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SL-038FV-21

CÓD: 7908433201038

MARINHA
MARINHA DO BRASIL

Serviço Militar Voluntário (SMV)


- Oficiais RM2
CONVOCAÇÃO Nº 01/2021
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. GRAMÁTICA - Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras e do hífen, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de crase . . . 01
2. Aspectos morfológicos: estrutura e formação de palavras, classes de palavras, flexão (nominal e verbal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Organização sintática da frase e do período: frase, oração e período, estrutura da frase; ordem direta e inversa; Processos de
subordinação e coordenação: valores sintáticos e semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
4. Concordância: nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Regência: nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Colocação pronominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
8. COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - Leitura e análise de textos verbais e não verbais: os propósitos do autor e suas
implicações na organização do texto, compreensão de informações implícitas e explícitas, linguagens denotativa e conotativa,
elementos ficcionais e não ficcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
9. Texto e contexto: ambiguidade e polissemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
10. Relações lexicais: sinonímia, antonímia, homonímia, hiperonímia, hiponímia e paronímia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
11. Figuras de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
12. Tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
13. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
14. Reescritura de frases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
15. Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
16. Textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade . . . . . . . 36
17. Adequação vocabular e variação linguística: norma culta e variedades regionais e sociais, registro formal e informal . . . . . . . . . . 36

Defesa Nacional
1. POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA – O Estado, a Segurança e a Defesa; O ambiente internacional; O ambiente regional e o entorno es-
tratégico; O Brasil; Objetivos Nacionais de Defesa; e Orientações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – Formulação Sistemática; e Medidas de implementação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04

Organização Básica Da Marinha


1. FORÇAS ARMADAS (FFAA) – Missão constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante Supremo das Forças Armadas . . . . . . . 01
2. NORMAS GERAIS PARA A ORGANIZAÇÃO, O PREPARO E O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS – Disposições preliminares; Destinação e
atribuições; Assessoramento ao Comandante Supremo; Organização das Forças Armadas; Direção Superior das Forças Armadas . . . . . 02

Legislação Militar-Naval
1. ESTATUTO DOS MILITARES – Hierarquia Militar e disciplina; Cargos e Funções militares; Valor e ética militar; Compromisso, comando
e subordinação; Violação das obrigações e deveres militares; Crimes militares; Contravenções ou transgressões disciplinares . . . . . . . . 01

Tradições Navais
1. TRADIÇÕES DA MARINHA DO BRASIL – Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semelhanças entre as Marinhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Conhecendo o Navio: Navios e Barcos, o Navio, Características do Navio, A Flâmula de Comando, Posições Relativas a Bordo,
Câmara, Camarotes e Afins, Praças e Cobertas, Praça D’Armas, A Tolda à Ré, Agulha e Bússola, Corda e Cabo . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. A Gente de Bordo: A Hierarquia Naval e A Hierarquia da Marinha Mercante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
5. A Organização de Bordo: Organização por Quartos e Divisões de Serviço, O Pessoal de Serviço, O Sino de Bordo, As Fainas, A Presidên-
cia das Refeições a Bordo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
ÍNDICE

6. Cerimonial de Bordo: saudar o Pavilhão, Saudar o Comandante, Saudar o Imediato, Saudação entre militares, Saudação com espada, O
Cerimonial da Bandeira, Bandeira a Meio-Pau, Saudação de Navios Mercantes e Resposta. A salva – saudação com canhões, Os Postos
de Continência, Vivas, Vivas de Apito, Cerimonial de Recepção e Despedida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
7. Uniformes e seus acessórios: Os Uniformes, Gorro de Fita, O Apito Marinheiro, Alamares, Condecorações e Medalhas . . . . . . . . 07
8. Algumas Expressões Corriqueiras: “Safo”, “Onça”, “Safa Onça”, “Pegar”, “Rosca Fina”, “Voga Larga” e “Voga Picada” . . . . . . . . . . . 08

Relações Humanas E Liderança


1. DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA – Chefia e Liderança; Aspectos Fundamentais da Liderança; Estilos de Liderança; Seleção de
Estilos de Liderança; Fatores da Liderança; Atributos de um Líder; Níveis de Liderança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01

História Naval
1. A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO - Os navios de madeira: construindo embarcações e navios; O desenvolvimento dos navios portugueses;
O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as cartas de marear; A vida a bordo dos navios veleiros . . . . . . . . 01
2. A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA E O DESCOBRIMENTO DO BRASIL – Fundamentos da organização do Estado português e a
expansão ultramarina: Lusitânia; Ordens militares e religiosas; O papel da nobreza; A importância do mar na formação de Portugal;
Desenvolvimento econômico e social; A descoberta do Brasil; O reconhecimento da costa brasileira: A expedição de 1501/1502; A
expedição de 1502/1503; A expedição de 1503/1504; As expedições guarda-costas; A expedição colonizadora de Martim Afonso de
Sousa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
3. INVASÕES ESTRANGEIRAS AO BRASIL - Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão: Rio de Janeiro; Maranhão; Invasores
na foz do Amazonas: Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco: Holandeses na Bahia; A ocupação do Nordeste brasileiro; A
insurreição em Pernambuco; A derrota dos holandeses em Recife; Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII; Guerras,
tratados e limites no Sul do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. FORMAÇÃO DA MARINHA IMPERIAL BRASILEIRA - A vinda da Família Real; Política externa de D. João e a atuação da Marinha: a
conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha; Guerra
de independência; Elevação do Brasil a Reino Unido; O retorno de D. João VI para Portugal; A Independência; A Formação de uma
Esquadra Brasileira; Operações Navais; Confederação do Equador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS CONFLITOS DA REGÊNCIA E DO INÍCIO DO SEGUNDO REINADO - Conflitos internos; Cabanagem; Guerra
dos Farrapos; Sabinada; Balaiada; Revolta Praieira; Conflitos externos; Guerra Cisplatina; Guerra contra Oribe e Rosas . . . . . . . . . 32
6. A ATUAÇÃO DA MARINHA NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA CONTRA O GOVERNO DO PARAGUAI - O bloqueio do Rio Paraná e
a Batalha Naval do Riachuelo; Navios encouraçados e a invasão do Paraguai; Curuzu e Curupaiti; Caxias e Inhaúma; Passagem de
Curupaiti; Passagem de Humaitá; O recuo das forças paraguaias; O avanço aliado e a Dezembrada; A ocupação de Assunção e a fase
final da guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
7. A MARINHA NA REPÚBLICA - Primeira Guerra Mundial: Antecedentes; O preparo do Brasil; A Divisão Naval em Operações de Guerra;
O Período entre Guerras; A situação em 1940; Segunda Guerra mundial: Antecedentes; Início das hostilidades e ataques aos nossos
navios mercantes; A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e defesa ativa da costa brasileira; Defesas
Locais; Defesa Ativa; A Força Naval do Nordeste; E o que ficou? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
8. O EMPREGO PERMANENTE DO PODER NAVAL - O Poder Naval na guerra e na paz: Classificação; A percepção do Poder Naval; O
emprego permanente do Poder Naval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
LÍNGUA PORTUGUESA
1. GRAMÁTICA - Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras e do hífen, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de crase . . . 01
2. Aspectos morfológicos: estrutura e formação de palavras, classes de palavras, flexão (nominal e verbal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
3. Organização sintática da frase e do período: frase, oração e período, estrutura da frase; ordem direta e inversa; Processos de
subordinação e coordenação: valores sintáticos e semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
4. Concordância: nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Regência: nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Colocação pronominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
7. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
8. COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - Leitura e análise de textos verbais e não verbais: os propósitos do autor e suas
implicações na organização do texto, compreensão de informações implícitas e explícitas, linguagens denotativa e conotativa,
elementos ficcionais e não ficcionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
9. Texto e contexto: ambiguidade e polissemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
10. Relações lexicais: sinonímia, antonímia, homonímia, hiperonímia, hiponímia e paronímia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
11. Figuras de linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
12. Tipos e gêneros textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
13. Tipos de discurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
14. Reescritura de frases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
15. Funções da linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
16. Textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade . . . . . . . 36
17. Adequação vocabular e variação linguística: norma culta e variedades regionais e sociais, registro formal e informal . . . . . . . . . . 36
LÍNGUA PORTUGUESA
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
GRAMÁTICA - SISTEMA ORTOGRÁFICO EM VIGOR: mem.
EMPREGO DAS LETRAS E DO HÍFEN, ACENTUAÇÃO Outros casos
GRÁFICA E USO DO SINAL INDICADOR DE CRASE 1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteproje-
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- to, semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a das.
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
gui, que, qui. 2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
Regras de acentuação -bibliotecário.
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima persônico.
sílaba) – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.

Observações:
Como era Como fica
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
alcatéia alcateia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
apóia apoia essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
Como era Como fica pontapé, paraquedas, paraquedista.
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
baiúca baiuca usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
bocaiúva bocaiuva recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominan-
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: do muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. vamos passar para mais um ponto importante.

– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem ACENTUAÇÃO GRÁFICA
e ôo(s). Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Como era Como fica Vejamos um por um:
abençôo abençoo
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
crêem creem
aberto.
Já cursei a Faculdade de História.
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. fechado.
Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
Atenção: Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. caso afundo mais à frente).
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. Sou leal à mulher da minha vida.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, As palavras podem ser:
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as -já, ra-paz, u-ru-bu...)
palavras forma/fôrma. – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
Uso de hífen – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Regra básica: (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)

1
LÍNGUA PORTUGUESA
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, A quem vocês se reportaram no Plenário?
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, – Antes de verbos no infinitivo
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, ASPECTOS MORFOLÓGICOS: ESTRUTURA E FORMA-
dói, coronéis...) ÇÃO DE PALAVRAS, CLASSES DE PALAVRAS, FLEXÃO
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais (NOMINAL E VERBAL)
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)

Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- Antes de estudarmos os processos de formação de palavras,
nar e fixar as regras. precisamos relembrar alguns conceitos de estrutura das palavras
que irão nos ajudar bastante. A parte de Estrutura das Palavras tra-
CRASE ta dos conceitos de radical, prefixo, sufixo e desinência. Vejamos,
A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a rapidamente, cada uma delas.
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Radical é a base da palavra, é a parte responsável pela signi-
demonstrativo. ficação principal dela, assim como pela formação de novas. Sem
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) radical não há palavra(s).
amargo, amargor, amargura, amargurar, amargurado
• Devemos usar crase:
– Antes palavras femininas: Os afixos são morfemas derivacionais ligados ao radical e capa-
Iremos à festa amanhã zes de modificar o seu significado, formando palavras novas. Exis-
Mediante à situação. tem dois tipos: os prefixos e os sufixos.
O Governo visa à resolução do problema. O Prefixo vem antes do radical para ampliar sua significação e
formar nova palavra.
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de” ateu, analfabeto, anestesia
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: O Sufixo vem depois do radical para ampliar seu sentido e for-
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. mar nova palavra.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- pançudo, maçudo
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
Mas... há crase, sim! Desinências são morfemas flexionais colocados após os radi-
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- cais. Apenas indicam, no caso dos nomes, o gênero e o número
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. das palavras; no caso dos verbos, indicam o modo, o tempo, o nú-
mero e a pessoa. Tais morfemas não formam novas palavras, mas
– Expressões fixas flexionam, variam, mudam levemente a forma da mesma palavra,
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de indicando certos aspectos. Portanto, não confunda desinência com
crase: sufixo!
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Elas podem ser nominais (gênero e número) ou verbais (modo-
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às -temporais e número-pessoais).
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à aluna, aluno, alunas, alunos, estávamos (pretérito imperfeito
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- do modo indicativo/ 1º pessoa do plural)
didas, à medida que, à proporção que.
Agora sim! Já sabemos um pouco da base que nos ajudará a
• NUNCA devemos usar crase: entender melhor os processos de formação de palavras.
– Antes de substantivos masculinos: Existem algumas maneiras para a formação de novos vocábu-
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a los na língua, logo esta parte trata justamente dos diversos modos
pé. como as palavras se formam. Os principais processos são estes:
derivação, composição, onomatopeia (reduplicação), abreviação
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou (redução), siglonimização, hibridismo, palavra-valise (combinação).
plural) usado em sentido generalizador:
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. A Derivação é um processo de multiplicação e reaproveita-
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- mento de um vocábulo pelo acréscimo de sufixos e prefixos. Ela
mem. pode ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.
• Derivação sufixal: livraria, livrinho, livresco.
– Antes de artigo indefinido “uma” • Derivação prefixal: reter, deter, conter.
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. • Parassintética: envelhecer (en + velho + ecer), aterrar (a +
terra + ar), abençoar (a + bênção + ar).
– Antes de pronomes • Regressiva: atrasar > atraso, demorar > demora, tossir > tos-
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. se, engasgar > engasgo, telefonar > telefone
• Imprópria (conversão): Você tem aracnofobia? (radical) / Eu
tenho muitas fobias. (substantivo)

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Ocorre Composição quando uma palavra é constituída por SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
dois ou mais radicais. Há dois tipos de composição: por justaposi- nomeiam ações, estados, bondade/
ção e por aglutinação. Vejamos! qualidades e sentimentos que confiança/
• Composição por justaposição: pontapé (ponta + pé), vaivém não tem existência própria, ou lembrança/
(vai + vem), passatempo (passa + tempo) seja, só existem em função de amor/
• Composição por aglutinação: boquiaberto (boca + aberta), um ser. alegria
mundividência (mundo + vidência),fidalgo (filho de algo)
SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
Outros processos de formação de palavras: referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
• Onomatopeia: bangue-bangue, zum-zum-zum, blá-blá-blá. de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
• Abreviação: televisão > tevê, motocicleta > moto, fotografia mesmo quando empregado
> foto no singular e constituem um
• Siglonimização: UFMG (Universidade Federal de Minas Ge- substantivo comum.
rais), PT (Partido dos Trabalhadores), Petrobras (Petróleo do Brasil NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS
S/A) PALAVRAS QUE NÃO ESTÃO AQUI!
• Hibridismo: socio/logia (latim e grego), auto/móvel (grego e
latim), tele/visão (grego e latim) Flexão dos Substantivos
• Palavra-valise: sofrer + professor > sofressor, aborrecer + ado- • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
lescente > aborrecente no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
uniformes
CLASSES DE PALAVRAS – Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa,
Substantivo o presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou ima- – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
ginários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
sentimentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
Classificação dos substantivos veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
macho/palmeira fêmea.
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
sua estrutura. macaco/João/sabão testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tan-
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
to para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agen-
são formados por mais de um porta-voz/
te, o/a estudante, o/a colega.
radical em sua estrutura. pé-de-moleque
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/ – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
são os que dão origem a mundo/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
outras palavras, ou seja, ela é população
a primeira. /formiga • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/ diminutivo.
são formados por outros populacional/formigueiro – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
radicais da língua. – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.
designa determinado ser /Brasil
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da Adjetivo
espécie. São sempre iniciados Liberdade É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substanti-
por letra maiúscula. vo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ composta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo
referem-se qualquer ser de cachorro/prima por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um ad-
uma mesma espécie. jetivo: golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal
vespertino).
SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas Flexão do Adjetivos
própria. Esses seres podem /lobisomem • Gênero:
ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê – Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
reais ou imaginários. no: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes de Tratamento Emprego


Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pou-
co, pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).

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LÍNGUA PORTUGUESA
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a
função de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

ORGANIZAÇÃO SINTÁTICA DA FRASE E DO PERÍODO: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO, ESTRUTURA DA FRASE; ORDEM
DIRETA E INVERSA; PROCESSOS DE SUBORDINAÇÃO E COORDENAÇÃO: VALORES SINTÁTICOS E SEMÂNTICOS

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:

• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.


O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.

• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.

• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de prepo-
sição.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.

• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
um verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.

• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equiva-
lentes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

CONCORDÂNCIA: NOMINAL E VERBAL

Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amistosa.

Casos Especiais de Concordância Nominal


• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam alerta.

• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na formação de palavras compostas:


Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.

• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quando
advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou meia dúzia de ovos.

• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:


Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.

• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Concordância Verbal Assistir (dar assistência) Não usa preposição
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Deparar (encontrar) com
mes. Implicar (consequência) Não usa preposição

Concordância ideológica ou silepse Lembrar Não usa preposição


Pagar (pagar a alguém) a
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
Precisar (necessitar) de
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
contexto. Proceder (realizar) a
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas. Responder a
Blumenau estava repleta de turistas.
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- Visar ( ter como objetivo a
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- pretender)
texto. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- QUE NÃO ESTÃO AQUI!
sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos.
A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
REGÊNCIA: NOMINAL E VERBAL frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
• Regência Nominal após o verbo – ênclise.
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar- cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
mento é estabelecida por uma preposição. formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
• Regência Verbal as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). dique a eufonia da frase.
Isto pertence a todos.
Próclise
Regência de algumas palavras Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.

Esta palavra combina com Esta preposição Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
Acessível a cientemente.
Apto a, para Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Atencioso com, para com
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Coerente com Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Conforme a, com Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
Dúvida acerca de, de, em, sobre posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Empenho de, em, por Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não
Fácil a, de, para,
sejam reduzidas: Percebia que o observavam.
Junto a, de Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
Pendente de tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
Preferível a tentos são para nos prejudicarem.
Próximo a, de
Ênclise
Respeito a, com, de, para com, por Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
Situado a, em, entre
Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
Ajudar (a fazer algo) a
indicativo: Trago-te flores.
Aludir (referir-se) a Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Aspirar (desejar, pretender) a Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre-
posição em: Saí, deixando-a aflita.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti-
outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise: cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos
Apressei-me a convidá-los. [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ],
travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses
Mesóclise retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo.
Ponto ( . )
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
futuro do pretérito que iniciam a oração. sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
Dir-lhe-ei toda a verdade. de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
Far-me-ias um favor? reticências.
Estaremos presentes na festa.
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. Ponto de interrogação ( ? )
Eu lhe direi toda a verdade. Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati-
Tu me farias um favor? va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?
Colocação do pronome átono nas locuções verbais Ponto de exclamação ( ! )
Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama-
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve- tiva.
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. Ex: Que bela festa!
Exemplos:
Devo-lhe dizer a verdade. Reticências ( ... )
Devo dizer-lhe a verdade.
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor
do auxiliar ou depois do principal.
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Exemplos:
Ex: Essa festa... não sei não, viu.
Não lhe devo dizer a verdade.
Não devo dizer-lhe a verdade.
Dois-pontos ( : )
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
o pronome átono ficará depois do auxiliar. Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. (discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
auxiliar.
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. Ponto e vírgula ( ; )
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
do infinitivo. para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enu-
Exemplos: meração (frequente em leis), etc.
Hei de dizer-lhe a verdade. Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
Tenho de dizer-lhe a verdade. bém uma linda decoração e bebidas caras.

Observação Travessão ( — )
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções: Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
Devo-lhe dizer tudo. o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
Estava-lhe dizendo tudo. -men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
Havia-lhe dito tudo. vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
PONTUAÇÃO
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.

Pontuação Parênteses e colchetes ( ) – [ ]


Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior
a organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das intimidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as parêntese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- ligados aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são
CHARA, 2009, p. 514) utilizados quando já se acham empregados os parênteses, para in-
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a troduzirem uma nova inserção.
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo
sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon- governador)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Aspas ( “ ” ) O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para • Separa orações coordenadas assindéticas.
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. ideias na cabeça...
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Isola o nome do lugar nas datas.
Vírgula Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
vírgula: conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas in-
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- formações comprovam, etc.
mos” o momento certo de fazer uso dela. Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em nizar o problema.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?! COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - LEITU-
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex- RA E ANÁLISE DE TEXTOS VERBAIS E NÃO VERBAIS:
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é OS PROPÓSITOS DO AUTOR E SUAS IMPLICAÇÕES NA
menos importante e que pode ser colocada depois. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO, COMPREENSÃO DE IN-
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or- FORMAÇÕES IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS, LINGUAGENS
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > DENOTATIVA E CONOTATIVA, ELEMENTOS FICCIONAIS
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). E NÃO FICCIONAIS
Maria foi à padaria ontem.
Sujeito Verbo Objeto Adjunto
Compreensão e interpretação de textos
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
re por alguns motivos: seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. prova de qualquer área do conhecimento.
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpreta-
verbo e o adjunto. ção?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula é Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
necessária: Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
Ontem, Maria foi à padaria. que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
Maria, ontem, foi à padaria. A interpretação é quando você entende o que está implícito,
À padaria, Maria foi ontem. nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces- Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
sário: Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
ção. Percebeu a diferença?
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
serem observadas na redação oficial. Tipos de Linguagem
• Separa aposto. Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. que facilite a interpretação de textos.
• Separa vocativo. • Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
Brasileiros, é chegada a hora de votar. pode ser escrita ou oral.
• Separa termos repetidos.
Aquele aluno era esforçado, esforçado.

• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-


ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
efeito, digo.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
ou seja, de fácil compreensão.

• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-


tos).

13
LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po-
lêmicos;
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
Dicas para interpretar um texto:
– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa-
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa- e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu-
lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal tável).
com a não-verbal. – Retorne ao texto sempre que necessário.
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os
enunciados das questões.

– Reescreva o conteúdo lido.


Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó-
picos ou esquemas.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa-


lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma
distração, mas também um aprendizado.
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a com-
preensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nos-
sa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória.
Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden- Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se-
tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela
este processo é intertextualidade. ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão
do texto.
Interpretação de Texto O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a uma identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as
conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao subentendi- ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou ex-
do. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir de um texto. plicações, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré- na prova.
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um sig-
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça nificado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci- candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com al-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia- gum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan- nunca extrapole a visão dele.
do de alguma forma o leitor.

14
LÍNGUA PORTUGUESA
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia TEXTOS VARIADOS
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- Ironia
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
significativo, que é o texto. com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
um texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
Pois o título cumpre uma função importante: antecipar informa- novo sentido, gerando um efeito de humor.
ções sobre o assunto que será tratado no texto. Exemplo:
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS

Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma es-


pécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
outro e a parceria deu certo.

Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-


sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o texto Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:
vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso- Ironia verbal
ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens. nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
As informações que se relacionam com o tema chamamos de intenção são diferentes.
subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram, Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto Ironia de situação
fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o
conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães. resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja.
Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi Exemplo: Quando num texto literário uma personagem plane-
capaz de identificar o tema do texto! ja uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No
livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a
Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias- personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da
-secundarias/ vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a
morte.

15
LÍNGUA PORTUGUESA
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- fatores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- presentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz
rer algo fora do esperado numa situação. suficiente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as texto, pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreen-
tirinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômi- dentes que não foram observados previamente. Para auxiliar na
co; há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequente- busca de sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos
mente acessadas como forma de gerar o riso. frasais presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em apreensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. não estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira
aleatória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem ne-
Exemplo: cessários, estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento
defendido, retomando ideias já citadas ou apresentando novos
conceitos.
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão,
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.

Diferença entre compreensão e interpretação


A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O
leitor tira conclusões subjetivas do texto.

Gêneros Discursivos
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ- Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso-
NERO EM QUE SE INSCREVE nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou
Compreender um texto trata da análise e decodificação do que totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma
de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter- novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No
pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao romance nós temos uma história central e várias histórias secun-
conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha dárias.
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual- Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente
quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
principal. Compreender relações semânticas é uma competência nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única
imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos. ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
Quando não se sabe interpretar corretamente um texto po- encaminham-se diretamente para um desfecho.
de-se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem
Busca de sentidos a história principal, mas também tem várias histórias secundárias.
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo O tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na definidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem
apreensão do conteúdo exposto. um ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto
mais curto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
que nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudan- texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
do os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
e o do leitor.
de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa
liberdade para quem recebe a informação.
Parágrafo
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é
DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma-
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto
Fato
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela-
O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre-
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é sentada na introdução.
uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma ma-
neira, através de algum documento, números, vídeo ou registro. Embora existam diferentes formas de organização de parágra-
Exemplo de fato: fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jorna-
A mãe foi viajar. lísticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste
em três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvol-
Interpretação vem a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em
É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos parágrafos curtos, é raro haver conclusão.
quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
sas, previmos suas consequências. Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz
Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você irá
apontamos uma causa ou consequência, é necessário que seja identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo escrito.
plausível. Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou Normalmente o tema e o problema são dados pela própria prova.
diferenças sejam detectáveis.
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e
Exemplos de interpretação: ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí-
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até
tro país. citações de pessoas que tenham autoridade no assunto.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias ma-
Opinião neiras diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um uma pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação conclusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.
que fazemos do fato.
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto-
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe-
ríodo, e o tópico que o antecede.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
para a clareza do texto. cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas Gíria
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro, A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
sem coerência. arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta- a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores. gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es- Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
mais direto. comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
NÍVEIS DE LINGUAGEM acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso.
Definição de linguagem Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias “mina”, “tipo assim”.
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo Linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal). há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com comida”.
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
Linguagem regional
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo so-
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
cial. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pa-
e caem em desuso.
lavras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazôni-
Língua escrita e língua falada
co, nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
Tipos e gêneros textuais
falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran-
parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação,
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem
e ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e
é mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma
na conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás-
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou
pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li- dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns
berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante. exemplos e as principais características de cada um deles.
Linguagem popular e linguagem culta Tipo textual descritivo
Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua- A descrição é uma modalidade de composição textual cujo
gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala, objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto,
presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procu- um movimento etc.
rou valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em Características principais:
que o diálogo é usado para representar a língua falada. • Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
Linguagem Popular ou Coloquial caracterizadora.
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se qua- • Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu-
se sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de meração.
linguagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbaris- • A noção temporal é normalmente estática.
mo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; • Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini-
pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coorde- ção.
nação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem • Normalmente aparece dentro de um texto narrativo.
popular está presente nas conversas familiares ou entre amigos, • Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún-
anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e auditório, no- cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.
velas, na expressão dos esta dos emocionais etc.
Exemplo:
A Linguagem Culta ou Padrão Era uma casa muito engraçada
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que Não tinha teto, não tinha nada
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Ninguém podia entrar nela, não
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Porque na casa não tinha chão
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Ninguém podia dormir na rede
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Porque na casa não tinha parede

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ninguém podia fazer pipi Características principais:
Porque penico não tinha ali • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Mas era feita com muito esmero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
Na rua dos bobos, número zero gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
(Vinícius de Moraes) de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO gestão/solução).
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumenta-
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o ções informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normal-
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e mente nas argumentações formais) para imprimir uma atemporali-
comportamentos, nas leis jurídicas. dade e um caráter de verdade ao que está sendo dito.
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
Características principais: zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de-
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios.
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc. Exemplo:
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
Exemplo: vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- administração política (tese), porque a força governamental certa-
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
perior para formação de oficiais. ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar
Tipo textual expositivo de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o
A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio- caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma
cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição, dis- cobrança efetiva (conclusão).
cussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
pode ser expositiva ou argumentativa. Tipo textual narrativo
A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as- O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta
sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma- um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e
neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate. lugar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um en-
redo, personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo).
Características principais:
• Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão. Características principais:
• O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor- • O tempo verbal predominante é o passado.
mar. • Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
• Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente. tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
• Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa onisciente).
de ponto de vista. • Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
• Apresenta linguagem clara e imparcial. prosa, não em verso.

Exemplo: Exemplo:
O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no Solidão
questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex- João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de- o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
terminado tema. liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta- Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni-
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa). rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as- Nelson S. Oliveira
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente. Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre-
ais/4835684
Tipo textual dissertativo-argumentativo
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- GÊNEROS TEXTUAIS
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
(leitor ou ouvinte). funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-

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LÍNGUA PORTUGUESA
do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que “para” (semelhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (po-
apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu- esia) semelhante a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos
ais que neles predominam. programas humorísticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Descritivo Diário significa a “repetição de uma sentença”.
Relatos (viagens, históricos, etc.) • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Biografia e autobiografia ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Notícia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Currículo mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Lista de compras e “graphé” (escrita).
Cardápio • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Anúncios de classificados textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Injuntivo Receita culinária entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Bula de remédio Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Manual de instruções lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Regulamento “citação” (citare) significa convocar.
Textos prescritivos • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Expositivo Seminários textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
Palestras termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Conferências • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Entrevistas o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Trabalhos acadêmicos
Enciclopédia ARGUMENTAÇÃO
Verbetes de dicionários O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
Carta de opinião ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como
Resenha verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem
Artigo
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele
Ensaio
propõe.
Monografia, dissertação de
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo
mestrado e tese de doutorado
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o
Narrativo Romance conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir
Novela a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo
Crônica tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de
Contos de Fada vista defendidos.
Fábula As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
Lendas uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
forma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
infinitos e mudam de acordo com a demanda social. que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
INTERTEXTUALIDADE sos de linguagem.
A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As- voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos de escolher entre duas ou mais coisas”.
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
ambos: forma e conteúdo. vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
provérbios, charges, dentre outros.
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
Tipos de Intertextualidade
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geral-
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
mente, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
grego (parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos
enunciador está propondo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de cimento. Nunca o inverso.
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- Alex José Periscinoto.
mento de premissas e conclusões. In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
A é igual a B. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais im-
A é igual a C. portante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a
Então: C é igual a A. ela, o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo.
Se um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamen- acreditar que é verdade.
te, que C é igual a A.
Outro exemplo: Argumento de Quantidade
Todo ruminante é um mamífero. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
A vaca é um ruminante. mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
Logo, a vaca é um mamífero. duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão largo uso do argumento de quantidade.
também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, Argumento do Consenso
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada o objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
confiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as
uma instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argu- afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que
mentativo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao
provável que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
do que outro fundado há dois ou três anos. mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase carentes de qualquer base científica.
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante en-
Argumento de Existência
tender bem como eles funcionam.
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
do que dois voando”.
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas con-
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência cretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Duran-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, te a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exér-
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol cito americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasi- afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
vo de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desva- vista como propagandística. No entanto, quando documentada
lorizado numa dada cultura. pela comparação do número de canhões, de carros de combate, de
navios, etc., ganhava credibilidade.
Tipos de Argumento
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- Argumento quase lógico
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
mento. Exemplo: e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
Argumento de Autoridade cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausíveis.
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “então A
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse re- é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. Entre-
curso produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do pro- tanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” não se
dutor do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
texto a garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
texto um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
e verdadeira. Exemplo: correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do

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LÍNGUA PORTUGUESA
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generaliza- são ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para des-
ções indevidas. truir o argumento.
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do
Argumento do Atributo contexto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típicas e atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso,
daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais por exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não per-
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o mite que outras crescam”, em que o termo imperialismo é desca-
que é mais grosseiro, etc. bido, uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- reduzir outros à sua dependência política e econômica”.
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de bele-
za, alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
de. dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da o assunto, etc).
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da Convém ainda alertar que não se convence ninguém com ma-
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- nifestações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto mentir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de feitas (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evi-
dizer dá confiabilidade ao que se diz. dente, afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saú- texto, sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador
de de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas ma- deve construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas
neiras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais qualidades não se prometem, manifestam-se na ação.
adequada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
certa estranheza e não criaria uma imagem de competência do mé-
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
dico:
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
por bem determinar o internamento do governador pelo período
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo
guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
tal por três dias. de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- comportamento.
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão válida,
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou propo-
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, sição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
um texto tem sempre uma orientação argumentativa. empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo mica e até o choro.
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apre-
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não senta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha
outras, etc. Veja: dos dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- uma “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na dis-
vam abraços afetuosos.” sertação, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos.
Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discus-
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras são, debate, questionamento, o que implica a liberdade de pensa-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse mento, a possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, liberdade de questionar é fundamental, mas não é suficiente para
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. organizar um texto dissertativo. É necessária também a exposição
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- dos fundamentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: de vista.
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
ser usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posi-
valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carre- ções, é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista
gadas de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio am- e seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
biente, injustiça, corrupção). zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,

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LÍNGUA PORTUGUESA
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nes-
ver as seguintes habilidades: se caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja,
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma parte de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desco-
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- nhecidos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa.
mente contrária; Exemplo:
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o ferro (particular)
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- O calor dilata o bronze (particular)
ria contra a argumentação proposta; O calor dilata o cobre (particular)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos- O ferro, o bronze, o cobre são metais
ta. Logo, o calor dilata metais (geral, universal)

A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
questão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na so- algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
ciedade. deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
método de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- de sofisma no seguinte diálogo:
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Lógico, concordo.
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Claro que não!
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução. Exemplos de sofismas:
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro Dedução
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma Todo professor tem um diploma (geral, universal)
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca Fulano tem um diploma (particular)
da verdade: Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
- evidência;
- divisão ou análise; Indução
- ordem ou dedução; O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
- enumeração. cular)
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo. – conclusão falsa)
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
caracteriza a universalidade. superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- ados nos sentimentos não ditados pela razão.
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
de fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
para o efeito. Exemplo: classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) pesquisa.
Fulano é homem (premissa menor = particular) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Logo, Fulano é mortal (conclusão) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-

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LÍNGUA PORTUGUESA
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a racionalmente as posições assumidas e os argumentos que as jus-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, tificam. É muito importante deixar claro o campo da discussão e a
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém posição adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu os pontos de vista sobre ele.
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstrui- A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
ria todo se as partes estivessem organizadas, devidamente com- gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
binadas, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
então, o relógio estaria reconstruído. espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
relacionadas: tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. - o termo a ser definido;
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. - o gênero ou espécie;
- a diferença específica.
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco- ma espécie. Exemplo:
lha dos elementos que farão parte do texto.
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
Elemento especie diferença
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
a ser definido específica
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. ou instalação”;
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, cami- os exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restri-
nhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, to para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
relógio, sabiá, torradeira. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição ex-
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é pandida;d
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro o (as diferenças).
menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é in-
dispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração do As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou seja, paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
(Garcia, 1973, p. 302304.) vra e seus significados.
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para ex- pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
pressar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada

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LÍNGUA PORTUGUESA
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mentação coerente e adequada. caráter confirmatório que comprobatório.
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás- Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode re- consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
conhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras ve- caso, incluem-se
zes, as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mis- - A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
turando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender mortal, aspira à imortalidade);
a reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis- - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos dos e axiomas);
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
processos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
que raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo parece absurdo).
específico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimen- Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
tos argumentativos mais empregados para comprovar uma afirma- um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados
ção: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. concretos, estatísticos ou documentais.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex-
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade
virtude de, em vista de, por motivo de.
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é explicar
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
gumentação:
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela dadeira;
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: pare- Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
ce, assim, desse ponto de vista. nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de dade da afirmação;
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: con-
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são siste em refutar um argumento empregando os testemunhos de
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- autoridade que contrariam a afirmação apresentada;
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma que gera o controle demográfico”.
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
que, melhor que, pior que. desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: elaboração de um Plano de Redação.
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolu-
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- ção tecnológica
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, respon-
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer der a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- resposta, justificar, criando um argumento básico;

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LÍNGUA PORTUGUESA
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
(rever tipos de argumentação); das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias elementos formativos de um texto.
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po- A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse- aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
quência); elementos textuais.
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
argumento básico; de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
em argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do imediato a coerência de um discurso.
argumento básico;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se- A coerência:
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
tual;
menos a seguinte:
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
o aspecto global do texto;
Introdução
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
- função social da ciência e da tecnologia;
- definições de ciência e tecnologia; Coesão
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico. É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
Desenvolvimento ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol- fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
vimento tecnológico; tem-se a coesão lexical.
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
condições de vida no mundo atual; vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- nentes do texto.
desenvolvidos; Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
sado; apontar semelhanças e diferenças; do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
banos; A coesão:
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
mais a sociedade. - situa-se na superfície do texto, estabelece conexão sequen-
cial;
Conclusão - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- componentes do texto;
ências maléficas; - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
apresentados. Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextuali-
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
dade como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já
ção: é um dos possíveis.
existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem fun-
ções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de ela é inserida.
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mo- Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
bilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada. cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
Coerência textos caracterizada por um citar o outro.
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- um texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira,
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na se utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com – a fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
outra”). de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos dife-

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rentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos Pastiche é uma recorrência a um gênero.
pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
mencionar um provérbio conhecido. a recriação de um texto.
Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou- Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci-
tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to- mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao
má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi- produtor e ao receptor de textos.
zá-lo ou ao compará-lo com outros. A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am-
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de- remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres- além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram daquela citação ou alusão em questão.
formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo
contradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
originais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
mantêm alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido. implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
Tipos de Intertextualidade
A intertextualidade acontece quando há uma referência ex- A intertextualidade explícita:
plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer – é facilmente identificada pelos leitores;
com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertex- – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
tualidade. – não exige que haja dedução por parte do leitor;
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo,
– apenas apela à compreensão do conteúdos.
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálo-
go entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as
A intertextualidade implícita:
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as.
– não é facilmente identificada pelos leitores;
– não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea-
– exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com
outras palavras o que já foi dito. parte dos leitores;
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex- – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto a compreensão do conteúdo.
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui,
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada PONTO DE VISTA
para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes
de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces- sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de
so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com-
pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente- da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir
mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob-
demagogia praticada pela classe dominante. servador e o narrador-personagem.

A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos Primeira pessoa


científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con- Um personagem narra a história a partir de seu próprio pon-
siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re- to de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso,
lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra- lemos o livro com a sensação de termos a visão do personagem
fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé” podendo também saber quais são seus pensamentos, o que causa
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio uma leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nos-
Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A sas vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimen-
cultura é o melhor conforto para a velhice”. to e só descobrimos ao decorrer da história.

A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro- Segunda pessoa


dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação quase como outro personagem que participa da história.
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o
termo “citação” (citare) significa convocar. Terceira pessoa
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.

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Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi- Síntese
tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada A síntese é uma técnica de escrita que consiste em reduzir um
por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para texto às suas ideias essenciais, com liberdade na ordem e organiza-
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a ção das ideias.
leitura não fique confuso. Trata-se de um texto que é um tipo especial de composição
que consiste em reproduzir, em poucas palavras, o que o autor ex-
PARÁFRASE, PERÍFRASE, SÍNTESE E RESUMO pressou amplamente. Desse modo, só devem ser aproveitadas as
Paráfrase ideias essenciais, dispensando-se tudo o que for secundário.
Ao parafrasear, reescrevemos um texto com nossa própria lin- Resumo
guagem, mantendo o conteúdo e a clareza originais. A pontuação Resumir um texto é reproduzir com poucas palavras aquilo que
adequada, a variação vocabular e novos torneios frásicos assegu- o autor disse. Saber resumir as ideias expressas em um texto não
ram a qualidade da paráfrase. é difícil.
Paráfrase é a “tradução” de um texto em outro, na mesma lín- O resumo é uma técnica de escrita que consiste em condensar
gua. É um exercício de leitura aprofundada, porque exige e favore- as ideias principais de um texto, não introduzindo qualquer comen-
ce uma compreensão completa do texto que estamos parafrasean- tário e respeitando o sentido, a estrutura e o tipo de enunciação.
do. É também um excelente exercício de redação, porque amplia Nos resumos de livros, não devem aparecer diálogos, descri-
nosso domínio das estruturas da linguagem, ao mesmo tempo que ções detalhadas, cenas ou personagens secundárias. Somente as
propicia a ampliação do nosso vocabulário. personagens, os ambientes e as ações mais importantes devem ser
Um texto parafraseado não deve configurar uma integral subs- registrados.
tituição de palavras, mas uma acomodação das ideias a uma lingua- Resumo é uma apresentação sintética e seletiva das ideias de
gem diferente, mais explícita, sem nada acrescentar ou subtrair ao um texto, ressaltando a progressão e a articulação delas. Nele de-
texto original. vem aparecer as principais ideias do autor.
Portanto, parafrasear não é apenas substituir palavras, é en-
contrar a expressão que recupere a ideia original, por meio de uma
nova organização de frases. TEXTO E CONTEXTO: AMBIGUIDADE E POLISSEMIA;

Como ler um texto A polissemia refere-se a um termo que possui mais de um sen-
Recomendam-se duas leituras. A primeira, chamaremos de lei- tido e, por isso, depende do contexto de enunciação, pois, se esti-
tura vertical e a segunda, de leitura horizontal. ver fora de contexto, pode provocar a ambiguidade, que consiste
no duplo sentido de um enunciado.
Leitura horizontal é a leitura rápida que tem como finalidade o
contato inicial com o assunto do texto. De posse desta visão geral, Observe este diálogo:
podemos passar para o próximo passo. — Jenival cortou a mangueira.
— Que pena! Eu gostava tanto daquelas mangas.
Leitura vertical consiste em uma leitura mais atenta; é o le- — Estou falando da mangueira de regar plantas.
vantamento dos referenciais do texto-base para a perfeita com- — Ah, pensei que...
preensão. É importante grifar, em cada parágrafo lido, as ideias — Ele fez bambolês para as crianças.
principais. Após escrever à parte as ideias recolhidas nos grifos,
procurando dar uma redação própria, independente das palavras Assim, se o enunciador da fala “Jenival cortou a mangueira”
utilizadas pelo autor do texto. tivesse contextualizado a informação, não provocaria a confusão
de seu interlocutor diante do enunciado ambíguo. Porém, a ambi-
Perífrase guidade, considerada um vício de linguagem, não é gerada apenas
Trata-se da substituição de um nome comum ou próprio por pela descontextualização de uma palavra polissêmica. Ela pode ser
uma expressão que a caracterize. Nada mais é do que um circunló- causada também pelo uso inadequado de um hipérbato, isto é, da
quio, isto é, um rodeio de palavras. alteração da ordem direta (sujeito, verbo, complemento ou predi-
cativo) de uma oração:
Exemplos:
– astro rei (Sol) O filho amava o pai.
– última flor do Lácio (língua portuguesa) Nesse enunciado, há ambiguidade, pois não sabemos quem
– Cidade-Luz (Paris) amava quem, se o sujeito é o filho ou o pai, já que não é possível
– Rainha da Borborema (Campina Grande) dizer se a oração está na ordem direta ou inversa. Desse modo, se,
excepcionalmente, alterarmos a transitividade do verbo “amar”,
– Cidade Maravilhosa (Rio de Janeiro)
acabamos com a ambiguidade:
Existe também um tipo especial de perífrase que se refere so-
Ao filho amava o pai.
mente a pessoas. Tal figura de estilo é chamada de antonomásia
O uso dos pronomes possessivos “seu” e “sua” também cos-
e baseia-se nas qualidades ou ações notórias do indivíduo ou da
tuma gerar ambiguidade no português brasileiro, já que, no Brasil,
entidade a que a expressão se refere.
são pouco usados os pronomes “teu” e “tua”. Veja o enunciado:
Exemplos: Pedro, eu tentava acalmar a Maria quando roubaram o seu
– A rainha do mar (Iemanjá) carro.
– O poeta dos escravos (Castro Alves) Aqui fica difícil saber se o carro roubado era de Pedro ou de
Maria.
Fonte:
https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/polissemia.htm

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RELAÇÕES LEXICAIS: SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HOMONÍMIA, HIPERONÍMIA, HIPONÍMIA E PARONÍMIA

Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos que
compõem este estudo.

Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.

O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.

Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais do-
mésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com subs-
tantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

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Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Exemplo
Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva)
loja, por estarem com preço baixo; ou que por estarem muito bara- mecânica.
to, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta. (Carlos Drummond de Andrade)
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é
justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste-
palavra, frase ou textos inteiros. sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indife-
rença gelada”.

FIGURAS DE LINGUAGEM
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade,
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o.
Figuras de Linguagem
Exemplos
As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para O filósofo de Genebra (= Calvino).
valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um re- O águia de Haia (= Rui Barbosa).
curso linguístico para expressar de formas diferentes experiências
comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tor- Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que
nando-o poético. a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida.

As figuras de linguagem classificam-se em Exemplos


– figuras de palavra; Leio Graciliano Ramos. (livros, obras)
– figuras de pensamento; Comprei um panamá. (chapéu de Panamá)
– figuras de construção ou sintaxe. Tomei um Danone. (iogurte)

Figuras de palavra Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné-


Emprego de um termo com sentido diferente daquele conven- doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural.
cionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais ex-
pressivo na comunicação. Exemplo
A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro
Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos co- sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
nectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente plural)
vem com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase. (José Cândido de Carvalho)

Exemplos Figuras Sonoras


...a vida é cigana Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral-
É caravana mente em posição inicial da palavra.
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença) Exemplo
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve-
Encarnado e azul são as cores do meu desejo. ladas.
(Carlos Drummond de Andrade) (Cruz e Sousa)

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, li- Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de
gados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal um verso ou poesia.
como, que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a com-
paração: parecer, assemelhar-se e outros. Exemplo
Sou Ana, da cama,
Exemplo da cana, fulana, bacana
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando Sou Ana de Amsterdam.
você entrou em mim como um sol no quintal. (Chico Buarque)
(Belchior)
Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o ou na prosódia, mas diferentes no sentido.
qual não existe uma designação apropriada.
Exemplo
Exemplos Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
– folha de papel [erro
– braço de poltrona quero que você ganhe que
– céu da boca [você me apanhe
– pé da montanha sou o seu bezerro gritando
[mamãe.
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- (Caetano Veloso)
tidos físicos.

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Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro- Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres-
duzido por seres animados e inanimados. são, dando ênfase à mensagem.

Exemplo Exemplos
Vai o ouvido apurado Não os venci. Venceram-me
na trama do rumor suas nervuras eles a mim.
inseto múltiplo reunido (Rui Barbosa)
para compor o zanzineio surdo
circular opressivo Morrerás morte vil na mão de um forte.
zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor (Gonçalves Dias)
da noite em branco Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia-
(Carlos Drummond de Andrade) na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado.

Observação: verbos que exprimem os sons são considerados Exemplos


onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc. Ouvir com os ouvidos.
Rolar escadas abaixo.
Figuras de sintaxe ou de construção Colaborar juntos.
Dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os Hemorragia de sangue.
termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões. Repetir de novo.

Podem ser formadas por: Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
omissão: assíndeto, elipse e zeugma; tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con-
repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; junções, preposições e verbos.
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
ruptura: anacoluto; Exemplos
concordância ideológica: silepse. Compareci ao Congresso. (eu)
Espero venhas logo. (eu, que, tu)
Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período, Ele dormiu duas horas. (durante)
frase ou verso. No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver)
(Camões)
Exemplo
Dentro do tempo o universo Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas ante-
[na imensidão. riormente.
Dentro do sol o calor peculiar
[do verão. Exemplos
Dentro da vida uma vida me Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes.
[conta uma estória que fala (Camilo Castelo Branco)
[de mim.
Dentro de nós os mistérios Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.
[do espaço sem fim! (Machado de Assis)
(Toquinho/Mutinho)
Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen-
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam tos na frase.
vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
vírgulas. Exemplos
Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
Exemplo (Carlos Drummond de Andrade)
Não nos movemos, as mãos é
que se estenderam pouco a Paciência tenho eu tido...
pouco, todas quatro, pegando-se, (Antônio Nobre)
apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis) Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a
frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical. função sintática definida.

Exemplo Exemplos
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
tuge, nem muge. (Manuel Bandeira)
(Rubem Braga)
Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter- tassem as mãos.
mo já expresso. (José Lins do Rego)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são:
pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase). acrescentar
afirmar
Exemplo concordar
...em cada olho um grito castanho de ódio. consentir
(Dalton Trevisan) contestar
...em cada olho castanho um grito de ódio) continuar
declamar
Silepse determinar
Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo dizer
ou pronome com a pessoa a que se refere. esclarecer
Exemplos exclamar
Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho... explicar
(Rachel de Queiroz) gritar
indagar
V. Ex.a parece magoado... insistir
(Carlos Drummond de Andrade) interrogar
interromper
Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com intervir
o sujeito da oração. mandar
ordenar, pedir
Exemplos perguntar
Os dois ora estais reunidos... prosseguir
(Carlos Drummond de Andrade) protestar
reclamar
Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pesso-
repetir
as.
replicar
(Machado de Assis)
responder
retrucar
Silepse de número: Não há concordância do número verbal
solicitar
com o sujeito da oração.

Exemplo Os verbos declarativos podem, além de introduzir a fala, indi-


Corria gente de todos os lados, e gritavam. car atitudes, estados interiores ou situações emocionais das perso-
(Mário Barreto) nagens como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e
outros. Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos
ou advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente,
TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS gritou histérica, respondeu irritada, explicou docemente.

Prezado Candidato, o tópico acima supracitado foi abordado Exemplo:


anteriormente. — O amor, prosseguiu sonhadora, é a grande realização de
nossas vidas.
Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão)
TIPOS DE DISCURSO entre as personagens –, você deve optar por um dos três estilos a
seguir:
Discurso direto
É a fala da personagem reproduzida fielmente pelo narrador, Estilo 1:
ou seja, reproduzida nos termos em que foi expressa. João perguntou:
— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores com- — Que tal o carro?
pletamente bêbados, não é?
Foi aí que um dos bêbados pediu: Estilo 2:
— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é João perguntou: “Que tal o carro?” (As aspas são optativas)
o seu marido que os outros querem ir para casa. Antônio respondeu: “horroroso” (As aspas são optativas)
(Stanislaw Ponte Preta)
Estilo 3:
Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é intro- Verbos de elocução no meio da fala:
duzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do pará- — Estou vendo, disse efusivamente João, que você adorou o
grafo. carro.
O narrador, ao reproduzir diretamente a fala das personagens, — Você, retrucou Antônio, está completamente enganado.
conserva características do linguajar de cada uma, como termos de
gíria, vícios de linguagem, palavrões, expressões regionais ou caco- Verbos de elocução no fim da fala:
etes pessoais. — Estou vendo que você adorou o carro — disse efusivamente
O discurso direto geralmente apresenta verbos de elocução João.
(ou declarativos ou dicendi) que indicam quem está emitindo a — Você está completamente enganado — retrucou Antônio.
mensagem.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Os trechos que apresentam verbos de elocução podem vir com Observe que se o trecho “Era bruto, sim” estivesse um discur-
travessões ou com vírgulas. Observe os seguintes exemplos: so direto, apresentaria a seguinte formulação: Sou bruto, sim; em
discurso indireto: Ele admitiu que era bruto; em discurso indireto
— Não posso, disse ela daí a alguns instantes, não deixo meu livre: Era bruto, sim.
filho. (Machado de Assis)
Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo inte-
— Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse rior da personagem (seus pensamentos, desejos, sonhos, fantasias
ele, escarrachando-se diante de mim. (Machado de Assis) etc.), o narrador precisa ser onisciente. Observe que os pensamen-
tos da personagem aparecem, no trecho transcrito, principalmente
— Vale cinquenta, ponderei; Sabina sabe que custou cinquenta nas orações interrogativas, entremeadas com o discurso do narra-
e oito. (Machado de Assis) dor.

— Ainda não, respondi secamente. (Machado de Assis) Transposição de discurso


Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-
Verbos de elocução depois de orações interrogativas e excla- -se a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto.
mativas: O domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar
— Nunca me viu? perguntou Virgília vendo que a encarava com corretamente os tipos de discurso na redação.
insistência. (Machado de Assis) Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros
— Para quê? interrompeu Sabina. (Machado de Assis) recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não
— Isso nunca; não faço esmolas! disse ele. (Machado de Assis) aparecem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na
atribuição do enunciado à personagem, não ao narrador. Tal insis-
Observe que os verbos de elocução aparecem em letras minús- tência, porém, é desnecessária e excessiva, pois, se o texto for bem
culas depois dos pontos de exclamação e interrogação. construído, a identificação do discurso indireto livre não oferece
dificuldade.
Discurso indireto
No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala
da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e
passa para o leitor o que ouviu da personagem. Na transcrição, o
verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presença
de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar,
pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, de-
clamar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi
afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzir a fala da
personagem na voz do narrador.

A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava


muito conhecer Carlota e perguntou por que não a levei comigo.
(Ciro dos Anjos)

Fui ter com ela, e perguntei se a mãe havia dito alguma coisa;
respondeu-me que não.
(Machado de Assis)
Discurso indireto livre
Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe
uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso
indireto livre, processo de grande efeito estilístico. Por meio dele, o
narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas das per-
sonagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, sonham,
desejam etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde ao mo-
nólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador.
As orações do discurso indireto livre são, em regra, indepen-
dentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passa-
gem da fala do narrador para a da personagem, mas com transpo-
sições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes
(terceira pessoa). O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse
discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e
ritmo que confere ao texto.

Fabiano ouviu o relatório desconexo do bêbado, caiu numa in-


decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversa
à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era
bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se.
Estava preso por isso? Como era? Então mete- se um homem na
cadeia por que ele não sabe falar direito?
(Graciliano Ramos)

33
LÍNGUA PORTUGUESA

Discurso Direto REESCRITURA DE FRASES


• Presente
A enfermeira afirmou: A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
– É uma menina. cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
• Pretérito perfeito observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
– Já esperei demais, retrucou com indignação. na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
• Futuro do presente nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
Pedrinho gritou: implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
– Não sairei do carro.
Quando reescrevemos, refazemos nosso texto, é um proces-
• Imperativo so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
Olhou-a e disse secamente: tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
– Deixe-me em paz. possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos
erros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a de-
Outras alterações senvolver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclare-
• Primeira ou segunda pessoa cer melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
Maria disse:
– Não quero sair com Roberto hoje.
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
• Vocativo
a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
– Você quer café, João?, perguntou a prima.
do processo de escrever do aluno.
• Objeto indireto na oração principal
Operações linguísticas de reescrita:
A prima perguntou a João se ele queria café.
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope-
• Forma interrogativa ou imperativa rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons-
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa: trução do texto escrito.
– E o amarelo? - Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele-
mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam-
• Advérbios de lugar e de tempo bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de
aqui, daqui, agora, hoje, ontem, amanhã várias frases.
• Pronomes demonstrativos e possessivos - Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi-
essa(s), esta(s) do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe-
esse(s), este(s) mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
isso, isto - Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter-
meu, minha mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag-
teu, tua ma, ou sobre conjuntos generalizados.
nosso, nossa - Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo-
dificar sua ordem no processo de encadeamento.
Discurso Indireto
• Pretérito imperfeito Graus de Formalismo
A enfermeira afirmou que era uma menina. São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais
• Futuro do pretérito como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o co-
Pedrinho gritou que não sairia do carro. loquial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se
• Pretérito mais-que-perfeito por construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, fra-
Retrucou com indignação que já esperara (ou tinha espera- ses curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo
do) demais. uso de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente
• Pretérito imperfeito do subjuntivo usado entre membros de uma mesma família ou entre amigos).
Olhou-a e disse secamente que o deixasse em paz.
Outras alterações As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for-
• Terceira pessoa malismo existente na situação de comunicação; com o modo de
Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia. expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
• Objeto indireto na oração principal sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
A prima perguntou a João se ele queria café. cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe-
• Forma declarativa cífico de algum campo científico, por exemplo).
Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa Expressões que demandam atenção
pelo amarelo. – acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
lá, dali, de lá, naquele momento, naquele dia, no dia an- – aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar,
terior, na véspera, no dia seguinte, aquela(s), aquele(s), aquilo, aceito
seu, sua (dele, dela), seu, sua (deles, delas) – acendido, aceso (formas similares) – idem
– à custa de – e não às custas de

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LÍNGUA PORTUGUESA
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con- Funções da Linguagem Elementos da Comunicação
forme
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que Função referencial ou denotativa contexto
– a meu ver – e não ao meu ver Função emotiva ou expressiva emissor
– a ponto de – e não ao ponto de
Função apelativa ou conativa receptor
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal
– em termos de – modismo; evitar Função poética mensagem
– enquanto que – o que é redundância Função fática canal
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a
– implicar em – a regência é direta (sem em) Função metalingu´´istica código
– ir de encontro a – chocar-se com
– ir ao encontro de – concordar com Função Referencial
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se-
parado; quando não se pode, junto A função referencial tem como objetivo principal informar, ref-
– todo mundo – todos erenciar algo. Esse tipo de texto, que é voltado para o contexto da
– todo o mundo – o mundo inteiro comunicação, é escrito na terceira pessoa do singular ou do plural,
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo o que enfatiza sua impessoalidade. Para exemplificar a linguagem
for substantivo referencial, podemos citar os materiais didáticos, textos jornalísti-
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo cos e científicos. Todos eles, por meio de uma linguagem denotati-
va, informam a respeito de algo, sem envolver aspectos subjetivos
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
ou emotivos à linguagem.
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte
Exemplo de uma notícia:
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre-
O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Global
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
para Atividade Física de Crianças — entidade internacional dedicada
ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jovens — foi decep-
Expressões não recomendadas
cionante. Realizado em 49 países de seis continentes com o objetivo de
aferir o quanto crianças e adolescentes estão fazendo exercícios físi-
– a partir de (a não ser com valor temporal). cos, o estudo mostrou que elas estão muito sedentárias. Em 75% das
Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de... nações participantes, o nível de atividade física praticado por essa faixa
etária está muito abaixo do recomendado para garantir um crescimen-
– através de (para exprimir “meio” ou instrumento). to saudável e um envelhecimento de qualidade — com bom condi-
Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se- cionamento físico, músculos e esqueletos fortes e funções cognitivas
gundo... preservadas. De “A” a “F”, a maioria dos países tirou nota “D”.
– devido a. Função Emotiva
Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.
Caracterizada pela subjetividade com o objetivo de emocionar.
– dito. É centrada no emissor, ou seja, quem envia a mensagem. A men-
Opção: citado, mencionado. sagem não precisa ser clara ou de fácil entendimento.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz que
– enquanto. empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não raro in-
Opção: ao passo que. conscientemente.
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a uti-
– inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). lização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é,
Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. daquele que fala.

– no sentido de, com vistas a. Exemplo: Nós te amamos!


Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.
Função Conativa
– pois (no início da oração).
Opção: já que, porque, uma vez que, visto que. A função conativa ou apelativa é caracterizada por uma lin-
guagem persuasiva com a finalidade de convencer o leitor. Por isso,
– principalmente. o grande foco é no receptor da mensagem.
Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular. Trata-se de uma função muito utilizada nas propagandas, pub-
licidades e discursos políticos, a fim de influenciar o receptor por
FUNÇÕES DA LINGUAGEM meio da mensagem transmitida.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na
terceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso
Funções da Linguagem do vocativo.
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com
Funções da linguagem são recursos da comunicação que, de a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de
acordo com o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem trans- maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anún-
mitida, em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre. cios publicitários que nos dizem como seremos bem-sucedidos,
São seis as funções da linguagem, que se encontram direta- atraentes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se con-
mente relacionadas com os elementos da comunicação. sumirmos certos produtos.

35
LÍNGUA PORTUGUESA
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos,
que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto espertal- TEXTUALIDADE: COESÃO, COERÊNCIA, INTENCIONALI-
hões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemoriza- DADE, ACEITABILIDADE, SITUACIONALIDADE, INFOR-
dos, que se deixam conduzir sem questionar. MATIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE

Exemplos: Só amanhã, não perca! Prezado Candidato, o tópico acima supracitado foi abordado
Vote em mim! anteriormente.

Função Poética ADEQUAÇÃO VOCABULAR E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA:


NORMA CULTA E VARIEDADES REGIONAIS E SOCIAIS,
Esta função é característica das obras literárias que possui REGISTRO FORMAL E INFORMAL
como marca a utilização do sentido conotativo das palavras.
Nela, o emissor preocupa-se de que maneira a mensagem será
transmitida por meio da escolha das palavras, das expressões, das Como na linguagem regional. Elas reúnem as variantes da lín-
figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal elemento comunica- gua que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
tivo é a mensagem. Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos histó-
A função poética não pertence somente aos textos literários. ricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
Podemos encontrar a função poética também na publicidade ou Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
nas expressões cotidianas em que há o uso frequente de metáforas seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se
(provérbios, anedotas, trocadilhos, músicas). que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-
mo significado dentro de um mesmo contexto.
Exemplo: As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
“Basta-me um pequeno gesto, sintático e lexical.
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo Variações Morfológicas
e eu para sempre te leve...” Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças en-
(Cecília Meireles) tre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica, mas
não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:
Função Fática – uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-
-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o
A função fática tem como principal objetivo estabelecer um ca- champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal).
nal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para iniciar a – a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e
transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua continuação. adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os livro
A ênfase dada ao canal comunicativo. indicado, as noite fria, os caso mais comum.
Esse tipo de função é muito utilizado nos diálogos, por exemp- – o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que
lo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos ao tele- o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições;
fone, etc. Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível
que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.
Exemplo: – o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar o
-- Calor, não é!? superlativo de adjetivos, recurso muito característico da linguagem
-- Sim! Li na previsão que iria chover. jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssimo),
-- Pois é... uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiperpossan-
te (em vez de possantíssimo).
Função Metalinguística – a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula-
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver (vir)
É caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a lin- o recado, quando ele repor (repuser).
guagem que se refere a ela mesma. Dessa forma, o emissor explica – a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregulares:
um código utilizando o próprio código. vareia (varia), negoceia (negocia).
Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem
destaque são as gramáticas e os dicionários. Variações Fônicas
Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um doc- Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pala-
umentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do cinema vra. Entre esses casos, podemos citar:
são alguns exemplos. – a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de
Exemplo: pessoas de baixa condição social.
Amizade s.f.: 1. sentimento de grande afeição, simpatia, apreço – A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das
entre pessoas ou entidades. “sentia-se feliz com a amizade do seu regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande
mestre” do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira):
2. POR METONÍMIA: quem é amigo, companheiro, camarada. quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol.
“é uma de suas amizades fiéis” – deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar,
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição social.
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô.

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LÍNGUA PORTUGUESA
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibilida-
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, de”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informações
hoje frequentes na fala caipira. básicas).
– a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma- – Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como
relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no-
oral coloquial. tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi uma
barriga.
Variações Sintáticas – Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe, entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua identida-
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma de por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (conversar).
variante e outra. Como exemplo, podemos citar: – Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito raro:
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de motorista).
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de” com – Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de
o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a família saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu mal,
dele (em vez de cuja família eu já conhecia). arruinou-se).
– a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com Tipos de Variação
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz As variações mais importantes, são as seguintes:
me irrita. – Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido com
– ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che- certa facilidade.
gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela se- – Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
mana muitos alunos; Comentou-se os episódios. características da pronúncia de uma determinada região dá-se o
– o uso de pronomes do caso reto com outra função que não nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão gaúcho etc.
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de – De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns-
ti) e ele. tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo de
– o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez de falar compatível com determinada situação é incompatível com
“o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.
outra
– a ausência da preposição adequada antes do pronome relati-
– Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e com
vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de:
o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o senti-
de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que)
do delas. Essas alterações recebem o nome de variações históricas.
eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.
A Linguagem Culta ou Padrão
Variações Léxicas
É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências
Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano do
léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e caracteri- em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas
zam com nitidez uma variante em confronto com outra. São exem- pessoas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se
plos possíveis de citar: pela obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada
– as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às na linguagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a mais artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente
lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no Brasil nas aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações
chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil, em Por- científicas, noticiários de TV, programas culturais etc.
tugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz pequeno Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever
almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que chamamos de bem. Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem.
suéter, malha, camiseta. A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa-
– a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança
formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua- imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis
gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil; combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou-
Esse amigo é um carinha maior esforçado. tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola
e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma.
Designações das Variantes Lexicais: Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras
– Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo
bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as
usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era su- variedades linguísticas.
pimpa. Certas palavras e construções que empregamos acabam de-
– Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-cria- nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do
das, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicionários. país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e,
A na computação tem vários exemplos, como escanear, deletar, às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso
printar. da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa-
– Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de outra cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança.
língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a forma A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobretudo da contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias tele-
linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmente, “te- visivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem:
nhas o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”), ipso a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou
facto (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo. profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade

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LÍNGUA PORTUGUESA
de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou Como escrever o dinheiro por extenso?
em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do- Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al-
mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100
para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que R$ 1400,00 ou R$ 1400.
a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes-
ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana. Obrigado ou obrigada
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre- Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao
gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer
que participamos. obrigada.
A norma culta é responsável por representar as práticas lin-
guísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos Mal ou mau
formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronuncia-
nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramati- das da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes.
cais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente Qual a diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de
é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolariza- bem. Mau é o adjetivo contrário de bom.
ção, maior a adequação com a língua padrão.
Exemplo: “Vir”, “Ver” e “Vier”
Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas
conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é,
da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”.
movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver-
atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”.
se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte
violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun- “Ao invés de” ou “em vez de”
ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. “Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas
para expressar oposição.
A Linguagem Popular ou Coloquial Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda.
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra- Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado
se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também
vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância; pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco-
barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida.
cacofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência
pela coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici-
A linguagem popular está presente nas conversas familiares ou cleta.
entre amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e
auditório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc. “Para mim” ou “para eu”
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase
Dúvidas mais comuns da norma culta com um verbo, deve usar “para eu”.
Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para
Perca ou perda eu curtir as fotos dele.
Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara
que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra- “Tem” ou “têm”
ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo. Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo
“ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo
Embaixo ou em baixo no plural.
O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continu- Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de
arei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais mudança.
são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está
embaixo da cama “Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos
atrás”
Ver ou vir Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que
A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções: ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro.
Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O
frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai romance começou muito tempo atrás.
ficar de castigo! Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás,
de Raul Seixas, está incorreta.
Onde ou aonde
Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está?
Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi-
ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar
Fica?

38
LÍNGUA PORTUGUESA
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
EXERCÍCIOS poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
1. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – AUXILIAR JUDICIÁRIO – 2001) O item ta que ambos possam suscitar.
abaixo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é: (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo p
(A) trans-o-ce-â-ni-co; der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
(B) cor-rup-te-la; corpo dos supliciados.
(C) sub-li-nhar; (E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
(D) pneu-má-ti-co; campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
2. (FGV – SPTRANS – ESPECIALISTA EM TRANSPORTES – 2001) organização em delinqüência.
Assinale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de
“exame”. 8. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR
(A) exceto. – 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
(B) enxame. (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade
(C) óxido. extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(D) exequível. (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
mentos pessoais por meio de sua música.
3. (FUNDEC – TJ/MG – OFICIAL DE JUSTIÇA – 2002) Todas as (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
palavras a seguir apresentam o mesmo número de sílabas e são composições do músico na cultura ocidental.
paroxítonas, EXCETO: (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor
(A) gratuito; termina em uma cena de reconciliação entre os personagens.
(B) silencio; (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(C) insensível; deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(D) melodia.
9. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
padrão na seguinte sentença:
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
-vermelho.
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
fra-assinado. (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
trarregra.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra- 10. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
-mencionado. DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
pontuação em:
5. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alter- (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
nativa em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”. (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. teiramente pela porta?
(C) “sérios”, “potência”, “após”. (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
(E) “solidária”, “área”, “após”. (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
6. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
objetivo é a seguinte: cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
(A) pôr.
(B) ilhéu. 11. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
(C) sábio. mente correta a pontuação do seguinte período:
(D) também. (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(E) lâmpada. pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
7. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – sem importância, ditam o rumo de toda a história.
2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamente (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
empregadas e grafadas. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po- providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de importância, ditam o rumo de toda a história.
qualquer excesso e violência. (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo sem importância, ditam o rumo de toda a história.
isso, num modo de intervenção específico.

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LÍNGUA PORTUGUESA
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
importância, ditam o rumo de toda a história. (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque-
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, 18. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO
sem importância, ditam o rumo de toda a história. – 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está
correta.
12. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo (B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
mesmo processo de formação é: (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; 35% deles fosse despejado em aterros.
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; (D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(C) deslealdade, colunista, incrível; (E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; de lixo.
(E) reeducação, dignidade, enriquecer.
19. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE –
13. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL
2012) Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as
– 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
relações de concordância no texto abaixo.
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
palavra primitiva foi formada respectivamente é: um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté- tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
tica (en + trist + ecer); ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
(en + triste + cer); receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin- Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
tética (en + trist + ecer); ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi- salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
xal (des + entristecer); Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti- social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
ca (des + entristecer). responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.

14. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra plural em “deflacionados”.
formada por derivação: (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
(A) parassintética; em “Elevaram-se”.
(B) prefixal; (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
(C) sufixal; regras de concordância com “economia”.
(D) imprópria; (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
(E) regressiva. singular em “fez aumentar”.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
15. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do com “relevantes”.
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
(A) pronome;
20. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liber-
(B) adjetivo;
dades ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa
(C) advérbio;
a nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da
(D) substantivo;
frase acima, na ordem dada, as expressões:
(E) preposição.
(A) a que – de que;
16. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação (B) de que – com que;
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). (C) a cujas – de cujos;
(A) Pronome demonstrativo. (D) à que – em que;
(B) Pronome relativo. (E) em que – aos quais.
(C) Pronome possessivo.
(D) Pronome pessoal. 21. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE –
(E) Pronome indefinido. 2008) Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de
17. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe-
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba- cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli- maior taxa registrada na última década.
nhados classificam-se, respectivamente, em (B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).

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LÍNGUA PORTUGUESA
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada aditiva.
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecutiva.
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am- (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de bial consecutiva.
novas fontes de petróleo.
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, 27. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999)
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí- Analise sintaticamente a oração em destaque:
da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação “Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina. sados” (Machado de Assis).
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, (A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro (B) oração subordinada adverbial causal.
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo (C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do (D) oração coordenada sindética conclusiva.
que o do Brasil. (E) oração coordenada sindética explicativa.
22. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDE- 28. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI-
RAL – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado correta- NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser
mente por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase. um processo de observação cristalina para assumir um discurso de
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos. políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta. nada retratam as necessidades de populações distintas.”.
(C) Pretendo viajar a Paraíba. A oração grifada no trecho acima classifica-se como:
(D) Ele gosta de bife à cavalo. (A) subordinada substantiva predicativa;
(B) subordinada adjetiva restritiva;
23. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração (C) subordinada substantiva subjetiva;
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata- (D) subordinada substantiva objetiva direta;
que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se (E) subordinada adjetiva explicativa.
a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser 29. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No
marcada com o acento, EXCETO em: trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são
(A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema. classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como:
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do “Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia,
eleitorado pelo resultado final. mas nunca à custa de nossos filhos...”
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema. (A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin-
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolúvel. dética adversativa;
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis- (B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex-
tema. plicativa;
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver-
24. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração e bial concessiva;
período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um (a): (D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças sindética adversativa;
americanas, entre na fila.” (E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con-
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e cessiva.
subordinadas.
(B) Período, composto por três orações. 30. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe-
(C) Oração, pois possui sentido completo. ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
(D) Período, pois é composto por frases e orações. governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
história.”, a oração sublinhada é classificada como:
25. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS (A) coordenada assindética;
– 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não (B) subordinada substantiva completiva nominal;
dormiu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segun- (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
da oração. (D) subordinada substantiva apositiva.
(A) Oração coordenada assindética aditiva.
(B) Oração coordenada sindética aditiva. 31. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
(C) Oração coordenada sindética adversativa. 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
(D) Oração coordenada sindética explicativa. o seguinte par de palavras:
(E) Oração coordenada sindética alternativa. (A) estrondo – ruído;
(B) pescador – trabalhador;
26. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia (C) pista – aeroporto;
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer (D) piloto – comissário;
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas (E) aeronave – jatinho.
orações.
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
sativa.
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.

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LÍNGUA PORTUGUESA
32. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque e acima…
tem como antônimo: A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
(A) fortuna; agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
(B) opulência; o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
(C) riqueza; ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
(D) escassez; tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
(E) abundância. c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
33. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualida- que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
de é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
NÃO se fundamenta em intertextualidade é: a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
há muito tempo.” bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
mete onde não é chamada.” perguntou-lhe:
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
mesmo!” baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
tudo bem.” a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabe-
Atenção: Leia o texto abaixo para responder as questões. ça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: —
UM APÓLOGO Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que
Machado de Assis. vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola- Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
— Deixe-me, senhora. muita linha ordinária!
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me 34. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
der na cabeça. e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos elementos dos textos:
outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
pedaço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou e mando...” (L.14-15)
a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando or- (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
gulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
isto uma cor poética. E dizia a agulha: abaixo e acima.” (L.25-26)

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(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
Onde me espetam, fico.” (L.40-41) barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
35. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar ou- gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
tros valores semânticos além da noção de dimensão, como afetivi- Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
dade, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi- tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco
nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida-
(A) dimensão e pejoratividade; de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
(B) afetividade e intensidade; judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”,
(C) afetividade e dimensão; diz Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA).
(D) intensidade e dimensão; Com o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem
(E) pejoratividade e afetividade. ocorrer.
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
36. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi- 38. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa fato.
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11) II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. ao gênero textual editorial.
Agulha não tem cabeça.” (L.06) III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um que se trata de uma reportagem.
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordiná- se trata de um editorial.
ria!” (L.43)
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pou- Analise as assertivas e responda:
co?” (L.25) (A) Somente a I é correta.
(B) Somente a II é incorreta.
37. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de (C) Somente a III é correta
modo metafórico, considerando as relações existentes em um am- (D) A III e IV são corretas.
biente de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma
ideia presente no texto: 39. (PREFEITURA DE TERESINA - PI - GUARDA CIVIL MUNICI-
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação equâ- PAL – NUCEPE – 2019)
nime em ambientes coletivos de trabalho;
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação equâ- No excerto: Estamos vivendo em uma época que pode ser
nime em ambientes coletivos de trabalho;
comparada a uma mistura das cenas de Big Brother..., a expressão
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
em destaque constitui uma perífrase verbal da mesma natureza es-
cada sujeito possui atribuições próprias.
trutural, do ponto de vista da voz verbal, daquela que se encontra
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente coletivo
destacado em:
de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do sujeito.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, (A) ... a maioria de nós pode ser comparada a uma criança na
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. primeira infância.
(B) O homem-bomba será substituído por um novo tipo de
Leia o texto abaixo para responder a questão. terrorismo, ...
A lama que ainda suja o Brasil (C) ... não está descartado o constrangimento de acesso
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) aleatório à internet doméstica...
(D) ...estaremos transferindo dinheiro com um simples
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um movimento do pulso.
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- (E) A maioria de nós será chipada.
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio 40. (MPE-PE - ANALISTA MINISTERIAL - BIBLIOTECONOMIA –
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- FCC – 2018)
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam- Na elaboração de resumos, a paráfrase:
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a apli- (A) é perigosa, pois pode conduzir o leitor a ideias diferentes
cação da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de das do autor.
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- (B) é vedada, devendo o resumidor empregar o vocabulário
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, usado pelo autor.
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, (C) utiliza as mesmas palavras do original para manter o es-
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos tilo do autor.
se tornou uma bomba relógio na região.” (D) busca resumos originais e breves, sendo redigidos pelo
próprio autor.

43
LÍNGUA PORTUGUESA
(E) consiste no uso de jargão, visando a simplificar as pala- mo. É, portanto, necessário superar expectativas por um país mais
vras do autor. inovador e digital e por um planeta mais sustentável e ecológico, e
nesse contexto a IA tem-se revelado uma aposta séria no presente
41. ( PREFEITURA DE FORQUILHA - CE- GUARDA MUNICIPAL e para o futuro, para beneficiar todas as indústrias.
– CETREDE – 2018) Adaptado de: <http://exameinformatica.sapo.pt/opiniao/
“Tenha cuidado ao parafrasear o que ouvir, nossa capacidade 2019-10-09-Tecnologia-a-caminho-da-energia-infinita> . Acesso
de retenção é variável e, muitas vezes, inconscientemente deturpa- em: 10 out. 2019.
mos o que ouvimos.” Ao pontuarmos esse período, corretamente,
usaremos quantas vírgulas? No trecho “Vivemos uma fase de sensibilização e redução de
(A) 5. emissão de gases com efeito de estufa, em prol do Planeta Azul.”
(B) 4. ocorre uma figura de linguagem denominada
(C) 2. (A) metáfora.
(D) 3. (B) perífrase.
(E) 1. (C) paradoxo.
(D) sinestesia.
42. (EMPREL – ANALISTA DE SISTEMAS- INSTITUTO AOCP – (E) eufemismo.
2019)
43. (MDS- ATIVIDADES TÉCNICAS DE COMPLEXIDADE INTE-
Tecnologia a caminho da energia infinita LECTUAL-NÍVEL IV- CETRO – 2015)
Rui Salsas Dois temas pendentes da história brasileira continuam forte-
mente presentes em nossas inquietações sociais e políticas. O tema
Vivemos uma fase de sensibilização e redução de emissão de da escravidão e o seu tema residual, o da posse da terra. São temas
gases com efeito de estufa, em prol do Planeta Azul. A energia é um inter-relacionados, relativos às duas grandes questões nacionais, si-
recurso estratégico e um elemento-chave para o desenvolvimento tuados em polos cronológicos opostos: a questão do trabalho livre
sociodemográfico, assumindo um papel vital nas sociedades mo- e a questão agrária. Mesmo que enquanto temas não tenham visi-
dernas. Em pleno século XXI, assistimos a uma verdadeira transfor- bilidades equivalentes nem presença com dimensão apropriada no
mação e reengenharia de processos, promovendo a tecnologia e as conjunto dos interesses da sociedade, estão ligados entre si porque
suas funcionalidades na procura de melhor rendimento, de maior referem-se a momentos polares de um processo inacabado, que
produtividade e eficiência, de maior sustentabilidade, fazendo mais subjaz silencioso em nossa história do presente. É inócuo discutir a
com menos intervenção humana e minimizando as alterações aos
questão agrária sem situá-la como incontornável questão residual
ecossistemas ambientais.
da solução que, no passado, a sociedade brasileira deu à questão
do escravismo.
Nesse sentido, o setor das Utilities tem procurado introduzir
São justamente os temas que balizam o ritmo de nossa história
a Inteligência Artificial (IA) e a Computação de Aprendizagem Au-
social e limitam nossos horizontes históricos. Limitam a possibili-
tomática (machine learning e/ou deep learning) como sendo os
dade de sairmos dos impasses que nos tolhem e aprisionam nessa
aliados de peso para o futuro próximo onde a eficiência energética
estranha modernidade em que o atraso e os problemas do passado
será, e já mostra ser, uma das áreas com maior potencial e investi-
se tornam o seu tempero folclórico. Nossa melhor literatura está
mento e, consequentemente, geração de emprego.
Do ponto de vista teórico, a utilização da IA traduz-se por “en- profundamente marcada por essas persistências. Elas funcionam
sinar” máquinas ou software a representar o ser humano na exe- como um referencial de compreensão da invisibilidade do que so-
cução de tarefas. Mais, esta tecnologia está acrescentando tarefas mos, de nossa alma perdida no fundo do tempo de uma história
complexas e mais elaboradas capazes de modificar o seu comporta- sempre inconclusa, sempre por fazer. Mais uma história da espera
mento, ou seja, as máquinas ou software poderão deter capacidade do que da esperança. São os temas que definem o ritmo inseguro
de aprender sem que sejam explicitamente programadas para isso. de nossa história lenta.
Então, como é que a Inteligência Artificial afeta as Utilities? A MARTINS, J.S. Reforma Agrária: O Impossível Diálogo. Texto com
IA cumpre quatro funções principais, transversais a outros setores: adaptações. 1ª ed. São Paulo: Edusp, 2004.
• Compreender as necessidades do consumidor – utilizar sof-
tware capaz de recolher dados dos clientes e ser capaz de ofere- Em seguida, propõem-se paráfrases do segundo período do
cer produtos mais adequados ao seu consumo, além de potenciar último parágrafo. Considerando as orientações da prescrição gra-
novos consumidores (por exemplo, combinar consumo energético matical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão
com compras em hipermercados e usufruir de descontos associa- da Língua Portuguesa, assinale a alternativa que apresenta a pa-
dos); ráfrase correta.
• Melhorar os produtos e serviços oferecidos – recolher e ana- A) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
lisar dados com programas inteligentes melhorará a oferta e divul- lhe tolhem e lhe aprisionam nessa estranha modernidade
gação de produtos e serviços atuais e novos; onde o atraso e os problemas do passado se tornam o seu
• Identificar e gerir o risco – usar dados analíticos da organiza- tempero folclórico.
ção para inferir novos padrões de comportamento e de risco dos B) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
consumidores; o tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade onde
• Identificar e evitar fraudes – usar sistemas de análise de apren- o atraso e os problemas do passado se tornam o seu tem-
dizagem automática, para padronizar com um grande grau de certeza pero folclórico.
cada consumidor, irá certamente ajudar na identificação de fraudes. C) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
[…] Concluindo, os últimos anos introduziram desafios signifi- lhe tolhem e lhe aprisionam nessa estranha modernidade
cativos no setor da Energia, relacionados com a revolução energé- cujo tempero folclórico se forma do atraso e dos problemas
tica em curso e na eficácia, quer da sua recolha quer do seu consu- do passado.

44
LÍNGUA PORTUGUESA
D) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
GABARITO
o tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade cujo
tempero folclórico se forma do atraso e dos problemas do
passado. 1 A
E) Limitam a possibilidade de o Brasil sair dos impasses que
lhe tolhem e o aprisionam nessa estranha modernidade cujo 2 D
atraso e os problemas do passado tornam-se seu tempero 3 A
folclórico. 4 D
5 A
44. (IF-PA – PROFESSOR- LETRAS -HABILITAÇÃO EM PORTU-
GUÊS E INGLÊS – FADESP – 2018) 6 A
A paráfrase é um dos mecanismos de: 7 B
(A) sequenciação.
8 C
(B) coerência textual.
(C) substituição. 9 B
(D) coesão recorrencial. 10 E
(E) reiteração.
11 A
45. ( PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG – AGENTE COMUNITÁ- 12 A
RIO DE SAÚDE – FCM – 2019) 13 A
Texto
14 D
“Linguagem é a expressão individual e social do ser humano e,
ao mesmo tempo, o elemento comum que possibilita o processo 15 A
comunicativo entre os sujeitos que vivem em sociedade.”(CEREJA 16 E
& MAGALHÃES, 2013, p.13).
17 B
18 E
19 A
20 A
21 D
22 A
23 D
24 B
25 C
26 C
27 E
28 A
29 D
30 B
31 E
32 D
33 E
34 E
35 D
Tendo por base o conceito veiculado no Texto, qual tipo de lin- 36 D
guagem apresenta-se na tirinha? 37 D
(A) Oral.
(B) Verbal. 38 D
(C) Escrita. 39 D
(D) Não verbal. 40 A
41 D
42 B
43 D
44 D
45 D

45
LÍNGUA PORTUGUESA

ANOTAÇÕES ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

_____________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

______________________________________________________ ____________________________________________________

______________________________________________________ ______________________________________________________

46
DEFESA NACIONAL
1. POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA – O Estado, a Segurança e a Defesa; O ambiente internacional; O ambiente regional e o entorno es-
tratégico; O Brasil; Objetivos Nacionais de Defesa; e Orientações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – Formulação Sistemática; e Medidas de implementação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
internacional.
inte-resse
de
objeto
tornar-se
podem
produtivo
sistema
ao
incorporadas
serem
para
áreas
imensas
e
naturais
recursos
de
reservas
enormes
biodiversidade,
grande
de
detentores
Países
humanidade.
da
preocupa-ções
das
uma
como
permanece
ambiental
questão
A
humanidade.3.4.
da
bem-es-tar
e
desenvolvimento
o
para
voltado
estável,
mais
mundo
um
de
promotores
são
Estados
os
entre
igualdade
a
e
não-intervenção
a
soberania,
a
como
Internacional
Direito
pelo
consagrados
prin-cípios
dos
fortalecimento
o
e
multilateralismo
do
prevalência
paz.A
a
para
indesejáveis
instabilidades
e
tensões
produz
poder,
de
assimetrias
por
caracterizada
internacional,
ordem
da
configuração
A
3.3.
conflito.
em
configurar-se
a
vir
poderá
que
situação
constitui
informação
à
acesso
e
consumo
produção,
de
processos
dos
mundial
população
da
significativa
parcela
de
exclusão
A
mundo.
o
todo
em
financei-ra
e
econômica
instabilidade
pela
ocasionadas
crises
às
vul-neráveis
mais
tornaram-se
nacionais
economias
as
processo,
Nesse
objetivos.
esses
alcancem
que
para
contribui

Sul
do
América
na
como

desenvolvimento
em
países
entre
integração
A
soberano.
modo
de
social
justiça
a
e
crescimento
o
promovem
que
em
tem-po
mesmo
ao
mundial,
mercado
no
positiva
inserção
uma
de
o
é
desafio
o
desenvolvimento,
em
países
os
Para
países.
de
grupos
entre
concorrência
a
acirrado
tem
econômicos
blocos
de
criação
a
Paralelamente,
humanidade.
da
parcela
uma
para
avanços
em
resul-tou
capitais,
de
fluxos
dos
e
internacional
comércio
do
expansão
pela
e
tecnológica
revolução
pela
países,
dos
crescente
interde-pendência
pela
caracterizado
globalização,
da
fenômeno
O
internacionais.3.2.
litígios
de
motivo
ser
a
continuarão
fronteiras
as
terrestres,
espaços
últimos
dos
ocupação
a
interno.Com
e
externo
ambientes
dos
delimitação
precisa
a
dificulta
interdependência
da
aprofundamento
o
lado,
outro
Por
conflito.
de
quadros
configurando
Estados,
dos
soberania
à
sujeitos
não
es-paços
por
disputas
a
ou
internos
assuntos
em
ingerências
a
levar
pode-rão
questões
Tais
escassas.
mais
vez
cada
energia,
de
e
alimentos
de
doce,
água
de
fontes
por
e
aeroespacial
domínio
pelo
ma-rítimas,
áreas
por
disputas
intensificadas
ser
poderão
século,
Neste
mundial.
ordem
a
afetam
que
situações
Esta-dos,
os
fragmentam-se
e
nacionalismos
os
exacerbam-se
religioso,
e
étnico
caráter
de
conflitos
renovam-se
Entretanto,
Estados.
entre
generalizado
conflito
um
provável
pouco
é
ambiente,
MundiaNesse
Guerra
Segunda
a
desde
vigentes
inter-nacionais
relações
das
previsibilidade
de
grau
o
reduziu
Fria
Guerra
da
fim
O
bipolar.
ideológica
confrontação
de
período
o
durante
enfren-tados
os
que
do
complexos
mais
desafios
vive
mundo
O
INTERNACIONAL3.1.
AMBIENTE
O
manifestas.3.
ou
potenciais
externas,
preponderan-temente
ameaças
contra
nacionais
interesses
dos
e
soberania
da
território,
do
defesa
a
para
militar,
campo
no
ênfase
com
Es-tado,
do
ações
e
medidas
de
conjunto
o
é
Nacional
Defesa

constitucionais;II
deveres
e
direitos
seus
de
exercí-cio
o
cidadãos
aos
garantir
e
ameaças,
e
pressões
de
livre
nacio-nais,
interesses
seus
promover
territorial,
integridade
e
soberania
sua
preservar
País
ao
permite
que
condição
a
é
Segurança

conceitos:I
seguintes
os
adotados
são
Defesa
de
Nacional
Política
da
efeito
Para
2.4.
desejado.
segurança
de
grau
o
manter
ou
obter
se
para
efetiva
ação
a
é
defesa
vez,
sua
Por
extremas.
necessidades
de
inclusive
amea-ças,
ou
pressões
riscos,
de
livres
sentem
se
indivíduos
os
ou
so-ciedade
a
Estado,
o
que
em
condição
a
é
gerais,
linhas
em
segurança,
perspectivas.EXERCÍCIOSGABARITOANOTAÇÕES__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________A
diferentes
com
definições
resultam
que
do
Estado,
do
e
sociedade
da
indivíduo,
do
partir
a
enfocada
ser
pode
segurança
a
que
considerar
Armadas.Cabe
Forças
das
envolvimento
qualquer
implicam
não
quais
das
muitas
ações,
várias
Enfim,
industrial.
saúde,
de
ambiental,
científicotecnológi-ca,
educacional,
social,
econômica,
políticas
as
e
públi-ca
segurança
a
civil,
defesa
a
externa:
defesa
da
além
en-volvendo,
espectro,
largo
de
medidas
requer
segurança
a
outros.Preservar
e
ambiental
científi-co-tecnológico,
psicossocial,
econômico,
militar,
político,
campos
os
abran-gendo
segurança,
de
conceito
o
ampliou-se
Gradualmente,
agregadas.2.3.
foram
exigências
novas
Estados,
os
entre
interdependência
a
aprofundou
se
que
e
desenvolveram
se
sociedades
as
que
medida
À
externa.
defesa
a
simplesmente,
mais
ou,
políticas
comunidades
outras
de
ameaças
contra
proteção
a
seja,
ou
nações,
entre
confrontação
da
ângulo
do
somente
vista
tradicionalmente
é
segurança
A
Armadas2.2.
Forças
das
precípua
destinação
a
é
externa
defesa
A
segurança.
a
tam-bém,
provendo,
democraticamente,
estabelecidas
ordem,
a
e
lei
a
valer
fazer
para
coerção
de
meios
dos
legítimo
monopólio
o
detém
Ele
externas.
relações
nas
independência
e
próprios
governo
e
leis
povo,
território,
básicos
pressupostos
como
tem
Estado
O
DEFESA2.1.
A
E
SEGURANÇA
A
ESTADO,
O
brasileiros.2.
os
todos
de
dever
um
é
esta
que
de
e
País
do
defesa
da
importância
da
brasileira
sociedade
da
segmentos
os
todos
conscientizar
é
Defesa
de
Nacional
Política
da
propósitos
dos
Um
interesses.
legítimos
seus
perseguir
ao
antagonismos
enfrente
não
Brasil
do
potencial
o
com
país
um
que
imaginar
imprudente
é
entanto,
No
brasileiros.
muitos
para
desvanecida
está
ameaças
das
percepção
a
nacional,
soberania
a
e
território
o
di-retamente
afetado
tenham
que
conflitos
de
livre
período
longo
Após
sul-americana.
integração
a
e
multilateralismo
do
reforço
o
interna-cionais,
segurança
da
e
paz
da
fortalecimento
o
controvérsias,
das
pacífica
solução
a
atual,
e
ampla
visão
uma
em
propugna,
que
brasi-leira,
externa
política
à
particular
em
governamentais,
orientações
às
e
nacionais
aspirações
às
alinha-se
constitucionais,
princípios
e
objetivos
fundamentos,
nos
Baseada
brasileira.
sociedade
da
segmen-tos
os
todos
a
interessa
Defesa
de
Nacional
Política
objetivos.A
desses
consecução
a
orienta
disso,
Além
Defesa.
de
Nacionais
Objetivos
os
es-tabelece
e
nacional
e
internacional
ambientes
os
analisa
Nacional,
De-fesa
de
e
Segurança
de
conceitos
os
explicita
documento
seguirEste
a
expostos
termos
nos
proposto
defesa
de
modelo
ao
associam-se
internacionais
decisórios
processos
em
inserção
maior
sua
e
nações
das
concerto
no
Brasil
do
projeção
da
intensificação
A
escudo.
indispensável
o
fornecendo-lhe
desenvolvimento,
seu
do
inseparável
é
País
do
defesa
a
que
pressupõe
Política
NacionalEsta
Defesa
da
prol
em
Nacional,
Poder
do
esferas
as
todas
em
civil
e
militar
setores
dos
emprego
o
e
preparo
o
para
orientações
e
objetivos
estabelece
externas,
ameaças
para
essencialmente
Voltada
Defesa.
da
Ministério
pelo
coordenadas
nacional
defesa
à
destinadas
ações
de
planejamento
do
nível
alto
mais
de
condicio-nante
documento
o
é
(PND)
Defesa
de
Nacional
Política
INTRODUÇÃOA
DEFESA1.
DE
NACIONAL
ORIEN-TAÇÕESPOLÍTICA
E
DEFESA;
DE
NACIONAIS
OBJETIVOS
BRASIL;
O
ESTRATÉGICO;
ENTORNO
O
E
REGIONAL
AMBIENTE
O
INTERNACIONAL;
AMBIENTE
O
DEFESA;
A
E
SEGU-RANÇA
A
ESTADO,
O

DEFESA
DE
NACIONAL
NACIONAL1POLÍTICA
DEFESA
DEFESA NACIONAL
A segurança, em linhas gerais, é a condição em que o Estado, a so-
POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA – O ESTADO, A SEGU- ciedade ou os indivíduos se sentem livres de riscos, pressões ou amea-
RANÇA E A DEFESA; O AMBIENTE INTERNACIONAL; O ças, inclusive de necessidades extremas. Por sua vez, defesa é a ação
AMBIENTE REGIONAL E O ENTORNO ESTRATÉGICO; O efetiva para se obter ou manter o grau de segurança desejado.
BRASIL; OBJETIVOS NACIONAIS DE DEFESA; E ORIEN-
TAÇÕES 2.4. Para efeito da Política Nacional de Defesa são adotados os
seguintes conceitos:
POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA I – Segurança é a condição que permite ao País preservar sua
soberania e integridade territorial, promover seus interesses nacio-
1. INTRODUÇÃO nais, livre de pressões e ameaças, e garantir aos cidadãos o exercí-
A Política Nacional de Defesa (PND) é o documento condicio- cio de seus direitos e deveres constitucionais;
nante de mais alto nível do planejamento de ações destinadas à II – Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Es-
tado, com ênfase no campo militar, para a defesa do território, da
defesa nacional coordenadas pelo Ministério da Defesa. Voltada
soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderan-
essencialmente para ameaças externas, estabelece objetivos e
temente externas, potenciais ou manifestas.
orientações para o preparo e o emprego dos setores militar e civil
em todas as esferas do Poder Nacional, em prol da Defesa Nacional
3. O AMBIENTE INTERNACIONAL
Esta Política pressupõe que a defesa do País é inseparável do 3.1. O mundo vive desafios mais complexos do que os enfren-
seu desenvolvimento, fornecendo-lhe o indispensável escudo. A tados durante o período de confrontação ideológica bipolar. O fim
intensificação da projeção do Brasil no concerto das nações e sua da Guerra Fria reduziu o grau de previsibilidade das relações inter-
maior inserção em processos decisórios internacionais associam-se nacionais vigentes desde a Segunda Guerra Mundia
ao modelo de defesa proposto nos termos expostos a seguir Nesse ambiente, é pouco provável um conflito generalizado
Este documento explicita os conceitos de Segurança e de De- entre Estados. Entretanto, renovam-se conflitos de caráter étnico e
fesa Nacional, analisa os ambientes internacional e nacional e es- religioso, exacerbam-se os nacionalismos e fragmentam-se os Esta-
tabelece os Objetivos Nacionais de Defesa. Além disso, orienta a dos, situações que afetam a ordem mundial.
consecução desses objetivos. Neste século, poderão ser intensificadas disputas por áreas ma-
A Política Nacional de Defesa interessa a todos os segmen- rítimas, pelo domínio aeroespacial e por fontes de água doce, de
tos da sociedade brasileira. Baseada nos fundamentos, objetivos alimentos e de energia, cada vez mais escassas. Tais questões pode-
e princípios constitucionais, alinha-se às aspirações nacionais e às rão levar a ingerências em assuntos internos ou a disputas por es-
orientações governamentais, em particular à política externa brasi- paços não sujeitos à soberania dos Estados, configurando quadros
leira, que propugna, em uma visão ampla e atual, a solução pacífica de conflito. Por outro lado, o aprofundamento da interdependência
das controvérsias, o fortalecimento da paz e da segurança interna- dificulta a precisa delimitação dos ambientes externo e interno.
cionais, o reforço do multilateralismo e a integração sul-americana. Com a ocupação dos últimos espaços terrestres, as fronteiras
Após longo período livre de conflitos que tenham afetado di- continuarão a ser motivo de litígios internacionais.
retamente o território e a soberania nacional, a percepção das
ameaças está desvanecida para muitos brasileiros. No entanto, é 3.2. O fenômeno da globalização, caracterizado pela interde-
imprudente imaginar que um país com o potencial do Brasil não pendência crescente dos países, pela revolução tecnológica e pela
enfrente antagonismos ao perseguir seus legítimos interesses. Um expansão do comércio internacional e dos fluxos de capitais, resul-
dos propósitos da Política Nacional de Defesa é conscientizar todos tou em avanços para uma parcela da humanidade. Paralelamente,
os segmentos da sociedade brasileira da importância da defesa do a criação de blocos econômicos tem acirrado a concorrência entre
País e de que esta é um dever de todos os brasileiros. grupos de países. Para os países em desenvolvimento, o desafio é
o de uma inserção positiva no mercado mundial, ao mesmo tem-
2. O ESTADO, A SEGURANÇA E A DEFESA po em que promovem o crescimento e a justiça social de modo
2.1. O Estado tem como pressupostos básicos território, povo, soberano. A integração entre países em desenvolvimento – como
leis e governo próprios e independência nas relações externas. Ele na América do Sul – contribui para que alcancem esses objetivos.
detém o monopólio legítimo dos meios de coerção para fazer valer Nesse processo, as economias nacionais tornaram-se mais vul-
a lei e a ordem, estabelecidas democraticamente, provendo, tam- neráveis às crises ocasionadas pela instabilidade econômica e financei-
bém, a segurança. A defesa externa é a destinação precípua das ra em todo o mundo. A exclusão de parcela significativa da população
Forças Armadas mundial dos processos de produção, consumo e acesso à informação
2.2. A segurança é tradicionalmente vista somente do ângulo constitui situação que poderá vir a configurar-se em conflito.
da confrontação entre nações, ou seja, a proteção contra ameaças
de outras comunidades políticas ou, mais simplesmente, a defesa 3.3. A configuração da ordem internacional, caracterizada por
externa. À medida que as sociedades se desenvolveram e que se assimetrias de poder, produz tensões e instabilidades indesejáveis
aprofundou a interdependência entre os Estados, novas exigências para a paz.
foram agregadas. A prevalência do multilateralismo e o fortalecimento dos prin-
2.3. Gradualmente, ampliou-se o conceito de segurança, abran- cípios consagrados pelo Direito Internacional como a soberania, a
gendo os campos político, militar, econômico, psicossocial, científi- não-intervenção e a igualdade entre os Estados são promotores de
co-tecnológico, ambiental e outros. um mundo mais estável, voltado para o desenvolvimento e bem-es-
Preservar a segurança requer medidas de largo espectro, en- tar da humanidade.
volvendo, além da defesa externa: a defesa civil, a segurança públi-
ca e as políticas econômica, social, educacional, científicotecnológi- 3.4. A questão ambiental permanece como uma das preocupa-
ca, ambiental, de saúde, industrial. Enfim, várias ações, muitas das ções da humanidade. Países detentores de grande biodiversidade,
quais não implicam qualquer envolvimento das Forças Armadas. enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas para serem
Cabe considerar que a segurança pode ser enfocada a partir incorporadas ao sistema produtivo podem tornar-se objeto de inte-
do indivíduo, da sociedade e do Estado, do que resultam definições resse internacional.
com diferentes perspectivas.

