cargos.
ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal manterão escolas ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência
de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. (Redação dada pela
públicos, constituindo-se a participação nos cursos um dos requisi- Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
tos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração § 3º As regras para cálculo de proventos de aposentadoria
de convênios ou contratos entre os entes federados. serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. (Redação
§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o dis- dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
posto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados
XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de ad- para concessão de benefícios em regime próprio de previdência so-
missão quando a natureza do cargo o exigir. cial, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. (Redação
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão § 4º-A. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferencia-
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prê- dos para aposentadoria de servidores com deficiência, previamente
mio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obe- submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por equipe multi-
decido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. profissional e interdisciplinar. (Incluído pela Emenda Constitucional
§ 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- nº 103, de 2019)
nicípios poderá estabelecer a relação entre a maior e a menor re- § 4º-B. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
muneração dos servidores públicos, obedecido, em qualquer caso, pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados
o disposto no art. 37, XI. para aposentadoria de ocupantes do cargo de agente penitenciário,
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário publicarão de agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de que tratam
anualmente os valores do subsídio e da remuneração dos cargos e o inciso IV do caput do art. 51, o inciso XIII do caput do art. 52 e os
empregos públicos. incisos I a IV do caput do art. 144. (Incluído pela Emenda Constitu-
§ 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí- cional nº 103, de 2019)
pios disciplinará a aplicação de recursos orçamentários provenien- § 4º-C. Poderão ser estabelecidos por lei complementar do res-
pectivo ente federativo idade e tempo de contribuição diferenciados
tes da economia com despesas correntes em cada órgão, autarquia
para aposentadoria de servidores cujas atividades sejam exercidas
e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos preju-
qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, moder-
diciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracteriza-
nização, reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclu-
ção por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda
sive sob a forma de adicional ou prêmio de produtividade. Constitucional nº 103, de 2019)
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organizados em
carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º.
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo
em comissão à remuneração do cargo efetivo. (Incluído pela Emen-
da Constitucional nº 103, de 2019)

22
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão idade mínima re- § 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dispos-
duzida em 5 (cinco) anos em relação às idades decorrentes da apli- to nos§§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressa-
cação do disposto no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo do no serviço público até a data da publicação do ato de instituição
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e do correspondente regime de previdência complementar.
no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar do res- § 17. Todos os valores de remuneração considerados para o cál-
pectivo ente federativo. (Redação dada pela Emenda Constitucional culo do benefício previsto no § 3° serão devidamente atualizados,
nº 103, de 2019) na forma da lei.
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdên- superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
cia social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a geral de previdência social de que trata o art. 201, com percentual
acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime igual ao estabelecido para os servidores titulares de cargos efetivos.
Geral de Previdência Social. (Redação dada pela Emenda Constitu- § 19. Observados critérios a serem estabelecidos em lei do res-
cional nº 103, de 2019) pectivo ente federativo, o servidor titular de cargo efetivo que tenha
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quando se tra- completado as exigências para a aposentadoria voluntária e que
tar da única fonte de renda formal auferida pelo dependente, o be- opte por permanecer em atividade poderá fazer jus a um abono de
nefício de pensão por morte será concedido nos termos de lei do permanência equivalente, no máximo, ao valor da sua contribuição
respectivo ente federativo, a qual tratará de forma diferenciada a previdenciária, até completar a idade para aposentadoria compul-
hipótese de morte dos servidores de que trata o § 4º-B decorrente sória. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de agressão sofrida no exercício ou em razão da função. (Redação § 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora des-
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preser- se regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes,
var-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsá-
estabelecidos em lei. veis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o
municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o § 22. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
disposto nos §§ 9º e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço corres- § 21. (Revogado). (Redação dada pela Emenda Constitucional
pondente será contado para fins de disponibilidade. (Redação dada nº 103, de 2019)
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) § 22. Vedada a instituição de novos regimes próprios de previ-
§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta- dência social, lei complementar federal estabelecerá, para os que
gem de tempo de contribuição fictício. já existam, normas gerais de organização, de funcionamento e de
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre outros aspectos,
proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu- sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi- I - requisitos para sua extinção e consequente migração para o
dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência Regime Geral de Previdência Social; (Incluído pela Emenda Consti-
social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi- tucional nº 103, de 2019)
dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons- II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utilização dos re-
tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e cursos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
exoneração, e de cargo eletivo. III - fiscalização pela União e controle externo e social; (Incluído
§ 12. Além do disposto neste artigo, serão observados, em regi- pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
me próprio de previdência social, no que couber, os requisitos e cri- IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial; (Incluído pela
térios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (Redação Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) V - condições para instituição do fundo com finalidade previ-
§ 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de denciária de que trata o art. 249 e para vinculação a ele dos recur-
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera- sos provenientes de contribuições e dos bens, direitos e ativos de
ção, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de qualquer natureza; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. (Redação 2019)
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) VI - mecanismos de equacionamento do déficit atuarial; (Inclu-
§ 14. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios ins- ído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
tituirão, por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, regime VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do regime, ob-
de previdência complementar para servidores públicos ocupantes servados os princípios relacionados com governança, controle inter-
de cargo efetivo, observado o limite máximo dos benefícios do Re- no e transparência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
gime Geral de Previdência Social para o valor das aposentadorias de 2019)
e das pensões em regime próprio de previdência social, ressalvado VIII - condições e hipóteses para responsabilização daqueles
o disposto no § 16. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº que desempenhem atribuições relacionadas, direta ou indiretamen-
103, de 2019) te, com a gestão do regime; (Incluído pela Emenda Constitucional
§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § nº 103, de 2019)
14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contribui- IX - condições para adesão a consórcio público; (Incluído pela
ção definida, observará o disposto no art. 202 e será efetivado por Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
intermédio de entidade fechada de previdência complementar ou X - parâmetros para apuração da base de cálculo e definição
de entidade aberta de previdência complementar. (Redação dada de alíquota de contribuições ordinárias e extraordinárias. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

23
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os ser- Em virtude de sentença judicial
vidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de transitada em julgado
concurso público.
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: Mediante processo
I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; administrativo em que lhe seja
II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu- assegurada ampla defesa
rada ampla defesa;
III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem- Hipóteses em que o servidor
Mediante procedimento
penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. estável pode perder o cargo
de avaliação periódica de
§ 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor desempenho, na forma de lei
estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se es- complementar, assegurada
tável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, ampla defesa
aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remu-
neração proporcional ao tempo de serviço. Em razão de excesso de
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o ser- despesa
vidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração propor-
cional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento em Referências Bibliográficas:
outro cargo. BORTOLETO, Leandro; e LÉPORE, Paulo. Noções de Direito Cons-
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obriga- titucional e de Direito Administrativo. Coleção Tribunais e MPU.
tória a avaliação especial de desempenho por comissão instituída Salvador: Editora JusPODIVM.
para essa finalidade. NADAL, Fábio; e SANTOS, Vauledir Ribeiro. Administrativo – Série
Resumo. 3ª edição. São Paulo: Editora Método.
Estabilidade
A estabilidade é a garantia que o servidor público possui de
permanecer no cargo ou emprego público depois de ter sido apro- FINANÇAS PÚBLICAS (ARTS. 163 A 169)
vado em estágio probatório.
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, a estabilidade Das finanças públicas - Do orçamento
poder ser definida como a garantia constitucional de permanência
no serviço público, do servidor público civil nomeado, em razão de Orçamento
concurso público, para titularizar cargo de provimento efetivo, após O outro instituto que, ao lado da tributação, permite que o Es-
o transcurso de estágio probatório. tado possa cumprir seu papel constitucional, é o Orçamento Públi-
A estabilidade é assegurada ao servidor após três anos de efe- co, inserido no capítulo que trata da Atividade financeira do estado
tivo exercício, em virtude de nomeação em concurso público. Esse (cap. II do título VI da CF).
é o estágio probatório citado pela lei. Trata-se de uma peça contábil que além de prever despesas a
Passada a fase do estágio, sendo o servidor público efetivado, serem realizadas pelo Estado, também o autoriza a cobrar tributos
ele perderá o cargo somente nas hipóteses elencadas no Artigo 41, que julgar necessário à estabilização de suas finanças.
§ 1º da CF. Segundo a Constituição Federal, art. 165, as leis orçamentárias
Haja vista o tema ser muito cobrado nas provas dos mais varia- serão de iniciativa do poder executivo e estabelecerão o Plano Plu-
dos concursos públicos, segue a tabela explicativa: rianual, as Diretrizes Orçamentárias e os Orçamentos Anuais.
O Plano Plurianual tem a sua previsão no art. 165, §1º da Cons-
ESTABILIDADE DO SERVIDOR tituição Federal, e estabelece, de forma regionalizada, diretrizes,
Cargo de provimento efetivo/ objetivos e metas da administração pública para as despesas de
ocupado em razão de concurso capital e outras decorrentes e para as relativas aos programas de
público duração continuada. No PPA estão evidenciadas as necessidades
regionais ou setoriais, os níveis de prioridade, as fontes de recursos
Requisitos para aquisição de disponíveis ou potenciais e os programas das ações de longo prazo,
3 anos de efetivo exercício
Estabilidade visam à continuidade das administrações que se sucedem, para evi-
Avaliação de desempenho por tar que a população seja prejudicada com a paralisação de obras e
comissão instituída para esta serviços iniciados pelo governante anterior.
finalidade A Lei de Diretrizes Orçamentárias, conforme o art. 165, §2º, da
CF, compreenderá as metas e prioridades da administração pública
federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financei-
ro subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual,
disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá
a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento.
A Lei Orçamentária Anual, válida apenas para um exercício fi-
nanceiro, compreenderá o orçamento fiscal, o orçamento de inves-
timento e orçamento da seguridade social. Nela são programadas
ações a serem executadas a fim de viabilizar a realização do que foi
planejado no Plano Plurianual e traçado na Lei de Diretrizes Orça-
mentárias.
Por fim, é imprescindível ressaltar que a Lei de Diretrizes Orça-
mentárias é iniciativa do Poder Executivo, que apresenta o projeto
de lei ao Legislativo.

24
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
No Congresso Nacional os parlamentares, por meio da comis- Art. 164-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
são de orçamento, analisam a proposta orçamentária e pronun- pios devem conduzir suas políticas fiscais de forma a manter a dí-
ciam-se a favor, no todo ou em parte, ou contra. em seguida a ma- vida pública em níveis sustentáveis, na forma da lei complementar
téria retorna ao Poder Executivo para ser sancionada ou vetada. referida no inciso VIII do caput do art. 163 desta Constituição.(Inclu-
ído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
CAPÍTULO II Parágrafo único. A elaboração e a execução de planos e orça-
DAS FINANÇAS PÚBLICAS mentos devem refletir a compatibilidade dos indicadores fiscais
SEÇÃO I com a sustentabilidade da dívida. (Incluído pela Emenda Constitu-
NORMAS GERAIS cional nº 109, de 2021)

Art. 163. Lei complementar disporá sobre: SEÇÃO II


I - finanças públicas; DOS ORÇAMENTOS
II - dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias,
fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público; Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
III - concessão de garantias pelas entidades públicas; I - o plano plurianual;
IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública; II - as diretrizes orçamentárias;
V - fiscalização financeira da administração pública direta e in- III - os orçamentos anuais.
direta; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 2003) § 1º A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de for-
VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da ma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; pública federal para as despesas de capital e outras delas decorren-
VII - compatibilização das funções das instituições oficiais de tes e para as relativas aos programas de duração continuada.
crédito da União, resguardadas as características e condições ope- § 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas
racionais plenas das voltadas ao desenvolvimento regional. e prioridades da administração pública federal, estabelecerá as di-
VIII - sustentabilidade da dívida, especificando: (Incluído pela retrizes de política fiscal e respectivas metas, em consonância com
Emenda Constitucional nº 109, de 2021) trajetória sustentável da dívida pública, orientará a elaboração da
a) indicadores de sua apuração;(Incluído pela Emenda Consti- lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legislação tri-
tucional nº 109, de 2021) butária e estabelecerá a política de aplicação das agências financei-
b) níveis de compatibilidade dos resultados fiscais com a tra- ras oficiais de fomento.(Redação dada pela Emenda Constitucional
jetória da dívida;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de nº 109, de 2021)
2021) § 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o encerra-
c) trajetória de convergência do montante da dívida com os li- mento de cada bimestre, relatório resumido da execução orçamen-
mites definidos em legislação;(Incluído pela Emenda Constitucional tária.(Vide Emenda constitucional nº 106, de 2020)
nº 109, de 2021) § 4º Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais pre-
d) medidas de ajuste, suspensões e vedações;(Incluído pela vistos nesta Constituição serão elaborados em consonância com o
Emenda Constitucional nº 109, de 2021) plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional.
e) planejamento de alienação de ativos com vistas à redução § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
do montante da dívida. (Incluído pela Emenda Constitucional nº I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fun-
109, de 2021) dos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive
Parágrafo único. A lei complementar de que trata o inciso VIII fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
do caput deste artigo pode autorizar a aplicação das vedações pre- II - o orçamento de investimento das empresas em que a União,
vistas no art. 167-A desta Constituição.(Incluído pela Emenda Cons- direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com
titucional nº 109, de 2021) direito a voto;
Art. 163-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni- III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as en-
cípios disponibilizarão suas informações e dados contábeis, orça- tidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indi-
mentários e fiscais, conforme periodicidade, formato e sistema es- reta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo
tabelecidos pelo órgão central de contabilidade da União, de forma Poder Público.
a garantir a rastreabilidade, a comparabilidade e a publicidade dos § 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de de-
dados coletados, os quais deverão ser divulgados em meio eletrôni- monstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas,
co de amplo acesso público. (Incluído pela Emenda Constitucional decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios
nº 108, de 2020) de natureza financeira, tributária e creditícia.
Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exer- § 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, com-
cida exclusivamente pelo banco central. patibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções a de
§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou indireta- reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacio-
mente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou nal.
entidade que não seja instituição financeira. § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho
§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos de emis- à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na
são do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de mo- proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e
eda ou a taxa de juros. contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de
§ 3º As disponibilidades de caixa da União serão depositadas receita, nos termos da lei.
no banco central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municí- § 9º Cabe à lei complementar:
pios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a
por ele controladas, em instituições financeiras oficiais, ressalvados elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes
os casos previstos em lei. orçamentárias e da lei orçamentária anual;

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da § 2º As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que
administração direta e indireta bem como condições para a institui- sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo
ção e funcionamento de fundos. Plenário das duas Casas do Congresso Nacional.
III - dispor sobre critérios para a execução equitativa, além de § 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos
procedimentos que serão adotados quando houver impedimentos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
legais e técnicos, cumprimento de restos a pagar e limitação das I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de
programações de caráter obrigatório, para a realização do disposto diretrizes orçamentárias;
nos §§ 11 e 12 do art. 166.(Redação dada pela Emenda Constitucio- II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os pro-
nal nº 100, de 2019) (Produção de efeito) venientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:
§ 10. A administração tem o dever de executar as programa- a) dotações para pessoal e seus encargos;
ções orçamentárias, adotando os meios e as medidas necessários, b) serviço da dívida;
com o propósito de garantir a efetiva entrega de bens e serviços à c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Mu-
sociedade.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019) nicípios e Distrito Federal; ou
(Produção de efeito) III - sejam relacionadas:
§ 11. O disposto no § 10 deste artigo, nos termos da lei de dire- a) com a correção de erros ou omissões; ou
trizes orçamentárias: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 102, b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
de 2019) (Produção de efeito) § 4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias
I - subordina-se ao cumprimento de dispositivos constitucio- não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plu-
nais e legais que estabeleçam metas fiscais ou limites de despesas rianual.
e não impede o cancelamento necessário à abertura de créditos § 5º O Presidente da República poderá enviar mensagem ao
adicionais; Congresso Nacional para propor modificação nos projetos a que se
II - não se aplica nos casos de impedimentos de ordem técnica refere este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão
devidamente justificados; mista, da parte cuja alteração é proposta.
III - aplica-se exclusivamente às despesas primárias discricio- § 6º Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes orça-
nárias. mentárias e do orçamento anual serão enviados pelo Presidente da
§ 12. Integrará a lei de diretrizes orçamentárias, para o exercí- República ao Congresso Nacional, nos termos da lei complementar
a que se refere o art. 165, § 9º.
cio a que se refere e, pelo menos, para os 2 (dois) exercícios subse-
§ 7º Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, no que
quentes, anexo com previsão de agregados fiscais e a proporção dos
não contrariar o disposto nesta seção, as demais normas relativas
recursos para investimentos que serão alocados na lei orçamentária
ao processo legislativo.
anual para a continuidade daqueles em andamento. (Incluído pela
§ 8º Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou re-
Emenda Constitucional nº 102, de 2019) (Produção de efeito)
jeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas
§ 13. O disposto no inciso III do § 9º e nos §§ 10, 11 e 12 deste
correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, median-
artigo aplica-se exclusivamente aos orçamentos fiscal e da segurida-
te créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica au-
de social da União. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 102, de
torização legislativa.
2019) (Produção de efeito)
§ 9º As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária
§ 14. A lei orçamentária anual poderá conter previsões de serão aprovadas no limite de 1,2% (um inteiro e dois décimos por
despesas para exercícios seguintes, com a especificação dos in- cento) da receita corrente líquida prevista no projeto encaminha-
vestimentos plurianuais e daqueles em andamento. (Incluído pela do pelo Poder Executivo, sendo que a metade deste percentual
Emenda Constitucional nº 102, de 2019) (Produção de efeito) será destinada a ações e serviços públicos de saúde. (Incluído pela
§ 15. A União organizará e manterá registro centralizado de Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
projetos de investimento contendo, por Estado ou Distrito Federal, § 10. A execução do montante destinado a ações e serviços pú-
pelo menos, análises de viabilidade, estimativas de custos e infor- blicos de saúde previsto no § 9º, inclusive custeio, será computada
mações sobre a execução física e financeira. (Incluído pela Emenda para fins do cumprimento do inciso I do § 2º do art. 198, vedada a
Constitucional nº 102, de 2019) (Produção de efeito) destinação para pagamento de pessoal ou encargos sociais. (Incluí-
§ 16. As leis de que trata este artigo devem observar, no que do pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
couber, os resultados do monitoramento e da avaliação das políti- § 11. É obrigatória a execução orçamentária e financeira das
cas públicas previstos no § 16 do art. 37 desta Constituição.(Incluído programações a que se refere o § 9º deste artigo, em montante
pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) correspondente a 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento) da
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às receita corrente líquida realizada no exercício anterior, conforme os
diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicio- critérios para a execução equitativa da programação definidos na lei
nais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na complementar prevista no § 9º do art. 165.(Incluído pela Emenda
forma do regimento comum. Constitucional nº 86, de 2015)
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores § 12. A garantia de execução de que trata o § 11 deste artigo
e Deputados: aplica-se também às programações incluídas por todas as emendas
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste de iniciativa de bancada de parlamentares de Estado ou do Distrito
artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente Federal, no montante de até 1% (um por cento) da receita corrente
da República; líquida realizada no exercício anterior.(Redação dada pela Emenda
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas na- Constitucional nº 100, de 2019) (Produção de efeito)(Vide) (Vide)
cionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer § 13. As programações orçamentárias previstas nos §§ 11 e 12
o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da deste artigo não serão de execução obrigatória nos casos dos impe-
atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Ca- dimentos de ordem técnica.(Redação dada pela Emenda Constitu-
sas, criadas de acordo com o art. 58. cional nº 100, de 2019) (Produção de efeito)

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 14. Para fins de cumprimento do disposto nos §§ 11 e 12 des- § 1º Os recursos transferidos na forma do caput deste artigo
te artigo, os órgãos de execução deverão observar, nos termos da não integrarão a receita do Estado, do Distrito Federal e dos Mu-
lei de diretrizes orçamentárias, cronograma para análise e verifica- nicípios para fins de repartição e para o cálculo dos limites da des-
ção de eventuais impedimentos das programações e demais pro- pesa com pessoal ativo e inativo, nos termos do § 16 do art. 166, e
cedimentos necessários à viabilização da execução dos respectivos de endividamento do ente federado, vedada, em qualquer caso, a
montantes.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de aplicação dos recursos a que se refere o caput deste artigo no pa-
2019) (Produção de efeito) gamento de:(Incluído pela Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
I - (revogado);(Redação dada pela Emenda Constitucional nº I - despesas com pessoal e encargos sociais relativas a ativos e
100, de 2019) (Produção de efeito) inativos, e com pensionistas; e(Incluído pela Emenda Constitucional
II - (revogado);(Redação dada pela Emenda Constitucional nº nº 105, de 2019)
100, de 2019) (Produção de efeito) II - encargos referentes ao serviço da dívida.(Incluído pela
III - (revogado);(Redação dada pela Emenda Constitucional nº Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
100, de 2019) (Produção de efeito) § 2º Na transferência especial a que se refere o inciso I do caput
IV - (revogado).(Redação dada pela Emenda Constitucional nº deste artigo, os recursos:(Incluído pela Emenda Constitucional nº
100, de 2019) (Produção de efeito) 105, de 2019)
§ 15. (Revogado)(Redação dada pela Emenda Constitucional nº I - serão repassados diretamente ao ente federado beneficiado,
100, de 2019) (Produção de efeito)
independentemente de celebração de convênio ou de instrumento
§ 16. Quando a transferência obrigatória da União para a exe-
congênere;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
cução da programação prevista nos §§ 11 e 12 deste artigo for des-
II - pertencerão ao ente federado no ato da efetiva transferên-
tinada a Estados, ao Distrito Federal e a Municípios, independerá
cia financeira; e(Incluído pela Emenda Constitucional nº 105, de
da adimplência do ente federativo destinatário e não integrará a
base de cálculo da receita corrente líquida para fins de aplicação 2019)
dos limites de despesa de pessoal de que trata o caput do art. 169. III - serão aplicadas em programações finalísticas das áreas de
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019) (Pro- competência do Poder Executivo do ente federado beneficiado,
dução de efeito) observado o disposto no § 5º deste artigo.(Incluído pela Emenda
§ 17. Os restos a pagar provenientes das programações orça- Constitucional nº 105, de 2019)
mentárias previstas nos §§ 11 e 12 poderão ser considerados para § 3º O ente federado beneficiado da transferência especial a
fins de cumprimento da execução financeira até o limite de 0,6% que se refere o inciso I do caput deste artigo poderá firmar contra-
(seis décimos por cento) da receita corrente líquida realizada no tos de cooperação técnica para fins de subsidiar o acompanhamen-
exercício anterior, para as programações das emendas individuais, to da execução orçamentária na aplicação dos recursos.(Incluído
e até o limite de 0,5% (cinco décimos por cento), para as progra- pela Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
mações das emendas de iniciativa de bancada de parlamentares de § 4º Na transferência com finalidade definida a que se refere
Estado ou do Distrito Federal. (Redação dada pela Emenda Consti- o inciso II do caput deste artigo, os recursos serão:(Incluído pela
tucional nº 100, de 2019) (Produção de efeito) Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
§ 18. Se for verificado que a reestimativa da receita e da des- I - vinculados à programação estabelecida na emenda parla-
pesa poderá resultar no não cumprimento da meta de resultado mentar; e(Incluído pela Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
fiscal estabelecida na lei de diretrizes orçamentárias, os montantes II - aplicados nas áreas de competência constitucional da União.
previstos nos §§ 11 e 12 deste artigo poderão ser reduzidos em até (Incluído pela Emenda Constitucional nº 105, de 2019)
a mesma proporção da limitação incidente sobre o conjunto das § 5º Pelo menos 70% (setenta por cento) das transferências es-
demais despesas discricionárias. (Redação dada pela Emenda Cons- peciais de que trata o inciso I do caput deste artigo deverão ser apli-
titucional nº 100, de 2019) (Produção de efeito) cadas em despesas de capital, observada a restrição a que se refere
§ 19. Considera-se equitativa a execução das programações de o inciso II do § 1º deste artigo.(Incluído pela Emenda Constitucional
caráter obrigatório que observe critérios objetivos e imparciais e nº 105, de 2019)
que atenda de forma igualitária e impessoal às emendas apresenta- Art. 167. São vedados:
das, independentemente da autoria.(Incluído pela Emenda Consti- I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orça-
tucional nº 100, de 2019) (Produção de efeito)
mentária anual;
§ 20. As programações de que trata o § 12 deste artigo, quando
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações dire-
versarem sobre o início de investimentos com duração de mais de
tas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais;
1 (um) exercício financeiro ou cuja execução já tenha sido inicia-
III - a realização de operações de créditos que excedam o mon-
da, deverão ser objeto de emenda pela mesma bancada estadual,
a cada exercício, até a conclusão da obra ou do empreendimento. tante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 100, de 2019) (Produção créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, apro-
de efeito) vados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; (Vide Emenda
Art. 166-A. As emendas individuais impositivas apresentadas constitucional nº 106, de 2020)
ao projeto de lei orçamentária anual poderão alocar recursos a Es- IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou
tados, ao Distrito Federal e a Municípios por meio de:(Incluído pela despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos
Emenda Constitucional nº 105, de 2019) impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de re-
I - transferência especial; ou(Incluído pela Emenda Constitucio- cursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manuten-
nal nº 105, de 2019) ção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades
II - transferência com finalidade definida.(Incluído pela Emenda da administração tributária, como determinado, respectivamente,
Constitucional nº 105, de 2019) pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às
operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art.
165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia § 5º A transposição, o remanejamento ou a transferência de
autorização legislativa e sem indicação dos recursos corresponden- recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser
tes; admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inova-
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de ção, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade
órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo.
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de § 6º Para fins da apuração ao término do exercício financeiro
recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir do cumprimento do limite de que trata o inciso III do caput deste
necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, in- artigo, as receitas das operações de crédito efetuadas no contexto
clusive dos mencionados no art. 165, § 5º; da gestão da dívida pública mobiliária federal somente serão con-
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia sideradas no exercício financeiro em que for realizada a respectiva
autorização legislativa. despesa. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de em- Art. 167-A. Apurado que, no período de 12 (doze) meses, a re-
préstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Fe- lação entre despesas correntes e receitas correntes supera 95% (no-
deral e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento de venta e cinco por cento), no âmbito dos Estados, do Distrito Federal
despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do e dos Municípios, é facultado aos Poderes Executivo, Legislativo e
Distrito Federal e dos Municípios. (Incluído pela Emenda Constitu- Judiciário, ao Ministério Público, ao Tribunal de Contas e à Defen-
cional nº 19, de 1998) soria Pública do ente, enquanto permanecer a situação, aplicar o
XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições so- mecanismo de ajuste fiscal de vedação da: (Incluído pela Emenda
ciais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas Constitucional nº 109, de 2021)
distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdên- I - concessão, a qualquer título, de vantagem, aumento, reajus-
cia social de que trata o art. 201. (Incluído pela Emenda Constitu- te ou adequação de remuneração de membros de Poder ou de ór-
cional nº 20, de 1998) gão, de servidores e empregados públicos e de militares, exceto dos
XII - na forma estabelecida na lei complementar de que trata o derivados de sentença judicial transitada em julgado ou de determi-
§ 22 do art. 40, a utilização de recursos de regime próprio de previ- nação legal anterior ao início da aplicação das medidas de que trata
dência social, incluídos os valores integrantes dos fundos previstos este artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
no art. 249, para a realização de despesas distintas do pagamento II - criação de cargo, emprego ou função que implique aumento
dos benefícios previdenciários do respectivo fundo vinculado àque- de despesa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
le regime e das despesas necessárias à sua organização e ao seu III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento
funcionamento; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de de despesa; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
2019) IV - admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, res-
XIII - a transferência voluntária de recursos, a concessão de salvadas:(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
avais, as garantias e as subvenções pela União e a concessão de a) as reposições de cargos de chefia e de direção que não acar-
empréstimos e de financiamentos por instituições financeiras fede- retem aumento de despesa; (Incluído pela Emenda Constitucional
rais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios na hipótese nº 109, de 2021)
de descumprimento das regras gerais de organização e de funcio- b) as reposições decorrentes de vacâncias de cargos efetivos
namento de regime próprio de previdência social. (Incluído pela ou vitalícios;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) c) as contratações temporárias de que trata o inciso IX do caput
XIV - a criação de fundo público, quando seus objetivos pude- do art. 37 desta Constituição; e(Incluído pela Emenda Constitucio-
rem ser alcançados mediante a vinculação de receitas orçamentá- nal nº 109, de 2021)
rias específicas ou mediante a execução direta por programação d) as reposições de temporários para prestação de serviço mi-
orçamentária e financeira de órgão ou entidade da administração litar e de alunos de órgãos de formação de militares;(Incluído pela
pública.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exer- V - realização de concurso público, exceto para as reposições de
cício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano vacâncias previstas no inciso IV deste caput; (Incluído pela Emenda
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de Constitucional nº 109, de 2021)
responsabilidade. VI - criação ou majoração de auxílios, vantagens, bônus, abo-
§ 2º Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no nos, verbas de representação ou benefícios de qualquer natureza,
exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato de inclusive os de cunho indenizatório, em favor de membros de Po-
autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele der, do Ministério Público ou da Defensoria Pública e de servidores
exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão e empregados públicos e de militares, ou ainda de seus dependen-
incorporados ao orçamento do exercício financeiro subseqüente. tes, exceto quando derivados de sentença judicial transitada em
§ 3º A abertura de crédito extraordinário somente será ad- julgado ou de determinação legal anterior ao início da aplicação das
mitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as medidas de que trata este artigo; (Incluído pela Emenda Constitu-
decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, cional nº 109, de 2021)
observado o disposto no art. 62. VII - criação de despesa obrigatória;(Incluído pela Emenda
§ 4º É permitida a vinculação das receitas a que se referem os Constitucional nº 109, de 2021)
arts. 155, 156, 157, 158 e as alíneas “a”, “b”, “d” e “e” do inciso I e o VIII - adoção de medida que implique reajuste de despesa obri-
inciso II do caput do art. 159 desta Constituição para pagamento de gatória acima da variação da inflação, observada a preservação do
débitos com a União e para prestar-lhe garantia ou contragarantia. poder aquisitivo referida no inciso IV do caput do art. 7º desta Cons-
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) tituição;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
IX - criação ou expansão de programas e linhas de financia- Art. 167-C. Com o propósito exclusivo de enfrentamento da
mento, bem como remissão, renegociação ou refinanciamento de calamidade pública e de seus efeitos sociais e econômicos, no seu
dívidas que impliquem ampliação das despesas com subsídios e período de duração, o Poder Executivo federal pode adotar proces-
subvenções;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) sos simplificados de contratação de pessoal, em caráter temporá-
X - concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de na- rio e emergencial, e de obras, serviços e compras que assegurem,
tureza tributária. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de quando possível, competição e igualdade de condições a todos os
2021) concorrentes, dispensada a observância do § 1º do art. 169 na con-
§ 1º Apurado que a despesa corrente supera 85% (oitenta e cin- tratação de que trata o inciso IX do caput do art. 37 desta Constitui-
co por cento) da receita corrente, sem exceder o percentual men- ção, limitada a dispensa às situações de que trata o referido inciso,
cionado no caput deste artigo, as medidas nele indicadas podem sem prejuízo do controle dos órgãos competentes. (Incluído pela
ser, no todo ou em parte, implementadas por atos do Chefe do Po- Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
der Executivo com vigência imediata, facultado aos demais Poderes Art. 167-D. As proposições legislativas e os atos do Poder Exe-
e órgãos autônomos implementá-las em seus respectivos âmbitos. cutivo com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) consequências sociais e econômicas, com vigência e efeitos restri-
§ 2º O ato de que trata o § 1º deste artigo deve ser submetido, tos à sua duração, desde que não impliquem despesa obrigatória de
em regime de urgência, à apreciação do Poder Legislativo.(Incluído caráter continuado, ficam dispensados da observância das limita-
pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) ções legais quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento de
§ 3º O ato perde a eficácia, reconhecida a validade dos atos ação governamental que acarrete aumento de despesa e à conces-
praticados na sua vigência, quando: (Incluído pela Emenda Consti- são ou à ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária
tucional nº 109, de 2021) da qual decorra renúncia de receita. (Incluído pela Emenda Consti-
I - rejeitado pelo Poder Legislativo; (Incluído pela Emenda tucional nº 109, de 2021)
Constitucional nº 109, de 2021) Parágrafo único. Durante a vigência da calamidade pública de
II - transcorrido o prazo de 180 (cento e oitenta) dias sem que âmbito nacional de que trata o art. 167-B, não se aplica o disposto
se ultime a sua apreciação; ou(Incluído pela Emenda Constitucional no § 3º do art. 195 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Cons-
nº 109, de 2021) titucional nº 109, de 2021)
III - apurado que não mais se verifica a hipótese prevista no § 1º Art. 167-E. Fica dispensada, durante a integralidade do exercí-
deste artigo, mesmo após a sua aprovação pelo Poder Legislativo. cio financeiro em que vigore a calamidade pública de âmbito nacio-
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) nal, a observância do inciso III do caput do art. 167 desta Constitui-
§ 4º A apuração referida neste artigo deve ser realizada bimes- ção. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
tralmente. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) Art. 167-F. Durante a vigência da calamidade pública de âmbito
§ 5º As disposições de que trata este artigo: (Incluído pela nacional de que trata o art. 167-B desta Constituição: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 109, de 2021) Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
I - não constituem obrigação de pagamento futuro pelo ente I - são dispensados, durante a integralidade do exercício finan-
da Federação ou direitos de outrem sobre o erário;(Incluído pela ceiro em que vigore a calamidade pública, os limites, as condições
e demais restrições aplicáveis à União para a contratação de opera-
Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
ções de crédito, bem como sua verificação;(Incluído pela Emenda
II - não revogam, dispensam ou suspendem o cumprimento de
Constitucional nº 109, de 2021)
dispositivos constitucionais e legais que disponham sobre metas fis-
II - o superávit financeiro apurado em 31 de dezembro do ano
cais ou limites máximos de despesas.(Incluído pela Emenda Consti-
imediatamente anterior ao reconhecimento pode ser destinado à
tucional nº 109, de 2021)
cobertura de despesas oriundas das medidas de combate à calami-
§ 6º Ocorrendo a hipótese de que trata o caput deste artigo,
dade pública de âmbito nacional e ao pagamento da dívida pública.
até que todas as medidas nele previstas tenham sido adotadas por
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
todos os Poderes e órgãos nele mencionados, de acordo com de-
§ 1º Lei complementar pode definir outras suspensões, dispen-
claração do respectivo Tribunal de Contas, é vedada: (Incluído pela sas e afastamentos aplicáveis durante a vigência do estado de cala-
Emenda Constitucional nº 109, de 2021) midade pública de âmbito nacional. (Incluído pela Emenda Consti-
I - a concessão, por qualquer outro ente da Federação, de ga- tucional nº 109, de 2021)
rantias ao ente envolvido; (Incluído pela Emenda Constitucional nº § 2º O disposto no inciso II do caput deste artigo não se aplica
109, de 2021) às fontes de recursos: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109,
II - a tomada de operação de crédito por parte do ente envol- de 2021)
vido com outro ente da Federação, diretamente ou por intermédio I - decorrentes de repartição de receitas a Estados, ao Distri-
de seus fundos, autarquias, fundações ou empresas estatais depen- to Federal e a Municípios;(Incluído pela Emenda Constitucional nº
dentes, ainda que sob a forma de novação, refinanciamento ou pos- 109, de 2021)
tergação de dívida contraída anteriormente, ressalvados os finan- II - decorrentes das vinculações estabelecidas pelos arts. 195,
ciamentos destinados a projetos específicos celebrados na forma 198, 201, 212, 212-A e 239 desta Constituição; (Incluído pela Emen-
de operações típicas das agências financeiras oficiais de fomento. da Constitucional nº 109, de 2021)
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) III - destinadas ao registro de receitas oriundas da arrecada-
Art. 167-B. Durante a vigência de estado de calamidade pública ção de doações ou de empréstimos compulsórios, de transferências
de âmbito nacional, decretado pelo Congresso Nacional por iniciati- recebidas para o atendimento de finalidades determinadas ou das
va privativa do Presidente da República, a União deve adotar regime receitas de capital produto de operações de financiamento celebra-
extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para atender às das com finalidades contratualmente determinadas. (Incluído pela
necessidades dele decorrentes, somente naquilo em que a urgência Emenda Constitucional nº 109, de 2021)
for incompatível com o regime regular, nos termos definidos nos
arts. 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta Constituição.(Incluí-
do pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021)

29
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 167-G. Na hipótese de que trata o art. 167-B, aplicam-se à § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base
União, até o término da calamidade pública, as vedações previstas neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida
no art. 167-A desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitu- no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
cional nº 109, de 2021) adotarão as seguintes providências:(Incluído pela Emenda Consti-
§ 1º Na hipótese de medidas de combate à calamidade pública tucional nº 19, de 1998)
cuja vigência e efeitos não ultrapassem a sua duração, não se apli- I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com
cam as vedações referidas nos incisos II, IV, VII, IX e X do caput do cargos em comissão e funções de confiança;(Incluído pela Emenda
art. 167-A desta Constituição.(Incluído pela Emenda Constitucional Constitucional nº 19, de 1998)
nº 109, de 2021) II - exoneração dos servidores não estáveis. (Incluído pela
§ 2º Na hipótese de que trata o art. 167-B, não se aplica a alínea Emenda Constitucional nº 19, de 1998)(Vide Emenda Constitucio-
“c” do inciso I do caput do art. 159 desta Constituição, devendo a nal nº 19, de 1998)
transferência a que se refere aquele dispositivo ser efetuada nos § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior
mesmos montantes transferidos no exercício anterior à decretação não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determi-
da calamidade. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 109, de nação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável
2021) poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada
§ 3º É facultada aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou uni-
pios a aplicação das vedações referidas no caput, nos termos deste dade administrativa objeto da redução de pessoal. (Incluído pela
artigo, e, até que as tenham adotado na integralidade, estarão sub- Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
metidos às restrições do § 6º do art. 167-A desta Constituição, en- § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo an-
quanto perdurarem seus efeitos para a União. (Incluído pela Emen- terior fará jus a indenização correspondente a um mês de remune-
da Constitucional nº 109, de 2021) ração por ano de serviço. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentá- 19, de 1998)
rias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, desti- § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos anterio-
nados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério res será considerado extinto, vedada a criação de cargo, emprego
Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de
de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que quatro anos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obe-
se refere o art. 165, § 9º. (Redação dada pela Emenda Constitucio-
decidas na efetivação do disposto no § 4º. (Incluído pela Emenda
nal nº 45, de 2004)
Constitucional nº 19, de 1998)
§ 1º É vedada a transferência a fundos de recursos financeiros
oriundos de repasses duodecimais. (Incluído pela Emenda Constitu-
cional nº 109, de 2021) CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO: FISCA-
§ 2º O saldo financeiro decorrente dos recursos entregues na LIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
forma do caput deste artigo deve ser restituído ao caixa único do Te- (ARTS. 32 A 36). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (ARTS.
souro do ente federativo, ou terá seu valor deduzido das primeiras 111 A 116). SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (ARTS. 124
parcelas duodecimais do exercício seguinte. (Incluído pela Emenda A 137). FINANÇAS (ARTS. 169 A 173). ORÇAMENTOS
Constitucional nº 109, de 2021) (ARTS. 174 A 176)
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo e pensionis-
tas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE 05 DE OUTUBRO DE 1989
pode exceder os limites estabelecidos em lei complementar.(Reda-
ção dada pela Emenda Constitucional nº 109, de 2021) Constituição Estadual, de 5 de Outubro de 1989
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remu- PREÂMBULO
neração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de O Povo Paulista, invocando a proteção de Deus, e inspirado nos
estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de princípios constitucionais da República e no ideal de a todos asse-
pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administra- gurar justiça e bem-estar, decreta e promulga, por seus represen-
ção direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas tantes, a CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
pelo poder público, só poderão ser feitas:(Renumerado do parágra-
fo único, pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)(Vide Emenda TÍTULO II
constitucional nº 106, de 2020) DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para aten- CAPÍTULO II
der às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela de- DO PODER LEGISLATIVO
correntes; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) SEÇÃO VII
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orça- DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL, FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA
mentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de
economia mista. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de Artigo 32 - A fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial do Estado, das entidades da administra-
1998)
ção direta e indireta e das fundações instituídas ou mantidas pelo
§ 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar refe-
Poder Público, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
rida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, se-
aplicação de subvenções e renúncia de receitas, será exercida pela
rão imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais
Assembleia Legislativa, mediante controle externo, e pelo sistema
ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que de controle interno de cada Poder.
não observarem os referidos limites. (Incluído pela Emenda Consti-
tucional nº 19, de 1998)

30
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Parágrafo único - Prestará contas qualquer pessoa física ou ju- §2º - Se a Assembleia Legislativa ou o Poder Executivo, no pra-
rídica, de direito público ou de direito privado que utilize, arrecade, zo de noventa dias, não efetivar as medidas previstas no parágrafo
guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
ou pelos quais o Estado responda, ou que, em nome deste, assuma §3º - O Tribunal encaminhará à Assembleia Legislativa, trimes-
obrigações de natureza pecuniária. tral e anualmente, relatório de suas atividades.
Artigo 33 - O controle externo, a cargo da Assembleia Legisla- Artigo 34 - A Comissão a que se refere o artigo 33, inciso V,
tiva, será exercido com auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao diante de indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a for-
qual compete: ma de investimentos não programados ou de subsídios não aprova-
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Governador dos, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que,
do Estado, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos necessários.
sessenta dias, a contar do seu recebimento; §1º - Não prestados os esclarecimentos, ou considerados es-
II - julgar as contas dos administradores e demais responsá- ses, insuficientes, a Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamen-
veis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta to conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias.
e autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, §2º - Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão,
incluídas as fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público se julgar que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão
estadual, e as contas daqueles que derem perda, extravio ou outra à economia pública, proporá à Assembleia Legislativa sua sustação.
irregularidade de que resulte prejuízo ao erário; Artigo 35 - Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário man-
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de terão, de forma integrada, sistema de controle interno com a fina-
admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e lidade de:
autarquias, empresas públicas e empresas de economia mista, in- I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano pluria-
cluídas as fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público, nual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos do
excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, Estado;
bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pen- II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto à efi-
sões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fun- cácia e eficiência da gestão orçamentária, financeira e patrimonial
damento legal do ato concessório; nos órgãos e entidades da administração estadual, bem como da
IV - avaliar a execução das metas previstas no plano plurianual, aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
nas diretrizes orçamentárias e no orçamento anual; III - exercer o controle sobre o deferimento de vantagens e a
V - realizar, por iniciativa própria, da Assembleia Legislativa, de forma de calcular qualquer parcela integrante do subsídio, venci-
comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditoria de natu- mento ou salário de seus membros ou servidores; (NR)
reza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, - Inciso III com redação dada pela Emenda Constitucional nº 21,
nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e de 14/02/2006.
Judiciário, do Ministério Público e demais entidades referidas no IV - exercer o controle das operações de crédito, avais e garan-
tias, bem como dos direitos e haveres do Estado;
inciso II;
V - apoiar o controle externo, no exercício de sua missão insti-
VI - fiscalizar as aplicações estaduais em empresas de cujo capi-
tucional.
tal social o Estado participe de forma direta ou indireta, nos termos
§1º - Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem co-
do respectivo ato constitutivo;
nhecimento de qualquer irregularidade, ilegalidade, ou ofensa aos
VII - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados ao
princípios do artigo 37 da Constituição Federal, dela darão ciência
Estado e pelo Estado, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros
ao Tribunal de Contas do Estado, sob pena de responsabilidade so-
instrumentos congêneres;
lidária.
VIII - prestar as informações solicitadas pela Assembleia Legis-
§2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou entida-
lativa ou por comissão técnica sobre a fiscalização contábil, finan- de sindical é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregu-
ceira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados laridades ao Tribunal de Contas ou à Assembleia Legislativa.
de auditorias e inspeções realizadas; Artigo 36 - O Tribunal de Contas prestará suas contas, anual-
IX - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de des- mente, à Assembleia Legislativa, no prazo de sessenta dias, a contar
pesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que da abertura da sessão legislativa.
estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
causado ao erário; TÍTULO III
X - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro- DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada a CAPÍTULO I
ilegalidade; DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
XI - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, co- SEÇÃO I
municando a decisão à Assembleia Legislativa; DISPOSIÇÕES GERAIS
XII - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
abusos apurados; Artigo 111 - A administração pública direta, indireta ou funda-
XIII - emitir parecer sobre a prestação anual de contas da ad- cional, de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princí-
ministração financeira dos Municípios, exceto a dos que tiverem pios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razo-
Tribunal próprio; abilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência. (NR)
XIV - comunicar à Assembleia Legislativa qualquer irregularida- - Artigo 111 com redação dada pela Emenda Constitucional nº
de verificada nas contas ou na gestão públicas, enviando-lhe cópia 21, de 14/02/2006.
dos respectivos documentos.
§1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado dire-
tamente pela Assembleia Legislativa que solicitará, de imediato, ao
Poder Executivo, as medidas cabíveis.

31
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Artigo 111-A - É vedada a nomeação de pessoas que se enqua- IX - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos
dram nas condições de inelegibilidade nos termos da legislação fe- para os portadores de deficiências, garantindo as adaptações ne-
deral para os cargos de Secretário de Estado, Secretário-Adjunto, cessárias para a sua participação nos concursos públicos e definirá
Procurador-Geral de Justiça, Procurador-Geral do Estado, Defensor os critérios de sua admissão;
Público-Geral, Superintendentes e Diretores de órgãos da admi- X - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
nistração pública indireta, fundacional, de agências reguladoras e terminado, para atender a necessidade temporária de excepcional
autarquias, Delegado-Geral de Polícia, Reitores das universidades interesse público;
públicas estaduais e ainda para todos os cargos de livre provimento XI - a revisão geral anual da remuneração dos servidores públi-
dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Estado. (NR) cos, sem distinção de índices entre servidores públicos civis e milita-
- Artigo 111-A acrescentado pela Emenda Constitucional nº 34, res, far-se-á sempre na mesma data e por lei específica, observada a
de 21/03/2012. iniciativa privativa em cada caso; (NR)
Artigo 112 - As leis e atos administrativos externos deverão ser - Inciso XI com redação dada pela Emenda Constitucional nº 21,
publicados no órgão oficial do Estado, para que produzam os seus de 14/02/2006.
efeitos regulares. A publicação dos atos não normativos poderá ser XII - em conformidade com o artigo 37, XI, da Constituição Fe-
resumida. deral, a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções
Artigo 113 - A lei deverá fixar prazos para a prática dos atos e empregos públicos da administração direta, autárquica e funda-
administrativos e estabelecer recursos adequados à sua revisão, in- cional, os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, per-
dicando seus efeitos e forma de processamento. cebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais
Artigo 114 - A administração é obrigada a fornecer a qualquer ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio
cidadão, para a defesa de seus direitos e esclarecimentos de situa- mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio
ções de seu interesse pessoal, no prazo máximo de dez dias úteis, dos Deputados Estaduais no âmbito do Poder Legislativo e o subsí-
certidão de atos, contratos, decisões ou pareceres, sob pena de dio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa
responsabilidade da autoridade ou servidor que negar ou retardar inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal,
a sua expedição. No mesmo prazo deverá atender às requisições em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito
judiciais, se outro não for fixado pela autoridade judiciária. do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério
Artigo 115 - Para a organização da administração pública di- Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (NR)
reta e indireta, inclusive as fundações instituídas ou mantidas por - Inciso XII com redação dada pela Emenda Constitucional nº
qualquer dos Poderes do Estado, é obrigatório o cumprimento das 21, de 14/02/2006.
seguintes normas: - Emenda Constitucional n° 46, de 08/06/2018, que dera nova
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
redação ao dispositivo, foi declarada inconstitucional pelo Tribu-
brasileiros que preenchem os requisitos estabelecidos em lei, assim
nal de Justiça do Estado de São Paulo, nos autos da ADI 2116917-
como aos estrangeiros, na forma da lei; (NR)
44.2018.8.26.0000, com efeito ex tunc, julgada em 31 de outubro
- Inciso I com redação dada pela Emenda Constitucional nº 21,
de 2018.
de 14/02/2006.
XIII - até que se atinja o limite a que se refere o inciso anterior,
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
é vedada a redução de salários que implique a supressão das van-
aprovação prévia, em concurso público de provas ou de provas e
tagens de caráter individual, adquiridas em razão de tempo de ser-
títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão, declara-
viço, previstas no artigo 129 desta Constituição. Atingido o referido
do em lei, de livre nomeação e exoneração;
III - o prazo de validade do concurso público será de até dois limite, a redução se aplicará independentemente da natureza das
anos, prorrogável uma vez, por igual período. A nomeação do can- vantagens auferidas pelo servidor;
didato aprovado obedecerá à ordem de classificação; XIV - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Po-
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de con- der Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder
vocação, o aprovado em concurso público de provas ou de provas Executivo;
e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados XV - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espé-
para assumir cargo ou emprego, na carreira; cies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser- serviço público, observado o disposto na Constituição Federal; (NR)
vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a se- - Inciso XV com redação dada pela Emenda Constitucional nº
rem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e 21, de 14/02/2006.
percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri- XVI - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público
buições de direção, chefia e assessoramento; (NR) não serão computados nem acumulados para fins de concessão de
- Inciso V com redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, acréscimos ulteriores sob o mesmo título ou idêntico fundamento;
de 14/02/2006. XVII - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso- empregos públicos são irredutíveis, observado o disposto na Cons-
ciação sindical, obedecido o disposto no artigo 8º da Constituição tituição Federal; (NR)
Federal; - Inciso XVII com redação dada pela Emenda Constitucional nº
VII - o servidor e empregado público gozarão de estabilidade 21, de 14/02/2006.
no cargo ou emprego desde o registro de sua candidatura para o XVIII - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exercício de cargo de representação sindical ou no caso previsto no exceto quando houver compatibilidade de horários:
inciso XXIII deste artigo, até um ano após o término do mandato, se a) de dois cargos de professor;
eleito, salvo se cometer falta grave definida em lei; b) de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
VIII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de
definidos em lei específica; (NR) saúde, com profissões regulamentadas; (NR)
- Inciso VIII com redação dada pela Emenda Constitucional nº - Alínea “c” com redação dada pela Emenda Constitucional nº
21, de 14/02/2006. 21, de 14/02/2006.

32
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XIX - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções §1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de campanhas da administração pública direta, indireta, fundações e
economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta órgãos controlados pelo Poder Público deverá ter caráter educacio-
ou indiretamente, pelo Poder Público; (NR) nal, informativo e de orientação social, dela não podendo constar
- Inciso XIX com redação dada pela Emenda Constitucional nº nomes, símbolos e imagens que caracterizem promoção pessoal de
21, de 14/02/2006. autoridades ou servidores públicos.
XX - a administração fazendária e seus agentes fiscais de ren- §2º - É vedada ao Poder Público, direta ou indiretamente, a pu-
das, aos quais compete exercer, privativamente, a fiscalização de blicidade de qualquer natureza fora do território do Estado, para
tributos estaduais, terão, dentro de suas áreas de competência e fins de propaganda governamental, exceto às empresas que enfren-
jurisdição, precedência sobre os demais setores administrativos, na tam concorrência de mercado e divulgação destinada a promover o
forma da lei; turismo estadual. (NR)
XX-A - a administração tributária, atividade essencial ao fun- - § 2º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de
cionamento do Estado, exercida por servidores de carreiras espe- 21/10/2009.
cíficas, terá recursos prioritários para a realização de suas ativida- §3º - A inobservância do disposto nos incisos II, III e IV deste
des e atuará de forma integrada com as administrações tributárias artigo implicará a nulidade do ato e a punição da autoridade res-
da União, de outros Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ponsável, nos termos da lei.
inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações §4º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri-
fiscais, na forma da lei ou convênio; (NR) vado, prestadoras de serviços públicos, responderão pelos danos
- Inciso XX-A acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegu-
de 14/02/2006. rado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
XXI - a criação, transformação, fusão, cisão, incorporação, pri- ou culpa.
vatização ou extinção das sociedades de economia mista, autar- §5º - As entidades da administração direta e indireta, inclusive
quias, fundações e empresas públicas depende de prévia aprovação fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público, o Ministério
da Assembleia Legislativa; Público, bem como os Poderes Legislativo e Judiciário, publicarão,
XXII - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria- até o dia trinta de abril de cada ano, seu quadro de cargos e fun-
ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, ções, preenchidos e vagos, referentes ao exercício anterior.
assim como a participação de qualquer delas em empresa privada; §6º - É vedada a percepção simultânea de proventos de apo-
XXIII - fica instituída a obrigatoriedade de um Diretor Represen- sentadoria decorrentes dos artigos 40, 42 e 142 da Constituição
tante e de um Conselho de Representantes, eleitos pelos servidores Federal e dos artigos 126 e 138 desta Constituição com a remune-
e empregados públicos, nas autarquias, sociedades de economia ração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos
mista e fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público, ca- acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os
bendo à lei definir os limites de sua competência e atuação; cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exone-
XXIV - é obrigatória a declaração pública de bens, antes da pos- ração. (NR)
se e depois do desligamento, de todo o dirigente de empresa públi- §7º - Não serão computadas, para efeito dos limites remunera-
ca, sociedade de economia mista, autarquia e fundação instituída tórios de que trata o inciso XII do “caput” deste artigo, as parcelas
ou mantida pelo Poder Público; de caráter indenizatório previstas em lei. (NR)
XXV - os órgãos da administração direta e indireta ficam obriga- §8º - Para os fins do disposto no inciso XII deste artigo e no
dos a constituir Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA inciso XI do artigo 37 da Constituição Federal, poderá ser fixado no
- e, quando assim o exigirem suas atividades, Comissão de Contro- âmbito do Estado, mediante emenda à presente Constituição, como
le Ambiental, visando à proteção da vida, do meio ambiente e das limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do Tribunal
condições de trabalho dos seus servidores, na forma da lei; de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos
XXVI - ao servidor público que tiver sua capacidade de trabalho por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal
reduzida em decorrência de acidente de trabalho ou doença do tra- Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios
balho será garantida a transferência para locais ou atividades com- dos Deputados Estaduais. (NR)
patíveis com sua situação; - §§ 6º ao 8º acrescentados pela Emenda Constitucional nº 21,
XXVII - é vedada a estipulação de limite de idade para ingres- de 14/02/2006.
so por concurso público na administração direta, empresa pública, § 9º - O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser re-
sociedade de economia mista, autarquia e fundações instituídas ou adaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabili-
mantidas pelo Poder Público, respeitando-se apenas o limite cons- dades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua
titucional para aposentadoria compulsória; capacidade física ou mental enquanto permanecer nessa condição,
XXVIII - os recursos provenientes dos descontos compulsórios desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos
dos servidores públicos, bem como a contrapartida do Estado, des- para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo de ori-
tinados à formação de fundo próprio de previdência, deverão ser gem. (NR)
postos, mensalmente, à disposição da entidade estadual responsá- § 10 - A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
vel pela prestação do benefício, na forma que a lei dispuser; de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
XXIX - a administração pública direta e indireta, as universida- inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rompi-
des públicas e as entidades de pesquisa técnica e científica oficiais mento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição. (NR)
ou subvencionadas pelo Estado prestarão ao Ministério Público o - §§ 9º e 10 acrescentados pela Emenda Constitucional nº 49,
apoio especializado ao desempenho das funções da Curadoria de de 06/03/2020.
Proteção de Acidentes do Trabalho, da Curadoria de Defesa do Artigo 116 - Os vencimentos, vantagens ou qualquer parcela
Meio Ambiente e de outros interesses coletivos e difusos. remuneratória, pagos com atraso, deverão ser corrigidos moneta-
riamente, de acordo com os índices oficiais aplicáveis à espécie.

33
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO II § 2º - Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferio-
DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO ESTADO res ao valor mínimo a que se refere o § 2º do artigo 201 da Consti-
SEÇÃO I tuição Federal ou superiores ao limite máximo estabelecido para o
DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS Regime Geral de Previdência Social, quanto aos servidores abrangi-
Artigo 124 - Os servidores da administração pública direta, das dos pelos §§ 14, 15 e 16. (NR)
autarquias e das fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Pú- - § 2º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
blico terão regime jurídico único e planos de carreira. 06/03/2020.
§1º - A lei assegurará aos servidores da administração direta § 3º - As regras para cálculo de proventos de aposentadoria
isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou as- serão disciplinadas por lei. (NR)
semelhados do mesmo Poder, ou entre servidores dos Poderes Le- - § 3º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
gislativo, Executivo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter 06/03/2020.
individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. § 4º - É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferencia-
§2º - No caso do parágrafo anterior, não haverá alteração nos dos para concessão de benefícios no regime próprio previsto no
vencimentos dos demais cargos da carreira a que pertence aquele “caput”, ressalvados, nos termos definidos em lei complementar, os
cujos vencimentos foram alterados por força da isonomia. casos de aposentadoria de servidores: (NR)
§3º - Aplica-se aos servidores a que se refere o “caput” deste 1 - com deficiência; (NR)
artigo e disposto no artigo 7º, IV, VI, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, 2 - integrantes das carreiras de Policial Civil, Polícia Técnico
XVIII, XIX, XX, XXII, XXIII e XXX da Constituição Federal. Científica, Agente de Segurança Penitenciária e Agente de Escolta e
§4º - Lei estadual poderá estabelecer a relação entre a maior Vigilância Penitenciária; (NR)
e a menor remuneração dos servidores públicos, obedecido, em 3 - que exerçam atividades com efetiva exposição a agentes
qualquer caso, o disposto no artigo 37, XI, da Constituição Federal e nocivos químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou à as-
no artigo 115, XII, desta Constituição. (NR) sociação desses agentes, não se permitindo a caracterização por
- § 4º acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de categoria profissional ou ocupação. (NR)
14/02/2006. - § 4º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
§ 5º - É vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo- 06/03/2020.
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de cargo § 5º - Os ocupantes do cargo de professor terão a idade mínima
em comissão à remuneração do cargo efetivo. (NR) reduzida em 5 (cinco) anos em relação àquelas previstas no item 3
do § 1º, desde que comprovem tempo de efetivo exercício das fun-
- § 5º acrescentado pela Emenda Constitucional nº 49, de
ções de magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou
06/03/2020.
no médio, nos termos fixados em lei complementar. (NR)
Artigo 125 - O exercício do mandato eletivo por servidor públi-
- § 5º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
co far-se-á com observância do artigo 38 da Constituição Federal.
06/03/2020.
§1º - Fica assegurado ao servidor público, eleito para ocupar § 6º - Declarado inconstitucional, em controle concentrado,
cargo em sindicato de categoria, o direito de afastar-se de suas fun- pelo Supremo Tribunal Federal.
ções, durante o tempo em que durar o mandato, recebendo seus - § 6º declarado inconstitucional, em controle concentrado,
vencimentos e vantagens, nos termos da lei. pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADI nº 755, julgada em
§2º - O tempo de mandato eletivo será computado para fins de 01/07/1996.
aposentadoria especial. § 6º-A - Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos
Artigo 126 - O Regime Próprio de Previdência Social dos servi- acumuláveis na forma da Constituição Federal, é vedada a percep-
dores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidá- ção de mais de uma aposentadoria à conta de Regime Próprio de
rio, mediante contribuição do Estado de São Paulo, de servidores Previdência Social, aplicando-se outras vedações, regras e condi-
ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que ções para a acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (NR) no Regime Geral de Previdência Social. (NR)
- Artigo 126, “caput”, com redação dada pela Emenda Constitu- § 6º-A com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49,
cional nº 49, de 06/03/2020. de 06/06/2020.
§ 1º - Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de § 7º - A pensão por morte dos servidores de que trata o item
que trata este artigo serão aposentados: (NR) 2 do § 4º, será concedida de forma diferenciada, nos termos da lei.
- § 1º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 21, de (NR)
14/02/2006. - § 7º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
1 - por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em 06/03/2020.
que estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese § 8º - Declarado inconstitucional, em controle concentrado,
em que será obrigatório realizar avaliações periódicas para verificar pelo Supremo Tribunal Federal.
a continuidade das condições que ensejaram a concessão da apo- - § 8º declarado inconstitucional, em controle concentrado,
sentadoria, na forma da lei; (NR) pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADI nº 582, julgada em
2 - compulsoriamente, nos termos do artigo 40, § 1º, inciso II, 17/06/1999.
da Constituição Federal; (NR) § 8º-A - É assegurado o reajustamento dos benefícios para pre-
servar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios
3 - voluntariamente, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade,
estabelecidos em lei. (NR)
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem,
- § 8º-A acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de
observados o tempo de contribuição e os demais requisitos estabe-
14/02/2006.
lecidos em lei complementar. (NR)
- Itens 1,2 e 3 com redação dada pela Emenda Constitucional
nº 49, de 06/03/2020.

34
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 9º - O tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou § 18 - Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentado-
municipal será contado para fins de aposentadoria, observado o rias e pensões concedidas pelo regime de que trata este artigo que
disposto nos §§ 9º e 9º-A do artigo 201 da Constituição Federal, e superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
o tempo de serviço correspondente será contado para fins de dis- geral de previdência social de que trata o artigo 201 da Constituição
ponibilidade. (NR) Federal, com percentual igual ao estabelecido para os servidores
- § 9º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de titulares de cargos efetivos. (NR)
06/03/2020. - § 18 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de
§ 10 - A lei não poderá estabelecer qualquer forma de conta- 14/02/2006.
gem de tempo de contribuição fictício. (NR) § 19 - Observados os critérios a serem estabelecidos em lei, o
- § 10 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de servidor titular de cargo efetivo que tenha completado as exigên-
14/02/2006. cias para a aposentadoria voluntária e que opte por permanecer em
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no artigo 115, XII, desta Consti- atividade poderá fazer jus a um abono de permanência equivalente,
tuição e do artigo 37, XI, da Constituição Federal à soma total dos no máximo, ao valor da sua contribuição previdenciária, até com-
proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumu- pletar a idade para aposentadoria compulsória. (NR)
lação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras ativi- - § 19 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
dades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência 06/03/2020.
social, e ao montante resultante da adição de proventos de inativi-
dade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Cons- § 20 - Fica vedada a existência de mais de um Regime Próprio
tituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e de Previdência Social para os servidores titulares de cargos efetivos
exoneração, e de cargo eletivo. (NR) e de mais de um órgão ou entidade gestora desse regime, abrangi-
- § 11 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de dos todos os Poderes, os órgãos e as entidades autárquicas e fun-
14/02/2006. dacionais, que serão responsáveis pelo seu financiamento, observa-
§ 12 - Além do disposto neste artigo, serão observados no Re- dos os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica definidos em lei
gime Próprio de Previdência Social, no que couber, os requisitos e complementar federal. (NR)
os critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social. (NR) - § 20 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
- § 12 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 06/03/2020.
06/03/2020. § 21 - O rol de benefícios do Regime Próprio de Previdência
§ 13 - Ao agente público ocupante exclusivamente de cargo em Social fica limitado às aposentadorias e à pensão por morte. (NR)
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de ou- - § 21 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de
tro cargo temporário - inclusive aos detentores de mandato eletivo 06/03/2020.
- ou de emprego público, aplica-se o Regime Geral de Previdência § 22 - O servidor, após noventa dias decorridos da apresenta-
Social. (NR) ção do pedido de aposentadoria voluntária, instruído com prova de
- § 13 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de ter cumprido os requisitos necessários à obtenção do direito, po-
06/03/2020. derá cessar o exercício da função pública, independentemente de
§ 14 - O Estado, desde que institua regime de previdência com-
qualquer formalidade. (NR)
plementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo
- § 22 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de
efetivo, poderá fixar, para o valor das aposentadorias e pensões
14/02/2006.
a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite
Artigo 127 - Aplica-se aos servidores públicos estaduais, para
máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previ-
efeito de estabilidade, o disposto no artigo 41 da Constituição Fe-
dência social de que trata o artigo 201 da Constituição Federal. (NR)
deral.
- § 14 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de
Artigo 128 - As vantagens de qualquer natureza só poderão ser
14/02/2006.
instituídas por lei e quando atendam efetivamente ao interesse pú-
§ 15 - O Regime de Previdência Complementar de que trata o
§ 14 oferecerá plano de benefícios somente na modalidade contri- blico e às exigências do serviço.
buição definida, observará o disposto no artigo 202 da Constituição Artigo 129 - Ao servidor público estadual é assegurado o perce-
Federal e será efetivado por intermédio de entidade fechada de bimento do adicional por tempo de serviço, concedido no mínimo
previdência complementar. (NR) por quinquênio, e vedada a sua limitação, bem como a sexta-par-
- § 15 com redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de te dos vencimentos integrais, concedida aos vinte anos de efetivo
06/03/2020. exercício, que se incorporarão aos vencimentos para todos os efei-
§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o dispos- tos, observado o disposto no artigo 115, XVI, desta Constituição.
to nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressa- Parágrafo único - O disposto no “caput” não se aplica aos servi-
do no serviço público até a data da publicação do ato de instituição dores remunerados por subsídio, na forma da lei. (NR)
do correspondente regime de previdência complementar. (NR) - Parágrafo único acrescentado pela Emenda Constitucional nº
- § 16 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de 49, de 06/03/2020.
14/02/2006. Artigo 130 - Ao servidor será assegurado o direito de remoção
§ 17 - Todos os valores de remuneração considerados para o para igual cargo ou função, no lugar de residência do cônjuge, se
cálculo do benefício previsto no §3° serão devidamente atualizados, este também for servidor e houver vaga, nos termos da lei.
na forma da lei. (NR) Parágrafo único - O disposto neste artigo aplica-se também ao
- § 17 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de servidor cônjuge de titular de mandato eletivo estadual ou muni-
14/02/2006. cipal.
Artigo 131 - O Estado responsabilizará os seus servidores por
alcance e outros danos causados à administração, ou por pagamen-
tos efetuados em desacordo com as normas legais, sujeitando-os ao
sequestro e perdimento dos bens, nos termos da lei.

35
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Artigo 132 - Os servidores titulares de cargos efetivos do Es- Artigo 171 - Os recursos correspondentes às dotações orça-
tado, incluídas suas autarquias e fundações, desde que tenham mentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais,
completado cinco anos de efetivo exercício, terão computado, para destinados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Mi-
efeito de aposentadoria, nos termos da lei, o tempo de contribui- nistério Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o
ção ao regime geral de previdência social decorrente de atividade dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar
de natureza privada, rural ou urbana, hipótese em que os diversos a que se refere o artigo 165, § 9º, da Constituição Federal. (NR)
sistemas de previdência social se compensarão financeiramente, - Artigo 171 com redação dada pela Emenda Constitucional nº
segundo os critérios estabelecidos em lei. (NR) 21, de 14/02/2006.
- Artigo 132 com redação dada pela Emenda Constitucional nº Artigo 172 - Os recursos financeiros, provenientes da explora-
21, de 14/02/2006. ção de gás natural, que couberem ao Estado por força do disposto
Artigo 133 - Revogado. no § 1º do artigo 20 da Constituição Federal, serão aplicados pre-
- Artigo 133 revogado pela Emenda Constitucional nº 49, de ferencialmente na construção, desenvolvimento e manutenção do
06/03/2020, assegurada a concessão das incorporações que, sistema estadual de gás canalizado.
na data da promulgação da Emenda Constitucional nº 103, de Artigo 173 - São agentes financeiros do Tesouro Estadual os
12/11/2019, tenham cumprido os requisitos temporais e normati- hoje denominados Banco do Estado de São Paulo S/A e Caixa Eco-
vos previstos na legislação então vigente. nômica do Estado de São Paulo S/A.
Artigo 134 - O servidor, durante o exercício do mandato de ve-
reador, será inamovível. CAPÍTULO III
Artigo 135 - Ao servidor público titular de cargo efetivo do Es- DOS ORÇAMENTOS
tado será contado, como efetivo exercício, para efeito de aposen-
tadoria e disponibilidade, o tempo de contribuição decorrente de Artigo 174 - Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão,
serviço prestado em cartório não oficializado, mediante certidão com observância dos preceitos correspondentes da Constituição
expedida pela Corregedoria-Geral da Justiça. (NR) Federal:
- Artigo 135 com redação dada pela Emenda Constitucional nº I - o plano plurianual;
21, de 14/02/2006. II - as diretrizes orçamentárias;
Artigo 136 - O servidor público civil demitido por ato adminis- III - os orçamentos anuais.
trativo, se absolvido pela Justiça, na ação referente ao ato que deu §1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá as dire-
causa à demissão, será reintegrado ao serviço público, com todos trizes, objetivos e metas da administração pública estadual para as
os direitos adquiridos. despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas
Artigo 137 - A lei assegurará à servidora gestante mudança de aos programas de duração continuada.
função, nos casos em que for recomendado, sem prejuízo de seus §2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas
vencimentos ou salários e demais vantagens do cargo ou função-a- e prioridades da administração pública estadual, incluindo as des-
tividade. pesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orientará
a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações
TÍTULO V na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das
DA TRIBUTAÇÃO, DAS FINANÇAS E DOS ORÇAMENTOS agências financeiras oficiais de fomento.
CAPÍTULO II §3º - Os planos e programas estaduais previstos nesta Consti-
DAS FINANÇAS tuição serão elaborados em consonância com o plano plurianual.
§4º - A lei orçamentária anual compreenderá:
Artigo 169 - A despesa de pessoal ativo e inativo ficará sujeita 1 - o orçamento fiscal referente aos Poderes do Estado, seus
aos limites estabelecidos na lei complementar a que se refere o ar- fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclu-
tigo 169 da Constituição Federal. sive fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público;
Parágrafo único - A concessão de qualquer vantagem ou au- 2 - o orçamento de investimentos das empresas em que o Es-
mento de remuneração, a criação de cargos ou a alteração de es- tado, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social
trutura de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a qualquer com direito a voto;
título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, 3 - o orçamento de seguridade social, abrangendo todas as en-
inclusive fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público, só tidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta e indire-
poderão ser feitas: ta, bem como os fundos e fundações instituídas ou mantidas pelo
1 - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para aten- Poder Público;
der às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela de- 4 - o orçamento da verba necessária ao pagamento de débitos
correntes; oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes dos pre-
2 - se houver autorização específica na lei de diretrizes orça- catórios judiciais apresentados até 1º de julho, a serem consignados
mentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de diretamente ao Poder Judiciário, ressalvados os créditos de nature-
economia mista. za alimentícia e as obrigações definidas em lei como de pequeno
Artigo 170 - O Poder Executivo publicará e enviará ao Legislati- valor. (NR)
vo, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre, relatório - Item 4 acrescentado pela Emenda Constitucional nº 21, de
resumido da execução orçamentária. 14/02/2006.
§1º - Até dez dias antes do encerramento do prazo de que trata §5º - A matéria do projeto das leis a que se refere o “caput”
este artigo, as autoridades nele referidas remeterão ao Poder Exe- deste artigo será organizada e compatibilizada em todos os seus
cutivo as informações necessárias. aspectos setoriais e regionais pelo órgão central de planejamento
§2º - Os Poderes Judiciário e Legislativo, bem como o Tribunal do Estado.
de Contas e o Ministério Público, publicarão seus relatórios, nos ter-
mos deste artigo.

36
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§6º - O projeto de lei orçamentária será acompanhado de de- § 8º - É obrigatória a execução orçamentária e financeira das
monstrativo dos efeitos decorrentes de isenções, anistias, remis- programações a que se refere o § 6º deste artigo, em montante de
sões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e 0,3% (três décimos por cento) da receita corrente líquida realizada
creditícia. no exercício anterior, conforme os critérios definidos na lei de dire-
§7º - Os orçamentos previstos no §4º, itens 1 e 2, deste artigo, trizes orçamentárias. (NR)
compatibilizados com o plano plurianual, terão, entre suas funções, § 9º - Os restos a pagar poderão ser considerados para fins de
a de reduzir desigualdades inter-regionais. cumprimento da execução financeira prevista no § 8º deste artigo,
§8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho em montante estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias. (NR)
à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na § 10 - Se for verificado que a reestimativa da receita e da des-
proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e pesa poderá resultar no não cumprimento da meta de resultado
contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de fiscal estabelecida na lei de diretrizes orçamentárias, o montante
receita, nos termos da lei. previsto no § 8º deste artigo poderá ser reduzido em até a mesma
§9º - O Governador enviará à Assembleia Legislativa: (NR) proporção da limitação incidente sobre o conjunto das despesas
1 - até 15 de agosto do primeiro ano do mandato do Governa- discricionárias. (NR)
dor eleito, o projeto de lei dispondo sobre o plano plurianual; (NR) - §§ 6º a 10 acrescentados pela Emenda Constitucional nº 45,
2 - até 30 de abril, anualmente, o projeto de lei de diretrizes de 18/12/2017, produzindo efeitos a partir da execução orçamen-
orçamentárias; e (NR) tária do exercício financeiro subsequente.
3 - até 30 de setembro, de cada ano, o projeto de lei da propos- Artigo 175-A - As emendas individuais impositivas apresenta-
ta orçamentária para o exercício subsequente. (NR) das ao projeto de lei orçamentária anual poderão alocar recursos
- § 9º com redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de aos Municípios por meio de:
23/01/2008. I - transferência especial; ou
Artigo 175 - Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às II - transferência com finalidade definida.
diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicio- § 1º - Os recursos transferidos na forma do caput deste artigo
nais, bem como suas emendas, serão apreciados pela Assembleia não integrarão a receita do Município para fins de repartição e para
Legislativa. o cálculo dos limites da despesa com pessoal ativo e inativo, bem
§ 1º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos como de seu endividamento, vedada, em qualquer caso, a aplicação
projetos que o modifiquem serão admitidas desde que: dos recursos a que se refere o caput deste artigo no pagamento de:
1 - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de 1 - despesas com pessoal e encargos sociais relativas a ativos e
diretrizes orçamentárias; inativos, e com pensionistas; e
2 - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os pro- 2 - encargos referentes ao serviço da dívida.
venientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre: § 2º - Na transferência especial a que se refere o inciso I deste
a) dotações para pessoal e seus encargos; artigo, os recursos:
b) serviço da dívida; 1 - serão repassados diretamente ao Município beneficiado,
c) transferências tributárias constitucionais para Municípios. independentemente de celebração de convênio ou de instrumento
3 - sejam relacionadas: congênere;
a) com correção de erros ou omissões; 2 - pertencerão ao Município no ato da efetiva transferência
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. financeira; e
§2º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias 3 - serão aplicadas em programações finalísticas das áreas de
não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano plu- competência do Poder Executivo do Município beneficiado, obser-
rianual. vado o disposto no § 5º deste artigo.
§3º - O Governador poderá enviar mensagem ao Legislativo § 3º - O Município beneficiado pela transferência especial a que
para propor modificações nos projetos a que se refere este artigo, se refere o inciso I do caput deste artigo poderá firmar contratos de
enquanto não iniciada, na Comissão competente, a votação da par- cooperação técnica para fins de subsidiar o acompanhamento da
te cuja alteração é proposta. execução orçamentária na aplicação dos recursos.
§4º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, no § 4º - Na transferência com finalidade definida a que se refere
que não contrariar o disposto nesta seção, as demais normas relati- o inciso II do caput deste artigo, os recursos serão:
vas ao processo legislativo. 1 - vinculados à programação estabelecida na emenda parla-
§5º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou re- mentar; e
jeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas 2 - aplicados nas áreas de competência constitucional dos Es-
correspondentes, poderão ser utilizados, conforme o caso, median- tados.
te créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica au- § 5º - Pelo menos 70% (setenta por cento) das transferências
torização legislativa. especiais de que trata o inciso I do caput deste artigo deverão ser
§ 6º - As emendas individuais ao projeto de lei orçamentária aplicadas em despesas de capital, observada a restrição a que se
serão de 0,3% (três décimos por cento) da receita corrente líquida refere o § 1º deste artigo.
prevista no projeto encaminhado pelo Poder Executivo, sendo que - Artigo 175-A acrescentado pela Emenda Constitucional nº 50,
a metade do percentual a ser estabelecido será destinada a ações e de 18/05/2021, em vigor a partir de 01/01/2022.
serviços públicos de saúde. (NR) Artigo 176 - São vedados:
§ 7º - A execução do montante destinado a ações e serviços pú- I - o início de programas, projetos e atividades não incluídos na
blicos de saúde previsto no § 6º deste artigo, inclusive custeio, será lei orçamentária anual;
computada para fins do cumprimento do item 1 do parágrafo único II - a realização de despesas ou assunção de obrigações diretas
do artigo 222, vedada a destinação para pagamento de pessoal ou que excedam os créditos orçamentários ou adicionais;
encargos sociais. (NR)

37
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
III - a realização de operações de crédito que excedam o mon- 3. (ALTERNATIVE CONCURSOS – 2021) De acordo com a Cons-
tante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante tituição Federal de 1988, assinale a opção que contém a afirmação
créditos suplementares ou especiais com fim preciso, aprovados INCORRETA:
pelo Poder Legislativo, por maioria absoluta; (A) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou des- solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
pesa, ressalvadas as permissões previstas no artigo 167, IV, da Cons- titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fun-
tituição Federal e a destinação de recursos para a pesquisa científi- damentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da
ca e tecnológica, conforme dispõe o artigo 218, §5º, da Constituição pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre
Federal; iniciativa; V - o pluralismo político.
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia (B) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
autorização legislativa e sem indicação dos recursos corresponden- si, apenas o Executivo e o Judiciário.
tes; (C) Constituem objetivos fundamentais da República Federati-
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de va do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidá-
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um ria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a
órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir discriminação.
necessidade ou cobrir “déficit” de empresas, fundações e fundos, (D) São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
inclusive dos mencionados no artigo 165, §5º, da Constituição Fe- trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
deral. dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistên-
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia cia aos desamparados, na forma desta Constituição.
autorização legislativa. (E) É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
§1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exer- nicípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio-
cício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano ná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
responsabilidade. ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
§2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções en-
no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato tre brasileiros ou preferências entre si.
de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele
exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão 4. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Julgue o item a seguir, a respeito
incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente. das normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada.
Em se tratando de normas constitucionais de eficácia limitada,
o legislador constituinte fixa rol restritivo para a atuação discricio-
EXERCÍCIOS nária do poder público; seus efeitos são diretos e imediatos, como
é o caso do habeas corpus e do habeas data.
1. (ADVISE – 2021) Após a aula de Direito Constitucional, Sa- ( ) CERTO
mira, estudante do 4º período do curso de direito da Universidade ( ) ERRADO
Kappa Beta, estava em dúvida sobre a definição dos princípios fun-
damentais previstos na Constituição Federal de 1988. A principal 5. (NC-UFPR – 2021) Sobre a classificação das constituições e
dúvida de Samira, dizia respeito à classificação constitucional do das normas constitucionais, assinale a alternativa correta.
que dispõe a Constituição ao prever a expressão “garantir o desen- (A) A vedação à censura prévia para a liberdade de expressão
volvimento nacional”. Dessa forma, buscou auxílio com a professora confirma que as normas que expressam vedações e proibições
Roberta, que prontamente lhe explicou que a garantia do desenvol- podem ser consideradas normas de eficácia imediata.
vimento nacional, constitui: (B) São consideradas formalmente constitucionais as dispo-
(A) Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do sições que regulam o exercício das funções políticas, a estru-
Brasil. turação do sistema de governo e da federação, e os direitos
(B) Um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. fundamentais.
(C) Um dos princípios que rege a República Federativa do Brasil (C)As constituições dirigentes correspondem a um ideal de
nas relações internacionais. Constituição típico do constitucionalismo liberal que prescreve
(D) Um dos princípios econômicos da Constituição. um Estado mínimo.
(E) Um dos preceitos tributários. (D) As constituições garantias são a expressão de um constitu-
cionalismo social que defende a Constituição como forma de
2. (AVANÇA SP – 2021) De acordo com o artigo 1° da Constitui- garantia dos direitos sociais e de um Estado interventor.
ção Federal, são fundamentos da República, EXCETO: (E) São consideradas normas materialmente constitucionais as
(A) dignidade da pessoa jurídica. disposições que estão escritas na Constituição, não importan-
(B) cidadania. do o seu tema e sua relevância para a comunidade política.
(C) pluralismo político.
(D) soberania.
(E) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

38
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
6. (QUADRIX – 2021) Julgue o item no que diz respeito aos prin- 10. (IESES – 2019) Marque a alternativa INCORRETA sobre os
cípios fundamentais na Constituição Federal de 1988. princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988:
A partir de meados do século XX, um novo direito constitucio- (A) Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
nal passou a reconhecer a força normativa dos princípios, enxergan- representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Consti-
do‐os como as principais normas a veicular a supremacia axiológica tuição Federativa da República do Brasil de 1988.
da Constituição. (B) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
( ) CERTO solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
( ) ERRADO tui-se em Estado democrático de direito.
(C) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
7. (INSTITUTO CONSULPLAN – 2020) Considerando os princí- si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério Público.
pios fundamentais do Estado Brasileiro, segundo a Constituição da (D) A República Federativa do Brasil buscará a integração eco-
República Federativa do Brasil, marque V para as afirmativas verda- nômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
deiras e F para as falsas. visando à formação de uma comunidade latino-americana de
( ) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é, nações.
em toda a história constitucional brasileira, a mais preocupada com
a tutela dos direitos humanos, o que fica nítido pela escolha dos 11. (CESPE / CEBRASPE – 2021) A respeito dos direitos e deve-
princípios fundamentais do Estado, quais sejam: a cidadania, a dig- res individuais e coletivos previstos na Constituição Federal de 1988
nidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho postos (CF), julgue o item a seguir.
juntamente com a livre iniciativa. São inafiançáveis e imprescritíveis os crimes de racismo e terro-
( ) Uma análise sistemática do texto constitucional faz ver que rismo, bem como a ação de grupos armados contra a ordem consti-
um grande número de dispositivos constitucionais palmilhou clara- tucional e o Estado democrático.
mente o caminho do chamado estado do bem-estar social, clarifi- ( ) CERTO
cando a intenção constitucional de evitar as desigualdades sociais ( ) ERRADO
que poderiam advir da consagração apenas da livre iniciativa como
princípio fundamental, sem compatibilizá-la com os valores sociais 12. (OBJETIVA – 2021) De acordo com a Constituição Federal,
do trabalho. todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
( ) Consagrou-se, ainda, o princípio do pluralismo político, se- garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
gundo o qual devem ser compatibilizadas as opiniões políticas di- inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran-
vergentes, para a melhor gestão do Estado Brasileiro, impedindo, ça e à propriedade, nos seguintes termos, entre outros:
entretanto, que o exercício do poder venha a ser exercido de forma I. É vedada a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
direta. A sequência está correta em: tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
II. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
(A) V, V, F. sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
(B) V, F, V. III. É relativo o caráter de inviolabilidade do sigilo da corres-
(C) F, V, V. pondência e das comunicações telefônicas, uma vez que, poderá
(D) V, V, V. ser mitigado por ordem judicial para fins de instrução processual
penal e, nos casos de investigação criminal, por determinação do
8. (CESPE-CEBRASPE – 2020) Ao tratar dos princípios funda- delegado responsável pela investigação.
mentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º,
(A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, Está(ão) CORRETO(S):
caracterizada pela eletividade, temporariedade e responsabili- (A) Somente o item I.
dade do governante. (B) Somente o item II.
(B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletivi- (C) Somente os itens I e III.
dade, temporariedade e responsabilidade do governante. (D) Somente os itens II e III.
(C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, ca- (E) Todos os itens.
racterizada pela tripartição dos poderes da União.
(D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista 13. (FUNDATEC – 2021) Conforme o Art. 5º da Constituição da
de governo. República Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa IN-
(E) a forma republicana de governo e a forma federativa de Es- CORRETA.
tado, cláusulas pétreas expressas. (A) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
nimato.
9. (IBFC – 2020) Assinale a alternativa que apresenta um dos (B) É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, segundo além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
a Constituição Federal de 1988: (C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
(A) Valorizar o trabalho e a livre iniciativa independentemente das qualificações profissionais que a lei
(B) Defender o pluralismo político estabelecer.
(C) Garantir o desenvolvimento nacional (D) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
(D) Permitir o exercício da cidadania religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
(E) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a
de caráter paramilitar.

39
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
14. (FGV – 2021) Conforme disposto na Constituição Federal é Assinale a opção correta.
direito dos trabalhadores urbanos e rurais o décimo terceiro salário, (A) Apenas o item I está certo.
que será baseado: (B) Apenas o item II está certo.
(A) na remuneração integral ou no valor da aposentadoria. (C) Apenas os itens I e III estão certos.
(B) no valor suplementar do bônus de participação do lucro. (D) Apenas os itens II e III estão certos.
(C) na alíquota de encargos previdenciários do período vigente. (E) Todos os itens estão certos.
(D) no maior salário mínimo do país ou conforme for estipulado
no estatuto da empresa. 19. (FUNDEP – 2021) De acordo com a Constituição da Repúbli-
(E) no salário completo ou no valor pago de imposto sobre a ca Federativa do Brasil, encontra-se entre as condições de elegibili-
renda retido na fonte. dade a idade mínima de
(A) trinta anos para Presidente e Vice-Presidente da República
15. (VUNESP – 2021) É um dos direitos constitucionais dos tra- e Senador.
balhadores urbanos e rurais: (B) vinte e um anos para Governador e Vice-Governador de es-
(A) relação de emprego protegida contra despedida arbitrária tado e do Distrito Federal.
com ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que (C) dezoito anos para Deputado Federal e Deputado Estadual
preverá indenização compensatória. ou Distrital.
(B) participação nos lucros, ou resultados, vinculada à última (D) dezoito anos para Vereador.
remuneração do trabalhador.
(C) assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas- 20. (IBGP – 2021) O voto é facultativo para brasileiros com:
cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas. (A) 18 anos.
(D) jornada de oito horas para o trabalho realizado em turnos (B) 20 anos.
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva. (C) 16 anos.
(E) licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, (D) 19 anos.
com a duração de 180 (cento e oitenta) dias.
21. (FGV – 2021) Maria, Promotora de Justiça, que ingressara
16. (FGV – 2021) Ingrid nasceu no território da Bélgica à época na carreira do Ministério Público do Estado Alfa há cinco anos, em
em que seu pai, brasileiro, ali atuava em uma indústria privada de razão de sua elevada expertise na área dos direitos humanos, foi
conectores eletrônicos. Sua mãe era belga. Considerando que In- convidada pelo Governador do Estado a ocupar o cargo de Secretá-
grid foi registrada apenas perante o órgão competente belga, não ria Estadual de Direitos Humanos.
perante uma repartição brasileira, ela é considerada: À luz da sistemática constitucional, Maria:
(A) estrangeira, somente lhe restando a opção de se naturalizar (A) não pode exercer qualquer outra função pública, incluindo
brasileira, na forma da lei; a de Secretária de Estado, salvo uma de magistério;
(B) brasileira nata, já que seu pai era brasileiro e se encontrava (B) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
em território belga a trabalho; haja aquiescência expressa do Procurador-Geral de Justiça;
(C) brasileira nata, pois a ordem constitucional brasileira adota, (C) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, independen-
em caráter conjunto, os modelos do jus soli e do jus sanguinis; temente da aquiescência de qualquer órgão do Ministério Pú-
(D) estrangeira, mas, caso venha a residir no território brasilei- blico;
ro e opte, a qualquer tempo, após atingir a maioridade, pela (D) não pode exercer outra função pública, incluindo a de Se-
nacionalidade brasileira, adquiri-la-á em caráter nato; cretária de Estado, salvo se for temporariamente afastada do
(E) estrangeira, mas pode adquirir a nacionalidade brasileira, cargo de Promotora de Justiça;
em caráter nato, caso o requeira, em território belga, perante (E) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
repartição consular brasileira, no ano seguinte à maioridade. haja compatibilidade de horários com o cargo de Promotora de
Justiça e a soma das remunerações não ultrapasse o teto.
17. (VUNESP – 2021) É um cargo público privativo de brasileiro
nato: 22. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
(A) de Procurador Geral da República. dos servidores públicos, julgue o item.
(B) de Ministro do Tribunal de Contas da União. Na hipótese de um agente público causar dano a qualquer bem
(C) de Presidente da Câmara dos Deputados. pertencente ao patrimônio público, por descuido ou má vontade,
(D) de Presidente do Superior Tribunal de Justiça. não constitui apenas uma ofensa à Administração Pública, mas a
(E) de Senador da República. todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência,
seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-lo.
18. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Com base no disposto na Cons- ( ) CERTO
tituição Federal, julgue os seguintes itens, relativos a direitos políti- ( ) ERRADO
cos e partidos políticos.
I Direito político passivo corresponde ao direito do eleitor de
votar.
II O cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado implica perda dos direitos políticos.
III Em se tratando de eleições proporcionais, o mandato per-
tence ao candidato eleito, e não ao partido político sob cuja legen-
da o candidato disputou o processo eleitoral.

40
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
23. (FGV – 2021) A Constituição da República de 1988 26. (CEFET – 2021) Em relação aos princípios constitucionais da
(CRFB/1988) é reconhecida pelo seu caráter democrático e proteti- Administração Pública, analise as afirmações abaixo:
vo, e promoveu ampliação no rol de direitos e garantias individuais I. O agente público no exercício das atribuições do seu cargo
e sociais. Em termos de reforma administrativa, contudo, a doutrina pode adotar quaisquer atos que a lei não proíba, tendo em vista
especializada aponta a ocorrência de retrocessos, tornando a admi- que tudo que não é proibido é permitido, sendo este um postulado
nistração pública mais burocrática. basilar do princípio da legalidade administrativa.
Nesse sentido, é exemplo de retrocesso trazido pela CRFB/1988: II. São princípios da Administração Pública expressos no caput
(A) o incentivo à descentralização político-administrativa; do art. 37 da Constituição Federal de 1988: publicidade, eficiência,
(B) o apoio ao clientelismo e ao fisiologismo como política de impessoalidade, legalidade e moralidade.
Estado; III. Um prefeito autorizou contratação de empresa publicitária
(C) a institucionalização de mecanismos de democracia direta, para campanha de divulgação de notícia em diversos outdoors da
favorecendo o controle social e a accountability; cidade e no site oficial da Prefeitura, enumerando e elogiando as
(D) a extensão às entidades da administração indireta de proce- obras realizadas durante seu mandato, além de ressaltar a econo-
dimentos e mecanismos de controle aplicáveis à administração mia praticada no período, afirmando ser o prefeito perfeito para
direta; o município. Tal notícia não afronta princípios da Administração
(E) a criação do Departamento Administrativo do Serviço Públi- Pública, denotando a aplicação dos princípios da publicidade e da
co (DASP), para comandar as reformas administrativas e imple- eficiência, tendo em vista que o prefeito tornou públicos atos de
mentar as políticas de governo. gestão por ele praticados e comprovou ser econômico.
IV. Os atos de improbidade administrativa denotam afronta ao
24. (VUNESP – 2021) No tocante às disposições constitucionais, princípio da eficiência. Conforme disposto no art. 37, §4º, da Cons-
que tratam do tema dos servidores públicos, é correto afirmar que tituição Federal de 1988, “os atos de improbidade administrativa
(A) o tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou mu- importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
nicipal e o tempo de serviço público correspondente serão con- pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário,
tados para fins de disponibilidade e aposentadoria do servidor. na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
(B) aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cabível”.
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exo- V. A exigência de concurso público para investidura em cargo
neração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou emprego público prevista no art. 37, inciso II, da Constituição
o Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores. Federal de 1988 é exemplo de aplicação do princípio da impessoali-
(C) por motivos de segurança, é expressamente vedado aos Po- dade.Estão corretas apenas as afirmativas
deres Executivo, Legislativo e Judiciário divulgar ou publicar os
valores do subsídio e da remuneração dos cargos e empregos (A) I, II.
públicos dos seus respectivos servidores. (B) I, III.
(D) o membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Mi- (C) II, V.
nistros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão (D) III, IV.
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela (E) IV, V.
única, que poderá ser acrescido de gratificação, adicional, abo-
no, prêmio e verba de representação. 27. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
(E) é vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo- dos servidores públicos, julgue o item.
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de O servidor público está sujeito a penalidades administrativas
cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. em razão de condutas que venham a atentar contra a ética e a mo-
ralidade administrativa.
25. (VUNESP – 2021) Nos moldes da Constituição Federal, o ( ) CERTO
servidor público titular de cargo efetivo, que tenha sofrido limitação ( ) ERRADO
em sua capacidade física ou mental, poderá, atendidas as demais
exigências, ser readaptado, 28. (UFPel-CES – 2021) Considerando as normas constitucio-
(A) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- nais sobre servidores públicos, é correto afirmar que
ção, devendo receber pelo menos 70% (setenta por cento) da (A) o servidor vinculado a regime próprio de previdência social
remuneração do cargo de origem. será aposentado compulsoriamente, com proventos proporcio-
(B) para exercício do mesmo cargo, com os necessários ajustes nais ao tempo de contribuição, aos 65 anos de idade.
à sua limitação, garantida a mesma remuneração do cargo. (B) em decorrência do direito a privacidade, é vedada a publi-
(C) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- cação dos valores da remuneração dos servidores públicos.
ção, podendo o servidor optar entre a remuneração do cargo (C) a remuneração dos servidores públicos organizados em car-
de origem e a do cargo de destino. reira será fixada, exclusivamente, por subsídio.
(D) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- (D) lei complementar de competência exclusiva da União esta-
ção, mantida a remuneração do cargo de origem. belecerá a relação entre a maior e a menor remuneração dos
(E) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- servidores públicos de todos os entes federados.
ção, devendo receber a remuneração do cargo de destino. (E) a fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
nentes do sistema remuneratório observará as peculiaridades
do cargo.

