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Do original: The Filmmaker’s Eye
Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Focal Press
Copyright © 2011, Elsevier Inc.
Imagem da capa: Trois Couleurs: Blue (Krzysztof Kieslowski, 1993). Cortesia da Kobal Collection.
Copidesque: Adriana Kramer
Revisão: Andréa Campos Bivar e Jussara Bivar
Editoração Eletrônica: Estúdio Castellani
ISBN 978-85-352-4692-6
Edição original: ISBN: 978-0-240-81217-5
Nota: Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros
de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação
ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.
╅╇ Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a
pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Tradução de: The filmmaker's eye : learning (and breaking) the rules of cinematic
composition
Formato: PDF
Requisitos do sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui índice
ISBN 978-85-352-4692-6 (recurso eletrônico)
Quero expressar minha gratidão a todos aqueles que ajudaram Também agradeço a Jerry Carlson, David Davidson, Lew
na elaboração deste livro por meio do seu suporte, contribuições Herman e Lin Lana no City College da City University of New York,
e expertise amáveis. pelo amplo conhecimento e orientação, e a Elvis Maynard, por
Meus sinceros agradecimentos à equipe da Focal Press: sua assistência na pesquisa.
Robert Clements, Anne McGee, Dennis Schaefer, Chris Simpson Os revisores forneceram sugestões maravilhosas e, sem
e, especialmente, Elinor Actipis, que me forneceu orientações e dúvida, tornaram este livro melhor do que teria sido: David A. An-
sugestões valiosas do início ao fim (incluindo um ótimo título), selmi, da University of California Berkeley Extension, David Cros-
que pararam para fomentar um autor iniciante e tiveram um sman, do Ravensbourne College of Design and Communication,
comprometimento firme de preservar o conceito original por trás David Tainer, da DePaul University e, especialmente, Katherine
deste livro. Hurbis-Cherrier, da New York University, que tinha a palavra cer-
Também quero agradecer aos meus colegas do depar- ta sempre que eu precisava.
tamento de Estudos de Cinema e Mídia do Hunter College da Um agradecimento especial à minha doce esposa Yuki
City University of New York, cuja paixão e dedicação ao estudo e Takeshima, que foi infinitamente paciente, apoiadora e compre-
ensino da arte e do ofício cinematográfico sempre foi uma fonte ensiva ao longo das muitas noites de escrita e que sacrificou in-
de encorajamento e inspiração, entre eles: Richard Barsam, Mi- condicionalmente boa parte do seu tempo para que eu pudesse
chael Gitlin, Andrew Lund, Ivone Margulies, Joe McElhaney, Ro- ficar olhando fixamente para um monitor dia após dia.
bert Stanley, Renato Tonelli, Shanti Thakur e Joel Zuker. Também Acima de tudo, sou especialmente grato ao meu pro-
quero agradecer o apoio da presidente do Hunter College, Jenni- fessor, colega, mentor e amigo Mick Hurbis-Cherrier, cujos co-
fer J. Raab, da diretora Vita C. Rabinowitz, da reitora, Shirley Clay mentários incansáveis e esclarecedores, assistência, ideias e
Scott, e do chefe departamento de Estudos de Cinema & Mídia, orientações foram fundamentais para o desenvolvimento deste
James Roman, que promoveram uma atmosfera que encoraja a livro. Seus ensinamentos e paixão por cinema ressoam em cada
pesquisa acadêmica e a excelência no ensino. página do livro que você agora tem em mãos.
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sumário
agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii
introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii
localizando o quadro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
princípios da composição e conceitos técnicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
sistema de imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
close-up extremo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
close-up. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
close-up médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
plano médio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
plano geral médio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
plano geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
ix
plano de ambientação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
plano subjetivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
plano de dois. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
plano de grupo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
plano de canto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
plano emblemático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
x
plano travelling . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
xi
Amor sem escalas. Jason Reitman, 2009.
xii
introdução
Um grupo de amigos e eu fomos ver Amor sem escalas (2009), face a face. Depois de uma montagem de várias cenas tristes de
de Jason Reitman, logo após seu lançamento. Voltando do ci- funcionários reagindo à notícia das suas demissões, o filme corta
nema, discutimos o filme; alguns dos meus amigos gostaram, para uma cena de Natalie sentada sozinha em uma sala cheia de
alguns acharam um pouco lento e outros acharam que era uma cadeiras de escritório vazias ao esperar Ryan. Quando chega para
obra-prima. Em certo momento, a discussão focalizou a cinema- buscá-la, ele pergunta se ela está bem, mas ela se esquiva da
tografia, e um dos meus amigos lembrou como a cena mostrada pergunta e ambos saem juntos. Agora que conhecemos o pano
na página ao lado era brilhante. Independentemente das nossas de fundo do filme, podemos entender melhor o que o faz funcio-
opiniões sobre o filme, todos concordamos com a beleza e o sig- nar tão bem. Em termos da sua composição, a cena não parece
nificado do filme. Curiosamente, poderíamos recordar tudo sobre ser especialmente complexa. Aparentemente é um plano geral
esta cena claramente: sua composição, quando tinha aconteci- simples de Natalie circundada por cadeiras de escritório vazias.
do no filme e, mais importante, por que era uma cena tão boa. Se olharmos mais de perto, porém, e dividirmos a cena em ele-
Embora houvesse várias outras cenas e momentos interessantes mentos visuais, as regras de composição usadas para organizá-
no filme, havia algo de especial sobre essa cena específica que -la no quadro, e seus aspectos técnicos, surge literalmente uma
realmente ressoou em todos nós, independentemente das opiniões visão mais complexa.
sobre o filme como um todo. O que era? Era a composição da O uso de um plano geral (long shot, um plano que inclui
cena? A atuação? Ou havia algo mais que tornava essa cena tão todo o corpo de uma pessoa e grande parte da área circundan-
memorável? te) permitiu incluir várias cadeiras amontoadas em torno de Na-
Para entender por que essa cena funciona tão bem, talie, enfatizando o grande número de pessoas que ela demitiu
precisamos conhecer um pouco o contexto no qual ela aparece. naquele dia, fazendo-a parecer pequena e solitária no quadro.
Natalie (Anna Kendrick) é uma executiva em ascensão que in- O ângulo ligeiramente alto também cria uma composição que
venta uma maneira de demitir funcionários remotamente usando torna as cadeiras vazias fáceis de ver; se a cena tivesse sido fei-
webcams, economizando à sua empresa (uma assessoria traba- ta no nível dos olhos, por exemplo, a maioria das cadeiras se-
lhista para demissão de funcionários com altos salários) muito ria bloqueada pela visão daquelas no primeiro plano. O ângulo
dinheiro gasto em passagens aéreas para levar seus especialis- alto também faz Natalie parecer derrotada, vulnerável e confusa
tas a empresas que necessitam dos seus serviços. Ryan (George (ângulos altos são frequentemente utilizados para transmitir es-
Clooney), especialista sênior em demissões, que tem uma po- sas emoções nos personagens). O posicionamento de Natalie no
sição dúbia em relação a um sistema que se opõe a qualquer quadro segue a regra dos terços, criando uma composição dinâ-
contato humano real, questiona a validade desse sistema. Seu mica que lhe dá espaço de visão no lado do quadro para o qual
chefe imediatamente torna Ryan responsável pela especialização ela está olhando; mais importante, esse posicionamento também
de Natalie, e os dois são enviados como uma equipe para que faz parecer que as cadeiras estavam amontoadas em um canto,
Natalie possa experimentar pessoalmente como é demitir alguém física e emocionalmente (posicioná-la no centro da composição
xiii
não teria transmitido essa ideia). A combinação de abertura/dis- ser aplicados a qualquer composição visual? A resposta é simples.
tância da câmera em relação à personagem resultou em uma to- À medida que a linguagem cinematográfica evoluiu, certas regras
mada com uma grande profundidade de campo, impedindo-nos de composição tornaram-se padronizadas em relação à maneira
de concentrar nossa atenção exclusivamente nela e assegurando como são aplicadas a certas cenas, assim como algumas conven-
que as cadeiras fossem tão significativas para nossa compreen- ções técnicas (no que diz respeito ao uso de objetivas e profundi-
são dessa cena quanto ela é (o cineasta poderia ter usado uma dade de campo, por exemplo) são mais comumente encontradas
profundidade de campo menor isolando Natalie na composição). em certos planos, mas não em outros. Essas convenções técnicas
Todas essas decisões composicionais transmitem uma ideia bem e visuais estão intrinsecamente conectadas às convenções nar-
específica sobre como Natalie se sente nesse momento, inde- rativas que, ao longo do tempo, vincularam momentos chave em
pendentemente do que ela diz a Ryan quando ele vai buscá-la. uma história ao uso de planos específicos. Uma análise detalhada
A composição dessa cena diz ao público que, externamente, por de como essas convenções visuais, técnicas e narrativas se apli-
trás da imagem de executiva prática que ela projeta, ela esconde cam a cada tipo de plano específico pode revelar a mecânica que
um lado emocional da sua personalidade, afetado pelo resulta- contribuiu para que se tornassem convenções.
do humano real da sua profissão. Mas o peso dramático e belo Outro conceito que este livro propõe é que as regras da
dessa cena não é o resultado da simples aplicação das regras de composição cinemática não são imutáveis. As chamadas “regras”
composição; essa cena funciona tão bem porque os elementos são notavelmente flexíveis e podem ser subvertidas quando apro-
técnicos, as opções composicionais e o contexto narrativo, tudo priado, criando cenas que têm um impacto original e ressoam
funciona em conjunto para criar significado. A cena causou uma de uma maneira surpreendente ou até mesmo contraditória. Por
impressão forte e duradoura nos meus amigos e em mim porque essa razão, cada cena analisada inclui um exemplo em que as
não era apenas visualmente impressionante, mas, sobretudo, regras foram quebradas, mas a cena ainda funciona de uma for-
narrativamente ressonante e eloquente. ma criativa, inesperada, narrativa e convincente. Você descobrirá
Este livro apresenta uma abordagem integrada à com- que o velho ditado “aprenda as regras para saber como quebrá-
preensão e aplicação das regras da composição cinemática, que -las adequadamente” funciona exatamente como anunciado.
leva em consideração os aspectos técnicos e narrativos que tor- A abordagem integrada deste livro e seu foco específico
nam filmes como Amor sem escalas tão poderosos. Essa nova nos blocos de construção básicos do vocabulário cinematográfico
abordagem fornece uma exploração profunda e discursiva de um impedem uma discussão detalhada de cada conceito possível e
dos elementos fundamentais da linguagem visual do cinema — o aspectos técnicos relacionados com a composição visual. Mas
plano. Focalizando as regras da composição cinemática da ma- você encontrará vários termos essenciais relacionados à com-
neira como elas se aplicam a cada um dos planos do vocabulá- posição e cinematografia em negrito na maioria dos capítulos.
rio cinematográfico mais amplamente utilizados, examinando as Esses termos usados com frequência são definidos no capítulo
ferramentas e know-how necessários para criá-los e analisando a “Princípios da composição e conceitos técnicos”. Mas se quiser
função narrativa de cada plano nos respectivos filmes, surge uma desenvolver uma compreensão mais enciclopédica de cada con-
noção mais clara daquilo que é necessário para criar imagens que ceito e regra, você deve considerar outras fontes que lidam com
são visualmente atraentes e narrativamente significativas. Mas composição visual como um tema mais abrangente.
por que se concentrar nas regras de composição que se aplicam Recomendo a leitura de The Visual Story: Creating the
a tipos de planos específicos em vez de examinar esses princípios Visual Structure of Film, TV, and Digital Media, de Bruce Blo-
em um sentido mais amplo, mais geral da maneira como podem ck, também publicado pela Focal Press; trata-se de um exame
xiv
bem ilustrado e perspicaz da composição visual que abrange
tanto os componentes básicos como avançados. Para um guia
sólido sobre os aspectos técnicos da produção cinematográfica
e de vídeo, recomendo um livro em que tive a sorte de trabalhar
como ilustrador, escrito pelo meu amigo, mentor e colega Mick
Hurbis-Cherrier, intitulado Voice & Vision: A Creative Approach to
Narrative Film and DV Production. De muitas maneiras, este livro
foi inspirado na abordagem integrada que o Voice & Vision utiliza
para abranger todos os aspectos técnicos, estéticos, narrativos e
logísticos da pré-produção, produção e pós-produção de cinema
e vídeo para desenvolver a visão criativa do cineasta.
O olhar do cineasta segue uma nova abordagem para a
compreensão das regras da composição cinematográfica (e como
quebrá-las) e seu uso a fim de ir além das convenções narrativas
básicas utilitárias. Essa definitivamente não é uma abordagem do
tipo “pinte seguindo os números” da composição cinematográfi-
ca, você não deve ser subserviente aos ditames de uma técnica,
mas, sim, fazer a técnica funcionar de acordo com necessidades
específicas da sua história. O objetivo é conscientizá-lo do im-
pacto tonal e da ressonância temática que é possível alcançar
com uma compreensão mais completa do papel que cada plano
desempenha na narrativa maior e no esquema temático da sua
história. Essa conceituação abrangente e integrada de cada plano
no seu filme é essencial para aproveitar verdadeiramente a força
dessa forma artística e conectar-se com o público. Espero que
os capítulos deste livro o inspirem a pensar sobre seus filmes
de acordo com essa maneira mais dinâmica na próxima vez que
você pegar a câmera e preparar-se para enquadrar a próxima
cena. Boa sorte.
xv
O poderoso chefão. Francis Ford Coppola, 1978.
xvi
localizando o quadro
Recentemente tive a oportunidade de participar da apresentação por propósito ser partes importantes da cena e da história. Mas o
de um curta-metragem de um cineasta iniciante. A primeira cena diretor gostou quando alguém lhe perguntou se uma cena do final
começava com um plano de um jovem casal sentado em um sofá, do filme, em que o casal era mostrado caminhando lentamente
tendo uma discussão cada vez mais acalorada. O plano era sufi- em direção à câmera, era uma homenagem a uma cena simi-
cientemente amplo para incluir a maior parte da sala, que estava lar de Cães de aluguel (1992), de Quentin Tarantino. “Sim!”, ele
cheia de revistas, DVDs, latas de cerveja vazias, um par de tênis respondeu. “Estou feliz que você tenha percebido isso.” Quando
escondido debaixo do sofá e pôsteres de cinema por toda a pare- perguntado sobre o significado dessa referência à sua história,
de (obviamente o local de moradia do jovem diretor). Uma peque- ele respondeu: “Achei que ficaria legal”, para um público ainda
na mesa também podia ser vista no primeiro plano da cena, com confuso. O restante do filme tinha os mesmos problemas que a
um console de jogos e uma pilha de videogames ostensivamente cena de abertura e os da cena da homenagem; havia uma total
exibidos sobre ela. Depois que o filme terminou, houve um deba- desconexão entre a composição das tomadas e suas respectivas
te com o diretor, que parecia muito orgulhoso do seu trabalho e funções dentro da narrativa do filme.
ansioso para responder às perguntas. Um homem na plateia per- O maior erro que esse diretor cometeu foi não conseguir
guntou: “O cara no sofá estava tentando agir como Travis Bick- criar composições que refletissem os aspectos significativos da
le?” O cineasta parecia perplexo, e perguntou por que ele estava sua história. Na abertura, ele enquadrou uma cena que era visualÂ�
fazendo uma pergunta sobre Travis Bickle. O homem respondeu mente densa, repleta de detalhes que se revelaram irrelevantes
que ele achava que o pôster grande do Taxi Driver exatamente para a história e impediu que o público capturasse a ideia que
atrás do ator fazia parte da história. “Não, aquele pôster estava lá estava tentando comunicar. Dando destaque para os pôsteres de
acidentalmente”, respondeu o cineasta. Outro membro da plateia filmes, o console de jogo, o tênis sob o sofá, as latas de cerve-
perguntou: “Ele estava tentando dar um golpe nela para comprar ja vazias, a mão contraída do marido ficou perdida na cena, o
mais videogames?” O diretor parecia confuso. “Ela estava chatea- público não foi capaz de entender o significado pretendido da
da com ele porque ele não limpava o local?”, alguém perguntou. composição. Quando o diretor viu a cena pelo visor da câmera
O cineasta, nesse momento, obviamente frustrado, interrompeu durante a produção, não percebeu nada além da mão contraída
a seção de perguntas e respostas (P&R) para explicar que a cena do marido no quadro, porque já sabia que isso era um detalhe
em questão era realmente sobre o jovem casal tentando evitar significativo na cena; o público não. Na última cena do filme, o
sua primeira discussão depois que se casaram, e que ele achava diretor foi capaz de reproduzir uma composição que ele tinha
que isso deveria ficar óbvio pela maneira como a mão do rapaz visto em outro filme e, apesar de o plano provocar rapidamente
se contraía nervosamente ao segurar a mão da esposa. Os pôs- uma resposta positiva do público, isso mais tarde se tornou uma
teres de cinema, videogames e a sala desarrumada não tinham fonte de confusão quando eles perceberam que ela não tinha
localizando o quadroâ•… 1
uma conexão significativa com a história. O diretor não pensou de milhares de anos da narrativa visual (mesmo os homens das ca-
na história de uma maneira cinematográfica para compor planos vernas sabiam que detalhes irrelevantes não deveriam ser incluídos
que enfatizassem visualmente os detalhes significativos da sua nas pinturas rupestres!) e continua a ser tão importante hoje como
trama, bem como temas, motivos e ideias centrais. Se ele tivesse era no primeiro dia em que foi usada. Se levarmos esse princípio um
entendido o relacionamento entre os aspectos técnicos da pro- pouco mais longe, podemos afirmar que posicionamento, tamanho e
dução de filmes, a função narrativa que cada tipo de plano pode visibilidade de qualquer coisa no quadro também afetará a maneira
ter e as regras de composição, a reação do público ao filme teria como o público entende sua importância para a história.
sido muito diferente. Dê uma olhada na foto do filme O poderoso chefão
Se você quer se tornar um bom contador de histórias, (1972), de Francis Ford Coppola, no início deste capítulo. É um
uma das coisas mais importantes que pode fazer é ter uma visão plano geral extremo mostrando um carro estacionado em uma
clara da sua história para que ela reflita sua visão única, não a de estrada deserta, com alguém no banco de trás apontando uma
outra pessoa. Você faz isso sem pensar sempre que compartilha arma para alguém sentado no banco da frente. No fundo dis-
uma anedota sobre algo que aconteceu com você. Digamos, tante, a Estátua da Liberdade está visível acima de uma massa
por exemplo, que você quer que um amigo saiba o momento de capim selvagem. Essa composição aparentemente simples
em que alguém ficou transtornado quando você acidentalmente tem um significado muito claro: alguém está sendo assassinado
o fechou ao dirigir em uma rodovia, resultando em persegui- dentro de um carro em uma estrada deserta. Na verdade, o sig-
ção. Você não começaria sua história descrevendo o que fez nificado dessa cena é tão claro que até mesmo alguém que nun-
naquele dia assim que acordou, quanto tempo levou para tomar ca viu O poderoso chefão não teria dificuldade para entender o
banho, artigos que leu em um blog durante o café da manhã, que está acontecendo nesse momento da história. Essa cena é
a roupa que vestia ou quaisquer outros detalhes insignificantes um excelente exemplo da inclusão daquilo que é estritamente
que ocorreram antes de você entrar no carro e pegar a estrada. necessário no quadro para ir direto ao tema que está sendo
Intuitivamente, você editaria sua história a fim de incluir apenas transmitido pelo diretor. Se prestou atenção e observou a cena
as partes mais importantes para que seu amigo compreendesse cuidadosamente, você deve estar curioso sobre um pequeno
o quanto a fúria do encontro na rodovia foi aterrorizante/interes- detalhe na composição. Se tudo no quadro visa ser significati-
sante/louca. O diretor do curta-metragem não fez isso quando vo e necessário para compreender a história, então por que a
rodou o filme. Deixando todos os detalhes desnecessários na Estátua da Liberdade é parte da composição dessa cena? Será
composição dos seus planos, ele fez o equivalente a descrever que ela está lá para estabelecer o local do assassinato? Por que
a cor das meias que o cara sentado no sofá usava, em vez de está tão distante e é minúscula no quadro? Se examinar a cena
mostrar ao público como o marido se sentia desconfortável e cuidadosamente, você perceberá que a estátua está de costas
nervoso ao segurar a mão da esposa. para o carro onde o assassinato está ocorrendo. Isso seria um
Tudo e qualquer coisa que é incluído na composição de detalhe significativo? Se ela está no quadro, então tudo sobre
um plano será interpretado por um público como estando lá para al- ela, desde o posicionamento até o ângulo em que foi filmada,
cançar um propósito específico com o qual está diretamente relacio- tem de ser significativo.
nado e é necessário ao entendimento da história que o público está Vamos rever o exemplo em que você compartilhou com
assistindo. Essa é uma daquelas convenções que evoluíram ao longo um amigo o incidente de fúria na rodovia. Ao contar a história,
2
você deixou de fora os detalhes irrelevantes descrevendo os da cena foi inexpressivo quando perceberam que ela não tinha
acontecimentos a partir do seu ponto de vista único, uma vez que absolutamente nada a ver com a história que assistiram no fil-
os experimentou em primeira mão. Mas e se o dia do incidente me. A composição de uma cena transmite significado não apenas
fosse a primeira vez em que você dirigia em uma rodovia? Como por meio da organização dos elementos visuais em um quadro,
acha que isso teria mudado a maneira como você contou a his- mas também pelo contexto em que é apresentada. Um plano de
tória? E, sobretudo, você acha que seu amigo se sentiria de uma ângulo alto (em que a câmera é posicionada para que aponte
maneira diferente sobre a importância que esse evento teve para para baixo em um tema), por exemplo, é comumente utilizado
você? Você provavelmente teria enfatizado sua falta de experiên- ao tentar transmitir a derrota, insegurança ou vulnerabilidade psi-
cia em dirigir e como esse incidente o deixou cansado de dirigir cológica de um personagem; embora seja um uso comum desse
em rodovias, ou foi especialmente difícil sair da rodovia quan- tipo de plano, você não pode pressupor que o público-alvo irá
do você percebeu que o cara o estava perseguindo. Em outras automaticamente deduzir essas conotações sempre que você usa
palavras, sua experiência única (não apenas do próprio evento, esse ângulo, a menos que o contexto na história o comporte. Tem
mas também sua experiência de vida) o levaria a contextualizar de haver uma conexão direta entre o que acontece na história e
o evento, enfatizando e adicionando detalhes que teriam muda- o uso de uma composição específica. Isso é exatamente como
do sua história para que ela refletisse sua experiência individual certas convenções visuais – tipo mostrar personagens andando
dela. Criar composições significativas funciona da mesma manei- em câmera lenta em direção à câmera – associam-se a certas
ra; o enquadramento de suas cenas deve refletir sua compreen- conotações. Além disso, como boa parte do significado de uma
são da história de uma maneira que transmite sua perspectiva, cena é derivada do contexto em que é apresentada, é possível
seus valores, suas idiossincrasias e sua visão. Quando Coppola subverter as conotações normalmente associadas a certas ce-
optou por incluir a Estátua da Liberdade no seu filme O poderoso nas. Você poderia, por exemplo, usar um plano em um ângulo
chefão, vista naquele ângulo, tamanho e posicionamento espe- alto para transmitir o fato de que um personagem está confiante,
cíficos no quadro, isso é exatamente o que ele estava fazendo; agressivo e no controle da situação e ninguém na plateia acharia
Coppola estava adicionando sua perspectiva a esse evento na his- a composição irônica ou ineficaz se o contexto em que você a
tória, comentando-a, transmitindo muito mais do que um simples usa for suportado dentro da sua história (veja no capítulo sobre
assassinato de um homem dentro de um carro. O que você acha close-up médio um exemplo de um plano em ângulo alto usado
que a inclusão de tal símbolo reconhecível da liberdade, do sonho dessa maneira).
americano e das jornadas dos imigrantes diz sobre o assassinato Mas como você decide quais elementos da história de-
do homem no carro? Quando o diretor do curta-metragem utilizou vem ser usados para determinar sua escolha do tamanho e da
a mesma composição da cena como a famosa cena em câmera composição da tomada? Que contexto deve comportar a seleção
lenta da abertura do Reservoir Dogs, ele esperava que o público da tomada? Antes de tomar uma decisão sobre onde posicionar
se conectasse com a história da mesma maneira como ele tinha se a câmera, você precisa entender exatamente o que deve domi-
conectado ao filme de Tarantino. Esse não foi o caso porque a nar a composição, o que deve ser incluído ou excluído e qual
eficácia da cena original funcionava dentro do contexto daque- significado será transmitido pela tomada além daquilo que está
la história e, embora o público tenha tido uma reação quando contido no quadro. Uma estratégia é identificar os temas e as
reconheceu a homenagem que ele estava fazendo, o resultado ideias que estão no cerne da história, sua essência, suas ideias
localizando o quadroâ•… 3
básicas. O que sua história realmente conta? Histórias eficazes mudança de atitude. Essa simples decisão por si só poderia ser
têm ideias básicas fortes que adicionam profundidade e contex- suficiente para criar composições que refletem a razão por trás
to emocionais, permitindo que o público se conecte com aquilo da história e você também poderia tê-la associada a qualquer
que você está mostrando a ele. Rocky (1976), de John G. Avild- uma das regras de composição apresentadas neste livro. Você
sen, por exemplo, conta a história de um boxeador insignificante poderia, por exemplo, criar uma estratégia visual em que o posi-
que tem uma chance entre um milhão de defender o título mun- cionamento do personagem no quadro também é representado
dial dos pesos pesados. O fato é que a história não é sobre isso. ao longo do filme para corresponder ao caminho no resgate do
Na verdade Rocky é sobre um homem que outrora tinha um autorrespeito, de tal modo ele seja posicionado fora do centro,
grande potencial como boxeador, mas o desperdiçou sem que em composições consistentemente desequilibradas no início do
isso significasse muito e, por causa disso, via a si mesmo como filme e em enquadramentos mais equilibrados perto do final,
um fracasso. Treinar para o campeonato dos pesos pesados o ou usar objetivas grande-angulares e, em seguida, mudar para
faz perceber que ainda poderia ter uma chance de ser alguém, teleobjetivas ou iniciar com profundidades de campo menores
de modo a recuperar seu respeito próprio e ser respeitado por que vão aumentando ao longo do filme ou utilizar tomadas com
outros. Ganhar respeito próprio: essa é a ideia básica, o con- a câmera na mão no início e tomadas estáticas em direção ao
texto temático principal por trás da história de Rocky. Todas as final; você captou a ideia.
decisões por trás da composição de cada cena agora podem Seja qual for a estratégia visual que decida usar com
ser projetadas para dar suporte a essa ideia básica, com uma base nas ideias centrais de sua história, aquela que você esco-
estratégia visual (a série de decisões relacionadas com o uso lher deverá ser utilizada por todo o filme para que o público en-
de títulos, cores, iluminação, objetivas, profundidade de campo, tenda seu significado pretendido dentro do contexto que você
filtragem e correção de cores, entre outros) que reflete o tema criou. Isso significa que as escolhas composicionais que você faz
do respeito próprio por todo o filme. Se o roteiro não filmado devem funcionar em todos os níveis do filme, começando com
para Rocky aterrissasse na sua escrivaninha e você tivesse uma cada plano único, depois cada cena, cada sequência e o filme
chance entre um milhão de dirigir o filme, o que faria para criar como um todo. Ao usar uma composição em plano específi-
composições que refletissem a ideia básica do ato de “recu- co para dizer “ele é inseguro” em certo momento da história,
perar o respeito próprio?” Você poderia, por exemplo, criar as não utilize a mesma composição desse plano para significar
tomadas da jornada de Rocky para readquirir o autorrespeito outra coisa além de “insegurança”, ou então o público não
de modo que as cenas no início do filme, enquanto ele ainda conseguirá estabelecer uma conexão com as ideias básicas da
está desmotivado para mudar seu estilo de vida, fossem filma- sua história, mesmo que possam acompanhar os eventos que
das de um ângulo ligeiramente alto, fazendo-o parecer inseguro ocorrem nela. Cada tomada é importante, independentemente
e se sentindo psicologicamente vulnerável (o uso convencional da irrelevância que ela pareça ter (e, para começar, nenhuma
de um plano em ângulo alto, mas utilizada aqui dentro de um tomada deveria ser irrelevante, visto que foi incluída no seu
contexto e uma estratégia visual bem pensados). À medida que filme, certo?).
Rocky treina mais duramente e se concentra no seu objetivo, a Voltando à cena do jovem casal sentado no sofá. O que
câmera pode mudar lentamente e usar planos em um ângulo o diretor poderia ter feito de uma maneira diferente? As pergun-
baixo transmitindo sutilmente sua segurança cada vez maior e a tas certas a fazer são: Qual é a ideia básica da história? E quanto
4
à ideia básica dessa cena específica? Qual é realmente o signifi-
cado dessa cena além do casal tentando evitar uma discussão?
Com base nas respostas a essas perguntas, o diretor poderia ter
criado uma estratégia visual para dar suporte às ideias básicas
da história; ele poderia então ter criado composições que as
sustentassem, usando as regras da composição cinematográfica
analisadas neste livro. Seguir (ou quebrar, desde que você faça
isso dentro do contexto apropriado) as regras da composição
cinematográfica pode assegurar a criação de imagens visuais
envolventes, mas elas só podem estabelecer uma conexão real
com um público quando expressam sua visão da história; essa é
a medida mais importante que você pode tomar para desenvol-
ver seu próprio estilo visual e se expressar como cineasta.
localizando o quadroâ•… 5
princípios da composição
e conceitos técnicos
proporções de tela eixos do quadro
Todas as decisões composicionais que você tomará serão primei- Sendo o quadro essencialmente bidimensional, ele é definido
ramente definidas pelas dimensões do quadro. A relação entre a por dois eixos, um eixo horizontal, ou x, e um eixo vertical, ou y.
largura e a altura do quadro é conhecida como proporção da ima- Um terceiro eixo que indica a profundidade em um quadro, ou
gem e difere com base no formato de filmagem. As proporções de eixo z, pode ser enfatizado pelo uso de pistas sobre a profundi-
tela mais comuns são 2,39:1 (chamadas anamórficas ou escopo, dade de campo (examinada mais adiante neste capítulo) para
originalmente 2,35:1 até a década de 1970), 1,85:1 (padrão ame- criar quadros em uma profundidade de campo intensa, ou pro-
ricano de tela de cinema, também chamado “flat”), 1,66:1 (pa- positadamente menores, a fim de criar quadros achatados, como
drão europeu de tela de cinema), 1,78:1 (padrão HDTV, também mostrado nos dois exemplos do filme Fome (2008), de Steve
chamado 16×9, utilizado em câmeras HD) e 1,33:1 (formatos de McQueen. Com mais frequência, porém, os cineastas tendem a
filme de 16mm e 35mm, e também o formato de tela de cine- criar composições com uma profundidade de campo, enfatizan-
ma utilizado até a década de 1950, além da televisão analógica). do o eixo z para superar o achatamento inerente do quadro e
É fundamental conhecer tanto a proporção de tela do formato de acentuar a verossimilhança. Distâncias percebidas e movimento
filmagem como o formato de exposição/distribuição para assegu- ao longo de cada um desses eixos também podem ser manipu-
rar que as escolhas composicionais que você faz como parte da lados pelo tipo de objetiva utilizado, alterando o relacionamento
sua estratégia visual na produção sejam preservadas. visual entre os temas e o espaço em torno deles.
eixo y
1,66:1
eixo z
1,78:1 eixo x
Eixos do quadro
1,85:1
2,39:1
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linha no topo também lhe dá a quantidade adequada de altura
livre: o posicionamento da cabeça da pessoa em relação ao topo
do quadro. A quantidade de altura livre é uma função do tamanho
do tema no quadro, de tal modo que em um close-up a cabeça é
cortada na parte superior do quadro, enquanto temas em um plano
geral costumam ter uma quantidade considerável de altura livre
acima da cabeça. A regra dos terços também se aplica ao posicio-
namento de temas que se movem ao longo do eixo x do quadro; se
eles estiverem se movendo em direção ao lado direito, devem ser
um quadro plano que atenua o eixo z posicionados ao longo da linha vertical esquerda para que tenham
espaço de movimento adequado, e vice-versa, a menos que você
queira criar uma composição que passa propositadamente a im-
a regra dos terços pressão de desconforto e desequilíbrio.
Algumas das convenções utilizadas para criar composições visual-
mente harmoniosas foram criadas ao longo de centenas de anos de
experimentação e desenvolvimento artísticos; uma das mais anti-
gas é conhecida como regra dos terços. Dividindo o quadro em três
partes ao longo da sua largura e altura, pontos centrais são criados
nas suas intersecções, fornecendo um guia para o posicionamento
de elementos composicionais importantes que resultam em com-
posições dinâmicas. As próprias linhas também são frequente-
mente utilizadas como guias para o posicionamento de horizontes
em planos gerais extremos e planos de ambientação. Quando os
temas são posicionados no quadro de acordo com a regra dos ter-
ços, é comum posicionar seus olhos sobre um desses pontos, no
ponto central superior esquerdo se eles estiverem olhando para o
posicionamento do tema utilizando a regra dos terços
lado direito do quadro, ou no superior direito se estiverem olhando
para o lado esquerdo do quadro, como se vê no exemplo do filme
Anjos caídos (1995), de Kar Wai Wong. Esse posicionamento as-
A regra de Hitchcock
segura que eles tenham espaço suficiente de visualização, uma Um princípio surpreendentemente simples, mas extremamente
convenção projetada para dar equilíbrio à composição contraba- eficaz que Alfred Hitchcock compartilhou com François Truffaut
lançando o peso composicional do olhar da personagem. Se um durante a criação de Hitchcock€/Truffaut, de Truffaut, afirma que
espaço para o olhar não for adicionado (por exemplo, posicionar o tamanho de um objeto no quadro deve estar diretamente rela-
os personagens no centro do quadro quando eles estão olhando cionado à sua importância na história naquele momento. Esse
para um lado ou outro), a composição parecerá estática e não terá princípio pode ser aplicado independentemente de haver ape-
tensão visual, o que, em alguns casos, pode ser exatamente o que nas um ou vários elementos visuais no quadro, e pode ser usado
você quer transmitir. O posicionamento do personagem usando a para criar tensão e suspense, em especial quando o público não
composições balanceadas/
não balanceadas
Cada objeto incluído em um quadro carrega um peso visual.
