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CÓD: SL-005NV21

7908433213345

SES-RS
SECRETÁRIA DA SAÚDE
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Técnico de Enfermagem
EDITAL DE ABERTURA N° 15/2021
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Ortografia - Sistema oficial (emprego de letras, acentuação, hífen, divisão silábica). - Relações entre sons e letras, pronúncia e gra-
fia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Morfologia - Estrutura e formação de palavras. Classes de palavras. Flexão nominal da língua portuguesa: padrões regulares e formas
irregulares. Flexão verbal da língua portuguesa: padrões regulares e formas irregulares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Morfossintaxe e Sintaxe - A oração e seus termos. - Emprego das classes de palavras. Sintaxe de colocação das palavras. Período sim-
ples e período composto. - Coordenação: processos, formas e sentidos. Subordinação: processos, formas e sentidos. . . . . . . . . . 10
4. Regência nominal e verbal da língua portuguesa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. Concordância nominal e verbal da língua portuguesa. - O período e sua construção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6. Equivalência entre estruturas; transformação de estruturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Discurso direto, indireto e indireto livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
8. Uso da crase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
9. Pontuação: sinais, seus empregos e seus efeitos de sentido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
10. Semântica - Significação de palavras e expressões. Relações semânticas entre palavras e expressões (sinonímia, antonímia, hiponímia,
homonímia, polissemia). - Conotação e denotação; sentido figurado, sentido literal. - Relações semânticas, lógicas e enunciativas en-
tre frases. - Valores semânticos das classes de palavras. - Valores dos tempos, modos e vozes verbais. - Efeitos de sentido da ordem de
expressões na oração e no período. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
11. Leitura, análise e interpretação de texto - Variedades de linguagem, tipos e gêneros textuais, adequação de linguagem. - Elementos
de sentido do texto: coerência e progressão semântica do texto; relações contextuais entre segmentos de um texto; informações
explícitas, inferências válidas, pressupostos e implícitos na leitura do texto. - Elementos de estruturação do texto: recursos de
coesão; função referencial de pronomes; uso de nexos para estabelecer relações entre segmentos do texto; segmentação do texto
em parágrafos e sua organização temática. - Interpretação do texto: identificação do sentido global de um texto; identificação de
seus principais tópicos e de suas relações (estrutura argumentativa); síntese do texto; adaptação e reestruturação do texto para
novos fins retóricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

Governança e Gestão do Sistema Único de Saúde - Sus


1. Participação e Controle Social; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. História e evolução das políticas de saúde no Brasil; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Missão e competência da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4. Políticas de Saúde no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5. Redes de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Financiamento do Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Sistema Único de Saúde (SUS): evolução, princípios e diretrizes; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
8. Controle Social e Participação Social no Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
9. Gestão e planejamento; financiamento; gestão da saúde nos Estados; Processo de planejamento no Sistema Único de Saúde – SUS;
- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
10. Governança regional das redes de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
11. Inovação na atenção ambulatorial especializada; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
12. A crise contemporânea dos modelos de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
13. Judicialização da saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
14. Estratégia de saúde digital para o Brasil 2020 a 2028; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
15. Plano Estadual de Saúde 20/23; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
16. A regulação no SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
17. Educação permanente em saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
18. Monitoramento e avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
19. Indicadores de saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
20. Sistemas de informação do Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
21. Gestão do trabalho em saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
ÍNDICE
Informática
1. Conhecimentos do Sistema Operacional Microsoft Windows 7 ou superior; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conhecimentos sobre discos virtuais Google Drive e Microsoft OneDrive; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
3. Conhecimentos sobre editores de textos (Google Docs e Word 365 para Web) em ambientes virtuais; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Conhecimentos sobre serviços de planilhas Online (Google Planilhas e Excel 365 para Web) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Conhecimentos Específicos
Técnico de Enfermagem
1. Sistema Único de Saúde (SUS), princípios e diretrizes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Lei do exercício profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Código de Deontologia de Enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
4. Política Nacional de Humanização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
5. cuidado respeitando o cliente/paciente nos seus direitos e na sua individualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Análise de riscos ambientais e medidas básicas de proteção de trabalhadores que atuam em estabelecimentos de saúde. Uso de eq-
uipamentos de proteção individual e coletiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Cuidados de enfermagem a indivíduos, famílias, grupos sociais e comunidades, durante todo o processo vital, desenvolvendo ativi-
dades de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
8. Princípios ergonômicos na realização do trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
9. Ações que promovam a prevenção e o controle de doenças infectocontagiosas e/ou crônicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
10. Estrutura, organização e funcionamento da Enfermagem dentro das instituições de Saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
11. Sinais e sintomas que indicam distúrbios clínicos e psicológicos e suas complicações no organismo avaliando a sua gravidade. . 119
12. Técnicas de acondicionamento, identificação, guarda, conservação e manuseio e descarte de resíduos sólidos e material biológi-
co. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
13. Programas de vacinação, técnicas de imunização / vacinação e de aplicação de imunobiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
14. Importância dos registros relativos aos procedimentos de enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
15. Caracterizar medidas antropométricas e sinais vitais e reconhecer a importância das mesmas na avaliação da saúde do cliente/paci-
ente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
16. Cuidados de enfermagem na administração de medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
17. Normas e rotinas de trabalho das unidades de atendimento, assim como o funcionamento e utilização de equipamentos e materiais
específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
18. Medidas e ações para evitar a contaminação e disseminação do Coronavírus (SARS-Covid-2) e/ou outros microrganismos. . . . . 218

Conteúdo Digital

Legislação do Sus
1. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, artigos 5º e 6º e 196 a 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Lei Federal nº 8.080/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcio-
namento dos serviços correspondentes e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Lei Federal nº 8.142/1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as trans-
ferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
4. Lei Complementar Federal nº 141/ 2012. Regulamenta o § 3º do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores mínimos
a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde . . . . . . 13
5. Decreto Federal nº 7.508/2011. Regulamenta a Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6. Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, de 03 de outubro de 1989, artigos 241 a 246 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
7. Portaria de Consolidação nº 1 de 02 de junho de 2021, Ministério da Saúde/Secretaria de Atenção Primária à Saúde, dispõe sobre a
Consolidação das normas sobre Atenção Primária à Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Portaria de consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017, Ministério da Saúde / Gabinete do Ministro, dispõe sobre a Consolidação
das normas sobre as políticas nacionais de saúde do Sistema Único de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
9. Portaria de Consolidação nº 03 de 28 de setembro de 2017, Ministério da Saúde / Gabinete do Ministro, dispõe sobre a Consolidação
das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
ÍNDICE
Direito Público
1. Constituição da República Federativa do Brasil (1988): Art. 1º ao art. 135; art. 145 ao art. 168; art. 193 ao art. 204 . . . . . . . . . . . . 01
2. Lei Complementar Estadual/RS nº 10.098, de 03 de fevereiro de 1994 - Estatuto e Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis
do Estado do Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Lei Federal nº 8.429, de 02 de junho de 1992, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriqueci-
mento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional, e dá outras
providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4. Lei Federal nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela
prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5. Lei Complementar Federal nº 101, de 04 de maio de 2000, que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabili-
dade na gestão fiscal, e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
6. Lei Federal nº 10.520, de 17 de julho de 2002, que institui, no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do
art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, modalidade de licitação denominada pregão, para aquisição de bens e serviços comuns, e
dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
7. Decreto Estadual/RS nº 45.746, de 14 de julho de 2008, que institui, no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta do Estado
do Rio Grande do Sul, o Código de Conduta da Alta Administração, o Código de Ética dos Servidores Públicos Civis do Poder Executivo
Estadual, cria a Comissão de Ética Pública, e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
8. Lei Federal nº 14.133, de 1º de abril de 2021 - Lei de Licitações e Contratos Administrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
9. Lei Complementar Estadual/RS nº 15.595, de 19 de janeiro de 2021, que altera a lei nº 14.733, de 15 de setembro de 2015, que dispõe
sobre a estrutura administrativa e diretrizes do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul, e dá outras providências . . . . . 95
10. Lei Estadual/RS n° 13.417, de 05 de abril de 2010, que dispõe sobre a reestruturação do Quadro de Funcionários da Saúde Pública,
estabelece normas gerais de enquadramento, institui nova tabela de vencimentos, e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . 104
11. Lei Estadual/RS n° 15.612, de 06 de maio de 2021, que dispõe sobre o processo administrativo do Estado do Rio Grande do Sul 110
12. Lei Federal n° 8.666, de 21 de junho de 1993, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para lici-
tações e contratos da Administração Pública, e dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
13. Decreto Estadual/RS n° 55.718, de 12 de janeiro de 2021, que dispõe sobre a estrutura básica da Secretária da Saúde . . . . . . . . 139
14. Lei Complementar Federal nº 131, de 27 de maio de 2009, que altera e acrescenta dispositivos à Lei Complementar Federal nº
101/2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
15. Lei Federal nº 13.709, de 14 de agosto de 2018 – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
16. Lei Federal nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, e
dá outras providências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
17. Lei Federal nº 12.288, de 20 de julho de 2010 - Estatuto da Igualdade Racial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
18. Lei Estadual/RS nº 13.694, de 19 de janeiro de 2011 - Estatuto Estadual da Igualdade Racial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164

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LÍNGUA PORTUGUESA
1. Ortografia - Sistema oficial (emprego de letras, acentuação, hífen, divisão silábica). - Relações entre sons e letras, pronúncia e gra-
fia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Morfologia - Estrutura e formação de palavras. Classes de palavras. Flexão nominal da língua portuguesa: padrões regulares e formas
irregulares. Flexão verbal da língua portuguesa: padrões regulares e formas irregulares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Morfossintaxe e Sintaxe - A oração e seus termos. - Emprego das classes de palavras. Sintaxe de colocação das palavras. Período sim-
ples e período composto. - Coordenação: processos, formas e sentidos. Subordinação: processos, formas e sentidos. . . . . . . . . . 10
4. Regência nominal e verbal da língua portuguesa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
5. Concordância nominal e verbal da língua portuguesa. - O período e sua construção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
6. Equivalência entre estruturas; transformação de estruturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Discurso direto, indireto e indireto livre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
8. Uso da crase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
9. Pontuação: sinais, seus empregos e seus efeitos de sentido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
10. Semântica - Significação de palavras e expressões. Relações semânticas entre palavras e expressões (sinonímia, antonímia, hiponímia,
homonímia, polissemia). - Conotação e denotação; sentido figurado, sentido literal. - Relações semânticas, lógicas e enunciativas en-
tre frases. - Valores semânticos das classes de palavras. - Valores dos tempos, modos e vozes verbais. - Efeitos de sentido da ordem de
expressões na oração e no período. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
11. Leitura, análise e interpretação de texto - Variedades de linguagem, tipos e gêneros textuais, adequação de linguagem. - Elementos
de sentido do texto: coerência e progressão semântica do texto; relações contextuais entre segmentos de um texto; informações
explícitas, inferências válidas, pressupostos e implícitos na leitura do texto. - Elementos de estruturação do texto: recursos de coe-
são; função referencial de pronomes; uso de nexos para estabelecer relações entre segmentos do texto; segmentação do texto em
parágrafos e sua organização temática. - Interpretação do texto: identificação do sentido global de um texto; identificação de seus
principais tópicos e de suas relações (estrutura argumentativa); síntese do texto; adaptação e reestruturação do texto para novos
fins retóricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
LÍNGUA PORTUGUESA
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
ORTOGRAFIA. SISTEMA OFICIAL VIGENTE (EMPREGO mem.
DE LETRAS, ACENTUAÇÃO GRÁFICA, HÍFEN, DIVISÃO
SILÁBICA). RELAÇÕES ENTRE SONS E LETRAS, PRO- Outros casos
NÚNCIA E ORTOGRAFIA 1. Prefixo terminado em vogal:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
• Mudanças no alfabeto:O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- semicírculo.
troduzidas as letras k, w e y. – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O mo, antissocial, ultrassom.
PQRSTUVWXYZ – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a das.
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
gui, que, qui. 2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
Regras de acentuação -bibliotecário.
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima persônico.
sílaba) – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.

Observações:
Como era Como fica
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
alcatéia alcateia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
apóia apoia essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
Como era Como fica pontapé, paraquedas, paraquedista.
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
baiúca baiuca usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
bocaiúva bocaiuva recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. vamos passar para mais um ponto importante.

– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
e ôo(s). com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um:
Como era Como fica
abençôo abençoo Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto.
crêem creem
Já cursei a Faculdade de História.
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/ fechado.
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
Atenção: caso afundo mais à frente).
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Sou leal à mulher da minha vida.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. As palavras podem ser:
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, -já, ra-paz, u-ru-bu...)
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). – Paroxítonas:quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, sa-
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as -bo-ne-te, ré-gua...)
palavras forma/fôrma. – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
Uso de hífen (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
Regra básica:

1
LÍNGUA PORTUGUESA
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: Classificação quanto ao número de sílabas:
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, As palavras podem ser:
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) – Monossílabas: as que têm uma só sílaba (pé, pá, mão, boi,
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, luz, é...)
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS,ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, – Dissílabas: as que têm duas sílabas (café, leite, noites, caí,
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) bota, água...)
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), – Trissílabas: as que têm três sílabas (caneta, cabeça, saúde,
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, circuito, boneca...)
dói, coronéis...) – Polissílabas: as que têm quatro ou mais sílabas (casamento,
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais jesuíta, irresponsabilidade, paralelepípedo...)
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
Classificação quanto à tonicidade
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- As palavras podem ser:
nar e fixar as regras. – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
-já, ra-paz, u-ru-bu...)
Fonética e Fonologia – Paroxítonas:quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa, sa-
Muitas pessoas acham que fonética e fonologia são sinônimos. -bo-ne-te, ré-gua...)
Mas, embora as duas pertençam a uma mesma área de estudo, elas – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
são diferentes. (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)

Fonética Lembre-se que:


Segundo o dicionário Houaiss, fonética “é o estudo dos sons da Tônica: a sílaba mais forte da palavra, que tem autonomia fo-
fala de uma língua”. O que isso significa? A fonética é um ramo da nética.
Linguística que se dedica a analisar os sons de modo físico-articula- Átona: a sílaba mais fraca da palavra, que não tem autonomia
dor. Ou seja, ela se preocupa com o movimento dos lábios, a vibra- fonética.
ção das cordas vocais, a articulação e outros movimentos físicos, Na palavra telefone: te-, le-, ne- são sílabas átonas, pois são
mas não tem interesse em saber do conteúdo daquilo que é falado. mais fracas, enquanto que fo- é a sílaba tônica, já que é a pronun-
A fonética utiliza o Alfabeto Fonético Internacional para representar ciada com mais força.
cada som.
Agora que já sabemos essas classificações básicas, precisamos
Sintetizando: a fonética estuda o movimento físico (da boca, entender melhor como se dá a divisão silábica das palavras.
lábios...) que cada som faz, desconsiderando o significado desses
sons. Divisão silábica
A divisão silábica é feita pela silabação das palavras, ou seja,
Fonologia pela pronúncia. Sempre que for escrever, use o hífen para separar
A fonologia também é um ramo de estudo da Linguística, mas uma sílaba da outra. Algumas regras devem ser seguidas neste pro-
ela se preocupa em analisar a organização e a classificação dos cesso:
sons, separando-os em unidades significativas. É responsabilidade Não se separa:
da fonologia, também, cuidar de aspectos relativos à divisão silábi- • Ditongo: encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma
ca, à acentuação de palavras, à ortografia e à pronúncia. sílaba (cau-le, gai-o-la, ba-lei-a...)
• Tritongo: encontro de uma semivogal, uma vogal e uma semi-
Sintetizando: a fonologia estuda os sons, preocupando-se com vogal na mesma sílaba (Pa-ra-guai, quais-quer, a-ve-ri-guou...)
o significado de cada um e não só com sua estrutura física. • Dígrafo: quando duas letras emitem um único som na pala-
vra. Não separamos os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu (fa-cha-da, co-
Bom, agora que sabemos que fonética e fonologia são coisas -lhei-ta, fro-nha, pe-guei...)
diferentes, precisamos de entender o que é fonema e letra. • Encontros consonantais inseparáveis: re-cla-mar, psi-có-lo-
-go, pa-trão...)
Fonema: os fonemas são as menores unidades sonoras da fala.
Atenção: estamos falando de menores unidades de som, não de sí- Deve-se separar:
labas. Observe a diferença: na palavra pato a primeira sílaba é pa-. • Hiatos: vogais que se encontram, mas estão é sílabas vizinhas
Porém, o primeiro som é pê (P) e o segundo som é a (A). (sa-ú-de, Sa-a-ra, ví-a-mos...)
Letra:as letras são as menores unidades gráfica de uma palavra. • Os dígrafos rr, ss, sc, e xc (car-ro, pás-sa-ro, pis-ci-na, ex-ce-
Sintetizando: na palavra pato, pa- é a primeira sílaba; pê é o -ção...)
primeiro som; e P é a primeira letra. • Encontros consonantais separáveis: in-fec-ção, mag-nó-lia,
Agora que já sabemos todas essas diferenciações, vamos en- rit-mo...)
tender melhor o que é e como se compõe uma sílaba.
A cada um dos grupos pronunciados de uma determinada pa-
Sílaba: A sílaba é um fonema ou conjunto de fonemas que emi- lavra numa só emissão de voz, dá-se o nome de sílaba. Na Língua
tido em um só impulso de voz e que tem como base uma vogal. Portuguesa, o núcleo da sílaba é sempre uma vogal, não existe síla-
A sílabas são classificadas de dois modos: ba sem vogal e nunca mais que uma vogal em cada sílaba.
Para sabermos o número de sílabas de uma palavra, devemos
perceber quantas vogais tem essa palavra. Mas preste atenção, pois
as letras i e u (mais raramente com as letras e e o) podem represen-
tar semivogais.

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Classificação por número de sílabas - Paroxítonos: a sílaba tônica é a penúltima. Exemplos: fácil, ba-
nana, felizmente.
Monossílabas: palavras que possuem uma sílaba. - Proparoxítonos: a sílaba tônica é a antepenúltima. Exemplos:
Exemplos: ré, pó, mês, faz mínimo, fábula, término.

Dissílabas: palavras que possuem duas sílabas.


Exemplos: ca/sa, la/ço. MORFOLOGIA - ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PA-
LAVRAS. CLASSES DE PALAVRAS. FLEXÃO NOMINAL
Trissílabas: palavras que possuem três sílabas. DA LÍNGUA PORTUGUESA: PADRÕES REGULARES E
Exemplos: i/da/de, pa/le/ta. FORMAS IRREGULARES. FLEXÃO VERBAL DA LÍNGUA
PORTUGUESA: PADRÕES REGULARES E FORMAS IRRE-
Polissílabas: palavras que possuem quatro ou mais sílabas. GULARES
Exemplos: mo/da/li/da/de, ad/mi/rá/vel.
Divisão Silábica ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS
As palavras são formadas por estruturas menores, com signifi-
- Letras que formam os dígrafos “rr”, “ss”, “sc”, “sç”, “xs”, e “xc” cados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para
devem permanecer em sílabas diferentes. Exemplos: a formação das palavras.
des – cer
pás – sa – ro... Estrutura das palavras
As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas
- Dígrafos “ch”, “nh”, “lh”, “gu” e “qu” pertencem a uma única menores - os morfemas, também chamados de elementos mórfi-
sílaba. Exemplos: cos:
chu – va – radical e raiz;
quei – jo – vogal temática;
– tema;
- Hiatos não devem permanecer na mesma sílaba. Exemplos: – desinências;
ca – de – a – do – afixos;
ju – í – z – vogais e consoantes de ligação.
Radical: Elemento que contém a base de significação do vocá-
- Ditongos e tritongos devem pertencer a uma única sílaba. bulo.
Exemplos: Exemplos
en – xa – guei VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.
cai – xa
Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.
- Encontros consonantais que ocorrem em sílabas internas não
permanecem juntos, exceto aqueles em que a segunda consoante Dividem-se em:
é “l” ou “r”. Exemplos:
ab – dô – men Nominais
flau – ta (permaneceram juntos, pois a segunda letra é repre- Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
sentada pelo “l”) Exemplos
pra – to (o mesmo ocorre com esse exemplo) pequenO, pequenA, alunO, aluna.
- Alguns grupos consonantais iniciam palavras, e não podem pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas.
ser separados. Exemplos:
peu – mo – ni – a Verbais
psi – có – lo – ga Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos
Exemplos
Acento Tônico vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo)
Quando se pronuncia uma palavra de duas sílabas ou mais, há vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número)
sempre uma sílaba com sonoridade mais forte que as demais.
valor - a sílaba lor é a mais forte. Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem.
maleiro - a sílaba lei é a mais forte. Exemplos
1ª conjugação: – A – cantAr
Classificação por intensidade 2ª conjugação: – E – fazEr
-Tônica: sílaba com mais intensidade. 3ª conjugação: – I – sumIr
- Átona: sílaba com menos intensidade.
- Subtônica: sílaba de intensidade intermediária. Observação
Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica
Classificação das palavras pela posição da sílaba tônica oposição masculino/feminino.
As palavras com duas ou mais sílabas são classificadas de acor- Exemplos
do com a posição da sílaba tônica. livrO, dentE, paletó.

- Oxítonos: a sílaba tônica é a última. Exemplos: paletó, Paraná, Tema: União do radical e a vogal temática.
jacaré. Exemplos
CANTAr, CORREr, CONSUMIr.

3
LÍNGUA PORTUGUESA
Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se inter- Prefixos
põem aos vocábulos por necessidade de eufonia. Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em:
Exemplos vernáculos, latinos e gregos.
chaLeira, cafeZal.
Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou fo-
Afixos ram aportuguesados: a, além, ante, aquém, bem, des, em, entre,
Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois mal, menos, sem, sob, sobre, soto.
do radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Divi- Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como:abordar,
dem-se em: além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição, menos-
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical. prezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc.
Exemplos
DISpor, EMpobrecer, DESorganizar. Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina
original:
Sufixo a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar.
Afixo que se coloca depois do radical. a, ad – aproximação, direção: amontoar.
Exemplos ambi – dualidade: ambidestro.
contentaMENTO, reallDADE, enaltECER. bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário.
Processos de formação das palavras centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado.
Composição: Formação de uma palavra nova por meio da jun- circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante.
ção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos: cis – aquem de: cisalpino, cisgangético.
com, con, co – companhia, concomitância: combater, contem-
Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na porâneo.
estrutura fonética das primitivas. contra – oposição, posição inferior: contradizer.
Exemplos de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento: de-
passa + tempo = passatempo crescer, deportar.
gira + sol = girassol des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar.
dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária: dis-
Aglutinação:Formação de palavra composta com alteração da trair, dimanar.
estrutura fonética das primitivas. entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha, en-
Exemplos trevista.
em + boa + hora = embora ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade, priva-
vossa + merce = você ção, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor.
extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordiná-
Derivação: rio.
Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. Te- im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar,
mos: ingrato.
inter – no meio de: intervocálico, intercalado.
Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer.
um prefixo ao radical da primitiva. justa – perto de: justapor.
Exemplos multi – pluralidade: multiforme.
CONter, INapto, DESleal. ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo.
pene – quase: penúltimo, península.
Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um su- per – movimento através de, acabamento de ação; ideia pejo-
fixo ao radical da primitiva. rativa: percorrer.
Exemplos post, pos – posteridade: postergar, pospor.
cafezAL, meninINHa, loucaMENTE. pre – anterioridade: predizer, preclaro.
preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural.
Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir,
um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo. procurador, pronome.
Exemplos re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repeti-
EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR. ção: regressar, revirar.
retro – movimento para trás: retroceder.
Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra pri- satis – bastante: satisdar.
mitiva. sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé.
Exemplo subter – por baixo: subterfúgio.
Todos ficaram encantados com seu andar: verbo usado com super, supra – posição superior, excesso: super-homem, super-
valor de substantivo. povoado.
trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro.
de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em ge- ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo.
ral de um verbo para substantivo ou vice-versa. uni – um: unânime, unicelular.
Exemplos
combater – o combate Grego: Os principais prefixos de origem grega são:
chorar – o choro a, an – privação, negação: ápode, anarquia.

4
LÍNGUA PORTUGUESA
ana – inversão, parecença: anagrama, analogia. Classificação dos substantivos
anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro.
anti – oposição: antipatia, antagonista. SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
apo – afastamento: apólogo, apogeu. apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo. sua estrutura. macaco/João/sabão
caco – mau: cacofonia.
cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia. SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
deca – dez: decâmetro. são formados por mais de um porta-voz/
dia – através de, divisão: diáfano, diálogo. radical em sua estrutura. pé-de-moleque
dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia. SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
en – sobre, dentro: encéfalo, energia. são os que dão origem a mundo/
endo – para dentro: endocarpo. outras palavras, ou seja, ela é população
epi – por cima: epiderme, epígrafe. a primeira. /formiga
eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia.
hecto – cem: hectômetro. SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
hemi – metade: hemistíquio, hemisfério. são formados por outros populacional/formigueiro
hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole. radicais da língua.
hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
homo – semelhança, identidade: homônimo. designa determinado ser /Brasil
meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase. entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
míria – dez mil: miriâmetro. espécie. São sempre iniciados Liberdade
mono – um: monóculo, monoculista. por letra maiúscula.
neo – novo, moderno: neologismo, neolatino.
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo.
referem-se qualquer ser de cachorro/prima
penta – cinco: pentágono.
uma mesma espécie.
peri – em volta de: perímetro.
poli – muitos: polígono, polimorfo. SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
pro – antes de: prótese, prólogo, profeta. nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
Sufixos própria. Esses seres podem /lobisomem
Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial. ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
reais ou imaginários.
Nominais SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama. nomeiam ações, estados, bondade/
Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -as- qualidades e sentimentos que confiança/
tro, -az. não tem existência própria, ou lembrança/
Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista. seja, só existem em função de amor/
Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório. um ser. alegria
Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato.
Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico. SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
Origem, procedência: -estre, -este, -esco. referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
Verbais mesmo quando empregado
Comuns: -ar, -er, -ir. no singular e constituem um
Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar. substantivo comum.
Incoativos: -escer, -ejar, -itar. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar. QUE NÃO ESTÃO AQUI!

Adverbial = há apenas um Flexão dos Substantivos


MENTE: mecanicamente, felizmente etc. • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
CLASSES DE PALAVRAS uniformes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
Substantivo uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
macho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).

5
LÍNGUA PORTUGUESA
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, o/a
estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.

• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau diminutivo.


– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona.

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

6
LÍNGUA PORTUGUESA
Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.
Pronomes Retos Pronomes Oblíquos
Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Empregado nas correspondências e textos
Vossa Senhoria
escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pou-
co, pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário,
Variáveis
vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.

9
LÍNGUA PORTUGUESA
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

MORFOSSINTAXE E SINTAXE - A ORAÇÃO E SEUS TERMOS. - EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS. SINTAXE DE CO-
LOCAÇÃO DAS PALAVRAS.COORDENAÇÃO: PROCESSOS, FORMAS E SENTIDOS. PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COM-
POSTO. - SUBORDINAÇÃO: PROCESSOS, FORMAS E SENTIDOS

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo da
sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar algumas
questões importantes:

• Frase:Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da prepo-
sição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de preposi-
ção.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica um
verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.
• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação de
um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Substantivas Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. SEMPRE serão quinta, terão aula de reforço.
Orações Subordinadas acompanhadas por vírgula.
Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
NUNCA serão acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Orações Subordinadas Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Adverbiais Assumem a função de advérbio de conformidade previsto.
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de concessão tarde.
Finais Vamos direcionar os esforços para que
Assumem a função de advérbio de finalidade todos tenham acesso aos benefícios.
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem
Assumem a função de advérbio de tempo de suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL DA LÍNGUA PORTUGUESA.

A regência nominal estuda os casos em que nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-lhes o
sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu complemento é estabelecida por uma preposição.

• Regência Verbal
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).
Isto pertence a todos.

Regência de algumas palavras

Esta palavra combina com Esta preposição


Acessível a
Apto a, para
Atencioso com, para com
Coerente com
Conforme a, com
Dúvida acerca de, de, em, sobre
Empenho de, em, por
Fácil a, de, para,
Junto a, de
Pendente de
Preferível a
Próximo a, de
Respeito a, com, de, para com, por
Situado a, em, entre
Ajudar (a fazer algo) a
Aludir (referir-se) a

12
LÍNGUA PORTUGUESA
Aspirar (desejar, pretender) a Concordância ideológica ou silepse
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
Assistir (dar assistência) Não usa preposição ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no
Deparar (encontrar) com contexto.
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Implicar (consequência) Não usa preposição Blumenau estava repleta de turistas.
Lembrar Não usa preposição • Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú-
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
Pagar (pagar a alguém) a
texto.
Precisar (necessitar) de O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
Proceder (realizar) a sos.
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
Responder a soa gramatical que está subentendida no contexto.
Visar ( ter como objetivo a O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
pretender) líticos.
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI! EQUIVALÊNCIAS ENTRE ESTRUTURAS;
TRANSFORMAÇÕES DE ESTRUTURAS

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL DA LÍNGUA EQUIVALÊNCIA DE ESTRUTURAS


PORTUGUESA. - O PERÍODO E SUA CONSTRUÇÃO.
A equivalência e transformação de estruturas consiste em sa-
Concordância Nominal ber mudar uma sentença ou parte dela de modo a que fique grama-
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos ticalmente correta. Poderíamos explicitar as regras morfológicas e
concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se sintáticas em linguagem natural. Um exemplo disso seria a seguinte
referem. definição de período: O período é composto por uma frase e opcio-
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto- nalmente pela sua concatenação com outras frases em número in-
sa. definido relacionadas duas a duas por sintagma conectivo. A defini-
ção de regras sintáticas em linguagem natural tem suas vantagens.
Casos Especiais de Concordância Nominal
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: A Ordem dos Termos na Frase
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam
alerta. Há diferentes maneiras de se organizar gramaticalmente uma
frase. Tudo depende da necessidade ou da vontade do redator
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma- em manter o sentido, ou mantê-lo, porém, acrescentado ênfase a
ção de palavras compostas: algum dos seus termos.Significa dizer que, ao escrever, podemos
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. fazer uma série de inversões e intercalações em nossas frases, con-
forme a nossa vontade e estilo. Tudo depende da maneira como
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de queremos transmitir uma ideia, do nosso estilo.
acordo com o substantivo a que se referem: Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e o que
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. mais nos auxilia na organização de um período, pois facilita as boas
“sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula ajuda-nos a não “em-
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando bolar” o sentido quando produzimos frases complexas. Com isto,
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- “entregamos” frases bem organizadas aos nossos leitores.
do advérbios: O básico para a organização sintática das frases é a ordem di-
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou reta dos termos da oração. Os gramáticos estruturam tal ordem da
meia dúzia de ovos. seguinte maneira:
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio: SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIRCUNSTÂN-
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. CIAS
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem todas con-
substantivo estiver determinado por artigo: têm todos estes elementos
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
Paralelismo
Concordância Verbal
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Os paralelismos sintático e semântico se caracterizam pelas re-
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- lações de semelhança existente entre palavras e expressões que se
mes. efetivam tanto de ordem morfológica (quando pertencem à mesma
classe gramatical), sintática (quando há semelhança entre frases ou
orações) e semântica (quando há correspondência de sentido entre
os termos).

13
LÍNGUA PORTUGUESA
Casos recorrentes se manifestam no momento da escrita indi- ordenar, pedir
cando que houve a quebra destes recursos, tornando-se impercep- perguntar
tíveis aos olhos de quem a produz, interferindo de forma negativa prosseguir
na textualidade como um todo. Ampliando a noção sobre a correta protestar
utilização destes recursos, analisemos alguns casos em que eles se reclamar
aplicam: repetir
- não só... mas (como) também: tal construção confere-nos a replicar
ideia de adição. responder
- Quanto mais... (tanto) mais: noção de progressão, podemos retrucar
identificar a construção paralelística. solicitar
- Seja... Seja; Quer... Quer; Ora... Ora: ideia de alternância.
- Tanto... Quanto: ideia de adição, acrescida àquela de equiva- Os verbos declarativos podem, além de introduzir a fala, indicar
lência, constata-se a estrutura paralelística. atitudes, estados interiores ou situações emocionais das persona-
- Não... E não/nem: recurso empregado quando se quer atri- gens como, por exemplo, os verbos protestar, gritar, ordenar e ou-
buir uma sequência negativa. tros. Esse efeito pode ser também obtido com o uso de adjetivos ou
- Por um lado... Por outro: referência a aspectos negativos e advérbios aliados aos verbos de elocução: falou calmamente, gritou
positivos relacionados a um determinado fato. histérica, respondeu irritada, explicou docemente.
- Tempos verbais: concordância de sentido proferida pelos ver-
bos e seus respectivos tempos. Exemplo:
— O amor, prosseguiu sonhadora, é a grande realização de nos-
sas vidas.
Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão)
DISCURSO DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE entre as personagens –, você deve optar por um dos três estilos a
seguir:
Discurso direto
É a fala da personagem reproduzida fielmente pelo narrador, Estilo 1:
ou seja, reproduzida nos termos em que foi expressa. João perguntou:
— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores com- — Que tal o carro?
pletamente bêbados, não é?
Foi aí que um dos bêbados pediu: Estilo 2:
— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é João perguntou: “Que tal o carro?” (As aspas são optativas)
o seu marido que os outros querem ir para casa. Antônio respondeu: “horroroso” (As aspas são optativas)
(Stanislaw Ponte Preta)
Estilo 3:
Observe que, no exemplo dado, a fala da personagem é intro- Verbos de elocução no meio da fala:
duzida por um travessão, que deve estar alinhado dentro do pará- — Estou vendo, disse efusivamente João, que você adorou o
grafo. carro.
O narrador, ao reproduzir diretamente a fala das personagens, — Você, retrucou Antônio, está completamente enganado.
conserva características do linguajar de cada uma, como termos de
gíria, vícios de linguagem, palavrões, expressões regionais ou caco- Verbos de elocução no fim da fala:
etes pessoais. — Estou vendo que você adorou o carro — disse efusivamente
O discurso direto geralmente apresenta verbos de elocução (ou João.
declarativos ou dicendi) que indicam quem está emitindo a mensa- — Você está completamente enganado — retrucou Antônio.
gem.
Os verbos declarativos ou de elocução mais comuns são: Os trechos que apresentam verbos de elocução podem vir com
acrescentar travessões ou com vírgulas. Observe os seguintes exemplos:
afirmar
concordar — Não posso, disse ela daí a alguns instantes, não deixo meu
consentir filho. (Machado de Assis)
contestar
continuar — Não vá sem eu lhe ensinar a minha filosofia da miséria, disse
declamar ele, escarrachando-se diante de mim. (Machado de Assis)
determinar
dizer — Vale cinquenta, ponderei; Sabina sabe que custou cinquenta
esclarecer e oito. (Machado de Assis)
exclamar
explicar — Ainda não, respondi secamente. (Machado de Assis)
gritar Verbos de elocução depois de orações interrogativas e excla-
indagar mativas:
insistir — Nunca me viu? perguntou Virgília vendo que a encarava com
interrogar insistência. (Machado de Assis)
interromper — Para quê? interrompeu Sabina. (Machado de Assis)
intervir — Isso nunca; não faço esmolas! disse ele. (Machado de Assis)
mandar

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LÍNGUA PORTUGUESA
Observe que os verbos de elocução aparecem em letras minús- Os sinais de pontuação (aspas, travessão, dois-pontos) e outros
culas depois dos pontos de exclamação e interrogação. recursos como grifo ou itálico, presentes no discurso direto, não
aparecem no discurso indireto, a não ser que se queira insistir na
Discurso indireto atribuição do enunciado à personagem, não ao narrador. Tal insis-
No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala tência, porém, é desnecessária e excessiva, pois, se o texto for bem
da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e construído, a identificação do discurso indireto livre não oferece
passa para o leitor o que ouviu da personagem. Na transcrição, o dificuldade.
verbo aparece na terceira pessoa, sendo imprescindível a presen-
ça de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar, Discurso Indireto
pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indagar, de-
clamar, afirmar, mandar etc.), seguidos dos conectivos que (dicendi • Pretérito imperfeito
afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzir a fala da A enfermeira afirmou que era uma menina.
personagem na voz do narrador. • Futuro do pretérito
Pedrinho gritou que não sairia do carro.
A certo ponto da conversação, Glória me disse que desejava • Pretérito mais-que-perfeito
muito conhecer Carlota e perguntou por que não a levei comigo. Retrucou com indignação que já esperara (ou tinha espera-
(Ciro dos Anjos) do) demais.
• Pretérito imperfeito do subjuntivo
Fui ter com ela, e perguntei se a mãe havia dito alguma coisa; Olhou-a e disse secamente que o deixasse em paz.
respondeu-me que não. Outras alterações
(Machado de Assis) • Terceira pessoa
Discurso indireto livre Maria disse que não queria sair com Roberto naquele dia.
Resultante da mistura dos discursos direto e indireto, existe • Objeto indireto na oração principal
uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso A prima perguntou a João se ele queria café.
indireto livre, processo de grande efeito estilístico. Por meio dele, • Forma declarativa
o narrador pode, não apenas reproduzir indiretamente falas das Abriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa
personagens, mas também o que elas não falam, mas pensam, so- pelo amarelo.
nham, desejam etc. Neste caso, discurso indireto livre corresponde lá, dali, de lá, naquele momento, naquele dia, no dia an-
ao monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador. terior, na véspera, no dia seguinte, aquela(s), aquele(s), aquilo,
As orações do discurso indireto livre são, em regra, indepen- seu, sua (dele, dela), seu, sua (deles, delas)
dentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passa-
gem da fala do narrador para a da personagem, mas com transpo-
sições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes
CRASE
(terceira pessoa). O foco narrativo deve ser de terceira pessoa. Esse
discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e
ritmo que confere ao texto. A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
Fabiano ouviu o relatório desconexo do bêbado, caiu numa in- demonstrativo.
decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversa a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)
à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. Era
bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. • Devemos usar crase:
Estava preso por isso? Como era? Então mete- se um homem na – Antes palavras femininas:
cadeia por que ele não sabe falar direito? Iremos à festa amanhã
(Graciliano Ramos) Mediante à situação.
O Governo visa à resolução do problema.
Observe que se o trecho “Era bruto, sim” estivesse um discur-
so direto, apresentaria a seguinte formulação: Sou bruto, sim; em – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
discurso indireto: Ele admitiu que era bruto; em discurso indireto Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
livre: Era bruto, sim. locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
Para produzir discurso indireto livre que exprima o mundo inte- Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
rior da personagem (seus pensamentos, desejos, sonhos, fantasias vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
etc.), o narrador precisa ser onisciente. Observe que os pensamen- Mas... há crase, sim!
tos da personagem aparecem, no trecho transcrito, principalmente Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
nas orações interrogativas, entremeadas com o discurso do narra- -me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
dor.
– Expressões fixas
Transposição de discurso Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
Na narração, para reconstituir a fala da personagem, utiliza-se crase:
a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto. O à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von-
domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às
corretamente os tipos de discurso na redação. pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
didas, à medida que, à proporção que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• NUNCA devemos usar crase: Reticências ( ... )
– Antes de substantivos masculinos: Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
pé. breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou Ex: Essa festa... não sei não, viu.
plural) usado em sentido generalizador:
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. Dois-pontos ( : )
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
mem. Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
– Antes de artigo indefinido “uma” distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.

– Antes de pronomes Ponto e vírgula ( ; )


Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela. para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume-
A quem vocês se reportaram no Plenário? ração (frequente em leis), etc.
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras.
– Antes de verbos no infinitivo
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar. Travessão ( — )
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
PONTUAÇÃO SINAIS, SEUS EMPREGOS E vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
SEUS EFEITOS DE SENTIDO calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.
Pontuação Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão.
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema
de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a Parênteses e colchetes ( ) – [ ]
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in-
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE- timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên-
CHARA, 2009, p. 514) tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi-
sinais gráficos assim distribuídos:os separadores (vírgula [ , ], ponto rem uma nova inserção.
e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go-
... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas vernador)
simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão
duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], Aspas ( “ ” )
chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]). As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação
Ponto ( . ) especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau- apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain-
sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
reticências.
Estaremos presentes na festa. Vírgula
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
Ponto de interrogação ( ? ) ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. vírgula:
Você vai à festa? 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
mos” o momento certo de fazer uso dela.
Ponto de exclamação ( ! ) 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
tiva. leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Ex: Que bela festa! cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
menos importante e que pode ser colocada depois.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo > . SEMÂNTICA - SIGNIFICAÇÃO DE PALAVRAS E EXPRES-
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). SÕES. RELAÇÕES SEMÂNTICAS ENTRE PALAVRAS E
Mariafoiàpadariaontem. EXPRESSÕES (SINONÍMIA, ANTONÍMIA, HIPONÍMIA,
Sujeito VerboObjetoAdjunto HOMONÍMIA, POLISSEMIA). - CONOTAÇÃO E DENOTA-
ÇÃO; SENTIDO FIGURADO, SENTIDO LITERAL. - RELA-
Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor- ÇÕES SEMÂNTICAS, LÓGICAS E ENUNCIATIVAS ENTRE
re por alguns motivos: FRASES. - VALORES SEMÂNTICOS DAS CLASSES DE
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado. PALAVRAS. - VALORES DOS TEMPOS, MODOS E VOZES
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos. VERBAIS. - EFEITOS DE SENTIDO DA ORDEM DE EX-
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do PRESSÕES NA ORAÇÃO E NO PERÍODO.
verbo e o adjunto.

Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem


comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula Significação de palavras
é necessária: As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
Ontem, Maria foi à padaria. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
Maria, ontem, foi à padaria. dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
À padaria, Maria foi ontem. significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
que compõem este estudo.
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
sário: Antônimo e Sinônimo
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera- Começaremos por esses dois, que já são famosos.
ção.
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
serem observadas na redação oficial. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
• Separa aposto. ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica. homem que é antônimo de mulher.
• Separa vocativo.
Brasileiros, é chegada a hora de votar. Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
• Separa termos repetidos. que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
Aquele aluno era esforçado, esforçado. to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
• Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli- exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo, tamento e homem é sinônimo de macho/varão.
ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
efeito, digo. Hipônimos e Hiperônimos
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara, Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
ou seja, de fácil compreensão. uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
• Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen- chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
tos). domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula- mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares) substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
palavras, beleza?!?!
• Separa orações coordenadas assindéticas.
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as Outros conceitos que agem diretamente no sentido das pala-
ideias na cabeça... vras são os seguintes:

• Isola o nome do lugar nas datas. Conotação e Denotação


Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. Observe as frases:
Amo pepino na salada.
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa Tenho um pepino para resolver.
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa
mações comprovam, etc. palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo,
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame- não!
nizar o problema. Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja,
a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionari-
zado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo cono-
tativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do
contexto para ser entendida.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

Figuras de Linguagem
As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso
linguístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ao discurso, ou tornando-o
poético.

As figuras de linguagem classificam-se em


- figuras de palavra;
- figuras de pensamento;
- figuras de construção ou sintaxe.

Figuras de palavra: emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um
efeito mais expressivo na comunicação.

Metáfora: comparação abreviada, que dispensa o uso dos conectivos comparativos; é uma comparação subjetiva. Normalmente vem
com o verbo de ligação claro ou subentendido na frase.

Exemplos
...a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol.
(Geraldo Azevedo/ Alceu Valença)

Encarnado e azul são as cores do meu desejo.


(Carlos Drummond de Andrade)

Comparação: aproxima dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos: como, tal qual, tal como,
que, que nem. Também alguns verbos estabelecem a comparação: parecer, assemelhar-se e outros.

Exemplo:
Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando você entrou em mim como um sol no quintal.
(Belchior)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Catacrese: emprego de um termo em lugar de outro para o Paronomásia: Emprego de vocábulos semelhantes na forma ou
qual não existe uma designação apropriada. na prosódia, mas diferentes no sentido.

Exemplos Exemplo:
– folha de papel Berro pelo aterro pelo desterro berro por seu berro pelo seu
– braço de poltrona [erro
– céu da boca quero que você ganhe que
– pé da montanha [você me apanhe
sou o seu bezerro gritando
Sinestesia: fusão harmônica de, no mínimo, dois dos cinco sen- [mamãe.
tidos físicos. (Caetano Veloso)

Exemplo: Onomatopeia: imitação aproximada de um ruído ou som pro-


Vem da sala de linotipos a doce (gustativa) música (auditiva) duzido por seres animados e inanimados.
mecânica.
(Carlos Drummond de Andrade) Exemplo:
Vai o ouvido apurado
A fusão de sensações físicas e psicológicas também é sineste- na trama do rumor suas nervuras
sia: “ódio amargo”, “alegria ruidosa”, “paixão luminosa”, “indiferen- inseto múltiplo reunido
ça gelada”. para compor o zanzineio surdo
circular opressivo
Antonomásia: substitui um nome próprio por uma qualidade, zunzin de mil zonzons zoando em meio à pasta de calor
atributo ou circunstância que individualiza o ser e notabiliza-o. da noite em branco
(Carlos Drummond de Andrade)
Exemplos
O filósofo de Genebra (= Calvino). Observação: verbos que exprimem os sons são considerados
O águia de Haia (= Rui Barbosa). onomatopaicos, como cacarejar, tiquetaquear, miar etc.

Metonímia: troca de uma palavra por outra, de tal forma que Figuras de sintaxe ou de construção: dizem respeito a desvios
a palavra empregada lembra, sugere e retoma a que foi omitida. em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem,
possíveis repetições ou omissões.
Exemplos:
Leio Graciliano Ramos. (livros, obras) Podem ser formadas por:
Comprei um panamá. (chapéu de Panamá) omissão: assíndeto, elipse e zeugma;
Tomei um Danone. (iogurte) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto;
inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage;
Alguns autores, em vez de metonímia, classificam como siné- ruptura: anacoluto;
doque quando se têm a parte pelo todo e o singular pelo plural. concordância ideológica: silepse.

Exemplo: Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um período,


A cidade inteira viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro frase ou verso.
sumir de ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo. (singular pelo
plural) Exemplo:
(José Cândido de Carvalho) Dentro do tempo o universo
[na imensidão.
Dentro do sol o calor peculiar
Figuras Sonoras [do verão.
Aliteração: repetição do mesmo fonema consonantal, geral- Dentro da vida uma vida me
mente em posição inicial da palavra. [conta uma estória que fala
[de mim.
Exemplo: Dentro de nós os mistérios
Vozes veladas veludosas vozes volúpias dos violões, vozes ve- [do espaço sem fim!
ladas. (Toquinho/Mutinho)
(Cruz e Sousa)
Assíndeto: ocorre quando orações ou palavras que deveriam
Assonância: repetição do mesmo fonema vocal ao longo de um vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem separadas por
verso ou poesia. vírgulas.

Exemplo: Exemplo:
Sou Ana, da cama, Não nos movemos, as mãos é
da cana, fulana, bacana que se estenderam pouco a
Sou Ana de Amsterdam. pouco, todas quatro, pegando-se,
(Chico Buarque) apertando-se, fundindo-se.
(Machado de Assis)

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LÍNGUA PORTUGUESA
Polissíndeto: repetição intencional de uma conjunção coorde- Anacoluto: interrupção do plano sintático com que se inicia a
nativa mais vezes do que exige a norma gramatical. frase, alterando a sequência do processo lógico. A construção do
período deixa um ou mais termos desprendidos dos demais e sem
Exemplo: função sintática definida.
Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem
tuge, nem muge. Exemplos:
(Rubem Braga) E o desgraçado, tremiam-lhe as pernas.
(Manuel Bandeira)
Pleonasmo: repetição de uma ideia já sugerida ou de um ter-
mo já expresso. Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas bo-
tassem as mãos.
Pleonasmo literário: recurso estilístico que enriquece a expres- (José Lins do Rego)
são, dando ênfase à mensagem.
Hipálage: inversão da posição do adjetivo (uma qualidade que
Exemplos: pertence a um objeto é atribuída a outro, na mesma frase).
Não os venci. Venceram-me
eles a mim. Exemplo:
(Rui Barbosa) ...em cada olho um grito castanho de ódio.
(Dalton Trevisan)
Morrerás morte vil na mão de um forte. ...em cada olho castanho um grito de ódio)
(Gonçalves Dias)
Silepse:
Pleonasmo vicioso: Frequente na linguagem informal, cotidia-
na, considerado vício de linguagem. Deve ser evitado. Silepse de gênero: Não há concordância de gênero do adjetivo
ou pronome com a pessoa a que se refere.
Exemplos:
Ouvir com os ouvidos. Exemplos:
Rolar escadas abaixo. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho...
Colaborar juntos. (Rachel de Queiroz)
Hemorragia de sangue.
Repetir de novo. V. Ex.a parece magoado...
(Carlos Drummond de Andrade)
Elipse: Supressão de uma ou mais palavras facilmente suben-
tendidas na frase. Geralmente essas palavras são pronomes, con- Silepse de pessoa: Não há concordância da pessoa verbal com
junções, preposições e verbos. o sujeito da oração.

Exemplos: Exemplos:
Compareci ao Congresso. (eu) Os dois ora estais reunidos...
Espero venhas logo. (eu, que, tu) (Carlos Drummond de Andrade)
Ele dormiu duas horas. (durante)
No mar, tanta tormenta e tanto dano. (verbo Haver) Na noite do dia seguinte, estávamos reunidos algumas pessoas.
(Camões) (Machado de Assis)
Silepse de número: Não há concordância do número verbal
Zeugma: Consiste na omissão de palavras já expressas anterior- com o sujeito da oração.
mente.
Exemplo:
Exemplos: Corria gente de todos os lados, e gritavam.
Foi saqueada a vila, e assassina dos os partidários dos Filipes. (Mário Barreto)
(Camilo Castelo Branco)

Rubião fez um gesto, Palha outro: mas quão diferentes.


(Machado de Assis)

Hipérbato ou inversão: alteração da ordem direta dos elemen-


tos na frase.

Exemplos:
Passeiam, à tarde, as belas na avenida.
(Carlos Drummond de Andrade)

Paciência tenho eu tido...


(Antônio Nobre)

20
LÍNGUA PORTUGUESA
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,
LEITURA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO. VA- fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
RIEDADES DE LINGUAGEM, TIPOS E GÊNEROS TEXTU-
AIS, ADEQUAÇÃO DE LINGUAGEM. ELEMENTOS DE
SENTIDO DO TEXTO: COERÊNCIA E PROGRESSÃO SE-
MÂNTICA DO TEXTO; RELAÇÕES CONTEXTUAIS ENTRE
SEGMENTOS DE UM TEXTO; POLISSEMIA E AMBIGUI-
DADE FRASAL; INFORMAÇÕES EXPLÍCITAS, INFERÊN-
CIAS VÁLIDAS, PRESSUPOSTOS E IMPLÍCITOS NA LEI-
TURA DO TEXTO. ELEMENTOS DE ESTRUTURAÇÃO DO
TEXTO: RECURSOS DE COESÃO; FUNÇÃO REFERENCIAL
DE PRONOMES; FUNÇÃO REFERENCIAL DE EXPRES-
SÕES DEFINIDAS E INDEFINIDAS; SENTIDO DE EXPRES-
SÕES QUANTIFICADAS; USO DE NEXOS PARA ESTABE-
LECER RELAÇÕES ENTRE PERÍODOS E SEGMENTOS DO
TEXTO; SEGMENTAÇÃO DO TEXTO EM PARÁGRAFOS E
SUA ORGANIZAÇÃO TEMÁTICA. INTERPRETAÇÃO DO
TEXTO: IDENTIFICAÇÃO DO SENTIDO GLOBAL DE UM • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
TEXTO; IDENTIFICAÇÃO DE SEUS PRINCIPAIS ELEMEN- lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
TOS E TÓPICOS E DE SUAS RELAÇÕES (ESTRUTURA com a não-verbal.
NARRATIVA, ESTRUTURA ARGUMENTATIVA, ORGA-
NIZAÇÃO LÓGICA); IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS DE
VISTA EXPRESSOS NO TEXTO; SÍNTESE DO TEXTO;
ADAPTAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DO TEXTO

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito, Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
ou que faça com que você realize inferências. este processo é intertextualidade.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas Interpretação de Texto
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
Percebeu a diferença? uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
Tipos de Linguagem de um texto.
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
facilite a interpretação de textos. vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
pode ser escrita ou oral. uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti-
ca e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta-
do, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto-
gráficas, gramaticais e interpretativas;

21
LÍNGUA PORTUGUESA
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- estudos?
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
– Sublinhe as ideias mais importantes. reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto. CACHORROS
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
tável). seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
picos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de As informações que se relacionam com o tema chamamos de
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela uma unidade de sentido. Portanto, pense: sobre o que exata-
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão mente esse texto fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamen-
do texto. te você chegou à conclusão de que o texto fala sobre a relação entre
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- homens e cães. Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias que você foi capaz de identificar o tema do texto!
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
prova. -secundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele.

IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO


O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM Ironia dramática (ou satírica)
TEXTOS VARIADOS A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia de situação NERO EM QUE SE INSCREVE
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que principal. Compreender relações semânticas é uma competência
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
morte. Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
-se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Busca de sentidos Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
apreensão do conteúdo exposto. tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
citadas ou apresentando novos conceitos. curto.
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
entrelinhas. Deve-seater às ideias do autor, o que não quer dizer mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. como horas ou mesmo minutos.

Importância da interpretação Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-


A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos imagens.
específicos, aprimora a escrita.
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não de destaque sobre algum assunto de interesse.
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que berdade para quem recebe a informação.
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
Fato
Diferença entre compreensão e interpretação O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Gêneros Discursivos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Interpretação
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No sas, previmos suas consequências.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
dárias. tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente ças sejam detectáveis.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Exemplos de interpretação:
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
encaminham-se diretamente para um desfecho. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Opinião Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma
que fazemos do fato. pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto-
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí-
anteriores: odo, e o tópico que o antecede.
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão para a clareza do texto.
do que com a filha. Ela foi egoísta. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- sem coerência.
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
mos expressando nosso julgamento. Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando mais direto.
analisamos um texto dissertativo.
NÍVEIS DE LINGUAGEM
Exemplo:
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando Definição de linguagem
com o sofrimento da filha. Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
e o do leitor. incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Parágrafo social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é e caem em desuso.
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- Língua escrita e língua falada
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
sentada na introdução. ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. Linguagem popular e linguagem culta
Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
prova. o diálogo é usado para representar a língua falada.

Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e Linguagem Popular ou Coloquial


ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
– erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-

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LÍNGUA PORTUGUESA
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, • Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini-
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular ção.
está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas, • Normalmente aparece dentro de um texto narrativo.
irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na • Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún-
expressão dos esta dos emocionais etc. cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.

A Linguagem Culta ou Padrão Exemplo:


É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que Era uma casa muito engraçada
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Não tinha teto, não tinha nada
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Ninguém podia entrar nela, não
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Porque na casa não tinha chão
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia dormir na rede
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha parede
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia fazer pipi
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Gíria Na rua dos bobos, número zero
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como (Vinícius de Moraes)
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os comportamentos, nas leis jurídicas.
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário Características principais:
de pequenos grupos ou cair em desuso. • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
“mina”, “tipo assim”. do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
Linguagem vulgar • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar Exemplo:
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
comida”. ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
Linguagem regional nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, perior para formação de oficiais.
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.
Tipo textual expositivo
Tipos e genêros textuais A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e pode ser expositiva ou argumentativa.
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns
exemplos e as principais características de cada um deles. Características principais:
• Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
Tipo textual descritivo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo mar.
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
um movimento etc. de ponto de vista.
Características principais: • Apresenta linguagem clara e imparcial.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função Exemplo:
caracterizadora. O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
meração. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• A noção temporal é normalmente estática. terminado tema.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta- Exemplo:
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa). Solidão
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as- João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente. o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
Tipo textual dissertativo-argumentativo Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni-
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias Nelson S. Oliveira
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre-
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- ais/4835684
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
(leitor ou ouvinte). GÊNEROS TEXTUAIS
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
Características principais: de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
gestão/solução). apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações ais que neles predominam.
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Descritivo Diário
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Relatos (viagens, históricos, etc.)
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Biografia e autobiografia
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de- Notícia
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Currículo
Lista de compras
Exemplo: Cardápio
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Anúncios de classificados
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Injuntivo Receita culinária
administração política (tese), porque a força governamental certa- Bula de remédio
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Manual de instruções
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Regulamento
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Textos prescritivos
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Expositivo Seminários
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Palestras
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Conferências
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Entrevistas
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Trabalhos acadêmicos
cobrança efetiva (conclusão). Enciclopédia
Verbetes de dicionários
Tipo textual narrativo Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta Carta de opinião
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu- Resenha
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Artigo
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Ensaio
Monografia, dissertação de
Características principais: mestrado e tese de doutorado
• O tempo verbal predominante é o passado.
Narrativo Romance
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
Novela
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
Crônica
onisciente).
Contos de Fada
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
Fábula
prosa, não em verso.
Lendas

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LÍNGUA PORTUGUESA
Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for- As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi- uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
nitos e mudam de acordo com a demanda social. veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
INTERTEXTUALIDADE tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As- da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção sos de linguagem.
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
ambos: forma e conteúdo. obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de escolher entre duas ou mais coisas”.
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
provérbios, charges, dentre outros. cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
Tipos de Intertextualidade uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís-
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
ticos.
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a enunciador está propondo.
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
significa a “repetição de uma sentença”. demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) mento de premissas e conclusões.
e “graphé” (escrita). Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção A é igual a B.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa A é igual a C.
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Então: C é igual a A.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
“citação” (citare) significa convocar. que C é igual a A.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros Outro exemplo:
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Todo ruminante é um mamífero.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). A vaca é um ruminante.
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são o Logo, a vaca é um mamífero.
pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
ARGUMENTAÇÃO também será verdadeira.
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
propõe.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
vista defendidos. outro fundado há dois ou três anos.
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
der bem como eles funcionam.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó- Argumento de Existência
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera do que dois voando”.
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre-
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori- to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
zado numa dada cultura. afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
Tipos de Argumento comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa- vios, etc., ganhava credibilidade.
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
mento. Exemplo: Argumento quase lógico
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
Argumento de Autoridade e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
dadeira. Exemplo:
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
cimento. Nunca o inverso. indevidas.
Alex José Periscinoto.
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 Argumento do Atributo
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se que é mais grosseiro, etc.
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
acreditar que é verdade. lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
Argumento de Quantidade tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- de.
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
largo uso do argumento de quantidade. mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
Argumento do Consenso dizer dá confiabilidade ao que se diz.
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as
por bem determinar o internamento do governador pelo período
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases tal por três dias.
carentes de qualquer base científica.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
texto tem sempre uma orientação argumentativa. argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um mica e até o choro.
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
outras, etc. Veja: “tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
vam abraços afetuosos.” ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
injustiça, corrupção). aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por ver as seguintes habilidades:
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
o argumento. mente contrária;
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por ria contra a argumentação proposta;
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, ta.
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
outros à sua dependência política e econômica”. A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
o assunto, etc). sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
dades não se prometem, manifestam-se na ação. de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - evidência;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - divisão ou análise;
comportamento. - ordem ou dedução;

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LÍNGUA PORTUGUESA
- enumeração. Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o – conclusão falsa)
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
caracteriza a universalidade. ados nos sentimentos não ditados pela razão.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo: que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
Logo, Fulano é mortal (conclusão)
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
O calor dilata o ferro (particular) todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o bronze (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o cobre (particular) o relógio estaria reconstruído.
O ferro, o bronze, o cobre são metais Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- relacionadas:
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
sofisma no seguinte diálogo: lha dos elementos que farão parte do texto.
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Lógico, concordo. formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Claro que não!
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
- Então você possui um brilhante de 40 quilates...
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
Exemplos de sofismas:
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Dedução lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Todo professor tem um diploma (geral, universal) partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Fulano tem um diploma (particular) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
Indução nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
cular) nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são

31
LÍNGUA PORTUGUESA
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, ou instalação”;
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
sabiá, torradeira. exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais dida;d
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
diferenças).
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
(Garcia, 1973, p. 302304.)
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
vra e seus significados.
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
de vista sobre ele. mentação coerente e adequada.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- o termo a ser definido; cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
- o gênero ou espécie; raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
- a diferença específica. cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
ma espécie. Exemplo: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
Elemento especiediferença apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
a ser definidoespecífica causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, virtude de, em vista de, por motivo de.
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:

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LÍNGUA PORTUGUESA
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
assim, desse ponto de vista. dadeira;
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são dade da afirmação;
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, ridade que contrariam a afirmação apresentada;
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- que gera o controle demográfico”.
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
que, melhor que, pior que. desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade elaboração de um Plano de Redação.
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no tecnológica
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou ta, justificar, criando um argumento básico;
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
caráter confirmatório que comprobatório. construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli- que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por (rever tipos de argumentação);
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
caso, incluem-se que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
mortal, aspira à imortalidade); ência);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
dos e axiomas); argumento básico;
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
mento básico;
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
parece absurdo).
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de menos a seguinte:
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
cretos, estatísticos ou documentais. Introdução
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se - função social da ciência e da tecnologia;
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- - definições de ciência e tecnologia;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini- Desenvolvimento
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- vimento tecnológico;
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade condições de vida no mundo atual;
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
gumentação: desenvolvidos;

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LÍNGUA PORTUGUESA
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
sado; apontar semelhanças e diferenças; néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
banos; advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar A coesão:
mais a sociedade. - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
Conclusão - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- componentes do texto;
ências maléficas; - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
apresentados.
EXERCÍCIOS
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
ção: é um dos possíveis. 1. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são -vermelho.
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre-
fra-assinado.
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili-
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
trarregra.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
Coerência -mencionado.
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto.
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- 2. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003)
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em-
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com pregadas e grafadas.
outra”). (A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po-
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- qualquer excesso e violência.
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma (B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata-
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem
elementos formativos de um texto. suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito isso, num modo de intervenção específico.
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
elementos textuais. poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- ta que ambos possam suscitar.
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, (D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
imediato a coerência de um discurso. corpo dos supliciados.
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
A coerência: campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei- organização em delinqüência.
tual;
3. (NCE/UFRJ – TRE/RJ – Auxiliar Judiciário – 2001) O item abai-
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
xo que apresenta erradamente uma separação de sílabas é:
o aspecto global do texto;
(A) trans-o-ce-â-ni-co;
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
(B) cor-rup-te-la;
(C) sub-li-nhar;
Coesão (D) pneu-má-ti-co;
É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um víncu- 4. (FGV – SPTRANS – Especialista em Transportes – 2001) Assi-
lo ou conexão sequencial.Se o vínculo coesivo se faz via gramática, nale a alternativa em que o x representa fonema igual ao de
fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, “exame”.
tem-se a coesão lexical. (A) exceto.
A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala- (B) enxame.
vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos (C) óxido.
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo- (D) exequível.
nentes do texto.

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LÍNGUA PORTUGUESA
5. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna- 10. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL –
tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. 2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”. cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”. utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a
(C) “sérios”, “potência”, “após”. palavra primitiva foi formada respectivamente é:
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. (A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté-
(E) “solidária”, “área”, “após”. tica (en + trist + ecer);
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria
6. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- (en + triste + cer);
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- (C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin-
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse tética (en + trist + ecer);
objetivo é a seguinte: (D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi-
(A) pôr. xal (des + entristecer);
(B) ilhéu. (E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti-
(C) sábio. ca (des + entristecer).
(D) também.
(E) lâmpada. 11. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação
morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
7. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL – (A) Pronome demonstrativo.
2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamente (B) Pronome relativo.
por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase. (C) Pronome possessivo.
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos. (D) Pronome pessoal.
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta. (E) Pronome indefinido.
(C) Pretendo viajar a Paraíba.
(D) Ele gosta de bife à cavalo. 12. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
8. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata- nhados classificam-se, respectivamente, em
que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
marcada com o acento, EXCETO em: (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema. (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
eleitorado pelo resultado final. 13. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema. a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú- exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas
vel. orações.
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis- (A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
tema. sativa.
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva.
9. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi-
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo tiva.
mesmo processo de formação é: (D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu-
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; tiva.
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; (E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
(C) deslealdade, colunista, incrível; bial consecutiva.
(D) anoitecer, festeiro, infeliz;
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. 14. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana-
lise sintaticamente a oração em destaque:
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen-
sados” (Machado de Assis).
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
(B) oração subordinada adverbial causal.
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
(D) oração coordenada sindética conclusiva.
(E) oração coordenada sindética explicativa.

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LÍNGUA PORTUGUESA
15. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- 18. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase de concordância no texto abaixo.
acima, na ordem dada, as expressões: O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
(A) a que – de que; um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
(B) de que – com que; tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
(C) a cujas – de cujos; ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
(D) à que – em que; flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
(E) em que – aos quais. receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
16. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe- social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
maior taxa registrada na última década. (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que plural em “deflacionados”.
serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). em “Elevaram-se”.
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em regras de concordância com “economia”.
que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am- (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de singular em “fez aumentar”.
novas fontes de petróleo.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
com “relevantes”.
percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
19. (PREFEITURA DE PIRACICABA - SP - PROFESSOR - EDU-
menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, CAÇÃO INFANTIL - VUNESP - 2020)
com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
da América Latina, o organismo internacional está atribuindo Escola inclusiva
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
que o do Brasil. É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros concor-
dam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
17. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – deficiência.
2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor- Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre
reta. os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo. educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros. perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tornou
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que lei em 2015 e criou raízes no tecido social.
35% deles fosse despejado em aterros. A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qualifi-
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo. cados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que dizer
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta então de alunos com gama tão variada de dificuldades.
de lixo. Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o en-
frentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados por
limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais.
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para
minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, dis-
corda de que crianças com deficiência devam aprender só na com-
panhia de colegas na mesma condição.
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar
com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o
número de professores com alguma formação em educação espe-
cial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no país.
Não se concebe que possa haver um especialista em cada sala de
aula.
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma es-
trutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, ao
menos um profissional preparado se encarrega de receber o aluno
e sua família para definir atividades e de auxiliar os docentes do
período regular nas técnicas pedagógicas.

36
LÍNGUA PORTUGUESA
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Compe- Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
te ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus estabele- possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no
cimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a segregar meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
em salas especiais os estudantes com deficiência – que não se con- Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
funde com incapacidade, como felizmente já vamos aprendendo. nos trechos a seguir.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado) I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa: “E
não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus pró-
Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do prios dejetos.”
pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênteses, II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por verbo:
a redação permanece em conformidade com a norma-padrão de “Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computadores,
colocação dos pronomes. sofás e até carcaças de automóveis.”
(A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com III – A próclise é sempre empregada quando há locução verbal:
deficiência. (incluem-se) “Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem se
(B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito tornar as salamandras de Čapek.”
mais que 100 mil deles no país. (se contam) IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser hu-
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada mano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e pro-
sala de aula. (concebe-se) duzir um ‘Dom Quixote’”.
(D) Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de
receber o aluno... (encarrega-se) Está correto apenas o que se afirma em
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente (A) I e II.
já vamos aprendendo. (confunde-se) (B) I e III.
(C) II e IV.
(D) III e IV.
20. (PREFEITURA DE CARANAÍBA - MG - AGENTE COMUNI-
TÁRIO DE SAÚDE - FCM - 2019)
21. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
Dieta salvadora
padrão na seguinte sentença:
A ciência descobre um micróbio adepto de um (A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
alimento abundante: o lixo plástico no mar. (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um des- (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
tino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brindar os
mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os também 22. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até carcaças DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num curso d’água, pontuação em:
subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevitavelmente (A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se formam, da dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
Guanabara ao Pacífico. (B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itália, teiramente pela porta?
China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gregas um (C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no plástico tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol e atacado (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou duro, como o to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
das embalagens, fica quebradiço – no ponto para que os micróbios, irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
de guardanapo ao pescoço, o decomponham e façam a festa. Os (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
cientistas estão agora criando réplicas desses micróbios, para que penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
eles ajudem os micróbios nativos a devorar o lixo. Haja estômago. cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na 23. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
o seguinte par de palavras:
pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
(A) estrondo – ruído;
salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende-
(B) pescador – trabalhador;
rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re-
(C) pista – aeroporto;
produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a falar
(D) piloto – comissário;
e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo. (E) aeronave – jatinho.
Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem
se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salamandras
aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os micróbios
no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de S.
Paulo. Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019.

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LÍNGUA PORTUGUESA
24. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA 26. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é fato.
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
tem como antônimo: gênero textual editorial.
(A) fortuna; III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(B) opulência; que se trata de uma reportagem.
(C) riqueza; IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
(D) escassez; se trata de um editorial.
(E) abundância.
Analise as assertivas e responda:
25. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade (A) Somente a I é correta.
é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO (B) Somente a II é incorreta.
se fundamenta em intertextualidade é: (C) Somente a III é correta
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido (D) A III e IV são corretas.
há muito tempo.” 27. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se ainda suja o Brasil”:
mete onde não é chamada.” I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente no desenvolvimento do assunto.
mesmo!” II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, blemas no uso de conjunções e preposições.
tudo bem.” III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” de palavras e da ordem sintática.
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
Leia o texto abaixo para responder a questão. temática e bom uso dos recursos coesivos.
A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta.
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um (B) Somente a II é incorreta.
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- (C) Somente a III é correta.
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de (D) Somente a IV é correta.
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- Leia o texto abaixo para responder as questões.
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela UM APÓLOGO
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- Machado de Assis.
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos — Deixe-me, senhora.
se tornou uma bomba relógio na região.” — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun- der na cabeça.
do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16 — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
barragens de mineração em todo o País apresentam condições de Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór- o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta outros.
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do — Mas você é orgulhosa.
senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um — Decerto que sou.
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar- — Mas por quê?
co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori- — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ama, quem é que os cose, senão eu?
judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com que quem os cose sou eu, e muito eu?
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- daço ao outro, dou feição aos babados…
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?

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LÍNGUA PORTUGUESA
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su- (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto… (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- e mando...” (L.14-15)
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
isto uma cor poética. E dizia a agulha: abaixo e acima.” (L.25-26)
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
e acima… Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe 29. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade,
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi-
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de:
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até (A) dimensão e pejoratividade;
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (B) afetividade e intensidade;
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que (C) afetividade e dimensão;
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para (D) intensidade e dimensão;
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da (E) pejoratividade e afetividade.
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, 30. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co-
perguntou-lhe: mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi-
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para (A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11)
Vamos, diga lá. (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- Agulha não tem cabeça.” (L.06)
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: (C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13)
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze (D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, nária!” (L.43)
fico. (E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?”
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- (L.25)
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
muita linha ordinária!
GABARITO
28. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os 1 D
elementos dos textos:
2 B
3 A
4 D
5 A
6 A
7 A
8 D
9 A
10 A
11 E
12 B

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LÍNGUA PORTUGUESA
13 C ______________________________________________________

14 E ______________________________________________________
15 A ______________________________________________________
16 D
______________________________________________________
17 E
18 A ______________________________________________________
19 D ______________________________________________________
20 A
______________________________________________________
21 B
______________________________________________________
22 E
23 E ______________________________________________________
24 D ______________________________________________________
25 E
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26 C
27 D ______________________________________________________
28 E ______________________________________________________
29 D
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30 D
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
1. Participação e Controle Social; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. História e evolução das políticas de saúde no Brasil; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Missão e competência da Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4. Políticas de Saúde no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5. Redes de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
6. Financiamento do Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
7. Sistema Único de Saúde (SUS): evolução, princípios e diretrizes; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
8. Controle Social e Participação Social no Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
9. Gestão e planejamento; financiamento; gestão da saúde nos Estados; Processo de planejamento no Sistema Único de Saúde – SUS;
- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
10. Governança regional das redes de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
11. Inovação na atenção ambulatorial especializada; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
12. A crise contemporânea dos modelos de atenção à saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
13. Judicialização da saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
14. Estratégia de saúde digital para o Brasil 2020 a 2028; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
15. Plano Estadual de Saúde 20/23; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
16. A regulação no SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
17. Educação permanente em saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
18. Monitoramento e avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
19. Indicadores de saúde; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
20. Sistemas de informação do Sistema Único de Saúde – SUS; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
21. Gestão do trabalho em saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
8.142/1990 que dispõe sobre a participação social no SUS, definin-
PARTICIPAÇÃO E CONTROLE SOCIAL do que a participação popular estará incluída em todas as esferas
de gestão do SUS. Legitimando assim os interesses da população no
Participação e Controle Social no SUS exercício do controle social (BRASIL, 2009).
Os movimentos sociais ocorridos durante a década de 80 na Essa perspectiva é considerada uma das formas mais avança-
busca por um Estado democrático aos serviços de saúde impulsio- das de democracia, pois determina uma nova relação entre o Es-
naram a modificação do modelo vigente de controle social da época tado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na
que culminou com a criação do SUS a partir da Constituição Fede- saúde deverão ser negociadas com os representantes da sociedade,
rativa de 1988. uma vez que eles conhecem a realidade da saúde das comunidades.
O objetivo deste texto é realizar uma análise deste modelo de Amiúde, as condições necessárias para que se promova a de-
participação popular e controle social no SUS, bem como favorecer mocratização da gestão pública em saúde se debruça com a discus-
reflexões aos atores envolvidos neste cenário, através de uma pes- são em torno do controle social em saúde.
quisa narrativa baseada em publicações relevantes produzidas no O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise do
Brasil nos últimos 11 anos. modelo vigente de participação popular e controle social no SUS e
ainda elucidar questões que permitirão entender melhor a partici-
É insuficiente o controle social estar apenas na lei, é preciso pação e o controle social, bem como favorecer algumas reflexões a
que este aconteça na prática. Entretanto, a sociedade civil, ainda todos os atores envolvidos no cenário do SUS.
não ocupa de forma efetiva esses espaços de participação.
O processo de criação do SUS teve início a partir das defini- Participação e Controle Social
ções legais estabelecidas pela nova Constituição Federal do Brasil Após um longo período no qual a população viveu sob um es-
de 1988, sendo consolidado e regulamentado com as Leis Orgânicas tado ditatorial, com a centralização das decisões, o tecnicismo e
da Saúde (LOA), n° 8080/90 e n° 8.142/90, sendo estabelecidas nes- o autoritarismo, durante a década de 1980 ocorreu uma abertura
tas as diretrizes e normas que direcionam o novo sistema de saúde, democrática que reconhece a necessidade de revisão do modelo
bem como aspectos relacionados a sua organização e funcionamen- de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a
to, critérios de repasses para os estados e municípios além de disci- participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública
plinar o controle social no SUS em conformidade com as represen- em saúde, com vistas a aproximar as decisões do Estado ao cotidia-
tações dos critérios estaduais e municipais de saúde (FINKELMAN, no dos cidadãos brasileiros (DALLARI, 2000; SCHNEIDER et al., 2009;
2002; FARIA, 2003; SOUZA, 2003). VANDERLEI; ALMEIDA, 2007).
O SUS nos trouxe a ampliação da assistência à saúde para a Nessa perspectiva, a dimensão histórica adquire relevância es-
coletividade, possibilitando, com isso, um novo olhar às ações, ser- sencial para a compreensão do controle social, o que pode provocar
viços e práticas assistenciais. Sendo estas norteadas pelos princí- reações contraditórias. De fato, o controle social foi historicamente
pios e diretrizes: Universalidade de acesso aos serviços de saúde; exercido pelo Estado sobre a sociedade durante muitos anos, na
Integralidade da assistência; Equidade; Descentralização Político- época da ditadura militar.
-administrativa; Participação da comunidade; regionalização e hie- É oportuno destacar que a ênfase ao controle social que aqui
rarquização (REIS, 2003). A participação popular e o controle social será dada refere-se às ações que os cidadãos exercem para moni-
em saúde, dentre os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), torar, fiscalizar, avaliar, interferir na gestão estatal e não o inverso.
destacam-se como de grande relevância social e política, pois se Pois, como vimos, também denominam-se controle social as ações
constituem na garantia de que a população participará do processo do Estado para controlar a sociedade, que se dá por meio da legisla-
de formulação e controle das políticas públicas de saúde. ção, do aparato institucional ou mesmo por meio da força.
No Brasil, o controle social se refere à participação da comu- A organização e mobilização popular realizada na década de 80,
nidade no processo decisório sobre políticas públicas e ao contro- do século XX, em prol de um Estado democrático e garantidor do
le sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007). Nesse contex- acesso universal aos direitos a saúde, coloca em evidência a possibi-
to, enfatiza-se a institucionalização de espaços de participação da lidade de inversão do controle social. Surge, então, a perspectiva de
comunidade no cotidiano do serviço de saúde, através da garantia um controle da sociedade civil sobre o Estado, sendo incorporada
da participação no planejamento do enfrentamento dos problemas pela nova Constituição Federal de 1988 juntamente com a criação
priorizados, execução e avaliação das ações, processo no qual a par- do SUS (CONASS, 2003).
ticipação popular deve ser garantida e incentivada (BRASIL, 2006). A participação popular na gestão da saúde é prevista pela Cons-
tituição Federal de 1998, em seu artigo 198, que trata das diretrizes
Sendo o SUS a primeira política pública no Brasil a adotar cons- do SUS: descentralização, integralidade e a participação da comuni-
titucionalmente a participação popular como um de seus princí- dade. Essas diretrizes orientam a organização e o funcionamento do
pios, esta não somente reitera o exercício do controle social sob as sistema, com o intuito de torná-lo mais adequado a atender às ne-
práticas de saúde, mas também evidencia a possibilidade de seu cessidades da população brasileira (BRASIL, 2006; WENDHAUSEN;
exercício através de outros espaços institucionalizados em seu arca- BARBOSA; BORBA, 2006; OLIVEIRA, 2003).
bouço jurídico, além dos reconhecidos pela Lei Orgânica de saúde A discussão com ênfase dada ao controle social na nova Cons-
de n° 8.142/90, os conselhos e as conferências de saúde. Destaca, tituição se expressa em novas diretrizes para a efetivação deste por
ainda, as audiências públicas e outros mecanismos de audiência da meio de instrumentos normativos e da criação legal de espaços ins-
sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais (CONASS, 2003; titucionais que garantem a participação da sociedade civil organiza-
BARBOSA, 2009; COSSETIN, 2010). da na fiscalização direta do executivo nas três esferas de governo.
Ademais, a Lei Orgânica da Saúde n.º 8.080/1990 estabelece Na atualidade, muitas expressões são utilizadas corriqueiramente
em seu art. 12 a criação de comissões intersetoriais subordinadas para caracterizar a participação popular na gestão pública de saú-
ao Conselho Nacional de Saúde, com o objetivo de articular as de, a que consta em nossa Carta Magna e o termo ‘participação da
políticas públicas relevantes para a saúde. Entretanto, é a Lei n.° comunidade na saúde’. Porém, iremos utilizar aqui o termo mais

1
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
comum em nosso meio: ‘controle social’. Sendo o controle social Para promover o alcance dos objetivos do processo de edu-
uma importante ferramenta de democratização das organizações, cação permanente para o controle social no SUS, recomenda-se a
busca-se adotar uma série de práticas que efetivem a participação utilização de metodologias que busquem a construção coletiva de
da sociedade na gestão (GUIZARDI et al ., 2004). conhecimentos, baseada na experiência do grupo, levando-se em
consideração o conhecimento como prática concreta e real dos su-
Embora o termo controle social seja o mais utilizado, consi- jeitos a partir de suas vivências e histórias. Metodologias essas que
deramos que se trata de um reducionismo, uma vez que este não ultrapassem as velhas formas autoritárias de lidar com a aprendiza-
traduz a amplitude do direito assegurado pela nova Constituição gem e muitas vezes utilizadas como, por exemplo, a da comunica-
Federal de 1988, que permite não só o controle e a fiscalização ção unilateral, que transforma o indivíduo num mero receptor de
permanente da aplicação de recursos públicos. Este também se teorias e conteúdos.
manifesta através da ação, onde cidadãos e políticos têm um papel Recomenda-se, também, a utilização de dinâmicas que propi-
social a desempenhar através da execução de suas funções, ou ain- ciem um ambiente de troca de experiências, de refl exões pertinen-
da através da proposição, onde cidadãos participam da formulação tes à atuação dos Conselheiros de Saúde e dos sujeitos sociais e de
de políticas, intervindo em decisões e orientando a Administração técnicas que favoreçam a sua participação e integração, como, por
Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objeti- exemplo, reuniões de grupo, plenárias, estudos dirigidos, seminá-
vo de atender aos legítimos interesses públicos (NOGUEIRA, 2004; rios, ofi cinas, todos envolvendo debates.
BRASIL, 2011b; MENEZES, 2010). A 12.ª Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA..., 2005)
recomendou a realização de ações para educação permanente e
propôs que as atividades do Conselheiro de Saúde fossem consi-
Fonte: http://cebes.org.br/2013/05/participacao-popular-e-o-con-
deradas de relevância pública. Essa proposição foi contemplada na
trole-social-como-diretriz-do-sus-uma-revisao-narrativa/
Resolução n.º 333/2003 (BRASIL, 2003c), aprovada pelo Conselho
Nacional de Saúde, que garante ao Conselheiro de Saúde a dis-
Estratégias operacionais e metodológicas para o controle so-
pensa, sem prejuízo, do seu trabalho, para participar das reuniões,
cial eventos, capacitações e ações específi cas do Conselho de Saúde.
Recomenda-se que o processo de educação permanente para Assim, o processo proposto, especialmente, no que diz respei-
o controle social no SUS ocorra de forma descentralizada, respei- to aos Conselhos de Saúde deve dar conta da intensa renovação de
tando as especifi cidades e condições locais a fim de que possa ter Conselheiros de Saúde, que ocorre em razão do final dos manda-
maior efetividade. tos, ou por decisão da instituição ou entidade de substituir o seu
Considerando que os membros do Conselho de Saúde reno- representante. Isto requer, no mínimo, a oferta de material básico
vam-se periodicamente e outros sujeitos sociais alternam-se em informativo, uma capacitação inicial promovida pelo Conselho de
suas representações, e o fato de estarem sempre surgindo novas Saúde e a garantia de mecanismos que disponibilizem informações
demandas oriundas das mudanças conjunturais, torna-se necessá- aos novos Conselheiros.
rio que o processo de educação permanente para o controle social
esteja em constante construção e atualização. Sugestões de material de apoio:
A operacionalização do processo de educação permanente • Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU);
para o controle social no SUS deve considerar a seleção, preparação • Declaração dos Direitos da Criança e Adolescente (Unicef);
do material e a identifi cação de sujeitos sociais que tenham condi- • Declaração de Otawa, Declaração de Bogotá e outras;
ções de transmitir informações e possam atuar como facilitadores • Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2003) – Capítulo da
e incentivadores das discussões sobre os temas a serem tratados. Ordem Social;
Para isso é importante: • Leis Federais: 8.080/90 (BRASIL, 1990a), 8.142/90 (BRASIL,
• identificar as parcerias a serem envolvidas, como: universida- 1990b), 8.689/93 (BRASIL, 1993), 9.656/98 (BRASIL, 1998) e respec-
des, núcleos de saúde, escolas de saúde pública, técnicos e especia- tivas Medidas Provisórias;
listas autônomos ou ligados a instituições, entidades dos segmentos • Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde;
sociais representados nos Conselhos, Organização Pan-Americana • Normas Operacionais do SUS;
da Saúde (Opas), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni- • Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho (NOB/ RH
cef), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e – SUS), 2005 (BRASIL, 2005), Diretrizes e Competências da Comis-
a Cultura (Unesco), Instituto Brasileiro de Administração Municipal são Intergestora Tripartite (CIT), Comissões Intergestoras Bipartites
(CIBs) e das Condições de Gestão dos Estados e Municípios;
(Ibam), Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
• Constituição do Estado e Leis Orgânicas do Estado, do Distrito
(Abrasco) e outras organizações da sociedade que atuem na área
Federal e Município;
de saúde. Na identifi cação e articulações das parcerias, deve fi car
• Seleção de Deliberações do Conselho Estadual de Saúde
clara a atribuição dos conselhos, conselheiros e parceiros;
(CES), Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pactuações das Comis-
• realizar as atividades de educação permanente para os con- sões Intergestoras Tripartite e Bipartite;
selheiros e os demais sujeitos sociais de acordo com a realidade
local, garantindo uma carga horária que possibilite a participação e • Resoluções e deliberações do Conselho de Saúde relaciona-
a ampla discussão dos temas, democratização das informações e a das à Gestão em Saúde: Plano de Saúde, Financiamento, Normas,
utilização de técnicas pedagógicas para o controle social que facili- Direção e Execução, Planejamento – que compreende programa-
tem a construção dos conteúdos teóricos e, também, a interação do ção, orçamento, acompanhamento e avaliação;
grupo. Sugere-se que as atividades de educação permanente para • Resolução do Conselho Nacional de Saúde n.º 333/2003
o controle social no SUS sejam enfocadas em dois níveis: um geral, (BRASIL, 2003c), Resolução n.º 322/2003 (BRASIL, 2003b), Resolu-
garantindo a representação de todos os segmentos, e outro específi ção n.º 196/96 (BRASIL, 1996) e outras correspondentes com mes-
co, que poderá ser estruturado e oferecido de acordo com o inte- mo mérito, e deliberações no campo do controle social – formula-
resse ou a necessidade dos segmentos que compõem os Conselhos ção de estratégias e controle da execução pelos Conselhos de Saúde
de Saúde e os demais órgãos da sociedade. e pela sociedade.

2
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A definição dos conteúdos básicos de educação permanente 1967, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) foi implan-
para o controle social no SUS deve ser objeto de deliberação pelos tado, atendendo, também, trabalhadores rurais por meio do Fundo
plenários dos Conselhos de Saúde nas suas respectivas esferas go- de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL) e trabalhadores
vernamentais. com carteira assinada através do Instituto Nacional de Assistência
Recomenda-se que, para esse processo, seja prevista a criação Médica da Previdência Social (INAMPS). Somente no final da déca-
de instrumentos de acompanhamento e avaliação dos resultados da de 80 deixou de exigir carteira de trabalho para atendimentos
das atividades em hospitais, tornando a saúde menos excludente e mais universal.
Na década de 70 surgiu o Movimento da Reforma Sanitária que
Responsabilidades tinha como objetivo conquistar a democracia para mudar o siste-
Esferas governamentais ma de saúde. O conceito saúde – doença bem como o processo de
Compete ao Estado, nas três esferas do governo: trabalho e a determinação social da doença foram rediscutidos(4).
a) Oferecer todas as condições necessárias para que o processo No final da década de 80 o quadro social e político no país era dife-
de educação permanente para o controle social ocorra, garantindo rente, onde o movimento de redemocratização expandia-se pelos
o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde e a realização das estados brasileiros e a oposição ganhava força no Congresso Na-
ações para a educação permanente e controle social dos demais cional. Dentro desse contexto ocorria, em 1986, a VIII Conferência
sujeitos sociais. Nacional de Saúde (CNS) que tinha como presidente Sérgio Arouca
b) Promover o apoio à produção de materiais didáticos desti- e que, pela primeira vez, foi verdadeiramente popular refletindo o
nados às atividades de educação permanente para o controle social momento pelo qual o país passava. O grande marco da VIII Confe-
no SUS, ao desenvolvimento e utilização de métodos, técnicas e fo- rência Nacional de Saúde foi a criação do Sistema Único Descen-
mento à pesquisa que contribuam para esse processo. tralizado de Saúde (SUDS), que posteriormente tornou-se Sistema
Único de Saúde (SUS) além de ter consolidado as ideias da Reforma
Ministério da Saúde Sanitária.
a) Incentivar e apoiar, inclusive nos aspectos fi nanceiros e téc- A saúde ganhou espaço a partir de então com a Constituição
nicos, as instâncias estaduais, municipais e do Distrito Federal para Federal de 1988 (CF\88) que criou o SUS rompendo, dessa forma,
o processo de elaboração e execução da política de educação per- com o antigo modelo de saúde que era dominado pelo sistema
manente para o controle social no SUS; previdenciário. A saúde passou a ser direito de todos e dever do
b) Manter disponível e atualizado o acervo de referências sobre Estado. Os princípios e diretrizes estabelecidos foram: descentrali-
saúde e oferecer material informativo básico e audiovisual que pro- zação, integralidade, participação da comunidade, regionalização e
picie a veiculação de temas de interesse geral em saúde, tais como: hierarquização.
legislação, orçamento, direitos em saúde, modelo assistencial, mo- O SUS foi regulamentado em 1990, com a Lei Orgânica de Saúde
delo de gestão e outros. (LOS), a Lei Nº 8.080 e a Lei Nº 8.142 onde se deu destaque para
a construção de um modelo de atenção fundamentado na epide-
miologia, controle social, descentralização e regionalização com
HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE base municipal. A primeira LOS regulamenta o SUS em todo o país
NO BRASIL definindo seus princípios e diretrizes, que contemplam a universa-
lidade, a integralidade da assistência, equidade, descentralização e
a participação da comunidade. Estabelece condições para o nortea-
Evolução Histórica da Saúde Pública e das políticas de saúde
mento do gerenciamento e sobre as condições para a promoção,
no Brasil
proteção, recuperação da saúde, organização e funcionamento dos
As políticas públicas de saúde no Brasil têm sofrido modifica-
serviços de saúde. A segunda regulamenta a participação da socie-
ções ao longo dos anos, e tais mudanças historicamente têm sido
dade na formulação das políticas de saúde, dispõe sobre as transfe-
pelo menos aparentemente para adequarem-se aos contextos polí- rências intergovernamentais de recursos através do Fundo Nacional
ticos, econômicos e sociais. Somente com a chegada da família real, de Saúde, que faria o repasse de forma regular e automática para
em 1808, é que algumas normas sanitárias foram impostas para cada esfera.
os portos, numa tentativa de impedir a entrada de doenças con- As Normas Operacionais Básicas (NOB’s) foram instituídas para
tagiosas que pudessem colocar em risco a integridade da saúde da nortear a operacionalização do sistema, sendo a mais importante a
realeza. Em 1822, com a Independência do Brasil, algumas políticas NOB\SUS 01-96, pois a partir dela o município tornou-se o principal
débeis de saúde foram implantadas, tais políticas eram referentes responsável por atender às necessidades do cidadão com requisitos
ao controle dos portos e atribuía às províncias quaisquer decisões de Gestão Plena da Atenção Básica e Gestão Plena do Sistema Mu-
sobre tais questões. nicipal, onde o Município passou a ser responsável, dentre outras,
Somente com a Proclamação da República, em 1889, é que as pela elaboração da programação municipal dos serviços básicos de
práticas de saúde em nível nacional tiveram início. Oswaldo Cruz e saúde bem como pelos serviços de referência ambulatorial especia-
Carlos Chagas que estiveram à frente da Diretoria Geral de Saúde lizada e hospitalar; executar ações básicas de vigilância sanitária e
pública (DGSP), implementaram um modelo sanitarista visando er- epidemiológica, de média e alta complexidade; manter os sistemas
radicar epidemias urbanas e a criação de um novo Código de Saúde de cadastros atualizados e avaliar o impacto das ações do sistema
Pública, tornando-se responsável pelos serviços sanitários e de pro- sobre as condições de saúde da população e do meio ambiente.
filaxia no país, respectivamente. A União passou a normalizar e financiar e os Municípios a exe-
O Estado brasileiro teve sua primeira intervenção em 1923, com cutar as ações. Criou a Programação Pactuada e Integrada (PPI),
a Lei Elói Chaves, através da criação das Caixas de Aposentadoria que tinha como objetivo alocar recursos de assistência à saúde nos
e Pensão (CAPs), que asseguravam aos trabalhadores e empresas estados e municípios, como forma de universalizar o acesso da po-
assistência médica, medicamentos, aposentadorias e pensões. Fo- pulação a todo tipo de assistência nos três níveis de complexidade.
ram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) Também foi criado o Piso de Atenção Básica (PAB), que alterou o fi-
passando a abranger uma quantidade maior de trabalhadores(3). nanciamento das ações básicas, tornando necessário uma avaliação
Conforme refere Figueiredo; Tonini (2007), ao extinguir os IAPs, em da aplicação dos recursos e impactos.

3
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A NOAS – SUS 01\2001 transformou o modelo vigente de gestão Políticas de saúde no SUS
em Gestão Plena da Atenção Básica – Ampliada (GPAB-A), amplian-
do o debate sobre a municipalização egionalização e instituindo o Política Nacional de Atenção Básica
Plano Diretor de Regionalização (PDR), que estabeleceu as diretri-
zes para uma assistência regionalizada, organizada, de forma que o Breve contextualização histórica
território estadual foi dividido em regiões e microrregiões de saúde A Atenção Primária à Saúde (APS) tem sido pensada, interna-
tendo como base critérios sanitários, epidemiológicos, geográficos, cionalmente, desde o início do século XX, com destaque para o seu
sociais, a oferta de serviços e a acessibilidade que a população tem desenho no relatório Dawson de 1922, materializando- -a na figura
aos mesmos, bem como o diagnóstico dos problemas de saúde do médico geral, no contexto de uma rede territorial de serviços nu-
mais frequentes e das prioridades de intervenção. E o Plano Diretor cleada a partir dos centros primários, com autoridade sanitária re-
de Investimentos (PDI), que define as prioridades e estabelece as gional. Esta formulação serviu de base para a construção do Serviço
estratégias no que se refere a investimentos dos recursos de modo Nacional de Saúde inglês, importante referência de sistema público
que seja prestada assistência em todos os níveis de complexidade. e universal de saúde.
Em 2006 com o Pacto pela Saúde, foram extintas essas formas A conferência internacional de Alma Ata, no final dos anos
de habilitação, através da Portaria Nº 399\2006 passando a vigorar 1970, influenciada pelo cenário político econômico dos países e pe-
o Termo de Compromisso e Gestão (TCG) que contemplava atribui- los custos do setor saúde, incorporou elementos dessas experiên-
ções dos entes federados bem como os indicadores de monitora- cias, propondo os cuidados primários em saúde como elemento
mento e avaliação dos Pactos. Nas suas três dimensões, Pacto pela central para mudanças no setor saúde e na vida social.
Vida, em Defesa do SUS e Gestão do SUS, foram estabelecidas no Uma importante formulação concebeu a APS a partir da ideia
primeiro seis prioridades representando o compromisso entre os de atributos, destacando-se: o primeiro contato, a abordagem inte-
gestores do SUS em torno de prioridades que apresentem impacto gral, a continuidade e longitudinalidade, a coordenação, a aborda-
sobre a situação de saúde da população brasileira, que são: Saúde gem familiar e comunitária, referindo-se ao grau de busca da APS
do Idoso; Controle do câncer de colo do útero e da mama; Redução pelas pessoas, ao grau de vinculação e relacionamento entre APS e
da mortalidade infantil e materna; Fortalecimento da capacidade pessoas sob seus cuidados, à capacidade resolutiva e ao poder para
de resposta às doenças emergentes e endêmicas, com ênfase na coordenar casos e fluxos assistenciais.
dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza; Promoção da Diferentes países do mundo têm APS no seu sistema de saúde.
Saúde; Fortalecimento da Atenção Básica. O ideário de Alma Ata é frequentemente destacado como marco
Em 2008 a Portaria do MS Nº 325\08 criou mais cinco priorida- fundamental para a APS, com traduções e incorporações hetero-
des no Pacto pela Vida passando a totalizar onze prioridades. As gêneas nos países, ora como APS seletiva, ora como APS ampliada,
cinco prioridades estabelecidas foram: Saúde do Trabalhador; Saú- com forte influência de organismos internacionais.
de Mental; Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema
de saúde às pessoas com deficiência; Atenção integral às pessoas APS no Brasil
em situação ou risco de violência; Saúde do Homem. O Pacto em As primeiras experiências de APS no Brasil datam da primeira
Defesa do SUS expressa os compromissos entre os gestores com a metade do século XX. Desde 1990, com base na nova ordem social
consolidação do processo da Reforma Sanitária Brasileira e o Pacto definida na Constituição de 1988, que assumiu a saúde como direi-
de Gestão do SUS estabelece as responsabilidades dos entes fede- to de cidadania e criou o Sistema Único de Saúde (SUS), busca-se
rados para o fortalecimento da gestão em seus eixos de ação. implementar os princípios e diretrizes formulados pelo movimento
Já em 2011 com o Decreto Nº 7.508\2011 o TCG foi substituído da reforma sanitária. Nesse período, o esforço de construção de um
pelo Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP) tendo novo modelo assistencial se materializou, na APS, com a implan-
como objetivo a organização e a integração das ações e serviços de
tação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs), do
saúde, sob responsabilidade dos entes federativos com a finalidade
Programa de Saúde da Família (PSF), em um contexto e conjuntura
de garantir a integralidade das ações e serviços de saúde a partir da
política e econômica desfavoráveis a políticas universalistas. A par-
definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, de-
tir de 1996, o PSF passou a ser apresentado como estratégia de mu-
sempenho, recursos financeiros. Reconhece a atenção básica como
dança do modelo assistencial, superando o conceito de programa
porta de entrada do sistema e como eixo principal das Redes de
vinculado a uma noção de verticalidade e transitoriedade, sendo
Atenção a Saúde (RAS) que constitui um conjunto de ações e servi-
a Estratégia Saúde da Família (ESF) uma certa fusão do Pacs com
ços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente com
o PSF. Inicialmente com caráter seletivo, as Equipes de Saúde da
o intuito de garantir a integralidade tendo como porta de entrada
para tais ações a atenção primária; urgência e emergência; atenção Família (EqSF) tiveram crescimento marcante em cidades pequenas
psicossocial e serviços especiais de acesso aberto e a partir destes e em regiões mais pobres, expandindo-se com maior força para os
partem as referências para serviços de atenção ambulatorial e hos- grandes centros nos anos 2000.
pitalar especializado.
Por fim, o SUS representa o maior projeto de inclusão social no A introdução dos Pisos de Atenção Básica (PAB) fixo e variável
Brasil, proporcionando aos que antes eram excluídos pelo sistema na década de 1990, operados por meio de repasse financeiro fundo
garantia de assistência à saúde. Entretanto a despeito da mesma im- a fundo, facilitou a implantação da ESF e superou a lógica de finan-
ponência do projeto gigantescas dificuldades são encontradas em ciamento por convênio e produção (procedimentos), tendo caráter
sua implementação relacionadas ao financiamento, regulação inci- relativamente redistributivo e tipo de repasse mais global por meio
piente, precárias condições de trabalho falhas na descentralização. do PAB Fixo (per capita) e do PAB-Variável (por adesão a componen-
Necessitando de um fortalecimento no que se refere à regulação da tes da ESF).
assistência a saúde no país que apesar dos avanços obtidos com a Com evolução progressiva ao longo dos anos, em 2017, havia
descentralização explicita problemas como leitos insuficientes para 42.467 EqSF implantadas no Brasil, cobrindo uma população esti-
atender a demanda da população que necessita de atendimentos, mada de 131.349.487 pessoas ou 63.73%. Há evidências de impac-
principalmente de média e alta complexidade, que em sua maioria tos da APS no Brasil, com destaque para a mortalidade infantil.A
estão sob o poder do setor privado complementar e filantrópico APS no Brasil conta com a particularidade de ter em suas equipes o

4
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Agente Comunitário de Saúde (ACS) como membro de uma equipe É sabido que houve aumento da carga de responsabilidade
multiprofissional. Diversos estudos abordam a singularidade do ACS dos municípios no financiamento do SUS ao longo dos anos e, no
na experiência brasileira e a importância do seu trabalho, sobretu- caso da AB, a baixa participação do ente estadual. A isso se somam
do em áreas mais pobres. reivindicações dos gestores municipais por mais autonomia, apoio
No Brasil, além de formulações internacionais, também têm financeiro e provimento de médicos, em parte, contempladas, no
sido agregados outras perspectivas, conceitos e diretrizes – a APS âmbito da AB, com as mudanças na PNAB a partir de 2011. Ainda
é também chamada de Atenção Básica (AB), como significante de assim, há evidências que apontam que a maior parte da responsa-
resistência à APS seletiva. Neste artigo, tais termos serão utilizados bilidade pelo custeio das EqSF tem se concentrado nos municípios.
como equivalentes. Nas formulações do Pacs e do PSF, tanto a vigi- Os anos 2014 e 2015, por sua vez, foram marcados pelo início
lância em saúde como as práticas de promoção à saúde (incluindo de grave crise política e econômica no País, com impacto sobre o
a intersetorialidade) e prevenção de doenças tiveram centralidade, SUS. No plano da AB, destaca-se também a aprovação, em 2014,
com pouca relevância dada às práticas clínicas, subsumidas por da lei federal com definição de piso salarial e obrigatoriedade de
ações programáticas em saúde com destacada normatividade. Des- contratação apenas por vínculos diretos, para os ACS e Agentes
tacam-se no Brasil, também, as noções de acolhimento, vínculo e de Combate às Endemias (ACE), recaindo mais fortemente sobre
adscrição de clientela, territorialização e responsabilidade sanitária, os municípios, em virtude da responsabilidade pela contratação de
trabalho em equipe multiprofissional, as ações individuais e coleti- profissionais. Em 2016, ganha destaque na agenda nacional a revi-
vas e a retaguarda do apoio matricial. Salientam-se as característi- são da PNAB, precedida por uma portaria que facultava a presença
cas de porta de entrada preferencial da APS, centro de comunicação
de ACS nas equipes e incorporação de mais técnicos de enferma-
e base de ordenamento nas Redes de Atenção à Saúde (RAS).
gem, em pouco tempo revogada diante das repercussões políticas.
Houve também mudança nas regras do financiamento federal do
Edições da PNAB e a revisão atual
SUS em 2017, encaminhando-se para o fim dos seis blocos de finan-
A primeira edição de uma Política Nacional de Atenção Básica
(PNAB) oficial data de 2006, com a segunda edição em 2011 e a ciamento do SUS (um deles da AB) e para a adoção de dois grandes
terceira em 2017. Em 2006, no contexto do Pacto pela Saúde, foi blocos, de custeio e investimento. Além disso, foi aprovada a Emen-
publicada a primeira edição da PNAB. Esta ampliou o escopo e a da Constitucional nº 9520 em 2016, congelando os gastos com saú-
concepção da AB ao incorporar os atributos da atenção primária de e educação por 20 anos, prevendo reajustes apenas com base na
à saúde abrangente, reconheceu a Saúde da Família como modelo inflação. Nesse período, o então ministro da saúde adotou o discur-
substitutivo e de reorganização da AB. Além disso, revisou as fun- so de eficiência econômica, defendeu a criação de planos privados
ções das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e reconheceu a existên- populares de saúde, bem como a desregulação do setor de saúde
cia de diferentes modalidades segundo o modelo de organização suplementar. Em meio a esse cenário e diante de muitos protestos,
predominante – UBS com ou sem ESF. foi pactuada na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) do SUS, em
Os anos 2000 estiveram fortemente marcados pela expansão 2017, uma mudança instituindo uma nova PNAB.
da ESF nos grandes centros urbanos, pela incorporação e ampliação
das Equipes de Saúde Bucal (ESB) e pela criação dos Núcleos de O que muda com a nova PNAB
Apoio à Saúde da Família (Nasf). A despeito disso, importantes nós Até o processo de reformulação, a Atenção Básica (AB) era
críticos persistiram, tais como a infraestrutura inadequada, o sub- orientada pela política aprovada pela Portaria nº 2.488, de 21 de
financiamento, o modelo assistencial e a dificuldade de atração de outubro de 2011, e publicada em 2012, tendo na Saúde da Família
profissionais médicos. sua estratégia prioritária para expansão e consolidação da AB. Para
Em 2011, iniciou-se um movimento de mudança da PNAB, em Ana Luiza Queiroz Vilasbôas (ISC/UFBA), coordenadora do eixo de
boa parte baseado no enfrentamento desses nós críticos. De fato, Estudos e Pesquisas em Atenção Primária e Promoção da Saúde do
podemos reconhecer na PNAB de 2011, no Requalifica UBS (refor- OAPS, a principal mudança com a nova portaria está justamente
mas, ampliações, construções e informatização), no Programa de na possibilidade de financiamento federal de outras modalidades
Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) e no Programa Mais de atenção básica. “É contraditório com o próprio texto da nova
Médicos (PMM) expressões desse esforço. Nesse período também portaria que afirma a ‘prioridade’ para a Estratégia Saúde da Fa-
foi criado o e-SUS AB, incluindo a oferta de prontuário eletrônico mília. Prioridade significa financiamento diferenciado para garantia
gratuito para os municípios, e foram alteradas normativas visando à de equipe em tempo integral na unidade de saúde, o que facilita a
sua ampliação e ao aprimoramento. Destaca-se ainda a criação de
construção de vínculo entre profissionais e os usuários. Isso é muito
diferentes modalidades de equipes (consultórios na rua, ribeirinhas
importante para médicos/as, enfermeiros/as e dentistas”, avalia.
e fluviais, por exemplo). Suportando tais iniciativas, observou-se
incremento no orçamento federal da AB, notadamente no PAB Va-
A pesquisadora apontou as principais fragilidades do novo tex-
riável e em recursos de investimento. O PMM (no seu componen-
te provimento), por exemplo, possibilitou maior permanência dos to da política, que classificou como “ambíguo”. Entre os problemas
médicos nas EqSF em áreas de maior vulnerabilização social, bem identificados está a integração do trabalho dos Agentes Comunitá-
como o crescimento da cobertura da ESF, em um processo de dis- rios de Saúde (ACS) com o dos Agentes de Endemias, que não são
puta com a categoria médica e que provocou debates na sociedade, obrigatórios nas equipes de Saúde da Família, o que pode levar ao
para além do SUS e da saúde coletiva. Em 2013, havia 34.724 EqSF aumento das atribuições dos ACS, sem redução da média de famí-
implantadas no Brasil, passando a 40.162 EqSF em 2015, com esta lias sob sua responsabilidade; a falta de determinação na portaria
velocidade de crescimento do número de equipes provavelmente do número de ACS por equipe – “na crise de financiamento que vi-
se devendo ao PMM. Essas iniciativas, no entanto, não foram sufi- vemos, o mínimo tende a ser o máximo”; a definição de atribuições
cientes para o enfrentamento do subfinanciamento, da precariza- de “regulação” de filas para consultas e exames especializados de
ção das relações de trabalho, da formação profissional, da integra- usuários/as da AB ao Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf); e
ção da AB com os demais componentes das redes de atenção, entre ainda a não obrigatoriedade da presença de profissionais de saúde
outros, em parte pelo tempo de sua implantação, em parte por seus bucal na composição das equipes de Atenção Básica.
limites.