1
DEFESA NACIONAL
3.5. As mudanças climáticas têm graves consequências sociais, 5. O BRASIL
com reflexos na capacidade estatal de agir e nas relações interna- 5.1. O perfil brasileiro – ao mesmo tempo continental e maríti-
cionais mo, equatorial, tropical e subtropical, de longa fronteira terrestre
3.6. Para que o desenvolvimento e a autonomia nacionais se- com quase todos os países sul-americanos e de extenso litoral e
jam alcançados é essencial o domínio crescentemente autônomo águas jurisdicionais – confere ao País profundidade geoestratégica
de tecnologias sensíveis, principalmente nos estratégicos setores e torna complexa a tarefa do planejamento geral de defesa. Des-
espacial, cibernético e nuclear. sa maneira, a diversificada fisiografia nacional conforma cenários
3.7. Os avanços da tecnologia da informação, a utilização de diferenciados que, em termos de defesa, demandam, ao mesmo
satélites, o sensoriamento eletrônico e outros aperfeiçoamentos tempo, uma política abrangente e abordagens específicas.
tecnológicos trouxeram maior eficiência aos sistemas administrati- 5.2. A vertente continental brasileira contempla complexa va-
vos e militares, sobretudo nos países que dedicam maiores recursos riedade fisiográfica, que pode ser sintetizada em cinco macrorre-
financeiros à Defesa. Em consequência, criaram-se vulnerabilidades giões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
que poderão ser exploradas, com o objetivo de inviabilizar o uso 5.3. O planejamento da defesa deve incluir todas as regiões e,
dos nossos sistemas ou facilitar a interferência à distância. Para su- em particular, as áreas vitais onde se encontra a maior concentra-
perar essas vulnerabilidades, é essencial o investimento do Estado ção de poder político e econômico. Da mesma forma, deve-se prio-
em setores de tecnologia avançada. rizar a Amazônia e o Atlântico Sul.
5.4. A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de rique-
4. O AMBIENTE REGIONAL E O ENTORNO ESTRATÉGICO zas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A
4.1. A América do Sul é o ambiente regional no qual o Brasil se garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira
insere. Buscando aprofundar seus laços de cooperação, o País vi- são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demo-
sualiza um entorno estratégico que extrapola a região sulamericana gráfica e pelas longas distâncias.
e inclui o Atlântico Sul e os países lindeiros da África, assim como a A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o
Antártica. Ao norte, a proximidade do mar do Caribe impõe que se uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para
dê crescente atenção a essa região. o desenvolvimento e a integração da região. O adensamento da
presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo
4.2. A América do Sul, distante dos principais focos mundiais
das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento
de tensão e livre de armas nucleares, é considerada uma região
sustentável da Amazônia.
relativamente pacífica. Além disso, processos de consolidação de-
5.5. O mar sempre esteve relacionado com o progresso do Bra-
mocrática e de integração regional tendem a aumentar a confiança
sil, desde o seu descobrimento. A natural vocação marítima brasi-
mútua e a favorecer soluções negociadas de eventuais conflitos.
leira é respaldada pelo seu extenso litoral e pela importância estra-
4.3. Entre os fatores que contribuem para reduzir a possibili-
tégica do Atlântico Sul.
dade de conflitos no entorno estratégico destacam-se: o fortaleci-
A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar abre
mento do processo de integração, a partir do Mercosul e da União
a possibilidade de o Brasil estender os limites da sua Plataforma
de Nações Sul-Americanas; o estreito relacionamento entre os
Continental e exercer o direito de jurisdição sobre os recursos eco-
países amazônicos, no âmbito da Organização do Tratado de Coo-
nômicos em uma área de cerca de 4,5 milhões de quilômetros qua-
peração Amazônica; a intensificação da cooperação e do comércio
drados, região de vital importância para o País, uma verdadeira
com países da África, da América Central e do Caribe, inclusive a
“Amazônia Azul”.
Comunidade dos Estados LatinoAmericanos e Caribenhos (Celac),
Nessa imensa área, incluída a camada do pré-sal, estão as
facilitada pelos laços étnicos e culturais; o desenvolvimento de or-
ganismos regionais; a integração das bases industriais de defesa; a maiores reservas de petróleo e gás, fontes de energia imprescindí-
consolidação da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul e o veis para o desenvolvimento do País, além da existência de grande
diálogo continuado nas mesas de interação interregionais, como a potencial pesqueiro, mineral e de outros recursos naturais.
cúpula América do Sul-África (ASA) e o Fórum de Diálogo Índia-Bra- A globalização aumentou a interdependência econômica dos
sil-África do Sul (Ibas). países e, consequentemente, o fluxo de cargas. No Brasil, o trans-
A ampliação, a modernização e a interligação da infraestrutura porte marítimo é responsável por movimentar quase todo o comér-
da América do Sul, com a devida atenção ao meio ambiente e às cio exterior.
comunidades locais, podem concretizar a ligação entre seus cen-
tros produtivos e os dois oceanos, facilitando o desenvolvimento 5.6. As dimensões continental, marítima e aeroespacial, esta
e a integração. sobrejacente às duas primeiras, são de suma importância para a
Defesa Nacional. O controle do espaço aéreo e a sua boa articu-
4.4. A segurança de um país é afetada pelo grau de estabilidade lação com os países vizinhos, assim como o desenvolvimento de
da região onde ele está inserido. Assim, é desejável que ocorram nossa capacitação aeroespacial, constituem objetivos setoriais
o consenso, a harmonia política e a convergência de ações entre prioritários.
os países vizinhos para reduzir os delitos transnacionais e alcançar 5.7. O Brasil defende uma ordem internacional baseada na de-
melhores condições de desenvolvimento econômico e social, tor- mocracia, no multilateralismo, na cooperação, na proscrição das
nando a região mais coesa e mais forte. armas químicas, biológicas e nucleares, e na busca da paz entre as
4.5. A existência de zonas de instabilidade e de ilícitos transna- nações. Nesse sentido, defende a reforma das instâncias decisórias
cionais pode provocar o transbordamento de conflitos para outros internacionais, de modo a torná-las mais legítimas, representati-
países da América do Sul. A persistência desses focos de incertezas vas e eficazes, fortalecendo o multilateralismo, o respeito ao Direito
é, também, elemento que justifica a prioridade à defesa do Estado, Internacional e os instrumentos para a solução pacífica de contro-
de modo a preservar os interesses nacionais, a soberania e a inde- vérsias.
pendência. 5.8. A Constituição tem como um de seus princípios, nas rela-
4.6. Como consequência de sua situação geopolítica, é impor- ções internacionais, o repúdio ao terrorismo.
tante para o Brasil que se aprofunde o processo de desenvolvimen- O Brasil considera que o terrorismo internacional constitui
to integrado e harmônico da América do Sul, que se estende, natu- risco à paz e à segurança mundiais. Condena enfaticamente suas
ralmente, à área de defesa e segurança regionais. ações e implementa as resoluções pertinentes da Organização das

2
DEFESA NACIONAL
Nações Unidas (ONU), reconhecendo a necessidade de que as na- IV – contribuir para a estabilidade regional;
ções trabalhem em conjunto no sentido de prevenir e combater as V – contribuir para a manutenção da paz e da segurança inter-
ameaças terroristas. nacionais;
VI – intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e
5.9. O Brasil atribui prioridade aos países da América do Sul e sua maior inserção em processos decisórios internacionais;
da África, em especial aos da África Ocidental e aos de língua portu- VII – manter Forças Armadas modernas, integradas, adestra-
guesa, buscando aprofundar seus laços com esses países. das e balanceadas, e com crescente profissionalização, operando
5.10. A intensificação da cooperação com a Comunidade dos de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território na-
Países de Língua Portuguesa, integrada por oito países distribuídos cional;
por quatro continentes e unidos pelos denominadores comuns da VIII – conscientizar a sociedade brasileira da importância dos
história, da cultura e da língua, constitui outro fator relevante das assuntos de defesa do País;
nossas relações exteriores. IX – desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para
5.11. O Brasil tem laços de cooperação com países e blocos tra- a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis;
dicionalmente aliados que possibilitam a troca de conhecimento X – estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, do-
em diversos campos. Concomitantemente, busca novas parcerias tando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos
estratégicas com nações desenvolvidas ou emergentes para ampliar estratégicos e operacionais;
esses intercâmbios. Ao lado disso, o País acompanha as mudanças XI – desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobi-
e variações do cenário político e econômico internacional e não dei- lização nacional.
xa de explorar o potencial de novas associações, tais como as que
mantém com os demais membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, 7. ORIENTAÇÕES
China e África do Sul). 7.1. No gerenciamento de crises internacionais de natureza po-
5.12. O Brasil atua na comunidade internacional respeitando os lítico-estratégica, o Governo poderá determinar o emprego de to-
princípios consagrados no art. 4º da Constituição, em particular os das as expressões do Poder Nacional, de diferentes formas, visando
princípios de autodeterminação, não-intervenção, igualdade entre a preservar os interesses nacionais.
os Estados e solução pacífica de conflitos. Nessas condições, sob a 7.2. No caso de agressão externa, o País empregará todo o Po-
égide da Organização das Nações Unidas (ONU), participa de ope- der Nacional, com ênfase na expressão militar, na defesa dos seus
rações de paz, sempre de acordo com os interesses nacionais, de interesses.
forma a contribuir para a paz e a segurança internacionais. 7.3. O Serviço Militar Obrigatório é a garantia de participação
5.13. A persistência de ameaças à paz mundial requer a atuali- de cidadãos na Defesa Nacional e contribui para o desenvolvimento
zação permanente e o aparelhamento das nossas Forças Armadas, da mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira.
com ênfase no apoio à ciência e tecnologia para o desenvolvimento 7.4. A expressão militar do País fundamenta-se na capacidade
da indústria nacional de defesa. Visa-se, com isso, à redução da de- das Forças Armadas e no potencial dos recursos nacionais mobili-
pendência tecnológica e à superação das restrições unilaterais de záveis.
acesso a tecnologias sensíveis. 7.5. O País deve dispor de meios com capacidade de exercer
5.14. Em consonância com a busca da paz e da segurança inter- vigilância, controle e defesa: das águas jurisdicionais brasileiras; do
nacionais, o País é signatário do Tratado sobre a Não-Proliferação seu território e do seu espaço aéreo, incluídas as áreas continental
de Armas Nucleares e destaca a necessidade do cumprimento do e marítima. Deve, ainda, manter a segurança das linhas de comuni-
cações marítimas e das linhas de navegação aérea, especialmente
seu Artigo VI, que prevê a negociação para a eliminação total das
no Atlântico Sul.
armas nucleares por parte das potências nucleares, ressalvando
7.6. Para contrapor-se às ameaças à Amazônia, é imprescin-
o direito de todos os países ao uso da tecnologia nuclear para fins
dível executar uma série de ações estratégicas voltadas para o
pacíficos.
fortalecimento da presença militar, a efetiva ação do Estado no
5.15. O contínuo desenvolvimento brasileiro traz implicações
desenvolvimento sustentável (social, econômico e ambiental) e a
crescentes para a segurança das infraestruturas críticas. Dessa for-
ampliação da cooperação com os países vizinhos, visando à defesa
ma, é necessária a identificação dos pontos estratégicos prioritá-
das riquezas naturais.
rios, de modo a planejar e a implementar suas defesas. 7.7. Os setores governamental, industrial e acadêmico, volta-
dos à produção científica e tecnológica e para a inovação, devem
6. OBJETIVOS NACIONAIS DE DEFESA contribuir para assegurar que o atendimento às necessidades de
As relações internacionais são pautadas por complexo jogo de produtos de defesa seja apoiado em tecnologias sob domínio nacio-
atores, interesses e normas que estimulam ou limitam a capacida- nal obtidas mediante estímulo e fomento dos setores industrial e
de de atuação dos Estados. Nesse contexto de múltiplas influências acadêmico. A capacitação da indústria nacional de defesa, incluído
e de interdependência, os países buscam realizar seus interesses o domínio de tecnologias de uso dual, é fundamental para alcançar
nacionais, podendo encorajar alianças ou gerar conflitos de varia- o abastecimento de produtos de defesa.
das intensidades. 7.8. A integração da indústria de defesa sul-americana deve
Dessa forma, torna-se essencial estruturar a Defesa Nacional ser objeto de medidas que proporcionem desenvolvimento mútuo,
de modo compatível com a estatura político-estratégica do País bem como capacitação e autonomia tecnológicas.
para preservar a soberania e os interesses nacionais. Assim, da ava- 7.9. O Brasil deverá buscar parcerias estratégicas, visando a
liação dos ambientes descritos, emergem os Objetivos Nacionais de ampliar o leque de opções de cooperação na área de defesa e as
Defesa: oportunidades de intercâmbio.
I – garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade 7.10. Os setores espacial, cibernético e nuclear são estratégicos
territorial; para a Defesa do País; devem, portanto, ser fortalecidos.
II – defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os 7.11. A atuação do Estado brasileiro com relação à defesa tem
recursos brasileiros no exterior; como fundamento a obrigação de garantir nível adequado de se-
III – contribuir para a preservação da coesão e da unidade na- gurança do País, tanto em tempo de paz, quanto em situação de
cionais; conflito.

3
DEFESA NACIONAL
7.12. À ação diplomática na solução de conflitos soma-se a es- Art. 3 Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
tratégia militar da dissuasão. Nesse contexto, torna-se importante
desenvolver a capacidade de mobilização nacional e a manutenção Brasília, 18 de dezembro de 2008; 187o da Independência e
de Forças Armadas modernas, integradas e balanceadas, operando 120o da República.
de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território na-
cional, em condições de pronto emprego. ANEXO
7.13. Para ampliar a projeção do País no concerto mundial e ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA
reafirmar seu compromisso com a defesa da paz e com a coopera- I – FORMULAÇÃO SISTEMÁTICA
ção entre os povos, o Brasil deverá aperfeiçoar o preparo das For-
ças Armadas para desempenhar responsabilidades crescentes em Introdução
ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz
multilaterais, de acordo com os interesses nacionais. com seus vizinhos. Rege suas relações internacionais, dentre ou-
7.14. O Brasil deverá dispor de capacidade de projeção de po- tros, pelos princípios constitucionais da não-intervenção, defesa da
der, visando a eventual participação em operações estabelecidas ou paz e solução pacífica dos conflitos. Esse traço de pacifismo é parte
autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU. da identidade nacional e um valor a ser conservado pelo povo bra-
7.15. Excepcionalmente, em conflitos de maior extensão, de sileiro.
forma coerente com sua história e o cenário vislumbrado, observa- País em desenvolvimento, o Brasil ascenderá ao primeiro plano
dos os dispositivos constitucionais e legais, bem como os interesses no mundo sem exercer hegemonia ou dominação. O povo brasileiro
do País e os princípios básicos da política externa, o Brasil poderá não deseja exercer mando sobre outros povos. Quer que o Brasil se
participar de arranjos de defesa coletiva. engrandeça sem imperar.
7.16. É imprescindível que o País disponha de estrutura ágil, Talvez por isso nunca tenha sido realizado no Brasil, em toda
capaz de prevenir ações terroristas e de conduzir operações de con- a sua história, amplo debate sobre os assuntos de defesa. Perio-
traterrorismo. dicamente, os governos autorizavam a compra ou a produção de
7.17. Para se opor a possíveis ataques cibernéticos, é essencial novos materiais de defesa e introduziam reformas pontuais nas
aperfeiçoar os dispositivos de segurança e adotar procedimentos Forças Armadas. No entanto, nunca propuseram uma estratégia na-
que minimizem a vulnerabilidade dos sistemas que possuam supor- cional de defesa para orientar de forma sistemática a reorganização
te de tecnologia da informação e comunicação ou permitam seu e reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de
pronto restabelecimento. material de defesa, com a finalidade de assegurar a autonomia ope-
7.18. É prioritário assegurar continuidade e previsibilidade na racional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a Aeronáutica; e
alocação de recursos para permitir o preparo e o equipamento ade- a política de composição dos seus efetivos, sobretudo a reconside-
quado das Forças Armadas. ração do Serviço Militar Obrigatório.
7.19. Deverá ser buscado o constante aperfeiçoamento da ca- Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mun-
pacidade de comando, controle, monitoramento e do sistema de do, precisará estar preparado para defender-se não somente das
inteligência dos órgãos envolvidos na Defesa Nacional. agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo em
7.20. Nos termos da Constituição, as Forças Armadas poderão que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvi-
ser empregadas pela União contra ameaças ao exercício da sobera- mento do povo brasileiro no debate e na construção da sua própria
nia do Estado e à indissolubilidade da unidade federativa. defesa.
7.21. O Brasil deverá buscar a contínua interação da atual PND
com as demais políticas governamentais, visando a fortalecer a in- Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Desen-
fraestrutura de valor estratégico para a Defesa Nacional, particular-
volvimento
mente a de transporte, a de energia e a de comunic ções.
1.Estratégia nacional de defesa é inseparável de estratégia na-
7.22. O emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da
cional de desenvolvimento. Esta motiva aquela. Aquela fornece es-
ordem é regido por legislação específica.
cudo para esta. Cada uma reforça as razões da outra. Em ambas, se
desperta para a nacionalidade e constrói-se a Nação. Defendido, o
Brasil terá como dizer não, quando tiver que dizer não. Terá capaci-
dade para construir seu próprio modelo de desenvolvimento.
2.Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve
com guerras convencer-se da necessidade de defender-se para po-
DECRETO Nº 6.703, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008 der construir-se. Não bastam, ainda que sejam proveitosos e até
mesmo indispensáveis, os argumentos que invocam as utilidades
Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. das tecnologias e dos conhecimentos da defesa para o desenvolvi-
mento do País. Os recursos demandados pela defesa exigem uma
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe transformação de consciências para que se constitua uma estraté-
confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em gia de defesa para o Brasil.
vista o disposto no Decreto de 6 de setembro de 2007, que institui o 3.Difícil – e necessário – é para as Forças Armadas de um País
Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Nacional de Defesa, tão pacífico como o Brasil manterem, em meio à paz, o impulso de
se prepararem para o combate e de cultivarem, em prol desse pre-
DECRETA: paro, o hábito da transformação.
Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir agora de
Art. 1 Fica aprovada a Estratégia Nacional de Defesa anexa a seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se trata apenas de fi-
este Decreto. nanciar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de transformá-las,
Art. 2 Os órgãos e entidades da administração pública federal para melhor defenderem o Brasil.
deverão considerar, em seus planejamentos, ações que concorram
para fortalecer a Defesa Nacional.

4
DEFESA NACIONAL
4.Projeto forte de defesa favorece projeto forte de desenvol- Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação - para
vimento. Forte é o projeto de desenvolvimento que, sejam quais que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por con-
forem suas demais orientações, se guie pelos seguintes princípios: ta e em benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório
a) Independência nacional, efetivada pela mobilização de re- deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual possa a Na-
cursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no po- ção encontrar-se acima das classes sociais.
tencial produtivo do País. Aproveitar a poupança estrangeira, sem
dela depender; Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa.
b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecno- Pauta-se a Estratégia Nacional de Defesa pelas seguintes dire-
lógica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, ciber- trizes.
nético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio das 1.Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras ter-
tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desenvolvi- restres, nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-
mento; e -lhes o uso do espaço aéreo nacional.
c) Independência nacional, assegurada pela democratização Para dissuadir, é preciso estar preparado para combater. A
de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades tecnologia, por mais avançada que seja, jamais será alternativa ao
para ampliar a participação popular nos processos decisórios da combate. Será sempre instrumento do combate.
vida política e econômica do País. O Brasil não será independente
enquanto faltar para parcela do seu povo condições para aprender, 2.Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio monito-
ramento/controle, mobilidade e presença.
trabalhar e produzir.
Esse triplo imperativo vale, com as adaptações cabíveis, para
cada Força. Do trinômio resulta a definição das capacitações opera-
Natureza e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa
cionais de cada uma das Forças.
1.A Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o concei-
to e a política de independência nacional, de um lado, e as Forças
3.Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o espa-
Armadas para resguardar essa independência, de outro. Trata de
ço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras.
questões políticas e institucionais decisivas para a defesa do País,
Tal desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de tecnolo-
como os objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer
gias de monitoramento terrestre, marítimo, aéreo e espacial que
com que a Nação participe da defesa. Aborda, também, problemas
estejam sob inteiro e incondicional domínio nacional.
propriamente militares, derivados da influência dessa “grande es-
tratégia” na orientação e nas práticas operacionais das três Forças.
4.Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/contro-
A Estratégia Nacional de Defesa será complementada por pla-
lar, a capacidade de responder prontamente a qualquer ameaça ou
nos para a paz e para a guerra, concebidos para fazer frente a dife-
agressão: a mobilidade estratégica.
rentes hipóteses de emprego.
A mobilidade estratégica - entendida como a aptidão para se
chegar rapidamente ao teatro de operações – reforçada pela mo-
2.A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de três
bilidade tática – entendida como a aptidão para se mover dentro
eixos estruturantes.
daquele teatro - é o complemento prioritário do monitoramento/
O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças
controle e uma das bases do poder de combate, exigindo das Forças
Armadas devem-se organizar e orientar para melhor desempenha-
Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada.
rem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na
O imperativo de mobilidade ganha importância decisiva, dadas
guerra. Enumeram-se diretrizes estratégicas relativas a cada uma
a vastidão do espaço a defender e a escassez dos meios para de-
das Forças e especifica-se a relação que deve prevalecer entre elas.
fendê-lo. O esforço de presença, sobretudo ao longo das fronteiras
Descreve-se a maneira de transformar tais diretrizes em práticas e
terrestres e nas partes mais estratégicas do litoral, tem limitações
capacitações operacionais e propõe-se a linha de evolução tecnoló-
intrínsecas. É a mobilidade que permitirá superar o efeito prejudi-
gica necessária para assegurar que se concretizem.
cial de tais limitações.
A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas - para
resguardar o espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais bra-
5.Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os
sileiras - permite dar foco mais preciso às diretrizes estratégicas.
operacionais da mobilidade, sob a disciplina de objetivos bem de-
Nenhuma análise de hipóteses de emprego pode, porém, desconsi-
finidos.
derar as ameaças do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégi-
Mobilidade depende de meios terrestres, marítimos e aéreos
cas e as capacitações operacionais precisam transcender o horizon-
apropriados e da maneira de combiná-los. Depende, também, de
te imediato que a experiência e o entendimento de hoje permitem
capacitações operacionais que permitam aproveitar ao máximo o
descortinar.
potencial das tecnologias do movimento.
Ao lado da destinação constitucional, das atribuições, da cul-
O vínculo entre os aspectos tecnológicos e operacionais da
tura, dos costumes e das competências próprias de cada Força e
mobilidade há de se realizar de maneira a alcançar objetivos bem
da maneira de sistematizá-las em estratégia de defesa integrada,
definidos. Entre esses objetivos, há um que guarda relação espe-
aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa nacional:
cialmente próxima com a mobilidade: a capacidade de alternar a
o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três For-
concentração e a desconcentração de forças com o propósito de
ças devem operar em rede - entre si e em ligação com o monito-
dissuadir e combater a ameaça.
ramento do território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais
brasileiras.
6.Fortalecer três setores de importância estratégica: o espacial,
O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da in-
o cibernético e o nuclear.
dústria nacional de material de defesa, para assegurar que o aten-
Esse fortalecimento assegurará o atendimento ao conceito de
dimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas
flexibilidade.
apóie-se em tecnologias sob domínio nacional.
Como decorrência de sua própria natureza, esse setores trans-
O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efe-
cendem a divisão entre desenvolvimento e defesa, entre o civil e o
tivos das Forças Armadas e, conseqüentemente, sobre o futuro do
militar.
Serviço Militar Obrigatório. Seu propósito é zelar para que as Forças

5
DEFESA NACIONAL
Os setores espacial e cibernético permitirão, em conjunto, que do País, de onde poderão se deslocar em qualquer direção. Deverá
a capacidade de visualizar o próprio país não dependa de tecnolo- também o Exército agrupar suas reservas regionais nas respectivas
gia estrangeira e que as três Forças, em conjunto, possam atuar em áreas, para possibilitar a resposta imediata na crise ou no conflito
rede, instruídas por monitoramento que se faça também a partir armado.
do espaço. Pelas mesmas razões que exigem a formação do Estado-Maior
O Brasil tem compromisso - decorrente da Constituição Federal Conjunto das Forças Armadas, os Distritos Navais ou Comandos de
e da adesão ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares Área das três Forças terão suas áreas de jurisdição coincidentes, res-
- com o uso estritamente pacífico da energia nuclear. Entretanto, salvados impedimentos decorrentes de circunstâncias locais ou es-
afirma a necessidade estratégica de desenvolver e dominar a tecno- pecíficas. Os oficiais-generais que comandarem, por conta de suas
logia nuclear. O Brasil precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade respectivas Forças, um Distrito Naval ou Comando de Área, reunir-
da sua matriz energética e avançar em áreas, tais como as de agri- -se-ão regularmente, acompanhados de seus principais assessores,
cultura e saúde, que podem se beneficiar da tecnologia de energia para assegurar a unidade operacional das três Forças naquela área.
nuclear. E levar a cabo, entre outras iniciativas que exigem inde- Em cada área deverá ser estruturado um Estado-Maior Conjunto,
pendência tecnológica em matéria de energia nuclear, o projeto do que será ativado para realizar e atualizar, desde o tempo de paz, os
submarino de propulsão nuclear. planejamentos operacionais da área.

7.Unificar as operações das três Forças, muito além dos limites 9.Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da
impostos pelos protocolos de exercícios conjuntos. Força Aérea nas fronteiras.
Os instrumentos principais dessa unificação serão o Ministério Deve-se ter claro que, dadas as dimensões continentais do ter-
da Defesa e o Estado-Maior de Defesa, a ser reestruturado como Es- ritório nacional, presença não pode significar onipresença. A pre-
tado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Devem ganhar dimensão sença ganha efetividade graças à sua relação com monitoramento/
maior e responsabilidades mais abrangentes. controle e com mobilidade.
O Ministro da Defesa exercerá, na plenitude, todos os poderes Nas fronteiras terrestres e nas águas jurisdicionais brasileiras,
de direção das Forças Armadas que a Constituição e as leis não re- as unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea têm, sobretu-
servarem, expressamente, ao Presidente da República. do, tarefas de vigilância. No cumprimento dessas tarefas, as unida-
A subordinação das Forças Armadas ao poder político consti- des ganham seu pleno significado apenas quando compõem siste-
tucional é pressuposto do regime republicano e garantia da integri- ma integrado de monitoramento/controle, feito, inclusive, a partir
dade da Nação. do espaço. Ao mesmo tempo, tais unidades potencializam-se como
Os Secretários do Ministério da Defesa serão livremente esco- instrumentos de defesa, por meio de seus vínculos com as reservas
lhidos pelo Ministro da Defesa, entre cidadãos brasileiros, militares táticas e estratégicas. Os vigias alertam. As reservas respondem e
das três Forças e civis, respeitadas as peculiaridades e as funções de operam. E a eficácia do emprego das reservas táticas regionais e
cada secretaria. As iniciativas destinadas a formar quadros de espe- estratégicas é proporcional à capacidade de elas atenderem à exi-
cialistas civis em defesa permitirão, no futuro, aumentar a presença gência da mobilidade.
de civis em postos dirigentes no Ministério da Defesa. As disposi-
ções legais em contrário serão revogadas. 10.Priorizar a região amazônica.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas será chefiado A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para a
por um oficial-general de último posto, e terá a participação dos defesa. A defesa da Amazônia exige avanço de projeto de desenvol-
Chefes dos Estados-Maiores das três Forças. Será subordinado dire- vimento sustentável e passa pelo trinômio monitoramento/contro-
tamente ao Ministro da Defesa. Construirá as iniciativas que dêem le, mobilidade e presença.
realidade prática à tese da unificação doutrinária, estratégica e O Brasil será vigilante na reafirmação incondicional de sua so-
berania sobre a Amazônia brasileira. Repudiará, pela prática de atos
operacional e contará com estrutura permanente que lhe permita
de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela sobre
cumprir sua tarefa.
as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e
A Marinha, o Exército e a Aeronáutica disporão, singularmente,
de defesa da Amazônia. Não permitirá que organizações ou indiví-
de um Comandante, nomeado pelo Presidente da República e indi-
duos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros - políticos
cado pelo Ministro da Defesa. O Comandante de Força, no âmbito
ou econômicos - que queiram enfraquecer a soberania brasileira.
das suas atribuições, exercerá a direção e a gestão da sua Força,
Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de
formulará a sua política e doutrina e preparará seus órgãos opera-
si mesmo, é o Brasil.
tivos e de apoio para o cumprimento da destinação constitucional.
Os Estados-Maiores das três Forças, subordinados a seus Co- 11.Desenvolver, para fortalecer a mobilidade, a capacidade lo-
mandantes, serão os agentes da formulação estratégica em cada gística, sobretudo na região amazônica.
uma delas, sob a orientação do respectivo comandante. Daí a importância de se possuir estruturas de transporte e de
comando e controle que possam operar em grande variedade de
8.Reposicionar os efetivos das três Forças. circunstâncias, inclusive sob as condições extraordinárias impostas
As principais unidades do Exército estacionam no Sudeste e no por um conflito armado.
Sul do Brasil. A esquadra da Marinha concentra-se na cidade do Rio
de Janeiro. As instalações tecnológicas da Força Aérea estão quase 12.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramen-
todas localizadas em São José dos Campos, em São Paulo. As preo- to/controle, mobilidade e presença, o conceito de flexibilidade no
cupações mais agudas de defesa estão, porém, no Norte, no Oeste combate.
e no Atlântico Sul. Isso exigirá, sobretudo na Força Terrestre, que as forças con-
Sem desconsiderar a necessidade de defender as maiores con- vencionais cultivem alguns predicados atribuídos a forças não-con-
centrações demográficas e os maiores centros industriais do País, a vencionais.
Marinha deverá estar mais presente na região da foz do Amazonas Somente Forças Armadas com tais predicados estarão aptas
e nas grandes bacias fluviais do Amazonas e do Paraguai-Paraná. para operar no amplíssimo espectro de circunstâncias que o futuro
O Exército deverá posicionar suas reservas estratégicas no centro poderá trazer.

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DEFESA NACIONAL
A conveniência de assegurar que as forças convencionais ad- 17.Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garan-
quiram predicados comumente associados a forças não-convencio- tia da lei e da ordem, nos termos da Constituição Federal.
nais pode parecer mais evidente no ambiente da selva amazônica. O País cuida para evitar que as Forças Armadas desempenhem
Aplicam-se eles, porém, com igual pertinência, a outras áreas do papel de polícia. Efetuar operações internas em garantia da lei e da
País. Não é uma adaptação a especificidades geográficas localiza- ordem, quando os poderes constituídos não conseguem garantir a
das. É resposta a uma vocação estratégica geral. paz pública e um dos Chefes dos três Poderes o requer, faz parte
das responsabilidades constitucionais das Forças Armadas. A legiti-
13.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramen- mação de tais responsabilidades pressupõe, entretanto, legislação
to/controle, mobilidade e presença, o repertório de práticas e de que ordene e respalde as condições específicas e os procedimentos
capacitações operacionais dos combatentes. federativos que dêem ensejo a tais operações, com resguardo de
Cada homem e mulher a serviço das Forças Armadas há de dis- seus integrantes.
por de três ordens de meios e de habilitações.
Em primeiro lugar, cada combatente deve contar com meios e 18.Estimular a integração da América do Sul.
habilitações para atuar em rede, não só com outros combatentes e Essa integração não somente contribuirá para a defesa do Bra-
contingentes de sua própria Força, mas também com combatentes sil, como possibilitará fomentar a cooperação militar regional e a
e contingentes das outras Forças. As tecnologias de comunicações, integração das bases industriais de defesa. Afastará a sombra de
inclusive com os veículos que monitorem a superfície da terra e do conflitos dentro da região. Com todos os países avança-se rumo à
mar a partir do espaço, devem ser encaradas como instrumentos construção da unidade sul-americana. O Conselho de Defesa Sul-A-
potencializadores de iniciativas de defesa e de combate. Esse é o mericano, em debate na região, criará mecanismo consultivo que
sentido do requisito de monitoramento e controle e de sua relação permitirá prevenir conflitos e fomentar a cooperação militar regio-
com as exigências de mobilidade e de presença. nal e a integração das bases industriais de defesa, sem que dele
Em segundo lugar, cada combatente deve dispor de tecnologias participe país alheio à região.
e de conhecimentos que permitam radicalizar, em qualquer teatro de
operações, terrestre ou marítimo, o imperativo de mobilidade. É a esse 19.Preparar as Forças Armadas para desempenharem respon-
imperativo, combinado com a capacidade de combate, que devem ser- sabilidades crescentes em operações de manutenção da paz.
vir as plataformas e os sistemas de armas à disposição do combatente. Em tais operações, as Forças agirão sob a orientação das Na-
Em terceiro lugar, cada combatente deve ser treinado para ções Unidas ou em apoio a iniciativas de órgãos multilaterais da
abordar o combate de modo a atenuar as formas rígidas e tradicio- região, pois o fortalecimento do sistema de segurança coletiva é
nais de comando e controle, em prol da flexibilidade, da adaptabili- benéfico à paz mundial e à defesa nacional.
dade, da audácia e da surpresa no campo de batalha. Esse comba-
tente será, ao mesmo tempo, um comandado que sabe obedecer, 20.Ampliar a capacidade de atender aos compromissos inter-
exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas e orientar-se nacionais de busca e salvamento.
em meio às incertezas e aos sobressaltos do combate - e uma fonte É tarefa prioritária para o País o aprimoramento dos meios exis-
de iniciativas - capaz de adaptar suas ordens à realidade da situação tentes e da capacitação do pessoal envolvido com as atividades de
mutável em que se encontra. busca e salvamento no território nacional, nas águas jurisdicionais
Ganha ascendência no mundo um estilo de produção industrial brasileiras e nas áreas pelas quais o Brasil é responsável, em decor-
marcado pela atenuação de contrastes entre atividades de planeja- rência de compromissos internacionais.
mento e de execução e pela relativização de especializações rígidas nas
atividades de execução. Esse estilo encontra contrapartida na maneira 21.Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional
de fazer a guerra, cada vez mais caracterizada por extrema flexibilida- para assegurar a capacidade dissuasória e operacional das Forças
de. O desdobramento final dessa trajetória é esmaecer o contraste Armadas.
entre forças convencionais e não-convencionais, não em relação aos Diante de eventual degeneração do quadro internacional, o
armamentos com que cada uma delas possa contar, senão no radicalis- Brasil e suas Forças Armadas deverão estar prontos para tomar me-
mo com que ambas praticam o conceito de flexibilidade. didas de resguardo do território, das linhas de comércio marítimo e
plataformas de petróleo e do espaço aéreo nacionais. As Forças Ar-
14.Promover a reunião, nos militares brasileiros, dos atributos madas deverão, também, estar habilitadas a aumentar rapidamen-
e predicados exigidos pelo conceito de flexibilidade. te os meios humanos e materiais disponíveis para a defesa. Expri-
O militar brasileiro precisa reunir qualificação e rusticidade. me-se o imperativo de elasticidade em capacidade de mobilização
Necessita dominar as tecnologias e as práticas operacionais exigi- nacional e militar.
das pelo conceito de flexibilidade. Deve identificar-se com as pecu- Ao decretar a mobilização nacional, o Poder Executivo delimi-
tará a área em que será realizada e especificará as medidas neces-
liaridades e características geográficas exigentes ou extremas que
sárias à sua execução, tais como poderes para assumir o controle
existem no País. Só assim realizar-se-á, na prática, o conceito de
de recursos materiais, inclusive meios de transporte, necessários à
flexibilidade, dentro das características do território nacional e da
defesa, de acordo com a Lei de Mobilização Nacional. A mobilização
situação geográfica e geopolítica do Brasil.
militar demanda a organização de uma força de reserva, mobilizável
em tais circunstâncias. Reporta-se, portanto, à questão do futuro
15.Rever, a partir de uma política de otimização do emprego de
do Serviço Militar Obrigatório.
recursos humanos, a composição dos efetivos das três Forças, de
Sem que se assegure a elasticidade para as Forças Armadas,
modo a dimensioná-las para atender adequadamente ao disposto seu poder dissuasório e defensivo ficará comprometido.
na Estratégia Nacional de Defesa.
16. Estruturar o potencial estratégico em torno de capacidades. 22.Capacitar a indústria nacional de material de defesa para
Convém organizar as Forças Armadas em torno de capacida- que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa.
des, não em torno de inimigos específicos. O Brasil não tem inimi- Regime jurídico, regulatório e tributário especiais protegerá as
gos no presente. Para não tê-los no futuro, é preciso preservar a paz empresas privadas nacionais de material de defesa contra os riscos
e preparar-se para a guerra. do imediatismo mercantil e assegurará continuidade nas compras

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DEFESA NACIONAL
públicas. A contrapartida a tal regime especial será, porém, o poder cional. Os que o prestassem receberiam treinamento militar básico
estratégico que o Estado exercerá sobre tais empresas, a ser asse- que embasasse eventual mobilização futura. E passariam a compor
gurado por um conjunto de instrumentos de direito privado ou de força de reserva mobilizável.
direito público. Devem as escolas de formação de oficiais das três Forças conti-
Já o setor estatal de material de defesa terá por missão operar nuarem a atrair candidatos de todas as classes sociais. É ótimo que
no teto tecnológico, desenvolvendo as tecnologias que as empresas número cada vez maior deles provenha da classe trabalhadora. É
privadas não possam alcançar ou obter, a curto ou médio prazo, de necessário, porém, que os efetivos das Forças Armadas sejam for-
maneira rentável. mados por cidadãos oriundos de todas as classes sociais. Essa é uma
A formulação e a execução da política de compras de produtos das razões pelas quais a valorização da carreira, inclusive em termos
de defesa serão centralizadas no Ministério da Defesa, sob a res- remuneratórios, representa exigência de segurança nacional.
ponsabilidade de uma secretaria de produtos de defesa. , admitida
delegação na sua execução. A Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos
A indústria nacional de material de defesa será incentivada a e táticos.
competir em mercados externos para aumentar a sua escala de pro- 1.Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estratégi-
dução. A consolidação da União de Nações Sul-Americanas poderá cas de negação do uso do mar, de controle de áreas marítimas e de
atenuar a tensão entre o requisito da independência em produção projeção de poder, a Marinha do Brasil se pautará por um desenvol-
de defesa e a necessidade de compensar custo com escala, possibi- vimento desigual e conjunto. Se aceitasse dar peso igual a todos os
litando o desenvolvimento da produção de defesa em conjunto com três objetivos, seria grande o risco de ser medíocre em todos eles.
outros países da região. Embora todos mereçam ser cultivados, o serão em determinadas
Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito ordem e seqüência.
de desenvolver a capacitação tecnológica e a fabricação de produ- A prioridade é assegurar os meios para negar o uso do mar a
tos de defesa nacionais, de modo a eliminar, progressivamente, a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do Brasil
compra de serviços e produtos importados. por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é a que orga-
Sempre que possível, as parcerias serão construídas como ex- niza, antes de atendidos quaisquer outros objetivos estratégicos, a
pressões de associação estratégica mais abrangente entre o Brasil estratégia de defesa marítima do Brasil. Essa prioridade tem impli-
e o país parceiro. A associação será manifestada em colaborações cações para a reconfiguração das forças navais.
de defesa e de desenvolvimento e será pautada por duas ordens de Ao garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo, pre-
motivações básicas: a internacional e a nacional. cisa o Brasil manter a capacidade focada de projeção de poder e
A motivação de ordem internacional será trabalhar com o país criar condições para controlar, no grau necessário à defesa e dentro
parceiro em prol de um maior pluralismo de poder e de visão no dos limites do direito internacional, as áreas marítimas e águas in-
mundo. Esse trabalho conjunto passa por duas etapas. Na primeira teriores de importância político-estratégica, econômica e militar, e
etapa, o objetivo é a melhor representação de países emergentes, também as suas linhas de comunicação marítimas. A despeito desta
consideração, a projeção de poder se subordina, hierarquicamente,
inclusive o Brasil, nas organizações internacionais – políticas e eco-
à negação do uso do mar.
nômicas – estabelecidas. Na segunda, o alvo é a reestruturação das
A negação do uso do mar, o controle de áreas marítimas e a
organizações internacionais, inclusive a do regime internacional de
projeção de poder devem ter por foco, sem hierarquização de obje-
comércio, para que se tornem mais abertas às divergências, às ino-
tivos e de acordo com as circunstâncias:
vações e aos experimentos do que são as instituições nascidas ao
(a) defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas;
término da Segunda Guerra Mundial.
(b) defesa pró-ativa das instalações navais e portuárias, dos ar-
A motivação de ordem nacional será contribuir para a amplia-
quipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras;
ção das instituições que democratizem a economia de mercado e (c) prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado
aprofundem a democracia, organizando o crescimento econômico ou por forças não-convencionais ou criminosas, às vias marítimas
socialmente includente. O método preferido desse trabalho é o dos de comércio;
experimentos binacionais: as iniciativas desenvolvidas em conjunto (d) capacidade de participar de operações internacionais de
com os países parceiros. paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras, sob a
égide das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região;
23.Manter o Serviço Militar Obrigatório.
O Serviço Militar Obrigatório é condição para que se possa mo- A construção de meios para exercer o controle de áreas marí-
bilizar o povo brasileiro em defesa da soberania nacional. É, tam- timas terá como focos as áreas estratégicas de acesso marítimo ao
bém, instrumento para afirmar a unidade da Nação acima das divi- Brasil. Duas áreas do litoral continuarão a merecer atenção espe-
sões das classes sociais. cial, do ponto de vista da necessidade de controlar o acesso marí-
O objetivo, a ser perseguido gradativamente, é tornar o Ser- timo ao Brasil: a faixa que vai de Santos a Vitória e a área em torno
viço Militar realmente obrigatório. Como o número dos alistados da foz do rio Amazonas.
anualmente é muito maior do que o número de recrutas de que 2.A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto tem im-
precisam as Forças Armadas, deverão elas selecioná-los segundo o plicações para a reconfiguração das forças navais. A implicação mais
vigor físico, a aptidão e a capacidade intelectual, em vez de permitir importante é que a Marinha se reconstruirá, por etapas, como uma
que eles se auto-selecionem, cuidando para que todas as classes arma balanceada entre o componente submarino, o componente
sociais sejam representadas. de superfície e o componente aeroespacial.
No futuro, convirá que os que forem desobrigados da presta- 3.Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil
ção do serviço militar obrigatório sejam incentivados a prestar um contará com força naval submarina de envergadura, composta de
serviço civil, de preferência em região do País diferente da região submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear.
das quais se originam. Prestariam o serviço de acordo com a natu- O Brasil manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de
reza de sua instrução preexistente, além de receber instrução nova. fabricar tanto submarinos de propulsão convencional como de pro-
O serviço seria, portanto, ao mesmo tempo oportunidade de apren- pulsão nuclear. Acelerará os investimentos e as parcerias necessá-
dizagem, expressão de solidariedade e instrumento de unidade na- rios para executar o projeto do submarino de propulsão nuclear.

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DEFESA NACIONAL
Armará os submarinos, convencionais e nucleares, com mísseis e 8.Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob a res-
desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de ponsabilidade da força submarina e de suas contrapartes espacial e
ganhar autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os sub- aérea, e a etapa subseqüente, conduzida com o pleno engajamento
marinos e seus sistemas de armas e que lhes possibilitem atuar em da força naval de superfície, será a Aviação Naval, embarcada em
rede com as outras forças navais, terrestres e aéreas. navios. A Marinha trabalhará com a indústria nacional de material
4.Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Ma- de defesa para desenvolver um avião versátil, de defesa e ataque,
rinha possuirá, ainda, meios de Fuzileiros Navais, em permanente que maximize o potencial aéreo defensivo e ofensivo da Força Na-
condição de pronto emprego. A existência de tais meios é também val.
essencial para a defesa das instalações navais e portuárias, dos 9.A Marinha iniciará os estudos e preparativos para estabele-
arquipélagos e ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras, cer, em lugar próprio, o mais próximo possível da foz do rio Amazo-
para atuar em operações internacionais de paz, em operações hu- nas, uma base naval de uso múltiplo, comparável, na abrangência e
manitárias, em qualquer lugar do mundo. Nas vias fluviais, serão na densidade de seus meios, à Base Naval do Rio de Janeiro.
fundamentais para assegurar o controle das margens durante as 10.A Marinha acelerará o trabalho de instalação de suas bases
operações ribeirinhas. O Corpo de Fuzileiros Navais consolidar-se-á de submarinos, convencionais e de propulsão nuclear.
como a força de caráter expedicionário por excelência.
5.A força naval de superfície contará tanto com navios de gran- O Exército Brasileiro: os imperativos de flexibilidade e de elas-
de porte, capazes de operar e de permanecer por longo tempo em ticidade
alto mar, como de navios de porte menor, dedicados a patrulhar o 1.O Exército Brasileiro cumprirá sua destinação constitucional e
litoral e os principais rios navegáveis brasileiros. Requisito para a desempenhará suas atribuições, na paz e na guerra, sob a orienta-
manutenção de tal esquadra será a capacidade da Força Aérea de ção dos conceitos estratégicos de flexibilidade e de elasticidade. A
trabalhar em conjunto com a Aviação Naval para garantir superiori- flexibilidade, por sua vez, inclui os requisitos estratégicos de moni-
dade aérea local em caso de conflito armado. toramento/controle e de mobilidade.
Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial aten- Flexibilidade é a capacidade de empregar forças militares com
ção ao projeto e à fabricação de navios de propósitos múltiplos que o mínimo de rigidez pré-estabelecida e com o máximo de adaptabi-
possam, também, servir como navios-aeródromos. Serão preferi- lidade à circunstância de emprego da força. Na paz, significa a ver-
dos aos navios-aeródromos convencionais e de dedicação exclusiva. satilidade com que se substitui a presença - ou a onipresença - pela
A Marinha contará, também, com embarcações de combate, capacidade de se fazer presente (mobilidade) à luz da informação
de transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão (monitoramento/controle). Na guerra, exige a capacidade de dei-
concebidas e fabricadas de acordo com a mesma preocupação de xar o inimigo em desequilíbrio permanente, surpreendendo-o por
versatilidade funcional que orientará a construção das belonaves de meio da dialética da desconcentração e da concentração de forças
alto mar. A Marinha adensará sua presença nas vias navegáveis das e da audácia com que se desfecha o golpe inesperado.
duas grandes bacias fluviais, a do Amazonas e a do Paraguai-Paraná, A flexibilidade relativiza o contraste entre o conflito convencio-
empregando tanto navios-patrulha como navios-transporte, ambos nal e o conflito não-convencional: reivindica para as forças conven-
guarnecidos por helicópteros, adaptados ao regime das águas.
cionais alguns dos atributos de força não-convencional e firma a su-
A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilitada pela
premacia da inteligência e da imaginação sobre o mero acúmulo de
dedicação do País à inauguração de um paradigma multimodal de
meios materiais e humanos. Por isso mesmo, rejeita a tentação de
transporte. Esse paradigma contemplará a construção das hidrovias
ver na alta tecnologia alternativa ao combate, assumindo-a como
do Paraná-Tietê, do Madeira, do Tocantins-Araguaia e do Tapajós-
um reforço da capacidade operacional. Insiste no papel da surpresa.
-Teles Pires. As barragens serão, quando possível, providas de eclu-
Transforma a incerteza em solução, em vez de encará-la como pro-
sas, de modo a assegurar franca navegabilidade às hidrovias.
blema. Combina as defesas meditadas com os ataques fulminantes.
6.O monitoramento da superfície do mar a partir do espaço de- Elasticidade é a capacidade de aumentar rapidamente o di-
verá integrar o repertório de práticas e capacitações operacionais mensionamento das forças militares quando as circunstâncias o
da Marinha. exigirem, mobilizando em grande escala os recursos humanos e
A partir dele as forças navais, submarinas e de superfície terão materiais do País. A elasticidade exige, portanto, a construção de
fortalecidas suas capacidades de atuar em rede com as forças ter- força de reserva, mobilizável de acordo com as circunstâncias. A
restre e aérea. base derradeira da elasticidade é a integração das Forças Armadas
7.A constituição de uma força e de uma estratégia navais que com a Nação. O desdobramento da elasticidade reporta-se à parte
integrem os componentes submarino, de superfície e aéreo, permi- desta Estratégia Nacional de Defesa que trata do futuro do Serviço
tirá realçar a flexibilidade com que se resguarda o objetivo prioritá- Militar Obrigatório e da mobilização nacional.
rio da estratégia de segurança marítima: a dissuasão com a negação A flexibilidade depende, para sua afirmação plena, da elasti-
do uso do mar ao inimigo que se aproxime, por meio do mar, do cidade. O potencial da flexibilidade, para dissuasão e para defesa,
Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de combate, sobretudo ficaria severamente limitado se não fosse possível, em caso de ne-
quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força de super- cessidade, multiplicar os meios humanos e materiais das Forças
fície será concebida e operada como reserva tática ou estratégica. Armadas. Por outro lado, a maneira de interpretar e de efetuar o
Preferencialmente e sempre que a situação tática permitir, a força imperativo da elasticidade revela o desdobramento mais radical da
de superfície será engajada no conflito depois do emprego inicial da flexibilidade. A elasticidade é a flexibilidade, traduzida no engaja-
força submarina, que atuará de maneira coordenada com os veícu- mento de toda a Nação em sua própria defesa.
los espaciais (para efeito de monitoramento) e com meios aéreos
(para efeito de fogo focado). 2.O Exército, embora seja empregado de forma progressiva nas
Esse desdobramento do combate em etapas sucessivas, sob crises e conflitos armados, deve ser constituído por meios moder-
a responsabilidade de contingentes distintos, permitirá, na guerra nos e por efetivos muito bem adestrados. O Exército não terá den-
naval, a agilização da alternância entre a concentração e a descon- tro de si uma vanguarda. O Exército será, todo ele, uma vanguarda.
centração de forças e o aprofundamento da flexibilidade a serviço A concepção do Exército como vanguarda tem, como expressão
da surpresa. prática principal a sua reconstrução em módulo brigada, que vem a

9
DEFESA NACIONAL
ser o módulo básico de combate da Força Terrestre. Na composição (a) a fabricação de veículos lançadores de satélites;
atual do Exército, as brigadas das Forças de Ação Rápida Estratégi- (b) a fabricação de satélites de baixa e de alta altitude, sobretu-
cas são as que melhor exprimem o ideal de flexibilidade. do de satélites geoestacionários, de múltiplos usos;
O modelo de composição das Forças de Ação Rápida Estraté- (c) o desenvolvimento de alternativas nacionais aos sistemas
gicas não precisa nem deve ser seguido rigidamente, sem que se de localização e de posicionamento dos quais o Brasil depende,
levem em conta os problemas operacionais próprios dos diferen- passando pelas necessárias etapas internas de evolução dessas tec-
tes teatros de operações. Entretanto, todas as brigadas do Exército nologias;
devem conter, em princípio, os seguintes elementos, para que se (d) os meios aéreos e terrestres para monitoramento focado,
generalize o atendimento do conceito da flexibilidade: de alta resolução;
(a) Recursos humanos com elevada motivação e efetiva capa- (e) as capacitações e os instrumentos cibernéticos necessários
citação operacional, típicas da Brigada de Operações Especiais, que para assegurar comunicações entre os monitores espaciais e aéreos
hoje compõe a reserva estratégica do Exército; e a força terrestre.
(b) Instrumentos de comunicações e de monitoramento que
lhes permitam operar em rede com outras unidades do Exército, 6.A mobilidade como componente do imperativo de flexibili-
da Marinha e da Força Aérea e receber informação fornecida pelo dade requer o desenvolvimento de veículos terrestres e de meios
monitoramento do terreno a partir do ar e do espaço; aéreos de combate e de transporte. Demandará, também, a reor-
(c) Instrumentos de mobilidade que lhes permitam deslocar-se ganização das relações com a Marinha e com a Força Aérea, de ma-
rapidamente por terra, água e ar - para o teatro de operações e neira a assegurar, tanto na cúpula dos Estados-Maiores como na
dentro dele. Por ar e por água, a mobilidade se efetuará comumen- base dos contingentes operacionais, a capacidade de atuar como
te por meio de operações conjuntas com a Marinha e com a Força uma única força.
Aérea; 7.Monitoramento/controle e mobilidade têm seu complemen-
(d) Recursos logísticos capazes de manter a brigada com supri- to em medidas destinadas a assegurar, ainda no módulo brigada, a
mento, mesmo em regiões isoladas e inóspitas, por um período de obtenção do efetivo poder de combate. Algumas dessas medidas
várias semanas. são tecnológicas: o desenvolvimento de sistemas de armas e de
guiamento que permitam precisão no direcionamento do tiro e o
A qualificação do módulo brigada como vanguarda exige amplo desenvolvimento da capacidade de fabricar munições não-nuclea-
espectro de meios tecnológicos, desde os menos sofisticados, tais res de todos os tipos. Outras medidas são operacionais: a consolida-
como radar portátil e instrumental de visão noturna, até as formas ção de um repertório de práticas e de capacitações que proporcio-
mais avançadas de comunicação entre as operações terrestres e o nem à Força Terrestre os conhecimentos e as potencialidades, tanto
monitoramento espacial. para o combate convencional quanto para não-convencional, capaz
O entendimento da mobilidade tem implicações para a evolu- de operar com adaptabilidade nas condições imensamente varia-
ção dos blindados, dos meios mecanizados e da artilharia. Uma im- das do território nacional. Outras medidas - ainda mais importantes
plicação desse entendimento é harmonizar, no desenho dos blinda- - são educativas: a formação de um militar que reúna qualificação
dos e dos meios mecanizados, características técnicas de proteção e rusticidade.
e movimento. Outra implicação – nos blindados, nos meios mecani- 8.A defesa da região amazônica será encarada, na atual fase da
zados e na artilharia - é priorizar o desenvolvimento de tecnologias História, como o foco de concentração das diretrizes resumidas sob
capazes de assegurar precisão na execução do tiro. o rótulo dos imperativos de monitoramento/controle e de mobili-
dade. Não exige qualquer exceção a tais diretrizes; reforça as razões
para seguí-las. As adaptações necessárias serão as requeridas pela
3.A transformação de todo o Exército em vanguarda, com base
natureza daquele teatro de operações: a intensificação das tecno-
no módulo brigada, terá prioridade sobre a estratégia de presença.
logias e dos dispositivos de monitoramento a partir do espaço, do
Nessa transformação, o aparelhamento baseado no completamen-
ar e da terra; a primazia da transformação da brigada em uma força
to e modernização dos sistemas operacionais das brigadas, para
com atributos tecnológicos e operacionais; os meios logísticos e aé-
dotá-las de capacidade de rapidamente fazerem-se presentes, será
reos para apoiar unidades de fronteira isoladas em áreas remotas,
prioritário.
exigentes e vulneráveis; e a formação de um combatente detentor
A transformação será, porém, compatibilizada com a estratégia de qualificação e de rusticidade necessárias à proficiência de um
da presença, em especial na região amazônica, em face dos obs- combatente de selva.
táculos ao deslocamento e à concentração de forças. Em todas as O desenvolvimento sustentável da região amazônica passará
circunstâncias, as unidades militares situadas nas fronteiras funcio- a ser visto, também, como instrumento da defesa nacional: só ele
narão como destacamentos avançados de vigilância e de dissuasão. pode consolidar as condições para assegurar a soberania nacional
Nos centros estratégicos do País – políticos, industriais, tecno- sobre aquela região. Dentro dos planos para o desenvolvimento
lógicos e militares – a estratégia de presença do Exército concorrerá sustentável da Amazônia, caberá papel primordial à regularização
também para o objetivo de se assegurar a capacidade de defesa fundiária. Para defender a Amazônia, será preciso tirá-la da condi-
antiaérea, em quantidade e em qualidade, sobretudo por meio de ção de insegurança jurídica e de conflito generalizado em que, por
artilharia antiaérea de média altura. conta da falta de solução ao problema da terra, ela se encontra.

4.O Exército continuará a manter reservas regionais e estratégi- 9.Atender ao imperativo da elasticidade será preocupação es-
cas, articuladas em dispositivo de expectativa. As reservas estraté- pecial do Exército, pois é, sobretudo, a Força Terrestre que terá de
gicas, incluindo pára-quedistas e contingentes de operações espe- multiplicar-se em caso de conflito armado.
ciais, em prol da faculdade de concentrar forças rapidamente, serão 10.Os imperativos de flexibilidade e de elasticidade culminam
estacionadas no centro do País. no preparo para uma guerra assimétrica, sobretudo na região ama-
5.O monitoramento/controle, como componente do imperati- zônica, a ser sustentada contra inimigo de poder militar muito supe-
vo de flexibilidade, exigirá que entre os recursos espaciais haja um rior, por ação de um país ou de uma coligação de países que insista
vetor sob integral domínio nacional, ainda que parceiros estrangei- em contestar, a pretexto de supostos interesses da Humanidade, a
ros participem do seu projeto e da sua implementação, incluindo: incondicional soberania brasileira sobre a sua Amazônia.

10
DEFESA NACIONAL
A preparação para tal guerra não consiste apenas em ajudar a b. O poder para assegurar superioridade aérea local.
evitar o que hoje é uma hipótese remota, a de envolvimento do Bra- Em qualquer hipótese de emprego a Força Aérea terá a respon-
sil em um conflito armado de grande escala. É, também, aproveitar sabilidade de assegurar superioridade aérea local. Do cumprimento
disciplina útil para a formação de sua doutrina militar e de suas ca- dessa responsabilidade, dependerá em grande parte a viabilidade
pacitações operacionais. Um exército que conquistou os atributos das operações navais e das operações das forças terrestres no inte-
de flexibilidade e de elasticidade é um exército que sabe conjugar rior do País. O requisito do potencial de garantir superioridade aé-
as ações convencionais com as não-convencionais. A guerra assimé- rea local será o primeiro passo para afirmar a superioridade aérea
trica, no quadro de uma guerra de resistência nacional, representa sobre o território e as águas jurisdicionais brasileiras.
uma efetiva possibilidade da doutrina aqui especificada. Impõe, como conseqüência, evitar qualquer hiato de desprote-
Cada uma das condições, a seguir listadas, para a condução exi- ção aérea no período de 2015 a 2025, durante o qual terão de ser
tosa da guerra de resistência deve ser interpretada como advertên- substituídos a atual frota de aviões de combate, os sistemas de ar-
cia orientadora da maneira de desempenhar as responsabilidades mas e armamentos inteligentes embarcados, inclusive os sistemas
do Exército: inerciais que permitam dirigir o fogo ao alvo com exatidão e “além
a. Ver a Nação identificada com a causa da defesa. Toda a estra- do alcance visual”.
tégia nacional repousa sobre a conscientização do povo brasileiro c. A capacidade para levar o combate a pontos específicos do
da importância central dos problemas de defesa. território nacional, em conjunto com o Exército e a Marinha, cons-
b. Juntar a soldados regulares, fortalecidos com atributos de tituindo uma única força combatente, sob a disciplina do teatro de
soldados não-convencionais, as reservas mobilizadas de acordo operações.
com o conceito da elasticidade. A primeira implicação é a necessidade de dispor de aviões de
c. Contar com um soldado resistente que, além dos pendores transporte em número suficiente para transportar em poucas horas
de qualificação e de rusticidade, seja também, no mais alto grau, uma brigada da reserva estratégica, do centro do País para qualquer
tenaz. Sua tenacidade se inspirará na identificação da Nação com a ponto do território nacional. As unidades de transporte aéreo fica-
causa da defesa. rão baseadas no centro do País, próximo às reservas estratégicas da
d. Sustentar, sob condições adversas e extremas, a capacidade Força Terrestre.
de comando e controle entre as forças combatentes. A segunda implicação é a necessidade de contar com sistemas
e. Manter e construir, mesmo sob condições adversas e extre- de armas de grande precisão, capazes de permitir a adequada dis-
mas, o poder de apoio logístico às forças combatentes. criminação de alvos em situações nas quais forças nacionais pode-
f. Saber aproveitar ao máximo as características do terreno. rão estar entremeadas ao inimigo.
A terceira implicação é a necessidade de dispor de suficientes e
A Força Aérea Brasileira: vigilância orientadora, superioridade adequados meios de transporte para apoiar a aplicação da estraté-
aérea, combate focado, combate aeroestratégico gia da presença do Exército na região Amazônica e no Centro-Oeste,
1.Quatro objetivos estratégicos orientam a missão da Força Aé- sobretudo as atividades operacionais e logísticas realizadas pelas
rea Brasileira e fixam o lugar de seu trabalho dentro da Estratégia unidades da Força Terrestre situadas na fronteira.
Nacional de Defesa. Esses objetivos estão encadeados em deter- d. A índole pacífica do Brasil não elimina a necessidade de as-
minada ordem: cada um condiciona a definição e a execução dos segurar à Força Aérea o domínio de um potencial estratégico que se
objetivos subseqüentes. organize em torno de uma capacidade, não em torno de um inimi-
a. A prioridade da vigilância aérea. go. Sem que a Força Aérea tenha o pleno domínio desse potencial
Exercer do ar a vigilância do espaço aéreo, sobre o território aeroestratégico, não estará ela em condições de defender o Brasil,
nacional e as águas jurisdicionais brasileiras, com a assistência dos nem mesmo dentro dos mais estritos limites de uma guerra defen-
meios espaciais, terrestres e marítimos, é a primeira das responsa- siva. Para tanto, precisa contar com todos os meios relevantes: pla-
bilidades da Força Aérea e a condição essencial para poder inibir o taformas, sistemas de armas, subsídios cartográficos e recursos de
sobrevôo desimpedido do espaço aéreo nacional pelo inimigo. A inteligência.
estratégia da Força Aérea será a de cercar o Brasil com sucessivas e
complementares camadas de visualização, condicionantes da pron- 2.Na região amazônica, o atendimento a esses objetivos exigi-
tidão para responder. Implicação prática dessa tarefa é que a Força rá que a Força Aérea disponha de unidades com recursos técnicos
Aérea precisará contar com plataformas e sistemas próprios para para assegurar a operacionalidade das pistas de pouso e das insta-
monitorar, e não apenas para combater e transportar, particular- lações de proteção ao vôo nas situações de vigilância e de combate.
mente na região amazônica. 3.O complexo tecnológico e científico sediado em São José dos
O Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), uma Campos continuará a ser o sustentáculo da Força Aérea e de seu fu-
dessas camadas, disporá de um complexo de monitoramento, in- turo. De sua importância central resultam os seguintes imperativos
cluindo veículos lançadores, satélites geoestacionários e de monito- estratégicos:
ramento, aviões de inteligência e respectivos aparatos de visualiza- a. Priorizar a formação, dentro e fora do Brasil, dos quadros
ção e de comunicações, que estejam sob integral domínio nacional. técnico-científicos, militares e civis, que permitam alcançar a inde-
O Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA) pendência tecnológica;
será fortalecido como núcleo da defesa aeroespacial, incumbido de b. Desenvolver projetos tecnológicos que se distingam por sua
liderar e de integrar todos os meios de monitoramento aeroespa- fecundidade tecnológica (aplicação análoga a outras áreas) e por
cial do País. A indústria nacional de material de defesa será orienta- seu significado transformador (alteração revolucionária das condi-
da a dar a mais alta prioridade ao desenvolvimento das tecnologias ções de combate), não apenas por sua aplicação imediata;
necessárias, inclusive aquelas que viabilizem independência do sis- c. Estreitar os vínculos entre os Institutos de Pesquisa do Cen-
tema de sinal GPS ou de qualquer outro sistema de sinal estrangei- tro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) e as empresas privadas, res-
ro. O potencial para contribuir com tal independência tecnológica guardando sempre os interesses do Estado quanto à proteção de
pesará na escolha das parcerias com outros países em matéria de patentes e à propriedade industrial;
tecnologias de defesa. d. Promover o desenvolvimento, em São José de Campos ou
em outros lugares, de adequadas condições de ensaio;

11
DEFESA NACIONAL
e. Enfrentar o problema da vulnerabilidade estratégica criada 5.Três diretrizes estratégicas marcarão a evolução da Força Aé-
pela concentração de iniciativas no complexo tecnológico e empresa- rea. Cada uma dessas diretrizes representa muito mais do que uma
rial de São José dos Campos. Preparar a progressiva desconcentração tarefa, uma oportunidade de transformação.
geográfica de algumas das partes mais sensíveis do complexo. A primeira diretriz é o desenvolvimento do repertório de tec-
nologias e de capacitações que permitam à Força Aérea operar em
4.Dentre todas as preocupações a enfrentar no desenvolvimen- rede, não só entre seus próprios componentes, mas, também, com
to da Força Aérea, a que inspira cuidados mais vivos e prementes o Exército e a Marinha.
é a maneira de substituir os atuais aviões de combate no intervalo A segunda diretriz é o avanço nos programas de veículos aé-
entre 2015 e 2025, uma vez esgotada a possibilidade de prolongar- reos não tripulados, primeiro de vigilância e depois de combate.
-lhes a vida por modernização de seus sistemas de armas, de sua Os veículos não tripulados poderão vir a ser meios centrais, não
aviônica e de partes de sua estrutura e fuselagem. meramente acessórios, do combate aéreo, além de facultar pata-
O Brasil confronta, nesse particular, dilema corriqueiro em mar mais exigente de precisão no monitoramento/controle do ter-
toda a parte: manter a prioridade das capacitações futuras sobre ritório nacional. A Força Aérea absorverá as implicações desse meio
os gastos atuais, sem tolerar desproteção aérea. Precisa investir nas de vigilância e de combate para sua orientação tática e estratégica.
capacidades que lhe assegurem potencial de fabricação indepen- Formulará doutrina sobre a interação entre os veículos tripulados e
dente de seus meios aéreos de defesa. Não pode, porém, aceitar não tripulados que aproveite o novo meio para radicalizar o poder
ficar desfalcado de um escudo aéreo enquanto reúne as condições de surpreender, sem expor as vidas dos pilotos.
para ganhar tal independência. A solução a dar a esse problema é A terceira diretriz é a integração das atividades espaciais nas
tão importante, e exerce efeitos tão variados sobre a situação es- operações da Força Aérea. O monitoramento espacial será par-
tratégica do País na América do Sul e no mundo, que transcende te integral e condição indispensável do cumprimento das tarefas
uma mera discussão de equipamento e merece ser entendida como estratégicas que orientarão a Força Aérea: vigilância múltipla e
parte integrante da Estratégia Nacional de Defesa. cumulativa, superioridade aérea local e fogo focado no contexto de
O princípio genérico da solução é a rejeição das soluções ex- operações conjuntas. O desenvolvimento da tecnologia de veículos
tremas - simplesmente comprar no mercado internacional um caça lançadores servirá como instrumento amplo, não só para apoiar os
“de quinta geração” ou sacrificar a compra para investir na moder- programas espaciais, mas também para desenvolver tecnologia na-
nização dos aviões existentes, nos projetos de aviões não-tripula- cional de projeto e de fabricação de mísseis.
dos, no desenvolvimento, junto com outro país, do protótipo de um
caça tripulado do futuro e na formação maciça de quadros científi- Os setores estratégicos: o espacial, o cibernético e o nuclear
cos e técnicos. Convém solução híbrida, que providencie o avião de 1.Três setores estratégicos - o espacial, o cibernético e o nu-
combate dentro do intervalo temporal necessário mas que o faça clear –são essenciais para a defesa nacional.
de maneira a criar condições para a fabricação nacional de caças 2.Nos três setores, as parcerias com outros países e as compras
tripulados avançados. de produtos e serviços no exterior devem ser compatibilizadas com
Tal solução híbrida poderá obedecer a um de dois figurinos. Em- o objetivo de assegurar espectro abrangente de capacitações e de
bora esses dois figurinos possam coexistir em tese, na prática um terá tecnologias sob domínio nacional.
de prevalecer sobre o outro. Ambos ultrapassam de muito os limites 3.No setor espacial, as prioridades são as seguintes:
convencionais de compra com transferência de tecnologia ou “off-set” a. Projetar e fabricar veículos lançadores de satélites e desen-
e envolvem iniciativa substancial de concepção e de fabricação no Bra- volver tecnologias de guiamento remoto, sobretudo sistemas iner-
sil. Atingem o mesmo resultado por caminhos diferentes. ciais e tecnologias de propulsão líquida.
De acordo com o primeiro figurino, estabelecer-se-ia parce- b. Projetar e fabricar satélites, sobretudo os geoestacionários,
ria com outro país ou países para projetar e fabricar no Brasil, dentro para telecomunicações e os destinados ao sensoriamento remoto
do intervalo temporal relevante, um sucedâneo a um caça de quinta de alta resolução, multiespectral e desenvolver tecnologias de con-
geração à venda no mercado internacional. Projeta-se e constrói-se trole de atitude dos satélites.
o sucedâneo de maneira a superar limitações técnicas e operacionais c. Desenvolver tecnologias de comunicações, comando e con-
significativas da versão atual daquele avião (por exemplo, seu raio de trole a partir de satélites, com as forças terrestres, aéreas e maríti-
ação, suas limitações em matéria de empuxo vetorado, sua falta de bai- mas, inclusive submarinas, para que elas se capacitem a operar em
xa assinatura radar). A solução em foco daria resposta simultânea aos rede e a se orientar por informações deles recebidas;
problemas das limitações técnicas e da independência tecnológica. d. Desenvolver tecnologia de determinação de coordenadas
De acordo com o segundo figurino, seria comprado um caça geográficas a partir de satélites.
de quinta geração, em negociação que contemplasse a transferên-
cia integral de tecnologia, inclusive as tecnologias de projeto e de 4.As capacitações cibernéticas se destinarão ao mais amplo es-
fabricação do avião e os “códigos-fonte”. A compra seria feita na es- pectro de usos industriais, educativos e militares. Incluirão, como
cala mínima necessária para facultar a transferência integral dessas parte prioritária, as tecnologias de comunicação entre todos os con-
tecnologias. Uma empresa brasileira começa a produzir, sob orien- tingentes das Forças Armadas de modo a assegurar sua capacidade
tação do Estado brasileiro, um sucedâneo àquele avião comprado, para atuar em rede. Contemplarão o poder de comunicação entre
autorizado por negociação antecedente com o país e a empresa os contingentes das Forças Armadas e os veículos espaciais. No se-
vendedores. A solução em foco dar-se-ia por seqüenciamento e não tor cibernético, será constituída organização encarregada de desen-
por simultaneidade. volver a capacitação cibernética nos campos industrial e militar.
A escolha entre os dois figurinos é questão de circunstância e 5.O setor nuclear tem valor estratégico. Transcende, por sua
de negociação. Consideração que poderá ser decisiva é a necessi- natureza, a divisão entre desenvolvimento e defesa.
dade de preferir a opção que minimize a dependência tecnológica Por imperativo constitucional e por tratado internacional, pri-
ou política em relação a qualquer fornecedor que, por deter com- vou-se o Brasil da faculdade de empregar a energia nuclear para
ponentes do avião a comprar ou a modernizar, possa pretender, por qualquer fim que não seja pacífico. Fê-lo sob várias premissas, das
conta dessa participação, inibir ou influir sobre iniciativas de defesa quais a mais importante foi o progressivo desarmamento nuclear
desencadeadas pelo Brasil. das potências nucleares.

12
DEFESA NACIONAL
Nenhum país é mais atuante do que o Brasil na causa do de- 2.Estabelecer-se-á, para a indústria nacional de material de de-
sarmamento nuclear. Entretanto o Brasil, ao proibir a si mesmo o fesa, regime legal, regulatório e tributário especial.
acesso ao armamento nuclear, não se deve despojar da tecnologia Tal regime resguardará as empresas privadas de material de
nuclear. Deve, pelo contrário, desenvolvê-la, inclusive por meio das defesa das pressões do imediatismo mercantil ao eximi-las do re-
seguintes iniciativas: gime geral de licitações; as protegerá contra o risco dos contingen-
a. Completar, no que diz respeito ao programa de submarino de ciamentos orçamentários e assegurará a continuidade nas compras
propulsão nuclear, a nacionalização completa e o desenvolvimento públicas. Em contrapartida, o Estado ganhará poderes especiais so-
em escala industrial do ciclo do combustível (inclusive a gaseifica- bre as empresas privadas, para além das fronteiras da autoridade
ção e o enriquecimento) e da tecnologia da construção de reatores, regulatória geral. Esses poderes serão exercidos quer por meio de
para uso exclusivo do Brasil. instrumentos de direito privado, como a “golden share”, quer por
b. Acelerar o mapeamento, a prospecção e o aproveitamento meio de instrumentos de direito público, como os licenciamentos
das jazidas de urânio. regulatórios.
c. Desenvolver o potencial de projetar e construir termelétricas
nucleares, com tecnologias e capacitações que acabem sob domí- 3.O componente estatal da indústria de material de defesa terá
nio nacional, ainda que desenvolvidas por meio de parcerias com por vocação produzir o que o setor privado não possa projetar e
Estados e empresas estrangeiras. Empregar a energia nuclear crite- fabricar, a curto e médio prazo, de maneira rentável. Atuará, por-
riosamente, e sujeitá-la aos mais rigorosos controles de segurança e tanto, no teto, e não no piso tecnológico. Manterá estreito vínculo
de proteção do meio-ambiente, como forma de estabilizar a matriz com os centros avançados de pesquisa das próprias Forças Armadas
energética nacional, ajustando as variações no suprimento de ener- e das instituições acadêmicas brasileiras.
gias renováveis, sobretudo a energia de origem hidrelétrica; e 4.O Estado ajudará a conquistar clientela estrangeira para a in-
d. Aumentar a capacidade de usar a energia nuclear em amplo dústria nacional de material de defesa. Entretanto, a continuidade
espectro de atividades. da produção deve ser organizada para não depender da conquista
ou da continuidade de tal clientela. Portanto, o Estado reconhecerá
O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao desen- que em muitas linhas de produção, aquela indústria terá de operar
volvimento de suas tecnologias de energia nuclear. Não aderirá a em sistema de “custo mais margem” e, por conseguinte, sob inten-
acréscimos ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares so escrutínio regulatório.
destinados a ampliar as restrições do Tratado sem que as potências 5.O futuro das capacitações tecnológicas nacionais de defesa
nucleares tenham avançado na premissa central do Tratado: seu depende mais da formação de recursos humanos do que do de-
próprio desarmamento nuclear. senvolvimento de aparato industrial. Daí a primazia da política de
formação de cientistas, em ciência aplicada e básica, já abordada no
6.A primeira prioridade do Estado na política dos três setores tratamento dos setores espacial, cibernético e nuclear.
estratégicos será a formação de recursos humanos nas ciências rele- 6.No esforço de reorganizar a indústria nacional de material de
vantes. Para tanto, ajudará a financiar os programas de pesquisa e de defesa, buscar-se-á parcerias com outros países, com o objetivo de
formação nas universidades brasileiras e nos centros nacionais de pes- desenvolver a capacitação tecnológica nacional, de modo a reduzir
quisa e aumentará a oferta de bolsas de doutoramento e de pós-dou- progressivamente a compra de serviços e de produtos acabados no
toramento nas instituições internacionais pertinentes. Essa política de exterior. A esses interlocutores estrangeiros, o Brasil deixará sem-
apoio não se limitará à ciência aplicada, de emprego tecnológico ime- pre claro que pretende ser parceiro, não cliente ou comprador. O
diato. Beneficiará, também, a ciência fundamental e especulativa. País está mais interessado em parcerias que fortaleçam suas capa-
A reorganização da indústria nacional de material de defesa: citações independentes do que na compra de produtos e serviços
desenvolvimento tecnológico independente acabados. Tais parcerias devem contemplar, em princípio, que parte
1.A defesa do Brasil requer a reorganização da indústria nacio- substancial da pesquisa e da fabricação seja desenvolvida no Brasil
nal de material de defesa, de acordo com as seguintes diretrizes: e ganharão relevo maior quando forem expressão de associações
a. Dar prioridade ao desenvolvimento de capacitações tecnoló- estratégicas abrangentes.
gicas independentes. 7.Estabelecer-se-á, no Ministério da Defesa, uma Secretaria de
Essa meta condicionará as parcerias com países e empresas Produtos de Defesa. O Secretário será nomeado pelo Presidente da
estrangeiras ao desenvolvimento progressivo de pesquisa e de pro- República, por indicação do Ministro da Defesa.
dução no País. Caberá ao Secretário executar as diretrizes fixadas pelo Mi-
nistro da Defesa e, com base nelas, formular e dirigir a política de
b. Subordinar as considerações comerciais aos imperativos es- compras de produtos de defesa, inclusive armamentos, munições,
tratégicos. meios de transporte e de comunicações, fardamentos e materiais
Isso importa em organizar o regime legal, regulatório e tributá- de uso individual e coletivo, empregados nas atividades operacio-
rio da indústria nacional de material de defesa para que reflita tal nais.O Ministro da Defesa delegará aos órgãos das três Forças pode-
subordinação. res para executarem a política formulada pela Secretaria quanto a
encomendas e compras de produtos específicos de sua área, sujeita
c. Evitar que a indústria nacional de material de defesa polari- tal execução à avaliação permanente pelo Ministério.
ze-se entre pesquisa avançada e produção rotineira. O objetivo será implementar, no mais breve período, uma polí-
Deve-se cuidar para que a pesquisa de vanguarda sirva à pro- tica centralizada de compras produtos de defesa capaz de:
dução de vanguarda.
(a) otimizar o dispêndio de recursos;
(b) assegurar que as compras obedeçam às diretrizes da Estra-
d. Usar o desenvolvimento de tecnologias de defesa como foco
tégia Nacional de Defesa e de sua elaboração, ao longo do tempo; e
para o desenvolvimento de capacitações operacionais.
(c) garantir, nas decisões de compra, a primazia do compromis-
Isso implica buscar a modernização permanente das platafor-
so com o desenvolvimento das capacitações tecnológicas nacionais
mas, seja pela reavaliação à luz da experiência operacional, seja
em produtos de defesa.
pela incorporação de melhorias provindas do desenvolvimento tec-
nológico.

13
DEFESA NACIONAL
8.A Secretaria responsável pela área de Ciência e Tecnologia 4.Complementarmente ao Serviço Militar Obrigatório instituir-
no Ministério da Defesa deverá ter, entre as suas atribuições, a de -se-á Serviço Civil, de amplas proporções. Nele poderão ser pro-
coordenar a pesquisa avançada em tecnologias de defesa que se gressivamente aproveitados os jovens brasileiros que não forem
realize nos Institutos de pesquisa da Marinha, do Exército e da Ae- incorporados no Serviço Militar. Nesse serviço civil - concebido
ronáutica, bem como em outras organizações subordinadas às For- como generalização das aspirações do Projeto Rondon - receberão
ças Armadas. os incorporados, de acordo com suas qualificações e preferências, for-
O objetivo será implementar uma política tecnológica integra- mação para poder participar de um trabalho social. Esse trabalho se
da, que evite duplicação; compartilhe quadros, idéias e recursos; destinará a atender às carências do povo brasileiro e a reafirmar a uni-
e prime por construir elos entre pesquisa e produção, sem perder dade da Nação. Receberão, também, os participantes do Serviço Civil,
contato com avanços em ciências básicas. Para assegurar a consecu- treinamento militar básico que lhes permita compor força de reserva,
ção desses objetivos, a Secretaria fará com que muitos projetos de mobilizável em circunstâncias de necessidade. Serão catalogados, de
pesquisa sejam realizados conjuntamente pelas instituições de tec- acordo com suas habilitações, para eventual mobilização.
nologia avançada das três Forças Armadas. Alguns desses projetos À medida que os recursos o permitirem, os jovens do Serviço
conjuntos poderão ser organizados com personalidade própria, seja Civil serão estimulados a servir em região do País diferente daque-
como empresas de propósitos específicos, seja sob outras formas las de onde são originários.
jurídicas. Até que se criem as condições para instituir plenamente o Serviço
Os projetos serão escolhidos e avaliados não só pelo seu poten- Civil, as Forças Armadas tratarão, por meio de trabalho conjunto com
cial produtivo próximo, mas também por sua fecundidade tecnoló- os prefeitos municipais, de restabelecer a tradição dos Tiros de Guerra.
gica: sua utilidade como fonte de inspiração e de capacitação para Em princípio, todas as prefeituras do País deverão estar aptas para par-
iniciativas análogas. ticipar dessa renovação dos Tiros de Guerra, derrubadas as restrições
9.Resguardados os interesses de segurança do Estado quanto legais que ainda restringem o rol dos municípios qualificados.
ao acesso a informações, serão estimuladas iniciativas conjuntas
entre organizações de pesquisa das Forças Armadas, instituições 5.Os Serviços Militar e Civil evoluirão em conjunto com as pro-
acadêmicas nacionais e empresas privadas brasileiras. O objetivo vidências para assegurar a mobilização nacional em caso de ne-
será fomentar o desenvolvimento de um complexo militar-univer- cessidade, de acordo com a Lei de Mobilização Nacional. O Brasil
sitário-empresarial capaz de atuar na fronteira de tecnologias que entenderá, em todo o momento, que sua defesa depende do po-
terão quase sempre utilidade dual, militar e civil. tencial de mobilizar recursos humanos e materiais em grande es-
O serviço militar obrigatório: nivelamento republicano e mobi- cala, muito além do efetivo das suas Forças Armadas em tempo de
lização nacional paz. Jamais tratará a evolução tecnológica como alternativa à mo-
1.A base da defesa nacional é a identificação da Nação com as bilização nacional; aquela será entendida como instrumento desta.
Forças Armadas e das Forças Armadas com a Nação. Tal identifica- Ao assegurar a flexibilidade de suas Forças Armadas, assegurará
ção exige que a Nação compreenda serem inseparáveis as causas também a elasticidade delas.
do desenvolvimento e da defesa. 6.É importante para a defesa nacional que o oficialato seja
O Serviço Militar Obrigatório será, por isso, mantido e reforça- representativo de todos os setores da sociedade brasileira. É bom
do. É a mais importante garantia da defesa nacional. Pode ser tam- que os filhos de trabalhadores ingressem nas academias militares.
bém o mais eficaz nivelador republicano, permitindo que a Nação Entretanto, a ampla representação de todas as classes sociais nas
se encontre acima de suas classes sociais. academias militares é imperativo de segurança nacional. Duas con-
dições são indispensáveis para que se alcance esse objetivo. A pri-
2.As Forças Armadas limitarão e reverterão a tendência de di- meira é que a carreira militar seja remunerada com vencimentos
minuir a proporção de recrutas e de aumentar a proporção de sol- competitivos com outras valorizadas carreiras do Estado. A segunda
dados profissionais. No Exército, respeitada a necessidade de espe- condição é que a Nação abrace a causa da defesa e nela identifique
cialistas, a maioria do efetivo de soldados deverá sempre continuar requisito para o engrandecimento do povo brasileiro.
a ser de recrutas do Serviço Militar Obrigatório. Na Marinha e na 7.Um interesse estratégico do Estado é a formação de especia-
Força Aérea, a necessidade de contar com especialistas, formados listas civis em assuntos de defesa. No intuito de formá-los, o Gover-
ao longo de vários anos, deverá ter como contrapeso a importância no Federal deve apoiar, nas universidades, um amplo espectro de
estratégica de manter abertos os canais do recrutamento. programas e de cursos que versem sobre a defesa.
O conflito entre as vantagens do profissionalismo e os valores A Escola Superior de Guerra deve servir como um dos principais
do recrutamento há de ser atenuado por meio da educação - técni- instrumentos de tal formação. Deve, também, organizar o debate
ca e geral, porém de orientação analítica e capacitadora - que será permanente, entre as lideranças civis e militares, a respeito dos
ministrada aos recrutas ao longo do período de serviço. problemas da defesa. Para melhor cumprir essas funções, deverá
a Escola ser transferida para Brasília, sem prejuízo de sua presença
3.As Forças Armadas se colocarão no rumo de tornar o Serviço no Rio de Janeiro, e passar a contar com o engajamento direto do
Militar realmente obrigatório. Não se contentarão em deixar que a Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Estados-Maiores
desproporção entre o número muito maior de obrigados ao serviço das três Forças.
e o número muito menor de vagas e de necessidades das Forças
seja resolvido pelo critério da auto-seleção de recrutas desejosos Conclusão
de servir. O uso preponderante de tal critério, ainda que sob o efei- A Estratégia Nacional de Defesa inspira-se em duas realidades
to de melhores atrativos financeiros, limita o potencial do serviço que lhe garantem a viabilidade e lhe indicam o rumo.
militar, em prejuízo de seus objetivos de defesa nacional e de nive- A primeira realidade é a capacidade de improvisação e adap-
lamento republicano. tação, o pendor para criar soluções quando faltam instrumentos,
Os recrutas serão selecionados por dois critérios principais. O a disposição de enfrentar as agruras da natureza e da sociedade,
primeiro será a combinação do vigor físico com a capacidade ana- enfim, a capacidade quase irrestrita de adaptação que permeia a
lítica, medida de maneira independente do nível de informação ou
cultura brasileira. É esse o fato que permite efetivar o conceito de
de formação cultural de que goze o recruta. O segundo será o da
flexibilidade.
representação de todas as classes sociais e regiões do país.

14
DEFESA NACIONAL
A segunda realidade é o sentido do compromisso nacional no -falta de inclusão, nos planos governamentais, de programas
Brasil. A Nação brasileira foi e é um projeto do povo brasileiro; foi de aquisição de produtos de defesa em longo prazo, calcados em
ele que sempre abraçou a idéia de nacionalidade e lutou para con- programas plurianuais e em planos de equipamento das Forças Ar-
verter a essa idéia os quadros dirigentes e letrados. Este fato é a ga- madas, com priorização da indústria nacional de material de defesa.
rantia profunda da identificação da Nação com as Forças Armadas Essa omissão ocasiona aquisições de produtos de defesa no exte-
e destas com a Nação. rior, às vezes, calcadas em oportunidades, com desníveis tecnológi-
Do encontro dessas duas realidades, resultaram as diretrizes da cos em relação ao “estado da arte” e com a geração de indesejável
Estratégia Nacional de Defesa. dependência externa;
-inexistência de regras claras de prioridade à indústria nacional,
II – MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO no caso de produtos de defesa fabricados no País;
-dualidade de tratamento tributário entre o produto de defe-
Contexto sa fabricado no País e o adquirido no exterior, com excessiva carga
A segunda parte da Estratégia Nacional de Defesa complemen- tributária incidente sobre o material nacional, favorecendo a opção
ta a formulação sistemática contida na primeira. pela importação;
São três seus propósitos. O primeiro é contextualizá-la, enu- -deficiências nos programas de financiamento para as empre-
merando circunstâncias que ajudam a precisar-lhe os objetivos e sas nacionais fornecedoras de produtos de defesa, prejudicando-as
a explicar-lhe os métodos. O segundo é aplicar a Estratégia a um nos mercados interno e externo;
espectro, amplo e representativo, de problemas atuais enfrentados -falta de garantias para apoiar possíveis contratos de forneci-
pelas Forças Armadas e, com isso, tornar mais claras sua doutrina mento oriundos da indústria nacional de defesa;
e suas exigências. O terceiro é enumerar medidas de transição que -bloqueios tecnológicos impostos por países desenvolvidos, re-
indiquem o caminho que levará o Brasil, de onde está para onde tardando os projetos estratégicos de concepção brasileira;
deve ir, na organização de sua defesa. -cláusula de compensação comercial, industrial e tecnológica
Podem ser considerados como principais aspectos positivos do (off-set) inexistente em alguns contratos de importação de produ-
atual quadro da defesa nacional: tos de defesa, ou mesmo a não-participação efetiva da indústria na-
-Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira, com cional em programas de compensação; e
altos índices de confiabilidade; -sistemas nacionais de logística e de mobilização deficientes.
-adaptabilidade do brasileiro às situações novas e inusitadas,
criando situação propícia a uma cultura militar pautada pelo con- A identificação e a análise dos principais aspectos positivos e
ceito da flexibilidade; e das vulnerabilidades permitem vislumbrar as seguintes oportunida-
-excelência do ensino nas Forças Armadas, no que diz respei- des a serem exploradas:
to à metodologia e à atualização em relação às modernas táticas - maior engajamento da sociedade brasileira nos assuntos de
e estratégias de emprego de meios militares, incluindo o uso de defesa, assim como maior integração entre os diferentes setores
concepções próprias, adequadas aos ambientes operacionais de dos três poderes do Estado brasileiro e desses setores com os insti-
provável emprego. tutos nacionais de estudos estratégicos, públicos ou privados;
- regularidade e continuidade na alocação dos recursos orça-
Por outro lado, configuram-se como principais vulnerabilidades mentários de defesa, para incrementar os investimentos e garantir
da atual estrutura de defesa do País: o custeio das Forças Armadas;
-pouco envolvimento da sociedade brasileira com os assuntos - aparelhamento das Forças Armadas e capacitação profissional
de defesa e escassez de especialistas civis nesses temas; de seus integrantes, para que disponham de meios militares aptos
-insuficiência e descontinuidade na alocação de recursos orça- ao pronto emprego, integrado, com elevada mobilidade tática e es-
mentários para a defesa; tratégica;
-obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças Arma- - otimização dos esforços em Ciência, Tecnologia e Inovação
das; elevado grau de dependência em relação a produtos de defesa para a Defesa, por intermédio, dentre outras, das seguintes medi-
estrangeiros; e ausência de direção unificada para aquisições de das:
produtos de defesa; (a) maior integração entre as instituições científicas e tecnoló-
-inadequada distribuição espacial das Forças Armadas no ter- gicas, tanto militares como civis, e a indústria nacional de defesa;
ritório nacional, para o atendimento otimizado às necessidades es- (b) definição de pesquisas de uso dual; e
tratégicas; (c) fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos de
-falta de articulação com o Governo federal e com a sociedade interesse da defesa;
do principal Instituto brasileiro de altos estudos estratégicos - a Es- - maior integração entre as indústrias estatal e privada de ma-
cola Superior de Guerra - no desenvolvimento e consolidação dos terial de defesa, com a definição de um modelo de participação na
conhecimentos necessários ao planejamento de defesa e no asses- produção nacional de meios de defesa;
soramento à formulação de políticas e estratégias decorrentes; - estabelecimento de regime jurídico especial para a indústria
-insuficiência ou pouca atratividade e divulgação dos cursos nacional de material de defesa, que possibilite a continuidade e o
para a capacitação de civis em assuntos de defesa; e inexistência de caráter preferencial nas compras públicas;
carreira civil na área de defesa, mesmo sendo uma função de Estado; - integração e definição centralizada na aquisição de produtos
-limitados recursos aplicados em pesquisa científica e tecnoló- de defesa de uso comum, compatíveis com as prioridades estabe-
gica para o desenvolvimento de material de emprego militar e pro-
lecidas;
dutos de defesa, associados ao incipiente nível de integração entre
- condicionamento da compra de produtos de defesa no ex-
os órgãos militares de pesquisa, e entre estes e os institutos civis
terior à transferência substancial de tecnologia, inclusive por meio
de pesquisa;
de parcerias para pesquisa e fabricação no Brasil de partes desses
-inexistência de planejamento nacional para desenvolvimento
produtos ou de sucedâneos a eles;
de produtos de elevado conteúdo tecnológico, com participação
coordenada dos centros de pesquisa das universidades, das Forças
Armadas e da indústria;

15
DEFESA NACIONAL
- articulação das Forças Armadas, compatível com as necessi- (b) Na crise
dades estratégicas e de adestramento dos Comandos Operacionais, O Comandante Supremo das Forças Armadas, consultado o
tanto singulares quanto conjuntos, capaz de levar em consideração Conselho de Defesa Nacional, poderá ativar uma estrutura de ge-
as exigências de cada ambiente operacional, em especial o amazô- renciamento de crise, com a participação de representantes do Mi-
nico e o do Atlântico Sul; nistério da Defesa e dos Comandos da Marinha, do Exército e da
- fomento da atividade aeroespacial, de forma a proporcionar Aeronáutica, bem como de representantes de outros Ministérios,
ao País o conhecimento tecnológico necessário ao desenvolvimen- se necessários.
to de projeto e fabricação de satélites e de veículos lançadores de O emprego das Forças Armadas será singular ou conjunto e
satélites e desenvolvimento de um sistema integrado de monito- ocorrerá em consonância com as diretrizes expedidas.
ramento do espaço aéreo, do território e das águas jurisdicionais As atividades de inteligência serão intensificadas.
brasileiras; Medidas políticas inerentes ao gerenciamento de crise conti-
- desenvolvimento das infra-estruturas marítima, terrestre e nuarão a ser adotadas, em paralelo com as ações militares.
aeroespacial necessárias para viabilizar as estratégias de defesa; Ante a possibilidade de a crise evoluir para conflito armado,
- promoção de ações de presença do Estado na região amazôni- poderão ser desencadeadas, entre outras, as seguintes medidas:
ca, em especial pelo fortalecimento do viés de defesa do Programa - a ativação dos Comandos Operacionais previstos na Estrutura
Calha Norte; Militar de Defesa;
- estreitamento da cooperação entre os países da América do - a adjudicação de forças pertencentes à estrutura organizacio-
Sul e, por extensão, com os do entorno estratégico brasileiro; nal das três Forças aos Comandos Operacionais ativados;
- valorização da profissão militar, a fim de estimular o recruta- - a atualização e implementação, pelo Comando Operacional
mento de seus quadros em todas as classes sociais; ativado, dos planos de campanha elaborados no estado de paz;
- aperfeiçoamento do Serviço Militar Obrigatório, na busca de - o recompletamento das estruturas;
maior identificação das Forças Armadas com a sociedade brasileira, - a ativação de Zona de Defesa, áreas onde são mobilizáveis tro-
e estudos para viabilizar a criação de um Serviço Civil, a ser regulado pas da ativa e reservistas, inclusive os egressos dos Tiros de Guerra,
por normas específicas; para defesa do interior do país em caso de conflito armado; e
- a decretação da Mobilização Nacional, se necessária.
- expansão da capacidade de combate das Forças Armadas, por
meio da mobilização de pessoal, material e serviços, para comple-
(c) Durante o conflito armado/guerra
mentar a logística militar, no caso de o País se ver envolvido em
O desencadeamento da campanha militar prevista no Plano de
conflito; e
Campanha elaborado.
- otimização do controle sobre atores não-governamentais, es-
pecialmente na região amazônica, visando à preservação do patri-
(d) Ao término do conflito armado/guerra
mônio nacional, mediante ampla coordenação das Forças Armadas
A progressiva desmobilização dos recursos não mais necessá-
com os órgãos governamentais brasileiros responsáveis pela auto- rios.
rização de atuação no País desses atores, sobretudo daqueles com
vinculação estrangeira. Fundamentos
Os ambientes apontados na Estratégia Nacional de Defesa não
Hipóteses de Emprego (HE) permitem vislumbrar ameaças militares concretas e definidas, re-
Entende-se por “Hipótese de Emprego” a antevisão de pos- presentadas por forças antagônicas de países potencialmente ini-
sível emprego das Forças Armadas em determinada situação ou migos ou de outros agentes não-estatais. Devido à incerteza das
área de interesse estratégico para a defesa nacional. É formulada ameaças ao Estado, o preparo das Forças Armadas deve ser orienta-
considerando-se o alto grau de indeterminação e imprevisibilidade do para atuar no cumprimento de variadas missões, em diferentes
de ameaças ao País. Com base nas hipóteses de emprego, serão áreas e cenários, para respaldar a ação política do Estado.
elaborados e mantidos atualizados os planos estratégicos e opera- As Hipóteses de Emprego são provenientes da associação das
cionais pertinentes, visando a possibilitar o contínuo aprestamento principais tendências de evolução das conjunturas nacional e inter-
da Nação como um todo, e em particular das Forças Armadas, para nacional com as orientações político-estratégicas do País.
emprego na defesa do País. Na elaboração das Hipóteses de Emprego, a Estratégia Militar
Emprego Conjunto das Forças Armadas em atendimento às HE de Defesa deverá contemplar o emprego das Forças Armadas consi-
A evolução da estrutura das Forças Armadas, do estado de paz derando, dentre outros, os seguintes aspectos:
para o de conflito armado ou guerra, dar-se-á de acordo com as pe- - o monitoramento e controle do espaço aéreo, das fronteiras
culiaridades da situação apresentada e de uma maneira seqüencial, terrestres, do território e das águas jurisdicionais brasileiras em cir-
que pode ser assim esquematizada: cunstâncias de paz;
- a ameaça de penetração nas fronteiras terrestres ou aborda-
(a) Na paz gem nas águas jurisdicionais brasileiras;
As organizações militares serão articuladas para conciliar o - a ameaça de forças militares muito superiores na região ama-
atendimento às Hipóteses de Emprego com a necessidade de otimi- zônica;
zar os seus custos de manutenção e para proporcionar a realização - as providências internas ligadas à defesa nacional decorrentes
do adestramento em ambientes operacionais específicos. de guerra em outra região do mundo, ultrapassando os limites de
Serão desenvolvidas atividades permanentes de inteligência, uma guerra regional controlada, com emprego efetivo ou potencial
para acompanhamento da situação e dos atores que possam vir de armamento nuclear;
a representar potenciais ameaças ao Estado e para proporcionar - a participação do Brasil em operações de paz e humanitárias,
o alerta antecipado ante a possibilidade de concretização de tais regidas por organismos internacionais;
ameaças. As atividades de inteligência devem obedecer a salva- - a participação em operações internas de Garantia da Lei e da
guardas e controles que resguardem os direitos e garantias cons- Ordem, nos termos da Constituição Federal, e os atendimentos às
titucionais. requisições da Justiça Eleitoral;
- ameaça de conflito armado no Atlântico Sul.