Tamanho, cores, brilho e posicionamento de um objeto podem uma composição balanceada
afetar a percepção do público em relação ao peso visual relativo,
tornando possível criar composições que parecem balanceadas
quando o peso visual dos objetos no quadro é distribuído unifor-
memente, ou não balanceadas quando o peso visual se concentra
em apenas uma área do quadro. Embora os termos balanceado e
não balanceado não tenham um juízo de valor inerente em termos
da composição, não é raro encontrar composições balanceadas
que têm seu peso visual simetricamente ou uniformemente dis-
tribuído no quadro que está sendo usado para transmitir ordem,
uniformidade e predeterminação. Da mesma forma, composições uma composição não balanceada
8
ângulos altos e baixos Uma má utilização comum de planos em ângulos altos e baixos
é um plano em ângulo alto tirado em um plano em ângulo baixo
A altura da câmera em relação a um tema pode ser usada para
para enquadrar o tema em um ângulo muito acentuado, o que
manipular o relacionamento entre o público e esse tema. Pla-
resulta em uma composição muito dinâmica, mas, às vezes, dis-
nos no nível dos olhos posicionam a câmera em uma altura que
trativa. Apenas um pequeno ajuste do posicionamento da câmera
corresponde aos olhos da pessoa. Um plano em um ângulo alto
exatamente abaixo ou acima do nível dos olhos é suficiente para
posiciona a câmera acima do nível dos olhos e resulta em um en-
causar uma impressão na mente do público. Os dois exemplos à
quadramento que faz o público olhar para baixo em direção a um
esquerda, do filme A vida dos outros (2006), de Florian Henckel
tema. Um plano em ângulo baixo, por outro lado, posiciona a câ-
von Donnersmarck, usam esse princípio para transmitir dois es-
mera abaixo do nível dos olhos e faz o espectador olhar para cima
tados emocionais bem diferentes; o quadro no topo utiliza um ân-
em direção a um tema. É muito comum ver planos em um ângulo
gulo um pouco mais baixo que mostra um Wiesler (Ulrich Mühe)
baixo utilizados para transmitir confiança, poder e controle, e pla-
seguro e até mesmo ameaçador, um policial da Stasi, à medida
nos em um ângulo alto para transmitir fraqueza, passividade e
que ele interroga sistemática e impiedosamente um suspeito até
impotência, mas essas interpretações não são absolutas e podem
fazê-lo confessar. O quadro na parte inferior, de uma parte muito
ser subvertidas com base no contexto em que são apresentadas.
mais à frente no filme, utiliza um ângulo alto que enfatiza a tensão
e o medo que ele sente quando monitora policiais fazendo uma
batida na casa de um dramaturgo que ele, correndo grande risco
pessoal, protege.
dicas de profundidade
Criar profundidade para superar a inerente bidimensionalidade
do quadro é uma das estratégias composicionais mais comuns
projetadas para produzir um quadro dinâmico e um espaço tri-
dimensional verossímil. Embora existam várias técnicas para
adicionar profundidade a uma composição, duas das mais fre-
Ângulos baixos quentemente utilizadas por cineastas são dicas de profundidade
de tamanho relativo e sobreposição de objetos. A sugestão de
profundidade relativa baseia-se na suposição de que, se dois
objetos tiverem o mesmo tamanho, aquele visto como menor é
percebido como estando mais longe, criando a ilusão de profun-
didade. Cineastas exploram essa técnica posicionando os temas
ao longo do eixo z do quadro, como mostrado no exemplo na
próxima página do filme Bastardos inglórios (2009, no alto à es-
querda), de Quentin Tarantino. Sobreposição de objetos é exa-
tamente o que nome indica: a sobreposição de objetos ao longo
Ângulos altos do eixo z. Quando um objeto é visto cobrindo ou sobrepondo
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O espaço fora da tela também é explorado para criar ten- que domina visualmente o quadro, você pode criar composições
são e suspense, principalmente nos filmes de suspense e thriller. que não serão mal compreendidas pelo público; esse é um dos
Nos dois exemplos na página anterior, do filme O grupo Baa- princípios mais importantes para criar imagens eloquentes e atra-
der Meinhof (2008), de Uli Edel, um quadro fechado (primeira entes. O quadro na primeira coluna, do filme Bad Boy Bubby
ilustração no fundo da página anterior) é usado para enfatizar o (1993), de Rolf de Heer, é um exemplo especialmente bom de
isolamento que Ulrike (Martina Gedeck), membro de uma organi- uma composição com um ponto focal muito forte, que faz uso de
zação terrorista alemã, sente na prisão. O quadro aberto usado no uma alegoria visual (olhar para o horizonte como se fosse o futu-
segundo exemplo adiciona tensão a um tiroteio entre Petra (Ale- ro), recurso utilizado por cineastas tão diferentes quanto George
xandra Maria Lara), outro membro dessa organização, e a polícia Lucas e Werner Herzog.
alemã tentando detê-la depois que ela rompeu uma barreira.
a regra dos 180º
pontos focais Essa regra é projetada para manter a continuidade espacial que
deve existir sempre que temas interagem em uma cena e, portan-
Uma maneira de assegurar que suas composições transmitam
to, terão um impacto direto sobre onde deverão ser posicionados
claramente a ideia ou o conceito que você quer comunicar é uti-
no quadro. Simplificando, ela afirma que a câmera sempre deve
lizar pontos focais fortes. Pontos focais têm a ver com o centro de
interesse em uma composição, a área em torno da qual o olhar do
espectador irá gravitar por causa do arranjo de todos os elemen-
tos visuais no quadro. Pontos focais podem incluir um ou vários
temas e são comumente criados usando as regras de composição
listadas anteriormente neste capítulo, como a regra dos terços, a
regra de Hitchcock e composições balanceadas e não balancea-
das. Na verdade, você perceberá que quase todos os exemplos
utilizados neste livro têm pontos focais bem fortes. Selecionando
cuidadosamente o que é incluído e excluído do quadro, o que
está em foco e fora de foco, o que está iluminado e escuro, e o
uma composição com um ponto focal forte seguindo a regra dos 180˚
linha em 180º
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outros fatores em jogo que são examinados mais detalhadamente
na seção sobre profundidade de campo deste capítulo. Um bom
exemplo de uso criativo da teleobjetiva pode ser visto no filme Barry
Lyndon (1975, abaixo), de Stanley Kubrick; a distorção das distân-
cias ao longo do eixo z produzida pela teleobjetiva é explorada para
comprimir uma densa formação de soldados, enfatizando a coesão,
força e unidade de objetivo do exército prussiano avançando.
objetivas normais
Objetivas normais reproduzem a perspectiva de uma maneira que
se assemelha àquilo que uma pessoa veria se ela permanecesse
onde a câmara está, exceto pelo campo de visão, que é muito maior
na visão humana graças à nossa visão periférica. Objetivas normais
são comumente usadas para filmar temas humanos, especialmente distorção de teleobjetiva
close-ups, uma vez que não distorcem as faces como uma grande-
-angular ou uma teleobjetiva. Distâncias e movimento ao longo do
objetivas rápidas versus objetivas lentas
eixo z do quadro não são exagerados com objetivas normais.
A abertura é o mecanismo dentro de uma objetiva que controla
a quantidade de luz que entra para expor uma imagem em um
teleobjetivas quadro de filme ou sensor CCD. A abertura máxima de uma ob-
Objetivas de grande distância focal, também chamadas teleobje- jetiva (medida em f-stops), ou a quantidade de luz que ela deixa
tivas, têm um campo de visão menor do que objetivas normais e passar quando configurada com a maior abertura, forma a base
grande-angulares, e compactam o espaço ao longo do eixo z do para classificar as objetivas de acordo com suas velocidades. Ob-
quadro. Por isso, teleobjetivas parecem aproximar mais o fundo de jetivas com uma abertura máxima muito ampla são chamadas
uma imagem do espaço achatado no primeiro plano; o movimento rápidas, o que significa que elas requerem muito pouca luz para
ao longo do eixo z também é distorcido de tal modo que temas se registrar uma imagem, por exemplo, f 1,4 ou f 1,8. Objetivas com
aproximando ou se afastando da objetiva mal parecem estar em aberturas máximas menores, como f 2,8 e menores, são chama-
movimento. Teleobjetivas achatam características faciais; portanto, das lentas e requerem mais luz para registrar uma imagem. Em-
não são comumente usadas para close-ups se tiverem uma distân- bora uma objetiva mais rápida sempre seja uma opção melhor,
cia focal um pouco maior que uma objetiva normal. A profundida- elas são muito mais caras que as objetivas mais lentas. Por outro
de de campo produzida por essas objetivas parece menor, mas há lado, podem economizar tempo e dinheiro no longo prazo, uma
14
objetiva nativa de uma câmera de vídeo para alcançar um campo
de visão mais largo ou mais estreito que aquele que a objetiva de
fábrica fornece.
Embora esses acessórios sejam relativamente baratos,
há um evidente comprometimento, já que geralmente produzem
imagens de menor qualidade em termos de contraste, cor e ni-
tidez (que se torna ainda mais evidente quando projetadas em
uma tela grande). Outro tipo de objetiva especializada são macros
que permitem que você se concentre muito perto de um tema
para capturar pequenos detalhes; essas objetivas são examina-
das no capítulo sobre plano macro.
pequena profundidade de campo
profundidade de campo
Profundidade de campo refere-se ao intervalo de distâncias ao lon-
go do eixo z que estará em foco aceitável, o que significa nítido.
Uma composição com uma ampla profundidade de campo tem
uma grande área em foco, e uma composição com pouca profun-
didade de campo tem apenas uma pequena área do quadro em
foco. A abertura da objetiva é um fator importante na manipulação
da profundidade de campo. Aberturas maiores que deixam mais
luz entrar produzem imagens com pouca profundidade de campo,
enquanto aberturas menores que deixam menos luz entrar produ-
zem imagens com maiores profundidades de campo. Outra ma-
neira de controlar a profundidade de campo é mudar a distância grande profundidade de campo
entre a câmera e o tema; aproximar mais a câmera do tema gera
uma distância focal menor, o que produz pouca profundidade de formatos de filmagem, mais adiante neste capítulo. Ser capaz de
campo. Afastar a câmera de um tema aumenta a distância focal, produzir uma boa profundidade de campo permitirá isolar o tema
resultando em maior profundidade de campo. Se o tamanho de no quadro mantendo outros elementos visuais fora de foco; isso im-
um objeto no quadro for mantido constante, a distância focal não pede que o público se distraia e direciona sua atenção para o tema.
será um problema ao alterar a profundidade de campo. Quando o Alternativamente, uma grande profundidade de campo torna cada
tamanho de um tema não é mantido constante, aumentar a distân- elemento visual nítido e, portanto, notável pelo público, adicionan-
cia focal (usando uma teleobjetiva, por exemplo) produzirá pouca do informações que podem aumentar seu conhecimento de um
profundidade de campo, e diminuir a distância focal (usando uma tema. Profundidade de campo é uma das ferramentas visualmente
objetiva grande-angular) resultará em maior profundidade de cam- mais expressivas e poderosas que você pode usar para manipular
po. Outro fator determinante é o tamanho do formato de filmagem a composição de uma cena. Nos dois exemplos acima do filme
que você escolhe para seu projeto; isso é explicado na seção sobre Apocalypto (2006), de Mel Gibson, a profundidade de campo é
16
25mm (considerada “normal” para esse formato), a profundidade possível. Antes do advento de vídeo HD, o super 16, ou S16, era
de campo em f 5,6 com sensores CCD da objetiva focalizados e uma alternativa comum para se aproximar da aparência do filme
tamanhos no formato de filme será aproximadamente 3m. de 35mm a um custo bem menor. Como podemos ver na ilustra-
Fazer a mesma cena com filme de 35mm, no mesmo ção à esquerda, o tamanho do quadro é um pouco maior do que
f-stop e na mesma distância entre câmera e o tema com uma obje- em um quadro de filme 16mm normal; isso é alcançado usando
tiva de 50mm (considerada “normal” para esse formato) produzirá uma abertura maior que se estende até uma área do negativo de
uma profundidade de campo de apenas 60cm. A razão é simples: 16mm, o que resulta em um quadro que usa 20% a mais da área
uma objetiva de 50mm para o formato de filme de 35mm é fisica- negativa, produzindo uma imagem com uma resolução significati-
mente maior, com maior distância focal do que sua equivalente de vamente melhor do que 16mm padrão. Esse detalhe extra torna-se
16mm. Agora considere as câmeras SD (standard definition) e HD crucial quando aumentamos S16 para 35mm para distribuição em
(high definition), que usam sensores CCD muito menores do que salas de cinema (S16 não é um formato de distribuição), uma vez
um quadro de filme de 16mm; as objetivas para esses formatos de que esse processo tende a ampliar a granulação e quaisquer defei-
tos presentes na imagem. S16 também é ideal para transferências
35mm academy no formato HD porque sua proporção de tela original de 1,66:1 se
aproxima bastante da proporção de tela de 1,78:1 (ou 16×9) do
2/3” CCD formato HDTV; o 16mm regular tem de ser rigorosamente cortado
1/3” CCD para caber nessa proporção de tela, desperdiçando uma grande
1/4” CCD área do negativo e, no processo, perdendo resolução. Mas o tama-
nho maior do formato S16 não fornece a capacidade de criar me-
16mm
nores profundidades de campo, uma vez que suas objetivas têm
S16mm basicamente o mesmo tamanho que aquelas usadas para 16mm
padrão, produzindo, como resultado, a mesma profundidade de
campo.
sensores CCD e tamanhos dos formatos de filmes
vídeo são ainda menores e, portanto, têm uma distância focal me- kits adaptadores de objetiva de 35mm
nor do que as objetivas equivalentes em um formato maior (como Algumas empresas desenvolveram kits adaptadores de objetiva
visto na ilustração acima; não o tamanho real, mas ampliado para que permitem anexar uma objetiva de 35mm a uma câmera SD
ilustrar os tamanhos relativos). Essa é a principal razão por que é ou HD. Com esses kits, você pode produzir imagens com boa pro-
tão difícil criar uma boa profundidade de campo ao filmar em for- fundidade de campo que, de outro modo, seriam muito difíceis ou
matos menores do que 35mm, especialmente com os formatos de impossíveis de produzir com formatos de vídeo. Esses adaptadores
vídeo que têm sensores CCD extremamente pequenos. Mas tam- funcionam focalizando a imagem da objetiva de 35mm em um vi-
bém poderíamos inverter esse argumento e afirmar que é muito dro fosco vibrante; a objetiva nativa na câmera de vídeo é então fo-
difícil criar grandes profundidades de campo ao filmar em forma- calizada para registrar essa imagem. Como objetivas de 35mm são
tos maiores do que 16mm; você poderia, por exemplo, criar uma bem maiores do que a objetiva da sua câmera de vídeo (visto que
estratégia visual baseada em uma maior profundidade de campo, foram projetadas para criar uma imagem suficientemente grande
e, portanto, preferir filmar em um formato menor que tornaria isso a fim de preencher um quadro de filme de 35mm), elas podem
vídeo SD e HD HD 1920x1080i/p
High Definition (HD) está rapidamente se tornando o formato pre-
ferido para filmar e transmitir vídeo digital. Os avanços tecnológicos tamanhos de quadro de câmeras SD e HD
18
lado imagens idênticas de vídeo filmado em 24p e 30i (ou entrela- visor do diretor
çado); mesmo que ambos os vídeos tenham a mesma resolução
Uma ferramenta que você deve tentar usar o máximo possível para
de 720×480 pixels, as imagens filmadas em 24p parecerão muito
treinar os olhos é o visor do diretor, um pequeno vidro de visualiza-
mais semelhantes a um filme, uma vez que elas não têm a nitidez
ção que permite ver qual será o enquadramento de uma cena com
extra que aqueles seis quadros extras por segundo adicionam.
base no campo de visão de uma dada objetiva e um dado formato.
Câmeras SD e HD profissionais e semiprofissionais tam-
Usar consistentemente o visor do diretor é uma boa maneira de se
bém permitem controlar como a câmera responde à luz, permi-
familiarizar com as características estéticas de certas distâncias fo-
tindo ajustar as áreas sub e superexpostas para produzir ima-
cais, mais especificamente o campo de visão, a perspectiva do eixo
gens com um intervalo maior de exposição do que aquele que é
z e o movimento aparente ao longo do quadro. Infelizmente, bons vi-
comumente visto em material filmado com câmeras SD menos
sores do diretor não são baratos, custam facilmente algumas cente-
caras. Isso significa que imagens filmadas com câmeras que têm
nas de dólares. Existem modelos menores disponíveis, mas eles têm
configurações de “compressão de gama” ou “cine-gama” podem
visores razoavelmente pequenos que dificultam ver a aparência do
produzir imagens que terão um intervalo de tonalidades que se
quadro. Se investir em um, você descobrirá muitas oportunidades de
assemelha (embora não seja equivalente) ao intervalo de expo-
usá-lo, por exemplo, durante a pré-produção para explorar locações
sição do material originado de filme. Se seu objetivo é produzir
(o que permite visualizar potenciais cenas) e durante a produção
imagens que terão a aparência e o comportamento do filme sem
(permitindo selecionar rapidamente a objetiva e a posição apropria-
o custo de realmente filmar em película, vídeo filmado no formato
das da câmera sem ter de movê-la fisicamente). Como alternativa,
HD em 24p com cine-gama é sua melhor escolha. Você poderia,
você também pode usar uma câmera digital ou mesmo uma câmera
porém, propositadamente querer que seu filme tenha a aparência
fotográfica SLR como um visor do diretor, desde que saiba ou possa
e o comportamento de um vídeo SD padrão, com menos resolu-
calcular o campo de visão e a distância focal equivalentes entre a ob-
ção do que HD, os artefatos de movimento de 30i e um interva-
jetiva nessa câmera e as objetivas usadas pelo formato de filmagem
lo menor de exposição como parte da sua estratégia visual; isso
escolhido para seu projeto. Por fim, você sempre pode usar as mãos
fez maravilhas em A bruxa de Blair (1999), de Daniel Myrick e
para criar um quadro improvisado que permite ver aproximadamen-
Eduardo Sánchez.
te o que pode ser incluído ou excluído de uma composição.
A maioria das câmeras de vídeo profissionais e semi-
Qualquer que seja o método escolhido, com o tempo você
profissionais também vem equipada com um switch, ou chave,
se tornará mais exigente sobre a composição das cenas; seus olhos
de ganho, normalmente com três configurações (baixa, média e
irão naturalmente varrer todo o quadro e não apenas os pontos fo-
alta), que permite aumentar a sensibilidade do sensor CCD para
cais, e você começará a descobrir naturalmente os relacionamen-
filmar em condições sob pouca luz. Embora possa ser tentador
tos entre os elementos visuais no quadro que antes não via.
usar essa chave para filmar sob essas condições, você deve estar
ciente de que utilizar ganho adiciona invariavelmente ruído de
vídeo à sua imagem, mesmo que ele não esteja visível quando
você está filmando (uma vez que as telas de LCD pequenas com
as quais a maioria das câmeras vem equipada não têm resolu-
ção suficiente para exibi-lo). A menos que ter ruído de vídeo seja
parte da sua estratégia visual, você deve evitar o uso de ganho e
certificar-se de que há boa iluminação. um visor do diretor
20
sistema de imagem
O termo “sistema de imagens” ou “sistema imagético” foi inicial- repetindo certas composições fílmicas, cores e imagens de uma
mente introduzido por teóricos do cinema em artigos que tenta- maneira que inicialmente não é fácil de perceber e que, mes-
vam criar uma compreensão sistemática do cinema por meio da mo assim, é internalizada pelo público em um nível subliminar.
análise das imagens, padrões de edição, composição das cenas Nesse caso, apenas alguns espectadores poderiam perceber a
e tendências ideológicas de certos diretores. Em algumas teorias repetição das imagens e composições fílmicas e deduzir seu
do cinema, sistemas de imagens são usados para decodificar as significado narrativo decodificando uma camada adicional do
camadas de significado que um filme poderia ter com base nas significado de acordo com sua compreensão da história. Outros
conotações que certas imagens têm além do seu significado li- espectadores, porém, talvez não percebam completamente as
teral. Por exemplo, uma cena de um personagem olhando seu conexões, acessando apenas a narrativa principal de um filme.
reflexo em um espelho também pode significar o conceito de Alguns cineastas tornam o sistema de imagens em seus filmes
um eu dividido e conflitos internos por causa dos significados visível e impossível de ignorar, imbuindo numerosas cenas de
simbólicos associados com espelhos e reflexos na teoria psi- um significado icônico, gráfico ou simbólico, às vezes até dificul-
canalítica; essa é uma alegoria visual comum encontrada em tando que o público se conecte com a história. Isso geralmente
muitos filmes que lidam com personagens que têm transtornos não é uma boa ideia, visto que sistemas imagéticos funcionam
de personalidade ou passam por conflitos internos. O sistema de melhor quando dão suporte e acrescentam significado à ideia
imagens também tem uma definição muito mais simples, mais central do filme e não quando se tornam essa própria ideia
frequentemente utilizada por cineastas e roteiristas; trata-se do central.
uso de imagens e composições recorrentes em um filme para Sistemas imagéticos não precisam se basear exclusi-
adicionar camadas de significado a uma narrativa. A repetição vamente na repetição das imagens para criar uma narrativa.
das imagens pode ser uma ferramenta poderosa para introdu- Um sistema de imagens poderia consistir, por exemplo, em
zir temas, motivos e imagens simbólicas que poderiam ou não planos em que a distância entre dois personagens principais
ser explicitamente tratadas no enredo do filme. Isso também diminui gradualmente (por meio de bloqueio real ou usando
pode ser usado para mostrar o crescimento dos personagens, distâncias focais cada vez mais longas para compactar visual-
informações importantes prenunciadas e criar significados as- mente a distância entre eles ao longo do eixo z) à medida
sociativos entre personagens que não são explícitos na história. que seu relacionamento se aprofunda, ou planos que mudam
Como a experiência de assistir a um filme depende bastante do gradualmente de ângulos altos para ângulos baixos a fim de in-
uso de imagens (embora não exclusivamente, já que a experi- dicar o fato de que um personagem torna-se mais confiante à
ência cinematográfica sempre envolve um componente sonoro medida que a história avança. Uma distinção importante a con-
mesmo quando os filmes eram tecnicamente mudos), a maioria siderar é que um sistema de imagens não deve ser confundido
dos filmes tem um sistema de imagens em funcionamento em com uma estratégia visual (escolhas em relação a materiais,
algum nível, independentemente de o cineasta querer ou não formatos, objetivas e iluminação). Esses elementos não consti-
usar um. Essa memória e comparação visuais são inerentes à tuem um sistema de imagens, mas, em vez disso, são algumas
maneira como o público extrai significado das imagens para en- das ferramentas que farão seu sistema de imagens funcionar,
tender uma história, criando constantemente conexões entre e associadas a uma boa elaboração da composição fílmica, da
dentro das cenas. Sistemas de imagens podem ser muito sutis, edição, da direção de arte e de qualquer outro elemento que
sistema de imagemâ•… 21
possa ser usado para desenvolver os significados explícitos e uma jovem chamada Mi-do (Kang Hye-jeong) depois que ele
implícitos de uma cena. desmaia no restaurante onde ela trabalha. Com a ajuda dela,
Ter um sistema de imagens não é essencial ou obriga- ele descobre que sua filha, um bebê na época do sequestro, foi
tório; talvez você não queira lidar com a necessidade de criar adotada por uma família que mora em outro país. Ele então re-
um e, em vez disso, optar por contar sua história sem nenhuma cebe um telefonema do homem que o aprisionou desafiando-o
camada extra intencional do significado. Por outro lado, criar a descobrir a razão por trás do seu sequestro, dando-lhe um
um sistema de imagens pode ser uma experiência bem inte- prazo final de cinco dias e ameaçando-o a mandar alguém ma-
ressante que também ajuda você a ter uma compreensão mais tar Mi-do caso contrário. Se ele for bem-sucedido, o estranho
clara da estrutura da sua história (necessária para tornar o siste- lhe diz que, em vez disso, ele vai se matar. Isso coloca Dae-su
ma de imagens consistente e significativo). Para criar um sistema em uma corrida contra o tempo para salvar Mi-do e vingar-se do
de imagens, você primeiro deve identificar as ideias centrais homem que assassinou sua esposa e tirou 15 anos da sua vida.
da sua história, os temas e motivos principais (algo que prova- Com Mi-do ao seu lado, Dae-su consegue desvendar o mistério
velmente fez ao criar o conceito inicial para a estratégia visual por trás da sua prisão; um milionário chamado Woo-jin (Yu Ji-
do filme). Depois de saber do que realmente trata a história, tae), que frequentou a mesma escola que ele, culpa-o pelo sui-
você pode criar um sistema de imagens que dê suporte às suas cídio da sua irmã depois que Dae-su espalhou um boato sobre
ideias centrais de uma maneira evidente ou sutil que deve ser suas relações incestuosas. Sem o conhecimento de Dae-su, a
implementado consistentemente por todo o filme. Consistência vingança de Woo-jin já havia ocorrido no momento em que ele
é essencial se você quiser que o sistema de imagens seja re- finalmente o confronta, visto que ele havia manipulado tudo o
conhecido pelo público; ele deve ser utilizado de uma forma que aconteceu após sua libertação para fazer com que ele e Mi-
sistemática que realça apenas aqueles eventos significativos à -do se apaixonassem. Em um das cenas finais mais chocantes
compreensão dos conceitos e temas que você quer destacar na do cinema nos últimos anos, Dae-su descobre, horrorizado, que
história. Mi-do é na verdade a filha que achava que tinha sido adotada
15 anos atrás e que a vingança de Woo-jin era fazê-lo cometer
incesto com ela.
O sistema de imagens em Oldboy está fortemente in-
o sistema de imagens no filme Oldboy tegrado com sua narrativa; a repetição das composições e dos
Oldboy (2006), de Park Chan-wook, tem um sistema de ima- motivos não funcionam exclusivamente para adicionar camadas
gens complexo que usa a repetição de composições fílmicas e de significado, mas, às vezes, é uma parte ativa da história uti-
imagens simbólicas para adicionar profundidade emocional a lizada em pontos chave para apresentar a trama. Por exemplo,
uma história da obsessão e vingança. Oldboy conta a história Dae-su descobre que ele teve um caso com sua filha por meio
de Oh Dae-su (Choi Min-sik), um homem de negócios que é de um álbum de fotos com imagens dela em diferentes idades
sequestrado e então preso por 15 anos; durante esse período, que incluem uma fotografia que ele guardava no início do filme
ele descobre que seus sequestradores mataram sua esposa e (Figura 15), a irmã de Woo-jin tira uma fotografia dela mesma
o incriminaram falsamente pelo assassinato dela. Sem explica- segundos antes de cometer suicídio, que reaparece no final do fil-
ção, Dae-su é repentinamente libertado, fazendo amizade com me na cobertura de Woo-jin. O motivo da repetição por meio do
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espelhamento dos eventos e das imagens também é utilizado por é, uma antecipação de um evento. A composição impressio-
toda a história: Dae-su vê seu reflexo no álbum de fotos quando nante dessas cenas e as questões que elas geram (quem são
descobre o esquema de Woo-jin, a irmã de Woo-jin olha seu re- esses homens? Por que ele está tentando matar esse homem?)
flexo em um espelho enquanto ela tem um caso com seu irmão, torna-as fáceis de recordar quando são espelhadas no final
um hipnotizador faz Dae-su usar seu reflexo em uma janela para do filme por meio de um flashback (em sintonia com o tema
apagar a memória do seu caso incestuoso, e o esquema vingativo dos reflexos e das imagens espelhadas) que revela a irmã de
de Woo-jin é construído em torno do fato de que Dae-su deve se Woo-jin cometendo suicídio sob circunstâncias notavelmente
apaixonar e cometer incesto com um membro da família, espe- semelhantes (Figuras 5 e 6). A repetição das composições e
lhando os eventos da sua vida. circunstâncias mostradas aqui sugere que existe uma conexão
Oldboy também usa a repetição de várias maneiras fatídica entre Dae-su e Jin Woo, indicando, talvez, que nos
para dar suporte às ideias centrais do filme, amplificando o seus esforços para vingar-se um do outro, seus comportamen-
impacto dramático da história. A Figura 1 mostra uma pintura tos obsessivos os transformaram em pessoas muito parecidas.
para a qual Dae-su olha por todo o período em que estava Essa similaridade do comportamento fica clara várias vezes ao
preso; ela tem uma inscrição que diz “Ria e o mundo vai rir longo do filme; Woo-jin passa por um esquema incrivelmen-
com você. Chore, e você vai chorar sozinho” (uma citação de te complicado para fazer Dae-su pagar por essa transgressão,
Solitude, poema de Ella Wheeler Wilcox). Depois de ser liberta- esperando 15 anos até que a filha de Dae-su se tornasse uma
do, ele recita esse verso em voz baixa repetidas vezes, sempre mulher para que pudesse se vingar dele. Dae-su, por outro
que se encontra em uma situação terrível normalmente impos- lado, passa os últimos 10 anos de prisão se transformando em
ta por Woo-jin. A expressão sobre o rosto na pintura é ambí- uma máquina de matar abandonando, no processo, boa parte
gua, o que torna difícil afirmar se o personagem (um homem da sua humanidade à medida que também se prepara para a
com cabelo desarrumado que lembra Daesu) está sorrindo ou vingança. No momento do confronto final, sua semelhança é
chorando. A Figura 2 é de uma das últimas cenas no filme, tão acentuada que mesmo o simples ato de vestir uma camisa
exibida após Dae-su ter aparentemente apagado a memória está visualmente conectado pelo uso de composições fílmicas
do seu incesto, reunindo-se com a filha. Como o homem na quase idênticas e ênfase narrativa, com um close-up extremo
pintura, é difícil dizer se Dae-su está sorrindo ou chorando, de Dae-su abotoando o punho da manga (Figura 7), que é re-
sugerindo a horrível possibilidade de que ele ainda se lem- criada poucos minutos mais tarde quando Woo-jin é mostrado
bra do caso incestuoso que foi enganado a ter. Assistir sua fazendo a mesma coisa (Figura 8).
triste fisionomia já seria comovente mesmo se o público não O simbolismo associado a certas imagens também é uti-
tivesse o contexto adicional da sua semelhança com a face na lizado para estabelecer uma conexão entre os personagens. A
pintura e o tema da solidão evocado pelo poema, mas a cone- Figura 9 mostra Dae-su no início do filme, exibindo um par de
xão visual entre tudo isso e o poema torna esse momento na asas de anjo de brinquedo que ele comprou para a filha no dia
narrativa ainda mais complexo emocional e psicologicamente. do seu sequestro; perto no final do filme, Woo-jin manda entre-
As Figuras 3 e 4 mostram Dae-su, na cena de abertura do fil- gar as asas a Mi-do enquanto Dae-su descobre a verdade sobre
me, impedindo que um homem cometa suicídio, naquilo que seu relacionamento com ela. Ela usa as asas e tenta fazer com
saberemos mais tarde ser um flashforward, ou prolepse, isto que pareçam bater, como seu pai fez (Figura 10). A ação e as
sistema de imagemâ•… 23
imagens repetidas enfatizam o reaparecimento das asas (elas fo- 15 mostra Dae-su no início do filme, segurando uma foto da sua
ram finalmente entregues após 15 anos), enquanto o simbolismo família enquanto estava bêbado em uma delegacia; durante seu
associado com anjos adiciona um subtexto religioso a essas ce- confronto final com Woo-jin, essa composição se repete quando
nas; Mi-do e Dae-su caíram em desgraça por causa do pecado ele lhe mostra a foto da sua irmã tirada segundos antes do seu
que cometeram e não mais conseguem voar. Imagens religiosas suicídio (Figura 16). Dessa vez, porém, Dae-su parece focado, de-
também são sugeridas pela reinterpretação de uma pintura vista terminado e ameaçador. Ele essencialmente tornou-se um novo
na cela em que Mido permanece esperando que Dae-su volte do homem, transformado por seu martírio, uma mudança que tam-
seu confronto com Woo-jin. Um close-up da pintura mostra uma bém é refletida pela camisa manchada de sangue que usa aqui em
menininha rezando (Figura 11), uma composição que é recriada vez da camisa branca que usou na delegacia. Essas duas cenas
em um plano geral mostrando Mi-do rezando (Figura 12). Sua também resumem a curva de Dae-su na história: ele passa de uma
conexão com a pintura na cela também lembra a conexão de vida inconsequente e despreocupada para uma vida com um pro-
Daesu com a pintura na sua própria cela quando permaneceu no pósito (vingança), de não dar o devido valor à sua família (ele fica
cativeiro (Figuras 1 e 2). bêbado e vai preso no dia do aniversário da filha) a torná-los o foco
A repetição das imagens também é reconhecida direta- da sua vida (ele planeja se vingar do assassinato da esposa e, com
mente na trama, em uma cena em que Dae-su, seguindo as pistas o tempo, reunir-se com a filha), de ser um homem de negócios fora
deixadas por Woo-jin, visita um dos seus antigos colegas de clas- de forma a tornar-se uma máquina de matar.
se em um salão de cabeleireiro. Enquanto ele obtém informações Um uso muito comum de um sistema de imagens inclui
dela, uma jovem entra na loja; Dae-su, que momentos antes foi a repetição de uma imagem especialmente fácil de lembrar qua-
mostrado estranhamente atraído pelos joelhos expostos da sua co- se no final de um filme, sugerindo ao público que a história deu
lega de classe enquanto ela tentava lembrar um nome, volta sua uma volta completa e, portanto, está prestes a terminar. A Figura
atenção para os joelhos da jovem, mostrados em um close-up (Fi- 17 mostra Dae-su sendo libertado da sua prisão no início do filme
gura 13). De repente, a visão dos joelhos da menina desperta uma após uma sessão de hipnose, enquanto a Figura 18 o mostra na
lembrança em Daesu sobre um encontro que ele teve na escola de última cena do filme, depois que ele acorda de mais uma sessão
segundo grau com a irmã de Woo-jin, apresentada em um flash- de hipnose projetada para fazê-lo se esquecer do caso incestuoso
back também com um close-up dos joelhos (Figura 14). Dae-su só que teve com a filha. A composição de ambas as cenas é propo-
se lembrou desse encontro depois que viu os joelhos da menina, sitadamente incomum e, portanto, fácil de lembrar pelo público,
sugerindo a possibilidade de que ele poderia ter bloqueado essa com as duas cenas empregando um plano geral em um ângulo
lembrança dela por causa do trauma psicológico que ele associou alto que mostra Dae-su caído no chão. Esse uso específico de um
com esse encontro. Esse ponto é reforçado quando Dae-su é mos- sistema de imagens é muito comum entre os cineastas, mesmo
trado voltando à sala onde testemunhou Woo-jin e sua irmã tendo em filmes que não incorporam sistemas de imagens como Old-
um caso incestuoso. Apenas quando revisita o local real onde ele boy emprega primorosamente. Uma das razões é que a repetição
os espionou é que ele é capaz de lembrar o evento e, finalmente, de imagens dessa maneira faz mais do que fazer a história dar
revelar a razão da vingança de Woo-jin. uma volta completa, mas também dá ao público a impressão da
O sistema de imagens em Oldboy também usa a repetição conclusão narrativa sem questões não resolvidas, mesmo se esse
para mostrar o crescimento e a mudança do personagem. A Figura não for realmente o caso.
24
Oldboy tem um sistema de imagens complexo habilmen-
te entrelaçado com sua narrativa, utilizado de uma forma que am-
plia e adiciona ressonância dramática aos temas e motivos que já
estão presentes na sua história. Essa é de longe a melhor maneira
de utilizar um sistema de imagens para aprofundar o impacto
emocional e envolvimento do público com uma narrativa fílmica,
adicionando camadas de significado que recompensam um pú-
blico atento e o convidam a rever o filme várias vezes, pois novas
profundidades, dimensões e compreensões podem ser compi-
ladas sempre que a história é revista. Mas a implementação e a
eficácia de um sistema de imagens também dependem da cria-
ção de composições significativas e narrativamente convincentes
para cada plano básico do vocabulário cinematográfico, o tema
dos demais capítulos neste livro.
sistema de imagemâ•… 25
3 4
5 6
7 8
9 10
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sistema de imagemâ•… 27
Lucia e o sexo. Julio Medem, 2001.
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close-up extremo
close-up extremo
O close-up extremo permite concentrar a atenção do público em No exemplo na página ao lado, do filme Lucia e o sexo
um pequeno detalhe de um personagem ou pequenos objetos. (2001), de Julio Medem, um close-up extremo é usado para con-
Embora o close-up permita que o público veja as nuances de um centrar a atenção do público na trajetória de uma lágrima única à
espetáculo que normalmente seriam perdidas em planos mais medida que ela cai pela face de Elena (Najwa Nimri), uma mulher
amplos, o close-up extremo pode isolar efetivamente detalhes vi- que teve um romance tórrido com um homem que ela conheceu
suais únicos, ainda menores, do restante da cena. Se os detalhes enquanto estava isolada em uma ilha do Mediterrâneo. A cena
forem extremamente pequenos, às vezes essas imagens são ob- abre com uma dissolução gráfica entre uma lua cheia e um teste
tidas com o uso de objetivas especializadas que são chamadas de gravidez circular com um sinal de “mais”. Ao vê-lo, ela der-
de planos macro, mas, narrativamente, ainda funcionam como rama uma lágrima que cai no teste, manchando parcialmente o
close-ups extremos. O uso de um close-up extremo para enqua- resultado positivo. A ênfase visual que o close-up extremo coloca
drar um pequeno objeto ou detalhe de um personagem gera ins- na lágrima (por causa da proximidade da cena e uso de movi-
tantaneamente a expectativa de que o que está sendo mostrado mento de câmera para acompanhar seu caminho) impregna esse
é, de alguma maneira, importante e significativo à narrativa (uma detalhe com o mesmo significado simbólico e mesmo poético por
aplicação da regra de Hitchcock). Close-ups extremos também causa das associações que ele pode provocar (água salgada, o
podem ser usados para criar afirmações visuais bem poderosas mar, marés, ciclos lunares, ciclos menstruais, gravidez etc). Nes-
dentro do sistema de imagens da sua história. Um uso comum se caso, o close-up extremo foi usado para levantar um ponto
do close-up extremo envolve o isolamento de um objeto ou de- temático que só poderia ser feito com esse tipo de cena.
talhe de um personagem que aparentemente não é importante,
mas acaba desempenhando um papel fundamental mais adiante
na narrativa. Nesse caso, o close-up extremo realça visualmente
a importância do objeto para que seu reaparecimento não pareça
injustificado e artificialmente conveniente e também para fazer o
público antecipar uma possível conexão à medida que a narrati-
va se desenrola. Em alguns casos, o close-up extremo funciona
como um plano abstrato, deixando o público focalizar os detalhes
visuais que talvez não estejam diretamente relacionados à narrati-
va, mas, mesmo assim, ampliam o tom dramático geral ou o con-
teúdo temático por causa das qualidades abstratas ou simbólicas
associadas com a imagem. Um bom exemplo disso ocorre duran-
te a abertura do filme O veludo azul (1986), de David Lynch, em
que, após uma série de planos que incluem imagens idílicas da
América provinciana, a montagem termina com um close extre- Esse close-up extremo impressionante em Lucia e o sexo (2001),
mo de besouros pretos rastejando sob um gramado perfeitamente de Julio Medem, acompanha a trajetória de uma única lágrima, à
cuidado; os besouros são, essencialmente, irrelevantes à trama, medida que percorre o rosto de Elena (Najwa Nimri), uma mulher
mas seu aparecimento dentro do contexto da sequência sugere que acabou de descobrir que está grávida. A lágrima, um lembre-
a ideia temática de que a violência primitiva pode se esconder te da água do mar em que seu fatídico encontro sexual ocorreu,
debaixo de uma superfície de ordem social idealizada. acabará caindo em um teste de gravidez.
close-up extremoâ•… 29
close-up extremo
30
O estreito enquadramento desta cena permite
ajustar a iluminação para torná-la visualmente Embora este close-up extremo contenha apenas
atraente, desde que a continuidade da iluminação alguns maços de cigarros, eles foram dispostos
geral seja mantida. O plano médio que precedeu dentro do quadro de modo que fossem cortados,
esse close-up extremo tem uma iluminação que sugerindo a existência de espaço fora da tela.
vem de um ângulo completamente diferente, mas, Essa é uma estratégia muito comum projetada
como a qualidade da luz e aparência geral foram para adicionar profundidade à composição de
mantidas, a diferença é imperceptível. uma cena.