5
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
“São necessárias mudanças na atual PNAB para fazer avançar a Ministério da Saúde, a liminar prejudica o trabalho de Atenção Bá-
ampliação da cobertura e promover a melhoria da qualidade do cui- sica, com impactos diretos no funcionamento das unidades básicas
dado. Entretanto, a ‘nova’ PNAB parece ir na direção contrária, pois de saúde e na garantia do acesso da população. Por outro lado, o
não amplia a composição das equipes de atenção básica tradicional, CFM argumenta que a decisão judicial não compromete o funciona-
pois o ACS não é obrigatório nesse formato. No caso das equipes de mento dos programas de saúde pública orientados pela PNAB por
Saúde da Família, também não há avanço, pois a equipe de saúde não impedir a realização de práticas terapêuticas, procedimentos e
bucal é opcional”, critica Ana Luiza. exames, desde que solicitados previamente por médicos/as.
Já a professora Claunara Schilling Mendonça, ex-diretora do A PNAB completa está disponível em:
Departamento de Atenção Básica/Ministério da Saúde, acredita http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf
que a portaria de 2011 prescindia de revisão. “Em 2011, quando
teve a primeira revisão (PT 2488), havia o objetivo de atender às Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança
representações dos municípios, principalmente do estado de São A PNAISC está estruturada em princípios, diretrizes e eixos
Paulo, para que o MS [Ministério da Saúde] financiasse outras mo- estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde da
dalidades, principalmente com outras conformações das especiali- criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados in-
dades médicas e suas cargas horárias. Foram criadas mais de sete tegrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com espe-
modalidades de financiamento distintas, sem nenhum efeito. Ou cial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnera-
seja, se mudou a proposta inicial da exigência da carga horária inte- bilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente
gral dos médicos e não houve crescimento no número de equipes facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno de-
nessas diferentes modalidades”, ponderou. senvolvimento.
Em entrevista ao OAPS, Claunara explicou que a nova porta- Os princípios que orientam esta política afirmam a garantia do
ria implicará no enfraquecimento da Estratégia de Saúde da Famí- direito à vida e à saúde, o acesso universal de todas as crianças à
lia (ESF) como modo de organização da Atenção Primária à Saúde saúde, a equidade, a integralidade do cuidado, a humanização da
(APS) no Brasil. “Ao chegar perto de 40 mil equipes de Saúde da atenção e a gestão participativa. Propõe diretrizes norteadoras para
Família no país, o momento era de verificar a baixa resolutividade a elaboração de planos e projetos de saúde voltados às crianças,
dessas equipes por não fazerem parte da rede de atenção, esta- como a gestão interfederativa, a organização de ações e os servi-
rem isoladas e sem capacidade de integrar o cuidado da APS com o ços de saúde ofertados pelos diversos níveis e redes temáticas de
restante da rede. Era o momento de avançar nos mecanismos que atenção à saúde; promoção da saúde, qualificação de gestores e
garantissem a regulação do acesso ao SUS a partir das equipes de trabalhadores; fomento à autonomia do cuidado e corresponsabili-
ESF. Com a atual proposta, voltamos a não ter um modelo de APS zação de trabalhadores e familiares; intersetorialidade; pesquisa e
para o Brasil”, criticou. produção de conhecimento e monitoramento e avaliação das ações
Entidades que atuam em defesa da saúde também criticaram implementadas. Os sete eixos estratégicos que compõem a políti-
as alterações introduzidas pela reformulação da PNAB. Em nota ca têm a finalidade de orientar gestores e trabalhadores sobre as
conjunta, Cebes, Abrasco e Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos de-
Arouca – ENSP/Fiocruz repudiaram o rompimento da centralidade terminantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e
da ESF na organização do SUS, com a instituição de financiamento à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integrali-
específico para outros modelos que não contemplam a composição dade da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução
de equipes multiprofissionais com a presença de agentes comunitá- de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir das
rios de saúde; “a implantação de modo simplificado, ou reducionis- Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temá-
ta, de uma ‘relação nacional de ações e serviços essenciais e estra- ticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil
e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora
tégicos da AB’”; e a ameaça à presença do Agente Comunitário de
das ações e do cuidado no território, e servirão de fio condutor do
Saúde como integrante e profissional da atenção básica.
cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à Saúde, com ações e
O Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Sociedade Brasileira de
estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio
Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e o Cofen – Conselho
de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode
Federal de Enfermagem, além de pesquisadores/as como Ligia Gio-
se constituir em um grande diferencial a favor da saúde da criança.
vanella, Luiz Augusto Facchini e José Gomes Temporão também ex-
A normativa busca integrar diversas ações já existentes para
puseram, ao longo do processo de reformulação, os riscos dos no-
atendimento a essa população. O objetivo é promover o aleitamen-
vos termos da PNAB. Em entrevista ao OAPS no mês de outubro, a
to materno e a saúde da criança, a partir da gestação aos nove anos
pesquisadora Rosana Aquino destacou que o modelo da ESF – para
de vida, com especial atenção à primeira infância (zero a cinco anos)
ela, “uma das grandes inovações do SUS” – traz melhores indica- e às populações de maior vulnerabilidade, como crianças com defi-
dores de saúde, quando comparado a outros modelos de Atenção ciência, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, e em situação de rua.
Básica, e os resultados positivos mostrados por diversas pesquisas
estão agora sob ameaça de uma redução ainda maior de financia- Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
mento. “Quando o ministro da Saúde diz que ‘é para financiar o Criança
mundo real’, o mundo real dele provavelmente é o mundo da aten- Os sete eixos estratégicos da Política são: atenção humanizada
ção à saúde de menor qualidade e uma Atenção Primária focalizada e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém-nascido; alei-
e seletiva, então estamos realmente bastante apreensivos”. tamento materno e alimentação complementar saudável; promo-
Já marcado por polêmicas, o cenário foi sacudido ainda pela ção e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento inte-
ação movida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e acatada gral; atenção a crianças com agravos prevalentes na infância e com
pelo juiz Renato Borelli, da 20ª Vara Federal de Brasília, que estabe- doenças crônicas; atenção à criança em situação de violências, pre-
lece restrições à atuação de enfermeiros/as, impedindo a realização venção de acidentes e promoção da cultura de paz; atenção à saúde
de consultas e solicitação de exames sem prévia autorização médi- de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vulne-
ca. Na avaliação do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do rabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno.

6
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A Política considera como criança a pessoa na faixa etária de 7) Humanização da atenção – Princípio que busca qualificar as
zero a nove anos e a primeira infância, de zero a cinco anos. Para práticas do cuidado, mediante soluções concretas para os proble-
atendimento em serviços de pediatria no Sistema Único de Saúde mas reais vividos no processo de produção de saúde, de forma cria-
(SUS), são contempladas crianças e adolescentes menores de 16 tiva e inclusiva, com acolhimento, gestão participativa e cogestão,
anos, sendo que este limite etário pode ser alterado conforme as clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos direitos dos
normas e rotinas do estabelecimento de saúde responsável pelo usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre
atendimento. humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde eta-
pas iniciais da vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários,
Dos princípios: trabalhadores e gestores neste processo, a construção de redes de
1) Direito à vida e à saúde – Princípio fundamental garantido cooperação e a participação coletiva, fomentando a transversalida-
mediante o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços de e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção
para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde, por e gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2006a).
meio da efetivação de políticas públicas que permitam o nascimen- 8) Gestão participativa e controle social – Preceito constitucio-
to, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, em con- nal e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a democracia
dições dignas de existência, livre de qualquer forma de violência representativa e criar as condições para o desenvolvimento da cida-
(BRASIL, 1988; 1990b). dania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as audiên-
2) Prioridade absoluta da criança – Princípio constitucional que cias públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as
compreende a primazia da criança de receber proteção e cuidado esferas de governo que conferem à gestão do SUS realismo, trans-
em quaisquer circunstâncias, ter precedência de atendimento nos parência, comprometimento coletivo e efetividade dos resultados.
serviços de saúde e preferência nas políticas sociais e em toda a No caso da saúde da criança, o Brasil possui um extenso leque de
rede de cuidado e de proteção social existente no território, assim entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e do
como a destinação privilegiada de recursos em todas as políticas aleitamento materno e que podem potencializar a implementação
públicas (BRASIL, 1988; 1990b). deste princípio (BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS
3) Acesso universal à saúde – Direito de toda criança receber MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009; MARTINS, 2010).
atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde, por
meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas da Das Diretrizes:
comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada dos 1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – Fo-
problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilida- mento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da viabili-
des sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento zação de parcerias e articulação interfederativa, com instrumentos
responsável, quando necessário, para a rede de atenção (BRASIL, necessários para fortalecer a convergência dela com os planos de
2005a). saúde e os planos intersetoriais e específicos que dizem respeito à
4) Integralidade do cuidado – Princípio do SUS que trata da criança.
atenção global da criança, contemplando todas as ações de promo- 2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção
ção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de cuidado, de à Saúde – Fomento e apoio à organização de ações e aos serviços
modo a prover resposta satisfatória na produção do cuidado, não da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de profissionais e
se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende, serviços de saúde, mediante estratégias como o estabelecimento
ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes, a tomada
a integração dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração,
pela Atenção Básica, com o acompanhamento de toda a trajetória garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa
da criança em uma rede de cuidados e proteção social, por meio de resolução dos problemas colocados, de forma a contribuir para a
estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo a família e integralidade da atenção e a proteção da criança.
as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005a). 3) Promoção da Saúde – Reconhecimento da Promoção da
5) Equidade em saúde – Igualdade da atenção à saúde, sem Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde na
privilégios ou preconceitos, mediante a definição de prioridades busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, com
de ações e serviços de acordo com as demandas de cada um, com ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desenvolvi-
maior alocação dos recursos onde e para aqueles com maior neces- mento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis
sidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não
programas para populações vulneráveis, em condição de iniquida- transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços
des em saúde, por meio do diálogo entre governo e sociedade ci- de produção de saberes e práticas do cuidado nas dimensões indivi-
vil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde, duais, coletivas e sociais (BRASIL, 2014h).
pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005a; 4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família –
BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, princípio
SAÚDE, 2009). constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo poder pú-
6) Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao es- blico, com informações qualificadas sobre os principais problemas
tabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/fa- de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos,
mília/cuidadores e também destes com os profissionais que atuam o estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cui-
em diferentes espaços que a criança percorre em seus territórios dados com a criança, com especial foco nas etapas iniciais da vida,
vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral (PENEL- para a efetivação de seus direitos.
LO, 2013). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão da
relação entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desen-
volvimento permeado pelo cuidado essencial, abrangendo toda
a comunidade em que vive. Este princípio é a nova mentalidade
que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados na
Atenção Integral à Saúde da Criança.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
5) Qualificação da força de trabalho – Qualificação da força de entidades religiosas e filantrópicas. No aspecto legislativo, os idosos
trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da participação foram mencionados em alguns artigos, decretos-leis, leis, portarias,
nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e da arti- entre outras. Sobressaem artigos do Código Civil (1916),4 do Código
culação dos diversos saberes e intervenções dos profissionais, efe- Penal (1940),4 do Código Eleitoral (1965), além da Lei Nº 6.179 de
tivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de 1974,4 que criou a Renda Mensal Vitalícia, e de outros decretos-leis
resposta qualificada às necessidades em saúde da família. e portarias relacionadas, particularmente, com as questões da apo-
6) Planejamento no desenvolvimento de ações – Aperfeiçoa- sentadoria. Porém, a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhe-
mento das estratégias de planejamento na execução das ações da cimento, da Organização das Nações Unidas (ONU), pode ser citada
Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de indi- como o marco mundial que iniciou as discussões direcionadas aos
cadores e metas, com articulação necessária entre as diversas po- idosos. Este fórum ocorreu em Viena - Áustria, no período de 26 de
líticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma a julho a 6 de agosto de 1982, com representação de 124 países de
tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem todo o mundo, incluindo o Brasil. Neste fórum foi estabelecido um
as questões específicas de saúde. Plano de Ação para o Envelhecimento, posteriormente publicado
7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – In- em Nova Iorque, em 1983.
centivo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desen- O Plano de Ação para o Envelhecimento foi considerado um
volvimento de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação importante documento de estratégias e recomendações prioritá-
e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança, rias nos aspectos econômicos, sociais e culturais do processo de
possibilitando a geração de evidências e instrumentos necessários envelhecimento de uma população, e deveria ser baseado na De-
para a implementação da Pnaisc, sempre respeitando a diversida- claração Universal dos Direitos Humanos. Estabeleceram-se, então,
de étnico-cultural, aplicada ao processo de formulação de políticas alguns princípios para a implementação de políticas para o envelhe-
públicas. cimento sob responsabilidade de cada país. Destes princípios, des-
8) Monitoramento e avaliação – Fortalecimento do monitora- tacam-se os seguintes: a estipulação da família, nas suas diversas
mento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc, com apri- formas e estruturas, como a unidade fundamental mantenedora
moramento permanente dos sistemas de informação e instrumen- e protetora dos idosos; cabe ainda às políticas sociais prepararem
tos de gestão, que garantam a verificação a qualquer tempo, em as populações para os estágios mais tardios da vida, assegurando
que medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais assistência integral de ordem física, psicológica, cultural, religiosa/
espiritual, econômica, de saúde, entre outros aspectos. Ainda como
os processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indi-
estabelecido, aos idosos deve ser proporcionada a oportunidade de
cando novos rumos, mais efetividade e satisfação.
contribuição para o desenvolvimento dos seus países, bem como a
9) Intersetorialidade – Promoção de ações intersetoriais para a
participação ativa na formulação e implementação de políticas, in-
superação da fragmentação das políticas sociais no território, me-
cluindo aquelas a eles direcionadas; os órgãos governamentais, não
diante a articulação entre agentes, setores e instituições para am- governamentais e todos que têm responsabilidades com os idosos
pliar a interação, favorecendo espaços compartilhados de decisões, devem dispensar atenção especial aos grupos vulneráveis, particu-
que gerem efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania. larmente aos mais pobres, mulheres e residentes em áreas rurais.
Este Plano de Ação almejou sensibilizar os governos e socie-
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa dades para a necessidade de direcionar políticas públicas voltadas
Atualmente o aumento da população idosa constitui tema de para os idosos, bem como alertar para o desenvolvimento de estu-
debate entre pesquisadores, gestores sociais e políticos de vários dos futuros sobre os aspectos do envelhecimento.
países do mundo. Como evidenciado por diversos estudos, a popu- Em reconhecimento à importância do envelhecimento popu-
lação brasileira, também, vem envelhecendo de forma rápida. Essa lacional no Brasil, em 4 de janeiro de 1994 foi aprovada a Lei Nº
mudança na estrutura da população é caracterizada pela transição 8.842/1994, que estabelece a Política Nacional do Idoso, posterior-
demográfica, ou seja, o processo de alteração de uma situação com mente regulamentada pelo Decreto Nº 1.948/96.6 Esta Lei tem por
altas taxas de fecundidade e mortalidade para outra com baixas finalidade assegurar direitos sociais que garantam a promoção da
taxas desses indicadores. Outro fator a interferir na estrutura da autonomia, integração e participação efetiva do idoso na socieda-
população é o migratório, sobretudo com a entrada de estrangei- de, de modo a exercer sua cidadania. Como previsto nesta lei, esti-
ros, no final dos séculos XIX e XX, no Brasil. Nesta nova realidade, pula-se o limite de 60 anos e mais, de idade, para uma pessoa ser
a redução das taxas de fecundidade e a diminuição da mortalidade considerada idosa.
geram maior expectativa de vida, e levam a nova configuração da Como parte de suas estratégias, referida política estabelece,
população no país. Surge, assim, a transição epidemiológica, defi- entre suas diretrizes, a descentralização de suas ações por intermé-
nida pelo declínio das doenças infecto-parasitárias e aumento das dio dos órgãos setoriais nos estados e municípios, em parceria com
doenças crônicas não-transmissíveis. entidades governamentais e não-governamentais.
Neste sentido, os dados demográficos mostram a necessidade A Lei em discussão rege-se por determinados princípios, tais
urgente dos gestores e políticos brasileiros observarem o panorama como: assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania, sendo a
dessa transição, e, em conjunto com a sociedade, num breve espa- família, a sociedade e o Estado os responsáveis em garantir sua par-
ço de tempo, discutirem as políticas públicas de atenção ao idoso. ticipação na comunidade, defender sua dignidade, bem-estar e di-
reito à vida. O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade
Urge serem estas implementadas em todas as esferas sociais, por
de forma geral e o idoso não deve sofrer discriminação de nenhuma
técnicos e profissionais que atendem essa parcela populacional,
natureza, bem como deve ser o principal agente e o destinatário
particularmente os da área de enfermagem.O processo de enve-
das transformações indicadas por essa política. E, por fim, cabe aos
lhecimento populacional tem sido discutido e acompanhado por
poderes públicos e à sociedade em geral a aplicação dessa lei, con-
medidas, destinadas a proteger os idosos, como cidadãos cada vez siderando as diferenças econômicas, sociais, além das regionais.
mais presentes nas sociedades mundiais. Até a década de 70, do De acordo com o estabelecido, a mencionada lei determinou
século XX, no Brasil, os idosos recebiam, principalmente, atenção a articulação e integração de setores ministeriais e uma secretaria
de cunho caritativo de instituições não-governamentais, tais como para a elaboração de um Plano de Ação Governamental para a In-

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
tegração da Política Nacional do Idoso (PNI). Esse Plano de Ação foi de Graduação em Enfermagem abrangem temas sobre gerontologia
composto por nove órgãos: Ministério da Previdência e Assistência e geriatria, com a finalidade de capacitar e qualificar enfermeiros
Social; Educação e Desporto; Justiça; Cultura; Trabalho e Emprego; para atender/cuidar de idosos. Da mesma forma, cursos de Pós-
Saúde; Esporte e Turismo; Planejamento, Orçamento e Gestão e Se- -Graduação lato e stricto sensu têm sido direcionados para a área
cretaria de Desenvolvimento Urbano. de conhecimento na atenção ao idoso, bem como na realização de
Para colocar em prática as ações preconizadas pela PNI, foi ela- pesquisas científicas cada vez mais ampliadas nos últimos anos. En-
borado o Plano de Ação Conjunta, que trata de ações preventivas, fim, a enfermagem desempenha papel determinante na execução e
curativas e promocionais, com vistas à melhor qualidade de vida cumprimento das leis direcionadas aos idosos, promovendo a inclu-
do idoso. são social indiscriminada (sexo, cor, raça, religião, classe social) dos
O referido Plano de Ação norteia ações integradas de forma a idosos, respeitando suas capacidades e limitações. Contudo, ainda
viabilizar a implementação da PNI. Neste sentido, define ações e há muito a conquistar nessa área de conhecimento.
estratégias para cada órgão setorial, negocia recursos financeiros Com base nestas considerações, o estudo ora elaborado busca
entre as três esferas de governo e acompanha, controla e avalia as descrever e avaliar a Política Nacional de Atenção ao Idoso no Brasil
ações. Para isto, foram traçadas as seguintes diretrizes: e sua relação com a enfermagem. Para isto procedeu-se a uma re-
- Viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e con- visão bibliográfica do tema, o que permitiu sua caracterização sob
vívio do idoso, proporcionando-lhe integração às demais gerações; a forma de leis, decretos, textos e artigos em periódicos e livros.
- Promover a participação e a integração do idoso, por inter-
médio de suas organizações representativas na formulação, imple- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres
mentação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a A partir das primeiras décadas do século XX, a atenção à saúde
serem desenvolvidos; da mulher passou a fazer parte das políticas públicas de saúde no
- Priorizar o atendimento ao idoso por intermédio de suas pró- Brasil. No entanto, nas décadas de 30, 40 e 50 a mulher era vista
prias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos basicamente como mãe e “dona de casa”. Na década de 60, diver-
idosos que não possuam condições de garantir sua sobrevivência; sos países se voltaram para controlar a natalidade e destacou-se a
- Descentralizar as ações político-administrativas;
atenção do Estado às mulheres em idade fértil. Assim, os programas
- Capacitar e reciclar os recursos humanos nas áreas de geria-
de “controle da natalidade” ganharam destaque no final da década
tria e gerontologia;
de 70, negando atenção às reais necessidades ou preferências das
- Implementar o sistema de informações com vistas à divulga-
mulheres, que ficavam relegadas em segundo plano.
ção da política, dos serviços oferecidos, dos planos e programas em
Ainda na década de 60, o movimento feminista brasileiro des-
cada nível de governo;
contente com as diferenças de gênero e com o enfoque reducio-
- Estabelecer mecanismos que favoreçam a divulgação de infor-
nista dado à mulher, reivindicou a não-hierarquização das especi-
mações de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do
ficidades de homens e mulheres, propondo igualdade social que
envelhecimento;
reconhecesse as diferenças, hoje expressa na ideia de “equidade
- Priorizar o atendimento ao idoso em órgãos públicos e priva-
dos prestadores de serviço; de gênero”. Assim, emergiu um novo conceito de saúde da mulher,
- Apoiar estudos e pesquisas sobre as questões do envelheci- rompendo com o paradigma vigente centrado na função controlista
mento. da reprodução, pontuando a saúde sexual e reprodutiva como um
direito.
De acordo com o Plano de Ação, os órgãos setoriais, usando Esse engajamento das mulheres na luta pelos seus direitos e
de suas atribuições e baseados na PNI, realizam as ações conforme por melhores condições de vida impulsionou a adoção das primei-
as demandas da população de idosos. Na busca da implementação ras medidas oficiais do Ministério da Saúde voltadas para a assis-
desta política, têm ocorrido vários fóruns, formais e informais, de tência integral à saúde da mulher. Apesar das limitações impostas
discussão a respeito dos direitos dos idosos de forma a efetivá-la e pelo governo militar da época, o movimento feminista se reorgani-
ampliá-la. zou incitando debates que denunciavam a precariedade da saúde
Como observado, a referida política apresenta ações inovado- da mulher brasileira.
ras usadas como referência na abordagem do idoso. Entretanto, a Tal precariedade referia-se, principalmente, à redução de ações
garantia dos direitos sociais para este ator não tem se concretizado que contemplavam à mulher sob um único aspecto, relacionado
efetivamente, pois esta vem sendo implementada no Brasil de for- ao seu estado gravídico-puerperal, tendo em vista que apenas em
ma lenta e gradativa. Diante desta situação, cabe, pois aos idosos, meados da década de 80 é que foram incorporadas ações de caráter
às famílias e à sociedade em geral a conscientização e participação integral à saúde da mulher. Na atualidade, o conceito de saúde da
política na busca da justiça social para a garantia plena dos direitos mulher é amplo, contemplando os direitos humanos e a cidadania
teoricamente assegurados. como necessidades de atenção.
Inserida neste contexto, a enfermagem tem atuado efetiva- As mulheres em idade reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos,
mente para mudar esta realidade, sobretudo no referido à saúde representam 65% da população feminina brasileira. Apesar dessa
e educação. Na área da saúde, a enfermagem tem contribuído na predominância ainda são observadas importantes diferenças de gê-
abordagem do cuidado em aspectos do processo de envelhecimen- nero. As diferenças se traduzem nas discrepâncias salariais entre os
to (capacidade funcional, independência e autonomia, fragilidade, sexos, na maior ocupação de cargos de chefias pelo sexo masculino
avaliação cognitiva, engajamento social, qualidade de vida, promo- e na violência contra a mulher, e se refletem, também, nas leis, po-
ção de saúde, prevenção de doenças, entre outros); e da senilidade líticas e práticas sociais que repercutem desigualdades de classe,
(condições crônicas de saúde, situações de urgências e emergên- idade, dentre outras.
cias, atenção domiciliar, entre outros). Nesse contexto, a necessidade da integralização da atenção é
Também na área da educação, a enfermagem se destaca. Por percebida, sendo fortalecida com as discussões sobre a “promoção
exemplo, em cumprimento à PNI, tem propiciado relevante contri- da saúde”, como norte para as práticas, organização e gestão da
buição sobretudo em pesquisas científicas. Atualmente os cursos saúde no Brasil. O termo promoção da saúde, definido em 1986,

9
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
durante a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em Em 2004, o Ministério da Saúde elaborou o documento da Po-
Ottawa, no Canadá, estava associado aos elementos da atenção pri- lítica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios
mária. A responsabilidade pela saúde era exclusivamente desse se- e Diretrizes (PNAISM). Este reflete o compromisso com a imple-
tor e se baseava no modelo biomédico, voltado à atividade curativa, mentação de ações em saúde da mulher, garantindo seus direitos
de forma individualizada e, portanto, de baixo impacto. Mais tarde, e reduzindo agravos por causas preveníveis e evitáveis, enfocando,
o termo Promoção da Saúde passou a ser associado à qualidade de principalmente, a atenção obstétrica, o planejamento familiar, a
vida e o sujeito passou a ter autonomia sobre seu estado de saúde. atenção ao abortamento inseguro e o combate à violência domés-
Assim, tornou-se urgente a necessidade de elaboração de polí- tica e sexual.
ticas públicas que atendessem a mulher em todos os aspectos e não A promoção da saúde no contexto da saúde da mulher
apenas no aspecto reprodutivo. Com a crescente consolidação das O modelo de Promoção da Saúde surgiu na década de 70 no
ações de promoção da saúde, o cenário mundial vem sendo trans- Canadá, baseando-se em quatro polos: a biologia humana; o siste-
formado e uma ênfase é dada à visão integral dos indivíduos. Logo, ma de organização dos serviços; o ambiente social, psicológico e fí-
vislumbrando a influência desse tema nas políticas públicas nacio- sico; e o estilo de vida, que está em amplo processo de construção.
nais voltadas à saúde da mulher, decidiu-se pela realização deste A Conferência de Alma-Ata, realizada em 1978, estabeleceu em
estudo que objetiva analisar, epistemologicamente, os pressupos- sua Declaração a atenção à assistência materno-infantil como prio-
tos da promoção da saúde na atual Política Nacional de Atenção ridade, com inclusão do planejamento familiar, relacionado não só
Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). a aspectos procriativos, mas abrangendo o conjunto das necessida-
Trata-se de uma reflexão baseada nos princípios e diretrizes des de uma família, tais como: saúde, educação, moradia e lazer. A II
da PNAISM, lançada em 2004 e nos pressupostos da promoção da Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em
saúde apresentados nas sete cartas resultantes das conferências Adelaide em 1988, teve como tema central políticas públicas vol-
mundiais sobre promoção da saúde (cinco de caráter internacional: tadas para a saúde. Foram apresentadas quatro áreas prioritárias
para promoção de ações, e o apoio à saúde da mulher foi considera-
Ottawa, Adelaide, Sundsvall, Jakarta e México e uma de caráter de
do como uma destas áreas, com destaque para a valorização da mu-
caráter sub-regional: Bogotá). As referidas fontes foram identifi-
lher trabalhadora e a igualdade de direitos na divisão do trabalho.
cadas, lidas, fichadas e interpretadas pelas autoras no período de
No entanto, somente em 1986 foi estabelecido o conceito de
maio a julho de 2007, que se utilizaram um raciocínio crítico, ba-
Promoção da Saúde, durante a Conferência de Ottawa, como sendo
seado em suas próprias experiências como profissionais de saúde
o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria
atuantes na área da saúde da mulher e como mulheres, bem como
da qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no
adotando ideias de outros autores.
controle desse processo.
A Conferência de Sundsvall (1991) que teve como tema central
Resgate histórico
a criação de Ambientes Saudáveis à Saúde, reconheceu a mulher
No início do século XX e até meados da década de 70, a mulher como peça importante para a sua construção ao considerar o cresci-
era assistida de forma restrita, reducionista e fragmentada, com mento populacional uma ameaça ao desenvolvimento sustentável,
ações voltadas ao ciclo gravídico-puerperal. As ações eram verti- tendo em vista a superpovoação de ambientes insalubres e o au-
calizadas e centralizadoras, o que distanciava as medidas adotadas mento da pobreza, o que incrementou a discussão sobre políticas
das reais necessidades dessa população-alvo. Nesse sentido, o mo- de saúde da mulher e sobre o planejamento familiar.
vimento feminista iniciou uma série de reivindicações com o obje- Com o objetivo de adaptar os princípios, estratégias e compro-
tivo de incorporar às políticas de saúde da mulher outras questões missos relacionados ao sucesso da saúde da população à realidade
como gênero, trabalho, desigualdade, sexualidade, anticoncepção e dos países latinos, aconteceu a Declaração de Bogotá (1992). Par-
prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. tindo dos pressupostos já estabelecidos pelas conferências anterio-
Na década de 70, foi então lançado o Programa de Saúde Ma- res, este evento estabeleceu como compromisso para a promoção
terno-Infantil, no qual o planejamento familiar figurava sob o enfo- da saúde, a eliminação dos efeitos diferenciais da iniquidade sobre
que da paternidade responsável, objetivando reduzir as elevadas a mulher, considerando-a como um elo indispensável na promoção
taxas de morbidade e de mortalidade infantil e materna. Em 1983, da saúde na América Latina.
o governo brasileiro lançou o Programa de Assistência Integral Nota-se que as políticas de incentivo e apoio à saúde da mulher
à Saúde da Mulher (PAISM) que adotava, com dificuldade, políti- representaram temáticas importantes em várias das Conferências
cas e medidas para permitir o acesso da população aos meios de de Saúde, apesar da valorização da fase reprodutiva observada nas
contracepção e buscava integralizar essa assistência, incorporando primeiras discussões.
medidas educativas, preventivas, de promoção, diagnóstico, trata- Essa retrospectiva traz à tona o olhar reducionista do conceito
mento e recuperação nos âmbitos da ginecologia; pré-natal, parto e de saúde baseado no modelo biomédico, como ausência de enfer-
puerpério; climatério; planejamento familiar; doenças sexualmente midades, e o conceito de doença como uma fatalidade. Assim, o
transmissíveis e câncer de mama e colo de útero. advento da Promoção da Saúde propõe o surgimento de um novo
paradigma que objetiva romper com a visão fatalista da doença, ar-
O Movimento da Reforma Sanitária, iniciado na década de 80, in- raigada culturalmente, e aprofundar o conceito de saúde sob uma
fluenciou a implementação do PAISM que se caracterizou pelas propos- nova ótica.
tas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços. Esse novo paradigma rompe a visão curativa e centralizadora
Uma análise das ações de atenção à saúde da mulher realizada do modelo biomédico até então vigente, o que por atuar com en-
de 1998 a 2002 afirmou que apesar do discurso integralizador, ain- foque individualista, curativo e baseado na doença é de alto custo
da assim, as políticas públicas voltadas a essa área do cuidado, man- e baixo impacto. O novo paradigma proposto baseia-se na promo-
tiveram a ênfase na resolução de problemas de ordem reprodutiva. ção da saúde e não na cura de doenças, tem caráter coletivo, de
Por outro lado, pôde ser observada a incorporação de um novo autonomia e corresponsabilidade dos sujeitos, e atua por meio de
tema, a redução da violência sexual, demonstrando a preocupação parcerias com educação, ação social e trabalho.
dessas políticas em atender a mulher em seus aspectos mais gerais.

10
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher ver- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem
sus Promoção da Saúde A Política Nacional de Atenção Integral da Saúde do Homem
Tendo em vista a necessidade de mudanças no cenário nacional (PNAISH) tem como diretriz promover ações de saúde que contri-
referente às políticas voltadas à saúde da mulher, que englobe os buam significativamente para a compreensão da realidade singular
pressupostos da promoção da saúde, foi formulada a PNAISM para masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-e-
nortear as ações de atenção à saúde da mulher de 2004 a 2007. conômicos, respeitando os diferentes níveis de desenvolvimento
Os princípios e diretrizes dessa nova proposta foram discuti- e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão de
dos em parceria com diversos segmentos da sociedade, em especial Estados e Municípios.
com o movimento de mulheres, o movimento negro e o de traba- Para atingir o seu objetivo geral, que é ampliar e melhorar o
lhadores rurais, sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos acesso da população masculina adulta – 20 a 59 anos – do Brasil
da área, organizações não-governamentais, gestores do SUS e agên- aos serviços de saúde, a Política Nacional de Saúde do Homem é
cias de cooperação internacional. Esta foi uma iniciativa importante desenvolvida a partir de cinco (05) eixos temáticos:
do Governo e que se baseia nos princípios da promoção, respei-
tando a autonomia dos sujeitos em questão e tornando-os coauto- - Acesso e Acolhimento: objetiva reorganizar as ações de saú-
res de um processo decisório relevante para a categoria. Também de, através de uma proposta inclusiva, na qual os homens consi-
demonstra a preocupação em adotar políticas consoantes às ne- derem os serviços de saúde também como espaços masculinos e,
cessidades das mulheres brasileiras e, assim, reduzir os índices de por sua vez, os serviços reconheçam os homens como sujeitos que
morbidade e de mortalidade por causas preveníveis e evitáveis, o necessitam de cuidados.
que não aconteceu na gênese das políticas anteriores. - Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva: busca sensibilizar gesto-
Além disso, este documento consolida avanços no campo dos res(as), profissionais de saúde e a população em geral para reco-
direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na melhoria da atenção
nhecer os homens como sujeitos de direitos sexuais e reprodutivos,
obstétrica, no planejamento familiar, na atenção ao abortamento
os envolvendo nas ações voltadas a esse fim e implementando es-
inseguro e no combate à violência doméstica e sexual. Propõem-se
tratégias para aproximá-los desta temática.
também a contemplar áreas como: prevenção e tratamento de mu-
- Paternidade e Cuidado: objetiva sensibilizar gestores(as), pro-
lheres vivendo com HIV/aids e as portadoras de doenças crônicas
não transmissíveis e de câncer ginecológico. fissionais de saúde e a população em geral sobre os benefícios do
Esta nova política foi formulada tendo por base a avaliação envolvimento ativo dos homens com em todas as fases da gestação
das políticas anteriores e, a partir de então, buscou preencher as e nas ações de cuidado com seus(uas) filhos(as), destacando como
lacunas deixadas, como: climatério/menopausa; queixas gineco- esta participação pode trazer saúde, bem-estar e fortalecimento
lógicas; infertilidade e reprodução assistida; saúde da mulher na de vínculos saudáveis entre crianças, homens e suas (eus) parcei-
adolescência; doenças crônico-degenerativas; saúde ocupacional; ras(os).
saúde mental; doenças infectocontagiosas, bem como, a atenção - Doenças prevalentes na população masculina: busca fortale-
às mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias cer a assistência básica no cuidado à saúde dos homens, facilitan-
e lésbicas. do e garantindo o acesso e a qualidade da atenção necessária ao
Embora tenham sido observados avanços em relação à imple- enfrentamento dos fatores de risco das doenças e dos agravos à
mentação dessas políticas, percebe-se ainda a exclusão de certos saúde.
segmentos da sociedade, tendo em vista, que grupos como o das - Prevenção de Violências e Acidentes: visa propor e/ou de-
prostitutas, que representa uma população extremamente vulne- senvolver ações que chamem atenção para a grave e contundente
rável a vários agravos, como: doenças sexualmente transmissíveis, relação entre a população masculina e as violências (em especial a
violência sexual e a própria marginalização da sociedade, conti- violência urbana) e acidentes, sensibilizando a população em geral
nuam alijados das propostas de atenção à saúde. e os profissionais de saúde sobre o tema.
A PNAISM reforça a humanização da atenção em saúde, con-
cebendo que humanização e qualidade da atenção são aspectos in- Dos Princípios:
dissociáveis. Nesse sentido, é imprescindível considerar que huma- 1. Universalidade e equidade nas ações e serviços de saúde vol-
nizar é muito mais do que tratar bem, com delicadeza ou de forma tados para a população masculina, abrangendo a disponibilidade de
amigável, devendo ser consideradas questões de acessibilidade ao insumos, equipamentos e materiais educativos;
serviço nos três níveis da assistência, provisão de insumos e tecno- 2. Articulação com as diversas áreas do governo, com o setor
logias necessárias, formalização de sistemas de referência e contra privado e a sociedade, compondo redes de compromisso e corres-
referência, disponibilidade de informações e orientação da clientela ponsabilidade quanto à saúde e a qualidade de vida da população
e a sua participação na avaliação dos serviços.
masculina;
A mulher, a partir de então, é vista em sua integralidade, como
3. Informações e orientação à população masculina, aos fami-
sujeito autônomo e participativo no processo de decisão para a for-
liares e a comunidade sobre a promoção, prevenção, proteção, tra-
mulação de políticas públicas, tendo em vista que à medida que a
tamento e recuperação dos agravos e das enfermidades do homem;
mulher é incluída nesse processo, há garantia do atendimento de
suas reais necessidades aumentando a qualidade da assistência. 4. Captação precoce da população masculina nas atividades de
A PNAISM completa está disponível em: prevenção primária relativa às doenças cardiovasculares e cânce-
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_ res, entre outros agravos recorrentes;
atencao_mulher.pdf 5. Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o aten-
dimento do homem;
6. Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais edu-
cativos;
7. Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e ava-
liação continuada dos serviços e do desempenho dos profissionais
de saúde, com participação dos usuários; e

11
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
8. Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos ges- A SDH/PR tem como principais funções: coordenar a Política
tores monitorar as ações e serviços e avaliar seu impacto, redefinin- Nacional de Direitos Humanos; prestar assessoria à Presidência da
do as estratégias e/ou atividades que se fizerem necessárias. Republica na formulação de Políticas Públicas para cidadania, crian-
ça, idoso, adolescente, minorias e da pessoa com deficiência; arti-
Das Diretrizes: cular e promover projetos sobre direitos humanos e exerce função
- Entender a Saúde do Homem como um conjunto de ações de de ouvidoria da cidadania, criança, adolescente, idosos, minorias e
promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde, executa- pessoa com deficiência.
do nos diferentes níveis de atenção. Deve-se priorizar a atenção bá- Já na PNPR a SDH/PR tem como função assegurar o cumpri-
sica, com foco na Estratégia de Saúde da Família, porta de entrada mento das ações e alcance de objetivos da política, coordenar a im-
do sistema de saúde integral, hierarquizado e regionalizado; plementação das ações com os órgãos que participam da política,
- Reforçar a responsabilidade dos três níveis de gestão e do elaborar plano de trabalho . detalhado e cronograma de execução
controle social, de acordo com as competências de cada um, garan- a ser seguido pela política, monitorar a política juntamente com o
tindo condições para a execução da presente Política; Comitê de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacio-
- Nortear a prática de saúde pela humanização e a qualidade nal para a População em Situação de Rua e o Comitê Gestor Inter-
da assistência a ser prestada, princípios que devem permear todas setorial e por fim dar publicidade às ações da Política Nacional para
as ações; População em Situação de Rua.
- Integrar a execução da Política Nacional de Atenção Integral
à Saúde do Homem às demais políticas, programas, estratégias e A Política Nacional para População em Situação de Rua foi de-
ações do Ministério da Saúde; cretada no dia 23 de dezembro de 2009 por meio do decreto núme-
- Promover a articulação interinstitucional, em especial com o ro 7.053, encontrada na área de assistência social da federação. Os
setor Educação, como promotor de novas formas de pensar e agir; objetivos da Política são apontados no artigo 7º a seguir:
- Reorganizar as ações de saúde, através de uma proposta in- I - assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços
clusiva, na qual os homens considerem os serviços de saúde tam- e programas que integram as políticas públicas de saúde, educação,
bém como espaços masculinos e, por sua vez, os serviços de saúde previdência, assistência social, moradia, segurança, cultura, espor-
reconheçam os homens como sujeitos que necessitem de cuidados; te, lazer, trabalho e renda;
- Integrar as entidades da sociedade organizada na correspon- II - garantir a formação e capacitação permanente de profissio-
sabilidade das ações governamentais pela convicção de que a saúde nais e gestores para atuação no desenvolvimento de políticas públi-
não é só um dever do Estado, mas uma prerrogativa da cidadania; cas intersetoriais, transversais e intergovernamentais direcionadas
- Incluir na Educação permanente dos trabalhadores do SUS te- às pessoas em situação de rua;
mas ligados a Atenção Integral à Saúde do Homem; III - instituir a contagem oficial da população em situação de
- Aperfeiçoar os sistemas de informação de maneira a possibi- rua;
litar um melhor monitoramento que permita tomadas racionais de IV - produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores so-
decisão; e ciais, econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de
serviços públicos à população em situação de rua;
- Realizar estudos e pesquisas que contribuam para a melho-
V - desenvolver ações educativas permanentes que contribuam
ria das ações da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do
para a formação de cultura de respeito, ética e solidariedade en-
Homem.
tre a população em situação de rua e os demais grupos sociais, de
O PNAISH completo está disponível em:
modo a resguardar a observância aos direitos humanos;
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/saude_do_homem.pdf
VI - incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conheci-
mentos sobre a população em situação de rua, contemplando a di-
Política Nacional para a População em Situação de Rua
versidade humana em toda a sua amplitude étnico-racial, sexual, de
Os direitos humanos tem sido um assunto cada vez mais re-
gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento;
corrente mundialmente, buscando-se formas de por em prática a VII - implantar centros de defesa dos direitos humanos para a
igualdade e assegurar os direitos coletivos e individuais de cada população em situação de rua;
pessoa. Dentro desse assunto encontra-se a população em situação VIII - incentivar a criação, divulgação e disponibilização de ca-
de rua em situação de desamparo. Neste trabalho tentou-se anali- nais de comunicação para o recebimento de denúncias de violência
sar a Política Pública para População de Rua e a elaboração de uma contra a população em situação de rua, bem como de sugestões
proposta de monitoramento da política na visão da SDH e outra na para o aperfeiçoamento e melhoria das políticas públicas voltadas
visão do Movimento Nacional da População em Situação de Rua. para este segmento;
Este relatório é resultado de uma pesquisa qualitativa segun- IX - proporcionar o acesso das pessoas em situação de rua aos
do as observações participantes e pesquisa documental. O objetivo benefícios previdenciários e assistenciais e aos programas de trans-
desta análise é uma tentativa de desenho de um monitoramento ferência de renda, na forma da legislação específica; .
adequado para a melhor implementação da PNPSR. X - criar meios de articulação entre o Sistema Único de Assis-
Para a melhor formulação de monitoramento da política é ne- tência Social e o Sistema Único de Saúde para qualificar a oferta de
cessário primeiramente situar a política em contexto de inserção. serviços;
Esta política se encontra em âmbito nacional dentro da Secretaria XI - adotar padrão básico de qualidade, segurança e conforto
de Direitos Humanos da Presidência da República, sendo a SDH a na estruturação e reestruturação dos serviços de acolhimento tem-
sua formuladora, e nesse contexto o Poder Federativo pode firmar porários, de acordo com o disposto no art. 8º;
convênios entre entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos XII - implementar centros de referência especializados para
para alcançar os objetivos da política. Os ministérios colaboradores atendimento da população em situação de rua, no âmbito da pro-
da PNPSR são: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à teção social especial do Sistema Único de Assistência Social;
Fome, Ministério da Justiça, Ministério das Cidades, Ministério da XIII - implementar ações de segurança alimentar e nutricional
Educação, Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho e Emprego suficientes para proporcionar acesso permanente à alimentação
e Ministério da Saúde. pela população em situação de rua à alimentação, com qualidade; e

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
XIV - disponibilizar programas de qualificação profissional para Política Nacional de Urgência e Emergência
as pessoas em situação de rua, com o objetivo de propiciar o seu Os sistemas públicos de caráter universalista têm como princi-
acesso ao mercado de trabalho. pal função garantir direitos; a saúde é um destes sistemas. No Bra-
sil, consiste um dos grandes desafios aos formuladores e gestores
O programa ocorre entre a União, por meio da SDH/PR e os das políticas públicas. A ineficiência dos serviços oferecidos dificulta
demais entes federativos que decidirem aderir ao programa públi- a garantia dos direitos previstos constitucionalmente, entre outros
co. As funções dos estados são garantir sustentabilidade das ações, fatores, pelas grandes disparidades entre as regiões do país (econô-
elaborar política distrital junto com o comitê para população em micas, sociais e logísticas).
situação de rua, promover constituição e fortalecimento da rede No intuito de reduzir os vazios assistenciais e servir como in-
de atendimento à população em situação de rua em situação de terface entre a atenção básica e a média e alta complexidade, em
violência na área distrital, instituir comitê gestor intersetorial com 2003, foi criada a Política Nacional de Atenção às Urgências – PNAU
representantes desse segmento da população e implementar o pla- (Brasil, 2003b). Esta também busca atender outras necessidades,
no de trabalho com detalhamento das ações políticas que devem como implantação dos sistemas de regulação e estruturação de
ser implementadas de acordo com o cronograma de execução. uma rede regionalizada e hierarquizada. Tal regulamentação visa
Segundo a Revista Direitos Humanos, o massacre de morado- garantir atendimento integral aos pacientes, desde atenção básica
res de rua na Praça da Sé, em São Paulo, foi o ponto de reflexão para até serviços de maior complexidade e meios adicionais de atenção,
o início da articulação e organização das pessoas em situação de como o atendimento domiciliar (Granja et al., 2013; Uchimura et
rua em âmbito nacional. Ocorreram inúmeros casos de violência e al., 2015).
massacre de pessoas em situação de rua em todo o país, a partir daí Trabalho recente sobre política de urgência comparou o que
o Movimento Nacional da População em Situação de Rua começou foi planejado e o que foi executado, as características estruturais,
a pressionar a Presidência da República para que fosse formulada o planejamento das unidades de pronto atendimento, o perfil dos
uma política de assistência e proteção à população em situação de usuários, a demanda, a capacidade de atendimento e os tipos de
rua, então em 2009 surge a PNPSR. (REVISTA DIREITOS HUMANOS, encaminhamento para a retaguarda hospitalar (Uchimura et al.,
2012). 2015). Os resultados indicaram que a falta de integração das Unida-
A Política Nacional para População em Situação de Rua consi- des de Pronto Atendimento 24 horas (UPA) com a rede de urgência
dera pessoa em situação de rua quem estiver em nível de pobreza estadual afeta diretamente a resolutividade das mesmas.
extrema, vinculo familiares interrompidos ou fragilizados ou com A estruturação da rede de atenção às urgências tem se mos-
moradia convencional regular inexistente. Essa política é descentra- trado organizada, como previsto nas normas da PNAU, porém as
unidades de urgência estão sobrecarregadas em suas atividades
lizada e articulada entre a União e os entes federativos que aderi-
(Granja et al., 2013). A PNAU exige ação coordenada, pactuada e
rem a política. Os entes federativos que aderirem a política devem
com a presença de comissões intergestores. No entanto, alguns es-
constituir comitês intersetoriais de acompanhamento e monito-
tudos vêm indicando as discrepâncias na condução da política entre
ramento para o acompanhamento da execução das ações estabe-
os estados que compõem as regiões brasileiras (Albuquerque; Sá;
lecidas pela política e avaliação delas. O comitê intersetorial terá Araújo Júnior, 2016; Machado et al., 2014). Os estados do Norte e
as seguintes atribuições: elaborar planos de ação para a política, Nordeste do país foram apontados como os de menor capacidade
acompanhar e monitorar a política, propor formas de divulgação da de gestão.
política, acompanhar os Estados na implementação desta e avaliar Outros estudos têm mostrado que a abrangência e o alcance
a política. do planejamento não coincidem necessariamente com os limites
Deve-se construir também os chamados Centros Pop, ou seja, do município (Albuquerque; Sá; Araújo Júnior, 2016; Duarte et al.,
Centros de Referência Especializado para População em Situação 2015), o que envolve questões de federalismo, cuja base é a coope-
de Rua. Esses constituem centros de atendimento à população em ração entre entes federados (Arretche, 2010).
situação de rua, onde a população de rua tem oportunidade de to- No federalismo brasileiro, os municípios tiveram aumento de
mar banho, lavar roupas, fazer dois lanches diários e participar de suas funções a partir da Constituição de 1988 (Arretche, 2010). En-
oficinas manuais, como por exemplo, artesanato. Porém não po- tretanto, o que se manifestou foi uma eficiência técnica abaixo do
dem pernoitar nos Centros Pop. No DF já existem dois Centros Pop necessário para os novos papéis assumidos, tanto na gestão dos
em funcionamento. serviços quanto na capacidade de financiamento, continuando de-
Como a população em situação de rua não tem acesso à saúde, pendentes das transferências federais (Arretche; Marques, 2014).
cultura, lazer, educação e empregos, a política deseja alcançar esses A PNAU foi criada de forma regionalizada em regime de coges-
pontos principais. tão (pacto entre os três entes da federação). A baixa capacidade de
A PNPSR é uma política de adesão, assim, nem todos os esta- gestão dos municípios e a pouca cooperação entre as três esferas
dos do país participam dela, somente os que assim desejarem. De- de governo têm comprometido os resultados dessa política (Duarte
vido a isso houve um grande período de tempo até que o primeiro et al., 2015). Isto dificulta o alcance dos objetivos, que é atender aos
estado brasileiro percebesse a grande importância desta política e princípios da universalidade e da equidade.
a aderisse. A primeira adesão foi feita pela DF no dia 16 de Abril A baixa capacidade técnica e financeira dos municípios tem
de 2013, seguida por São Paulo, Alagoas e Pernambuco. Esses fo- gerado comportamentos de maximização de benefícios individuais
ram os estados que aderiram até o momento em que a pesquisa (município), mesmo em arenas decisórias que discutem e decidem
foi realizada, portanto a política é recente e está em fase inicial de sobre bens públicos e coletivos. Tal comportamento pode revelar
um modelo federalista com influência negativa nos resultados da
implementação.
política pública. É um modelo que ao mesmo tempo em que trans-
O decreto que institui a Política Nacional para a População em
fere responsabilidades aos entes subnacionais, com autonomia
Situação de Rua está disponível em:
para gestão de suas políticas, centraliza as principais decisões na
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/
esfera federal (Abrucio, 2005; Almeida, 2005; Arretche, 2010). Isso
decreto/d7053.htm pode apontar para a maior presença de conflitos do que de coope-
ração federativa nas relações entre os entes federados.

13
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A PNAU é uma política baseada em serviços descentralizados, SUS financia esse trabalho com a transferência para os municípios,
em regime de gestão pactuada entre as três esferas de governo, ten- e nós passamos então a caminhar um pouco na direção do fazer e
do os municípios autonomia relativa (Granja et al., 2013; Uchimu- não cuidar da doença.”
ra et al., 2015). Nesse contexto, surge a questão que direcionou a A proposição de inclusão das práticas complementares de saú-
pesquisa: quais as principais dificuldades de coordenação federati- de derivadas, ou não, da medicina tradicional, no Brasil pode tomar
va na gestão da PNAU em municípios da Região Metropolitana de como marco histórico as resoluções da VIII Conferência Nacional
Belém-PA? de Saúde que deliberou em seu relatório final pela “introdução de
Parte da literatura que trata sobre política pública de saúde práticas alternativas de assistência à saúde no âmbito dos serviços
(Duarte et al., 2015; Gomes et al., 2014), especialmente sobre a de saúde.
PNAU, tem voltado atenção para seus principais entraves e descon- A Organização Mundial da Saúde - OMS considera que a medi-
sidera tanto a influência das decisões tomadas nas arenas políticas cina tradicional (TM) é o principal pilar da prestação de serviços de
quanto as perspectivas de gestores e executores desta política, nas saúde ou serve como complemento. Como já visto aqui e expresso
três esferas (Albuquerque; Sá; Arruda Junior, 2016). A relevância da em documentos da OMS, em alguns países, a medicina tradicional
pesquisa é buscar revelar papéis e funções dos gestores, nas três ou a medicina não convencional pode ser denominada medicina
esferas responsáveis pela gestão da política, além das dificuldades complementar (CM). A atual proposição desta instituição publica-
do formato dessa gestão (pactuação) e os conflitos políticos em seu da como recomendações na publicação «Estratégia de Medicina
interior. Estes são fatores a que a literatura nacional ainda tem dado Tradicional da OMS para 2014-2023» pretende informar e auxi-
pouca atenção. liar os líderes da assistência à saúde a desenvolver soluções que
O PNAU completo está disponível em: contribuam para uma visão mais ampla da melhoria da saúde e da
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_ur- autonomia do paciente. A estratégia tem dois objetivos principais:
apoiar os Estados Membros no aproveitamento da potencial con-
gencias.pdf
tribuição das Terapias e Medicinas Complementares (T&CM) para a
saúde, o bem-estar e os cuidados de saúde centrados nas pessoas
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
e promover o uso seguro e eficaz do T&CM através da regulamen-
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
tação de produtos, práticas e profissionais. Ainda segundo esta pro-
(PNPIC) foi criada no Brasil em 2006, após aprovação unânime pelo posição, esses objetivos serão alcançados com a implementação de
Conselho Nacional de Saúde. três objetivos estratégicos:
Seu o objetivo é implementar tratamentos alternativos à me- 1) construção da base de conhecimento e formulação de polí-
dicina baseada em evidências na rede de saúde pública do Brasil, ticas nacionais;
através do Sistema Único de Saúde (SUS). A princípio contava com 2) fortalecimento da segurança, qualidade e eficácia através da
apenas 5 procedimentos. Mas em 2017 foram implementados 14 regulamentação; e,
tipos de procedimentos. Em 2018 houve uma nova expansão do 3) promoção da cobertura universal de saúde, integrando servi-
programa, quando foram incluídos 10 novos procedimentos. ços de T&CM e assistência à saúde em sistemas nacionais de saúde.
O campo das práticas integrativas e complementares contem- O PNPIC completo está disponível em:
pla os sistemas médicos complexos e os recursos terapêuticos, tam- http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
bém chamado de medicina tradicional e complementar/alternativa praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf
(MT/MCA) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As catego-
rias «medicina alternativa», «medicina tradicional» de certo modo Política Nacional para Prevenção e Controle do Câncer
se sobrepõem. Considerando o processo histórico da formação da O número de casos de câncer vem crescendo anualmente, re-
medicina cosmopolita ocidental, a partir do momento que alguma presentando a segunda causa de morte no Brasil e no mundo. “Res-
conquista ou prática específica possui evidência comprovada, tende ponde por 20% dos óbitos na Europa, com mais de três milhões de
a ser incorporada e passa a fazer parte da medicina hegemônica ou novos casos e 1,7 milhões de óbitos por ano” (INCA, 2012, P. 15).
convencional, perdendo o status de «alternativa». Os historiadores O câncer constitui-se numa importante questão de saúde pública,
Lyons e Petrucelli (1997) assim descrevem o acontecido às diversas tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvi-
conquistas de cada povo ou etnias, tornado mais compreensíveis as mento, em virtude de seu crescente impacto sobre a rede de servi-
razões de sua permanência ou extinção. ços e sobre a agenda de ações que atendam à exigibilidade da aten-
Os aspectos pseudocientíficos e as violações do código de ética ção. Diante de estimativas de redução da ocorrência de câncer em
médica das práticas promovidas pela PNPIC foram duramente criti- até 30% dos casos, por meio de medidas preventivas, evidencia-se
cados pelo médico e popularizador da ciência Drauzio Varella, pelo a necessidade de políticas sanitárias mais abrangentes e robustas
(FIOCRUZ, 2012). Inclusive, em algumas situações, o câncer pode
Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Regional de Medici-
ser totalmente prevenível, caso do mesotelioma de origem ocupa-
na do Estado de São Paulo.
cional, conforme assinala o documento ‘Diretrizes para a vigilância
Em 2017, 1,4 milhão de procedimentos individuais foram re-
do câncer relacionado ao trabalho’ (INCA, 2012).
gistrados como práticas integrativas e complementares pelo SUS,
Chama a atenção a desigualdade dessa situação, uma vez que
sendo estimado que 5 milhões de procedimentos desse tipo são mais de 70% de todas as mortes por câncer ocorrem nos países em
realizados anualmente se somados os atendimentos coletivos. A vias de desenvolvimento. A carga do câncer continuará aumentan-
acupuntura era o método mais empregado no SUS, com cerca de do nos países em desenvolvimento e crescerá ainda mais em paí-
707 mil atendimentos em 2017. Além da ampla difusão dos mé- ses desenvolvidos se medidas preventivas não forem amplamente
todos, cerca de 30 mil profissionais foram capacitados na área em aplicadas. Nestes, os tipos de câncer mais frequentes na população
2017. masculina são os de próstata, pulmão, cólon e reto; e mama, có-
Ricardo Barros, ministro da saúde à época da ampliação do pro- lon e reto e pulmão entre as mulheres. Nos países em desenvolvi-
grama em 2018, declarou que o Brasil é o país que oferece mais su- mento, os três cânceres mais frequentes em homens são pulmão,
porte a essa modalidade: “Somos, agora, o país que oferece o maior estômago e fígado; e mama, colo do útero e pulmão nas mulheres
número de práticas integrativas disponíveis na atenção básica. O (INCA, 2014).

14
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Segundo estimativas de incidência de câncer do projeto Globo- idade e 79,1% na população de 65 anos ou mais de idade. A doen-
can 2012, da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC ça crônica mais frequentemente relatada foi a hipertensão arterial
– International Agency for Research on Cancer), da Organização (14,1%), seguida de doenças da coluna (13,5%).
Mundial da Saúde (OMS), houve 14,1 milhões de casos novos de Recentemente, no Brasil, foi lançado o Plano de Ações Estra-
câncer e um total de 8,2 milhões de mortes por câncer em todo o tégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmis-
mundo, em 2012. A OMS estima, ainda, para o ano de 2030, 21,4 síveis (DCNT), para o decênio 2011-2022, que as aponta como um
milhões de casos incidentes, 13,2 milhões de mortes e 75 milhões problema de saúde de grande magnitude. São responsáveis por
de pessoas vivas, anualmente, com câncer (INCA, 2014). 72% das causas de morte, com destaque para doenças do aparelho
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Go- circulatório (31,3%), câncer (16,3%), diabetes (5,2%) e doença res-
mes da Silva (Inca), que é o responsável pela política nacional in- piratória crônica (5,8%), e atingem indivíduos de todas as camadas
tegrada para o controle e a prevenção do câncer, estimou para o socioeconômicas e, de forma mais intensa, aqueles pertencentes a
biênio de 2014/2015 a ocorrência de 576 mil casos novos. O câncer grupos vulneráveis, como os idosos e os de baixas escolaridade e
de pele do tipo não melanoma (182 mil casos novos) é o mais inci- renda. O plano tem como objetivo principal ações que visam ao for-
dente na população brasileira, seguido pelos tumores da próstata talecimento da capacidade de resposta do Sistema Único de Saúde
(69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 (SUS) e à ampliação das ações de cuidado integral para a prevenção
mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil), acompanhando o e o controle das DCNT (BRASIL, 2011).
mesmo perfil da magnitude observada para a América Latina (INCA, Com relação à questão específica do câncer, a atenção oncoló-
2014). Segundo o IBGE (2009), o aumento da expectativa de vida, gica no Brasil, de 2005 a 2013, foi norteada pela Portaria nº 2.439/
o envelhecimento e a mudança do comportamento da densidade GM, de 08/12/2005, que instituiu a Política Nacional de Atenção
demográfica do Brasil projetam estimativas de que o grupo etário Oncológica. Para dar-lhe cumprimento, nesse período, o SUS es-
de 60 anos ou mais, duplicará em termos absolutos no período de truturou respostas para melhor organizar a atenção ao câncer, le-
2000 a 2020, ao passar de 13,9 para 28,3 milhões, elevando-se, em vando-se em conta as dimensões e as heterogeneidades cultural
2050, para 64 milhões. e socioeconômica do Brasil. Nesse sentido, o Ministério da Saúde
O envelhecimento populacional constitui um dos maiores de- publicou, além da Portaria citada, a de nº 741, de 19/12/2005. En-
safios para a saúde pública contemporânea, especialmente em paí- quanto a primeira adotava os parâmetros da instituição da política:
ses em desenvolvimento, onde esse fenômeno ocorre em ambien- promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cui-
tes de pobreza e grande desigualdade social. Em 2025, estima-se dados paliativos, a ser implantada em todas as unidades federadas,
que, dos dez países do mundo com o maior número de idosos, cinco respeitadas as competências das três esferas de gestão (BRASIL,
serão países em desenvolvimento, entre eles, o Brasil (LIMA-COSTA, 2005A), a segunda determinava novas classificações e requisitos
2003). para os estabelecimentos que tratam câncer (Centros e Unidades
Em recente documento sobre a prospecção estratégica do de Alta Complexidade em Oncologia), além de propor parâmetros
sistema de saúde brasileiro para 2030, elaborado pela Fundação para o planejamento e a avaliação da Rede de Alta Complexidade
Oswaldo Cruz, em parceria com outras instituições brasileiras, é em Oncologia e de estabelecer procedimentos para melhoria das
assinalado que envelhecimento e doenças crônicas, em determi- informações sobre a atenção ao câncer (Registro Hospitalar de Cân-
nado momento, para uma determinada população, acionam todos cer – RHC) (BRASIL, 2005B).
os níveis de assistência, “e nenhum deles poderia ser chamado de Coerente com a relevância da questão do câncer, na perspecti-
‘resolutivo’ no sentido clássico associado à ideia de cura” (FIOCRUZ, va da sua atenção integral foi instituída a Lei Presidencial nº 12.732
2012, P. 141). O fato requer a intervenção de distintas especialida- (22/11/2012), que dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente
des do campo da saúde em todos os níveis. Além disso, especial- com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu iní-
mente no nível primário, frequentemente, ultrapassam-se as fron- cio. Para tentar diminuir o retardamento do diagnóstico do câncer,
teiras dos serviços de saúde, abrangendo as áreas sociais e de apoio a lei estabelece prazo para o paciente ser tratado no SUS. Em seu
comunitário. O mesmo documento ainda observa que as demais Art. 2º, assegura que o paciente com neoplasia maligna tem direito
formas de cuidados em saúde, muitas delas utilizadas em países ao primeiro tratamento no SUS no prazo de até 60 dias, contados a
desenvolvidos, “como assistência domiciliar, centros de cuidados partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico
prolongados e de cuidados paliativos, crescem em importância ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso,
[...]”, e, apesar desse fato, “[...] sua utilização carece de avaliação e registrada em prontuário único.
planejamento no Brasil”(FIOCRUZ, 2012 P. 141). E, em 2013, considerando sua importância epidemiológica e
Atualmente, a doença crônica, progressiva e incurável é a prin- sua magnitude como problema de saúde pública e a necessidade
cipal causa de incapacidades funcionais, sofrimento e morte, como de redução da mortalidade e da incapacidade, foi editada a nova
é o caso do câncer, da Aids e de outras enfermidades que acome- Portaria, que trata da política nacional de atenção ao câncer. Guar-
tem os diversos órgãos vitais. No caso específico do câncer, que tem dando coerência com o eixo III do mencionado Plano de Ações Es-
seu crescimento progressivo em todas as faixas etárias e é desco- tratégicas para o Enfrentamento das DCNT, a Portaria nº 874, de
berto em estadiamento tardio, no Brasil, com taxas de incidência 16/05/2013, (BRASIL, 2013, P. 129) “institui a Política Nacional para
crescentes e de incapacidades de toda ordem para os pacientes, a Prevenção e Controle do Câncer na Rede de Atenção à Saúde das
há uma tendência a ocorrerem grandes demandas ao sistema de Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do Sistema Único de Saú-
saúde (FIOCRUZ, 2012; HENNEMANN-KRAUSE, 2012; LIMACOSTA, de (SUS)” (PNPCC-RAS), sendo da responsabilidade do Ministério
2003). da Saúde estabelecer diretrizes nacionais para a prevenção e o
Segundo dados do IBGE (2009), as mais recentes informações controle do câncer, estimulando a atenção integral e articulando as
da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) que tratam diversas ações nos três níveis de gestão do SUS. O objetivo central
do tema mostram que, do total da população residente brasileira, da política é contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos
31,3% afirmaram ter pelo menos uma doença crônica, correspon- usuários com câncer, por meio de ações de promoção, prevenção,
dendo a 59,5 milhões de pessoas. O percentual de mulheres com detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos. 1
doenças crônicas (35,2%) é maior do que o de homens (27,2%), e
1 Fonte: www.scielo.br/*www.analisepoliticaemsaude.org/www.portaldeboas-
aumenta com a idade: 45% para a população de 40 a 49 anos de
praticas.iff.fiocruz.br/www.biblioteca.cofen.gov.br/www.saude.pr.gov.br/www.

15
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A Portaria completa está disponível em: No ano de 2002, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/ 2048, instituindo o regulamento técnico dos Sistemas deUrgência e
prt0874_16_05_2013.html Emergência. Esta portaria, ampla em seu conteúdo e abrangência,
é utilizada até os dias de hoje, e normatiza as ações em âmbito pré
Política Nacional de Atenção às Urgências e intra-hospitalar, definindo e bem caracterizando as atividades de
As doenças vêm passando por transformações em seu perfil regulação médica de urgência, tanto no aspecto técnico como ges-
epidemiológico, tanto em relação à clientela como a sua prevalên- tor, definindo papéis e pré-requisitos, assim como estabelecendo
cia, tendo-se hoje, no Brasil, o que Mendes denomina como tríplice um treinamento mínimo para o exercício das atividades de regula-
carga de doenças. Por um lado temos ainda as doenças de países ção e de atendimento às situações de urgência e emergência.
subdesenvolvidos, tais como diarréias, desidratação, doenças tro- Em 2003, foi instituída a Política Nacional de Atenção às Ur-
picais como a dengue, entre outras, em segundo lugar temos um gências, através da PORTARIA Nº 1863/GM e no mesmo dia de sua
aumento de casos crônicos, como as doenças cardiovasculares, publicação outra portaria, a PORTARIA 1864/GM instituiu o com-
predominantemente isquêmicas cardíacas e acidentes vasculares ponente pré-hospitalar móvel da Política Nacional de Atenção às
cerebrais, que acompanham ao incremento de expectativa de vida Urgências, o SAMU – 192.
da população e em terceiro lugar vemos um aumento da violência Seguiu-se a estas duas portarias uma ampla discussão nacional
urbana, tanto interpessoal como de trânsito, com um aumento das com a estruturação de vários serviços de atendimento móvel de ur-
taxas de morbi mortalidade nas causas externas. gência, SAMU-192, em todo o Brasil, com características na maioria
das vezes municipais, e alguns poucos estaduais, sendo que apenas
Com este perfil epidemiológico os casos/situações podem ser no Estado de Santa Catarina foram implantados, em todo o Esta-
considerados (as) crônicos (as), crônicos (as) agudizados (as) e agu- do, sete SAMU-192 regionais, com cobertura de 100% do Estado e
dos (as). Entretanto, embora as situações crônicas representem a interligados, através de uma pactuação de investimento e custeio
maioria das situações, persiste ainda um direcionamento na maio- tripartite.
ria das vezes à resposta aos casos agudos principalmente na rede Entretanto o modelo municipal adotado na Portaria 1863 e
hospitalar. Coube à atenção básica trabalhar as condições crôni- 1864 não atendia às necessidades de organização, escala e rede-
cas, tanto por um enfoque promocional assim como assistencial. finição de fluxos que se davam na maioria das vezes por pactos
Entretanto, na agudização dos casos crônicos acompanhados pela regionalizados ou estadualizados, traduzidos no Plano Diretor de
mesma ou nos casos agudos que chegam à atenção básica, outra Regionalização e no Plano Pactuado e Integrado. Além disto, as ex-
esfera deve responder à demanda, desarticulada de todo o trabalho periências exitosas de regionalização do SAMU em Santa Catarina
anteriormente realizado pela estratégia de saúde da família e da e do Sistema Regional de Atenção às Urgências no Norte de Minas
atenção básica. Gerais, racionalizando custos e aumentando a eficiência da respos-
Embora se creia que a atenção básica, como afirmada na Tese ta às situações de urgência, reforçavam a necessidade de uma legis-
lação própria que amparasse as ações regionais.
do CONASEMS 2010-2011 tenha a capacidade de ordenação do res-
Seguindo-se às discussões em todo o país e os exemplos exi-
tante do sistema de saúde, dirigida por valores de dignidade huma-
tosos, em dezembro de 2008, foi publicada a PORTARIA 2.970, que
na, equidade, solidariedade e ética profissional, os casos agudos ou
instituiu diretrizes técnicas e financeiras de fomento à regionaliza-
agudizações de casos crônicos levam a um ordenamento por outra
ção da Rede Nacional SAMU 192.
rede, a rede de atenção às urgências, distinta da primeira, de cará-
Até aquele momento, a atenção pré-hospitalar fixa havia ficado
ter regional, que deve dar respostas ágeis e num tempo muito curto
à margem do avanço da atenção móvel, levando a uma confronta-
e que deve estar articulada com a rede de atenção básica para sua
ção diária entre as organizações móveis que haviam se estruturado
qualidade de resposta. Nesta rede, o ordenamento se faz a partir
e a atenção fixa, desarticulada e sem incentivos para sua estrutu-
de centrais de regulação de urgência regionais que devem executar ração.
idealmente linhas guia previamente pactuadas e fornecer a respos- Neste caminho, em 13 de maio de 2009, através da Portaria
ta mais adaptada possível às necessidades agudas. GM 1020, foram estabelecidas diretrizes para a implantação do
Assim, dentro da discussão de redes de atenção identifica-se componente pré-hospitalar fixo para a organização de redes loco
que a estruturação paralela de dois eixos (redes) são componentes regionais de atenção integral às urgências em conformidade com a
estruturantes para que se atinjam os objetivos de integralidade e Política Nacional de Atenção às Urgências.
equidade propostos no SUS: as redes de atenção básica e as redes Entretanto, até o momento não temos ainda no país uma legis-
de atenção às urgências. lação específica e de amparo tanto legal como financeiro para que a
Faremos aqui uma reflexão do desenvolvimento da Política Na- rede hospitalar tenha, além do papel definido e importante na rede
cional de Atenção às Urgências e Emergências, com seus avanços, de atenção às urgências, um fomento a sua organização e melhoria
fragilidades e desafios assim como discorreremos sobre a estrutu- através de redefinição de papéis e incentivo à educação permanen-
ração da rede de urgência. te, sendo integrada à rede de atenção às urgências.
De maneira semelhante não temos ainda definido uma legisla-
Estruturação legal da Atenção às Urgências ção que ampare as ações pós-hospitalares, em relação às urgências,
A atenção às urgências vem, ao longo dos últimos anos, pas- como as de reabilitação e reinserção social.
sando por reformulações e sendo estruturada a partir de discussões Por último, trabalhando dentro de uma visão de atenção inte-
governamentais e não governamentais, por entidades de classe, re- gral, o amparo legal para a articulação entre as redes de atenção
presentações sociais, associações focadas nas urgências, emergên- básica e de urgência ainda carece de debates e legislação própria.
cias e traumas.
A partir de 1998 iniciou-se no Brasil a estruturação de níveis de
complexidade hospitalares, que incluíam as urgências, na tentativa
inicial de se ter uma resposta aos casos complexos.
scielo.br/www.fen.ufg.br/www.unfpa.org.br/www.saude.gov.br/www.bdm.
unb.br/www.pt.wikipedia.org

16
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Dentro da atual Política Nacional de Atenção às Urgências te- Principais fragilidades na Política Nacional de Atenção às Ur-
mos: gências
- Componente pré – hospitalar Podemos agora discorrer um pouco sobre as principais fragili-
-FIXO funções definidas pela 2048/02 dades na Política Nacional de Atenção às Urgências
-UBS (ESF) e outros: acolhimento, capacitação, estruturação fí-
sica e grade de referência 1) Quanto à Governança
-UPA: estrutura intermediária a. Se necessitarmos incrementar estruturas regionais que
-MÓVEL: SAMU 192 deem resposta efetiva às urgências igualmente necessitamos de
-Regulação médica uma estruturação de instrumentos de governança regionais que se
-APH ocupem do acompanhamento e monitoramento da rede regional,
-Transporte e transferência de pacientes graves da avaliação, proposição de mudanças e repactuações assim como
-Componente Hospitalar que possam auditar regularmente a rede. As estruturas colegiadas
-Constituído das portas de entradas hospitalares definidos no regionais tem papel importante nesta função, mas uma estrutura
regulamento técnico ligada a mesma, o Comitê Gestor Regional de Urgências, necessa-
-Componente Pós-Hospitalar riamente funcionando como câmara técnica de uma CIB macrorre-
-Modalidades de Atenção Domiciliar gional ou na inexistência da mesma, da CIB estadual, fornece espe-
-Hospitais-Dia cificidade técnica e gestora, autoridade e facilita o monitoramento
-Projetos de Reabilitação Integral com componente de reabili- e todo o trabalho a ser realizado em relação à rede de urgências.
tação de base comunitária b.Cabe às regulações de urgência do SAMU e, quando existir,
a regulação de leitos, ser corresponsável na governança e fornecer
A rede de atenção
dados precisos do funcionamento da rede de forma cotidiana.
Vemos que para a concretização das redes de urgência persis-
te a necessidade de fortalecimento da atenção básica a partir de
2)Quanto aos pontos de atenção
um melhor financiamento que permita o cumprimento das funções
previstas na 2048/02: acolhimento, estruturação física e técnica, ca- a. Atenção Básica:
pacitação, integração na rede hierarquizada. I.Deficiências no acolhimento
As deficiências no acolhimento se devem a não inserção dos
Além disto deve-se garantir que as UPAS e SE exerçam o seu casos agudos ou de agudização dos casos crônicos dentro de uma
papel na integração da política de urgência e emergência através de perspectiva de acolhimento e tratamento pela atenção básica. A
uma efetiva regulação médica, evitando-se assim a competição com atenção básica vem-se pautando por ações promocionais, essen-
o acesso a rede de atenção básica e que estejam conectadas ou ciais para a melhoria de qualidade de saúde e vida da população,
interligadas a um componente hospitalar da rede, garantindo assim desconsiderando muitas vezes que sua população necessita de uma
sua retaguarda nos casos em que se fizerem necessários. Na rede resposta próxima e pouco complexa aos casos agudos ou agudiza-
de urgência e emergência os hospitais definidos como de apoio de- ções de casos crônicos.
veriam ter salas de estabilização estruturadas e funcionais.
O componente pós-hospitalar, ainda pouco desenvolvido e des- II. Unidades básicas sem a devida estruturação física e capaci-
conectado da rede de urgência, deve ser fortalecido e estar incluído dade técnica para o acolhimento das urgências
dentro de uma concepção de rede integral às urgências, favorecen- Existe despreparo para realização de acolhimento e classifica-
do tanto a diminuição de leitos hospitalares como promovendo o ção de risco da clientela atendida assim como inexistência, na maior
retorno o mais breve possível do paciente/vítima ao convívio dos parte das vezes, de estrutura para prestar o primeiro atendimento
familiares e da sociedade. assim como resolver casos de menor complexidade.
O financiamento tripartite da urgência e emergência, com
aporte de recursos para os pronto-atendimentos, unidades de ur- III. Desintegração das Unidades básicas na rede de urgência
gência/emergência, hospitais de pequeno porte e sala de estabiliza- e emergência
ção, com participação e pactuação dos três entes federativos deve Tanto no planejamento da rede de urgência como no cotidia-
ser sempre perseguido, primeiramente evitando-se de autorizar no, a atenção básica não tem, em sua maior parte, participado da
abertura de novos componentes sem uma efetiva política estadual discussão de papel e fluxos da rede de urgência, levando a uma per-
de implementação das redes, estimulando o papel do estado como sistência da não integralidade do atendimento, retardando acessos
locomotiva propulsora, tanto em nível de gestão como de financia-
e dificultando tanto o referenciamento como o contra-referencia-
mento, das redes de atenção em cada estado.
mento.
Acrescente-se a isto a necessidade de uma política de co-finan-
ciamento na estruturação da rede de urgência hospitalar fixa, e a
IV.Falta de flexibilidade nos horários de funcionamento das
sua organização,(mudanças da portaria 478 e mudanças na forma
de pagamento por procedimento). Unidades
Por outro lado, a indefinição de territórios e populações de A atenção básica vêm-se mantendo com horários rígidos, não
abrangência de uma rede levando-se em conta igualmente a escala compatíveis com trabalhadores assim como com as situações agu-
para a resposta a mesma, devem estabelecer que as regiões com das, que não escolhem hora para acontecer. Isto tem dificultado
resposta nos três níveis de atenção devam ser as escolhidas, nor- que a população abrangida pela atenção básica tenha como refe-
malmente de caráter macrorregional não se tendo até o momento rência inicial para o atendimento as suas necessidades, situações
nem uma definição de estruturas administrativas regionais como agudas ou situações crônicas, seja, atendidas.
modelo de gestão e financiamento assim como uma legislação pró-
pria para repasses de investimento e custeio regionalizados.
Por último, um mecanismo de governança regional, ligado às
esferas regionais do SUS se fazem necessários.

17
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
V. Exames de menor complexidade não agregados à atenção IV.Educação permanente ineficaz (NEU e NEP)
básica A educação permanente encontra-se ineficaz tanto pelo não
Até o momento ainda não existe claramente uma política de comprimento do previsto nas portarias ministeriais, caracterizando
distribuição e incentivo à instalação de exames de menor complexi- até o momento uma ação individual e não institucional. Os Núcleos
dade na atenção básica, retardando e dificultando diagnósticos sim- de Educação em Urgência e os Núcleos de Educação Permanente
ples, de baixa complexidade, e levando com que a população veja carecem até o momento tanto de legislação específica como de in-
as unidades hospitalares como a porta de referência na qual poderá centivo financeiro para a execução de suas tarefas.
ser atendida, realizar exames e sair com o tratamento, mesmo em
situações de baixíssima complexidade, sobrecarregando a rede hos- V.Manutenção e renovação da frotas
pitalar com esta conduta. O critério de renovação de frota com 300.000 km rodados tem
levado a um sucateamento de grande parte da frota e a gastos des-
b. SAMU necessários de manutenção das unidades. Caso isto fosse reduzido
para 200.000 km rodados, poderíamos ter um custo menor, uma
I. Regulação ineficaz frota mais nova e uma segurança para as equipes maior.
Ausência ou insuficiente treinamento dos reguladores e au-
sência de protocolos de regulação assim como de linhas guias pac- c. Componente Hospitalar:
tuadas na rede e disponíveis para serem executadas pelos médicos
reguladores. I. Financiamento insuficiente e inexistentes para as Unidades
de Urgência
II.Financiamento em desacordo com as portarias (1864/03 e O pagamento por procedimento, realizado pelo SUS, leva a uma
2970/08) cultura de quanto mais, melhor, estimula o reembolso dos procedi-
O financiamento das atividades educativas até o momento não mentos e é contraproducente para a organização de uma rede que
foi liberado pelo Ministério da Saúde. Embora as Portarias estabe- deve garantir a resposta aos casos realmente urgentes e emergen-
leçam que 50% do custeio cabe ao Ministério da Saúde, a base de tes. Assim, tem-se de ter uma ampla discussão de incentivo finan-
cálculo que definiu os valores é totalmente inadequada à realidade ceiro para as portas de entrada da rede de urgência, abolindo-se o
dos salários praticados no Brasil. Assim sendo, enquanto uma Cen- pagamento por procedimento mas garantindo a resposta às neces-
tral de regulação mínima, tendo um médico regulador, um Técnico sidades regionais. Minas Gerais tem tido, a partir da Secretaria de
Auxiliar de Regulação Médica e um Radioperador e Operador de Estado da Saúde uma experiência exitosa neste sentido carecendo
Frota, custa mensalmente em torno de R$ 110.000,00(cento e dez até o momento de qualquer apoio federal para tal.
mil reais) a base de cálculo utilizada nas portarias é de um valor
mensal de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais) cabendo ao Minis- II.Dificuldade na contra referência
tério da Saúde um repasse de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) o Se não temos referências bem delimitadas e que por muitas
que em tese representaria os 50% do Ministério da Saúde mas na vezes impõem dificuldades para o acolhimento das urgências, ine-
realidade corresponde a 17,2%. Em relação às unidades de suporte xiste, por outro lado, um contra-referenciamento discutido e pac-
avançado o mesmo se repete pois uma unidade móvel composta tuado na maior parte do país. Isto leva a uma retenção maior dos
por médico, enfermeiro e condutor-socorrista não custa menos de
clientes na rede hospitalar assim como uma descontinuidade de
R$ 100.000,00 (cem mil reais) mensais, incluindo salários, combus-
tratamento posterior a uma internação.
tível e manutenção. O Ministério da Saúde calculou que cada uni-
dade de suporte avançado custaria mensalmente R$ 55.000,00(cin-
III.Leitos de retaguarda em número insuficiente e com com-
quenta e cinco mil reais), repassando apenas R$ 27.500,00(vinte e
plexidade de assistência incompatível com as necessidades dos
sete mil reais) mensalmente o que, na realidade representa ape-
pacientes atendidos nas grandes emergências
nas 27,5% do custeio mensal e não 50% como previsto em porta-
A rede de urgência não tem sido na maior parte das vezes dis-
ria. Por último, em relação às unidades de suporte básico de vida,
cutida e planejada, com seus pontos de atenção tendo papéis de-
o estimado de custo mensal previsto pela portaria ministerial de
R$ 25.000,00 se aproxima mais da realidade pois se tem um custo finidos, com fluxos pactuados além de leitos de retaguarda assim
real que normalmente gira em torno de 32.000,00(trinta e dois mil como leitos de unidades semi-intensiva que poderiam desafogar
reais) ao mês, sendo que com o repasse de R$ 12.500,00(doze mil os hospitais de referência não tem sido implantados. Isto mantém
e quinhentos reais ao mês) repassados pelo Ministério da Saúde, a situação de superlotação nestes hospitais e dificultando o refe-
tem-se um percentual de 39% ao mês. renciamento dos casos que necessitam do aporte especializado do
Estas verbas subdimensionadas de custeio estão também sub- hospital de referência.
dimensionadas quando é repassado o percentual de investimento
pelo ministério da Saúde, que representa apenas uma pequena par- IV.Necessidade de implantação de equipe para classificação
te do investimento a ser realizado. de risco
Igualmente necessitamos, dentro da rede hospitalar assim
III..Rotatividade dos profissionais principalmente dos regula- como na atenção básica, de capacitação e estruturação para reali-
dores (vínculo e atividade fim) zação de classificação de risco objetiva, tal como a de Manchester,
A atividade extenuante e altamente especializada do médico para termos uma linguagem única na rede assim como podermos
regulador requer um vínculo trabalhista regular e uma autorização dar equidade e resolução à distribuição das situações nos pontos
legal com pré-requisitos avaliados, para a função de médico regu- de atenção.
lador.
Na prática vínculos temporários e frágeis são estabelecidos d. Outras Fragilidades:
com médicos reguladores, sem estímulo ao seu trabalho, sem edu-
cação permanente e sem retaguarda institucional frequente, levan- I. Fragilidade no processo de acolhimento/humanização na
do a uma grande rotatividade destes profissionais. alta hospitalar

18
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Outra fragilidade da política de urgência que podemos apontar -Quanto ao planejamento análise e aprovação de projetos
é o processo de humanização na alta hospitalar, fazendo com que o -Sugere-se que para o planejamento das redes de urgências to-
paciente que egresse de uma unidade ter descontinuidade de seu dos os atores, sejam eles gestores nos diversos níveis e técnicos de
tratamento e não aderindo aos cuidados que deveriam ser preconi- portas hospitalares e da atenção básica participem das discussões
zados. Acrescente-se a isto a dificuldade até o momento, por falta e modelagem da rede, incluindo definição dos pontos de atenção,
de legislação própria, de internação domiciliar. fluxos e normas. Além disto, o planejamento deve sempre vislum-
brar uma gestão e financiamento tripartite, de sonde sugere-se que
II. Processo de regulação da urgência e emergência insuficien- cabe ao Ministério da Saúde aprovar somente projetos com esta
te tanto na referência quanto na contra referência envergadura: tripartite, de caráter regional e com a aprovação dos
Com já dito, sem um planejamento com pontos de atenção e colegiados gestores (CIB e CES).
papéis na rede definidos assim como fluxos pactuados, criando uma
linha guia de ação, cabe aos médicos reguladores, a partir de sua -Quanto à governança
experiência e contatos pessoais, definir o fluxo e o ponto de aten- -A governança deve ser discutida na ótica de estruturação re-
ção para o atendimento de uma necessidade. presentativa tripartite, atribuindo-se aos Comitês Gestores de Ur-
gência um papel de câmara técnica seja das CIBs macrorregionais
ou estaduais com o acompanhamento de estruturas federais.
III.Baixo nível de organização e de resolutividade dos pronto
-Para isto, além dos Comitês Gestores Regionais e Estaduais de
atendimentos em nível local
Atenção às Urgências propõe-se a reativação do Reativação do Co-
Os pronto-atendimentos em nível local tem baixa resolutivida-
mitê Gestor Nacional das urgências e Emergências
de em parte podendo ser devida ao isolamento deste tipo de uni-
dade dentro de uma rede assim como o não apoio direto de uma -Quanto à estrutura administrativa e financeira regional
unidade hospitalar. Podemos dizer que o ideal seria que cada pron- -Sugere-se uma discussão para elaboração de arcabouço jurídi-
to-atendimento deveria ser uma porta avançada de uma unidade co que dê retaguarda à regionalização, autorizando assim a estru-
hospitalar, se possível com um corpo clínico que trabalhasse em turação e financiamento regional com repasse direto dos fundos
ambas, comprometendo-se com os resultados em cada uma das nacionais e estaduais para estas estruturas regionalizadas.
unidades. -Além disto a participação dos entes gestores na composição
do ente administrativo regional, como por exemplo os consórcios
públicos, é de importância indiscutível para o sucesso do processo.
IV.Financiamento insuficiente e inexistentes para os Pronto Cabe à gestão estadual conduzir, no âmbito regional, a rede (sempre
Socorros regional) de atenção às urgências devendo, junto a representantes
Não existe até o momento qualquer incentivo financeiro para de todos os municípios abrangidos e do nível federal, realizarem a
as portas hospitalares (unidades de urgência ou prontos-socorros), gestão e financiamento da rede/
mantendo a mesma sem estrutura, perspectiva e servindo não
para o trabalho dos mais experientes mas sim para o trabalho dos -Quanto à implantação de um critério único de priorização
iniciantes, que tem a porta da emergência como possibilidade de (classificação) dos casos e introdução de uma linguagem única na
entrada no hospital para seu trabalho atual e futuro. Além disto, rede.
sem identidade, os próprios trabalhadores destas unidades não -Sugere-se a introdução de uma classificação de risco objetiva,
se interessam em organizá-la como igualmente não buscam capa- tal como a preconizada por Manchester, que além da objetividade
citação específica visto que sua atividade principal e foco é outra. para priorizar os casos mais graves separando-os dos menos graves,
Acrescente-se a isto que o financiamento é feito por procedimento pode ser utilizado como um mecanismo de gestão importante pois
o que estimula a produção, independente da necessidade real ou ao realizar a classificação temos uma “vitrine” precisa da demanda
não de ser atendido em uma porta hospitalar, sobrecarregando as podendo assim estabelecer mecanismos para o atendimento desta
unidades de urgência e deixando muitas vezes para trás um caso demanda de maneira racional equitativa e de acordo com a com-
plexidade e prioridade de cada caso. Além disto fornece à rede de
realmente urgente.
atenção às urgências uma linguagem única de comunicação dos ca-
sos, entre todos os pontos de atenção, sejam eles fixos e móveis,
V.Ausência de linguagem única e distribuição dos pacientes
facilitando assim o prosseguimento do atendimento de acordo com
de acordo com a gravidade
as linhas guias pactuadas
Uma das maiores dificuldades é definir-se a prioridade para
o atendimento e de que esta prioridade seja, dentro da rede de -Quanto ao financiamento do SAMU
atenção, vista e compreendida da mesma maneira, dentro de uma -Sugere-se uma readequação de valores de repasse tanto de in-
mesma linguagem. vestimento como de custeio, levando-se em conta a média nacional
de salários praticados no mercado e não estimados como o que se
Sugestões de Pontos para Discussão e Aprimoramento encontra na portaria 1864, em caráter de vínculo empregatício de
CLT e não vínculo precário.
-Quanto a atenção básica
-O fortalecimento da atenção básica e de suas ações, como -Quanto ao financiamento da rede hospitalar
diretriz apontada pela TESE do CONASEMS 2010/2011, vem sendo -Sugere-se a discussão, seguindo o modelo adotado em Minas
realizada e deve ser aprofundada, sendo que em relação à estru- Gerais, de um incentivo de custeio, sem pagamento por procedi-
turação das redes, os parâmetros legais a discussão sobre a instru- mentos, para a implementação dos níveis hospitalares necessários
mentalização dos trabalhadores e das unidades de atenção básica, para o êxito da rede de urgência. O controle dos contratos e repas-
através de capacitação específica e estruturação mínima para o ses realizados deve ser realizado em nível regional a partir do Comi-
atendimento às situações agudas deve ser perseguida. tê Gestor Regional de Urgência e de dados provenientes do SAMU e
da Central de Regulação de Leitos.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
-Quanto aos indicadores de resultados e qualidade afirmação também é válida para ações de promoção e prevenção à
-Propõe-se o estabelecimento de indicadores de produção, saúde que requer, na maioria das vezes, mudanças comportamen-
resultados e qualidade homogêneos e implementados em todo o tais.
Brasil para a avaliação das redes de atenção as urgências As pesquisas qualitativas apontam várias razões, mas, de um
modo geral, podemos agrupar as causas da baixa adesão em dois
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem grupos principais de determinantes, que se estruturam como bar-
O Ministério da Saúde, nos 20 anos do Sistema Único de Saú- reiras entre o homem e os serviços e ações de saúde (Gomes, 2003;
de (SUS), apresenta uma das prioridades desse governo, a Política Keijzer, 2003; Schraiber et all, 2000) a saber: barreiras sócioculturais
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, desenvolvida em e barreiras institucionais.
parceria entre gestores dos SUS, sociedades científicas, sociedade Grande parte da não-adesão às medidas de atenção integral,
civil organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de coope- por parte do homem, decorre das variáveis culturais. Os estereóti-
ração internacional. A pluralidade das instituições envolvidas nessa pos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal,
construção é um convite e um desafio à consideração da saúde do potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser
homem brasileiro nas suas idiossincrasias e similaridades nos 5.561 masculino. A doença é considerada como um sinal de fragilidade
municípios, 26 estados e no Distrito Federal. Nesse sentido, a políti- que os homens não reconhecem como inerentes à sua própria con-
ca traduz um longo anseio da sociedade ao reconhecer que os agra- dição biológica. O homem julga-se invulnerável, o que acaba por
vos do sexo masculino constituem verdadeiros problemas de saúde contribuir para que ele cuide menos de si mesmo e se exponha mais
pública. Um dos principais objetivos desta Política é promover ações às situações de risco (Keijzer, 2003; Schraiber et 6 all, 2000; Sabo,
de saúde que contribuam significativamente para a compreensão 2002; Bozon, 2004). A isto se acresce o fato de que o indivíduo tem
da realidade singular masculina nos seus diversos contextos socio- medo que o médico descubra que algo vai mal com a sua saúde, o
culturais e político-econômicos; outro, é o respeito aos diferentes que põe em risco sua crença de invulnerabilidade.
níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de Os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades,
saúde e tipos de gestão. Este conjunto possibilita o aumento da ex- cultivando o pensamento mágico que rejeita a possibilidade de
pectativa de vida e a redução dos índices de morbimortalidade por adoecer. Além disso, os serviços e as estratégias de comunicação
causas preveníveis e evitáveis nessa população. Para isso, a Política privilegiam as ações de saúde para a criança, o adolescente, a mu-
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem está alinhada com lher e o idoso.
a Política Nacional de Atenção Básica – porta de entrada do Sistema Uma questão apontada pelos homens para a não procura pelos
Único de Saúde - com as estratégias de humanização, e em con- serviços de saúde está ligada a sua posição de provedor. Alegam
sonância com os princípios do SUS, fortalecendo ações e serviços que o horário do funcionamento dos serviços coincide com a carga
em redes e cuidados da saúde. O Ministério da Saúde vem cumprir horária do trabalho. Não se pode negar que na preocupação mascu-
seu papel ao formular a Política que deve nortear as ações de aten- lina a atividade laboral tem um lugar destacado, sobretudo em pes-
ção integral à saúde do homem, visando estimular o autocuidado soas de baixa condição social o que reforça o papel historicamente
e, sobretudo, o reconhecimento de que a saúde é um direito social atribuído ao homem de ser responsável pelo sustento da família.
básico e de cidadania de todos os homens brasileiros. Ainda que isso possa se constituir, em muitos casos, uma barreira
A proposição da Política Nacional de Atenção Integral à Saú- importante, há de se destacar que grande parte das mulheres, de
de do Homem visa qualificar a saúde da população masculina na todas as categorias sócio-econômicas, faz hoje parte da força pro-
perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade dutiva, inseridas no mercado de trabalho, e nem por isso deixam de
da atenção. procurar os serviços de saúde.
O reconhecimento de que os homens adentram o sistema de Outro ponto igualmente assinalado é a dificuldade de aces-
saúde por meio da atenção especializada tem como conseqüência o so aos serviços assistenciais, alegando-se que, para marcação de
agravo da morbidade pelo retardamento na atenção e maior custo consultas, há de se enfrentar filas intermináveis que, muitas vezes,
para o SUS. É necessário fortalecer e qualificar a atenção primária causam a “perda” de um dia inteiro de trabalho, sem que necessa-
garantindo, assim, a promoção da saúde e a prevenção aos agravos riamente tenham suas demandas resolvidas em uma única consulta
evitáveis. (Gomes et all, 2007; Kalckmann et all, 2005; Schraiber, 2005).
Vários estudos comparativos, entre homens e mulheres, têm Ainda que o conceito de masculinidade venha sendo atualmen-
comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doen- te contestado e tenha perdido seu rigor original na dinâmica do pro-
ças, sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem cesso cultural (Welzer-Lang, 2001), a concepção ainda prevalente
mais precocemente que as mulheres (Nardi et all, 2007; Courtenay, de uma masculinidade hegemônica é o eixo estruturante pela não
2007; IDB, 2006 Laurenti et all, 2005; Luck et all, 2000). A despeito procura aos serviços de saúde. Em nossa sociedade, o “cuidado” é
da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os papel considerado como sendo feminino e as mulheres são educa-
homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção bá- das, desde muito cedo, para desempenhar e se responsabilizar por
sica. (Figueiredo, 2005; Pinheiro et all, 2002). este papel (WelzerLang, 2004; Lyra-da-Fonseca et all, 2003; Tellería,
Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens reali- 2003; Hardy e Jimenez, 2000; Medrado et all, 2005).
zassem, com regularidade, as medidas de prevenção primária. A A compreensão das barreiras sócio-culturais e institucionais é
resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a importante para a proposição estratégica de medidas que venham
sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o a promover o acesso dos homens aos serviços de atenção primária,
sofrimento físico e emocional do paciente e de sua família, na luta a fim de resguardar a prevenção e a promoção como eixos necessá-
pela conservação da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas. rios e fundamentais de intervenção.
Tratamentos crônicos ou de longa duração têm, em geral, me- A Política de Atenção Integral à Saúde do Homem deve con-
nor adesão, visto que os esquemas terapêuticos exigem um grande siderar a heterogeneidade das possibilidades de ser homem. As
empenho do paciente que, em algumas circunstâncias, necessita masculinidades são construídas historicamente e sócio-cultural-
modificar seus hábitos de vida para cumprir seu tratamento. Tal mente, sendo a significação da masculinidade um processo em per-

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
manente construção e transformação. O ser homem, assim como liação e aperfeiçoamento da Política, a elaboração desta proposta
o ser mulher é 7 constituído tanto a partir do masculino como do contou com a participação de representante das organizações indí-
feminino. Masculino e feminino são modelos culturais de gênero genas, com experiência de execução de projetos no campo da aten-
que convivem no imaginário dos homens e das mulheres. Essa con- ção à saúde junto a seu povo.
sideração é fundamental para a promoção da equidade na atenção
a essa população, que deve ser considerada em suas diferenças por Antecedentes
idade, condição sócioeconômica, étnico-racial, por local de moradia No Brasil, a população indígena, estimada em cerca de 5 mi-
urbano ou rural, pela situação carcerária, pela deficiência física e/ lhões de pessoas no início do século XVI, comparável à da Euro-
ou mental e pelas orientações sexuais e identidades de gênero não pa nesta mesma época, foi dizimada pelas expedições punitivas às
hegemônicas. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do suas manifestações religiosas e aos seus movimentos de resistên-
Homem, portanto, além de evidenciar os principais fatores de mor- cia, mas, principalmente, pelas epidemias de doenças infecciosas,
bimortalidade explicita o reconhecimento de determinantes so- cujo impacto era favorecido pelas mudanças no seu modo de vida
ciais que resultam na vulnerabilidade da população masculina aos impostas pela colonização e cristianização (como escravidão, traba-
agravos à saúde, considerando que representações sociais sobre a lho forçado, maus tratos, confinamento e sedentarização compul-
masculinidade vigente comprometem o acesso à atenção integral, sória em aldeamentos e internatos).
bem como repercutem de modo crítico na vulnerabilidade dessa A perda da auto-estima, a desestruturação social, econômica e
população à situações de violência e de risco para a saúde. dos valores coletivos (muitas vezes da própria língua, cujo uso che-
Mobilizar a população masculina brasileira pela luta e garantia gava a ser punido com a morte) também tiveram um papel impor-
de seu direito social à saúde é um dos desafios dessa política. Ela tante na diminuição da população indígena. Até hoje há situações
pretende tornar os homens protagonistas de suas demandas, con- regionais de conflito, em que se expõe toda a trama de interesses
solidando seus direitos de cidadania. econômicos e sociais que configuram as relações entre os povos in-
dígenas e demais segmentos da sociedade nacional, especialmente
Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas no que se refere à posse da terra, exploração de recursos naturais
A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e implantação de grandes projetos de desenvolvimento. Desde o
integra a Política Nacional de Saúde, compatibilizando as determi- início da colonização portuguesa, os povos indígenas foram assis-
nações das Leis Orgânicas da Saúde com as da Constituição Federal, tidos pelos missionários de forma integrada às políticas dos gover-
que reconhecem aos povos indígenas suas especificidades étnicas e nos. No início do século XX, a expansão das fronteiras econômicas
culturais e seus direitos territoriais. para o Centro-Oeste e a construção de linhas telegráficas e ferrovias
Esta proposta foi regulamentada pelo Decreto n.º 3.156, de 27 provocaram numerosos massacres de índios e elevados índices de
de agosto de 1999, que dispõe sobre as condições de assistência à mortalidade por doenças transmissíveis que levaram, em 1910, à
saúde dos povos indígenas, e pela Medida Provisória n.º 1.911-8, criação do Serviço de Proteção ao Índio e Trabalhadores Nacionais
que trata da organização da Presidência da República e dos Minis- (SPI). O órgão, vinculado ao Ministério da Agricultura, destinava-se
térios, onde está incluída a transferência de recursos humanos e à proteger os índios, procurando o seu enquadramento progressivo
outros bens destinados às atividades de assistência à saúde da FU- e o de suas terras no sistema produtivo nacional.
NAI para a FUNASA, e pela Lei nº 9.836/99, de 23 de setembro de Uma política indigenista começou a se esboçar com inspiração
1999, que estabelece o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena no positivista, em que os índios, considerados num estágio infantil da
âmbito do SUS. humanidade, passaram a ser vistos como passíveis de “evolução” e
A implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos integração na sociedade nacional por meio de projetos educacio-
Povos Indígenas requer a adoção de um modelo complementar e nais e agrícolas. A assistência à saúde dos povos indígenas, no en-
diferenciado de organização dos serviços – voltados para a prote- tanto, continuou desorganizada e esporádica. Mesmo após a cria-
ção, promoção e recuperação da saúde -, que garanta aos índios o ção do SPI, não se instituiu qualquer forma de prestação de serviços
exercício desua cidadania nesse campo. Para sua efetivação, deve- sistemática, restringindo-se a ações emergenciais ou inseridas em
rá ser criada uma rede de serviços nas terras indígenas, de forma processos de “pacificação”.
a superar as deficiências de cobertura, acesso e aceitabilidade do Na década de 50, foi criado o Serviço de Unidades Sanitárias
Sistema Único de Saúde para essa população. É indispensável, por- Aéreas (SUSA), no Ministério da Saúde, com o objetivo de levar
tanto, a adoção de medidas que viabilizem o aperfeiçoamento do ações básicas de saúde às populações indígena e rural em áreas de
funcionamento e a adequação da capacidade do Sistema, tornan- difícil acesso. Essas ações eram essencialmente voltadas para a va-
do factível e eficaz a aplicação dos princípios e diretrizes da des- cinação, atendimento odontológico, controle de tuberculose e ou-
centralização, universalidade, eqüidade, participação comunitária tras doenças transmissíveis.
e controle social. Para que esses princípios possam ser efetivados,
Em 1967, com a extinção do SPI, foi criada a Fundação Nacio-
é necessário que a atenção à saúde se dê de forma diferenciada,
nal do Índio (FUNAI), que, baseando-se no modelo de atenção do
levando-se em consideração as especificidades culturais, epidemio-
SUSA, criou as Equipes Volantes de Saúde (EVS). Essas equipes reali-
lógicas e operacionais desses povos. Assim, dever-se-á desenvolver
zavam atendimentos esporádicos às comunidades indígenas de sua
e fazer uso de tecnologias apropriadas por meio da adequação das
área de atuação, prestando assistência médica, aplicando vacinas e
formas ocidentais convencionais de organização de serviços.
supervisionando o trabalho do pessoal de saúde local, geralmente
Com base nesses preceitos, foi formulada a Política Nacional de
auxiliares ou atendentes de enfermagem.
Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, cuja elaboração contou com
A FUNAI, após a crise financeira do Estado brasileiro pós-mi-
a participação de representantes dos órgãos responsáveis pelas po-
lagre econômico da década de 70, teve dificuldades de diversas
líticas de saúde e pela política e ação indigenista do governo, bem
como de organizações da sociedade civil com trajetória reconhecida ordens para a organização de serviços de atenção à saúde que con-
no campo da atenção e da formação de recursos humanos para a templassem a grande diversidade e dispersão geográfica das comu-
saúde dos povos indígenas. Com o propósito de garantir participa- nidades: carência de suprimentos e capacidade administrativa de
ção indígena em todas as etapas de formulação, implantação, ava- recursos financeiros, precariedade da estrutura básica de saúde,

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
falta de planejamento das ações e organização de um sistema de FUNAI. O decreto devolve, na prática, a coordenação das ações de
informações em saúde adequado, além da falta de investimento na saúde à FUNAI. A CIS aprovou, por intermédio da Resolução n° 2,
qualificação de seus funcionários para atuarem junto a comunida- de outubro de 1994, o “Modelo de Atenção Integral à Saúde do
des culturalmente diferenciadas. Índio”, que atribuía a um órgão do Ministério da Justiça, a FUNAI, a
Com o passar do tempo, os profissionais das EVS foram se fi- responsabilidade sobre a recuperação da saúde dos índios doentes,
xando nos centros urbanos, nas sedes das administrações regionais, e a prevenção, ao Ministério da Saúde, que seria responsável pelas
e a sua presença nas aldeias se tornava cada vez mais esporádica, ações de imunização, saneamento, formação de recursos humanos
até não mais ocorrer. Alguns deles, em geral pouco qualificados, e controle de endemias.
ficaram lotados em postos indígenas, executando ações assisten- Desde então, a FUNASA e a FUNAI dividiram a responsabilidade
ciais curativas e emergenciais sem qualquer acompanhamento. Era sobre a atenção à saúde indígena, passando a executar, cada uma,
freqüente funcionários sem qualificação alguma na área da saúde parte das ações, de forma fragmentada e conflituosa. Ambas já ti-
prestar atendimentos de primeiros socorros ou até de maior com- nham estabelecido parcerias com municípios, organizações indíge-
plexidade, devido à situação de isolamento no campo. nas e não-governamentais, universidades, instituições de pesquisa
As iniciativas de atenção à saúde indígena geralmente ignora- e missões religiosas. Os convênios celebrados, no entanto, tinham
vam os sistemas de representações, valores e práticas relativas ao pouca definição de objetivos e metas a serem alcançados e de indi-
adoecer e buscar tratamento dos povos indígenas, bem como seus cadores de impacto sobre a saúde da população indígena.
próprios especialistas. Estes sistemas tradicionais de saúde se apre-
sentam numa grande diversidade de formas, sempre considerando Política Nacional de atenção à saúde dos povos indígenas
as pessoas integradas ao contexto de suas relações sociais e com o O propósito desta política é garantir aos povos indígenas o
ambiente natural, consistindo ainda num recurso precioso para a acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípios e
preservação ou recuperação de sua saúde. diretrizes do Sistema Único de Saúde, contemplando a diversidade
Em 1988, a Constituição Federal estipulou o reconhecimento e social, cultural, geográfica, histórica e política de modo a favorecer
respeito das organizações socioculturais dos povos indígenas, asse- a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerá-
gurando-lhes a capacidade civil plena - tornando obsoleta a institui- vel aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre
ção da tutela - e estabeleceu a competência privativa da União para os brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito
legislar e tratar sobre a questão indígena. A Constituição também desses povos à sua cultura.
definiu os princípios gerais do Sistema Único de Saúde (SUS), poste-
riormente regulamentados pela Lei 8.080/90, e estabeleceu que a Diretrizes
direção única e a responsabilidade da gestão federal do Sistema são Para o alcance desse propósito são estabelecidas as seguintes
do Ministério da Saúde. diretrizes, que devem orientar a definição de instrumentos de pla-
Para debater a saúde indígena, especificamente, foram realiza- nejamento, implementação, avaliação e controle das ações de aten-
das, em 1986 e 1993, a I Conferência Nacional de Proteção à Saúde ção à saúde dos povos indígenas:
do Índio e a II Conferência Nacional de Saúde para os Povos Indí- • organização dos serviços de atenção à saúde dos povos in-
genas, por indicação da VIII e IX Conferências Nacionais de Saúde, dígenas na forma de Distritos Sanitários Especiais e Pólos-Base, no
respectivamente. Essas duas Conferências propuseram a estrutura- nível local, onde a atenção primária e os serviços de referência se
ção de um modelo de atenção diferenciada, baseado na estratégia situam;
de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, como forma de garantir •preparação de recursos humanos para atuação em contexto
aos povos indígenas o direito ao acesso universal e integral à saúde, intercultural;
atendendo às necessidades percebidas pelas comunidades e en- •monitoramento das ações de saúde dirigidas aos povos indí-
volvendo a população indígena em todas as etapas do processo de genas;
planejamento, execução e avaliação das ações. •articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde;
Em fevereiro de 1991, o Decreto Presidencial nº 23 transferiu •promoção do uso adequado e racional de medicamentos;
para o Ministério da Saúde a responsabilidade pela coordenação •promoção de ações específicas em situações especiais;
das ações de saúde destinadas aos povos indígenas, estabelecen- •promoção da ética na pesquisa e nas ações de atenção à saú-
do os Distritos Sanitários Especiais Indígenas como base da orga- de envolvendo comunidades indígenas;
nização dos serviços de saúde. Foi então criada, no Ministério da •promoção de ambientes saudáveis e proteção da saúde indí-
Saúde, a Coordenação de Saúde do Índio - COSAI, subordinada ao gena;
Departamento de Operações - DEOPE - da Fundação Nacional de •controle social
Saúde, com a atribuição de implementar o novo modelo de atenção
à saúde indígena. Saúde Ambiental;
No mesmo ano, a Resolução 11, de 13 de outubro de 1991, do “Saúde ambiental são todos aqueles aspectos da saúde hu-
Conselho Nacional de Saúde (CNS), criou a Comissão Intersetorial mana, incluindo a qualidade de vida, que estão determinados por
de Saúde do Índio (CISI), tendo como principal atribuição assessorar fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no meio
o CNS na elaboração de princípios e diretrizes de políticas gover- ambiente. Também se refere teoria e prática de valorar, corrigir,
namentais no campo da saúde indígena. Inicialmente sem repre- controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que, poten-
sentação indígena, os próprios membros da CISI reformularam sua cialmente, possam prejudicar a saúde de gerações atuais e futuras
composição e, com a saída espontânea de representantes do CNS, “; ainda segundo a OMS: “Saúde ambiental abrange os fatores fí-
da Secretaria de Meio Ambiente, dentre outros, abriu-se 4 das 11 sicos, químicos e biológicos externos às pessoas, e os fatores que
vagas para representantes de organizações indígenas. impactam seus comportamentos. Ela engloba a avaliação e o con-
Em sentido oposto ao processo de construção da política de trole daqueles fatores ambientais que podem afetar a saúde. Ela
atenção à saúde indígena no âmbito do SUS, em 19 de maio de é direcionada à prevenção de doenças e melhoria da saúde nos
1994 o Decreto Presidencial n° 1.141/94 constitui uma Comissão ambientes. Esta definição exclui comportamentos não relacionados
Intersetorial de Saúde - CIS, com a participação de vários Ministé- com o ambiente, bem como o comportamento relacionado com o
rios relacionados com a questão indígena, sob a coordenação da ambiente social e cultural, e genético”.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
De acordo com a Organização Pan-americana de Saúde: Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece, de for-
“Os problemas de saúde ambiental da América Latina e Caribe ma integral e gratuita, 29 procedimentos de Práticas Integrativas
estão dominados tanto por necessidades não atendidas, enquanto e Complementares (PICS) à população. Os atendimentos começam
saneamento ambiental tradicional, como por necessidades cres- na Atenção Básica, principal porta de entrada para o SUS.
centes de proteção ambiental, que têm se tornado mais graves de- Evidências científicas têm mostrado os benefícios do tratamen-
vido à urbanização intensiva em um entorno caracterizado por um to integrado entre medicina convencional e práticas integrativas e
desenvolvimento econômico lento” complementares. Além disso, há crescente número de profissionais
capacitados e habilitados e maior valorização dos conhecimentos
A Saúde Ambiental de uma forma geral, portanto é relacionada tradicionais de onde se originam grande parte dessas práticas.
com o Meio Ambiente habitado pelo homem sendo totalmente de-
pendente da interação do homem e este meio. Onde tem Práticas Integrativas e Complementares (PICS)?
Existem diferentes problemas encontrados na saúde do ho- Considerando a atenção básica e os serviços de média e alta
mem quando leva-se em conta o ambiente rural e o ambiente ur- complexidade, existem atualmente 9.350 estabelecimentos de saú-
bano. de no país ofertando 56% dos atendimentos individuais e coletivos
No ambiente rural um dos grandes problemas atuais é o uso em Práticas Integrativas e Complementares nos municípios brasi-
de agrotóxicos , também denominados produtos de uso agrícolas leiros, compondo 8.239 (19%) estabelecimentos na Atenção Básica
e pesticidas que visam eliminar “pragas” que diminuem a produ- que ofertam PICS, distribuídos em 3.173 municípios.
ção de alimentos, mesmo com o estudo de produtos que tem um As Práticas Integrativas e Complementares estão presentes em
impacto menor ao meio o uso de forma inadequada destes produ- quase 54% dos municípios brasileiros, distribuídos pelos 27 estados
tos vem causando um grande impacto sobre a fauna, flora , água e e Distrito Federal e todas as capitais brasileiras.
solo e consequentemente sendo um risco para a saúde dos seres
humanos, uma outra problemática é o grande número de suicídios Brasil é referência mundial
ocorridos entre trabalhadores do campo. O Brasil é referência mundial na área de práticas integrativas e
No ambiente urbano uma das questões mais estudadas é a po- complementares na atenção básica. É uma modalidade que invete
luição do ar que causa milhares de internações e óbitos a cada ano, em prevenção e promoção à saúde com o objetivo de evitar que as
estando principalmente relacionadas com doenças respiratórias, pessoas fiquem doentes.
cardíacas e vários tipos de câncer. Além disso, quando necessário, as PICS também podem ser
Ainda persistem no ambiente rural e urbano problemas de usadas para aliviar sintomas e tratar pessoas que já estão com al-
gum tipo de enfermidade.
doenças relacionadas ao não tratamento da água consumida pela
população, pois a água não tratada é um ambiente adequado para
Histórico - Práticas Integrativas e Complementares
vida de parasitas, vírus e bactérias além da presença de minerais e
No Brasil, o debate sobre as práticas integrativas e complemen-
vários elementos químico.
tares começou a despontar no final de década de 70, após a decla-
ração de Alma Ata e validada, principalmente, em meados dos anos
Fonte: https://ambientedomeio.com
80 com a 8ª Conferência Nacional de Saúde, um espaço legítimo de
visibilidade das demandas e necessidades da população por uma
Um fator importante na questão da Saúde ambiental é a sua
nova cultura de saúde que questionasse o ainda latente modelo he-
relação com as mudanças do clima que resultam em um ambiente
gemônico de ofertar cuidado, que excluía outras formas de produzir
com temperaturas elevadas e baixa umidade do ar. e legitimar saberes e práticas.
Temperaturas elevadas segundo pesquisas causam impacto na Com esse cenário, tanto sociedade civil quanto governo federal
saúde humana influenciando em problemas Psicológicos, ocasio- iniciaram um movimento, até então tímido, por busca e oferta de
nando alterações do sistema imune, sobrecarga renal e problemas outros jeitos de praticar o cuidado e o autocuidado, considerando
cardíacos dentre outros. o bem-estar físico, mental e social, como fatores determinantes e
Em um ambiente urbano a causa de males a saúde humana condicionantes da saúde.
ainda é decorrente de crimes ambientais realizados por indústrias Em vista disso, ao Governo Federal, garantir a atenção integral
que causam impacto no solo por meio de descarte inadequado de à saúde através das práticas integrativas e complementares impli-
resíduos, no ar quando não ocorre a devida utilização de filtros em cou pensar - em conjunto com gestores de saúde, entidades de clas-
chaminés e na água quando produtos são lançados em esgotos, se, conselhos, academia e usuários do SUS - uma política pública
córregos e rios sem o devido tratamento. permanente que considerasse não só os mecanismos naturais de
Medidas importantes devem ser tomadas, portanto pelos go- prevenção de agravos e recuperação da saúde, mas a abordagem
vernos de todos os países, como o fortalecimento de pessoas trei- ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cui-
nadas para o estudo e a realização de ações minimizadoras destes dado humano.
impactos, bem como a elaborações de Políticas Públicas e Leis que A partir de então, à medida que os debates se aprofundavam
insiram e definam melhor as questões de saúde ambiental. acerca das dificuldades impostas à efetiva implementação desse
novo modelo de produzir saúde, o Departamento de Atenção Bási-
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde ca elaborava um documento normatizador para institucionalizar as
experiências com essas práticas na rede pública e induzir políticas,
O que são as Práticas Integrativas e Complementares (PICS)? programas e legislação nas três instâncias de governo.
As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são trata- Assim, sob um olhar atento e consensual e respaldado pelas
mentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conheci- diretrizes da OMS , o Ministério da Saúde aprova, então, através da
mentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como Portaria GM/MS no 971, de 3 de maio de 2006, a Política Nacional
depressão e hipertensão. Em alguns casos, também podem ser usa- de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC).
das como tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas.