41
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
29. (FUNDATEC – 2021) Em relação aos princípios constitu- 15 C
cionais que regem a administração pública(conforme artigo 37 da
Constituição Federal vigente), analise as assertivas a seguir: 16 D
• O Princípio da __________ exige que a atividade administra- 17 C
tiva seja desenvolvida de modo leal e que assegure a toda a comu-
nidade a obtenção de vantagens justas. 18 B
• As ações do administrador público são plenamente vincula- 19 D
das ao que estabelecem as normas vigentes, ou seja, ele somente
20 C
pode fazer o que a lei autoriza ou determina. Diferente do gestor
privado, que pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Esse é o Prin- 21 A
cípio da __________. 22 CERTO
• O Princípio da __________ exige que os atos estatais sejam
levados ao conhecimento de todos, ressalvadas hipóteses em que 23 D
se justificar o sigilo. 24 E

Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen- 25 D


te, as lacunas dos trechos acima. 26 C
(A) Eficiência – Impessoalidade – Transparência
27 CERTO
(B) Eficiência – Legalidade – Transparência
(C) Moralidade – Impessoalidade – Publicidade 28 E
(D) Moralidade – Impessoalidade – Transparência 29 E
(E) Moralidade – Legalidade – Publicidade
30 A
30. (UFPel-CES – 2021) De acordo com o art. 41 da Constituição
Federal, são estáveis após três anos de exercício, os servidores no-
meados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
público, sendo ANOTAÇÕES
(A) condição para a aquisição da estabilidade a avaliação es-
pecial de desempenho por comissão instituída para essa fina-
lidade. ______________________________________________________
(B) vedada a invalidação da demissão de servidor estável por ______________________________________________________
sentença judicial, pois não pode o Poder Judiciário intervir em
ato da administração pública. ______________________________________________________
(C) que em caso de extinção do cargo, o servidor estável será
demitido. ______________________________________________________
(D) inadmissível que o servidor conteste o resultado da avalia-
ção periódica de desempenho. ______________________________________________________
(E) o processo administrativo meio inviável para proceder a de-
missão de servidor público estável. ______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 A
______________________________________________________
2 A
______________________________________________________
3 B
4 ERRADO ______________________________________________________
5 A ______________________________________________________
6 CERTO
______________________________________________________
7 A
8 B ______________________________________________________

9 C ______________________________________________________
10 C
______________________________________________________
11 ERRADO
______________________________________________________
12 B
13 C ______________________________________________________
14 A ______________________________________________________

42
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. Modelos teóricos de administração pública. Patrimonialista, burocrático e gerencial. Evolução do Estado brasileiro e as experiências
de reformas administrativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Convergências e divergências entre a gestão pública e a gestão privada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3. Governabilidade, governança e accountability. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4. Características básicas das organizações formais modernas. Tipos de estrutura organizacional, natureza, finalidades e critérios de
departamentalização. Processo organizacional. Planejamento, direção, comunicação, controle e avaliação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
5. Organização administrativa. Centralização, descentralização, concentração e desconcentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6. Gestão de pessoas na administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
7. Ética no setor público. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
8. Gestão de suprimentos e logística na administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
9. Planejamento e gestão estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
10. Ferramentas da qualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
11. Gestão de processos. Conceitos da abordagem por processos. Técnicas de mapeamento, análise e melhoria de processos. . . . . 105
12. Sistemas de gestão da qualidade e certificação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
13. Governo eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
14. Gestão por resultados na produção de serviços públicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
15. Indicadores de desempenho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
16. Transparência e controle da administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
17. Controle social e cidadania. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
18. Comunicação na gestão pública e na gestão de redes organizacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Quando se fala em controle da administração pública não po-
MODELOS TEÓRICOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. demos separar o lado político do lado administrativo. O controle
PATRIMONIALISTA, BUROCRÁTICO E GERENCIAL. EVO- da administração pública, seja ele interno ou externo, está intima-
LUÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO E AS EXPERIÊNCIAS mente ligado aos processos políticos envolvidos. As reformas ad-
DE REFORMAS ADMINISTRATIVAS ministrativas ocorridas no Brasil têm sempre se caracterizado pela
dicotomia entre política.
O estabelecimento de um novo padrão de administração pú- E administração. Isto é o que demonstra Martins (1997) me-
blica no Brasil altera, sensivelmente, a relação do Estado com a diante a análise dos mecanismos de regulação política e inserção
sociedade, definindo novas formas de atuação do ponto de vista social na administração pública sob várias situações.
econômico e de execução das políticas públicas. O momento atual O autor mostra que a dosagem dos mecanismos de inserção
é de expectativa sobre a implementação dos princípios e diretrizes social e regulação são fundamentais no processo de redefinição
do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado - PDRAE1 de institucional trazido pela reforma. Para Martins, se, por um lado,
1995. O objetivo deste estudo é o de avaliar alguns aspectos do os atributos intrínsecos e as tecnicidades de modelos e estratégias
plano de reforma para criar um pensamento crítico a respeito das de inovação gerencial são exaltados, por outro, algumas questões
mudanças propostas, verificando como ficam os mecanismos de permanecem sem resposta. O autor coloca a seguinte questão: “em
controle da administração. Além disso, pretende-se conhecer um que extensão a busca da excelência burocrática ou pós-burocrática
pouco mais sobre as mudanças na administração pública estabele- ..... pode figurar-se dicotomizante?”.
cidas no PDRAE, propiciando um melhor entendimento dos concei- Apesar da verificação do problema, equacionar os mecanismos
tos no estudo do novo modelo que está sendo adotado. de regulação e inserção social é algo complexo e requer considera-
A importância da reforma administrativa reside nas implica- ções em casos específicos. Os extremos da dicotomia são: primei-
ções desta restruturação para a nação, tais como a redução da ro, decorrente da excessiva regulação política e pouca autonomia
presença do Estado na economia, redução de déficit público e a burocrática o que caracterizaria a captura; segundo, devido a uma
melhoria na qualidade e eficiência dos serviços públicos. As modi- situação de excessiva autonomia burocrática e baixa regulação po-
ficações introduzidas por uma ampla reforma administrativa irão lítica o que caracterizaria o insulamento (Martins, 1997). Os dois
marcar profundamente a realidade das relações da sociedade com extremos devem ser evitados. O controle social da administração é
o governo, interferindo nos mecanismos de democracia e cidada- necessário para garantir uma situação caracterizada como inserida
nia e alterando as relações de poder no Estado. Com tantos pontos e regulada.
importantes em jogo, é preciso avaliar qual será o resultado final A revolução gerencial traz uma série de ensinamentos. Certa-
desta reforma e quais serão as formas de controle da aplicação dos mente que sua qualidade mais ou menos dicotômica varia de acor-
recursos públicos no novo modelo. do com o contexto social e o segmento da ação pública. No caso
O controle da administração é um instrumento fundamental brasileiro, a modernização gerencial e a inserção social são certa-
para o sucesso da reforma. Este fato foi reconhecido no próprio mente requisitos de excelência para as organizações públicas, ten-
plano de reforma que coloca a Secretaria Federal de Controle como dencialmente ortodoxas e insuladas. Porém, a tendência de inser-
de importância estratégica na reforma e que muito contribuirá para ção social está perfeitamente correspondente com a tendência de
a implementação de uma filosofia de controle por resultados. O Mi- consolidação de um padrão de representação de interesses sociais
nistério da Fazenda, como órgão responsável, também é destacado em bases neocorporativas (Martins, 1997).
pelo controle efetivo das despesas e pelo controle interno. Os riscos decorrentes da regulação política são inserções auto-
A reforma, como está concebida no plano, vai alterar conside- -orientadas o que, na hipótese pessimista, levaria a neo-insulamen-
ravelmente a distribuição de poder dentro do Estado e a relação to burocrático ou insulamento pós-burocrático. A construção da
deste com a sociedade civil. Por isso, é fundamental uma análise regulação política em bases racionais é uma tarefa complexa e es-
criteriosa, considerando não só os aspectos da administração, mas, barra nos imperativos fisiológicos da governabilidade e no bloqueio
principalmente, os aspectos políticos envolvidos. à burocratização política. Nos processos de reforma adiministrati-
Diante destes fatos, o problema que se coloca é: como ficam va no Brasil parece haver um hiato entre política e administração
os mecanismos de controle da administração pública federal com a (Martins, 1997).
implantação do modelo gerencial (pós-burocrático)? A reforma administrativa gerencial, traz justamente em seu
Para responder a essa questão, serão analisados os mecanis- bojo, o ímpeto descentralizante que busca dar mais autonomia bu-
mos de descentralização, o controle formal e a participação da so- rocrática. Com a autonomia dada pela redução de controles for-
ciedade no controle da administração pública, buscando-se verifi- mais e devido à falta de estrutura de controle social para suprir a
car como ficarão após a introdução do modelo. regulação política necessária, corre-se o risco de um processo de
O público alvo, deste trabalho, são os acadêmicos das áreas de insulamento pós-burocrático.
administração e de ciências sociais e políticas, políticos e público
em geral, interessados em entender melhor os fatos relacionados O Patrimonialismo e o Neopatrimonialismo
ao processo de reforma administrativa em curso no Brasil. A modificação dos mecanismos de controle na reforma admi-
A análise será realizada por meio de alguns aspectos adminis- nistrativa em curso tem como pressuposto a redução da rigidez
trativos, políticos e históricos no processo de reforma proposto. burocrática, o que implica a redução do componente formal da
Serão utilizados dados de artigos e textos de diversos atores como burocracia. Para entendermos o que significa a redução do com-
fonte de dados secundários para estabelecimento do marco teórico ponente formal da burocracia, analisaremos o conceito de neopa-
dos principais conceitos envolvidos. O PDRAE, as primeiras medidas trimonialismo.
adotadas pelo Governo para implementação da reforma, a Cons-
tituição Federal e a legislação infra-constitucional serão utilizados
como fontes de dados primários.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Em primeiro lugar é necessário relembrar o conceito de patri- Em 06 dezembro de 1993, após o impeachment, foi criada uma
monialismo. Segundo Schwartzman (1988), na concepção de We- Comissão Especial pela Presidência da República que tinha como
ber o patrimonialismo é forma de dominação onde não existe uma essência a averiguação dos processos de corrupção que se alastra-
diferenciação clara entre a esfera pública e a privada. O conceito vam na administração pública brasileira. No relatório “A Comissão
de patrimonialismo quando aplicado a sociedades contemporâneas Especial e a corrupção na administração pública federal”, de de-
leva aos conceitos de sociedades “tradicionais” em contrapartida zembro de 1994, está o resultado dos trabalhos de investigação dos
às sociedades “modernas”, ou sem traços patrimoniais. Ainda, se- meandros da corrupção dentro da administração. O relatório é cla-
gundo Schwartzman (1988), Marx também enxergava uma espécie ro e confirma que as práticas patrimoniais estavam profundamente
de patrimonialismo no “modo de produção asiático”. Este existia enraizadas na cultura do Estado brasileiro. São identificados pro-
em sociedades pré-capitalistas e se caracterizava pela inexistência blemas em praticamente todos os setores da administração fede-
parcial ou total de propriedade privada ou, pelo menos, pela exis- ral. Os sistemas de controle são vistos como ausentes ou ineficazes.
tência de um setor público na economia. Este problema cultural de patrimonialismo no Estado brasileiro
A dominação política racional-legal decorreu do casamento não pode de maneira nenhuma ser encarado de forma simplista e
entre o patrimonialismo dos regimes absolutistas e a burguesia considerado superado no embasamento do plano de reforma. Ali-
emergente na Europa. Ou seja, o surgimento da burocracia racio- ás, deve ser tratado com a importância suficiente para que se possa
nal-legal em países com burguesia emergente decorreu de deman- pensar em mecanismos de controles adequados. Reduzir o compo-
das por igualdade ante a lei (democracia de massas) combinadas à nente formal da burocracia pode justamente implicar em adoção
necessidade de refrear as pretensões dos vassalos e funcionários, de uma racionalidade apenas substancial, justificada somente pelas
que é uma espécie de aliança entre patrimonialismo e burguesia “razões de Estado”, tornando o controle da administração ineficaz
emergente (interesses capitalistas). Mas o que ocorreria nos países ou inexistente.
onde não havia uma burguesia ascendente com a mesma força e
A flexibilização da administração, nesta reforma, será resulta-
importância que na Europa? Continuariam “tradicionais”? Este é
do da descentralização e da introdução de uma maior autonomia
justamente o caso do Brasil que mantém traços do patrimonialismo
para os gestores públicos. A descentralização e a flexibilização são,
no Estado Burocrático. O neopatrimonialismo não é simplesmente
sem dúvida, um benefício do ponto de vista administrativo que na
uma sobrevivência das estruturas tradicionais em sociedades con-
temporâneas, mas uma forma bastante atual de dominação políti- administração pública deve ser vista com cautela pelas implicações
ca por um “estrato social sem propriedades e que não tem honra so- políticas possíveis. O controle destas estruturas descentralizadas é
cial por mérito próprio”, ou seja pela burocracia e a chamada classe pretendido via contratos de gestão. Os controles serão exercidos
política (Schwartzman, 1988) em cima dos parâmetros negociados nos contratos de gestão e os
Entendidos os motivos da existência de traços patrimoniais no gestores terão grande autonomia de administração dos recursos.
Brasil, vamos entender o que significa o componente formal ou ra- Médici e Barros Silva (1993) afirmam que a administração flexí-
cionalidade formal da burocracia. Reduzir controles formais pode vel surgiu como um requisito básico de modernização das organiza-
significar reduzir a racionalidade formal da burocracia ou deixar a ções públicas e privadas, não como modismo, mas em decorrência
racionalidade substancial se sobrepor. das mudanças que ocorreram no contexto mundial da economia
Para Schwartzman (1988), baseando-se em Weber, a racionali- globalizada e do ambiente cultural e tecnológico das organizações.
dade formal é o mesmo que racionalidade legal, ou seja, uma série A crise econômica mundial dos anos 70 influenciou na mudança dos
de normas explícitas de comportamento, ou “leis” que definem o estilos de gestão do setor público, os quais passaram a ser uma im-
que deve ou não ser feito pelo administrador em todas as circuns- portante condição de competitividade para a nação. O Estado pas-
tâncias. Já a racionalidade substancial tende a maximizar uma con- sou a ter que enfrentar novas estratégias internacionais de compe-
junto de objetivos independentemente de regras e regulamentos titividade, que utilizavam métodos comparativos de vantagens e se
formais. O surgimento da racionalidade substancial dentro do pro- baseavam na redução dos custos e na melhoria da qualidade. Os
cesso de dominação pode estar associado a dois fatores. O primei- investimentos nacionais passaram a utilizar a estratégia de atração
ro fator é a emergência da opinião pública e seus instrumentos e, dos capitais internacionais, cuja capacidade de atração depende de
de maneira mais específica, a democracia do tipo plebiscitária, que máquinas estatais desburocratizadas e de legislações compatíveis
colocaria em risco os sistemas políticos baseados em normas estri- com lucratividade e desempenho. A transferência de capitais inter-
tas e consensuais. O segundo são as próprias “razões de Estado”, nacionais não mais enfrenta barreiras graças às novas tecnologias
tal como são defendidas pelos detentores do poder. As “razões e às possibilidades de integração competitiva. Em função disso, o
de Estado” em combinação com as massas passivas, destituídas e Estado necessita empreender esforços no sentido de tornar o país
mobilizáveis são a receita para os regimes patrimoniais modernos atrativo para esses capitais internacionais. A administração pública
(neopatrimonialismo).
por sua vez precisa abandonar as estratégias de isonomia e padro-
No caso da burocracia sem o componente legal ou com este re-
nização das condições de trabalho, tendo em vista as mudanças de
duzido, vai predominar uma racionalidade exclusivamente técnica,
hábitos provocadas pela mundialização da economia. Sendo assim,
onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo
a necessidade de adaptação às mudanças e a rapidez nas respostas
ou inexistente. Neste ponto fica caracterizada uma racionalidade
apenas substancial, que é justamente a base do neopatrimonialis- passa a ser uma exigência nas administrações flexíveis dos tempos
mo (Schwartzman, 1988). modernos, o que muitas vezes implica em montagem e desmonta-
A formação patrimonialista da administração pública no Brasil gem de estruturas produtivas com grande facilidade.
é fundamentada com base na formação histórica de nosso Estado e Osborne e Gaebler (1990) descrevem os benefícios da des-
sociedade civil (Pinho, 1998). Talvez o clímax dos processos de pa- centralização. O princípio é dar mais autonomia `a unidade de ad-
trimonialismo e corrupção se deu no Governo de Fernando Collor e ministração local, dando mais liberdade aos seus gestores, e com
culminou no impeachment do mesmo. isso a estrutura como um todo terá grandes vantagens, tais como:
primeiro, instituições descentralizadas são mais flexíveis que as ins-
tituições centralizadas e podem responder com muito mais rapidez
a mudanças nas circunstâncias ou nas necessidades dos clientes;

2
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
segundo, instituições descentralizadas são muito mais eficientes Bresser Pereira (1997) fala que no século dezenove a adminis-
que as centralizadas; terceiro: instituições descentralizadas são tração pública burocrática substituiu a patrimonialista e isto repre-
muito mais inovadoras do que as centralizadas; e quarto, institui- sentou um grande avanço no cerceamento da corrupção e do ne-
ções descentralizadas têm moral elevada, são mais comprometidas potismo. Mais tarde, com o crescimento do Estado, a burocracia se
e produtivas. tornou ineficiente. Assim, considerando que o patrimonialismo es-
A argumentação de Osborne e Gaebler (1990) traz a ideia de taria extinto ou reduzido pela introdução de um modelo burocráti-
empreendedorismo na administração pública e do controle social co e considerando a ineficiência do modelo burocrático no momen-
uma vez que a sociedade passa a ter uma atuação importante na to atual, não haveria mais necessidade de critérios rígidos formais,
fiscalização dos atos dos gestores públicos. Os autores dizem, ain- como os adotados na administração burocrática, sendo permitido
da, que os líderes empreendedores empregam um variado número a redução da rigidez burocrática mediante estabelecimento de um
de estratégias para fazer o controle retornar às mãos daqueles que modelo gerencial mais eficiente2 .
se encontram na ponta mais baixa da hierarquia, onde as coisas, Esta avaliação não leva em conta os mecanismos de persistên-
acontecem de fato. Uma das formas é a administração participa- cia do patrimonialismo nos Estados modernos e, particularmente,
tiva, visando descentralizar o processo de tomada de decisões. A nos Estados onde não houve, no seu processo histórico, a existên-
responsabilidade sobre os recursos gera, também, uma responsa- cia de uma burguesia emergente como no caso do Brasil. O rela-
bilidade sobre os resultados. tório “A comissão especial e a corrupção na administração pública
No entanto, outra forma de analisar o processo de descentrali- federal” de dezembro de 1994 da Comissão Especial, criada pela
zação é colocado por Felicíssimo (1994). Para o autor, a descentra- Presidência da Pública por meio do Decreto 1001/93, mostra como
lização pode ser vista de duas formas diferentes. está nossa administração e confirma que as práticas patrimoniais
Uma, na qual a descentralização envolve necessariamente a estão profundamente enraizadas na cultura do Estado brasileiro.
ampliação da cidadania. Porém, segundo o autor, isto nem sempre A possibilidade de manutenção de práticas neopatrimoniais é um
problema que deve ser muito bem avaliado nos processos de refor-
vai além de um desejo que não se realiza. A segunda forma é justa-
ma do Estado, desde que interferem diretamente nos mecanismos
mente o contraponto desta concepção e, segundo o autor, decorre
de poder. Esta questão política não pode ser desconsiderada num
da pressão da ideologia eficientista que pensa apenas na resolução
processo de reforma institucional tão amplo como o pretendido
imediata dos problemas mais evidentes, restringindo o volume de
pelo governo por meio do PDRAE de 1995.
demandas, resultado da participação nas decisões.
Fleury (1997) fala sobre o que considera os pressupostos dou-
Entendemos que o processo de reforma atual é marcado por
trinários do plano de reforma. Entre eles, a autora lembra as pala-
esse eficientismo, desprezando-se os problemas políticos e cultu-
vras de Bresser Pereira(1996) “....Já chegamos a um nível cultural
rais da administração pública e não prevendo os mecanismos de
e político em que o patrimonialismo está condenado, que o buro-
controle adequados. A reforma pressupõe uma participação social
cratismo está condenado, e que é possível desenvolver estratégias
ativa, por meio do controle social, e uma responsabilização dos ges- administrativas baseadas na ampla delegação de autoridade e na
tores públicos (accountability) que precisa ser concebida dentro do cobrança a posteriori de resultados”.
contexto de nossa sociedade. Em contraposição, a autora cita Martins(1995) que diz que esse
O PDRAE estabelece as diretrizes de implantação de um mo- pensamento é puro caso de Wishful thinking (ou seja um pensa-
delo “gerencial” ou “pós-burocrático” para a administração pública mento apenas de desejo e não de realidade) contra todas as evi-
no Brasil. dências conhecidas, nas quais se observa que a administração pú-
O modelo burocrático clássico é marcado por algumas carac- blica brasileira foi-se expandindo por camadas, como em um bolo
terísticas tais como a impessoalidade, o formalismo (legalidade), de festas, somando à administração patrimonial e clientelista - pre-
a idéiade carreira, hierarquia e profissionalização. Neste modelo o ponderante até os anos 30 - a camada da administração burocrática
controle é fortemente marcado pela característica da legalidade e - “daspiniana”-, acrescentada da camada gerencial - desde os gru-
realizado a priori. pos executivos dos anos 60 aos empresários das estatais do anos
No novo modelo “gerencial”, a maioria destas características 70. Para Fleury “... na política e na administração a coexistência
da burocracia são mantidas com exceção do formalismo, ao qual é de formas pretéritas com as mais modernas apenas indica que elas
sugerida a sua redução, dando-se uma liberdade maior ao gestor cumprem diferentes funções no processo de circulação do poder.”
público para este expressar a sua criatividade. A autonomia do ges- Um segundo pressuposto doutrinário, colocado por
tor é aumentada através de mecanismos de descentralização. Tam- Fleury(1997), é sobre a afirmação, que orienta a reforma, do ca-
bém, são utilizados vários conceitos e práticas de administração ráter antidemocrático da burocracia. Segundo a autora “Ora, qual-
privada aplicadas à administração pública, tais como: Reengenha- quer leitor com alguma familiaridade com a teoria sociológica,
ria, Qualidade Total e outros. O controle no modelo deve ter ênfase weberiana ou não, sabe que a emergência de uma administração
nos resultados (a posteriori) e, além disso, a sociedade deverá ter burocrática é a contra face da cidadania, um dos pilares, portanto,
uma participação mas efetiva na fiscalização dos atos dos gestores do Estado democrático.”
públicos atuando como controle social. Muitos outros autores também mostram o simplismo de al-
Entre as principais mudanças a serem introduzidas pelo guns enfoques de reformas administrativas na América Latina3 .
PDRAE, em relação ao modelo burocrático clássico, temos a redu- Este simplismo, muitas vezes, decorre da dicotomia entre política
ção do formalismo, descentralização das funções públicas com o e administração nos planos de reforma. No Brasil, especificamente,
horizontalização das estruturas, incentivo à criatividade e, ainda, a temos que considerar os traços de dominação tradicional, resulta-
introdução da competição administrada. Neste enfoque, a Consti- do da formação histórica, da persistência de práticas neopatrimo-
tuição Federal de 1988 é encarada, nas premissas do plano, como niais, da realidade do nível de desenvolvimento político e da cultura
um retrocesso burocrático, principalmente, pelas restrições impos- de nossa sociedade. Ainda no Brasil, as reformas administrativas
tas à admissão e demissão de servidores e, ainda, pelos privilégios tem se caracterizado por uma centralização política, administrativa
concedidos ou mantidos a determinadas categorias que elevaram o e inacessibilidade da participação individual e comunitária à formu-
custo da máquina pública. lação da política pública.

3
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Entretanto, é ponto pacífico que a administração pública brasi- que se deve questionar o grau de influência dos processos de re-
leira precisa de uma reformulação. Os traços tradicionais marcaram forma do Estado, em curso na América Latina, na alteração de sua
profundamente a cultura dentro das organizações públicas, geran- dimensão político-institucional, por meio de reformas políticas, de
do ineficiência, clientelismo, nepotismo e outros degenerações que reformas jurídicas e de processos de descentralização político-ad-
a burocracia não conseguiu debelar. A crise do Estado de bem estar ministrativa, de forma que criem um modelo institucional estável,
social, a integração econômica com o resto do mundo e o déficit aumentem a representatividade política e evitem a orientação pa-
do setor público exigem uma elevação do padrão de eficiência e trimonialista e clientelista da máquina administrativa.
eficácia das ações públicas. Outra forma de analisar este problema é do ponto de vista de
Diante desse quadro, é consenso a necessidade de reforma do capacidade de articulação dos diversos atores interessados pelo Es-
aparelho do Estado. A flexibilização da administração traz diversas tado na consecução dos interesses públicos. Ou seja, a capacidade
vantagens do ponto de vista administrativo. Porém, em contra par- de governança. Esta capacidade de articulação implica em se ter
tida, é importante o estabelecimento de mecanismos de controle condições possíveis de controle sobre os recursos públicos dispo-
da atuação dos gestores públicos nos programas do governo. Os níveis para os atores envolvidos. Bresser Pereira (1996) coloca a
mecanismos de controle interno formais têm demonstrado que reforma administrativa como o desencadeamento do processo de
não são suficientes para garantir que o serviço público sirva sua governança na administração pública. Para ele, existe governança
clientela de acordo com os padrões normativos do governo demo- quando o Estado tem as condições financeiras e administrativas
crático. A organização burocrática tem demonstrado incapacidade para transformar em realidade as decisões que toma.
em contrabalançar abusos como corrupção, conduta aética e arbi- Tornar realidade as decisões que toma necessita de um siste-
trariedades do poder (Campos, 1990). ma de controle que corrija os rumos para se alcançar os objetivos.
O plano de reforma não esboça claramente mecanismos de Assim, o conceito de governance, colocado por Diniz (1997, 1998),
controle social. O que se tem bem claro são os mecanismos de con- nos parece mais adequado para enfocar o problema quando a au-
trole de resultado com a introdução cada vez maior dos contratos tora inclui o conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar
de gestão. A questão que colocamos é: será que uma organização com a dimensão participativa e plural da sociedade, o que implica
pública dando resultado estará, necessariamente, aplicando os re- expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de administra-
cursos da melhor maneira do ponto de vista social? Sem dúvida que ção do jogo de interesses. As condições internacionais e a com-
os valores na administração pública devem ser outros, diferentes plexidade crescente da ordem social pressupõe um Estado dotado
dos princípios da administração privada. Não se pode apenas pen- de maior flexibilidade, capaz de descentralizar funções, transferir
responsabilidades e alargar, em lugar de restringir, o universo dos
sar em resultados na administração pública. A controle social deve
atores participantes, sem abrir mão dos instrumentos de controle
ser justamente o fiel da balança.
e supervisão. Evitar a captura do poder público é uma tarefa com-
Segundo Ribeiro (1997), a reforma administrativa, no Brasil,
plexa e implica estimular ou mesmo produzir um tecido associativo
não é um fenômeno isolado. Simultaneamente, existem fatores
favorável ao desempenho governamental eficiente.
de ordens diversas que influenciam a condução dos negócios. Os
O controle é uma ferramenta importante dentro da adminis-
fatores de dimensão econômica forçam a eficiência; os fatores de
tração. Sem controle os rumos não são corrigidos, os objetivos
ordem política cobram a efetividade, enquanto os fatores de di-
principais muitas vezes ficam colocados em segundo plano, há des-
mensão tecnológica possibilitam a transparência e a qualidade dos
perdício e inadequação no uso dos recursos. Além disso, quando
serviços. O controle dos resultados depende da conjugação desses prevalece a má-fé ocorrem também roubos e desmandos.
fatores. Um esforço de adequação institucional e uma reflexão O controle da administração pública surge dessa necessida-
mais profunda sobre o papel do controle nas organizações públi- de de correção de rumos frente aos interesses da sociedade, que
cas, em qualquer que seja o tipo de controle utilizado (preventivo, foram legitimados nas propostas dos candidatos vencedores nas
corretivo, quer na linguagem do paradigma gerencial), em contexto eleições, e da obrigação da utilização regular dos recursos públicos.
democrático e de revolução tecnológica, se fazem necessários. Aqui não nos interessa classificar o controle como interno, externo
Assim, uma ampla reforma, que implica maior flexibilidade para ou qualquer outra das diversas classificações possíveis. Nos inte-
a gestão, requer além de uma boa estruturação dos mecanismos ressa entender os mecanismos de controle de uma forma mais am-
de controle formais, também, que se abra perspectivas, principal- pla como parte de um processo administrativo e político. Assim, o
mente, para uma maior participação social e, consequentemente, processo poderia ser encarado com a seguinte sequência: proposta
para a ampliação da democracia participativa. O importante é que do candidato, eleição, planejamento (Plano Plurianual, Lei de Dire-
alcancemos uma situação inserida e regulada, como colocado por trizes Orçamentárias e Lei orçamentária anual), execução, controle
Martins (1997). Quando falamos em participação social, nos referi- e realimentação. O controle aparece como uma etapa do processo
mos entre outras coisas à responsabilização dos gestores públicos que procura assegurar o planejamento, dando informações para
pelos atos praticados e participação social nas políticas públicas, ou serem retroalimentadas.
seja, ao que se chama de accountability. Isto significa um estímulo Dentro deste enfoque, tudo estaria perfeito se não fosse ques-
à organização social, educação para a cidadania e participação efe- tionável a própria legitimidade do processo de democracia repre-
tiva na formulação das políticas públicas do governo. sentativa na elaboração da proposta e no planejamento fixado no
Entretanto, segundo Cunill Grau (1996), deve-se ter cuidado orçamento, além do ineficiente sistema de controle. Ou seja, existe
na geração de mecanismos de participação social. Os mecanismos uma grande distância entre o que é planejado e o interesse público
institucionalizados podem não estimular a organização social e, em e, ainda, uma ineficácia dos mecanismos de controle que poderiam
contrapartida, vir a se constituir em uma desarticulação do tecido corrigir os rumos. Sem conhecimento do funcionamento do siste-
social e fortalecer as assimetrias da representação social, redun- ma a sociedade assiste sem reação ao jogo político de interesses na
dando no enfraquecimento da sociedade civil. Apesar disso, a au- utilização dos recursos públicos.
tora fala que é necessária a criação de uma discriminação positiva Então, como controlar a administração? Como reduzir as prá-
para envolvimento dos atores interessados. As experiências mos- ticas neopatrimoniais? Os controles formais não são suficientes e
tram que esta é uma tarefa extremamente complicada, sobretudo sabe-se que é necessário controle de resultados. Muito se fala em
devido às limitações do próprio Estado. A autora ressalta, por fim, redução dos controles formais, atuação mais intensa no resultado e

4
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
controle social. A mudança de foco para os resultados depende de Ramos (1997) recomenda a necessidade de se adotar as medi-
mudanças na estrutura e nos procedimentos da administração. Já o das sugeridas pela teoria do agente-principal4 a fim de se enfrentar
controle social pressupõe uma sociedade organizada e consciente os problemas de adequação da estrutura de incentivos e da efe-
de seus direitos. Uma sociedade que conhece os caminhos da bu- tivação do controle social. Além disso, fala que se deve levar em
rocracia e tem condições efetivas de fiscalizar e cobrar resultados. conta o processo de negociação dos instrumentos e os sistemas de
O controle social pressupõe mecanismos formais de atuação aprendizado na administração pública com ênfase na capacitação
da sociedade e, ainda, que estes mecanismos sejam ágeis e conhe- do núcleo estratégico.
cidos. Porém, todos sabemos que mesmo as camadas mais privile- Przeworski(1998) faz uma discussão da teoria agent x princi-
giadas da nossa sociedade não tem o conhecimento suficiente de pal no texto “Sobre o desenho do Estado uma perspectiva agent
como funciona a máquina pública. Os procedimentos são obscuros x principal”. Outro ponto a ressaltar, diz despeito ao controle da
e não há a publicidade adequada dos atos que afetam diretamente administração pública sendo analisado sob dois aspectos: o político
as comunidades. Quando há a publicidade, os mecanismos de atu- e o administrativo. A reforma estabelece uma separação completa
ação não são suficientes para impedir e/ou coibir abusos. O patri- entre a política e administração, porém há laços indissociáveis nos
monialismo é muito forte na cultura de nossa administração (Pinho, dois temas.
1998). Torna-se difícil admitir que o controle social passará a atuar Analisando-se a história recente, veremos que a autonomia
naturalmente numa sociedade civil sem tradição de organização. pretendida na atual reforma já existia desde a Decreto Lei 200/67.
No entanto, a reforma administrativa em curso parte do princípio Naquele período, o Estado cresceu desordenadamente mediante a
que nossa sociedade está preparada e lança ao seu encargo tarefas multiplicação de entidades da administração indireta. O processo
que dificilmente serão cumpridas. A responsabilização dos gestores foi tão intenso que, apesar de excessivas normas e regulamentos,
(Accountability) fica longe de ser atingida. A Flexibilidade na admi- o controle político saiu das mãos do governo (Pinho, 1998). As em-
nistração é enfatizada, no plano de reforma, como forma de tornar
presas estatais, autarquias e fundações por vezes estavam estabe-
a administração mais eficiente e eficaz, porém pode estar deixando
lecendo políticas públicas. O controle político do governo central
a situação ainda mais crítica, já que não há grandes perspectivas de
estava profundamente comprometido.
controle social.
Na atual reforma, ao modificar-se a estrutura das relações com
Segundo Schwartzman (1996), a visão moderna da administra-
as atividades descentralizadas do governo, estabelece-se, entre-
ção parte do princípio de que o administrador é honesto até pro-
tanto, uma vinculação política fechada com o governo central. Prin-
va em contrário, dá ampla flexibilidade de ação para os dirigentes
cipalmente no caso das Organizações Sociais5 , onde os servidores
das organizações, e substitui os controles formais pela avaliação
deixam de entrar por concurso e são contratados no mercado por
de resultados. Porém, os controles formais continuam existindo
conselhos gestores. Tanto os conselhos gestores como a comis-
pelo fato de que a simples eliminação das restrições e controles
burocráticos não é suficiente para garantir o bom desempenho e a são de fiscalização da entidade serão indicados diretamente pelo
correção no uso dos recursos públicos por parte das instituições go- ministro da área. As políticas públicas serão elaboradas no núcleo
vernamentais.Neste problema temos dois pontos chaves: o desem- estratégico de forma centralizada (Bresser Pereira, 1996). Fica difí-
penho e o controle. O primeiro é marcado pela cultura e depende cil controlar as contratações políticas e malversação dos recursos
do mercado e das profissões que se exerce. Mercado e profissões públicos se há autonomia para tal e se os parâmetros estabelecidos
dentro do jogo econômico são mais fáceis de se criar, enquanto nos contratos de gestão forem cumpridos. O número de servidores
cultura faz parte de um processo de longa duração. O segundo pro- nas atividades descentralizadas é muito grande e, no sistema atu-
blema diz respeito ao controle, cujos órgãos oficiais, Tribunal de al, de difícil controle político. Com a reforma, a cooptação destas
Contas e Secretarias de Controle interno pecam pela falta de capa- camadas da administração se torna um trunfo poderoso dentro do
cidade técnica e legitimidade para exercer a função. Na perspectiva cenário político. Ficam ligados diretamente apenas uma parcela
do controle, o autor cita os contratos de gestão, tendo os conselhos menor de servidores, carreiras típicas de Estado, que continuariam
como um importante instrumento de coordenação e acompanha- entrando por concurso, porém com salários maiores e certamente
mento das ações governamentais. Este conselhos devem satisfa- por esse motivo vinculados aos preceitos da organização burocráti-
zer aos critérios de representatividade de pessoas da sociedade e ca do núcleo estratégico. Sem meios de controle social adequados,
devem ter um forte componente profissional que lhes possa dar os recursos públicos ficam à disposição dos grupos políticos no po-
prestígio, respeitabilidade e capacidade de trabalho coordenado der e distantes do interesse público.
(Schwartzman, 1996). Finalmente, vale colocar aqui um breve comentário sobre as
Os contratos de gestão se tornam peça muito importante, pois possibilidade de controle via sistemas informatizados. Indepen-
a relação entre as entidades de prestação de serviços descentrali- dente da mudança estrutural proposta, a reforma administrativa
zados e o Estado se darão basicamente por este tipo de contrato traz a intenção de fortalecimento dos sistemas informatizados de
após a reforma. Os controles passam a se restringir aos parâme- gestão pública que desempenham controles sobre a administração
tros que foram negociados nos contratos de gestão e, desta forma, financeira, orçamentária, patrimonial e de pessoal, a exemplo do
é importante verificar as possibilidades efetivas de convergência SIAFI, SIDOR, SISPLAN e SIAPE e outros sistemas que restabelecem
com o interesse público. Não podemos apenas mostrar os exem- mecanismos de controle há muito tempo perdidos. Estes sistemas
plos positivos e esquecer de avaliar com muita atenção as possibili- visam a centralização das informações que abrangem diversas áre-
dades de deficiências. Principalmente, se esta ferramenta passar a as: pessoal civil, serviços gerais, organização e modernização admi-
ser o instrumento de definição de parâmetros de controle. Podem nistrativa, informação e informática, planejamento e orçamento e
surgir diversas dificuldades na elaboração de contratos de gestão, controle interno do governo federal. Esta é uma medida de impor-
tais como: o que significa resultado para a administração pública?; tância imensurável no contexto de controle dos recursos públicos.
quais devem ser os parâmetros de controle?; os conselhos não po- O controle formal, antes exercidos com normas e procedimentos
deriam ser cooptados?; existirá capacitação técnica para exercer a escritos, agora passam a ser padronizados nos sistemas informati-
atividade de fiscalização?; qual deve ser o fluxo financeiro para as zados, tornando-se uma arma poderosa no acompanhamento dos
entidades de prestação de serviço descentralizado? resultados. A Internet pode ser também um canal para o controle

5
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
efetivo das ações e projetos das instituições públicas (Sato, 1997). A Além dessas características a Estrutura apresenta um sistema
informatização será no futuro a grande arma do sistema de contro- político pluripartidário, ou seja, é cabível o surgimento e a regula-
le social. Para isso é preciso uma grande vontade política, visto que rização de vários partidos políticos, sendo esses, a associação livre
os meios só dependem de investimento para viabilizar mecanismos e voluntaria de pessoas que comungam dos mesmos objetivos, in-
de controle social estruturados com base em informação desses teresses e ideais.
sistemas de informação. A Administração Pública é a atividade do Estado exercida pelos
Existem muitos benefícios no processo de descentralização, seus órgãos encarregados do desempenho das atribuições públi-
entre os quais flexibilidade e respostas mais rápidas a mudanças, cas, em outras palavras é o conjunto de órgãos e funções instituí-
mais eficiência, mais compromisso com os resultados e maior pro- dos e necessários para a obtenção dos objetivos do governo.
dutividade. A atividade administrativa, em qualquer dos poderes ou esfe-
Entretanto, não se pode esquecer o lado político. A reforma ras, obedece aos princípios da legalidade, impessoalidade, morali-
administrativa introduzida pelo PDRAE é marcada fortemente pela dade, publicidade e eficiência, como impõe a norma fundamental
dicotomia entre política e administração. O processo de flexibili- do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de
zação, pelo lado meramente administrativo traz maior dinâmica e 1988, que assim dispõe em seu caput: “Art. 37. A administração
eficiência. Porém, pelo lado político, pode implicar a manutenção e pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Es-
reforço de práticas neopatrimonialistas e de processos de corrup- tados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
ção, nepotismo, clientelismo e outras patologias no país, quando de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte”.
reduz mecanismos de controle formal em alguns setores e não es-
tabelece claramente mecanismos de controle social que traria uma
PRINCÍPIOS
regulação política.
Os princípios jurídicos orientam a interpretação e a aplicação
Os mecanismos de controle interno têm demonstrado que
de outras normas. São verdadeiras diretrizes do ordenamento jurí-
não são suficientes para garantir que o serviço público sirva sua dico, guias de interpretação, às quais a administração pública fica
clientela de acordo com os padrões normativos do governo demo- subordinada. Possuem um alto grau de generalidade e abstração,
crático. Além disso, a organização burocrática tem demonstrado bem como um profundo conteúdo axiológico e valorativo.
incapacidade em contrabalançar abusos como corrupção, condu- Os principais princípios da Administração Pública estão inseri-
ta aética e arbitrariedades do poder. Estabelecer uma situação de dos no artigo 37 “caput” da Constituição Federal (CF): legalidade,
participação social equilibrada é uma tarefa difícil, porém deve-se impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
ter a preocupação, na condução da reforma, no estabelecimento São cinco princípios, podendo ser facilmente memorizados
de mecanismos de controle adequados e, ainda, na estimulação da através da palavra LIMPE, vejam: L (legalidade); I (impessoalidade);
participação social que possibilite aos grupos organizados da socie- M (moralidade); P (publicidade); e E (eficiência).
dade uma participação efetiva neste processo de descentralização, Esses princípios têm natureza meramente exemplificativa, pos-
para que possamos ter um mínimo da dimensão do que se chama to que representam apenas o mínimo que a Administração Pública
accountability no setor público. deve perseguir quando do desempenho de suas atividades. Exem-
A reforma administrativa em curso parte do princípio que nos- plos de outros princípios: razoabilidade, motivação, segurança das
sa sociedade está preparada para o controle social e muda a estru- relações jurídicas.
tura da administração, transferindo para a sociedade uma tarefa Os princípios da Administração Pública são regras que surgem
que dificilmente será cumprida a curto prazo. Sem controle social, como parâmetros para a interpretação das demais normas jurídi-
a responsabilização dos gestores (Accountability) fica longe de ser cas. Têm a função de oferecer coerência e harmonia para o ordena-
atingida. mento jurídico. Quando houver mais de uma norma, deve-se seguir
aquela que mais se compatibiliza com a Constituição Federal, ou
O principal instrumento de relação do Estado com as entidades seja, deve ser feita uma interpretação conforme a Constituição.
de prestação de serviços descentralizados, no plano de reforma, Os princípios da Administração abrangem a Administração Pú-
será o contrato de gestão. Existem grandes dificuldades na elabo- blica direta e indireta de quaisquer dos Poderes da União, dos Esta-
ração dos contratos de gestão que devem ser consideradas no pro- dos, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 37 da CF/88).
cesso de reforma, que generaliza este tipo de instrumento como
1. Princípio da Legalidade
peça única para estabelecimento dos mecanismos de controle dos
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
recursos públicos repassados às entidades descentralizadas.
senão em virtude de lei (art. 5.º, II, da CF). O princípio da legalidade
O processo de informatização estabelecido com a reforma ad-
representa uma garantia para os administrados, pois qualquer ato
ministrativa traz uma grande possibilidade de restabelecimento de
da Administração Pública somente terá validade se respaldado em
controles e avaliação de resultados na administração pública. No lei. Representa um limite para a atuação do Estado, visando à pro-
futuro, os sistemas informatizados podem se tornar o grande aliado teção do administrado em relação ao abuso de poder.
nos mecanismos de controle social da administração pública.1 O princípio em estudo apresenta um perfil diverso no campo
do Direito Público e no campo do Direito Privado. No Direito Pri-
A estrutura do Estado Brasileiro é uma República, ou seja, o vado, tendo em vista o interesse privado, as partes poderão fazer
Chefe de Estado é eleito pelo povo, Republica essa formada pela tudo o que a lei não proíbe; no Direito Público, diferentemente,
União, Estados e Municípios, onde o exercício do poder é atribuído existe uma relação de subordinação perante a lei, ou seja, só se
a Poderes distintos, independentes e harmônicos entre si, sendo pode fazer o que a lei expressamente autorizar.
esses poderes o Legislativo (responsável pela elaboração das leis), Nesse caso, faz-se necessário o entendimento a respeito do
Executivo (execução dos programas de governo) e Judiciário (solu- ato vinculado e do ato discricionário, posto que no ato vinculado o
cionador dos conflitos entre cidadãos, entidades e Estado). administrador está estritamente vinculado ao que diz a lei e no ato
discricionário o administrador possui uma certa margem de discri-
1 Fonte: www.anpad.org.br - Texto adaptado de Francisco Carlos da Cruz Silva e
cionariedade. Vejamos:
Cláudio Fernando Macedo

6
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
a) No ato vinculado, o administrador não tem liberdade para A regra do princípio que veda o sigilo comporta algumas ex-
decidir quanto à atuação. A lei previamente estabelece um único ceções, como quando os atos e atividades estiverem relacionados
comportamento possível a ser tomado pelo administrador no fato com a segurança nacional ou quando o conteúdo da informação for
concreto; não podendo haver juízo de valores, o administrador não resguardado por sigilo (art. 37, § 3.º, II, da CF/88).
poderá analisar a conveniência e a oportunidade do ato. A publicidade, entretanto, só será admitida se tiver fim edu-
b) O ato discricionário é aquele que, editado debaixo da lei, cativo, informativo ou de orientação social, proibindo-se a promo-
confere ao administrador a liberdade para fazer um juízo de conve- ção pessoal de autoridades ou de servidores públicos por meio de
niência e oportunidade. aparecimento de nomes, símbolos e imagens. Exemplo: É proibido
A diferença entre o ato vinculado e o ato discricionário está no placas de inauguração de praças com o nome do prefeito.
grau de liberdade conferido ao administrador.
Tanto o ato vinculado quanto o ato discricionário só poderão 5. Princípio da Eficiência
ser reapreciados pelo Judiciário no tocante à sua legalidade, pois o A Emenda Constitucional nº 19 trouxe para o texto constitucio-
judiciário não poderá intervir no juízo de valor e oportunidade da nal o princípio da eficiência, que obrigou a Administração Pública
Administração Pública. a aperfeiçoar os serviços e as atividades que presta, buscando oti-
Importante também destacar que o princípio da legalidade, no mização de resultados e visando atender o interesse público com
Direito Administrativo, apresenta algumas exceções: Exemplo: maior eficiência.
Medidas provisórias: são atos com força de lei que só podem Para uma pessoa ingressar no serviço público, deve haver
ser editados em matéria de relevância e urgência. Dessa forma, o concurso público. A Constituição Federal de 1988 dispõe quais os
administrado só se submeterá ao previsto em medida provisória títulos e provas hábeis para o serviço público, a natureza e a com-
se elas forem editadas dentro dos parâmetros constitucionais, ou plexidade do cargo.
seja, se presentes os requisitos da relevância e da urgência; Para adquirir estabilidade, é necessária a eficiência (nomeação
por concurso, estágio probatório etc.). E para perder a condição
Estado de sítio e estado de defesa: são momentos de anor-
de servidor, é necessária sentença judicial transitada em julgado,
malidade institucional. Representam restrições ao princípio da le-
processo administrativo com ampla defesa e insuficiência de de-
galidade porque são instituídos por um decreto presidencial que
sempenho.
poderá obrigar a fazer ou deixar de fazer mesmo não sendo lei.
Há ainda outros princípios que a Administração Pública deve
2. Princípio da Impessoalidade
perseguir, dentre eles, podemos citar dois de grande importância;
Significa que a Administração Pública não poderá atuar discri-
a) Princípio da Motivação: É o princípio mais importante, visto
minando pessoas de forma gratuita, a Administração Pública deve
que sem a motivação não há o devido processo legal.
permanecer numa posição de neutralidade em relação às pessoas
No entanto, motivação, neste caso, nada tem haver com aque-
privadas. A atividade administrativa deve ser destinada a todos os
le estado de ânimo. Motivar significa mencionar o dispositivo legal
administrados, sem discriminação nem favoritismo, constituindo aplicável ao caso concreto, relacionar os fatos que concretamente
assim um desdobramento do princípio geral da igualdade, art. 5.º, levaram à aplicação daquele dispositivo legal.
caput, CF. Todos os atos administrativos devem ser motivados para que
Ex.: Quando da contratação de serviços por meio de licitação, a o Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo quanto
Administração Pública deve estar estritamente vinculada ao edital, à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem-se observar os
as regras devem ser iguais para todos que queiram participar da motivos dos atos administrativos.
licitação. Hely Lopes Meirelles entende que o ato discricionário, editado
sob a lei, confere ao administrador uma margem de liberdade para
3. Princípio da Moralidade fazer um juízo de conveniência e oportunidade, não sendo neces-
A atividade da Administração Pública deve obedecer não só à sária a motivação, porém, se houver tal motivação, o ato deverá
lei, mas também à moral. condicionar-se à referida motivação. O entendimento majoritário,
A Lei n. 8.429/92, no seu art. 9.º, apresentou, em caráter no entanto, é de que, mesmo no ato discricionário, é necessária a
exemplificativo, as hipóteses de atos de improbidade administrati- motivação para que se saiba qual o caminho adotado.
va; esse artigo dispõe que todo aquele que objetivar algum tipo de
vantagem patrimonial indevida, em razão de cargo, mandato, em- b) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Par-
prego ou função que exerce, estará praticando ato de improbidade ticular: Sempre que houver necessidade de satisfazer um interes-
administrativa. São exemplos: se público, em detrimento de um interesse particular, prevalece o
Usar bens e equipamentos públicos com finalidade particular; interesse público. São as prerrogativas conferidas à Administração
Intermediar liberação de verbas; Pública, porque esta atua por conta dos interesses públicos.
Estabelecer contratação direta quando a lei manda licitar; O administrador, para melhor se empenhar na busca do inte-
Vender bem público abaixo do valor de mercado; resse público, possui direitos que asseguram uma maior amplitude
Adquirir bens acima do valor de mercado (superfaturamento). e segurança em suas relações.
No entanto, sempre que esses direitos forem utilizados para
Os atos de improbidade podem ser combatidos através de ins- finalidade diversa do interesse público, o administrador será res-
trumentos postos à disposição dos administrados, são eles; ponsabilizado e surgirá o abuso de poder.
Ação Popular, art. 5.º, LXXIII, da CF; e
Ação Civil Pública, Lei n. 7347/85, art. 1.º. O autor Censo Antonio Bandeira de Mello, defende que a fun-
ção do Estado ou a função publica como sendo a atividade exercida
4. Princípio da Publicidade no cumprimento do dever de alcançar o interesse publico.
É o dever atribuído à Administração, de dar total transparência A Administração se dá de forma Direta que é representada pe-
a todos os atos que praticar, ou seja, como regra geral, nenhum ato los orgãos do poder público cujas atribuições lhe são típicas (União,
administrativo pode ser sigiloso. Estados, DF e Municípios), definida pela Presidência e Ministérios,

7
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Governo e Secretarias Estaduais e Municipais e de forma Indireta, e hierarquia. Administrar para muitos significa não só prestar servi-
que é composta pelas Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades ços e executá-los, como também governar e exercer a vontade com
de Economia Mista e Fundações Públicas, com personalidade jurí- o objetivo de obter um resultado útil a coletividade. Administrar
dica própria, mas ligadas ao Estado, enquanto que a administração significa também planejar e elaborar ações no sentido de enfrentar
indireta compreende as entidades, dotadas de personalidade jurí- os problemas vividos diariamente pela sociedade, ou seja, elaborar
dica própria, como autarquias, empresas públicas, sociedades de Políticas Públicas que possam orientar as ações governamentais.
economia mista, fundações e o consórcio público. Em suma podemos definir Administração Pública como toda ativi-
dade do Estado. Logo, podemos formular conceito próprio partindo
A ADM Pública representa a atuação direta do Estado através da visão de Hely Lopes Meirelles: “O estudo da Administração Pú-
de suas unidades. blica em geral, compreendendo a sua estrutura e as suas ativida-
A ADM indireta é um conjunto de entidades com personali- des, deve partir do conceito de Estado, sobre o qual repousa toda a
dade jurídica que estão vinculados à um órgão da Administração concepção moderna de organização e funcionamento dos serviços
Direta, prestando serviço publico ou de interesse publico, isto é, públicos a sere
corresponde àquelas pessoas jurídicas de direito publico e privado, O autor Censo Antonio Bandeira de Mello, defende que a fun-
que tem por finalidade auxiliar a administração direta na execução ção do Estado ou a função publica como sendo a atividade exercida
de determinadas atividades. no cumprimento do dever de alcançar o interesse publico.
A Administração se dá de forma Direta que é representada pe-
A ADM direta desempenha atividade centralizada, abrangendo los órgãos do poder público cujas atribuições lhe são típicas (União,
os três poderes estruturais e sua composição é assim formada: Estados, DF e Municípios), definida pela Presidência e Ministérios,
• Executivo Governo e Secretarias Estaduais e Municipais e de forma Indireta,
• - Esfera Federal. que é composta pelas Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades
• Presidência da República de Economia Mista e Fundações Públicas, com personalidade jurí-
• (Casa civil e a secretaria geral) dica própria, mas ligadas ao Estado, enquanto que a administração
• Órgãos de assessoramento imediato. indireta compreende as entidades, dotadas de personalidade jurí-
• (Assessoria especial e advogado-geral da união) dica própria, como autarquias, empresas públicas, sociedades de
• Órgão de consulta. economia mista, fundações e o consórcio público.
• (Conselho da República e conselho de defesa nacional) A estruturação da Máquina Administrativa veio de um modelo
• Ministérios. patrimonial percebida até década de 30, na sequencia veio a Era
• - Cada um destinado à determinada área de atuação ad- Vargas, onde vemos o modelo burocrático e na segunda metade
da década de 90, deu início a implementação do modelo gerencial.
ministrativa.
Podemos dividir essa estruturação em sete etapas, quais se-
• (Ex.; Justiça, desporto, educação etc.)
jam:
• Poderes Legislativo e Judiciário.
1) 1930 a 1945 – Burocratização da Era Vargas: Nessa primeira
• Têm sua estrutura orgânica definida em seus respectivos
etapa, em decorrência do Estado patrimonial, da falta de qualifica-
atos de organização administrativa. O legislativo tem poder consti-
ção técnica dos servidores, da crise econômica mundial e da difu-
tucional de dispor sobre sua organização e funcionamento
são da teoria keynesiana, que pregava a intervenção do Estado na
• Judiciário, da mesma forma, tem capacidade de auto or-
Economia, o governo autoritário de Vargas resolve modernizar a
ganização em relação a cada um dos seus tribunais.
máquina administrativa brasileira através dos paradigmas burocrá-
• Esfera Estadual. ticos difundidos por Max Weber. O auge dessas mudanças ocorre
• Similar ao Federal. em 1936 com a criação do Departamento Administrativo do Serviço
• - Executivo, legislativo e Judiciário. Público (DASP), que tinha como atribuição modernizar a máquina
• Esfera Municipal administrativa utilizando como instrumentos a afirmação dos prin-
• - Administração direta na esfera municipal. cípios do mérito, a centralização, a separação entre público e pri-
• - O município não tem judiciário próprio. vado, a hierarquia, a impessoalidade, a rigidez e universalidade das
regras e a especialização e qualificação dos servidores.
Já a ADM indireta é o conjunto de pessoas administrativas, 2) 1956 a 1960 – A administração paralela de JK: A administra-
vinculadas à administração direta, cuja natureza de função é a ção paralela foi um artifício utilizado pelo governo JK para atingir o
execução de algumas tarefas de seu interesse por outras pessoas seu Plano de Metas e seguir seu projeto desenvolvimentista. Surgiu
jurídicas, sendo que, em conformidade com a CF, todas as entida- com a criação de estruturas alheias à Administração Direta.
des federativas poder ter sua Administração Indireta, desde que, a 3) 1967 – A reforma militar: Durante a ditadura militar, a ad-
competência para a atividade seja sua e haja interesse na descen- ministração pública passa por novas transformações, tais como: A
tralização. Conforme previsto no Decreto-Lei 200/67, a ADM indi- ampliação da função econômica do Estado com a criação de várias
reta é composta por: empresas estatais, a facilidade de implantação de políticas – em de-
• autarquia corrência da natureza autoritária do regime, e o aprofundamento
• empresa publica da divisão da administração pública, mais especificamente através
• sociedade de economia mista do Decreto-Lei 200/67, que distinguiu claramente a Administração
• fundação publica Direta (exercida por órgãos diretamente subordinados aos minis-
térios) da indireta (formada por autarquias, fundações, empresas
Vale ressaltar que, tanto uma como a outra obedecerão os públicas e sociedades de economia mista). Essa reforma trouxe
princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralida- modernização, padronização e normatização nas áreas de pesso-
de, publicidade e eficiência (art. 37, Constituição Federal de 1988). al, compras e execução orçamentária, estabelecendo ainda, cinco
A Administração pode assumir duas vertentes: a primeira é a princípios estruturais da administração pública: planejamento, co-
ideia de servir e executar; a segunda envolve a ideia de direção ou ordenação, descentralização, delegação de competências e contro-
gestão. Nas duas visões há a presença da relação de subordinação le.

8
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
4) 1988 – A administração pública na nova Constituição: A Autores mais recentes definem o tipo organizacional pós-buro-
nova Constituição da República Federativa do Brasil voltou a for- crático como organizações simbolicamente intensivas, produtoras
talecer a Administração Direta instituindo regras iguais as que de- de consenso através da institucionalização do diálogo. Essas organi-
veriam ser seguidas pela administração pública indireta, principal- zações seriam mais especificamente caracterizadas por:
mente em relação à obrigatoriedade de concursos públicos para  constituir grupos de trabalho flexíveis e forças-tarefa com
investidura na carreira e aos procedimentos de compras públicas. objetivos claros;
5) 1990 – O governo Collor e o desmonte da máquina públi-  criar espaços para diálogo e conversação;
ca : Essa etapa da administração pública brasileira é marcada pelo  enfatizar confiança mútua;
retrocesso da máquina administrativa, o governo promoveu a ex-  usar o conceito de missão como ferramenta estratégica;
tinção de milhares de cargos de confiança, a reestruturação e a ex-  disseminar informação;
tinção de vários órgãos, a demissão de outras dezenas de milhares  criar redes de difusão e recuperação de conhecimento;
de servidores sem estabilidade e tantos outros foram colocados em  criar mecanismos de feedback e avaliação de performan-
disponibilidade. Segundo estimativas, foram retirados do serviço ce
público, num curto período e sem qualquer planejamento, cerca de  criar capacidade de resiliência e flexibilidade na organi-
100 mil servidores. zação
6) 1995/2002 – O gerencialismo da Era FHC: A reforma admi-
nistrativa foi o ícone do governo Fernando Henrique Cardoso em No entanto, organizações baseadas em princípios como esses
relação à administração pública brasileira. A reforma gerencial teve são particularmente raras e, na verdade, mesmo os defensores do
como instrumento básico o Plano Diretor da Reforma do Aparelho conceito de pós-burocracia concedem que, como tipo ideal, organi-
do Estado (PDRAE), que visava à reestruturação do aparelho do Es- zações verdadeiramente pós-burocráticas não existem.
tado para combater, principalmente, a cultura burocrática.
7) Nova Administração Pública: O movimento “reinventando A evolução dos modelos de gestão na Administração Pública
o governo” difundido nos EUA e a reforma administrativa de 95, Vamos a partir de agora tratar da Administração Pública no
introduziram no Brasil a cultura do management, trazendo técnicas Brasil, considerando a evolução histórica do modo pelo qual a ges-
do setor privado para o setor público e tendo como características tão das organizações governamentais vem sendo praticada em
básicas: nosso país. A importância do tema reside no fato de que a Admi-
● O foco no cliente
nistração Pública em todo o mundo vem experimentando um pro-
● A reengenharia
cesso de profundas transformações, que se iniciou na década de
● Governo empreendedor
70, formado por um conjunto amplo de correntes de pensamento,
● Administração da qualidade total
que formam a chamada “Nova Gestão Pública”. Esse processo tam-
O modelo de administração pública burocrática, ou racional-
bém ocorre no Brasil. Para entender o que é a gestão pública hoje,
-legal, foi adotado em muitos países visando a substituição aquele
precisamos retroceder no tempo e analisar sua evolução ao longo
tipo de administração onde patrimônio público e privado eram con-
das décadas.
fundidos, O modelo burocrático visava o combate do clientelismo,
Nos últimos anos assistimos em todo o mundo a um debate
nepotismo, empreguismo e, até mesmo, da corrupção
acalorado – ainda longe de concluído – sobre o papel que o Estado
Ocorre que o modelo burocrático sofreu o ataque natural do
tempo, não sendo o mais apropriado para gerir as estruturas do deve desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção
Estado. Para responder a essas limitações do modelo burocrático, que deve ter na economia. Nos anos 50, o economista Richard Mus-
houve a adoção de certos padrões gerenciais na administração pú- grave enunciou as três funções clássicas do Estado:
blica. Esses novos modelos teóricos acerca da gestão do Estado foi • Função alocativa: prover os bens e serviços não adequada-
chamado de Nova Administração Pública. mente fornecidos pelo mercado
Trata-se de um modelo mais flexível e mais próximo das prá- • Função distributiva: promover ajustamentos na distribuição
ticas de gestão do setor privado, conhecido como administração da renda;
pública gerencial. No Brasil, a tentativa de se implantar tais teorias • Função estabilizadora: evitar grandes flutuações nos níveis
se deu com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho, de inflação e desemprego.
com uma série de diretrizes a serem implementadas na administra-
ção pública denominando esse modelo de pós-burocrático. De fato, entre o período que vai de 1945 (final da segunda
A partir da década de 90, o foco central das discussões de po- guerra mundial) e 1973(ano do choque do petróleo), a economia
líticos e formuladores de políticas públicas passou a ser a reforma mundial experimentou uma grande expansão econômica, levando
administrativa. Com isso, deu-se início à implementação de novas este período a ser denominado de “era dourada”.
formas de gestão, com modelos mais próximos daqueles emprega- Desenvolveu-se a figura do Estado-Provedor de bens e servi-
dos na iniciativa privada. ços, também chamado de Estado de Bem-Estar Social. Houve uma
Assim, a denominação de gerencialismo na administração pú- grande expansão do Estado (e, consequentemente, da Adminis-
blica seria referente ao desafio de realizar programas direcionados tração Pública), logicamente com um crescimento importante dos
ao aumento da eficiência e melhoria da qualidade dos serviços custos de funcionamento da máquina pública. A partir dos anos 70,
prestados pelo Estado. O gerencialismo seria um pluralismo organi- o ritmo de expansão da economia mundial diminui, e o Estado co-
zacional sob bases pós-burocráticas vinculadas aos padrões histó- meça a ter problemas no desempenho de suas funções, perdendo
ricos (institucionais e culturais) de cada nação, não se constituindo gradativamente a capacidade de atender às crescentes demandas
num novo paradigma capaz de substituir por completo o antigo sociais. Esta situação, aliada a um processo de crescente endivida-
padrão burocrático. mento público, acarretaria mais tarde, principalmente nos anos
Esse novo modelo não se materializou de modo completo, de 80, a chamada crise fiscal do Estado: a perda de sua capacidade de
forma a poder ser reconhecido um novo mecanismo de governança realizar os investimentos públicos necessários a um novo ciclo de
do Estado, capaz de atuar totalmente independente da burocracia. expansão econômica. Da crise fiscal passamos à crise de gestão do

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Estado, uma vez que a percepção dos cidadãos sobre a disponibi- Portanto, segundo a ideia da reforma, o Estado reduziria seu
lidade de serviços públicos se deteriora gradativamente, à medida papel de executor ou provedor direto de serviços, mantendo-se,
que o Estado perde a capacidade de realizar suas funções básicas, entretanto, no papel de regulador e provedor indireto ou promo-
e não consegue acompanhar as pressões crescentes por mais saú- tor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e
de, educação, segurança pública, saneamento, etc…Essa crise de saúde, etc. Como promotor desses serviços, o Estado continuará a
gestão implica na tentativa de superar as limitações do modelo de subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e
gestão vigente até então, conhecido como “modelo burocrático”, a participação da sociedade.
transformando-o em algo novo, mais parecido como o modo de Nessa nova perspectiva, busca-se o fortalecimento das funções
gestão do setor privado, conhecido na área pública como “modelo de regulação e de coordenação do Estado, particularmente no nível
gerencial”. federal, e a progressiva descentralização vertical, para os níveis es-
Assim, a redefinição do próprio papel do Estado é um tema tadual e municipal, das funções executivas no campo da prestação
de alcance universal nos anos 90. No Brasil, essa questão adquiriu de serviços sociais e de infraestrutura.
importância decisiva, tendo em vista o peso da presença do Esta- Considerando essa tendência, pretende-se reforçar a gover-
do na economia nacional: tornou-se um tema constante a questão nança, a capacidade de governo do Estado, através da transição
da reforma do Estado, uma vez que o mesmo não conseguia mais programada de um tipo de administração pública burocrática, rí-
atender com eficiência a sobrecarga de demandas a ele dirigidas, gida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle inter-
sobretudo na área social. Em resumo, a Crise do Estado define-se no, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente,
como: voltada para o atendimento do cidadão, melhorando a capacidade
1. Uma crise fiscal, caracterizada pela deterioração crescente do Estado de implementar as políticas públicas, sem os limites, a
das finanças públicas, sendo o déficit público um fator de redução rigidez e a ineficiência da sua máquina administrativa.
de investimentos na área privada;
2. Uma crise do modo de intervenção do Estado na economia, As três formas de Administração Pública
com o esgotamento da estratégia estatizante; as empresas públicas No plano administrativo, a administração pública burocrática
não mais teriam condições de alavancar o crescimento econômico surgiu no século passado conjuntamente com o Estado liberal, exa-
dos países; o paradigma do Estado interventor, nos moldes da eco- tamente como uma forma de defender a coisa pública contra o pa-
nomia Keynesiana estava cada vez mais ultrapassado; trimonialismo. Na medida, porém, que o Estado assumia a respon-
3. Uma crise da forma de administrar o Estado, isto é, a supe- sabilidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimensão,
ração da administração pública burocrática, rumo à administração os custos dessa defesa passaram a ser mais altos que os benefícios
pública gerencial. do controle. Por isso, neste século as práticas burocráticas vêm
cedendo lugar a um novo tipo de administração: a administração
No Brasil, a principal repercussão destes fatos foi a Reforma do gerencial.
Estado nos anos 90,cujos principais pontos eram: Assim, partindo-se de uma perspectiva histórica, verifica-se
1. O ajuste fiscal duradouro, com a busca do equilíbrio das con- que a administração pública evoluiu através de três modelos bá-
tas públicas; sicos: a administração pública patrimonialista, a burocrática e a
2. A realização de reformas econômicas orientadas para o mer- gerencial. Essas três formas se sucedem no tempo, sem que, no
cado, que, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, entanto, qualquer uma delas seja inteiramente abandonada.
garantissem a concorrência interna e criassem as condições para o Administração Pública Patrimonialista
enfrentamento da competição internacional; Nas sociedades anteriores ao advento do Capitalismo e da De-
3. A reforma da previdência social, procurando-se dar susten- mocracia, o Estado aparecia como um ente “privatizado”, no senti-
tabilidade à mesma, equilibrando-se os montantes de contribui- do de que não havia uma distinção clara, por parte dos governan-
ções e benefícios; tes, entre o patrimônio público e o seu próprio patrimônio privado.
4. A inovação dos instrumentos de política social, proporcio-
nando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os O Rei ou Monarca estabelecia seu domínio sobre o país de
serviços sociais; forma absoluta, não aceitando limites entre a res publica e a res
5. A reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua principis. Ou seja, a “coisa pública” se confundia com o patrimô-
“governança” ou seja, sua capacidade de implementar de forma nio particular dos governantes, pois não havia uma fronteira muito
eficiente as políticas públicas. bem definida entre ambas.
Nessas condições, o aparelho do Estado funcionava como uma
A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores,
devolveria ao Estado a capacidade de definir e implementar polí- possuiam status de nobreza real. Os cargos eram considerados pre-
ticas públicas. Através da liberalização comercial, o Estado aban- bendas, ou seja, títulos passíveis de negociação, sujeitos à discricio-
donaria a estratégia protecionista da substituição de importações. nariedade do governante.
Nesse contexto, o programa de privatizações levado a cabo nos A corrupção e o nepotismo eram inerentes a esse tipo de ad-
anos90 foi uma das formas de se perseguir tais objetivos. Por esse ministração. O foco não se encontrava no atendimento das neces-
programa, transferiu se para o setor privado a tarefa da produção, sidades coletivas mas, sobretudo, nos interesses particulares do
dado o pressuposto de que este, a princípio, realizaria tal atividade soberano e de seus auxiliares.
de forma mais eficiente. Este cenário muda no final do século XIX, no momento em que
Finalmente, por meio de um programa de publicação, preten- o capitalismo e a democracia se tornam dominantes. Mercado e
dia-se transferir para o setor público não-estatal a produção dos Sociedade Civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo mo-
serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecen- mento histórico, a administração patrimonialista torna-se inaceitá-
do-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu vel, pois não mais cabia um modelo de administração pública que
financiamento e controle. privilegiava uns poucos em detrimento de muitos.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As novas exigências de um mundo em transformação, com o Dominação de caráter tradicional
desenvolvimento econômico que se seguia, trouxeram a necessida- Deriva da crença quotidiana na santidade das tradições que vi-
de de reformulação do modo de gestão do Estado. goram desde tempos distantes e na legitimidade daqueles que são
indicados por essa tradição para exercer a autoridade.
Administração Pública BurocráticaSurge na segunda metade A obediência é devida à pessoa do “senhor”, indicado pela tra-
do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de combater dição. A obediência dentro da família, dos feudos e das tribos é do
a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Constituem princípios tipo tradicional. Nos sistemas em que vigora a dominação tradicio-
orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a ideia nal, as pessoas têm autoridade não por causa de suas qualidades
de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, intrínsecas, como acontece no caso carismático, mas por causa das
em síntese, o poder racional legal. instituições tradicionais que representam. É o caso dos sacerdotes
Os controles administrativos implantados visam evitar a cor- e das lideranças, no âmbito das instituições, como os partidos polí-
rupção e o nepotismo. A forma de controle é sempre a priori, ou ticos e as corporações militares.
seja, controle dos procedimentos, das rotinas que devem nortear a
realização das tarefas. Dominação de caráter racional
Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores pú- Decorre da legalidade de normas instituídas racionalmente e
blicos e nos cidadãos que a eles dirigem suas diversas demandas dos direitos de mando das pessoas a quem essas normas respon-
sociais. Por isso, são empregados controles rígidos dos processos sabilizam pelo exercício da autoridade. A autoridade, portanto, é a
como, por exemplo, na admissão de pessoal, nas compras e no contrapartida da responsabilidade.
atendimento aos cidadãos. No caso da autoridade legal, a obediência é devida às normas
Uma consequência disto é que os próprios controles se tornam impessoais e objetivas, legalmente instituídas, e às pessoas por elas
o objetivo principal do funcionário. Dessa forma, o Estado volta-se designadas, que agem dentro de uma jurisdição. A autoridade ra-
para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir cional fundamenta-se em leis que estabelecem direitos e deveres
à sociedade. para os integrantes de uma sociedade ou organização. Por isso, a
A principal qualidade da administração pública burocrática é autoridade que Weber chamou de racional é sinônimo de autori-
o controle dos abusos contra o patrimônio público; o principal de- dade formal.
feito, a ineficiência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos
cidadãos vistos como “clientes”. Uma sociedade, organização ou grupo que depende de leis ra-
Esse defeito, entretanto, não se revelou determinante na épo- cionais tem estrutura do tipo legal-racional ou burocrática. É uma
ca do surgimento da administração pública burocrática porque os burocracia.
serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a A autoridade legal-racional ou autoridade burocrática substi-
manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a tuiu as fórmulas tradicionais e carismáticas nas quais se baseavam
propriedade. O problema começou a se tornar mais evidente a par- as antigas sociedades. A administração burocrática é a forma mais
tir da ampliação da participação do Estado na vida dos indivíduos. racional de exercer a dominação. A burocracia, ou organização bu-
Valem aqui alguns comentários adicionais sobre o termo “Bu- rocrática, possibilita o exercício da autoridade e a obtenção da obe-
rocracia”. diência com precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiança.
Max Weber, importante cientista social, ocupou-se de inúme-
ros aspectos das sociedades humanas. Na década de 20, publicou Portanto, todas as organizações formais são burocracias. A
estudos sobre o que ele chamou o tipo ideal de burocracia, ou seja, palavra burocracia identifica precisamente as organizações que se
um esquema que procura sintetizar os pontos comuns à maioria baseiam em regulamentos. A sociedade organizacional é, também,
das organizações formais modernas, que ele contrastou com as so- uma sociedade burocratizada. A burocracia é um estágio na evolu-
ciedades primitivas e feudais. As organizações burocráticas seriam ção das organizações.
máquinas totalmente impessoais, que funcionam de acordo com De acordo com Weber, as organizações formais modernas ba-
regras que ele chamou de racionais – regras que dependem de lógi- seiam-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são
ca e não de interesses pessoais. racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pes-
Weber estudou e procurou descrever o alicerce formal-legal soas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente.
em que as organizações reais se assentam. Sua atenção estava di- O tipo ideal de burocracia, formulado por Weber, apresenta
rigida para o processo de autoridade obediência (ou processo de três características principais que diferenciam estas organizações
dominação) que, no caso das organizações modernas, depende de formais dos demais grupos sociais:
leis. No modelo de Weber, as expressões “organização formal” e • Formalidade: significa que as organizações são constituídas
“organização burocrática” são sinônimas. com base em normas e regulamentos explícitos, chamadas leis, que
“Dominação” ou autoridade, segundo Weber, é a probabilida- estipulam os direitos e deveres dos participantes.
de de haver obediência dentro de um grupo determinado. Há três • Impessoalidade: as relações entre as pessoas que integram
tipos puros de autoridade ou dominação legítima (aquela que conta as organizações burocráticas são governadas pelos cargos que elas
com o acordo dos dominados): ocupam e pelos direitos e deveres investidos nesses cargos. Assim,
o que conta é o cargo e não a pessoa. A formalidade e a impesso-
Dominação de caráter carismático alidade, combinadas, fazem a burocracia permanecer, a despeito
Repousa na crença da santidade ou heroísmo de uma pessoa. das pessoas.
A obediência é devida ao líder pela confiança pessoal em sua re- • Profissionalismo: os cargos de uma burocracia oferecem a
velação, heroísmo ou exemplaridade, dentro do círculo em que se seus ocupantes uma carreira profissional e meios de vida. A partici-
acredita em seu carisma. pação nas burocracias tem caráter ocupacional.
A atitude dos seguidores em relação ao dominador carismático
é marcada pela devoção. Exemplos são líderes religiosos, sociais ou
políticos, condutores de multidões de adeptos. O carisma está asso-
ciado a um tipo de influência que depende de qualidades pessoais.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Apesar das vantagens inerentes nessa forma de organização, 2. A garantia de autonomia do administrador na gestão dos re-
as burocracias podem muitas vezes apresentar também uma série cursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à
de disfunções, conforme a seguir: disposição para que possa atingir os objetivos contratados;
• Particularismo – Defender dentro da organização interesses 3. O controle ou cobrança posterior dos resultados.
de grupos internos, por motivos de convicção, amizade ou interes-
se material. Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no in-
• Satisfação de Interesses Pessoais – Defender interesses pes- terior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer
soais dentro da organização. concorrência entre unidades internas.
• Excesso de Regras – Multiplicidade de regras e exigências No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a
para a obtenção de determinado serviço. redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma,
• Hierarquia e individualismo – A hierarquia divide responsabi- afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior
lidades e atravanca o processo decisório. Realça vaidades e estimu- participação dos agentes privados e/ou das organizações da socie-
la disputas pelo poder. dade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os
• Mecanicismo – Burocracias são sistemas de cargos limitados, resultados (fins).
que colocam pessoas em situações alienantes. A administração pública gerencial inspira-se na administra-
ção de empresas, mas não pode ser confundida com esta última.
Portanto, as burocracias apresentam dois grandes “proble- Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro
mas” ou dificuldades: em primeiro lugar, certas disfunções, que as privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, espe-
descaracterizam e as desviam de seus objetivos; em segundo lugar, rando-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendi-
ainda que as burocracias não apresentassem distorções, sua estru- do, a administração pública gerencial está explícita e diretamente
tura rígida é adequada a certo tipo de ambiente externo, no qual voltada para o interesse público.
não há grandes mudanças. A estrutura burocrática é, por natureza, Neste último ponto, como em muitos outros (profissionalismo,
conservadora, avessa a inovações; o principal é a estabilidade da impessoalidade), a administração pública gerencial não se diferen-
organização. cia da administração pública burocrática. Na burocracia pública
Mas, como vimos, as mudanças no ambiente externo determi- clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público.
nam a necessidade de mudanças internas, e nesse ponto o paradig- A diferença, porém, está no entendimento do significado do inte-
ma burocrático torna-se superado. resse público, que não pode ser confundido com o interesse do pró-
prio Estado. Para a administração pública burocrática, o interesse
Administração Pública Gerencial público é frequentemente identificado com a afirmação do poder
Surge na segunda metade do século XX, como resposta à ex- do Estado.
pansão das funções econômicas e sociais do Estado e ao desenvol- A administração pública gerencial vê o cidadão como contri-
vimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma buinte de impostos e como uma espécie de “cliente” dos seus ser-
vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à ado- viços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não
ção do modelo anterior. porque os processos administrativos estão sob controle estão segu-
Torna-se essencial a necessidade de reduzir custos e aumentar ros, como quer a administração pública burocrática, mas porque as
a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário, resul- necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas.
tando numa maior eficiência da administração pública. A reforma O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos
do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige for-
pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços pú- mas flexíveis de gestão, de estruturas, descentralização de funções,
blicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas orga- incentivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do formalismo e
nizações. do rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática,
A administração pública gerencial constitui um avanço, e até à recompensa pelo desempenho, e à capacitação permanente, que
certo ponto um rompimento com a administração pública burocrá- já eram características da boa administração burocrática, acrescen-
tica. Isso não significa, entretanto, que negue todos os seus princí- tam-se os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do con-
pios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada trole por resultados, e da competição administrada.
na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos
seus princípios fundamentais, como: Alguns fatores contribuíram para o surgimento das teorias da
• A admissão segundo rígidos critérios de mérito (concurso pú- administração, entre eles podemos citar:
blico);  Consolidação do capitalismo (lógica de mercado) e de no-
• A existência de um sistema estruturado e universal de remu- vos modos de produção e organização de trabalho, que levou ao
neração (planos de carreira); processo de modernização da sociedade (substituição da autorida-
• A avaliação constante de desempenho (dos funcionários e de de tradicional pela autoridade racional-legal);
suas equipes de trabalho);  Crescimento acelerado da produção e força de trabalho
• O treinamento e a capacitação contínua do corpo funcional. desqualificada;
 Ausência de sistematização de conhecimentos em gestão.
A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa
de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados. A ri- Vamos estudar detalhadamente cada uma das principais abor-
gorosa profissionalização da administração pública continua sendo dagens.
um princípio fundamental.
Abordagem Clássica
Na administração pública gerencial a estratégia volta-se para: A abordagem clássica da administração se divide em:
1. A definição precisa dos objetivos que o administrador públi-  Administração Científica – defendida por Frederick Taylor
co deverá atingir sua unidade;  Teoria Clássica – defendida por Henry Fayol

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os dois autores acima citados partiram de pontos distintos Princípios Gerais da Administração Clássica
com a preocupação de aumentar a eficiência na empresa. • Divisão do Trabalho: especializar funções;
Taylor se preocupava basicamente com a execução das tarefas • Autoridade e Responsabilidade: direito de mandar e poder
enquanto Fayol se preocupava com a estrutura da organização. de se fazer obedecer;
• Disciplina: estabelecer convenções, formais e informais com
 Administração Científica - Pressupostos de Frederick seus agentes, para trazer obediência e respeito;
Taylor • Unidade de comando: recebimento de ordens de apenas um
• Organização Formal. superior – princípio escalar;
• Visão de baixo para cima; das partes para o todo. • Unidade de direção: um só chefe e um só programa para um
• Estudo das Tarefas, Métodos, Tempo padrão. conjunto de operações que tenham o mesmo objetivo;
• Salário, incentivos materiais e prêmios de produção. • Subordinação do particular ao geral: O interesse da empresa
• Sistema fechado: foco nos processos internos e operacionais. deve prevalecer ao interesse individual;
• Padrão de Produção: eficiência, racionalidade. • Remuneração do pessoal: premiar e recompensar;
• Divisão equitativa de trabalho e responsabilidade entre dire- • Centralização: concentrar autoridade no topo;
ção e operário. • Cadeia escalar ou linha de comando: linha de autoridade que
• Ser humano egoísta, racional e material: homo economicus; vai do topo ao mais baixo escalão;
• Estudo de Tempos e Movimentos e Métodos; • Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar;
• Desenho de Cargos e Tarefas; • Equidade: tratar de forma benevolente e justa;
• Seleção Científica do Trabalhador (eliminação de todos que • Estabilidade: manter as pessoas em suas funções para que
não adotem os métodos); possam desempenhar bem;
• Preocupação com Fadiga e com as condições de trabalho; • Iniciativa: liberdade de propor, conceber e executar;
• Padronização de instrumentos de trabalho; • Espírito de equipe: harmonia e união entre as pessoas.
• Divisão do Trabalho e Especialização;
• Supervisão funcional: autoridade relativa e dividida a depen- Comparativo entre Administração Científica e Escola Clássica
der da especialização e da divisão de trabalho. Enquanto a administração científica preocupava-se na melho-
ria da produtividade no nível operacional a gestão administrativa
Princípios da Administração Científica preocupava-se com a organização em geral e a busca da efetivida-
• Desenvolvimento de uma ciência de Trabalho: uma investi- de.
gação científica poderá dizer qual a capacidade total de um dia de
trabalho, para que os chefes saibam a capacidade de seus operá- Abordagem Burocrática – Trata-se de uma teoria que também
rios; tem por escopo a estrutura organizacional. Foi defendida pelo so-
• Seleção e Desenvolvimento Científicos do Empregado: para ciólogo e economista alemão Max Weber que é considerado o “pai
atingir o nível de remuneração prevista o operário precisa preen- da burocracia”.
cher requisitos; Weber distingue três tipos de sociedade e autoridades legíti-
• Combinação da Ciência do trabalho com a Seleção do Pes- mas:
soal: os operários estão dispostos a fazer um bom trabalho, mas os • Tradicional: patrimonial, patriarcal, hereditário e delegável.
velhos hábitos da administração resistem à inovação de métodos; • Carismática: personalística, mística.
• Cooperação entre Administração e Empregados: uma cons- • Legal, racional ou burocrática: impessoal, formal, meritocrá-
tante e íntima cooperação possibilitará a observação e medida sis- tica.
temática do trabalho e permitirá fixar níveis de produção e incen-
tivos financeiros Além disso, Weber faz uma distinção entre os conceitos de
Princípios de Taylor Autoridade e Poder:
• Princípio da separação entre o planejamento e a execução; • Autoridade: probabilidade de que um comando ou ordem
• Princípio do preparo; específica seja obedecido – poder oficializado.
• Princípio do controle; • Poder: potencial de exercer influência sobre outros, imposi-
• Princípio da exceção. ção de arbítrio de uma pessoa sobre outras.

 Teoria Clássica – Pressupostos de Henry Fayol A Burocracia surge na década de 40 em razão da fragilidade
• Anatomia – estrutura. da teoria clássica e relações humanas; necessidade de um modelo
• Fisiologia – funcionamento. aplicado a todas as formas de organização; racionalização do direito
• Visão de cima para baixo; do todo para as partes. e consolidação da sociedade em massa e capitalista. Ela busca orga-
• Funções da Empresa: Técnica, Comercial, Financeira, Segu- nizar de forma estável, duradoura e especializada a cooperação de
rança, Contábil, Administrativa (coordena as demais). indivíduos, apresentando uma abordagem descritiva e explicativa,
• Abordagem Prescritiva e Normativa. mantendo foco interno e estudando a organização como um todo.

Funções da Administração Clássica - processo organizacional Principais características:


• Prever: adiantar-se ao futuro e traçar plano de ação; • Caráter legal das normas;
• Organizar: constituir o organismo material e social da em- • Caráter formal das comunicações;
presa; • Divisão do trabalho e racionalidade;
• Comandar: dirigir o pessoal; • Impessoalidade do relacionamento;
• Coordenar: ligar, unir e harmonizar os esforços; • Hierarquização da autoridade;
• Controlar: tudo corra de acordo com as regras. • Rotinas e procedimentos padronizados;
• Competência técnica e mérito;

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Especialização da administração – separação do público e • Feedback: é a retroalimentação, como controle do sistema,
privado; no qual os resultados retornam ao indivíduo, para que os procedi-
• Profissionalização: especialista, assalariado; segue carreira. mentos sejam analisados e corrigidos;
Vantagens Principais: • Homem Funcional: desempenha um papel específico nas or-
• Racionalidade ganizações, inter-relacionando-se com os demais indivíduos.
• Precisão na definição do cargo
• Rapidez nas decisões A teoria dos sistemas desmistifica a “ótima solução administra-
• Univocidade de interpretação tiva” para a ideia de “soluções alternativas satisfatórias”.
• Continuidade da organização:
• Redução do atrito entre pessoas DO MODELO RACIONAL- LEGAL AO PARADIGMA PÓS-BURO-
• Constância CRÁTICO
• Confiabilidade A Administração Pública tem sua estrutura características de
• Benefícios para as pessoas um modelo patrimonial percebida até década de 30, na sequencia
• O nepotismo é evitado, dificulta a corrupção. veio a Era Vargas, onde vemos o modelo burocrático e na segunda
metade da década de 90, deu início a implementação do modelo
A maior vantagem é a democracia: em razão da impessoalida- gerencial.
de e das regras legais, que permitem igualdade de acesso.
Podemos dividir essa estruturação em sete etapas, quais se-
Desvantagens jam:
• Internalização das normas; 1) 1930 a 1945 – Burocratização da Era Vargas: Nessa pri-
• Excesso de formalismo e papelório; meira etapa, em decorrência do Estado patrimonial, da falta de
• Resistência a mudanças; qualificação técnica dos servidores, da crise econômica mundial e
• Despersonalização do relacionamento; da difusão da teoria keynesiana, que pregava a intervenção do Es-
• Categorização do relacionamento; tado na Economia, o governo autoritário de Vargas resolve moder-
• Superconformidade às rotinas e procedimentos; nizar a máquina administrativa brasileira através dos paradigmas
• Exibição de sinais de autoridade; burocráticos difundidos por Max Weber. O auge dessas mudanças
• Dificuldades com clientes. ocorre em 1936 com a criação do Departamento Administrativo do
Serviço Público (DASP), que tinha como atribuição modernizar a
Abordagem Sistêmica – Trata-se da teoria de Sistemas por máquina administrativa utilizando como instrumentos a afirmação
Ludwig Von Bertalanffy, onde defende que os sistemas existem dos princípios do mérito, a centralização, a separação entre público
dentro de sistemas; apresenta a Teoria da forma ou Gestalt; os e privado, a hierarquia, a impessoalidade, a rigidez e universalidade
Sistemas abertos; tem um objetivo ou propósito; e as partes são das regras e a especialização e qualificação dos servidores.
interdependentes, provocando globalismo. 2) 1956 a 1960 – A administração paralela de JK: A adminis-
tração paralela foi um artifício utilizado pelo governo JK para atin-
Características: gir o seu Plano de Metas e seguir seu projeto desenvolvimentista.
• Sistema é um conjunto ou combinação de partes, formando Surgiu com a criação de estruturas alheias à Administração Direta.
um todo complexo ou unitário; 3) 1967 – A reforma militar: Durante a ditadura militar, a ad-
• Organização como sistema vivo: orgânico ministração pública passa por novas transformações, tais como: A
• Comportamento não determinístico e probabilístico; ampliação da função econômica do Estado com a criação de várias
• Interdependência entre as partes; empresas estatais, a facilidade de implantação de políticas – em de-
• Entropia: característico dos sistemas fechados e orgânicos, corrência da natureza autoritária do regime, e o aprofundamento
estabelece que todas as formas de organização tendem à desor- da divisão da administração pública, mais especificamente através
dem ou à morte; do Decreto-Lei 200/67, que distinguiu claramente a Administração
• Negentropia ou Entropia negativa: os sistemas sociais se re- Direta (exercida por órgãos diretamente subordinados aos minis-
abastecem de energia, assegurando suprimento contínuo de mate- térios) da indireta (formada por autarquias, fundações, empresas
riais e pessoas; públicas e sociedades de economia mista). Essa reforma trouxe
• Homeostase dinâmica ou Estado Firme: regula o sistema in- modernização, padronização e normatização nas áreas de pesso-
terno para manter uma condição estável, mediante múltiplos ajus- al, compras e execução orçamentária, estabelecendo ainda, cinco
tes de equilíbrio dinâmico de ruptura e inovação; princípios estruturais da administração pública: planejamento, co-
• Fronteiras ou limites: define a área da ação do sistema e o ordenação, descentralização, delegação de competências e contro-
grau de abertura em relação ao meio ambiente; le.
• Diferenciação: os sistemas tendem a criar funções especiali- 4) 1988 – A administração pública na nova Constituição: A
zadas – Integração (coordenação); nova Constituição da República Federativa do Brasil voltou a for-
• Equifinalidade: um sistema pode alcançar o mesmo estado talecer a Administração Direta instituindo regras iguais as que de-
final a partir de diferentes condições iniciais; veriam ser seguidas pela administração pública indireta, principal-
• Resiliência: determina o grau de defesa ou vulnerabilidade mente em relação à obrigatoriedade de concursos públicos para
do sistema a pressões ambientais externas. investidura na carreira e aos procedimentos de compras públicas.
• Holismo: o sistema só pode ser explicado em sua globalidade; 5) 1990 – O governo Collor e o desmonte da máquina pú-
• Sinergia: o todo é maior que a soma das partes; blica : Essa etapa da administração pública brasileira é marcada
• Morfogênese: capacidade das organizações de modificar a si pelo retrocesso da máquina administrativa, o governo promoveu a
mesmo e a estrutura; extinção de milhares de cargos de confiança, a reestruturação e a
• Fluxos: componentes que entram e saem do sistema (infor- extinção de vários órgãos, a demissão de outras dezenas de milha-
mação, energia, material); res de servidores sem estabilidade e tantos outros foram colocados

14
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
em disponibilidade. Segundo estimativas, foram retirados do servi-  Criar mecanismos de feedback e avaliação de performan-
ço público, num curto período e sem qualquer planejamento, cerca ce
de 100 mil servidores.  Criar capacidade de resiliência e flexibilidade na organi-
6) 1995/2002 – O gerencialismo da Era FHC: A reforma ad- zação
ministrativa foi o ícone do governo Fernando Henrique Cardoso em
relação à administração pública brasileira. A reforma gerencial teve No entanto, organizações baseadas em princípios como esses
como instrumento básico o Plano Diretor da Reforma do Aparelho são particularmente raras e, na verdade, mesmo os defensores do
do Estado (PDRAE), que visava à reestruturação do aparelho do Es- conceito de pós-burocracia concedem que, como tipo ideal, organi-
tado para combater, principalmente, a cultura burocrática. zações verdadeiramente pós-burocráticas não existem.
7) Nova Administração Pública: O movimento “reinventan-
do o governo” difundido nos EUA e a reforma administrativa de 95, A evolução dos modelos de gestão na Administração Pública
introduziram no Brasil a cultura do management, trazendo técnicas Vamos a partir de agora tratar da Administração Pública no
do setor privado para o setor público e tendo como características Brasil, considerando a evolução histórica do modo pelo qual a ges-
básicas: tão das organizações governamentais vem sendo praticada em
• O foco no cliente nosso país. A importância do tema reside no fato de que a Admi-
• A reengenharia nistração Pública em todo o mundo vem experimentando um pro-
• Governo empreendedor cesso de profundas transformações, que se iniciou na década de
• Administração da qualidade total 70, formado por um conjunto amplo de correntes de pensamento
que formam a chamada “Nova Gestão Pública”. Esse processo tam-
O modelo de administração pública burocrática, ou racional- bém ocorre no Brasil. Para entender o que é a gestão pública hoje,
-legal, foi adotado em muitos países visando a substituição aquele precisamos retroceder no tempo e analisar sua evolução ao longo
tipo de administração onde patrimônio público e privado eram con- das décadas.
fundidos, O modelo burocrático visava o combate do clientelismo, Nos últimos anos assistimos em todo o mundo a um debate
nepotismo, empreguismo e, até mesmo, da corrupção acalorado – ainda longe de concluído – sobre o papel que o Estado
Ocorre que o modelo burocrático sofreu o ataque natural do deve desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção
tempo, não sendo o mais apropriado para gerir as estruturas do que deve ter na economia. Nos anos 50, o economista Richard Mus-
Estado. Para responder a essas limitações do modelo burocrático, grave enunciou as três funções clássicas do Estado:
houve a adoção de certos padrões gerenciais na administração pú- • Função alocativa: prover os bens e serviços não adequa-
blica. Esses novos modelos teóricos acerca da gestão do Estado foi damente fornecidos pelo mercado
chamado de Nova Administração Pública.
• Função distributiva: promover ajustamentos na distribui-
Trata-se de um modelo mais flexível e mais próximo das prá-
ção da renda;
ticas de gestão do setor privado, conhecido como administração
• Função estabilizadora: evitar grandes flutuações nos ní-
pública gerencial. No Brasil, a tentativa de se implantar tais teorias
veis de inflação e desemprego.
se deu com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho,
com uma série de diretrizes a serem implementadas na administra-
De fato, entre o período que vai de 1945 (final da segunda
ção pública denominando esse modelo de pós-burocrático.
guerra mundial) e 1973(ano do choque do petróleo), a economia
A partir da década de 90, o foco central das discussões de po-
mundial experimentou uma grande expansão econômica, levando
líticos e formuladores de políticas públicas passou a ser a reforma
este período a ser denominado de “era dourada”.
administrativa. Com isso, deu-se início à implementação de novas
formas de gestão, com modelos mais próximos daqueles emprega- Desenvolveu-se a figura do Estado-Provedor de bens e servi-
dos na iniciativa privada. ços, também chamado de Estado de Bem-Estar Social. Houve uma
Assim, a denominação de gerencialismo na administração pú- grande expansão do Estado (e, consequentemente, da Adminis-
blica seria referente ao desafio de realizar programas direcionados tração Pública), logicamente com um crescimento importante dos
ao aumento da eficiência e melhoria da qualidade dos serviços custos de funcionamento da máquina pública. A partir dos anos 70,
prestados pelo Estado. O gerencialismo seria um pluralismo organi- o ritmo de expansão da economia mundial diminui, e o Estado co-
zacional sob bases pós-burocráticas vinculadas aos padrões histó- meça a ter problemas no desempenho de suas funções, perdendo
ricos (institucionais e culturais) de cada nação, não se constituindo gradativamente a capacidade de atender às crescentes demandas
num novo paradigma capaz de substituir por completo o antigo sociais. Esta situação, aliada a um processo de crescente endivida-
padrão burocrático. mento público, acarretaria mais tarde, principalmente nos anos
Esse novo modelo não se materializou de modo completo, de 80, a chamada crise fiscal do Estado: a perda de sua capacidade de
forma a poder ser reconhecido um novo mecanismo de governança realizar os investimentos públicos necessários a um novo ciclo de
do Estado, capaz de atuar totalmente independente da burocracia. expansão econômica. Da crise fiscal passamos à crise de gestão do
Autores mais recentes definem o tipo organizacional pós-buro- Estado, uma vez que a percepção dos cidadãos sobre a disponibi-
crático como organizações simbolicamente intensivas, produtoras lidade de serviços públicos se deteriora gradativamente, à medida
de consenso através da institucionalização do diálogo. Essas organi- que o Estado perde a capacidade de realizar suas funções básicas,
zações seriam mais especificamente caracterizadas por: e não consegue acompanhar as pressões crescentes por mais saú-
 Constituir grupos de trabalho flexíveis e forças-tarefa com de, educação, segurança pública, saneamento, etc…Essa crise de
objetivos claros; gestão implica na tentativa de superar as limitações do modelo de
 Criar espaços para diálogo e conversação; gestão vigente até então, conhecido como “modelo burocrático”,
 Enfatizar confiança mútua; transformando-o em algo novo, mais parecido como o modo de
 Usar o conceito de missão como ferramenta estratégica; gestão do setor privado, conhecido na área pública como “modelo
 Disseminar informação; gerencial”.
 Criar redes de difusão e recuperação de conhecimento;

15
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Assim, a redefinição do próprio papel do Estado é um tema Considerando essa tendência, pretende-se reforçar a gover-
de alcance universal nos anos 90. No Brasil, essa questão adquiriu nança, a capacidade de governo do Estado, através da transição
importância decisiva, tendo em vista o peso da presença do Esta- programada de um tipo de administração pública burocrática, rí-
do na economia nacional: tornou-se um tema constante a questão gida e ineficiente, voltada para si própria e para o controle inter-
da reforma do Estado, uma vez que o mesmo não conseguia mais no, para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente,
atender com eficiência a sobrecarga de demandas a ele dirigidas, voltada para o atendimento do cidadão, melhorando a capacidade
sobretudo na área social. Em resumo, a Crise do Estado define-se do Estado de implementar as políticas públicas, sem os limites, a
como: rigidez e a ineficiência da sua máquina administrativa.
1. Uma crise fiscal, caracterizada pela deterioração crescente
das finanças públicas, sendo o déficit público um fator de redução
de investimentos na área privada;
2. Uma crise do modo de intervenção do Estado na economia,
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS ENTRE A GESTÃO
com o esgotamento da estratégia estatizante; as empresas públicas
PÚBLICA E A GESTÃO PRIVADA
não mais teriam condições de alavancar o crescimento econômico
dos países; o paradigma do Estado interventor, nos moldes da eco- A administração é a ordenação do caos que se instala quando
nomia Keynesiana estava cada vez mais ultrapassado; um grupo de pessoas coopera no afã de conciliar metas estabele-
3. Uma crise da forma de administrar o Estado, isto é, a supe- cidas por terceiros com seus objetivos, interesses, desejos e ambi-
ração da administração pública burocrática, rumo à administração ções pessoais.
pública gerencial.
Enquanto ciência, a administração estuda as necessidades
No Brasil, a principal repercussão destes fatos foi a Reforma do sócio-técnicas da organização, seu conjunto de diretrizes, cultura,
Estado nos anos 90,cujos principais pontos eram: processos, recursos e capital, possibilitando a realização de seu ne-
1. O ajuste fiscal duradouro, com a busca do equilíbrio das con- gócio de forma estruturada, integrada e consolidada.
tas públicas; Na concepção sistêmica, a administração é entendida como um
2. A realização de reformas econômicas orientadas para o mer- mecanismo estruturador e articulador de processos e recursos em-
cado, que, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, presariais para a consecução dos resultados almejados: geração de
garantissem a concorrência interna e criassem as condições para o bens, lucro e promoção do bem-estar social.
enfrentamento da competição internacional;
3. A reforma da previdência social, procurando-se dar susten- Cronologia da evolução das teorias administrativas:
tabilidade à mesma, equilibrando-se os montantes de contribui- Embora a industrialização tenha iniciado na década de 80 (séc.
ções e benefícios; XIX) com os adventos das invenções mecânicas, hidráulicas e elétri-
4. A inovação dos instrumentos de política social, proporcio- cas (Revolução Industrial) o estudo sistemático só ocorreu no início
nando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os do séc. XX:
serviços sociais; 1911 – Princípios da Administração Científica com os estudos
5. A reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua de Frederick W. Taylor nos EEUU sobre o sistema técnico com ênfa-
“governança” ou seja, sua capacidade de implementar de forma se na especialização da tarefa e controle da produção.
eficiente as políticas públicas. 1916 – Gerência Administrativa do livro - Administração In-
dustrial e Geral de Henry Fayol na França, com abordagem na de-
A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal partamentalização, competências administrativas e desempenho
devolveria ao Estado a capacidade de definir e implementar polí- organizacional, sendo considerado o Pai da Administração Clássica
ticas públicas. Através da liberalização comercial, o Estado aban- que defendia que a administração deveria ser uma disciplina a ser
donaria a estratégia protecionista da substituição de importações. estudada fora das escolas de engenharia.
Nesse contexto, o programa de privatizações levado a cabo nos 1927 – Relações Humanas a partir dos trabalhos de R.F.Hoxié
anos90 foi uma das formas de se perseguir tais objetivos. Por esse (USA, 1916), Robert Owen (Escócia, 1825) e Elton de Mayo (USA,
programa, transferiu se para o setor privado a tarefa da produção, 1924 - experiência de Hawthorne – WE Co.) onde o funcionário
dado o pressuposto de que este, a princípio, realizaria tal atividade passa a ser visto como recurso humano e não como uma peça do
de forma mais eficiente. sistema técnico.
Finalmente, por meio de um programa de publicação, preten- 1940 – Escola burocrática de Max Weber com ênfase na organi-
dia-se transferir para o setor público não-estatal a produção dos zação formal e burocracia racional.
serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecen- 1943 - Teoria da motivação e escalas de necessidades de
do-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu Abrham Meslow É considerado o pai da Psicologia Transpessoal.
financiamento e controle. 1945 – Behavorismo (comportamento) de Herbert Simon, Te-
Portanto, segundo a ideia da reforma, o Estado reduziria seu oria da decisão que concebe a organização como um sistema de
papel de executor ou provedor direto de serviços, mantendo-se, decisões.
entretanto, no papel de regulador e provedor indireto ou promo- 1954 – Teoria Geral de Sistemas de Ludwig Von Bertalanfy na
tor destes, principalmente dos serviços sociais como educação e Áustria, abordagem sistêmica - organização como sistema aberto,
saúde, etc. Como promotor desses serviços, o Estado continuará a visão holística.
subsidiá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e Peter Drucker com sua obra “The Pratice of Manegement” ini-
a participação da sociedade. cia uma nova era no pensamento administrativo e gerencial que
Nessa nova perspectiva, busca-se o fortalecimento das funções considera a administração como disciplina dada sua importância
de regulação e de coordenação do Estado, particularmente no nível no estudo da organização. Foi considerado o Pai da administração
federal, e a progressiva descentralização vertical, para os níveis es- moderna.
tadual e municipal, das funções executivas no campo da prestação 1960 – Teorias X e Y de Douglas McGregor, “The Human Side of
de serviços sociais e de infraestrutura. Enterprise”, USA

16
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1981 – Teoria Z de William Ouchi, USA, estabelece o conceito A “Nova Gestão Pública” consiste numa novidade, não somen-
de administração participativa. te por sua origem, mas principalmente por sua configuração como
Muitas são as abordagens na evolução do pensamento dos es- novo referencial teórico e pela impressionante influência que cau-
tudiosos da administração: a Clássica, a Burocrática, a Humanística, sou e vem causando nas Administrações Públicas em diversos paí-
a Comportamental, a Sistêmica, a Organizacional, a Contingencial ses ocidentais12, especialmente na América Latina.
até se chegar na abordagem Estratégica; abordagens que podemos A NGP emergiu inicialmente em países anglo-saxônicos13, a
classificar em duas fases: 1. pensamento mecanicista e reducionista partir do início dos anos 1980, tais como: Estados Unidos, Ingla-
(primeira metade do séc XX), 2. pensamento sistêmico, orgânico e terra, Austrália e Nova Zelândia (Geoffrey SHEPHERD & Sofia VA-
holístico. LENCIA, 1996, p.109; Michael BARZELAY, 2001, p.11; Carles RAMIÓ,
2001, p.77).
A partir dos anos 80 as Escolas do Pensamento Estratégico, já Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2000, p.63-64) defende que o
com vinte anos de existência, sugeriram a criação da disciplina de sistema capitalista teve duas grandes reformas da Administração
Administração Estratégica nas grandes universidades americanas, Pública: a “Reforma Burocrática” que atingiu a Europa e os Estados
resultado das demandas do aumento de competitividade por um Unidos no início do século XX e o Brasil nos anos 1930, com o go-
novo foco na gestão.
verno Vargas; e a “Reforma Gerencial” ou “Reforma da Nova Gestão
Pública”. Esta última pode ser dividida em duas “ondas” distintas:
A gestão é a aplicação da teoria administrativa por suas várias
a “primeira onda”, dos anos 1980, com ênfase no ajuste estrutural
metodologias, a saber: gestão por funcionalidades, por objetivos,
das economias em crise (ajuste fiscal, privatização, liberalização do
por resultados, por qualidade total, por processos, por competên-
cias, orientada à clientes, estratégica ... comércio); e a “segunda onda”, a partir dos anos 1990, com ênfase
nas transformações de caráter institucional.
A estratégia corporativa apresentou grande desenvolvimento, No caso dos Estados Unidos, Ewan FERLIE et alii (1999, p.37)
principalmente a partir da década de 1980 quando o fenômeno lembram que “a pressão pela reforma do setor público antecedeu
da reestruturação empresarial – “conjunto amplo de decisões e a eleição de Reagan, com a Lei de Reforma do Serviço Público, de
de ações, com dimensão organizacional, financeira e de portfólio” 1978, aprovada na administração Carter”. Entretanto, é com Rea-
(WRIGHT, KROLL e PARNELL,2000) tornou-se imperativo. gan que a NGP passa efetivamente a constituir-se na Administração
Pública estadunidense. Posteriormente, mesmo no governo Clin-
A administração estratégica é a disciplina que estrutura, integra ton, a partir do início dos anos 1990, a NGP permaneceu influindo
e consolida o conjunto de premissas, ativos tangíveis e intangíveis, no processo de mudança do setor público.
mercados e ambiente, possibilitando à organização obter vantagem O modelo inglês foi a principal referência concreta da NGP. Na
competitiva na realização de seu negócio. Inglaterra, com a vitória de Margaret Thatcher, em 1979, e a con-
Face a à implementação da tecnologia no contexto organizacio- sequente hegemonia obtida pelo Partido Conservador até 1997,
nal, a administração ganha novas perspectivas: foram estabelecidas reformas que tiveram as seguintes característi-
• Grande encadeamento: robotização, produção seriada, ga- cas, segundo Ana Paula Paes de PAULA (2005, p.47):
nho em escala..., com função “otimizadora”. descentralização do aparelho de Estado, que separou as ativi-
• Mediadora: oferta de produtos e serviços na rede de relacio- dades de planejamento e execução do governo e transformou as
namentos (bancos, serviços públicos, comércio eletrônico...), exer- políticas públicas em monopólio dos ministérios; privatização das
cendo função indutora. estatais; terceirização dos serviços públicos; regulação estatal das
• Intensiva: exerce função capacitora (hospitais, empresas de atividades públicas conduzidas pelo setor privado; uso de idéias e
projetos, ensino à distância...). ferramentas gerenciais advindas do setor privado.
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/
administracao/administracao-evolucao-e-conceitos/5034 Sobre a Austrália, recordam Ewan FERLIE et alii (1999, p.36),
que apesar da divisão de responsabilidade entre o governo federal
Contexto histórico do surgimento da NGP
e os Estados, com governos de diferentes partidos políticos, o país
“Nova Gestão Pública” corresponde à versão em inglês New
passou por uma reforma no setor público, desde o início da década
Public Management (NPM) ou à versão em espanhol Nueva Gestión
de 1980, com forte influência da “ortodoxia da Nova Administração
Pública ou Nueva Gerencia Pública (NGP) ou Nuevo Manejo Público
Pública”. Ana Paula Paes de PAULA (2005, p.48) salienta que:
(NMP).
Michel Messenet, em sua obra La Nouvelle Gestion Publique: o caso australiano difere do britânico no que se refere à orien-
pour un Etat sans Burocratie, obra publicada em 1975, foi quem tação política, pois foi o Partido Trabalhista que aderiu às visões da
primeiro cunhou a expressão “Nova Gestão Pública”, ao criticar a oposição liberal e introduziu políticas de gerenciamento privado no
Administração Pública burocrática. Entretanto, o seu texto funda- setor público. Uma evidência disso é o lema de sua campanha elei-
dor é o artigo “A public management for all seasons?”, escrito por toral em 1982: dirigir o Estado como uma empresa.
Christopher Hood e publicado em 1991. O marco fundador da NGP na Austrália é o Public Service Re-
Geoffrey SHEPHERD & Sofia VALENCIA (1996, p.108) agregam form Act, publicado em 1984, reorganizando o serviço público. Com
que a “Nova Gestão Pública” também pode ser denominada de “ge- a vitória dos conservadores (aliança do Partido Liberal e Partido Na-
rencialismo, novo gerencialismo, nova gerência pública ou gerência cional), em 1996, há uma radicalização ainda maior no processo de
baseada no desempenho”. reformas com base ultraliberal.
Luiz Carlos BRESSER PEREIRA prefere utilizar o termo “Adminis- Ewan FERLIE et alii (1999, p.35) afirmam que a Nova Zelândia
tração Gerencial” (2000, p.58). pode ser vista “como um caso extremo de país que se transformou
rapidamente, embora neste caso as idéias relativas à Nova Adminis-
tração Pública tenham sido encampadas por um governotrabalhis-
ta”, a partir de 1984. Já para Ana Paula Paes de PAULA (2005, p.50)
as principais mudanças no aparelho estatal da Nova Zelândia foram:

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
a transferência de atividades de caráter comercial para a iniciativa O Hoover Institution foi fundado em 1919 e permanece em ati-
privada; a descentralização das atividades do governo central, que vidade até este momento. Ficou muito conhecido entre os adeptos
conferiu maior autonomia aos burocratas públicos; e a negociação do ultraliberalismo, pois financiou pesquisas de Milton Friedman.
de contratos de trabalho no setor público com base nos parâmetros O American Enterprise Institute for Public Policy Research foi
da iniciativa privada. criado em 1943, com o nome de American Enterprise Institute, ten-
Michael BARZELAY (2001, p.11), após ampla revisão da litera- do adquirido o seu nome atual em 1960. Seu objetivo é defender
tura sobre a NGP, afirmou que a mesma surgiu como “um dispositi- o Estado mínimo, a livre empresa, a liberdade individual e a defesa
vo conceitual inventado com o propósito de estruturar a discussão vigilante e eficaz. Milton Friedman foi um dos seus conselheiros.
acadêmica sobre as mudanças contemporâneas na organização e o A Heritage Foundation foi fundada em 1973, com a missão de
gerenciamento da função executiva do governo”. formular e promover políticas públicas conservadoras baseadas nos
Omar GUERRERO (2003, p.381; 2004, p.10) vai mais além e princípios da livre empresa, do Estado mínimo, da liberdade indivi-
afirma que a origem da “Nova Gestão Pública” está na economia, dual, de valores americanos tradicionais e de uma defesa nacional
em especial no pensamento econômico neoclássico, influenciado forte.
pela Escola Austríaca, e na Teoria da Escolha Pública (Public Choice), A Austrália também sofreu a influência de think tanks favorá-
fundada a partir da Escola da Virginia, assim como também sofreu veis aos preceitos da NGP, segundo Ana Paula Paes de PAULA (2005,
influência da Escola de Chicago. Portanto, as origens da “Nova Ges- p.49), destacando-se: Centre Independent Studies21, Australian
tão Pública” são as mesmas do pensamento ultraliberal. Como é Institute of Public Policy e Centre of Policy Studies.
evidente que é a teoria de Estado que define a teoria da Adminis- O Centre Independent Studies foi fundado em 1976 por Greg
tração Pública, resta óbvio que a NGP é a teoria de Administração Lindsay. Friedrich Hayek e Milton Friedman são seus principais
Pública do Estado ultraliberal. mentores.
A partir dessa constatação, é fundamental observar o papel Estas breves referências aos principais think tanks conservado-
desempenhado pelos principais think tanks14 conservadores an- res anglosaxônicos permitem concluir que um dos seus principais
glo-saxônicos na formação das bases ideológicas ultraliberais e nos objetivos ainda é a constituição do “Estado mínimo” (entendido
processos de implantação da “Nova Gestão Pública” nesses países.
este como a redução do aparelho estatal). Entretanto,
Na Inglaterra, os principais think tanks, críticos das políticas
Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2002b, p.33) adota posição am-
keynesianas, que contribuíram para difundir o pensamento ultra-
bígua e equivocada, ao considerar que esse projeto permanece vi-
liberal e, por conseqüência, a NGP foram: o Institute of Economics
gente, num contexto de ultraliberalismo que teria fracassado.
Affairs, o Centre for Policy Studies16 e o Adam Smith Institute..
O Institute of Economics Affairs foi fundado em 1955 por An- Uma conclusão, um tanto surpreendente, é que as primeiras
thony Fischer, com o objetivo de explicar as idéias do livre mercado experiências de países anglo-saxônicos que implantaram a “Nova
ao público. Segundo Ana Paula Paes de PAULA (2005, p.37), Fischer Gestão Pública” não estão associadas exclusivamente a governos de
funda o Institute of Economics Affairs, influenciado pela leitura con- partidos considerados conservadores. Embora a origem teórica da
densada de “O Caminho da Servidão”, de Friedrich Hayek, publica- NGP esteja associada ao pensamento ultraliberal (influenciado pela
do na revista Reader’s Digest, em 1945. Ademais, afirma que: Escola Austríaca, pela Escola da Virginia e pela Escola de Chicago) e
a literatura aponta que o instituto baseava suas pesquisas o mesmo tenha sido difundido por diversos think tanks conservado-
e publicações nas idéias da escola austríaca, no monetarismo da res anglo-saxônicos, o êxito da NGP ultrapassou essa fronteira polí-
escola de Chicago e nas visões da escola de Virgínia, apontando as tica, como nos casos do Partido Democrata nos Estados Unidos (Lei
falhas do Estado e desenvolvendo soluções de mercado que desa- de Reforma do Serviço Público, de 1978, aprovada na administração
fiavam abertamente a ortodoxia keynesiana. Carter), do Partido Trabalhista na Austrália (Public Service Reform
Act, publicado em 1984) e do Partido Trabalhista na Nova Zelândia
O Centre for Policy Studies foi fundado por Keith Joseph (par- (reformas ocorridas a partir de 1984).
lamentar do Partido Conservador) e Margaret Thatcher, em 1974, Embora não se pretenda fazer uma revisão comparada exaus-
com o objetivo de difundir o liberalismo econômico e ajudar a dis- tiva de todos os modelos de Administração Pública existentes nos
seminar a economia de livre mercado na Inglaterra. países ocidentais e/ou de influência marcante anglo-saxônica, é ine-
Foi decisivo para que o Partido Conservador incorporasse a ide- gável que a NGP não é uma teoria exclusiva de governos tidos como
ologia ultraliberal ao seu programa de governo. conservadores; mesmo que seja difícil enxergar suas dimensões
O Adam Smith Institute está desde 1979 operando na Ingla- “progressistas” quando aplicada por governos social-democratas
terra, embora sua fundação tenha ocorrido em 1977 nos Estados ou “socialistas”, especificamente na Europa.
Unidos. Margareth Thatcher e Madsen Pirie, adepto da escola de
Virgínia e um dos principais nomes do Adam Smith Institute, eram Conceito e características
amigos e este último teve grande influência no governo britânico. A NGP designa um conjunto de argumentos e filosofias admi-
Sobre os think tanks ingleses, Ana Paula Paes de PAULA (2005, p.39) nistrativas, propostas como novo paradigma de Administração Pú-
afirma que:
blica. Especialmente, como filosofia administrativa de um padrão
diversas políticas de governo de Thatcher resultaram da
de desenho organizacional da Administração Pública, a NGP con-
elaboração dos think tanks entre elas as medidas mais marcantes
seguiu atingir o status de um corpo doutrinário que goza de uma
do primeiro mandato de Thatcher (1979-1987): as soluções mo-
ampla aceitação, enfim, “uma corrente de pensamento dominante”
netaristas, a abolição dos controles de comércio, a formação dos
conselhos de preços, a terceirização de serviços públicos, a inibição (Michael BARZELAY, 2001, p.52).
da atuação sindical e a extinção dos conselhos metropolitanos. É demasiado simplista definir a “Nova Gestão Pública” como
um modelo único de “Teoria da Administração Pública”. As diver-
Nos Estados Unidos os três principais think tanks, todos aves- sas variantes surgidas em diferentes países, com histórias e culturas
sos às políticas originadas no New Deal e influentes junto ao Partido absolutamente distintas fazem com que as práticas sejam distintas.
Republicano, foram: Hoover Institution., American Enterprise Insti- Entretanto, alguns preceitos teóricos estão presentes em qual-
tute for Public Policy Research e Heritage Foundation.. quer reforma que busque aplicar a NGP como modelo. Geoffrey

18
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
SHEPHERD e Sofia VALENCIA recordam que a NGP é um modelo Com transparência e responsabilização, busca-se apenas dimi-
que imita os métodos gerenciais do setor privado (1996, p.108). Daí nuir a corrupção, não existe o objetivo de compartilhar a tomada de
decorre a denominação “reforma gerencial” para qualquer refor- decisões. A participação cidadã na gestão pública não faz parte das
ma da Administração Pública que esteja baseada na “Nova Gestão características da NGP.
Pública”. O caso brasileiro demonstra que a descentralização também
Patrick DUNLEAVY e Christopher HOOD (1995, 106) lembram foi responsável pelo aumento da competição por recursos entre
que a NGP “chegou a ser identificada internacionalmente com a os diversos níveis de governo. A denominada “guerra fiscal” entre
inevitável marcha da história”, sendo “algo tão onipresente dentro Estados é resultado desse processo, em que as relações intergover-
do setor público que dificilmente deixa espaço para qualquer outro namentais predatórias apenas beneficiaram as empresas privadas,
programa de reforma alternativo”. A NGP é o “pensamento único” trazendo, por consequência, prejuízos aos cidadãos.
sendo aplicado à Administração Pública. Isso fica claro no discurso Avaliar a Administração Pública pelo cumprimento ou não de
de Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2000, p.63), quando afirma que metas, utilizando mecanismos como o contrato de gestão, repre-
“existem três formas de administrar o Estado: a administração pa- senta a aplicação da lógica gerencial, em que o único que conta é a
trimonialista, a Administração Pública burocrática e a Administra- dimensão econômica do serviço público, desconsiderando por com-
ção Pública gerencial (...) que também pode ser chamada de Nova pleto a dimensão humana da vida em sociedade.
Gestão Pública (New Public Management)”. O principal mentor da A ênfase em novas formas de controle (controle de resultados,
“Reforma Gerencial” brasileira não contempla a hipótese de um controle contábil de custos, controle por incentivo à concorrência a
modelo alternativo. Tal fato seguramente não se dá por limitação setores privados na prestação de serviços públicos, controle social
intelectual. A exclusão de qualquer outro modelo de Administra- e reforço do controle judicial) também expressa o alcance desejado
ção Pública é intencional. Assim como explica Boaventura de Sousa para a democracia. O cidadão pode controlar a gestão, mas nunca
SANTOS (2001, p.231), a distorção e a ocultação da realidade são compartilhá-la.
pressupostos do exercício do poder.
Christopher HOOD (1991, p.04 e 05) foi quem primeiro definiu A criação de entes descentralizados, que atuam nos serviços
a “Nova Gestão Pública”, a partir da conjunção de sete elementos: sociais e científicos para o denominado “setor público não estatal”
profissionalização da gestão nas organizações públicas; padrões de representa a privatização dos serviços públicos na área social.
desempenho e medidas de avaliação com objetivos mensuráveis O exame das características da “Nova Gestão Pública” permite
e claramente definidos; ênfase no controle e nos resultados; de- conceituá-la como uma teoria de Administração Pública que adota
sagregação das grandes unidades do setor público; introdução da um enfoque empresarial para a gestão, dando ênfase à redução de
competição no setor público; uso de práticas de gestão do setor custos, à eficácia e à eficiência dos aparelhos de Estado e propondo
privado; ênfase na disciplina e na utilização dos recursos, cortando
a clientelização dos cidadãos.
custos e procurando maior eficiência e economia.
No caso brasileiro, o PDRAE definiu a “Administração Pública
Os verdadeiros fundamentos da “Nova Gestão Pública”
gerencial” como “resposta, de um lado, à expansão das funções
A NGP é um modelo (um grupo de símbolos e regras operacio-
econômicas e sociais do Estado e, de outro, ao desenvolvimento
nais) que possui o objetivo de estabelecer regras prescritivas des-
tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que
tinadas a reconfigurar a Administração Pública para que a mesma
ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do
esteja adequada ao Estado ultraliberal. É um modelo que pretende
modelo anterior” (BRASIL, 1995, p.21).
ser universal, independente das características singulares de cada
Em 1998, o Conselho Latino-Americano para o Desenvolvimen-
país. Não obstante a retórica utilizada pelos ultraliberais que teori-
to (CLAD), objetivando fazer uma adaptação da experiência da NGP
nos países em países anglosaxônicos, anunciou documento em que zam sobre gestão pública, este trabalho sintetiza os cinco conceitos
apresentou as características que deveriam ser observadas para a fundamentais que conformam a “Nova Gestão Pública”: a) a “lógica
implementação da “Nova Gestão Pública” na América Latina, con- do privado” deve ser a referência a ser seguida; b) o mercado é
forme segue: quem deve formular políticas públicas; c) os serviços públicos de-
vem abandonar asfórmulas burocráticas para assumir a modalida-
Profissionalização da alta burocracia; transparência e respon- de da concorrência empresarial; d) o cidadão deve converter-se em
sabilização; descentralização na execução dos serviços públicos; cliente; e) a gestão deve ser apartada da política.
desconcentração organizacional nas atividades exclusivas do Esta-
do; controle dos resultados; novas formas de controle; duas formas a) Privatização do “público”
de unidades administrativas autônomas: agências que realizam ati- Para os defensores da “Nova Gestão Pública” a Administração
vidades exclusivas de Estado e agências descentralizadas, que atu- Pública deve copiar modelos e práticas privadas, fazendo com que a
am nos serviços sociais e científicos; orientação da prestação dos NGP se constitua numa visão privada do “público”. No caso brasilei-
serviços para o cidadão-usuário; modificar o papel da burocracia ro, o próprio PDRAE, elaborado em 1995, demarca que “a Adminis-
com relação à democratização do Poder público (CLAD, 1999, p.129 tração Pública gerencial inspira-se na administração de empresas”
e ss.). (MARE, 1995, p.22). Inspirar-se na gestão privada é um erro concei-
tual grave porque a gestão pública é, pelos fins e meios, absoluta-
O exame dessas características permite identificar as falências mente diferente da gestão privada.
desse modelo. A utilização do termo “público” como componente do nome de
A ênfase na “profissionalização da alta burocracia” denota uma um modelo teórico que valoriza “o privado” como referência repre-
visão absolutamente elitista do poder, excludente de dimensões senta uma tentativa de não evidenciar a contradição insolúvel entre
essenciais da democracia, pois prioriza uma elite burocrática para duas lógicas absolutamente antagônicas: a “lógica do público” deve
desenvolver a capacidade de negociação e responsabilização pe- ser determinada pela solidariedade, enquanto a “lógica do privado”
rante o sistema político. Defende a adoção de regimes jurídicos de é determinada pela “lógica mercantil do consumo privado” (Carlos
funcionários públicos, desvalorizando a função pública. SOJO, 2004, p.10 e 11).