Este maço de cigarros é colocado no ponto focal Como um close-up extremo pode revelar até
desta composição; as diagonais criadas pelos mesmo os menores detalhes de tudo incluído no
dois maços direcionam naturalmente o olhar do quadro, uma boa ideia é manter composições
espectador para ele, enquanto o uso de uma livres de quaisquer elementos visuais que
pequena profundidade de campo isola ainda poderiam distrair o público do tema principal.
mais o restante do quadro. O uso desses A eficácia desta cena seria severamente reduzida
princípios composicionais para enfatizar um se, por exemplo, os cigarros estivessem sobre um
objeto aparentemente sem importância levanta jornal em vez de um prato branco.
inevitavelmente certas expectativas sobre o
papel que ele desempenha na história.
close-up extremoâ•… 31
considerações técnicas
objetivas a objetiva está vendo. Nesse sentido, câmeras SD e HD profissio-
nais e semiprofissionais têm uma ligeira vantagem em relação a
Dependendo do tamanho do tema sendo filmado, objetivas de
câmeras de filme, uma vez que elas permitem visualizar exata-
grande distância focal ou objetivas grande-angulares são mais
mente como a imagem resultante aparecerá se você usar um mo-
comumente usadas. Ambas as objetivas podem produzir pro-
nitor de visualização cuja resolução se aproxime ou se equipare à
fundidades de campo pequenas (a teleobjetiva por causa das
resolução do seu formato de filmagem. É melhor evitar o uso de
características ópticas inerentes a esse tipo de lente, e a grande-
telas de LCD que vêm com a maioria das câmeras, já que elas são
-angular devido à distância extremamente curta que ela exige
muito pequenas e não têm a resolução e o contraste para exibir
entre a câmera e o tema para criar um estreito enquadramento).
cada detalhe sendo capturado. O mesmo não pode ser dito das
Objetivas zoom estão em desvantagem se forem usadas como
câmeras de filme, uma vez que, mesmo se você usar um monitor
grande-angulares, uma vez que uma grande-angular de distância
compatível com HD para visualizar a transmissão enviada por um
focal fixa (prime wide angle) com a mesma distância focal que a
cabo de vídeo, ele não seria capaz de exibir a resolução máxima
de uma objetiva zoom nessa configuração será capaz de focalizar
da película cinematográfica.
em uma distância muito mais próxima capturando pequenos de-
talhes do tema no quadro. As objetivas zoom nativas em muitas
câmeras SD e HD também tornam relativamente fácil fazer clo- iluminação
se-ups extremos porque a menor distância focal (o resultado de
Se o tema for uma pessoa ou um objeto, a iluminação deve ser pla-
sensores CCD menores que elas usam) permite distâncias focais
nejada e montada com o mesmo cuidado exigido para filmar um
mínimas muito curtas. Em alguns casos, o tema poderia ser muito
close-up importante de um dos principais personagens. É fácil se
pequeno para ser capturado com objetivas padrão independen-
esquecer de que, embora você possa filmar algo que seja muito pe-
temente do formato, exigindo o uso de objetivas especiais que
queno, o tamanho dessa cena fará uma forte afirmação visual, tor-
permitem focalizar ainda mais perto do que uma objetiva de foco
nando crucial que a iluminação apoie o que está sendo narrado. A
fixo. Planos que usam essas objetivas são chamados planos ma-
estreiteza do enquadramento provavelmente impedirá a inclusão de
cro porque normalmente usam uma objetiva macro para capturar
fontes de luz que foram estabelecidas em planos mais gerais, dando
a imagem (embora existam outras maneiras de obter os mesmos
a você licença para adicionar, mover e mudar sua direção a fim de
resultados; leia mais no capítulo sobre plano macro).
produzir uma cena que é visualmente atraente, desde que a con-
tinuidade da iluminação geral seja mantida — o que significa que
formato você não deve iluminar de repente um close-up extremo que tem
A proximidade desse plano às vezes torna difícil ver todos os de- uma aparência de “chave baixa” (mais áreas escuras) no estilo de
talhes que serão capturados, especialmente ao utilizar uma ob- filme noir se o plano geral tiver uma iluminação de “chave alta” (mais
jetiva grande-angular que provavelmente estará muito próxima áreas claras) no estilo de novelas, e vice-versa. O exemplo do filme
do tema. Nesses casos, o uso de um monitor grande pode ser Irmãos de sangue na página ao lado aproveita ao máximo essa liber-
extremamente útil para ver e explorar completamente as texturas dade de ajustar a iluminação; embora nos planos gerais anteriores a
e os detalhes visuais que um close-up extremo irá revelar quando área adjacente da sala de interrogatório estivesse claramente visível,
projetadas. A captura de filme inviabilizará o uso de um monitor nesse close-up extremo a iluminação foi ajustada para que somente
de visualização a menos que você tenha uma câmera de filme o reflexo do interrogador pudesse ser visto nos olhos, resultando em
equipada com um sistema auxiliar de vídeo que permita ver o que uma imagem visualmente admirável.
32
quebrando as regras
Os ângulos fechados em um close-up extremo só permitem mostrar um pequeno detalhe do seu tema, mas nesta cena do filme Irmãos
de sangue (1995), de Spike Lee, as qualidades reflexivas do olho humano são habilmente exploradas para incluir muito mais. Quando
o detetive Rocco (Harvey Keitel) interroga Victor (Isaiah Washington) sobre as imprecisões no depoimento de um assassinato que ele
confessou, ele diz: “Quero ver o que você vê”, como este close-up extremo mostra. A iluminação dramática nesta cena visualmente
notável foi cuidadosamente planejada para que o reflexo do detetive fosse fácil de perceber na pupila do personagem. Curiosamente, a
palavra “pupila” vem de “pupilla”, a palavra latina para “menina” e, daí “menina dos olhos”, uma antiga referência ao exato fenômeno
capturado nesta cena.
close-up extremoâ•… 33
WALL·E. Andrew Stanton, 2008.
34
c lo se -u p
close-up
O close-up é um recém-chegado ao vocabulário cinematográfico; close-ups forem usados em excesso, seu impacto dramático será
os primeiros filmes mudos usavam apenas planos gerais e nenhu- diluído, tornando-os narrativamente sem sentido dentro da lin-
ma edição, reproduzindo a experiência de assistir a uma peça em guagem visual do filme. Alternativamente, close-ups também são
um palco. A evolução da linguagem do cinema e a invenção de usados quando o tema é pequeno o bastante para exigir um nível
técnicas de edição tornaram o close-up um elemento essencial de detalhes que esse tamanho de plano pode revelar, ou quando
do vocabulário cinematográfico. A característica mais importante a importância de um objeto precisa ser transmitida visualmente
de um close-up é que ele permite que o público veja as nuances (um uso da regra de Hitchcock).
do comportamento e da emoção de um personagem (especial- No filme WALL·E (2008), de Andrew Stanton, por exem-
mente quando a expressão facial é importante) que não podem plo, acompanhamos o personagem-título quando ele fala do seu
ser vistos em planos mais abertos. Esse princípio simples tem trabalho, coletando e compactando lixo em pilhas do tamanho de
produzido efeitos profundos na maneira como os filmes são feitos um edifício centenas de anos depois de a humanidade deixar a
e editados e no desenvolvimento das artes dramáticas no cinema. Terra. Como hobby, ele também coleta todo tipo de item que con-
Estilos de atuação cinematográficos rapidamente se afastaram do sidera interessante, como colheres, isqueiros e brinquedos. Um
exagero esperado no teatro, que era comum nos primeiros filmes dia, ele encontra uma pequena planta (sem que soubesse que
mudos, em direção a um estilo mais naturalista. A proximida- era um evento extremamente importante, uma vez que aprende-
de e a intimidade de um close-up permitem que o público entre mos mais tarde que sua descoberta significa que a Terra é habitá-
em contato com um personagem (e uma história) em um nível vel novamente). Esse momento da descoberta é marcado por um
emocional que ajudou a transformar o cinema na forma artísti- exemplo de close-up de “manual de cinema”, cuidadosamente
ca mais popular do mundo. Os cineastas descobriram maneiras composto para realçar sua importância para a narrativa. O close-
de maximizar a conexão entre o tema e o público por meio de -up permite que o público saiba que esse é um evento importan-
close-ups e o uso de convenções visuais projetadas para tornar te, mesmo que eles só venham a conhecer isso bem mais tarde
o tema o ponto focal inevitável de uma cena. Avanços técnicos na história. Quando usado dessa maneira, o close-up pode atingir
no projeto de lentes, por exemplo, possibilitaram alcançar pro- seu potencial narrativo total.
fundidades de campo menores, desfocando fundos para isolar
efetivamente o tema dentro do quadro e evitando que qualquer
coisa distraísse o público do seu envolvimento emocional com os
personagens nesse momento da história. As convenções visuais
do close-up foram tão amplamente adotadas que é relativamente
difícil encontrar (embora não impossível) um close-up com gran-
de profundidade de campo, ou um filme que simplesmente não
as utilize. Por causa do potencial para o close-up de provocar
o envolvimento emocional do público com um personagem, seu Embora completamente gerado por computador, esse plano em
uso deve ser cuidadosamente planejado para momentos chave close-up no filme WALL·E (2008), de Andrew Stanton, segue pra-
em uma história, por exemplo, pontos críticos (casos em que um ticamente cada convenção visual associada a esse tipo de plano,
personagem toma uma decisão importante, geralmente após des- do uso da profundidade de campo ao posicionamento do tema de
cobrir ou entender algo significativo para ele), planos de reação acordo com a regra dos terços. Você consegue adivinhar se é um
e planos POV (point of view – ponto de vista do personagem). Se momento importante na história?
close-upâ•… 35
close-up
36
Por que a cabeça é cortada na parte superior
do quadro? Dependendo do tamanho do plano,
a quantidade de altura livre deve ser
Observe como a pequena sala vazia foi correspondentemente ajustada. Esse close-up,
posicionada nesse lado do quadro quando mostrando a parte superior da cabeça, poderia
comparada à maior área no lado direito. Esse resultar em uma composição, assimétrica e Em um close-up, os olhos do personagem são
plano obedece às diretrizes composicionais para desajeitada. Compare essa altura livre com extremamente importantes; observe como os
manter uma área de visualização adequada para aquela nos capítulos sobre plano médio e olhos do homem têm pequenos, mas fortes
um plano desse tamanho. close-up médio. brilhos. Sem esse brilho, seus olhos pareceriam
“mortos”. É necessário que uma luz ou um
refletor seja cuidadosamente posicionado para
adicionar esse brilho nos olhos se isso não
acontecer naturalmente.
close-upâ•… 37
considerações técnicas
objetivas Nesse caso, talvez seja recomendável alugar ou comprar um kit
adaptador de objetiva de 35mm para a objetiva original da câme-
O uso de objetivas normais ou de meias teleobjetivas é a regra, mas
ra (e lidar com os requisitos especiais que seu uso exige). Embora
às vezes grande-angulares são usadas ao tentar criar uma visão dis-
mostrar os detalhes seja um dos objetivos de um close-up, captu-
torcida de um personagem; mais frequentemente, o objetivo é evitar
rar detalhes em excesso às vezes pode ser contraproducente ao
que qualquer coisa possa distrair o público em relação àquilo que
filmar em alguns formatos HD. Algumas câmeras HD profissionais
o personagem sente, pensa e vê. Normalmente, usamos aberturas
e semiprofissionais têm uma configuração que permite controlar a
maiores para obter uma pequena profundidade de campo e, no
quantidade dos detalhes capturados aumentando artificialmente
processo, desfocar o fundo. Ao filmar em ambientes internos, é fácil
a nitidez; se esse recurso estiver disponível, você deve certificar-se
usar essas aberturas, uma vez que a iluminação pode ser facilmente
de que não está vendo detalhe em excesso no rosto do personagem,
manipulada (reduzindo a saída de luz por meio do uso de scrims [ou
especialmente quando a maquiagem não puder esconder a pele
tules, tecidos usados como filtros de iluminação] e telas, ou reposi-
não tão perfeita de um ator. Essa é uma das razões por que, sempre
cionando os refletores) para compensar a luz extra que uma abertura
que possível, é útil ter um monitor HD grande no set de filmagem,
maior deixa entrar. Ao filmar em ambientes externos em plena luz do
uma vez que as pequenas telas de LCD na maioria das câmeras não
dia, você precisa ter à mão um kit de filtros ND (densidade neutra),
oferecem uma visualização com detalhes suficientes para avaliar o
o qual pode diminuir a quantidade de luz que entra na objetiva por
resultado das suas configurações. Também é importante lembrar-se
várias paradas, permitindo aberturas maiores. Observe que, embora
de que o close-up, independentemente do formato de filmagem, irá
você também possa manipular a profundidade de campo alterando
facilmente revelar maquiagem mal aplicada ou excessiva, exigindo
a distância entre a câmera e o tema, isso talvez nem sempre seja
atenção especial à sua aparência nessas tomadas.
uma opção ao filmar em ambientes internos com pouco espaço;
controlar a abertura costuma ser um método mais eficaz.
iluminação
formato O estilo de iluminação escolhido para o tema em um close-up de-
Se filmar em película, a escolha do material deve, idealmente, refletir penderá da estratégia visual geral que você criou; mas é uma prática
as decisões criativas que você tomou em relação à aparência do seu comum utilizar um brilho nos olhos para evitar um olhar sem vida
filme. Isso significa que granulação, cores, velocidade e contraste (olhos sem um ponto brilhante). Isso pode ser feito facilmente po-
devem ser levados em consideração ao escolher um material es- sicionando uma luz de baixa voltagem perto da câmera para que
pecífico (além das questões orçamentárias). Lembre-se de que as ela incida nos olhos do personagem (tomando cuidado para que a
aberturas maiores necessárias para criar uma boa profundidade de luz adicional não desfaça a aparência que você definiu em planos
campo ao filmar close-ups são mais fáceis de alcançar com filmes mais abertos). Embora a continuidade da iluminação geral deva ser
mais lentos, em vez de mais rápidos. Um filme mais rápido, sendo mantida, em um close-up você pode ajustar as luzes para criar uma
mais sensível à luz, irá forçá-lo a usar uma abertura menor, exata- aparência visualmente mais atraente. Adicionar uma luz de fundo
mente o oposto daquilo que você quer fazer quando precisa de uma para destacar o tema na composição (como visto no exemplo no
boa profundidade de campo. Se filmar em vídeo HD ou SD, pode filme Pulp Fiction na página oposta) é um ajuste comum; essa ma-
ser especialmente difícil alcançar uma boa profundidade de campo nipulação é menos perceptível se o plano a partir do qual você está
se os sensores CCD estiverem na extremidade menor (comumente cortando (ou para o qual está cortando) for suficientemente diferente
utilizados na maioria das câmeras profissionais e semiprofissionais). em ângulo e tamanho para ocultar a mudança na iluminação.
38
quebrando as regras
Se a principal função do close-up é revelar as nuances do comportamento e da emoção em um personagem, o que você acha da apre-
sentação de Marsellus (Ving Rhames) em Pulp Fiction (1994), de Quentin Tarantino? O diretor explora e subverte claramente aquilo que
um close-up deve fazer, ocultando propositadamente as características que deixariam o público interpretar as sugestões comportamen-
tais e emocionais desse personagem. Em vez disso, esse close-up foi projetado para gerar uma imagem misteriosa e ameaçadora em
torno do personagem de Marsellus, e a pergunta inevitável: e aquele curativo na nuca do personagem? Observe que as demais diretrizes
composicionais para um close-up são obedecidas (profundidade de campo, regra dos terços de posicionamento do tema, campo de
visão do personagem, altura livre) e que o foco do plano não está no astro famoso sentado na frente de Marsellus (o que tornaria isso
um plano por cima do ombro convencional).
close-upâ•… 39
O fabuloso destino de Amélie Poulain. Jean-Pierre Jeunet, 2001.
40
c lo se -u p m é d io
close-up médio
Planos em close-up médio incluem um personagem filmado significativo para um personagem; nesse ponto, um close-up
desde o nível dos ombros/tórax ao topo da cabeça; esse plano médio pode mostrar a reação de um personagem, aumentan-
é mais fechado do que um plano médio, mas ligeiramente do o envolvimento emocional do público com o personagem e
mais aberto do que um close-up normal (como acontece com com esse momento na cena.
todos os planos que usam o corpo humano como referência, O filme O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001),
os limites entre eles não são estritamente definidos). Assim de Jean-Pierre Jeunet, conta a história de uma jovem parisiense
como ocorre com o close-up normal, o close-up médio exibe a (Audrey Tautou) que um dia decide anonimamente se envolver
face de um personagem e deixa o público ver pequenas nuan- e ajudar as pessoas à sua volta. O diretor usa close-ups médios
ces comportamentais e emocionais e, ao mesmo tempo, pro- por todo o filme para realçar os momentos na história em que ela
voca uma maior identificação e empatia; o enquadramento um decide ajudar alguém ou é afetada por uma descoberta que faz
pouco mais aberto também permite que a linguagem corporal sobre uma personagem, normalmente sem que ninguém conhe-
transmita significado por meio da inclusão dos ombros do per- ça isso, exceto ela e o público. No exemplo na página ao lado,
sonagem. Essa tomada geralmente é feita com uma pequena Amélie acabou de entender que o homem pelo qual ela tem uma
distância entre a câmera e o tema, resultando em uma peque- queda é tão peculiar e incomum quanto ela é (ele coleciona fotos
na profundidade de campo que desfoca um pouco o fundo e de pegadas em cimento fresco e trabalha na casa assombrada de
efetivamente isola o personagem na composição. Assim como um parque de diversões). O close-up médio utilizado aqui per-
outras tomadas que incluem um personagem e uma visão da mite que o público perceba um rápido sorriso nervoso e uma lin-
área adjacente, o close-up médio também permite adicionar guagem corporal que transmite timidez, revelando a importância
conteúdo dramático, simbólico ou expositivo de acordo com dessa informação para ela e estabelecendo a conexão amorosa
aquilo que é incluído no fundo; mas, uma vez que apenas uma que se desenvolve mais tarde. Observe a inclusão de um material
parte relativamente pequena dele será vista, a conexão com azul à esquerda do quadro no fundo; isso é um tema visual recor-
um personagem é mais direta do que em outros planos em que rente utilizado por todo o filme.
o fundo pode incluir mais elementos visuais. A distância entre
a câmera e o tema relativamente curta nessa tomada significa
que mesmo um pequeno ajuste na posição da câmera pode ter
um impacto substancial sobre aquilo que é incluído ou excluí-
do do fundo. Você poderia, por exemplo, inclinar a câmera um
pouco de modo que o fundo da composição inclua um acessó-
rio ou uma cor especialmente significativa (para o personagem
ou para o público), talvez como parte do sistema de imagens
que você criou para a história. Quando utilizado em combina- O close-up médio, como o close-up normal, tem o poder de inten-
ção com planos gerais, planos médios e close-ups normais, sificar nosso envolvimento emocional por causa da maneira como
close-ups médios podem transmitir algo especialmente signi- ele centraliza nossa atenção sobre cada nuance comportamental
ficativo ou importante que está acontecendo nesse momento transmitida pelas expressões faciais de um personagem; seu uso
em uma cena. Por exemplo, uma conversa entre os persona- por todo o filme O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001), de
gens poderia ser coberta exclusivamente com planos gerais Jean-Pierre Jeunet, é uma das razões por que o público se envol-
ou planos médios até que alguém diga ou perceba algo que é veu tanto com essa personagem-título (Audrey Tautou).
close-up MÉDIOâ•… 41
close-up médio
42
Embora não seja imediatamente evidente ao olhar
apenas para o personagem, a visão por trás dele
indica que esse close-up médio foi filmado de um
ângulo ligeiramente alto, permitindo que o chão
da praça atrás dele fosse uma parte integrante da
composição. Se em vez disso fosse usado um
close-up normal, esse relacionamento específico O tamanho do tema nesse close-up médio exige
entre o personagem e o fundo talvez não fosse que o topo da cabeça seja cortado para ter a
transmitido da mesma maneira. Curiosamente, quantidade apropriada de altura livre. Essa regra
essa composição utiliza um ângulo alto para fazer deve ser seguida independentemente do ângulo
um personagem parecer confiante e poderoso em em que a cena foi filmada, a menos que haja
vez de fraco, provando que o contexto de uma uma boa razão para ignorá-la (como mostrado no
tomada, e não apenas sua composição, cria capítulo sobre plano médio).
significado. A escolha da objetiva tinha de levar em
consideração a quantidade de distorção que
uma maior distância focal adicionaria à face
do personagem e o amplo campo de visão
necessário para incluir o maior número
possível dos 750 figurantes no fundo,
enfatizando a magnitude do seu poder
nessa cena.
close-up MÉDIOâ•… 43
considerações técnicas
objetivas quadro e a abertura permanecerem constantes, uma mudança
na distância focal não afetará a profundidade de campo.
Objetivas normais e meias teleobjetivas (slight telephoto lenses)
são comumente usadas, uma vez que adicionam pouca ou ne- formato
nhuma distorção óptica ao rosto de um personagem. Eventual-
A principal desvantagem de filmar nos formatos de vídeo HD e SD
mente você poderia querer adicionar de propósito uma distorção
com câmeras semiprofissionais é que os sensores CCD menores
a uma composição usando, por exemplo, uma grande-angular ou
dificultam criar uma boa profundidade de campo, o que resul-
uma teleobjetiva extrema a fim de comunicar que um personagem
ta em menos controle sobre a aparência do fundo. Aproximar
está intoxicado ou exagerar seu movimento pelos eixos z ou x do
mais a câmera do tema e usar uma distância focal mais longa e
quadro. Outro fator que pode determinar o uso de uma distância
uma abertura maior podem melhorar um pouco essa situação,
focal específica é a quantidade de área circundante que você
especialmente se você estiver filmando com uma câmera HD que
deseja incluir na composição da cena, já que um close-up médio
possui um sensor maior e o fundo está relativamente longe. Outra
permite incluir boa parte do fundo para torná-lo um elemento
opção é usar um kit adaptador de objetiva de 35mm para uma
significativo do quadro (como visto no exemplo do filme Perfu-
câmera HD ou SD a fim de tirar proveito da profundidade de cam-
me na página anterior). Distâncias focais menores, que fornecem
po das objetivas SLR de 35mm, mas saiba que você precisará
campos de visão mais amplos, permitem incluir uma área mais
compensar a perda de luz envolvida no uso de um adaptador de
ampla ao longo do eixo x do quadro e, portanto, mais elementos
objetiva.
do fundo; inversamente, distâncias focais maiores produzem um
campo de visão muito mais estreito, permitindo excluir boa parte
dele. Observe que você não será capaz de modificar a distância iluminação
focal sem também alterar a distância entre a câmera e o tema Ao filmar em ambientes externos em um dia ensolarado, é co-
para manter o tamanho de um personagem constante; se você já mum usar uma borboleta ou outro tipo de difusor sobre a cabeça
enquadrou o close-up médio com uma objetiva normal, mudar dos atores para alterar a qualidade da luz de “dura” (contornos
para uma teleobjetiva a fim de excluir mais do fundo também irá nítidos) para suave (contornos difusos); isso é feito para elimi-
forçá-lo a afastar ainda mais a câmera em relação ao personagem nar sombras duras ao longo das faces e permitir que você tenha
a fim de manter o mesmo tamanho que você tinha antes. Embora mais controle sobre a exposição e aparência. É claro que haverá
isso talvez não seja um problema ao filmar ambientes externos uma diferença na qualidade da luz entre o tema e o fundo, mas
onde há muito espaço, talvez não seja tão fácil durante filma- essa técnica é tão amplamente utilizada que a maior parte do
gens em uma locação apertada com pouco espaço extra. Talvez público não percebe a discrepância. Além disso, os materiais de
você também queira escolher uma distância focal para contro- difusão oferecem várias gradações e podem permitir controlar
lar a distância aparente ao longo do eixo z do quadro entre um a intensidade da mudança de uma iluminação dura para uma
personagem e o fundo usando objetivas grande-angulares para suave. Filmar em ambientes fechados com iluminação artificial
estendê-lo (visto no exemplo do filme Perfume na página anterior) normalmente envolve o posicionamento das luzes para fazer o
e teleobjetivas para comprimi-lo (como mostrado no exemplo do tema destacar-se na composição e, ao mesmo tempo, separá-lo
filme Naked, no capítulo sobre plano médio). Por fim, a distân- do fundo; isso normalmente é alcançado usando luzes de fundo
cia focal não deve ser escolhida de acordo com a profundidade e certificando-se de que o tema seja um pouco mais iluminado do
de campo desejada na composição; se o tamanho do tema no que os outros elementos no quadro.
44
quebrando as regras
Close-ups médios costumam ser usados em combinação com outros tamanhos de quadro para intensificar gradualmente o envolvi-
mento do público quando algo especialmente significativo acontece em uma cena. Esse close-up médio no filme What Time Is It There?
(2001), de Ming-Liang Tsai – a história de dois jovens taiwaneses (Lee Kang-sheng e Chen Shiang-Chyi, na foto) que compartilham
uma conexão significativa depois de um encontro casual –, é em vez disso, usado por si só, sem outras cenas ou ação para fornecer
o contexto dramático. A proximidade da tomada permite que estabeleçamos uma conexão com a personagem por meio das emoções
mostradas no seu rosto, mas também somos mantidos a certa distância porque não sabemos exatamente o que provocou tais emoções.
Essa é uma característica comum da maioria dos filmes de Tsai, que prefere enfatizar a unidade de espaço, tempo e interpretação a
se preocupar com a clareza narrativa.
close-up MÉDIOâ•… 45
Os excêntricos Tenenbaums. Wes Anderson, 2001.
46
p la n o m é d io
plano médio
Planos médios normalmente mostram um ou mais personagens pelo público como uma mudança drástica na direção dramática,
da cintura para cima e incluem parte da área circundante. Um o que poderia ser exatamente o que você quer com base nas
plano médio é mais fechado que um plano geral médio, mas necessidades da sua história.
é mais aberto que um close-up médio, embora os limites entre Os filmes de Wes Anderson são conhecidos por sua di-
esses planos não sejam exatos. Como o plano geral médio, esse reção de arte esmerada e criativa, figurinos e personagens ex-
plano permite demonstrar a linguagem corporal de um persona- cêntricos; previsivelmente, planos médios que os exibem de uma
gem, e a perspectiva mais próxima também permite ao público maneira proeminente são muito utilizados na maioria dos seus
ver algumas nuances faciais do comportamento e da emoção. filmes. Em um plano médio típico do filme Os excêntricos Tenen-
Quando eles incluem mais de uma pessoa, planos médios podem baums (2001, na página oposta), Margot Tenenbaum (Gwyneth
transmitir a dinâmica de um relacionamento por meio do posicio- Paltrow), um membro adotado da honorável família, se esconde
namento do personagem na composição, além da sua linguagem do marido para fumar um cigarro. A área relativamente ampla
corporal. Essa é uma das razões por que eles são frequentemente abrangida pelo plano, junto com iluminação, profundidade de
usados por planos de dois, planos de grupo e planos sobre o campo, figurino, linguagem corporal e posicionamento central do
ombro. Como planos médios são suficientemente amplos para personagem na composição cuidadosamente escolhidos, permite
incluir parte da localização no quadro, é importante estar ciente que o público estabeleça conexões entre ela e os vários itens ao
de que a disposição dos temas na composição pode ser usada seu redor (equipamento para revelação de filme, a decoração dos
para sugerir uma conexão com esse espaço. Além disso, como o animais no papel de parede, o telefone rosa) que transmitem uma
plano médio pode conter vários detalhes visuais, ele normalmen- grande quantidade de informações específicas sobre sua perso-
te precisa permanecer mais tempo na tela do que planos mais nagem em uma única imagem.
fechados que contêm menos informações. Planos médios são
úteis como planos de transição entre planos mais abertos, mais
expositivos, e planos mais fechados, mais intimistas, permitindo
aumentar gradualmente o envolvimento do público. Um cenário
comum envolve o uso de planos médios para cobrir uma conver-
sa entre dois ou mais personagens até que ocorre um momento
chave; nesse ponto, um close-up médio ou um close-up normal
é utilizado, adicionando ênfase dramática ao momento. Então,
depois desse momento, o restante da conversa retorna a planos
médios ou planos mais abertos. A ênfase adicional fornecida pelo
enquadramento mais fechado do close-up normal ou close-up
médio só funciona porque planos mais abertos e expositivos,
como o plano médio, são utilizados para estabelecer os fatos da
cena, local, personagem e relacionamentos físicos antes que uma O uso predominante de planos médios no filme Os excêntricos
mudança na direção dramática da cena seja introduzida. Claro Tenenbaums (2001), de Wes Anderson, mostra personagens e
que você também pode cortar diretamente entre planos gerais locais quase de uma maneira idêntica, transmitindo para o pú-
e close-ups, ignorando completamente o uso de planos médios; blico muitas informações sobre suas personalidades peculiares,
nesse caso, a mudança drástica nos ângulos seria interpretada hobbies e carreiras.
plano médio╅ 47
plano médio
48
Os pedestres foram posicionados em ponto um O posicionamento desse personagem segue a
pouco mais baixo do que o personagem no ponto regra dos terços, dando-lhe a quantidade
focal da composição, tornando mais fácil para o apropriada de altura livre para um quadro com
público perceber suas expressões faciais, mesmo essa proporção. A disposição dos elementos
quando eles cruzam o primeiro plano. Embora o visuais na composição também foi projetada
plano médio demonstre a linguagem corporal e a para isolá-lo nessa área do quadro, assegurando
localização, ainda é possível transmitir emoções que nada mais em torno dele distraísse o público
por meio da face de um personagem, de perceber suas reações à multidão passando
especialmente se a composição tornar fácil abaixo dele.
vê-las, como nesse caso.
plano médio╅ 49
considerações técnicas
objetivas grande-angulares comparativamente menores que elas usam.
Como é necessária uma distância mínima entre a câmera e o
O tamanho desse plano normalmente exibe um personagem e a
tema para alcançar um plano médio, você não será capaz de se
área imediata, assim a escolha da objetiva deve levar em consi-
aproximar o suficiente do tema para manipular a profundidade
deração o tipo de relacionamento espacial que você quer estabe-
de campo dessa maneira e, na maioria dos casos, acabará tendo
lecer entre eles. Por exemplo, você poderia querer criar um plano
um foco nítido desde o primeiro plano até bem fundo no segundo
médio que tornasse visível a locação atrás do tema como se ele
plano. O uso de um kit adaptador de objetivas de 35mm, dis-
estivesse longe no fundo; nesse caso, você poderia usar uma ob-
ponível em algumas câmeras HD e SD profissionais e semiprofis-
jetiva grande-angular, uma vez que ela pode fazer as distâncias
sionais, fornecerá controle sobre a profundidade de campo, mas
ao longo do eixo z parecerem mais longas do que realmente são.
você tem de estar preparado para compensar a luz que ele corta,
Por outro lado, você poderia alcançar o efeito oposto e fazer o fun-
especialmente ao filmar em ambientes fechados.
do parecer estar muito perto do tema usando uma teleobjetiva
para comprimir a distância ao longo do eixo z. Claro, você também
pode controlar o que é percebido além do personagem (ou em iluminação
vez dele) manipulando a profundidade de campo e certificando- Como planos médios permitem incluir no quadro uma parte de
-se de que apenas alguns elementos visuais estão dentro do inter- um local além de um personagem, a iluminação pode ser utiliza-
valo do foco nítido; para isso, você deve controlar a iluminação de da para revelar, ocultar ou mostrar um ou outro, dependendo das
modo a aumentar ou diminuir a abertura da objetiva, quer esteja necessidades da sua história. Uma estratégia comum ao iluminar
filmando em ambientes fechados ou abertos. Embora o campo de planos médio (e geralmente quaisquer planos que incluam per-
visão desse plano possa ser obtido com praticamente qualquer sonagens e locações) é fazer o tema se destacar separando-o do
objetiva, seja ela uma grande-angular, normal ou teleobjetiva, o fundo com uma luz de fundo e assegurando que ele seja um dos
tamanho do local às vezes força-o a preferir uma objetiva a outra. elementos visuais mais iluminados no quadro. Elementos visuais
Por exemplo, se o plano médio for filmado em um ambiente fe- no fundo e primeiro plano normalmente são mantidos mais escu-
chado, em um apartamento ou banheiro, e você quiser usar uma ros do que o tema; o quanto mais escuro dependerá do que você
teleobjetiva por estética, talvez não haja espaço suficiente para quer que esteja visível para o público, podendo variar de menos
posicionar a câmera longe o bastante de modo a incluir a pessoa de um f-stop (a menor diferença no brilho que o olho humano
da cintura para cima como um plano médio exige; em vez disso, pode perceber) à completa subexposição. Verifique a diferença
você será forçado a usar uma objetiva normal ou, mais provavel- no brilho entre personagens e fundos nos planos médios no fil-
mente, uma grande-angular devido ao maior campo de visão que me Os excêntricos Tenenbaums na primeira página e no filme
ela pode capturar em distâncias próximas. Jeanne Dielman na página oposta; Margot Tenenbaum, um pouco
mais iluminada, recebeu luz para se destacar do fundo, enquanto
formato Jeanne Dielman parece mesclar-se com o fundo sugerindo dois
Se você quiser manipular a profundidade de campo para contro- tipos muito diferentes de relacionamento entre a personagem e a
lar quais detalhes serão vistos em um plano médio, esteja ciente área circundante.
de que os sensores CCD menores da maioria das câmeras SD e
HD profissionais e semiprofissionais tornarão quase impossível al-
cançar uma boa profundidade de campo por causa das objetivas
50
quebrando as regras
Jeanne Dielman (1975), a obra-prima minimalista de Chantal Akerman, analisa três dias na vida de Jeanne (Delphine Seyrig), uma
jovem viúva, enquanto ela faz as tarefas domésticas diárias que incluem o uso de truques para sobreviver com o que ela ganha. O filme
usa longas tomadas estáticas e planos médios e gerais repetitivos com composições que parecem documentar, em vez de dramatizar, as
rotinas domésticas de Jeanne. Nesse plano médio, a composição corta a cabeça no quadro quando ela cumprimenta um cliente, uma
transgressão formal incomum; essa escolha composicional simples tem implicações narrativas profundas nos relacionamentos que ela
sugere entre o personagem-título e a casa que ela mantém por todo o filme.
plano médio╅ 51
O profissional. Luc Besson, 1994.