23
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Quais são as Práticas Integrativas e Complementares? Cooperação Brasil e México
Abaixo estão listadas as 29 Práticas Integrativas e Complemen- A institucionalização das Práticas Integrativas e Complementa-
tares oferecidas, de forma integral e gratuita, por meio do Sistema res no SUS pela Política Nacional de Práticas Integrativas (PNPIC)
Único de Saúde (SUS). Para ler a descrição de cada uma delas, basta ampliou o acesso a serviços e produtos antes restritos à área priva-
clicar sobre o nome. da, assim como trouxe o desafio de integrar saberes e práticas nas
• 5 práticas incluídas em 2006: Acupuntura, Termalismo, Antro- diversas áreas do conhecimento para desenvolvimento de projetos
posofia, Fitoterapia e Homeopatia. humanizados, integrais e transdisciplinares. Neste aspecto, a PNPIC
• 14 práticas incluídas em 2017: Ayurveda, Arteterapia, Bio- contempla, entre suas diretrizes, a promoção de cooperação nacio-
dança, Meditação, Dança Circular, Musicoterapia, Naturopatia, Os- nal e internacional para troca de experiências nos campos da aten-
teopatia, Reiki, Yoga, Quiropraxia, Reflexologia, Shantala e Terapia ção, da educação permanente e da pesquisa em saúde.
Comunitária Integrativa. Assim, firmou-se, em 2009, o projeto de cooperação Brasil/
• 10 práticas incluídas em 2018: Aromaterapia, Apiterapia, México para intercâmbio de experiências sobre PICs e competên-
Constelação Familiar, Cromoterapia, Geoterapia, Ozonioterapia, Im- cia intercultural na oferta de serviços de saúde. Entre as atividades
posição de Mãos, Terapia de Florais, Hipnoterapia e Bioenergética. realizadas destacam-se a missão técnica brasileira ao México para
troca de experiências, o curso à distância sobre “Competência In-
Como implantar as Práticas Integrativas e Complementares? tercultural na oferta de serviços de saúde”, além do seminário de
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares capacitação presencial sobre competência intercultural, promovido
(PNPIC), publicada em 2006, instituiu no SUS abordagens de cuida- pelo DAB, com a presença dos representantes mexicanos.
do integral à população por meio de outras práticas que envolvem Na consolidação da cooperação, levantou-se a necessidade de
recursos terapêuticos diversos. Desde a implantação, o acesso dos aprofundamento e intercâmbio junto às áreas de Saúde da Mulher,
usuários tem crescido. Humanização, Alimentação e Nutrição e Saúde do Homem além de
A política traz diretrizes gerais para a incorporação das práticas conhecer mais profundamente as experiências locais, municipais
nos serviços e compete ao gestor municipal elaborar normas para ou estaduais, sobre a inserção e ofertas das PICs no SUS. Diante dis-
inserção da PNPIC na rede municipal de saúde. Os recursos para as so, em 2011 teve início a pactuação de novo termo de cooperação
PICS integram o Piso da Atenção Básica (PAB) de cada município, incluindo as áreas demandadas.
podendo o gestor local aplicá-los de acordo com sua prioridade.
Alguns tratamentos específicos, como acupuntura recebem outro Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
tipo de financiamento, que compõe o bloco de média e alta comple- Em virtude da crescente demanda da população brasileira, por
xidade. Estados e municípios também podem instituir sua própria meio das Conferências Nacionais de Saúde e das recomendações da
política, considerando suas necessidades locais, sua rede e proces- Organização Mundial da Saúde (OMS) aos Estados membros para
sos de trabalho. formulação de políticas visando a integração de sistemas médicos
As práticas integrativas e complementares são ações de cuida- complexos e recursos terapêuticos (também chamados de Medi-
do transversais, podendo ser realizadas na atenção básica, na mé- cina Tradicional e Complementar/Alternativa MT/MCA ou Práticas
dia e alta complexidade. Não existe uma adesão à PNPIC: a política Integrativas e Complementares) aos Sistemas Oficiais de Saúde,
traz diretrizes gerais para a incorporação das práticas nos diversos além da necessidade de normatização das experiências existentes
serviços. no SUS, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práti-
cas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, contemplando
Compete ao gestor municipal elaborar normas técnicas para as áreas de homeopatia, plantas medicinais e fitoterapia, medicina
inserção da PNPIC na rede municipal de Saúde e definir recursos tradicional chinesa/acupuntura, medicina antroposófica e termalis-
orçamentários e financeiros para a implementação das práticas in- mo social – crenoterapia, promovendo a institucionalização destas
tegrativas. Dessa maneira, é de competência exclusiva do município práticas no Sistema Único de Saúde (SUS).
a contratação dos profissionais e a definição das práticas a serem
ofertadas.
Mesmo com todo avanço da PNPIC na última década, continua Objetivos
sendo condição fundamental para sua efetiva implantação, estimu- A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
lar, nos territórios, espaços de fortalecimento do debate sobre as tem como objetivos:
práticas e trocar experiências com gestores de outros municípios/ 1. Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Com-
estados que tenham as PICS ofertadas pelo SUS. plementares no SUS, na perspectiva da prevenção de agravos e da
Na Atenção Básica, o pagamento é realizado pelo piso da aten- promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica,
ção básica (PAB) fixo (per capita), ou por PAB variável, que corres- voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em saúde.
ponde ao pagamento por equipes de saúde da família, agentes 2. Contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e am-
comunitários e núcleos de saúde da família, ou ainda o programa pliação do acesso à PNPIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência
de melhoria do acesso e da qualidade (PMAQ). Dessa forma, os pro- e segurança no uso.
cedimentos ofertados através da Portaria nº145/2017 estão dentro 3. Promover a racionalização das ações de saúde, estimulando
do financiamento do PAB e não geram recursos por produção. Al- alternativas inovadoras e socialmente contributivas ao desenvolvi-
guns outros, específicos, são financiados pelo bloco da Média e Alta mento sustentável de comunidades.
Complexidade 4. Estimular as ações referentes ao controle/participação so-
cial, promovendo o envolvimento responsável e continuado dos
usuários, gestores e trabalhadores nas diferentes instâncias de efe-
tivação das políticas de saúde.

24
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Diretrizes
REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE
Entre suas diretrizes, destacam-se:
1. Estruturação e fortalecimento da atenção em PIC no SUS. É imperativo que os modelos de atenção à saúde, bem como
2. Desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para suas redes de atenção, estejam organizados para suprir as atuais
profissionais o SUS, em conformidade com os princípios e diretrizes necessidades de saúde dos brasileiros. Vivemos atualmente uma
estabelecidos para educação permanente. realidade fortemente influenciada pela transição demográfica e
3. Divulgação e informação dos conhecimentos básicos da PIC epidemiológica que se expressa por uma tripla carga de doenças,
para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, consideran- como pode ser observado na figura abaixo:
do as metodologias participativas e o saber popular e tradicional.
4. Estímulo às ações intersetoriais, buscando parcerias que pro-
piciem o desenvolvimento integral das ações.
5. Fortalecimento da participação social.
6. Provimento do acesso a medicamentos homeopáticos e fi-
toterápicos na perspectiva da ampliação da produção pública, as-
segurando as especificidades da assistência farmacêutica nestes
âmbitos na regulamentação sanitária.
7. Garantia do acesso aos demais insumos estratégicos da
PNPIC, com qualidade e segurança das ações.
8. Incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da
atenção à saúde, avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segu-
rança dos cuidados prestados.
9. Desenvolvimento de ações de acompanhamento e avaliação
da PIC, para instrumentalização de processos de gestão.
10. Promoção de cooperação nacional e internacional das ex-
periências da PIC nos campos da atenção, da educação permanente
e da pesquisa em saúde.
11. Garantia do monitoramento da qualidade dos fitoterápicos
pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária.

Nesse contexto, esperamos que a Atenção Primária à Saúde:


MISSÃO E COMPETÊNCIA DA SECRETARIA ESTADUAL • Seja eficiente para atender de forma resolutiva a maior parte
DA SAÚDE DO RIO GRANDE DO SUL dos problemas de saúde da população;
• Coordene as referências, contrarreferências, informações e
demais etapas que compreendam as redes de atenção à saúde; e
• Se responsabilize pela vigilância em saúde do território e po-
pulação adscrita.

Tais atribuições são complexas e seu sucesso depende de inves-


timentos em infraestrutura e mão de obra, profissionais qualifica-
dos e gestão eficiente dos processos de trabalho e dos serviços que
compõem a rede.
Segundo Mendes (2011), as redes de atenção à saúde são or-
ganizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vincu-
lados entre si por objetivos comuns e por uma ação cooperativa
e interdependente, que permitem ofertar uma atenção contínua e
integral a determinada população. Deseja-se que a assistência seja
prestada no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo, com a
qualidade certa, de forma humanizada e segura e com equidade.
POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado em tó-


picos anteriores.

25
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A mudança dos sistemas piramidais e hierárquicos para as redes de atenção

A organização dos serviços de saúde a partir das redes implica em valorizarmos ainda mais o compartilhamento da assistência entre
profissionais, equipes e serviços. Exige entendermos a gestão para além de ações burocráticas, como sendo o processo de tomada de
decisões que viabilizem os preceitos do SUS na prática. Destacamos que os preceitos iniciais que fundamentaram a
Atenção Primária a Saúde não estão sendo abandonados, ao contrário, precisam ser efetivados na íntegra. Sobre o tema, Starfield
(2004) destaca: A atenção primária se diferencia dos outros níveis assistenciais por quatro atributos característicos: atenção ao primeiro
contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação. Destes quatro atributos, a longitudinalidade tem relevância por compreender o
vínculo do usuário com a unidade e/ou com o profissional. A população deve reconhecer a Unidade como fonte regular e habitual de aten-
ção à saúde, tanto para as antigas quanto para as novas necessidades. Já o profissional deve conhecer e se responsabilizar pelo atendimen-
to destes indivíduos. A longitudinalidade está fortemente relacionada à boa comunicação que tende a favorecer o acompanhamento do
paciente, a continuidade e efetividade do tratamento, contribuindo também para a implementação de ações de promoção e de prevenção
de agravos de alta prevalência (STARFIELD, 2004).
A qualidade e a segurança do paciente, de profissionais e visitantes nos ambientes dos serviços de saúde estão intrinsecamente rela-
cionadas ao controle, às práticas de vigilância, a fiscalização, ao monitoramento e à prevenção dos riscos.
Assim, a vigilância sanitária de serviços de saúde atua desenvolvendo ações voltadas para a melhoria do cuidado à saúde da popula-
ção, intervindo nos riscos advindos do uso de produtos e serviços a ela sujeitos.2
No link a seguir, é possível ver temas e os processos regulatórios sobre serviços de saúde, coordenados pela Anvisa, que elabora
normas de funcionamento, observa seu cumprimento, estabelece mecanismos de controle e avalia riscos e eventos adversos relacionados
a serviços prestados por hospitais, clínicas de hemodiálise, postos de atendimento, entre outros:
http://portal.anvisa.gov.br/2017-2020/servicos-de-saude

FINANCIAMENTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS

Antes do SUS, o financiamento praticamente se reduzia às contribuições dos trabalhadores organizados que, mais tarde, ficaram vin-
culados à Previdência.
Fazer saúde sem dinheiro é impossível. Por outro lado, o recurso financeiro não resolve todos os problemas. Para que o direito huma-
no à saúde se concretize, além da quantidade de recursos e sua adequada aplicação e gerenciamento, é fundamental o comprometimento
profissional, a organização do sistema e o efetivo controle social do SUS.
Neste capítulo, vamos abordar o financiamento do SUS a partir do seu funcionamento previsto na Constituição Federal - antes da EC
29 - e na Lei Orgânica da Saúde. Veremos os limites que acompanham o financiamento e os desafios a serem enfrentados.

O funcionamento legal
O financiamento do SUS está previsto em lei, tanto na Constituição Federal como na Lei Orgânica da Saúde, que reúne as leis federais
8.080 e 8.142 de 1990. De forma geral, a lei prevê as fontes de financiamento, os percentuais a serem gastos em saúde e, inclusive, a forma
de divisão e repasse dos recursos entre as esferas de governo.
2 Fonte: www.unasus.unifesp.br

26
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A Constituição Federal e o financiamento do SUS A Lei 8.142/90 e o financiamento do SUS
A Constituição Federal afirma, no art. 194, que “a seguridade Como já vimos, a Lei 8.142 é criada para normatizar a partici-
social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa pação da comunidade na gestão do SUS e as transferências de re-
dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os di- cursos do Ministério da Saúde para as outras esferas de governo.
reitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.” Deixa Nos artigos 2º e 3º, ela trata do “Fundo Nacional de Saúde”
claro que cabe à seguridade social o compromisso de assegurar o (FNS), e diz como e onde os recursos desse fundo serão investidos.
direito à saúde. O artigo 2º deixa claro que eles só podem ser utilizados para finan-
No que diz respeito ao financiamento, o art. 195, da Constitu- ciar os custos próprios do Ministério da Saúde; os custos com ações
ição Federal, afirma que “a seguridade social será financiada por de saúde previstos no Orçamento e, principalmente, os custos das
toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, me- transferências de recursos para os estados, o Distrito Federal e os
diante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Esta- municípios destinados à implementação de ações e serviços de
dos, do Distrito Federal e dos Municípios”. A responsabilidade pelo saúde. O objetivo dessa lei é definir em que devem ser investidos
financiamento do SUS é das três esferas de governo. os recursos da saúde.
O art. 55, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
não deixa dúvidas sobre o montante da seguridade social a ser gasto Como serão alocados os recursos do Fundo Nacional de Saúde:
em saúde: “até que seja aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias, I – despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde,
trinta por cento, no mínimo, do orçamento da seguridade social, ex- seus órgãos e entidades, da administração direta e indireta;
cluído o seguro-desemprego, serão destinados ao setor de saúde.” II – investimentos previstos em lei orçamentária , de iniciativa
Este percentual valia para o ano de 1989, cuja Lei de Diretrizes Orça- do poder Legislativo e aprovados pelo Congresso Nacional;
mentárias (LDO) já estava elaborada. Nos anos seguintes, ou seja, III – investimnetos previstos no Plano Qüinqüenal (hoje, Plano
de 1990 a 1993 ficou mantido o percentual de 30% nas respectivas Plurianual) do Ministério da Saúde;
leis orçamentárias federais, mas, ainda que constasse, esse percen- IV – cobertura das ações e serviços de saúde a serem imple-
tual foi descumprido. A situação piorou a partir de 1994 quando mentados pelos Municípios, Estados e Distrito Federal. (Lei 8.142,
esse percentual deixou de ser citado na LDO. art 2º)
No entanto, permanece a dúvida sobre o que pode ser consid-
A Lei Federal 8.080/90 e o financiamento do SUS erado “ações e serviços de saúde”. Questão que a EC 29 vai procurar
A Lei 8.080 regulamenta as políticas de saúde definidas na enfrentar.
Constituição Federal. Essa lei foi promulgada somente após uma O artigo 3º, referindo-se aos recursos destinados às outras es-
incansável mobilização de setores organizados da sociedade. O gov- feras de governo, para serem investidos na rede de serviços e ações
erno da época, representado pelo presidente Fernando Collor, re- de saúde, tanto de cobertura assistencial (ambulatórios e hospitais)
sistiu ao caráter descentralizador dessa lei e vetou diversos artigos, como de proteção e promoção da saúde, diz como deve ser o re-
especialmente os que diziam respeito aos recursos e à participação passe dos recursos: “serão repassados de forma regular e automáti-
da comunidade nas deliberações da saúde. O veto levou a comuni- ca para os Municípios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os
dade a se articular novamente, especialmente com parlamentares critérios previstos no art. 35 da Lei 8.080”. E o parágrafo 1º deste
comprometidos com a saúde pública, resultando na criação de uma artigo complementa: “enquanto não for regulamentada a aplicação
nova lei, a 8.142, que trata especificamente da participação da co- dos critérios previstos no art. 35 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro
munidade na gestão do SUS e da transferência de recursos para a de 1990, será utilizado, para o repasse de recursos, exclusivamente
saúde entre as esferas de governo. o critério estabelecido no parágrafo 1º do mesmo artigo.” Isto é,
Como a Constituição Federal atribuiu à LDO o papel de definir todos os recursos deverão ser divididos e repassados segundo o
a cada ano o montante a ser gasto em saúde, a Lei 8.080 não pôde, número de habitantes que se encontram em cada Município,
para não ser inconstitucional, estabelecer um percentual mínimo Distrito Federal ou Estado. Esse é um critério fundamental para
a ser gasto com ações e serviços de saúde. No artigo 31, consta a efetiva descentralização dos recursos.
que “o orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Úni- Feito este resgate normativo original, estamos em condições
co de Saúde (SUS), de acordo com a receita estimada, os recursos para analisarmos seus limites e desafios.
necessários à realização de suas finalidades [...] tendo em vista
as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orça- Limites encontrados
mentárias.” A questão é saber e definir quanto que é exatamente o A não aplicação dos critérios estabelecidos
necessário?! A não definição, em lei, do mínimo necessário deixa o Ousamos afirmar que um dos maiores limites da legislação, an-
financiamento da saúde refém da vontade política e da disponibili- terior a EC 29, foi não ter regulamentado a aplicação dos critérios
dade, ou não, de caixa. Veremos, adiante, que a regulamentação da para o repasse de recursos fundo a fundo previstos no art. 35 da Lei
EC 29 deve enfrentar exatamente este problema. 8.080/90; e também não ter admitido, ainda que com seus limites,
Sobre a forma de distribuição e repasse dos recursos, o art. 35 a orientação do parágrafo primeiro do art 3º da Lei 8.142/90 de
da lei 8.080 estabelece um conjunto de critérios a serem consid- repassar a totalidade dos recursos pelo critério do número de hab-
erados, como podemos verificar no quadro em destaque. No en- itantes. Isso fez com que surgissem inúmeras normas e portarias
tanto, merece atenção o parágrafo primeiro desse artigo em que ministeriais que, em geral, contribuíram para confundir, dificultan-
fica definido que a “metade dos recursos destinados a Estados e do a compreensão e a devida exigência do cumprimento da lei.
Municípios será distribuída segundo o quociente de sua divisão
pelo número de habitantes, independentemente de qualquer
procedimento prévio.” Em geral, o Ministério da Saúde apresen-
tou dificuldades em respeitar e seguir esses critérios, pois só em
1998 se começa a repassar recursos pelo critério per capita, ou seja
pelo número de habitantes, sendo assim, manteve-se um caráter
centralizador de repasse dos recursos, que ocorria, centralmente,
através de programas fechados.

27
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
O repasse dos recursos em forma de pagamento por produção A criação da CPMF não significou aumento de recursos para
de serviços a saúde
Em quase toda a década de 90, as transferências dos recur- A justificativa para a cobrança de Contribuição Provisória sobre
sos do Ministério da Saúde para órgãos de governo se davam por a Movimentação Financeira foi para ter mais recursos a investir na
serviço prestado, mediante apresentação de faturas. O que era uma saúde.
prática comum em relação aos prestadores de serviços privados se No entanto, uma vez aprovada a destinação de um percentual
estendeu aos prestadores públicos. Além das faturas, passou-se, de CPMF para a saúde (hoje, da contribuição de 0,38% da movimen-
gradativamente, a exigir instrumentos e mecanismos de gestão, tação financeira, 0,20% devem ser repassados para a saúde; 0,10%
como planos, projetos, fundos e conselhos de saúde. Só em 1998 para a previdência e 0,08% para o fundo de combate à pobreza), o
redefiniu-se a forma de transferência de recursos. governo diminuiu outras fontes do SUS, quase no valor da CPMF.
Ao invés de fazer por comprovação de faturas, adotou-se o Por exemplo, estendeu-se a desvinculação da Receita da União (que
repasse de um valor per capita mínimo, fundo a fundo. Criou-se, separa 20% da arrecadação para o Governo Federal decidir livre-
assim, o “Piso Assistencial Básico” (PAB), com uma parte fixa, por mente onde investir) às contribuições sociais, incluindo o SUS. O
número de habitantes, e outra variável, por adesão a programas. governo criou a CPMF para injetar dinheiro no fundo da saúde, mas
Contudo, essa mudança está sendo lenta e ainda hoje temos retirou outros investimentos; ou seja, colocou com uma mão e reti-
dezenas de formas de repasse por adesão a programas específicos. rou com a outra.

Muito recurso carimbado A ineficácia e o desvio dos recursos públicos da saúde


A não aplicação dos critérios de repasses dos recursos aos Às vezes, a ineficácia acontece por falta de vontade ou mesmo
municípios, Distrito Federal e estados fez com que o Ministério da por falta de conhecimento de aspectos que são fundamentais para
Saúde começasse a trabalhar exageradamente com programas e a gestão, para a organização e o êxito do sistema. Porém, o principal
projetos específicos de saúde, condicionando o repasse de recursos problema dos recursos da saúde consiste nas “falcatruas” pratica-
às outras esferas de governo, à adesão a esses programas e pro- das por muitos dos que atuam no SUS. Falcatruas estas que perpas-
jetos e ao cumprimento dos critérios específicos de cada um, ou
sam os gestores - quando adotam o apadrinhamento político em
seja, originou-se a história dos recursos carimbados, com ações e
vez de investir os recursos conforme as necessidades da população,
serviços já predeterminados pela união, desconsiderando as diver-
passam pelos prestadores de serviços
sidades locais e engessando a atuação dos municípios.
- quando pegam assinaturas dos usuários e cobram do SUS
Infelizmente, essa forma centralizadora de agir vem se esten-
dendo até hoje, impedindo a efetivação do princípio do SUS que é procedimentos não realizados (problema que se resolveria com
a descentralização verdadeira e autônoma dos recursos e das de- o pagamento por metas alcançadas e não por produção), passam
cisões. pelos profissionais - quando cobram exames desnecessários, sim-
plesmente porque são favorecidos pelo laboratório que os realiza,
A insuficiência de recursos para a saúde. ou quando não cumprem a carga horária contratada, contribuindo
Consititui-se num limite real a insuficiência de recursos públi- para a formação de filas desnecessárias. As falcatruas perpassam
cos investidos em saúde no Brasil. Isso devido à resistência de se ainda usuários - quando se omitem ou consentem com essa forma
conceber a saúde como direito de cidadania e qualidade de vida a de tratar o recurso público ou mesmo quando usam remédios ou
serem promovidos, insistindo em encará-la como um produto de serviços de forma desproporcional e sem real necessidade.
mercado comercializável entre os que tem poder aquisitivo. Para
ilustrar esta realidade é importante observar que em 2002, “o gasto O financiamento de serviços privados com estrutura e recur-
público em saúde do Reino Unido, Dinamarca e Suécia é respectiva- sos públicos
mente 97%, 84% e 78% [...] no Brasil a participação do setor público Grandes somas de recursos públicos são gastos com planos
no gasto nacional de saúde é de apenas 44%” (1). O restante é por privados. Isso acontece de diversas formas:- quando hospitais pú-
conta da iniciativa privada, ou seja, do usuário que paga através de blicos, especialmente universitários, atendem pacientes de planos
planos privados ou paga diretamente no momento que procura o privados, muitas vezes furando a fila do Sistema Único, usando o
serviço. Se compararmos os recursos públicos da saúde por inves- argumento de aumentar os recursos para o atendimento público.
timentos per capita, a escassez de investimentos do Brasil se expõe Eles deixam de considerar, no entanto, os investimentos públi-
mais ainda. É só verificar o quadro a seguir. cos na construção destes mesmos hospitais, na compra de equipa-
Contudo, é importante observar que o investimento em saúde, mentos, no incentivo à pesquisa, no pagamento dos funcionários e,
por parte dos estados e, principalmente, dos municípios, está cre- pior, quando não ressarcem ao hospital público os serviços presta-
scendo, especialmente a partir de 2000, por efeito da EC 29. A par- dos;
ticipação dos municípios no orçamento público da saúde passou, - quando é concedido renúncia ou isenção fiscal às operadoras
no período de 2000 a 2004, em média, de 25% para 50%. Esta cres- de planos e às cooperativas de saúde;
cente participação dos estados e municípios elevou, neste período,
- quando é abatido no imposto de renda o gasto com pagamen-
a participação do setor público no gasto nacional em saúde, passan-
to de planos privados de saúde;
do de de 44,15% para 59,60%. No entanto, o aumento do percentu-
- quando o próprio governo paga planos para os funcionários
al de investimento dos municípios não pode justificar a estagnação
públicos.
ou diminuição do percentual de investimento por parte da União.
Este é um reflexo da cultura brasileira em que é “normal” o
público estar a serviço de grupos privados. Depois, ainda dizem que
o público não funciona.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Dado os limites apontados, precisamos voltar nossa atenção Para tanto, é importante levar em conta as seguintes necessi-
aos desafios a enfrentar. E o maior de todos parece ser o de fazer dades:
cumprir a legislação da saúde. Isso passa tanto pela regulamenta- a) Os conselheiros precisam se aprimorar, buscando obter in-
ção da aplicação das normas e critérios, como pela efetiva imple- formações sobre como funciona o orçamento da saúde. Precisam
mentação das normas estabelecidas. Isso vale para todas as esferas saber sobre os valores arrecadados, quanto é orçado para a saúde e
de governo. Para além dos gestores (governos), a superação desse como são feitos os gastos e o controle;
desafio requer também o comprometimento dos prestadores e b) Os conselhos de saúde precisam ter como pauta prioritária
profissionais de saúde, bem como da sociedade em geral. a implementação dos Fundos de Saúde. Sem o funcionamento ap-
ropriado dos Fundos de Saúde, não há como se fazer o adequado
O financiamento da saúde e o controle social controle social;
Neste capítulo, vamos tratar do controle público do orçamento c) Os conselhos de saúde devem estar sempre atentos para os
da saúde, bem como do papel do controle social e da necessidade prazos em relação ao encaminhamento, pelo Poder Executivo, das
de qualificação e articulação da comunidade em vista da efetivação leis do orçamento público e à tramitação e votação dessas Leis no
do direito humano à saúde. Poder Legislativo. Os conselhos devem inclusive debater e deliberar
anteriormente sobre a parte do orçamento referente à saúde;
O controle público do orçamento d) A prestação de contas dos recursos da saúde tem regulamen-
A sociedade brasileira praticamente desconhece o funcion- tação própria. Precisam ser feitas as audiências públicas trimestrais
amento dos orçamentos públicos nas três esferas de governo em conforme estabelece o art. 12 da Lei 8689 de 27 de julho de 1993.
nosso país. Também são necessários os relatórios de gestão anuais a serem
Muito mais que uma mera peça contábil e burocrática, o orça- apresentados pelos gestores aos conselhos de saúde para análise e
mento do município, do estado e da União são instrumentos de deliberação;
organização da gestão pública. Eles são o resultado de inúmeras ar- e) É imprescindível que os conselhos mantenham funcionan-
ticulações sociais e políticas que se materializam no planejamento do comissões de orçamento e/ou finanças, com a missão de acom-
da arrecadação de recursos pelo poder público e o plano de investi- panhar permanentemente a evolução dos orçamentos públicos
mentos, valendo-se dos gastos necessários para garantir o funcion- relativos à saúde. Este acompanhamento implica na verificação
amento da máquina administrativa e as obras e políticas públicas. de relatórios, de documentos relativos aos gastos (empenhos, no-
tas fiscais, transferências de recursos, etc) e, inclusive, de extratos
Leis orçamentárias e o SUS bancários das contas públicas;
Pela Constituição brasileira, o orçamento público do município, f) A cada dúvida sobre a aplicação dos recursos públicos, os
do estado e da União é constituído a partir de três leis: conselheiros de saúde têm a obrigação de solicitar esclarecimen-
a) Plano Plurianual (PPA): estabelece o planejamento global da tos ao gestor. Não sendo sanada a dúvida ou havendo indícios de
ação governamental. Define os objetivos e as metas da gestão pú- irregularidades, deve ser apresentada denúncia aos órgãos compe-
blica num período de quatro anos. tentes.
b) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): é uma lei anual e trata São órgãos competentes para receber denúncias sobre o mau
das normas que orientam a elaboração da lei orçamentária e do uso dos recursos públicos:
próprio orçamento público. I. O Poder Legislativo através de suas instâncias próprias
c) Lei Orçamentária Anual (LOA): é a peça orçamentária propri- (Comissões de Orçamento e Finanças e Mesa Diretora);
amente dita. Define o orçamento do município, do estado ou da Un- II. Tribunais de Contas (por meio de representação ou denúncia
ião, abarcando os seus fundos, empresas públicas e demais órgãos formal através de documentação e ofícios);
instituídos e mantidos pelo poder público. III. Ministério Público (por meio de representação ou denúncia
A elaboração das leis acima referidas envolve o Poder Executivo formal através de documentação e ofícios aos Promotores Públi-
e o Poder Legislativo. Na prática, as leis são elaboradas pelos Exec- cos);
utivos e negociadas no Legislativo que tem a missão de aprová-las IV. Tribunais de Justiça (por meio de Ação Popular ou Ação Civil
(com ou sem emendas) para que possam ter validade. Pública);
Em relação ao SUS, o orçamento dever respeitar a EC 29 que g) Os conselhos de saúde, através de seus dirigentes e inte-
dispõe sobre a vinculação da receita pública a ser investida em grantes, precisam sempre se articular social e politicamente da
saúde. Além disso, está estabelecido na Lei 8.080 que é impre- forma mais ampla possível. Para isso, é necessário se fazer valer
scindível que cada administração mantenha o seu Fundo Municipal de relações com órgãos de imprensa, instituições públicas, autor-
de Saúde. idades e lideranças diversas, a fim de promover o fortalecimento
dos espaços de controle social.
Papel do controle social em relação ao orçamento público da
saúde FINANCIAMENTO DAS AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE
No Brasil, o controle social do orçamento da saúde está previs- Responsabilidades
to na legislação do SUS. Os conselhos de saúde têm a responsabi- O financiamento do SUS é de responsabilidade das três esferas
lidade de acompanhar a aplicação dos orçamentos, deliberando e de governo e cada uma deve assegurar o aporte regular de recur-
fiscalizando. Assim sendo, na prática, o controle social do SUS tem sos, ao respectivo fundo de saúde.
função de controlar as despesas públicas relacionadas à saúde no Conforme determina o Artigo 194 da Constituição Federal, a
Brasil. Saúde integra a Seguridade Social, juntamente com a Previdência e
No entanto, para que os conselhos possam cumprir adequad- a Assistência Social. No inciso VI do parágrafo único desse mesmo
amente com a sua função, é necessário, antes de qualquer coisa, Artigo, está determinado que a Seguridade Social será organizada
conhecer a forma de funcionamento do orçamento da saúde. Sem pelo poder público, observada a “diversidade da base de financia-
isso, qualquer tentativa de garantir um mínimo de acompanhamen- mento”.
to e controle fica prejudicada.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Já o Artigo 195 determina que a Seguridade Social será finan- O Teto Financeiro Global do Estado (TFGE) é constituído, para
ciada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos efeito desta NOB, pela soma dos Tetos Financeiros da Assistência
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e de Contribuições (TFA), da Vigilância Sanitária (TFVS) e da Epidemiologia e Controle
Sociais. de Doenças (TFECD).
O TFGE, definido com base na PPI, é submetido pela SES ao MS,
Fontes após negociação na CIB e aprovação pelo CES. O valor final do teto
As principais fontes específicas da Seguridade Social incidem e suas revisões são fixados com base nas negociações realizadas no
sobre a Folha de Salários (Fonte 154), o Faturamento (Fonte 153 - âmbito da CIT - observadas as reais disponibilidades financeiras do
COFINS) e o Lucro (Fonte 151 - Lucro Líquido). MS - e formalizado em ato do Ministério.
Até 1992, todas essas fontes integravam o orçamento do O Teto Financeiro Global do Município (TFGM), também defini-
Ministério da Saúde e ainda havia aporte significativo de fontes fis- do consoante à programação integrada, é submetido pela SMS à
cais (Fonte 100 - Recursos Ordinários, provenientes principalmente SES, após aprovação pelo CMS. O valor final desse Teto e suas re-
da receita de impostos e taxas). A partir de 1993, deixou de ser re- visões são fixados com base nas negociações realizadas no âmbi-
passada ao MS a parcela da Contribuição sobre a Folha de Salários to da CIB - observados os limites do TFGE - e formalizado em ato
(Fonte 154, arrecadada pelo Instituto Nacional de Seguridade Social próprio do Secretário Estadual de Saúde.
- INSS). Todos os valores referentes a pisos, tetos, frações, índices, bem
Atualmente, as fontes que asseguram o maior aporte de recur- como suas revisões, são definidos com base na PPI, negociados nas
sos ao MS são a Contribuição sobre o Faturamento (Fonte 153 - Comissões Intergestores (CIB e CIT), formalizados em atos dos ge-
COFINS) e a Contribuição sobre o Lucro Líquido (Fonte 151), sendo stores estadual e federal e aprovados previamente nos respectivos
que os aportes provenientes de Fontes Fiscais são destinados prati- Conselhos (CES e CNS).
camente à cobertura de despesas com Pessoal e Encargos Sociais. As obrigações que vierem a ser assumidas pelo Ministério da
Dentro da previsibilidade de Contribuições Sociais na esfera Saúde, decorrentes da implantação desta NOB e que gerem aumen-
federal, no âmbito da Seguridade Social, uma fonte específica para to de despesa, serão previamente discutidas com o Ministério do
financiamento do SUS - a Contribuição Provisória sobre Movimen- Planejamento e Orçamento e o Ministério da Fazenda.
tações Financeiras - está criada, ainda que em caráter provisório. A
solução definitiva depende de uma reforma tributária que reveja PROGRAMAÇÃO, CONTROLE, AVALIAÇÃO E AUDITORIA
esta e todas as demais bases tributárias e financeiras do Governo, Programação Pactuada e Integrada - PPI
da Seguridade e, portanto, da Saúde. A PPI envolve as atividades de assistência ambulatorial e hos-
Nas esferas estadual e municipal, além dos recursos oriundos pitalar, de vigilância sanitária e de epidemiologia e controle de
do respectivo Tesouro, o financiamento do SUS conta com recursos doenças, constituindo um instrumento essencial de reorganização
transferidos pela União aos Estados e pela União e Estados aos Mu- do modelo de atenção e da gestão do SUS, de alocação dos recur-
nicípios. Esses recursos devem ser previstos no orçamento e iden- sos e de explicitação do pacto estabelecido entre as três esferas
tificados nos fundos de saúde estadual e municipal como receita de governo. Essa Programação traduz as responsabilidades de cada
operacional proveniente da esfera federal e ou estadual e utilizados município com a garantia de acesso da população aos serviços de
na execução de ações previstas nos respectivos planos de saúde e saúde, quer pela oferta existente no próprio município, quer pelo
na PPI. encaminhamento a outros municípios, sempre por intermédio de
relações entre gestores municipais, mediadas pelo gestor estadual.
Transferências Intergovernamentais e Contrapartidas
O processo de elaboração da Programação Pactuada entre
As transferências, regulares ou eventuais, da União para es-
gestores e Integrada entre esferas de governo deve respeitar a
tados, municípios e Distrito Federal estão condicionadas à contra-
autonomia de cada gestor: o município elabora sua própria pro-
partida destes níveis de governo, em conformidade com as normas
gramação, aprovando-a no CMS; o estado harmoniza e compatibi-
legais vigentes (Lei de Diretrizes Orçamentárias e outras).
liza as programações municipais, incorporando as ações sob sua re-
O reembolso das despesas, realizadas em função de atendi-
sponsabilidade direta, mediante negociação na CIB, cujo resultado
mentos prestados por unidades públicas a beneficiários de planos
é deliberado pelo CES.
privados de saúde, constitui fonte adicional de recursos.
Por isso, e consoante à legislação federal específica, estados e A elaboração da PPI deve se dar num processo ascendente, de
municípios devem viabilizar estrutura e mecanismos operacionais base municipal, configurando, também, as responsabilidades do es-
para a arrecadação desses recursos e a sua destinação exclusiva aos tado na busca crescente da equidade, da qualidade da atenção e
respectivos fundos de saúde. na conformação da rede regionalizada e hierarquizada de serviços.
Os recursos de investimento são alocados pelo MS, mediante A Programação observa os princípios da integralidade das ações
a apresentação pela SES da programação de prioridades de inves- de saúde e da direção única em cada nível de governo, traduzindo
timentos, devidamente negociada na CIB e aprovada pelo CES, até todo o conjunto de atividades relacionadas a uma população es-
o valor estabelecido no orçamento do Ministério, e executados de pecífica e desenvolvidas num território determinado, independen-
acordo com a legislação pertinente. te da vinculação institucional do órgão responsável pela execução
destas atividades. Os órgãos federais, estaduais e municipais, bem
Tetos financeiros dos Recursos Federais como os prestadores conveniados e contratados têm suas ações ex-
Os recursos de custeio da esfera federal, destinados às ações pressas na programação do município em que estão localizados, na
e serviços de saúde, configuram o Teto Financeiro Global (TFG), medida em que estão subordinados ao gestor municipal.
cujo valor, para cada estado e cada município, é definido com base A União define normas, critérios, instrumentos e prazos, apro-
na PPI. O teto financeiro do estado contém os tetos de todos os va a programação de ações sob seu controle - inscritas na pro-
municípios, habilitados ou não a qualquer uma das condições de gramação pelo estado e seus municípios - incorpora as ações sob
gestão. sua responsabilidade direta e aloca os recursos disponíveis, segun-
do os valores apurados na programação e negociados na CIT, cujo
resultado é deliberado pelo CNS.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A elaboração da programação observa critérios e parâmetros CUSTEIO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR E AMBULATORIAL
definidos pelas Comissões Intergestores e aprovados pelos respec- Os recursos de custeio da esfera federal destinados à assistên-
tivos Conselhos. No tocante aos recursos de origem federal, os cia hospitalar e ambulatorial, conforme mencionado anterior-
critérios, prazos e fluxos de elaboração da programação integrada mente, configuram o TFA, e os seus valores podem ser executados
e de suas reprogramações periódicas ou extraordinárias são fixados segundo duas modalidades: Transferência Regular e Automática
em ato normativo do MS e traduzem as negociações efetuadas na (Fundo a Fundo) e Remuneração por Serviços Produzidos.
CIT e as deliberações do CNS.
Transferência Regular e Automática Fundo a Fundo
Controle, Avaliação e Auditoria Consiste na transferência de valores diretamente do Fundo Na-
O cadastro de unidades prestadoras de serviços de saúde cional de Saúde aos fundos estaduais e municipais, independente
(UPS), completo e atualizado, é requisito básico para programar a de convênio ou instrumento congênere, segundo as condições de
contratação de serviços assistenciais e para realizar o controle da gestão estabelecidas nesta NOB. Esses recursos podem correspond-
regularidade dos faturamentos. Compete ao órgão gestor do SUS er a uma ou mais de uma das situações descritas a seguir.
responsável pelo relacionamento com cada UPS, seja própria, con-
tratada ou conveniada, a garantia da atualização permanente dos Piso Assistencial Básico (PAB)
dados cadastrais, no banco de dados nacional. O PAB consiste em um montante de recursos financeiros
Os bancos de dados nacionais, cujas normas são definidas pelos destinado ao custeio de procedimentos e ações de assistência
órgãos do MS, constituem instrumentos essenciais ao exercício das básica, de responsabilidade tipicamente municipal. Esse Piso é
funções de controle, avaliação e auditoria. Por conseguinte, os ge- definido pela multiplicação de um valorper capitanacional pela
stores municipais e estaduais do SUS devem garantir a alimentação população de cada município (fornecida pelo IBGE), e transferido
permanente e regular desses bancos, de acordo com a relação de regular e automaticamente ao fundo de saúde ou conta especial
dados, informações e cronogramas previamente estabelecidos pelo dos municípios e, transitoriamente, ao fundo estadual, conforme
MS e pelo CNS. condições estipuladas nesta NOB. As transferências do PAB aos es-
As ações de auditoria analítica e operacional constituem re- tados correspondem, exclusivamente, ao valor para cobertura da
sponsabilidades das três esferas gestoras do SUS, o que exige a es- população residente em municípios ainda não habilitados na forma
truturação do respectivo órgão de controle, avaliação e auditoria, desta Norma Operacional.
incluindo a definição dos recursos e da metodologia adequada de O elenco de procedimentos custeados pelo PAB,assim como
trabalho. É função desse órgão definir, também, instrumentos para o valorper capita nacional único - base de cálculo deste Piso - são
a realização das atividades, consolidar as informações necessári- propostos pela CIT e votados no CNS. Nessas definições deve ser
as, analisar os resultados obtidos em decorrência de suas ações, observado o perfil de serviços disponíveis na maioria dos municípi-
propor medidas corretivas e interagir com outras áreas da adminis- os, objetivando o progressivo incremento desses serviços, até que
tração, visando o pleno exercício, pelo gestor, de suas atribuições, a atenção integral à saúde esteja plenamente organizada, em todo
de acordo com a legislação que regulamenta o Sistema Nacional de o País. O valorper capitanacional único é reajustado com a mesma
Auditoria no âmbito do SUS. periodicidade, tendo por base, no mínimo, o incremento médio da
As ações de controle devem priorizar os procedimentos téc- tabela de procedimentos do Sistema de Informações Ambulatoriais
nicos e administrativos prévios à realização de serviços e à orde- do SUS (SIA/SUS).
nação dos respectivos pagamentos, com ênfase na garantia da A transferência total do PAB será suspensa no caso da não-ali-
autorização de internações e procedimentos ambulatoriais - tendo mentação, pela SMS junto à SES, dos bancos de dados de interesse
como critério fundamental a necessidade dos usuários - e o rigoro- nacional, por mais de dois meses consecutivos.
so monitoramento da regularidade e da fidedignidade dos registros
de produção e faturamento de serviços. Incentivo aos Programas de Saúde da Família (PSF) e de Agen-
O exercício da função gestora no SUS, em todos os níveis tes Comunitários de Saúde (PACS)
de governo, exige a articulação permanente das ações de pro- Fica estabelecido um acréscimo percentual ao montante do
gramação, controle, avaliação e auditoria; a integração operacional PAB, de acordo com os critérios a seguir relacionados, sempre que
das unidades organizacionais, que desempenham estas atividades, estiverem atuando integradamente à rede municipal, equipes de
no âmbito de cada órgão gestor do Sistema; e a apropriação dos saúde da família, agentes comunitários de saúde, ou estratégias
seus resultados e a identificação de prioridades, no processo de de- similares de garantia da integralidade da assistência, avaliadas pelo
cisão política da alocação dos recursos. órgão do MS (SAS/MS) com base em normas da direção nacional
O processo de reorientação do modelo de atenção e de con- do SUS.
solidação do SUS requer o aperfeiçoamento e a disseminação dos a) Programa de Saúde da Família (PSF):
instrumentos e técnicas de avaliação de resultados e do impacto o acréscimo de 3% sobre o valor do PAB para cada 5% da po-
das ações do Sistema sobre as condições de saúde da população, pulação coberta, até atingir 60% da população total do município;
priorizando o enfoque epidemiológico e propiciando a permanente o acréscimo de 5% para cada 5% da população coberta en-
seleção de prioridade de intervenção e a reprogramação contínua tre 60% e 90% da população total do município; e
da alocação de recursos. O acompanhamento da execução das o acréscimo de 7% para cada 5% da população coberta en-
ações programadas é feito permanentemente pelos gestores e tre 90% e 100% da população total do município.
periodicamente pelos respectivos Conselhos de Saúde, com base Esses acréscimos têm, como limite, 80% do valor do PAB origi-
em informações sistematizadas, que devem possibilitar a avaliação nal do município.
qualitativa e quantitativa destas ações. A avaliação do cumprimento a. Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS):
das ações programadas em cada nível de governo deve ser feita em o acréscimo de 1% sobre o valor do PAB para cada 5% da
Relatório de Gestão Anual, cujo roteiro de elaboração será apre- população coberta até atingir 60% da população total do município;
sentado pelo MS e apreciado pela CIT e pelo CNS. o acréscimo de 2% para cada 5% da população coberta en-
tre 60% e 90% da população total do município; e

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
o acréscimo de 3% para cada 5% da população coberta en- Remuneração por Serviços Produzidos
tre 90% e 100% da população total do município. Consiste no pagamento direto aos prestadores estatais ou
Esses acréscimos têm, como limite, 30% do valor do PAB origi- privados contratados e conveniados, contra apresentação de fatu-
nal do município. ras, referente a serviços realizados conforme programação e me-
c) Os percentuais não são cumulativos quando a população co- diante prévia autorização do gestor, segundo valores fixados em
berta pelo PSF e pelo PACS ou por estratégias similares for a mesma. tabelas editadas pelo órgão competente do Ministério (SAS/MS).
Os percentuais acima referidos são revistos quando do incre- Esses valores estão incluídos no TFA do estado e do município
mento do valorper capitanacional único, utilizado para o cálculo e são executados mediante ordenação de pagamento por parte do
do PAB e do elenco de procedimentos relacionados a este Piso. gestor. Para municípios e estados que recebem transferências de
Essa revisão é proposta na CIT e votada no CNS. Por ocasião da tetos da assistência (TFAM e TFAE, respectivamente), conforme as
incorporação desses acréscimos, o teto financeiro da assistência do condições de gestão estabelecidas nesta NOB, os valores relativos à
estado é renegociado na CIT e apreciado pelo CNS. remuneração por serviços produzidos estão incluídos nos tetos da
A ausência de informações que comprovem a produção mensal assistência, definidos na CIB.
das equipes, durante dois meses consecutivos ou quatro alternados A modalidade de pagamento direto, pelo gestor federal, a
em um ano, acarreta a suspensão da transferência deste acréscimo.
prestadores de serviços ocorre apenas nas situações em que não
fazem parte das transferências regulares e automáticas fundo a fun-
Fração Assistencial Especializada (FAE)
do, conforme itens a seguir especificados.
É um montante que corresponde a procedimentos
ambulatoriais de média complexidade, medicamentos e insumos
excepcionais, órteses e próteses ambulatoriais e Tratamento Fora Remuneração de Internações Hospitalares
do Domicílio (TFD), sob gestão do estado. Consiste no pagamento dos valores apurados por intermédio
O órgão competente do MS formaliza, por portaria, esse elenco do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), en-
a partir de negociação na CIT e que deve ser objeto da programação globando o conjunto de procedimentos realizados em regime de in-
integrada quanto a sua oferta global no estado. ternação, com base na Autorização de Internação Hospitalar (AIH),
A CIB explicita os quantitativos e respectivos valores desses documento este de autorização e fatura de serviços.
procedimentos, que integram os tetos financeiros da assistência
dos municípios em gestão plena do sistema de saúde e os que per- Remuneração de Procedimentos Ambulatoriais de Alto Cus-
manecem sob gestão estadual. Neste último, o valor programado da to/ Complexidade
FAE é transferido, regular e automaticamente, do Fundo Nacional Consiste no pagamento dos valores apurados por intermédio
ao Fundo Estadual de Saúde, conforme as condições de gestão das do SIA/SUS, com base na Autorização de Procedimentos de Alto
SES definidas nesta NOB. Não integram o elenco de procedimen- Custo (APAC), documento este que identifica cada paciente e as-
tos cobertos pela FAE aqueles relativos ao PAB e os definidos como segura a prévia autorização e o registro adequado dos serviços que
de alto custo/complexidade por portaria do órgão competente do lhe foram prestados. Compreende procedimentos ambulatoriais in-
Ministério (SAS/MS). tegrantes do SIA/SUS definidos na CIT e formalizados por portaria
do órgão competente do Ministério (SAS/MS).
Teto Financeiro da Assistência do Município (TFAM)
É um montante que corresponde ao financiamento do conjunto Remuneração Transitória por Serviços Produzidos
das ações assistenciais assumidas pela SMS. O TFAM é transferido, O MS é responsável pela remuneração direta, por serviços pro-
regular e automaticamente, do Fundo Nacional ao Fundo Municipal duzidos, dos procedimentos relacionados ao PAB e à FAE, enquanto
de Saúde, de acordo com as condições de gestão estabelecidas houver municípios que não estejam na condição de gestão semiple-
por esta NOB e destina-se ao custeio dos serviços localizados no na da NOB 01/93 ou nas condições de gestão municipal definidas
território do município (exceção feita àqueles eventualmente nesta NOB naqueles estados em condição de gestão convencional.
excluídos da gestão municipal por negociação na CIB).
Fatores de Incentivo e Índices de Valorização
Teto Financeiro da Assistência do Estado (TFAE)
O Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e da
É um montante que corresponde ao financiamento do
Pesquisa em Saúde (FIDEPS) e o Índice de Valorização Hospitalar
conjunto das ações assistenciais sob a responsabilidade da SES. O
de Emergência (IVH-E), bem como outros fatores e ou índices que
TFAE corresponde ao TFA fixado na CIT e formalizado em portaria
do órgão competente do Ministério (SAS/MS). incidam sobre a remuneração por produção de serviços, eventual-
Esses valores são transferidos, regular e automaticamente, do mente estabelecidos, estão condicionados aos critérios definidos
Fundo Nacional ao Fundo Estadual de Saúde, de acordo com as em nível federal e à avaliação da CIB em cada Estado. Esses fatores
condições de gestão estabelecidas por esta NOB, deduzidos os va- e índices integram o teto financeiro da assistência do município e
lores comprometidos com as transferências regulares e automáti- do respectivo estado.
cas ao conjunto de municípios do estado (PAB e TFAM).
CUSTEIO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA
Índice de Valorização de Resultados (IVR) Os recursos da esfera federal destinados à vigilância sanitária
Consiste na atribuição de valores adicionais equivalentes a até configuram o Teto Financeiro da Vigilância Sanitária (TFVS) e os seus
2% do teto financeiro da assistência do estado, transferidos, regu- valores podem ser executados segundo duas modalidades: Trans-
lar e automaticamente, do Fundo Nacional ao Fundo Estadual de ferência Regular e Automática Fundo a Fundo e Remuneração de
Saúde, como incentivo à obtenção de resultados de impacto pos- Serviços Produzidos.
itivo sobre as condições de saúde da população, segundo critérios
definidos pela CIT e fixados em portaria do órgão competente do
Ministério (SAS/MS). Os recursos do IVR podem ser transferidos
pela SES às SMS, conforme definição da CIB.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Transferência Regular e Automática Fundo a Fundo CUSTEIO DAS AÇÕES DE EPIDEMIOLOGIA E DE CONTROLE DE
Consiste na transferência de valores diretamente do Fundo Na- DOENÇAS
cional de Saúde aos fundos estaduais e municipais, independente Os recursos da esfera federal destinados às ações de epidemio-
de convênio ou instrumento congênere, segundo as condições de logia e controle de doenças não contidas no elenco de procedimen-
gestão estabelecidas nesta NOB. Esses recursos podem correspond- tos do SIA/SUS e SIH/SUS configuram o Teto Financeiro de Epidemi-
er a uma ou mais de uma das situações descritas a seguir. ologia e Controle de Doenças (TFECD).
O elenco de procedimentos a serem custeados com o TFECD
Piso Básico de Vigilância Sanitária (PBVS) é definido em negociação na CIT, aprovado pelo CNS e formalizado
Consiste em um montante de recursos financeiros destinado ao em ato próprio do órgão específico do MS (Fundação Nacional de
custeio de procedimentos e ações básicas da vigilância sanitária, de Saúde - FNS/MS). As informações referentes ao desenvolvimento
responsabilidade tipicamente municipal. Esse Piso é definido pela dessas ações integram sistemas próprios de informação definidos
multiplicação de um valor per capita nacional pela população de pelo Ministério da Saúde.
cada município (fornecida pelo IBGE), transferido, regular e auto- O valor desse Teto para cada estado é definido em negociação
maticamente, ao fundo de saúde ou conta especial dos municípios na CIT, com base na PPI, a partir das informações fornecidas pelo
e, transitoriamente, dos estados, conforme condições estipuladas Comitê Interinstitucional de Epidemiologia e formalizado em ato
nesta NOB. O PBVS somente será transferido a estados para cober- próprio do órgão específico do MS (FNS/MS).
tura da população residente em municípios ainda não habilitados Esse Comitê, vinculado ao Secretário Estadual de Saúde, artic-
na forma desta Norma Operacional. ulando os órgãos de epidemiologia da SES, do MS no estado e de
O elenco de procedimentos custeados pelo PBVS, assim como outras entidades que atuam no campo da epidemiologia e controle
de doenças, é uma instância permanente de estudos, pesquisas,
o valor per capita nacional único - base de cálculo deste Piso - ,
análises de informações e de integração de instituições afins.
são definidos em negociação na CIT e formalizados por portaria do
Os valores do TFECD podem ser executados por ordenação do
órgão competente do Ministério (Secretaria de Vigilância Sanitária
órgão específico do MS, conforme as modalidades apresentadas a
- SVS/MS), previamente aprovados no CNS. Nessa definição deve
seguir.
ser observado o perfil de serviços disponíveis na maioria dos mu-
nicípios, objetivando o progressivo incremento das ações básicas de Transferência Regular e Automática Fundo a Fundo
vigilância sanitária em todo o País. Esses procedimentos integram Consiste na transferência de valores diretamente do Fundo
o Sistema de Informação de Vigilância Sanitária do SUS (SIVS/SUS). Nacional de Saúde aos Fundos Estaduais e Municipais, independ-
entemente de convênio ou instrumento congênere, segundo as
Índice de Valorização do Impacto em Vigilância Sanitária (IVI- condições de gestão estabelecidas nesta NOB e na PPI, aprovada
SA) na CIT e no CNS.
Consiste na atribuição de valores adicionais equivalentes a
até 2% do teto financeiro da vigilância sanitária do estado, a ser- Remuneração por Serviços Produzidos
em transferidos, regular e automaticamente, do Fundo Nacional ao Consiste no pagamento direto às SES e SMS, pelas ações de
Fundo Estadual de Saúde, como incentivo à obtenção de resultados epidemiologia e controle de doenças, conforme tabela de proced-
de impacto significativo sobre as condições de vida da população, imentos discutida na CIT e aprovada no CNS, editada pelo MS, ob-
segundo critérios definidos na CIT, e fixados em portaria do órgão servadas as condições de gestão estabelecidas nesta NOB, contra
competente do Ministério (SVS/MS), previamente aprovados no apresentação de demonstrativo de atividades realizadas, encamin-
CNS. Os recursos do IVISA podem ser transferidos pela SES às SMS, hado pela SES ou SMS ao MS.
conforme definição da CIB.
Transferência por Convênio
Remuneração Transitória por Serviços Produzidos Consiste na transferência de recursos oriundos do órgão espe-
Programa Desconcentrado de Ações de Vigilância Sanitária cífico do MS (FNS/MS), por intermédio do Fundo Nacional de Saúde,
(PDAVS) mediante programação e critérios discutidos na CIT e aprovados
Consiste no pagamento direto às SES e SMS, pela prestação de pelo CNS, para:
serviços relacionados às ações de competência exclusiva da SVS/ a. estímulo às atividades de epidemiologia e controle de
MS, contra a apresentação de demonstrativo de atividades realiza- doenças;
das pela SES ao Ministério. Após negociação e aprovação na CIT e b. custeio de operações especiais em epidemiologia e con-
trole de doenças;
prévia aprovação no CNS, e observadas as condições estabelecidas
c. financiamento de projetos de cooperação técnico-científi-
nesta NOB, a SVS/MS publica a tabela de procedimentos do PDAVS
ca na área de epidemiologia e controle de doenças, quando enca-
e o valor de sua remuneração.
minhados pela CIB.
Ações de Média e Alta Complexidade em Vigilância Sanitária CONDIÇÕES DE GESTÃO DO MUNICÍPIO
Consiste no pagamento direto às SES e às SMS, pela execução As condições de gestão, estabelecidas nesta NOB, explicitam
de ações de média e alta complexidade de competência estadual as responsabilidades do gestor municipal, os requisitos relativos às
e municipal contra a apresentação de demonstrativo de atividades modalidades de gestão e as prerrogativas que favorecem o seu de-
realizadas ao MS. Essas ações e o valor de sua remuneração são sempenho.
definidos em negociação na CIT e formalizados em portaria do A habilitação dos municípios às diferentes condições de gestão
órgão competente do Ministério (SVS/MS), previamente aprovadas significa a declaração dos compromissos assumidos por parte do
no CNS. gestor perante os outros gestores e perante a população sob sua
responsabilidade.
A partir desta NOB, os municípios podem habilitar-se em duas
condições:

33
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
a. GESTÃO PLENA DA ATENÇÃO BÁSICA; e f. Formalizar junto ao gestor estadual, com vistas à CIB, após
b. GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL. aprovação pelo CMS, o pleito de habilitação, atestando o cumpri-
Os municípios que não aderirem ao processo de habilitação mento dos requisitos relativos à condição de gestão pleiteada.
permanecem, para efeito desta Norma Operacional, na condição de g. Dispor de médico formalmente designado como respon-
prestadores de serviços ao Sistema, cabendo ao estado a gestão do sável pela autorização prévia, controle e auditoria dos procedimen-
SUS naquele território municipal, enquanto for mantida a situação tos e serviços realizados.
de não-habilitado. h. Comprovar a capacidade para o desenvolvimento de
ações de vigilância sanitária.
GESTÃO PLENA DA ATENÇÃO BÁSICA i. Comprovar a capacidade para o desenvolvimento de
Responsabilidades ações de vigilância epidemiológica.
a. Elaboração de programação municipal dos serviços bási- j. Comprovar a disponibilidade de estrutura de recursos hu-
cos, inclusive domiciliares e comunitários, e da proposta de refe- manos para supervisão e auditoria da rede de unidades, dos profis-
rência ambulatorial especializada e hospitalar para seus munícipes, sionais e dos serviços realizados.
com incorporação negociada à programação estadual.
b. Gerência de unidades ambulatoriais próprias. Prerrogativas
c. Gerência de unidades ambulatoriais do estado ou da Transferência, regular e automática, dos recursos correspond-
União, salvo se a CIB ou a CIT definir outra divisão de responsabi- entes ao Piso da Atenção Básica (PAB).
lidades. a. Transferência, regular e automática, dos recursos corres-
d. Reorganização das unidades sob gestão pública (estatais, pondentes ao Piso Básico de Vigilância Sanitária (PBVS).
conveniadas e contratadas), introduzindo a prática do cadastra- b. Transferência, regular e automática, dos recursos corres-
mento nacional dos usuários do SUS, com vistas à vinculação de pondentes às ações de epidemiologia e de controle de doenças.
clientela e à sistematização da oferta dos serviços. c. Subordinação, à gestão municipal, de todas as unidades
e. Prestação dos serviços relacionados aos procedimentos básicas de saúde, estatais ou privadas (lucrativas e filantrópicas),
cobertos pelo PAB e acompanhamento, no caso de referência inter- estabelecidas no território municipal.
na ou externa ao município, dos demais serviços prestados aos seus
munícipes, conforme a PPI, mediado pela relação gestor-gestor com GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL
a SES e as demais SMS. Responsabilidades
f. Contratação, controle, auditoria e pagamento aos presta- a. Elaboração de toda a programação municipal, contendo,
dores dos serviços contidos no PAB. inclusive, a referência ambulatorial especializada e hospitalar, com
g. Operação do SIA/SUS quanto a serviços cobertos pelo incorporação negociada à programação estadual.
PAB, conforme normas do MS, e alimentação, junto à SES, dos ban- b. Gerência de unidades próprias, ambulatoriais e hospitala-
cos de dados de interesse nacional. res, inclusive as de referência.
h. Autorização, desde que não haja definição em contrário c. Gerência de unidades ambulatoriais e hospitalares do es-
da CIB, das internações hospitalares e dos procedimentos ambula- tado e da União, salvo se a CIB ou a CIT definir outra divisão de
toriais especializados, realizados no município, que continuam sen- responsabilidades.
do pagos por produção de serviços. d. Reorganização das unidades sob gestão pública (estatais,
i. Manutenção do cadastro atualizado das unidades assis- conveniadas e contratadas), introduzindo a prática do cadastra-
tenciais sob sua gestão, segundo normas do MS. mento nacional dos usuários do SUS, com vistas à vinculação da
j. Avaliação permanente do impacto das ações do Sistema clientela e sistematização da oferta dos serviços.
sobre as condições de saúde dos seus munícipes e sobre o seu meio e. Garantia da prestação de serviços em seu território, inclu-
ambiente. sive os serviços de referência aos não-residentes, no caso de refe-
k. Execução das ações básicas de vigilância sanitária, incluí- rência interna ou externa ao município, dos demais serviços pres-
das no PBVS. tados aos seus munícipes, conforme a PPI, mediado pela relação
a. Execução das ações básicas de epidemiologia, de contro- gestor-gestor com a SES e as demais SMS.
le de doenças e de ocorrências mórbidas, decorrentes de causas f. Normalização e operação de centrais de controle de pro-
externas, como acidentes, violências e outras, incluídas no TFECD. cedimentos ambulatoriais e hospitalares relativos à assistência aos
b. Elaboração do relatório anual de gestão e aprovação pelo seus munícipes e à referência intermunicipal.
CMS. g. Contratação, controle, auditoria e pagamento aos presta-
dores de serviços ambulatoriais e hospitalares, cobertos pelo TFGM.
Requisitos h. Administração da oferta de procedimentos ambulatoriais
a. Comprovar o funcionamento do CMS. de alto custo e procedimentos hospitalares de alta complexidade
b. Comprovar a operação do Fundo Municipal de Saúde. conforme a PPI e segundo normas federais e estaduais.
c. Apresentar o Plano Municipal de Saúde e comprometer-se i. Operação do SIH e do SIA/SUS, conforme normas do MS,
a participar da elaboração e da implementação da PPI do estado, e alimentação, junto às SES, dos bancos de dados de interesse na-
bem assim da alocação de recursos expressa na programação. cional.
d. Comprovar capacidade técnica e administrativa e condi- j. Manutenção do cadastro atualizado de unidades assisten-
ções materiais para o exercício de suas responsabilidades e prerro- ciais sob sua gestão, segundo normas do MS.
gativas quanto à contratação, ao pagamento, ao controle e à audi- k. Avaliação permanente do impacto das ações do Sistema
toria dos serviços sob sua gestão. sobre as condições de saúde dos seus munícipes e sobre o meio
e. Comprovar a dotação orçamentária do ano e o dispêndio ambiente.
realizado no ano anterior, correspondente à contrapartida de re- l. Execução das ações básicas, de média e alta complexida-
cursos financeiros próprios do Tesouro Municipal, de acordo com a de em vigilância sanitária, bem como, opcionalmente, as ações do
legislação em vigor. PDAVS.

34
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
m. Execução de ações de epidemiologia, de controle de e. Subordinação, à gestão municipal, do conjunto de todas
doenças e de ocorrências mórbidas, decorrentes de causas exter- as unidades ambulatoriais especializadas e hospitalares, estatais
nas, como acidentes, violências e outras incluídas no TFECD. ou privadas (lucrativas e filantrópicas), estabelecidas no território
municipal.
Requisitos f. Transferência de recursos referentes às ações de epide-
a. Comprovar o funcionamento do CMS. miologia e controle de doenças, conforme definição da CIT.
b. Comprovar a operação do Fundo Municipal de Saúde.
c. Participar da elaboração e da implementação da PPI do es- CONDIÇÕES DE GESTÃO DO ESTADO
tado, bem assim da alocação de recursos expressa na programação. As condições de gestão, estabelecidas nesta NOB, explicitam
d. Comprovar capacidade técnica e administrativa e condi- as responsabilidades do gestor estadual, os requisitos relativos às
ções materiais para o exercício de suas responsabilidades e prerro- modalidades de gestão e as prerrogativas que favorecem o seu de-
gativas quanto à contratação, ao pagamento, ao controle e à audi- sempenho.
toria dos serviços sob sua gestão, bem como avaliar o impacto das A habilitação dos estados às diferentes condições de gestão
ações do Sistema sobre a saúde dos seus munícipes. significa a declaração dos compromissos assumidos por parte do
e. Comprovar a dotação orçamentária do ano e o dispêndio gestor perante os outros gestores e perante a população sob sua
no ano anterior correspondente à contrapartida de recursos finan- responsabilidade.
ceiros próprios do Tesouro Municipal, de acordo com a legislação A partir desta NOB, os estados poderão habilitar-se em duas
em vigor. condições de gestão:
f. Formalizar, junto ao gestor estadual com vistas à CIB, após
aprovação pelo CMS, o pleito de habilitação, atestando o cumpri- GESTÃO AVANÇADA DO SISTEMA ESTADUAL; e
mento dos requisitos específicos relativos à condição de gestão
GESTÃO PLENA DO SISTEMA ESTADUAL.
pleiteada.
Os estados que não aderirem ao processo de habilitação, per-
g. Dispor de médico formalmente designado pelo gestor
manecem na condição de gestão convencional, desempenhando as
como responsável pela autorização prévia, controle e auditoria dos
funções anteriormente assumidas ao longo do processo de implan-
procedimentos e serviços realizados.
tação do SUS, não fazendo jus às novas prerrogativas introduzidas
h. Apresentar o Plano Municipal de Saúde, aprovado pelo
por esta NOB, exceto ao PDAVS nos termos definidos pela SVS/MS.
CMS, que deve conter as metas estabelecidas, a integração e articu-
Essa condição corresponde ao exercício de funções mínimas de
lação do município na rede estadual e respectivas responsabilida-
gestão do Sistema, que foram progressivamente incorporadas pelas
des na programação integrada do estado, incluindo detalhamento
SES, não estando sujeita a procedimento específico de habilitação
da programação de ações e serviços que compõem o sistema muni-
cipal, bem como os indicadores mediante dos quais será efetuado nesta NOB.
o acompanhamento.
i. Comprovar o funcionamento de serviço estruturado de Responsabilidades comuns às duas condições de gestão es-
vigilância sanitária e capacidade para o desenvolvimento de ações tadual
de vigilância sanitária. a. Elaboração da PPI do estado, contendo a referência inter-
j. Comprovar a estruturação de serviços e atividades de vigi- municipal e coordenação da negociação na CIB para alocação dos
lância epidemiológica e de controle de zoonoses. recursos, conforme expresso na programação.
k. Apresentar o Relatório de Gestão do ano anterior à solici- b. Elaboração e execução do Plano Estadual de Prioridades
tação do pleito, devidamente aprovado pelo CMS. de Investimentos, negociado na CIB e aprovado pelo CES.
l. Assegurar a oferta, em seu território, de todo o elenco de c. Gerência de unidades estatais da hemorrede e de labo-
procedimentos cobertos pelo PAB e, adicionalmente, de serviços de ratórios de referência para controle de qualidade, para vigilância
apoio diagnóstico em patologia clínica e radiologia básicas. sanitária e para a vigilância epidemiológica.
m. Comprovar a estruturação do componente municipal do d. Formulação e execução da política de sangue e hemote-
Sistema Nacional de Auditoria (SNA). rapia.
n. Comprovar a disponibilidade de estrutura de recursos hu- e. Organização de sistemas de referência, bem como a nor-
manos para supervisão e auditoria da rede de unidades, dos profis- malização e operação de câmara de compensação de AIH, procedi-
sionais e dos serviços realizados. mentos especializados e de alto custo e ou alta complexidade.
f. Formulação e execução da política estadual de assistência
Prerrogativas farmacêutica, em articulação com o MS.
a. Transferência, regular e automática, dos recursos referen- g. Normalização complementar de mecanismos e instru-
tes ao Teto Financeiro da Assistência (TFA). mentos de administração da oferta e controle da prestação de ser-
b. Normalização complementar relativa ao pagamento de viços ambulatoriais, hospitalares, de alto custo, do tratamento fora
prestadores de serviços assistenciais em seu território, inclusive do domicílio e dos medicamentos e insumos especiais.
quanto a alteração de valores de procedimentos, tendo a tabela h. Manutenção do cadastro atualizado de unidades assisten-
nacional como referência mínima, desde que aprovada pelo CMS ciais sob sua gestão, segundo normas do MS.
e pela CIB. i. Cooperação técnica e financeira com o conjunto de muni-
c. Transferência regular e automática fundo a fundo dos cípios, objetivando a consolidação do processo de descentralização,
recursos correspondentes ao Piso Básico de Vigilância Sanitária a organização da rede regionalizada e hierarquizada de serviços, a
(PBVS). realização de ações de epidemiologia, de controle de doenças, de
d. Remuneração por serviços de vigilância sanitária de média vigilância sanitária, bem assim o pleno exercício das funções gesto-
e alta complexidade e, remuneração pela execução do Programa ras de planejamento, controle, avaliação e auditoria.
Desconcentrado de Ações de Vigilância Sanitária (PDAVS), quando j. Implementação de políticas de integração das ações de
assumido pelo município. saneamento às de saúde.

35
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
k. Coordenação das atividades de vigilância epidemiológica GESTÃO AVANÇADA DO SISTEMA ESTADUAL
e de controle de doenças e execução complementar conforme pre- Responsabilidades Específicas
visto na Lei nº 8.080/90. a. Contratação, controle, auditoria e pagamento do conjunto
l. Execução de operações complexas voltadas ao controle de dos serviços, sob gestão estadual, contidos na FAE;
doenças que possam se beneficiar da economia de escala. b. Contratação, controle, auditoria e pagamento dos presta-
m. Coordenação das atividades de vigilância sanitária e exe- dores de serviços incluídos no PAB dos municípios não habilitados;
cução complementar conforme previsto na Lei nº 8.080/90. c. Ordenação do pagamento dos demais serviços hospitala-
n. Execução das ações básicas de vigilância sanitária referen- res e ambulatoriais, sob gestão estadual;
te aos municípios não habilitados nesta NOB. d. Operação do SIA/SUS, conforme normas do MS, e alimen-
o. Execução das ações de média e alta complexidade de vigi- tação dos bancos de dados de interesse nacional.
lância sanitária, exceto as realizadas pelos municípios habilitados na
condição de gestão plena de sistema municipal. Requisitos Específicos
p. Execução do PDAVS nos termos definidos pela SVS/MS. a. Apresentar a programação pactuada e integrada ambula-
q. Apoio logístico e estratégico às atividades à atenção à saú- torial, hospitalar e de alto custo, contendo a referência intermunici-
de das populações indígenas, na conformidade de critérios estabe- pal e os critérios para a sua elaboração.
lecidos pela CIT. b. Dispor de 60% dos municípios do estado habilitados nas
condições de gestão estabelecidas nesta NOB, independente do seu
Requisitos comuns às duas condições de gestão estadual contingente populacional; ou 40% dos municípios habilitados, des-
a. Comprovar o funcionamento do CES. de que, nestes, residam 60% da população.
b. Comprovar o funcionamento da CIB. c. Dispor de 30% do valor do TFA comprometido com trans-
c. Comprovar a operação do Fundo Estadual de Saúde. ferências regulares e automáticas aos municípios.
d. Apresentar o Plano Estadual de Saúde, aprovado pelo CES, Prerrogativas
que deve conter: a. Transferência regular e automática dos recursos corres-
• as metas pactuadas; pondentes à Fração Assistencial Especializada (FAE) e ao Piso Assis-
• a programação integrada das ações ambulatoriais, hospi- tencial Básico (PAB) relativos aos municípios não-habilitados.
talares e de alto custo, de epidemiologia e de controle de doenças a. Transferência regular e automática do Piso Básico de Vi-
– incluindo, entre outras, as atividades de vacinação, de controle de gilância Sanitária (PBVS) referente aos municípios não habilitados
vetores e de reservatórios – de saneamento, de pesquisa e desen- nesta NOB.
volvimento tecnológico, de educação e de comunicação em saúde, a. Transferência regular e automática do Índice de Valoriza-
ção do Impacto em Vigilância Sanitária (IVISA).
bem como as relativas às ocorrências mórbidas decorrentes de cau-
a. Remuneração por serviços produzidos na área da vigilân-
sas externas;
cia sanitária.
• as estratégias de descentralização das ações de saúde
a. Transferência de recursos referentes às ações de epide-
para municípios;
miologia e controle de doenças.
• as estratégias de reorganização do modelo de atenção; e
• os critérios utilizados e os indicadores por meio dos quais
GESTÃO PLENA DO SISTEMA ESTADUAL
é efetuado o acompanhamento das ações.
Responsabilidades Específicas
a. Apresentar relatório de gestão aprovado pelo CES, relativo
a. Contratação, controle, auditoria e pagamento aos presta-
ao ano anterior à solicitação do pleito. dores do conjunto dos serviços sob gestão estadual, conforme de-
b. Comprovar a transferência da gestão da atenção hospita- finição da CIB.
lar e ambulatorial aos municípios habilitados, conforme a respecti- a. Operação do SIA/SUS e do SIH/SUS, conforme normas do
va condição de gestão. MS, e alimentação dos bancos de dados de interesse nacional.
c. Comprovar a estruturação do componente estadual do
SNA. Requisitos Específicos
a. Comprovar capacidade técnica e administrativa e condi- a. Comprovar a implementação da programação integrada
ções materiais para o exercício de suas responsabilidades e prerro- das ações ambulatoriais, hospitalares e de alto custo, contendo a
gativas, quanto a contratação, pagamento, controle e auditoria dos referência intermunicipal e os critérios para a sua elaboração.
serviços sob sua gestão e quanto à avaliação do impacto das ações a. Comprovar a operacionalização de mecanismos de con-
do Sistema sobre as condições de saúde da população do estado. trole da prestação de serviços ambulatoriais e hospitalares, tais
b. Comprovar a dotação orçamentária do ano e o dispêndio como: centrais de controle de leitos e internações, de procedimen-
no ano anterior, correspondente à contrapartida de recursos finan- tos ambulatoriais e hospitalares de alto/custo e ou complexidade e
ceiros próprios do Tesouro Estadual, de acordo com a legislação em de marcação de consultas especializadas.
vigor. a. Dispor de 80% dos municípios habilitados nas condições
c. Apresentar à CIT a formalização do pleito, devidamente de gestão estabelecidas nesta NOB, independente do seu contin-
aprovado pelo CES e pela CIB, atestando o cumprimento dos requi- gente populacional; ou 50% dos municípios, desde que, nestes, re-
sitos gerais e específicos relativos à condição de gestão pleiteada. sidam 80% da população.
d. Comprovar a criação do Comitê Interinstitucional de Epi- a. Dispor de 50% do valor do TFA do estado comprometido
demiologia, vinculado ao Secretário Estadual de Saúde. com transferências regulares e automáticas aos municípios.
e. Comprovar o funcionamento de serviço de vigilância sa-
nitária no estado, organizado segundo a legislação e capacidade de Prerrogativas
desenvolvimento de ações de vigilância sanitária. a. Transferência regular e automática dos recursos corres-
f. Comprovar o funcionamento de serviço de vigilância epi- pondentes ao valor do Teto Financeiro da Assistência (TFA), dedu-
demiológica no estado. zidas as transferências fundo a fundo realizadas a municípios habi-
litados.

36
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
a. Transferência regular e automática dos recursos corres- -os estados habilitados atualmente nas condições de gestão
pondentes ao Índice de Valorização de Resultados (IVR). parcial e semiplena devem apresentar a comprovação dos requisi-
a. Transferência regular e automática do Piso Básico de Vi- tos adicionais relativos à nova condição pleiteada na presente NOB.
gilância Sanitária (PBVS) referente aos municípios não habilitados A habilitação de municípios à condição de gestão plena da at-
nesta NOB. enção básica é decidida na CIB dos estados habilitados às condições
a. Transferência regular e automática do Índice de valoriza- de gestão avançada e plena do sistema estadual, cabendo recurso
ção do Impacto em Vigilância Sanitária (IVISA). ao CES. A SES respectiva deve informar ao MS a habilitação procedi-
a. Remuneração por serviços produzidos na área da vigilân- da, para fins de formalização por portaria, observando as disponib-
cia sanitária. ilidades financeiras para a efetivação das transferências regulares e
a. Normalização complementar, pactuada na CIB e aprovada automáticas pertinentes. No que se refere à gestão plena do siste-
pelo CES, relativa ao pagamento de prestadores de serviços assis- ma municipal, a habilitação dos municípios é decidida na CIT, com
tenciais sob sua contratação, inclusive alteração de valores de pro- base em relatório da CIB e formalizada em ato da SAS/MS. No caso
cedimentos, tendo a tabela nacional como referência mínima. dos estados categorizados na condição de gestão convencional, a
a. Transferência de recursos referentes às ações de epide- habilitação dos municípios a qualquer das condições de gestão será
miologia e de controle de doenças. decidida na CIT, com base no processo de avaliação elaborado e
encaminhado pela CIB, e formalizada em ato do MS.
DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS A habilitação de estados a qualquer das condições de gestão
As responsabilidades que caracterizam cada uma das condições
é decidida na CIT e formalizada em ato do MS, cabendo recurso ao
de gestão definidas nesta NOB constituem um elenco mínimo e não
CNS.
impedem a incorporação de outras pactuadas na CIB e aprovadas
Os instrumentos para a comprovação do cumprimento dos
pelo CES, em especial aquelas já assumidas em decorrência da
requisitos para habilitação ao conjunto das condições de gestão de
NOB-SUS Nº 01/93.
No processo de habilitação às condições de gestão estabeleci- estados e municípios, previsto nesta NOB, estão sistematizados no
das nesta NOB, são considerados os requisitos já cumpridos para ANEXO I.
habilitação nos termos da NOB-SUS Nº 01/93, cabendo ao municí- Os municípios e estados habilitados na forma da NOB-SUS Nº
pio ou ao estado pleiteante a comprovação exclusiva do cumpri- 01/93 permanecem nas respectivas condições de gestão até sua ha-
mento dos requisitos introduzidos ou alterados pela presente Nor- bilitação em uma das condições estabelecidas por esta NOB, ou até
ma Operacional, observando os seguintes procedimentos: a data limite a ser fixada pela CIT.
-para que os municípios habilitados atualmente nas condições A partir da data da publicação desta NOB, não serão procedidas
de gestão incipiente e parcial possam assumir a condição plena novas habilitações ou alterações de condição de gestão na forma
da atenção básica definida nesta NOB, devem apresentar à CIB os da NOB-SUS Nº 01/93. Ficam excetuados os casos já aprovados nas
seguintes documentos, que completam os requisitos para habili- CIB, que devem ser protocolados na CIT, no prazo máximo de 30
tação: dias.
-ofício do gestor municipal pleiteando a alteração na condição A partir da publicação desta NOB, ficam extintos o Fator de
de gestão; Apoio ao Estado, o Fator de Apoio ao Município e as transferên-
-ata do CMS aprovando o pleito de mudança de habilitação; cias dos saldos de teto financeiro relativos às condições de gestão
-ata das três últimas reuniões do CMS; municipal e estadual parciais, previstos, respectivamente, nos itens
-extrato de movimentação bancária do Fundo Municipal de 3.1.4; 3.2; 4.1.2 e 4.2.1 da NOB-SUS Nº 01/93.
Saúde relativo ao trimestre anterior à apresentação do pleito; A permanência do município na condição de gestão a que for
-comprovação, pelo gestor municipal, de condições técnicas habilitado, na forma desta NOB, está sujeita a processo permanente
para processar o SIA/SUS; de acompanhamento e avaliação, realizado pela SES e submetido à
-declaração do gestor municipal comprometendo-se a alimen- apreciação da CIB, tendo por base critérios estabelecidos pela CIB e
tar, junto à SES, o banco de dados nacional do SIA/SUS; pela CIT, aprovados pelos respectivos Conselhos de Saúde.
-proposta aprazada de estruturação do serviço de controle e De maneira idêntica, a permanência do estado na condição de
avaliação municipal; gestão a que for habilitado, na forma desta NOB, está sujeita a pro-
-comprovação da garantia de oferta do conjunto de procedi- cesso permanente de acompanhamento e avaliação, realizado pelo
mentos coberto pelo PAB; e
MS e submetido à apreciação da CIT, tendo por base critérios esta-
-ata de aprovação do relatório de gestão no CMS;
belecidos por esta Comissão e aprovados pelo CNS.
-para que os municípios habilitados atualmente na condição de
O gestor do município habilitado na condição de Gestão Plena
gestão semiplena possam assumir a condição de gestão plena do
da Atenção Básica que ainda não dispõe de serviços suficientes para
sistema municipal definida nesta NOB, devem comprovar à CIB:
-a aprovação do relatório de gestão pelo CMS, mediante apre- garantir, à sua população, a totalidade de procedimentos cobertos
sentação da ata correspondente; pelo PAB, pode negociar, diretamente, com outro gestor municipal,
-a existência de serviços que executem os procedimentos cob- a compra dos serviços não disponíveis, até que essa oferta seja ga-
ertos pelo PAB no seu território, e de serviços de apoio diagnósti- rantida no próprio município.
co em patologia clínica e radiologia básica simples, oferecidos no Para implantação do PAB, ficam as CIB autorizadas a estabe-
próprio município ou contratados de outro gestor municipal; lecer fatores diferenciados de ajuste até um valor máximo fixado
-a estruturação do componente municipal do SNA; e pela CIT e formalizado por portaria do Ministério (SAS/MS). Esses
-a integração e articulação do município na rede estadual e re- fatores são destinados aos municípios habilitados, que apresentam
spectivas responsabilidades na PPI. Caso o município não atenda a gastos per capita em ações de atenção básica superiores ao valor
esse requisito, pode ser enquadrado na condição de gestão plena per capita nacional único (base de cálculo do PAB), em decorrência
da atenção básica até que disponha de tais condições, submeten- de avanços na organização do sistema. O valor adicional atribuído a
do-se, neste caso, aos mesmos procedimentos referidos no item cada município é formalizado em ato próprio da SES.
17.2.1;

37
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
O valor per capita nacional único, base de cálculo do PAB, é • TFAE - Teto Financeiro da Assistência do Estado
aplicado a todos os municípios, habilitados ou não nos termos desta • TFAM - Teto Financeiro da Assistência do Município
NOB. Aos municípios não habilitados, o valor do PAB é limitado ao • TFECD - Teto Financeiro da Epidemiologia e Controle de
montante do valor per capita nacional multiplicado pela população Doenças
e pago por produção de serviço. • TFG - Teto Financeiro Global
Num primeiro momento, em face da inadequação dos sistemas • TFGE - Teto Financeiro Global do Estado
de informação de abrangência nacional para aferição de resultados, • TFGM - Teto Financeiro Global do Município
o IVR é atribuído aos estados a título de valorização de desempen- • TFVS - Teto Financeiro da Vigilância Sanitária
ho na gestão do Sistema, conforme critérios estabelecidos pela CIT
e formalizados por portaria do Ministério (SAS/MS).
O MS continua efetuando pagamento por produção de serviços
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): EVOLUÇÃO, PRINCÍ-
(relativos aos procedimentos cobertos pelo PAB) diretamente aos
PIOS E DIRETRIZES
prestadores, somente no caso daqueles municípios não-habilitados
na forma desta NOB, situados em estados em gestão convencional. O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)?
Também em relação aos procedimentos cobertos pela FAE, O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores e mais com-
o MS continua efetuando o pagamento por produção de serviços plexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o
diretamente a prestadores, somente no caso daqueles municípios simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio
habilitados em gestão plena da atenção básica e os não habilitados, da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo aces-
na forma desta NOB, situados em estados em gestão convencional. so integral, universal e gratuito para toda a população do país. Com
As regulamentações complementares necessárias à operacion- a sua criação, o SUS proporcionou o acesso universal ao sistema pú-
alização desta NOB são objeto de discussão e negociação na CIT, blico de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não
observadas as diretrizes estabelecidas pelo CNS, com posterior for- somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos
malização, mediante portaria do MS. os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde
com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde.
SIGLAS UTILIZADAS A gestão das ações e dos serviços de saúde deve ser solidária e
• AIH - Autorização de Internação Hospitalar participativa entre os três entes da Federação: a União, os Estados
• CES - Conselho Estadual de Saúde e os municípios. A rede que compõe o SUS é ampla e abrange tan-
• CIB - Comissão Intergestores Bipartite to ações quanto os serviços de saúde. Engloba a atenção primária,
• CIT - Comissão Intergestores Tripartite média e alta complexidades, os serviços urgência e emergência, a
• CMS - Conselho Municipal de Saúde atenção hospitalar, as ações e serviços das vigilâncias epidemiológi-
• CNS - Conselho Nacional de Saúde ca, sanitária e ambiental e assistência farmacêutica.
• COFINS - Contribuição Social para o Financiamento da Se-
guridade Social AVANÇO: Conforme a Constituição Federal de 1988 (CF-88), a
• CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais “Saúde é direito de todos e dever do Estado”. No período anterior a
de Saúde CF-88, o sistema público de saúde prestava assistência apenas aos
• CONASS - Conselho Nacional de Secretários Estaduais de trabalhadores vinculados à Previdência Social, aproximadamente
Saúde 30 milhões de pessoas com acesso aos serviços hospitalares, caben-
• FAE - Fração Assistencial Especializada do o atendimento aos demais cidadãos às entidades filantrópicas.
• FIDEPS - Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino
e da Pesquisa Estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS)
• FNS - Fundação Nacional de Saúde O Sistema Único de Saúde (SUS) é composto pelo Ministério da
• INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social Saúde, Estados e Municípios, conforme determina a Constituição
• IVH-E - Índice de Valorização Hospitalar de Emergência Federal. Cada ente tem suas co-responsabilidades.
• IVISA - Índice de Valorização do Impacto em Vigilânica Sa-
nitária Ministério da Saúde
• IVR - Índice de Valorização de Resultados Gestor nacional do SUS, formula, normatiza, fiscaliza, monitora
• MS - Ministério da Saúde e avalia políticas e ações, em articulação com o Conselho Nacional
• NOB - Norma Operacional Básica de Saúde. Atua no âmbito da Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
• PAB - Piso Assistencial Básico. para pactuar o Plano Nacional de Saúde. Integram sua estrutura:
• PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde Fiocruz, Funasa, Anvisa, ANS, Hemobrás, Inca, Into e oito hospitais
• PBVS - Piso Básico de Vigilância Sanitária federais.
• PDAVS - Programa Desconcentrado de Ações de Vigilância
Sanitária Secretaria Estadual de Saúde (SES)
• PPI - Programação Pactuada e Integrada Participa da formulação das políticas e ações de saúde, pres-
• PSF - Programa de Saúde da Família ta apoio aos municípios em articulação com o conselho estadual e
• SAS - Secretaria de Assistência à Saúde participa da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para aprovar e
• SES - Secretaria Estadual de Saúde implementar o plano estadual de saúde.
• SIA/SUS - Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS
• SIH/SUS - Sistema de Informações Hospitalares do SUS Secretaria Municipal de Saúde (SMS)
• SMS - Secretaria Municipal de Saúde Planeja, organiza, controla, avalia e executa as ações e serviços
• SNA - Sistema Nacional de Auditoria de saúde em articulação com o conselho municipal e a esfera esta-
• SUS - Sistema Único de Saúde dual para aprovar e implantar o plano municipal de saúde.
• SVS - Secretaria de Vigilância Sanitária
• TFA - Teto Financeiro da Assistência

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Conselhos de Saúde Municípios
O Conselho de Saúde, no âmbito de atuação (Nacional, Esta- São responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde
dual ou Municipal), em caráter permanente e deliberativo, órgão no âmbito do seu território.O gestor municipal deve aplicar recur-
colegiado composto por representantes do governo, prestadores sos próprios e os repassados pela União e pelo estado. O município
de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos par-
de estratégias e no controle da execução da política de saúde na ceiros para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saú-
instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e fi- de. Ele coordena e planeja o SUS em nível municipal, respeitando a
nanceiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder normatização federal. Pode estabelecer parcerias com outros mu-
legalmente constituído em cada esfera do governo. nicípios para garantir o atendimento pleno de sua população, para
Cabe a cada Conselho de Saúde definir o número de membros, procedimentos de complexidade que estejam acima daqueles que
que obedecerá a seguinte composição: 50% de entidades e movi- pode oferecer.
mentos representativos de usuários; 25% de entidades representa-
tivas dos trabalhadores da área de saúde e 25% de representação História do sistema único de saúde (SUS)
de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem As duas últimas décadas foram marcadas por intensas transfor-
fins lucrativos. mações no sistema de saúde brasileiro, intimamente relacionadas
com as mudanças ocorridas no âmbito político-institucional. Simul-
Comissão Intergestores Tripartite (CIT) taneamente ao processo de redemocratização iniciado nos anos 80,
Foro de negociação e pactuação entre gestores federal, esta- o país passou por grave crise na área econômico-financeira.
dual e municipal, quanto aos aspectos operacionais do SUS No início da década de 80, procurou-se consolidar o processo
de expansão da cobertura assistencial iniciado na segunda metade
Comissão Intergestores Bipartite (CIB) dos anos 70, em atendimento às proposições formuladas pela OMS
Foro de negociação e pactuação entre gestores estadual e mu- na Conferência de Alma-Ata (1978), que preconizava “Saúde para
nicipais, quanto aos aspectos operacionais do SUS Todos no Ano 2000”, principalmente por meio da Atenção Primária
à Saúde.
Conselho Nacional de Secretário da Saúde (Conass) Nessa mesma época, começa o Movimento da Reforma Sa-
Entidade representativa dos entes estaduais e do Distrito Fede- nitária Brasileira, constituído inicialmente por uma parcela da in-
ral na CIT para tratar de matérias referentes à saúde telectualidade universitária e dos profissionais da área da saúde.
Posteriormente, incorporaram-se ao movimento outros segmentos
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Co- da sociedade, como centrais sindicais, movimentos populares de
nasems) saúde e alguns parlamentares.
Entidade representativa dos entes municipais na CIT para tratar As proposições desse movimento, iniciado em pleno regime
de matérias referentes à saúde autoritário da ditadura militar, eram dirigidas basicamente à cons-
trução de uma nova política de saúde efetivamente democrática,
Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) considerando a descentralização, universalização e unificação como
São reconhecidos como entidades que representam os entes elementos essenciais para a reforma do setor.
municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes Várias foram às propostas de implantação de uma rede de ser-
à saúde, desde que vinculados institucionalmente ao Conasems, na viços voltada para a atenção primária à saúde, com hierarquização,
forma que dispuserem seus estatutos. descentralização e universalização, iniciando-se já a partir do Pro-
grama de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS),
Responsabilidades dos entes que compõem o SUS em 1976.
Em 1980, foi criado o Programa Nacional de Serviços Básicos
União de Saúde (PREV-SAÚDE) - que, na realidade, nunca saiu do papel -,
A gestão federal da saúde é realizada por meio do Ministério da logo seguida pelo plano do Conselho Nacional de Administração da
Saúde. O governo federal é o principal financiador da rede pública Saúde Previdenciária (CONASP), em 1982 a partir do qual foi imple-
de saúde. Historicamente, o Ministério da Saúde aplica metade de mentada a política de Ações Integradas de Saúde (AIS), em 1983.
todos os recursos gastos no país em saúde pública em todo o Brasil, Essas constituíram uma estratégia de extrema importância para o
e estados e municípios, em geral, contribuem com a outra meta- processo de descentralização da saúde.
de dos recursos. O Ministério da Saúde formula políticas nacionais A 8ª Conferência Nacional da Saúde, realizada em março de
de saúde, mas não realiza as ações. Para a realização dos projetos, 1986, considerada um marco histórico, consagra os princípios pre-
depende de seus parceiros (estados, municípios, ONGs, fundações, conizados pelo Movimento da Reforma Sanitária.
empresas, etc.). Também tem a função de planejar, elabirar nor- Em 1987 é implementado o Sistema Unificado e Descentrali-
mas, avaliar e utilizar instrumentos para o controle do SUS. zado de Saúde (SUDS), como uma consolidação das Ações Integra-
das de Saúde (AIS), que adota como diretrizes a universalização e
Estados e Distrito Federal a equidade no acesso aos serviços, à integralidade dos cuidados,
Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de a regionalização dos serviços de saúde e implementação de distri-
saúde. O gestor estadual deve aplicar recursos próprios, inclusive tos sanitários, a descentralização das ações de saúde, o desenvolvi-
nos municípios, e os repassados pela União. Além de ser um dos mento de instituições colegiadas gestoras e o desenvolvimento de
parceiros para a aplicação de políticas nacionais de saúde, o estado uma política de recursos humanos.
formula suas próprias políticas de saúde. Ele coordena e planeja o O capítulo dedicado à saúde na nova Constituição Federal, pro-
SUS em nível estadual, respeitando a normatização federal. Os ges- mulgada em outubro de 1988, retrata o resultado de todo o proces-
tores estaduais são responsáveis pela organização do atendimento so desenvolvido ao longo dessas duas décadas, criando o Sistema
à saúde em seu território. Único de Saúde (SUS) e determinando que “a saúde é direito de
todos e dever do Estado” (art. 196).