19
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Administração Pública é caracterizada por atributos estatais, cado como formulador das políticas públicas representa um triunfo
ou seja, só pode ser explicada a partir do Estado. Mesmo após essa inigualável para o capitalismo. Jacint JORDANA (1995, p.84) recor-
óbvia referência, até tautológica na ótica da defesa dos atributos da, entretanto, que as instituições públicas são identificadas por
políticos da cidadania, parece haver a necessidade de recordar al- suas policy networks (redes de políticas públicas), nas quais se re-
gumas premissas elementares no que diz respeito à Administração produzem diversos conflitos sociais. Ou seja, é possível identificar
Pública: a chave na distinção da esfera da natureza entre a Admi- como os interessesde classes se convertem em políticas públicas.
nistração Pública e a administração privada está na finalidade de Quando é o mercado que formula as políticas públicas esse espaço
cada uma, pois enquanto a primeira busca realizar interesses gerais, legítimo de disputa desaparece, fazendo prevalecer exclusivamente
a segunda deseja satisfazer os interesses particulares (o lucro é o o poder econômico.
objetivo a ser buscado incessantemente); a Administração Pública, Omar GUERRERO (2003, p.387) sustenta que a presença de ele-
ao contrário da administração privada, não pode escolher os seus mentos do mercado provoca mudanças nas funções tradicionais do
âmbitos de atuação; a Administração Pública possui alguns privilé- setor público, tais como: gerência, privatização, esquemas de incen-
gios e possibilidades coercitivas que não são usuais no setor priva- tivo de competitividade e desregulação.
do; o entorno da Administração Pública é bem mais complexo que A transferência da gestão dos serviços públicos para empresas
qualquer organização privada; a Administração Pública está vincu- privadas (privatizações, concessões, terceirizações, etc.) faz com
lada ao processo democrático, pois mesmo na limitada democracia que o mercado passe a ser o dono da agenda pública. Esse fato
representativa, os processos eleitorais e os mandatos decorrentes pode gerar um grave problema: a captura do regulador (ente regu-
dessas variáveis que devem ser observadas; na Administração Pú- lador de um determinado serviço público) pelo regulado (empresa
blica a determinação dos objetivos é muito mais plural que no setor privada responsável pela prestação de um determinado serviço pú-
privado, o que dificulta a segmentação dos destinatários das ativi- blico). O ente regulador é capturado quando passa a confundir o
dades públicas; o grau de visibilidade e controle da Administração interesse público com os interesses do ente(s) privado(s) que é por
ele regulado. Marçal JUSTEN FILHO (2002, p.370) aponta que a cap-
Pública é muito maior, em função da maior pressão portransparên-
tura ocorre “quando a agência perde sua condição de autoridade
cia; a Administração Pública está obrigada, diferentemente do setor
comprometida com a realização do interesse coletivo e passa a pro-
privado, a respeitar princípios constitucionais e legais, o que torna a
duzir atos destinados a legitimar a realização dos interesses egoísti-
sua gestão menos flexível.
cos de um, alguns ou todos os segmentos empresariais regulados”.
Também merece destaque recordar que a “Gestão pela Quali-
dade Total” (GQT) ou Total Quality Management (TQM) foi uma das c) Concorrência empresarial
estratégias de gerenciamento adotadas pela “Reforma Gerencial” A Administração Pública deve ser redesenhada, seguindo o mo-
no Brasil (Luiz Carlos BRESSER PEREIRA, 1999, p.08). delo das empresas privadas, com uma configuração que privilegia
A GQT, apesar de haver sido formulada por alguns autores nor- a redução dos custos e o aumento das tarifas públicas, buscando
te-americanos como Edwards Deming e Joseph Juran, é no Japão aumentar o lucro e desconsiderando o interesse público, tal como
dos anos 1960 e 1970, que continuava sua recuperação da destrui- prevalecia nas concepções ideológicas em vigor até os anos 1980.
ção causada pela Segunda Guerra Mundial, que encontrou o am- Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2001, p.19) constrói o conceito
biente “ideal” para o seu desenvolvimento. Já no início da década de “concorrência administrada” para justificar as contratações ex-
de 1980, empresas ocidentais voltavam suas atenções para o cres- ternas ou terceirização.
cimento das principais indústrias japonesas. No Brasil, é a partir dos
anos 1990 que a GQT começou a difundir-se, destacando-se o papel d) Orientação ao cliente
de divulgadora que teve a Fundação Christiano Ottoni, liderada por Para a NGP, a noção de cidadania é substituída pela utilização
Vicente Falconi Campos. de termos como cliente, consumidor ou usuário, que são usados de
A GQT é uma teoria de gestão com uma metodologia fecha- modo quase intercambiável. A NGP busca fragmentar e fragilizar o
da e que não possui nenhuma interconexão com a Administração único conceito legítimo na relação do indivíduo com o Estado: o de
Pública, mas mesmo assim foi considerada uma das estratégias de cidadão. Esta discussão não é uma discussão semântica. É um de-
gerenciamento adotadas pelo governo Fernando Henrique Cardo- bate necessário que pretende demonstrar que usar qualquer termo
so. A GQT, independentemente de sua formulação conceitual apa- diverso de cidadão é uma opção ideológica que objetiva dar um ca-
rentemente sistêmico-integradora da totalidade da vida humana (a ráter apolítico à teoria da Administração Pública. É uma opção que
ponto de pretender absorver como demanda a própria qualidade nega que o Estado fundamenta a sua legitimidade na autoridade da
da vida) desconsidera por completo as características culturais de sua universalidade.
cada país e as especificidades da Administração Pública. No Brasil A denominação “cliente” atribui à prestação do serviço público
não foi diferente. um caráter comercial. É como se o serviço prestado deixasse de ser
público, tornando-se uma atividade econômica própria da iniciati-
va privada. Denominar a um cidadão de “cliente” é o mesmo que
b) O mercado como formulador de políticas públicas
tornar a prestação do serviço público uma relação privada entre o
Luiz Carlos BRESSER PEREIRA (2001, p.16-17) justifica a crença
prestador e o receptor. Por exemplo, sob essa ótica o ensino público
no mercado de duas maneiras distintas: primeiro ao rejeitar a ideia
de ensino fundamental é apenas uma relação existente entre uma
do Estado como produtor de bens e serviços, apoiando as privati- escola pública e um aluno ou seus pais, desconsiderando o restan-
zações; e segundo, ao afirmar que atividades não exclusivas do Es- te da sociedade. O conceito de cliente não contempla o interesse
tado, como serviços sociais e científicos, não devem ser realizados público.
diretamente por ele. Juan Antonio GONZÁLEZ (1999, p.99) afirma que o equívoco
Entretanto, os princípios do mercado não são aplicáveis aos de considerar o cidadão um cliente é uma “visão derivada das con-
serviços públicos. O objetivo do lucro e a possibilidade de diferen- cepções privatistas e economicistas da administração, dado que na
ciação de clientes, outorgando vantagens conforme seu maior ou relação cliente-empresa o que se busca privilegiar é o benefício da
menor consumo, são facetas que expõem claramente a distinção empresa, quando na relação pública o que legitima tanto o acionar
entre o sentido de uma e de outra atividade. A presença do mer- como a existência mesma do Estado é o bem-estar dos cidadãos”.

20
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Para Quim BRUGUÉ, Moisès AMORÓS & Ricard GOMÀ (1994, Entre a Administração Pública e a cidadania não há contrato
p.38 e 39): comercial, mas sim um contrato social e político. Transformar o
os clientes do setor privado desfrutam de um poder de eleição cidadão em cliente é o mesmo que transformar a Administração
que não tem equivalente no âmbito público. As instituições públicas Pública numa grande empresa privada, desconsiderando que “a ci-
descansam sobre uns fundamentos que condicionam suas relações dadania não está fundada numa relação contratual” (Jorge KAROL,
com os administrados: seus serviços não são para satisfazer unica- 2003, p.46), mas sim numa relação com uma comunidade global e
mente demandas individuais, mas, sobretudo, interesses coletivos. socialmente cidadã, o que dá direito a um conjunto básico de servi-
Já o termo consumidor decorre de uma visão economicista. Se ços públicos, independentemente da capacidade financeira.
as atividades econômicas são a produção, a distribuição, a circula-
ção e o consumo, vê-se o cidadão como exercendo a última des- e) A Administração Pública deve ser apartada da política
sas atividades, ou seja, o consumo. Marcos Roitman ROSENMANN O campo da Administração Pública, como qualquer outro cam-
(2003, p.77) afirma que substituir cidadão por consumidor é “re- po, é um campo de poder, que se concretiza pela ação estatal. Por
sultado de uma ordem política e social estabelecida para defender isso, é impossível entender que a Administração Pública seja divi-
a propriedade privada e a liberdade individual, não para gerar um dida em funções administrativas e políticas, tocando as primeiras
projeto de desenvolvimento econômico”. aos funcionários e as últimas aos políticos e aos gestores. Toda e
Finalmente, o conceito de usuário também não parece o mais qualquer atividade administrativa é uma atividade política. Não há
adequado, pois o Estado deve ser responsável pela prestação uni- atividade administrativa exclusivamente técnica.
versal a todos os cidadãos, independentemente da sua condição de
Entretanto, não é este o pensamento predominante entre
usuário ou não.
os defensores da “Nova Gestão Pública”, conforme recorda Nuria
Segundo Marcelo James VASCONCELOS COUTINHO (2000,
CUNILL GRAU (2004, p.43). Influenciados por princípios exclusiva-
p.46):
mente econômicos e gerenciais, os teóricos da NGP afirmam que o
os cidadãos podem ser ou não usuários de serviços públicos
específicos, mas são parte de toda uma comunidade e, portanto, caráter político do Estado dificulta a tomada de decisões “eficien-
contribuem e recebem benefícios da Administração Pública. Os tes” e “tecnicamente corretas”.
cidadãos são também portadores de direitos e deveres e, ao con- Esse argumento é meramente retórico. Os ultraliberais bem sa-
trário dos clientes do setor privado, frequentemente não podem bem que “estabelecer uma separação radical entre a técnica por um
escolher um serviço alternativo, caso estejam insatisfeitos com o lado e a política por outro, como se as decisões coletivas pudessem
serviço prestado pelo setor público. Assim, funcionários públicos ser reduzidas a um problema ao que, com a informação adequada,
não atendem somente aos usuários diretos, mas preservam os seja possível encontrar a ‘melhor’ solução” (Leonardo GARNIER,
direitos de todos os cidadãos. Isso significa que eles equilibram os 2004, p.125), é uma premissa equivocada. Há múltiplas situações
objetivos potencialmente conflituosos de satisfação dos usuários em que não há como escolher uma “melhor solução” para todos.
com a proteção dos interesses de toda a comunidade ou cidadãos Nesses casos, apenas a política possui legitimidade para decidir.
de um país. Essa é a principal razão por que fornecer serviço de Um claro exemplo do sucesso desse argumento é o caso das
alta qualidade no setor público é muito mais difícil do que no agências reguladoras brasileiras. Todos os que defendem a autono-
mercado. mia dos entes reguladoresbrasileiros, com relação ao governo fede-
ral, insistentemente recorrem a esse discurso.
Cidadão inclui-se em uma categoria jurídica específica, pois o Entretanto, cinicamente, evitam recordar que em 2001 o Brasil
Estado permanece sempre com a responsabilidade pela adequada enfrentou uma crise no abastecimento de energia levando o país a
prestação de serviço público, mesmo que a atividade tenha sido de- uma situação de racionamento. Naquele momento, com a necessi-
legada a um ente privado. A par das referências reducionistas, a dade de rápidas providências para enfrentar a escassez de energia,
expressão cidadão é a que melhor conforma o sentido sobre quem o governo Fernando Henrique Cardoso, o mesmo que havia institu-
é o destinatário dos serviços públicos; é a que dá conta das espe- ído o modelo de agências reguladoras no país, optou, via Medida
cificidades do serviço público, que tem que contemplar o interesse Provisória nº 2.147, de 15 de maio de 2.001, por criar a “Câmara de
público e os aspectos democráticos. Gestão da Crise de Energia Elétrica”, tendo como objetivo propor e
Para Omar GUERRERO (1997b, p.168) “uma das características implementar medidas de natureza emergencial, de forma a evitar
principais da vida cívica, é que o cidadão toma consciência de si interrupções do suprimento de energia elétrica. Correlativamente,
mesmo como tal, mais que como cliente e consumidor do mercado
o Presidente abandonou o projeto de transposição das águas do
econômico”.
São Francisco, então em fase de audiências públicas tumultuadas,
Sue RICHARDS (1994, p.06) sustenta a relevância da cidadania,
cujo impacto seria de reduzir a produção de energia hidroelétrica
a partir da relação existente, pela via do voto e do mandato, entre
na “cascata da CHESF”, no baixo São Francisco. Portanto, o grau de
o cidadão e o seu representante eleito no processo da democracia
representativa: “politização” das decisões “administrativas” é elevado. Estes exem-
os políticos e aqueles técnicos que trabalham junto a eles plos evidenciam que o argumento utilizado pela NGP é um argu-
baseiam-se no mandato eleitoral recebido dos cidadãos. Sejam mento meramente retórico.
quais forem as imperfeições do processo democrático, as eleições A Administração Pública é o ente que vincula o Estado com a
proporcionam o direito a tomar decisões em nome da comunidade. sociedade. Cada funcionário público representa o “rosto” do Estado
frente a cada cidadão. A NGP, ao contrário de incentivar o aper-
feiçoamento dessa relação, buscando integrar o cidadão à gestão
pública, prefere afastá-lo, criando uma falsa dicotomia entre a Ad-
ministração Pública e a política.

21
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Governança versus New Public Management: Concepção Teó- Quadro 1: New Public Management X Governança
rica e Aplicação Prática
O termo governança entra no vocabulário da gestão pública NEW PUBLIC
nas duas últimas décadas, englobando conceitos contraditórios CONCEITO GOVERNANÇA
MANAGEMENT
teoricamente e ideologicamente. Segundo Peters & Pierre (1998),
a governança é uma contrapartida à concepção tradicional da ad- Ignora ou reduz Enfatiza a capacida-
ministração pública. Seus principais focos de análise são os limites o papel dos po- de de liderança dos
da ação do governo, bem como as relações estabelecidas entre go- líticos eleitos, políticos eleitos, res-
verno e setor privado. Para Prats i Catalá (2006), a governança é recomendando a ponsáveis pelo desen-
um movimento que se faz presente nos anos noventa e se refere Desenvolvimen- independência dos volvimento e gestão
ao reconhecimento da importância da boa interação entre governo, tode novos ins- burocratas; ac- de redes públicopri-
sociedade civil e setor privado. trumentos para contability é uma vadas; accountability
No contexto europeu e estadunidense, a governança se refere controle e accoun- questão pouco continua uma ques-
à existência de alguns elementos que se materializam a partir das tability resolvida; tão pouco resolvida; o
reformas neoliberais implementadas em grande escala a partir dos o foco está na foco está na participa-
anos setenta: introdução dos ção de stakeholders,
a) o domínio das redes em políticas públicas: desde a concep- mecanismos de especialmente, no
ção de Castells (1996) sobre o mercado. clientecidadão.
Estado em rede até os dias de hoje prevalece a idéia de que A dicotomia é consi-
as redes, definidas stricto sensu como coleções amorfas de atores A dicotomia é con- derada obsoleta, por
públicos, privados e sem fins lucrativos, dominam a esfera da admi- siderada obsoleta, causa da maior par-
nistração pública (Loyola & Moura, 1996; Mandell, 1999; Marsh & por causa da inefi- ticipação de outros
Redução da dico-
Rhodes, 1992). Para alguns, as redes são vistas como um processo ciência do Estado. atores. Solução pro-
tomia público-pri-
natural decorrente da abertura econômica e democratização (Man- Solução proposta: posta: o setor público
vada
dell, 1999), enquanto para outros se referem ao domínio do setor importação de deve assumir um
privado sobre o setor público, decorrente do processo da perda de técnicas gerenciais papel de liderança na
legitimidade deste último (Peter & Pierre, 1998); do setor privado. mobilização de redes
b) do controle à influência: geralmente, nessas redes de políti- público-privadas.
cas públicas, o governo perde seu poder central e a capacidade de A competição é A competição não é
controlar diretamente os atores e os recursos e passa a usar mais a estratégia central vista como estratégia
capacidade de influência; para o aumento da central; o foco está na
c) uso de recursos públicos e privados: a existência e a institu- Ênfase crescente
eficiência da ges- mistura de recursos
cionalização de parcerias formais e informais entre o setor público na competição
tão pública e para públicos e privados,
e o privado tornam possível o uso híbrido de recursos públicos e responder melhor com maior competi-
privados; ao cliente. ção, onde for o caso.
d) criação de modelos organizacionais híbridos: em alguns ca-
sos, a mistura dos recursos se dá via organizações híbridas do tipo Existe dificuldade em
quangos (Reino Unido), que tornam possível a operacionalização do Foco nos resul- especificar os obje-
conceito da governança. tados e crítica ao tivos e, consequen-
Simultaneamente, nas décadas de 1980 e 1990, vários movi- Ênfase no controle controle dos insu- temente, resultados
mentos, abrigados sob o guarda-chuva da New Public Management dos resultados ao mos. Mecanismos das políticas públicas.
(NPM), especialmente nos países anglo-saxões, propunham solu- invés do controle como contratos de Mecanismos como
ções para a administração pública. Pontos centrais eram a adapta- dos insumos gestão e acordos contratos de gestão
ção e a transferência dos conhecimentos gerenciais desenvolvidos de resultados são ou acordos de resul-
no setor privado para o público, pressupondo a redução do tama- incentivados. tados são incentiva-
nho da máquina administrativa, uma ênfase crescente na competi- dos.
ção e o aumento de sua eficiência. O Estado deve ser
Será, porém, que os conceitos e as práticas inspirados pelos O Estado deve ser
capaz de aumentar as
movimentos de NPM e governança são substancialmente diferen- capaz de cortar
coalizões com outros
tes? Para alguns autores (Rhodes, 1997), o debate da governança gastos, ao mesmo
Ênfase no papel atores, definindo
foi impulsionado pelas condições criadas pela aplicação da filosofia tempo em que res-
articulador do prioridades e objeti-
gerencial de NPM. O quadro a seguir busca ressaltar as semelhan- ponde às expecta-
Estado vos. A comunicação
ças e diferenças dos dois movimentos: tivas crescentes e
entre os diversos ato-
diversificadas da
res é estimulada pela
clientela.
ação do Estado.

22
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Estruturas interorga- De um lado, a desestatização modificou substancialmente a


Estruturas gover- economia brasileira e opapel desempenhado pelo Estado, que dei-
nizacionais, acompa-
namentais míni- xou de privilegiar uma economia mista, tornando-se uma economia
nhadas por modifica-
mas. Diferença privada de mercado, cujo eixo dinâmico do padrão de produção e
Desenho das es- ções na estrutura de
entre formulação e acumulação foi definitivamente transferido para o setor privado
truturas organiza- pessoas, procedimen-
execução de po- (Abranches, 1999). Conceitos como concessão, regulação e parce-
cionais tos, instrumentos de
líticas, a partir da rias público-privadas concretizam um novo modelo de Estado, base-
gestão, planejamento
lógica agent-prin- ado em relações contratuais com o setor privado e responsável por
e orçamento e trans-
cipal. definir objetivos de políticas públicas a serem implementadas com
parência.
a parceria do privado. Simultaneamente, esse mesmo movimento
Mesmo que os mecanismos utilizados pela NPM criem a base se faz presente na relação do Estado com o terceiro setor. Conceitos
material para a proliferação de instrumentos de governança, exis- como Organizações Sociais, OSCIPs, Serviços Sociais Autônomos e
tem diferenças conceituais entre os dois movimentos (Peters & outros materializam uma série de relações público-privadas em áre-
Pierre, 1998; Prats i Catalã, 2006): as como saúde, educação e cultura, como conseqüência de movi-
a) Governança é um conceito essencialmente democrático: a mentos de democratização. O termo de parceria também entra em
redução do Estado como consequência das reformas neoliberais cena como instrumento de contratualização das relações do Estado
pode ter diminuído seu peso e transformado seu papel, mas o au- com o terceiro setor.
mento das parcerias com o setor privado e com o terceiro setor A configuração atual dessa rede de governança se manifesta
também é impulsionado pela crescente pressão da sociedade. A nos conceitos recentemente utilizados para se referir ao novo papel
NPM é ideologicamente marcada pelo neoliberalismo e busca tor- do Estado como catalisador, articulador e facilitador do mercado e
nar as organizações públicas similares às privadas, reconhecendo da sociedade civil. Não é por acaso que conceitos como “concer-
apenas a diferença no produto a ser entregue. A governança reco- tação” (a exemplo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e
nhece a importância das organizações públicas na rede de articula- Social) e regulação (a exemplo da proliferação de agências regula-
ção com o privado. doras) são tão usualmente incorporados e utilizados pela agenda
b) Governança tem foco inter-organizacional: diferentemente política ultimamente.
da NPM, cujo principal foco são as práticas intraorganizacionais, a Mas será que essa mudança do quadro conceitual de operação
governança estimula as redes interorganizacionais, como formas do papel do Estado - mais próxima a uma rede de governança - tem
alternativas para o alcance do interesse público. O setor público é sido acompanhada por modificações substanciais na administração
responsável pelo controle político e pelo desenvolvimento de es- pública? Este ensaio compartilha o pressuposto de que os princí-
tratégias que sustentam a capacidade de ação do governo. A NPM pios transformadores da dinâmica da gestão pública ao longo des-
busca mudar o setor público, tornando-o próximo ao privado. ses anos apresentam-se na agenda política de forma fragmentada
c) Governança sustenta-se em bases ideológicas diferenciadas (Martins, 2004). No entanto, é possível analisar algumas tendências
da NPM: a governança é maleável em diferentes contextos ideoló- gerais, consideradas pelo Plano Diretor da Reforma de Aparelho do
gicos ou culturais. De fato, redes interorganizacionais, intersetoriais
Estado, elaborado em 1995 e que ainda encontra respaldo em vá-
e gestão integrada podem ser implementadas gradativamente, em
rias reformas administrativas concebidas e implementadas em nível
diversos contextos sócio-culturais, adaptando-se às suas caracte-
estadual.
rísticas. Já a NPM sustenta-se pela ideologia neoliberal e busca a
Administração versus Política Lynn Jr. (2001) e Lustosa da Costa
penetração das forças do mercado no setor público.
d) Não existe um modelo único de governança: diferentemente (2006) chamam atenção para o monocórdio do discurso das refor-
do modelo burocrático, a governança não pretende ser um modelo mas originadas nas últimas décadas com base na NPM. Para o pri-
organizativo e funcional de validade universal. A governança é mul- meiro autor, a Administração Pública passou a ser repetidamente
tifacetada e plural, busca eficiência adaptativa e exige flexibilidade, taxada de locus no qual uma burocracia nos moldes weberianos
experimentação e aprendizagem via prova e erro. luta para se manter viva, justificando suas ações com base na tecno-
Resumindo, a governança deriva da cultura política do país cracia e no modo considerado correto pela “Ciência da Administra-
onde se insere, enquanto a NPM não demonstra essa sensibilidade ção”. Fatos deveriam ser separados de valores, o mesmo ocorrendo
contextual e ideológica. Dessa forma, é de se esperar que os de- entre política e administração e entre formulação e implementação
senhos institucionais da governança sejam diferentes, dependendo de políticas públicas. A administração tradicional, conclui o autor,
do contexto onde são aplicados. De forma mais ampla, o conceito passou a ser vista como rígida, centralizadora, insulada, preocupa-
de governança pode ser utilizado na teoria de administração públi- da em se autodefender e profundamente antidemocrática. Bresser
ca para qualificar as relações que o Estado (domínio dos políticos e Pereira, em sua proposta de reforma, também se mostrou favorável
burocratas)desenvolve com o setor privado (domínio das empresas à dicotomia entre políticos e administradores:
e consumidores) e o terceiro setor (domínio da cidadania organiza- “a governança será alcançada e a reforma do Estado será bem
da em torno dos seus interesses). sucedida quando o Estado se tornar mais forte embora menor: (...)
(c) mais forte estrategicamente, dotado de elites políticas capazes
O Contexto Brasileiro: a Rede de Governança e os Instrumen- de tomar as decisões políticas e econômicas necessárias; e (d) ad-
tos de Gestão Pública ministrativamente forte, contando com uma alta burocracia tecni-
Qual é o modelo que mais representa as transformações do pa- camente capaz e motivada.” (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 44)
pel do Estado e da administração pública brasileira ao longo dessas A distinção entre políticos e administradores fez-se presente ao
duas décadas? De forma geral, é possível afirmar que processos de longo da Reforma do Aparelho de Estado de 1995. As propostas de
desestatização e democratização implementados ao longo das duas Bresser Pereira encaixavam-se em um contexto de profunda refor-
últimas décadas consolidaram uma rede de governança baseada mulação do Estado no Brasil durante o governo de Fernando Hen-
nas relações do setor público com o setor privado e o terceiro setor.
rique Cardoso, em que se criticava frequentemente o tamanho da
máquina pública. Essa crítica deu ensejo à redução dos concursos

23
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
públicos, a programas de demissão voluntária e à privatização de neutralidade política dos administradores não pode ser defendida,
diversas empresas estatais. Fernando Henrique Cardoso (1994) já como muitos tentam, sem resgatar a dicotomia.” De forma confusa,
havia sintetizado as mudanças vindouras em sua despedida do Se- ele termina por dar à dicotomia inicial um caráter mais restrito, ao
nado Federal, antes de assumir a Presidência da República: “Resta, associar a neutralidade a não participação de administradores em
contudo, um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca controvérsias políticas.
o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado Esse resgate da discussão não dá nova força à dicotomia, ainda
da Era Vargas – ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao mais se levada em consideração especificamente a realidade brasi-
seu Estado intervencionista”. leira. Não cabe uma análise ampla da formação do Estado brasilei-
O legado da Era Vargas não só era composto pelo desenvolvi- ro, mas custa a crer que, no Brasil dos coronéis de Leal (1997) ou
mento autárquico e pelo intervencionismo estatal, como também do patronato de Faoro (2001), no qual as práticas constantes dessas
adotava como bandeira o profissionalismo da Administração Públi- duas interpretações ainda se fazem presentes, a separação plena
ca, por meio de sua racionalização e de seu treinamento técnico, de entre administração e política seria minimamente viável.
acordo com Keinert (1994). Em suma, objetivava formar a “burocra- Práticas como clientelismo, nepotismo, mandonismo e sobre-
cia tecnicamente capaz e motivada”, a qual aludiu, mais de cinco posição dos interesses privados em relação aos públicos resistiram
décadas depois, Bresser Pereira. às décadas que separam o presente da data original de publicação
A recorrência ao passado, nesse caso, ocorreu de forma acríti- daquelas obras. Exemplo dessa situação é a área de Comunicações,
ca, ignorando debate tradicional no campo da Administração Públi- na qual, como lembra Pieranti (2007), as injunções políticas se fa-
ca há mais de um século. Desde seu nascimento, como lembra Kettl zem sempre presentes.
(2000), a Administração Pública está ligada à Ciência Política: em Se, para os teóricos anglo-saxões, a dicotomia entre adminis-
um primeiro momento, essa era o campo de debate natural acerca tração e política já sofria tantas críticas, no Brasil, dada a correlação
daquela. O reconhecimento da primeira como campo específico de de forças no âmbito do Estado, essa oposição plena só seria possível
mediante uma reforma muito mais ampla à que se propôs em 1995.
estudos deu-se, em parte, graças a uma conferência, em 1887, de
O efeito da separação política-administração apregoada pela NPM
Woodrow Wilson (2002), que viria a assumir o posto de maior pro-
e conscientemente adotada pelo plano de reforma continua a se
jeção política dos Estados Unidos – o de Presidente da República. O
apresentar como um obstáculo à complementaridade entre Estado
autor (2002, p. 14) que conferiu liberdade ao campo da Administra-
(administradores e políticos) e setores da sociedade, necessária à
ção é o mesmo que o atrelou ao governo, ao afirmar que “adminis-
rede da governança em construção. Conceitualmente e empirica-
tração é a parte mais óbvia do governo; é o governo em ação; é a
mente refutada desde os anos cinquenta (mesmo que resgatada de
execução, a operação, a parte mais visível do governo e, claro, tão
forma tímida posteriormente), a dicotomia falha na sustentação da
antiga quanto o próprio governo.”
rede de governança. Não bastasse a fraqueza do alicerce, ele foi
A partir do reconhecimento do novo campo, tornou-se possí-
transposto para uma realidade, a brasileira, sem maiores preocupa-
vel a formação de pessoal específico, os administradores, em mo- ções com sua adaptação contextual.
vimento iniciado após a Primeira Guerra Mundial (Waldo, 1948).
Cabe apontar que a existência de um profissional, ao mesmo tem- Administração Pública Gerencial
po, generalista (por ter uma formação que percorre temas diversos) Surge na segunda metade do século XX, como resposta à ex-
e especializado (por ser fruto de um campo de estudos) represen- pansão das funções econômicas e sociais do Estado e ao desenvol-
tou um contraponto à figura do político. vimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma
Esse não necessariamente dispõe de conhecimentos técnicos, vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à ado-
ascende na carreira de forma diferenciada (normalmente pelo voto) ção do modelo anterior.
e nem sempre está preocupado com o dia-a-dia da máquina públi- Torna-se essencial a necessidade de reduzir custos e aumentar
ca. a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário, resul-
A dicotomia não entre os profissionais, mas entre suas ativi- tando numa maior eficiência da administração pública. A reforma
dades já havia sido apontada por Wilson (2002, p. 20) de forma ta- do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente
xativa: “Questões administrativas não são questões políticas. Ape- pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços pú-
sar de a política determinar as diretrizes da administração, ela não blicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas orga-
deve ser capaz de manipular suas atividades.” A princípio negando, nizações.
Wilson acabava por reconhecer a ligação clara entre as duas. Lynn A administração pública gerencial constitui um avanço, e até
Jr.(2001) e Overeem (2005) lembram que a oposição explícita entre certo ponto um rompimento com a administração pública burocrá-
administração e política não é um postulado teórico, e sim princípio tica. Isso não significa, entretanto, que negue todos os seus princí-
a ser perseguido na prática. pios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada
A dicotomia inicial ensaiada por Wilson foi duramente criticada na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos
ao longo do século XX. Entra, aí, uma terceira variável – as políti- seus princípios fundamentais, como:
cas públicas. Para Vieg (1959), a Administração Pública está ligada • A admissão segundo rígidos critérios de mérito (concurso pú-
a toda área e atividade inerente às políticas públicas, servindo aos blico);
seus fins. Dez anos antes, Long (1949, p. 259) já havia sido mais • A existência de um sistema estruturado e universal de remu-
taxativo: “A performance de agências e departamentos está rela- neração (planos de carreira);
cionada às tarefas de construção, manutenção e aumento do seu • A avaliação constante de desempenho (dos funcionários e de
suporte político.” suas equipes de trabalho);
A ligação entre política e administração já havia se tornado • O treinamento e a capacitação contínua do corpo funcional.
consensual ainda na década de 1950 (Kettl, 2000). Sem que se du- A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa
vidasse mais desse fato, a NPM resgatou a dicotomia, dessa vez li- de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados. A ri-
gando-a à questão da eficiência, abordada adiante. Exemplo desse gorosa profissionalização da administração pública continua sendo
novo embate é a defesa de Overeem (2005, p. 312), para quem “a um princípio fundamental.

24
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Na administração pública gerencial a estratégia volta-se para:
1. A definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir sua unidade;
2. A garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à
disposição para que possa atingir os objetivos contratados;
3. O controle ou cobrança posterior dos resultados.
Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer con-
corrência entre unidades internas.
No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se
que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e
deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).
A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto
a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que, atra-
vés do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente voltada para o interesse
público.
Neste último ponto, como em muitos outros (profissionalismo, impessoalidade), a administração pública gerencial não se diferencia
da administração pública burocrática. Na burocracia pública clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença,
porém, está no entendimento do significado do interesse público, que não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. Para a
administração pública burocrática, o interesse público é frequentemente identificado com a afirmação do poder do Estado.

A administração pública gerencial vê o cidadão como contribuinte de impostos e como uma espécie de “cliente” dos seus serviços. Os
resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os processos administrativos estão sob controle estão seguros, como quer
a administração pública burocrática, mas porque as necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas.
O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige formas
flexíveis de gestão, de estruturas, descentralização de funções, incentivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do formalismo e do
rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho, e à capacitação permanente, que já eram
características da boa administração burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do controle por resul-
tados, e da competição administrada.

CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS

Embora com focos diferentes, observamos que a Administração Pública traz para sua forma de gestão cada vez mais conceitos utili-
zados na Administração Privada, visto que, mesmo em cenários diferentes os desafios e problemas organizacionais, são de certo modo,
muito semelhantes em alguns aspectos.
Apesar dessa tendência, alguns aspectos ainda apresentam diferenças, conforme colocaremos no quadro comparativo abaixo para
melhor visualização.

ASPECTO ADM. PÚBLICA ADM. PRIVADA


Objetivo Atender necessidades coletivas (sociedade) Atender Interesses Individuais (Lucro)
Investimento privado e receitas advindas dos
Obtenção de recursos Receitas derivadas de Tributos
negócios praticados
Controle pelo Mercado, através da concor-
Mecanismo de controle do desempenho Controle Político através das eleições
rência com outras organizações.
Tudo o que não está juridicamente determi- Tudo o que não está juridicamente proibido
nado está juridicamente proibido. Preponde- está juridicamente facultado. Preponderân-
Subordinação ao ordenamento jurídico
rância de normas de direito público (direito cia de normas de direito privado (contratual;
constitucional e administrativo). direito civil e direito comercial)
Sobrevivência depende da eficiência organi-
Tempo de existência indeterminado: o Estado
Garantia da sobrevivência zacional; competitividade acirrada no mer-
não vai à falência.
cado
Decisões mais lentas, influenciadas por vari- Decisões mais rápidas, buscando a raciona-
Processo de Tomada de decisão áveis de ordem política. Políticas Públicas de lidade. Políticas Empresariais voltadas para
acordo com os programas de Governo objetivos de mercado.
Através de instrumento contratual ou socie-
Modo de criação, alteração ou extinção Através da Lei
tário
Outras empresas ou profissionais do seg-
Concorrência Tendencialmente inexistente ou limita
mento no mercado

25
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
(de fornecedores, famílias, gerentes), hierarquias e associações de
GOVERNABILIDADE, GOVERNANÇA E diversos tipos” (Santos, 1997). Ou seja, enquanto a governabilidade
ACCOUNTABILITY tem uma dimensão essencialmente estatal, vinculada ao sistema
político-institucional, a governança opera num plano mais amplo,
englobando a sociedade como um todo.

O Sistema de Intermediação é uma das características da go-


vernabilidade e se refere a grupos que se associam em redes com a
intenção de manifestar suas preferencias frente à atividade estatal.

Temos como formas de sistemas de intermediação:


Clientelismo – podemos considera-lo como uma relação entre
classes sociais diferentes, onde percebe-se uma dependência entre
as partes e uma relação de lealdade e necessidade. Outra coisa que
percebemos nessa forma de intermediação é que esta apresenta
muito mais um aspecto politico, do que cultural ou social, envol-
vendo lealdades pessoais e troca de vantagens através da estrutura
pública que controlam.

Governar significa “deter uma posição de força a partir da qual Corporativismo – trata-se de um sistema representativo de in-
seja possível desempenhar uma função imediatamente associada teresses econômicos e profissionais nos âmbitos políticos, organiza-
ao poder de decidir e implementar decisões ou, ainda, de coman- dos através de entidades singulares, compulsórias, que seguem or-
dar e mandar nas pessoas”. denação hierárquica, não competitivas entre si, e à elas é concedido
Já as expressões governabilidade e governança são muito mais monopólio de representação dentro de sua categoria ou segmento,
qualificativas, ou seja, representam atribuições e qualidades (no sem nenhum tipo de participação no processo decisório da gestão
caso da governabilidade) ou qualidades e meios/processos (no caso publica, sendo na verdade muito mais uma forma de controle do
da governança). Não é simples fazer distinções precisas entre os próprio Estado. Ex.: Câmaras Setoriais.
dois conceitos – governabilidade e governança, mas pode-se assim
delimitar os campos: Neocorporativismo: forma de intermediação de interesses
a) A governabilidade refere-se mais à dimensão estatal do exer- entre sociedade e Estado. Como característica destacável temos a
cício do poder. Diz respeito às “condições sistêmicasinstitucionais existência de corporações de interesse privado na intermediação
sob as quais se dá o exercício do poder, tais como as características publica, surgido dentro da sociedade e indo para o cenário estatal
do sistema político, a forma de governo, as relações entre os Po- através de negociações diretas com a gestão publica. Nesse siste-
deres, o sistema de intermediação de interesses” (Santos, 1997). ma, o que temos é a criação de um canal participativo dessas corpo-
Ainda segundo Luciano Martins, o termo governabilidade refere- rações na tomada de decisão publica, atuando como parceiros, que
-se à arquitetura institucional, distinto, portanto de governança, como contrapartida, poderá oferecer apoio para criação e execução
basicamente ligada à performance dos atores e sua capacidade no de politicas governamentais.
exercício da autoridade política (apud Santos, 1997, p. 342). Se ob-
servadas as três dimensões envolvidas no conceito de governabili- O termo accountability refere-se a ideia de responsabilização,
dade apresentadas por Diniz (1995): capacidade do governo para refere-se ao controle e à fiscalização dos agentes públicos. Porém
identificar problemas críticos e formular políticas adequadas ao seu ainda não possuímos um consenso em relação ao seu conceito. Al-
enfrentamento; capacidade governamental de mobilizar os meios e guns autores defendem a noção menos abrangente do termo, que
recursos necessários à execução dessas políticas, bem como à sua não compreende em seus limites as relações informais de fiscali-
implementação; e capacidade liderança do Estado sem a qual as zação e controle, não considerando assim como agentes de accou-
decisões tornam-se inócuas, ficam claros dois aspectos: a) gover- ntability, a imprensa e organizações da sociedade civil que comu-
nabilidade está situada no plano do Estado; b) representa um con- mente se incumbem de monitorar e denunciar abusos e condutas
junto de atributos essencial ao exercício do governo, sem os quais sem ética de agentes públicos no exercício do poder. Outros autores
nenhum poder será exercido; admitam um rol de relações bem mais abrangente, estipulando que
b) Já a governança tem um caráter mais amplo. Pode englobar tais relações devem necessariamente incluir a capacidade de san-
dimensões presentes na governabilidade, mas vai além. Veja-se, ção aos agentes públicos.
por exemplo, a definição de Melo (apud Santos, 1997): “refere-
-se ao modus operandi das políticas governamentais – que inclui, Neste sentido, destaca-se que:
dentre outras, questões ligadas ao formato político institucional do A melhor participação cidadã na democracia, em resumo, não
processo decisório, à definição do mix apropriado de financiamento é a que se manifesta sempre e em todas as partes, porém a que se
de políticas e ao alcance geral dos programas”. Como bem salienta mantém alerta; a que se manifesta quando é necessário impedir os
Santos (1997) “o conceito (de governança) não se restringe, contu- desvios daqueles que têm a responsabilidade de governo, ou assu-
do, aos aspectos gerenciais e administrativos do Estado, tampouco mir demandas justas que não são atendidas com a devida profundi-
ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado”. Dessa forma, a dade. Porém é preciso que os espectadores não percam de vista o
governança refere-se a “padrões de articulação e cooperação entre espetáculo. Neles (nos espectadores) reside a chave da participação
atores sociais e políticos e arranjos institucionais que coordenam e democrática.
regulam transações dentro e através das fronteiras do sistema eco- Em que se pese, accountability implica não apenas responsa-
nômico”, incluindo-se aí “não apenas os mecanismos tradicionais bilização do governante ou burocrata, mas também a capacidade
de agregação e articulação de interesses, tais como os partidos po- de o agente fiscalizador demandar justificação do governante ou
líticos e grupos de pressão, como também redes sociais informais burocrata por seus atos ou omissões. Entende-se que accountabi-

26
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
lity significa manter indivíduos e organizações passíveis de serem de penalidades aplicáveis ao serviço público, em caso de falhas na
responsabilizadas pelo seu desempenho, sendo portanto um con- execução de diretrizes legítimas enfraquece o ideal democrático do
junto de abordagens, mecanismos e práticas usados pelos atores governo pelo povo, pois expõe os cidadãos aos riscos potenciais da
interessados em garantir um nível e um tipo desejados de desem- burocracia.
penho dos serviços públicos.
Accountability e a administração pública atual
Accountability e democracia participativa Na história da democracia brasileira, destacam-se os períodos
Em primeira instância, entende-se que o desenvolvimento de alternados de autoritarismo e de populismo. Cada um, explica a
uma cultura política e da consciência popular são os primeiros pas- distância entre governo e a sociedade civil, já que ambos dispen-
sos para uma democracia verdadeiramente participativa e para a sam as instituições. Enquanto o governo ditatorial, apoiado pela
accountability do serviço público. A medida que a democracia vai tecnocracia, toma a si a tarefa de definir bem-estar social, o gover-
amadurecendo, o cidadão, individualmente passa do papel de con- no populista tenta estabelecer uma relação direta entre a liderança
sumidor de serviços públicos e objeto de decisões públicas a um personalista e os segmentos populares não organizados. O autorita-
papel ativo de sujeito. A mudança do papel passivo para o de ativo rismo apoiado pela tecnocracia acredita que a participação popular
guardião de seus direitos individuais constitui um avanço pessoal, é prejudicial à obtenção de um rápido crescimento econômico, a
mas, para alcançar resultados, há outro pré-requisito: o sentimento distribuição de rendas e riqueza vai sendo protelada até o país atin-
de comunidade. A cidadania organizada pode influenciar não ape- gir determinado nível de acumulação. Entretanto, antes que esse
nas o processo de identificação de necessidades e canalização de nível seja atingido, as desigualdades acumulam-se em tal proporção
demandas, como também cobrar melhor desempenho do serviço que a tendência é a massa insatisfeita expandir.
público. Destaca-se aqui o caminho ideal para a accountability. Neste contexto, a sociedade atual está marcada por intensas
A sociedade atual precisa atingir um certo nível de organiza- transformações nas relações sociais, políticas, econômicas, pelo
ção de seus interesses públicos e privados, antes de torna-se capaz acelerado desenvolvimento tecnológico e eletrônico. É a mudança
de exercer controle sobre o Estado. A extensão, qualidade e força da era industrial para a digital e o predomínio da cultura dos es-
dos controles são consequências do fortalecimento da malha ins- paços plurais e virtuais. Assiste-se um ‘descortinar’ dos chamados
titucional da sociedade civil na avaliação das políticas públicas, fa- novos direitos dentro de uma nova percepção de realidade. São as
zendo recomendações a partir dessa avaliação. O desenvolvimento necessidades, os conflitos e os novos problemas de caráter social
da consciência popular é condição essencial para uma democracia e ambiental, colocados pela sociedade atual que permitem surgir
participativa. ‘novas’ formas de direitos como um verdadeiro desafio.
Observa-se nas últimas décadas deste século, a criação de leis
A atual realidade exige um novo padrão de deliberação que
e orientação para políticas públicas que envolvem a administração
considere o cidadão como o foco da ação pública. O processo ins-
pública atual. Num primeiro momento essas discussões aparecem
titucional de diferenciação e de complementaridade de funções
na área dos direitos humanos e políticos, ao final do regime militar.
entre Estado, mercado e sociedade civil organizada é um processo
Posteriormente, tem-se os direitos sociais, no período de transição
essencialmente político, que tem reflexo nas competências cons-
para a democracia, especialmente na fase da elaboração da Cons-
titucionais, nos grandes objetivos de governos legitimados pelas
tituição de 1988 e ao final dos anos 90 e início deste novo milênio,
urnas e nas demandas identificadas pelo sistema político e pela bu-
os direitos culturais, ligados ao tema da justiça e da equidade social.
rocracia governamental.
A nova cidadania inclui o processo de invenção e criação de
Neste contexto, nas sociedades democráticas mais modernas
novos direitos, que surgem de lutas e práticas reais. Destaca-se o
aceita-se como natural e espera-se que os governos e o serviço direito aos povos indígenas, direitos à diversidade cultural, a toda
público sejam responsáveis perante os cidadãos. Acredita-se que o coletividade, a proteção a cultura , o direito à autonomia sobre o
fortalecimento da accountability e o aperfeiçoamento das práticas próprio corpo, o direito à proteção do meio ambiente, o direito à
administrativas caminham juntos. moradia, a construção da cidadania de baixo para cima, a adapta-
Vale destacar que Accountability não é apenas uma questão ção dos próprios movimentos sociais à nova democracia, a formu-
de desenvolvimento organizacional ou de reforma administrativa. lação de um projeto para uma nova sociabilidade, que permitem
Entende-se que a simples criação de mecanismos de controle buro- construção da experiência democrático-participativa, no interior da
crático não se tem mostrado suficiente para tornar efetiva a respon- própria sociedade.
sabilidade dos servidores públicos. Para BOBBIO, o desenvolvimento e a mudança social são os
Neste sentido, a accountability deve ser compreendida como fatores condicionantes para o ‘nascimento’, a ampliação e a univer-
uma questão de democracia, pois quanto mais avançado o estágio salização dos ‘novos’ direitos. Ocorre uma espécie de multiplicação
democrático, maior o interesse pela accountability. E a accounta- histórica dos ‘novos’ direitos. Entende-se que a cidadania é enten-
bility tende a acompanhar o avanço de valores democráticos, tais dida como os direitos que decorrem da relação de participação que
como igualdade, dignidade humana, participação, representativida- se estabelece entre Estado e todos os integrantes da Sociedade Ci-
de. A inevitável necessidade o desenvolvimento de estruturas buro- vil, da qual aquele é instrumento, seja numa perspectiva individual,
cráticas para o atendimento das responsabilidades do Estado traz seja coletiva.
consigo a necessidade de proteção dos direitos do cidadão contra No tocante a forte presença do tema dos direitos e da justiça
os usos (e abusos) do poder pelo governo como um todo, ou qual- social na agenda da sociedade civil e política brasileira, nas últimas
quer indivíduo investido em função pública. décadas do século XX, verifica-se que os direitos apareceram como
Destaca-se que na medida em que as organizações públicas au- demanda e reivindicação em diferentes formas: direitos civis, so-
mentam seu tamanho, a complexidade e penetração na vida do ci- ciais, políticos, econômicos, humanos, culturais etc.
dadão comum, cresce também a necessidade de salvaguardar este No que se refere aos direitos civis, estão relacionados com as
último dos riscos da concentração de poder nas mãos dos servido- liberdades individuais, considerados fundamentais para a ação dos
res públicos, quando esses muitas vezes não são representantes ati- indivíduos circunscritos ao direito à vida, à liberdade, à propriedade
vos dos cidadãos. Neste sentido, a inexistência de controle efetivo e e à igualdade perante a lei.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os direitos políticos são os relativos ao direito de votar e ser
votado e o direito de participação em organizações, de se organizar CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS ORGANIZAÇÕES
por afinidade de interesses e opinião. Já os direitos sociais, tidos FORMAIS MODERNAS. TIPOS DE ESTRUTURA ORGA-
como modernos são os direitos trabalhistas, greves, direitos a um NIZACIONAL, NATUREZA, FINALIDADES E CRITÉRIOS
salário que assegure uma dada renda real, à educação pública uni- DE DEPARTAMENTALIZAÇÃO. PROCESSO ORGANIZA-
versal, laica e gratuita, à saúde, à habitação, á previdência, á assis- CIONAL. PLANEJAMENTO, DIREÇÃO, COMUNICAÇÃO,
tência etc. A maioria destes direitos deveria ser assegurada por um CONTROLE E AVALIAÇÃO
Estado de Bem-Estar Social.
Para GOHN, na sociedade civil destacou-se o ‘direito à diferen- ADMINISTRAÇÃO GERAL
ça” das chamadas minorias. É certo que em vários contextos histó-
ricos eram e são a maioria da população, tais como as mulheres, Definição e visão geral da Administração
negros, índios etc. Os novos direitos vem assegurar, garantir os di- Administração é, segundo o Dicionário Houaiss, “ato, processo
reitos dessas minorias. ou efeito de administrar”. E este verbo etmologicamente vem do
Em que se pese essas demandas e reivindicações geraram vá- latim “administrare”, significando “ajudar em alguma coisa, servir
rios movimentos sociais assim como deram origem a inúmeras Or- alguém, ocupar-se de, dirigir, governar, regrar, executar, adminis-
ganizações Não-Governamentais – ONGS. Essa movimentação per- trar”. Na mesma linha, “a palavra administração deriva da expres-
mite unir cultura e constrói uma nova cultura política na sociedade, são latina “administratio” e significa a ação de governar, de dirigir,
a partir da redefinição de valores, símbolos e significados, num jogo de supervisionar, de gerir os negócios próprios ou de terceiros”
de interação e reciprocidade entre o instituído e o instituinte. Hoje, (CASSIANO, BARRETTI, 1980, p.18).
a Constituição da República Federativa do Brasil consagra entre os O Professor Natanael C. Pereira descreve as habilidades do
direitos e garantias fundamentais direitos e deveres individuais e administrador em seu trabalho no Instituto Federal de São Paulo
coletivos, disciplinando entre eles uma gama de direitos e deveres (2014)2:
que se inserem nas relações sociais e não somente nas relações Segundo Katz, existem três tipos de habilidades que o admi-
diante do Estado. nistrador deve possuir para trabalhar com sucesso: habilidade
Já para COMPARATO para abordar a questão dos novos direitos técnica, habilidade humana e habilidade conceitual. Habilidade é
de maneira completa, deve-se entender a importância histórica dos o processo de visualizar, compreender e estruturar as partes e o
Direitos Humanos. Da mesma forma para Cesar Luiz Pasold, a ques- todo dos assuntos administrativos das empresas, consolidando re-
tão estratégica hoje é encontrar o modo mais seguro para garantir sultados otimizados pela atuação de todos os recursos disponíveis.
os direitos humanos, entre os quais estão incluindo os chamados A seguir é apresentado a definição das três habilidades e na Fig.
‘Novos Direitos’. Isto implica, o conhecimento de suas origens, na- 3 é apresentado os níveis organizacionais e a três habilidades do
tureza e evolução, além do estudo de seus aspectos fundamentais, administrador segundo Katz.
éticos e dos mecanismos efetivos de sua defesa e aplicação. - habilidade técnica: consiste em utilizar conhecimentos, méto-
Como bem observa WOLKMER, para entender os chamados dos, técnicas e equipamentos necessários para realização de tarefas
‘novos’ direitos, deve-se percorrer a trajetória da moderna concep- específicas por meio da experiência profissional;
ção dos direitos do homem. Também estão relacionados aos ‘direi- - habilidade humana: consiste na capacitação e discernimento
tos humanos’ ou ‘fundamentais’, sendo os direitos humanos uma para trabalhar com pessoas, comunicar, compreender suas atitudes
esfera mais global, válidos para todos os homens em todos os luga- e motivações e desenvolver uma liderança eficaz;
res e os direitos fundamentais consagrados na constituição do país. - habilidade conceitual: consiste na capacidade para lidar com
Interessa-nos observar que os ‘novos direitos’ estão ligados aos ideias e conceitos abstratos. Essa habilidade permite que a pessoa
direitos que decorrem da ‘relação de cidadania’ e abrem caminhos faça abstrações e desenvolva filosofias e princípios gerais de ação.
para a ‘participação cidadã’ na gestão de um Estado mais democrá-
tico e participativo. Estão relacionados com as políticas públicas e a A adequada combinação dessas habilidades varia à medida que
administração pública. Eles envolvem o Estado e a Sociedade com o um indivíduo sobe na escala hierárquica, de posições de supervisão
exercício da cidadania. Portanto, esses ‘novos’ direitos emergiram a posição de alta direção.
no final do século XX e projetam grandes e desafiadoras discussões A TGA (Teoria Geral da Administração) se propõe a desenvolver
nos primórdios do novo milênio. a habilidade conceitual, ou seja, a desenvolver a capacidade de
Percebe-se que os novos direitos estão diretamente relacio- pensar, de definir situações organizacionais complexas, de diagnos-
nados com as necessidades humanas essenciais de cada época. ticar e de propor soluções.
Estão em permanente redefinição e criação dentro do seu contex- Contudo essas três habilidades – técnicas, humanas e concei-
to histórico, abrindo espaço para múltipla gama de direitos emer- tuais – requerem certas competências pessoais para serem colo-
genciais. Essas necessidades são diversas como: qualidade de vida, cadas em ação com êxito. As competências – qualidades de quem
bem-estar, materialidade social, políticas, religiosas, psicológicas, é capaz de analisar uma situação, apresentar soluções e resolver
biológicas e culturais. São as ‘situações de carência’ que constituem assuntos ou problemas. O administrador para ser bem sucedido
a razão motivadora para a possibilidade dos novos direitos. Contu- profissionalmente precisa desenvolver três competências duráveis:
do, compreender o que são hoje os ‘novos’ direitos é fundamental o conhecimento, a perspectiva e a atitude.
parao exercício da cidadania. No tocante aos aspectos políticos, a
sociedade brasileira amadureceu sua opção pela via democrática.
Destaca-se os conceitos como transparência, participação e contro-
le social estão cada vez mais presentes nos debates, visto como um
desafio.

2. Introdução à Administração – Curso Superior de Tecnologia em Análise e


Desenvolvimento de Sistemas do Instituto Federal de São Paulo – Campus São
Carlos. Obtido em http://www.cefetsp.br/edu/natanael/Apostila_ADM_parte1.
pdf

28
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Figura – Níveis Organizacionais e as três Habilidades do Administrador segundo Katz.

Conhecimento significa todo o acervo de informações, conceitos, ideias, experiências, aprendizagens que o administrador possui a
respeito de sua especialidade. Como o conhecimento muda a cada instante em função da mudança e da inovação que ocorrem com inten-
sidade cada vez maior, o administrador precisa atualizar-se constantemente e renová-lo continuamente. Isso significa aprender a aprender,
a ler, a ter contato com outras pessoas e profissionais e, sobretudo reciclar-se continuamente para não tornar-se obsoleto e ultrapassado;
Perspectiva significa a capacidade de colocar o conhecimento em ação. Em saber transformar a teoria em prática. Em aplicar o
conhecimento na análise das situações e na solução dos problemas e na condução do negócio. É a perspectiva que dá autonomia e
independência ao administrador, que não precisa perguntar ao chefe o que deve fazer e como fazer nas suas atividades;
Atitude representa o estilo pessoal de fazer as coisas acontecerem, a maneira de liderar, de motivar, de comunicar e de levar as
coisas para frente. Envolve o impulso e a determinação de inovar e a convicção de melhorar continuamente, o espírito empreendedor, o
inconformismo com os problemas atuais e, sobretudo, a facilidade de trabalhar com outras pessoas.
Conforme o Art. 2º da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965, que regulamentou a profissão de administrador, sua atividade profis-
sional será exercida, como profissão liberal ou não, mediante:
a)pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens, laudos, assessoria em geral, chefia intermediária, direção superior
b) pesquisas, estudos, análise, interpretação, planejamento, implantação, coordenação e controle dos trabalhos nos campos da
Administração, como administração e seleção de pessoal, organização e métodos, orçamentos, administração de material, administração
financeira, administração mercadológica, administração de produção, relações industriais, bem como outros campos em que esses se
desdobrem ou aos quais sejam conexos.
Assim, o administrador deve ocupar diversas posições estratégicas nas organizações e desenvolver papéis essenciais à sustentabilida-
de e crescimento dos negócios.

Figura – As competências essenciais do administrador, segundo Chiavenato

29
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
De acordo com o Professor Natanael C. Pereira, citando Mintzberg, é possível identificar dez papéis específicos do administrador divi-
didos em três categorias: interpessoal, informacional e decisorial. “Papel significa um conjunto de expectativas da organização a respeito
do comportamento de uma pessoa. Cada papel representa atividades que o administrador conduz para cumprir as funções de planejar,
organizar, dirigir e controlar.” (PEREIRA, 2014).

Figura – Papéis do administrador segundo Mintzberg (apud Pereira, 2014)

O papel do gerente
De acordo com Ronaldo Guedes (2006)3, o administrador deve desenvolver várias habilidades e algumas características são apontadas
como fundamentais ao bom desempenho para desempenhar suas funções e sustentar sua posição:

Classificação de Administradores
Stoner (1999) classifica o Administrador pelo nível que ocupa na organização (de primeira linha, intermediários e altos administrado-
res) e pelo âmbito das atividades organizacionais pelas quais são responsáveis (os chamados administradores funcionais e gerais).

Pelo nível que ocupam na organização


Gerentes de Primeira Linha: Estão localizados no nível mais baixo de gerência, costumam ser chamados de supervisores, não são
responsáveis por outros supervisores e gerenciam apenas trabalhadores operacionais.
Gerentes Médios: Estão localizados no nível intermediário, são responsáveis por Gerentes de Primeira Linha e podem também geren-
ciar trabalhadores operacionais.
Administradores de Topo: São comumente chamados de CEO (Chief Executive Officer), Presidente, Vice-Presidente, ocupam o cargo
máximo nas organizações, são responsáveis por seu direcionamento e seus recursos.

Pelo âmbito das atividades


Administradores Funcionais: São os Administradores responsáveis por uma área funcional, e pela equipe que compõe essa área
funcional. Ex.: Diretor de Marketing, Diretor de Produção, Gerente Comercial.
Administradores Gerais: Comum em pequenas organizações, o Administrador Geral é responsável pelas diversas áreas funcionais da
empresa e pelas pessoas envolvidas nas funções.

Papéis dos Administradores


Mintzberg (apud STONER, 1999) fez um levantamento sobre os papéis dos Administradores dividindo-os em Papéis Interpessoais,
Papéis Informacionais e Papéis Decisórios. Esses papéis são desenvolvidos constantemente no dia a dia dos Administradores.

Papéis Interpessoais
São os papéis que os Administradores executam relativos ao relacionamento com as pessoas e construção conjunto dos resultados.
São divididos em três papéis: Símbolo, Líder e Ligação.
Símbolo representa a função de estar presente em locais e momentos importantes, basicamente tarefas cerimoniais, comparecer
a casamentos, e outros eventos. O Administrador representa a organização, portanto ele é um símbolo desta organização, e ela será
conceituada à partir do Administrador.
Líder é o papel que o Administrador representa o tempo todo, pois ele é responsável por seus atos e de todos seus subordinados.

3. Obtido em http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/administrador-habilidades-e-caracteristicas/13089/

30
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Elemento de Ligação é o papel que o Administrador representa Segundo Chiavenato (2000, p. 3) habilidade técnica “[...]consis-
ao possibilitar relacionamentos que auxiliam o desenvolvimento de te em utilizar conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos
sua empresa e de outros. Ele faz o intercâmbio entre pessoas que necessários para o desempenho de tarefas específicas, por meio da
irão gerar novos negócios ou facilitar os negócios existentes. experiência e educação. É muito importante para o nível operacio-
nal”.
Papéis Informacionais Logo as habilidades técnicas são mais importantes para os
As organizações, o mercado, as pessoas vivem em torno da um gerentes de primeira linha e para os trabalhadores operacionais.
fluxo intenso e contínuo de informações, para um bom desenvolvi- Habilidades Humanas são as habilidades necessárias para
mento, as empresas e os Administradores precisam saber receber, um bom relacionamento. Administradores com boas habilidades
tratar e repassar essas informações. Nesse cenário são destacados humanas se desenvolvem bem em equipes e atuam de maneira
três papéis: Coletor; Disseminador; e Porta-voz. eficiente e eficaz como líderes. Segundo Chiavenato (2000, p. 3)
O Coletor busca as informações dentro e fora das organizações, habilidade humana “[...]consiste na capacidade e facilidade para
procura se informar o máximo possível nas mais variadas fontes trabalhar com pessoas, comunicar, compreender suas atitudes e
de informação. O papel do coletor é possuir o maior volume de motivações e liderar grupos de pessoas”.
informações relativas à organização.
Disseminador é o papel que o Administrador representa ao Habilidades humanas são imprescindíveis para o bom exercício
comunicar as informações à equipe para mantê-la atualizada e em da liderança organizacional
sintonia com a empresa. Habilidades Conceituais são as habilidades necessárias ao pro-
O Administrador deve ser um Porta-voz quando se faz neces- prietário, presidente, CEO de uma empresa. São essas habilidades
sário comunicar informações para pessoas que se localizam fora que mantêm a visão da organização como um todo, influenciando
da organização. O Administrador deve possuir a sensibilidade para diretamente no direcionamento e na Administração da empresa.
discernir entre o que pode ou não ser comunicado as informações Segundo Chiavenato (2000, p. 3):
empresariais. “Habilidade conceitual: Consiste na capacidade de compreen-
der a complexidade da organização com um todo e o ajustamento
Papéis Decisórios do comportamento de suas partes. Essa habilidade permite que
Com toda a informação disponível, cabe aos Administradores a pessoa se comporte de acordo com os objetivos da organização
estudarem-na e tomar decisões baseadas nelas. As decisões são de total e não apenas de acordo com os objetivos e as necessidades de
responsabilidade total dos Administradores, por isso é necessário seu departamento ou grupo imediato.”
cautela e preparo para tomá-las. Quatro são os papéis decisórios, As habilidades conceituais são imprescindíveis aos Administra-
Empreendedor, Solucionador de Problemas, Alocador de Recursos dores de Topo.
e Negociador.
Empreendedor é o papel que o Administrador assume ao Características
tentar melhorar seus negócios propondo maneiras inovadores ou Algumas características são consideradas fundamentais ao
novos projetos que alavanquem a organização. Perfil de um bom Administrador moderno.
O Administrador é um solucionador de problemas, pois se Segundo pesquisa realizada em empresas:
encontra em um ambiente instável e suscetível a um variado leque “[...] as organizações desejam profissionais de Administração
de problemas. Ele deve atuar identificando esses problemas e com as seguintes características: Capacidade de identificar priorida-
apresentando soluções, portanto um Solucionador de Problemas. des; Capacidade de operacionalizar ideias; Capacidade de delegar
Alocador de recursos, porque o dirigente está inserido em um funções; Habilidade para identificar oportunidades; Capacidade de
cenário de necessidades ilimitadas para recursos limitados, assim comunicação, redação e criatividade; Capacidade de trabalho em
sendo ele deve encontrar o equilíbrio para alocar a quantidade cor- equipe; Capacidade de liderança; Disposição para correr riscos e
reta de recursos e sua utilização. Todo Administrador deve ser um responsabilidade; Facilidade de relacionamento interpessoal; Do-
bom negociador, pois estará praticando esse papel constantemente mínio de métodos e técnicas de trabalho; Capacidade de adaptar-se
em suas atividades. Ele deve negociar tanto com o ambiente inter- a normas e procedimentos; Capacidade de estabelecer e consolidar
no como com o ambiente externo sempre objetivando os melhores relações; Capacidade de subordinar-se e obedecer à autoridade.
resultados para sua empresa e para a sociedade. MEIRELES (2003, p. 34).”
São características desafiadoras, não é fácil desenvolvê-las,
Habilidades sustentá-las é ainda mais complicado. Essa é exatamente a missão
Para ocupar posições nas empresas, executar seus papéis e do Administrador, vencer todos seus desafios e mostrar sua capaci-
buscar as melhores maneiras de Administrar, o Administrador deve dade de se manter e crescer nos mais diferentes cenários. Somente
desenvolver e fazer uso de várias habilidades. Robert L. Katz (apud assim o Administrador será considerado capaz de Administrar
STONER, 1999) classificou-as em três grandes habilidades: Técnicas, (GUEDES, 2006).
Humanas e Conceituais. Todo administrador precisa das três habi-
lidades.
Percebe-se que para desenvolver bem seu trabalho, o Adminis-
trador precisar dominar as três habilidades e dosá-las conforme sua
posição na organização.
Habilidades Técnicas são as habilidades ligadas à execução do
trabalho, e ao domínio do conhecimento específico para executar
seu trabalho operacional.

31
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Figura – As habilidades administrativas, segundo Chiavenato

Segundo Patrick J. Montana e Bruce H. Charnov (2010, pp.9-10), “competência administrativa é a habilidade que contribui para um
alto desempenho no cargo gerencial”. Estes autores destacam as recomendações da American Assembly of Collegiate Schools of Business
(AACSB) para o desenvolvimento de habilidades pessoais que levem ao sucesso gerencial:
•Liderança – habilidade para influenciar outros na execução de tarefas;
•Auto-objetividade – habilidade da pessoa de se avaliar de modo realista;
•Pensamento analítico – habilidade para interpretar e explicar padrões nas informações;
•Comportamento flexível – habilidade para modificar o comportamento pessoal para atingir um objetivo;
•Comunicação oral – habilidade para se expressar claramente em apresentações orais;
•Comunicação escrita – habilidade para expressar com clareza as próprias ideias ao escrever;
•Impacto pessoal – habilidade para passar uma boa impressão e infundir confiança;
•Resistência ao estresse – habilidade para desempenhar sob condições estressantes; e
•Tolerância à incerteza – habilidade para desempenhar em situações ambíguas.

Funções da Administração

Planejamento
O Planejamento deve ser visto como o processo desenvolvido para o alcance de uma situação desejada de um modo mais eficiente,
eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços e recursos da empresa (OLIVEIRA, 1999, p.33). Planejar não é prever o futuro! É
preparar-se para um futuro desejado. Antecede a decisão e a ação, em organizações públicas ou privadas.
Com a ação de planejar, busca-se:
• Eficiência: medida do rendimento individual dos componentes do sistema. É fazer certo o que está sendo feito. Refere-se à otimiza-
ção dos recursos utilizados para a obtenção dos resultados.
• Eficácia: medida do rendimento global do sistema. É fazer o que é preciso ser feito. Refere-se à contribuição dos resultados obtidos
para alcance dos objetivos globais da empresa.
• Efetividade: refere-se à relação entre os resultados alcançados e os objetivos propostos ao longo do tempo.

No setor privado, os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade são assim resumidos por Oliveira (1999):

Eficiência
- fazer as coisas de maneira adequada;
- resolver problemas;
- salvaguardar os recursos aplicados;
- cumprir o seu dever; e
- reduzir os custos.

Eficácia
- fazer as coisas certas;
- produzir alternativas criativas;
- maximizar a utilização de recursos;
- obter resultados; e
- aumentar o lucro.

32
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Efetividade Alta administração – corpo dos dirigentes máximos da orga-
- manter-se no ambiente; e nização, conforme definição normativa ou decisão consensual.
- apresentar resultados globais positivos ao longo do tempo Geralmente abrange o principal dirigente, o seu substituto imediato
(permanentemente) e o seu staff.
Alto desempenho institucional – corresponde ao nível de
Eficiência – relação entre o custo e o benefício envolvido na excelência no exercício da ação pública que se objetiva alcançar, ca-
execução de um procedimento ou na prestação de um serviço. racterizado pelo pleno atendimento às necessidades dos cidadãos
usuários e pela imagem positiva de organização pública e por ser
Eficácia – grau de atingimento de uma meta ou dos resultados referência em práticas de gestão e resultados.
institucionais da organização. Benchmark – prática ou resultado considerado um referencial
ou padrão de excelência, utilizado para efeito de comparação de
Efetividade – eliminar ou reduzir sensivelmente o problema desempenho. O melhor da classe. Dependendo da abrangência do
que afeta a sociedade, alcançando a satisfação do cidadão. conjunto de empresas considerado para sua seleção, o benchmark
pode ser internacional, nacional, regional ou setorial.
Importância do planejamento Benchmarking – procedimento de comparar processos, prá-
A organização pode ser entendida como uma série de com- ticas, funções e resultados com benchmarkings, para identificar
ponentes – tarefas, indivíduos, organização formal e organização as oportunidades para melhoria do desempenho. Trata-se de um
informal – cuja natureza de interação e relação entre si afeta a processo contínuo. Essa comparação pode ser feita inclusive com
combinação para se chegar ao produto, definindo o tipo de sistema resultados coletados em ramos de atuação diferentes do setor em
organizacional. Planejamento, por sua vez, é uma metodologia de que atua a organização.
administração que consiste em determinar os objetivos a alcançar Cargo público – ocupação instituída na estrutura do serviço
e as ações a serem realizadas, compatibilizando-as com os meios público, com denominação própria, atribuições e responsabilidades
disponíveis para sua execução. específicas e estipêndio correspondente, a ser provido por um
Na esfera das organizações o planejamento pode ser conceitu- titular.
ado como um processo de gestão desenvolvido para o alcance de Carreira – no setor público é um conjunto de cargos sujeito a
uma situação desejada com o máximo de eficiência, eficácia e efe- regras específicas de ingresso, promoção, atuação, lotação e remu-
tividade, buscando a melhor concentração de esforços e recursos. neração, cujos integrantes detêm um repertório comum de quali-
O propósito do planejamento, conforme Djalma P.R. Oliveira ficações e habilidades. A carreira é criada por lei e deve aplicar-se
(1999), pode ser definido como o desenvolvimento de processos, às atividades típicas de Estado. O cargo público pode ser isolado ou
técnicas e atitudes administrativas, as quais proporcionam uma de carreira.
situação viável de avaliar as implicações futuras de decisões Ciclo para aprendizado – conjunto de atividades visando avaliar,
presentes em função dos objetivos empresariais que facilitarão melhorar e/ou inovar as práticas de gestão e os respectivos padrões
a tomada de decisão no futuro, de modo mais rápido, coerente, de trabalho. As organizações devem possuir eventos específicos e
eficiente e eficaz. Dentro deste raciocínio, pode-se afirmar que o pró-ativos para reflexão e questionamento das práticas e padrões
exercício sistemático do planejamento tende a provocar aumento existentes e buscar a sua melhoria contínua.
da probabilidade de alcance dos objetivos e desafios estabelecidos Ciclo para controle – conjunto de atividades visando verificar
para a empresa. Para este autor, planejamento organizacional é a se os padrões de trabalho das práticas de gestão estão sendo cum-
esquematização dos requisitos organizacionais para poder realizar pridos, estabelecendo prioridades, planejando e implementando,
os meios propostos. Como exemplo, cita a estruturação da empresa quando necessário, as ações de correção e/ou prevenção.
em unidades estratégicas de negócios. Controle social – acompanhamento e fiscalização das ativi-
A administração estratégica se ocupa com o futuro da orga- dades de uma organização, exercidos pelas partes interessadas,
nização, assumindo uma filosofia da adaptação, buscando como pela comunidade, pela sociedade como um todo e pelos meios de
resultado a efetividade por meio da inovação ou diversificação comunicação social.
visando o desenvolvimento sustentado com atitudes pró-ativas Definição dos rumos – procedimento de projetar o estado fu-
(auto-estimulação...) com posturas de crescimento (conjuntura de turo desejado da organização, partindo da sua missão institucional.
oportunidades × fraquezas) ou de desenvolvimento (conjuntura de Desempenho global – desempenho da organização como um
oportunidades × forças). todo, explicitado por meio de resultados que refletem as neces-
Seu grande foco é a estruturação da organização com o sidades de todas as partes interessadas. Está relacionado com os
objetivo de instalar as condições exigidas no esforço de um planeja- resultados planejados pela estratégia da organização.
mento estratégico que promoverá a organização à níveis de maior Eficácia – grau de atingimento de uma meta ou dos resultados
competitividade e consequente vantagem no mercado de inserção. institucionais da organização.
Começando com as premissas básicas (negócio, missão, visão, Eficiência – relação entre o custo e o benefício envolvido na
objetivos permanentes), diretrizes, políticas, análise do ambiente execução de um procedimento ou na prestação de um serviço.
externo (oportunidades, fraquezas, concorrência...), do ambiente Fatores Críticos de Sucesso – são condições fundamentais que
interno (forças, fraquezas), enfim todas as variáveis relevantes para precisam ser satisfeitas para que a instituição ou a estratégia tenha
a formulação do plano estratégico (HERRERA, 2007). sucesso.
Fornecedor – aquele que fornece insumos para os processos
GLOSSÁRIO da organização, seja um produto, seja um serviço, seja informação
Análise crítica – avaliação global de um projeto, serviço, ou orientação. No setor público, as relações entre organização
produto, processo ou informação da organização, com relação a e fornecedor, que envolvam a aquisição de bens ou serviços, são
requisitos, objetivando a identificação de problemas e a proposição regulamentadas por lei e regidas por um contrato administrativo
de soluções. com características distintas das observadas em contratos privados,
tais como a exigência de licitação, só dispensável em determinadas
situações previstas em lei.

33
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Função – atribuição conferida a uma categoria profissional ou Processo crítico – processo de natureza estratégica para o
atribuída a um colaborador para a execução de serviços eventuais. sucesso institucional.
Todo cargo tem função, mas pode haver função sem cargo. As Processos de apoio – processos que dão suporte a alguma
funções do cargo são definitivas, as funções autônomas são tran- atividade-fim da organização, tais como a gestão de pessoas, a ges-
sitórias. tão de compras, o planejamento e o acompanhamento das ações
Indicador – dado que representa ou quantifica um insumo, um institucionais etc.
resultado, uma característica ou o desempenho de um processo, Processo finalístico – processo associado às atividades-fim da
de um serviço, de um produto ou da organização como um todo. organização ou diretamente envolvido no atendimento às necessi-
Pode ser simples (decorrente de uma única medição) ou composto; dades dos seus usuários.
direto ou indireto em relação à característica medida; específico Qualidade – adequação para o uso (Juran). Fazer certo a coisa
(atividades ou processos específicos) ou global (resultados preten- certa já na primeira vez, com excelência no atendimento. Totalidade
didos pela organização como um todo); e direcionadores (indicam de características de uma organização que lhe confere a capacidade
que algo pode ocorrer) ou resultantes (indicam o que aconteceu). de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas dos clientes.
Indicadores de processo – representação objetiva de caracterís- Referenciais comparativos adequados – indicadores, práticas
ticas do processo que devem ser acompanhadas ao longo do tempo ou resultados desenvolvidos ou alcançados por organização pública
para avaliar e melhorar o seu desempenho. Medem a eficiência e a ou privada, que possam ser usados para fins de comparação ou
eficácia dos processos. benchmarking.
Informações relevantes – informações que a organização Requisitos – condições que devem ser satisfeitas, exigências
necessariamente tem que conhecer e manter atualizadas como legais ou particulares essenciais para o sucesso de um processo,
subsídio ao seu processo decisório. serviço ou produto. São as necessidades básicas dos usuários ou
Necessidades – conjunto de requisitos, expectativas e prefe- das demais partes interessadas, explicitadas por eles, de maneira
rências dos cidadãos usuários ou das demais partes interessadas. formal ou informal, e essenciais e importantes para sua satisfação.
Organização do trabalho – maneira pela qual as pessoas Responsabilidade pública – consiste na responsabilidade dos
são organizadas ou se organizam em áreas formais ou informais, administradores e dos servidores públicos em promover e disse-
temporárias ou permanentes, tais como: equipes, áreas funcionais, minar os valores e os princípios fundamentais da Administração
times, grupos de trabalho, comissões, forças-tarefa e outras. Pública e apresentar comportamentos éticos, exercendo um estilo
Padrões de trabalho – qualquer meio que oriente o funciona- de administração transparente, voltada para a prestação de contas,
mento das práticas de gestão, podendo estar na forma de diretrizes procurando estar continuamente consciente dos impactos públicos
organizacionais, procedimentos, rotinas de trabalho, normas admi- potenciais relacionados com sua atuação.
nistrativas, fluxogramas, quantificação dos níveis que se pretende Resultados da organização – são os resultados institucionais
atingir ou qualquer meio que permita orientar a execução das prá- obtidos pela organização pública, no exercício de suas principais
ticas. O padrão de trabalho pode ser estabelecido utilizando como atividades, de acordo com suas atribuições e áreas de competência.
critérios as necessidades das partes interessadas, as estratégias, Resultados orçamentários/financeiros – são os resultados rela-
requisitos legais, o nível de desempenho de concorrentes, informa- cionados com a utilização eficiente e eficaz dos recursos orçamentá-
ções comparativas pertinentes, normas nacionais e internacionais rios/financeiros da União ou oriundos de receita própria, medidos,
etc. entre outros, por meio da redução de custos dos processos, pela
Parceria institucional – relação de trabalho estabelecida entre relação entre o orçamento aprovado e projetos realizados etc.
duas ou mais organizações públicas e/ou privadas, por meio da qual Sinergia – coordenação de um ato ou esforço simultâneo de
cada uma desenvolve um conjunto de ações que, integradas, tem a várias organizações, unidades ou pessoas na realização de uma
finalidade de atingir a objetivos comuns. atividade ou projeto. Combinação da ação de dois ou mais agentes
Partes interessadas – são as pessoas físicas ou jurídicas envol- que usualmente gera resultados superiores quando comparado à
vidas ativa ou passivamente no processo de definição, elaboração, ação individual desses agentes.
implementação e prestação de serviços e produtos da organização, Sistema de liderança – refere-se à forma como a liderança é
na qualidade de clientes, agentes, fornecedores ou parceiros. exercida por toda a organização, de modo a captar as necessidades
Podem ser servidores públicos, organizações públicas, instituições das partes interessadas e usar as informações para a tomada de
privadas, cidadãos, grupos de interesse, associações e a sociedade decisão e a sua comunicação e condução em todos os níveis.
como um todo. Usuários atuais – todos os cidadãos efetivamente atendidos
Pessoal do Quadro Próprio – Pessoal vinculado ao Regime pela organização ou que têm acesso garantido ao serviço quando
Jurídico Único ou à CLT, pertencente ao quadro de pessoal do órgão dele necessita.
ou de outros órgãos públicos. Usuários potenciais – todos os cidadãos com direito a receber
Pessoal Terceirizado – Pessoal oriundo de empresa contratada o serviço prestado pela organização e que não consegue obtê-lo.
para prestação de serviços especializados. Valores organizacionais – entendimentos e expectativas que
Práticas de gestão – atividades executadas sistematicamente descrevem como todos os profissionais da organização se compor-
com a finalidade de gerenciar uma organização, consubstanciadas tam e sobre os quais todas as relações e decisões organizacionais
nos padrões de trabalho. São também chamadas de processos, estão baseadas.
métodos ou metodologias de gestão. Visão de futuro – representação do que a organização espera
Pró-atividade – capacidade de antecipar-se aos fatos com de si mesma e de seu desempenho dentro de um cenário futuro. É
ações preventivas e de promover a inovação e o aperfeiçoamento uma projeção de si mesma, com base em suas expectativas.
de processos, serviços e produtos.
Processo – conjunto de recursos e atividades inter-relacionadas
ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos/
serviços (saídas). Esses processos são geralmente planejados e
realizados para agregar valor aos produtos/serviços.

34
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Estrutura do planejamento (estratégico, tático, operacional) Os três níveis de decisão em uma organização correspondem
O Planejamento Estratégico fundamenta-se nos princípios da aos três tipos de planejamento: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO,
prevenção de problemas e na visão de longo alcance como estraté- PLANEJAMENTO TÁTICO e PLANEJAMENTO OPERACIONAL.
gia para o progressivo desenvolvimento institucional. Como se esta-
belecem as diretrizes estratégicas, os fatores críticos para o sucesso Planejamento Visão, arquitetura,
e os principais planos estratégicos, e como são desdobrados em 3 a 5 anos
Estratégico objetivos do negócio
planos e metas para todas as áreas, para os fornecedores e parcei-
ros da organização, considerando-se os objetivos da organização. Planejamento Alocação de recursos,
1 a 2 anos
O planejamento estratégico consiste em definir-se de maneira Tático seleção de projetos
clara, participativa e com base em um diagnóstico atual e futuro dos Planejamento 6 meses a Atendimento de
ambientes interno e externo, a direção que se quer dar à organiza- Operacional 1 ano prazos e orçamento
ção, formulando missão, visão e valores, e ainda programar e con-
trolar os objetivos, as estratégias4 e os planos de ações definidos. É
o modelo de gestão que pauta a administração pública gerencial.5

Nível
Estratégico
o

Nível
Tático

Nível
operacional
– TEMPOS E CONTEÚDO DO PLANEJAMENTO

Figura – Níveis de planejamento

O Planejamento Estratégico está relacionado com os objetivos


de longo prazo e com as ações que afetarão a organização como um
todo. Deve-se privilegiar a eficácia, a eficiência e a efetividade. “O
processo administrativo que proporciona sustentação metodológi-
Figura – Pensamento estratégico ca para se esclarecer a melhor direção a ser seguida pela empresa,
Fonte: LONA, Miriam, 2009. visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando
Percebe-se que o planejamento estratégico tem, na atualida- de forma inovadora e diferenciada” (OLIVEIRA, 2002).
de, um amplo leque de definições, especialmente no que tange a O plano que ocupa a categoria “Estratégica” tem como foco a
abrangência e aplicabilidade (esse conceito refere-se ao processo empresa ou unidade de negócios como um todo. Ele aborda todos
de planejar como um todo). O plano, por sua vez, refere-se ao os aspectos diretos e indiretos vinculados aos negócios, tendo
documento que consolida e contempla os resultados das atividades como horizonte temporal o longo prazo, ou seja, tem como objetivo
desenvolvidas durante o processo de planejamento que, por si só, preparar a empresa para o futuro. O mesmo serve, adicionalmente,
tem importância secundária, já que o processo de planejamento como orientador para que os planos de nível hierárquico inferior
promove o amadurecimento e desenvolvimento efetivo das (táticos e operacionais) possam ser elaborados, criando, assim,
pessoas envolvidas e, consequentemente, das empresas. O plano uma consonância de pensamento entre os diversos níveis de co-
estratégico tem como fim ser o roteiro que deve ser seguido pelos laboradores da empresa. Esse é, usualmente, desenvolvido pela
envolvidos na implementação das estratégias e táticas desenvol- alta administração (presidência, diretoria e alta gerência) enquanto
vidas durante o planejamento. “Os movimentos estratégicos das que, empresas pequenas e médias empresas, pelos proprietários,
empresas referem-se às constantes buscas por vantagens compe- diretores e gerentes (Marcos Dortes, 2009).
titivas no ambiente econômico onde se desenrola o processo de
concorrência.” (ANGELONI e MUSSI, 2008). Este tipo de planejamento exige maior atuação do grupo estra-
tégico e envolve toda a organização; é direcionado a longo prazo;
foca o futuro e o destino; tem ação global. É o resultado de análises
dos ambientes externos e internos à empresa cujos cenários podem
4. “Caminho, maneira ou ação formulada e adequada para alcançar, preferen- mudar a qualquer momento. Por isso, deve ser sempre monitorado
cialmente, de maneira diferenciada, os objetivos e desafios, estabelecidos, no
para que os ajustes sejam feitos periodicamente, deixando-os atu-
melhor posicionamento da empresa perante seu ambiente” (Djalma Oliveira). “A
estratégia consiste de ações e abordagens comerciais que a gerência emprega alizados. Está associado a uma linha de atuação de forma a atingir
para atingir os objetivos de desempenho da empresa. “ (Arthur Thompson). objetivos de longo prazo.
5. A administração pública gerencial caracteriza-se, entre outras coisas, pela Define qual o negócio da organização, onde ela está hoje e
descentralização política (os recursos são transferidos para os níveis regionais onde quer chegar. Para isso, fixa macro-objetivos que necessitam
e locais) e administrativa, em que os administradores públicos são transforma- ser detalhados e compatibilizados com as possibilidades a cada
dos em gerentes autônomos. Organizações que adotam esse modelo gerencial ponto de sua execução. É o caminho a ser seguido pela organização,
contam com poucos níveis hierárquicos, e nelas existe confiança limitada, em
como forma de responder às mudanças do ambiente. Deve levar
substituição à desconfiança total, em relação aos funcionários e dirigentes.
Trata-se de administração voltada para o atendimento do cidadão e aberta ao em conta:
controle social.

35
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Ameaças e Oportunidades do ambiente externo
• Expectativas da sociedade
• Valores (princípios, motivações)
• Pontos Fortes e Fracos da Organização

No Planejamento Estratégico, premissas são os grandes balizamentos que mediante análise do ambiente interno e externo orientarão
as ações da empresa. Servem para comunicar os princípios éticos e as intenções maiores da empresa. As premissas são compostas de:
• Missão: Razão de ser da Instituição, do grupo ou organização que planeja.
• Visão de Futuro: Situação desejada onde se pretende chegar.
• Valores: São crenças, normas, princípios ou padrões que orientam a atuação da organização. Também expressam motivações e
necessidades dos componentes das organizações.

Figura – Esquema do planejamento estratégico


Fonte: Chiavenato, 2005.

A situação futura será diferente da situação atual. É fundamental buscar reduzir incertezas e riscos. O planejamento deve ser sistê-
mico, único e integrado. A instituição deve estar permanentemente buscando competitividade. As etapas do planejamento estratégico
envolvem:
• Tendências de mercado
• Potencial de mercado
• Análise da concorrência
• Análise SWOT
• Segmentação
• Visão (Obstáculos/Resoluções)
• Objetivos numéricos de longo prazo
• Estratégias para atingir a visão
• Pessoas/Pensamento
• Execução/Controle

No entanto, a realização de um planejamento estratégico, por si só, não garante os resultados. É necessário desenvolver o planeja-
mento tático e o planejamento operacional, de modo que sejam elaborados os planos de ação de cada item sugerido e implementado com
o seu devido acompanhamento.
As organizações planejam a fim de identificar o que deve ser feito. Para saber qual a direção a ser tomada, é a questão do foco. Não há
como identificar necessidades sem ter conhecimento do meio social em que está inserido e de sua realidade interna. Segundo Mintzberg
(1994), a organização precisa planejar porque:

36
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• necessita coordenar suas atividades de modo integrado; Etapa 2 – Sensibilização
• necessita considerar o futuro: Uma vez identificada a necessidade de se desenvolver um
• Preparar-se para o inevitável; planejamento estratégico, é fundamental sensibilizar os integrantes
• Ter opções frente ao indesejável; de toda a organização para a importância do planejamento, desmis-
• Controlar o controlável. tificando os “fantasmas” que existem em torno de qualquer ação
• precisa de racionalidade através da adoção de procedimentos que provoque mudança.
formalizados, padronizados e sistemáticos;
• necessita exercer controle. Etapa 3 – Diagnóstico Estratégico
Após a etapa da sensibilização, o próximo passo a ser dado é
A questão do que fazer é a fixação dos objetivos que poderão o desenvolvimento de um diagnóstico estratégico mais detalhado
ser desenvolvidos em um planejamento. Planeja-se: da real situação da organização e de seu ambiente externo – meio
1. Para verificar prioridades – por que fazer? social. É também chamado de análise situacional.
2. Para estabelecer metas – quando fazer? Vale a pena observar que deve ser apenas um roteiro, poden-
3. Para definir estratégias e ações – como fazer? do-se acrescentar variáveis e alterando o que pensar ser interes-
4. Para estabelecer responsabilidades – quem fará? sante, a fim de adaptá-lo à realidade da organização na qual está
5. Para delinear recursos – qual o custo? sendo desenvolvido o diagnóstico estratégico. Para poder otimizar
6. Para executar e acompanhar. os resultados de qualquer diagnóstico é sempre bom considerar os
conceitos de ponto forte, ponto fraco, oportunidade e ameaça:
Antes de desenvolver um planejamento estratégico é impor- • Ponto Forte: é uma diferenciação da organização que lhe
tante saber que existem muitas metodologias para essa finalidade. proporciona uma vantagem competitiva;
Desde a década de 1970, autores clássicos como Ansoff e Steiner • Ponto Fraco: é um aspecto negativo da organização que lhe
passaram a ver a formulação de estratégias como um processo proporciona uma desvantagem competitiva;
formal, separado e sistemático. O modelo básico de planejamento, • Oportunidade: é uma força ambiental externa que pode criar
desenvolvido por Steiner surgiu dividido em seis etapas: uma situação favorável para a organização;
• Fixação de objetivos; • Ameaça: é uma força ambiental externa que cria uma situa-
• Auditoria Externa; ção de risco para a organização e que não pode ser evitada.
• Auditoria Interna;
• Avaliação da Estratégia; Um roteiro no estilo de lista de verificação ou check list pode
• Operacionalização da Estratégia e ser utilizado para o desenvolvimento estratégico.
• Programar o processo.
Etapa 4 – Definição da base estratégica corporativa
A direção do planejamento estratégico, o nível hierárquico de Esta etapa consiste em definir missão, visão, negócio e con-
início, pode ser uma opção. Existem organizações que preferem sequentemente slogan, valores e objetivos para a organização.
desenvolvê-la a partir do nível estratégico em direção ao nível ope- Abordando os temas separadamente, temos que:
racional. A duplicidade de escolhas tem seus aspectos negativos e
positivos: – A missão deve representar o que a organização quer ser.
• A primeira demanda maior envolvimento da cúpula e pode Tem uma conotação futura. Da mesma forma que a etapa de
acarretar falta de comprometimento do nível operacional. Este pro- sensibilização, a definição da missão pode ser feita a partir de uma
blema pode ser sanado se a questão motivacional e de explicitação reunião com a cúpula da organização, com as pessoas-chave ou até
dos benefícios for bem trabalhada. mesmo com todos os colaboradores.
• A segunda busca uma visão geral do que a maior parte dos Há várias maneiras de se desenvolver uma missão, se tivermos
colaboradores (servidores) deseja. Mas pode não ter nada a ver em mão algumas perguntas, esse processo ficará mais simples. As
com o que a cúpula almeja para a organização. questões que devem ser colocadas:
• O que devemos fazer?
Uma forma eficiente de desenvolver um planejamento estraté- • Qual o perfil de nosso “cliente”?
gico pode se dar em etapas: • Como devemos atender nossos “clientes”? Quais meios
devem ser escolhidos?
Etapa 1 – Pré-diagnóstico • Qual a responsabilidade social que devemos ter?
Em uma organização esta etapa é visualizada como um “pri-
meiro olhar” sobre ela e seu ambiente externo, conversas informais – A visão deve representar um sonho a ser perseguido.
com os dirigentes nos dirão se: Há organizações que querem sobressair pelo tamanho (porte)
- a organização precisa de um planejamento; e outras pela qualidade de seus produtos e serviços, e há ainda as
- quem poderia desenvolver esse planejamento; que querem as duas coisas. Cabe a cada organização, e a seu gestor
- quais as expectativas dos dirigentes com relação aos resulta- ou gestores, escolher o caminho e o seu sonho.
dos.
Esta etapa é fundamental para que não se inicie o processo de A partir da definição de negócio, pode-se formular um slogan
planejamento estratégico em momento errado. Esta avaliação pode para a organização, que poderá e deverá ser usado como marketing
ser feita em uma reunião ou em circulação pela organização. institucional.
– Os valores devem representar a forma de conduta de todas as
pessoas da organização.
Após a apresentação dos valores de uma organização, desen-
volve-se uma justificativa, no sentido de explicar por que aquele
valor é importante para a organização.

37
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
– Os objetivos estratégicos representam um resultado a ser atingido.

Etapa 5 – Definição de estratégias


Para cada estratégia definida, deve-se atribuir uma nota aos fatores. Quanto maior o valor atribuído, maior será o nível de gravidade,
urgência ou tendência. A matriz GUT entra em ação.

Etapa 6 – Definição de Planos de Ação


Para cada estratégia definida, um conjunto de ações, para cada ação uma meta e um responsável em administrá-la. Envolvendo todos
os níveis hierárquicos no planejamento elaborado dentro de um cronograma de execução.

Etapa 7 – Definição de recursos


Todos os gastos devem ser calculados, mesmo que a organização não vá gastar além dos desembolsos normais, tendo em vista que a
partir do momento que as pessoas estão envolvidas com qualquer tipo de atividade, isso representa gasto para a organização.

Etapa 8 – Implementação
Nesta etapa, pode-se definir como será deflagrado o processo de implementação do planejamento e deve-se desenvolver um rela-
tório detalhado do que foi planejado e distribuído aos responsáveis pelos objetivos, estratégias e ações. E mais, um relatório resumido e
personalizado para as outras pessoas.

Etapa 9 – Monitoração, Avaliação e Controle


Como as mudanças ambientais não param somente porque estamos implementando um planejamento, deve-se definir o responsável
pelo monitoramento, isto é, quem irá refazer o diagnóstico estratégico e com qual periodicidade.
Segundo Dortes (2009), a atividade de planejamento estratégico não é uma atividade estática, que uma vez realizada termina em si
própria. Planejamentos estratégicos devem ser realizados e revisados periodicamente, de forma que as diversas mudanças ambientais
possam ser devidamente tratadas, no sentido de que a empresa continue ou efetue ajustes de rota para se manter sempre no melhor
caminho que a leve a seus objetivos e consequentemente a seu sucesso. Neste sentido o processo de planejamento estratégico torna-se
uma atividade cíclica, com periodicidade de revisão anual ou de bienal. A figura abaixo ilustra um ciclo típico de planejamento.

Figura – Dinâmica de planejamento


Fonte: Marcos Dortes, 2009.

38
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No conjunto “Ambiente Interno”, encontram-se todos os elementos pertencentes ao ambiente interno da empresa, foco do pla-
nejamento, que por sua vez não só a influenciam como também interferem direta ou indiretamente no processo de planejamento. Os
elementos ambientais internos: pontos fortes e fracos, aspectos dos produtos, aspectos da área comercial (estrutura, experiência, número
de funcionários, grau de atuação e agressividade, maturidade, política comercial, canais de distribuição etc.), área de marketing, área
produtiva, área de logística, dentre outros diversos.
Já no conjunto “Ambiente Externo”, encontram-se todos os elementos pertencentes ao ambiente da empresa foco do planejamento,
que por sua vez não só a influenciam como também interferem direta ou indiretamente no processo de planejamento. Os elementos am-
bientais externos: riscos, oportunidades, mercados alvo, perfil dos consumidores, hábitos de compra e consumo, concorrência (número de
concorrentes, distribuição, grau de agressividade, grau de experiência, posicionamento etc.), aspectos macroeconômicos, político-sociais,
tecnológicos, reguladores, dentre outros (DORTES, 2009).
A ferramenta mais utilizada para a definição de cenários é a matriz de análise SWOT. O termo vem do inglês e representa as iniciais
das palavras Strenghts (forças), Weaknesses (fraquezas), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). Assim, a análise estratégica
da organização se divide em:
• Análise do Ambiente Externo – Permite construir uma visão integrada das principais tendências de curto, médio e longo prazos do
contexto de atuação, sinalizando as oportunidades6 e ameaças7, no cumprimento de sua Missão e na construção de sua Visão de Futuro.
• Análise do Ambiente Interno – Análise das características internas da organização vai revelar, sob um ponto de vista estratégico, as
forças8 e fraquezas9, bem como, permite identificar as suas causas.

O ambiente interno pode ser controlado pelos dirigentes da empresa, uma vez que ele é resultado das estratégias de atuação definidas
pelos próprios membros da organização. Desta forma, durante a análise, quando for percebido um ponto forte, ele deve ser ressaltado ao
máximo; e quando for percebido um ponto fraco, a organização deve agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito.
Já o ambiente externo está totalmente fora do controle da organização. Mas, apesar de não poder controlá-lo, a empresa deve
conhecê-lo e monitora-lo com frequência, de forma a aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças. Evitar ameaças nem sempre é
possível, no entanto pode-se fazer um planejamento para enfrentá-las, minimizando seus efeitos (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA).

Análise AMBIENTE INTERNO


A Situacional
Predominância de Predominância de
M Pontos Fracos Pontos Fortes

B Postura Estratégica: Postura Estratégica:


Predominância de Sobrevivência Manutenção
I Ameaças

E
- Redução de - Estabilidade
custos
- Nicho
N - Desinvestimento
- Especialização
T - Liquidação

E
Predominância de Postura Estratégica: Postura Estratégica:
Oportunidades Crescimento Desenvolvimento

E - Inovação - De produção
X
- Parcerias
- De usuários
T -
-
De capacidade
Expansão
E - De estabilidade
R - De diversificação
N
O

Figura – Análise estratégica da organização

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), um processo de planejamento estratégico é basicamente um processo de mudança.
Ele visa reduzir a lacuna existente entre o ganho de desempenho incremental, decorrente de uma evolução “natural” da situação atual, e
o esempenho necessário. Superar essa lacuna demanda alteração do status quo, o que gera processos comuns de reação.
A reação diante da mudança tem fonte nas incertezas, novas condições de prestação de contas, alteração nos hábitos profissionais
estabelecidos, mudanças técnicas e sociais. Há quatro grupos de posicionamento tipicamente identificados em pessoas envolvidas em
processos de mudança. Esses grupos podem ser agregados em dois conjuntos de características comportamentais. O processo de comu-
nicação da estratégia precisa levar as pessoas do primeiro grupo ao segundo.

6. Oportunidades são situações, tendências ou fenômenos externos à organização, atuais ou potenciais, que podem contribuir em grau relevante e por longo tempo
para a realização de sua missão e objetivos e/ou para o alcance de um bom desempenho.
7. Ameaças são situações, tendências ou fenômenos externos à organização, atuais ou potenciais, que podem prejudicar substancialmente e por longo tempo para a
realização de sua missão e objetivos e/ou para o alcance de um bom desempenho.
8. Forças (pontos fortes) são fenômenos ou condições internas capazes de auxiliarem, por longo tempo, o desempenho ou o cumprimento da missão e dos objetivos.
9. Fraquezas (pontos fracos) são situações, fenômenos ou condições internas, que podem dificultar a realização da missão e o cumprimento dos objetivos.

39
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Figura – conjuntos de características comportamentais


Fonte: Conselho Nacional de Justiça-CNJ

Os processos de planejamento estratégico definem três graus de intensidade de mudanças nas organizações:
• Satisfação = é encontrada nos processos em que os aspectos financeiros relacionados são preocupações básicas, não possuindo,
assim, outros desdobramentos tais como expansão, refinamento operacional, melhoria de qualidade ou outros.
• Otimização = pode ser considerada um avanço da “Satisfação”, pois busca também, além da otimização e maximização dos aspectos
financeiros, a otimização dos processos diversos da organização, porém atêm-se, somente, ao ambiente interno da empresa.
• Adaptação = pode ser considerada um avanço da “Otimização”, pois, por ser mais abrangente, estabelece o equilíbrio entre o
ambiente interno e externo como preocupação, promovendo, assim, a melhoria constante do processo, independente das alterações do
ambiente externo.