52
plano geral médio
plano geral médio
Planos gerais médios incluem um ou mais personagem desde os relacionamentos espaciais entre personagens ou entre os
aproximadamente o nível dos joelhos para cima no quadro; personagens e respectiva área circundante.
eles são mais abertos do que os planos médios, mas mais O plano geral médio na página oposta, do filme O profis-
fechados que os planos gerais. Esses planos às vezes também sional (1994), de Luc Besson, apresenta uma pequena troca en-
são conhecidos como “plano americano”, chamados assim por tre o personagem principal (Jean Reno), um assassino profissio-
críticos europeus porque foram inicialmente introduzidos nos nal, e Mathilda (Natalie Portman), uma menina de 12 anos que
primeiros filmes americanos de bangue-bangue (segundo o fol- ele salva de um bando de policiais corruptos. Na cena anterior,
clore da história do cinema, esse tamanho de plano foi criado Mathilda provou sua intenção de se tornar uma assassina dispa-
para incluir personagens e seus coldres). Planos gerais médios rando cegamente uma arma através da janela do apartamento
são comumente usados para planos de grupo, planos de dois dele, o que levou Leon a se mudar. O plano geral médio que
e planos emblemáticos porque fornecem espaço suficiente no vem depois é usado como uma revelação: Leon surge no quadro
quadro para incluir vários personagens ou vários elementos caminhando na nossa direção, levando o público a pensar que
visuais simultaneamente. Embora o plano geral enfatize a lin- ele livrou-se de Mathilda. Com a cena mantida no mesmo plano,
guagem corporal de um personagem e a área circundante, o Mathilda entra no quadro revelando que Leon na verdade decidiu
tamanho do plano geral médio permite mostrar a linguagem deixar que ela o acompanhasse. A cena se desenrola inteiramen-
corporal, alguma expressão facial e a área circundante ao te nesse plano enquanto eles mantêm uma breve conversa, con-
mesmo tempo, tornando-os ideais para situações em que um tando com a capacidade do plano geral médio de mostrar alguma
relacionamento entre esses três elementos visuais precisa ser expressão facial e boa parte da linguagem corporal. O posiciona-
estabelecido para apresentar um ponto narrativo ou expositivo mento central dos personagens no quadro, somado à exclusão da
para o público. O tamanho de um plano geral médio também é maior parte do fundo e o uso da profundidade de campo, isola-os
ideal para estabelecer a dinâmica de um relacionamento entre do seu ambiente, destacando a estranheza do relacionamento e
os personagens de acordo com a maneira como eles são posi- permitindo que o público se concentre nas roupas e na aparência
cionados na composição (usando a regra de Hitchcock ou en- física dramaticamente contrastantes.
quadramentos balanceados/não balanceados, por exemplo).
Como ocorre com planos gerais e planos médios, os planos
gerais médios são comumente usados em combinação com
planos mais fechados para controlar o envolvimento emocional
do público (normalmente cortando para close-ups médios ou
close-ups normais em momentos chave de uma cena), mas,
como eles podem capturar parte da expressão facial, os pró-
prios planos gerais médios também podem ser usados sem
sacrificar completamente o tipo de conexão emocional asso-
ciado com os planos mais fechados. A cobertura relativamente
ampla dos planos gerais médios torna necessário mantê-los Um plano geral médio mostra perfeitamente as diferenças na
na tela por um período de tempo um pouco maior do que pla- altura, aparência física e figurino entre Mathilda (Natalie Port-
nos mais fechados com menos elementos visuais, especial- man) e Leon (Jean Reno) nesse diálogo de O profissional (1994),
mente quando são usados no início de uma cena para definir do filme de Luc Besson.
54
Esse pôster, mostrando o olhar penetrante do
Grande Irmão, foi cuidadosamente inserido na Essa é uma quantidade excessiva de altura livre
composição a fim de parecer olhar para baixo no para um plano desse tamanho, mas, dentro do
próximo movimento do personagem no centro do contexto dessa cena, transmite a derrota do
quadro, simbolizando a constante vigilância do personagem e a submissão sob o olhar de um
Estado sobre as atividades dos seus cidadãos. pôster mostrando o Grande Irmão atrás dele.
A inclusão dessa coluna no primeiro plano Embora essa cadeira só se projete parcialmente
acrescenta profundidade ao quadro, indicando no quadro, ela funciona como um contraponto,
a existência de espaço fora da tela; ela também um objeto que acrescenta profundidade e conduz
fornece uma sugestão de profundidade com base o olhar do espectador para o centro da
no tamanho relativo quando comparada com a composição.
coluna no fundo.
formato
Qualquer tipo de plano que depende da manipulação da pro-
fundidade de campo para estabelecer um relacionamento visual
entre personagens ou entre um personagem e a área circundante
se beneficiará da flexibilidade de ser capaz de usar objetivas in-
tercambiáveis, o que só é possível ao filmar vídeo HD e SD com
56
quebrando as regras
Planos gerais médios geralmente são usados para mostrar um personagem e parte da área circundante, mas, neste exemplo em
Memories of Murder (2003), de Bong Joon-ho, um filme baseado na história verídica do primeiro serial killer na Coreia do Sul, uma
personagem que teme estar sendo perseguida por um assassino é mantida propositalmente fora de foco por toda a duração da cena,
desviando a atenção do público para a floresta deserta à sua volta. Essa técnica incomum e altamente eficaz desloca o foco, tanto figu-
rativamente como literalmente, tirando-o do tema humano e o dirigindo para a floresta aparentemente inofensiva antes de a personagem
ser violentamente atacada pelo serial killer. Observe que, embora a personagem esteja completamente fora de foco, ela foi posicionada
na composição de acordo com a regra dos terços, assegurando um quadro dinâmico e a quantidade apropriada de altura livre para um
plano geral médio.
58
p la n o g e ra l
plano geral
O plano geral inclui inteiramente os personagens no quadro, jun- Sid & Nancy – o amor mata (1986), de Alex Cox, acom-
to com boa parte da área circundante. Embora possa haver um panha o relacionamento mutuamente destrutivo entre Sid Vicious
tema principal em um plano geral, a perspectiva é muito remota (Gary Oldman), baixista do Sex Pistols, e Nancy Spungen (Chloe
para que seja possível ver os detalhes emocionais na face. Esse Webb), uma tiete americana. Aqui, destacam-se planos gerais
plano se concentra no corpo e naquilo que ele revela. Como os que posicionam os atores consistentemente no meio de um mun-
planos gerais extremos, os planos gerais são comumente usados do permeado por álcool, drogas e violência. No exemplo na pá-
como planos de ambientação, inseridos no início das cenas para gina oposta, um plano geral hipnótico (e também um excelente
que o público saiba qual será a próxima ação. Às vezes, planos exemplo de um plano emblemático) que captura perfeitamente
gerais também são inseridos no final de uma cena, geralmente a natureza alternativa do seu estilo de vida punk e seu romance
com uma composição que transmite um tom dramático diferente tumultuado, eles são mostrados em uma semissilhueta em um
daquele estabelecido no início da cena, marcando uma mudança beco sujo, beijando-se apaixonadamente enquanto uma chuva
na emoção ou na perspectiva de um personagem. Como planos de lixo cai sobre eles em câmera lenta. A composição posiciona-
médios, a composição dos planos gerais pode ser utilizada para: -os contra um espaço vazio entre os edifícios, o que os destaca
enfatizar os personagens e omitir o espaço em volta deles, e vice- no quadro e enfatiza a contradição entre suas ações (um beijo
-versa, ou estabelecer uma conexão especial entre os persona- romântico) e o cenário. Não é de surpreender que essa imagem
gens e o espaço em torno deles. O campo de visão amplo dos impressionante também tenha sido usada em um dos pôsteres
planos gerais também os torna ideais para os planos emblemá- promocionais do filme.
ticos (planos que transmitem ideias complexas, associativas por
meio da disposição dos elementos visuais no quadro). O tamanho
desse plano também funciona bem para planos de grupo, forne-
cendo espaço suficiente no quadro para indicar a força dinâmica
entre os personagens. Como o plano geral pode conter muitos
detalhes e elementos visuais, ele normalmente permanece por
mais tempo na tela do que outros planos que contêm menos in-
formações. Essa duração extra dá ao público tempo suficiente
para registrar tudo o que há para ver. Utilizado em conjunto com
planos médios, close-ups médios e closes normais, os planos
gerais também são comumente utilizados para intensificar gradu-
almente o envolvimento emocional do público, abrangendo, por
exemplo, uma cena com planos gerais e planos médios até que
algo importante aconteça, quando, então, são utilizados close-
-ups médios e close-ups normais. Alternativamente, como planos
gerais não são ideais para mostrar as expressões faciais de um
personagem, eles também podem ser usados para limitar o en- Esse formidável plano geral de Sid & Nancy – o amor mata (1986),
volvimento emocional do público, impedindo-o de ver sugestões de Alex Cox, enfatiza o relacionamento pouco ortodoxo que existia
emocionais que normalmente veria com um close-up normal ou entre o roqueiro punk Sid Vicious (Gary Oldman) e sua namorada
um close-up médio. Nancy Spungen (Chloe Webb).
plano geralâ•… 59
plano geral
60
A iluminação foi manipulada com uma A quantidade de altura livre nessa composição
backlight, ou contraluz, para cada personagem, está correta para um plano desse tamanho;
o que os separou do fundo e os destacou na enquadramentos progressivamente mais
composição. Essa é uma prática muito comum fechados devem ter quantidades
projetada para direcionar o olhar do espectador progressivamente menores de altura livre (como
para a área mais importante no quadro, geralmente visto nos capítulos sobre close-up médio e
um personagem. close-up normal). Alternativamente, a altura livre
também pode ser intencionalmente exagerada ou
completamente removida para definir um fato
narrativo sobre um personagem. Os personagens não foram posicionados no
quadro de acordo com a regra dos terços; em vez
disso, foram incomumente posicionados nas
bordas do quadro, enfatizando o espaço vazio
entre eles e quase completamente removendo o
espaço atrás deles. Esse posicionamento na
composição indica que eles só podem se mover
um na direção do outro, prenunciando a luta
iminente.
A composição desse plano tem apenas duas O fundo é composto por alguns f-stops mais
camadas de profundidade: o primeiro plano, onde escuros do que os personagens no primeiro
os personagens são posicionados, e o fundo. plano, tornando-os pontos focais da composição
A falta de uma terceira camada cria uma e assegurando que a atenção do público estará
composição um tanto quanto achada, restringindo sobre eles. Essa é uma estratégia de iluminação
visualmente o movimento dos personagens ao muito comum, quer o plano seja filmado em um
longo do eixo x do quadro, um na direção do outro ambiente interno ou externo, durante o dia ou à
para o combate. O uso de um enquadramento noite.
fechado também reforça a falta de opção deles
porque exclui o espaço fora da tela.
plano geralâ•… 61
considerações técnicas
objetivas que em planos mais fechados. Formatos de filme têm a vantagem
inerente de facilitar alcançar profundidades de campo menores por
Como todos os planos com campos de visão amplos, o plano ge-
causa das objetivas maiores, embora, pelas mesmas razões, seja
ral pode estabelecer um relacionamento entre um personagem e
mais difícil alcançar profundidades de campo maiores em 35mm do
a área circundante, adicionando conteúdo dramático ou emocional
que no formato de filme de 16mm.
que poderia ser explicitamente abordado na narrativa ou sugerido
implicitamente apenas pela composição da cena. Por isso, a escolha
da distância focal pode ter um impacto significativo sobre a ma- iluminação
neira como o público cria conexões visuais entre os personagens e Outra maneira de controlar os relacionamentos visuais entre os
o local. Uma objetiva grande-angular, por exemplo, pode distorcer
personagens e a localização em um plano geral é restringir a
a perspectiva para fazer a área circundante parecer maior e mais
quantidade de detalhes que podem ser vistos no fundo contro-
distante do que realmente é, desconectando visualmente um perso-
lando a profundidade de campo; isso é mais bem alcançado por
nagem dela. Inversamente, uma teleobjetiva pode aproximar muito
meio da abertura da objetiva, que pode ser manipulada se você
o fundo atrás do personagem, estabelecendo uma conexão visual
tiver controle sobre a iluminação e a sensibilidade do formato de
forte entre eles. Lembre-se de que, se o plano geral for filmado em
filmagem. Uma estratégia é reduzir a distância entre a câmera e
um ambiente fechado, talvez não haja espaço suficiente para usar
o tema o máximo possível, mas ainda incluindo todo o corpo do
uma teleobjetiva, uma vez que é necessária uma distância extrema
personagem (do contrário isso não seria considerado um plano
entre a câmera e o tema para incluir todo o personagem no qua-
geral), juntamente com uma grande abertura e uma teleobjeti-
dro. Qualquer que seja a objetiva escolhida, lembre-se de que as
va. Se estiver filmando em ambientes abertos sob a luz do sol,
conexões que o público criará entre o personagem e o local também
você terá de usar um filtro ND para bloquear uma quantidade
serão significativamente influenciadas pelo local onde você posicio-
suficiente de luz a fim de usar uma grande abertura. Se esti-
na o personagem na composição do quadro; esse posicionamento
ver filmando em ambientes fechados com luz artificial e quiser
e a distância focal que você escolhe devem se complementar, e não
mais profundidade de campo, esteja preparado para ter várias
trabalhar um contra o outro.
luzes a fim de poder usar aberturas menores para alcançá-la.
Observe a profundidade de campo menor no exemplo do filme
formato Sid & Nancy – O amor mata, em que os personagens estão mais
As distâncias mais longas entre a câmera e o tema necessárias para próximos da câmera e mesmo assim em um plano geral, compa-
incluir totalmente um personagem no quadro exacerbam os proble- rada com a profundidade de campo maior no exemplo do filme
mas inerentes à obtenção de uma boa profundidade de campo com Caché (2005), de Michael Haneke, na página oposta, em que os
as objetivas menores da maioria das câmeras SD e HD semiprofis- personagens estão mais distantes da câmera. A iluminação tam-
sionais e amadoras. Será praticamente impossível obter um fundo bém é especialmente importante para destacar o tema principal
suave filmando com esses formatos a essas distâncias, mesmo com na composição a fim de que o olhar do público seja direcionado
uma grande abertura. Uma opção é usar um kit adaptador de ob- para ele. A convenção é iluminar os temas para que eles recebam
jetiva de 35mm, que permite usar uma SLR com uma objetiva de mais luz do que a área circundante, embora às vezes o mesmo
35mm na frente da objetiva original da câmera. Infelizmente, com- efeito possa ser obtido mostrando-os em silhueta e assegurando
pensar a luz que o adaptador cortará pode ser mais difícil nesse que área circundante receba mais luz, como visto no exemplo do
tipo de plano, já que você terá de iluminar uma área muito maior do filme Sid & Nancy.
62
quebrando as regras
A distância necessária a incluir totalmente os personagem torna o plano geral não tão ideal para mostrar as nuances comportamentais e
emocionais por meio das expressões faciais, o que às vezes pode ser explorado para adicionar suspense e tensão à cena. Caché, 2005,
um filme apropriadamente intitulado (significa “escondido”, em português), de Michael Haneke, acompanha a história de Georges
(Daniel Auteuil), uma personalidade da TV que de repente é perseguido e assediado por alguém que ele acha que está associado a uma
transgressão que ele cometeu quando criança. Nesse plano geral, a cena final do filme, vemos seu filho Pierrot (Lester Makedonsky)
conversando com o filho do homem que poderia estar por trás do assédio (Walid Afkir). O cenário aglomerado dificulta percebê-los no
início e, depois, torna difícil ver a natureza exata do seu relacionamento, impedindo que o público desvende o mistério e obtenha a
conclusão da narrativa, uma técnica recorrente utilizada por todo o filme.
plano geralâ•… 63
Ano passado em Marienbad. Alain Resnais, 1961.
64
plano geral extremo
plano geral extremo
O plano geral extremo permite criar composições que enfatizam os personagens e um local, por isso é importante que sejam dis-
a dimensão de um local. Quando temas humanos são incluídos postos dentro da composição de uma forma que os torne facil-
no quadro, eles geralmente ocupam uma área muito pequena e mente percebidos.
são ofuscados pelas áreas circundantes. Às vezes, planos gerais O enigmático filme O ano passado em Marienbad (1961),
extremos não contêm um personagem no quadro; neste caso, de Alain Resnais, tem um plano geral extremo famoso que explora
eles mostram o próprio local e são referidos como planos de am- habilmente as diretrizes da composição para criar uma imagem
bientação (establishing shots). É comum o uso de planos de am- memorável, como pode ser vista na página oposta. Esse plano,
bientação no início de uma cena para que o público saiba qual um dos muitos quebra-cabeças visuais fascinantes e desconcer-
será a próxima ação. Outra prática comum é usar planos gerais tantes no filme, tem uma composição simétrica que realça os
extremos para revelar rapidamente a imensidão ou o tipo de um padrões geométricos de um jardim opulento, só interrompido por
local, geralmente após o uso de um close-up normal em que per- alguns personagens imóveis (como as estátuas em torno deles)
sonagens reagem a algo que eles podem ver, mas o público não, em um caminho no centro. Estranhamente, eles projetam longas
intensificando a tensão e o suspense (o recurso favorito de Spiel- sombras em um dia nublado (em um ângulo que quebra a ordem
berg). Planos gerais extremos também são ideais para mostrar os estabelecida pelos demais elementos visuais no quadro), adicio-
relacionamentos espaciais e as interações entre grandes grupos nando um toque surrealista ao tom onírico do filme. Apenas um
de pessoas, por exemplo, durante grandes cenas de batalha. Em- plano geral extremo poderia ter incluído simultaneamente todos
bora a perspectiva dos planos entre close-ups médios e close-ups os elementos visuais (jardim, pessoas e céu) necessários para
extremos limite a quantidade de informações visuais a um único transmitir o fato narrativo desse plano.
tema, ou até mesmo a apenas um aspecto de um único tema, o
plano geral extremo permite estabelecer relacionamentos visuais
entre vários personagens e entre os personagens e o ambiente.
Diretrizes composicionais como a regra dos terços, composições
balanceadas/não balanceadas e a regra de Hitchcock são espe-
cialmente úteis na organização dos elementos visuais no quadro.
O campo de visão amplo desses planos também oferece espaço
suficiente para que o quadro contenha vários elementos visuais,
tornando-os ideais para criar planos emblemáticos. A profundi-
dade de campo nesses planos é geralmente grande, uma função
das distâncias maiores entre a câmera e o tema necessárias
para incluir uma locação e a área circundante. Também é impor-
tante lembrar que normalmente o público leva mais tempo para
registrar totalmente a quantidade de informações visuais que um Esse plano geral extremo do filme Ano passado em Marien-
plano desse tamanho pode conter, tornando necessário manter o bad (1961), de Alain Resnais, intriga o público há décadas.
plano por mais tempo na tela do que outros, que contêm menos O enquadramento simétrico do jardim, possivelmente insinuan-
informações. Quando os personagens estão incluídos no quadro, do a inexorabilidade do destino, é interrompido pelos visitantes
a composição de planos gerais extremos costuma ser projetada que, estranhamente, são capazes de projetar sombras em um
para permitir que o público compare a diferença de escala entre dia nublado.
66
A objetiva grande-angular usada para filmar essa A linha do horizonte foi enquadrada para que
composição adicionou alguma distorção à repousasse sobre o terço inferior do quadro, sua
imagem, evidenciada pelas laterais deformadas localização mais convencional de acordo com a
dos edifícios que estão mais próximos das bordas regra dos terços. Essa área do quadro também é
do quadro e a convergência das linhas o ponto focal principal; observe como as linhas
arquitetônicas em direção ao horizonte. Ela arquitetônicas dos edifícios direcionam
também exagerou as distâncias ao longo do eixo naturalmente os olhos para ela, enfatizando ainda
z, nesse caso, para mostrar a total ausência de mais a vasta extensão do vazio ao longo de uma
carros e pessoas ao longo da avenida. avenida que, normalmente, é congestionada.
A inclusão do poste de luz no primeiro plano Embora ele ocupe uma área muito pequena no
fornece uma sugestão visual baseada no quadro, a roupa escura usada pelo personagem
tamanho relativo que acentua o eixo z (quando destaca-o contra a escadaria na cor clara do
comparado com os postes de luz recuados no Metropolitan Museum of Art; ele também é o
fundo) e indica a existência de espaço fora da único elemento nessa composição que se move
tela para além das bordas do quadro. pela tela, tornando muito fácil para o público
observá-lo até mesmo nessa composição cheia
de detalhes.
68
quebrando as regras
Nesse plano geral extremo no filme Seopyeonje (1993), de Im Kwon-taek, Dong-Ho (Kim Kyu-Chul) olha pela última vez sua irmã
Songhwa (Oh Jung-Hae) antes de fugir do homem cruel que os criou depois que seus pais morreram, um cantor itinerante de
pansori (um estilo tradicional de música coreana semelhante ao blues americano). Em vez de realçar esse momento dramático
na história com close-ups do irmão e da irmã, Im usa planos gerais extremos para enfatizar o vasto espaço existente entre eles,
prenunciando uma separação que irá durar anos. Observe que, embora a maioria das diretrizes para planos gerais extremos tenha
sido observada, o horizonte foi posicionado propositadamente no alto do quadro, contra a regra dos terços. Embora a composição
não tenha a harmonia e o equilíbrio que essa regra poderia oferecer, ela explora inteligentemente a desarmonia e o desequilíbrio
resultante que cria para enfatizar a dor e a angústia sentidas pelos personagens por causa da separação.
70
plano sobre o ombro
plano sobre o ombro
Esses planos são amplamente utilizados sempre que acontece manipular o nível de identificação que o público tem com um
uma troca entre dois ou mais personagens, ou quando um per- personagem por meio do controle do ângulo em que a câmera o
sonagem está olhando para alguma coisa. O nome refere-se ao registra; quanto mais ela corresponde ao ponto de vista do per-
posicionamento da câmera diretamente atrás do ombro de um sonagem no primeiro plano, maior será a conexão e identificação
dos personagens, obstruindo parcialmente o quadro enquanto o emocionais do público com o personagem principal. No exemplo
personagem principal fica de frente para a objetiva (outras partes do filme A primeira noite de um homem, a câmera foi posicionada
do corpo como ombros e quadris também podem ser usadas). A para que quando Ben descubra uma Sra. Robinson nua na fren-
inclusão do personagem de costas para a câmera dá profundi- te dele, ele quase olhe diretamente para a câmera. Esse ângulo
dade ao quadro adicionando uma camada de primeiro plano aos fornece um dos níveis mais altos de identificação possível com o
planos do personagem principal e o fundo. O plano OTS (over the público, permitindo que eles demonstrem total simpatia com seu
shoulder), também conhecido como dirty single, é normalmente sofrimento e tornando sua reação parecer mais desconfortável do
alcançado usando planos médios, close-ups médios ou close- que se fosse mostrada em um plano de perfil, por exemplo. Às ve-
-ups normais (embora planos mais amplos possam ser usados). zes, esses momentos chave na história também são enfatizados
Nos casos de um diálogo, a composição é projetada para fazer o não correspondendo propositalmente os planos de uma compo-
personagem olhar para a câmera no ponto focal. Como o close-up sição OTS e utilizando, em vez disso, um único plano (sem incluir
normal, esse plano costuma ter uma pequena profundidade de o personagem de costas para a câmera). Apesar de o plano OTS
campo devido à distância muito pequena entre a câmera e o tema ser onipresente, ele não deve ser pensado apenas como uma
usada para enquadrá-lo. Na maioria dos casos, o plano sobre o convenção genérica ou utilitária; como todos os outros planos,
ombro é editado em parelha, com um plano OTS correspondente ele tem a capacidade de criar afirmações narrativas poderosas se
enquadrado a partir de um ângulo inverso. Composição, distância usado de maneira bem pensada e consistente.
focal e profundidade de campo também são normalmente cor-
respondidos, e a câmera quase sempre é posicionada de acordo
com a regra dos 180°.
A disposição dos elementos visuais nesse plano é em-
pregada em muitas variações que podem transmitir eficazmen-
te fatos narrativos significativos para o público. A quantidade de
espaço ocupado pelo personagem de costas para a câmera, por
exemplo, pode criar uma afirmação forte sobre a dinâmica da
força em uma cena, como visto no filme A primeira noite de um
homem (1967), de Mike Nichols, em que o ombro da Sra. Robin-
son ocupa tanto espaço que limita visualmente um Ben já apa-
rentemente desconfortável enquanto ela tenta seduzi-lo (também Nesse plano sobre o ombro no filme A primeira noite de um ho-
um exemplo perfeito da regra de Hitchcock em ação). O plano mem (1967), de Mike Nichols, a composição transmite eficaz-
inverso não corresponde à composição desse exemplo, e tem um mente como Benjamin (Dustin Hoffman) se sente oprimido e
enquadramento de plano OTS mais convencional que estabele- desconfortável quando é seduzido por uma Sra. Robinson (Anne
ce firmemente o domínio da Sra. Robinson e a vulnerabilidade Bancroft) nua, a esposa do sócio do seu pai.
de Ben nessa cena. O plano OTS também pode ser usado para
72
O posicionamento desse personagem no quadro
segue a regra dos terços, dando-lhe campo de visão
e altura livre apropriados para o tamanho desse Esse personagem também foi colocado em um
plano. Além disso, o personagem é posicionado ponto ideal de acordo com a regra dos terços.
dentro do quadro pela inclusão do ombro no Observe como o topo da cabeça é cortado, visto
primeiro plano, direcionando o olhar do público para que ele é maior no quadro que o personagem
ele e tornando-o o ponto focal dessa composição. O principal. A profundidade de campo foi
ângulo em que a câmera foi colocada está perto da controlada para que ele não pareça tão suave
linha dos olhos do personagem na frente da câmera, quanto o fundo, tornando-o uma parte da ação,
levando o público a se identificar com ele. embora não seja o ponto focal dessa composição.
A profundidade de campo desfoca o fundo, Filmar com a luz disponível não é desculpa para
deixando o público se concentrar nas expressões iluminação entediante, sem vida. Nesse plano, a
faciais do personagem principal. A pouca luz do sol vem de trás do personagem principal,
distância entre a câmera e o tema normalmente criando um bom efeito de “iluminação de contorno”
utilizada nesse tipo de plano pode não ser (“rim lighting”). O plano OTS reverso (à direita),
suficiente para alcançar essa pequena filmado com a câmera posicionada de acordo com
profundidade de campo em um dia ensolarado; a regra dos 180˚, corresponde tudo… incluindo a
portanto, sempre é uma boa ideia ter um filtro luz do sol vinda de trás do personagem principal, o
ND útil para usar aberturas maiores. que só é possível se os planos foram filmados em
momentos completamente diferentes do dia ou se a
posição foi trapaceada. Bem poucos (ou nenhum)
dos membros da plateia perceberão esse tipo de
manipulação na iluminação desde que o plano seja
visualmente agradável e o contexto da cena
dramaticamente convincente.
74
quebrando as regras
O design visual do filme Gomorra (2008), de Matteo Garrone, inclui um tema recorrente em que muitos planos sobre o ombro não têm
planos reversos correspondentes, e o foco está no primeiro plano, mantendo o personagem de frente para a câmera intencionalmente
fora de foco. Essa desconstrução da composição convencional e uso do plano OTS adicionam efetivamente uma sensação de instabili-
dade e antecipação aos negócios escusos que ocorrem no filme por causa da máfia napolitana, a Camorra. Na cena acima, Pasquale (à
esquerda, interpretado por Salvatore Cantalupo), um costureiro de alta moda, faz um acordo para treinar trabalhadores chineses no seg-
mento de roupas que competem contra as empresas sob a proteção da Camorra, colocando, no processo, sua vida em risco extremo.
76
plano de ambientação
plano de ambientação
O plano de ambientação geralmente é um plano geral ou pla- visual entre o local a ser estabelecido e a área circundante incluí-
no geral extremo filmado em um ambiente externo que mostra da no plano; por meio do arranjo cuidadoso dos elementos visuais
um local onde a próxima ação acontecerá. Embora esses pla- no quadro, um local pode ser trabalhado para parecer imponente
nos geralmente precedam e contextualizem as cenas de ação e/ e dominante, ou inócuo e indefinível, dependendo das necessi-
ou diálogo, às vezes são inseridos no final de uma cena (que dades da história.
poderia ocorrer em um cenário interno ou externo), fornecendo Um bom exemplo dessa técnica é mostrado em uma
um contexto revelador ou inesperado. Essa combinação simples série de planos de ambientação do hotel Overlook, no filme O
de planos (plano de ambientação externo seguido por uma cena iluminado (1980), de Stanley Kubrick. À medida que a história
dramática) é uma convenção cinemática poderosa que tem sido avança, os planos de ambientação transformam lentamente o
explorada por cineastas desde os primórdios da história do cine- hotel abandonado de um local idílico digno de um cartão-postal
ma. Na mente do público, uma cena que segue imediatamente em um lugar deserto e pouco convidativo, como se sucumbisse
um plano de ambientação ocorre nesse local, independentemen- lentamente às mesmas forças sobrenaturais que com o tempo le-
te de onde ela é realmente filmada. Na maioria dos casos, as vam Jack (Jack Nicholson) a querer matar a família. Independen-
cenas que se seguem aos planos de ambientação são filmadas temente de onde está situada ou do tipo de local que você precisa
em um espaço alternativo que logística e economicamente é mais ambientar, sempre há como controlar a composição de um plano
vantajoso para a produção. Planos de ambientação também po- para comunicar uma impressão particular sobre ela; um passo
dem funcionar como revelações, geralmente acompanhando um essencial é fazer uma extensa exploração da locação em dias
personagem que chega a um destino que o público só consegue diferentes e em diferentes horas do dia para que, por meio da
ver depois que essa perspectiva mais ampla permite ver o local programação dos horários, você possa ter o maior controle possí-
mais amplo. A composição de um plano de ambientação deve vel sobre a aparência do local que quer estabelecer.
transmitir algo sobre o local que comunica um tom específico, re-
lacionamento com um personagem ou uma associação temática
segundo o olhar do cineasta. Por essa razão, nem todo local pre-
cisa ser ambientado; uma história pode ter locais que são essen-
ciais para a trama apenas porque alguma ação menos importante
ocorre acidentalmente neles, mas não funcionam para revelar a
exposição de um personagem ou contextualizar o conteúdo nar-
rativo, e estabelecê-los interromperia desnecessariamente o fluxo
narrativo. Ao filmar planos de ambientação amplos em ambientes
abertos sob a luz do sol, um erro comum é pensar que você tem
pouco ou nenhum controle sobre a iluminação e composição para
transmitir o estado de espírito; esse não é o caso. A iluminação
pode ser controlada esperando a hora certa do dia para filmar, e, Stanley Kubrick usa uma série de planos de ambientação do ho-
embora mais difícil de manipular por causa do tamanho do pla- tel Overlook por todo o filme O iluminado (1980) que prenuncia
no, a composição, também pode ser criada para atender às suas visualÂ�mente o gradual isolamento de Jack Torrance (Jack Nichol-
necessidades tendo a paciência para encontrar um bom lugar son) e sua família e sua consequente transformação em um louco
para filmar. Uma estratégia útil é desenvolver um relacionamento e assassino.
plano de ambientaçãoâ•… 77
plano de ambientação
78
Linhas do horizonte geralmente são posicionadas A localização deste edifício no quadro não segue
de acordo com a regra dos terços (terço superior a regra dos terços, que exigiria que ele fosse
ou inferior do quadro), mas nessa composição o posicionado em um ponto ideal. Em vez disso, ele
horizonte foi inserido mais perto do meio do está centralizado no quadro, ressaltando sua
quadro, complementando o posicionamento importância e autoridade como uma das
central do edifício e enfatizando a simetria da fortalezas remanescentes da lei e ordem no
composição. mundo caótico apresentado nesse filme.
plano de ambientaçãoâ•… 79
considerações técnicas
objetivas prática reduz ainda mais o aparecimento de granulação e cria
pretos mais escuros. Se filmar em HD e uma grande quantidade
A distância focal escolhida depende das características visuais do
de pequenos detalhes visuais for importante, e se a câmera su-
local que você está tentando enfatizar, distorcer ou ocultar, portanto,
portar múltiplos modos de filmagem, seria preferível filmar planos
qualquer tipo de objetiva pode ser usado. Você pode, por exemplo,
de ambientação na definição mais alta possível (1080i ou 1080p
escolher uma objetiva grande-angular para filmar um edifício a partir
em vez de 720p) e ajustar as configurações de nitidez em um
do chão de modo a exagerar a altura, fazendo-o parecer imponente;
mínimo possível de modo a evitar qualquer tipo de artefato que
o mesmo edifício poderia ser filmado com uma teleobjetiva em um
poderia degradar a qualidade da imagem.
ângulo que inclui outros edifícios ao lado dele, tornando sua aparên-
cia modesta e indefinível. Se o local a ser ambientado se repete ao
longo do filme, você pode até mesmo decidir filmá-lo com diferentes iluminação
distâncias focais e composições à medida que a história avança para Embora seja mais difícil controlar a iluminação ao filmar em am-
refletir as mudanças no tom, estado de espírito ou impacto que ele bientes abertos, isso não é impossível; por exemplo, consultando
tem no desenrolar da narrativa e como deve ser visto pelo público. previsões do tempo, você pode optar por filmar em um deter-
Será difícil manipular a profundidade de campo em ambientes aber- minado dia para obter certo efeito. Você também pode usar um
tos durante o dia, uma vez que provavelmente você terá de filmar clinômetro, um dispositivo que permite prever a posição do sol
usando aberturas muito pequenas a partir de uma distância relativa- em uma área específica em uma determinada data do ano, para
mente longa (já que na maioria das vezes essas cenas serão planos filmar em um horário do dia em que a luz do sol vem de uma
gerais ou planos gerais extremos), mesmo com o uso de filtro ND. A direção específica que irá revelar ou ocultar uma determinada
única forma de alcançar uma pequena profundidade de campo nes- textura do local. Filmar planos de ambientação à noite dependerá
sas circunstâncias seria utilizar uma objetiva tilt-shift, que permitiria do uso da luz disponível, a menos que haja orçamento disponível
focalizar seletivamente apenas uma área restrita do quadro. Infeliz- para grandes instrumentos de iluminação e as gruas/plataformas
mente, essas objetivas não estão disponíveis ou não são compatíveis necessárias para suportá-los. Alternativamente, filmar uma “noite
com certos formatos, especialmente as câmeras HD mais baratas. americana” com as limitações de horários que isso impõe tam-
bém é uma possibilidade, especialmente em locais que contêm
formato fontes de luz como janelas iluminadas, lâmpadas de rua e faróis
Planos de ambientação podem conter uma grande quantidade de carros. Obter a aparência certa para definir um estado de es-
de pequenos detalhes visuais no quadro. Se esses detalhes forem pírito específico exigirá tempo e paciência, mas sempre é melhor
essenciais à narrativa, você poderia optar por trabalhar com o alcançar o efeito desejado na câmera, com a mínima manipula-
filme mais lento possível a fim reduzir a quantidade de granula- ção possível na pós-produção. Como você pode ver, filmar planos
ção e aumentar a nitidez geral da imagem. Isso é especialmente de ambientação pode rapidamente se tornar algo complexo, mas
importante se você estiver planejando ampliar de S16mm para pode ser extremamente importante para sua história, assim você
35mm para distribuição em salas de cinema. Uma prática comum deve dar a mesma atenção aos detalhes que daria ao filmar os
entre os cineastas, mesmo ao trabalhar com filme de 35mm, é personagens principais no filme. Lembre-se de que planos de
superexpor intencionalmente a imagem um pouco (geralmente ambientação vão além da simples apresentação do local onde a
por um 1/3 de um f-stop) para então subexpor durante a fase de ação acontece, portanto, torne-os importante.
impressão em um processo conhecido como “push & pull”; essa
80
quebrando as regras
O diretor Lars Von Trier explora habilmente as implicações narrativas do uso desse plano de ambientação na cena de abertura do filme
Dogville (2003). O plano, como o restante do filme, simultaneamente segue e subverte as convenções associadas a ele; ele estabele-
ce um local físico real (um palco com vários móveis, personagens e esboços em giz) e um metafísico implícito (a pequena cidade de
Dogville, perto das Montanhas Rochosas) que não está presente no plano e precisa ser imaginado pelo público para que ele acompanhe
a história. Este raro exemplo fílmico do “efeito de distanciamento” de Brecht é utilizado para evitar que o público se envolva emocional-
mente com a história, tornando-o conscientemente mais crítico dos eventos na narrativa.
plano de ambientaçãoâ•… 81
O silêncio dos inocentes. Jonathan Demme, 1991.