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Entre outros, a Constituição prevê o acesso universal e igua- Institui as instâncias colegiadas e os instrumentos de participa-
litário às ações e serviços de saúde, com regionalização e hierar- ção social em cada esfera de governo.
quização, descentralização com direção única em cada esfera de
governo, participação da comunidade e atendimento integral, com Responsabilização Sanitária
prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços Desenvolver responsabilização sanitária é estabelecer clara-
assistenciais. mente as atribuições de cada uma das esferas de gestão da saú-
A Lei nº 8.080, promulgada em 1990, operacionaliza as disposi- de pública, assim como dos serviços e das equipes que compõem
ções constitucionais. São atribuições do SUS em seus três níveis de o SUS, possibilitando melhor planejamento, acompanhamento e
governo, além de outras, “ordenar a formação de recursos huma- complementaridade das ações e dos serviços. Os prefeitos, ao as-
nos na área de saúde” (CF, art. 200, inciso III). sumir suas responsabilidades, devem estimular a responsabilização
junto aos gerentes e equipes, no âmbito municipal, e participar do
Princípios do SUS processo de pactuação, no âmbito regional.
São conceitos que orientam o SUS, previstos no artigo 198 da
Constituição Federal de 1988 e no artigo 7º do Capítulo II da Lei n.º Responsabilização Macrossanitária
8.080/1990. Os principais são: O gestor municipal, para assegurar o direito à saúde de seus
Universalidade: significa que o SUS deve atender a todos, sem munícipes, deve assumir a responsabilidade pelos resultados, bus-
distinções ou restrições, oferecendo toda a atenção necessária, cando reduzir os riscos, a mortalidade e as doenças evitáveis, a
sem qualquer custo; exemplo da mortalidade materna e infantil, da hanseníase e da tu-
Integralidade: o SUS deve oferecer a atenção necessária à saú- berculose. Para isso, tem de se responsabilizar pela oferta de ações
de da população, promovendo ações contínuas de prevenção e tra- e serviços que promovam e protejam a saúde das pessoas, previ-
tamento aos indivíduos e às comunidades, em quaisquer níveis de nam as doenças e os agravos e recuperem os doentes. A atenção
complexidade; básica à saúde, por reunir esses três componentes, coloca-se como
Equidade: o SUS deve disponibilizar recursos e serviços com responsabilidade primeira e intransferível a todos os gestores. O
justiça, de acordo com as necessidades de cada um, canalizando cumprimento dessas responsabilidades exige que assumam as atri-
maior atenção aos que mais necessitam; buições de gestão, incluindo:
Participação social: é um direito e um dever da sociedade par- - execução dos serviços públicos de responsabilidade municipal;
ticipar das gestões públicas em geral e da saúde pública em par- - destinação de recursos do orçamento municipal e utilização
ticular; é dever do Poder Público garantir as condições para essa do conjunto de recursos da saúde, com base em prioridades defini-
participação, assegurando a gestão comunitária do SUS; e das no Plano Municipal de Saúde;
Descentralização: é o processo de transferência de responsabi- - planejamento, organização, coordenação, controle e avalia-
lidades de gestão para os municípios, atendendo às determinações ção das ações e dos serviços de saúde sob gestão municipal; e
constitucionais e legais que embasam o SUS, definidor de atribui- - participação no processo de integração ao SUS, em âmbito
ções comuns e competências específicas à União, aos estados, ao regional e estadual, para assegurar a seus cidadãos o acesso a servi-
Distrito Federal e aos municípios.
ços de maior complexidade, não disponíveis no município.
Principais leis
Responsabilização Microssanitária
Constituição Federal de 1988: Estabelece que “a saúde é direi-
É determinante que cada serviço de saúde conheça o território
to de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
sob sua responsabilidade. Para isso, as unidades da rede básica de-
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
vem estabelecer uma relação de compromisso com a população a
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
ela adstrita e cada equipe de referência deve ter sólidos vínculos te-
para sua promoção, proteção e recuperação”. Determina ao Poder
rapêuticos com os pacientes e seus familiares, proporcionando-lhes
Público sua “regulamentação, fiscalização e controle”, que as ações
e os serviços da saúde “integram uma rede regionalizada e hierar- abordagem integral e mobilização dos recursos e apoios necessá-
quizada e constituem um sistema único”; define suas diretrizes, rios à recuperação de cada pessoa. A alta só deve ocorrer quando
atribuições, fontes de financiamento e, ainda, como deve se dar a da transferência do paciente a outra equipe (da rede básica ou de
participação da iniciativa privada. outra área especializada) e o tempo de espera para essa transfe-
rência não pode representar uma interrupção do atendimento: a
Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei n.º 8.080/1990: Regulamen- equipe de referência deve prosseguir com o projeto terapêutico,
ta, em todo o território nacional, as ações do SUS, estabelece as interferindo, inclusive, nos critérios de acesso.
diretrizes para seu gerenciamento e descentralização e detalha as
competências de cada esfera governamental. Enfatiza a descentra- Instâncias de Pactuação
lização político-administrativa, por meio da municipalização dos São espaços intergovernamentais, políticos e técnicos onde
serviços e das ações de saúde, com redistribuição de poder, com- ocorrem o planejamento, a negociação e a implementação das po-
petências e recursos, em direção aos municípios. Determina como líticas de saúde pública. As decisões se dão por consenso (e não
competência do SUS a definição de critérios, valores e qualidade por votação), estimulando o debate e a negociação entre as partes.
dos serviços. Trata da gestão financeira; define o Plano Municipal Comissão Intergestores Tripartite (CIT): Atua na direção nacio-
de Saúde como base das atividades e da programação de cada nível nal do SUS, formada por composição paritária de 15 membros, sen-
de direção do SUS e garante a gratuidade das ações e dos serviços do cinco indicados pelo Ministério da Saúde, cinco pelo Conselho
nos atendimentos públicos e privados contratados e conveniados. Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) e cinco pelo
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems).
Lei n.º 8.142/1990: Dispõe sobre o papel e a participação das A representação de estados e municípios nessa Comissão é, por-
comunidades na gestão do SUS, sobre as transferências de recursos tanto regional: um representante para cada uma das cinco regiões
financeiros entre União, estados, Distrito Federal e municípios na existentes no País.
área da saúde e dá outras providências.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Comissões Intergestores Bipartites (CIB): São constituídas pa- Plano de saúde fixa diretriz e metas à saúde municipal
ritariamente por representantes do governo estadual, indicados É responsabilidade do gestor municipal desenvolver o proces-
pelo Secretário de Estado da Saúde, e dos secretários municipais de so de planejamento, programação e avaliação da saúde local, de
saúde, indicados pelo órgão de representação do conjunto dos mu- modo a atender as necessidades da população de seu município
nicípios do Estado, em geral denominado Conselho de Secretários com eficiência e efetividade. O Plano Municipal de Saúde (PMS)
Municipais de Saúde (Cosems). Os secretários municipais de Saúde deve orientar as ações na área, incluindo o orçamento para a sua
costumam debater entre si os temas estratégicos antes de apresen- execução. Um instrumento fundamental para nortear a elaboração
tarem suas posições na CIB. Os Cosems são também instâncias de do PMS é o Plano Nacional de Saúde. Cabe ao Conselho Municipal
articulação política entre gestores municipais de saúde, sendo de ex- de Saúde estabelecer as diretrizes para a formulação do PMS, em
trema importância a participação dos gestores locais nesse espaço. função da análise da realidade e dos problemas de saúde locais,
Espaços regionais: A implementação de espaços regionais de assim como dos recursos disponíveis.
pactuação, envolvendo os gestores municipais e estaduais, é uma No PMS, devem ser descritos os principais problemas da saúde
necessidade para o aperfeiçoamento do SUS. Os espaços regionais pública local, suas causas, consequências e pontos críticos. Além
devem-se organizar a partir das necessidades e das afinidades espe- disso, devem ser definidos os objetivos e metas a serem atingidos,
cíficas em saúde existentes nas regiões. as atividades a serem executadas, os cronogramas, as sistemáticas
de acompanhamento e de avaliação dos resultados.
Descentralização
O princípio de descentralização que norteia o SUS se dá, espe- Sistemas de informações ajudam a planejar a saúde: O SUS
cialmente, pela transferência de responsabilidades e recursos para opera e/ou disponibiliza um conjunto de sistemas de informações
a esfera municipal, estimulando novas competências e capacidades estratégicas para que os gestores avaliem e fundamentem o pla-
político-institucionais dos gestores locais, além de meios adequa- nejamento e a tomada de decisões, abrangendo: indicadores de
dos à gestão de redes assistenciais de caráter regional e macror- saúde; informações de assistência à saúde no SUS (internações
regional, permitindo o acesso, a integralidade da atenção e a ra- hospitalares, produção ambulatorial, imunização e atenção básica);
cionalização de recursos. Os estados e a União devem contribuir rede assistencial (hospitalar e ambulatorial); morbidade por local
para a descentralização do SUS, fornecendo cooperação técnica e de internação e residência dos atendidos pelo SUS; estatísticas
financeira para o processo de municipalização. vitais (mortalidade e nascidos vivos); recursos financeiros, infor-
mações demográficas, epidemiológicas e socioeconômicas. Cami-
Regionalização: consensos e estratégias - As ações e os ser- nha-se rumo à integração dos diversos sistemas informatizados de
viços de saúde não podem ser estruturados apenas na escala dos base nacional, que podem ser acessados no site do Datasus. Nesse
municípios. Existem no Brasil milhares de pequenas municipalida- processo, a implantação do Cartão Nacional de Saúde tem papel
des que não possuem em seus territórios condições de oferecer central. Cabe aos prefeitos conhecer e monitorar esse conjunto de
serviços de alta e média complexidade; por outro lado, existem informações essenciais à gestão da saúde do seu município.
municípios que apresentam serviços de referência, tornando-se
polos regionais que garantem o atendimento da sua população e Níveis de atenção à saúde: O SUS ordena o cuidado com a saú-
de municípios vizinhos. Em áreas de divisas interestaduais, são fre- de em níveis de atenção, que são de básica, média e alta complexi-
quentes os intercâmbios de serviços entre cidades próximas, mas dade. Essa estruturação visa à melhor programação e planejamento
de estados diferentes. Por isso mesmo, a construção de consensos das ações e dos serviços do sistema de saúde. Não se deve, porém,
e estratégias regionais é uma solução fundamental, que permitirá desconsiderar algum desses níveis de atenção, porque a atenção à
ao SUS superar as restrições de acesso, ampliando a capacidade de saúde deve ser integral.
atendimento e o processo de descentralização. A atenção básica em saúde constitui o primeiro nível de aten-
O Sistema Hierarquizado e Descentralizado: As ações e servi- ção à saúde adotada pelo SUS. É um conjunto de ações que engloba
ços de saúde de menor grau de complexidade são colocadas à dis- promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. De-
posição do usuário em unidades de saúde localizadas próximas de senvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias, democrá-
seu domicílio. As ações especializadas ou de maior grau de comple- ticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas
xidade são alcançadas por meio de mecanismos de referência, or- a populações de territórios delimitados, pelos quais assumem res-
ganizados pelos gestores nas três esferas de governo. Por exemplo: ponsabilidade.
O usuário é atendido de forma descentralizada, no âmbito do mu- Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade,
nicípio ou bairro em que reside. Na hipótese de precisar ser atendi- objetivando solucionar os problemas de saúde de maior frequência
do com um problema de saúde mais complexo, ele é referenciado, e relevância das populações. É o contato preferencial dos usuários
isto é, encaminhado para o atendimento em uma instância do SUS com o sistema de saúde. Deve considerar o sujeito em sua singu-
mais elevada, especializada. Quando o problema é mais simples, o laridade, complexidade, inteireza e inserção sociocultural, além
cidadão pode ser contrarreferenciado, isto é, conduzido para um de buscar a promoção de sua saúde, a prevenção e tratamento de
atendimento em um nível mais primário. doenças e a redução de danos ou de sofrimentos que possam com-
prometer suas possibilidades de viver de modo saudável.

As Unidades Básicas são prioridades porque, quando as Unida-


des Básicas de Saúde funcionam adequadamente, a comunidade
consegue resolver com qualidade a maioria dos seus problemas de
saúde. É comum que a primeira preocupação de muitos prefeitos
se volte para a reforma ou mesmo a construção de hospitais. Para o
SUS, todos os níveis de atenção são igualmente importantes, mas a
prática comprova que a atenção básica deve ser sempre prioritária,
porque possibilita melhor organização e funcionamento também
dos serviços de média e alta complexidade.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos so- e a hanseníase. Observamos, ainda, aumento da mortalidade por
corros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso causas externas, como acidentes de trânsito, conflitos, homicídios e
indiscriminado de equipamentos de alta tecnologia. Isso porque suicídios, atingindo, principalmente, jovens e população em idade
os problemas de saúde mais comuns passam a ser resolvidos nas produtiva. Nesse contexto, o Ministério da Saúde com o objetivo de
Unidades Básicas de Saúde, deixando os ambulatórios de especiali- integração, fortalecimento da capacidade de gestão e redução da
dades e hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resulta morbimortalidade, bem como dos fatores de risco associados à saú-
em maior satisfação dos usuários e utilização mais racional dos re- de, expande o objeto da vigilância em saúde pública, abrangendo as
cursos existentes. áreas de vigilância das doenças transmissíveis, agravos e doenças
não transmissíveis e seus fatores de riscos; a vigilância ambiental
Saúde da Família: é a saúde mais perto do cidadão. É parte em saúde e a análise de situação de saúde.
da estratégia de estruturação eleita pelo Ministério da Saúde para
reorganização da atenção básica no País, com recursos financeiros Competências municipais na vigilância em saúde
específicos para o seu custeio. Cada equipe é composta por um con- Compete aos gestores municipais, entre outras atribuições, as
junto de profissionais (médico, enfermeiro, auxiliares de enferma- atividades de notificação e busca ativa de doenças compulsórias,
gem e agentes comunitários de saúde, podendo agora contar com surtos e agravos inusitados; investigação de casos notificados em
profissional de saúde bucal) que se responsabiliza pela situação de seu território; busca ativa de declaração de óbitos e de nascidos vi-
saúde de determinada área, cuja população deve ser de no mínimo vos; garantia a exames laboratoriais para o diagnóstico de doenças
2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Essa população deve ser cadas- de notificação compulsória; monitoramento da qualidade da água
trada e acompanhada, tornando-se responsabilidade das equipes para o consumo humano; coordenação e execução das ações de
atendê-la, entendendo suas necessidades de saúde como resultado vacinação de rotina e especiais (campanhas e vacinações de blo-
também das condições sociais, ambientais e econômicas em que queio); vigilância epidemiológica; monitoramento da mortalidade
vive. Os profissionais é que devem ir até suas casas, porque o objeti- infantil e materna; execução das ações básicas de vigilância sanitá-
vo principal da Saúde da Família é justamente aproximar as equipes ria; gestão e/ou gerência dos sistemas de informação epidemioló-
das comunidades e estabelecer entre elas vínculos sólidos. gica, no âmbito municipal; coordenação, execução e divulgação das
atividades de informação, educação e comunicação de abrangência
A saúde municipal precisa ser integral. O município é respon-
municipal; participação no financiamento das ações de vigilância
sável pela saúde de sua população integralmente, ou seja, deve
em saúde e capacitação de recursos.
garantir que ela tenha acessos à atenção básica e aos serviços espe-
cializados (de média e alta complexidade), mesmo quando localiza-
Desafios públicos, responsabilidades compartilhadas: A legis-
dos fora de seu território, controlando, racionalizando e avaliando
lação brasileira – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e legislação
os resultados obtidos.
sanitária, incluindo as Leis n.º 8.080/1990 e 8.142/1990 – estabe-
Só assim estará promovendo saúde integral, como determina
lece prerrogativas, deveres e obrigações a todos os governantes. A
a legislação. É preciso que isso fique claro, porque muitas vezes o
gestor municipal entende que sua responsabilidade acaba na aten- Constituição Federal define os gastos mínimos em saúde, por es-
ção básica em saúde e que as ações e os serviços de maior comple- fera de governo, e a legislação sanitária, os critérios para as trans-
xidade são responsabilidade do Estado ou da União – o que não é ferências intergovernamentais e alocação de recursos financeiros.
verdade. Essa vinculação das receitas objetiva preservar condições mínimas
A promoção da saúde é uma estratégia por meio da qual os e necessárias ao cumprimento das responsabilidades sanitárias e
desafios colocados para a saúde e as ações sanitárias são pensa- garantir transparência na utilização dos recursos disponíveis. A res-
dos em articulação com as demais políticas e práticas sanitárias e ponsabilização fiscal e sanitária de cada gestor e servidor público
com as políticas e práticas dos outros setores, ampliando as pos- deve ser compartilhada por todos os entes e esferas governamen-
sibilidades de comunicação e intervenção entre os atores sociais tais, resguardando suas características, atribuições e competências.
envolvidos (sujeitos, instituições e movimentos sociais). A promo- O desafio primordial dos governos, sobretudo na esfera municipal,
ção da saúde deve considerar as diferenças culturais e regionais, é avançar na transformação dos preceitos constitucionais e legais
entendendo os sujeitos e as comunidades na singularidade de suas que constituem o SUS em serviços e ações que assegurem o direi-
histórias, necessidades, desejos, formas de pertencer e se relacio- to à saúde, como uma conquista que se realiza cotidianamente em
nar com o espaço em que vivem. Significa comprometer-se com os cada estabelecimento, equipe e prática sanitária.
sujeitos e as coletividades para que possuam, cada vez mais, auto- É preciso inovar e buscar, coletiva e criativamente, soluções
nomia e capacidade para manejar os limites e riscos impostos pela novas para os velhos problemas do nosso sistema de saúde. A cons-
doença, pela constituição genética e por seu contexto social, polí- trução de espaços de gestão que permitam a discussão e a crítica,
tico, econômico e cultural. A promoção da saúde coloca, ainda, o em ambiente democrático e plural, é condição essencial para que o
desafio da intersetorialidade, com a convocação de outros setores SUS seja, cada vez mais, um projeto que defenda e promova a vida.
sociais e governamentais para que considerem parâmetros sanitá-
rios, ao construir suas políticas públicas específicas, possibilitando a Muitos municípios operam suas ações e serviços de saúde em
realização de ações conjuntas. condições desfavoráveis, dispondo de recursos financeiros e equi-
pes insuficientes para atender às demandas dos usuários, seja em
Vigilância em saúde: expande seus objetivos. Em um país com volume, seja em complexidade – resultado de uma conjuntura so-
as dimensões do Brasil, com realidades regionais bastante diver- cial de extrema desigualdade. Nessas situações, a gestão pública
sificadas, a vigilância em saúde é um grande desafio. Apesar dos em saúde deve adotar condução técnica e administrativa compa-
avanços obtidos, como a erradicação da poliomielite, desde 1989, tível com os recursos existentes e criativa em sua utilização. Deve
e com a interrupção da transmissão de sarampo, desde 2000, con- estabelecer critérios para a priorização dos gastos, orientados por
vivemos com doenças transmissíveis que persistem ou apresentam análises sistemáticas das necessidades em saúde, verificadas junto
incremento na incidência, como a AIDS, as hepatites virais, as me- à população. É um desafio que exige vontade política, propostas
ningites, a malária na região amazônica, a dengue, a tuberculose inventivas e capacidade de governo.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios compar- participar, complementarmente, do setor público; -- e o art. 200, das
tilham as responsabilidades de promover a articulação e a interação atribuições dos órgãos e entidades que compõem o sistema público de
dentro do Sistema Único de Saúde – SUS, assegurando o acesso uni- saúde. O SUS é mencionado somente nos arts. 198 e 200.
versal e igualitário às ações e serviços de saúde. A leitura do art. 198 deve sempre ser feita em consonância com
O SUS é um sistema de saúde, regionalizado e hierarquizado, a segunda parte do art. 196 e com o art. 200. O art. 198 estatui que
que integra o conjunto das ações de saúde da União, Estados, Distri- todas as ações e serviços públicos de saúde constituem um único
to Federal e Municípios, onde cada parte cumpre funções e compe- sistema. Aqui temos o SUS. E esse sistema tem como atribuição ga-
tências específicas, porém articuladas entre si, o que caracteriza os rantir ao cidadão o acesso às ações e serviços públicos de saúde
níveis de gestão do SUS nas três esferas governamentais. (segunda parte do art. 196), conforme campo demarcado pelo art.
Criado pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela 200 e leis específicas.
Lei nº 8.080/90, conhecida como a Lei Orgânica da Saúde, e pela Lei O art. 200 define em que campo deve o SUS atuar. As atribui-
nº 8.142/90, que trata da participação da comunidade na gestão ções ali relacionadas não são taxativas ou exaustivas. Outras pode-
do Sistema e das transferências intergovernamentais de recursos rão existir, na forma da lei. E as atribuições ali elencadas dependem,
financeiros, o SUS tem normas e regulamentos que disciplinam as também, de lei para a sua exequibilidade.
políticas e ações em cada Subsistema. Em 1990, foi editada a Lei n. 8.080/90 que, em seus arts. 5º e
A Sociedade, nos termos da Legislação, participa do planeja- 6º, cuidou dos objetivos e das atribuições do SUS, tentando melhor
mento e controle da execução das ações e serviços de saúde. Essa explicitar o art. 200 da CF (ainda que, em alguns casos, tenha repe-
participação se dá por intermédio dos Conselhos de Saúde, presen- tido os incisos daquele artigo, tão somente).
tes na União, nos Estados e Municípios. São objetivos do SUS:
a) a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e de-
Níveis de Gestão do SUS terminantes da saúde;
Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação da b) a formulação de políticas de saúde destinadas a promover,
política estadual de saúde, coordenação e planejamento do SUS em nos campos econômico e social, a redução de riscos de doenças e
nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de saúde por outros agravos; e
meio da aplicação/distribuição de recursos públicos arrecadados. c) execução de ações de promoção, proteção e recuperação
Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - Formu- da saúde, integrando as ações assistenciais com as preventivas, de
lação da política municipal de saúde e a provisão das ações e ser- modo a garantir às pessoas a assistência integral à sua saúde.
viços de saúde, financiados com recursos próprios ou transferidos O art. 6º, estabelece como competência do Sistema a execução
pelo gestor federal e/ou estadual do SUS. de ações e serviços de saúde descritos em seus 11 incisos.
Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde - For- O SUS deve atuar em campo demarcado pela lei, em razão do
mulação de políticas nacionais de saúde, planejamento, normaliza- disposto no art. 200 da CF e porque o enunciado constitucional de
ção, avaliação e controle do SUS em nível nacional. Financiamento que saúde é direito de todos e dever do Estado, não tem o condão
das ações e serviços de saúde por meio da aplicação/distribuição de de abranger as condicionantes econômico-sociais da saúde, tam-
recursos públicos arrecadados. pouco compreender, de forma ampla e irrestrita, todas as possíveis
e imagináveis ações e serviços de saúde, até mesmo porque haverá
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE sempre um limite orçamentário e um ilimitado avanço tecnológico
Pela dicção dos arts. 196 e 198 da CF, podemos afirmar que a criar necessidades infindáveis e até mesmo questionáveis sob o
somente da segunda parte do art. 196 se ocupa o Sistema Único de ponto de vista ético, clínico, familiar, terapêutico, psicológico.
Saúde, de forma mais concreta e direta, sob pena de a saúde, como Será a lei que deverá impor as proporções, sem, contudo, é ob-
setor, como uma área da Administração Pública, se ver obrigada a vio, cercear o direito à promoção, proteção e recuperação da saú-
cuidar de tudo aquilo que possa ser considerado como fatores que de. E aqui o elemento delimitador da lei deverá ser o da dignidade
condicionam e interferem com a saúde individual e coletiva. Isso humana.
seria um arrematado absurdo e deveríamos ter um super Ministério Lembramos, por oportuno que, o Projeto de Lei Complementar
e super Secretarias da Saúde responsáveis por toda política social e n. 01/2003 -- que se encontra no Congresso Nacional para regu-
econômica protetivas da saúde. lamentar os critérios de rateio de transferências dos recursos da
Se a Constituição tratou a saúde sob grande amplitude, isso União para Estados e Municípios – busca disciplinar, de forma mais
não significa dizer que tudo o que está ali inserido corresponde a clara e definitiva, o que são ações e serviços de saúde e estabelecer
área de atuação do Sistema Único de Saúde. o que pode e o que não pode ser financiado com recursos dos fun-
Repassando, brevemente, aquela seção do capítulo da Seguri- dos de saúde. Esses parâmetros também servirão para circunscre-
dade Social, temos que: -- o art. 196, de maneira ampla, cuida do ver o que deve ser colocado à disposição da população, no âmbito
direito à saúde; -- o art. 197 trata da relevância pública das ações do SUS, ainda que o art. 200 da CF e o art. 6º da LOS tenham defini-
e serviços de saúde, públicos e privados, conferindo ao Estado o do o campo de atuação do SUS, fazendo pressupor o que são ações
direito e o dever de regulamentar, fiscalizar e controlar o setor (público e serviços públicos de saúde, conforme dissemos acima. (O Conse-
e privado); -- o art. 198 dispõe sobre as ações e os serviços públicos de lho Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde também disciplina-
saúde que devem ser garantidos a todos cidadãos para a sua promo- ram o que são ações e serviços de saúde em resoluções e portarias).
ção, proteção e recuperação, ou seja, dispõe sobre o Sistema Único
de Saúde; -- o art. 199, trata da liberdade da iniciativa privada, suas O QUE FINANCIAR COM OS RECURSOS DA SAÚDE?
restrições (não pode explorar o sangue, por ser bem fora do comércio; De plano, excetuam-se da área da saúde, para efeito de finan-
deve submeter-se à lei quanto à remoção de órgãos e tecidos e partes ciamento, (ainda que absolutamente relevantes como indicadores
do corpo humano; não pode contar com a participação do capital es- epidemiológicos da saúde) as condicionantes econômico-sociais.
trangeiro na saúde privada; não pode receber auxílios e subvenções, Os órgãos e entidades do SUS devem conhecer e informar à socie-
se for entidade de fins econômicos etc.) e a possibilidade de o setor dade e ao governo os fatos que interferem na saúde da população

43
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
com vistas à adoção de políticas públicas, sem, contudo, estarem a) política nacional de saúde;
obrigados a utilizar recursos do fundo de saúde para intervir nessas b) coordenação e fiscalização do Sistema Único de Saúde;
causas. c) saúde ambiental e ações de promoção, proteção e recupe-
Quem tem o dever de adotar políticas sociais e econômicas que ração da saúde individual e coletiva, inclusive a dos trabalhadores
visem evitar o risco da doença é o Governo como um todo (políticas e dos índios;
de governo), e não a saúde, como setor (políticas setoriais). A ela, d) informações em saúde;
saúde, compete atuar nos campos demarcados pelos art. 200 da CF e) insumos críticos para a saúde;
e art. 6º da Lei n. 8.080/90 e em outras leis específicas. f) ação preventiva em geral, vigilância e controle sanitário de
Como exemplo, podemos citar os servidores da saúde que de- fronteiras e de portos marítimos, fluviais e aéreos;
vem ser pagos com recursos da saúde, mas o seu inativo, não; não g) vigilância em saúde, especialmente quanto às drogas, medi-
porque os inativos devem ser pagos com recursos da Previdência camentos e alimentos;
Social. Idem quanto as ações da assistência social, como bolsa-a- h) pesquisa científica e tecnológica na área da saúde
limentação, bolsa-família, vale-gás, renda mínima, fome zero, que
devem ser financiadas com recursos da assistência social, setor ao Ao Ministério da Saúde compete a vigilância sobre alimentos
qual incumbe promover e prover as necessidades das pessoas ca- (registro, fiscalização, controle de qualidade) e não a prestação de
rentes visando diminuir as desigualdades sociais e suprir suas ca- serviços que visem fornecer alimentos às pessoas de baixa renda.
rências básicas imediatas. Isso tudo interfere com a saúde, mas não O fornecimento de cesta básica, merenda escolar, alimentação
pode ser administrada nem financiada pelo setor saúde. a crianças em idade escolar, idosos, trabalhadores rurais temporá-
O saneamento básico é outro bom exemplo. A Lei n. 8.080/90, rios, portadores de moléstias graves, conforme previsto na Lei do
em seu art. 6º, II, dispõe que o SUS deve participar na formulação Estado do Rio de Janeiro, são situações de carência que necessitam
da política e na execução de ações de saneamento básico. Por sua de apoio do Poder Público, sem sombra de dúvida, mas no âmbito
vez, o § 3º do art. 32, reza que as ações de saneamento básico que da assistência social ou de outro setor da Administração Pública e
venham a ser executadas supletivamente pelo SUS serão financia- com recursos que não os do fundo de saúde. Não podemos mais
das por recursos tarifários específicos e outros da União, Estados, confundir assistência social com saúde. A alimentação interessa à
DF e Municípios e não com os recursos dos fundos de saúde. saúde, mas não está em seu âmbito de atuação.
Nesse ponto gostaríamos de abrir um parêntese para comentar Tanto isso é fato que a Lei n. 8.080/90, em seu art. 12, estabe-
o Parecer do Sr. Procurador Geral da República, na ADIn n. 3087- leceu que “serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacio-
6/600-RJ, aqui mencionado.
nal, subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos
Ministérios e órgãos competentes e por entidades representativas
O Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela Lei n. 4.179/03,
da sociedade civil”, dispondo seu parágrafo único que “as comissões
instituiu o Programa Estadual de Acesso à Alimentação – PEAA,
intersetoriais terão a finalidade de articular políticas e programas
determinando que suas atividades correrão à conta do orçamento
do Fundo Estadual da Saúde, vinculado à Secretaria de Estado da de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não com-
Saúde. O PSDB, entendendo ser a lei inconstitucional por utilizar preendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde”. Já o seu art. 13,
recursos da saúde para uma ação que não é de responsabilidade destaca, algumas dessas atividades, mencionando em seu inciso I a
da área da saúde, moveu ação direta de inconstitucionalidade, com “alimentação e nutrição”.
pedido de cautelar. O parâmetro para o financiamento da saúde deve ser as atri-
O Sr. Procurador da República (Parecer n. 5147/CF), opinou buições que foram dadas ao SUS pela Constituição e por leis espe-
pela improcedência da ação por entender que o acesso à alimenta- cíficas e não a 1º parte do art. 196 da CF, uma vez que os fatores
ção é indissociável do acesso à saúde, assim como os medicamen- que condicionam a saúde são os mais variados e estão inseridos
tos o são e que as pessoas de baixa renda devem ter atendidas a nas mais diversas áreas da Administração Pública, não podendo ser
necessidade básica de alimentar-se. considerados como competência dos órgãos e entidades que com-
Infelizmente, mais uma vez confundiu-se “saúde” com “assis- põe o Sistema Único de Saúde.
tência social”, áreas da Seguridade Social, mas distintas entre si.
A alimentação é um fator que condiciona a saúde tanto quanto o DA INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA
saneamento básico, o meio ambiente degradado, a falta de renda Vencida esta etapa, adentramos em outra, no interior do setor
e lazer, a falta de moradia, dentre tantos outros fatores condicio- saúde - SUS, que trata da integralidade da assistência à saúde. O
nantes e determinantes, tal qual mencionado no art. 3º da Lei n. art. 198 da CF determina que o Sistema Único de Saúde deve ser
8.080/90. organizado de acordo com três diretrizes, dentre elas, o atendimen-
A Lei n. 8.080/90 ao dispor sobre o campo de atuação do SUS to integral que pressupõe a junção das atividades preventivas, que
incluiu a vigilância nutricional e a orientação alimentar, atividades devem ser priorizadas, com as atividades assistenciais, que também
complexas que não tem a ver com o fornecimento, puro e simples, não podem ser prejudicadas.
de bolsa-alimentação, vale-alimentação ou qualquer outra forma A Lei n. 8.080/90, em seu art. 7º (que dispõe sobre os princípios
de garantia de mínimos existenciais e sociais, de atribuição da assis- e diretrizes do SUS), define a integralidade da assistência como “o
tência social ou de outras áreas da Administração Pública voltadas conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e
para corrigir as desigualdades sociais. A vigilância nutricional deve curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos
ser realizada pelo SUS em articulação com outros órgãos e setores
os níveis de complexidade do sistema”.
governamentais em razão de sua interface com a saúde. São ativi-
A integralidade da assistência exige que os serviços de saúde
dades que interessam a saúde, mas as quais, a saúde como setor,
sejam organizados de forma a garantir ao indivíduo e à coletividade
não as executa. Por isso a necessidade das comissões intersetoriais
a proteção, a promoção e a recuperação da saúde, de acordo com
previstas na Lei n. 8.080/90.
A própria Lei n. 10.683/2003, que organiza a Presidência da Re- as necessidades de cada um em todos os níveis de complexidade
pública, estatuiu em seu art. 27, XX ser atribuição do Ministério da do sistema.
Saúde:

44
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Vê-se, pois, que a assistência integral não se esgota nem se Na realidade, cada ente político deve ser eticamente respon-
completa num único nível de complexidade técnica do sistema, sável pela saúde integral da pessoa que está sob atenção em seus
necessitando, em grande parte, da combinação ou conjugação de serviços, cabendo-lhe responder civil, penal e administrativamente
serviços diferenciados, que nem sempre estão à disposição do cida- apenas pela omissão ou má execução dos serviços que estão sob
dão no seu município de origem. Por isso a lei sabiamente definiu seu encargo no seu plano de saúde que, por sua vez, deve guardar
a integralidade da assistência como a satisfação de necessidades consonância com os pactos da regionalização, consubstanciados
individuais e coletivas que devem ser realizadas nos mais diversos em instrumentos jurídicos competentes.
patamares de complexidade dos serviços de saúde, articulados pe- Nesse ponto, temos ainda a considerar que, dentre as atribui-
los entes federativos, responsáveis pela saúde da população. ções do SUS, uma das mais importantes -- objeto de reclamações e
A integralidade da assistência é interdependente; ela não se ações judiciais -- é a assistência terapêutica integral. Por sua indivi-
completa nos serviços de saúde de um só ente da federação. Ela dualização, imediatismo, apelo emocional e ético, urgência e emer-
só finaliza, muitas vezes, depois de o cidadão percorrer o caminho gência, a assistência terapêutica destaca-se dentre todas as demais
traçado pela rede de serviços de saúde, em razão da complexidade atividades da saúde como a de maior reivindicação individual.
da assistência
E para a delimitação das responsabilidades de cada ente da fe-
deração quanto ao seu comprometimento com a integralidade da
assistência, foram criados instrumentos de gestão, como o plano de
CONTROLE SOCIAL E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO SISTE-
saúde e as formas de gestão dos serviços de saúde.
MA ÚNICO DE SAÚDE – SUS
Desse modo, devemos centrar nossas atenções no plano de
saúde, por ser ele a base de todas as atividades e programações da Prezado candidato, o tema supracitado foi abordado em tó-
saúde, em cada nível de governo do Sistema Único de Saúde, o qual picos anteriores.
deverá ser elaborado de acordo com diretrizes legais estabelecidas
na Lei n. 8.080/90: epidemiologia e organização de serviços (arts.
7º VII e 37) [18]. O plano de saúde deve ser a referência para a de-
GESTÃO E PLANEJAMENTO; FINANCIAMENTO; GESTÃO
marcação de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas
DA SAÚDE NOS ESTADOS. PROCESSO DE PLANEJA-
dos entes políticos.
MENTO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS
Sem planos de saúde -- elaborados de acordo com as diretri-
zes legais, associadas àquelas estabelecidas nas comissões intergo- Níveis de Gestão do SUS
vernamentais trilaterais, principalmente no que se refere à divisão Esfera Federal - Gestor: Ministério da Saúde - Formulação
de responsabilidades -- o sistema ficará ao sabor de ideologias e da política estadual de saúde, coordenação e planejamento do
decisões unilaterais das autoridades dirigentes da saúde, quando SUS em nível Estadual. Financiamento das ações e serviços de
a regra que perpassa todo o sistema é a da cooperação e da conju- saúde por meio da aplicação/distribuição de recursos públicos
gação de recursos financeiros, tecnológicos, materiais, humanos da arrecadados.
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em redes Esfera Estadual - Gestor: Secretaria Estadual de Saúde - For-
regionalizadas de serviços, nos termos dos incisos IX, b e XI do art. mulação da política municipal de saúde e a provisão das ações e
7º e art. 8º da Lei n. 8.080/90. serviços de saúde, financiados com recursos próprios ou trans-
Por isso, o plano de saúde deve ser o instrumento de fixação feridos pelo gestor federal e/ou estadual do SUS.
de responsabilidades técnicas, administrativas e jurídicas quanto Esfera Municipal - Gestor: Secretaria Municipal de Saúde -
à integralidade da assistência, uma vez que ela não se esgota, na Formulação de políticas nacionais de saúde, planejamento, nor-
maioria das vezes, na instância de governo-sede do cidadão. Ressal- malização, avaliação e controle do SUS em nível nacional. Finan-
te-se, ainda, que o plano de saúde é a expressão viva dos interesses ciamento das ações e serviços de saúde por meio da aplicação/
da população, uma vez que, elaborado pelos órgãos competentes distribuição de recursos públicos arrecadados.
governamentais, deve ser submetido ao conselho de saúde, repre-
sentante da comunidade no SUS, a quem compete, discutir, aprovar
e acompanhar a sua execução, em todos os seus aspectos.
Lembramos, ainda, que o planejamento sendo ascendente,
iniciando-se da base local até a federal, reforça o sentido de que
a integralidade da assistência só se completa com o conjunto arti-
culado de serviços, de responsabilidade dos diversos entes gover-
namentais.
Resumindo, podemos afirmar que, nos termos do art. 198, II,
da CF, c/c os arts. 7º, II e VII, 36 e 37, da Lei n. 8.080/90, a integra-
lidade da assistência não é um direito a ser satisfeito de maneira
aleatória, conforme exigências individuais do cidadão ou de acordo
com a vontade do dirigente da saúde, mas sim o resultado do plano
de saúde que, por sua vez, deve ser a consequência de um planeja-
mento que leve em conta a epidemiologia e a organização de ser-
viços e conjugue as necessidades da saúde com as disponibilidades
de recursos [20], além da necessária observação do que ficou de-
cidido nas comissões intergovernamentais trilaterais ou bilaterais,
que não contrariem a lei.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
O Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sis- • recorrer às técnicas de Programação e Planejamento para
temas, parte integrante da estrutura da Secretaria de Atenção à orientar as atividades dos serviços de saúde;
Saúde, é responsável pelo desenvolvimento e sistematização das • recusar o modelo clínico centrado na atenção individual
ações de regulação da atenção, programação das ações e serviços como princípio ordenador das ações desses serviços;
de saúde, gestão e controle de sistemas de informação, e avaliação • detectar problemas e articular soluções a partir de um con-
dos serviços de saúde, além da gestão dos repasses de recursos de junto de saberes que convergem para práticas de caráter interdis-
Média e Alta Complexidade – MAC/FAEC e o custeio de Centrais de ciplinar;
Regulação. • definir o território de intervenção dos serviços em função da
dinâmica das populações e das relações.
É composto por quatro Coordenações Gerais, Assessoria e Podemos elencar alguns passos para o planejamento das ações:
Apoio:
• Coordenação Geral de Planejamento e Programação das • Passo 1 – Definição do território
Ações de Saúde – responsável em promover apoio técnico aos Es- Essa definição implica em definir a área de abrangência dos
tados, Municípios e ao Distrito Federal na definição de critérios e serviços, o perfil demográfico e socioeconômico da população
parâmetros para elaboração da Programação das Ações e Serviços atendida e o conjunto de equipamentos, profissionais e instalações
de Saúde (PGASS) e realizar a atualização sistemática dos limites existentes. Esse território pode ser considerado como um sistema
financeiros da Média e Alta Complexidade (Teto MAC). local, onde estão presentes múltiplos fatores que influem no pro-
• Coordenação Geral de Controle de Serviços e Sistemas – res- cesso saúde/doença, especialmente em suas conexões sociais, eco-
ponsável por ordenar a transferência aos Estados, Municípios e nômicas e culturais. O planejamento deve considerar as condições
Distrito Federal, dos recursos financeiros do Teto da Média e Alta de acesso aos serviços, o perfil epidemiológico e socioeconômico
Complexidade (Teto MAC), do Fundo de Ações Estratégicas e Com- das populações, os mecanismos de controle comunitário sobre os
pensações (FAEC) e dos créditos pagos diretamente aos Hospitais recursos disponíveis e de definição de prioridades.
Universitários – HU. Dessa forma, territorializar significa por um lado uma medida
• Coordenação Geral de Regulação e Avaliação – responsável de racionalização político-administrativa, mas por outro lado, asso-
pela elaboração de ações estruturantes, com vistas a promover cia-se à transformação das práticas sanitárias.
apoio técnico aos Estados, Municípios e ao Distrito Federal na or-
ganização das atividades de regulação do acesso da média e alta • Passo 2 – Definição da situação atual da saúde da população
complexidade, contratualização e avaliação dos serviços de saúde. adscrita
• Coordenação Geral de Sistemas de Informação – responsável Só é possível planejar tendo conhecimento da população e do
pela gestão e implementação dos sistemas de informação da aten- contexto em que ela se insere. A epidemiologia é uma ferramenta
ção à saúde e das terminologias clínicas e não clínicas necessárias a bastante utilizada para definir as necessidades de saúde e auxiliar o
subsidiar as práticas de gerenciamento da informação. planejamento dos serviços. Seu emprego permite a sistematização
• Assessoria – responsável pelo acompanhamento de proces- de dados demográficos, de morbidade e mortalidade, permitindo
sos do DRAC além de representações em fóruns externos.
análise capaz de alimentar o processo de planejamento e tomada
• Apoio Administrativo – responsável pelo apoio administrativo
de decisões da equipe.
ao DRAC.
A informação gerada em dados é transformada em indicadores
de saúde, geralmente disponibilizados por meio dos Sistemas de
Planejamento
Informação em Saúde (SIS), que abordaremos na próxima Unidade.
Planejamento em Saúde é o processo que consiste em dese-
nhar, executar, acompanhar e avaliar um conjunto de propostas de
• Passo 3 – Identificação dos principais problemas de saúde da
ação com vistas à intervenção sobre um determinado recorte de
população que se quer abordar
realidade. Trata-se, também, de um instrumento de racionalização
das ações no setor de saúde, realizada por atores sociais, orientada A partir da informação gerada e estudada, é possível identificar
por um propósito de manter ou modificar uma determinada situa- os principais problemas de saúde desta população, os grupos de
ção de saúde. Para Matus (Matus, 1987a), planejamento significa risco, o acesso dos pacientes ao sistema de saúde e a cobertura por
o “cálculo que precede e preside a ação; a mediação entre o co- programas de saúde, bem como a organização e gerenciamento dos
nhecimento e a ação; é um processo social complexo, produto das programas da atenção básica.
relações de conflito e articulação entre as diferentes forças sociais Sugere-se que se aponte dentro dos problemas a serem en-
em uma realidade historicamente dada”. frentados aqueles que possam ser classificados como críticos de
A Constituição Brasileira estabelece como norma o caráter uni- acordo com os critérios de:
versal e integral das ações de saúde a cargo do Estado, mas isto não • frequência do problema;
evita que no dia a dia escolhas sejam feitas e instrumentos sejam • morbidade e mortalidade relacionadas ao problema;
usados para eleger prioridades e aproximar os serviços das necessi- • efetividade das intervenções (pouco, moderada, muito);
dades mais importantes das comunidades atendidas. • custos da intervenção (alto, moderado, baixo);
As diretrizes do modelo de atenção integral à saúde apontam • intencionalidade em priorizar “grupos” de maior risco: mu-
alguns tópicos que podem ajudar a organização dos serviços: lheres em idade fértil, crianças, idosos;
• definir a demanda social, levando em consideração a mani- • impacto econômico: grupos de trabalhadores ou por caracte-
festação pública de comunidades e seus representantes; rísticas socioeconômicas etc.
• entender as conexões sociais do processo saúde/doença, Nessa etapa, torna-se útil incorporar algum conhecimento so-
compreendendo a dinâmica das relações sociais, por intermédio de bre a situação de saúde de outras localidades e grupos populacio-
indicadores socioeconômicos; nais, bem como referências das instituições responsáveis pelas polí-
• utilizar a Epidemiologia para entender a maneira como as ticas e ações (Município, Estado, União, organismos internacionais),
relações sociais repercutem no modo de adoecimento das coleti- para organização da base da investigação.
vidades;

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
• Passo 4 – Análise dos determinantes do problema: a árvore • prevenção e controle das principais doenças endêmicas e epi-
explicativa dêmicas;
Aqui destacam-se duas ordens de questões. Por um lado, as • tratamento apropriado para as doenças e lesões comuns;
diferentes formas de representação, valoração e compreensão dos • previsão de medicamentos e materiais essenciais.
problemas de saúde, seja pelo olhar dos profissionais ou pela óti-
ca dos diversos grupos sociais envolvidos, incluindo a população; o Os gestores do SUS vêm se empenhando continuamente em
que apresenta, como um dos principais desafios, a necessidade de planejar, monitorar e avaliar as ações e serviços de saúde. Tais es-
articulação das diferentes racionalidades envolvidas em um proces- forços têm contribuído, certamente, para os importantes avanços
so concreto de planejamento. registrados pelo SUS nestes 20 anos de sua criação. É importante
E leis que caracterizam a realidade sanitária apontam para di- reconhecer, contudo, que os desafios atuais e o estágio alcançado
versas possibilidades de ‘recorte’ desses problemas, em termos de exigem um novo posicionamento do planejamento no âmbito do
unidades de análise e intervenção. Cada uma dessas possibilidades SUS, capaz de favorecer a aplicação de toda a sua potencialidade,
de recorte apresenta distintas implicações operacionais sobre a ca- corroborando de forma plena e efetiva para a consolidação deste
pacidade de apreensão e compreensão das necessidades de saúde, Sistema.
bem como de cumprimento dos princípios de equidade e integra- Nesse sentido, é necessário elaborar instrumentos que contri-
lidade. buam para um melhor aproveitamento das oportunidades e para
Assim, a árvore de problemas deve ser desenhada de maneira a superação de desafios, entre os quais aqueles que possibilitem o
clara, sintética e precisa, a partir da identificação das causas do pro- desenvolvimento de rotinas de monitoramento e avaliação nas três
blema e da forma como estão relacionadas entre si. esferas de governo. Entre os desafios presentes, cabe destacar a
A partir da “árvore de problemas” é gerada então a árvore de importância do financiamento pleno do SUS, o que envolve a regu-
objetivos, dos quais derivam as ações a serem realizadas nos terri- lamentação e o cumprimento da Emenda Constitucional 29, assim
tórios considerados em uma perspectiva intersetorial. Ou seja, as como a manutenção de processo contínuo de planejamento.
ações e serviços a serem desenvolvidos não se restringem àqueles O Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS – busca apro-
que já são tradicionalmente ofertados pelas unidades de saúde, priar-se da experiência acumulada pela área nas três esferas de ges-
envolvendo um esforço adicional de mobilização e articulação de tão que, no tocante à direção nacional, tem como exemplo impor-
outros órgãos governamentais e não governamentais que atuam na tante a formulação do Plano Nacional de Saúde – PNS 2004- 2007 –,
área, inclusive a mobilização e envolvimento dos indivíduos, das fa- cujo processo evidenciou a necessidade de uma ação permanente-
mílias e das coletividades que vivem e trabalham neste local. mente articulada, nos moldes de uma atuação sistêmica.
O planejamento – e instrumentos resultantes de seu processo,
• Passo 5 – Levantamento de recursos como planos e relatórios – é objeto de grande parte do arcabouço
O estabelecimento de prioridades se baseia no fato de que o legal do SUS, quer indicando processos e métodos de formulação,
recurso em saúde nunca é suficiente para a realização de todas as quer como requisitos para fins de repasse de recursos e de contro-
ações necessárias. Basicamente, quando se fala em planejamento le e auditoria. Em relação ao planejamento e a instrumentos que
para a ação em saúde são definidos os pontos mais importantes e lhe dão expressão concreta, destacam-se, inicialmente, as Leis Nº
estes incluem priorizar tanto ações quanto recursos. É aconselhável 8.080/1990 e Nº 8.142/1990 (Leis Orgânicas da Saúde). A primeira
– Lei Nº 8.080/90 – atribui à direção nacional do SUS a responsabi-
lidar com um ou dois problemas de cada vez, evitando-se esforços
lidade de “elaborar o planejamento estratégico nacional no âmbito
em múltiplos problemas que acabam por pulverizar as ações e pro-
do SUS em cooperação com os estados, municípios e o Distrito Fe-
telar resultados. É da sabedoria popular que vem o ditado: “quem
deral” (BRASIL, 1990a).
tem uma prioridade (ou objetivo), tem uma; quem tem duas, tem
A referida Lei dedica o seu Capítulo III ao planejamento e orça-
meia; e quem tem três não tem nenhuma”.
mento. No primeiro artigo desse Capítulo, é estabelecido o proces-
O conhecimento dos recursos de saúde disponíveis, bem como
so de planejamento e orçamento do SUS, que “será ascendente, do
de toda a rede de apoio não só da saúde, mas intersetorial, é tão
nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compa-
importante quanto o conhecimento dos problemas de saúde.
tibilizando-se as necessidades da política de saúde com a disponibi-
Nessa etapa é importante que as equipes de Saúde da Famí- lidade de recursos em planos de saúde dos municípios, dos estados,
lia, para exercício da intersetorialidade, considerem como recursos do Distrito Federal e da União” (BRASIL, 1990a). Essa lógica de for-
todo o equipamento público possível de acesso pela população da mulação ascendente é um dos mecanismos relevantes na observân-
área de abrangência, não se limitando aos recursos do Setor Saúde. cia do princípio de unicidade do SUS. O seu cumprimento é desafio
Isso implica em parcerias com escolas, igrejas, associações comuni- importante, tendo em conta as peculiaridades e necessidades pró-
tárias e organizações não governamentais, além de estreita relação prias de cada município, estado e região do País, o que dificulta a
com diferentes Secretarias de Governo, para ampliação da resoluti- adoção de um modelo único aplicável a todas as instâncias
vidade das ações empreendidas. Nos parágrafos 1º e 2º do Art. 36, são definidos a aplicabilidade
dos planos de saúde e o financiamento das ações dele resultantes.
• Passo 6 – Programação das ações O primeiro parágrafo estabelece que “os planos de saúde serão a
Por fim, é desejável a adequação das ações aos oito elementos base das atividades e programações de cada nível de direção do
essenciais da programação da atenção básica: SUS e seu financiamento será previsto na respectiva proposta or-
• educação sobre os principais problemas – controle e preven- çamentária” (BRASIL, 1990a). Já o segundo veta a “transferência de
ção; recursos para o financiamento de ações não previstas nos planos
• conhecimento da disponibilidade de alimentos e promoção de saúde” (BRASIL, 1990a), salvo em situações emergenciais ou de
da nutrição adequada; calamidade pública de saúde. No Art. 37, a Lei atribui ao Conse-
• suprimento de água potável e provisão de saneamento bá- lho Nacional de Saúde a responsabilidade pelo estabelecimento de
sico; diretrizes para a elaboração dos planos de saúde, “em função das
• saúde materno-infantil, incluindo planejamento familiar; características epidemiológicas e da organização dos serviços em
• imunização contra as principais doenças infecciosas; cada jurisdição administrativa” (BRASIL, 1990a).

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Já a Lei Nº 8.142/90 (BRASIL, 1990b), no seu Art. 4º, entre os i) formular, gerenciar, implementar e avaliar o processo perma-
requisitos para o recebimento dos recursos provenientes do Fundo nente de planejamento participativo e integrado, de base local e
Nacional de Saúde, fixa que os municípios, estados e o Distrito Fe- ascendente, orientado por problemas e necessidades em saúde ...,
deral devem contar com plano de saúde e relatório de gestão “que construindo nesse processo o plano de saúde e submetendo-o à
permitam o controle de que trata o §4º do artigo 33 da Lei Nº 8.080, aprovação do Conselho de Saúde correspondente;
de 19 de setembro de 1990” (esse parágrafo refere-se ao acom- ii) formular, no plano de saúde, a política de atenção em saúde,
panhamento, pelo Ministério da Saúde, da aplicação de recursos incluindo ações intersetoriais voltadas para a promoção da saúde;
repassados na conformidade da programação aprovada, a ser reali- iii) elaborar relatório de gestão anual, a ser apresentado e sub-
zado por meio de seu sistema de auditoria). metido à aprovação do Conselho de Saúde correspondente. (BRA-
É importante destacar igualmente as Portarias Nº 399, de 22 SIL, 2006b).
de fevereiro de 2006, e de Nº 699, de 30 de março subsequente, Cabe destacar também as portarias que norteiam a organiza-
editadas pelo Ministério da Saúde: a primeira “divulga o Pacto pela ção e a implementação do Sistema de Planejamento do SUS – pac-
Saúde 2006 - Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacio- tuadas na CIT –, a saber:
nais do referido pacto” (BRASIL, 2006a) e, a outra, “regulamenta as •Portaria Nº 3.085, de 1º de dezembro de 2006, que regula-
Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e de Gestão” (BRASIL, menta esse Sistema;
2006b). O Pacto pela Saúde envolve três componentes: o Pacto pela •Portaria Nº 3.332, do dia 28 subsequente, que aprova orien-
Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão. tações gerais relativas aos instrumentos do PlanejaSUS e revoga a
No Pacto de Gestão, os eixos são a descentralização, a regio- Portaria N.º 548/2001 (”Orientações Federais para a Elaboração e
nalização, o financiamento, a programação pactuada e integrada, Aplicação da Agenda de Saúde, do Plano de Saúde, dos Quadros
a regulação, a participação e o controle social, o planejamento, a de Metas e do Relatório de Gestão como Instrumentos de Gestão
gestão do trabalho e a educação na saúde. do SUS”);
O Sistema de Planejamento do SUS é objeto do item 4 do ane- •Portaria Nº 1.229, de 24 de maio de 2007, que aprova orienta-
xo da Portaria Nº 399/2006, estando nele contidos o seu conceito, ções gerais para o fluxo do Relatório Anual de Gestão do SUS.
princípios e objetivos principais, na conformidade do presente do- Registrem-se ainda as Portarias: Nº 376, de 16 de fevereiro de
cumento. Destaque, também, que o Pacto estabelece cinco pontos 2007; Nº 1.510, de 25 de junho de 2007; e Nº 1.885, de 9 de setem-
prioritários de pactuação para o planejamento, que são: bro de 2008, que institui incentivo financeiro para o PlanejaSUS;
i) a adoção das necessidades de saúde da população como cri- que desvincula o seu repasse da adesão ao Pacto pela Saúde; e que
tério para o processo de planejamento no âmbito do SUS; estabelece o incentivo de 2008, respectivamente. A íntegra dessas
ii) a integração dos instrumentos de planejamento, tanto no portarias específicas do Sistema de Planejamento do SUS consta do
contexto de cada esfera de gestão, quanto do SUS como um todo; item Portarias relativas ao Sistema de Planejamento do SUS, página
iii) a institucionalização e o fortalecimento do PlanejaSUS, com 34.
adoção do processo de planejamento, neste incluído o monitora-
mento e a avaliação, como instrumento estratégico de gestão do
Planejamento no SUS
SUS;
No âmbito do Ministério da Saúde, até o final de 2005 – quan-
iv) a revisão e a adoção de um elenco de instrumentos de pla-
do tomou a iniciativa de propor a construção do PlanejaSUS, como
nejamento – tais como planos, relatórios e programações – a serem
mencionado na apresentação –, o planejamento pautava as suas
adotados pelas três esferas de gestão, com adequação dos instru-
ações principalmente no atendimento às demandas interna e ex-
mentos legais do SUS no tocante a este processo e instrumentos
terna, esta última oriunda da coordenação do correspondente
dele resultantes; e
sistema federal, exercida pelo Ministério do Planejamento, Orça-
v) a cooperação entre as três esferas de gestão para o fortaleci-
mento e a equidade do processo de planejamento no SUS. (BRASIL, mento e Gestão (MP). Ao MP cabe, assim, conduzir o planejamento
2006a). estratégico do governo federal. As demandas internas referem-se
Em relação ao financiamento, introduz e estabelece blocos sobretudo a informações para o atendimento de necessidades téc-
específicos: atenção básica; atenção de média e alta complexida- nico-políticas.
de; vigilância em saúde; assistência farmacêutica e gestão do SUS. O Sistema Federal de Planejamento tem uma agenda estabe-
Configuram-se eixos prioritários para a aplicação de recursos (in- lecida, mediante a qual responde também às exigências constitu-
vestimentos): o estímulo à regionalização e os investimentos para a cionais e legais, entre as quais figuram a elaboração do Plano Plu-
atenção básica. No contexto da regionalização, define que os princi- rianual – a cada quatro anos – e as suas revisões, das propostas
pais instrumentos de planejamento para tanto são o PDR (Plano Di- anuais de diretrizes orçamentárias e do orçamento, que balizam a
retor de Regionalização), o PDI (Plano Diretor de Investimento) e a aprovação das respectivas leis – LDO e LOA –, do Balanço Geral da
PPI (Programa Pactuada e Integrada), a qual “deve estar inserida no União e da Mensagem do Executivo ao Legislativo. Além dessas de-
processo de planejamento e deve considerar as prioridades defini- terminações legais, o Sistema requer também o acompanhamento,
das nos planos de saúde em cada esfera de gestão” (BRASIL, 2006a). o monitoramento, a atualização e a avaliação das ações. Mesmo
Segundo o Anexo II da Portaria, o planejamento regional expressará reconhecendo os avanços na alocação dos recursos públicos – base-
as responsabilidades dos gestores para com a saúde da população ados em objetivos de médio e longo prazos, com melhor associação
do território e o conjunto de objetivos e ações, cujas prioridades – às necessidades de saúde –, é importante considerar que deman-
estabelecidas regionalmente – deverão estar refletidas no plano de das contingenciais de curto prazo ainda prejudicam o processo de
saúde de cada município e do estado. Cria também o Colegiado de estruturação e consolidação do SUS.
Gestão Regional com a função de “instituir um processo dinâmico Embora responda às necessidades internas e externas, até en-
de planejamento regional”. (BRASIL, 2006a). tão o sistema de planejamento no MS não dispunha de medidas
No item 3 do capítulo relativo à responsabilidade sanitária, es- que viabilizem o aperfeiçoamento do trabalho e que possibilitas-
tão estabelecidos os compromissos de cada esfera no que concerne sem a oportuna e efetiva melhoria da gestão do Sistema, da aten-
ao planejamento e programação. Destacam-se como responsabili- ção e da vigilância em saúde, inclusive no tocante à reorientação
dades comuns aos entes federados: das ações. Tratava-se, na realidade, da insuficiência de um processo

48
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
de planejamento do Sistema Único de Saúde, em seu sentido amplo Na condição de sistema, e consoante à diretriz relativa à dire-
– neste compreendido o monitoramento e a avaliação –, que con- ção única do SUS em cada esfera de gestão, o PlanejaSUS não envol-
tribuísse para a sua consolidação que, conforme assinalado, é uma ve nenhuma forma de subordinação entre as respectivas áreas de
competência legal do gestor federal, em cooperação com as demais planejamento. Nesse sentido, a sua organização e operacionaliza-
instâncias de direção do Sistema. ção baseiam-se em processos que permitam o seu funcionamento
O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde re- harmônico entre todas as esferas do SUS. Para tanto, tais processos
cebem frequentemente, da parte de gestores e técnicos do SUS, deverão ser objeto de pactos objetivamente definidos, com estri-
solicitação de orientações e cooperação técnica para a elaboração ta observância dos papéis específicos de cada um, assim como das
de instrumentos de planejamento, em especial planos de saúde respectivas peculiaridades, necessidades e realidades sanitárias. O
e relatórios de gestão. Observa-se, por outro lado, que estados e desenvolvimento de papéis específicos visa, principalmente, poten-
municípios têm se esforçado para formulá-los, quer para fins de cializar e conferir celeridade e resolubilidade ao PlanejaSUS, tanto
habilitação em uma condição de gestão – e, após o Pacto pela Saú- na sua implantação, quanto no seu funcionamento, monitoramento
de, para a formalização do Termo de Compromisso de Gestão –, e avaliação contínuos.
quer para subsidiar auditorias e controles, a cargo das instâncias Como parte integrante do ciclo de gestão, o PlanejaSUS deve
incumbidas destas atividades. Como um instrumento essencial de estar próximo dos níveis de decisão do SUS, buscando permanen-
gestão, cabe ao planejamento contribuir para que o SUS responda, temente, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais de
com qualidade, às demandas e necessidades de saúde, avançando planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como pro-
de forma ágil rumo a sua consolidação. movendo a participação social e a integração intra e intersetorial,
O processo ascendente de planejamento definido pela Lei Or- considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Essa
gânica da Saúde configura-se relevante desafio para os responsá- integração deve buscar o envolvimento de todos os profissionais.
veis por sua condução, em especial aqueles das esferas estadual
Tal entendimento explicita o caráter transversal dessa função e, por
e nacional, tendo em conta a complexidade do perfil epidemioló-
conseguinte, o papel das áreas de planejamento nas três esferas
gico brasileiro, aliada à quantidade e diversidade dos municípios,
que, em síntese, é de:
além da grande desigualdade em saúde ainda prevalente, tanto em
•coordenar os processos de formulação, monitoramento e ava-
relação ao acesso, quanto à integralidade e à qualidade da aten-
ção prestada. Em relação à gestão, é importante levar em conta o liação dos instrumentos básicos do PlanejaSUS; e
fato de que cerca de 90% dos municípios têm menos de 50 mil ha- •prover as demais áreas técnicas de mecanismos - como mé-
bitantes e que 48% menos de 10 mil (INSTITUTO BRASILEIRO DE todos e processos - para que possam formular, monitorar e avaliar
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Particularmente no tocante ao os seus respectivos instrumentos, segundo as suas especificidades
planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária, e necessidades.
principalmente nos municípios de médio e pequeno portes, o que
dificulta o exercício eficiente e efetivo de seu papel fundamental na Para o alcance do êxito esperado com o PlanejaSUS, estão iden-
conformação do SUS neste nível. tificadas algumas condições e medidas importantes. Tais condições
Cabe ressaltar que, apesar dos esforços empreendidos desde e medidas – ou eixos norteadores – podem gerar duplo benefício.
a criação do SUS e os avanços logrados, a área de planejamento do De um lado, dariam celeridade ao atendimento de necessidades
Sistema ainda carece, nas três esferas de gestão, de recursos hu- importantes da gestão do SUS, de que são exemplos a formulação
manos em quantidade e qualidade. Observa-se que falta, não raro, ou a revisão de planos, programações e relatórios gerenciais. De
infraestrutura e atualização contínua nas técnicas e métodos do outro, viabilizariam a conformação ágil do PlanejaSUS, tendo em
planejamento em si – sobretudo em se tratando de monitoramento vista o caráter concreto de algumas medidas indicadas no presente
e avaliação, no seu sentido mais amplo –, assim como o domínio ne- documento.
cessário das características e peculiaridades que cercam o próprio Entre as condições necessárias, estão o apoio ao PlanejaSUS,
SUS e do quadro epidemiológico do território em que atuam. Tais sobretudo por parte dos gestores e representantes do controle so-
condições são estratégicas para a coordenação do processo de pla- cial, incorporando o planejamento como instrumento estratégico
nejamento e, portanto, para o funcionamento harmônico do Plane- para a gestão do SUS. Esse apoio deverá ser buscado principalmen-
jaSUS. É oportuno reiterar, nesse particular, os pontos essenciais de te junto aos Colegiados de Gestão Regionais, às Comissões Inter-
pactuação para o Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS –, gestores (CIB e CIT), aos Conselhos Nacionais de Secretários Esta-
definidos no Pacto pela Saúde 2006, em especial a institucionaliza- duais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aos Conselhos
ção e o fortalecimento deste Sistema, “com adoção do processo de de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). Trata-se de tarefa a
planejamento, neste incluído o monitoramento e a avaliação, como ser assumida, inicialmente, por todos os profissionais que atuam
instrumento estratégico de gestão do SUS”. (BRASIL, 2006a).
em planejamento no SUS, para o que deve também ser buscada a
contribuição, por exemplo, de organismos internacionais – como as
Conceito e caracterização
Organizações Pan-Americana e Mundial da Saúde –, de instituições
Define-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de
de ensino, de pesquisa e entidades afins.
Saúde – PlanejaSUS – a atuação contínua, articulada, integrada e
solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do Outra condição importante é a adesão institucional mediante a
SUS. Tal forma de atuação deve possibilitar a consolidação da cultu- observância da regulamentação do PlanejaSUS, expressa nas referi-
ra de planejamento de forma transversal às demais ações desenvol- das Portarias Nº 3.085/2006 e Nº 3.332/2006, e outras decorrentes
vidas no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o PlanejaSUS deve de pactuação tripartite, de que são exemplos processos de moni-
ser entendido como estratégia relevante à efetivação do SUS. Para o toramento e de avaliação dos instrumentos básicos, consoante às
seu funcionamento, são claramente definidos os objetivos e as res- definições contidas nas Leis Orgânicas da Saúde. Constituem igual-
ponsabilidades das áreas de planejamento de cada uma das esferas mente condições essenciais para a institucionalização do Planeja-
de gestão, de modo a conferir efetiva direcionalidade ao processo SUS nas três esferas de gestão: a capacitação de recursos humanos
de planejamento que, vale reiterar, compreende o monitoramento para o processo de planejamento do SUS; a geração de informações
e a avaliação. gerenciais para a tomada de decisão; a adequação do arcabouço

49
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
legal relativo ao planejamento; a cooperação técnica e financeira q) promover a adequação, a integração e a compatibilização
para o planejamento no SUS; e o provimento de estrutura e infra- entre os instrumentos de planejamento do SUS e os de governo;
-estrutura para o desenvolvimento da atividade de planejamento. r) promover a discussão visando o estabelecimento de política
de informação em saúde; e
Objetivo geral s) promover a discussão e a inclusão do planejamento na pro-
O PlanejaSUS tem por objetivo geral coordenar o processo de posta de planos de carreira, cargo e salários do SUS.
planejamento no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades
existentes nas três esferas de governo, de modo a contribuir – opor- Responsabilidades
tuna e efetivamente – para a sua consolidação e, consequentemen- As áreas e profissionais que atuam em planejamento nas três
te, para a resolubilidade e qualidade da gestão e da atenção à saú- esferas de gestão do SUS assumirão compromissos e responsabi-
de. lidades voltadas à implantação, implementação, aperfeiçoamento
e consolidação do PlanejaSUS. A seguir, são descritas as responsa-
Objetivos específicos bilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal, identificadas
São objetivos específicos do Sistema de Planejamento do SUS: pelos profissionais participantes das oficinas macrorregionais e dos
a) formular propostas e pactuar diretrizes gerais para o proces- encontros do Sistema de Planejamento do SUS.
so de planejamento no âmbito do SUS e seu contínuo aperfeiçoa-
mento; No âmbito federal
b) propor metodologias e modelos de instrumentos básicos a) Coordenação do processo nacional de planejamento do SUS,
do processo de planejamento, englobando o monitoramento e a em cooperação com os estados e municípios;
avaliação, que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de b) organização, implantação e implementação do PlanejaSUS
adaptação às particularidades de cada esfera administrativa; em âmbito nacional;
c) apoiar a implementação de instrumentos permanentes de c) cooperação técnica e financeira na implantação e implemen-
planejamento para as três esferas de gestão do SUS, que sirvam de tação do Planejasus em cada esfera de governo, bem como para a
parâmetro mínimo para o processo de monitoramento, avaliação e formulação, monitoramento e avaliação dos instrumentos básicos
regulação do SUS; definidos para este Sistema;
d) apoiar a implementação de processo permanente e siste- d) implementação de rede, no âmbito do planejamento, volta-
mático de planejamento nas três esferas de gestão do SUS, neste da à articulação e integração das três esferas de gestão do SUS e à
compreendido o planejamento propriamente dito, o monitoramen- divulgação de informações e experiências de interesse do Planeja-
to e a avaliação; SUS, bem como à disseminação do conhecimento técnicocientífico
e) promover a institucionalização, fortalecendo e reconhecen- na área;
do as áreas de planejamento no âmbito do SUS, nas três esferas de e) promoção da educação permanente em planejamento para
governo, como instrumento estratégico de gestão do SUS; os profissionais que atuam em planejamento no SUS;
f) apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação f) participação no Grupo de Planejamento da Secretaria Técnica
da Comissão Intergestores Tripartite (CIT);
de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os
g) formulação e apresentação, para análise e deliberação da
gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e/
CIT, de propostas relativas ao funcionamento e aperfeiçoamento do
ou redirecionamento;
PlanejaSUS e dos seus instrumentos básicos;
g) implementar e difundir uma cultura de planejamento que in-
h) mobilização e coordenação do grupo de colaboradores,
tegre e qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com
composto por especialistas e profissionais que atuam nas áreas de
vistas a subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
planejamento do SUS, no processo de planejamento e orçamento
h) promover a educação permanente em planejamento para os
na esfera federal e em instituições de ensino e pesquisa, com vistas
profissionais que atuam neste âmbito no SUS;
a apoiar o MS no cumprimento de suas responsabilidades junto ao
i) promover a eficiência dos processos compartilhados de pla-
PlanejaSUS;
nejamento e a eficácia dos resultados; i) apoio aos grupos de trabalho e demais fóruns da CIT em
j) incentivar a participação social como elemento essencial dos questões relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
processos de planejamento; j) organização de sistema informatizado que agregue informa-
k) promover a análise e a formulação de propostas destinadas ções gerenciais em saúde de interesse do planejamento, valendo-se
a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS; dos sistemas já existentes;
l) implementar uma rede de cooperação entre os três entes fe- k) implantação, monitoramento e avaliação sistemática do pro-
derados, que permita amplo compartilhamento de informações e cesso de planejamento do SUS no âmbito federal e apoio a este
experiências; processo nos estados e municípios;
m)identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados l) utilização dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde como
decorrentes das experiências em planejamento, sobretudo no âm- subsídio prioritário na formulação do Plano Nacional de Saúde, ob-
bito das três esferas de gestão do SUS, assim como da produção servada a Política Nacional de Saúde;
científica; m)sensibilização dos gestores para incorporação do planeja-
n) fomentar e promover a intersetorialidade no processo de mento como instrumento estratégico de gestão do SUS;
planejamento do SUS; n) assessoria aos estados na definição de estratégias voltadas
o) promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no ao fortalecimento e à organização do processo de planejamento es-
âmbito do SUS, nas três esferas de governo; tadual.
p) monitorar, avaliar e manter atualizado o processo de pla-
nejamento e as ações implementadas, divulgando os resultados No âmbito estadual
alcançados, de modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a a) Organização e coordenação do PlanejaSUS no âmbito esta-
transparência do processo de gestão do SUS; dual e apoio a este processo nos municípios;

50
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
b) apoio ao MS na implementação e aperfeiçoamento do Pla- f) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
nejaSUS em âmbito nacional; nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
instrumentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento
d) assessoria aos municípios na definição de estratégias volta- técnico-científico na área;
das ao fortalecimento e organização do processo de planejamento g) participação e promoção de capacitação em planejamento,
local e regional; monitoramento e avaliação, na perspectiva da política da educação
e) utilização de Planos Regionais/Municipais de Saúde como permanente;
subsídio prioritário na formulação do Plano Estadual de Saúde, ob- h) promoção de mecanismos de articulação entre as diversas
servada a Política de Saúde respectiva; áreas da SMS e com outros setores do município;
f) coordenação do processo de planejamento regional de forma i) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde
articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação – de forma articulada e intersetorial;
às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos j) implementação do planejamento local com monitoramento
pactuados no âmbito do PlanejaSUS; e avaliação das ações propostas, bem como divulgação dos resulta-
g) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de dos alcançados;
Gestão Regionais; k) coordenação de ações participativas visando a identificação
h) estímulo à criação e/ou apoio a câmaras específicas e grupos de necessidades da população, tendo em vista a melhoria das ações
de trabalho dos CGR e CIB em questões relativas ao planejamento e serviços de saúde;
no âmbito do SUS; l) operacionalização, monitoramento e avaliação dos instru-
i) fortalecimento das áreas de planejamento do estado e apoio mentos de gestão do SUS e retroalimentação de informações ne-
às referidas áreas municipais; cessárias às três esferas;
j) monitoramento e avaliação das ações de planejamento no m)promoção da estruturação, institucionalização e fortaleci-
âmbito estadual e apoio aos municípios para o desenvolvimento mento do PlanejaSUS no município, com vistas a legitimá-lo como
deste processo; instrumento estratégico de gestão do SUS;
k) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde n) participação no processo de planejamento regional de forma
de forma articulada e intersetorial; articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adaptação –
l) desenvolvimento da cooperação técnica e financeira aos mu- às realidades locais – das metodologias, processos e instrumentos
nicípios no âmbito do PlanejaSUS; pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
m)promoção e apoio à educação permanente em planejamen- o) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de
to para os profissionais que atuam no contexto do planejamento no Gestão Regionais.
SUS, em parceria com o MS e municípios;
n) participação na implementação de rede, no âmbito do pla- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E NORMATIVO
nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de A noção de planejamento é aplicada, fundamentalmente, em
gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in- diferentes áreas do conhecimento como Administração, Economia
teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimento e Política. Um dos pontos essenciais do planejamento é sua natu-
técnico-científico na área; reza estratégica, muito influenciada pelo uso nas ações militares.
o) apresentação, para análise e deliberação da Comissão Inter- Na geopolítica, o planejamento estratégico pertence à própria
gestores Bipartite – CIB –, de propostas relativas ao funcionamento natureza da diplomacia e das relações internacionais. No senso co-
e aperfeiçoamento do PlanejaSUS no respectivo âmbito; mum, a ideia costuma estar associada a organizar atividades, buscar
p) apoio às câmaras e grupos de trabalho da CIB em questões melhores resultados, reduzir conflitos e incertezas. Neste sentido,
relativas ao planejamento no âmbito do SUS; programação guarda semelhança com o planejamento, embora
q) sensibilização dos gestores para incorporação do planeja- seja uma expressão associada a objetivos delimitados e pontuais.
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS. Planejar ações políticas, definir estratégias econômicas, esquemas
regulatórios, modelos de administração de empresas e negócios
No âmbito municipal em geral fazem parte do cotidiano da ordem política e social. Como
a) Coordenação, execução e avaliação do processo de planeja-
especialidade em seus diferentes ramos, o tema do planejamento
mento do SUS no âmbito municipal, consoante aos pactos estabe-
é tratado por especialistas renomados em vasta literatura especiali-
lecidos no âmbito do PlanejaSUS;
zada das disciplinas aqui assinaladas.
b) apoio ao estado e ao MS na implementação e aperfeiçoa-
Pode-se afirmar que planejar é reduzir incertezas. Logo, implica
mento do PlanejaSUS;
em algum grau de intervenção na economia, associa-se a práticas
c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
regulatórias, orienta investimentos e está diretamente vinculado à
instrumentos definidos de forma pactuada no âmbito do Planeja-
alocação eficiente de recursos. No setor saúde, as práticas de pla-
SUS;
nejamento estão presentes em todo o processo que é conhecido
d) sensibilização dos gestores e gerentes locais para incorpora-
ção do planejamento como instrumento estratégico de gestão do como Gestão do SUS.
SUS; Para esses objetivos, tratar-se-á planejamento e programação
e) elaboração dos instrumentos básicos de planejamento de como áreas de conhecimento e atividades referidas ao setor saú-
forma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adap- de, no qual o tema tem ampla utilização e grande diversidade de
tação – às realidades locais – das metodologias, processos e instru- abordagens entre pesquisadores e dirigentes nas áreas pública e
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; privada. Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou progra-
mar ações representam o dia-a-dia dos gestores do setor público
em saúde. As atividades regulatórias, sejam por meio de auditoria
de processos ou de resultados, são afetadas por tais definições de
objetivos e de metas.

51
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Este capítulo abordará noções estabelecidas entre especialis- Esse método foi muito difundido no Brasil e ensinado nas esco-
tas, sem a preocupação de cobrir todo o debate. Mais adiante serão las de saúde, em cursos acadêmicos e em treinamento de gestores.
referenciados alguns autores e textos que podem ser consultados A estrutura era em forma de planilha, onde informações de recur-
para aprofundamento no tema e para conhecer o modo como são sos utilizados, custos por absorção e agravos evitados eram cruza-
operadas no cotidiano do planejamento as diferentes técnicas aqui das com o objetivo de orientar as decisões alocativas ou analisar
discutidas. o desempenho de sistemas e programas. A dificuldade estava na
Em termos atuais, muito do que se discute sobre planejamen- obtenção de informações consistentes e, principalmente, em esta-
to e técnicas de programação está associado à noção de contrato. belecer os benefícios esperados.
O estabelecimento de contratos de entes públicos entre si e com Embora seja difícil especificar quando e onde o planejamen-
agentes privados tem se tornado uma realidade cada vez mais for- to central tenha começado no setor saúde, certamente o Método
te no SUS, seguindo uma tendência internacional. Isto tem trazido CENDES/OPAS representou o modelo institucional e oficial de busca
para as arenas decisórias os interesses de atores, com ou sem fins de racionalidade burocrática no âmbito de estruturas administrati-
lucrativos. vas (ministérios, institutos e secretarias de saúde) que operavam de
Buscando desconstruir a ideia usual de contrato de mercado modo predominante por meio de hierarquias, comando e contro-
strictu sensu, tem-se trabalhado esta interação de atores públicos e le. Ao longo de décadas, estruturas híbridas de cooperação entre
privados, muitas vezes de forma controversa, como um dos aspec- Estado e mercado, que hoje podem ser trabalhadas no âmbito da
tos da governança. Antes de tratar do planejamento e da programa- governança, não estiveram presentes na agenda política do sistema
ção como parte dos diferentes mecanismos de governança presen- público de saúde. Uma série de soluções de planejamento em saú-
tes na política de saúde será apresentado o modo como se instituiu de se desenvolveu enquanto o método patrocinado pela Organiza-
no setor saúde o tema do planejamento para o desenvolvimento ção Pan-Americana de Saúde (OPAS) perdia importância. A perda
social. Em seguida, serão discutidos aspectos da programação em de relevância pode ser atribuída a um conjunto de fatores, dentre
saúde e o modo como essa se consolidou no Brasil. Há uma longa os quais a dificuldade na obtenção de informações adequadas e o
história do planejamento em saúde na experiência internacional e, foco na produtividade e eficiência econômica em uma área espe-
especialmente, na América Latina. Um grande número de autores cial, como a de saúde, contribuindo para a perda de consenso entre
tratou deste tema orientado à construção de sistemas públicos de os especialistas, dirigentes e lideranças setoriais.
saúde e às reformas sanitárias. Em seu lugar, duas importantes estratégias se disseminaram
Assim, foi criada uma sólida tradição em associar o planeja- em nosso país no que diz respeito à difusão de ideias de especialis-
mento às políticas de saúde. Em diversos casos, a produção dos au- tas em planejamento para os dirigentes setoriais. São elas as abor-
tores principais foi aceita e praticada por agências de cooperação dagens de planejamento estratégico-situacional e as diferentes prá-
internacional na América Latina e, em particular, no Brasil. A seguir, ticas de programação em saúde. Tratar-se-á resumidamente destes
uma resumida apresentação de algumas das principais abordagens dois temas antes de entrar no item hoje dominante em termos de
sobre o assunto, sem a preocupação de abranger todo o tema. planejamento e que se refere aos mecanismos de governança e à
entrada em cena da Nova Gerência Pública.
Método CENDES/OPAS
Uma das mais antigas estratégias de planejamento em saúde Planejamento estratégico
na América Latina foi o desenho do método conhecido como CEN- O planejamento estratégico é uma concepção geral que implica
DES/ OPAS, que surge em um ambiente favorável à intervenção do em dar à dimensão política o centro da elaboração de modelos. As
Estado na economia como forma de reduzir ou compensar as crises relações entre atores políticos e instituições, tratadas como arenas,
econômicas por meio do planejamento e do estabelecimento de são analisadas e as orientações e estratégias são definidas a partir
incentivos específicos. Fundamentalmente a partir da década de de conjunturas e equilíbrios de poder (MATUS, 1993). Muitos auto-
1920, a noção do planejamento foi entendida na América Latina res e instituições de saúde no Brasil utilizaram, desde a década de
como uma ferramenta do Estado para a promoção do desenvolvi- 1980, modelos diretamente definidos por Carlos Matus e por Mario
mento social e econômico. Na Comissão Econômica para a América Testa ou fizeram adaptações ou desenvolvimentos a partir de suas
Latina (CEPAL), por exemplo, um setor da Organização das Nações ideias (TEIXEIRA, 1993; RIVERA; HARTMANN, 2003; PAIM, TEIXEIRA,
Unidas (ONU) criado em 1948, o planejamento econômico é vis- 2006). Especificamente com relação às concepções de planejamen-
to como uma atividade governamental orientada a romper com a to situacional, Giovanella (1991) afirma que o planejamento estra-
dependência dos países latino-americanos frente às economias de- tégico situacional é uma evolução do pensamento crítico dos anos
senvolvidas e estimular o crescimento econômico. As relações entre sessenta em relação ao planejamento econômico.
o pensamento cepalino, suas conexões com as técnicas de planeja- O Planejamento Estratégico Situacional (PES) se caracteriza
mento e a emergência do planejamento estratégico no contexto da por tentar conciliar a ação sobre uma realidade complexa, com um
América Latina foram tratadas por muitos especialistas. Giovanella olhar estratégico e situacional, considerando a visão de múltiplos
(1991) apresenta uma análise minuciosa de todo o processo e de atores e a utilização de ferramentas operacionais para o enfrenta-
suas lacunas, a qual inclui a descrição da formação e dos conteúdos mento de problemas. Pode ser considerado, conforme assinalado
do método CENDES/OPAS e a emergência do planejamento estraté- por Giovanella (1991), como uma vertente do planejamento estra-
gico sob a influência de formuladores relevantes para a cultura téc- tégico de saúde, pois o pensamento de Matus, pelo seu frequente
nica da saúde pública no Brasil, como Mario Testa e Carlos Matus. trabalho como assessor da OPAS, tem sofrido adaptações para a
Como analisado por Giovanella (1991), esse método aplica os saúde. O PES se divide em quatro momentos, a saber: Explicativo:
fundamentos do planejamento da CEPAL no setor saúde para otimi- seleção e análise dos problemas relevantes para os atores chaves e
zar ganhos econômicos e diminuir custos, sendo a escolha de prio- sobre os quais se deseja atuar. Normativo: construção do plano de
ridades feita a partir da relação custo/benefício. intervenção, a situação objetivo que se deseja alcançar. Estratégico:
O objetivo era orientar investimentos em programas com me- análise de viabilidade das ações e a construção de sua viabilidade
nores custos para mortes evitadas em um modelo de planejamento quando consideradas essenciais. Tático-operacional: implementa-
de caráter normativo. ção do plano.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
O enfoque estratégico foi adotado, como dito, de modo direto Essa articulação de tarefas entre as três esferas da Federação
ou adaptado para a cultura técnica do setor saúde no Brasil. Uma deve ser organizada a partir de uma distribuição de responsabili-
grande variedade de livros, artigos e teses foi produzida, assim dades e atribuições definidas pelas normas e acordos vigentes. O
como relatórios e consultorias a governos municipais, estaduais e Ministério da Saúde, o CONASS e o CONASEMS, em consonância
ao Ministério da Saúde, desde o fim da década de 1980 e ao longo com o Conselho Nacional de Saúde, definem as diretrizes gerais de
da implantação do SUS, nos anos 1990. elaboração do planejamento para todas as esferas de gestão, esta-
Embora haja uma ênfase em atores políticos, as matrizes fun- belecem as prioridades e os objetivos nacionais.
dadoras e as diversas correntes políticas que animaram o debate Os Municípios, a partir das necessidades locais, das diretrizes
entre correntes de planejamento situacional e estratégico na Amé- estabelecidas pelos conselhos municipais de saúde, das prioridades
rica Latina se fundamentavam na concepção marxista de estruturas estaduais e nacionais, elaboram, implementam e avaliam o ciclo do
de classes sociais (GIORDANI, 1979). planejamento municipal.
A emergência dessa concepção de planejamento converge his- A partir das necessidades de saúde no âmbito estadual, das
toricamente com a construção do movimento de reforma da saúde diretrizes estabelecidas pelos conselhos estaduais de saúde e ob-
pública nos países latinos e a luta pela redemocratização dos países servadas as prioridades nacionais, os estados, em parceria com os
que estavam sobre regimes ditatoriais. COSEMS, coordenam o ciclo de elaboração, implementação e ava-
O pensamento marxista era muito presente na construção das liação do planejamento em seus territórios, buscando articulação
políticas de saúde e de seus mecanismos estratégicos de desen- de processos e instrumentos. O Distrito Federal, pelas suas pecu-
volvimento. Vale assinalar que a importância e relevância destes liaridades, assume as responsabilidades típicas das secretarias de
enfoques do planejamento, que acabam por ampliar a sua base estado e de município.
cognitiva e que se tornaram influentes nas instituições de saúde na Na busca da equidade regional, o Estado e os Municípios —
América Latina e Brasil, em particular, ocorrem simultaneamente a em conjunto com seus pares nas respectivas regiões de saúde —,
enfoques bastante distintos já em curso em outros países. Na déca- definem as prioridades regionais e estabelecem as responsabilida-
da de 1980, começa a se desenvolver o modelo da Nova Gerência des sanitárias de cada ente na região. Os planos e metas regionais
Pública, oriundo da cultura técnica britânica que se dissemina pela resultantes das pactuações intermunicipais constituirão a base para
Comunidade Europeia. os planos e metas estaduais, que promoverão a equidade inter-re-
Além disso, com tradições fortemente arraigadas nos Estados gional (§ 2°, art. 30, LC n° 141, de 2012).
Unidos, e de desenvolvimento anterior, os modelos de Teoria dos Além disso, o planejamento no SUS deve ter como base territo-
Jogos tratam de problemas semelhantes aos dos conflitos de atores rial as regiões de saúde, uma vez que essas são os espaços geográfi-
e instituições do planejamento estratégico, apesar de orientações cos fundamentais de garantia da integralidade das ações e serviços
políticas bem diferentes e de modelos de análise fortemente ma- de saúde para a população no SUS. A Região de Saúde representa
tematizados. a unidade de referência para a análise da dinâmica socioeconômica
Essas orientações chegam com maior força política ao Brasil e da situação de saúde da população, o dimensionamento da capa-
apenas em meados da década de 1990 e por meio de instituições cidade instalada de produção de serviços, o levantamento dos re-
fora do eixo da saúde pública. cursos fiscais, dos profissionais e equipamentos disponíveis e para
O planejamento estratégico no Brasil foi adotado em sua abor- a projeção de uma imagem-objetivo da rede de atenção à saúde.
dagem técnico-política, influenciando o desenho dos distritos sa- Assim, o planejamento no SUS se fundamenta em uma dinâmi-
nitários e a organização dos serviços de saúde. Paim (1993) con- ca federativa em que cada uma das esferas possui suas atribuições
testa a adoção desse planejamento situacional para a organização específicas, que articuladas produzem um planejamento orientado
dos distritos, devido às limitações do método no que concerne à para impulsionar estratégias de regionalização.
compreensão integral da realidade e dos sujeitos. Essa visão mais Os princípios gerais para o planejamento no Estado Brasileiro,
abrangente preconizada por Paim, que considera os elementos da com foco no setor saúde, estão dispostos ao longo de um conjunto
promoção da saúde, da produção social da saúde e da visão de ter- de normas de diversas naturezas, editadas ao longo de quase três
ritório vivo de Milton Santos (1978), ficou hegemônica no que se décadas9. A legislação a ser observada no campo da saúde é com-
convencionou chamar movimento de Saúde Coletiva. posta tanto por normas gerais aplicáveis ao planejamento gover-
As reformas de saúde nos anos 1970 foram influenciadas por namental, quanto pelas normas específicas editadas no âmbito do
uma série de movimentos populares e políticos de redemocratiza- SUS, conforme pode ser visto nos Quadros.
ção na América Latina, o que resultou numa outra forma de enten-
der e construir planejamento em saúde e contribuiu com a constru-
ção – na academia –, do campo de Saúde Coletiva no Brasil.
Em consonância com a disseminação de abordagens do plane-
jamento em saúde a partir de enfoques estratégicos, outra tradição
se formou no setor saúde brasileiro e se relaciona à programação
em saúde, o que passaremos a tratar na seção seguinte.

A Legislação aplicável ao planejamento no SUS


O planejamento no SUS é de responsabilidade conjunta das
três esferas da federação, sendo que a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios devem desenvolver suas respectivas ativi-
dades de maneira funcional para conformar um sistema de Estado
que seja nacionalmente integrado. Assim, as atividades de planeja-
mento desenvolvidas de forma individual, em cada uma das esferas,
em seus respectivos territórios, devem levar em conta as atividades
das demais esferas, buscando gerar complementaridade e funcio-
nalidade.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

Assim, o planejamento no SUS deve observar ambos os conjuntos de normas de forma a articular o planejamento setorial com o ciclo
geral de planejamento governamental da Federação.
As regras gerais de planejamento são orientações que devem ser seguidas por todas as áreas desenvolvedoras de políticas públicas e
estão expressas, em sua maior parte, nos art. 165 a 169 e 195, § 2°, da Constituição de 1988, e na Lei Complementar n° 101, de 2000, além
das normas de Direito Financeiro estabelecidas anteriormente pela Lei n° 4.320, de 1964.
O setor saúde deve se orientar primeiramente por essas regras e, subsidiariamente, pelas disposições constantes das regras setoriais
ou específicas que abrangem um conjunto mais amplo de normas, desde as Leis Orgânicas até as publicações infralegais, como portarias e
resoluções mais recentes, com pode ser visto no Quadro.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Principais normas e disposições específicas sobre o planejamento governamental no SUS

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

Princípios do planejamento governamental no SUS


As diretrizes estabelecidas por esse conjunto de normas podem ser elencadas em sete princípios gerais que orientam os gestores das
três esferas da Federação na organização de suas atividades de planejamento, com destaque para as disposições estabelecidas no Decreto
n° 7.508, de 2011, na LC n° 141, de 2012, e especialmente na Portaria n° 2.135, de 25 de setembro de 2013, que define de forma mais
explícita as diretrizes atuais para o planejamento no SUS. Esses princípios estão apresentados nas seções a seguir.

Princípio 1: o planejamento consiste em uma atividade obrigatória e contínua


O processo de planejamento em saúde é de responsabilidade de cada ente federado, a ser desenvolvido de forma contínua, articulada,
ascendente, integrada e solidária, entre as três esferas de governo, na medida em que visa dar direcionalidade à gestão pública da saúde.
Assim, os entes da Federação devem, obrigatoriamente, realizar atividades de planejamento. A elaboração dos instrumentos de
planejamento estabelecidos pela legislação são obrigações condicionantes, inclusive, para o recebimento das transferências intergover-
namentais.
O planejamento regular permite dotar os gestores de informações que possibilitem uma ação mais efetiva sobre a realidade sanitária
e redirecionar as ações com vistas a melhorar as condições de saúde da população.
Entretanto, para que se consiga construir um planejamento que permita dar suporte ao SUS, a legislação estabelece que cada um dos
entes da Federação desempenhe seu papel específico, gerando complementaridade. Assim, o cumprimento das responsabilidades indivi-
duais em cada esfera da Federação é que irá permitir que as demais também possam realizar a contento suas atividades, o que exige que
o planejamento seja integrado. Essa integração, para ser efetiva, pressupõe que haja articulação funcional.
Assim, por exemplo, a União, a partir de construção tripartite, precisa estabelecer diretrizes, objetivos e metas nacionais e o calen-
dário nacional de elaboração para que os Estados possam definir as estratégias de coordenação do processo de planejamento em seu
território e os Municípios iniciem, com seus pares, suas atividades nas respectivas regiões de saúde.

Princípio 2: o planejamento no SUS deve ser integrado à Seguridade Social e ao planejamento governamental geral
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que as políticas de saúde, previdência e assistência devem estar articuladas no âmbito
da Seguridade Social, criando sincronia entre os programas e ações voltados para a inclusão social. Essa articulação, do ponto de vista
operacional, deve ocorrer nos processos de planejamento e orçamento, sendo necessário que os planos e os orçamentos do SUS estejam
integrados com os das áreas de previdência e assistência. O orçamento da Seguridade Social é o instrumento de planejamento e orçamen-
tação que articula e integra os programas dessas três áreas de política social e junto com o Orçamento Fiscal compõe o Orçamento Geral
de cada ente da Federação.
Além disso, os instrumentos de planejamento da saúde — o Plano de Saúde e suas respectivas Programações Anuais e o Relatório
de Gestão — devem orientar, no que se refere à política de saúde, a elaboração dos instrumentos de planejamento de governo — Plano
Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA), definidos a partir do art. 165 da CF.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
A Constituição Federal de 1988 define a integração entre as Princípio 3: o planejamento deve respeitar os resultados das
funções de planejamento estatal e as de orçamentação como sen- pactuações entre os gestores nas comissões intergestores regio-
do o fundamento do modelo orçamentário brasileiro, definido pela nais, bipartite e tripartite
necessidade do estabelecimento de uma conexão coerente entre os As instâncias permanentes de negociação e pactuação inter-
respectivos instrumentos adotados. gestores são os espaços federativos de construção de consenso po-
Do mesmo modo, tal conexão institui uma relação intrínseca lítico e de desenvolvimento de estratégias intergovernamentais que
entre os planos de curto e médio prazo e as programações anuais de possibilitam a ação conjunta e articulada do Ministério da Saúde e
gastos governamentais. Dada esta forma de estruturação orçamen- das secretarias estaduais e municipais de saúde.
tária, o PPA consiste no ponto de partida que define as diretrizes Assim, no processo de planejamento no SUS devem ser con-
gerais de ação do Estado nas três esferas de governo da Federação. sideradas como essenciais as pactuações realizadas nas comissões
De acordo com o texto constitucional, cabe ao PPA a definição intergestores — CIR, CIB e CIT —, uma vez que esses espaços de go-
das diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública relativas vernança têm a competência de discutir e pactuar de forma perma-
às despesas de capital e aos gastos correntes delas derivados, ou nente a política de saúde e sua execução na construção da gestão
seja, o PPA sintetiza as estratégias de médio prazo e as operaciona- compartilhada do SUS.
liza por meio dos programas que o constituem. Portanto, todo o processo de planejamento integrado segue a
O PPA se estrutura em duas partes fundamentais que são a lógica federativa clássica em que, apesar de cada uma das esferas
base estratégica e os programas. A base estratégica consiste no ter suas responsabilidades específicas, as principais decisões sobre
conjunto de análises de cenário e de prospecção estratégica que o ciclo de planejamento são tomadas a partir de consensos. Essa
orientará o planejamento governamental. A base estratégica deve dinâmica de trabalho coletivo é típica de ambientes federativos e
contemplar a análise da situação econômica e social, as diretrizes, tem como objetivo conferir legitimidade às decisões e estimular o
objetivos e metas estabelecidas pelo chefe do Poder Executivo, a
trabalho conjunto entre a União, os Estados e os Municípios.
previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os
Como resultado, um amplo conjunto de questões relativas ao
setores ou entre os programas e diretrizes, objetivos e metas dos
processo de planejamento no SUS passa por negociações interges-
demais órgãos compatíveis com a orientação estratégica do chefe
tores nos fóruns federativos do SUS.
do Poder Executivo.
Os programas consistem na sistematização das ações que se- Assim, as pactuações tripartites abrangem: as diretrizes gerais
rão implementadas de acordo com as orientações definidas na base para a composição do conjunto de ações e serviços de saúde e de
estratégica. medicamentos essenciais a serem ofertados no SUS (Renases e Re-
O detalhamento anual dos gastos relativos a cada etapa das es- name); as etapas e os prazos do processo de planejamento no SUS;
tratégias adotadas é realizado pela LOA, cujo conteúdo deve guar- as diretrizes nacionais para a organização das regiões de saúde;
dar plena compatibilidade com as diretrizes expressas nos progra- os critérios para o planejamento no SUS nas regiões de saúde; as
mas definidos no PPA. Enquanto o PPA compreende o planejamento normas de elaboração e fluxos do COAP; as regras de continuidade
governamental de médio prazo, para quatro anos, a LOA contém o do acesso para o atendimento da integralidade da assistência nas
detalhamento anual desse planejamento na forma das ações que regiões de saúde; as diretrizes, objetivos, metas e indicadores de
deverão ser implementadas e dos recursos orçamentários que esta- abrangência nacional, buscando orientar e integrar o planejamento
rão disponíveis para o financiamento das políticas. Assim sendo, a da União, dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entre
LOA consiste na expressão anual do planejamento governamental, outras.
quando são previstos com maior detalhamento o volume de recur- No âmbito estadual, as pactuações a serem realizadas nas CIB,
sos arrecadados e como esses serão alocados ao longo do conjunto entre os gestores estaduais e municipais, são relativas: às etapas
de programas e projetos que serão executados no exercício fiscal e aos prazos do planejamento municipal em consonância com os
correspondente. planejamentos estadual e nacional; às diretrizes estaduais sobre re-
A integração entre o PPA e a LOA é função da LDO, consistin- giões de saúde e demais aspectos vinculados à integração das ações
do no instrumento inovador instituído pela Constituição Federal e serviços de saúde dos entes federados; à conformação e à ava-
de 1988 em matéria de organização orçamentária. Segundo esta liação do funcionamento das regiões de saúde em cada estado; à
última, cabe à LDO estabelecer, para cada exercício fiscal, as me- continuidade do acesso às ações e aos serviços de saúde da rede de
tas e as prioridades da Administração Pública e os parâmetros de atenção à saúde, mediante referenciamento em regiões de saúde
elaboração da LOA, além de dispor sobre um amplo conjunto de intraestaduais; à metodologia de alocação dos recursos estaduais; e
questões adicionais consideradas essenciais para que o planeja- à previsão anual de repasse de recursos aos Municípios (constantes
mento de médio prazo, expresso no PPA, possa se traduzir em ação dos planos estaduais de saúde), entre outras.
eficiente e eficaz de curto prazo. Esse conjunto abrange disposições
Finalmente, no âmbito das CIR10, as principais pactuações
relativas a possíveis alterações na legislação tributária e na política
abrangem: o rol de ações e serviços e o elenco de medicamentos
de pessoal da Administração Pública, a fixação de limites de gastos
que serão ofertados na Região de Saúde (tomando como base a
para os três poderes, as condições para que o equilíbrio fiscal seja
Renases e a Rename); os critérios de acessibilidade e escala para
obtido, o estabelecimento de critérios para limitação de empenho,
a definição de medidas a serem adotadas em caso de redução dos a conformação dos serviços; as diretrizes regionais sobre a organi-
montantes de endividamento, definição das condições e exigências zação das redes de atenção à saúde; a gestão institucional regional
específicas para transferências de recursos a entidades públicas e e a integração das ações e serviços dos entes federados na Região
privadas, entre outras. de Saúde11; as responsabilidades individuais e solidárias de cada
ente federativo na Região de Saúde (a serem incluídas no COAP); e
a elaboração, a pactuação, o monitoramento e a avaliação de todo
o processo de planejamento regional integrado nas respectivas re-
giões de saúde, entre outras.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Princípio 4: o planejamento deve estar articulado constante- trumentos de planejamento, o que permitirá tanto criar uma ação
mente com o monitoramento, a avaliação e a gestão do SUS sincronizada da administração pública em torno das grandes prio-
O planejamento não consiste apenas em um simples exercício ridades nacionais quanto uniformizar o formato e a linguagem do
de projeção de metas futuras, mas em uma ação estratégica da planejamento em todo o País.
gestão pública que tem por objetivo reorientar os programas e os A integração do planejamento no SUS requer também que as
projetos governamentais de forma a ampliar a eficiência, a eficácia três esferas da Federação orientem suas atividades de maneira fun-
e a efetividade da ação das políticas de saúde. Portanto, o planeja- cional entre si para que haja complementaridade e organicidade,
mento está intrinsecamente relacionado à gestão do SUS. evitando a duplicação de ações e projetos em algumas áreas e a
Para que as ações de planejamento possam contribuir para o ausência em outras.
aperfeiçoamento da gestão do SUS, os entes federados devem com- Entretanto, o caráter integrado das atividades de planejamen-
prometer-se a realizar o monitoramento e a avaliação, visando ana- to no SUS valoriza a autonomia dos entes federados, uma vez que
lisar os resultados alcançados e as estratégias empregadas para tal. todo o processo deve ser conduzido de maneira ascendente desde
O monitoramento e a avaliação devem ser processos periódi- os Municípios até a esfera federal. Assim, os planos municipais de
cos, orientados pelas diretrizes, objetivos, metas e indicadores as- saúde, elaborados a partir das definições estabelecidas nas confe-
sumidos em cada esfera de gestão. rências municipais de saúde, são a base para o planejamento das
No âmbito do planejamento no SUS, o monitoramento e a ava- regiões de saúde, que por sua vez, orientam o planejamento em
liação devem ser executados de forma individual e conjunta entre âmbito estadual. Da mesma forma, a esfera federal deve levar em
os entes federados, tendo como referência as respectivas regiões consideração o escopo das atividades planejadas pelas unidades da
de saúde. Federação.
O monitoramento compreende o acompanhamento regular O Decreto n° 7.508, de 2011, introduz duas inovações essen-
das metas e indicadores, que expressam as diretrizes e os objetivos ciais para o aperfeiçoamento do planejamento no SUS e estabelece
da política de saúde em um determinado período e o seu coteja- o planejamento regional em saúde como a base para a definição
mento com o planejado; enquanto a avaliação envolve a apreciação das metas e indicadores do planejamento da política de saúde, vi-
dos resultados obtidos, considerando um conjunto amplo de fato- sando conferir maior complementaridade entre as ações a serem
res. A escolha desses fatores ou critérios que irão orientar a avalia- desenvolvidas de forma integrada pelas três esferas de governo.
ção depende do tipo de apreciação que se pretende realizar, uma Essas inovações consistem em estabelecer o conceito de metas
vez que toda avaliação consiste na emissão de um juízo de valor regionais, que fazem interface com as metas municipais, estaduais
sobre as características, a dinâmica e o resultado de programas e e federais e introduzir a necessidade de formalização dos compro-
políticas. missos assumidos entre os gestores por meio de um instrumento
Os tipos mais comuns e empregados na avaliação são os que jurídico-executivo, o COAP.
consideram: os efeitos sobre a saúde da população (avaliação de Desta forma, a integração do planejamento no SUS se organiza
impacto ou de efetividade); a obtenção das prioridades e os objeti- em torno do planejamento realizado nas regiões de saúde, onde
vos iniciais estabelecidos (avaliação dos objetivos ou da eficácia); a são estabelecidas as metas e as responsabilidades específicas de
racionalidade no uso dos recursos (avaliação da eficiência); as mu- cada uma das três esferas da Federação para que os resultados se-
danças ocorridas no contexto econômico, político e social (avalia- jam obtidos. Assim, a integração do planejamento no SUS ocorre
ção de cenário); as disposições constantes da legislação (avaliação por meio da ação complementar entre o trabalho dos gestores mu-
de legalidade ou de conformidade); a qualidade da estratégia de nicipais, estaduais e federal em cada região de saúde.
implantação das políticas e programas (avaliação da implementa-
ção); a análise e a apreciação de instâncias oficiais (avaliação ofi- Princípio 6: o planejamento deve contribuir para a transpa-
cial ou institucional); o aperfeiçoamento da capacidade de gestão rência e a visibilidade da gestão da saúde
dos quadros e das unidades da administração pública (avaliação de Dentre outras normativas, a LC n° 141, de 2012, dá ênfase à
aprendizagem), entre outros. transparência e à visibilidade da gestão da saúde, demandando que
A legislação do SUS busca induzir os gestores das três esferas os gestores da saúde deem ampla divulgação, inclusive por meios
a privilegiar as atividades de monitoramento e de avaliação de im- eletrônicos de acesso público, das prestações de contas periódi-
pacto ou de efetividade, combinando-as com algumas das outras cas da saúde, para consulta e acesso da sociedade. Nesse sentido,
modalidades de avaliação mencionadas acima. sugere que a transparência e a visibilidade sejam asseguradas no
As principais normas relacionadas ao planejamento no SUS res- processo de elaboração e discussão do Plano de Saúde, da Progra-
saltam que a avaliação deve apreciar em que medida as políticas, mação Anual de Saúde e do Relatório de Gestão, devendo ser sub-
programas, ações e serviços de saúde implementados no período metidos à apreciação do respectivo Conselho de Saúde e realização
considerado promoveram a melhoria das condições de saúde da de audiências públicas.
população. Portanto, o planejamento no SUS adquire também um caráter
de instrumento de ampliação da transparência das ações governa-
Princípio 5: o planejamento deve ser ascendente e integrado mentais, uma vez que a definição detalhada e clara das metas e
O planejamento ascendente e integrado na saúde, além de re- das respectivas responsabilidades de cada um dos entes federados
quisito legal, é um dos mecanismos relevantes para assegurar a uni- possibilita que a sociedade acompanhe o processo de implantação
cidade e os princípios constitucionais do SUS. O planejamento ex- e gestão das políticas e programas e discuta seus resultados com os
pressa as responsabilidades dos gestores de cada esfera de governo gestores. A prerrogativa de conhecer os resultados das políticas e
em relação à saúde da população do território quanto à integração de monitoramento da aplicação dos recursos públicos consiste em
da organização sistêmica do SUS. direto de cidadania enfatizado pela Lei n° 12.527, de 18 de novem-
Portanto, é essencial que o conjunto de diretrizes, objetivos, bro de 2011, denominada de Lei de Acesso à Informação. Essa Lei
metas e indicadores estabelecidos em âmbito nacional seja em- dispõe, em seu art. 5°, que “É dever do Estado garantir o direito
pregado pelas três esferas de governo para o desenho de seus ins- de acesso à informação, que será franqueada, mediante procedi-

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
mentos objetivos e ágeis, de forma transparente, clara e em lingua- século passado, a organização espacial e hierárquica de serviços de
gem de fácil compreensão” (BRASIL, 2011b). Como consequência, o saúde a partir de sua unidade mais simples que é o posto de saúde.
planejamento governamental torna-se um instrumento ainda mais Neste sentido, foi precursor do que se conhece como uma estru-
importante para que os cidadãos possam assegurar seus direitos. tura de área organizada a partir de um posto ou centro de saúde
e serviços de referência em seu entorno. O modelo preconizou a
Princípio 7: o planejamento deve partir das necessidades de combinação entre a medicina preventiva e a curativa, sendo que as
saúde da população atividades dos serviços de saúde estariam articuladas ao trabalho
O planejamento no SUS parte do reconhecimento das dinâmi- comunitário e à atenção médica individualizada.
cas presentes no território que influenciam na saúde, bem como Desta forma, um Centro de Saúde deveria agrupar diversos ser-
das necessidades de saúde da população dos Municípios que viços médicos, preventivos e curativos, na qualidade de primários
compõe a Região de Saúde. A análise e o dimensionamento das (tecnologia leve) ou secundários (maior densidade tecnológica) de
necessidades de saúde devem privilegiar um conceito mais amplo modo a formarem uma organização. Os serviços primários devem
de saúde, entendendo essa como uma condição que transcende a cuidar da atenção domiciliar e os centros complementares cuidam
mera ausência de doença e se caracteriza pela garantia de bem es- de determinadas condições clínicas ou epidemiológicas específicas.
tar tanto físico e afetivo quanto social e econômico. Assim, a análi- A lógica territorial representou uma importante marca deste mode-
se da situação de saúde envolve primordialmente o conhecimento lo, que hoje pode ser reconhecida na forma de distritos ou regiões
adequado e detalhado das condições de vida proporcionadas pelos de saúde.
diversos Municípios em cada região de saúde e das tendências de A lógica da programação em saúde foi influenciada pelo conhe-
curto, médio e longo prazo (CAMPOS, 2013). cido modelo da história natural da doença, preconizado por Leavell
São essas necessidades que orientam a construção das diretri- e Clark (1965). Neste caso, a atenção primária possui conotação
zes, objetivos, metas e indicadores identificados como essenciais
preventiva e orientada, na forma de prevenção primária, para ações
para a ampliação da qualidade de vida dos cidadãos e para a garan-
de promoção da saúde e de proteção específica. As ferramentas
tia plena de seus direitos de cidadania. A compreensão das realida-
para a organização dos serviços de saúde em termos de prevenção,
des locais em cada Região de Saúde abrange o levantamento de um
tratamento, redução de agravos e reabilitação incluem protocolos
amplo conjunto de indicadores socioeconômicos, demográficos,
epidemiológicos, sanitários, de infraestrutura urbana, de educação, na forma de programas de saúde.
culturais, ocupacionais, entre outros. São esses indicadores que Os programas de saúde, especialmente na forma de Campa-
permitem compreender as necessidades de saúde e que, portan- nhas, constituíram a principal forma de ação do Ministério da Saúde
to, deverão ser tomados como ponto de partida para a tomada de no Brasil nas décadas anteriores à criação do SUS. As campanhas,
decisões pelos gestores. Assim, a definição de quais serão as inter- como no caso do combate à tuberculose e à hanseníase, eram orga-
venções prioritárias que irão orientar a implementação ou o aper- nizadas a partir do Ministério da Saúde e sua estrutura vertical che-
feiçoamento do conjunto de ações e serviços de saúde no território gava aos Estados e Municípios, onde a execução se dava de modo
deve ser fundamentada em seu impacto na ampliação do bem estar cooperativo com as secretarias de saúde.
dos cidadãos. Em essência, a orientação do planejamento a partir Uma importante tradição se desenvolveu a partir da Sociologia
das necessidades de saúde busca ampliar a efetividade das políticas da Saúde (DONNANGELO, 1976) e de seus nexos com a Epidemio-
públicas (OUVERNEY; NORONHA, 2013). logia Social (BREILH, 1991) para desenvolver soluções de ensino e
de administração de serviços. Dessa forma, promoveu uma mudan-
O Planejamento Normativo (DEVER, 1988) “é destinado a pro- ça na própria concepção de programação em saúde. Embora com
mover mudanças sociais deliberadas ou pretendidas projetadas diferentes orientações e tradições, esta área pode ser incluída no
para o futuro. Como é possível perceber, nesse nível de planeja- campo da Saúde Coletiva, e se forma com base na crítica ao modelo
mento será necessário lidar com os distintos interesses de diferen- biomédico e ao modelo campanhista.
tes atores sociais e sua postura em relação ao plano, de oposição, Uma expressão de tais concepções está muito bem estabele-
indiferença ou adesão”. cida por Mendes-Gonçalves (1990) na demarcação entre a clínica
Já o Planejamento Estratégico indica os caminhos a percorrer, médica como base da organização dos serviços de saúde frente ao
detalhar as ações (TANCREDI, 1998). O Planejamento Estratégico planejamento orientado pelas ações programáticas.
“refere-se ao desenvolvimento de ações (planos) que permitam or- Essas ações definem a ideia central de processos de saúde, con-
ganizar a execução das estratégias planejadas em outro nível de pla- siderando o contrato social e territorial. As teses centrais da ação
nejamento. Indica como ´colocar em prática´ as ações previstas. No programática não se resumem à simples padronização de condutas,
setor saúde, utiliza-se esse tipo de planejamento na execução dos não geram uma nova burocracia, não visam administrar recursos
programas de assistência à saúde, por exemplo, o programa para
escassos para objetivos básicos e não se propõem a resolver, pelas
controle da hipertensão”
estratégias de planejamento e de programação, todos os problemas
da atenção à saúde (SCHRAIBER, 1999).
Programação em Saúde
Os conflitos latentes entre a lógica da prática médica e a pro-
A noção de Planejamento em Saúde como uma disciplina as-
sociada à programação é antiga e sua tradição não se superpõe ao gramação preconizada pelo planejamento foram objetos de algu-
que foi tratado aqui como um campo de planejamento estratégico e mas escolas em nosso País, por exemplo, em Schraiber (1999).
situacional, onde a mudança social ocupava o centro das preocupa- Consoante a tais enfoques, Nemes (1996) define a ação pro-
ções de seus formuladores. Em certos aspectos, a programação em gramática como uma proposição de organizar o trabalho em saúde
saúde, exceto nos anos 1990, quando se associa mais diretamente fundamentada na integração sanitária e em tecnologias de base
ao que se conheceu como Epidemiologia Social, tratou de objetivos, epidemiológica.
processos e práticas bem distintas. A possibilidade e a necessidade de observar a clínica como
Uma referência clássica à programação da ação de serviços de um espaço de decisão compartilhada, tema recorrente da Filoso-
saúde foi o conhecido Relatório Dawson, de 1920. Este relatório de- fia Aplicada à Medicina como na tradição fundada por clássicos
finiu, para as condições observadas na Grã-Bretanha no início do como Canguilhem (2009), estimularam especialistas de diferentes

59
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
enfoques a pensar práticas de planejamento das ações em saúde 1. O enfoque normativo reduz a programação à dimensão ex-
na forma de métodos bem delineados. Assim como a ação progra- clusiva de uma técnica de estimativa de recursos e de otimização
mática se firmou como uma tradição no setor saúde, outros autores econômica. Este privilegiamento do critério de eficiência econômi-
buscaram caminhos próprios com os mesmos objetivos de articular ca na utilização de recursos escassos (tal como acontece na fun-
na clínica mecanismos de decisão cooperada com implicações para damentação doutrinária do Método), aproxima a metodologia de
a organização de serviços de saúde. Um destes métodos foi pro- programação local do campo dos enfoques programáticos basea-
posto por Campos, G. (2006) com o foco nos indivíduos (usuários, dos na mera oferta de recursos, em detrimento das necessidades
profissionais de saúde, dirigentes) e em sua capacidade de atuar de saúde. Essa acepção da programação local implica o predomínio
sobre as organizações. Este método (denominado paidéia) segue di- paradigmático do ideal do crescimento e da produtividade sobre a
versas tradições caracterizadas como de cogestão de organizações equidade, que se expressa, operacionalmente, na utilização de indi-
e de projetos, embora com elementos discursivos e práticas bem cadores de pouca sensibilidade para captar as desigualdades entre
próprias e envoltas na noção de gestão compartilhada da clínica e grupos sociais. A relação de custo-benefício, que embasa as técni-
da saúde coletiva. cas de programação local de corte tradicional, comporta apenas in-
Métodos participativos de avaliação foram cada vez mais in- dicadores sobre os custos econômicos e sobre os parâmetros de re-
tegrados à gestão dos programas e dos serviços de saúde. Diver- solutividade tecnológica; no máximo, indicadores epidemiológicos
sos manuais foram produzidos de modo a orientar a montagem de relacionados com a mortalidade por danos específicos e população
sistemas de monitoramento e diferentes escolasde planejamento inespecífica. Por via de consequência, a metodologia de programa-
cooperativo se formaram na experiência internacional e com reper- ção local não tem considerado devidamente as possibilidades redis-
cussõesem experiências aqui no Brasil. As noções de participação tributivas da regulação sanitária.
na gestão do sistema público no Brasil e a determinação de que
2. A programação local tem sido considerada como um nível
órgãos colegiados tenham assento na tomada de decisões e no pla-
de menor agregação da função Planejamento, em que prevalece
nejamentono SUS pertence à legislação constitucional e infracons-
quase que exclusivamente a factibilidade dos recursos. Colocada
titucional e a atuação dos conselhos de saúde no planejamento de
em uma situação de posterioridade na seqüência temporal que ca-
objetivos e procedimentos da política pública tem sido amplamente
estudada na literatura setorial (MOREIRA et al., 2009). racteriza o Planejamento Tradicional (posterioridade que é definida
Alguns dos métodos mais recentes e aqui também difundidos a pela menor agregação e pela localização em um âmbito mais baixo
partir de experiências europeias convergem para abordagens parti- da organização institucional), à programação local é atribuída uma
cipativas de planejamento e de avaliação de resultados e de proces- função predominantemente técnica, à que não cabe se importar
sos. Uma série de modelos sucedeu as tradições do CENDES/OPAS com a viabilidade política. O político é definido como um dado que
e do PES, em tempos distintos. Vários deles foram aqui difundidos antecede e se superpõe à programação, condicionando seus parâ-
tais como o logframe, desde 1969, o ZOPP8, da década de 1980, e metros. Esse reducionismo tecnocrático da programação se pren-
uma versão mais flexível conhecida como de ao uso rígido do conceito de etapa e de sequência, uso que no
Project Cycle Management – em comum, representam certa Planejamento Tradicional equivale a visão de fases que acontecem
evolução para um conjunto diversificado de técnicas denominadas antes e depois, em um espaço temporal absoluto.
de metodologias rápidas de avaliação (BURSZTYN; RIBEIRO, 2005). Do anterior se deduz que a programação, assim como se sepa-
Embora o Planejamento Estratégico Situacionaltenha sido apli- ra do político, também se separa da gerência. Conclusivamente, a
cado em outros locais, em linhas gerais, as estratégias do PES são programação tradicional assume como dados externos ao modelo
orientadas para aplicação nos níveis centrais. programático os dados políticos, institucionais e tecnológicos (no
sentido da armação tecnológica da rede e dos condicionamentos
A Programação local deve ser entendida como um enfoque me- industriais), ou como referências preexistentes.
todológico que contém 3 níveis: 3. A programação local tradicional, quando tenta-se aproximar
— o nível 1 da determinação dos problemas, dos nós críticos das necessidades, o faz a partir dos danos de saúde, negligencian-
dos problemas, da responsabilidade institucional pelo enfrenta- do as condições de vida ou as condições de reprodução social das
mento dos mesmos e das operações necessárias (desdobradas em mesmas, de forma que reduz as necessidades ao plano setorial ou
ações); das condições de saúde. Essa operação, que invalida a aproximação,
— o nível 2 da determinação da combinação de atividades por explica-se pela ausência de um modelo de determinação causal que
nível de complexidade a partir dos grupos populacionais e seus pro- permita a compreensão da realidade pela mediação de níveis de
blemas de saúde; determinação essencial. A permanência no nível epifenomênico da
— o nível 3 da programação de atividades por unidade caracte-
realidade permite apenas que se percebam fenômenos sanitários,
rística de cada nível de complexidade.
mas não permite conhecer ou explicar.
Estes níveis compõem processos inter-relacionados de um
4. A programação local, ao voltar-se sobre recursos abstratos
mesmo modelo teórico (apresentado), em que se resgata uma de-
(a organização otimizada dos mesmos através da normatização
finição macro (fiel à definição do primeiro pressuposto), e, em que
se incorpora, todavia, o requisito da sincronicidade entre programa- instrumental), promove a descaracterização político-institucional
ção regional e local. do atendimento. Esta visão histórica dos recursos contribui para
uniformizar a priori as diferentes instâncias institucionais que con-
A CRÍTICA DA PROGRAMAÇÃO LOCAL TRADICIONAL formam o sistema e dificulta a explicação do seu movimento e a
A crítica da programação local está dirigida invariavelmente ao atuação eficaz.
método CENDES/OPS (1965), por ser esse método talvez a única 5. Enquanto técnica de estimativa de recursos, a programação
expressão acabada de um enfoque normativo da programação no local tem sido aplicada divorciada da “programação regional” (ou
setor saúde. No entanto, essa crítica deve ser aplicada a todas as da programação de rede), isto é, tem assumido preferencialmente
variantes que compartilham com o Método da visão normativa do como objeto, as unidades locais de saúde, considerando, em se-
Planejamento, cujas características limitativas são enumeradas a parado, os níveis de complexidade tecnológica que compõem um
seguir. sistema local ou regional. Esses níveis são assumidos, como já se

60
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
insinuou, como dados preexistentes, ou não são considerados abso- compreensão do planejamento enquanto um sistema comunicacio-
lutamente, o que pode resultar em uma asincronicidade estrutural nal (que abre ou fecha espaços de participação e de conhecimento/
da rede (dos diversos componentes) e em uma limitação séria da ação).
eficiência. A falta de integração e a duplicidade é a consequência
natural de uma falta de formulação simultânea dos âmbitos de rede Esta listagem de elementos de uma crítica da programação
e de unidade local. local, poderia ser ampliada; mas, ela representa, em uma aproxi-
6. A sistemática da programação falha ao concentrar-se na aná- mação a uma síntese, uma lista suficiente das limitações não só da
lise e instrumentalização de problemas sanitários exclusivamente programação quanto do planejamento normativo como um todo.
programáveis no âmbito setorial, isto é, em objetos parciais que são E que, em nenhuma circunstância, justifica-se a separação entre
passíveis de transmutar-se em ações sanitárias. O ponto de partida planejamento e programação, como em geral se patrocina, e, jus-
único da programação (ou a abertura programática) está represen- tamente é isso que tem-se procurado questionar aqui. A ideia de
tado pelos critérios de morbidade, composição populacional (por uma sequência temporal rígida, junto com a noção de um nível su-
sexo e idade) ou pelas ações sanitárias (bastante desagregadas). perior (apanágio da política) que predomina sobre um nível inferior
(apanágio do técnico), em uma escala hierárquico-organizacional,
Esse ponto de vista esquece que os problemas atravessam os se-
compõem algumas das “epistemes” mais controvertidas do discur-
tores e que, portanto, o predomínio do conceito operacional de
so normativo.
programa setorial sobre o conceito amplo de problema abstrai um
espaço extenso de imbricações que fazem parte do conceito am-
pliado de saúde. GOVERNANÇA REGIONAL DAS REDES DE ATENÇÃO À
7. A abstração do nível político se acompanha de uma com- SAÚDE
preensão “cientificista” do nível da programação, que se expressa
no desconhecimento do papel dos atores sociais na formulação e Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi-
implementação de tal nível. Esse desconhecimento leva a uma for- lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em
mulação rígida e egocêntrica dos programas de atuação, que limita nosso site.
a viabilidade. A presunção de que um único ator programa e que Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
esse ator o faz apoiado na objetividade da ciência, o que provo-
ca um alheamento do ator da realidade que programa, tem como
resultado uma abordagem do diagnóstico e das outras “fases” da INOVAÇÃO NA ATENÇÃO AMBULATORIAL ESPECIALI-
programação que se destaca pelo monolitismo e a inflexibilidade. ZADA
Esta rigidez normativa é a causa talvez mais importante do fracasso
dos documentos de programação. Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi-
8. A indefinição de uma intencionalidade que tenha como alvo lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em
o sistema de serviços (justificada em grande parte pela falta de co- nosso site.
municação entre o político e o técnico, ou pela colocação em sepa- Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
rado de ambos os fatores), ou o emprego exclusivo e implícito de
uma situação-objetivo no espaço das condições de saúde (como no
A CRISE CONTEMPORÂNEA DOS MODELOS DE ATEN-
Método a prevenção do maior número de mortes ao menor preço), ÇÃO À SAÚDE
colocam-se como obstáculos à definição e priorização dos proble-
mas, de maneira que ocorre uma dificuldade prática para reconhe-
cer os problemas relativos aos meios fundamentais e, por conse- Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi-
guinte, para encaminhar uma mudança dos mesmos que venha a lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em
ensejar melhores condições de saúde, enquanto critério de eficácia. nosso site.
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
9. A excessiva centralização técnica que acompanha as experi-
ências de programação é um sucedâneo das experiências políticas
vividas, mas pode ser imputada também, a título parcial, à metodo- JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE
logia ou ao enfoque programático, na medida em que os enfoques
tradicionais de planejamento/programação não incorporam a pro- A judicialização da saúde é a necessidade de buscar junto do
blemática organizacional ou a incorporam na forma reprodutória de poder Judiciário uma demanda em relação à saúde que foi ante-
departamentos de planejamento situados no ápice organizacional, riormente negada, seja um tratamento, um medicamento ou até
ou seja, não se tem dado a necessária prioridade à criação de um mesmo leito hospitalar. É última alternativa para garantir a efetiva-
sistema absolutamente descentralizado de programação, que pos- ção da prerrogativa constitucional de direito à saúde (Art. 196 - CF).
sibilite a participação efetiva da população na geração da informa- O tema é de extrema importância e vem ganhando destaque
ção e da linguagem dos programas. na medida em que a necessidade que, se não tratado, pode acarre-
10. A própria linguagem elaborada no interior dos sistemas de tar consequências prejudiciais aos cidadãos.
planejamento, consentânea aos critérios de quantidade com que Isso porque, como citado acima, a judicialização deve ser a últi-
trabalha, destaca-se pela ausência de informação qualitativa ou de ma escolha. Mas, se o Judiciário de intervenção do Poder Judiciário
afirmações de qualidade (que traduzam conceitos sobre o político e na saúde pública se mostra cada vez mais comum, fato também
o social), o que tende a empobrecê-la e a “viesá-la”. À centralização não estiver apto, como serão efetivados os direitos dos indivíduos?
organizacional corresponde uma concentração do nível informacio- Nesse texto vamos entender essa e outras questões envolven-
nal em espaços “ arquetípicos” exclusivamente preenchidos pela do a da judicialização da saúde no Brasil: seu histórico, porque as
tecnocracia. A maior qualificação da linguagem e sua simplificação demandas aumentam cada vez mais, porque devemos discutir esse
(o que subentende uma tarefa cultural) foram exigências escamote- tema e qual é a grande preocupação em relação ao crescimento do
adas pela técnica programática, na medida em que não havia uma fenômeno.