O Processo de Gestão da Estratégia (PGE) enfatiza três elementos gerenciais, quais sejam:
• O ciclo de gestão da operação: diz respeito ao planejamento, organização, liderança e avaliação das operações;
• A gestão de projetos: diz respeito ao planejamento, organização, liderança e avaliação da execução da carteira de projetos necessá-
rios à implementação de uma dada estratégia (ou, à entrega de uma missão); e,
• O ciclo de aprendizado estratégico: diz respeito à avaliação da execução da estratégia escolhida pela organização (ou, à entrega de
sua missão).

Na análise do ambiente externo, a análise PEST é uma ferramenta do planejamento estratégico, consistindo na análise de quatro
variáveis do ambiente externo: Político-legal, Econômico, Sócio-cultural e Tecnológico.
Uma ferramenta utilizada para a prospecção de cenários é a análise PEST. Segundo Castor (2000, p. 05) “O acrônimo PEST é utilizado
para identificar quatro dimensões de análise ambiental de natureza qualitativa de fenômenos dificilmente quantificáveis: a Política, a
Econômica, a Social e a Tecnológica”. O mesmo afirma que essa ferramenta torna-se mais útil quando utilizada conjuntamente com outros
instrumentos de análises, e a limitação quanto à quantidade de variáveis a ser investigadas tem uma razão de ser. Pois, quando há um
excesso de informações, uma empresa pode ficar imobilizada, com receio de deixar uma variável importante de lado, perdendo o foco e
deixando de agir tempestivamente. Contudo, mesmo sendo uma ferramenta de análise qualitativa, Castor (2000) afirma que a utilização
de métodos quantitativos seja importante, onde são atribuídas probabilidades a cada uma das variáveis, e feitas avaliações sobre os
impactos das mesmas sobre a capacidade da empresa de alcançar seus objetivos corporativos (SOBER, 2010).10
Na análise do ambiente interno, recomenda-se a Cadeia de valor, que consiste na análise de adequação e suficiência do sequencia-
mento dos processos necessários ao fornecimento dos serviços aos clientes.
Segundo Kaplinsky e Morris (2000), a cadeia de produção é chamada de cadeia de valor, que consiste no arranjo das atividades
necessárias para produzir um bem ou serviço, desde a sua concepção, passando pelas diferentes fases da produção até a entrega para
o consumidor final. Sob esse enfoque, os agentes presentes em cada um dos elos da cadeia de produção dão a sua contribuição para
aumentar o valor do produto final. Vale ressaltar que o produto que chega ao consumidor final é a soma dos valores adicionados por
cada um dos elos ao longo da cadeia produtiva, resultado da ação dos agentes e da coordenação entre eles (BESANKO et al., 2004). Sendo
assim, as condições em que o produto chega ao consumidor final depende tanto das atividades internas à organização quanto da sua
coordenação com os outros elos da cadeia produtiva da qual faz parte.
Vale ressaltar que as relações entre os diferentes elos de uma cadeia produtiva geralmente são desiguais, o que revela a presença de
agentes que capturam maior valor do que outros ao longo da cadeia (Roberta de Castro Souza e João Amato Neto, 2005).11
A abordagem do planejamento estratégico e o desdobramento dos planos da organização incluem o desenvolvimento, a tradução
e o desdobramento eficaz dos requisitos globais de desempenho (operacional e em relação aos clientes), provenientes da estratégia.
Enfatizam, portanto, que a qualidade centrada no cliente e a excelência do desempenho operacional são questões estratégicas críticas
que, obrigatoriamente, precisam ser partes integrantes do planejamento da organização.
Deste modo, a melhoria e a aprendizagem devem fazer parte das atividades diárias de todas as unidades de trabalho. O papel fun-
damental do planejamento estratégico é direcionar o trabalho cotidiano, alinhando-o com as diretrizes estratégicas da organização e
assegurando, dessa forma, que a melhoria reforce as prioridades da organização.
10. Obtido em http://www.sober.org.br/palestra/15/744.pdf
11. Obtido em ftp://ftp.sp.gov.br/ftpiea/publicacoes/asp1-2-05.pdf

40
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O Planejamento Tático são os objetivos de médio prazo. É o • Recursos – as pessoas são o principal recurso tangível das
planejamento dos subsistemas organizacionais. organizações; além dos recursos humanos são necessários recur-
O plano que ocupa a categoria “Tático” tem como foco os sos materiais, recursos financeiros e recursos intangíveis (tempo,
departamentos operacionais da empresa. Com base na visão, ob- conhecimentos, tecnologias).
jetivos e metas preestabelecidas pelo plano estratégico, os planos • Processos de transformação – os processos viabilizam o alcan-
táticos tratam de estabelecer seus próprios objetivos e metas que, ce dos resultados, pois são um conjunto ou sequência de atividades
sendo cumpridos, colaborarão para o cumprimento dos objetivos e interligadas com início, meio e fim, combinando os recursos para
metas maiores (Marcos Dortes, 2009). fornecer produtos ou serviços. É a estrutura de ação de um sistema,
Este tipo de planejamento exige maior atuação do grupo sendo os mais importantes: processo de produção (transformação
gerencial e envolve cada departamento; é direcionado a médio de matérias-primas) e processo de administração de recursos
prazo; foca o mediato; tem Ação departamental. Tem por objetivo humanos (transformação de necessidades de mão-de-obra em
otimizar determinada área de resultado e não a empresa como pessoas capacitadas e motivadas para atuarem na organização).
um todo. Trabalha com decomposições dos objetivos, estratégias • Divisão do trabalho – cada pessoa e cada grupo de pessoas
e políticas fixadas no planejamento estratégico. Desenvolve-se em são especializadas em tarefas necessárias ao alcance dos objetivos
níveis organizacionais inferiores e busca a utilização eficiente dos da organização, sendo que a especialização faz superar limitações
recursos disponíveis para a consecução de objetivos previamente individuais. A soma das especializações de cada um produz sinergia,
estabelecidos, segundo uma estratégia predeterminada. Visa às um resultado maior que o trabalho individual.
políticas orientativas para o processo decisório da empresa. Pode
ser: mercadológico, financeiro, de recursos humanos, de produção, Para Robbins, Decenzo e Wolter (2012, p.127), organização “é
organizacional etc. a ordenação e agrupamento de funções, alocação de recursos e
Enquanto o planejamento estratégico relaciona-se com obje- atribuição de trabalho em um departamento para que as atividades
tivos de longo prazo (institucionais) e com maneiras e ações para possam ser realizadas conforme o planejado”.
alcançá-los que afetam a empresa como um todo, o planejamento Segundo Chiavenato (2009), a organização é um sistema de
tático relaciona-se a objetivos de mais curto prazo e com maneiras atividades conscientemente coordenadas de duas ou mais pessoas,
e ações que geralmente, afetam somente uma parte da empresa. que cooperam entre si, comunicando-se e participando em ações
O Planejamento Operacional está relacionado com os objetivos conjuntas a fim de alcançarem um objetivo comum. Continua o
a curto prazo e com os níveis hierárquicos mais baixos da organi- autor em uma abordagem mais ampla:
zação. Consiste nos planos de ação ou planos operacionais, que As organizações são unidades sociais (ou agrupamentos huma-
formalizam o processo de planejamento. “É a formalização, prin- nos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir
cipalmente através de documentos escritos, das metodologias de objetivos específicos. Isso significa que as organizações são constru-
desenvolvimento e implantação estabelecidas” (OLIVEIRA, 2002). ídas de maneira planejada e elaboradas para atingir determinados
O plano que ocupa a categoria “Operacional” ou de “Ação” objetivos. Elas também são reconstruídas, isto é, reestruturadas e
nada mais é do que um desdobramento dos planos táticos que redefinidas, na medida em que os objetivos são atingidos ou que se
contempla o detalhamento de ações, recursos, tempos, prazos, descobrem meios melhores para atingi-los com menor custo e me-
enfim, todo o necessário ao cumprimento dos objetivos e metas es- nor esforço. Uma organização nunca constitui uma unidade pronta
tabelecidas nos planos táticos. Usualmente, são desenvolvidos por e acabada, mas um organismo social vivo e sujeito a constantes
chefes de departamento, supervisores ou outros níveis próximos do mudanças (CHIAVENATO, 2009, p.12-13).
escalão executivo(Marcos Dortes, 2009). Uma organização é a coordenação de diferentes atividades de
Este tipo de planejamento exige também maior atuação do contribuintes individuais com a finalidade de efetuar transações
grupo gerencial e envolve cada tarefa/atividade; é direcionado planejadas com o ambiente. Esse conceito utiliza a noção tradicio-
a curto prazo; foca o imediato/presente; tem ação específica. É a nal de divisão de trabalho ao se referir às diferentes atividades e
formalização das metodologias de desenvolvimento e implantação à coordenação existente na organização e aos recursos humanos
estabelecidas. Apresenta-se principalmente através de documentos como participantes ativos dos destinos dessa organização.
escritos. São os planos de ação ou planos operacionais, que corres- No que se refere à importância econômica e social, a organi-
pondem a um conjunto de partes homogêneas do planejamento zação permite o emprego dos fatores de produção (terra, capital,
tático. Seu conteúdo abrange: trabalho, tecnologia etc.) para satisfazer necessidades humanas de
• Recursos necessários para desenvolvimento e implantação modo racional e sustentável, uma vez que os bens são escassos e as
• Procedimentos básicos a serem adotados necessidades são ilimitadas.
• Produtos ou resultados finais esperados Com a transformação de recursos em produtos e serviços, a
• Prazos estabelecidos sociedade se beneficia com a geração de renda, empregos, tributos,
• Responsáveis pela sua execução e implantação infra-estrutura, serviços públicos e o equilíbrio do mercado.
Quanto aos tipos de organização, as organizações podem ser
Organização públicas ou privadas; com fins econômicos (lucrativos) ou não.
O Prof. Antonio C. A. Maximiano define organização como “um Como pessoas jurídicas, sua tipologia segue o Código Civil (Lei
sistema de recursos que procura realizar algum tipo de objetivo 10.406, de 2002):
(ou conjunto de objetivos). Além de objetivos e recursos, as orga- • Pessoas jurídicas de direito público interno – União, Estados,
nizações têm dois outros componentes importantes: processos de Distrito Federal, Territórios, Municípios, autarquias (inclusive as
transformação e divisão do trabalho” (2010, p.3). associações públicas) e demais entidades de caráter público criadas
Maximiano explica: por lei (art. 41);
• Objetivos – o principal é fornecer alguma combinação de • Pessoas jurídicas de direito público externo – Estados estran-
produtos e serviços, do qual decorrem outros objetivos, tais como geiros e todas as pessoas regidas pelo direito internacional público
satisfazer clientes, gerar lucros para sócios, gerar empregos, promo- (art. 42);
ver bem-estar social etc.

41
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Pessoas jurídicas de direito privado – associações, socieda- Departamentalização por Funções
des, fundações, organizações religiosas e partidos políticos (art. 44). Características: Agrupamento das atividades de acordo com as
Destas, somente as sociedades possuem fins econômicos. funções principais da empresa.
Funções organizacionais são as tarefas especializadas que
ocorrem nos processos da organização, resultando em produtos e Vantagens:
serviços. De acordo com Maximiano, as funções mais importantes • Agrupa especialistas comuns em uma única chefia.
são: • Garante plena utilização das habilidades técnicas das pessoas.
• Operações – também chamada de produção, é a responsável • Permite economia de escala pela utilização integrada de
pelo fornecimento do produto ou serviço, por meio da transforma- pessoas e produção.
ção dos recursos. • Orienta as pessoas para uma única e específica atividade.
• Marketing – seu objetivo básico é estabelecer e manter a • Indicada para condições de estabilidade.
ligação entre a organização e seus clientes, consumidores, usuários • Reflete auto-orientação e introversão administrativa.
ou público-alvo, realizando atividades de desenvolvimento de pro-
dutos, definição de preços, propaganda e vendas etc. É uma função Desvantagens:
que ocorre tanto em organizações lucrativas como naquelas que • Reduz a cooperação interdepartamental.
não visam lucro em suas operações. • Inadequada quando a tecnologia e ambiente são mutáveis.
• Finanças – responsável pelo dinheiro da organização, busca • Dificulta adaptação e flexibilidade a mudanças externas.
a proteção e a utilização eficaz dos recursos financeiros, inclusive • Faz com que pessoas focalizem sub objetivos de suas espe-
a maximização do lucro quando se trata de empresas. Preocupa-se cialidades.
com a liquidez para saldar obrigações da organização e abrange
financiamento (busca de recursos financeiros), investimento Departamentalização por Produtos/Serviços
(aplicação), controle do desempenho financeiro e destinação dos Características: Agrupamento das atividades de acordo com
resultados. o resultado da organização, ou seja, de acordo com o produto ou
• Recursos humanos – também chamada de gestão de pessoas, serviço realizado.
busca encontrar, atrair e manter as pessoas de que a organização
necessita, envolvendo atividades anteriores à contratação do fun- Vantagens:
cionário e posteriores ao seu desligamento, tais como: planejamen- • Fixa a responsabilidade dos departamentos para um produto
to de mão-de-obra, recrutamento e seleção, treinamento, avaliação
ou serviço.
de desempenho e remuneração etc.
• Facilita a coordenação interdepartamental.
• Pesquisa e Desenvolvimento – busca transformar as informa-
• Facilita a inovação, que requer cooperação e comunicação de
ções de marketing, as ideias originais e os avanços da ciência em
vários grupos.
produtos e serviços. Identifica e introduz novas tecnologias, bem
• Indicada para circunstâncias externas mutáveis.
como melhora os processos produtivos para redução de custos.
• Permite flexibilidade.
Departamentalização
Desvantagens:
A departamentalização é uma forma de fracionar a estrutura
• Dispersa os especialistas em subgrupos orientados para
organizacional (divisões, seções, diretorias, departamentos, co-
ordenações, serviços etc.), objetivando agrupar as atividades que diferentes produtos.
possuem uma mesma linha de ação, de forma a aumentar a eficiên- • Contra-indicada para circunstâncias externas estáveis.
cia, o controle, e descentralizar a autoridade e a responsabilidade. • Provoca problemas humanos de temores e ansiedades com
Representa a divisão do trabalho no sentido horizontal, ou seja, a instabilidade.
em sua variedade de tarefas, uma vez que a divisão do trabalho no • Enfatiza a coordenação em detrimento da especialização.
sentido vertical refere-se aos níveis de autoridade.
Surge diante da necessidade de se aumentar a perícia, a efici- Departamentalização Geográfica
ência e a melhor qualidade do trabalho em si, correspondendo a Características: Agrupamento das atividades de acordo com o
uma especialização de atividade e de conhecimentos. território, região ou área geográfica.
O grau de complexidade/diferenciação estrutural do núcleo
operacional está relacionado predominantemente aos seguintes Vantagens:
fatores (definidores de critérios de departamentalização): a) dife- • Assegura o sucesso da organização pelo ajustamento às
renciação de produtos/serviços/áreas de resultado; b) segmentos condições locais.
de beneficiários; c) regiões de atuação; d) temas ou questões re- • Fixa a responsabilidade de desempenho e lucro em cada local
levantes (vínculos institucionais, assuntos sensíveis que envolvem ou região.
riscos, regulações governamentais etc.); etc. (MARTINS, 2010). • Encoraja os executivos a pensar em termos de sucesso no
Idalberto Chiavenato, em sua obra Introdução à Teoria Geral território.
da Administração, apresenta os seguintes tipos de departamenta- • Indicada para empresas de varejo.
lização: • Indicada para condições de estabilidade.
1. Por funções (ou funcional). • Permite acompanhar variações locais e regionais.
2. Por produtos ou serviços.
3. Por localização geográfica. Desvantagens:
4. Por clientes. • Reduz a cooperação interdepartamental.
5. Por fases do processo. • Ocorre principalmente nas áreas de marketing e produção.
6. Por projetos. • Inadequada para a área financeira.

42
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Departamentalização por Clientes • Produz ansiedade e angústia nas pessoas pela sua desconti-
Características: Agrupamento das atividades de acordo com os nuidade.
tipos de clientes servidos.
Vantagens: Maximiano acrescenta a departamentalização por Áreas do
• Quando a satisfação do cliente é o aspecto mais crítico da Conhecimento, ou seja, linhas de produto – comum em escolas,
organização. laboratórios e institutos de pesquisa. Nessas organizações, os
• Quando o negócio depende de diferentes tipos de clientes. departamentos são criados para realizar atividades especializadas
• Predispõe os executivos a pensar em satisfazer as necessida- nas diferentes áreas do conhecimento, por exemplo: contabilidade,
des dos clientes. economia, engenharia elétrica etc. “Este tipo de organização pro-
• Permite concentrar competências sobre distintas necessida- move a concentração de pessoas com as mesmas competências e
des dos clientes. que normalmente têm interesses similares de estudo e ensino. Por
isso, facilita o desenvolvimento da competência técnica e a acumu-
Desvantagens: lação de conhecimentos” (MAXIMIANO, 2010, p.155).
• As demais atividades da organização – produção, finanças – Chiavenato, fazendo uma apreciação crítica da departamen-
tornam-se secundárias ou acessórias face à preocupação exclusiva talização, destaca os seguintes pontos: a) constitui ainda hoje o
com o cliente. critério básico de estruturação das empresas; b) apesar de crité-
• Os demais objetivos da organização – como lucratividade, rios mais recentes, não se descobriu ainda uma melhor maneira
produtividade, eficiência – podem ser sacrificados em função da de organizar empresas; c) mesmo a organização por equipes e o
satisfação do cliente. modelo adhocrático não conseguiram substituir inteiramente os
critérios de departamentalização; d) o departamento (ou unidade
Departamentalização por Processo organizacional) ainda prevalece apesar de todo o progresso na
teoria administrativa.
Características: Agrupamento das atividades de acordo com o Pinheiro et al (2012) relatam que o Modelo Adhocrático (la-
fluxo do processo produtivo. tim ad hoc = para este fim) surgiu como resposta a um ambiente
dinâmico e mutável, onde as organizações necessitam de modelos
Vantagens: inovadores que rompam com padrões pré-estabelecidos. De
• Muito utilizada no nível operacional de áreas de produção ou acordo com Mintzberg, o modelo Adhocrático propõe um sistema
de operações. gerencial baseado em projetos, ou seja, sistema provisório, variável
• Garante plena utilização e vantagens econômicas do equipa- e adaptável, no qual as equipes precisam ser enxutas e multidisci-
mento ou tecnologia. plinares e ter um objetivo específico. Tal formato reduz burocracias,
• A tecnologia passa a ser o foco e o ponto de referência para possibilitando maior troca de informações, criando equipes coesas
o agrupamento. e comprometidas, nas quais os níveis hierárquicos tornam-se
• Enfatiza o processo. horizontalizados, pois cada projeto terá um líder que possua as
• Permite ações de reengenharia dos processos e de enxuga- habilidades necessárias para cumprir os objetivos específicos de
mento. cada projeto (MINTZBERG, 2000).12
No artigo “Bases Conceituais de um Modelo de Gestão para Or-
Desvantagens: ganizações Baseadas no Conhecimento”, o Prof. Heitor José Pereira
• Inadequada quando a tecnologia e ambiente são mutáveis. fala das vantagens do modelo adhocrático:
• Pouca flexibilidade a mudanças internas ou externas. MINTZBERG (1998) cita que as formas organizacionais tradi-
• Centraliza demasiadamente a atenção no processo produtivo. cionais não são capazes de introduzir “sofisticação inovadora”. O
modelo adhocrático é o que melhor responde a essa necessidade.
Departamentalização por Projetos Numa adhocracia, os gerentes “raramente gerenciam no sentido
Características: Agrupamento das atividades de acordo com os usual de dar ordens; em vez disso, passam boa parte do tempo
projetos planejados pela empresa. agindo na forma de elemento de ligação, para coordenar o trabalho
lateralmente, entre as diversas equipes que executam seu trabalho”
Vantagens: (MINTZBERG, 1998, p. 239)
• Agrupa equipes multifuncionais em projetos específicos de QUINN (1998) destaca que as grandes companhias inovadoras
grande porte. tentam manter toda a organização horizontal e as equipes de proje-
• Ideal para empresas cujos produtos envolvam concentração tos pequenas, constituindo-se de seis a sete pessoas, que segundo
de recursos e tempo. o autor, propiciam massa crítica de habilidades e o máximo de
• Ideal para estaleiros, obras de construção civil ou industrial, comunicação e comprometimento entre os membros.
hidroelétricas. Grupos de pequenas equipes multidisciplinares reunidos sem
• Facilita o planejamento detalhado para a execução de produ- barreiras organizacionais ou físicas para o desenvolvimento de no-
tos de grande porte. vos produtos, utilizados por grandes empresas, imita as práticas das
• Adapta a empresa aos projetos que ela pretende construir. pequenas empresas, o que o autor se refere como “abordagem vale
• Unidades e grupos são destacados e concentrados durante tudo”. Essa abordagem elimina as burocracias, permite comunica-
longo tempo. ções rápidas e diretas para experiências e incute um alto grau de
• É uma departamentalização temporária por produto. identidade grupal e lealdade. Esse ambiente é altamente interativo
e inovador (PEREIRA, 2002).13
Desvantagens:
• O projeto tem vida planejada. É descontínuo. 12. Obtido em http://www.ead.fea.usp.br/semead/12semead/resultado/tra-
• Quando ele termina a empresa pode desligar pessoas ou balhosPDF/925.pdf
13. Obtido em http://www.sincor-pr.org.br/arquivos_pdf/bases_
paralisar equipamentos.
conceituais_para_um_modelo_de_gestao.pdf

43
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Delegação Da mesma forma ensinava MEIRELLES (2003): “Descentralizar,
As delegações são frequentes no âmbito administrativo. O con- em sentido jurídico-administrativo, é atribuir a outrem poderes da
ceito de delegação é exposto por Hely Lopes Meirelles da seguinte Administração.”
forma: O Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, foi o mais
Delegar é conferir a outrem atribuições que originariamente sistemático e ambicioso empreendimento para a reforma da ad-
competiam ao delegante. As delegações dentro do mesmo Poder ministração federal. Esse dispositivo legal era uma espécie de lei
são, em princípio, admissíveis, desde que o delegado esteja em orgânica da administração pública, fixando princípios, estabelecen-
condições de bem exercê-las. O que não se admite, no nosso sis- do conceitos, balizando estruturas e determinando providências.
tema constitucional, é a delegação de atribuições de um Poder a Apoiava-se numa doutrina consistente e definia preceitos claros
outro, como também não se permite delegação de atos de natureza de organização e funcionamento da máquina administrativa, eis
política, como a do poder de tributar, a sanção e o veto de lei (MEI- que prescrevia que a administração pública deveria se guiar pelos
RELLES, 1998, p. 107). princípios do planejamento, da coordenação, da descentralização,
Meirelles (1998) destaca as seguintes restrições à delegação: da delegação de competência e do controle; estabelecia a distinção
• Como emanam do poder hierárquico, não podem ser recusa- entre a administração direta e a indireta, constituída pelos órgãos
das pelo inferior, como também não podem ser subdelegadas sem descentralizados; fixava a estrutura do Poder Executivo federal, indi-
expressa autorização do delegante. cando os órgãos de assistência imediata do presidente da República
• A delegação de atribuição conferida pela lei especificamente e distribuindo os ministérios entre os setores político, econômico,
a determinado órgão ou agente. social, militar e de planejamento, além de apontar os órgãos es-
senciais comuns aos diversos ministérios; desenhava os sistemas de
“Delegáveis, portanto, são as atribuições genéricas, não atividades auxiliares (pessoal, orçamento, estatística, administração
individualizadas nem fixadas como privativas de certo executor financeira, contabilidade e auditoria e serviços gerais); definia as
(Meirelles, 1998, p.107). bases do controle externo e interno; indicava diretrizes gerais para
Vale destacar a delegação de competência, que o Decreto-lei n. um novo plano de classificação de cargos; e ainda, estatuía normas
200 de 1967 considera como princípio autônomo, mas Hely Lopes
de aquisição e contratação de bens e serviços.
Meirelles entende ser uma forma de aplicação do princípio da
Do ponto de vista da gestão pública, a Carta de 1988, no
descentralização.
anseio de reduzir as disparidades entre a administração central
e a descentralizada, acabou por eliminar a flexibilidade com que
Centralização, descentralização e desconcentração
De acordo com o Manual de Orientação para Arranjo Institucio- contava a administração indireta que, apesar de casos de inefici-
nal de Órgãos e Entidades do Poder Executivo Federal (Ministério ência e abusos localizados em termos de remuneração, constituía
do Planejamento, Orçamento e Gestão-MP, 2008), o princípio da o setor dinâmico da administração pública. Ela foi equiparada,
descentralização de processos de trabalho deve ser aplicado para para efeito de mecanismos de controle e procedimentos, à admi-
descongestionar o núcleo central de atuação do Estado. nistração direta. A aplicação de um regime jurídico único (RJU) a
Ana Patricia da Cunha Oliveira comenta no artigo Administra- todos os servidores públicos abruptamente transformou milhares
ção Gerencial o processo de descentralização no Brasil: de empregados celetistas em estatutários, gerando um problema
A Constituição de 1988, em seu artigo 175, até hoje não ainda não solucionado para a gestão da previdência dos servidores
alterado por emendas constitucionais, é categórica ao atribuir ao públicos, pois assegurou aposentadorias com salário integral para
Poder Público, (União, dos Estados, dos Municípios ou do Distrito todos aqueles que foram incorporados compulsoriamente ao novo
Federal), conforme a repartição administrativa de competências regime sem que nunca tivessem contribuído para esse sistema.
plasmada nos artigos 21, 23, 25, 30 e 32 da Carta Política, que a Apesar do propalado retrocesso em termos gerenciais, a
prestação de serviços públicos, de ser realizada por meio de órgãos, Constituição de 1988 não deixou de produzir avanços significativos,
agentes e pessoas jurídicas e sua organização encontra-se calcada particularmente no que se refere à democratização da esfera públi-
em três situações fundamentais: centralização, descentralização e ca. Atendendo aos clamores de participação nas decisões públicas,
desconcentração. foram institucionalizados mecanismos de democracia direta, favo-
[...] recendo um maior controle social da gestão estatal, incentivou-se a
A existência da centralização e da descentralização, é o que fun- descentralização político-administrativa e resgatou-se a importân-
damenta a estrutura da Administração Pública, em Direta (União, os cia da função de planejamento (OLIVEIRA, 2011).14
Estados, os Municípios e o Distrito Federal) e Indireta (Autarquias,
Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista), O Manual do MP esclarece que descentralizar processos
possuindo por excelência uma função executiva de governo. organizacionais significa deslocar competências do núcleo central
A descentralização administrativa acarreta a especialização da Administração Pública para uma outra pessoa jurídica. No Poder
na prestação do serviço descentralizado, o que é desejável em Executivo Federal, verifica-se a descentralização administrativa por
termos de técnica administrativa. Por esse motivo, já em 1967, ao
serviços, funcional ou técnica – que ocorre quando o Poder Públi-
disciplinar a denominada – Reforma Administrativa Federal –, o
co cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela
Decreto-Lei nº 200, em seu artigo 6º, inciso III, elegeu a – descen-
atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público.
tralização administrativa – como um dos princípios fundamentais
Dá-se por lei e corresponde às figuras das autarquias, fundações,
da Administração Federal.
Afirmativa de MELLO (2009), é que no processo de descen- sociedades de economia mista e empresas públicas. Também pode
tralização de atividades do Estado para o particular, aquele deve ocorrer a descentralização por colaboração, que se verifica quando,
demonstrar a regularidade do instituto. “O Estado tanto pode por meio de contrato ou ato administrativo unilateral, se transfere a
desenvolver por si mesmo as atividades administrativas que tem execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito
constitucionalmente a seu encargo, como pode prestá-las através privado, conservando o Poder Público a titularidade do serviço. No
de outros sujeitos.”
14. II Ciclo de Debates Direito e Gestão Pública – Ano 2011; III Seminário Democ-
racia, Direito e Gestão Pública, Edição Brasília-DF, 24 e 25 de novembro de 2011.

44
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Poder Executivo Federal, podem ser mencionados como exemplos A desconcentração de processos de trabalho é um mecanismo
desse tipo de descentralização de serviços as organizações sociais, utilizado para organizar o Nível Técnico dos órgãos e entidades
as OSCIPs15 e os serviços sociais autônomos. com atuação direta junto ao cidadão ou a instituições do mercado
Organizações com processos de alta complexidade ou alto nível e da sociedade civil organizada, como é o caso do Ministério do
de diferenciação tendem a dispor de estruturas com alto grau de Trabalho; da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, do
descentralização ou de atomização. Essas estruturas necessitam de Instituto Nacional do Seguro Social, dentre outros.
mecanismos integradores, tais como comitês, grupos ou forças-ta- Desconcentrar significa distribuir competências entre as unida-
refa, equipes de projeto, gerentes integradores etc., que garantam a des administrativas do próprio órgão ou entidade, ou seja, dentro
sinergia entre os seus processos institucionais (MP, 2008). da mesma pessoa jurídica, com o objetivo de descongestionar ou
O estabelecimento de cotas de provimento exclusivo para desconcentrar atividades do centro e permitir seu mais adequado
servidores de carreira favorece, ainda, o pacto federativo e a polí- e racional desempenho, próximo do usuário final da atividade,
tica de descentralização da ação pública, ao permitir a mobilidade seja ele o cidadão ou outras organizações públicas, privadas ou da
entre servidores dos órgãos da administração pública direta e das sociedade civil organizada.
suas entidades vinculadas e entre servidores das três esferas de A desconcentração de processos públicos é realizada no Poder
Governo, para ocupação de cargos comissionados de direção e Executivo Federal por meio da criação das “unidades descentra-
assessoramento superiores (MP, 2008). lizadas” que são órgãos de execução em nível local e, portanto,
Paulo Adriano Cunha (2009) explica, em sua monografia sobre compõem o Nível Técnico da organização. A desconcentração de
a análise do modelo de organização do Comando Operacional dos atribuições deve decorrer da análise dos sistemas de trabalho e das
bombeiros militares, que os termos “descentralização e desconcen- necessidades do sistema de liderança (MP, 2008).
tração têm sido tratados muitas vezes como sinônimos, causando
um certo desconforto para muitos autores que consideram haver Estruturas organizacionais
uma distinção formal entre essas acepções.” O Professor Humberto Martins, da Universidade de Brasília,
Ambos os modelos (desconcentração e descentralização), en- citando Donaldson (1999), esclarece que estrutura organizacional
quanto técnicas de descongestionamento administrativo, revelam é “o conjunto recorrente de relacionamentos entre os membros da
processos distintos, havendo uma notória diferença nas consequ- organização [....] o que inclui (sem se restringir a isto) os relaciona-
ências da implantação de um ou de outro. mentos de autoridade e de subordinação como representados no
[...] organograma, os comportamentos requeridos pelos regulamentos
A desconcentração não ameaça tanto as estruturas consolida- da organização e os padrões adotados na tomada de decisão, como
das, quanto a descentralização. Esta sim, em seu sentido real, sig- descentralização, padrões de comunicação e outros padrões de
nifica uma alteração profunda na distribuição do poder. Quando se comportamento. [...]
pretende transformar um aparato políticoinstitucional consolidado Martins acrescenta que um desenho estrutural apresenta 5
em bases centralizadoras, em uma estrutura descentralizada, de- blocos lógicos, cada um deles requerendo uma modelagem especí-
ver-se-á mexer em núcleos de poder bastante fortes. (LOBO, 1989). fica e uma “montagem final”:
Quanto ao significado de desconcentração Brooke (1989, p.28) a) cúpula, onde se inclui a estrutura de governança corporativa
diz que ela é: (as instâncias máximas deliberativas que controlam a organização);
Mais o remanejamento de determinadas atividades do que b) núcleo operacional, o espaço onde os processos de traba-
uma descentralização propriamente dita. Para que haja uma lho finalísticos operam para produzir os resultados definidos pela
desconcentração de um nível governamental para outro, ou mais estratégia;
comumente, para um órgão local expressamente criado para esta c) suporte administrativo, onde se situam os processos de
finalidade, deve haver uma relação hierárquica entre eles, permi- gestão de insumos (recursos humanos, financeiros, logísticos, ma-
tindo que o ônus dos encargos remanejados seja assumido sem a teriais etc) que serão aplicados nos processos finalísticos;
parcela de poder de decisão que as acompanha. d) suporte técnico-corporativo, onde se incluem os processos
Mello (1968, p.27) acrescenta que “[...] a desconcentração de definição de requisitos técnicos, desenvolvimento de produtos,
pode ser entendida como o fenômeno da distribuição dentro de planejamento corporativo e desenvolvimento institucional; e
uma hierarquia administrativa.” e) linha intermediária, a estrutura de coordenação que deve
Ao desconcentrar suas atividades, a organização burocrática proporcionar integração horizontal (entre os processos finalísticos
visa descongestionar sua administração, mantendo o vínculo hie- e entre estes e os de suporte) e vertical (entre o nível operacional,
rárquico para que os subalternos fiquem adstritos a um dever legal finalístico e de suporte, e a cúpula.
de obediência.
No processo de desconcentração não se verifica de maneira
preocupante a desestabilização das estruturas da organização uma
vez que não implica em uma alteração mais importante da distri-
buição do poder.
O termo desconcentração pode ser compreendido então como
a relação de competências sendo distribuídas no âmbito da organi-
zação, mantendo-se o vínculo da hierarquia administrativa.
A desconcentração é a simples distribuição de funções a órgãos
que continuam ligados ao poder central do qual são somente dele-
gados (CUNHA, 2009).
O Manual do MP ensina que o princípio da desconcentração
aplica-se na organização de sistemas de trabalho que têm atuação
local.
15. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, criadas pela Lei Federal
nº 9.790 de 1999.

45
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Figura – Níveis hierárquicos


Fonte: Idalberto Chiavenato, Introdução à Teoria Geral da Administração

Conforme explica Duarte (2011), estrutura organizacional é a maneira pela qual as atividades da organização são divididas, organiza-
das e coordenadas. Constitui a arquitetura ou formato organizacional que assegura a divisão e coordenação das atividades dos membros
da organização. Nesse sentido, a estrutura organizacional costuma apresentar uma natureza predominantemente estática.
A estrutura organizacional é o resultado das decisões sobre a divisão do trabalho e sobre a atribuição de autoridade e de respon-
sabilidades a pessoas e unidades de trabalho. É também o mecanismo de coordenação das pessoas e unidades de trabalho. A estrutura
organizacional é representada pelo gráfico chamado organograma (MAXIMIANO, 2010, p.141).

Figura – Os fatores envolvidos no desenho organizacional.


Fonte: CHIAVENATO, 2004.

A estrutura organizacional pode ser definida como:


a) O conjunto de tarefas formais atribuídas às unidades organizacionais – divisões ou departamentos – e às pessoas.
b) As relações de subordinação, incluindo linhas de autoridade, responsabilidade pelas decisões, número de níveis hierárquicos e
amplitude do controle administrativo.
c) As comunicações para assegurar coordenação eficaz entre órgãos e pessoas ao longo das unidades organizacionais.

A tarefa básica da organização, enquanto função administrativa, é estabelecer a estrutura organizacional. Existem dois caminhos para
se abordar a estrutura organizacional: a especialização vertical e a especialização horizontal.

46
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
ESTRUTURA VERTICAL decisões. Quanto maior o nível hierárquico dentro de uma empresa,
Refere-se ao aparato que envolve três fatores principais: a mais lentamente as decisões são tomadas e as situações resolvidas,
hierarquia administrativa, a amplitude e o grau de centralização pois sempre precisam passar por consultas e avaliação de vários
ou descentralização do processo de tomada de decisões da orga- executivos que têm suas agendas cheias de compromissos.
nização. Esses três fatores são estreitamente relacionados entre O organograma horizontal para as empresas, portanto, está en-
si. Se uma organização adiciona mais um nível administrativo, sua tre as principais tendências do mundo corporativo. Sua estrutura se
amplitude de controle fica mais estreita, a estrutura administrativa destaca porque toda sua organização se dá em torno dos processos
mais elevada e o grau de centralização/descentralização é afetado. e do gerenciamento dos projetos em equipe, gerando recompensa
Se ela reduz um nível administrativo, sua amplitude de controle fica e estímulo. Essa forma de trabalho proporciona mais satisfação dos
mais larga, sua estrutura administrativa mais achatada e o grau de envolvidos e, nesse cenário, todos podem contribuir diretamente
centralização/descentralização também é afetado. São três fatores para o crescimento da companhia onde atuam (PEREZ, 2011)
interligados que precisam ser considerados de maneira interdepen- De acordo com o Guia de Modelagem de Estruturas Organiza-
dente (DUARTE, 2011). cionais elaborado pelo governo paulista16, a definição do novo mo-
Sobre a estrutura horizontal, que busca simplificar as relações delo de gestão e da nova estrutura organizacional devem abordar,
internas e é bastante diferente do tradicional modelo verticalizado necessariamente:
de organização, vale apreciar os comentários de Marcos Perez • o diagnóstico do modelo de gestão vigente e da estrutura a
(2011), presidente da Digisystem: ele associada;
• as razões que levaram à escolha da alternativa proposta de
ESTRUTURA HORIZONTAL: SONHO OU REALIDADE? (re)modelagem organizacional;
Hierarquia faz parte do mundo corporativo e a falta dela afeta • uma análise das vantagens e dificuldades previstas na imple-
diretamente a rotina de trabalho. Porém, muitas empresas têm mentação da alternativa escolhida (destacando aquelas relaciona-
apostado em um novo formato de RH, diferente do convencional, das ao critério de departamentalização, ao modelo de centralização
que segue um organograma vertical. Ao contrário deste, baseado ou descentralização, à comunicação interna e ao alinhamento entre
em uma hierarquia larga, com vários diretores, gerentes e subge- os macroprocessos);
rentes, a estrutura horizontal busca simplificar as relações internas, • a definição do papel de cada gestor nas decisões organiza-
diminuindo as barreiras entre a alta direção e o restante da equipe. cionais;
A grande dúvida que paira entre os gestores é se realmente • a definição das principais competências das unidades e dos
as empresas estão preparadas para esse novo modelo, que garante cargos da nova estrutura; e
mais liberdade aos colaboradores. • os ganhos esperados com a mudança (não só de natureza
Um dos principais diferenciais de uma empresa horizontal é financeira, mas também operacional e estratégica).
o fato de as relações hierárquicas serem mais amenas, ou seja, o
cargo mais baixo na hierarquia não está numa posição abaixo dos Uma definição possível de estrutura organizacional é: “o
outros (o que pode ser avaliado como menos importante), mas sim conjunto recorrente de relacionamentos entre os membros da
ao lado dos demais. Essa eliminação de camadas intermediárias de organização [...], o que inclui (sem se restringir a isto) os relaciona-
gerência aproxima o principal executivo dos subordinados. mentos de autoridade e de subordinação como representados no
Além disso, várias pessoas passam a responder para um único organograma, os comportamentos requeridos pelos regulamentos
representante – normalmente o presidente ou o country manager. da organização e os padrões adotados na tomada de decisão, como
A estrutura horizontal mescla a centralização e a descentralização descentralização, padrões de comunicação e outros padrões de
de suas operações, pois as decisões deixam de vir de cima e passam comportamento” (Donaldson, 1999 : 105).
a ser delegadas. Por um lado, temos o diretor executivo conectado Embora obedeçam a múltiplos determinantes, as estruturas
diretamente com os níveis mais baixos na organização, em uma organizacionais são um ingrediente essencial da própria arquitetura
forma de centralização, mas, por outro, a autoridade para tomada organizacional – o conjunto de princípios e padrões que orientam
de decisões está sendo delegada para os níveis mais baixos, des- como as atividades devem se organizar para implementar uma
centralizando. estratégia.
O trabalho em uma empresa com RH horizontal é um desafio Com efeito, distintos determinantes da estrutura organizacio-
diário, pois o perfil de profissional indicado para atuar nessas com- nal (e, consequentemente, distintas concepções de modelagem
panhias precisa acumular características de líder e gerente, ter foco, organizacional) têm sido tratados de forma diferenciada por todo o
clareza e entender que o negócio tem que gerar resultado sempre. pensamento gerencial.
Paralelamente, a estrutura tem que ser leve e deve dar feedback É o campo da Teoria Estruturalista, que tem como objetivo prin-
aos colaboradores em tempo real. cipal o estudo das organizações, fundamentalmente na estrutura
A grande verdade é que não existe estrutura melhor ou pior. interna e na interação com outras organizações, que são as unidades
Tudo depende do perfil da empresa e, principalmente, dos seus sociais e são concebidas para cumprir e atingir objetivos específicos,
executivos, do quanto eles estão maduros para lidar com a abertura mantendo relações estáveis a fim de viabilizar o conjunto de metas
dada aos funcionários para a troca de ideias e contribuições. Em propostas.[...] A análise é feita dentro de uma abordagem global e
uma empresa horizontal, todos são líderes e se sentem à vontade com a dualidade que sua origem compreende; a organização que
para expor suas vontades e projetos. pode ser formal e informal e abrange os mais diversos tipos de
Antes de optar por essa forma de trabalho, a companhia organizações, com o sistema de recompensa e sanções, materiais e
precisa ser minuciosamente analisada quanto ao seu negócio, sociais, centradas no comportamento organizacional [...] O sistema
perfil de produto, público, etc. A tendência é que, naturalmente, social é intencionalmente construído e reconstruído porque as
as empresas com RH mais avançados se tornem horizontais, pois organizações são sistemas em constante mutação e a concepção é
essa forma de trabalho encurta as distâncias, reduz as operações
burocráticas e aumenta a velocidade das informações e tomada de 16. Obtido em <www.gestaopublica.sp.gov.br/conteudo/guia/Guia_Modelagem.
pdf>. Acesso em 31 jul 2012.

47
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
de homem organizacional que vive dentro das organizações, onde • Comunicação;
os conflitos são inevitáveis. O estruturalismo ampliou o estudo • Dentre várias outras situações.
das interações entre os grupos sociais para as interações entre as Algumas vezes, a estrutura informal se torna uma força
organizações sociais, que passaram a interagir entre si mesmas negativa dentro da empresa, porém se a administração conseguir
(CARVALHO, 2008). conciliar e/ou integrar os grupos formais com os informais haverá
Segundo Chiavenato (2003), o foco é o homem organizacional, uma harmonização nas tarefas, e se torna uma condição favorável
que desempenha diferentes papéis em várias organizações e que, de rendimento e produção (CURTO JÚNIOR, 2011).
para ser bem sucedido, necessita possuir as seguintes caracterís-
ticas: Vantagens Desvantagens
• Flexibilidade – para enfrentar as mudanças bruscas e a diver-
sidade de papéis/ funções bem como novos relacionamentos. • Rapidez no processo; • Desconhecimento
• Tolerância emocional – por causa do desgaste do enfrenta- • Redução de comunicação de chefia;
mento dos conflitos gerados por necessidades individuais e orga- entre chefe e empregado; • Dificuldade de controle;
nizacionais. • Motiva e integra os • Atrito entre pessoas.
• Capacidade de adiar as recompensas – compensar o trabalho grupos de trabalho.
rotineiro em detrimento de preferências e vocações pessoais.
• Permanente desejo de realização – garantir a conformidade Figura – Vantagens e desvantagens da organização informal
das normas que controlam e asseguram o acesso às posições de Fonte: Renato Curto Júnior, 2011
carreira dentro da organização.
A Profa. Ana Flávia de Moraes Moraes (2013) alinha vários
Os principais autores e expoentes da Teoria Estruturalista são: aspectos das organizações informais:
James D. Thompson; Victor A. Thompson; Amitai Etzioni; Peter M. Os grupos informais não têm chefes, mas é possível que te-
Blau; David Sills; Burston Clarke e Jean Viet. Os autores da Teoria nham líderes. Resultam da interação espontânea dos membros da
da Burocracia, também são considerados estruturalistas – Weber, organização.
Merton, Selznick e Gourdner. O grupo informal tem sua origem na necessidade do indivíduo
de conviver com os demais seres humanos.
Modelos de organização Não existe organização formal sem sua informal contrapartida.
A análise das organizações do ponto de vista estruturalista é Existem padrões de relações encontrados na empresa mas que
feita a partir de uma abordagem múltipla e envolve: não aparecem no organograma.
• Organização formal e informal – como ponto de equilíbrio Encontramos amizades, indivíduos que se identificam com
entre os clássicos mecanicistas (formais) e sócio-humanistas (infor- outros, grupos que se afastam de outros e uma variedade de rela-
mais). ções no trabalho ou fora dele e que constituem o chamado grupo
• Recompensas materiais e sociais – significa o uso de recom- informal. Esse grupo se desenvolve a partir da interação imposta e
pensas salariais e sociais e tudo que possa ser incluído nos símbolos determinada pela organização formal.
de posição/status.
• Os diferentes enfoques da organização – as organizações CARACTERÍSTICAS DO GRUPO INFORMAL
segundo duas diferentes concepções: modelo racional e modelo do • Relação de coesão ou antagonismo;
sistema natural. • Colaboração espontânea;
• Os níveis da organização – as organizações caracterizam-se • A possibilidade de oposição à organização formal;
por uma hierarquia de autoridade, pela diferenciação de poder e • A organização informal transcende a organização formal.
desdobram-se em três níveis: institucional (mais elevado), gerencial
(intermediário) e técnico ou operacional (mais baixo). ORIGENS DO GRUPO INFORMAL
• A diversidade de organizações – ampliação do campo da aná- • Interesses comuns;
lise das organizações com a finalidade de expandir a classificação • A interação provocada pela própria organização formal;
que existia nas teorias anteriores. • A flutuação do pessoal dentro da empresa;
• Análise interorganizacional – a análise interorganizacional • Os períodos de lazer (os chamados “tempos livres”).
tornou-se significativa a partir da crescente complexidade ambien-
tal e da interdependência das organizações. No texto de Lima e Albano (2002), estes autores concluem que
muitas vezes tenta-se encontrar soluções mágicas para uma melhor
O Professor Renato Curto Júnior (2011) define que a organiza- administração das organizações, mas na verdade não há. Todas as
ção informal é o resultado da interação social entre seus membros propostas de gestão devem estar embasadas em um conhecimento
com o objetivo de atender a suas necessidades. Estas são encontra- e compreensão mais profundos da organização a intervir. Deve
das em todos os níveis da sociedade. ficar claro que quando se fala em organizações, as mudanças
No Modelo de organização informal, a sua liderança é uma significativas não ocorreram a curto prazo. Isto acontece devido à
concessão do grupo, apresenta uma autoridade mais instável, pois dificuldade natural de não só mudar a cultura vigente como con-
está sujeita aos sentimentos pessoais dos seus membros. As orga- seguir administrar as forças e influências externas à organização.
nizações informais podem existir como entidades independentes. Portanto, refletir sobre clima e cultura organizacional significa rever
Os líderes dos grupos informais surgem por várias causas, vários fatores internos e externos que influenciam diretamente no
como por exemplo: desenvolvimento das organizações. E, por isso, volta-se a afirmar
• Idade; que é inviável adotar um modelo de gestão, medidas em relação
• Competência; às políticas de recursos humanos ou promover qualquer mudança
• Localização de trabalho; organizacional se os gestores não tiverem conhecimento de que
• Conhecimento; todo o investimento pode ser em vão se essa premissa não for
• Personalidade; considerada.

48
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Não há como negar que a investigação da cultura e do clima or- relacionamentos sedimentados e se tornar uma fachada de confor-
ganizacional é tarefa árdua e os profissionais da área devem fazê-lo midade, e que a adoção de determinadas concepções estruturais
com muita seriedade, coerência, prudência e bom senso, através de pode estar relacionada à dependência da organização por recursos
uma metodologia adequada à realidade para, com isso, evitar erros num contexto que impõe requisitos para acessa-los. Segundo
e descrédito das novas propostas. Portanto, justifica-se novamente esta concepção, estruturas não são arranjos tão “racionais” (ou
a impossibilidade de se adotar um modelo de gestão pronto, como ao menos, a racionalidade das escolhas das opções estruturais é
esses “pacotes” importados, sem considerar a complexidade das altamente limitada), possuem uma função simbólica (sinalizar,
organizações e o contexto sócio-político-econômico e cultural em aparentar e fazer sentido para os integrantes) e sua dinâmica está
que elas estão inseridas. relacionada a processos institucionais (de dependência, identidade,
Entretanto, não há definição de estrutura organizacional que pertencimento e legitimação).
circunscreva firmemente seu objeto a priori; mas cada [abordagem 4) (neo) institucionalismo econômico – põe-se em relevo,
teórica] focaliza vários aspectos diferentes da estrutura organizacio- numa perspectiva normativa, a eficiência das estruturas, definidas
nal, sem pretender que seu foco esgote as questões” (Donaldson, em sentido análogo às instituições como conjunto de regras e
1999: 105). O Professor Humberto Martins destaca ainda que incentivos que buscam guiar o comportamento de distintos atores
distintos determinantes da estrutura organizacional (e, consequen- (dotados de interesses não necessariamente convergentes) para
temente, distintas concepções de modelagem organizacional) são a produção de resultados. Destacam-se, nessa abordagem, três
tratados de forma diferenciada ao longo do pensamento gerencial, perspectivas: escolha racional (institutional rational choice), teoria
podendo-se perceber cinco principais enfoques: da firma (e custos de transação) e teoria da agência. A abordagem
1) Clássico – a modelagem da estrutura deve obedecer a da escolha racional destaca a relação entre estruturas e resultados
aplicação de princípios universalmente válidos, dentre os quais em pelo menos dois sentidos: resultados são produtos de estru-
turas e a estrutura mais eficiente é a que promove os melhores
destacam-se os seguintes: divisão do trabalho, autoridade, dis-
resultados com menos recursos – o que só pode ser identificado
ciplina, unidade de comando, unidade de direção, amplitude de
de forma comparativa. (Ostrom, Gardner & Walker, 1994). A teoria
comando, especialização, diferenciação, amplitude de controle,
da firma (Coase, 1937; Williamson (1963, 1985 e 1986) parte de
homogeneidade, delegação e responsabilidade. Este enfoque está
uma comparação entre a eficiência de formas organizacionais e a
amparado nas formulações de Fayol (1916), Gulick (1937), Urwick eficiência do mercado (que, em abstrato, prescindiria de estruturas
(1937), Mooney (1937) e Graicunas (1937). Segundo esta concep- organizacionais) para denunciar o caráter estruturalmente inefi-
ção, estruturas são arranjos racionais (deliberadamente concebidos ciente das estruturas (um custo de transação a ser adicionado aos
para promover resultados pré-estabelecidos), ordenados segundo custos de produção), tornando-as, na melhor das hipóteses, segun-
padrões “científicos” (mediante a aplicação invariável de princípios das melhores (second best) escolhas racionais (Gibbons, 1999). A
universais de modelagem), altamente formalizados (implantados e teoria da agencia destaca a insuficiência e a inconfiabilidade das
controlados segundo regras formais) e relativamente estáveis (es- estruturas, uma vez que as relações definidas estão sempre sujeitas
tabelecidos em bases fixas ou rígidas para durar, sendo a mudança a diversos problemas (de agência) tais como seleção adversa (baixo
considerada uma perturbação da ordem). padrão produtivo), risco moral (auto-orientação) e assimetria de
2) Contingencial – a funcionalidade dos desenhos estruturais informações etc. Daí, a necessidade de se estabelecerem arranjos
está correlacionada à variáveis tais como porte e dinâmica ambien- contratuais mediante incentivos. (Arrow, 1991; Alchian & Demsetz,
tal (covariação estrutural). Este enfoque se estabeleceu a partir 1972, e Ross, 1973)
das formulações de Burns & Stalker (1961), Woodward (1965), 5) Novo contingencialismo (Morgan, 1997) – uma expansão
Lawrence & Lorsh (1967), Pugh et al (1968), Perrow (1967), Thomp- (incorporando variáveis do ambiente institucional e do imaginário
son (1967), Trist (1981) e Chandler (1962). A dinâmica ambiental organizacional) dinamizada (incorporando elementos da teoria
está relacionada a fatores contingenciais externos e/ou internos de avançada de sistemas) do enfoque contingencial. Por um lado, este
mercado e tecnologia (competição, novos produtos e inovação), enfoque, menos “racional” e normativo que o contingencialismo
que impõem um determinado grau de incerteza da tarefa e, por sua original, busca investigar a correlação entre estruturas e ambien-
vez, determinam arranjos mais ou menos descentralizados e/ou fle- tes institucionais, valores, estruturas de dominação e elementos
xíveis. Nesse sentido, a proposição central da teoria da contingência do imaginário (tais como estruturas de personalidade e mitos
estrutural é de que o desempenho organizacional depende de uma organizacionais). A exemplo do enfoque institucional, as estruturas
lógica de contínuo ajustamento estrutural (ou structural adaptation aparecem como arranjos cuja definição sujeita-se a fatores culturais
to regain fit – SARFIT). Segundo esta concepção, estruturas são e intrapsíquicos. Por outro lado, o novo contingencialismo baseia-se
arranjos altamente específicos (cada configuração representa uma numa visão sistêmica avançada (valendo-se de elementos da deno-
minada “teoria do caos”, paradigma da complexidade e sistemas
posição peculiar de ajustamento ao longo do tempo) e dinâmicos,
dinâmicos) que incorpora dois elementos essenciais: complexidade
sujeitos a contínuos e deliberados ajustamentos em razão da dinâ-
e autopoiese. A complexidade está relacionada a altas doses de
mica ambiental (determinismo ambiental).
incerteza, ambiguidade, pluralidade e interconexão de eventos
3) Institucionalismo sociológico, que considera que as organi-
em ambientes externo e interno hiperdinâmicos (Morgan, 1997;
zações estão sujeitas a elementos simbólicos, sociais e culturais do Beinhocker, 1997), impondo às estruturas formas e lógicas fluídas
seu macro-ambiente institucional (o conjunto de regras sedimen- e virtuais e padrões orgânicos de organização (rede, estruturas ce-
tadas que a circunda e penetra) em relação aos quais a adaptação lulares, holográficas etc.). A noção de autopoiese está relacionada
é muito mais um processo de legitimação que de promoção do a um padrão autoreferenciado e circular de organização (estruturas
desempenho. Neste enfoque, destacam-se as proposições de auto-produtivas, auto-organizadas e auto-mantidas) (Luhmann,
Powell & DiMaggio (1991), Meyer & Rowan (1991) e Pfeffer & 1990; 1995), a partir de interações internas que se constituem
Salancik (1998), que argumentam, respectivamente, que o desenho relações suficientes para a reprodução e renovação organizacional
da estrutura é altamente sujeito a mimetismo e conformação a (por meio das quais o ambiente, que não se define a priori, é “cria-
padrões consagrados (isomorfismo institucional), que a estrutura do” pela organização, refletindo muito mais o que a organização é)
formal pode de descolar (loose-coupling) do conjunto de práticas e (Morgan, 1997; Dissanayake, 2004).

49
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O novo contingencialismo não valida nem invalida incondicionalmente a perspectiva funcionalista do ajustamento estrutural, consi-
derando-o limitado por fatores institucionais, pela complexidade ambiental e pela natureza autopoiética (em alguma extensão aplicável
a qualquer organização), mas baseia-se numa visão mais eclética e abrangente segundo a qual as estruturas são complexas e instáveis
definições que atendem a condicionantes tanto externos quanto internos (e, por conseguinte, qualquer definição ótima de arranjo estru-
tural deveria levá-los explicitamente em conta).
O Guia de Modelagem de Estruturas Organizacionais oferece elementos importantes para entendimento da estruturação organizacio-
nal no setor público, inspirado nas bases administrativas das organizações privadas:
A questão central da arquitetura organizacional é orientar-se para os resultados da organização, servindo de ponte entre a estratégia e
os processos que a implementam. Nesse sentido, é fundamental atender ao princípio da congruência (Nadler & Tushman, 1997), segundo
o qual quanto maior for o grau de congruência ou alinhamento dos vários componentes da arquitetura organizacional, maior será o
desempenho da organização.
Em linha com esta função-ponte (entre estratégia e plataforma implementadora) da arquitetura organizacional propõe-se uma meto-
dologia de definição da estrutura organizacional. Esta metodologia busca, em última análise, integrar o planejamento (a agenda estratégica
dos governos, usualmente expressa em programas) e a gestão (a arquitetura organizacional ou as estruturas implementadoras), a partir
da definição de uma matriz de programas e organizações. Essa definição é necessária porque programas não são auto-executáveis nem
organizações são auto-orientadas para resultados.
A metodologia matricial busca, nesse sentido, equacionar uma questão crítica da gestão pública contemporânea (e dos modelos de
gestão por programas, em particular), que é a seguinte: como assegurar que o desenho das estruturas organizacionais seja congruente
com a agenda prioritária de governo, expressa nos programas?
Para que isso ocorra, é necessário que se estabeleça um alinhamento entre programas e organizações (não apenas as organizações
da estrutura do governo, mas também outras, tais como: entes federativos, organizações não-governamentais, organismos internacionais,
parcerias público-privada etc.). O que se pretende com isso é verificar a convergência (ou não) entre as agendas de governo (expressa
nos programas prioritários) e as das organizações implementadoras – que normalmente possuem agenda própria. Embora os resultados
estejam previstos nos programas, é na arquitetura organizacional que eles se realizam, pois é nela que estão alocados os recursos e a
estrutura de poder. Daí por que é preciso construir dois alinhamentos: um horizontal (alinhar os pontos de implementação das distintas
organizações no âmbito de cada programa, definindo-se arranjos específicos de coordenação); e um vertical (alinhar as organizações com
os resultados dos programas que as perpassam). A figura a seguir ilustra este alinhamento matricial.

Fonte: Guia de Modelagem de Estruturas Organizacionais

A construção de uma arquitetura matricial consiste, assim, no desenho de uma rede que considera a matriz de relações entre progra-
mas e organizações. Os passos a serem seguidos são:
• o estabelecimento das relações (a plotagem dos nós) entre as unidades programáticas de resultado (os programas do PPA) e as
respectivas plataformas implementadoras (as organizações);
• a elaboração da arquitetura organizacional dos programas, ou o modelo de gestão das redes de governança, formadas pelos nós
das respectivas organizações implementadoras; e, finalmente,
• a elaboração da arquitetura organizacional, propriamente dita, das organizações implementadoras dos programas, a partir (1) do
alinhamento de suas agendas, de modo a incorporar as contribuições dadas para a promoção dos resultados dos programas a que estão
submetidas, e (2) do traçado de uma estrutura condizente com a promoção dos resultados visados.

A rede obtida resulta na sobreposição (integradora) de dois tipos de arquitetura: (1) uma delas orgânica, fluida, virtual, em rede, vin-
culada aos programas (elementos da estratégia); e (2) a outra mais concreta, uma vez que “fixamente associada” a uma dada organização.

50
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Com efeito, nenhuma das duas arquiteturas é capaz de gerar per se o necessário alinhamento para que os resultados programados
aconteçam.

Fonte: Guia de Modelagem de Estruturas Organizacionais

Um modelo de gestão adequado, coerente, é aquele em que o sistema de liderança está estruturado com o objetivo de promover
o alinhamento entre seus elementos essenciais: estratégia (ou conjunto de propósitos e resultados visados) e sistemas de trabalho e os
sistemas informacionais (conjunto de dados e informações necessárias ao processo decisório e os recursos informacionais de software e
hardware necessários).
Nesse caso, a estratégia é a variável ordenadora e o sistema de liderança, os sistemas de trabalho e os recursos informacionais devem
ser “formatados” para colocar em ação opções estratégicas específicas.

Sistemas de Liderança Burocrático-Mecanicista


Os Sistemas de Liderança com características burocrático-mecanicista são próprios de organizações que atuam em contextos de baixa
complexidade, onde há maior previsibilidade e estabilidade de demandas, ou seja, baixa variabilidade nas necessidades dos beneficiários
e, por conseguinte, nos produtos/serviços e estabilidade nas ofertas tecnológicas (baixo grau de inovação do produto e do processo).
Geralmente, são organizações de grande porte; com um grande universo de usuários/beneficiários potenciais e reais; baixa varia-
bilidade em seus processos e relativa estabilidade no formato final dos seus serviços e produtos. Esse é o caso dos órgãos e entidades
que prestam serviços direto à sociedade civil organizada e/ou ao cidadão, como, por exemplo, aqueles que atuam na área social, como
educação, saúde e previdência.
Para essas organizações é recomendável, em nome da eficiência, um desenho organizacional mais rígido e programável, o que conduz
a um sistema de liderança mais hierarquizado.
Os modelos de gestão mecanicistas possuem as seguintes características:
• a estratégia é mais estável e reativa;
• o conjunto de produtos (bens ou serviços) é mais padronizado, menos ou pouco diferenciado;
• os processos de trabalho são mais rotinizados, programáveis, regulamentados e autônomos (circunscritos dentro da organização);
• os quadros funcionais são mais fixos – com carreiras estruturadas e com mais servidores do quadro que colaboradores, com compe-
tências pré-definíveis e capacitação orientada por conhecimentos disponíveis no setor;
• a cultura organizacional tende a destacar valores tais como disciplina e impessoalidade;
• a liderança emana mais da autoridade do cargo formal;
• a comunicação é mais formal e tende a seguir a hierarquia; e
• os sistemas de informação são centralizados e herméticos.

O modelo de gestão mecanicista proporciona maior eficiência em ambientes estáveis. Seu sistema de liderança é constituído por es-
truturas rígidas, verticalizadas e que reproduzem uma alta separação entre direção e execução, demarcando de forma muito contundente
instâncias de decisão e planejamento/formulação (uma Alta Administração pensante) e instâncias de execução (uma base operacional).

51
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Sistemas de Liderança Orgânicos
Os sistemas de liderança orgânicos são típicos de organizações que atuam em contextos de alta complexidade, caracterizados pela in-
certeza, ambiguidade, pluralidade e instabilidade das demandas (alta variabilidade nas necessidades dos beneficiários e, por conseguinte,
nos produtos/serviços) e ofertas tecnológicas (alta inovação do produto e do processo).
Os ambientes instáveis ou turbulentos proporcionam alta incerteza da tarefa, que, nesse caso, impõe, em nome da efetividade (o
impacto necessário, a partir dos produtos necessários), um desenho organizacional mais flexível e capaz de se reprogramar para atender
rapidamente às variações do contexto.

Os modelos de gestão orgânicos possuem as seguintes características:


• estratégia mutante, emergente e proativa, voltada, inclusive, para criação do futuro em bases autopoiéticas (na qual a organização
passa a modelar o ambiente mais que este modela a organização);
• o conjunto de serviços/produtos é mais diversificado, mais ou muito diferenciado, podendo, no limite, ser totalmente customizado;
• os processos de trabalho são estruturados, mas menos rotinizados, menos programáveis e menos regulamentados e sujeitos a
constantes inovações e integrações laterais com organizações parceiras;
• os quadros funcionais são mais variáveis (com maior número de colaboradores), algumas competências são pré-definíveis, mas há
competências emergentes e conhecimentos gerados exclusivamente dentro da organização;
• a cultura organizacional tende a destacar valores tais como iniciativa, capacidade de empreender e sensibilidade;
• a liderança emana da capacidade de resolver problemas e lidar com pessoas e situações difíceis sob pressão;
• a comunicação é mais informal e multidirecional; e
• os sistemas informacionais são descentralizados e acessíveis a todos.

Um modelo de gestão com estas características proporciona melhor capacidade de resposta em ambientes instáveis. Seu sistema de
liderança constitui-se por estruturas mais flexíveis, horizontalizadas (menos níveis hierárquicos e eliminação de “intermediários” na média
gerência) e que buscam uma integração entre direção e execução (a Alta Administração se envolve em questões operacionais e a base
operacional pensa estrategicamente e ganha maior autonomia/empowerment).
Modelos mecanicistas ou orgânicos não são bons nem maus a priori, sua adequação é sempre contingente, embora todas as organi-
zações tenham traços de ambos (é muito usual que áreas como produção ou operações e área administrativa sejam mais mecanicistas; ao
passo que áreas de pesquisa e desenvolvimento sejam mais orgânicas).17

17. Obtido em <www.gestaopublica.sp.gov.br/conteudo/guia/Guia_Modelagem.pdf>. Acesso em 31 jul 2012

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Fonte: Guia de Modelagem de Estruturas Organizacionais

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Fonte: Guia de Modelagem de Estruturas Organizacionais

Direção
Saldanha dos Santos cita Amato (1971) para dizer que direção é a função que se refere às relações interpessoais dos administradores
em todos os níveis de organização e seus respectivos subordinados. “É o processo administrativo que conduz e coordena o pessoal na
execução das tarefas antecipadamente planejadas. Dirigir uma organização pública significa conseguir que os agentes públicos executem
as tarefas pelas quais respondem” (Santos, 2006, p.51).
Ainda segundo Santos, os meios de direção são: ordens e instruções; motivação; comunicação; liderança.

54
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Um dos fundamentos da Teoria Comportamental da Adminis- • Aquisição de informações – sobre o andamento das ati-
tração é a motivação humana, onde a teoria administrativa recebeu vidades e o progresso em direção aos objetivos; é o processo de
vultosa contribuição. monitoramento ou acompanhamento, que define qual informação
Segundo Chiavenato (2003), a teoria comportamental deve ser produzida, os meios e o momento de sua obtenção.
fundamenta-se no comportamento individual das pessoas, para • Comparação e ação corretiva – na etapa final do processo de
explicar o comportamento organizacional. Os autores dessa Teoria controle, a informação sobre o desempenho real é comparada com
verificaram que o administrador precisa conhecer as necessidades os objetivos ou padrões, resultando em medidas de correção ou de
humanas, para conhecer melhor o seu comportamento e poder reforço da atividade ou desempenho.
usar a motivação como meio para melhorar a qualidade de vida • Recomeço do ciclo de planejamento – tomada de decisões
dentro das organizações. sobre novos objetivos e novos padrões de controle; o controle
A Teoria Comportamental tem seus principais fundamentos a complementa o planejamento e vice-versa, pois é comum o plane-
partir dos estudos e abordagem das ciências do comportamento jamento depender muito mais de informações de controle do que
humano individual, para explicar como as pessoas se comportam de projeções ou previsões sobre o futuro, segundo Maximiano.
organizacionalmente. Esta Teoria, também conhecida como Teoria
Behaviorista (behaviorial sciences approach), por causa dos estudos O processo de controle envolve todos os aspectos de uma
sóciopsicológicos feitos por seus autores, a maioria norte-america- organização, abrangendo seus três níveis hierárquicos principais:
nos, aprofundou os estudos no campo da motivação humana, na • Controle estratégico – complementa o planejamento estraté-
qual prestou muitas contribuições à teoria administrativa (CARVA- gico (sua definição e redefinição), monitorando: grau de realização
LHO, 2008). das missões, estratégias e objetivos estratégicos, a adequação dos
Nesta abordagem, Chiavenato (2003) explica que os estudiosos mesmos às ameaças e oportunidades do ambiente; concorrência e
verificaram que o administrador precisa conhecer as necessidades outros fatores externos; eficiência e outros fatores internos.
humanas para entender o seu comportamento e utilizar a moti- • Controles administrativos – produzem informações especia-
vação como meio para melhorar a qualidade de vida, dentro das lizadas e possibilitam a tomada de decisão em cada uma das áreas
organizações. A Teoria Comportamental tem abordagem explicativa operacionais: produção, marketing, finanças, recursos humanos
e descritiva, atuando nas organizações, formal e informalmente.
etc.
Possui ênfase nas pessoas e no ambiente. Sua concepção é de um
• Controle operacional – focaliza as atividades e o consumo de
homem administrativo, tomador de decisões quanto à participação
recursos em qualquer nível da organização, notadamente por meio
nas organizações.
de cronogramas, diagramas de precedência e orçamentos.
Sobre a motivação organizacional, destacam-se estudos de
Abraham Maslow (1908-1970), segundo os quais as necessidades
humanas estão organizadas em níveis, numa hierarquia de impor- É preciso eficácia na definição dos procedimentos e das
tância e de influência. Segundo Maslow, “as necessidades estão ferramentas para produção, processamento e apresentação das
classificadas em fisiológicas (mais baixas na hierarquia piramidal), informações necessárias ao desempenho do sistema de controle.
de segurança, sociais, de estima e de auto-realização (mais elevadas Maximiano (2010) destaca as principais características de um siste-
na hierarquia). As necessidades assumem formas que variam de ma de controle eficaz:
acordo com o indivíduo” (MASLOW apud CHIAVENATO, 2003, p. • Foco nos pontos estratégicos – são aqueles em que há maior
330). probabilidade de ocorrência de algum desvio em relação aos resul-
tados esperados; os desvios provocariam os maiores problemas; as
Controle atividades, operações ou processos são críticos para o desempenho
Para Maximiano (2010), controle é o processo de produzir da organização. Podem ser detectados nas atividades de trans-
informações para tomar decisões sobre a realização de objetivos, formação ou nos elementos mais significativos de determinada
permitindo manter a organização orientada para os mesmos atra- operação.
vés de monitoramento ou acompanhamento contínuo sobre: • Precisão – informação precisa para permitir a decisão ade-
• Quais objetivos devem ser atingidos por uma organização ou quada, caso contrário será difícil ou impossível decidir.
sistema. • Rapidez – o encaminhamento rápido da informação permite
• Desempenho da organização ou sistema em comparação com que a ação corretiva ou de reforço possa ser posta em prática a
os objetivos. tempo de produzir os efeitos esperados. A demora poderá gerar
• Riscos e oportunidades no trajeto desde o início das ativida- uma decisão tardia.
des até o objetivo. • Objetividade – informações claras sobre o desempenho e
• O que deve ser feito para assegurar a realização dos objetivos. indicação qual o desvio em relação ao objetivo.
• Necessidade de mudar o objetivo. • Economia – o sistema de controle eficaz tem custo menor que
seus benefícios, por exemplo, a fiscalização não pode custar mais
O processo de controle se divide em outros processos, tais que a arrecadação.
como: monitoramento ou acompanhamento (buscar informações
• Aceitação pelas pessoas – para enfrentar a resistência e a
sobre o desempenho), avaliação (comparar e tirar conclusões sobre
sabotagem dos sistemas de controle, as pessoas precisam entender
o desempenho). O objetivo é o critério ou padrão de controle e
as razões do controle; perceber o controle como processo impor-
avaliação do desempenho da organização ou sistema.
tante para seu trabalho ou sua segurança; enxergar o controle como
Os componentes de um sistema de controle são:
• Padrões de controle – informações que permitem avaliar o evidência de sua importância como indivíduos.
desempenho e tomar decisões; são extraídos dos objetivos, das • Ênfase na exceção – diante da impossibilidade de controlar
atividades e dos planos de aplicações de recursos. tudo, o controle enfatiza as exceções e seu sistema procura foca-
lizar a atenção da administração no que é essencial em termos de
desvios.

55
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os aspectos humanos do processo de controle, segundo Maxi- A avaliação de desempenho traz benefícios para as organiza-
miano (2010), são: ções, pois:
• Tipos de controle sobre as pessoas – para que as pessoas • abarca o desempenho do funcionário dentro do cargo ocupa-
comportem-se de acordo com padrões definidos por outras pesso- do, o alcance das metas estabelecidas e objetivos;
as, existem os seguintes tipos: controle formal (utilização da autori- • enfatiza o indivíduo no cargo;
dade formal para induzir ou inibir algum comportamento), controle • melhora a produtividade do indivíduo à medida em que é
social (aceitação das crenças, valores e normas sociais de um grupo aceita pelo funcionário e pela organização (MENEZES).
= conformidade social), controle técnico (exercido por sistemas e A avaliação permite identificar os aspectos menos desen-
não por pessoas, como ocorre com o relógio de ponto, a velocidade volvidos (pontos fracos) em relação ao modelo, que devem ser
das máquinas, o orçamento disponível). considerados como oportunidades de melhoria da organização, ou
• Resistência ao controle – para combater o sentimento de per- seja, aspectos que devem ser, prioritariamente, objeto de ações de
da da liberdade e serem eficazes, os sistemas de controle devem: melhoria. Se realizada de forma sistemática, a avaliação da gestão
ter legitimidade (reconhecidos como necessários); ser participati- institucional funciona como forma de aprendizado sobre a própria
vos (promover a participação das pessoas na definição e avaliação organização e como instrumento de internalização dos princípios,
de seu próprio desempenho); ser flexíveis (para possibilitar o erro). valores e práticas da gestão pela excelência.
• Avaliação do desempenho – todo sistema de controle deve
dar feed-back aos integrantes da equipe do gerente, informando-
-os qual é seu desempenho, para reforçá-lo (feed-back positivo)
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. CENTRALIZAÇÃO,
ou inibi-lo (feed-back negativo). As características do feed-back
DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO E DESCONCEN-
eficaz são: rapidez (o intervalo entre a observação do desempenho
TRAÇÃO
do desempenho e a aplicação do reforço ou correção deve ser o
menor possível, sob pena de esquecimento e ineficácia); descrição
em lugar de julgamento (quando se trata de ações corretivas, ao Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi aborda-
invés de julgar os atos ou motivos do avaliado, o avaliador descreve do na matéria de Noções de Direito Administrativo
as expectativas ou objetivos, o desempenho observado que deve
ser feito para igualar os dois); administração de recompensas (os
princípios do behaviorismo mostram que recompensas incentivam GESTÃO DE PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
o bom desempenho e são mais eficazes que as punições, que ape-
nas suprimem temporariamente o comportamento indesejado). Administração de recursos humanos
• Autocontrole – o compromisso e a disciplina interior é o
melhor substituto para a obediência ditada pelos controles, o que Finalidades da gestão de pessoas
faz o autocontrole substituir os sistemas formais e ser uma das Gestão de Pessoas ou Administração de Recursos Humanos
ferramentas da autogestão. Maximiano ressalta que criar uma (ARH) é o conjunto de políticas e práticas necessárias para conduzir
cultura orientada para o compromisso e a disciplina interior é um os aspectos da posição gerencial relacionados com as “pessoas” ou
dos principais desafios da moderna administração. recursos humanos, incluindo recrutamento, seleção, treinamento,
recompensa e avaliação de desempenho. É o conjunto de decisões
Avaliação e feed-back integradas sobre as relações de emprego que influencia a eficácia
A Avaliação de Desempenho é um processo que tem como ob- dos funcionários e das organizações (CHIAVENATO, 1999, p.8). Seus
jetivo conseguir que os membros da equipe de trabalho orientem objetivos são:
seus esforços no sentido dos objetivos da organização. Os gestores • Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua
utilizando de instrumento específico identificam habilidades e missão;
competências dos funcionários que precisam ser mantidas e as que • Proporcionar competitividade à organização;
necessitam ser desenvolvidas. A avaliação de desempenho é parte • Proporcionar à organização, empregados bem treinados e
atuante da estratégia gerencial e orientam as ações e decisões dos bem motivados;
gestores relacionadas a promoções, transferências, treinamentos, • Aumentar a auto-realização e a satisfação dos empregados
desligamentos (ROBBINS, 2005). no trabalho;
Pode-se definir desempenho como a forma como os recursos • Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho;
se organizam, interagem e atuam para atingir um objetivo expresso • Administrar a mudança;
ou tácito, segundo um roteiro e sequência de passos formal ou • Manter políticas éticas e comportamento socialmente res-
informalmente estabelecidos. O grau de eficácia com que são ponsável.
atingidos os objetivos realmente pretendidos, associado ao grau de
eficiência na utilização dos recursos, determina o nível de desem- Durante muito tempo as organizações consideraram o capital
penho. Mede-se o desempenho através de indicadores diversos. O financeiro como a principal fonte de desenvolvimento. Todavia atu-
resultado das medidas permite interpretar o nível do desempenho. almente percebe-se que a força para o desenvolvimento das orga-
Menezes define que é uma apreciação sistemática do desem- nizações está nas pessoas. Empresas tiveram seu desenvolvimento
penho de cada pessoa em função das atividades que ela desempe- comprometido pela inabilidade na seleção de pessoas; por falta de
nha, das metas e resultados a serem alcançados e do seu potencial boas ideias; por falta de potencial criativo; falta de entusiasmo e
de desenvolvimento, sendo justificável porque: motivação da equipe; falta de conhecimentos e competências e não
• toda pessoa precisa receber retroação a respeito de seu pela falta de recursos financeiros (Chiavenato, 2005).
desempenho (chefe e funcionário);
• a organização precisa saber como as pessoas desempenham
suas atividades (para fundamentar aumentos salariais, promoções,
transferências, demissões).

56
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
No trabalho de César et. al. (2006), destaca-se que a estratégia Em terceiro lugar, a área deve oferecer mais apoio e serviços
e o planejamento de RH têm mudado e crescido significativamente estratégicos para a direção da organização. Esta terceira opção é
nos últimos vinte e cinco anos (GUBMAN, 2004), fato revelado pelas vista pelos autores como o futuro da área e envolve significativas
mudanças da área de RH no período. Viu-se uma evolução desde mudanças, que devem ser feitas na mesma velocidade e às mesmas
o pensamento pouco estratégico (anterior aos anos da década de condições de custo exigidos para o negócio em si. Além disto, Ash-
1980 e que resumia a área de RH ao DP – Departamento Pessoal), o ton et al. (2004) propõem seis características para que a área de RH
aparecimento de estratégias funcionais (década de 80), a proposta seja estratégica:
de desenvolvimento de capacidades estratégicas (nos anos iniciais I – Foco na estratégia do negócio, baseada na compreensão do
da década de 90) até a visão atual, de busca de alinhamento da negócio em si;
área aos resultados estratégicos. Essas mudanças na área de RH es- II – medidas de desempenho dos objetivos que sejam alinhadas
pelharam-se nas mudanças do mercado de trabalho e das rupturas aos objetivos do negócio;
verificadas no pensamento relacionado às estratégias de negócios, III – alta competência na análise de causa e efeito, priorização
notadamente na discussão que se fez relacionada à competitividade e execução de programas da área, o que envolve habilidades ana-
e ao desenvolvimento de competências essenciais para o negócio. líticas;
IV – excelência em serviços de relacionamento e competências
ANTES AGORA para desenvolver o nível de tecnologia da informação;
V – atuação na estrutura da organização e no desenvolvimento
• operacional • estratégica
de capacidades que estejam alinhadas a ambientes que exigem alto
• foco no curto prazo • foco no longo prazo
desempenho;
• papel administrativo • papel consultivo
• ênfase na função • ênfase no “negócio” VI – oferta de gestão de relacionamentos de modo a equilibrar
• foco no público interno • foco públicos interno oferta, demanda e expectativas de clientes internos, escolhendo
• reativa/solucionadora de eexterno prioridades e alterando alvos, sempre que necessário. Em outras
problemas • proativa e preventiva palavras, é preciso que gestores da área de RH pensem como ges-
• foco no processo e • foco nos resultados tores do negócio o que, segundo os autores, tradicionalmente não
atividades ocorre, vez que gestores de RH não adotam as crenças dos outros
altos gestores e não atuam como tal.
Figura – Síntese das mudanças na função de RH Percebe-se que os gestores e áreas de RH precisam migrar de
Fonte: Helena Tonet um modelo mais transacional para atuarem como parceiros estra-
tégicos do negócio. Esta visão estratégica da área de Recursos Hu-
Enquanto as estratégias funcionais prendiam-se às funções manos é essencial para que uma empresa se expanda globalmente.
clássicas da área de RH, voltadas para atender a alguma demanda, Globalização, tecnologia e mudanças sociais têm contribuído para a
as capacidades estratégicas tinham como foco o estudo da cultura, emergência de mercados e competidores, crescentes pressões de
das competências e do desenvolvimento do comprometimento dos acionistas e desafios crescentes em relação a custos, tempo de de-
empregados para que a empresa alcançasse seus objetivos. senvolvimento de produtos e serviços, e qualidade. As organizações
A visão atual pressupõe que a área de RH dê conta: da atração, precisam que as funções de RH estejam alinhadas ao propósito da
provimento e retenção de pessoas; do alinhamento, mensuração organização, de modo que as mesmas dêem suporte à estratégia do
e remuneração alinhada à performance da empresa e dos empre- negócio (ASHTON et al., 2004).
gados; do controle de investimento em pessoas, de acordo com as A questão é ser estratégico quando se tem tempo e recursos
demandas da empresa (GUBMAN, 2004). Dentro desta nova visão, apenas para o operacional, desafiando a área de RH a estruturar-se
estratégica, o foco da área de RH é móvel, conforme as mudanças para criar maior valor às organizações. David Ulrich (1988) sugere
no cenário no qual a organização está imersa, mudanças estas que cinco ações para que RH crie valor para a organização:
podem interferir no mercado de trabalho ou no resultado da em- I. Entender o mundo externo;
presa. Assim, dá-se importância a ações diferentes dentro da área, II. Definir e atender os stakeholders (funcionários, clientes,
dependendo das exigências da organização para um determinado investidores e gerentes de linha);
momento.18
III. Atualizar e inovar as práticas de RH (pessoas, performance,
Ashton et al. (2004) apontam que a área de RH tem três capa-
informação e trabalho);
cidades-chave que devem atuar de maneira simultânea para ajudar
IV. Reger a organização de RH e definir uma estratégia de
as empresas a serem competitivas: em primeiro lugar, distribuir os
recursos humanos;
serviços relacionados a processos de RH, de modo que todos os em-
pregados possam ter acesso aos canais internos ou externos a eles V. Assegurar o profissionalismo dos funcionários de RH por
relacionados. Em segundo lugar, estabelecer serviços de consultoria meio de suas atuações e competências.
de gestão de RH que funcionem como parceiros para executivos,
unidades de negócio e gestores de linha; esse tipo de consultoria Estas ações nada mais são do que parte das competências
deve estar ligado às necessidades específicas de cada área, ofere- de qualquer gestor de área de uma organização Assim, Wessling
cendo serviços ligados às competências essenciais da área e aos (2008) defende que a área de RH deve olhar o negócio com lente
aspectos de diferenciação que sejam chave para o negócio. estratégica e realizar mudanças profundas e significativas no modo
de operar, alinhando seu novo papel junto aos clientes internos; de-
finir, remanejar e treinar suas competências, e adequar os sistemas
de RH com foco nos resultados, uma vez que a Gestão de Pessoas
contribui com o dinamismo, a agilidade e a competitividade pró-
prias das organizações de sucesso.
18. Ana Maria Roux Valentini Coelho CÉSAR; Roberto CODA; Mauro Neves GARCIA.
Um novo RH? – avaliando a atuação e o papel da área de RH em organizações
brasileiras. FACEF PESQUISA – v.9 – n.2 – 2006.

57
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A área de RH deve estar totalmente alinhada à cultura da dos processos de mudança organizacional, e nos processos de
empresa, pois a compreensão dos vínculos construídos dentro do aprendizagem e desenvolvimento das pessoas; estimular o autode-
ambiente de trabalho é a etapa inicial para o desafio de gerir as senvolvimento das pessoas; manter os referenciais da organização
pessoas. Para Soledade (2007), é através do entendimento dos transparente.
elementos constituintes da cultura que é possível compreender As organizações necessitam de profissionais de RH que tenham
os mecanismos de interação entre os colaboradores e as tarefas perfil generalista e não mais de especialistas, dando maior abran-
que executam, sendo possível destacar ainda os seguintes fatores gência às atividades e responsabilidades, devendo possuir maior
críticos de sucesso: qualificação e capacitação profissional (Resende e Takeshima,
I – Desenvolvimento de lideranças capazes de alinhar as expec- 2000). Deve-se atentar para:
tativas do grupo com os objetivos da empresa, criando as condições a) GESTÃO ESTRATÉGICA DE RH: Integrar-se com os objetivos
de reciprocidade essenciais para atingir um desempenho que aten- maiores da organização e como suporte mais efetivo às áreas pro-
da às pressões internas e externas da organização. As lideranças dutivas e de negócios, favorecendo o cumprimento de suas metas
devem ser legitimadas tanto pelo enfoque do empregado quanto (Resende e Takeshima, 2000)
pelo da empresa, para que possam efetivamente atuar como elos b) GESTÃO INTEGRADA DE RH: Entrosar as atividades, os pro-
entre estes dois polos, buscando atuar de maneira conciliatória na jetos, planos e sistemas para garantir que a missão e objetivo da
área sejam cumpridos, obtendo sinergia nas funções principais de
resolução dos conflitos surgidos.
recursos humano(Resende e Takeshima, 2000).
II – Busca da melhoria da eficiência dos grupos, calcada nos
atributos pessoais, cooperação intra e interequipes, capacidade de
Das mudanças organizacionais em curso, destacam-se:
adaptação e desenvolvimento de compromisso entre colaborado-
• Horizontalização das estruturas, redução de níveis hierárqui-
res e empresa. cos, estruturas em rede;
III – Livre fluxo de informações, tendo cada componente do • Equipes multifuncionais com bastante autonomia e com o
grupo plena consciência da relação de causa e efeito existente nas compromisso de agregar valor;
tarefas executadas. • Visão e ação estratégica fazendo parte do cotidiano das
IV – Treinamento e reciclagem constantes, permitindo que os pessoas e orientando resultados;
colaboradores incorporem novos conhecimentos que permitam • Necessidade da organização aprender continuamente (lear-
analisar criticamente o seu trabalho e seu ambiente, permitindo ning organization).
que busquem a melhoria contínua como indivíduo.
V – Cenário propício para o desenvolvimento de estruturas As tendências relacionadas à estrutura de RH são:
auto-reguladoras a partir de indivíduos autônomos e participantes. • formações diversas – predomínio administração e psicologia
Desta forma, as equipes possuem a capacitação necessária para – também pedagogia e engenharias consoantes com o negócio.
gerir seus próprios recursos de forma otimizada. • ênfase no papel consultivo/parceria com as áreas da empresa
Nesta escala, a gestão de RH está plenamente disseminada – maior exigência de competências conceituais e interpessoais
pela empresa, sendo cada líder um gestor das pessoas sob a sua • por projetos – redução de funções
responsabilidade. A área de recursos humanos atua então como • com poucas pessoas
órgão consultivo, constantemente sintonizado com as tendências • atuação em comissões internas
do mercado e introduzindo novas ideias à estrutura vigente. Assim, • comitês suprassistema
os profissionais de Recursos Humanos devem evitar os vícios inter-
nos, buscando sempre novos patamares de desempenho através da Já a síntese das principais tendências nas ações de gestão de
aplicação de “benchmarkings” (SOLEDADE, 2007). pessoas identifica:
• foco nas lideranças
A moderna Gestão de Pessoas, segundo Chiavenato (2005), • ênfase no trabalho em equipe
baseia-se em três aspectos: • exigência de multiqualificação
I – tratar as pessoas como seres humanos que possuem • rodízio na execução de tarefas
• interesse relaçãopessoal/profissional
conhecimentos, competências, com uma história pessoal que os
• ênfase em pesquisa
torna únicos, diferentes entre si e não como recursos necessitando
• aprendizagem de ferramentas
que alguém as administre pois são sujeitos passivos das ações das
• treinamento à distância
organizações;
• formação in company
II – tratar como talentos que impulsionam a organização, dotan- • gestão do conhecimento
do-a de dinamismo, de conhecimento para continuar competitiva; • compartilhamento de conhecimento
III – tratar as pessoas como parceiros que investem na orga- • T&D estratégico: programas mais voltados para estratégia de
nização através de seus esforços, dedicação, comprometimento, negócio
responsabilidade tendo como expectativa o retorno deste investi- • aprendizado × performance: maior foco no aumento de
mento traduzidos em autonomia, desenvolvimento, remuneração, performance
reconhecimento, dentre outros. • e-learning × presencial: o crescimento dos programas blended
• liderança e coaching: transformação dos modelos de lideran-
Os programas de RH devem ser desenhados de modo a ofe- ça
recer benefícios e oportunidades de crescimento profissional aos • diversidade: inserção e valorização das diferenças
empregados. A função de administrar Recursos Humanos é das • saberes mais demandados:
lideranças (supervisores/gerentes) das organizações. A função • técnico – saber fazer – domínio processos de trabalho, nor-
dos profissionais de Recursos Humanos é de buscar ferramentas e mas, tecnologia, know-how
práticas modernas de gestão de pessoas para facilitar, dar suporte • conceitual- saber o porquê – entender as razões, estabelecer
e apoiar as lideranças na fixação das estratégias, na implementação relações, know-why

58
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• interpessoal – saber ser – entender as pessoas, estabelecer Diferenças de Administração de Recursos Humanos
relacionamentos convergentes, estimular motivações, decodificar
emoções, perceber perfis Estilo Tradicional Estilo Flexível
• sobre o negócio – saber realizar – agir consoante demandas
organizacionais – competências distintivas, essenciais, básicas • Paradigma burocrático- • Preocupação desloca-se da
mecanicista – ênfase nas estrutura organizacional para
Soledade (2007) diz que tradicionalmente são atribuídos 4 tarefas e na estrutura e visão os processos e a dinâmica
objetivos à área de RH: a) recrutamento e seleção de indivíduos da organização percebida organizacional.
capazes de atender aos desejos e expectativas da empresa; b) ma- como “máquina”. • Estilo aberto, flexível
nutenção dos colaboradores na empresa; c) desenvolvimento das • Estilo de administração e participativo, que
pessoas; d) folha de pagamento, admissão, demissão.19 rígido e autocrático, baseado dá oportunidades de
Entretanto, o passar das últimas décadas mostra uma mudança em padrões inflexíveis. crescimento individual.
neste cenário, com a gestão de RH sendo exercida não mais por uma • As pessoas são preguiçosas • Descentralização
área específica, por haver se tornado um atributo de qualquer líder por natureza e só são e participação nas
de equipe. Esta mudança de perspectiva levou à descentralização motivadas por recompensas decisões e delegação de
dos objetivos acima citados, que passaram a ser absorvidos pelas materiais. responsabilidades
diversas áreas da empresa, sendo responsabilidade de cada líder, a • Paradigma burocrático- • Enriquecimento do cargo,
gestão dos colaboradores sob a sua responsabilidade. Cabe então mecanicista - ênfase nas substituindo a especialização
à nova área de RH, atuar como um agente facilitador do processo tarefas e na estrutura e visão estrita pela ampliação de
de gestão de pessoas, propiciando as áreas da empresa os recursos da organização percebida tarefas e responsabilidades.
e instrumentos necessários a este novo desafio (SOLEDADE, 2007). como “máquina”. • O ser humano não tem
Menezes acrescenta que a Gestão de Pessoas é contingencial • Estilo de administração desprazer inerente em
e situacional por ser dependente da cultura da organização, da rígido e autocrático, baseado trabalhar, nem uma natureza
estrutura organizacional adotada, das características do contexto em padrões inflexíveis. intrínseca de passividade e
ambiental, do negócio da organização, da tecnologia adotada, entre • As pessoas são preguiçosas resistência.
outros fatores. Seus objetivos são: por natureza e só são • As pessoas têm
• Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua motivadas por recompensas motivação, potencial
missão; materiais. de desenvolvimento e
• Proporcionar competitividade à organização; • As pessoas não querem capacidade de assumir
• Proporcionar à organização, empregados bem treinados e responsabilidades e responsabilidades.
bem motivados; preferem ser dirigidas e Falta de ambição, fuga
• Aumentar a auto-realização e a satisfação dos empregados dependentes. à responsabilidade e
no trabalho; • Por sua natureza intrínseca, preocupação excessiva
• Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho; o ser humano é resistente à com segurança são, muitas
• Administrar a mudança; mudança. vezes, conseqüências de
•Manter políticas éticas e comportamento socialmente res- As atividades devem ser experiências negativas.
ponsável. padronizadas e as pessoas • Para que as potencialidades
devem ser persuadidas, intelectuais não fiquem
As novas ideias de gestão de pessoas no serviço público come- controladas, recompensadas subutilizadas, deve ser
çam a se consolidar a partir do movimento de Reforma do Estado e e coagidas para cumprir seu estimulada a criatividade
surgimento do movimento da Nova Gestão Pública ou Gerencialis- papel. para a solução de problemas
mo. A reforma é gerencial porque busca inspiração na administração • A remuneração é vista organizacionais.
de empresas privadas, e porque visa dar ao administrador público como meio de recompensa, • As pessoas podem atingir
profissional condições efetivas de gerenciar (BRESSER-PEREIRA, uma vez que o homem é objetivos pessoais ao mesmo
1998). As mudanças na Administração pública se refletem na Admi- motivado por incentivos tempo que perseguem os
nistração de Recursos Humanos (ARH), especialmente no estilo de econômicos objetivos organizacionais.
lidar com as pessoas.
Fonte: Marcilio de Medeiros Brito, 2008.

19. Adilson Silva Soledade. O Novo Papel da Área de Recursos Humanos (2007).
Obtido em http://www.ogerente.com.br/novo/artigos_sug_ler.php?canal=16&-
canallocal=48&canalsub2=154&id=453

59
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Outra distinção é tratar as pessoas como recursos ou como • Banco de dados e Sistema de Informações Gerenciais (SIG):
parceiros. ausência de bases de dados e falta de compreensão da importância
de informações que subsidiem o planejamento e a tomada de
Tratar pessoas Tratar pessoas decisão.
como recursos como parceiros
Gestão por competências
– As pessoas são vistas – As pessoas são fornece- O Conceito de competência vai além do conceito de qualifi-
como recursos de produção, doras de conhecimentos, cação como um saber acumulado, classificado e certificado pelo
ao lado dos recursos competências, habilidades sistema educacional. Implica saber como mobilizar, integrar e
financeiros e materiais. e inteligência. Constituem transferir conhecimentos, recursos e habilidades, agregando valor
– Como recursos, elas o capital intelectual da à organização e aos indivíduos. Segundo Dutra (2004), as pessoas
precisam ser administradas, organização. concretizaram as competências organizacionais, ao colocarem em
o que envolve planejamento, – Nesta concepção, as pratica o “patrimônio de conhecimentos da organização validando
organização, direção e pessoas são vistas como ou implementando modificações para aprimorá-lo”.
controle de suas atividades, seres humanos, dotadas de “COMPETÊNCIA É UM SABER AGIR RESPONSÁVEL E RECO-
já que são sujeitos passivos personalidade, possuem uma NHECIDO, QUE IMPLICA EM MOBILIZAR, INTEGRAR, TRANSFERIR
da ação organizacional. história de vida particular, CONHECIMENTOS, RECURSOS, HABILIDADES E ATITUDES QUE
são diferentes e singulares e AGREGUEM VALOR ECONÔMICO À ORGANIZAÇÃO E VALOR SOCIAL
possuem necessidades que AO INDIVÍDUO.”(Fleury, 2002)
motivam seu comportamen- “COMPETÊNCIAS HUMANAS SÃO ENTENDIDAS COMO COM-
to. BINAÇÕES SINÉRGICAS DE CONHECIMENTOS, HABILIDADES E
ATITUDES, EXPRESSAS PELO DESEMPENHO PROFISSIONAL, DENTRO
– São elementos impul- DE DETERMINADO CONTEXTO OU ESTRATÉGIA ORGANIZACIONAL.”
sionadores e dinamizadores (CARBONE E COLABORADORES, 2005).
da organização e capazes
de dotá-la de inteligência, Exemplos de algumas Competências:
talento e aprendizados in- Orientação para resultados: age para melhorar a performance,
dispensáveis à sua constante com maior agilidade e qualidade. Compete contra padrões de de-
renovação e adequação a um sempenho, buscando sempre mais. Busca Inovações.
mundo em mudanças. Iniciativa: assume fazer mais do que é esperado ou solicitado;
– Deve haver recipro- age antes de ser solicitado (antecipa-se aos problemas); cria novas
cidade entre expectativas oportunidades.
pessoais e organizacionais Construção de relacionamentos: constrói e mantém contatos
dentro e fora da organização, trazendo conhecimentos. Articula
Assim sendo, o órgão de gestão de pessoas deve apresentar 3 relacionamentos voltados para o alcance de objetivos.
momentos de atuação: Flexibilidade: pensa por diferentes estratégias e por diferentes
1º Momento: departamentos de pessoal, destinados a fazer padrões de raciocínio. Considera diferentes pontos de vista. Aceita
cumprir as exigências legais com relação ao emprego – admissão, mudança com naturalidade.
anotações cadastrais, controle de frequência, aplicação de penali- Pensamento Estratégico: Habilidade em analisar a posição
dades, férias etc. competitiva, tendências de mercado, clientes potenciais, novas
2º Momento: departamento de recursos humanos, responsá- tecnologias, visão a médio/longo prazo, análise da concorrência.
vel pelas funções clássicas de RH. Foco no Cliente: Identifica o que os clientes precisame valori-
3º Momento: gestão de pessoas, responsável por um conjunto zam. Prevê e antecipa-se a atender as necessidades com agilidade e
mais complexo de funções, assumindo papel estratégico. com qualidade visando lucro econômico.
• SER FLEXÍVEL E NÃO ESPECIALISTA DEMAIS
Segundo Brito (2008), há uma tendência para entender que a • TER MAIS INOVAÇÃO DO QUE INFORMAÇÃO
gestão de pessoas deve ser compartilhada com os gerentes que li- • ESTUDAR DURANTE TODA A VIDA
dam cotidianamente com os próprios subordinados. Neste sentido, • ADQUIRIR HABILIDADES SOCIAIS E CAPACIDADE DE EXPRES-
o RH passa a funcionar como prestador de serviços especializados SÃO
de gestão de pessoas, no âmbito interno, fornecendo assessoria e • ASSUMIR RESPONSABILIDADES
consultoria às demais áreas: • SER EMPREENDEDOR
• Recrutamento e seleção: previsão constitucional para, de • ENTENDER E LIDAR COM DIVERSIDADE CULTURAL
um lado, concurso público e, de outro, livre nomeação para cargos • ADQUIRIR INTIMIDADE COM NOVAS TECNOLOGIAS
comissionados.
• Desenho de cargos e avaliação de desempenho: algumas Fonte: UNESCO
vezes a criação de cargos não atende a critérios técnicos. Dificul-
dade de implementar programa de avaliação e mensuração de O foco nas competências busca destacar e desenvolver os dife-
desempenho. renciais de capacitação, desempenho, resultado e competitividade
• Remuneração e benefícios: dificuldade de recompensar os das pessoas, funções, áreas e organizações. O sistema de gestão
bons funcionários. por competência leva inevitavelmente à necessidade de valorizar
• Treinamento e desenvolvimento de carreiras: ausência de o conhecimento e habilidades humanas e destacar as qualificações
planejamento, principalmente de médio e longo prazos, e desconti- e os atributos pessoais que fazem a diferença nos resultados dos
nuidade administrativa prejudicam desenvolvimento consistente e processos, as áreas e da organização como um todo (Fleury, 2002).
contínuo das pessoas, com foco em competências.

60
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Este sistema de gestão conduz a importante mudança de paradigma relacionado a seleção – treinamento – desempenho – remune-
ração – carreira, pois passam a ser mais objetivamente centrados nas pessoas. Favorece o aperfeiçoamento das áreas de RH (Gestão de
Pessoas), no sentido de atuar maior integração.
As competências da organização são as estratégias formuladas pelas organizações que determinarão as competências necessárias
para alcançar suas metas e objetivos (FAISSAL et al, 2006). Segundo Resende (2000), envolvem:
• Processos – ter excelência nos processos de produção, vendas e serviços, estratégias de marketing, excelência e investimento na
gestão de pessoas, logística, etc.
• Foco na Inovação e Qualidade: desenvolver novos produtos, investindo em tecnologia e garantindo a qualidade.
• Orientação para Clientes: gerar impacto positivo, estabelecendo parcerias e conhecendo a satisfação dos seus clientes.
• Social: garantir uma imagem positiva perante a sociedade e clientes, saber ser, incluindo autonomia, flexibilidade, responsabilidade
e comunicação.

A descrição de cargo tradicionalmente utilizada prevê a descrição as funções e atividades que compõem o cargo, independentemente
das estratégias da organização (Faissal et al, 2006). A identificação do perfil de competências prevê o mapeamento das competências que
estão alinhadas com as estratégias e conhecimentos definidos pela organização.
As pessoas deverão alcançar resultados através destas competências, de forma a contribuir com a competitividade da organização.
O levantamento do perfil de competências deverá ser realizado com o gestor da área e de gestores de áreas afins da organização;
através de entrevista e observação de profissionais considerados com melhor desempenho, indicado pelo requisitante da vaga. Exemplos
de perguntas para identificar as competências (Rabaglio, 2005):
• Defina os conhecimentos, atitudes e habilidades para realização do trabalho;
• O que torna um candidato perfeito para este cargo?
• O que torna um candidato inadequado para este cargo?
• Desafios que este cargo apresenta e as habilidades que o candidato deverá demonstrar para enfrentar e superar estes desafios.
• Resultados esperados para o desenvolvimento desta posição na organização.

Após o levantamento das competências, há necessidade de agrupar e definir as competências; de uma análise alinhando com as
estratégias da organização e definindo os indicadores e por fim, validar com o gestor solicitante da posição. Exemplos de perguntas para
identificar as competências na entrevista de seleção (Bruno, 2000):

PENSAMENTO ESTRATÉGICO
• O que sua área está fazendo (ou fez) para garantir o sucesso do plano estratégico da empresa atual?
• O que você faz para conseguir analisar informações estratégicas?
• Como você avaliaria nossos produtos em relação aos produtos do concorrente?

INOVAÇÃO
• O que fez de inovador na última empresa (ou atual)?
• Quais os recursos que utilizou para elaborar essa proposta?
• Dê exemplos de pessoas bem-sucedidas. Qual foi sua contribuição?
FLEXIBILIDADE
• O que você faz quando tem de enfrentar obstáculos em momentos de mudança?
• O que faz quando discorda de alguém com relação a uma política, projeto etc?
• Fale sobre uma situação que teve que abrir mão de suas ideias a favor da equipe

FOCO NO CLIENTE
• Como você identifica tarefas que estejam prejudicando um bom atendimento ao cliente?
• Dê exemplo de uma situação onde antecipou possíveis problemas para seu cliente e qual foi a solução recomendada
• Fale sobre o feedback recebido de seus clientes no último ano

ORIENTAÇÃO PARA RESULTADOS


• O que você fez para atingir um ou dois resultados notáveis?
• Como você organiza seu dia-a-dia?
• Qual sua avaliação de seu comportamento numa situação de pressão e prazos

Nos modelos de competência, há necessidade de identificar os conhecimentos e experiências para o desenvolvimento das atividades.
Após o levantamento das competências, há necessidade de agrupar e definir as competências; de uma análise alinhando com as estraté-
gias da organização e definindo os indicadores e por fim, validar com o gestor solicitante da posição.

61
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Gestão por Competências


Missão, Estratégias,
Objetivos e Metas

Análise das Valorização Identificação


Competências das Pessoas dos Gaps
Identificação e
definição de Gestão por
competências Competências
essenciais, grupais e
individuais
Adequação Envolvimento Coerência com
de Perfil Gerencial o negócio
Formulação do Perfil
de Competências Ideal
individual e grupal, Plano de Ação
segmentados por Área
Hierárquica ou por
Sistemas Operacionais Formais Não-Formais
Maria Cecilia Araujo – 06.05.2004

Figura – Gestão por Competências


Fonte: Maria Cecilia Araújo, 2004

O conceito de competência emerge na década de 90, com o desenvolvimento de capacidades que podem ser mobilizadas em situa-
ções pouco previsíveis, relacionadas a novos usos e novos processos que fazem parte da organização. Segundo Dutra (2002), as premissas
para a gestão por competências são:
• Passagem do foco no controle para o foco no desenvolvimento.
• Passagem do foco nos instrumentos para o foco no processo.
• Foco no interesse conciliado em vez do foco no interesse da organização, esse foco caracteriza-se pela busca de desenvolvimento
mútuo de forma dinâmica, na qual e a negociação torna-se imprescindível.
• Foco no modelo integrado e estratégico em vez de foco no modelo construído por partes desarticuladas entre si.