82
p la n o su b je t ivo
plano subjetivo
O plano subjetivo é único na sua capacidade de deixar o público dramático de uma cena, ou quando deixá-los ver a ação através
vivenciar a ação como se fosse vista diretamente através dos olhos dos olhos de um personagem lhes dá uma visão única daquilo
de um personagem. A evolução da linguagem cinematográfica que não seria possível vivenciar com nenhum outro tipo de plano.
criou várias convenções projetadas para permitir que o público A composição e aparência do plano subjetivo dependerão da me-
se identifique com o estado mental emocional e/ou psicológico de táfora visual sendo utilizada para mostrar uma dada subjetividade
um personagem (pelo uso de planos POV, sequências imaginá- psicológica ou física; por exemplo, qual seria a subjetividade de
rias e utópicas e planos de reação, por exemplo), mas nenhuma um personagem que sofreu um derrame? Como pareceria o mun-
delas funciona permitindo que o público se torne um substituto do através dos seus olhos?
de um personagem, observando os eventos se desdobrar como Jonathan Demme utiliza planos subjetivos dessa ma-
se através dos seus olhos e transformando-os em uma parte in- neira no filme O silêncio dos inocentes (1991), em momentos
trínseca da história pela duração de um plano. Planos subjetivos importantes na narrativa quando Clarice Starling (Jodie Foster)
alcançam isso por meio de composições, encenação da ação e tem diálogos significativos com o Dr. Hannibal Lecter (Anthony
manipulação das imagens projetadas para simular o ponto de vis- Hopkins) e outros personagens importantes. No exemplo à es-
ta subjetivo de um dado personagem. A composição de um plano querda, Lecter é mostrado insuportavelmente perto dela (e do
subjetivo pode ser cuidadosamente manipulada para correspon- público), embora tenha sido estabelecido que ele na verdade está
der aos atributos físicos da perspectiva do personagem e sua a vários centímetros de distância nos planos anteriores da mes-
subjetividade emocional e psicológica. Uma das características ma cena; o plano subjetivo visualiza apenas o quão imponente e
mais marcantes do plano subjetivo é a maneira como ele permite ameaçador ele é percebido quando força incisivamente Clarice a
que os outros personagens interajam diretamente com o público, revelar uma importante memória da infância.
olhando para a lente, falando e, às vezes, até mesmo tendo um
contato físico com ela. Essa interação pode ser extremamente
poderosa, mas também potencialmente muito irritante para o pú-
blico, que está acostumado a experimentar a ação a partir da
segurança da perspectiva de uma terceira pessoa, como obser-
vadores invisíveis e não reconhecidos. Se planos subjetivos forem
usados por longos períodos de tempo, há o risco de o público
achar difícil se identificar com o personagem cuja subjetividade
eles estão experimentando, desconectando-se gradualmente da
história. Essa separação é causada pela falta de planos de reação
que normalmente revelam a resposta emocional de um persona-
gem. Sem a capacidade de olhar para um personagem nos olhos,
o público não sabe como ele deve sentir e reagir aos eventos que
ele vivencia, levando a ambiguidades que não conseguem gerar Várias cenas chave em O silêncio dos inocentes (1991), de Jo-
uma sensação de clareza narrativa. O plano subjetivo só deve nathan Demme, têm personagens se dirigindo à Clarice Starling
ser utilizado em circunstâncias muito especiais e, mesmo assim, (Jodie Foster) olhando diretamente para a objetiva. Esse uso dos
apenas por curtos períodos de tempo, principalmente quando co- planos subjetivos permite ao público sentir como é ficar cara a
locar o público na pele de um personagem amplifica o impacto cara com o perigoso Dr. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins).
plano subjetivoâ•… 83
plano subjetivo
84
Em um plano subjetivo, os personagens Embora a personagem se incline em direção a um
interagem com a câmera como se ela fosse outro quadro estático de fora da tela, ela ainda recebe a
personagem, olhando diretamente para a quantidade apropriada de espaço para um plano
objetiva, falando com ela e até mesmo tocando-a. dessa dimensão. Há, porém, muitas instâncias
Esse tipo de interação é raramente usado, mas nesse filme em que os temas não são
pode ser uma maneira extremamente eficaz de enquadrados de acordo com as normas
deixar o público experimentar a história como se composicionais, mas isso é consistente com a
fosse parte integrante dela. subjetividade do personagem sendo reproduzida,
cuja paralisia impediu o uso de qualquer
movimento de câmera motivado pelo personagem.
A ligeira distorção na face e a perspectiva A iluminação foi manipulada para criar um efeito
convergente vista no fundo indicam o uso de visual agradável, como evidenciado pela luz de
uma objetiva com uma distância focal menor do preenchimento que fornece um brilho suave
que a normal, uma outra opção estilística nesse lado da face. Close-ups como esse
projetada para visualizar a subjetividade do permitem reposicionar ou até mesmo adicionar
personagem após o derrame. luzes que não estavam presentes nos planos
mais amplos, desde que o aspecto geral seja
mantido.
plano subjetivoâ•… 85
considerações técnicas
objetivas um upscale da filmagem para 2K e depois transferir para 35mm). A
complexidade do movimento de câmera e os requisitos da estratégia
Embora uma objetiva normal possa parecer a escolha óbvia para
visual projetada para simular a subjetividade determinarão essen-
um plano que simula a perspectiva visual de um personagem, esse
cialmente o hardware necessário para criar o plano; nenhum filme
nem sempre é o caso. Outros fatores devem ser considerados, como
exemplifica isso melhor do que o A arca russa (2002), de Aleksandr
se o plano incluirá movimento de câmera (uma técnica comum de
Sokurov, um filme rodado com uma câmera HD em um equipamen-
planos subjetivos) e que tipo de movimento de câmera será usado.
to de Steadicam ao longo de um plano-sequência subjetivo em uma
Por exemplo, se você quiser dissimular tremidos de câmera, uma
única tomada de 91 minutos que percorre o museu Hermitage e 300
objetiva grande-angular seria preferível; se o movimento deve ser
anos de história russa (incluído no capítulo sobre plano-sequência).
alcançado com o uso de um equipamento para planos de travelling,
dolly ou Steadicam, distâncias focais maiores também poderiam
ser usadas. A objetiva também poderia ser selecionada para comu- iluminação
nicar uma metáfora visual específica que possa transmitir as carac-
Se o plano subjetivo incluir movimentos de câmera, o posicionamen-
terísticas físicas, emocionais e/ou psicológicas da subjetividade que
to das luzes terá de levar isso em consideração, a câmera em mo-
está sendo mostrada. Você poderia usar uma objetiva tilt-shift para
vimento cria um quadro dinâmico que pode restringir o local onde
simular a subjetividade de um personagem com deficiência visual,
as luzes podem ser colocadas sem seres vistas e, em muitos casos,
ou uma teleobjetiva que restringe o campo de visão para indicar
talvez não seja possível usar nenhuma luz cinematográfica conven-
que um personagem está obcecado por um determinado objeto
cional, especialmente ao filmar em ambientes fechados à noite. Nes-
ou pessoa. Embora algumas convenções sejam usadas mais co-
ses casos, uma boa estratégia é usar “acessórios práticos” (fontes
mumente que outras (como o uso de uma objetiva “olho de peixe”
de luz que são visíveis no plano e fazem parte da direção de arte
para mostrar que alguém está sob a influência de drogas, ou uma
para uma dada locação, como luminárias de mesa) com a lâmpada
visão dupla para mostrar que um personagem está embriagado),
trocada por uma de maior potência e comumente conectada a um
lembre-se de que cada filme, até certo ponto, cria um vocabulário
dimmer a fim de controlar sua intensidade, fornecendo exposição
visual próprio, portanto, sinta-se à vontade para propor sua própria
suficiente para filmar. Uma desvantagem ao utilizar essa estratégia
metáfora visual.
de iluminação é que, dependendo de quanto é visto no plano, você
pode acabar precisando de vários “acessórios práticos”. Ao filmar
formato em ambientes fechados durante o dia, uma opção é iluminar o lo-
Planos subjetivos costumam incluir movimento de câmera. Nor- cal usando luzes maiores estrategicamente posicionadas do lado de
malmente, uma câmera de mão será utilizada para diferenciá-lo da fora das janelas a fim de fornecer iluminação motivada, liberando
estabilidade de um plano dolly e simular mais proximamente o mo- a câmera para mover-se praticamente em qualquer direção; você
vimento de uma pessoa real (embora muitos filmes também utilizem pode evitar vários problemas e despesas extras escolhendo um local
equipamentos de travelling e Steadicam para planos subjetivos). Se que esteja no nível do chão, assim não terá de alugar gruas ou pla-
esse for o caso, câmeras menores, mais leves seriam preferíveis, taformas extensíveis para posicionar as luzes em janelas mais altas.
possivelmente até mesmo combinando formatos (por exemplo, se o Externas noturnas são normalmente filmadas usando a técnica da
formato de filmagem for 35mm, podem-se filmar as sequências do “noite americana”, escolhendo uma locação em que haja uma gran-
plano subjetivo em Super 16mm com um filme mais lento para uma de quantidade de luz disponível ou, o modo mais caro, utilizando
ampliação em 35mm, ou mesmo filmar em HD para então fazer grandes equipamentos de iluminação sobre plataformas ou gruas.
86
quebrando as regras
O filme maravilhosamente surreal de Spike Jonze, Quero ser John Malkovich (1999), usa planos subjetivos com vinhetas para visualizar
mentalmente como seria experimentar a vida por meio da consciência (e não por meio da perspectiva) de John H. Malkovich (John G.
Malkovich) depois que um portal secreto para sua mente é descoberto atrás de um armário de arquivos. Nesse plano, um Malkovich
perplexo é seduzido por Maxine (Catherine Keener), enquanto Lotte (Cameron Diaz) vivencia a ação de dentro do portal. Esse uso espe-
cífico do plano subjetivo é único porque permite que o público vivencie a ação não por meio de uma, mas duas subjetividades simulta-
neamente, uma vez que ouvimos a voz em off de Lotte ao mesmo tempo em que ouvimos a voz de Malkovich. A interação física entre
os personagens foi alcançada com o uso de um equipamento de câmera engenhoso usado pelo diretor de fotografia.
plano subjetivoâ•… 87
Mystery Train. Jim Jarmusch, 1989.
88
p la n o d e d o is
plano de dois
Como o próprio nome indica, o plano de dois inclui dois persona- Jim Jarmusch usa essa estratégia no segmento “Longe de
gens na mesma composição. Planos de dois geralmente são alcan- Yokohama”, do seu filme Mystery Train (1989). A história acom-
çados usando planos gerais médios, planos médios e close-ups panha um casal de adolescentes japoneses (Masatoshi Nagase e
médios, embora qualquer plano que apresente dois personagens Youki Kudoh) quando eles visitam marcos históricos do blues e
também possa ser tecnicamente chamado de plano de dois. Um rock & roll em Memphis, Tennessee. Quase todas as cenas desse
uso muito comum do plano de dois é como um plano geral para segmento são compostas por um plano de dois, sugerindo tanto
cobrir uma conversa entre dois personagens, seja numa única to- uma conexão profunda existente entre eles (embora passem boa
mada ou em coordenação com outros planos de vários tamanhos, parte do tempo discutindo) e o isolamento compartilhado que
projetados para dar forma à curva dramática da troca. O bloqueio eles experimentam como estrangeiros numa terra estranha. Devi-
dos personagens em um plano de dois pode informar um fato nar- do ao uso predominante dos planos de dois para contar a história,
rativo sobre a dinâmica do seu relacionamento; isso é verdadeiro a natureza exata do seu relacionamento é revelada gradualmente
para qualquer plano que inclui vários personagens, como planos por meio das suas ações e performance, em vez do uso estratégi-
de grupo, mas é especialmente importante para planos de dois co de close-ups e planos de ponto de vista.
porque ter apenas dois personagens em uma composição sugere
instantaneamente que há uma conexão entre eles e leva o público
a avaliá-los e compará-los. Por exemplo, você poderia usar a re-
gra de Hitchcock para deixar um dos personagens ocupar mais
espaço dentro da composição, sugerindo que ele tem mais poder,
controle ou determinação que o outro. Alternativamente, se o plano
de dois utilizar um plano médio ou um plano geral, a linguagem
corporal dos personagens também pode ser usada para sugerir
uma dinâmica particular entre eles. Um aspecto importante a levar
em consideração ao utilizar apenas um plano de dois para cobrir
um diálogo é que o próprio público irá “editar” a cena deslocando
a atenção de um personagem para o outro com base naquele que
está falando ou em qualquer outro aspecto do espetáculo. Embo-
ra possa parecer uma distinção trivial, isso pode ter um impacto
sério na maneira como o público se envolve com a história. Quan-
do você usa uma combinação de planos cada vez mais fechados
para sugerir que algo significativo está ocorrendo, o público pode
permitir-se ser passivo, uma vez que o contexto da cena está sendo
revelado para ele pela progressão dos planos por meio da edição.
Quando a composição permanece constante e nenhuma edição O segmento “Longe de Yokohama” do filme Mystery Train (1989),
é utilizada, o público tem de se tornar ativo, buscando constante- de Jim Jarmusch, utiliza principalmente planos de dois, suge-
mente sugestões para decodificar a intenção dramática da cena rindo a forte conexão existente entre Jun (Masatoshi Nagase) e
(o que André Bazin, um seminal teórico do cinema, chamou de Mitsuko (Youki Kudoh) enquanto eles fazem uma peregrinação
“estética da mise-en-scène”). musical a Memphis, Tennessee.
plano de doisâ•… 89
plano de dois
90
Um ângulo bem baixo foi utilizado (evidenciado
pelo fato de que podemos ver a parte de baixo
desse telhado de zinco), enfatizando a nova Embora as personagens tenham sido
autoafirmação e determinação delas nesse posicionadas em um ângulo pequeno, ambas
momento na cena. Observe que não foi estão aproximadamente nos pontos centrais
necessário utilizar um ângulo baixo extremo para criados pela regra dos terços, gerando uma
alcançar esse efeito. A sutileza do ângulo composição dinâmica que lhes dá a quantidade Filmar com a luz disponível limitará suas opções
permite que o efeito seja um complemento ao apropriada de campo de visão. Esse ponto marca de iluminação, mas você ainda pode criar
restante das escolhas composicionais utilizadas o local exato do ponto superior esquerdo ideal imagens visualmente atraentes bloqueando
nesse plano em vez do seu ponto principal. para a proporção da tela desse quadro. cuidadosamente os personagens. Nesse plano
de dois, as personagens foram posicionadas para
que o sol permanecesse atrás delas, criando uma
luz de fundo comum que as separa do fundo.
plano de doisâ•… 91
considerações técnicas
objetivas vistos no exemplo do filme Mystery Train. Mas não deixe que isso
o desencoraje a incorporar as limitações de um formato à estra-
Como planos de dois podem ser criados em uma grande varie-
tégia visual do seu filme; em vez disso, aprenda a explorá-las e
dade de tamanhos (em qualquer lugar entre close-up médio e
use-as em seu benefício.
um plano geral extremo), sua escolha da distância focal será
determinada pelas necessidades específicas da sua história. De-
pendendo do tipo de relacionamento que você quer que o pú- iluminação
blico deduza entre os personagens, pode usar uma teleobjetiva No mínimo, um plano de dois incluirá dois personagens e parte
para fazer parecer que o espaço entre eles ao longo do eixo z é
da área circundante no fundo. Comumente, os personagens são
menor que na vida real, ou uma objetiva grande-angular para
iluminados para se destacar na composição assegurando que eles
sugerir que eles estão mais afastados. Se o plano de dois incluir
estejam um pouco mais iluminados do que qualquer outra coisa
uma parte considerável da área adjacente, você também poderá
no quadro; com planos de dois, controlar o grau de luminosidade
escolher uma distância focal para interferir nos relacionamentos
entre o fundo e os personagens pode ser usado como um elemento
espaciais entre os personagens e um local. Examine as diferentes
narrativo. Se o fundo for mantido muito mais escuro do que os per-
maneiras como os personagens e seu ambiente são retratados no
sonagens, será difícil transmitir um relacionamento entre os temas
exemplo do filme Mystery Train (no início deste capítulo), em que
e o fundo (como mostrado no exemplo do filme Mystery Train).
apenas uma pequena parte do fundo está incluída no quadro, e
Alternativamente, o fundo pode ser iluminado para que ele seja
aquele de Thelma & Louise (na página anterior), em que uma
percebido tal como é ou um pouco mais importante do que os
grande área ao redor delas está visível no plano. Nesses exem-
personagens, realçando os relacionamentos que possam existir
plos, a distância focal e a distância entre a câmera e o tema
entre eles (no exemplo de Thelma & Louise, o fundo está tão claro
foram escolhidas para manipular o campo de visão na composi-
quanto elas, enquanto o plano de dois de Paris, Texas, na página
ção do plano, colocando a ênfase dramática seletivamente sobre
oposta, tem um fundo mais claro que ambos os personagens). A
os personagens, ou sobre os personagens e o local, como suas
iluminação também pode ser usada para controlar quais elemen-
narrativas exigiram.
tos no quadro estão em foco e quais estão fora de foco, manipu-
lando a profundidade de campo. Você pode assegurar que o fundo
formato de um plano de dois incida fora da área do foco nítido usando uma
As duas principais desvantagens de filmar nos formatos HD e grande abertura que produz menos profundidade de campo ou
SD com câmera semiprofissionais em vez de usar filme (a baixa certificar-se de que ele é visto claramente usando uma pequena
sensibilidade dos sensores CCD e a incapacidade geral de pro- abertura que fornece mais profundidade de campo. Mas você não
duzir uma pequena profundidade de campo) são especialmente pode aumentar ou reduzir a abertura sem afetar a exposição da
limitantes em planos que contêm vários elementos visuais, como imagem, portanto, ter controle sobre a iluminação torna-se crucial,
planos de dois. Embora seja possível filmar a composição e a pro- especialmente ao filmar em ambientes fechados (onde ter as luzes
fundidade de campo exata vistas no exemplo do filme Thelma & extras necessárias para usar uma pequena abertura talvez não seja
Louise com praticamente qualquer câmera digital, somente uma uma opção). Filmagens em ambientes abertos durante o dia apre-
câmera HD profissional ou semiprofissional equipada com um kit sentam um problema oposto; talvez haja muita luz e você precise
adaptador de objetiva de 35mm ou uma câmera HD profissional usar um filtro ND se quiser usar uma abertura grande para obter
poderia reproduzir o enquadramento e a profundidade de campo uma menor profundidade de campo.
92
quebrando as regras
Esse imaginativo plano de dois (tecnicamente também um plano sobre o ombro) no filme Paris, Texas (1984), de Wim Wenders, mostra
brilhantemente um momento chave na história em que Travis (Harry Dean Stanton), um homem que abandonou a família e se tornou
vagabundo, revela-se à sua mulher Jane (Nastassja Kinsky) no show de striptease do clube onde ela trabalha. A composição utiliza um
espelho para criar uma imagem que combina dois personagens e captura a dinâmica do relacionamento deles; Travis vê seu reflexo
sobreposto em uma versão idealizada do lar e da esposa que ele deixou para trás e quer recuperar, mas a ilusão óptica que lhe permite
ver seu objetivo realizado também revela como isso é ilusório, e ele decide que sua família fica melhor sem ele. Como esse plano de dois
transmite muitos aspectos da própria história, ele também é um grande exemplo de um plano emblemático.
plano de doisâ•… 93
Cidade de Deus. Fernando Meirelles & Kátia Lund, 2002.
94
p la n o d e g ru p o
plano de grupo
Planos de grupo incluem três ou mais personagens no quadro em um único quadro. Todos os exemplos incluídos neste capí-
(com menos de três personagens você teria um plano de dois tulo, a propósito, são planos de grupo e planos emblemáticos.
ou um single, um plano de um); por isso, planos de grupo são Um uso brilhante de um plano de grupo ocorre em Cida-
geralmente planos médios, planos gerais médios ou planos de de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund, um filme
gerais, uma vez que essas dimensões de plano são suficien- que acompanha a vida de duas crianças de favelas à medida que
temente amplas para conter vários personagens. Assim como eles crescem; Zé Pequeno (Leandro Firmino) torna-se um pode-
outros planos que incluem pessoas e uma parcela considerá- roso traficante de drogas que domina a favela do Rio de Janeiro
vel da área adjacente, planos de grupo podem transmitir in- que dá nome ao filme, enquanto Buscapé (Alexandre Rodrigues)
formações sobre a dinâmica de um relacionamento entre os se esforça para alcançar seu sonho de se tornar um fotojorna-
personagens ou entre os personagens e seu ambiente imedia- lista. Em um momento chave na história, Zé Pequeno pede que
to. Por exemplo, o arranjo dos personagens em um plano de Buscapé tire uma foto da sua gangue após uma pequena vitória
grupo poderia ser feito para sugerir desarmonia e conflito entre sobre a polícia. O plano de grupo resultante mostra-os vigiando
eles posicionando-os de modo que não haja dois personagens seu território, exibindo desafiadoramente suas armas enquanto
olhando para a mesma direção, tendo o mesmo tamanho na fazem uma pose projetada para instilar medo nos seus inimigos.
composição ou compartilhando o mesmo espaço ao longo do A composição aparentemente simples, mas eficaz, do plano é
eixo x. Os relacionamentos entre personagens e um local po- uma reminiscência da fotografia de uma equipe esportiva, com
dem ser sugeridos manipulando a quantidade de espaço que todos alinhados ao longo do eixo x do quadro (exatamente ao
eles ocupam no quadro (usando a regra de Hitchcock) para lado de um facho de luz que os separa convenientemente do fun-
enfatizar um ou outro, ou usando outras regras composicionais do). Sua linguagem corporal comum e agrupamento transmitem
(como enquadramentos balanceados/não balanceados e a re- efetivamente sua unidade em relação ao propósito, enquanto o
gra dos terços). Planos de grupo são comumente usados ex- posicionamento central e o tamanho no quadro fazem uma de-
positivamente, no início de cenas que destacam diálogos entre claração forte da dinâmica do seu relacionamento com a área
vários personagens, a fim de estabelecer seu posicionamento adjacente, a favela miserável que eles controlam.
em um local de tal modo que planos mais fechados possam
ser usados mais tarde sem que o público sinta-se confuso
sobre onde todos estão situados. Como planos de grupo têm
múltiplos temas, sua disposição em uma composição também
pode ser usada para enfatizar a profundidade de um quadro
posicionando-os ao longo do eixo z (fornecendo uma boa dica
da profundidade visual por causa do seu tamanho relativo
progressivamente menor). Alternativamente, posicionar os te-
mas ao longo do eixo x do quadro pode criar uma composição
que é achatada em vez de profunda. Planos de grupo também Esse plano icônico de grupo no filme Cidade de Deus (2002), de
podem dar oportunidades para criar composições que são em- Fernando Meirelles e Kátia Lund, mostra perfeitamente a unida-
blemáticas de um momento especial na história do seu filme de de objetivos na gangue de Zé Pequeno (Leandro Firmino) e o
porque os campos de visão mais amplos que esses planos poder que eles exercem sobre a favela, chamada ironicamente
normalmente exigem permitem incluir vários elementos visuais “Cidade de Deus”.
plano de grupoâ•… 95
plano de grupo
96
O amplo campo de visão necessário para incluir Esse tema (um médico clandestino que recebe
todos os personagens no quadro foi alcançado a visita de ambas as gangues de assassinos
por meio do uso de uma objetiva grande-angular, profissionais para cuidar dos seus feridos) é o
evidenciado pela deformação visível de linhas ponto focal da composição; ele ocupa a área mais
verticais em direção às bordas do quadro. O uso brilhante no fundo do quadro, e a linguagem
dessa objetiva também exagera as distâncias ao corporal dos demais personagens chama a
longo do eixo z do quadro, adicionando atenção do público para ele.
profundidade à composição.
O enquadramento amplo do plano de grupo O uso de várias luzes rodeadas por áreas de
permite que alguns temas sejam mostrados na escuridão total, destacando todas as camadas da
sua totalidade, deixando que a linguagem composição, adiciona contraste e profundidade
corporal adicione conteúdo dramático à cena. ao quadro. A iluminação de “chave baixa” (pouca
Observe a tensão e o suspense extras fornecidos luz) também faz o local parecer sinistro e isola
pelas poses dos três personagens no primeiro cada personagem, tornando plausível o fato de
plano, compostos como se estivessem prontos que muitos indivíduos permanecem ocultos em
para se envolver em um tiroteio a qualquer um espaço confinado como o mostrado.
momento.
plano de grupoâ•… 97
considerações técnicas
objetivas adaptadores de objetiva de 35mm disponíveis para algumas câ-
meras HD profissionais e semiprofissionais pode fornecer muito
Como planos de grupo podem transmitir relacionamentos entre per-
mais flexibilidade, desde que você selecione boas objetivas de
sonagens e entre personagens e suas áreas adjacentes, é fundamen-
35mm. Os tamanhos de quadros dos formatos de filme 16mm e
tal escolher uma distância focal que dê suporte ao tipo de relacio-
Super 16mm, embora maiores do que a grande parte dos sen-
namento que você quer que o público entenda. Por exemplo, você
sores CCD nos vídeos SD e HD, dificultarão ainda mais alcançar
pode usar uma objetiva grande-angular para exagerar as distâncias
boas profundidades de campo se distâncias entre a câmera e o
ao longo do eixo z do quadro, aumentando também a distância apa-
tema menores forem utilizadas. O formato de 35mm é a única
rente entre os personagens se eles estiverem posicionados em dife-
opção se o plano de grupo for um plano geral que precisa ter um
rentes planos na composição (como no exemplo do filme Exilados,
enquadramento amplo e uma boa profundidade de campo.
de Johnnie To na página anterior). Alternativamente, você pode usar
uma teleobjetiva para compactar as distâncias ao longo do eixo z, iluminação
criando a aparência de que os personagens estão mais próximos do
Se planos de grupo forem filmados em ambientes internos e
que na realidade estão ou sugerindo uma conexão especial entre um
abrangerem uma área ampla, a iluminação pode ser utilizada para
personagem no primeiro plano e um detalhe significativo no fundo
dar suporte aos relacionamentos espaciais entre os personagens
do quadro (como visto no exemplo do filme Naked, de Mike Leigh no
ou entre os personagens e um local, como sugerido pela compo-
capítulo sobre planos médios). Se o plano de grupo for filmado em
sição do quadro. O plano de grupo da página anterior, do filme
um local fechado da vida real e não em um set de filmagem, esteja
Exilados, de Johnnie To, é um exemplo perfeito disso; se no local
ciente de que, dependendo do tamanho do plano que você quer, a
houver muita luz, sem deixar nenhum canto do ambiente escuro,
falta de espaço e paredes removíveis muito provavelmente limitarão
a tensão e o suspense da cena seria significativamente menor.
suas opções em relação à distância focal que você pode usar (isso é
Em vez disso, o uso da iluminação de chave baixa, com peque-
especialmente verdadeiro se quiser ter um plano geral, plano geral
nos grupos de luzes cercados por sombras, cria uma atmosfera
médio ou um plano médio).
cheia de medo e perigo, complementando a dinâmica entre os
personagens estabelecida pela composição do quadro. Lembre-
formato -se, porém, de que quanto mais amplo o plano, mais difícil será
Filmar com câmeras SD ou HD irá restringir suas opções para encontrar locais para ocultar as luzes da câmara (observe que as
manipular a área circundante em planos de grupo com campos luzes no primeiro plano do plano de grupo no filme Exilados foram
de visão amplos. Como as objetivas nativas dessas câmeras ge- posicionadas diretamente sobre os personagens). Uma maneira
ralmente têm uma distância focal curta, criar uma composição de resolver esse problema é usar praticals, isto é, acessórios cê-
que isola os temas do fundo com o uso de uma pequena pro- nicos convenientes para iluminar a cena (uma técnica também
fundidade de campo será muito mais difícil (um bom exemplo usada quando um plano envolve movimento de câmera extenso).
dessa técnica é mostrado no filme Sid & Nancy, de Alex Cox, Ao filmar em ambientes abertos à noite, se não houver grandes
no capítulo sobre planos gerais). Enquadramentos mais fecha- refletores (e um gerador portátil para alimentá-los), você terá me-
dos que aproximam mais a câmera dos temas são uma opção, nos controle sobre a iluminação. Se filmar em ambientes abertos
mas apenas ao filmar com câmeras de vídeo que têm sensores durante o dia, você também pode programar sua produção para
CCD maiores, como aquelas encontradas em algumas câmeras usar a luz disponível de uma maneira expressiva, embora isso
HD profissionais e semiprofissionais sofisticadas. O uso de kits exija explorar e pesquisar o local minuciosamente.
98
quebrando as regras
Por causa do número de temas que eles costumam incluir, planos de grupo são comumente planos gerais ou médios, o que dificulta
mostrar expressões faciais para transmitir conteúdo dramático; mas esse plano de grupo de funcionários públicos em Brazil – o filme
(1985), de Terry Gilliam, um filme sobre um futuro distópico em que burocratas controlam todos os aspectos da sociedade, utiliza
um close-up médio atípico que faz exatamente isso. Os personagens foram posicionados nessa composição impressiva em ângulo
baixo para preencher todo o espaço disponível na metade inferior do quadro, agrupados para transmitir a opressão e inflexibilidade do
Departamento de Recuperação de Informações, uma agência do governo responsável, entre outras coisas, por torturar suspeitos de
terrorismo.
plano de grupoâ•… 99
Apocalypto. Mel Gibson, 2006.
100
p la n o d e c a n t o
plano de canto
A composição dos planos de canto é feita com uma câmera incli- de planos de canto incluem O terceiro homem, de Carol Reed
nada lateralmente para que o horizonte não esteja nivelado e as (1949), e Fay Grim (2006), de Hal Hartley.
linhas verticais atrevessem o quadro diagonalmente. As composi- Um exemplo de um plano de canto usado para transmitir
ções resultantes podem criar um desequilíbrio ou desorientação um estado mental coletivo alterado pode ser visto em Apocalypto
espacial que pode transmitir uma sensação de tensão dramática, (2006), de Mel Gibson. Ambientado durante o declínio da civi-
instabilidade psicológica, confusão, loucura ou psicose induzida lização maia, o filme acompanha a história do membro de uma
por drogas. Planos de canto (ou planos oblíquos) foram inicial- tribo da América Central, Jaguar Paw (Rudy Youngblood), depois
mente introduzidos ao vocabulário cinematográfico na década de de ser raptado e levado para uma grande cidade maia. Enquanto
1930 nos filmes expressionistas alemães, que os utilizavam para ele é preparado para o sacrifício ritual, acontece um eclipse; a po-
exteriorizar a confusão interna ou o estado demente da psique pulação maia, acreditando que o eclipse seja um mau presságio,
de um personagem. Esse tipo de plano também era conhecido entra em pânico e suplica que um sumo sacerdote (que, obvia-
como plano de “ângulo Deutsch” (“Deutsch” significa “alemão” mente, compreende a natureza verdadeira do fenômeno celeste)
no idioma germânico) que ao longo do tempo foi confundido e traga o sol de volta. Nesse ponto, Gibson usa um plano de canto
transformado hoje em plano de “ângulo holandês” (Dutch, em de um grupo de cidadãos maia para transmitir sua histeria cole-
inglês), embora suas raízes históricas não tenham uma cone- tiva, mostrando a crença de que a ordem natural do mundo per-
xão com o cinema holandês. Embora planos de canto sejam deu abruptamente o equilíbrio, uma atitude mental refletida pelo
comumente usados para representar o estado mental alterado alto grau de inclinação utilizado na composição desse plano.
ou anormal de um personagem, eles também podem ser usados
para representar a psicologia coletiva de um grupo, geralmente
quando seus membros passam por uma situação estressante ou
incomum. Outro uso comum do plano de canto é para transmitir
uma situação artificial ou anormal que está acontecendo, sem
necessariamente refletir a psicologia de um personagem. O grau
em que o quadro é inclinado normalmente é interpretado como
o reflexo do nível de anormalidade, desorientação ou desconforto
está sendo transmitido. Planos de canto extremos, com a câmera
inclinada próximo a 45 graus, são muito chocantes para o públi-
co e são, portanto, reservados para situações extremas; inversa-
mente, inclinar a câmera em poucos graus pode introduzir uma
sensação de instabilidade subjacente a uma cena sem ser muito
perturbador. Como planos de canto podem ser muito evidentes e
perceptíveis para o público, é comum restringir seu uso apenas
a alguns ou até mesmo um único plano em uma cena. Mas se
o ângulo de canto não for muito grande, às vezes cenas inteiras
são filmadas utilizando-os. Como todas as outras manipulações Um plano de canto é usado para transmitir a histeria coletiva da
composicionais, o efeito do plano de canto é perdido se usado população maia enquanto eles vivem a experiência de um eclipse
com muita frequência. Dois exemplos raros de um uso extensivo solar em Apocalypto (2006), de Mel Gibson.
102
A quantidade excessiva de altura livre dada a
esse personagem é motivada pela necessidade
A iluminação de baixo para cima usada nesse de incluir a sombra distorcida da cabeça na
personagem lhe dá um olhar sinistro e parede atrás dele (ela própria inclinada contra o
ameaçador que é ampliado pela inclusão da ângulo do plano de canto), uma dica visual que
grande sombra que aparece atrás dele. sugere sua natureza enganosa.
O uso de uma objetiva grande-angular estende as A distância entre a câmara e o tema combinada
distâncias ao longo do eixo z do quadro (observe com um grade abertura resultou em pouca
o amplo espaço aparente entre os dois profundidade de campo, mantendo apenas o
personagens, embora estejam apenas a alguns tema principal no centro, o ponto focal dessa
passos um do outro) e também adiciona alguma composição, em foco nítido.
distorção ao quadro que complementa a
estranheza sugerida pela inclinação do ângulo.
equipamento
A maioria dos tripés permite afrouxar a cabeça pivotante, o que
permite inclinar a câmera para criar um plano de canto ligeira-
mente inclinado sem a necessidade de ajustar as pernas. Se um
ângulo mais inclinado for desejável, você pode estender uma das
104
quebrando as regras
Como planos de canto sugerem uma situação alterada ou desconfortável, é incomum vê-los combinados com movimentos desorientados
de câmera. Mas um momento chave no filme O show de Truman (2002), de Peter Weir, é enfatizado pelo uso de um plano de canto que
é complementado imaginativamente com um movimento dinâmico de câmera conectado a uma porta giratória, transmitindo a situação
inquietante de Truman Burbank (Jim Carrey) de que as coisas nem sempre são o que parecem ser na sua cidade natal idílica.
106
plano emblemático
plano emblemático
Planos emblemáticos têm a força de comunicar ideias abstra- o que está acontecendo na cena/sequência/filme? Desafiando-o?
tas, complexas e associativas com composições que revelam Prenunciando um evento que ocorrerá mais tarde? Comentando
conexões especiais entre os elementos visuais no quadro. Pla- questões que não estão diretamente relacionadas com a trama,
nos emblemáticos podem “contar uma história” com uma única mas, em última análise, têm a ver com o significado do filme?
imagem, transmitindo ideias que geralmente são maiores do que Você pode remover seu plano emblemático do filme, mostrá-lo a
a soma de suas partes. O público que assiste a Luke Skywalker alguém que não conhece a história e esperar que ele reconheça
olhando para os sóis gêmeos de Tatooine, no filme Guerra nas es- do que seu filme trata?
trelas (1977), de George Lucas, obtém mais desse plano do que Muito além do jardim (1979), de Hal Ashby, usa um
do conteúdo literal da imagem (um jovem assistindo aos sóis se plano emblemático no início do filme, logo depois que o prota-
pondo). Em vez disso, o público é incentivado a identificar signi- gonista, um savant chamado Chance (Peter Sellers) torna-se um
ficados maiores a partir das conexões e associações contidas nos sem-teto em Washington, D.C., depois da morte do seu empre-
elementos visuais, mais especificamente pelo seu posicionamen- gador. A composição do plano sugere de uma maneira inteligen-
to na composição e simbolismo associado com certas imagens. te a ascendência fortuita de Chance à presidência dos Estados
Essas conexões transformam, na mente do público, o significado Unidos (simbolicamente representada pelo edifício do Capitólio
concreto da cena “um jovem assistindo aos sóis se pondo” na e semáforo verde dando-lhe um sinal “vá em frente”), enquanto
ação simbólica “ele sente que seu futuro está fora de alcance”. o caminho isolado por onde ele anda sugere sua visão singular
Há várias diferentes abordagens para criar esses planos, mas o da vida. Esse plano emblemático simples, mas eficaz, introduz e
primeiro passo é ter uma compreensão clara de temas, subtextos prenuncia os temas que serão explorados por todo o filme.
e ideias básicas da sua história; depois que eles são identificados,
é possível criar composições que dão suporte a eles visualmente.
Você poderia, por exemplo, usar a regra de Hitchcock para criar
uma composição que enfatiza um elemento visual em relação a
outro, ou usar qualquer um dos princípios composicionais (como
enquadramentos balanceados/não balanceados, regra dos ter-
ços etc.) para estabelecer um relacionamento específico entre
os elementos visuais na mente do público. Planos emblemáticos
normalmente são inseridos no início ou no final de cenas ou se-
quências particularmente significativas. Quando usados no início
de uma cena, eles tendem a definir o tom daquilo que se segue.
Quando aparecem no final de uma cena ou sequência, eles ten-
dem a comentar, ou contextualizar, os eventos que levaram ao
plano emblemático. Outra prática comum é reutilizar ou recriar
um plano emblemático quase no final de um filme, alertando o No filme Muito além do jardim (1979), de Hal Ashby, Chance
público de que a história deu uma volta completa e que o fim Gardener (Peter Sellers) se torna um sem-teto e vaga pelas ruas
está próximo (uma técnica comum em sistemas de imagens). Ao depois que seu benfeitor morre de repente; a composição inspi-
criar um plano emblemático, pense no significado a ser comuni- rada por esse plano no início do filme prenuncia inteligentemente
cado pelo arranjo dos temas no plano. Sua composição sustenta seu destino final: a Presidência dos Estados Unidos da América.