16
DEFESA NACIONAL
Estruturação das Forças Armadas - no Exército, os meios necessários ao completamento dos sis-
Para o atendimento eficaz das Hipóteses de Emprego, as Forças temas operacionais das brigadas; o aumento da mobilidade tática e
Armadas deverão estar organizadas e articuladas de maneira a fa- estratégica da Força Terrestre, sobretudo das Forças de Ação Rápida
cilitar a realização de operações conjuntas e singulares, adequadas Estratégicas e das forças estacionadas na região amazônica; os de-
às características peculiares das operações de cada uma das áreas nominados “Núcleos de Modernidade”; a nova família de blindados
estratégicas. sobre rodas; os sistemas de mísseis e radares antiaéreos (defesa
O instrumento principal, por meio do qual as Forças desenvol- antiaérea); a produção de munições e o armamento e o equipa-
verão sua flexibilidade tática e estratégica, será o trabalho coorde- mento individual do combatente, entre outros, aproximando-os das
nado entre as Forças, a fim de tirar proveito da dialética da con- tecnologias necessárias ao combatente do futuro; e
centração e desconcentração. Portanto, as Forças, como regra, - na Força Aérea, a aquisição de aeronaves de caça que subs-
definirão suas orientações operacionais em conjunto, privilegiando tituam, paulatinamente, as hoje existentes, buscando a possível
essa visão conjunta como forma de aprofundar suas capacidades padronização; a aquisição e o desenvolvimento de armamentos e
e rejeitarão qualquer tentativa de definir orientação operacional sensores, objetivando a auto-suficiência na integração destes às ae-
isolada. ronaves; e a aquisição de aeronaves de transporte de tropa.
O agente institucional para esse trabalho unificado será a cola-
boração entre os Estados-Maiores das Forças com o Estado-Maior Em relação à distribuição espacial das Forças no território na-
Conjunto das Forças Armadas, no estabelecimento e definição das cional, o planejamento consolidado no Ministério da Defesa, deverá
linhas de frente de atuação conjunta. Nesse sentido, o sistema edu- priorizar:
cacional de cada Força ministrará cursos e realizará projetos de pes- - na Marinha, a necessidade de constituição de uma Esquadra
quisa e de formulação em conjunto com os sistemas das demais no norte/nordeste do País;
Forças e com a Escola Superior de Guerra. - no Exército, a distribuição que atenda às seguintes condicio-
Da mesma forma, as Forças Armadas deverão ser equipadas, nantes:
articuladas e adestradas, desde os tempos de paz, segundo as di- (a) um flexível dispositivo de expectativa, em face da indefini-
retrizes do Ministério da Defesa, realizando exercícios singulares e ção de ameaças, que facilite o emprego progressivo das tropas e a
conjuntos. presença seletiva em uma escalada de crise;
Assim, com base na Estratégia Nacional de Defesa e na Estra- (b) a manutenção de tropas no centro do País, em particular
tégia Militar dela decorrente, as Forças Armadas submeterão ao as reservas estratégicas, na situação de prontidão operacional com
Ministério da Defesa seus Planos de Equipamento e de Articulação, mobilidade, que lhes permitam deslocar-se rapidamente para qual-
os quais deverão contemplar uma proposta de distribuição espacial quer parte do território nacional ou para o exterior;
das instalações militares e de quantificação dos meios necessários (c) a manutenção de tropas no centro-sul do País para garantir
ao atendimento eficaz das Hipóteses de Emprego, de maneira a a defesa da principal concentração demográfica, industrial e econô-
possibilitar: mica, bem como da infra-estrutura, particularmente a geradora de
- poder de combate que propicie credibilidade à estratégia da energia; e
dissuasão; (d) a concentração das reservas regionais em suas respectivas
- que o Sistema de Defesa Nacional disponha de meios que per- áreas; e
mitam o aprimoramento da vigilância; o controle do espaço aéreo, - na Força Aérea, a adequação da localização de suas unidades
das fronteiras terrestres, do território e das águas jurisdicionais bra- de transporte de tropa de forma a propiciar o rápido atendimento
sileiras; e da infra-estrutura estratégica nacional; de apoio de transporte a forças estratégicas de emprego. Isso pres-
- o aumento da presença militar nas áreas estratégicas do supõe que se baseiem próximo às reservas estratégicas do Exército
Atlântico Sul e da região amazônica; no centro do País. Além disso, suas unidades de defesa aérea e de
- o aumento da participação de órgãos governamentais, mili- controle do espaço aéreo serão distribuídas de forma a possibilitar
tares e civis, no plano de vivificação e desenvolvimento da faixa de um efetivo atendimento às necessidades correntes com velocidade
fronteira amazônica, empregando a estratégia da presença; e presteza.
- a adoção de uma articulação que atenda aos aspectos ligados
à concentração dos meios, à eficiência operacional, à rapidez no A partir da consolidação dos Planos de Equipamento e de Ar-
emprego e à otimização do custeio em tempo de paz; e ticulação elaborados pelas Forças, o Ministério da Defesa proporá
- a existência de forças estratégicas de elevada mobilidade e ao Presidente da República o Projeto de Lei de Equipamento e de
flexibilidade, dotadas de material tecnologicamente avançado e em Articulação da Defesa Nacional, envolvendo a sociedade brasileira
condições de emprego imediato, articuladas de maneira à melhor na busca das soluções necessárias.
atender às Hipóteses de Emprego. As características especiais do ambiente amazônico, com refle-
xos na doutrina de emprego das Forças Armadas, deverão deman-
Os Planos das Forças singulares, consolidados no Ministério da dar tratamento especial, devendo ser incrementadas as ações de
Defesa, deverão referenciar-se a metas de curto prazo (até 2014), fortalecimento da estratégia da presença naquele ambiente ope-
de médio prazo (entre 2015 e 2022) e de longo prazo (entre 2027 racional.
e 2030). Em face da indefinição das ameaças, as Forças Armadas deve-
Em relação ao equipamento, o planejamento deverá priorizar, rão se dedicar à obtenção de capacidades orientadoras das medi-
com compensação comercial, industrial e tecnológica: das a serem planejadas e adotadas.
- no âmbito das três Forças, sob a condução do Ministério da No tempo de paz ou enquanto os recursos forem insuficientes,
Defesa, a aquisição de helicópteros de transporte e de reconheci- algumas capacidades serão mantidas temporariamente por meio
mento e ataque; de núcleos de expansão, constituídos por estruturas flexíveis e ca-
- na Marinha, o projeto e fabricação de submarinos conven- pazes de evoluir rapidamente, de modo a obter adequado poder de
cionais que permitam a evolução para o projeto e fabricação, no combate nas operações.
País, de submarinos de propulsão nuclear, de meios de superfície e As seguintes capacidades são desejadas para as Forças Arma-
aéreos priorizados nesta Estratégia; das:

17
DEFESA NACIONAL
- permanente prontidão operacional para atender às Hipóteses nharão papel fundamental na viabilização de diversas funções em
de Emprego, integrando forças conjuntas ou não; sistemas de comando e controle. As capacidades de alerta, vigilân-
- manutenção de unidades aptas a compor Forças de Pronto cia, monitoramento e reconhecimento poderão, também, ser aper-
Emprego, em condições de atuar em diferentes ambientes opera- feiçoadas por meio do uso de sensores ópticos e de radar, a bordo
cionais; de satélites ou de veículos aéreos não-tripulados (VANT).
- projeção de poder nas áreas de interesse estratégico; Serão consideradas, nesse contexto, as plataformas e missões
- estruturas de Comando e Controle, e de Inteligência conso- espaciais em desenvolvimento, para fins civis, tais como satélites
lidadas; de monitoramento ambiental e científicos, ou satélites geoestacio-
- permanência na ação, sustentada por um adequado apoio nários de comunicações e meteorologia, no âmbito do Programa
logístico, buscando ao máximo a integração da logística das três Nacional de Atividades Espaciais - PNAE.
Forças; Em qualquer situação, a concepção, o projeto e a operação dos
- aumento do poder de combate, em curto prazo, pela incorpo- sistemas espaciais devem observar a legislação internacional, os
ração de recursos mobilizáveis, previstos em lei; e tratados, bilaterais e multilaterais, ratificados pelo País, bem como
- interoperabilidade nas operações conjuntas. os regimes internacionais dos quais o Brasil é signatário.
As medidas descritas têm respaldo na parceria entre o Minis-
Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) tério da Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnologia, que remonta
A Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Na- à “Concepção para CT&I de Interesse da Defesa” – documento ela-
cional tem como propósito estimular o desenvolvimento científico borado conjuntamente em 2003 e revisado em 2008. Foi fortale-
e tecnológico e a inovação de interesse para a defesa nacional. cida com o lançamento do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e
Isso ocorrerá por meio de um planejamento nacional para de- Inovação (PACTI/MCT - Portaria Interministerial MCT/MD nº 750,
senvolvimento de produtos de alto conteúdo tecnológico, com en- de 20.11.2007), cuja finalidade é viabilizar soluções científico-tec-
volvimento coordenado das instituições científicas e tecnológicas nológicas e inovações para o atendimento das necessidades do País
(ICT) civis e militares, da indústria e da universidade, com a defini- atinentes à defesa e ao desenvolvimento nacional.
ção de áreas prioritárias e suas respectivas tecnologias de interesse
e a criação de instrumentos de fomento à pesquisa de materiais, Indústria de Material de Defesa
equipamentos e sistemas de emprego de defesa ou dual, de forma A relação entre Ciência, Tecnologia e Inovação na área de defe-
a viabilizar uma vanguarda tecnológica e operacional pautada na sa fortalece-se com a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP),
mobilidade estratégica, na flexibilidade e na capacidade de dissua- lançada em maio de 2008. Sob a coordenação geral do Ministério
dir ou de surpreender. do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a PDP contem-
Para atender ao propósito dessa política, deverá ser considera- pla 32 áreas. O programa estruturante do Complexo Industrial de
da, ainda, a “Concepção Estratégica para CT&I de Interesse da De- Defesa está sob a gestão do Ministério da Defesa e sob a coordena-
fesa”, documento elaborado em 2003, em conjunto pelo Ministério ção do Ministério da Ciência e Tecnologia.
da Defesa e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e revisado em Tal programa tem por objetivo “recuperar e incentivar o cresci-
2008. mento da base industrial instalada, ampliando o fornecimento para
O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério da as Forças Armadas brasileiras e exportações”. Estabelece quatro de-
Ciência e Tecnologia, atualizará a Política de Ciência, Tecnologia e safios para a consecução do objetivo:
Inovação para a Defesa Nacional e os instrumentos normativos de- - aumentar os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e
correntes. Para atender aos objetivos dessa Política, deverá ocorrer Inovação;
a adequação das estruturas organizacionais existentes e que atuam - promover isonomia tributária em relação a produtos/mate-
na área de Ciência e Tecnologia da Defesa. Os citados documentos riais importados;
contemplarão: - expandir a participação nos mercados interno e externo; e
- medidas para a maximização e a otimização dos esforços de - fortalecer a cadeia de fornecedores no Brasil.
pesquisa nas instituições científicas e tecnológicas civis e militares, A PDP sugere, ainda, um conjunto de ações destinadas à supe-
para o desenvolvimento de tecnologias de ponta para o sistema de ração dos desafios identificados:
defesa, com a definição de esforços integrados de pesquisadores - ampliação das compras nacionais;
das três Forças, especialmente para áreas prioritárias e suas respec- - expansão e adequação do financiamento;
tivas tecnologias de interesse; - promoção das vendas e capacitação de empresas brasileiras;
- um plano nacional de pesquisa e desenvolvimento de produ- e
tos de defesa, tendo como escopo prioritário a busca do domínio - fortalecimento da base de P, D&I.
de tecnologias consideradas estratégicas e medidas para o financia-
mento de pesquisas; Com base em tais objetivos, desafios e ações, a PDP visa ao
- a integração dos esforços dos centros de pesquisa militares, fortalecimento da associação entre desenvolvimento da Ciência e
com a definição das prioridades de pesquisa de material de empre- da Tecnologia e desenvolvimento da produção. Busca aproveitar o
go comum para cada centro, e a participação de pesquisadores das potencial de tecnologias empregadas no País e transformá-las em
três Forças em projetos prioritários; e bens finais, estimulando a indústria nacional.
- o estabelecimento de parcerias estratégicas com países que Os projetos a serem apoiados serão selecionados e avaliados
possam contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de ponta de acordo com as ações estratégicas a seguir descritas e com ca-
de interesse para a defesa. racterísticas que considerem o potencial da demanda pública, a
Projetos de interesse comum a mais de uma Força deverão ter possibilidade de uso comum pelas Forças, o uso dual – militar e ci-
seus esforços de pesquisa integrados, definindo-se, no plano espe- vil – das tecnologias, subprodutos tecnológicos de emprego civil,
cificado, para cada um deles, um pólo integrador. o índice de nacionalização, o potencial exportador, a presença de
No que respeita à utilização do espaço exterior como meio de matéria-prima crítica dependente de importação e o potencial de
suporte às atividades de defesa, os satélites geoestacionários para embargo internacional.
comunicações, controle de tráfego aéreo e meteorologia desempe-

18
DEFESA NACIONAL
O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério de 3.O Ministério da Ciência e Tecnologia, por intermédio da
Ciência e Tecnologia e com o Ministério do Desenvolvimento, In- Agência Espacial Brasileira, promoverá a atualização do Programa
dústria e Comércio Exterior, realizará a análise das características Espacial Brasileiro, de forma a priorizar o desenvolvimento de sis-
referidas, selecionando de forma articulada projetos e produtos temas espaciais necessários à ampliação da capacidade de comu-
que unam as necessidades das atividades de defesa com as poten- nicações, meteorologia e monitoramento ambiental, com destaque
cialidades tecnológicas e produtivas existentes no Brasil. para o desenvolvimento de:
Para atendimento aos novos desafios da indústria de material - um satélite geoestacionário nacional para meteorologia e co-
de defesa do País, impõe-se a atualização da Política Nacional da municações seguras, entre outras aplicações; e
Indústria de Material de Defesa. - satélites de sensoriamento remoto para monitoramento am-
biental, com sensores ópticos e radar de abertura sintética.
Inteligência de Defesa
A exatidão é o princípio fundamental da Inteligência Militar. Por 4.O Ministério da Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnologia,
meio da Inteligência, busca-se que todos os planejamentos – políti- por intermédio do Instituto de Aeronáutica e Espaço do Comando
cos, estratégicos, operacionais e táticos – e sua execução desenvol- da Aeronáutica e da Agência Espacial Brasileira, promoverão me-
vam-se com base em fatos que se transformam em conhecimentos didas com vistas a garantir a autonomia de produção, lançamento,
confiáveis e oportunos. As informações precisas são condição es- operação e reposição de sistemas espaciais, por meio:
sencial para o emprego adequado dos meios militares. - do desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e sis-
A Inteligência deve ser desenvolvida desde o tempo de paz, temas de solo para garantir acesso ao espaço em órbitas baixa e
pois é ela que possibilita superar as incertezas. É da sua vertente geoestacionária;
prospectiva que procedem os melhores resultados, permitindo o - de atividades de fomento e apoio ao desenvolvimento de ca-
delineamento dos cursos de ação possíveis e os seus desdobramen- pacidade industrial no setor espacial, com a participação do Minis-
tos. A identificação das ameaças é o primeiro resultado da atividade tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de modo a
da Inteligência Militar. garantir o fornecimento e a reposição tempestiva de componentes,
subsistemas e sistemas espaciais; e
Ações Estratégicas - de atividades de capacitação de pessoal nas áreas de concep-
Enunciam-se a seguir as ações estratégicas que irão orientar a ção, projeto, desenvolvimento e operação de sistemas espaciais.
implementação da Estratégia Nacional de Defesa:
Recursos Humanos
Ciência e Tecnologia
Promover a valorização da profissão militar de forma compa-
Fomentar a pesquisa de materiais, equipamentos e sistemas
tível com seu papel na sociedade brasileira, assim como fomentar
militares e civis que compatibilize as prioridades científico-tecnoló-
o recrutamento, a seleção, o desenvolvimento e a permanência de
gicas com as necessidades de defesa.
quadros civis, para contribuir com o esforço de defesa.
1.O Ministério da Defesa proporá, em coordenação com os Mi-
1.O recrutamento dos quadros profissionais das Forças Arma-
nistérios das Relações Exteriores, da Fazenda, do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, do Planejamento, Orçamento e Ges- das deverá ser representativo de todas as classes sociais. A carreira
tão, da Ciência e Tecnologia e com a Secretaria de Assuntos Estraté- militar será valorizada pela criação de atrativos compatíveis com as
gicos da Presidência da República, o estabelecimento de parcerias características peculiares da profissão. Nesse sentido, o Ministério
estratégicas com países que possam contribuir para o desenvolvi- da Defesa, assessorado pelos Comandos das três Forças, proporá as
mento de tecnologias de ponta de interesse para a defesa. medidas necessárias à valorização pretendida.
2.O Ministério da Defesa, em coordenação com os Ministérios 2.O recrutamento do pessoal temporário das Forças Armadas
da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do deve representar a sociedade brasileira, assim como possibilitar a
Planejamento, Orçamento e Gestão, e da Ciência e Tecnologia e oferta de mão-de-obra adequada aos novos meios tecnológicos da
com as Forças Armadas, deverá estabelecer ato legal que garanta a defesa nacional. Nesse sentido, o Ministério da Defesa, assessorado
alocação, de forma continuada, de recursos financeiros específicos pelos Comandos das três Forças, proporá as mudanças necessárias
que viabilizem o desenvolvimento integrado e a conclusão de pro- no Serviço Militar Obrigatório.
jetos relacionados à defesa nacional, cada um deles com um pólo 3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estraté-
integrador definido, com ênfase para o desenvolvimento e a fabri- gicos da Presidência da República proporão a criação e a regula-
cação, dentre outros, de: mentação de um Serviço Civil, em todo o território nacional, a ser
- aeronaves de caça e de transporte; prestado por cidadãos que não forem designados para a realização
- submarinos convencionais e de propulsão nuclear; do Serviço Militar Obrigatório.
- meios navais de superfície; 4.O Ministério da Defesa realizará estudos sobre a criação de
- armamentos inteligentes, como mísseis, bombas e torpedos, quadro de especialistas civis em Defesa, em complementação às
dentre outros; carreiras existentes na administração civil e militar, de forma a cons-
- veículos aéreos não-tripulados; tituir-se numa força de trabalho capaz de atuar na gestão de políti-
- sistemas de comando e controle e de segurança das informa- cas públicas de defesa, em programas e projetos da área de defesa,
ções; bem como na interação com órgãos governamentais e a sociedade,
- radares; integrando os pontos de vista político e técnico.
- equipamentos e plataformas de guerra eletrônica;
- equipamento individual e sistemas de comunicação do com- Ensino
batente do futuro; Promover maior integração e participação dos setores civis go-
- veículos blindados; vernamentais na discussão dos temas ligados à defesa, assim como
- helicópteros de transporte de tropa, para o aumento da mobi- a participação efetiva da sociedade brasileira, por intermédio do
lidade tática, e helicópteros de reconhecimento e ataque; meio acadêmico e de institutos e entidades ligados aos assuntos
- munições; e estratégicos de defesa.
- sensores óticos e eletro-óticos.

19
DEFESA NACIONAL
1.O Ministério da Defesa deverá apresentar planejamento para 1.O Ministério da Defesa proporá a modificação de sua estrutu-
a transferência da Escola Superior de Guerra para Brasília, de modo ra regimental, de forma a criar órgão a si subordinado encarregado
a intensificar o intercâmbio fluido entre os membros do Governo de formular e dirigir a política de compras de produtos de defesa.
Federal e aquela Instituição, assim como para otimizar a formação 2.O Ministério da Defesa proporá a criação de estrutura, a si
de recursos humanos ligados aos assuntos de defesa. subordinada, encarregada da coordenação dos processos de cer-
2. O Ministério da Defesa e o Ministério do Planejamento, tificação, de metrologia, de normatização e de fomento industrial.
Orçamento e Gestão proporão projeto de lei, alterando a Lei de
Criação da Escola Superior de Guerra. O projeto de lei visará criar Indústria de Material de Defesa
cargos de direção e assessoria superior destinados à constituição Compatibilizar os esforços governamentais de aceleração do
de um corpo permanente que, podendo ser renovado, permita o crescimento com as necessidades da Defesa Nacional.
exercício das atividades acadêmicas, pela atração de pessoas com 1.O Ministério da Defesa, ouvidos os Ministérios da Fazenda,
notória especialização ou reconhecido saber em áreas específicas. do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do Planejamen-
Isso possibilitará incrementar a capacidade institucional da Escola to, Orçamento e Gestão e da Ciência e Tecnologia e a Secretaria de
de desenvolver atividades acadêmicas e administrativas, bem como Assuntos Estratégicos da Presidência da República, deverá propor
intensificar o intercâmbio entre os membros do Governo Federal, a modificações na legislação referente ao regime jurídico e econômi-
sociedade organizada e aquela instituição. co especial para compras de produtos de defesa junto às empresas
3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estratégi- nacionais, com propostas de modificação da Lei nº 8.666, de junho
cos da Presidência da República estimularão a realização de Encon- de 1993.
tros, Simpósios e Seminários destinados à discussão de assuntos es- 2.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios da
tratégicos, aí incluída a temática da Defesa Nacional. A participação Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dos
da sociedade nesses eventos deve ser objeto de atenção especial. Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência e
4.O Ministério da Defesa intensificará a divulgação das ativi- Tecnologia e com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidên-
dades de defesa, de modo a aumentar sua visibilidade junto à so- cia da República, deverá propor modificações na legislação referen-
ciedade, e implementará ações e programas voltados à promoção te à tributação incidente sobre a indústria nacional de material de
e disseminação de pesquisas e à formação de recursos humanos defesa, por meio da criação de regime jurídico especial que viabilize
qualificados na área, a exemplo do Programa de Apoio ao Ensino e à incentivos e desoneração tributária à iniciativa privada na fabrica-
Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional (Pró-Defesa). ção de produto de defesa prioritário para as Forças Armadas e para
5. O Ministério da Defesa elaborará uma Política de Ensino com a exportação.
as seguintes finalidades: 3.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios da
- acelerar o processo de interação do ensino militar, em parti- Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dos
cular no nível de Altos Estudos, atendendo às orientações contidas Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência e
na primeira parte da presente Estratégia e Tecnologia, e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
- capacitar civis e militares para a própria Administração Cen- da República, deverá propor modificações na legislação referente
tral do Ministério e para outros setores do Governo, de interesse à linha de crédito especial, por intermédio do Banco Nacional de
da Defesa. Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para os produtos de
defesa, similar às já concedidas para outras atividades.
6.As instituições de ensino das três Forças ampliarão nos seus 4.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios da
currículos de formação militar disciplinas relativas a noções de Di- Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dos
reito Constitucional e de Direitos Humanos, indispensáveis para Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência
consolidar a identificação das Forças Armadas com o povo brasi- e Tecnologia e com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-
leiro. sidência da República, deverá propor modificações na legislação
referente à viabilização, por parte do Ministério da Fazenda, de pro-
Mobilização cedimentos de garantias para contratos de exportação de produto
Realizar, integrar e coordenar as ações de planejamento, pre- de defesa de grande vulto, em consonância com o Decreto Lei nº
paro, execução e controle das atividades de Mobilização e Desmo- 1.418, de 03 de setembro de 1975, e com a Lei de Responsabilidade
bilização Nacionais previstas no Sistema Nacional de Mobilização Fiscal.
(SINAMOB).
1.O Ministério da Defesa, enquanto não for aprovada altera- Comando e Controle
ção na legislação do Sistema Nacional de Mobilização, orientará e
coordenará os demais ministérios, secretarias e órgãos envolvidos Consolidar o sistema de comando e controle para a Defesa
no SINAMOB no estabelecimento de programas, normas e proce- Nacional.
dimentos relativos à complementação da Logística Nacional e na O Ministério da Defesa aperfeiçoará o Sistema de Comando e
adequação das políticas governamentais à política de Mobilização Controle de Defesa, para contemplar o uso de satélite de telecomu-
Nacional. nicações próprio.
2.O Ministério da Defesa, em coordenação com a Secretaria de O sistema integrado de Comando e Controle de Defesa deverá
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, proporá modifi- ser capaz de disponibilizar, em função de seus sensores de monito-
cações na Lei nº 11.631, de 27 de dezembro de 2007, no que con- ramento e controle do espaço terrestre, marítimo e aéreo brasilei-
cerne à definição do órgão central do SINAMOB. ro, dados de interesse do Sistema Nacional de Segurança Pública,
em função de suas atribuições constitucionais específicas. De forma
Logística recíproca, o Sistema Nacional de Segurança Pública deverá disponi-
Acelerar o processo de integração entre as três Forças, espe- bilizar ao sistema de defesa nacional dados de interesse do controle
cialmente nos campos da tecnologia industrial básica, da logística das fronteiras, exercido também pelas Forças Armadas, em especial
e mobilização, do comando e controle e das operações conjuntas. no que diz respeito às atividades ligadas aos crimes transnacionais
fronteiriços.

20
DEFESA NACIONAL
Adestramento 2.O Ministério da Defesa priorizará, na elaboração do Plano de
Desenvolvimento de Aeródromos de Interesse Militar (PDAIM), os
Atualizar o planejamento operacional e adestrar EM Conjun- aeródromos de desdobramento previstos nos planejamentos relati-
tos vos à defesa da região amazônica.
O Ministério da Defesa definirá núcleos de Estados-Maiores 3.O Ministério da Defesa apresentará ao Ministério dos Trans-
Conjuntos, coordenados pelo Estado-Maior Conjunto das Forças portes, em data coordenada com este, programação de investi-
Armadas, a serem ativados, desde o tempo de paz, dentro da es- mentos de médio e longo prazo, bem como a ordenação de suas
trutura organizacional das Forças Armadas, para que possibilitem a prioridades ligadas às necessidades de vias de transporte para o
continuidade e a atualização do planejamento e do adestramento atendimento aos planejamentos estratégicos decorrentes das Hi-
operacionais que atendam o ao estabelecido nos planos estratégi- póteses de Emprego. O Ministério dos Transportes, por sua vez,
cos. promoverá a inclusão das citadas prioridades no Plano Nacional de
Logística e Transportes (PNLT).
Inteligência de Defesa 4.O Ministério dos Transportes, em coordenação com o Minis-
tério da Defesa, fará instalar, no Centro de Operações do Coman-
Aperfeiçoar o Sistema de Inteligência de Defesa dante Supremo (COCS), terminal da Base de Dados Georreferenciados
O Sistema deverá receber recursos necessários à formulação em Transporte que possibilite a utilização das informações ligadas à
de diagnóstico conjuntural dos cenários vigentes em prospectiva infra-estrutura de transportes, disponibilizadas por aquele sistema, no
político-estratégica, nos campos nacional e internacional. planejamento e na gestão estratégica de crises e conflitos.
O recursos humanos serão capacitados em análise e técnicas 5.O Ministério da Defesa e o Ministério da Integração Nacional
nos campos científico, tecnológico, cibernético, espacial e nuclear, desenvolverão estudos conjuntos com vistas à compatibilização dos
com ênfase para o monitoramento/controle, à mobilidade estraté- Programas Calha Norte e de Promoção do Desenvolvimento da Faixa
gica e à capacidade logística. de Fronteira (PDFF) e ao levantamento da viabilidade de estruturação
Criar-se-á, no Ministério da Defesa, uma estrutura compatível com de Arranjos Produtivos Locais (APL), com ações de infra-estrutura eco-
as necessidades de integração dos órgãos de inteligência militar. nômica e social, para atendimento a eventuais necessidades de vivifi-
cação e desenvolvimento da fronteira, identificadas nos planejamen-
Doutrina tos estratégicos decorrentes das Hipóteses de Emprego.
6.O Ministério das Comunicações, no contexto do Programa
Promover o aperfeiçoamento da Doutrina de Operações Con- Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC),
juntas deverá prever a instalação de telecentros comunitários com cone-
O Ministério da Defesa promoverá estudos relativos ao aper- xão em banda larga nas sedes das instalações militares de fronteira
feiçoamento da Doutrina de Operações Conjuntas, considerando, existentes e a serem implantadas em decorrência do previsto no
principalmente, o ambiente operacional e o aprimoramento dos Decreto nº 4.412, de 7 de outubro de 2002, alterado pelo Decreto
meios de defesa, a experiência e os ensinamentos adquiridos com nº 6.513, de 22 de julho de 2008.
a realização de operações conjuntas e as orientações da Estraté- 7.O Ministério da Defesa, com o apoio das Forças Armadas no
gia Nacional de Defesa, no que concerne às atribuições do Estado- que for julgado pertinente, e o Ministério das Comunicações pro-
-Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Estados-Maiores das moverão estudos com vistas à coordenação de ações de incentivo
três Forças. à habilitação de rádios comunitárias nos municípios das áreas de
fronteira, de forma a atenuar, com isto, os efeitos de emissões in-
Operações de Paz desejáveis.
Promover o incremento do adestramento e da participação
das Forças Armadas em operações de paz, integrando Força de Paz Garantia da Lei e da Ordem
da ONU ou de organismos multilaterais da região. Compatibilizar a legislação e adestrar meios específicos das
1.O Brasil deverá ampliar a participação em operações de paz, Forças Armadas para o emprego episódico na Garantia da Lei e da
sob a égide da ONU ou de organismos multilaterais da região, de Ordem nos termos da Constituição Federal.
acordo com os interesses nacionais expressos em compromissos 1.O Ministério da Defesa proporá alterações na Lei Comple-
internacionais. mentar nº 97, de 09 de junho de 1999, alterada pela Lei Comple-
2.O Ministério da Defesa promoverá ações com vistas ao incre- mentar nº 117, de 02 de setembro de 2004; e na Lei nº 9.299, de 07
mento das atividades de um Centro de Instrução de Operações de de agosto de 1996, que viabilizem o emprego das Forças Armadas
Paz, de maneira a estimular o adestramento de civis e militares ou na Garantia da Lei e da Ordem, nos termos da Constituição Federal,
de contingentes de Segurança Pública, assim como de convidados com eficácia e resguardo de seus integrantes.
de outras nações amigas. Para tal, prover-lhe-á o apoio necessário a 2.O adestramento das Forças deverá prever a capacitação de
torná-lo referência regional no adestramento conjunto para opera- tropa para o cumprimento das missões de Garantia da Lei e da Or-
ções de paz e de desminagem humanitária. dem, nos termos da Constituição Federal.

Infra-Estrutura Estabilidade Regional


Contribuir para a manutenção da estabilidade regional
Compatibilizar os atuais esforços governamentais de acelera- 1.O Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exteriores
ção do crescimento com as necessidades da Defesa Nacional. promoverão o incremento das atividades destinadas à manutenção da
1.O Ministério da Defesa, em coordenação com a Secretaria estabilidade regional e à cooperação nas áreas de fronteira do País.
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República proporá aos 2.O Ministério da Defesa e as Forças Armadas intensificarão as
ministérios competentes as iniciativas necessárias ao desenvolvi- parcerias estratégicas nas áreas cibernética, espacial e nuclear e o
mento da infra-estrutura de energia, transporte e comunicações de intercâmbio militar com as Forças Armadas das nações amigas, nes-
interesse da defesa, de acordo com os planejamentos estratégicos te caso particularmente com as do entorno estratégico brasileiro e
de emprego das Forças. as da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

21
DEFESA NACIONAL
3.O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores PRAZO TAREFA A REALIZAR RESPONSÁVEL
e as Forças Armadas buscarão contribuir ativamente para o fortale-
cimento, a expansão e a consolidação da integração regional, com 31/12/2010 Planos Estratégicos que MD
ênfase na pesquisa e desenvolvimento de projetos comuns de pro- servirão de base para
dutos de defesa. os Planos de Campanha
dos Comandos
Inserção Internacional Conjuntos, para cada HE
30/06/2009 Planos de Equipamento MD e Forças
Incrementar o apoio à participação brasileira nas atividades e Articulação das Forças Armadas
antárticas. Armadas (2009-2030)
1.O Ministério da Defesa, demais ministérios envolvidos e as Forças
Armadas deverão incrementar o apoio necessário à participação brasilei- 30/09/2009 Proposta de Projeto CC e MD
ra nos processos de decisão sobre o destino da Região Antártica. de Lei de Equipamento
e Articulação da
Segurança Nacional Defesa Nacional a
Contribuir para o incremento do nível de Segurança Nacional. ser submetida ao
Todas as instâncias do Estado deverão contribuir para o incre- Presidente da República
mento do nível de Segurança Nacional, com particular ênfase sobre: 31/03/2009 Atualização da Política MD e MCT
- o aperfeiçoamento de processos para o gerenciamento de de Ciência, Tecnologia e
crises;
Inovação para a Defesa
- a integração de todos os órgãos do Sistema de Inteligência
Nacional e instrumentos
Nacional (SISBIN);
normativos decorrentes.
- a prevenção de atos terroristas e de atentados massivos aos
Direitos Humanos, bem como a condução de operações contra-ter- 31/03/2009 Atualização da Política MD, MF, MDIC,
rorismo, a cargo dos Ministérios da Defesa e da Justiça e do Gabine- Nacional da Indústria de MPOG MCT e SAE
te de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR); Defesa
- as medidas para a segurança das áreas de infra-estruturas crí- 31/03/2009 Proposta de MD, MRE e SAE
ticas, incluindo serviços, em especial no que se refere à energia, estabelecimento de
transporte, água e telecomunicações, a cargo dos Ministérios da
parcerias estratégicas
Defesa, das Minas e Energia, dos Transportes, da Integração Nacio-
com países que possam
nal e das Comunicações, e ao trabalho de coordenação, avaliação,
contribuir para o
monitoramento e redução de riscos, desempenhado pelo Gabinete
desenvolvimento de
de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR);
tecnologia de ponta de
- as medidas de defesa química, bacteriológica e nuclear, a
interesse para a defesa
cargo da Casa Civil da Presidência da República, dos Ministérios da
Defesa, da Saúde, da Integração Nacional, das Minas e Energia e 31/03/2009 Proposta de CC, MF, MD, MPOG
da Ciência e Tecnologia, e do GSI-PR, para as ações de proteção à estabelecimento de e SAE
população e às instalações em território nacional, decorrentes de ato legal que garanta
possíveis efeitos do emprego de armas dessa natureza; a alocação, de forma
- as ações de defesa civil, a cargo do Ministério da Integração continuada, de recursos
Nacional; financeiros específicos,
- as ações de segurança pública, a cargo do Ministério da Justi- para viabilizar o
ça e dos órgãos de segurança pública estaduais; desenvolvimento
- o aperfeiçoamento dos dispositivos e procedimentos de se- integrado e a conclusão
gurança que reduzam a vulnerabilidade dos sistemas relacionados de projetos relacionados
à Defesa Nacional contra ataques cibernéticos e, se for o caso, que à defesa nacional.
permitam seu pronto restabelecimento, a cargo da Casa Civil da
Presidência da República, dos Ministérios da Defesa, das Comuni- 30/06/2009 Proposta de dispositivos CC, MD, MF e
cações e da Ciência e Tecnologia, e do GSI-PR; necessários a viabilizar MPOG
- a execução de estudos para viabilizar a instalação de um cen- investimentos nas
tro de pesquisa de doenças tropicais para a região amazônica, a car- Forças Armadas a
go dos Ministérios da Defesa, da Ciência e Tecnologia, da Saúde e partir de receitas
órgãos de saúde estaduais e municipais; eventualmente geradas
- medidas de defesa contra pandemias; e pelos bens imóveis da
- o atendimento aos compromissos internacionais relativos à União, administrados
salvaguarda da vida humana no mar e ao tráfego aéreo internacio- pelas Forças.
nal, a cargo do Ministério da Defesa, por intermédio dos Comandos 30/06/2009 Proposta de uma CC, MD, MF e
da Marinha e da Aeronáutica, respectivamente, e do Ministério das legislação específica que MPOG
Relações Exteriores; possibilite a aplicação,
nas Forças Armadas, dos
Disposições Finais recursos provenientes
Os documentos complementares e decorrentes da presente do recolhimento de
Estratégia Nacional de Defesa, cujas necessidades de elaboração taxas e serviços
ou atualização atendem às exigências desta Estratégia, deverão ser
confeccionados conforme o quadro a seguir:

22
DEFESA NACIONAL

30/06/2009 Projeto de Lei com CC e MD 31/03/2009 Proposta de criação de MD, MDIC e MPOG
a nova Estrutura estrutura, subordinada
Militar de Defesa ao MD, encarregada
contemplando a da coordenação
estruturação de núcleos dos processos de
de Estados-Maiores certificação, de
Conjuntos vinculados metrologia, de
ao MD. normalização e de
30/06/2009 Apresentação de CC, MD, MPOG e fomento industrial
estudo de viabilidade SAE, MEC e SAÚDE 31/03/2009 Proposta de CC, MD, MDIC, MT,
para a criação e modificações na Lei MPOG e SAE
regulamentação de um nº 8.666 e legislação
Serviço Civil, em todo complementar,
o território nacional, possibilitando regime
a ser prestado por jurídico e econômico
cidadãos que não especial para compras
forem designados para de produtos de defesa
a realização do Serviço junto às empresas
Militar nacionais
30/06/2009 Projeto de Lei CC, MD e MPOG 31/03/2009 Proposta de CC, MD, MDIC, MF,
propondo a criação modificações na MT, MPOG e SAE
de quadro específico legislação referente à
de Especialistas de tributação incidente
Defesa, para a inclusão sobre a indústria
no Plano Único de nacional de defesa,
Carreira dos servidores por meio da criação de
da área de defesa, em regime jurídico especial
complementação às que viabilize incentivos
carreiras existentes na e desoneração tributária
administração civil e à iniciativa privada na
militar fabricação de produto
30/06/2009 Plano de Transferência MD de defesa prioritário
da ESG para Brasília e para as Forças Armadas
proposta de medidas 31/03/2009 Proposta de CC, MD, MF, MT,
complementares modificações na MDIC e SAE
necessárias legislação referente
31/03/2009 Projeto de Lei alterando CC, MD e MPOG à viabilização, por
a Lei de Criação da ESG, parte do Ministério
viabilizando a criação de da Fazenda, de
cargos DAS procedimentos de
garantias para contratos
30/06/2009 Proposta de Política de MD e MEC de exportação de
Ensino para as Forças produto de defesa de
Armadas, em particular grande vulto
no nível de Altos
Estudos 30/06/2009 Propostas de alterações CC e MD
na LCP 97, na LCP 117
31/03/2009 Proposta de CC, MD e SAE e na Lei nº 9.299, para
Modificação da Lei do adequá-las à Estratégia
Sistema Nacional de Nacional de Defesa
Mobilização
30/06/2009 Projeto de Lei propondo CC, MD e MPOG
nova estrutura do EXERCÍCIOS
MD, com a criação de
órgão encarregado do
processo de aquisição 1-Sobre o Livro Branco de Defesa Nacional, que é o mais com-
de produto de defesa, pleto e acabado documento acerca das atividades de defesa do Bra-
devidamente integrado sil, assinale a opção INCORRETA.
ao processo de A A implantação do Livro Branco de Defesa Nacional compete
catalogação de material ao Ministro de Estado da Defesa
B O Livro Branco de Defesa Nacional foi institucionalizado pelo
decreto n° 6.703, de 18 de dezembro de 2008, que aprova a Estra-
tégia Nacional de Defesa

23
DEFESA NACIONAL
C O Livro Branco de Defesa Nacional é um documento de cará-
ter público. GABARITO
D Por meio do Livro Branco de Defesa Nacional permitir-se-á o
acesso ao amplo contexto da Estratégia de Defesa Nacional
E O Livro Branco de Defesa Nacional deverá conter dados estra- 1 B
tégicos sobre as Forças Armadas.
2 D
2-Com base nas disposições do decreto n° 6.703, de 18 de de- 3 B
zembro de 2008, assinale a opção que NÂO contempla diretriz da
Estratégia Nacional de Defesa. 4 B
A Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e da 5 C
Força Aérea nas fronteiras.
B Manter o Serviço Militar Obrigatório. 6 D
C Ampliar a capacidade de atender aos compromissos interna-
cionais de busca e salvamento.
D Individualizar e setorizar a operação das Forças Armadas ANOTAÇÕES
E Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garantia
da [ei e da ordem, nos termos da Constituição Federal.
______________________________________________________
3-Segundo a Estratégia Nacional de Defesa, por que o serviço
militar obrigatório deverá ser mantido e reforçado? ______________________________________________________
A Devido a sua importância na formação cívica e moral do indi-
viduo em formação. ______________________________________________________
B Por ser essencial para a garantia da defesa nacional.
C Por ser fundamental na manutenção das tradições cívicas ______________________________________________________
brasileiras. ______________________________________________________
D Pelo fato de contribuir para a estabilidade quantitativa no
efetivo das Forças Armadas. ______________________________________________________
E Pelo fato de contribuir para a estabilidade qualitativa no efe-
tivo das Forças Armadas. ______________________________________________________

4-Uma das diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa é Organi- ______________________________________________________


zar as Forças Armadas sob a égide do trinômio
A Tecnologia bélica, aperfeiçoamento pessoal e aperfeiçoa- ______________________________________________________
mento técnico.
B Monitoramento/controle, mobilidade e presença. ______________________________________________________
C Patriotismo, tecnologia e aperfeiçoamento pessoal.
______________________________________________________
D Estratégia, hierarquia e disciplina.
E Capacitação do pessoal, estratégia e patriotismo. ______________________________________________________
5-De acordo com a Estratégia Nacional de Defesa (Decreto n° ______________________________________________________
6.703, de 18 de dezembro de 2008), a construção de meios para
exercer o controle de áreas marítimas terá como focos as áreas es- ______________________________________________________
tratégicas de acesso marítimo ao Brasil. Duas áreas do litoral conti-
nuarão a merecer atenção especial, do ponto de vista da necessida- ______________________________________________________
de de controlar o acesso marítimo ao Brasil. Quais são essas áreas?
A A faixa que vai de Fortaleza a Natal e a área que contém os ______________________________________________________
afluentes do rio Amazonas.
B A faixa que vai da Bahia ao Rio de Janeiro e a área em torno ______________________________________________________
da foz do Rio da Prata.
______________________________________________________
C A faixa que vai de Santos a Vitória e a área em torno da foz
do rio Amazonas. ______________________________________________________
D A faixa que vai do Rio de Janeiro a Florianópolis e a área que
contém os afluentes do rio Paraguai. ______________________________________________________
E A faixa que vai de Porto Alegre ao Chuí e a área em torno da
hidrovia do Paraná-Tietê. ______________________________________________________

6-De acordo com as Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa ______________________________________________________


(Decreto n° 6.703, de 18 de dezembro de 2008), a organização das
Forças Armadas está baseada sobre que égide? ______________________________________________________
A Deslocamento, concentração e permanência.
B Surpresa, preparo e unidade de comando. _____________________________________________________
C Manobra, prontidão e segurança.
_____________________________________________________
D Monitoramento/controle, mobilidade e presença.
E Simplicidade, flexibilidade e mobilidade. ______________________________________________________

24
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
1. FORÇAS ARMADAS (FFAA) – Missão constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante Supremo das Forças Armadas . . . . . . . 01
2. NORMAS GERAIS PARA A ORGANIZAÇÃO, O PREPARO E O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS – Disposições preliminares; Destinação e
atribuições; Assessoramento ao Comandante Supremo; Organização das Forças Armadas; Direção Superior das Forças Armadas 02
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sen-
FORÇAS ARMADAS (FFAA) – MISSÃO CONSTITUCIO- do depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transfe-
NAL; HIERARQUIA E DISCIPLINA; E COMANDANTE rido para a reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda
SUPREMO DAS FORÇAS ARMADAS Constitucional nº 77, de 2014)
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Incluído
MISSÃO DO EXÉRCITO - CONSTITUCIONAL E SUBSIDIÁRIAS pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado
A Missão do Exército norteia todas as atividades da Força. Ela a partidos políticos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de
é orientada, primordialmente, pela Constituição Federal e pela Lei 1998)
Complementar nº 97, de 9/7/1999, que estabelece as normas ge- VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in-
rais adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal
Armadas. As políticas e as estratégias implementadas pelo Coman- militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal es-
do Supremo das Forças Armadas, bem como as estratégias e doutri- pecial, em tempo de guerra; (Incluído pela Emenda Constitucional
nas elaboradas pelo Ministério da Defesa, condicionam o detalha- nº 18, de 1998)
mento desta Missão. VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 142, defini a privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada
destinação das Forças Armadas para defesa da Pátria, para garan- em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso ante-
tia dos poderes constitucionais da lei e da ordem, conforme abaixo rior; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
descrito: VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII,
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem
Exército e pela Aeronáutica são instituições nacionais permanentes como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art.
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob 37, inciso XVI, alínea “c”; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à nal nº 77, de 2014)
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por ini- IX - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de 19.12.2003)
ciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limi-
O capítulo na íntegra: tes de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do
militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração,
TÍTULO V as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consi-
DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS deradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas
cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra.
CAPÍTULO II (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
DAS FORÇAS ARMADAS Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir servi-
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo ço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximi-
a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se rem de atividades de caráter essencialmente militar. (Regulamento)
à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço
iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros en-
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem cargos que a lei lhes atribuir. (Regulamento)
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Ar-
madas. Já a Lei Complementar (LC) nº 97, posteriormente alterada
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições discipli- pela LC nº 117, de 2/9/2004, focada no cumprimento da destinação
nares militares. constitucional exposta, dispôs sobre a organização, o preparo e o
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados mili- emprego das Forças Armadas, sobretudo nas operações de garantia
tares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, da lei e da ordem, bem como estabeleceu atribuições subsidiárias
as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº do Exército.
18, de 1998) O artigo 16 da LC estabelece a atribuição subsidiária geral que
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas ine- cabe às Forças Armadas, conforme segue:
rentes, são conferidas pelo Presidente da República e asseguradas “Art. 16. Cabe às Forças Armadas, como atribuição subsidiária
em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sen- geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil, na
do-lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os forma determinada pelo Presidente da República”.
demais membros, o uso dos uniformes das Forças Armadas; (Incluí- O artigo 17, alínea A, da LC, estabelece as atribuições subsidiá-
do pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) rias particulares que cabem ao Exército, quais sejam:
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou empre- I – contribuir para a formulação e condução de políticas nacio-
go público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. nais que digam respeito ao Poder Militar Terrestre;
37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos termos II – cooperar com órgãos públicos federais, estaduais e muni-
da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014) cipais e, excepcionalmente, com empresas privadas, na execução
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse de obras e serviços de engenharia, sendo os recursos advindos do
em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, órgão solicitante;
ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese previs- III – cooperar com órgãos federais, quando se fizer necessário,
ta no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional,
quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, no território nacional, na forma de apoio logístico, de inteligência,
ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço de comunicações e de instrução;

1
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
IV – atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa c) órgãos federais, quando se fizer necessário, na repressão aos deli-
de fronteira terrestre, contra delitos transfronteiriços e ambientais, tos de repercussão nacional e internacional, no território nacional, na for-
isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Exe- ma de apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução; e
cutivo, executando, dentre outras, as ações de: d) órgãos públicos federais, estaduais e municipais e, excepcionalmen-
a) patrulhamento; te, com empresas privadas, na execução de obras e serviços de engenharia.
b) revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações
e de aeronaves; 2) Implica atuar, por meio de ações preventivas e repressivas,
c) prisões em flagrante delito. na faixa de fronteira11 terrestre, contra delitos transfronteiriços e
ambientais, isoladamente ou em cooperação com órgãos do Poder
MISSÃO DO EXÉRCITO Executivo, realizando, dentre outras, ações de patrulhamento; re-
Preparar a Força Terrestre para defender a Pátria, garantir os vista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aero-
poderes constitucionais, a lei e a ordem. Participar de operações naves; e prisões em flagrante delito.
internacionais. Cumprir atribuições subsidiárias. Apoiar a política f. Apoiar a Política Externa do País Implica no emprego da Força
externa do País. Terrestre, restrito ao nível aquém da violência, enquanto se desen-
volvem ações diplomáticas para a solução do conflito.
SERVIDÕES
As servidões, expressas por verbos, apresentam as implicações de-
correntes do marco legal e da Missão do Exército. Para atender às servi- NORMAS GERAIS PARA A ORGANIZAÇÃO, O PREPARO
dões impostas pela destinação constitucional, o Exército deverá manter E O EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS – DISPOSIÇÕES
a Força Terrestre em constante e permanente preparo, sobretudo para a PRELIMINARES; DESTINAÇÃO E ATRIBUIÇÕES; ASSES-
defesa da Pátria, de forma coerente com as diretrizes estabelecidas pelo SORAMENTO AO COMANDANTE SUPREMO; ORGANI-
Ministério da Defesa. Com base no preparo para cumprir a destinação ZAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS; DIREÇÃO SUPERIOR
constitucional, capacita-se a atender às demais servidões. DAS FORÇAS ARMADAS
As servidões são:
a. Defendera Pátria LEI COMPLEMENTAR Nº 97, DE 9 DE JUNHO DE 1999
Implica derrotar o inimigo que agredir ou ameaçar a soberania,
a integridade territorial, o patrimônio e os interesses vitais do Bra- Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo
sil, valendo-se, prioritariamente, das estratégias da ofensiva e da e o emprego das Forças Armadas.
resistência, ou, ainda, da combinação delas.
Para tanto, desde o tempo de paz, o Exército deve preparar a Força O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Terrestre para combater, integrando um comando combinado, nos am- cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar:
bientes operacionais previstos nas Hipóteses de Emprego.
As ações de preparo, em permanente atitude de prontidão, vi- CAPÍTULO I
sam à dissuasão de possíveis ameaças. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
b. Garantir os Poderes Constitucionais SEÇÃO I
Implica empregar a Força Terrestre, nas situações de excepcio- DA DESTINAÇÃO E ATRIBUIÇÕES
nalidade definidas em lei, para assegurar as funções estatais dos
poderes da União. Para tanto, o Exército deverá estar permanente- Art. 1º As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
mente preparado. Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes
e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
c. Garantir a Lei e a Ordem
a autoridade suprema do Presidente da República e destinam-se à
Implica empregar a Força Terrestre, nas situações de excepcio-
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por ini-
nalidade definidas no ordenamento jurídico, para assegurar a obe-
ciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
diência às leis, manter ou restabelecer8 a ordem pública e prevenir
Parágrafo único. Sem comprometimento de sua destinação
e combater o terrorismo9. Para tanto, o Exército deverá estar per-
constitucional, cabe também às Forças Armadas o cumprimento
manentemente preparado.
das atribuições subsidiárias explicitadas nesta Lei Complementar.
d. Participar de Operações Internacionais
Implica empregar a Força Terrestre: SEÇÃO II
1) Na defesa dos interesses nacionais afetados por conflitos na DO ASSESSORAMENTO AO COMANDANTE SUPREMO
América do Sul.
2) Sob a égide de organismos internacionais: Art. 2º O Presidente da República, na condição de Comandante
- em operações de paz e humanitárias; e Supremo das Forças Armadas, é assessorado:
- como Força Expedicionária integrando Força Multinacional. I - no que concerne ao emprego de meios militares, pelo Con-
selho Militar de Defesa; e
3) Para salvaguardar pessoas, bens e recursos nacionais ou sob II - no que concerne aos demais assuntos pertinentes à área
jurisdição brasileira, fora do território nacional. militar, pelo Ministro de Estado da Defesa.
e. Cumprir Atribuições Subsidiárias § 1º O Conselho Militar de Defesa é composto pelos Coman-
1) Implica cooperar com: dantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do
a) o desenvolvimento nacional, participando ou executando Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. (Redação dada pela Lei
atividades nos campos cientifico-tecnológico e sócio-econômico em Complementar nº 136, de 2010).
proveito da sociedade brasileira; § 2º Na situação prevista no inciso I deste artigo, o Ministro de
b) a defesa civil, prestando socorro às populações vítimas de Estado da Defesa integrará o Conselho Militar de Defesa na condi-
ca amidades; ção de seu Presidente.

2
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
CAPÍTULO II Parágrafo único. Constituem reserva das Forças Armadas o pes-
DA ORGANIZAÇÃO soal sujeito a incorporação, mediante mobilização ou convocação,
pelo Ministério da Defesa, por intermédio da Marinha, do Exército e
SEÇÃO I da Aeronáutica, bem como as organizações assim definidas em lei.
DAS FORÇAS ARMADAS
SEÇÃO II
Art. 3º As Forças Armadas são subordinadas ao Ministro de Es- DA DIREÇÃO SUPERIOR DAS FORÇAS ARMADAS
tado da Defesa, dispondo de estruturas próprias.
Art. 3º-A. O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, órgão Art. 9º O Ministro de Estado da Defesa exerce a direção superior
de assessoramento permanente do Ministro de Estado da Defesa, das Forças Armadas, assessorado pelo Conselho Militar de Defesa,
tem como chefe um oficial-general do último posto, da ativa ou da órgão permanente de assessoramento, pelo Estado-Maior Conjun-
reserva, indicado pelo Ministro de Estado da Defesa e nomeado to das Forças Armadas e pelos demais órgãos, conforme definido
pelo Presidente da República, e disporá de um comitê, integrado em lei. (Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
pelos chefes de Estados-Maiores das 3 (três) Forças, sob a coor- § 1º Ao Ministro de Estado da Defesa compete a implantação
denação do Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. do Livro Branco de Defesa Nacional, documento de caráter público, por
(Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). meio do qual se permitirá o acesso ao amplo contexto da Estratégia de
§ 1º Se o oficial-general indicado para o cargo de Chefe do Defesa Nacional, em perspectiva de médio e longo prazos, que viabi-
Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas estiver na ativa, será lize o acompanhamento do orçamento e do planejamento plurianual
transferido para a reserva remunerada quando empossado no car- relativos ao setor. (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
go. (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). § 2º O Livro Branco de Defesa Nacional deverá conter dados
§ 2º É assegurado ao Chefe do Estado-Maior Conjunto das For- estratégicos, orçamentários, institucionais e materiais detalha-
ças Armadas o mesmo grau de precedência hierárquica dos Coman- dos sobre as Forças Armadas, abordando os seguintes tópicos:
dantes e precedência hierárquica sobre os demais oficiais-generais (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
das 3 (três) Forças Armadas. (Incluído pela Lei Complementar nº I - cenário estratégico para o século XXI (Incluído pela Lei Com-
136, de 2010). plementar nº 136, de 2010).
§ 3º É assegurado ao Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças II - política nacional de defesa; (Incluído pela Lei Complementar
Armadas todas as prerrogativas, direitos e deveres do Serviço Ativo, nº 136, de 2010).
inclusive com a contagem de tempo de serviço, enquanto estiver em III - estratégia nacional de defesa(Incluído pela Lei Complemen-
exercício. (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010). tar nº 136, de 2010).
Art. 4º A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem, singu- IV - modernização das Forças Armadas; (Incluído pela Lei Com-
larmente, de 1 (um) Comandante, indicado pelo Ministro de Estado plementar nº 136, de 2010).
da Defesa e nomeado pelo Presidente da República, o qual, no âm- V - racionalização e adaptação das estruturas de defesa;
bito de suas atribuições, exercerá a direção e a gestão da respectiva (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
Força. (Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010). VI - suporte econômico da defesa nacional; (Incluído pela Lei
Art. 5º Os cargos de Comandante da Marinha, do Exército e da Complementar nº 136, de 2010).
Aeronáutica são privativos de oficiais-generais do último posto da VII - as Forças Armadas: Marinha, Exército e Aeronáutica; (In-
respectiva Força. cluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
§ 1º É assegurada aos Comandantes da Marinha, do Exército VIII - operações de paz e ajuda humanitária. (Incluído pela Lei
e da Aeronáutica precedência hierárquica sobre os demais oficiais- Complementar nº 136, de 2010).
-generais das três Forças Armadas. § 3º O Poder Executivo encaminhará à apreciação do Congres-
§ 2º Se o oficial-general indicado para o cargo de Comandante so Nacional, na primeira metade da sessão legislativa ordinária, de
da sua respectiva Força estiver na ativa, será transferido para a re- 4 (quatro) em 4 (quatro) anos, a partir do ano de 2012, com as devi-
serva remunerada, quando empossado no cargo. das atualizações (Incluído pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
§ 3º São asseguradas aos Comandantes da Marinha, do Exér- I - a Política de Defesa Nacional; (Incluído pela Lei Complemen-
cito e da Aeronáutica todas as prerrogativas, direitos e deveres do tar nº 136, de 2010).
Serviço Ativo, inclusive com a contagem de tempo de serviço, en- II - a Estratégia Nacional de Defesa (Incluído pela Lei Comple-
quanto estiverem em exercício. mentar nº 136, de 2010).
Art. 6º O Poder Executivo definirá a competência dos Coman- III - o Livro Branco de Defesa Nacional. (Incluído pela Lei Com-
dantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para a criação, a plementar nº 136, de 2010).
denominação, a localização e a definição das atribuições das organi- Art. 10. (Revogado pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
zações integrantes das estruturas das Forças Armadas. Art. 11. Compete ao Estado-Maior Conjunto das Forças Arma-
Art. 7º Compete aos Comandantes das Forças apresentar ao das elaborar o planejamento do emprego conjunto das Forças Ar-
Ministro de Estado da Defesa a Lista de Escolha, elaborada na forma madas e assessorar o Ministro de Estado da Defesa na condução
da lei, para a promoção aos postos de oficiais-generais e propor-lhe dos exercícios conjuntos e quanto à atuação de forças brasileiras em
os oficiais-generais para a nomeação aos cargos que lhes são priva- operações de paz, além de outras atribuições que lhe forem estabe-
tivos.(Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010). lecidas pelo Ministro de Estado da Defesa. (Redação dada pela Lei
Parágrafo único. O Ministro de Estado da Defesa, acompanha- Complementar nº 136, de 2010).
do do Comandante de cada Força, apresentará os nomes ao Presi- Art. 11-A. Compete ao Ministério da Defesa, além das demais
dente da República, a quem compete promover os oficiais-generais competências previstas em lei, formular a política e as diretrizes re-
e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos. ferentes aos produtos de defesa empregados nas atividades opera-
Art. 8º A Marinha, o Exército e a Aeronáutica dispõem de efe- cionais, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e de
tivos de pessoal militar e civil, fixados em lei, e dos meios orgânicos comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coleti-
necessários ao cumprimento de sua destinação constitucional e vo, admitido delegações às Forças. (Incluído pela Lei Complementar
atribuições subsidiárias. nº 136, de 2010).

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
1. ESTATUTO DOS MILITARES – Hierarquia Militar e disciplina; Cargos e Funções militares; Valor e ética militar; Compromisso, comando
e subordinação; Violação das obrigações e deveres militares; Crimes militares; Contravenções ou transgressões disciplinares . . . . . . . . 01
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL

ESTATUTO DOS MILITARES – HIERARQUIA MILITAR E § 2º Os militares de carreira são aqueles da ativa que, no de-
DISCIPLINA; CARGOS E FUNÇÕES MILITARES; VALOR E sempenho voluntário e permanente do serviço militar, tenham
ÉTICA MILITAR; COMPROMISSO, COMANDO E SUBOR- vitaliciedade, assegurada ou presumida, ou estabilidade adquirida
DINAÇÃO; VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E DEVERES nos termos da alínea “a” do inciso IV do caput do art. 50 desta Lei.
MILITARES; CRIMES MILITARES; CONTRAVENÇÕES OU (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES § 3º Os militares temporários não adquirem estabilidade e
passam a compor a reserva não remunerada das Forças Armadas
após serem desligados do serviço ativo. (Incluído pela Lei nº 13.954,
LEI Nº 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1980 de 2019)
Art. 4º São considerados reserva das Forças Armadas:
Dispõe sobre o Estatuto dos Militares. I - individualmente:
a) os militares da reserva remunerada; e
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- b) os demais cidadãos em condições de convocação ou de mo-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: bilização para a ativa.
II - no seu conjunto:
ESTATUTO DOS MILITARES a) as Polícias Militares; e
b) os Corpos de Bombeiros Militares.
TÍTULO I § 1° A Marinha Mercante, a Aviação Civil e as empresas de-
GENERALIDADES claradas diretamente devotada às finalidades precípuas das Forças
CAPÍTULO I Armadas, denominada atividade efeitos de mobilização e de em-
prego, reserva das Forças Armadas.
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
§ 2º O pessoal componente da Marinha Mercante, da Aviação
Civil e das empresas declaradas diretamente relacionadas com a
Art. 1º O presente Estatuto regula a situação, obrigações, de- segurança nacional, bem como os demais cidadãos em condições
veres, direitos e prerrogativas dos membros das Forças Armadas. de convocação ou mobilização para a ativa, só serão considerados
Art. 2º As Forças Armadas, essenciais à execução da política de militares quando convocados ou mobilizados para o serviço nas
segurança nacional, são constituídas pela Marinha, pelo Exército e Forças Armadas.
pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria e a garantir os Art. 5º A carreira militar é caracterizada por atividade continu-
poderes constituídos, a lei e a ordem. São instituições nacionais, ada e inteiramente devotada às finalidades precípuas das Forças
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na Armadas, denominada atividade militar.
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e § 1º A carreira militar é privativa do pessoal da ativa, inicia-se
dentro dos limites da lei. com o ingresso nas Forças Armadas e obedece às diversas seqüên-
Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua des- cias de graus hierárquicos.
tinação constitucional, formam uma categoria especial de servido- § 2º São privativas de brasileiro nato as carreiras de oficial da
res da Pátria e são denominados militares. Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situa- Art. 6o São equivalentes as expressões “na ativa”, “da ativa”,
ções: “em serviço ativo”, “em serviço na ativa”, “em serviço”, “em ati-
a) na ativa: vidade” ou “em atividade militar”, conferidas aos militares no de-
I - os de carreira; sempenho de cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão,
serviço ou atividade militar ou considerada de natureza militar nas
II - os temporários, incorporados às Forças Armadas para pres-
organizações militares das Forças Armadas, bem como na Presidên-
tação de serviço militar, obrigatório ou voluntário, durante os pra-
cia da República, na Vice-Presidência da República, no Ministério
zos previstos na legislação que trata do serviço militar ou durante da Defesa e nos demais órgãos quando previsto em lei, ou quando
as prorrogações desses prazos; (Redação dada pela Lei nº 13.954, incorporados às Forças Armadas. (Redação dada pela Medida Pro-
de 2019) visória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
III - os componentes da reserva das Forças Armadas quando Art. 7° A condição jurídica dos militares é definida pelos dispo-
convocados, reincluídos, designados ou mobilizados; sitivos da Constituição que lhes sejam aplicáveis, por este Estatuto
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e da e pela legislação, que lhes outorgam direitos e prerrogativas e lhes
reserva; e impõem deveres e obrigações.
V - em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado Art. 8° O disposto neste Estatuto aplica-se, no que couber:
para o serviço ativo nas Forças Armadas. I - aos militares da reserva remunerada e reformados;
b) na inatividade: II - aos alunos de órgão de formação da reserva;
I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das III - aos membros do Magistério Militar; e
Forças Armadas e percebam remuneração da União, porém sujei- IV - aos Capelães Militares.
tos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação Art. 9º Os oficiais-generais nomeados Ministros do Superior
ou mobilização; e Tribunal Militar, os membros do Magistério Militar e os Capelães
II - os reformados, quando, tendo passado por uma das situa- Militares são regidos por legislação específica.
ções anteriores estejam dispensados, definitivamente, da presta-
CAPÍTULO II
ção de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração
DO INGRESSO NAS FORÇAS ARMADAS
da União.
III - os da reserva remunerada e, excepcionalmente, os refor- Art. 10. O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante
mados, que estejam executando tarefa por tempo certo, segundo incorporação, matrícula ou nomeação, a todos os brasileiros que
regulamentação para cada Força Armada. (Redação dada pela Lei preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos regulamentos
nº 13.954, de 2019) (Vide Decreto nº 4.307, de 2002) da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

1
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º Quando houver conveniência para o serviço de qualquer § 2º Os postos de Almirante, Marechal e Marechal-do-Ar so-
das Forças Armadas, o brasileiro possuidor de reconhecida compe- mente serão providos em tempo de guerra.
tência técnico-profissional ou de notória cultura científica poderá, § 3º Graduação é o grau hierárquico da praça, conferido pela
mediante sua aquiescência e proposta do Ministro da Força inte- autoridade militar competente.
ressada, ser incluído nos Quadros ou Corpos da Reserva e convo- § 4º Os Guardas-Marinha, os Aspirantes-a-Oficial e os alunos
cado para o serviço na ativa em caráter transitório. (Regulamento) de órgãos específicos de formação de militares são denominados
(Regulamento) praças especiais.
§ 2º A inclusão nos termos do parágrafo anterior será feita em § 5º Os graus hierárquicos inicial e final dos diversos Corpos,
grau hierárquico compatível com sua idade, atividades civis e res- Quadros, Armas, Serviços, Especialidades ou Subespecialidades são
ponsabilidades que lhe serão atribuídas, nas condições reguladas fixados, separadamente, para cada caso, na Marinha, no Exército e
pelo Poder Executivo. (Regulamento) (Regulamento) na Aeronáutica.
Art. 11. Para matrícula nos estabelecimentos de ensino militar § 6º Os militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
destinados à formação de oficiais, da ativa e da reserva, e de gradu- cujos graus hierárquicos tenham denominação comum, acrescen-
ados, além das condições relativas à nacionalidade, idade, aptidão tarão aos mesmos, quando julgado necessário, a indicação do res-
intelectual, capacidade física e idoneidade moral, é necessário que pectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço e, se ainda necessário, a
o candidato não exerça ou não tenha exercido atividades prejudi- Força Armada a que pertencerem, conforme os regulamentos ou
ciais ou perigosas à segurança nacional. normas em vigor.
Parágrafo único. O disposto neste artigo e no anterior aplica- § 7º Sempre que o militar da reserva remunerada ou reforma-
-se, também, aos candidatos ao ingresso nos Corpos ou Quadros de do fizer uso do posto ou graduação, deverá fazê-lo com as abrevia-
Oficiais em que é exigido o diploma de estabelecimento de ensino turas respectivas de sua situação.
superior reconhecido pelo Governo Federal. Art. 17. A precedência entre militares da ativa do mesmo grau
Art. 12. A convocação em tempo de paz é regulada pela legisla- hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela antigüidade no
ção que trata do serviço militar. posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional es-
§ 1° Em tempo de paz e independentemente de convocação, tabelecida em lei.
os integrantes da reserva poderão ser designados para o serviço § 1º A antigüidade em cada posto ou graduação é contada a
ativo, em caráter transitório e mediante aceitação voluntária. partir da data da assinatura do ato da respectiva promoção, nome-
§ 2º O disposto no parágrafo anterior será regulamentado pelo ação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver taxativa-
Poder Executivo. mente fixada outra data.
Art. 13. A mobilização é regulada em legislação específica. § 2º No caso do parágrafo anterior, havendo empate, a antigüi-
Parágrafo único. A incorporação às Forças Armadas de deputa- dade será estabelecida:
dos federais e senadores, embora militares e ainda que em tempo a) entre militares do mesmo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço,
de guerra, dependerá de licença da Câmara respectiva. pela posição nas respectivas escalas numéricas ou registros exis-
tentes em cada Força;
CAPÍTULO III b) nos demais casos, pela antigüidade no posto ou graduação
DA HIERARQUIA MILITAR E DA DISCIPLINA anterior; se, ainda assim, subsistir a igualdade, recorrer-se-á, su-
cessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de praça
e à data de nascimento para definir a procedência, e, neste último
Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das
caso, o de mais idade será considerado o mais antigo;
Forças Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com o
c) na existência de mais de uma data de praça, inclusive de
grau hierárquico.
outra Força Singular, prevalece a antigüidade do militar que tiver
§ 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em ní-
maior tempo de efetivo serviço na praça anterior ou nas praças an-
veis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordena-
teriores; e
ção se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto
d) entre os alunos de um mesmo órgão de formação de mili-
ou graduação se faz pela antigüidade no posto ou na graduação. O tares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão, se não
respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento estiverem especificamente enquadrados nas letras a , b e c.
à seqüência de autoridade. § 3º Em igualdade de posto ou de graduação, os militares da
§ 2º Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral ativa têm precedência sobre os da inatividade.
das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o § 4º Em igualdade de posto ou de graduação, a precedência
organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e har- entre os militares de carreira na ativa e os da reserva remunerada
mônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por ou não, que estejam convocados, é definida pelo tempo de efetivo
parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. serviço no posto ou graduação.
§ 3º A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos Art. 18. Em legislação especial, regular-se-á:
em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da re- I - a precedência entre militares e civis, em missões diplomáti-
serva remunerada e reformados. cas, ou em comissão no País ou no estrangeiro; e
Art. 15. Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência entre II - a precedência nas solenidades oficiais.
os militares da mesma categoria e têm a finalidade de desenvolver Art. 19. A precedência entre as praças especiais e as demais
o espírito de camaradagem, em ambiente de estima e confiança, praças é assim regulada:
sem prejuízo do respeito mútuo. I - os Guardas-Marinha e os Aspirantes-a-Oficial são hierarqui-
Art . 16. Os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas For- camente superiores às demais praças;
ças Armadas, bem como a correspondência entre os postos e as II - os Aspirantes da Escola Naval, os Cadetes da Academia Mi-
graduações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, são fixados litar das Agulhas Negras e da Academia da Força Aérea e os alunos
nos parágrafos seguintes e no Quadro em anexo. do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, do Instituto Militar de En-
§ 1° Posto é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato do genharia e das demais instituições de graduação de oficiais da Mari-
Presidente da República ou do Ministro de Força Singular e confir- nha e do Exército são hierarquicamente superiores aos Suboficiais e
mado em Carta Patente. aos Subtenentes; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
III - os alunos de Escola Preparatória de Cadetes e do Colégio Parágrafo único. Aplica-se, no que couber, a encargo, incum-
Naval têm precedência sobre os Terceiros-Sargentos, aos quais são bência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de natureza mili-
equiparados; tar, o disposto neste Capítulo para cargo militar.
IV - os alunos dos órgãos de formação de oficiais da reserva,
quando fardados, têm precedência sobre os Cabos, aos quais são TÍTULO II
equiparados; e DAS OBRIGAÇÕES E DOS DEVERES MILITARES
V - os Cabos têm precedência sobre os alunos das escolas ou CAPÍTULO I
dos centros de formação de sargentos, que a eles são equiparados, DAS OBRIGAÇÕES MILITARES
respeitada, no caso de militares, a antigüidade relativa. SEÇÃO I
DO VALOR MILITAR
CAPÍTULO IV
DO CARGO E DA FUNÇÃO MILITARES Art. 27. São manifestações essenciais do valor militar:
I - o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cumprir
Art. 20. Cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres e o dever militar e pelo solene juramento de fidelidade à Pátria até
responsabilidades cometidos a um militar em serviço ativo. com o sacrifício da própria vida;
§ 1º O cargo militar, a que se refere este artigo, é o que se en- II - o civismo e o culto das tradições históricas;
contra especificado nos Quadros de Efetivo ou Tabelas de Lotação III - a fé na missão elevada das Forças Armadas;
das Forças Armadas ou previsto, caracterizado ou definido como tal IV - o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização
em outras disposições legais. onde serve;
§ 2º As obrigações inerentes ao cargo militar devem ser com- V - o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é
patíveis com o correspondente grau hierárquico e definidas em le- exercida; e
gislação ou regulamentação específicas. VI - o aprimoramento técnico-profissional.
Art. 21. Os cargos militares são providos com pessoal que sa-
tisfaça aos requisitos de grau hierárquico e de qualificação exigidos SEÇÃO II
DA ÉTICA MILITAR
para o seu desempenho.
Parágrafo único. O provimento de cargo militar far-se-á por ato
Art. 28. O sentimento do dever, o pundonor militar e o decoro
de nomeação ou determinação expressa da autoridade competen-
da classe impõem, a cada um dos integrantes das Forças Armadas,
te.
conduta moral e profissional irrepreensíveis, com a observância
Art. 22. O cargo militar é considerado vago a partir de sua cria-
dos seguintes preceitos de ética militar:
ção e até que um militar nele tome posse, ou desde o momento
I - amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de
em que o militar exonerado, ou que tenha recebido determinação
dignidade pessoal;
expressa da autoridade competente, o deixe e até que outro militar
II - exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as funções
nele tome posse de acordo com as normas de provimento previstas que lhe couberem em decorrência do cargo;
no parágrafo único do artigo anterior. III - respeitar a dignidade da pessoa humana;
Parágrafo único. Consideram-se também vagos os cargos mili- IV - cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as instru-
tares cujos ocupantes tenham: ções e as ordens das autoridades competentes;
a) falecido; V - ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação
b) sido considerados extraviados; do mérito dos subordinados;
c) sido feitos prisioneiros; e VI - zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e,
d) sido considerados desertores. também, pelo dos subordinados, tendo em vista o cumprimento
Art. 23. Função militar é o exercício das obrigações inerentes da missão comum;
ao cargo militar. VII - empregar todas as suas energias em benefício do serviço;
Art. 24. Dentro de uma mesma organização militar, a seqüên- VIII - praticar a camaradagem e desenvolver, permanentemen-
cia de substituições para assumir cargo ou responder por funções, te, o espírito de cooperação;
bem como as normas, atribuições e responsabilidades relativas, são IX - ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua lingua-
as estabelecidas na legislação ou regulamentação específicas, res- gem escrita e falada;
peitadas a precedência e a qualificação exigidas para o cargo ou o X - abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria
exercício da função. sigilosa de qualquer natureza;
Art. 25. O militar ocupante de cargo da estrutura das Forças XI - acatar as autoridades civis;
Armadas, provido em caráter efetivo ou interino, observado o dis- XII - cumprir seus deveres de cidadão;
posto no parágrafo único do art. 21 desta Lei, faz jus aos direitos XIII - proceder de maneira ilibada na vida pública e na particu-
correspondentes ao cargo, conforme previsto em lei. (Redação lar;
dada pela Lei nº 13.954, de 2019) XIV - observar as normas da boa educação;
Parágrafo único. A remuneração do militar será calculada com XV - garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-
base no soldo inerente ao seu posto ou à sua graduação, indepen- -se como chefe de família modelar;
dentemente do cargo que ocupar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de XVI - conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na ina-
2019) tividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios da dis-
Art. 26. As obrigações que, pela generalidade, peculiaridade, ciplina, do respeito e do decoro militar;
duração, vulto ou natureza, não são catalogadas como posições ti- XVII - abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para ob-
tuladas em “Quadro de Efetivo”, “Quadro de Organização”, “Tabela ter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar
de Lotação” ou dispositivo legal, são cumpridas como encargo, in- negócios particulares ou de terceiros;
cumbência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de natureza XVIII - abster-se, na inatividade, do uso das designações hie-
militar. rárquicas:

3
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
a) em atividades político-partidárias; tão logo o militar tenha adquirido um grau de instrução compatível
b) em atividades comerciais; com o perfeito entendimento de seus deveres como integrante das
c) em atividades industriais; Forças Armadas.
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a respei- § 1º O compromisso de Guarda-Marinha ou Aspirante-a-Oficial
to de assuntos políticos ou militares, excetuando-se os de natureza é prestado nos estabelecimentos de formação, obedecendo o ceri-
exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e monial ao fixado nos respectivos regulamentos.
e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo § 2º O compromisso como oficial, quando houver, será regula-
que seja da Administração Pública; e do em cada Força Armada.
XIX - zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um
de seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos SEÇÃO III
da ética militar. DO COMANDO E DA SUBORDINAÇÃO
Art. 29. Ao militar da ativa é vedado comerciar ou tomar parte
na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou Art. 34. Comando é a soma de autoridade, deveres e respon-
participar, exceto como acionista ou quotista, em sociedade anôni- sabilidades de que o militar é investido legalmente quando conduz
ma ou por quotas de responsabilidade limitada. homens ou dirige uma organização militar. O comando é vincula-
§ 1º Os integrantes da reserva, quando convocados, ficam do ao grau hierárquico e constitui uma prerrogativa impessoal, em
proibidos de tratar, nas organizações militares e nas repartições cujo exercício o militar se define e se caracteriza como chefe.
públicas civis, de interesse de organizações ou empresas privadas Parágrafo único. Aplica-se à direção e à chefia de organização
de qualquer natureza. militar, no que couber, o estabelecido para comando.
§ 2º Os militares da ativa podem exercer, diretamente, a ges- Art. 35. A subordinação não afeta, de modo algum, a dignidade
tão de seus bens, desde que não infrinjam o disposto no presente pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da estrutura hierar-
artigo. quizada das Forças Armadas.
§ 3º No intuito de desenvolver a prática profissional, é permi- Art. 36. O oficial é preparado, ao longo da carreira, para o exer-
tido aos oficiais titulares dos Quadros ou Serviços de Saúde e de cício de funções de comando, de chefia e de direção.
Veterinária o exercício de atividade técnico-profissional no meio Art. 37. Os graduados auxiliam ou complementam as ativida-
civil, desde que tal prática não prejudique o serviço e não infrinja o des dos oficiais, quer no adestramento e no emprego de meios,
disposto neste artigo. quer na instrução e na administração.
Art. 30. Os Ministros das Forças Singulares poderão determi- Parágrafo único. No exercício das atividades mencionadas nes-
nar aos militares da ativa da respectiva Força que, no interesse da te artigo e no comando de elementos subordinados, os suboficiais,
salvaguarda da dignidade dos mesmos, informem sobre a origem e os subtenentes e os sargentos deverão impor-se pela lealdade, pelo
natureza dos seus bens, sempre que houver razões que recomen- exemplo e pela capacidade profissional e técnica, incumbindo-lhes
dem tal medida. assegurar a observância minuciosa e ininterrupta das ordens, das
regras do serviço e das normas operativas pelas praças que lhes
CAPÍTULO II estiverem diretamente subordinadas e a manutenção da coesão e
DOS DEVERES MILITARES do moral das mesmas praças em todas as circunstâncias.
SEÇÃO I Art. 38. Os Cabos, Taifeiros-Mores, Soldados-de-Primeira-Clas-
CONCEITUAÇÃO se, Taifeiros-de-Primeira-Classe, Marinheiros, Soldados, Soldados-
-de-Segunda-Classe e Taifeiros-de-Segunda-Classe são, essencial-
Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vín- mente, elementos de execução.
culos racionais, bem como morais, que ligam o militar à Pátria e ao Art. 39. Os Marinheiros-Recrutas, Recrutas, Soldados-Recrutas
seu serviço, e compreendem, essencialmente: e Soldados-de-Segunda-Classe constituem os elementos incorpora-
I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e dos às Forças Armadas para a prestação do serviço militar inicial.
instituições devem ser defendidas mesmo com o sacrifício da pró- Art. 40. Às praças especiais cabe a rigorosa observância das
pria vida; prescrições dos regulamentos que lhes são pertinentes, exigindo-
II - o culto aos Símbolos Nacionais; -se-lhes inteira dedicação ao estudo e ao aprendizado técnico-pro-
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias; fissional.
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia; Parágrafo único. Às praças especiais também se assegura a
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e prestação do serviço militar inicial.
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas deci-
urbanidade. sões que tomar, pelas ordens que emitir e pelos atos que praticar.