Gestão por Competências

Outputs
Integração com demais sistemas de RH

Alinhamento Estratégico
Recrutamento e Seleção

Remuneração Sucessão e
e Incentivo Seleção Interna
GESTÃO POR
COMPETÊNCIA

Educação Corporativa

Gestão do Desempenho
Carreira e Sucessão
Figura – Gestão por Competências – integração com demais sistemas de RH
Maria Cecilia Araujo – 06.05.2004
Fonte: Maria Cecilia Araújo, 2004

62
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O sistema de gestão por competência leva inevitavelmente à Por um lado, a instituição terá sua marca solidificada no merca-
necessidade de valorizar o conhecimento e habilidades humanas e do através de vantagens competitivas criadas pela atuação de sua
destacar as qualificações e os atributos pessoais que fazem a dife- força de trabalho, que por sua vez passará a ser mais valorizada
rença nos resultados dos processos, as áreas e da organização como pelo seu desempenho. Condições estas altamente desejadas em
um todo (Fleury, 2002). Este sistema de gestão conduz a importante um contexto de grande competitividade e instabilidade no qual as
mudança de paradigma relacionado a seleção – treinamento – organizações estão inseridas atualmente.
desempenho – remuneração – carreira, pois passam a ser mais Para o correto entendimento do modelo de gestão por
objetivamente centrados nas pessoas. Favorece o aperfeiçoamento competências, faz-se necessário melhor delimitar o conceito de
das áreas de RH (Gestão de Pessoas), no sentido de atuar maior “competência” empregado no presente trabalho/artigo. Apesar
integração. de ter sido estudado ao longo das últimas três décadas, o conceito
Mudanças no mundo do trabalho que geraram a necessidade de competência tem sido utilizado em diferentes formatos e ainda
de adotar o modelo de gestão por competência permanece em evolução. A corrente mais difundida tem origens
• Eventos: ocorrem de forma imprevista, afetando o equilíbrio nos trabalhos de Le Boterf (1994) e Zarifian (2001) e caracteriza
ou a normalidade da organização, ultrapassando as habilidades a competência dos indivíduos como decorrente da articulação de
rotineiras para solução dos problemas. A competência não está seus conhecimentos, habilidades e atitudes nas situações enfren-
contida nas precondições das tarefas, o profissional precisa mobili- tadas no trabalho.
zar recursos para dar respostas a estas situações; O conhecimento é o conjunto de saberes acumulados por uma
• Noção de serviço: as pessoas produzem algo destinado aos pessoa durante sua trajetória pessoal e profissional, seja através de
outros, portanto o conceito de cliente externo e interno deve estar ações formais ou informais de aprendizagem, é o domínio técnico
sempre presente nos processos de trabalho; sobre determinados conteúdos. A habilidade está relacionada
• Comunicação: as organizações devem ter fronteiras flexíveis, com a execução de alguma atividade que envolva instauração dos
com comunicação fácil em todos os níveis, partilhando conhecimen- conhecimentos armazenados durante a vida por parte de um in-
tos sobre a organização vinculados as estratégias, procedimentos e divíduo. Ter esse recurso indica que o indivíduo sabe como fazer
outros. uma determinada tarefa, trabalho, etc., dentro de um determinado
processo. Por fim, a atitude diz respeito à conduta das pessoas no
Fonte: Fleury (2002) interior de uma organização. Trata-se do comportamento assumido
diante dos aspectos sociais e afetivos presentes no contexto da
Na gestão de pessoas, a abordagem de competências tem se organização.
mostrado uma forma avançada e inovadora: na identificação dos Destarte, a presença de indivíduos extremamente qualificados
conhecimentos requeridos pela organização; na flexibilização do no âmbito de uma empresa não é garantia de rendimento superior
conceito de posto de trabalho; no envolvimento e responsabiliza- frente aos concorrentes.
ção permanente do indivíduo em seu desenvolvimento. Paralelamente, é fundamental que cada integrante de uma
Esse modelo tem por objetivos planejar, captar, desenvolver organização tenha uma atitude favorável à aplicação destes conhe-
e avaliar, nos diferentes níveis da organização pública, as compe- cimentos em situações concretas de trabalho para gerar resultados
tências necessárias à consecução dos objetivos organizacionais. O cada vez melhores.
conceito se baseia em três dimensões: conhecimento (saber o quê, Dessa forma, não se pode confundir potencial com competên-
saber o porquê); habilidade (saber como fazer); atitude (querer cia. A competência é a “forma como a pessoa mobiliza seu estoque
fazer). e repertório de conhecimentos e habilidades em um determinado
Vale salientar a importância do mapeamento das competências contexto, de modo a agregar valor para a organização no qual está
visando identificar e gerenciar as lacunas (gaps) de competências inserida (competência em ação). Esta agregação de valor implica
eventualmente existentes na organização. Essa lacuna diz respeito em uma contribuição efetiva da pessoa ao patrimônio de conheci-
à discrepância entre as competências necessárias à consecução dos mento da organização”. (DUTRA, 2004).
objetivos organizacionais e àquelas de que a organização dispõe. Um dos mecanismos mais eficazes para conseguir que o indiví-
Brandão (2008 apud Mauger et al) relaciona a avaliação de duo contribua para a consolidação da visão de futuro de sua insti-
desempenho com a gestão por competências, afirmando que os re- tuição é incentivar e valorizar suas competências, direcionando-as
sultados alcançados na avaliação são comparados com os que eram e desenvolvendo-as de forma alinhada aos objetivos estratégicos
esperados, gerando informações para retroalimentar o processo organizacionais.
de gestão por competências. E completa, afirmando que qualquer Nesse sentido, diversos foram os modelos desenvolvidos, e o
que seja o modelo de avaliação de desempenho adotado em uma que parece melhor responder às novas necessidades organizacio-
organização, é imprescindível a descrição do perfil de competências nais parece ser o modelo de gestão de pessoas por competências,
básicas que sirvam de paradigma para uma comparação com as que define quais são os conhecimentos, habilidades e atitudes
existentes.20 necessários aos indivíduos.
A gestão de pessoas por competências tem sido empregada nas O grande apelo à adoção da gestão de competências pelas
organizações como importante ferramenta por incentivar a criação organizações pode ser entendido quando se compreende o ciclo
de soluções que agreguem valor aos seus produtos e/ou serviços virtuoso que a mesma tende a gerar principalmente no que diz
por parte de seus colaboradores. respeito ao processo de inovação e aprendizagem organizacional. O
Sua premissa é a de que, se os funcionários realizarem suas pressuposto é o de que as pessoas, vendo suas diferentes entregas
atividades de forma crítica e inovadora, alinhados ao planejamento reconhecidas pela empresa, passem a produzir cada vez mais,
estratégico da organização em que atuam, haverá benefícios a gerando maiores benefícios para a organização, que reconhecerá
serem desfrutados por ambas as partes. as novas tecnologias e processos de produção propiciados pela
iniciativa de cada indivíduo ou equipe, passando a valorizá-las ainda
mais (OLIVEIRA, DIAS, ROQUETTE).
20. Obtido em <http://www.servidor.gov.br/sad/biblioteca/artigos/ad_como_
ferramenta_de_gestao-Mauger-clad-nov2010.pdf> Acesso em 3 jul 2012.

63
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Recrutamento e seleção Para se alcançar a integração estratégica entre a área de
O contexto de Gestão de Pessoas, mais conhecido como Recursos Humanos e os negócios da empresa, é preciso que cada
Recursos Humanos, é formado, por pessoas e organização, esta- atividade de RH seja integrada verticalmente, de modo a se alinhar
belecendo uma relação de dependência mútua para o alcance das aos imperativos da estratégia da empresa (MILLMORE, 2003). Re-
metas e objetivos (CHIAVENATO 2005). Para que exista esta relação crutamento e seleção são práticas que se mantiveram relativamente
entre pessoas e organização, há necessidade de que as organiza- imutáveis ao longo do tempo, sendo ainda frequentemente rela-
ções escolham as pessoas que desejam como empregados e que cionadas aos modelos psicossomáticos, abordagens padronizadas
as pessoas escolham onde pretendem trabalhar. Este processo de onde se procurava a pessoa certa para o lugar certo. Hoje o enfoque
escolha mútua ocorre quando as organizações divulgam suas vagas dessas práticas tem se tornado mais orientado estrategicamente,
no mercado de trabalho e as pessoas interessadas, candidatam-se buscando-se pessoas para a organização e não mais para um cargo
as vagas disponíveis (TEDESCO, 2009). específico. O que importa é a busca de capital humano, que se
Em termos tradicionais, a seleção busca entre os candidatos revela pelo conjunto de competências que as pessoas têm e que se
recrutados aqueles mais adequados aos cargos existentes na em- alinham às competências essenciais da empresa.21
presa, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do Se o comportamento estratégico exige que a organização
pessoal, bem como a eficácia da organização (CHIAVENATO, 2009, combine seus recursos no longo prazo, às demandas de mudanças
p.172). ambientais, as organizações consideram que o capital humano
A seleção é um processo de comparação entre duas variáveis: seja uma das principais fontes de vantagem competitiva; sob este
de um lado, os critérios da organização (como requisitos do cargo a aspecto, recrutamento e seleção são funções essenciais dentro da
ser preenchido ou as competências individuais necessárias à orga- área de RH para dar suporte à execução da estratégia da corpora-
nização) e, de outro lado, o perfil das características dos candidatos ção, o que já vinha sendo percebido há cerca de quinze anos atrás
que se apresentam. A primeira variável é fornecida pela descrição (HENDRY, PETTIGREW; SPARROW, 1988).
e análise do cargo ou das competências requeridas, enquanto a Mas, para que o recrutamento e seleção sejam considerados
seguida é obtida por meio de aplicação das técnicas de seleção estratégicos, eles precisam atender a três condições primárias in-
(CHIAVENATO, 2009, p.173). dependentes: integração estratégica; foco no longo prazo; e meca-
Existem dois tipos de mercado: o Mercado de Trabalho onde nismo para transformar demandas estratégicas em especificações
são divulgadas as oportunidades de emprego e o Mercado de apropriadas para recrutamento e seleção. Sob esta perspectiva, o
Recursos Humanos, caracterizado pelo conjunto de candidatos que papel das funções de recrutamento e seleção está no provimento
estão em busca das oportunidades oferecidas pelas organizações. de pessoas com as competências vistas como críticas para o futuro
Tanto no mercado de trabalho quanto no mercado de recursos ou, em outras palavras, em saber escolher as pessoas que “tocarão”
humanos, existem constantes alterações, que influenciam nas a gestão da empresa no futuro.
práticas das organizações no que se refere as gestão de pessoas e O termo “recrutamento” pode facilmente ser encontrado em
no comportamento das pessoas que estão disponíveis no mercado dicionários, como por exemplo, na versão on line do http://www.
ou que pretendem buscar outro emprego. priberam.pt/ como ato ou efeito de recrutar uma leva de recrutas.
Quando o mercado tem mais ofertas do que procura, os Sua morfologia e significado teve origem, praticamente nos exérci-
candidatos podem escolher as organizações que oferecem me- tos, pois estava vinculado a prática de captar recrutas para vagas
lhores condições e oportunidades, aumentando assim seu poder de futuros soldados ou postos de guerrilha. Rapidamente o termo,
de negociação. As organizações por outro lado, investem mais bem como seu objetivo (captação de pessoas) foi ampliado para
em benefícios sociais e salariais, em treinamento e programas de o sistema de RH, em especial, ao subsistema de Recrutamento e
desenvolvimento, dentre outras, para atrair e reter os candidatos. Seleção de Pessoal.22
Geralmente os critérios de seleção são mais flexíveis e as pessoas O papel do recrutamento é ser o elo entre a organização e o
sentem-se mais propensas a lançar-se no mercado. mercado de trabalho. Recrutamento e Seleção é um processo que
Quando a situação é inversa, existe mais procura por emprego procura integrar pessoas e trabalho, através do estudo das dife-
do que ofertas de vagas diminui o poder de negociação por parte renças individuais das pessoas que se apresentam às vagas, com
dos candidatos, sentem-se inseguros em deixar seu emprego, a finalidade de prognosticar, através da utilização das técnicas de
aumenta a competição entre os candidatos. Há pouco ou nenhum seleção, quais estariam capacitadas para ocupar um cargo dentro
investimento salarial, benefícios, treinamento e a ênfase acaba de uma organização (Bruno, 2000).
sendo no recrutamento externo para melhorar o potencial interno. O processo de Recrutamento e Seleção terá um resultado posi-
Vários são os fatores que interferem tanto no mercado de tivo, quando atender as necessidades com rapidez; com quantidade
recursos humanos quanto no mercado de trabalho. Um deles está suficiente de candidatos considerados potencialmente capacitados;
relacionado ao desenvolvimento tecnológico que aumentou a com custo adequado despendido no processo e que haja perma-
sofisticação do trabalho, demandando habilidades e competências nência dos candidatos na organização. O resultado será negativo
mais variadas dos trabalhadores, automatizando os processos, quando ocorrer um alto turnover (rotatividade) no período expe-
aumentando a produtividade, gerando novos empregos, eliminan- rimental, poucos candidatos potenciais para o processo seletivo,
do postos de trabalho. A intensificação da tecnologia possibilitou alto custo do recrutamento;poucos funcionários qualificados o que
ofertas de produtos mais acessíveis, aumentando o consumo o que poderá comprometer a eficiência e eficácia da organização.
pode ser um fator gerador de emprego.
O mercado está cada vez mais competitivo fazendo com que as
organizações criem estratégias para gestão de pessoas mais eficien-
tes para atrair e reter pessoas. A responsabilidade por pesquisar
interna e externamente os candidatos potenciais para preencher as
vagas existentes na organização, cabe ao Recrutamento e Seleção. 21. Ana Maria Roux Valentini Coelho CÉSAR; Roberto CODA; Mauro Neves GARCIA.
Portanto, o processo de recrutamento e seleção desempenha um Um novo RH? – avaliando a atuação e o papel da área de RH em organizações
papel essencial. brasileiras. FACEF PESQUISA – v.9 - n.2 – 2006.
22. Eduardo Alencar, Camilla Pauferro, Alcimar Fraga, Érica Soares e Tatiane
Rosa. Introdução ao Recrutamento de Pessoal (2008)

64
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O papel primordial do selecionador de pessoal é garantir, a) técnicas que são os pré-requisitos do cargo, conhecimentos
enquanto estratégia de gestão de Recursos Humanos, a eficiência e habilidades especificas para atribuições ou funções específicas e;
das atividades mediadas por organismos dentro das organizações b) comportamentais que são as atitudes e comportamentos
mantendo ou elevando a produtividade via seleção de perfil psico- compatíveis com as atribuições a serem desempenhadas, por
lógico. Tal qualidade está automaticamente vinculada a prática de exemplo comunicação, liderança, negociação, persuasão, flexibili-
recrutamento, compreendida como as seguintes etapas: dade, etc., como vimo anteriormente (para maiores conhecimentos
consulte livro “Seleção por Competência” de Maria Odete Rabaglio,
a) Recebimento da Vaga 2005).
O trabalho de recrutamento inicia-se no momento em que
se recebe a liberação da vaga, solicitação de pessoal, perfil profis- b) Anúncio ou divulgação de vagas em fontes e parceiros de
siográfico ou afim. Embora a nomenclatura deste documento se recrutamento
diferencie de empresa para empresa, o objetivo é único: munir a Na etapa de anúncios, pode-se proceder com três condutas:
divisão de recrutamento e seleção sobre os dados e critérios que I – Recrutamento Interno: Consiste nas práticas empregadas
servirão de base para preterir ou aprovar currículos. à divulgação de vagas em aberto dentro das empresas ou orga-
Em algumas empresas, o RH atua como staff ou Consultoria nizações, focando o mercado de mão de obra interno, como por
Interna junto aos departamentos requisitantes no desenho do perfil exemplo, um teaser, anúncio na copa, e-mail, comunicado formal
de uma vaga. Em agências de emprego e Consultoria de RH, quan- ou semelhante, com o intuito de recrutar colaboradores de outros
do recebemos uma vaga, ligamos para os clientes para confirmar departamentos que tenham interesse em mudar de área a título
o recebimento e automaticamente, aproveitamos a contingência de promoção, interesse profissional ou semelhante. A grande van-
para esclarecer ou flexibilizar os requisitos para o desempenho de tagem de um recrutamento interno é o baixo custo com fontes de
um cargo vago. Negligenciar quaisquer informações a respeito do recrutamento. A desvantagem, é que ingressamos em um circulo
perfil de um cargo é sinônimo de comprometer o recrutamento e, vicioso, ou como diríamos no senso comum, “cobre um santo e
portanto, o processo seletivo como um todo. descobre outro”. Caso um colaborador venha ser aprovado para
Assim, o processo de recrutamento e seleção tem início quando um processo de recrutamento e seleção interno, a vaga dele no seu
houver disponibilidade de vaga motivada por substituição em fun- antigo cargo, provavelmente abrirá junto ao subsistema de recruta-
ção de desligamentos por aposentadoria, promoções, afastamen- mento e seleção de pessoal.
tos, dentre outros ou por necessidade de aumentar a quantidade Assim, o Recrutamento Interno é fundamentado na movimen-
de pessoas em virtude do aumento da produção, novos produtos, tação dos funcionários seja através de transferências, promoções,
ampliações da organização, aquisição de novos maquinários, dentre baseados geralmente nos programas de desenvolvimento de
outros. Recursos Humanos.
Quando surge a vaga, a área requisitante deve encaminhar Este tipo de recrutamento apresenta como vantagens a rapidez,
a solicitação para recursos humanos, que iniciará o processo de economia, conhecimento, aumento da motivação, utilização dos
recrutamento e seleção. investimentos em treinamento e como limitações a frustração dos
Geralmente o processo tem início com a Análise da Descrição candidatos não selecionados; a demora na liberação do candidato
de Cargo e/ou Definição do Perfil de competências, que pode ser pela supervisão atual, a quantidade insuficiente de candidatos para
feita através da leitura da Descrição do Cargo que está sendo solici- o processo de seleção.
tado ou entrevistando o requisitante para conhecer quais requisitos Os meios para divulgação das vagas internamente podem ser
são necessários para este cargo. o quadro-de-avisos; intranet; consulta aos gestores (gerentes /
São necessárias as seguintes definições: requisitos mínimos im- supervisores); consulta aos planos de desenvolvimento de recursos
prescindíveis para ocupar o cargo, que se o candidato não possuir, humanos.
não poderá ser indicado para a vaga e os requisitos considerados
como adequados, que se o candidato não possuir, poderão ser II – Recrutamento Externo: Consiste nas práticas empregadas
desenvolvido posteriormente e/ou podem servir como diferencial à divulgação de vagas em aberto para o mercado de mão de obra
no momento da decisão. externo à organização/empresa, como por exemplo, anúncios em
As informações que o recrutamento e seleção necessita para jornais, contratação de agências de emprego, consultorias de RH e
iniciar o processo são as seguintes: atividades que a pessoa irá afins. As vantagens consistem em uma gama diversificada de perfis
desempenhar; responsabilidades e autonomia; posição do cargo na para proceder com seleção de pessoal e agilidade na captação de
hierarquia; Conhecimentos e habilidades técnicas necessárias para pessoas. As desvantagens são geralmente, custo e desmotivação de
desenvolver as funções e atividades; Os comportamento, habilida- colaboradores internos ao não serem considerados para processos
des e atitudes para o desenvolvimento das funções e atividades; seletivos da empresa.
Desafios e dificuldades características deste cargo; Relações diretas Assim, o Recrutamento Externo é caracterizado pela identifica-
e indiretas, tanto internas quanto externas; Horário de trabalho; ção de candidatos no mercado externo. Apresenta como vantagens
Oportunidades de desenvolvimento que esta função gera; dentre a geração de novas ideias trazidas pelos candidatos; maior diversi-
outras. dade nos recursos humanos da organização, aproveitamento dos
Atualmente os processos estão voltados para a Seleção por treinamentos de outras empresas; e outros e como limitações, a
Competências, mapeando-se as competências da organização e a falta de candidatos potenciais; a demora dos contratados para
que a organização necessita para cada cargo: conhecer os processos e procedimentos da organização; maior
tempo despendido no processo; custo mais alto do que no processo
interno, e a possibilidade de gerar insatisfações internamente pelo
não aproveitamento dos funcionários.

65
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os meios para identificação dos candidatos externos podem C) Análise e triagem de currículos oriundos destas ações
ser a consulta ao Banco de Candidatos; a Indicação de Funcionários; O currículo é praticamente o “cartão de visita” dos candidatos
a colocação das oportunidades em Agências de Empregos, Consul- recrutados ou interessados em oportunidades de trabalho junto a
torias; Intercâmbio entre Empresas, os Grupos de Profissionais; uma empresa. Não há uma “fórmula” mágica ou modelo padrão,
as Apresentações espontâneas; Associação de Classes, Sindicatos, devido à grande diversidade na conduta de confeccionar este “car-
Universidades; Jornais, Revistas, Internet, e outros. tão de visita”. Entretanto, sugere-se:
A decisão sobre qual o melhor meio para divulgação das vagas Origem: A palavra Curriculum Vitae é de origem latina e traduz-
está relacionada ao custo operacional, retorno rápido; e a eficiência -se como “trajetória de vida”. Hoje em dia, não utilizamos mais esta
e eficácia do processo. nomenclatura e nem é necessário colocar “Currículo”. Indica-se
Por exemplo, os anúncios nos jornais, revistas e internet, têm como título, o nome do candidato.
como vantagens, além de ser uma fonte para atrair candidatos Abas: é necessário dados pessoais (endereço, telefone, bairro,
potenciais, é um meio para propaganda da organização, se bem CEP, estado civil, nacionalidade e e-mail), Objetivo (Departamento
elaborados. Os anúncios nos jornais e revistas têm como desvanta- e cargo de interesse), Experiência profissional (Empresas onde já
gens, o alto custo e o retorno demorado para receber os candidatos trabalhou, tempo que permaneceu, destacando cargo, data de
e/ou currículos. entrada, saída e síntese de atividades desenvolvidas), escolaridade
Após a divulgação da(s) vaga(s) e o recebimento dos currículos (técnico, médio, graduação, pós-graduação e afins), idiomas (em
ou dos candidatos, inicia-se o processo de Triagem que compreende caso de tê-los, indicar nível e instituição onde cursou), Informática
a análise do currículo ou da ficha de solicitação de emprego e uma (Indicar softwares que sabe operacionalizar, caso tenha feito curso,
entrevista inicial. adicionar a escola e período), Atividades extra-curriculares (em
Na análise do currículo ou da Ficha de Solicitação devemos caso de estágios supervisionados, atividades filantrópicas e afins).
considerar: as realizações profissionais; os projetos desenvolvidos e Lay-out: O segredo é nada muito extravagante, com português
implantados; a formação acadêmica; os cursos realizados; a experi- correto, objetivo, claro, conciso.
ência profissional observando a compatibilidade com os requisitos Tendo o currículo em mãos, o recrutador/selecionador de
solicitados; a compatibilidade entre a formação e as funções ou pessoal verificará se o candidato tem os pré-requisitos da vaga
cargos ocupados pelo candidato; as datas de admissões e demis- em aberto, em caso de afirmativo, abordará o candidato para uma
sões; o local onde reside, dentre outros, considerando sempre os entrevista, em caso de negativo, o candidato fica preterido nesta
requisitos definidos pelo requisitante. etapa da seleção.
Após a triagem, os candidatos deverão ser convocados para Particularmente, em processos de recrutamento em agências e
o processo de seleção. Esta convocação pode ser feita através de consultorias de RH, onde a demanda de currículos é muito grande,
mensagens eletrônicas, telegramas, telefonemas, cartas, recados qualquer detalhe do candidato que não esteja compatível com
através de funcionários, dentre outros. Deve-se informar horário e o perfil da vaga, o retira do processo. No caso de recrutamento
local. Na convocação via telefone ou correio eletrônico é possível interno, é possível levar em consideração outros dados além do
esclarecer algumas condições de trabalho tais como: horários da currículo, como por exemplo, a avaliação de seu gestor imediato.
empresa; fases do processo de seleção; faixa salarial; a área em que Outro aspecto a ser considerado é a fidedignidade das infor-
a vaga está disponível e outras. mações mencionadas no currículo. Se o candidato coloca cursos, o
Devem-se preparar o local, materiais e todos meios que serão ideal é que traga na entrevista, cópia destes. Se coloca informações
utilizados no processo de seleção. sobre experiência, o ideal é que traga na entrevista sua carteira de
trabalho e assim por diante. Como o agendamento de entrevistas é
III – Recrutamento Misto: Consiste nas práticas empregadas à a ponte entre o recrutamento e a seleção de pessoal propriamente
divulgação de vagas em aberto para o mercado de mão de obra dita, é necessário estes cuidados metodológicos para não incluir-
interno e externo. As vantagens concentram uma flexibilidade de mos candidatos negligentes ou inadimplentes com as informações
cenário e vantagens estratégicas mencionadas nos itens anteriores, mencionadas em seus currículos.
bem como a flexibilidade para com as consequências negativas.
– Instituições de Ensino (Técnico, Médio, Graduação, Pós Gra- D) Convocação de candidatos para processos seletivos
duação, Profissionalizante, Qualificação profissional e afins); O Processo de Seleção tem como objetivo identificar e avaliar o
– Sites; perfil de competências das pessoas no que se referem às habilidades
– Jornais (Locais, Nacionais, regionais) e Mídias; cognitivas, os conhecimentos técnicos, a comunicação, a criativida-
– Instituições diversas (Ongs, Associações, Igrejas, eventos, de, a iniciativa, o trabalho em equipe, a liderança, as formas de lidar
etc); com situações de pressão, os conflitos, as mudanças, a flexibilidade,
– Anúncio(s) na porta da empresa ou consultoria; a tomada de decisão, a capacidade para solução de problemas, o
– Agência de Emprego, Consultoria de RH; Outplacement e comportamento ético, a negociação, e outros, conforme solicitação
afins; do requisitante (BRUNO, 2000).
– Indicação de candidatos ou funcionários; O sucesso do processo de seleção depende fundamentalmente
– Indicação de empresas parceiras, fornecedores e clientes; da definição clara e objetiva do perfil de competências. A definição
– Internet e seus recursos; deve estar voltada não só ao cargo em aberto, mas também a car-
– Etc reira, objetivos da posição e perspectivas da organização.
Devem-se estabelecer os requisitos que se o candidato não
Em aspectos gerais, a escolha de fontes de recrutamento varia possuir, terá pouca probabilidade de sucesso na posição.
conforme perfil da vaga, criatividade do recrutador e recursos Deve-se tomar cuidado com a supervalorização da pessoa em
financeiros e institucionais da empresa. detrimento do cargo efetivo.
As técnicas utilizadas na Seleção são identificadas a partir dos
requisitos definidos no início do processo. Identificamos algumas
delas:

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1) Entrevista; O fechamento da entrevista deve dar oportunidade ao candi-
2) Dinâmica de Grupo; dato para expressar opiniões ou fazer alguma pergunta; devem-se
3) Provas Situacionais; dar explicações sobre as próximas fases e comprometer-se com o
4) Teste Psicológico; retorno.
5) Testes Técnicos ou Prova de conhecimentos e de capacida- A duração da entrevista é de 45 a 60 minutos. Este tempo é
des, dentre outras técnicas. utilizado para: Introdução – Informações Pessoais e Profissionais –
Informações sobre Perfil de Atribuições e Competências.
Entrevista Após a entrevista, deve-se analisar se o perfil do candidato é
É uma forma de coleta de dados e também o recurso mais efi- compatível com o solicitado pela organização e preencher imedia-
ciente do processo seletivo, se bem elaborada. Portanto não deve tamente o relatório com as devidas avaliações e parecer da seleção
ser substituída por outra técnica. Os tipos de entrevistas são: (RABAGLIO, 2005).
a) individual, quando o entrevistador e candidato estão face a
face; Analisando a Entrevista:
b) em Grupo envolvendo vários candidatos e entrevistadores; • Correlação entre o que foi narrado e as competências – pos-
c) Por Banca envolvendo dois entrevistadores e um entrevis- tura e estilo pessoal do candidato e a adequação com a empresa;
tado; • Competências que não atendem as exigências, se são passí-
d) o Painel de Entrevista envolvendo grupo de entrevistadores, veis de treinamento e a viabilidade para a empresa.
geralmente 3, que entrevistam individualmente o candidato. • Se as expectativas e reivindicações do candidato vão ao
encontro às da empresa;
A entrevista por banca, painel ou grupo, em relação à entre- • Contribuições que serão efetivas para a empresa (RABAGLIO,
vista individual apresenta algumas vantagens tais como: a redução 2005).
do tempo tanto dos profissionais envolvidos quanto dos entre-
vistadores; evitam repetições de perguntas ou temas; permitem Parecer da Seleção: relatar os principais atributos e os aspectos
o confronto de percepções dos entrevistadores aumentando a que não atendem a necessidade. Indicar se está:
objetividade e permitem a participação de profissionais de áreas • acima do esperado.
diferentes, porém interdependentes. • se é favorável ou atende as expectativas.
Podemos ter indicar como desvantagens que alguns dados • se é Favorável, porém com restrições.
pessoais ou referentes ao emprego anterior não podem ser pesqui- • se é inaceitável ou desfavorável.
sados para não expor os entrevistados, pois estes podem perder a
espontaneidade ou sentir-se constrangidos.
A utilização da técnica de entrevista prevê a preparação dos Com relação às características do entrevistador, destacam-se:
entrevistadores para que não ocorram perguntas repetidas, que atenção concentrada, capacidade analítica, receptividade, neutrali-
não façam perguntas dirigidas apenas para um candidato, para não dade; mobilidade, empatia, sensibilidade, equilíbrio, dentre outras.
demonstrar falta de planejamento. O método de entrevista pode • Algumas perguntas que podem ser feitas na entrevista:
ser: • Descreva suas tarefas e responsabilidades mais importantes.
a) Diretivo – baseia-se em um roteiro planejado, permite man- • Relate duas ou Três situações que experimentou ou projetos
ter o controle da situação quanto ao tempo a ser utilizado e per- que realizou no último(s) trabalho(s) que representaram realização.
guntas a serem feitas, é recomendado quando se dispõe de pouco • Relate situações/atividades/projetos que representaram
tempo para coleta de dados; quando os dados a serem pesquisados frustração e como lidou com estas situações.
são objetivos. • Na sua vida profissional, qual ou quais metas ou situações
b) Não Diretivo – enfatiza-se a relação entrevistado e entre- que foram as mais desafiadoras – as mais frustrantes e as mais
vistador , assim como suas expressões verbais e não verbais, é estressantes.
adequado para situações onde o entrevistado apresenta acentuada • Quais expectativas para esta posição, nesta empresa.
tensão emocional; apresenta recursos intelectuais satisfatórios. • Como espera contribuir para com esta empresa.
O responsável pelo processo de recrutamento e seleção deve • Os objetivos para daqui a dois e cinco anos e o que está
preparar-se para a entrevista através da elaboração do Roteiro da fazendo para alcançá-los.
Entrevista; ler novamente o currículo ou Ficha de Solicitação de Em- • O que te levou a deixar a(s) ou que te faz pensar em deixar
prego; preparação dos outros entrevistadores; preparação do local a(s) empresa(s) anterior(es).
de atendimento garantindo privacidade e outras características • Quais as decisão mais difícil que você já tomou.
que permitam condições éticas e pessoais mínimas; evitar que haja • Qual situação faria você desrespeitar alguma norma da
interrupções, que a sala seja fechada, iluminada e arejada. empresa.
• Dê exemplo de uma situação onde antecipou possíveis pro-
No início da entrevista, deve estabelecer o rapport, quebrar o blemas para seu cliente e qual foi à solução recomendada.
gelo através de um conversa informal criando um ambiente des- • Exemplifique um trabalho/projeto/nova tecnologia e qual
contraído e cordial, falar sobre a empresa, seu histórico, missão, metodologia usaria para implementação.
valores, produtos, perspectivas, organograma, benefícios, motivo
da abertura da vaga, dentre outras. Deve-se tomar cuidado para Existem outras questões relevantes dependo da área / cargo/
não superdimensionar a organização, falar sobre o cargo, o motivo perfil estabelecido.
da abertura da vaga, principais atividades, responsabilidades, Além disso, podem-se criar situações relacionadas à área/em-
perspectivas, fornecer ao candidato as informações sobre o perfil presa/atividades e solicitar para que o candidato relate como agiria
esperado e como será o processo seletivo. Isto possibilita que o ou o que pensa a respeito da situação ou problemática abordada.
candidato analise se atende suas expectativas e se deseja continuar. Ao convocar candidatos para fase de entrevistas, o ideal é
O candidato é cliente da seleção e deve ser tratado com consi- utilizar uma abordagem que perpasse os seguintes itens:
deração, ética e respeito.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Empatia; Os testes são ferramentas auxiliares no processo de decisão,
• Clareza; nunca podem ser vistos como fim. Eles complementam as impres-
• Apresentação da empresa; sões que são colhidas nas entrevistas, dinâmicas de grupos e nas
• Apresentação da Vaga, focando condições de trabalho; provas. Os testes psicológicos para serem usados devem passar
Etc. por um crivo científico que comprovem sua validade (capacidade
de medir aquilo a que se propõe), precisão e fidedignidade (consis-
Pode-se utilizar o período de contato telefônico com os recru- tência dos resultados e estabilidade das respostas, comparando-se
tados para analisar: grupos de pesquisa e instrumentos similares) e padronização
• Fluência verbal; (instruções normativas para aplicação dos testes) e a existência de
• Expectativas; normas específicas e atualizadas para a população brasileira.
• Motivação para participar do processo;
• Desenvoltura; Testes Técnicos ou Prova de conhecimentos e de capacidades
• Etc. São instrumentos utilizados para avaliar o nível de conheci-
mentos gerais e específicos dos candidatos exigidos pelo cargo a
Dinâmica de Grupo ser preenchido. Podem ser orais ou escritas, através de perguntas e
Técnica que integra o processo seletivo através da aplicação respostas ou de realização, aplicadas por meio de execução de uma
de exercícios, jogos e simulações. Ela dá aos examinadores a pos- tarefa (CHIAVENATO, 2005).
sibilidade de observar as pessoas exercendo diversos papéis onde Algumas empresas estão utilizando o recrutamento on-line.
são encontrados os requisitos básicos exigidos para o cargo a ser Existe uma série de funcionalidades de e-Recruitment que orga-
preenchido. Faz parte de um conjunto de instrumentos para avaliar nizam cada processo seletivo de modo que cada candidato em
o candidato. Sua finalidade é auxiliar a revelar ao selecionador se o cada vaga mantenha seu status atualizado, tal como: avaliações
candidato apresenta as características profissionais e pessoais que a do recrutador – entrevistas e dinâmicas, testes on-line etc. Isso
empresa está buscando. Esta técnica consiste em oferecer algumas facilita o trabalho dos recrutadores, consultores, assistentes e das
situações que possam colocar o grupo em funcionamento, a fim de áreas coligadas como: Administração de Pessoal, Cargos e Salários,
que se estabeleça uma dinâmica, de tal forma que os candidatos Treinamento e Desenvolvimento, Planejamento de Carreira, já que
venham a se expor. todas as informações podem ser compartilhadas.
Embora as etapas e propostas das dinâmicas mudem de uma As empresas podem manter um contato mais personalizado
empresa para outra, de modo geral, elas consistem de três etapas: com os candidatos, enviando mensagens de atualização, agrade-
Estas atividades grupais possibilitam que algumas características dos cimento, informando sobre os processos seletivos etc., podendo
candidatos se revelem e, assim, permitam ao selecionador avaliar atingir um grande público individualmente, melhorando a sintonia
a compatibilidade entre o candidato e a vaga oferecida. Observa-se com todos os profissionais. Por outro lado, beneficia também os
como cada pessoa se comporta em grupo, como é a comunicação, candidatos às futuras vagas, pois eles podem manter seus dados
o nível de iniciativa, a liderança, o processo de pensamento, o nível atualizados – entrando com login e senha na área destinada a eles,
de frustração, se aceita bem o fato de não ter sua ideia levada em no site – facilitando futuros contatos Rapidez e baixo custo caracte-
conta, dentre outros. riza o processo virtual.
Parecer da Seleção após aplicação das técnicas
Provas situacionais Deve-se relatar os principais atributos e os aspectos que não
São simulações de problemas rotineiros e/ou de situações do atendem a necessidade.
dia-a-dia ocorridos nas organizações onde os candidatos devem Indicar se o parecer é favorável ou desfavorável
posicionar-se apresentando soluções para estas situações, demons- a) Está acima do esperado
trando suas capacidades para percepção, análise e solução de um b) atende as expectativas/requisitos definidos
problema concreto. As situações problema permitem mais de um c) Favorável com restrições (citar em quais requisitos)
caminho ou forma para solução do problema, pois o objetivo é ava- d) desfavorável
liar como o candidato aplica seus conhecimentos, como toma de-
cisões muitas vezes colocando-se no lugar do gestor, suas atitudes Finalização do Processo Seletivo: Após o parecer da seleção
diante das situações. Portanto dependendo de como formularem indicando ou não o(s) candidato(s) e a decisão do requisitante
esta prova, é possível avaliar a ética, a prioridade que o candidato pela aprovação ou não, o recrutamento e seleção deverá tomar as
estabelece em relação às pessoas e a organização, avaliação da seguintes ações:
relação custo benefício de suas decisões, se consegue enxergar um a) Retorno aos Candidatos não aprovados: deve ocorrer logo
mesmo problema sob diversos ângulos, dentre outros Geralmente após a conclusão do processo através de e-mail, carta, telegrama,
são aplicadas individualmente e podem ser utilizadas para discus- telefonema ou outra forma julgar conveniente.
são em grupo. Quanto mais alto o cargo, menor a possibilidade da b) Retorno ao candidato aprovado: encaminhando para exame
utilização desta técnica. médico admissional; entrega de documentação para processar a
contratação; Integração de Novos Funcionários.
Testes Psicológicos c) Após o período de experiência ou outro período designado
Os testes avaliam principalmente aptidões, interesses, atitudes pela empresa, deverá haver um acompanhamento do novo fun-
personalidade com a finalidade de identificar o perfil e as caracterís- cionário objetivando verificar sua adaptação, se suas expectativas
ticas e prognosticar o comportamento em determinadas formas de estão sendo atendidas, dificuldades que está encontrando e como
trabalho bem como o potencial de desenvolvimento do candidato. está resolvendo, além de outras e a avaliação do gestor sobre o
A escolha de um teste psicológico deve ser feita pelo psicólogo e desenvolvimento do funcionário.
este deve observar determinados fatores como atributos e caracte-
rísticas que serão avaliadas.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Análise e descrição de cargos • Preenchimento dos formulários (pode ser por meio de entre-
Segundo Joelson Matoso, técnico da Secretaria de Adminis- vista de um facilitador ao ocupante do cargo, ou o próprio ocupante
tração do Estado de Mato Grosso, em um modelo de gestão por preenchendo o formulário)
processos a quantidade de cargos se dá em função da quantidade • Validação/correção dos formulários preenchidos
de processos e das demandas de trabalho. O conjunto de cargos • Revisão periódica da descrição para adequação do cargo às
responsáveis por um número específico de processos (sistemas) mudanças nos processos/atividades
compõe a estrutura organizacional.
A análise e descrição de cargos é uma ferramenta gerencial Entrevista de levantamento de dados para elaboração da des-
muito eficiente para a uma organização, principalmente pela gran- crição e análise de cargos.
de quantidade de informações que gera e que servem de subsídios A entrevista é uma das formas de coleta de dados com
para diversos processos de gestão de pessoas. maior potencial para refletir de maneira fidedigna a realidade da
Como qualquer outra ferramenta de gestão, possui fundamento organização. Tanto o entrevistador quanto o entrevistado têm
teórico, base desse artigo, que objetiva de maneira clara e objetiva oportunidades de refletir sobre o cargo de uma forma sistemática.
fornecer alguns conceitos e orientações para a sua aplicação. A entrevista levanta pontos e questões que normalmente passam
É um documento formal, geralmente um formulário ou despercebidos no dia a dia da organização.
relatório com o detalhamento do que um cargo exige em termos A entrevista deve iniciar com o entrevistado dando uma visão
de conhecimentos, habilidades e capacidades para que possa ser geral do cargo, em termos de objetivos e responsabilidades. A seguir
desempenhada determinada função. A descrição e análise de o entrevistador deve iniciar as perguntas diretivas que propiciarão
cargos tende a otimizar o desenvolvimento de outras atividades, as respostas para preencher o formulário. As respostas devem
tais como: recrutamento, seleção, treinamentos, planejamento de contemplar os itens de um plano de ação: O que faz? Quando faz?
cargos e salários, avaliação de desempenho e segurança no traba- Como faz? Onde faz? Porque faz?
lho (MATOSO, 2008).23 Algumas perguntas que o entrevistador pode fazer:
Matoso explica que, dentro da estrutura, cada cargo está direta • Qual o objetivo central que o seu cargo deve alcançar?
ou indiretamente responsável por um ou mais processos, de forma • Quais são as principais atividades que você dirige, supervi-
que estes (os processos) requerem profissionais com características siona ou controla? (Esta pergunta pode gerar muitas outras. Pode
específicas, daí a necessidade de se fazer a descrição e análise dos tomar algum tempo para cobrir todas as atribuições do cargo).
cargos dos Núcleos Sistêmicos com o objetivo de alocar as pessoas • Qual a participação do seu cargo na definição de políticas,
certas nos cargos adequados. Destaca-se aqui as ideias deste servi- objetivos, normas e procedimentos para sua área?
dor público sobre análise e descrição de cargos: • Como são estabelecidos os objetivos e metas de curto/longo
Além disso, a descrição e análise de cargos oferece: prazos para o seu cargo?
• Insumo para nomear pessoas para os cargos existentes: Uma • Como é feito o planejamento, o acompanhamento e as corre-
vez que o perfil do cargo já está descrito, basta encontrar a pessoa ções dos planos e objetivos do seu trabalho?
que melhor preencha os requisitos exigidos. • Como você planeja, acompanha, controla e avalia o resultado
• Insumo para avaliação de desempenho: O desempenho do do trabalho dos membros da sua equipe?
ocupante do cargo pode e deve ser avaliado com base nas caracte- • Quais as principais complexidades do seu cargo?
rísticas que o cargo requer. • Que tipos de obstáculos ou de oportunidades exigem o máxi-
• Insumo para levantar necessidades de capacitação: A análise mo de sua habilidade para atingir seus objetivos?
e descrição do cargo contém o perfil de profissional ideal para ocu- • Como o seu superior pode saber se você está tendo um de-
par aquele cargo. Se o ocupante não possui certa habilidade ou co- sempenho satisfatório em relação aos objetivos estabelecidos para
nhecimento requerido pelo cargo, deve desenvolver tal habilidade o seu cargo?
ou conhecimento para desempenhar de maneira satisfatória suas • Quais os principais objetivos que poderiam ser tomados
funções. A necessidade de capacitação é, portanto, a diferença en- como representativos para o seu cargo?
tre a descrição do cargo e a avaliação de desempenho do servidor. • Qual a medida (quantitativa ou qualitativa) poderia ser utili-
• Insumo para ações de segurança no trabalho, porque identi- zada para descrever ou medir o seu desempenho?
fica os cargos em que os riscos a saúde do trabalhador são maiores.
• Insumo para revisão de leis de carreira: Na medida em que Sugestão de verbos para iniciar as frases de descrição das ati-
a descrição dos cargos é analisada periodicamente e sofre mudan- vidades
ças devido as novas demandas dos processos (leia-se sociedade), Aconselhar, adotar, ajustar, ajudar, analisar, apoiar, apresentar,
aumentando a complexidade das atividades pode-se propor al- aprovar, aprimorar, avaliar, aferir, conduzir, consultar, contatar,
terações nas leis de carreira objetivando adequar o salário/carga controlar, desenvolver, determinar, dirigir, elaborar, especificar,
horária as exigências do cargo. estabelecer, estudar, examinar, executar, facilitar, informar, liderar,
• Clareza para os ocupantes dos cargos sobre as atividades, manter, motivar, orientar, organizar, participar, pesquisar, planejar,
responsabilidades e a importância do seu trabalho para a melhoria preparar, prever, receber, recomendar, reportar, representar, rever,
dos serviços públicos. selecionar, supervisionar, treinar, verificar.
• Etapas da realização da descrição e análise de cargos (Como)
• Objetivamente a descrição de cargos é realizada nas seguin- Sugestão de verbos para descrever a missão do cargo
tes etapas: Verbos para você usar no meio da frase, depois de palavras
• Elaboração de formulário como “visando a”, “afim de”, “para”, “com o objetivo de” etc.
• Elaboração de manual de instrução de preenchimento do Alcançar, apoiar, aprimorar, assegurar, assistir, atingir, aumentar,
formulário e/ou treinamento dos facilitadores. auxiliar, conseguir, contribuir, controlar, coordenar, criar, cumprir,
desenvolver, estabelecer, estimular, facilitar, formular, implementar,
manter, maximizar, minimizar, motivar, obter, otimizar, preservar,
promover, proteger, reduzir.
23. Obtido em http://gestaocomaspessoas.blogspot.com.br/2008/01/anlise-e-
descrio-de-cargos.html

69
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Treinamento
O Treinamento e Desenvolvimento (T&D) pode ser definido de modo amplo como um processo educacional aplicado de maneira
organizada e sistemática, que visa mudança de atitudes e comportamentos. De modo mais específico:
Desenvolvimento profissional: é a educação profissional que aperfeiçoa a pessoa para uma carreira dentro de uma profissão. É a
educação profissional que visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar a pessoa para seu crescimento profissional em determinada carreira
na organização ou para que se torne mais eficiente e produtiva no seu cargo. Seus objetivos são menos amplos que os da formação e
situados no médio prazo, visando proporcionar conhecimentos que transcendem o que é exigido no cargo atual, preparando-a para
assumir funções mais complexas. É dado nas organizações ou em firmas especializadas em desenvolvimento de pessoal.
Treinamento: é a educação profissional que adapta a pessoa para um cargo ou função. Seus objetivos situados no curto prazo são
restritos e imediatos, visando dar ao homem os elementos essenciais para o exercício de um cargo, preparando-o adequadamente para
ele. É dado nas empresas ou em firmas especializadas em treinamento. Nas empresas, é delegado geralmente ao chefe imediato da pessoa
que está trabalhando. Obedece a um programa preestabelecido e atende a uma ação sistemática visando à adaptação do homem ao
trabalho. Pode ser aplicado a todos os níveis ou setores da empresa (CHIAVENATO, 2009, pp.388-389).
O papel de T&D é o de coordenar e apoiar os processos de mudança, contribuindo para conquista equilibrada e simultânea dos
resultados das pessoas e das organizações (BOOG, 2005). As funções de treinamento e desenvolvimento têm um papel essencial no
crescimento de uma organização. Vários estudos mostram isto. Pettigrew et al. (1988) já discutiam, há quase vinte anos, que a função
de treinamento podia ir além de promover treinamento técnico ou desenvolver capacidades alinhadas ao mercado. Para esses autores,
há quatro aspectos relacionados ao crescimento da atividade de treinamento e desenvolvimento em uma empresa: fatores estratégicos,
política e personalidade da empresa, restrições de tempo e mobilização para mudanças.
Os fatores estratégicos relacionam-se às mudanças tecnológicas ou às mudanças que ocorrem no mercado e que provocam gaps
de habilidades; isto é especialmente sério em empresas com base tecnológica onde treinamento em alto nível, às vezes, é uma das
únicas opções viáveis para a empresa manter competitividade. Quanto aos aspectos relacionados à política e à personalidade da empresa,
Pettigrew et al. (1988) comentam a necessidade de uma filosofia que seja apoiadora de treinamento e que seja traduzida em níveis de
responsabilidade da companhia no tocante à criação de estruturas para identificação de necessidades, criação e compartilhamento de
treinamento. O aspecto relacionado às restrições de tempo refere-se mais a questões operacionais do que estratégicas, pois envolve ações
de apoio para cobertura temporária de postos de trabalho, uma barreira frequentemente apresentada pelos gestores de linha. Quanto à
mobilização para mudança, os autores comentam a necessidade de alinhamento dos programas de mudança propostos pela área de RH e
as demandas por mudanças nas demais áreas da empresa.
Mas como fazer para verificar se o investimento em desenvolvimento de pessoas representa uma estratégia de intervenção efetiva
para a aprendizagem organizacional, tema essencial quando o assunto é competitividade? Berry e Grieves (2003) apontam que o caminho
para a verificação está na extensão em que esse investimento é capaz de promover a transferência de aprendizagem, desenvolver a capa-
cidade de treinamento e encorajar o desenvolvimento de um RH estratégico. Para os autores, a transferência de aprendizagem é avaliada
pela capacidade que as pessoas têm de transferir para suas situações reais de trabalho o que aprenderam em programas de treinamento.
A capacidade de treinamento é vista como a habilidade que as organizações têm para promover, desenvolver continuamente e sustentar
as habilidades para aprender e criar novos conhecimentos aplicáveis.
Esta capacidade é uma mistura de recursos aplicados pela organização para alcançar um determinado fim e o desenvolvimento de
competências essenciais à empresa que garantem à mesma sua vantagem competitiva. Quanto ao desenvolvimento de um RH estratégico,
os autores apontam que este se relaciona à capacidade que a organização tem de operacionalizar sua missão através de fatores de sucesso
críticos; de criar indicadores de desempenho da área que sejam adequados; do desenvolvimento da habilidade para fazer diagnósticos;
da aplicação de conhecimentos no processo de transformação cultural; da capacidade de aplicação de competências para relacionar o
processo de mudança em curso com o processo planejado. Segundo os autores, todas estas ações, embora não exatamente alocadas na
área de RH, dependem do suporte da mesma para que a vantagem competitiva se consolide.
O Processo de T&D prevê as seguintes etapas:
1) Diagnóstico das Necessidades: efetuando o levantamento e análise das necessidades de Treinamento e desenvolvimento;
2) Elaboração e Implementação do Programa de Treinamento e Desenvolvimento;
3) Avaliações: compreende avaliações de reação; de acompanhamento e de conhecimento, quando prevista.
4) Registros e Controles.

70
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PROCESSO DE TREINAMENTO E
DESENVOLVIMENTO

*População
*OBJET IVO
Envolvida

*Diagnóstico
das
Necessidades

*PROGRAMA
*T REINAMENTOS INTERNOS DE T REINAMENT OS EXTERNOS
TREINAMENT O

Implementação Implementação
das ações de das ações de
treinamento treinamento
interno* externo*
AVALIAÇÕES

REGIST ROS E CONT ROLES

Figura – Processo de Treinamento e Desenvolvimento

Existem diversas oportunidades e meios para identificar as necessidades de treinamento e desenvolvimento. É necessário que haja
clareza do por que, para quê, quem e em quanto tempo precisamos treinar. É fundamental para o Planejamento, definir objetivamente
quais habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas e as prioridades para este desenvolvimento (BOOG, 2002). É fundamen-
tal o alinhamento com as Estratégias e metas da organização.
As necessidades apontadas devem ser analisadas considerando os requisitos mínimos da função; as perspectivas para o(s) funcioná-
rio(s); as estratégias e metas da organização; dentre outras.
O Diagnóstico de Treinamento e Desenvolvimento compreende o levantamento e a análise das adequações ou inadequações das
Necessidades de treinamento que pode ser feito através:
a) Pesquisa junto ao gestor: que pode ser feita através de entrevista, questionário ou utilizando outros instrumentos abordando os
tipos de necessidades, por exemplo, fortalecer o relacionamento e a comunicação na equipe de trabalho; justificativa; prioridade que deve
ser estabelecida em função da necessidade, por exemplo, capacitar operadores para operar a máquina X que deverá estar instalada em
três meses. Neste caso a prioridade é alta devendo ser atendida em no máximo dois meses; identificar os funcionários que deverão ser
treinados; etc.
b) Avaliação de Desempenho: resultado da avaliação das competências, habilidades e desempenho e da identificação das ações que
podem ser resolvidas através de treinamento e desenvolvimento, como por exemplo: baixa produtividade e erros frequentes em função de
despreparo para efetuar determinadas análises laboratoriais. Envolve ação de treinamento técnico ou uma recomendação para promoção
em função de bom desempenho, envolve ações de treinamento para identificar os gaps e preparar o funcionário para ocupar a posição
indicada.
c) Introdução de novas tecnologias ou Mudanças: fornece demanda para que treinamento e desenvolvimento capacitem as pessoas
para operar os novos equipamentos ou processos, desenvolver novos produtos; efetuar processos de transferências de tecnologias, dentre
outros.
d) Entrevista de Desligamento: quando o funcionário desligar-se da empresa, efetua-se a entrevista para verificar as razões do desli-
gamento; dificuldades que encontrou no desempenho de suas funções, estilo de liderança, ações para que melhorasse seu desempenho,
dentre outras.
e) Pesquisa de Clima Organizacional: avaliar a percepção dos funcionários relacionadas com as práticas e políticas da organização
relacionadas ao sistema de gestão; capacitação; oportunidades de desenvolvimento; relações interpessoais, processo de comunicação;
imagem da organização; dentre outros, avaliando quais ações de treinamento e desenvolvimento pode contribuir para melhorar o nível de
satisfação ou insatisfação dos funcionários.
f) Os processos de Qualidade, Segurança e Meio ambiente, devem indicar necessidades de treinamento e desenvolvimento em função
de implementação de políticas, certificações, auditorias, exigências legais, ou aumento de índices de acidentes, não cumprimento das
normas e procedimentos, dentre outros.
g) Pesquisa com Clientes ou Reclamações de Mercado: se a organização adota esta prática, deve identificar quais ações de treinamento
e desenvolvimento que contribuem para sanar problemas indicados pelos clientes ou para prevenir possíveis reclamações.

A elaboração de um programa de treinamento deve levar em consideração o Estágio de desenvolvimento da organização; deve-
-se dimensionar o custo e como pode ser otimizado; cronograma dos treinamentos, conforme prioridades estabelecidas; os recursos
necessários; as instituições ou instrutores que estarão capacitados para atender a demanda da organização; análise dos conteúdos e
metodologias; quais e quantas pessoas serão treinadas; e outras.
A implementação requer que os profissionais de treinamento e desenvolvimento cuidem da logística para viabilizar a execução de
todos os treinamentos programados, verificando com antecedência o local cuidando do acesso, verificando iluminação, ventilação, espaço,
ruído; a data, horários; materiais e equipamentos; convites, certificados, crachás; alimentação, dentre outros.

71
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Quando o treinamento for ministrado por instrutores internos, i) Vivencial – reprodução de uma situação similar a do dia a dia,
deve-se elaborar o Plano de treinamento que deve abranger os através de dramatizações, rol playng, Jogos de Empresa, Dinâmicas
seguintes tópicos: de Grupo -.
• Título; j) À Distância – (E-Learning) realizado por algum meio de comu-
• Objetivo a ser atingido; nicação, internet, intranet, fitas e vídeo e outros.
• População alvo (quem participará do treinamento); k) Estudo de casos – pode ser usado casos reais ou fictícios
• Carga horária;
• Período ou data para realização; Quanto aos recursos didáticos, salientam-se: datashow, multi-
• Local; mídia, flip-chart, filmadoras, gravadores, televisor, vídeos, blu-ray,
• Conteúdo a ser ministrado; DVD, livros, apostilas, projetores, dentre outros.
• Recursos instrucionais;
• Metodologia;
• Avaliações. ÉTICA NO SETOR PÚBLICO

Cabe aos profissionais de treinamento e desenvolvimento a E na Administração Pública, qual o papel da ética?
responsabilidade de treinar os instrutores internos para garantir a Uma vez que é através das atividades desenvolvidas pela Ad-
eficácia dos treinamentos. ministração Pública que o Estado alcança seus fins, seus agentes
Com relação aos tipos de treinamento, pode-se fazer a seguinte públicos são os responsáveis pelas decisões governamentais e pela
divisão: execução dessas decisões.
a) Formação: programas desenvolvidos com a finalidade de Para que tais atividades não desvirtuem as finalidades estatais
instalar competências ou habilidades básicas e necessárias para a Administração Pública se submete às normas constitucionais e às
o exercício da função atual ou futura, fornecer uma formação ao leis especiais. Todo esse aparato de normas objetiva a um compor-
treinando. Podemos incluir idiomas, programas em universidades, tamento ético e moral por parte de todos os agentes públicos que
cursos técnicos, dentre outros. servem ao Estado.
b) Aperfeiçoamento ou atualização: indicado para melhorar
o padrão de desempenho na própria função. Pode-se citar como Princípios constitucionais que balizam a atividade administra-
exemplo, uma selecionadora com experiência no cargo que irá fazer tiva:
um curso sobre técnicas inovadoras na área de seleção. Devemos atentar para o fato de que a Administração deve pau-
c) Gerenciais: indicados para desenvolver ou aperfeiçoar as tar seus atos pelos princípios elencados na Constituição Federal,
habilidades de lideranças, de gestão de pessoas. em seu art. 37 que prevê: “A administração pública direta e indireta
d) Técnicos: indicados para estabelecer novas metodologias, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
novas tecnologias ou técnicas de trabalho. e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoa-
e) Programas de Trainees ou estagiários: desenvolvimento de lidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”.
recém-formados ou no caso de estagiários, de estudantes de cursos Quanto aos citados princípios constitucionais, o entendimento
técnico ou superior, objetivando que ocupem funções superiores do doutrinador pátrio Hely Lopes Meirelles é o seguinte:
na organização. “- Legalidade - A legalidade, como princípio da administração
f) Outdoor training: realizado em ambiente aberto, utilizando (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em
técnicas vivenciais em situações planejadas, possibilitando fixar toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às
conceitos importantes na realidade das organizações e de funções exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar,
específicas. sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade dis-
g) Integração de Novos funcionários: indicado para preparar os ciplinar, civil e criminal, conforme o caso. (...)
funcionários recém admitidos através de orientações sobre políti- - Impessoalidade – O princípio da impessoalidade, (...), nada
cas, procedimentos, estrutura, valores, produtos, histórico, dentre mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao admi-
outros, sempre com a utilização de um bom planejamento para nistrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim
impactar de forma positiva no funcionário podendo estabelecer legal é unicamente aquele que a norma de Direito indica expressa
clima de confiança e relação duradoura. ou virtualmente como objetivo do ato, de forma impessoal. Esse
princípio também deve ser entendido para excluir a promoção pes-
No que se refere aos métodos e técnicas de treinamento, os soal de autoridades ou servidores públicos sobre suas realizações
mais usuais são: administrativas (...)
a) Palestras – apresentação de curta duração – atualização - Moralidade – A moralidade administrativa constitui, hoje em
b) Workshops – tem caráter de formação – exercício do conhe- dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública
cimento (...). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito –
c) Multiplicadores – profissionais da própria empresa treinados da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como
para reproduzir treinamentos “o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da
d) Seminários – conceituais – indicados para aperfeiçoamento Administração” (...)
e) Job Rotation – deslocamento de pessoas de uma função para - Publicidade - Publicidade é a divulgação oficial do ato para
outra, para aprender exercitando. conhecimento público e início de seus efeitos externos. (...) O prin-
f) On the job – treinamento no local de trabalho cípio da publicidade dos atos e contratos administrativos, além de
g) Coaching – orientação personalizada para questões especí- assegurar seus efeitos externos, visa a propiciar seu conhecimento
ficas e controle pelos interessados diretos e pelo povo em geral, através
h) Mentoring – orientação personalizada que visa estimular o dos meios constitucionais (...)
crescimento e resolução de problemas

72
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
- Eficiência – O princípio da eficiência exige que a atividade Entre os deveres (art. 116), há dois que se encaixamno para-
administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimen- digma do atendimentoe do relacionamento que tem como foco
to funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, principal o usuário.
que já não se contenta em ser desempenhada apenas com lega- São eles:
lidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e sa- - “atender com presteza ao público em geral, prestando as in-
tisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus formações requeridas” e
membros. (...).” - “tratar com urbanidade as pessoas”.

Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o Presteza e urbanidade nem sempre são fáceis de avaliar, uma
exercício de determinada função. Ressalta-se que essa função não vez que não têm o mesmo sentido para todas as pessoas, como
é livre, devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse demonstram as situações descritas a seguir.
público, da coletividade ou da Administração. Segundo Maria Sylvia • Serviços realizados em dois dias úteis, por exemplo, podem
Z. Di Pietro, função “é o conjunto de atribuições às quais não cor- não corresponder às reais necessidades dos usuários quanto ao
responde um cargo ou emprego”. prazo.
No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores, • Um atendimento cortês não significa oferecer ao usuário
além das normatizações vigentes nos órgão e entidades públicas aquilo que não se pode cumprir. Para minimizar as diferentes inter-
que regulamentam e determinam a forma de agir dos agentes pú- pretações para esses procedimentos, uma das opções é a utilização
blicos, devem respeitar os valores éticos e morais que a sociedade
do bom senso:
impõe para o convívio em grupo. A não observação desses valores
• Quanto à presteza, o estabelecimento de prazos para a en-
acarreta uma série de erros e problemas no atendimento ao públi-
trega dos serviços tanto para os usuários internos quanto para os
co e aos usuários do serviço, o que contribui de forma significativa
externos pode ajudar a resolver algumas questões.
para uma imagem negativa do órgão e do serviço.
Um dos fundamentos que precisa ser compreendido é o de que • Quanto à urbanidade, é conveniente que a organização inclua
o padrão ético dos servidores públicos no exercício de sua função tal valor entre aqueles que devem ser potencializados nos setores
pública advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua em que os profissionais que ali atuam ainda não se conscientizaram
relação com o público. sobre a importância desse dever.
O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no Não é à toa que as organizações estão exigindo habilidades
exercício de suas funções, mas 24 horas por dia durante toda a sua intelectuais e comportamentais dos seus profissionais, além de
vida. O caráter público do seu serviço deve se incorporar à sua vida apurada determinação estratégica. Entre outros requisitos, essas
privada, a fim de que os valores morais e a boa-fé, amparados cons- habilidades incluem:
titucionalmente como princípios básicos e essenciais a uma vida - atualização constante;
equilibrada, se insiram e seja uma constante em seu relacionamen- - soluções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças;
to com os colegas e com os usuários do serviço. - decisões criativas, diferenciadas e rápidas;
O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Po- - flexibilidade para mudar hábitos de trabalho;
der Executivo Federal estabelece no primeiro capítulo valores que - liderança e aptidão para manter relações pessoais e profis-
vão muito além da legalidade. sionais;
II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento - habilidade para lidar com os usuários internos e externos.
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o
legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, Encerramos esse tópico com o trecho de um texto de Andrés
o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e Sanz Mulas:
o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e§ 4°, “Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário
da Constituição Federal. realizar as seguintes tarefas, entre outras:
Cumprir as leis e ser ético em sua função pública. Se ele cum- - Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra
prir a lei e for antiético, será considerada uma conduta ilegal, ou a legitimidade social;
seja, para ser irrepreensível tem que ir além da legalidade. - Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e
Os princípios constitucionais devem ser observados para que quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo;
a função pública se integre de forma indissociável ao direito. Esses
- Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu
princípios são:
conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va-
– Legalidade – todo ato administrativo deve seguir fielmente
lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acer-
os meandros da lei.
tadamente em relação à meta eleita;
– Impessoalidade – aqui é aplicado como sinônimo de igualda-
de: todos devem ser tratados de forma igualitária e respeitando o - Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que
que a lei prevê. se está imerso;
– Moralidade – respeito ao padrão moral para não comprome- - Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às
ter os bons costumes da sociedade. pessoas.”
– Publicidade – refere-se à transparência de todo ato público,
salvo os casos previstos em lei. Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em cor-
– Eficiência – ser o mais eficiente possível na utilização dos rupção, extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos
meios que são postos a sua disposição para a execução do seu tra- ter como ponto de referência em relação ao serviço público, ou na
balho. vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a partir do qual
possamos, em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou
Dimensões da qualidade nos deveres dos servidores públicos daqueles que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não
Os direitos e deveres dos servidores públicos estão descritos basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse padrão
na Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. seja ético, acima de tudo .

73
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões No âmbito Administrativo, funcionários mal capacitados e
éticos dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou sem princípios éticos que convivem todos os dias com mandos e
seja, de caráter público, e sua relação com o público. A questão desmandos, atos desonestos, corrupção e falta de ética tendem a
da ética pública está diretamente relacionada aos princípios fun- assimilar por este rol “cultural” de aproveitamento em beneficio
damentais, sendo estes comparados ao que chamamos no Direito, próprio.
de “Norma Fundamental”, uma norma hipotética com premissas
ideológicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado
ao comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, pode-
mos invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais GESTÃO DE SUPRIMENTOS E LOGÍSTICA NA
da boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
e essenciais a uma vida equilibrada do cidadão na sociedade, lem-
brando inclusive o tão citado, pelos gregos antigos, “bem viver”. ADMINISTRAÇÃO DE MATERIAIS
Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoali- Recurso – Conceito = É aquele que gera, potencialmente ou de
dade. Ao contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público forma efetiva, riqueza.
e seus servidores devem primar pela questão da “impessoalidade”,
deixando claro que o termo é sinônimo de “igualdade”, esta sim é a Administração de Recursos - Conceitos - Atividade que plane-
questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes, ja, executa e controla, nas condições mais eficientes e econômicas,
não se preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e o fluxo de material, partindo das especificações dos artigos e com-
expresso, “todos são iguais perante a lei”. prar até a entrega do produto terminado para o cliente.
E também a ideia de impessoalidade, supõe uma distinção É um sistema integrado com a finalidade de prover à adminis-
entre aquilo que é público e aquilo que é privada (no sentido do tração, de forma contínua, recursos, equipamentos e informações
interesse pessoal), que gera portanto o grande conflito entre os in- essenciais para a execução de todas as atividades da Organização.
teresses privados acima dos interesses públicos. Podemos verificar
abertamente nos meios de comunicação, seja pelo rádio, televisão, Evolução da Administração de Recursos Materiais e Patrimo-
jornais e revistas, que este é um dos principais problemas que cer- niais
cam o setor público, afetando assim, a ética que deveria estar aci- A evolução da Administração de Materiais processou-se em
ma de seus interesses. várias fases:
Não podemos falar de ética, impessoalidade (sinônimo de - A Atividade exercida diretamente pelo proprietário da empre-
igualdade), sem falar de moralidade. Esta também é um dos prin- sa, pois comprar era a essência do negócio;
cipais valores que define a conduta ética, não só dos servidores - Atividades de compras como apoio às atividades produtivas
públicos, mas de qualquer indivíduo. Invocando novamente o or- se, portanto, integradas à área de produção;
denamento jurídico podemos identificar que a falta de respeito ao - Condenação dos serviços envolvendo materiais, começando
padrão moral, implica, portanto, numa violação dos direitos do ci- com o planejamento das matérias-primas e a entrega de produtos
dadão, comprometendo inclusive, a existência dos valores dos bons acabados, em uma organização independente da área produtiva;
costumes em uma sociedade. - Agregação à área logística das atividades de suporte à área
A falta de ética na Administração Publica encontra terreno fér- de marketing.
til para se reproduzir, pois o comportamento de autoridades pú-
blicas está longe de se basearem em princípios éticos e isto ocorre Com a mecanização, racionalização e automação, o excedente
devido a falta de preparo dos funcionários, cultura equivocada e de produção se torna cada vez menos necessário, e nesse caso a
especialmente, por falta de mecanismos de controle e responsabi- Administração de Materiais é uma ferramenta fundamental para
lização adequada dos atos antiéticos. manter o equilíbrio dos estoques, para que não falte a matéria-pri-
A sociedade por sua vez, tem sua parcela de responsabilidade ma, porém não haja excedentes.
nesta situação, pois não se mobilizam para exercer os seus direitos Essa evolução da Administração de Materiais ao longo dessas
e impedir estes casos vergonhosos de abuso de poder por parte do fases produtivas baseou-se principalmente, pela necessidade de
Pode Público. produzir mais, com custos mais baixos. Atualmente a Administração
de Materiais tem como função principal o controle de produção e
Um dos motivos para esta falta de mobilização social se dá, de- estoque, como também a distribuição dos mesmos.
vido á falta de uma cultura cidadã, ou seja, a sociedade não exerce
sua cidadania. A cidadania Segundo Milton Santos “é como uma As Três Fases da Administração de Recursos Materiais e Pa-
lei”, isto é, ela existe, mas precisa ser descoberta, aprendida, utili- trimoniais
zada e reclamada e só evolui através de processos de luta. Essa evo- 1 – Aumentar a produtividade. Busca pela eficiência.
lução surge quando o cidadão adquire esse status, ou seja, quando 2 – Aumentar a qualidade sem preocupação em prejudicar ou-
passa a ter direitos sociais. A luta por esses direitos garante um tras áreas da Organização. Busca pela eficácia.
padrão de vida mais decente. O Estado, por sua vez, tenta refrear 3 – Gerar a quantidade certa, no momento certo par atender
os impulsos sociais e desrespeitar os indivíduos, nessas situações a bem o cliente, sem desperdício. Busca pela efetividade.
cidadania deve se valer contra ele, e imperar através de cada pes-
soa. Porém Milton Santos questiona se “há cidadão neste país”? Visão Operacional e Visão Estratégica
Pois para ele desde o nascimento as pessoas herdam de seus pais Na visão operacional busca-se a melhoria relacionada a ativida-
e ao longo da vida e também da sociedade, conceitos morais que des específicas. Melhorar algo que já existe.
vão sendo contestados posteriormente com a formação de ideias
de cada um, porém a maioria das pessoas não sabe se são ou não
cidadãos.
A educação seria o mais forte instrumento na formação de ci-
dadão consciente para a construção de um futuro melhor.

74
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Na visão estratégica busca-se o diferencial. Fazer as coisas de Condições de pagamento
um modo novo. Aqui se preocupa em garantir a alta performance Deverão ser as melhores possíveis para que a empresa tenha
de maneira sistêmica. Ou seja, envolvendo toda a organização de maior flexibilidade na transformação ou venda do produto.
maneira interrelacional.
Com relação à Fábula de La Fontaine, a preocupação do autor Diferença Básica entre Administração de Materiais e Adminis-
era, conforme sua época, garantir a melhoria quantitativa das ações tração Patrimonial
dos empregados. Aqueles que mantêm uma padronização de são A diferença básica entre Administração de Materiais e Admi-
recompensados pela Organização. Na moderna interpretação da nistração Patrimonial é que a primeira se tem por produto final a
Fábula a autora passa a idéia de que precisamos além de trabalhar distribuição ao consumidor externo e a área patrimonial é respon-
investir no nosso talento de maneira diferencial. Assim, poderemos sável, apenas, pela parte interna da logística. Seu produto final é a
não só garantir a sustentabilidade da Organização para os diversos conservação e manutenção de bens.
invernos como, também, fazê-los em Paris. A Administração de Materiais é, portanto um conjunto de ativi-
Historicamente, a administração de recursos materiais e patri- dades desenvolvidas dentro de uma empresa, de forma centralizada
moniais tem seu foco na eficiência de processos – visão operacio- ou não, destinadas a suprir as diversas unidades, com os materiais
nal. Hoje em dia, a administração de materiais passa a ser chamada necessários ao desempenho normal das respectivas atribuições.
de área de logística dentro das Organizações devido à ênfase na Tais atividades abrangem desde o circuito de reaprovisionamento,
melhor maneira de facilitar o fluxo de produtos entre produtores inclusive compras, o recebimento, a armazenagem dos materiais, o
e consumidores, de forma a obter o melhor nível de rentabilidade fornecimento dos mesmos aos órgãos requisitantes, até as opera-
para a organização e maior satisfação dos clientes. ções gerais de controle de estoques etc.
A Administração de Materiais possui hoje uma Visão Estraté- A Administração de Materiais destina-se a dotar a adminis-
gica. Ou seja, foco em ser a melhor por meio da INOVAÇÃO e não tração dos meios necessários ao suprimento de materiais impres-
baseado na melhor no que já existe. A partir da visão estratégica a cindíveis ao funcionamento da organização, no tempo oportuno,
Administração de Recursos Materiais e Patrimoniais passa ser co- na quantidade necessária, na qualidade requerida e pelo menor
nhecida por LOGISTICA. custo.
A oportunidade, no momento certo para o suprimento de
Sendo assim: materiais, influi no tamanho dos estoques. Assim, suprir antes do
momento oportuno acarretará, em regra, estoques altos, acima das
VISÃO OPERACIONAL VISÃO ESTRATÉGICA necessidades imediatas da organização. Por outro lado, a providên-
cia do suprimento após esse momento poderá levar a falta do ma-
EFICIENCIA EFETIVIDADE terial necessário ao atendimento de determinada necessidade da
ESPECIFICA SISTEMICA administração.
São tarefas da Administração de Materiais:
QUANTITATIVA QUANTITATIVA E QUALTAITIVA - Controle da produção;
MELHORAR O QUE JÁ EXISTE INOVAÇÃO - Controle de estoque;
- Compras;
QUANTO QUANDO
- Recepção;
- Inspeção das entradas;
Princípios da Administração de Recursos Materiais e Patrimo- - Armazenamento;
niais - Movimentação;
- Qualidade do material; - Inspeção de saída
- Quantidade necessária; - Distribuição.
- Prazo de entrega
- Preço; Sem o estoque de certas quantidades de materiais que aten-
- Condições de pagamento. dam regularmente às necessidades dos vários setores da organiza-
ção, não se pode garantir um bom funcionamento e um padrão de
Qualidade do Material atendimento desejável. Estes materiais, necessários à manutenção,
O material deverá apresentar qualidade tal que possibilite sua aos serviços administrativos e à produção de bens e serviços, for-
aceitação dentro e fora da empresa (mercado). mam grupos ou classes que comumente constituem a classificação
de materiais. Estes grupos recebem denominação de acordo com o
Quantidade serviço a que se destinam (manutenção, limpeza, etc.), ou à nature-
Deverá ser estritamente suficiente para suprir as necessidades za dos materiais que neles são relacionados (tintas, ferragens, etc.),
da produção e estoque, evitando a falta de material para o abasteci- ou do tipo de demanda, estocagem, etc.
mento geral da empresa bem como o excesso em estoque.
Classificação de Materiais
Prazo de Entrega Classificar um material então é agrupá-lo segundo sua forma,
Deverá ser o menor possível, a fim de levar um melhor atendi- dimensão, peso, tipo, uso etc. A classificação não deve gerar confu-
mento aos consumidores e evitar falta do material. são, ou seja, um produto não poderá ser classificado de modo que
seja confundido com outro, mesmo sendo semelhante. A classifica-
Menor Preço ção, ainda, deve ser feita de maneira que cada gênero de material
O preço do produto deverá ser tal que possa situá-lo em posi- ocupe seu respectivo local. Por exemplo: produtos químicos pode-
ção da concorrência no mercado, proporcionando à empresa um rão estragar produtos alimentícios se estiverem próximos entre si.
lucro maior.

75
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Classificar material, em outras palavras, significa ordená-lo precisa, que não gere confusão e evite interpretações duvidosas a
segundo critérios adotados, agrupando-o de acordo com a seme- respeito do material. Este processo ficou conhecido como “código
lhança, sem, contudo, causar confusão ou dispersão no espaço e alfabético”. Entre as inúmeras vantagens da codificação está a de
alteração na qualidade. afastar todos os elementos de confusão que porventura se apresen-
O objetivo da classificação de materiais é definir uma catalo- tarem na pronta identificação de um material.
gação, simplificação, especificação, normalização, padronização O sistema classificatório permite identificar e decidir priorida-
e codificação de todos os materiais componentes do estoque da des referentes a suprimentos na empresa. Uma eficiente gestão de
empresa. estoques, em que os materiais necessários ao funcionamento da
O sistema de classificação é primordial para qualquer Departa- empresa não faltam, depende de uma boa classificação dos mate-
mento de Materiais, pois sem ele não poderia existir um controle riais.
eficiente dos estoques, armazenagem adequada e funcionamento Para Viana um bom método de classificação deve ter algumas
correto do almoxarifado. características: ser abrangente, flexível e prático.
- Abrangência: deve tratar de um conjunto de características,
O princípio da classificação de materiais está relacionado à: em vez de reunir apenas materiais para serem classificados;
- Flexibilidade: deve permitir interfaces entre os diversos tipos
Catalogação de classificação de modo que se obtenha ampla visão do gerencia-
A Catalogação é a primeira fase do processo de classificação de mento do estoque;
materiais e consiste em ordenar, de forma lógica, todo um conjun- - Praticidade: a classificação deve ser simples e direta.
to de dados relativos aos itens identificados, codificados e cadas-
trados, de modo a facilitar a sua consulta pelas diversas áreas da Para atender às necessidades de cada empresa, é necessária
empresa. uma divisão que norteie os vários tipos de classificação.
Simplificar material é, por exemplo, reduzir a grande diversi- Dentro das empresas existem vários tipos de classificação de
dade de um item empregado para o mesmo fim. Assim, no caso materiais.
de haver duas peças para uma finalidade qualquer, aconselha-se a
simplificação, ou seja, a opção pelo uso de uma delas. Ao simplifi- Para o autor Viana os principais tipos de classificação são:
carmos um material, favorecemos sua normalização, reduzimos as - Por tipo de demanda
despesas ou evitamos que elas oscilem. Por exemplo, cadernos com - Materiais críticos
capa, número de folhas e formato idênticos contribuem para que - Pericibilidade
haja a normalização. - Quanto à periculosidade
Ao requisitar uma quantidade desse material, o usuário irá for- - Possibilidade de fazer ou comprar
necer todos os dados (tipo de capa, número de folhas e formato), o - Tipos de estocagem
que facilitará sobremaneira não somente sua aquisição, como tam- - Dificuldade de aquisição
bém o desempenho daqueles que se servem do material, pois a não - Mercado fornecedor.
simplificação (padronização) pode confundir o usuário do material,
se este um dia apresentar uma forma e outro dia outra forma de - Por tipo de demanda: A classificação por tipo de demanda se
maneira totalmente diferente. divide em materiais não de estoque e materiais de estoque. Mate-
riais não de estoque: são materiais de demanda imprevisível para
Especificação os quais não são definidos parâmetros para o ressuprimento. Esses
Aliado a uma simplificação é necessária uma especificação do materiais são utilizados imediatamente, ou seja, a inexistência de
material, que é uma descrição minuciosa para possibilitar melhor regularidade de consumo faz com que a compra desses materiais
entendimento entre consumidor e o fornecedor quanto ao tipo de somente seja feita por solicitação direta do usuário, na ocasião em
material a ser requisitado. que isso se faça necessário. O usuário é que solicita sua aquisição
quando necessário. Devem ser comprados para uso imediato e se
Normalização forem utilizados posteriormente, devem ficar temporariamente no
A normalização se ocupa da maneira pela qual devem ser utili- estoque. A outra divisão são os Materiais de estoques: são mate-
zados os materiais em suas diversas finalidades e da padronização riais que devem sempre existir nos estoques para uso futuro e para
e identificação do material, de modo que o usuário possa requisitar que não haja sua falta são criadas regras e critérios de ressuprimen-
e o estoquista possa atender os itens utilizando a mesma termino- to automático. Deve existir no estoque, seu ressuprimento deve ser
logia. A normalização é aplicada também no caso de peso, medida automático, com base na demanda prevista e na importância para
e formato. a empresa.

Codificação Os materiais de estoque se subdividem ainda;


É a apresentação de cada item através de um código, com as
informações necessárias e suficientes, por meio de números e/ou Quanto à aplicação eles podem ser: Materiais produtivos que
letras. É utilizada para facilitar a localização de materiais armazena- compreendem todo material ligado direta ou indiretamente ao
dos no estoque, quando a quantidade de itens é muito grande. Em processo produtivo. Matéria prima que são materiais básicos e in-
função de uma boa classificação do material, poderemos partir para sumos que constituem os itens iniciais e fazem parte do processo
a codificação do mesmo, ou seja, representar todas as informações produtivo. Produtos em fabricação que são também conhecidos
necessárias, suficientes e desejadas por meios de números e/ou le- como materiais em processamento que estão sendo processados
tras. Os sistemas de codificação mais comumente usados são: o al- ao longo do processo produtivo. Não estão mais no estoque por-
fabético (procurando aprimorar o sistema de codificação, passou-se que já não são mais matérias-primas, nem no estoque final porque
a adotar de uma ou mais letras o código numérico), alfanumérico e ainda não são produtos acabados. Produtos acabados: produtos já
numérico, também chamado “decimal”. A escolha do sistema utili- prontos. Materiais de manutenção: materiais aplicados em manu-
zado deve estar voltada para obtenção de uma codificação clara e tenção com utilização repetitiva.

76
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Materiais improdutivos: materiais não incorporados ao produto no processo produtivo da empresa. Materiais de consumo geral: ma-
teriais de consumo, aplicados em diversos setores da empresa.

Quanto ao valor de consumo: Para que se alcance a eficácia na gestão de estoque é necessário que se separe de forma clara, aquilo
que é essencial do que é secundário em termos de valor de consumo. Para fazer essa separação nós contamos com uma ferramenta cha-
mada de Curva ABC ou Curva de Pareto, ela determina a importância dos materiais em função do valor expresso pelo próprio consumo
em determinado período. Curva ABC é um importante instrumento para se examinar estoques, permitindo a identificação daqueles itens
que justificam atenção e tratamento adequados quanto à sua administração. Ela consiste na verificação, em certo espaço de tempo (nor-
malmente 6 meses ou 1 ano), do consumo em valor monetário, ou quantidade dos itens do estoque, paraque eles possam ser classificados
em ordem decrescente de importância.
Os materiais são classificados em:
- Classe A: Grupo de itens mais importante que devem ser trabalhados com uma atenção especial pela administração. Os dados aqui
classificados correspondem, em média, a 80% do valor monetário total e no máximo 20% dos itens estudados (esses valores são orienta-
tivos e não são regra).
- Classe B: São os itens intermediários que deverão ser tratados logo após as medidas tomadas sobre os itens de classe A; são os se-
gundos em importância. Os dados aqui classificados correspondem em média, a 15% do valor monetário total do estoque e no máximo
30% dos itens estudados (esses valores são orientadores e não são regra).
- Classe C: Grupo de itens menos importantes em termos de movimentação, no entanto, requerem atenção pelo fato de gerarem custo
de manter estoque. Deverão ser tratados, somente, após todos os itens das classes A e B terem sido avaliados. Em geral, somente 5% do
valor monetário total representam esta classe, porém, mais de 50% dos itens formam sua estrutura (esses valores são orientadores e não
são regra).

Metodologia de cálculo da curva ABC


A Curva ABC é muito usada para a administração de estoques, para a definição de políticas de vendas, para estabelecimento de prio-
ridades, para a programação da produção.

Analisar em profundidade milhares de itens num estoque é uma tarefa extremamente difícil e, na grande maioria das vezes, desne-
cessária. É conveniente que os itens mais importantes, segundo algum critério, tenham prioridade sobre os menos importantes. Assim,
economiza-se tempo e recursos.
Para simplificar a construção de uma curva ABC, separamos o processo em 6 etapas a seguir:
1º) Definir a variável a ser analisada: A análise dos estoques pode ter vários objetivos e a variável deverá ser adequada para cada um
deles. No nosso caso, a variável a ser considerada é o custo do estoque médio, mas poderia ser: o giro de vendas, o mark-up, etc.
2º) Coleta de dados: Os dados necessários neste caso são: quantidade de cada item em estoque e o seu custo unitário. Com esses
dados obtemos o custo total de cada item, multiplicando a quantidade pelo custo unitário.
3º) Ordenar os dados: Calculado o custo total de cada item, é preciso organizá-los em ordem decrescente de valor.
4º) Calcular os percentuais: Na tabela a seguir, os dados foram organizados pela coluna “Ordem” e calcula-se o custo total acumulado
e os percentuais do custo total acumulado de cada item em relação ao total.
5º) Construir a curva ABC

77
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Desenha-se um plano cartesiano, onde no eixo “x” são distribuídos os itens do estoque e no eixo “y”, os percentuais do custo total
acumulado.

6º) Análise dos resultados


Os itens em estoque devem ser analisados segundo o critério ABC. Na verdade, esse critério é qualitativo, mas a tabela abaixo mostra
algumas indicações para sua elaboração:

Classe % itens Valor acumulado Importância


A 20 80% Grande
B 30 15% Intermediária
C 50 5% Pequena

Pelo nosso exemplo, chegamos à seguinte distribuição:

Classe Nº itens % itens Valor acumulado Itens em estoque


A 2 16,7% 80,1% Faca, Jarro
B 3 25,0% 15,6% Apontador, Esquadro, Dado
C 7 58,3% 4,3% Key, Livro, Herói, Caixa, Bola, Giz, Isqueiro.

A aplicação prática dessa classificação ABC pode ser vista quando, por exemplo, reduzimos 20% do valor em estoque dos itens A
(apenas 2 itens), representando uma redução de 16% no valor total, enquanto que uma redução de 50% no valor em estoque dos itens C
(sete itens), impactará no total em apenas 2,2%. Logo, reduzir os estoques do grupo A, desde que calculadamente, seria uma ação mais
rentável para a empresa do nosso exemplo.

Quanto à importância operacional: Esta classificação leva em conta a imprescindibilidade ou ainda o grau de dificuldade para se obter
o material.
Os materiais são classificados em materiais:
- Materiais X: materiais de aplicação não importante, com similares na empresa;
- Materiais Y: materiais de média importância para a empresa, com ou sem similar;
- Materiais Z: materiais de importância vital, sem similar na empresa, e sua falta ocasiona paralisação da produção.

Quando ocorre a falta no estoque de materiais classificados como “Z”, eles provocam a paralisação de atividades essenciais e podem
colocar em risco o ambiente, pessoas e patrimônio da empresa. São do tipo que não possuem substitutos em curto prazo. Os materiais
classificados como “Y” são também imprescindíveis para as atividades da organização. Entretanto podem ser facilmente substituídos em
curto prazo. Os itens “X” por sua vez são aqueles que não paralisam atividades essenciais, não oferecem riscos à segurança das pessoas,
ao ambiente ou ao patrimônio da organização e são facilmente substituíveis por equivalentes e ainda são fáceis de serem encontrados.
Para a identificação dos itens críticos devem ser respondidas as seguintes perguntas: O material é imprescindível à empresa? Pode ser
adquirido com facilidade? Existem similares? O material ou seu similar podem ser encontrados facilmente?

Ainda em relação aos tipos de materiais temos;

- Materiais Críticos: São materiais de reposição específica, cuja demanda não é previsível e a decisão de estocar tem como base o ris-
co. Por serem sobressalentes vitais de equipamentos produtivos, devem permanecer estocados até sua utilização, não estando, portanto,
sujeitos ao controle de obsolescência.

78
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A quantidade de material cadastrado como material crítico Recebimento e Armazenagem
dentro de uma empresa deve ser mínimo. Recebimento é a atividade intermediária entre as tarefas de
Os materiais são classificados como críticos segundo os seguin- compra e pagamento ao fornecedor, sendo de sua responsabilidade
tes critérios: Críticos por problemas de obtenção de material impor- a conferência dos materiais destinados à empresa.
tado, único fornecedor, falta no mercado, estratégico e de difícil ob- As atribuições básicas do Recebimento são:
tenção ou fabricação; Críticos por razões econômicas de materiais - Coordenar e controlar as atividades de recebimento e devo-
de valor elevado com alto custo de armazenagem ou de transporte; lução de materiais;
Críticos por problemas de armazenagem ou transporte de materiais - Analisar a documentação recebida, verificando se a compra
perecíveis, de alta periculosidade, elevado peso ou grandes dimen- está autorizada;
sões; Críticos por problema de previsão, por ser difícil prever seu - Controlar os volumes declarados na nota fiscal e no manifesto
uso; Críticos por razões de segurança de materiais de alto custo de de transporte com os volumes a serem efetivamente recebidos;
reposição ou para equipamento vital da produção. - Proceder a conferência visual, verificando as condições de
embalagem quanto a possíveis avarias na carga transportada e, se
- Perecibilidade: Os materiais também podem ser classificados for o caso, apontando as ressalvas de praxe nos respectivos docu-
de acordo com a possibilidade de extinção de suas propriedades mentos;
físico-químicas. Muitas vezes, o fator tempo influencia na classifica- - Proceder a conferência quantitativa e qualitativa dos mate-
ção; assim, quando a empresa adquire um material para ser usado riais recebidos;
em um período, e nesse período o consumo não ocorre, sua utiliza- - Decidir pela recusa, aceite ou devolução, conforme o caso;
ção poderá não ser mais necessária, o que inviabiliza a estocagem - Providenciar a regularização da recusa, devolução ou da libe-
por longos períodos. Ex. alimentos, remédios; ração de pagamento ao fornecedor;
- Liberar o material desembaraçado para estoque no almoxa-
- Quanto à periculosidade: O uso dessa classificação permite rifado;
a identificação de materiais que devido a suas características físico-
-químicas, podem oferecer risco à segurança no manuseio, trans- A análise do Fluxo de Recebimento de Materiais permite dividir
porte, armazenagem. Ex. líquidos inflamáveis. a função em quatro fases:

- Possibilidade de fazer ou comprar: Esta classificação visa de- 1a fase - Entrada de Materiais
terminar quais os materiais que poderão ser recondicionados, fabri- A recepção dos veículos transportadores efetuada na portaria
cados internamente ou comprados: da empresa representa o início do processo de Recebimento e tem
- Fazer internamente: fabricados na empresa; os seguintes objetivos:
- Comprar: adquiridos no mercado; - A recepção dos veículos transportadores;
- Decisão de comprar ou fazer: sujeito à análise de custos; - A triagem da documentação suporte do recebimento;
- Recondicionar: materiais passíveis de recuperação sujeitos a - Constatação se a compra, objeto da nota fiscal em análise,
análise de custos. está autorizada pela empresa;
- Constatação se a compra autorizada está no prazo de entrega
- Tipos de estocagem: Os materiais podem ser classificados em contratual;
materiais de estocagem permanente e temporária. - Constatação se o número do documento de compra consta
- Permanente: materiais para os quais foram aprovados níveis na nota fiscal;
de estoque e que necessitam de ressuprimento constantes. - Cadastramento no sistema das informações referentes a com-
- Temporária: materiais de utilização imediata e sem ressupri- pras autorizadas, para as quais se inicia o processo de recebimento;
mento, ou seja, é um material não de estoque. - O encaminhamento desses veículos para a descarga;

- Dificuldade de aquisição: Os materiais podem ser classifica- As compras não autorizadas ou em desacordo com a programa-
dos por suas dificuldades de compra em materiais de difícil aquisi- ção de entrega devem ser recusadas, transcrevendo-se os motivos
ção e materiais de fácil aquisição. As dificuldades podem advir de: no verso da Nota Fiscal. Outro documento que serve para as opera-
Fabricação especial: envolve encomendas especiais com cronogra- ções de análise de avarias e conferência de volumes é o “Conheci-
ma de fabricação longo; Escassez no mercado: há pouca oferta no mento de Transporte Rodoviário de Carga”, que é emitido quando
mercado e pode colocar em risco o processo produtivo; Sazonalida- do recebimento da mercadoria a ser transportada.
de: há alteração da oferta do material em determinados períodos As divergências e irregularidades insanáveis constatadas em
do ano; Monopólio ou tecnologia exclusiva: dependência de um relação às condições de contrato devem motivar a recusa do rece-
único fornecedor; Logística sofisticada: material de transporte es- bimento, anotando-se no verso da 1a via da Nota Fiscal as circuns-
pecial, ou difícil acesso; Importações: os materiais sofrer entraves tâncias que motivaram a recusa, bem como nos documentos do
burocráticos, liberação de verbas ou financiamentos externos. transportador. O exame para constatação das avarias é feito através
da análise da disposição das cargas, da observação das embalagens,
- Mercado fornecedor: Esta classificação está intimamente li- quanto a evidências de quebras, umidade e amassados.
gada à anterior e a complementa. Assim temos: Materiais do mer- Os materiais que passaram por essa primeira etapa devem ser
cado nacional: materiais fabricados no próprio país; Materiais do encaminhados ao Almoxarifado. Para efeito de descarga do mate-
mercado estrangeiro: materiais fabricados fora do país; Materiais rial no Almoxarifado, a recepção é voltada para a conferência de vo-
em processo de nacionalização: materiais aos quais estão desenvol- lumes, confrontando-se a Nota Fiscal com os respectivos registros
vendo fornecedores nacionais. e controles de compra. Para a descarga do veículo transportador
é necessária a utilização de equipamentos especiais, quais sejam:
paleteiras, talhas, empilhadeiras e pontes rolantes.

79
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O cadastramento dos dados necessários ao registro do rece- As atividades que compõem a armazenagem são:
bimento do material compreende a atualização dos seguintes sis- - Recebimento: é o conjunto de operações que envolvem a
temas: identificação do material recebido, analisar o documento fiscal com
- Sistema de Administração de Materiais e gestão de esto- o pedido, a inspeção do material e a sua aceitação formal.
ques: dados necessários à entrada dos materiais em estoque, vi- - Estocagem: é o conjunto de operações relacionadas à guarda
sando ao seu controle; do material. A classificação dos estoques constitui-se em: estoque
- Sistema de Contas a pagar : dados referentes à liberação de de produtos em processo, estoque de matéria – prima e materiais
pendências com fornecedores, dados necessários à atualização da auxiliares ,estoque operacional, estoque de produtos acabados e
posição de fornecedores; estoques de materiais administrativos.
- Sistema de Compras : dados necessários à atualização de sal- - Distribuição: está relacionada à expedição do material, que
dos e baixa dos processos de compras; envolve a acumulação do que foi recebido da parte de estocagem,
a embalagem que deve ser adequada e assim a entrega ao seu des-
2a fase - Conferência Quantitativa tino final. Nessa atividade normalmente precisa-se de nota fiscal de
É a atividade que verifica se a quantidade declarada pelo forne- saída para que haja controle do estoque.
cedor na Nota Fiscal corresponde efetivamente à recebida. A confe-
rência por acusação também conhecida como “contagem cega “ é Tipos de armazenagem:
aquela no qual o conferente aponta a quantidade recebida, desco- A armanezagem temporária tem como função conseguir uma
nhecendo a quantidade faturada pelo fornecedor. A confrontação forma de arrumação fácil de material, como por exemplo, a coloca-
do recebido versus faturado é efetuada a posteriori por meio do Re- ção de estrados para uma armazenagem direta entre outros. Já a ar-
gularizador que analisa as distorções e providencia a recontagem. mazenagem permanente tem um local pré-definido para o depósito
Dependendo da natureza dos materiais envolvidos, estes po- de materiais, assim o fluxo do material determina a disposição do
dem ser contados utilizando os seguintes métodos: armazém, onde os acessórios do armazém ficarão, assim, garantin-
- Manual: para o caso de pequenas quantidades; do a organização do mesmo.
- Por meio de cálculos: para o caso que envolve embalagens
padronizadas com grandes quantidades; Vantagens da armazenagem:
- Por meio de balanças contadoras pesadoras: para casos que A armazenagem quando efetuada de maneira correta pode
envolvem grande quantidade de pequenas peças como parafusos, trazer muitos benefícios, nos quais traz diretamente a redução de
porcas, arruelas; custos.
- Pesagem: para materiais de maior peso ou volume, a pesa- - Redução dos custos de movimentação bem como das exis-
gem pode ser feita através de balanças rodoviárias ou ferroviárias; tências;
- Medição: em geral as medições são feitas por meio de trenas; - Facilidade na fiscalização do processo;
- Redução de perdas e inutilidades.
3a fase - Conferência Qualitativa - Aproxima a empresa de seus clientes e fornecedores;
Visa garantir a adequação do material ao fim que se destina. A - Agiliza o processo de entrega;
análise de qualidade efetuada pela inspeção técnica, por meio da - Compensa defasagens de produção
confrontação das condições contratadas na Autorização de Forneci- - Melhor aproveitamento do espaço;
mento com as consignadas na Nota Fiscal pelo Fornecedor, visa ga-
rantir o recebimento adequado do material contratado pelo exame Desvantagens da armazenagem:
dos seguintes itens: Algumas desvantagens segundo:
- Características dimensionais; - Imobilização de capital;
- Características específicas; - A armazenagem requer serviços administrativos de controles
- Restrições de especificação; e gerenciamento;
- A mercadoria tem prazo de validade nos quais devem ser res-
A armazenagem nada mais é do que um conjunto de funções peitados;
que tem nele a recepção, descarga, carregamento, arrumação e - Um armazém de grande porte requer máquinas com tecno-
conservação de matérias – primas, produtos acabados ou semi – logia.
acabados.
Este processo envolve mercadorias, e apenas produz resulta- Armazenagem em função das prioridades
dos quando é realizado uma operação com o objetivo de lhe acres- Não existe nenhuma norma que regule o modo como os ma-
centar valor. A armazenagem pode ser definida como o compromis- teriais devem estar dispostos no armazém, porém essa decisão de-
so entre os custos e a melhor solução para as empresas. Na prática pende de vários fatores. Senão veja-se:
isso só é possível se tiver em conta todos os fatores que influenciam
os custos de armazenagem, bem como a importância relativa dos Armazenagem por agrupamento:
mesmos. Esta espécie de armazenagem facilita a arrumação e busca de
A função de armazenamento de material é agir com maior agi- materiais, podendo prejudicar o aprovisionamento do espaço. É o
lidade entre suprimento e as necessidades de produção. caso dos moldes, peças, lotes de aprovisionamento aos quais se
O armazenamento incorpora diversos aspectos diferentes das atribui um número que por sua vez pertence a um grupo, identifi-
operações logísticas. Devido à interação, o armazenamento não cando-os com a divisão da estante respectiva .
se enquadra nitidamente em esquemas de classificação utilizados
quando se fala em gerenciamento de pedidos, inventário ou trans-
porte.

80
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Armazenagem por tamanho, peso e característica do mate- - Armazéns frigorificados: Produtos perecíveis, frutas, comida
rial. congelada, etc;
Neste critério o talão de saída deve conter a informação relati- - Armazéns para utilidades domésticas e mobiliário: Produtos
va ao setor do armazém onde o material se encontra. Este critério domésticos e mobiliário;
permite um melhor aprovisionamento do espaço, mas exige um - Armazéns de mercadorias em geral: Produtos diversos. O
controlo rigoroso de todas as movimentações. principal objetivo é agregar o material em unidades de transporte e
armazenagem tão grandes quanto possíveis, de modo a preencher
Armazenagem por frequência o veiculo por completo.
O controle através da ficha técnica permite determinar o local - Gases - Os gases obedecem a medidas especiais de precau-
onde o material deverá ser colocado, consoante a frequência com ção, uma vez que tornam-se perigosos ao estarem sujeitos a altas
que este é movimentado. A ficha técnica também consegue veri- pressões e serem inflamáveis. Por sua vez a armazenagem de gar-
ficar o tamanho das estantes, de modo a racionalizar o aproveita- rafas de gás está sujeita a regras específicas e as unidades de trans-
mento do espaço. porte são por norma de grandes dimensões.

Armazenagem com separação entre lote de reserva e lote di- Critérios de Armazenagem
ário Dependendo das características do material, a armazenagem
Esta armazenagem é constituída por um segundo armazém de pode dar-se em função dos seguintes parâmetros:
pequenos lotes o qual se destina a cobrir as necessidades do dia-
-a-dia. Este armazém de movimento possui uma variada gama de - Fragilidade;
materiais. - Combustibilidade;
- Volatilização;
Armazenagem por setores de montagem - Oxidação;
Neste tipo de armazenagem as peças de série são englobadas - Explosividade;
num só grupo, de forma a constituir uma base de uma produção por - Intoxicação;
família de peças. Este critério conduz à organização das peças por - Radiação;
prioridades dentro de cada grupo. - Corrosão;
- Inflamabilidade;
A mecanização dos processos de armazenagem fará com que o - Volume;
critério do percurso mais breve e de menor frequência seja imple- - Peso;
mentado na elaboração de novas técnicas de armazenagem - Forma.

Tipos de Armazenagem Os materiais sujeitos à armazenagem não obedecem regras ta-


xativas que regulem o modo como os materiais devem ser dispostos
Armazenagem temporária no Almoxarifado. Por essa razão, deve-se analisar, em conjunto, os
Aqui podem ser criadas armações corridas de modo a conse- parâmetros citados anteriormente, para depois decidir pelo tipo de
guir uma arrumação fácil do material, colocação de estrados para arranjo físico mais conveniente, selecionando a alternativa que me-
uma armazenagem direta, pranchas entre outros. Aqui a força da lhor atenda ao fluxo de materiais:
gravidade joga a favor. 1. armazenagem por tamanho: esse critério permite bom apro-
veitamento do espaço;
Armazenagem permanente 2. armazenamento por frequência: esse critério implica arma-
É um processo predefinido num local destinado ao depósito de zenar próximo da saída do almoxarifado os materiais que tenham
matérias. maior frequência de movimento;
O fluxo de material determina: 3. armazenagem especial, onde destacam-se:
- A disposição do armazém - critério de armazenagem; a) os ambientes climatizados;
- A técnica de armazenagem - espaço físico no armazém; b) os produtos inflamáveis, que são armazenados sob rígidas
- Os acessórios do armazém; normas de segurança;
- A organização da armazenagem. c) os produtos perecíveis (método FIFO)
Armazenagem interior/exterior 4. Armazenagem em área externa: devido à sua natureza, mui-
A armazenagem ao ar livre representa uma clara vantagem a tos materiais podem ser armazenados em áreas externas, o que
nível econômico, sendo esta muito utilizada para material de ferra- diminui os custos e amplia o espaço interno para materiais que ne-
gens e essencialmente material pesado. cessitam de proteção em área coberta. Podem ser colocados nos
pátios externos os materiais a granel, tambores e “containers”, pe-
Armazenagem em função dos materiais ças fundidas e chapas metálicas.
A armazenagem deve ter em conta a natureza dos materiais 5. Coberturas alternativas: não sendo possível a expansão do
de modo a obter-se uma disposição racional do armazém, sendo almoxarifado, a solução é a utilização de galpões plásticos, que dis-
importante classificá-los. pensam fundações, permitindo a armazenagem a um menor custo.
- Armazém de commodities: Madeira, algodão, tabaco e cere-
ais; Independentemente do critério ou método de armazenamento
- Armazém para granel: A armazenagem deste material deve adotado é oportuno observar as indicações contidas nas embala-
ocorrer nas imediações do local de utilização, pois o transporte des- gens em geral.
te tipo de material é dispendioso. Para grandes quantidades deste
material a armazenagem faz-se em silos ou reservatórios de gran-
des dimensões. Para quantidades menores utilizam-se bidões, latas
e caixas. Armazena-se grãos, produtos líquidos, etc;

81
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Estudo do layout INTERMEDIÁRIOS
Alguns cuidados devem ser tomados durante o projeto do Relacionam-se abaixo, alguns exemplos dos principais interme-
layout de um almoxarifado, de forma que se possa obter as seguin- diários atuantes em um canal de distribuição:
tes condições: - Varejista: tipo de intermediário cujo principal objetivo é re-
1. Máxima utilização do espaço; alizar a venda de bens e/ou serviços diretamente ao cliente final.
2. Efetiva utilização dos recursos disponíveis (mão de obra e Ex.: Supermercado, papelaria, farmácia, bazar, loja de calçados, etc.
equipamentos); - Atacadista: intermediário que compra e revende mercadorias
3. Pronto acesso a todos os itens; para os varejistas e a outros comerciantes e/ou para estabelecimen-
4. Máxima proteção aos itens estocados; tos industriais, institucionais e usuários comerciantes, mas que não
5. Boa organização; vende em pequenas quantidades para clientes finais. Ex.: Martins,
6. Satisfação das necessidades dos clientes. Atacadão
- Distribuidor: geralmente, esse termo é confundido com o
No projeto de um almoxarifado devem ser verificados os se- Atacadista. Porém, para bens industriais, o mesmo agrega, além da
guintes aspectos: venda, armazenagem e assistência técnica dentro de uma área ge-
1. Itens a serem estocados (itens de grande circulação, grande ográfica delimitada de atuação, ou seja, busca atender demandas
peso e volume); mais regionalizadas. Ex.: Distribuidor de tratores e implementos
2. Corredores (facilidades de acesso); agrícolas em uma determinada região.
3. Portas de acesso (altura, largura); - Agentes (relações de longo prazo) e Corretores (relações de
4. Prateleiras e estruturas (altura x peso); curto prazo): pessoas jurídicas comissionadas que vendem uma li-
5. Piso (resistência). nha de produtos de uma empresa sob relação contratual. Podem
trabalhar com exclusividade apenas os produtos de uma única em-
Distribuição De Materiais presa (agentes exclusivos) ou trabalham com produtos similares de
empresas diferentes (agentes não exclusivos).
O processo de distribuição: conceitos e estratégias
Ter um bom produto (bem ou serviço) não basta! Há a necessi- IMPORTÂNCIA DOS INTERMÉDIARIOS
dade que esse produto chegue até o cliente da melhor forma possí- Pode-se identificar diversos aspectos que justificam a impor-
vel, seja esse um produto de consumo ou industrial. Nesse sentido, tância dos intermediários no canal de distribuição, dentre esses
é necessário identificar adequadamente os meios para distribuir o destacam-se:
produto, para que esse chegue ao cliente certo, na quantidade cer- - Aumento da eficiência do processo de distribuição, pois não
ta e no momento certo. seria eficiente para um fabricante ou produtor buscar atender clien-
Um bom produto pode não ter aceite do mercado, caso esse tes individualmente;
não esteja disponível nos lugares certos para o consumo. Portan- - Transformação das transações em processos repetitivos e ro-
to, o sucesso ou fracasso de um produto no mercado depende de tineiros, simplificando atividades e os processos de pedido, paga-
sua disponibilidade para consumo, no tempo e quantidade certa. O mento, etc.
cliente ao procurar uma determinada marca, não encontrando-a, - Facilitação do processo de busca de produtos, ampliando o
esse tenderá comprar uma outra marca qualquer. Dessa forma, um acesso dos clientes a uma gama maior de produtos.
dos instrumentos da Logística que busca solucionar esse problema
e o desenvolvimento e utilização de um correto Processo de Distri- FUNÇÕES DO CANAL DE DISTRIBUIÇÃO
buição. As funções objetivam tornar o canal de distribuição mais efe-
tivo (eficiente e eficaz), podendo ser dividida em três categorias:
Dimensões do processo de distribuição: canal de distribuição Transacionais: compreendem a compra, a venda dos produtos,
e distribuição física bem como assumir os riscos comerciais envolvidos no processo;
- Canal de distribuição está relacionado ao conjunto de orga- Facilitação: relacionam-se com o financiamento de crédito,
nizações interdependentes envolvidas na disponibilização de um o controle de produtos (inspecionar e classificar produtos), bem
produto (bem e/ou serviço) para uso e/ou consumo. Dessa forma, como a coleta de informações de marketing, tornando mais fáceis
entende-se canal de distribuição como sendo, o conjunto de or- os processos de compra e venda. Produtores e intermediários po-
ganizações que executam as funções necessárias para deslocar os dem trabalhar juntos para criar valor para seus clientes por meio
produtos da produção até o consumo. Nesse contexto surgem os de previsões de vendas, análises competitivas e relatórios sobre as
intermediários que são as organizações que constituem o canal de condições do mercado, focando atingir as reais necessidades dos
distribuição, ou seja, são empresas comerciais que operam entre os clientes;
produtores e os clientes finais. Logísticas: envolvem a movimentação e a combinação de pro-
- Distribuição Física: refere-se à movimentação de produtos dutos em quantidades que os tornem fáceis de comprar.
para o local adequado, nas quantidades e tempos (prazos) corretos,
de maneira eficiente e eficaz em termos de custo, ou seja, refere-se DECISÕES DE PROJETO DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
ao uso correto das estratégias de logística relacionadas ao processo Para se projetar um canal de distribuição é necessário avaliar
de distribuição, tais como, armazenagem/estocagem, embalagem, alguns atributos:
transporte, movimentação interna de materiais, bem como dos sis- Avaliar claramente os mercados (reais e potenciais) a serem
temas e equipamentos necessários para essas funções. trabalhados.
- Determinar as características dos clientes (segmentação), em
termos de números de clientes, dispersão geográfica, frequência de
compra, etc.
- Determinar as características dos produtos quanto à perecibi-
lidade, dimensões, grau de padronização e necessidades dos clien-
tes.