108
Seguindo a regra de Hithcock, a estrutura entre
os personagens domina a composição do plano,
tanto por causa do seu tamanho como
posicionamento centralizado no quadro. Observe
Essa personagem foi posicionada que cortando o topo da estrutura, cria-se uma
propositadamente contra um fundo vazio, dica visual que sugere que ela não pode estar
tornando-a bem perceptível, embora ocupe totalmente contida dentro dos limites do quadro,
pouco espaço no quadro e a composição seja enfatizando ainda mais sua dimensão e
visualmente densa. importância.
Esse personagem é ofuscado pelo ambiente
luxuoso da casa opulenta (do qual esse é apenas
o terraço!), enfatizando seu status inferior dentro
da família. Observe que, embora pequeno no
quadro, ele destaca-se efetivamente pela silhueta
contra o fundo brilhante, uma boa ideia dada a
complexidade visual do plano.
110
quebrando as regras
Embora planos emblemáticos geralmente dependam de um arranjo complexo dos elementos visuais para introduzir ideias, às vezes
composições simples associadas com um agrupamento inteligente, decisões sobre atores, elenco inspirado e direção de arte podem ser
igualmente eficazes. Nesse plano geral médio do filme O silêncio dos inocentes (1991), de Jonathan Demme, Clarice Starling (Jodie Fos-
ter) entra em um elevador cheio de recrutas do FBI, que fornecem um contraste visual forte devido ao sexo, cor dos uniformes, altura e
linguagem corporal deles. Clarice é o ponto focal da composição, posicionado no centro do quadro, parecendo cercada pelos homens ao
seu redor (especialmente pelos dois ao lado dela, que parecem particularmente incomodados com sua presença). Seu olhar é fixo para
cima (Lecter lhe diz que o que ela procura, acima de tudo, é uma “promoção”), enquanto suas mãos estão cruzadas sobre a genitália,
uma das muitas dicas visuais nesse filme que enfatiza o subtexto da tensão sexual entre Clarice e as figuras masculinas da autoridade.
112
p la n o a b st ra t o
plano abstrato
O plano abstrato tem origem nos filmes avant-garde e no cinema com muita frequência ou por muito tempo, há a possibilidade
experimental da década de 1920; embora tenham sido inicial- de que o investimento deles nos personagens desapareça, mas
mente utilizados exclusivamente nesses tipos de filme, com o isso, naturalmente, depende de como os planos abstratos estão
tempo foram incorporados aos filmes narrativos mais populares integrados ao tecido da história.
(um exemplo famoso é a sequência “Stargate” no filme 2001: Um bom exemplo de um plano abstrato ocorre em O
Uma odisseia no espaço [2001], de Kubrick). Esses planos enfa- solista (2009), de Joe Wright, um filme que acompanha o rela-
tizam cores, texturas, padrões, formas, linhas e composição em cionamento que se desenvolve entre um jornalista do L.A. Times,
relação ao conteúdo literal. Eles geralmente são não representa- Steve Lopez (Robert Downey Jr.), e Nathaniel (Jamie Foxx), um
cionais e não referenciais, tornando difícil ou mesmo impossível sem-teto musicalmente talentoso que sofre de esquizofrenia. De-
reconhecer o tema das suas composições. Devido à sua natureza pois que decide cuidar de Nathaniel, Lopez o leva a um ensaio da
abstrata, o público tende a extrair significado desses planos com Los Angeles Symphony Orchestra, em que é mostrada uma série
base na conexão emocional bruta que as qualidades gráficas da de planos abstratos de luzes coloridas enquanto Nathaniel ouve a
imagem sugerem, ao contrário das associações evocadas depois música. A ideia por trás desses planos não é que ele experimente
de olhar para as manchas de tinta de um teste de Rorschach. a música como luzes piscando, mas transmitir um sentido abs-
Às vezes, planos abstratos têm um tema que é parcialmente re- trato da sua conexão profunda e complexa com ritmo, harmonia e
conhecível, mas é de alguma forma distorcido ou apresentado melodia que não pode ser transmitido com imagens mais literais
abstratamente, resultando em uma imagem que é simultanea- ou representacionais.
mente conhecida e estranha. Planos abstratos também são cria-
dos mostrando um aspecto fragmentado de um tema, isolando
um detalhe visual de uma maneira que torna difícil identificá-lo
sem vê-lo de forma mais ampla. Como esses planos têm designs
visualmente impressionantes, eles podem ser especialmente
úteis como parte do sistema de imagens de um filme. Esses
planos são comumente usados para transmitir ideias subtex-
tuais que não são abordadas explicitamente, mas são sugeridas
pelas qualidades gráficas da própria imagem. Por esse motivo,
planos abstratos podem adicionar camadas extras de significado
a uma narrativa, às vezes comentando a ação de uma cena, as
intenções de um personagem ou contribuindo para um tema ou
motivo visual recorrente que de alguma forma conta sua história.
A duração em que um plano abstrato (ou um grupo deles) é man- O solista (2009), de Joe Wright, contém cenas que utilizam pla-
tido na tela deve ser planejada cuidadosamente, uma vez que sua nos abstratos que mostram a subjetividade de Nathaniel, um
aparência normalmente tem o efeito de introduzir uma parada ao sem-teto musicalmente talentoso (Jamie Foxx), quando ele vive a
fluxo convencional de uma narrativa. Ao ver um plano abstrato, o experiência de um espetáculo musical. Os planos abstratos (que
público precisa participar ativamente em vez de se portar como lembram a sequência “Stargate” em 2001: Uma odisseia no es-
simples observadores passivos se quiserem entender como e por paço, de Kubrick) sugerem a singularidade da sua conexão com
que o plano se conecta com o restante da história; se isso for feito a música.
114
O mesmo cuidado e a mesma atenção utilizados
ao iluminar temas humanos também devem
aplicados a objetos, algo que os cineastas
iniciantes costumam esquecer. Nesse caso, as A grade de metal foi filmada em um ângulo que
luzes foram posicionadas em um ângulo que enfatiza o eixo z do quadro e sugere a existência
revela a textura áspera da placa metálica, de espaço fora da tela para o público, uma técnica
tornando a aparência desse plano abstrato geralmente usada para criar profundidade e evitar
visualmente ainda mais interessante. a inerente bidimensionalidade do quadro.
Às vezes, a textura não pode ser adequadamente A pouca profundidade de campo concentra a
revelada unicamente por meio da iluminação. atenção do público no centro do quadro, embora
Adicionar um agente líquido a um tema para ele não seja diferente do restante da composição;
tornar sua textura visualmente atraente é uma isso adiciona uma sensação de mistério e
prática comum, e a razão por que muitas cenas ambiguidade a exatamente aquilo que o público
externas à noite apresentam ruas molhadas. deve focalizar nesse plano, efetivamente
realçando a natureza abstrata da imagem.
116
quebrando as regras
A narrativa do filme Reconstrução de um amor (1993), de Christoffer Boe, acompanha os estranhos eventos que acontecem depois
que Alex (Nikolaj Lie Kaas) troca sua namorada Simone (Maria Bonnevie) por Aimee (também interpretada por Maria Bonnevie), apa-
rentemente criando uma realidade alternativa em que nenhum dos seus conhecidos anteriores o reconhece. O filme tem vários planos
abstratos intercalados ao longo da história, como aquele descrito acima, um plano com câmera lenta de um túnel de metrô mostrado
quando Alex deixa sua namorada em um trem para procurar Aimee. Diferentemente da maioria dos planos abstratos, nesse caso é fácil
reconhecer a origem da imagem, mas a estilização criada filmando em uma velocidade de projeção mais lenta combinado com um
projeto de som criativo faz o público se concentrar nas cores, formas e texturas da imagem e nos conceitos de ficção científica que isso
evoca (uma conexão espaço-tempo? Um túnel para um universo alternativo?) e não no conteúdo real do plano.
118
p la n o m a c ro
plano macro
Todos os planos macro são close-ups extremos, mas nem to- comum de ter pouca profundidade de campo, o que limitará
dos os close-ups extremos são planos macro. A diferença está significativamente quaisquer movimentos do tema no quadro.
na quantidade de ampliação da imagem. Por exemplo, embo- Darren Aronofsky usa planos macro no seu filme Ré-
ra seja possível obter um close-up bem próximo de um olho quiem para um sonho (2000) como parte das minimontagens
usando uma objetiva de foco fixo, talvez não seja possível que sintetizam a experiência de estar sob a influência de drogas
chegar mais perto que o mais próximo limite da profundidade psicotrópicas. Nessas imagens visualmente impressionantes, pla-
de campo para a menor distância focal que a objetiva permi- nos macro de pupilas dilatadas (filmados com a técnica de lapso
te, normalmente cerca de 30cm. Uma objetiva macro é uma de tempo) são combinados com outros close-ups extremos de
objetiva especializada projetada para funcionar em distâncias notas de dólar, fluxo sanguíneo aumentado através de uma veia,
de foco extremamente próximas e permitem que você se apro- várias drogas em forma de pó prontas para consumo e um design
xime bem mais (5cm ou menos), resultando em uma imagem sonoro criativo. A utilização de planos macro nessas montagens
enorme do olho no quadro. Isso torna planos macro ideais para permite inteligentemente apresentar ao público imagens que ele
capturar detalhes extremamente pequenos dos personagens e conhece que parecem incomuns por causa do alto grau de am-
objetos. Como close-ups extremos e close-ups normais, a pro- pliação, criando uma metáfora visual para a percepção mais agu-
ximidade dos planos macro pode adicionar uma ênfase visual çada da experiência de um usuário de drogas. Planos macro são
forte a um tema que gera certas expectativas com relação à sua tecnicamente difíceis de alcançar, mas podem fornecer imagens
importância narrativa (de acordo com a regra de Hitchcock), visualmente memoráveis e impressionantes com um nível de de-
por isso seu uso deve ser justificado em algum ponto da histó- talhe que nenhum outro plano pode mostrar.
ria; por exemplo, um plano macro pode ser usado para mostrar
um objeto cuja importância é desconhecida quando apresen-
tado pela primeira vez, sendo revelada mais tarde. Outro uso
comum envolve editar um plano macro no final de uma série
de planos de um personagem que se torna progressivamente
mais fechado, transmitindo uma sensação cada vez maior de
tensão ou importância. O alto nível de ampliação que os planos
macro oferecem também permite mostrar texturas e padrões
que são tão pequenos na vida real que, em alguns casos, tor-
nam-se completamente irreconhecíveis para o público quando
superexpostos, tornando-os ideais para planos abstratos que
não têm uma conexão direta com a trama, mas, mesmo assim,
são uma parte integrante do sistema de imagens de um filme.
Às vezes, as qualidades gráficas de um plano macro são usa-
das para gerar uma questão na mente do público exibindo um Requiem para um sonho (2000), de Darren Aronofsky, usa uma
plano abstrato que ele inicialmente não pode identificar para série de planos macro recorrentes da pupila dilatada em monta-
então cortar para uma série de planos cada vez mais amplos gens altamente estilizadas que permitem visualizar os efeitos do
que finalmente revelam o tema. Por causa dos seus requisitos uso de drogas psicotrópicas. Apenas um plano macro consegue
técnicos exclusivos, os planos macro têm uma característica capturar esse alto grau de ampliação.
120
A lâmina é centralizada no quadro, dando-lhe
uma forte ênfase visual quando perfura o cinto.
Nesse caso, não seguir a regra dos terços cria
uma imagem mais poderosa e desafiadora,
complementando a tensão já presente na cena.
122
quebrando as regras
A sequência dos créditos da abertura imaginativa no filme Gattaca (1997), de Andrew Niccol, usa uma série de planos macro de unhas
cortadas, cabelo raspado e camadas de pele caindo em câmera lenta, o que estabelece sua importância em um mundo em que mesmo
os menores traços orgânicos podem ser usados para identificar pessoas que não foram geneticamente modificadas antes do nascimento
e, portanto, consideradas “inválidas”. Alguns dos planos, porém, não são macros; foram utilizadas grandes peças de plástico filmadas
em 360 quadros por segundo para simular descamações de pele, criando uma imagem visualmente mais atraente do que o que poderia
ter sido feito com uma objetiva macro. O uso de uma profundidade de campo extremamente pequena torna o plano indistinguível dos
demais planos macro reais usados na sequência.
124
p la n o zo o m
plano zoom
Inicialmente introduzidas no cinema no final da década de 1950, a necessidade de trocar de objetiva, eles costumar ter a forma de
as objetivas zoom possibilitaram, pela primeira vez, mudar a dis- tomadas longas (planos com uma duração média maior do que
tância focal da objetiva enquanto uma tomada está sendo feita, apenas alguns segundos) ou editados em uma sucessão rápida
permitindo que os cineastas tenham um campo de visão dinâ- para criar uma sensação de tensão e perigo, dependendo da ve-
mico sem a necessidade de mover a câmera ou trocar de objeti- locidade e estabilidade utilizadas para alterar a distância focal.
va. Embora planos zoom sejam parecidos com planos dolly, eles Um exemplo clássico de um plano zoom ocorre na se-
são diferentes quanto à maneira de retratar espaço e movimento. quência de abertura do filme A conversação (1974), de Francis
Em um plano zoom, a câmera permanece fixa, mantendo uma Ford Coppola, em que um plano geral extremo em um ângulo
constante perspectiva à medida que a objetiva faz um zoom de alto da Union Square em San Francisco é mostrado enquanto o
grande-angular para teleobjetiva (zoom in ou ampliação) ou de público ouve fragmentos de uma conversa que está sendo obvia-
uma teleobjetiva para uma grande-angular o (zoom out ou redu- mente gravada secretamente em algum lugar abaixo. O plano faz
ção). Em um plano dolly, a perspectiva não permanece constante suavemente um zoom da praça, compactando lentamente o qua-
porque a própria câmera está sendo movida. Diferentemente de dro até que ele finalmente revela seu alvo: Harry Caul (Gene Ha-
planos dolly, em que o público tem a sensação de estar se apro- ckman), um especialista em vigilância contratado para gravar uma
ximando ou se afastando de algo no quadro, planos zoom fazem conversa entre um casal que poderia estar cometendo adultério.
o público ter a sensação de que é um elemento da composição O uso de um plano zoom lento, junto com o som da conversa sen-
que está se aproximando ou se afastando dele. A principal função do gravada, torna o público cúmplice do ato de espionagem, in-
de um plano zoom é mudar a composição do plano à medida troduzindo inteligentemente um dos temas centrais desse filme.
que avança para incluir elementos anteriormente não vistos ou
excluir aspectos já vistos da composição a fim de se concentrar
em um único tema. A mudança na distância focal pode ser fei-
ta manualmente ajustando o anel de zoom da própria objetiva,
ou com a ajuda de um servomotor que permite a um operador
controlar a velocidade em que a distância focal é alterada (basi-
camente simulando o botão de zoom em uma câmera de vídeo).
A ação em zoom pode ser suave e constante, ou rápida e brus-
ca, dependendo da sensação que você quer que o plano dê ao
público. Uma mudança frenética e instável na distância focal,
frequentemente utilizada ao segurar a câmera na mão em filmes
de ação, demonstra os meios utilizados para ajustar a composi-
ção de acordo com as mudanças que ocorrem na composição;
nesse caso, erros de enquadramento e ajustes rápidos no plano
são parte da linguagem visual do gênero e não são vistos pelo A sequência de abertura do filme A conversação (1974), de Fran-
público como uma distração (um legado da tradição documental cis Ford Coppola, marca a utilização pela primeira vez de uma
que introduziu reenquadramentos rápidos usando objetivas de objetiva zoom eletronicamente controlada em um filme, com um
zoom para capturar a ação em tempo real). Como planos zoom plano que revela gradualmente o personagem principal, Harry
podem mudar radicalmente o enquadramento de um plano sem Caul (Gene Hackman).
126
Essa posição do tema no quadro segue a regra A distância curta entre a câmera e o tema
dos terços, criando uma composição dinâmica utilizada nesse plano resultou em uma pequena
que é enfatizada ainda mais pelo bloqueio dos profundidade de campo, colocando o fundo fora
temas ao longo do eixo z do quadro, produzindo de foco. Como esse plano zoom muda a distância
uma sensação de profundidade. Observe a focal e altera o ponto focal do primeiro plano para
quantidade correta de altura livre para um plano o fundo, foi necessário estragar o foco à medida
desse tamanho dada ao tema, também um que a composição era ajustada.
resultado do uso da regra dos terços.
128
quebrando as regras
Embora esse plano pareça ter sido filmado com uma objetiva zoom, ele na verdade é um zoom impresso opticamente, sua ampliação
não foi criada por meio da aplicação de zoom durante a produção, mas com o uso de uma impressora óptica na pós-produção. O sinal
indicador desse processo é a perda de resolução e o aumento de granulação quando se amplia o zoom no plano, um efeito colateral
inevitável uma vez que a impressora óptica está tirando uma nova cópia fotográfica de um plano já presente na película. Nesse exemplo
da sequência de abertura do sonho no filme O homem elefante (1980), de David Lynch, a granulação extra não parece inapropriada,
adicionando em vez disso um visual estilizado às imagens surreais que visualiza o nascimento imaginado do personagem-título.
130
plano panorâmico
plano panorâmico
Em um plano panorâmico, a câmera varre o espaço horizontal- a discussão em tempo real destacaria a cena das outras cenas
mente girando à esquerda ou direita e permanecendo estacioná- que usam técnicas de edição convencionais. Todos esses fatores
ria, montada em um tripé ou mesmo segurada na mão. O temo podem ser considerados ao tentar decidir se é necessário usar
“pan” é abreviação de panorâmica: a apresentação de uma visão um plano panorâmico ou uma combinação de planos para cobrir
ininterrupta de uma área. Planos panorâmicos costumam ser uti- uma cena ou momento específico dentro de uma cena no filme.
lizados para acompanhar um tema enquanto ele se move por O exemplo à esquerda do filme Kagemusha, a sombra
um local (chamados panorâmicas com planos) e são conhecidos do samurai (1980), de Akira Kurosawa, usa uma panorâmica
como movimentos de câmera “motivados” porque o movimento com um plano para acompanhar o personagem-título (Tatsuya
do tema motiva o movimento da câmera. Planos panorâmicos Nakadai), um ladrão humilde que personifica um general recém-
também são usados para mudar a visão entre um tema e outro; -falecido. À medida que inspeciona as tropas, ele se vê envolvido
nesses planos, também chamados panorâmicas para planos, o pela emoção de subitamente ser tratado como um líder respei-
movimento da câmera não é motivado pelo movimento de um tado, irrompendo em um galope furioso enquanto os soldados o
tema, tornando o movimento de câmera mais evidente para o pú- saúdam. Kurosawa faz uma panorâmica do personagem à me-
blico a menos que algum aspecto na narrativa motive internamen- dida que ele passa pelas tropas, usando uma teleobjetiva que
te a panorâmica; por exemplo, uma personagem olhando para estreita consideravelmente o campo de visão. O plano resultante,
algo fora da tela pode motivar uma panorâmica que revela para o uma assinatura estilística de Kurosawa, faz o ator parecer mover-
que ela está olhando ao traçar o caminho do seu olhar. Fazer uma -se muito mais rápido do que realmente está por causa do efeito
panorâmica com a câmera em vez de usar planos específicos da teleobjetiva sobre o movimento ao longo do eixo x do quadro
para abranger certo aspecto de uma cena deve levar em conta durante a panorâmica, transmitindo efetivamente sua euforia de-
o fato de que uma panorâmica preserva a integridade do tempo senfreada nessa cena.
e espaço reais e, portanto, pode transmitir para um público que
está acontecendo uma conexão especial que exige seu uso. Por
exemplo, talvez você queira fazer uma panorâmica em um per-
sonagem quando ele se move por um local a fim de estabelecer,
em tempo real, quanto tempo ele leva para atravessá-lo, ou os
relacionamentos espaciais existentes nesse local se essa informa-
ção desempenha um papel crucial na sua história. Panorâmicas
também podem ser usadas para preservar a integridade de uma
atuação particularmente importante por um ator que poderia ter
seu impacto reduzido se ela fosse editada. Uma discussão entre
um casal, por exemplo, poderia ser abrangida por uma panorâmi-
ca que se aproxima e se afasta deles, em vez de usar uma com-
binação mais típica de plano/contraplano de modo a transmitir Esse plano panorâmico no filme Kagemusha, a sombra do samu-
a intensificação das emoções à medida que eles ficam cada vez rai (1980), de Akira Kurosawa, tira vantagem do campo de visão
mais nervosos; a velocidade da panorâmica da câmera poderia reduzido da teleobjetiva para acelerar o movimento percebido ao
ser até mesmo coreografada para corresponder com a intensi- longo do eixo x do quadro à medida que ele acompanha o perso-
dade do diálogo deles, enquanto deixar o público experimentar nagem-título (Tatsuya Nakadai) com uma panorâmica.
132
O reflexo dela está em foco, o que significa que a
distância entre a câmera e o tema usada para
definir o foco foi resultado da adição da O posicionamento do reflexo da personagem
distância entre a câmera e o espelho e então segue a regra dos terços, dando-lhe a
entre o espelho e o tema (definir o foco quantidade adequada de altura livre e resultando
exclusivamente na superfície do espelho poderia em uma composição dinâmica que complementa
ter resultado no tema fora de foco). a natureza dramática da cena.
Uma luz foi posicionada diretamente sobre a pia,
destacando o braço enquanto ela lava o sangue.
Como essa é a área mais brilhante do quadro, a
atenção do público será atraída para ela,
tornando-a o ponto focal da composição.
A altura livre sobre esse personagem é resultado de A composição do plano foi ajustada entre um
dar ao homem a quantidade adequada de espaço plano sobre o ombro e um plano de dois filmados
para um plano desse tamanho. Esse é um arranjo sem corte, preservando o impulso dramático
incomum ao incluir dois personagens de diferentes natural da cena e a performance dos atores.
alturas (embora funcione dentro do contexto da
cena); atores mais baixos costumam ficar sobre
uma base de apoio para evitar discrepâncias.
134
quebrando as regras
Um chicote (swish pan), um plano que faz uma panorâmica rápida o suficiente para criar um desfoque), é usado nessa cena no filme
Chumbo grosso (2007), de Edgar Wright, para destacar o policial londrino Nicholas Angel (Simon Pegg) quando chega para encontrar
sua namorada Janine (Cate Blanchett) e descobre que ela o abandonou. Chicotes são comumente usados como transições entre cenas,
ou para colocar ênfase dramática sobre um tema no final da panorâmica dentro de uma cena. Nesse exemplo, porém, um chicote é
usado para ocultar uma edição dentro da mesma cena, e a ênfase dramática é usada como uma piada visual; o trabalho de Wright é
conhecido por se apropriar de técnicas visuais dos gêneros de terror e ficção científica nas suas comédias.
136
p la n o in c lin a d o
plano inclinado
Planos inclinados giram a câmera para cima ou para baixo en- mais comuns passam em grande medida despercebidos pelo pú-
quanto ela permanece fixa, montada em um tripé ou mantida na blico, já que assumem a forma de pequenos reenquadramentos
mão. Esse movimento desloca a atenção do público de uma área verticais que acontecem quando os personagens se aproximam
para outra, estendendo verticalmente o alcance visual do plano. ou se afastam da câmera para manter a altura livre adequada de
O quadro dinâmico produzido pelo movimento vertical é normal- acordo com a regra dos terços.
mente usado como um plano de ambientação, que apresenta Um plano inclinado é usado para estabelecer uma cone-
um local inclinando a câmara para baixo a fim de revelá-lo gra- xão entre um local e um personagem nesse exemplo no filme So-
dualmente para o público. Às vezes, a inclinação termina em um laris (2002), de Steven Soderbergh. Parte da montagem de uma
personagem, mostrando-o entrando ou saindo. Outra variação abertura rápida que mostra um dia na vida do atormentado psi-
inclui primeiro mostrar um personagem, geralmente após uma cólogo Chris Kelvin (George Clooney), o plano começa com uma
interação com outra pessoa, e então inclinar a câmera para cima lenta inclinação para baixo a partir do teto de um escritório futu-
a fim de revelar o local e fornecer um contexto (isto é, cômico ou rista na direção de uma sessão de terapia em grupo que ele está
irônico) à interação anterior. Assim como planos panorâmicos, conduzindo. Ainda se recuperando da morte da esposa, a vida
os planos inclinados preservam a integridade do tempo real, do de Chris tornou-se estagnada e indiferente, um ponto expositivo
espaço e da performance, assim seu uso deve ser reservado para que é realçado pela maneira como esse plano inclinado conecta
aqueles momentos na sua história em que é narrativamente signi- o padrão repetitivo do teto e das paredes, que também são uma
ficativo fazer essa escolha em vez de usar planos específicos para reminiscência de uma jaula ou cela, com um close-up médio que
cobrir a mesma ação. A inclinação da câmera pode ser motivada o mostra afundado na cadeira. Esse movimento de câmera des-
pelo movimento de um personagem ou algum outro aspecto da motivado é realizado lento o suficiente para efetivamente criar um
cena (como um personagem olhando para cima ou para baixo em plano abstrato quando os padrões repetitivos preenchem o qua-
direção a alguma coisa fora da tela que é revelada por uma incli- dro no início da inclinação, enquanto a lenta revelação de Chris à
nação que traça seu olhar). Movimento de câmera desmotivado medida que a câmera se inclina para baixo evidencia a conexão
às vezes é evitado porque pode chamar a atenção para ele mes- visual entre ele e os padrões no teto e nas paredes.
mo e distrair o público da história; mas há situações em que um
movimento desmotivado pode ser usado para indicar que existe
uma conexão especial entre dois temas em cada extremidade
do plano inclinado. Por exemplo, inclinar a câmera para mudar
a visão de uma pessoa no solo para a de um avião no céu pode
sugerir quaisquer tipos de conexões dependendo do contexto da
história (isto é, o sonho de voar, o desejo de voltar para casa,
a fobia que impede uma pessoa de ver um ente querido etc.).
Planos inclinados são bem menos utilizados do que planos pa-
norâmicos, já que a maior parte da ação geralmente é encenada Esse plano inclinado no filme Solaris (2002), de Steven Soder-
na tela ao longo dos eixos x ou z do quadro; é raro, por exemplo, bergh, conecta criativamente os padrões abstratos repetitivos
que uma troca entre dois personagens seja posicionada em duas encontrados nesse local para transmitir a previsibilidade e a es-
alturas substancialmente diferentes que lhe daria a oportunidade tagnação na vida de Chris Kelvin (George Clooney) após a morte
de inclinar para trás e para frente entre eles. Os planos inclinados da esposa.
138
O enquadramento central da torre produz uma
composição simétrica que transmite sua impor
tância no final da história. Um posicionamento A inclinação começa com um plano em ângulo
baseado na regra dos terços criaria um quadro baixo extremo que simula o ponto de vista de
mais dinâmico, mas teria impedido que a alguém olhando para a torre a partir do solo. Esse
inclinação criasse uma linha direta, e, portanto, enquadramento também maximiza a duração da
uma conexão clara entre a torre e os personagens inclinação à medida que varre a torre em direção
no final do plano. ao solo.
Nesse plano pungente e maravilhoso no filme Asas do desejo (1987), de Wim Wenders, um plano inclinado é combinado com um plano
dolly em movimento que fecha gradualmente o quadro para isolar Cassiel (Otto Sander), um anjo que conforta almas perdidas. Excep-
cionalmente nesse plano o movimento de inclinação tem precedência em relação ao plano dolly, criando uma composição visualmente
poética que faz o anjo parecer se elevar até o céu.
142
p la n o d o lly
plano dolly
Planos dolly são feitos com a câmera em uma plataforma desli- participe em tempo real dessa experiência com o personagem.
zante sobre rodas (dolly) que pode ser movida suavemente. Em- Por causa das afirmações visuais e narrativas fortes que ele pode
bora seja semelhante a um plano zoom (ambos os planos criam criar, planos dolly devem ser usados com moderação, reservados
um quadro dinâmico com uma composição constantemente para aqueles momentos na história em que o público deve criar
mudando ao longo do eixo z), há diferenças fundamentais entre uma conexão forte com uma situação ou um personagem.
eles. Em um plano zoom, a câmera permanece imóvel enquan- Um excelente exemplo de um plano dolly que revela um
to a distância focal da objetiva é alterada para que as mudan- aspecto importante de uma cena e o comenta acontece no filme
ças no enquadramento sejam percebidas pelo público como se O lixo e o sonho (1999), de Ramsay Lynne, o conto angustiante
um aspecto da composição se aproximasse ou afastasse deles. de um menino de 12 anos, James (William Eadie), que atinge a
Como o plano dolly move fisicamente a câmera enquanto a dis- maioridade em uma área pobre de Glasgow na década de 1970.
tância focal permanece inalterável, há uma mudança constante Depois de viajar clandestinamente de ônibus, ele chega a um
da perspectiva na composição, fazendo o próprio observador se conjunto habitacional parcialmente construído em uma área idíli-
sentir aproximando-se ou afastando-se de um aspecto no quadro. ca da zona rural. Dentro de uma das casas, a câmera lentamente
Planos dolly, como todos os planos de câmera em movimento, se aproxima de uma janela à medida que James se aproxima dela
podem ser usados para revelar, ocultar ou comentar uma ação ou para então acompanhá-lo depois que ele salta em direção à plan-
situação. Um uso muito comum do plano dolly é chamado “dolly tação de trigo, em uma das imagens mais belamente surrealistas
in”, em que a câmara se aproxima progressivamente do rosto de do filme. O movimento dolly revela gradualmente a vastidão do
um personagem à medida que ele faz uma descoberta signifi- campo e permite ao público experimentar, por meio do movimen-
cativa ou tem de tomar uma decisão importante. Usar um plano to da câmera, a alegria e a magia desse momento significativo na
dolly em vez de um corte (para obter um enquadramento mais vida de James.
fechado da face) permite que a tensão, o suspense e o drama
desse momento se desenrolem gradualmente em tempo real, en-
quanto a composição dinâmica o realça visualmente e o destaca
do restante da cena. Usado dessa forma, o plano dolly adiciona
um contexto narrativo que não seria possível se apenas planos
estáticos fossem utilizados, como se comentando a importância
do momento. Outro uso comum do plano dolly é o “dolly out ”,
em que a câmera se afasta lentamente de um personagem, ge-
ralmente após um evento indesejável ter acabado de acontecer.
O enquadramento progressivamente mais amplo nesse plano faz
o personagem parecer gradualmente menor no quadro, muitas
vezes indicando perda de confiança, poder ou progressiva solidão
ou desespero. Planos dolly também podem ser usados para reve-
lar um aspecto importante de uma cena que estava inicialmente Um dolly in realça visualmente um momento surrealistamente
oculto (ou vice-versa), muitas vezes acompanhando um persona- belo na vida de James, um menino de 12 anos crescendo em
gem que experimenta a revelação; a composição dinâmica realça uma área pobre de Glasgow, no filme O lixo e o sonho (1999), de
a importância narrativa da descoberta, e permite que o público Ramsay Lynne.
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A distância entre a câmara e o tema nesse ponto Embora todas as outras pessoas no quadro estejam
no plano dolly resultou em uma profundidade iluminadas com luz difusa, aqui o personagem principal
relativamente grande que, combinada com o foi iluminado com a iluminação convencional de três
enquadramento amplo, permite incluir grande pontos, projetada para destacá-lo na composição e
parte da atividade no fundo. À medida que a chamar a atenção dos espectadores para ele. Essa
câmera se aproxima, o enquadramento mais convenção está tão disseminada que quase ninguém
fechado e com menor profundidade de campo percebe seu artifício, mesmo em planos em que ele
separam o personagem da área adjacente, deveria parecer fora de lugar, como esse plano filmado
deixando o público se conectar com sua dor. externamente durante o dia.
146
quebrando as regras
Planos dolly são comumente usados para realçar um momento significativo em uma cena, muitas vezes quando um personagem faz
uma descoberta ou toma uma decisão importante. Esse plano dolly no filme À beira da piscina (2003), de François Ozon – a história de
uma escritora de romance policial (Charlotte Rampling) em busca de inspiração –, faz algo bem incomum; ele se move lateralmente em
vez de na direção do personagem, indicando que algo estranho está acontecendo além de ela ter uma súbita explosão de criatividade.
O público só conhece o significado desse plano no final do filme quando uma guinada típica no tipo de romance que ela escreve muda
o contexto de tudo o que eles viram.
148
plano dolly zoom
plano dolly zoom
Também conhecido como um “contra zoom”, “plano trombone”, zoom, quando uma agente do FBI (Angelina Jolie) ajudando a
“zolly ”, e talvez mais notoriamente como o plano do “efeito Ver- capturar um serial killer repentinamente descobre que uma tes-
tigo”, o plano dolly zoom foi introduzido ao vocabulário cinemá- temunha com a qual ela tornou-se íntima é de fato responsável
tico predominante em Vertigo (1958), de Alfred Hitchcock, para pelos assassinatos. O plano dolly zoom usado aqui começa com
representar o medo de alturas vivido pelo detetive John Fergu- a objetiva zoom configurada com uma grande-angular e pouca
son (James Stewart) em momentos chave na história. O plano distância entre a câmera e o tema. À medida que o plano avan-
é criado usando uma combinação de um plano dolly com um ça, a câmera se afasta rapidamente enquanto a objetiva zoom
plano zoom, funcionando em conjunto de modo que quando a é ajustada no intervalo de teleobjetiva, mantendo constante o
câmera se aproxima de um tema, o zoom da objetiva é reduzi- tamanho do tema enquanto o fundo parece se aproximar dela
do ou ampliado se a câmera se afasta dela. O plano resultante, (observe o quanto menos das paredes no corredor pode ser visto
quando executado apropriadamente, mantém constante o tama- no último quadro em relação ao primeiro). O plano dolly zoom
nho do tema no quadro enquanto a perspectiva no fundo muda transmite efetivamente a surpresa, desorientação e choque senti-
drasticamente parecendo se aproximar ou se distanciar. O efeito dos pelo personagem nesse momento crítico. Esse plano também
é extremamente visível e inquietante e, portanto, reservado para demonstra que, quando o tamanho do tema é mantido constan-
momentos em uma história quando algo particularmente signifi- te, uma mudança na distância focal não afeta a profundidade
cativo ocorre. Um uso muito comum do plano dolly zoom é quan- de campo se contrabalançada por uma mudança na distância
do um personagem tem uma percepção abrupta ou é surpreendi- entre a câmera e o tema, como visto no fundo, que permanece
do por algo que ele vê ou aprende. Outros usos incluem visualizar consistentemente fora de foco quer a objetiva zoom seja configu-
estados emocionais extremos, como obsessão, raiva, paixão, pa- rada com uma grande-angular (no início do plano) ou como uma
ranoia, medo e até mesmo estados mentais induzidos por drogas. teleobjetiva (no final).
A velocidade em que o plano dolly zoom é executado pode afetar
a maneira como ele é interpretado pelo público e as emoções que
pode transmitir. Para transmitir emoções extremas, o plano dolly
zoom geralmente é realizado rapidamente, tornando a mudança
da perspectiva no fundo extremamente perceptível. Em outros
casos, o plano dolly zoom é realizado muito lentamente, tornando
a mudança da perspectiva sutil e às vezes difícil de ver; o efeito
não é tão inquietante, transmitindo que algo significativo, embora
não necessariamente extremo, está ocorrendo. Um uso menos
comum do plano dolly zoom é exibir o fundo da composição em
vez de um personagem no primeiro plano, que é mantido fora de
foco; nesse caso o plano dolly zoom visualiza a percepção defor-
mada de um personagem em relação ao seu ambiente, normal-
mente devido ao seu estado mental ou influências sobrenaturais
(uma característica visual muito usada em filmes de terror). Um uso clássico do plano dolly zoom é acentuar uma percepção
O exemplo na página oposta, do filme Roubando vidas repentina do personagem de que algo está errado, como visto no
(2004), de D.J. Caruso, mostra o uso mais comum do plano dolly exemplo no filme Roubando vidas (2004), de D.J. Caruso.
150
Quando o plano dolly zoom começa, a câmera
está configurada perto dos temas e a objetiva
zoom está configurada com uma pequena
distância focal para funcionar como uma
grande-angular. Observe a expansão das
distâncias ao longo do eixo z do quadro,
evidenciada pelas linhas convergentes dos
edifícios em um ponto de fuga no centro do
quadro.
152
quebrando as regras
Esse plano, do filme Trainspotting (1996), de Danny Boyle (1996), tem todos os sinais reveladores de um plano dolly zoom: o tamanho
do tema permanece constante e o fundo perde-se na distância. Mas não é absolutamente um plano dolly zoom; a cama foi filmada junto
com a câmera dentro de um cenário especialmente construído. O efeito resultante é ainda mais perturbador do que em um dolly zoom
normal, dando um toque surreal à descrição das dores e aflições causada pela abstinência de drogas de Renton (Ewan McGregor), um
viciado em heroína em recuperação.