61
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
O que é a judicialização da saúde? do, seja por falta de informação ou de conhecimento técnico, por
Quando um paciente tem indicação de certo medicamento, por exemplo, quanto à escolha de um medicamento ou tratamento, em
exemplo, para tratar uma enfermidade e não tem acesso ao tal me- detrimento de outro. Seria ideal que houvesse a análise também de
dicamento pois ele não está disponível no Sistema Único de Saúde, médicos ou gestores qualificados para auxiliar.
a forma que o paciente tem de reivindicar as doses necessárias é Segundo Luiz Roberto Barroso, é necessário também atentar
entrando na justiça contra o Governo. Isso porque é dever do Esta- à teoria da micro e da macro justiça. Isso porque, no momento em
do garantir a saúde a todos. que o Judiciário passa a atender uma pessoa na área da saúde, in-
Sendo a ação judicial a única e última alternativa do paciente, terfere na macrojustiça, nas decisões administrativas, econômicas e
esse processo é chamado de judicialização da saúde. políticas públicas. Diferente de realizar a justiça no caso concreto,
O fenômeno “tem ganhado relevância no cenário jurídico na- focando em indivíduos ou em um grupo de pessoas – a microjustiça.
cional, uma vez que o cidadão cada vez mais denota a necessidade Por isso é necessária a cautela do magistrado, para não preju-
de recorrer às vias judiciais para buscar a efetivação dos seus direi- dicar a sociedade, já que uma demanda pode se tornar precedente
tos sociais”. (Daniela Recchioni) para outras e aumentar significativamente o custo para o Estado.
Por outro lado, não se pode lesar o indivíduo pois, como já falado, a
saúde é um direito constitucionalmente garantido à todos.
Como ocorre a judicialização da saúde
Infelizmente, nem todas as pessoas e pacientes têm acesso a
E qual o papel dos operadores do direito?
esse tipo de informação e sequer sabem que têm direito ou como
O papel do advogado em casos de judicialização da saúde é
podem fazer para buscar a efetivação desse direito.
administrar o que chamam de “contenção saudável”. Ou seja, dis-
A Constituição Federal de 1988 é que prevê a saúde como um cutir os problemas do ponto de vista jurídico, de forma a evitar a
direito social (art. 6o) de todos e um dever do Estado: demanda judicial.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garan- Buscar o diálogo, reunir grupos de pesquisa para concretizar
tido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução possíveis soluções, fazer chamadas de audiência pública e até assi-
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e nar Termos de Ajuste de Conduta. São ferramentas que podem tra-
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e zer soluções a médio e longo prazo, e que poderiam, inclusive, gerar
recuperação.” uma economia de dinheiro público, baseado na execução planejada
Sendo assim, quando o Estado não cumpre o seu dever, os indi- de projetos públicos e aquisição de medicamentos, materiais, etc.
víduos têm instrumentos para garantir a efetivação do direito, não Uma sugestão para o profissional do direito que atua em be-
podendo ser excluído o Poder Judiciário, conforme o art. 5o inciso nefício dos pacientes, se realmente necessária a judicialização do
XXXV: caso, é preconizar as ações coletivas, pois elas apresentam uma
Art. 5o (…) XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder economia de tempo, de dinheiro, de trabalho e atingem um núme-
Judiciário lesão ou ameaça a direito” ro maior de pessoas.
Todavia, a necessidade de acesso à saúde pelo povo é superior Quando aos operadores do direito que atuam pelo poder pú-
à capacidade do Estado de garantir a efetivação de políticas públi- blico, o auxílio pode vir de um trabalho interdisciplinar entre os pro-
cas para a implementação efetiva dos direitos sociais. Isso acaba fissionais da saúde e o judiciário, de forma que, como já falado, a
sobrecarregando o sistema de saúde e, consequentemente, geran- atuação conjunta pode proporcionar melhor decisões e resultados
do insatisfações que, por sua vez, demandam de atenção do Poder mais eficientes.
Judiciário para dirimir as questões. Na visão do Juiz de direito Marcos Salles, do TJPB, cada ma-
Assim, o movimento gerado pela busca na efetivação das prer- gistrado tem uma visão micro individual do processo e, por óbvio,
rogativas constitucionais é a chamada judicialização. não desejam dar causa a um óbito. Por isso, segundo ele, o Poder
Com a necessidade de um apoio para além da saúde pública, Judiciário tem se esforçado para atuar com uma macrovisão do SUS,
surgiu a saúde suplementar. As redes privadas e seus planos de tentando entender melhor as demandas e atuar em colaboração.
saúde também se inserem no fenômeno da judicialização, uma vez
Como evitar a judicialização da saúde no Brasil?
que existem inúmeras demandas em razão da negativa em fornecer
Outras duas sugestões de mudanças práticas podem auxiliar na
determinado medicamento ou em cobrir tratamentos obrigatórios
redução das ações judiciais.
conforme a Agência Nacional de Saúde define.
Uma delas é ter decisões mais razoáveis e ponderação da res-
ponsabilidade solidária dos entes federativos. Muitas vezes é pos-
Situação da judicialização da saúde no Brasil sível ver que eles se desincumbem de cumprir um papel que na
Apesar de a judicialização das demandas, inicialmente, ser uma verdade é de todos – isso significa dizer que qualquer um pode ser
exceção, ou seja, ser a última alternativa, não é o que tem aconte- demandado e não cabe ao paciente, já em condição de hipossufi-
cido. ciência, buscar quem seria o responsável.
Em 2010, por exemplo, os gastos com demandas judiciais Quando às decisões, tratando-se, na maioria dos casos de de-
chegaram a quase 2% do orçamento referente à saúde. A grande mandas urgentes, não há que se falar em licitação. Portanto, o Es-
preocupação é o colapso que pode ser gerado não só no sistema de tado é quase que obrigado a adquirir produtos e medicamentos da
saúde, desequilibrando o orçamento e prejudicando eventuais po- primeira empresa que ofertar, impossibilitando, algumas vezes, a
líticas públicas que eram previstas, mas no judiciário também, uma coerência no valor e comprometendo o orçamento.
vez que a aumento do número de demandas, reduz a celeridade A segunda sugestão é atualizar com mais frequência a Relação
processual, causando danos especialmente àqueles que necessitam Nacional de Medicamentos – RENAME e os protocolos do SUS, pois
de uma prestação jurisdicional urgente. isso evitaria que o paciente buscasse no Poder Judiciário o deferi-
Além disso, outra discussão é sobre o conhecimento técnico e mento a novos tratamentos ou medicamentos, justificando que os
científico dos julgadores que analisam as demandas da saúde. Em apresentados pelo SUS estão obsoletos.
se tratando de um tema com abordagem mais complexa e espe- fonte: https://www.aurum.com.br/blog/judicializacao-da-sau-
cífica, nem sempre terá como árbitro um juiz de direito qualifica- de/

62
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

ESTRATÉGIA DE SAÚDE DIGITAL PARA A REGULAÇÃO NO SUS


O BRASIL 2020 A 2028
A regulação no Setor Saúde é compreendida como ação social e
Já está disponível para o público o documento Estratégia de abrange ações de regulamentação, fiscalização, controle, auditoria
Saúde Digital para o Brasil 2020-2028, que apresenta a perspectiva e avaliação de determinado sujeito social sobre a produção de bens
de ações voltadas para a área nos próximos oito anos. e serviços em saúde, sendo o Estado um desses sujeitos e os outros
A estratégia procura sistematizar e consolidar o trabalho rea- sujeitos não estatais, como segmentos privados lucrativos presen-
lizado ao longo da última década, materializado em diversos docu- tes no setor (planos e seguros de saúde), corporações profissionais,
mentos e, em especial, na Política Nacional de Informação e Infor- usuários organizados (conselhos de saúde, por exemplo), dentre
mática em Saúde – PNIIS, publicada em 2015 e em revisão em 2020, outros (Mendonça, 2006).
na Estratégia e-Saúde para o Brasil, publicada em 2017, e no Plano Os principais papéis regulatórios do SUS, de acordo com Men-
de Ação, Monitoramento e Avaliação de Saúde Digital para o Brasil, des (2002), são: a condução política e o planejamento estratégico,
aprovado em 2019 e publicado em 2020. a contratualização dos serviços, a avaliação tecnológica em saúde,
A Estratégia de Saúde Digital busca nortear e alinhar as diversas a avaliação econômica dos serviços de saúde, o sistema de aces-
atividades e projetos públicos e privados, potencializando o poder so regulado à atenção, o desenvolvimento de recursos humanos,
de transformação da saúde digital no Brasil. a normalização dos processos de trabalho, o controle e a avaliação
A portaria de publicação do documento da ESD está em fase dos serviços de saúde, a auditoria em saúde, a vigilância em saúde
final de tramitação no MS e em breve ambos (portaria e documento e o desenvolvimento científico e tecnológico.
da ESD28) serão publicados na íntegra. A portaria GM/MS nº 1.559, de 1º de agosto de 2008, instituiu
a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde – SUS,
Plano de Ação de Saúde Digital 2020-2028 compreendendo 3 dimensões
O Plano de Ação de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 des-
creve o conjunto de atividades a serem executadas e os recursos
1) Regulação de Sistemas de Saúde:
necessários para a implementação da Visão de Saúde Digital, asso-
• Objeto: os sistemas de saúde municipais, estaduais e nacio-
ciados a etapas evolutivas. O Plano foi elaborado em torno dos três
nal,
grandes eixos de ação e de sete prioridades que, ao serem atendi-
das, levarão gradativamente à Visão. • Sujeitos: respectivos gestores públicos,
Eixo 1 – Ações do MS para o SUS – Este eixo reconhece e valori- • Objetivo: definir, a partir dos princípios e diretrizes do SUS,
za o Programa Conecte SUS e suas iniciativas como ações essenciais macrodiretrizes para a Regulação da Atenção à Saúde e executar
para que a Visão de Saúde Digital seja alcançada. ações de monitoramento, controle, avaliação, auditoria e vigilância
Eixo 2 – Definição de Diretrizes para Colaboração e Inovação desses sistemas;
em Saúde Digital – Este eixo reconhece e valoriza a necessidade de
expansão e consolidação da governança e dos recursos organizacio- 2) Regulação da Atenção à Saúde:
nais que sustentarão a Estratégia de Saúde Digital. • Objeto: a adequada prestação de serviços à saúde,
Eixo 3 – Estabelecer e Catalisar a Colaboração – Este eixo visa à • Sujeitos: Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde,
implantação do Espaço de Colaboração da Estratégia de Saúde Di- • Objetivo: garantir, conforme pactuação estabelecida no Ter-
gital, como um espaço conceitual, virtual, distribuído, lógico e físico mo de Compromisso de Gestão do Pacto pela Saúde/Indicadores
que viabilize a colaboração entre todos os atores em Saúde Digital, COAP, a prestação de ações e serviços de saúde,
com claras definições de expectativas, papéis e responsabilidades.
3) Regulação do Acesso à Assistência (regulação do acesso ou
Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi- regulação assistencial):
lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em • Objeto: acesso aos serviços de saúde,
nosso site. • Sujeitos: seus respectivos gestores públicos,
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. • Objetivo: Organizar os fluxos assistenciais no âmbito do SUS,

PLANO ESTADUAL DE SAÚDE 20/23 Há em alguns momentos uma confusão entre os conceitos de
regulação assistencial e regulação de acesso. Segundo o Ministério
da Saúde (2006), a regulação assistencial é o conjunto de relações,
O Plano Estadual de Saúde (PES) é o principal instrumento de saberes, tecnologias e ações que intermedeiam a demanda das pes-
planejamento da gestão estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) soas usuárias por serviços de saúde e o acesso a eles segundo dife-
e tem como objetivo orientar as políticas públicas no período, com
rentes perfis de demanda e de oferta, e a regulação do acesso é o
base nas necessidades de saúde da população gaúcha e nos deter-
estabelecimento de meios e ações para a garantia do direito consti-
minantes e condicionantes do processo saúde-doença. A partir da
tucional do acesso universal, integral e equânime, independente de
análise situacional do território, de forma regionalizada, são defini-
pactuação prévia estabelecida na programação de ações e serviços
das diretrizes, objetivos e metas a serem alcançados no período de
4 anos e identificada a estratégia para o monitoramento e a avalia- de saúde e da disponibilidade de recursos financeiros.
ção das metas previstas no âmbito estadual. A Regulação Assistencial é uma das macrofunções a serem de-
sempenhadas pelo gestor estadual, sendo direcionada à promoção
Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi- dos princípios da equidade e da integralidade do cuidado, através
lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em do controle do fluxo da demanda por assistência à saúde em todas
nosso site. as Unidades prestadoras de serviços, como também pelo redimen-
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. sionamento da oferta, diminuição ou expansão, de acordo com as
necessidades da população. Portanto, além de contribuir na oti-

63
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
mização dos recursos de saúde existentes, a regulação do acesso mar as práticas profissionais. Caracteriza-se, portanto, como uma
busca a qualidade da ação por meio da resolubilidade, a resposta intensa vertente educacional com potencialidades ligadas a meca-
adequada aos problemas clínicos e a satisfação do usuário. nismos e temas que possibilitam gerar reflexão sobre o processo de
A regulação assistencial é prerrogativa do gestor e a regula- trabalho, autogestão, mudança institucional e transformação das
ção do acesso é delegada pelo gestor ao regulador. Ao regular o práticas em serviço, por meio da proposta do aprender a apren-
acesso, com base nos protocolos clínicos, linhas de cuidado e fluxos der, de trabalhar em equipe, de construir cotidianos e eles mesmos
assistenciais definidos previamente, a regulação estará exercendo constituírem-se como objeto de aprendizagem individual, coletiva
também a função de orientar os processos de programação da as- e institucional.
sistência, assim como o planejamento e a implementação das ações Nessa perspectiva, o Ministério da Saúde instituiu, no ano
necessárias para melhorar o acesso (Conass, 2011). de 2004, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
A regulação das referências intermunicipais é responsabilidade (PNEPS) como estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) para a
do gestor estadual, expressa na coordenação do processo de cons- formação e o desenvolvimento dos seus profissionais e trabalhado-
trução da programação pactuada e integrada da atenção em saú- res, buscando articular a integração entre ensino, serviço e comu-
de, do processo de regionalização e do desenho das redes (Brasil, nidade, além de assumir a regionalização da gestão do SUS, como
2006).
base para o desenvolvimento de iniciativas qualificadas ao enfren-
O gestor estadual tem como responsabilidades na regulação
tamento das necessidades e dificuldades do sistema.
assistencial:
A PNEPS tem como finalidade transformar as práticas do traba-
• Apoiar a identificação dos usuários do SUS no âmbito esta-
lho, com base em reflexões críticas, propondo o encontro entre o
dual, com vistas à vinculação de clientela e à sistematização da ofer-
ta dos serviços; mundo da formação e o mundo do trabalho, através da interseção
• Manter atualizado o cadastramento no Sistema Nacional de entre o aprender e o ensinar na realidade dos serviços.
Cadastro de Estabelecimentos e Profissionais de Saúde, bem como
coordenar e cooperar com os municípios nessa atividade; Ações educativas aos usuários dos serviços de saúde
• Elaborar e pactuar protocolos clínicos e de regulação de Objetivos
acesso, no âmbito estadual em consonância com os protocolos e - Relacionar a teoria da educação com a prática vivenciada;
diretrizes nacionais, apoiando os municípios na implementação dos - Relacionar os conceitos de comunicação e participação à prá-
mesmos; tica educativa;
• Controlar a referência a ser realizada em outros estados, - Refletir sobre onde estamos e o que esperamos da ação edu-
de acordo com a programação pactuada e integrada da atenção à cativa;
saúde, procedendo à solicitação e/ou à autorização prévia, quando - Decidir qual é a educação que pretendemos praticar.
couber;
• Operar a central de regulação estadual, para as referências Repensando a Prática
interestaduais pactuadas, em articulação com as centrais de regu- Existem várias maneiras de entender e fazer educação. Muitas
lação municipais; vezes, na prática, a educação tem sido considerada apenas como
• Coordenar e apoiar a implementação da regulação da aten- divulgação, transmissão de conhecimentos e informações, de for-
ção às urgências, de acordo com a regionalização e conforme nor- ma fragmentada e, muitas vezes, distante da realidade de vida da
mas vigentes e pactuações estabelecidas; população ou indivíduo.
• Estimular e apoiar a implantação dos complexos reguladores “É sempre bom lembrar que a atividade educativa não é um
municipais; pr ocesso de condicionamento para que as pessoas aceitem, sem
• Participar da cogestão dos complexos reguladores munici- perguntar, as orientações que lhes são passadas. A simples infor-
pais, no que se refere às referências intermunicipais; mação ou divulgação ou transmissão de conhecimento, de como ter
• Operar os complexos reguladores no que se refere à referên- saúde ou evitar uma doença, por si só, não vai contribuir para que
cia intermunicipal, conforme pactuação; uma população seja mais sadia e nem é fator que possa contribuir
• Monitorar a implementação e a operacionalização das cen-
para mudanças desejáveis para melhoria da qualidade de vida da
trais de regulação.
população”.
(Conass, 2011).
“As mudanças no sentido de ter, manter e reivindicar por saúde
Dentre os instrumentos de regulação do acesso assistencial
ocorre quando o indivíduo, os grupos populares e a equipe de saú-
preconizados estão os protocolos clínicos e os operacionais. Os
protocolos clínicos, são entendidos como a padronização do uso de de participam. A discussão, a reflexão crítica, a partir de um dado
recursos terapêuticos e propedêuticos estratégicos, seja pelo alto conhecimento sobre saúde/doença, suas causas e consequências,
custo, disponibilidade inferior à demanda ou pela importância para permitem que se chegue a uma concepção mais elaborada acerca
a qualidade da assistência. Os protocolos operacionais pretendem do que determina a existência de uma doença e como resolver os
ordenar o fluxo de pacientes entre os níveis de complexidade, defi- problemas para modificar aquela realidade”.
nindo os limites resolutivos de cada um deles, possibilitando a pac-
tuação entre gestores. Os Problemas e Desafios
Muitos daqueles que trabalham na área da Educação encon-
tram dificuldades no seu dia-a-dia, como:
EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE - Recomendação de práticas diferentes por instituições diferen-
tes e relacionadas a uma mesma ação que se espera da população.
Política Nacional de Educação Permanente (PNEPS) - Recomendação de práticas com barreiras socioeconômicas ou
A Educação Permanente em Saúde (EPS) se configura como culturais que dificultam e/ou restringem a sua execução.
uma proposta de aprendizagem no trabalho, onde o aprender e - Despreocupação com o universo conceitual da população,
o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações. A EPS se achando que tudo depende da transmissão do conhecimento téc-
baseia na aprendizagem significativa e na possibilidade de transfor- nico.

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Cabe a nós propiciar condições para que o processo educativo to atores do cenário do cuidado físico e mental, que reforçamos a
aconteça e, para isso, devemos ter muito claro o que entendemos importância de que seja discutido, entre os diversos profissionais
por educação. de saúde ligados diretamente à assistência ao cliente, e aqui desta-
Uma maneira de perceber se uma atividade educativa está de camos o enfermeiro, o cuidado emocional, resultando na busca do
acordo com uma proposta de educação transformadora é descobrir bem estar e qualidade de vida do cliente.
qual a sua utilidade. Analisando as atividades de Educação em Saú- Nessa realidade o enfermeiro deve buscar conhecimentos e
de desenvolvidas nos serviços de saúde, na escola, na comunidade. processo instrucional para encontrar uma maneira de ação que tor-
ne o cuidado de enfermagem mais humano. Pois, como agente de
“A partir de Algumas das características do processo de edu- mudança, o enfermeiro de amanhã será diferente do de hoje, e o de
cação, partimos da admissão de que existe dois saberes: o saber hoje é diferente do de anos passados. Os novos horizontes da enfer-
técnico e o saber popular, distintos, mas não essencialmente opos- magem exigem do profissional responsabilidade de elaboração de
tos, e que a educação, como processo social, exigirá o confronto e a um cuidado holístico, devendo estar motivado para acompanhar os
superação desses dois saberes”. conhecimentos e para aplicá-los.
“Em seu dia-a-dia, a população desenvolve um saber popular Uma das principais e mais comuns situações vivenciadas por
que chega a ser considerável. Embora a este saber falte uma siste- enfermeiros é o cuidado prestado ao cliente submetido à interna-
matização coletiva, nem por isso é destituído de validez e importân- ção hospitalar. Embora possa ser o cotidiano de milhares de enfer-
cia. Não pode, pois, ser confundido com ignorância e desprezado meiros, a experiência da internação hospitalar cria situações únicas
como mera superstição. Ele é o ponto de partida e sua transforma- de estresse não só para os clientes, mas também para suas famílias.
ção, mediante o apoio do saber técnico-científico, pode constituir- Vários pesquisadores têm documentado a repercussão dos níveis
-se num processo educativo sobre o qual se assentará uma organi- de estresse, ansiedade e angústia na evolução e prognóstico de um
zação eficaz da população, para a defesa dos seus interesses.” cliente, bem como no âmbito familiar. Na perspectiva do cliente que
“O saber técnico, ao se confrontar com o saber popular, não necessita de internação hospitalar esse processo é permeado pelo
pode dominá-lo, impor-se a ele. A relação entre estes dois sabe- medo do desconhecido, como a utilização de recursos tecnológicos,
res não poderá ser a transmissão unidirecional, vertical, autoritária, muitas vezes invasivos, linguagem técnica e rebuscada, pela apreen-
mas deverá ser uma relação de diálogo, relação horizontal, bidire- são de estar em um ambiente estranho, e ainda pela preocupação
cional, democrática. Diálogo entendido não como um simples falar com sua integridade física, em decorrência do processo patológico,
sobre a realidade, mas como um transformar-se conjunto dos dois motivo de sua internação hospitalar.
Assim, ao considerarmos o enfermeiro o profissional que per-
saberes, na medida em que a própria transformação da realidade
manece mais tempo ao lado do cliente, este deve ser o facilitador
é buscada.”
na promoção do bem-estar bio-psico-sócio-espiritual e emocional
“O conteúdo educativo deste processo de encontro e confron-
do cliente, conduzindo-o às melhores formas de enfrentamento do
to não será, portanto, predeterminado pelo pólo técnico. O con-
processo de hospitalização. Consideramos relevante realizar uma
fronto dar-se-á num processo de produção em que o conteúdo é
reflexão sobre as interfaces do cuidado emocional ao cliente hos-
o próprio saber popular que se transforma com a ajuda do saber
pitalizado de forma a contribuir para a melhoria da qualidade da
técnico, enquanto instrumento do próprio processo.”
assistência de enfermagem, sob o prisma do processo de comuni-
“A ação educativa não implica somente na transformação do
cação.
saber, mas também na transformação dos sujeitos do processo,
tanto dos técnicos quanto da população. O saber de transformação A comunicação e o cuidado emocional
só pode produzir-se quando ambos os pólos da relação dialógica O termo comunicar provém do latim communicare que signifi-
também se transformam no processo.” ca colocar em comum. A partir da etimologia da palavra entende-
mos que comunicação é o intercâmbio compreensivo de significa-
Cumpre, finalmente, lembrar que um processo educativo como ção por meio de símbolos, havendo reciprocidade na interpretação
o que se esboça acima supõe, também, por parte dos técnicos que da mensagem verbal ou não verbal. Freire afirma que “o mundo
dele participam competência técnica, no mais amplo sentido da pa- social e humano, não existiria como tal, se não fosse um mundo de
lavra, o que significa conhecimento não apenas dos aspectos mera- comunicabilidade, fora do qual é impossível dar-se o conhecimento
mente tecnológicos, mas também conhecimento das estruturas e humano. A intersubjetividade ou a intercomunicação é a caracterís-
processos econômicos e políticos da sociedade na qual se insere a tica primordial deste mundo cultural e histórico”.
sua prática social. “Portanto, boa vontade só não basta.” Partimos da premissa de que a comunicação é um dos mais im-
portantes aspectos do cuidado de enfermagem que vislumbra uma
Comunicação melhor assistência ao cliente e à sua família que estão vivenciando
O mundo globalizado de hoje, exige profissionais cada vez mais ansiedade e estresse decorrentes do processo de hospitalização, es-
capacitados, principalmente, do ponto de vista tecnológico, exigin- pecialmente em caso de longos períodos de internação ou quando
do atributos e conhecimentos dos trabalhadores para responder às se trata de quadros de doença terminal. Portanto, a comunicação é
demandas impostas pelas mudanças sociais e econômicas. Nesse algo essencial para se estabelecer uma relação entre profissional,
contexto as interações pessoais acabam por assumir uma condição cliente e família. Algumas teorias afirmam que o processo comuni-
inferior. Estamos vivendo num mundo de poucas palavras, onde a cativo é a forma de estabelecer uma relação de ajuda ao indivíduo
imagem predomina, em uma cultura onde a razão se sobrepõe à e à família.
emoção. A cada dia, visualizamos a valorização do ter e a deificação Tratando-se do relacionamento enfermeiro-cliente, o processo
do ser. de comunicação precisa ser eficiente para viabilizar uma assistência
Englobado por essas reformulações econômicas, sociais e polí- humanística e personalizada de acordo com suas necessidades. Por-
ticas, o setor saúde sofre os impactos dos ajustes macroestruturais tanto, o processo de interação com o cliente se caracteriza não só
de busca da produtividade, tecnologia e qualidade dos serviços, por uma relação de poder em que este é submetido aos cuidados
exigindo novos atributos de qualificação dos profissionais de saú- do enfermeiro, mas, também por atitudes de sensibilidade, aceita-
de. É a partir dessa premissa, e diante da nossa realidade enquan- ção e empatia entre ambos.

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O objeto de trabalho da enfermagem é o cuidado. Cuidado Heaven & Maguire realizaram uma sondagem pré-teste, conce-
esse que deve ser prestado de forma humana e holística, e sob a luz deram treinamento sobre habilidades comunicativas aos enfermei-
de uma abordagem integrada, não poderíamos excluir o cuidado ros e realizaram um pós-teste. Ao final do estudo os autores identi-
emocional aos nossos clientes, quando vislumbramos uma assis- ficaram que a habilidade de comunicação do enfermeiro melhorou
tência de qualidade. Ao cuidarmos de alguém, utilizamos todos os de forma significativa após o treinamento. Wilkinson et al e Kruijver
nossos sentidos para desenvolvermos uma visão global do processo et al encontraram que após um treinamento dessa natureza as en-
observando sistematicamente o ambiente e os clientes com o intui- fermeiras melhoraram a avaliação dos problemas do cliente e do
to de promover a melhor e mais segura assistência. No entanto, ao conteúdo emocional revelados pelo mesmo.
nos depararmos com as rotinas e procedimentos técnicos deixamos Além de uma educação continuada relacionada à comunicação
de perceber importantes necessidades dos clientes (sentimentos, sugerimos a visita diária de enfermagem como um importante ar-
anseios, dúvidas) e prestar um cuidado mais abrangente e persona- tifício para identificar o nível de necessidade de segurança, amor,
lizado que inclua o cuidado emocional. autoestima, espiritualidade e biofisiológico do cliente. É a partir da
Skilbeck & Payne conduziram uma revisão de literatura objeti- visita de enfermagem que o enfermeiro estabelece um processo de
vando compreender a definição de cuidado emocional e como en- comunicação com o cliente possibilitando o esclarecimento de dú-
fermeiros e clientes podem interagir para produzir relacionamentos vidas quanto à evolução e prognóstico do cliente, aos procedimen-
de suporte emocional. As autoras relatam a ausência de uma defi- tos a serem realizados, normas e rotinas da instituição ou unidade
nição clara do que venha a ser o cuidado emocional existindo va- de internação e estrutura física hospitalar, desempenhando um im-
riações na literatura quanto ao uso dessa terminologia ao referir-se portante papel na redução dos quadros de tensão e ansiedade que
como “cuidado emocional e apoio”, “cuidado psicológico” e “cui- repercutem no quadro clínico do cliente.
dado psicossocial”. Ao realizarem uma análise mais detalhada as Do contrário uma inviabilização do processo comunicativo na
autoras perceberam ainda que o cuidado emocional pode ter vários relação profissional-cliente, pode desencadear situações de estres-
significados quando visto sob o prisma de diferente marcos teórico se. Santos refere que os diálogos ocorridos junto à cama do cliente,
e contextos sociais, e, portanto a ausência de uma definição e sig- repletos de termos técnicos, geralmente inacessíveis, são interpre-
nificados próprios repercute na prática assistencial do enfermeiro. tados pelo cliente conforme seu conhecimento, e o impacto emo-
Contudo, para a condução de nossa reflexão assumimos que cional da postura silenciosa de enfermeiros e médicos, podem agra-
o cuidado emocional é a habilidade de perceber o imperceptível, var ainda mais o estado de ansiedade e tensão. Portanto, atitudes
como estas devem ser evitadas durante toda a internação, na ten-
exigindo alto nível de sensibilidade para as manifestações verbais e
tativa de minimizar seu impacto na qualidade assistencial do cliente
não verbais do cliente que possam indicar ao enfermeiro suas ne-
no momento em que este se encontra mais fragilizado.
cessidades individuais.
Destarte para uma melhor qualidade dos serviços de saúde é
Portanto, consideramos que a promoção de um cuidado holís-
vital conhecer não só a visão do cliente, mas também da família de
tico que envolva as necessidades bio-psico-sócio-espiritual e emo- forma a estarmos sensíveis para oferecer um cuidado que atenda
cional perpassa por um processo comunicativo eficaz entre enfer- às expectativas do cliente e da família diminuindo a repercussão do
meiro-cliente. Todavia entendemos que o processo de comunicação estresse e ansiedade no processo de hospitalização.
se constrói de diferentes formas, e que para haver comunicação a Segundo Wright & Leahey “a enfermagem tem um compro-
expressão verbal (através do uso das palavras) ou não verbal (a pos- misso e obrigação de incluir as famílias nos cuidados de saúde. A
tura, as expressões faciais, gestos, aparência e contato corporal) de evidência teórica, prática e investigacional do significado que a fa-
um dos sujeitos, tem que ser percebida dentro do universo de sig- mília dá para o bem-estar e a saúde de seus membros bem como
nificação comum ao outro. a influência sobre a doença, obriga os enfermeiros a considerar o
Caso isso não aconteça, não haverá a compreensão de sinais cuidado centrado na família como parte integrante da prática de
entre os sujeitos, inviabilizando o processo comunicativo e conse- enfermagem”.
quentemente comprometendo o cuidado. Waldow deixa claro que A promoção do cuidado emocional tem alcançado resultados
o cuidar se inicia de duas formas: como um modo de sobreviver e positivos na sobrevida do cliente. McCorkle et al realizaram um
como uma expansão de interesse e carinho. Assim, o primeiro faz- estudo correlacionando os sintomas de estresse e as intervenções
-se notar em todas as espécies animais e sexos, e o segundo ocorre de cuidado do emocional. Os autores encontraram uma relação
exclusivamente entre os humanos, considerando sua capacidade de estatisticamente significante entre os sintomas e as intervenções
usar a linguagem, entre outras formas, para se comunicar com os revelando que os clientes que morreram mais precocemente foram
outros. aqueles que receberam menos intervenções de cuidado emocional.
Para aperfeiçoar uma assistência mais holística a equipe de A partir dessas evidências ratificamos a importância do cuidado
enfermagem pode estabelecer estratégias de cuidados para atingir emocional para a recuperação e sobrevida do cliente hospitalizado,
seus objetivos. Contudo, ratificamos uma vez mais que a comunica- todavia, não devemos nos esquecer em momento algum o cuida-
ção é o elemento chave para a construção de qualquer estratégia do técnico-científico. Na realidade, essas diferentes dimensões do
que almeje o cuidado emocional. Alguns autores têm identifica- cuidado devem caminhar juntas, se complementando harmonica-
do que problemas de comunicação ou comunicação insatisfatória mente.
entre enfermeiro e cliente, especialmente quando relacionados a Para prestarmos o cuidado emocional é necessário sermos
bons ouvintes, expressando um olhar atencioso, tocando e confor-
clientes terminais, devido ao medo da morte, ansiedade do enfer-
tando os nossos clientes, e recuperando sua autoestima.
meiro sobre a habilidade do cliente de enfrentar a doença, falta de
Quanto aos efeitos comportamentais do tocar, olhar e do ouvir,
tempo, falta de treinamento de como interagir com estes clientes,
estes apresentam contribuição essencial à segurança, proteção e
e ansiedade sobre as consequências negativas para os clientes têm
autoestima de uma pessoa. Segundo Montagu, o tocar desenvolve
repercutido no estabelecimento de uma melhor interação enfer- ostensivas vantagens em termos de saúde física e mental. Tocar al-
meiro-cliente. guém com a intenção de que essa pessoa se sinta melhor, por si só
Portanto, se faz relevante que o enfermeiro possa submeter-se já é terapêutico, portanto o ato de tocar alguém é confortável e faz
a treinamentos relacionados à habilidade de comunicação. parte do cuidado emocional.

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Consideramos que o cuidado emocional ao cliente hospitaliza- O processo de planejamento contempla pelo menos três mo-
do se faz de suma importância para a melhoria da qualidade de mentos em permanente interação: preparação, acompanhamento
vida, não só do cliente, mas de sua família. Enfatizamos a impor- e revisão crítica dos resultados, buscando-se sempre caminhos que
tância da visita de enfermagem com uma abordagem sistematizada facilitem a realização do que foi previsto. Se em todos os setores da
visando um atendimento holístico como uma oportunidade de pro- atividade humana o planejamento se reveste da maior importância
mover o cuidado emocional. Essa sistematização do cuidado deve para prever melhor as ações e seus efeitos, a área da Educação em
estar registrada, de forma a proporcionar uma comunicação efetiva Saúde não pode fugir a esta premissa.
entre os membros da equipe de saúde e a avaliação da eficácia do
cuidado prestado ao cliente, contribuindo para um melhor nível as- A Educação para a participação e o Planejamento Participa-
sistencial. tivo
Devemos enxergar o cliente hospitalizado como um ser com- Existem várias formas de fazer planejamento. “Quando apenas
plexo que possui necessidades no âmbito bio-psico-sócio-espiritual as equipes de saúde pensam e decidem o que deve ser feito, isto é
e emocional o qual se encontra fragilizado pela doença. Porém, essa um planejamento centralizado. Ele é mais rápido e permite o con-
pessoa ainda mantém a sua individualidade, e na maioria das vezes trole pelo gestor de saúde, e atende às necessidades de natureza
é capaz de decidir e/ou opinar sobre o cuidado a ser prestado. E epidemiológica, mas, frequentemente não reflete as necessidades
os enfermeiros devem estar sensibilizados para perceber essa in- mais sentidas da população, e nem sempre permite a participação
dividualidade e as necessidades de cada um, facilitando assim seu social no controle e fiscalização das ações.”
processo de recuperação, diminuindo o tempo da internação e con- Outra forma é a do planejamento participativo, onde a popu-
sequentemente os índices de infecção hospitalar. lação, junto com a equipe de saúde, discute seus problemas e en-
Nessa perspectiva esperamos que esta reflexão seja mais um contra as soluções para as suas reais necessidades. Esta forma de
passo para a realização de muitas outras, além de estudos mais de- planejar aproxima-se mais da proposta da educação para a partici-
talhados que contemplem o cuidado emocional em enfermagem pação nas ações de saúde.
aos diferentes tipos de clientes, contribuindo assim para a melhoria Uma ação educativa problematizadora e participativa, numa
da qualidade da assistência de enfermagem. perspectiva mudança, pressupõe que a população compartilhe de
forma real de todos os passos da ação: planejamento, execução e
A Educação em Saúde: Planejando nossa Ação avaliação. A população deverá participar “tomando parte” nas de-
cisões, assumindo as responsabilidades que lhe cabem, compreen-
Objetivos dendo as ações de caráter técnicas realizadas ou indicadas.
- Discutir e analisar o conceito de planejamento, com ênfase no Neste processo, as respostas aos problemas não são prepara-
planejamento participativo. das e decididas pelos técnicos, mas são buscadas, a partir da análise
- Identificar a relação existente entre o processo educativo, a e reflexão, entre técnicos e população sobre a realidade concreta,
participação e o planejamento participativo. seus problemas, suas necessidades e interesses na área da saúde.
- Identificar as principais etapas do planejamento. Esta ação conjunta pressupõe um processo dialógico, bidirecional e
- Identificar as fases do diagnóstico para a operacionalização democrático, que favorecerá não só a transformação da realidade,
das ações educativas. mas também dos próprios técnicos e da população.
- Refletir e decidir qual o papel da equipe e de cada profissional
no desempenho de sua função educativa. Etapas do Planejamento
O planejamento, sendo um processo ordenado, pressupõe cer-
Planejamento tos passos, momentos ou etapas básicas, estabelecidos em uma
Fazer planos é uma atividade conhecida do homem desde que ordem lógica. Para o planejamento do componente educativo das
ele se descobriu com capacidade de pensar antes de agir. Mas foi ações de saúde, regra geral, seguem-se as seguintes etapas:
com o desenvolvimento comercial e industrial, ocorrido com o ca- - Diagnóstico, compreendendo a coleta de dados, a discussão,
pitalismo, que surgiu a preocupação de planejar as ações antes que a análise e interpretação dos dados, e o estabelecimento de prio-
elas ocorressem. Hoje, em todos os setores da atividade humana, ridades.
fala-se muito em planejamento, com maior ênfase na área gover- - Plano de Ação, incluindo a determinação de objetivos, popu-
namental. Atualmente ele é uma necessidade em todas as áreas lação-alvo, metodologia, recursos e cronograma de atividades.
de atuação. Quanto maior a complexidade dos problemas, maior - Execução, implicando na operacionalização do plano de ação.
é a necessidade de planejar as ações para garantir melhores resul- - Avaliação, incluindo a verificação de que os objetivos propos-
tados. tos foram ou não alcançados.
Planejar, definindo de forma simples e comum, é não improvi- Um dos princípios do planejamento participativo é a flexibilida-
sar. É compatibilizar um conjunto diversificado de ações, de manei- de, que permite a reformulação das ações planejadas durante sua
ra que sua operacionalização possibilite o alcance de um objetivo execução. A avaliação, nesta perspectiva, deve iniciar-se na etapa
comum. É o processo de decidir o que fazer. É a escolha organizada de diagnóstico e acompanhar todas as fases do planejamento. A
dos melhores meios e maneiras de se alcançar os objetivos propos- avaliação realizada após a execução, além de identificar os resulta-
tos. Planejar é preparar e organizar bem uma ação, decidir o que fa- dos alcançados, também fornece subsídios para a reprogramação
zer e acompanhar a sua execução, reformular as decisões tomadas, das ações, bem como indica a necessidade de novas ações de diag-
redirecionar a sua execução, se necessário, e avaliar os resultados nóstico.
ao seu término. Acompanhar a execução das ações é importante
para verificar se os objetivos pretendidos estão sendo alcançados
ou não.

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O que entendemos por diagnóstico Esses fatores direcionam para um diagnóstico descritivo/analí-
É uma leitura da realidade, que se aproxima o mais possível tico e/ou participativo. Quando definimos qual será nossa prática a
da “verdadeira realidade”, permitindo a compreensão e a sistema- partir de um modelo de pensamento uni casual, além de podermos
tização dos problemas e necessidades de saúde de uma população, incorrer no equívoco de colocar em execução um plano de ação
bem como o conhecimento de suas características socioeconômi- baseado em prioridades e objetivos que dificilmente terão como
cas e culturais. Deve permitir também o conhecimento das causas produto final a resolução do problema, ainda corremos o risco de
(variáveis) e consequências de seus agravos de saúde, e como estes dirigir recursos, profissionais e ações para áreas que extrapolam o
influenciam e são influenciados por fatores econômicos, políticos e nosso poder de decisão.
de organização dos serviços de saúde e da sociedade. Essa forma de diagnóstico pode também levar o profissional de
Ao pensar em uma ação educativa problematizadora, partici- saúde a uma falsa percepção de suas possibilidades de ação. Pode
pativa e dialógica, com o propósito de intervenção para mudanças, também, ingenuamente, achar que somente com ações educativas
pressupõe-se o desencadeamento de ações para o diagnóstico da irá resolver os problemas relacionados à saúde coletiva.
situação. Uma nova forma de interpretação e análise dos dados: “Nes-
“Como agir sobre uma realidade, para transformá-la, sem co- te modelo, o pressuposto é de um conjunto de variáveis, que se
nhecê-la? E como conhecê-la sem estudá-la? A ação participativa, relacionam e determinam entre si, produzindo um efeito. Há variá-
portanto, se inicia e se fundamenta na investigação da realidade veis que têm um peso maior na produção do efeito, assim como há
feita pelos sujeitos dessa realidade. É, pois, uma atividade coletiva, outras que atuam mais ou menos diretamente sobre ele.” Procura
feita não pelos técnicos sobre a população, mas pelos técnicos e a saber “o quê influi em quê”, e descobre que as prioridades para
população sobre a realidade compartilhada.” a solução do problema envolvem ações educativas, de reorganiza-
O diagnóstico é o momento da identificação dos problemas, ção do Posto de Saúde, de treinamento dos profissionais de saúde,
suas causas e consequências, e principais características. É o mo- além da dificuldade econômica da família, das condições de traba-
mento em que também se buscam explicações para os problemas lho, da falta de creche, pré-escola e outras. Este modelo ou forma
identificados. de análise e interpretação dos dados coletados define: Múltiplas
causas - de diferentes naturezas, mas com pesos iguais, e um efeito
Fases do Diagnóstico - ida ao Pronto-Socorro. É a interpretação “Multicausal”.
Coleta de Dados: A coleta de dados deve propiciar a leitura A partir dessa análise e interpretação, a equipe e demais envol-
da realidade concreta, a sua compreensão, a identificação dos pro- vidos podem estabelecer prioridades, no seu nível de resolutivida-
blemas e necessidades de saúde de determinados grupos e/ou po- de, para atenuar o problema da família e de outras com problemas
pulação. Deve também obter dados para o conhecimento de suas semelhantes e, assim, contribuir para uma melhoria nas condições
características socioeconômicas, culturais e epidemiológicas, entre de saúde. Neste caso, o grupo responsável pela intervenção conse-
outras. Direta ou indiretamente, fornece subsídios sobre as princi- gue identificar o ponto-chave do problema, encontrar estratégias
pais causas dos agravos de saúde e sua inter-relação com os fatores de ação que viabilizam intervenções sucessivas e complementares,
relacionados à organização de serviços de saúde e outros, mos- ao mesmo tempo em que permite um trabalho interinstitucional,
trando, também, como todos os envolvidos agem e reagem frente aos com a participação dos profissionais de saúde, usuários e grupos
problemas identificados. As fontes de dados podem ser boletins epide- interessados. Neste caso, pode haver confronto, conflito, pessimis-
miológicos, relatórios, planilhas, fichas, prontuários, artigos científicos, mo, otimismo, consenso, mas não imobilismo.
livros de atas, e outros à disposição. Neste caso, podemos utilizá-los As ações educativas previstas são partes do processo de Ação
selecionando os dados que sejam úteis para o diagnóstico pretendido. - Análise - Reflexão - Decisão - Ação. Esta forma de interpretação
A este tipo de dados damos o nome de “secundários”. define: múltiplas causas - de diferentes naturezas e com diferentes
Os dados chamados “primários” são aqueles que necessitam pesos, e vários efeitos - interdependentes.
ser coletados, no momento do diagnóstico, junto ao grupo ou po-
pulação. Podem ser recolhidos por meio de diferentes instrumentos Estabelecimento de Prioridades: É a última fase do diagnós-
e/ou técnicas (questionário, formulário, ficha de observação, entre- tico. Neste momento, equipe de saúde, grupos e população inte-
vista, observação participante, dramatização e outros). A sua ade- ressada definem, entre os problemas identificados, aqueles que
quação deverá ser constantemente avaliada, permitindo que os da- são passíveis de intervenção, no nível da organização de serviços,
dos colhidos se aproximem o mais possível da realidade concreta. de socialização do conhecimento científico atual, da participação
É comum, num diagnóstico, utilizarmos dados primários e se- da população, em nível individual e/ou coletivo, que contribuirão
cundários para o conhecimento mais global da problemática da saú- para a melhoria da saúde da comunidade. A partir dessa decisão, o
de/doença de uma determinada população-alvo. Existem formas próximo passo é a elaboração do Plano de Ação, detalhando as ati-
diferentes de se colher dados para o diagnóstico de uma situação. vidades que deverão ser desenvolvidas, definindo: objetivos, popu-
lação-alvo, recursos humanos, materiais e financeiros necessários,
Discussão, Análise e Interpretação dos Dados: Vários fatores estratégias de execução e critérios de avaliação.
influenciam a definição da forma de coletar dados, assim como os
instrumentos e técnicas a serem utilizados. Esta definição também O acesso à informação em saúde
influi na análise e interpretação de dados ou fatos, nas relações de É fundamental para reduzir iniquidades e promover transfor-
causa-e-efeito, assim como nas propostas de intervenção. mações sociais necessárias para a qualidade de vida e o bem-estar
Entre outros, temos: mais democrático das populações. O conceito ampliado de “saúde”,
- a postura e visão daqueles que são os responsáveis pelo de- tão discutido nos debates que deram origem ao Sistema Único de
sencadeamento das ações de diagnóstico de uma dada situação Saúde (SUS), está intimamente relacionado à ideia de cidadania. E
problema; uma das bases essenciais ao exercício pleno da cidadania e do direi-
- o tipo de dados a serem coletados; to à saúde é o direito à comunicação e à informação.
- a situação-problema ser ou não emergencial;
- a postura e visão da população a ser envolvida;
- o compromisso com a participação real.

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Uma reportagem da Revista Radis, de fevereiro de 2006, dizia: Então como é entendida a comunicação?
“Se comunicação é troca de informações e sentidos, o estabele- A comunicação deve ser entendida como um dever da admi-
cimento de vínculos entre sujeitos diversos, comunicar em saúde nistração pública e um direito dos usuários e consumidores dos ser-
não é apenas montar e oferecer bancos de dados. Também não é viços. Sonegar tal dever e negar esse direito é um grave erro das
somente veicular peças publicitárias ou apelar à mídia para que di- entidades públicas. Os comunicadores precisam internalizar esse
vulgue o que há de bom no sistema (...).” Relacionar comunicação, conceito, na crença de que a base da cidadania se assenta também
informação e saúde no Brasil passa, por exemplo,pelo debate sobre no direito à informação (TORQUATO, 2010, p. 128).
o papel que a mídia tem ocupado na observação do SUS, havendo
uma crítica por parte de profissionais de saúde quanto à recorrência É importante compreender que a educação em saúde consti-
de matérias voltadas para destacar as falhas do SUS, em detrimento tui um conjunto de saberes e práticas orientados para a prevenção
da dimensão e importância do sistema como um todo para o país. de doenças e promoção da saúde (COSTA; LÓPEZ, 1996). Portanto,
O campo da Comunicação, Informação e Saúde aponta para trata-se de um recurso por meio do qual o conhecimento cientifi-
uma interface entre essas três dimensões, não se reduzindo a uma camente produzido no campo da saúde, intermediado pelos pro-
visão instrumental, ou seja, da comunicação e informação como um fissionais de saúde, atinge a vida cotidiana das pessoas, uma vez
conjunto de ferramentas de transmissão de conteúdos a serviço da que a compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença
saúde, mas também como processos sociais de produção de senti- oferece subsídios para a adoção de novos hábitos e condutas de
dos, em espaços de lutas e negociações. A comunicação e a infor- saúde (ALVES, 2005).
mação devem ser pensadas visando aperfeiçoar o sistema público Segundo Fonseca (2011), a educação sanitária é uma pratica
de saúde e assegurar a participação dos cidadãos na construção das educativa que induz um determinado público a adquirir hábitos
políticas públicas da área. Para isso, é fundamental pensá-las com que promovam a saúde e evite a doença e tem de ser um processo
base nos princípios e diretrizes do SUS (Araújo; Cardoso, 2007). contínuo, permanente e construído na medida em que o indivíduo
aprofunda seu conhecimento. O foco da educação sanitária deve
Os termos Informação, Educação e Comunicação em Saúde se estar voltado para profissionais e população em relações de inte-
articulam e permeiam as políticas de saúde. Inicialmente, precisa- ração, comunicação, cooperação e responsabilidade conjunta em
mos conhecer cada uma dessas áreas para em seguida entender- solucionar problemas.
mos como elas se aplicam no SUS. Ainda segundo o autor, a comunicação e a educação podem ga-
nhar expressão concreta nas ações de mobilização dos profissionais
Informação de saúde, da comunidade e dos movimentos sociais, para que esses
Ferreira (2008) define informação como “fatos conhecidos ou atores reconstruam suas práticas.
dados comunicados acerca de alguém ou algo; tudo aquilo que, por
ter alguma característica distinta, pode ser ou é apreendido, assimi- Políticas de Informação, Educação e Comunicação no SUS
lado ou armazenado pela percepção e pela mente humanas”. As políticas de informação, educação e comunicação em saúde
Considerando que a Constituição Federal estabeleceu em seu começaram a ganhar importância durante as Conferências Nacio-
art. 5º - Inciso XIV que, “é assegurado a todos o acesso à informação nais de Saúde. Na 8ª Conferência Nacional de Saúde já foi indicado
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício pro- que essas áreas devem estar em sintonia com as necessidades do
fissional”; é direito da população receber informações e é responsa- Sistema Único de Saúde. Ferreira e Saraiva (2008, p. 33) destacam
bilidade do Estado e do Governo estabelecer um fluxo informativo e que:
comunicativo com seus cidadãos BRASIL, 1988).
Importante!
Educação Assim como o SUS é um sistema em permanente mudança e
Segundo Freire (2013) a educação não deve ser uma mera constante pactuação entre os diversos setores que o compõem, o
transmissão de conhecimento, mas criar uma possibilidade do edu- debate e as ações para a melhoria da qualidade da comunicação
cando construir o seu próprio conhecimento baseado no conheci- e da informação em saúde e sobre o próprio SUS no país também
mento que ele traz de seu dia-a-dia. devem seguir essa dinâmica de mudança e pactuação (FERREIRA;
SARAIVA, 2008, p. 33).
Comunicação
Na 11ª Conferência Nacional de Saúde (BRASIL, 2001) começou
Para Ferreira (2008), a comunicação é o processo de emissão,
a ser discutida a Política de Informação, Educação e Comunicação
transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos e/ou
(IEC): as políticas de IEC devem compreender o fortalecimento da
sistemas convencionados; a mensagem recebida por esses meios;
cidadania e do controle social visando a melhoria da qualidade e
a capacidade de trocar ou discutir ideias, de dialogar, de conversar,
humanização dos serviços e ações de saúde; devem contribuir para
com vista ao bom entendimento entre pessoas.
o acesso das populações socialmente discriminadas aos insumos
A Declaração Universal dos Direitos do Homem da Organização
e serviços de diferentes níveis de complexidade; devem garantir a
das Nações Unidas assegura que “a informação é unanimemente
apropriação por parte dos usuários e população de todas as infor-
reconhecida como direito universal inviolável e inalienável do ho-
mações necessárias para a caracterização da situação demográfica,
mem moderno correspondente a uma profunda necessidade de
e sócio-econômica; estar voltada para a promoção da saúde, que
sua natureza racional”, ou seja, este direito deve ser respeitado es- abrange a prevenção de doenças, a educação para a saúde, a prote-
pecialmente pelos governos. Neste sentido, Torquato (2010, p. 128) ção da vida, a assistência curativa e a reabilitação, sob responsabili-
defende que a comunicação deve ser vista pelos governos como dade das três esferas de governo, utilizando pedagogia crítica, que
fundamental na construção da cidadania. leve o usuário a ter conhecimento também de seus direitos; dar
visibilidade à oferta de serviços e ações de saúde do SUS; motivar
os cidadãos a exercer os seus direitos e cobrar as responsabilidades
dos gestores públicos e dos prestadores de serviços de saúde.

69
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Os usuários devem ser bem informados, devem participar de 11 - Divulgar amplamente as deliberações dos Conselhos, das
forma ativa de seus cuidados de saúde. Segundo Müller (2009) os conferências, fóruns e plenárias.
profissionais de saúde não podem ser colocados como os principais 12 - Informar a população sobre o papel do Ministério Público,
responsáveis pela má qualidade desta comunicação, pois muitas PROCON e dos órgãos e conselhos fiscalizadores das profissões.
vezes os usuários estão numa situação de desespero, ansiosos por 13 - Todas as unidades de saúde, inclusive as contratadas, de-
informações ou exposição de suas dúvidas e expectativas. Além dis- vem afixar placas com o logotipo do SUS, em lugar visível e acessí-
so, eles podem compreender de forma imprópria as informações vel, informando sobre os serviços prestados, as normas e horários
fornecidas pelos profissionais, daí a importância de se utilizar uma de trabalho dos profissionais, nome do gestor responsável e formas
linguagem clara e acessível para o usuário. de contato.
Ao discorrerem sobre a Política de Informação, Educação e Co- 14 - Desenvolver estratégias de comunicação, integrando pro-
municação (IEC), Vasconcellos, Moraes e Cavalcante (2005) defen- fissionais, serviços e usuários, visando a melhoria da qualidade e o
dem que: compartilhamento de informações; implementar caixas de coleta
O acesso à informação amplia a capacidade de argumentação de sugestões, críticas e opiniões que devem ser analisadas e res-
dos atores sociais nos processos de pactuação e, participar da defi- pondidas pelo gestor e pelo conselho.
nição sobre qual informação a sociedade quer é ampliar ainda mais
as possibilidades de intervir sobre a realidade. Informação, Educação e Comunicação em Saúde: Um Breve
[...] qualquer modelo de comunicação é uma simplificação da Histórico
realidade, mas esse deixa de fora, ou dá muito pouca importância a A Informação, a Educação e a Comunicação, enquanto campos
aspectos que são fundamentais em qualquer prática comunicativa: separados de ação em saúde têm, cada qual, sua história peculiar.
os contextos, as situações concretas em que a comunicação aconte- De acordo com Ilara Hammerli, com relação aos sistemas de in-
ce, as pessoas reais que dela participam, com suas histórias de vida, formação em saúde no país, verificam-se diferentes enfoques e, por
ideias, interesses, preocupações, disposições, indisposições. conseguinte, diferentes interesses, a serem instrumentalizados em
Já Cardoso (2006, p. 50), quando trata da comunicação e saúde momentos específicos. A estruturação dos sistemas traduz o modo
e os desafios que trazem para fortalecer o SUS, afirma que: como o Estado apreende a realidade, a registra e a traduz, na busca
Cardoso (2006, p. 47-49) descreve as principais propostas so- de respostas a determinados interesses e práticas institucionais.
bre comunicação em saúde da 8ª à 12ª Conferência Nacional de A informação no contexto da saúde tem estado associada à or-
Saúde, sempre em estreita relação com o tema controle social, com ganização de sistemas de dados com o objetivo de apoiar a toma-
destaque para a comunicação nos conselhos de saúde e nos servi- da de decisões, para intervenção em uma dada realidade. Assim, o
ços, ações e equipes de saúde: papel da informação em saúde tem sido entendido como subsídio
01 - Democratização da comunicação com a sociedade, que ga- a essa intervenção; no entanto ela deve contribuir para o entendi-
ranta maior visibilidade ao direito à saúde, aos princípios do SUS, às mento de que a “realidade de saúde que traduz, deve influenciar
políticas e aos orçamentos da saúde, visando ampliar a participação decisões e modificar percepções”.
e o controle social. Até 1987, .no âmbito do MS, os setores que trabalhavam com
02 - Respeito à diversidade e características regionais, culturais, informação em saúde eram o Serviço de Planejamento de Informa-
étnicas, tecnológicas (possibilidades de acesso), buscando a univer- ções, da Secretaria Geral , e o Serviço de Estudos Epidemiológicos,
salidade, pluralidade de expressão e a imparcialidade da comuni- da Divisão Nacional de Epidemiologia da Secretaria Nacional de
cação. Ações Básicas de Saúde - SNABS7 .
03 - Divulgação permanente de informações sobre as ações Em agosto de 1987, através de Portaria 413 de 21 de agosto
de promoção, sobre os serviços de prevenção e assistência do SUS, de 1987 (D.O. 24.08.87) o MS aprova novo Regimento Interno da
assim como das informações epidemiológicas de interesse para a Secretaria Geral que cria o Centro de Informações de Saúde (CIS),
população. como unidade autônoma (art. 2º - 9). No art. 34, define entre outras
04 - Democratizar as informações científicas e epidemiológicas, competências do CIS, a de propor a formulação da Política de Infor-
garantindo ampla divulgação dos conhecimentos, programas e proje-
mações e Informática do setor saúde. Na Portaria nº 415 de 24 de
tos da comunidade científica para a saúde individual e coletiva, estimu-
agosto de 1987 (D.O. 25.08.87) de aprovação do Regimento Interno
lando a discussão crítica e pública da ciência, tecnologia e saúde.
da Secretaria Nacional de Ações Básicas, o Serviço de
05 - Garantia de acesso às informações e espaços de discussão
Desenvolvimento de Sistemas de Informação fica sob a respon-
nos serviços e ações de saúde.
sabilidade da Divisão Nacional de Estudos Epidemiológicos.
06 - Utilização de todos os meios de comunicação: a grande im-
Após a reforma administrativa no setor saúde realizada em
prensa, Internet, as rádios AM e FM, rádios comunitárias, televisão
1990, que transferiu do Ministério da Previdência e Assistência So-
aberta, TVs comunitárias, boletins, jornais de bairro, veículos pró-
cial - MPAS para o Ministério da Saúde a tutoria das questões re-
prios dos governos, das entidades, movimentos sociais e de todos
os segmentos envolvidos com o controle social. lativas à assistência médica, hospitalar e ambulatorial, e extinguiu
07- Considerar as necessidades dos portadores de deficiências, a FSESP e a SUCAM, criando como entidade sucessora a Fundação
desenvolvendo estratégias de comunicação específicas. Nacional de Saúde - FNS, houve um redimensionamento da área de
08 - Os planos e ações de comunicação devem ser aprovados informação em saúde.
nas instâncias do SUS, com objetivos, orçamentos e formas de ava- Foram instituídos, como consequência, o Departamento de In-
liação claramente definidos. formática do SUS - DATASUS, com a missão de informatizar o SUS,
09 - Garantir permanente comunicação entre os conselhos e coletar e disseminar informações visando apoiar a gestão da saúde
conselheiros das esferas municipal, estadual e nacional, o que inclui no país; e o Centro Nacional de Epidemiologia - CENEPI, com o obje-
infraestrutura (espaço físico e equipamentos), pessoal e veículos tivo de coletar e disseminar dados sobre mortalidade infantil, nasci-
próprios de comunicação. dos vivos, notificações e agravos de doenças. O DATASUS e o CENEPI
10 - Divulgar com antecedência as datas de reunião dos Con- fazem parte da FNS/MS, que congrega bancos de dados também
selhos, esclarecer as suas atribuições e estimular a participação da ligados às Divisões de Saneamento e de Planejamento desta mesma
população. entidade.

70
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
As ações de documentação foram conduzidas pelo Centro de se seguiram resultaram da ausência de um setor de referência e
Documentação do MS (Cf. Portaria nº 48 já citada) que incluía Bi- contra-referência técnico-científico, bem como de uma politica na-
blioteca e Serviço de Intercâmbio Científico até a publicação da Por- cional na área, que garantisse suporte às demandas do SUS. Apesar
taria de nº 413 de 21 de agosto de 1987, já citada, quando, o Centro disto, alguns setores e autarquias vinculadas ao MS continuaram
de Documentação - CD passou a conter as Divisões de Biblioteca desenvolvendo ações de educação em saúde, a exemplo da Funda-
- DIBIB; de Intercâmbio Científico - DINCI e de Editoração Técnica e ção Nacional de Saúde, que dispõe de um setor próprio, a Coorde-
Científica - DEDIC. nação de Comunicação, Educação e Documentação - COMED.
Quanto à educação em saúde, conforme consta nos documen- No que se refere à comunicação, registra-se uma associação
tos disponíveis no Ministério, verifica-se que suas ações eram de- da educação sanitária com as técnicas de propaganda, que era uti-
senvolvidas em nível nacional pela Divisão Nacional de Educação lizada como instrumento de apoio às ações de combate aos vetores
em – DNES e nos estados pelas Secretarias Estaduais de Saúde Em de endemias, na “técnica rotineira de ação, ao contrário do crité-
1989, ás Diretrizes de Ação Educativa em Saúde foram elaboradas rio puramente fiscal e policial até então utilizado”.11 Tal registro
com o objetivo de assegurar uma concepção metodológica de ação remonta desde a época de criação do Departamento Nacional de
participativa em conformidade com os princípios do SUS. Saúde Pública, em 1920, embrião da estrutura que viria a constituir
Contudo, como resultado da reforma administrativa, ocorrida o Ministério da Saúde, em 1953.
no MS em 1990, a DNES foi extinta, o que ocasionou uma ruptura Os documentos disponíveis sobre atividades de comunicação
das ações empreendidas nos estados, provocando uma desestru- social no MS referem-se ao início da década de 80. Naquela épo-
turação da área. A Coordenação de Educação em Saúde - COESA, ca, a Coordenação de Comunicação Social era uma unidade gestora
vinculada à SAS, então Secretaria Nacional de Assistência à Saú- sem verbas próprias, ligada diretamente ao Ministro da Saúde. Face
de - SNAS, passou a ser o órgão de referência para as questões de aos índices alarmantes de poliomielite, o setor foi incumbido de
educação em saúde no MS. Como estratégia para resgate das expe- fazer a mobilização nacional para vacinação maciça da população,
riências existentes e avaliação das iniciativas na área, foi realizado o atividade que veio a tomar-se prática comum nos anos que se se-
Seminário Internacional de Educação para a Saúde, em Brasília-DF, guiram, em função dos resultados positivos. Esta decisão de realizar
que reuniu consultores do Brasil, Colômbia, Argentina, México e Es- grandes campanhas, como forma de mobilização popular, provocou
tados Unidos. uma reação por parte daqueles que defendiam as ações de rotina,
A Coordenação de Educação em Saúde - COESA, na ocasião, cujo objetivo era fazer com que as pessoas utilizassem sistematica-
elaborou um documento - Plano Estratégico de Educação para a mente o serviço de saúde. Para eles, ações pontuais deseducariam
Saúde - com as diretrizes gerais de uma concepção de educação em a população, pois representavam uma contraposição às ações de
saúde, baseada nas práticas educativas do setor, e que apontava os rotina.
Ao lado das atividades de assessoria de imprensa e da elabo-
seguintes entraves:
ração e produção (texto, imagem, vídeo e som) destas campanhas,
- verticalidade das ações;
a Coordenação de Comunicação Social desenvolvia ações conjuntas
- descontinuidade dos programas;
com setores do MS: a extinta Superintendência de Campanhas de
- predominância do enfoque biologista e mecanicista;
Saúde Pública - SUCAM, a Secretaria Nacional de Ações Básicas de
- desarticulação dos saberes (técnico e popular); Saúde - SNABS, e a também extinta Fundação de Serviços de Saúde
- redução da ação educativa à veiculação de campanhas pu- Pública - FSESP.
blicitárias e massificação de informações sem criar mecanismos de Em 1985, após a reforma administrativa feita no MS, a Coorde-
retorno; nação de Comunicação Social passou a ser vinculada à Secretaria
- projetos e programas de saúde organizados à margem da po- Geral, que hoje equivale hierarquicamente à Secretaria-Executiva.
pulação e sem a sua participação; Algum tempo depois, o setor passou a ser denominado Assessoria
- ausência de uma unidade conceitual, configurando “equívo- de Comunicação Social - ASCOM, vinculada ao Gabinete do Minis-
cos em torno dos conceitos de informação, promoção, comunica- tro, a quem o IEC foi integrado administrativamente, a partir de ja-
ção, divulgação, os quais são geralmente assimilados como educa- neiro de 1995. Nesta mesma época, iniciou-se uma reestruturação
ção” da Assessoria que, ao lado dos já existentes núcleos de Jornalismo e
Publicidade, incorporou o núcleo de Editoração como resultado de
Este diagnóstico forneceu subsídios para uma proposta peda- uma reorganização dos setores gráficos do Ministério.
gógica de Educação para Participação em Saúde, tendo como ins- Hoje, a ASCOM através de um processo de articulação de se-
trumento metodológico a Didática de Apropriação do Conhecimen- tores afins do MS elegeu como diretrizes o planejamento com-
to10 que concebe a educação como processo, privilegia a relação partilhado, a regionalização das ações e a integração das áreas de
dialógica entre os saberes popular e científico, fundamenta-se na comunicação e educação, na perspectiva de elaborar uma política
ação-reflexão-ação, possibilita a participação e a organização das nacional. Com a criação do Conselho Editorial do MS, o setor vem
comunidades, e oportuniza o compromisso dos indivíduos com o também concentrando esforços para a adoção de uma política edi-
desenvolvimento. torial e a normatização de procedimentos nesta área, através da
A operacionalização deste modelo pedagógico, iniciada pela participação de técnicos dos diversos setores do Ministério, incluin-
COESA nos anos de 1991 e 1992, por meio da realização de oficinas do os da administração indireta.
de trabalho para a formação de multiplicadores na DACO, teve o
objetivo de compor um núcleo difusor da concepção da Educação IEC: Uma Visão Integrada
para a Participação em Saúde. As ações de IEC e o conhecimento sobre elas, construído até
hoje, representam muito pouco diante da demanda do SUS. Isto
Com a extinção da COESA, em 1992, verificou-se uma nova rup-
porque, para fazer frente às tendências conservadoras que blo-
tura nas ações de educação em saúde no MS, que passou a não
queiam a participação popular no SUS, é necessário ir mais além,
mais dispor, na sua estrutura administrativo-organizacional, de um
tocar nas resistências culturais e desencadear mudanças nas pró-
espaço para a continuidade deste trabalho e, sobretudo, de técni-
prias relações sociais. Não só nas relações hierárquicas para des-
cos e recursos específicos para estas atividades. As dificuldades que centralização do poder dentro do sistema, como nas relações do

71
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
SUS com a sociedade, nas relações dos usuários com o SUS, que se da qual derivaram os diversos modelos de comunicação, está cen-
pautam até hoje pelo padrão tradicional da passividade paciente/ trada no canal por onde a informação é transmitida e não no seu
médico, e nas relações dos indivíduos consigo mesmos, com seu conteúdo.
corpo e com o ambiente que os cerca. A informação, na forma que queremos enfatizar, é parte consti-
Por esse motivo, a relação entre os níveis nacional e estaduais tuinte de todo o processo de modificação de uma situação em saú-
do IEC caracteriza-se pelo respeito às especificidades locais de cada de que, segundo Mota, inclui decisão, intervenção, avaliação e difu-
estado e pela troca de conhecimento entre os profissionais das res- são, permitindo entender o “processo saúde-doença, interagir com
pectivas equipes. Essa postura, ao mesmo tempo que estimula os as forças sociais participantes, possibilitar a análise dos resultados
técnicos à busca constante de aperfeiçoamento, permite que dife- e tomar-se essencial ao processo de difusão desses resultados.”15
rentes iniciativas sejam apropriadas por todo o grupo e se multipli- Na ótica de IEC, esta necessidade de ampliação do conceito de
quem em vários pontos do Nordeste como, por exemplo, as feiras informação aplica-se igualmente ao de comunicação e de educa-
de saúde e o teatro popular. Uma das marcas do IEC é a procura por ção, como veremos a seguir.
uma linguagem que incorpore os símbolos e valores culturais regio-
nais, permitindo uma identificação que passe pelo afetivo e pelo b) Comunicação - o significado básico do termo comunicação
racional, resultando na participação consciente e no entendimento é “tornar comum, partilhar”. Além de um processo natural, comu-
da saúde como direito. nicação é também uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma
Em sua prática, o IEC vem articulando os conceitos de informa- ciência social. Enquanto ciência social, que utiliza teorias e pesqui-
ção, educação e comunicação que, separados, já não respondem sas de outras ciências, sua evolução registrou diversas mudanças
à necessidade do modelo atual. A mesma mudança de paradigma de orientação em decorrência dos interesses e necessidades das
que, no SUS, rompe com a segmentação entre as especialidades respectivas épocas históricas.
médicas em direção a uma concepção de integralidade, rompe, O papel da comunicação na transformação social começou a
também, com a segmentação das disciplinas e dos campos profis- ser analisado a partir dos anos 70. O objetivo era associar “o estudo
sionais, exigindo deles uma articulação profunda na busca da com- da comunicação em seu contexto de realidade com o processo de
preensão global da realidade. É necessário superar os significados ação comunitária para a libertação”.
ultrapassados de comunicação como mero instrumento, de educa- Paulo Freire, ao abordar tal relação, destacou a necessidade de
ção como transferência de conhecimentos ou imposição de valores, uma pedagogia da comunicação, capaz de fomentar o diálogo, cuja
de informação como divulgação de dados e, até mesmo o de parti- mensagem seria o conteúdo programático da educação para a par-
cipação, como mobilização utilitária da comunidade. ticipação. Para ele, “este modelo de educação pressupõe tentativa
Ao articular esses três conceitos na sua prática, contudo, a ati- constante de mudança de atitude como consequência da substitui-
vidade IEC não pretende se apropriar dos três campos. Na verdade, ção de antigos e culturológicos hábitos de passividade, por novos
o campo predominante de IEC é a educação, uma educação que hábitos de participação”.
não acontece separadamente dos processos de informação e de Desta forma, para que a participação popular seja uma reali-
comunicação. Assim como a atividade de Documentação, que se dade na ordem social, é necessário que suas propostas observem a
situa prioritariamente no campo da informação, não pode dispen- relação sistêmica entre informação, educação e comunicação. Ga-
sar os processos educativos e de comunicação para se efetivar de rante-se, assim, não só a cogestão dos recursos destinados à saúde,
mas sobretudo, a percepção de cada indivíduo como sujeito, na ma-
acordo com as exigências do modelo atual. Assim como a atividade
nutenção de seu bem-estar físico, e como cidadão, na defesa de seu
de Assessoria de Imprensa, claramente situada no campo da Comu-
direito à qualidade de vida.
nicação, para ser efetiva e coerente com os princípios do SUS, não
pode deixar de incorporar na prática o processo de informação e
c) Educação - na história da educação em saúde, no Brasil, sem-
de educação.
pre houve esta preocupação com a participação popular ainda que
O livre acesso aos serviços de saúde e à informação como direi-
atrelada, por vezes, às ações de mobilização comunitária. Embora
to de cidadania, conquistas asseguradas pela Constituição de 1988,
sendo uma etapa fundamental, a mobilização comunitária, nos ter-
por si só não são capazes de garantir a legitimação do modelo de
mos em que era praticada, constituía-se num fim em si mesmo e se
atenção proposto no SUS. Para que se consolide, este processo de limitava a ações pontuais como sendo capazes de explicar e resolver
busca por um modelo de atenção à saúde para a qualidade de vida problemas, diluindo ou reduzindo as discussões sobre o contexto,
necessita de interfaces com os diversos setores da sociedade. restringindo o envolvimento da população e desconhecendo o po-
Sob a perspectiva de IEC, é essa a realidade em tomo da qual tencial e seu conhecimento como fontes para se galgar níveis mais
se articulam a informação, a educação e a comunicação , assim en- elevados de participação popular. Assim concebida, esta prática não
tendidos: oportunizava a compreensão da situação de saúde local e desqua-
a) Informação - para falarmos sobre informação em saúde, de- lificava a atuação de todos na resolução dos problemas e agravos
vemos nos reportar ao conceito genérico do termo, que se refere existentes.
ao “conteúdo de tudo aquilo que trocamos com o mundo exterior, Na perspectiva desta proposta, o conceito de participação
e que faz com que nos ajustemos a ele de forma perceptível”14 , popular e a reflexão sobre o seu significado fazem-se necessários
constituindo-se, pois, em um insumo ao processo da comunicação para que se possa transpor os limites do instrumental, centrado na
humana. A esta noção, acrescentaram-se outras, a partir dos anos mobilização comunitária. É necessário superar esta noção simplista
50, em consequência do surgimento da teoria da informação e dos e buscar entender a participação como parte fundamental de um
interesses e objetivos inerentes ao desenvolvimento da chamada processo mais amplo, capaz de permitir a atuação do indivíduo na
“sociedade da informação”. recuperação histórica e na construção do conhecimento.
Desta forma, verificou-se uma utilização ampla e imprecisa do Atualmente, o que se pretende é entender a participação po-
termo, gerando um esvaziamento de seu significado. Embora haja pular dentro de uma proposta pedagógica, na qual ela é “ “um pro-
um consenso acerca de sua importância, observa-se uma correla- cesso educativo, pois desenvolve e fortalece a consciência da cida-
ção entre informação e dados estatísticos, que sequer permite re- dania da população para que assuma efetivamente o seu papel de
lacioná-la a tomada de decisão. Isto porque a teoria da informação, sujeito da transformação da cidade.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Para isso é essencial que a população, organizada ou não, compreenda minimamente o funcionamento da administração, a elabora-
ção do orçamento (esse mistério insondável!) e as leis que regem a administração pública e limitam a ação transformadora”
Para tanto, é necessário formar indivíduos criativos, inovadores, polivalentes, com capacidade de trabalhar em equipe, resolver pro-
blemas e aprender permanentemente, a partir de alguns princípios como:
• a construção e apropriação do conhecimento;
• o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa, que permita a compreensão e a explicação da realidade;
• a condução a uma aprendizagem permanente, na qual se aprende a fazer, aprende-se a ser e aprende-se a aprender;
• a produção de um conhecimento divergente, que possibilite a identificação de várias soluções para o enfrentamento de problemas;
• a preparação para a criatividade e a inovação;
• o reconhecimento do indivíduo como um talento e sujeito de sua própria história.

Nesta concepção, educação em saúde é um processo transformador que ocorre fundamentalmente, com a troca de saberes/conheci-
mentos, com a açãoreflexão-ação, e tem como base a conceituação, pilar da DACO.

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Há um relativo consenso de que monitorar consiste em realizar análises longitudinais, que buscam produzir informações para revelar
o curso ou desenvolvimento de algo no tempo. Consiste em acompanhar o monitorado de forma mais frequente, por meio de observa-
ções, pareceres, coleta de dados, medições, indicadores, tabulações e compilações. O monitoramento verifica se o desenrolar das ações
de uma dada estratégia aponta para o alcance de metas e objetivos.
As diferentes concepções em avaliação têm em comum a noção de que a avaliação expande os conteúdos de mensuração e da verifi-
cação do monitoramento para determinar valores e méritos de programas e políticas.
A avaliação que se inscreve para além de um julgamento, leva em conta os sujeitos sociais envolvidos em uma determinada situação
e seus interesses, assim como o objeto avaliado: sua especificidade, particularidade, generalidade e seu grau de maturação ou desenvol-
vimento. Avaliar, nesse sentido, é um constante descobrir e deve compreender um permanente diálogo entre os sujeitos envolvidos ou
entre quem avalia (a equipe de avaliação), o objeto da avaliação (o avaliado) e a realidade em que ambos se inscrevem (o contexto). Essa
perspectiva traz a necessidade de diversificar os instrumentos de avaliação.
Pode-se afirmar que o monitoramento e avaliação são faces, complementares entre si, de um mesmo processo. O monitoramento
acompanha no tempo o desenvolvimento de determinadas atividades e formula hipóteses a respeito. A avaliação aprofunda a compreen-
são sobre esse desenvolvimento, investigando as hipóteses geradas pelo monitoramento. O monitoramento verifica. A avaliação amplia
a compreensão sobre o avaliado, por meio de instrumental qualitativo ou quantitativo, dependendo da questão levantada. É importante
ressaltar que avaliações também podem e devem ser monitoradas e avaliadas e esse processo é denominado meta avaliação.
Os artigos 15 e 17 da Lei 8.080/90 estabelecem que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios exercerão, em seu âmbito
administrativo, as atribuições de avaliação e controle de serviços de saúde, além da avaliação e divulgação das condições ambientais e da
saúde da população; e que é responsabilidade dos estados e dos municípios participar das ações de controle e avaliação das condições e
dos ambientes de trabalho.
O Capítulo IV da LC 141/12, que trata da transparência, visibilidade, fiscalização, avaliação e controle menciona que os resultados do
monitoramento e avaliação de cada ente, serão apresentados de forma objetiva, inclusive por meio de indicadores, e integrarão o Rela-
tório de Gestão de cada ente federado.
O Decreto 7.508/11 estabelece entre as disposições essenciais do Contrato Organizativo de Ações e Serviços de Saúde – COAP a ne-
cessidade de que sejam definidos critérios de avaliação dos resultados e forma de monitoramento permanente e o estabelecimento de
estratégias que incorporem a avaliação do usuário das ações e dos serviços, como ferramenta de sua melhoria.
fonte: https://www.conass.org.br/guiainformacao/monitoramento-e-avaliacao/

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

INDICADORES DE SAÚDE

Os indicadores nos traz a situação de uma área ou sistemas em construção e nos mostra a realidade momentânea de uma área, pois
as modificações são constantes sejam elas no teor social, físico, epidemiológico, político ou de qualquer outra natureza, pois tudo está em
constante renovação, no intuito de buscar melhorias e isso faz com que estejamos sempre em movimento construtivo.
Para avaliarmos os fatores que orientam na melhoria dos serviços de saúde, é que são dispostos os indicadores, os quais atuam como
mediadores em nossa busca e tomada de decisões frente à ações que viabilizem a promoção da qualidade de vida.
Os indicadores socioeconômicos, culturais e epidemiológicos exercem influência direta na saúde pública, como vimos nas aulas ante-
riores. Todos eles estão fortemente ligados ao bem estar preconizado pela Constituição Federal de 1988 através das leis n. 8080 e 8142,
estão intrínsecos na promoção da saúde. Com base nas leis citadas, SILVEIRA et al. faz a seguir a definição de promoção da saúde:
Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e
saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social
os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde
deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. (SILVEIRA et al. 2001. p. 14)
A repercussão de cada um desses indicadores é sentida de acordo com a organização espacial, sua intensidade irá variar de acordo
com a demografia de cada território, ou seja, os impactos variarão com as classes sociais, prevalecendo a capacidade política, econômica,
cultural e epidemiológica da população existente em cada área.

-Indicador socioeconômico:
Faz referência aos pontos críticos ou favoráveis, socialmente e economicamente falando, de uma população, apontando para as condi-
ções de vida de cada grupo social. Esse indicador possibilita medirmos os avanços ou retrocessos sociais e colaboram para medidas como
planejamento e execução das políticas públicas como faz referência Soligo (2012, p. 16): “Cada vez mais, estados e municípios fazem uso
de uma série de indicadores no planejamento e execução de políticas públicas, constituindo um aporte de grande utilidade e considerável
aceitabilidade.”
Esse indicador é uma ferramenta que nos possibilita entender as diversas questões que envolvem uma sociedade no ponto de vista
econômico (emprego, desemprego, renda e ocupações/profissões), bem como o ponto de vista dos níveis de escolaridade, saneamento
básico (água, esgoto e lixo), condições das moradias, etc. Ele nos traz, ainda, a possibilidade de avaliar o índice de desigualdade e exclusão
social para a tomada de decisões que busquem minimizar essa condição, pois, ao longo do nosso estudo, tivemos a chance de verificar o
quanto as questões sociais estão intrínsecas com o fator saúde e a interligação entre os indicadores. Barcellos et al. (2002. p. 130) coloca
que “a análise de situação de saúde tem uma lógica territorial, porque no espaço se distribuem populações humanas segundo similarida-
des culturais e socioeconômicas.” E reforça ainda que “a análise de fenômenos de saúde no espaço serve antes de tudo para a síntese de
indicadores epidemiológicos, ambientais e sociais,” os quais nortearam o nosso serviço.

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Calabre (2009) ainda reforça a necessidade de criar outros indi-
cadores que possibilitem a elaboração, acompanhamento e a ava-
liação das políticas públicas dentro da cultura no intuito de acoplar
as ações que visam medidas que deverão ser adotadas também pe-
las demais áreas que geram indicadores sociais, os quais auxiliarão
na tomada de decisões de uma forma mais ampliada.

-Indicador epidemiológico:
COSTA et al. reflete quanto à definição da importância do in-
dicador epidemiológico para as ações que circundam a saúde co-
letiva:
[...] a formulação e seleção de indicadores epidemiológicos
constituem atividade essencial para representar os efeitos da insufi-
ciência das ações de saneamento sobre a saúde humana e, portan-
to, como ferramenta para a vigilância e orientação de programas e
planos de alocação de recursos em saneamento. (COSTA et al. 2005.
p. 118).
Essa colocação nos dá o entendimento de como esse indicador
Para entendermos melhor, numa visão micro regional, o indica- é relevante às questões acerca da saúde, pois é através dele que te-
dor socioeconômico nos da uma melhor percepção das condições remos acesso à realidade epidemiológica da área onde atuaremos.
geopolítica e social, em que vivem cada indivíduo na comunidade Será ferramenta imprescindível ao nosso trabalho, pois é a partir
onde iremos atuar dando-nos a possibilidade de construir medidas desse indicador que teremos condições de identificar, analisar e
que reduzam os impactos de forma equânime. elaborar meios de intervir junto à comunidade, nos fatores condi-
cionantes e determinantes à saúde coletiva.
-Indicador cultural: Através desse indicador, poderemos avaliar as condições sa-
Aranha nos traz um conceito sobre cultura, no qual podemos nitárias do meio, bem como o processo saúde-doença. Essa ferra-
encontrar vários significados, estes vão variar de acordo com o menta nos possibilita a elaboração de ações que busquem a solução
meio em que vivemos e estão em constante mutação como afirma. para os agravos de acordo com as ocorrências. É capaz de retratar
A palavra cultura também tem vários significados, tais como o os pontos mais vulneráveis de uma comunidade. Barcellos faz uma
de cultura da terra ou cultura de um homem letrado. Em antropo- reflexão acerca da importância dos indicadores para a promoção de
logia, cultura significa tudo que o homem produz ao construir sua saúde a seguir.
existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores mate- Uma das questões importantes para o diagnóstico de situações
riais e espirituais. Se o contato que o homem tem com o mundo é de saúde, nesse sentido, é o desenvolvimento de indicadores capa-
intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos ela- zes de detectar e refletir condições de risco à saúde advindos de
bora dos por um povo em determinado tempo e l ugar. Dada a infi- condições ambientais e sociais adversas. Esses indicadores devem
nita possibilidade de simbolizar, as culturas dos povos são múltiplas permitir a identificação dos lugares, suas relações com a região,
e variadas . A cultura é, portanto, um processo de autoliberação bem como a relação entre a população e seu território. É nessas re-
progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser de mu- lações que se desenvolvem meios propícios para o desenvolvimento
tação, um ser de, que ultrapassa a própria experiência. (ARANHA, de doenças e também para seu controle. (BARCELLOS, 2002. p. 130).
1993. p.6) Através desse indicador, poderemos implementar ações de
Esse conceito de Aranha traz uma visão da cultura que é segui- promoção e prevenção de doenças, aplicando medidas que visam
da em cada sociedade e está diretamente relacionada com os fato- diagnosticar o padrão e a frequência de agravos que colocam em
res discutidos aqui. É visto como a capacidade de criar e transmitir risco a saúde de uma determinada população. Ações como, por
valores que norteiam uma sociedade. Indicando quais os meios de exemplo, imunização de doenças sazonais através da vacinação dos
acesso à informação e o impacto que gerado nos costumes de cada indivíduos.
um.
Façamos uma análise dessa figura e observem como a cultura é
a união de vários fatores, tais como princípios, valores éticos e mo-
rais, hábitos e comportamentos, crenças, entre outros. Observamos
como o modo de vida está diretamente relacionado como a soma
de todos esses fatores.
O meio cultural, em que vive um indivíduo, exerce sobre ele
a mesma influência que os indicadores socioeconômicos, políticos,
epidemiológicos, pois estão intimamente relacionados e deve ser
visto como uma questão de política pública como afirma CALABRE:
Desde 2005, o Ministério da Cultura está se debruçando sobre
as propostas de construção de um Plano Nacional de Cultura, de
um Sistema Nacional de Cultura e de um Sistema Nacional de Infor-
mações Culturais. As questões das desigualdades regionais, sociais
e econômicas afetam o campo da cultura de maneira idêntica ao
conjunto das políticas públicas. (CALABRE, 2009).

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Com base na figura que segue, reflita sobre o conceito de epidemiologia e responda o que se pede.

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS

Sistema de Informação em Saúde


A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Sistema de Informação em Saúde (SIS):
“ ….. é um conjunto de componentes que atuam de forma integrada por meio de mecanismos de coleta, processamento, análise e
transmissão da informação necessária e oportuna para implementar processos de decisões no Sistema de Saúde. Seu propósito é selecio-
nar dados pertinentes e transformá-los em informações para aqueles que planejam, financiam, proveem e avaliam os serviços de saúde”
(OMS, 1981:42).
Informação Oportuna: disponível no local e hora necessários para tomada de decisão
Informação de Qualidade: atualizada, pertinente e consistente.

Funções:
- Respaldar a operação diária e a gestão da atenção à saúde;
- Conhecer e monitorar o estado de saúde da população e as condições sócio-ambientais;
- Facilitar o planejamento, a supervisão e o controle e avaliação de ações e serviços; ϖ
- Subsidiar os processos decisórios nos diversos níveis de decisão e ação;
- Apoiar a produção e utilização de serviços de saúde;
- Disponibilizar informações para as atividades de diagnóstico e tratamento;
- Monitorar e avaliar as intervenções, resultados e impactos;
- Subsidiar educação e a promoção da saúde;
- Apoiar as atividades de pesquisa e produção de conhecimentos

SIS (Sistema de Informação em Saúde)


- Coleta
- Processamento
- Análise
- Transmissão da Informação

Sistemas de Informação e Banco de Dados

Sistema de informação:
É o processo de produção de informação e sua comunicação a atores, possibilitando sua análise com vistas à geração de conhecimen-
tos.

Banco de dados:
É um dos principais componentes do sistema, sendo um agrupamento organizado de dados que pode ser utilizado por vários sistemas.