82
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
- Determinar as características dos intermediários, quanto ao Prestador de ServiçoAgente Usuário Final: Na prestação de ser-
tipo de transporte, sistema de equipamentos e armazenagem utili- viços também há a possibilidade da utilização de agentes, os quais
zado, sistemas de TI, etc. nesse caso são denominados de corretores. Os exemplos mais co-
- Diagnosticar as características ambientais quanto às condi- muns incluem os corretores de seguro, corretores de fundo de in-
ções locais, legislação, etc. vestimentos, agentes de viagem, etc.
- Avaliar as características das empresas envolvidas quanto so-
lidez financeira, composto de produtos (bens e serviços), nível de GESTÃO DAS RELAÇÕES NO CANAL DE DISTRIBUIÇÃO
serviço, estratégias de marketing, etc.
Conflitos no Canal
TIPOLOGIAS DO CANAL DE DISTRIBUIÇÃO Conflito é um fenômeno que resulta da natureza social dos
FabricanteCliente Final/Cliente Empresarial (NÍVEL ZERO) - é o relacionamentos. Especificamente, no caso dos canais de distribui-
canal de distribuição mais simples e direto do fabricante até o usu- ção, o conflito surge quando um membro do canal crê que outro
ário final, sendo também o mais comum no cenário empresarial. membro esteja impedindo a realização de seus objetivos especí-
Quando essse canal de distribuição é usado em mercados de con- ficos. Diversos fatores podem favorecer o surgimento de conflito
sumo, pode assumir duas formas. A primeira é a Venda Direta que entre os membros do canal:
envolve contatos de vendas pessoais entre o comprador e o ven- - Incongruência de papéis entre os membros;
dedor, como aqueles que ocorrem com os produtos agrícolas (fei- - Escassez de recursos e discordância na sua alocação;
ras), processo Avon, Yakult, etc. Já a segunda forma é o Marketing - Diferenças de percepção e interpretação dos estímulos am-
Direto, o qual abrange uma comunicação direta entre o comprador bientais;
e o vendedor, conforme ocorre nas vendas por meio de catálogos - Diferenças de expectativas em relação ao comportamento es-
ou mala direta. Pode-se considerar que os canais diretos são mais perado dos outros membros;
importantes no mercado empresarial (B2B), onde a maior parte - Discordância no domínio da decisão;
dos equipamentos, peças e matéria-prima são vendidas por meio - Incompatibilidade de metas específicas dos membros;
de contatos diretos entre vendedores e compradores. Esse canal é - Dificuldades de comunicação.
requisitado quando o fabricante prefere não utilizar os intermediá-
rios disponíveis no mercado, optando pela força de venda própria Há três principais tipos de conflitos que podem ocorrer nos ca-
e providenciando a movimentação física dos produtos até o cliente nal de distribuição:
final. O mesmo oferece às empresas a vantagem de maior controle - O conflito Vertical – tipo de conflito que ocorre entre mem-
das funções de Marketing a serem desempenhadas, sem a necessi- bros de diferentes níveis no canal. Ex.: Fabricantes versus Ataca-
dade de motivar intermediários e depender de resultados de tercei- distas ou Varejistas. Quando um fabricante vende seus produtos
ros. Uma das desvantagens é a exigência de maiores investimentos, diretamente aos clientes via internet, poderá gerar algum tipo de
uma vez que as funções mercadológicas são assumidas. conflito vertical entre esse e seus varejistas.
- O conflito Horizontal, conflito que envolve divergências entre
FabricanteVarejistaCliente Final (NÍVEL UM) - é um dos canais membros do mesmo nível no canal, como Atacadistas versus Ata-
mais utilizados pelos fabricantes de produtos de escolha, como cadistas ou franqueados (lojas) pertencentes a uma certa franquia
alimentação, vestuário, livros, eletrodomésticos. Nesse caso, o fa- competindo em uma mesma região. Esses conflitos podem ocorrer,
bricante transfere ao intermediário grande parte das funções mer- devido as diferenças quanto aos limites de território ou em termos
cadológicas (venda, transporte, crédito, embalagens). Ex.: Lojas dos preços praticados.
Bahia, Supermercado Extra, etc. - Conflito Multicanal – é o conflito que surge quando um fabri-
cante utiliza dois ou mais canais simultâneos que vendem para o
FabricanteAtacadista Varejista Cliente Final (NÍVEL DOIS) - esse mesmo mercado. Ex. loja virtual versus loja física ou uso de repre-
tipo de canal é utilizado no mercado de bens de consumo, quando sentantes.
a distribuição visa atingir um número muito grande e disperso de
clientes (ampliar capilaridade). Poder no canal
Uma empresa que visa cobrir um mercado de forma intensiva Poder é a capacidade que um dos membros do canal tem de
pode utilizar esse canal que, além das vendas, oferece financiamen- influenciar as variáveis do mix mercadológico de um outro membro.
to, transportes, promoções, etc. É um dos sistemas mais tradicio- Nesse sentido, o membro que exerce Poder está interferindo ou até
nais para alguns tipos de produtos como bebidas, limpeza, etc. modificando os objetivos mercadológicos do outro membro. De
uma forma mais geral, conceito de Poder está associado à capaci-
FabricanteAgente(Atacadista) Varejista Cliente Final (NÍVEL dade de um membro particular do canal de controlar ou influenciar
TRES): Nesse sistema, o agente (broker) desempenha a função de o comportamento de outro(s) membro(s) do canal.
reunir o comprador e o vendedor. O agente é na verdade, um inter-
mediário que não compra produtos, apenas representa o fabricante Fontes de Poder no canal
ou o atacadista (aqueles que realmente compram os bens) na busca Em geral, existem cinco tipos de fontes de poder que são exer-
de mercados à produção dos fabricantes ou na localização de fontes cidos no canal:
de suprimento para esses fabricantes. - Recompensa: é a capacidade de um agente recompensar um
Prestador de Serviço Usuário Final: A distribuição de serviços outro quando esse último conforma-se à influência do primeiro. A
para usuários finais ou empresariais é mais simples e direta do que recompensa, normalmente está associada com fontes econômicas.
a distribuição de bens tangíveis, em função das características dos - Coerção: é o oposto do Poder de recompensa, onde o exer-
serviços. O profissional de Marketing de Serviços está menos pre- cício do Poder está associado à expectativa de um dos agentes em
ocupado com a armazenagem, transporte e controle do estoque e, relação à capacidade de retaliação do outro, caso esse não se sub-
normalmente usa canais mais curtos. Outra consideração é a contí- meta às tentativas de influência do primeiro.
nua necessidade de manutenção de relacionamentos pessoais en-
tre produtores e usuários de serviços.

83
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
- Legítimo: deriva de normas internalizadas em um membro A definição mais detalhada dos objetivos dos canais de dis-
(contrato) e que estabelecem que outro membro tem o direito de tribuição depende essencialmente de cada organização, da forma
influenciá-lo, existindo a obrigação de aceitar essa influência. com que ela compete no mercado e da estrutura geral da cadeia
- Informacional: origina-se pela posse de um membro de infor- de suprimentos. Porém, é possível identificar alguns fatores gerais,
mações valorizadas por outros membros do canal. comum na maioria deles:
- Experiência: deriva do conhecimento (know-how) que um - Assegurar a rápida disponibilidade do produto no mercado
membro detem em relação a outro membro. identificado como prioritários, ou seja, o produto precisa estar dis-
ponível para a venda nos estabelecimentos varejistas do tipo cor-
Liderança do canal reto;
Quando os conflitos se reduzem e há um aumento de coo- - Intensificar ao máximo o potencial de vendas do produto sob
peração entre os membros do canal, essas características podem enfoque, isto é buscar parcerias entre fabricante e varejista que
resultar no surgimento de membros que, devido a fatores como, possibilitem a exposição mais adequada da mercadoria nas lojas;
alto poder de barganha, poder legítimo, poder de informação, tor- - Promover cooperação entre os participantes da cadeia de su-
nam-se líderes do canal.Por ouro lado, alguns autores identificaram primentos, principalmente relacionada aos fatores mais significati-
um padrão consistente de condições que determinam o surgimento vos associados à distribuição física, ou seja, buscar lotes mínimos
de uma liderança no canal: o líder do canal tende emergir quando dos pedidos, uso ou não de paletização ou de tipos especiais de
o canal de distribuição enfrenta ambientes ameaçadores, aqueles acondicionamentos em embalagens, condições de descarga, restri-
onde a demanda é declinante, a concorrência aumenta e a incer- ções de tempo de espera, etc.
teza é elevada. - Assegurar nível de serviço estabelecido previamente pelos
parceiros da cadeia de suprimentos;
Construindo a confiança no canal - Garantir rápido e preciso fluxo de informações entre os par-
Muitos canais estão rumando para a construção da confiança ceiros; e
mútua como base para o sucesso das relações entre os membros - Procurar redução de custos, de maneira integrada, atuando
do canal. Geralmente essa confiança requer que esses membros re- em conjunto com os parceiros, analisando a cadeia de suprimentos
conheçam sua interdependência e saibam compartilhar processos na sua totalidade.
e informações.
Os canais de distribuição podem desempenhar quatro funções
ESTRATÉGIAS DE DISTRIBUIÇÃO básicas, segundo as modernas concepções trazidas pelo supply
Em termos gerais, existem três tipos de estratégias de distri- chain management:
buição: - Indução da demanda – as empresas da cadeia de suprimentos
- Distribuição intensiva – essa estratégia torna um certo produ- necessitam gerar ou induzir a demanda de seus serviços ou merca-
to disponível no maior número de estabelecimentos de uma região, dorias;
visando obter maior exposição e ampliar a oportunidade de venda. - Satisfação da demanda – é necessário comercializar os servi-
Produtos com baixo valor unitário e alta frequência de compra são ços ou mercadorias para satisfazer a demanda;
vendidos intensivamente, de modo que os clientes considerem con- - Serviço de pós-venda – uma vez comercializados os serviços
veniente comprá-los. Assim, por meio da distribuição intensiva, os ou mercadorias, precisa-se oferecer os serviços de pós-venda; e
clientes podem encontrar os produtos no maior número de locais - Troca de informações – o canal viabiliza a troca de informa-
possíveis. ções ao longo de toda a cadeia de suprimentos, acrescendo-se tam-
- Distribuição seletiva – estratégia que consiste no fato do fabri- bém os consumidores que disponibilizam um retorno importante
cante vender produtos por meio de mais de um dos intermediários tanto para os fabricantes quanto para os varejistas.
disponíveis em uma região, mas não em todos. Sendo assim, os in-
termediários escolhidos são considerados osmelhores para vender Entre fatores estratégicos importantes no sistema distributivo
os produtos com base em sua localização, reputação, clientela e podem ser levantadas as seguintes questões:
outros pontos fortes. A distribuição seletiva é empregada quando - Se o número, o tamanho e a localização das unidades fabris
osclientes buscam produtos de compra comparada. Cabe ainda atendem às necessidades de mercado,
destacar que, nesse caso, havendo menos “parceiros” de canal, - Se a localização geográfica dos mercados e os seus respectivos
torna-se possível desenvolver relacionamentos mais estreitos com custos de abastecimento são compatíveis,
cada um desses, permitindo que o fabricante obtenha boa cobertu- - Se a frequência de compras dos clientes, o número e o tama-
ra do mercado com mais controle e menos custos, comparado com nho dos pedidos justificam o esforço distributivo,
a distribuição intensiva. - Se o custo do pedido e o custo de distribuição estão em bases
- Distribuição exclusiva - ocorre quando o fabricante vende seus compatíveis com o mercado,
produtos por meio de um único intermediário em uma determina- - Se os métodos de armazenagem e os seus custos são justificá-
da região, onde esserecebe o direito exclusivo de distribuir tais pro- veis com os resultados operacionais gerados,
dutos. Esse tipo de estratégia é utilizada quando um determinado - Se os métodos de transporte adotados são adequados,
produto requer um esforço especializado de venda ou investimen-
tos em estoques e instalações específicas. A distribuição exclusiva é Em conformidade com o potencial do mercado, é importante
oposta à distribuição intensiva, sendo mais adequada à medida em analisar a demanda de cada mercado atendido pela empresa e se o
que se deseja operar apenas com “parceiros” exclusivos de canal tipo de sistema de distribuição adotado é adequado.
que possam apoiar ou servir o produto de forma adequada, ou seja,
enfatizando uma determinada imagem que possa caraterizar luxo DISTRIBUIÇÃO FÍSICA
ou exclusividade. A distribuição física de produtos ou distribuição física são os
processos operacionais e decontrole que permitem transferir os
produtos desde o ponto de fabricação, até o ponto em que a mer-
cadoria é finalmente entregue ao consumidor. (NOVAES, 1994).

84
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Pode-se dizer que seu objetivo geral é levar os produtos certos, c. Nível Operacional
para os lugares certos, no momento certo e com o nível de serviço É o nível em que a supervisão garante a execução das tarefas
desejado, pelo menor custo possível. diárias para assegurar que os produtos se movimentem pelo canal
A distribuição física tem, como foco principal, todos os produ- de distribuição até o último cliente. Podem ser citadas:
tos que a companhia oferece para vender, ou seja, desde o instante • Carregar caminhões;
em que a produção é terminada até o momento em que o cliente • Embalar produtos;
recebe a mercadoria (produto). • Manter registros dos níveis de inventário etc.
Toda produção visa a um ponto final, que é chegar às mãos do
consumidor. MODALIDADES DE TRANSPORTE
“Nadar e morrer na praia” não é objetivo de nenhuma institui- O transporte de mercadorias é parte fundamental do comér-
ção que vise ao lucro. Nem entidades sem fins lucrativos desejam cio. Como o produto é entregue e a qualidade com que chega até o
que seus feitos não alcancem os objetivos, mesmo que estes não cliente final é o que define a satisfação do comprador e a possibili-
sejam financeiros. dade de um cliente fiel. Sendo assim, deve-se usar o modal – meio
Uma boa distribuição, associada a um produto de boa qualida- de transporte – que atenda às expectativas do comprador.
de, a uma propaganda eficaz e a um preço justo, faz com que os pro- Dados mostram que o transporte representa 60% dos custos
dutos sejam disponibilizados a seus consumidores, de modo que logísticos, 3,5% do faturamento e tem papel preponderante na qua-
estes possam fazer a opção pela compra. Estando nas prateleiras, o lidade dos serviços logísticos, impactando diretamente no tempo
produto passa a fazer parte de uma gama de produtos concorrentes de entrega, confiabilidade e segurança dos produtos.
que podem ser comprados ou não.
O primeiro passo para ele poder fazer parte dessa opção de Qual o melhor modal?
compra é estar disponível nas prateleiras. São basicamente cinco os modais: rodoviário, ferroviário, aqua-
Outros fatores como propaganda, preço e qualidade do produ- viário, aéreo e dutoviário.
to, podem variar entre produtos concorrentes, mas a distribuição Para o transporte de mercadorias, cada modal possui suas van-
é uma condição obrigatória para todas as empresas que querem tagens e desvantagens. Para cada rota há possibilidade de escolha
vender seus produtos. e esta deve ser feita mediante análise profunda dos custos e carac-
Se o produto não está disponível na prateleira, independente terísticas do serviço.
de todos os outros fatores que influenciam a compra, este não po-
derá ser comprado. O Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior
Imagine um produto com uma qualidade maravilhosa, com classifica o Sistema de Transporte, quanto à forma, em:
uma estratégia de propaganda primorosa, com um preço imbatível, - Modal: envolve apenas uma modalidade (ex.: Rodoviário);
mas não disponível no mercado. - Intermodal: envolve mais de uma modalidade (ex.: Rodoviário
A distribuição física acontece em vários níveis dentro de uma e Ferroviário);
instituição. Isso ocorre em razão de que a posição hierárquica inter- - Multimodal: envolve mais de uma modalidade, porém, regido
fere no processo. Uma decisão tomada pela alta administração de por um único contrato;
- Segmentados: envolve diversos contratos para diversos mo-
uma empresa é chamada de decisão estratégica e deve ser seguida
dais;
pelos demais níveis hierárquicos.
- Sucessivos: quando a mercadoria, para alcançar o destino fi-
A decisão tática é tomada e imposta pela média gerência e a
nal, necessita ser transbordada para prosseguimento em veículo da
operacional diz respeito à supervisão que se encarregará de fazer
mesma modalidade de transporte (regido por um único contrato).
com que os projetos sejam cumpridos e executados.
Para um melhor entendimento, seguem os níveis da adminis-
VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TIPOS DE TRANSPORTE
tração da distribuição física.
• Estratégico;
Transporte Rodoviário
• Tático; É aquele que se realiza em estradas, com utilização de cami-
• Operacional. nhões e carretas. Trata-se do transporte mais utilizado no Brasil,
apesar do custo operacional e do alto consumo de óleo diesel.
a. Nível Estratégico
Neste nível, a alta administração da empresa decide o modo
que deve ter a configuração do sistema de distribuição. Podem ser Vantagens Desvantagens
relacionadas às seguintes preocupações: • Capacidade de • Menor capacidade
• Localização dos armazéns; tráfego por qualquer rodovia de cargas entre todos os
• Seleção dos modais de transportes; (flexibilidade operacional) modais;
• Sistema de processamento de pedidos etc.
• Usado em qualquer • Alto custo de
tipo de carga. operação
b. Nível Tático
É o nível em que a média gerência da empresa estará envolvida • Agilidade no
• Alto risco de roubo/
em utilizar seus recursos da melhor e maior forma possível. Suas transporte e no acesso às
Frota antiga- acidentes
preocupações são: cargas
• Ociosidade do equipamento de transmissão de pedidos ser • Vias com gargalos
a mínima; • Não necessita de
gerando gastos extras e
• Ocupação otimizada da área de armazéns; entrepostos especializados
maior tempo para entrega.
• Otimização dos meios de transportes, sempre em níveis má-
ximos possíveis à carga etc. • Amplamente • Alto grau de
disponível poluição

85
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

• Fácil contratação e • Alto valor de • É de gerenciamento


• Mercadoria de baixo
gerenciamento. transporte. complexo, exigindo muitos
valor agregado.
• Adequado para curtas • Menos competitivo documentos.
e médias distâncias à longa distância;
Quando usar o Transporte Aquaviário- Grandes volumes de
Quando usar o Transporte Rodoviário - Mercadorias perecíveis, carga / Grandes distâncias a transportar / Trajetos exclusivos (não
mercadorias de alto valor agregado, pequenas distâncias (até 400 há vias para outros modais) / Tempo de trânsito não é importante /
Km), trajetos exclusivos onde não há vias para outros modais, quan- Encontra-se uma redução de custo de frete.
do o tempo de trânsito for valor agregado.
Tipos de navios:
Transporte Ferroviário
Transporte ferroviário é aquele realizado sobre linhas férreas, Navios para cargas gerais ou convencionais:
para transportar pessoas e mercadorias. As mercadorias transpor- Navios dotados de porões (holds) e pisos (decks), utilizados
tadas neste modal são de baixo valor agregado e em grandes quan- para carga seca ou refrigerada, embaladas ou não.
tidades como: minério, produtos agrícolas, fertilizantes, carvão, de-
rivados de petróleo, etc. Navios especializados:
Graneleiros (bulk vessels): carga a granél (líquido, gasoso e só-
lido), sem decks.
Vantagens Desvantagens Ro-ro (roll-on roll-off): cargas rolantes, veículos entram por
• Grande capacidade • Alto custo de rampa, vários decks de diversas alturas.
de cargas implantação
Navios Multipropósito:
• Baixo custo de • Transporte lento Transportam cargas de navios de cargas gerais e especializados
transporte (Inexistência de devido às suas operações de ao mesmo tempo.
pedágios) carga e descarga Granel sólido + líquido
• Adequado para • Pouca flexibilidade Minério + óleo
longas distâncias de equipamentos. Ro-ro + container
• Baixíssimo nível de • Malha ferroviária
Navios porta-container:
acidentes. insuficiente.
Transportam exclusivamente cargas em container.
• Alta eficiência • Malha ferroviária Sólido, líquido, gasoso
energética. sucateada Desde que seja em container
• Melhores condições • Necessita de Tem apenas 01 (um) deck (o principal)
de segurança da carga. entrepostos especializados.
Transporte Aéreo
• Menor flexibilidade O transporte aéreo é aquele realizado através de aeronaves e
• Menor poluição do no trajeto (nem sempre chega pode ser dividido em Nacional e Internacional.
meio ambiente ao destino final, dependendo
de outros modais.)
Vantagens Desvantagens
Quando usar o Transporte Ferroviário - Grandes volumes de • É o transporte mais • Menor capacidade de
cargas / Grandes distâncias a transportar (800 km) / Trajetos exclu- rápido carga (Limite de volume e peso|)
sivos (não há vias para outros modais) • Não necessita • Valor do frete mais
embalagem mais reforçada elevado em relação aos outros
Transporte Aquaviário (manuseio mais cuidadoso); modais
Realizado por meio de barcos, navios ou balsas. Engloba tanto
o transporte marítimo, utilizando como via de comunicação os ma- • Os aeroportos nor-
res abertos, como o transporte fluvial, por lagos e rios. É o transpor- malmente estão localizados • Depende de termi-
te mais utilizado no comércio internacional. mais próximos aos centros nais de acesso
de produção.
Vantagens Desvantagens • Transporte de gran-
des distâncias.
• Maior capacidade • Necessidade de
de carga transbordo nos portos • Seguro de transpor-
te é muito baixo.
• Menor custo de
• Longas distâncias dos
transporte (Frete de custo
centros de produção Quando usar o Transporte Ferroviário - Pequenos volumes de
relativamente baixo)
cargas / Mercadorias com curto prazo de validade e/ou frágeis /
• Apesar de limitado • Menor flexibilidade Grandes distâncias a transportar / Trajetos exclusivos (não há via
às zonas costeiras, registra nos serviços aliado a frequen- para outros modais) / Tempo de trânsito é muito importante.
grande competitividade para tes congestionamentos nos Tipos de Aeronaves:
longas distâncias portos Full pax = somente de passageiros.
Full cargo = somente de cargas.
Combi = misto de carga e passageiros

86
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Transporte Dutoviário Razões para manter estoque
Esta modalidade de transporte não apresenta nenhuma flexi- A armazenagem de mercadorias prevendo seu uso futuro exi-
bilidade, visto que há uma limitação no número de produtos que ge investimento por parte da organização. O ideal seria a perfeita
podem utilizar este modal. O transporte é feito através de dutos sincronização entre a oferta e a demanda, de maneira a tornar a
cilíndricos. Pode ser utilizado para transporte de petróleo, produtos manutenção de estoques desnecessária. Entretanto, como é impos-
derivados do minério, gases e grãos. sível conhecer exatamente a demanda futura e como nem sempre
os suprimentos estão disponíveis a qualquer momento, deve-se
Vantagens Desvantagens acumular estoque para assegurar a disponibilidade de mercadorias
e minimizar os custos totais de produção e distribuição.
• Muitas dutovias são
• Pode ocasionar um
subterrâneas e/ou submarinas, Na verdade, estoques servem para uma série de finalidades,
grande acidente ambiental
considerado uma vantagem, ou seja:
caso suas tubulações se rom-
pois minimizam os riscos - Melhoram o nível de serviço.
pam
causados por outros veículos; - Incentivam economias na produção.
• O dutoviário transporta • Possui uma ca- - Permitem economias de escala nas compras e no transporte.
de forma segura e para longas pacidade de serviço muito - Agem como proteção contra aumentos de preços.
distancias limitada - Protegem a empresa de incertezas na demanda e no tempo
de ressuprimento.
• Proporciona um menor • Custos fixos são - Servem como segurança contra contingências.
índice de perdas e roubos mais elevados
• Baixo consumo de • Investimento inicial Abrangência da Administração de Estoques
energia. elevado. A administração de estoques é de importância significativa na
maioria das empresas, tanto em função do próprio valor dos itens
• Requer mais licen-
• Alta confiabilidade. mantidos em estoque, associação direta com o ciclo operacional da
ças ambientais.
empresa. Da mesma forma como as contas a receber, os níveis de
• Simplificação de carga estoques também dependem em grande parte do nível de vendas,
e descarga com uma diferença: enquanto os valores a receber surgem após a
• Transporte de volumes realização das vendas, os estoques precisam ser adquiridos antes
granéis muito elevados. das realizações das vendas.

Tipos de dutos Essa é uma diferença crítica e a necessidade de prever as ven-


- Subterrâneos das antes de se estabelecer os níveis desejados de estoques, torna
- Aparentes sua administração uma tarefa difícil. Deve se observar também que
- Submarinos os erros na fixação dos níveis de estoque podem levar à perda das
vendas (caso tenham sido subdimensionados) ou a custos de es-
Oleodutos = gasolina, álcool, nafta, glp, diesel. tocagem excessivos (caso tenham sido superdimensionados), resi-
Minerodutos = sal-gema, ferro, concentr.fosfático. dindo, portanto, na correta determinação dos níveis de estoques,
Gasodutos = gás natural. a importância da sua administração. Seu objetivo é garantir que os
estoques necessários estejam disponíveis quando necessários para
Observa-se que os meios de transportes estão cada vez mais manutenção do ritmo de produção, ao mesmo tempo em que os
inter-relacionados buscando compartilhar e gerar economia em es- custos de encomenda e manutenção de estoques sejam minimiza-
cala, capacidade no movimento de cargas e diferencial na oferta dos.
de serviços logísticos. Porém, o crescimento dessa integração multi-
modal muitas vezes é dificultado pela infraestrutura ofertada pelos Os estoques podem ser classificados como:
setores privados e públicos. - Matéria-prima
- Produtos em processo
Estoques - Materiais de embalagem
“Devemos sempre ter o produto de que você necessita, mas - Produtos acabados
nunca podemos ser pego com algum estoque”. É uma frase que - Suprimentos
descreve bem o dilema da descrição de estoques. O controle de
estoques é parte vital do composto logístico, pois estes podem ab- A razão para manutenção de estoques depende fundamental-
sorver de 25 a 40% dos custos totais, representando uma porção mente da natureza desses materiais.
substancial do capital da empresa. Portanto, é importante a correta Para manutenção dos estoques de matérias primas, são utiliza-
compreensão do seu papel na logística e de como devem ser ge- das justificativas como a facilidade para o planejamento do proces-
renciados”. so produtivo, a manutenção do melhor preço deste produto, a pre-
venção quanto à falta de materiais e, eventualmente, a obtenção de
descontos por aquisição de grandes quantidades.
Essas razões são contra-argumentadas de várias formas. Atu-
almente, as modernas técnicas de administração de estoques,
o conceito do “Supply Chain Management” que ajuda a reduzir
custos, representam alternativas eficientes para evitar-se falta de
materiais. Adicionalmente, a realização de contratos futuros pode
representar um instrumento eficiente para proteger a empresa de
eventual oscilação de preços de seus insumos básicos.

87
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Para manutenção de estoques de materiais em processos, jus- 2. MRP-Material Requirement Planing
tifica-se a maior flexibilidade do processo produtivo, caso ocorra O MRP é um sistema completo para emitir ordens de fabri-
interrupção em alguma das linhas de produção da empresa. Obvia- cação, de compras, controlar estoques e administrar a carteira de
mente, essa questão deve ser substituída pela adoção de proces- pedidos dos clientes. Opera em base semanal, impondo com isso
sos de produção mais confiáveis, para evitar a ocorrências destas uma previsão de vendas no mesmo prazo, de modo a permitir a ge-
interrupções. ração de novas ordens de produção para a fábrica. O sistema pode
A manutenção de estoques de produtos acabados é justificada operar com diversas fórmulas para cálculo dos lotes de compras,
por duas razões: garantir atendimentos efetuados para as vendas fabricação e montagem, operando ainda com diversos estoques de
realizadas e diminuir os custos de mudança na linha de produção. material em processo, como estoque de matérias primas, partes,
submontagens e produtos acabados.A maior vantagem do MRP
Técnicas de Administração de estoques consiste em utilizar programas de computadores complexos, levan-
do em consideração todos os fatores relevantes para conseguir o
CURVA ABC melhor cumprimento de prazos de entrega, com estoques baixos,
Segrega os estoques em três grupos, demonstrando grafica- mesmo que a fábrica tenha muitos produtos em quantidade, de
mente com eixos de valores e quantidades, que considera os mate- uma semana para outra.
riais divididos em três grandes grupos, de acordo com seus valores Um ponto fundamental para o correto funcionamento do sis-
de preço/custo e quantidades, sendo assim materiais “classe A” re- tema é a rigorosa disciplina a ser observada pelos funcionários que
presentam a minoria da quantidade total e a maioria do valor total, interagem com o sistema MRP, em relação à informação de dados
“classe C” a maioria da quantidade total e a minoria do valor total, para computador. Sem essadisciplina, a memória do MRP vai acu-
“classe B” valores e quantidades intermediárias. mulando erros nos saldos em estoques e nas quantidades neces-
O controle da “classe A” é mais intenso e o controle da “classe sárias.
B e C” menos sofisticados.
3. Sistema Periódico
MODELO DE LOTE ECONÔMICO A característica básica deste sistema é a divisão da fábrica em
Permite determinar a quantidade ótima que minimiza os cus- vários setores de processamento sucessivo de vários produtos simi-
tos totais de estocagem de pedido para um item do estoque. Con- lares. Cada setor recebe um conjunto de ordens de fabricação para
siderando os custo de pedir e os custos de manter os materiais. serem iniciados e terminados no período. Com isso, no fim de cada
Sendo os custos de pedir, os fixos, administrativos ao se efetuar e período, se todos os setores cumprirem sua carga de trabalho, não
receber um pedido e o custo de manter são os variáveis por unida- haverá qualquer material em aberto. Isso facilita o controle de cada
de da manutenção de um item de estoque por umdeterminado pe- setor da fábrica, atribuindo responsabilidades bem definidas.
ríodo (custo de armazenagem) segundo, “oportunidade” de outros Esse sistema com período fixo é antigo, mas devido às suas ca-
investimentos. racterísticas, não se tornou obsoleto face aos sistemas modernos,
nos quais é possível à adoção de períodos curtos, menores que uma
Custo total = custo de pedir + custo de manter semana.

PONTO DE PEDIDO 4. OPT-Optimezed Production Technology


Determina em que ponto os estoques serão pedidos levando O sistema OPT foi desenvolvido com uma abordagem diferen-
em consideração o tempo de entrega dos principais itens. te dos sistemas anteriores, enfatizando a racionalidade do fluxo
de materiais pelos diversos postos de trabalho de uma fábrica. Os
Ponto de pedido = tempo de reposição em dias x demanda pressupostos básicos do OPT foram originados por formulações ma-
diária temáticas. Nesse sistema, as ordens de fabricação são vistas como
tendo de passar por filas de espera de atendimento nos diversos
SISTEMAS DE GERENCIAMENTO DE ESTOQUES postos de trabalho na fábrica. O conjunto de postos de trabalho
Os Sistemas básicos utilizados na administração de estoques forma então uma rede de filas de espera.
são: O sistema OPT usa um conjunto de coeficientes gerenciais para
ajudar a determinar o Lote ótimo para cada componente ou sub-
1. FMS (Flexible Manufacturing System) montagem a ser processado em cada posto de trabalho. Muita ên-
Nesse sistema, os computadores comandam as operações das fase é dedicada aos pontos de gargalo da produção.
máquinas de produção e, inclusive, comandam a troca de ferramen-
tas das operações de manuseio de materiais, ferramentas, acessó- 5. Sistema KANBAN-JIT
rios e estoques. Pode-se incluir no software módulos de monitora- O sistema Kanban foi desenvolvido para ser utilizado onde os
ção do controle estatístico da qualidade. Normalmente, é aplicado empregados possuem motivação e mobilização, com grande liber-
em fábricas com grande diversidade de peças de produtos finais dade de ação. Nessas fábricas, na certeza de que os empregados
montados em lotes. Podemos destacar entre as vantagens do FMS, trabalham com dedicação e responsabilidade, é legítimo um traba-
as seguintes: lhador parar a linha de montagem ou produção porque achou algo
• Permite maior produtividade das máquinas, que passam errado, os empregados mantém-se ocupados todo o tempo, aju-
a ter utilização de 80% a 90% do tempo disponível. dando-se mutuamente ou trocando de tarefas conforme as neces-
• Possibilita maior atenção aos consumidores em função sidades. O sistema Kanban-JIT é um sistema que “puxa” a produção
da flexibilidade proporcionada. da fábrica, inclusive até o nível de compras, pelas necessidades ge-
• Diminui os tempos de fabricação. radas na montagem final. As peças ou submontagens são colocadas
• Em função do aumento da flexibilidade, permite aumen- em caixa feitas especialmente para cada uma dessas partes, que, ao
tar a variedade dos produtos ofertados. serem esvaziadas na montagem, são remetidas ao posto de traba-
lho que faz a última operação a essa remessa, que funciona como
uma ordem de produção.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
6. Sistema Just in Time * Melhores condições de compra de materiais, pois pode-se
É preciso que haja um sistema integrado de planejamento de aceitarcontratos de grandes volumes para entregas parceladas. Aa-
distribuição. É assim que surge o Just in Time, que é derivado do tividade de compra fica reduzida, sem a necessidade de emitirpedi-
sistema Kanban. De acordo com Henrique Corrêa e Irineu Gianesi, a dos de fornecimento para cada lote de material.
responsável pela implantação do Just in Time foi a Toyota, criando b) Estocagem para atender especificamente a uma ordem de
esse sistema em 1970 e impondo-o para quem quisesse trabalhar produção ou a uma requisição: É o método empregado nas produ-
em parceria. Com isso, diminuiu muito seu estoque, passando a res- ções do tipo intermitente, onde a indústria fabrica sob encomenda,
ponsabilidade e o comprometimento de não parar sua produção sendo justificável no caso de materiais especiais ou necessários es-
para seus terceirizados. poradicamente. Os pedidos de material neste sistema são baseadas
O Just in Time visa o “estoque zero”. O objetivo principal é principalmente na lista material (“ROW MATERIAL”) e na programa-
suprir produtos para a linha de produção e clientes da empresa, ção geral (AP = “ANNUAL PLANNING”). Existem casos em que o pe-
somente quando for necessário. Ao longo da cadeia logística, as re- dido para compra precisa ser feito mesmo antes do projeto do pro-
lações entre as empresas - inclusive com o emprego de recursos de duto estar detalhado, ou seja, antes da listagem do material estar
comunicação e tecnologias de informação, devem ser garantidas de pronta, pois os itens necessários podem ter um ciclo de fabricação
tal forma que os resultados, e, portanto, os serviços prestados pela excessivamente longo. Ex.: grandes motores, turbinas e navios.
logística obedeçam exatamente às necessidades de serviços ex-
pressas pelos clientes. É muito importante, portanto que haja uma Enfim, o controle de estoques exerce influência muito grande
cooperação, um bom relacionamento entre a empresa e seus for- na rentabilidade da empresa. Eles absorvem capital que poderia
necedores externos e internos. Um ponto muito favorável no Just estar sendo investido de outras maneiras. Portanto, aumentar a ro-
in Time é que ele diminui a probabilidade de que ocorram perdas tatividade do estoque auxilia a liberar ativos e economiza o custo
de produtos. de manutenção e controle que podem absorver de 25 a 40% dos
custos totais, conforme mencionado anteriormente.
Outros sistemas de estoques
Sistema de Duas Gavetas - Consiste na separação física em Gestão patrimonial
duas partes. Uma parte será utilizada totalmente até a data da en- O patrimônio é o objeto administrado que serve para propi-
comenda de um novo lote e a outra será utilizada entre a data da ciar às entidades a obtenção de seus fins. Para que um patrimônio
encomenda e a data do recebimento do novo lote. A grande van-
seja considerado como tal, este deve atender a dois requisitos: o
tagem deste sistema está na substancial redução do processo bu-
elemento ser componente de um conjunto que possua conteúdo
rocrático de reposição de material (bujão de gás). A denominação
econômico avaliável em moeda; e exista interdependência dos ele-
“DUAS GAVETAS” decorre da ideia de guardar um mesmo lote em
mentos componentes do patrimônio e vinculação do conjunto a
duas gavetas distintas.
uma entidade que vise alcançar determinados fins.
Sistema de Estoque Mínimo - É usado principalmente quando Do ponto de vista econômico, o patrimônio é considerado uma
a separação entre as duas partes do estoque não é feita fisicamen- riqueza ou um bem suscetível de cumprir uma necessidade coletiva,
te, mas apenas registrada na ficha de controle de estoque, com o sendo este observado sob o aspecto qualitativo, enquanto que sob
ponto de separação entre as partes. Enquanto o estoque mínimo o enfoque contábil observa-se o aspecto quantitativo (Ativo =Pas-
estiver sendo utilizado, o Departamento de Compras terá prazo su- sivo + Situação Líquida). Exceção a alguns casos, quando se utiliza
ficiente para adquirir e repor o material no estoque. o termo “substância patrimonial” é que a contabilidade visualiza o
patrimônio de forma qualitativa.
Sistema de Renovação Periódica - Consiste em fazer pedidos A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 – conhecida
para reposição dos estoques em intervalos de tempo pré-estabe- como Lei de Responsabilidade Fiscal – apresentam em seus artigos
lecidos para cada item. Estes intervalos, para minimizar o custo de 44, 45 e 46, medidas destinadas à preservação do patrimônio públi-
estoque, devem variar de item para item. A quantidade a ser com- co. Uma delas estabelece que o resultado da venda de bens móveis
prada em cada encomenda é tal que, somada com a quantidade e imóveis e de direitos que integram o patrimônio público não po-
existente em estoque, seja suficiente para atender a demanda até derá mais ser aplicado em despesas correntes, exceto se a lei auto-
o recebimento da encomenda seguinte. Logicamente, este siste- rizativa destiná-la aos financiamentos dos regimes de previdência
ma obriga a manutenção de um estoque reserva. Deve-se adotar social, geral e própria dos servidores.
períodos iguais para um grande número de itens em estoque pois, Dessa forma, os recursos decorrentes da desincorporação de
procedendo a compra simultânea de diversos itens, pode-se obter ativos por venda, que é receita de capital, deverão ser aplicados em
condições vantajosas na transação (compra e transporte). despesa de capital, provocando a desincorporação de dívidas (pas-
sivo), por meio da despesa de amortização da dívida ou o incremen-
Sistema de Estocagem para um Fim Específico - Apresenta duas to de outro ativo, com a realização de despesas de investimento, de
subdivisões: forma a manter preservado o valor do patrimônio público.
a) Estocagem para atender a um programa de produção pré-
-determinado: TOMBAMENTO DE BENS
É utilizada nas indústrias de tipo contínuo ou semicontínuo que
O tombamento dos bens públicos inicia-se com recebimento
estabelece, com antecedência de vários meses, os níveis de produ-
dos bens móveis pelos órgãos, como visto anteriormente, pela con-
ção. A programação (para vários períodos, semanas e meses) elabo-
ferência física dos bens pelo Almoxarifado. Após registro de entrada
rada pelo P.C.P. deverá ser coerente para todos os segmentos, des-
do bem no sistema de gerenciamento de material no estoque, o
de o recebimento do material até o embarque do produto acabado.
responsável por este encaminhará uma comunicação ao Setor de
Vantagens: Patrimônio (com cópia da nota de empenho, documentos fiscais e
* Estoques menores, sem riscos de se esgotarem, objetivamen- outros que se fizerem necessários), informando o destino (centros
te controlados por se conhecer a demanda futura. de responsabilidades) dos bens. Se eles permanecerem em esto-

89
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
que, o Setor de Patrimônio deverá aguardar comunicação de saí- h) quadros e obras de arte: a colocação da plaqueta, neste
da deste, através de uma Guia de Baixa de Materiais emitida pelo caso, deve ser feita de tal forma que não lhes tire a estética, nem
Almoxarifado. Caso o bem seja entregue diretamente ao destino diminua seu valor comercial;
final, o Almoxarifado encaminhará a Guia de Saída ao Patrimônio, i) esculturas: nas esculturas a plaqueta deve ser fixada na base.
juntamente com os demais documentos do processo de empenho. Nos quadros ela deve ser colocada na parte de trás, na lateral di-
reita;
O tombamento consiste na formalização da inclusão física de j) quadros magnéticos: nos quadros magnéticos a plaqueta
um bem patrimonial no acervo do órgão, com a atribuição de um deverá ser colocada na parte frontal inferior direita, caso não seja
único número por registro patrimonial, ou agrupando-se uma sequ- possível a colagem neste local, colar nesta mesma posição na parte
ência de registros patrimoniais quando for por lote, que é denomi- posterior do quadro; e
nado “número de tombamento”. Pelo tombamento aplica-se uma k) fixação de plaquetas em outros bens: entende-se como ou-
conta patrimonial do Plano de Contas do órgão a cada material, de tros bens aqueles materiais que não podem ser classificados cla-
acordo com a finalidade para a qual foi adquirido. O valor do bem ramente como aparelhos, máquinas, motores, etc. Em tais bens, a
a ser registrado é o valor constante do respectivo documento de plaqueta deve ser fixada na base, na parte onde são manuseados.
incorporação (valor de aquisição).
A marcação física caracteriza-se pela aplicação, no bem, de pla- A seguir são elencados, como sugestões, dados necessários
queta de identificação, por colagem ou rebitamento, a qual conterá ao registro dos bens no sistema de patrimônio: número do tomba-
o número de registro patrimonial. mento; data do tombo; descrição padronizada do bem (descrição
Na colocação da plaqueta deverão ser observados os seguintes básica pré-definida em um sistema de patrimônio); marca/modelo/
aspectos: local de fácil visualização para efeito de identificação por série (também pré-definidos em um sistema de patrimônio); carac-
meio de leitor óptico, preferencialmente na parte frontal do bem; terísticas (descrição detalhada); valor unitário de aquisição (valor
evitar áreas que possam curvar ou dobrar a plaqueta ou que pos- histórico); agregação (acessório ou componente); forma de ingres-
sam acarretar sua deterioração; evitar fixar a plaqueta em partes so (compra, fabricação própria, doação, permuta, cessão, outras);
que não ofereçam boa aderência, por apenas uma das extremida- classificação contábil/patrimonial; número do empenho e data
des ou sobre alguma indicação importante do bem. de emissão; fonte de recurso; número do processo de aquisição e
Os bens patrimoniais recebidos sofrerão marcação física antes ano; tipo/número do documento de aquisição (nota fiscal/fatura,
de serem distribuídos aos diversos centros de responsabilidade do comercial invoice, Guia de Produção Interna, Termo de Doação, Ter-
órgão. Os bens patrimoniais cujas características físicas ou a sua mo de Cessão, Termo de Cessão em Comodato, outros); nome do
própria natureza impossibilitem a aplicação de plaqueta também fornecedor (código); garantia (data limite da garantia e empresa de
terão número de tombamento, mas serão marcados e controlados manutenção); localização (identificação do centro de responsabili-
em separado. Caso o local padrão para a colagem da plaqueta seja dade); situação do bem (registrado, alocado, cedido em comodato,
de difícil acesso, como, por exemplo, nos arquivos ou estantes en- em manutenção, em depósito para manutenção, em depósito para
costadas na parede, que não possam ser movimentados devido ao triagem, em depósito para redistribuição, em depósito para aliena-
peso excessivo, a plaqueta deverá ser colada no lugar mais próximo ção, em sindicância, desaparecido, baixado, outros); estado de con-
ao local padrão. Em caso de perda, descolagem ou deterioração da servação (bom, regular, precário, inservível, recuperável); histórico
plaqueta, o responsável pelo setor onde o bem está localizado de- do bem vinculado a um sistema de manutenção, quando existir. Tal
verá comunicar, impreterivelmente, o fato ao Setor de Patrimônio. informação permitirá o acompanhamento da manutenção dos bens
A seguir, são apresentadas algumas sugestões para fixação de e identificação de todos os problemas ocorridos nestes números
plaquetas (ou adesivos): do Termo de Responsabilidade; e plaquetável ou não plaquetável.
a) estantes, armários, arquivos e bens semelhantes: a plaqueta O registro dos bens imóveis no órgão inicia-se com o recebimen-
deve ser fixada na parte frontal superior direita, no caso de arqui- to da documentação hábil, pelo Setor de Patrimônio, que procederá
vos de aço, e na parte lateral superior direita, no caso de armários, ao tombamento e cadastramento em sistema específico, utilizando
estantes e bens semelhantes, sempre com relação a quem olha o diversos dados, tais como: número do registro; tipo de imóvel; de-
móvel; nominação do imóvel; características (descrição detalhada do bem);
b) mesas e bens semelhantes: a plaqueta deve ser fixada na valor de aquisição (valor histórico); forma de ingresso (compra, do-
parte frontal central, contrária à posição de quem usa o bem, com ação, permuta, comodato, construção, usucapião, desapropriação,
exceção das estações de trabalho e/ou àqueles móveis que foram cessão, outras); classificação contábil/patrimonial; número do em-
projetados para ficarem encostados em paredes, nos quais as pla- penho e data de emissão; fonte de recurso; número do processo
quetas serão fixadas em parte de fácil visualização; de aquisição e ano; tipo/número do documento de aquisição (nota
c) motores: a plaqueta deve ser fixada na parte fixa inferior do fiscal/fatura, comercial invoice, Guia de Produção Interna, Termo de
motor; Doação, Termo de Cessão, Termo de Cessão em Comodato, outros);
d) máquinas e bens semelhantes: a plaqueta deve ser fixada no nome do fornecedor (código); localização (identificação do centro
lado externo direito, em relação a quem opera a máquina; de responsabilidade); situação do bem (registrado, alocado, cedido
e) cadeiras, poltronas e bens semelhantes: neste caso a plaque- em comodato, em manutenção, em depósito para manutenção, em
ta nunca deve ser colocada em partes revestidas por courvin, couro depósito para triagem, em depósito para redistribuição, em depó-
ou tecido, pois estes revestimentos não oferecem segurança. A pla- sito para alienação, em sindicância, desaparecido, baixado, outros);
queta deverá ser fixada na base, nos pés ou na parte mais sólida; estado de conservação (bom, regular, precário, inservível); data da
f) aparelhos de ar condicionado e bens semelhantes: em apa- incorporação; unidade da federação; tipo de logradouro; número;
relhos de ar condicionado, o local indicado é sempre na parte mais complemento;bairro/distrito; município; cartório de registro; ma-
fixa e permanente do aparelho, nunca no painel removível ou na trícula; livro; folhas; data do registro; data da reavaliação; moeda
carcaça; da reavaliação; valor do aluguel; valor do arrendamento; valor de
g) automóveis e bens semelhantes: a plaqueta deve ser fixada utilização; valor de atualização; moeda de atualização; data da atu-
na parte lateral direita do painel de direção, em relação ao motoris- alização; reavaliador; e CPF/CNPJ do reavaliador.
ta, na parte mais sólida e nãoremovível, nunca em acessórios;

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CONTROLE DE BENS. cópia da portaria que substitui o servidor responsável; de posse das
Caracteriza-se como movimentação de bens patrimoniais o informações contidas na portaria, o Setor de Patrimônio emite o
conjunto de procedimentos relativos à distribuição, transferência, respectivo Termo de Transferência de Responsabilidade; emitido o
saída provisória, empréstimo e arrendamento a que estão sujeitos Termo, este será encaminhado ao agente patrimonial da unidade,
no período decorrido entre sua incorporação e desincorporação. que providenciará a conferência dos bens e assinatura do Termo;
Compete ao Setor de Patrimônio a primeira distribuição de uma vez assinado o Termo, o agente providenciará para que uma
material permanente recém adquirido, de acordo com a destinação das vias seja arquivada no setor onde os bens se encontram e outra
dada no processo administrativo de aquisição correspondente. encaminhada ao Setor de Patrimônio.
A movimentação de qualquer bem móvel será feita mediante o Saída provisória: A saída provisória caracteriza-se pela movi-
preenchimento do Termo de Responsabilidade, que deverá conter mentação de bens patrimoniais para fora da instalação ou depen-
no mínimo, as seguintes informações: número do Termo de Res- dência onde estão localizados, em decorrência da necessidade de
ponsabilidade; nome do local de lotação do bem (incluindo tam- conserto, manutenção ou da sua utilização temporária por outro
bém o nome do sublocal de lotação); declaração de responsabilida- centro de responsabilidade ou outro órgão, quando devidamente
de; número do tombamento; descrição; quantidade; indicação se é autorizado. Qualquer que seja o motivo da saída provisória, esta
plaquetável; valor unitário; valor total; total de bens arrolados no deverá ser autorizada pelo dirigente do órgão gestor ou por outro
Termo de Responsabilidade; data do Termo; nome e assinatura do servidor que recebeu delegação para autorizar tal ato. Toda a ma-
responsável patrimonial; e data de assinatura do Termo. nutenção de bem incorporado ao patrimônio de um órgão deverá
A transferência é a operação de movimentação de bens, com a ser solicitada pelos agentes patrimoniais ou responsáveis e resulta-
consequente alteração da carga patrimonial. A autoridade transfe- rá na emissão de uma Ordem de Serviço pelo Setor de Manutenção,
que tomará todas as providências para proceder à assistência de
ridora solicita ao setor competente do órgão a oficialização do ato,
bem em garantia ou utilizando-se de seus recursos próprios.
por meio das providências preliminares. É importante destacar que
Empréstimo: O empréstimo é a operação de remanejamento
a transferência de responsabilidade com movimentação de bens
de bens entre órgãos por um período determinado de tempo, sem
somente será efetivada pelo Setor de Patrimônio mediante solicita-
envolvimento de transação financeira. O empréstimo deve ser evi-
ção do responsável pela carga cedente com anuência do recebedor. tado. Porém, se não houver alternativa, os órgãos envolvidos devem
A devolução ao Setor de Patrimônio de bens avariados, obsoletos manter um rigoroso controle, de modo a assegurar a devolução do
ou sem utilização também se caracteriza como transferência. Neste bem na mesma condição em que estava na ocasião do empréstimo.
caso, a autoridade da unidade onde o bem está localizado devolve- Já o empréstimo a terceiros de bens pertencentes ao poder público
-o com a observância das normas regulamentares, a fim de que a o é vedado, salvo exceções previstas em leis.
Setor Patrimonial possa manter rigoroso controle sobre a situação Arrendamento a terceiros: O arrendamento a terceiros tam-
do bem. Os bens que foram restituídos ao Setor de Patrimônio do bém deve ser evitado, por não encontrar, a princípio, nenhum res-
órgão também ficam sob a guarda dos servidores deste setor (fiéis paldo legal.
depositários), e serão objetos de análise para a determinação da
baixa ou transferência a outros setores. É importante colocar que INVENTÁRIO
uma cópia do Termo de Responsabilidade de cada setor deverá ser O Inventário determina a contagem física dos itens de estoque
fixada em local visível a todos, dentro de seu recinto de trabalho, e em processos, para comparar a quantidade física com os dados
visando facilitar o controle dos bens (sugestão: atrás da porta de contabilizados em seus registros, a fim de eliminar as discrepâncias
acesso ao setor). Para que ocorra a transferência de responsabili- que possam existir entre os valores contábeis, dos livros, e o que
dade entre dois setores pertencentes a um mesmo órgão, deverão realmente existe em estoque.
ser observados os seguintes parâmetros:solicitação, por escrito, do O inventário pode ser geral ou rotativo: O inventário geral é
interessado em receber o bem, dirigida ao possível cedente; “de elaborado no fim de cada exercício fiscal de cada empresa, com a
acordo” do setor cedente com a autorização de transferência ; soli- contagem física de todos os itens de uma só vez. O inventário ro-
citação do agente patrimonial ao Setor de Patrimônio para emissão tativo é feito no decorrer do ano fiscal da empresa, sem qualquer
do Termo de Responsabilidade; após a emissão do Termo de Res- tipo de parada no processo operacional, concentrando-se em cada
ponsabilidade, o Setor de Patrimônio remeterá o mesmo ao agente grupo de itens em determinados períodos.
patrimonial, para que este colha assinaturas do cedente e do rece- Inventário na administração pública: Inventário são a discrimi-
bedor. nação organizada e analítica de todos os bens (permanentes ou de
Para que ocorra a transferência de responsabilidade entre dois consumo) e valores de um patrimônio, num determinado momen-
to, visando atender uma finalidade específica. É um instrumento
setores pertencentes órgãos diferentes, deverão ser observados
de controle para verificação dos saldos de estoques nos almoxari-
os seguintes parâmetros: solicitação, por escrito, do interessado
fados e depósitos, e da existência física dos bens em uso no órgão
em receber o bem, dirigida ao possível cedente; “de acordo” do
ou entidade, informando seu estado de conservação, e mantendo
setor cedente com a autorização de transferência e anuência das
atualizados e conciliados os registros do sistema de administração
unidades de controle do patrimônio e do titular do órgão; solici- patrimonial e os contábeis, constantes do sistema financeiro. Além
tação do agente patrimonial ao Setor de Patrimônio para emissão disso, o inventário também pode ser utilizado para subsidiar as to-
do Termo de Transferência de Responsabilidade; após a emissão do madas de contas indicando saldos existentes, detectar irregularida-
Termo de Responsabilidade, o Setor de Patrimônio o remeterá ao des e providenciar as medidas cabíveis.
agente patrimonial, para que este colha assinaturas do cedente e Através do inventário pode-se confirmar a localização e atribui-
do recebedor. Quando a transferência de responsabilidade do bem ção da carga de cada material permanente, permitindo a atualiza-
ocorrer sem a movimentação deste, isto é, quando ocorrer a mu- ção dos registros dos bens permanentes bem como o levantamento
dança da responsabilidade patrimonial de um servidor para outro, da situação dos equipamentos e materiais em uso, apurando a ocor-
desde que não pressuponha mudança de local do bem, deverão ser rência de dano, extravio ou qualquer outra irregularidade. Podem-
observados os seguintes procedimentos: o Setor de Recursos Hu- -se verificar também no inventário as necessidades de manutenção
manos (ou equivalente) deverá encaminhar ao Setor de Patrimônio e reparo e constatação de possíveis ociosidades de bens móveis,

91
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
possibilitando maior racionalização e minimização de custos, bem devem ter sempre por base o custo. A atribuição do valor aos com-
como a correta fixação da plaqueta de identificação. Na Adminis- ponentes patrimoniais obedece a critérios que se ajustam a sua na-
tração Pública, o inventário é entendido como o arrolamento dos tureza, função na massa patrimonial e a sua finalidade.
direitos e comprometimentos da Fazenda Pública, feito periodica-
mente, com o objetivo de se conhecer a exatidão dos valores que ALIENAÇÃO DE BENS
são registrados na contabilidade e que formam o Ativo e o Passivo De acordo com o direito administrativo brasileiro, entende-se
ou, ainda, com o objetivo de apurar a responsabilidade dos agen- como alienação a transferência de propriedade, remunerada ou
tes sob cuja guarda se encontram determinados bens. Os diversos gratuita, sob a forma de venda, permuta, doação, dação em paga-
tipos de inventários são realizados por determinação de autorida- mento, investidura, legitimação de posse ou concessão de domínio.
de competente, por iniciativa própria do Setor de Patrimônio e das
unidades de controle patrimonial ou de qualquer detentor de car- Qualquer dessas formas de alienação pode ser usada pela
ga dos diversos centros de responsabilidade, periodicamente ou a Administração, desde que satisfaça as exigências administrativas.
qualquer tempo. Os inventários na Administração Pública devem Muito embora as Constituições Estaduais possam determinar que
ser levantados não apenas por uma questão de rotina ou de dispo- a autorização de doação de bens móveis seja submetida à Assem-
sição legal, mas também como medida de controle, tendo em vis- bleia Legislativa, a Lei Federal n° 8.666, de 21 de junho de 1993, que
ta que os bens nele arrolados não pertencem a uma pessoa física, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública
mas ao Estado, e precisam estar resguardados quanto a quaisquer 37 e dá outras providências, faculta a obrigação de licitação especí-
danos. Na Administração Pública o inventário é obrigatório, pois a fica para doação de bens para fins sociais e dispõe sobre a alienação
legislação estabelece que o levantamento geral de bens móveis e por leilão.
imóveis terá por base o inventário analítico de cada unidade gestora Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subor-
e os elementos da escrituração sintética da contabilidade (art. 96 da dinada à existência de interesse público devidamente justificado.
Lei Federal n° 4.320, de 17 de março de 1964). A alienação de bens está sujeita à existência de interesse públi-
A fim de manter atualizados os registros dos bens patrimoniais, co e à autorização da Assembleia Legislativa (para os casos previs-
bem como a responsabilidade dos setores onde se localizam tais tos em lei), e dependerá de avaliação prévia, que será efetuada por
bens, a Administração Pública deve proceder ao inventário median- comissão de licitação de leilão ou outra modalidade prevista para a
te verificações físicas pelo menos uma vez por ano. Para fins de atu- Administração Pública.
alização física e monetária e de controle, a época da inventariação A seguir, são sugeridos alguns procedimentos voltados à alie-
será: anual para todos os bens móveis e imóveis sob-responsabi- nação dos bens: o requerimento de baixa deverá ser remetido ao
lidade da unidade gestora em 31 de dezembro (confirmação dos Setor de Patrimônio, o qual instaurará o procedimento respectivo;
dados apresentados no Balanço Geral); e no início e término da ges- sempre que possível, os bens serão agrupados em lotes para que
tão, isto é, na substituição dos respectivos responsáveis, no caso de seja procedida a sua baixa; os bens objeto de baixa serão vistoria-
bens móveis. dos in loco por uma Comissão Interna de Avaliação de Bens, no pró-
Os bens serão inventariados pelos respectivos valores históri- prio órgão, os quais, observando o estado de conservação, a vida
cos ou de aquisição, quando conhecidos, ou pelos valores constan- útil, o valor de mercado e o valor contábil, formalizando laudo de
tes de inventários já existentes, com indicação da data de aquisição. avaliação dos bens, classificando-os em:
Durante a realização de qualquer tipo de inventário, fica ve- a) bens móveis permanentes inservíveis: quando for consta-
tado serem os bens danificados, obsoletos, fora do padrão ou em
dada toda e qualquer movimentação física de bens localizados nos
desuso devido ao seu estado precário de conservação; e
endereços individuais abrangidos pelos trabalhos, exceto mediante
b) bens móveis permanentes excedentes ou ociosos: quando
autorização específica das unidades de controle patrimonial, ou do
for constatado estarem os bens em perfeitas condições de uso e
dirigente do órgão, com subsequente comunicação formal a Comis-
operação, porém sem utilização.
são de Inventário de Bens.
Nas fases do inventário dois pontos devem ser destacados
Os bens móveis permanentes considerados excedentes ou
sobre as fases do inventário: o levantamento pode ser físico e/ou
ociosos serão recolhidos para o Almoxarifado Central, ficando proi-
contábil: Levantamento físico, material ou de fato é o levantamento
bida a retirada de peças e dos periféricos a ele relacionados, exceto
efetuado diretamente pela identificação e contagem ou medida dos
nos casos autorizados pelo chefe da unidade gestora.
componentes patrimoniais.
Levantamento contábil é o levantamento pelo apanhado de ALTERAÇÕES E BAIXA DE BENS
elementos registrados nos livros e fichas de escrituração. O simples O desfazimento é a operação de baixa de um bem pertencente
arrolamento não interessa para a contabilidade se não for comple- ao acervo patrimonial do órgão e consequente retirada do seu valor
tado pela avaliação. Sem a expressão econômica, o arrolamento do ativo imobilizado. Considera-se baixa patrimonial, a retirada de
serve apenas para controle da existência dos componentes patri- bem da carga patrimonial do órgão, mediante registro da transfe-
moniais. rência deste para o controle de bens baixados, feita exclusivamente
O inventário é dividido em três fases: Levantamento: compre- pelo Setor de Patrimônio, devidamente autorizado pelo gestor. O
ende a coleta de dados sobre todos os elementos ativos e passivos número de patrimônio de um bem baixado não deverá ser utilizado
do patrimônio e é subdividido nas seguintes partes: identificação, em outro bem.
agrupamento e mensuração. Arrolamento: é o registro das carac- A baixa patrimonial pode ocorrer por quaisquer das formas a
terísticas e quantidades obtidas no levantamento. O arrolamento seguir: alienação; permuta; perda total; extravio; destruição; como-
pode apresentar os componentes patrimoniais deforma resumida dato; transferência; sinistro; e exclusão de bens no cadastro. Em
e recebe a denominação “sintética”. Quando tais componentes são qualquer uma das situações expostas, deve-se proceder à baixa
relacionados individualmente, o arrolamento é analítico; Avaliação: definitiva dos bens considerados inservíveis por obsoletismo, por
é nesta fase que é atribuída uma unidade de valor ao elemento pa- seu estado irrecuperável e inaproveitável em instituições do serviço
trimonial. Os critérios de avaliação dos componentes patrimoniais público.

92
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As orientações administrativas devem ser obedecidas, em cada
caso, para não ocorrer prejuízo à harmonia do sistema de gestão FERRAMENTAS DA QUALIDADE
patrimonial, que, além da Contabilidade, é parte interessada. Sen-
do o bem considerado obsoleto ou não havendo interesse em utili- Gestão da qualidade
zá-lo no órgão onde se encontra, mas estando em condições de uso A gestão da qualidade nas organizações como um processo
(em estado regular de conservação), o dirigente do órgão deverá, participativo entre dirigentes das organizações e trabalhadores
primeiramente, colocá-lo em disponibilidade. Para tanto, o deten- tem relação com alguns acontecimentos posteriores à 2a Guerra,
tor da carga deverá preencher formulário próprio criado pelo órgão no Japão. A reconstrução do Japão pelos aliados pavimentou as
normatizador e encaminhar ao órgão competente que poderá ve- condições para o desenvolvimento de uma nova atitude adminis-
rificar, antecipadamente, junto às entidades filantrópicas reconhe- trativa flexível à maior participação dos indivíduos que trabalham
cidas como de interesse público, delegacias, escolas ou bibliotecas nas organizações.
municipais e estaduais, no âmbito de sua jurisdição, se existe inte- Tornava-se necessário um novo projeto que assegurasse a re-
resse pelos bens. construção do país. A reorganização social do mundo do trabalho
Se houver interesse, a autoridade competente deverá efetuar foi o caminho escolhido para atender às exigências da sociedade
o Termo de Doação. Enquanto isso, o bem a ser baixado permane- japonesa. Os grandes especialistas americanos de qualidade contri-
cerá guardado em local apropriado, sob a responsabilidade de um buíram como consultores para o aperfeiçoamento da qualidade na
servidor público, até a aprovação de baixa, ficando expressamente produção industrial japonesa. A partir de William Edwards Deming,
proibido o uso do bem desde o início da tramitação do processo de a qualidade se alastra no mundo, abrindo espaço para abordagens
baixa até sua destinação final. de planejamento, da produção com erro-zero e do controle da qua-
lidade. Taichiro Ohno, engenheiro-chefe da Toyota, empreendeu
O registro no sistema patrimonial será efetivado com base no
esse novo modo de produção aproveitando o máximo da capaci-
Termo de Baixa de Bens, onde deverão constar os seguintes dados:
dade produtiva do indivíduo e introduzindo outras formas de apro-
número do tombamento; descrição; quantidade baixada (quando
priação do indivíduo pela produção capitalista. Surge o toyotismo:
se tratar de lote de bens não plaquetados); forma de baixa; motivo
[…] Seu primeiro passo foi agrupar os trabalhadores em equi-
de baixa; data de baixa; número da Portaria ou Termo de Baixa. Vi-
sando o correto processo de baixa de bens do sistema patrimonial, pes, com um líder de equipe no lugar do supervisor. Cada equipe
faz-se necessário a adoção dos procedimentos a seguir: o Setor de era responsável por um conjunto de etapas de montagem e uma
Patrimônio, ao receber o processo que autoriza a baixa, emitirá por parte da linha, e se pedia que trabalhassem em grupo, executando
processamento o Termo de Baixa dos Bens; o Setor de Patrimônio o melhor possível as operações necessárias. O líder da equipe, além
verificará junto ao Setor Financeiro quanto à existência do compro- de coordená-la, realizava tarefas de montagem; particularmente,
vante de pagamento, em caso de licitação e, em seguida, procede- substituía trabalhadores eventualmente faltantes – conceitos esses
rá à entrega do mesmo mediante recibo próprio; emitido o Termo, inéditos nas fábricas de produção em massa. (WOMACK, 1992, p.
o Setor de Patrimônio providenciará o documento de quitação de 47).
responsabilidade patrimonial e entregará uma via a quem detinha a A atitude administrativa de maior utilização possível das ap-
responsabilidade do bem. tidões de todos os empregados fez Ohno atribuir aos indivíduos
Compete às unidades de controle dos bens patrimoniais e ao novas funções relacionadas com o controle de qualidade. Era reser-
dirigente do órgão, periodicamente, provocar expedientes para que vado um horário em que, regularmente, a equipe sugeria aos admi-
seja efetuado levantamento de bens suscetíveis de alienação ou nistradores um conjunto de medidas para melhorar os processos
desfazimento.24 de trabalho, surgindo, assim, o Círculo de Controle da Qualidade
(CCQ).
“Devemos sempre ter o produto de que você necessita, mas O estabelecimento desse círculo envolvia estudos e aprimo-
nunca podemos ser pego com algum estoque”. É uma frase que ramento do conhecimento dos trabalhadores na solução de pro-
descreve bem o dilema da descrição de estoques. O controle de blemas a serem enfrentados nos processos de trabalho e também
estoques é parte vital do composto logístico, pois estes podem ab- os problemas enfrentados pela própria empresa, inflacionando o
sorver de 25 a 40% dos custos totais, representando uma porção acúmulo de responsabilidades do trabalhador e criando uma via
substancial do capital da empresa. Portanto, é importante a correta de apropriação de aptidões e capacidades antes não exploradas
compreensão do seu papel na logística e de como devem ser ge- pela empresa. A participação nesses círculos servia como critério
renciados”. de promoção e seleção dos trabalhadores para possíveis cargos na
gerência. A adesão não era voluntária pelos indivíduos no CCQ e,
PLANEJAMENTO E GESTÃO ESTRATÉGICA também, não era voluntária a decisão pelas equipes de utilizar essa
técnica gerencial no enfrentamento dos problemas.
Aquela ideia de uma carga de subjetividade que toca no reco-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
tópicos anteriores. nhecimento, valorização e integração do indivíduo pela organiza-
ção, sendo ela a responsável e detentora das condições de modifi-
car, influenciar e aprimorar as coisas, as relações e os processos de
trabalho permite uma abordagem epistemológica desse modelo de
gestão da qualidade considerando suas relações com o indivíduo
que participa, fazendo uma reflexão dos pensamentos de Drucker
(da escola neoclássica da administração) e de Edgar Schein (da psi-
24Fonte: BRASIL Revista TECHOJE/Ttransportes, administração de materiais e cologia organizacional).
distribuição física. Trad. Hugo T. Y. Yoshizaki/ FOINA, Paulo Rogério. Tecnologia
de informação: planejamento e gestão/www.administradores.com.br /www.
itsmnapratica.com.br/www.purainfo.com.br – por DiegoDuarte/ por Rogerio
Araujo)

93
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As organizações e o indivíduo participante sempre, o adaptar-se sempre, a necessidade de um desafio como
Se as organizações aplicam mudanças nos tipos de gestão, na estímulo e motivo sempre, a constância de propósitos, a internali-
atitude administrativa e na compreensão de um novo perfil de indi- zação da cultura organizacional são valores do modelo de gestão
víduo trabalhador amplamente manifestadas pelo neoclassicismo da qualidade total que estabelecem um controle social, um insti-
da escola científica da administração é porque o indivíduo continua tuto que assegura a harmonia entre as expectativas do indivíduo e
sendo uma base fundamental para o desenvolvimento das organi- aquelas da organização.
zações. O indivíduo participante digere esses ideais, ajusta-se a essa
Para Peter Drucker a história do êxito das organizações é a his- lógica, sujeita-se a padrões de comportamento que o levam a re-
tória do êxito da gerência. Os novos pressupostos gerenciais esta- nunciar sua autonomia. É a desconstrução de sua individualidade.
belecem: um novo perfil de trabalhador nas organizações, colocan-
do em aplicação o que aprende durante uma educação sistemática Gestão da qualidade nas organizações e a desconstrução da
e não apenas a sua habilidade manual ou seus músculos; um admi- individualidade
nistrador com a função de tornar produtivos os recursos humanos, Os modos de gestão das organizações capitalistas têm como
fazendo com que as pessoas trabalhem em conjunto, unindo as ha- característica e fundamento uma abordagem funcionalista. Os mo-
bilidades e conhecimentos de cada indivíduo para um fim comum; delos de Taylor, Ford, Fayol, Deming, Ohno sempre primaram pelas
uma atitude administrativa constante e crescente de utilização das operações – a tarefa é o movimento do indivíduo e nela se concen-
aptidões de todos os empregados (DRUCKER, 1971, 1970, 1964). tra seu comportamento.
A junção desse novo perfil de trabalhador, de administrador e A história das organizações tem ideais de um novo indivíduo,
dessa atitude administrativa vai estabelecendo uma nova relação de um administrador com a função de unir, dispor, estimular, indu-
do indivíduo com a organização que trabalha. A organização espera zir, propor, maximizar as capacidades humanas e de uma atitude
mais do trabalhador: suas aptidões, habilidades e sua subjetividade administrativa de uso dessas capacidades para os interesses da or-
– a realização de suas aspirações e reconhecimento pelo trabalho. ganização. Serão abordados três aspectos da gestão da qualidade
A oportunidade de participar mais, de trazer com isso uma como afirmação de um contrato psicológico com o indivíduo-tra-
mudança positiva para a organização, de obter reconhecimento e balhador que subvertem sua individualidade com aquela ideia de
realização é de alguém que deseja e necessita pertencer e estar harmonia ou de igualdades de expectativas entre organização/indi-
integrado, que sente a possibilidade de realizar-se e de sentir-se víduo: a cultura da qualidade e os vínculos que se estabelecem en-
valorizado e amado: um indivíduo. Todavia, é preciso compreender tre indivíduo e organização; o discurso da qualidade como prática
que esse desejo de participar, essa necessidade de pertencer apon- organizacional; autorrealização do indivíduo, trabalho e o modelo
ta para uma individualidade que não é parte da organização, não da qualidade.
pertence a ela. Há um universo de compreensões, sentimentos e
expectativas do indivíduo distintos dos da organização. A CULTURA DA QUALIDADE E OS VÍNCULOS QUE SE ESTABE-
É um movimento de necessidades e desejos do indivíduo e as LECEM ENTRE INDIVÍDUO E ORGANIZAÇÃO
necessidades e desejos da organização. A perspectiva da organiza- Uma leitura da psicologia das organizações acerca da cultura
ção e de seus dirigentes e a dos indivíduos que nela trabalham. da qualidade aponta para uma crítica à institucionalização da ação
O conceito de contrato psicológico apresentado por Edgar do indivíduo, visando garantir aquela harmonia organização/indi-
Shein (1982, p. 18) estabelece quais as relações que permeiam esse víduo. A socialização é vista como uma aprendizagem de papéis a
movimento: “A idéia de um contrato psicológico denota que há um serem desempenhados no sistema em vigor.
conjunto não explícito de expectativas atuando em todos os mo- Deming (1990, p. 263) destaca que o desenvolvimento das pes-
mentos entre todos os membros de uma organização e os diversos soas numa cultura de qualidade é responsabilidade privativa da or-
dirigentes e outras pessoas dessa organização.” A organização e ganização : “[…] o recrutamento, o treinamento, a chefia e o apoio
seus dirigentes cuidam dos interesses institucionais, estabelecendo aos operários da produção do sistema de produção. Quem poderia
objetivos, diretrizes e tomando decisões que afetam os indivíduos ser responsável por essas atividades se não a administração de pro-
que ali trabalham. As expectativas do indivíduo têm relação com as- dução?” Cada indivíduo deve saber o que se espera dele no desem-
pectos objetivos, como salários ou vencimentos, horas de trabalho, penho de um papel e também o que ele pode e deve esperar dos
benefícios, etc. e aspectos subjetivos, ligados ao íntimo do indiví- outros indivíduos. Quanto mais o indivíduo se adapta ao sistema
duo que envolvem o senso de dignidade e valor da pessoa. tanto mais melhora seu desempenho, adquirindo, assim, uma iden-
Nas expectativas da organização o comprometimento do indi- tidade nessa organização.
víduo deve ser primeiramente com a organização em detrimento É um projeto de controle e previsão do comportamento huma-
de sua individualidade. no com propósitos de adaptá-lo ao meio, àquilo que está fora dele,
A organização também tem certas expectativas implícitas mais além dele (FIGUEIREDO, 1989, p. 100-103). Fora dele e além dele é
sutis, por exemplo, de que o empregado melhorará a imagem da a organização. Faria e Oliveira (2007, p. 199) destacam que “[...] as
organização, será leal, manterá os segredos da organização e tudo novas tecnologias industriais revelaram-se ambiciosas estratégias
fará em prol dela [isto é, sempre terá elevado nível de motivação e de dominação da alma humana e a organização foi reduzida a um
disposição de se sacrificar pela organização]. (SCHEIN, 1982, p. 19). sistema politico-econômico, sociocultural e simbólico-imaginário
Na disposição do indivíduo participante, o modelo de gestão da destinado a institucionalizar a relação de submissão.” A organiza-
qualidade elogia essa atitude que interessa à produtividade e lucro ção ganha uma identidade e proclama aos indivíduos, por intermé-
das organizações capitalistas e subverte as diferentes expectativas dio da gestão da qualidade, um autoconceito de missão (razão de
do contrato psicológico, apresentando as expectativas do indivíduo sua existência, o seu fim último, o seu papel na sociedade – quem
como sendo as suas expectativas em relação ao indivíduo. Entre- é a organização), visão de futuro (o que a organização quer ser
tanto, os conceitos amplamente estimulados e valorizados da exce- quando crescer – quem será a organização) e valores (os princípios
lência, do “fazer certo o que é certo desde a primeira vez”, o “erro e normas da organização). Não significam apenas conceitos sobre
zero” ou “zero-defeito”, a obrigação de ser forte, a certeza do êxito a organização, mas um autoconceito da organização pela organi-

94
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
zação. A gestão da qualidade declara o alinhamento da missão de tivesse sido uma grande alucinação. Esse discurso é uma prática
vida do indivíduo com a missão da organização, um sobrepor da vi- que transforma o autoconceito. Uma realidade ideal conquistada
são individual de tempo e futuro com a visão de tempo e futuro da coletivamente e importante para todos é uma versão negociada e
organização e a aceitação dos valores da organização como sendo construída da organização e tem efeitos no indivíduo.
seus valores individuais.
A discordância do indivíduo nesse processo é estranhada pela Se a questão da prática discursiva da gestão da qualidade não
organização; compreende uma atitude inadequada que poderá revela “a sua outra face”, há no discurso outra intenção. Há um
desfigurar a imagem que a organização tem do indivíduo, porque jogo em curso. Foucault (2007, p. 20) analisa assim a situação: “[…]
este “eu” tem uma identidade própria estranha a uma cultura onde se o discurso verdadeiro não é mais, com efeito, desde os gregos,
os papéis estão definidos. Não há espaço para o “eu próprio”, mas aquele que responde ao desejo ou aquele que exerce o poder, na
apenas para o “eu adaptável” à organização. Para evitar conflitos, vontade de verdade, na vontade de dizer esse discurso verdadeiro,
o indivíduo submete-se a compreensões “prontas” da realidade e o que está em jogo, senão o desejo e o poder?” A prática discursiva
passa a estabelecer padrões de conduta que aliviem as tensões de da gestão da qualidade serve aos interesses de um poder consti-
uma contradição entre o “eu próprio” e o “autoconceito” da orga- tuído, de um que domina sobre os demais na organização e que
nização. tem o desejo de que os indivíduos apoiem seus objetivos na e pela
organização. O discurso da qualidade reúne alguns instrumentos
O discurso da qualidade como prática organizacional de controle da organização sobre o indivíduo, desconstruindo sua
No decorrer do século XX, a progressiva atenção dedicada à individualidade.
linguagem nas ciências humanas e sociais favoreceu uma nova con-
cepção de realidade, da natureza do conhecimento e da concepção Autorrealização do indivíduo, trabalho e o modelo da quali-
de linguagem. A linguagem passa a ser instrumento para criar acon- dade
tecimentos. É centrada nas relações do cotidiano. É uma forma de A teoria liberal destaca uma sociedade com oportunidades
ação no mundo. É uma prática discursiva. iguais de ascensão, felicidade e prosperidade parecendo estar pre-
A linguagem é possibilidade de configurar a realidade na me- sente uma autonomia do indivíduo como construtor de seu futuro.
dida em que é uma prática que provoca efeitos. Tem como função Essa conduta liberal da sociedade capitalista lançou a base para
empreender e executar ações e não somente descrever o mun- uma autorrealização do indivíduo. O interesse individual é apre-
do. Assim, a linguagem é compreendida como ação (MELLO et al., sentado como a mola propulsora dos sistemas baseados na livre
2007, p. 26-32). iniciativa. Defende que os indivíduos, por procurarem seus próprios
A gestão da qualidade utiliza o discurso nas organizações como interesses, agem por fim em benefício da própria sociedade. Assim,
prática de construção do novo. Esse discurso é encontrado na for- as condições políticas de legitimação da acumulação pela via do in-
ma escrita (manuais da qualidade, a difusão da missão, visão e valo- dividualismo e da livre iniciativa são consumadas. A individualidade
res da organização em documentos oficiais, expositores e locais de foi reduzida a um mero instrumento produtivo.
convivência), falada (oficinas, encontros, seminários e reuniões) e Se os vínculos que se estabelecem entre indivíduo e a organi-
nas imagens veiculadas internamente na organização (símbolos da zação na cultura da qualidade e suas práticas discursivas subvertem
qualidade, fotos de personalidades ilustres apresentadas na orga- a individualidade, uma posição passiva do indivíduo diante das for-
nização como apoiadores da qualidade, etc.). mas de dominação sociais pode indicar o triunfo de uma revolução
É um discurso que flui como convocação ao indivíduo, sendo a contra si mesmo. Essa subversão apresenta-se de forma sutil, mas
gestão da qualidade o meio de produção e reprodução da prática sempre de forma intencional pela organização e, geralmente, não
discursiva. É, portanto, um discurso ideológico da organização que percebida pelo indivíduo.
conclama os indivíduos a construírem uma realidade essencializan- O mais importante é a atitude do indivíduo consigo. O redu-
te do perfeito, da qualidade total, da única e verdadeira gestão. cionismo de que todas as necessidades pessoais serão satisfeitas a
Contudo, o discurso da qualidade total esconde sua forma de um partir e somente pelo trabalho podem abrir um caminho de aceita-
sistema de produção que se apropria do indivíduo com a roupagem ção de modelos de gestão das organizações sem a necessária crítica
de participativo e descentralizado. e autonomia frente a eles.
O oxigênio que se respira no discurso da qualidade é o da or- As ideias de Maslow sobre as necessidades humanas (fisiológi-
ganização perfeita a priori. Os objetivos de aplicação do modelo cas, segurança, sociais, de estima e autorrealização) e as de Drucker
(BRASIL, 2008/2009) estão expostos nos seus manuais: avaliar a sobre a organização como viabilizadora das condições ideais para a
qualidade do sistema de gestão da organização e promover o aper- satisfação dessas necessidades pode tornar mais severo o controle
feiçoamento e o aprendizado contínuo a partir das práticas de ges- do comportamento do indivíduo pela organização:
tão. O administrador precisa, de fato, supor com a Teoria Y (Mas-
Esse avaliar é a avaliação da aplicação do método, do modelo. low), que existe no mínimo um número considerável de pessoas na
Mas de forma alguma será a avaliação crítica do método, do mode- força de trabalho que busca realização. [...] O administrador precisa
lo. Os critérios de avaliação estão previamente definidos: liderança; ainda aceitar como sua tarefa tornar o trabalhador e suas ativida-
planejamento ou estratégias e planos; foco no cliente ou cidadãos; des plenas de realização. (DRUCKER, 1981, p. 321).
sociedade; informação e conhecimento; pessoas; processos e re- O humanismo na gestão das organizações apontou para várias
sultados institucionais. frentes de mudança nas condições de trabalho. A escola compor-
O Modelo de Gestão da qualidade traz a “explicação ideal” do tamental da administração e a humanista da psicologia receberam
que significa Gestão Excelente. É a construção de uma versão de valiosas contribuições dos estudos de Maslow. Entretanto, as impli-
determinada realidade. A concepção da linguagem como “amo do cações de uma gestão com foco na autorrealização dos indivíduos
sujeito” tem força maior em um projeto assim. As pessoas e seus que trabalham em uma organização têm outras variáveis:
grupos recebem o modelo de gestão como algo universalmente Na teoria da auto-realização, o contrato envolve a troca de
testado e aprovado, como uma realidade ideal que existia em ou- oportunidade de obter recompensas intrínsecas (satisfação pela re-
tro lugar e não se sabia disso, como algo que a partir dali vai ressig- alização e uso das capacidades próprias) pelo desempenho de alta
nificar todas as coisas e como se o passado vivido da organização qualidade e pela criatividade.

95
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Isso, por definição, cria um envolvimento moral, e não um envolvimento calculista, e, dessa maneira, libera um maior potencial de
dedicação aos objetivos da organização e um maior esforço criador desses objetivos [...] de modo dependente e submisso. (SCHEIN,
1982, p. 55, grifo nosso).
A base da gestão pela qualidade é ser uma gestão participativa que convida o indivíduo a usar de suas habilidades, seu pensamento
planejador e de sua subjetividade por outro caminho: o da cooperação “voluntária”. As concepções mais aceitas e investigadas sobre o
comprometimento dos indivíduos na organização tem sido consideradas (afetiva, calculativa e normativa) em outros estudos (GOMIDE
JÚNIOR; SIQUEIRA, 2004). Esse comprometimento reúne atitudes individuais com base afetiva (sentimentos e afetos) e base cognitiva
(crenças sobre o papel social dos envolvidos em uma relação de troca econômica e social). A organização espera que o indivíduo tenha o
desejo de participar e compreenda a importância de sua participação.
Entretanto, as pesquisas sobre comprometimento organizacional descrevem as bases psicológicas que sustentam o comprometi-
mento dos indivíduos relacionando-o com estados psicológicos de desejo, obrigação ou necessidade de permanecer, de participar, de
pertencer à organização, conforme o Quadro 1 (FEITOSA, 2008; DEMO, 2003; REGO, 2003).25

Participa na implementação
Categorias Caracterização Estado psicológico
porque
Grau em que o indivíduo se sente
Afetiva emocionalmente ligado à organização e ... sente que quer participar Desejo
identificado e envolvido com ela.
Grau em que o indivíduo possui um sentido ... sente que tem o dever de
Normativa Obrigação
de obrigação (ou dever moral) de participar. participar
Grau em que o indivíduo participa devido ao
reconhecimento dos custos associados com
... sente que tem necessidade de
Calculativa sua não participação. Esse reconhecimento Necessidade
participar
pode advir do sentimento de perda de
recompensas econômicas ou sociais.

Benefícios da gestão da qualidade às empresas


Gerir a qualidade é administrar os processos organizacionais a partir de padrões pré-estabelecidos, corrigindo e implementando
melhorias continuamente.

A atual conjuntura dos mercados, de distintos segmentos, impõe às empresas um padrão de qualidade e capacidade de prover resul-
tados para se destacar em meio a alta competitividade existente, e ser bem sucedida.
A preocupação com a gestão da qualidade é algo que vem evoluindo junto às histórias das organizações, estando mais direcionada
aos produtos e processos inicialmente, e depois voltando sua atenção também aos desejos dos consumidores e às questões internas da
empresa. Dado os diversos aspectos a serem observados para o controle da gestão, foi criado o conceito de um sistema de gestão da
qualidade, ou SGQ, que abrange todas essas questões, planifica e executa as ações necessárias à consecução dos padrões de qualidade.

Sistema de gestão da qualidade


Este instrumento de gestão visa propiciar à organização o controle de todos os seus processos, de forma que um padrão de exce-
lência seja concebido e que as ações dos colaboradores no desempenho de suas atividades não saiam do pré-estabelecido, evitando a
queda da qualidade dos produtos ou serviços, possibilitando uma melhoria contínua e um subsídio de informações à tomada de decisão.
Uma ótima referência de padrões de excelências de qualidade que as empresas buscam alcançar é a NBR ISO 9001. Tal normativa
orienta as empresas a estabelecer seus processos de forma bem definida, podendo acompanhá-los de perto e aprimorá-los constante-
mente. Através dos indicadores de cada processo, e também dos objetivos, informações preciosas à tomada de decisões são geradas e
vão auxiliar os gestores nas ações corretivas, preventivas e de melhorias.
A definição das responsabilidades nos processos, dos indicadores e sua forma de acompanhamento permite à empresa um salto na
sua produtividade: produtos concebidos com o menor custo e no menor tempo possível, evitando-se o retrabalho e alcançando algo de
qualidade que promova a satisfação do cliente.
O sistema de gestão da qualidade aliado à gestão de pessoas vai garantir que a implementação da norma abranja todos os níveis
hierárquicos da empresa, de forma que todos adiram ao novo padrão de qualidade e se comprometam com a melhoria contínua no de-
sempenho. É essencial, também, que a alta administração e os líderes desempenhem o papel de difundir os valores, estimular a mudança
e assegurar o cumprimento dos novos padrões de forma satisfatória e permanente na empresa.

Benefícios de um sistema de gestão da qualidade às empresas


– Maior rentabilidade;
– Maior satisfação dos clientes;
– Maior competitividade da organização;
– Diminuição do retrabalho – menos custos e mais celeridade;
– Maior auto estima e motivação da equipe.

25Fonte: www.repositorio.ufc.br - Por Gustavo Pucci Schaumann/Antônio Caubi Ribeiro Tupinambá

96
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
– Incrementos no desenvolvimento de competências e com- Dentro das organizações, as pessoas são consideradas recur-
partilhamento de conhecimentos inerentes às atividades da or- sos, isto é, como portadores de habilidades e conhecimentos, que
ganização, visto que são implementadas as melhores práticas de auxiliam no processo produtivo e crescimento empresarial, porém,
gestão.26 é de extrema importância não esquecer de que essas pessoas são
humanas, formadas de personalidade, expectativas, objetivos pes-
Qualidade de vida no trabalho - QVT soais, e possuem necessidades (ANDRADE, 2012).
Quando falamos em organizações, estamos falando em um Para um melhor desenvolvimento das organizações, é preciso
conjunto composto por indivíduos que buscam desempenhar suas que os gestores preocupem-se com as condições de trabalho que
funções e ter em contrapartida, atendidas suas necessidades, ex- oferecem aos seus funcionários, visando proporcionar fatores que
pectativas e desejos. contribuam positivamente nas condições e qualidade de vida dos
Na sociedade atual em que vivemos, uma dessas necessidades trabalhadores (BORTOLOZO e SANTANA, 2011).
mais discutidas no momento é o nível de qualidade de vida no âm- Para garantir a qualidade de vida no trabalho, a organização
bito profissional, ou seja, não é apenas o retorno financeiro que precisa preocupar-se não apenas com o ambiente físico da organi-
busca o profissional atual. Ele busca um ambiente saudável, que zação, mas também com os aspectos psicológicos e físicos de seus
lhe proporcione um bem estar no aspecto físico, intelectual, emo- funcionários.
cional, espiritual e social. Alcançar a qualidade de vida é a verdadeira vontade do ser hu-
Sim, esse contexto todo atendido proporciona uma qualidade mano, que busca tudo que possa proporcionar maior bem estar e o
de vida e saúde aos profissionais que traz retorno não somente equilíbrio físico, psíquico e social, ou uma regra para se obter uma
a eles, mas principalmente às organizações, isso porque, quando vida mais satisfatória (SUMARIVA e OURIQUES, 2010).
esse conceito é levando em consideração, problemas como falta de De acordo com Chiavenato (1999), a qualidade de vida tem se
autoestima, baixa motivação, queda de produtividade, ausências, tornado um fator de grande importância nas organizações e está
alta rotatividade, e tantas outras posturas que geram um quadro diretamente relacionada à maximização do potencial humano, e
de negatividade podem ser melhor administrados gerando retor- isto depende de tão bem as pessoas se sentem trabalhando na or-
nos diretos e indiretos. ganização. Nesse sentido, uma organização que se preocupa e tem
Em razão disso, as organizações estão investindo em práticas ações voltadas à qualidade de vida de seus funcionários passará
de boa conduta, de saúde física, mental e emocional, em preven- confiança aos mesmos, pois são organizações que se preocupam
ção, em campanhas de consciência individual e coletiva, ou seja, com o bem estar, satisfação, segurança, saúde e a motivação de
estimulando hábitos e estilos de vida que proporcionem maior bem seus funcionários (BORTOLOZO e SANTANA, 2011).
estar entre todos, aumentando assim a qualidade e a produtividade Verifica-se também que no atual cenário empresarial e indus-
oferecida pelo profissional, mas também gerando mais satisfação trial, a motivação exerce papel fundamental e primordial para a re-
percebida por esse. alização das atividades laborais dentro das organizações, uma vez
Abaixo relacionamos alguns benefícios percebidos rapidamen- que afeta diretamente a qualidade de vida e o comportamento do
te quando o conceito de qualidade de vida no ambiente profissio- colaborador. Colaborando com essa afirmação, Chiavenato (1999)
nal recebe maior atenção das organizações: afirma que o funcionário, quando motivado, tem maior disposição
- Aumento de produtividade. e capacidade para desempenhar suas atividades laborais. Assim,
- Profissionais mais presentes, atentos e motivados. as organizações, para obterem de seus colaboradores uma melhor
- Melhora nas relações interpessoais produtividade e execução de suas funções, precisam investir em
- Diminuição em ocorrências de enfermidades seus funcionários, proporcionando aos mesmos, maior satisfação
- Baixa na rotatividade de profissionais e motivação para a realização de suas atividades de trabalho (AN-
- Aumento na disposição DRADE, 2012).
- Melhora no clima organizacional Diante do exposto, observa-se que a motivação é fator essen-
- Aumento no nível de satisfação cial para que o colaborador tenha melhor desempenho e compro-
- Diminuição no nível de stress metimento com suas atividades laborais.
- Baixa no nível de acidentes de trabalho Assim, a organização que enfatiza a motivação de seus colabo-
- Melhora na imagem da organização radores apresenta, por conseguinte, maior produtividade e, além
- Aumento na capacidade de desempenho disso, propicia também ambientes de trabalho mais agradáveis e
melhor qualidade de vida para seus funcionários (ANDRADE, 2012).
O aumento da competitividade entre as empresas, ocasionado Pelo que foi mencionado anteriormente, o presente estudo
por inúmeros fatos ocorridos nos últimos anos no cenário mundial, tem por objetivo buscar e identificar na literatura científica, artigos
dentre eles a própria globalização, tem obrigado as empresas a bus- relacionados à qualidade de vida nas organizações e à motivação
car formas para se tornarem mais competitivas. Portanto os inves- dos colaboradores, visando discorrer sobre os fatores que intera-
timentos em tecnologia, marketing e qualificação profissional são gem na motivação dos mesmos e sua associação com a qualidade
cada vez mais importantes, sendo que as máquinas, equipamentos de vida dos funcionários.
e tecnologia têm grande importância no sucesso das empresas. Por
outro lado, as pessoas que trabalham nas organizações são respon- Qualidade de Vida nas Organizações
sáveis por conduzir e produzir estes resultados. Com base nisso, as O principal objetivo da implementação de programas que vi-
empresas começam a perceber as pessoas como seu recurso mais sam oferecer maior qualidade de vida é a reestruturação do setor
valioso, é o que alguns autores denominam de capital humano ou produtivo, que possa estabelecer estratégias a fim de atender as
intelectual (ODEBRECH e PEDROSO, 2010). necessidades humanas básicas dos trabalhadores e também, maio-
res eficácia e produtividade.
Verifica-se que ainda não há uma definição precisa e consen-
sual, na literatura científica sobre a qualidade de vida no trabalho
(QVT), uma vez que a implementação desse tema em nosso país e
em nossas instituições ainda é principiante.
26Fonte: www.ibccoaching.com.br – Por José Roberto Marques

97
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Muitos pesquisadores defendem que a qualidade de vida no Qualidade de Vida e Motivação no Trabalho
trabalho pode ser entendida com uma estratégia, cuja “meta prin- É sabido que a maior parte da vida das pessoas se passa dentro
cipal de tal abordagem volta-se para a conciliação dos interesses das instituições de trabalho. Desse modo, é notória e inegável a
dos indivíduos e das organizações, ou seja, ao mesmo tempo em importância que o trabalho exerce sobre a vida das pessoas. Há,
que melhora a satisfação do trabalhador, melhora a produtividade contudo, uma nítida contradição em relação à atividade laboral:
da empresa” (FERNANDES, 1996). muitas pessoas o têm como um fardo, como algo difícil, que só é
De acordo com Werther e Davis (1983), para que uma institui- realizado por uma necessidade financeira. Para outros, o trabalho
ção melhore a qualidade de vida no trabalho de seus colaboradores, é interpretado com meio para crescimento pessoal, como sentido
é necessário reunir esforços para tentar estabelecer cargos mais para a vida, definidor de responsabilidade e identidade pessoal.
satisfatórios e produtivos. Para tanto, precisa-se da implementação Para muitos, a própria rotina e alienação que o trabalho pro-
de diferentes técnicas que visem à reformulação dos cargos e fun- move, acabam por caracterizá-lo como um simples meio de sobre-
ções de uma organização, contado também com participação dos vivência.
trabalhadores envolvidos nesse processo. Nessa interpretação sobre o trabalho, é desprezado e descon-
Conforme salienta Vieira e Hanashiro (1990), a qualidade de siderado as expectativas, os sentimentos, a motivação e a qualida-
vida no trabalho tem por objetivo melhorar as condições de tra- de de vida dos colaboradores nas organizações, o que acaba refle-
balho e também todas as demais funções, em qualquer que seja a tindo negativamente em sua autoestima e no seu desempenho na
natureza ou mesmo, nível hierárquico. instituição empregadora (MIRANDA, 2009).
Além disso, a QVT atua também nas variáveis ambientais, com- Desse modo, ressalta-se a importância de se abordar a quali-
portamentais e organizacionais a fim de possibilitar humanização dade de vida nas organizações, cujo propósito principal consiste na
do setor produtivo e, logicamente, obter resultados mais satisfató- satisfação pessoal do indivíduo na execução de suas tarefas dentro
rios, seja para o colaborador, seja para a instituição empregadora. das organizações (MAXIMIANO, 2000).
Assim, espera-se também da QVT, a diminuição do conflito entre o Verifica-se nos dias atuais, uma grande diferença, nas institui-
trabalhador e o capitalismo (organização).
ções e organizações, entre o avanço e o progresso técnico-científico
A literatura cientifica traz alguns modelos estruturais referen-
e as questões sociais e aquelas relacionadas à qualidade de vida. A
tes à abordagem da qualidade de vida no trabalho. Tais modelos
qualidade de vida nas organizações, bem como a motivação e satis-
atuam como indicadores da satisfação dos colaboradores com a
fação do colaborador com sua atividade laboral são estratégias que
situação de trabalho bem como abordam também a satisfação dos
mesmos com suas atividades laborais. devem ser utilizadas pelas organizações a fim de se obter maiores
Dentre os vários modelos difundidos na literatura, o mais con- níveis de produtividade, levando-se sempre em consideração que o
tundente e abrangente é o que foi proposto por Watson (1973). fator mais importante empregado no setor produtivo é o humano
Para este autor, uma organização é humanizada quando ela atribui (MARRAS, 2002).
responsabilidades e autonomia aos seus colaboradores, cujo nível Com base na afirmação anterior e de acordo com o que é des-
varia de acordo com o cargo, bem como tem enfoque no desen- crito na literatura científica, a motivação é algo que necessita estar
volvimento pessoal do indivíduo, proporcionando, assim, melhor continuamente sendo estimulada numa organização, de modo que
desempenho dentro da instituição. o colaborador possa aplicar e desenvolver todo seu potencial. Para
Na prática, os critérios do modelo de Walton podem ser defini- tanto, é necessário que a organização propicie meios adequados
dos da seguinte forma (CHIAVENATO, 1999): para que o seu colaborar sinta e esteja sempre motivado, a fim de
1 - Compensação justa e adequada: mensura a adequação en- se obter um ambiente de trabalho saudável, humano, produtivo e
tre a remuneração do colaborador com suas atividades laborais; eficaz (MIRANDA, 2009).
avalia e compara, também, a remuneração entre os vários cargos e
funções dentro da empresa; compara a remuneração do funcioná- Motivação dos Colaboradores nas Organizações
rio com outros profissionais no mercado de trabalho. A motivação humana tem sido apontada como um dos maio-
2 - Condições de trabalho: avalia a jornada laboral e o ambien- res desafios e preocupações das organizações modernas. Este tema
te de trabalho, com vista a determinar que não sejam perigosos ou tem, inclusive, despertado o interesse depesquisadores, os quais
que tragam malefícios à saúde do colaborador. tentam explicar e entender o sentido dessa força que faz com que
3 - Uso e desenvolvimento de capacidades: refere-se à possi- as pessoas agem e atinjam seus objetivos.
bilidade do funcionário fazer uso, na prática, de todo seu conheci- Conforme explica Maximiano (2000), o termo motivação pode
mento e destreza. ser interpretado como “processo pelo qual um conjunto de razões
4 - Oportunidade de crescimento e segurança: verifica se a or- ou motivos explica, induz, incentiva, estimula ou provoca algum
ganização oferece oportunidade e possibilidade para crescimento e tipo de ação ou comportamento humano”. Nesse sentido, a moti-
desenvolvimento pessoal e profissional. vação pode ser entendida como uma razão que leva as pessoas à
5 - Integração social na organização: refere-se à presença de
uma determinada ação ou comportamento.
respeito, ambiente harmônico, apoio mútuo e ausência de precon-
Nesse contexto, para que os colaboradores possam realizar
ceitos e diferenças hierárquicas na instituição.
suas atividades, de modo a obter satisfação e motivação, é ne-
6 - Constitucionalismo: verifica se a instituição possui normas e
cessário que as organizações ofereçam um ambiente de trabalho
regras e se a mesma segue a legislação trabalhista.
7 - O trabalho e espaço total de vida: verifica se há equilíbrio confortável e seguro. Além destes fatores, evidencia-se também a
entre a vida laboral e a vida pessoal. importância de que sejam realizadas, no ambiente de trabalho, ati-
8 - Relevância social da vida no trabalho: objetiva verificar o vidades de socialização e interação, uma vez que estes elementos
desempenho da empresa na sociedade e responsabilidade social. mostram-se de fundamental importância para a satisfação dos co-
laboradores com a organização e, consequentemente, maior pro-
dutividade (BORTOLOZO, 2011).

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
De acordo com Miranda (2009), sobre a motivação nas organi- Neste contexto, fala-se muito em humanização do ambiente
zações, atuam alguns sistemas motivacionais. Tais sistemas podem de trabalho, o qual precisa ser bom, alegre, descontraído e desafia-
ser entendidos como todos e quaisquer incentivos ou recompensas dor, a fim de se ofertar um mínimo de qualidade de vida.
que o colaborador recebe para conseguir atingir um determinado No que se refere às questões físicopsicológicas do trabalho,
objetivo laboral. Podem ser citados, para exemplificar esses incen- ressalta-se as condições reais oferecidas ao colaborador para o
tivos, programas de estímulo, remuneração de acordo com os re- desempenho de suas funções, no tocante à jornada de trabalho e
sultados, autogestão nos grupos de trabalho, enriquecimento do ambiente saudável (ANDRADE, 2012).
trabalho, dentre outros. Contudo, é sabido que, muito mais que motivacional, a abor-
Ressalta-se também que é através da motivação, associada à dagem dessa questão juntos às organizações é de fundamental
educação formal e à capacitação, que o profissional pode utilizar importância para a manutenção e preservação de uma boa saúde
todo seu potencial, realizar todos seus objetivos e ideais, além de aos funcionários, a fim de assegurar uma prática profissional livre
tornar-se evidência e um profissional de sucesso. de malefícios e que traga benefícios para sua sobrevivência e bem
estar.
Fatores Motivacionais
A literatura científica evidencia que alguns fatores podem in- Segurança no trabalho
terferir diretamente na motivação dos colaboradores de uma orga- Muito se discute hoje em dia acerca da questão da segurança
nização, seja de maneira positiva ou negativamente. Dentre entre do trabalhador e de seu ambiente laboral. Assim, ressalta-se que
uma organização ideal para se trabalhar é aquela que busca aplicar,
diversos fatores, pode-se elencar a remuneração e os benefícios
captar e manter na organização, todos os recursos humanos corre-
sociais, as condições físicas e psicológicas do trabalho e a questão
tamente. Para que esse objetivo seja atingido, ou seja, para que a
da segurança no ambiente de trabalho.
empresa consiga manter o recurso humano, é necessário abordar
diversas questões e fatores, como a saúde, a higiene e a segurança
Remuneração e Benefícios Sociais no trabalho (ANDRADE, 2012).
A remuneração e os benefícios sociais despontam como sendo A segurança no trabalho refere-se à área responsável pela
uma das principais funções da organização. Conforme salienta Mar- segurança industrial, higiene e medicina do trabalho, frente aos
ras (2002), estes itens sempre mereceram uma atenção especial funcionários da organização, atuando profilaticamente, vidando a
dos gestores da empresa que, com o passar dos tempos, ganhou prevenção de acidentes e agravos à saúde, e atuando também na
ainda mais relevância, exigindo ainda mais da administração. correção de acidentes de trabalho.
É importante ressaltar ainda que salário e remuneração são Desse modo, é necessário que as organizações possuam políti-
coisas distintas. De acordo com Gonçalves (2008) apud Andrade cas de prevenção a acidentes de trabalho, estimulem e orientem a
(2012), a remuneração refere-se ao quantitativo referente à soma utilização de equipamentos de proteção individual e coletiva, além
do salário devido pelo empregador aos valores que o empregado de contar também com serviços de segurança no trabalho, visando
recebe de terceiros, em detrimento do contrato de trabalho. Como à melhoria para as causas de higiene e segurança no trabalho (RI-
exemplo desse valor que o colaborador recebe de terceiros, pode- BEIRO, 2005). Além disso, é fundamental que a organização possi-
-se citar a gorjeta. bilite condições mínimas de trabalho, proteção e higiene, de modo
Desse modo, salário é o valor fixo, pré determinado, recebido a garantir e assegurar os mesmos contra qualquer incidente e even-
pelo serviço prestado, e a remuneração constitui-se do salário e dos tualidade, de modo que eles possam executar suas atividades com
demais benefícios e incentivos recebidos, seja por parte da empre- confiança e evitar problemas futuros.
sa, ou por parte dos clientes (ANDRADE, 2012). De acordo com Marras (2004) apud Andrade (2012), a preven-
É importante salientar ainda que, a fim de atender esta ne- ção de acidentes de trabalho tem por objetivo conscientizar o cola-
cessidade de complementar o salário, existem os benefícios, con- borador e oferecer proteção à sua vida e de seus companheiros de
ceituado por Marras (2005) apud Andrade (2012) como planos ou trabalho, através de estratégias e ações seguras, bem como refle-
programas que a organização oferece aos seus colaboradores a fim xões das condições insalubres que, eventualmente, possam provo-
de complementar sua renda fixa, ou seja, seu salário. car acidentes e agravos à saúde.Nota-se então o quão importante
Como já salientado anteriormente, estes itens atuam como es- é proporcionar a segurança no trabalho, tendo em vista que os co-
tímulos para que o colaborador se sinta satisfeito e motivado com laboradores, estando seguros que a empresa está se preocupando
com sua saúde e com sua vida, irão sentir-se mais valorizados e
suas atividades profissionais, ao passo que, quanto mais satisfeito,
motivados para trabalharem e produzirem.
desempenhará com mais afinco e eficácia suas atividades dentro
Com base em tudo que foi levantado e elucidado neste traba-
da organização.
lho, torna-se evidente a importância e relevância da qualidade de
vida no trabalho, seja para a melhoria da qualidade de vida pessoal,
Condições físicas e psicológicas do trabalho seja melhoria do convício social, seja maior satisfação e motivação
É sabido que, numa organização, os funcionários estão expos- do trabalhador com a instituição e, consequentemente, melhora na
tos a uma série de fatores e condições de riscos ou insalubridades. produtividade das empresas.
Dentre esses fatores, pode-se citar a própria questão estrutural, o Pode-se constatar também que a motivação do colaborador
manuseio e operação dos recursos mecânicos e também os fatores com sua instituição empregadora estão diretamente atreladas a
psicológicos que podem interferir diretamente na saúde e na fun- fatores como salário, benefícios e remuneração; condições físicas e
cionalidade dos colaboradores. Dessa forma, para que o colabora- psicológicas do trabalho e também, a um ambiente de trabalho se-
dor consiga uma maior produtividade, é necessário que a empresa guro. Ressalta-se ainda que a motivação dos colaboradores esteja
ofereça condições ambientais mínimas para que os funcionários se associada à qualidade de vida nas organizações.
sintam capazes. Assim, a organização precisa estar atenta a tais fa-
tores, os quais podem interferir e refletir diretamente no bem estar
dos funcionários, na sua satisfação e na produtividade da organiza-
ção (FERNADES, 1996 apud ANDRADE, 2012).