154
p la n o tra ve llin g
plano travelling
Em um plano travelling, a câmera é movida para acompanhar entre um personagem e a área circundante; isso costuma ser
o movimento de um tema ao lado dele, na frente dele (também o caso com planos travelling reversos que tendem a demorar o
chamado de plano travelling reverso, um dos favoritos de Kubrick) tempo suficiente para criar os detalhes relevantes sobre um local
ou atrás dele; por causa disso, diz-se que o movimento nos pla- e as reações dos personagens à medida que estes se movem ao
nos travelling é motivado. As pessoas costumam confundir planos longo do plano.
travelling com planos dolly, mas eles são fáceis de distinguir uma Um uso cativante de um travelling é visto no final da
vez que nos planos dolly a câmera é movida de uma maneira obra-prima Os incompreendidos (1959), de François Truffaut,
independente do tema (um tipo desmotivado de movimento de a história de um jovem adolescente parisiense Antoine Doinel
câmera), aproximando ou se afastando dela em vez de usar um (Jean-Pierre Léaud) que, sentido-se rejeitado, revolta-se contra
plano travelling com um tema em movimento. Planos travelling a família e a escola, começa a praticar pequenos delitos e vai
podem ser feitos posicionando a câmera em um dolly com rodas, parar num reformatório. No começo do filme, ele expressou seu
ou sobre trilhos, com uma Steadicam, dentro de um veículo ou desejo de ver o mar, sem nunca tê-lo visto antes; ele rapidamente
até a segurando na mão, dependendo da quantidade e velocida- consegue fugir da instituição, apenas para correr sem rumo pelo
de do movimento do tema. Embora planos travelling possam ter campo até alcançar um vislumbre da costa. Sua corrida para a
praticamente qualquer tamanho de plano, eles costumam ser fil- liberdade é capturada em um plano travelling que dura quase
mados com enquadramentos mais amplos, como planos médios, 80 segundos (uma eternidade em termos da duração do plano),
planos gerais médios e planos gerais, uma vez que grande parte revelando um Antoine apático em um plano geral que permite
do dinamismo da composição é perdida com enquadramentos ver o vazio do seu ambiente. A tomada longa preserva a ação em
mais fechados que excluiriam a maior parte da área circundante. tempo real, dramatizando sua fuga e o impulso para voar (algo
Planos travelling que movem a câmera lateralmente para acom- que Antoine faz ao longo de todo o filme), um momento chave na
panhar um tema (um cenário muito comum) têm mais compo- narrativa que leva o público a um dos quadros congelados mais
sições dinâmicas do que planos travelling nos quais a câmera famosos da história do cinema.
acompanha um tema por trás ou de frente porque eles enfatizam
o movimento ao longo do eixo x do quadro. Embora menos dinâ-
micos porque mostram o movimento ao longo do eixo z do qua-
dro, planos travelling reversos têm a vantagem de deixar o público
alcançar um maior nível de envolvimento com um personagem
porque eles mostram o rosto de um personagem frontalmente
em vez de perfil. Às vezes, planos travelling são combinados com
planos zoom ou planos dolly, assim, quando acompanham um
personagem, o enquadramento torna-se progressivamente mais
fechado, de um plano geral ou plano médio para um close-up
médio ou um close-up normal. Essas combinações podem dar
tensão e drama a um momento significativo em uma narrativa, Um travelling acompanha Antoine (Jean-Pierre Léaud) por cerca
realçando as emoções de um personagem no final do plano. Pla- de 80 segundos quando ele foge de um reformatório, no maravi-
nos travelling também costumam ser tomadas longas, especial- lhoso exame da psicologia adolescente feito por François Truffaut
mente quando são usados para estabelecer um relacionamento no filme Os incompreendidos (1959).
156
O plano permanece estático até o personagem Enquanto a câmera está estática, o público tem a
entrar no quadro, motivando o movimento da chance de ver esses dois meninos brincando de
câmera. O enquadramento nessa fase do lutar no fundo, prenunciando a ameaça da
travelling é o de um plano geral médio, incluindo violência que permeia essa cena e revelando a
o personagem e boa parte da área circundante. preocupação central do personagem principal.
A pouca profundidade de campo permite usar o O movimento da câmera foi configurado para
foco seletivo, nesse caso, definido como o seguir diagonalmente ao rastrear o personagem,
agressor no meio em vez do personagem principal criando um quadro progressivamente mais
no primeiro plano. Essa é uma escolha fechado que exclui a maior parte da área
anticonvencional, mas eficaz que permite ao circundante e culmina em um close-up médio,
público se identificar com o personagem principal restringindo visualmente o personagem.
direcionando sua atenção para a causa do seu
sofrimento em vez de para suas expressões faciais.
158
quebrando as regras
Planos travelling são motivados pelo movimento dos personagens no quadro, uma convenção projetada para evitar o movimento de
câmera que chama atenção para ele mesmo. Nesse plano travelling no filme A vida dos outros (2006), de Florian Henckel von Donner-
smarck, a câmera acompanha Hauptmann Wiesler (Ulrich Mühe), um ex-policial da Stasi (polícia secreta da Alemanha Oriental), alguns
anos depois da queda do muro de Berlim. Em um momento durante o travelling a câmera para, permitindo que ele saia do quadro por
alguns segundos. Essa ação aparentemente desmotivada pela câmera é chocante e inesperada, criando um momento de tensão que
dura até que o personagem dê um passo atrás no quadro, como se percebesse repentinamente alguma coisa; o plano acaba quando
ele para na frente de um grande cartaz anunciando um livro de um dramaturgo contrarrevolucionário que ele espiona, mas que optou
por proteger em vez de prendê-lo.
160
plano Steadicam
plano Steadicam
Embora dollies sobre rodas e trilhos possam criar efetivamente comentando a ação que está sendo apresentada. A liberdade do
movimentos de câmera suaves e expressivos, às vezes sua im- movimento desses planos também permite que eles sejam utili-
plementação pode ser difícil e limitante; por exemplo, nenhum zados para dar ao espectador a sensação de que estão lá, entre a
dolly ou trilho pode ser usado ao mover a câmera para cima ou ação e a atividade na cena. Como a maioria dos planos de câmera
para baixo em uma escada. A invenção da Steadicam por Garret em movimento, planos Steadicam tendem a ser motivados pelo
Brown em 1976 resolveu esse problema, adicionando um novo movimento de um personagem e, portanto, são projetados para
tipo de plano ao vocabulário cinematográfico disponível para os transmitir uma sensação orgânica do fluxo de uma cena.
cineastas: o plano Steadicam. Um equipamento Steadicam en- Um exemplo brilhante de um plano Steadicam pode ser
volve o uso de um colete especial com um braço articulado ao visto no filme Os bons companheiros (1990), de Martin Scorse-
qual a câmera é anexada e estabilizada com um sistema gimbal se, quando Henry Hill (Ray Liotta), um gângster promissor, leva
(também conhecido como articulação ou junta Cardan), o equi- a namorada Karen (Lorraine Bracco) para jantar fora. Em um
pamento efetivamente isola quaisquer instabilidades provocadas virtuoso plano Steadicam, nós os acompanhamos à medida que
pelo movimento do operador, permitindo quase uma liberdade ili- eles entram em um famoso restaurante por uma porta lateral,
mitada de movimento (restrita apenas pela resistência da pessoa ignorando uma grande multidão esperando na fila para entrar.
vestindo o equipamento). Planos Steadicam que usam um equi- Depois de percorrer corredores labirínticos e uma cozinha frené-
pamento Steadicam real ou um suporte semelhante de estabili- tica, eles chegam à área principal, ignorando outra fila de clientes
zação de câmera (de empresas como MKV, Chrosziel, Glidecam esperando impacientemente uma mesa. Por fim, eles recebem
e Manfrotto entre outras) podem reproduzir os movimentos dos prontamente uma mesa ao lado do palco quando Henry distribui
planos dolly e planos travelling, com a vantagem adicional de se- gorjetas para todo mundo, dos seguranças aos garçons. O uso de
rem capazes de também mover a câmera para cima e para baixo um único plano Steadicam para cobrir essa sequência (em vez
ou fazer um plano de 360˚ em torno de um personagem e qual- de usar uma série de planos de vários tamanhos) permite que o
quer outro movimento entre esses dois extremos. Normalmen- público acompanhe o casal, deixando-os experimentar o privilé-
te planos Steadicam são reservados para os momentos em que gio e status que vem com o viver a vida como um “goodfella”, um
manter a integridade do tempo, espaço e fluidez do movimento mafioso.
são narrativamente significativos para a história; deve haver uma
razão convincente para cobrir cena específica, por exemplo, com
um plano Steadicam em vez de usar uma combinação de planos
de vários tamanhos. Às vezes, um plano Steadicam será usado
para preservar a unidade de uma performance por um ou mais
personagens em um único take, reenquadrando a composição
do plano conforme necessário de modo a intensificar o envolvi-
mento do público ou realçar um aspecto específico da cena. A
preservação do tempo real aumenta a tensão e gera a expectativa
de que tudo pode acontecer, já que não há edições para sinalizar A fluidez e a suavidade desse plano Steadicam são utilizadas para
ao público de que algo particularmente significativo está ocor- deixar o público experimentar como é desfrutar as regalias espe-
rendo. Em alguns casos, a fluidez e suavidade do movimento da ciais de ser um “goodfella” em Os bons companheiros (1990), de
câmera são essenciais para explicitar o fato narrativo do plano, Martin Scorsese.
162
Um enquadramento fechado foi utilizado no início
do plano para excluir uma grande quantidade de Todas as várias composições necessárias a partir
espaço fora da tela, permitindo que um dos desse plano Steadicam tornou fundamental
matadores entrasse no quadro subitamente coreografar cuidadosamente a ação
embora ele estivesse a apenas alguns centímetros antecipadamente para que o foco pudesse ser
de distância. Desse momento em frente, o mantido nos diversos personagens. Nessa fase do
operador de Steadicam reenquadra a composição plano, por exemplo, a câmera focalizava os
para deixar o público ver os detalhes relevantes e personagens no primeiro plano, evidenciados
dar ênfase dramática à cena. pelo fundo desfocado.
Embora de cabeça para baixo, o tema foi Quando a câmera reenquadrou o tema para essa
posicionado no quadro de acordo com a regra composição, o foco precisou ser ajustado para
dos terços, nesse caso, em relação à parte assegurar que seu rosto estivesse nítido. Compare
inferior esquerda do ponto ideal; o essa menor profundidade de campo com a maior
posicionamento diagonal do corpo ao longo do profundidade de campo no quarto quadro na
quadro reforça esse posicionamento página oposta, quando o Steadicam foi
levando o espectador a olhar para o rosto, reenquadrado em um plano geral.
o ponto focal dessa composição.
plano Steadicamâ•… 163
considerações técnicas
objetivas todos os formatos de câmeras de filme e vídeo. Mas apenas so-
luções sofisticadas fornecerão mais opções para configurar a câ-
Diferentemente de um plano com a câmera na mão, um equipamen-
mera (por exemplo, posicionar a câmera perto do chão, ou ter
to de estabilização não precisa usar uma objetiva grande-angular
um bom suporte para deixá-lo operar câmeras mais pesadas por
para ocultar o movimento tremido da câmera. A escolha da distância
períodos maiores de tempo). É fundamental o uso de monitores
focal pode ser determinada pela necessidade de ter um campo de vi-
de visualização grandes para permitir que os operadores meçam
são específico, fazer o fundo parecer mais perto ou mais longe de
a composição e o foco do plano em um relance de olhos, pois
um tema ou manipular a percepção do movimento quando a câme-
eles também terão de usar sua visão periférica ou um spotter (um
ra se movimenta. Em uma composição estática, é relativamente fácil
assistente que orienta o operador, principalmente ao andar para
medir a distância focal que melhor atende às suas necessidades; o
trás) de modo a andar com segurança ou até mesmo correr du-
quadro dinâmico de um plano em movimento, porém, trará muitas
rante a filmagem; telas de LCD giratórias encontradas na maioria
possibilidades composicionais com base na objetiva que você sele-
das câmeras de vídeo SD e HD não são suficientemente grandes
ciona. Por exemplo, se o plano Steadicam incluir uma grande quan-
para essa finalidade.
tidade de movimento ao longo do eixo z, é recomendável exagerar a
distância coberta pela câmera usando uma objetiva grande-angular,
fazendo objetos ou personagens que se aproximam ou se afastam iluminação
da objetiva parecerem supervelozes. Alternativamente, talvez você
Planos dinâmicos de câmera sempre apresentam um desafio
queira mostrar como um personagem mal consegue se mover ao
para o diretor de fotografia porque uma câmera em movimento
longo do eixo z, e utilizar uma teleobjetiva que comprime essas
tornará extremamente difícil ou mesmo impossível ocultar as lu-
distâncias. Essas distorções espaciais também podem produzir um
zes do filme em um local. Uma das estratégias é coreografar cui-
efeito muito distinto ao usar a câmera em um ângulo alto ou baixo,
dadosamente o caminho da câmara para evitar exibir luzes, mas
como visto no filme O iluminado (1980), de Stanley Kubrick, em que
fazer isso irá adicionar outro nível de dificuldade a um plano já
uma objetiva grande-angular foi usada para fazer as paredes de um
exigente. Outra estratégia é iluminar todo o local com acessórios
labirinto parecer muito mais altas do que eram. Outra consideração
cênicos convenientes, ou practicals (luzes que fazem parte do
importante ao escolher uma objetiva para um plano Steadicam é a
cenário), e adicionar lâmpadas de maior potência. O movimento
distância mínima de foco necessária entre a câmera e o tema. Por
dos atores é então bloqueado para que eles sejam iluminados por
exemplo, se quizer manter uma composição constante que inclui a
essas luzes, permitindo que a câmera se mova mais livremente.
câmera acompanhando muito próximo atrás ou à frente de um tema
A iluminação também desempenha um papel crucial para con-
em movimento, sendo necessário o uso de uma objetiva de menor
trolar a profundidade de campo; isso é especialmente importante
distância focal que permita uma distância bem menor entre a câme-
em um plano Steadicam porque o foco geralmente é realizado
ra e o tema (também tornando possível desfocar o fundo). Inversa-
pelo operador mantendo uma distância entre a câmera e o tema
mente, uma distância focal maior o forçará a manter a câmera ainda
constante. Se a profundidade de campo for excessivamente pe-
mais afastada do tema (o que torna mais difícil desfocar o fundo).
quena, será mais difícil manter o tema de uma maneira consis-
tente dentro da área de foco nítido, o que poderia ser exatamente
equipamento o desejado como parte de uma estratégia visual que você pode
Embora o Steadicam tenha se tornado sinônimo do uso de planos projetar para seu filme.
estabilizados, há algumas soluções disponíveis para praticamente
164
quebrando as regras
O movimento dos planos Steadicam muitas vezes é motivado pelo movimento de um tema, uma vez que o movimento da câmera
desmotivado pode ser confundido como sendo um plano subjetivo de um observador invisível. Vários planos Steadicam chave no filme
Nascido para matar (1987), de Stanley Kubrick, ofuscam essa distinção posicionando a câmera em ponto baixo em relação ao solo e
atrás dos fuzileiros navais à medida que eles entram em áreas perigosas nesse filme sobre os efeitos desumanizantes da guerra; esses
planos colocam efetivamente o público no meio da ação, como se eles próprios fossem os fuzileiros navais.
166
p la n o d e g ru a
plano de grua
Em um plano de grua, a câmera é montada em um suporte que plano (em especial em planos-sequência). O uso de um plano de
pode ser uma grua real, um jib arm (um tipo de boom com uma grua para introduzir um local, um personagem ou enfatizar um
câmera na ponta), uma plataforma elevatória, ou qualquer outro evento chave criará uma afirmação narrativa poderosa que pode
dispositivo que permitirá que a câmera seja movida verticalmen- transmitir que há algo especialmente significativo ou relevante
te, horizontalmente ou em uma combinação de ambos. O plano acontecendo, já que a mudança na composição é acompanhada
de grua normal, porém, enfatiza um movimento vertical da câme- por uma mudança na nossa compreensão do significado narra-
ra que pode abranger qualquer coisa que vai de apenas alguns tivo do plano; seu uso, porém, deve ser reservado apenas para
centímetros a até mais de 30m de altura. Embora existam muitas aqueles momentos na história em que você quer que aconteça
variações, planos de grua são mais comumente usados para re- uma mudança na mente do público.
velar gradualmente a enorme dimensão de um local ou ambiente Um clássico uso de um plano de grua ocorre no filme
quando a câmera é movida para cima, incluindo mais detalhes O tigre e o dragão (2000), de Ang Lee, durante uma sequência
à medida que a perspectiva da câmera torna-se mais alta. Esse de flashback prolongada em que Jiao Long Yu (Zhang Zi-Yi), um
tipo de plano de grua pode funcionar essencialmente como um membro de uma família aristocrática com uma paixão secreta
plano de ambientação, editado no início de uma cena ou sempre por artes marciais, conhece Lo “Nuvem Negra” (Cheng Chang),
que um local chave é introduzido. O mesmo movimento de grua líder de uma gangue de bandidos do deserto que acaba se apai-
também é em geral usado para mudar gradualmente o enquadra- xonando por ela. Lo é apresentado com um plano de grua que
mento de um plano fechado de um personagem para um plano gradualmente revela a ele e sua gangue, combinado com um
amplo de um local quando o personagem perde-se na distância, movimento de inclinação da câmera que muda drasticamente a
geralmente no final de uma cena chave ou mesmo no final de um perspectiva de um ângulo baixo para um ângulo alto. A ênfase
filme. Outro plano de grua bastante comum inverte essencialmen- visual transmitida pelo uso de um plano de grua para apresentar
te esse movimento, começando com um plano geral ou mesmo esse personagem sugere claramente sua importância na história,
um plano geral extremo que inclui uma área grande de um local e o fato de que esse território é seu império. Esse uso é uma téc-
que então se move para baixo em direção a um enquadramento nica comum projetada para causar uma forte primeira impressão
fechado de um personagem, isolando-o na composição. O movi- na mente do público.
mento para cima ou para baixo da câmera em um plano de grua
pode ser mais aparente se houver objetos no primeiro plano da
composição que a atravessam quando ela se move. Talvez esses
elementos no primeiro plano não sejam necessários se o plano de
grua elevar significativamente a câmera, uma vez que a mudança
na perspectiva será muito evidente nesses casos; mas se o plano
de grua elevar a câmara apenas alguns metros e o tema estiver
relativamente distante dela, o movimento poderia passar comple-
tamente despercebido a menos que algo passe pela câmera no
primeiro plano da composição. Planos de grua também podem
ser combinados com outros tipos de movimento de câmera incor- O tigre e o dragão (2000), de Ang Lee, usa um plano de grua para
porando o uso de dollies ou outros tipos de plataformas móveis revelar dramaticamente uma gangue de bandidos do deserto e
que podem adicionar um excelente nível de complexidade a um sua líder, Lo (Chang Cheng).
168
A câmara é inclinada no início do plano de grua,
produzindo um ângulo alto, quase uma vista
superior dos temas e da área imediata. À medida
que o plano de grua continua, a câmara será
ligeiramente inclinada para cima e fará uma
panorâmica de modo a enquadrar o tema
principal em close-up médio a partir de um
ângulo mais neutro. A combinação de um plano
de grua com um plano inclinado e uma
panorâmica torna esse relativamente pequeno
movimento de câmera mais dramático do que se
fosse utilizado apenas um plano de grua.
A combinação dessa distância entre a câmara
e o tema com essa abertura produziu uma
profundidade de campo que manteve em foco
tanto os personagens como a área adjacente.
Quando o plano de grua abaixa a câmera, a
distância em relação ao tema principal torna-se
mais curta, criando uma profundidade de campo
menor que centraliza a atenção do público nela.
170
quebrando as regras
Planos de grua muitas vezes são combinados com outros movimentos de câmera (como panorâmicas e inclinações) para intensificar
o impacto dramático de um momento significativo em uma narrativa. Esse exemplo do filme Era uma vez no Oeste (1968), de Sergio
Leone, adiciona ainda mais complexidade incorporando de uma maneira perfeita menor nível de zoom, um dolly out e uma inclinação
da câmera para um plano de grua quando ele recua para revelar o assassinato sádico de um homem. Ao longo do filme, acompanhamos
“Harmonica” (Charles Bronson) quando ele persegue implacavelmente Frank (Henry Fonda), o líder da gangue de assassinos impiedo-
sos, sem saber seus motivos. Durante o confronto final, Frank (e o público) por fim descobre que anos atrás ele matou cruelmente o ir-
mão de Harmonica, durante um flashback que usa um plano de grua complexo para transmitir o significado memorável desse evento.
172
p la n o -se q u ê n c ia
plano-sequência
Planos-sequência estão entre os planos mais complexos, difí- notoriamente no filme Festim diabólico (1948), de Alfred Hitchcock.
ceis e, consequentemente, mais recompensadores que você Mais recentemente, o advento de imagens geradas por computa-
pode tentar. O termo vem inicialmente da tradução literal do dor, ou CGI, possibilitou ocultar as edições de uma maneira mais
francês “planséquence” e refere-se a um plano que incorpora eficaz, tornando-as praticamente impossíveis de detectar.
um conjunto sofisticado de movimentos dinâmicos de câmera e Um dos exemplos mais famosos de um plano-sequência
enquadramento em relação a uma tomada longa, muitas vezes acontece durante a cena de abertura no filme A marca da mal-
abrangendo a ação de várias cenas que de outro modo poderiam dade (Touch of Evil, 1958), de Orson Welles. O plano começa
ser cobertas com alguns planos distintos. Planos-sequência fa- com um close-up de um explosivo caseiro, que é colocado no
zem uma declaração narrativa inequivocamente poderosa sobre porta-malas de um carro que mais tarde é dirigido por um casal
a importância da ação que eles cobrem e os relacionamentos em direção à fronteira entre o México e os Estados Unidos. O
espaciais e temporais entre os elementos no plano e, portanto, carro deles se encontra acidentalmente com um casal recém-
costuma ser usados para mostrar uma série crucial de eventos -casado (Charlton Heston e Janet Leigh), também a caminho da
que são fundamentais para a compreensão do restante do filme. fronteira, cujo interlúdio romântico é interrompido pela explosão
Planos-sequência podem incluir planos de grua, planos dolly, do carro. Essa série de eventos é coberta espantosa e impecavel-
planos zoom, planos com a câmera na mão, planos panorâ- mente por um único plano-sequência de três minutos (realizado
micos, inclinados, planos travelling e Steadicam muitas vezes com o uso de uma câmera montada em uma grua na traseira de
combinados perfeitamente para criar um quadro dinâmico que um caminhão) que permite que a ação se desenrole em tempo
pode abranger desde um close-up extremo até um plano geral real, ampliando o suspense e a tensão criados no início do plano
extremo. Movimentos de câmera em planos-sequência costu- quando o temporizador do explosivo foi acionado. O movimen-
mam ser motivados pelo movimento dos personagens, embora o to de câmera complexo introduz também a zona de fronteira de
movimento de câmera desmotivado também seja utilizado, exclu- uma maneira que é sugestiva dos complexos confrontos morais,
sivamente ou em combinação com o movimento motivado. Como éticos, legais e culturais que ocorrem lá posteriormente, um dos
planos-sequência sempre usam tomadas longas (planos que po- temas chave explorados nesse filme.
dem durar de um minuto a bem mais de uma hora, dependendo
do formato de filmagem), eles preservam o tempo real, o espaço e
a performance dos atores e podem adicionar tensão, realismo
e dramaticidade à cena. Mas esse aspecto do tempo real não
significa automaticamente realismo, visto que esses planos cos-
tumam ser estilisticamente virtuosos e muito visíveis para o pú-
blico. Devido à complexidade dos planos-sequência, os cineastas
descobriram maneiras de trapacear, criando o que parecem ser
planos-sequência prolongados que na verdade são uma série de Esse plano-sequência lendário da cena de abertura no filme A
miniplanos-sequências distintos com suas edições invisíveis. Isso marca da maldade (1958), de Orson Welles Welles, permite que
geralmente é feito cortando entre dois planos enquanto o qua- a ação se desenrole em tempo real, intensificando gradualmente
dro é completamente preenchido com uma imagem indefinível, o suspense e a tensão inicialmente introduzidos quando um arte-
como uma parede em branco ou a sombra de uma personagem fato explosivo com um temporizador é mostrado sendo acionado
quando ele passa na frente da câmera, uma técnica usada mais no início do plano.
plano-sequênciaâ•… 173
plano-sequência
174
O plano-sequência começa com um plano de um
helicóptero que revela um estádio de futebol
durante uma partida em andamento. Essa Essa seção do plano-sequência perderia muito do
revelação dramática é narrativamente justificada seu impacto visual se o estádio estivesse
pela descoberta anterior dos agentes de que o circundado por edifícios muito iluminados. Em
suspeito é um fã apaixonado de futebol e jamais vez disso, a escuridão ao redor do estádio
perdeu um jogo do seu time favorito. destaca a iluminação interna na composição.
O uso de uma câmera extremamente inclinada Embora esse tema devesse ter sido iluminado
(quase 90º) no final do plano-sequência é apenas pela luz disponível no estádio, sua
sugestivo de psicologia anormal desse iluminação foi ajustada para corresponder com o
personagem, embora apenas o fundo esteja tom dramático da cena, utilizando fontes de luz
desequilibrado. de diferentes intensidades em vez da iluminação
chapada e uniforme de um estádio esportivo
profissional.
plano-sequênciaâ•… 175
considerações técnicas
objetivas inteiramente possível que um plano-sequência absorva um dia
inteiro de filmagem ou mais, dependendo do nível de complexi-
A complexidade do plano-sequência vai determinar a(s) disÂ�
dade que ele implicar; por exemplo, Michelangelo Antonioni le-
tância(s) focal(is) apropriada(s) ou até mesmo o tipo de objetiva
vou 11 dias para filmar um plano-sequência de sete minutos para
que melhor funcionará para o trabalho. Alguns fatores a consi-
seu filme Profissão: Repórter (1975).
derar são: a variedade dos tamanhos dos planos que você vai
tentar, o campo de visão necessário em cada fase do plano, o tipo
de movimento de câmera ou tema que precisa ser enfatizado ou iluminação
contido, a mínima distância entre a câmera e o tema que o plano As estratégias para iluminar um plano-sequência não são muito
exige, se uma objetiva de zoom será necessária para expandir as diferentes daquelas usadas para planos de Steadicam e outros
opções do quadro dinâmico, a necessidade de usar uma abertura movimentos dinâmicos de câmera que cobrem uma única área
máxima específica e muitas outras variáveis. No filme A marca da ampla ou vários espaços distintos. Ao filmar em ambientes fe-
maldade, de Orson Welles, o uso de uma objetiva relativamente chados à noite, o uso de acessórios cênicos convenientes (ou
grande-angular alongou as distâncias e exagerou o movimento ao practicals, fontes de luz visíveis no quadro que fazem parte do
longo do eixo z do quadro, adicionou alguma distorção óptica à cenário) pode ser extremamente útil, uma vez que é provável que
arquitetura da cidade fronteiriça e produziu um campo de visão uma câmera móvel impeça a colocação de luzes de cinema onde
amplo que permitiu a inclusão de grande parte do cenário rica- normalmente você as colocaria. Em alguns casos, um membro
mente detalhado. Essas qualidades refletem a importância que da equipe é recrutado para acompanhar o movimento da câmera
a cidade fronteiriça desempenha na história e a apresenta como com uma fonte de luz portátil a fim de fornecer uma exposição
um lugar labiríntico, desprezível e sinistro cheio de ambiguidades suficiente e constante para um objeto em movimento, embora
morais e éticas. Embora esse exemplo represente uma incorpo- isso aumente o nível de complexidade de um plano já tecnica-
ração perfeita entre o estilo visual e o tema, os requisitos técnicos mente exigente. Ambientes fechados durante o dia podem ser
de um plano-sequência às vezes neutralizarão seu desejo de uti- iluminados apenas com a luz motivada que atravessa janelas,
lizar uma distância focal específica. O mesmo plano-sequência, permitindo que a câmera viaje livremente sem a preocupação
por exemplo, teria sido quase impossível de filmar com uma tele- com o posicionamento das luzes no local. Ambientes abertos à
objetiva e uma pequena profundidade de campo. noite, como sempre, apresentam um desafio formidável se você
não tiver acesso a equipamentos de iluminação grandes que pos-
sam ser colocados em local suficientemente alto para simular o
equipamento luar, embora na vida real a lua nunca seja tão brilhante. Outra
Planos-sequência podem exigir praticamente qualquer tipo de opção seria encontrar um local com boa luz disponível para que
equipamento projetado para criar um movimento dinâmico de câ- apenas algumas luzes adicionais sejam necessárias (como vis-
mera que flui livremente, incluindo gruas, jibs, dollies, veículos, to no exemplo no plano-sequência do filme O segredo dos seus
helicópteros, equipamentos de Steadicam e até mesmo uma câ- olhos, de Campanella). Na maioria dos casos, será extremamente
mera de mão. Embora todos os movimentos dinâmicos de câme- difícil ou mesmo impossível ter uma iluminação perfeita por todo
ra exijam tempo extra para iluminar e coordenar equipamentos, um plano-sequência, assim você deve decidir previamente quais
equipe, recursos e elenco, nunca é demais enfatizar os requisi- são os momentos chave para poder coreografá-los e iluminá-los
tos técnicos específicos de um plano-sequência. Na verdade, é correspondentemente.
176
quebrando as regras
É inegável a realização espetacular alcançada em A arca russa (2006), de Aleksandr Sokurov, um filme que usa um único plano-
-sequência de Steadicam de 91 minutos para transportar o público ao longo dos 300 anos da história russa à medida que eles exploram
o museu Hermitage. Esse plano incorpora praticamente todos os tipos de planos descritos neste livro e tornou-se possível graças ao uso
de uma Steadicam e um sistema de gravação portátil em disco rígido.
plano-sequênciaâ•… 177
filmografia
Português/Inglês
1984 (Nineteen Eighty-Four). Direção de Michael Radford. Umbrella-Rosenblum Films Production, 1984.
A bruxa de Blair (The Blair Witch Project). Direção de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. Haxan Films, 1999.
A conversação (The Conversation). Direção de Francis Ford Coppola. American Zoetrope, 1974.
A marca da maldade (Touch of Evil). Direção de Orson Welles. Universal International Pictures, 1958.
A primeira noite de um homem (The Graduate). Direção de Mike Nichols. Embassy Pictures Corporation, 1967.
A proposta (The Proposition). Direção de John Hillcoat. UK Film Council, 2005.
A rocha (The Rock). Direção de Michael Bay. Don Simpson/Jerry Bruckheimer Films, 1996.
A supremacia Bourne (The Bourne Supremacy). Direção de Paul Greengrass. Universal Pictures, 2004.
A vida dos outros (The Lives of Others). Direção de Florian Henckel von Donnersmarck. Wiedemann & Berg Filmproduktion, 2006.
Abraços partidos (Broken Embraces). Direção de Pedro Almodóvar. Universal Pictures International, 2009.
Além da linha vermelha (The Thin Red Line). Direção de Terrence Malick. Phoenix Pictures, 1998.
Anjos caídos (Fallen Angels). Direção de Kar Wai Wong. Jet Tone Production, 1995.
Ano passado em Marienbad (Last Year at Marienbad). Direção de Alain Resnais. Cocinor, 1961.
Apocalypto (Apocalypto). Direção de Mel Gibson. Icon Entertainment International, 2006.
Arca russa (Russian Ark). Direção de Aleksandr Sokurov. The Hermitage Bridge Studio, 2002.
Asas do desejo (Wings of Desire). Direção de Wim Wenders. Road Movies Filmproduktion, 1987.
Bad Boy Bubby (Bad Boy Bubby). Direção de Rolf de Heer. Australian Film Finance Corporation, 1993.
Barry Lyndon (Barry Lyndon). Direção de Stanley Kubrick. Peregrine, 1975.
Bastardos inglórios (Inglourious Basterds). Direção de Quentin Tarantino. Universal Pictures, 2009.
Brazil – o filme (Brazil). Direção de Terry Gilliam. Embassy International Pictures, 1985.
Caché (Hidden). Direção de Michael Haneke. Les Films du Losange, 2005.
Cães de aluguel (Reservoir Dogs). Direção de Quentin Tarantino. Live Entertainment, 1992.
Chumbo grosso (Hot Fuzz). Direção de Edgar Wright. Working Title Films, 2007.
Cidade de Deus (City of God). Direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund. O2 Filmes, 2002.
Conduta de risco (Michael Clayton). Direção de Tony Gilroy. Samuels Media, 2007.
Deixe ela entrar (Let the Right One In). Direção de Tomas Alfredson. EFTI, 2008.
Dogville (Dogville). Direção de Lars von Trier. Zentropa Entertainments, 2003.
Duro de matar (Die Hard). Direção de John McTiernan. Twentieth Century Fox Film Corporation, 1988.
Em Bruges (In Bruges). Direção de Martin McDonagh. Focus Features, 2008.
Era uma vez no Oeste (Once Upon a Time in the West). Direção de Sergio Leone. Paramount Pictures, 1968.
Eu sou a lenda (I am Legend). Direção de Francis Lawrence. Warner Bros. Pictures, 2007.
filmografiaâ•… 179
Exilados (Exiled). Direção de Johnnie To. Media Asia Films, 2006.
Festim diabólico (Rope). Direção de Alfred Hitchcock. Warner Bros. Pictures, 1948.
Filhos da esperança (Children of Men). Direção de Alfonso Cuarón. Universal Pictures, 2006.
Gattaca – experiência genética (Gattaca). Direção de Andrew Niccol. Columbia Pictures Corporation, 1997.
Gomorra (Gomorrah). Direção de Matteo Garrone. Fandango, 2008.
Guerra nas estrelas (Star Wars). Direção de George Lucas. Lucasfilm, 1977.
Herói (Hero). Direção de Yimou Zhang. Elite Group Enterprises, 2002.
Irmãos de sangue (Clockers). Direção de Spike Lee. 40 Acres & A Mule Filmworks, 1995.
Jeanne Dielman (Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles). Direção de Chantal Akerman. Paradise Films, 1975.
Kagemusha, a sombra do samurai (Kagemusha). Direção de Akira Kurosawa. Toho Company, 1980.
Lanternas vermelhas (Raise the Red Lantern). Direção de Yimou Zhang. Century Communications, 1991.
Louca obsessão (Misery). Direção de Rob Reiner. Castle Rock Entertainment, 1990.
Lucia e o sexo (Sex and Lucia). Direção de Julio Medem. Alicia Produce, 2001.
Memórias de um assassino (Memories of Murder). Direção de Joon-ho Bong. CJ Entertainment, 2003.
Muito além do jardim (Being There). Direção de Hal Ashby. Lorimar Film Entertainment, 1979.
Na natureza selvagem (Into the Wild). Direção de Sean Penn. Paramount Vantage, 2007.
Naked (Naked). Direção de Mike Leigh. Thin Man Films, 1993.
Nascido para matar (Full Metal Jacket). Direção de Stanley Kubrick. Warner Bros. Pictures, 1987.
O casamento de Maria Braun (The Marriage of Maria Braun). Direção de Rainer Werner Fassbinder. Albatros Filmproduktion, 1979.
O escafandro e a borboleta (The Diving Bell and the Butterfly). Direção de Julian Schnabel. Pathé Renn Productions, 2007.
O fabuloso destino de Amélie Poulain (Amélie). Direção de Jean-Pierre Jeunet. Claudie Ossard Productions, 2001.
O grupo Baader-Meinhof (The Baader Meinhof Complex). Direção de Uli Edel. Constantin Film Produktion, 2008.
O homem elefante (The Elephant Man). Direção de David Lynch. Brooksfilms, 1980.
O iluminado (The Shining). Direção de Stanley Kubrick. Warner Bros. Pictures, 1980.
O ódio (La Haine). Direção de Mathieu Kassovitz. Canal+, 1995.
O piano (The Piano). Direção de Jane Campion. CiBy 2000, 1993.
O poderoso chefão (The Godfather). Direção de Francis Ford Coppola. Paramount Pictures, 1972.
O profissional (Leon: The Professional). Direção de Luc Besson. Gaumont, 1994.
O segredo dos seus olhos (The Secret in Their Eyes). Direção de Juan José Campanella. Tornasol Films, 2009.
O show de Truman (The Truman Show). Direção de Peter Weir. Paramount Pictures, 1998.
O silêncio dos inocentes (The Silence of the Lambs). Direção de Jonathan Demme. Orion Pictures Corporation, 1991.
O tigre e o dragão (Crouching Tiger, Hidden Dragon). Direção de Ang Lee. Columbia Pictures Film Production Asia, 2000.
180
Oldboy. Direção de Chan-wook Park. Show East, 2003.
Os bons companheiros (Goodfellas). Direção de Martin Scorsese. Warner Bros. Pictures, 1990.
Os caçadores da arca perdida (Raiders of the Lost Ark). Direção de Steven Spielberg. Paramount Pictures, 1981.
Os excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums). Direção de Wes Anderson. Touchstone Pictures, 2001.