SEÇÃO II CAPÍTULO III


DO COMPROMISSO MILITAR DA VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES E DOS DEVERES MILITARES
SEÇÃO I
Art. 32. Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Ar- CONCEITUAÇÃO
madas mediante incorporação, matrícula ou nomeação, prestará
compromisso de honra, no qual afirmará a sua aceitação conscien- Art. 42. A violação das obrigações ou dos deveres militares
te das obrigações e dos deveres militares e manifestará a sua firme constituirá crime, contravenção ou transgressão disciplinar, con-
disposição de bem cumpri-los. forme dispuser a legislação ou regulamentação específicas.
Art . 33. O compromisso do incorporado, do matriculado e § 1º A violação dos preceitos da ética militar será tão mais gra-
do nomeado, a que se refere o artigo anterior, terá caráter sole- ve quanto mais elevado for o grau hierárquico de quem a cometer.
ne e será sempre prestado sob a forma de juramento à Bandeira § 2° No concurso de crime militar e de contravenção ou trans-
na presença de tropa ou guarnição formada, conforme os dizeres gressão disciplinar, quando forem da mesma natureza, será aplica-
estabelecidos nos regulamentos específicos das Forças Armadas, e da somente a pena relativa ao crime.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 43. A inobservância dos deveres especificados nas leis e Art. 49. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças
regulamentos, ou a falta de exação no cumprimento dos mesmos, com estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes de per-
acarreta para o militar responsabilidade funcional, pecuniária, dis- manecerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho
ciplinar ou penal, consoante a legislação específica. de Disciplina e afastados das atividades que estiverem exercendo,
Parágrafo único. A apuração da responsabilidade funcional, na forma da regulamentação específica.
pecuniária, disciplinar ou penal poderá concluir pela incompatibili- § 1º O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às
dade do militar com o cargo ou pela incapacidade para o exercício três Forças Armadas.
das funções militares a ele inerentes. § 2º Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em
Art. 44. O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível última instância, os processos oriundos dos Conselhos de Disciplina
com o cargo, ou demonstrar incapacidade no exercício de funções convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas.
militares a ele inerentes, será afastado do cargo. § 3º A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida
§ 1º São competentes para determinar o imediato afastamen- a praça na reserva remunerada ou reformada, presumivelmente
to do cargo ou o impedimento do exercício da função: incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se en-
a) o Presidente da República; contra.
b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do Es-
tado-Maior das Forças Armadas; e TÍTULO III
c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade DOS DIREITOS E DAS PRERROGATIVAS DOS MILITARES
da legislação ou regulamentação específica de cada Força Armada. CAPÍTULO I
§ 2º O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas DOS DIREITOS
neste artigo, ficará privado do exercício de qualquer função militar SEÇÃO I
até a solução do processo ou das providências legais cabíveis. ENUMERAÇÃO
Art. 45. São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto
sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou Art. 50. São direitos dos militares:
político. I - a garantia da patente em toda a sua plenitude, com as van-
tagens, prerrogativas e deveres a ela inerentes, quando oficial, nos
SEÇÃO II termos da Constituição;
DOS CRIMES MILITARES I-A. - a proteção social, nos termos do art. 50-A desta Lei;
(Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 46. O Código Penal Militar relaciona e classifica os crimes II - o provento calculado com base no soldo integral do pos-
militares, em tempo de paz e em tempo de guerra, e dispõe sobre to ou da graduação que possuía por ocasião da transferência para
a aplicação aos militares das penas correspondentes aos crimes por a inatividade remunerada: (Redação dada pela Lei nº 13.954, de
eles cometidos. 2019)
a) por contar mais de 35 (trinta e cinco) anos de serviço; (Inclu-
SEÇÃO III ído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Das Contravenções ou Transgressões Disciplinares
b) por atingir a idade-limite de permanência em atividade no
posto ou na graduação; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas es-
c) por estar enquadrado em uma das hipóteses previstas nos
pecificarão e classificarão as contravenções ou transgressões dis-
incisos VIII ou IX do caput do art. 98 desta Lei; ou (Incluído pela Lei
ciplinares e estabelecerão as normas relativas à amplitude e apli-
nº 13.954, de 2019)
cação das penas disciplinares, à classificação do comportamento
d) por ter sido incluído em quota compulsória unicamente em
militar e à interposição de recursos contra as penas disciplinares.
razão do disposto na alínea “c” do inciso III do caput do art. 101
§ 1º As penas disciplinares de impedimento, detenção ou pri-
desta Lei; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
são não podem ultrapassar 30 (trinta) dias.
§ 2º À praça especial aplicam-se, também, as disposições dis- III - o provento calculado com base em tantas quotas de soldo
ciplinares previstas no regulamento do estabelecimento de ensino do posto ou da graduação quantos forem os anos de serviço, até o
onde estiver matriculada. limite de 35 (trinta e cinco) anos, quando tiver sido abrangido pela
quota compulsória, ressalvado o disposto na alínea “d” do inciso II
SEÇÃO IV do caput deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
DOS CONSELHOS DE JUSTIFICAÇÃO E DE DISCIPLINA IV - nas condições ou nas limitações impostas por legislação e
regulamentação específicas, os seguintes: (Redação dada pela Lei
Art. 48. O oficial presumivelmente incapaz de permanecer nº 13.954, de 2019)
como militar da ativa será, na forma da legislação específica, sub- a) a estabilidade, somente se praça de carreira com 10 (dez)
metido a Conselho de Justificação. anos ou mais de tempo de efetivo serviço; (Redação dada pela Lei
§ 1º O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação, po- nº 13.954, de 2019)
derá ser afastado do exercício de suas funções, a critério do res- b) o uso das designações hierárquicas;
pectivo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica. c) a ocupação de cargo correspondente ao posto ou à gradu-
§ 2º Compete ao Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ação;
ou a Tribunal Especial, em tempo de guerra, julgar, em instância d) a percepção de remuneração;
única, os processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos ca- e) a assistência médico-hospitalar para si e seus dependentes,
sos previstos em lei específica. assim entendida como o conjunto de atividades relacionadas com a
§ 3º A Conselho de Justificação poderá, também, ser subme- prevenção, conservação ou recuperação da saúde, abrangendo ser-
tido o oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivel- viços profissionais médicos, farmacêuticos e odontológicos, bem
mente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que como o fornecimento, a aplicação de meios e os cuidados e demais
se encontra. atos médicos e paramédicos necessários;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
f) o funeral para si e seus dependentes, constituindo-se no con- III - o tutelado ou o curatelado inválido ou menor de 18 (de-
junto de medidas tomadas pelo Estado, quando solicitado, desde o zoito) anos de idade que viva sob a sua guarda por decisão judicial.
óbito até o sepultamento condigno; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
g) a alimentação, assim entendida como as refeições forneci- § 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
das aos militares em atividade; § 5º Após o falecimento do militar, manterão os direitos pre-
h) o fardamento, constituindo-se no conjunto de uniformes, vistos nas alíneas “e”, “f” e “s” do inciso IV do caput deste artigo,
roupa branca e roupa de cama, fornecido ao militar na ativa de gra- enquanto conservarem os requisitos de dependência, mediante
duação inferior a terceiro-sargento e, em casos especiais, a outros participação nos custos e no pagamento das contribuições devi-
militares; das, conforme estabelecidos em regulamento: (Incluído pela Lei nº
i) a moradia para o militar em atividade, compreendendo: 13.954, de 2019)
1 - alojamento em organização militar, quando aquartelado ou I - o viúvo, enquanto não contrair matrimônio ou constituir
embarcado; e união estável; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
2 - habitação para si e seus dependentes; em imóvel sob a res- II - o filho ou o enteado menor de 21 (vinte e um) anos de idade
ponsabilidade da União, de acordo com a disponibilidade existente. ou inválido; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
j) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) III - o filho ou o enteado estudante menor de 24 (vinte e qua-
l) a constituição de pensão militar; tro) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
m) a promoção; IV - os dependentes a que se refere o § 3º deste artigo, por
n) a transferência a pedido para a reserva remunerada; ocasião do óbito do militar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
o) as férias, os afastamentos temporários do serviço e as licen- Art. 50-A. O Sistema de Proteção Social dos Militares das For-
ças; ças Armadas é o conjunto integrado de direitos, serviços e ações,
p) a demissão e o licenciamento voluntários; permanentes e interativas, de remuneração, pensão, saúde e as-
q) o porte de arma quando oficial em serviço ativo ou em inati- sistência, nos termos desta Lei e das regulamentações específicas.
vidade, salvo caso de inatividade por alienação mental ou condena- (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
ção por crimes contra a segurança do Estado ou por atividades que Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por
desaconselhem aquele porte;
qualquer ato administrativo ou disciplinar de superior hierárquico
r) o porte de arma, pelas praças, com as restrições impostas
poderá recorrer ou interpor pedido de reconsideração, queixa ou
pela respectiva Força Armada; e
representação, segundo regulamentação específica de cada Força
s) outros direitos previstos em leis específicas.
Armada.
§ 1º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
§ 1º O direito de recorrer na esfera administrativa prescreverá:
31.8.2001)
a) em 15 (quinze) dias corridos, a contar do recebimento da co-
§ 2º São considerados dependentes do militar, desde que as-
municação oficial, quanto a ato que decorra de inclusão em quota
sim declarados por ele na organização militar competente: (Reda-
compulsória ou de composição de Quadro de Acesso; e
ção dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
I - o cônjuge ou o companheiro com quem viva em união es- b) em 45 (quarenta e cinco) dias, nas demais hipóteses. (Re-
tável, na constância do vínculo; (Redação dada pela Lei nº 13.954, dação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
de 2019) § 2º O pedido de reconsideração, a queixa e a representação
II - o filho ou o enteado: (Redação dada pela Lei nº 13.954, de não podem ser feitos coletivamente.
2019) § 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
a) menor de 21 (vinte e um) anos de idade; (Incluído pela Lei Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que
nº 13.954, de 2019) oficiais, guardas-marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou sub-
b) inválido; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) tenentes, sargentos ou alunos das escolas militares de nível supe-
III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) rior para formação de oficiais.
IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas
V - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) às seguintes condições:
VI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se
VII - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) candidatar a cargo eletivo, excluído do serviço ativo mediante de-
VIII - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) missão ou licenciamento ex officio ; e
§ 3º Podem, ainda, ser considerados dependentes do militar, b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço, será,
desde que não recebam rendimentos e sejam declarados por ele na ao se candidatar a cargo eletivo, afastado, temporariamente, do
organização militar competente: (Redação dada pela Lei nº 13.954, serviço ativo e agregado, considerado em licença para tratar de in-
de 2019) teresse particular; se eleito, será, no ato da diplomação, transferido
a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que fizer
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) jus em função do seu tempo de serviço.
c) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
d) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) SEÇÃO II
e) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) DA REMUNERAÇÃO
f) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
g) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) Art. 53. A remuneração dos militares será estabelecida em le-
h) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) gislação específica, comum às Forças Armadas. (Redação dada pela
i) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
j) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) I - na ativa; (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
I - o filho ou o enteado estudante menor de 24 (vinte e quatro) a) soldo, gratificações e indenizações regulares; (Redação dada
anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) pela Lei nº 8.237, de 1991)
II - o pai e a mãe; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) II - na inatividade: (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
a) proventos, constituídos de soldo os quotas de soldo e grati- III - Contra-Almirantes, Generais-de-Brigada e Brigadeiros - 1/4
ficações incorporáveis; (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991) (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros;
b) adicionais. (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991) IV - Capitães-de-Mar-e-Guerra e Coronéis - no mínimo 1/8 (um
Art. 53-A. A remuneração dos militares ativos e inativos é en- oitavo) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços;
cargo financeiro do Tesouro Nacional. (Incluído pela Lei nº 13.954, V - Capitães-de-Fragata e Tenentes-Coronéis - no mínimo 1/15
de 2019) (um quinze avos) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas ou Ser-
Art. 54. O soldo é irredutível e não está sujeito à penhora, se- viços;
qüestro ou arresto, exceto nos casos previstos em lei. VI - Capitães-de-Corveta e Majores - no mínimo 1/20 (um vinte
Art. 55. O valor do soldo é igual para o militar da ativa, da re- avos) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços; e
serva remunerada ou reformado, de um mesmo grau hierárquico, VII - Oficiais dos 3 (três) últimos postos dos Quadros de que
ressalvado o disposto no item II, do caput , do artigo 50. trata a alínea b do inciso I do art. 98, 1/4 para o último posto, no
Art. 56. Por ocasião de sua passagem para a inatividade, o mi- mínimo 1/10 para o penúltimo posto, e no mínimo 1/15 para o an-
litar terá direito a tantas quotas de soldo quantos forem os anos de tepenúltimo posto, dos respectivos Quadros, exceto quando o úl-
serviço computáveis para a inatividade, até o máximo de 35 (trinta timo e o penúltimo postos forem Capitão-Tenente ou capitão e 1º
e cinco) anos, ressalvado o disposto nas alíneas “b”, “c” e “d” do Tenente, caso em que as proporções serão no mínimo 1/10 e 1/20,
inciso II do caput do art. 50 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 7.666, de 1988)
13.954, de 2019) § 1º O número de vagas para promoção obrigatória em cada
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, ano-base para os postos relativos aos itens IV, V, VI e VII deste ar-
de 2019) tigo será fixado, para cada Força, em decretos separados, até o dia
Art. 57. Nos termos do § 9º, do artigo 93, da Constituição, a 15 (quinze) de janeiro do ano seguinte.
proibição de acumular proventos de inatividade não se aplica aos § 2º As frações que resultarem da aplicação das proporções
militares da reserva remunerada e aos reformados quanto ao exer- estabelecidas neste artigo serão adicionadas, cumulativamente,
cício de mandato eletivo, quanto ao de função de magistério ou aos cálculos correspondentes dos anos seguintes, até completar-se
de cargo em comissão ou quanto ao contrato para prestação de pelo menos 1 (um) inteiro que, então, será computado para obten-
ção de uma vaga para promoção obrigatória.
serviços técnicos ou especializados.
§ 3º As vagas serão consideradas abertas:
Art. 58. Os proventos de inatividade serão revistos sempre
a) na data da assinatura do ato que promover, passar para a
que, por motivo de alteração do poder aquisitivo da moeda, se mo-
inatividade, transferir de Corpo ou Quadro, demitir ou agregar o
dificarem os vencimentos dos militares em serviço ativo. militar;
Parágrafo único. Ressalvados os casos previstos em lei, os pro- b) na data fixada na Lei de Promoções de Oficiais da Ativa das
ventos da inatividade não poderão exceder à remuneração percebi- Forças Armadas ou seus regulamentos, em casos neles indicados; e
da pelo militar da ativa no posto ou graduação correspondente aos c) na data oficial do óbito do militar.
dos seus proventos. Art. 62. Não haverá promoção de militar por ocasião de sua
transferência para a reserva remunerada ou reforma.
SEÇÃO III
DA PROMOÇÃO SEÇÃO IV
DAS FÉRIAS E DE OUTROS
Art. 59. O acesso na hierarquia militar, fundamentado prin- AFASTAMENTOS TEMPORÁRIOS DO SERVIÇO
cipalmente no valor moral e profissional, é seletivo, gradual e su-
cessivo e será feito mediante promoções, de conformidade com a Art. 63. Férias são afastamentos totais do serviço, anual e obri-
legislação e regulamentação de promoções de oficiais e de praças, gatoriamente concedidos aos militares para descanso, a partir do
de modo a obter-se um fluxo regular e equilibrado de carreira para último mês do ano a que se referem e durante todo o ano seguinte.
os militares. § 1º O Poder Executivo fixará a duração das férias, inclusive
Parágrafo único. O planejamento da carreira dos oficiais e das para os militares servindo em localidades especiais.
praças é atribuição de cada um dos Ministérios das Forças Singu- § 2º Compete aos Ministros Militares regulamentar a conces-
lares. são de férias.
Art. 60. As promoções serão efetuadas pelos critérios de an- § 3o A concessão de férias não é prejudicada pelo gozo ante-
tigüidade, merecimento ou escolha, ou, ainda, por bravura e post rior de licença para tratamento de saúde, nem por punição anterior
mortem . decorrente de contravenção ou transgressão disciplinar, ou pelo
§ 1º Em casos extraordinários e independentemente de vagas, estado de guerra, ou para que sejam cumpridos atos em serviço,
poderá haver promoção em ressarcimento de preterição. bem como não anula o direito àquela licença. (Redação dada pela
§ 2º A promoção de militar feita em ressarcimento de prete- Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
§ 4º Somente em casos de interesse da segurança nacional,
rição será efetuada segundo os critérios de antigüidade ou mere-
de manutenção da ordem, de extrema necessidade do serviço, de
cimento, recebendo ele o número que lhe competir na escala hie-
transferência para a inatividade, ou para cumprimento de punição
rárquica, como se houvesse sido promovido, na época devida, pelo
decorrente de contravenção ou de transgressão disciplinar de na-
critério em que ora é feita sua promoção. tureza grave e em caso de baixa a hospital, os militares terão in-
Art. 61. A fim de manter a renovação, o equilíbrio e a regulari- terrompido ou deixarão de gozar na época prevista o período de
dade de acesso nos diferentes Corpos, Quadros, Armas ou Serviços, férias a que tiverem direito, registrando-se o fato em seus assen-
haverá anual e obrigatoriamente um número fixado de vagas à pro- tamentos.
moção, nas proporções abaixo indicadas: § 5º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
I - Almirantes-de-Esquadra, Generais-de-Exército e Tenentes- 31.8.2001)
-Brigadeiros - 1/4 (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros; Art. 64. Os militares têm direito, ainda, aos seguintes períodos
II - Vice-Almirantes, Generais-de-Divisão e Majores-Brigadeiros de afastamento total do serviço, obedecidas às disposições legais e
- 1/4 (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros; regulamentares, por motivo de:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
I - núpcias: 8 (oito) dias; militar das Forças Armadas para o desempenho de funções com-
II - luto: 8 (oito) dias; patíveis com o seu nível hierárquico. (Incluído pela Lei nº 11.447,
III - instalação: até 10 (dez) dias; e de 2007)
IV - trânsito: até 30 (trinta) dias. § 5o A passagem à disposição ou à situação de adido ou a
Art. 65. As férias e os afastamentos mencionados no artigo classificação/lotação em organização militar, de que trata o § 4o
anterior são concedidos com a remuneração prevista na legislação deste artigo, será efetivada sem ônus para a União e sempre com a
específica e computados como tempo de efetivo serviço para todos aquiescência das Forças Armadas envolvidas. (Incluído pela Lei nº
os efeitos legais. 11.447, de 2007)
Art. 66. As férias, instalação e trânsito dos militares que se en- Art. 70. As licenças poderão ser interrompidas a pedido ou nas
contrem a serviço no estrangeiro devem ter regulamentação idên- condições estabelecidas neste artigo.
tica para as três Forças Armadas. § 1o A interrupção da licença especial, da licença para tratar
de interesse particular e da licença para acompanhar cônjuge ou
SEÇÃO V companheiro(a) poderá ocorrer: (Redação dada pela Lei nº 11.447,
DAS LICENÇAS de 2007)
a) em caso de mobilização e estado de guerra;
Art. 67. Licença é a autorização para afastamento total do ser- b) em caso de decretação de estado de emergência ou de es-
viço, em caráter temporário, concedida ao militar, obedecidas às tado de sítio;
disposições legais e regulamentares. c) para cumprimento de sentença que importe em restrição da
§ 1º A licença pode ser: liberdade individual;
a) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) d) para cumprimento de punição disciplinar, conforme regula-
b) para tratar de interesse particular; mentação de cada Força. (Redação dada pela Medida Provisória nº
c) para tratamento de saúde de pessoa da família; e 2.215-10, de 31.8.2001)
d) para tratamento de saúde própria. e) em caso de denúncia ou de pronúncia em processo criminal
e) para acompanhar cônjuge ou companheiro; (Redação dada ou indiciação em inquérito militar, a juízo da autoridade que efeti-
pela Lei nº 13.954, de 2019) vou a denúncia, a pronúncia ou a indiciação.
f) para maternidade, paternidade ou adoção. (Incluído pela Lei § 2o A interrupção da licença para tratar de interesse particu-
nº 13.954, de 2019) lar e da licença para acompanhar cônjuge ou companheiro(a) será
§ 2º A remuneração do militar licenciado será regulada em le- definitiva quando o militar for reformado ou transferido, de ofício,
gislação específica. para a reserva remunerada. (Redação dada pela Lei nº 11.447, de
§ 3o A concessão da licença é regulada pelo Comandante 2007)
da Força. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de § 3º A interrupção da licença para tratamento de saúde de pes-
31.8.2001) soa da família, para cumprimento de pena disciplinar que importe
Art. 68. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de em restrição da liberdade individual, será regulada em cada Força.
31.8.2001)
Art. 69. Licença para tratar de interesse particular é a autoriza- SEÇÃO VI
ção para o afastamento total do serviço, concedida ao militar, com DA PENSÃO MILITAR
mais de 10 (dez) anos de efetivo serviço, que a requeira com aquela
finalidade. Art. 71. A pensão militar destina-se a amparar os beneficiários
Parágrafo único. A licença de que trata este artigo será sempre do militar falecido ou extraviado e será paga conforme o disposto
concedida com prejuízo da remuneração e da contagem de tempo em legislação específica.
de efetivo serviço, exceto, quanto a este último, para fins de indica- § 1º Para fins de aplicação da legislação específica, será consi-
ção para a quota compulsória. derado como posto ou graduação do militar o correspondente ao
Art. 69-A. A licença para acompanhar cônjuge ou companhei- soldo sobre o qual forem calculadas as suas contribuições.
ro é a autorização para o afastamento total do serviço concedida § 2º Todos os militares são contribuintes obrigatórios da pen-
a militar de carreira que a requeira para acompanhar cônjuge ou são militar correspondente ao seu posto ou graduação, com as ex-
companheiro servidor público da União ou militar das Forças Arma- ceções previstas em legislação específica.
das que for, de ofício, exercer atividade em órgão da administração § 2º-A. As pensões militares são custeadas com recursos
pública federal situado em outro ponto do território nacional ou no provenientes da contribuição dos militares das Forças Armadas,
exterior, diverso da localização da organização militar do requeren- de seus pensionistas e do Tesouro Nacional. (Incluído pela Lei nº
te. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) 13.954, de 2019)
§ 1o A licença será concedida sempre com prejuízo da remu- § 3º Todo militar é obrigado a fazer sua declaração de benefici-
neração e da contagem de tempo de efetivo serviço, exceto, quan- ários que, salvo prova em contrário, prevalecerá para a habilitação
to a este último, para fins de indicação para a quota compulsória. dos mesmos à pensão militar.
(Incluído pela Lei nº 11.447, de 2007) Art. 72. A pensão militar defere-se nas prioridades e condições
§ 2o O prazo-limite para a licença será de 36 (trinta e seis) estabelecidas em legislação específica.
meses, podendo ser concedido de forma contínua ou fracionada.
(Incluído pela Lei nº 11.447, de 2007) CAPÍTULO II
§ 3o Para a concessão da licença para acompanhar compa- DAS PRERROGATIVAS
nheiro(a), há necessidade de que seja reconhecida a união estável SEÇÃO I
entre o homem e a mulher como entidade familiar, de acordo com CONSTITUIÇÃO E ENUMERAÇÃO
a legislação específica. (Incluído pela Lei nº 11.447, de 2007)
§ 4o Não será concedida a licença de que trata este artigo Art. 73. As prerrogativas dos militares são constituídas pelas
quando o militar acompanhante puder ser passado à disposição honras, dignidades e distinções devidas aos graus hierárquicos e
ou à situação de adido ou ser classificado/lotado em organização cargos.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Parágrafo único. São prerrogativas dos militares: Parágrafo único. São responsáveis pela infração das disposi-
a) uso de títulos, uniformes, distintivos, insígnias e emblemas ções deste artigo, além dos indivíduos que a tenham cometido, os
militares das Forças Armadas, correspondentes ao posto ou gradu- comandantes das Forças Auxiliares, diretores ou chefes de reparti-
ação, Corpo, Quadro, Arma, Serviço ou Cargo; ções, organizações de qualquer natureza, firmas ou empregadores,
b) honras, tratamento e sinais de respeito que lhes sejam asse- empresas, institutos ou departamentos que tenham adotado ou
gurados em leis e regulamentos; consentido sejam usados uniformes ou ostentados distintivos, in-
c) cumprimento de pena de prisão ou detenção somente em sígnias ou emblemas que possam ser confundidos com os adotados
organização militar da respectiva Força cujo comandante, chefe ou nas Forças Armadas.
diretor tenha precedência hierárquica sobre o preso ou, na impos-
sibilidade de cumprir esta disposição, em organização militar de TÍTULO IV
outra Força cujo comandante, chefe ou diretor tenha a necessária DAS DISPOSIÇÕES DIVERSAS
precedência; e CAPÍTULO I
d) julgamento em foro especial, nos crimes militares. DAS SITUAÇÕES ESPECIAIS
Art. 74. Somente em caso de flagrante delito o militar poderá SEÇÃO I
ser preso por autoridade policial, ficando esta obrigada a entregá- DA AGREGAÇÃO
-lo imediatamente à autoridade militar mais próxima, só podendo
retê-lo, na delegacia ou posto policial, durante o tempo necessário Art. 80. Agregação é a situação na qual o militar da ativa deixa
à lavratura do flagrante. de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Corpo, Quadro, Arma
§ 1º Cabe à autoridade militar competente a iniciativa de res- ou Serviço, nela permanecendo sem número.
ponsabilizar a autoridade policial que não cumprir ao disposto nes- Art. 81. O militar será agregado e considerado, para todos os
te artigo e a que maltratar ou consentir que seja maltratado qual- efeitos legais, como em serviço ativo quando:
quer preso militar ou não lhe der o tratamento devido ao seu posto I - for nomeado para cargo, militar ou considerado de natureza
ou graduação. militar, estabelecido em lei ou decreto, no País ou no estrangeiro,
§ 2º Se, durante o processo e julgamento no foro civil, hou- não-previsto nos Quadros de Organização ou Tabelas de Lotação
ver perigo de vida para qualquer preso militar, a autoridade militar da respectiva Força Armada, exceção feita aos membros das comis-
competente, mediante requisição da autoridade judiciária, manda- sões de estudo ou de aquisição de material, aos observadores de
rá guardar os pretórios ou tribunais por força federal. guerra e aos estagiários para aperfeiçoamento de conhecimentos
Art. 75. Os militares da ativa, no exercício de funções militares, militares em organizações militares ou industriais no estrangeiro;
são dispensados do serviço na instituição do Júri e do serviço na II - for posto à disposição exclusiva do Ministério da Defesa ou
Justiça Eleitoral. de Força Armada diversa daquela a que pertença, para ocupar car-
go militar ou considerado de natureza militar; (Redação dada pela
SEÇÃO II Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
DO USO DOS UNIFORMES III - aguardar transferência ex officio para a reserva, por ter
sido enquadrado em quaisquer dos requisitos que a motivaram;
Art. 76. Os uniformes das Forças Armadas, com seus distinti- IV - o órgão competente para formalizar o respectivo proces-
vos, insígnias e emblemas, são privativos dos militares e simbolizam
so tiver conhecimento oficial do pedido de transferência do militar
a autoridade militar, com as prerrogativas que lhe são inerentes.
para a reserva; e
Parágrafo único. Constituem crimes previstos na legislação es-
V - houver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos na situação
pecífica o desrespeito aos uniformes, distintivos, insígnias e emble-
de convocado para funcionar como Ministro do Superior Tribunal
mas militares, bem como seu uso por quem a eles não tiver direito.
Militar.
Art. 77. O uso dos uniformes com seus distintivos, insígnias e
§ 1º A agregação de militar nos casos dos itens I e II é contada
emblemas, bem como os modelos, descrição, composição, peças
a partir da data da posse no novo cargo até o regresso à Força Ar-
acessórias e outras disposições, são os estabelecidos na regula-
mentação específica de cada Força Armada. mada a que pertence ou a transferência ex officio para a reserva.
§ 1º É proibido ao militar o uso dos uniformes: § 2º A agregação de militar no caso do item III é contada a par-
a) em manifestação de caráter político-partidária; tir da data indicada no ato que tornar público o respectivo evento.
b) em atividade não-militar no estrangeiro, salvo quando ex- § 3º A agregação de militar no caso do item IV é contada a par-
pressamente determinado ou autorizado; e tir da data indicada no ato que tornar pública a comunicação oficial
c) na inatividade, salvo para comparecer a solenidades mili- até a transferência para a reserva.
tares, a cerimônias cívicas comemorativas de datas nacionais ou § 4º A agregação de militar no caso do item V é contada a partir
a atos sociais solenes de caráter particular, desde que autorizado. do primeiro dia após o respectivo prazo e enquanto durar o evento.
§ 2º O oficial na inatividade, quando no cargo de Ministro de Art. 82. O militar será agregado quando for afastado tempora-
Estado da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, poderá usar os riamente do serviço ativo por motivo de:
mesmos uniformes dos militares na ativa. I - ter sido julgado incapaz temporariamente, após 1 (um) ano
§ 3º Os militares na inatividade cuja conduta possa ser consi- contínuo de tratamento;
derada como ofensiva à dignidade da classe poderão ser definiti- II - haver ultrapassado 1 (um) ano contínuo em licença para
vamente proibidos de usar uniformes por decisão do Ministro da tratamento de saúde própria;
respectiva Força Singular. III - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em licença
Art. 78. O militar fardado tem as obrigações correspondentes para tratar de interesse particular ou em licença para acompanhar
ao uniforme que use e aos distintivos, emblemas ou às insígnias cônjuge ou companheiro(a); (Redação dada pela Lei nº 11.447, de
que ostente. 2007)
Art. 79. É vedado às Forças Auxiliares e a qualquer elemento IV - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em licença
civil ou organizações civis usar uniformes ou ostentar distintivos, para tratar de saúde de pessoa da família;
insígnias ou emblemas que possam ser confundidos com os adota- V - ter sido julgado incapaz definitivamente, enquanto tramita
dos nas Forças Armadas. o processo de reforma;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
VI - ter sido considerado oficialmente extraviado; SEÇÃO III
VII - ter-se esgotado o prazo que caracteriza o crime de deser- DO EXCEDENTE
ção previsto no Código Penal Militar, se oficial ou praça com esta-
bilidade assegurada; Art. 88. Excedente é a situação transitória a que, automatica-
VIII - como desertor, ter-se apresentado voluntariamente, ou mente, passa o militar que:
ter sido capturado, e reincluído a fim de se ver processar; I - tendo cessado o motivo que determinou sua agregação, re-
IX - se ver processar, após ficar exclusivamente à disposição da verta ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, estando qual-
Justiça Comum; quer destes com seu efetivo completo;
X - ter sido condenado à pena restritiva de liberdade superior a II - aguarda a colocação a que faz jus na escala hierárquica,
6 (seis) meses, em sentença transitada em julgado, enquanto durar após haver sido transferido de Corpo ou Quadro, estando os mes-
a execução, excluído o período de sua suspensão condicional, se mos com seu efetivo completo;
concedida esta, ou até ser declarado indigno de pertencer às Forças III - é promovido por bravura, sem haver vaga;
Armadas ou com elas incompatível; IV - é promovido indevidamente;
XI - ter sido condenado à pena de suspensão do exercício do V - sendo o mais moderno da respectiva escala hierárquica,
posto, graduação, cargo ou função prevista no Código Penal Militar; ultrapasse o efetivo de seu Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, em
XII - ter passado à disposição de Ministério Civil, de órgão do virtude de promoção de outro militar em ressarcimento de prete-
Governo Federal, de Governo Estadual, de Território ou Distrito Fe- rição; e
deral, para exercer função de natureza civil; VI - tendo cessado o motivo que determinou sua reforma por
XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo público civil tem- incapacidade definitiva, retorne ao respectivo Corpo, Quadro, Arma
porário, não-eletivo, inclusive da administração indireta; e ou Serviço, estando qualquer destes com seu efetivo completo.
XIV - ter-se candidatado a cargo eletivo, desde que conte 5 § 1º O militar cuja situação é a de excedente, salvo o indevi-
(cinco) ou mais anos de serviço. damente promovido, ocupa a mesma posição relativa, em antigüi-
§ 1° A agregação de militar nos casos dos itens I, II, III e IV é con- dade, que lhe cabe na escala hierárquica e receberá o número que
tada a partir do primeiro dia após os respectivos prazos e enquanto lhe competir, em conseqüência da primeira vaga que se verificar,
durar o evento. observado o disposto no § 3º do artigo 100.
§ 2º A agregação de militar nos casos dos itens V, VI, VII, VIII, IX, § 2º O militar, cuja situação é de excedente, é considerado,
X e XI é contada a partir da data indicada no ato que tornar público para todos os efeitos, como em efetivo serviço e concorre, respei-
o respectivo evento. tados os requisitos legais, em igualdade de condições e sem nenhu-
§ 3º A agregação de militar nos casos dos itens XII e XIII é con- ma restrição, a qualquer cargo militar, bem como à promoção e à
tada a partir da data de posse no novo cargo até o regresso à Força quota compulsória.
Armada a que pertence ou transferência ex officio para a reserva. § 3º O militar promovido por bravura sem haver vaga ocupa-
§ 4º A agregação de militar no caso do item XIV é contada a rá a primeira vaga aberta, observado o disposto no § 3º do artigo
partir da data do registro como candidato até sua diplomação ou 100, deslocando o critério de promoção a ser seguido para a vaga
seu regresso à Força Armada a que pertence, se não houver sido seguinte.
eleito. § 4º O militar promovido indevidamente só contará antigüi-
Art. 82-A. Considera-se incapaz para o serviço ativo o militar dade e receberá o número que lhe competir na escala hierárquica
que, temporária ou definitivamente, se encontrar física ou mental- quando a vaga que deverá preencher corresponder ao critério pelo
mente inapto para o exercício de cargos, funções e atividades mili- qual deveria ter sido promovido, desde que satisfaça aos requisitos
tares. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) para promoção.
Art. 83. O militar agregado fica sujeito às obrigações discipli-
nares concernentes às suas relações com outros militares e auto- SEÇÃO IV
ridades civis, salvo quando titular de cargo que lhe dê precedência DO AUSENTE E DO DESERTOR
funcional sobre outros militares mais graduados ou mais antigos.
Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de altera- Art. 89. É considerado ausente o militar que, por mais de 24
ções e remuneração, à organização militar que lhe for designada, (vinte e quatro) horas consecutivas:
continuando a figurar no respectivo registro, sem número, no lugar I - deixar de comparecer à sua organização militar sem comuni-
que até então ocupava. car qualquer motivo de impedimento; e
Art. 85. A agregação se faz por ato do Presidente da República II - ausentar-se, sem licença, da organização militar onde serve
ou da autoridade à qual tenha sido delegada a devida competência. ou local onde deve permanecer.
Parágrafo único. Decorrido o prazo mencionado neste artigo,
SEÇÃO II serão observadas as formalidades previstas em legislação especí-
DA REVERSÃO fica.
Art. 90. O militar é considerado desertor nos casos previstos na
Art. 86. Reversão é o ato pelo qual o militar agregado retorna legislação penal militar.
ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse o mo-
tivo que determinou sua agregação, voltando a ocupar o lugar que SEÇÃO V
lhe competir na respectiva escala numérica, na primeira vaga que DO DESAPARECIDO E DO EXTRAVIADO
ocorrer, observado o disposto no § 3° do artigo 100.
Parágrafo único. Em qualquer tempo poderá ser determinada Art. 91. É considerado desaparecido o militar na ativa que, no
a reversão do militar agregado nos casos previstos nos itens IX, XII desempenho de qualquer serviço, em viagem, em campanha ou em
e XIII do artigo 82. caso de calamidade pública, tiver paradeiro ignorado por mais de
Art. 87. A reversão será efetuada mediante ato do Presidente 8 (oito) dias.
da República ou da autoridade à qual tenha sido delegada a devida Parágrafo único. A situação de desaparecimento só será consi-
competência. derada quando não houver indício de deserção.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 92. O militar que, na forma do artigo anterior, permanecer Art. 97. A transferência para a reserva remunerada, a pedido,
desaparecido por mais de 30 (trinta) dias, ser oficialmente conside- será concedida, por meio de requerimento, ao militar de carrei-
rado extraviado. ra que contar, no mínimo, 35 (trinta e cinco) anos de serviço, dos
quais: (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
SEÇÃO VI I - no mínimo, 30 (trinta) anos de exercício de atividade de
DO COMISSIONADO natureza militar nas Forças Armadas, para os oficiais formados na
Escola Naval, na Academia Militar das Agulhas Negras, na Acade-
Art. 93. Após a declaração de estado de guerra, os militares mia da Força Aérea, no Instituto Militar de Engenharia, no Instituto
em serviço ativo poderão ser comissionados, temporariamente, em Tecnológico de Aeronáutica e em escola ou centro de formação de
postos ou graduações superiores aos que efetivamente possuírem. oficiais oriundos de carreira de praça e para as praças; ou (Incluído
Parágrafo único. O comissionamento de que trata este artigo pela Lei nº 13.954, de 2019)
será regulado em legislação específica. II - no mínimo, 25 (vinte e cinco) anos de exercício de atividade
de natureza militar nas Forças Armadas, para os oficiais não en-
CAPÍTULO II quadrados na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo.
DA EXCLUSÃO DO SERVIÇO ATIVO (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
SEÇÃO I § 1º O oficial de carreira da ativa pode pleitear transferência
DA OCORRÊNCIA para a reserva remunerada por meio de inclusão voluntária na quo-
ta compulsória, nos termos do art. 101 desta Lei. (Redação dada
Art. 94. A exclusão do serviço ativo das Forças Armadas e o pela Lei nº 13.954, de 2019)
conseqüente desligamento da organização a que estiver vinculado § 2º Na hipótese de o militar haver realizado qualquer curso ou
o militar decorrem dos seguintes motivos: (Vide Decreto nº 2.790, estágio de duração superior a 6 (seis) meses custeado pela União,
de 1998) no exterior ou no País fora das instituições militares, sem que te-
I - transferência para a reserva remunerada; nham decorridos 3 (três) anos de seu término, a transferência para
II - reforma; a reserva será concedida após a indenização de todas as despesas
III - demissão; correspondentes à realização do referido curso ou estágio, inclusi-
IV - perda de posto e patente; ve as diferenças de vencimentos, no caso de cursos no exterior, e o
V - licenciamento; cálculo de indenização será efetuado pela respectiva Força Armada,
VI - anulação de incorporação; conforme estabelecido em regulamento pelo Ministério da Defesa.
VII - desincorporação;
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
VIII - a bem da disciplina;
§ 3º O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos oficiais
IX - deserção;
que deixem de ser incluídos em Lista de Escolha, quando nela tenha
X - falecimento; e
entrado oficial mais moderno do seu respectivo Corpo, Quadro,
XI - extravio.
Arma ou Serviço.
§ 1º O militar excluído do serviço ativo e desligado da organiza-
§ 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
ção a que estiver vinculado passará a integrar a reserva das Forças
a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
Armadas, exceto se incidir em qualquer dos itens II, IV, VI, VIII, IX,
b) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
X e XI deste artigo ou for licenciado, ex officio , a bem da disciplina.
§ 2º Os atos referentes às situações de que trata o presente § 5º O valor correspondente à indenização referida no § 2º des-
artigo são da alçada do Presidente da República, ou da autoridade te artigo poderá ser descontado diretamente da remuneração do
competente para realizá-los, por delegação. militar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 95. O militar na ativa, enquadrado em um dos itens I, II, V Art. 98. A transferência de ofício para a reserva remunerada
e VII do artigo anterior, ou demissionário a pedido, continuará no ocorrerá sempre que o militar se enquadrar em uma das seguintes
exercício de suas funções até ser desligado da organização militar hipóteses: (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
em que serve. I - atingir as seguintes idades-limites: (Redação dada pela Lei
§ 1º O desligamento do militar da organização em que serve nº 13.954, de 2019)
deverá ser feito após a publicação em Diário Oficial , em Boletim a) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para todos os ofi-
ou em Ordem de Serviço de sua organização militar, do ato oficial ciais-generais e para os oficiais dos Corpos, Quadros, Armas e Ser-
correspondente, e não poderá exceder 45 (quarenta e cinco) dias viços não incluídos na alínea “b” deste inciso: (Redação dada pela
da data da primeira publicação oficial. Lei nº 13.954, de 2019)
§ 2º Ultrapassado o prazo a que se refere o parágrafo anterior, 1. 70 (setenta) anos, nos postos de Almirante de Esquadra, Ge-
o militar será considerado desligado da organização a que estiver neral de Exército e Tenente-Brigadeiro; (Redação dada pela Lei nº
vinculado, deixando de contar tempo de serviço, para fins de trans- 13.954, de 2019)
ferência para a inatividade. 2. 69 (sessenta e nove) anos, nos postos de Vice-Almirante,
General de Divisão e Major-Brigadeiro; (Redação dada pela Lei nº
SEÇÃO II 13.954, de 2019)
DA TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA 3. 68 (sessenta e oito) anos, nos postos de Contra-Almirante,
General de Brigada e Brigadeiro; (Redação dada pela Lei nº 13.954,
Art. 96. A passagem do militar à situação de inatividade, me- de 2019)
diante transferência para a reserva remunerada, se efetua: 4. 67 (sessenta e sete) anos, nos postos de Capitão de Mar e
I - a pedido; e Guerra e Coronel; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
II - ex officio . 5. 64 (sessenta e quatro) anos, nos postos de Capitão de Fraga-
Parágrafo único. A transferência do militar para a reserva re- ta e Tenente-Coronel; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
munerada pode ser suspensa na vigência do estado de guerra, es- 6. 61 (sessenta e um) anos, nos postos de Capitão de Corveta e
tado de sítio, estado de emergência ou em caso de mobilização. Major; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
7. 55 (cinquenta e cinco) anos, nos postos de Capitão-Tenente, VI - for a praça abrangida pela quota compulsória, na forma
Capitão e oficiais subalternos; (Redação dada pela Lei nº 13.954, regulada em decreto, para cada Força Singular;
de 2019) VII - for o militar considerado não habilitado para o acesso em
b) na Marinha, para os oficiais do Quadro de Cirurgiões-Dentis- caráter definitivo, no momento em que vier a ser objeto de aprecia-
tas (CD) e do Quadro de Apoio à Saúde (S), integrantes do Corpo de ção para ingresso em quadro de acesso ou lista de escolha; (Reda-
Saúde da Marinha, e do Quadro Técnico (T), do Quadro Auxiliar da ção dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
Armada (AA) e do Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais (AFN), inte- VIII - deixar o Oficial-General, o Capitão-de-Mar-e-Guerra ou o
grantes do Corpo Auxiliar da Marinha; no Exército, para os oficiais Coronel de integrar a Lista de Escolha a ser apresentada ao Presi-
do Quadro Complementar de Oficiais (QCO), do Quadro Auxiliar de dente da República, pelo número de vezes fixado pela Lei de Pro-
Oficiais (QAO), do Quadro de Oficiais Médicos (QOM), do Quadro moções de Oficiais da Ativa das Forças Armadas, quando na refe-
de Oficiais Farmacêuticos (QOF) e do Quadro de Oficiais Dentistas rida Lista de Escolha tenha entrado oficial mais moderno do seu
(QOD); na Aeronáutica, para os oficiais do Quadro de Oficiais Mé- respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço;
dicos (QOMed), do Quadro de Oficiais Farmacêuticos (QOFarm), IX - for o Capitão de Mar e Guerra ou o Coronel inabilitado para
do Quadro de Oficiais Dentistas (QODent), dos Quadros de Oficiais o acesso por não possuir os requisitos para a promoção ao primeiro
Especialistas em Aviões (QOEAv), em Comunicações (QOECom), posto de oficial-general, ultrapassado 2 (duas) vezes, consecutivas
ou não, por oficial mais moderno do respectivo Corpo, Quadro,
em Armamento (QOEArm), em Fotografia (QOEFot), em Meteo-
Arma ou Serviço que tenha sido incluído em lista de escolha; (Re-
rologia (QOEMet), em Controle de Tráfego Aéreo (QOECTA), e em
dação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
Suprimento Técnico (QOESup), do Quadro de Oficiais Especialistas
X - deixar o oficial do penúltimo posto de Quadro, Arma ou
da Aeronáutica (QOEA) e do Quadro de Oficiais de Apoio (QOAp):
Serviço, cujo último posto seja de oficial superior, de ingressar em
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) Quadro de Acesso por Merecimento pelo número de vezes estabe-
1. 67 (sessenta e sete) anos, nos postos de Capitão de Mar e lecido pela Lei nº 5.821, de 10 de novembro de 1972, quando nele
Guerra e Coronel; tenha entrado oficial mais moderno do respectivo Quadro, Arma ou
2. 65 (sessenta e cinco) anos, nos postos de Capitão de Fragata Serviço; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
e Tenente-Coronel; XI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
3. 64 (sessenta e quatro) anos, nos postos de Capitão de Cor- XII - ultrapassar 2 (dois) anos, contínuos ou não, em licença
veta e Major; para tratar de interesse particular;
4. 63 (sessenta e três) anos, nos postos de Capitão-Tenente, XIII - ultrapassar 2 (dois) anos contínuos em licença para trata-
Capitão e oficiais subalternos; mento de saúde de pessoa de sua família;
c) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para praças: XIV - (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996);
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) XV - ultrapassar 2 (dois) anos de afastamento, contínuos ou
1. 63 (sessenta e três) anos, nas graduações de Suboficial e não, agregado em virtude de ter passado a exercer cargo ou empre-
Subtenente; go público civil temporário, não-eletivo, inclusive da administração
2. 57 (cinquenta e sete) anos, nas graduações de Primeiro-Sar- indireta; e
gento e Taifeiro-Mor; XVI - ser diplomado em cargo eletivo, na forma da letra b , do
3. 56 (cinquenta e seis) anos, nas graduações de Segundo-Sar- parágrafo único, do artigo 52.
gento e Taifeiro de Primeira Classe; § 1º A transferência para a reserva será processada quando o
4. 55 (cinquenta e cinco) anos, na graduação de Terceiro-Sar- militar for enquadrado em uma das hipóteses previstas neste ar-
gento; tigo, exceto quanto ao disposto no inciso V do caput deste artigo,
5. 54 (cinquenta e quatro) anos, nas graduações de Cabo e Tai- situação em que será processada na primeira quinzena de março,
feiro de Segunda Classe; e quanto ao disposto no inciso VIII do caput deste artigo, situação
6. 50 (cinquenta) anos, nas graduações de Marinheiro, Soldado em que será processada na data prevista para aquela promoção.
e Soldado de Primeira Classe; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 2° (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996)
II - completar o Oficial-General 4 (quatro) anos no último posto
§ 3° A nomeação ou admissão do militar para os cargos ou em-
da hierarquia, em tempo de paz, prevista para cada Corpo ou Qua-
pregos públicos de que trata o inciso XV deste artigo somente po-
dro da respectiva Força. (Redação dada pela Lei nº 7.659, de 1988)
derá ser feita se: (Redação dada pela Lei nº 9.297, de 1996)
III - completar os seguintes tempos de serviço como Oficial-
a) oficial, pelo Presidente da República ou mediante sua auto-
-General: rização quando a nomeação ou admissão for da alçada de qualquer
a) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto de Almi- outra autoridade federal, estadual ou municipal; e
rante-de-Esquadra, General-de-Exército e Tenente-Brigadeiro, 12 b) praça, mediante autorização do respectivo Ministro.
(doze) anos; § 4º Enquanto o militar permanecer no cargo ou emprego de
b) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto de Vice- que trata o item XV:
-Almirante, General-de-Divisão e Major-Brigadeiro, 8 (oito) anos; e a) é-lhe assegurada a opção entre a remuneração do cargo ou
c) nos Corpos ou Quadros que possuírem apenas o posto de emprego e a do posto ou da graduação;
Contra-Almirante, General-de-Brigada e Brigadeiro, 4 (quatro) b) somente poderá ser promovido por antigüidade; e
anos; c) o tempo de serviço é contado apenas para aquela promoção
IV - ultrapassar o oficial 6 (seis) anos de permanência no úl- e para a transferência para a inatividade.
timo posto da hierarquia de paz de seu Corpo, Quadro, Arma ou § 5º Entende-se como Lista de Escolha aquela que como tal for
Serviço, e, para o Capitão de Mar e Guerra ou Coronel, esse prazo definida na lei que dispõe sobre as promoções dos oficiais da ativa
será acrescido de 4 (quatro) anos se, ao completar os primeiros 6 das Forças Armadas.
(seis) anos no posto, já possuir os requisitos para a promoção ao Art. 99. A quota compulsória, a que se refere o item V do ar-
primeiro posto de oficial-general; (Redação dada pela Lei nº 13.954, tigo anterior, é destinada a assegurar a renovação, o equilíbrio, a
de 2019) regularidade de acesso e a adequação dos efetivos de cada Força
V - for o oficial abrangido pela quota compulsória; Singular.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 100. Para assegurar o número fixado de vagas à promoção mada, hipótese em que os indicados serão submetidos a processo
na forma estabelecida no artigo 61, quando este número não tenha administrativo que lhes garanta os princípios do contraditório e da
sido alcançado com as vagas ocorridas durante o ano considerado ampla defesa; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
ano-base, aplicar-se-á a quota compulsória a que se refere o artigo b) os requerentes de inclusão voluntária na quota compulsória,
anterior. (Vide Decreto nº 1.012, de 1993) desde que contem mais de 25 (vinte e cinco) anos de efetivo servi-
§ 1º A quota compulsória é calculada deduzindo-se das vagas ço, observada, em todos os casos, a conveniência da Administração
fixadas para o ano-base para um determinado posto: Militar; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
a) as vagas fixadas para o posto imediatamente superior no re- c) os de mais idade e, no caso da mesma idade, os mais moder-
ferido ano-base; e nos. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
b) as vagas havidas durante o ano-base e abertas a partir de 1º § 1º Aos oficiais excedentes, aos agregados e aos não numera-
(primeiro) de janeiro até 31 (trinta e um) de dezembro, inclusive. dos em decorrência de lei especial, aplicam-se as disposições deste
§ 2º Não estarão enquadradas na letra b do parágrafo anterior artigo, e os que forem relacionados para a compulsória serão trans-
as vagas que: feridos para a reserva juntamente com os demais componentes da
a) resultarem da fixação de quota compulsória para o ano an- quota, não sendo computados, entretanto, no total das vagas fixa-
terior ao base; e das. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
b) abertas durante o ano-base, tiverem sido preenchidas por § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
oficiais excedentes nos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços ou que § 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
a eles houverem revertido em virtude de terem cessado as causas Art. 102. O órgão competente da Marinha, do Exército e da Ae-
que deram motivo à agregação, observado o disposto no § 3º deste ronáutica organizará, até o dia 31 (trinta e um) de janeiro de cada
artigo. ano, a lista dos oficiais destinados a integrarem a quota compulsó-
§ 3º As vagas decorrentes da aplicação direta da quota com- ria, na forma do artigo anterior.
pulsória e as resultantes das promoções efetivadas nos diversos § 1º Os oficiais indicados para integrarem a quota compulsó-
postos, em face daquela aplicação inicial, não serão preenchidas ria anual serão notificados imediatamente e terão, para apresentar
por oficiais excedentes ou agregados que reverterem em virtude de recursos contra essa medida, o prazo previsto na letra a , do § 1º,
haverem cessado as causas da agregação. do artigo 51.
§ 4º As quotas compulsórias só serão aplicadas quando houver, § 2º Não serão relacionados para integrarem a quota compul-
no posto imediatamente abaixo, oficiais que satisfaçam às condi- sória os oficiais que estiverem agregados por terem sido declarados
ções de acesso. extraviados ou desertores.
Art. 101. Para a indicação dos oficiais que integrarão a quota Art. 103. Para assegurar a adequação dos efetivos à necessi-
dade de cada Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, o Poder Executivo
compulsória, será observado, sempre respeitada a conveniência
poderá aplicar também a quota compulsória aos Capitães-de-Mar-
da Administração Militar, o seguinte: (Redação dada pela Lei nº
-e-Guerra e Coronéis não-numerados, por não possuírem o curso
13.954, de 2019)
exigido para ascender ao primeiro posto de Oficial-General.
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 1º Para aplicação da quota compulsória na forma deste arti-
II - em cada posto, a referida quota será composta pelos ofi-
go, o Poder Executivo fixará percentual calculado sobre os efetivos
ciais que: (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
de oficiais não-remunerados existentes em cada Corpo, Quadro,
a) contarem, no mínimo, o seguinte tempo de efetivo serviço:
Arma ou Serviço, em 31 de dezembro de cada ano.
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 2º A indicação de oficiais não-numerados para integrarem
1. 30 (trinta) anos, se oficial-general; (Redação dada pela Lei a quota compulsória, os quais deverão ter, no mínimo, 28 (vinte e
nº 13.954, de 2019) oito) anos de efetivo serviço, obedecerá às seguintes prioridades:
2. 28 (vinte e oito) anos, se Capitão de Mar e Guerra ou Coro- 1ª) os que requererem sua inclusão na quota compulsória;
nel; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) 2ª) os de menor merecimento a ser apreciado pelo órgão com-
3. 25 (vinte e cinco) anos, se Capitão de Fragata ou Tenente- petente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; em igualdade
-Coronel; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) de merecimento, os de mais idade e, em caso de mesma idade, os
b) possuírem interstício para promoção, quando for o caso; mais modernos; e
c) estiverem compreendidos nos limites quantitativos de an- 3ª) forem os de mais idade e, no caso de mesma idade, os mais
tiguidade que definem a faixa daqueles que concorrem à compo- modernos.
sição dos Quadros de Acesso por Antiguidade, Merecimento ou § 3º Observar-se-ão na aplicação da quota compulsória, refe-
Escolha; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) rida no parágrafo anterior, as disposições estabelecidas no artigo
d) estiverem compreendidos nos limites quantitativos de an- 102.
tiguidade estabelecidos para a organização dos referidos Quadros,
ainda que não estejam concorrendo à composição dos Quadros de SEÇÃO III
Acesso por Escolha; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) DA REFORMA
e) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
1ª ) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) Art. 104. A passagem do militar à situação de inatividade por
2ª ) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) reforma será efetuada de ofício. (Redação dada pela Lei nº 13.954,
3ª ) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) de 2019)
III - a seguinte ordem entre os oficiais que satisfizerem as con- I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
dições previstas no inciso II do caput deste artigo: (Incluído pela Lei II - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
nº 13.954, de 2019) Art . 105. (Revogado pela Lei nº 13.954, de 2019)
a) os de menor merecimento ou desempenho dentre aqueles Art. 106. A reforma será aplicada ao militar que: (Redação dada
que não revelarem suficiente proficiência no exercício dos cargos pela Lei nº 13.954, de 2019)
que lhes forem cometidos, conceito profissional ou conceito moral, I - atingir as seguintes idades-limite de permanência na reser-
conforme avaliação feita pelo órgão competente de cada Força Ar- va:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
a) para oficial-general, 75 (setenta e cinco) anos; (Redação anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a lei indicar
dada pela Lei nº 13.954, de 2019) com base nas conclusões da medicina especializada; e (Redação
b) para oficial superior, 72 (setenta e dois) anos; (Redação dada dada pela Lei nº 12.670, de 2012)
pela Lei nº 13.954, de 2019) VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem relação
c) para Capitão-Tenente, Capitão e oficial subalterno, 68 (ses- de causa e efeito com o serviço.
senta e oito) anos; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) § 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV serão provados
d) para praças, 68 (sessenta e oito) anos; (Redação dada pela por atestado de origem, inquérito sanitário de origem ou ficha de
Lei nº 13.954, de 2019) evacuação, sendo os termos do acidente, baixa ao hospital, pape-
II - se de carreira, for julgado incapaz, definitivamente, para leta de tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros de
o serviço ativo das Forças Armadas; (Redação dada pela Lei nº baixa utilizados como meios subsidiários para esclarecer a situação.
13.954, de 2019) § 2º Os militares julgados incapazes por um dos motivos cons-
II-A. se temporário: (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) tantes do item V deste artigo somente poderão ser reformados
a) for julgado inválido; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) após a homologação, por Junta Superior de Saúde, da inspeção de
b) for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à regu-
Forças Armadas, quando enquadrado no disposto nos incisos I e II lamentação específica de cada Força Singular.
do caput do art. 108 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 13.954, de Art. 109. O militar de carreira julgado incapaz definitivamente
2019) para a atividade militar por uma das hipóteses previstas nos incisos
III - estiver agregado por mais de 2 (dois) anos por ter sido jul- I, II, III, IV e V do caput do art. 108 desta Lei será reformado com
gado incapaz, temporariamente, mediante homologação de Junta qualquer tempo de serviço. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de
Superior de Saúde, ainda que se trate de moléstia curável; 2019)
IV - for condenado à pena de reforma prevista no Código Penal § 1º O disposto neste artigo aplica-se ao militar temporário en-
Militar, por sentença transitada em julgado; quadrado em uma das hipóteses previstas nos incisos I e II do caput
V - sendo oficial, a tiver determinada em julgado do Superior do art. 108 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Tribunal Militar, efetuado em conseqüência de Conselho de Justifi- § 2º O disposto neste artigo aplica-se ao militar temporário en-
cação a que foi submetido; e quadrado em uma das hipóteses previstas nos incisos III, IV e V do
VI - se Guarda-Marinha, Aspirante a Oficial ou praça com es- caput do art. 108 desta Lei se, concomitantemente, for considerado
tabilidade assegurada, for a ela indicado ao Comandante de For- inválido por estar impossibilitado total e permanentemente para
ça Singular respectiva, em julgamento de Conselho de Disciplina. qualquer atividade laboral, pública ou privada. (Incluído pela Lei nº
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) 13.954, de 2019)
§ 1º O militar reformado na forma prevista nos incisos V ou VI § 3º O militar temporário que estiver enquadrado em uma das
do caput deste artigo só poderá readquirir a situação militar ante- hipóteses previstas nos incisos III, IV e V do caput do art. 108 desta
rior: (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) Lei, mas não for considerado inválido por não estar impossibilitado
a) (revogada); (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) total e permanentemente para qualquer atividade laboral, pública
b) (revogada); (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) ou privada, será licenciado ou desincorporado na forma prevista na
I - na hipótese prevista no inciso V do caput deste artigo, por legislação do serviço militar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
outra sentença do Superior Tribunal Militar, nas condições nela es- Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado
tabelecidas; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos
II - na hipótese prevista no inciso VI do caput deste artigo, por I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada com
decisão do Comandante de Força Singular respectivo. (Incluído pela base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que
Lei nº 13.954, de 2019) possuir ou que possuía na ativa, respectivamente. (Redação
§ 2º O disposto nos incisos III e IV do caput deste artigo não dada pela Lei nº 7.580, de 1986)
se aplica ao militar temporário. (Incluído pela Lei nº 13.954, de § 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos
2019) itens III, IV e V do artigo 108, quando, verificada a incapacidade
Art. 107. Anualmente, no mês de fevereiro, o órgão competen- definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilitado
te da Marinha, do Exército e da Aeronáutica organizará a relação total e permanentemente para qualquer trabalho.
dos militares, inclusive membros do Magistério Militar, que hou- § 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico
verem atingido a idade-limite de permanência na reserva, a fim de imediato:
serem reformados. a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a-
Parágrafo único. A situação de inatividade do militar da reserva -Oficial e Suboficial ou Subtenente;
remunerada, quando reformado por limite de idade, não sofre so- b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-
lução de continuidade, exceto quanto às condições de mobilização. -Sargento e Terceiro-Sargento; e
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conse- c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças constan-
qüência de: tes do Quadro a que se refere o artigo 16.
I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da or- § 3º Aos benefícios previstos neste artigo e seus parágrafos po-
dem pública; derão ser acrescidos outros relativos à remuneração, estabelecidos
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção em leis especiais, desde que o militar, ao ser reformado, já satisfaça
da ordem pública, ou enfermidade cuja causa eficiente decorra de às condições por elas exigidas.
uma dessas situações; § 4º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
III - acidente em serviço; 31.8.2001)
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de § 5º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço; 31.8.2001)
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, ne- Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por
oplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e incapacitan- um dos motivos constantes do item VI do artigo 108 será reforma-
te, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose do:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
I - com remuneração proporcional ao tempo de serviço, se ofi- II - Guarda-Marinha ou Aspirante a Oficial: os Aspirantes, os Ca-
cial ou praça com estabilidade assegurada; e detes e os alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, do Insti-
II - com remuneração calculada com base no soldo integral do tuto Militar de Engenharia e das demais instituições de graduação
posto ou graduação, desde que, com qualquer tempo de serviço, de oficiais da Marinha e do Exército, conforme o caso específico;
seja considerado inválido, isto é, impossibilitado total e permanen- (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
temente para qualquer trabalho. III - Segundo-Sargento: os alunos do Colégio Naval e da Escola
§ 1º O militar temporário, na hipótese prevista neste artigo, só Preparatória de Cadetes; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de
fará jus à reforma se for considerado inválido por estar impossibi- 2019)
litado total e permanentemente para qualquer atividade laboral, IV - Terceiro-Sargento: os alunos de órgão de formação de ofi-
pública ou privada. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) ciais da reserva e de escola ou centro de formação de sargentos; e
§ 2º Será licenciado ou desincorporado, na forma prevista na V - Cabos: os Aprendizes-Marinheiros e os demais alunos de
legislação pertinente, o militar temporário que não for considerado órgãos de formação de praças, da ativa e da reserva.
inválido. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) Parágrafo único. O disposto nos itens II, III e IV é aplicável às
Art. 112. O militar reformado por incapacidade definitiva que praças especiais em qualquer ano escolar.
for julgado apto em inspeção de saúde por junta superior, em grau
de recurso ou revisão, poderá retornar ao serviço ativo ou ser SEÇÃO IV
transferido para a reserva remunerada, conforme dispuser regula- DA DEMISSÃO
mentação específica.
§ 1º O retorno ao serviço ativo ocorrerá se o tempo decorrido Art. 115. A demissão das Forças Armadas, aplicada exclusiva-
na situação de reformado não ultrapassar 2 (dois) anos e na forma mente aos oficiais, se efetua:
do disposto no § 1º do artigo 88. I - a pedido; e
§ 2º A transferência para a reserva remunerada, observado o II - ex officio.
limite de idade para a permanência nessa reserva, ocorrerá se o Art . 116 A demissão a pedido será concedida mediante reque-
tempo transcorrido na situação de reformado ultrapassar 2 (dois) rimento do interessado:
anos. I - sem indenização das despesas efetuadas pela União com a
Art. 112-A. O militar reformado por incapacidade definitiva sua preparação, formação ou adaptação, quando contar mais de 3
para o serviço ativo das Forças Armadas ou reformado por invali- (três) anos de oficialato; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
dez poderá ser convocado, por iniciativa da Administração Militar, II - com indenização das despesas efetuadas pela União com
a qualquer momento, para revisão das condições que ensejaram a a sua preparação, formação ou adaptação, quando contar menos
reforma. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019) de 3 (três) anos de oficialato. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de
§ 1º O militar reformado por incapacidade definitiva para o 2019)
serviço ativo das Forças Armadas ou reformado por invalidez é § 1º O oficial de carreira que requerer demissão deverá inde-
obrigado, sob pena de suspensão da remuneração, a submeter-se à nizar o erário pelas despesas que a União tiver realizado com os
inspeção de saúde a cargo da Administração Militar. (Incluído pela demais cursos ou estágios frequentados no País ou no exterior,
Lei nº 13.954, de 2019) acrescidas, se for o caso, daquelas previstas no inciso II do caput
§ 2º Na hipótese da convocação referida no caput deste artigo, deste artigo, quando não decorridos: (Redação dada pela Lei nº
os prazos previstos no art. 112 desta Lei serão interrompidos. (In- 13.954, de 2019)
cluído pela Lei nº 13.954, de 2019) a) 2 (dois) anos, para curso ou estágio de duração igual ou su-
Art . 113. A interdição judicial do militar reformado por aliena- perior a 2 (dois) meses e inferior a 6 (seis) meses;
ção mental deverá ser providenciada junto ao Ministério Público, b) 3 (três) anos, para curso ou estágio de duração igual ou su-
por iniciativa de beneficiários, parentes ou responsáveis, até 60 perior a 6 (seis) meses; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
(sessenta) dias a contar da data do ato da reforma. c) (revogada). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 1º A interdição judicial do militar e seu internamento em § 2º A forma e o cálculo das indenizações a que se referem o
instituição apropriada, militar ou não, deverão ser providenciados inciso II do caput e o § 1º deste artigo serão estabelecidos em ato
pelo Ministério Militar, sob cuja responsabilidade houver sido pre- do Ministro de Estado da Defesa, cabendo o cálculo aos Comandos
parado o processo de reforma, quando: da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica. (Redação dada pela Lei
a) não existirem beneficiários, parentes ou responsáveis, ou nº 13.954, de 2019)
estes não promoverem a interdição conforme previsto no parágra- § 3º O oficial demissionário, a pedido, ingressará na reserva,
fo anterior; ou onde permanecerá sem direito a qualquer remuneração. O ingres-
b) não forem satisfeitas às condições de tratamento exigidas so na reserva será no mesmo posto que tinha no serviço ativo e sua
neste artigo. situação, inclusive promoções, será regulada pelo Regulamento do
§ 2º Os processos e os atos de registro de interdição do militar Corpo de Oficiais da Reserva da respectiva Força.
terão andamento sumário, serão instruídos com laudo proferido § 4º O direito à demissão a pedido pode ser suspenso na vigên-
por Junta Militar de Saúde e isentos de custas. cia de estado de guerra, estado de emergência, estado de sítio ou
§ 3º O militar reformado por alienação mental, enquanto não em caso de mobilização.
ocorrer a designação judicial do curador, terá sua remuneração Art. 117. O oficial da ativa que passar a exercer cargo ou em-
paga aos seus beneficiários, desde que estes o tenham sob sua prego público permanente, estranho à sua carreira, será imediata-
guarda e responsabilidade e lhe dispensem tratamento humano e mente demitido ex officio e transferido para a reserva não remu-
condigno. nerada, onde ingressará com o posto que possuía na ativa e com
Art. 114. Para fins de passagem à situação de inatividade, me- as obrigações estabelecidas na legislação do serviço militar, obe-
diante reforma ex officio , as praças especiais, constantes do Qua- decidos os preceitos do art. 116 no que se refere às indenizações.
dro a que se refere o artigo 16, são consideradas como: (Redação dada pela Lei nº 9.297, de 1996)
I - Segundo-Tenente: os Guardas-Marinha e os Aspirantes a
Oficial; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)

15
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
SEÇÃO V I - 2 (dois) anos, para curso ou estágio com duração igual ou
DA PERDA DO POSTO E DA PATENTE superior a 2 (dois) meses e inferior a 6 (seis) meses;(Incluído pela
Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 118. O oficial perderá o posto e a patente se for declarado II - 3 (três) anos, para curso ou estágio com duração igual ou
indigno do oficialato, ou com ele incompatível, por decisão do Su- superior a 6 (seis) meses. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
perior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou de Tribunal Especial, § 1º-C. A forma e o cálculo das indenizações a que se referem o
em tempo de guerra, em decorrência de julgamento a que for sub- inciso II do § 1º-A e o § 1º-B deste artigo serão estabelecidos em ato
metido. do Ministro de Estado da Defesa, cabendo o cálculo aos Comandos
Parágrafo único. O oficial declarado indigno do oficialato, ou da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica. (Incluído pela Lei nº
com ele incompatível, e condenado à perda de posto e patente só 13.954, de 2019)
poderá readquirir a situação militar anterior por outra sentença dos § 1º-D. O disposto no § 1º-A e no § 1º-B deste artigo será apli-
tribunais referidos neste artigo e nas condições nela estabelecidas. cado às praças especiais, aos Guardas-Marinha e aos Aspirantes a
Oficial após a conclusão do curso de formação. (Incluído pela Lei nº
Art. 119. O oficial que houver perdido o posto e a patente será
13.954, de 2019)
demitido ex officio sem direito a qualquer remuneração ou indeni-
§ 2º A praça com estabilidade assegurada, quando licenciada
zação e receberá a certidão de situação militar prevista na legisla-
para fins de matrícula em estabelecimento de ensino de formação
ção que trata do serviço militar.
ou preparatório de outra Força Singular ou Auxiliar, caso não con-
Art. 120. Ficará sujeito à declaração de indignidade para o ofi- clua o curso no qual tenha sido matriculada, poderá ser reincluída
cialato, ou de incompatibilidade com o mesmo, o oficial que: na Força de origem, por meio de requerimento ao Comandante da
I - for condenado, por tribunal civil ou militar, em sentença Força Singular correspondente. (Redação dada pela Lei nº 13.954,
transitada em julgado, à pena restritiva de liberdade individual su- de 2019)
perior a 2 (dois) anos; § 3º O licenciamento ex officio será feito na forma da legislação
II - for condenado, em sentença transitada em julgado, por cri- que trata do serviço militar e dos regulamentos específicos de cada
mes para os quais o Código Penal Militar comina essas penas aces- Força Armada:
sórias e por crimes previstos na legislação especial concernente à a) por conclusão de tempo de serviço ou de estágio;
segurança do Estado; b) por conveniência do serviço; (Redação dada pela Lei nº
III - incidir nos casos, previstos em lei específica, que motivam 13.954, de 2019)
o julgamento por Conselho de Justificação e neste for considerado c) a bem da disciplina; (Redação dada pela Lei nº 13.954, de
culpado; e 2019)
IV - houver perdido a nacionalidade brasileira. d) por outros casos previstos em lei. (Incluído pela Lei nº
13.954, de 2019)
SEÇÃO VI § 4º O militar licenciado não tem direito a qualquer remune-
DO LICENCIAMENTO ração e, exceto o licenciado ex officio a bem da disciplina, deve ser
incluído ou reincluído na reserva.
Art. 121. O licenciamento do serviço ativo se efetua: § 5° O licenciado ex officio a bem da disciplina receberá o certi-
I - a pedido; e ficado de isenção do serviço militar, previsto na legislação que trata
II - ex officio . do serviço militar.
§ 1º No caso de militar temporário, o licenciamento a pedido Art. 122. Os Guardas-Marinha, os Aspirantes a Oficial e as de-
poderá ser concedido, desde que não haja prejuízo para o serviço: mais praças empossados em cargos ou empregos públicos perma-
(Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019) nentes estranhos à sua carreira serão imediatamente, por meio de
licenciamento de ofício, transferidos para a reserva não remunera-
a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
da, com as obrigações estabelecidas na legislação do serviço mili-
b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
tar, observado o disposto no art. 121 desta Lei quanto às indeniza-
I - ao oficial da reserva convocado, após prestação de serviço
ções. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
ativo durante 6 (seis) meses; (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
Art. 123. O licenciamento poderá ser suspenso na vigência de
II - à praça engajada ou reengajada, desde que tenha cumpri- estado de guerra, estado de emergência, estado de sítio ou em caso
do, no mínimo, a metade do tempo de serviço a que estava obriga- de mobilização.
da. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 1º-A. No caso de praça de carreira, o licenciamento a pedido SEÇÃO VII
será concedido por meio de requerimento do interessado: (Incluído DA ANULAÇÃO DE INCORPORAÇÃO
pela Lei nº 13.954, de 2019) E DA DESINCORPORAÇÃO DA PRAÇA
I - sem indenização das despesas efetuadas pela União com a
sua preparação, formação ou adaptação, quando contar mais de 3 Art. 124. A anulação de incorporação e a desincorporação da
(três) anos de formado como praça de carreira; (Incluído pela Lei nº praça resultam na interrupção do serviço militar com a conseqüen-
13.954, de 2019) te exclusão do serviço ativo.
II - com indenização das despesas efetuadas pela União com a Parágrafo único. A legislação que trata do serviço militar esta-
sua preparação, formação ou adaptação, quando contar menos de belece os casos em que haverá anulação de incorporação ou desin-
3 (três) anos de formado como praça de carreira. (Incluído pela Lei corporação da praça.
nº 13.954, de 2019)
§ 1º-B. A praça de carreira que requerer licenciamento deverá SEÇÃO VIII
indenizar o erário pelas despesas que a União tiver realizado com DA EXCLUSÃO DA PRAÇA A BEM DA DISCIPLINA
os demais cursos ou estágios frequentados no País ou no exterior,
acrescidas, se for o caso, daquelas previstas no inciso II do § 1º-A Art. 125. A exclusão a bem da disciplina será aplicada ex officio
deste artigo, quando não decorridos: (Incluído pela Lei nº 13.954, ao Guarda-Marinha, ao Aspirante-a-Oficial ou às praças com esta-
de 2019) bilidade assegurada:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
I - quando assim se pronunciar o Conselho Permanente de Jus- § 1º A exclusão do serviço ativo será feita 6 (seis) meses após a
tiça, em tempo de paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guerra, agregação por motivo de extravio.
ou Tribunal Civil após terem sido essas praças condenadas, em sen- § 2º Em caso de naufrágio, sinistro aéreo, catástrofe, calamida-
tença transitada em julgado, à pena restritiva de liberdade indivi- de pública ou outros acidentes oficialmente reconhecidos, o extra-
dual superior a 2 (dois) anos ou, nos crimes previstos na legislação vio ou o desaparecimento de militar da ativa será considerado, para
especial concernente à segurança do Estado, a pena de qualquer fins deste Estatuto, como falecimento, tão logo sejam esgotados os
duração; prazos máximos de possível sobrevivência ou quando se dêem por
II - quando assim se pronunciar o Conselho Permanente de Jus- encerradas as providências de salvamento.
tiça, em tempo de paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guerra, Art. 131. O militar reaparecido será submetido a Conselho de
por haverem perdido a nacionalidade brasileira; e Justificação ou a Conselho de Disciplina, por decisão do Ministro da
III - que incidirem nos casos que motivarem o julgamento pelo respectiva Força, se assim for julgado necessário.
Conselho de Disciplina previsto no artigo 49 e nele forem conside- Parágrafo único. O reaparecimento de militar extraviado, já
rados culpados. excluído do serviço ativo, resultará em sua reinclusão e nova agre-
Parágrafo único. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial ou a gação enquanto se apuram as causas que deram origem ao seu
praça com estabilidade assegurada que houver sido excluído a bem afastamento.
da disciplina só poderá readquirir a situação militar anterior:
a) por outra sentença do Conselho Permanente de Justiça, em CAPÍTULO III
tempo de paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guerra, e nas con- DA REABILITAÇÃO
dições nela estabelecidas, se a exclusão tiver sido conseqüência de
sentença de um daqueles Tribunais; e Art. 132. A reabilitação do militar será efetuada:
b) por decisão do Ministro respectivo, se a exclusão foi con- I - de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Processo
seqüência de ter sido julgado culpado em Conselho de Disciplina. Penal Militar, se tiver sido condenado, por sentença definitiva, a
Art. 126. É da competência dos Ministros das Forças Singula- quaisquer penas previstas no Código Penal Militar;
res, ou autoridades às quais tenha sido delegada competência para II - de acordo com a legislação que trata do serviço militar, se
isso, o ato de exclusão a bem da disciplina do Guarda-Marinha e
tiver sido excluído ou licenciado a bem da disciplina.
do Aspirante-a-Oficial, bem como das praças com estabilidade as-
Parágrafo único. Nos casos em que a condenação do militar
segurada.
acarretar sua exclusão a bem da disciplina, a reabilitação prevista
Art. 127. A exclusão da praça a bem da disciplina acarreta a
na legislação que trata do serviço militar poderá anteceder a efetu-
perda de seu grau hierárquico e não a isenta das indenizações dos
ada de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Processo
prejuízos causados à Fazenda Nacional ou a terceiros, nem das pen-
Penal Militar.
sões decorrentes de sentença judicial.
Art. 133. A concessão da reabilitação implica em que sejam
Parágrafo único. A praça excluída a bem da disciplina recebe-
cancelados, mediante averbação, os antecedentes criminais do mi-
rá o certificado de isenção do serviço militar previsto na legislação
que trata do serviço militar, sem direito a qualquer remuneração litar e os registros constantes de seus assentamentos militares ou
ou indenização. alterações, ou substituídos seus documentos comprobatórios de
situação militar pelos adequados à nova situação.
SEÇÃO IX
DA DESERÇÃO CAPÍTULO IV
DO TEMPO DE SERVIÇO
Art. 128. A deserção do militar acarreta interrupção do serviço
militar, com a conseqüente demissão ex officio para o oficial, ou a Art. 134. Os militares começam a contar tempo de serviço nas
exclusão do serviço ativo, para a praça. Forças Armadas a partir da data de seu ingresso em qualquer orga-
§ 1º A demissão do oficial ou a exclusão da praça com estabili- nização militar da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica.
dade assegurada processar-se-á após 1 (um) ano de agregação, se § 1º Considera-se como data de ingresso, para fins deste artigo:
não houver captura ou apresentação voluntária antes desse prazo. a) a do ato em que o convocado ou voluntário é incorporado
§ 2º A praça sem estabilidade assegurada será automatica- em uma organização militar;
mente excluída após oficialmente declarada desertora. b) a de matrícula como praça especial; e
§ 3º O militar desertor que for capturado ou que se apresentar c) a do ato de nomeação.
voluntariamente, depois de haver sido demitido ou excluído, será § 2º O tempo de serviço como aluno de órgão de formação da
reincluído no serviço ativo e, a seguir, agregado para se ver pro- reserva é computado, apenas, para fins de inatividade na base de
cessar. 1 (um) dia para cada período de 8 (oito) horas de instrução, desde
§ 4º A reinclusão em definitivo do militar de que trata o pará- que concluída com aproveitamento a formação militar.
grafo anterior dependerá de sentença de Conselho de Justiça. § 3º O militar reincluído recomeça a contar tempo de serviço a
partir da data de sua reinclusão.
SEÇÃO X § 4º Quando, por motivo de força maior, oficialmente reconhe-
DO FALECIMENTO E DO EXTRAVIO cida, decorrente de incêndio, inundação, naufrágio, sinistro aéreo
e outras calamidades, faltarem dados para contagem de tempo
Art. 129. O militar na ativa que vier a falecer será excluído do de serviço, caberá aos Ministros Militares arbitrar o tempo a ser
serviço ativo e desligado da organização a que estava vinculado, a computado para cada caso particular, de acordo com os elementos
partir da data da ocorrência do óbito. disponíveis.
Art. 130. O extravio do militar na ativa acarreta interrupção Art. 135. Na apuração do tempo de serviço militar, será feita
do serviço militar, com o conseqüente afastamento temporário do distinção entre:
serviço ativo, a partir da data em que o mesmo for oficialmente I - tempo de efetivo serviço; e
considerado extraviado. II - anos de serviço.

17
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 136. Tempo de efetivo serviço é o espaço de tempo com- Art. 138. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
putado dia a dia entre a data de ingresso e a data-limite estabele- 31.8.2001)
cida para a contagem ou a data do desligamento em conseqüência Art. 139. O tempo que o militar passou ou vier a passar afas-
da exclusão do serviço ativo, mesmo que tal espaço de tempo seja tado do exercício de suas funções, em conseqüência de ferimentos
parcelado. recebidos em acidente quando em serviço, combate, na defesa da
§ 1º O tempo de serviço em campanha é computado pelo do- Pátria e na garantia dos poderes constituídos, da lei e da ordem, ou
bro como tempo de efetivo serviço, para todos os efeitos, exceto de moléstia adquirida no exercício de qualquer função militar, será
indicação para a quota compulsória. computado como se o tivesse passado no exercício efetivo daque-
§ 2º Será, também, computado como tempo de efetivo serviço las funções.
o tempo passado dia a dia nas organizações militares, pelo militar Art. 140. Entende-se por tempo de serviço em campanha o pe-
da reserva convocado ou mobilizado, no exercício de funções mili- ríodo em que o militar estiver em operações de guerra.
tares. Parágrafo único. A participação do militar em atividades de-
§ 3º Não serão deduzidos do tempo de efetivo serviço, além pendentes ou decorrentes das operações de guerra será regulada
dos afastamentos previstos no artigo 65, os períodos em que o mili- em legislação específica.
tar estiver afastado do exercício de suas funções em gozo de licença Art. 141. O tempo de serviço dos militares beneficiados por
especial. anistia será contado como estabelecer o ato legal que a conceder.
§ 4º Ao tempo de efetivo serviço, de que trata este artigo, apu- Art. 142. A data-limite estabelecida para final da contagem dos
rado e totalizado em dias, será aplicado o divisor 365 (trezentos anos de serviço para fins de passagem para a inatividade será do
e sessenta e cinco) para a correspondente obtenção dos anos de desligamento em conseqüência da exclusão do serviço ativo.
efetivo serviço. Art. 143. Na contagem dos anos de serviço não poderá ser com-
Art. 137. Anos de serviço é a expressão que designa o tempo de putada qualquer superposição dos tempos de serviço público federal,
efetivo serviço a que se refere o artigo anterior, com os seguintes estadual e municipal ou passado em administração indireta, entre si,
acréscimos: nem com os acréscimos de tempo, para os possuidores de curso uni-
I - tempo de serviço público federal, estadual ou municipal, versitário, e nem com o tempo de serviço computável após a incor-
prestado pelo militar anteriormente à sua incorporação, matrícula, poração em organização militar, matrícula em órgão de formação de
nomeação ou reinclusão em qualquer organização militar; militares ou nomeação para posto ou graduação nas Forças Armadas.
II - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
31.8.2001) CAPÍTULO V
III - tempo de serviço computável durante o período matricula- DO CASAMENTO
do como aluno de órgão de formação da reserva;
IV - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de Art. 144. O militar da ativa pode contrair matrimônio, desde
31.8.2001) que observada a legislação civil específica.
V - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
31.8.2001) § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
VI - 1/3 (um terço) para cada período consecutivo ou não de 2 § 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 4º O militar que contrair matrimônio ou constituir união es-
(dois) anos de efetivo serviço passados pelo militar nas guarnições
tável com pessoa estrangeira deverá comunicar o fato ao Coman-
especiais da Categoria “A”, a partir da vigência da Lei nº 5.774, de
dante da Força a que pertence, para fins de registro. (Incluído pela
23 de dezembro de 1971. (Redação dada pela Lei nº 7.698, de 1988)
Lei nº 13.954, de 2019)
§ 1º Os acréscimos a que se referem os itens I, III e VI serão
Art. 144-A. Não ter filhos ou dependentes e não ser casado ou
computados somente no momento da passagem do militar à situa-
haver constituído união estável, por incompatibilidade com o re-
ção de inatividade e para esse fim.
gime exigido para formação ou graduação, constituem condições
§ 2º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
essenciais para ingresso e permanência nos órgãos de formação ou
31.8.2001)
graduação de oficiais e de praças que os mantenham em regime de
§ 3º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de internato, de dedicação exclusiva e de disponibilidade permanente
31.8.2001) peculiar à carreira militar. (Incluído pela Lei nº 13.954, de 2019)
§ 4º Não é computável para efeito algum, salvo para fins de Parágrafo único. As praças especiais assumirão expressamente
indicação para a quota compulsória, o tempo: o compromisso de que atendem, no momento da matrícula, e de
a) que ultrapassar de 1 (um) ano, contínuo ou não, em licença que continuarão a atender, ao longo de sua formação ou gradua-
para tratamento de saúde de pessoa da família; ção, as condições essenciais de que trata o caput deste artigo, e o
b) passado em licença para tratar de interesse particular ou descumprimento desse compromisso ensejará o cancelamento da
para acompanhar cônjuge ou companheiro(a); (Redação dada pela matrícula e o licenciamento do serviço ativo, conforme estabele-
Lei nº 11.447, de 2007) cido no regulamento de cada Força Armada. (Incluído pela Lei nº
c) passado como desertor; 13.954, de 2019)
d) decorrido em cumprimento de pena de suspensão do exer- Art. 145. As praças especiais que contraírem matrimônio serão
cício do posto, graduação, cargo ou função por sentença transitada excluídas do serviço ativo, sem direito a qualquer remuneração ou
em julgado; e indenização. (Redação dada pela Lei nº 13.954, de 2019)
e) decorrido em cumprimento de pena restritiva da liberda-
de, por sentença transitada em julgado, desde que não tenha sido CAPÍTULO VI
concedida suspensão condicional de pena, quando, então, o tempo DAS RECOMPENSAS E DAS DISPENSAS DO SERVIÇO
correspondente ao período da pena será computado apenas para
fins de indicação para a quota compulsória e o que dele exceder, Art. 146. As recompensas constituem reconhecimento dos
para todos os efeitos, caso as condições estipuladas na sentença bons serviços prestados pelos militares.
não o impeçam. § 1º São recompensas:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
a) os prêmios de Honra ao Mérito; Art. 155. Aos Cabos que, na data da vigência desta Lei, tenham
b) as condecorações por serviços prestados na paz e na guerra; adquirido estabilidade será permitido permanecer no serviço ativo,
c) os elogios, louvores e referências elogiosas; e em caráter excepcional, de acordo com o interesse da respectiva
d) as dispensas de serviço. Força Singular, até completarem 50 (cinqüenta) anos de idade, res-
§ 2º As recompensas serão concedidas de acordo com as nor- salvadas outras disposições legais.
mas estabelecidas nos regulamentos da Marinha, do Exército e da Art. 156. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
Aeronáutica. 31.8.2001)
Art . 147. As dispensas de serviço são autorizações concedidas Art. 157. As disposições deste Estatuto não retroagem para al-
aos militares para afastamento total do serviço, em caráter tem- cançar situações definidas anteriormente à data de sua vigência.
porário. Art. 158. Após a vigência do presente Estatuto serão a ele ajus-
Art . 148. As dispensas de serviço podem ser concedidas aos tadas todas as disposições legais e regulamentares que com ele te-
militares: nham ou venham a ter pertinência.
I - como recompensa; Art. 159. O presente Estatuto entrará em vigor a partir de 1º de
janeiro de 1981, salvo quanto ao disposto no item IV do artigo 98,
II - para desconto em férias; e
que terá vigência 1 (um) ano após a data da publicação desta Lei.
III - em decorrência de prescrição médica.
Parágrafo único. Até a entrada em vigor do disposto no item
Parágrafo único. As dispensas de serviço serão concedidas com
IV do artigo 98, permanecerão em vigor as disposições constantes
a remuneração integral e computadas como tempo de efetivo ser-
dos itens IV e V do artigo 102 da Lei n° 5.774, de 23 de dezembro
viço. de 1971.
Art. 160. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
TÍTULO V 31.8.2001)
DISPOSIÇÕES GERAIS, TRANSITÓRIAS E FINAIS
QUESTÕES
Art. 149. A transferência para a reserva remunerada ou a refor-
ma não isentam o militar da indenização dos prejuízos causados à
Fazenda Nacional ou a terceiros, nem do pagamento das pensões 1. De acordo com o Estatuto dos Militares, qual documento
decorrentes de sentença judicial. relaciona e classifica os crimes militares e dispõe sobre a aplicação
Art. 150. A Assistência Religiosa às Forças Armadas é regulada aos militares das penas correspondentes aos crimes por eles co-
por lei específica. metidos?
Art. 151. É vedado o uso por organização civil de designações A. Livro Registro de Contravenções.
que possam sugerir sua vinculação às Forças Armadas. B. Regulamento Disciplinar para a Marinha.
Parágrafo único. Excetuam-se das prescrições deste artigo as C. Código de Processo Militar.
associações, clubes, círculos e outras organizações que congreguem D. Normas de Justiça e Disciplina
membros das Forças Armadas e que se destinem, exclusivamente, E. Código Penal Militar.
a promover intercâmbio social e assistencial entre os militares e
suas famílias e entre esses e a sociedade civil. 2. De acordo com o Estatuto dos Militares, como é denomina-
Art. 152. Ao militar amparado por uma ou mais das Leis n° 288, do o grau hierárquico da praça, conferido pela autoridade militar
de 8 de junho de 1948, 616, de 2 de fevereiro de 1949, 1.156, de competente?
12 de julho de 1950, e 1.267, de 9 de dezembro de 1950, e que A. Patente
em virtude do disposto no artigo 62 desta Lei não mais usufruirá B. Hierarquia.
as promoções previstas naquelas leis, fica assegurada, por ocasião C. Graduação.
da transferência para a reserva ou da reforma, a remuneração da D. Nível.
E. Posto.
inatividade relativa ao posto ou graduação a que seria promovido
em decorrência da aplicação das referidas leis.
3. De acordo com o Estatuto dos Militares, as penas disciplina-
Parágrafo único. A remuneração de inatividade assegurada
res de impedimento, detenção ou prisão NÂO podem ultrapassar:
neste artigo não poderá exceder, em nenhum caso, a que cabe-
A. 10 dias.
ria ao militar, se fosse ele promovido até 2 (dois) graus hierárqui- B. 15 dias.
cos acima daquele que tiver por ocasião do processamento de sua C. 20 dias.
transferência para a reserva ou reforma, incluindo-se nesta limita- D. 25 dias.
ção a aplicação do disposto no § 1º do artigo 50 e no artigo 110 e E. 30 dias.
seu § 1º.
Art. 153. Na passagem para a reserva remunerada, aos milita- 4. Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Armadas
res obrigados ao vôo serão computados os acréscimos de tempo de mediante incorporação, matrícula ou nomeação, prestará compro-
efetivo serviço decorrentes das horas de vôo realizadas até 20 de misso de honra. De acordo com o Estatuto do Militares; esse com-
outubro de 1946, na forma da legislação então vigente. promisso terá caráter solene e será sempre prestado sob a forma de:
Art. 154. Os militares da Aeronáutica que, por enfermidade, A. assinatura de um termo que, posteriormente, será lavrado
acidente ou deficiência psicofisiológica, verificada em inspeção de em cartório.
saúde, na forma regulamentar, forem considerados definitivamen- B. juramento perante o Comandante e o Imediato.
te incapacitados para o exercício da atividade aérea, exigida pelos C. assinatura de compromisso que ficará arquivado no Serviço
regulamentos específicos, só passarão à inatividade se essa incapa- de Documentação da Marinha.
cidade o for também para todo o serviço militar. D. juramento à Bandeira na presença de tropa ou guarnição
Parágrafo único. A regulamentação própria da Aeronáutica es- formada.
tabelece a situação do pessoal enquadrado neste artigo. E. juramento de fidelidade, diante do busto do Patrono da Força.

19
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
5. De acordo com o Estatudo dos militares, marque a opção 9. Assinale a opção que corresponde a uma manifestação es-
que apresenta a base institucional das Forças Armadas. sencial do valor militar, de acordo com o Estatuto dos Militares.
A. Hierarquia e Disciplina. A. Cumprir deveres de cidadão.
B. Posto e Graduação. B. Observar as normas da boa educação.
C. Autoridade e Responsabilidade. C. Empregar todas as energias em benefício do serviço.
D. Círculos hierárquicos e Escala hierárquica. D. Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na aprecia-
E. Respeito e Honestidade. ção do mérito dos subordinados.
E. Amar a profissão das armas e entusiasmar-se com o que
6. Das opções abaixo, assinale aquela que NÃO é considerada, exerce.
segundo o Estatuto dos Militares, manifestação essencial do valor
militar. 10. De acordo com o Estatuto dos militares, que trata so-
A. O culto das tradições históricas. bre os Conselhos de Justificação e Disciplina, assinale a opção
B. O aprimoramento técnico-profissional.
INCORRETA.
C. O orgulho do militar pela organização onde serve.
A. O oficial presumivelmente incapaz de permanecer como
D. O aprimoramento moral revelado em atitudes socialmente
militar da ativa será, na forma da legislação específica, submeti-
consagradas.
do a Conselho de Justificação.
E. O amor à profissão das armas.
B. O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação, pode-
7. De acordo com o Estatuto dos militares, que trata sobre os rá ser afastado do exercício de suas funções, a critério do respecti-
Conselhos de Justificação e Disciplina, assinale a opção INCORRETA. vo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica,.
A. O oficial presumivelmente incapaz de permanecer como mi- C. Ao Conselho de Justificação poderá, também, ser subme-
litar da ativa será, na forma da legislação específica, submetido a tido o oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivel-
Conselho de Justificação. mente incapaz de permanecer na situação de inatividade em
B. O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação, pode- que se encontra.
rá ser afastado do exercício de suas funções, a critério do respecti- D. O Guarda-Marinha, o Aspirante a Oficial e as praças com
vo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica,. estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes de perma-
C. Ao Conselho de Justificação poderá, também, ser submetido necerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho
o oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivelmente de Justificação e afastados das atividades que estiverem exer-
incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se en- cendo, na forma da regulamentação específica.
contra. E. O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às
D. O Guarda-Marinha, o Aspirante a Oficial e as praças com três Forças Armadas, competindo aos comandantes das forças
estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes de perma- singulares julgar, em última instância, os processos oriundos dos
necerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho de Conselhos de Disciplina.
Justificação e afastados das atividades que estiverem exercendo,
na forma da regulamentação específica.
E. O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às GABARITO
três Forças Armadas, competindo aos comandantes das forças sin-
gulares julgar, em última instância, os processos oriundos dos Con-
selhos de Disciplina.
1 E
8. Considerando o Art. 16 do Estatuto dos Militares, o qual dis- 2 C
põe sobre os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas For-
ças Armadas, bem como a correspondência entre os postos e as 3 E
graduações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, assinale a 4 D
opção correta.
A. Graduação é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato 5 A
do Presidente da República ou do Ministro de Força Singular e con-
6 D
firmado em Carta Patente.
B. Almirante, Marechal e Marechal do Ar podem alcançar a 7 D
promoção em tempo de paz.
C. Posto é o grau hierárquico da praça, conferido pela autorida- 8 D
de militar competente. 9 E
D. Os Guardas-Marinha, os Aspirantes a Oficial e os alunos de
órgãos específicos de formação de militares são denominados pra- 10 D
ças especiais.
E. Os graus hierárquicos inicial e final dos diversos Corpos,
Quadros, Armas, Serviços, Especialidades ou Subespecialidades são
fixados de forma única nas Forças Armadas.

20
TRADIÇÕES NAVAIS
1. TRADIÇÕES DA MARINHA DO BRASIL – Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semelhanças entre as Marinhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Conhecendo o Navio: Navios e Barcos, o Navio, Características do Navio, A Flâmula de Comando, Posições Relativas a Bordo, Câma-
ra, Camarotes e Afins, Praças e Cobertas, Praça D’Armas, A Tolda à Ré, Agulha e Bússola, Corda e Cabo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. A Gente de Bordo: A Hierarquia Naval e A Hierarquia da Marinha Mercante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
5. A Organização de Bordo: Organização por Quartos e Divisões de Serviço, O Pessoal de Serviço, O Sino de Bordo, As Fainas, A Presidên-
cia das Refeições a Bordo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
6. Cerimonial de Bordo: saudar o Pavilhão, Saudar o Comandante, Saudar o Imediato, Saudação entre militares, Saudação com espada, O
Cerimonial da Bandeira, Bandeira a Meio-Pau, Saudação de Navios Mercantes e Resposta. A salva – saudação com canhões, Os Postos
de Continência, Vivas, Vivas de Apito, Cerimonial de Recepção e Despedida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
7. Uniformes e seus acessórios: Os Uniformes, Gorro de Fita, O Apito Marinheiro, Alamares, Condecorações e Medalhas . . . . . . . . 07
8. Algumas Expressões Corriqueiras: “Safo”, “Onça”, “Safa Onça”, “Pegar”, “Rosca Fina”, “Voga Larga” e “Voga Picada” . . . . . . . . . . . 08
TRADIÇÕES NAVAIS
vulgação atinja, também, aos que não são iniciados em assuntos do
TRADIÇÕES DA MARINHA DO BRASIL – INTRODUÇÃO mar, principalmente o leitor jovem, dando-lhes um melhor e maior
conhecimento da vida do homem do mar.
Introdução
Os homens do mar, há muitos séculos, vêm criando nomes para
identificar as diversas partes dos navios e designar a praxe de suas CONHECENDO O NAVIO: NAVIOS E BARCOS, O NAVIO,
ações as quais, pela repetição, tornaram-se costumes. Naturalmen- CARACTERÍSTICAS DO NAVIO, A FLÂMULA DE CO-
te, muitas particularidades e expressões da tradição naval lembram, MANDO, POSIÇÕES RELATIVAS A BORDO, CÂMARA,
às vezes, aspectos da vida doméstica ou de atividades em terra. CAMAROTES E AFINS, PRAÇAS E COBERTAS, PRAÇA
É óbvio que os navios, mesmo sendo pequenas cidades espa- D’ARMAS, A TOLDA À RÉ, AGULHA E BÚSSOLA, CORDA
lhadas por uma enorme área, fazem contato entre si, nos portos E CABO
ou na imensidão oceânica. Vivendo experiências semelhantes, os
marinheiros sempre se ajudam uns aos outros e trocam conheci-
mento. Por eles foram criados, e continuam a sê-lo, costumes, usos Navios e Barcos
e linguagem comuns: “tradição do mar”. É fácil entender o poder Um navio é uma nave. Conduzir uma nave é navegar, ou seja, a
de aglutinação das tradições marítimas, visualizando-se a vastidão palavra vem do latim navigare, navis (nave) + agere (dirigir ou con-
da área oceânica onde elas se manifestam. Os homens do mar, duzir).
por arrostarem sempre a mesma vida e mutuamente se ajudarem, “Estar a bordo” é estar por dentro da borda de um navio. “Abor-
constituem, tradicionalmente, uma classe de espírito muito forte. dar” é chegar à borda para entrar. O termo é mais usado no sentido
E, como somente em períodos historicamente curtos se vêem em de entrar a bordo pela força: abordagem. Mas, em realidade, é o
disputa pelo domínio, geográfico e cronologicamente limitado, do ato de chegar a bordo de um navio, para nele entrar. “Pela borda”
mar, onde partilham alegrias e perigos, a fraternidade é a mais dig- tem significado oposto. Jogar, lançar pela borda.
na característica com que pautam o seu comportamento rotineiro. Significado natural de barco é o de um navio pequeno (ou um
Nota-se, no homem do mar, um respeito comum à tradição, a navio é um barco grande...). Mas a expressão poética de um barco
qual dá grandeza e que o vincula a um extraordinário ânimo patrió- tem maior grandeza: “o Comandante e seu velho barco” ou “nosso
tico e a uma grande veneração dos valores espirituais que o ligam à barco, nossa alma”. Barco vem do latim “barca”. Quem está a bordo,
comunidade nacional onde teve seu berço. Vive, internacionalmen- está dentro de um barco ou navio. Está embarcado. Entrar a bordo
te, a percepção que tem da Pátria, perto ou distante. É, como dizia de um barco, é “embarcar”. E dele sair é “desembarcar”. Uma cons-
Joaquim Nabuco, “um sentimento unitário, nacional, impessoal”. A trução que permita o embarque de pessoas ou cargas para trans-
lembrança ou a imagem que dela tem o marinheiro não é maculada porte por mar, é uma embarcação.
pelos regionalismos. Sua Pátria é um todo de tradições, que vene- Um navio de guerra é uma belonave. A palavra vem do latim
ra com a mesma força que aprendeu a honrar as que são comuns navis (nave, navio) e bellum (guerra). Um navio de comércio é um
aos homens do mar. O respeito à tradição é uma característica que navio mercante. A palavra é derivada do latim mercans (comercian-
gera patriotismo sadio, fundamentado na valorização dos aspectos te), do verbo mercari (comerciar).
comuns ao seu grupo nacional em que a tradição se constitui em “Aportar” é chegar a um porto. “Aterrar” é aproximar-se de ter-
elemento comunitário, num poderoso aglutinador. ra. “Amarar” é afastar-se de terra para o mar. “Fazer-se ao mar” é
A linguagem própria é um poderoso instrumento de aglutina- seguir para o mar, em viagem. “Importar” é fazer entrar pelo porto;
ção. Quando se serve a bordo, em navio de guerra ou mercante, “exportar” é fazer sair pelo porto. O conceito aplica-se geralmente
deve-se procurar segui-la. Com respeito à tradição, aliados a cora- à mercadoria. Encostar um navio a um cais é “atracar”; tê-lo seguro
gem e ao orgulho do que fazem, os homens do mar provocam a in- a uma bóia é “amarrar, tomar a bóia”; prender o navio ao fundo é
tegração da comunidade naval e marítima, favorecendo a conquista “fundear”; e fazê-lo com uma âncora é “ancorar” (embora este não
de eficiência máxima, tão necessária a seus propósitos e aspirações. seja um termo de uso comum na Marinha do Brasil, em razão de,
Assim, as tradições, as cerimônias e os usos marinheiros, junta- tradicionalmente, se chamar a âncora de “ferro” - o navio fundeia
mente com os costumes, têm extraordinário poder de amalgamar com o ferro!). Recolher o peso ou a amarra do fundo é “suspender”;
e incentivar os que vivem do mar. Tendem, entretanto, a se tornar desencostar do cais onde esteve atracado é “desatracar”; e largar a
atos despidos de significado, quando sua explicação é perdida no bóia onde esteve é “desamarrar ou largar”.
tempo. “Arribar” é entrar em um porto que não seja de escala, ou vol-
A lembrança constante das razões dos atos e a sua explicação tar ao ponto de partida; é, também, desviar o rumo na direção para
ou, quando for o caso, das versões de sua origem, promovem a onde sopra o vento. A palavra vem do latim “ad” (para) e “ripa”
compreensão, o incentivo e a incorporação da prática marinheira. (margem, costa).

O Navio
O navio tem sua vida marcada por fases. O primeiro evento
SEMELHANÇAS ENTRE AS MARINHAS dessa vida é o “batimento da quilha”, uma cerimônia no estaleiro,
na qual a primeira peça estrutural que integrará o navio é posicio-
A vida nas marinhas do mundo inteiro é muito semelhante. To- nada no local da construção. “Estaleiro” é o estabelecimento indus-
dos que abraçam a carreira do mar pertencem a uma fraterna clas- trial onde são construídos os navios. Como os navios antigos eram
se. Há um vasto conjunto comum de usos, muitos deles ditados pela feitos de madeira, o local de construção ficava cheio de estilhas,
necessidade de segurança ou exigências naturais do meio, e outros, lascas de madeira, estilhaços ou, em castelhano, astillas. Os espa-
ainda, pela grande cordialidade que, entre si, nutrem os homens do nhóis, então, denominaram os estabelecimentos de astileros, que,
mar, levando- os a uma permanente troca de gentilezas. em português derivou para estaleiros.
Não estamos aqui abordando, nem seria possível fazê-lo, tudo Quando o navio está com o casco pronto, na carreira do esta-
o que há em tradições, usos e costumes navais e marí timos. Só es- leiro, ele é “lançado ao mar” em cerimônia chamada lançamento.
tão em pauta alguns aspectos mais curiosos. Desejamos que sua di- Nesta ocasião é batizado por sua “madrinha” e recebe o nome ofi-

1
TRADIÇÕES NAVAIS
cial. O lançamento antigamente era feito de proa; mas os portugue- A cor é muito importante. Antigamente, os navios eram pinta-
ses introduziram o hábito de lançá-lo de popa, existindo também dos na cor preta. O costume vinha dos fenícios, que tinham facilida-
carreiras onde o lançamento é feito de lado, de través; e hoje, devi- de em conseguir betume, e com ele pintavam os costados de seus
do ao gigantismo dos navios, muitos deles são construídos dentro navios. A pintura era usada, às vezes, com faixas brancas, nas linhas
de diques, que se abrem no momento de fazê-los flutuar. de bordada dos canhões. Somente no fim do século XIX, os navios
Os navios de guerra, geralmente, são construídos em Arsenais. de guerra abandonaram o preto pelo cinza ou azul acinzentado, co-
“Arsenal” é uma palavra de origem árabe. Vem da expressão ars res que procuravam confundir-se com o horizonte ou com o mar
sina e significa o local onde são guardados petrechos de guerra das zonas em que navegavam. Entretanto, muitos navios mercantes
ou onde os navios atracam para recebê-los. A expressão ars sina continuam até os dias de hoje a usar, no costado, a cor preta, princi-
deu origem ao termo arsenal, em português, e ao termo darsena palmente por questão de economia. Era comum, também, navios de
que, em espanhol, quer dizer doca. Construído e pronto, o navio guerra pintados por dentro, junto à borda, com a cor vermelha, a fim
é, então, incorporado a uma esquadra, força naval, companhia de de que não causasse muita impressão a quantidade de sangue derra-
navegação ou a quem vá ser responsável pelo seu funcionamento. mada durante o combate, confundida, assim, com as anteparas.
A cerimônia correspondente é a “incorporação”, da qual faz parte Normalmente, as cores da chaminé, nos navios mercantes,
a “mostra de armamento”. Armamento nada tem a ver com armas possuem a caracterização da companhia de navegação a que per-
e sim com armação. Essa mostra, feita pelos construtores e rece- tencem. Nas embarcações salva-vidas e nas bóias salva-vidas, pre-
bedores, consiste em uma inspeção do navio para ver se está tudo domina a preocupação com a visibilidade. Essas embarcações são
em ordem, de acordo com a encomenda. Na ocasião, é lavrado um pintadas, normalmente, de laranja ou amarelo, de modo a serem
termo, onde se faz constar a entrega, a incorporação e tudo o que facilmente vistas. Por esse mesmo motivo, bem como por conven-
há a bordo. A vida do navio passa, então, a ser registrada em um ção internacional, para caracterizar a utilização pacífica e não de
livro: o “Livro do Navio”, que somente será fechado quando ele for guerra dos navios (cor cinza), na Antártica é utilizado o vermelho,
desincorporado. inclusive nos costados dos navios por seu contraste com o branco
A armação (ou armamento) corresponde à expressão armar do gelo.
um navio, provê-lo do necessário à sua utilização; e quem o faz é A bandeira, na popa, identifica a nacionalidade do navio, país
o armador. Em tempos idos, armar tinha a ver com a armação dos que sobre ele tem soberania. Entretanto, há uma bandeira, na proa,
mastros e vergas, com suas vestiduras, ou seja, os cabos fixos de chamada “jeque” (do inglês jack) que identifica, dentro de cada
sustentação e os cabos de laborar dos mastros, das vergas e do nação soberana, quem tem a responsabilidade sobre o navio. Na
velame (velas). Podia-se armar um navio em galera, em barca, em nossa Marinha, o jeque é uma bandeira com vinte e uma estrelas
brigue... A inspeção era rigorosa, garantindo, assim, o uso, com se- - “a bandeira do cruzeiro”. Os navios mercantes usam no jeque a
gurança, da mastreação. bandeira da companhia a que pertencem; porém, alguns usam a
Um dos mais conhecidos armadores do mundo foi o provedor bandeira identificadora de sua companhia na mastreação.
de navios, proprietário e mesmo navegador Américo Vespucci. Tão
importante é a armação de navios e o comércio marítimo das na- A Flâmula de Comando
ções, que a influência de Américo Vespucci foi maior que a do pró- No topo do mastro dos navios da Marinha do Brasil existe uma
prio descobridor do novo continente e que passou a ser conhecido flâmula com 21 estrelas. Ela indica que o navio é comandado por
como América, em vez de Colúmbia, como seria de maior justiça um Oficial de Marinha. Se alguma autoridade a quem o Coman-
ao navegador Cristovão Colombo. Assim, Américo, como armador, dante esteja subordinado, organicamente (dentro de sua cadeia de
teve maior influência para denominar o continente, com o qual se comando) estiver a bordo, a flâmula é arriada e substituída pelo
estabelecera o novo comércio marítimo, do que Colombo. pavilhão-símbolo daquela autoridade.
Terminada a vida de um navio, ele é desincorporado por “bai- Também são previstas as seguintes situações para o arriamento
xa”, da esquadra, da força naval, da companhia de navegação a que da flâmula de comando: quando substituída pela Flâmula de Fim de
pertencia, ou do serviço que prestava. Há, então, uma cerimônia
Comissão, ao término de comissão igual ou superior a seis meses,
de “desincorporação”, com “mostra de desarmamento”. Diz-se que
desde a aterragem do navio ao porto final, até o pôr do sol que se
o navio foi “desarmado”. As companhias de navegação conservam
seguir; e por ocasião da Mostra de Desarmamento do Navio.
os livros, registros históricos de seus navios. Na Marinha do Brasil
Finalmente, por ocasião da cerimônia de transmissão de cargo,
(MB), os livros são arquivados na Diretoria de Patrimônio Histórico
ocorrerá troca do pavilhão da autoridade exonerada pelo da autori-
e Documentação da Marinha (DPHDM) e servem de fonte de infor-
dade que assume, com a salva correspondente, no caso de Almiran-
mações a historiadores e outros fins.
te Comandante de Força, iniciada após o término do hasteamento
Características do Navio da bandeira-insígnia. Após a leitura da Ordem de Serviço da auto-
Quem entrar a bordo verá que o navio, além do nome, tem ridade que assume, proceder-se-á a entrega da bandeira-insígnia
uma série de documentos e dimensões que o caracterizam. O nome utilizada pela autoridade exonerada.
é gravado usualmente na proa, em ambos os bordos, local chama-
do de “bochecha”, e na popa. Nos navios de guerra, usualmente, é Posições Relativas a Bordo
gravado só na popa. Os navios mercantes levam, também, na popa, A popa é uma parte do navio mais respeitada que as demais.
sob o nome, a denominação do porto de registro. Os documentos Nos navios de guerra, todos que entram a bordo pela primeira vez
característicos do navio mercante são, entre outros, seu registro no dia, ou que se retiram de bordo, cumprimentam a Bandeira Na-
(Provisão do Registro fornecida pelo Tribunal Marítimo); apólice de cional na popa, com o navio no porto. Ela está lá por ser a popa o
seguro obrigatório; diário de navegação; certificado de arqueação; lugar de honra do navio, onde, já nos tempos dos gregos e romanos,
cartão de tripulação de segurança; termos de vistoria (anual e de era colocado o santuário do navio, com uma imagem ou Puppis, de
renovação ou certificado de segurança da navegação); certificado uma divindade. O termo popa é derivado de PUPPIS.
de segurança de equipamento; certificado de borda livre; certifi- Os lados do navio são os “bordos” e o de boreste é mais im-
cado de compensação de agulhas e curva de desvio; certificado de portante que o de bombordo. Nele, desde tempos imemoriais, era
calibração de radiogoniômetro com tabela de correção; certificado feito o governo do navio por uma estaca de madeira em forma de
de segurança rádio; e certificado de segurança de construção. remo, chamada pelos navegantes gregos de Staurus.

2
TRADIÇÕES NAVAIS
Os antigos navegantes noruegueses chamavam a peça de Agulha e Bússola
staurr que os ingleses herdaram como steor, denominação dada ao O navio tem agulha, não bússola.
remo que servia de leme, e STEORBORD ao bordo onde era monta- A origem é antiga. As primitivas peças imantadas, para gover-
do, hoje starboard. Ao português, chegou como estibordo. Os bra- no do navio, eram, na realidade, agulhas de ferro, que flutuavam
sileiros inverteram a palavra para boreste (Aviso do Almirante ALE- em azeite, acondicionadas em tubos, com uma secção de bambu.
XANDRINO, Ministro da Marinha), a fim de evitar confusões com o Chamavam-se “calamitas”. Como eram basicamente agulhas, os
bordo oposto: bombordo. navegantes espanhóis consideravam linguagem marinheira, a de-
A palavra bombordo tem vínculo com o termo da língua espa- nominação de “agulhas”, diferentemente de bússolas, palavra de
nhola babor que, por sua vez, parece ter origem ou estar relaciona- origem italiana que se referia à caixa - bosso - que continha as peças
da à palavra francesa bâbord. Na Marinha francesa os marinheiros orientadas.
que tinham alojamento a bombordo, eram chamados de babordais
e tinham os seus números internos de bordo pares. Ainda hoje, na Corda e Cabo
numeração de compartimentos, quando o último algarismo é par, Diz-se que na Marinha não há corda. Tudo é cabo. Cabos gros-
refere-se a um espaço a bombordo, quando é impar, refere-se a bo- sos e cabos finos, cabos fixos e cabos de laborar..., mas tudo é cabo.
reste. Existem porém, duas exceções: - a corda do sino e - a dos re-
As marinhas de língua inglesa, ou a elas relacionadas, não utili- lógios
zam expressões próximas de bâbord. Balizam o bordo oposto ao do
governo de port, ou seja, o bordo onde não estava o leme e que,
por esta razão, ficava atracado ao cais, ao porto; daí a expressão
port, bordo do porto. A GENTE DE BORDO: A HIERARQUIA NAVAL E A HIE-
RARQUIA DA MARINHA MERCANTE
Câmara
Os compartimentos do navio são tradicionalmente denomi- A Gente de Bordo
nados a partir do principal: a “câmara”. Este é o local que aloja o O “Comandante” é a autoridade suprema de bordo. O “Imedia-
Comandante do navio ou oficial mais antigo presente a bordo, com to” é o “Oficial executivo do navio”, segundo do Comandante; é o
autoridade sobre o navio, ou ainda, um visitante ilustre, quando tal substituto eventual do Comandante: seu substituto Imediato.
honra lhe for concedida. Se embarcar num navio o Comandante da A “gente de bordo” se compõe de “Comandante e Tripulação
Força Naval, esta autoridade maior terá o direito à câmara. (Oficiais e Guarnição)”. O Imediato e Oficiais constituem a “oficia-
O navio onde embarca o Comandante da Força Naval é chama- lidade”. Os demais tripulantes constituem a Guarnição. As ordens
do capitânia. Seu Comandante passa a denominar-se “Capitão de para o navio emanam do Comandante e são feitas executar pelo
Bandeira”. Imediato, que é o coordenador de todos os trabalhos de bordo,
exercendo a gerência das atividades administrativas..
Camarotes e Afins
Os demais compartimentos de bordo, conforme sua utilização, A Hierarquia Naval
ganham denominações com diminutivos de câmara: “camarotes”, No Brasil, o estabelecimento deformação de oficiais do Corpo
para alojar Oficiais, e “camarins”, para uso operacional ou admi- da Armada, de Intendentes e de Fuzileiros Navais é a Escola Na-
nistrativo; como, por exemplo, o camarim de navegação, ou o da val. Seus alunos são Aspirantes e dela saem, ao concluírem o curso,
máquina. como Guardas-Marinha.
A formação de praças é realizada pelas Escolas de Aprendizes-
Praças e Cobertas -Marinheiros. Os alunos dessas Escolas, após o término do curso,
Uns tantos compartimentos são chamados de praças: praça de são nomeados Marinheiros.
máquinas, praça d’armas, praça de vaporizadores, etc. A unidade de combate naval é o navio. Os Grupamentos de
Os alojamentos da guarnição e seus locais de refeição são cha- navios constituem as Forças Navais e as Esquadras. Os Almirantes,
mados de “cobertas”: coberta de rancho, coberta de praças, etc. precipuamente, comandam Forças Navais, grupamentos de navios.
Sua hierarquia deve definir a importância funcional do grupamento.
Praça D’Armas Os postos de Almirantes, em sequência ascendente são: Contra-Al-
O compartimento de estar dos oficiais a bordo, onde também mirante, Vice-Almirante e Almirante de Esquadra.
são servidas suas refeições, é denominado “Praça D’armas”. O Comando dos navios cabe aos Comandantes. A importância
Essa denominação prende-se ao fato de que, nos navios anti- funcional do navio deve definir a hierarquia de seus Comandantes.
gos, as armas portáteis eram guardadas nesse local, privativo dos É mantida tradicionalmente a antiga importância dos navios para
oficiais. combate, classificados de acordo com o número de conveses e ca-
nhões de que dispunham: as corvetas, com um convés de canhões; as
A Tolda à Ré fragatas, com dois conveses de canhões; e as naus com três conveses
Existem conveses com nomes especiais. Um convés parcial, de canhões, havendo também, a denominação de navios de linha ou
acima do convés principal na proa é o “convés do castelo”. A deno- navios de batalha, por serem os que constituíam as linhas de batalha.
minação é reminiscência do antigo castelo que os navios medievais Daí a hierarquia ascendente dos comandantes, como Capitães de Cor-
levavam na proa onde os guerreiros combatiam. veta, Capitães de Fragata e Capitães de Mar e Guerra.
Em certos navios existem mais dois conveses com nomes es- As funções internas nos navios cabem aos tenentes (em hie-
peciais: “o convés do tombadilho”, que é o convés da parte alta da rarquia ascendente: 2° Tenente, 1° Tenente e Capitão-Tenente) e
popa, e o “convés da tolda”. praças (em hierarquia ascendente: Marinheiro, Cabo, 3º Sargento,
Nos navios grandes o local onde permanece o Oficial de Servi- 2º Sargento, 1º Sargento e Suboficial). Nos navios de maior impor-
ço, no porto, é chamado “convés da tolda à ré”. tância há, ainda, oficiais superiores que exercem funções internas,
Nele não é permitido a ninguém ficar, exceto o Oficial de Servi- geralmente na chefia de Departamentos. Navios menores que as
ço e seus auxiliares. corvetas, em geral, são comandados por Capitães-Tenentes

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TRADIÇÕES NAVAIS
É interessante notar, entretanto, uma característica ímpar da No porto, haverá sempre, em condições normais, pelo menos,
Marinha: na linguagem verbal, o tratamento normalmente dados um quarto de serviço. Mais gente ficará a bordo, quando necessá-
aos oficiais da Armada resumem esses nove postos a três: Almiran- rio, podendo permanecer todo o pessoal em prontidão, se assim
te, Comandante e Tenente. for determinado.
Dessa forma, o dia de trabalho do marinheiro, do homem do
Divisões de Navios por Classe na MB: mar, é contado diferente do dia do homem de terra. Se fosse possí-
vel ao navio navegar somente de oito horas da manhã até as cinco
Classe Comando Tipos de Navios da tarde - havendo parado uma hora para almoço - e parar e fun-
(exemplos) dear ao final do dia, para então recomeçar tudo no dia seguinte,
às oito horas, a jornada seria como a de terra. Mas há séculos os
1ª Classe Capitão de Mar e - Navio-Aeródromo marinheiros se ajustaram às necessidades do mar, cumprindo uma
Guerra - Navio de jornada de trabalho dividida em seis quartos de serviço, cabendo a
Desembarque parcelas diferentes da tripulação a vigilância, em cada quarto. No
2ª Classe Capitão de Fragata - Fragatas porto, os quartos são de 00 às 04h, de 04 às 08h, 08h às 12h, de 12h
- Submarinos às 16h, de 16h às 20h e de 20h às 24h. Em viagem, no período com-
- Corvetas preendido entre OOh às 12h, os quartos tem o mesmo horário que
- Contratorpedeiros do porto, porém, depois das 12 horas, os quartos são de 3 horas:
- Navios-Transporte 12-15; 15-18; 18-21; 21-24.
3ª Classe Capitão de Corveta - Corvetas O quarto de 04 às 08 é balizado de “quarto d’alva” (a hora d’al-
- Rebocadores de va, do amanhecer).
Alto Mar
- Navios-Patrulha O Pessoal de Serviço
Fluviais Certos postos, ocupados pelo pessoal de serviço, são indicados
por uniforme. Assim, o “Oficial de Quarto” usa um apito, com um
4ª Classe Capitão-Tenente - Navios-Varredores cadarço preto. No porto, o “Oficial de Serviço”, além do apito, usa
- Navios-Patrulha um cinturão com coldre e pistola. Para auxiliar o Oficial de Serviço,
existem: o “Contramestre de Serviço”, ajudante do Oficial para ma-
A Hierarquia da Marinha Mercante nobra e aspectos de ordem marinheira do navio, que tem a gradu-
As Escolas responsáveis pela formação de pessoal da Marinha ação de Suboficial ou Sargento e usa um apito com cadarço preto,
Mercante funcionam nos Centros de Instrução Almirante Graça Ara- um cinturão com coldre e pistola; o “Polícia”, que é um Sargento ou
nha, no Rio de Janeiro, e Almirante Braz de Aguiar, em Belém. um Cabo, encarregado de auxiliar o Oficial de Serviço na fiscalização
Esses estabelecimentos pertencem à Marinha do Brasil, assim da disciplina e da rotina, usa um cinto especial e um cassetete; o
como as Capitanias dos Portos, suas Delegacias e Agências, que mi- “Cabo Auxiliar”, que usa um apito com cadarço preto e um cinto
nistram o Ensino Profissional Marítimo, capacitando profissionais especial na cintura, com sabre, é o encarregado de dar os toques
para exercerem atividades a bordo de embarcação marítimas e flu- (silvos de apito que transmitem informações e ordens), efetuar as
viais. batidas do sino, marcando os quartos, e fazer cumprir a rotina de
HIERARQUIA DOS OFICIAIS DE CONVÉS: - Capitão de Longo bordo; e o “Ronda”, que é um mensageiro às ordens do Oficial de
Curso - Capitão de Cabotagem - 1º Oficial de Náutica - 2° Oficial de Serviço e usa um cinto especial.
Náutica
HIERARQUIA DOS OFICIAIS DE MÁQUINAS: - Oficial Superior O Sino de Bordo
de Máquinas - 1° Oficial de Máquinas - 2° Oficial de Máquinas No período compreendido entre os toques de alvorada e de
silêncio, os intervalos dos quartos são marcados por batidas do sino
de bordo, feitas ao fim de cada meia hora.
1ª meia-hora do quarto: Uma batida singela 2ª meia-hora do
A ORGANIZAÇÃO DE BORDO: ORGANIZAÇÃO POR quarto: Uma batida dupla 3ª meia-hora do quarto: Uma batida du-
QUARTOS E DIVISÕES DE SERVIÇO, O PESSOAL DE SER- pla e uma singela 4ª meia-hora do quarto: Duas batidas duplas 5ª
VIÇO, O SINO DE BORDO, AS FAINAS, A PRESIDÊNCIA meia-hora do quarto: Duas batidas duplas e uma singela 6ª meia-
DAS REFEIÇÕES A BORDO -hora do quarto: Três batidasduplas 7ª meia-hora do quarto: Três
batidas batidas duplas e uma singela 8ª meia-hora do quarto: Qua-
Organização por Quartos e Divisões de Serviço tro batidas duplas
Em um navio de guerra, para a sua condução, segurança e an- As batidas do sino são uma tradição naval a ser preservada pe-
damento dos serviços administrativos, existe sempre uma parcela los responsáveis pela rotina de bordo. Deve haver o cuidado, por
da tripulação que fica de serviço, quando em viagem ou no porto. parte do sinaleiro, de bater acompanhando o Capitânia, de modo a
Todo o pessoal é dividido em grupos chamados quartos de ser- não haver o indesejável assincronismo.
viço, que recebem os nomes de 1° quarto, 2° quarto e 3° quarto.
Existe sempre um quarto, efetivamente, de serviço; um estará de As Fainas
folga; e outro será o retém, que fornecerá pessoal para cobrir faltas Organizado em Divisões Administrativas ou em Quartos e Divi-
eventuais. sões de Serviço, o navio está pronto para fazer frente aos trabalhos
O zelo pelo navio é feito dividindo-se as 24 horas do dia, em seis que envolvem toda a gente de bordo ao mesmo tempo, ou parte
períodos de quatro horas - também chamados de quartos - cada um dela, para um fim específico. Esses trabalhos são chamados de “fai-
sob a responsabilidade de um quarto de cabos e marinheiros, de nas”. As fainas são gerais, comuns, especiais ou de emergência.
uma divisão de suboficiais e sargentos e de uma divisão de oficiais. Em um navio de guerra, a principal faina geral é a de Postos de
Combate.