99
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Dessa forma, abordar qualidade de vida nas empresas, hoje Confiabilidade
em dia, é mais que um benefício para o trabalhador/colaborador, é Os clientes desejam mais que um produto ou serviço com bom
uma necessidade de vital importância para que o maior patrimônio preço, esperam também por qualidade naquilo que estão pagando.
da instituição, o trabalhador, tenha condições para desempenhar Não é difícil encontrar casos de consumidores contestando a con-
com eficácia, suas tarifas, de modo que todos saiam ganhando, em- fiabilidade de determinada marca. Serviços e produtos que apre-
pregador e colaborador.27 sentam incertezas em sua origem ou qualidade são vistos de forma
negativa pelo mercado e possuem a imagem danificada.
Quando surgiu o selo? A ISO 9001 propõe requisitos que aperfeiçoam o sistema de
Para entender o surgimento do selo, precisa-se primeiro com- gestão de qualidade aprimorando os processos de forma geral da
preender a origem da ISO 9001. O selo de qualidade é resultado organização. Portanto, ela incentiva a melhora crescente das em-
da certificação na ISO 9001. A norma de qualidade foi criada pela presas.
Organização ISO, cuja sigla significa International Organization for A norma é respeitada e conhecida por todos os países. Agregar
Standardization, traduzida para o português como Organização In- o selo a sua marca significa que a empresa cumpre cada um dos re-
ternacional de Normalização. quisitos estipulados pela ISO 9001. Ou seja, o selo de qualidade traz
Sediada em Genebra, Suíça, a ISO foi fundada há aproxima- segurança e confiança para as empresas que a utilizam.
damente 70 anos. A ISO foi projetada na intenção de se criar nor-
mas que fossem padrões para organizações de todos os países. Ou Reconhecimento internacional
seja, que elas pudessem ser utilizadas e reconhecidas em qualquer Cerca de 170 países utilizam a normas da Organização ISO e
língua ou nação. Atualmente a Organização possui membros em mais de um milhão de empresas espalhadas pelo mundo já foram
aproximadamente 170 países. No Brasil, a ISO é representada pela certificadas na ISO 9001. Apenas na América do Sul são aproxima-
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). damente 50 mil empresas certificadas. A ISO 9001 possui validação
Com o surgimento da Organização, desenvolveu-se em 1987 a e reconhecimento internacional. O selo na norma abre portas para
ISO 9001, consequentemente criando-se também o selo de quali- negociação com qualquer tipo de empresa dentro e fora do país.
dade que é o símbolo da certificação da norma. A ISO 9001 é base- É importante destacar que a cada nação a norma recebe sua
ada na norma britânica BS5750. Embora fosse considerada relevan- própria versão baseada e adaptada na legislação interna. No Brasil,
te, a BS5750 apresentava algumas ineficiências como a questão da a norma é conhecida como NBR ISO 9001, que é reconhecida para
gestão dos processos e satisfação do cliente. relações comerciais com qualquer outro país. Portanto, se você de-
A ISO 9001 foi pensada para se tornar padrão internacional
seja ampliar as fronteiras do seu negócio, um dos esforços da sua
para garantir a qualidade de produtos e serviços. Como também,
empresa deve consistir em adquirir o selo de qualidade.
facilitar a questão das exportações e reduzir os custos de fabrica-
ção.
Melhoria do desempenho do produto/serviço
Informamos com certa frequência nos artigos do blog da Con-
A norma mais utilizada no mundo
sultoria Online que a ISO 9001 não beneficia diretamente a qua-
A ISO apresenta uma série de normas para diferentes áreas
lidade dos produtos e serviços.Isso porque o selo de qualidade é
do mercado; como a ISO 14001 voltada para o sistema de gestão
focado na qualidade dos processos de uma organização.
ambiental. Ela aborda os principais requisitos para as empresas
identificarem, controlarem e monitorarem o impacto sobre o meio Caso sua dúvida esteja relacionada a qualidade dos produtos,
ambiente. Existe a ISO 22000 voltada para a segurança dos alimen- mais precisamente nos alimentos, entenda que a norma responsá-
tos, a OHSAS 18001 focada na gestão de segurança e saúde ocupa- vel pela segurança em alimentos é a ISO 22000.
cional, entre outras. Retomando o assunto da ISO 9001, para tornar ainda mais cla-
Dentre as normas da ISO, a mais utilizada pelas empresas é a ro sua funcionalidade no que se refere a qualidade dos produtos e
ISO 9001 tanto por sua relevância, quanto pela abrangência. Ela é serviços, daremos um breve exemplo:
a responsável pelo sistema de gestão de qualidade. É a partir dela Em uma determinada empresa de produção de bolos conta
que as empresas se fundamentam para otimizar os processos de coma equipe de três funcionários. Essa organização não utiliza o
funcionamento. sistema de gestão de qualidade baseado na ISO 9001, portanto não
há controle nos processos de produção. Por esse motivo, ocorrem
Funcionalidades da ISO 9001 uma série de consequências negativas como a irregularidade na
A ISO 9001 foi criada com a perspectiva que as empresas certi- qualidade dos produtos. Quando um dos funcionários responsáveis
ficadas atinjam metas e possam garantir a capacidade de eficiência pela massa se ausenta, o critério para a produção se perde. A nor-
tanto na produção quanto na entrega dos produtos/serviços. ma de qualidade resolve exatamente problemas como esses. Ela
Neste sentido, uma das soluções básicas da ISO 9001 é, portan- cria padrões que possibilitam que a empresa mantenha a qualidade
to, alcançar um consenso sobre soluções que possam atender às independentemente da presença ou ausência de um ou mais fun-
demandas da empresa, da sociedade e do comércio, ou seja todas cionários. Ou seja, a norma ajuda a manter a qualidade dos bolos.
as partes interessadas. Embora a norma não atue diretamente nos serviços e produ-
tos, sua aplicação resulta na melhoria destes.Sendo assim, os re-
Para que serve o selo? sultados da adequação aos requisitos é a melhoria dos produtos/
Uma das preocupações dos empresários é o que o selo de qua- serviços.
lidade não seja mais que um quadro pendurado no escritório ou
um símbolo adquirido pela empresa. Para esclarecer esse tipo de Satisfação do consumidor
dúvida e mostrar os benefícios reais que a certificação na ISO 9001 Ter o selo 9001 é sinônimo de preocupação com as expecta-
proporciona a um empreendimento, citaremos abaixo algumas tivas e interesses dos clientes. Haja vista que a norma foi criada
vantagens da norma. Confira! com o foco voltado para o cliente. Pesquisas e entrevistas com o
consumidor fazem parte das estratégias da norma para adaptação
27Fonte: www.unifia.edu.br – Texto adaptado de Jéssica Faria de Carvalho/ Érica
aos interesses do público.
Preto Tamaio Martins/ Laureny Lúcio/ Pedro José Papandréa

100
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Toda empresa que conta com clientes satisfeitos, tem mais Adequação aos processos feitos de forma irregular;
probabilidade de crescimento no faturamento e consequentemen- A norma é funcional e de fato propicia a empresa mudanças
te na lucratividade. Outro benefício de ser bem quisto é a melhora positivas em seu sistema como um todo (como foi dito nos tópicos
da imagem externa que configura como uma das funcionalidades anteriores). Implementá-la às pressas pode não ser tão construtivo
da gestão de qualidade. para os colaboradores, haja vista que algumas etapas de implemen-
tação exigem mais tempo por sua complexidade e abrangência de
Investimentos mais assertivos atuação.
Empresários com o sistema de gestão de qualidade alinhado
com a ISO 9001 poderão realizar investimentos mais seguros. Uma Desgaste da equipe encarregada do processo;
vez que os processos são mais organizados e apresentam menos Pela pressão gerada do prazo reduzido, muitos colaboradores
erros nos sistemas, contribuindo para o funcionamento como um são exigidos além do habitual e por isso sofrem desgaste e estresse
todo da empresa. Nesse sentido, o empreendimento se torna mais profissional. Consequências como essas também podem reduzir o
sólido, permitindo investimentos mais seguros e com a qualidade sucesso do projeto de certificação. É essencial que a equipe encar-
ISO. regada esteja apta e com tempo hábil para promover de maneira
satisfatória cada uma das exigências da norma de qualidade.
Melhora a imagem da empresa
Associar sua marca com o selo de qualidade é mostrar ao mer- Pouco aproveitamento dos requisitos da ISO 9001 que contri-
cado o empenho com o aperfeiçoamento contínuo da sua empresa. buem positivamente para a empresa.
Tendo em vista, que uma de suas premissas refere-se ao aprimora- A ISO 9001 gera uma série de resultados positivos, por isso em-
mento contínuo dos processos. Outro benefício se deve ao fato que bora ela não seja obrigatória é utilizada por milhares de empresas.
a ISO 9001 é vista positivamente pelo público externo, portanto A implantação feita com urgência pode impedir que a organização
estar ligado a norma é compartilhar dos mesmos atributos e qua- usufrua de todos os benefícios presentes na norma.
lidades dela. Portanto, para não enfrentar nenhuma das dificuldades apon-
tadas acima, aconselhamos que você inicie o quanto antes as fases
Todas as empresas precisam ter o selo? de adequação do sistema de gestão de qualidade ao da ISO 9001.
No Brasil não há nenhuma cobrança na legislação que obrigue Mas o que eu preciso fazer para ser certificado? Para orientá-
uma empresa a ser certificada, exceto para algumas modalidades -lo de modo prático informaremos algumas dicas que podem ser
específicas de negócios (confira no tópico “Quais requisitos são ne- seguidas por qualquer empreendimento, independentemente do
cessários para iniciar o processo de implementação da ISO 9001?” tamanho e tipo de organização.
e veja quais organizações são obrigadas a possuir a certificação).
Todavia, existe uma obrigatoriedade velada no mercado que Quais requisitos são necessários para iniciar o processo de
para determinadas relações comerciais exige-se o selo de qualida- implementação da ISO 9001?
de. Um dos exemplos é a exportação. Muitos países não aceitam Do ponto de vista legal, os únicos requisitos obrigatórios para
realizar trocas comerciais com empresas que não possuam o siste- uma empresa que está procurando se certificar na ISO 9001, são
ma de gestão de qualidade atrelado aos requisitos da ISO. as regulamentações do seu setor específico de operação. Ou seja,
Não apenas no mercado externo, como também entre empre- uma construtora deve seguir normas legais aplicáveis à sua ativida-
sas brasileiras exige-se a certificação em muitas situações. As or- de, assim como um escritório de contabilidade, etc. Em suma, não
ganizações exigem o selo como uma maneira de atestarem que a há leis específicas a serem seguidas em detrimento da norma, cada
empresa com a qual farão negócios possui certa comprovação de empresa precisa apenas estar regular com suas obrigações legais
qualidade e profissionalismo em sua gestão. particulares.
Esse é inclusive um dos motivos pelos quais as empresas pro- Algumas empresas específicas precisam ter o certificado da ISO
curam às pressas empresas de consultoria à procura da implemen- 9001 por força legal, como é o caso das vistorias veiculares no esta-
tação da norma. Alertamos para os tipos de problemas que podem do de São Paulo, ou das empresas pertencentes ao polo industrial
ser gerados devido a certificação realizada de última hora e apenas de Manaus, Amazonas. Para tais empresas, a regra de manter-se
por pressões comerciais: regular às leis inerentes à sua atividade continua válida, acrescida
agora da necessidade de ser certificada na ISO 9001 por determi-
Gastos elevados com a certificação; nação legal.
Uma vez que a implementação da norma será realizada em Alguns dos requisitos muito citados por quem está implemen-
pouco tempo devido a necessidade de estar com o selo antes que a tando a ISO 9001 são o PPRA (Programa de Prevenção de Riscos
outra empresa desista de fechar o contrato, os gastos com consul- Ambientais) e PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde
tores serão redobrados. Já que eles terão que cumprir as ações com Ocupacional). Porém no caso dos dois, há uma certa confusão, pois
menos tempo de intervalo. eles são obrigatórios para todas as empresas que possuem funcio-
A organização também terá que arcar com custos de contra- nários contratados no âmbito da CLT e não apenas às empresas que
tação de outros colaboradores para auxiliar no processo de ade- estão procurando se certificar na ISO 9001. O fato de eles serem
quação aos requisitos da ISO 9001. Soma-se ainda a falta de tempo bastante citados se dá em função de existir uma auditoria rigoro-
para pesquisas de consultorias e certificadoras com valores mais sa nestes itens, pois são de grande importância para a garantia da
em conta. qualidade.

O que uma empresa precisa para obter o selo?


A norma ISO 9001 foi criada para todas as áreas do mercado,
ou seja para a indústria, comércio e prestação de serviços. Como
também para todos os portes de empreendimento, tanto para
grandes corporações quanto para microempresas.

101
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Portanto, se você almeja aprimorar o sistema de gestão de 5º passo: Adequação aos requisitos
qualidade do seu negócio e ampliar as relações comerciais, basta: A alta direção deve estar aberta as mudanças que serão pro-
- Ter um CNPJ regular movidas para adequar corretamente os itens exigidos pela ISO
- Estar instalada em um imóvel regular 9001. O consultor fará esse processo alinhado a liderança, para não
- Disponibilidade de equipe para acompanhar a consultoria no ocorrer qualquer tipo de transtorno ou desvio inapropriado do fun-
processo de implementação* cionamento normal da operação.
- Contratar um órgão certificador
*Em algumas microempresas, o próprio proprietário junto a 6º passo: Auditoria interna
um consultor promove o processo de implementação da norma de A auditoria interna funciona como um teste para a empresa.
qualidade. Essa etapa é semelhante a simulação da auditoria externa que será
realizada por uma certificadora.É neste momento que são observa-
Como obter o selo ISO 9001? dos se as exigências estão sendo cumpridas corretamente. A Con-
Uma empresa que possua um sistema de gestão da qualidade sultoria Online Verde Ghaia oferece 100% de garantia na certifica-
compatível com a norma ISO 9001 pode solicitar o selo de qualida- ção de forma contratual.
de a partir de um órgão certificador autorizado pelo Instituto Nacio- Depois de submetida a implementação, a empresa deve con-
nal de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). tatar um órgão auditor, ou seja, uma empresa certificadora. Após
Mas como saber se o meu sistema está de acordo com o pa- passar pelo crivo de auditoria externa e for aprovada, a organiza-
drão ISO? A norma de qualidade possui uma série de requisitos que ção avaliada será certificada com o selo ISO 9001. A certificação é
precisam ser interpretados para adequação. Para verificar cada um portanto a comprovação de que a empresa anda de acordo com a
dos itens está sendo cumprido, é aconselhável que se tenha um co- norma.
nhecimento prévio sobre o assunto.Por isso, recomenda-se auxílio Muitas empresas, independentemente do seu processo produ-
de um profissional da área. tivo, fazem uso do selo junto a marca para divulgarem que têm a
Para isso, existem empresas de consultoria com especialistas ISO 9001. O selo e o certificado trazem o mesmo significado: con-
em cada uma das normas que poderão tornar o processo rápido e firmação de que a organização atua de acordo com o sistema de
o menos burocrático possível. gestão de qualidade reconhecido no mundo inteiro.
A consultoria Online Verde Ghaia possui experiência de 18
anos no seguimento, auxiliando mais de duas mil organizações es- FERRAMENTAS de Gestão da qualidade
palhadas pelo Brasil e por outros países. Ela fornece um software
online que pode reduzir em até 60% os gastos, comparado a uma BENCHMARKING
consultoria convencional. O benchmarking, introduzido em 1970 na empresa Xerox, é ca-
Com a ferramenta, é possível iniciar o processo a qualquer racterizado como um processo contínuo e sistemático de pesquisa
hora e lugar. O software facilita a flexibilidade da equipe envolvida para avaliar produtos, serviços, processos de trabalho de ouras em-
e proporciona meios como material online que pode ser consultado presas, a fim de identificar quais são as melhores práticas adotadas
no momento mais oportuno à organização por elas. A partir dessa análise, a instituição verifica seus próprios
processos e realiza o aprimoramento organizacional, desenvolven-
Qual é o processo de implementação da ISO 9001? do a habilidade dos administradores de visualizar no mercado as
melhores práticas administrativas das empresas consideradas ex-
1º passo: Pesquise celentes (benchmarks) em certos aspectos.
Informar sobre a norma é uma das melhores formas de se pre- A meta é definir objetivos de gestão e legitimá-los por meio
parar para o processo de implementação e antever as necessidades de comparações externas. A comparação costuma ser um saudá-
de ajustes que serão necessários. Entenda como ela funciona, seus vel método didático, pois desperta para as ações que as empresas
reais benefícios e a aplicação dela para sua empresa. Se você che- excelentes estão desenvolvendo e que servem de lição. A base do
gou até aqui então essa parte já foi bastante explorada. benchmarking é não fechar-se em si mesma, no caso da empresa,
mas sim observar e avaliar constantemente o mundo exterior.
2ª passo: Estipule uma equipe Segundo Chiavenato, o benchmarking exige três objetivos que
A organização é uma das chaves para o sucesso da adequação a organização precisa definir:
aos requisitos. Portanto, estipule colaboradores que estarão empe- • Conhecer suas operações e avaliar seus pontos fortes e fra-
nhados em otimizar e promover adequadamente os itens presen- cos. Deve documentar os passos e práticas de processos de traba-
tes na ISO 9001. lho, definir medidas de desempenho e diagnosticar suas fragilida-
3º passo: treinamento des.
Essa é a fase de interpretação da ISO 9001. A consultoria Online • Localizar e conhecer os concorrentes ou organizações líderes
Verde Ghaia traz os cursos a partir de uma plataforma online. O ma- do mercado, para poder definir as habilidades, conhecendo seus
terial é disponibilizado através de vídeos, ilustrações e textos para pontos fortes e fracos e compará-los com seus próprios pontos for-
facilitar a compreensão dos consultores internos, colaboradores da tes e fracos.
empresa que serão responsáveis pela implementação do projeto. • Incorporar o melhor do melhor adotando os pontos fortes
dos concorrentes e, se possível, excedendo-os e ultrapassando-os.
4º passo: diagnóstico A principal barreira à adoção dessa ferramenta é convencer os ad-
Nesta etapa a empresa deverá junto a consultoria avaliar como ministradores de que seus desempenhos podem ser melhorados.
está o sistema de gestão atual da empresa. É o momento de anali- Isso requer uma paciente abordagem e apresentação de evidências
sar quais requisitos são cumpridos e quais não foram atendidos. É de melhores métodos utilizados por outras organizações.
um processo minucioso que exige atenção e tempo suficiente para
que nenhum requisito passe despercebido.

102
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
BRAINSTORMING PRINCÍPIO DE PARETO
O brainstorming, desenvolvido em 1930 por Alex F. Osborn, O diagrama de Pareto é uma técnica de priorização das in-
busca, a partir da criatividade de um grupo, a geração de ideias formações, dando uma ordem hierárquica de importância. Esta
para um determinado fim. técnica permite estabelecer dois grupos de causas para a maioria
A técnica propõe que um grupo de pessoas (de duas até dez dos processos. Uma grande quantidade de causas (ordem de 80%)
pessoas) se reúna e se utilize das diferenças em seus pensamentos contribui muito pouco (ordem de 20%) para os efeitos observados.
e ideias para que possa chegar a um denominador comum eficaz e Uma pequena quantidade de causas (ordem de 20%) contribui de
com qualidade. forma preponderante (ordem de 80%) para os efeitos observados.
É preferível que as pessoas que se envolvam nesse método se- O primeiro grupo é denominado “maiorias triviais” e o segundo
jam de setores e competências diferentes e nenhuma ideia é des- grupo de “minorias essenciais”.
cartada ou julgada como errada ou absurda. O ambiente deve ser Esta técnica utiliza uma abordagem de classificação para enu-
encorajador e sem críticas para os participantes ficarem a vonta- merar as causas de acordo com suas contribuições para atingir um
de e deve ser incentivado o trabalho em grupo. Pegar carona nas dado efeito. A causa mais recorrente é vista do lado esquerdo do
ideias dos outros deve ser incentivado. diagrama e as causas menos recorrentes são mostradas em ordem
decrescente do lado direito. Em geral, a melhoria inicia-se a partir
As quatro principais regras do brainstorming são: da causa mais recorrente, indo para as outras em ordem decrescen-
• Críticas são rejeitadas, pois a crítica pode inibir a participação te e assim por diante.
das pessoas; DIAGRAMA DE ISHIKAWA
• Criatividade é bem-vinda. Vale qualquer ideia que lhe venha Diagrama de Ishikawa é uma ferramenta gráfica utilizada pela
a mente, sem preconceitos e sem medo que isso irá prejudicar. administração para o gerenciamento e o controle da qualidade em
Uma ideia esdrúxula pode desencadear ideias inovadoras; diversos processos, e também é conhecido como Diagrama de Cau-
• Quantidade é necessária. Quanto mais ideias forem geradas, sa e Efeito ou Diagrama Espinha de peixe.
maior é a chance de se encontrar uma boa ideia; Na sua estrutura, os problemas são classificados em seis tipos
• Combinação e aperfeiçoamento são necessários. diferentes:
• Método,
O brainstorming pode ser feito de duas formas: estruturado ou • Matéria prima,
não estruturado. • Mão de obra,
• No brainstorming ESTRUTURADO - os participantes lançam • Máquinas,
ideias seguindo uma sequência inicialmente estabelecida. Quando • Medição
chega a sua vez, você lança a sua ideia. A vantagem desta forma é • Meio ambiente.
que propicia oportunidades iguais a todos os participantes, geran-
do maior envolvimento. Esse sistema permite estruturar hierarquicamente as causas
• No brainstorming NÃO ESTRUTURADO - as ideias são lança- potenciais de um determinado problema ou também uma oportu-
das aleatoriamente, sem uma sequencia inicialmente definida. Isso nidade de melhoria, assim como seus efeitos sobre a qualidade dos
cria um ambiente mais informal, porém com risco dos mais falantes produtos.
dominarem a cena. O Diagrama de Ishikawa é uma das ferramentas mais eficazes
e mais utilizadas nas ações de melhoria e controle de qualidade nas
BRAINWRITING organizações, permitindo agrupar e visualizar as várias causas que
É uma variação do brainstorming, em que as ideias são escri- estão na origem qualquer problema ou de um resultado que se pre-
tas, trazendo ordem e calma ao processo. Evita efeitos negativos de tende melhorar.
reuniões, como a influência da opinião de coordenadores e chefes,
ou a dificuldade em verbalizar rapidamente as ideias. 5W2H
A ferramenta 5W2H é uma forma rápida de verificação de
MATRIZ GUT execução de tarefas a serem distribuídas aos colaboradores da em-
A Matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) é uma forma presa. Funciona como um mapeamento das atividades e pode ser
de priorização baseado em medidas ou observações subjetivas. As usada de várias formas: para organizar tarefas, escrever um texto,
letras têm o seguinte significado: enviar um email ou escrever um. A grande vantagem é criar um
• G (gravidade) – impacto do problema sobre os processos, mecanismo de comunicação eficaz uma vez que, se preenchidas as
pessoas, resultados. Refere-se ao custo por deixar de tomar uma questões, teremos tudo o que é preciso para em termos de dados.
ação que poderia solucionar o problema; A sigla 5W2H representa:
• U (urgência) - relaciona-se com o tempo disponível ou o ne- - O QUÊ será feito (what)
cessário para resolver o problema; - QUANDO será feito (when)
• T (tendência) – refere-se ao rumo ou propensão que o pro- - QUEM fará (who)
blema assumirá se nada for feito para eliminar o problema. - ONDE será feito (where)
A filosofia do GUT é atribuir notas de 1 a 5 para cada uma das - POR QUÊ será feito (why)
variáveis G, U e T dos problemas listados e tomar o produto como o - COMO será feito (how)
peso relativo do problema. - QUANTO custará (how much)
O método deve ser desenvolvido em grupo, sendo as notas
atribuídas por consenso. Consenso é a concordância obtida pela
argumentação lógica. Uma vez obtidas as notas, os problemas são
organizados em ordem decrescente.

103
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
PROGRAMA 5S CLICLO PDCA
O Programa 5S, originário no Japão, é considerado um pré-re-
quisito para qualquer programa de Gestão da Qualidade Total. O
5S foca o ambiente de trabalho da organização a fim de simplificar
o ambiente de trabalho e reduzir o desperdício. Como resultado,
ocorre melhoria no aspecto de qualidade e segurança. O ambiente
se torna limpo, organizado, evitando a perda de tempo e o desper-
dício de material.
Assim, o resultado da implantação dessa ferramenta será o
menor desperdício, melhor qualidade e ganhos expressivos na ad-
ministração do tempo.
A sigla 5S refere-se na realidade a 5 letras iniciais de palavras
japonesas:
• Seiri - Descartar
• Seiton - Organizar
• Seiso - Limpar
• Seiketsu - Saudável e seguro
• Shitsuke – Autodisciplina

REENGENHARIA
A reengenharia pode ser considerada uma reação às mudanças
ambientais velozes e intensas e à total inabilidade das organizações
em ajustar-se a essas mudanças. Significa fazer uma nova engenha-
ria da estrutura organizacional. O ciclo PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, é um ciclo
Representa uma reconstrução e não simplesmente uma refor- de desenvolvimento que tem foco na melhoria contínua.
ma parcial da empresa. Não se trata de fazer reparos rápidos ou O PDCA foi idealizado por Shewhart e divulgado por Deming,
mudanças cosméticas na engenharia atual, mas de fazer um dese- quem efetivamente o aplicou. Inicialmente deu-se o uso para esta-
nho organizacional totalmente novo e diferente. tística e métodos de amostragem. O ciclo de Deming tem por princí-
A reengenharia se baseia nos processos empresariais e consi- pio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na execução
dera que eles devem fundamentar o formato organizacional. Não da gestão, como por exemplo na gestão da qualidade, dividindo-a
se pretende melhorar os processos já existentes, mas a sua total em quatro principais passos.
substituição por processos inteiramente novos. Nem se pretende
automatizar os processos já existentes. Não se confunde com a me- O PDCA é aplicado para se atingir resultados dentro de um sis-
lhoria contínua, pois a reengenharia pretende criar um processo tema de gestão e pode ser utilizado em qualquer empresa de forma
inteiramente novo e baseado na tecnologia da informação e não o a garantir o sucesso nos negócios, independentemente da área de
aperfeiçoamento gradativo e lento do processo atual. atuação da empresa.
Segundo Chiavenato, a reengenharia se fundamenta em qua- O ciclo começa pelo planejamento, em seguida a ação ou con-
tro palavras chave: junto de ações planejadas são executadas, checa-se se o que foi
• Fundamental – busca reduzir a organização ao essencial e feito estava de acordo com o planejado, constantemente e repe-
fundamental. tidamente (ciclicamente), e toma-se uma ação para eliminar ou ao
• Radical – impõe uma renovação radical, desconsiderando as menos mitigar defeitos no produto ou na execução.
estruturas e os procedimentos atuais para inventar novas maneiras Os passos são os seguintes:
de fazer o trabalho. • Plan (planejamento): estabelecer uma meta ou identifi-
• Drástica – destrói o antigo e busca sua substituição por algo car o problema (um problema tem o sentido daquilo que impede
inteiramente novo. o alcance dos resultados esperados, ou seja, o alcance da meta);
• Processos – orienta o foco para os processos e não mais para analisar o fenômeno (analisar os dados relacionados ao problema);
as tarefas ou serviços, nem para pessoas ou para a estrutura orga- analisar o processo (descobrir as causas fundamentais dos proble-
nizacional. mas) e elaborar um plano de ação.
• Do (execução): realizar, executar as atividades conforme
o plano de ação.
• Check (verificação): monitorar e avaliar periodicamente
os resultados, avaliar processos e resultados, confrontando-os com
o planejado, objetivos, especificações e estado desejado, consoli-
dando as informações, eventualmente confeccionando relatórios.
Atualizar ou implantar a gestão à vista.
• Act (ação): Agir de acordo com o avaliado e de acordo
com os relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos
planos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficá-
cia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas.

104
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

GESTÃO DE PROCESSOS. CONCEITOS DA ABORDAGEM POR PROCESSOS. TÉCNICAS DE MAPEAMENTO,


ANÁLISE E MELHORIA DE PROCESSOS.

Um processo é uma sequência de atividades rotineiras que, em conjunto com outros processos, compõe a forma pela qual a organiza-
ção funcionará. É a abordagem pela qual esses processos serão desenhados, descritos, medidos, supervisionados e controlados.
Segundo a Fundação Nacional da Qualidade - FNQ, esse tipo de gestão necessita de visão sistêmica, pois sem ela é impossível perce-
ber como o todo significa muito mais do que a uma simples soma das partes. A abordagem sistêmica dentro de uma organização faz com
que o foco de sua gestão esteja voltado não só para o seu ambiente interno, mas para o externo também, ou seja, que haja uma sinergia
entre as partes para que os objetivos planejados sejam alcançados.
A gestão de processos realiza diversos papéis dentro da organização. Sendo o primeiro passo para organizar e entender como as áreas,
bem como seus processos funcionam internamente. É por meio dela que os responsáveis compreenderão como melhorar o aproveita-
mento dos recursos disponíveis e quais ações necessitam ser tomadas para aperfeiçoar o fluxo de trabalho e otimizando e adequando a
organização para o mercado vigente.

Gerenciamento de Processo ou Gestão de Processos é o entendimento de como funciona a organização. A série de atividades estru-
turadas para a produção do produto/serviço. Anteriormente à compreensão desses processos, setorizava-se os trabalhos com base na
departamentalização, onde os procedimentos existentes dentro de cada setor da organização eram separados por departamentos e cada
área pensava separadamente, sem sinergia umas com as outras. Focada em ciclos verticais separados.

Marketing <-> Financeiro <-> Produção <-> RH


A Gestão de Processos busca tornar horizontal a relação entre as áreas dentro da organização.

Objetivos da Gestão de Processos


• Gerir sistemas de rotinas que envolve o cotidiano da organização e delegar responsabilidades;
• Administrar os processos com o objetivo de alcançar resultados perceptíveis (e não tarefas específicas);
• Ampliar e detectar melhorias contínuas na comunicação e relação entre participantes e áreas da organização;
• Facilitar o planejamento, padronizando-o com acompanhando de perto o que acontece no ambiente;
• Perceber oportunidades de otimização de processos através de gargalos encontrados;
• Ao invés de criar novos modelos; concentrar-se na melhoria de processos que já existem.
• Efetuar toda e qualquer correção que possam surgir nos processos antes de automatizá-los, para não acelerar o que está desorga-
nizado.

Análise de Processos
Geralmente é nessa etapa que a empresa é mapeada. É preciso analisar com exatidão como acontece cada processo no negócio atu-
almente. Assim, os processos são listados e descritos pelo conjunto de atividades que os compõem.
É preciso conhecer realmente como funciona a empresa, para realizar esse mapeamento. Somente sim o gestor terá conhecimento
dos pontos de melhoria na operação com clareza.
Nessa etapa verifica-se:
• A compreensão do negócio com os processos principais que o compõem;
• Plano estratégico com metas e indicadores;
• Senso comum dos processos;
• Entradas e saídas, incluindo clientes e fornecedores;
• Responsabilidades de diferentes áreas e equipes;
• Avaliação dos recursos disponíveis.

Exemplo do elemento Consumidor X Cliente


Nessa relação, há processos de entradas/Imputs (Insumos) dos fornecedores e saídas/Outputs: Produtos, Serviços ao cliente, inter-re-
lacionando essas áreas na organização.
Elementos desse Processo:

CONSUMIDOR
FORNECEDORES PROCESSO CLIENTES
• Entradas / Inputs
• Saídas / Outputs

105
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• As diversas entradas passam por transformação no processo, Tipos de Mapeamento
e a saída (entrega) sempre será diferente da entrada. • Fluxograma de processos: Desenho simplificado de um pro-
• O consumidor é quem consome o produto/serviço e o cliente cesso usando símbolos padronizados. Forma simples de represen-
é quem decide pela compra/aquisição, não necessariamente serão tar visualmente a teia de atividades envolvidas na operação.
a mesma pessoa. • Fluxograma horizontal: Visando uma melhor representação
dos processos, o fluxograma horizontal foi criado, possibilitando as-
Execução sim mais alternativas ao gestor. Em uma matriz o fluxo de tarefas é
É importante estudar os recursos necessários, antes de insti- detalhado, cujo o eixo horizontal indica quais processos estão em
tucionalizar as mudanças, como: remanejar equipe, ferramentas, andamento e o eixo vertical mostra as etapas de produção ou os
mudanças no layout da organização, aquisição de programas (sof- responsáveis por cada processo. Possibilitando assim, uma visão
twares), entre outras. mais clara em relação ao fluxograma de processos.
Existem duas vertentes para a implantação das novas estraté- • Mapofluxograma: Principal mapeamento utilizado para li-
gias: nhas de produção, por exemplo. É a união de um fluxograma den-
• Implantação sistêmica, quando são utilizados softwares para tro de um layout industrial. Aqui, o fluxograma é representado
isso sobre o desenho da planta. Isso facilita a visão e compreensão da
• Implantação não sistêmica, que não necessitam de ferramen- movimentação de materiais e pessoas.
tas desse tipo. • BPMN: Tipo de modelagem de processos mais utilizado,
atendendo inclusive às normas especiais. Os símbolos são padro-
A visão dessa execução deve ser positiva, pois irá auxiliar orga- nizados com formas e cores previamente definidas, facilita muito
nização a estruturar melhor seus processos, não sendo que atrapa- mais a compreensão e representação de um processo complexo.
lhará o ciclo de trabalho. Como é de uma “linguagem universal”, se torna também possível
apresentar o fluxo para clientes, possibilita que novos integrantes
Monitoramento façam alterações agregando valor aos processos.
Através dos indicadores de desempenho pré-definidos, os no-
vos processos devem ser constantemente acompanhados. Geral-
mente, algumas das métricas a constar em cada processo são: o SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE E
tempo de duração, o custo, a capacidade (quanto cada processo CERTIFICAÇÃO
realmente produz) e a qualidade (medida com indicadores próprios
que variam de processo a processo). Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado em
tópicos anteriores.
Melhoria de Processos
Nessa etapa, observa-se os indicadores previamente levanta-
dos, onde se torna possível identificar quais são os principais garga-
los em todo processo e se os objetivos estão sendo conquistados. GOVERNO ELETRÔNICO
As melhorias podem ser concernentes a inclusão ou exclusão
de atividades, realocação de responsabilidades, documentação, O termo Governo Eletrônico (do inglês e-gov ou electronic go-
novas ferramentas de apoio e sequências diferentes, por exemplo. vernment), ou Administração Pública Eletrônica, se refere ao uso
Melhorar o desempenho para reduzir custos, aumentar a eficiência, da denominada Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e
aprimorar a qualidade do produto/serviço e melhorar o relaciona- Tecnologia da Informação, para informar e divulgar serviços ou
mento com o cliente, devem ser o objetivo. produtos do Governo à população. Para isto, utiliza as ferramentas
O processo todo em si é cíclico: finalizando essa fase, volta-se eletrônicas com o intuito de aproximar os cidadãos dos órgãos go-
a analisar a situação no negócio, investigam se os processos estão vernamentais. Dentre os recursos utilizados podemos citar os sites,
sinérgicos ao objetivo da empresa, mapeia-se novas situações dian- aplicativos para celulares e redes sociais ou telefones de serviços.
te das melhorias apontadas, executa-se as mudanças, monitoran- O objetivo do Governo Eletrônico é prover informações e serviços
do-as e otimizando-as. as pessoas.
O conceito de Governo Eletrônico surgiu logo após o ano de
Técnicas de Mapeamento 1993, com o lançamento do primeiro sistema de browser, nos Es-
Modelo AS-IS tados Unidos. Na época o então vice-presidente Al Gore, iniciou o
Levantar e documentar a atual situação dos processos, geral- primeiro Fórum Mundial de Reinvenção de Governo, onde se pro-
mente realizado pelos usuários diretamente envolvidos nos proces- punha o investimento em novas tecnologias nos sistemas de comu-
sos-chaves. nicação dos governos, para acompanhar o surgimento da evolução
O levantamento das principais oportunidades de melhorias é do ciberespaço.
realizado com as equipes através de entrevistas feitas com essas Outro significado deste termo é a utilização da tecnologia para
pessoas, que relatarão como são realizadas as atividades. informar 24 horas por dia e sete dias por semana. Desta maneira
o Governo abre um espaço para ouvir, debater organizar informa-
TO-BE ções da opinião pública. Além da interação, o principal objetivo é a
Após, é realizado o mapeamento “To-Be”, que define a meta a transparência e clareza das informações, principalmente no quesito
ser alcançada e as mudanças que será necessário implementar para da administração de recursos públicos.
isso. Nesse processo é importante documentar pontos de melho- Outro ponto importante no Governo Eletrônico é a integração
rias e acréscimos esperados quantitativamente, realizar a definição entre os poderes Legislativo, Executivo e demais esferas, desta ma-
dos recursos, ferramentas e responsabilidades de cada atividade. neira é possível habilitar um espaço para diálogo entre as partes,
sem a necessidade da presença física dos interessados.

106
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os serviços oferecidos na esfera do Governo Eletrônico podem Nessa nova realidade, as diversas esferas do poder público
ser: Prestação de Contas, com a divulgação de informações e dados têm que permanecer atentas à necessidade de adotar ferramentas
referentes as despesas públicas, finanças, orçamentos aprovados, de gestão que assegurem a qualidade e a transparência no setor
licitações em andamento e contratos no geral. Esta ferramenta tor- público. Somente assim será possível diagnosticar as rotinas afetas
na pública, as informações e atividades da gestão do governo. O aos produtos e serviços ofertados à população, e, a partir desses
serviço de Requisições, nas quais o cidadão pode requerer um tipo levantamentos, partir para a etapa do planejamento estratégico
específico de serviço ou se queixar sobre um serviço atrasado. Com e de seu desdobramento em planos de ação específicos, voltados
esta tecnologia, é possível diminuir o tempo de resposta, tornando àquele que deve ser o objetivo maior do gestor público: o bem-es-
ágil o serviço público. O Espaço para Discussão, também chamado tar do cidadão.
de Fóruns, nos quais as pessoas podem debater e opinar, ou ainda
propor novas ideias. Assim, as discussões podem ser levadas a pú- Partindo-se desse pressuposto, a excelência funcional e opera-
blico, o que as torna mais transparente e menos burocrática. O Ca- cional constitui-se no grande objetivo estratégico a ser perseguido
dastro e Serviço Online também é uma ferramenta de auxílio, por pelas organizações públicas em suas múltiplas esferas, tanto na ad-
meio de softwares específicos, o Governo disponibiliza serviços on- ministração direta quanto indireta.
line para os cidadãos, como por exemplo, a Declaração de Imposto
de Renda, que pode ser feito através da internet, sem complicação No Brasil, e administração direta é composta pela Presidência
e a necessidade de enfrentar filas para entregar os documentos. da República e pelos Governos estaduais e municipais. Dela partici-
pam ministérios, secretarias Casa Civil, núcleos (como o de assun-
Sobre o Gov.br tos estratégicos) e gabinetes (por exemplo, o de Segurança Institu-
cional). Da administração pública indireta fazem parte as empresas
“O desenvolvimento de programas de Governo Eletrônico tem públicas, as sociedades de economia mista, as fundações públicas,
como princípio a utilização das modernas tecnologias de informa- as autarquias, os consórcios públicos e as agências executivas e re-
ção e comunicação (TICs) para democratizar o acesso à informação, guladoras. Como se vê, é ampla a gama de atores que desempe-
ampliar discussões e dinamizar a prestação de serviços públicos nham papel relevante na gestão pública brasileira.
com foco na eficiência e efetividade das funções governamentais.
“No Brasil, a política de Governo Eletrônico segue um conjunto A principal mudança a ser implantada junto a esses interlocu-
de diretrizes que atuam em três frentes fundamentais: junto ao ci- tores é a conscientização acerca da importância de uma nova cul-
dadão; na melhoria da sua própria gestão interna; e na integração tura organizacional, focada em metas e objetivos. E cabe aos altos
com parceiros e fornecedores. escalões gerenciais a tarefa de implantar e consolidar as ferramen-
“O que se pretende com o Programa de Governo Eletrônico tas de qualidade nas organizações. Essa nova dinâmica operacional
brasileiro é a transformação das relações do Governo com os cida- torna-se ainda mais desafiadora quando ela se faz acompanhar de
dãos, empresas e também entre os órgãos do próprio governo de um processo de certificação fixado em padrões internacionais de
forma a aprimorar a qualidade dos serviços prestados; promover gestão.
a interação com empresas e indústrias; e fortalecer a participação Também se deve ressaltar a importância da auditoria da gestão
cidadã por meio do acesso a informação e a uma administração pública, não apenas para cumprir a legislação vigente, mas também
mais eficiente.”. para o melhor controle do patrimônio. Sem que isso seja feito, fica
muito mais complexo tomar decisões coerentes, atingir superávits
Histórico do Governo Eletrônico e cumprir o papel social esperado. Deve-se, portanto, considerar
seriamente as informações geradas pelo Sistema de Informações
Como já dito, o uso das Tecnologias da Informação e Comuni- Contábeis, no que concerne ao patrimônio das entidades. E é ao
cação (TIC’s) visa democratizar o acesso à informação, ampliando auditor das contas públicas que cabe a responsabilidade de respal-
assim o debate e a participação popular na construção das políticas dar tais informações.
públicas, além de aprimorar a qualidade dos serviços e informações
públicas prestadas. Lamentavelmente, porém, muitos gestores públicos ainda ca-
O Governo Eletrônico surgiu no ano 2000, quando foi criado minham a passos lentos na análise, acompanhamento e controle
um Grupo de Trabalho Interministerial (denominado Grupo de Tra- dos atos de gestão. Uma vez que o órgão público não tem como
balho em Tecnologia da Informação (GTTI)), instituído pelo Decreto prioridade a geração de lucro, sua situação patrimonial, por exem-
Presidencial de 3 de abril de 2000, com composição definida pela plo, pode ser negligenciada. Este é um erro, pois o que pertence ao
Portaria da Casa Civil nº 23, de 12.05.2000, com a finalidade de exa- coletivo deve contar com a mesma cautela e parcimônia com que
minar e propor políticas, diretrizes e normas relacionadas às novas se administram os bens e valores dos proprietários nas entidades
formas eletrônicas de interação. privadas
O trabalho do GTTI concentrou esforços em três linhas do pro-
grama: Fonte: http://www.administradores.com.br/noticias/nego-
1) Universalização de serviços; cios/gestao-publica-com-qualidade/36757/
2) Governo ao alcance de todos;
3) Infraestrutura avançada.
GESTÃO POR RESULTADOS NA PRODUÇÃO DE
Há muito tempo que a melhoria do gerenciamento da adminis- SERVIÇOS PÚBLICOS
tração pública está em pauta. Cada vez mais, exigem-se eficiência,
prestação de contas, ênfase na racionalidade dos procedimentos, Gestão Pública
apresentação de metas e indicadores claros. As coisas simplesmen- É a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade,
te não podem ser mais como no passado, quando as decisões eram agindo in concreto, segundo os preceitos da lei e da moral, visando
tomadas a portas fechadas e a população desempenhava um papel o bem comum, porém delimitado no tempo e no espaço.
estritamente passivo.

107
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

É um modelo de gestão em que o setor público passa a atuar para alcançar resultados, adotando postura empreendedora, voltada
para atender as necessidades da população.

No setor privado é voltado para atender o cliente.


A atuação governamental é caracterizada pela busca de padrões de eficiência, eficácia, efetividade e sustentabilidade, buscando re-
duzir custos para a sociedade e comprometendo o Estado com os cidadãos.

O que o Gestor Público Visa?

EFICIÊNCIA
Capacidade de produção da entidade, com o uso mais racional possível, de um conjunto de insumos necessários a essa produção.

EFICÁCIA
É o grau em que as metas de uma organização, para um dado período, foram efetivamente atingidas.

EFETIVIDADE
É o grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados pela instituição.

Sustentabilidade - É uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes sem comprometer a satisfação das neces-
sidades das gerações futuras.

108
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA GESTÃO PARA RESULTADOS

109
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Implementação – Fatores críticos Isto requer que, ao invés de representar uma iniciativa pontual,
- Compromisso e administração das mudanças: revisão do mo- a avaliação seja concebida como um processo contínuo.
delo de gestão, adaptação a nova cultura, descentralização, integra- Sexto, é preciso abrir a possibilidade da avaliação orientada
ção vertical e horizontal; para a inovação. Trata-se da avaliação que começa com início do
- Apoio e comprometimento dos dirigentes: formulação de ob- ciclo de uma política, quando há pouco conhecimento sobre a mes-
jetivos viáveis e operáveis (mapas estratégicos); ma. Este tipo de avaliação implica uma concepção ex-ante, ou seja,
- Iniciativa e compromisso gerencial: compromisso com a ferra- a avaliação que é construída anteriormente à própria formulação, a
menta de gestão e sinergia de ações; partir da qual se realizam simulações com a finalidade de identificar
- Gestão do tempo: maximização da produtividade e melhoria estratégias e propor cursos de ação . Isso, evidentemente, vai re-
contínua; querer o estabelecimento de uma base de informação (baseline) e a
- Adaptação ao contexto: conflitos de poder, oportunidades, coleta e análise de evidências capazes de sustentar políticas novas.
habilidades e capacidades, resistências, equilíbrio e sustentabilida- Um aspecto que deve ser considerado tem a ver com os avalia-
de; dores, suas habilidades e competências (além das habilidades analí-
- Análise e uso da Informação: confiabilidade, consistência, re- ticas que são tomadas como dadas). É fundamental que os avaliado-
solutividade e aplicação na tomada de decisão; res tenham capacidade de trabalhar com policy-makers no sentido
- Aprendizado Organizacional e individual: transformação de de estabelecer com eles parcerias estratégicas visando o melhor
padrões de conduta; aprendizagem como fator de desenvolvimento resultado das políticas públicas; isso significa superar a postura
pessoal e institucional; de que avaliadores e gestores se situam em campos opostos, sem
- Plano de trabalho para resultados: instituição de um plano de perder a características da independência da avaliação. Também é
aplicação e “praticar o que se prega”. essencial que o avaliadores sejam capazes de atuar junto aos stake-
holders, estabelecendo diálogos, ajudando a construir consensos e
Avaliação de Políticas, Programas e Projetos: Notas Introdu- a gerenciar mudanças. É igualmente necessário que o avaliador seja
tórias capaz de analisar a coerência da política e interpretar resultados
A avaliação de políticas públicas, programas e projetos gover- com o distanciamento necessário. Finalmente, é indispensável que
namentais tem finalidades bastante precisas: a avaliação tenha consequências. E isso significa elaborar planos
(1) accountability, significando estabelecer elementos para jul- de ação, formular recomendações visando o aperfeiçoamento das
gar e aprovar decisões, ações e seus resultados. políticas, programas e projetos. Essas habilidades são a base para
(2) desenvolver e melhorar estratégias de intervenção na re- a formação e consolidação de uma cultura de avaliação, capaz de
alidade, ou seja, a avaliação tem que ser capaz de propor algo a encarar as falhas como oportunidades de aprendizado para fazer
respeito da política que está sendo avaliada. mais e melhor em termos de políticas públicas.
(3) empoderamento, promoção social e desenvolvimento insti-
tucional, significando que a avaliação deve ser capaz de abrir espa- Entendendo o que significa “avaliação”
ço para a democratização da atividade pública, para a incorporação O termo “avaliação” é amplamente usado em muitos e diversos
de grupos sociais excluídos e para o aprendizado institucional e for- contextos, sempre referindo-se a julgamentos. Por exemplo, se va-
talecimento das instituições envolvidas. mos ao cinema ou ao teatro formamos uma opinião pessoal sobre
o que vimos, considerando satisfatório ou não. Se assistimos a um
Toda avaliação tem que enfrentar uma série de desafios. Pri- jogo de futebol, formamos opinião sobre as habilidades dos joga-
meiro, deve lidar com as limitações resultantes do fato de que uma dores. E assim por diante. Estes são julgamentos informais que efe-
das suas principais fontes de informações são registros administra- tuamos cotidianamente sobre todos os aspectos das nossas vidas.
tivos. Ora, como a avaliação nem sempre é concebida ex-ante, os Porém, há avaliações muito mais rigorosas e formais, envol-
registros administrativos não são elaborados com a perspectiva de vendo julgamentos detalhados e criteriosos, sobre a consecução de
prover os dados necessários à avaliação. Com isso, o avaliador sem- metas, por exemplo, em programas de redução da exclusão social,
pre tem que lidar com lacunas nesses dados e tentar ir além delas. melhoria da saúde dos idosos, prevenção da delinquência juvenil
Segundo, uma outra fonte de informações são os beneficiários, ou diminuição de infecções hospitalares. Para isso adota-se a ava-
dos quais se obtém dados diretos. Isso coloca a necessidade de liação formal, que é o exame sistemático de certos objetos, basea-
construir instrumentos fidedignos de coleta, bases de dados preci- do em procedimentos científicos de coleta e análise de informação
sas e confiáveis o suficiente para sustentar as apreciações a serem sobre o conteúdo, estrutura, processo, resultados e/ou impactos de
feitas. Assim, quanto mais sólido o treinamento metodológico do políticas, programas, projetos ou quaisquer intervenções planeja-
avaliador, melhor, embora a avaliação não se resuma à aplicação de das na realidade.
técnicas metodológicas. Muitos dos princípios da avaliação formal foram desenvolvidos
Terceiro, é fundamental que sejam avaliados os contextos. Há nos EUA no final dos anos 1960 e início da década de 1970, espe-
uma importante pergunta neste sentido: porque é que em contex- cialmente a partir do desenvolvimento das avaliações de impacto
tos diferentes as mesmas ações apresentam resultados diferentes? ambiental (AIA). Em 1969 observou-se que, embora fosse possível
Esta indagação dá a medida da relevância do contexto e indica a prever as mudanças físicas no meio ambiente, resultantes da cons-
necessidade de métodos próprios para o seu estudo. trução de um oleoduto no Alaska, não foram previstas as mudanças
Quarto, ao mesmo tempo que a avaliação implica associar sociais trazidas por tais mudanças físicas e nem o modo como as
meios e fins, é preciso abrir a possibilidade de exame de resultados mudanças sociais provocariam novas mudanças físicas. A constru-
não antecipados. Isto tem sido feito com métodos de “avaliação li- ção do oleoduto não somente provocou mudanças que afetaram os
vre dos resultados” ou “avaliação independente dos objetivos”, que animais da região e portanto afetou a atividade de caça dos nativos,
permite questionar se há outros processos que podem produzir tais alterando seus modos de vida e sua cultura.
resultados, independentemente dos objetivos e atos dos gestores.
Quinto, é preciso que a avaliação seja capaz de captar mudan-
ças através do tempo, retroalimentando as políticas, programas e
projetos.

110
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As construtoras do oleoduto levaram seus trabalhadores para Pode mostrar se as políticas e programas estão sendo concebidos
realizar as obras, e estes tinham cultura, língua e modos de vida de modo coordenado ou articulado; e em que medida estão sendo
diferentes. Além disso, muitos nativos acabaram precisando traba- adotadas abordagens inovadoras na resolução de problemas que
lhar na construção do oleoduto para sobreviver, já que a caça tinha antes pareciam intratáveis.
se tornado escassa. Tudo isso gerou novas mudanças ambientais e Pode indicar como vão sendo construídas as parcerias entre
sociais. Em 1973, pela primeira vez, foi usado o termo “impacto so- governo central e local, entre os setores público, privado e terceiro
cial” para relatar as mudanças na cultura indígena nativa do Alaska setor, identificar as condições de sucesso ou fracasso dessas parce-
devido ao oleoduto. rias e apontar como podem ser aperfeiçoadas a fim de ganharem
Em 1981 foi criada a Associação Internacional de Avaliação de abrangência e se tornarem estratégias nacionais das políticas de
Impacto, reunindo os interessados em avaliar impactos ambientais, desenvolvimento.
sociais, tecnológicos, bem como outros tipos de avaliação. O desen- Os modelos contemporâneos de formulação de políticas enfati-
volvimento da avaliação formal, inclusive da avaliação de impacto, zam a importância dos objetivos compartilhados em lugar das estru-
mudou a maneira pela qual os governantes e a sociedade encara- turas organizacionais ou das funções existentes. Mas a articulação
vam o planejamento e o desenvolvimento em geral, introduzindo a de políticas/programas não se resume a abordagens compartilha-
idéia-chave de que, em grande parte as mudanças podem ser ante- das de questões comuns. A articulação horizontal entre agências ou
vistas, acompanhadas e conduzidas. organizações requer melhor coordenação entre os gestores e me-
lhor articulação vertical entre os que tomam as decisões e os que
os implementam. Isto não é um fim em si mesmo, mas deve estar
A avaliação como instrumento de gestão
presente onde agrega valor, e é especialmente importante quando
Entre as inúmeras definições existentes pode-se sustentar que
as políticas ou programas se dirigem às questões socialmente per-
avaliação formal é
versas. Nesses casos, a avaliação formal permite aprender e incor-
(1) um julgamento (porque envolve valores) porar lições à implementação de novas políticas/programas.
(2) sistemático (porque baseia-se em critérios e procedimentos
previamente reconhecidos) Tipologia da Avaliação
(3) dos processos ou dos produtos de Desde a década de 1980 foram feitos significativos avanços na
(4) uma política, programa ou projeto, tendo como referência área de avaliação, tornando-se os conceitos mais precisos, as es-
(5) critérios explícitos, a fim de contribuir para tratégias e as técnicas mais adequadas e os instrumentos de coleta
(6) o seu aperfeiçoamento, a melhoria do processo decisório, o mais acurados.
aprendizado institucional e/ou o aumento da accountability. Além disso passou-se a distinguir os diversos tipos de avalia-
ção que se pode efetuar. Hoje é possível discriminar as avaliações
Assim sendo, é possível reconhecer que a avaliação contém segundo o foco ou objeto, a lógica que orienta sua concepção, a
duas dimensões. A primeira é técnica, e caracteriza-se por produ- ênfase metodológica, etc. A fim de ordenar um pouco a discussão
zir ou coletar, segundo procedimentos reconhecidos, informações são apresentadas a seguir algumas das possibilidades da avaliação
que poderão ser utilizadas nas decisões relativas a qualquer polí- formal.
tica, programa ou projeto. A segunda é valorativa, consistindo na Segundo o foco ou objeto, as avaliações podem ser:
ponderação das informações obtidas com a finalidade de extrair 1 - Avaliação Jurídica ou Avaliação de Conformidade – corres-
conclusões acerca do valor da política, programa ou projeto. Ainda ponde ao exame da conformidade dos atos do gestor em relação à
assim, a finalidade da avaliação não é necessariamente distinguir lei, na condução da política pública, programa ou projeto.
as intervenções de qualquer natureza segundo sejam “boas” ou 2 - Avaliação de Desempenho - refere-se ao que se faz com re-
“más”, “exitosas” ou “fracassadas”. Muito mais importante e pro- lação a uma política, programa ou projeto. Compreende dois sub-
veitoso é apropriar-se da avaliação como um processo de apoio tipos:
a um aprendizado contínuo, de busca de melhores decisões e de 2.1 - Desempenho institucional - tem como finalidade apreciar
amadurecimento da gestão. em que medida uma instituição realiza a missão que lhe foi atribuí-
A avaliação formal permite julgar processos e produtos de vá- da, mediante a consecução dos seus objetivos e o cumprimento de
rios modos. Primeiro, levantando questões básicas tais como os suas metas.
2.2 - Desempenho pessoal1 - destina-se a averiguar em que
motivos de certos fenômenos (por exemplo: o que causa os ele-
medida cada indivíduo em uma instituição cumpre suas atribuições
vados índices de morte violenta entre os jovens brasileiros?). Este
e contribui para o alcance dos objetivos e metas da instituição. Tam-
tipo de avaliação pode focalizar relações de causa e efeito com a
bém focaliza a produtividade do desempenho pessoal e a qualidade
finalidade de recomendar medidas para lidar com o problema.
dos serviços prestados.
Em segundo lugar, a avaliação formal pode ser usada como ins- 3 - Avaliação de Processo – significa o conjunto de ações desti-
trumento de acompanhamento de políticas ou programas de longo nadas a produzir um bem ou serviço ou a desencadear alguma mu-
prazo. Nesses casos são realizadas várias avaliações em estágios- dança numa dada realidade. Este tipo de avaliação se subdivide em:
-chave da política ou programa, a fim de prover dados confiáveis 3.1 – Monitoramento ou avaliação em processo – trata-se
sobre os seus impactos e sobre como podem ser estes mitigados da utilização de um conjunto de estratégias destinadas a realizar
ou melhorados. o “acompanhamento” de uma política, programa ou projeto, de
Em terceiro, ao final de um programa ou projeto a avaliação modo a identificar de maneira oportuna e tempestivamente as
pode indicar o seu sucesso na consecução dos seus objetivos e per- vantagens e pontos frágeis na sua execução, a fim de efetuar os
mitir avaliar a sua sustentabilidade, ou seja, a possibilidade da sua ajustes e correções necessários à maximização dos seus resultados
continuidade através do tempo. e impactos.
A avaliação formal pode contribuir para aperfeiçoar a formu- O monitoramento tem por base o plano de trabalho de uma
lação de políticas e projetos especialmente tornando mais respon- política, programa ou projeto e representa uma ferramenta de uso
sável a formulação de metas, e apontar em que medida os gover- cotidiano na gestão destes. Orienta-se para a busca de respostas
nos se mostram responsivos frente às necessidades dos cidadãos. às seguintes indagações: Em que medida são cumpridas as ativi-

111
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
dades especificadas na programação? Em que medida estão pre- tiva. Além das categorias básicas, os projetos sociais podem envol-
sentes os recursos necessários? Com que grau de tempestividade? ver ainda custos adicionais do usuário e custos de oportunidade3.
Em que medida está sendo observada a sequência das ações? Qual Essa modalidade de avaliação ex-ante envolve a construção de uma
o grau de proximidade observado entre a quantidade e qualidade matriz de custos, que contém todos os custos que se espera que
das ações, serviços ou produtos planejados e os que estão sendo uma intervenção requeira em cada período de execução, divididos
executados? Em que medida a intervenção vem atingindo a popu- entre as diversas categorias acima mencionadas. A análise ex-ante
lação-alvo? Que manifestações de queixa ou satisfação ocorrem de impacto consiste na estimação do impacto de cada alternativa,
entre os diversos atores envolvidos na execução da política, pro- derivado dos objetivos propostos. Essa estimação pode basear-se
grama? Onde podem ser identificados pontos de estrangulamento no Método Delphi4 ou pode envolver o cálculo do “custo por unida-
na produção de bens ou serviços? Que recursos vem se mostrando de de impacto”, que corresponde ao custo de realização de 1% do
sub-utilizados? Que oportunidades existem para otimizar a explora- impacto para um determinado objetivo, usando uma determinada
ção do recurso X? alternativa, em um período de um ano (por exemplo, a redução do
índice de mortalidade infantil). Em ambos os casos, a matriz de cus-
3.2 – Avaliação de processo ou “a posteriori’ - trata-se do exame tos é usada para a tomada de decisão, monitoramento e avaliação.
das estratégias, procedimentos e arranjos (inclusive institucionais) Uma outra lógica de concepção é usada na avaliação ex-post.
adotados na implementação de uma política, programa ou projeto, Em se tratando da perspectiva generalizada, refere-se à avaliação
com a finalidade de identificar os pontos onde podem ser obtidos que é concebida sem relação com planejamento e nem mesmo com
ganhos de eficiência e eficácia. Tem por hipótese central a idéia de o processo de implementação, sendo desenhada quando a política,
que os meios adotados afetam os resultados. Portanto, o seu objeto programa ou projeto já se encontra consolidado ou em fase final.
de análise é o “como” uma ação foi executada, ou seja, a cadeia de Na acepção restrita, a avaliação ex-post não diz respeito ao mo-
passos adotados desde a formulação da política ou programa até a mento em que se pensa ou se planeja a avaliação. O foco, nesse
obtenção do seu produto final. caso recai sobre o que é calculado: o custo efetivo de cada alternati-
4 - Avaliação de Produto – é toda avaliação cujo foco recai so- va, pelo mesmo processo de análise de custos da avaliação ex-ante,
bre os produtos de uma política, programa ou projeto, em suas vá- porém tendo como referência os valores efetivamente dispendidos.
rias dimensões, as quais dão origem a diferentes modalidades: Embora usando os mesmos procedimentos de cálculo, os impactos
4.1 – Avaliação de Resultados: Tem por objeto os resultados, são mensurados por meio da comparação entre a situação inicial da
também chamados de “outputs”, significando bens ou serviços de população-alvo (baseline) e a sua situação ao final de um certo pe-
ríodo de tempo. É possível comparar os impactos observados tam-
um programa ou projeto que são necessários para que seus objeti-
bém com os impactos estimados na avaliação ex-ante, para verificar
vos finais sejam alcançados. Por exemplo, os serviços de extensão
se a seleção de alternativas de intervenção foi ótima.
agrícola proporcionados aos agricultores para que produzam uma
As avaliações também podem se distinguir segundo suas fina-
cultura “x” ou para que aumentem a sua produtividade. Mas tam-
lidades e, portanto as questões que colocam. Nesta perspectiva há
bém pode focalizar os resultados obtidos com uma política, pro-
dois tipos:
grama ou projeto, indicados como seus objetivos de curto prazo
ou intermediários, chamados de “outcomes”. Ex.: aumento da área
Avaliação de matriz, de estrutura, ou de modelo
cultivada com a cultura “x” ou aumento da produção por hectare ou
Destina-se a identificar os pontos fortes e as fraquezas de uma
aumento da venda dos agricultores. intervenção. A informação coletada refere-se ao desenho e imple-
4.2 – Avaliação de Impactos: trata-se de avaliação de um ou mentação da política/programa ou projeto, de modo a julgar a sua
mais resultados de médio ou longo prazo, definidos como “impac- eficácia. O objetivo é verificar se alguma mudança é necessária a
tos”, ou seja, consequências dos resultados imediatos. Ex.: elevação fim de aperfeiçoar a política/programa/projeto. Pode ser realizada
da qualidade de vida no meio rural, melhoria do abastecimento dos como monitoramento ou a posteriori, periodicamente
centros urbanos, aumento da poupança devido à redução das im- As questões típicas deste tipo de avaliação são:
portações, etc.. Adiante, neste texto, serão apresentados detalhes (a) Os objetivos da política/programa estão claramente formu-
das avaliações de impactos. lados em termos de resultados a serem obtidos?
4.3- Avaliação de Qualidade: o produto pode ser avaliado, tam- (b)Existe uma compreensão compartilhada dos significados
bém, quanto à sua qualidade. Ou seja, a capacidade de um bem dos objetivos e um compromisso dos envolvidos para com a imple-
ou serviço atender às expectativas do seu público-alvo. Nesta di- mentação dos objetivos?
mensão se incluem, por exemplo, as avaliações de satisfação dos (c) A política/programa foi implementada conforme o preten-
usuários de um serviço, tão em voga nos anos recentes. dido?
A avaliação pode variar, também, conforme a lógica que orien- (d) Há alguma evidência de desempenho subótimo requerendo
ta sua concepção. Nesse caso, pode-se falar de avaliação ex-ante e redesenho da implementação ou ações de correção?
de avaliação ex-post. (e) Se o desempenho é sub-ótimo, quais as suas causas e como
podem ser tratados?
Numa acepção mais generalizada, a avaliação ex-ante expres- (f) A população alvo, os beneficiários ou as pessoas mais afeta-
sa uma concepção holística, interativa e iterativa, segundo a qual a das pela política/programa estão satisfeitas com o serviço ou bens
avaliação se inicia desde o momento em que se define o problema que estão recebendo?
ou necessidade que justifica a política, programa ou projeto, integra (g) A política ou programa está sendo implementada de modo
as discussões em torno da formulação das alternativas, envolve a articulado com outras ações, de forma a contribuir para os objeti-
tomada de decisão, e acompanha o processo de gestão, informan- vos governamentais mais amplos?
do-o sobre os seus avanços, riscos e limitações, desvios a corrigir,
vantagens a maximizar, etc. Avaliação de substância ou de conteúdo
Numa outra acepção, mais restrita, a avaliação ex-ante consiste Destina-se a informar os gestores para que decidam se uma
na análise de eficiência e na análise de impacto. A primeira cor- política ou programa deve continuar, ser interrompida ou mudada.
responde, especificamente, ao cálculo de custos de cada alterna- O foco recai sobre os resultados (eficácia) e impactos (efetividade).

112
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
As questões típicas desse tipo de avaliação são: IV) Aspectos comportamentais e efetividade organizacional –
(a) A política ou programa tem produzido os outputs, resulta- os comportamentos dos indivíduos e a cultura organizacional afe-
dos e impactos pretendidos? tam os outputs e outcomes de uma política/programa. Estes aspec-
Em que medida? tos costumam ser difíceis de avaliar e geralmente são considerados
(b) Esses resultados mostram-se sustentáveis pelo período evidências “ fracas”. Porém, a adaptabilidade é a base da sustenta-
pretendido? bilidade e pode ser útil avaliar a capacidade das organizações para
(c) Os pretendidos beneficiários estão de fato se beneficiando? mudar e responder à inovação5.
Há algum grau de exclusão social ou geográfica não pretendida? ( V) Análise Longitudinal – trata-se da análise diacrônica, que
d) Há algum efeito negativo para o qual os resultados tenham pode ser realizada durante vários anos. Permite acompanhar resul-
contribuído? Ou que deveria ter sido evitado? Ou para o qual será tados e impactos ao longo do tempo. Permite reduzir o risco de
necessária alguma ação de mitigação? bias. Pode-se valer de registros administrativos e dados secundá-
(e) A política ou programa é condição para ou é complementar rios.
a políticas mais amplas? VI) Abordagem experimental – é a mais adequada ao exame de
(f) Que lições podem ser extraídas, que possam contribuir para relações de causa e efeito. Requer a criação/definição de grupo ex-
aperfeiçoar a busca de resultados em programas futuros? perimental e grupo de controle (que não foi exposto à intervenção).
Várias outras dimensões e aspectos podem ser usados para Usualmente, procura-se manter constantes as características de
mapear os tipos e as possibilidades de avaliação, mas estas são as ambos os grupos e efetuar seleção aleatória dos seus componen-
principais. A seguir serão apresentados os conceitos e descritas as tes. Há situações em que não é possível formar grupos de controle,
estratégias e técnicas adotadas na sua realização. então usa-se a chamada “abordagem quasi-experimental”, exami-
nando o momento anterior e o momento posterior a uma política
Conceitos Básicos na Avaliação ou programa.
I) Causa e efeito – as avaliações geralmente buscam relações de VII) Sustentabilidade – trata-se de identificar fatores essenciais
causa e efeito entre a política/programa e a mudança social, econô- à produção de certos outputs, outcomes e impactos e averiguar se
mica, cultural, tecnológica, etc. (a) estão todos disponíveis;
Como regra, nessas hipóteses, a política/programa avaliado é a (b) estão adequadamente garantidos para assegurar que a polí-
variável independente e a mudança planejada é a variável depen- tica/programa provavelmente terá continuidade e não será apenas
dente. Não se trata de relações causais segundo o máximo rigor um evento isolado. Os fatores essenciais podem ser infraestrutura,
da metodologia científica. Na verdade, os avaliadores estão procu- treinamento, incentivos, mudanças de comportamento, recursos
rando regularidades ou padrões em séries de eventos. Em geral, organizacionais, etc.
quando se atribui um valor numérico às variáveis torna-se possível
usar técnicas estatísticas como análise bivariada e multivariada. A O Processo de Avaliação
análise se torna mais difícil quando não é possível quantificar. Por A definição, desenho e manejo da avaliação requerem o conhe-
exemplo, diferentes padrões de comportamento social podem ser o cimento de três elementos:
principal fator que afeta as reações das pessoas numa campanha de 1 – O marco conceitual que define o que a política/programa
educação sanitária, mas é difícil colocar isto em termos numéricos. ou projeto deve realizar. Ou seja: os objetivos máximos, as metas, as
Nestas situações é útil distinguir os fatores que podem ser clara- estratégias ou atividades (ações) selecionadas para atingir objetivos
mente atribuídos a um resultado e aqueles que apenas contribuem e metas e as relações supostamente existentes entre os objetivos
para o mesmo. Em qualquer caso é essencial ter uma clara compre- estabelecidos e as ações propostas.
ensão dos outputs e outcomes. 2 – Os stakeholders, ou seja todos os atores que tenham al-
II) Efeito atribuído e contribuição – acima foi feita uma distin- gum tipo de interesse na política/programa/projeto: os gestores, as
ção entre o que pode ser atribuído a um resultado e o que contribui populaçõesalvo, os fornecedores de insumos, os financiadores (in-
para o mesmo. Como diferenciar estes dois status? Os fatores atri- clusive os contribuintes), os excluídos e os diferentes segmentos da
buídos a um resultado podem ser identificados indagando-se: “se o sociedade civil envolvidos direta ou indiretamente. Especialmente
fator “X” não existisse ou se não fosse assegurado, o resultado “Y” útil, neste ponto, é a matriz de análise de stakeholders, em anexo.
aconteceria?” Se a resposta for Não o fator em tela provavelmente 3 – Os critérios que serão usados para avaliar a política/pro-
é atribuído. grama/projeto. Esses critérios estabelecem quais as características
Por outro lado, se outros fatores podem afetar o resultado, mas esperadas dos processos (ações) e/ou dos resultados (outputs/ou-
a sua força é menor, eles terão contribuído para aquele resultado. tcomes/impactos). Usualmente são cinco os critérios adotados nas
Por exemplo, na hipótese de que “na falta de emprego entre ex- avaliações de política/programas/projetos:
-presidiários resulta na reincidência no crime”. O fator que pode ser • Eficácia – a capacidade de produzir os resultadosesperados/
atribuído à reincidência é a falta de emprego. Mas há fatores que desejados.
contribuem para a reincidência, como a falta de apoio social para a • Eficiência – a capacidade de produzir os resultadosdesejados
adaptação à vida livre, etc. Podem ocorrer casos onde não há um com o menor dispêndio de recursos (humanos, materiais e finan-
fator especificamente atribuído, mas vários fatores que contribuem ceiros).
para um resultado, todos eles merecedores de ações intecionais de • Efetividade –a capacidade de produzir resultadospermanen-
mudança. tes, diretos e indiretos, usualmente definidos como impactos, ou
III) Paradigmas diferentes – um paradigma é um modelo ou um seja, as conseqüências maiores de um resultado; e de produzir o
conjunto de postulados que expressam uma forma de conceituar número possível de efeitos colaterais ou externalidades negativas.
e interpretar certas situações. Isto significa que o paradigma do • Equidade – a capacidade de contribuir para a redução das
avaliador provavelmente influenciará os métodos de análise que desigualdades e da exclusão social.
ele escolhe, mas também que a própria política ou programa é in- • Sustentabilidade –a capacidade de desencadear mudanças
fluenciada pelo paradigma do seu planejador/gestor. Portanto é útil sociais permanentes, que alteram o perfil da própria demanda por
identificar o paradigma subjacente a uma política/programa, pois políticas/programas sociais e que retroalimentam o sistema de po-
facilita entender o seu contexto. líticas sociais.

113
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A tarefa de avaliação de políticas/programas/projetos pode ser Avaliação Independente de Objetivos – não se inicia pelos obje-
facilitada quando são observados alguns passos essenciais: tivos da política ou programa, mas com a população-alvo mais afe-
1 – Identificação e caracterização dos stakeholders, ou seja os tada pelo mesmo. A finalidade é apurar os resultados e impactos da
atores individuais e/ou coletivos e as agências governamentais e or- política ou programa, examinando como e quanto a população-alvo
ganizações privadas que têm seus interesses afetados pela política/ é afetada e comparando esses dados com o que a política/progra-
programa ou projeto em avaliação. ma especificamente indica como objetivos. Dessa forma procura-
2 – Identificação dos usuários do processo de avaliação e de- -se evitar o bias trazido pelo prévio conhecimento dos objetivos: o
mais interessados no mesmo e sua incorporação ao desenho e ma- avaliador conhece a clientela e o programa, mas não seus objetivos
nejo do processo. precisos.
3 – Identificação do marco conceitual da política/programa/ Avaliação de Quarta Geração – focaliza as queixas, interesses
projeto, com a definição dos objetivos, recursos necessários, ações e reinvidicações dos stakeholders. O objetivo é capturar e compre-
ou estratégias e seus responsáveis ou encarregados e dos resulta- ender as percepções dos atores envolvidos e afetados pela política/
dos esperados. programa. Em vez dos objetivos explicitados, os custos, riscos e be-
nefícios são examinados “através dos olhos” dos stakeholders.
4 – Definição das questões de avaliação: perguntas que os in- 2) Meta Avaliação - freqüentemente uma política ou programa
teressados pretendem responder mediante o processo avaliativo e passa por diversas avaliações em diferentes estágios da sua formu-
dos critérios a serem usados na avaliação. lação e implementação. Essas avaliações podem focalizar diversos
5 – Identificação das informações necessárias e das fontes de aspectos e informantes. Elas são o material para a Meta-avaliação.
informação. Seleção dos indicadores. Não podem ser tomadas pelo seu valor de face, mas são examina-
6 – Seleção, elaboração e teste das estratégias, técnicas e ins- das de modo a propiciar uma visão da qualidade e do contexto em
trumentos de coleta de dados. que a política/programa se desenvolveu. A Meta-avaliação serve
7 – Definição dos métodos de análise dos dados obtidos. para nos situarmos melhor sobre a política/programa, identificar-
8 – Coleta e sistematização dos dados. mos problemas recorrentes, contradições, etc6. Os critérios para
9 – Análise dos dados e elaboração de conclusões. apreciar esses relatórios de avaliação são:
10 – Estratégias para disseminação dos resultados da avaliação a) confiabilidade das evidências ou dados nos quais as avalia-
e para aperfeiçoamento do processo avaliativo. ções se baseiam;
b) período em que foram realizadas, que dá o contexto da ava-
Estratégias de Avaliação liação e indica se os dados ainda são válidos;
Uma política, programa ou projeto pode ser tratada de diversas c) qualidade, expertise e independência dos avaliadores;
formas, abordando diferentes dimensões, segundo sua especifici- d) aceitabilidade das recomendações apresentadas;
dade e segundo os aspectos considerados mais prioritários para a e) ações que resultaram da avaliação.
avaliação.
Dependendo das características da intervenção e dos interes- 3) Mapeamento Organizacional – trata-se de examinar o arran-
ses quanto ao foco da avaliação, pode-se adotar uma ou outra das jo organizacional para a decisão/implementação de uma política,
seguintes estratégias de avaliação: programa ou projeto, já que podem ser muitas e complexas as liga-
1) Avaliação Participativa – trata-se de um conjunto de procedi- ções entre agências e instâncias envolvidas. A análise focaliza como
mentos desenvolvidos com a finalidade de incorporar tanto os usu- (e se) as agências envolvidas em uma política/programa são orga-
ários como as equipes de gestores ao processo de monitoramento nizadas de modo a
e avaliação. A seguir são descritas algumas das modalidades de Ava- (a) evitar duplicação ou superposição e assegurar que suas
liação Participativa ações sejam articuladas e complementares;
Participatory Impact Monitoring (PIM) – não focaliza planos ou (b) garantir um interface consistente e facilmente compreensí-
sistemas de objetivos formalizados, mas as percepções individuais vel com os usuários/clientes;
dos beneficiários e outros afetados pelas políticas, programas ou (c) atingir um objetivo comum e sustentável;
projetos, com a finalidade de tornar rotineira e amadurecida a prá- (d) a presença dos incentivos adequados e os procedimentos
tica de refletir e analisar as atividades e mudanças introduzidas por necessários para promover efetiva parceria. Este tipo de técnica re-
uma intervenção em suas vidas e na sua comunidade. Consiste nos quer os seguintes passos:
seguintes passos:
I – promoção de um debate entre os beneficiários/afetados so- [1] – identificar todas as organizações ou partes de uma orga-
bre as suas principais expectativas e receios para o futuro próximo, nização que possam influenciar o sucesso ou fracasso da política/
envolvendo a política, programa ou projeto em tela. programa/projeto ou um exame.).
II – a partir dos elementos levantados neste debate, a equipe [2]– estimar a contribuição de cada agência para a consecução
externa, facilitadora deste processo, constrói alguns indicadores, de cada um dos objetivos da política/programa/projeto. Procurar
usando o detalhamento, pelos participantes, de exemplos concre- esclarecer tal contribuição segundo pontuação ou níveis (alto/mé-
tos daquilo a que se referem. Esses exemplos são generalizados e dio/baixo).
tomados como indicadores a partir daí. [3]– produzir um “mapa” organizacional mostrando os vínculos
III – escolha de uma comissão de observadores que fica encar- entre as agências e entre estas e os principais resultados.
regado de acompanhar as atividades e mudanças priorizadas no de- [4]– usando tal mapa, avaliar se o envolvimento de cada agên-
bate inicial. A cada reunião (realizada em intervalos regulares) esta cia é relevante, consistente e complementar.
comissão abre o debate falando sobre as mudanças constatadas
desde a ultima reunião.
Esta descrição serve de insumo para o debate do grupo, que
procede a uma avaliação conjunta da situação e decide sobre pos-
síveis medidas corretivas, novas atividades e sugere novos indica-
dores.

114
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
[5]– investigar lacunas aparentes, gargalos, superposições, contradições (por exemplo, onde os inputs de uma organização parecem
inconsistentes com os de outra; onde os mais afetados pelos resultados desejados são incapazes de procurar esclarecimentos porque a
interface com os clientes não está clara; ou onde o programa como um todo parece incoerente e mal organizado, colocando em risco seus
resultados e impactos).

Para o mapeamento organizacional é útil usar critérios como: compartilhamento de objetivos e metas; clareza da comunicação; com-
partilhamento dos riscos (e ônus) de não consecução dos resultados; grau de compartilhamento do financiamento do programa; apoio
para atuar em conjunto; responsabilização compartilhada. Usa-se surveys e grupos focais para obter dados que permitam estimar o peso
de cada critério.

4) Marco Lógico – Trata-se de uma estratégia que permite definir os fatores e os vários estágios de uma política/programa. Na sua
forma mais simples um marco lógico pode assumir a seguinte representação:

Vantagens desta estratégia:


a) provê a compreensão de como o programa foi concebido em termos de funcionamento , principais impactos, outputs, outcomes e
de como efetivamente se realizou; permite avaliar o afastamento entre o planejado e o realizado.
b) ajuda a identificar projetos que necessitam ser incrementados ou componentes (recursos financeiros, tecnológicos e humanos,
parcerias, etc.) que são condições para produzir os outputs e outcomes pretendidos.
c) ajuda a identificar onde os vários inputs e outputs têm relações implausíveis ou inconsistentes.
d) permite identificar pontos-chave para a mensuração de resultados e questões essenciais para a avaliação, tornando mais fácil fo-
calizar a coleta de dados.
Um aspecto crítico do Marco Lógico é a identificação e descrição dos fatores contextuais externos ao programa, que não estão sob
controle (governabilidade) e que podem influenciar positiva e negativamente os seus resultados e impactos. É preciso examinar as condi-
ções externas sob as quais um programa é implementado e definir como estas podem afetar os outputs, outcomes e impactos.

5) Análise de Custo-benefício – corresponde à estimação dos benefícios tangíveis e intangíveis de um programa e os custos de sua
realização.
Por exemplo, num programa de alfabetização, os benefícios tangíveis seriam a redução do analfabetismo, o aumento da escolarização
global, etc. Os benefícios intangíveis seriam o aumento da auto estima, do exercício da cidadania, etc.
Após serem identificados, tantos os custos como os benefícios devem ser transformados em uma medida comum, geralmente uma
unidade monetária. Evidentemente, há custos que são imensuráveis do ponto de vista ético. Porém, ainda assim é útil tentar transforma-
-los em medidas. Por exemplo, é sempre válido o esforço de estimar o custo da violência e/ou o custo da miséria, em termos objetivos, de
modo a mostrar como são vantajosas as medidas de mitigação.
Uma variante desta análise é a de custo-efetividade, na qual somente os custos são estimados em unidades monetárias. Os benefícios
são expressos de alguma outra forma quantitativa. Por exemplo:
Num programa de distribuição de renda a famílias com crianças carentes o custo-efetividade pode ser expresso da seguinte forma:
“cada R$ 1.000,00 dispendidos pelo programa aumentam os níveis de escolaridade, na média, em 1 ano para cada 100 crianças.”
É importante ter claro que todo programa ou projeto pode apresentar efeitos colaterais ou externalidades, ou conseqüências não
pretendidas, que podem ser benéficas ou prejudiciais. Tais efeitos devem ser incluídos na análise.

6) Mapeamento Cognitivo – é uma técnica de coleta de dados adequada tanto à formulação de políticas/programas quanto à sua
análise. É um instrumento para saber como os indivíduos percebem a operação de uma política/programa ou projeto. Possibilita
(a) visualizar e esclarecer as percepções dos informantes no momento de coleta de dados;
(b) focalizar os pontos fortes e as fraquezas do programa;
(c) focalizar as percepções sobre os outcomes e impactos dos programas;
(d) compreender os problemas a partir da perspectiva das pessoas envolvidas e afetadas pelo programa examinado.

115
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O Mapeamento Cognitivo compreende os seguintes passos: O terceiro método equivale, por assim dizer, a uma combina-
(1) Identificar os atores que tem maior influência ou que são ção dos dois anteriores. Permite comparar situações similares para
mais afetados pelo programa examinado. realizar previsões para o futuro. Se as situações examinadas com-
(2) Realizar sessões de brainstorming com esses atores, indivi- põem áreas relativamente próximas ou contíguas, permite avaliar o
dualmente ou em grupos focais, de modo a formar um quadro de alcance (extensão no espaço) dos impactos. E permite re-examinar
como eles percebem o programa em termos de: interesses, incen- situações de intervenção para avaliar quais foram os impactos efe-
tivos, operação, vantagens, fragilidades, outputs, outcomes, impac- tivos, de modo a medir a consistência entre o impacto previsto e o
tos. impacto efetivo. É o que se entitula “análise de controle de impac-
(3) Com a participação dos entrevistados, inicia-se um esfor- tos e análise prospectiva”.
ço de ordenar e representar graficamente suas visões. O resultado Qualquer que seja o método adotado, entretanto, a primeira
deve ser um mapa lógico apontando os fatores que exercem influ- tarefa, para a Avaliação de Impacto Social é, sempre, selecionar as
ência sobre o funcionamento do programa. Quando são identifica- situações a serem examinadas. Os critérios básicos de seleção são
das dificuldades, deve-se solicitar aos informantes que digam sob similaridade e comparabilidade. Tais critérios compreendem algu-
que condições tais dificuldades podem ser consideradas aceitáveis mas dimensões-chave que devem ser contempladas:
ou como podem ser solucionadas. (1) unidade sócio-espacial de análise (município, assentamen-
(4) Analisar o mapa completo com o foro na identificação de to, etc), pois cada um destes possui diversas características pró-
vantagens e desvantagens, lacunas e superposições recorrente- prias; por exemplo, o grau de autonomia e de complexidade de um
mente apontadas pelos diversos informantes. município é muito distinto do de um bairro, e assim por diante. Isto
não significa que só se possa analisar um tipo de unidade, mas que
7) Mystery Shopping – é uma estratégia observacional, basea- devem ser selecionados vários exemplares de cada tipo, de maneira
da no princípio de que a melhor maneira de avaliar a qualidade de a permitir a comparação intra-tipos e entre-tipos.
um serviço ou de compreender os seus efeitos sobre os usuários é (2) características geográficas e sócio-culturais similares. Vale a
experimentar a condição de usuário daquele serviço. O que a di- mesma observação feita quanto às unidades de análise.
ferencia de qualquer outra forma de observação participante é o (3) projetos de magnitude, metodologia, tipo e finalidades
fato de que o avaliador não revela a sua identidade ou condição. (resultados) similares. Observe-se que deve-se compatibilizar esta
Esta estratégia requer bastante cuidado na seleção da amostra para dimensão (3) com as dimensões (1) e (2). Como princípio metodo-
assegurar que os locais visitados sejam representativos. lógico deve-se compor grupos homogêneos – tanto quanto possível
8) Avaliação de Impacto Social – trata-se de um conjunto de - de situações a serem analisadas, combinando-se estas três dimen-
estratégias destinadas a isolar e mensurar as conseqüências dos re- sões, que se referem à natureza da comunidade e do projeto.
sultados obtidos com as políticas, programas ou projetos. Um dos As duas outras dimensões referem-se aos dados disponíveis
grandes desafios da Avaliação de Impacto é conseguir isolar, em para análise: (4) bases de dados com datas similares (horizonte de
uma situação específica, as mudanças “naturais” - por assim dizer - tempo coberto,); (5) fontes de dados comparáveis (variáveis e cate-
e as mudanças “provocadas”, ou seja: gorias compatíveis).
(i) resultantes de uma determinada intervenção, cujo impacto
se pretende avaliar; e A segunda tarefa, na avaliação de impacto social, é selecionar
(ii) resultantes de outras intervenções. a(s) perspectiva(s) de análise, porque isso estabelece a referência
para a elaboração/seleção dos indicadores. Vale assinalar que a cla-
Na tentativa de responder a este desafio podem ser adota- ra definição da perspectiva de análise é essencial, porque os impac-
dos três métodos para avaliar impacto social. O primeiro baseia-se tos sociais podem variar conforme diversas dimensões.
numa abordagem sincrônica. Significa, basicamente, identificar um Para começar, podem variar quanto à escala. Por exemplo, uma
conjunto de situações reais comparáveis (S), dotadas de caracte- determinada intervenção pode gerar 50 ou 1000 empregos, etc.
rísticas similares ou equivalentes, de acordo com as variáveis se- Pode alterar a produtividade de uma certo tipo de cultivo em 1%
lecionadas para a análise de impacto. Em seguida, separa-se dois ou em 500%.
subconjuntos: o primeiro (S1), composto por situações onde se Isto exemplifica a variação de escala do impacto obtido.
pretende realizar intervenções; o segundo (S2), constituído de situ- Os impactos sociais igualmente podem variar em intensidade.
ações onde isso não ocorre. A seguir, tendo início as intervenções Por exemplo, uma intervenção pode transformar radicalmente os
(X), acompanha-se, nos dois subconjuntos, sob perspectiva compa- padrões de vida, hábitos e comportamentos de um grupo ou popu-
rativa, o comportamento das variáveis selecionadas. Este método, lação ou mudá-los apenas marginalmente.
de lógica sincrônico-comparativa, é também denominado “acom- Os impactos sociais variam, também, conforme a extensão no
panhamento de impactos”. espaço. Ou seja, determinadas intervenções têm impacto locali-
Outro método envolve a abordagem diacrônica. Significa iden- zado, outras têm desdobramentos sobre áreas contíguas, mais ou
tificar uma ou mais situações-objeto de intervenções. Realiza-se menos amplas, alterando a distribuição da população, provocando
uma descrição/mensuração/caracterização de cada uma das situ- migrações, etc.
ações (diagnóstico) no momento imediatamente anterior à inter- Os impactos sociais variam, ainda, quanto à duração no tempo.
venção (Tzero), a partir das variáveis selecionadas para a análise de Vale dizer, uma intervenção pode gerar empregos em uma área du-
impacto. Em seguida, examina-se os diversos aspectos da interven- rante curto período de tempo, podendo atrair trabalhadores tem-
ção (X). E, por fim, compara-se o comportamento das variáveis em porários, etc, até se esgotar. Outras têm impacto de maior duração
Tzero com o seu comportamento em um momento dado, após a pois geraram atividades econômicas dotadas de sustentabilidade,
intervenção (T1). de modo que, quando a intervenção se esgota, persistem seus efei-
Nesse caso, é preciso dispor, primeiro, de um diagnóstico ade- tos, que geram novos impactos, e assim por diante. Esta dimensão
quado quanto a Tzero; e segundo, de capacidade de isolar outras é especialmente delicada para a análise de impacto social, havendo
intervenções que não aquela cujos impactos se pretende medir, analistas que afirmam que somente podem ser efetivamente ava-
de modo a evitar interveniências. Este método é conhecido como liados os impactos de curta duração, já que é impossível isolar os
“diagnóstico de impactos”. demais.

116
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Ademais, os impactos sociais variam quanto à cumulatividade. Ou seja, podem expressar mudanças que se reforçam mutuamente ou,
ao invés, que se neutralizam umas às outras. Por exemplo, sabe-se que renda e saúde, interagem e geram impactos cumulativos sobre a
qualidade de vida. Mas também sabe-se que determinados programas de geração de emprego neutralizam os ganhos em saúde porque
contêm externalidades como atividades de risco, deterioração ambiental, etc, que geram efeitos negativos sobre a qualidade de vida.
Finalmente, os impactos variam quanto à sua racionalidade. Neste caso, inclui-se um componente de valor que é a desejabilidade de
um impacto frente aos seus custos, às suas possíveis consequências e à capacidade do planejador de prever estas últimas. Assim, tem-se
as seguintes possibilidades:

Cuidados para assegurar a qualidade da avaliação


A avaliação formal não possui uma metodologia específica. Pode lançar mão de um conjunto de métodos de diagnóstico e análise, de
técnicas de coleta de dados como surveys, observação, entrevistas em profundidade, individuais ou em grupos focais; e de instrumentos
como questionários, formulários, roteiros de observação, etc. A experiência tem ensinado que a avaliação ganha precisão quando recorre
a dados quantitativos e qualitativos, combinando abordagens em extensão e em profundidade. Por outro lado, a mesma experiência tem
mostrado que há alguns cuidados imprescindíveis à qualidade das avaliações.
1) Incorporação da avaliação ao processo regular de planejamento, sendo assumida como disciplina pelos stakeholders.
2) Julgamento de avaliabilidade. Trata-se de um estudo exploratório a ser efetuado antes de começar a avaliação. Nem todos os
programas estão prontos para ser avaliados. O objetivo deste estudo é definir o que precisa ser feito para preparar o programa para ser
avaliado e identificar os aspectos/questões que requerem atenção.
3) Definição dos objetivos da avaliação, claramente; e escolher o tipo de avaliação adequada a tais objetivos.
4) Identificação e inclusão dos stakeholders – quem é afetado pela política/programa, desde os gestores até os usuários finais – como
interlocutores.
5) Identificação da teoria que orienta a política ou programa a ser avaliado. Seja o “marco lógico” ou outro modelo qualquer, é neces-
sário definir uma teoria ou modelo que indica as condições e ações necessárias para a política ou programa funcionar.
6) Identificação e teste dos métodos, que devem ser consistentes com os objetivos e tipo de avaliação a ser realizada.
7) Apresentação de recomendações práticas, claras, exeqüíveis e consistentes com os custos e benefícios esperados.

Conceituação básica de indicadores


Para Merico (1996 apud REIS 2005, p. 34), “o termo indicador origina-se do latim indicare que significa destacar, anunciar, tornar
público, estimar. Indicadores comunicam informações que podem ser simplesmente luzes acesas ou piscando em um aparelho eletrônico,
bem como tornar perceptível um conjunto de fenômenos que não é imediatamente detectável”.
Segundo Waterhouse (1984 apud GRATERON 1999, p.9), os indicadores podem ser definidos como “unidades de medição que permi-
tem acompanhar e avaliar em forma periódica, as variáveis consideradas importantes em uma organização. Esta variação é feita através
da comparação com os valores ou padrões correspondentes preestabelecidos como referência, sejam internos ou externos à organização”.
Os indicadores são medidores de uma atividade. Expressam um número que indica que as coisas podem ser medidas; e, se, podem
ser medidas, podem ser comparadas e administradas, como preconizam Globerson e Frampton, apud Camargo (2000, p.51), ao afirmarem
que “você não pode administrar o que não pode medir”.
Outra definição trazida por Fernandes (2004, p.3) mostra que “a tarefa básica de um indicador é expressar, da forma mais simples
possível, uma determinada situação que se deseja avaliar. O resultado de um indicador é uma fotografia de dado momento, e demonstra,
sob uma base de medida, aquilo que está sendo feito, ou o que se projeta para ser feito”.
Fernandes (2004, p.5) dissertando ainda sobre o assunto diz que “levando em conta que um indicador é um número que expressa o
estado de alguma coisa que se considera relevante e importante para a empresa, sua construção passa, primeiramente, pela análise da
contribuição para a tomada de decisão. O indicador deve ser representante de algo que se toma como necessário para a rotina de ge-
renciamento da empresa. Em função disso, são necessários cuidados quando do estabelecimento da coleta e tratamento de dados, que
constituem a base para a formação de um indicador”.

Importância do indicador
Conforme Furtado (2003), um grupo especial de indicadores de desempenho de gestão tem como objetivo medir os níveis de eficiên-
cia e eficácia das decisões tomadas, verificando se as ações implementadas estão atingindo os resultados esperados, a que custos e outros
impactos que estão gerando e suas tendências. Esses indicadores são essenciais ao planejamento e ao controle dos processos porque pos-
sibilitam o estabelecimento de metas e visualização de seus desdobramentos, ao tempo em que permitem a análise crítica que embasará
o re-planejamento ao longo da gestão.
Os indicadores são sinais vitais da organização. Eles informam às pessoas o que estão fazendo, como estão se saindo e se estão agindo
como parte do todo. Eles comunicam o que é importante para a organização: a estratégia do primeiro escalão para os demais níveis, re-
sultados de processo, desde os níveis inferiores até o primeiro escalão, o controle e melhoria dentro dos processos. Os indicadores devem
interligar estratégia, recursos e processos. Hronec (apud REIS, 2005, p.37)

117
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Wright citado por Neves Júnior (2003, p.10), destaca que o pro- De acordo com Toscano Jr. (2000, p.12) o desenvolvimento de
cesso de controle estratégico é exercido pela alta administração, sistemas contábeis gerenciais que permitam a criação de informa-
que decide quais elementos do ambiente e da empresa devam ser ções úteis para a tomada de decisão, é de importância fundamental
avaliados e controlados. Segundo o autor, o processo de controle para a instrumentalização do processo de geração e monitoramen-
estratégico possibilita a adoção de alguns passos que visam à toma- to de indicadores de performance, a fim de viabilizar a mensuração
da de decisão corretivas: do desempenho da gestão pública.
1) dentro do parâmetro da missão e dos objetivos gerais e es- Conforme Grateron (1999, p. 15), a variação fundamental para
pecíficos da organização, determinar que necessidades devem ser a mensuração da gestão de um organismo público é avaliar a gestão
monitoradas, avaliadas e controladas; através da análise e confrontação restrita dos valores monetários
2) estabelecer padrões; da contabilidade tradicional, ou introduzir, na análise e avaliação,
3) mensurar o desempenho; outras variáveis não monetárias que permitam relacionar as variá-
4) comparar desempenho com padrões; veis tradicionais à finalidade da entidade pública.
5) não tomar medida alguma se o desempenho se harmonizar
com os padrões; Segundo a Associación Española de Contabilidad y Administra-
6) tomar medidas corretivas se o desempenho não se harmo- ción de Empresas (apud Grateron, 1999, p. 15), a utilização e a apli-
nizar com os padrões. cação de técnicas de gestão, como por exemplo, os indicadores para
medir e comparar o desempenho dos gestores no setor publico, são
Para Kaplan e Norton (1997, apud REIS 2005, p. 38), os indica- muito mais complicados, se comparados como setor privado. Algu-
dores são usados para controlar e melhorar a qualidade e o desem- mas das limitações mais conhecidas são a falta de indicadores, a
penho de produtos e processos. A apuração dos resultados através dificuldade para fixar e quantificar os objetivos sociais, a utilização
dos indicadores permite avaliar o desempenho em relação à meta de termos não monetários, a falta de clareza nos objetivos, metas e
e a outros referenciais, possibilitando o controle e a tomada de de- atividades realizadas, entre outros.
cisão gerencial. Outra importante função é a de induzir atitudes nas
pessoas cujo desempenho está medido, pois as pessoas tendem a Características da gestão por resultados
agir influenciadas pela forma como são avaliadas. Para que seja possível adotar esse tipo de gestão na empresa, é
preciso saber como o processo realmente funciona e se ele de fato
O controle da gestão pública é adequado para atingir seus objetivos. Algumas características da
Segundo Cruz Silva (1999, p.1), “os mecanismos de controle gestão por resultados podem ajudar a entender melhor como ela
representam o elemento essencial para assegurar que o governo acontece dentro da empresa:
atinja os objetivos estabelecidos nos programas de longa duração • A chave para todo o processo é o foco no resultado e não
com eficiência, efetividade e dentro dos preceitos legais da ordem nos procedimentos;
democrática”. • A responsabilidade por atingir ou não os resultados pro-
Para Grateron (1999, p.2) “o sistema tradicional de contabilida- postos é de todos;
de e de informação que auxilia o gestor não cumpre sua missão de • A liderança é mais participativa;
garantir as melhores decisões ou, no mínimo, prestarlhes suporte; • Todas as unidades da empresa andam juntas e estão inte-
por isso, é necessário considerar a possibilidade de um modelo que gradas para que seja possível obter o resultado desejado, cada uma
responda às necessidades de informação para contribuir com a me- contribuindo com sua tarefa.
lhoria de uma gestão que tem sido objeto permanente de crítica: a
gestão pública”. Vantagens desse modelo de gestão
O autor ressalta ainda que “a gestão pública precisa ser avalia- Uma das maiores vantagens de se adotar a gestão orientada
da para conhecer e dar respostas ao cidadão, comum quanto o grau para resultados é o fato de que os colaboradores se sentem mais
de adequação e coerência existente entre as decisões dos gestores motivados, pois estão envolvidos em todo o processo e sabem que
e a eficácia, eficiência e economia com que foram administrados sua participação realmente faz diferença para o alcance das metas.
os recursos públicos para serem atingidos os objetivos e metas da Isso sem contar que a comunicação também melhora, com a boa
organização, estabelecidos nos planos e orçamentos e; para realizar interação entre os membros da equipe surgindo como fundamental
avaliação da gestão pública, é necessário considerar a possibilidade para o sucesso do empreendimento. O comprometimento do time
de um modelo de contabilidade desenhado para a gestão, que con- e sua produtividade também aumentam, uma vez que cada um pas-
sidere indicadores ou parâmetros de gestão adequados”. sa a ter clareza do seu papel para chegar aos resultados. Assim a
Cruz Silva afirma ainda que: “sem controle, os rumos não são sensação de pertencimento é maior e o engajamento e a produção
corrigidos, os objetivos fundamentais ficam colocados em segundo consequentemente melhoram.
plano, há desperdício e inadequação no uso dos recursos”.
Aplicação da gestão de resultados na empresa
Indicadores de gestão na administração pública Existem várias metodologias para a aplicação da gestão de
“Na avaliação das organizações públicas é usual que resultados serviços ou de produtos orientada a resultados em uma empresa,
sejam definidos por indicadores físicos ou qualitativos”. (CATELLI, havendo entre elas alguns passos em comum para que a implemen-
2001, p. 6). tação tenha êxito:
Ainda segundo Catelli (2001, p.174), “não é possível adminis- • Revisar os objetivos da empresa: para que os gestores e
trar algo que não tenha seus resultados mensurados, pois, as de- empresários tenham uma visão clara dos objetivos e do planeja-
cisões devem ser tomadas sobre elementos que representem a mento estratégico do negócio;
realidade da forma mais precisa possível. Esta é uma característica • Definir os objetivos da equipe: gestores e colaboradores
essencial do sistema de medição que são instrumentos de gestão precisam se reunir para estabelecer os objetivos de cada um, deter-
para diversos modelo de administração dos negócios” . minando um prazo para a apresentação dos resultados;

118
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Monitorar o processo: antes de o prazo estabelecido ter- • À adequação dos objetivos estratégicos às prioridades do
minar, é preciso organizar algumas reuniões para saber se os objeti- titular do Poder;
vos efetivamente serão alcançados; • À identificação dos principais produtos, indicadores de de-
• Avaliar o desempenho: análise baseada no atingimento sempenho e metas organizacionais;
ou não dos objetivos; • À matriz SWOT (FOFA);
• Recompensar: os colaboradores são recompensados por • À existência de superposição e duplicação de funções;
atingirem os resultados. • À adequação da estrutura organizacional aos objetivos do
Órgão ou Entidade;
O sucesso da gestão por resultados leva a empresa a enxugar • À existência de controles adequados;
custos, otimizar um projeto ou aumentar a produtividade da equi- • À existência de rotinas e procedimentos de trabalho docu-
pe. Tudo isso requer um envolvimento maior entre os gestores e mentados e atualizados.
os colaboradores e o estabelecimento de objetivos e prazos cla-
ros para cada um. A equipe deve ser monitorada, acompanhada e Avaliação e mensuração do desempenho governamental ba-
poder contar com os líderes para os momentos de dificuldade. Ao seia-se na mensuração dos resultados alcançados na execução das
final, se os resultados forem obtidos, deve haver uma recompen- políticas públicas, projetos, programas, e ações governamentais,
sa pelo envolvimento e comprometimento com o trabalho. Assim por meio de indicadores de desempenho capazes de demonstrar
todos saem ganhando. o cumprimento das metas previstas nos instrumentos de planeja-
mento (PPA, LDO, LOA, e outros).
AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO GOVERNA-
MENTAL
Bruno Palvarini, autor do “Guia referencial de mensuração do INDICADORES DE DESEMPENHO
desempenho na administração pública” apresenta os conceitos de
desempenho e mensuração do desempenho governamental. De- O que são indicadores de desempenho?
sempenho é um termo sujeito a inúmeras variações semânticas Entender o que são esses indicadores não é uma tarefa difícil.
e conceituais, embora existam alguns consensos majoritários em Você já deve saber que KPI significa Key Performance Indicator (em
torno de uma definição. Segundo uma abordagem abrangente, o português, Indicador-chave de Desempenho), certo? Mas o que re-
desempenho pode ser compreendido como esforços empreendidos almente isso quer dizer na prática?
na direção de resultados a serem alcançados. A equação simplifica-
da é: desempenho = esforços + resultados; ou desempenho = esfor- Tenha em mente que os KPIs são instrumentos para ajudar
ços → resultados. na gestão organizacional. São parte de um sistema bem maior de
Uma vez definido desempenho, o conceito de gestão do de- acompanhamento e de melhoria de processos.
sempenho precisa ser qualificado. A gestão do desempenho consti-
tui um conjunto sistemático de ações que buscam definir o conjunto Em poucas palavras, você pode compreender o que são os
de resultados a serem alcançados e os esforços e capacidades ne- indicadores com a seguinte definição: são ferramentas de gestão
cessários para seu alcance, incluindo-se a definição de mecanismos muito usadas por organizações do mundo todo para avaliar e medir
de alinhamento de estruturas implementadoras e de sistemática de o desempenho de seus processos — o que ajuda a gerenciá-los de
monitoramento e avaliação. A mensuração é parte essencial de um forma mais eficiente, a fim de conquistar objetivos e metas previa-
modelo de gestão do desempenho. Mas, não é apenas a ação que mente determinados pelas empresas.
apura, em sentido estrito, por meio de indicadores, valores ou me- Há vários tipos de indicadores, cada qual com o seu propósito
didas dos esforços e resultados. diferente. Essas ferramentas podem ser qualitativas ou quantitati-
Os sistemas de avaliação podem ser caracterizados a partir vas. Isso significa que, dependendo dos tipos de KPI escolhidos e da
dos mecanismos e instrumentos que definem um fluxo regular e intenção do gestor, eles podem tanto avaliar os processos nume-
contínuo de demandas, que orientam um conjunto de práticas ava- ricamente quanto mensurar a qualidade com a qual estão sendo
liativas, formalizadas, estruturadas e coordenadas, para produzir e realizados.
fornecer conhecimento, com o objetivo de subsidiar os processos
decisórios e de aprendizado para aperfeiçoamento da gestão e da Além de serem ferramentas de gestão de processos muito po-
implementação de programas e políticas públicas (SERPA; CALMON, derosas, os KPIs também funcionam como veículos de comunicação
2012). empresarial. Isso porque é por meio deles que o desenvolvimento
O professor Antônio Alan de Freitas Gonçalves, gerente de das organizações é compartilhado com profissionais de vários níveis
avaliação de desempenho da área pública, em seus estudos expli- hierárquicos. Nesse sentido, um bom plano de comunicação interna
ca que a Avaliação e mensuração do desempenho governamental pode auxiliar muito. Os diferentes tipos de indicadores ajudam a
aborda os múltiplos aspectos da Gestão Administrativa, Orçamen- transmitir simultaneamente a visão, a missão e os valores das em-
tária, Financeira, Contábil e Patrimonial, com o intuito de verificar presas a todos os seus colaboradores.
a adequação dos atos em relação ao ordenamento jurídico-admi-
nistrativo, tendo em vista o foco nos resultados e na transparência Qual é a importância de calcular esses números?
governamental. A seguir estão algumas de suas colocações sobre Os indicadores de desempenho são usados para monitorar as
esse tema. atividades do negócio. Isto é, para acompanhar o andamento da
Notadamente no que se refere: empresa, coletar informações importantes e disponibilizá-las de
• Aos princípios Constitucionais e Administrativos; modo acessível. Assim, os gerentes conseguem estudá-las a fim de
• À forma como os Órgãos e Entidades Públicos adquirem, tomar as melhores decisões.
guardam e utilizam seus recursos;
• Às causas das práticas antieconômicas e ineficientes;
• À obediência aos dispositivos legais aplicáveis aos aspec-
tos da economicidade, eficácia e eficiência da gestão;

119
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Os indicadores trazem eficiência ao cotidiano e, como consequ- total do Passivo ÷ total do Ativo
ência, geram resultados positivos para o empreendimento. Eles têm
a função de trazer à luz as informações necessárias para que seja Months Of Cash Left (tempo de dinheiro restante)
possível analisar os processos, a fim de aprimorá-los continuamen- Esse indicador informa quanto tempo ainda você terá o seu ca-
te e alcançar os objetivos estratégicos de negócios. pital inicial. Assim, você pode planejar a prospecção de mais clien-
tes para geração de lucro suficiente para manter o seu negócio. O
É bastante comum encontrar gestores que, no desejo de con- cálculo é realizado da seguinte maneira:
trolar as suas operações, acabam criando um grande volume de
KPIs. Isso faz com que haja vários dados que, muitas vezes, não são capital remanescente ÷ Burn Rate = Months Of Cash Left
úteis e nem chegam a ser analisados.
Custo de Aquisição de Cliente — CAC
Existem ainda os que dão tanto foco naquilo que se refere à Esse indicador também é conhecido como Customer Acquisi-
rotina — negociação, captação de clientes, vendas etc. — que aca- tion Cost, que mostra o quanto de dinheiro é gasto na captação de
bam se esquecendo de desenvolver análises capazes de disponibi- cada novo cliente. Nesse momento deve ser levantado todo o custo
lizar um diagnóstico preciso sobre a situação em que o negócio se que a empresa tem com prospecção de novos clientes — como pu-
encontra. Esses indicadores só funcionam quando estão alinhados blicidade, call center e marketing de conteúdo, entre outros.
com as suas estratégias e quando há disposição e disciplina para
acompanhá-los cuidadosamente. Para que seja feita a análise, basta realizar o cálculo da seguinte
forma:
Quais são os principais indicadores de desempenho organi-
zacional? total de despesas com aquisição de cliente ÷ quantidade de no-
Conheça a seguir os indicadores de desempenhos mais utili- vos clientes = Custo de Aquisição de Cliente
zados!
Ticket médio
Margem de Lucro O ticket médio é o valor médio de cada venda, a partir do qual
Como um dos maiores objetivos de um negócio é ter lucro, esse o empreendedor consegue entender a dinâmica varejista. O cálculo
indicador sempre deve ser inserido na sua empresa para o acompa- é feito da seguinte forma:
nhamento das metas. A margem de lucro é calculada da seguinte
maneira: faturamento ÷ demanda de vendas do período

valor do produto ÷ serviço – custo Esse indicador auxilia em várias tomadas de decisões. Por
exemplo:
Dessa forma, o empreendedor deve verificar o percentual utili-
zado pelo seu setor, pois esse indicador não é padronizado. A média indica quem são os seus melhores vendedores;
para o setor de prestação de serviços é de 20%, enquanto para o mostra se estão sendo vendidos produtos de maior ou menor
varejo é de 4% sobre o total de vendas. valor;
Lucratividade verifica se a organização está cumprindo a meta estabelecida;
Não confunda: a lucratividade é diferente da margem de lucro. auxilia o empresário a analisar a necessidade de capacitação
A lucratividade é calculada da seguinte forma: da equipe;
ajuda na definição das estratégias de marketing.
lucro líquido ÷ faturamento bruto mensal Produtividade
A produtividade consiste na relação entre aquilo que foi produ-
O resultado é um valor percentual: trata-se da referência mais zido e os recursos utilizados para isso. O propósito maior é sempre
essencial para saber se o negócio é rentável ou não. ter equipes e profissionais produtivos, que entreguem mais usando
menos recursos e atinjam os objetivos do negócio. A grande ques-
Burn Rate tão é: como fazer o cálculo desse índice? É bem simples:
Nada mais é que o caixa negativo da empresa, calculado da se-
guinte forma: produtos ou serviços gerados ÷ recursos utilizados

total das despesas – faturamento = Burn Rate Para que fique mais claro, pense que a equipe de vendas aten-
deu um total de 680 clientes em apenas um dia. Para isso, contou
No início de todas as empresas, é normal ocorrer o Burn Rate com todo o expediente de trabalho, ou seja, 11 horas. Ao utilizar
(ou também em épocas de crise). Mas o empreendedor deve sem- a fórmula, vamos ter a produtividade de 61,81 clientes atendidos
pre acompanhar esse indicador para que o seu negócio não vá por por hora.
água abaixo.
Ao identificar o padrão produtivo atual, você vai poder deter-
Nível de endividamento minar metas mais desafiadoras e realistas para o futuro. Além disso,
O nível de endividamento deve ser monitorado de perto, pois também vai ser capaz de projetar resultados em gráficos consisten-
informa o quanto a empresa necessita de capital de terceiros. O tes e compartilhar tudo com a equipe. Dessa forma, todos vão po-
nível de endividamento do negócio é calculado com os dados conti- der produzir mais.
dos no Balanço Patrimonial, dividindo-se o total do Passivo (as dívi-
das com empréstimos, contas a pagar e obrigações com fornecedo-
res, por exemplo) pelo total do Ativo:

120
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Turnover (rotatividade)
Avaliar o grau de turnover dos colaboradores ajuda a compre- TRANSPARÊNCIA E CONTROLE DA
ender as questões internas do negócio. Grandes taxas de rotativida- ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
de podem mostrar problemas de clima organizacional, de liderança
e de valorização dos funcionários. Quando a empresa enfrenta pro- Com o passar dos anos, a administração pública tem incorpo-
blemas internos, é bem provável que eles vão refletir no atendi- rado - e aplicado - alguns conceitos oriundos da administração pri-
mento ao consumidor. vada, como:
• governabilidade, a qual diz respeito a uma capacidade po-
O grau de rotatividade pode ser calculado com base no tempo lítica do Estado;
médio de permanência de cada colaborador na organização. A fór- • governança, que refere-se à capacidade da administração
mula mais comum é: de executar as políticas públicas; e
• accountability, que corresponde principalmente à pres-
([quantidade de demissões + quantidade de admissões] ÷2) ÷ tação de contas da administração para a sociedade, mas não fica
total de colaboradores limitada a isto.
Governabilidade
A taxa de turnover é relevante para que a empresa compre- A governabilidade da administração pública tem forte relação
enda os seus problemas e crie ações para resolvê-los e melhorar, com a afinidade de legitimidade do gestor público em relação à so-
assim, os resultados do negócio como um todo. ciedade. Sem legitimidade não há como se falar em governabilida-
de. Diz respeito a uma capacidade política do Estado, refletindo na
Indicadores de capacidade credibilidade e imagem pública da burocracia.
Os indicadores de capacidade são bem semelhantes aos de Conforme Paludo (2013, p. 128), governabilidade significa tam-
produtividade, mas, nesse caso, eles são fundamentais para men- bém que “o governo deve tomar decisões amparadas num processo
surar a capacidade que um processo específico apresenta de res- que inclua a participação dos diversos setores da sociedade, dos
posta. Um ótimo exemplo disso é o cálculo da quantidade total de poderes constituídos, das instituições públicas e privadas e segmen-
produtos que podem ser embalados em um único dia. tos representativos da sociedade, para garantir que as escolhas efe-
tivamente atendam aos anseios da sociedade, e contem com seu
Indicadores estratégicos apoio na implementação dos programas/projetos e na fiscalização
São indicadores mais voltados para a definição de estratégias dos serviços públicos”.
e para a criação de um planejamento, uma vez que ajudam no
acompanhamento dos resultados da organização, comparando aos A fonte ou origem da governabilidade é representada pelos
objetivos que foram determinados previamente. Assim, é possível cidadãos e pela cidadania organizada, os partidos políticos, as as-
visualizar, de forma prática e com maior precisão, qual é o cenário sociações e demais agrupamentos representativos da sociedade
atual e o previsto. (PALUDO, 2013).