Os incompreendidos (The 400 Blows). Direção de François Truffaut. Les Films du Carrosse, 1959.
Os intocáveis (The Untouchables). Direção de Brian De Palma. Paramount Pictures, 1987.
Os três macacos (3 Monkeys.). Direção de Nuri Bilge Ceylan. Zeyno Film, 2008.
Paris, Texas (Paris, Texas). Direção de Wim Wenders. Road Movies Filmproduktion, 1984.
Perfume: a história de um assassino (Perfume: The Story of a Murderer). Direção de Tom Tykwer. Constantin Film Produktion, 2006.
Profissão: Repórter (The Passenger). Direção de Michelangelo Antonioni. Compagnia Cinematografica Champion, 1975.
Pulp Fiction – tempo de violência (Pulp Fiction). Direção de Quentin Tarantino. A Band Apart, 1994.
Que horas são aí? (What Time Is It There?) Direção de Ming-liang Tsai. Arena Films, 2001.
Quero ser John Malkovich (Being John Malkovich). Direção de Spike Jonze. Gramercy Pictures, 1999.
Ratcatcher (Ratcatcher). Direção de Lynne Ramsay. Pathé Pictures International, 1999.
Reconstrução de um amor (Reconstruction). Direção de Christoffer Boe. HR. Boe & Co., 2003.
Réquiem para um sonho (Requiem for a Dream). Direção de Darren Aronofsky. Artisan Entertainment, 2000.
Rocky: Um lutador (Rocky). Direção de John G. Avildsen. United Artists, 1976.
Roubando vidas (Taking Lives). Direção de D.J. Caruso. Warner Bros. Pictures, 2004.
Seopyeonje (Seopyeonje). Direção de Kwon-taek Im. Taehung Pictures, 1993.
Sid & Nancy – o amor mata (Sid and Nancy). Direção de Alex Cox. Zenith Entertainment, 1986.
Solaris (Solaris). Direção de Steven Soderbergh. Twentieth Century Fox Film Corporation, 2002.
The Matrix Reloaded (The Matrix Reloaded). Direção de Andy Wachowski e Lana Wachowski. Warner Bros. Pictures, 2003.
O solista (The Soloist). Direção de Joe Wright. DreamWorks SKG, 2009.
Thelma & Louise (Thelma & Louise). Direção de Ridley Scott. Metro-Goldwyn-Mayer, 1991.
Trainspotting – sem limites (Trainspotting). Direção de Danny Boyle. Channel Four Films, 1996.
Mystery Train (Mystery Train). Direção de Jim Jarmusch. JVC Entertainment Networks, 1989.
Um corpo que cai (Vertigo). Direção de Alfred Hitchcock. Paramount Pictures, 1958.
Um sonho de liberdade (The Shawshank Redemption). Direção de Frank Darabont. Castle Rock Entertainment, 1994.
Veludo azul (Blue Velvet). Direção de David Lynch. De Laurentiis Entertainment Group, 1986.
WALL·E (WALL·E). Direção de Andrew Stanton. Pixar Animation Studios, 2008.
filmografiaâ•… 181
índice
16 mm, formato de filme altura livre Boyle, Danny,€153
usando para planos de grupo,€98 em close-ups médios,€43 Brazil – o filme (Brazil, 1985),€99
usando para planos gerais,€62 em close-ups,€37, 39 brilho nos olhos
visão geral,€16-17 em planos de canto,€103 para close-ups,€37, 38
1984 (Nineteen Eighty-Four, 1984),€54–55 em planos de Steadicam,€163 para planos de grua,€169
24p (taxa de projeção progressiva),€18 em planos dolly zoom,€151
em planos gerais médios,€55 C
3 Monkeys (Os três Macacos, 2008),€36–37
em planos gerais,€61 Caché (Hidden, 2005),€62–63
35 mm, ampliação,€86
em planos inclinados,€139 Cães de aluguel (Reservoir Dogs, 1992),€1, 3
35 mm, formato de filme,€17
em planos panorâmicos,€133 câmera rápida (undercranking),€116
em planos subjetivos,€85 câmeras portáteis,€86
A
em planos travelling,€157 Campanella, Juan José,€174–175
À beira da piscina (Swimming Pool, 2003),€
em planos zoom,€127 Campion, Jane,€168–169, 170
147
em planos-sequência,€175 campo de visão
A bruxa de Blair (The Blair Witch Project,
visão geral,€7 em close-ups,€37
1999),€19
Anderson, Wes,€46, 47 em planos gerais extremos,€68
A conversação (The Conversation, 1974),€124,
ângulo holandês,€101 em planos panorâmicos,€134
125
ângulos,€9 em planos-sequência,€176
A marca da maldade (Touch of Evil, visão geral,€12
1958),€172, 173, 176 Anjos caídos (Fallen Angels, 1995),€7, 12
Ano passado em Marienbad (Last Year at campo de visão amplo,€97
A primeira noite de um homem (The Graduate, campo de visão do personagem,€39
1967),€70, 71 Marienbad, 1961),€64, 65
Antonioni, Michelangelo,€176 Caruso, D.J.,€148, 149
A proposta (The Proposition, 2005),€8 cenário,€104, 176
A rocha (The Rock, 1996),€10 Apocalypto (2006),€15, 100, 101, 104
Arca Russa (Russian Ark, 2002),€86, 177 Ceylan, Nuri Bilge,€36–37
A supremacia Bourne (The Bourne Supremacy, chicotes (swish pans),€134, 135
2004),€126–127 Aronofsky, Darren,€118, 119
Asas do desejo (Wings of Desire, 1987),€141 Chumbo grosso (Hot Fuzz, 2007),€135
A vida dos outros (The Lives of Others, Cidade de Deus (City of God, 2002),€68, 94, 95
2006),€9, 159 Ashby, Hal,€106, 107
assimetria clinômetro,€80
abertura close-up,€planos, 34–39
e planos de canto,€104 em planos emblemáticos,€107
em planos gerais extremos,€65 considerações técnicas,€38
objetivas rápidas versus lentas,€13-14 em planos macros,€119
visão geral,€13 seguidor de foco (follow focus),€10, 158, 152
Avildsen, John G.,€3 planos OTS,€71
Abraços partidos (Broken Embraces, quebrando as regras,€39
2009),€132–133 B usando com planos dolly zoom,€152
acessórios cênicos convenientes para Bad Boy Bubby (1993),€11 usando planos gerais com,€59
iluminação (practicals) barril”, efeito,€12 usando planos gerais extremos com,€65
para planos de grupo,€98 Barry Lyndon (1975),€13 uso de,€36–37
para planos de Steadicam,€164 Bastardos inglórios (Inglourious Basterds, versus close-ups extremos,€29
para planos subjetivos,€86 2009),€9 versus close-ups médios,€41
acessórios de foco, acompanhamento,€18, 128, Bay, Michael,€10 visão geral,€34–35
152 Besson, Luc,€52, 53 close-ups extremos,€28–33
Akerman, Chantal,€51 Boe, Christoffer,€117 considerações técnicas,€32
Além da linha vermelha (The Thin Red Line, Bong, Joon-ho,€57 planos abstratos,€116
1998),€12, 114–115 borboletas quebrando as regras,€33
Alfredson, Tomas,€156–157 para close-ups médios,€43, 44 usando planos gerais extremos com,€65
Almodovar, Pedro,€132–133 para planos gerais médios,€56 uso de,€30–31
índiceâ•… 183
versus planos macro,€119 em planos zoom,€127 em close-ups,€37
visão geral,€28–29 controle de atrito, câmera,€140 em planos close-up médios,€44
composição, princípios de,€6–19 conversor de grande-angular,€122 em planos de ambientação,€80
ângulos altos e baixos,€9 Coppola, Francis Ford,€2–3, 124, 125 em planos de canto,€104
balanceada/não balanceada cores, uso de,€133 em planos de dois,€92
campo de visão,€12 Cox, Alex,€58, 59 em planos de grua,€170
composições,€8 Cuarón, Alfonso,€78–79 em planos de grupo,€98
dicas de profundidade,€9–10 em planos de Steadicam,€164
distância entre câmera e tema,€16 D em planos dolly,€143, 146
distância focal,€12 Darabont, Frank,€72–73 em planos gerais médios,€55, 56
eixos do quadro,€6 de Heer, Rolf,€11 em planos inclinados,€140
filtro de densidade neutra (ND),€16 De Palma, Brian,€14 em planos panorâmicos,€134
formatos de filmagem,€16-17 Deixe ela entrar (Let the Right One In, em planos travelling,€158
grande-angulares, objetivas,€12 2008),€156–157 em planos zoom,€125, 128
kits adaptadores de objetiva de 35 mm,€17-18 em planos-sequência,€176
Demme, Jonathan,€82, 83, 111
objetivas de foco fixo,€14 visão geral,€12
Deutsch angle,€101
objetivas especializadas,€14-15 distorção
dicas de profundidade
objetivas normais,€13 com objetivas grande-angulares,€12
em planos de ambientação,€79
objetivas rápidas versus lentas,€13-14 com teleobjetivas,€13
em planos de grupo,€95, 97
objetivas zoom,€14 em close-ups médios,€44
visão geral,€9–10
pontos focais,€11 em planos de canto,€103
dicas de profundidade de tamanho relativo,€9,
profundidade de campo,€15-16 em planos de grua,€170
79
proporções de tela,€6 em planos dolly zoom,€151
dioptro de campo dividido
quadros fechados e quadros abertos,€10-11 em planos gerais extremos,€67
para planos abstratos,€116
regra de Hitchcock,€7–8 em planos subjetivos,€85
para planos emblemáticos,€110
regra dos terços,€7 Dogville (2003),€81
para planos OTS,€74
teleobjetivas,€13 dollies,€158
visão geral,€14
vídeo HD,€18-19 doorway dolly,€146
dirty single,€70–75
vídeo SD,€18-19 Duro de matar (Die Hard, 1988),€102–103, 104
distância entre câmera e tema
visores do diretor,€19
em close-ups médios,€41, 44
composições balanceadas E
em planos de canto,€103
em planos de grupo,€95 Edel, Uli,€11
em planos de grua,€169
em planos emblemáticos,€107 efeito de distanciamento,€81
em planos de grupo,€98
em planos gerais extremos,€65 efeito estroboscópico,€134
em planos dolly,€145
em planos gerais médios,€53 eixos do quadro,€6
em planos dolly zoom,€152
visão geral,€8 eixos, quadro,€6.
em planos emblemáticos,€110
composições não balanceadas Ver também eixo x; eixo z
em planos gerais,€62
planos de grupo,€95 equipamento
em planos gerais extremos,€65, 68
planos emblemáticos,€107 para planos de canto,€104
em planos gerais médios,€55
planos gerais extremos,€65 para planos de grua,€170
em planos macro,€122
planos gerais médios,€53 para planos de Steadicam,€164
em planos médios,€50
visão geral,€8 para planos dolly,€146
em planos OTS,€74
Conduta de risco (Michael Clayton, para planos dolly zoom,€152
em planos panorâmicos,€133
2007),€162–163 para planos inclinados,€140
em planos travelling,€158
continuidade, iluminação,€38 em planos zoom,€127 para planos panorâmicos,€134
contra zoom, planos,€148–153 em planos-sequência,€176 para planos travelling,€158
contraponto visão geral,€16 para planos-sequência,€176
em planos de ambientação,€79 distância focal,€14 Era uma vez no Oeste (Once Upon a Time in
em planos de grupo,€97 distâncias focais the West, 1968),€171
em planos gerais médios,€55 e sistemas de imagens,€21 espaço de circulação,€7
184
espaço de visualização Gattaca – experiência genética (Gattaca, para planos de Steadicam,€164
e a regra dos terços,€7 1997),€123 para planos gerais extremos,€68
em close-ups,€37, 39 Gibson, Mel,€15, 100, 101, 104 para planos gerais,€62
em planos de dois,€91 Gilliam, Terry,€99 para planos gerais médios,€56
em planos de grua,€169 Gilroy, Tony,€162–163 para planos macro,€122
em planos dolly,€145 Gomorra (Gomorrah, 2008),€75 para planos médios,€50
em planos OTS,€73 grande profundidade de campo para planos OTS,€74
em planos-sequência,€175 e close-ups,€35 para planos subjetivos,€86
espaço fora da tela em planos de dois,€91 para planos travelling,€158
em planos dolly,€145 em planos dolly,€145 para planos zoom,€128
em planos close-up extremos,€31 em planos emblemáticos,€109, 110 visão geral,€18-19
em planos emblemáticos,€109 em planos gerais médios,€56 Herói (Hero, 2004),€8
em planos gerais extremos,€67 em planos inclinados,€140 Herzog, Werner,€11
Eu sou a lenda (I am Legend, 2007),€ visão geral,€15–16 Hillcoat, John,€8
66–67 grande-angulares, objetivas história
Exilados (Exiled, 2006),€96–97, 98 campo de visão de,€12 essência de,€3–4
para close-ups extremo,€32 ideias básicas de,€22
F para close-ups médios,€44 Hitchcock, Alfred,€7, 149, 173
Festim diabólico (Rope, 1948),€173 para planos abstratos,€116 hora mágica,€68, 110
Filhos da esperança (Children of Men, para planos de canto,€103, 104
2006),€78–79 para planos de dois,€92 I
filtros de densidade neutra (Neutral Density, para planos de grupo,€98 ideias básicas da história,€22
ND). Ver Neutral Density (ND), filtros para planos de Steadicam,€164 iluminação
Fome (Hunger, 2008),€6 para planos dolly,€146 e filtro de densidade neutra,€16
foquista (focus puller ou primeiro assistente de para planos gerais,€62 nos olhos em close-ups,€37
câmera),€158 para planos gerais extremos,€67 para close-ups,€38
formato de filme S 16mm,€17 para planos gerais médios,€56 para close-ups extremos,€32
formatos de filmagem,€16-17 para planos inclinados,€139, 140 para close-ups médios,€43, 44
formatos de filme para planos médios,€50 para planos abstratos,€113, 116
para close-ups,€38 para planos OTS,€74 para planos de ambientação,€77, 80
para close-ups extremos,€32 para planos panorâmicos,€134 para planos de canto,€103, 104
para close-ups médios,€44 para planos subjetivos,€86 para planos de dois,€91, 92
para planos abstratos,€116 para planos travelling,€158 para planos de grua,€170
para planos de ambientação,€80 para planos-sequência,€176 para planos de grupo,€97, 98
para planos de dois,€92 visão geral,€12 para planos de Steadicam,€164
para planos de grupo,€98 granulação,€129 para planos dolly,€145, 146
para planos emblemáticos,€110 Greengrass, Paul,€126–127 para planos dolly zoom,€152
para planos gerais,€62 gruas, tipos de,€170 para planos emblemáticos,€110
para planos gerais extremos,€68 Guerra nas estrelas (Star Wars, 1977),€107 para planos gerais,€61, 62
para planos gerais médios,€56 para planos gerais extremos,€68
para planos macro,€122 H para planos gerais médios,€56
para planos médios,€50 Haneke, Michael,€62–63 para planos inclinados,€140
para planos OTS,€74 HD (High Definition), vídeo para planos macro,€122
para planos subjetivos,€86 para close-ups extremo,€32 para planos médios,€50
para planos zoom,€128 para close-ups médios,€44 para planos OTS,€73, 74
visão geral,€16-17 para close-ups,€38 para planos panorâmicos,€133, 134
formatos de filme. Ver formatos de filme para planos abstratos,€116 para planos subjetivos,€85, 86
para planos de ambientação,€80 para planos travelling,€158
G para planos de dois,€92 para planos zoom,€128
Garrone, Matteo,€75 para planos de grupo,€98 para planos-sequência,€175, 176
índiceâ•… 185
iluminação de chave alta,€32 L Neutral Density (ND), filtros
iluminação de chave baixa,€32, 97 Lanternas vermelhas (Raise the Red Lantern, usando com planos close-up,€38
iluminação difusa 1991),€108–109 usando com planos de ambientação,€80
em planos de grua,€169 lapso de tempo,€119 usando com planos de dois,€92
em planos dolly,€145 Lawrence, Francis,€66–67 usando com planos gerais extremos,€68
para close-ups médios,€44 Lee, Ang,€166, 167 usando com planos gerais,€62
para planos macro,€122 Lee, Spike,€32–33 usando com planos OTS,€74
Im, Kwon-taek,€69 Leigh, Mike,€48–49 usando com planos travelling,€158
intervalômetro,€116 Leone, Sergio,€171 visão geral,€16
Irmãos de sangue (Clockers, 1995),€32–33 linha em 180º,€11-12, 71 Niccol, Andrew,€123
linhas do horizonte Nichols, Mike,€70, 71
J em planos de ambientação,€79 noite americana,€68, 80, 86
Jarmusch, Jim,€88, 89 em planos emblemáticos,€109
Jeanne Dielman (Jeanne Dielman, 23 Quai du em planos subjetivos,€85 O
Commerce, 1080 Bruxelles, 1975),€50–51 Louca obsessão (Misery, 1990),€8 O casamento de Maria Braun (The Marriage of
Jeunet, Jean-Pierre,€40, 41 Lucas, George,€11, 107 Maria Braun, 1979),€30
Jonze, Spike,€87 Lucia e o sexo (Sex and Lucia, 2001),€28, 29 O escafandro e a borboleta (The Diving Bell and
Lund, Kátia,€94, 95 the Butterfly, 2007),€84–85
K luzes de fundo O fabuloso destino de Amélie Poulain (Amélie,
Kagemusha, a sombra do samurai para close-ups,€38 2001),€40, 41
(Kagemusha, 1980),€130, 131 para planos gerais,€61 O grupo Baader-Meinhof (The Baader Meinhof
Kassovitz, Mathieu,€150–151 para planos médios,€50 Complex, 2008),€11
kits adaptadores Lynch, David,€29, 129 O homem elefante (The Elephant Man,
câmara HD,€18–19 1980),€129
câmera SD,€18–19 M O iluminado (The Shining, 1980),€76, 77, 164
objetiva de câmera HD,€17 Malick, Terrence,€12, 114–115 O ódio (La Haine, 1995),€150–151
objetiva de câmera SD,€17 McDonagh, Martin,€138–139 O piano (The Piano, 1993),€168–169, 170
Ver também kits adaptadores de objetiva de McQueen, Steve,€6 O poderoso chefão (The Godfather, 1972),€
35 mm McTiernan, John,€102–103, 104 2–3
kits adaptadores de objetiva de 35 mm Medem, Julio,€28, 29 O profissional (Leon: The Professional,
para close-ups médios,€44 Meirelles, Fernando,€68, 94, 95 1994),€52, 53
para close-ups,€38 Memórias de um assassino (Memories of O segredo dos seus olhos (The Secret in Their
para planos de dois,€92 Murder, 2003),€57 Eyes, 2009),€174–175
para planos de grupo,€98 Michelangelo Antonioni,€176 O show de Truman (The Truman Show,
para planos gerais médios,€56 Misery (Louca Obsessão, 1990),€8 2002),€105
para planos gerais,€62 modo de ganho,€122 O silêncio dos inocentes (The Silence of the
para planos macro,€122 monitores de visualização,€18, 32, 158, 170 Lambs, 1991),€82, 83, 111
para planos médios,€50 O solista (The Soloist, 2009),€112, 113
Muito além do jardim (Being There, 1979),€106,
para planos OTS,€74
107 O tigre e o dragão (Crouching Tiger, Hidden
para planos zoom,€128
Myrick, Daniel,€19 Dragon, 2000),€166, 167
visão geral,€17-18
objetiva de distância focal fixa,€14, 128
kits adaptadores de objetiva de câmera
N objetiva de distância focal grande. Ver
HD,€17
Na natureza selvagem (Into the Wild, teleobjetivas
kits adaptadores de objetiva de câmera SD,€
2007),€120 objetiva de distância focal variável. Ver objetivas
17-18
Naked (Naked, 1993),€48–49 zoom
kits adaptadores de objetiva. Ver também
Nascido para matar (Full Metal Jacket, objetivas
objetiva de 35 mm
1987),€165 Ver também objetivas normais; teleobjetivas;
Kubrick, Stanley,€13, 76, 77, 164, 165 grande-angulares, objetivas
ND (Neutral Density), filtros. Ver Neutral Density
Kurosawa, Akira,€130, 131 de distância focal fixa,€14
(ND), filtros
186
especializadas,€14-15 Os excêntricos tenenbaums (The Royal versus plano médio,€47
lentas,€13-14 Tenenbaums, 2001),€46, 47, 50 visão geral,€40–41
para close-ups,€38 Os incompreendidos (The 400 Blows, planos de ambientação,€76–81
para close-ups extremos,€32 1959),€154, 155 considerações técnicas,€80
para close-ups médios,€43 Os intocáveis (The Untouchables, 1987),€14 planos gerais extremos,€65
para planos abstratos,€116 OTS (over the shoulder), planos. Ver planos planos gerais,€59
para planos close-ups médios,€44 sobre o ombro (OTS) quebrando as regras,€81
para planos de ambientação,€80 Ozon, François,€147 usando planos de grua para,€167
para planos de canto,€104 usando planos inclinados com,€137
para planos de dois,€92 P uso de,€78–79
para planos de grua,€170 Paris, Texas (1984),€93 visão geral,€76–77
para planos de grupo,€98 Park, Chan-wook,€20, 22–27 planos de canto,€100–105
para planos de Steadicam,€164 películas mais lentas,€74 considerações técnicas,€104
para planos dolly,€146 Penn, Sean,€12, 120 em planos-sequência,€175
para planos dolly zoom,€152 pequena profundidade de campo quebrando as regras,€105
para planos emblemáticos,€110 em close-ups extremos,€31, 32 uso de,€102–103
para planos gerais,€62 em close-ups médios,€41, 43 visão geral,€100–101
para planos gerais extremos,€68 em close-ups,€35, 37, 38, 39 planos de contra zoom,€148–153
para planos gerais médios,€56 em planos abstratos,€115 planos de dois,€88–93
para planos inclinados,€140 em planos de canto,€103 considerações técnicas,€92
para planos macro,€122 em planos dolly,€146 quebrando as regras,€93
para planos médios,€50 em planos gerais,€62 usando planos gerais médios com,€53
para planos OTS,€74 em planos macro,€121 usando planos médios com,€47
para planos panorâmicos,€134 em planos médios,€49 uso de,€90–91
para planos subjetivos,€86 em planos OTS,€71, 72–73, 74 visão geral,€88–89
para planos travelling,€158 em planos subjetivos,€85 planos de grua,€166–171
para planos zoom,€128 em planos travelling,€157, 158 considerações técnicas,€170
para planos-sequência,€176 em planos-sequência,€175 quebrando as regras,€171
rápida,€13-14 para planos gerais médios,€56 uso de,€168–169
zoom,€14 visão geral,€15–16 visão geral,€166–167
objetivas de foco fixo,€14, 128 Perfume: A história de um assassino (Perfume, planos de grupo,€94–99
objetivas especializadas,€14-15 considerações técnicas,€98
2006),€42–43
objetivas lentas,€13-14 quebrando as regras,€99
plano americano,€68
objetivas macro,€116, 119 usando planos de dois com,€89
planos abstratos,€112–117
objetivas normais usando planos gerais médios com,€53
close-ups extremo,€29
campo de visão de,€12 usando planos gerais para,€59
considerações técnicas,€116
para close-ups,€37–38 usando planos médios com,€47
quebrando as regras,€117
para close-ups médios,€44 uso de,€96–97
usando planos inclinados com,€137
para planos abstratos,€116 visão geral,€94–95
uso de,€114–115
para planos inclinados,€139 planos de reação,€83
visão geral,€112–113
para planos OTS,€74 planos de Steadicam,€160–165
planos americanos,€53
para planos subjetivos,€86 considerações técnicas,€164
planos close-up médios,€40–45
visão geral,€13 planos dolly zoom,€152
combinando com planos de grua,€169
objetivas rápidas,€13-14 planos-sequência,€177
considerações técnicas,€44
Oldboy (Oldboy, 2003),€20, 22–27 quebrando as regras,€165
planos OTS,€71, 72–73
olhar morto,€38, 169 uso de,€162–163
quebrando as regras,€45
Os bons companheiros (Goodfellas, 1990),€160, visão geral,€160–161
usando com planos de dois,€89
161 planos dolly,€142–147
usando com planos dolly zoom,€152
Os caçadores da arca perdida (Raiders of the combinando planos travelling com,€155
usando planos gerais com,€59
Lost Ark, 1981),€144–145 considerações técnicas,€146
uso de,€42–43
índiceâ•… 187
quebrando as regras,€147 visão geral,€58–59 planos-sequência,€176
usando Steadicams,€161 planos gerais extremos,€64–69 planos panorâmicos,€130–135
uso de,€144–145 considerações técnicas,€68 combinando com planos de grua,€169
versus planos travelling,€155 quebrando as regras,€69 comparação com planos inclinados,€137
versus planos zoom,€125 uso de,€66–67 considerações técnicas,€134
visão geral,€142–143 versus planos gerais,€59 quebrando as regras,€135
planos dolly zoom,€148–153 visão geral,€64–65 uso de,€132–133
considerações técnicas,€152 planos gerais médios,€52–57 visão geral,€130–131
quebrando as regras,€153 considerações técnicas,€56 planos subjetivos,€82–87
uso de,€150–151 quebrando as regras,€57 considerações técnicas,€86
visão geral,€148–149 usando com planos de dois,€89 quebrando as regras,€87
planos em ambientes abertos, iluminação para usando com planos dolly zoom,€152 uso de,€84–85
planos de ambientação,€77, 80 usando para planos de grupo,€95, 98 visão geral,€82–83
planos de dois,€91, 92 usando planos travelling com,€155 planos travelling reversos,€155
planos de grua,€170 uso de,€54–55 planos travelling,€154–159
planos de grupo,€98 versus planos médios,€47 considerações técnicas,€158
planos gerais,€62 visão geral,€52–53 quebrando as regras,€159
planos gerais extremos,€68 planos inclinados,€136–141 usando Steadicams,€155
planos gerais médios,€56 combinando com planos de grua,€169 uso de,€156–157
planos OTS,€73 considerações técnicas,€140 visão geral,€154–155
planos travelling,€158 quebrando as regras,€141 planos-sequência,€172–177
planos-sequência,€176 uso de,€138–139 considerações técnicas,€176
planos em ângulos altos visão geral,€136–137 quebrando as regras,€177
close-ups médios,€43 planos macro,€118–123 usando planos de grua para,€167
em planos dolly zoom,€151 close-ups extremos,€29, 32 uso de,€174–175
planos de grua,€169 considerações técnicas,€122 visão geral,€172–173
visão geral,€9 quebrando as regras,€123 ponto de vista (POV), planos de,€83
planos em ângulos baixos uso de,€120–121 pontos focais
em planos de dois,€91 visão geral,€118–119 e dicas de profundidade,€10
em planos de grupo,€99 planos médios,€46–51 em close-ups,€35, 37
planos inclinados,€139 considerações técnicas,€50 em close-ups extremos,€31
visão geral,€9 planos OTS,€71 em close-ups médios,€43
planos emblemáticos,€106–111 quebrando as regras,€51 em planos de canto,€103
considerações técnicas,€110 usando com planos de dois,€89 em planos de dois,€91
plano de dois como,€93 usando com planos dolly zoom,€152 em planos de grupo,€97
planos gerais extremos,€65 usando para planos de grupo,€95, 98 em planos de Steadicam,€163
quebrando as regras,€111 usando planos gerais com,€59 em planos emblemáticos,€111
usando planos gerais médios com,€53 usando planos travelling com,€155 em planos gerais extremos,€67
usando planos gerais para,€59 uso de,€48–49 em planos gerais,€61
uso de,€108–109 versus planos close-up médios,€41 em planos médios,€49
visão geral,€106–107 versus planos gerais,€59, 62 em planos OTS,€71, 73
planos gerais,€58–63 versus planos gerais médios,€53 em planos panorâmicos,€133
combinando close-ups médios com,€41 visão geral,€46–47 em planos travelling,€157
considerações técnicas,€62 planos mestre,€89 em planos zoom,€127
quebrando as regras,€63 planos noturnos, iluminação para visão geral,€11
usando para planos de grupo,€95, 98 para planos gerais médios,€56 posicionamento do tema
usando planos médios com,€47 planos de ambientação,€80 em close-ups médios,€43
usando planos travelling com,€155 planos de grua,€170 em planos de dois,€91
uso de,€60–61 planos de grupo,€98 em planos de grua,€169
versus plano geral médio,€53 planos subjetivos,€86 em planos de grupo,€96–97
188
em planos dolly,€145 Ramsay, Lynne,€142, 143 para planos de grupo,€98
em planos gerais,€61 Ratcatcher (Ratcatcher, 1999),€142, 143 para planos de Steadicam,€164
em planos inclinados,€139 Reconstrução de um amor (Reconstruction, para planos gerais,€62
em planos médios,€49 2003),€117 para planos gerais extremos,€68
em planos OTS,€73 redes,€38 para planos gerais médios,€56
em planos panorâmicos,€133 regra de Hitchcock para planos médios,€50
em planos zoom,€127 em close-ups,€35 para planos OTS,€74
em planos-sequência,€175 em close-ups extremos,€29 para planos travelling,€158
usando a regra dos terços,€7 em planos de dois,€89, 91 para planos zoom,€128
prenúncio em planos de grupo,€95 usando para close-ups extremos,€32
com close-ups extremos,€30 em planos emblemáticos,€107, 109 visão geral,€18-19
com planos inclinados,€138 em planos gerais,€61 seguidor de foco (follow focus),€18, 128, 152
Profissão: Repórter (The Passenger, 1975),€176 em planos gerais extremos,€65 sensores CCD (charge-coupled device)
profundidade de campo em planos gerais médios,€53 e close-ups extremos,€32
Ver também grande profundidade de em planos macro,€119 e close-ups médios,€44
campo; pequena profundidade de campo em planos OTS,€71 e planos de canto,€104
e close-ups extremos,€31 visão geral,€7–8 em planos de dois,€92
em planos de ambientação,€80 regra dos terços em planos de grupo,€98
em planos de canto,€104 em close-ups,€37, 39 em planos emblemáticos,€110
em planos de Steadicam,€163 em planos de dois,€91 em planos macros,€122
em planos dolly zoom,€152 em planos de grupo,€95 em planos médios,€50
em planos gerais,€62 em planos de Steadicam,€163 em planos OTS,€74
em planos gerais extremos,€65, 68 em planos emblemáticos,€107 em planos zoom,€128
em planos gerais médios,€55 em planos gerais extremos,€65, 67, 69 visão geral,€16-17
em planos macro,€122 em planos inclinados,€137 sensores de dispositivo de carga emparelhada
em planos médios,€50 em planos panorâmicos,€133 (charge-coupled device, CCD). Ver sensores
em planos panorâmicos,€134 em planos travelling,€157 CCD
em planos-sequência,€176 em planos zoom,€127 Seopyeonje (1993),€69
planos OTS,€73 planos OTS,€73 Sid & Nancy – o amor mata (Sid and Nancy,
visão geral,€15–16 visão geral,€7 1986),€58, 59, 62
proporção de zoom,€14, 128 Reiner, Rob,€8 silhueta dos personagens,€97
proporções repetição, imagem,€22–25 simbolismo,€23–24
de tela,€6, 140 Réquiem para um sonho (Requiem for a simetria
proporções de tela Dream, 2000),€118, 119 em planos de ambientação,€79
em planos inclinados,€140 Resnais, Alain,€64, 65 em planos emblemáticos,€107
visão geral,€6 resolução, câmera,€18 em planos gerais extremos,€66
Pulp Fiction – tempo de violência (Pulp Fiction, ring lights,€122 em planos inclinados,€139
1994),€38–39 Rocky: Um lutador (Rocky, 1976),€3–4 sistema auxiliar de vídeo,€32
Roubando vidas (Taking Lives, 2004),€148, 149 sistema de imagem,€20–27
Q e close-ups extremos,€29
quadro, composição de,€1–4 S em Oldboy (2006),€22–27
quadros abertos,€10-11 Sánchez, Eduardo,€19 em planos emblemáticos,€107
quadros fechados,€10-11, 61 Schnabel, Julian,€84–85 In Bruges (Em Bruges, 2008),€138–139
Que horas são aí? (What Time Is It There?, Scorsese, Martin,€160, 161 planos abstratos como parte de,€113
2001),€45 Scott, Ridley,€90–91 planos de grupo,€98
Quero ser John Malkovich (Being John scrims,€38 planos em ambientes fechados, iluminação
Malkovich, 1999),€87 SD (Standard Definition), vídeo para
para close-ups,€38 planos gerais,€62
R para close-ups médios,€44 planos gerais extremos,€68
Radford, Michael,€54–55 para planos de dois,€92 planos gerais médios,€56
índiceâ•… 189
planos macro como parte de,€119 Thelma & Louise (1991),€90–91 Welles, Orson,€172, 173, 176
planos subjetivos,€86 tilt-shift, objetivas Wenders, Wim,€93, 141
planos-sequência,€176 para planos abstratos,€116 Werner Fassbinder, Rainer,€30
usando close-ups médios para,€41 para planos de ambientação,€80 Wong, Kar Wai,€7, 12
visão geral,€20–22 para planos emblemáticos,€110 Wright, Edgar,€135
skateboard dolly,€146 para planos gerais extremos,€68 Wright, Joe,€112, 113
sobre o ombro (O.T.S.), planos,€70–75 para planos OTS,€74
como planos de dois,€93 para planos subjetivos,€86 X
considerações técnicas,€74 visão geral,€14 x, eixo
quebrando as regras,€75 To, Johnny,€96–97, 98 em planos de grupo,€95
sobreposição de objetos,€10 tomadas longas em planos inclinados,€140
usando planos médios para,€47 planos-sequência,€173 em planos panorâmicos,€134
uso de,€72–73 planos zoom,€125 em planos travelling,€155, 158
visão geral,€70–71 Trainspotting – sem limites (Trainspotting, exagerando movimento em,€44
sobreposição de objetos,€9–10 1996),€153 visão geral,€6
Soderbergh, Steven,€136, 137 Trem mistério (Mystery Train, 1989),€
Sokurov, Alexander,€86, 177 88, 89 Z
Solaris (2002),€136, 137 tripés z, eixo
Spielberg, Steven,€144–145 usando para planos de canto,€104 e dicas de profundidade,€9
Stanton, Andrew,€34, 35 usando para planos inclinados,€140 e sistemas de imagens,€21
super 16 mm, formato usando para planos panorâmicos,€134 em planos abstratos,€115
usando para planos de grupo,€98 trombone, planos,€148–153 em planos de canto,€104
usando para planos gerais extremos,€ Truffaut, François,€7, 154, 155 em planos de dois,€92
68 Tsai Ming-Liang,€45 em planos de grupo,€95, 97, 98
usando para planos subjetivos,€86 Tykwer, Tom,€42–43 em planos de Steadicam,€164
super 35 mm, formato,€68 em planos dolly,€143
swish pans (chicotes),€134, 135 U em planos dolly zoom,€151
Um corpo que cai (Vertigo, 1958),€149 em planos emblemáticos,€109
T Um sonho de liberdade (The Shawshank em planos gerais extremos,€68
Tarantino, Quentin,€1, 3, 9, 39 Redemption, 1994),€72–73 em planos inclinados,€140
teleobjetivas undercranking (câmera rápida),€116 em planos macro,€121
campo de visão de,€12 em planos travelling,€155, 158
para close-ups,€37–38 V ênfase em planos de ambientação,€79
para close-ups médios,€44 Veludo azul (Blue Velvet, 1986),€29 exagerando movimento em,€44
para planos abstratos,€116 Vertigo, efeito,€148–153 visão geral,€6
para planos de canto,€104 vídeo High Definition. Ver vídeo HD Zhang, Yimou,€8, 108–109
para planos de dois,€92 Vídeo Standard Definition. Ver vídeo SD zolly, planos,€148–153
para planos de grupo,€98 visores do diretor zoom,€14, 128
para planos de Steadicam,€164 usando para planos de Steadicam,€164 zoom, objetivas
para planos dolly,€146 visão geral,€19 distância entre câmera e tema,€16
para planos gerais,€62 visores do diretor,€19, 164 usando para close-ups extremos,€32
para planos gerais médios,€56 von Donnersmarck, Florian Henckel,€9, 159 visão geral,€14
para planos médios,€49, 50 Von Trier, Lars,€81 zoom, planos,€124–129
para planos OTS,€74 combinando planos travelling com,€
para planos panorâmicos,€134 155
W
para planos subjetivos,€86 comparação com planos dolly,€143
Wachowski, Andy,€60–61
para planos travelling,€158 considerações técnicas,€128
Wachowski, Lana,€60–61
visão geral,€13 quebrando as regras,€129
WALL·E (2008),€34, 35
The Matrix Reloaded (The Matrix Reloaded, uso de,€126–127
Weir, Peter,€105
2003),€60–61 visão geral,€124–125
190