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TRADIÇÕES NAVAIS
São fainas gerais e fainas comuns, entre outras: - Preparar para Saudar o Comandante
suspender; - Suspender (ou desamarrar ou desatracar); - Preparar É costume os oficiais saudarem o Comandante na câmara, pela
para fundear; - Fundear (ou amarrar, ou atracar): - Navegação em manhã, quando em viagem. À noite, a saudação é feita após o Ceri-
águas restritas(Detalhe Especial para o Mar); - Recebimento de mu- monial do Arriar a Bandeira
nição; - Recebimento de material comum ou sobressalentes; - Rece- Quando no porto, os oficiais formam para receber o Coman-
bimento de mantimentos; - Montagem ou desmontagem de toldos; dante, cumprindo o Cerimonial de Recepção; e, da mesma maneira,
- Içar e arriar embarcações; - Operações aéreas, decolagem e pouso formam quando ele se retira de bordo, no Cerimonial de Despedi-
de aeronaves; - Inspeção de material; - Docagem e raspagem do da. Se algum oficial chegar após o Comandante, deve saudá-lo na
casco; e - Pintura geral. câmara, bem como ao Imediato. Se vai retirar-se de bordo antes
São fainas de emergência: - Incêndio; - Colisão; - Socorro exter- do Comandante, deve despedir-se dele na câmara, obtendo licença
no; - Homem ao mar; - Reboque; - Abandono; - Avaria no sistema para retirar-se, não sem antes ter sido liberado pelo Imediato.
de governo; - Acidente com aeronave (“crash”); e - Recolhimento
de náufragos. Saudar o Imediato
Além das fainas, existem ocasiões em que toda a tripulação do Ao entrar e ao retirar-se de bordo os oficiais saúdam o Ime-
navio deve atender a formaturas gerais, para certas formalidades a diato.
bordo ou para cerimonial, conhecidas com formaturas gerais. É costume, em viagem, os oficiais cumprimentarem o Imediato
São formaturas gerais: - Parada; - Mostra; - Distribuição de faxi- pela manhã e, também, após o Cerimonial da Bandeira.
na; - Postos de continência; - Bandeira; e - Concentração da tripu-
lação. Saudação entre Militares
As situações previstas para fainas ou formaturas constam de Nas Forças Armadas, consequentemente na MB, as diversas
uma tabela a bordo, chamada Tabela Mestra, que designa cada ho- formas de saudação militar, sinais de respeito e correção de ati-
mem da tripulação para um determinado posto ou função, especí- tudes caracterizam o espírito de disciplina e apreço existentes no
fica em cada faina ou formatura, além de designar qual é seu bote âmbito militar.
salva-vidas e seu respectivo quarto. A continência, saudação militar universal, é uma reminiscência
O cumprimento da rotina de bordo, bem como das fainas, do antigo costume, que tinham os combatentes medievais, quando
como já mencionado, são ordenados pelo toque de apito. Alguns vestidos com suas armaduras, ao serem inspecionados por um su-
avisos e ordens em linguagem clara, pelo fonoclama, podem ser da- perior, de levar a mão à têmpora direita, para suspender a viseira,
dos, também, em certas circunstâncias especiais, mas repetir, em permitindo sua identificação.
linguagem clara, o significado de um toque de apito é considerada Cabe ressaltar que, a continência é a saudação prestada pelo
atitude pouco marinheira, não sendo, normalmente, permitido a militar ou pela tropa, sendo impessoal e visando sempre a Autori-
bordo. dade e não a pessoa, sendo assim, parte sempre do militar de me-
As fainas de emergência são ordenadas pelos respectivos sinais nor precedência ou em igualdade de Posto ou Graduação. Havendo
de alarme, fonoclama, sino ou mesmo viva voz. dúvida em relação à antiguidade, deverá ser executada simultane-
amente.
A Presidência das Refeições a Bordo A continência é uma atitude militar de grande relevância e um
As refeições de oficiais são presididas pelo Imediato ou, na sua ícone da tradição e costumes navais, constitui prova de respeito e
ausência, pelo oficial mais antigo presente, o qual convida os de- cortesia que o militar é obrigado a prestar ao superior hierárquico,
mais a sentarem-se à mesa. não podendo ser por este dispensada, salvo nas ocasiões previs-
Após iniciada uma refeição, qualquer pessoa que deseje sen- tas no Cerimonial da Marinha, tais como: “faina ou serviço que não
tar-se à mesa, ou dela retirar-se, deve pedir permissão a quem a possa ser interrompida, postos de combate, praticando esportes,
estiver presidindo. A cortesia naval dita que ninguém deve retirar- sentado à mesa de rancho, remando, dirigindo viaturas, militar de
-se da mesa antes do Imediato ou do oficial mais antigo presente. sentinela, armado de fuzil ou outra arma que impossibilite o movi-
As refeições dos suboficiais e sargentos são presididas pelo mento da mão direita, fazendo parte de tropa armada, em postos
Mestre do Navio. Compete ao Mestre d’Armas presidir as refeições de continência ou Parada”.
dos Cabos e Marinheiros. Conforme visto anteriormente, a continência é uma saudação
entre militares. Ao cumprimentar um civil, o militar quando farda-
do, poderá fazer-lhe uma continência, como cortesia, além de dar-
-lhe o usual aperto de mão.
CERIMONIAL DE BORDO: SAUDAR O PAVILHÃO, SAU-
A continência individual deve ser exigida e sua retribuição pelo
DAR O COMANDANTE, SAUDAR O IMEDIATO, SAUDA-
mais antigo é obrigatória. Não faz parte dos costumes navais des-
ÇÃO ENTRE MILITARES, SAUDAÇÃO COM ESPADA, O
fazer a continência com batida da mão à coxa, provocando ruído.
CERIMONIAL DA BANDEIRA, BANDEIRA A MEIO-PAU,
A continência deve ser feita com correção, vivacidade, elegância,
SAUDAÇÃO DE NAVIOS MERCANTES E RESPOSTA. A
energia e franqueza. Da mesma forma, cabe ao superior responder
SALVA – SAUDAÇÃO COM CANHÕES, OS POSTOS DE
o cumprimento de maneira semelhante. A continência mal execu-
CONTINÊNCIA, VIVAS, VIVAS DE APITO, CERIMONIAL
tada é sinônimo de displicência, o que não condiz com os valores
DE RECEPÇÃO E DESPEDIDA
militares. A continência individual não representa apenas uma ma-
nifestação de respeito ou de apreço a um indivíduo em particular;
Saudar Pavilhão trata-se também de um ato público que expressa a cortesia entre os
Como já foi explicado, faz parte do cerimonial saudar com a membros de uma corporação.
continência o Pavilhão Nacional, que é arvorado na popa , das 8 A continência individual é prestada pelo militar fardado e não
horas até o por do sol. deverá ser executada quando este estiver em trajes civis. Neste
Isto se faz ao entrar a bordo pela primeira vez e ao sair pela caso, a saudação é realizada com um cumprimento verbal, de acor-
última vez, no dia. do com as convenções sociais.

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TRADIÇÕES NAVAIS
Saudação com Espada A Salva: Saudação com Canhões
A antiga saudação com espada e o gesto de abatê-la, não é uma O sinal de amizade era antigamente entendido e mormente
tradição naval, mas militar. O pessoal da Marinha, contudo, faz uso caracterizado pelo fato de apresentar-se uma pessoa, com a espa-
da espada em algumas cerimônias a bordo e, em formaturas, em da abatida, ou um navio ou uma embarcação, momentaneamen-
terra. te impossibilitado de manobrar ou combater. Nos tempos em que
O gesto de levar a ponta da espada até o chão é uma antiga de- não havia meios seguros de comunicação e quando no mar não
monstração de submissão a uma autoridade superior, reconhecen- era possível aos navios saberem notícias de terra, a menos que en-
do sua superioridade hierárquica. A ponta da espada no chão, ao contrassem outros que as transmitissem, era importantíssimo para
fim da saudação, não permite ao oficial usá-la, naquele momento. cada um deles saber quais as intenções uns dos outros, quando se
encontravam. Imagina-se que um navio, no mar há algum tempo,
O Cerimonial à Bandeira poderia não saber se sua nação estava ou não em guerra com outra,
Os navios da Marinha do Brasil, quando em contato com terra inclusive com aquela cuja bandeira um navio avistado ostentava!
(atracados, fundeados ou amarrados), arvoram a Bandeira Nacional Era, portanto, importante demonstrar atitude amistosa, tomando
no “pau da bandeira”, na popa. difícil a manobra ou o combate.
Ao suspenderem, no instante em que é desencapelada a última Nos tempos de Henrique VIII, para um canhão repetir um tiro
espia ou o ferro arranca ou é largado o arganéu da bóia, a Bandeira levava uma hora. Assim, um navio estava com os canhões sempre
Nacional é arriada na popa e içada, em movimentos contíguos, no carregados para combate. Mas, se ele os disparava, ficava impossi-
mastro de combate, mas de forma que nunca deixe de estar içado o bilitado momentaneamente de combater. A maior parte das fraga-
Pavilhão Nacional. Não há cerimonial, nessas ocasiões. tas e navios menores era armada com uma bateria de sete canhões,
A Bandeira do Cruzeiro, que é arvorada no pau do jeque, acom- em cada borda. A princípio, uma salva de sete tiros era a salva na-
panha os movimentos da Bandeira Nacional na popa. Ou seja, é cional britânica. As baterias de terra, no entanto, deveriam respon-
içada e arriada junto com esta. O Pavilhão é içado às oito horas da der às salvas do navio, na razão de três tiros para cada tiro de bor-
manhã e arriado exatamente na hora do Pôr do Sol. O Cerimonial do. Assim, a máxima salva de bordo, sete tiros, era respondida pela
consta de sete vivas com o apito do marinheiro e das continên- maior salva de terra, vinte e um tiros. Com o progresso da indústria
cias de todo o pessoal. Quem estiver cobertas abaixo, permanece de armas e, principalmente, da produção da pólvora, a maior salva
descoberto e em silêncio, atento. O cerimonial do arriar é maior e de bordo passou a ser também de vinte e um tiros.
consta de formatura geral da tripulação. Após o arriar, é costume o O número de tiros, depois que a salva se transformou num cos-
cumprimento geral de “boa noite” entre todos os presentes, sendo tume, chegou aos nossos dias consagrado no Cerimonial Naval. Vin-
primeiramente dirigido ao Comandante. te e uma salvas é o máximo que se usa. Mas por que vinte e uma?
A Bandeira Nacional deve ser içada ou arriada em movimento É porque, além do costume acima, esse número é múltiplo de três.
uniforme, que deve ser estimado para que ocorra durante o tempo A explicação é que os números 3, 5 e 7 sempre tiveram significado
em que é executado o hino ou toque. místico, muito antes, mesmo, de existirem marinhas organizadas
Da mesma forma, o içar e arriar de galhardetes e Bandeiras-In- como as dos últimos três séculos.
sígnias deve ser feito celeremente. O intervalo das salvas festivas é de cinco segundos, entre um
Durante o Cerimonial à Bandeira é vedada a entrada ou saída tiro e outro. Havia um velho costume, na Marinha antiga, que ain-
de pessoas e veículos na OM que o realiza, salvo se localizada pró- da hoje os oficiais “safos” usam para contagem dos cinco segundos
xima à via pública, quando a interrupção do trânsito deve ocorrer, regularmentares, que é o de dizer a expressão: “teco, teleco, teco,
com o mínimo de prejuízo possível ao tráfego de pessoas e veículos, pepinos, não são bonecos, - fogo um!”; repetindo-se após cada tiro
entre o “Segundo Sinal” e o término do Cerimonial. o mesmo conjunto de palavras só alternando o número da ordem
Para as OM de terra são observados os mesmos procedimen- de fogo. Quem cronometrar o tempo que normalmente se leva para
tos. dizer as palavras mencionadas, verá que ele é de cinco segundos.

Bandeira a Meio-Pau Os Postos de Continência


Nos navios da Marinha não se usa as denominações de “mas- Mas, somente disparar oscanhões não era mostra de ficar sem
tros” de bandeira, nem do jeque: a nomenclatura correia é nome- aptidão para combater. O navio, além disso, deveria ferrar o pano
á-los o “pau da bandeira” e o “pau do jeque”, mesmo que sejam (colher as velas), perdendo velocidade e ficando momentaneamen-
metálicos. O distinto, na Marinha, segundo a tradição, é que sejam te impossibilitado de manobrar e combater, com todos os cabos
de madeira e envernizados. de laborar pelo convés e a guarnição ocupada nas fainas. Assim,
Desta forma, o termo bandeira a meio-pau é a expressão que essa mostra de respeito mantinha o navio privado de combater. Foi
corresponde à Bandeira Nacional içada a meio-mastro. O jeque desse antigo costume, que vieram até nossos dias certas formas de
acompanha a Bandeira Nacional, a meio-pau. E o sinal de luto. cumprimento em embarcações como “remos ao alto, folgar as es-
O costume teve origem na antiga marinha a vela. Era usual que cotas ou parar a máquina”.
os navios, como mostra de pesar pela morte de uma personalidade, Nos grandes navios, no entanto, podia ser demonstrada, ao
desamantilhassem as vergas, de modo a deixá-las desalinhadas e navio avistado, a intenção pacífica, fazendo subir toda a guarnição
pendentes, em diferentes ângulos, e com todos os cabos de laborar,
aos mastros e vergas. Assim estava o navio impossibilitado de uti-
de mastros e vergas folgados e pendentes. A mostra de pesar con-
lizar seus homens para o combate, transitoriamente. Desta forma,
sistia neste aspecto de desleixo, por tristeza. O Pavilhão também
dispor a guarnição pelas vergas dos navios-escola a vela, veio até
era arriado a meio-pau.
nossos dias, com a denominação de “postos de continência”.
Em todos os navios da Marinha, os postos de continência são
Saudação de Navios Mercantes e Resposta
atendidos com toda a guarnição distribuída pela borda do navio, no
O navio mercante que passa ao largo de um navio de guerra
bordo por onde vai passar a autoridade a saudar, numa demonstra-
cumprimenta-o, amando sua Bandeira Nacional, fazendo o de guer-
ra o mesmo, como resposta. ção de respeito.
O mercante içara novamente sua Bandeira, depois que o de
guerra o fizer.

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TRADIÇÕES NAVAIS
Vivas rá ser anunciado pronome de tratamento ou nome da autoridade
Ainda permanece em nossa Marinha o hábito dos “vivas”. É visitante. Por ocasião do cerimonial, a ordem ao Mestre ou Contra-
uma repetição da antiga forma de continência e saudação à autori- mestre de Serviço não deve conter palavras desnecessárias, já que
dade que passar perto do navio, sempre que o fato for antecipado se trata de uma instrução para quem vai abrir toque. Assim, essa
e devidamente anunciado. A guarnição, quando em postos de con- ordem deve ser pertinente ao toque característico a que tem direito
tinência, a um sinal, leva o boné ao peito do lado esquerdo, com a a autoridade. A menção ao cargo desempenhado somente deve ser
mão direita, e, ao sinal de salvas do apito, sete vezes, estende a mão feita a quem competir vocativo específico (Comandante da Mari-
com o boné para o alto, à direita, e dá os vivas correspondentes. nha, Chefe do Estado-Maior da Armada, Comandante de Operações
Navais, Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais e Coman-
Vivas do Apito dante em Chefe da Esquadra). Nesse caso, não se deve mencionar o
Permanece, no Cerimonial da Bandeira, o costume dos sete vi- Posto, a menos se, eventualmente e no caso de ComemCh, o cargo
vas, pelo apito do marinheiro. Durante o içar ou arriar da Bandeira, estiver sendo exercido por Almirante de Esquadra. O artigo 5-1-7 do
o Mestre ou Contramestre, dependendo da ocasião, faz soar sete Cerimonial da Marinha reflete com clareza este ponto.
vezes o apito, correspondendo aos sete vivas, que é a maior sauda- Os toques de apito devem ser dados apenas pelo Mestre ou
ção por apito. Contramestre de Serviço. Ao final das Honras de Recepção ou Des-
O número de sete, como explicado, ainda é a lembrança dos pedida, quando por toque de corneta, cabe o “ponto”, como sinal
antigos sete tiros das fragatas e navios menores, que constituíam de desfazer a continência e a guarda de portaló executar o coman-
a maior salva. Embora os tiros de salva tenham passado para vin- do de “ombro armas”. Nos casos em que houver Guarda de Honra,
te e um, os vivas de apito permaneceram em sete, como a honra esta executará o referido comando quando determinado pelo seu
máxima. Comandante.
Cerimonial de Recepção e Despedida
Os oficiais ao entrarem e saírem de bordo fazem jus a um ceri-
monial correspondente à sua patente, constando de toques de api- UNIFORMES E SEUS ACESSÓRIOS: OS UNIFORMES,
to característicos e da continência de quem o recebe ou despede e GORRO DE FITA, O APITO MARINHEIRO, ALAMARES,
dos presentes. Além disso, marinheiros em formatura, em número CONDECORAÇÕES E MEDALHAS
correspondente a cada cerimonial, chamados “boys”, ladearão o
oficial saudado, na escada de portaló e no convés. Os Uniformes
Esses cerimoniais são tradições herdadas dos dias da marinha
Os oficiais, suboficiais e sargentos usam uniformes do mesmo
a vela. Costumava-se, nas reuniões de Comandantes de navios de
feitio para o serviço ou para os trabalhos a bordo. São do tipo pale-
uma Força Naval em um determinado navio - quando o mar não
tó, ou dóimã, e calça, ou somente camisa e calça. Na cabeça usa-se
estava muito bom - içar o visitante por uma guindola, espécie de
o boné. Os oficiais e suboficiais, para distinção, usam galões nas
pequena tábua suspensa pelas extremidades. A manobra era co-
platinas colocadas nos ombros dos uniformes brancos, galões nos
mandada pelo Mestre, ao som do apito e, para realizá-la, vários ma-
punhos do uniforme azul e distintivos na gola do uniforme cinza de
rinheiros iam para o local de embarque. Hoje é uma cortesia naval
manga curta (caqui para os Fuzileiros Navais). Os sargentos, cabos
acorrer com marinheiros ao portaló (local de embarque ou saída
de bordo) e saudar com toque de apito, a autoridade que chegar e marinheiros cursados usam sempre, para distinção de graduação,
ou sair. divisas nos braços. Os marinheiros-recrutas, aprendizes e grumetes
Os marinheiros que acorriam para as manobras de embarque não usam divisas.
do Comandante a bordo eram chamados, na Real Marinha britâni- As platinas são presas sobre os ombros dos uniformes como
ca, de “boys”. Esse costume passou desde o Império, à nossa Mari- acessório, sendo reminiscências de antigas tiras de couro usados
nha. Hoje, há um toque de apito que, em realidade, significa boys nos uniformes para fixar os talabardes (boldriés). São de origem
aos cabos. Tratava-se, até há pouco tempo, quando se vinha ou saía francesa.
de bordo por lancha, de chamar os marinheiros para que desces- Os galões dos oficiais são listras douradas. No Corpo da Arma-
sem ao patim inferior da escada de portaló e aí estendessem cabos da, a mais alta no punho é terminada por uma volta. Conta a tra-
(preparados com pinhas nas duas extremidades, uma para o boy e dição que é uma reminiscência da volta que o Almirante Nelson,
outra para a autoridade), para que lhe servissem de apoio quando oficial inglês, levava em um pequeno cabo amarrado à manga de
embarcavam ou desembarcavam. seu dólmã para sustentá-la em um botão, quando, após perder o
Ao patim inferior da escada de portaló descem dois “boys” e braço, subiu ao convés pela primeira vez. As marinhas que tiveram
mais dois quando há espaço. Os demais formam no convés. Quando origem e contatos com a Marinha britânica conservam o símbolo.
estiver com prancha passada para terra, somente dois devem ficar Os Cabos e Marinheiros usam uniformes, brancos ou azuis,
em terra; os demais formam no convés. Formar mais de dois “boys” de gola, e na cabeça, bonés sem pala. Os de trabalho são de cor
em terra é, como se diz. na gíria marinheira, uma varada (de “vara”, mescla, com chapéus redondos típicos, de cor branca, chamados
termo espanhol que quer dizer encalhe). Tudo isso deve-se ao fato caxangá.
de que o emprego dos “boys” é uma tradição na manobra de em- O uniforme típico de marinheiro é universal. Suas característi-
barque e desembarque de oficiais, em navios no mar. cas são, principalmente, o lenço preto ao pescoço e a gola azul com
Quando o Comandante é recebido no seu próprio navio, é o três listras.
Mestre quem executa os apitos do cerimonial. O lenço teve sua origem na artilharia dos tempos antigos da
Quando o cerimonial é executado em terra, como nos estabe- marinha a vela. Os marujos usavam um lenço na testa durante os
lecimentos ou cerimônias públicas, os “boys” são distribuídos no combates, amarrado atrás da cabeça. Esse procedimento evitava
número completo previsto no Cerimonial da Marinha, em caráter que o suor, misturado à graxa e mesmo à pólvora das peças de tiro,
simbólico. lhes caísse nos olhos. Ao findar o combate, os marinheiros regula-
A chegada de autoridade a bordo de OM da MB deverá ser res giravam o lenço e o amarravam ao pescoço, com o nó para fren-
anunciada no sistema de fonoclama, quando couber, o cargo da te. Hoje, simbolicamente, o lenço é colocado em tomo do pescoço.
autoridade visitante seguido da expressão “para bordo”. Não deve-

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TRADIÇÕES NAVAIS
Sua cor preta, diferentemente do que muitos dizem, não é ori- peça, primitivamente humilde, presa ao ombro no uniforme. Mas,
ginada em sinal de luto pela morte de Nelson, pois era usado pelos o conjunto completo é constituído desse pequeno cabo (cordel),
marinheiros, com essa cor, bem antes disso, embora, naquele even- junto com os alamares, que são a reminiscência da antiga corrente,
to, tenham retirado o lenço característico do pescoço e o colocado que as autoridades navais usavam para pendurar os apitos, um sím-
no braço. bolo de autoridade já comentado. Assim, o conjunto formado pelos
A gola do Marinheiro é bastante antiga. Era usada para prote- alamares (autoridade) e seu cabo (ajudante) - este utilizado solteiro
ger a roupa das substâncias gordurosas com que os marujos unta- nos uniformes internos - significam “ajudante de uma autoridade”.
vam o “rabicho” de suas cabeleiras. O uso do rabicho desapareceu, Os Oficiais Chefes de Estado-Maior e Oficiais do Gabinete de uma
mas, a gola permaneceu, como parte característica do uniforme. A autoridade naval também usam esse símbolo, por serem seus aju-
cor azul é adotada por quase todas as marinhas do mundo. dantes mais diretos. O conjunto é usado do lado esquerdo, porém
As três listas da gola são reminiscência do costume antigo de se os Oficiais do Gabinete Militar da Presidência da República usam os
indicar, por meio de fitas, presas ao pelerine (capa utilizada sobre os alamares do lado direito.
ombros), o tempo de serviço do embarcado.
Condecorações e Medalhas
Gorro de Fita As condecorações e medalhas são usadas no lado esquerdo do peito.
Os fuzileiros navais também trazem em seus uniformes simbo- O costume, que não é apenas naval, vem do tempo das cruza-
lismo e tradição. das, quando os cavaleiros traziam a insígnia de sua Ordem (as Or-
O gorro de fita, de origem escocesa, é uma das tradições in- dens da Cavalaria) perto do coração. Era, também, porque o escudo
corporadas que permanecem e ganham legitimidade. Foi ideia, em ficava no braço esquerdo; e assim, protegia não somente o coração,
1890, de um comandante do Batalhão Naval, de ascendência bri- mas a insígnia de honra.
tânica. O gorro foi bem aceito e, hoje, caracteriza de forma ímpar
o uniforme dos Marinheiros de terra, soldados do mar, que são os
fuzileiros navais. ALGUMAS EXPRESSÕES CORRIQUEIRAS: “SAFO”,
“ONÇA”, “SAFA ONÇA”, “PEGAR”, “ROSCA FINA”,
O Apito Marinheiro “VOGA LARGA” E “VOGA PICADA”
Os principais eventos da rotina de bordo são ordenados por to-
ques de apito, utilizando-se, para isso, de um apito especial: o apito
‘SAFO’
do marinheiro. O apito serve, também, para chamadas de quem
“Safo” é talvez a palavra mais usual na Marinha. Serve para
exerce funções específicas ou para alguns eventos que envolvam
tudo que está correndo bem, ou para tudo que faz as coisas corre-
pequena parte da tripulação. Ele tem sido, ao longo dos tempos,
rem bem: “Oficial safo, Marinheiro safo. A faina está safa. A entrada
uma das peças mais características do equipamento de uso pessoal
é safa, pode demandar: não há bancos”.
da gente de bordo. Os gregos e os romanos já o usavam para fazer a
marcação do ritmo dos movimentos de remo nas galés. ‘ONÇA’
Com o passar dos anos, o apito se tornou uma espécie de dis- “Onça” é também uma expressão de grande uso. Significa difi-
tintivo de autoridade e mesmo de honra. Na Inglaterra, o Lord High culdade: “onça de dinheiro, onça de sobressalentes”.
Admiral usava um apito de ouro ao pescoço, preso por uma corren- “Estar na onça” é estar em apuros. “A onça está solta”, quer
te; um apito de prata era usado pêlos Oficiais em Comando, como dizer que tudo vai mal.
“Apito de Comando”. Eram levados tais símbolos em tanta consi- Essa expressão vem de uma velha história de uma onça de cir-
deração que, em combate, um oficial que usasse um apito preferia co, que era transportada a bordo de um navio mercante e se soltou
jogá-lo ao mar a deixá-lo cair em mãos inimigas. da jaula, durante um temporal.
O apito, hoje, continua preso ao pescoço por um cadarço de
tecido e tem utilização para os toques de rotina e comando de ma- ‘SAFA ONÇA’
nobras. “Safa onça” é a combinação das duas expressões anteriores.
As fainas de bordo, ainda hoje, em especial as manobras que Significa salvação. Safa onça é tudo que soluciona uma emergência.
exigem coordenação e ordens contínuas de um Mestre ou Contra- “Safei a onça, agarrando-me a uma tábua que flutuava...O meu safa
mestre, são conduzidas somente com toques de apito. Fazê-lo aos onça foi um pedaço de queijo, que ainda restava no barco; do con-
gritos denota pouca qualidade marinheira do dirigente da faina e trário, morreria de fome”.
sua equipe.
O Oficial de Serviço utiliza um apito, que não é o tradicional, e ‘PEGAR’
serve para cumprimentar ou responder a cumprimentos dos ceri- “Pegar” é o contrário de estar safo. “Estar pegando” significa
moniais (honras de passagem) de navios ou lanchas com autorida- que não está dando certo: “Tenente, o rancho está pegando! Não
des que passam ao largo; mas, o cadarço que o prende ao pescoço chegou a carne! Este marinheiro ainda está muito inexperiente:
mantém-se como parte do símbolo tradicional. com ele tudo pega...Comandante, não pude chegar a tempo, a lan-
Os toques de apitos estão grupados, por tipos, em toques de: cha pegou bem no meio da baía!”
Continência e Cerimonial, Fainas, Pessoal Subalterno, Divisões e Parece que a expressão vem de “pegar tempo”, ou seja, pegar
Manobras. mau tempo. Fulano está pegando tempo, para resolver a primeira
questão de sua prova...Aquele marujo não conseguiu safar-se para
Alamares a parada: pegou tempo, para arranjar um boné novo”.
Nos tempos de cavalaria andante, na Idade Média, os ajudan-
tes lavavam os cavalos e auxiliavam os cavaleiros, com armaduras, a ‘ROSCA FINA’, ‘VOGA LARGA’, E ‘VOGA PICADA’
montar, tal era o peso desses apetrechos. Depois que os cavaleiros Na gíria maruja, muitas expressões externam o universal bom
montavam, os ajudantes se afastavam das montarias e dos chefes, humor ou espirituosidade que caracterizam os homens do mar. As
ficando porém nas mãos com o cabo (corda) no braço, na altura do expressões “rosca fina”, “voga picada” e “voga larga” são alguns
ombro. Ainda hoje, os ajudantes de ordens usam, com garbo, essa exemplos:

8
TRADIÇÕES NAVAIS
“Rosca fina” (ou ainda “voga picada”) denomina o superior, Ofi-
cial ou Praça, que é exigente na observância das normas e regula-
ANOTAÇÕES
mentos, bem como na execução das fainas e tarefas, por si e pelos
subordinados. O antônimo é o “voga larga”. ______________________________________________________
A origem do primeiro está no “aperto”, na “pressão” impressa
pelo chefe, comparada pelo marinheiro a do parafuso com rosca ______________________________________________________
fina - que “aperta mais”. A segunda vem de “voga”, que é a veloci-
dade da remada ditada pelo patrão aos remadores em uma embar- ______________________________________________________
cação a remos. Pode ser uma “voga picada” (regime de velocidade
maior, portanto mais exaustivo para os remadores) ou “voga larga” ______________________________________________________
(velocidade amena, mais calma, mais tranquila).
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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TRADIÇÕES NAVAIS

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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
1. DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA – Chefia e Liderança; Aspectos Fundamentais da Liderança; Estilos de Liderança; Seleção de
Estilos de Liderança; Fatores da Liderança; Atributos de um Líder; Níveis de Liderança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
A Axiologia, também conhecida como a teoria dos valores, é
DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA – CHEFIA E considerada a parte mais nobre da Filosofia. O processo de influen-
LIDERANÇA; ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERAN- ciação de um grupo, que é a essência da liderança, está profunda-
ÇA; ESTILOS DE LIDERANÇA; SELEÇÃO DE ESTILOS DE mente ligado aos valores éticos e morais que devem ser transmiti-
LIDERANÇA; FATORES DA LIDERANÇA; ATRIBUTOS DE dos e praticados pelo líder.
UM LÍDER; NÍVEIS DE LIDERANÇA A prática dos fundamentos filosóficos da educação, seja ela for-
mal ou informal, desenvolvida por grupos sociais, independente de
CHEFIA E LIDERANÇA suas crenças e culturas, constitui-se no elemento catalisador dos
O exercício da chefia, comando ou direção, é entendido pelo valores universais.
conjunto de ações e decisões tomadas pelo mais antigo, com auto- O ser humano precisa receber uma educação adequada para
ridade para tal, na sua esfera de competência, afim de conduzir de ser capaz de valorizar um objeto (a vida humana, a Pátria, a famí-
forma integrada o setor que lhe é confiado lia). Sem essa educação, perde-se a capacidade de perceber esses
No desempenho de suas funções, os mais antigos, normalmen- valores, especialmente quando se trata daqueles universais, tais
te, desempenham dois papéis funcionais, a saber: o de “chefe” e o como: honra, dignidade e honestidade.
de “condutor de homens”. Em relação ao primeiro papel, prevalece A característica fundamental da Axiologia consiste na hierar-
a autoridade advinda da responsabilidade atribuída à função, as- quização desses valores, que são transmitidos pela educação fa-
sociada com aquela decorrente de seu posto ou graduação, à qual miliar, pela sociedade e pelo grupo. Essa hierarquização de valores
passaremos a definir, genericamente, como chefia. Com respeito varia de um país para o outro, de uma sociedade organizada para
ao segundo papel, identifica-se um estreito relacionamento com o outra, de um grupo social para outro. Por exemplo, os fundamen-
atributo de líder. Neste contexto, fica ressaltada a importância da talistas islâmicos, que se sacrificam em atentados, contrariando o
capacidade individual dos mais antigos em influenciarem e inspira- instinto de preservação, valor primordial do ser humano.
rem os seus subordinados. Valores como a honra, a dignidade, a honestidade, a lealdade
Caracterizados esses dois atributos do comandante, o de chefe e o amor à pátria, assim como todos os outros considerados vitais
e o de líder, pode-se afirmar que comandar é exercer a chefia e a pela Marinha, devem ser praticados e transmitidos, permanente-
liderança, a fim de conduzir eficazmente a organização no cum- mente, pelo líder aos seus liderados. A tarefa de doutrinamento
primento da missão. Sendo o exercício do comando um processo visa a transmitir a sua correta hierarquização, priorizando-os em
abrangente, a divisão ora apresentada será utilizada para efeito de relação aos valores materiais, como o dinheiro, o poder e a satis-
uma melhor compreensão do tema em lide, pois chefia e liderança fação pessoal.
não são processos alternativos e sim, simultâneos e complemen- Este é o maior desafio a ser enfrentado por aquele que preten-
tares. de exercer a liderança de um grupo.
Os melhores resultados no tocante à liderança ocorrem quan-
do ela é desenvolvida, não sendo impositiva. Neste contexto, a lide- Aspectos Psicológicos
rança deve ser entendida como um processo dinâmico e progressi- “Em essência, a liderança envolve a realização de objetivos com
vo de aprendizado, o qual, desenvolvido nos cursos de carreira e no e através de pessoas. Consequentemente, um líder precisa preo-
dia a dia das OM, trará não só evidentes benefícios às organizações, cupar-se com tarefas e relações humanas.” (HERSEY; BLANCHARD,
como também contribuirá para o sucesso profissional individual de 1982, p. 105).
cada militar. Desta forma, o contínuo desenvolvimento das qualida- O líder influencia outros indivíduos, provocando, basicamente,
des dos militares da MB como líderes deverá ser objeto de atenta e mudanças psicológicas e
permanente atenção, a ser trabalhada, conjuntamente, pela insti- “[...] num nível de generalidade que inclui mudanças em com-
tuição e, prioritariamente, por cada militar. portamentos, opiniões, atitudes, objetivos, necessidades, valores
e todos os outros aspectos do campo psicológico do indivíduo.”
ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA (FRENCH; RAVEN, 1969, apud NOBRE, 1998, p. 43)
Neste tópico serão abordados aspectos relacionados aos tipos Os processos grupais e a liderança são os principais objetos
de liderança. de estudo da Psicologia Social e a subjetividade humana, a per-
Existem diversas conceituações para liderança na literatura es- sonalidade e as mudanças psicológicas oriundas de processos de
pecializada. A Marinha do Brasil define liderança como: “o processo influenciação e de aprendizagem são focos de estudo e de análise
que consiste em influenciar pessoas no sentido de que ajam, volun- da Psicologia. O caminho para a liderança passa pelo conhecimento
tariamente, em prol do cumprimento da missão”. Fica evidenciado, profissional, mas também pelo autoconhecimento e por conhecer
pela definição, que a liderança inclui não só a capacidade de fazer bem seus subordinados. Para os dois últimos requisitos, a Psicolo-
um grupo realizar uma tarefa específica mas, sobretudo, executá-la gia pode oferecer ferramentas úteis para o líder. Pesquisas mostram
de forma voluntária, atendendo ao desejo do líder como se fosse que o quociente emocional (QE) ou inteligência emocional está,
o seu próprio. cada vez mais, destacando-se como o principal diferencial de com-
Nessa definição de liderança, estão implícitos os seus agentes, petência no trabalho. Esta conclusão é especialmente pertinente,
ou seja, o líder e os liderados, as relações entre eles e os princípios em se tratando do desempenho em funções de liderança. A Psicolo-
filosóficos, psicológicos e sociológicos que regem o comportamen- gia é, portanto, uma ciência que fornece firme embasamento teóri-
to humano. co e prático para que o líder possa influenciar pessoas

Aspectos Filosóficos Aspectos Sociológicos


A Filosofia tem como característica desenvolver o senso crítico, Os textos deste subitem foram retirados, com adaptações, do
que fornece ao indivíduo bases metodológicas para efetuar, per- Manual de Liderança, editado em 1996 (130- Bases Sociológicas).
manentemente, o exame corrente da situação, favorecendo o pro- Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica envolve
cesso de tomada de decisões. Tal prática é fundamental ao exercício um processo que vai permitir examinar as coletividades além das
da liderança, podendo-se verificar que o requisito pensamento crí- fachadas das estruturas sociais, com o propósito de refletir, com
tico está direta ou indiretamente associado a diversos atributos de profundidade, sobre a dinâmica de forças atuantes em dada cole-
liderança prescritos nesta Doutrina tividade.

1
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
A liderança envolve líder, liderados, e contexto (ou situação), vo faz com que este, com bastante frequência, se transforme em
constituindo, fundamentalmente, uma relação. Para muitos teó- conflito. Na liderança, a competição tem sempre que ser saudável
ricos, a liderança, dadas as características singulares que envolve, e estimulante.
constitui-se em um processo ímpar de interação social. Partindo Conflito é a exacerbação da competição. Uma definição mais
desta visão da liderança, é evidente o quanto a Sociologia tem para específica afirma que tal processo consiste em obter recompensas
contribuir em termos de embasamento teórico no estudo e na pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Ou seja,
construção do processo da liderança. o conflito é uma forma de competição que pode caminhar para a
Os militares, em geral, em função da peculiaridade de suas ati- instalação de violência e, que se vai intensificando, à medida que
vidades profissionais, constituem uma subcultura dentro da socie- aumenta a duração do processo, já que este tem caráter cumulati-
dade brasileira. Focalizando mais de perto ainda, pode-se afirmar vo – a cada ato hostil surge uma represália cada vez mais agressiva.
que a Marinha, dentro das Forças Armadas, face a suas atribuições O processo social de conflito inclui aspectos positivos e nega-
muito próprias, constitui-se, igualmente, em uma subcultura. A li- tivos. Por um lado, o conflito tende a destruir a unidade social e,
derança, por definição, pressupõe a atuação do líder sobre grupos da mesma forma, desagregar grupos menores, pelo aumento de
humanos; os membros destes grupos são, em geral, oriundos de di- ressentimento, pelo desvio dos objetivos mais elevados do grupo,
ferentes subculturas. Estes indivíduos, ao ingressarem na Marinha, pela destruição dos canais normais de cooperação, pela intensifi-
passarão a integrar-se a esta nova subcultura, após um período de cação de tensões internas, podendo chegar à violência. Por outro
adaptação. No âmbito da Marinha, pode-se distinguir subculturas lado, doses regulares de conflito de posições, podem ter efeito in-
correspondentes aos diferentes Corpos e Quadros, em função da tegrador dentro do grupo, na medida em que obrigam os grupos a
missão atribuída a cada um deles. Cultura e subcultura são, por- se autocriticarem, a reverem posições, a forçarem a formulação de
tanto, temas de estudo da Sociologia de interesse para a liderança. novas políticas e práticas, e, em consequência, a uma revitalização
Outro tópico de Sociologia avaliado como relevante é o dos dos valores autênticos próprios daquele grupo.
processos sociais, estes definidos como a interação repetitiva de Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de um gru-
padrões de comportamento comumente encontrados na vida so- po, seu respectivo líder terá de buscar soluções e alternativas para
cial. Os processos sociais de maior incidência nas sociedades e gru- manter o controle da situação. Não é fácil ou agradável para os
pos humanos são: cooperação, competição e conflito. O líder, cuja líderes atuar em situações de conflito, o que não justifica sua pura
matéria-prima é o grupo liderado, necessita identificar a existência e simples negação. É indispensável que o líder seja capaz de diag-
de tais processos, estimulando-os ou não, em função das especifi- nosticar as situações de conflito, mesmo quando ainda latentes, de
cidades da situação corrente e da natureza da missão a ser levada modo a buscar estratégias adequadas para gerenciá-las construti-
a termo. vamente.
Cooperação, etimologicamente, significa trabalhar em conjun-
to. Implica uma opção pelo coletivo em detrimento do individual, ESTILOS DE LIDERANÇA
mas nada impede o desenvolvimento e o estímulo das habilidades Nos primórdios do século XX, prevaleceram as pesquisas so-
de cada membro, em prol de um objetivo comum. Sob muitos as- bre liderança, entendida como qualidade inerente a certas pessoas
pectos, e de um ponto de vista humanista, é a forma ideal de atua- ou traço pessoal inato. A partir dos anos 30, evoluiuse para uma
ção de grupos. Ocorre que nem sempre é possível, dentro de um concepção de liderança como conjunto de comportamentos e de
grupo, manter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em função habilidades que podem ser ensinadas às pessoas que, desta forma,
do contexto, das circunstâncias da própria tarefa a realizar, da na- teriam a possibilidade de se tornarem líderes eficazes.
tureza do grupo, ou das características do líder, outros processos Progressivamente, os pesquisadores abandonaram a busca de
se desenvolvem. uma essência da liderança, percebendo toda a complexidade en-
volvida e evoluindo para análises bem mais sofisticadas, que in-
Competição é definida como a luta pela posse de recompensas
cluíam diversas variáveis situacionais. Nesse contexto, observa-se
cuja oferta é limitada. Tais recompensas incluem dinheiro, poder,
a proliferação de publicações sobre liderança, incluindo trabalhos
status, amor e muitos outros. Outra forma de descrever o processo
científicos e literatura sensacionalista e de autoajuda. Diferentes
competitivo o mostra como a tentativa de obter uma recompensa
autores propõem uma infinidade de estilos de liderança que se
superando todos os rivais.
sobrepõem. Alguns fundamentam-se em estudos e pesquisas e
A competição pode ser pessoal – entre um número limitado de
outros são meramente empíricos e intuitivos. Há também muitos
concorrentes que se conhecem entre si – ou impessoal – quando
modismos, alguns consistindo, apenas, em atribuição de novos no-
o número de rivais é tal, que se torna impossível o conhecimento
mes e roupagens a antigos conceitos, sendo reapresentados como
entre eles, como ocorre, por exemplo, nos exames vestibulares ou se fossem avanços na área de liderança.
em concursos públicos. Para simplificar a apresentação e o emprego de uma gama de
Atualmente, os especialistas concordam que ambos os proces- estilos de liderança consagrados e relevantes para o contexto mili-
sos – cooperação e competição – coexistem e, até mesmo, sobre- tar-naval, foram considerados alguns estilos selecionados em três
põem-se na maioria das sociedades. O que varia, em função de grandes eixos: grau de centralização de poder; tipo de incentivo; e
diferenças culturais, é a intensidade com que cada um é experimen- foco do líder. Pode-se afirmar, genericamente, que os diferentes
tado estilos de liderança, propostos à luz das diversas teorias, se en-
Sob o ponto de vista psicológico, é relevante considerar que, quadram em três principais critérios de classificação, apresentados
se a competição tem o mérito inicial de estimular a atividade dos como eixos lógicos em que se agrupam apenas sete estilos princi-
indivíduos e dos grupos, aumentando-lhes a produtividade, tem o pais:
grave inconveniente de desencorajar os esforços daqueles que se a) quanto ao grau de centralização de poder: Liderança Auto-
habituaram a fracassar. Vencedor há um só; todos os demais são crática, Liderança Participativa e Liderança Delegativa;
perdedores. Outro inconveniente sério, decorrente do estímulo à b) quanto ao tipo de incentivo: Liderança Transformacional e
competição, consiste na forte possibilidade de desenvolvimento de Liderança Transacional; e
hostilidades e desavenças no interior do grupo, contribuindo para c) quanto ao foco do líder: Liderança Orientada para Tarefa e
sua desagregação. A instabilidade inerente ao processo competiti- Liderança Orientada para Relacionamento.

2
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
Os subitens a seguir descrevem os sete principais estilos de li- “uma ou mais pessoas engajam-se com outras de tal forma que
derança propostos pelas diversas teorias. líderes e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de mo-
tivação e moral” (BURNS, 1978, apud SMITH; PETERSON, 1994, p.
Liderança Autocrática 129)
A liderança autocrática é baseada na autoridade formal, aceita Quatro aspectos caracterizam a liderança transformacional: 1º)
como correta e legítima pela estrutura do grupo. “[...] carisma (influência idealizada) associado com um grau eleva-
O líder autocrático baseia a sua atuação numa disciplina rígida, do de poder de referência por parte do líder [...]” (NOBRE, 1998, p.
impondo obediência e mantendo-se afastado de relacionamentos 54), que é capaz de despertar respeito, confiança e admiração; 2º)
menos formais com os seus subordinados, controla o grupo por inspiração motivadora, que consiste na capacidade de apresentar
meio de inspeções de verificação do cumprimento de normas e uma visão, dando sentido à missão a ser realizada, de instilar or-
padrões de eficiência, exercendo pressão contínua. Esse tipo de gulho. Inclui também a capacidade de simplificar o entendimento
liderança pode ser útil e, até mesmo, recomendável, em situações sobre a importância dos objetivos a serem atingidos e, a “[...] pos-
especiais como em combate, quando o líder tem que tomar deci- sibilidade de criar símbolos, “slogans” ou imagens que sintetizam
sões rápidas e não é possível ouvir seus liderados, sendo a forma de e comunicam metas e ideais, concentrando assim os esforços [...]”
liderança mais conhecida e de mais fácil adoção. (NOBRE, 1998, p. 54); 3º) estimulação intelectual, consiste “[...] em
A principal restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse encorajar os subordinados a questionarem sua forma usual de fazer
pelos problemas e ideias, tolhendo a iniciativa e, por conseguinte, as coisas, [...] além de incentivar a criatividade, o auto-desenvolvi-
a participação e a criatividade dos subordinados. O uso desse estilo mento e a autonomia de pensamento” (NOBRE, 1998, p. 54-55),
de liderança pode gerar resistência passiva dentro da equipe e inibir propiciando a formulação de críticas construtivas, em busca da
a iniciativa do subordinado, além de não considerar os aspectos melhoria contínua; 4º) “consideração individualizada, implica em
humanos, dentre eles, o relacionamento líder-liderados. considerar as necessidades diferenciadas dos subordinados, de-
dicando atenção pessoal, orientando tecnicamente e aconselhan-
Liderança Participativa ou Democrática do individualmente” (CAVALCANTI et al., 2005) e “[...] oferecendo
Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte da autoridade também meios efetivos de desenvolvimento e auto-superação.”
formal em prol de uma esperada participação dos subordinados (NOBRE, 1998, p. 55). Segundo o enfoque da liderança transfor-
e aproveitamento de suas ideias. Os componentes do grupo são macional, ao encontrarem significado e perspectivas de realização
incentivados a opinarem sobre as formas como uma tarefa poderá pessoal no trabalho, os subordinados alcançam os mais elevados
ser realizada, cabendo a decisão final ao líder (exemplo típico é o níveis de produtividade e criatividade, fazendo desaparecer a di-
Estado-Maior). O êxito desse estilo é condicionado pelas caracte- cotomia trabalho e prazer. (BARRETT, 2000, apud CAVALCANTI et
rísticas pessoais, pelo conhecimento técnico-profissional e pelo en- al., 2005).
gajamento e motivação dos componentes do grupo como um todo.
Em se obtendo sucesso, a satisfação pessoal e o sentimento de Liderança Transacional
contribuição por parte dos subordinados são fatores que permitem Nesse estilo de liderança, o líder trabalha com interesses e ne-
uma realimentação positiva do processo. Na ausência do líder, uma cessidades primárias dos seguidores, oferecendo recompensas de
boa equipe terá condições de continuar agindo de acordo com o natureza econômica ou psicológica, em troca de esforço para al-
planejamento previamente estabelecido para cumprir a missão. cançar os resultados organizacionais desejados (CAVALCANTI et al.,
O líder deve estabelecer um ambiente de respeito, confiança e 2005). A liderança transacional envolve os seguintes fatores:
entendimento recíprocos, devendo possuir, para tanto, ascendên-
cia técnico-profissional sobre seus subordinados e conduta ética e “A recompensa é contingente, buscando-se uma sintonia entre
moral compatíveis com o cargo que exerce. Um líder que adota o o atendimento das necessidades dos subordinados e o alcance dos
estilo democrático encoraja a participação e delega com sabedoria, objetivos organizacionais; Esse estilo de liderança caracteriza-se
mas nunca perde de vista sua autoridade e responsabilidade. também pela administração por exceção, que implica num geren-
Um chefe inseguro dificilmente conseguirá exercer uma lide- ciamento atuante somente no sentido de corrigir erros [...].” (NO-
rança democrática, mas tenderá a submeter ao grupo todas as de- BRE, 1998, p. 55)
cisões. Isso poderá fazer com que o chefe acabe sendo conduzido
pelo próprio grupo. Neste estilo de liderança, o líder “[...] observa e procura desvios
das regras e padrões, toma medidas corretivas.” (CAVALCANTI et al.,
Liderança Delegativa 2005, p. 120).
Esse estilo é indicado para assuntos de natureza técnica, onde
o líder atribui a assessores a tomada de decisões especializadas, Liderança Orientada para Tarefa
deixando-os agir por si só. Desse modo, ele tem mais tempo para A especialização em tarefas é uma das principais responsabili-
dar atenção a todos os problemas sem se deter especificamente a dades do líder, na medida em que possui a necessária qualificação
uma determinada área. É eficaz quando exercido sobre pessoas al- profissional para o exercício da função. Nesse estilo de liderança,
tamente qualificadas e motivadas. O ponto crucial do sucesso deste então, o líder focaliza o desempenho de tarefas e a realização de
tipo de liderança é saber delegar atribuições sem perder o controle objetivos, transmitindo orientações específicas, definindo manei-
da situação e, por essa razão, o líder, também, deverá ser altamente ras de realizar o trabalho, o que espera de cada um e quais são os
qualificado e motivado. O controle das atividades dos elementos padrões organizacionais.
subordinados é pequeno, competindo ao chefe as tarefas de orien-
tar e motivar o grupo para atingir as metas estabelecidas. Liderança Orientada para Relacionamento
Nesse estilo de liderança, o foco do líder é a manutenção e for-
Liderança Transformacional talecimento das relações pessoais e do próprio grupo. O líder de-
Esse estilo de liderança é especialmente indicado para situa- monstra sensibilidade às necessidades pessoais dos liderados, con-
ções de pressão, crise e mudança, que requerem elevados níveis de centra-se nas relações interpessoais, no clima e no moral do grupo.
envolvimento e comprometimento dos subordinados, sendo que Esse estilo de liderança, que está significativamente associado às

3
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
medidas de satisfação dos liderados em relação ao trabalho e ao Isto é, ainda, crucial para o salutar exercício de Delegação de
chefe, pode ser útil em situações de tensão, frustração, insatisfação Autoridade.
e desmotivação do grupo.
A Situação
SELEÇÃO DE ESTILOS DE LIDERANÇA “Não existem normas nem fórmulas que mostrem com exati-
Ao proporem diferentes estilos de liderança, os autores condi- dão o que deve ser feito. O líder precisa compreender a dinâmica
cionam a eficácia do seu emprego a algumas variáveis, tais como: do processo de liderança, os fatores principais que a compõem,
relevância da qualidade da tarefa ou decisão; importância da acei- as características de seus liderados e aplicar estes conhecimentos
tação da decisão pelos subordinados para obtenção de seu envol- como guia para cada situação em particular.” (BRASIL, 1991, p. 3- 5)
vimento na implantação de determinada linha de ação; tempo Fica, assim, bem clara a necessidade exaustiva da prática da
disponível para realização da missão; riscos envolvidos; níveis de liderança, para o sucesso do líder, levando sempre em conta a cul-
prioridade no que diz respeito à produtividade ou à satisfação do tura e/ou a subcultura organizacional da instituição.
grupo; e nível de maturidade psicológica e profissional dos subordi-
nados. Destacando-se apenas esta última variável como exemplo, A Comunicação
pode-se afirmar, genericamente, que a identificação de um baixo “A comunicação é um processo essencial à liderança, que con-
nível de maturidade (profissional e/ou emocional) no grupo de su- siste na troca de ordens, informações e ideias, só ocorrendo quan-
bordinados induz à aplicação de estilos com maior centralização de do a mensagem é recebida e compreendida. [...] É através desse
poder, mais foco na tarefa e que incentivos no nível transacional processo que o líder coordena, supervisiona, avalia, ensina, treina
(licença, rancho, conforto etc) tendem a ter mais valência para o e aconselha seus subordinados.[...] O que é comunicado e a forma
grupo. Por outro lado, grupos mais maduros, em geral, respondem como isto é feito aumentam ou diminuem o vínculo das relações
melhor a estilos menos centralizadores de poder e a incentivos no pessoais, criam o respeito, a confiança mútua e a compreensão. Os
nível da autorrealização, como ocorre no estilo transformacional. laços que se formam, com o passar do tempo, entre o líder e seus li-
Naturalmente, não apenas uma, mas todas as variáveis relevantes derados, são a base da disciplina e da coesão em uma organização.
de cada situação devem ser consideradas pelo líder. O líder deve ser claro e “escolher” cuidadosamente as palavras,
Portanto, diferentes estilos de liderança podem ser adotados, de tal forma que signifiquem a mesma coisa para ele e para seus
de acordo com as circunstâncias. Pode-se considerar que: subordinados.” (BRASIL, 1991, p. 3-4).
“[...] quando se abandona a ideia de que deve existir uma me-
lhor forma de liderar, todas as teorias subsequentes de liderança ATRIBUTOS DE UM LÍDER
devem ser contingenciais ou situacionais, isto é, devem definir as A natureza e as especificidades da profissão militar, a destina-
circunstâncias que afetam o comportamento e a eficácia dos líde- ção constitucional das Forças Armadas e a cultura organizacional da
res.” (SMITH; PETERSON, 1994, p. 173) Forças Armadas como um todo e, da Marinha, mais especificamen-
À luz da abordagem situacional, que prevalece na atualidade, te, fazem com que certos traços de personalidade tornem-se dese-
na qual a liderança pode assumir diversos estilos, os principais re- jáveis e tendam a encontrar-se especialmente acentuados nos líde-
quisitos de liderança passam a ser a capacidade de diagnosticar as res militares. Embora não existam fórmulas de liderança, a História,
variáveis situacionais, a flexibilidade e a adaptabilidade às mudan- a experiência e também a pesquisa psicossocial têm demonstrado
ças. Os melhores líderes utilizam estilos diferentes, em distintas si-
que é importante que os chefes procurem desenvolver esses traços
tuações. Assim, é necessário um esforço pessoal do líder no sentido
em si e nos seus subordinados, porque em momentos críticos ou
de se adaptar, continuamente, às mudanças de estilo adequadas a
nas situações difíceis eles podem contribuir para um exercício mais
cada contexto
eficaz da liderança no contexto militar
Os atributos de um líder têm como componente comum a ca-
FATORES DA LIDERANÇA
pacidade de influenciar.
Os fatores da liderança, mencionados neste item, baseiam-se
Um bom líder deve perseguir, manter, desenvolver e cultivar
na publicação Liderança Militar, Instruções Provisórias IP 20-10, de
1991, do Estado-Maior do Exército essa capacidade e, sobretudo, transmiti-la aos seus subordinados,
formando assim, novos líderes que, por sua vez, devem agir da mes-
O Líder ma forma, na tentativa de alcançar um círculo virtuoso.
O líder deve conhecer a si mesmo, para saber de suas capaci- O Anexo A define os principais atributos de um líder, que de-
dades, características e limitações, evitando atribuir aos seus lide- vem estar em consonância com os preceitos da Ética Militar, segun-
rados falhas ou restrições. do os fundamentos estabelecidos no Estatuto dos Militares. Nun-
“Os bons líderes eficientes são também bons seguidores [...]” ca é demais ressaltar que a Ética é parâmetro fundamental para o
(BRASIL, 1991, p. 3-3) e cumpridores das orientações de seus supe- exercício da liderança, notadamente no âmbito militar.
riores, passando esse exemplo a seus subordinados.
“O líder, independentemente de sua vontade, atua como ele- NÍVEIS DE LIDERANÇA
mento modificador do comportamento de seus liderados subordi- Com a evolução das técnicas de gestão empresarial, o foco do
nados. [...] A função militar está relacionada com a segurança e a estudo sobre o comportamento dos dirigentes passou a ser vol-
responsabilidade pela vida de seres humanos.” (BRASIL, 1991, p. tado para as diferenças entre o líder de base e o de cúpula. Foi
3-3, 3-4) então idealizado um padrão de organização baseado em três níveis
Provavelmente, poucos profissionais são forçados a assumir ta- funcionais: operacional, tático e estratégico, discriminando as ca-
refa tão grave ao liderar subordinados. (BRASIL, 1991). racterísticas desejáveis para um líder nos três níveis, de acordo com
suas habilidades.
Os Liderados Em consonância com esses novos conceitos, foram estabele-
“O conhecimento dos liderados é fator essencial para o exer- cidos três níveis de liderança: direta, organizacional e estratégica.
cício da liderança e depende do entendimento claro da natureza Estes três níveis definem com precisão toda a abrangência da lide-
humana, das suas necessidades, emoções e motivações.” (BRASIL, rança e será adotado ao longo desta Doutrina.
1991, p. 3-4)

4
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
A liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a organizacionais é basicamente indireta: eles expedem suas políti-
face entre o líder e seus liderados e é mais presente nos escalões cas e diretivas e incentivam seus liderados por meio de seu staff e
inferiores, quando o contato pessoal é constante. A liderança dire- comandantes subordinados. Devido ao fato de não haver proximi-
ta, conquanto seja mais intensa no comando de pequenas frações dade, os resultados de suas ações são frequentemente menos visí-
ou unidades, tendo em vista que a estrutura organizacional da For- veis e mais demorados. No entanto, a presença desses líderes em
ça exige o trato com assessores e subordinados diretos. momentos e lugares críticos aumenta a confiança e a performance
A liderança organizacional desenvolve-se em organizações dos seus liderados. Independente do tipo de organização que eles
de maior envergadura, normalmente estruturadas como Estado- chefiem, líderes organizacionais conduzem operações pela força
-Maior, sendo composta por liderança direta, conduzida em menor do exemplo, estimulando os subordinados e supervisionando-os
escala e voltada para os subordinados imediatos, e por delegação apropriadamente. Sempre que possível, o líder organizacional deve
de tarefas. mostrar sua presença física junto aos escalões subordinados, seja
A liderança estratégica militar é aquela exercida nos níveis que por intermédio de visitas e mostras, seja por meio de reuniões fun-
definem a política e a estratégia da Força. É um processo empre- cionais com os comandantes subordinados
gado para conduzir a realização de uma visão de futuro desejável
e bem delineada. Liderança Estratégica
Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos ní-
Liderança Direta veis mais elevados da instituição. Sua influência é ainda mais indi-
Essa é a primeira linha de liderança e ocorre em organizações reta e distante do que a dos líderes organizacionais. Desse modo,
onde os subordinados estão acostumados a ver seus chefes fre- eles devem desenvolver atributos adicionais de forma a eliminar ou
quentemente: seções, divisões, departamentos, navios, batalhões, reduzir esses inconvenientes.
companhias, pelotões e esquadras de tiro. Para serem eficazes, os Os líderes estratégicos trabalham para deixar, hoje, a institui-
líderes diretos devem possuir muitas habilidades interpessoais, ção pronta para o amanhã, ou seja, para enfrentar os desafios do
conceituais, técnicas e táticas. futuro, oscilando entre a consciência das necessidades nacionais
Os líderes diretos aplicam os atributos conceituais de pensa- correntes e na missão e objetivos de longo prazo
mento crítico-lógico e pensamento criativo para determinar a me- Desde que a incerteza quanto às possíveis ameaças não permi-
lhor maneira de cumprir a missão. Como todo líder, usam a Ética ta uma visualização clara do futuro, a visão dos líderes estratégicos
para pautar suas condutas e adquirir certeza de que suas escolhas é especialmente crucial na identificação do que é importante com
são as melhores e contribuem para o aperfeiçoamento da perfor- relação ao pessoal, material, logística e tecnologia, a fim de subsi-
mance do grupo, dos subordinados e deles próprios. Eles empre- diar decisões críticas que irão determinar a estrutura e a capacida-
gam os atributos interpessoais de comunicação e supervisão para de futura da organização.
realizar o seu trabalho. Desenvolvem seus liderados por instruções Dentro da instituição, os líderes estratégicos constroem o su-
e aconselhamento e os moldam em equipes coesas, treinando-os porte para facilitar a busca dos objetivos finais de sua visão. Isto
até a obtenção de um padrão. significa montar um staff que possa assessorá-los convenientemen-
São especialistas técnicos e os melhores mentores. Tanto seus te a conduzir seus subordinados de maneira segura e flexível. Para
chefes quanto seus subordinados esperam que eles conheçam bem obter o suporte necessário, os líderes estratégicos procuram obter
sua equipe, os equipamentos e que sejam “expert” na área em que o consenso não só no âmbito interno da organização, como tam-
atuam. bém trabalhando junto a outros órgãos e instituições a que tenham
Usam a competência para incrementar a disciplina entre os
acesso, em questões como orçamento, estrutura da Força e outras
seus comandados. Usam o conhecimento dos equipamentos e da
de interesse, bem como estabelecendo contatos com representa-
doutrina para treinar homens e levá-los a alcançar padrões eleva-
ções de outros países e Forças em assuntos de interesse mútuo.
dos, bem como criam e sustentam equipes com habilidade, certeza
A maneira como eles comunicam as suas políticas e diretivas
e confiança no sucesso na paz e na guerra.
aos militares e civis subordinados e apresentam aquelas de inte-
Exercem influência continuamente, buscando cumprir a mis-
resse aos demais cidadãos vai determinar o nível de compreensão
são, tendo por base os propósitos e orientações emanadas das de-
alcançado e o possível apoio para as novas ideias. Para se fazer en-
cisões e do conceito da operação do chefe, adquirindo e aferindo
resultados e motivando seus subordinados, principalmente pelo tender por essas diversas audiências, os líderes estratégicos em-
exemplo pessoal. Devido a sua liderança ser face a face, veem os pregam múltiplas mídias, ajustando a mensagem ao público alvo,
resultados de suas ações quase imediatamente. sempre reforçando os temas de real interesse da instituição.
Trabalham focando as atividades de seus subordinados em Os líderes estratégicos estão decidindo hoje como transformar
direção aos objetivos da organização, bem como planejam, prepa- a Força para o futuro. Eles devem trabalhar para criar e desenvolver
ram, executam e controlam os resultados a próxima geração de líderes estratégicos, montar a estrutura para
Se aperfeiçoam ao assumirem os valores da instituição e ao es- o futuro e pesquisar os novos sistemas que contribuirão na obten-
tabelecerem um modelo de conduta para seus subordinados, co- ção do sucesso.
locando os interesses da instituição e do Grupo que lideram acima Para capitanear as mudanças pessoalmente e levar a institui-
dos próprios. Com isto, eles desenvolvem equipes fortes e coesas ção em direção à realização do seu projeto de futuro, esses líderes
em um ambiente de aprendizagem saudável e efetiva. transformam programas conceituais e políticos em iniciativas prá-
Os líderes diretos devem, ainda, estimular ao máximo o desen- ticas e concretas. Este processo envolve uma progressiva alavanca-
volvimento de líderes subordinados, de forma a potencializar a sua gem tecnológica e uma modelagem cultural. Conhecendo a si mes-
influência até os níveis organizacionais mais baixos e obter melho- mos e aos demais “atores” estratégicos, tendo um nítido domínio
res resultados. dos requisitos operacionais, da situação geopolítica e da sociedade,
os líderes estratégicos conduzem adequadamente a Força e contri-
Liderança Organizacional buem para o desenvolvimento e a segurança da Nação. Tendo em
Ao contrário do que acontece no nível de liderança direta, vista que os conflitos nos dias de hoje podem ser desencadeados
onde os líderes planejam, preparam, executam e controlam dire- muito rapidamente, não permitindo um longo período de mobili-
tamente os resultados dos seus trabalhos, a influência dos líderes zação para a guerra – como se fazia no passado –, o sucesso de um

5
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
líder estratégico significa deixar a Força pronta para vencer uma 4-Com relação ao conceito de liderança é correto afirmar que,
variedade de conflitos no presente e permanecer pronta para en- EXCETO:
frentar as incertezas do futuro. A A função do líder é criar uma visão.
Em resumo, esses líderes preparam a instituição para o futuro B Líderes conduzem pessoas e organizações em direções que
por meio de sua liderança. Isto significa influenciar pessoas – in- sozinhas não seguiriam.
tegrantes da própria organização, membros de outros setores do C Líder é alguém que influencia os outros a atingir metas.
governo, elites políticas – por meio de propósitos significativos, di- D Liderança pode ser ensinada e aprendida.
reções claras e motivação consistente. Significa, também, acompa- E Líder busca tão somente a relação custo x benefício.
nhar o desenrolar das missões atuais, sejam quais forem, e buscar
aperfeiçoar a instituição – tendo a certeza que o pessoal está ades- 5-As teorias sobre a liderança sempre acompanharam o de-
trado e de que seus equipamentos e estrutura estão prontos para senvolvimento da teoria administrativa. Assim sendo, pode-se dizer
os futuros desafios. que, segundo as teorias situacionais de liderança,
A a liderança é uma habilidade pessoal, que torna algumas pes-
soas mais aptas a influenciar outras.
EXERCÍCIOS B a liderança situacional é uma habilidade que torna algumas
pessoas mais aptas a influenciar pessoas e grupos, dependendo da
circunstância encontrada.
1-”O líder delega totalmente as decisões ao grupo e deixa-o C a partir do momento em que os indivíduos ingressam em
completamente à vontade e sem controle algum”. A frase acima uma organização, os fatores cognitivos deixam de exercer alguma
descreve o seguinte estilo de liderança: influência sobre a sua motivação.
A Liderança Democrática. D não existe um único estilo ou característica de liderança vá-
B Liderança Burocrática. lida para toda e qualquer situação. Cada tipo de situação requer
C Liderança Autocrática. um tipo de liderança diferente para alcançar a eficácia dos subor-
D Liderança Liberal. dinados.
E Liderança Carismática. E um estilo de liderança democrática implica em liberdade
completa para as decisões grupais ou individuais.
2-A liderança consiste em um processo que tem por finalidade
influenciar as atividades de um indivíduo ou de um grupo no alcan-
ce de um objetivo. GABARITO
O estilo de liderança em que o líder exprime raros comentários
sobre a atividade do grupo, permitindo que decisões sejam toma-
das sem a sua participação é denominada liderança 1 D
A autoritária.
B liberal. 2 B
C democrática. 3 A
D parcimoniosa.
4 E
3-Sobre o tema liderança assinale V para as assertivas Verda- 5 D
deiras e F para as falsas.
(A) Na liderança democrática o líder fixa diretrizes, determina
as tarefas e o companheiro de trabalho.
(B) Na liderança liberal há liberdade total para as decisões gru-
ANOTAÇÕES
pais ou individuais, e mínima participação do líder.
(C) Na liderança autocrática o líder procura ser um membro ______________________________________________________
normal do grupo, é objetivo e limita-se aos fatos nas críticas e elo-
gios. ______________________________________________________
(D) Na liderança democrática a divisão das tarefas e escolha
dos colegas fica totalmente a cargo do grupo, por absoluta falta de ______________________________________________________
participação do líder.
(E) Na liderança autocrática o grupo esboça as providências ______________________________________________________
para atingir as metas e solicita aconselhamento ao líder, que sugere
______________________________________________________
alternativas para o grupo escolher.
______________________________________________________
Marque a sequência CORRETA:
A F, V, F, F, F. ______________________________________________________
B V, F, V, V, F
C F, V, V, F, V ______________________________________________________
D V, V, F, F, V
E F, V, F, F, V ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

6
HISTÓRIA NAVAL
1. A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO - Os navios de madeira: construindo embarcações e navios; O desenvolvimento dos navios portugueses;
O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as cartas de marear; A vida a bordo dos navios veleiros . . . . . . . . 01
2. A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA E O DESCOBRIMENTO DO BRASIL – Fundamentos da organização do Estado português e a
expansão ultramarina: Lusitânia; Ordens militares e religiosas; O papel da nobreza; A importância do mar na formação de Portugal;
Desenvolvimento econômico e social; A descoberta do Brasil; O reconhecimento da costa brasileira: A expedição de 1501/1502; A
expedição de 1502/1503; A expedição de 1503/1504; As expedições guarda-costas; A expedição colonizadora de Martim Afonso de
Sousa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
3. INVASÕES ESTRANGEIRAS AO BRASIL - Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão: Rio de Janeiro; Maranhão; Invasores
na foz do Amazonas: Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco: Holandeses na Bahia; A ocupação do Nordeste brasileiro; A
insurreição em Pernambuco; A derrota dos holandeses em Recife; Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII; Guerras,
tratados e limites no Sul do Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4. FORMAÇÃO DA MARINHA IMPERIAL BRASILEIRA - A vinda da Família Real; Política externa de D. João e a atuação da Marinha: a
conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha; Guerra
de independência; Elevação do Brasil a Reino Unido; O retorno de D. João VI para Portugal; A Independência; A Formação de uma
Esquadra Brasileira; Operações Navais; Confederação do Equador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
5. A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS CONFLITOS DA REGÊNCIA E DO INÍCIO DO SEGUNDO REINADO - Conflitos internos; Cabanagem; Guerra
dos Farrapos; Sabinada; Balaiada; Revolta Praieira; Conflitos externos; Guerra Cisplatina; Guerra contra Oribe e Rosas . . . . . . . . . 32
6. A ATUAÇÃO DA MARINHA NA GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA CONTRA O GOVERNO DO PARAGUAI - O bloqueio do Rio Paraná e
a Batalha Naval do Riachuelo; Navios encouraçados e a invasão do Paraguai; Curuzu e Curupaiti; Caxias e Inhaúma; Passagem de
Curupaiti; Passagem de Humaitá; O recuo das forças paraguaias; O avanço aliado e a Dezembrada; A ocupação de Assunção e a fase
final da guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
7. A MARINHA NA REPÚBLICA - Primeira Guerra Mundial: Antecedentes; O preparo do Brasil; A Divisão Naval em Operações de Guerra;
O Período entre Guerras; A situação em 1940; Segunda Guerra mundial: Antecedentes; Início das hostilidades e ataques aos nossos
navios mercantes; A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e defesa ativa da costa brasileira; Defesas
Locais; Defesa Ativa; A Força Naval do Nordeste; E o que ficou? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
8. O EMPREGO PERMANENTE DO PODER NAVAL - O Poder Naval na guerra e na paz: Classificação; A percepção do Poder Naval; O
emprego permanente do Poder Naval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
HISTÓRIA NAVAL
Sigamos, portanto, nessa derrota...
A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO - OS NAVIOS DE MA-
DEIRA: CONSTRUINDO EMBARCAÇÕES E NAVIOS; O
DESENVOLVIMENTO DOS NAVIOS PORTUGUESES; O
DESENVOLVIMENTO DA NAVEGAÇÃO OCEÂNICA: OS
INSTRUMENTOS E AS CARTAS DE MAREAR; A VIDA A
BORDO DOS NAVIOS VELEIROS
1

Os rios, lagos, mares e oceanos eram obstáculos que os seres


humanos do passado muitas vezes precisavam ultrapassar. Pri-
meiro, eles se agarravam a qualquer coisa que flutuasse. Depois,
sentiram a necessidade de transformar materiais, para que estes,
flutuando, pudessem sustentar melhor sobre a água. Assim, ao lon-
go do tempo, em cada lugar surgiu uma solução, que dependeu do
material disponível: a canoa feita de um só tronco cavado; a canoa Aquarela de Robson Carvajall
feita da casca de uma única árvore; a jangada de vários troncos Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
amarrados; o bote de feixes de juncos ou de papiro (plantas que
nascem junto a rios e lagos); o bote de couro de animais; e outros.
Todas essas soluções simples, no entanto, não permitiam
transportar muita coisa, ou eram difíceis de manejar, ou mesmo
perigosas em águas agitadas. Era necessário desenvolver embarca-
ções construídas de diversas partes, para que elas fossem maiores
e melhores.1
Durante o século XV, os portugueses decidiram que deveriam
prosperar negociando diretamente com o Oriente através do mar.
Até então, as mercadorias do Oriente, inclusive as especiarias (pi-
menta, cravo, canela e gengibre, que eram necessárias para conser-
var os alimentos), eram trazidas por caravanas de camelos guiados
pelos árabes até portos do Mar Mediterrâneo, onde eram compra-
das pelos italianos, que revendiam na Europa. Para alcançar um
bom êxito, nesse ambicioso projeto de interesse nacional de Portu-
gal, foi necessário explorar a costa da África no Oceano Atlântico e
encontrar a passagem, ao sul do continente africano, para o Ocea-
no Índico; chegar à Índia e lá negociar diretamente as mercadorias;
trazê-las para Portugal em navios capazes de transportar quantida-
des relativamente grandes de carga; e defender esse comércio. Isso
exigiu desenvolvimentos científicos e tecnológicos para os navios e
para a navegação.
Os portugueses desenvolveram e utilizaram caravelas para ex-
plorações; naus como navios mercantes para o comércio; e galeões
como navios de guerra. Mas isso só não bastava para chegar com
sucesso ao porto de destino.
A navegação, quando se mantém terra à vista, é feita obser- Bote de couro de animais
vando pontos geográficos de terra para saber a posição do navio Aquarela de Robson Carvajall
em relação à costa. Quando não se avista mais a terra, o mar e o Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
céu se encontram no horizonte a toda volta, é necessário saber em
que direção o navio segue e a posição em que se está em relação à Os navios de madeira: construindo embarcações e navios
superfície do globo terrestre. O primeiro método de construção de embarcações, utilizado
Foi necessário, portanto, desenvolver instrumentos capazes de desde a canoa de tábuas, é chamado de “costado rígido”. Construí-
indicar a direção (bússola) do navio, a latitude (astrolábio) e a lon- ase primeiro o costado da embarcação, juntando as tábuas pelas
gitude (cronômetro). bordas e, depois, acrescentavam-se, os reforços estruturais inter-
Veremos neste capítulo o desenvolvimento dos navios na épo- nos e externos. O costado podia ser liso ou trincado, conforme se
ca das Grandes Navegações e os instrumentos utilizados para as juntavam as tábuas, topo a topo ou sobrepondo suas bordas. O re-
singraduras realizadas. sultado deste método é um casco resistente, com ênfase estrutural
no costado, bom para resistir a colisões e para encalhar, se neces-
sário, nas praias. Ainda hoje se constroem pequenas embarcações
assim e, na Antigüidade, era como se construíam as galés.
As galés eram embarcações movidas principalmente por re-
mos, algumas com muitos remadores, embora pudessem também
ter velas.
1 A canoa construída de diversas tábuas é um bom exemplo. Ela não
depende do tamanho de um único tronco, pode ser construída com a
borda mais alta para enfrentar as ondas e até pode ser reforçada inter-
namente com elementos estruturais para ser mais resistente.

1
HISTÓRIA NAVAL
Foram muito utilizadas por povos navegadores do passado, como os cretenses, os gregos, os romanos, os bizantinos e os nórdicos.
Chama-se de navio uma embarcação grande. Há mais de dois mil anos, já se construíam navios. Empregava-se a madeira, pois ela foi
o primeiro material que se mostrou mais adequado para a construção naval.2
Somente após o desenvolvimento industrial alcançado no século XIX, há cerca de 150 anos, é que o ferro e, depois, o aço, passaram
a ser matérias-primas importantes para a construção naval.
Chegou-se ao método de “esqueleto rígido”3 após uma longa evolução que durou mais de mil anos, passando por métodos chamados
de híbridos, em que algumas cavernas eram montadas antes do costado, para possibilitar algum controle da forma final do casco.
Embora o método de esqueleto rígido tivesse se desenvolvido no litoral do Mar Mediterrâneo (fora de Portugal), ele foi empregado
pelos portugueses para construir os navios que iniciaram, no século XV, a aventura das Grandes Navegações, que não somente levou ao
Descobrimento do Brasil, mas também transformou o mundo. Os oceanos, que antes eram obstáculos entre os povos da Terra, torna-
ram-se vias de comunicação entre eles.

2. A tecnologia da utilização da madeira é complicada. É preciso conhecer que qualidade de madeira usar, obedecer à época e à hora certa para
cortar as árvores; armazenar as toras corretamente, secas ou submersas, e trabalhá-las conforme suas característ cas físicas. O construtor naval pas-
seava pelas florestas escolhendo as árvores que tinham as curvas adequadas para fazer os elementos estrut rais e eram necessárias centenas delas
para construir um navio. Além disto, cada parte da embarcação precisava de uma espécie vegetal diferente e estas espécies não eram as mesmas
em cada região. A que servia para mastros não podia ser utilizada em costado, a que era boa para a parte submersa do casco nem sempre servia
para conveses, por exemplo. As galés, que eram construídas pelo método de “costado rígido”, tinham as formas do casco muito semelhantes. Isto
resultava do método empregado, de construir o costado primeiro, que até nem precisava de um projeto. O problema do método de “costado rígido”
é que ele não permite construir um navio exatamente com a forma do casco desejada por um projetista, para que ele possa ter maior capacidade de
carga e suportar melhor a navegação no oceano.

2
HISTÓRIA NAVAL

Nau São Sebastião em construção no Arsenal de Marinha da Corte em 1764


Desenho de Armando Pacheco
Fonte: O Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro na História (1783-1822) de Juvenal Greenhalg

3
O desenvolvimento dos navios portugueses
As caravelas provavelmente tiveram sua origem em embarcações de pesca, que já existiam na Península Ibérica4 desde o século XIII.
Tinham, em geral, velas latinas5. As velas latinas são próprias para navegar com qualquer vento e, por isso, adequadas às explorações da
costa da África. Principalmente foi com as caravelas que os portugueses exploraram o litoral africano durante o século XV. Devido ao de-
senvolvimento dos navios e de técnicas e instrumentos náuticos foi possível chegar ao extremo sul do continente africano, ao Cabo da Boa
Esperança, permitindo contornar a África, passando do Oceano Atlântico para o Oceano Índico, e chegar ao Oriente.
A partir de então apareceu a nau, navio maior destinado à navegação e ao transporte de mercadorias. Tem-se notícias que naus de
três mastros, com o velame completamente desenvolvido, eram utilizadas pelos portugueses desde o século XV6.
Por se enfatizar a prática mercantil, as naus eram mal armadas militarmente, levando poucos canhões para sua defesa e das rotas
marítimas que comandavam, abrindo espaço para a concorrência estrangeira. Até então Portugal vinha utilizando caravelas bem armadas
como navio de guerra, mas, desde o início do século XVI, sentira a necessidade de desenvolver o galeão, navio de guerra maior e com mais
canhões, para combater os turcos no Oriente e os corsários7 e piratas europeus ou muçulmanos no Atlântico.
O galeão foi a verdadeira origem do navio de guerra para emprego no oceano. Foi construído para fazer longas viagens e combater
longe da Europa.

3. Foi preciso desenvolver um método que permitisse controlar a forma do casco durante a construção, para que ele pudesse enfrentar melhor
as grandes ondas do oceano. Isso se resolveu construindo primeiro a estrutura. A quilha e as cavernas do navio são montadas em primeiro lugar,
formando o que parece ser o “esqueleto” do navio. Depois é que se montam as tábuas do costado, fixando-as aos elementos estrut rais. Este método
é chamado de “esqueleto rígido”.

3
HISTÓRIA NAVAL
quando foram desenvolvidos cronômetros adequados para serem
utilizados a bordo dos navios. A latitude não era difícil de se calcu-
lar e era através dela e da estimativa de quanto o navio havia se
deslocado, que os navegadores da época das Grandes Navegações
sabiam aproximadamente onde estavam. Evidentemente, erros de
navegação ocorreram com conseqüências desastrosas.
No Hemisfério Norte, a estrela Polar, que ocupa uma posição
muito próxima do pólo norte celeste, permite nos crepúsculos – ao
nascente e ao poente, quando se avista ao mesmo tempo o hori-
zonte e as estrelas de maior brilho no céu – um cálculo mais seguro
da latitude. Basta medir sua altura em relação ao horizonte.
Navegar mantendo a mesma altura significa manter a mesma
latitude. Deslocando-se para o Sul ou para o Norte, essa altura va-
ria. Era assim, e com a ajuda de umas pedras translúcidas que po-
larizavam a luz nos dias nublados, que os nórdicos navegavam sem
agulha de marear. Viajando para o Oeste, alcançaram a Islândia e
a América do Norte (muitos séculos antes de Cristóvão Colombo
chegar à América em 1492).
No Hemisfério Sul, a estrela Polar, que marca o pólo norte
celeste, não é visível, e a estrela Alfa do Cruzeiro do Sul (a mais
brilhante desta constelação), que ocupa a posição no céu mais pró-
xima do pólo sul celeste, não está suficientemente próxima para
ser uma referência para a navegação. A melhor forma de calcular
a latitude nesse hemisfério era observando o Sol em sua passagem
meridiana, ou seja, medindo em graus sua altura, quando ele passa
pelo ponto mais alto do céu, no local onde se está. Os navegadores
da época das Grandes Navegações faziam isto muito bem, utilizan-
do instrumentos náuticos. O astrolábio era o mais importante deles
e servia, neste caso, para medir o ângulo entre o Sol em sua pas-
sagem meridiana e a vertical. Outros instrumentos utilizados mais
tarde, como o quadrante e o sextante, mediam a altura do Sol atra-
vés do ângulo em relação ao horizonte.
As cartas náuticas eram muito imprecisas e passaram por um di-
fícil processo de desenvolvimento. As que foram inicialmente elabo-
radas pelos portugueses eram conhecidas como portulanos. A partir
do final do século XVI, passou-se a utilizar a Projeção de Mercator8.
Esta projeção é utilizada até os dias de hoje nas cartas náuticas.
Nela os meridianos e paralelos são representados por linhas retas,
que se interceptam formando ângulos de 90 graus. Isto causa con-
sideráveis distorções nas latitudes mais elevadas, porém tem a van-
tagem de os rumos e as marcações de pontos de terra serem linhas
retas, facilitando a plotagem nas cartas. Como a Terra é aproxima-
damente esférica (na verdade um geóide), a distância mais curta
O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos entre dois pontos não é uma linha reta na Projeção de Mercator,
e as cartas de marear mas isto é somente um pequeno inconveniente e a curva que re-
Para que Portugal pudesse realizar a expansão marítima efeti- presenta a menor distância pode ser calculada pelo navegador.
va nos séculos XV e XVI foi preciso que se aperfeiçoasse a navega-
ção, de modo a que se tornasse transoceânica e não apenas costei- 4

ra, como se praticava.


Quando começaram as Grandes Navegações, já eram conheci-
dos a bússola, inventada pelos chineses, também chamada de agu-
lha de marear ou agulha magnética, e, dentre os instrumentos de
observação, o astrolábio.
A bússola é composta por uma agulha imantada que se alinha
em função do campo magnético natural da terra, podendo-se saber
a direção em que está o pólo norte magnético, propiciando ao na-
vio traçar seu rumo, sua direção.
Para saber exatamente a posição em que se está em relação
ao globo terrestre, é necessário calcular a latitude e a longitude do
local. O cálculo prático da longitude, a bordo de navios, depende de
se conhecer, com precisão, a hora.
Porém, a inexistência de relógios (cronômetros) que não fos-
4 8 Gerardus Mercator, um importante fabricante de mapas e cartas
sem afetados pelos movimentos do navio causados pelas ondas fez
náuticas, nasceu em 1512, onde hoje é território belga, e faleceu em
com que a hora não pudesse ser calculada no mar até o século XVIII,
1594

4
HISTÓRIA NAVAL
Bússola ou agulha de marear bordo dos veleiros). O escorbuto é causado pela falta de vitami-
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha na C na dieta. As gengivas incham e sangram, os dentes perdem
sua fixação, aparecem manchas na pele, sente-se muito cansaço.
Com o tempo, vem a morte. Em uma viagem da Marinha inglesa
(força naval comandada pelo Comodoro George Anson), em 1741,
dos dois mil homens que partiram da Inglaterra, somente 200 re-
gressaram. A maioria morreu por causa do escorbuto. Por volta de
1800, descobriu-se que esse mal poderia ser evitado acrescentando
à dieta suco de limão, rico em vitamina C, pois sua ingestão diária,
em pequenas doses, evita o escorbuto, tornando mais saudável a
vida a bordo dos navios.

A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPEIA E O DESCOBRI-


MENTO DO BRASIL – FUNDAMENTOS DA ORGA-
NIZAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS E A EXPANSÃO
ULTRAMARINA: LUSITÂNIA; ORDENS MILITARES E
O astrolábio é um instrumento astronômico inventado pelo RELIGIOSAS; O PAPEL DA NOBREZA; A IMPORTÂNCIA
grego Hiparco, no século II a.C., e aperfeiçoado pelos astrônomos DO MAR NA FORMAÇÃO DE PORTUGAL; DESENVOL-
portugueses. Ele se constituía de uma roda de madeira com es- VIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL; A DESCOBERTA DO
cala em graus, um pino central (a alidade) com orifícios nas duas BRASIL; O RECONHECIMENTO DA COSTA BRASILEI-
extremidades (as pínulas). O piloto fazia a alidade girar até os RA: A EXPEDIÇÃO DE 1501/1502; A EXPEDIÇÃO DE
raios do Sol atravessarem os orifícios das pínulas. O número en- 1502/1503; A EXPEDIÇÃO DE 1503/1504; AS EXPEDI-
tão indicado na roda revelava a altura do sol acima do horizonte, ÇÕES GUARDA-COSTAS; A EXPEDIÇÃO COLONIZADO-
permitindo ao piloto estabelecer a latitude em que seu navio RA DE MARTIM AFONSO DE SOUSA
se encontrava naquele momento. Com o balanço, o astrolábio
provocava erros na medição da altura do Sol. A Expansão Marítima Européia e o Descobrimento do Brasil
Sinopse
Este capítulo aborda as condicionantes físicas e políticas que-
levaram os portugueses a se aventurarem pelo “mar tenebroso”
- comoantigamente era chamado o Oceano Atlântico - em busca
de caminhosalternativos para o comércio com o Oriente. Examina-
mos no capítuloanterior o desenvolvimento da construção naval e
dos instrumentosnáuticos que permitiram tal feito e agora vamos
conhecer um poucoda história de Portugal e de seus navegadores.
O pioneirismo português, ao assumir a liderança do processo-
de expansão marítima européia no final do século XIV, encontra-
explicação em dois acontecimentos decisivos: o país estava com
suasfronteiras estabelecidas, após as guerras da Reconquista (que
resultouna expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica) e firma-
va-se, então,como o primeiro Estado europeu moderno, politica-
mente centralizado,após a vitória militar contra os reinos vizinhos
de Leão e Castela. Talprocesso de centralização do poder foi fator
A vida a bordo dos navios veleiros muito importante paraque o reino português pudesse lançar-se a
A vida a bordo dos navios veleiros era muito difícil. O trabalho aventura ultramarina, equebrar o monopólio exercido pelas cida-
a bordo, com as manobras de pano, muitas vezes durante tempes- des de Gênova e Veneza sobreas rotas de comércio com a Ásia e
tades, exigia bastante esforço físico e era arriscado. A comida, sem estabelecer contato direto com asfontes produtoras. Para isso, em
possibilidade de se ter uma frigorífica, era deficiente, principal- muito contribuiu a estrutura naval jáexistente, cujo desenvolvimen-
mente em vitaminas, o que causava doenças como o beribéri (pela to foi estimulado pela coroa portuguesa.Na verdade, a expansão ul-
carência de vitamina B) e o escorbuto (carência de vitamina C). Du- tramarina ensejou uma aliança entre setoresmercantis e a nobreza,
rante os longos períodos de mau tempo, não havia como secar as tendo o Estado o controle e direção de talempreendimento.
A primeira conquista portuguesa no ultramar foi a cidade de-
roupas. A higiene a bordo também deixava muito a desejar. Muitos
Ceuta, ao norte da África onde hoje fica situado o Marrocos. Na-
morreram nas longas viagens oceânicas.
seqüência, Diogo Cão explorou a costa africana entre os anos de
Cabe observar que a vida em terra também não era fácil. O
1482e 1485. Bartolomeu Dias atingiu o sul do continente africano
trabalho podia ser fatigante e o ambiente insalubre. Desconheciase
eultrapassou o Cabo das Tormentas em 1487 (onde hoje fica a Áfri-
a causa de muitas doenças. Havia pouco conhecimento sobre uma
ca doSul) que, após este acontecimento, passou a chamar-se Cabo
dieta alimentar adequada, a medicina da época era muito deficien-
da BoaEsperança. Vasco da Gama, em 1498, chegou a Calicute, Su-
te e os antibióticos ainda não existiam. Morria-se por infecções cau-
doeste daÍndia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.
sadas por bactérias, que seriam curadas sem grandes dificuldades
Em 1500, afrota de Pedro Álvares Cabral chegou às terras do Brasil,
nos dias de hoje.
consolidandoo império ultramarino português.
O escorbuto merece destaque, pois foi uma doença que cau-
Descoberta as terras que Portugal denominou Brasil, tornou-se
sou a morte de muitos marinheiros nas longas estadias no mar,
imperioso seu reconhecimento e povoamento. Veremos, a partir
quando a dieta dependia apenas de peixe, carne salgada e biscoito
daqui, quais as expedições que partiram para o reconhecimento do
(feito de farinha de trigo, o último alimento que se deteriorava a
litoral das novas terras e as providências para povoá-la e defendê-la.

5
HISTÓRIA NAVAL
Como “Navegar é preciso”, vamos partir para o reconhecimen-
to de novas terras...

As armas e os barões assinalados


Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram;...

Já no largo Oceano navegavam,


As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,...
(Trechos de um dos poemas de Luís Vaz de Camões, da obra
Os Lusíadas, editada em 1572)

Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado portu-


Nau guês.
Pintura a óleo de Carlos Kirovsky Iniciou com a expulsão dos mouros da Península Ibérica em
Acervo do Clube Naval 1249 (os mouros invadiram a Península Ibérica no ano de 711), no
movimento denominado Reconquista, quando Portugal consolidou
seu território e firmou-se como “o primeiro Estado europeu mo-
Fundamentos da organização do Estado português e a expan- derno”, segundo o historiador Charles Boxer. Mas somente após a
são ultramarina vitória sobre os Reinos de Leão e Castela, em 1385, na Batalha de
A condição fundamental para o processo de formação das na- Aljubarrota, e a assinatura do tratado de paz e aliança perpétua
ções européias foi a crise do feudalismo, que teve início em meados com o Reino de Castela, em 1411, a paz foi selada. Portugal iniciou
do século XIII. Esta crise foi resultante da relativa paz que vivia o seu processo de expansão ultramarina conquistando aos mouros a
continente europeu, que permitiu a criação dos burgos (fora dos cidade de Ceuta, no norte da África.
limites do senhor feudal, que lhes dava proteção em troca da vassa- A partir daí, virou-se para o mar, onde se tornou dominante.
lagem), que viriam a se transformar em vilas ou cidades com relati- Como não poderia deixar de ser, esta empreitada envolveu somas
va autonomia. Isto provocou o enfraquecimento dos senhores feu- altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa se valeu do au-
dais, reduzindo o poder da nobreza e, conseqüentemente, abrindo mento de impostos e recorreu a empréstimos de grandes comer-
espaço para a retomada do poder político pelos reis. ciantes e banqueiros (inclusive italianos).
Os soberanos, à medida que obtinham recursos financeiros,
em troca de privilégios, fortaleciam seus exércitos e submetiam os
antigos feudos e as novas vilas e cidades à sua autoridade, incorpo-
rando esses territórios ao que viria ser seus reinos. Era o embrião
do futuro Estado Nacional.

6
HISTÓRIA NAVAL
em maioria, todosunidos pela fé islâmica e denominadosmouros.
Quase a totalidade dapenínsula caiu em mãos dos mourosque, em
seu avanço, só forambloqueados quando tentaram invadir aFrança.
A resistência aos invasores sóganhou força a partir do século
XI,após a formação dos reinos cristãos aonorte, como Leão, Caste-
la, Navarra eAragão. A guerra deflagrada contra osmouros contou
com o apoio de grandeparte da aristocracia européia,atraída pelas
terras que a conquistalhes proporcionaria.
Durante o reinado de Afonso VI(1069-1109), de Leão e Caste-
la,a partir de 1072, dois nobresfranceses – Raimundo e Henrique de
Borgonha – receberam como recompensa pelos serviçospres-
tados na campanha a mão das filhas do rei, além de terrascomo
dote. D. Raimundo recebeu as terras a norte do Rio Minho,o Con-
dado de Galiza, e D. Henrique o Condado Portucalense.Estas terras
não se constituíam em reinos independentes e seusproprietários
deviam prestar vassalagem ao rei de Leão.
A origem do próprio Estado português se deu com aformação
do Condado Portucalense, sob o domínio de D. Henriquede Borgo-
nha. Este nobre, tendo o senhorio de ampla região entreos Rios Mi-
nho e Mondego, procurou reforçar, através da luta contraos mou-
ros, seu poderio sobre os demais senhores de terrasdaquela área,
bem como conseguir autonomia frente aosinteresses do vizinho
Reino de Leão, a cujo soberano, como já foidito, devia vassalagem.
Lusitânia O caráter inicial da formação dos reinos ibéricos, definidopelos
A região que hoje é conhecida como Portugal foi originalmen- aspectos militar e religioso desenvolvidos nas lutas contraos mou-
te habitada por populações iberas de origem indoeuropéia. Mais ros, marcou as tendências principais da constituiçãodesses Estados.
tarde, foi ocupada, sucessivamente, por fenícios (século XII a.C.), De um lado, o processo de expulsão do inimigo muçulmanodeu
gregos (século VII a.C.), cartagineses (século III a.C.), romanos (sé- prioridade ao aspecto militar, o que criou a necessidade deunifica-
culo II a.C.) e, posteriormente, pelos visigodos (povo germânico, ção do comando das forças cristãs, papel exercido pelossenhores
convertido ao cristianismo no século VI), desde 624. de terras mais poderosos das diversas regiões dapenínsula. Por
outro lado, o profundo caráter religioso tomadopela Reconquista,
identificada com as cruzadas contra os infiéismuçulmanos, fez com
que a Igreja de Roma tivesse grande interesseno sucesso das forças
cristãs.
As vitórias alcançadas pelos exércitos de D. Henriquemostra-
ram à Santa Sé a importância que estes vinham adquirindono suces-
so das lutas militares. Assim, os interesses do senhorio docondado
e os do papado iam aos poucos convergindo para oreconhecimento
da autonomia portucalense ante o Reino de Leão.
O Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o Duqueportu-
calense D. Afonso Henriques (1128-1185), filho de Henriquede Bor-
gonha, e D. Afonso VII, imperador de Leão, determinou oreconheci-
mento por parte deste último da independência do antigocondado,
agora Reino de Portugal.

Em 711, a região foi conquistadapelos muçulmanos, impulsio-


nados porsua política de expansionismo, tendocomo base uma co-
ligação formada porárabes, sírios, persas, egípcios eberberes, estes

7
HISTÓRIA NAVAL
Ordens militares e religiosas Outro mecanismo de limitação do poder da nobrezafoi o esta-
Outro fator a ser ressaltado diz respeito às ordens militares(or- belecimento das inquirições. A partir de umainterrupção nas lutas
dens de cavalaria sujeitas a um estatuto religioso e que sepropu- militares contra os mouros, entre os séculosXII e XIII, a coroa portu-
nham a lutar contra os mulçumanos) no processo daReconquista. guesa buscou avaliar a situação dapropriedade de terras no reino.
Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar osdoentes e peregri- Durante a Reconquista, a nobreza laica e eclesiásticaaprovei-
nos que iam à Terra Santa e, sobretudo, paracombater militarmen- tou-se da falta de controle régio para alargar seus domíniosterri-
te os adeptos da fé mulçumana, participaramdas batalhas contra os toriais e privilégios, prejudicando em alguns casos os direitos eren-
mouros na Península Ibérica. dimentos da coroa. Para coibir tal situação, o poder real utilizouse
Seus contingentes, em muitos casos, formaram a base dosexér- das inquirições, pelas quais se formavam comissões deinquérito
citos cristãos. Em conseqüência dessa atuação, várias ordensrece- (alçadas) a fim de investigar se os direitos reaisdevidos estariam
beram doações de terras nos reinos ibéricos. Em Portugal, asordens sendo cumpridos e até mesmo verificar o direitolegal às proprie-
dos Templários, de Avis e de Santiago foram as maisbeneficiadas dades.
por tais privilégios. Tal mecanismo se completava com as confirmações, proces-
As ordens, no entanto, não se destacaram apenas pelo seuas- sopelo qual o rei sancionava não só a propriedade da terra como
pecto militar. Contribuíram significativamente para o povoamento- opróprio título nobiliárquico do senhor em questão. Esses pode-
do território português, a partir das regiões que lhes foramdistribu- ressubmetiam, de certa maneira, a nobreza eclesiástica e civil à
ídas. Em torno de castelos e fortalezas, com efeito,desenvolveram coroa,já que passavam a depender desta para a preservação tanto
atividades agrícolas que levaram à fixação dapopulação. dotítulo quanto da propriedade.
Além disso, foi igualmente importante nesse processo deocu-
pação territorial a participação das ordens religiosas cujosmembros
não atuavam das lutas militares. Os mosteiros e capelasdestas or-
dens, dentre as quais se destacou a dos beneditinos,tornaram-se
pólos de atração pela segurança que ofereciam ainúmeras famílias.
Da mesma forma, desde a Reconquista, as ordenstomaram a peito
a colonização de zonas desertas ou dizimadaspela guerra, criando
novos focos de povoamento e estimulando aexploração da terra.