Sistemas de Informação em Saúde


Componentes que atuam de forma integrada e articulada para obter e selecionar dados e transformá-los em informação:

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS

Principais Sistemas de Informação em Saúde

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
SIAB Dependem da concepção apresentada pelo Sistema de Infor-
- O Sistema de Informação da Atenção Básicafoi implantado mação em Saúde (SIS), e sua sensibilidade para captar o mais pre-
para o acompanhamento das ações e dos resultados das ativida- cocemente possível as alterações que podem ocorrer no perfil de
des realizadas pela Estratégia de Saúde da Família - ESF. O SIAB foi morbimortalidade de uma área, e também da organização e cober-
desenvolvido como instrumento gerencial dos Sistemas Locais de tura das atividades desenvolvidas pela vigilância epidemiológica.
Saúde e incorporou em sua formulação conceitos comoterritório, Entende-se sistema como o “conjunto integrado de partes que
problema e responsabilidade sanitária. se articulam para uma finalidade comum.” Para sistema de informa-
-Através dele obtêm-se informações sobre cadastros de famí- ção existem várias definições, tais como:
lias, condições de moradia e saneamento, situação de saúde, pro- •“conjunto de unidades de produção, análise e divulgação de
dução e composição das equipes de saúde. Principal instrumento dados que atuam integradas e articuladamente com o propósito de
de monitoramento das ações do Programa Saúde da Família, tem atender às demandas para o qual foi concebido”;
sua gestão na Coordenação de Acompanhamento e Avaliação do •“reunião de pessoas e máquinas, com vistas à obtenção e pro-
Departamento de Atenção Básica / SAS. cessamento de dados que atendam à necessidade de informação
da instituição que o implementa”;
Benefícios: •“conjunto de estruturas administrativas e unidades de pro-
Micro-espacialização de problemas de saúde e de avaliação de dução, perfeitamente articuladas, com vistas à obtenção de dados
intervenções; mediante o seu registro, coleta, processamento, análise, transfor-
Utilização mais ágil e oportuna da informação; mação em informação e oportuna divulgação”.
Produção de indicadores capazes de cobrir todo o ciclo de orga- Em síntese, um sistema de informação deve disponibilizar o su-
nização das ações de saúde; porte necessário para que o planejamento, decisões e ações dos
Consolidação progressiva da informação partindo de níveis me- gestores, em determinado nível decisório (municipal, estadual e
nos agregados para mais agregados. federal), não se baseie em dados subjetivos, conhecimentos ultra-
passados ou conjecturas.
Funcionalidades O SIS é parte dos sistemas de saúde; como tal, integra suas
Cadastros de famílias; estruturas organizacionais e contribui para sua missão. É constitu-
Condições de moradia e saneamento; ído por vários sub-sistemas e tem como propósito geral facilitar a
Situação de saúde; formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde,
Produção e marcadores; Composição das Equipes de Saúde da subsidiando o processo de tomada de decisões. Para tanto, deve
Família e Agentes Comunitários de Saúde.3 contar com os requisitos técnicos e profissionais necessários ao
planejamento, coordenação e supervisão das atividades relativas à
Informação é instrumento essencial para a tomada de deci- coleta, registro, processamento, análise, apresentação e difusão de
sões. Nesta perspectiva, representa imprescindível ferramenta à dados e geração de informações.
vigilância epidemiológica, por constituir fator desencadeador do Um de seus objetivos básicos, na concepção do Sistema Único
processo “informação-decisão-ação”, tríade que sintetiza a dinâ- de Saúde (SUS), é possibilitar a análise da situação de saúde no ní-
mica de suas atividades que, como se sabe, devem ser iniciadas a vel local tomando como referencial microrregiões homogêneas e
partir da informação de um indício ou suspeita de caso de alguma considerando, necessariamente, as condições de vida da popula-
doença ou agravo. ção na determinação do processo saúde-doença. O nível local tem,
Dado - é definido como “um valor quantitativo referente a um então, responsabilidade não apenas com a alimentação do siste-
fato ou circunstância”, “o número bruto que ainda não sofreu qual- ma de informação em saúde, mas também com sua organização e
quer espécie de tratamento estatístico”, ou “a matéria-prima da gestão. Deste modo, outro aspecto de particular importância é a
produção de informação”. concepção do sistema de informação, que deve ser hierarquizado
Informação- é entendida como “o conhecimento obtido a par- e cujo fluxo ascendente dos dados ocorra de modo inversamente
tir dos dados”, “o dado trabalhado” ou “o resultado da análise e proporcional à agregação geográfica, ou seja, no nível local faz-se
combinação de vários dados”, o que implica em interpretação, por necessário dispor, para as análises epidemiológicas, de maior nú-
parte do usuário. É “uma descrição de uma situação real, associada mero de variáveis.
a um referencial explicativo sistemático”. Felizmente, os atuais recursos do processamento eletrônico es-
Não se deve perder de vista que a informação em saúde é o tão sendo amplamente utilizados pelos sistemas de informação em
esteio para a gestão dos serviços, pois orienta a implantação, acom- saúde, aumentando sua eficiência na medida em que possibilitam a
panhamento e avaliação dos modelos de atenção à saúde e das obtenção e processamento de um volume de dados cada vez maior,
ações de prevenção e controle de doenças. São também de inte- além de permitirem a articulação entre diferentes subsistemas.
resse dados/informações produzidos extra-setorialmente, cabendo Entre os sistemas nacionais de informação em saúde existen-
aos gestores do Sistema a articulação com os diversos órgãos que tes, alguns se destacam em razão de sua maior relevância para a
os produzem, de modo a complementar e estabelecer um fluxo re- vigilância epidemiológica:
gular de informação em cada nível do setor saúde.
Oportunidade, atualidade, disponibilidade e cobertura são SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE
características que determinam a qualidade da informação, funda- AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO (SINAN)
mentais para que todo o Sistema de Vigilância Epidemiológica apre-
sente bom desempenho. O mais importante sistema para a vigilância epidemiológica foi
desenvolvido entre 1990 e 1993, visando sanar as dificuldades do
Sistema de Notificação Compulsória de Doenças (SNCD) e substituí-
-lo, tendo em vista o razoável grau de informatização disponível no
país. O Sinan foi concebido pelo Centro Nacional de Epidemiologia,
com o apoio técnico do Datasus e da Prefeitura Municipal de Belo
3 Fonte: https://www.enfconcursos.com/Fonte: http://www.
Horizonte para ser operado a partir das unidades de saúde, con-
saude.gov.br

78
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
siderando o objetivo de coletar e processar dados sobre agravos Casos de hanseníase e tuberculose, além do preenchimento
de notificação em todo o território nacional, desde o nível local. da ficha de notificação/investigação, devem constar do boletim de
Mesmo que o município não disponha de microcomputadores em acompanhamento, visando a atualização de seu acompanhamento
suas unidades, os instrumentos deste sistema são preenchidos nes- até o encerramento para avaliação da efetividade do tratamento,
te nível e o processamento eletrônico é feito nos níveis centrais das de acordo com as seguintes orientações:
secretarias municipais de saúde (SMS), regional ou secretarias esta- •o primeiro nível informatizado deve emitir o Boletim de
duais (SES). É alimentado, principalmente, pela notificação e inves- Acompanhamento de Hanseníase e Tuberculose, encaminhando-o
tigação de casos de doenças e agravos constantes da lista nacional às unidades para complementação dos dados;
de doenças de notificação compulsória, mas é facultado a estados •os meses propostos para a alimentação da informação são, no
e municípios incluir outros problemas de saúde regionalmente im- mínimo: janeiro, abril, julho e outubro, para a tuberculose; janeiro
portantes. e julho, para a hanseníase;
Por isso, o número de doenças e agravos contemplados pelo •cabe ao 1º nível informatizado emitir o boletim de acompa-
Sinan, vem aumentando progressivamente desde seu processo de nhamento para os municípios não-informatizados;
implementação, em 1993, sem relação direta com a compulsorieda- •após retornar das unidades os boletins devem ser analisados
de nacional da notificação, expressando as diferenças regionais de criticamente e as correções devem ser solicitadas de imediato à uni-
perfis de morbidade registradas no Sistema. dade de saúde;
No Sinan, a entrada de dados ocorre pela utilização de alguns •a digitação das informações na tela de acompanhamento e
formulários padronizados: arquivamento dos boletins deve ser realizada no 1º nível informa-
Ficha Individual de Notificação (FIN) - é preenchida para cada tizado.
paciente, quando da suspeita de problema de saúde de notificação
compulsória (Portaria GM nº 2.325, de 8 de dezembro de 2003) ou Preconiza-se que em todas as instâncias os dados aportados
de interesse nacional, estadual ou municipal, e encaminhada pelas pelo Sinan sejam consolidados e analisados e que haja uma retroali-
unidades assistenciais aos serviços responsáveis pela informação e/ mentação dos níveis que o precederam, além de sua redistribuição,
ou vigilância epidemiológica. É também utilizada para a notificação segundo local de residência dos pacientes objetos das notificações.
negativa. No nível federal, os dados do Sinan são processados, analisados jun-
Notificação negativa - é a notificação da não-ocorrência de do- tamente com aqueles que chegam por outras vias e divulgados pelo
enças de notificação compulsória na área de abrangência da unida- Boletim Epidemiológico do SUS e informes epidemiológicos eletrô-
de de saúde. Indica que os profissionais e o sistema de vigilância da nicos, disponibilizados no site www.saude.gov.br.
área estão alertas para a ocorrência de tais eventos. Ao contrário dos demais sistemas, em que as críticas de con-
A notificação de surtos também deve ser feita por esse instru- sistência são realizadas antes do seu envio a qualquer outra esfera
mento, obedecendo os seguintes critérios: de governo, a necessidade de desencadeamento imediato de uma
•casos epidemiologicamente vinculados de agravos inusitados. ação faz com que, nesse caso, os dados sejam remetidos o mais
Sua notificação deve estar consoante com a abordagem sindrômica, rapidamente possível, ficando a sua crítica para um segundo mo-
de acordo com as seguintes categorias: síndrome diarréica aguda, mento - quando do encerramento do caso e, posteriormente, o da
síndrome ictérica aguda, síndrome hemorrágica febril aguda, sín- análise das informações para divulgação. No entanto, apesar desta
drome respiratória aguda, síndrome neurológica aguda e síndrome peculiaridade, esta análise é fundamental para que se possa garan-
da insuficiência renal aguda, dentre outras; tir uma base de dados com qualidade, não podendo ser relegada a
• casos agregados, constituindo uma situação epidêmica de segundo plano, tendo em vista que os dados já foram encaminha-
doenças não constantes da lista de notificação compulsória; dos para os níveis hierárquicos superiores.
•casos agregados das doenças constantes da lista de notifica- A partir da alimentação do banco de dados do Sinan, pode-se
ção compulsória, mas cujo volume de notificações operacionalmen- calcular a incidência, prevalência, letalidade e mortalidade, bem
te inviabiliza o seu registro individualizado. como realizar análises de acordo com as características de pessoa,
Ficha Individual de Investigação (FII) - na maioria das vezes, tempo e lugar, particularmente no que tange às doenças transmis-
configura-se como roteiro de investigação, distinto para cada tipo síveis de notificação obrigatória, além de outros indicadores epide-
de agravo, devendo ser utilizado, preferencialmente, pelos serviços miológicos e operacionais utilizados para as avaliações local, muni-
municipais de vigilância ou unidades de saúde capacitadas para a cipal, estadual e nacional.
realização da investigação epidemiológica. Esta ficha, como referido As informações da ficha de investigação possibilitam maior co-
no tópico sobre investigação de surtos e epidemias, permite obter nhecimento acerca da situação epidemiológica do agravo investi-
dados que possibilitam a identificação da fonte de infecção e me- gado, fontes de infecção, modo de transmissão e identificação de
canismos de transmissão da doença. Os dados, gerados nas áreas áreas de risco, dentre outros importantes dados para o desencade-
de abrangência dos respectivos estados e municípios, devem ser amento das atividades de controle.
consolidados e analisados considerando aspectos relativos à organi- A manutenção periódica da atualização da base de dados do
zação, sensibilidade e cobertura do próprio sistema de notificação, Sinan é fundamental para o acompanhamento da situação epide-
bem como os das atividades de vigilância epidemiológica. miológica dos agravos incluídos no Sistema. Dados de má qualida-
Além dessas fichas, o sistema também possui planilha e bole- de, oriundos de fichas de notificação ou investigação com a maioria
tim de acompanhamento de surtos, reproduzidos pelos municípios, dos campos em branco, inconsistências nas informações (casos com
e os boletins de acompanhamento de hanseníase e tuberculose, diagnóstico laboratorial positivo, porém encerrado como critério
emitidos pelo próprio sistema. clínico) e duplicidade de registros, entre outros problemas freqüen-
A impressão, distribuição e numeração desses formulários é de temente identificados nos níveis estadual ou federal, apontam para
responsabilidade do estado ou município. O sistema conta, ainda, a necessidade de uma avaliação sistemática da qualidade da infor-
com módulos para cadastramento de unidades notificadoras, popu- mação coletada e digitada no primeiro nível hierárquico de entrada
lação e logradouros, dentre outros de dados no Sistema, que torna possível a obtenção de dados con-

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
fiáveis, indispensáveis para o cálculo de indicadores extremamente terísticas de pessoa, tempo e lugar, assistência prestada ao pacien-
úteis, tais como as taxas de incidência, letalidade, mortalidade e te, causas básicas e associadas de óbito, extremamente relevantes e
coeficiente de prevalência, entre outros. muito utilizadas no diagnóstico da situação de saúde da população.
Roteiros para a realização da análise da qualidade da base de As informações obtidas pela DO também possibilitam o deline-
dados e cálculos dos principais indicadores epidemiológicos e ope- amento do perfil de morbidade de uma área, no que diz respeito às
racionais estão disponíveis para os agravos de notificação compul- doenças mais letais e às doenças crônicas não sujeitas à notificação
sória, bem como toda a documentação necessária para a correta compulsória, representando, praticamente, a única fonte regular
utilização do Sistema (dicionário de dados e instrucionais de preen- de dados. Para as doenças de notificação compulsória, a utilização
chimento das fichas Manual de Normas e Rotinas e Operacional). eficiente desta fonte de dados depende da verificação rotineira da
Para que o Sinan se consolide como a principal fonte de infor- presença desses agravos no banco de dados do SIM. Deve-se tam-
mação de morbidade para as doenças de notificação compulsória, bém checar se as mesmas constam no Sinan, bem como a evolução
faz-se necessário garantir tanto a cobertura como a qualidade das do caso para óbito.
informações. Sua utilização plena, em todo o território nacional, Uma vez preenchida a DO, quando se tratar de óbitos por cau-
possivelmente possibilitará a obtenção dos dados indispensáveis sas naturais, ocorridos em estabelecimento de saúde, a primeira
ao cálculo dos principais indicadores necessários para o monitora- via (branca) será da secretaria municipal de saúde (SMS); a segunda
mento dessas doenças, gerando instrumentos para a formulação e (amarela) será entregue aos familiares do falecido, para registro em
avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o Cartório de Registro Civil e emissão da Certidão de Óbito (ficando
processo de tomada de decisões e contribuindo para a melhoria da retida no cartório); a terceira (rosa) ficará arquivada no prontuário
situação de saúde da população. do falecido. Nos óbitos de causas naturais ocorridos fora do esta-
Indicadores são variáveis susceptíveis à mensuração direta, belecimento de saúde, mas com assistência médica, o médico que
produzidos com periodicidade definida e critérios constantes. A fornecer a DO deverá levar a primeira e terceira vias para a SMS,
disponibilidade de dados, simplicidade técnica, uniformidade, sin- entregando a segunda para os familiares do falecido. Nos casos de
teticidade e poder discriminatório são requisitos básicos para sua óbitos de causas naturais, sem assistência médica, em locais que
elaboração. Os indicadores de saúde refletem o estado de saúde da disponham de Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), estes serão
população de determinada comunidade. responsáveis pela emissão da DO, obedecendo o mesmo fluxo dos
hospitais. Em lugares onde não exista SVO, um médico da localida-
SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE MORTALIDADE (SIM) de deverá preencher a DO obedecendo o fluxo anteriormente refe-
rido para óbitos ocorridos fora do estabelecimento de saúde, com
Criado em 1975, este sistema iniciou sua fase de descentraliza-
assistência médica. Nos óbitos por causas naturais em localidades
ção em 1991, dispondo de dados informatizados a partir de 1979.
sem médicos, o responsável pelo falecido, acompanhado de duas
Seu instrumento padronizado de coleta de dados é a Declara-
testemunhas, comparecerá ao Cartório de Registro Civil onde será
ção de Óbito (DO), impressa em três vias coloridas, cuja emissão e
preenchida a DO. A segunda via deste documento ficará retida no
distribuição para os estados, em séries pré-numeradas, é de com-
cartório e a primeira e terceira vias serão recolhidas pela secretaria
petência exclusiva do Ministério da Saúde. Para os municípios, a dis-
municipal de saúde. Nos óbitos por causas acidentais ou violentas,
tribuição fica a cargo das secretarias estaduais de saúde, devendo
o médico legista do Instituto Médico-Legal (IML) deverá preencher
as secretarias municipais se responsabilizarem por seu controle e
a DO (nos locais onde não exista IML um perito é designado para tal
distribuição entre os profissionais médicos e instituições que a utili-
finalidade), seguindo-se o mesmo fluxo adotado para os hospitais.
zem, bem como pelo recolhimento das primeiras vias em hospitais
e cartórios. As SMS realizarão a busca ativa dessas vias em todos os hos-
O preenchimento da DO deve ser realizado exclusivamente por pitais e cartórios, evitando a perda de registro de óbitos no SIM,
médicos, exceto em locais onde não existam, situação na qual po- com conseqüente perfil irreal da mortalidade da sua área de abran-
derá ser preenchida por oficiais de Cartórios de Registro Civil, as- gência. Nas SMS, as primeiras vias são digitadas e enviadas em dis-
sinada por duas testemunhas. A obrigatoriedade de seu preenchi- quetes para as Regionais, que fazem o consolidado de sua área e o
mento, para todo óbito ocorrido, é determinada pela Lei Federal n° enviam para as secretarias estaduais de saúde, que consolidam os
6.015/73. Em tese, nenhum sepultamento deveria ocorrer sem pré- dados estaduais e os repassam para o Ministério da Saúde.
via emissão da DO. Mas, na prática, sabe-se da ocorrência de sepul- Em todos os níveis, sobretudo no municipal, que está mais pró-
tamentos irregulares, em cemitérios clandestinos (e eventualmente ximo do evento, deve ser realizada a crítica dos dados, buscando a
mesmo em cemitérios oficiais), o que afeta o conhecimento do real existência de inconsistências como, por exemplo, causas de óbito
perfil de mortalidade, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. exclusivas de um sexo sendo registradas em outro, causas perina-
O registro do óbito deve ser feito no local de ocorrência do tais em adultos, registro de óbitos fetais com causas compatíveis
evento. Embora o local de residência seja a informação comumente apenas com nascidos vivos e idade incompatível com a doença.
mais utilizada, na maioria das análises do setor saúde a ocorrência é A análise dos dados do SIM permite a construção de importan-
fator importante no planejamento de algumas medidas de contro- tes indicadores para o delineamento do perfil de saúde de uma re-
le, como, por exemplo, no caso dos acidentes de trânsito e doenças gião. Assim, a partir das informações contidas nesse Sistema, pode-
infecciosas que exijam a adoção de medidas de controle no local -se obter a mortalidade proporcional por causas, faixa etária, sexo,
de ocorrência. Os óbitos ocorridos fora do local de residência serão local de ocorrência e residência e letalidade de agravos dos quais
redistribuídos, quando do fechamento das estatísticas, pelas secre- se conheça a incidência, bem como taxas de mortalidade geral, in-
tarias estaduais e Ministério da Saúde, permitindo, assim, o acesso fantil, materna ou por qualquer outra variável contida na DO, uma
aos dados tanto por ocorrência como por residência do falecido. vez que são disponibilizadas várias formas de cruzamento dos da-
O SIM constitui importante elemento para o Sistema Nacional dos. Entretanto, em muitas áreas, o uso dessa rica fonte de dados é
de Vigilância Epidemiológica, tanto como fonte principal de dados, prejudicada pelo não preenchimento correto das DO, com omissão
quando há falhas de registro de casos no Sinan, quanto como fonte de dados como, por exemplo, estado gestacional ou puerperal, ou
complementar, por também dispor de informações sobre as carac- pelo registro excessivo de causas mal definidas, prejudicando o uso

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GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
dessas informações nas diversas instâncias do sistema de saúde. obtenção da Certidão de Nascimento no Cartório de Registro Civil,
Estas análises devem ser realizadas em todos os níveis do sistema, onde ficará retida; a terceira (rosa) será arquivada no prontuário
sendo subsídios fundamentais para o planejamento de ações dos da puérpera. Para os partos domiciliares com assistência médica, a
gestores. primeira via deverá ser enviada para a SMS e a segunda e terceira
vias entregues ao responsável, que utilizará a segunda via para re-
SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE NASCIDOS VIVOS (SINASC) gistro do nascimento em cartório e a terceira para apresentação em
unidade de saúde onde realizar a primeira consulta da criança. Nos
O número de nascidos vivos constitui relevante informação partos domiciliares sem assistência médica, a DN será preenchida
para o campo da saúde pública, pois possibilita a constituição de in- no Cartório de Registro Civil, que reterá a primeira via, a ser reco-
dicadores voltados para a avaliação de riscos à saúde do segmento lhida pela SMS, e a segunda, para seus arquivos. A terceira via será
materno-infantil, a exemplo dos coeficientes de mortalidade infantil entregue ao responsável, que a destinará à unidade de saúde do
e materna, nos quais representa o denominador. Antes da implan- primeiro atendimento da criança.
tação do Sinasc, em 1990, esta informação só era conhecida no Bra- Também nesses casos as primeiras vias da DN deverão ser
sil por estimativas realizadas a partir da informação censitária. Atu- recolhidas ativamente pelas secretarias municipais de saúde, que
almente, são disponibilizados pela SVS, no site www.datasus.gov.br, após digitá-las envia o consolidado para as SES, onde os dados são
dados do Sinasc referentes aos anos de 1994 em diante. Entretanto, processados e distribuídos segundo o município de residência e, a
até o presente momento, só pode ser utilizado como denominador, seguir, enviados para o MS, que os reagrupa por estados de residên-
no cálculo de alguns indicadores, em regiões onde sua cobertura é cia, sendo disponibilizados pela SVS através do site www.datasus.
ampla, substituindo deste modo as estimativas censitárias. gov.br e em CD-ROM. Em todos os níveis do sistema, os dados de-
verão ser criticados. As críticas realizadas visam detectar possíveis
O Sinasc tem como instrumento padronizado de coleta de da- erros de preenchimento da Declaração de Nascido Vivo ou da di-
dos a Declaração de Nascido Vivo (DN), cuja emissão, a exemplo gitação de dados. Sua validação é feita pelo cruzamento de variá-
da DO, é de competência exclusiva do Ministério da Saúde. Tanto a veis para verificação de consistência, como, por exemplo, o peso do
emissão da DN como o seu registro em cartório serão realizados no bebê com o tempo de gestação ou a idade da mãe com a paridade.
município de ocorrência do nascimento. Deve ser preenchida nos A utilização dos dados deste sistema para o planejamento e to-
hospitais e outras instituições de saúde que realizam parto, e nos
mada de decisões nas três esferas de governo ainda é incipiente. Na
Cartórios de Registro Civil, na presença de duas testemunhas, quan-
maioria das vezes, como denominador para o cálculo de taxas como
do o nascimento ocorre em domicílio sem assistência de profissio-
as de mortalidade infantil e materna, por exemplo. Apesar disso,
nal de saúde. Desde 1992 sua implantação ocorre de forma gradual.
alguns indicadores vêm sendo propostos - a grande maioria voltada
Atualmente, vem apresentando em muitos municípios um volume
maior de registros do que o publicado nos anuários do IBGE, com à avaliação de risco da mortalidade infantil e a qualidade da rede de
base nos dados dos Cartórios de Registro Civil. atenção à gravidez e ao parto.
A DN deve ser preenchida para todos os nascidos vivos no país, Entre os indicadores de interesse para a atenção à saúde ma-
o que, segundo conceito definido pela OMS, corresponde a “todo terno-infantil, são imprescindíveis as informações contidas na DN:
produto da concepção que, independentemente do tempo de ges- proporção de nascidos vivos de baixo peso, proporção de nasci-
tação ou peso ao nascer, depois de expulso ou extraído do corpo da mentos prematuros, proporção de partos hospitalares, proporção
mãe, respire ou apresente outro sinal de vida tal como batimento de nascidos vivos por faixa etária da mãe, valores do índice Apgar
cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos no primeiro e quinto minutos, número de consultas pré-natal rea-
músculos de contração voluntária, estando ou não desprendida a lizadas para cada nascido vivo, dentre outros. Além desses, podem
placenta”. A obrigatoriedade desse registro é também dada pela Lei ainda ser calculados indicadores clássicos voltados à caracterização
n° 6.015/73. No caso de gravidez múltipla, deve ser preenchida uma geral de uma população, como a taxa bruta de natalidade e a taxa
DN para cada criança nascida viva. de fecundidade geral.
É sabida a ocorrência de uma proporção razoável de subnotifi-
cação de nascimentos, estimada em até 35% para alguns estados, SISTEMA DE INFORMAÇÕES HOSPITALARES (SIH/SUS)
em 1999, particularmente nas regiões Norte e Nordeste - que nesse
ano apresentaram cobertura média em torno de 80% do número O SIH/SUS, que possui dados informatizados desde 1984, não
de nascidos vivos estimado para cada região, motivo que levou as foi concebido sob a lógica epidemiológica, mas sim com o propósi-
áreas responsáveis pelas estatísticas vitais a realizarem uma busca to de operar o sistema de pagamento de internação dos hospitais
ativa nas unidades emissoras de DNs. Entretanto, nesse mesmo pe- contratados pelo Ministério da Previdência. Posteriormente, foi es-
ríodo, a captação de nascimentos pelo Sinasc encontrava-se igual tendido aos hospitais filantrópicos, universitários e de ensino e aos
ou superior a 100% em relação às estimativas demográficas nas re- hospitais públicos municipais, estaduais e federais. Nesse último
giões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com índices mínimos de 87%, caso, somente aos da administração indireta e de outros ministé-
90% e 96% em três estados. Tais dados revelam progressiva melho- rios.
ria da cobertura desse sistema, o que favorece sua utilização como Reúne informações de cerca de 70% dos internamentos hospi-
fonte de dados para a confecção de alguns indicadores.
talares realizados no país, tratando-se, portanto, de grande fonte
Igualmente à DO, os formulários de Declaração de Nascido Vivo
das enfermidades que requerem internação, importante para o co-
são pré-numerados, impressos em três vias coloridas e distribuídos
nhecimento da situação de saúde e gestão de serviços. Ressalte-se
às SES pela SVS/MS. As SES encarregavam-se, até recentemente, e
sua gradativa incorporação à rotina de análise e informações de al-
sua distribuição aos estabelecimentos de saúde e cartórios. Apesar
da preconização de que as SMS devem assumir esse encargo, isto guns órgãos de vigilância epidemiológica de estados e municípios.
ainda não está acontecendo em todo o território nacional. Seu instrumento de coleta de dados é a Autorização de Inter-
Nos partos ocorridos em estabelecimentos de saúde, a pri- nação Hospitalar (AIH), atualmente emitida pelos estados a partir
meira via (branca) da DN preenchida será para a SMS; a segunda de uma série numérica única definida anualmente em portaria mi-
(amarela) deverá ser entregue ao responsável pela criança, para a nisterial. Este formulário contém, entre outros, os dados de aten-

81
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
dimento, com os diagnósticos de internamento e alta (codificados Embora tenha sofrido algumas alterações com vistas a um
de acordo com a CID), informações relativas às características de melhor controle e consistência de dados, o SIA/SUS pouco mudou
pessoa (idade e sexo), tempo e lugar (procedência do paciente) das desde sua implantação. Por obedecer à lógica de pagamento por
internações, procedimentos realizados, valores pagos e dados ca- procedimento, não registra o CID do(s) diagnóstico(s) dos pacien-
dastrais das unidades de saúde, que permitem sua utilização para tes e não pode ser utilizado como informação epidemiológica, ou
fins epidemiológicos. seja, seus dados não permitem delinear os perfis de morbidade da
Os números de AIHs têm validade de quatro meses, não sen- população, a não ser pela inferência a partir dos serviços utilizados.
do mais aceitos pelo sistema. Tal regra permite certa compensação Entretanto, como sua unidade de registro de informações é o
temporal naqueles estados em que a sazonalidade da ocorrência de procedimento ambulatorial realizado, desagregado em atos profis-
doenças influencia fortemente o número de internações. sionais, outros indicadores operacionais podem ser importantes
O banco de dados, correspondente ao cadastro de todas as uni- como complemento das análises epidemiológicas, por exemplo: nú-
dades prestadoras de serviços hospitalares ao SUS credenciadas, é mero de consultas médicas por habitante/ano; número de consul-
permanentemente atualizado sempre que há credenciamento, des- tas médicas por consultório; número de exames/terapias realizados
credenciamento ou qualquer modificação de alguma característica pelo quantitativo de consultas médicas.
da unidade de saúde. Desde julho de 1994 as informações relacionadas a esse sis-
Os dados produzidos por este Sistema são amplamente dispo- tema estão disponíveis no site www.datasus.gov.bre por CD-ROM.
nibilizados pelo site www.datasus.gov.br e pela BBS (Bulletin Board Ressalte-se como importante módulo o cadastramento de uni-
System) do Ministério da Saúde, além de CDROM com produção dades ambulatoriais contratadas, conveniadas e da rede pública
mensal e anual consolidadas. Os arquivos disponibilizados podem própria dos estados e municípios, bem como as informações sobre
ser de dois tipos: o “movimento”, em que constam todos os dados, profissionais por especialidade.
e o “reduzido”, em que não aparecem os relativos aos serviços pro- Quando da análise de seus dados, deve-se atentar para as
fissionais. questões relativas à cobertura, acesso, procedência e fluxo dos usu-
O SIH/SUS foi desenvolvido para propiciar a elaboração de al- ários dos serviços de saúde.
guns indicadores de avaliação de desempenho de unidades, além
do acompanhamento dos números absolutos relacionados à fre- OUTRAS IMPORTANTES FONTES DE DADOS
qüência de AIHs e que vêm sendo cada vez mais utilizados pelos
gestores para uma primeira aproximação da avaliação de cobertura A depender das necessidades dos programas de controle de
de sua rede hospitalar, e até para a priorização de ações de caráter algumas doenças, outros sistemas de informação complementares
preventivo. foram desenvolvidos pelo Cenepi, tais como o FAD (Sistema de in-
Entre suas limitações encontram-se a cobertura dos dados (que formação da febre amarela e dengue), que registra dados de infes-
depende do grau de utilização e acesso da população aos serviços tação pelo Aedes aegypti, a nível municipal, e outros dados opera-
da rede pública própria, contratada e conveniada ao SUS), ausên- cionais do programa.
cia de críticas informatizadas, possibilidade das informações pouco Outros sistemas de informação que também podem ser úteis à
confiáveis sobre o endereço do paciente, distorções decorrentes de vigilância epidemiológica, embora restritos a uma área de atuação
falsos diagnósticos e menor número de internamentos que o ne- muito específica, quer por não terem uma abrangência nacional ou
cessário, em função das restrições de recursos federais – problemas por não serem utilizados em todos os níveis de gestão, são:
que podem resultar em vieses nas estimativas.
Contudo, ao contrário do que ocorre nos bancos de dados dos Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab)
sistemas descritos anteriormente, os dados do SIH/SUS, não podem
ser corrigidos após terem sido enviados, mesmo após investigados Sistema de informação territorializado que coleta dados que
e confirmados erros de digitação, codificação ou diagnóstico. O possibilitam a construção de indicadores populacionais referentes
Sistema também não identifica reinternações e transferências de a áreas de abrangência bem delimitadas, cobertas pelo Programa
outros hospitais, o que, eventualmente leva a duplas ou triplas con- de Agentes Comunitários de Saúde e Programa Saúde da Família.
tagens de um mesmo paciente. Sua base de dados possui três blocos: o cadastramento fami-
Apesar de todas as restrições, essa base de dados é de extrema liar (indicadores sociodemográficos dos indivíduos e de saneamen-
importância para o conhecimento do perfil dos atendimentos na
to básico dos domicílios); o acompanhamento de grupos de risco
rede hospitalar. Adicionalmente, não pode ser desprezada a agilida-
(menores de dois anos, gestantes, hipertensos, diabéticos, pessoas
de do Sistema. Os dados por ele aportados tornam-se disponíveis
com tuberculose e pessoas com hanseníase); e o registro de ativida-
aos gestores em menos de um mês, e cerca de dois meses para a
des, procedimentos e notificações (produção e cobertura de ações
disponibilização do consolidado Brasil. Para a vigilância epidemioló-
e serviços básicos, notificação de agravos, óbitos e hospitalizações).
gica, avaliação e controle de ações, esta é uma importante qualida-
Os níveis de agregação do SIAB são: microárea de atuação do
de para o estímulo à sua análise rotineira.
agente comunitário de saúde (território onde residem cerca de 150
famílias), área de abrangência da equipe de Saúde da Família (terri-
SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS DO SUS (SIA/SUS)
tório onde residem aproximadamente mil famílias), segmento, zo-
Em 1991, o SIA/SUS foi formalmente implantado em todo o nas urbana e rural, município, estado, regiões e país. Assim, o Siste-
território nacional como instrumento de ordenação do pagamento ma possibilita a microlocalização de problemas de saúde como, por
dos serviços ambulatoriais (públicos e conveniados), viabilizando exemplo, a identificação de áreas com baixas coberturas vacinais ou
aos gestores apenas a informação do gasto por natureza jurídica do altas taxas de prevalência de doenças (como tuberculose e hiper-
prestador. O total de consultas e exames realizados era fornecido tensão), permitindo a espacialização das necessidades e respostas
por outro sistema, de finalidade puramente estatística, cujo docu- sociais e constituindo-se em importante ferramenta para o planeja-
mento de entrada de dados era o Boletim de Serviços Produzidos mento e avaliação das ações de vigilância da saúde.
(BSP) e o único produto resultante, a publicação Inamps em Dados.

82
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Sistema de Informações de Vigilância •recursos de saúde e produção de serviços – recursos físicos,
Alimentar e Nutricional (Sisvan) humanos, financeiros, produção na rede de serviços básicos de saú-
de e em outras instituições de saúde, vigilância sanitária; no âmbito
Instrumento de políticas federais, focalizadas e compensató- documental e administrativo: legislação médico-sanitária, referên-
rias. Atualmente, encontra-se implantado em aproximadamente cias bibliográficas e sistemas administrativos.
1.600 municípios considerados de risco para a mortalidade infan-
til. Disponibiliza informações sobre o programa de recuperação de Existem outros dados necessários ao município e não coleta-
crianças desnutridas e gestantes sob risco nutricional. dos regularmente, que podem ser obtidos mediante de inquéritos
e estudos especiais, de forma eventual e localizada. Contudo, é pre-
Sistema de Informações do Programa ciso haver racionalidade na definição dos dados a serem coletados,
Nacional de Imunização (SI-PNI) processados e analisados no SIS, para evitar desperdício de tempo,
recursos e descrédito no sistema de informação, tanto pela popula-
Implantado em todos os municípios brasileiros, fornece dados ção como pelos técnicos.
relativos à cobertura vacinal de rotina e, em campanhas, taxa de
abandono e controle do envio de boletins de imunização. Além do
módulo de avaliação do PNI, este Sistema dispõe de um subsistema
de estoque e distribuição de imunobiológicos para fins gerenciais. GESTÃO DO TRABALHO EM SAÚDE

Sistema de Informação de Vigilância da Até meados dos anos 1980 as questões relacionadas aos Recur-
Qualidade da Água para Consumo Humano (Siságua) sos Humanos, ainda que presentes no discurso como fundamentais,
não se traduziam em ações vinculadas à organização do trabalho.
Fornece informações sobre a qualidade da água para consu-
Eram, na prática, tratadas como mais um insumo, ao lado dos recur-
mo humano, proveniente dos sistemas público e privado, e solu-
sos materiais e financeiros.
ções alternativas de abastecimento. Objetiva coletar, transmitir e
A discussão mais recente sobre um novo paradigma de traba-
disseminar dados gerados rotineiramente, de forma a produzir in-
formações necessárias à prática da vigilância da qualidade da água lho, que se instala com mais nitidez nas décadas de 1980 e 1990,
de consumo humano (avaliação da problemática da qualidade da apresenta a centralidade do trabalhador neste processo, ampliando
água e definição de estratégias para prevenir e controlar os proces- a discussão sobre a gestão do trabalho, e inclui a necessidade de
sos de sua deterioração e transmissão de enfermidades) por parte repensar o planejamento e a qualificação do trabalho e do trabalha-
das secretarias municipais e estaduais de saúde, em cumprimento dor. Neste contexto, novas competências são requeridas dos traba-
à Portaria nº 36/90, do Ministério da Saúde. lhadores e gestores, o que implica redefinir as formas de recrutar,
Além das informações decorrentes dos sistemas descritos exis- selecionar, capacitar e manter os profissionais, e consequentemen-
tem outras grandes bases de dados de interesse para o setor saúde, te impõe a necessidade de criação de instrumentos gerenciais es-
com padronização e abrangência nacionais. Entre elas destacam-se: senciais a essa nova abordagem de gestão de recursos humanos.
Cadernos de Saúde e Rede Interagencial de Informação para a Saú- No Brasil dos anos 1980, em decorrência da crise econômica,
de/Ripsa, da qual um dos produtos é o IDB/Indicadores e Dados Bá- inicia-se um processo de desregulação do mercado de trabalho,
sicos para a Saúde (acesso via www.datasus.gov.br ou www.saude. marcado inicialmente por um movimento contraditório: de um lado
gov.br), além daquelas disponibilizadas pelo IBGE (particularmente uma desregulação impulsionada pela tendência de desestruturação
no que se refere ao Censo Demográfico, à Pesquisa Brasileira por do mercado de trabalho; de outro uma tentativa de regulação mo-
Amostragem de Domicílios – Pnad e Pesquisa Nacional de Sanea- tivada pela regulamentação desse mesmo mercado, por meio da
mento Básico 2000). É também importante verificar outros bancos Constituição de 1988. A heterogeneidade dos vínculos é um dado
de dados de interesse à área da saúde, como os do Ministério do importante que compõe esse conjunto de transformações. As novas
Trabalho (Relação Anual de Informações Sociais/Rais) e os do Sis- formas de “contrato” mudam os mecanismos de ingresso e manu-
tema Federal de Inspeção do Trabalho (informações sobre riscos tenção do trabalhador, estabelecendo novas relações de trabalho,
ocupacionais por atividade econômica), bem como fontes de dados definindo também a necessidade de se adquirir competências que
resultantes de estudos e pesquisas realizados por instituições como habilitem trabalhadores e gestores como negociadores das condi-
o Ipea e relatórios e outras publicações de associações de empresas ções de trabalho.
que atuam no setor médico supletivo (medicina de grupo, segura- O CONASS, em decorrência da relevância que o tema adquiriu
doras, autogestão e planos de administração). para o SUS, vem dedicando especial atenção à essas discussões e
A maioria dos sistemas de informação ora apresentados possui
elaborações. Gilson Catarino O’Dwyer, quando Presidente do CO-
manual instrucional e modelos dos instrumentos de coleta (fichas e
NASS, afirmou que “ o desenvolvimento de políticas e prioridades
declarações) para implantação e utilização em computador – dispo-
para a área de recursos humanos é um dos maiores desafios a ser
nibilizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
enfrentado para a construção de um sistema de saúde solidário e
A utilização dos sistemas de informações de saúde e de outras
fontes de dados, pelos serviços de saúde e instituições de ensino justo. Construir uma política cidadã como o SUS implica que seus
e pesquisa, dentre outras, pode ser viabilizada via Internet, propi- construtores/operadores, os trabalhadores de saúde, sejam incor-
ciando o acesso a dados nas seguintes áreas: porados como sujeitos e criadores de transformações, e não como
•demografia – informações sobre população, mortalidade e meros agentes cumpridores de tarefas ou objeto de políticas desu-
natalidade; manizadas.”
•morbidade – morbidade hospitalar e ambulatorial, registros A política de recursos humanos tem, para o CONASS, uma di-
especiais, seguro social, acidentes de trânsito, de trabalho, etc.; mensão estratégica de gestão em saúde e os responsáveis pela sua
meio ambiente: saneamento básico, abastecimento de água, des- condução devem buscar a institucionalização de sistemas de plane-
tino dos dejetos e lixo, poluição ambiental, condições de habitação, jamento.
estudo de vetores;

83
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi- (E) O Programa Nacional de Estratégia de Saúde da Família,
lizaremos o conteúdo para estudo na íntegra “Área do cliente” em proclamado no âmbito do Pacto pela Saúde, validou as diretri-
nosso site. zes constitucionais de prevenção à saúde e criou especificações
Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila. inovadoras, já que a experiência acumulada anteriormente não
subsidiou a regulação e validação das estratégias pelos fóruns
decisórios do SUS.
EXERCÍCIOS 4. Os sistemas de saúde adotados em diversos países baseiam-
-se em pelo menos um dos seguintes princípios: da seguridade
1. Acerca do princípio da equidade no Sistema Único de Saúde social, do seguro social e da assistência ou residual. Acerca desse
(SUS), assinale a opção correta. assunto, assinale a opção correta.
(A) O princípio da equidade no SUS é restrito à atenção básica, (A) O Brasil sempre adotou um sistema de saúde baseado no
por ser esse um serviço de menor custo e de amplo alcance, princípio da assistência ou residual.
que atende ao cidadão brasileiro onde ele esteja. (B) Com a implantação do SUS, o Brasil passou a adotar um
(B) As modalidades atuais de repasses intergovernamentais e sistema de saúde baseado no princípio da seguridade social.
de remuneração dos serviços em saúde atendem ao princípio (C) O SUS representa um sistema de saúde especial, concebido
de equidade no SUS. com base nos três princípios citados.
(C) A promoção de equidade no SUS deve ser realizada por (D) O sistema de saúde adotado no Brasil a partir da constitui-
meio da preferência de atendimento aos usuários de baixa ren- ção de 1988 é semelhante ao adotado nos Estados Unidos da
da. América, sem vinculação aos princípios citados.
(D) A oferta de serviços que privilegiam os grupos menos vul- (E) O sistema de saúde adotado atualmente no Brasil baseia-se
neráveis, um pressuposto do SUS, compromete a resolutivida- no princípio da assistência ou residual.
de da atenção básica.
(E) A equidade no SUS pressupõe a oferta de serviços de saú- 5. De acordo com o princípio da integralidade, um dos princí-
de de todos os níveis de acordo com a complexidade que cada pios fundamentais do SUS,
caso requeira, até o limite da capacidade do sistema. (A) todos os hospitais do país devem integrar o SUS.
(B) deve ser garantido ao usuário o acesso a todos os níveis de
2. Assinale a alternativa correta. complexidade oferecidos pelo SUS.
(A) No Brasil colônia, existia um sistema de saúde estruturado e (C) homens e mulheres são iguais no momento do atendimen-
a população procurava os médicos, recorrendo aos curandeiros to em serviços de saúde.
somente por crendice. (D) toda a população do país deve ser atendida em serviços de
(B) Mesmo com a chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, saúde próprios.
em 1808, o sistema de saúde pública no Brasil não mudou. (E) as doenças de pouca complexidade devem ser tratadas nos
(C) Até 1900, não havia no Brasil faculdade de medicina. serviços de atenção básica.
(D) Em 1850, é criada a Junta Central de Higiene Pública, com
o objetivo de coordenar as Juntas Municipais e, especialmente, 6. Assinale a opção correta no que diz respeito à gestão e ao
atuar no combate à febre amarela. Esta junta também passou financiamento do SUS no Brasil.
a coordenar as atividades de polícia sanitária, vacinação contra (A) Historicamente, o governo federal arca com metade dos re-
varíola, fiscalização do exercício da medicina e a Inspetoria de cursos gastos com a saúde pública no país.
Saúde dos Portos. (B) A participação dos estados e municípios no financiamento
(E) Mesmo com a evolução da saúde pública, no final do século da saúde pública no país é desprezível, quando comparada à
XVIII, a atividade dos curandeiros era respeitada e permitida. participação do governo federal.
(C) De acordo com a legislação em vigor, a gestão federal da
3. A respeito da evolução e das características das políticas de saúde é realizada pelo Ministério da Previdência e Assistência
saúde no Brasil, assinale a opção correta. Social.
(A) O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena é parte do SUS (D) Os governos estaduais são os principais financiadores da
e, assim como este, deverá ser descentralizado, hierarquizado rede pública de saúde.
e regionalizado. (E) Os governos estaduais e municipais são responsáveis por
(B) O Sistema Nacional de Saúde implantado no regime militar 75% de todos os gastos com saúde pública no país.
caracterizou-se pela hegemonia de uma burocracia técnica que
valorizava a expansão do número de leitos, o fortalecimento da 7. Assinale a opção que apresenta corretamente a definição de
cobertura plena dos atendimentos ambulatoriais, a vacinação um dos princípios doutrinários e organizativos do SUS.
de toda população e o incentivo à pesquisa para melhoria da (A) Universalização é o acesso às ações e serviços de saúde ga-
saúde pública. rantida a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça,
(C) As reformas previdenciárias que ocorreram no Brasil contri- ocupação, ou outras características sociais ou pessoais.
buíram para fortalecer a lógica privatista do SUS, seja por meio (B) Descentralização é a consideração das pessoas como um
da política regulatória, seja por alocação programática na aten- todo, atendendo-se a todas as suas necessidades.
ção primária. (C) Equidade significa tratar igualmente todas as regiões do
(D) No governo de Itamar Franco, as taxas de habilitação mu- país, investindo os recursos de forma igual, independentemen-
nicipal ao SUS foram menores nos estados em que as políticas te das necessidades específicas de cada região ou grupo popu-
pró-descentralização foram implantadas. lacional.
(D) Participação popular é a presença da sociedade civil nos
conselhos e conferências de saúde por meio da representação
exclusivamente sindical.

84
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
(E) Hierarquização é a organização dos serviços de saúde par- 12. Com base na Lei no 8.142/1990, que dispõe acerca da parti-
tindo dos municípios até o governo central. cipação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS)
e a respeito das transferências intergovernamentais de recursos
8. Com o advento da Nova República, o movimento político financeiros na área da saúde, e dá outras providências, assinale a
propício em virtude da eleição indireta de um presidente não mi- alternativa correta.
litar desde 1964, além da perspectiva de uma nova Constituição, (A) O Conselho de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com
contribuíram para que a VIII Conferência Nacional de Saúde, em a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a
1986, em Brasília, fosse um marco e, certamente, um divisor de situação da saúde.
águas dentro do movimento pela reforma sanitária brasileira. (b) A Conferência de Saúde, em caráter permanente e delibera-
Acerca desse tema, quanto ao princípio ou à diretriz do Siste- tivo, consiste em órgão colegiado composto por representantes
ma Único de Saúde que corresponde a essa conferência, assinale a do governo, prestadores de serviço e profissionais de saúde.
alternativa correta. (c) A representação dos trabalhadores da saúde nos Conselhos
(A) Participação da comunidade. de Saúde e em Conferências será paritária em relação ao con-
(B) Descentralização, com direção única em cada esfera de go- junto dos demais segmentos.
verno. (D) O SUS contará, em cada esfera de governo, com as seguin-
(C) Equidade da atenção. tes instâncias colegiadas: Conferência de Saúde e Conselho de
(D) Rede regionalizada e hierarquizada. Saúde.
(E) Acesso universal e igualitário. (E) O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Cona-
9. Acerca dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saú- sems) terão representação em todos os Conselhos de Saúde.
de (SUS), descritos pelo artigo 7 da Lei Orgânica de Saúde, Lei no
8.080/1990, a utilização da epidemiologia é indicada para 13. Acerca da participação da comunidade na gestão do SUS e
(A) organização de atendimento público específico e especiali- das transferências intergovernamentais de recursos financeiros na
área da saúde (Lei n.º 8.142/1990), assinale a alternativa correta.
zado para mulheres e vítimas de violência doméstica em geral.
(A) O Conselho de Saúde reunir‐se‐á a cada quatro anos para
(B) defesa da integridade física e moral dos indivíduos, da famí-
avaliar a situação de saúde e propor diretrizes para a formula-
lia e da comunidade.
ção da política de saúde.
(C) estabelecimento de prioridades, alocação de recursos e
(B) A Conferência de Saúde é um órgão colegiado atuante na
orientação programática. formulação de estratégias e na execução da política de saúde.
(D) integração em nível executivo das ações de saúde, meio (C) A transferência de recursos de saúde para os municípios,
ambiente e saneamento básico. os estados e o Distrito Federal pode ser feita de maneira regu-
(E) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saú- lar e automática, a depender da urgência da necessidade das
de. verbas.
(D)Em relação ao conjunto dos demais segmentos, a represen-
10. Acerca do direito constitucional à saúde e à seguridade so- tação dos usuários do sistema de saúde nos Conselhos e nas
cial, assinale a opção correta, segundo entendimento doutrinário e Conferências de saúde será paritária.
jurisprudencial. (E) Pelo menos 90% dos recursos para cobertura das ações e
(A) A seguridade social compreende saúde, previdência e assis- dos serviços de saúde devem ser destinados aos municípios,
tência social, todas prestadas independentemente de contri- sendo o restante destinado ao estado.
buição dos usuários.
(B)De acordo com o STF, desde que seguidos os padrões re- 14 No que se refere ao Decreto n o 7.508/2011, que regula-
gulamentados pela ANVISA, não é proibido o uso industrial e menta a Lei no 8.080/1990, assinale a alternativa correta.
comercial do amianto. (A) A integralidade da assistência à saúde se inicia na Rede de
(C) Os objetivos da seguridade social não incluem equidade dos Atenção à Saúde, mediante referenciamento do usuário, inde-
benefícios entre as populações urbana e rural. pendentemente de pactuação.
(D) De acordo com o STF, não ofende a CF a internação hospita- (B) O processo de planejamento da saúde é obrigatório, será
lar em acomodações superiores, no âmbito do SUS, mediante ascendente e integrado, ouvidos os respectivos Conselhos de
pagamento da diferença de valor correspondente. Saúde, e será efetuado no âmbito dos planos de saúde.
(E) O polo passivo de ações que versem sobre responsabilidade (C) Os serviços de atenção primária, de urgência e emergência
nos tratamentos médicos pode ser ocupado por qualquer dos e de vigilância em saúde são portas de entrada às ações e aos
entes federados. serviços de saúde nas Redes de Atenção à Saúde.
(D) A RENAME compreende todas as ações e os serviços que o
Sistema Único de Saúde oferece ao usuário para atendimento
11 Segundo a Lei nº 8.080/90, que define as diretrizes para or-
da integralidade da assistência à saúde.
ganização e funcionamento do Sistema de Saúde brasileiro, consti-
(E) A articulação interfederativa ocorrerá mediante a assinatura
tui um critério para o estabelecimento de valores a serem transferi-
do Termo de Gestão Compartilhada.
dos a estados, Distrito Federal e municípios:
(A) eficiência na arrecadação de impostos.
(B) perfil epidemiológico da população a ser coberta.
(C) desempenho técnico, econômico e financeiro no período
atual.
(D)participação paritária dos usuários no conselho de saúde.
(E) prioridade para o atendimento hospitalar.

85
GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SUS
15. Segundo a Portaria nº 2436/2017 do Ministério da Saúde
(MS), NÃO é correto afirmar que:
ANOTAÇÕES
(A) todas as UBS são consideradas apenas unidades para aten-
dimento médico em atenção primária, não sendo consideradas ______________________________________________________
potenciais espaços de educação, formação de recursos humanos,
pesquisa ou ensino em serviço. ______________________________________________________
(B) a atenção básica será a principal porta de entrada e centro
de comunicação da RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora ______________________________________________________
das ações e serviços disponibilizados na Rede.
(C) são princípios do SUS a serem operalizados na atenção bási- ______________________________________________________
ca: Universalidade, Equidade e Integralidade.
______________________________________________________
(D) são algumas das diretrizes do SUS: Territorialização, Resolu-
tibilidade, Regionalização e Hierarquização. ______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 E
2 D ______________________________________________________
3 A ______________________________________________________
4 B
______________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 A
7 A ______________________________________________________
8 A ______________________________________________________
9 C
______________________________________________________
10 E
11 B ______________________________________________________

12 D ______________________________________________________
13 D
______________________________________________________
14 B
______________________________________________________
15 A
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

_____________________________________________________

_____________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

86
INFORMÁTICA
1. Conhecimentos do Sistema Operacional Microsoft Windows 7 ou superior; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Conhecimentos sobre discos virtuais Google Drive e Microsoft OneDrive; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
3. Conhecimentos sobre editores de textos (Google Docs e Word 365 para Web) em ambientes virtuais; . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Conhecimentos sobre serviços de planilhas Online (Google Planilhas e Excel 365 para Web) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
INFORMÁTICA

CONHECIMENTOS DO SISTEMA OPERACIONAL MICROSOFT WINDOWS 7 OU SUPERIOR

O Windows 7 é um dos sistemas operacionais mais populares desenvolvido pela Microsoft1.


Visualmente o Windows 7 é semelhante ao seu antecessor, o Windows Vista, porém a interface é muito mais rica e intuitiva.
É Sistema Operacional multitarefa e para múltiplos usuários. O novo sistema operacional da Microsoft trouxe, além dos recursos do
Windows 7, muitos recursos que tornam a utilização do computador mais amigável.
Algumas características não mudam, inclusive porque os elementos que constroem a interface são os mesmos.

Edições do Windows 7
– Windows 7 Starter;
– Windows 7 Home Premium;
– Windows 7 Professional;
– Windows 7 Ultimate.

Área de Trabalho

Área de Trabalho do Windows 7.2

A Área de trabalho é composta pela maior parte de sua tela, em que ficam dispostos alguns ícones. Uma das novidades do Windows
7 é a interface mais limpa, com menos ícones e maior ênfase às imagens do plano de fundo da tela. Com isso você desfruta uma área de
trabalho suave. A barra de tarefas que fica na parte inferior também sofreu mudanças significativas.

1 https://estudioaulas.com.br/img/ArquivosCurso/materialDemo/AulaDemo-4147.pdf
2 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2012/05/como-ocultar-lixeira-da-area-de-trabalho-do-windows.html

1
INFORMÁTICA
Barra de tarefas
– Avisar quais são os aplicativos em uso, pois é mostrado um retângulo pequeno com a descrição do(s) aplicativo(s) que está(ão) ati-
vo(s) no momento, mesmo que algumas estejam minimizadas ou ocultas sob outra janela, permitindo assim, alternar entre estas janelas
ou entre programas.

Alternar entre janelas.3

– A barra de tarefas também possui o menu Iniciar, barra de inicialização rápida e a área de notificação, onde você verá o relógio.
– É organizada, consolidando os botões quando há muitos acumulados, ou seja, são agrupados automaticamente em um único botão.
– Outra característica muito interessante é a pré-visualização das janelas ao passar a seta do mouse sobre os botões na barra de ta-
refas.

Pré-visualização de janela.4

3 Fonte: https://pplware.sapo.pt/tutoriais/windows-7-flip-3d
4 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2010/12/como-aumentar-o-tamanho-das-miniaturas-da-taskbar-do-windows-7.
html

2
INFORMÁTICA
Botão Iniciar

Botão Iniciar5O botão Iniciar é o principal elemento da Barra de Tarefas. Ele dá acesso ao Menu Iniciar, de onde se podem acessar outros
menus que, por sua vez, acionam programas do Windows. Ao ser acionado, o botão Iniciar mostra um menu vertical com várias opções.

Menu Iniciar.6

Desligando o computador
O novo conjunto de comandos permite Desligar o computador, Bloquear o computador, Fazer Logoff, Trocar Usuário, Reiniciar, Sus-
pender ou Hibernar.

Ícones
Representação gráfica de um arquivo, pasta ou programa. Você pode adicionar ícones na área de trabalho, assim como pode excluir.
Alguns ícones são padrões do Windows: Computador, Painel de Controle, Rede, Lixeira e a Pasta do usuário.

Windows Explorer
No computador, para que tudo fique organizado, existe o Windows Explorer. Ele é um programa que já vem instalado com o Windows
e pode ser aberto através do Botão Iniciar ou do seu ícone na barra de tarefas.
Este é um dos principais utilitários encontrados no Windows 7. Permite ao usuário enxergar de forma interessante a divisão organiza-
da do disco (em pastas e arquivos), criar outras pastas, movê-las, copiá-las e até mesmo apagá-las.
Com relação aos arquivos, permite protegê-los, copiá-los e movê-los entre pastas e/ou unidades de disco, inclusive apagá-los e tam-
bém renomeá-los. Em suma, é este o programa que disponibiliza ao usuário a possibilidade de gerenciar todos os seus dados gravados.

5 Fonte: https://br.ign.com/tech/47262/news/suporte-oficial-ao-windows-vista-acaba-em-11-de-abril
6 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/2019/04/como-deixar-a-interface-do-windows-10-parecida-com-o-windows-7.ghtml

3
INFORMÁTICA

Uma das novidades do Windows 7 são as Bibliotecas. Por padrão já consta uma na qual você pode armazenar todos os seus arquivos
e documentos pessoais/trabalho, bem como arquivos de músicas, imagens e vídeos. Também é possível criar outra biblioteca para que
você organize da forma como desejar.

Bibliotecas no Windows 7.8

Aplicativos de Windows 7
O Windows 7 inclui muitos programas e acessórios úteis. São ferramentas para edição de texto, criação de imagens, jogos, ferramentas
para melhorar o desempenho do computador, calculadora e etc.
A pasta Acessórios é acessível dando-se um clique no botão Iniciar na Barra de tarefas, escolhendo a opção Todos os Programas e no
submenu, que aparece, escolha Acessórios.

7 Fonte: https://www.softdownload.com.br/adicione-guias-windows-explorer-clover-2.html
8 Fonte: https://www.tecmundo.com.br/musica/3612-dicas-do-windows-7-aprenda-a-usar-o-recurso-bibliotecas.htm

4
INFORMÁTICA
Bloco de Notas
Aplicativo de edição de textos (não oferece nenhum recurso de formatação) usado para criar ou modificar arquivos de texto. Utilizado
normalmente para editar arquivos que podem ser usados pelo sistema da sua máquina.
O Bloco de Notas serve para criar ou editar arquivos de texto que não exijam formatação e não ultrapassem 64KB. Ele cria arquivos
com extensões .INI, .SYS e .BAT, pois abre e salva texto somente no formato ASCII (somente texto).

Bloco de Notas.

WordPad
Editor de texto com formatação do Windows. Pode conter imagens, tabelas e outros objetos. A formatação é limitada se comparado
com o Word. A extensão padrão gerada pelo WordPad é a RTF. Por meio do programa WordPad podemos salvar um arquivo com a exten-
são DOC entre outras.

WordPad.9

9 Fonte: https://www.nextofwindows.com/windows-7-gives-wordpad-a-new-life

5
INFORMÁTICA
Paint
Editor simples de imagens do Windows. A extensão padrão é a BMP. Permite manipular arquivos de imagens com as extensões: JPG
ou JPEG, GIF, TIFF, PNG, ICO entre outras.

Paint.10

• Calculadora
Pode ser exibida de quatro maneiras: padrão, científica, programador e estatística.

10 Fonte: https://www.techtudo.com.br/listas/noticia/2017/03/microsoft-paint-todas-versoes-do-famoso-editor-de-fotos-do-windows.html

6
INFORMÁTICA
Painel de Controle
O Painel de controle fornece um conjunto de ferramentas administrativas com finalidades especiais que podem ser usadas para confi-
gurar o Windows, aplicativos e ambiente de serviços. O Painel de Controle inclui itens padrão que podem ser usados para tarefas comuns
(por exemplo, Vídeo, Sistemas, Teclado, Mouse e Adicionar hardware). Os aplicativos e os serviços instalados pelo usuário também podem
inserir ícones no Painel de controle.

Painel de Controle.11

Novidades do Windows 7

Ajustar: o recurso Ajustar permite o redimensionamento rápido e simétrico das janelas abertas, basta arrastar a janela para as bordas
pré-definidas e o sistema a ajustará às grades.
Aero Peek: exclusivo das versões Home Premium, Professional e Ultimate, o Aero Peek permite que o usuário visualize as janelas que
ficam ocultadas pela janela principal.
Nova Barra de Tarefas: o usuário pode ter uma prévia do que está sendo rodado, apenas passando o mouse sobre o item minimizado.
Alternância de Tarefas: a barra de alternância de tarefas do Windows 7 foi reformulada e agora é interativa. Permite a fixação de
ícones em determinado local, a reorganização de ícones para facilitar o acesso e também a visualização de miniaturas na própria barra.
Gadgets: diferentemente do Windows Vista, que prendia as gadgets na barra lateral do sistema. O Windows 7 permite que o usuário
redimensione, arraste e deixe as gadgets onde quiser, não dependendo de grades determinadas.
Windows Media Center: o novo Windows Media Center tem compatibilidade com mais formatos de áudio e vídeo, além do suporte a
TVs on-line de várias qualidades, incluindo HD. Também conta com um serviço de busca mais dinâmico nas bibliotecas locais, o TurboScroll.
Windows Backup: além do já conhecido Ponto de Restauração, o Windows 7 vem também com o Windows Backup, que permite a
restauração de documentos e arquivos pessoais, não somente os programas e configurações.
Windows Touch: uma das inovações mais esperadas do novo OS da Microsoft, a compatibilidade total com a tecnologia do toque na
tela, o que inclui o acesso a pastas, redimensionamento de janelas e a interação com aplicativos.
Windows Defender: livre-se de spywares e outras pragas virtuais com o Windows Defender do Windows 7, agora mais limpo e mais
simples de ser configurado e usado.
Windows Firewall: para proteção contra crackers e programas mal-intencionados, o Firewall do Windows. Agora com configuração de
perfis alternáveis, muito útil para uso da rede em ambientes variados, como shoppings com Wi-Fi pública ou conexões residências.
Flip 3D: Flip 3D é um feature padrão do Windows Vista que ficou muito funcional também no Windows 7. No Windows 7 ele ficou com
realismo para cada janela e melhorou no reconhecimento de screens atualizadas.

11 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2016/06/como-mudar-o-idioma-do-windows-7.html

7
INFORMÁTICA
Além de servir como ferramenta de backup, o Dropbox tam-
CONHECIMENTOS SOBRE DISCOS VIRTUAIS GOOGLE bém é uma forma eficiente de ter os arquivos importantes sempre
DRIVE E MICROSOFT ONEDRIVE acessíveis. Deste modo, o usuário consegue abrir suas mídias e do-
cumentos onde quer que esteja, desde que tenha acesso à Internet.

Quando se fala em computação nas nuvens, fala-se na possibi- OneDrive


lidade de acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela inter- O OneDrive, que já foi chamado de SkyDrive, é o serviço de ar-
net12. Ou seja, não é preciso instalar aplicativos no seu computador mazenamento na nuvem da Microsoft e oferece inicialmente 15 GB
para tudo, pois pode acessar diferentes serviços on-line para fazer o de espaço para os usuários13. Mas é possível conseguir ainda mais
que precisa, já que os dados não se encontram em um computador espaço gratuitamente indicando amigos e aproveitando diversas
específico, mas sim em uma rede. promoções que a empresa lança regularmente.
Uma vez devidamente conectado ao serviço on-line, é possível Para conseguir espaço ainda maior, o aplicativo oferece planos
desfrutar suas ferramentas e salvar todo o trabalho que for feito pagos com capacidades variadas também.
para acessá-lo depois de qualquer lugar — é justamente por isso
que o seu computador estará nas nuvens, pois você poderá acessar
os aplicativos a partir de qualquer computador que tenha acesso à
internet.
Basta pensar que, a partir de uma conexão com a internet, você
pode acessar um servidor capaz de executar o aplicativo desejado,
que pode ser desde um processador de textos até mesmo um jogo
ou um pesado editor de vídeos. Enquanto os servidores executam
um programa ou acessam uma determinada informação, o seu
computador precisa apenas do monitor e dos periféricos para que
você interaja. Para quem gosta de editar documentos como Word, Excel e
PowerPoint diretamente do gerenciador de arquivos do serviço,
Vantagens: o OneDrive disponibiliza esse recurso na nuvem para que seja dis-
– Não necessidade de ter uma máquina potente, uma vez que pensada a necessidade de realizar o download para só então poder
tudo é executado em servidores remotos. modificar o conteúdo do arquivo.
– Possibilidade de acessar dados, arquivos e aplicativos a partir
de qualquer lugar, bastando uma conexão com a internet para tal iCloud
— ou seja, não é necessário manter conteúdos importantes em um O iCloud, serviço de armazenamento da Apple, possuía em um
único computador. passado recente a ideia principal de sincronizar contatos, e-mails,
dados e informações de dispositivos iOS. No entanto, recentemente
Desvantagens: a empresa também adotou para o iCloud a estratégia de utilizá-lo
– Gera desconfiança, principalmente no que se refere à segu- como um serviço de armazenamento na nuvem para usuários iOS.
rança. Afinal, a proposta é manter informações importantes em um De início, o usuário recebe 5 GB de espaço de maneira gratuita.
ambiente virtual, e não são todas as pessoas que se sentem à von- Existem planos pagos para maior capacidade de armazena-
tade com isso. mento também.
– Como há a necessidade de acessar servidores remotos, é pri-
mordial que a conexão com a internet seja estável e rápida, princi-
palmente quando se trata de streaming e jogos.

Exemplos de computação em nuvem


Dropbox
O Dropbox é um serviço de hospedagem de arquivos em nu-
vem que pode ser usado de forma gratuita, desde que respeitado o
limite de 2 GB de conteúdo. Assim, o usuário poderá guardar com
segurança suas fotos, documentos, vídeos, e outros formatos, libe-
rando espaço no PC ou smartphone. No entanto, a grande vantagem do iCloud é que ele possui um
sistema muito bem integrado aos seus aparelhos, como o iPhone.
A ferramenta “buscar meu iPhone”, por exemplo, possibilita que
o usuário encontre e bloqueie o aparelho remotamente, além de
poder contar com os contatos e outras informações do dispositivo
caso você o tenha perdido.

12 https://www.tecmundo.com.br/computacao-em-nuvem/738-o-que- 13 https://canaltech.com.br/computacao-na-nuvem/comparativo-os-
-e-computacao-em-nuvens-.htm -principais-servicos-de-armazenamento-na-nuvem-22996/

8
INFORMÁTICA
Google Drive IaaS (infraestrutura como serviço)
Apesar de não disponibilizar gratuitamente o aumento da ca- A IaaS é a categoria mais básica de computação em nuvem.
pacidade de armazenamento, o Google Drive fornece para os usuá- Com ela, você aluga a infraestrutura de TI de um provedor de servi-
rios mais espaço do que os concorrentes ao lado do OneDrive. São ços cloud, pagando somente pelo seu uso.
15 GB de espaço para fazer upload de arquivos, documentos, ima- A contratação dos serviços de computação em nuvem IaaS
gens, etc. (infraestrutura como serviço) envolve a aquisição de servidores e
máquinas virtuais, armazenamento (VMs), redes e sistemas opera-
cionais.PaaS (plataforma como serviço)
PaaS refere-se aos serviços de computação em nuvem que for-
necem um ambiente sob demanda para desenvolvimento, teste,
fornecimento e gerenciamento de aplicativos de software.
A plataforma como serviço foi criada para facilitar aos desen-
volvedores a criação de aplicativos móveis ou web, tornando-a mui-
to mais rápida.
Além de acabar com a preocupação quanto à configuração ou
ao gerenciamento de infraestrutura subjacente de servidores, ar-
Uma funcionalidade interessante do Google Drive é o seu ser- mazenamento, rede e bancos de dados necessários para desenvol-
viço de pesquisa e busca de arquivos que promete até mesmo re- vimento.
conhecer objetos dentro de imagens e textos escaneados. Mesmo
que o arquivo seja um bloco de notas ou um texto e você queira Computação sem servidor
encontrar algo que esteja dentro dele, é possível utilizar a busca A computação sem servidor, assim como a PaaS, concentra-se
para procurar palavras e expressões. na criação de aplicativos, sem perder tempo com o gerenciamento
Além disso, o serviço do Google disponibiliza que sejam feitas contínuo dos servidores e da infraestrutura necessários para isso.
edições de documentos diretamente do browser, sem precisar fazer O provedor em nuvem cuida de toda a configuração, planeja-
o download do documento e abri-lo em outro aplicativo. mento de capacidade e gerenciamento de servidores para você e
sua equipe.
Tipos de implantação de nuvem As arquiteturas sem servidor são altamente escalonáveis e
Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de controladas por eventos: utilizando recursos apenas quando ocorre
nuvem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os ser- uma função ou um evento que desencadeia tal necessidade.
viços cloud contratados serão implementados pela sua gestão de
TI14. SaaS (software como serviço)
Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem: O SaaS é um método para a distribuição de aplicativos de sof-
– Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud tware pela Internet sob demanda e, normalmente, baseado em as-
terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur- sinaturas.
sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento Com o SaaS, os provedores de computação em nuvem hospe-
via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su- dam e gerenciam o aplicativo de software e a infraestrutura subja-
porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor cente.
de nuvem contratado pela organização. Além de realizarem manutenções, como atualizações de sof-
– Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em tware e aplicação de patch de segurança.
nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo Com o software como serviço, os usuários da sua equipe po-
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou dem conectar o aplicativo pela Internet, normalmente com um na-
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infra- vegador da web em seu telefone, tablet ou PC.
estrutura de computação em nuvem utilizados pela empresa são
mantidos em uma rede privada.
– Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi- CONHECIMENTOS SOBRE EDITORES DE TEXTOS (GOO-
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o GLE DOCS E WORD 365 PARA WEB) EM AMBIENTES
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu- VIRTUAIS
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da
empresa. Conhecido como o mais popular editor de textos do mercado,
a versão 2013 do Microsoft Word traz tudo o que é necessário para
Tipos de serviços de nuvem editar textos simples ou enriquecidos com imagens, links, gráficos e
A maioria dos serviços de computação em nuvem se enquadra tabelas, entre outros elementos15.
em quatro categorias amplas: A compatibilidade entre todos os componentes da família
– IaaS (infraestrutura como serviço); Office 2013 é outro dos pontos fortes do Microsoft Word 2013. É
– PaaS (plataforma como serviço); possível exportar texto e importar outros elementos para o Excel,
– Sem servidor; o PowerPoint ou qualquer outro dos programas incluídos no Office.
– SaaS (software como serviço). Outra das novidades do Microsoft Word 2013 é a possibilidade
de guardar os documentos na nuvem usando o serviço SkyDrive.
Esses serviços podem ser chamados algumas vezes de pilha Dessa forma, é possível acessar documentos do Office de qualquer
da computação em nuvem por um se basear teoricamente sobre computador e ainda compartilhá-los com outras pessoas.
o outro.
15 https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4685295/mod_re-
14 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/ source/content/1/Apostila%20de%20Word.pdf

9
INFORMÁTICA

16

Os menus e as barras de ferramentas foram substituídos pela Faixa de Opções (Guias e Comandos) e pelo modo de exibição Backstage
(área de gerenciamento de arquivo)17.

Barra de Ferramentas de Acesso Rápido


Esta barra permite acesso rápido para alguns comandos que são executados com frequência: como iniciar um novo arquivo, salvar um
documento, desfazer e refazer uma ação, entre outros.

16 Fonte: http://www.etec.sp.gov.br/view/file/wv_file.aspx?id=84AFA42DFAD089D53534D753C0488CE2E8CCFF5EC8324596BE-
CE07A8164EDF12521C97DA04C93379CD1A503BE1561B8D7DFDD0202571B27264EF62AF01F952C6
17 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/20/word-2013-estrutura-basica-dos-documentos/

10
INFORMÁTICA
Na parte superior do Word 2013 você encontra uma faixa de opções, que também é organizada por guias. Cada guia tem várias faixas
de opções diferentes. Estas faixas de são formadas por grupos e estes grupos têm vários comandos. O comando é um botão, uma caixa
para inserir informações ou um menu.

Botão Arquivo
Ao clicar sobre ele será exibido opções como Informações, Novo, Abrir, Salvar, Salvar como, Imprimir, etc. Portanto, clique sobre ele e
visualize essas opções.

Página inicial
Área de transferência, Fonte, Parágrafo, Estilo e Edição.

Inserir
Páginas, Tabelas, Ilustrações, Aplicativos, Links, comentários, Cabeçalho e Rodapé, Texto e Símbolos.

Design
Formatação do documento.

11
INFORMÁTICA
Layout da Página
Configurar Página, Parágrafo e Organizar.

Referências
Sumário, Notas de Rodapé, Citações e Bibliografia, Legendas e Índice.

Correspondências
Criar, Iniciar Mala Direta, Gravar e Inserir Campos, Visualizar Resultados e Concluir.

Exibição
Modo de Exibição, Mostrar, Zoom, Janela e Macros.

Formatos de arquivos Word 2013


Formatos de arquivo suportados e suas extensões18:
.doc: documento do Word 97-2003
.docm: documento para macro do Word. Baseado em XML par macro do Word 2019, 2016, 2013 2010 e 2007
.docx: padrão Word 2019, 2016, 2013, 2010 e 2007 e Documento Strict de Open XML
.htm e .html: página da Web Página da Web, Filtrado
.mht e .mhtml: página da Web de Arquivo Único
.odt: texto do OpenDocument. Este é a extensão do LibreOffice, mas o Word dá suporte para que os arquivos salvos do Word 2019,
2016 e 2013 possam ser abertos no Writer do LibreOffice e arquivos do Writer possam ser abertos no Word 2019, 2016 e 2013, mas aten-
ção, a formatação do documento pode ser perdida.
.dot: modelo do Word 97-2003
.dotm: modelo habilitado para macro do Word
.dotx: modelo do Word
.pdf: arquivos que usam o formato de arquivo PDF podem ser visualizados, editados e salvos em .docx ou .pdf usando o Word 2019,
o Word 2016 e o Word 2013. Atenção: Os arquivos PDF podem não ter uma correspondência perfeita de página para paginação com o
original.
.rtf: formato Rich Text . Formato para ser multiplataforma. Os documentos criados em diferentes sistemas operacionais e aplicativos
de software podem ser utilizados entre eles.
.txt: texto simples. Quando o documento é salvo perde sua formatação. É o formato do bloco de notas e WordPad.
.xml: documento XML do Word 2003 e Word 2019, 2016, 2013 e 2007 (Open XML). É também chamado de MetaFile e arquivo de
MetaDados (arquivos com informações extras).
.xps: XML Paper Specification, um formato de arquivo que preserva a formatação do documento e habilita o compartilhamento de
arquivos.
.wps: documento Works 6-9. Este é o formato de arquivo padrão do Microsoft Works, versões 6.0 a 9.0.

18 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/17/word-2013-formatos-de-arquivos/

12
INFORMÁTICA
Criando um documento
Ao criar um documento no Word 2013, é possível começar com um documento em branco ou deixar que um modelo faça a maior
parte do trabalho19.

Iniciando um documento
A maioria das pessoas costuma criar um documento a partir de uma página em branco, apesar de o Word ter vários modelos com
temas e estilos pré-definidos, assim só é preciso adicionar conteúdo.

Abrir um documento
Ao iniciar o Word, aparece uma galeria de modelo separado por categorias. É só clicar em uma delas e escolher um modelo que atenda
melhor seu objetivo.
Aparecerá do lado esquerdo (ver imagem anterior) uma lista com os documentos recentes que você usou.
É só clicar em uma delas e escolher um modelo que atenda melhor seu objetivo.
Caso queira outro documento que não está nesta lista você verá bem abaixo desta coluna a opção abrir outros documentos.

Se já estiver trabalhando no Word e quiser abrir um arquivo é só ir na Barra de Opções e clicar em Arquivo > Abrir e navegar até o local
onde se encontra o arquivo.
Caso você esteja abrindo um documento criado em versões anteriores do Word, você verá Modo de Compatibilidade na barra de título
da janela do documento. Você pode trabalhar no modo de compatibilidade ou atualizar o documento e usar os recursos do Word 2013.
Ctrl + O: atalho para abrir um documento novo documento.
Ctrl + A: atalho para abrir um documento já existente.
Salvando e Fechando o Arquivo
Para salvar um documento digitado, clique na guia Arquivo.

19 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/21/edicao-e-formatacao-de-textos-word-2013/

13
INFORMÁTICA
Em seguida, clique na opção Salvar como.

Após o clique, a caixa de diálogo Salvar como será aberta, onde devemos informar o nome do arquivo e o local onde será salvo.
É possível também salvar na nuvem (on-line) clicando em OneDrive e assim podendo compartilhar o arquivo em vários dispositivos
como no celular ou outros computadores.
O Word já salva automaticamente o arquivo no formato .docx mas caso queira salvar em outro formato, logo abaixo do nome do ar-
quivo tem uma lista de tipos de arquivos suportados pelo Word 2013.

No Word tem uma barra de acesso rápido no topo do editor na qual o documento pode ir sendo salvo
conforme se vai trabalhando nele.
Ctrl + B: atalho para salvar documento.

Funções básicas em um editor de texto


Ctrl + C (Copiar): é quando copiar um texto para repetir no mesmo texto ou colar em outro lugar. Selecione o texto e clique com direito
do mouse e clique em Copiar.
Ctrl + X (Recortar): recurso para tirar o texto selecionado e colar em outro lugar. Selecione o texto e clique com botão direito do mouse
e selecione Recortar. Este arquivo copiado ou recortado irá para a área de transferência.
Área de transferência: área separada do sistema operacional para guardar uma pequena quantidade de dados.
Ctrl + V (Colar): recurso para colar o texto que foi copiado ou recortado. Selecione o local que quer colar e clique no botão direito do
mouse e selecione o tipo de colagem.

Cabeçalho e rodapé
Para colocar números das páginas, título ou data em todas as páginas de seu documento, você deve adicionar um cabeçalho ou ro-
dapé20.
Basta clicar na aba Inserir e em adicionar Cabeçalho ou rodapé.
Seleciona o formato clicando no modelo de seu interesse. Abrirá o cabeçalho para editar a parte interna dele.

Digite o Título e feche o cabeçalho.

20 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/28/cabecalho-e-rodape-word-2013/

14
INFORMÁTICA

Todas as páginas do documento terão o mesmo cabeçalho.

Parágrafos
No Word 2013 tem dois lugares em que encontramos funções para formatarmos parágrafos21.

Guia Página Inicial

Guia Layout de Páginas

A formatação propriamente dita é feita na página inicial.

Alinhamento de parágrafos

Alinhar à esquerda (Ctrl+Q): alinha todo parágrafo na margem esquerda do documento.


Centralizar (Ctrl+E): centraliza o texto no centro da página, dando ao documento uma aparência mais formal
21 https://centraldefavoritos.com.br/2019/10/28/paragrafos-word-2013/

15
INFORMÁTICA
Alinhar à direita (Ctrl+G): alinha o conteúdo à margem direita Bordas
do documento. Além do sombreamento, você pode dar um destaque a um tex-
Justificar (Ctrl+J): distribui o texto uniformemente entre as to colocando uma borda. E clicando na seta você poderá alterar o
margens estilo da borda.

Espaçamento de linhas e parágrafos

Escolhe o espaçamento entre linha ou parágrafos.


Clicando na seta de opções tem os valores de espaçamento.
Quanto maior o número maior o espaçamento.

Sombreamento de parágrafo

Para colocar a borda basta selecionar o texto ou parágrafo e


clica na borda desejada.

Classificar

Nesta opção, pode-se classificar itens selecionado em ordem


alfabética ou numérica.
Ex.: Lista de animais
Para realçar o texto, parágrafo ou célula de tabela selecionada. Vaca
Ele simplesmente muda a cor atrás dando maior destaque. Elefante
Porco
Girafa

Ao selecionar a lista e clica na opção ela fica em ordem


alfabética; Na janela que abrir, pode-se colocar a lista em ordem
crescente ou decrescente.
Recuos

16
INFORMÁTICA

A primeira opção o parágrafo vai para mais perto da margem


(DIMINUIR RECUO)
A segunda opção o parágrafo vai para mais longe da margem
(AUMENTAR RECUO)
É só selecionar o parágrafo e clicar na opção. Cada clicada ele
salta 1,25 cm. .

Mostrar tudo (Ctrl+*) Inserir Tabela: permite inserir


uma tabela na posição do cursor. Note
que a opção tem reticências no final, o
que significa que será aberta uma ja-
nela de opções, para que sejam feitas
as configurações da tabela que será
inserida no documento.

Mostra as marcas de parágrafo e outros símbolos de formata-


ção ocultos. É útil para formatação de layouts avançados.

Guia Inserir (Grupo Tabelas)

Tabela: permite inserir e trabalhar com tabelas no


documento22. Ao clicar na setinha logo abaixo do botão
Tabela, abre-se um menu com opções.

Neste quadro é possível configurar o número de colunas e o


número de linhas da tabela, além de largura de coluna fixa, ajustada
automaticamente.

OFFICE 365
De acordo com a própria desenvolvedora Microsoft, em seu
site oficial: o Office 365 é um serviço de assinatura na nuvem que
reúne as melhores ferramentas para as pessoas trabalharem.
Combinando os melhores aplicativos de produtividade, como o
Excel e o Outlook, com eficientes serviços na nuvem, como o One-
Drive.
Concluímos que basicamente a diferença é o sistema de aqui-
sição, onde o Office tradicional é adquirido em lojas através de um
DVD de instalação e o 365 por sistema de assinatura.

Selecionando-se uma sequência de quadradinhos, é possível Algumas características do Office 365:


inserir uma tabela automaticamente, após soltar o mouse. – Sistema de assinatura: pagamento mensal ou anual. Você
Exemplo: Na figura abaixo, é possível notar a seleção de alguns não adquire o produto, mas sim, paga pelo o uso do produto.
quadradinhos e a indicação Tabela 3x2, o que significa que ao soltar – Ter sempre a versão mais nova do Office sem custo adicional.
o botão do mouse, será inserida no documento uma tabela com 3 Hoje, versão 2016.
colunas e 2 linhas – Recursos adicionais em telefones e tablets. Algumas atualiza-
ções com ferramentas extras que só os assinantes têm direito.
– Suporte técnico por toda a assinatura.
22 https://bit.ly/2BH2KiN

17
INFORMÁTICA
• Office Home & Student 2019: o essencial para os usuários • Iniciando um novo documento
fazerem tudo. Versões clássicas dos aplicativos do Office instaladas
em um PC ou Mac23.
• Microsoft 365 Family: uma assinatura conveniente para até
seis pessoas. Inclui aplicativos de produtividade premium, até 6 TB
de armazenamento em nuvem (1 TB por pessoa) e segurança avan-
çada para todos os seus dispositivos.
• Microsoft 365 Personal: uma assinatura conveniente que in-
clui aplicativos de produtividade premium, 1 TB de armazenamento
em nuvem e segurança avançada para todos os seus dispositivos.

4.CONHECIMENTOS SOBRE SERVIÇOS DE PLANILHAS


ONLINE (GOOGLE PLANILHAS E EXCEL 365 PARA WEB)

Microsoft Office
A partir deste botão retornamos para a área de trabalho do
Word, onde podemos digitar nossos textos e aplicar as formatações
desejadas.

• Alinhamentos
Ao digitar um texto, frequentemente temos que alinhá-lo para
atender às necessidades. Na tabela a seguir, verificamos os alinha-
mentos automáticos disponíveis na plataforma do Word.

GUIA PÁGINA TECLA DE


ALINHAMENTO
INICIAL ATALHO
Justificar (arruma a direito
e a esquerda de acordo Ctrl + J
com a margem

Alinhamento à direita Ctrl + G

Centralizar o texto Ctrl + E


O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos essenciais para
uso pessoal e comercial, ele conta com diversas ferramentas, mas Alinhamento à esquerda Ctrl + Q
em geral são utilizadas e cobradas em provas o Editor de Textos –
Word, o Editor de Planilhas – Excel, e o Editor de Apresentações – • Formatação de letras (Tipos e Tamanho)
PowerPoint. A seguir verificamos sua utilização mais comum: Presente em Fonte, na área de ferramentas no topo da área de
trabalho, é neste menu que podemos formatar os aspectos básicos
Word de nosso texto. Bem como: tipo de fonte, tamanho (ou pontuação),
O Word é um editor de textos amplamente utilizado. Com ele se será maiúscula ou minúscula e outros itens nos recursos auto-
podemos redigir cartas, comunicações, livros, apostilas, etc. Vamos máticos.
então apresentar suas principais funcionalidades.

• Área de trabalho do Word


Nesta área podemos digitar nosso texto e formata-lo de acordo
com a necessidade.
GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO

Tipo de letra

Tamanho

Aumenta / diminui tamanho

Recursos automáticos de caixa-altas


e baixas
23 https://www.microsoft.com/pt-br/microsoft-365/buy/compare-all-micro-
soft-365-products-b

18
INFORMÁTICA

Limpa a formatação

• Marcadores
Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se-
guinte forma:

Podemos então utilizar na página inicial os botões para operar


diferentes tipos de marcadores automáticos:
– Podemos também ter o intervalo A1..B3

• Outros Recursos interessantes:

GUIA ÍCONE FUNÇÃO


- Mudar
Forma
Página - Mudar cor
inicial de Fundo
- Mudar cor
do texto – Para inserirmos dados, basta posicionarmos o cursor na cé-
lula, selecionarmos e digitarmos. Assim se dá a iniciação básica de
- Inserir
uma planilha.
Tabelas
Inserir
- Inserir
• Formatação células
Imagens

Verificação e
Revisão correção ortográ-
fica

Arquivo Salvar

Excel
O Excel é um editor que permite a criação de tabelas para cál-
culos automáticos, análise de dados, gráficos, totais automáticos,
dentre outras funcionalidades importantes, que fazem parte do dia
a dia do uso pessoal e empresarial.
São exemplos de planilhas:
– Planilha de vendas;
– Planilha de custos.

Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-


tomaticamente. • Fórmulas básicas

• Mas como é uma planilha de cálculo?


– Quando inseridos em alguma célula da planilha, os dados são ADIÇÃO =SOMA(célulaX;célulaY)
calculados automaticamente mediante a aplicação de fórmulas es- SUBTRAÇÃO =(célulaX-célulaY)
pecíficas do aplicativo. MULTIPLICAÇÃO =(célulaX*célulaY)
– A unidade central do Excel nada mais é que o cruzamento
entre a linha e a coluna. No exemplo coluna A, linha 2 ( A2 ) DIVISÃO =(célulaX/célulaY)

19
INFORMÁTICA
• Fórmulas de comum interesse Especificamente sobre o PowerPoint, um recurso amplamente
utilizado a guia Design. Nela podemos escolher temas que mudam
MÉDIA (em um intervalo de a aparência básica de nossos slides, melhorando a experiência no
=MEDIA(célula X:célulaY) trabalho com o programa.
células)
MÁXIMA (em um intervalo
=MAX(célula X:célulaY)
de células)
MÍNIMA (em um intervalo
=MIN(célula X:célulaY)
de células)

PowerPoint
O PowerPoint é um editor que permite a criação de apresenta-
ções personalizadas para os mais diversos fins. Existem uma série
de recursos avançados para a formatação das apresentações, aqui
veremos os princípios para a utilização do aplicativo.

• Área de Trabalho do PowerPoint

Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo, obtendo vários


no mesmo formato. Assim liberamos uma série de miniaturas, pe-
las quais podemos navegador, alternando entre áreas de trabalho.
A edição em cada uma delas, é feita da mesma maneira, como já
apresentado anteriormente.
Nesta tela já podemos aproveitar a área interna para escre-
ver conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas ou até
mesmo excluí-las. No exemplo a seguir, perceba que já movemos as
caixas, colocando um título na superior e um texto na caixa inferior,
também alinhamos cada caixa para ajustá-las melhor.

Percebemos agora que temos uma apresentação com quatro


slides padronizados, bastando agora editá-lo com os textos que se
Perceba que a formatação dos textos é padronizada. O mesmo fizerem necessários. Além de copiar podemos mover cada slide de
tipo de padrão é encontrado para utilizarmos entre o PowerPoint, uma posição para outra utilizando o mouse.
o Word e o Excel, o que faz deles programas bastante parecidos, As Transições são recursos de apresentação bastante utilizados
no que diz respeito à formatação básica de textos. Confira no tópi- no PowerPoint. Servem para criar breves animações automáticas
co referente ao Word, itens de formatação básica de texto como: para passagem entre elementos das apresentações.
alinhamentos, tipos e tamanhos de letras, guias de marcadores e
recursos gerais.

20
INFORMÁTICA
– Estão disponíveis também o recurso de edição colaborativa
de apresentações.

Office 2016
O Office 2016 foi um sistema concebido para trabalhar junta-
mente com o Windows 10. A grande novidade foi o recurso que
permite que várias pessoas trabalhem simultaneamente em um
mesmo projeto. Além disso, tivemos a integração com outras fer-
ramentas, tais como Skype. O pacote Office 2016 também roda em
smartfones de forma geral.

Tendo passado pelos aspectos básicos da criação de uma apre- • Atualizações no Word
sentação, e tendo a nossa pronta, podemos apresentá-la bastando – No Word 2016 vários usuários podem trabalhar ao mesmo
clicar no ícone correspondente no canto inferior direito. tempo, a edição colaborativa já está presente em outros produtos,
mas no Word agora é real, de modo que é possível até acompanhar
quando outro usuário está digitando;
– Integração à nuvem da Microsoft, onde se pode acessar os
documentos em tablets e smartfones;
– É possível interagir diretamente com o Bing (mecanismo de
pesquisa da Microsoft, semelhante ao Google), para utilizar a pes-
quisa inteligente;
– É possível escrever equações como o mouse, caneta de to-
que, ou com o dedo em dispositivos touchscreen, facilitando assim
a digitação de equações.
Um último recurso para chamarmos atenção é a possibilidade
de acrescentar efeitos sonoros e interativos às apresentações, le- • Atualizações no Excel
vando a experiência dos usuários a outro nível. – O Excel do Office 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
riores, mas agora com uma maior integração com dispositivos mó-
Office 2013 veis, além de ter aumentado o número de gráficos e melhorado a
A grande novidade do Office 2013 foi o recurso para explorar questão do compartilhamento dos arquivos.
a navegação sensível ao toque (TouchScreen), que está disponível
nas versões 32 e 64. Em equipamentos com telas sensíveis ao toque • Atualizações no PowerPoint
(TouchScreen) pode-se explorar este recurso, mas em equipamen- – O PowerPoint 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
tos com telas simples funciona normalmente. riores, agora com uma maior integração com dispositivos moveis,
O Office 2013 conta com uma grande integração com a nuvem, além de ter aumentado o número de templates melhorado a ques-
desta forma documentos, configurações pessoais e aplicativos po- tão do compartilhamento dos arquivos;
dem ser gravados no Skydrive, permitindo acesso através de smar- – O PowerPoint 2016 também permite a inserção de objetos
tfones diversos. 3D na apresentação.

• Atualizações no Word Office 2019


– O visual foi totalmente aprimorado para permitir usuários O OFFICE 2019 manteve a mesma linha da Microsoft, não hou-
trabalhar com o toque na tela (TouchScreen); ve uma mudança tão significativa. Agora temos mais modelos em
– As imagens podem ser editadas dentro do documento; 3D, todos os aplicativos estão integrados como dispositivos sensí-
– O modo leitura foi aprimorado de modo que textos extensos veis ao toque, o que permite que se faça destaque em documentos.
agora ficam disponíveis em colunas, em caso de pausa na leitura;
– Pode-se iniciar do mesmo ponto parado anteriormente;
– Podemos visualizar vídeos dentro do documento, bem como
editar PDF(s).

• Atualizações no Excel
– Além de ter uma navegação simplificada, um novo conjunto
de gráficos e tabelas dinâmicas estão disponíveis, dando ao usuário
melhores formas de apresentar dados.
– Também está totalmente integrado à nuvem Microsoft.

• Atualizações no PowerPoint
– O visual teve melhorias significativas, o PowerPoint do Offi-
ce2013 tem um grande número de templates para uso de criação
de apresentações profissionais;
– O recurso de uso de múltiplos monitores foi aprimorado;
– Um recurso de zoom de slide foi incorporado, permitindo o
destaque de uma determinada área durante a apresentação;
– No modo apresentador é possível visualizar o próximo slide
antecipadamente;

21
INFORMÁTICA
• Atualizações no Word
– Houve o acréscimo de ícones, permitindo assim um melhor
desenvolvimento de documentos;

• Atualizações no PowerPoint
– Foram adicionadas a ferramenta transformar e a ferramenta
de zoom facilitando assim o desenvolvimento de apresentações;
– Inclusão de imagens 3D na apresentação.

– Outro recurso que foi implementado foi o “Ler em voz alta”.


Ao clicar no botão o Word vai ler o texto para você.

• Atualizações no Excel
– Foram adicionadas novas fórmulas e gráficos. Tendo como
destaque o gráfico de mapas que permite criar uma visualização de
algum mapa que deseja construir.

Office 365
O Office 365 é uma versão que funciona como uma assinatura
semelhante ao Netflix e Spotif. Desta forma não se faz necessário
sua instalação, basta ter uma conexão com a internet e utilizar o
Word, Excel e PowerPoint.

Observações importantes:
– Ele é o mais atualizado dos OFFICE(s), portanto todas as me-
lhorias citadas constam nele;
– Sua atualização é frequente, pois a própria Microsoft é res-
ponsável por isso;
– No nosso caso o Word, Excel e PowerPoint estão sempre atu-
alizados.

22
INFORMÁTICA
5. (PREFEITURA DE VIDEIRA/SC PSICOPEDAGOGO - SC TREI-
EXERCÍCIOS NAMENTOS/2018) Que tipos de arquivos podem ser abertos nor-
malmente com o bloco de notas do Windows 7?
1. (PREFEITURA DE CANANÉIA/SP - ORIENTADOR SOCIAL - VU- 1. Arquivos TXT
NESP/2020) Em um computador com Microsoft Windows 7 insta- 2. Arquivos DOCX
lado, em sua configuração original, um usuário clicou com o botão 3. Arquivos EXE
invertido do mouse sobre um ponto vazio da Área de Trabalho e
obteve o seguinte menu de contexto, exibido parcialmente na ima- Assinale a alternativa que indica todos os itens corretos.
gem a seguir. (A) É correto apenas o item 1.
(B) São corretos apenas os itens 1 e 2.
(C) São corretos apenas os itens 1 e 3.
(D) São corretos apenas os itens 2 e 3.
(E) São corretos os itens 1, 2 e 3.

6. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR-


SOS/2018) São considerados modelos de implantação de compu-
tação em nuvem:
I- Nuvem privada (private clouds): compreende uma infraes-
trutura de nuvem operada publicamente por uma organização. Os
serviços são oferecidos para serem utilizados internamente pela
própria organização, não estando disponíveis publicamente para
A opção Novo permite que se crie um(a) novo(a) uso geral.
(A) Usuário II- Nuvem comunidade (community cloud): fornece uma in-
(B) Atalho fraestrutura compartilhada por uma comunidade de organizações
(C) Papel de parede com interesses em comum.
(D) Barra de ferramentas III- Nuvem pública (public cloud): a nuvem é disponibilizada
(E) Pesquisa por arquivos publicamente através do modelo pay-per-use. Tipicamente, são
oferecidas por companhias que possuem grandes capacidades de
2. (PREFEITURA DE CANANÉIA/SP - MÉDICO 20H - VU- armazenamento e processamento.
NESP/2020) Assinale a alternativa que apresenta apenas extensões IV- Nuvem híbrida (hybrid cloud): a infraestrutura é uma com-
de arquivos reconhecidas por padrão, no MS-Windows 7, em sua posição de duas ou mais nuvens (privada, comunidade ou pública)
configuração padrão, como arquivos de imagens. que continuam a ser entidades públicas, porém, conectadas através
(A) bmp e pptx. de tecnologia proprietária ou padronizada.
(B) xlsx e docx.
(C) txt e jpg. Está correto o contido:
(D) jpg e png. (A) Apenas na opção I.
(E) png e doc. (B) Apenas na opção II.
(C)Apenas nas opções II e III.
3. (PREFEITURA DE VILA VELHA/ES - PSICÓLOGO - IBADE/2020) (D) Nas opções I, II e III.
No Windows 7, para verificar o percentual de utilização de um HD,
de forma gráfica, deve-se clicar no ícone do dispositivo com o botão 7. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR-
direito do mouse e selecionar: SOS/2018) O modelo de computação em nuvem é composto por
(A) Pesquisar. algumas características essenciais, dentre elas:
(B) Compartilhar. I- Serviço sob-demanda: as funcionalidades computacionais
(C) Criar atalho. são providas automaticamente sem a interação humana com o pro-
(D) Explorar. vedor do serviço.
(E) Propriedades. II- Amplo acesso aos serviços: os recursos computacionais es-
tão disponíveis através da Internet e são acessados via mecanismos
4. (PREFEITURA DE JAHU/SP - MONITOR DE ALUNOS COM NE- padronizados para que possam ser utilizados por dispositivos mó-
CESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS – OBJETIVA/2018) De acor- veis e portáteis, computadores, etc.
do com o Sistema Operacional Windows 7, assinalar a alternativa III- Resource pooling: os recursos computacionais (físicos ou
INCORRETA: virtuais) do provedor são utilizados para servir a múltiplos usuários,
(A) Os arquivos na área de trabalho podem ser classificados sendo alocados e realocados dinamicamente conforme a demanda
por data de modificação. do usuário. Nesse cenário, o usuário do serviço não tem a noção da
(B) Ao clicar com o botão direito do mouse sobre o ícone da localização exata do recurso, mas deve ser capaz de definir a locali-
lixeira na área de trabalho, uma das opções apresentadas será zação em um nível mais alto (país, estado, região).
“Renomear”.
(C) Ao clicar em “Computador”, no Menu Iniciar, é possível Está correto o contido:
consultar unidades de disco e outros itens de hardware conec- (A) Apenas na opção I.
tados ao computador. (B) Apenas na opção II.
(D) A opção “Suspender”, no Menu Iniciar, fecha todos os (C) Apenas nas opções II e III.
programas e faz logoff. (D) Nas opções I, II e III.

23
INFORMÁTICA
8. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ DOS CORDEIROS/PB - TÉCNICO
EM ENFERMAGEM - CPCON/2019) Sobre a computação em nuvem,
ANOTAÇÕES
assinale a alternativa que apresenta FALSA informação.
(A) Reduz os custos do usuário na aquisição de hardware e ______________________________________________________
software.
(B) Fornece diversos serviços de computação, dentre os quais, ______________________________________________________
banco de dados, servidores e softwares.
(C) O IaaS (infraestrutura como serviço) é uma categoria de ______________________________________________________
serviços de computação em nuvem, responsável pela distri-
buição de aplicativos de software pela Internet sob demanda ______________________________________________________
e, normalmente, baseado em assinaturas.
______________________________________________________
(D) O PaaS (plataforma como serviço) refere-se aos serviços
de computação em nuvem que fornecem um ambiente sob ______________________________________________________
demanda para desenvolvimento, teste, fornecimento e geren-
ciamento de aplicativos de software. ______________________________________________________
(E) Permite acesso remoto às informações.
______________________________________________________
12. (QUADRIX CRN) Nos sistemas operacionais Windows 7 e
Windows 8, qual, destas funções, a Ferramenta de Captura não exe- ______________________________________________________
cuta?
______________________________________________________
(A) Capturar qualquer item da área de trabalho.
(B) Capturar uma imagem a partir de um scanner. ______________________________________________________
(C) Capturar uma janela inteira
(D) Capturar uma seção retangular da tela. ______________________________________________________
(E) Capturar um contorno à mão livre feito com o mouse ou
uma caneta eletrônica ______________________________________________________

13. (IF-PB) Acerca dos sistemas operacionais Windows 7 e 8, ______________________________________________________


assinale a alternativa INCORRETA:
(A) O Windows 8 é o sucessor do 7, e ambos são desenvolvidos ______________________________________________________
pela Microsoft.
______________________________________________________
(B) O Windows 8 apresentou uma grande revolução na interfa-
ce do Windows. Nessa versão, o botão “iniciar” não está sem- ______________________________________________________
pre visível ao usuário.
(C) É possível executar aplicativos desenvolvidos para Windows ______________________________________________________
7 dentro do Windows 8.
(D) O Windows 8 possui um antivírus próprio, denominado ______________________________________________________
Kapersky.
(E) O Windows 7 possui versões direcionadas para computado- ______________________________________________________
res x86 e 64 bits.
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 B _____________________________________________________

2 B _____________________________________________________
3 E ______________________________________________________
4 D
______________________________________________________
5 A
6 C ______________________________________________________

7 D ______________________________________________________
8 C ______________________________________________________
9 B
______________________________________________________
10 D
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

24
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

1. Sistema Único de Saúde (SUS), princípios e diretrizes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01


2. Lei do exercício profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Código de Deontologia de Enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
4. Política Nacional de Humanização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08
5. cuidado respeitando o cliente/paciente nos seus direitos e na sua individualidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
6. Análise de riscos ambientais e medidas básicas de proteção de trabalhadores que atuam em estabelecimentos de saúde. Uso de equi-
pamentos de proteção individual e coletiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Cuidados de enfermagem a indivíduos, famílias, grupos sociais e comunidades, durante todo o processo vital, desenvolvendo ativida-
des de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
8. Princípios ergonômicos na realização do trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
9. Ações que promovam a prevenção e o controle de doenças infectocontagiosas e/ou crônicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
10. Estrutura, organização e funcionamento da Enfermagem dentro das instituições de Saúde. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
11. Sinais e sintomas que indicam distúrbios clínicos e psicológicos e suas complicações no organismo avaliando a sua gravidade. . 119
12. Técnicas de acondicionamento, identificação, guarda, conservação e manuseio e descarte de resíduos sólidos e material biológi-
co. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
13. Programas de vacinação, técnicas de imunização / vacinação e de aplicação de imunobiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
14. Importância dos registros relativos aos procedimentos de enfermagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
15. Caracterizar medidas antropométricas e sinais vitais e reconhecer a importância das mesmas na avaliação da saúde do cliente/pacien-
te. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
16. Cuidados de enfermagem na administração de medicamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
17. Normas e rotinas de trabalho das unidades de atendimento, assim como o funcionamento e utilização de equipamentos e materiais
específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208
18. Medidas e ações para evitar a contaminação e disseminação do Coronavírus (SARS-Covid-2) e/ou outros microrganismos. . . . . 218
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

I – o titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfer-


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS), PRINCÍPIOS E DIRE- magem, expedido de acordo com a legislação e registrado pelo ór-
TRIZES gão competente;
II – o titular do diploma ou do certificado legalmente conferido
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado por escola ou curso estrangeiro, registrado em virtude de acordo
na matéria de GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como diploma de
SAÚDE - SUS Técnico de Enfermagem.
Art. 8º – São Auxiliares de Enfermagem:
I – o titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido
LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL por instituição de ensino, nos termos da Lei e registrado no órgão
competente;
LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL: LEI Nº 7498, DE 1986 II – o titular do diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de
junho de 1956;
LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL III – o titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso
III do Art. 2º da Lei nº 2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido
A Lei do Exercício profissional salienta as especificidades quan- até a publicação da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961;
to as classes na área da enfermagem, o que cada um pode e deve IV – o titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de
fazer ou participar dentro de uma equipe. Enfermagem, expedido até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscaliza-
Costuma ser cobrado em concursos ações privativas dos profis- ção da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde, ou por órgão
sionais e ações cotidianas onde eles são inseridos na equipe. congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos
O Decreto 94.406/1987 regulamenta a Lei 7.498/1986 (Lei do termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do De-
Exercício Profissional) creto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946, e da Lei nº 3.640, de 10
de outubro de 1959;
Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e V – o pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos
dá outras providências. termos do Decreto-lei nº 299, de 28 de fevereiro de 1967;
VI – o titular do diploma ou certificado conferido por escola ou
O presidente da República. curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no Brasil como certifi-
seguinte Lei: cado de Auxiliar de Enfermagem.
Art. 9º – São Parteiras:
Art. 1º – É livre o exercício da Enfermagem em todo o território I – a titular de certificado previsto no Art. 1º do Decreto-lei nº
nacional, observadas as disposições desta Lei. 8.778, de 22 de janeiro de 1946, observado o disposto na Lei nº
Art. 2º – A Enfermagem e suas atividades Auxiliares somente 3.640, de 10 de outubro de 1959;
II – a titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equiva-
podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas
lente, conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo as leis do
no Conselho Regional de Enfermagem com jurisdição na área onde
país, registrado em virtude de intercâmbio cultural ou revalidado
ocorre o exercício.
no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta Lei, como certi-
Parágrafo único. A Enfermagem é exercida privativamente pelo
ficado de Parteira.
Enfermeiro, pelo Técnico de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enferma- Art. 10 – (vetado)
gem e pela Parteira, respeitados os respectivos graus de habilitação. Art. 11. O Enfermeiro exerce todas as atividades de enferma-
Art. 3º – O planejamento e a programação das instituições e gem, cabendo-lhe:
serviços de saúde incluem planejamento e programação de Enfer- I – privativamente:
magem. a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura bá-
Art. 4º – A programação de Enfermagem inclui a prescrição da sica da instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e
assistência de Enfermagem. de unidade de enfermagem;
Art. 5º – (vetado) b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas
§ 1º (vetado) atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses
§ 2º (vetado) serviços;
Art. 6º – São enfermeiros: c) planejamento, organização, coordenação, execução e avalia-
I – o titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição ção dos serviços da assistência de enfermagem;
de ensino, nos termos da lei; d) (VETADO);
II – o titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfer- e) (VETADO);
meira obstétrica, conferidos nos termos da lei; f) (VETADO);
III – o titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular g) (VETADO);
do diploma ou certificado de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, h) consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria
ou equivalente, conferido por escola estrangeira segundo as leis do de enfermagem;
país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou i) consulta de enfermagem;
revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira j) prescrição da assistência de enfermagem;
Obstétrica ou de Obstetriz; l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com ris-
IV – aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obti- co de vida;
verem título de Enfermeiro conforme o disposto na alínea “”d”” do m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica
e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de to-
Art. 3º do Decreto nº 50.387, de 28 de março de 1961.
mar decisões imediatas;
Art. 7º – São técnicos de Enfermagem:
II – como integrante da equipe de saúde:

1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

a) participação no planejamento, execução e avaliação da pro- Art. 22 – (vetado)


gramação de saúde; Art. 23 – O pessoal que se encontra executando tarefas de En-
b) participação na elaboração, execução e avaliação dos planos fermagem, em virtude de carência de recursos humanos de nível
assistenciais de saúde; médio nesta área, sem possuir formação específica regulada em lei,
c) prescrição de medicamentos estabelecidos em programas será autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer
de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde; atividades elementares de Enfermagem, observado o disposto no
d) participação em projetos de construção ou reforma de uni- Art. 15 desta Lei.
dades de internação; Parágrafo único – A autorização referida neste artigo, que obe-
e) prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de decerá aos critérios baixados pelo Conselho Federal de Enferma-
doenças transmissíveis em geral; gem, somente poderá ser concedida durante o prazo de 10 (dez)
f) prevenção e controle sistemático de danos que possam ser anos, a contar da promulgação desta Lei.
causados à clientela durante a assistência de enfermagem; Art. 24 – (vetado)
g) assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puér- Parágrafo único – (vetado)
pera; Art. 25 – O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de
h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; 120 (cento e vinte) dias a contar da data de sua publicação.
i) execução do parto sem distocia; Art. 26 – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
j) educação visando à melhoria de saúde da população. Art. 27 – Revogam-se (vetado) as demais disposições em con-
Parágrafo único. As profissionais referidas no inciso II do art. 6º trário.
desta lei incumbe, ainda:
a) assistência à parturiente e ao parto normal;
b) identificação das distocias obstétricas e tomada de provi- CÓDIGO DE DEONTOLOGIA DE ENFERMAGEM
dências até a chegada do médico;
c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anes-
tesia local, quando necessária. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM
Art. 12 – O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível
médio, envolvendo orientação e acompanhamento do trabalho de RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017
Enfermagem em grau auxiliar, e participação no planejamento da
assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente: Aprova o novo Código de Ética dos Profissionais de Enferma-
§ 1º Participar da programação da assistência de Enfermagem; gem
§ 2º Executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as pri- O Conselho Federal de Enfermagem – Cofen, no uso das atri-
vativas do Enfermeiro, observado o disposto no Parágrafo único do buições que lhe são conferidas pela Lei nº 5.905, de 12 de julho
Art. 11 desta Lei; de 1973, e pelo Regimento da Autarquia, aprovado pela Resolução
§ 3º Participar da orientação e supervisão do trabalho de Enfer- Cofen nº 421, de 15 de fevereiro de 2012, e
magem em grau auxiliar; CONSIDERANDO que nos termos do inciso III do artigo 8º da Lei
§ 4º Participar da equipe de saúde. 5.905, de 12 de julho de 1973, compete ao Cofen elaborar o Código
Art. 13 – O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível de Deontologia de Enfermagem e alterá-lo, quando necessário, ou-
médio, de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de vidos os Conselhos Regionais;
Enfermagem sob supervisão, bem como a participação em nível de CONSIDERANDO que o Código de Deontologia de Enfermagem
execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe espe- deve submeter-se aos dispositivos constitucionais vigentes;
cialmente: CONSIDERANDO a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
§ 1º Observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas; promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e ado-
§ 2º Executar ações de tratamento simples; tada pela Convenção de Genebra (1949), cujos postulados estão
§ 3º Prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente; contidos no Código de Ética do Conselho Internacional de Enfer-
§ 4º Participar da equipe de saúde. meiras (1953, revisado em 2012);
Art. 14 – (vetado) CONSIDERANDO a Declaração Universal sobre Bioética e Direi-
Art. 15 – As atividades referidas nos arts. 12 e 13 desta Lei, tos Humanos (2005);
quando exercidas em instituições de saúde, públicas e privadas, e CONSIDERANDO o Código de Deontologia de Enfermagem do
em programas de saúde, somente podem ser desempenhadas sob
Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos Pro-
orientação e supervisão de Enfermeiro.
fissionais de Enfermagem (1993, reformulado em 2000 e 2007), as
Art. 16 – (vetado)
normas nacionais de pesquisa (Resolução do Conselho Nacional de
Art. 17 – (vetado)
Saúde – CNS nº 196/1996), revisadas pela Resolução nº 466/2012,
Art. 18 – (vetado)
Parágrafo único. (vetado) e as normas internacionais sobre pesquisa envolvendo seres huma-
Art. 19 – (vetado) nos;
Art. 20 – Os órgãos de pessoal da administração pública dire- CONSIDERANDO a proposta de Reformulação do Código de Éti-
ta e indireta, federal, estadual, municipal, do Distrito Federal e dos ca dos Profissionais de Enfermagem, consolidada na 1ª Conferência
Territórios observarão, no provimento de cargos e funções e na con- Nacional de Ética na Enfermagem – 1ª CONEENF, ocorrida no perí-
tratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, os preceitos odo de 07 a 09 de junho de 2017, em Brasília – DF, realizada pelo
desta Lei. Conselho Federal de Enfermagem e Coordenada pela Comissão
Parágrafo único – Os órgãos a que se refere este artigo pro- Nacional de Reformulação do Código de Ética dos Profissionais de
moverão as medidas necessárias à harmonização das situações já Enfermagem, instituída pela Portaria Cofen nº 1.351/2016;
existentes com as disposições desta Lei, respeitados os direitos ad-
quiridos quanto a vencimentos e salários.
Art. 21 – (vetado)

2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

CONSIDERANDO a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 (Lei dos serviços de saúde; tem como responsabilidades a promoção e a
Maria da Penha) que cria mecanismos para coibir a violência do- restauração da saúde, a prevenção de agravos e doenças e o alívio
méstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 do sofrimento; proporciona cuidados à pessoa, à família e à cole-
da Constituição Federal e a Lei nº 10.778, de 24 de novembro de tividade; organiza suas ações e intervenções de modo autônomo,
2003, que estabelece a notificação compulsória, no território na- ou em colaboração com outros profissionais da área; tem direito a
cional, nos casos de violência contra a mulher que for atendida em remuneração justa e a condições adequadas de trabalho, que possi-
serviços de saúde públicos e privados; bilitem um cuidado profissional seguro e livre de danos.
CONSIDERANDO a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que Sobretudo, esses princípios fundamentais reafirmam que o
dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente; respeito aos direitos humanos é inerente ao exercício da profissão,
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003, o que inclui os direitos da pessoa à vida, à saúde, à liberdade, à
que dispõe sobre o Estatuto do Idoso; igualdade, à segurança pessoal, à livre escolha, à dignidade e a ser
CONSIDERANDO a Lei nº. 10.216, de 06 de abril de 2001, que tratada sem distinção de classe social, geração, etnia, cor, crença
dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de religiosa, cultura, incapacidade, deficiência, doença, identidade de
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde gênero, orientação sexual, nacionalidade, convicção política, raça
mental; ou condição social.
CONSIDERANDO a Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, que Inspirado nesse conjunto de princípios é que o Conselho Fede-
dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recupera- ral de Enfermagem, no uso das atribuições que lhe são conferidas
ção da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços cor- pelo Art. 8º, inciso III, da Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, apro-
va e edita esta nova revisão do CEPE, exortando os profissionais de
respondentes;
Enfermagem à sua fiel observância e cumprimento.
CONSIDERANDO as sugestões apresentadas na Assembleia Ex-
traordinária de Presidentes dos Conselhos Regionais de Enferma-
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
gem, ocorrida na sede do Cofen, em Brasília, Distrito Federal, no dia
18 de julho de 2017, e
A Enfermagem é comprometida com a produção e gestão do
CONSIDERANDO a deliberação do Plenário do Conselho Fede-
cuidado prestado nos diferentes contextos socioambientais e cultu-
ral de Enfermagem em sua 491ª Reunião Ordinária,
rais em resposta às necessidades da pessoa, família e coletividade.
O profissional de Enfermagem atua com autonomia e em
RESOLVE:
consonância com os preceitos éticos e legais, técnico-científico e
Art. 1º Aprovar o novo Código de Ética dos Profissionais de En- teórico-filosófico; exerce suas atividades com competência para
fermagem, conforme o anexo desta Resolução, para observância e promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os
respeito dos profissionais de Enfermagem, que poderá ser consulta- Princípios da Ética e da Bioética, e participa como integrante da
do através do sítio de internet do Cofen (www.cofen.gov.br). equipe de Enfermagem e de saúde na defesa das Políticas Públicas,
Art. 2º Este Código aplica-se aos Enfermeiros, Técnicos de En- com ênfase nas políticas de saúde que garantam a universalidade
fermagem, Auxiliares de Enfermagem, Obstetrizes e Parteiras, bem de acesso, integralidade da assistência, resolutividade, preservação
como aos atendentes de Enfermagem. da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierar-
Art. 3º Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Fede- quização e descentralização político-administrativa dos serviços de
ral de Enfermagem. saúde.
Art. 4º Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal O cuidado da Enfermagem se fundamenta no conhecimento
de Enfermagem, por proposta de 2/3 dos Conselheiros Efetivos do próprio da profissão e nas ciências humanas, sociais e aplicadas e é
Conselho Federal ou mediante proposta de 2/3 dos Conselhos Re- executado pelos profissionais na prática social e cotidiana de assis-
gionais. tir, gerenciar, ensinar, educar e pesquisar.
Parágrafo Único. A alteração referida deve ser precedida de
ampla discussão com a categoria, coordenada pelos Conselhos Re- CAPÍTULO I
gionais, sob a coordenação geral do Conselho Federal de Enferma- DOS DIREITOS
gem, em formato de Conferência Nacional, precedida de Conferên-
cias Regionais. Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade, segurança téc-
Art. 5º A presente Resolução entrará em vigor 120 (cento e vin- nica, científica e ambiental, autonomia, e ser tratado sem discrimi-
te) dias a partir da data de sua publicação no Diário Oficial da União, nação de qualquer natureza, segundo os princípios e pressupostos
revogando-se as disposições em contrário, em especial a Resolução legais, éticos e dos direitos humanos.
Cofen nº 311/2007, de 08 de fevereiro de 2007. Art. 2º Exercer atividades em locais de trabalho livre de riscos
e danos e violências física e psicológica à saúde do trabalhador, em
Brasília, 6 de novembro de 2017. respeito à dignidade humana e à proteção dos direitos dos profis-
sionais de enfermagem.
Art. 3º Apoiar e/ou participar de movimentos de defesa da dig-
ANEXO DA RESOLUÇÃO COFEN Nº 564/2017 nidade profissional, do exercício da cidadania e das reivindicações
por melhores condições de assistência, trabalho e remuneração,
PREÂMBULO observados os parâmetros e limites da legislação vigente.
Art. 4º Participar da prática multiprofissional, interdisciplinar e
O Conselho Federal de Enfermagem, ao revisar o Código de transdisciplinar com responsabilidade, autonomia e liberdade, ob-
Ética dos Profissionais de Enfermagem – CEPE, norteou-se por prin- servando os preceitos éticos e legais da profissão.
cípios fundamentais, que representam imperativos para a conduta Art. 5º Associar-se, exercer cargos e participar de Organiza-
profissional e consideram que a Enfermagem é uma ciência, arte e ções da Categoria e Órgãos de Fiscalização do Exercício Profissional,
uma prática social, indispensável à organização e ao funcionamento atendidos os requisitos legais.