Fluxo de caixa operacional Sendo assim, o desafio maior da governabilidade está em con-
Uma das principais ferramentas usadas por gestores para medir ciliar as divergências constantes nos interesses dos diversos atores
o desempenho financeiro de um negócio é o fluxo de caixa opera- da sociedade, e uní-las em um ou vários objetivos comuns. Por-
cional. De forma simplificada, podemos afirmar que o fluxo de caixa tanto, a viabilização dos objetivos políticos do Estado está muito
é um demonstrativo que apresenta todas as saídas e as entradas de relacionada com a capacidade de articulação em alianças políticas
recursos financeiros de uma empresa. Se esse indicador é positivo, e pactos sociais.
isso significa que a organização teve mais entrada de dinheiro do
que saída, gerando muitos lucros para o empreendimento. Governança
A governança possui um caráter mais amplo que a governabi-
É muito fácil definir o fluxo de caixa operacional. É um indi- lidade e refere-se a uma capacidade administrativa de executar as
cador que precisa ser sempre acompanhado e analisado de tem- políticas públicas.
pos em tempos, afinal, ele vai indicar o quanto de dinheiro que a
empresa está conseguindo gerar a partir do negócio principal da Pereira (1997) explica que um governo pode ter governabilida-
corporação. O fluxo de caixa operacional torna-se mais relevante de, na medida em que seus dirigentes contem com os necessários
ainda quando olhamos para as organizações que têm um modelo apoios políticos para governar, e no entanto pode governar mal por
de negócios extremamente baseado em vendas a prazo. lhe faltar a capacidade da governança.
A governança no contexto da administração pública é um refle-
Chega de teoria e vamos colocar a mão na massa! Comece já a xo da governança corporativa da administração privada.
realizar os indicadores de desempenhoorganizacional para enten-
der melhor a importância deles no progresso de sua empresa. Mas As boas práticas de governança corporativa surgiram como
lembre-se: não adianta analisar uma vez e abandonar. Todo negócio uma busca para solucionar conflitos entre acionistas e gestores a
de sucesso deve ter a sua saúde financeira controlada diariamente. respeito do desempenho do patrimônio, da sustentabilidade finan-
fonte: https://blog.alterdata.com.br/indicadores-de-desempe- ceira e da transparência na gestão. A governança é também reflexo
nho-organizacional-o-que-sao-e-como-usar/ das relações da organização com seus stakeholders (partes interes-
sadas).
De acordo com Paludo (2013), a governança é instrumental,
pois é o braço da governabilidade. Além disso, relaciona-se com
competência técnica, abrangendo as capacidades gerencial, finan-
ceira e técnica propriamente dita.

121
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A fonte de origem da governança é, em sentido lato, os agentes Afinal de contas, como as empresas dependem das pessoas
públicos, e em sentido estrito os servidores públicos. para conduzir seus processos, é importante que haja um monito-
ramento para minimizar impactos em caso de deslizes. A regulação
Accountability da relação entre administradores e donos é feita de três formas:
Por sua vez, a accountability trata da prestação de contas, mas através de regras, auditorias e restrições de autonomia.
não apenas isso. A accountability possui três planos:
1. Prestação de contas: irá refletir na transparência do go- 1. Regras
verno com a população. Exemplo: o Relatório de Gestão Fiscal, ins- Estabelecer regras significa estipular normas para estruturar a
tituído pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); organização e limitar o comportamento indesejável dos administra-
2. Responsabilização dos agentes: os agentes devem res- dores, conduzindo as suas decisões.
ponsabilizar-se pela correta utilização dos recursos. Exemplo: a
Lei de Improbidade Administrativa (LIA), que instituiu mecanismos 2. Auditorias
para punir maus gestores; Fazer auditorias é fundamental para checar se as regras estabe-
3. Responsividade dos agentes: diz respeito à capacidade de lecidas previamente estão sendo cumpridas ou não, além de moni-
resposta do poder público às demandas sociais. Um governo res- torar as ações dos administradores.
ponsivo buscará satisfazer as necessidades da população e colocar
em prática as políticas escolhidas pelos cidadãos. 3. Restrições de autonomia
Impor restrições de autonomia se trata de limitar a atuação dos
Podemos ainda classificar a accountability em dois tipos: administradores e determinar ações que eles estão autorizados a
1. Horizontal: não há hierarquia, pois corresponde a uma fazer.
mútua fiscalização e controle existente entre os poderes. Exemplos:
prefeitura recebe recursos do governo e a CGU faz uma auditoria; Vale lembrar que, dependendo da intensidade de como esse
atuação dos Tribunais de Contas, do Ministério Público; controle é feito, pode-se obter diferentes efeitos, como veremos no
2. Vertical: trata do controle da população sobre o gover- próximo tópico.
no. É uma relação entre desiguais, pois o povo pode fiscalizar e
punir as más gestões, principalmente através do voto em eleições Impactos da governança corporativa nas empresas
livres e justas. “É algo que depende de mecanismos institucionais, Você já parou para pensar o que acontece quando os donos do
sobretudo da existência de eleições competitivas periódicas, e que negócio impõem muitas regras e restrições? Ou pior, quando não
é exercido pelo povo” (Miguel, 2005). estabelecem regras e restrições suficientes?
Em uma governança muito forte, o administrador não conse-
Conclusões gue fazer seu trabalho, pois não possui autonomia para isso. Ele
A governabilidade, a governança e a accountability constituem está sempre “amarrado” à decisão de outras pessoas. Podemos ob-
diferentes conceitos, mas que trabalhados conjuntamente corres- servar esse tipo de governança na área pública e em grandes em-
pondem a fatores essenciais para a boa gestão de um Estado. presas.
Já em uma governança muito fraca, as chances do adminis-
Para finalizar, cabe ressaltar que a governabilidade está forte- trador usar de má-fé para buscar apenas seus próprios interesses
mente relacionada com a legitimidade; a governança é mais ampla aumentam significativamente. Ou, pode ser que ele não atue com
que a governabilidade, e está relacionada com a capacidade de exe- a competência necessária. Esse tipo de governança pode ser obser-
cução e com competência técnica; já a accountability está relacio- vado em startups e em pequenas empresas.
nada com o uso do poder e dos recursos públicos, em que o titular Encontrar um ponto de equilíbrio é o grande dilema da gover-
da coisa pública é o cidadão e não os políticos eleitos. nança corporativa ideal! Por isso, é preciso cuidar para que os ins-
trumentos de controle não sejam mais caros que eventuais prejuí-
Sendo assim: zos dos administradores.
Podemos dizer que a governança mostra a direção que uma O conceito de governança também pode ser aplicado em ou-
empresa deve seguir para alcançar os resultados esperados. tros campos de negócio, para além da esfera organizacional.
A governança corporativa tem suas bases fundamentadas na
Teoria da Agência, que trata das questões associadas à relação en-
tre principais e agentes.
Você deve estar se perguntando: “Tá, mas quem são essas pes-
soas?”
Atribui-se a posição de principais aos donos da empresa. Já os
agentes são as pessoas contratadas pelos donos para administrar o
negócio e representar seus interesses. Contudo, nem sempre é isso
o que acontece.
Os administradores também possuem suas próprias demandas
e podem acabar cometendo deslizes, por diversos motivos. Mas,
você sabia que dá para evitar e contornar esses deslizes?

Para que serve a governança corporativa?


A governança corporativa assegura que os interesses dos admi-
nistradores estejam alinhados aos interesses dos donos do negócio.
Ela garante que os processos e as estratégias estão sendo correta-
mente seguidos, além de promover uma cultura de prestação de
contas na empresa.

122
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

123
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

NOVA GESTÃO PÚBLICA

124
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

GERENCIALISMO PURO

CONSUMERISMO

125
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CRÍTICAS AO MODELO DE CONSUMIDOR

SERVIÇO ORIENTADO AO CIDADÃO

NOVA GESTÃO PÚBLICA: OBJETIVOS

126
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

GOVERNANÇA

127
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

NOVA GESTÃO PÚBLICA: PRINCÍPIOS

GESTÃO BUROCRÁTICA x GERENCIAL

128
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Para o sucesso das equipes, se faz necessário que os seus inte-
CONTROLE SOCIAL E CIDADANIA grantes utilizem-se de empatia, coloquem-se no lugar dos outros,
estejam receptivos ao processo de integração e, dessa forma, per-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado mitam-se amoldar. Se não houver esse tipo de abertura, em que
em tópicos anteriores. cada um dos elementos ceda, a equipe será composta de pesso-
as que competem entre si, o que traz o retrocesso da equipe ao
conceito simplista de grupo, ou seja, apenas um agrupamento de
COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA E NA GESTÃO DE indivíduos que dividem o mesmo espaço físico, mas que possuem
REDES ORGANIZACIONAIS objetivos e metas diferentes, bem como não buscam o aprimora-
mento e crescimento dos outros.28
Os tipos de personalidade podem contribuir ou não para o de- Em todo processo onde haja interação entre as pessoas vamos
sempenho das equipes. Cada personalidade possui características desenvolver relações interpessoais.
definidas com seus respectivos focos de atenção, que, todavia, se Ao pensarmos em ambiente de trabalho, onde as atividades
interagem, definindo indivíduos com certas características mais sa- são predeterminadas, alguns comportamentos são precisam ser
lientes e que incorporam características de um outro estilo. alinhados a outros, e isso sofre influência do aspecto emocional
Vistos de maneira objetiva, nenhum dos tipos de personalida- de cada envolvido tais como: comunicação, cooperação, respeito,
de é bom ou mau, certo ou errado. Cada um é uma combinação amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem, os
distinta de força e fraqueza, beleza e feiura. Nenhum padrão é me- sentimentos despertados podem ser diferentes dos indicados ini-
lhor ou o melhor, pior ou o pior. Às vezes, determinada pessoa pode cialmente e então – inevitavelmente – os sentimentos influenciarão
achar que o seu padrão é o melhor, outra vezes, que é o pior. Mas as interações e as próprias atividades. Assim, sentimentos positivos
é possível, num momento, encontrar força em um padrão e, num de simpatia e atração provocarão aumento de interação e coopera-
outro, encontrar uma fraqueza. ção, repercutindo favoravelmente nas atividades e ensejando maior
O que se observa é que as pessoas acabam ficando perplexas produtividade. Por outro lado, sentimentos negativos de antipatia e
umas com as outras quando começam a perceber os segredos que rejeição tenderão à diminuição das interações, ao afastamento nas
as outras pessoas ocultam das suas personalidades. atividades, com provável queda de produtividade.
Na análise das personalidades, nada é estanque e tudo pode se Esse ciclo “atividade-interação-sentimentos” não se relaciona
ajustar, desde que se esteja disposto a fazê-lo. Nunca um protetor, diretamente com a competência técnica de cada pessoa. Profissio-
por exemplo, carrega somente as características da sua tipologia. nais competentes individualmente podem render muito abaixo de
Uma pessoa com o centro emocional predominante não será ne- sua capacidade por influência do grupo e da situação de trabalho.
cessariamente uma boa artista. Talvez brilhe mais como administra- Quando uma pessoa começa a participar de um grupo, há uma
dora, quem sabe? Todos os tipos são interligados e se movimentam base interna de diferenças que englobam valores, atitudes, conhe-
fazendo contrapontos e complementos. cimentos, informações, preconceitos, experiência anterior, gostos,
Cada tipo de personalidade é formado por três aspectos: o pre- crenças e estilo comportamental, o que traz inevitáveis diferenças
dominante, que vigora na maior parte do tempo, quando as coisas de percepções, opiniões, sentimentos em relação a cada situação
transcorrem normalmente e que é chamado de seu tipo; o aspecto compartilhada. Essas diferenças passam a constituir um repertório
que vigora quando se é colocado em ação, gerando situações de es- novo: o daquela pessoa naquele grupo. Como essas diferenças são
tresse; e o terceiro, que surge nos momentos em que não se sente encaradas e tratadas determina a modalidade de relacionamento
em plena segurança. entre membros do grupo, colegas de trabalho, superiores e subor-
Exemplificando, ao ver-se numa situação de estresse, o obser- dinados. Por exemplo: se no grupo há respeito pela opinião do ou-
vador (em geral, quieto e retraído) torna-se repentinamente extro- tro, se a ideia de cada um é ouvida, e discutida, estabelece-se uma
vertido e amistoso, características típicas do epicurista, num esfor- modalidade de relacionamento diferente daquela em que não há
ço de reduzir o estresse. Sentindo-se em segurança, o observador respeito pela opinião do outro, quando ideias e sentimentos não
tende a se tornar o patrão, direcionando os outros e controlando o são ouvidos, ou ignorados, quando não há troca de informações. A
espaço pessoal. maneira de lidar com diferenças individuais criam certo clima entre
Todos têm virtudes e aspectos negativos. Então, vivem-se os as pessoas e tem forte influência sobre toda a vida em grupo, prin-
aspectos mais positivos de cada tipo. Essas qualidades pode se so- cipalmente nos processos de comunicação, no relacionamento in-
mar a outras de outro tipo, promovendo integração. terpessoal, no comportamento organizacional e na produtividade.
Se o tipo empreendedor se integra com o sonhador, ele pode Valores: Representa a convicções básicas de que um modo es-
passar a ter autoestima apurada e a saber levar a vida sem dramas. pecífico de conduta ou de condição de existência é individualmente
Ficará mais otimista, espontâneo e criativo também. Não se prende ou socialmente preferível a modo contrário ou oposto de conduta
a fazer coisas que não satisfazem seus desejos e os dos outros. Se ou de existência. Eles contêm um elemento de julgamento, baseado
o tipo individualista integra-se com o empreendedor, provavelmen- naquilo que o indivíduo acredita ser correto, bom ou desejável. Os
te ele poderá ser capaz de agir no presente e com objetividade, valores costumam ser relativamente estáveis e duradouros.
aceitando a realidade e vivendo suas emoções como são, sem ten- Atitudes: As atitudes são afirmações avaliadoras – favoráveis
tar ampliá-las. Já se o sonhador integrar-se com o observador, sua ou desfavoráveis – em relação a objetos, pessoas ou eventos. Refle-
capacidade de introspecção será imensa e saberá como ninguém tem como um indivíduo se sente em relação a alguma coisa. Quan-
apreciar o silêncio e a reflexão. do digo “gosto do meu trabalho” estou expressando minha atitude
em relação ao trabalho. As atitudes não são o mesmo que os valo-
res, mas ambos estão inter-relacionados e envolve três componen-
tes: cognitivo, afetivo e comportamental.

28 Fonte: www.metodologiacientifica-rosilda.blogspot.com

129
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A convicção que “discriminar é errado” é uma afirmativa ava- A empatia nas empresas
liadora. Essa opinião é o componente cognitivo de uma atitude. Ela
estabelece a base para a parte mais crítica de uma atitude: o seu Qual a relação entre empatia e produtividade?
componente afetivo. O afeto é o segmento da atitude que se refere “O conceito de empatia está relacionado á capacidade de ouvir
ao sentimento e às emoções e se traduz na afirmação “Não gosto o outro de tal forma a compreender o mundo a partir de seu ponto
de João porque ele discrimina os outros”. Finalmente, o sentimento de vista. Não pressupõe concordância ou discordância, mas o en-
pode provocar resultados no comportamento. O componente com- tendimento da forma de pensar, sentir e agir do interlocutor. No
portamental de uma atitude se refere à intenção de se comportar momento em que isso ocorre de forma coletiva, a organização dia-
de determinada maneira em relação a alguém ou alguma coisa. En- loga e conhece saltos de produtividade e de satisfação das pessoas”.
tão, para continuar no exemplo, posso decidir evitar a presença de “A empatia é primordial para o desenvolvimento das organi-
João por causa dos meus sentimentos em relação a ele. zações pois, ela é que define no comportamento individual a preo-
Encarar a atitude como composta por três componentes – cog- cupação de cada indivíduo no equilíbrio comportamental de todos
nição, afeto e comportamento – é algo muito útil para compreender os envolvidos no processo, pois, empatia pressupõe o respeito ao
sua complexidade e as relações potenciais entre atitudes e compor- outro.”
tamento. Ao contrário dos valores, as atitudes são menos estáveis. É quando desenvolvemos a compreensão mútua, ou seja, um
tipo de relacionamento onde as partes compreendem bem os va-
Eficácia no relacionamento interpessoal lores, deficiências e virtudes do outro. No contexto das relações
A competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente humanas, pode-se afirmar que o sucesso dos relacionamentos in-
com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma terpessoais depende do grau de compreensão entre os indivíduos.
adequada à necessidade de cada uma delas e às exigências da situ- Quando há compreensão mútua as pessoas comunicam-se melhor
ação. Segundo C. Argyris (1968) é a habilidade de lidar eficazmente e conseguem resolver conflitos de modo saudável.
com relações interpessoais de acordo com três critérios:
Percepção acurada da situação interpessoal, de suas variáveis Empoderamento
relevantes e respectiva interrelação. Para Chiavenato, o empowerment ou empoderamento, é uma
Habilidade de resolver realmente os problemas de tal modo ação que permite melhorar a qualidade e a produtividade dos co-
que não haja regressões. laboradores, fazendo com que o resultado do serviço prestado seja
Soluções alcançadas de tal forma que as pessoas envolvidas satisfatoriamente melhor. Estas melhorias acontecem através de
continuem trabalhando juntas tão eficientemente, pelo menos, delegação de autoridade e de responsabilidade, fomentando a co-
como quando começaram a resolver seus problemas. laboração sistêmica entre diferentes níveis hierárquicos e a propa-
Dois componentes da competência interpessoal assumem im- gação de confiança entre os liderados e os líderes.
portância capital: a percepção e a habilidade propriamente dita. O Ele simboliza a estratégia da organização e de seus gestores de
processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acurada delegar a tomada de decisão para seus colaboradores, promovendo
da situação interpessoal. a flexibilidade, rapidez e melhoria no processo de tomada de deci-
A percepção seletiva é um processo que aparece na comunica- são da empresa.
ção, pois os receptores vêm e ouvem seletivamente com base em O empowerment permite aos funcionários da empresa toma-
suas necessidades, experiências, formação, interesses, valores, etc. rem decisões com base em informações fornecidas pelos gestores,
A percepção social: É o meio pelo qual a pessoa forma impres- aumentando sua participação e responsabilidade nas atividades
sões de uma outra na esperança de compreendê-la. da empresa. Geralmente é utilizado em organizações com cultura
participativa, que utilizam equipes de trabalho autodirigidas e que
Empatia compartilham o poder com todos os seus funcionários.
Colocar-se no lugar do outro, mediante sentimentos e situa- O empowerment está diretamente ligado ao conceito de lide-
ções vivenciadas. rança e, também, cultura organizacional. Uma vez que não se pode
“Sentir com o outro é envolver-se”. A empatia leva ao envolvi- criar uma cultura de delegação de poder aos funcionários em uma
mento, ao altruísmo e a piedade. Ver as coisas da perspectiva dos empresa engessada e burocrática, sem uma estrutura de hábitos
outros quebra estereótipos tendenciosos e assim leva a tolerância e e pensamentos preparada para isso. A empresa que pretende se
a aceitação das diferenças. A empatia é um ato de compreensão tão utilizar de uma prática como o empowerment não pode ter uma
seguro quanto à apreensão do sentido das palavras contidas numa cultura de tomada de decisões centralizada, por exemplo.
página impressa.
A empatia é o primeiro inibidor da crueldade humana: reprimir O empowerment possui quatro bases principais, que são:
a inclinação natural de sentir com o outro nos faz tratar o outro • Poder – dar poder às pessoas, delegando autoridade e res-
como um objeto. ponsabilidade em todos os níveis da organização. Isso significa dar
O ser humano é capaz de encobrir intencionalmente a empa- importância e confiar nas pessoas, dar-lhes liberdade e autonomia
tia, é capaz de fechar os olhos e os ouvidos aos apelos dos outros. de ação.
Suprimir essa inclinação natural de sentir com outro desencadeia a • Motivação – proporcionar motivação às pessoas para incen-
crueldade. tivá-las continuamente. Isso significa reconhecer o bom desempe-
Empatia implica certo grau de compartilhamento emocional - nho, recompensar os resultados, permitir que as pessoas partici-
um pré-requisito para realmente compreender o mundo interior do pem dos resultados de seu trabalho e festejem o alcance das metas.
outro. • Desenvolvimento – dar recursos às pessoas em termos de
capacitação e desenvolvimento pessoal e profissional. Isso significa
treinar continuamente, proporcionar informações e conhecimento,
ensinar continuamente novas técnicas, criar e desenvolver talentos
na organização.

130
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• Liderança – proporcionar liderança na organização. Isso signi- Eficácia no comportamento interpessoal.
fica orientar as pessoas, definir objetivos e metas, abrir novos hori- A postura profissional é o comportamento adequado dentro
zontes, avaliar o desempenho e proporcionar retroação. das organizações, na qual busca seguir os valores da empresa para
um resultado positivo.
Alguns gestores pensam que o ato de delegar a tomada de
decisão para um funcionário é sinônimo de perda de controle ou A importância da qualidade
liderança. Este é um ponto que merece uma discussão maior, uma As mudanças no mundo, em geral, estão cada vez mais contínu-
vez que abrange diversos aspectos, mas o mais importante de se as aceleradas e, principalmente, diversificadas. Isso se deve ao fe-
destacar é que o empowerment valoriza os funcionários e melhora nômeno da globalização, aos avanços tecnológicos, à preocupação
a condução dos processos internos à empresa. com a saúde e o meio ambiente, entre outros fatores.
Tanto os profissionais como as empresas precisam adequar seu
Vantagens do empowerment perfil para atender a essas novas mudanças, inclusive se ajustando
Com mencionado anteriormente, a adoção do empowerment às exigências do mercado, cada vez maiores. Para superar os no-
por parte das empresas traz diversos benefícios para elas, como por vos desafios impostos pela realidade e atender às expectativas dos
exemplo: o aumento da motivação e da satisfação dos funcionários, clientes, as empresas precisam de profissionais competentes e que
aumentando assim a taxa de retenção dos talentos da empresa, o realizem suas atividades com qualidade.
compartilhamento das responsabilidades e tarefas, maior agilidade
e flexibilidade no processo de tomada de decisão, etc. Além, claro, Mas, afinal, o que é qualidade? Qualidade, na linguagem cor-
de estimular o aparecimento de novos líderes dentro das empresas. porativa, é uma das condições para se ter sucesso e, hoje em dia,
Por este motivo, é cada vez maior o número de gestores que significa um dos diferenciais competitivos mais importantes. Ou
preparam suas organizações para a prática do empowerment, trei- seja, é um conjunto de características que distinguem, de forma po-
nando e doutrinando seus funcionários para que possam receber sitiva, um profissional ou uma empresa dos demais e que agregam
tais responsabilidades de forma correta. valor ao seu trabalho.
Para Carlos Hilsdorf, o empowerment corresponde a uma re- Para se manter competitivo no mercado e ter um diferencial, o
lação que envolve poder e responsabilidade, como duas faces de profissional precisa realizar suas atividades corretamente. Apenas
uma mesma moeda. Para promovê-lo, não basta transferir verbal- a qualidade técnica, porém, não assegura o lugar no mercado. O
mente poder às pessoas; elas precisam ter reais condições de agir grande desafio do profissional de qualquer área de atuação é saber
no pleno exercício da sua responsabilidade, desenvolvendo o que se relacionar bem (tratar as pessoas adequadamente, mostrar-se
chamamos de “ownership“, ou seja, agirem como intraempreen- disponível e acessível, ser gentil), ter um comportamento compa-
dedores e como se fossem “proprietárias” do negócio, pensando tível com as regras e valores da empresa e se comunicar bem (se
como empresários. fazer entender pelos outros, escrever bem, saber ouvir).
Por fim, vale ressaltar: estamos falando de um conceito dinâmi-
Aplicação do empowerment co, ou seja, cada empresa tem o seu. Fique atento: o que representa
Segundo Hilsdorf, para uma correta implantação do empower- qualidade para uma empresa não necessariamente o é para outra.
Portanto, ao iniciar qualquer experiência profissional, procure en-
ment é necessário:
tender quais são as competências valorizadas naquele ambiente de
1. Um profundo compartilhamento das informações com to-
trabalho. Investir nelas é o primeiro passo para realizar suas tarefas
dos os envolvidos. A informação é o objeto que destrói a incerteza.
com qualidade.
Ela é fundamental para a correta tomada de decisões. A Informação
deve circular, de maneira clara, transparente e adaptada à condição
As novas exigências
e necessidade de cada equipe em particular. Algumas informações
Aqueles que pretendem ingressar no mercado de trabalho já
gerais para o bom entendimento do negócio e do cenário devem
devem ter escutado de professores, pais ou pessoas mais experien-
ser compartilhadas com todas as pessoas, outras mais restritas e
tes que “a concorrência está cada vez mais acirrada” e que “é pre-
sigilosas, apenas com as pessoas-chave. ciso se preparar”, e os recém-chegados ao mundo corporativo já
2. A abertura para uma real autonomia dando às pessoas não podem ter constatado esse fato. Mas o que isso significa na prática?
somente as informações, mas o apoio e a liberdade necessária para Há quem ache que “se preparar” está diretamente ligado à es-
agirem. É preciso confiar nestes profissionais e incentivá-los a lide- colha do curso superior e ao desempenho na faculdade, mas não
rar os processos em que estão envolvidos, e sob os quais assumi- é de todo verdade: isso é o primeiro passo, mas não garante uma
ram responsabilidades. Uma cultura punitiva impede a autonomia; vaga no mercado. Dia após dia, surgem novas tecnologias e formas
erros devem ser corrigidos, não punidos. A autonomia deve guiar- de se executar melhor uma tarefa e, com elas, relações de trabalho
-se pela visão, missão e valores da empresa, assim como por seus que exigem uma nova postura profissional — a de desenvolver as
objetivos e metas, dentro do contexto dos sistemas e processos em “habilidades” necessárias para enfrentar os desafios propostos. Na
vigor na organização. verdade, algumas dessas habilidades só ganharam destaque recen-
3. Redução dos níveis hierárquicos e da burocracia que tor- temente, enquanto outras apenas mudaram de foco, atualizando-
nam as empresas lentas e rígidas. Através da prática de empower- -se. Vejamos algumas delas:
ment, equipes auto-gerenciadas podem atingir alta performance e  Seja parceiro da educação. Uma boa postura profissio-
buscar a excelência em níveis muito superiores aos de empresas nal exige uma boa educação, ou seja, respeitar os demais, saber
centralizadoras. se comportar em público, honrar os compromissos e prezar pela
Seguindo estes 3 passos básicos, a empresa torna sua adapta- organização no ambiente de trabalho.
ção mais fácil e menos traumática. Gerando um ambiente apropria-  Mantenha sempre uma boa aparência. Não é necessário
do para o aprendizado dos funcionários a fim de torná-los tomado- estar sempre elegante, pois uma boa aparência significa saber usar
res de decisão dentro da empresa.29 a roupa certa no lugar certo. Devemos saber nos vestir de acordo
com que o local de trabalho nos solicita, sabendo sempre o que é
certo e o que é errado para cada ambiente.
29 Texto adaptado de Gustavo Periard

131
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
 Cumprir todas as tarefas. Isso não é somente uma ques- Portanto, para satisfazer às exigências do mercado, é cada vez
tão de bom senso, mas também uma questão de comprometimen- mais importante possuir uma visão global do ambiente de trabalho.
to profissional. Desenvolver as tarefas que lhe são atribuídas é um Conhecer a rotina da organização e manter atenção aos processos
ponto positivo que acaba também sendo avaliado por gestores do só trazem ganhos para ambas as partes: para o profissional, maior
colaborador. competitividade e possibilidade de agilizar soluções e, para a em-
 Ser pontual. Faça o seu trabalho de maneira correta e presa, equipes mais integradas e que falam a mesma língua. Para o
cumpra os horários planejados, mantendo sempre a pontualidade conjunto, melhores resultados.30
para os compromissos marcados.
 Respeitar os demais colegas de trabalho. Não é neces- A competência interpessoal é habilidade de lidar eficazmente
sário ter estima por todos os colegas de trabalho, mas respeitá-lo com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma
é uma obrigação. Não apenas no ambiente de trabalho, mas em adequada à necessidade de cada uma delas e às exigências da situ-
demais situações cotidianas. Por isso, respeitar as diferenças e os ação. Segundo C. Argyris (1968) é a habilidade de lidar eficazmente
limites no relacionamento com os outros é fundamental. com relações interpessoais de acordo com três critérios:
 Aceitar opiniões. É importante saber escutar, opinar e  Percepção acurada da situação interpessoal, de suas vari-
aceitar opiniões diferentes, pois essa atitude acaba levando as pes- áveis relevantes e respectiva inter-relação.
soas a também entenderem o seu ponto de vista, sem que este seja  Habilidade de resolver realmente os problemas de tal
imposto ao demais. modo que não haja regressões.
 Autocrítica e interesse. Ao ter uma preocupação constan-  Soluções alcançadas de tal forma que as pessoas envolvi-
te em melhorar, dificilmente se terá problemas com relação a pos- das continuem trabalhando juntas tão eficientemente, pelo menos,
tura profissional, pois essa preocupação constante em melhorar é como quando começaram a resolver seus problemas.
um ponto que leva a melhoria contínua nas carreiras profissionais.
 Espera-se que todo profissional tenha um preparo básico, Dois componentes da competência interpessoal assumem im-
mas o novo profissional deve demonstrar também esforço e inte- portância capital: a percepção e a habilidade propriamente dita. O
resse incansáveis para aprender. processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acurada
 É necessário ter um ânimo permanente, disposição para da situação interpessoal.
o trabalho e para correr atrás do que se quer. A percepção seletiva é um processo que aparece na comunica-
 O profissional de hoje deve demonstrar disponibilidade e ção, pois os receptores vêm e ouvem seletivamente com base em
boa administração do seu tempo e das suas tarefas. suas necessidades, experiências, formação, interesses, valores, etc.
 Muitas organizações começam a mostrar interesse em in- A percepção social: É o meio pelo qual a pessoa forma impres-
vestir na capacitação de seus funcionários, mas, para isso, é preciso sões de uma outra na esperança de compreendê-la.
uma sólida relação de confiança mútua. Novas COMPETÊNCIAS começam a ser exigidas pelas organiza-
 A ética é fundamental no trabalho. Sem seriedade, nenhu- ções, que reinventam sua dinâmica produtiva, desenvolvendo no-
ma relação profissional pode dar certo. vas formas de trabalho e de resolução de conflitos. Surgem novos
paradigmas de relações das organizações com fornecedores, clien-
Há, ainda, outras características que certamente podem contar tes e colaboradores. Nesse contexto, as relações humanas no am-
pontos positivos na hora da contratação ou mesmo na convivência biente de trabalho tem sido foco da atenção dos gestores, para que
diária no ambiente de trabalho: uma boa rede de contatos; per- sejam desenvolvidas habilidades e atitudes necessárias ao manejo
sistência (uma vez que a vontade, por si só, às vezes não basta); inteligente das relações interpessoais.
cuidado com a aparência; assiduidade e pontualidade.
A Conexão Profissional, na terceira edição da série Desafios DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA
Chamamos de competência a integração e a coordenação de
para se tornar um bom profissional, trata de mais um dos desafios
um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (C.H.A.) que
dos recém-chegados ao mundo corporativo: a atenção aos proces-
na sua manifestação produzem uma atuação diferenciada.
sos e às rotinas nas organizações.
Ao integrar uma equipe de trabalho, um dos primeiros passos
C – conhecimento - SABER
a serem dados é procurar compreender a rotina da organização.
H – habilidade – SABER FAZER
Ter uma visão global das atividades que a organização desenvolve é
A - atitude - QUERER FAZER
indispensável para um bom desempenho e, principalmente, para a
conquista da autonomia. Para tanto, é fundamental atenção contí-
A COMPETÊNCIA TÉCNICA envolve o C.H.A em áreas técnicas
nua aos processos. Com isso, você pode compreender o seu papel específicas.
na equipe e na organização, além de entender como os setores in-
teragem e qual a função e inter-relação de cada um, considerando A COMPETÊNCIA INTERPESSOAL envolve o C.H.A nas relações
o conjunto. interpessoais.
Conhecer a rotina de sua equipe e da empresa permite otimizar
e sistematizar suas atividades. Além disso, você pode administrar INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
melhor o seu tempo, identificar e solucionar eventuais problemas Qualquer um pode zangar-se. Isso é fácil.
com mais agilidade, bem como propor alternativas para aprimorar a Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora
qualidade do trabalho, sempre com o foco nos resultados. certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil.
Sem a compreensão dos processos, é menos provável perceber Aristóteles
o seu papel na organização. Resultado: mais desperdício, menos
produtividade. Evite sempre trabalhar no “piloto automático”. Isso
pode acarretar retrabalho, gasto desnecessário de energia e recur-
sos, não-cumprimento de prazos, burocratização e baixa competiti-
vidade. Em síntese: prejuízo para você e para a empresa.
30 Por Rozilane Mendonça

132
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Como trabalhar bem com os outros? Como entender os outros Objetividade
e fazer-se entender? • relacionada com a clareza na informação prestada ao usuário.
A inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocio- • é importante ser claro e direto nas informações prestadas,
nal. As pessoas mais brilhantes podem afogar-se nos recifes das sem rodeios, dispensando informações desnecessárias à situação.
paixões e dos impulsos desenfreados, pessoas com alto nível de QI
pode ser pilotos incompetentes de sua vida particular. Eficiência
A aptidão emocional é uma capacidade que determina até • A Administração Pública deve atender o cidadão com agilida-
onde podemos usar bem quaisquer outras aptidões que tenhamos, de, com adequada organização interna e ótimo aproveitamento dos
incluindo o intelecto bruto. recursos disponíveis.
Inteligência emocional: É a habilidade de lidar eficazmente
com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma Presteza
adequada as necessidades de cada uma e as exigências da situação, • Manifestação do interesse em atender às necessidades do
observando as emoções e reações evidenciadas no comportamento usuário.
do outro e no seu próprio comportamento.
Inteligência intrapessoal: É a habilidade de lidar com o seu Interesse
próprio comportamento. Exige autoconhecimento, controle emo- • É importante mostrar-se interessado pelo problema/situação
cional, automotivação e saber reconhecer os sentimentos quando do cidadão-usuário.
eles ocorrem. • Mostrar empenho para lhe apresentar as soluções.
Inteligência interpessoal: É a habilidade de lidar eficazmente • O interesse na prestação do serviço está diretamente relacio-
com outras pessoas de forma adequada. nado à presteza, à eficiência e à empatia.

ELEMENTOS BÁSICOS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Não apenas nas relações humanas assim como nas relações de
• Autoconhecimento: Conhecer a si próprio, gerar autocon- trabalho, colocar-se no lugar do outro (empatia) garante maior sen-
fiança, conhecer pontos positivos e negativos. sibilidade e interesse ao usuário do serviço público.
• Controle Emocional: Capacidade de gerenciar as próprias
emoções e impulsos. Tolerância
• Automotivação: Capacidade de gerenciar as próprias emo- • É a tendência em admitir que modos de pensar, agir e sentir
ções com vistas a uma meta a ser alcançada. Persistir diante de fra- são diferentes de pessoa para pessoa.
cassos e dificuldades. • É tolerante aquele que admite as diferenças e respeita à di-
• Reconhecer emoções nos outros: Empatia. versidade.
• Habilidade em relacionamentos interpessoais: aptidão so-
cial Discrição
• Ser discreto é ter sensatez, ser reservado, recatado e des-
Fatores positivos do relacionamento cente.
Chamamos de fatores positivos todos aqueles que, num soma- • Não devemos confundir com o princípio da publicidade. Os
tório geral, irão contribuir para uma boa qualidade no atendimento atos administrativos devem seguir o princípio da publicidade que
interno e externo. Assim, desde que cumpridos ou atendidos re- significa manter a total transparência na prática dos atos da Admi-
quisitos básicos de valorização do outro, estaremos falando de um nistração Pública.
bom relacionamento. Os níveis de relacionamento aqui devem ser • Ser discreto nas relações de trabalho e nas relações com o
elevados, tendo em vista sempre o direito de cada indivíduo de re- cidadão-usuário é preservar a privacidade e a individualidade, não
ceber com qualidade a supressão de suas necessidades. invadir a privacidade, não espalhar detalhes da vida pessoal nem
O relacionamento entre pessoas é a forma como eles se tratam tampouco detalhes de assuntos que correm em segredo de justiça.
e se comunicam. Quando os indivíduos se comunicam bem, e o gos-
tam de fazer, se diz que há um bom relacionamento entre as partes. Comportamento receptivo e defensivo
Quando se tratam mal, e pelo menos um deles não gosta de entrar
em contato com os outros, é um mau relacionamento. Comportamento Receptivo
Significa perceber e aceitar possibilidades que a maioria das
Fatores que interferem no trabalho em equipe pessoas ignora ou rejeita prematuramente.
- Estrelismo; Pode ser de natureza sensorial ou psicológica.
- Ausência de comunicação e de liderança; No primeiro caso a pessoa se caracteriza por estar atento ao
- Posturas autoritárias; que acontece a sua volta.
- Incapacidade de ouvir; No segundo a característica é de pessoa de mente aberta e sem
- Falta de treinamento e de objetivos; preconceitos à novas ideias.
- Não saber “quem é quem” na equipe. A curiosidade é inerente do comportamento receptivo.

Fatores positivos do relacionamento Comportamento Defensivo


O servidor não tem comportamento receptivo quando:
Comunicabilidade • parecem saber de tudo;
• habilidade de expor as ideias; • nunca têm dúvidas;
• clareza na comunicação verbal; • que têm resposta para qualquer pergunta;
• é a qualidade do ato comunicativo otimizado, no qual a men- • sempre têm certeza das coisas;
sagem é transferida integral, correta, rápida e economicamente e • que não admitem ser contestados;
sem “ruídos”. • têm todas as informações;
• acham que estão sempre certos;

133
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
• tendem a colocar os outros na defensiva. Os cidadãos estão cada vez mais conscientes de que o serviço
• age como o “dono da verdade” - transmite a ideia de que público que lhe é prestado não é gratuito: é muito caro. Pagam-
todos os outros são “ignorantes” e não têm nada de útil ou interes- -se tributos de várias espécies, numa complexa configuração fiscal
sante a dizer. (cumulatividade, bi-tributação, efeito cascata, guerra fiscal, etc...)
• quando afirma suas verdades e não admite contestação - que precisam arcar, inclusive, com os custos da burocracia excessiva
transmite a mensagem de que vê a si mesmo como professor, con- e da provisão para fraudes.
siderando todos os outros como aprendizes. A sociedade está ciente de que o serviço público deve ser efi-
• faz os ouvintes experimentarem sentimentos de inferiorida- ciente e de que o servidor público está ali para servir a sociedade.
de, o que produz um comportamento defensivo. O emprego público deve explorar as habilidades que fizeram o
candidato ser empossado. A remuneração, a depender da carreira,
Habilidades necessárias ao bom relacionamento no trabalho deve ser mantida em níveis competitivos ao da esfera privada. Mas,
• Habilidade de comunicar ideias de forma clara e precisa em nada disso visa a efemeridade do “status” que alguns servidores
situações individuais e de grupo. públicos apreciam. Tudo visa o fim público, objetiva a satisfação das
• Habilidade de ouvir e compreender o que os outros dizem. necessidades coletivas.
• Habilidade de aceitar críticas sem fortes reações emocionais Uma nova política de recursos humanos é necessária. Deverá
defensivas (tornando-se hostil ou “fechando-se”) ser permanente e estar em constante aperfeiçoamento, produzin-
• Habilidade de dar feedback aos outros de modo útil e cons- do, na ponta, servidores mais críticos, competentes, inovadores e
trutivo. cientes de sua missão pública. Essa é a única forma de se resgatar,
• Habilidade de percepção e consciência de necessidades, sen- perante a sociedade, a dignidade da função, e se ganhar do público,
timentos e reações dos outros. o reconhecimento devido.
Perante a sociedade, maus servidores não têm direitos - nem
• Habilidade de reconhecer, diagnosticar e lidar com conflitos e de grevar, porque são dispensáveis. Bons servidores, ao contrário,
hostilidade dos outros. competentes e atenciosos, tornam-se mais fortes e reconhecidos,
• Habilidade de modificar o meu ponto de vista e comporta- porque imprescindíveis. Não adianta simplesmente lutar pelo salá-
mento no grupo em função do feedback dos outros e dos objetivos rio sem ter postura e ética na hora de servir.31
a alcançar. O servidor na interação entre o Estado e a sociedade
• Tendência a procurar relacionamento mais próximo com as Ao trazer para o debate a importância de priorizar os servido-
pessoas, dar e receber afeto no seu grupo de trabalho. res públicos nos processos de comunicação e relacionamento, par-
te-se do pressuposto de que é no dia a dia, no atendimento face a
Órgão, servidor e opinião pública face que o Estado mais é chamado a se posicionar.
A opinião pública tem uma visão estereotipada do funcionário E é nessa circunstância de interação direta entre os represen-
público. Nesta visão, são realçados os aspectos negativos: menor tantes do governo e aqueles que compõem a sociedade, que a ima-
empenho no trabalho, descaso na prestação de serviços e acomo- gem construída nos demais meios de comunicação se confirma ou
dação nas rotinas do emprego etc. é atirada por terra.
Esta é uma visão muito antiga. A maioria das críticas ao governo é recebida pela equipe de
Desmistificar um estereótipo social é sabidamente uma tarefa trabalho antes de chegar às autoridades eleitas. E quem mais exer-
de paciência e que demanda tempo. É necessária uma estratégia, ce esse papel de “para-raios” é o servidor que trabalha em contato
permanente e progressiva de esclarecimento da sociedade civil, a direto com o cidadão. Seja nos setores destinados exclusivamente
fim de mostrar o porquê da existência do servidor público e sua ao atendimento de reclamações e solicitações, seja na portaria, na
necessidade. O porquê de sua necessária e constante valorização. rua, na obra, nas escolas, nas unidades de saúde ou nos setores
A Constituição de 1988 estabelece que a única maneira de pro- administrativos. Independentemente de seu perfil e função, ele é
vimento de cargos públicos efetivo é através de concurso. Atual- reiteradamente indagado pelo cidadão sobre os serviços oferecidos
mente, a maior parte do funcionalismo público de cargos efetivos é pela administração pública, bem como sobre as formas de acesso e
os prazos de execução.
formada por servidores concursados, aprovados em certames que
Atendentes, motoristas, recepcionistas, dirigentes, telefonis-
exigem muito preparo.
tas, técnicos, terceirizados, representam uma instituição aos olhos
Mas, uma boa parte dos cargos comissionados, a maioria car-
do público externo.
gos de gestão, são ocupados por servidores nomeados segundo cri-
Tudo e todos comunicam. Cada integrante de uma organização
térios de interresses políticos. Isso gera um quadro onde o servidor
é um agente responsável por ajudar o cidadão a saber da existência
tem uma boa formação, mas os chefes são amadores.
de informações, ter acesso fácil e compreensão, delas se apropriar e
Além disso, há uma gama de outros funcionários selecionados
ter a possibilidade de dialogar e participar em busca da transforma-
pelo critério “quem indica”, contratados temporariamente, ou ter-
ção de sua própria realidade. (DUARTE, Jorge, 2007, p. 68).
ceirizados, ou para Consultoria e cujos contratos são renovados inú-
O Estado, portanto, fala por meio de seus servidores. Ao aten-
meras vezes equivalendo na prática a quase um cargo permanente. der o cidadão, ele é um braço do Estado em posição estratégica
Infelizmente há ainda esses que caem de paraquedas no serviço de porta-voz dos serviços disponíveis e “tradutor” de normas e
público. procedimentos, incumbido de adequar o conteúdo e a linguagem
Entretanto, o que se percebe é que a cena da repartição cheia a cada demanda e a cada interlocutor. Além disso, também está em
de máquinas de datilografia e cadeiras com paletós sobre elas re- situação privilegiada para captar as impressões, críticas, desejos e
pousando, hoje é tão pitoresca quanto rara. necessidades do público, na medida em que o contato direto coti-
É claro que exames rigorosos para admissão de novos servido- diano com os cidadãos oferece subsídios para identificar fragilida-
res aumentam a qualidade do funcionalismo , mas não é só isso. É des no atendimento, nos processos, na divulgação dos serviços e na
preciso estruturar carreiras no serviço público com cursos obrigató- própria política.
rios e específicos para o setor público.
31 Fonte: www.metodologiacientifica-rosilda.blogspot.com.br

134
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Lipsky (1980) destaca que esses atores têm informações que O distanciamento hierárquico e a falta de interação entre os
podem indicar caminhos para aprimorar as políticas e promover a formuladores (agentes políticos) e implementadores (agentes ad-
gestão democrática dos programas. O valor estratégico da media- ministrativos) podem gerar distorções em ambos os processos, re-
ção que os servidores fazem entre o Estado e a sociedade, não só fletidas na distância entre a política planejada e a política que chega
como executores, mas também definidores dessa relação, chama a ao cidadão. A implementação dos programas criados nos níveis hie-
atenção para a análise do seu papel na grande rede social interliga- rárquicos superiores pode diferir do que foi proposto, por diversos
da ao Estado. motivos: a falta de entendimento, a não explicitação dos objetivos,
O que alimenta o funcionamento de uma organização é o que o os interesses políticos de quem implementa a ação, a (re)significa-
funcionário sabe. (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Nessa perspectiva, ção em função da vivência e percepção do servidor, ou mesmo a
ele é percebido não como cumpridor de planos, mas um negocia- adaptação consciente às condições de trabalho ou às condições es-
dor, capaz de incentivar o diálogo, coletivizar ideias, formular alter- pecíficas dos cidadãos atendidos.
nativas e articular a ação conjunta. Dentre os fatores que podem levar a essa desconexão está o
A complexidade dos problemas sociais requer retroalimenta- fato de que os trabalhadores que estão em suas atividades diárias
ção e aprendizagem constantes, decodificação das informações re- em contato direto com os cidadãos possuem suas próprias referên-
cebidas, flexibilização de regras e disseminação de conhecimento. cias; eles agem em respeito a elas (...). É relevante o fato de as po-
Sob essa perspectiva, os servidores se revelam duplamente agen- líticas públicas serem executadas no nível da rua, por funcionários
tes de comunicação pública: como agentes melhor posicionados muitas vezes desconhecedores das políticas conforme o desenho
para contribuir com informações e conhecimento para aprimorar original, desmotivados, sobrecarregados, trabalhando sob situação
os serviços públicos (levando informação do cidadão para o Estado de estresse devido ao alto grau de incerteza inerente à diversida-
e deste para o cidadão) e também como agentes encarregados de de das necessidades dos clientes e aos parcos recursos disponíveis,
efetivar as políticas públicas. quer para o pagamento dos salários, quer para a execução mesmo
A comunicação dirigida face a face pode viabilizar soluções das políticas. (SCHMIDT, 2006, p. 17-18).
cotidianas para os cidadãos que solicitam atenção e esperam por Hogwood e Gunn (1993) listam diversas precondições para a
informações corretas. Além disso, Argenti (2006) afirma que a cre- adequada implementação das políticas públicas. Dentre outros fa-
dibilidade adquirida por meio do relacionamento com grupos espe- tores, eles apontam o acordo sobre os objetivos, a perfeita comuni-
cíficos tende a surtir mais efeito que campanhas e anúncios corpo- cação e coordenação e a obediência aos superiores. Considera-se,
rativos massivos. no entanto, que tais aspectos dificilmente serão totalmente atendi-
As organizações públicas, e especificamente as administra- dos porque os indivíduos tendem a resistir a serem tratados como
ções municipais, que desejam atingir resultados na implantação meios. Eles interagem como seres integrais, trazendo suas próprias
das práticas de comunicação com seus cidadãos precisam utilizar perspectivas.
com eficiência o contato direto com estes, gerando interatividade e Mesmo que a formalidade burocrática vise a padronizar proce-
contribuindo para a constituição de imagem favorável. (GERZSON; dimentos, os servidores têm uma certa liberdade de decisão. Sua
MULLER, 2009, p. 65). adaptação às normas pode ser feita de modo a desvirtuar comple-
Woodrow Wilson, um dos inspiradores do paradigma clássico tamente os objetivos, ampliando ainda mais as cobranças relativas
da administração pública, já em 1887, demonstrava a importância aos procedimentos burocráticos irrelevantes ou promovendo uma
de aproximá-la da sociedade. Ele defendia a eliminação do anoni- adaptação favorável ao cidadão, explicando os trâmites de forma
mato burocrático e a discricionariedade como formas de aumentar simplificada, apontando alternativas ou mesmo flexibilizando as
a responsabilidade e criticava a desconfiança ilimitada nos adminis- normas para melhor atender cada cidadão.
tradores e nas instituições públicas. Assim, as prioridades outorgadas pelos planejadores também
Considerando tais questões, abordar a comunicação pública são influenciadas pelo poder político de instâncias do próprio po-
sob o prisma da relação individual entre servidor e cidadão é uma der público. Destaca-se, então, a importância de focar a tríade go-
tentativa de compreender as estratégias e os mecanismos envolvi- verno-servidor-cidadão na comunicação pública. Entende-se, neste
dos na comunicação formal e informal e o modo como os servidores caso, que o governo é o agente do primeiro escalão, responsável
lidam com os interesses e as demandas dos cidadãos. por grandes decisões e por formatar e planejar a implantação das
Chamar a atenção para o papel dos servidores na adequação políticas públicas. Por outro lado, considera-se que tanto a política
das políticas governamentais é considerar que ações públicas não quanto a comunicação pública direcionadas ao cidadão só se efeti-
são isentas. Elas trazem a marca dos interesses e das percepções de vam na ação, e o servidor que as implementa pode alterar o curso
seus executores, o que pode causar distorções entre as necessida- delas.
des dos cidadãos e o que o Estado lhes oferece. (SKOCPOL, 1985). Do ponto de vista comportamental, muito do que se sabe so-
Busca-se, portanto, destacar a necessidade de considerar que o Es- bre as estratégias de interação entre os servidores e os cidadãos
tado se submete não só a interesses localizados na sociedade, mas deve-se às pesquisas empíricas desenvolvidas por Lipsky (1980). O
também aos interesses de seus próprios membros. autor afirma que os servidores públicos desenvolvem um conjunto
Segundo Rhodes (1986), implícito à concepção de redes está o de estratégias que são postas em ação de acordo com o tipo de
argumento de que a implementação é um elemento-chave no pro- demanda existente.
cesso político, pois os objetivos iniciais podem ser substancialmen- Chamado de “burocrata no nível da rua”, por Michael Lipsky
te transformados quando levados à prática. (1980), o servidor focado nesse estudo trata-se de um prestador de
Porém, a concepção tradicional da administração pública pres- serviços públicos, diretamente atuante na oferta desses serviços e
supõe que as políticas são implementadas tal como foram planeja- com contato pessoal com os usuários. A burocracia de nível de rua
das, desconsiderando o contexto e as especificidades de quem as (street level bureaucracy) considera que os escalões mais baixos são
implementa e de quem as recebe. Focar as redes numa perspectiva essenciais para o funcionamento efetivo e prega que a aproxima-
micro possibilita perceber in loco como, de fato, a implementação ção ajuda a definir a relação entre Estado e sociedade. (FERRAREZI,
das políticas é efetivada. 2007).

135
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Dasso Junior (2002) destaca que o papel a ser desempenhado mesmo em nível gerencial, elas tenham fluxo entre os níveis hie-
pelos servidores diante da necessidade de flexibilizar procedimen- rárquicos e cheguem à ponta, aos funcionários que representam
tos burocráticos incongruentes com a realidade dos atendimentos diretamente a organização nos atendimentos cotidianos. Assim, a
passa por reconstruir a capacidade analítica do Estado. É preciso informação constituiria não só recurso estratégico para o planeja-
“dotar a administração pública de capacidade para dar respostas mento, controle e tomada de decisão, mas também para embasar
às demandas sociais, definidas através de processos participativos”. as ações cotidianas.
(DASSO JUNIOR, 2002, p. 13). Para isso, o autor defende a flexibili-
zação e redução da estrutura hierárquica, bem como a inclusão dos Análise de redes sociais na comunicação organizacional
servidores na formulação e gestão das políticas. A abundância de fluxos e demandas informacionais requer
“O instrumento fundamental de ação do servidor é a informa- reconhecer a organização como ator social com influências mul-
ção, o que requer capacidade de captar, transferir, disseminar e uti- tidirecionais. Nessa perspectiva, a rede não é apenas uma cadeia
lizá-la de forma proativa e interativa.” (JUNQUEIRA; INOJOSA, 1992, de vínculos, mas também uma maneira de analisar e entender os
p. 29). Mas, para alterar o formato instrumental de comunicação, é processos de comunicação no contexto das organizações de uma
preciso vencer resistências e posições arraigadas. A construção de forma dinâmica e próxima da prática cotidiana, considerando-se as
relacionamentos requer a superação de barreiras como a resistên- relações que as constituem.
cia de gestores e servidores historicamente acostumados com es- Ao estabelecer vínculos internos e externos entre diferentes
truturas hierarquizadas e com um processo verticalizado e marcado conjuntos de ação, a análise das redes de comunicação possibilita
pela apropriação e pelo controle da informação. estabelecer nexos explicativos entre as relações dinâmicas do sis-
tema do “nós” da comunidade de comunicação com o ecossistema
Ao se analisar o Estado após o processo de redemocratização
externo do “eles” possibilitando, inclusive identificar suas dialéticas
do Brasil, é possível verificar que a incapacidade de os governos
na definição cognitiva de um campo de ação comum. (HANSEN,
centrais darem respostas a demandas sociais cada vez mais com-
2006, p. 2-3).
plexas, diversas e conflitantes, cujos atores reivindicam atenção di-
Dentro das organizações, pode-se utilizar a metodologia de
ferenciada, resulta na descentralização administrativa. rede para identificar relações de cooperação e conflito, bem como
Embora tal medida, baseada no modelo da nova gestão públi- para avaliar a influência da hierarquia e de interesses individuais
ca, busque proporcionar mais flexibilidade e autonomia para apro- nas relações, as interações dentro dos setores e transetoriais, as
ximar as estruturas de decisão dos cidadãos, a tendência dos gover- competências e as relações de poder. No aspecto das redes exter-
nos em implementar políticas autorreferentes persiste. Verifica-se nas, cabe considerar o atendimento, a captação de informações
uma proliferação de decisões “por um pequeno círculo que se loca- que possibilitem adequar às demandas e as relações estabelecidas
liza em instâncias enclausuradas na alta burocracia governamental”. com outras organizações.
(DINIZ, 1998, p. 34). Se por um lado, a análise de redes sociais trabalha com os mes-
Assim, o desenho institucional trazido pela nova administração mos instrumentos de captação de dados utilizados pelas ciências
pública aumentou o isolamento dos decisores. (DINIZ, 2000). Via de sociais: questionários, entrevista, análise documental; por outro,
regra, eles trabalham em gabinetes distantes dos pontos de atendi- ela oferece novas possibilidades na análise de tais dados.
mento e não mantêm contato frequente com os cidadãos atingidos
por suas decisões. Por outro lado, a maioria daqueles que mantêm A análise de redes sociais tem uma dimensão propriamente so-
contato cotidiano com os cidadãos no processo de implementação cial e comunicacional, que permite traçar os elos, as interações e as
e disponibilização das políticas, nos balcões de atendimento, repre- motivações dos atores em função do convívio (concreto ou virtual) e
sentando o governo em reuniões com os diferentes grupos asso- dos interesses e dos objetivos compartilhados. (MARTELETO, 2010,
ciativos da sociedade civil, ou executando políticas de educação, p.39)
saúde, habitação, infraestrutura e assistência social, exerce suas Nessa rede cujos nós são conectados pela relação que estabe-
funções longe dos níveis hierárquicos estratégicos. Não raro, seu lecem, percebe-se que não só emissor e receptor se ajustam e se
papel é considerado inexpressivo no modelo top-down de imple- influenciam na interação como também recebem outras influências
mentação de políticas. diretas e indiretas. A análise de redes sociais possibilita mapear e
A participação no gerenciamento pode criar motivação para o analisar não apenas a mútua afetação, mas múltiplas afetações de-
trabalho e mais independência além, é claro, de proporcionar mui- correntes das interações intraorganizacionais e sociais mais amplas.
tos benefícios para a instituição, que poderá entender melhor as No enfoque da rede, ter prestígio significa ser um ator que re-
cebe mais informações do que envia. (WASSERMAN; FAUST, 1999,
demandas do cidadão, ao mesmo tempo em que o beneficia com
p. 173). Sendo assim, a partir da análise das ligações é possível
um atendimento mais adequado.
identificar indivíduos mais bem posicionados em relação ao fluxo
Resolver problemas, seguidas vezes partindo do zero e utilizar
relacional e que, em razão desta posição, possuem maior poder de
esforços em duplicata são, segundo Davenport e Prusak (1998), prá-
influenciar a comunicação entre os indivíduos com os quais se re-
ticas comuns nas quais o conhecimento14 de soluções já criadas lacionam.
não é compartilhado. Os autores destacam que há um saber oculto, A análise de rede aponta o poder de influência dos atores com
em estado latente no processo de trabalho e na mente dos traba- base em diferentes aspectos posicionais. Ela identifica não só os
lhadores, que pode ser conhecido e socializado. A transferência de líderes de opinião, caracterizados como aqueles que mais influen-
conhecimento nas organizações também ocorre nas conversas in- ciam as atividades, os relacionamentos e as informações na rede,
formais e contatos pessoais. O desafio é transformar o conhecimen- mas também os membros pelos quais passam os fluxos mais in-
to latente em linguagem comunicativa, de modo a incorporá-lo ao tensos, aqueles que mais intermedeiam contatos ou aqueles cujo
processo de trabalho e ao patrimônio da instituição. potencial pode ser melhor explorado; além das conexões diretas
Tal como destacam tais autores, se a realidade política de uma e indiretas, o grau de reciprocidade; a interação dentro e entre os
organização permite que se multipliquem enclausuradores do co- subgrupos e a coesão das relações. De forma análoga, também é
nhecimento, o intercâmbio será mínimo. Eles defendem que, ao possível identificar aqueles que constituem barreiras, comprome-
invés de as informações serem represadas nos altos escalões ou tendo o processo comunicacional.

136
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Assim, a análise da comunicação organizacional, sob o prisma A comunicação é a utilização de qualquer meio pelo qual uma
das relações em rede, possibilita responder questões como: com mensagem é transmitida. Podemos dizer que a comunicação é a
quem cada indivíduo busca informação sobre determinado assun- transmissão de um modo de pensar, de ser e de sentir. Seu objetivo
to; quais deles se conhecem ou quem tem acesso a quem; com que é influenciar com o objetivo de se obter uma reação específica de
frequência trocam informações; se os colegas sabem com quem quem recebe a mensagem.
buscar cada tipo de informação; se utilizam tais fontes; que tipo de É através da comunicação que as pessoas conseguem expressar
relação estabelecem. Mais que responder tais questões, a análise suas emoções, motivar outras pessoas, transmitir fatos, opiniões e
demonstra como cada aspecto influencia a estrutura de relações experiências. É preciso que se tenha um bom conhecimento sobre
do grupo. como bem utilizar esta ferramenta. Saber comunicar é um atributo
A rede considera a dinâmica dos objetos empíricos das ciên- que todos nós possuímos, porém, alguns sabem utiliza-la melhor
cias sociais e, portanto, é mutável. Ela possibilita indicar mudan- do que os outros.
ças e permanências nos modos de comunicação e transferência de É preciso que a comunicação, como ferramenta, seja usada em
informações, nas formas de sociabilidade, aprendizagem, autorias, benefício do indivíduo e da empresa.
escritas e acesso aos patrimônios culturais e de saberes das socie-
Um grande engano ocorre quando se confunde comunicação
dades mundializadas. (MARTELETO, 2010, p. 28).
com falar. Comunicação é muito mais do que simplesmente o ato da
Com isso, as redes constituem um meio de aprimorar a comu-
fala. Ela envolve outros sentidos que, na maioria das vezes, não são
nicação, respeitando a autonomia e as diferenças individuais, onde
considerados como importantes. Ver, ouvir, sentir são, constante-
cada um constitui uma unidade em si, único em forma e posição.
Ao considerar a capacidade e os recursos informacionais de cada mente, esquecidos quando se discute o processo de comunicação.
membro e sua competência em compartilhá-los, a rede possibilita Muitas pessoas falam, e por não saber COMUNICAR provocam da-
melhor promover articulações tanto na concepção quanto na exe- nos irreparáveis na sua rede de relações humanas, principalmente
cução de suas funções. na rede de relacionamentos profissionais.
A comunicação no contexto das organizações como processo Muitas pessoas escutam mas não ouvem, muitas olham mas
relacional entre seus membros e destes com redes externas não é não vêem. Ouvir requer muita prática e paciência. Requer a capaci-
restrita às relações hierárquicas e aos meios formais. Mais que as dade de saber segurar o impulso da impaciência para deixar a outra
estratégias utilizadas pelos meios de comunicação institucional e pessoa se expressar. Quando realmente estamos ouvindo, uma for-
mais ainda que os aspectos estritamente hierárquicos, analisar a te conexão é estabelecida entre nós e o outro. Uma ligação invisí-
comunicação nesse contexto requer uma abordagem a partir dos vel que nos conecta e nos permite ocuparmos o lugar do outro, e
vínculos, construídos intencionalmente ou não e que estão em com isso conseguimos entender melhor que esta outra pessoa é e
constante interação e transformação. o que ela deseja. Quando você estiver ouvindo, foque sua atenção
somente na outra pessoa. Escute, veja, sinta o que ela tem a di-
A comunicação não é algo estanque. Ela existe a partir de uma zer. Escute não somente o que está sendo dito, mas preste atenção
rede de relações que produz múltiplos sentidos. Nessa concepção, a principalmente no que não está sendo dito.
proposta é abordar a comunicação organizacional como um proces-
so social capaz de reconfigurar-se e reconfigurar continuamente a ‘Leia’ a expressão corporal, sinta a energia transmitida, veja a
organização. Ao mesmo tempo em que ela constitui a realidade da luz que brilha no olhar do outro. Quando você realmente souber
organização, ela modifica estruturas e comportamentos. ouvir um mundo de oportunidades surgirá. Ouça seus clientes, sua
Embora a análise de redes possibilite mapear o fluxo informal família, seus amigos e você aprenderá muito com eles; principal-
de informações, percebe-se que os atores mais centrais são os líde- mente a ouvir você mesmo. Ouça, pergunte, compreenda e, só en-
res formais. Gerentes e coordenadores possuem grande influência tão, dê a sua resposta.
sobre o fluxo de informação. A unilateralidade das relações aponta
uma reduzida permeabilidade da rede ao cidadão. Os atendentes, Saber ouvir
cuja função é manter contato direto com o cidadão, em geral, es-
Um ouvinte eficiente é aquele que ‘ouve’ com todos os seus
tão à margem. Atores periféricos, eles interagem com o ambiente
sentidos, emoções e sentimentos. Um bom ouvinte deve ser capaz
externo e captam novos elementos que poderiam possibilitar a ino-
de pensar rapidamente para sintetizar e encontrar prontas respos-
vação dentro da rede. No entanto, sua tímida participação no envio
tas para aquilo que o transmissor está comunicando. Saber ouvir
de informações para os demais faz com que grande parte dessas
informações se percam. exige reflexão, questionamento e poder de síntese sobre aquilo que
Considerando o servidor como ator com grande potencial não está acontecendo.
só para a definição e implementação de políticas públicas, como
também para a participação individual do cidadão, o mapeamento Empatia e a Comunicação
da rede e a análise das relações indicam a necessidade de incentivar A empatia é uma forma de compreensão definida como: capa-
o aumento da densidade das relações e a reciprocidade dos laços. cidade de perceber e de compreender os sentimentos de uma outra
O histórico de reformas administrativas e a influência dos di- pessoa. Uma condição psicológica que permite a uma pessoa sentir
versos modelos de gestão pública emergem. A rede está inserida o que sentiria caso estivesse na situação e circunstância experimen-
no centro da aposta de uma administração gerencialista focada em tada por outra pessoa.
metas e resultados. No entanto, a reprodução do organograma nas Um olhar, um tom de voz um pouco diferente, um levantar de
relações informais é um indicativo da influência do padrão burocrá- sobrancelhas, podem comunicar muito mais do que está contido
tico de administrar. em uma mensagem manifestada através das palavras.
Desconsiderar a ponte entre a rede intraorganizacional e a rede
extraorganizacional do órgão como elemento estratégico de acesso
ao cidadão por meio da interação pessoal é criar uma barreira. É
por meio da interação entre as redes que elas se renovam. A troca
de informações é que as torna dinâmicas e possibilita inovações.

137
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Comunicação não-verbal • É preciso o momento certo para se comunicar. Às vezes pas-
A expressão não-verbal é um poderoso complemento, e às ve- samos por cima dos sentimentos das pessoas, sem observarmos se
zes um substituto, para a mensagem verbal. Apesar da expressão estão preparadas para ouvirem determinadas coisas ou se aquele
corporal assumir até mais importância do que a expressão verbal momento é adequado para uma conversa mais séria. É preciso boa
ela é comumente posta em segundo plano. Quando você estiver vontade e discernimento para saber qual a melhor ocasião para que
se comunicando com seu cliente preste atenção nos sinais que seu o diálogo seja eficaz.
corpo e o do seu cliente estão emitindo. Saiba ler nestas entre li- • A precipitação ao responder pode ser prejudicial. Esperar o
nhas e garanta melhores negócios. Seja simples e natural. outro terminar de dizer o que pensa, para que então se possa emitir
A comunicação, quando eficaz, se dá através de atos simples o próprio pensamento, pode ser uma grande arma para resolver
e naturais, resultados de treino e observação. A simplicidade e a uma barreira de comunicação. Às vezes pensamos que sabemos o
naturalidade estão presentes quando identificamos e afastamos os que o outro vai dizer e, sem vacilar, cortamos o seu momento na
obstáculos que interferem na comunicação. conversa. Somente depois descobrimos que não era nada daquilo
que iria falar, correndo o risco de criarmos uma barreira ainda maior.
O que é comunicação? • É preciso estar aberto à cordialidade. Nunca será demais
É uma busca de entendimento, de compreensão. É uma liga- estarmos dispostos a desejar um bom dia, pedir desculpas, dizer
ção, transmissão de sentimentos e de ideias. Ao se comunicar o in- obrigado, pedir por favor... e a sorrir. Às vezes, gestos como estes
divíduo coloca em ação todos os seus sentidos com o objetivo de desarmam mecanismos de defesa e formas de ser não muito dadas
transmitir ou receber de forma adequada a mensagem. ao contato pessoal, ao diálogo e à interação.
A comunicação na Administração Pública volta-se à:
• Comunicação assertiva – utiliza técnicas que desenvolvem O exercício de se colocar no lugar do outro (empatia) permite
uma linguagem corporal e verbal capaz de garantir segurança e cre- fazer da comunicação um importante instrumento de fortalecimen-
dibilidade em reuniões e contato com clientes internos e externos, to das relações interpessoais.
além de contribuir para a adequada transmissão de informações Gaudêncio Torquato destaca as funções da comunicação na
perante as equipes de trabalho; Administração Pública:
• Comunicação eficaz para multiplicadores internos – foca o Um dos modos eficientes de planejar a comunicação na
corpo técnico do órgão público, com o objetivo de potencializar administração púbica é espelhar seus programas em um leque de
a comunicação dos colaboradores, aprimorando a sua atuação funções. A seguir, um pequeno roteiro com 10 funções.
em reuniões e contato com clientes por meio de uma linguagem
dinâmica, segura e objetiva. 1. A comunicação como forma de integração interna – diapa-
são
Barreiras ocorrem quando a comunicação se estabelece mal Função: ajustamento organizacional. Os ambientes internos,
ou não se estabelece entre pessoas ou entre grupos. Daí resultam alimentados por eficientes fontes de comunicação, motivam-se e
alguns fenômenos psíquicos (CIEE, 2013): integram-se ao espírito organizacional, contribuindo de forma mais
• Ruído é a interrupção da comunicação através de mecanismos eficaz para a consecução das metas.
externos, sons estranhos à comunicação, visualizações que compro-
metem a comunicação, ou mecanismos utilizados pelo locutor, que 2. A comunicação como forma de expressão de identidade –
seja incompreendido pelo interlocutor. A partir do momento em tuba de ressonância
que se elimina o ruído a comunicação tende a se estabelecer. Função: Imagem e credibilidade. O Poder Executivo sofre cons-
tantemente da desintegração das estruturas e equipes, o que acaba
• Bloqueio é a interrupção total ou provisória da comunicação gerando dissonância na comunicação. E dissonância fragmenta a
e paradoxalmente parecem comprometer menos a evolução da identidade governamental. A comunicação integrada e comandada
comunicação do que a filtragem. por um polo central tem condições de equacionar esse problema.
• Filtragem é o mecanismo de seleção, danosa, dos aspectos O poder legislativo carece de um planejamento de comunica-
da comunicação que erroneamente interessam aos interlocutores. ção externa, voltado para traduzir todas as funções e atividades,
salvaguardando a imagem da instituição. O poder judiciário, o mais
De acordo com o CIEE, o surgimento de um bloqueio obriga os fechado, carece da mesma intensificação de programas de comuni-
interlocutores a questionar suas comunicações e geralmente lhes cação externa.
permite reatá-las e restabelecê-las em clima mais aberto e em uma
base mais autêntica. Desde que cada interlocutor, tenha tomado 3. A comunicação como base de lançamento de valores
consciência de que neles, e entre eles, existam obstáculos às suas Função: expressão de cultura. O sistema de comunicação é
trocas. Em caso de filtragem, a comunicação tende a acompanhar- fonte de irradiação de valores. No planejamento, um conjunto de
-se de reticências e de restrições mentais, degradando-se pouco a princípios valorativos se faz necessário para alimentar a cultura
pouco em mensagens cada vez mais ambíguas e equivocadas. interna e projetar o conceito junto aos diversos públicos-alvo. Os
Alguns aspectos podem ser refletidos com a finalidade de valores devem estar centrados no interesse e no papel da institui-
minimizar as barreiras na comunicação, segundo o CIEE: ção, não nos interesses do dirigente. É claro que ele irá imprimir a
• Comunicação é sempre uma via de mão dupla. Uma das sua marca, mas a identidade institucional é o foco principal.
melhores maneiras de fortalecer a comunicação é desenvolver
a habilidade não apenas de falar, mas de ouvir também. Dar a 4. A comunicação como base de cidadania
atenção completa, inclusive com os olhos e as expressões faciais. Função: direito à informação. A comunicação deve ser enten-
Quando concentramos nossa atenção, mostrando que não estamos dida como um dever da administração pública e um direito dos
apenas escutando com os ouvidos, poderemos nos identificar com usuários e consumidores serviços. Sonegar tal dever e negar esse
o que a outra pessoa está sentindo ou experimentando. Conse- direito é um grave erro das entidades públicas. Os comunicadores
quentemente, a pessoa que nos fala também nos dará a atenção precisam internalizar esse conceito, na crença de que a base da
que desejamos quando formos nós os locutores. cidadania se assenta também no direito à informação.

138
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
5. A comunicação como função orientadora do discurso dos Uma definição objetiva e simples de comunicação institucional
dirigentes é a de Abílio da Fonseca (1999, 140), professor e especialista em
Função: assessoria estratégica. Essa é uma das mais relevantes relações públicas de Portugal, que a designa “como conjunto que é
funções da comunicação. Trata-se de elevar o status do sistema de de procedimentos destinados a difundir informações de interesse
comunicação ao patamar estratégico de orientação das cúpulas público sobre as filosofias, as políticas, as práticas e os objetivos das
dirigentes. Essa função exige dos comunicadores boa bagagem organizações, de modo a tornar compreensíveis essas propostas”.
conceitual e cultural. Para Gaudêncio Torquato do Rego (Apud Kunsh, 2003), “a comu-
nicação institucional objetiva conquistar simpatia, credibilidade e
6. A comunicação como forma de mapeamento dos interesses confiança, realizando, como meta finalista, a influência político-so-
sociais cial, a partir da utilização de estratégias de relações públicas, tanto
Função: pesquisa. Há de se considerar a prospecção ambiental no campo empresarial como no governamental, de imprensa, pu-
como ferramenta importante do planejamento estratégico de blicidade, até as técnicas e práticas do lobby”. Em última instância,
comunicação. Afinal de contas, a pesquisa é que detecta o foco, Margarida Kunsh conclui que a comunicação institucional,através
os eixos centrais e secundários, as demandas e expectativas dos das relações públicas, destaca os aspectos relacionados com a mis-
receptores. são, os valores e a filosofia da organização e soma para o desenvol-
vimento do que chama de subsistema institucional, compreendido
pela “junção desses atributos.” Como comunicadores e formadores
7. A comunicação como forma de orientação aos cidadãos
de opinião que somos, com a utilização dessa importante ferramen-
Função: educativa. Nesse aspecto, a comunicação assume o
ta, temos o poder de passar a informação de forma positiva sem
papel da fonte de educação, pela transmissão de valores, ideias e
nos esquecer, entretanto, de que a comunicação institucional deve
cargas informativas que sedimentarão a bagagem de conhecimento passar veracidade e confiabilidade.
dos receptores. Por sua vez, a comunicação interpessoal é informal e acontece
quando pessoas trocam informações entre si, troca que pode ser
8. A comunicação como forma de democratização do poder direta e imediata ou pode ser indireta e mediada, conforme Dante
Função: política. Compartilhar as mensagens é democratizar Diniz Bessa (2006). No primeiro caso, as pessoas estão cara a cara
o poder. Pois a comunicação exerce um poder. Assim, detém mais e se relacionam, principalmente, por meio da fala e da gesticula-
poder quem tem mais informação. Nas estruturas administrativas, ção, como, por exemplo, quando conversam em algum ambiente
tal poder é maior nas altas chefias. E quando se repartem as infor- informal (em uma festa ou no intervalo do trabalho, por exemplo)
mações por todos os ambientes e categorias de públicos, o que se e contam histórias; relatam acontecimentos; descrevem pessoas;
está fazendo, de certa forma, é uma repartição de poderes. dizem o que leram no jornal; avisam da chegada de alguém, contam
piadas, entre outros.
9. A comunicação como forma de integração social Já a comunicação indireta e mediada acontece quando as
Função: social. A comunicação tem o dom de integrar os grupos pessoas estão distantes e não podem se enxergar nem escutar uma
pelo elo informativo. Ou seja, quem dispõe das mesmas informa- a outra. Nessa situação, elas precisam usar algum meio que lhes
ções pode entender melhor seus semelhantes, dialogar, colocar-se possibilite a troca de informações, transportando a voz ou os gestos
no lugar do interlocutor. A comunicação, como a língua, exerce o que uma faz até a outra. Os meios utilizados podem ser variados
extraordinário poder de integrar as comunidades, unindo-as em (telefone, carta, computador), mas uma vez usado um meio, ele
torno de um ideal. estará mediando (intermediando) a comunicação entre as pessoas
(BESSA, 2006).
10. A comunicação como instrumento a serviço da verdade Conforme Bessa (2006), “há uma semelhança fundamental
Função: ética. Não se deve transigir. A verdade deve ser a fonte entre os dois tipos de comunicação: ambos são relações sociais
de inspiração da comunicação pública. Até porque a mentira e as que colocam as pessoas em interação no próprio ato da troca de
falsas versões acabam sendo desmascaradas. A comunicação preci- informações”
sa servir ao ideário da ética, valor básico dos cidadãos.32
A comunicação pode ser formal e informal. A comunicação EXERCÍCIOS
institucional é formal e diz respeito a qualquer tipo de informação
que tenha caráter oficial de uma instituição pública ou privada.
1 – (2016 – Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) – Órgão:
De acordo com Aluízio Ferreira (1997, 236), “é toda informação
IFN-MG – Cargo: Tecnólogo - Gestão de Pessoas)
cuja fonte ou proveniência seja uma entidade ou órgão estatal, ou Analise esta frase.
um ente privado que realize atividades que tenha caráter público”. A gestão ______ de RH pode ser compreendida como a defi-
Em Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada, nição de políticas e ______ em relação aos recursos humanos para
Margarida Maria Krohiling Kunsch (2003, 165) afirma que “a co- aumentar a ______ dos servidores – e, por consequência, do pró-
municação institucional é a responsável direta, por meio da gestão prio órgão público para realizar seu trabalho de modo a alcançar
estratégica das relações públicas, pela construção e formação de seus objetivos.
uma imagem e identidade corporativas fortes e positivas de uma Com base no texto Políticas Integradas de Recursos Humanos
organização. A comunicação institucional está diretamente ligada no Setor Público de Nelson Marconi, assinale a alternativa que
aos aspectos corporativos institucionais que explicitam o lado apresenta as palavras que completam correta e respectivamente
público das organizações, constrói uma personalidade creditiva or- essa frase.
ganizacional e tem como proposta básica a influência político-social (A) Participativa / diretrizes / eficiência
na sociedade onde está inserta”. (B) Coordenada / metas / habilidade
(C) Estratégica / diretrizes / habilidade
(D) Pública / metas / eficiência
32. Obtido em http://votoemarketing.blogspot.com.br/2010/02/fun-
coes-da-comunicacao-na-administracao_28.html

139
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
2 – (2013 – Banca: FCC – Órgão: TRT - 15ª Região (SP) – Cargo: 5 – (2017 – Banca: COSEAC – Órgão: UFF – Cargo: Assistente em
Analista Judiciário - Psicologia) Administração)
O conceito de eficiência na gestão pública corresponde ao De acordo com o Código de Ética do Servidor Público, a cor-
(A) grau de alcance das metas; é uma medida de resultados tesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço
para avaliar o desempenho da administração. público caracterizam o esforço pela:
(B) uso racional e econômico dos insumos na produção de bens (A) cordialidade.
e serviços. (B) disciplina.
(C) impacto final das ações, ou seja, o grau de satisfação das ne- (C) política correta.
cessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados (D) política da boa vizinhança.
pela organização. (E) solidariedade.
(D) grau de alcance dos indicadores de resultados estabeleci-
dos no planejamento estratégico da organização. 6 – (2018 – Banca: INSTITUTO AOCP – Órgão: TRT - 1ª REGIÃO
(E) resultado da avaliação de desempenho e grau de satisfação (RJ) Cargo: Analista Judiciário - Área Administrativa)
com os serviços disponibilizados. Assinale a alternativa que apresenta o instrumento criado pelo
Governo Federal do Brasil cuja missão é promover a gestão pública
3 – (2013 – Banca: SUGEP UFRPE – Órgão: UFRPE – Cargo: Ad- de excelência, visando contribuir para a qualidade dos serviços pú-
ministrador) blicos prestados ao cidadão e para o aumento da competitividade
A aplicação do princípio da eficiência na Administração Pública do país.
pode ser exemplificada pela utilização das seguintes ferramentas, (A) Programa de Qualidade e Participação na Administração
EXCETO: Pública (QPAP).
(A) a gestão da qualidade total, que pode ser considerada um (B) Programa de Qualidade no Serviço Público (PQSP).
dos principais instrumentos para a mudança de uma cultura (C) Programa Nacional de Desburocratização.
burocrática para uma cultura gerencial. (D) Comissão de Simplificação Burocrática.
(B) a mensuração da economicidade na alocação dos recursos (E) Gespública.
públicos, que permite gerar informações contábil-gerenciais
adequadas à gestão baseada em resultados. 7 – (2015 – Banca: FCC – Órgão: TCE-CE – Cargo: Técnico de
(C) a gestão de recursos humanos baseada em competências, Controle Externo-Administração)
como pressuposto necessário para o desempenho eficiente e
eficaz de atividades requeridas pelo trabalho realizado pelos A Administração pública gerencial emergiu na segunda meta-
servidores públicos. de do século passado como estratégia para tornar a gestão pública
(D) a utilização de indicadores como instrumentos de avaliação mais eficiente. A Administração pública gerencial
de resultados, que estabelece relação entre os recursos utiliza- (A) propôs a redução dos custos transferindo ao Estado a exe-
dos e os produtos obtidos. cução de serviços privados e centralizando a tomada de deci-
(E) a ênfase no controle hierárquico e formalista ou legal exer- são.
cida sobre os procedimentos adotados pelo servidor público, (B) buscou organizar o serviço público por meio de sanções no
visto que este tipo de controle dispensa o uso de indicadores caso de descumprimento das regras e procedimentos estabele-
de resultados obtidos pela gestão pública. cidos para os servidores.
(C) diminuiu a morosidade na prestação dos serviços públicos
4 – (2013 – Banca: FUNCAB – Órgão: PC-ES – Cargo: Escrivão por meio do estabelecimento de regras e procedimentos de-
de Polícia) talhados para cada etapa da implementação das políticas pú-
A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Po- blicas.
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (D) aumentou a eficiência da gestão dos serviços públicos ao
obedecerá aos princípios de legal idade, impessoalidade, moralida- estabelecer remuneração por desempenho para os servidores
de, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: que exercem suas funções de forma estritamente profissional,
(A) Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis so- respeitando o devido distanciamento do cidadão.
mente aos brasileiros natos ou naturalizados que preencham (E) atribuiu ao Estado o papel de regulador e delegou parte da
os requisitos estabelecidos em lei. execução dos serviços públicos à Administração indireta, às or-
(B) A investidura em cargo ou emprego público depende de ganizações sociais e à iniciativa privada.
aprovação prévia em concurso público de provas ou de títu-
los, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou 8 – (2014 – Banca: ESAF – Órgão: MTur – Cargo: Analista Técni-
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações co – Administrativo)
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e São propriedades essenciais dos indicadores utilizados para a
exoneração. mensuração do desempenho governamental, exceto;
(C) O prazo de validade do concurso público será de até quatro (A) utilidade.
anos, prorrogável uma vez, por igual período. (B) validade.
(D) Durante o prazo prorrogável previsto no edital de convo- (C) simplicidade
cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de (D) confiabilidade
provas e títulos será convocado sem prioridade sobre novos (E) disponibilidade.
concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira.
(E) As funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser-
vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a
serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condi-
ções e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se ape-
nas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.

140
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
9 – (2015 – Banca: FCC – Órgão: TCE-AM – Cargo: Auditor) (D) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.
Os entes federados relacionam-se entre si de variadas ma- (E) execução integral de obra realizada por empresa contratada
neiras. É comum a instrumentalização de Protocolos de Intenção, mediante concorrência pública, na qual foi contratado o adim-
convênios, contratos, convênios de cooperação e de consórcios pú- plemento da obrigação.
blicos. A disciplina deste último, por meio da Lei n° 11.107/2005,
permitiu avanços nesse modelo de atuação integrada, pois os con- 12 – Com base na Lei da Transparência (Lei Federal nº
sórcios públicos 12.527/2011), assinale a alternativa correta.
(A) tal como os convênios de cooperação, têm personalidade (A) As informações que puderem colocar em risco a seguran-
jurídica, mas passaram a lhes serem outorgadas competências ça do Presidente e Vice-Presidente da República e respectivos
dos entes federativos, além de serem dotados de poderes mais cônjuges e filhos(as) serão classificadas como ultrassecretas e
amplos, como para desapropriação de bens. ficarão sob sigilo pelo prazo de 25 (vinte e cinco) anos.
(B) substituíram os protocolos de intenção e os convênios, na (B) O acesso à informação classificada como sigilosa cria a obri-
medida em que passaram a ser instrumentos mais dinâmicos gação para aquele que a obteve de resguardar o sigilo.
e eficazes para a viabilização de repasses de recursos entre os (C) O recurso apresentado em face de decisão que indefere pe-
entes federativos, porque não se submetem a prévias dotações dido de acesso a informações será direcionado à própria auto-
orçamentárias ou suplementares, possuindo controle autôno- ridade que a proferiu, a qual se manifestará no prazo de cinco
mo dos contratos de rateio. dias a respeito do preenchimento dos pressupostos legais de
(C) são constituídos sob a forma de associação, com persona- admissibilidade.
lidade jurídica própria, a qual, portanto, é permitida a delega- (D) A Lei Federal nº 12.527/2011 somente se aplica aos órgãos
ção de competências dos entes federativos que o compõem, públicos integrantes da Administração direta dos Poderes Exe-
com outorga de poderes para prestação de serviços públicos, cutivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e
inclusive expropriatórios e para cobrança de tarifas, além de do Ministério Público, as autarquias, as fundações públicas, as
celebrar contratos e ser contratado com dispensa de licitação. empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais
(D) concentram as atividades de prestação, gestão, fiscalização entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Es-
e regulação de serviços públicos numa só figura jurídica, devi- tados, Distrito Federal e Municípios.
damente autorizado pelos entes consorciados, possibilitando (E) O serviço de busca e fornecimento da informação deverá
ganho de eficiência e agilidade, porque, especialmente, foi ser remunerado mediante cobrança de taxa.
afastado o controle externo de sua atuação, embora remanes-
ça a competência do Judiciário para apreciação de seus atos. 13 – (2015 – Banca: FCC – Órgão: TCM-RJ – Cargo: Auditor Subs-
(E) substituíram os contratos de gestão firmados com organi- tituto de Conselheiro)
zações sociais e organizações da sociedade civil de interesse Considere os seguintes tipos de atuação:
público, porque, assim como essas pessoas jurídicas, possuem I. Prestação ou tomada de contas anual instituída em lei.
natureza jurídica de direito público, não estão sujeitos a lei de II. Prestação ou tomada de contas por fim de gestão.
licitações e não integram a Administração pública indireta, mas III. Prestação ou tomada de contas de todos os responsáveis
podem receber poderes e competências dos entes federativos. por bens e valores a qualquer tempo.

10 – (2014 – Banca: FGV – Órgão: Prefeitura de Florianópolis - Nos termos da Lei n° 4.320/1964, cabe ao controle interno a
SC Cargo: Administrador) execução
A semelhança entre Organizações Sociais (OS) e Organizações (A) do item I, apenas.
(B) do item III, apenas.
da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) está pautada no fato
(C) dos itens I e II, apenas.
de se referirem a entidades privadas que, uma vez preenchidos os
(D) dos itens I, II e III.
requisitos legais, recebem uma qualificação pelo poder público.
(E) dos itens II e III, apenas.
Dentre as suas diferenças, é possível afirmar que:
(A) uma OS pode ter fins lucrativos;
14 – (2017 – Banca: FADESP – Órgão: COSANPA – Cargo: Admi-
(B) uma OSCIP pode remunerar seus dirigentes e distribuir seus
nistrador)
excedentes operacionais entre seus colaboradores;
O orçamento público é uma das partes essenciais do plane-
(C) uma OSCIP está impossibilitada de receber bens apreendi-
jamento econômico do governo brasileiro. Em obediência ao que
dos, abandonados ou disponíveis, administrados pela Secreta- prevê a legislação básica contida na Constituição Federal de 1988, o
ria da Receita Federal; sistema de planejamento orçamentário é constituído por
(D) uma OSCIP tem seu certificado emitido pelo Ministério da (A) plano orçamentário anual, lei de diretrizes orçamentárias e
Ação Social; lei orçamentária plurianual.
(E) uma OS pode assumir serviços públicos desempenhados (B) plano orçamentário fiscal, lei de diretrizes orçamentárias e
pelos órgãos da administração pública. lei orçamentária plurianual.
(C) plano de metas plurianual, plano orçamentário anual e lei
11 – (2015 – Banca: BIO-RIO – Órgão: IF-RJ – Cargo: Contador) de diretrizes orçamentárias.
O Tribunal de Contas julgará a Prestação de Contas Irregular (D) plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias e lei orça-
quando ocorrer uma das situações a seguir, EXCETO: mentária anual.
(A) omissão no dever de prestar contas.
(B) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico,
ou infração a norma legal ou regulamentar de natureza contá-
bil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial.
(C) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou an-
tieconômico.

141
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
15 – (2013 – Banca: FUNCAB – Órgão: ANS – Cargo: Ativ. Téc. de 17 – (2016 – Banca: FCC – Órgão: TRT - 14ª Região (RO e AC)
Complexidade Intelectual – Administração) Cargo: Técnico Judiciário – Área administrativa)
No âmbito do Governo Federal o órgão central que deve exer- Segundo a Constituição Federal, um dos instrumentos de pla-
cer a supervisão técnica dos órgãos que compõem o Sistema de nejamento é o Plano Plurianual − PPA. No âmbito da União o Plano
Controle Interno e o Sistema de Correção e das unidades de ouvido- Plurianual
ria do Poder Executivo Federal, prestando a orientação normativa (A) será apreciado pelas duas Casas do Congresso Nacional e
necessária, e efetuando auditoria anual de avaliação de gestão dos terá vigência de dois anos, iniciando-se no primeiro e terceiro
diversos órgãos que compõem o Governo Federal é: ano de mandato do chefe do Poder Executivo.
(A) TCU. (B) será apreciado pelas duas Casas do Congresso Nacional e
(B) CGU. terá vigência de quatro anos, iniciando-se, no segundo ano de
(C)INSS. mandato do chefe do Poder Executivo.
(D) SESU. (C) será apreciado, apenas, pela Câmara dos Deputados, com
(E) Agência Reguladora. vigência de quatro anos, iniciando-se, no segundo ano de man-
dato do chefe do Poder Executivo.
16 – (2017– Banca: CPCON – Órgão: UEPB –Cargo: Advogado) (D) o encaminhamento do projeto de lei do PPA ao Legislativo é
Atente à situação abaixo e em seguida responda ao que se de iniciativa exclusiva do Ministro do Planejamento, orçamento
pede. e gestão, com vigência de quatro anos.
Em 26 de junho do corrente ano foi promulgada a Lei Federal (E) terá vigência de quatro anos, iniciando-se no primeiro ano
nº 13.460, que dispõe sobre a participação, proteção e defesa dos do mandato do chefe do Poder Executivo.
direitos dos usuários dos serviços públicos da administração públi-
ca. Por meio dessa lei, a população que utiliza daqueles serviços 18 – (2016 – Banca: INSTITUTO MAIS – Órgão: Câmara de San-
terá, em tese, maior agilidade e transparência na sua prestação, tana de Parnaíba - SP – Cargo: Analista Técnico Legislativo)
dotando os usuários de uma gama de instrumentos para exigir da A Lei de Responsabilidade Fiscal autoriza
administração pública a melhoria na qualidade das suas ações. Com (A) assunção de obrigação, sem autorização orçamentária, com
base nessa lei, assinale a alternativa CORRETA. fornecedores para pagamento a posteriori de bens e serviços.
(A) Por estar diretamente voltada para a regulamentação dos (B) recebimento antecipado de valores de empresa em que o
direitos do usuário dos serviços públicos, a referida lei afasta Poder Público detenha, direta ou indiretamente, a maioria do
a tese de que se poderia utilizar o Código de Defesa do Con- capital social com direito a voto, sob a forma de lucros e divi-
sumidor para regulamentar os direitos do usuário/consumidor dendos, de acordo com a legislação aplicável.
lesados pela administração pública, quando de uma relação (C) assunção direta de compromisso, confissão de dívida ou
de consumo. Com isso, o texto da Lei nº 13.460/17 exclui essa operação assemelhada, com fornecedor de bens, mercadorias
possibilidade, afirmando a aplicação exclusiva de suas normas ou serviços, mediante emissão, aceite ou aval de título de cré-
quanto à matéria consumerista nos serviços públicos. dito, não se aplicando esta vedação a empresas estatais depen-
(B) Já que se trata de uma lei promulgada pela União, só terá dentes.
efeitos para regulamentar os direitos dos usuários em relação (D) a captação de recursos a título de antecipação de receita
aos serviços prestados por aquele ente, não sendo atingidos de tributo.
pelas suas normas os Estados-membros, o Distrito Federal e
Municípios. 19 – (2015 – Banca: FCC – Órgão: TRT - 3ª Região (MG) – Cargo:
(C) Suas normas têm efeitos apenas aos serviços públicos pres- Analista Judiciário – Área Administrativa)
tados diretamente pela Administração Pública, não tendo qual- Considere as informações:
quer aplicabilidade sobre os serviços delegados a particular por I. Diretrizes da Administração pública para despesas relativas
concessão ou permissão, já que possuem disposições específi- aos programas de duração continuada.
cas em outras leis. II. Critérios e forma de limitação de empenho.
(D) Uma novidade trazida pela lei é a denominada “Carta de III. Normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos re-
Serviços aos Usuários”. Trata-se de um conjunto de informa- sultados dos programas financiados com recursos do orçamento.
ções sobre os serviços prestados pelo órgão ou entidade da IV. Reserva de contingência.
administração responsável pelo serviço, explicando as formas V. Forma de utilização da reserva de contingência.
de acesso a ele, os compromissos do prestador e padrões de
qualidade, com atualização periódica e divulgada na internet e, Sendo PPA − Plano Plurianual; LDO − Lei de Diretrizes Orça-
anualmente, em propagandas de rádio e televisão. mentárias e LOA − Lei Orçamentária Anual, esses conteúdos devem
(E) A referida lei consagra que os usuários dos serviços públicos constar, respectivamente, dos seguintes instrumentos de planeja-
têm presunção de boa-fé. Isso pode dar a entender que os usu- mento:
ários, quando de uma reclamação sobre um serviço, têm suas (A) PPA − PPA − LDO − LDO e LOA.
argumentações como verdadeiras, devendo a Administração (B) PPA − LDO − LDO − LOA e LDO.
Pública agir na investigação e resolução daqueles fatos, já que (C) PPA − LDO − LDO − LOA e LOA.
deve considerar como existente a deficiência na prestação do (D) LDO − LDO − LDO − LOA e LOA.
serviço alegada pelo reclamante. (E) LDO − LOA − PPA − LDO e LDO.

142
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
20 – (2010 – Banca: ESAF – Órgão: MPOG – Cargo: Analista de
Planejamento e Orçamento - Prova 1)
ANOTAÇÕES
Os sistemas de controle interno e de controle externo da admi-
nistração pública federal se caracterizam por: ______________________________________________________
(A) constituírem um mecanismo de retroalimentação de uso
obrigatório pelos sistemas de Planejamento e Orçamento. ______________________________________________________
(B) no caso do controle interno, integrar o Poder Executivo; no
caso do controle externo, integrar o Poder Judiciário. ______________________________________________________
(C) serem instâncias julgadoras das contas prestadas por gesto-
res e demais responsáveis pelo uso de recursos públicos. ______________________________________________________
(D) não poderem atuar ou se manifestar no caso de transferên-
______________________________________________________
cias voluntárias da União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios. ______________________________________________________
(E) serem autônomos entre si, não havendo subordinação hie-
rárquica entre um e outro. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________

1 C ______________________________________________________
2 B ______________________________________________________
3 E
______________________________________________________
4 E
5 V ______________________________________________________
6 E ______________________________________________________
7 E
______________________________________________________
8 C
______________________________________________________
9 C
10 E ______________________________________________________
11 E ______________________________________________________
12 B
______________________________________________________
13 D
14 D ______________________________________________________

15 B ______________________________________________________
16 E
______________________________________________________
17 B
_____________________________________________________
18 B
19 B _____________________________________________________
20 E ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

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______________________________________________________

143
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
______________________________________________________ ______________________________________________________

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