A importância do mar na formação de Portugal


Paralelamente aos problemas político-territoriais apontados,é
digno de destaque que, além da agricultura, o comércio marítimoe
a pesca eram as mais importantes atividades praticadas emPortu-
gal, país de solo nem sempre fértil e produtivo. A atividadepesquei-
ra destacou-se como fundamental para complemento daalimenta-
ção de sua população.
O papel da nobreza
Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano-
Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-setam-
Atlântico e próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar quedesen-
bém intensa vinculação da nobreza portucalense na formaçãodo
volvesse grande devotamento à navegação e,conseqüentemente, à
Estado Nacional lusitano. Este setor social, cujo poder seoriginava
construção naval. Natural, também, que aMarinha portuguesa fos-
na propriedade da terra, também participou de formadecisiva nas
guerras da Reconquista, apoiando o esforço militar darealeza. Esta, se utilizada em caráter militar, o que ocorreua partir do século XII.
num primeiro momento, concedeu privilégiosbastante amplos à No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem serassinaladas
nobreza. Mais tarde, contudo, pretendeu limitartais privilégios, im- as primeiras tentativas de implantação de uma frota navalperten-
pondo medidas que beneficiavam a centralizaçãodo poder. cente ao Estado, ordenando, inclusive, a construção de locaisespe-
Uma das providências tomadas nesse sentido foi a autonomia- cíficos nas praias para reparo de embarcações.
concedida pelo poder central aos concelhos (que correspondemaos
municípios nos dias de hoje), onde começavam a ter influênciaas Desenvolvimento econômico e social
aspirações de comerciantes e mestres de ofício. O apoio do reiaos Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), sexto rei de Por-
concelhos visava a enfraquecer o poder da nobreza fundiáriaem tugal (primeiro a assinar documentos com nome completo e,pre-
sua própria base territorial, impedindo assim que os senhoresde sumidamente, primeiro rei não analfabeto daquele país),iniciativas
terras fizessem prevalecer livremente seus interesses nas áreasque bastante relevantes foram adotadas para o fomento dacultura, da
comandavam, sem levar em conta as determinações régias. agricultura, do comércio e da navegação. DenominadoO Lavrador

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HISTÓRIA NAVAL
ou Rei Agricultor e ainda Rei Poeta ou Rei Trovador, D.Dinis foi um D. Fernando I envolveu-se em três guerras contra Castela e
monarca essencialmente administrador e nãoguerreiro. Envolven- passou a ser malvisto pela opinião pública por seu casamento com
do-se em guerra contra Castela, em 1295,desistiu dela em troca das Dona Leonor Teles (cujo casamento anterior fora anulado). Apósa
Vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado deAlcanizes (1297) formou a morte de D. Fernando, os portugueses não aceitaram a regênciada
paz com Castela, ocasião em que foramdefinidas as fronteiras atu- rainha viúva em nome da filha, a Infanta Dona Beatriz, casadacom
ais entre os países ibéricos. um potencial inimigo, o rei de Castela. Este fator, somado àconti-
Preocupado com a infra-estrutura do país, ordenou aexplora- nuidade da crise de abastecimento, deflagrou a Revolução de Avis.
ção de minas de cobre, estanho e ferro, fomentou as trocascomer- Após deliberação das Cortes, foi aclamado rei o Mestre da
ciais com outros países, assinou o primeiro tratado comercialcom Ordem de Avis, D. João I (1385-1433), filho bastardo do oitavo rei
a Inglaterra, em 1308, e instituiu a Marinha Real. Nomeouentão o de Portugal D. Pedro I (1357-1367), a quem caberia inaugurar uma
primeiro almirante (que se tem conhecimento) da Marinhaportu- nova dinastia.
guesa, Nuno Fernandes Cogominho, para cuja vaga foicontratado, Vitoriosa em Lisboa, a revolta transformou-se em movimento
em 1317, o genovês Pezagno (ou Manuel Pessanha). Data dessa de fidalgos e plebeus em guerra contra Castela, cujo rei declarou
época a chegada dos portugueses às Ilhas Canárias. pretensão à coroa portuguesa. Os castelhanos foram vencidos em
Deve-se também à sua iniciativa a intensificação damonocultu- várias batalhas e, embora tenham bloqueado Lisboa, foram, afinal,
ra do pinheiro bravo (Pinhal de Leiria), em princípio,com a finalida- fragorosamente derrotados na Batalha de Aljubarrota (1385). A paz
só foi selada em 1411.
de de criar uma barreira vegetal que protegesse asterras agrícolas
Outra conseqüência importante dos fatos apontados foi are-
do avanço das areias costeiras e, também, comoreserva florestal
novação da aristocracia portuguesa. Os setores que haviamapoiado
para o fornecimento de madeira destinada àconstrução naval e à
Castela tiveram seus bens confiscados pela coroa, a qualos doou em
exportação.
parte aos seus aliados. Com tal divisão na nobreza,houve até mesmo
O cultivo era extremamente racional: sempre que havia cor- casos em que pais perderam os bens para seuspróprios filhos.
tede árvores, novas mudas eram plantadas de imediato, recor- Além disso, o apoio dos grupos mercantis a D. João I fezcom que
rendose a enormes sementeiras5. Esta ação manteve o pinhalpra- as aspirações de tais grupos passassem a ser valorizadaspelo poder
ticamente intacto e foi bastante utilizado durante os séculosXV e régio. A situação econômica do reino, ao sairvitoriosa da revolução,
XVI, no período dos descobrimentos marítimos. Além defornecer era uma das mais graves. A alta do custode vida e a queda do valor da
madeira para a construção naval, o pinho fornecia umsubproduto moeda colocaram o tesouroportuguês em situação bastante difícil.7
importantíssimo para conservação e calafeto dos cascosdas em- A nobreza também teve suas bases de poder atingidas pelomo-
barcações: o chamado pez, alcatrão vegetal de grande poderde vimento de centralização régia, com a colocação em prática daLei
vedação. É notável que o Pinhal de Leiria exista até os dias dehoje, Mental. Por meio dessa lei, baixada por D. Duarte (1433-1438)em 8
constituindo uma das maiores manchas naturais da região donorte de abril de 1434, os bens doados pela coroa à nobreza sópoderiam
do distrito de Leiria. ser herdados pelo filho varão legítimo mais velho. Issopermitiu à
No reinado de D. Fernando I (1367-1383), último soberanoda coroa retomar uma série de propriedades antes doadasàs famílias
dinastia de Borgonha, foi baixada a Lei de Sesmarias, de 28 demaio nobres, reforçando seu poder e, de alguma maneira,minando as
de 1375. Tendo como medida coercitiva mais rígida aexpropriação bases do poderio senhorial.
das terras não produtivas, essa lei foi mais umatentativa de solu- Tal processo de centralização do poder foi o elementoessencial
cionar a carência de mão-de-obra no campo,causada pela fuga das que permitiu ao reino português lançar-se na expansãoultramarina.
populações para os centros urbanos, devido à peste negra6 Deve-se destacar ainda que os limites da extração dasrendas obti-
O resultado foi uma séria crise de abastecimento de gêneros das com a agricultura fizeram a coroa voltar seus olhosàs atividades
alimentícios no reino. comerciais e marítimas.
A Lei de Sesmarias, que mais tarde seria aplicada no Brasil,teve O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova eVe-
pouco efeito prático. Seus artigos, apesar de conteremameaças aos neza sobre as rotas de comércio com a Ásia levou os gruposmer-
proprietários de terras, atuaram no sentido defortalecê-los, pois cantis portugueses a procurar outra alternativa para a realizaçãode
obrigavam os trabalhadores a permaneceremnos campos, mesmo seus negócios e, conseqüentemente, para obtenção de lucros.
em troca de baixa remuneração. A saída seria a tentativa de contato direto com os comercian-
Ainda durante o reinado de D. Fernando I, a construção naval- tesárabes, evitando o intermediário genovês ou veneziano. Para
recebeu grande incentivo, mediante a isenção de impostos e acon- issomuito contribuiu a estrutura naval já existente no reino, cujo-
cessão de vantagens e garantias aos construtores navais, taiscomo desenvolvimento foi estimulado pela coroa.
a autorização aos construtores de embarcações com maisde cem A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duasver-
tonéis que cortassem a madeira necessária nas matas reaiscom tentes. A primeira, de aspecto imediatista, realizada ao nortedo
isenção de impostos. Também ficou isenta de impostos, amaté- continente africano, visava à obtenção de riquezas acumuladas-
ria-prima importada destinada à construção naval. Em 1380,o mo- naquelas regiões através de prática de pilhagens. A tomada de
narca criou a Companhia das Naus, que funcionava comouma em- Ceuta,no norte da África (Marrocos), em 1415, seria um dos exem-
plosmais representativos deste tipo de empreendimento e marca
presa de seguros destinada a evitar a ruína financeira doshomens
oinício da expansão portuguesa rumo à África e à Ásia.
do mar. Como resultado, incrementaram-se o comérciomarítimo,
Em menos de um século, Portugal dominou as rotascomerciais do
a exportação de produtos da agricultura e a importaçãode tecidos
Atlântico Sul, da África e da Ásia, cuja presença foitão marcante nesses
e manufaturas. As rendas da Alfândega de Lisboa,considerado por-
mercados que, nos séculos XVI e XVII, a línguaportuguesa era usada
to franco, aumentaram significativamente e eraintensamente fre- nos portos como língua franca – aquela quepermite o entendimento
qüentado por estrangeiros. entre marinheiros de diferentesnacionalidades. Na segunda vertente,
Outra importante iniciativa de D. Fernando foi a instalaçãoda o objetivo colocava-se maisa longo prazo, já que se buscava conquis-
Torre do Tombo, o Arquivo Nacional Português, onde seguardavam tar pontos estratégicosdas rotas comerciais com o Oriente, criando ali
documentos importantes que preservavam a memóriae a história entrepostos(feitorias) controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso
de Portugal. Foi-lhe dado este nome porque ficavasediado numa datomada das cidades asiáticas. Tal modo de expansão também ficou-
torre do Castelo de São Jorge, e tombo, porquesignificava lançar marcado pelo aspecto religioso (cruzadas), pois mantinha-se a idéiade
em livro, inventariar, registrar. luta cristã contra os muçulmanos.9

9
HISTÓRIA NAVAL

A expansão ultramarina permitiu, assim, uma convergênciade interesses entre os setores mercantis e a nobreza, tendo oEstado o
papel de controle e direção de tal empreendimento. Omonopólio do comércio dos produtos asiáticos e o tráfico deescravos africanos
(mão-de-obra para as regiões produtoras dematérias-primas) enriqueciam não só os grupos mercantis, comogeravam vultosas receitas
para o tesouro régio, as quais a coroaem certa medida, repassava à nobreza através da doação demercês, bens móveis e de raiz, bem
como de privilégios.Cronologicamente e resumidamente, assim se deu o referidoprocesso expansionista:
Entre 1421 e 1434, os lusitanos chegaram aos Arquipélagos da Madeira e dos Açores e avançaram para além do Cabo Bojador. Até
esse ponto, a navegação era basicamente costeira.
Em 1436 atingiram o Rio do Ouro e iniciaram a conquista da Guiné. Ali se apropriaram da Mina, centro aurífero explorado pelos reinos
nativos em associação aos comerciantes mouros, a maior fonte de ouro de toda a história de Portugal até aquela data.
Em 1441, chegaram ao Cabo Branco.
Em 1444, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde instalaram a primeira feitoria em território africano e iniciaram a comerciali-
zação de escravos, marfim e ouro.
Entre 1445 e 1461, descobriram o Cabo Verde, navegaram pelos Rios Senegal e Gâmbia e avançaram até Serra Leoa.
Entre 1470 e 1475, exploraram a costa da Serra Leoa até o Cabo de Santa Catarina.
Em 1482, atingiram São Jorge da Mina e avançaram até o Rio Zaire, o trecho mais difícil da costa ocidental africana. O navegador
Diogo Cão explorou a costa da África Ocidental entre 1482 e 1485.
No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo dasTormentas, no extremo Sul do continente – que passou a serchamado de
Cabo da Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico,conquistando o trecho mais difícil do caminho das Índias.
Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa Sudoesteda Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.Durante o
reinado de D. João II, iniciado em 1481, aexpansão ultramarina atingiu o auge com os feitos dos navegadoresDiogo Cão e Bartolomeu Dias.
Abriram-se, desse modo, novas eextraordinárias perspectivas para a nação portuguesa. O negóciodas especiarias do Oriente, levadas para
a Arábia e para o Egitopelos árabes e dali transportadas aos países europeus, porintermédio de Veneza – que enriquecera com o tráfico –,
vai seconcentrar em novas rotas, deslocando o foco do comérciomundial do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico.
Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quemabalou as pretensões de D. João II na sua política expansionista, aodescobrir a
América em 1492. No retorno de sua famosa viagem,Colombo avistou-se com o rei de Portugal comunicando-lhe adescoberta. Anterior-
mente, o mesmo Colombo já havia oferecidoseus serviços ao soberano português, que recusou a oferta baseadoem informações dadas
pelos cosmógrafos do reino, levando ogenovês a dirigir-se a Castela, onde obteve apoio financeiro parasua famosa viagem.
Abalado com as notícias trazidas por Colombo, D. João IIcogitou em mandar uma expedição em direção às terras recémdescobertas,
convencido de que lhe pertenciam por direito. Poucodepois, a questão foi arbitrada por três bulas10 do Papa AlexandreVI, que concede-
ram à Espanha os direitos sobre as terras achadaspor seus navegadores a ocidente do meridiano traçado a cem léguasa oeste das Ilhas
dos Açores e de Cabo Verde.
Os portugueses discordaram da proposta e novasnegociações resultaram na assinatura do Tratado de Tordesilhas(cidade espanhola)
em 7 de junho de 1494, que garantiu à coroaportuguesa as terras que viessem a ser descobertas até 370 léguasa oeste do Arquipélago de
Cabo Verde. As terras situadas alémdesse limite pertenceriam à Espanha

10
HISTÓRIA NAVAL

D. João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, D.Manuel, dar continuidade ao projeto expansionista. Durante suagestão aconte-
ceu a famosa viagem de Vasco da Gama, que partiudo Rio Tejo em julho de 1497, dobrou o Cabo da Boa Esperança,transpôs o Rio Infante,
ponto extremo da viagem de BartolomeuDias, reconheceu Moçambique, Melinde, Mombaça e, em maiode 1498, após quase um ano de
viagem, chegou a Calicute, naÍndia.
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contatodireto com a região das especiarias, do ouro e das pedras preciosas,e, como
conseqüência, a conquista do quase total monopólio detais produtos na Europa, abalando seriamente o comércio dasrepúblicas italianas.
A conquista da rota marítima para as Índiasassumiu, na época, importância revolucionária e suas conseqüênciasimediatas empalideceram
até mesmo o maior acontecimento dahistória moderna das navegações: o descobrimento da Américapor Cristóvão Colombo.

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HISTÓRIA NAVAL
A descoberta do Brasil Prosseguindo a navegação sempre em rumo sudoeste, forama-
vistadas ervas marinhas, indicando terra próxima. No dia 22 deabril,
foram avistadas as primeiras aves e ao entardecer avistaramterra.
Ao longe, um monte alto e redondo foi denominado Pascoalpor ser
semana da Páscoa. Na manhã seguinte, avançaram ascaravelas son-
dando o fundo e fundeando a milha e meia da praiapróxima à foz
de um rio mais tarde denominado Rio do Frade.Após reunião com
os comandantes, foi decidido enviar a terra umbatel sob o coman-
do de Nicolau Coelho para fazer contato comos homens da terra,
quando se deu o primeiroencontro entre portugueses e indígenas.
Durante a noite soprou vento forte, seguidode chuvarada, co-
locando em risco as embarcações.Consultados os pilotos, decidiu
Cabral sair em buscade local mais abrigado, chegando em Porto
Seguro,hoje Baía Cabrália. Alguns tripulantes desceram aterra, não
conseguindo se fazer entender nem serentendidos pelos habitan-
tes que falavam uma línguadesconhecida.

Vasco da Gama retornou a Portugalem julho de 1499 sob cli-


ma de grandeexcitação motivado pela descoberta danova rota para
a Índia. Pouco depois, a9 de março de 1500, partiu em direçãoao
oriente uma portentosa frota de 13navios (dez provavelmente
eram naus e“três navios menores”, que seriamcaravelas, incluída
aí, uma naveta demantimentos).De seu comandante, Pedro Ál-
varesCabral, sabe-se que nasceu na Vila deBelmonte em 1467 ou
1468, segundofilho de Fernão Cabral, senhor deBelmonte, e de
Dona Isabel de Gouveia.Na juventude teria prestado bonsserviços
à coroa nas guerras da África epor isso recebia 13.000 réis anuais.
Dequalquer modo, sabe-se da dúvida de D.Manuel na escolha do
comandante daexpedição, que no primeiro momen-torecaiu sobre
Vasco da Gama.Cabral teria na época cerca de 30anos e levava con-
sigo marinheirosilustres, como Bartolomeu Dias eNicolau Coelho, No domingo de Páscoa, rezou-se a missa efoi decidido mandar
além de numerosatripulação, perto de 1.500 homens,alguns degre- ao reino, pela naveta demantimentos, a notícia do acontecimento.
dados e oito frades franciscanos, os primeros religiosos mandados Nos diasposteriores, os marinheiros ocuparam-se emcortar lenha,
por Portugal a tais lugares. lavar roupa e preparar aguada, alémde trocar presentes com os ha-
Uma das recomendações feitas aCabral era que tivesse parti- bitantes do lugar. Em1° de maio, Pedro Álvares Cabral assinalou o
cular cuidado com o sistema de ventosnas proximidades da costa lugaronde foi erigida uma cruz, próximo ao que hojeconhecemos
africana, fruto da experiência de Vascoda Gama. Na manhã do dia como Rio Mutari. Assentadas as armasreais e erigido o cruzeiro em
14 de março, a frota atingiu as IlhasCanárias, fazendo 5.8 nós de lugar visível, foi erguidoum altar, onde Frei Henrique de Coimbra
velocidade média. No dia 22, avistouSão Nicolau, uma das ilhas do celebroua segunda missa.No dia 2 de maio, a frota de 11 naviosle-
Arquipélago de Cabo Verde. Namanhã seguinte, desgarrou a nau vantou âncoras rumo a Calicute, deixando na praiadois degredados,
comandada por Vasco deAtaíde, que foi procurada exaustivamente além de outros tantos grumetes,se não mais, que desertaram de
e dada comoperdida. bordo. Antes de atingirem o Caboda Boa Esperança, quatro navios

12
HISTÓRIA NAVAL
naufragaram e desgarrou-se anau comandada por Diogo Dias, que Segundo o Almirante Max Justo Guedes14, essa viagem foirea-
percorreu todo o litoralafricano, reencontrando a frota na altura de lizada entre o segundo semestre de 1502 e o primeiro semestrede
Cabo Verde, quandoesta retornava a Portugal. 1503. A rota traçada pelaexpedição possivelmente seguiu opercur-
Com seis navios, Cabral alcançou à Índia, em setembro de1500. so normal até Cabo Verde,cruzou o Atlântico, passando peloArqui-
Em Calicute, as negociações foram difíceis, surgindodesentendi- pélago de Fernando deNoronha, concluindo sua navegação nas
mentos com os indianos, quando portugueses forammortos em imediações de PortoSeguro.
terra (inclusive o escrivão da Armada, Pero Vaz deCaminha) e o
porto bombardeado. Em seguida, a Armada ancorouem Cochim
e Cananor, onde foi bem recebida, abastecendo-se deespeciarias
antes da viagem de retorno, iniciada no dia 16 dejaneiro de 1501.
No trajeto de volta, um navio perdeu-seno regresso e, dos que so-
braram da esquadra, cincoretornaram ao reino. Em 23 de junho, a
Armada adentrouo Rio Tejo concluindo sua jornada.

O reconhecimento da costa brasileira


A expedição de 1501/1502 A expedição de 1503/1504
Preocupado em realizar o reconhecimento da nova terra,D. Segundo as informações docronista Damião de Góis, essaex-
Manuel enviou, antes mesmo do retorno de Cabral, umaexpedição pedição partiu de Portugal em10 de junho de 1503, eracomposta
composta por três caravelas comandadas por GonçaloCoelho, ten- por seis naus, enovamente foi comandada porGonçalo Coelho. Ao
do a companhia do florentino Américo Vespúcio. Aexpedição partiu chegaremem Fernando de Noronha,naufragou a capitânia. Nes-
de Lisboa em 13 de maio de 1501 em direção àsCanárias, de onde te localdeu-se a separação da frota. Apósaguardar por oito dias
rumou para Cabo Verde. Nessa ilha se encontroucom navios da Es- oaparecimento do restante dafrota, dois navios (num dos quaisse
quadra de Cabral que regressavam da Índia. Emmeados do mês de encontrava embarcadoAmérico Vespúcio) rumaram paraa Baía de
junho, partiu para sua travessia oceânica,chegando à costa brasi- Todos os Santos, poisassim determinava o regimentoreal para qual-
leira na altura do Rio Grande do Norte.Na Praia dos Marcos (RN), quer navio que se perdesse da companhia docapitão-mor.
deu-se o primeiro desembarque,tendo sido fincado um marco de Havendo aguardado por dois meses e quatro dias algumanotí-
pedra, sinal da posse da terra. Apartir de então, Gonçalo Coelho cia de Gonçalo Coelho, decidiram percorrer o litoral em direçãoao
deu partida a sua missãoexploradora navegando pela costa, em di- sul, onde se detiveram durante cinco meses em um ponto cujasco-
reção ao sul, onde avistoue denominou pontos litorâneos, confor- ordenadas indicam ter sido no litoral do Rio de Janeiro, ondeergue-
me calendário religioso daépoca. O périplo costeiro da expedição ram uma fortificação e deixaram 24 homens. Logo depoisretorna-
teve como limite sul aregião de Cananéia, localizada no atual litoral ram a Portugal aportando em 18 de junho de 1504.Gonçalo Coelho
Sul do Estado de São Paulo. com o restante da frota regressou a Portugal,ainda em 1503.

A expedição de 1502/1503 As expedições guarda-costas


Essa segunda expedição foi resultado do arrendamento daTer- A costa do pau-brasil prolongava-se desde o Rio de Janeiroaté
ra de Santa Cruz (nome inicial das nossas terras) a um consórciofor- Pernambuco, onde foram sendo estabelecidas feitorias15, nasquais
mado por cristãos-novos13, encabeçado por Fernando deNoronha, navios portugueses realizavam regularmente o carregamentodes-
e que tinha a obrigação, conforme contrato, de mandartodos os se tipo de madeira para o reino. Esse negócio rendoso começoua
anos seis navios às novas terras com a missão de descobrir,a cada atrair a atenção de outros países europeus que nunca aceitarama
ano, 300 léguas a vante e construir uma fortaleza. partilha do mundo entre Portugal e Espanha, dentre eles a França.

13
HISTÓRIA NAVAL
Os franceses começaram a freqüentar nosso litoralcomerciali-
zando o pau-brasil clandestinamente com os índios.Portugal procu-
rou, a princípio, usar de mecanismos diplomáticos,encaminhando
várias reclamações ao governo francês na esperançade que o mes-
mo coibisse esse comércio clandestino.
Notando que ainda era grande a presença de contrabandis-
tasfranceses no Brasil, D. Manuel resolveu enviar o fidalgo portu-
guêsCristóvão Jaques, com a missão de realizar o patrulhamentoda
costa brasileira.
Cristóvão Jaques realizou viagens ao longo de nossa costaentre
os períodos de 1516 a 1519, 1521 a 1522 e de 1527 a 1528,onde
combatendo e reprimindo as atividades do comércioclandestino.
Em 1528, foi dispensado do cargo de capitão-mor daArmada
Guarda-Costa, regressando para Portugal.

A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa

Fonte: História da Colonização Portuguesa no Brasil


Direção e coordenação de Carlos Malheiros Dias

Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma expediçãoco-


mandada por Martim Afonso de Sousa visando à ocupação danova
terra18. A Armada partiu de Lisboa a 3 de dezembro e eracomposta
por duas naus, um galeão e duas caravelas que, juntas,conduziam
400 pessoas. Tinha a missão de combater os franceses,que continu-
avam a freqüentar o litoral e contrabandear o paubrasil; descobrir
terras e explorar rios; e estabelecer núcleos depovoação.
Em 1532, fundou no atual litoral de São Paulo a Vila de SãoVi-
cente e logo a seguir – no limite do planalto que os índioschama-
vam de Piratininga – a Vila de Santo André da Borba doCampo. Da
Ilha da Madeira, Martim Afonso trouxe as primeirasmudas de cana
que plantou no Brasil, construindo na Vila de SãoVicente o primeiro
engenho de cana-de-açúcar.Ainda se encontrava no Brasil quando,
em 1532, Dom JoãoIII decidiu impulsionar a colonização, utilizan-
do a tradicionaldistribuição de terras. O regime de capitanias he-
reditárias consistiuem dividir o Brasil em imensos tratos de terra
que foramdistribuídos a fidalgos da pequena nobreza, abrindo à
iniciativaprivada a colonização.Martim Afonso de Sousa retornou
a Portugal em 13 de marçode 1533, após ter cumprido de maneira
satisfatória sua missão defincar as bases do processo de ocupação
das terras brasileiras.

14
HISTÓRIA NAVAL

CRONOLOGIA INVASÕES ESTRANGEIRAS AO BRASIL - INVASÕES


DATA EVENTO FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E NO MARANHÃO:
1415 Conquista da cidade de Ceuta pelos portugueses. RIO DE JANEIRO; MARANHÃO; INVASORES NA FOZ
DO AMAZONAS: INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E
1421 e 1434 Os lusitanos chegam aos Arquipélagos da Ma- EM PERNAMBUCO: HOLANDESES NA BAHIA; A OCU-
deira e dos Açores e avançam para além do PAÇÃO DO NORDESTE BRASILEIRO; A INSURREIÇÃO
Cabo Bojador. Até esse ponto, a navegação era EM PERNAMBUCO; A DERROTA DOS HOLANDESES EM
basicamente costeira. RECIFE; CORSÁRIOS FRANCESES NO RIO DE JANEIRO
1436 Os lusitanos atingem o Rio do Ouro e iniciam a NO SÉCULO XVIII; GUERRAS, TRATADOS E LIMITES NO
conquista da Guiné. Ali se apropriam da Mina, SUL DO BRASIL
centro aurífero explorado pelos reinos nativos
em associação aos comerciantes mouros, a Invasões Estrangeiras ao Brasil
maior fonte de ouro de toda a história de Por- Sinopse
tugal Diversos intrusos desafiaram os interesses ultramarinos dePor-
1441 Chegam ao Cabo Branco. tugal durante os séculos XVI e XVII. Os franceses foram osprimeiros
e, desde o início do século XVI, navios de armadoresfranceses fre-
1444 Atingem a Ilha de Arguim, onde instalam a pri- qüentavam a costa brasileira, comerciando com osnativos os pro-
meira feitoria em território africano, e iniciam a dutos da terra: pau-brasil; pele de animaisselvagens; papagaios e
comercialização de escravos, marfim e ouro. macacos; resinas vegetais e outros. Portugalreagiu, como vimos no
1445 e 1461 Descobrem o Cabo Verde, navegam pelos Rios capítulo anterior, enviando expediçõesguarda-costas e iniciando a
Senegal e Gâmbia e avançam até Serra Leoa. colonização do Brasil.
1470 a 1475 Exploração da costa da Serra Leoa até o Cabo de
Santa Catarina
1482 e 1485 O navegador Diogo Cão explorou a costa da Áfri-
ca.
1487 Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas,
no extremo sul do continente – que passou a ser
chamado de Cabo da Boa Esperança – e chegou
ao Oceano Índico, conquistando o trecho mais
difícil do caminho da Índia.
1492 Cristóvão Colombo chegou à América.
1494 Assinatura do Tratado de Tordesilhas.
1498 Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa su-
doeste da Índia.
1500 Descobrimento do Brasil por Pedro Álvares Cabral.
1519 Fernão de Magalhães chegou às Filipinas passan-
do pelo extremo sul do continente americano.

FIXAÇÃO
1 – O que possibilitou a Portugal se dedicar à sua expansão
marítima?
2 – Segundo o texto que acabamos de ler, qual expedição foi a
responsável por fincar as bases do processo de ocupação das terras No início da colonização portuguesa no Brasil, os franceseses-
brasileiras por Portugal? tabeleceram duas colônias: em 1555, no Rio de Janeiro, e em1612,
3 – Quem eram os cristãos-novos que formaram um consórcio no Maranhão. Portugal reagiu às duas invasões, projetandoseu Po-
com a finalidade de explorar economicamente as “terras brasilei- der Naval, com bom êxito, para expulsar os invasores.
ras” recém-descobertas por Portugal? Na foz do Amazonas, ingleses, holandeses e irlandeses estabe-
leceram feitorias privadas; sendo preciso o emprego da força para
expulsá-los.
O comércio holandês com o Brasil data da primeira metade
do século XVI. Em 1580, ocorreu a união das coroas de Portugal e
Espanha e o rei da Espanha, Felipe II, passou a ser, também, o rei
de Portugal. Os holandeses iniciaram sua guerra de independência
contra a Espanha no final do século XVI, mesmo assim continuaram
a comercializar, com o auxílio de mercadores portugueses, produ-
tos brasileiros, como o açúcar, algodão e pau-brasil.
A Holanda era um país de bons comerciantes e hábeismari-
nheiros. Os holandeses possuíam uma fortíssima consciênciamarí-
tima e utilizavam seu Poder Marítimo com muita habilidade.

15
HISTÓRIA NAVAL
Eles não pretendiam ficar sem o rico mercado do açúcarbrasi- Boa aventura...
leiro, devido ao conflito com a Espanha e conseqüentementePor-
tugal. Em 1621, eles criaram a West-Indische Compagnie, aCom-
panhia das Índias Ocidentais. Logo, Salvador, capital dacolônia do
Brasil, seria alvo de uma invasão desta companhia.
O objetivo maior da Companhia das Índias Ocidentais eraman-
ter o relacionamento comercial com o Brasil e, se possível, acon-
quista do Nordeste. A tentativa não tarda, e, em 1624, é feitoo ata-
que a Salvador (BA), ocupada por breve período, pois oinvasor é
logo expulso por uma Esquadra luso-espanhola.
Os holandeses, em seguida, ocuparam Pernambuco,realizando
conquistas ao sul, em Alagoas e Sergipe, bem comoao norte, na
Paraíba, Rio Grande do Norte e mais áreas,permanecendo no Nor-
deste por 24 anos.Ocorreram, nesse período, muitos combates no
mar, comoa “Batalha Naval de 1640”, que envolveu cerca de cem
navios,entre holandeses e luso-espanhóis, em embates que dura-
ramcinco dias na costa do Nordeste.
Nessa luta para expulsar os holandeses, o esforço em terrafoi
fundamental. O Poder Naval português foi capaz de manterSalva-
dor como base de operações e somente com a presença deuma
força naval em Pernambuco é que foi possível obter arendição de-
finitiva dos invasores.
No século XVIII, com o envolvimento de Portugal naGuerra de
Sucessão de Espanha, na Europa, o Rio de Janeirofoi atacado por
dois corsários franceses. Com a descoberta doouro das Minas Ge-
rais, no final do século XVII, o Rio de Janeirovinha se tornando uma
cidade próspera durante o início doséculo XVIII. Mais tarde, devido
às riquezas das minas, tornouse a capital da colônia.
Pretensões expansionistas também podem ser visualizadasno
interesse que Portugal tinha nas riquezas espanholas do oestesul-
-americano na região do Rio da Prata – acesso às minas deprata
de Potosi, na Bolívia. A ocupação espanhola na região foi,portanto,
fundamental para deter os interesses portugueses.
Mesmo assim, era por ela que a prata boliviana era contraban-
deada para o Brasil.
Buscando expandir seus domínios em direção ao Sul doconti- Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão
nente, Portugal rompeu o Tratado de Tordesilhas, assinadocom os Essas duas invasões não foram iniciativas do governo daFrança,
espanhóis em 1494, quando, em janeiro de 1680, o governador do cuja estratégia estava voltada para seus interesses na própriaEuro-
Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo, fundou, namargem esquerda do pa, mas sim iniciativas privadas. Em ambas, faltou o apoio doEstado
Rio da Prata, a Colônia do SantíssimoSacramento. Este fato desen- francês, no momento em que, atacadas pelos portugueses,necessi-
cadeou uma série dedesentendimentos, lutas e tratados de limites, taram de socorro. Por outro lado, a colonização do Brasilfoi interes-
em que o empregodo Poder Naval português foi muito importante, se de Portugal, que pretendia proteger a rota de seucomércio com
como veremosneste capítulo. a Índia. Todos os recursos do Estado portuguêsestavam disponíveis
O interesse no estudo desse período é mostrar que foi nele que para expulsar os invasores e proteger osnúcleos de colonização
definiram as fronteiras Sul do território brasileiro, que mudavam portuguesa.
conforme o poderio militar e os tratados firmados entre portugue-
ses e espanhóis.
Por tudo isso, estudemos as lutas que permitiram ao nosso País
manter-se íntegro territorialmente.

16
HISTÓRIA NAVAL
Rio de Janeiro que fez com que muitos colonos procurassem as índias para serela-
cionarem. Esta atitude era difícil para Villegagnon entender, porsua
formação religiosa de Cavaleiro de Malta, com voto decastidade,
não admitindo sexo fora do casamento.Houve um excesso de con-
flitos, principalmente após achegada de um grupo de protestantes
calvinistas, com o propósitode estudar a possibilidade de fazer da
França Antártica umacolônia protestante.
Os franceses contavam com a amizade dos tupinambás. Elesco-
merciavam com os franceses por meio de trocas (escambo) –rece-
biam machados, facas, tesouras, espelhos, tecidos coloridos,anzóis
e outros objetos. Em troca, forneciam o pau-brasil, quecortavam na
floresta e traziam para a colônia, além de outrosprodutos da terra
e alimentos. Os tupinambás construíram grandescanoas de um só
tronco (igara) ou da casca de uma árvore (ubá).
Eles lutaram bravamente ao lado dos franceses, pois detesta-
vam os portugueses que eram amigos de seus inimigos

Em 1553, Nicolau Durand deVillegagnon foi nomeado vice-


-almirante daBretanha, e desenvolveu um plano parafundar uma
colônia na Baía de Guanabara(RJ), onde habitavam nativos da tri-
boTupinambá, aliados dos franceses. O Rei daFrança, Henrique II,
aprovou esse plano deiniciativa privada, prometeu apoio eforneceu
financiamento e dois navios paraa viagem.
Villegagnon chegou à Baía deGuanabara em 1555, instalou o
núcleo da colônia – que chamoude França Antártica
– na ilha que atualmente tem seu nome econstruiu uma forti-
ficação, dando-lhe o nome de Forte de Coligny,em homenagem ao
almirante francês que lhe apoiara. A ilha erapequena e não tinha A reação portuguesa ocorreu quando o Governador Memde
água, mas era uma excelente posição dedefesa. Em terra firme, Sá, em 1560, atacou o Forte de Coligny com uma força naval(solda-
perto do atual Morro da Glória, instalouuma olaria para fabricar dos e índios) que trouxera da Bahia, arrasando-o. Depoispartiu para
tijolos e telhas, fez plantações e deu inícioa uma povoação, que São Vicente sem deixar uma guarnição na Guanabara.Os franceses
chamou de Henryville, homenageando oRei da França Henrique II. fugiram para o continente, abrigando-se junto a seusaliados tupi-
A povoação em terra firme, não tevebom êxito e o progresso da nambás e, logo depois que os portugueses se foram,restabelece-
colônia, como um todo, deixou adesejar ram suas fortificações.
Mem de Sá concluiu que era necessário ocupardefinitivamente
o Rio de Janeiro para garantir a expulsão dosinvasores. Dessa vez
enviou, em 1563, seu sobrinho Estácio de Sáà testa da nova força
naval, com ordens para fundar uma povoaçãona Baía de Guanaba-
ra e derrotar definitivamente os franceses.Estácio de Sá obteve a
ajuda de uma tribo tupi inimiga dostupinambás, os maracajás ou
temiminós, liderados por Araribóia.
Participaram, também, como aliados dos portugueses, índios
da tribo tupiniquim de Piratininga, trazidos de São Vicente (SP).
Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janei-
ro, em 1565, entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar.
Era um local apertado, protegido pelos morros e de fácil defe-
sa, de onde se controlava a entrada da barra da Baía de Guanabara.
Logo, começaram a combater os franceses e os tupinambás.
Villegagnon, que anteriormente já mostrara sua bravura ecom- Houvegrandes combates, inclusive um de canoas nas águas da baía
petência como militar em diversas ocasiões, encontrou muitasdi- e umataque ao atual Morro da Glória, onde Estácio de Sá foi ferido
ficuldades para recrutar pessoas para a colônia. Um núcleo deco- poruma flecha, no rosto, vindo a falecer em conseqüência destefe-
lonização precisaria de profissionais (exemplo: sapateiros,alfaiates, rimento.
barbeiros, carpinteiros, oleiros, pedreiros, médicos,soldados entre Derrotados na Guanabara, os franceses e seus aliadostenta-
outros) necessários à sobrevivência na colônia. ram, ainda, estabelecer uma resistência em Cabo Frio, masacaba-
As pessoas que vieram com Villegagnon formavam um gru- ram vencidos. Os franceses que se renderam foram enviadosde
poheterogêneo: católicos e protestantes (em uma época de sé- navio para a França.
riosconflitos religiosos), soldados escoceses e ex-presidiários(ca-
racterizando extremos de aceitação de disciplina). A pior falha,no
entanto, foi a presença de poucas mulheres européias no grupo,o

17
HISTÓRIA NAVAL
Maranhão
Os franceses continuaram com o tráfico marítimo na costabrasileira. Seu eixo de atuação, porém, deslocou-se para o norte,ainda
sem povoações portuguesas. Após diversas ações,estabeleceram-se, em pequeno número, em diversos pontos dolitoral. Desde o final do
século XVI, o Maranhão passou a ser umlocal regularmente freqüentado por navios franceses. Na atual Ilhade São Luís havia uma pequena
povoação de franceses, em boa convivência com os índios, também tupinambás, que habitavam o local.
Em 1612, partiu da França a expedição chefiada pelos sócios, Daniel de la Touche de la Ravardière e Nicolau de Harlay de Sancy, com
poderes de tenentes-generais do rei da França. Quando chegaram, construíram o Forte de São Luís.

Na França, o bom relacionamento do momento com aEspanha fez com que o governo não colaborasse significativamentecom recur-
sos para o reforço da colônia.
Em 1614, uma força naval comandada por Jerônimo deAlbuquerque, nascido no Brasil, chegou ao Maranhão paracombater os fran-
ceses. Este grupamento pode ser considerado aprimeira força naval comandada por um brasileiro.
Chegando ao Maranhão, os portugueses iniciaram a construção de um forte, que chamaram Santa Maria. Logo os franceses se apode-
raram de três dos navios que estavam fundeados. Animados com o bom êxito alcançado, resolveram, uma semana depois, atacar o forte
português. Planejaram um ataque simultâneo de tropas que desembarcariam e de tropas que atacariam o forte pela retaguarda, vindas de
terra. Os portugueses, no entanto, foram mais ágeis e contra-atacaram separadamente,com vigor, as duas forças francesas, vencendo-as.
Os franceses, resolveram propor um armistício, para conseguir reforços na França ou obter uma solução diplomática. Os portugueses
aceitaram.
A trégua foi favorável aos portugueses, que obtiveram reforços no Brasil. La Ravardière não conseguiu novamente o apoio de seu
governo e o tratado de paz em vigor, naquele momento, previa que em casos como esse os riscos e perigos cabiam aos particulares, sem
que a paz entre os Estados fosse perturbada.
Além do mais, o rei de Portugal não ratificou a trégua e ordenou que se expulsassem os franceses do Maranhão. Providenciou refor-
ços e mandou o governador de Pernambuco organizar uma nova expedição. O comando coube a Alexandre de Moura, que partiu em uma
força naval.
Os franceses foram cercados no Maranhão, por mar e por terra, e, sem esperança de reforços, para evitar que os portugueses os
tratassem como piratas, renderam-se em 1615.

Invasores na foz do Amazonas


Após a ocupação do Maranhão, os portugueses resolveramdirigir sua atenção para os invasores da foz do Amazonas, enviandouma
expedição que fundou o Forte do Presépio, origem da cidadede Belém, para servir de base para suas ações militares. De lá, elespassaram
a atacar os estabelecimentos dos ingleses, holandeses eirlandeses, enforcando os que resistiam e escravizando as tribosde índios que os
apoiavam. Esta violência e a criação de uma flotilhade embarcações (que agia permanentemente na região apoiandoas ações militares e
patrulhando os rios) garantiram o bom êxito easseguraram a posse da Amazônia Oriental para Portugal.

Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco


Holandeses na Bahia
A invasão holandesa de Salvador (BA) foi planejada pela Companhia das Índias Ocidentais com o propósito de lucro, a serobtido com
a exploração da cultura do açúcar. Levantado o capitalpara o empreen-dimento, osholandeses reu-niram umaforça naval de 26 navios,
com509 canhões e tripulados por1.600 ma-rinheiros e 1.700soldados. O comando coubeao Almirante Jacob Willekens.

18
HISTÓRIA NAVAL

Esquadra holandesa em Salvador


Fonte: http://pt:wikipedia.org

Os navios partiram dediversos portos da Holanda ereuniram-se em uma das ilhasdo Arquipélago de CaboVerde. Em 8 de maio de
1624,chegaram à Baía de Todos osSantos; no dia seguinte, iniciaram o ataque a Salvador.
Os holandeses atacaram os fortes que defendiam acidade. Os navios que transportavam tropas se dirigiram parao Porto da Barra,
onde desembarcaram. A cidade foi saqueada.Somente alguns dias depois organizou-se reação contra osinvasores.
Estabelecidos em Salvador, os holandeses foram, aos poucos,diminuindo os efetivos de sua força naval, com o retorno dediversos
navios para a Holanda.
Em Lisboa e Madri, a notícia sobre a tomada da cidade deSalvador chegou cerca de dois meses e meio depois da invasão.De maneira
imediata, o governo luso-espanhol começou apreparar uma força naval capaz de recuperar a cidade antes queos holandeses se consoli-
dassem na região. Na Holanda, sabendose dos preparativos espanhóis, acelerou-se a prontificação dosreforços que deveriam garantir a
ocupação da Bahia.
A preparação de forças navais que projetassem poder militara tão longa distância exigia um enorme esforço. Era necessárioum plane-
jamento cuidadoso dos recursos financeiros, materiais ehumanos. A força deveria ser composta por variados navios: os deguerra, como
os galeões e as fragatas; as naus e as urcas, queserviam tanto como embarcações mercantes quanto naviosmilitares; e as caravelas, que
serviam ao transporte. Havia, também,diversos outros navios menores, como patachos, iates velozes eembarcações que complementa-
vam a capacidade das forças navais.
Considerando as populações da época – Holanda teria cerca de1,5 milhão de habitantes e Portugal menos que isto – não era fácilcon-
servar em segredo a preparação de uma força naval. Espiõesmantinham as cortes européias informadas e seus informes eramavaliados e
utilizados para preparar contra-ofensivas. Ocorreramverdadeiras corridas de forças navais para alcançar a costabrasileira. Chegar primeiro
podia ser uma decisiva vantagem.
Os luso-espanhóis conseguiram ficar prontos antes dosholandeses e, em 22 de novembro, partia de Lisboa uma armadacomposta por
25 galeões, dez naus, dez urcas, seis caravelas, doispatachos e quatro navios menores, tendo a bordo 12.500marinheiros e soldados. Como
comandante-geral, vinha D. Fadriquede Toledo Osório, Marquês de Villanueva de Valdueza.
A armada luso-espanhola chegou a Salvador em 29 de marçode 1625. Era a maior força naval que até aquela data atravessara oAtlân-
tico. Cerca de 20 navios holandeses se abrigavam sob aproteção dos fortes e a cidade de Salvador era defendida por tropasholandesas.
Iniciou-se o ataque luso-espanhol e, a 1º de maio, osholandeses renderam-se. Dias depois de se entregarem, apareceuna barra o socorro
holandês, de 34 naus. Percebendo a retomadada cidade, não se animaram a tentar a luta.

A ocupação do Nordeste brasileiro


Em 1629, a Companhia das Índias Ocidentais resolveudirigir seus esforços para Pernambuco em vez de tentarreconquistar a Bahia.
Conduzia a nova expedição uma armada de 56 navios,fortemente artilhados, trazendo 3500 tripulantes e 3000soldados. Comandava
a força naval holandesa o General-doMar Wendrich Corneliszoon Lonck. Olinda e Recife (PE) foramconquistadas em 1630.Soube-se dos
preparativos com antecedência em Madri eLisboa. O General Matias de Albuquerque11, que então estava naEuropa, regressou ao Brasil
para organizar a reação, mas poucopôde ser feito de efetivo, restando, para os defensores, iniciar adefesa em terra depois da ocupação.
As providências luso-espanholas para recuperar Pernambuco,durante o período de união das duas coroas, encontraramdificuldades
crescentes de recursos e não lograram a mobilizaçãodas forças necessárias. O tesouro espanhol, cada vez mais debilitado,não foi capaz
de arcar com um empreendimento semelhante aoda armada que libertara a Bahia em 162512. Cabe observar que eranecessário proteger
com escoltas as frotas que levavam a produçãode açúcar para Portugal e as que levavam a produção mineral dascolônias espanholas para
a Espanha. Entre 1631 e 1640, dentro doperíodo da união com a Espanha, foram enviadas três esquadrasluso-espanholas ao Brasil.13
Os holandeses também enviaram forças navais, com reforçosde tropas, para proteger suas conquistas no Brasil. Ocorreram,conse-
qüentemente, encontros que resultaram em diversoscombates navais. Destacam-se, entre eles, o Combate Naval dosAbrolhos, em 3 de
setembro de 1631, e os ocorridosintermitentemente durante cinco dias, de 12 a 16 de janeiro, naBatalha Naval de 1640.
No Combate Naval dos Abrolhos, os luso-espanhóis,comandados por D. Antônio de Oquendo de Zandátegui, tinham17 galeões, 23
navios mercantes carregados com açúcar, 12caravelas com tropas e três patachos. Os holandeses, comandadospor Adriaen Janszoon
Pater, lutaram com 18 navios.
A missão de Oquendo era desembarcar as tropas que traziade Pernambuco e da Paraíba; comboiar os navios mercantes quelevariam
ao reino a produção de açúcar e outros produtos do Brasil,até que estivessem livres de ataques das forças holandesas; ealcançar o Caribe
para comboiar a Frota da Prata para a Espanha.

19
HISTÓRIA NAVAL
Depois de escalar em Salvador, a força naval luso-espanho- declarada contra a Holanda, sigilosamente aprovava ainsurreição
lapartiu para cumprir sua missão. Devido ao vento contrário, nave- no Brasil, e o novo governador desempenhou papelde destaque no
goupara sueste para depois rumar para Pernambuco. Foraminter- apoio a essa causa, podendo-se identificá-lo comoseu organizador-
ceptados pela força naval holandesa na altura do Arquipélagodos -chefe. Iniciou-se, assim, em Pernambuco, acampanha da insurrei-
Abrolhos. ção contra os holandeses.
Oquendo formou seus galeões em coluna e deu ordem aosna- Em 1644, Teles da Silva resolveu reunir uma força naval para-
vios do comboio para se posicionarem fora do combate. Osholan- auxiliar os revoltosos, com base no que havia disponível. Os trêsna-
deses tinham planejado abordar cada um dos maiores galeõeslu- vios mais fortes eram naus, armadas com 16 canhões cada.Tripu-
so-espanhóis com dois navios. Seguiu-se um terrível combate,com lações despreparadas faziam com que essa força improvisadanão
tentativas e sucessos de abordagens e bordadas bem próximasde fizesse frente aos profissionais holandeses e mercenários15. Oco-
artilharia. Como resultado, os holandeses perderam dois navios,in- mando foi dado ao Coronel Jerônimo Serrão de Paiva.
clusive o capitânia, que incendiou e explodiu, e um outro ficouse- Haviam chegado ao Brasil, em fevereiro de 1645, dois gale-
riamente avariado. Os luso-espanhóis tiveram dois naviosafunda- õesportugueses, o São Pantaleão, de 36 canhões, e o São Pedro
dos, um navio foi apresado pelos holandeses e outroregressou a deHamburgo, de 26 ou 30 canhões. Eram parte da escolta da pri-
Salvador devido às grandes avarias sofridas. Nessecombate, mor- meirafrota comboiada que, após carregar no Rio de Janeiro, regres-
reram ou desapareceram cerca de 700 homens,aproximadamente sou aSalvador, com o propósito de, em seguida, partir para Portu-
280 ficaram feridos e 240 foram aprisionados. gal. Oalmirante dessa frota era Salvador Correia de Sá e Benevides,
Na Batalha Naval de 1640, 66 navios e embarcações lusoespa- filhode um fluminense e uma espanhola, que tinha propriedades
nhóis, transportando tropas da força naval comandada peloConde noRio de Janeiro.
da Torre14, combateram navios holandeses (inicialmente30, de- Decidiu o Governador Teles da Silva executar, com auxíliode
pois 35) comandados por Willem Loos. Salvador de Sá, um plano para ocupar Recife. Deveriam osgaleões
O Conde da Torre saiu de Salvador com o propósito dedesem- se juntar aos navios de Serrão de Paiva e, caso os holandesesper-
barcar tropas em Pernambuco. Os holandeses pretendiamevitar mitissem ou se a população se revoltasse, tentar desembarcarna
que ocorresse esse desembarque. As forças navais seencontraram cidade.
no dia 12 de janeiro e travaram combates durantecinco dias, ten- Na noite de 11 de agosto, 37 navios portugueses, incluindoos
do se combatido, de fato, em quatro deles. A iniciativacoube aos dois galeões, fundearam em frente a Recife. Vigorava a tréguae,
holandeses que visavam a atingir, com seus tiros, oscascos dos portanto, oficialmente, as hostilidades não estavam autorizadas.
galeões luso-espanhóis, que se defendiam atirando nosmastros e Os navios holandeses permaneceram no porto, aguardandoo
velas, procurando imobilizar os inimigos. Os holandesesevitaram as
desenrolar dos acontecimentos e, em terra, estavam dispostosa
abordagens.
resistir a qualquer tentativa de desembarque.Salvador de Sá, que
Durante o combate, o Almirante Willem Loos, comandanteho-
estava com a mulher e os filhos a bordodo São Pantaleão, mandou
landês, teve a cabeça mutilada por um tiro de canhão, logo apóso
entregar uma carta sua, juntamente comoutra de Serrão de Paiva,
início da batalha. Coube ao seu imediato assumir a frente nalide-
declarando que estavam ali para ajudaros holandeses no restabe-
rança da frota.
lecimento da paz em Pernambuco. Nãohouve resposta imediata.
No intervalo dos combates, os holandeses foram abastecidos-
Convocado um conselho a bordo doSão Pantaleão, concordaram
com pólvora e munições por embarcações vindas de terra. Também
os comandantes dos naviosportugueses que não havia condições
receberam reforços de mais cinco navios.
Para os luso-espanhóis, a Batalha de 1640 foi uma derrotaes- favoráveis para atacar oumanter um bloqueio de Recife16.
tratégica. Após cinco dias, as tropas não haviam desembarcadoem No dia 13, o mau tempo obrigou os navios a buscarem oalto-
Pernambuco. Os combates levaram a força naval do Conde daTorre -mar. Durante todo o dia 12, no entanto, tinham sido admirados-
para o norte, ao longo do litoral do Nordeste. Com resultadoinsa- pelo povo pernambucano e o que, depois, ficou conhecido comoa
tisfatório, já que a força holandesa muito pouco fora desfalcada,o Jornada do Galeão, acabou sendo, somente, um ato de empregopo-
Conde da Torre decidiu pelo desembarque das tropas no atualEs- lítico do Poder Naval pelos portugueses, influenciando as mentese
tado do Rio Grande do Norte e regressar a Salvador com suaforça as atitudes, sem uso de força.
naval. No dia seguinte chegou a carta-resposta holandesa. Estranha-
Os holandeses, por sua vez, conseguiram manter o domínio- va o auxílio oferecido e pedia que se retirassem de Recife.
do mar e se aproveitaram dele para bloquear os portos principaise Durante o mau tempo, Serrão de Paiva separou-se de Salvador
atacar o litoral do Nordeste do Brasil, expandindo sua conquista. deSá e, depois de alguma insistência em permanecer em alto-mar
nolitoral de Pernambuco, resolveu se abrigar na Baía de Tamanda-
A insurreição em Pernambuco ré17.Salvador de Sá seguiu para Lisboa com o comboio.
Em 1° de dezembro de 1640, ocorreu a Restauração dePortugal, Em 9 de setembro de 1645, o Almirante holandês Lichthardtre-
ou seja, a separação de Portugal da Espanha, com o fimda união das solveu atacar Serrão de Paiva. Os portugueses contavam comsete
coroas ibéricas, e a aclamação do Duque de Bragançacomo rei, com naus, três caravelas e quatro embarcações, com umatripulação de
o nome de D. João IV.Em junho de 1641, assinou-se uma trégua de mil homens aproximadamente, e estavam fundeados.Lichthardt in-
dez anos comos holandeses em Haia. Essa trégua interessava à Com- vestiu a barra com oito navios holandeses e foi abordaros navios
panhia dasÍndias Ocidentais, que via seus lucros consumidos pelas portugueses dentro da baía.
açõesmilitares, e aos portugueses, que estavam em guerra com a A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a poucosho-
Espanhae precisavam reduzir as frentes de combate. mens de seu navio. A maioria dos marinheiros e soldados selançou
Às vésperas do armistício, os holandeses trataram de alargar- ao mar, nadando para a praia. Seguiu-se uma verdadeiracarnificina
suas conquistas, ocuparando o Sergipe e o Maranhão, no Brasil, de fugitivos e uma derrota fragorosa, com muitos mortos,prisionei-
eAngola e São Tomé, na África. ros, inclusive o Serrão de Paiva ferido, e navios queimadosou apre-
Após a Restauração de Portugal, foi enviado um novogoverna- sados e levados para Recife. Os documentos e acorrespondência si-
dor-geral para o Brasil, Antônio Teles da Silva. Emboraoficialmente gilosa, comprometedores quanto aoenvolvimento das autoridades
o governo português respeitasse a trégua, para evitaruma guerra portuguesas na revolta, caíram nasmãos dos holandeses.

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HISTÓRIA NAVAL
Com o domínio do mar novamente assegurado, osholandeses que somente com a organização de comboios,fortemente escolta-
puderam movimentar suas tropas de reforço, sem riscode oposição dos, seria possível manter as rotas de navegaçãoentre Portugal e
no mar. Assim, puderam organizar ataques paradiminuir a pressão Brasil. Criou-se, então, a Companhia Geral doComércio do Brasil.
que os insurretos já exerciam sobre seusprincipais pontos estraté- Em fevereiro de 1649, a Companhia das Índias Ocidentaisresol-
gicos. veu repetir, em terra, o ataque às forças rebeldes, emGuararapes.
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram e ocuparama Novamente os holandeses foram derrotados, ficandoóbvio para
Ilha de Itaparica, com uma força naval comandada pelo Almirante- eles que sem um novo socorro da Europa nada maispoderia ser fei-
Banckert. O propósito era ameaçar Salvador. to em terra.
O ataque a Itaparica incentivou D. João IV a iniciar apreparação
de uma força naval para enviar ao Brasil. As dificuldadesfinanceiras A derrota dos holandeses em Recife
e materiais eram muito grandes para o empobrecidoPortugal. Foi Apesar de ainda manterem o domínio do mar, o ânimo dostri-
necessário conseguir empréstimos de particulares, aserem amorti- pulantes estava diminuindo, ocasionando motins, destituição de-
zados com o imposto sobre o açúcar do Brasil. comandantes e o regresso de navios amotinados para a Holanda.
D. João IV designou Antônio Teles de Menezes comandanteda Queixava-se De With, em cartas ao governo holandês, dadifi-
“Armada de Socorro do Brasil”, fazendo-o Conde de Vila Poucade culdade de se realizar as manutenções necessárias em seusnavios,
Aguiar e nomeando-o governador e capitão-general do Estadodo das condições precárias de vida de seus marinheiros e danecessida-
Brasil, em substituição a Teles da Silva. Compunha-se essaesqua- de de reforços, para que não se perdesse o Brasil. Nofinal de 1649,
dra de 20 navios: 11 galeões, uma urca, duas naus, duasfragatas e o próprio De With passou a solicitar seu regressopara a Holanda e,
quatro navios menores. Partiu de Lisboa em 18 deoutubro de 1647, logo depois partiu, à revelia da Companhia dasÍndias. Em dezem-
chegando a Salvador em 24 de dezembro. bro, os outros navios dos Estados GeraisHolandeses se amotinaram
Enquanto isso, em 7 de novembro, saiu de Lisboa, comdestino e iniciaram seu regresso para a Europa,sem autorização.
ao Rio de Janeiro, uma força naval comandada por Salvadorde Sá, Em fevereiro de 1650, a primeira frota da Companhia Geraldo
com o propósito de libertar Angola, na África. Comércio do Brasil portuguesa, com 18 navios de guerra,chegou ao
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de Aguiar nãoera Brasil. Não tinha ordens para atacar Recife. D. João IVainda temia
uma guerra com a Holanda na Europa e preferia mantera situação
expulsar os holandeses de Pernambuco ou atacar Recife, masprote-
informal no Brasil, procurando obter resultados atravésde negocia-
ger Salvador e expulsar os invasores da Ilha de Itaparica. Aperda de
ções diplomáticas e da guerra de insurreição. Perdia-se,novamen-
Salvador seria, sem dúvida, desastrosa para Portugal epara a causa
te, uma oportunidade, pois os holandeses, já sitiados emterra, não
dos revoltosos.
mais contavam com a força naval de De With.
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa de socorroao
Em abril de 1650, os holandeses no Recife receberam oreforço
Brasil, organizou-se uma força naval sob o comando do ViceAlmi-
de 12 navios, o que permitiu recuperar o domínio do mare bloque-
rante Witte Corneliszoon de With. Os navios saíram aospoucos dos
ar o Cabo de Santo Agostinho, local por onde as forçasde terra luso-
portos e somente em março de 1648 alcançaramRecife. Encontra-
-brasileiras recebiam suas provisões. A força do Condede Vila Pouca
ram uma situação desfavorável: as forçasholandesas tinham se reti- de Aguiar ainda estava em Salvador, porém comordem de somente
rado de Itaparica e restava em poder daCompanhia, além de Recife, entrar em combate se atacada. No final daqueleano, partiu para
a Ilha de Itamaracá e os Fortes do RioGrande do Norte e da Paraíba. Portugal, escoltando a frota da Companhia do Brasil.
Ao chegar a Recife, o Almirante Witte de With encontrouinde- Vieram ao Brasil outras frotas da Companhia portuguesa eos
finições sobre que ação tomar no mar. A decisão da Companhiaera holandeses conseguiram enviar outras forças navais, mas os diasdo
lançar suas forças de terra, reforçadas pelas tropas trazidaspor De domínio holandês estavam contados. A Companhia das ÍndiasOci-
With, para vencer os rebeldes luso-brasileiros, aliviando apressão dentais não lograra alcançar um bom êxito econômico efinancei-
que já exerciam sobre Recife. ramente estava muito mal. Recife continuava estranguladopelos
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha dosGua- insurretos luso-brasileiros.
rarapes e os holandeses, mais numerosos e com fama deestarem Por décadas, o Poder Marítimo holandês havia preponderado-
entre os melhores soldados da Europa de então, foramderrotados nos oceanos, mas, em meados do século XVII, reapareceu aconcor-
no campo de batalha.Restava para a Companhia agir no mar, blo- rência séria da Grã-Bretanha, que teve como conseqüênciaa Guerra
queando os portosbrasileiros, tentando capturar a Frota do Açúcar Anglo-Holandesa de 1652-54. Tornou-se, portanto,inviável para os
e atacando pontosdo litoral. O bloqueio, apesar de exigir dos mari- holandeses manter o domínio permanente do marna costa do Bra-
nheiros longasestadias no mar, com conseqüentes problemas sani- sil.
tários ealimentares, tinha como incentivo a possibilidade de fazer Em dezembro de 1653, a quarta frota da Companhia do Bra-
presas,havendo participação da tripulação no resultado financeiro silportuguesa chegou ao Brasil. O comandante da frota, Pedro Ja-
da vendados navios e das cargas apresadas. quesde Magalhães, decidiu bloquear Recife e apoiar os revoltosos
Fez-se ao mar De With, tendo atenção ao bloqueio deSalvador, luso-brasileiros. As posições holandesas foram, sucessivamente,
onde a poderosa força naval do Conde de Vila Pouca deAguiar se sendoconquistadas e a rendição de Recife finalmente ocorreu no
mantinha inativa. Em dezembro, aproveitou para atacaros enge- final dejaneiro de 1654.
nhos de açúcar situados nas margens da Baía de Todos osSantos, O longo êxito dos holandeses no Brasil foi resultante does-
sem ser molestado pela força naval portuguesa, quemantinha seus magador domínio do mar que conseguiram manter durantequase
navios protegidos pela artilharia das fortificações deterra de Sal- todo o período da ocupação. Mesmo quando Recife já estavacer-
vador. cado e era inviável vencer em terra, ainda conseguiram, porlongos
Em novembro de 1648, chegou a notícia da vitória deSalvador anos, suprir a cidade por mar.Podemos afirmar que, na longa guer-
de Sá, com a rendição dos holandeses em Angola, no quepoderia ra travada entreholandeses e portugueses, os holandeses foram
se chamar de primeira projeção brasileira de poder para oexterior, derrotados noBrasil, venceram na Ásia e houve empate na África
pois o Rio de Janeiro foi a base para a libertação de Angolae muitos e na Europa.
brasileiros participaram da luta, inclusive índios. Issolevantou o âni-
mo dos portugueses para continuar a luta no Brasil.Ficou evidente

21
HISTÓRIA NAVAL
Corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVIII No Rio de Janeiro, o governador interino,Brigadeiro José Silva
A França utilizou a estratégia de empregar corsários para,atra- Paes, preparou e enviou, àspressas, uma força naval para socor-
vés de ações que visavam ao lucro, causar danos nos mares aseus rer a colônia.Assim que chegou à região do Prata, essa forçanaval
inimigos. Eles não eram piratas, pois tinham uma patente decorso, dissipou o bloqueio que os navios espanhóisvinham impondo à Co-
que lhes dava autorização real para agir. Tinham, portanto,o direito lônia de Sacramento.Em Portugal, o recebimento da notícia doas-
de ser tratados como prisioneiros de guerra, enquantoos piratas sédio espanhol à colônia lusa levou o rei a ordenaro preparo de
podiam ser enforcados se apanhados. uma força naval que foi constituídapor duas naus e uma fragata.
As riquezas do Rio de Janeiro atraíram a cobiça de doisfrance- Essa força suspendeude Lisboa em março de 1736 e, ao chegar ao
ses. O primeiro foi Duclerc, que acabou derrotado depoisde invadir Riode Janeiro, recebeu reforços. Juntou-se a ela oBrigadeiro Silva
a cidade. Preso, acabou assassinado, por razão poucoesclarecida, Paes, contendo ordens de socorrer a Colônia de Sacramento e, se
mas não relacionada com seu ataque. O segundo foiDuguay-Trouin, possível,reconquistar Montevidéu (fundada e abandonadapelos lu-
que veio com uma considerável força naval,conquistou a Ilha das so-brasileiros e novamente fundada pelosespanhóis) e fortificar o
Cobras, depois o Morro da Conceição e, delá, logrou ocupar a cida- Rio Grande de São Pedro.A força naval portuguesa no Prata comba-
de que, ameaçada de ser incendiada, rendeuse. Saqueou o Rio de teuos espanhóis, apoiou a Colônia de Sacramento eestabeleceu o
Janeiro e somente o deixou após receberum resgate. domínio do mar na região. Apósalcançar seus objetivos, parte dessa
Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil força regressouao Rio de Janeiro.
A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devido àfer-
O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após ameaçarum
renha disputa travada entre Portugal e Espanha que tinhaminteres-
ataque a Montevidéu – que não ocorreu devido ao granderisco dos
se em dominar a estratégica região platina. Para consolidaro domí-
navios ficarem encalhados –, decidiu partir para o RioGrande de
nio da região, os dois reinos travavam diversas batalhas –nas quais
São Pedro e cumprir a missão de fortificá-lo. Ao chegar,tratou o
o poder naval de ambos os lados foi muito empregado –e vários
acordos foram firmados. Brigadeiro de organizar suas defesas e mandou construiro forte que
Tratado de Lisboa (1681) – Já no primeiro ano de suafundação, denominou Jesus, Maria e José. Estavam assim criadasas condições
em 1680, a Colônia de Sacramento foi atacada ereconquistada aos para o início da povoação da região, que recebeu,mais tarde, casais
espanhóis pelo governador de Buenos Aires,sendo devolvida aos por- açorianos para ocupar a terra.Mesmo após a assinatura por portu-
tugueses em 1683, após a assinatura doTratado de Lisboa, em 1681. gueses e espanhóis doarmistício de 1737, o cerco terrestre à Colô-
Tratado de Utrecht (1715) – A morte do Rei da EspanhaCarlos nia de Sacramentocontinuou, demonstrando a grande instabilidade
II, em novembro de 1700, levou as maiores potênciaseuropéias a que existia nasrelações entre as duas colônias.
engajarem-se no conflito que ficou conhecido comoGuerra de Su- Procurando solucionar suas questões de limites, Portugal eEs-
cessão de Espanha, que durou quase 15 anos e teveseus reflexos panha resolveram assinar, em 1750, o Tratado de Madri, que,dentre
estendidos para o continente americano. Nesseconflito, Portugal e outras medidas, estabeleceu a posse da Colônia deSacramento para
Espanha ficaram em lados opostos e, comoconseqüência, a Colônia a Espanha e a de Sete Povos das Missões paraPortugal. Esse tratado
de Sacramento foi novamente ocupadapelos espanhóis em 1705. foi fruto do trabalho de Alexandre deGusmão, secretário de D. João
O Tratado de Utrecht – celebrado em 1715 entre as duasna- V, junto ao qual teve grandeinfluência. Foram nomeadas duas comis-
ções – legitimou a presença portuguesa na região do Prata coma sões para demarcarema fronteira, uma para o norte – onde Portu-
restituição aos lusos da Colônia de Sacramento. gal teve comorepresentante Francisco Xavier de Mendonça Furtado
Tratado de Madri (1750) – O conflito ocorrido entre ascortes (irmão doMarquês de Pombal) – e outra para o sul, sendo o repre-
portuguesa e espanhola entre 1735 e 1737 motivou aterceira inves- sentanteportuguês Gomes Freire de Andrade. A troca estabelecida
tida hispânica sobre a Colônia de Sacramento.Cumprindo ordem do peloTratado não foi efetuada, pois os índios que viviam nas Missões
governador de Buenos Aires, em junho de1735, navios espanhóis já serecusaram a deixar o local, empreendendo uma resistência arma-
empreendiam um bloqueio naval18 àcolônia lusa enquanto quatro da,levando os luso-espanhóis a responderem com ação militarcon-
mil soldados realizavam um sítiopor terra. junta que, em 1756, por meio da força, ocuparam a região.
Tratado do Pardo (1761) – Celebrado entre portuguesese es-
panhóis, anulou os efeitos do Tratado de Madri e estabeleceuque a
Colônia de Sacramento voltasse a ser de Portugal. Durantea Guerra
dos Sete Anos (1756-1763), Portugal e Espanha voltarama ficar em
lados opostos quando, em 1761, a Espanha assinou umtratado de
aliança com a França, o que levou a Grã-Bretanha adeclarar guerra
aos espanhóis. Como conseqüência, Portugal, queapoiava os britâ-
nicos, foi invadido em 1762 por forças hispânicas econsequente-
mente a guerra se propagou para o Sul do Brasil.
Na região do Prata, o governador de Buenos Aires ordenouao
comandante do cerco, que estava sendo feito à Colônia deSacra-
mento, que fosse restabelecido o tiro de canhão como limitereco-
nhecido para a praça e “convidasse” o governador da Colôniade
Sacramento a desocupar imediatamente as Ilhas de Martin Garciae
dos Hermanos. Ainda delegou ao Capitão Francisco Gorriti aincum-
bência de viajar até a Vila de Rio Grande para entregar, aocoman-
dante da mesma, um ofício, em que exigia a desocupaçãodaque-
las terras, já que, com a nulidade do Tratado de Madri, asterras
voltavam a pertencer à Espanha. O Governador de BuenosAires, D.
Pedro Antônio Cevallos, tinha ambicioso projeto dedominação do
Tratado de Madri - 1750 Sul do Brasil, e preparou-se militarmente para atacara Colônia de
Fonte: Livro Fronteiras do Brasil no Regime Colonial de José Carlos Sacramento, recebendo reforços da Espanha emnavios, material de
de Macedo Soares artilharia e munição.

22
HISTÓRIA NAVAL
A Colônia de Sacramento dispunha para sua defesa de umape-
quena tropa, que não excedia 500 homens, e o GovernadorVicente Tratado de Badajós (1801) – A estabilidade entre asrelações
da Silva Fonseca respondia às intimações de Cevallosprocurando luso-espanholas foi afetada quando Napoleão Bonaparte,desejoso
ganhar tempo, enquanto aguardava reforços. Emoutubro de 1762, de castigar Portugal por participar, com seus navios, decruzeiros
a Colônia de Sacramento foi atacada pelaquarta vez e, não obstan- ingleses no Mediterrâneo e visando a trazer osportugueses para
te a resistência oferecida pelosportugueses, capitulou. zona de influência francesa, forçou a Espanha adeclarar guerra a
Os espanhóis continuaram avançando sobre terras ocupadas- Portugal em 1801. O rompimento das relaçõesentre os dois países
pelos luso-brasileiros e com superioridade de forças tomaram oRio na Europa durou poucas semanas, sem açõesmilitares dignas de re-
Grande de São Pedro em 1763. Apesar de ter sido restabelecidaa paz gistro, ficando o episódio conhecido como aGuerra das Laranjas.
entre as duas nações após a assinatura do Tratado de Paris, eo gover- Na América, porém, a chegada da notíciasobre o conflito entre as
nador de Buenos Aires restituir a Colônia de Sacramento, este con- duas coroas desencadeou o rompimentode hostilidades entre as
tinuou com a ocupação do Rio Grande de São Pedro, que pretendia populações da fronteira. No Rio Grandede São Pedro, tropas foram
tornar definitiva tendo como base o Tratado de Tordesilhas. Não obs- aprestadas para defenderem asfronteiras, ainda em processo de-
tante a reclamação dos portugueses por viadiplomática, foi neces- marcatório, e os luso-brasileirosinvadiram e conquistaram os Sete
sário empreender uma ação militar, na qualtropas luso-brasileiras, Povos das Missões, do ladoespanhol, enquanto os hispano-ameri-
comandadas pelo Tenente-General JoãoHenrique Boehm (alemão a canos invadiram o Sul de MatoGrosso.
serviço de Portugal), juntamente como emprego da Esquadra por- O Tratado de Badajós pôs fim à guerra de França e Espanha-
tuguesa, reconquistaram o Rio Grandede São Pedro em abril 1776. contra Portugal, tendo a Espanha por direito de guerra, conser-
Em 1777, os espanhóis protestaram contra a tomada do Rio- vadoa praça de Olivença, na Europa, e a Colônia de Sacramento.
Grande pelos portugueses e, após insucessos diplomáticos,decidi- Portugalrecuperou no sul da América o território dos Sete Povos
ram enviar uma poderosa expedição sob o comando de D.Pedro dasMissões.
de Cevallos, nomeado primeiro vice-rei do Rio da Prata.Coube ao
Marquês da Casa de Tilly o comando da força navalespanhola, que
era composta de 19 navios de guerra e 26 detransporte. Embora CRONOLOGIA
providências tenham sido tomadas, no sentidode combater tal DATA EVENTO
ameaça pelo Marquês de Pombal, os espanhóisocuparam a Ilha de
Santa Catarina e pela quinta vez atacaram aColônia de Sacramento. 1555 Chegada de Nicolau Durand de Villegagnon ao
Tratado de Santo Ildefonso (1777) – Com a mortede D. José Rio de Janeiro, instalação da França Antártica
I, em fevereiro de1777, assumiu o trono dePortugal D. Maria I. Na 1560 Ataque da força naval portuguesa ao Forte Coligny
tentativade resolver as questões delimites entre Portugal e Espa-
1565 Fundação da cidade de São Sebastião do Rio de
nha, foi assinado em 1o deoutubro de 1777 o Tratado deSanto Il-
Janeiro por Estácio de Sá.
defonso. Por este tratado, ficou estabelecido a restituição a Por-
Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro
tugal da Ilha deSanta Catarina, porém os lusosperderam a Colônia
do Santíssimo Sacramento e a regiãodos Sete Povos das Missões. 1580-1640 União Ibérica.
Estetratado deixou os espanhóiscom o domínio exclusivo do Rioda 1612 Parte da França uma expedição com o intento
Prata, sendo deveras desvantajoso para Portugal. de fundar outra colônia no Brasil, desta vez no
Maranhão
1614 Formada a primeira força naval comandada por
brasileiro nato (Jerônimo de Albuquerque), para
combater os franceses no Maranhão.
1615 Rendição e expulsão dos franceses do Mara-
nhão pelas forças lusas.
1621 Criação da Companhia das Índias Ocidentais pe-
los holandeses.
1624 Chegada da força naval holandesa a Salvador e
início do ataque.
1625 Chegada da armada luso-espanhola (denomina-
da Jornada dos Vassalos) a Salvador e expulsão
dos holandeses
1630 Invasão holandesa em Pernambuco
1631 Combate Naval de Abrolhos.
1640 Restauração Portuguesa. Batalha Naval de 1640.
1641 Assinatura de Tratado de Trégua entre Portugal
e Holanda. Invasão holandesa em Sergipe, Ma-
ranhão, Angola e São Tomé.
1648 Rendição dos holandeses em Angola.
1649 Holandeses são derrotados em Guararapes
Tratado de Santo Ildefonso -1777 1654 Rendição dos holandeses em Recife, término da
Fonte: Livro Fronteiras do Brasil no Regime Colonial, de José Carlos ocupação holandesa.
de Macedo Soares

23
HISTÓRIA NAVAL

1681 Tratado de Lisboa. cação da famosa carta régia que abriu ao comércio estrangeiroos
portos do país; e a 7 de março de 1808 D. João, à testa de umaforça
1715 Tratado de Utrecht. naval composta por três naus, um bergantim e um transporte,en-
1750 Tratado de Madri. trou na Baía de Guanabara. A bordo também vinham osintegrantes
da Brigada Real da Marinha encarregados da artilhariae da defesa
1761 Tratado do Pardo.
dos navios.
1777 Tratado de Santo Ildefonso. Vamos ver neste capítulo o que ocorreu quanto aoestabeleci-
1801 Tratado de Badajós. mento da Marinha na Corte e a política externa de D.João, caracte-
rizada pela invasão da capital da Guiana Francesa,Caiena, e a ocu-
FIXAÇÃO pação da Banda Oriental, atual Uruguai.No campo interno veremos
1 – O Brasil, ao longo dos séculos XVI e XVII, foi invadido por es- a Revolta Nativista de 1817,movimento separatista ocorrido em
trangeiros no intuito de formar colônias. Qual era a nacionalidade Pernambuco, onde a Marinhaatuou na sua repressão, bloqueando
deles e em que período ocuparam terras brasileiras? o porto de Recife.
2 – O que foi a Jornada dos Vassalos? Com o retorno de D. João VI para Portugal, permaneceu noBra-
3 – Como foi estabelecida a fronteira sul das terras portugue- sil seu filho D. Pedro, que passou a sofrer pressão vinda daCorte de
sas no continente americano? Portugal para que regressasse a Lisboa. Comoconseqüência, temos
4 – Na sua opinião, qual foi a importância das forças navais o Dia do Fico (09/01/1822) e, posteriormente,após novas pressões,
para a manutenção de nossa unidade territorial no período estu- D. Pedro proclama a nossa Independência.
dado? Para concretizar a nossa Independência e levar a todos osre-
cantos do litoral brasileiro a notícia do dia 7 de setembro, foineces-
sário organizar uma força naval capaz de atingir todas asprovíncias,
FORMAÇÃO DA MARINHA IMPERIAL BRASILEIRA - A e fazer frente aos focos de resistência à nova ordem.Vamos, então,
VINDA DA FAMÍLIA REAL; POLÍTICA EXTERNA DE D. iniciar esta viagem.....
JOÃO E A ATUAÇÃO DA MARINHA: A CONQUISTA DE
CAIENA E A OCUPAÇÃO DA BANDA ORIENTAL: A BAN-
DA ORIENTAL; A REVOLTA NATIVISTA DE 1817 E A ATU-
AÇÃO DA MARINHA; GUERRA DE INDEPENDÊNCIA;
ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO; O RETORNO
DE D. JOÃO VI PARA PORTUGAL; A INDEPENDÊNCIA; A
FORMAÇÃO DE UMA ESQUADRA BRASILEIRA; OPERA-
ÇÕES NAVAIS; CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

Formação da Marinha Imperial Brasileira


Sinopse
Emergindo das dificuldades do período revolucionário (1789-
1799), a França erguia-se perante a Europa aristocrática com o
“Grande Exército” chefiado por Napoleão Bonaparte. As notáveis
vitórias militares francesas subjugaram a maior parte do Velho
Mundo e esse expansionismo teve repercussões intensas na pró-
pria América, abrindo caminho para a emancipação política das
colônias ibéricas.
As guerras napoleônicas (1804-1815) foram caracterizadas por
dois aspectos: o primeiro na luta de uma nação burguesa contra
uma Europa aristocrática; e o segundo na luta entre França e Ingla-
terra. Com a derrota da Marinha francesa na Batalha de Trafalgar
(1805) para a Marinha inglesa, muito superior, decide Napoleão
investir contra seus inimigos continentais (Áustria e Prússia) e, ao
tomar Berlim, iniciou guerra econômica à Inglaterra, estabelecendo
em 1806 um “bloqueio continental”. Os demais Estados europeus
foram concitados a aderir ao bloqueio, dentre eles Portugal.
Portugal sempre manteve laços comerciais com a Inglaterra e a
sua não-adesão ao bloqueio foi determinante para a decisão de sua
invasão por Exército francês sob o comando do General Junot. Ao
saber da chegada do Exército invasor de Napoleão, o Conselho de
Estado com o Príncipe Regente D. João acordaram na retirada para
o Brasil de toda a Família Real.
A 29 de novembro de 1807, a Família Real embarca rumo ao
Brasil. O comboio de transportes que conduziu todo o aparato
(15.000 pessoas dentre militares e civis) era de 30 navios, e várias
embarcações. Foi protegido por uma escolta inglesa composta por
16 naus.
A 22 de janeiro de 1808, a Nau Príncipe Real, onde o Príncipe
Regente D. João encontrava-se embarcado, chegou à Bahia. A 28,D.
João proclamava a independência econômica do Brasil com apubli-

24
HISTÓRIA NAVAL
A vinda da Família Real res e uma bateria de artilharia, totalizando 400 homens com ar-
A Corte no Rio de Janeiro mas. Para conduzir essa força ao lugar de destino, aprestou-se uma
Junto com a Família Realtodo o aparato burocrático eadminis- esquadrilha composta por dez embarcações. A 3 de novembro, a
trativo foi transferidopara o Rio de Janeiro. Dentreas primeiras de- esquadrilha foi acrescida de três navios vindos da Corte: Corveta
cisões de D.João, já no dia 11 de março de1808, está a instalação inglesa Confidence (comando do Capitão-de-Mare-Guerra James
doMinistério dos Negócios daMarinha e Ultramar, quecontinuou a Lucas Yeo) e Brigue Voador (comando do CapitãoTenente José An-
ter o mesmoregulamento instituído peloAlvará de 1736. tônio Salgado), Brigue Infante D. Pedro (comando do Capitão-Te-
nente Luís da Cunha Moreira). Juntos traziam um reforço de 300
homens. Tinham ordens de ocupar o território da Guiana Francesa
e submeter Caiena.

A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas várias


repartições necessárias ao funcionamento do Ministério da Mari-
nha, tais como: Quartel-General da Armada, Intendência e Conta-
doria, Arquivo Militar, Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora e A 1° de dezembro, desembarcaram as nossas tropas noterri-
Conselho Supremo Militar. tório inimigo, ficando o comando da expedição assimrepartido: o
A Academia Real de Guardas-Marinha, que também acompa- Tenente-Coronel Manuel Marques dirigiria as forçasterrestres; os
nhou a Família Real, teve sua instalação nas dependências do Mos- navios ficariam sob as ordens do Comandante Yeo.
teiro de São Bento, se tornando desta feita o primeiro estabeleci- Este, com os navios menores (os demais foram bloquear Caie-
mento de ensino superior no Brasil. napor mar), subiu o Oiapoque e foi dominando, sem maior resistên-
No tocante à infra-estrutura já existente no Rio de Janeiro, ob- cia,os pontos fortificados que ia encontrando. Quatro escunasfran-
servamos que o Arsenal Real da Marinha, localizado então ao pé cesas foram aprisionadas, incorporadas e rebatizadas deLusitana,
do morro do Mosteiro de São Bento, cuja criação data de 29 de de- D. Carlos, Sydney Smith e Invencível Meneses.
zembro de 1763, teve sua capacidade ampliada para poder apoiar a O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou, em vão, de-
recém-chegada Esquadra. preparar a resistência, levantando baterias, fortificando os melho-
respontos estratégicos e guarnecendo os fortes. As forças de ata-
Política externa de D. João e a atuação da Marinha: a conquis- queforam ganhando terreno, apertando cada vez mais o cerco à
ta de Caiena e a ocupação da Banda Oriental capitalCaiena, até sua rendição final, a 12 de janeiro de 1809. A im-
Diante da invasão do território continental português pelas portânciadessa operação recai na condição de ter sido o primeiro
tropas do General Junot, D. João assinou, a 1° de maio de 1808, ma- atoconsistente de política externa de D. João realizada por meio mi-
nifesto declarando guerra à França, considerando nulos todos os litar, contando com forças navais e terrestres anglo-luso-brasileira.
tratados que o imperador dos franceses o obrigara a assinar,princi- A ocupação portuguesa da Guiana Francesa durou mais deoi-
palmente o de Badajós e de Madri, ambos de 1801, e o deneutra- to anos. Embora temporária, foi de grande valia para a fixaçãodos
lidade, de 1804. Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesavolta- limites do País, porquanto, na ocasião de sua devolução, em1817,
ram a ser questionados. ficaram tacitamente estabelecidos os limites do Oiapoque.
Como a guerra não poderia ser levada a cabo no territórioeuro-
peu, e sendo importante a ocupação de território inimigo emqual- A Banda Oriental
quer guerra, o objetivo ideal se tornou a colônia francesa.
Outro movimento importante de D. João na política externafoi
Determinou então a Corte ao Capitão-General da Capitania
a ocupação da Banda Oriental. Na operação, foi de grandeimpor-
doGrão-Pará, Tenente-Coronel José Narciso Magalhães de Me-
tância o papel que desempenhou a Marinha, não só notranspor-
neses,que ocupasse militarmente as margens do Rio Oiapoque.
te das tropas, desde Portugal10 (já liberado do domíniofrancês),
Ordemrecebida, tratou de arregimentar pessoal e material, se va-
como também em todo o desenrolar da ocupação.
lendoinclusive (diante dos escassos recursos existentes nos cofres
O movimento de independência da América espanholaprovo-
dacapitania) de subscrição popular.
cou o aparecimento de novas nações americanas, cada qualcom
Em outubro de 1808, a força estava pronta. Sob o comando do
lideranças individuais. Foi o caso do Uruguai, então chamadode
Tenente-Coronel Manuel Marques d’Elvas Portugal, compunhase
Banda Oriental, que se recusava a fazer parte das ProvínciasUnidas
de duas companhias de granadeiros, duas companhias de caçado-

25
HISTÓRIA NAVAL
do Rio da Prata, encabeçada por Buenos Aires. Seu líderJosé Gervásio Artigas11 arregimentou as camadas populares contrao domínio
espanhol e para o ideal da anexação promovido porBuenos Aires. Neste intento invadiu as fronteiras portenhas ebrasileiras, o que ocasio-
nou o acordo entre as duas últimas parauma ação conjunta contra Artigas.
A 12 de junho de 1816, partiu do Rio de Janeiro uma DivisãoNaval, composta de uma fragata, uma corveta, cinco naus (dasquais uma
era inglesa e outra francesa) e de seis brigues, capitaneadapela Nau Vasco da Gama, onde achavam-se embarcados o Chefede-Divisão
Rodrigo José Ferreira Lobo, responsável pelas atividadesnavais da expedição, e o Tenente-Coronel Carlos Frederico Lecor,então nomeado
Governador e Capitão-General da Praça eCapitania de Montevidéu.
A Divisão Naval foi sereunir com o 1o Escalão,composto por seis navios12, que já havia seguidopara Santa Catarina emjaneiro

Aportando a Divisãona Ilha de Santa Catarina a26 de junho, decidiu Lecorseguir por terra com suatropa para o Rio Grande do Sul
e, então, iniciar a invasão, visto queas condições climáticas só eram favoráveis à navegação no Rioda Prata em outubro. Seguiu então à
frente dos seus 6 milcomandados, margeando o mar até as proximidades deMaldonado. A Esquadra, por sua vez, rumou em direção ao
Rioda Prata, devendo antes estacionar naquele porto.
Do Rio de Janeiro, a 4 de agosto, partiu nova flotilha, composta por quatro navios13 com a missão de operar em combinação com
a Divisão dos Voluntários Reais. A 22 de novembro de 1816, deu-se o desembarque em Maldonado pelas forças navais de Rodrigo José
Ferreira Lobo. Com a ocupação do cidade, e a vitória pelas forças terrestres em Índia Morta, o caminho para Montevidéu ficou livre. Le-
cor encontrava-se acampado no passo de São Miguel, quando recebeu uma deputação de Montevidéu que apresentou-lhe as chaves da
cidade e seu submisso respeito e completa adesão ao governo de D. João VI.
Nessa época, o governo das Províncias do Rio da Prata nãomais apoiava a intervenção armada do Brasil na Banda Oriental,deixando-
-nos em campo sozinhos.
Não foi imediata a completa submissão da Banda Oriental.Ainda por alguns anos, fez José Artigas tenaz resistência àdominação por-
tuguesa, até sua derrota final na Batalha deTaquarembó, a 22 de janeiro de 1820.
Durante esse período, os partidários de Artigas valiam-se decorsários que, com base na Colônia de Sacramento14, ocasionavamgran-
des prejuízos ao comércio de nossa Marinha Mercante. Comrecursos navais reduzidos para liquidar a nova ameaça, o comandoportuguês
empregou tropas terrestres para tentar destruir as basesinimigas. Assim, o Tenente-Coronel Manuel Jorge Rodrigues,auxiliado por forças
navais, atacou e conquistou Colônia, Paissandue outros locais às margens do Uruguai, tendo em Sacramentoconseguido aprisionar vários
corsários que aí se encontravam.
Para as operações realizadas no Rio Uruguai, foi constituídauma pequena flotilha, sob o comando do Capitão-Tenente JacintoRoque
Sena Pereira, formada pela Escuna Oriental e Barcas Cossaca,Mameluca e Infante D. Sebastião. Esta flotilha prestou auxílioinestimável às
forças de terra, tanto na tomada de Arroio de LaChina, quanto na tomada de Calera de Barquin, Perucho Verna eHervidero. Em Perucho
Verna, doze embarcações inimigas, umalancha artilhada e um escaler foram apresados.
No mar, o último episódio em que a força naval atuou,ocorrido em 15 de junho de 1820, foi o aprisionamento do corsárioGeneral
Rivera, com a recuperação dos mercantes Ulisses e Triunfantes, pela Corveta Maria da Glória, comandada pelo Capitãode-Fragata Diogo
Jorge de Brito.
A 31 de julho de 1821, em assembléia formada por deputados representantes de todas as localidades orientais, foi aprovada por una-
nimidade a incorporação da Banda Oriental à Coroa portuguesa, fazendo parte do domínio do Brasil com o nome de Província Cisplatina.

26
HISTÓRIA NAVAL

A Revolta Nativista de 1817 e a atuação da Marinha


Em paralelo ao que ocorria no Sul, teve a Corte que se mobilizar para fazer frente ao movimento separatista que eclodiu em Pernam-
buco, em março de 1817.
As primeiras providências para o restabelecimento da ordemlegal em Pernambuco foram tomadas pelo Conde dos Arcos,Governador
da Bahia, que fez armar em guerra alguns naviosmercantes, e mandou seguir para Pernambuco sob o comando doCapitão-Tenente Rufino
Peres Batista. A esquadrilha era composta por três navios15, e tinha como missão o bloqueio do porto do Recife.
A 2 de abril partiu da Corte uma Divisão sob o comando doChefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lobo, composta por trêsnavios16,
enquanto que da Bahia seguiram por terra dois regimentosde cavalaria e dois de infantaria. A 4 de maio outra Divisão Naval,sob o coman-
do do Chefe-de-Divisão Brás Caetano Barreto Cogomilho, partiu do Rio de Janeiro.
O cerco da cidade de Recife por terra e o bloqueio efetuadopor mar fizeram com que os rebeldes abandonassem a cidade a20 de
maio, dando fim ao movimento separatista.

Guerra de Independência
Elevação do Brasil a Reino Unido
Do mesmo modo que a transferência para o Brasil da sededo reino português foi motivada pela ameaça representada peloexpansio-
nismo francês na Europa, seria esperado o retorno doRei D. João VI a Lisboa e a restauração do pacto colonial18 apósa paz européia. Com
a queda de Napoleão e o movimento derestauração das monarquias absolutistas encabeçado peloCongresso de Viena19, os portugueses
esperavam que seu reiretornasse para Portugal e trouxesse a Corte de volta para Lisboa.
Entretanto, o monarca permaneceu no Rio de Janeiro e, paraviabilizar esta situação, elevou o Brasil a uma condição equivalentede
Portugal com a formação do Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves.
Enquanto os comerciantes e fazendeiros brasileirosdesfrutavam do afrouxamento dos laços coloniais, a sociedadeportuguesa via-se
deixada em segundo plano, com o territórioluso sendo administrado por uma junta sob controle de ummilitar britânico.

O retorno de D. João VI para Portugal


Tal estado de “abrasileiramento” da monarquia portuguesa,somado ao clamor por uma flexibilização do absolutismo vindo desetores
da sociedade portuguesa, fez estourar na Cidade do Portoum movimento revolucionário liberal. Logo a revolução se espalhoupor todo o
Portugal, fomentando a instalação de uma AssembléiaNacional Constituinte denominada de “Cortes”, que visava ainstaurar uma monarquia
Constitucional. O estado revolucionárioda antiga metrópole provocou o retorno do Rei em 26 de abril de1821, deixando seu filho D. Pedro
como Príncipe Regente. Tentava,assim, a dinastia de Bragança manter sob controle, e longe dosventos liberais, as duas partes de seu reino.

27
HISTÓRIA NAVAL
Mesmo com o retorno do Rei, as Cortes reunidas em Lisboa mantiveram-se atuantes na imposição de uma monarquiaconstitucional
a D. João VI. Contudo, o posicionamento das Cortesem relação ao Brasil era completamente contrário ao seu discursoliberal: vinha no
sentido de reativar a subordinação política eeconômica posterior a 1808, reerguendo o pacto colonial. Aoposição que as Cortes faziam à
dinastia de Bragança em Portugale suas crescentes imposições ao Príncipe Regente provocaramreações de D. Pedro. Em 9 de janeiro de
1822, no que ficouconhecido como Dia do Fico, D. Pedro declarou que permaneceriano Brasil apesar da determinação das Cortes para
que retornassea Lisboa. Concomitantemente, o Príncipe nomeou um novoGabinete de Ministros, sob a liderança de José Bonifácio de
Andradae Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma monarquiaconstitucional encabeçada pelo Príncipe Regente.
A pressão das Cortes pela restauração do pacto colonial como conseqüente esvaziamento das suas atribuições de regentelevaram D.
Pedro a defender a autonomia brasileira perante arestauração da condição de colônia pretendida pelas Cortes.

A Independência

Em 7 de setembro de 1822, o PríncipeD. Pedro declarava aIndependência do Brasil.Porém, só as provínciasdo Rio de Janeiro, SãoPaulo
e Minas Geraisatenderam de imediatoà conclamação emanadadas margens do Ipiranga.
Até pela proximidadegeográfica, estas mantiveram-se fiéis às decisõesemanadas do Paço20mesmo após a partida deD. João VI. As
capitais dasprovíncias ao Norte doPaís mantiveram sua ligação com a metrópole,pois as peculiaridades danavegação a vela e a faltade
estradas as punhammais próximas desta doque do Rio de Janeiro.
Mormente o expressivonúmero de patriotas nointerior destas províncias,nas capitais e nas poucasprincipais cidades, a elitede co-
merciantes eramajoritariamente portuguesa e adepta da restauração colonial realizada pelo movimentoliberal português. Durante a
“queda-de-braço” empreendida entreas Cortes e D. Pedro, foram reforçadas as guarnições militaresdas províncias do Norte e Nordeste
para manter a vinculaçãocom Lisboa

28
HISTÓRIA NAVAL
A Formação de uma Esquadra Brasileira
O governo brasileiro, por intermédio de seu Ministro doInte-
rior e dos Negócios Estrangeiros José Bonifácio de Andrada eSilva,
percebeu que somente com o domínio do mar conseguiriamman-
ter a unidade territorial brasileira, pois eram por meio do marque
as províncias litorâneas, onde estava concentrada a maior parteda
população e da força produtiva brasileira, se interligavam ecomer-
cializavam seus produtos. A rápida formação de uma Marinhade
Guerra nacional constituía-se no melhor meio de transportare con-
centrar tropas leais e suprimentos para as áreas de embatecom os
portugueses.
Este conjunto de navios de guerra, a Esquadra, impediria
quechegassem aos portos das cidades brasileiras ocupadas pe-
losportugueses os reforços que Portugal enviasse, interceptando
ecombatendo os navios que os trouxessem. Privando as guarni-
çõesportuguesas de mais soldados e armas vindos por mar, asbom-
bardeando com canhões embarcados e transportandosoldados
brasileiros para reforçar os patriotas que lutavamcontra os portu-
gueses no interior, a Marinha Brasileira contribuiupara a Indepen-
dência do Brasil, permitindo que do território dacolônia portuguesa
na América emergisse um só país, com umgrande território.
O nascimento da Marinha Imperial, portanto, se deu nessere-
gime de urgência, aproveitando os navios quetinham sido deixados
no porto do Rio de Janeiropelos portugueses, que estavam em mal
estado deconservação, e os oficiais e praças da Marinhaportuguesa
que aderiram à Independência. Os naviosforam reparados em um
intenso trabalho do Arsenalde Marinha do Rio de Janeiro e foram
adquiridosoutros, tanto pelo governo como por subscriçãopública.
E as lacunas encontradas nos corpos deoficiais e praças foram com-
A resistência mais forte estava justamente em Salvador,Bahia, pletadas com acontratação de estrangeiros, sobretudo experien-
onde essa guarnição era mais numerosa. No sul, a recémincorpo- tesremanescentes da Marinha inglesa. Anecessidade de se dispor
rada Província Cisplatina viu as guarnições militares que láainda da Força Naval comoum eficiente elemento operativo e como um
estavam dividirem-se perante a causa da Independência,enquanto fator dedissuasão21para as pretensões de reconquista portuguesa
o comandante das tropas de ocupação, General CarlosFrederico fez comque o governo imperial brasileiro contratasse Lorde Tho-
Lecor, colocou-se ao lado dos brasileiros, seusubcomandante, D. masCochrane, um brilhante e experiente oficial de Marinha inglês,-
Álvaro da Costa de Souza Macedo, e a maiorparte das tropas de- como Comandante-em-Chefe da Esquadra.
fenderam o pacto com Lisboa.
A situação que se descortinava no Brasil parecia cada vezmais
desfavorável ao processo de Independência. Mesmo que asforças
brasileiras, constituídas de militares e milícias patrióticasforçassem
e sitiassem as guarnições portuguesas, o mar era umavia aberta
para o recebimento de reforços. Por esta via, Portugalaumentou
sua força com tropas, suprimentos e navios de guerra àguarnição
de Salvador comandada pelo Governador das Armas daProvíncia
Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.

Nau Pedro I.
Navio capitânia da primeira Esquadra do Brasil independente.
Exemplo maior dos vários navios da Marinha portuguesa que
se encomtravam no porto do Rio de Janeiro em mal estado de
conservação e foram reparados pelo Arsenal de Marinha da Corte
(Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro). Na Marinha Portuguesa
era nomeada Martin de Freitas e fez parte da Esquadra que trans-
portou a Família Real para o Brasil em 1808.
Óleo sobre tela de Eduardo de Martino
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha.

29
HISTÓRIA NAVAL
Operações Navais
A 1° de abril de 1823, a Esquadra brasileira comandada porCochrane, deixava a Baía de Guanabara com destino à Bahia, parabloque-
ar Salvador e dar combate às forças navais portuguesas quelá se concentravam sob o comando do Chefe-de-Divisão Félix dosCampos. A
primeira tentativa de dar combate aos naviosportugueses foi desfavorável à Cochrane, tendo enfrentado, alémdo inimigo, a indisposição
para luta dos marinheiros portuguesesnos navios da Esquadra, muitos dos quais guarneciam os canhõescom uma inabilidade próxima ao
motim. Depois de reorganizarsuas forças e expurgar os elementos desleais, e a despeito dasForças Navais portuguesas, Cochrane colocou
Salvador sobbloqueio naval, capturando os navios que provinham oabastecimento da cidade, que já se encontrava sitiada por terrapelas
forças brasileiras.
Pressionados pelo desabastecimento, as tropas portuguesasabandonaram a cidade em 2 de julho, em um comboio de mais de70
navios, escoltados por 17 navios de guerra. Este foiacompanhado e fustigado pela Esquadra brasileira, destacando-sea atuação da Fragata
Niterói, comandada pelo Capitão-de-FragataJohn Taylor, que, apresando vários navios, atacou o comboioportuguês até a foz do Rio Tejo.

O próximo passo para expulsão dos portugueses doNorte-Nordeste brasileiro era o Maranhão, onde Cochrane,utilizando-se de um
hábil ardil, fez da Nau Pedro I, sua capitânia,a ponta de lança de uma grande força naval que viria próxima,transportando um vultoso Exér-
cito nacional que tomaria SãoLuís. Porém, tudo não passava de um blefe para levar adeposição da Junta Governativa que se mantinha fiel
à Lisboa, oque aconteceu em 27 de julho de 1823.
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Grão-Pará,conduzido pelo Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, no comandodo Brigue
Maranhão. Tais estratagemas, que conduziram a aceitaçãoda Independência brasileira pelas elites formadas em sua maioriade portugue-
ses em São Luís e em Belém, não se deram tãofacilmente como um vislumbre superficial do evento históricopermite concluir, a luta pelo

30
HISTÓRIA NAVAL
poder provincial entre brasileiros eportugueses recém-adeptos da CRONOLOGIA
Independência levou que ocontingente da Marinha naquelas cida-
des atuasse tanto numsentido apaziguador, mesmo diplomático, DATA EVENTO
como trazendo aordem pela força das armas. 29/11/1807 Saída de Lisboa da Família Real.
As operações navais na Cisplatina assemelharam-se àsreali-
zadas na Bahia, sendo empreendido um bloqueio navalconjugado 22/01/1808 Chegada da Família Real em Salvador.
com um cerco por terra a Montevidéu, isolando astropas portugue- 29/01/1808 Abertura dos portos ao comércio estrangeiro.
sas comandadas por D. Álvaro Macedo. Em marçode 1823, a Força 07/03/1808 Chegada da Família Real ao Rio de Janeiro.
Naval no Sul, comandada pelo Capitão-de-Mare-Guerra Pedro An- Desembarque da Brigada Real de Marinha no
tônio Nunes, foi reforçada com a chegada denavios vindos do Nor-
Rio de Janeiro, marco zero da história dos Fu-
te-Nordeste do Império, a tempo de se oporà tentativa portuguesa
zileiros Navais.
de romper o bloqueio em 21 de outubro. Abatalha que se seguiu,
embora violenta, terminou sem a vitória denenhum dos oponen- 11/03/1808 Instalação do Ministério dos Negócios da Mari-
tes, mas configurou-se como uma vitóriaestratégica das forças bra- nha e Ultramar no Rio de Janeiro.
sileiras com a manutenção do bloqueio. 01/05/1808 D. João assina manifesto declarando guerra à
O desabastecimento provocado pelo bloqueio e pelo cerco França.
porterra, somado a desalentadora notíciaque Montevidéu era a úl-
tima resistênciaportuguesa na ex-colônia, provocou aevacuação do 01/12/1808 Desembarque das tropas luso-brasileiras em
contingente português daCisplatina em novembro de 1823. território da Guiana Francesa.
12/01/1809 Caiena, capital da Guiana Francesa se rende
12/06/1816 Saída da Divisão Naval para a Banda Oriental
22/11/1816 Desembarque em Maldonado.
02/04/1817 Parte da Corte a Divisão Naval com a missão
de bloquear Recife, durante a Revolta Nativista
de 1817
20/05/1817 Fim do movimento nativista de Pernambuco.
26/04/1821 Regresso de D. João VI para Portugal.
31/07/1821 Incorporação da Banda Oriental à Coroa de
Portugal.
09/01/1822 Dia do Fico, o Príncipe Regente D. Pedro declara
que não obedecerá às determinações das Cor-
tes portuguesas e que permanecerá no Brasil.
07/09/1822 Independência do Brasil.
10/11/1822 Primeira vez em que é içada a Bandeira Impe-
rial em navio da nova Esquadra.
Aniversário da Esquadra.
01/04/1823 A Esquadra brasileira, sob o comando do Pri-
meiro-Almirante Cochrane, deixou o porto do
Rio de Janeiro rumo à Bahia.
02/07/1823 Larga do porto de Salvador comboio de navios
levando as tropas portuguesas para Portugal.
27/07/1823 Adesão à causa da Independência pela Provín-
cia do Maranhão.
15/08/1823 Adesão à causa da Independência pela Provín-
cia do Grão-Pará.
21/10/1823 Tentativa de rompimento do bloqueio naval
Confederação do Equador brasileiro pelos navios fiéis a Portugal estacio-
Ainda no reinado de D. Pedro I, umarevolta na Província de Per- nados na Província Cisplatina. Vitória estratégi-
nambucocolocou em perigo a integridade territorialdo Império. A ca da Força Naval brasileira.
Marinha atuou contra aConfederação do Equador a partir de abrilde
1824, que congregou, no seu ápice,também as províncias da Paraíba, 18/11/1823 Capitulação de Montevidéu e retirada das tro-
RioGrande do Norte e Ceará. Porém, oaumento do combate à revolta pas portuguesas da Província Cisplatina
só se deucom o envio da Força Naval comandadapor Cochrane, onde 18/09/1824 As forças rebeldes de Recife foram derrotadas.
foi embarcada a 3aBrigada do Exército Imperial, com 1.200homens,
comandada pelo BrigadeiroFrancisco Lima e Silva. As tropas foramde-
sembarcadas em Alagoas e seguiriampor terra para a província rebela-
da;enquanto a Força Naval alcançou Recifeem 18 de agosto de 1824,
instituindosevero bloqueio naval. Com a Marinha eo Exército atuando
conjuntamente, asforças rebeldes de Recife foramderrotadas em 18
de setembro.

31
HISTÓRIA NAVAL
FIXAÇÃO Pressionado pela população, em 7 de abril de 1831, D. Pedro
1- O que motivou a vinda da Família Real para o Brasil? Iabdicou do trono em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara,que
2- Quais foram as duas ações iniciais de política externa empre- tinha apenas cinco anos de idade. Como o herdeiro não tinha idade
endida por D. João? para assumir o trono, instalou-se no Brasil um governo regencial. O
3- Do que se tratou a Revolta de 1817 e qual atuação da Mari- Poder Executivo seria composto por três membros, uma regência
nha nesse episódio? trina, conforme determinava a Carta Constitucional.
4- Proclamada a Independência, como o novo governo resol- Posteriormente, a regência seria constituída de uma só pessoa,
veu a questão da falta de pessoal para guarnecer os navios? a regência una.
5- Na sua opinião, qual a relação de uma Marinha forte no pe- No período regencial, o conturbado ambiente político da Corte
ríodo em estudo e a extensão do litoral brasileiro ? se refletiu nas províncias do Império em movimentos armados que
explodiram por todos os principais centros regionais, desde 1831
até os anos de consolidação do reinado de D. Pedro II. A Marinha da
A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS CONFLITOS DA REGÊN- Independência e da Guerra Cisplatina, constituída por elevado nú-
CIA E DO INÍCIO DO SEGUNDO REINADO - CONFLITOS mero de navios de grande porte, foi sendo transformada em uma
INTERNOS; CABANAGEM; GUERRA DOS FARRAPOS; Marinha de unidades menores, próprias para enfrentar as confla-
SABINADA; BALAIADA; REVOLTA PRAIEIRA; CONFLI- grações nas províncias e ajustadas às limitações orçamentárias.
TOS EXTERNOS; GUERRA CISPLATINA; GUERRA CON- Revoltas deflagradas em diversas províncias foram abafadas
TRA ORIBE E ROSAS pelo governo regencial com a utilização da Marinha e do Exército.
A Marinha se fez mais presente nos combates no Pará(Caba-
A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início nagem), no Rio Grande do Sul (Guerra dos Farrapos ouRevolução
do Segundo Reinado Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e Piauí(Balaiada)
Sinopse e em Pernambuco (Revolta Praieira), esta já anos após acoroação
A peculiar Independência brasileira, que pôs à frente dopro- de D. Pedro II.
cesso de emancipação da ex-colônia o herdeiro do trono realpor- Em todas estas revoltas, a Marinha não enfrentou nenhum-
tuguês, produziu uma divisão na política brasileira que marcariao grande inimigo no mar. Embora na Guerra dos Farrapos os rebel-
reinado de D. Pedro I: a separação entre brasileiros, liberais, quede- destenham formado uma pequena flotilha de embarcações ar-
fendiam a monarquia constitucional, e portugueses, que propunha- madas,que foi prontamente combatida e vencida, a Marinha se
ma concentração de poder nas mãos do Imperador. fezpresente no rápido transporte de tropas do Exército Imperial
O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais autoritá- daCorte e de outras províncias até as áreas conflagradas. Tam-
rio,buscando o apoio da facção dos portugueses que defendiam bémdependeu do transporte por mar, em grande parte realizado
maiorpoder ao monarca. Já a facção dos brasileiros queria que o pelaMarinha, o abastecimento das tropas que lutavam nas provín-
poderdo Estado brasileiro fosse dividido entre o Imperador e a As- ciasrebeladas, pois não existiam estradas que ligassem a Corte às-
sembléiaLegislativa, constituída de representantes eleitos da socie- províncias do Norte e do Sul.
dade, que redigiria a Carta Constitucional e faria as leis. Ou seja, A Marinha também cumpriu ações de bloqueio nos portos ocu-
defendiam que a monarquia de D. Pedro fosse uma monarquia pados pelos rebeldes, evitando que recebessem qualquerabasteci-
constitucional. mento vindo do mar, como armas e munições desviadasde outras
A Assembléia Constituinte foi reunida, em maio de 1823, para províncias ou compradas no estrangeiro. Finalmente,militares da
redigir a primeira Constituição brasileira. A maioria dosdeputados Marinha Imperial atuaram diversas vezes emdesembarques, lutan-
constituintes queria uma Constituição que limitasse ospoderes do do com grupos rebelados lado a lado comtropas do Exército, da
Imperador. Tal fato desagradava D. Pedro e oshomens que o apoia- Guarda Nacional e milicianos.
vam, já que o monarca queria no Brasiluma monarquia absolutista.
O conflito entre D. Pedro e os deputados constituintesacabou
quando o Imperador dissolveu a Assembléia Constituinteem 1823.
Em seguida, nomeou um Conselho de Estado compostopor dez
membros, com a tarefa de redigir um projeto deConstituição. Re-
sultando na imposição uma Constituição,outorgada em 1824, que
praticamente resgatava o regime absolutista. A atitude autoritária
do Imperador aumentou em muito a oposição liberal a ele, repre-
sentada pelo Partido Brasileiro.
Foram vários anos de disputa política entre os Partidos Portu-
guês e Brasileiro, e de críticas, cada vez mais violentas, aoImpera-
dor vindas dos políticos do Partido Brasileiro e de todosque defen-
diam que o poder do Estado não ficasse concentradonas mãos de
D. Pedro. Também desagradava muito aos brasileirosa influência
que os portugueses residentes no país tinham junto aoImperador,
ampliando o poder dos portugueses adesistas nasociedade brasilei-
ra, pois monopolizavam o comércio exterior nascapitais das princi-
pais províncias, motivo de insatisfação do restoda população.
O embate entre portugueses e brasileiros na Assembléia Geral-
Legislativa transpareceu na imprensa, que atacou o absolutismodo
Imperador, e foi para as ruas, onde partidários do monarcaentra-
ram em choque com defensores do Partido Brasileiro.Preocupava
D. Pedro I não somente a oposição ao seu reinado,que crescia entre
os brasileiros, mas também a situação políticaem Portugal, onde
tinha pretensão de ascender ao trono.