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 6º Aprimorar seus conhecimentos técnico-científicos, éti- Art. 25 Fundamentar suas relações no direito, na prudência,
co-políticos, socioeducativos, históricos e culturais que dão susten- no respeito, na solidariedade e na diversidade de opinião e posição
tação à prática profissional. ideológica.
Art. 7º Ter acesso às informações relacionadas à pessoa, famí- Art. 26 Conhecer, cumprir e fazer cumprir o Código de Ética dos
lia e coletividade, necessárias ao exercício profissional. Profissionais de Enfermagem e demais normativos do Sistema Co-
Art. 8º Requerer ao Conselho Regional de Enfermagem, de for- fen/Conselhos Regionais de Enfermagem.
ma fundamentada, medidas cabíveis para obtenção de desagravo Art. 27 Incentivar e apoiar a participação dos profissionais de
público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional Enfermagem no desempenho de atividades em organizações da ca-
ou que atinja a profissão. tegoria.
Art. 9º Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, de for- Art. 28 Comunicar formalmente ao Conselho Regional de En-
ma fundamentada, quando impedido de cumprir o presente Códi- fermagem e aos órgãos competentes fatos que infrinjam dispositi-
go, a Legislação do Exercício Profissional e as Resoluções, Decisões vos éticos-legais e que possam prejudicar o exercício profissional e
e Pareceres Normativos emanados pelo Sistema Cofen/Conselhos a segurança à saúde da pessoa, família e coletividade.
Regionais de Enfermagem. Art. 29 Comunicar formalmente, ao Conselho Regional de En-
Art. 10 Ter acesso, pelos meios de informação disponíveis, fermagem, fatos que envolvam recusa e/ou demissão de cargo,
às diretrizes políticas, normativas e protocolos institucionais, bem função ou emprego, motivado pela necessidade do profissional em
como participar de sua elaboração. cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.
Art. 11 Formar e participar da Comissão de Ética de Enferma- Art. 30 Cumprir, no prazo estabelecido, determinações, notifi-
gem, bem como de comissões interdisciplinares da instituição em cações, citações, convocações e intimações do Sistema Cofen/Con-
que trabalha. selhos Regionais de Enfermagem.
Art. 12 Abster-se de revelar informações confidenciais de que Art. 31 Colaborar com o processo de fiscalização do exercício
tenha conhecimento em razão de seu exercício profissional. profissional e prestar informações fidedignas, permitindo o acesso
Art. 13 Suspender as atividades, individuais ou coletivas, quan- a documentos e a área física institucional.
do o local de trabalho não oferecer condições seguras para o exer- Art. 32 Manter inscrição no Conselho Regional de Enfermagem,
cício profissional e/ou desrespeitar a legislação vigente, ressalvadas com jurisdição na área onde ocorrer o exercício profissional.
as situações de urgência e emergência, devendo formalizar imedia- Art. 33 Manter os dados cadastrais atualizados junto ao Conse-
tamente sua decisão por escrito e/ou por meio de correio eletrôni- lho Regional de Enfermagem de sua jurisdição.
co à instituição e ao Conselho Regional de Enfermagem. Art. 34 Manter regularizadas as obrigações financeiras junto ao
Art. 14 Aplicar o processo de Enfermagem como instrumento Conselho Regional de Enfermagem de sua jurisdição.
Art. 35 Apor nome completo e/ou nome social, ambos legíveis,
metodológico para planejar, implementar, avaliar e documentar o
número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enferma-
cuidado à pessoa, família e coletividade.
gem, assinatura ou rubrica nos documentos, quando no exercício
Art. 15 Exercer cargos de direção, gestão e coordenação, no
profissional.
âmbito da saúde ou de qualquer área direta ou indiretamente rela-
§ 1º É facultado o uso do carimbo, com nome completo, núme-
cionada ao exercício profissional da Enfermagem.
ro e categoria de inscrição no Coren, devendo constar a assinatura
Art. 16 Conhecer as atividades de ensino, pesquisa e extensão
ou rubrica do profissional.
que envolvam pessoas e/ou local de trabalho sob sua responsabili-
§ 2º Quando se tratar de prontuário eletrônico, a assinatura
dade profissional.
deverá ser certificada, conforme legislação vigente.
Art. 17 Realizar e participar de atividades de ensino, pesquisa e Art. 36 Registrar no prontuário e em outros documentos as
extensão, respeitando a legislação vigente. informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de
Art. 18 Ter reconhecida sua autoria ou participação em pesqui- forma clara, objetiva, cronológica, legível, completa e sem rasuras.
sa, extensão e produção técnico-científica. Art. 37 Documentar formalmente as etapas do processo de En-
Art. 19 Utilizar-se de veículos de comunicação, mídias sociais fermagem, em consonância com sua competência legal.
e meios eletrônicos para conceder entrevistas, ministrar cursos, Art. 38 Prestar informações escritas e/ou verbais, completas e
palestras, conferências, sobre assuntos de sua competência e/ou fidedignas, necessárias à continuidade da assistência e segurança
divulgar eventos com finalidade educativa e de interesse social. do paciente.
Art. 20 Anunciar a prestação de serviços para os quais detenha Art. 39 Esclarecer à pessoa, família e coletividade, a respeito
habilidades e competências técnico-científicas e legais. dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistên-
Art. 21 Negar-se a ser filmado, fotografado e exposto em mí- cia de Enfermagem.
dias sociais durante o desempenho de suas atividades profissionais. Art. 40 Orientar à pessoa e família sobre preparo, benefícios,
Art. 22 Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua riscos e consequências decorrentes de exames e de outros proce-
competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam dimentos, respeitando o direito de recusa da pessoa ou de seu re-
segurança ao profissional, à pessoa, à família e à coletividade. presentante legal.
Art. 23 Requerer junto ao gestor a quebra de vínculo da relação Art. 41 Prestar assistência de Enfermagem sem discriminação
profissional/usuários quando houver risco à sua integridade física de qualquer natureza.
e moral, comunicando ao Coren e assegurando a continuidade da Art. 42 Respeitar o direito do exercício da autonomia da pessoa
assistência de Enfermagem. ou de seu representante legal na tomada de decisão, livre e esclare-
cida, sobre sua saúde, segurança, tratamento, conforto, bem-estar,
CAPÍTULO II realizando ações necessárias, de acordo com os princípios éticos e
DOS DEVERES legais.
Parágrafo único. Respeitar as diretivas antecipadas da pessoa
Art. 24 Exercer a profissão com justiça, compromisso, equida- no que concerne às decisões sobre cuidados e tratamentos que de-
de, resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, ho- seja ou não receber no momento em que estiver incapacitado de
nestidade e lealdade. expressar, livre e autonomamente, suas vontades.

4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 43 Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade da pes- § 4º É obrigatória a comunicação externa, para os órgãos de
soa, em todo seu ciclo vital e nas situações de morte e pós-morte. responsabilização criminal, independentemente de autorização, de
Art. 44 Prestar assistência de Enfermagem em condições que casos de violência contra: crianças e adolescentes; idosos; e pesso-
ofereçam segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades as incapacitadas ou sem condições de firmar consentimento.
profissionais decorrentes de movimentos reivindicatórios da cate- § 5º A comunicação externa para os órgãos de responsabili-
goria. zação criminal em casos de violência doméstica e familiar contra
Parágrafo único. Será respeitado o direito de greve e, nos casos mulher adulta e capaz será devida, independentemente de autori-
de movimentos reivindicatórios da categoria, deverão ser prestados zação, em caso de risco à comunidade ou à vítima, a juízo do profis-
os cuidados mínimos que garantam uma assistência segura, confor- sional e com conhecimento prévio da vítima ou do seu responsável.
me a complexidade do paciente. Art. 53 Resguardar os preceitos éticos e legais da profissão
Art. 45 Prestar assistência de Enfermagem livre de danos de- quanto ao conteúdo e imagem veiculados nos diferentes meios de
correntes de imperícia, negligência ou imprudência. comunicação e publicidade.
Art. 46 Recusar-se a executar prescrição de Enfermagem e Mé- Art. 54 Estimular e apoiar a qualificação e o aperfeiçoamento
dica na qual não constem assinatura e número de registro do pro- técnico-científico, ético-político, socioeducativo e cultural dos pro-
fissional prescritor, exceto em situação de urgência e emergência. fissionais de Enfermagem sob sua supervisão e coordenação.
§ 1º O profissional de Enfermagem deverá recusar-se a execu- Art. 55 Aprimorar os conhecimentos técnico-científicos, ético-
tar prescrição de Enfermagem e Médica em caso de identificação de -políticos, socioeducativos e culturais, em benefício da pessoa, fa-
erro e/ou ilegibilidade da mesma, devendo esclarecer com o pres- mília e coletividade e do desenvolvimento da profissão.
critor ou outro profissional, registrando no prontuário. Art. 56 Estimular, apoiar, colaborar e promover o desenvolvi-
§ 2º É vedado ao profissional de Enfermagem o cumprimento mento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, devidamente
de prescrição à distância, exceto em casos de urgência e emergên- aprovados nas instâncias deliberativas.
cia e regulação, conforme Resolução vigente. Art. 57 Cumprir a legislação vigente para a pesquisa envolven-
Art. 47 Posicionar-se contra, e denunciar aos órgãos competen- do seres humanos.
tes, ações e procedimentos de membros da equipe de saúde, quan- Art. 58 Respeitar os princípios éticos e os direitos autorais no
do houver risco de danos decorrentes de imperícia, negligência e processo de pesquisa, em todas as etapas.
imprudência ao paciente, visando a proteção da pessoa, família e Art. 59 Somente aceitar encargos ou atribuições quando se jul-
coletividade. gar técnica, científica e legalmente apto para o desempenho seguro
Art. 48 Prestar assistência de Enfermagem promovendo a qua- para si e para outrem.
lidade de vida à pessoa e família no processo do nascer, viver, mor- Art. 60 Respeitar, no exercício da profissão, a legislação vigente
rer e luto. relativa à preservação do meio ambiente no gerenciamento de resí-
Parágrafo único. Nos casos de doenças graves incuráveis e ter- duos de serviços de saúde.
minais com risco iminente de morte, em consonância com a equipe
CAPÍTULO III
multiprofissional, oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis
DAS PROIBIÇÕES
para assegurar o conforto físico, psíquico, social e espiritual, respei-
tada a vontade da pessoa ou de seu representante legal.
Art. 61 Executar e/ou determinar atos contrários ao Código de
Art. 49 Disponibilizar assistência de Enfermagem à coletividade
Ética e à legislação que disciplina o exercício da Enfermagem.
em casos de emergência, epidemia, catástrofe e desastre, sem plei-
Art. 62 Executar atividades que não sejam de sua competência
tear vantagens pessoais, quando convocado.
técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao
Art. 50 Assegurar a prática profissional mediante consentimen-
profissional, à pessoa, à família e à coletividade.
to prévio do paciente, representante ou responsável legal, ou deci-
Art. 63 Colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou ju-
são judicial.
Parágrafo único. Ficam resguardados os casos em que não haja rídicas que desrespeitem a legislação e princípios que disciplinam o
capacidade de decisão por parte da pessoa, ou na ausência do re- exercício profissional de Enfermagem.
presentante ou responsável legal. Art. 64 Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso diante de
Art. 51 Responsabilizar-se por falta cometida em suas ativida- qualquer forma ou tipo de violência contra a pessoa, família e cole-
des profissionais, independentemente de ter sido praticada indi- tividade, quando no exercício da profissão.
vidual ou em equipe, por imperícia, imprudência ou negligência, Art. 65 Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência
desde que tenha participação e/ou conhecimento prévio do fato. de fatos que envolvam recusa ou demissão motivada pela necessi-
Parágrafo único. Quando a falta for praticada em equipe, a res- dade do profissional em cumprir o presente código e a legislação do
ponsabilidade será atribuída na medida do(s) ato(s) praticado(s) exercício profissional; bem como pleitear cargo, função ou emprego
individualmente. ocupado por colega, utilizando-se de concorrência desleal.
Art. 52 Manter sigilo sobre fato de que tenha conhecimento em Art. 66 Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal
razão da atividade profissional, exceto nos casos previstos na legis- de qualquer instituição ou estabelecimento congênere, quando,
lação ou por determinação judicial, ou com o consentimento escrito nestas, não exercer funções de enfermagem estabelecidas na le-
da pessoa envolvida ou de seu representante ou responsável legal. gislação.
§ 1º Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conheci- Art. 67 Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa,
mento público e em caso de falecimento da pessoa envolvida. família e coletividade, além do que lhe é devido, como forma de
§ 2º O fato sigiloso deverá ser revelado em situações de amea- garantir assistência de Enfermagem diferenciada ou benefícios de
ça à vida e à dignidade, na defesa própria ou em atividade multipro- qualquer natureza para si ou para outrem.
fissional, quando necessário à prestação da assistência. Art. 68 Valer-se, quando no exercício da profissão, de mecanis-
§ 3º O profissional de Enfermagem intimado como testemunha mos de coação, omissão ou suborno, com pessoas físicas ou jurídi-
deverá comparecer perante a autoridade e, se for o caso, declarar cas, para conseguir qualquer tipo de vantagem.
suas razões éticas para manutenção do sigilo profissional.

5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 69 Utilizar o poder que lhe confere a posição ou cargo, para Art. 87 Registrar informações incompletas, imprecisas ou inve-
impor ou induzir ordens, opiniões, ideologias políticas ou qualquer rídicas sobre a assistência de Enfermagem prestada à pessoa, famí-
tipo de conceito ou preconceito que atentem contra a dignidade da lia ou coletividade.
pessoa humana, bem como dificultar o exercício profissional. Art. 88 Registrar e assinar as ações de Enfermagem que não
Art. 70 Utilizar dos conhecimentos de enfermagem para pra- executou, bem como permitir que suas ações sejam assinadas por
ticar atos tipificados como crime ou contravenção penal, tanto em outro profissional.
ambientes onde exerça a profissão, quanto naqueles em que não a Art. 89 Disponibilizar o acesso a informações e documentos a
exerça, ou qualquer ato que infrinja os postulados éticos e legais. terceiros que não estão diretamente envolvidos na prestação da
Art. 71 Promover ou ser conivente com injúria, calúnia e difa- assistência de saúde ao paciente, exceto quando autorizado pelo
mação de pessoa e família, membros das equipes de Enfermagem paciente, representante legal ou responsável legal, por determina-
e de saúde, organizações da Enfermagem, trabalhadores de outras ção judicial.
áreas e instituições em que exerce sua atividade profissional. Art. 90 Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações
Art. 72 Praticar ou ser conivente com crime, contravenção pe- sobre o exercício profissional quando solicitado pelo Conselho Re-
nal ou qualquer outro ato que infrinja postulados éticos e legais, no gional de Enfermagem e/ou Comissão de Ética de Enfermagem.
exercício profissional. Art. 91 Delegar atividades privativas do(a) Enfermeiro(a) a ou-
Art. 73 Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a tro membro da equipe de Enfermagem, exceto nos casos de emer-
interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela legislação gência.
vigente. Parágrafo único. Fica proibido delegar atividades privativas a
Parágrafo único. Nos casos permitidos pela legislação, o pro- outros membros da equipe de saúde.
fissional deverá decidir de acordo com a sua consciência sobre sua Art. 92 Delegar atribuições dos(as) profissionais de enferma-
participação, desde que seja garantida a continuidade da assistên- gem, previstas na legislação, para acompanhantes e/ou responsá-
cia. veis pelo paciente.
Art. 74 Promover ou participar de prática destinada a antecipar Parágrafo único. O dispositivo no caput não se aplica nos casos
a morte da pessoa. da atenção domiciliar para o autocuidado apoiado.
Art. 75 Praticar ato cirúrgico, exceto nas situações de emergên- Art. 93 Eximir-se da responsabilidade legal da assistência pres-
cia ou naquelas expressamente autorizadas na legislação, desde tada aos pacientes sob seus cuidados realizados por alunos e/ou
que possua competência técnica-científica necessária.
estagiários sob sua supervisão e/ou orientação.
Art. 76 Negar assistência de enfermagem em situações de ur-
Art. 94 Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel,
gência, emergência, epidemia, desastre e catástrofe, desde que não
público ou particular, que esteja sob sua responsabilidade em razão
ofereça risco a integridade física do profissional.
do cargo ou do exercício profissional, bem como desviá-lo em pro-
Art. 77 Executar procedimentos ou participar da assistência à
saúde sem o consentimento formal da pessoa ou de seu represen- veito próprio ou de outrem.
tante ou responsável legal, exceto em iminente risco de morte. Art. 95 Realizar ou participar de atividades de ensino, pesqui-
sa e extensão, em que os direitos inalienáveis da pessoa, família e
Art. 78 Administrar medicamentos sem conhecer indicação, coletividade sejam desrespeitados ou ofereçam quaisquer tipos de
ação da droga, via de administração e potenciais riscos, respeitados riscos ou danos previsíveis aos envolvidos.
os graus de formação do profissional. Art. 96 Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e seguran-
Art. 79 Prescrever medicamentos que não estejam estabeleci- ça da pessoa, família e coletividade.
dos em programas de saúde pública e/ou em rotina aprovada em Art. 97 Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem
instituição de saúde, exceto em situações de emergência. como usá-los para fins diferentes dos objetivos previamente esta-
Art. 80 Executar prescrições e procedimentos de qualquer na- belecidos.
tureza que comprometam a segurança da pessoa. Art. 98 Publicar resultados de pesquisas que identifiquem o
Art. 81 Prestar serviços que, por sua natureza, competem a ou- participante do estudo e/ou instituição envolvida, sem a autoriza-
tro profissional, exceto em caso de emergência, ou que estiverem ção prévia.
expressamente autorizados na legislação vigente. Art. 99 Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-
Art. 82 Colaborar, direta ou indiretamente, com outros profis- -científica ou instrumento de organização formal do qual não tenha
sionais de saúde ou áreas vinculadas, no descumprimento da le- participado ou omitir nomes de coautores e colaboradores.
gislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização Art. 100 Utilizar dados, informações, ou opiniões ainda não pu-
humana, reprodução assistida ou manipulação genética. blicadas, sem referência do autor ou sem a sua autorização.
Art. 83 Praticar, individual ou coletivamente, quando no exer- Art. 101 Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas,
cício profissional, assédio moral, sexual ou de qualquer natureza, das quais tenha ou não participado como autor, sem concordância
contra pessoa, família, coletividade ou qualquer membro da equi- ou concessão dos demais partícipes.
pe de saúde, seja por meio de atos ou expressões que tenham por Art. 102 Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer cons-
consequência atingir a dignidade ou criar condições humilhantes e tar seu nome como autor ou coautor em obra técnico-científica.
constrangedoras.
Art. 84 Anunciar formação profissional, qualificação e título
CAPÍTULO IV
que não possa comprovar.
DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES
Art. 85 Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patri-
mônio das organizações da categoria.
Art. 103 A caracterização das infrações éticas e disciplinares,
Art. 86 Produzir, inserir ou divulgar informação inverídica ou de
conteúdo duvidoso sobre assunto de sua área profissional. bem como a aplicação das respectivas penalidades regem-se por
Parágrafo único. Fazer referência a casos, situações ou fatos, e este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros dispo-
inserir imagens que possam identificar pessoas ou instituições sem sitivos legais.
prévia autorização, em qualquer meio de comunicação.

6
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 104 Considera-se infração ética e disciplinar a ação, omis- Art. 111 As infrações serão consideradas leves, moderadas, gra-
são ou conivência que implique em desobediência e/ou inobser- ves ou gravíssimas, segundo a natureza do ato e a circunstância de
vância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfer- cada caso.
magem, bem como a inobservância das normas do Sistema Cofen/ § 1º São consideradas infrações leves as que ofendam a inte-
Conselhos Regionais de Enfermagem. gridade física, mental ou moral de qualquer pessoa, sem causar
Art. 105 O(a) Profissional de Enfermagem responde pela infra- debilidade ou aquelas que venham a difamar organizações da ca-
ção ética e/ou disciplinar, que cometer ou contribuir para sua prá- tegoria ou instituições ou ainda que causem danos patrimoniais ou
tica, e, quando cometida(s) por outrem, dela(s) obtiver benefício. financeiros.
Art. 106 A gravidade da infração é caracterizada por meio da § 2º São consideradas infrações moderadas as que provoquem
análise do(s) fato(s), do(s) ato(s) praticado(s) ou ato(s) omissivo(s), debilidade temporária de membro, sentido ou função na pessoa ou
e do(s) resultado(s). ainda as que causem danos mentais, morais, patrimoniais ou finan-
Art. 107 A infração é apurada em processo instaurado e con- ceiros.
duzido nos termos do Código de Processo Ético-Disciplinar vigente, § 3º São consideradas infrações graves as que provoquem pe-
aprovado pelo Conselho Federal de Enfermagem. rigo de morte, debilidade permanente de membro, sentido ou fun-
Art. 108 As penalidades a serem impostas pelo Sistema Cofen/ ção, dano moral irremediável na pessoa ou ainda as que causem
Conselhos Regionais de Enfermagem, conforme o que determina o danos mentais, morais, patrimoniais ou financeiros.
art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973, são as seguintes: § 4º São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem
I – Advertência verbal; a morte, debilidade permanente de membro, sentido ou função,
II – Multa; dano moral irremediável na pessoa.
III – Censura; Art. 112 São consideradas circunstâncias atenuantes:
IV – Suspensão do Exercício Profissional; I – Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua es-
V – Cassação do direito ao Exercício Profissional. pontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as consequ-
§ 1º A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, ências do seu ato;
de forma reservada, que será registrada no prontuário do mesmo, II – Ter bons antecedentes profissionais;
na presença de duas testemunhas. III – Realizar atos sob coação e/ou intimidação ou grave ame-
§ 2º A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 aça;
(um) a 10 (dez) vezes o valor da anuidade da categoria profissional IV – Realizar atos sob emprego real de força física;
à qual pertence o infrator, em vigor no ato do pagamento. V – Ter confessado espontaneamente a autoria da infração;
§ 3º A censura consiste em repreensão que será divulgada nas VI – Ter colaborado espontaneamente com a elucidação dos
publicações oficiais do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de En- fatos.
fermagem e em jornais de grande circulação. Art. 113 São consideradas circunstâncias agravantes:
§ 4º A suspensão consiste na proibição do exercício profissio- I – Ser reincidente;
nal da Enfermagem por um período de até 90 (noventa) dias e será II – Causar danos irreparáveis;
divulgada nas publicações oficiais do Sistema Cofen/Conselhos Re-
III – Cometer infração dolosamente;
gionais de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada
IV – Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;
aos órgãos empregadores.
V – Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunida-
§ 5º A cassação consiste na perda do direito ao exercício da
de ou a vantagem de outra infração;
Enfermagem por um período de até 30 anos e será divulgada nas
VI – Aproveitar-se da fragilidade da vítima;
publicações do Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem
VII – Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação
e em jornais de grande circulação.
do dever inerente ao cargo ou função ou exercício profissional;
§ 6º As penalidades aplicadas deverão ser registradas no pron-
VIII – Ter maus antecedentes profissionais;
tuário do infrator.
IX – Alterar ou falsificar prova, ou concorrer para a desconstru-
§ 7º Nas penalidades de suspensão e cassação, o profissional
terá sua carteira retida no ato da notificação, em todas as categorias ção de fato que se relacione com o apurado na denúncia durante a
em que for inscrito, sendo devolvida após o cumprimento da pena condução do processo ético.
e, no caso da cassação, após o processo de reabilitação.
Art. 109 As penalidades, referentes à advertência verbal, mul- CAPÍTULO V
ta, censura e suspensão do exercício profissional, são da responsa- DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES
bilidade do Conselho Regional de Enfermagem, serão registradas
no prontuário do profissional de Enfermagem; a pena de cassação Art. 114 As penalidades previstas neste Código somente pode-
do direito ao exercício profissional é de competência do Conselho rão ser aplicadas, cumulativamente, quando houver infração a mais
Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo de um artigo.
primeiro, da Lei n° 5.905/73. Art. 115 A pena de Advertência verbal é aplicável nos casos de
Parágrafo único. Na situação em que o processo tiver origem infrações ao que está estabelecido nos artigos:, 26, 28, 29, 30, 31,
no Conselho Federal de Enfermagem e nos casos de cassação do 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 46, 48, 47, 49, 50, 51, 52,
exercício profissional, terá como instância superior a Assembleia de 53, 54, 55, 56, 57,58, 59, 60, 61, 62, 65, 66, 67, 69, 76, 77, 78, 79,
Presidentes dos Conselhos de Enfermagem. 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 98, 99, 100,
Art. 110 Para a graduação da penalidade e respectiva imposi- 101 e 102.
ção consideram-se: Art. 116 A pena de Multa é aplicável nos casos de infrações ao
I – A gravidade da infração; que está estabelecido nos artigos: 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 38, 39,
II – As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração; 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,
III – O dano causado e o resultado; 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85,
IV – Os antecedentes do infrator. 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101 e 102.

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 117 A pena de Censura é aplicável nos casos de infrações saúde-doença, mas provocar e buscar outros reflexos e repercus-
ao que está estabelecido nos artigos: 31, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, sões, em outros níveis de representações e realizações dos sujeitos
52, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67,68, 69, 70, 71, 73, 74, 75, (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95,
97, 99, 100, 101 e 102. A Política de Humanização parte de conceitos e dispositivos
Art. 118 A pena de Suspensão do Exercício Profissional é apli- que visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde,
cável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos artigos: propondo centralmente transformações nas relações sociais, que
32, 41, 42, 43, 44, 45, 50, 51, 52, 59, 61, 62, 63, 64, 68, 69, 70, 71, envolvem trabalhadores e gestores em sua experiência cotidia-
72, 73, 74, 75, 76, 77, 78,79, 80, 81, 82, 83, 85, 87, 89, 90, 91, 92, na de organização e condução de serviços; e transformações nas
93, 94 e 95. formas de produzir e prestar serviços à população. Pelo lado da
Art. 119 A pena de Cassação do Direito ao Exercício Profissional gestão, busca-se a implementação de instâncias colegiadas e hori-
é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos arti- zontalização das “linhas de mando”, valorizando a participação dos
gos: 45, 64, 70, 72, 73, 74, 80, 82, 83, 94, 96 e 97. atores, o trabalho em equipe, a chamada “comunicação lateral”, e
democratizando os processos decisórios, com corresponsabilização
de gestores, trabalhadores e usuários.
POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO No campo da atenção, têm-se como diretrizes centrais a aces-
sibilidade e integralidade da assistência, permeadas pela garantia
A Política Nacional de Humanização (PNH) é outra proposta de vínculo entre os serviços/trabalhadores e população, e avançan-
implantada pelo SUS que vem para contribuir para que se consiga do para o que se tem nomeado como “clínica ampliada”, capaz de
reorganizar o sistema a partir da sua consolidação e visa assegurar melhor lidar com as necessidades dos sujeitos.
a atenção integral à população como estratégia de ampliação do
direito e cidadania das pessoas. Formulada e lançada pelo Ministé- Para propiciar essas mudanças, almejam-se também trans-
rio da Saúde em 2003, apresentada ao Conselho Nacional de Saúde formações no campo da formação, com estratégias de educação
(CNS) em 2004, protagoniza propostas de mudança dos modelos de permanente e de aumento da capacidade dos trabalhadores para
gestão e de atenção no cotidiano dos serviços de saúde, propondo- analisar e intervir em seus processos de trabalho (MINISTÉRIO DA
-os indissociáveis. SAÚDE, 2004).

Segundo Benevides e Passos (2005), o conceito de humaniza- Ao considerar que humanização implica produzir sujeitos no
ção expressava, até então, as práticas de saúde fragmentadas li- processo de trabalho, a PNH está alicerçada em quatro eixos estru-
gadas ao voluntarismo, assistencialismo e paternalismo, com base turantes e intercessores: atenção, gestão, formação e comunica-
na figura ideal do “bom humano”, metro-padrão, que não coincide ção, estes eixos concebidos no referencial teórico-político do Hu-
com nenhuma existência concreta. maniza SUS, apontam para marcas e objetivos centrais que deverão
permear a atenção e a gestão em saúde.
Para os formuladores da PNH, humanização não se restringe Como exemplos dessas marcas desejadas para os serviços,
a “ações humanitárias” e não é realizada por seres humanos im- podem-se destacar: a responsabilização e vínculo efetivos dos pro-
buídos de uma “bondade supra-humana” na feitura de “serviços fissionais para com o usuário; o seu acolhimento em tempo com-
ideais”. patível com a gravidade de seu quadro, reduzindo filas e tempo de
Portanto, a Política assume o desafio de ressignificar o termo espera para atendimento; a garantia dos direitos do código dos
humanização e, ao considerar os usos anteriores, identifica o que usuários do SUS; a garantia de gestão participativa aos trabalhado-
recusar e o que conservar. Segundo Campo (2003): res e usuários; estratégias de qualificação e valorização dos traba-
Todo pensamento comprometido com algum tipo de prática lhadores, incluindo educação permanente, entre outros.
(política, clínica, sanitária, profissional) está obrigado a reconstruir
depois de desconstruir. Criticar, desconstruir, sim; mas, que sejam Como uma estratégia de qualificação da atenção e gestão do
explicitadas as sínteses. Sempre há alguma síntese nova, senão se- trabalho, a humanização almeja o alcance dos usuários e também a
ria a repetição do mesmo. valorização dos trabalhadores; seus indicadores devem, portanto,
refletir as transformações no âmbito da produção dos serviços (mu-
Daí, a necessidade de ressignificar a humanização em saúde danças nos processos, organização, resolubilidade e qualidade) e
através de novas práticas no modo de se fazer o trabalho em saúde da produção de sujeitos, mobilização, crescimento, autonomia dos
- levando-se em conta que: sujeitos engajados em práticas locais, trabalhadores e usuários (SANTOS, 2007)
quando mobilizados, são capazes de, coletivamente, transformar
realidades transformando-se a si próprios neste mesmo processo. No eixo da gestão buscam-se ações para articular a PNH com
Trata-se, então, de investir, a partir desta concepção de humano, áreas do Ministério da Saúde (MS) e com demais esferas do SUS.
na produção de outras formas de interação entre os sujeitos que Neste eixo destaca-se o apoio institucional, focado na gestão do
constituem os sistemas de saúde, deles usufruem e neles se trans- processo de produção de saúde, base estruturante da PNH. Para
formam. (BENEVIDES e PASSOS, 2005, p.390) Campos (2003), apoiar é:
Avançando na perspectiva da transdisciplinaridade, a PNH pro- Articular os objetivos institucionais aos saberes e interesses
põe uma atuação que leve à “ampliação da garantia de direitos e o dos trabalhadores e usuários. Indica uma pressão de fora, implica
aprimoramento da vida em sociedade”. Com isso, já deixa vislum- trazer algo externo ao grupo que opera os processos de trabalho
brar a complexidade acerca do que se pode constituir como âmbito ou que recebem bens ou serviços. Quem apoia, sustenta e empurra
de monitoramento e avaliação da humanização em saúde, desa- o outro sendo, em decorrência, também sustentado e empurrado
fiando para a necessidade de “inventar” indicadores capazes de pela equipe “objeto” da intervenção. Tudo misturado e ao mesmo
dimensionar e expressar não somente mudanças nos quadros de tempo. (CAMPOS, 2003, p.87)

8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Quanto à atenção propõe uma Política de Atenção à Saúde “in- Além da clínica ampliada e implantação da PNH, o Programa
centivadora de ações integrais, promocionais e intersetoriais, ino- de Saúde da Família (PSF), no contexto da política de saúde brasi-
vando nos processos de trabalho que buscam o compartilhamento leira, também vem contribuindo para a construção e consolidação
dos cuidados, resultando em aumento de autonomia e protagonis- do SUS. Tendo em sua base os pressupostos do SUS, a estratégia
mo dos sujeitos envolvidos” (BRASIL, 2006a, p.22). do PSF traz no centro de sua proposta a expectativa relativa à reo-
rientação do modelo assistencial a partir da atenção básica (BRASIL,
A PNH investe em alguns parâmetros para orientar a implanta- 1997).
ção de algumas ações de humanização; oferta dispositivos/modos
de fazer um “SUS que dá certo”, com apoio às equipes que atuam Para entendermos o alcance e os limites desta proposta, é es-
na atenção básica, especializada, hospitalar, de urgência e emer- sencial entendermos o que traduz um modelo assistencial e, sobre-
gência e alta complexidade. tudo, o que implica sua reorientação. Segundo Paim (2003, p.568),
o modelo de atenção ou modo assistencial:
No eixo da formação, propõe que a PNH passe a compor o con- ... é uma dada forma de combinar técnicas e tecnologias para
teúdo profissionalizante na graduação, pós-graduação e extensão resolver problemas e atender necessidades de saúde individuais e
em saúde, vinculando-se aos processos de educação permanente e coletivas. É uma razão de ser, uma racionalidade, uma espécie de
às instituições formadoras de trabalhadores de saúde. lógica que orienta a ação.
No eixo da informação/comunicação, prioriza incluir a PNH na
agenda de debates da saúde, além da articulação de atividades de Esta concepção de modelo assistencial fundamenta a consi-
caráter educativo e formativo com as de caráter informativo, de deração de que o fenômeno isolado de expansão do número de
divulgação e sensibilização para os conceitos e temas da humani- equipes de saúde da família implementadas até então não garante
zação. a construção de um novo modelo assistencial.
A expansão do PSF tem favorecido a equidade e universalidade
Coordenação Nacional – Tem a função de promover a articu- da assistência, uma vez que as equipes têm sido implantadas priori-
lação técnico-política da Secretaria Executiva/MS, objetivando a tariamente, em comunidades antes restritas, quanto ao acesso aos
transversalização da PNH nas demais políticas e programas do MS; serviços de saúde.
representar o MS na difusão e sensibilização da PNH nas várias Para a reorganização da atenção básica, a que se propõe a es-
instâncias do SUS, Conselho Nacional de Secretarias Estaduais (CO- tratégia do PSF, reconhece-se a necessidade de reorientação das
NASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais (CONASEMS), práticas de saúde, bem como de renovação dos vínculos de com-
CNS, Instituições Formadoras de Saúde e Congresso Nacional; coor- promisso e de corresponsabilidade entre os serviços e a população
denar a construção das ações e o processo de implementação nas assistida.
diversas instâncias do SUS (MORI, 2009).
Cordeiro (1996) avalia que o desenvolvimento de um novo
Consultores - Tem a função de realizar apoio institucional modelo assistencial baseado nos princípios do PSF não implica um
compreendido em: Divulgação e sensibilização para implantação retrocesso quanto à incorporação de tecnologias avançadas, con-
da PNH no SUS, realizando reuniões com Gestores Estaduais, das forme a compreensão inicial de que o PSF corresponderia a uma
macrorregiões e dos Municípios; Superintendentes/Diretores de medicina simplificada destinada para os pobres; antes disso, tal
Hospitais (Federais, Estaduais e Municipais), Conselhos de Saúde, proposta demanda a reorganização dos conteúdos dos saberes e
Movimentos Sociais e Instituições Formadoras, abertas à partici- práticas de saúde, de forma que estes reflitam os pressupostos do
pação dos trabalhadores e usuários do Sistema; Divulgação, sen- SUS no fazer cotidiano dos profissionais. Admite-se, nesta perspec-
sibilização, formação e capacitação de trabalhadores, extensivas a tiva, que o PSF “requer alta complexidade tecnológica nos campos
gestores e usuários do SUS, para implementação das diretrizes e do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades e de mu-
dos dispositivos da PNH, com base no Plano de Ação; Participação danças de atitudes (BRASIL, 1997, p.9).
em Eventos do MS, da PNH ou outros públicos; Produção de Conhe- Pensar no PSF como estratégia de reorganização do modelo
cimento: elaboração teórico-metodológica na/da PNH; Construir assistencial sinaliza a ruptura com práticas convencionais e hege-
interfaces com outras áreas técnicas do MS; Participar de reuniões mônicas de saúde, assim como a adoção de novas tecnologias de
pautando a divulgação da Política (MORI, 2009). trabalho. Uma compreensão ampliada do processo saúde-doença,
assistência integral e continuada a famílias de uma área adscrita
Núcleo Técnico - Tem a função de apoiar a implementação da são algumas das inovações verificadas no PSF.
PNH desenvolvendo ações técnico-político-administrativas intrami-
nisterial e interministeriais; articular a sociedade civil e assessorar a Ayres (1996) observa que o reconhecimento de sujeitos está
coordenação nacional e consultores. no centro de todas as propostas renovadoras identificadas no setor
saúde, dentre as quais se encontram a estratégia do PSF.
Concomitante à reconstrução dos pilares teórico-políticos e Os objetivos do programa, entre outros, são: a humanização
abertura de várias frentes de trabalho, a PNH reconhece a necessi- das práticas em saúde por meio do estabelecimento de vínculo en-
dade de que todos incorporem “olhar avaliativo” nos processos de tre os profissionais e a população, a democratização do conheci-
trabalho em desenvolvimento e, portanto, acorda-se o desafio de mento do processo saúde-doença e da produção social da saúde,
que a avaliação se constitua como um dispositivo da Política (MORI, desenvolvimento da cidadania, levando a população a reconhecer
2009). a saúde como direito, estimulação da organização da comunidade
para o efetivo exercício do controle social (BRASIL, 1997).

Nota-se a partir destes objetivos, a valorização dos sujeitos e


de sua participação nas atividades desenvolvidas pelas unidades de
saúde da família, bem como na resolutividade dos problemas de
saúde identificados na comunidade.

9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Quanto à reorientação das práticas de saúde, o PSF preten- Define-se, assim, a ‘humanização’ como a valorização dos pro-
de oferecer uma atuação centrada nos princípios da vigilância da cessos de mudança dos sujeitos na produção de saúde.
saúde, o que significa que a assistência prestada deve ser integral,
abrangendo todos os momentos e dimensões do processo saúde- Satisfação do usuário e do trabalhador
-doença (MENDES, 1996). A satisfação no trabalho é a atitude geral da pessoa face ao
seu trabalho e depende de vários fatores psicossociais. Existem ain-
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/en- da outras conceituações que referem-se a satisfação no trabalho
fermagem/politica-nacional-de-humanizacao/43954 como sinônimo de motivação ou como estado emocional positivo.
Alguns consideram satisfação e insatisfação como fenômenos dis-
Acessibilidade tintos, opostos.
O Sistema Único de Saúde (SUS) é alicerçado em princípios Influências na satisfação incluem ambiente, higiene, segurança
fundamentais para que o direito à saúde aconteça como direito de no trabalho, o estilo de gestão e da cultura, o envolvimento dos
cidadania e dever do Estado. Há quase uma década, nas discussões trabalhadores, capacitação e trabalho autônomo de grupos, entre
sobre organização e gestão da política de saúde, é imprescindível muitos outros.
acrescentar às premissas básicas do SUS – universalidade, integrali-
dade, equidade e garantia de acesso -, a acessibilidade. Equidade
A acessibilidade deve ser explicitada como exigência e com- O objetivo da equidade é diminuir desigualdades. Mas isso não
promisso do SUS a ser respeitado pelos gestores de saúde nas três significa que a equidade seja sinônima de igualdade. Apesar de to-
esferas de gestão. Isso é fundamental para que pessoas com defici- dos terem direito aos serviços, as pessoas não são iguais e por isso
ência não passem por constrangimentos, como ao serem atendidas têm necessidades diferentes. Então, equidade é a garantia a todas
nos corredores por não puderem adentrar os consultórios em suas as pessoas, em igualdade de condições, ao acesso às ações e servi-
cadeiras de rodas. ços dos diferentes níveis de complexidade do sistema.
Mas acessibilidade é mais que a superação de barreiras arqui- O que determinará as ações será a prioridade epidemiológica
tetônicas. É uma mudança de percepção que exige de nós, Estado e e não o favorecimento, investindo mais onde a carência é maior.
sociedade, um novo olhar sobre as barreiras atitudinais, estas sim, Sendo assim, todos terão as mesmas condições de acesso, more o
de maior complexidade e mais difícil superação. cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão
é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades
Humanização do cuidado até o limite do que o sistema pode oferecer para todos.
No campo das políticas públicas de saúde ‘humanização’ diz
respeito à transformação dos modelos de atenção e de gestão nos Universalidade
serviços e sistemas de saúde, indicando a necessária construção de
Universalidade: É a garantia de atenção à saúde, por parte do
novas relações entre usuários e trabalhadores e destes entre si.
sistema, a todo e qualquer cidadão (“A saúde é direito de todos e
A ‘humanização’ em saúde volta-se para as práticas concretas
dever do Estado” – Art. 196 da Constituição Federal de 1988).
comprometidas com a produção de saúde e produção de sujeitos
Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso
(Campos, 2000) de tal modo que atender melhor o usuário se dá
a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles contra-
em sintonia com melhores condições de trabalho e de participa-
tados pelo poder público de saúde, independente de sexo, raça,
ção dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de
renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Saú-
saúde (princípio da indissociabilidade entre atenção e gestão). Este
de é direito de cidadania e dever do Governo: Municipal, Estadual
voltar-se para as experiências concretas se dá por considerar o hu-
mano em sua capacidade criadora e singular inseparável, entretan- e Federal.
to, dos movimentos coletivos que o constituem.
Orientada pelos princípios da transversalidade e da indisso- Como valorizar participação de usuário, profissionais e ges-
ciabilidade entre atenção e gestão, a ‘humanização’ se expressa tores
a partir de 2003 como Política Nacional de Humanização (PNH) As rodas de conversa, o incentivo às redes e movimentos so-
(Brasil/Ministério da Saúde, 2004). Como tal, compromete-se com ciais e a gestão dos conflitos gerados pela inclusão das diferenças
a construção de uma nova relação seja entre as demais políticas são ferramentas experimentadas nos serviços de saúde a partir das
e programas de saúde, seja entre as instâncias de efetuação do orientações da PNH que já apresentam resultados positivos.
Sistema Único de Saúde (SUS), seja entre os diferentes atores que Incluir os trabalhadores na gestão é fundamental para que
constituem o processo de trabalho em saúde. O aumento do grau eles, no dia a dia, reinventem seus processos de trabalho e sejam
de comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. Incluir usuários
transversalidade) e o aumento do grau de democracia institucional e suas redes sócio-familiares nos processos de cuidado é um pode-
por meio de processos cogestivos da produção de saúde e do grau roso recurso para a ampliação da corresponsabilização no cuidado
de corresponsabilidade no cuidado são decisivos para a mudança de si.
que se pretende. Transformar práticas de saúde exige mudanças no
processo de construção dos sujeitos dessas práticas. Somente com O Humaniza SUS aposta em inovações em saúde
trabalhadores e usuários protagonistas e co-responsáveis é possí- • Defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo bra-
vel efetivar a aposta que o SUS faz na universalidade do acesso, na sileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção
integralidade do cuidado e na equidade das ofertas em saúde. Por de idade, etnia, origem, gênero e orientação sexual;
isso, falamos da ‘humanização’ do SUS (HumanizaSUS) como pro- • Estabelecimento de vínculos solidários e de participação co-
cesso de subjetivação que se efetiva com a alteração dos modelos letiva no processo de gestão;
de atenção e de gestão em saúde, isto é, novos sujeitos implicados • Mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas
em novas práticas de saúde. Pensar a saúde como experiência de e subjetivas de saúde;
criação de si e de modos de viver é tomar a vida em seu movimento • Valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo
de produção de normas e não de assujeitamento a elas. de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores;

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Fomento da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e Colegiados gestores, Mesas de negociação, Contratos Internos
dos coletivos; de Gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Tra-
• Aumento do grau de corresponsabilidade na produção de balho de Humanização (GTH), Gerência de Porta Aberta, entre ou-
saúde e de sujeitos; tros, são arranjos de trabalho que permitem a experimentação da
• Mudança nos modelos de atenção e gestão em sua indisso- cogestão no cotidiano da saúde.
ciabilidade, tendo como foco as necessidades dos cidadãos, a pro-
dução de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde, valori- Ambiência
zando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho;
• Proposta de um trabalho coletivo para que o SUS seja mais O que é?
acolhedor, mais ágil e mais resolutivo; Criar espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que res-
• Qualificação do ambiente, melhorando as condições de tra- peitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de traba-
balho e de atendimento; lho e sejam lugares de encontro entre as pessoas.
• Articulação dos processos de formação com os serviços e prá-
ticas de saúde; Como fazer?
• Luta por um SUS mais humano, porque construído com a A discussão compartilhada do projeto arquitetônico, das refor-
participação de todos e comprometido com a qualidade dos seus mas e do uso dos espaços de acordo com as necessidades de usu-
serviços e com a saúde integral para todos e qualquer um. ários e trabalhadores de cada serviço é uma orientação que pode
melhorar o trabalho em saúde.
DIRETRIZES DO HumanizaSUS
Clínica ampliada e compartilhada
Acolhimento
O que é?
A clínica ampliada é uma ferramenta teórica e prática cuja fi-
O que é?
nalidade é contribuir para uma abordagem clínica do adoecimento
Acolher é reconhecer o que o outro traz como legítima e sin-
e do sofrimento, que considere a singularidade do sujeito e a com-
gular necessidade de saúde. O acolhimento deve comparecer e plexidade do processo saúde/doença. Permite o enfrentamento da
sustentar a relação entre equipes/serviços e usuários/populações. fragmentação do conhecimento e das ações de saúde e seus res-
Como valor das práticas de saúde, o acolhimento é construído de pectivos danos e ineficácia.
forma coletiva, a partir da análise dos processos de trabalho e tem
como objetivo a construção de relações de confiança, compromisso Como fazer?
e vínculo entre as equipes/serviços, trabalhador/equipes e usuário Utilizando recursos que permitam enriquecimento dos diag-
com sua rede sócio-afetiva. nósticos (outras variáveis além do enfoque orgânico, inclusive a
percepção dos afetos produzidos nas relações clínicas) e a qualifica-
Como fazer? ção do diálogo (tanto entre os profissionais de saúde envolvidos no
tratamento quanto destes com o usuário), de modo a possibilitar
Com uma escuta qualificada oferecida pelos trabalhadores decisões compartilhadas e compromissadas com a autonomia e a
às necessidades do usuário, é possível garantir o acesso oportu- saúde dos usuários do SUS.
no desses usuários a tecnologias adequadas às suas necessidades,
ampliando a efetividade das práticas de saúde. Isso assegura, por Valorização do Trabalhador
exemplo, que todos sejam atendidos com prioridades a partir da
avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco. O que é?
É importante dar visibilidade à experiência dos trabalhadores
Gestão Participativa e cogestão e incluí-los na tomada de decisão, apostando na sua capacidade de
analisar, definir e qualificar os processos de trabalho.
O que é?
Cogestão expressa tanto a inclusão de novos sujeitos nos pro- Como fazer?
cessos de análise e decisão quanto a ampliação das tarefas da ges- O Programa de Formação em Saúde e Trabalho e a Comunida-
tão - que se transforma também em espaço de realização de análise de Ampliada de Pesquisa são possibilidades que tornam possível
dos contextos, da política em geral e da saúde em particular, em o diálogo, intervenção e análise do que gera sofrimento e adoeci-
mento, do que fortalece o grupo de trabalhadores e do que pro-
lugar de formulação e de pactuação de tarefas e de aprendizado
picia os acordos de como agir no serviço de saúde. É importante
coletivo.
também assegurar a participação dos trabalhadores nos espaços
coletivos de gestão.
Como fazer?
A organização e experimentação de rodas é uma importante Defesa dos Direitos dos Usuários
orientação da cogestão. Rodas para colocar as diferenças em conta-
to de modo a produzir movimentos de desestabilização que favore- O que é?
çam mudanças nas práticas de gestão e de atenção. A PNH destaca Os usuários de saúde possuem direitos garantidos por lei e os
dois grupos de dispositivos de cogestão: aqueles que dizem respei- serviços de saúde devem incentivar o conhecimento desses direitos
to à organização de um espaço coletivo de gestão que permita o e assegurar que eles sejam cumpridos em todas as fases do cuida-
acordo entre necessidades e interesses de usuários, trabalhadores do, desde a recepção até a alta.
e gestores; e aqueles que se referem aos mecanismos que garan-
tem a participação ativa de usuários e familiares no cotidiano das
unidades de saúde.

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Como fazer? - Divulgar a Política Nacional de Humanização e ampliar os pro-


Todo cidadão tem direito a uma equipe que cuide dele, de ser cessos de formação e produção de conhecimento em articulação
informado sobre sua saúde e também de decidir sobre comparti- com movimentos sociais e instituições.
lhar ou não sua dor e alegria com sua rede social.
Política Nacional de Humanização busca
PRINCÍPIOS DO HumanizaSUS - Redução de filas e do tempo de espera, com ampliação do
acesso;
Transversalidade - Atendimento acolhedor e resolutivo baseado em critérios de
A Política Nacional de Humanização (PNH) deve se fazer pre- risco;
sente e estar inserida em todas as políticas e programas do SUS. A - Implantação de modelo de atenção com responsabilização e
PNH busca transformar as relações de trabalho a partir da amplia- vínculo;
ção do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e gru- - Garantia dos direitos dos usuários;
pos, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquiza- - Valorização do trabalho na saúde;
das. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades - Gestão participativa nos serviços.
e práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele
que é assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de for- FORMAÇÃO - INTERVENÇÃO
ma mais corresponsável. Por meio de cursos e oficinas de formação/intervenção e a
partir da discussão dos processos de trabalho, as diretrizes e dis-
Indissociabilidade entre atenção e gestão positivos da Política Nacional de Humanização (PNH) são vivencia-
As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à dos e reinventados no cotidiano dos serviços de saúde. Em todo
saúde. Por isso, trabalhadores e usuários devem buscar conhecer o Brasil, os trabalhadores são formados técnica e politicamente e
como funciona a gestão dos serviços e da rede de saúde, assim reconhecidos como multiplicadores e apoiadores da PNH, pois são
como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas os construtores de novas realidades em saúde e poderão se tornar
organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Ao mesmo os futuros formadores da PNH em suas localidades.
tempo, o cuidado e a assistência em saúde não se restringem às
responsabilidades da equipe de saúde. O usuário e sua rede sócio- REDE HumanizaSUS
-familiar devem também se corresponsabilizar pelo cuidado de si A Rede HumanizaSUS é a rede social das pessoas interessa-
nos tratamentos, assumindo posição protagonista com relação a das ou já envolvidas em processos de humanização da gestão e do
sua saúde e a daqueles que lhes são caros. cuidado no SUS. A rede é um local de colaboração, que permite o
encontro, a troca, a afetação recíproca, o afeto, o conhecimento, o
Protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos aprendizado, a expressão livre, a escuta sensível, a polifonia, a arte
e coletivos da composição, o acolhimento, a multiplicidade de visões, a arte da
Qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta se conversa, a participação de qualquer um.
construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas Trata-se de um ambiente virtual aberto para ampliar o diálo-
envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não go em torno de seus princípios, métodos, diretrizes e dispositivos.
são só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mu- Uma aposta na inteligência coletiva e na constituição de coletivos
danças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um. inteligentes.
Um SUS humanizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã O Coletivo HumanizaSUS se constitui em torno desse imenso
de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. acervo de conhecimento comum, que se produz sem cessar nas
interações desta Rede. A grande aposta é que essa experiência
Objetivos do HumanizaSUS colaborativa aumente o enfrentamento dos grandes e complexos
desafios da humanização no SUS.
Propósitos da Política Nacional de Humanização da Atenção
e Gestão do SUS Fonte: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/projeto-lean-
- Contagiar trabalhadores, gestores e usuários do SUS com os -nas-emergencias/693-acoes-e-programas/40038-humanizasus
princípios e as diretrizes da humanização;
- Fortalecer iniciativas de humanização existentes;
- Desenvolver tecnologias relacionais e de compartilhamento CUIDADO RESPEITANDO O CLIENTE/PACIENTE NOS
das práticas de gestão e de atenção; SEUS DIREITOS E NA SUA INDIVIDUALIDADE
- Aprimorar, ofertar e divulgar estratégias e metodologias de
apoio a mudanças sustentáveis dos modelos de atenção e de ges- Segurança do paciente
tão; O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), insti-
- Implementar processos de acompanhamento e avaliação, tuído pela Portaria GM/MS nº 529/2013, objetiva contribuir para
ressaltando saberes gerados no SUS e experiências coletivas bem- a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos
-sucedidas. de saúde do território nacional.
A Segurança do Paciente é um dos seis atributos da qualidade
Três macro-objetivos do HumanizaSUS do cuidado, e tem adquirido, em todo o mundo, grande importân-
- Ampliar as ofertas da Política Nacional de Humanização aos cia para os pacientes, famílias, gestores e profissionais de saúde
gestores e aos conselhos de saúde, priorizando a atenção básica/ com a finalidade de oferecer uma assistência segura.
fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de urgência e
universitários;
- Incentivar a inserção da valorização dos trabalhadores do SUS
na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das organizações
da sociedade civil;

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os incidentes associados ao cuidado de saúde, e em particular Considerando o art. 16, inciso III, alínea “d”, da Lei Orgânica da
os eventos adversos (incidentes com danos ao paciente), represen- Saúde, que confere à direção nacional do Sistema Único de Saúde
tam uma elevada morbidade e mortalidade nos sistemas de saúde. (SUS) a competência para definir e coordenar o sistema de vigilân-
A Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstrando preocupa- cia sanitária;
ção com a situação, criou a World Alliance for Patient Safety( Alian- Considerando o art. 16, inciso XII, da Lei Orgânica da Saúde,
ça Mundial pela Segurança do Paciente) que tem como objetivos que confere à direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) a
organizar os conceitos e as definições sobre segurança do paciente competência para controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e
e propor medidas para reduzir os riscos e diminuir os eventos ad- substâncias de interesse para a saúde;
versos. Considerando o art. 16, inciso XVII, da Lei Orgânica da Saúde,
As ações do PNSP articulam-se com os objetivos da Aliança que confere à direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS)
Mundial e comtemplam demais políticas de saúde para somar es- a competência para acompanhar, controlar e avaliar as ações e os
forços aos cuidados em redes de atenção à saúde. serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais e muni-
cipais;
A RDC/Anvisa nº 36/2013 institui ações para a segurança do Considerando o art. 2º, § 1º, inciso I, da Lei nº 9.782, de 26 de
paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Esta nor- janeiro de 1999, que confere ao Ministério da Saúde a competência
mativa regulamenta aspectos da segurança do paciente como a im- para formular, acompanhar e avaliar a política nacional de vigilân-
plantação dos Núcleos de Segurança do Paciente, a obrigatoriedade cia sanitária e as diretrizes gerais do Sistema Nacional de Vigilância
da notificação dos eventos adversos e a elaboração do Plano de Se- Sanitária;
gurança do Paciente. Considerando o art. 8º, § 6º, da Lei nº 9.782, de 26 de janeiro
Os protocolos básicos de segurança do paciente são instru- de 1999, que confere ao Ministério da Saúde a competência para
mentos para implantação das ações em segurança do paciente. A determinar a realização de ações previstas nas competências da
Portaria GM/MS nº 1.377, de 9 de julho de 2013 e a Portaria nº Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em casos especí-
2.095, de 24 de setembro de 2013 aprovam os protocolos básicos ficos e que impliquem risco à saúde da população;
de segurança do paciente. Considerando a relevância e magnitude que os Eventos Adver-
sos (EA) têm em nosso país;
Protocolos Básicos de Segurança do Paciente Considerando a prioridade dada à segurança do paciente em
Duas questões motivaram a OMS a eleger os protocolos de se- serviços de saúde na agenda política dos Estados-Membros da Or-
gurança do paciente: o pouco investimento necessário para a sua ganização Mundial da Saúde (OMS) e na Resolução aprovada duran-
implantação e a magnitude dos erros e eventos adversos decorren- te a 57a Assembleia Mundial da Saúde, que recomendou aos países
tes da falta deles. atenção ao tema “Segurança do Paciente”;
Os protocolos Básicos de Segurança do Paciente tem por ca- Considerando a importância do trabalho integrado entre os
racterística: gestores do SUS, os Conselhos Profissionais na área da Saúde e as
- Protocolos Sistêmicos; Instituições de Ensino e Pesquisa sobre a Segurança do Paciente
- Protocolos Gerenciados; com enfoque multidisciplinar;
- Promovem a Melhoria da Comunicação; Considerando que a gestão de riscos voltada para a qualidade
- Constituem instrumentos para construir uma prática assisten- e segurança do paciente englobam princípios e diretrizes, tais como
cial segura; a criação de cultura de segurança; a execução sistemática e estru-
- Oportunizam a vivência do trabalho em equipes; turada dos processos de gerenciamento de risco; a integração com
- Gerenciamento de riscos. todos processos de cuidado e articulação com os processos organi-
zacionais do serviços de saúde; as melhores evidências disponíveis;
Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) a transparência, a inclusão, a responsabilização e a sensibilização e
capacidade de reagir a mudanças; e
O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) foi
Considerando a necessidade de se desenvolver estratégias,
criado para contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em
produtos e ações direcionadas aos gestores, profissionais e usuá-
todos os estabelecimentos de saúde do território nacional. A Segu-
rios da saúde sobre segurança do paciente, que possibilitem a pro-
rança do Paciente é um dos seis atributos da qualidade do cuidado
moção da mitigação da ocorrência de evento adverso na atenção à
e tem adquirido, em todo o mundo, grande importância para os pa-
saúde, resolve:
cientes, famílias, gestores e profissionais de saúde com a finalidade
Art. 1º Fica instituído o Programa Nacional de Segurança do
de oferecer uma assistência segura.
Paciente (PNSP).
Art. 2º O PNSP tem por objetivo geral contribuir para a qua-
PORTARIA Nº 529, DE 1º DE ABRIL DE 2013 lificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos de
saúde do território nacional.
Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Art. 3º Constituem-se objetivos específicos do PNSP:
I - promover e apoiar a implementação de iniciativas voltadasà
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que segurança do paciente em diferentes áreas da atenção, organização
lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Cons- e gestão de serviços de saúde, por meio da implantação da gestão
tituição, e de risco e de Núcleos de Segurança do Paciente nos estabelecimen-
tos de saúde;
Considerando o art. 15, inciso XI, da Lei nº 8.080, de 19 de se- II - envolver os pacientes e familiares nas ações de segurança
tembro de 1990 (Lei Orgânica da Saúde), que dispõe sobre a atri- do paciente;
buição da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios III - ampliar o acesso da sociedade às informações relativasà
de exercer, em seu âmbito administrativo, a elaboração de normas segurança do paciente;
para regular as atividades de serviços privados de saúde, tendo em IV - produzir, sistematizar e difundir conhecimentos sobre se-
vista a sua relevância pública; gurança do paciente; e

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

V - fomentar a inclusão do tema segurança do paciente no ensi- a) infecções relacionadas à assistência à saúde;
no técnico e de graduação e pós-graduação na área da saúde. b) procedimentos cirúrgicos e de anestesiologia;
Art. 4º Para fins desta Portaria, são adotadas as seguintes de- c) prescrição, transcrição, dispensação e administração de me-
finições: dicamentos, sangue e hemoderivados;
I - Segurança do Paciente: redução, a um mínimo aceitável, do d) processos de identificação de pacientes;
risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde; e) comunicação no ambiente dos serviços de saúde;
II - dano: comprometimento da estrutura ou função do corpo f) prevenção de quedas;
e/ou qualquer efeito dele oriundo, incluindo-se doenças, lesão, so- g) úlceras por pressão;
frimento, morte, incapacidade ou disfunção, podendo, assim, ser h) transferência de pacientes entre pontos de cuidado; e
físico, social ou psicológico; i) uso seguro de equipamentos e materiais;
III - incidente: evento ou circunstância que poderia ter resulta- II - aprovar o Documento de Referência do PNSP;
do, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente; III - incentivar e difundir inovações técnicas e operacionais que
IV - Evento adverso: incidente que resulta em dano ao paciente; visem à segurança do paciente;
V - Cultura de Segurança: configura-se a partir de cinco caracte- IV - propor e validar projetos de capacitação em Segurança do
rísticas operacionalizadas pela gestão de segurança da organização: Paciente;
a) cultura na qual todos os trabalhadores, incluindo profissio- V - analisar quadrimestralmente os dados do Sistema de Moni-
nais envolvidos no cuidado e gestores, assumem responsabilidade toramento incidentes no cuidado de saúde e propor ações de me-
pela sua própria segurança, pela segurança de seus colegas, pacien- lhoria;
tes e familiares; VI - recomendar estudos e pesquisas relacionados à segurança
b) cultura que prioriza a segurança acima de metas financeiras do paciente;
e operacionais; VII - avaliar periodicamente o desempenho do PNSP; e
c) cultura que encoraja e recompensa a identificação, a notifi- VIII elaborar seu regimento interno e submetê-lo à aprovação
cação e a resolução dos problemas relacionados à segurança; do Ministro de Estado da Saúde.
d) cultura que, a partir da ocorrência de incidentes, promove o Art. 8º O CIPNSP instituições é composto por representantes,
aprendizado organizacional; e titular e suplentes, dos seguintes órgãos e entidades:
e) cultura que proporciona recursos, estrutura e responsabili- I - do Ministério da Saúde:
zação para a manutenção efetiva da segurança; e a) um da Secretaria-Executiva (SE/MS);
VI - gestão de risco: aplicação sistêmica e contínua de iniciati- b) um da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS);
vas, procedimentos, condutas e recursos na avaliação e controle de c) um da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na
riscos e eventos adversos que afetam a segurança, a saúde humana, Saúde (SGTES/MS);
a integridade profissional, o meio ambiente e a imagem institucio- d) um da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS); e
nal. e) um da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-
Art. 5º Constituem-se estratégias de implementação do PNSP: gicos (SCTIE/MS);
I - elaboração e apoio à implementação de protocolos, guias e II - um da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ);
manuais de segurança do paciente; III - um da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA);
II - promoção de processos de capacitação de gerentes, profis- IV - um da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);
sionais e equipes de saúde em segurança do paciente; V - um do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CO-
III - inclusão, nos processos de contratualização e avaliação de NASS);
serviços, de metas, indicadores e padrões de conformidade relati- VI - um do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saú-
vosà segurança do paciente; de (CONASEMS);
IV - implementação de campanha de comunicação social sobre VII - um do Conselho Federal de Medicina (CFM);
segurança do paciente, voltada aos profissionais, gestores e usuá- VIII - um do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN);
rios de saúde e sociedade; IX - um do Conselho Federal de Odontologia (CFO);
V - implementação de sistemática de vigilância e monitoramen- X - um do Conselho Federal de Farmácia (CFF);
to de incidentes na assistência à saúde, com garantia de retorno às XI - um da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS); e
unidades notificantes; XII - três de Instituições Superiores de Ensino e Pesquisa com
VI - promoção da cultura de segurança com ênfase no aprendi- notório saber no tema Segurança do Paciente.
zado e aprimoramento organizacional, engajamento dos profissio- § 1º A coordenação do CIPNSP será realizada pela ANVISA, que
nais e dos pacientes na prevenção de incidentes, com ênfase em fornecerá em conjunto com a SAS/MS e a FIOCRUZ os apoios técni-
sistemas seguros, evitando-se os processos de responsabilização co e administrativo necessários para o seu funcionamento.
individual; e § 2º A participação das entidades de que tratam os incisos V a
VII - articulação, com o Ministério da Educação e com o Con- XII do “caput” será formalizada após resposta a convite a eles en-
selho Nacional de Educação, para inclusão do tema segurança do caminhado pela Coordenação do CIPNSP, com indicação dos seus
paciente nos currículos dos cursos de formação em saúde de nível respectivos representantes.
técnico, superior e de pós-graduação. § 3° Os representantes titulares e os respectivos suplentes se-
Art. 6º Fica instituído, no âmbito do Ministério da Saúde, Co- rão indicados pelos dirigentes dos respectivos órgãos e entidades à
mitê de Implementação do Programa Nacional de Segurança do Coordenação do CIPNSP no prazo de 10 (dez) dias a contar da data
Paciente (CIPNSP), instância colegiada, de caráter consultivo, com da data de publicação desta Portaria.
a finalidade de promover ações que visem à melhoria da segurança § 4º O CIPNSP poderá convocar representantes de órgãos e
do cuidado em saúde através de processo de construção consensu- entidades, públicas e privadas, além de especialistas nos assuntos
al entre os diversos atores que dele participam. relacionados às suas atividades, quando entender necessário para o
Art. 7º Compete ao CIPNSP: cumprimento dos objetivos previstos nesta Portaria.
I - propor e validar protocolos, guias e manuais voltados à segu-
rança do paciente em diferentes áreas, tais como:

14
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

§ 5º O CIPNSP poderá instituir grupos de trabalho para a execução de atividades específicas que entender necessárias para o cumpri-
mento do disposto nesta Portaria.
Art. 9º As funções dos membros do CIPNSP não serão remuneradas e seu exercício será considerado de relevante interesse público.
Art. 10. O Ministério da Saúde instituirá incentivos financeiros para a execução de ações e atividades no âmbito do PNSP, conforme
normatização específica, mediante prévia pactuação na Comissão Intergestores Tripartite (CIT).
Art. 11. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Diretrizes e metas internacionais para a segurança do paciente

META 1 - IDENTIFICAÇÃO CORRETA DO PACIENTE

O que é ?
A identificação correta do paciente é um dos primeiros cuidados para uma assistência segura. Essa ação é o ponto de partida para a
correta execução das diversas etapas de segurança em nossa instituição.
O processo de identificação do paciente deve ser capaz de identificar corretamente o indivíduo como sendo a pessoa para a qual se
destina o serviço (medicamentos, sangue ou hemoderivados, exames, cirurgias e tratamentos).
Nosso processo de identificação do paciente inclui três informações distintas utilizadas para identificação do paciente antes de cada
ação assistencial: número de prontuário/atendimento, nome completo e data de nascimento, afim de garantir que o cuidado seja realizado
no indivíduo certo.
A identificação acontece no momento da admissão (internação e Pronto Atendimento), por meio de pulseira de identificação de co-
loração branca.

O que fazer para melhorar esse processo ?


- Para garantir a segurança do cuidado, é importante:
- Manter a pulseira de identificação até a alta.
- Verificar se as informações estão corretas e legíveis.
- Certifique-se de que a equipe assistencial faça a conferência de sua identificação antes de qualquer atendimento.
- Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo todas as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas.

Importante: o número do quarto não pode ser utilizado para identificar o paciente apenas como localizador.

META 2 - COMUNICAÇÃO EFETIVA

MELHORAR A COMUNICAÇÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE


O que é ?
A segurança da assistência depende de uma comunicação entre os colaboradores. A instituição padronizou como, por quem e para
quem são transmitidas as informações acerca do paciente (prescrições verbais, resultados de exames críticos e transição de cuidados),
bem como a forma de registro dessas informações, de maneira que ocorra de forma clara e oportuna, sem ambiguidades, com a certeza
da correta compreensão por parte do receptor da informação.

Importante: Esta informação deverá ser registrada em prontuário.

O que fazer para melhorar esse processo ?


- Registrar as informações do paciente no prontuário, que é um documento legal e contém todas as informações do processo assis-
tencial, desde a admissão até a alta.

15
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo to- Mesmo quando se adotam todas as medidas conhecidas para
das as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas. prevenção e controle de IRAS, certos grupos apresentam maior ris-
co de desenvolver uma infecção. Entre esses casos estão os pacien-
META 3 - MELHORAR A SEGURANÇA DOS MEDICAMENTOS tes em extremos de idade, pessoas com diabetes, câncer, em tra-
O que é ?​ tamento ou com doenças imunossupressoras, com lesões extensas
de pele, submetidas a cirurgias de grande porte ou transplantes,
As práticas para melhorar da segurança de medicamentos no obesas e fumantes.
CHAS envolvem a padronizar procedimentos para garantir a se-
gurança de armazenamento, movimentação e utilização de medi- O que você pode fazer para melhorar esse processo?
camentos de alto risco e que possuem nome, grafia e aparência - Disponibilizar preparação alcoólica em lugares estratégicos do
semelhantes, prevenindo a ocorrência de uma administração inad- hospital.
vertida. - Orientar acompanhantes e/ou familiares da importância da
antissepsia das mão.
O que fazer para melhorar esse processo? - Treinar incansavelmente toda equipe multiprofissional.
- A segurança no uso de medicamentos inclui a checagem da - Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo to-
identificação do paciente com a prescrição médica. das as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas.
- Fique atento à realização desse passo: confirmação dos dados
da pulseira com o prontuário. META 6 - REDUZIR O RISCO DE DANOS AOS PACIENTES RESUL-
- Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo to- TANTE DE QUEDAS
das as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas.
O que é a avaliação de risco de queda?
META 4 - CIRURGIA SEGURA Como medida de segurança, o centro Hospitalar Albert Sabin-
-CHAS implantou o protocolo de queda no intuito de identificar o
O que é ? risco de queda dos seus pacientes e agir preventivamente, evitando
O conceito de cirurgia segura envolve medidas adotadas para esse tipo de evento e eventuais lesões causadas por ele.
redução do risco de eventos adversos que podem acontecer antes, O protocolo de prevenção de quedas do CHAS inclui a identi-
durante e depois das cirurgias. Eventos adversos cirúrgicos são inci- ficação de pacientes com risco – em função das condições clínicas,
dentes que resultam em dano ao paciente. dos medicamentos prescritos e dos tratamentos – e a adoção de
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu um pro- medidas preventivas, conforme esse risco.
grama para garantir a segurança em cirurgias que consiste na ve- A avaliação do risco é realizada a partir da admissão, com base
rificação de itens essenciais do processo cirúrgico. O objetivo é nas condições clínicas e necessidades do paciente. Todos os pacien-
garantir que o procedimento seja realizado conforme o planejado, tes são orientados quanto aos riscos e às medidas de prevenção.
atendendo aos cinco certos: Além disso, o nosso ambiente hospitalar está sendo adequado para
- Paciente. diminuir o risco das quedas relacionadas a estrutura física e mobili-
- Procedimento. ário, o que inclui o quarto e o banheiro do paciente.
- Lateralidade (lado a ser operado, quando aplicável).
Posicionamento. O que você pode fazer para melhorar o processo de preven-
- Equipamentos. ção de quedas?
- Avaliar, no momento da admissão, o risco de queda do pa-
Importante: Fazemos também a checagem de segurança nosso ciente (pacientes internados, pacientes no serviço de emergência e
check-list cirúrgico ou time out, um conjunto de ações que envolve pacientes externos)
todas as fases o procedimento cirúrgico. - Uma vez identificado o risco de queda, orientar pacientes e
familiares sobre as medidas preventivas individuais, e entregar ma-
O que fazer para melhorar esse processo? terial educativo específico
- Nas cirurgias que envolvem lateralidade, o médico marcará o - Pacientes e acompanhantes devem seguir as orientações da-
local correto no corpo do paciente antes que este seja encaminha- das pela equipe multiprofissional.
do ao centro cirúrgico. - Identificação todo paciente com riscos para queda.
- Fique atento à realização desse passo: - Retirar todos objetos ou mobiliário que possa levar a uma
- confirmação dos dados da pulseira com o prontuário. queda e evitar uso de tapetes na instituição.
- checagem da identificação do paciente e o procedimento ci- - Colocar sinalização visual para identificação de risco de que-
rúrgico. da, a fim de alertar toda equipe de cuidado.
- Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo to- - Envolver o paciente no processo de cuidado, esclarecendo to-
das as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas. das as suas dúvidas. Isso pode evitar falhas.
- Notificar imediatamente ao Núcleo de Segurança do Paciente
META 5 - REDUZIR O RISCO DE INFECÇÃO ASSOCIADO AO CUI- caso ocorra um evento de queda.
DADO

O que é?
A infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) é aquela ad-
quirida em função dos procedimentos necessários à monitorização
e ao tratamento de pacientes em hospitais, ambulatórios, centros
diagnósticos ou mesmo em assistência domiciliar (home care).

16
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

dições de conforto por ocasião das refeições; das lavanderias; da


ANÁLISE DE RISCOS AMBIENTAIS E MEDIDAS BÁSICAS limpeza e conservação; e da manutenção de máquinas e equipa-
DE PROTEÇÃO DE TRABALHADORES QUE ATUAM EM mentos em serviços que prestam assistência à saúde.
ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE. USO DE EQUIPAMEN- A infecção hospitalar é uma síndrome infecciosa (infecção)
TOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA que o indivíduo adquire após sua hospitalização ou realização de
procedimento ambulatorial. Entre os exemplos de procedimentos
Biossegurança. ambulatoriais mais comuns estão: cateterismo cardíaco, exames ra-
Por volta dos anos 1970, iniciaram-se as discussões envolvendo diológicos com utilização de contraste, retirada de pequenas lesões
a proteção e segurança dos trabalhadores, principalmente aqueles de pele e retirada de nódulos de mama, etc.
envolvidos com pesquisa em organismos geneticamente modifica- Para ser considerada infecção hospitalar, o paciente precisa es-
dos. A partir daí a questão da exposição ocupacional e o conceito tar internado apelo menos 72 horas.
de biossegurança foram sendo desenvolvidos e introduzidos pela A manifestação da infecção hospitalar pode ocorrer após a alta,
comunidade científica, com foco, inicialmente, nos trabalhadores desde que esteja relacionada com algum procedimento realizado
dos laboratórios de análise de material biológico, considerando-se durante a internação.
a incidência, nestes profissionais, de doenças como a tuberculose
e hepatite B. Fatores predisponentes
Sabe-se que, em grande parte dos cenários de prestação de - Pacientes imunodeprimidos;
cuidados de enfermagem, negligenciam-se normas de biosseguran- - Lavagem incorreta das mãos, dos profissionais, acompanhan-
ça; os equipamentos de proteção individual (EPI) são mais utilizados tes e visitantes.
na assistência ao paciente cujo diagnóstico é conhecido, subesti- - Esterilização deficiente de instrumental cirúrgico.
mando-se a vulnerabilidade do organismo humano a infecções. - Técnicas incorretas e procedimentos invasivos.
O recomendável é que o trabalhador proteja-se sempre que tiver - Limpeza deficiente de ambientes, materiais e roupas.
contato com material biológico e, também, durante a assistência - Alimentos trazidos de fora do hospital.
cotidiana aos pacientes, independente de conhecer o diagnóstico - Flores e objetos trazidos de fora do hospital.
ou não, utilizando-se, portanto, das precauções universais padrão.
Estudos demonstram que as maiores causas de acidentes punctó- Baseando-se nesses fatores devem ser elaboradas ações pre-
rios, entre os trabalhadores da enfermagem, estão nas práticas de ventivas, tais como: uso racional de antimicrobiano, controle de es-
risco como o reencape de agulhas, o descarte inadequado de obje- terilização, desinfecção e limpeza, e bloqueio de transmissão pelos
tos perfurocortantes e a falta de adesão aos EPI. profissionais de saúde.
Além disso, em grande parte dos casos de exposição a material
biológico, o status do paciente fonte não é conhecido, o que poten- Principais medidas de prevenção e controle
cializa o risco de adquirir doenças como o HIV, hepatite B e hepatite
C. A exposição ocupacional é uma importante fonte de infecção por Lavagem das mãos
esses vírus. Um estudo demonstrou que a cobertura vacinal contra - Lavagem das mãos é a fricção manual vigorosa de toda a su-
hepatite B dos trabalhadores da saúde envolvidos com os acidentes perfície das mãos e punhos, utilizando-se sabão/detergente, segui-
estava em torno de aproximadamente 73%, evidenciando o risco da de enxágue abundante em água corrente.
de infecção pelo HBV em aproximadamente 27% dos trabalhadores - A lavagem das mãos é, isoladamente, a ação mais importante
que não haviam completado o esquema vacinal. para a prevenção e controle das infecções hospitalares.
Como se pode perceber, algumas evidências científicas de- - O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos antes e após
monstram que o risco para acidentes com material biológico é uma contatos que envolvam mucosas, sangue ou fluidos corpóreos, se-
realidade configurada em muitos cenários. Considerando-se essas creções ou excreções.
informações e o fato de que os trabalhadores da área da saúde en- - A lavagem das mãos deve ser realizada tantas vezes quanto
contram-se em permanente contato com agentes biológicos (vírus, necessária, durante a assistência a um único paciente, sempre que
bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospi- houver contato com diversos sítios corporais, e frente cada uma das
tais e laboratórios e, até mesmo na agricultura e pecuária), é fun- atividades.
damental, portanto, a observância dos princípios de biossegurança - A lavagem e antissepsia cirúrgica das mãos é realizada sempre
na assistência aos pacientes e no tratamento de seus fluidos, bem antes dos procedimentos cirúrgicos.
como no manuseio de materiais e objetos contaminados em todas - A decisão para a lavagem das mãos com uso de antisséptico
as situações de cuidado e não apenas quando o paciente-fonte é deve considerar o tipo de contato, o grau de contaminação, as con-
sabidamente portador de alguma doença transmissível. dições do paciente e o procedimento a ser realizado.
É válido salientar que em muitos locais de atuação da enfer- - A lavagem das mãos com antisséptico é recomendada em:
magem, são insatisfatórias as condições de trabalho, evidenciadas realização de procedimentos invasivos, prestação de cuidados a pa-
por problemas de organização, deficiência de recursos humanos e cientes críticos, contato direto com feridas e/ou dispositivos invasi-
materiais e área física inadequada do ponto de vista ergonômico. vos, tais como cateteres e drenos.
Acredita-se que esta conformação é fator preditivo para a exposi- - Devem ser empregadas medidas e recursos com o objetivo
ção a riscos ocupacionais. de incorporar a prática da lavagem das mãos em todos os níveis da
Neste panorama, é instituída a Norma Regulamentadora nú- assistência hospitalar.
mero 32 (NR 32), do Ministério do Trabalho e Emprego (BR) que - A distribuição e a localização de unidades ou pias para lava-
trata da Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde, com gem das mãos, de forma a atender à necessidade nas diversas áreas
o objetivo de agrupar o que já existe no país em termos de legisla- hospitalares, além da presença dos produtos, é fundamental para a
ção e favorecer os trabalhadores da saúde em geral, estabelecendo obrigatoriedade da prática.
diretrizes para implementação de medidas de proteção à saúde e Prevenção de infecção de sítio cirúrgico (ISC)
segurança dos mesmos. Esta norma trata dos riscos biológicos; dos - Tempo de internação abreviado.
riscos químicos; das radiações ionizantes; dos resíduos; das con- - Banho completo antes da cirurgia.

17
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Tricotomia restrita ao local de incisão, quando necessário, E outras medidas gerais como
imediatamente antes da cirurgia - Avaliar bem os pacientes internados;
- Fluxo adequado do Bloco Cirúrgico, com circulação mínima. - Treinar a equipe do hospital, orientando sobre os fatores de
- Equipe cirúrgica restrita. risco que podem levar à uma infecção;
- Montagem correta das salas de cirurgia. - Usar antibióticos, quando necessário;
- Paramentação completa (avental, gorro, luvas, máscara e pro- - Comprar material de boa qualidade para a assistência médica;
pés) - Esterilizar corretamente todos os materiais;
- Lavagem e antissepsia das mãos e ante braços da equipe ci- - Ter uma boa limpeza em todo hospital;
rurgica. - Uso de equipamento de proteção individual (luvas, óculos
- Secagem das mãos com toalhas estéreis. protetor de óculos, protetor de face, avental e outros.) nos proce-
- Antissepsia do campo operatório. dimentos.
- Instrumental cirúrgico esterilizado. - Uso de profilaxia antimicrobiana antes da cirurgia.

Prevenção de infecção respiratória Prevenção de infecções em profissionais da área da saúde


- Educação do corpo clínico e vigilância das infecções. O profissional da área da saúde (PAS) pode adquirir ou trans-
- Esterilização, desinfecção e manutenção de equipamentos e mitir infecções para os pacientes, para outros profissionais no am-
artigos. biente de trabalho e para comunicantes domiciliares e da comuni-
- Interrupção da transmissão pessoa para pessoa – precauções dade. Deste modo, os programas de controle de infecção hospitalar
de barreira. devem também contemplar ações de controle de infecção entre os
- Lavagem das mãos. PAS.
- Vacinação de pacientes de alto risco para complicações de in- Aa ações do serviço de saúde ocupacional, no que diz respeito
fecções pneumocócicas. ao controle de infecção, têm como objetivos:
1. Educar o PAS acerca dos princípios do controle de infecção,
Prevenção de infecção urinária em pacientes cateterizados ressaltando a importância da participação individual neste controle;
- Evitar o uso de cateterismo vesical quando desnecessário. 2. Colaborar com a CCIH na monitorização e investigação de
- Lavar as mãos antes e depois de manipular o sistema. Empre- exposições a agentes infecciosos e surtos;
gar técnica asséptica e equipamento estéril. 3. Dar assistência ao PAS em caso de exposições ou doenças
- Utilizar cateter de calibre adequado. Fixar a sonda para evitar relacionadas ao trabalho;
movimentação. 4. Identificar riscos e instituir medidas de prevenção;
- Usar exclusivamente COLETOR FECHADO. 5. Reduzir custos, através da prevenção de doenças infecciosas
- Evitar desconexão do sistema fechado. Manter a bolsa coleto- que resultem em faltas ao trabalho e incapacidade.
ra de urina em nível inferior à bexiga.
- Esvaziar a bolsa coletora a intervalos de oito horas, no máxi- Ações do serviço de saúde ocupacional
mo, ou quando preenchidos 2/3 da sua capacidade. Para atingir os objetivos descritos anteriormente é necessário
- Higienizar a região perineal, com água e sabão, três vezes ao que o serviço de saúde ocupacional atue nas seguintes áreas:
dia, ou quando necessário.
Integração com outros serviços:
Prevenção de infecção da corrente sanguínea - As ações do serviço de saúde ocupacional devem ser coorde-
Cuidados relacionados aos cateteres periféricos nadas com o serviço de infecção hospitalar e outros departamentos
- Lavagem e antissepsia das mãos antes de colocar as luvas es- que se façam necessários.
téreis.
- Preferir veias de membros superiores. Avaliações médicas:
- Usar técnica asséptica para fazer a punção. - Admissional, com histórico de saúde, estado vacinal, condi-
- Fazer antissepsia do local a ser puncionado. ções que possam predispor o profissional a adquirir ou transmitir
- Realizar troca de cateteres e mudar o sítio de inserção a cada infecções no ambiente de trabalho;
72 horas, ou intervalo menor se indicado. - Exames periódicos para avaliação de problemas relacionados
ao trabalho ou seguimento de exposição de risco (p. ex. triagem
Cuidados relacionados aos cateteres centrais para tuberculose, exposição a fluidos biológicos).
- Selecionar o Cateter. - Atividades educativas: A adesão a um programa de contro-
- Usar de preferência a subclávia. le de infecção é facilitada pelo entendimento de suas bases. Todo
- Usar técnica asséptica, incluindo avental, luvas e campos es- pessoal precisa ser treinado acerca da política e procedimentos de
téreis e máscara. controle de infecção da instituição.
- Utilizar equipamentos com local próprio para infusão de me-
dicamentos. A elaboração de manuais para procedimentos garante unifor-
- Manter o sistema fechado durante a infusão. midade e eficiência. O material deve ser direcionado em linguagem
- Usar o cateter para nutrição parenteral apenas para este fim. e conteúdo para o nível educacional de cada categoria de profissio-
- Trocar os curativos quando estiverem úmidos, sujos ou fora nal. Grande parte dos esforços deve estar dirigida para a conscien-
do local. tização sobre o uso do equipamento de proteção individual (EPI).
- Trocar o cateter apenas se houver suspeita de infecção rela- Programas de vacinação: Garantir que o PAS esteja protegido
cionada ao cateter. contra as doenças preveníveis por vacinas é parte essencial do pro-
- Trocar todo o sistema em caso de flebite ou bacteremia. grama de saúde ocupacional. Os programas de vacinação devem
incluir tanto os recém-contratados quanto os funcionários antigos.
Os programas de vacinação obrigatória são mais efetivos que os vo-
luntários.

18
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Manejo de doenças e exposições relacionadas ao trabalho: For- 1. Proteção à cabeça:


necer profilaxia pós exposição apropriada nos casos aplicáveis (p. - Protetores faciais destinados à proteção dos olhos e da face
ex.: exposição ocupacional ao HIV), além de providenciar o diag- contra lesões ocasionadas por partículas, respingos, vapores de
nóstico e o tratamento adequados das doenças relacionadas ao tra- produtos químicos e radiações luminosas intensas;
balho. Estabelecer medidas para evitar a ocorrência da transmissão - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar feri-
de infecção para outros profissionais, através do afastamento do mentos nos olhos, provenientes de impacto de partículas;
profissional doente (p. ex.: pacientes com tuberculose bacilífera ou - Óculos de segurança, contra respingos, para trabalhos que
varicela). possam causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da
Aconselhamento em saúde: Fornecer informação individua- ação de líquidos agressivos;
lizada com relação a risco e prevenção de doenças adquiridas no - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar irrita-
ambiente hospitalar; riscos e benefícios de esquemas de profilaxia ção nos olhos, provenientes de poeiras e
pós-exposição e consequências de doenças e exposições para o - Óculos de segurança para trabalhos que possam causar irri-
profissional, seus familiares e membros da comunidade. tação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de radiações
Manutenção de registro, controle de dados e sigilo: A manu- perigosas.
tenção de registros de avaliações médicas, exames, imunizações e
profilaxias é obrigatória e permite a monitorização do estado de 2. Proteção para os membros superiores:
saúde do PAS. Devem ser mantidos registros individuais, em condi- - Luvas e/ou mangas de proteção e/ou cremes protetores de-
ções que garantam a confidencialidade das informações, que não vem ser usados em trabalhos em que haja perigo de lesão provo-
podem ser abertas ou divulgadas, exceto se requerido por lei. cada por:
- Materiais ou objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou per-
Infecção cruzada furantes;
É a infecção ocasionada pela transmissão de um microrganis- - Produtos químicos corrosivos, cáusticos, tóxicos, alergênicos,
mo de um paciente para outro, geralmente pelo pessoal, ambiente oleosos, graxos, solventes orgânicos e derivados de petróleo;
ou um instrumento contaminado. - Materiais ou objetos aquecidos;
- Choque elétrico;
Infecção endógena - Radiações perigosas;
É um processo infeccioso decorrente da ação de microrganis- - Frio;
mos já existentes, naquela região ou tecido, de um paciente. Medi- - Agentes biológicos.
das terapêuticas que reduzem a resistência do indivíduo facilitam a
multiplicação de bactéria em seu interior, por isso é muito impor- 3. Proteção para os membros inferiores:
tante, a anti-sepsia pré-cirúrgica. - Calçados impermeáveis para trabalhos realizados em lugares
úmidos, lamacentos ou encharcados;
Infecção exógena - Calçados impermeáveis e resistentes a agentes químicos
É aquela causada por microrganismos estranhos a paciente. agressivos;
Para impedir essa infecção, que pode ser gravíssima, os instrumen- - Calçados de proteção contra agentes biológicos agressivos e
tos e demais elementos que são colocados na boca do paciente, - Calçados de proteção contra riscos de origem elétrica.
devem estar estéreis. È importante, que barreiras sejam colocadas
para impedir que instrumentos estéreis sejam contaminados, pois 4. Proteção do tronco:
não basta um determinado instrumento ter sido esterilizado, é im- - Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção
portante que em seu manuseio até o uso ele não se contamine. A para trabalhos em haja perigo de lesões provocadas por:
infecção exógena significa um rompimento da cadeia asséptica, o - Riscos de origem radioativa;
que é muito grave, pois, dependendo da natureza dos microrganis- - Riscos de origem biológica e
mos envolvidos, a infecção exógena pode ser fatal, como é o caso - Riscos de origem química.
da AIDS, Hepatite B e C.
- Procedimento crítico: É todo procedimento em que existe a 5. Proteção da pele:
presença de sangue, pus ou matéria contaminada pela perda de - Cremes protetores – só poderão ser postos à venda ou utiliza-
continuidade. dos como EPI, mediante o Certificado de Aprovação (CA) do Minis-
- Procedimento semicrítico: Todo procedimento em que existe tério do Trabalho e Emprego.
a presença de secreção orgânica (saliva) sem perda de continuidade
do tecido. 6. Proteção respiratória:
- Procedimento não-crítico: Todo procedimento onde não há Para exposição a agentes ambientais em concentrações preju-
presença de sangue, pus ou outra secreção orgânica (saliva). Em diciais à saúde do trabalhador, de acordo com os limites estabele-
Odontologia não existe este tipo de procedimento. cidos na NR15:
- Respiradores contra poeiras, para trabalhos que impliquem
Equipamentos de proteção individual (EPIs) produção de poeiras;
Equipamento de proteção individual é todo dispositivo de uso - Respiradores e máscaras de filtro químico para exposição a
individual, destinado a proteger a saúde e a integridade física do agentes químicos prejudiciais à saúde;
trabalhador. A seguir, uma relação de alguns dos equipamentos de - Aparelhos de isolamento (autônomo ou de adução de ar),
proteção individual, mais usados em estabelecimentos de saúde, para locais de trabalho onde o teor de oxigênio seja inferior a 18%
como por exemplo: em volume.

19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Precaução padrão 4. Entre procedimentos no mesmo paciente quando houver ris-


A partir da epidemia de HIV/AIDS, do aparecimento de cepas co de infecção cruzada de diferentes sítios anatômicos.
de bactérias multirresistentes (como o Staphylococcus aureus re-
sistente à meticilina, bacilos Gramnegativos não fermentadores, OBS: O uso de sabão comum líquido é suficiente para lavagem
Enterococcus sp. resistente à vancomicina), do ressurgimento da de rotina das mãos, exceto em situações especiais definidas pelas
tuberculose na população mundial e do risco aumentado para a Comissões de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH (como nos sur-
aquisição de microrganismos de transmissão sanguínea (hepatite tos ou em infecções hiperendêmicas).
viral B e C, por exemplo) entre os profissionais de saúde, as normas Luvas
de biossegurança e isolamento ganharam atenção especial. - Usar luvas limpas, não estéreis, quando existir possibilidade
Para entender os mecanismos de disseminação de um micror- de contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções,
ganismo dentro deum hospital, é necessário que se conheça pelo membranas mucosas, pele não íntegra e qualquer item contami-
menos três elementos: a fonte, o mecanismo de transmissão e o nado.
hospedeiro susceptível. - Mudar de luvas entre duas tarefas e entre procedimentos no
Fonte: As fontes ou reservatórios de microrganismos, geral- mesmo paciente.
mente, são os profissionais de saúde, pacientes, ocasionalmente - Retirar e descartar as luvas depois do uso, entre um pacien-
visitantes, ou materiais e equipamentos infectados ou colonizados te e outro e antes de tocar itens não contaminados e superfícies
por microrganismos patogênicos. ambientais. A lavagem das mãos após a retirada das luvas é obri-
Transmissão: A transmissão de microrganismos em hospitais gatória.
pode se dar por diferentes vias.
Os principais mecanismos de transmissão são: Máscara, protetor de olhos, protetor de face
- Transmissão aérea por gotículas: Ocorre pela disseminação - É necessário em situações nas quais possam ocorrer respin-
por gotículas maiores do que 5um. Podem ser geradas durante tos- gos e espirros de sangue ou secreções nos funcionários.
se, espirro, conversação ou realização de diversos procedimentos
(broncoscopia, inalação, etc.). Por serem partículas pesadas e não Avental
permanecerem suspensas no ar, não são necessários sistemas es- - Usar avental limpo, não estéril, para proteger roupas e super-
peciais de circulação e purificação do ar. As precauções devem ser fícies corporais sempre que houver possibilidade de ocorrer conta-
tomadas por aqueles que se aproximam a menos de 1 metro da minação por líquidos corporais e sangue.
fonte. - Escolher o avental apropriado para atividade e a quantidade
- Transmissão aérea por aerossol: Quando ocorre pela dissemi- de fluido ou sangue encontrado.
nação de partículas, cujo tamanho é de 5um ou menos. Tais partí- - A retirada do avental deve ser feita o mais breve possível com
culas permanecem suspensas no ar por longos períodos e podem posterior lavagem das mãos.
ser dispersas a longas distâncias. Medidas especiais para se impedir
a recirculação do ar contaminado e para se alcançar a sua descon- Equipamentos de cuidados ao paciente
taminação são desejáveis. Consistem em exemplos os agentes de - Devem ser manuseados com proteção se sujos de sangue ou
varicela, sarampo e tuberculose. fluidos corpóreos, secreções e excreções e sua reutilização em ou-
- Transmissão por contato: É o modo mais comum de trans- tros pacientes deve ser precedida de limpeza e ou desinfecção.
missão de infecções hospitalares. Envolve o contato direto (pessoa- - Assegurar-se que os itens de uso único sejam descartados em
-pessoa) ou indireto (objetos contaminados, superfícies ambientais, local apropriado.
itens de uso do paciente, roupas, etc.) promovendo a transferência
física de microrganismos epidemiologicamente importantes para Controle ambiental
um hospedeiro susceptível. Estabelecer e garantir procedimentos de rotina adequados para
a limpeza e desinfecção das superfícies ambientais, camas, equipa-
Hospedeiro: Pacientes expostos a um mesmo agente patogêni- mentos de cabeceira e outras superfícies tocadas frequentemente.
co podem desenvolver doença clínica ou simplesmente estabelecer
uma relação comensal com o microrganismo, tornando-se pacien- Roupas
tes colonizados. - Manipular, transportar e processar as roupas usadas, sujas de
Fatores como idade, doença de base, uso de corticosteróides, sangue, fluidos corpóreos, secreções e excreções de forma a pre-
antimicrobianos ou drogas imunossupressoras e procedimentos ci- venir a exposição da pele e mucosa, e a contaminação de roupas
rúrgicos ou invasivos podem tornar os pacientes mais susceptíveis pessoais, evitando a transferência de microrganismos para outros
às infecções. pacientes e para o ambiente.

Precaução padrão as precauções padrão Saúde ocupacional e patógenos veiculados por sangue
São um conjunto de medidas utilizadas para diminuir os riscos - Atenção com o uso, manipulação, limpeza e descarte de
de transmissão de microrganismos nos hospitais e constituem-se agulhas, bisturis e outros materiais pérfuro-cortantes. Não retirar
basicamente em: agulhas usadas das seringas descartáveis, não dobrá-las e não re-
encapá-las. O descarte desses materiais deve ser feito em caixas
Lavagem das mãos: apropriadas e de paredes resistentes.
1. Após realização de procedimentos que envolvem presença - Usar dispositivos bucais, conjunto de ressuscitação e outros
de sangue, fluidos corpóreos, secreções, excreções e itens conta- dispositivos de ventilação quando houver necessidade de ressus-
minados. citação.
2. Após a retirada das luvas.
3. Antes e após contato com paciente e entre um e outro pro-
cedimento ou em ocasiões onde existe risco de transferência de pa-
tógenos para pacientes ou ambiente.

20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Local de internação do paciente 1. A flambagem: É a colocação de material sobre o fogo até que
A alocação do paciente é um componente importante da pre- o metal fique vermelho
caução de isolamento. Quando possível, pacientes com microrga-
nismos altamente transmissíveis e/ou epidemiologicamente impor- Vantagem: fácil execução
tantes devem ser colocados em quartos privativos com banheiro e Desvantagem: Não é seguro, pode não esterilizar alguns tipos
pia próprios. de bactérias pelo baixo tempo de exposição. Estraga o material.
* OBS: Quando um quarto privativo não estiver disponível, pa-
cientes infectados devem ser alocados com companheiros de quar- 2. Calor seco: Penetra nas substancias de uma forma mais len-
to infectados com o mesmo microrganismo e com possibilidade ta que o calor úmido e por isso exige temperaturas mais elevadas
mínima de infecção. e tempos mais longos, para que haja uma eficaz esterilização. São
Processamento de artigos hospitalares utilizadas as estufas. Conforme o calor gerado recomenda-se um
certo tempo: a 170 graus Celsius, são necessários 60 minutos. A 120
Artigos Graus são necessárias 12 horas.
A variedade de materiais utilizados nos estabelecimentos de Vantagens: Não forma ferrugem, não danifica materiais.
saúde pode ser classificada segundo riscos potenciais de transmis-
são de infecções para os pacientes, em três categorias: críticos, se- Desvantagens: O material deve ser resistente a variação da
micríticos e não críticos. temperatura. Na esteriliza líquidos.