32
HISTÓRIA NAVAL

No contexto externo, os dois grandes conflitos que o Impériobrasileiro se envolveu, desde sua Independência até o início dashostilida-
des que levariam à guerra contra o Paraguai, foram a GuerraCisplatina, entre 1825 e 1828, e a Guerra contra Manuel Oribe eJuan Manuel
de Rosas, em 1850 e 1852. A área marítimo-fluvialem que se desenrolaram a maioria das operações navais destesdois conflitos, separados
no tempo por quase um quarto de século,foi a mesma, o estuário do Rio da Prata, que separa o Uruguai daArgentina.
Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas do Rioda Prata, atual Argentina, lutaram pela posse do territóriouruguaio, ainda
não independente. Nesta guerra, que custoumuito à economia de um país recém-formado como o Brasil, aMarinha lutou longe de sua
base principal, o Rio de Janeiro,contra a Marinha argentina que, embora menor, atuava muitoperto de sua principal base de apoio, Buenos
Aires, econhecendo o teatro de operações repleto de obstáculosnaturais à navegação, o Rio da Prata.
A Marinha Imperial brasileira, além das atividades deabastecimento das tropas em combate, operou de modo ofensivono Rio da
Prata. A Força Naval brasileira efetuou um bloqueio naval sobre Buenos Aires visando a isolar a capital adversária deabastecimento vindo
do exterior e impedir que embarcaçõesargentinas transportassem tropas e armamento para reforçarargentinos e orientais que lutavam
contra as tropas brasileiras noterritório uruguaio.
Além do bloqueio, a Força Naval brasileira combateu aEsquadra argentina até seu desmembramento, privando oadversário do princi-
pal e primeiro braço do Poder Naval. Os naviosda Marinha que não foram deslocados para aquela guerra nãodeixaram de se envolver no
conflito. A Marinha defendeu as linhasde comunicação marítimas, dando combate aos corsários armadospela Argentina e pelos rebeldes
uruguaios que atacaram anavegação mercante brasileira ao longo de toda a nossa costa.
A próxima guerra que o Brasil se envolveria no Rio da Prataseria contra Juan Manuel de Rosas, governador da Província deBuenos
Aires e Manuel Oribe, presidente da República Orientaldo Uruguai e líder do Partido Blanco. Tendo como seus aliados osgovernadores das
províncias argentinas de Entre Rios e Corrientese o Partido Colorado uruguaio, o Império brasileiro se interpôs auma tentativa de união
de seus vizinhos do sul, que enfraqueceriaa posição brasileira no Rio da Prata e se tornaria uma ameaça nafronteira do Rio Grande do Sul,
há pouco pacificado e impedido dese separar do Brasil na Guerra dos Farrapos.
Coube à Marinha um grande momento neste curto conflito:a Passagem de Tonelero. Pela primeira vez se utilizando navios avapor em
um conflito externo, a Força Naval brasileira ultrapassou sobos disparos dos canhões dastropas Juan Manuel de Rosaso ponto fortificado
adversáriono Rio Paraná, o Passo deTonelero, e conduziu as tropasaliadas rio acima para umaposição de desembarquefavorável, onde foi
possível o ataque e a pos-terior vitória sobre as tropas adversárias.

33
HISTÓRIA NAVAL

Conflitos internos
Cabanagem
A primeira sublevação ocorrida no período regencial foi aCabanagem, no Grão-Pará, que se generalizou em 1835 com aocupação da
capital da província, Belém. O governo central enviouuma força interventora constituída de elementos da Marinha e doExército Imperial
que, após primeira tentativa frustrada dereconquistar a capital, desembarcou e a ocupou sem a resistênciados rebeldes. Contudo, os ca-
banos retomaram o fôlego para aluta com o crescimento da revolta no interior e retomaram acapital em agosto de 1835.
Durante o conflito, as forças militares atuaram contra focosrebeldes espalhados por um território inóspito e desconhecido, afloresta
amazônica. A Marinha bloqueou o porto de Belém,dificultando o seu abastecimento, bombardeou posições rebeldes,desembarcou tropas
do Exército e embrenhou-se nos riosamazônicos para dar combate aos mais isolados focos de revolta.
O desgaste que as forças militares impuseram aos cabanos levouos ao abandono da capital em maio de 1836 continuando a resistirno
interior. A luta se estendeu até 1840, com a ação conjunta daForça Naval e das tropas do Exército debelando a resistênciados cabanos
por todo o Pará.

34
HISTÓRIA NAVAL

Guerra dos Farrapos


A Guerra dos Farrapos, rebelião no sul do Império que durou dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma região de fronteira já conturbada
por conflitos externos. A Marinha novamente atuaria em cooperação com o Exército no transporte e abastecimento das tropas e apoian-
do ações em terra com o fogo dos canhões embarcados.
Porém, na Guerra dos Farrapos os navios de guerra estiveram envolvidos em pequenos combates navais com os farroupilhas. Os
combates não ocorreram em mar aberto, mas em águas restritas, como as Lagoas dos Patos e Mirim. O primeiro combate naval da Guerra
dos Farrapos opôs o Iate Oceano, da Marinha Imperial, e o Cúter Minuano, dos revoltosos, na Lagoa Mirim, quando o navio rebelde foi
posto a pique.
A pequena Força Naval que os farroupilhas mantinham naLagoa dos Patos foi completamente vencida em agosto de 1839,quando
o Chefe-de-Divisão John Pascoe Grenfell, comandante dasForças Navais no Rio Grande, apresou dois lanchões rebeldes emCamaquã. A
rebelião rio-grandense estendeu-se para SantaCatarina, onde os farroupilhas formaram uma pequena Força Navalcom navios mercantes
apresados e lanchões remanescentes dasoperações na Lagoa dos Patos e Mirim, que foi vencida pela Marinhaem um combate no porto de
Laguna. Foi neste conflito regionalque pela primeira vez a Marinha brasileira empregou um naviomovido a vapor em operações de guerra.

Sabinada
A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autoridade da Regência na Bahia, em novembro de 1837, foi combatida pela Marinha Impe-
rial com um bloqueio da província e o combate a uma diminuta Força Naval montada pelos rebeldes com navios apresados. A revolta foi
finalmente sufocada em 1838.

Balaiada
A Balaiada, agitação que tomou conta das Províncias do Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, reuniu a população pobre e os
escravos contra as autoridades constituídas da própria província. Em agosto de 1839, seguiu para o Maranhão o CapitãoTenente Joaquim
Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré, nomeado comandante da Força Naval em operação contra os insurretos.
Após estudar a região, armou pequenas embarcações que, enviadas para diversos pontos dos principais rios maranhenses, combate-
riam os rebeldes isoladamente ou apoiariam forças em terra. A partir de 1840 e até o final da Balaiada, o Capitão-Tenente Joaquim Mar-
ques Lisboa atuaria em cooperação com o então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que comandava a Divisão
Pacificadora do Norte, reunida para debelar a revolta. A união dos futuros patronos das forças singulares de mar e terra no combate à
Balaiada simboliza uma situação recorrente em todos os conflitos internos durante a Regência e o Segundo Império: a atuação conjunta
da Marinha e do Exército na manutenção da ordem constituída e da unidade do Império.

Revolta Praieira
A Revolta Praieira estourou em Pernambuco em novembrode 1848. Iniciada na capital, tomou corpo nas vilas e engenhos dazona da
mata e interior pernambucanos. Para combatê-la, tropasleais ao governo provincial deixaram Recife, a capital da província,para engajar
as forças praieiras que estariam no interior. Ao ver acapital desguarnecida, forças praieiras atacaram-na, em 2 defevereiro de 1849. O
pequeno contingente militar que guarnecia a cidade foi imediatamente apoiado pela Força Naval fundeada no porto. Contingentes de
marinheiros e fuzileiros navais desembarcaram dos navios para reunir-se aos defensores da capital na batalha, enquanto os canhões da
Marinha fustigaram as investidas dos revoltosos. A atuação da Marinha nesta revolta, embora breve, evitou que a capital provincial caísse
nas mãos dos rebeldes.

35
HISTÓRIA NAVAL

Aspectos do porto de Recife, Pernambuco, no século XIX. Deste porto, os pequenos navios de guerra da Força Naval comandada pelo
Capitão-de-Fragata Joaquim José Ignácio, partiam para combater as forças da Revolta Praieira nos pequenos portos e ancouradores no
Norte e no Sul da Província de Pernambuco.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinh

Conflitos externos
Guerra Cisplatina
O Brasil recém-independente envolveu-se numa guerra comas Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, pela posseda então
Província brasileira da Cisplatina, atual República Orientaldo Uruguai, anexada ainda por D. João VI, em 1821. Esta guerrapouco aparece
nos livros de história e, mesmo tendo durado quatroanos, entre 1825 e 1828, é desconhecida para a maioria dosbrasileiros.
O interesse pelo domínio daquelas terras não era novo. OImpério do Brasil e a Argentina herdaram as aspirações e as disputasdos
colonizadores portugueses e espanhóis pela margem esquerdado estuário do Rio da Prata. Nos séculos XVII e XVIII, o centro dadisputa era
a Colônia de Sacramento, o enclave português na região.
No início do século XIX, com os movimentos de independênciana América espanhola e portuguesa, a conflagração atingiu o Brasile a
Argentina, no conflito conhecido como Guerra Cisplatina.
A guerra não envolvia só a disputa pela posse do territórioda Província Cisplatina que, além do gado criado nos pampas e dedois
portos comerciais importantes (Montevidéu e Maldonado),não continha recursos naturais de monta, mas tinha como objetivoo controle
do Rio da Prata, área geográfica de suma importânciaestratégica desde o início da colonização européia na América doSul. No estuário
do Rio da Prata desembocavam dois grandes rios(Uruguai e Paraná), que constituíam o caminho natural para apenetração no continente
sul-americano, representando umaestrada fluvial para a colonização, o acesso aos recursos naturais e a viabilização das trocas comerciais
por todo o interior da América do Sul.
Apesar do controle português e, depois de 1822, brasileiro, a Cisplatina, ou Banda Oriental, mantinha uma população de ascendência
e hábitos hispânicos, culturalmente distantes dos brasileiros. Os cisplatinos, liderados por Juan Antonio Lavalleja, iniciaram um levante
buscando sua independência, procurando apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata, o único Estado Nacional à época constituído na
Bacia do Rio da Prata que poderia rivalizar com o Império brasileiro.
O Estado argentino, naquela época, era formado por váriasprovíncias com alto grau de autonomia, que reconheciam aliderança exercida
pela Província de Buenos Aires. A confederaçãode províncias argentinas tinha um interesse comum na sublevaçãodos cisplatinos contra o Impé-
rio brasileiro: a possibilidade deincorporação da Banda Oriental aos seus domínios. Por isso, deramapoio político, militar e financeiro à revolta,
passando,posteriormente, a envolver-se oficialmente na luta.

36
HISTÓRIA NAVAL
frontado pela Força Naval brasileira era lideradopelo experiente
irlandês William George Brown, comandanteda pequena Esquadra
sediada em Buenos Aires, desde as lutaspela independência daque-
le país. O adversário, apesar de contarcom um menor número de
navios de guerra, tinha suas ações facilitadas não só pelo conheci-
mento da conformação hidrográfica do estuário do Rio da Prata,
como também por permanecer operando próximo ao seu porto
base, o ancoradouro de Los Pozos, em Buenos Aires, onde seus na-
vios eram abastecidos e reparados.
Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval imposto pela
Esquadra brasileira provocou o primeiro embate entre as forças
navais. O Combate de Colares ocorreu em 9 de fevereiro de 1826,
quando a Esquadra argentina, composta de 14 navios, deixou seu
ancoradouro para empreender uma ação de desgaste à Força Naval
brasileira em bloqueio, também composta de 14 navios. As forças
navais adversárias, dispostas em colunas, trocaram tiros de canhão
a grande distância uma da outra, causando perdas humanas e ava-
rias materiais reduzidas de parte a parte. A Esquadra argentina se
retirou para o refúgio de Los Pozos e a Força Naval brasileira foi
Para se opor à sublevação, nitidamente suportada pela Argen- fundear entre os Bancos de Ortiz e Chico
tina, o Brasil desenvolveu uma campanha militar na Banda Orien-
tal entre os anos de 1825 e 1828. Além de tropas, deslocou vários
meios navais da Esquadra recém-formada na Guerra de Indepen-
dência para o Estuário da Prata, comandadas pelo ViceAlmirante
Rodrigo Lobo. Com o fortalecimento das forças de Lavalleja na Ban-
da Oriental, as Províncias Unidas do Rio da Prata oficializaram seu
apoio à revolta, declarando anexada a Banda Oriental ao território
argentino, o que significava uma declaração de guerra ao Governo
Imperial brasileiro.
Destacaremos aqui a participação brasileira na guerra naval,-
que teve como seu principal palco o Estuário do Rio da Prata. Aên-
fase no aspecto naval não indica que as operações de guerracon-
duzidas pelos Exércitos em terra tenham sido menosimportantes
para a história da Guerra Cisplatina. O ExércitoBrasileiro e as forças
de Lavalleja, somadas ao Exército argentino,confrontaram-se em O passo posterior do comandante das forças argentinas teria
diversas batalhas, mas até o final da guerra,em 1828, nenhum dos conseqüências muito mais significativas para os destinos da guerra
oponentes alcançou uma nítida vantagemna guerra terrestre. no mar e em terra se bem-sucedido. Seu alvo era a Colônia de Sa-
A batalha mais significativa da Guerra Cisplatina, a Batalha cramento, uma praça fortificada situada na margem esquerda do
doPasso do Rosário, ou Ituzaingó, como os argentinos e uruguaios Rio da Prata e guarnecida por 1.500 homens chefiados pelo Briga-
achamam, ocorrida em 20 de fevereiro de 1827, teve resultadostão deiro Manoel Jorge Rodrigues, complementados por uma pequena
indecisos como toda a guerra terrestre que se travou naProvíncia força de quatro navios, comandada pelo Capitão-de-Fragata Frede-
Cisplatina. Nenhum dos lados conseguiu impor-se sobreo outro, rico Mariath. Sete navios da Esquadra argentina, capitaneados pela
não sendo possível apontar vitoriosos nem derrotados. Fragata 25 de Mayo, romperam o bloqueio brasileiro ao largo de
Contudo, a função desta obra é destacar a participação da Ma- Buenos Aires e fizeram vela para a Colônia de Sacramento, simulta-
rinhabrasileira na nossa história. Assim, descreveremos as opera- neamente aquela praça era cercada por tropas.
çõesnavais realizadas na Guerra Cisplatina. Devido ao maior poder de combate da Força Naval Argentina
A Marinha Imperial brasileira na Guerra Cisplatina lutou coma perante a flotilha brasileira que defendia a Colônia, as tripulações
Força Naval argentina, mas também atuou contra os corsáriosque, e os canhões dos navios brasileiros foram desembarcados e incor-
com Patentes de corso emitidas pelas Províncias Unidas doRio da porados às defesas de terra. Em 26 de fevereiro de 1826, os navios
Prata e pelo próprio Exército de Lavalleja, atacavam osnavios mer- argentinos e as tropas de cerco iniciaram o bombardeio, respondi-
cantes brasileiros por toda a nossa costa. do pelas fortificações da Colônia do Sacramento, que inutilizaram
O embate entre a Esquadra brasileira e a Esquadra argentina- um dos navios adversários.
teve lugar no estuário do Rio da Prata e nas suas proximidades –re- Repelido o primeiro ataque, os defensores da Colônia do Sa-
gião com grande número de bancos de areia que dificultava anave- cramento enviaram uma escuna para pedir auxílio às forças navais
gação. Isto ajudou os argentinos a desenvolver uma variaçãonaval brasileiras estacionadas em Montevidéu, esperando que o socorro
da guerra de guerrilha. Os navios argentinos atacavam e,quando chegasse o mais rápido possível àquela praça sitiada.
repelidos, escapavam da perseguição dos navios brasileirospelos O Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu de imediato a cidade
estreitos canais que se formavam entre os vários bancos deareia da acossada pelo inimigo. Na noite de 1 / de março, a Força Naval argen-
região, em sua maioria desconhecidos dos marinheirosbrasileiros. tina, reforçada por seis canhoneiras, tentou desembarcar 200 homens
Como primeira ação de guerra, a Força Naval brasileira noRio naquela praça. Depois de severa luta, os atacantes argentinos foram
da Prata, comandada pelo Vice-Almirante Rodrigo Lobo,estabele- repelidos, com a perda de duas canhoneiras e muitos homens, não
ceu um bloqueio naval no Rio da Prata, pretendendoimpedir qual- sem antes conseguirem incendiar um dos nossos navios. Os navios
quer ligação marítima entre as Províncias Unidas e osrebeldes de argentinos só desistiram do cerco em 12 de março, escapando da Es-
Lavalleja, e dos dois adversários com o exterior. Oinimigo a ser con- quadra brasileira, que chegara com atraso em defesa de Sacramento.

37
HISTÓRIA NAVAL
A Força Naval argentina empreendia ações mais ousadas contra a Esquadra brasileira. De uma troca de tiros sem muitas conseqüên-
cias, em fevereiro, tentou a conquista de uma praça fortificada na margem esquerda do Rio da Prata que, se conquistada, transformaria-se
em um importante ponto de abastecimento das tropas uruguaias e argentinas.
Uma das missões da Esquadra argentina era justamente a manutenção do abastecimento dos exércitos que lutavam na Província
Cisplatina. Como obstáculo, antepunha-se a Esquadra brasileira comandada pelo Almirante Rodrigo Lobo que, apesar da ineficiência desse
início de bloqueio naval (pelos primeiros embates navais da guerra, observa-se que a Esquadra argentina movimentava-se com relativa
facilidade), mantinha-se superior em número às forças navais comandadas por Brown.
O Comandante da Esquadra argentina William Brown reuniu sua capitânia, a Fragata 25 de Mayo, e dois brigues em uma audaciosa
ação para capturar navios que se dirigissem a Montevidéu, tentando aumentar o tamanho de sua Esquadra e tomar alguma carga de valor
em navios mercantes. Em 10 de abril de 1826, conseguiu capturar a pequena Escuna Isabel Maria. No dia seguinte, ao perseguir um navio
mercante, a Fragata 25 de Mayo aproximou-se muito do porto de Montevidéu, onde foi reconhecida pelos navios da Esquadra brasileira,
mesmo arvorando a bandeira francesa.
Saiu em sua perseguição a Fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton, ambos, navio e comandante,
veteranos da Guerra de Independência e recémchegados para reforçar a Força Naval brasileira no Rio da Prata.
Acompanharam o encalço à capitânia argentina quatro outros pequenos navios, mas o combate se concentrou nos navios de maior
porte, com a Fragata Niterói trocando disparos com a Fragata 25 de Mayo e com um dos brigues que a acompanhava. Com o cair da noite,
os navios argentinos, com graves avarias, retiraram-se para Buenos Aires, dando por encerrado o embate que ficou conhecido como o
Combate de Montevidéu.
Após o malogro da tentativa de capturar navios ao largo do porto de Montevidéu, William Brown planejou outra ação para reforçar
sua esquadra com navios brasileiros capturados.

Tencionava abordar e capturar a Fragata Niterói, o mesmo navio que frustrou sua incursão anterior. Na noite de 27 de abril, sete na-
vios argentinos rumaram para próximo de Montevidéu, onde os navios brasileiros se reuniam, e tentaram identificar seu alvo.
Enganados pela escuridão, investiram contra a Fragata Imperatriz que, tendo percebido a aproximação do inimigo, se preparara para
o combate. Os navios argentinos 25 de Mayo e Independencia tentaram a abordagem, mas foram repelidos pela tripulação da Imperatriz.
O comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fragata Luís Barroso Pereira, liderou seus homens na renhida luta até tombar morto no
convés, atingido por disparos do inimigo. Foi uma das duas vítimas fatais da Imperatriz no combate.
A 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por Brown foi avistada pelos navios brasileiros quando tentava escapar do bloqueio
naval ao seu porto. Os navios argentinos tentaram alcançar o Banco de Ortiz na esperança de atrair os perseguidores, que, com navios de
maior porte, encalhariam naquele banco de areia, tornando-se alvos imóveis para seus canhões.

Momento em que a Fragata argentina 25 de Mayo aborda a Fragata Imperatriz.


Aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

38
HISTÓRIA NAVAL
Contudo, no combate que ficou conhecido como o do Banco de para apoiar as tropas argentinas que lutavam junto aos cisplatinos.
Ortiz, foi justamente a Fragata argentina 25 de Mayo a primeira a Ao mesmo tempo, o resto da Esquadra argentina, comandada por
ficar encalhada, logo seguida pela nossa Fragata Brown, fez vela para atrair a atenção da força brasileira. Nem a 2a
Niterói. Os dois navios imobilizados empenharam-se em um Divisão, junto a Buenos Aires, nem a 3a, ainda em águas da Colônia
duelo de artilharia. A Niterói conseguiu livrar-se do encalhe. A se- de Sacramento, alcançaram os navios de transporte argentinos.
guir, a 25 de Mayo também escapou do Banco de Ortiz e se reuniu Em 11 daquele mês, as 2a e 3a Divisões, comandadas por Nor-
ao restante da Esquadra argentina. O Combate do Banco de Ortiz ton, executaram o plano de ataque e investiram contra a Esquadra
acabou sem grandes perdas para ambos os adversários, mas mos- argentina em Los Pozos. Novamente, os bancos de areiaprotege-
trou o perigo que os bancos de areia do Estuário do Rio da Prata ram os navios argentinos. O comandante da Força Navalbrasileira,
representavam para as Esquadras em luta. Norton, desistiu do ataque que seria infrutífero. Apesardos insuces-
Em 13 de maio de 1826, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes, o sos da ação planejada, a Escuna Isabel Maria, apresadapelos argen-
Barão do Rio da Prata, substituiu o Almirante Rodrigo Lobo, que tinos, foi recuperada.
tinha se mostrado pouco capaz no comando da Força Naval do Considerando o malogro do último ataque brasileiro à Esqua-
Império do Brasil em operações de guerra no Rio da Prata. A pri- dra argentina como sua vitória, Brown preparou uma nova investida
meira medida tomada pelo Almirante Pinto Guedes foi estabelecer à 2a Divisão, determinado a livrar Buenos Aires do bloqueio naval.
uma nova disposição das forças navais que reforçasse o bloqueio Protegidos pela noite, em 29 de julho de 1826, 17 navios da Esqua-
naval. Dividiu suas forças em quatro divisões, sob o comando de dra argentina tentaram surpreender os navios sob o comando do
oficiais capazes e experientes, devendo em todas as oportunida- Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton. Porém, alertados por uma
des engajar o inimigo, obrigando-o a aceitar a luta. A 1a Divisão, escuna que fazia a vigilância, os brasileiros responderam ao ata-
reunindo os maiores e mais poderosos navios que estavam no Rio que. O combate tornou-se confuso; a mesma noite que escondia os
da Prata, formaria a linha exterior do bloqueio, impedindo que na- atacantes, prejudicava a precisão dos disparos e a identificação do
vios entrassem no Rio da Prata para abastecer a Argentina e seu inimigo. A possibilidade de atingir navios amigos determinou que
Exército lutando na Cisplatina e tentando capturar os corsários que ambos os lados suspendessem a luta.
transitassem pela região. A 2a Divisão, constituída de navios mais Ao alvorecer, o combate recomeçou. O Comandante da Esqua-
leves, manobreiros e numerosos, operaria no interior do estuário, dra argentina Brown conduziu seu navio capitânia, a Fragata 25 de
efetuando um rigoroso bloqueio naval entre a Colônia de Sacra- Mayo, na direção dos navios brasileiros, mas só foi acompanhado
mento, Buenos Aires e a Enseada de Barregã, isolando a Esquadra pela Escuna Rio de La Plata. Os dois navios argentinos receberam
argentina no seu ancoradouro e tentando impedir o abastecimento todo o peso dos disparos dos canhões brasileiros e ficaram com-
por mar da capital argentina. A 3a Divisão, composta de pequenos pletamente inutilizados. O chefe das forças argentinas foi obrigado
navios adequados à navegação fluvial, defenderia a Colônia do Sa- a transferir-se sob fogo para um navio argentino que ousou apro-
cramento e patrulharia os Rios Uruguai, Negro e Paraná, que for- ximar-se. O restante da Esquadra argentina retirou-se para a segu-
mavam a fronteira natural entre as Províncias Unidas do Rio da Pra- rança de seu ancoradouro. O Combate de Lara-Quilmes foi a última
ta e a Província Cisplatina, impedindo que as forças de Lavalleja e tentativa da Esquadra argentina de destruir os navios da 2a Divisão
o Exército argentino fossem supridos desde o território argentino. da Esquadra Imperial e desmantelar o bloqueio naval brasileiro em
A 4a Divisão era formada por navios em reparo, e foi mantida em torno de Buenos Aires.
Montevidéu, para atuar como uma força de reserva. A reorganiza- Depois dessa expressiva vitória das forças navais brasileiras,
ção das forças navais brasileiras mostrou sua eficiência na conten- no começo do ano de 1827, a 3a Divisão, composta pelos menores
ção dos movimentos da Esquadra adversária. navios da Esquadra brasileira, comandada pelo Capitão-de-Fragata
Em 15 de maio de 1826, as três linhas de bloqueio determina- Jacinto Roque Sena Pereira, foi derrotada no Combate de Juncal.
das pelo novo comandante da Força Naval brasileira no Rio da Prata
já se achavam em posição. Em 23 de maio, a Esquadra argentina
decidiu testar a resistência da Força Naval brasileira responsável
pelo bloqueio de Buenos Aires, a 2a Divisão da Esquadra Imperial,
chefiada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton.
Os navios brasileiros engajaram-se no Combate das Balizas Ex-
teriores, mesmo com o risco de encalharem nos bancos de areia
em torno de Buenos Aires. Os navios argentinos perceberam a re-
solução da força bloqueadora e voltaram ao seu ancoradouro, em
Los Pozos. Dois dias depois, o navio capitânia da 2a Divisão, a Fraga-
ta Niterói, navegando sozinha, atraiu a Esquadra argentina para o
combate, mas, novamente, a troca de tiros não causou danos signi-
ficativos a nenhum dos lados.
Mesmo a nova estratégia de bloqueio, mais agressiva, não se
mostrava eficiente na destruição dos navios argentinos, que se
mantinham protegidos no ancoradouro de Los Pozos.
No começo de junho de 1826, buscando um engajamento deci-
sivo, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes planejou atacar a Esquadra
inimiga dentro de Los Pozos. Para isso, a 2a Divisão foi reunida à 3a No final do ano anterior a 3a Divisão recebeu ordens de subir
Divisão da Esquadra Imperial, composta por navios menores que o Rio Uruguai para auxiliar as operações do Exército Imperial Brasi-
poderiam transpor os bancos de areia que protegiam o ancoradou- leiro na Cisplatina. Sabendo daquela movimentação, o comandan-
ro de Buenos Aires. te da Esquadra argentina reuniu uma força composta de 16 navios
Em 7 de junho, antes que as duas forças brasileiras se reunis- adaptados à navegação fluvial para destruir a 3a Divisão brasileira
sem, cinco navios de transporte argentinos, escoltados por navios e permitir o livre trânsito de reforços vindos das Províncias Unidas
de guerra, largaram de Buenos Aires com soldados e suprimentos para os seus exércitos na Cisplatina.

39
HISTÓRIA NAVAL
Em 29 de dezembro de 1826, a Força Naval argentina atacou As grandes perdas argentinas no Combate de MonteSantiago,
a 3a Divisão, fundeada na foz do Rio Iaguari, mas foi repelida pelo em abril de 1827, ratificaram a opção pela guerra decorso. Durante
intenso fogo da artilharia dos pequenos navios de Sena Pereira e todo o conflito, as Províncias Unidas armaramcorsários. Alguns cor-
recuou, descendo o Rio Uruguai. Embora tivesse repelido o ataque sários eram armados no porto de BuenosAires e conseguiam rom-
argentino, a 3a Divisão brasileira se viu presa dentro do Rio Uruguai, per o bloqueio naval brasileiro; outrosvinham das bases de corsá-
uma vez que os navios inimigos postaram-se na foz daquele rio. rios de Carmen de Patagones e San Blas,em território das Províncias
Foi organizada uma Força Naval com unidades da 2a Divisão Unidas do Rio da Prata, e havia mesmoos que, recebendo as paten-
para combater os argentinos que bloqueavam a 3a Divisão no inte- tes de corso do governo de BuenosAires em portos do exterior,daí
rior do Rio Uruguai, chamada de Divisão Auxiliadora. Apesarda ur- largavam para acossar osnavios mercantes nas costasbrasileiras.
gência no socorro, a progressão desta Força Naval foi lenta edifícil,
devido ao grande número de bancos de areia que tornavam aque-
las águas pouco profundas e inadequadas para navios de maior
porte, como os que compunham a 2a Divisão brasileira.
A Corveta Maceió, a capitânia e o maior navio da divisão, ficou
isolada dos outros navios brasileiros perto de um banco de areia
conhecido como Playa Honda. A Maceió era o alvo perfeito para as
forças argentinas, sempre em busca de navios para reforçar sua já
diminuída Esquadra. Cinco navios inimigos aproximaram-se da cor-
veta, que estava acompanhada apenas da Escuna Dois de
Dezembro, e tentaram a abordagem. A tripulação da Maceió
repeliu o inimigo com o fogo de seus 20 canhões. Por fim, os navios
argentinos recuaram, mas a missão da Divisão Auxiliadora ainda
não terminara. Os navios brasileiros da 3a Divisão permaneciam
presos no Rio Uruguai.
No início de fevereiro de 1827, a 3a Divisão desceu o Rio Uru-
guai para combater a Força Naval argentina que o bloqueava. Combate Naval de Monte Santiago (7 e 8 de abril de 1827).
Com ajuda da Divisão Auxiliadora, planejou-se colocar o inimi- Desenho de Gaston Roullet segundo as indicações do Barão do
go entre os canhões das duas divisões brasileiras. Rio Branco.
Em 8 de fevereiro, começava o Combate de Juncal, nome to- Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
mado da Ilha fluvial de Juncal, segmento do Rio Uruguai onde os
navios da 3a Divisão foram derrotados pela Força Naval argentina, A guerra de corso empreendida contra o nossocomércio ma-
pois não receberam o esperado apoio da Divisão Auxiliadora, que rítimo (à época,como hoje, essencial paraeconomia nacional) foi
permaneceu longe do local da batalha. maisefetiva contra o esforço deguerra brasileiro do que aEsquadra
O bloqueio naval mais rigoroso realizado desde maio de 1826 argentina. A operação ofensiva que a MarinhaImperial brasileira re-
pela 2a Divisão da Esquadra Imperial mantinha a maior parte do alizou como bloqueio naval no Pratacoexistiu com a ação defensiva
tempo a Esquadra argentina confinada em seuancoradouro. Po- na vigilância das extensas águasterritoriais brasileiras, defendendo
rém, a Esquadra brasileira não conseguia umavitória definitiva fren- nosso comércio marítimo doscorsários.
te ao inimigo, não evitando pequenasincursões que, algumas vezes, Exemplos da ação da Marinha Imperial no combate aoscorsá-
mostravam-se desastrosas, comoo combate fluvial em Juncal. rios foram as duas incursões da Esquadra sediada no Rio daPrata
Já nesse período da guerra no mar, o governo de Buenos Aires às bases corsárias de Carmen de Patagones e San Blas, naregião da
concentrava seu esforço na guerra de corso, que afetava ocomér- Patagônia. Ambas ocorreram em 1827 e pretendiamdestruir esses
cio marítimo do Império brasileiro. Mesmo a Esquadra argentina, verdadeiros ninhos de corsários e recapturar algunsdos navios mer-
já muito debilitada depois do Combate de LaraQuilmes, cedia seus cantes que estes tinham tomado.
navios para campanhas de corso na costa brasileira. E foi com esse Contudo, as condições hidrográficas da costa argentina daPa-
propósito que os quatro principais navios argentinos tentaram tagônia, completamente desconhecida dos brasileiros, e,especial-
romper o bloqueio brasileiro na noite de 6 de abril de 1827. mente na incursão a Carmen de Patagones, a falta deinformação
A Força Naval argentina, composta pelos Brigues República, sobre as defesas a serem enfrentadas determinaram ofracasso das
Congresso e Independência, e pela Escuna Sarandi, comandada duas expedições.
pelo próprio comandante da Esquadra argentina, William Brown, Entretanto, o combate aos corsários foi mais efetivo noblo-
foi interceptada pelos navios da 2a Divisão quando tentava contor- queio naval empreendido a outra de suas “bases”, a localizadano
nar o bloqueio naval brasileiro. Rio Salado. Outros corsários também foram batidos no marpela
Neste último grande encontro entre as forças adversárias, co- Marinha Imperial, como o Brigue Niger, capturado em marçode
nhecido como Combate de Monte Santiago, a 2a Divisão brasileira, 1828, e o Brigue General Brandsen, destruído por naviosbrasileiros
após longa campanha de corso.
reforçada pelos navios das outras duas divisõesbloqueadoras, fusti-
A indefinição da campanha terrestre e o esgotamentoeconô-
gou os navios argentinos com os seus canhões,que, encurralados en-
mico e militar de ambos os contendores levaram o Brasil aaceitar a
tre a força brasileira e os bancos de areia,foram sendo destroçados.
mediação da Grã-Bretanha para o fim da guerra. AConvenção Pre-
Os Brigues República e Independênciaforam abordados e capturados
liminar de Paz foi assinada entre o Império do Brasile as Províncias
pelos brasileiros. O Brigue Congressoe a Escuna Sarandi, navios me-
Unidas do Rio da Prata em 27 de agosto de 1828.
nores e mais leves, conseguiram passarpelos bancos de areia e re-
O acordo estipulava que ambos os lados renunciariam a suas-
fugiaram-se em Buenos Aires, ainda assimbastante atingidos pelos
pretensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria um paísinde-
canhões brasileiros e com muitos mortose feridos a bordo. pendente: a República Oriental do Uruguai.
Foi o golpe final contra a Esquadra argentina e ademonstração O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos conflitosna
de que o bloqueio naval organizado pelo AlmiranteRodrigo Pinto região. A Marinha Imperial brasileira permaneceria guarnecendoa
Guedes foi efetivo no combate ao inimigo. segurança do Império do Brasil no Rio da Prata

40
HISTÓRIA NAVAL

Guerra contra Oribe e Rosas


Terminada a revolta que sublevou as Províncias do RioGrande e de Santa Catarina, o Império brasileiro pôde retomara vigilância na
fronteira sul e ater-se ao conflito que crescia naárea do Rio da Prata. Mesmo com o fim da Guerra Cisplatina ea independência da Repú-
blica Oriental do Uruguai, as liderançaspolíticas argentinas continuavam com a pretensão de restituir omando de Buenos Aires sobre o
território do Vice-Reinado doPrata.
O projeto de anexação do Uruguai ao território argentinoencontrou em Juan Manuel de Rosas liderança máxima daConfederação
Argentina desde 1835 e em Manuel Oribe, líderdo partido de oposição ao governo uruguaio (o Partido Blanco),seus executores.
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à anexação, apoiava o governo constituído do Uruguai, exercido pelo Partido Co-
lorado. A situação política no Uruguai aproximava-se a de umaguerra civil, com tropas partidárias de Oribe e apoiadas por Rosascercando
a capital, Montevidéu.

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HISTÓRIA NAVAL
Em 1851, o Governo brasileiro procedeu uma aliança com o governo uruguaio e com um oposicionista de Rosas, o governador da
Província argentina de Entre Rios, Justo José de Urquiza, para defender o Uruguai do ataque das forças de Rosas e Oribe.
A ação da Marinha novamente seria realizada em estreitacolaboração com o Exército Imperial. O comando da Força Navalfoi entregue
ao Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, veteranodas lutas na Independência e na Cisplatina.
Somente com a intervenção da força terrestre, as tropasque cercavam Montevidéu capitularam e Manuel Oribe foiderrotado. A
Esquadra brasileira, disposta ao longo do Rio da Prata,impediu que as tropas vencidas pudessem evacuar para a margemdireita, o lado
argentino.
Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus aliados platinos voltaram-se contra Rosas, que mantinha-se como uma ameaça à
estabilidade da região. Nessa nova ação militar coube à Marinha a tarefa de transportar as tropas aliadas pelo Rio Paraná até a localidade
de Diamante, para ali desembarcá-las.
A Força Naval brasileira, composta por quatro navios com propulsão a vapor e três navios a vela, tinha como obstáculo o
Passo de Tonelero, nas proximidades da Barranca de Acevedo,onde o inimigo instalara uma fortificação guarnecida por 16 peçasde
artilharia e 2.800 homens. Devido à pouca largura do rio naqueletrecho, os navios brasileiros seriam obrigados a passar a menos de400
metros daquela fortificação, recebendo o peso da artilhariainimiga. A solução encontrada pelo Chefe-de-Esquadra Grenfellfoi o emprego
conjunto dos navios a vela e a vapor na operaçãode transposição daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilhariapostada por todo seu costado, substituída nos navios a vapor pelasrodas late-
rais), foram rebocados pelos navios a vapor, mais rápidose ágeis nas manobras.
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851, com as tropas desembarcando em Diamante com sucesso.
Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram também natransposição do rio pelas tropas oriundas das províncias argentinasalia-
das que tinham marchado até aquela posição.
O Exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tropasbrasileiras e de seus aliados platinos, em fevereiro de 1852. APassagem de To-
nelero representou a única operação ofensivarealizada pela Marinha Imperial naquele conflito.
Contudo, o emprego da Força Naval no transporte de tropaspara a área do conflito e, notadamente depois de Tonelero, natransposi-
ção das tropas aliadas da margem uruguaia para territórioargentino, no Rio da Prata e Rio Paraná, constituiu fator essencialpara o sucesso
das ações militares desenvolvidas pelos aliadoscontra Rosas e Oribe.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
1825 a 1828 Guerra Cisplatina.
1835 a 1838 Cabanagem (Província do Pará).
1835 a 1845 Guerra dos Farrapos (Província do Rio Grande do Sul).
1837 a 1838 Sabinada (Província da Bahia).
1838 a 1841 Balaiada (Províncias do Maranhão e Piauí).
1848 a 1849 Revolta Praieira (Província de Pernambuco)
1850 a 1852 Guerra contra Oribe e Rosas.

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HISTÓRIA NAVAL
FIXAÇÃO – e acreditava que teria o apoio dos blancos uruguaios e do-
1– Quais foram duas das principais ações efetuadas pela Mari- argentino Urquiza. Tal não ocorreu. Ele superestimou o poderioe-
nha Imperial brasileira no combate às revoltas internas da Regência conômico e militar do Paraguai e subestimou o potencial doPoder
e início do reinado de D. Pedro II? Militar brasileiro e a disposição para a luta do Brasil.
2– Durante o reinado de D. Pedro I, quais eram as duas princi-
pais forças políticas contrárias? Paraguai: da independência à Guerra da Tríplice Aliança
3– Cite uma das atividades militares desenvolvidas pela Mari- Ex-colônia espanhola na América do Sul, o Paraguai foi dire-
nha Imperial Brasileira na Guerra Cisplatina. tamente beneficiado pelapolítica expansionista de Napoleão Bo-
4– Qual foi a área de atuação da Marinha comum aos dois con- naparte na Europa. A Espanha era aliada da França nasGuerras
flitos externos que o Brasil se envolveu no período entre o reinado Napoleônicas, inclusive permitindo que as tropas de Napoleão atra-
de D. Pedro e o início do reinado de seu herdeiro, D. Pedro II? vessassem seu território para invadir Portugal, em 30 de novembro
5– Por que uma das atividades essenciais que a Marinha provia 1807, um dia após a Família Real e a Corteportuguesa terem ruma-
em qualquer operação militar durante as várias revoltas eclodidas do para o Brasil.
nas províncias durante o período das regências era o transporte e Enquanto a invasão de Portugal se sucedia, Napoleão forçou
abastecimento das tropas que combatiam os rebeldes? a abdicação do Rei Carlos IVde Espanha e de seu herdeiro, D. Fer-
nando, conduzindo ao trono espanhol o seu irmão JoséBonaparte.
Os espanhóis revoltaram-se contra os usurpadores franceses, ob-
A ATUAÇÃO DA MARINHA NA GUERRA DA TRÍPLICE tendo apoio dastropas inglesas estacionadas no Norte de Portugal.
ALIANÇA CONTRA O GOVERNO DO PARAGUAI - O As tropas anglo-portuguesas expulsariam os franceses em 1813 e
BLOQUEIO DO RIO PARANÁ E A BATALHA NAVAL DO Fernando VII restauraria o trono em 1814, pelo Tratado de Valença.
RIACHUELO; NAVIOS ENCOURAÇADOS E A INVA- Neste ínterim, com o trono espanhol ocupado por estrangei-
SÃO DO PARAGUAI; CURUZU E CURUPAITI; CAXIAS ros, o isolamento da metrópole favoreceu aos patriotas hispano-
E INHAÚMA; PASSAGEM DE CURUPAITI; PASSAGEM -americanos das colônias espanholas na América que desejavam a
DE HUMAITÁ; O RECUO DAS FORÇAS PARAGUAIAS; O independência das terras em que viviam. O Paraguai declara a sua
AVANÇO ALIADO E A DEZEMBRADA; A OCUPAÇÃO DE independência, derrubando as autoridades espanholas locais a 15
ASSUNÇÃO E A FASE FINAL DA GUERRA de maio de 1811 e derrotando, neste mesmo ano, tropas argenti-
nas que queriam sua adesão às Províncias Unidas do Rio da Prata
(atual Argentina).
A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o Daí para a frente, as relações com a Argentina seriam compli-
Governo do Paraguai cadas. Assumiu o governo do Paraguai uma junta composta por
Sinopse três membros. Em 1817, um dosmembros da junta, Dr. José Gaspar
A livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e onorte Rodriguez de Francia, por maioria no Congresso, passou a sero Di-
do Paraguai eram motivos de discordância entre os doispaíses. Não tador Perpétuo do Paraguai. O Dr. Francia adotou uma política de
se chegou a um acordo satisfatório até a conclusãoda Guerra da isolamento em relação aoresto do mundo. Consolidou a indepen-
Tríplice Aliança. Para os brasileiros, era muitoimportante acessar, dência do país e, enquanto governou, ela não foi contestadaoficial-
sem empecilhos, a Província de MatoGrosso, navegando pelo Rio mente. O Brasil foi o primeiro país que a reconheceu.
Paraguai. Sabendo disto, osparaguaios mantinham a questão dos Por seu turno, a Argentina não apenas não reconhecia a in-
limites, que reivindicavamassociada à da livre navegação. O litígio dependência do Paraguai, comotambém não autorizava quaisquer
existia, principalmenteem relação a um território situado à margem relações exteriores através de território argentino. Mesmo oses-
esquerda do Rio Paraguai, entre os Rios Apa e Branco, ocupado por trangeiros em missão oficial eram obrigados a chegar a Assunção
brasileiros. sem transitar por territórioargentino. O acesso ao mar também era
Apesar dessas questões, o entendimento entre o Brasil e oPa- fundamental para o Paraguai.
raguai era cordial, excetuando-se algumas crises que nãochegaram Em 1844, Carlos López foi aclamado Presidente da República
a ter maiores conseqüências. Interessavaprincipalmente ao Impé- do Paraguai por um período de dez anos. Durante seu governo, in-
rio que o Paraguai se mantivesse forada Confederação Argentina, centivou a abertura ao comércio internacional e o país começou a
que muitas dificuldades lhe vinhacausando, com sua permanente participar dos acontecimentos políticos da região. Já no ano seguin-
instabilidade política. te, firmou uma convenção de aliança ofensiva e defensiva com a
Com a morte de Carlos López, ascendeu ao governo doPara- Província de Corrientes, declarou guerra a Rosas e enviou 4 mil ho-
guai seu filho, Francisco Solano López, que ampliou a políticaexter- mens, comandados por um de seus filhos, o jovem Francisco Solano
na do País, inclusive estabelecendo laços de amizade com oGeneral López, para Corrientes. Solano López viria a ser o ditador paraguaio
Justo José de Urquiza, que liderava a Província argentinade Entre que provocou a Guerra da Tríplice Aliança.
Rios, e com o Partido Blanco uruguaio. Essas alianças,sem dúvida, Os seguintes atos de hostilidade do Paraguai levaram à assina-
favoreciam o acesso do Paraguai ao mar. tura do Tratado da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai,
Com a invasão do Uruguai por tropas brasileiras, nainterven- pelo Brasil, Argentina e Uruguai, em 1° de maio de 1865:
ção realizada em 1864, contra o governo do Presidenteuruguaio · o apresamento do Vapor brasileiro Marquês de Olinda, que
Manuel Aguirre, do Partido Blanco, Solano Lópezconsiderou que viajava para Mato Grosso transportando o novo presidente dessa
seu próprio país fora agredido e declarou guerraao Brasil. Aliás, ele província, em 12 de novembro de 1864, em Assunção;
havia enviado um ultimato ao Brasil, que foraignorado. Como foi · a invasão do Sul de Mato Grosso por tropas paraguaias, em 28
negada pelos portenhos permissão para queseu exército atraves- de dezembro de 1864; e
sasse território argentino para atacar o RioGrande do Sul, invadiu a · a invasão de território da Argentina por tropas paraguaias, em
Província de Corrientes, envolvendo aArgentina no conflito. 13 de abril de 1865, ocupando a Cidade de Corrientes e apresando
O Paraguai estava se mobilizando para uma possível guerra- os vapores argentinos Gualeguay e 25 de Mayo.
desde o início de 1864. López se julgava mais forte – o queprovavel-
mente era verdadeiro, no final de 1864 e início de 1865

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HISTÓRIA NAVAL
Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsãomis-
ta, eram adequados para operar no mar e não nas condiçõesde
águas restritas e pouco profundas que o teatro de operaçõesnos
Rios Paraná e Paraguai exigia; a possibilidade de encalhar eraum
perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com cascode
madeira, eram muito vulneráveis à artilharia de terra,posicionada
nas margens.
Era uma época de freqüentes inovações tecnológicas nohemis-
fério norte e a Guerra Civil Americana trouxera muitasnovidades
para a guerra naval e, especificamente, para o combatenos rios.
Sua influência, logo depois dessa primeira fase de naviosde madei-
ra, na Guerra da Tríplice Aliança fez-se sentir,principalmente, com
o aparecimento dos navios protegidos porcouraça de ferro, proje-
tados para a guerra fluvial, e a mina naval.
Todos os navios da Esquadra paraguaia, exceto um, eram na-
vios de madeira, mistos, a vela e a vapor, com propulsão por rodas
de pás. Embora todos eles fossem adequados para navegar nos
rios, somente o Taquary era um verdadeiro navio de guerra; os ou-
tros, apesar de convertidos, não foram projetados para tal.
Os paraguaios desenvolveram a chata com canhão comoarma
de guerra. Era um barco de fundo chato, sem propulsão,com ca-
nhão de seis polegadas de calibre, que era rebocado atéo local de
utilização, onde ficava fundeado. Transportava apenasa guarnição
do canhão e sua borda ficava próximo da água,deixando à vista um
reduzidíssimo alvo. Via-se somente a bocado canhão acima da su-
perfície da água.
Discriminadas as forças, sigamos então no conflito.
A seguir serão destacados os pontos de maior relevância da
nossa Força Naval...

A aliança com os argentinos era, na opinião de um dosobser- O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha Naval do Riachuelo
vadores estrangeiros, uma “aliança de cão e gato”. Haviamuitas O Paraguai enviou duascolunas de tropas invasoras, umadesti-
desavenças recentes e ao Brasil não interessava subordinarsua nada ao Rio Grande do Sul eoutra para o sul, em territórioargenti-
Força Naval a um comandante argentino. A Argentina possuía,du- no, acompanhando o RioParaná.
rante essa guerra, apenas uma pequena Marinha e o esforçonaval Foi designado comandante das Forças Navais Brasileiras em
foi quase totalmente da Marinha do Brasil. O Império nãoqueria Operaçãoo Almirante Joaquim Marques Lisboa,Visconde de Taman-
criar uma situação em que um estrangeiro pudesse decidiro desti- daré. A estratégianaval adotada foi a de negar o acessoao território
no de seu Poder Naval. Poder que sempre desempenharaum papel paraguaio através dobloqueio. Tamandaré, logo no início,tratou
importante, de diferenciador nos conflitos da regiãodo Rio da Pra- também de organizar a difícillogística que o teatro de operações
ta.Isto significava, também, que no início da guerra, asoperações exigia. Os rios eram as principaisvias de comunicação da região, e
envolvendo forças navais e terrestres seriamoperações conjuntas, navios e embarcações teriamque transportar os suprimentos para
sem unidade de comando. as tropas, o carvão para servircomo combustível dos próprios na-
No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasildis- vios e,muitas vezes, soldados, cavalos e armamento.
punha de 45 navios armados. Destes, 33 eram navios depropulsão Com o avanço das tropas paraguaias aolongo do Rio Paraná,
mista, a vela e a vapor, e 12 dependiam exclusivamentedo vento. ocupando a Provínciade Corrientes, Tamandaré resolveu designar-
A propulsão a vapor, no entanto, era essencial paraoperar nos rios. seu chefe de estado-maior, o Chefe-deDivisão Francisco Manoel
Todos tinham casco de madeira. Muitos delesjá estavam armados Barroso da Silva,para assumir o comando da Força Navalbrasileira,
com canhões raiados de carregamentopela culatra. que subira o rio para efetivar obloqueio do Paraguai. Ele queria mais
ação.Barroso partiu em 28 de abril de 1865, naFragata Amazonas,
e assumiu o cargo em BelaVista. Sua primeira missão foi um ataque
àCidade de Corrientes, então ocupada pelosparaguaios. O desem-
barque das tropasaliadas em Corrientes ocorreu com bomêxito no
dia 25 de maio.
Não era, sabidamente, possível manter a posse dessa cidade na
retaguarda das tropas invasoras, principalmente naquele momento
da luta, em que os paraguaios mantinham uma ofensiva vitoriosa, e
foi preciso, logo depois, evacuá-la. Mas, o ataque deteve o avanço
paraguaio para o Sul. Ficou evidente que a presença da Força Naval
brasileira deixava o flanco direito dos invasores, que se apoiava no
Rio Paraná, sempre muito vulnerável. Para os paraguaios, era ne-
Navios da Marinha Imperial Brasileira fundeados na Baía de Gua- cessário destruí-la e isto levou Solano López a planejar a ação que
nabara em 1865. levaria à Batalha Naval do Riachuelo.
Foto de George Leuzinger
Acervo do Instituto Moreira Salles, 1998

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HISTÓRIA NAVAL

Batalha Naval do Riachuelo


Óleo sobre tela de Victor Meireles
Acervo do Museu Histórico Nacional

Os preparativos para o ataque aos navios brasileiros foram realizados sob a orientação direta do próprio López. O plano consistia em
surpreender os navios brasileiros fundeados, abordálos e, após a vitória, rebocá-los para Humaitá. Por isso, os navios paraguaios estavam
superlotados com tropas.
Tirando o máximo proveito do terreno ao longo do Rio Paraná, ele mandou, também, assentar canhões nas barrancas da Ponta de Santa
Catalina, que fica imediatamente antes da foz do Riachuelo, e reforçar com tropas de infantaria o Rincão de Lagraña, que lhe fica rio abaixo.
Da extremidade Sul do Rincão de Lagraña, que tem uma barranca mais elevada, os paraguaios podiam atirar, de cima, sobre os con-
veses dos navios brasileiros que escapassem, descendo o Paraná. O local era perfeito para uma armadilha, pois o canal navegável era
estreito e tortuoso, com risco de encalhe em bancos submersos, o que forçava as embarcações a passarem próximo à margem esquerda.
Na noite de 10 para 11 de junho de 1865, a Força Navalbrasileira comandada por Barroso, constituída pela FragataAmazonas e pelos
Vapores Jequitinhonha, Belmonte, Beberibe,

Plano da Batalha Naval do Riachuelo feito pelo


Primeiro Tenente Antônio Luiz Von Hoonholtz (futuro Barão de Teffé), comandante da Canhoneira Araguari.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

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HISTÓRIA NAVAL
Parnaíba, Mearim, Araguari, Iguatemi e Ipiranga, estava fun-
deada aosul da Cidade de Corrientes, próximo à margem direita,
em umtrecho largo do rio. De lá avistaram, pouco depois das oito
horasda manhã, a força paraguaia comandada pelo Capitão-de-Fra-
gataPedro Inácio Mezza, com os navios: Tacuary, Paraguary, Igurey,
Ipora,Jejuy, Salto Oriental, Marquês de Olinda e Pirabebe; rebocan-
do seischatas artilhadas.
Mezza se atrasaradevido a problemas napropulsão de um de
seusnavios, o Ibera, que acabousendo deixado para trás. Aschatas
que rebocava tinhamuma pequena borda-livre,fazendo água quan-
do osnavios aumentavam a velocidade procurando recuperar o
tempoperdido.

Pouco tempo depois, a coluna brasileira, com o Belmonte


àfrente, seguido pelo Jequitinhonha e por outros navios, avistou
asbarrancas de Santa Catalina. Somente mais adiante, já com as-
Ele decidiu não largar as chatas, pois sua presença na batalhae- barrancas pelo través, era possível ter a visão completa da curvado
ra uma determinação de López, e, chegando tarde, desistiu deini- Rincão de Lagraña, rio abaixo da foz do Riachuelo, onde estavam-
ciar o combate com a abordagem. Julgava que não haviasurpreen- parados os navios e as chatas da força paraguaia. A vegetaçãoim-
dido os brasileiros e é acusado de ter, assim, perdido suamelhor pedia que se soubesse que as barrancas de Santa Catalinaestavam
chance de vitória. A surpresa, na realidade, foi maior atédo que se artilhadas.
poderia supor. Era uma manhã de domingo, parte dasguarnições Barroso resolveu deter a Amazonas, reservando-a parainter-
estava em terra para trazer lenha, com o propósito depoupar car- ceptar uma possível fuga dos paraguaios rio acima. Algunsnavios
vão. É sempre difícil manter um estado prolongado dealerta quan- brasileiros não entenderam a manobra e ficaram indecisos.
do as ameaças não se fazem frequentemente sensíveis. Como conseqüência, o Jequitinhonha encalhou num banco,
Alertada, a Força Naval brasileira se preparou para o iminente- sob asbaterias de terra, e o Belmonte, à frente, prosseguiu sozi-
combate, as tripulações assumindo seus postos, despertando ofo- nho,recebendo o fogo concentrado da artilharia do inimigo e ten-
go das fornalhas das caldeiras com carvão e largando as amarras. doque encalhar, propositadamente, após completar a passagem
Às 9h25min, dispararam-se os primeiros tiros de artilharia. paranão afundar, devido às avarias sofridas em combate.
Passou,logo em seguida, a força paraguaia, em coluna, pelo través Para reorganizar sua força naval, Barroso avançou com aAma-
dabrasileira, ainda imobilizada, indo, logo depois, rio abaixo, para zonas, assumiu a liderança dos navios que estavam a ré doBel-
asproximidades da margem esquerda, logo após o local ondeesta- monte e, seguido por eles, completou a passagem sob o fogodos
vam as baterias de terra. Fechou-se, assim, a armadilha emuma ex- canhões paraguaios e da fuzilaria de terra. Afastou-se,depois, des-
tensão de uns seis quilômetros, ao longo de um trecho doParaná, cendo o Rio Paraná com apenas seis dos seus novenavios, porque
junto à foz do Riachuelo. o Parnaíba, com o leme avariado, também nãoconseguira passar.
Completou-se assim, às 12h10min, a primeirafase da batalha.
Então, Barroso mostrou toda a sua coragem, decidindoregres-
sar para o interior da armadilha de Riachuelo. Foi necessáriodescer
o rio até um lugar onde o canal permitia fazer a volta comos navios
e, cerca de uma hora depois, ele estava novamente em frente à
ponta sul do Rincão de Lagraña.
Até aquele instante, o resultado era altamente insatisfató-
riopara o Brasil. O Belmonte fora de ação, o Jequitinhonha enca-
lhado,para sempre, e o Parnaíba sendo abordado e dominado
peloinimigo, apesar de resistência heróica de brasileiros, como o
GuardaMarinha Guilherme Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio
Dias, quelutaram até a morte.
Tirando, porém, vantagem do porte da Amazonas e contando-
com a perícia do prático argentino que tinha a bordo, Barrosousou
seu navio para abalroar os paraguaios e vencer a batalha. Foium
improviso, seu navio não tinha a proa propositadamentereforçada
para ser empregada como aríete.

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HISTÓRIA NAVAL
Repetindo aqui as próprias palavras do Chefe-de-Divisão Bar-
roso, na parte que transmitiu ao Visconde de Tamandaré, assim se
deu a batalha (grafia de época):

Quatro navios paraguaios conseguiram fugir e, com a aproxi-


mação da noite, os navios brasileiros que os perseguiam regressa-
ram, para evitar encalhes em território inimigo. Além disto, apesar
de não comentarem, na época, não seria sensato abordar um navio
lotado com tropas.
– “....Subi, minha resolução foi de acabar de uma vez, com tôda Antes do pôr-do-sol de 11 de junho, a vitória era brasileira. Foi
aesquadra paraguaya, que eu teria conseguido se os quatro vapôres uma batalha naval, em alguns aspectos, decisiva.
queestavam mais acima não tivessem fugido. Pus a prôa sôbre o
primeiro, queo escangalhei, ficando inutilisado completamente, de
agoa aberta, indopouco depois ao fundo. Segui a mesma manobra
contra o segundo, que era o Marques de Olinda, que inutilisei, e
depois o terceiro, que era oSalto, que ficou pela mesma fórma. Os
quatro restantes vendo a manobraque eu praticava e que eu estava
disposto a fazer-lhes o mesmo, trataramde fugir rio acima. Em se-
guimento ao terceiro vapor destruído, aproei auma chata que com
o choque e um tiro foi a pique.
Exmº Sr. Almirante, todas estas manobras eram feitas pela
Amazonas, debaixo do mais vivo fogo, quer dos navios e chatas,
como dasbaterias de terra e mosquetaria de mais de mil espingar-
das. A minha tençãoera destruir por esta forma toda a Esquadra Pa-
raguaya, do que andar parabaixo e para cima, que necessariamente
mais cedo ou mais tarde havíamos deencalhar, por ser naquella lo-
calidade o canal mui estreito.
Concluída esta faina, seriam 4 horas da tarde, tratei de tomar
aschatas, que ao approximar-me d’ellas eram abandonadas, saltan-
do todosao rio, e nadando para terra, que estava a curta distância.
O quarto vapor paraguayo Paraguary, de que ainda não fallei,
recebeutal rombo no costado e caldeiras, quando desceram, que
foi encalharem uma ilha em frente, e toda a gente saltou para ella,
fugindo eabandonando o navio”.

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HISTÓRIA NAVAL
Para avançar ao longo do Rio Paraguai, era necessário ven-
cer diversas passagens fortificadas, destacando-se, inicialmente,
Curuzu, Curupaiti e Humaitá. Navios oceânicos de calado inapro-
priado para navegar em rios, de casco de madeira, sem couraça,
como os da Força Naval brasileira que combatera em Riachuelo,
não teriam bom êxito. Era evidente que o Brasil necessitava de
navios encouraçados para o prosseguimento das ações de guerra.
Os obstáculos e fortificações de Humaitá eram uma séria ameaça,
mesmo para estes navios.

Navios encouraçados e a invasão do Paraguai

A Esquadra paraguaia foi praticamente aniquilada, e não te-


ria mais participação relevante no conflito. Estava garantido o blo-
queio que impediria que o Paraguai recebesse armamentos e, até
mesmo, os navios encouraçados encomendados no exterior.
Comprometeu, também, a situação das tropas invasoras e,
pouco tempo depois, a guerra passou para o território paraguaio.
Barroso, sem dúvida, foi o responsável pelo bom êxito de sua
força naval em Riachuelo. O futuro Barão de Teffé declarou que o
vira, do Araguari, em plena batalha, destemido, expondo-se sobre
a roda da Amazonas, com a barba branca, que deixara crescer, ao
vento e sentira por ele um grande respeito e admiração.
A cidade de Corrientes continuava ocupada pelo inimigo e Os navios encouraçados começaram a chegar à frente de com-
aForça Naval brasileira, que mostrara sua presença, fundeadapró- bate em dezembro de 1865. O Encouraçado Brasil, encomendado
xima a ela, precisou iniciar, alguns dias após o 11 de junho, adescida após a Questão Christie na França, foi o primeiro que chegou a Cor-
do rio, que estava baixando. rientes em dezembro de 1865.
Os paraguaios haviam retirado suas baterias, que estavamna No Arsenal de Marinha da Corte, no Riode Janeiro, iniciara-se
Ponta de Santa Catalina, e as instalaram, primeiro emMercedes, a construção de outrosnavios encouraçados, especificados para lu-
depois em Cuevas, criando dificuldades para oabastecimento dos tarnaquele teatro de operações fluviais. O projetoe a construção
navios brasileiros, que era realizado pelo rio. estavam a cargo de brasileiros,como os engenheiros Napoleão
Sob todos esses aspectos, incluindo a diminuição do nível do- Level e CarlosBraconnot. Destacou-se, também, o Capitãode-Fra-
Rio Paraná, que aumentava o risco de encalhe, a posição daForça gata Henrique Antônio Baptista,especialista em armamento, que
Naval, avançada em território ainda ocupado por tropasdo Para- tambémchefiara o recebimento e trouxera oEncouraçado Brasil da
guai, mostrava-se muito vulnerável. França.
Barroso passou com seus navios por Mercedes e Cuevas, en- Durante a guerra, foram incorporados àArmada brasileira 17
frentando a artilharia paraguaia, e somente regressou passadosal- navios encouraçados,incluindo alguns classificados como monito-
guns meses, apoiando o avanço das tropas aliadas, que progredia- res, que obedeciam acaracterísticas de projeto inovadoras, desen-
maproveitando o recuo do inimigo10. volvidas poucos anosantes na Guerra Civil Americana.
Em 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré chegou a Corrientese
assumiu o comando da Força Naval, mantendo Barroso comoseu
chefe de estado-maior. Em 17 de março, os naviossuspenderam
para iniciar as operações rio acima. Quatro dosencouraçados já es-
tavam disponíveis nessa força. Um deles tinhao nome de Barroso,
e outro o de Tamandaré. Era uma grandehomenagem, em vida, aos
dois ilustres chefes.
A ofensiva aliada para a invasão do Paraguai necessitavade
apoio naval. Passo da Pátria foi uma operação conjunta deforças
navais e terrestres. Coube, inicialmente, à Marinha fazeros levanta-
mentos hidrográficos, combater as chatas paraguaiase bombardear
Tudo levava à ilusão de que a Tríplice Aliança venceria a guer- o Forte deItapiru e o acampamentoinimigo. Em março de 1866,já
raem pouco tempo, mas tal não ocorreu. O que parecia fácilestag- estavam disponíveis novenavios encouraçados, inclusive três cons-
nou. O Paraguai era um país mobilizado para a guerra que,aliás, foi truídos noBrasil: Tamandaré, Barroso eRio de Janeiro. A reação
ele que iniciou, achando que tinha vantagens.Humaitá ainda era daartilharia paraguaia ceifouvidas preciosas, como a do Tenente
uma fortaleza inexpugnável enquanto nãoestivessem disponíveis Mariz e Barros, comandante do Tamandaré.
os novos meios navais que estavam emobtenção pelo Brasil: os na-
vios encouraçados.

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HISTÓRIA NAVAL

Houve, depois, perfeita cooperação entre as forças, na grandeoperação de desembarque que ocorreu em 16 de abril de 1866.Enquan-
to parte da Força Naval bombardeava a margem direita doRio Paraná, de modo a atrair a atenção do inimigo, ostransportes avançaram
e entraram no Rio Paraguai.Os navios transportaram inicialmente cerca de 45 milhomens, de um efetivo de 66 mil (38 mil brasileiros, 25
milargentinos e 3 mil uruguaios), artilharia, cavalos e material. OGeneral Osório foi o primeiro a desembarcar em território inimigo.
Com a invasão, os paraguaios abandonaram Itapiru e Passo da Pátriae, após tentativas infrutíferas de derrotar o invasor em Estero-
Bellaco e Tuiuti, concentraram suas defesas nas fortificações quebarravam o caminho: Curuzu, Curupaiti e Humaitá.

Curuzu e Curupaiti
Em 31 de agosto de 1866, as tropas comandadas pelo General Manoel Marques de Souza, o Barão de Porto Alegre, desembarcaram
na margem esquerda para atacar Curuzu e, no dia seguinte, os navios começaram a bombardear a fortificação.
Em 2 de setembro, o navio encouraçado Rio de Janeiro foi atingido por duas minas flutuantes e afundou com perda de vidas humanas.
Curuzu foi conquistada pelo Barão de Porto Alegre, apoiado pelo fogo naval, em 3 de setembro.
O próximo ataque foi a Curupaiti. O Presidente argentino, General Bartolomeu Mitre, comandante das Forças da Tríplice Aliança, as-
sumiu pessoalmente o comando da operação. Apesar do intenso bombardeio naval, o ataque aliado, ocorrido em 22 de setembro, levou
à maior derrota da Tríplice Aliança nessa guerra.
Seguiram-se acusações e críticas, que causaram uma crise entre Mitre e Tamandaré. O preparo da operação, sem dúvida, fora insufi-
ciente e as dificuldades do ataque incorretamente avaliadas. Como Mitre permaneceria exercendo o comando geral dos Exércitos Aliados,
o governo brasileiro aceitou o pedido de afastamento feito anteriormente por Tamandaré. Ele e Barroso foram substituídos, não mais
participando das operações dessa guerra.

Caxias e Inhaúma
O Marquês de Caxias, General Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias e Patrono do Exército Brasileiro, foi designado para
o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças Brasileiras em Operações contra o Governo do Paraguai.
O comando da Força Naval coube ao Chefe-de-Esquadra Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de Inhaúma, que assumiu seu cargo,
substituindo Tamandaré, em 22 de dezembro de 1866. Ele estava subordinado a Caxias, mas não a Mitre.
Caxias empregou com maestria a Força Naval de Inhaúma, para apoiar sua ofensiva ao longo do Rio Paraguai, até a ocupação da ci-
dade de Assunção; bombardeando fortificações; fazendo reconhecimentos pelo rio; transportando tropas de uma margem para a outra,
para contornar o flanco inimigo; e fazendo o apoio logístico necessário.

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HISTÓRIA NAVAL
O apoio logístico a essa Força Naval operando entre Curupaiti
e Humaitá era muito difícil e exigiu que os brasileiros fizessem o
caminho pela margem direita do Rio Paraguai, no Chaco.
Logo depois construiu-se uma pequena ferrovia nesse cami-
nho, para transportar as provisões necessárias.
Para apoiar o material das forças em combate, construíra-
-seum arsenal em Cerrito, próximo à confluência dos Rios Paraguai
eParaná. Graças a ele, foi possível fazer essa estrada de ferro.
Ultrapassar Humaitá com uma força naval e mantê-la rio aci-
ma exigiria também uma base de suprimentos rio acima. Caxias,
após reorganizar as forças terrestres brasileiras, iniciou, em julho
de 1867, a marcha de flanco e ocupou Tayi, no Rio Paraguai, acima
de Humaitá, que serviria depois para apoiar os navios.
Em dezembro de 1867, os três primeiros monitores construí-
dos no Arsenal de Marinha da Corte chegaram à frente de combate.
Esses monitores, por suas características, seriam importantes para
o prosseguimento das operações.
Em 14 de janeiro de 1868, Mitre precisou reassumir a presidên-
cia da Argentina e passou definitivamente o comando-emchefe dos
Exércitos da Tríplice Aliança para Caxias.

Passagem de Humaitá

Passagem de Curupaiti
Há meses que a Força Naval bombardeava diariamente Curu-
paiti, tentando diminuir seu poder de fogo e abalar o moral dos
defensores.
Em 15 de agosto de 1867, já promovido a Vice-Almirante, Jo-
aquim Ignácio comandou a Passagem de Curupaiti, enfrentando o
fogo das baterias de terra e obstá-culos no rio. Pelo feito, re-cebeu,
logo depois, o título de Barão de Inhaúma. Participaram da passa-
gem dez naviosencouraçados que, em seguida, fundearam um pou-
co abaixo de Humaitá e começaram a bombardeá-la.

Planta geral mostrando a posição da Esquadra na


Passagem de Humaitá.

Na madrugada de 19 de fevereiro de 1868, iniciou-se a Pas-


sagem de Humaitá. A Força Naval de Inhaúma intensificou o bom-
bardeio e a Divisão Avançada, comandada pelo Capitão-de-Mar-
-e-Guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois Almirante e Barão da
A posição desses navios, porém, expunha-os aos tiros das for- Passagem, avançou rio acima.
tificações paraguaias e Inhaúma considerava que ainda não era o Essa divisão era formada por seis navios: os Encouraçados Bar-
momento de forçar Humaitá. Caxias apoiou esta decisão. roso, Tamandaré e Bahia e os Monitores Rio Grande, Pará e Alagoas.

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HISTÓRIA NAVAL
Eles acometeram a passagem formando três pares compostos, passando diversos cursos d’água, para que as tropas, quecruzaram
cada um, por um encouraçado e um monitoramarrado ao seu con- o rio nos navios, avançassem pela margem direita atéum ponto em
trabordo. que podiam embarcar novamente, para seremtransportadas para a
Após a passagem, três dosseis navios tiveram que serencalha- margem esquerda, acima das posiçõesinimigas. Em 4 de dezembro,
dos, para não afundaremdevido às avarias sofridas nopercurso. O a Força Naval apoiou o desembarquedas tropas em Santo Antônio,
Alagoas foi atingidopor mais de 160 projéteis. sobre a retaguarda paraguaia.
Estava, no entanto, vencida Humaitá, que aos poucos seria O ataque de Caxias para o Sul é conhecido como aDezembrada.
desguarnecida pelos paraguaios. Ocorreu uma sucessão de combates terrestres, dosquais se desta-
Solano López decidiu que eranecessário retirar-se com seuexér- cam Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. Ao final, asforças paraguaias
cito para uma nova posiçãodefensiva, mais ao norte. estavam derrotadas e López fugiu.
Não se rendendo, apesar de seu exército estar praticamentea-
O recuo das forças paraguaias niquilado, ele conseguiu prolongar a guerra por mais de um ano,na
Na madrugada de 3 de março de 1868, López seretirou de Hu- região montanhosa do Norte de seu país, na chamada Campanha-
maitá com cerca de 12 mil homens. Os aliadosfecharam o cerco. da Cordilheira, causando enormes sacrifícios a todos os envolvi-
Em 25 de julho, os últimos defensores abandonaramHumaitá, dos,principalmente ao povo paraguaio15.
que foi ocupada pelos aliados. Era preciso reforçar ocerco para evi-
tar que eles se juntassem ao grosso doExército paraguaio. Para isso, A ocupação de Assunção e a fase final da guerra
os aliados criaram uma flotilhade escaleres, lanchas e canoas para Como não havia mais obstáculos até Assunção, ela foiocupada
bloquear a passagem dosfugitivos pela Lagoa Verá. pelos aliados e a Força Naval fundeou em frente à cidade,em janei-
Os combates que ali ocorreram, corpo-a-corpo, entre astri- ro de 1869.
pulações de embarcações, constituíram um dos conjuntos deepi- Em fevereiro, o Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dosSantos
sódios mais dramáticos da guerra. Participaram deles, comgrande assumiu o comando da Força Naval. Ficaram no Paraguaios navios
bravura, jovens oficiais brasileiros, como os TenentesSaldanha da de menor calado, mais úteis para atuar nos afluentes.Uma Força
Gama14 e Júlio de Noronha, entre outros. Ao final,renderam-se Naval subiu o Rio Paraguai até território brasileiro, emMato Grosso.
1.300 paraguaios. Houve um último combate no Rio Manduvirá. Seguiuse a Campanha
da Cordilheira, em que a Marinha não maisconfrontou o inimigo.
Em 1870, o Paraguai estava derrotado e seu povo dizimado. A
Guerra foi muito importante para a consolidação dosEstados Nacio-
nais na região do Rio da Prata. Foi durante o conflitoque a unidade
da Argentina se consolidou. Para o Brasil, foi umgrande desafio que
mobilizou o País e uniu sua população. Foi láque os brasileiros das
diferentes regiões do País se conhecerammelhor, passando a se
respeitar e a se entender.

CRONOLOGIA
DATA EVENTO
12/11/1864 O governo paraguaio apreende o Navio Mercan-
te brasileiro Marquês de Olinda, quando este
navegava 30 milhas acima de Assunção, rumo
ao Mato Grosso levando o novo presidente des-
sa província.
28/12/1864 Forças paraguaias invadem a Província do Mato
Grosso, atacando e ocupando o Forte Coimbra.
27/01/1865 O Império do Brasil declara oficialmente que
responderá às hostilidades do Paraguai.
05/04/1865 Parte de Buenos Aires uma Força Naval brasilei-
O avanço aliado e a Dezembrada ra para bloquear o Rio Paraná.
Superado o obstáculo de Humaitá, Caxias pôde avançar parao
norte. Era necessário que a Força Naval acompanhasse omovi- 13/04/1865 O Governo paraguaio declara guerra à Argenti-
mento das forças terrestres aliadas e, no dia 16 de agosto de1868, na e forças paraguaias atacam Corrientes.
Inhaúma começou a subir o Rio Paraguai. A partir de então,os na- 01/05/1865 Assinado em Buenos Aires o Tratado da Tríplice
vios participaram das operações prestando o apoio determinado Aliança, entre os governos do Brasil, Argentina
por Caxias. e Uruguai.
Logo, Caxias alcançou Palmas e iniciou seus planos para ata- 20/05/1865 O Chefe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso
cara nova posição do inimigo, em Piquissiri. Ele próprio efetuou da Silva assume o comando das duas divisões
váriosreconhecimentos empregando os navios e decidiu por não navais brasileiras incumbidas do bloqueio.
realizaruma ação frontal. Para atacar os paraguaios pela retaguar-
da, erapreciso utilizar a margem direita, onde se situava o Chaco, 10/06/1865 Forças paraguaias invadem a Província do Rio
umalagadiço quase intransponível, exposto às inundações. Grande do Sul.
A genial manobra do Piquissiri, que contornou a posição doini- 11/06/1865 Batalha Naval do Riachuelo.
migo, foi uma operação em que a Força Naval exerceu um papelre-
levante. Foi construída uma estrada pelos pântanos do Chaco,ultra-

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HISTÓRIA NAVAL

21/02/1866 O Vice-Almirante Tamandaré, Comandante-em- 19/11/1868 A Esquadra bombardea as fortificações de An-


-Chefe da Esquadra brasileira, chega à cidade gostura – manobra do Pissiquiri.
argentina de Corrientes. 04/12/1868 A Esquadra inicia a passagem do Exército do
16/04/1866 Inicia-se a travessia de Passo da Pátria. Chaco para a Barranca de Santo Antônio.
27/07/1866 Início do reconhecimento, pelos navios da Es- 01/01/1869 Tropas brasileiras, sob o comando o Coronel
quadra, da área da Fortaleza de Curuzu Hermes da Fonseca, ocupam Assunção, que se
31/08/1866 As tropas brasileiras, comandadas pelo Barão de encontrava deserta.
Porto Alegre, desembarcam para a tomada do 16/01/1869 O Vice-Almirante Joaquim José Ignácio, grave-
Forte de Curuzu, apoiadas pelo fogo dos navios. mente enfermo, deixa o comando da Esquadra
02/09/1866 A Marinha perde o Encouraçado Rio de Janei- brasileira em Operações no Paraguai e regressa
ro, posto a pique pela explosão de duas minas ao Rio de Janeiro.
flutuantes. 06/02/1869 O Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dos San-
03/09/1866 Tomada da Fortaleza de Curuzu tos assume o comando da Força Naval.

22/09/1866 A Esquadra bombardeia pesadamente o Forte 18/04/1869 O Comandante-em-Chefe da Esquadra no Pa-


de Curupaiti, enquanto tentavam conquistá-lo. raguai ordena a perseguição e a captura de
Percebendo a impossibilidade de tomar a praça, embarcações paraguaias no Rio Manduvirá e
ordena a retirada. Foi a maior derrota da Tríplice afluentes.
Aliança nessa guerra.
FIXAÇÃO
22/12/1866 O Chefe-de-Esquadra Joaquim José Ignácio re- 1 – Quais foram os atos de hostilidade do Paraguai que levaram
cebe do Almirante Tamandaré o comando da à assinatura do Tratado da Tríplice Aliança em 1° de maio de 1865?
Esquadra Brasileira em Operações no Paraguai. 2 – Quais eram os países que compunham a Tríplice Aliança?
13/01/1867 A Esquadra brasileira inicia os bombardeios ao 3 – Qual o nome dos três comandantes-em-chefe da Força Na-
Forte de Curupaiti. val Aliada?
4 – Qual o nome dos dois rios onde ocorreu grande parte do
15/08/1867 O Vice-Almirante Joaquim José Ignácio coman-
conflito?
da a 1a Passagem de Curupaiti.
5 – Como podemos caracterizar a guerra antes e depois de Ria-
13/02/1868 Os Monitores Pará, Rio Grande e Alagoas forçam chuelo?
durante a noite a Passagem de Curupaiti, indo 6 – Por onde se deu a invasão do território paraguaio?
reunir-se aos encouraçados que se destinavam
a passar Humaitá. (2a Passagem de Curupaiti).
A MARINHA NA REPÚBLICA - PRIMEIRA GUERRA
19/02/1868 Inicia-se a Passagem de Humaitá. (1a Passagem MUNDIAL: ANTECEDENTES; O PREPARO DO BRASIL; A
de Humaitá). DIVISÃO NAVAL EM OPERAÇÕES DE GUERRA; O PERÍ-
21/03/1868 A Fortaleza de Curupaiti é conquistada. ODO ENTRE GUERRAS; A SITUAÇÃO EM 1940; SEGUN-
02/05/1868 A Divisão Avançada da Esquadra, composta dos DA GUERRA MUNDIAL: ANTECEDENTES; INÍCIO DAS
Encouraçados Bahia, Barroso e Tamandaré e dos HOSTILIDADES E ATAQUES AOS NOSSOS NAVIOS MER-
Monitores Rio Grande e Pará, transporta para a CANTES; A LEI DE EMPRÉSTIMO E ARRENDAMENTO E
Península do Araça as tropas que cortarão as co- MODERNIZAÇÕES DE NOSSOS MEIOS E DEFESA ATIVA
municações do inimigo concentrado em Humai- DA COSTA BRASILEIRA; DEFESAS LOCAIS; DEFESA ATI-
tá, impedindo o recebimento de socorro. VA; A FORÇA NAVAL DO NORDESTE; E O QUE FICOU?
21/07/1868 Os Encouraçados Cabral, Silvado e Piauí forçam a
Passagem de Humaitá, para se reunirem à Divi- A Marinha na República
são do Chefe Delfim. (2ª Passagem de Humaitá). Sinopse
Os primeiros anos da República foram marcados pela progres-
25/07/1868 As tropas aliadas conquistam a Fortaleza de Hu- siva desmobilização da Esquadra brasileira. As revoltas que asso-
maitá. laram a Nação e o desgaste econômico conhecido como Encilha-
01/08/1868 Combate na Lagoa Verá entre chalanas para- mento provocaram o gradativo desmantelamento dasunidades da
guaias e escaleres dos navios brasileiros. Força Naval. A situação interna do País se refletia nosorçamentos
insuficientes que negavam à Marinha os recursosnecessários à mo-
16/08/1868 Início da Dezembrada.
dernização dos meios flutuantes e à criação deuma infra-estrutura
30/08/1868 O Barão da Passagem, Chefe-de-Divisão Delfim de apoio.
Carlos de Carvalho, comandando uma divisão Essa situação se manteve por toda a década final do séculoXIX.
composta do Encouraçado Bahia, e dos Moni- A sucessão de quatro ministros da Marinha em apenas seisanos
tores Alagoas, Ceará, Pará, Piauí e Rio Grande, contribuiu negativamente para a elaboração de um programanaval
entra pelo Rio Tebiquari para proteger a passa- condizente com o litoral e os interesses a serem defendidos.
gem do Exército. Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noronha2as-
01/10/1868 Os Encouraçados Bahia, Barroso, Tamandaré sumiu a pasta da Marinha, encontrando uma Força Navalcomposta
e Silvado forçam as baterias de Angostura, ao de navios reformados, sendo, na sua maioria, modelosobsoletos
mesmo tempo que os encouraçados restantes frente às classes mais modernas que estavam emprocesso de cons-
bombardeam o acampamento inimigo trução pelas potências industriais da época.

52
HISTÓRIA NAVAL
Em 1904, o Ministro das Relações Exteriores, Barão do RioBran- raçado Dreadnought, pela Marinha britânica(1906), que aparecia
co, percebeu que a Marinha, apesar de querer se equipar comos como o navio mais poderoso do mundo,inspiraram debates em
melhores meios, não alcançava um nível aceitável de ForçaArmada torno doPrograma de 1904. O Deputado JoséCarlos de Carvalho e
para o porte do Brasil. Apresentou então ao AlmiranteJúlio de No- o AlmiranteAlexandrino Faria de Alencar, entãosenador, foram os
ronha pessoas interessadas em oferecer navios ouindicar estaleiros grandesdefensores da remodelação doPrograma Júlio de Noronha.
para a construção daqueles que fariam parte doPrograma Naval Em 15 de novembro de 1906,assumiu a Presidência da Repú-
que o almirante imaginava. blica oConselheiro Afonso Pena e, com ele,o seu novo ministério,
Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em consti- sendo a pastada Marinha ocupada pelo AlmiranteAlexandrino Faria
tuiruma Marinha bem aparelhada, o Deputado Dr. Laurindo Pitta- de Alencar. Nãodemorou que este conseguisse doCongresso a re-
apresentou à Câmara, em julho de 1904, um projeto que continhao forma do Programade 1904. A alteração mais marcante trazida pelo
programa naval do Almirante Júlio de Noronha, o qual poderiaa- novo programado Almirante Alexandrino foi a adição de três novos
tender a tais expectativas. Em um discurso entusiasmado, propôs encouraçadosdo tipo dreadnought de 20 mil toneladas, cuja apro-
a aprovação de orçamento que financiasse os navios requisitados. vação resultouno Decreto n° 1.567, de 24 de novembro de 1906.
Pitta encabeçou então uma grande luta nos bastidores da polí- Nesse programa, foi cancelado o projeto de um novoarsenal.
tica nacional com a finalidade de obter a aprovação, no Congresso Em seu lugar, optou-se por modernizar as instalaçõesda Ilha das
Nacional, do projeto que reorganizaria toda a Esquadra brasileira. Cobras, porém, admitia-se a construção de basessecundárias em
Sendo o projeto finalmente aprovado, quase que por unanimi- Belém e em Natal, e um porto militar depequeno porte em Santa
dade, ele se transformou no Decreto no 1.296, de 14 de novembro Catarina.
de 1904.

Segundo o próprio Laurindo Pitta, em seu discurso, porocasião


da apresentação do seu projeto de reaparelhamento naval,encou-
raçados, cruzadores, torpedeiras não eram invençõesmodernas,
eram aperfeiçoamentos que a ciência e a indústriaadaptavam aos
navios. O encouraçado era o pesado e bem artilhadonavio de linha,
o cruzador era a leve e ligeira fragata e o torpedeiro,o brulote, des-
tinado a incendiar as antigas naus.
O Programa de 1904, de autoria de Júlio de Noronha,apre-
sentava a vantagem de ser um plano de conjunto, ou seja,incluía a
criação de um moderno arsenal e um porto militar, quejuntamente
com os navios formaria um tripé de sustentação daMarinha brasi-
leira. Foi o Almirante Júlio de Noronha quem feznascer a campanha
de remodelação da Esquadra, que deveriaimpressionar principal-
mente a opinião pública e que gerou osresultados necessários para
a reforma da nossa Marinha.
O programa incluía os modelos de navios que, no momento,e-
quipavam as melhores Esquadras do mundo, logo a seguirempre- Como conseqüência direta do Programa Alexandrino, aEsqua-
gados nas Batalhas de Port Arthur e Tsushima, travadasdurante a dra de 1910, assim chamada por haver chegado ao Brasilnesse ano
Guerra Russo-Japonesa. O estudo estratégico dasexperiências pro- a maior parte de seus componentes, representou umverdadeiro
porcionadas por essas batalhas (1905) e olançamento do Encou- revigoramento militar e tecnológico da Marinhabrasileira. Dessa

53
HISTÓRIA NAVAL
forma, o Brasil passou a possuir uma frota de altomar ofensiva, po- A Esquadra brasileira passou aser organizada, essencialmen-
dendo levar a outros rincões o Pavilhão Nacionale, principalmente, te,em divisões de encouraçados ecruzadores, e flotilhas de contra-
apoiar a ação diplomática do governo brasileiroem qualquer local torpedeiros e de submarinos.
que se fizesse necessário. Porém, com o início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
oMinistro da Marinha Alexandrino de Alencar determinou que as-
principais unidades operativas de superfície fossem reorganizada-
sem três divisões a fim de patrulhar as águas costeiras dentro deca-
da área de responsabilidade, sendo criadas as Divisões Navais doSul
(São Francisco do Sul), Centro (Rio de Janeiro) e Norte (Belém). Des-
sa maneira, a Marinha iria enfrentar os seus dois principais desafios
no Século XX. As duas grandes guerras mundiais

A incorporação de navios como os Encouraçados Minas Gerais


e São Paulo, pertencentes à classe dos dreadnoughts mais podero-
sos do mundo, encheu de orgulho e confiança os brasileiros. Além
dessas embarcações, também chegaram os Cruzadores Bahia e Rio
Grande do Sul e os Contratorpedeiros Amazonas, Pará, Piauí, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Paraná, Santa Catarina
e Mato Grosso.
As duas grandes guerras
Eclodido o conflito na Europa em 1914, que veio a ser conhe-
cido por Primeira Grande Guerra, o Brasilpermaneceu neutro nos
primeiros três anos de guerra. O bloqueio submarino sem restri-
ções aos países Aliados,firmado pelo governo alemão em 31 de ja-
neiro de 1917, trouxe não só mal-estar a todos os países neutros,
comotambém preocupação ao Governo brasileiro, que dependia
fundamentalmente do mar para escoar a sua produçãoe importar
produtos que necessitava.
O Brasil apresentou inicialmente seu protesto formal à Alema-
nha, seguido do rompimento das relaçõescomerciais. Mantínha-
mos ainda nossa neutralidade, postura que veio a ser modificada
em 11 de abril de 1917,devido ao afundamento do Navio Mercante
Paraná ao largo da costa francesa, quando o governo brasileirorom-
peu as relações diplomáticas com o governo alemão. Após o ata-
que a mais três dos nossos mercantes, em 26de outubro de 1917 o
Brasil reconheceu e proclamou o estado de guerra com o Império
alemão.
A participação da Marinha brasileira na Primeira Grande Guer-
ra formalizou-se com o envio para o teatrode operação da Divisão
Naval em Operação de Guerra (DNOG), sob o comando do Almiran-
te Pedro MaxFernando de Frontin. Era composta pelos seguintes
meios navais: Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul;Contratorpe-
deiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina; Cru-
zador-Auxiliar Belmonte; e RebocadorLaurindo Pitta, e tinha como
missão o patrulhamento da área entre Dakar–São Vicente–Gibral-
tar na costa daÁfrica. A tripulação da DNOG foi gravemente atingi-
da pela “gripe espanhola”, mas mesmo com muitas baixassofridas,
cumpriu a missão a ela determinada.
Outra participação significativa da Marinha foi a designação
Posteriormente ao ano de 1910, o Contratorpedeiro Mara- de 12 oficiais aviadores para servirem juntoà Royal Air Force (RAF).
nhão, os Submarinos F1, F3, F5 e Humaitá, o Tender Ceará e outros Foram depois empregados no patrulhamento do Canal da Mancha.
navios auxiliares complementaram os efetivos navais da Marinha. Na Segunda Guerra Mundial, também mantivemo-nos neutros
O terceiro encouraçado previsto pelo Programa Alexandrino- a princípio. Com a vinculação de interessescomuns que tínhamos
era o Rio de Janeiro, lançado ao mar em 22 de janeiro de 1913. com os Estados Unidos, concretizada pelo Tratado do Rio de Janei-
Ademora em sua construção se deveu à necessidade de se introdu- ro, no qual noscomprometíamos a formar ao lado de qualquer na-
zirnovas modificações que otornassem ainda mais poderoso.Este ção americana que fosse atacada, com eles nos solidarizamosquan-
navio não chegou a serincorporado à Armada brasileira.Foi adquiri- do do ataque japonês a Pearl Harbour, em 7 de dezembro de 1941.
do pela Marinha turcae depois pela Marinha inglesa,tendo partici- Como represália, nossa MarinhaMercante começou a ser agredida
pado da Batalha daJutlândia. pelos submarinos alemães. A primeira perda foi o Navio Mercante

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HISTÓRIA NAVAL
Cabedelo,em fevereiro de 1942. Seguiram-se outros afundamen- A Alemanha, depois de uma fracassada ofensiva no teatrode
tos, terminando com o ataque fulminante do U-507, queem cinco operação ocidental, se viu exausta com as perdas sofridas, vindoa
dias, levou a pique seis embarcações nacionais dedicadas à linha de assinar o Armistício com os aliados no mês de novembro de 1918.
cabotagem nas costas deSergipe, com 507 vítimas, inclusive solda-
dos do Exército. O preparo do Brasil
Este ato levou o Brasil a declarar guerra, a 31 de janeiro de A disposição do Brasil em manter-se neutro no conflito foievi-
1942, às potências do Eixo – Alemanha, Itáliae Japão. Imediatamen- denciada desde o primeiro minuto de combates na Europa em1914.
te a Marinha mobilizou-se, criando a Força Naval do Nordeste (com Naqueles dias conturbados, prevalecia no País uma tendêncianatural
navios já em operaçãoe meios recebidos do Acordo Lend Lease com de simpatia a favor dos aliados, principalmente porque aelite nacio-
os Estados Unidos). Essa Força foi comandada pelo AlmiranteAlfre- nal via na educação e na cultura francesas seus principaisparadigmas.
do Soares Dutra, subordinada operativamente à Quarta Esquadra A neutralidade foi a marca brasileira nos três primeirosanos de guer-
norte americana. ra, mesmo quando Portugal foi a ela arrastada emmarço de 1916.
Era missão da Marinha, cumprida desde o primeiro dia de guer- O bloqueio sem restrições firmado pelo governo alemãoem 31
ra até o armistício, a proteção de comboiosinternacionais e nacio- de janeiro de 1917 trouxe não só mal-estar a todos osneutros, mas
nais, garantindo a segurança de mais de três mil navios, de muitas também preocupação ao governo brasileiro quedependia fundamen-
nacionalidades, contra aameaça submarina germânica. Cada passa- talmente do mar para escoara produção de café para a Europa e os
gem de um comboio ao seu destino era considerado uma vitóriaGa- EstadosUnidos, nossos principais compradores.Ademais, importáva-
rantiu-se o suprimento, vital na época, de combustível, insumos e mos muitos produtos daInglaterra, que naquela altura lutavadeses-
alimentos, sem que o Brasil sofresse asagruras da guerra. peradamente nos campos franceses eenfrentava, com preocupação,
os ataques dossubmarinos alemães a seu tráfego marítimo.O Brasil
Primeira Guerra Mundial apresentou, inicialmente, seuprotesto formal à Alemanha, sendo
Antecedentes logo depoisobrigado a romper relações comerciais comesse país,
No ano de 1914, as relações entre as principais naçõeseuro- mantendo-se, contudo, ainda, na maisrigorosa neutralidade.
péias estavam tensas. Nos últimos 60 anos havia ocorrido aSegun- O que veio a modificar a atitude brasileirafoi o afundamento
do Navio Mercante Paranáao largo de Barfleur, na França, apesar
da Revolução Industrial e várias potências econômicassurgiram
deostentar a palavra Brasil pintada no costado ea Bandeira Nacio-
ameaçando a supremacia da Grã-Bretanha, com destaquepara os
nal içada no mastro. Naquelaoportunidade, a população na capi-
Estados Unidos, Itália, Rússia, Alemanha e Japão. Istosignificava
tal Rio deJaneiro atacou firmas comerciais alemãs,criando grande
que todos esses países tinham como produzir, masprecisavam de
desconforto para o governo deWenceslau Braz. Seguiu-se então o
matérias-primas e de mercados para vendera sua produção.
rompimento das relações diplomáticas com o governo alemão em
Se na primeira Revolução Industrial o grande fatoimpulsiona-
11 de abril de 1917. Umfato importante que influiu na decisão de
dor foi a invenção da máquina a vapor, na segunda aeletricidade
se romper relações como Império Alemão foi a atitude de protes-
foi o mecanismo que revolucionou os meios deprodução. Outro to dos Estados Unidoscom o bloqueio irrestrito, tendo sofrido por
grande fator de crescimento econômico foi oaumento da disponi- isso o torpedeamentode dois de seus navios. Tais acontecimentos
bilidade de ferro e aço. A mecanização daindústria se elevou, pro- motivaram a declaraçãode guerra norte-americana. Mantínhamos
porcionando o conseqüente aumento donúmero de máquinas e até esse ponto laçoscomerciais profundos com esse país e claras
motores menores, que viriam dotar osbens de consumo duráveis, simpatias com osaliados.
os maiores símbolos da sociedademoderna.
Naquele ano de 1914 vigorava a Paz Armada, uma situaçãoem
que todas as nações procuravam se armar para inibir oadversário
de atacá-las. Duas grandes alianças político-militarespredomina-
vam: a Tríplice Aliança, formada pelo Império AustroHúngaro, Itália
e Alemanha, e a Tríplice Entente, formada pelaFrança, Inglaterra
e Rússia. Pequenas frentes de luta surgiam nasáreas em disputa.
Todos queriam se apossar de territórios. Umterrorista sérvio con-
seguiu assassinar o Arquiduque FranciscoFerdinando, herdeiro do
trono austríaco, em um atentado emSarajevo, na Bósnia. Esta mor-
te imediatamente provocou a guerraentre a Áustria e a Sérvia; a
Rússia, fiadora da Sérvia, iniciou umconfronto com a Áustria, pro-
vocando a intervenção alemã e unindoa França e a Inglaterra. Alia-
dos de um ou outro lado entraram na Guerra.Iniciava-se a Primeira
Guerra Mundial.
De 1914 até o seu final, a guerra assumiu seu lado mais cruel.
Milhões de vidas foram ceifadas na chamada guerra de trincheiras,-
quando as tropas limitavam-se a defender determinadasposições
estratégicas.
Em 1917, os Estados Unidos da América (EUA) entraramno
conflito. No mesmo ano, eclodiu a revolução socialista naRússia e
seus dirigentes assinaram com a Alemanha o Tratado deBrest-Lito-
vsky, se retirando da guerra.
Em 1917, o Brasil entrou no conflito quando a campanhasub-
marina alemã atingiu seus navios mercantes, afundados em razão- Presidente Wenceslau Braz assinando a declaração de guerra em
do bloqueio alemão a Grã-Bretanha. 26 de outubro de 1917, tendo ao seu lado o Ministro das Relações
O Brasil enviou então uma Divisão Naval para operar com a Exteriores, o Sr. Nilo Peçanha.
Marinha britânica entre Dakar e Gibraltar em 1918. Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

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HISTÓRIA NAVAL
No mês de maio, o segundo navio brasileiro, o Tijuca, foitorpe-
deado nas proximidades de Brest na costa francesa. Seis diasdepois
seguiu-se o Mercante Lapa. Antes ele fora abordado porum sub-
marino alemão, mandando que a tripulação deixasse o vaporpara
depois torpedeá-lo. Esses três ataques levaram o PresidenteWen-
ceslau Braz a decretar o arresto de 45 navios dos impérioscentrais
aportados no Brasil e a revogação da neutralidade. Muitosdeles en-
contravam-se danificados por sabotagem dos própriostripulantes.
Isso não impediu que o Brasil utilizasse 15 deles erepassasse 30 por
afretamento para a França. Um fato curioso foio arresto da Canho-
neira alemã Eber, surta no porto de Salvador.Tratava-se de navio
militar e não de vapor mercante, como os 45navios arrestados. An-
tes de ser abordada por autoridadesbrasileiras, e percebendo essa
medida, os tripulantes queimaramesse vaso de guerra e consegui-
ram se transferir para outro naviomercante que se evadiu dos por-
tos nacionais com o armamento eos homens especializados, que
seriam ainda úteis à Marinha alemãno conflito.
Quatro meses se passaram até que um novo navio brasileiro-
fosse atacado e afundado, dessa feita foi o Vapor Tupi nas media-
çõesdo Cabo Finisterra. O caso tornou-se grave na medida em que
ocomandante e o despenseiro foram aprisionados por um submari- Nossa Marinha de Guerra era centrada na chamada Esquadra
no alemão e nunca mais se teve notícia de seus destinos. de 1910, com navios relativamente novos construídos na Inglaterra
Oito dias depois, 26 de outubro de 1917, o Brasil reconheciae sob o Plano de Construção Naval do Almirante Alexandrino Faria de
proclamava o estado de guerra com o Império alemão.Como estava Alencar, Ministro da Marinha, como anteriormente mencionado.
o Brasil naquela oportunidade para enfrentaros germânicos? Eram ao todo dois encouraçados tipo dreadnought, o Minas Gerais
O governo brasileiro tinha consciência de que a grandeame- e o São Paulo, dois cruzadores tipo scouts, o Rio Grande do Sul e
aça seria o submarino alemão, ávido por atacar os nossosnavios o Bahia, que viria a ser perdido tragicamente na Segunda Guerra
mercantes que mantinham o comércio com outros paísesem pleno Mundial, e dez contratorpedeiros de pequenas dimensões.
desenvolvimento. Além disso, naquela oportunidade, nãoexistiam Esses meios eram todos movidos a vapor, queimando carvão.
estradas ligando o Sul e Sudeste com o Norte e Nordeste.Todas Desde o início da participação brasileira no conflito, ogover-
as comunicações entre essas regiões eram feitas por mar,daí nos- no nacional decidiu-se pelo envio de uma divisão naval paraoperar
sa grande vulnerabilidade estratégica. Tanto a MarinhaMercante em águas européias, o que representaria um grandeesforço para a
como a de Guerra seriam as grandes protagonistasbrasileiras nesse Marinha.
confronto. Uma outra contribuição significativa foi a designação de 13 ofi-
A Marinha Mercante brasileira era modesta, no entanto,desde ciais aviadores, sendo 12 da Marinha e um do Exército para seaper-
os primeiros anos do século, os governos que se sucederamprocu- feiçoarem como pilotos de caça da RAF no teatro europeu.Depois
raram aparelhá-la, o que foi auspicioso, pois teríamos naguerra um de árduo adestramento em quedois pilotos se acidentaram, sendo
teste fundamental para a manutenção de nosso fluxocomercial. No umfatal, eles foram considerados qualificadospara operações de
início do conflito – quando o Brasil ainda mantinhairrestrita neu- combate, tendo sidoempregados no 16° Grupo da RAF, comsede
tralidade –, diversos países envolvidos na guerra, ávidospara cobrir em Plymouth, em missões depatrulhamento no Canal da Mancha.
as perdas provocadas por afundamentos, oferecerampropostas de A propósito, a Escola de Aviação Naval Brasileira, localizada na
compras de muitos de nossos mercantes. Ilha das Enxadas, na Baía de Guanabara, e a Flotilha de Aviões de
Propostas de compras do Lloyd Brasileiro, maior companhiade Guerra haviam sido criadas no dia 23 de agosto de 1916, compor-
navegação do período, foram comuns. Entretanto, o governo na- tando inicialmente apenas três aviões Curtiss que chegaram ao Bra-
cional, premido pela necessidade de manter o comércio comoutros sil dois mesesantes. A Aviação Militar, por outro lado,operava no
países e de escoar o nosso principal produto, o café,principalmente Campo dos Afonsos, ondefuncionava a Escola de Aviação Militar.
para os Estados Unidos, impediu todas essastentativas de arrenda-
mento. Ao final essa ação veio a serfundamental para o Brasil.

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HISTÓRIA NAVAL
tinha por finalidade colocar a navegação nacional, a aliada ea neu-
tra ao abrigo de possíveis ataques de navios alemães dequalquer
natureza nas nossas águas.
A Divisão Naval do Norte era composta dos Encouraçadosguar-
da-costas Deodoro e Floriano, dos Cruzadores Tiradentes eRepúbli-
ca, de dois contratorpedeiros, três avisos e duascanhoneiras. Sua
sede era Belém.
A Divisão Naval do Centro compunha-se dos EncouraçadosMi-
nas Gerais e São Paulo e de seis contratorpedeiros, com sede noRio
de janeiro.
Por fim, a Divisão Naval do Sul era composta dos Cruzadores-
Barroso, Bahia e Rio Grande do Sul, de um iate e doiscontrator-
pedeiros, com sede em São Francisco do Sul.A Marinha possuía
também três navios mineiros; uma flotilhade submersíveis, com
um tênder, três pequenos submarinosconstruídos na Itália e uma
torpedeira; as Flotilhas do Mato Grosso,Amazonas e de aviões de
guerra; e, por fim, navios soltos.
Um fato inusitado e curioso que na época provocou grande-
sucesso promocional foi o primeiro vôo do Presidente da Repú- A Divisão Naval em Operações de Guerra
blicaWenceslau Braz em hidroavião da Armada, em 2 de abril de O governo de Wenceslau Braz decidiu enviar uma divisãonaval
1917,um dia antes do torpedeamento de primeiro navio brasileiro, para operar sob as ordens da Marinha britânica, na ocasião amaior
oParaná, nas costas francesas. O mais interessante foi que Wen- e mais poderosa do mundo. Logicamente, os naviosescolhidos de-
ceslauhavia comparecido à formatura dos novos pilotos na Ilha veriam ser da Esquadra adquirida oito anos antes naprópria Ingla-
dasEnxadas e não estava previsto o vôo realizado com o primeiro- terra, pois eram os mais modernos que o Brasilpossuía. No entanto,
mandatário da República. Ao ser provocado pelo Ministro daMari- devido aos avanços tecnológicos provocadospela própria guerra,
nha, Wenceslau Braz aceitou o convite para um vôo sobre oRio de esses navios se tornaram obsoletosrapidamente. Em que pese tal
Janeiro e Niterói. Imediatamente colocou o capacete e atúnica a ele fato, a escolha da alta administraçãonaval recaiu nos dois cruzado-
oferecida e se posicionou no avião para início daaventura. Por cerca res (Rio Grande do Sul e Bahia), emquatro contratorpedeiros (Piauí,
de 30 minutos, o Presidente se deliciou comaquele sobrevôo, para Rio Grande do Norte, Paraíba e SantaCatarina), um rebocador (Lau-
o espanto dos repórteres que esperavamo seu regresso. rindo Pitta) e um cruzador-auxiliar(Belmonte), ao todo oito navios.
No principal porto do país, o do Rio de Janeiro, centroeconô- Contra quem iríamos lutar? A Alemanha, apesar de possuir
mico e político mais importante, instituiu-se uma linha deminas uma Esquadra menor que a Inglaterra, possuía uma frota muito
submarinas cobrindo 600 metros entre as Fortalezas da Lajee Santa agressiva e motivada, que se batera com valentia até aquele mo-
Cruz. Duas ilhas oceânicas preocupavam as autoridadesnavais de- mento.
vido a possibilidade de serem utilizadas como pontos derefúgio de No início da guerra os alemães selançaram à guerra de corso
navios inimigos. As de Trindade e Fernando de Noronha. utilizandonavios de superfície, no estilo decorsários independentes
A primeira foi ocupada militarmente em maio de 1916 com que atacavamos mercantes navegando solitários.
umgrupo de cerca de 50 militares. Uma estação radiotelegráfica- Essa estratégia, com o decorrer daguerra, foi abandonada.
mantinha as comunicações com o continente e freqüentemente- Preferiu-se aguerra submarina, que mostrou-semuito mais eficien-
Trindade era visitada por navios de guerra para o seureabasteci- te. Esses submarinosnão chegaram a atuar nas nossas costascomo
mento. Quanto a Fernando de Noronha, lá existia umpresídio do aconteceu na Segunda GuerraMundial, no entanto atacaram nos-
Estado de Pernambuco. A Marinha, então, passou aassumir a defe- sosnavios nas costas européias e osafundaram sem trégua.
sa dessa ilha, destacando um grupo de militarespara guarnecê-la.
Não houve nenhuma tentativa de ocupaçãopor parte dos alemães.
Com o estado de guerra declarado, os ataques aos mercantes-
brasileiros continuaram. Em 2 de novembro, nas proximidades daI-
lha de São Vicente, na costa africana, foram torpedeados maisdois
navios, o Guaíba e o Acari. Depois de atingidos, seuscomandantes
conseguiram os encalhar, salvando-se a carga, não impedindo, no
entanto, que vidas brasileiras fossem perdidas.
Outro ataque, já no ano de 1918, aconteceu ao Mercante Ta-
quari da Companhia de Comércio e Navegação, na costa inglesa.
Desta feita o navio foi atingido por tiros de canhão, tendo tempo de
arriar as baleeiras que, no entanto, foram metralhadas, provocan-
do a morte de oito tripulantes.
Esses ataques insuflaram ainda mais a opinião pública brasilei-
raque, influenciada por campanhas jornalísticas e declarações de-
diversos homens públicos, exigiu um comprometimento maiorcom
a causa Aliada, com a participação efetiva no esforço bélicocontra
as Potências Centrais.
Desde o início do conflito, a participação da Marinha nocon-
fronto baseou-se no patrulhamento marítimo do litoralbrasileiro
com três divisões navais, como já mencionado, distribuídasnos por-
tos de Belém, Rio de Janeiro e São Francisco do Sul. Esseserviço

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HISTÓRIA NAVAL
A preparação dos navios ainda no Brasil requereu muitosre-
cursos de toda a ordem. Entre os pontos a serem corrigidosestava
a deficiência de abastecimento, principalmente a escassezde com-
bustível, o carvão. Dava-se preferência a um tipo de carvãoprove-
niente da Inglaterra, o tipo cardiff ou dos Estados Unidos da Amé-
rica. O carvão nacional, por possuir grande quantidade de enxofre,
era contra-indicado e esse ponto nevrálgico preocupou os chefes
navais durante toda a comissão da DNOG.
Depois de três meses de adestramento contínuo com as tripu-
lações, os navios suspenderam do Rio de Janeiro em grupos peque-
nos para se juntarem na Ilha de Fernando de Noronha.
Inicialmente, os contratorpedeiros deixaram a Guanabara no
dia 7de maio de 1918, seguidos no dia 11pelos dois cruzadores. Em
6 de julho,suspendeu do Rio de Janeiro oCruzador Auxiliar Belmon-
te e, dois diasdepois, o Rebocador Laurindo Pitta.Esses navios fica-
ram responsáveis detransportar o carvão necessário para aDNOG,
daí sua grande importâncialogística.
No dia 1° de agosto a Divisão unidasuspendeu de Fernando de
Noronhacom destino a Dakar, passando porFreetown.

Há que se notar que a Marinha brasileira era dependente de su-


primentos vindos do exterior. Não existiam estaleiros capacitados,
nem fábricas de munição e estoques logísticos adequados. Dessa
forma, a preparação da Divisão Naval em Operações de Guerra
(DNOG), como ficou conhecida essapequena força, foi muito difi-
cultada por limitações que não eramsó da Marinha, mas também
do Brasil. Como critério de escolha,abriu-se o voluntariado para os
seus componentes e foi escolhidoum contra-almirante ainda muito
jovem, com 51 anos de idade,habilidoso e com grande experiência
marinheira, na ocasiãocomandante da Divisão de Cruzadores com
base no porto de Santos, o Almirante Pedro Max Fernando de Fron-
tin, irmão do engenheiro Paulo de Frontin10.
A principal tarefa a ser cumprida por essa divisão seriapatru-
lhar uma área marítima contra os submarinos alemães,compreen-
dida entre Dakar no Senegal e Gibraltar, na entrada doMediterrâ-
neo, com subordinação ao Almirantado inglês.

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HISTÓRIA NAVAL
poderiam aproveitar a baixa velocidade dosnavios para o ataque
torpédico. A tensão reinante durante esseseventos era enorme,
sem contar com as difíceis condições emque eram realizadas. Os
navios ficavam literalmente negros decarvão e todos trabalhavam
do nascer do sol até o término doabastecimento.
Depois de oito dias de travessia, a DNOG chegou ao portode
Freetown, onde se agregou ao Esquadrão britânico. Nessacidade,
os navios permaneceram por 14 dias, reabastecendo-se esofrendo
os reparos necessários à continuação da missão.
Em 23 de agosto de 1918, a Divisão suspendeu em direção a
Dakar, tendo essa derrota sido muito desconfortável para as tripu-
lações dos navios devido ao mau tempo reinante. Na véspera da
chegada a esse porto africano, no período noturno, foi avistado um
submarino navegando na superfície. Imediatamente foi atacado
pela força brasileira, no entanto o submarino conseguiu lançar um
contra-ataque contra o Cruzador-Auxiliar Belmonte, quase atingin-
do seu intento, uma vez que a esteira fosforescente do torpedo foi
perfeitamente observada a 20 metros da popa do navio brasileiro.
A 26 de agosto, os navios aportavam em Dakar e aí começa-
riam as grandes provações dos tripulantes nacionais.
Todo esse martírio teria início quando o navio inglês Mantua
iniciou uma rotina observada por nossos marinheiros que o viam
suspender de quando em vez para o alto-mar regressando em se-
guida. Logo após, soube-se que essas saídas eram para lançar ao
mar os corpos dos homens de sua tripulação que haviam contraído
a terrível “gripe espanhola”11. Possivelmente o Mantua foi o res-
ponsável pela transmissão da moléstia que vitimaria diversos tripu-
lantes que nunca retornariam ao Brasil.
No início de setembro as primeiras vítimas brasileiras eram
atingidas pela gripe mortal. Os sintomas eram quase sempre os
mesmos. Fraqueza generalizada, seguida de grande aumento de
temperatura, com transpiração excessiva. Depois de três ou quatro
dias de grande mal-estar, seguia-se tosse com expectoração san-
güínea e congestão pulmonar. Alguns iniciavam as convulsões e os
soluços, outros se debatiam em agonia, todos ávidos por água para
debelar a sede incontrolável. Dentro de pouco tempo a morte se
abatia derradeira e incontrolável.
A permanência em Dakar deveria ser curta. No entanto,devido a
gravidade da situação sanitária com a gripe, os navios lápermanece-
ram mais tempo. A tudo isso somou-se o impaludismoe as febres bilia-
res africanas. Dos navios atingidos pelas doenças, omais afetado foi o
O propósito dessa primeiraderrota até Freetown era destrui- Cruzador-Auxiliar Belmonte que, entre seus 364tripulantes, contaram-
ros submarinos inimigos que seencontravam na rota da DNOG. -se 154 doentes. Substituições foramsolicitadas ao Brasil, que vieram
Oarmamento naquela ocasião para seneutralizar esses submarinos no Paquete Ásia para completaros claros com as moléstias apontadas.
erabastante primitivo, não se comparandocom nada que se viu na Foram vitimados 156 brasileiros12 da DNOG pela “gripe espa-
Segunda GuerraMundial. Existiam hidrofones primitivos e bombas nhola”.
de profundidadede 40 libras, que eram lançadas pela borda no local
provável ondese encontrava o submarino. É interessante mencio-
nar que opróprio submarino, naquela oportunidade, não possuía
capacidadede permanecer mergulhado durante longo período de
tempo, oque era uma grande limitação. Normalmente, os ataques
contramercantes eram realizados utilizando-se os canhões locali-
zados em seus conveses. A maior possibilidade de se destruir esses
submarinos acontecia quando o inimigo vinha à superfície para des-
truir o alvo ou por canhão ou mesmo com o uso de torpedos.
Nessa travessia inicial, alguns rebates de “prováveis submari-
nos” foram dados, porém não tiveram confirmação.
Outro ponto interessante na travessia Fernando deNoronha–
Freetown era a faina de transferência de carvão em altomar. Esses
recebimentos aconteciam em quaisquer condições detempo e de
mar e obrigavam a atracação dos navios ao CruzadorAuxiliar Bel-
monte e a utilização do Rebocador Laurindo Pitta paraauxílio nas
aproximações. Foram manobras perigosas quedemandaram muita Cemitério São João Batista Mausoléu erguido em homenagem aos
capacidade marinheira dos tripulantes, alémda natural vulnerabili- mortos da Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG)
dade durante os abastecimentos, quando ossubmarinos inimigos Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

59
HISTÓRIA NAVAL
Os navios britânicos e brasileiros em Freetown e Dakarficaram
inoperantes em face das condiçõessanitárias reinantes, estando a
defesa doestreito entre Dakar e Cabo Verde somentea cargo de
dois pequenos naviosportugueses. Com grande esforço pessoal,a
DNOG conseguiu logo depois designar oPiauí e o Paraíba para auxi-
liarem osportugueses naquela área de operações.Em 3 de novem-
bro, a DNOG largoude Dakar em direção a Gibraltar, sem o RioGran-
de do Sul, o Rio Grande do Norte, oBelmonte e o Laurindo Pitta, os
dois primeirosavariados e os dois seguintes designados paraoutras
missões. Sete dias depois os naviosda Divisão faziam sua entrada
em Gibraltar.
No dia seguinte, o Armistício foi assinado, dando a Grande
Guerracomo terminada. Nossa missão de guerra findara, no entan-
to nossaDivisão prolongou sua permanência na Europa, já que foi
convidadapara participar das festividades promovidas pelos vito-
riosos. Porcerca de seis meses nossos navios permaneceram em
águaseuropéias participando das comemorações pela vitória, e vi-
sitandopaíses que tomaram parte naquele grande conflito.
A vitória dos aliados seria confirmada em Paris, em 28 deju-
nho de 1919, quando se reuniram os representantes de 32 paísese
assinaram o Tratado de Versalhes, que foi imposto à Alemanhader-
rotada.
Em 9 de junho de 1919, depois de parar Recife por brevesdias,
os navios da DNOG entravam na Baía de Guanabara, portosede da
Divisão Naval. Acabara assim, a participação da Marinhana Primeira
Guerra Mundial.
No entanto, iniciativas modestas, ainda durante a Grande-
Guerra, como a criação da Escola Naval de Guerra (depois Escolade
Guerra Naval), da Flotilha dos Submarinos, com os trêspequenos
submarinos da Classe F, e da Escola de Aviação Naval,indicaram a
necessidade de se avançar na melhoria das condiçõesde prontidão
da nossa Força Naval.
A Revolução de 1930 representou para a Marinha um divisorde
águas entre duas épocas distintas. Em relatório do Ministro daMa-
rinha no ano de 1932, em que foi feita uma análise da situaçãoda
Marinha, encontra-se registrada a seguinte declaração: “Estamos-
deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra agoniza pela idade[a
maior parte dos navios era da Esquadra de 1910], e, perdidocom ela
o hábito das viagens, substituído pela vida parasitária eburocrática
dos portos, morrem todas as tradições(...) Estamosnuma encruzi-
lhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob basespermanentes
e voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossafraqueza pro-
vocadora(...) estamos completamentedesaparelhados....”13.
O programa naval estabelecido em 1932, e ajustado em193614,
elaborado sem obedecer nenhum planejamento estratégicoou po-
O Período entre Guerras lítico, criou uma Força Naval modesta, um pouco melhorequilibra-
O período entre guerras, que abarcou os anos de 1918 até1939, da, dentro das possibilidades financeiras e técnicas do País,poden-
caracterizou-se pelo abandono a que foi submetida não só aMari- do ministrar adestramento satisfatório e de intervir emoperações
nha de Guerra como praticamente toda a atividade nacionalrela- limitadas, mais no campo interno que externo. Devemosreconhe-
cionada com o mar. A ausência de mentalidade marítima dopovo cer, no entanto, que tal modesta iniciativa foi um marco de cora-
brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade. gem, pois utilizou a incipiente indústria brasileira na tentativa de
se reconstituir em termos nacionais um Poder Naval com alguma
credibilidade.
Em 1935, foi iniciada uma grande reforma no Encouraçado
Minas Gerais, que constou da substituição de suas caldeiras e do
aumento do alcance de seus canhões de 305 mm

60
HISTÓRIA NAVAL
– Flotilha de Mato Grosso: Monitores Parnaíba, Paraguaçu
ePernambuco; Avisos Oiapoque e Voluntários; e Navio-Tanque
Potengi.Pode-se perceber, claramente, a vulnerabilidade de nosso
PoderNaval para o enfrentamento da guerra A/S (anti-submarino).
Nãopossuíamos sensores adequados, nem adestramento para a
lutacontra os submarinos. A doutrina A/S era baseada ainda nas
liçõesapreendidas na Primeira Guerra Mundial, muito diferente do
quevinha ocorrendo nas águas do Atlântico Norte e Mediterrâne-
odesde 1939.

A situação em 1940
Como vimos, no início da década de 1940 o nosso Poder Naval
possuía limitações operacionais importantes. No início da Segunda
Guerra Mundial, em 1939, na Europa, o Brasil contava com pratica-
mente os mesmos navios da Primeira Guerra Mundial.
A verdade é que não se equipam e treinam forças navais sem
verbas condizentes, que eram seguidamente preteridas pelo gover-
no Getúlio Vargas.
As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da Armadae-
ram a defesa de nossa enorme e desprotegida costa marítima e,fun-
As atividades de minagem e varredura tinham sido mantidas damentalmente, a proteção das linhas de comunicação, vitaispara
em segundo plano desde o fim da Grande Guerra, utilizando-se na- a conservação de nossas artérias comerciais com o exteriore para a
vios mineiros varredores improvisados. Em 1940, obedecendo ao manutenção das linhas de cabotagem15. Devemos observarque no
novo programa naval então aprovado, decidiu-se pela construção ano de 1940 esse tipo de transporte era fundamental, poisnão exis-
no Brasil de uma série de navios mineiros varredores, todos perten- tia uma única comunicação terrestre entre Belém e SãoLuís, entre
centes à classe Carioca. Fortaleza e Natal e entre Salvador e Vitória.
Em 1940, a nossa Força de Alto-Mar era assim constituída:

Esquadra: Segunda Guerra Mundial


– Divisão de Encouraçados: Minas Gerais e São Paulo. Antecedentes
– Divisão de Cruzadores: Rio Grande do Sul e Bahia. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foiobriga-
– Flotilha de Contratorpedeiros: Maranhão, Piauí, Rio Grande da a restituir a Alsácia e a Lorena à França, ceder as minasde carvão,
do Norte, Sergipe, Santa Catarina e Mato Grosso. suas colônias, submarinos e navios mercantes. Alémdisso, deveria
– Flotilha de Submarinos: Humaitá, Tupi, Timbira e Tamoio. pagar aos vencedores uma indenização em dinheiro,ficando proibi-
– Trem: Tênderes Belmonte e Ceará; Navios-Tanques Novais da de possuir Força Aérea e de fabricar alguns tiposde armas. Era
de Abreu e Marajó; Rebocadores Aníbal de Mendonça, Muniz Frei- proibido também possuir um Exército superior a100 mil homens.
re, Henrique Perdigão e DNOG. Estas medidas do Tratado de Versalhes atingiram duramentea
Flotilha de Navios Mineiros Varredores: economia alemã, afligindo seu povo, que passou a nutrir umsenti-
– dez navios. mento de aversão às principais potências da época. Estavamcons-
Flotilha da Diretoria de Hidrografia e Navegação: tituídos os elementos que os nazistas necessitavam paraalcançar o
– três navios hidrográficos e dois navios faroleiros. poder. Muitas dessas restrições, sob o comando de Hitler,começa-
Navio isolado: ram a ser ignoradas. A Alemanha crescia e, por isso,necessitava de
– Navio-Escola Almirante Saldanha. mercado para os seus produtos e de colônias ondepudesse adquirir
matérias-primas.
Por outro lado, também dispostos a destruírem a ordemcolo-
nial vigente, Japão e Itália adotaram, na década de 1930, umapolí-
tica expansionista contra a qual a Liga das Nações mostrou-seimpo-
tente. Cobiçando as matérias-primas e os vastos mercadosda Ásia,
o Japão reiniciou sua investida imperialista em 1931,conquistando
a Manchúria, região rica em minérios que pertenciaà China. Em ou-
tubro de 1935, a Itália de Mussolini invadiu a Etiópia.
Em 1936, a Alemanha nazista começou a mostrar suas inten-
sõesocupando a Renânia (região situada entre a França e a Ale-
manha),indo juntar-se à Itália fascista e intervir na Guerra Civil
Espanhola afavor do General Franco. Neste ano de 1936, Itália,
Alemanha eJapão assinaram um acordo para combater o comunis-
mointernacional (Pacto Anti-Comintern), formalizando o Eixo Ro-
maBerlim-Tóquio.
Flotilha Fluviais: Em agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética firmara-
Dispondo o Brasil de imensas bacias potamográficas, as forças mentre si um Pacto de Não Agressão, que estabelecia, secreta-
fluviais sempre representaram um papel importante em nossa con- mente,a partilha do território polonês entre as duas nações. Hitler
cepção estratégica. Em 1940, elas eram assim constituídas: sesentiu à vontade para agir, invadindo a Polônia e dando início
– Flotilha do Amazonas: Canhoneira Amapá e Rebocador Mário àSegunda Guerra Mundial, que se alastrou por toda a Europa.
Alves.

61
HISTÓRIA NAVAL
Início das hostilidades e ataques aos nossos navios mercantes
A Marinha Mercante brasileira somava 652.100 toneladasbru-
tas de arqueação no início da guerra. Mesmo pequena ecomposta
de navios antiquados, se comparada com as grandespotências de
então, ela exercia papel fundamental na economianacional, não só
no transporte das exportações brasileiras, mastambém na navega-
ção de cabotagem que mantinha o fluxocomercial entre as econo-
mias regionais, isoladas pela deficiência das nossas redes rodoviá-
rias e ferroviárias.
No decorrer da guerra, foram perdidos por ação dossubmari-
nos alemães e italianos 33 navios mercantes, que somaramcerca
de 140 mil toneladas de arqueação (21% do total) e a mortede 480
tripulantes e 502 passageiros.
Os primeiros ataques à nossa Marinha Mercante ocorreram-
quando o Brasil ainda se mantinha neutro no conflito europeu.
Em22 de março de 1941, no Mar Mediterrâneo, o Navio Mercan-
te(NM) Taubaté foi metralhado pela Força Aérea alemã, tendo sido- A única exceção nesse período foi o NM Comandante Lira,tor-
avariado apesar da pintura em seu costado da Bandeira Brasileira. pedeado no litoral brasileiro, ao largo do Ceará, pelo Submarinoita-
Com a entrada dos Estados Unidos da América naquele con- liano Barbarigo. Foi o único navio a ser salvo, graças ao prontoauxí-
flito,os submarinos alemães passaram a operar no Atlântico oci- lio dado pelo Rebocadorda Marinha brasileira HeitorPerdigão e por
dental,ameaçando os navios de bandeiras neutras que tentassem alguns naviosnorte-americanos.
adentrarportos norte-americanos.
A primeira perda brasileira foi o NM Cabedelo, que deixou opor-
to de Filadélfia, nos Estados Unidos, com carga de carvão, em14 de
fevereiro de 1942. Naquele momento ainda não existia osistema de
comboios nas Antilhas. O navio desapareceurapidamente sem dar
sinais, podendo ter sido torpedeado por umsubmarino alemão ou
italiano. Ele foi considerado perdido por açãodo inimigo, uma vez
que o tempo reinante era bom e claro.

O NM Barbacena e NMPiave, torpedeados pelo Submarino


alemão U-155 ao largo daIlha de Trinidad, em 28 de julhode 1942,
foram as últimas perdasocorridas por ação do inimigo enquanto o
Brasil ainda se mantinhaformalmente como país neutro.
Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu relaçõesdiplomá-
ticas com os países que compunham o Eixo. A colaboraçãomilitar
entre o Brasil e os Estados Unidos, que desde meados de1941 já era
notória, intensificou-se com a assinatura de um acordopolítico-mili-
Seguiu-se o torpedeamento do NM Buarque, em 16 defeve-
tar em 23 de maio de 1942.
reiro de 1942, pelo Submarino alemão U-432, comandado peloCa-
Neste período deslocava-se para o saliente nordestinobrasilei-
pitão-Tenente Heins-Otto Schultze, a 60 milhas do CaboHatteras,
ro a Força-Tarefa 3 da Marinha norte-americana, tendo ogoverno
quando levava para os Estados Unidos 11 passageiros,café, algo-
Vargas colocado os portos de Recife, Salvador e,posteriormente,
dão, cacau e peles. O navio, do tipo misto, era do LloydBrasileiro,
Natal à disposição das forças norte-americanas.
tendo se salvado toda a tripulação de 73 homens16.Em 18 de fe-
As atitudes cada vez mais claras de alinhamento do Brasilcom
vereiro de 1942 foi a vez do NM Olinda,torpedeado pelo mesmo
os países aliados levaram o Alto Comando alemão a planejaruma
U-432, ao largo da Virgínia, EstadosUnidos. O submarino veio à su-
operação contra os principais portos brasileiros.Posteriormente,
perfície, mandando o mercanteparar, dando ordem de abandonar
por ordem de Hitler, esta ofensiva submarina foireduzida em ta-
o navio. Esperou que todosembarcassem nas baleeiras e, a tiros de
manho, mas não em intensidade, com o envio deum submarino ao
canhão, pôs a pique oOlinda. A tripulação, de 46 homens, foi salva
litoral com ordens para atacar nossa navegaçãode longo curso e de
pelo USS Dallas.
cabotagem.
Seguiram-se, em 1942, os torpedeamentos dos mercantes Ara-
No cair da tarde de 15 de agosto de 1942, o Submarinoale-
butã, em 7 de março; Cairu, em 8 de março; Parnaíba, em 1o de
mão U-507, comandando pelo Capitão-de-Corveta HarroSchacht,
maio; Gonçalves Dias, em 24 de maio; Alegrete, em 1° de junho;
torpedeou o PaqueteBaependi, que navegava ao largoda costa de
Pedrinhas e Tamandaré, em 26 dejunho, todos ocorridos ou nacos-
Alagoas com destinoao Recife. O velho navio foi aofundo levando
ta norte-americana ou noMar das Antilhas, área que ossubmarinos
270 almas de umtotal de 306 tripulantes e passageiros embarca-
alemães atuaram noinício do envolvimento dosEstados Unidos no
dos, inclusiveparte da guarnição do 7° Grupo de Artilharia de Dorso
conflito,quando ainda eram precáriasas patrulhas anti-submarinas-
do Exército Brasileiro que iria reforçar as defesas do Nordeste.
norte-americanas.

62
HISTÓRIA NAVAL
Algumas horas depois, o U-507 encontrou o Paquete Araraquara navegando escoteiro e inteiramente iluminado e afundou com dois
torpedos, vitimando 131 das 142 pessoas a bordo.
Na madrugada do dia 16, foi a vez do Paquete Aníbal Benévolo, também utilizado nas linhas de cabotagem.

Em 17 de agosto, na altura do Farol do Morro de São Paulo, ao Sul de Salvador, o U-507 torpedeou o Paquete Itagiba, que tinha, entre
os seus 121 passageiros, o restante do 7° Grupo de Artilharia de Dorso.
Nesse mesmo dia, o NM Arará foi torpedeado quando recolhia náufragos dos primeiros alvos do submarino germânico. A última víti-
ma do Comandante Schacht foi a Barcaça Jacira, pequena embarcação que foi posta a pique em 19 de agosto.
A ação de cinco dias do submarino alemão U-507 levou a pique seis embarcações dedicadas às linhas de cabotagem, vitimando 607
pessoas, chocando a opinião pública brasileira e levando o governo a declarar o estado de beligerância com a Alemanha em 22 daquele
mês e, finalmente, o estado de guerra contra esse país, a Itália e o Japão em 31 de agosto de 1942.
Com comboios organizados ainda de maneira incipiente, foram afundados os navios mercantes Osório e Lages, em 27 de setembro de
1942, seguindo-se o afundamento do pequeno NM Antonico, que navegava escoteiro ao largo da costa da Guiana Francesa. Este ataque
alemão ficou tragicamente gravado na mente dos protagonistas, pois o U-516 com sua artilharia metralhou os náufragos nas baleeiras,
após o pequeno navio ter sido posto a pique, matando e ferindo muitos deles. Ainda em 1942, foram perdidos os NM Porto Alegre e
Apalóide.
A organização dos comboios nos portos nacionais, que reuniam navios mercantes da navegação de longo curso e de cabotagem,
escoltados por navios de guerra brasileiros e norteamericanos e a intensa patrulha anti-submarino empreendida pelas forças aeronavais
aliadas levaram a uma drástica diminuição nas perdas dos navios de Bandeira Brasileira, com oito torpedeamentos, comparados aos 24
ocorridos ao longo do ano anterior.

63
HISTÓRIA NAVAL

A maioria dos navios mercantes brasileiros vitimados por submarinos alemães em 1943 navegava fora dos comboios. O NM Brasilóide
navegava escoteiro quando foi torpedeado em 18 de fevereiro de 1943; já o NM Afonso Pena, indevidamente, abandonou o comboio do
qual fazia parte e foi afundado em 2 de março; o NM Tutóia foi atingido em 20 de junho, também viajando isolado.
O NM Pelotaslóide, fretado ao governo norte-americano para transporte de material bélico, foi afundado na entrada do canal para o
Porto de Belém quando esperava o embarque do prático, estando escoltado por três caça-submarinos da Marinha brasileira.

64
HISTÓRIA NAVAL
O NM Bagé compunha um comboio quando, na tarde de 31 de
julho, foi obrigado a seguir viagem isolado, pois suas máquinas pro-
duziam fumaça em demasia, fazendo com que o comboio pudesse
ser localizado por submarinos do Eixo a grandes distâncias, colocan-
do em risco os outros navios comboiados. Naquela mesma noite foi
torpedeado. Os dois últimos torpedeamentos de navios mercantes
brasileiros foram o Itapagé, em 26 de setembro, e o Campos, em 21
de outubro de 1943, todos os dois navegando escoteiros.

A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de


nossos meios e defesa ativa da costa brasileira
A Lei de Empréstimo e Arrendamento – Lend Lease – comos
Estados Unidos permitia, sem operações financeirasimediatas, o
fornecimento dos materiais necessários aoesforço de guerra dos
países aliados. Ela foi assinada a 11demarço de 1941.
Em acordo firmado a 1° de outubro de 1941, o Brasil obteve,-
nos termos dessa lei, um crédito de 200 milhões de dólares, oqual,
por ordem do presidente da República, coube ao Exército100 mi-
lhões e à Marinha e à Força Aérea 50 milhões cada. Da cotadestina-
da à Marinha, um total de 2 milhões de dólares foidespendido com
o armamento dos navios mercantes.
Ao rompermos relações diplomáticas como Eixo, aMarinha do
Brasil desconhecia as novas táticas anti-submarino eestava, conse-
qüentemente, desprovida do material flutuante e dosequipamen-
tos necessários para executá-las, como bemmostramos anterior-
mente.

65
HISTÓRIA NAVAL
Os progressos verificados nos entendimentos entre o Brasile os
Estados Unidos, depois dos torpedeamentos dos primeirosnavios
na costa leste norte-americana e nas Antilhas, permitiramincluir na
agenda de discussões o fornecimento ao Brasil depequenas unida-
des de proteção ao tráfego e de ataque asubmarinos.
Os primeiros navios recebidos pelo Brasil, depois dadeclaração
de guerra, foram os caça-submarinos da classe G(Guaporé e Guru-
pi), entregues em Natal, a 24 de setembrode 1942.
Em seguida, foram incorporados à Marinha do Brasil, emMia-
mi, oito caça-submarinos da classe J (Javari, Jutaí, Juruá,Juruema,
Jaguarão, Jaguaribe,Jacuí e Jundiaí).
No ano de 1943, foramentregues mais seis unidadesda classe G
(Guaíba, Gurupá,Guajará, Goiana, Grajaú eGraúna).
Nos anos de 1944 e 1945,mais oito unidades foramentregues,
dessa vez os excelentes contratorpedeiros-de-escolta que já opera-
vam emnossas águas (Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bauru, Baepen-
di,Benevente, Babitonga e Bocaina).
Após o término da guerra na Europa, a Marinha recebeudos Contratorpedeiro Greenhalgh
Estados Unidos, a 16 de julho de 1945, em Tampa, na Flórida,o Na- Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
vio-Transporte de Tropas Duque de Caxias.
Mais tarde, a cessão desses navios ao Brasil foi tornadaperma-
nente, com o compromisso de não os entregarmos a outrospaíses,
sendo então fixado o seu aluguel em 5 milhões de dólares,descon-
tando-se o que nos era devido pelo arrendamento de naviosbrasi-
leiros aos Estados Unidos, pela cessão do mercante mistoalemão
Windhunk aos norte-americanos e pelos navios perdidosdurante a
guerra.
Nada se conhece sobre indenizações norte-americanas, emtro-
ca das facilidades concedidas à sua Marinha em nossos portos,nem
pelo uso do território nacional para instalação de suas basesaéreas
e navais. Simplesmente, ficamos de posse das benfeitorias realiza-
das e dos materiais existentes em seus armazéns.
Quanto às construções navais aqui no Brasil, tivemos a incor-
poração de contratorpedeiros da classe M (Mariz e Barros, Marcílio
Dias e Greenhalgh) e das Corvetas Matias de Albuquerque, Felipe
Camarão, Henrique Dias, Fernandes Vieira, Vidal de Negreiros e Corveta Carioca
Barreto de Menezes. Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
Declarada a guerra, foi desenvolvido um trabalho intenso para
adaptar nossos antigos navios, dentro de suas possibilidades, para Essas aquisições pelo Lend Lease e os aperfeiçoamentos im-
a campanha anti-submarino. Os seguintes serviços foram executa- petrados em nossa Força Naval vieram aumentar em muito nossa
dos: capacidade de reagir de forma adequada aos novos desafios que se
– Cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul: instalados sonar e afiguravam. Seria injusto não mencionar que o auxílio norteameri-
equipamento para ataques antisubmarino (duas calhas para lança- cano foi vital para que pudéssemos nos contrapor aos submarinos
mento de bombas de profundidade de 300 libras); alemães.
– Navios mineiros varredores classe Carioca: reclassificados Além disso, algumas providências de caráter administrativo, de
como corvetas. Retirados os trilhos para lançamento de minas e treinamento e modificações materiais foram se tornando necessá-
instalados sonar e equipamentos para ataques anti-submarino rias.
(dois morteiros K e duas calhas para lançamento de bombas de Como primeira medida de caráter orgânico, foram instalados
profundidade de 300 libras); os Comandos Navais, criados pelo Decreto n° 10.359, de 31 de
– Navios Hidrográficos Rio Branco e Jaceguai: mesmas insta- agosto de 1942, com o propósito de prover uma defesa mais efi-
lações das Corvetas classe Carioca e mais duas metralhadoras de cazda nossa fronteira marítima, orientando e controlando as ope-
20mm Oerlikon; raçõesem águas a ela adjacentes, não só as relativas à navegação
– Navio-Tanque Marajó: instalado um canhão de 120mm na comercial,como às de guerra propriamente ditas e de assuntos
popa e uma metralhadora de 20mm Oerlikon; correlatos. Aárea de cada Comando abrangia determinado setor de
– Tênder Belmonte: reinstalados dois canhões de 120 mm; nossas costas marítimas e fluviais.
– Contratorpedeiros classe Maranhão e restante de classe Foram instalados os seguintes comandos:
Pará: instaladas duas calhas para lançamento de bombas de pro- Comando Naval do Norte, com sede em Belém, abrangendo os
fundidade de 300 libras; e Estados do Acre, Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí.
– Rebocadores e demais navios-auxiliares, armados com uma Comando Naval do Nordeste, com sede em Recife, abrangen-
ou duas metralhadoras de 20 mm Oerlikon. do os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco
e Alagoas.
Comando Naval do Leste, com sede em Salvador, abrangendo
os Estados de Sergipe, Bahia e Espírito Santo.

66
HISTÓRIA NAVAL
Comando Naval do Centro, com sede no Rio de Janeiro, abran- res. O patrulhamento interno cabia aos navios da chamadaFlotilha
gendo os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. “João das Bottas” (constituída de navios mineiros e deinstrução),
Comando Naval do Sul, com sede em Florianópolis, abrangen- rememorando a flotilha de pequenas embarcaçõescomandada
do os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. pelo Segundo-Tenente João Francisco de OliveiraBottas, que fusti-
Comando Naval do Mato Grosso, com sede em Ladário, abran- gou os portugueses encastelados em Salvador ena Baía de Todos os
gendo as bacias fluviais de Mato Grosso e Alto Paraná. Santos na Guerra de Independência.
Esses Comandos, ordenando suas atividades conforme acon- Externamente, ou onde fosse necessário, atuavam os antigos-
cepção estratégica da guerra no mar (da preparação logística edo contratorpedeiros classe Pará, oriundos do programa dereapare-
emprego das forças ou outros elementos de defesa nas zonasque lhamento naval de 1906, recebidos em 1910, com mais de30 anos
lhes eram atribuídas, e obedecendo às diretrizes geraisestabele- de intensa operação. A responsabilidade da defesa ficouafeta ao
cidas pelo Estado-Maior da Armada, a quem se achavamsubordi- Comando da Defesa Flutuante, subordinado ao ComandoNaval do
nadas), constituíram uma organização da maior importânciana Centro.
conduta eficaz das operações navais. Sua existência facilitou ode- Em junho de 1944, afastado o perigo de um ataque desubma-
senvolvimento dos recursos disponíveis nas respectivas áreasde rinos aos navios surtos no porto, suspendeu-se a patrulhaexterna
influência, mobilizando elementos para o apoio logístico e paraa feita pelos veteranos contratorpedeiros, sendo mantidaapenas a
defesa local. vigilância interna, a cargo de um rebocador portuário.
O chefe do Estado-Maior da Armada entrou ementendimento Um especialista norte-americano, o Tenente Jacowski,esta-
com seus colegas do Exército e da Aeronáutica paraorganizar um beleceu planos para a utilização de bóias de escuta submarina,a
serviço conjunto de vigilância e defesa da costa, tendente a preve- serem adotadas de acordo com as necessidades. Em julho de1943,
nir a possibilidade de aproximação e desembarque inimigos. teve início o serviço de varredura de minas do canal da barra,reali-
zada pelo USS Flincker, substituído mais tarde pelo USS Linnet.
Defesas Locais Observamos aí, mais uma vez, o auxílio direto norte-americano
Desde julho de 1942, por meio da Circular n° 40, do dia 14, em ao nosso plano de defesa local;
atendimento às Circulares Secretas nos 9 e 33, respectivamente-
de 22 de janeiro e 12 de junho de 1942, o Estado-Maior da Arma-
dadeterminou que se observassem as instruções que orientavam
asatividades de cada capitania de porto ou delegacia, em benefício
daSegurança Nacional.
A ação do Estado-Maior da Armada estendeu-se ao serviço de
carga e descarga dos navios mercantes nos portos, tendo, para esse
fim, coordenado sua ação com a do Ministério da Viação e Obras
Públicas e com a Comissão de Marinha Mercante. Preocupou-se,
também, com as luzes das praias e edifícios próximos aos portos,
ou em regiões que pudessem silhuetar os navios no mar, alvos dos
submarinos inimigos.
Imaginava-se que o Alto Comando alemão traçaria planos para
realizar ataques maciços aos portos brasileiros. Em agosto de 1942,
chegou a ser ventilada pelo Alto Comando Naval alemão a autoriza-
ção para investida em nossas águas de vários submarinos.
No entanto, somente o U-507 foi designado para operar em
nossas águas. A 20 de agosto de 1943, pela Circular n° 5, o Coman-
do da Força Naval do Nordeste alertou para a possibilidade dede- Encouraçado Sâo Paulo
sembarque de elementos isolados, tendo como objetivo realizara- Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
tos de sabotagem contra portos, depósitos, comunicações eoutros
pontos vitais do território brasileiro. Recife – O Encouraçado São Paulo, amarrado nointerior do
arrecife, provia a defesa da artilharia esupervisionava a rede anti-
Defesa Ativa torpédica. A varredurade minas era feita por navios mineiros varre-
Na História há numerosos exemplos de navios corsários que doresnorte-americanos. Estava estacionado no Recifeum grupo de
surgiram de surpresa diante de um porto para danificarem suas ins- especialistas em desativação deminas, as quais, por vezes, davam à
talações ou amedrontarem suas populações17. Do ponto de vista costa, sendoestudadas cuidadosamente antes de seremdestruídas.
militar, os efeitos dessas incursões são reduzidos, sendo a ação, na As minas encontradas à deriva eramdestruídas pelos navios de
maioria das vezes, executada para desorganizar a vida da localida- patrulha com tiros decanhão. O Terceiro Grupamento Móvel de-
de e obter efeitos morais. Artilharia de Costa e o Segundo Grupo doTerceiro Regimento de
Com o advento do submarino, o perigo tornou-se maior, com a Artilharia Antiaérea do Exércitocoordenavam-se com os elementos
possibilidade de torpedeamento de navios surtos nos portos. da Marinha, o que permitiauma cobertura completa da costa;
Por esses motivos, foi organizada a defesa ativa, atuando em Salvador – A defesa principal do porto cabia ao Encouraçado
pontosfocais da costa, com a finalidade de repelir qualquer ataque MinasGerais, com sua artilharia controlada em conjunto com as
aéreoou naval inimigo, por meio de ações coordenadas da Marinha bateriasdo Exército, situadas na Ponta de Santo Antônio e na Ilha
deGuerra, do Exército e da Aeronáutica. Adotaram-se seguintesme- deItaparica. Em abril de 1943, os Monitores Parnaíba e Paraguaçu
didas de defesa ativa adotadas: forammovimentados de Mato Grosso para Salvador, por solicitação
Rio de Janeiro – Instalação de uma rede de aço protetora noa- doComandante Naval do Leste. Depois de sofreremalgumas modi-
linhamento Boa Viagem – Villegagnon e coordenação do serviçode ficações no Rio de Janeiro (emespecial no armamento), ficaram em
defesa do porto com as fortalezas da barra. A rede era fiscalizada- condiçõesde operar na Baía de Todos os Santos.
por lanchas velozes, e a sua entrada aberta e fechada porrebocado-

67
HISTÓRIA NAVAL
Aparelhos de radiogoniometria de alta frequência cruzavam
as marcações com equipamentos semelhantes no Recife, a fim de
localizar submarinos;

Navio-Transporte José Bonifácio


Acervo do Serviço de Documentação da Marinha

A Força Naval do Nordeste


A missão da Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundialfoi
patrulhar o Atlântico Sul e proteger os comboios de naviosmercan-
tes que trafegavam entre o Mar do Caribe e o nosso litoralsul con-
Monitor Parnaíba tra a ação dos submarinos e navios corsários germânicos eitalianos.
Acervo do Serviço de Documentação da Marinha A capacidade de combate da Marinha do Brasil no alvorecerdo
conflito era modesta se comparada com as grandes Esquadrasem
Natal – Os serviços de proteção do porto estavam a cargo do luta no Atlântico Norte e no Pacífico. O nosso pessoal e nossos-
Comando da Base Naval de Natal. Também eram acionadas uni- meios não estavam preparados para se engajar com o inimigo ocul-
dades do Exército (que mantinham baterias na barra) e da Força tosob o mar, que assolava o transporte marítimo em nosso litoral.
Aérea Brasileira; Ingressaríamos em uma guerra anti-submarino semequipa-
Vitória – A proteção do porto ficou entregue ao Exército, ha- mentos para detecção e armamento apropriados, porémeste obs-
vendo a Marinha cedido alguns canhões navais de 120 mm para táculo não impediu que navios e tripulações estivessempatrulhan-
artilhar a barra; do nossas águas, mesmo antes do envolvimento oficial do governo
Ilhas oceânicas – Na Ilha da Trindade foi estacionado um des- brasileiro no conflito, apesar de todos os perigos.
tacamento de fuzileiros navais, em 20 de março de 1942, levado A criação da Força Naval do Nordeste, pelo Aviso n° 1.661, de
pelo Navio-Transporte José Bonifácio. 5 de outubro de 1942, foi parte de um rápido e intenso processo
A defesa do Arquipélago de Fernando de Noronha, situado- de reorganização das nossas forças navais para adequar-se àsitu-
em ponto focal no Atlântico, ficou entregue ao Exército, que oar- ação de conflito. Sob o comando do Capitão-de-Mar-e-GuerraAl-
tilhou fortemente, levando contingentes emcomboios escoltados fredo Carlos Soares Dutra, a recém-criada força foi inicialmente-
por navios da Marinha. Aocupação se deu logo depois que o Brasil composta pelos seguintes navios: Cruzadores Bahiae Rio Grandedo
rompeurelações diplomáticas com o Eixo, sendo oprimeiro grupo Sul, Navios Mineiros Carioca, Caravelas, Camaquãe Cabedelo(pos-
de militares transportados, juntocom material de guerra, em um teriormente reclassificados como corvetas) e os CaçaSubmarinos
comboio, em 15de abril de 1942; Guaporé e Gurupi.
Santos – Os Rebocadores São Paulo (eram doiscom o mesmo Ela seria posteriormente acrescida do Tênder Belmonte, ca-
nome, sendo um chamado de iate)foram artilhados; outras embar- çasubmarinos, contratorpedeiros-deescolta, contratorpedeiros
cações menoresrequisitadas faziam serviço de vigilância; classe M,submarinos classeT, constituindo-se naForça-Tarefa 46 da
Rio Grande – Foi artilhado o Rebocador AntonioAzambuja. Força do Atlântico Sul,reunindo a nossa Marinha sob o comandoo-
Como reforço às defesas locais, foramcriadas Companhias Regio- peracional da 4a Esquadra Americana.
nais do Corpo de Fuzileiros Navais emBelém, Natal, Recife e Salva- A atuação conjunta com os norteamericanos trouxe novos
dor. meios navais earmamentos adequados à guerra antisubmarino,
Ao se lembrar da participação da Marinha na Segunda Guerra bem como proporcionoutreinamento para o nosso pessoal.
Mundial, a primeira imagem que surge é a conhecida Força Naval O combate, porém, nos custoumuitas vidas. As perdas brasilei-
do Nordeste. Como era afinal a sua composição e tarefas? ras na guerramarítima somaram 31 navios mercantes e três navios
de guerra, tendo a Marinha do Brasil perdido 486homens. Nesse
ponto seria interessante descrever em maioresdetalhes as perdas
de nossas unidades de combate durante a Batalhado Atlântico.

68
HISTÓRIA NAVAL

A primeira perda da Marinha de Guerra foi a do NavioAuxiliar


Vital de Oliveira, torpedeado por submarino alemão pelotravés do
Farol de São Tomé, em 19 de julho de 1944. Às 23h55min,foi senti-
da forte explosão na popa, abrindo grande rombo, poronde come-
çou a entrar água em enormes proporções. Segundoalgumas teste-
munhas, o afundamento do navio deu-se em apenastrês minutos.
A maior parte dos sobreviventes foi resgatada nodia seguinte por
um barco pesqueiro e por outros dois naviosda Marinha, o Javari e
o Mariz e Barros. Morreram nesse ataque99 militares.
Quarenta e oito horas após o torpedeamento do Vital deOliveira,
a cerca de 12 milhas a nordeste da barra de Recife,perdeu-se a Cor-
veta Camaquã, afundada devido a violento mar.Discutem-se até hoje
os motivos que levaram esse navio a seuafundamento. O Comandan-
teAntônio Bastos Bernardes,sobrevivente do sinistro,afirmou alguns
anos após esseacidente que o emborcamentose deu por “fortuna do
mar”.Seja como for, pereceramnessa oportunidade 33pessoas.
Por fim, o pior desastre enfrentado pela Marinha durante aSe-
gunda Guerra Mundial foi a perda do Cruzador Bahia, no dia 4de
julho de 1945. Essa tragédia foi exacerbada peloconhecimento dos
terríveis sofrimentos dos náufragos,abandonados no mar durante
muitos dias, por incompreensívelfalha de comunicações.
Três infortúnios e cerca de 486 mortos, incluindo os falecidos
em outros navios e em navios mercantes afundados, mais que os
mortos brasileiros em combate na Força Expedicionária Brasileira
que lutou na Itália.
Pouco discutida é a atuação da Quarta Esquadra Norte-Ameri-
cana, subordinada ao Vice-Almirante Jonas Ingram.
Figura notável que teve o mérito de congregar forças hetero-
gêneas em um comando unificado, eficiente e coeso, auxiliado pe-
los Almirantes Oliver Read e Soares Dutra, comandantes das prin-
cipais forçastarefas.

69
HISTÓRIA NAVAL
Essa força norte-americana compreendeu, em seu maior efe- A quinta foi a nossa aproximação com os norte-americanos.
tivo, seis cruzadores, 33 contratorpedeiros, diversas esquadrilhas Essa associação nos alinhou diretamente com suas doutrinas e co-
de patrulha, bombardeiros e dirigíveis, além de caça-submarinos, muma exacerbada ênfase na guerra anti-submarino. Essa percep-
patrulheiros, tênderes, varredores, auxiliares e rebocadores. çãosó foi mudada a partir da denúncia, em 1977, do Acordo Milita-
Um dos principais pontos desse relacionamento Brasil– Esta- rassinado com esse país em 1952. Com esta denúncia, optamospor
dos Unidos foi a integração operacional entre as duas Marinhas. uma tecnologia relativamente autóctone.
Foram aperfeiçoados procedimentos comuns e táticas eficazes E, por fim, a guerra no mar mostrou-nos que, no caso doBrasil,
na luta anti-submarino. em uma conflagração generalizada, as nossas linhas decomunica-
Em 7 de novembro de 1945, concluída a sua missão, a ForçaNa- ção serão os alvos prioritários em nossa defesa, pois aindasomos
val do Nordeste regressou ao Rio de Janeiro em seu últimocruzeiro, dependentes do comércio marítimo.
tendo contribuido para a livre circulação nas linhas de navegação
do Atlântico Sul.

E o que ficou?
Não se pode analisar a participação da Marinha de Guerrabra-
sileira na Segunda Guerra Mundial sem apontar alguns dadosque
delimitam todo o seu esforço para manter nossas linhas decomu-
nicação abertas.Foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo
1.577brasileiros e 1.041 norte-americanos, em 575 comboios.
Considerando esse número de navios e as perdas em com-
boios,chegamos à conclusão de que cerca de 99,01% dos navios-
protegidos atingiram os seus destinos.
Foram percorridos pelos escoltas, sem contar os ziguezagues-
realizados para dificultar a detecção submarina e o tiro torpédi-
co,um total de 600.000 milhas náuticas, ou seja, 28 voltas em redor
da Terra pelo Equador.
A Esquadra americana comboiou no Atlântico 16 mil navios, o
que corresponde a 16 mercantes por cada navio de guerra. A Mari- Corveta Caravelas
nha do Brasil comboiou mais de tres mil navios, o que corresponde Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
a 50 mercantes por cada navio de guerra brasileiro.
Foram atacados 33 navios mercantes brasileiros, com um total
de 982 mortos ou desaparecidos na Marinha Mercante. Em tonela-
gem bruta, foram perdidos 21,47% da frota nacional.
O navio de guerra que mais tempo passou no mar foi o Caça-
-Submarinos Guaporé, num total de 427 dias de mar, em pouco
mais de três anos de operação, o que perfez uma média anual de
142 dias de mar.
O navio que participou no maior número de comboios foi a
Corveta Caravelas, com 77 participações.
Com todos esses dados, o que efetivamente significou para a
nossa Marinha de Guerra a sua participação no conflito mundial?
A primeira conclusão a que se pode chegar é a que adquiri-
mosmaior capacidade para controlar áreas marítimas e maior po-
derdissuasório. No entanto, deve ser admitido que tal situação foi
frutodo auxílio norte-americano. Se estivéssemos sozinhos nessa
empreitada, poderíamos ficar em situação delicada, principalmen-
te na manutenção de nossas linhas de comércio marítimo.
A segunda conclusão aponta para uma mudança dementalida-
de na Marinha, com a assimilação de novas técnicas decombate e
a incorporação de meios modernos para as forçasnavais. Essa mu-
dança de mentalidade fez a Marinha tornar-se bemmais profissio- Desfile das tripulações da Força Naval do Nordeste e da Força Na-
nal. val do Sul em 7 de setembro de 1945 na Avenida Rio Branco (RJ)
A terceira foi a oportunidade de a Marinha “sentir o odor do- Acervo do Serviço de Documentação da Marinha
combate”, participar de ações de guerra e adquirir experiências
darefrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de na-
viose companheiros. Essa experiênciade combate foi fundamental
paraforjar os futuros almirantes, oficiaise praças da Marinha, acos-
tumadoscom a vida dura da guerra antisubmarino e da monotonia
e doestresse dos comboios.
A quarta conclusão é apercepção de que a logística ocupalugar
de importância na manutenção de uma força combatenteoperando
eficientemente. Esse tipode percepção refletiu-se na construção da
Base Naval de Natal eoutros pontos de apoio logístico donosso lito-
ral. Nisso os EstadosUnidos foram os grandes mestres.

70
HISTÓRIA NAVAL

CRONOLOGIA 5 – O que efetivamente significou para a Marinha do Brasil a


sua participação na Segunda Guerra Mundial? Descreva em 15 li-
DATA EVENTO nhas as suas conclusões
Julho de 1904 Apresentação na Câmara dos Deputados
do programa de reaparelhamento naval do
O EMPREGO PERMANENTE DO PODER NAVAL - O PO-
Almirante Júlio de Noronha pelo Deputado
DER NAVAL NA GUERRA E NA PAZ: CLASSIFICAÇÃO; A
Laurindo Pitta.
PERCEPÇÃO DO PODER NAVAL; O EMPREGO PERMA-
Nov. de 1906 Aprovação do programa de reaparelhamento NENTE DO PODER NAVAL
naval do Almirante Júlio de Noronha modificado
pelo Almirante Alexandrino de Alencar
O Emprego Permanente do Poder Naval
Ago. de 1914 Começa a Primeira Guerra Mundial. O Poder Naval na guerra e na paz
17 /01/ 1917 A Alemanha estabelece bloqueio sem restrições
ao comércio marítimo com os Aliados.
11/04/ 1917 Rompimento das relações diplomáticas entre o
Brasil e a Alemanha.
26/10/ 1917 Declaração de guerra entre o Brasil e a
Alemanha.
01/08/ 1918 DNOG suspende de Fernando de Noronha com
destino à África.
09/11/ 1918 Termina a Primeira Guerra Mundial
09/06/1919 DNOG regressa ao Rio de Janeiro.
01/09/1939 Começa a Segunda Guerra Mundial.
11/03/1941 Assinatura da Lei de Empréstimos e
Arrendamentos – Lend Lease – com os Estados
Unidos da América.
28/01/1942 Brasil rompe relações diplomáticas com os
países do Eixo.
31/08/1942 Declaração de guerra entre o Brasil e a
Alemanha – Criação dos Comandos Navais na
costa brasileira e Mato Grosso.
05/10/1942 Criação da Força Naval do Nordeste.
19/07/1944 Torpedeamento do Navio-Auxiliar Vital de
Oliveira no través do Farol de São Tomé.
21/07/1944 Afundamento da Corveta Camaquã próximo a
Recife
08/05/1945 Termina a Segunda Guerra Mundial
04/07/1945 Afundamento do Cruzador Bahia entre o
Nordeste e a África.
07/11/1945 A Força Naval do Nordeste regressa ao Rio de
Janeiro.

FIXAÇÃO
1 – O Programa de Reaparelhamento da Marinha de 1904,
além da aquisição de navios, incluía alguns melhoramentos funda-
mentais para um Poder Naval que se desejava no Brasil. Quais eram
esses melhoramentos? Quem foi o idealizador desse Programa?
Quem o modificou? Por que? Quais as alterações propostas?
2 – Como estava a Marinha preparada para enfrentar os ger-
mânicos na Primeira Guerra Mundial? Qual foi a principal contribui- Sem o Poder Naval não haveria este Brasil que herdamos de-
ção da Marinha na luta contra as potências centrais? Descreva em nossos antepassados. Conforme se verifica neste livro, o PoderNa-
quinze linhas essa contribuição. val português, por algum tempo o luso-espanhol, e, mais tarde,após
3 – Por que o Brasil declarou guerra ao Eixo na Segunda Guer- a Independência, o brasileiro, foram empregados com aviolência
ra Mundial? Como era constituída a Marinha brasileira e quais as necessária nos conflitos e nas guerras que ocorreram nopassado.
Defesas Ativas do Rio de Janeiro? Quais as perdas na Marinha de Toda vez que alguém utilizou a força para impor seuspróprios inte-
Guerra nesse conflito? resses encontrou a oposição de um Poder Naval quedefendeu com
4 – O que foi o Programa Lend Lease? eficácia o território e os interesses que possibilitarama formação
do Brasil.

71
HISTÓRIA NAVAL
Cabe observar que, em geral, o que qualquer nação mais dese- No caso do Brasil, por exemplo, na pazque desejamos, a Ama-
ja é a paz. Mesmo os países que promoveram as guerras do passa- zônia é território nacional;o comércio internacional deve ser livre,
do queriam alcançar a paz. A paz, porém, da forma que desejavam, assimcomo o uso do transporte marítimo nas rotasde nosso inte-
impondo aos outros o que lhes convinha. resse; a maior parte do petróleocontinua sendo extraída do fundo
A Alemanha mandou seus submarinos afundarem os navios do mar, semingerências de outros países; a enorme áreacompreen-
mercantes brasileiros porque não queria que o Brasil, apesar deser dida pela Zona Econômica Exclusivae pela Plataforma Continental
ainda neutro na Segunda Guerra Mundial, continuasse a fornecer- brasileira,chamada de Amazônia Azul, é controlada pelo País; não
matérias-primas para seus inimigos. Algumas dessas matérias-pri- ocorrem exigências anormais nopagamento de nossa dívida exter-
maseram muito importantes para o esforço de guerra deles. Oin- na; entre outrascoisas. A dissuasão é, portanto, uma dasprincipais
teresse do Brasil era continuar comerciando com quem desejassee formas de emprego permanente doPoder Militar em tempo de paz,
transportando as mercadorias livremente em seus navios, masisto existindo outras,como veremos adiante.
não era bom para os alemães, que precisavam vencer a guerrapara Na paz, ou no que se denomina paz nomundo, o confronto en-
alcançar a paz da forma que desejavam, o mais breve possível. tre os países, resultantede conflitos de interesses, ocorre evitando,
Na paz que a Alemanha queria, suas conquistas territoriais de- aomáximo, o uso da violência, porém, disputandopoliticamente,
veriamser reconhecidas pelos outros países e sua expansão, julga- econo-micamente e em todas asoutras manifes-tações da poten-
da porela importante para o futuro dos alemães, imposta aos po- cialidadenacional. Nesse contexto, o potencial ofensivointrínseco
vosvencidos. dos instrumentos do Poder Militar fazcom que seu emprego, mes-
A guerra resulta de conflitos de interesses. Ela ocorre porque- mo indireto, possaexcitar reações em países observadores. Taisre-
não há um árbitro supremo para resolver completamente asques- ações podem simplesmente resultar de excitação acidental oure-
tões entre os países. Existem organizações internacionais,como a fletir resultados intencionalmente desejados por quem exerceesse
Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organizaçãodos Estados emprego indireto do Poder Militar, chamado de persuasãoarmada.
Americanos (OEA), por exemplo, que muito ajudampara evitar a Como a paz é relativa, a persuasão armada não exclui nem
violência e manter essas questões no campo dadiplomacia. Verifi- o uso da força, de maneira limitada, desde que entendido como
ca-se, no entanto, que o poder delas é limitado,porque as nações simbólico pelo país agredido. As grandes potências internacionais,
são ciosas de sua soberania. Cada país precisase precaver, cuidando como os Estados Unidos da América, a Rússia e outros utilizam per-
da defesa de seus interesses, para queos outros nunca pensem em manentemente seus poderes militares.
empregar meios violentos pararesolver os conflitos. Dos componentes do Poder Militar, o Poder Naval pode serem-
Não seria lógico pensar que alguém possa empregar a violên- pregado para exercer persuasão armada, em tempo de paz,no que
cia sem que imagine ter uma boa probabilidade de êxito,sofrendo se denominou, na década de 1970, de “emprego políticodo Poder
apenas perdas aceitáveis. Cabe ao Poder Militar de umpaís – do Naval”. Ele pode ser empregado em condiçõesinigualáveis com ou-
qual o Poder Naval é também um dos componentes –criar perma- tros poderes militares, graças a seus atributosde: mobilidade, ver-
nentemente uma situação em que seja inaceitável,para os outros, satilidade de tarefas, flexibilidade tática,autonomia, capacidade de
respaldar seus interesses conflitantes com oemprego de força. Isto projeção de poder e alcance geográfico
é, o nosso Poder Militar devepermanentemente dissuadir os outros – que já foram referidos no primeiro capítulo deste livro. Con-
países de usar a violênciae é, conseqüentemente, o guardião da paz correpara isso o conceito de liberdade dos mares, que possibilita
– daquela paz que nosinteressa, evidentemente. aosnavios de guerra se deslocar livremente em águas internacio-
nais,atingindo locais distantes e lá permanecendo, sem maiores-
comprometimentos, em tempo de paz.
Antes da invasão do Afeganistão em outubro de 2001, porexem-
plo, os americanos deslocaram para águas internacionais,próximas
do local do conflito, uma poderosa força naval. Influíamassim nos
países da região, sinalizando apoio aos aliados,dissuadindo as ações
dos que lhes eram hostis e favorecendo oapoio dos indecisos, em
suma, criando intencionalmente umavariedade de reações.
O sentido indireto da palavra persuasão é significativo, pois éa-
través da reação dos outros que ela se manifesta. Então, éessencial
que eles percebam o emprego das forças navais,modificando seu
ambiente político e, conseqüentemente, afetandosuas decisões,
por se sentirem apoiados, dissuadidos ou mesmocompelidos a uma
reação específica. Exerce-se, portanto, a persuasão armada esti-
mulando resultados que dependem de reações alheias, políticas e/
ou táticas, às vezes conflitantes e em princípio imprevisíveis. Existe
sempre a possibilidade de se configurarem situações inesperadas,
até pelo resultado, não intencional, da excitação de terceiros. Daí
a importância de uma permanente avaliação em qualquer ação de
emprego político do Poder Naval.

72
HISTÓRIA NAVAL

Manobra no mar do Navio-Tanque Gastão Motta e Fragata União


No passado, muitasvezes as nações detentorasde Poder Naval
utilizaramseus navios de guerra eforças navais com o propósito de
Classificação
sustentação ou dedissuasão. A simples existência de um Poder Na-
Os tipos de persuasão naval, específicos do emprego do Poder
valpreparado para a guerrapode fazer com que aliadosse sintam
Naval em tempo de paz, classificados quanto aos modos em que os
apoiados em suasdecisões políticas nasrelações internacionais eini-
efeitos políticos se manifestam são:
migos sejam dissuadidos desuas intenções agressivas.
– sustentação;
Evidentemente, osefeitos da persuasão armadapodem se ma-
– dissuasão;
nifestar em diferentes níveis de intensidade. A relaçãoentre as for-
– coerção.
ças empregadas para a persuasão naval e a intensidadedos efeitos
Na sustentação e na dissuasão, a persuasão se manifestacom-
que elas estimulam não é nem direta nem proporcional.
portamentalmente em termos de se sentir apoiado oucontrariado
A resultante final da persuasão depende da integração das ini-
em suas intenções, de acordo com o próprio significadodos termos
biçõese incitações provocadas pela ameaça ou apoio, que são, por
empregados. Os aliados se sentem apoiados e quem éhostil se sen-
suavez, função de decisões tomadas sob pressões políticas,condi-
te inibido de agir, portanto, dissuadido.
cionadas por fatores psicossociais e culturais e pela interaçãoentre
A coerção, por sua vez, pode ser positiva ou compelente,quan-
os líderes e a opinião pública. A percepção, portanto, alémde rela-
do a uma ação já iniciada é forçada uma determinada linha deação,
tiva, é essencial à análise da persuasão.
modificando-a, ou negativa, também chamada de deterrente,quan-
A percepção do Poder Naval
do inibe uma determinada atitude, impedindo que seja tomada.
Como toda percepção, a do Poder Naval depende dascapacida-
Na crise da década de 1960, chamada de Guerra da Lagosta,por
des que são visíveis ao observador. Esse observador estáembebido
exemplo, a França enviou navios de guerra, em tempo de paz,para
num contexto político, doméstico, regional einternacional, que não
proteger seus barcos de pesca, que capturavam lagostas naplata-
apenas molda suas reações, como tambéminflui na própria percep-
forma continental brasileira. O governo brasileiro determinouque
ção.
diversos navios da Marinha do Brasil se dirigissem para o localda
Enquanto numa guerra preponderam as qualidades reais dos
crise, mostrando que o País estava disposto a defender seusdirei-
meios empregados, que decidem os resultados das ações militares,
tos, se necessário com o emprego da força. Logo os naviosfrance-
em situação de paz ou conflitos de natureza limitada, as ameaças
ses retornaram e o conflito de interesses voltou para ocampo da
são medidas em termos de previsões e comparações. Essas previ-
diplomacia – de onde nunca deveria ter saído. Apersuasão naval
sões se baseiam nos dados quantitativos e qualitativos ao alcance
exercida pelo emprego do Poder Navalbrasileiro foi de coerção de-
do observador, de sua capacidade de perceber, portanto
terrente3, porque inibiu o apoio queintencionalmente os franceses
pretendiam dar a seus barcosde pesca.

73
HISTÓRIA NAVAL
os britânicos desviaram o Cruzador HMS Amphritite paraMascate
(capital de Omã). Para eles, a disputa de prestígio com aRússia no
Oriente era importante. Seu comandante providencioumais duas
chaminés de lona para seu navio, totalizando seis erestaurando o
prestígio local da Marinha Real.
Possivelmente, a percepção mais importante do empregopo-
lítico de uma força naval não está na aparência da força em si,-
nem no prestígio da Marinha a que pertence, mas na percepçãodo
quanto é realmente importante o objetivo pretendido paraquem
aplica a persuasão armada. A disposição de usar a força ede sofrer
as perdas conseqüentes deste ato é essencial e deve serclaramen-
te perceptível. A percepção da capacidade de alcançar oobjetivo
pela força também é muito importante. Pode ocorrerque não exis-
ta essa capacidade, ou que não se possa alcançar oobjetivo sem
um sacrifício superior ao seu valor, ou basta queassim seja avaliado
pelo país alvo, para que os resultados não sejamatingíveis através
do emprego político do Poder Naval.
É interessante observar que, atualmente, os mísseis arsuperfí-
cie e superfície-superfície colocaram países relativamentefracos em
condições de causar danos consideráveis a uma forçanaval próxima
a suas costas. Tal fato, porém, não impede que umaforça naval pos-
sa exercer persuasão, porque não é sua capacidadeabsoluta que
importa, mas sim o que ela significa comorepresentante do Poder
Naval e da vontade de seu país de alcançaro objetivo suportando as
perdas prováveis, se tal for assimpercebido.
Na crise provocada pelos mísseis que a União Soviéticapreten-
dia instalar em Cuba, em 1962, a Marinha dos Estados Unidosmos-
trou determinação suficiente para que os soviéticos decidissemque
os navios que transportavam os mísseis deveriam regressar.Foi
portanto uma ação de coerção deterrente do emprego políticodo
Poder Naval americano, pois modificou uma ação que já estavaem
Treinamento de fuzileiros navais brasileiros andamento, em face de terem percebido que os americanosesta-
vam dispostos a usar a força para não ter seu território aoalcance
dos mísseis de Cuba.
Os países desenvolvidos têm, emgeral, maior capacidade para
Considerando o conflito pela posse das Ilhas Falklands/Malvi-
avaliar asverdadeiras ameaças resultantes doPoder Militar, inclusi-
nas, em 1982, os argentinos deixaram de ser dissuadidos peloPoder
ve do Poder Naval,que é um de seus componentes. Sabemutilizar
Naval britânico e invadiram as ilhas, porque julgaram que ovalor
seus meios de comunicação paradivulgar notícias que valorizam
daquelas ilhas não compensava o esforço de projetar o poderda
acapacidade de seus armamentos. Omesmo não ocorre com países
Marinha da Grã-Bretanha àquela distância no Atlântico Sul, emface
emdesenvolvimento, que podem até ter suapercepção bastante
das perdas humanas e materiais que provavelmente teria. Porseu
influenciada poressas notícias, tendo em vista suaspróprias limita- turno, a ocupação militar das ilhas falhou porque o governobritâ-
ções de análise. nico levou a questão ao ponto de defesa da honra doReino Unido.
Consequentemente, as avaliações dasforças navais podem le- O ambiente doméstico do país que é alvo da persuasão é bá-
var a conclusõesbastante distorcidas em relação àcapacidade real sico no contexto político das decisões que governam sua eficácia.
em combate, mas, emtempo de paz, são estas avaliaçõessubjetivas É fundamental que os líderes desse país aceitem serem persu-
que importam e queproduzem resultados. adidose até cooperem, servindo de intermediários com a opinião
São “invisíveis” aos leigos em guerranaval, por exemplo, a pública,para que o objetivo da persuasão seja considerado uma ne-
complexidadesistêmica dos navios modernos,necessárias às res- cessidadeimposta e a atitude tomada como pragmática.
postas rápidas eeficazes, quando em combate. Por outro lado, são
“visíveis” osmísseis, os canhões e o próprio porte e aspecto externo O emprego permanente do Poder Naval
do navio. A teoria do emprego político do Poder Naval mostra a possibi-
Na realidade, é importante que o navio tenha suficiente flexibi- lidade do uso permanente das forças navais em tempo de paz, em
lidade para possibilitar seu emprego político, mas a função política apoio aos interesses de uma nação. Isso é verdade tanto para os
de tempo de paz não deve levar à preparação de um Poder Naval países desenvolvidos quanto para os países em desenvolvimento e
apenas aparente. a intensidade e tipos de emprego são apenas funções do ambiente
O prestígio de uma Marinha sempre foi um dos atributosmais regional onde se situam e das vulnerabilidades que possuem.
importantes para a percepção do Poder Naval. O prestígioestá Para os países mais pobres, o armamento moderno possibili-
principalmente baseado nas capacidades “visíveis” e pode levarà ta condições excepcionais, em relação ao passado. O conflito das
necessidade de demonstrar permanente superioridade. A Marinha- Falklands/Malvinas, em 1982, apesar do desfecho desfavorável à
Real da Grã-Bretanha, por exemplo, durante a época em quedomi- Argentina, é um exemplo que não pode deixar de ser citado, por-
nava os mares, fazia questão de manter o seu prestígio. que poderia, até, ter outro resultado, se houvesse submarinos ar-
O Cruzador russo Askold, por exemplo, era o único naviode gentinos eficazes e suficientes.
cinco chaminés do mundo e, em 1902, visitou o Golfo Pérsico.Sua Táticas podem ser descritas para a persuasão naval. Essas táti-
visita causou profunda impressão, devido à percepção depotên- cas são as diversas formas de emprego das forças navais para alcan-
cia mecânica que o número de chaminés transmitia. Emresposta, çarem resultados políticos em tempo de paz. Elas são:

74
HISTÓRIA NAVAL
· demonstração permanente do Poder Naval;
· posicionamentos operativos específicos;
· auxílio naval;
· visitas operativas a portos; e
· visitas específicas de boa vontade.
A demonstração permanente do Poder Naval permite, através de ações como deslocamentos e manobras com forças, inclusive es-
trangeiras, participação em missões de paz da
Organização das Nações Unidas; reforços e reduções de nível de forças; aumento ou redução da prontificação para combate; e obter
efeitos desejados como: aumentar a intensidade da persuasão; desencorajar; demonstrar preocupação em crises entre terceiros; exercer
coerção ou apoio de maneira limitada ou restrita, entre outros.
Os posicionamentos operativos específicos, situando navios ou forças navais próximo a um local de crise constituem apenas um caso
especial da demonstração permanente e as ações podem ser semelhantes.
O auxílio naval inclui a instalação de missões navais, o fornecimento de navios e o apoio de manutenção.
As visitas a portos estrangeiros, para reabastecimento, descanso das tripulações, ou mesmo, específicas de boa vontade, no que se
denomina “mostrar a bandeira”, podem transmitir a imagem do prestígio da Marinha, aumentando a influência e acumulando vantagens
psicossociais sobre o país visitado.

Placa existente, em 2006, no portão de entrada da Base de Fuzileiros Navais no Haiti. Acadêmica Rachel de Queiroz.
O nome da Base é em homenagem à escritora, autora da frase estampada em português e francês (língua oficial do Haiti).

O Poder Naval brasileiro é empregado em tempo de paz de diversas maneiras, podendo-se destacar:
– as operações com Marinhas aliadas, como a Operação Unitas, com a Marinha dos Estados Unidos e de países sul-americanos; a
Operação Fraterno, com a Armada da República Argentina; e muitas outras;
– a participação em diversas missões de paz, transportando as tropas ou através de seus fuzileiros navais, como em São Domingos,
Angola, Moçambique, Nicarágua e Haiti;
– e as viagens de instrução do navio-escola e as visitas a portos estrangeiros, “mostrando a bandeira”.
Cabe também ressaltar o apoio que a Marinha do Brasil presta a outras Marinhas aliadas, na América do Sul e no continente africano.
A análise do passado demonstra a necessidade do emprego permanente do Poder Naval. Para o Brasil, é importante manter um Poder
Naval capaz de inibir interesses antagônicos e de conservar a paz como desejada pelos brasileiros.

75
HISTÓRIA NAVAL
Cruzador – Navio de combate, de tamanho médio, grande ve-
locidade, proteção moderada, grande raio de ação, boa mobilida-
de, e armamento de calibre médio e tiro rápido, destinado a efetu-
ar explorações, coberturas, escoltas de comboios (contra-ataque)
de superfície, guerra de corso, bombardeios de costa, etc.
Os cruzadores descendem das antigas fragatas. A Revolução
Industrial, que permitiu, em meados do século XIX, a substituição
quase simultânea da vela pela máquina a vapor e da madeira pelo
ferro, resultou em profundas modificações nos métodos da guerra
naval. Em 1860, começaram a surgir asprimeiras fragatas dotadas
de couraça, assumindo logo depois um papel preponderante na li-
nha de batalha, e sentiu-se a necessidade de dar às fragatas mais
velozes e menos armadas uma função de observação avançada.
Na Guerra Civil Americana (1861-1865) apareceu o cruzador li-
geiro, um navio levemente armado, sem proteção, destinado a dar
caça aos navios de comércio e reprimir o contrabando.
Pouco depois surgia o cruzador protegido, dotado de uma co-
GLOSSÁRIO berta protetora e subdivisões internas adequadas.
CLASSIFICAÇÃO GERAL DE NAVIOS DE GUERRA Entretanto, somente em 1889 é que começaram a aparecer
Brigue – Do inglês brigantine, do francês brick: navio a vela, os modernos cruzadores, tendo a Inglaterra nesse ano mandado
com dois mastros espigando mastaréus e envergando pano redon- construir navios que classificavam três tipos: cruzadores de 1a, 2a
do, com velas de entremastro e gurupés e um latino quadrangular e 3a classes.
no mastro da mezena. No princípio do século XX, a Inglaterra construiu os cruzado-
Bergantim – Do italiano brigantino, embarcação pirata do res de batalha. Na Batalha da Jutlândia, em 1916 (Primeira Guer-
Mediterrâneo, do inglês brigantine, dofrancês, brigantin. Antiga ra Mundial), três cruzadores de batalha ingleses foram afundados
embarcação a vela e remo, esguia e veloz, de convés corrido, com com quase toda a tripulação: o Invencible, o Infatigable e o Queen
um oudois mastros de galé e oito a dez bancos para remadores. Mary. Todos eles explodiramdepois de alguns impactos e admitiu-
Posteriormente, navio a vela de doismastros, cada um espigando -se que os projéteis tenham atingido os paióis de munição devi-
dois mastaréus (mastro suplementar preso ao mastro real) e enver- doà sua leve couraça. O mesmo fato repetiu-se em 1941 (Segunda
gandopano redondo, com velas no entremastro e gurupés, armado Guerra Mundial) com o Hood, inglêse considerado o maior navio do
com 10 a 20 peças de artilharia. mundo na época, liquidado com a terceira salva do Encouraçadoa-
Caravela – De caravo, do inglês caravel, do francês caravelle: lemão Bismarck.
navio de casco alto na popa e baixo na proa, de proa aberta ou Os tratados assinados em 1919 proibiam a Alemanha de cons-
coberta, arvorando de um a quatro mastros de velas bastardas truir navios de guerra com maisde 10.000t de deslocamento. Tendo
(latinas etriangulares) e armado com até dez peças de artilharia. isto em vista, esse país construiu três navios, o Almirante GraffS-
Sua tonelagem variava de 60a 160t. Algumascaravelas tinham velas pee, o Almirante Scheer e o Deutschland (alterado em 1940 para
redondas no mastro do traquete; foram os navios mais utilizados Lutzow), aos quais classificou comopanzerschiffe (navio encoura-
pelosportugueses nos descobrimentos marítimos dos séculos XV e çado). Até 1939, pouco se sabia sobre eles fora da Alemanha, e a
XVI; tinham pouco calado, bolinavambem e eram de fácil manobra. imprensaos cognominou de encouraçados de bolso. Aparentemen-
Caravo – Embarcação a vela, de porte variável, muito utilizado te, tinham 10.000t de deslocamento, maseram na realidade super-
pelos mouros no Mediterrâneo. cruzadores de 12.000t, armados com seis canhões de 11 polegadas
(280mm) e oito de 5,9 polegadas (150mm).
Corveta – Do francês corvette: navio de guerra semelhante à
O Graff Spee foi vencido na Batalha do Rio da Prata, Argentina,
nau, menor e mais armado que ela,com três mastros, sem acaste-
em 1939 (onde se refugiou avariado e foi afundado pelo próprio
lamentos, armado apenas com uma bateria de canhões, coberta
comandante), por uma Força Naval composta de um cruzador pesa-
oudescoberta, porém mais veloz. Apareceu em fins do século XVIII
do de 8.400t , o Exeter, e dois cruzadores leves, o Ajax e o Achilles.
para substituir a fragata e o brigueem missões de reconhecimento
Os cruzadores construídos até a Segunda Guerra Mundial eram
ofensivo, para o qual este era demasiado fraco e aquela forte de-
classificados em cruzadores pesados e cruzadores ligeiros. É lógico
mais,e desempenhava missões de aviso, de transporte e munição.
admitir que os cruzadores pesados eram maiores e mais podero-
Durante a Segunda Guerra Mundial foram empregadas pe-
sos, mas a base desta classificação não era o tamanho, e sim o ar-
los aliados para patrulha anti-submarino e escolta a comboios. As mamento, sendo considerados pesados os que tinham canhões de
corvetas construídas após a guerra eram basicamente navios de mais de seis polegadas em sua bateria principal e ligeiros aqueles
patrulha adaptados a diversas finalidades, inclusive salvamento e cujos canhões eram menores. Havia ainda os cruzadores de bata-
reboque. Eram navios pequenos, de 500 a 1.100t, e velocidade de lha, navios que, em comparação com os encouraçados, tinham ca-
12 a 18 nós. Atualmente, principalmente devido aos altos custos nhões de mesmo calibre, mas, em menor número, possuíam maior
das fragatas e contratorpedeiros, as corvetas estão readquirindo velocidade e menor couraça.
sua importância, com várias Marinhas envolvidas em programas de Os cruzadores pesados (CP) possuíam uma bateria principal de
construção de navios desta classe. As modernas corvetas da Ma- oito a dez canhões de oito polegadas, dispostos em torres duplas
rinha brasileira (Classes Inhaúma e Barroso) são dotadas de boa encouraçadas, ou nove canhões em torres tríplices. Sua bateria se-
capacidade anti-submarina, mísseis antinavio, canhão de duplo cundária era constituída de oito a doze canhões de cinco polegadas
emprego (antiaéreo e superfície), sistemas de defesa antiaérea e e a bateria antiaérea por um grande número de armas automáticas
antimíssil de curta distância e podem operar um helicóptero. Devi- para tiro a curta distância; possuíam proteção de couraça e alguns
do a sua complexidade e armamento, algumas Marinhas as classifi- CP levavam hidroaviões ou helicópteros.
cam como fragatas leves.

76
HISTÓRIA NAVAL
Em 20 de julho de 1959, a Marinha norte-americana lançou ao Os encouraçados têm sido utilizados para bombardeio pesa-
mar o Long Beach, de 14.000t,classificado como cruzador nuclear do e contínuo de instalações de terra e portos inimigos, inclusive
de mísseis guiados. Primeiro navio de guerra de superfície depro- para apoio de operações anfíbias. Na Segunda Guerra Mundial, eles
pulsão nuclear do mundo, com velocidade superior a 45 nós, dese- também faziam parte da escolta dos grandes comboios.
nhado para operar contraquaisquer inimigos na guerra nuclear ou Até a última grande guerra, o armamento dos encouraçados
convencional. Possuía os mais modernos equipamentospara detec- constituía-se de:
tar e destruir submarinos, aviões e mísseis inimigos da época. 1) uma bateria principal com canhões de 304mm a 406mm,
O cruzador nuclear de mísseis guiados California, de 9.500t, lança- geralmente dispostos em torres tríplices e que lançavam projéteis
do ao mar em 1971,semelhante ao Long Beach, foi o primeiro navio de pesando cerca de uma tonelada a mais de 20 milhas de distância;
guerra a ser armado com canhões de cincopolegadas desguarnecidos. 2) uma bateria secundária com canhões de 122mm ou 147mm,
O primeiro cruzador de mísseis guiados da classe Ticonderoga
em numero de 15 a 20, dispostos em torres duplas;
foi lançado ao mar em 1981,constituindo-se no mais moderno e
3) bateria antiaérea com armas automáticas de pequeno calibre.
poderoso cruzador da atualidade, podendo contar com umaexce-
lente capacidade de detecção nos três ambientes de guerra, além A modernização dos encouraçados que estão em serviço inclui:
de equipamentos de guerraeletrônica de última geração e boa ca- substituição de parte de suabateria secundária e antiaérea por lan-
pacidade de defesa contra ataque nuclear, químico e biológico. çadores de mísseis de cruzeiro e antinavio; instalações de novos-
Contratorpedeiro – Navio de combate destinado a combater as sensores, sistema de defesa antimíssil, sistema de direção de tiro
torpedeiras. Ver verbete: torpedos, torpedeiras, contratorpedeiros. e equipamentos de guerra eletrônicapassiva e ativa; e capacitação
Contratorpedeiro-de-Escolta – Contratorpedeiro construído na para operar três helicópteros de porte médio.
Segunda Guerra Mundial pelos Aliados, especialmente para escoltar O encouraçado é, em síntese, uma plataforma flutuante móvel
comboios. É menor que o contratorpedeiro comum, de menor velo- de canhões de grosso calibre elongo alcance. A couraça constitui a
cidade e com armamento preponderantemente anti-submarino. principal proteção contra tiros de canhão. A espessura da couraça-
Contratorpedeiro-líder – Contratorpedeiro maior do que o co- varia nas diferentes partes do casco, devendo a espessura máxima
mum, com acomodações para um comandante de força e seu estado- ser aproximadamente igual aocalibre dos canhões dos navios se-
-maior, utilizado como líder de flotilha; contratorpedeiro de esquadra. melhantes de outras nações. Considera-se que a couraça devere-
Encouraçado – Do inglês ironclad, battleship, do francês cui- sistir à penetração dos projéteis de calibre igual a sua espessura,
rassê: navio de combate desenvolvido no século XIX, armado de quando lançados das distânciasusuais de tiro.
canhões de grosso calibre, fortemente protegido por couraças nos A couraça é de maior espessura nas torres e na cinta, onde é
pontos vitais, e por subdivisão interna do casco em compartimentos mais provável o impacto direto dos projéteis em ângulo favorável à
estanques. Até a Segunda Guerra Mundial era o navio de combate penetração. Na torres dos canhões e na torre de comando, a espes-
mais poderoso, deslocando de 30 a 50 mil toneladas, e destinado sura pode atingir 457mm.
a constituir a espinha dorsal da linha de batalha, no combate entre A couraça lateral é uma cinta encouraçada de pouco mais de
Esquadras. Durante a Segunda Guerra Mundial, os encouraçados
uma altura de coberta, estendendose ao longo da parte central
foram empregados para canhonear fortificações costeiras, nas ope-
do casco, que compreende suas partes vitais, na linha-d’água e
rações anfíbias; depois cederam a primazia aos navios-aeródromos.
um pouco abaixo.
Na Marinha do Brasil: Encouraçados Minas Gerais e São Paulo
do tipo Dreadnought, lançados ao mar em 1910 e desativados na A couraça horizontal protege o casco contra as bombas aéreas
década de 1950. e tiros de canhão de grandeelevação; consta de um convés encou-
Os primeiros navios encouraçados foram as fragatas francesa raçado de 152 a 205mm e um convés protegido, abaixo doprimeiro,
Gloire e inglesa Warrior, construídas em 1860. Eram navios a vela com cerca de 101mm de espessura. Os pavimentos destas cobertu-
e vapor, tendo seus números canhões nas cobertas, que ficavam ras ajudam a absorvera energia de choque do projétil.
protegidas pela couraça. Na Gloire, a couraça estendia-se por todo Outras partes do casco, como os compartimentos dos apare-
o comprimento do casco, desde o convés até dois metros abaixo lhos de governo, estações dedireção de tiro, passagens principais e
da linha-d‘água em plena carga, e tinha a espessura de 120mm nas tubulações colocadas acima da coberta encouraçada são também-
obras vivas e 110mm nas obras mortas. A Warrior tinha uma cinta protegidas por chapas de couraça. O peso da couraça pode atingir
couraçada estendendo-se por 60 metros na parte central do casco, 40% do peso total do navio.
limitada na proa e a ré por duas anteparas transversais de couraça. A proteção contra explosões submarinas (torpedos, bombas e mi-
O calibre dos canhões foi aumentando gradualmente com a nas) é realizada por duas outrês anteparas longitudinais, constituindo
espessura das couraças até que, com o surgimento das primeiras compartimentos de segurança laterais, chamados coferdansou contra-
torpedeiras, entre 1875 e 1880, houve necessidade de se adotar minas. Esses compartimentos são cheios de óleo, de água, ou são con-
nos encouraçados uma artilharia de calibre médio e tiro rápido. servados vazios. Aespessura das chapas dos coferdans, óleo e a água
Na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) apareceram os encou- absorvem grande parte do choque e do calor daexplosão; os espaços
raçados maiores, bem armados, com canhões de grosso, médio e vazios tendem a absorver a compressão dos gases resultantes da ex-
pequeno calibre. Em 1906, a Inglaterra revolucionou a arquitetu- plosão,reduzindo seus efeitos antes de ser atingida a antepara interna.
ra naval com a construção do tipo Dreadnought, em que se supri- Encouraçado de bolso – Do inglês pocket batteship: nome
mia a artilharia médio calibre, aumentavase o deslocamento para
cunhado pela mídia para designar os encouraçados de 10.000 tone-
18.000t e a velocidade para 21 nós. Logo em seguida, em 1910, o
ladas, construídos e empregados pelos alemães durante a Segunda
mesmo país sentia necessidade de restaurar a bateria secundária
ao construir para o Brasil os Encouraçados Minas Gerais e São Pau- Guerra Mundial. Ex: Graff Spee.
lo, os maiores navios daquela época, cujo tipo evoluiu nos encoura- Fragata – (Do italiano) Embarcação menor que o bergantim
çados da Segunda Guerra Mundial. com popa menos elevada. Navio de guerra semelhante à nau, me-
Até aquela época, o encouraçado era considerado o navio mais nor e menos armado que ela, porém mais veloz e de melhor mano-
poderoso, reunindo máximopoder ofensivo. Em ações da Esquadra, bra. Não tinha castelo e sua mastreação era de galera. Apareceu na
ele permanecia na linha de batalha atacando os maioresnavios ini- primeira metade do século XVII,como aviso e, com o tempo, che-
migos com tiros de canhão de grosso calibre, apoiado por cruzado- gou a ter 60 peças de artilharia e deslocamento de 1.800t (noúltimo
res, navios-aeródromose contratorpedeiros. quartel do século XIX houve fragatas mistas, a vela e a vapor).

77
HISTÓRIA NAVAL
(Do português) Embarcação de boca aberta e popa chata, com Nau – Até fins do século XV, navio de porte relativamente gran-
um mastro que enverga vela latina quadrangular e duas velas de de, com acastelamentos à proa e àpopa, arvorando geralmente um
proa, 200 a 300t de capacidade de carga, usada no Rio Tejo para só mastro com vela redonda (ou “pano”). Daí até fins do séculoXVI,
transporte de mercadorias. princípios do XVII, as naus foram aumentando de tamanho, torna-
Modernamente, navio de combate maior e mais bem armado ram-se muito bojudas (bocacom cerca de 1/3 do comprimento da
que a corveta, empregado para patrulha anti-submarina e escolta quilha), passaram a arvorar até três mastros (traquete, grandee
de comboio e de forças-tarefas, cujo principal armamento são mís- mezena) envergando pano redondo, e uma vela latina quadrangu-
seis. São dotadas de numerosos sensores eletrônicos. No Brasil, fra- lar à popa além de gurupés, etinham até três ou quatro cobertas
gatas da classe Niterói, com duas das seis incorporadas construídas com duas a três baterias de canhões; dependendo destas, varia-
no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). vao número de peças de artilharia que portavam. Com o passar dos
As fragatas estão ligadas aos contratorpedeiros. Cumprem os anos, foi-se modificando o seuvelame. Eram embarcações impo-
mesmos tipos de tarefa e têm características semelhantes. Estes nentes, em geral ricamente ornamentadas, mas de difícil manejo.
navios, hoje, se confundem. Pode-se dizer que, em geral, as fraga- Nau de Guerra – Destinada a proteger o comércio marítimo
tas têm menor deslocamento, menor velocidade e menor quanti- e fazer a guerra no mar, armada de 60a 120 peças de artilharia,
dade de armamento que os contratorpedeiros, mas isso está longe podendo ser de 1a classe (mais de 100 canhões), de 2a classe (90 a
de ser uma regra geral e varia de Marinha para Marinha. 100canhões) ou de 3a (40 a 80 canhões).
Podem atuar em qualquer ambiente da guerra naval, sendo Nau de linha – Armada com 74 canhões ou mais, assim cha-
empregadas, principalmente, em ataquescontra navios de super- mada porque integrava a linha de batalha nos combates navais de
fície; guerra anti-submarino; defesa antiaérea e antimíssil; apoio a vulto.
operaçõesanfíbias; operações de esclarecimento e como piquete Torpedos, torpedeiras, contratorpedeiros – Os primeiros tor-
radar; escolta de comboios; e guerra decorso contra navegação pedos surgiram no início do séculoXIX, sob a forma de uma carga
mercante e combate ao narcotráfico. explosiva rudimentar, que deveria ser transportada por pequena-
As fragatas americanas da classe Oliver Hazard Perry utilizam sembarcações para ser colocada sob o casco de um navio fundea-
mísseis guiados na defesa antiaérea,antimíssil e para ataque a na- do, onde explodiria com uma espoletade tempo. Apareceram tam-
vios de superfície. A primeira unidade dessa classe foi comissionada bém os torpedos rebocados por um cabo de aço, mas a dificuldade
em1977. Os navios têm propulsão a turbina a gás e são equipados daaproximação sem ser notado pelo inimigo retardou o desenvol-
com mísseis Standard e Harpoon,armamento de 76 e 20mm e dois vimento da nova arma. Apesar disto,alguns navios foram afunda-
tubos triplos de torpedos, além de vários equipamentos utilizados- dos desta maneira até 1864, quando o escocês Robert Whitehead
na guerra eletrônica. Elas também podem operar com dois helicóp- construiuo primeiro torpedo de autopropulsão.
teros orgânicos. Com o desenvolvimento do torpedo, começaram a aparecer
Galé – (Do inglês galley), do francês galée – Embarcação de navios destinados à sua utilização,as torpedeiras. Os primeiros na-
guerra da Antigüidade greco-romana e bizantina, comprida e es- vios deste tipo, que empregaram torpedos Whitehead, foramcons-
treita, impelida basicamente por grandes remos (15 a 30 por bordo, truídos de 1875 a 1880. Eram embarcações costeiras, com aproxi-
manejado cada um por três a cinco remadores sentenciados a tra- madamente 30t dedeslocamento e que atacavam principalmente à
balhos forçados) e, eventualmente, por duas velas bastardas içadas noite ou com nevoeiro, pois seus torpedos de seisnós de velocidade
em mastros próximos à proa. Era dotada de esporão, que constituía só percorriam 100 metros de distância.
o seu principal instrumento de ataque a navios inimigos. O sucesso das torpedeiras fez aparecer o navio destinado a
Galera – Navio mercante a vela, com gurupés, três mastros2, combatê-las. Maior, mais rápido earmado com canhões de médio
cada um com dois mastaréus, cruzandovergas (velas redondas) e, calibre para emprego contra a chapa fina das torpedeiras, ficouco-
eventualmente, com velas latinas quadrangulares.Galeão– (Do in- nhecido como contratorpedeiro (destróier).
glês galeno, do francês galion) – Embarcação de alto-bordo, com Na Guerra Hispano-Americana (1898), as torpedeiras e contra-
dois ou trêsmastros envergando velas redondas e gurupés com ve- torpedeiros assumiram papelpredominante, mas os últimos, logo
las de proa; empregada no transporte deouro e prata da América dotados também de torpedos, mostraram-se tão eficientes em-
para a Espanha e Portugal nos séculos XVI, XVII e XVIII. Era armado- todas as formas de combate que foram também tomando o lugar
com numerosos canhões. dos próprios navios a que eram destinados a combater, reduzindo
Monitor – Navio de combate, de calado reduzido, borda-livre a importância das torpedeiras. Os contratorpedeiros foramaumen-
muito pequena, armado com canhõesde médio ou grosso calibre, tando de ano a ano, em tamanho, velocidade e poderio, e hoje são
em geral instalados numa torre giratória na parte de vante e na navios destinados nãosomente a atacar navios de sua espécie, mas
mediana,para emprego em operações fluviais ou de bombardeio também podem ser empregados com eficiência contratodos os
de costa. A vela fora abolida, e o casco domonitor era todo de fer- demais navios, tornando-se os mais decididos adversários de sub-
ro, bastante baixo, com uma borda livre de 40cm apenas; as únicas marinos. Nas duas guerrasmundiais, esses navios tiveram grande
estruturasacima da borda eram a torre, uma pequena estação de desenvolvimento e foram usados com muito sucesso.
governo e as chaminés. Os maiores contratorpedeiros dos últimos anos são os da clas-
Durante a Guerra Civil Americana a partir de 1861, os confe- se Spruance. Construídos deforma modular, em uma linha de mon-
derados construíram uma bateriaencouraçada auto-impulsionada tagem muito avançada, têm 170m de comprimento, 8.040t dedes-
chamada Merrimack. Embora pouco de novo apresentasse em re- locamento, propulsão a turbina a gás e velocidade acima de 30 nós.
laçãoàs canhoneiras francesas da Criméia, revelou-se uma ameaça Seu armamento inclui mísseisde cruzeiro, antiaéreos, antinavios,
que foi enfrentada pelo Monitor, doengenheiro naval sueco John armas para guerra anti-submarino, canhões e helicópteros.
Ericsson. Embarcação de ferro, com bordo livre baixo de 52m de- Atualmente, além de serem navios bastante versáteis, os con-
comprimento cobrindo um casco convencional de 37m. Não havia tratorpedeiros são também osmais numerosos navios de guerra do
nenhuma superestrutura além dechaminés, escotilhas, pequena mundo. São navios de grande velocidade, podendo desenvolveraté
estação de governo e, a obra-prima de Ericsson, uma única torre mais de 30 nós, com grande mobilidade, pequena autonomia, ta-
rotativa que continha dois canhões de antecarga de 11 polegadas. manho moderado e pequenaproteção estrutural. Seu armamento
A disposição da torre sobre o convés permitia a redução do número principal consta de mísseis de curto e longo alcance, torpedos,ca-
de canhões, por atirarem eles pelos dois bordos. nhões e helicópteros.

78
HISTÓRIA NAVAL
Apesar de executarem todos os tipos de tarefas, são emprega- ______________________________________________________
dos principalmente em proteçãode um grupo de batalha nucleado
por um navio-aeródromo; guerra anti-submarino; ataques contra- ______________________________________________________
navios de superfície e alvos em terra; defesa antiaérea e antimíssil;
apoio a operações anfíbias;operações de esclarecimento e como ______________________________________________________
piquete radar; e escolta a comboios.
______________________________________________________
Os contratorpedeiros modernos possuem mísseis de cruzeiro
de longo alcance, canhões de4,5 ou 5 polegadas de tiro rápido, mís- ______________________________________________________
seis antinavio, lançadores de torpedo, mísseis para defesaantiaérea
a curta, média e longa distâncias, helicópteros capazes de levar tor- ______________________________________________________
pedos e mísseis e grandecapacidade de trocar informações com na-
vios da força por meio de link de dados. A Marinha americanapossui ______________________________________________________
ainda contratorpedeiros com grande capacidade de defesa nuclear
e utilização de tecnologiastealth, a qual dificulta a identificação do ______________________________________________________
mesmo pelo inimigo, utilizando para isso diferentes tecnologias,-
______________________________________________________
como uso de superfície e bordas em ângulo (evitando-se ângulos
retos), para diminuir a sua superfícierefletora de radar, sistemas ______________________________________________________
de resfriamento de equipamentos e compartimentos diminuindo
aassinatura infravermelha. Um exemplo disso seria o resfriamento ______________________________________________________
dos gases das turbinas, que, antesde atingirem o exterior do navio,
aquecem a água dos grupos destilatórios e, conseqüentemente, se- ______________________________________________________
resfriam antes de chegarem ao meio ambiente, dificultando assim
a detecção do navio por sistemasinfravermelho. ______________________________________________________
A utilização de equipamentos elétricos, tais como cabrestante
e guinchos, nas partes internasdo navio são muito eficientes para ______________________________________________________
diminuir a assinatura acústica e, com isso, dificultar a detecção por-
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submarinos. Todo e qualquer artifício utilizado para evitar a detec-
ção do navio pelo inimigo pode ser considerado tecnologia stealth. ______________________________________________________
Fonte: HISTÓRIA NAVAL- BITTENCOURT, A. de S. Introdução à
História Marítima Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço de Documen- ______________________________________________________
tação da Marinha, 2006. Disponível em: http://www.redebim.
dphdm.mar.mil.br/vinculos/000008/00000898.pdf ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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HISTÓRIA NAVAL
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