Artigos críticos 3. Calor úmido


Os artigos destinados aos procedimentos invasivos em pele e Autoclave: É a exposição do material a vapor de água sob pres-
mucosas adjacentes, nos tecidos subepiteliais e no sistema vascu- são, a 121ºC durante 15 min. É o processo mais usado e os mate-
lar, bem como todos os que estejam diretamente conectados com riais devem ser embalados de forma a permitirem o contato total
este sistema, são classificados em artigos críticos. Estes requerem do material com o vapor para permitir que a temperatura não seja
esterilização. Ex. agulhas, cateteres intravenosos, materiais de im- inferior à desejada, permitir a penetração do vapor nos poros dos
plante, etc. corpos porosos e impedir a formação de uma camada inferior mais
fria. Podem ser usados autoclaves de parede simples ou de parede
Artigos semicríticos dupla, que permitem melhor extração do ar e melhor secagem.
Os artigos que entram em contato com a pele não íntegra, po- É muito usado para o vidro seco e materiais que não oxidem
rém, restrito às camadas da pele ou com mucosas íntegras são cha- com a água (os materiais termolábeis não podem ser esterilizado
mados de artigos semicríticos e requerem desinfecção de médio ou por esta técnica). É utilizada ainda para esterilizar tecidos.
de alto nível ou esterilização. Ex. cânula endotraqueal, equipamen- - Indicadores químicos: Mudam de cor consoante a tempera-
to respiratório, espéculo vaginal, todos os tipos de sondas: sonda tura.
naso e orogástrica, vesicais, nasoenterica etc. - Indicadores biológicos: Tubo com suspensão de esporos de
bactérias resistentes que morrem quando exposto por 12 min. Ou
Artigos não críticos mais a uma temperatura de121ºC. Após um repouso de 14h, faz-se
Os artigos destinados ao contato com a pele íntegra e também uma sementeira dos esporos, que deve dar negativa.
os que não entram em contato direto com o paciente são chamados
artigos não-críticos e requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou Vantagens: Fácil uso, custo acessível para grandes hospitais
médio nível, dependendo do uso a que se destinam ou do último Desvantagens: Não serve para esterilizar pós e líquidos.
uso realizado. Ex. termômetro, materiais usados em banho de leito
como bacias, cuba rim, estetoscópio, roupas de cama do paciente, Químico
etc. - Gás óxido de etileno: O gás óxido de etileno é um produto
altamente tóxico usado para esterilizar materiais
Limpeza
É o procedimento de remoção de sujidade e detritos para man- Vantagens: Não danifica o material
ter em estado de asseio os artigos, reduzindo a população microbia- Desvantagens: Danos ao meio ambiente quando manipulado
na. Constitui o núcleo de todas as ações referentes aos cuidados de erroneamente, alto custo, tóxico para o manipulador, requer aera-
higiene com os artigos hospitalares. ção de 48 horas. Demorado.
A limpeza deve preceder os procedimentos de desinfecção ou
de esterilização, pois reduz a carga microbiana através remoção da - Glutaraldeído: Fornecido na forma de líquido a 25 ou 50%, são
sujidade e da matéria orgânica presentes nos materiais. O excesso pouco voláteis a frio e utilizados para a desinfecção de instrumen-
de matéria orgânica aumenta não só a duração do processo de es- tos médicos. Irritante das mucosas e tóxico, necessita de cuidados
terilização, como altera os parâmetros para este processo. Assim, especiais
é correto afirmar que a limpeza rigorosa é condição básica para
qualquer processo de desinfecção ou esterilização. “É possível lim- Vantagens: Facilidade de uso
par sem esterilizar, mas não é possível garantir a esterilização sem Desvantagens: Esterilização é tempo dependente. Alérgeno, tó-
limpar” xico e irritante, Mycobactérias podem ser resistentes

Esterilização
A esterilização de materiais é a total eliminação da vida micro-
bianadestes materiais. Caracteriza-se por um processo de destrui-
ção por meio de agentes físicos ou químicos de todas as formas de
vidas microscópica. Um objeto esterilizado, no sentido microbioló-
gico, está, completamente livre de microrganismos viáveis.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio Saúde e segurança do trabalhador


O plasma é o quarto estado da matéria. É definido como uma As doenças ocupacionais são decorrentes da exposição do tra-
nuvem de elétrons, partículas neutras, produzidas a partir da inte- balhador aos riscos da atividade que desenvolve. Podem causar
ração do peróxido de hidrogênio e um campo magnético. A esterili- afastamentos temporários, repetitivos e até definitivos. A maior
zação com gás plasma combina peróxido de hidrogênio p/gerar uma incidência destas doenças ocorre na faixa dos 30 aos 40 anos, pre-
onda eletromagnética. O plasma de peróxido não oxida o material, judicando a produtividade do trabalhador e podendo interromper
não degrada o corte, pontas, sulcos de instrumentais cirúrgicos. Seu sua carreira e desestabilizar a sua vida. As doenças ocupacionais
produto final não é tóxico, não polui o meio ambiente e nem apre- são causadas ou agravadas por determinadas atividades. A preven-
senta toxicidade para o profissional e nem para o paciente. ção pode evitar que tanto os trabalhadores como os empresários
- Agente esterilizante: Ampolas contendo: 1,8ml de H2O2 (água se prejudiquem com as consequências das doenças ocupacionais. A
oxigenada) na forma líquida numa concentração de 58%. Que du- recuperação pode ser demorada e cara.
rante a fase da injeção passará da forma líquida para gasosa.
As possíveis causas do problema
Sterrad - Agentes físicos: ruído, temperatura, vibrações e radiações
Esterilização a baixa temperatura 45ºC, é uma alternativa de - Agentes químicos: utilizados nas indústrias, podem causar da-
esterilização para materiais termo sensíveis. nos à saúde.
Vantagens: rapidez, ciclo de 50’, ausência de resíduos tóxicos, - Agentes biológicos: microrganismos como bactérias, vírus e
fácil instalação, segurança. fungos.
Desvantagens: alto custo dos insumos, câmara pequena, 100 Como diagnosticar o problema
litros. Exame físico, ocupacional e complementares, conforme crité-
rios médicos.
Fases do processo
1. Vácuo: Nesta fase através da bomba de vácuo, é removido o As doenças ocupacionais mais comuns
ar de dentro da câmara de esterilização. 1. Doenças das vias aéreas: Alguns exemplos são as pneumoco-
2. Injeção: Neste momento as agulhas perfuram as ampolas, nioses causadas pela poeira da sílica (silicose) e do asbesto (as bes-
fazendo com que passem de liquido p/ gás. tose), além da asma ocupacional. Substâncias agressivas inaladas
3. Difusão: O peróxido na forma gasosa se espalha por todo o no ambiente de trabalho se depositam nos pulmões, provocando
material, é importante que todos os materiais estejam totalmente falta de ar, tosse, chiadeira no peito, espirros e lacrimejamento.
expostos para que o peróxido entre em contato com toda a super- 2. Perda auditiva relacionada ao trabalho (PAIR)
fície. Diminuição gradual da audição decorrente da exposição con-
4. Plasma: esterilização propriamente dita. tínua a níveis elevados de ruídos. Além da perda auditiva, outra
5. Ventilação: Dura 1 minuto, o ar é filtrado p/ dentro da câ- alterações importantes podem prejudicar a qualidade de vida do
mara do equipamento, igualando a pressão interna com a externa, trabalhador.
possibilitando a abertura da porta. E os materiais estão prontos!
3. Intoxicações exógenas podem ser causadas por:
Controle de qualidade - Agrotóxicos: Os pesticidas (defensivos agrícolas) provocam
- Indicador paramétrico: Relatório emitido ao término de cada grandes danos à saúde e ao meio ambiente.
ciclo onde são apresentados parâmetros de controle de esteriliza- - Chumbo (saturnismo): A exposição contínua ao chumbo, pre-
ção. sente em fundições e refinarias, provoca, a longo prazo, um tipo de
- Indicador biológico: Bacillus stearothermophilus (forma espo- intoxicação que varia de intensidade de acordo com as condições
ruladas mais resistente aos esterilizantes físicos químicos.) do ambiente (umidade e ventilação), tempo de exposição e fatores
- Indicador químico: Marcador de concentração ótima do peró- individuais (idade e condições físicas).
xido no interior da câmara. - Mercúrio (hidragirismo): O contato com a substância se dá
- Fita indicadora: Utilizada no interior das embalagens com por meio da inalação, absorção cutânea ou via oral da substância;
manta de polipropileno. ocorre com trabalhadores que lidam com extração do mineral ou
- Fita teste: Utilizada no fechamento das embalagens. fabricação de tintas.
- Solventes orgânicos (benzenismo): Por serem tóxicos e agres-
Desinfecção, antissepsia e assepsia sivos, podem contaminar trabalhadores de refinarias de petróleo e
- Desinfecção: Processo que consiste na destruição, remoção indústrias de transformação.
ou redução dos microrganismos presentes num material inanimado
através do uso de agentes químicos. 4. Ler e Dort – Lesão por esforço repetitivo/distúrbio osteo-
A desinfecção não implica na eliminação de todos os microrga- muscular relacionado ao trabalho: Conjunto de doenças que atin-
nismos viáveis, porém elimina a potencialidade infecciosa do obje- gem principalmente os músculos, tendões e nervos. O problema é
to, superfície ou local tratado. decorrente do trabalho com movimentos repetitivos, esforço exces-
O agente empregado na desinfecção é denominado de desin- sivo, má postura e estresse, entre outros.
fetante. 5. Dermatoses ocupacionais: Também conhecidas como der-
- Antissepsia: Consiste no mesmo termo usado à desinfecção, matites de contato, são alterações da pele e das mucosas causadas,
só que está relacionada com substâncias aplicadas ao organismo mantidas ou agravadas, direta ou indiretamente, por determinadas
humano, é a redução do número de microrganismos viáveis na pele atividades profissionais. São provocadas por agentes químicos e po-
pelo uso de uma substancia denominada de antisséptico. dem ocasionar irritação ou até mesmo alergia.
- Assepsia: Conjunto de meios usados para impedir a penetra- 6. Stresse: O estresse e o excesso de trabalho podem variar
ção de microrganismo, em local que não os tenha. desde mudanças no humor, ansiedade, irritabilidade e descontrole
emocional até doenças psíquicas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Geralmente, o estresse é causado por sobrecarga de tarefas 32.2.1 Para fins de aplicação desta NR, considera-se Risco Bioló-
e ausência de pausas para descanso e exercícios físicos. Ativar os gico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos.
músculos com exercícios diários, mesmo os de relaxamento, é um 32.2.1.1 Consideram-se Agentes Biológicos os microrganismos,
bom começo para se livrar do estresse. geneticamente modificados ou não; as culturas de células; os para-
Durante os exercícios, inspire o ar pelo nariz e solte pela boca, sitas; as toxinas e os príons.
sentindo o oxigênio descer e o gás carbônico subir. 32.2.1.2 A classificação dos agentes biológicos encontra-se
anexa a esta NR.
A ajuda da ergonomia 32.2.2 Do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA:
Ciência que estuda as relações entre o homem, seu trabalho, 32.2.2.1 O PPRA, além do previsto na NR-09, na fase de reco-
equipamentos e meio ambiente, a Ergonomia previne o surgimento nhecimento, deve conter:
de doenças ocupacionais durante o processo de produção de ativi- I. Identificação dos riscos biológicos mais prováveis, em função
dades. O objetivo é a adaptação do posto de trabalho, instrumen- da localização geográfica e da característica do serviço de saúde e
tos, máquinas, horários e meio ambiente às exigências da função. seus setores, considerando:
Ela facilita o desenvolvimento e o rendimento das atividades de a) fontes de exposição e reservatórios;
trabalho. Todos devem aprender a identificar os sinais do próprio b) vias de transmissão e de entrada;
corpo para perceber o início de qualquer desconforto, procurando, c) transmissibilidade, patogenicidade e virulência do agente;
assim, adaptar as técnicas da ergonomia ao seu local de trabalho. d) persistência do agente biológico no ambiente;
Sintomas mais comuns, e que requerem a procura por um mé- e) estudos epidemiológicos ou dados estatísticos;
dico f) outras informações científicas.
1. Cansaço excessivo II. Avaliação do local de trabalho e do trabalhador, consideran-
2. Desconforto após a jornada de trabalho do:
3. Inchaço a) a finalidade e descrição do local de trabalho;
4. Formigamento dos pés e das mãos b) a organização e procedimentos de trabalho;
5. Sensação de choque nas mãos c) a possibilidade de exposição;
6. Dor nas mãos d) a descrição das atividades e funções de cada local de traba-
7. Perda dos movimentos da mão lho;
e) as medidas preventivas aplicáveis e seu acompanhamento.
Cuide de sua qualidade de vida, procurando manter um melhor
equilíbrio entre corpo e mente. Faça exercícios físicos pelo menos 32.2.2.2 O PPRA deve ser reavaliado 01 (uma) vez ao ano e:
quatro vezes por semana, tenha uma dieta balanceada e saudável a) sempre que se produza uma mudança nas condições de tra-
e procure formas de lazer alternativas, que amenizem o estresse do balho, que possa alterar a exposição aos agentes biológicos;
dia-a-dia. b) quando a análise dos acidentes e incidentes assim o deter-
minar.
Como prevenir as doenças ocupacionais
-Conforto é essencial para a prevenção. 32.2.2.3 Os documentos que compõem o PPRA deverão estar
- As operações de trabalho devem estar ao alcance das mãos. disponíveis aos trabalhadores.
- As máquinas devem se posicionar de forma que a pessoa não 32.2.3 Do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
tenha que se curvar ou torcer o tronco para pegar ou utilizar ferra- - PCMSO
mentas com frequência. 32.2.3.1 O PCMSO, além do previsto na NR-07, e observando o
- A mesa deve estar posicionada de acordo com a altura de disposto no inciso I do item 32.2.2.1, deve contemplar:
cada pessoa e ter espaço para a movimentação das pernas. a) o reconhecimento e a avaliação dos riscos biológicos;
- As cadeiras devem ter altura para que haja apoio dos pés, b) a localização das áreas de risco segundo os parâmetros do
formato anatômico para o quadril e encosto ajustável. item 32.2.2;
- Pausas durante a realização das tarefas permite um alívio para c) a relação contendo a identificação nominal dos trabalhado-
os músculos mais ativos. res, sua função, o local em que desempenham suas atividades e o
- Durante estas pausas, se levante e caminhe um pouco.1 risco a que estão expostos;
d) a vigilância médica dos trabalhadores potencialmente ex-
NORMA REGULAMENTADORA 32 - NR 32 postos;
SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO EM SERVIÇOS DE SAÚ- e) o programa de vacinação.
DE
32.2.3.2 Sempre que houver transferência permanente ou oca-
32.1 Do objetivo e campo de aplicação sional de um trabalhador para um outro posto de trabalho, que im-
32.1.1 Esta Norma Regulamentadora - NR tem por finalidade plique em mudança de risco, esta deve ser comunicada de imediato
estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas ao médico coordenador ou responsável pelo PCMSO.
de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços 32.2.3.3 Com relação à possibilidade de exposição acidental
de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promo- aos agentes biológicos, deve constar do PCMSO:
ção e assistência à saúde em geral. a) os procedimentos a serem adotados para diagnóstico, acom-
32.1.2 Para fins de aplicação desta NR entende-se por serviços panhamento e prevenção da soro conversão e das doenças;
de saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência b) as medidas para descontaminação do local de trabalho;
à saúde da população, e todas as ações de promoção, recuperação, c) o tratamento médico de emergência para os trabalhadores;
assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer nível de com- d) a identificação dos responsáveis pela aplicação das medidas
plexidade. pertinentes;
32.2 Dos Riscos Biológicos e) a relação dos estabelecimentos de saúde que podem prestar
assistência aos trabalhadores;
1Fonte: www.scielo.br/www. pt.slideshare.net

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

f) as formas de remoção para atendimento dos trabalhadores; 32.2.4.7 Os Equipamentos de Proteção Individual - EPI, descar-
g) a relação dos estabelecimentos de assistência à saúde de- táveis ou não, deverão estar à disposição em número suficiente nos
positários de imunoglobulinas, vacinas, medicamentos necessários, postos de trabalho, de forma que seja garantido o imediato forne-
materiais e insumos especiais. cimento ou reposição.
32.2.4.8 O empregador deve:
32.2.3.4 O PCMSO deve estar à disposição dos trabalhadores, a) garantir a conservação e a higienização dos materiais e ins-
bem como da inspeção do trabalho. trumentos de trabalho;
32.2.3.5 Em toda ocorrência de acidente envolvendo riscos bio- b) providenciar recipientes e meios de transporte adequados
lógicos, com ou sem afastamento do trabalhador, deve ser emitida para materiais infectantes, fluidos e tecidos orgânicos.
a Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT.
32.2.4 Das Medidas de Proteção 32.2.4.9 O empregador deve assegurar capacitação aos traba-
32.2.4.1 As medidas de proteção devem ser adotadas a partir lhadores, antes do início das atividades e de forma continuada, de-
do resultado da avaliação, previstas no PPRA, observando o dispos- vendo ser ministrada:
to no item 32.2.2. a) sempre que ocorra uma mudança das condições de exposi-
32.2.4.1.1 Em caso de exposição acidental ou incidental, medi- ção dos trabalhadores aos agentes biológicos;
das de proteção devem ser adotadas imediatamente, mesmo que b) durante a jornada de trabalho;
não previstas no PPRA. c) por profissionais de saúde familiarizados com os riscos ine-
32.2.4.2 A manipulação em ambiente laboratorial deve seguir rentes aos agentes biológicos.
as orientações contidas na publicação do Ministério da Saúde - Di-
retrizes Gerais para o Trabalho em Contenção com Material Biológi- 32.2.4.9.1 A capacitação deve ser adaptada à evolução do co-
co, correspondentes aos respectivos microrganismos. nhecimento e à identificação de novos riscos biológicos e deve in-
32.2.4.3 Todo local onde exista possibilidade de exposição ao cluir:
agente biológico deve ter lavatório exclusivo para higiene das mãos a) os dados disponíveis sobre riscos potenciais para a saúde;
provido de água corrente, sabonete líquido, toalha descartável e b) medidas de controle que minimizem a exposição aos agen-
lixeira provida de sistema de abertura sem contato manual. tes;
32.2.4.3.1 Os quartos ou enfermarias destinados ao isolamento c) normas e procedimentos de higiene;
de pacientes portadores de doenças infectocontagiosas devem con- d) utilização de equipamentos de proteção coletiva, individual
ter lavatório em seu interior. e vestimentas de trabalho;
32.2.4.3.2 O uso de luvas não substitui o processo de lavagem e) medidas para a prevenção de acidentes e incidentes;
das mãos, o que deve ocorrer, no mínimo, antes e depois do uso f) medidas a serem adotadas pelos trabalhadores no caso de
das mesmas. ocorrência de incidentes e acidentes.
32.2.4.4 Os trabalhadores com feridas ou lesões nos membros
superiores só podem iniciar suas atividades após avaliação médica 32.2.4.9.2 O empregador deve comprovar para a inspeção do
obrigatória com emissão de documento de liberação para o traba- trabalho a realização da capacitação através de documentos que
lho. informem a data, o horário, a carga horária, o conteúdo ministrado,
32.2.4.5 O empregador deve vedar: o nome e a formação ou capacitação profissional do instrutor e dos
a) a utilização de pias de trabalho para fins diversos dos pre- trabalhadores envolvidos.
vistos; 32.2.4.10 Em todo local onde exista a possibilidade de exposi-
b) o ato de fumar, o uso de adornos e o manuseio de lentes de ção a agentes biológicos, devem ser fornecidas aos trabalhadores
contato nos postos de trabalho; instruções escritas, em linguagem acessível, das rotinas realizadas
c) o consumo de alimentos e bebidas nos postos de trabalho; no local de trabalho e medidas de prevenção de acidentes e de do-
d) a guarda de alimentos em locais não destinados para este enças relacionadas ao trabalho.
fim; 32.2.4.10.1 As instruções devem ser entregues ao trabalhador,
e) o uso de calçados abertos. mediante recibo, devendo este ficar à disposição da inspeção do
32.2.4.6 Todos trabalhadores com possibilidade de exposição a trabalho.
agentes biológicos devem utilizar vestimenta de trabalho adequada 32.2.4.11 Os trabalhadores devem comunicar imediatamente
e em condições de conforto. todo acidente ou incidente, com possível exposição a agentes bio-
lógicos, ao responsável pelo local de trabalho e, quando houver, ao
32.2.4.6.1 A vestimenta deve ser fornecida sem ônus para o serviço de segurança e saúde do trabalho e à CIPA.
empregado. 32.2.4.12 O empregador deve informar, imediatamente, aos
32.2.4.6.2 Os trabalhadores não devem deixar o local de traba- trabalhadores e aos seus representantes qualquer acidente ou in-
lho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas cidente grave que possa provocar a disseminação de um agente
utilizadas em suas atividades laborais. biológico suscetível de causar doenças graves nos seres humanos,
32.2.4.6.3 O empregador deve providenciar locais apropriados as suas causas e as medidas adotadas ou a serem adotadas para
para fornecimento de vestimentas limpas e para deposição das usa- corrigir a situação.
das. 32.2.4.13 Os colchões, colchonetes e demais almofadados de-
32.2.4.6.4 A higienização das vestimentas utilizadas nos cen- vem ser revestidos de material lavável e impermeável, permitindo
tros cirúrgicos e obstétricos, serviços de tratamento intensivo, uni- desinfecção e fácil higienização.
dades de pacientes com doenças infectocontagiosa e quando hou- 32.2.4.13.1 O revestimento não pode apresentar furos, rasgos,
ver contato direto da vestimenta com material orgânico, deve ser sulcos ou reentrâncias.
de responsabilidade do empregador. 32.2.4.14 Os trabalhadores que utilizarem objetos perfuro cor-
tantes devem ser os responsáveis pelo seu descarte.
32.2.4.15 São vedados o reencape e a desconexão manual de
agulhas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.2.4.16 O empregador deve elaborar e implementar Plano de 32.3.4.1.1 Os produtos químicos, inclusive intermediários e re-
Prevenção de Riscos de Acidentes com Materiais Perfuro cortantes, síduos que impliquem riscos à segurança e saúde do trabalhador,
conforme as diretrizes estabelecidas no Anexo III desta Norma Re- devem ter uma ficha descritiva contendo, no mínimo, as seguintes
gulamentadora. informações:
32.2.4.16 Deve ser assegurado o uso de materiais perfuro cor- a) as características e as formas de utilização do produto;
tantes com dispositivo de segurança, conforme cronograma a ser es- b) os riscos à segurança e saúde do trabalhador e ao meio am-
tabelecido pela CTPN. (O cronograma será conformeart. 1º da Por- biente, considerando as formas de utilização;
taria MTE 939/2008)(Alteração dada pelaPortaria MTE 1.748/2011) c) as medidas de proteção coletiva, individual e controle
32.2.4.16.1 As empresas que produzem ou comercializam ma- médico da saúde dos trabalhadores;
teriais perfuro cortantes devem disponibilizar, para os trabalhado- d) condições e local de estocagem;
res dos serviços de saúde, capacitação sobre a correta utilização do e) procedimentos em situações de emergência.
dispositivo de segurança.
32.2.4.16.1 As empresas que produzem ou comercializam ma- 32.3.4.1.2 Uma cópia da ficha deve ser mantida nos locais onde
teriais perfuro cortantes devem disponibilizar, para os trabalhado- o produto é utilizado.
res dos serviços de saúde, capacitação sobre a correta utilização 32.3.5 Do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
do dispositivo de segurança. (Redação dada pelaPortaria MTE - PCMSO
939/2008).(Alteração dada pelaPortaria MTE 1.748/2011) 32.3.5.1 Na elaboração e implementação do PCMSO, devem
32.2.4.16.2 O empregador deve assegurar, aos trabalha- ser consideradas as informações contidas nas fichas descritivas
dores dos serviços de saúde, a capacitação prevista no subitem citadas no subitem 32.3.4.1.1.
32.2.4.16.1.” 32.3.6 Cabe ao empregador:
32.2.4.16.2 O empregador deve assegurar, aos trabalha- 32.3.6.1 Capacitar, inicialmente e de forma continuada, os
dores dos serviços de saúde, a capacitação prevista no subitem trabalhadores envolvidos para a utilização segura de produtos
32.2.4.16.1. (Redação dada pelaPortaria MTE 939/2008).(Alteração químicos.
dada pelaPortaria MTE 1.748/2011) 32.3.6.1.1 A capacitação deve conter, no mínimo:
32.2.4.17 Da Vacinação dos Trabalhadores a) a apresentação das fichas descritivas citadas no subitem
32.2.4.17.1 A todo trabalhador dos serviços de saúde deve ser 32.3.4.1.1, com explicação das informações nelas contidas;
fornecido, gratuitamente, programa de imunização ativa contra té- b) os procedimentos de segurança relativos à utilização;
tano, difteria, hepatite B e os estabelecidos no PCMSO. c) os procedimentos a serem adotados em caso de incidentes,
32.2.4.17.2 Sempre que houver vacinas eficazes contra outros acidentes e em situações de emergência.
agentes biológicos a que os trabalhadores estão, ou poderão estar, 32.3.7 Das Medidas de Proteção
expostos, o empregador deve fornecê-las gratuitamente. 32.3.7.1 O empregador deve destinar local apropriado para
32.2.4.17.3 O empregador deve fazer o controle da eficácia da a manipulação ou fracionamento de produtos químicos que
vacinação sempre que for recomendado pelo Ministério da Saúde e impliquem riscos à segurança e saúde do trabalhador.
seus órgãos, e providenciar, se necessário, seu reforço. 32.3.7.1.1 É vedada a realização destes procedimentos em
32.2.4.17.4 A vacinação deve obedecer às recomendações do qualquer local que não o apropriado para este fim.
Ministério da Saúde. 32.3.7.1.2 Excetuam-se a preparação e associação de
32.2.4.17.5 O empregador deve assegurar que os trabalhado- medicamentos para administração imediata aos pacientes.
res sejam informados das vantagens e dos efeitos colaterais, assim 32.3.7.1.3 O local deve dispor, no mínimo, de:
como dos riscos a que estarão expostos por falta ou recusa de vaci- a) sinalização gráfica de fácil visualização para identificação do
nação, devendo, nestes casos, guardar documento comprobatório ambiente, respeitando o disposto na NR-26;
e mantê-lo disponível à inspeção do trabalho. b) equipamentos que garantam a concentração dos produtos
químicos no ar abaixo dos limites de tolerância estabelecidos nas
32.2.4.17.6 A vacinação deve ser registrada no prontuário clíni-
NR- 09 e NR-15 e observando-se os níveis de ação previstos na NR-
co individual do trabalhador, previsto na NR-07.
09;
32.2.4.17.7 Deve ser fornecido ao trabalhador comprovante
c) equipamentos que garantam a exaustão dos produtos
das vacinas recebidas.
químicos de forma a não potencializar a exposição de qualquer
32.3 Dos Riscos Químicos
trabalhador, envolvido ou não, no processo de trabalho, não
32.3.1 Deve ser mantida a rotulagem do fabricante na embala-
devendo ser utilizado o equipamento tipo coifa;
gem original dos produtos químicos utilizados em serviços de saú-
d) chuveiro e lava-olhos, os quais deverão ser acionados e
de.
higienizados semanalmente;
32.3.2 Todo recipiente contendo produto químico manipulado
e) equipamentos de proteção individual, adequados aos riscos,
ou fracionado deve ser identificado, de forma legível, por etiqueta à disposição dos trabalhadores;
com o nome do produto, composição química, sua concentração, f) sistema adequado de descarte.
data de envase e de validade, e nome do responsável pela manipu-
lação ou fracionamento. 32.3.7.2 A manipulação ou fracionamento dos produtos
32.3.3 É vedado o procedimento de reutilização das embala- químicos deve ser feito por trabalhador qualificado.
gens de produtos químicos. 32.3.7.3 O transporte de produtos químicos deve ser realizado
32.3.4 Do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA considerando os riscos à segurança e saúde do trabalhador e ao
32.3.4.1 No PPRA dos serviços de saúde deve constar inventá- meio ambiente.
rio de todos os produtos químicos, inclusive intermediários e resí- 32.3.7.4 Todos os estabelecimentos que realizam, ou que
duos, com indicação daqueles que impliquem em riscos à seguran- pretendem realizar, esterilização, reesterilização ou reprocessamento
ça e saúde do trabalhador. por gás óxido de etileno, deverão atender o disposto na Portaria
Interministerial nº 482/MS/MTE de 16/04/1999.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.3.7.5 Nos locais onde se utilizam e armazenam produtos 32.3.9.3.2 A manutenção consiste, no mínimo, na verificação
inflamáveis, o sistema de prevenção de incêndio deve prever medi- dos cilindros de gases, conectores, conexões, mangueiras, balões,
das especiais de segurança e procedimentos de emergência. traqueias, válvulas, aparelhos de anestesia e máscaras faciais para
32.3.7.6 As áreas de armazenamento de produtos químicos de- ventilação pulmonar.
vem ser ventiladas e sinalizadas. 32.3.9.3.2.1 O programa e os relatórios de manutenção devem
32.3.7.6.1 Devem ser previstas áreas de armazenamento pró- constar de documento próprio que deve ficar à disposição dos tra-
prias para produtos químicos incompatíveis. balhadores diretamente envolvidos e da fiscalização do trabalho.
32.3.8 Dos Gases Medicinais 32.3.9.3.3 Os locais onde são utilizados gases ou vapores anes-
32.3.8.1 Na movimentação, transporte, armazenamento, ma- tésicos devem ter sistemas de ventilação e exaustão, com o objetivo
nuseio e utilização dos gases, bem como na manutenção dos equi- de manter a concentração ambiental sob controle, conforme pre-
pamentos, devem ser observadas as recomendações do fabricante, visto na legislação vigente.
desde que compatíveis com as disposições da legislação vigente. 32.3.9.3.4 Toda trabalhadora gestante só será liberada para o
32.3.8.1.1 As recomendações do fabricante, em português, de- trabalho em áreas com possibilidade de exposição a gases ou vapo-
vem ser mantidas no local de trabalho à disposição dos trabalhado- res anestésicos após autorização por escrito do médico responsável
res e da inspeção do trabalho. pelo PCMSO, considerando as informações contidas no PPRA.
32.3.8.2 É vedado: 32.3.9.4 Dos Quimioterápicos Antineoplásicos 3
a) a utilização de equipamentos em que se constate vazamento 2.3.9.4.1 Os quimioterápicos antineoplásicos somente devem
de gás; ser preparados em área exclusiva e com acesso restrito aos profis-
b) submeter equipamentos a pressões superiores àquelas para sionais diretamente envolvidos. A área deve dispor no mínimo de:
as quais foram projetados; a) vestiário de barreira com dupla câmara;
c) a utilização de cilindros que não tenham a identificação do b) sala de preparo dos quimioterápicos;
gás e a válvula de segurança; c) local destinado para as atividades administrativas;
d) a movimentação dos cilindros sem a utilização dos equipa- d) local de armazenamento exclusivo para estocagem.
mentos de proteção individual adequados; 32.3.9.4.2 O vestiário deve dispor de:
e) a submissão dos cilindros a temperaturas extremas; a) pia e material para lavar e secar as mãos;
f) a utilização do oxigênio e do ar comprimido para fins diversos b) lava olhos, o qual pode ser substituído por uma ducha tipo
aos que se destinam; higiênica;
g) o contato de óleos, graxas, hidrocarbonetos ou materiais or- c) chuveiro de emergência;
gânicos similares com gases oxidantes; d) equipamentos de proteção individual e vestimentas para uso
h) a utilização de cilindros de oxigênio sem a válvula de reten- e reposição;
ção ou o dispositivo apropriado para impedir o fluxo reverso; e) armários para guarda de pertences;
i) a transferência de gases de um cilindro para outro, indepen- f) recipientes para descarte de vestimentas usadas.
dentemente da capacidade dos cilindros;
j) o transporte de cilindros soltos, em posição horizontal e sem 32.3.9.4.3 Devem ser elaborados manuais de procedimentos
capacetes. relativos a limpeza, descontaminação e desinfecção de todas as
áreas, incluindo superfícies, instalações, equipamentos, mobiliário,
32.3.8.3 Os cilindros contendo gases inflamáveis, tais como hi- vestimentas, EPI e materiais.
drogênio e acetileno, devem ser armazenados a uma distância mí- 32.3.9.4.3.1 Os manuais devem estar disponíveis a todos os tra-
nima de oito metros daqueles contendo gases oxidantes, tais como balhadores e à fiscalização do trabalho.
oxigênio e óxido nitroso, ou através de barreiras vedadas e resisten- 32.3.9.4.4 Todos os profissionais diretamente envolvidos de-
tes ao fogo. vem lavar adequadamente as mãos, antes e após a retirada das
32.3.8.4 Para o sistema centralizado de gases medicinais de- luvas.
vem ser fixadas placas, em local visível, com caracteres indeléveis e 32.3.9.4.5 A sala de preparo deve ser dotada de Cabine de Se-
legíveis, com as seguintes informações: gurança Biológica Classe II B2 e na sua instalação devem ser previs-
a) nominação das pessoas autorizadas a terem acesso ao local tos, no mínimo:
e treinadas na operação e manutenção do sistema; a) suprimento de ar necessário ao seu funcionamento;
b) procedimentos a serem adotados em caso de emergência; b) local e posicionamento, de forma a evitar a formação de tur-
c) número de telefone para uso em caso de emergência; bulência aérea.
d) sinalização alusiva a perigo.
32.3.9 Dos Medicamentos e das Drogas de Risco 32.3.9.4.5.1 A cabine deve:
a) estar em funcionamento no mínimo por 30 minutos antes
32.3.9.1 Para efeito desta NR, consideram-se medicamentos e do início do trabalho de manipulação e permanecer ligada por 30
drogas de risco aquelas que possam causar genotoxicidade, carci- minutos após a conclusão do trabalho;
nogenicidade, teratogenicidade e toxicidade séria e seletiva sobre b) ser submetida periodicamente a manutenções e trocas de
órgãos e sistemas. filtros absolutos e pré-filtro de acordo com um programa escrito,
32.3.9.2 Deve constar no PPRA a descrição dos riscos inerentes que obedeça às especificações do fabricante, e que deve estar à
às atividades de recebimento, armazenamento, preparo, distribui- disposição da inspeção do trabalho;
ção, administração dos medicamentos e das drogas de risco. c) possuir relatório das manutenções, que deve ser mantido a
32.3.9.3 Dos Gases e Vapores Anestésicos disposição da fiscalização do trabalho;
32.3.9.3.1 Todos os equipamentos utilizados para a adminis- d) ter etiquetas afixadas em locais visíveis com as datas da últi-
tração dos gases ou vapores anestésicos devem ser submetidos à ma e da próxima manutenção;
manutenção corretiva e preventiva, dando-se especial atenção aos e) ser submetida a processo de limpeza, descontaminação e
pontos de vazamentos para o ambiente de trabalho, buscando sua desinfecção, nas paredes laterais internas e superfície de trabalho,
eliminação. antes do início das atividades;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

f) ter a sua superfície de trabalho submetida aos procedimen- b) os efeitos terapêuticos e adversos destes medicamentos e o
tos de limpeza ao final das atividades e no caso de ocorrência de possível risco à saúde, a longo e curto prazo;
acidentes com derramamentos e respingos. c) as normas e os procedimentos padronizados relativos ao ma-
nuseio, preparo, transporte, administração, distribuição e descarte
32.3.9.4.6 Com relação aos quimioterápicos antineoplásicos, dos quimioterápicos antineoplásicos;
compete ao empregador: d) as normas e os procedimentos a serem adotadas no caso de
a) proibir fumar, comer ou beber, bem como portar adornos ocorrência de acidentes.
ou maquiar-se;
b) afastar das atividades as trabalhadoras gestantes e nutrizes; 32.3.10.1.1 A capacitação deve ser ministrada por profissionais
c) proibir que os trabalhadores expostos realizem atividades de saúde familiarizados com os riscos inerentes aos quimioterápi-
com possibilidade de exposição aos agentes ionizantes; cos antineoplásicos.
d) fornecer aos trabalhadores avental confeccionado de mate- 32.4 Das Radiações Ionizantes(voltar)
rial impermeável, com frente resistente e fechado nas costas, man- 32.4.1 O atendimento das exigências desta NR, com relação às
ga comprida e punho justo, quando do seu preparo e administração; radiações ionizantes, não desobriga o empregador de observar as
e) fornecer aos trabalhadores dispositivos de segurança que disposições estabelecidas pelas normas específicas da Comissão
minimizem a geração de aerossóis e a ocorrência de acidentes du- Nacional de Energia Nuclear - CNEN e da Agência Nacional de Vigi-
rante a manipulação e administração; lância Sanitária - ANVISA, do Ministério da Saúde.
f) fornecer aos trabalhadores dispositivos de segurança para a 32.4.2 É obrigatório manter no local de trabalho e à disposi-
prevenção de acidentes durante o transporte. ção da inspeção do trabalho o Plano de Proteção Radiológica - PPR,
aprovado pela CNEN, e para os serviços de radiodiagnóstico aprova-
32.3.9.4.7 Além do cumprimento do disposto na legislação vi-
do pela Vigilância Sanitária.
gente, os Equipamentos de Proteção Individual - EPI devem atender
32.4.2.1 O Plano de Proteção Radiológica deve:
as seguintes exigências:
a) estar dentro do prazo de vigência;
a) ser avaliados diariamente quanto ao estado de conservação
b) identificar o profissional responsável e seu substituto even-
e segurança;
tual como membros efetivos da equipe de trabalho do serviço;
b) estar armazenados em locais de fácil acesso e em quantida-
c) fazer parte do PPRA do estabelecimento;
de suficiente para imediata substituição, segundo as exigências do
d) ser considerado na elaboração e implementação do PCMSO;
procedimento ou em caso de contaminação ou dano.
e) ser apresentado na CIPA, quando existente na empresa, sen-
32.3.9.4.8 Com relação aos quimioterápicos antineoplásicos é do sua cópia anexada às atas desta comissão.
vedado:
a) iniciar qualquer atividade na falta de EPI; 32.4.3 O trabalhador que realize atividades em áreas onde exis-
b) dar continuidade às atividades de manipulação quando tam fontes de radiações ionizantes deve:
ocorrer qualquer interrupção do funcionamento da cabine de se- a) permanecer nestas áreas o menor tempo possível para a re-
gurança biológica. alização do procedimento;
b) ter conhecimento dos riscos radiológicos associados ao seu
32.3.9.4.9 Dos Procedimentos Operacionais em Caso de Ocor- trabalho;
rência de Acidentes Ambientais ou Pessoais. c) estar capacitado inicialmente e de forma continuada em pro-
32.3.9.4.9.1 Com relação aos quimioterápicos, entende-se por teção radiológica;
acidente: d) usar os EPI adequados para a minimização dos riscos;
a) ambiental: contaminação do ambiente devido à saída do e) estar sob monitoração individual de dose de radiação ioni-
medicamento do envase no qual esteja acondicionado, seja por zante, nos casos em que a exposição seja ocupacional.
derramamento ou por aerodispersóides sólidos ou líquidos;
b) pessoal: contaminação gerada por contato ou inalação dos 32.4.4 Toda trabalhadora com gravidez confirmada deve ser
medicamentos da terapia quimioterápica antineoplásica em qual- afastada das atividades com radiações ionizantes, devendo ser re-
quer das etapas do processo. manejada para atividade compatível com seu nível de formação.
32.4.5 Toda instalação radiativa deve dispor de monitoração
32.3.9.4.9.2 As normas e os procedimentos, a serem adotados individual e de áreas.
em caso de ocorrência de acidentes ambientais ou pessoais, devem 32.4.5.1 Os dosímetros individuais devem ser obtidos, calibra-
constar em manual disponível e de fácil acesso aos trabalhadores e dos e avaliados exclusivamente em laboratórios de monitoração in-
à fiscalização do trabalho. dividual acreditados pela CNEN.
32.3.9.4.9.3 Nas áreas de preparação, armazenamento e admi- 32.4.5.2 A monitoração individual externa, de corpo inteiro ou
nistração e para o transporte deve ser mantido um “Kit” de derra- de extremidades, deve ser feita através de dosimetria com perio-
mamento identificado e disponível, que deve conter, no mínimo: dicidade mensal e levando-se em conta a natureza e a intensidade
luvas de procedimento, avental impermeável, compressas ab- das exposições normais e potenciais previstas.
sorventes, proteção respiratória, proteção ocular, sabão, recipiente 32.4.5.3 Na ocorrência ou suspeita de exposição acidental, os
identificado para recolhimento de resíduos e descrição do procedi- dosímetros devem ser encaminhados para leitura no prazo máximo
mento. de 24 horas.
32.4.5.4 Após ocorrência ou suspeita de exposição acidental a
32.3.10 Da Capacitação fontes seladas, devem ser adotados procedimentos adicionais de
32.3.10.1 Os trabalhadores envolvidos devem receber capaci- monitoração individual, avaliação clínica e a realização de exames
tação inicial e continuada que contenha, no mínimo: complementares, incluindo a dosimetria cito genética, a critério
a) as principais vias de exposição ocupacional; médico.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.4.5.5 Após ocorrência ou suspeita de acidentes com fontes c) medições ambientais de radiações ionizantes específicas
não seladas, sujeitas a exposição externa ou com contaminação para práticas de trabalho.
interna, devem ser adotados procedimentos adicionais de monito-
ração individual, avaliação clínica e a realização de exames comple- 32.4.9.3 O serviço de proteção radiológica deve estar direta-
mentares, incluindo a dosimetria cito genética, a análise in vivo e in mente subordinado ao Titular da instalação radiativa.
vitro, a critério médico. 32.4.9.4 Quando o estabelecimento possuir mais de um ser-
32.4.5.6 Deve ser elaborado e implementado um programa de viço, deve ser indicado um responsável técnico para promover a
monitoração periódica de áreas, constante do Plano de Proteção integração das atividades de proteção radiológica destes serviços.
Radiológica, para todas as áreas da instalação radiativa. 32.4.10 O médico coordenador do PCMSO ou o encarregado
32.4.6 Cabe ao empregador: pelos exames médicos, previstos na NR-07, deve estar familiarizado
a) implementar medidas de proteção coletiva relacionadas aos com os efeitos e a terapêutica associados à exposição decorrente
riscos radiológicos; das atividades de rotina ou de acidentes com radiações ionizantes.
b) manter profissional habilitado, responsável pela proteção 32.4.11 As áreas da instalação radiativa devem ser classificadas
radiológica em cada área específica, com vinculação formal com o e ter controle de acesso definido pelo responsável pela proteção
estabelecimento; radiológica.
c) promover capacitação em proteção radiológica, inicialmente 32.4.12 As áreas da instalação radiativa devem estar devida-
e de forma continuada, para os trabalhadores ocupacionalmente e mente sinalizadas em conformidade com a legislação em vigor, em
para-ocupacionalmente expostos às radiações ionizantes; especial quanto aos seguintes aspectos:
d) manter no registro individual do trabalhador as capacitações a) utilização do símbolo internacional de presença de radiação
ministradas; nos acessos controlados;
e) fornecer ao trabalhador, por escrito e mediante recibo, ins- b) as fontes presentes nestas áreas e seus rejeitos devem ter
truções relativas aos riscos radiológicos e procedimentos de prote- as suas embalagens, recipientes ou blindagens identificadas em re-
ção radiológica adotados na instalação radiativa; lação ao tipo de elemento radioativo, atividade e tipo de emissão;
f) dar ciência dos resultados das doses referentes às exposições c) valores das taxas de dose e datas de medição em pontos de
de rotina, acidentais e de emergências, por escrito e mediante re- referência significativos, próximos às fontes de radiação, nos locais
cibo, a cada trabalhador e ao médico coordenador do PCMSO ou de permanência e de trânsito dos trabalhadores, em conformidade
médico encarregado dos exames médicos previstos na NR- 07.
com o disposto no PPR;
d) identificação de vias de circulação, entrada e saída para con-
32.4.7 Cada trabalhador da instalação radiativa deve ter um
dições normais de trabalho e para situações de emergência;
registro individual atualizado, o qual deve ser conservado por 30
e) localização dos equipamentos de segurança;
(trinta) anos após o término de sua ocupação, contendo as seguin-
tes informações: f) procedimentos a serem obedecidos em situações de aciden-
a) identificação (Nome, DN, Registro, CPF), endereço e nível de tes ou de emergência;
instrução; g) sistemas de alarme.
b) datas de admissão e de saída do emprego;
c) nome e endereço do responsável pela proteção radiológica 32.4.13 Do Serviço de Medicina Nuclear
de cada período trabalhado; 32.4.13.1 As áreas supervisionadas e controladas de Serviço
d) funções associadas às fontes de radiação com as respectivas de Medicina Nuclear devem ter pisos e paredes impermeáveis que
áreas de trabalho, os riscos radiológicos a que está ou esteve expos- permitam sua descontaminação.
to, data de início e término da atividade com radiação, horários e 32.4.13.2 A sala de manipulação e armazenamento de fontes
períodos de ocupação; radioativas em uso deve:
e) tipos de dosímetros individuais utilizados; a) ser revestida com material impermeável que possibilite sua
f) registro de doses mensais e anuais (doze meses consecuti- descontaminação, devendo os pisos e paredes ser providos de can-
vos) recebidas e relatórios de investigação de doses; tos arredondados;
g) capacitações realizadas; b) possuir bancadas constituídas de material liso, de fácil des-
h) estimativas de incorporações; contaminação, recobertas com plástico e papel absorvente;
i) relatórios sobre exposições de emergência e de acidente; c) dispor de pia com cuba de, no mínimo, 40 cm de profun-
j) exposições ocupacionais anteriores a fonte de radiação. didade, e acionamento para abertura das torneiras sem controle
manual.
32.4.7.1 O registro individual dos trabalhadores deve ser man-
tido no local de trabalho e à disposição da inspeção do trabalho. 32.4.13.2.1 É obrigatória a instalação de sistemas exclusivos de
32.4.8 O prontuário clínico individual previsto pela NR-07 deve exaustão:
ser mantido atualizado e ser conservado por 30 (trinta) anos após o a) local, para manipulação de fontes não seladas voláteis;
término de sua ocupação. b) de área, para os serviços que realizem estudos de ventilação
32.4.9 Toda instalação radiativa deve possuir um serviço de pulmonar.
proteção radiológica.
32.4.13.2.2 Nos locais onde são manipulados e armazenados
32.4.9.1 O serviço de proteção radiológica deve estar localiza-
materiais radioativos ou rejeitos, não é permitido:
do no mesmo ambiente da instalação radiativa e serem garantidas
a) aplicar cosméticos, alimentar-se, beber, fumar e repousar;
as condições de trabalho compatíveis com as atividades desenvolvi-
b) guardar alimentos, bebidas e bens pessoais.
das, observando as normas da CNEN e da ANVISA.
32.4.9.2 O serviço de proteção radiológica deve possuir, de
acordo com o especificado no PPR, equipamentos para: 32.4.13.3 Os trabalhadores envolvidos na manipulação de ma-
a) monitoração individual dos trabalhadores e de área; teriais radioativos e marcação de fármacos devem usar os equipa-
b) proteção individual; mentos de proteção recomendados no PPRA e PPR.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.4.13.4 Ao término da jornada de trabalho, deve ser realiza- 32.4.15.2 A cabine de comando deve ser posicionada de forma
da a monitoração das superfícies de acordo com o PPR, utilizando- a:
se monitor de contaminação. a) permitir ao operador, na posição de disparo, eficaz comuni-
32.4.13.5 Sempre que for interrompida a atividade de trabalho, cação e observação visual do paciente;
deve ser feita a monitoração das extremidades e de corpo inteiro b) permitir que o operador visualize a entrada de qualquer pes-
dos trabalhadores que manipulam radiofármacos. soa durante o procedimento radiológico.
32.4.13.6 O local destinado ao decaimento de rejeitos radioa-
tivos deve: 32.4.15.3 A sala de raios X deve dispor de:
a) ser localizado em área de acesso controlado; a) sinalização visível na face exterior das portas de acesso, con-
b) ser sinalizado; tendo o símbolo internacional de radiação ionizante, acompanhado
c) possuir blindagem adequada; das inscrições: “raios X, entrada restrita” ou “raios X, entrada proi-
d) ser constituído de compartimentos que possibilitem a segre- bida a pessoas não autorizadas”.
gação dos rejeitos por grupo de radionuclídeos com meia-vida física b) sinalização luminosa vermelha acima da face externa da por-
próxima e por estado físico. ta de acesso, acompanhada do seguinte aviso de advertência:
“Quando a luz vermelha estiver acesa, a entrada é proibida”. A
32.4.13.7 O quarto destinado à internação de paciente, para sinalização luminosa deve ser acionada durante os procedimentos
administração de radiofármacos, deve possuir: radiológicos.
a) blindagem;
b) paredes e pisos com cantos arredondados, revestidos de ma- 32.4.15.3.1 As portas de acesso das salas com equipamentos
teriais impermeáveis, que permitam sua descontaminação; de raios X fixos devem ser mantidas fechadas durante as exposi-
c) sanitário privativo; ções.
d) biombo blindado junto ao leito; 32.4.15.3.2 Não é permitida a instalação de mais de um equi-
e) sinalização externa da presença de radiação ionizante; pamento de raios X por sala.
f) acesso controlado. 32.4.15.4 A câmara escura deve dispor de:
a) sistema de exaustão de ar localizado;
32.4.14 Dos Serviços de Radioterapia 32.4.14.1 Os Serviços de b) pia com torneira.
Radioterapia devem adotar, no mínimo, os seguintes dispositivos
de segurança: 32.4.15.5 Todo equipamento de radiodiagnóstico médico deve
a) salas de tratamento possuindo portas com sistema de inter- possuir diafragma e colimador em condições de funcionamento
travamento, que previnam o acesso indevido de pessoas durante a para tomada radiográfica.
operação do equipamento; 32.4.15.6 Os equipamentos móveis devem ter um cabo dispa-
b) indicadores luminosos de equipamento em operação, loca- rador com um comprimento mínimo de 2 metros.
lizados na sala de tratamento e em seu acesso externo, em posição 32.4.15.7 Deverão permanecer no local do procedimento ra-
visível. diológico somente o paciente e a equipe necessária.
32.4.15.8 Os equipamentos de fluoroscopia devem possuir:
32.4.14.2 Da Braquiterapia a) sistema de intensificação de imagem com monitor de vídeo
32.4.14.2.1 Na sala de preparo e armazenamento de fontes é acoplado;
vedada a prática de qualquer atividade não relacionada com a pre- b) cortina ou saiote plumbífero inferior e lateral para proteção
paração das fontes seladas. do operador contra radiação espalhada;
32.4.14.2.2 Os recipientes utilizados para o transporte de fon- c) sistema para garantir que o feixe de radiação seja completa-
tes devem estar identificados com o símbolo de presença de radia- mente restrito à área do receptor de imagem;
ção e a atividade do radionuclídeo a ser deslocado. d) sistema de alarme indicador de um determinado nível de
32.4.14.2.3 No deslocamento de fontes para utilização em bra- dose ou exposição.
quiterapia deve ser observado o princípio da otimização, de modo a
expor o menor número possível de pessoas. 32.4.15.8.1 Caso o equipamento de fluoroscopia não possua o
32.4.14.2.4 Na capacitação dos trabalhadores para manipula- sistema de alarme citado, o mesmo deve ser instalado no ambiente.
ção de fontes seladas utilizadas em braquiterapia devem ser empre- 32.4.16 Dos Serviços de Radiodiagnóstico Odontológico 3
gados simuladores de fontes. 2.4.16.1 Na radiologia intra-oral:
32.4.14.2.5 O preparo manual de fontes utilizadas em braqui- a) todos os trabalhadores devem manter-se afastados do cabe-
terapia de baixa taxa de dose deve ser realizado em sala específica çote e do paciente a uma distância mínima de 2 metros;
com acesso controlado, somente sendo permitida a presença de b) nenhum trabalhador deve segurar o filme durante a expo-
pessoas diretamente envolvidas com esta atividade. sição;
32.4.14.2.6 O manuseio de fontes de baixa taxa de dose deve c) caso seja necessária a presença de trabalhador para assistir
ser realizado exclusivamente com a utilização de instrumentos e ao paciente, esse deve utilizar os EPIs.
com a proteção de anteparo plumbífero.
32.4.14.2.7 Após cada aplicação, as vestimentas de pacientes 32.4.16.2 Para os procedimentos com equipamentos de radio-
e as roupas de cama devem ser monitoradas para verificação da grafia extraoral deverão ser seguidos os mesmos requisitos do ra-
presença de fontes seladas. diodiagnóstico médico.
32.4.15 Dos serviços de radiodiagnóstico médico 32.5 Dos Resíduos
32.4.15.1 É obrigatório manter no local de trabalho e à dispo- 32.5.1 Cabe ao empregador capacitar, inicialmente e de forma
sição da inspeção do trabalho o Alvará de Funcionamento vigente continuada, os trabalhadores nos seguintes assuntos:
concedido pela autoridade sanitária local e o Programa de Garantia a) segregação, acondicionamento e transporte dos resíduos;
da Qualidade. b) definições, classificação e potencial de risco dos resíduos;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

c) sistema de gerenciamento adotado internamente no esta- V -estar devidamente sinalizada e identificada.


belecimento;
d) formas de reduzir a geração de resíduos; 32.5.7 O transporte dos resíduos para a área de armazenamen-
e) conhecimento das responsabilidades e de tarefas; to externo deve atender aos seguintes requisitos:
f) reconhecimento dos símbolos de identificação das classes de a) ser feito através de carros constituídos de material rígido, la-
resíduos; vável, impermeável, provido de tampo articulado ao próprio corpo
g) conhecimento sobre a utilização dos veículos de coleta; do equipamento e cantos arredondados;
h) orientações quanto ao uso de Equipamentos de Proteção b) ser realizado em sentido único com roteiro definido em ho-
Individual - EPIs. rários não coincidentes com a distribuição de roupas, alimentos e
medicamentos, períodos de visita ou de maior fluxo de pessoas.
32.5.2 Os sacos plásticos utilizados no acondicionamento dos
resíduos de saúde devem atender ao disposto na NBR 9191 e ainda 32.5.7.1 Os recipientes de transporte com mais de 400 litros de
ser: capacidade devem possuir válvula de dreno no fundo.
a) preenchidos até 2/3 de sua capacidade; 32.5.8 Em todos os serviços de saúde deve existir local apro-
b) fechados de tal forma que não se permita o seu derrama- priado para o armazenamento externo dos resíduos, até que sejam
mento, mesmo que virados com a abertura para baixo; recolhidos pelo sistema de coleta externa.
c) retirados imediatamente do local de geração após o preen- 32.5.8.1 O local, além de atender às características descritas no
chimento e fechamento; item 32.5.6, deve ser dimensionado de forma a permitir a separa-
d) mantidos íntegros até o tratamento ou a disposição final do ção dos recipientes conforme o tipo de resíduo.
resíduo. 32.5.9 Os rejeitos radioativos devem ser tratados conforme dis-
posto na Resolução CNEN NE-6.05.
32.5.3 A segregação dos resíduos deve ser realizada no local 32.6 Das Condições de Conforto por Ocasião das Refeições
onde são gerados, devendo ser observado que: 32.6.1 Os refeitórios dos serviços de saúde devem atender ao
a) sejam utilizados recipientes que atendam as normas da disposto na NR-24.
ABNT, em número suficiente para o armazenamento; 32.6.2 Os estabelecimentos com até 300 trabalhadores devem
b) os recipientes estejam localizados próximos da fonte gera- ser dotados de locais para refeição, que atendam aos seguintes re-
dora; quisitos mínimos:
c) os recipientes sejam constituídos de material lavável, resis- a) localização fora da área do posto de trabalho;
tente à punctura, ruptura e vazamento, com tampa provida de sis- b) piso lavável;
tema de abertura sem contato manual, com cantos arredondados e c) limpeza, arejamento e boa iluminação;
que sejam resistentes ao tombamento; d) mesas e assentos dimensionados de acordo com o número
d) os recipientes sejam identificados e sinalizados segundo as de trabalhadores por intervalo de descanso e refeição;
normas da ABNT. e) lavatórios instalados nas proximidades ou no próprio local;
f) fornecimento de água potável;
32.5.3.1 Os recipientes existentes nas salas de cirurgia e de par- g) possuir equipamento apropriado e seguro para aquecimento
to não necessitam de tampa para vedação. de refeições.
32.5.3.2 Para os recipientes destinados a coleta de material
perfuro cortante, o limite máximo de enchimento deve estar locali-
32.6.3 Os lavatórios para higiene das mãos devem ser providos
zado 5 cm abaixo do bocal.
de papel toalha, sabonete líquido e lixeira com tampa, de aciona-
32.5.3.2.1 O recipiente para acondicionamento dos perfuro
mento por pedal.
cortantes deve ser mantido em suporte exclusivo e em altura que
32.7 Das Lavanderias
permita a visualização da abertura para descarte.
32.7.1 A lavanderia deve possuir duas áreas distintas, sendo
32.5.4 O transporte manual do recipiente de segregação deve
uma considerada suja e outra limpa, devendo ocorrer na primeira
ser realizado de forma que não exista o contato do mesmo com
o recebimento, classificação, pesagem e lavagem de roupas, e na
outras partes do corpo, sendo vedado o arrasto.
segunda a manipulação das roupas lavadas.
32.5.5 Sempre que o transporte do recipiente de segregação
possa comprometer a segurança e a saúde do trabalhador, devem 32.7.2 Independente do porte da lavanderia, as máquinas de
ser utilizados meios técnicos apropriados, de modo a preservar a lavar devem ser de porta dupla ou de barreira, em que a roupa utili-
sua saúde e integridade física. zada é inserida pela porta situada na área suja, por um operador e,
32.5.6 A sala de armazenamento temporário dos recipientes de após lavada, retirada na área limpa, por outro operador.
transporte deve atender, no mínimo, às seguintes características: 32.7.2.1 A comunicação entre as duas áreas somente é permi-
I -ser dotada de: tida por meio de visores ou intercomunicadores.
pisos e paredes laváveis; 32.7.3 A calandra deve ter:
b) ralo sifonado; a) termômetro para cada câmara de aquecimento, indicando a
c) ponto de água; temperatura das calhas ou do cilindro aquecido;
d) ponto de luz; b) termostato;
e) ventilação adequada; c) dispositivo de proteção que impeça a inserção de segmentos
f) abertura dimensionada de forma a permitir a entrada dos corporais dos trabalhadores junto aos cilindros ou partes móveis
recipientes de transporte. da máquina.

II - ser mantida limpa e com controle de vetores; 32.7.4 As máquinas de lavar, centrífugas e secadoras devem ser
III - conter somente os recipientes de coleta, armazenamento dotadas de dispositivos eletromecânicos que interrompam seu fun-
ou transporte; cionamento quando da abertura de seus compartimentos.
IV - ser utilizada apenas para os fins a que se destina; 32.8 Da Limpeza e Conservação

30
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.8.1 Os trabalhadores que realizam a limpeza dos serviços 32.9.6 Os sistemas de climatização devem ser submetidos a
de saúde devem ser capacitados, inicialmente e de forma continu- procedimentos de manutenção preventiva e corretiva para preser-
ada, quanto aos princípios de higiene pessoal, risco biológico, risco vação da integridade e eficiência de todos os seus componentes.
químico, sinalização, rotulagem, EPI, EPC e procedimentos em situ- 32.9.6.1 O atendimento do disposto no item 32.9.6 não deso-
ações de emergência. briga o cumprimento da Portaria GM/MS nº 3.523 de 28/08/98 e
32.8.1.1 A comprovação da capacitação deve ser mantida no demais dispositivos legais pertinentes.
local de trabalho, à disposição da inspeção do trabalho. 32.10 Das Disposições Gerais
32.8.2 Para as atividades de limpeza e conservação, cabe ao 32.10.1 Os serviços de saúde devem:
empregador, no mínimo: a) atender as condições de conforto relativas aos níveis de ruí-
a) providenciar carro funcional destinado à guarda e transporte do previstas na NB 95 da ABNT;
dos materiais e produtos indispensáveis à realização das atividades; b) atender as condições de iluminação conforme NB 57 da
b) providenciar materiais e utensílios de limpeza que preser- ABNT;
vem a integridade física do trabalhador; c) atender as condições de conforto térmico previstas na RDC
c) proibir a varrição seca nas áreas internas; 50/02 da ANVISA;
d) proibir o uso de adornos. d) manter os ambientes de trabalho em condições de limpeza
e conservação.
32.8.3 As empresas de limpeza e conservação que atuam nos
serviços de saúde devem cumprir, no mínimo, o disposto nos itens 32.10.2 No processo de elaboração e implementação do PPRA
32.8.1 e 32.8.2. e do PCMSO devem ser consideradas as atividades desenvolvidas
32.9 Da Manutenção de Máquinas e Equipamentos pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar - CCIH do estabe-
32.9.1 Os trabalhadores que realizam a manutenção, além do lecimento ou comissão equivalente.
treinamento específico para sua atividade, devem também ser sub- 32.10.3 Antes da utilização de qualquer equipamento, os ope-
metidos a capacitação inicial e de forma continuada, com o objetivo radores devem ser capacitados quanto ao modo de operação e seus
de mantê-los familiarizados com os princípios de: riscos.
a) higiene pessoal; 32.10.4 Os manuais do fabricante de todos os equipamentos e
b) riscos biológico (precauções universais), físico e químico; máquinas, impressos em língua portuguesa, devem estar disponí-
c) sinalização; veis aos trabalhadores envolvidos.
d) rotulagem preventiva; 32.10.5 É vedada a utilização de material médico-hospitalar em
e) tipos de EPC e EPI, acessibilidade e seu uso correto. desacordo com as recomendações de uso e especificações técnicas
descritas em seu manual ou em sua embalagem.
32.9.1.1 As empresas que prestam assistência técnica e manu- 32.10.6 Em todo serviço de saúde deve existir um programa
tenção nos serviços de saúde devem cumprir o disposto no item de controle de animais sinantrópicos, o qual deve ser comprovado
32.9.1. sempre que exigido pela inspeção do trabalho.
32.9.2 Todo equipamento deve ser submetido à prévia descon- 32.10.7 As cozinhas devem ser dotadas de sistemas de exaus-
taminação para realização de manutenção. tão e outros equipamentos que reduzam a dispersão de gorduras e
32.9.2.1 Na manutenção dos equipamentos, quando a descon- vapores, conforme estabelecido na NBR 14518.
tinuidade de uso acarrete risco à vida do paciente, devem ser ado- 32.10.8 Os postos de trabalho devem ser organizados de forma
tados procedimentos de segurança visando a preservação da saúde a evitar deslocamentos e esforços adicionais.
do trabalhador. 32.10.9 Em todos os postos de trabalho devem ser previstos
dispositivos seguros e com estabilidade, que permitam aos traba-
32.9.3 As máquinas, equipamentos e ferramentas, inclusive lhadores acessar locais altos sem esforço adicional.
aquelas utilizadas pelas equipes de manutenção, devem ser sub- 32.10.10 Nos procedimentos de movimentação e transporte de
metidos à inspeção prévia e às manutenções preventivas de acordo pacientes deve ser privilegiado o uso de dispositivos que minimi-
com as instruções dos fabricantes, com a norma técnica oficial e zem o esforço realizado pelos trabalhadores.
legislação vigentes. 32.10.11 O transporte de materiais que possa comprometer a
32.9.3.1 A inspeção e a manutenção devem ser registradas e segurança e a saúde do trabalhador deve ser efetuado com auxílio
estar disponíveis aos trabalhadores envolvidos e à fiscalização do de meios mecânicos ou eletromecânicos.
trabalho. 32.10.12 Os trabalhadores dos serviços de saúde devem ser:
32.9.3.2 As empresas que prestam assistência técnica e manu- a) capacitados para adotar mecânica corporal correta, na movi-
tenção nos serviços de saúde devem cumprir o disposto no item mentação de pacientes ou de materiais, de forma a preservar a sua
32.9.3. saúde e integridade física;
32.9.3.3 O empregador deve estabelecer um cronograma de b) orientados nas medidas a serem tomadas diante de pacien-
manutenção preventiva do sistema de abastecimento de gases e tes com distúrbios de comportamento.
das capelas, devendo manter um registro individual da mesma, as-
sinado pelo profissional que a realizou. 32.10.13 O ambiente onde são realizados procedimentos que
32.9.4 Os equipamentos e meios mecânicos utilizados para provoquem odores fétidos deve ser provido de sistema de exaustão
transporte devem ser submetidos periodicamente à manutenção, ou outro dispositivo que os minimizem.
de forma a conservar os sistemas de rodízio em perfeito estado de 32.10.14 É vedado aos trabalhadores pipetar com a boca.
funcionamento. 32.10.15 Todos os lavatórios e pias devem:
32.9.5 Os dispositivos de ajuste dos leitos devem ser submeti- a) possuir torneiras ou comandos que dispensem o contato das
dos à manutenção preventiva, assegurando a lubrificação perma- mãos quando do fechamento da água;
nente, de forma a garantir sua operação sem sobrecarga para os b) ser providos de sabão líquido e toalhas descartáveis para se-
trabalhadores. cagem das mãos.

31
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

32.10.16 As edificações dos serviços de saúde devem atender O art. 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o
ao disposto na RDC 50 de 21 de fevereiro de 2002 da ANVISA. atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por in-
32.11 Das Disposições Finais termédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso universal
32.11.1 A observância das disposições regulamentares cons- e igualitário às ações e aos serviços para promoção, proteção e re-
tantes dessa Norma Regulamentadora - NR, não desobriga as em- cuperação da saúde. A partir da atenção integral à saúde pode-se
presas do cumprimento de outras disposições que, com relação à intervir de forma satisfatória na implementação de um elenco de
matéria, sejam incluídas em códigos ou regulamentos sanitários direitos, aperfeiçoando as políticas de atenção a essa população.
dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, e outras oriundas de Uma estratégia de sucesso tem sido a utilização da Caderneta de
convenções e acordos coletivos de trabalho, ou constantes nas de- Saúde de Adolescente, masculina e feminina, que contém informa-
mais NR e legislação federal pertinente à matéria. ções a respeito do crescimento e desenvolvimento, da alimentação
32.11.2 Todos os atos normativos mencionados nesta NR, saudável, da prevenção de violências e promoção da cultura de paz,
quando substituídos ou atualizados por novos atos, terão a refe- da saúde bucal e da saúde sexual e saúde reprodutiva desse gru-
rência automaticamente atualizada em relação ao ato de origem. po populacional. Traz ainda método e espaço para o registro an-
32.11.3 Ficam criadas a Comissão Tripartite Permanente Nacio- tropométrico e dos estágios de maturação sexual, das intervenções
nal da NR-32, denominada CTPN da NR-32, e as Comissões Tripar- odontológicas e o calendário vacinal. Profissionais de saúde, educa-
tites Permanentes Regionais da NR-32, no âmbito das Unidades da dores, familiares e os próprios adolescentes encontram nesse ins-
Federação, denominadas CTPR da NR-32. trumento um facilitador para a abordagem dos temas de interesse
32.11.3.1 As dúvidas e dificuldades encontradas durante a im- das pessoas jovens e que são, ao mesmo tempo, importantes para
plantação e o desenvolvimento continuado desta NR deverão ser a promoção da saúde e do autocuidado. Os profissionais de saúde
encaminhadas à CTPN. devem usar a Caderneta como instrumento de apoio à consulta,
32.11.4 A responsabilidade é solidária entre contratantes e registrando os dados relevantes para o acompanhamento dos ado-
contratados quanto ao cumprimento desta NR. lescentes na Atenção Básica.
Entre as forças que podem participar da rede de apoio das
famílias, crianças e adolescentes tem fundamental importância a
CUIDADOS DE ENFERMAGEM A INDIVÍDUOS, FAMÍ- Rede de Atenção Primária em Saúde.
LIAS, GRUPOS SOCIAIS E COMUNIDADES, DURANTE Em situações de conflito no ambiente familiar, escolar e, até
TODO O PROCESSO VITAL, DESENVOLVENDO ATIVIDA- mesmo, comunitário (outros níveis de atenção à saúde, conselhos
DES DE PROMOÇÃO, PREVENÇÃO, RECUPERAÇÃO E tutelares, vara da infância e da adolescência etc.), a rede de atenção
REABILITAÇÃO básica quase sempre é a primeira porta de entrada para a busca
de uma compreensão, seja do comportamento, de um sintoma ou
Saúde da Criança e Adolescente de uma necessidade de orientação específica (anticoncepção, uso
A população adolescente e jovem vive uma condição social que de substância psicoativa, violência doméstica ou sexual etc.). Nem
é única: uma mesma geração, num mesmo momento social, econô- sempre é o(a) adolescente que procura a Unidade Básica de Saúde.
mico, político e cultural do seu país e do mundo. Ou seja, a modali- Com muita frequência, a família é a primeira a demandar atenção.
Em outras situações, são as escolas e os órgãos de proteção
dade de ser adolescente e jovem depende da idade, da geração, da
da criança e do adolescente, ou até mesmo agentes de saúde, que
moratória vital, da classe social e dos marcos institucionais e de gê-
encaminham a demanda. O primeiro desafio para a Atenção Básica
nero presentes em dado contexto histórico e cultural (MARGULIS;
ir além da demanda referenciada é o trabalho interno com a equi-
URRESTI, 1996; ABRAMO, 2005). Nesse sentido, a atenção integral
pe, conscientizando que o acolhimento de adolescentes e jovens é
à saúde dos adolescentes e jovens apresenta-se como um desafio,
tarefa de todos os profissionais: da recepção à dispensação de me-
por tratar-se de um grupo social em fase de grandes e importan-
dicamentos, do agente comunitário de saúde ao técnico de Enfer-
tes transformações psicobiológicas articuladas a um envolvimen-
magem, do dentista aos demais profissionais de saúde com forma-
to social e ao redimensionamento da sua identidade e dos novos
ção universitária. À gerência destes serviços, cabe o planejamento
papéis sociais que vão assumindo (AYRES; FRANÇA JÚNIOR, 1996). com a equipe e o acompanhamento das ações ofertadas, da gestão
Os universos plurais e múltiplos que representam adolescentes e do cuidado ofertado e da articulação da linha de cuidado interna
jovens intervêm diretamente no modo como eles traçam as suas e externa na Rede de Atenção à Saúde e na rede intersetorial de
trajetórias de vida. Essas trajetórias bem-sucedidas ou fracassadas assistência.
são mais que histórias de vida, são “reflexo das estruturas e dos Destaca-se que a assistência ao adolescente começa na assis-
processos sociais” que ocorrem de maneira imprevisível, vulnerável tência à criança e sua família. É no atendimento desta faixa etária
e incerta e que vão interferindo no cuidado com a vida e com a que podemos detectar e problematizar questões como: o estilo
suas demandas de saúde (LEÓN, 2005, p. 17). Tendo essas questões parental de cuidado, o monitoramento do desenvolvimento e do
no nosso horizonte, a ênfase dada às discussões produzidas nesse cuidado tanto no período escolar como no período complementar,
documento focará no grupo populacional denominado de Adoles- os serviços e órgãos de apoio de outros setores e as situações de es-
cências, que vive o ciclo etário entre os 10 a 19 anos. Portanto, as tresse e adversidades que podem comprometer o desenvolvimento
diferenças e as multiplicidades existentes nesta população devem etc.
ser orientação para a acolhida, o cuidado e a atenção integral aos Além do atendimento de todas as referidas demandas, o traba-
adolescentes que acessam a atenção básica na política pública de lho com as escolas e com a rede de assistência social é fundamental
saúde. para ampliar a procura direta do adolescente pelo serviço de Aten-
ção Básica.

32
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Parcerias em projetos de Educação e Saúde nas escolas, como psiquiatra norte-americano, estudioso dos mecanismos de produ-
proposto pelo Programa de Saúde na Escola do Ministério da Saúde ção e superação do estresse, passa a empregar o termo resiliência
(PSE/MS), qualificação das reuniões intersetoriais para acompanha- com o significado acima em suas investigações nos anos 70. Suas
mento de situações de maior vulnerabilidade e parcerias com pro- pesquisas partiram da observação de que as pessoas superam ad-
jetos de Secretarias de Cultura, Esporte e Lazer dos municípios são versidades semelhantes de forma muito diferente. Passou então a
fundamentais neste sentido. A oferta de grupos de encontro para tentar identificar quais seriam as forças internas que aqueles que
adolescentes e familiares que cuidam de adolescentes e jovens é superavam suas adversidades, sem prejuízos significativos para sua
uma boa estratégia que deve ser estimulada pelos profissionais de personalidade, tinham e que não eram identificadas nas pessoas
saúde e entrar no rol de ações ofertadas no planejamento à atenção que não conseguiam superar satisfatoriamente eventos semelhan-
a adolescentes e jovens. Além disso, a leitura de vulnerabilidade e tes.
resiliência, como proposto em capítulo específico deste documen- Identificou uma série de características na personalidade resi-
to, também deve ser uma prática constante, que propiciaria a iden- liente que são significativas:
tificação das situações que merecerão maior atenção e projetos te- • Criatividade, reconhecimento e desenvolvimento de seus
rapêuticos singulares e familiares para complementar a assistência próprios talentos.
prestada. • Um forte e flexível sentido de autoestima.
Promoção de saúde e prevenção de agravos É importante dar • Independência de pensamento e ação.
ao jovem a oportunidade dele fazer por ele mesmo. Desenvolver o • A habilidade de dar e receber nas relações com os outros, e
protagonismo juvenil engajando-o em projetos que ele mesmo crie, um bem estabelecido círculo de amigos pessoais, que inclua alguns
assuma e administre. Dar-lhe autonomia, apoio e aprovação. Usar amigos mais íntimos e que podem ser seus confidentes.
seu potencial de energia em atividades comunitárias que propiciem • Disciplina pessoal e um sentido de responsabilidade.
autoconhecimento e altruísmo. Devem-se criar oportunidades de • Receptividade a novas ideias
esporte, lazer e cultura. Usar os espaços físicos disponíveis, para • Disposição para sonhar e grande variedade de interesses.
que eles não sejam apenas expectadores, mas também atores. • Senso de humor alegre.
Isso pode ser feito dentro do plano de aula escolar ou apenas • Percepção de seus sentimentos e dos sentimentos dos outros
usando o espaço da escola, do clube e praças em horário extracurri- e capacidade de comunicá-los de forma adequada.
cular. Para incentivar os adolescentes e jovens a participar das ativi- • Compromisso com a vida e um contexto filosófico no qual as
dades de promoção de saúde, é interessante a organização de gin- experiências pessoais possam ser interpretadas com significados e
canas, competições e jogos cujos desafios principais sejam a ênfase esperança, até mesmo nos momentos mais desalentadores da vida.
na ecologia, alimentação natural, saúde, valores éticos e morais. Seria impossível esperar de uma pessoa todas estas características
Outra proposta seria a promoção de eventos festivos de acordo com de personalidade. Ninguém é perfeito e muito menos invulnerável.
a cultura local, desenvolvendo temas sugeridos pelo público-alvo, No entanto, uma composição dessas características é fundamen-
bem como a criação de oficinas terapêuticas, onde o adolescente tal para se perseverar na existência. Em alguma intensidade, essas
possa criar vídeos, jornais, arte por intermédio da informática, mo- características estão presentes em todos, não de forma inata, mas
delagem, escultura, música, dança, desenhos, dramatizações, en- podendo ser desenvolvidas em maior ou menor intensidade na in-
tre outras. Estar atento ao que eles hoje valorizam e apoiá-los em teração das pessoas umas com as outras. Esta interação inicia-se,
suas iniciativas. Ademais, é importante incentivar a construção de na maioria das vezes, no interior da família, prossegue na escola,
um projeto de vida próximo de seus ideais; orientar sobre a busca depois no trabalho, na comunidade etc. Ou seja, podem-se identi-
de oportunidades de emprego e promover o resgate da cidadania, ficar, também, elementos de resiliência nas instituições humanas.
onde o conceito de adolescer não seja entendido como aborrecer, E, se estivermos atentos na identificação destes elementos, iremos
mas respeitá-los e fazer que se respeitem. Em suma, trabalhar essas detectar padrões diferentes de resiliência nas famílias, nas institui-
questões na atenção à saúde dos adolescentes e jovens difere da ções, nas organizações e na comunidade. Mangham e colaborado-
assistência clínica individual e da simples informação ou repressão. res (1996) identificam como elementos chaves da resiliência fami-
O modelo a ser desenvolvido deve permitir uma discussão sobre liar, de equipes e de outros arranjos grupais:
as razões da adoção de um comportamento preventivo e o desen-
volvimento de habilidades que permitam a resistência às pressões • Estabilidade: entendida como resistência à ruptura interna e
externas, a expressão de sentimentos, as opiniões, as dúvidas, as senso de permanência.
inseguranças, os medos e os preconceitos. A proposta é reforçar as • Coesão: senso de afeto mútuo, companheirismo e segurança.
condições internas de cada sujeito para o enfrentamento e resolu- • Adaptabilidade: habilidade coletiva para adaptar-se às mu-
ção de problemas e dificuldades do dia a dia danças e continuar funcionando a despeito de condições adversas.
• Repertório de estratégias e atitudes para superar situações
Vulnerabilidade estressantes.
O conjunto de forças psicológicas e biológicas exigidas para que • Redes de suporte para estender as capacidades da família ou
uma pessoa, ou um grupo de pessoas, supere com sucesso seus dos grupos por meio de outros familiares, amigos, vizinhos, compa-
percalços, situações adversas ou situações estressantes, que mo- nheiros de trabalho, outros grupos etc.
dificam muito a vida das pessoas, tem sido chamado de resiliência.
Esta palavra foi emprestada da Física para a Psicologia em meados Durante o processo de atendimento, a equipe pode ir cons-
dos anos 70. Na década de 90, passa a integrar o discurso da Saú- truindo com o(a) adolescente uma leitura de sua resiliência e de
de Coletiva e da Assistência Social. Na Física e na Engenharia de sua vulnerabilidade, que poderá propiciar estratégias de cuidado
materiais, significa uma propriedade da matéria pela qual a ener- singularizadas. Daí a importância de se conhecer as demais políticas
gia armazenada em um corpo deformado por um impacto seja de- desenvolvidas para adolescentes e jovens pela Educação, Assistên-
volvida quando cessa a tensão causadora, possibilitando ao corpo cia Social, Cultura, Esportes, Conselho de Direitos etc. 42 Proteger e
readquirir sua forma inicial sem desestruturar-se. Frederick Flach, cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica .

33
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Crescimento e Desenvolvimento puberdade, a velocidade de crescimento ponderal acompanha a do


A adolescência é marcada por um complexo processo de cres- crescimento em altura, com a incorporação final de 50% do peso
cimento e desenvolvimento biopsicossocial. Embora já mencionado do adulto.
em outro capítulo deste documento, vale relembrar que, seguindo
a Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde considera Idade óssea
que a adolescência compreende a segunda década da vida (10 a 20 A idade óssea ou esquelética corresponde às alterações evo-
anos incompletos) e a juventude estende-se dos 15 aos 24 anos. lutivas da maturação óssea, que acompanham a idade cronológica
Já o Estatuto da Criança e do Adolescente considera adolescência no processo de crescimento, sendo considerada como um indica-
a faixa etária de 12 a 18 anos. Por outro lado, o Estatuto da Juven- dor da idade biológica. Ela é calculada por meio da comparação de
tude preconiza que os jovens estão entre 15 a 29 anos. Os grupos radiografias de punho, de mão e de joelho com padrões definidos
etários são explicados pelos diferentes parâmetros usados na sua de tamanhos e forma dos núcleos dessas estruturas. A idade óssea
concepção, como por exemplo, o crescimento e desenvolvimento, pode ser utilizada na predição da estatura final do adolescente, con-
as questões sociais e econômicas e aquelas relacionadas à inimpu- siderando a sua relação com a idade cronológica.
tabilidade penal. O importante é que essas faixas etárias estejam
representadas nos sistemas de informação para que cada setor pos- Composição e proporção corporal
sa ter dados confiáveis sobre esse grupo populacional. Todos os órgãos do corpo participam do processo de cresci-
mento da puberdade, exceção feita ao tecido linfoide e à gordura
Desenvolvimento físico subcutânea que apresentam um decréscimo absoluto ou relativo.
O termo puberdade deriva do latim pubertate e significa idade Há acúmulo de gordura desde os 8 anos até a puberdade, sendo
fértil; a palavra pubis (lat.) é traduzida como pelo, penugem. A pu- que a diminuição deste depósito de tecido adiposo coincide com o
berdade expressa o conjunto de transformações somáticas da ado- pico de velocidade do crescimento.
lescência, que, entre outras, englobam: Desenvolvimento muscular: Na puberdade, chama atenção a
• Aceleração (estirão) e desaceleração do crescimento ponde- hipertrofia e a hiperplasia de células musculares, mais evidentes
ral e estatural, que ocorrem em estreita ligação com as alterações nos meninos. Este fato justifica a maior força muscular no sexo
puberais. masculino. Medula óssea: Durante a puberdade, ocorre uma dimi-
• Modificação da composição e proporção corporal, como re- nuição da cavidade da medula óssea, mais acentuada nas meninas
sultado do crescimento esquelético, muscular e redistribuição do Este acontecimento explica um volume final maior da cavidade
tecido adiposo. medular para os meninos, que somado à estimulação da eritropoe-
• Desenvolvimento de todos os sistemas do organismo, com tina pela testosterona pode representar, para o sexo masculino, um
ênfase no circulatório e respiratório. número maior de células vermelhas, maior concentração de hemo-
• Maturação sexual com a emergência de caracteres sexuais se- globina e ferro sérico.
cundários, em uma sequência invariável, sistematizada por Tanner
(1962). Desenvolvimento C Sequência do crescimento
O crescimento estatural inicia-se pelos pés, seguindo uma
Crescimento ordem invariável que vai das extremidades para o tronco. Os di-
O crescimento estatural é um processo dinâmico de evolução âmetros biacromial e biilíaco também apresentam variações de
da altura de um indivíduo em função do tempo. Por isto, é somente crescimento durante a puberdade, sendo que o biacromial cresce
por intermédio de repetidas determinações da estatura, realizada com maior intensidade no sexo masculino. Nas meninas, observa-
em intervalos regulares (em média a cada seis meses), e inscritas -se também um alargamento da pelve. Os pelos axilares aparecem,
em gráficos padronizados, que se pode avaliar adequadamente o em média, dois anos após os pelos pubianos. O pelo facial, no sexo
crescimento. A velocidade do crescimento, assim obtida, constitui masculino, aparece ao mesmo tempo em que surge o pelo axilar.
um indicador importante de normalidade, que ajuda o profissional O crescimento de pelos pubianos pode corresponder, em algumas
de saúde a esclarecer o diagnóstico de qualquer transtorno. As ve- situações, às primeiras manifestações puberais. Durante a puber-
locidades de crescimento da criança e do adolescente normais têm dade, alterações morfológicas ocorrem na laringe; as cordas vocais
um padrão linear previsível. Durante a puberdade, o adolescente tornam-se espessas e mais longas e a voz mais grave. A este mo-
cresce um total de 10 a 30 cm (média de 20 cm). A média de velo- mento, mais marcante nos meninos do que nas meninas, chama-
cidade de crescimento máxima durante a puberdade é cerca de 10 mos de muda vocal. Na maioria dos indivíduos a mudança completa
cm/ano para o sexo masculino e 9 cm/ano para o sexo feminino. da voz se estabelece em um prazo de aproximadamente seis meses.
A velocidade máxima de crescimento em altura ocorre, em média, O crescimento dos pelos da face indica o final deste processo, quan-
entre 13 e 14 anos no sexo masculino e 11 e 12 anos no sexo femi- do a muda vocal deve estar completa. Adolescentes com uma alte-
nino. Atingida a velocidade máxima de crescimento, segue-se uma ração na voz, que persista por mais de 15 dias, a Equipe de Saúde da
gradual desaceleração até a parada de crescimento, com duração Família deve procurar o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
em torno de 3 a 4 anos. Após a menarca, as meninas crescem, no que dispõe de um profissional fonoaudiólogo para realizar uma in-
máximo, de 5 a 7 cm. As curvas de crescimento individual seguem terconsulta ou uma avaliação multidisciplinar entre os profissionais
um determinado percentil desenhado no gráfico de crescimento. É visando solucionar o problema em questão. É de suma importância
importante salientar que, tanto na infância quanto na adolescência, que o profissional de saúde saiba orientar os adolescentes quanto a
podem ocorrer variações no padrão de velocidade de crescimen- comportamentos nocivos a sua saúde, como o uso de tabaco.
to, ocasionando mudanças de percentil de crescimento, mas nem
sempre refletem uma condição patológica. De um modo geral, o Maturação sexual
adolescente termina o seu desenvolvimento físico com cerca de A eclosão puberal dá-se em tempo individual por mecanismos
20% da estatura final do adulto em um período de 18 a 36 meses. ainda não plenamente compreendidos, envolvendo o eixo hipotála-
A evolução do peso segue uma curva semelhante à da altura. Na mo-hipofisário-gonadal. Em fase inicial da puberdade, o córtex ce-

34
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

rebral transmite estímulos para receptores hipotalâmicos, que, por a elaboração de planos e projetos de saúde voltados às crianças,
meio de seus fatores liberadores, promovem na hipófise anterior a como a gestão interfederativa, a organização de ações e os servi-
secreção de gonadotrofinas para a corrente sanguínea. ços de saúde ofertados pelos diversos níveis e redes temáticas de
atenção à saúde; promoção da saúde, qualificação de gestores e
Sexo masculino trabalhadores; fomento à autonomia do cuidado e corresponsabili-
As gonadotrofinas, ou seja, os hormônios folículo-estimulante zação de trabalhadores e familiares; intersetorialidade; pesquisa e
e luteinizante (FSH e LH) atuam aumentando os testículos. Os tú- produção de conhecimento e monitoramento e avaliação das ações
bulos seminíferos passam a ter luz e promover a proliferação das implementadas. Os sete eixos estratégicos que compõem a políti-
células intersticiais de Leydig, que liberam a testosterona e elevam ca têm a finalidade de orientar gestores e trabalhadores sobre as
os seus níveis séricos. Esses eventos determinam o aumento simé- ações e serviços de saúde da criança no território, a partir dos de-
trico (simultâneo e semelhante) do volume testicular, que passa terminantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e
a ter dimensões maiores que 4 cm3 , constituindo-se na primeira à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam a integrali-
manifestação da puberdade masculina. Segue-se o crescimento de dade da atenção e o pleno desenvolvimento da criança e a redução
pelos pubianos, o desenvolvimento do pênis em comprimento e di- de vulnerabilidades e riscos. Suas ações se organizam a partir das
âmetro, o aparecimento de pelos axilares e faciais e o estirão puber- Redes de Atenção à Saúde (RAS), com ênfase para as redes temá-
tário. O tamanho testicular é critério importante para a avaliação ticas, em especial à Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil
das gônadas e da espermatogênese, que costuma ocorrer, mais fre- e tendo a Atenção Básica (AB) como ordenadora e coordenadora
quentemente, no estágio 4 de Tanner. Avaliase o volume testicular das ações e do cuidado no território, e servirão de fio condutor do
de forma empírica ou utilizando-se o orquímetro e orquidômetro cuidado, transversalizando a Rede de Atenção à Saúde, com ações e
de Prader. Estes instrumentos contêm elipsoides de volumes cres- estratégias voltadas à criança, na busca da integralidade, por meio
centes de 1 ml a 25 ml. O tamanho testicular adulto situa-se entre de linhas de cuidado e metodologias de intervenção, o que pode
12 ml e 25 ml. se constituir em um grande diferencial a favor da saúde da criança.
A normativa busca integrar diversas ações já existentes para
Critérios de Tanner para classificação dos estágios da puber- atendimento a essa população. O objetivo é promover o aleitamen-
dade masculina to materno e a saúde da criança, a partir da gestação aos nove anos
de vida, com especial atenção à primeira infância (zero a cinco anos)
e às populações de maior vulnerabilidade, como crianças com defi-
Sexo feminino
ciência, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, e em situação de rua.
Os hormônios folículo-estimulante e luteinizante (FSH e LH)
atuam sobre o ovário e iniciam a produção hormonal de estróge-
Eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
no e progesterona, responsáveis pelas transformações puberais
Criança
na menina. A primeira manifestação de puberdade na menina é o
Os sete eixos estratégicos da Política são: atenção humanizada
surgimento do broto mamário. É seguido do crescimento dos pelos
e qualificada à gestação, parto, nascimento e recém-nascido; aleita-
pubianos e pelo estirão puberal. A menarca acontece cerca de um
mento materno e alimentação complementar saudável; promoção
ano após o máximo de velocidade de crescimento, coincidindo com
e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral;
a fase de sua desaceleração. A ocorrência da menarca não significa atenção a crianças com agravos prevalentes na infância e com do-
que a adolescente tenha atingido o estágio de função reprodutora enças crônicas; atenção à criança em situação de violências, pre-
completa, pois os ciclos iniciais podem ser anovulatórios. Por outro venção de acidentes e promoção da cultura de paz; atenção à saúde
lado, é possível acontecer também a gravidez antes da menarca, de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vulne-
com um primeiro ciclo ovulatório. rabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno.
Critérios de Tanner para classificação da puberdade feminina A Política considera como criança a pessoa na faixa etária de
Pelos pubianos A evolução da distribuição de pelos pubianos é se- zero a nove anos e a primeira infância, de zero a cinco anos. Para
melhante nos dois sexos, de acordo com as alterações progressivas atendimento em serviços de pediatria no Sistema Único de Saúde
relativas à forma, espessura e pigmentação. (SUS), são contempladas crianças e adolescentes menores de 16
anos, sendo que este limite etário pode ser alterado conforme as
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/proteger_cuidar_ado- normas e rotinas do estabelecimento de saúde responsável pelo
lescentes_atencao_basica.pdf atendimento.

SAÚDE DA CRIANÇA Dos princípios:


1) Direito à vida e à saúde – Princípio fundamental garantido
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança mediante o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços
A PNAISC está estruturada em princípios, diretrizes e eixos para a promoção, proteção integral e recuperação da saúde, por
estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde da meio da efetivação de políticas públicas que permitam o nascimen-
criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados in- to, crescimento e desenvolvimento sadios e harmoniosos, em con-
tegrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com espe- dições dignas de existência, livre de qualquer forma de violência
cial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnera- (BRASIL, 1988; 1990b).
bilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente 2) Prioridade absoluta da criança – Princípio constitucional que
facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno de- compreende a primazia da criança de receber proteção e cuidado
senvolvimento. em quaisquer circunstâncias, ter precedência de atendimento nos
Os princípios que orientam esta política afirmam a garantia do serviços de saúde e preferência nas políticas sociais e em toda a
direito à vida e à saúde, o acesso universal de todas as crianças à rede de cuidado e de proteção social existente no território, assim
saúde, a equidade, a integralidade do cuidado, a humanização da como a destinação privilegiada de recursos em todas as políticas
atenção e a gestão participativa. Propõe diretrizes norteadoras para públicas (BRASIL, 1988; 1990b).

35
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

3) Acesso universal à saúde – Direito de toda criança receber aleitamento materno e que podem potencializar a implementação
atenção e cuidado necessários e dever da política de saúde, por deste princípio (BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS
meio dos equipamentos de saúde, de atender às demandas da MUNICIPAIS DE SAÚDE, 2009; MARTINS, 2010).
comunidade, propiciando o acolhimento, a escuta qualificada dos
problemas e a avaliação com classificação de risco e vulnerabilida- Das Diretrizes:
des sociais, propondo o cuidado singularizado e o encaminhamento 1) Gestão interfederativa das ações de saúde da criança – Fo-
responsável, quando necessário, para a rede de atenção (BRASIL, mento à gestão para implementação da Pnaisc, por meio da viabili-
2005a). zação de parcerias e articulação interfederativa, com instrumentos
4) Integralidade do cuidado – Princípio do SUS que trata da necessários para fortalecer a convergência dela com os planos de
atenção global da criança, contemplando todas as ações de promo- saúde e os planos intersetoriais e específicos que dizem respeito à
ção, de prevenção, de tratamento, de reabilitação e de cuidado, de criança.
modo a prover resposta satisfatória na produção do cuidado, não 2) Organização das ações e dos serviços em Redes de Atenção
se restringindo apenas às demandas apresentadas. Compreende, à Saúde – Fomento e apoio à organização de ações e aos serviços
ainda, a garantia de acesso a todos os níveis de atenção, mediante da Rede de Atenção à Saúde, com a articulação de profissionais e
a integração dos serviços, da Rede de Atenção à Saúde, coordenada serviços de saúde, mediante estratégias como o estabelecimento
pela Atenção Básica, com o acompanhamento de toda a trajetória de linhas de cuidado, a troca de informações e saberes, a tomada
da criança em uma rede de cuidados e proteção social, por meio de horizontal de decisões, baseada na solidariedade e na colaboração,
estratégias como linhas de cuidado e outras, envolvendo a família e garantindo a continuidade do cuidado com a criança e a completa
as políticas sociais básicas no território (BRASIL, 2005a). resolução dos problemas colocados, de forma a contribuir para a
5) Equidade em saúde – Igualdade da atenção à saúde, sem integralidade da atenção e a proteção da criança.
privilégios ou preconceitos, mediante a definição de prioridades 3) Promoção da Saúde – Reconhecimento da Promoção da
de ações e serviços de acordo com as demandas de cada um, com Saúde como conjunto de estratégias e forma de produzir saúde na
maior alocação dos recursos onde e para aqueles com maior neces- busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e saúde, com
sidade. Dá-se por meio de mecanismo de indução de políticas ou ações intrassetoriais e intersetoriais, voltadas para o desenvolvi-
programas para populações vulneráveis, em condição de iniquida- mento da pessoa humana, do ambiente e hábitos de vida saudáveis
des em saúde, por meio do diálogo entre governo e sociedade ci- e o enfrentamento da morbimortalidade por doenças crônicas não
vil, envolvendo integrantes dos diversos órgãos e setores da Saúde, transmissíveis, envolvendo o trabalho em rede em todos os espaços
pesquisadores e lideranças de movimentos sociais (BRASIL, 2005a; de produção de saberes e práticas do cuidado nas dimensões indivi-
BRASIL; CONSELHO NACIONAL DOS SECRETÁRIOS MUNICIPAIS DE duais, coletivas e sociais (BRASIL, 2014h).
SAÚDE, 2009). 4) Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família –
6) Ambiente facilitador à vida – Princípio que se refere ao es- Fomento à autonomia e corresponsabilidade da família, princípio
tabelecimento e à qualidade do vínculo entre criança e sua mãe/ constitucional, que deve ser estimulado e apoiado pelo poder pú-
família/cuidadores e também destes com os profissionais que atu- blico, com informações qualificadas sobre os principais problemas
am em diferentes espaços que a criança percorre em seus territó- de saúde e orientações sobre o processo de educação dos filhos,
rios vivenciais para a conquista do desenvolvimento integral (PE- o estabelecimento de limites educacionais sem violência e os cui-
NELLO, 2013). Esse ambiente se constitui a partir da compreensão dados com a criança, com especial foco nas etapas iniciais da vida,
da relação entre indivíduo e sociedade, interagindo por um desen- para a efetivação de seus direitos.
volvimento permeado pelo cuidado essencial, abrangendo toda 5) Qualificação da força de trabalho – Qualificação da força de
a comunidade em que vive. Este princípio é a nova mentalidade trabalho para a prática de cuidado, da cogestão e da participação
que aporta, sustenta e dá suporte à ação de todos os implicados na nos espaços de controle social, do trabalho em equipe e da arti-
Atenção Integral à Saúde da Criança. culação dos diversos saberes e intervenções dos profissionais, efe-
7) Humanização da atenção – Princípio que busca qualificar as tivando-se o trabalho solidário e compartilhado para produção de
práticas do cuidado, mediante soluções concretas para os proble- resposta qualificada às necessidades em saúde da família.
mas reais vividos no processo de produção de saúde, de forma cria- 6) Planejamento no desenvolvimento de ações – Aperfeiçoa-
tiva e inclusiva, com acolhimento, gestão participativa e cogestão, mento das estratégias de planejamento na execução das ações da
clínica ampliada, valorização do trabalhador, defesa dos direitos dos Pnaisc, a partir das evidências epidemiológicas, definição de indi-
usuários e ambiência, estabelecimento de vínculos solidários entre cadores e metas, com articulação necessária entre as diversas po-
humanos, valorização dos diferentes sujeitos implicados, desde eta- líticas sociais, iniciativas de setores e da comunidade, de forma a
pas iniciais da vida, buscando a corresponsabilidade entre usuários, tornar mais efetivas as intervenções no território, que extrapolem
trabalhadores e gestores neste processo, a construção de redes de as questões específicas de saúde.
cooperação e a participação coletiva, fomentando a transversalida- 7) Incentivo à pesquisa e à produção de conhecimento – In-
de e a grupalidade, assumindo a relação indissociável entre atenção centivo à pesquisa e à produção de conhecimento para o desen-
e gestão no cuidado em saúde (BRASIL, 2006a). volvimento de conhecimento com apoio à pesquisa, à inovação
8) Gestão participativa e controle social – Preceito constitucio- e à tecnologia no campo da Atenção Integral à Saúde da Criança,
nal e um princípio do SUS, com o papel de fomentar a democracia possibilitando a geração de evidências e instrumentos necessários
representativa e criar as condições para o desenvolvimento da cida- para a implementação da Pnaisc, sempre respeitando a diversida-
dania ativa. São canais institucionais, de diálogo social, as audiên- de étnico-cultural, aplicada ao processo de formulação de políticas
cias públicas, as conferências e os conselhos de saúde em todas as públicas.
esferas de governo que conferem à gestão do SUS realismo, trans- 8) Monitoramento e avaliação – Fortalecimento do monitora-
parência, comprometimento coletivo e efetividade dos resultados. mento e avaliação das ações e das estratégias da Pnaisc, com apri-
No caso da saúde da criança, o Brasil possui um extenso leque de moramento permanente dos sistemas de informação e instrumen-
entidades da sociedade civil que militam pela causa da infância e do tos de gestão, que garantam a verificação a qualquer tempo, em

36
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

que medida os objetivos estão sendo alcançados, a que custo, quais certas peculiaridades durante o procedimento, tais como, a criança
os processos ou efeitos (previstos ou não, desejáveis ou não), indi- sentir-se insegura durante a hospitalização e ter medo do que lhe
cando novos rumos, mais efetividade e satisfação. vai acontecer, não aceitando, muitas vezes, as medicações, princi-
9) Intersetorialidade – Promoção de ações intersetoriais para a palmente as injetáveis. (COLLET; OLIVEIRA, 2002)
superação da fragmentação das políticas sociais no território, me- Observam-se os seguintes cuidados para administração do me-
diante a articulação entre agentes, setores e instituições para am- dicamento em pediatria segundo Collet e Oliveira 2002:
pliar a interação, favorecendo espaços compartilhados de decisões, - ler cuidadosamente os rótulos dos medicamentos;
que gerem efeitos positivos na produção de saúde e de cidadania. -questionar a administração de vários comprimidos ou frascos
Marcos do crescimento e do desenvolvimento para uma única dose;
O desenvolvimento da criança é o aumento da capacidade do -estar alerta para medicamentos similares;
indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas. Para -verificar a vírgula decimal;
uma definição mais completa e necessário diferenciar as noções re- -questionar aumento abrupto e excessivo nas doses;
ferentes ao crescimento e desenvolvimento: -quando um medicamento novo for prescrito, buscar informa-
― crescimento e o aumento do corpo, de ponto de vista ções sobre ele;
físico. Ele pode ser aumento de estatura ou de peso. A unidade de -não administrar medicamentos prescritos por meio de apeli-
medida dele vai ser o cm ou a grama. Os processos básicos dele: dos ou símbolos;
aumento de tamanho celular (chamado de hipertrofia) ou aumen- -não tentar decifrar letras ilegíveis;
to do numero das células (hiperplasia); -procurar conhecer crianças que tem o mesmo nome ou so-
― maturação e uma noção bem diferente – nesse caso, brenome.
trata-se de organização progressiva das estruturas morfológicas.
Aqui entra: crescimento e diferenciação celular, mielinização, espe- Cuidados prévios para a administração de medicamentos:
cialização dos aparelhos e sistemas; - orientar a criança e a mãe/acompanhante por meio do brin-
― desenvolvimento: e um ponto de visto holístico, inte- quedo terapêutico;
grante dos processos do crescimento e maturação, mas que junta -lavar as mãos;
a isto o impacto e o aprendizagem sobre cada evento, e, também, -reunir o material;
a integração psíquicos e sociais;
-lero rótulo da medicação (observar validade, cor, aspecto, do-
― o desenvolvimento psicossocial – e, de fato a integração
sagem)
do aspecto humano – o ser aprende a interagir e mover, respeitar
-preparar o medicamento na dose certa;
as regras da sociedade, a rotina diária –praticamente, a criança vai
-identificar a medicação a ser ministrada – nome da criança,
seguir os passos que vão ter como finalidade a convivência com a
nº do leito, nome da medicação, a via de administração, a dose e o
sociedade cuja pertence.
horário e a assinatura de quem prepararam;
-não deixar ao alcance das crianças os medicamentos;
O recém-nascido e a criança hospitalizada
-explicar a criança que entende a relação do medicamento com
As crianças tendem a responder à hospitalização com um dis-
a doença;
túrbio emocional, estas respostas geralmente manifestam-se atra-
vés de comportamentos agressivos, como choro, retraimento, chu- -restringir a criança quando necessário, para garantir a admi-
te, mordida, tapas, resistência física aos procedimentos, ou ignora nistração correta e segura.
as solicitações. As internações são consideradas ameaças ao desen-
volvimento da criança e a união familiar. FARMACOCINETICA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Vários são os sinais dos transtornos que a criança possa apre-
sentar dentre eles destacam-se: Ansiedade de Separação; Perda de Fatores que Afetam a Absorção dos Medicamentos
controle e Medos.
A unidade de internação é um ambiente ocupado e barulhento, - Gastrintestinal
cheio de eventos imprevistos e geralmente sem prazer para crianças O pH gástrico é alto em neonatos, atingindo os valores de adul-
e seus pais. É responsabilidade de todos os membros da equipe de to por volta da idade de 2 anos. Os medicamentos ácidos são mais
saúde estar atenta e sensível a esses problemas em geral. O profis- biodisponíveis; os medicamentos-base apresentam menor biodis-
sional bem treinado pode fazer avaliações e elaborar intervenções ponibilidade.
durante a experiência da internação. O uso do brincar terapêutico, A motilidade gástrica e intestinal (tempo de transito) esta dimi-
atividades de recreação, atividades escolares, visitas hospitalares nuída nos neonatos e lactentes menores, mas aumenta nos lacten-
e grupos de apoio podem fornecer medidas criativas para guiar a tes maiores e crianças.
criança e a família para longe da experiência negativa e em direção A quantidade de ácido biliar e o funcionamento estão diminu-
à experiência benéfica. (BOWDEN; GREENBERG, 2005) ídos nos recém-nascidos e atingem a sua capacidade máxima ao
longo dos primeiros meses de vida.
Cuidados com as medicações
Medicamento é toda a substância que, introduzida no organis- - Retal
mo, previne e trata doenças, alivia e auxilia no diagnóstico. As ações Somente alguns medicamentos são adequados para adminis-
de enfermagem relativas aos medicamentos dizem respeito ao pre- tração retal. Além disso, o tamanho da exposição na mucosa retal
paro, à administração e a observação das reações da criança que se afeta a absorção.
submeteu a este procedimento.
Considerar os seis certos tradicionais da administração de me- - Intramuscular
dicamentos (registro certo, dose certa, via certa, droga certa, hora Variável no grupo pediátrico secundário a (a) fluxo sanguíneo e
certa e paciente certo) e de checar o procedimento realizado, em instabilidades vasomotoras, (b) contração e tônus muscular insufi-
pediatria a equipe de enfermagem tem de levar em consideração cientes e (c) oxigenação muscular diminuída.

37
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Percutâneo Desvantagens:
Diminuído com espessura aumentada do estrato córneo e dire- ― Absorção variável;
tamente relacionado à hidratação da pele. ― Período de latência médio a longo;
Os neonatos e os lactentes tem a permeabilidade da pele au- ― Ação dos sucos digestivos;
mentada, permitindo maior penetração da medicação e uma rela- ― Interação com alimentos;
ção maior de área de superfície – peso corporal com potencial para ― Pacientes não colaboradores (inconscientes), com náuse-
toxicidade. as e vômitos o incapazes de engolir;
― pH do trato gastrintestinal
- Intraocular
As mucosas de neonatos e lactentes são particularmente finas; Via Retal: A administração consiste na administração de medi-
os medicamentos oftalmológicos podem causar efeitos sistêmicos camentos do tipo supositório ou enema no reto. O volume de líqui-
nos recém-nascidos e nas crianças jovens. do a ser administrado varia conforme a idade da criança: em lacten-
Fatores que Afetam a Distribuição tes, de 150 a 250 ml; em pré-escolar, de 250 a 350ml; em escolar, de
- Os neonatos têm uma maior proporção de água corporal total 350 a 500ml e em adolescentes, de 500 a 750ml.
que rapidamente de reduz durante o primeiro ano de vida. Valores Vantagens:
de adultos são gradualmente alcançados por volta de 12 anos de ― Fármacos não são destruídos ou desativados no Trato
idade. Este fator é uma consideração importante relacionado à so- Gastro Intestinal-TGI;
lubilidade do medicamento na água. ― Preferível quando a VIA ORAL está comprometida
- As crianças têm uma proporção mais baixa de gordura corpo- ― Pacientes que não cooperam, inconscientes ou incapazes
ral que os adultos. de aceitar medicação por via oral .
- A capacidade de ligação das proteínas depende da idade.
Desvantagens:
A concentração de proteína total ao nascimento corresponde ― Lesão da mucosa ;
a somente 80% dos valores de um adulto, o que leva a uma maior ― Incômodo
fração livre ou ativa da droga na circulação com um maior potencial ― Expulsão
para toxicidade. ― Absorção irregular e incompleta
- A albumina fetal no período imediato após o parto tem a ca- ― Adesão
pacidade de ligação a drogas limitada.
- Uma barreira hemato-encefálica imatura durante o período Via oftalmológica: A administração de medicamentos nos
logo após o parto pode levar a altas concentrações de medicamen- olhos se dá na presença de infecções oculares ou para realizações
tos no cérebro do que em outras idades. de exames de pequenas cirurgias. Deixar a criança em decúbito dor-
sal elevado; realizar higiene ocular com gaze estéril e soro fisiológi-
Fatores que Afetam o Metabolismo co; separar as pálpebras para expor o saco conjuntival e instilar as
- O sistema microssomal enzimático do recém-nascido é menos gotas prescritas neste local, mantendo-se o conta-gotas a 3 cm de
eficaz. distância e soltar as pálpebras, secando-se a medicação excedente
- A maturação varia entre as pessoas; cada enzima hepática tor- no sentido do canto interno para o externo e de cima para baixo.
na-se funcional a uma frequência diferente.
ATENÇÃO: Ao utilizar mais de um tipo de colírio no mesmo olho
Fatores que Afetam a Eliminação é necessário aguardar pelo menos 10 minutos entre as aplicações.
- A filtração glomerular e a secreção tubular estão reduzidas no
nascimento. Via Inalatória: Este método utiliza o trato respiratório para
- Existe um aumento gradual na função renal, com os valores transportar o medicamento através da inalação ou da administra-
de adultos sendo alcançados nos(s) primeiro(s) 1-2 anos de vida. ção direta para dentro da árvore respiratória através do tubo endo-
traqueal. O medicamento, depois de inalado ou infundido, se move
Vias de Administração de Medicação Infantil para dentro dos brônquios e, em seguida, atinge os alvéolos do
Via Oral: Formas Farmacêuticas: cápsulas, comprimidos, xaro- paciente, sendo difundidos para os capilares pulmonares. Os me-
pes e drágeas. dicamentos fornecidos através da via respiratória podem produzir
A administração de medicamentos por via oral consiste no pre- efeitos locais ou sistêmicos.
paro ideal, escolher o material de administração de acordo com a
idade da criança (colher ou copo de medidas, conta-gotas, seringa, Vantagens
copo descartável, fita crepe ou etiqueta de identificação); orien- ― Rápido contato com o fármaco.
tar a criança e o acompanhamento se preciso por intermédio do ― Utilizada principalmente por pacientes com distúrbios
brinquedo terapêutico, sentar a criança semi-sentada no colo do respiratórios
acompanhante ou decúbito dorsal elevado no leito; administra-se ― Pode ser administrada em pacientes inconscientes.
o medicamento certificando-se de que a criança engoliu; oferecer ― A principal vantagem é administrar pequenas doses para
líquidos após o medicamento, registrar aceitação e se houver rea- ação rápida e minimizar os efeitos adversos sistêmicos
ção comunicar.
Via Tópica: É a via através da qual os medicamentos são admi-
Vantagens: nistrados e absorvidos através da pele ou mucosas.
― Autoadministração, econômica e fácil;
― Confortável, indolor;
― Forma Farmacêutica de fácil conservação
― Possibilidade de remover o medicamento

38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Vantagens: Via intramuscular: Consiste na aplicação de solução no tecido


― É uma via prática; muscular. Procedimento muito comum 46% dos casos atendidos no
― Não é dolorosa; PS e no ambulatório resultam em administração de medicamentos
― É a única via que pode garantir o efeito apenas no local por esta via. A escolha do local deve respeitar os seguintes critérios:
da aplicação (evita efeito sistêmico). Ex.: Uso de pomada ou gel. - Quantidade e característica da droga
- Condição da massa muscular
Desvantagens: - Quantidade de injeções prescritas
― Pode causar irritação na pele ou mucosas; - Locais livres de grandes vasos e nervos em camadas superfi-
― Estímulo a automedicação; ciais
― Ocorre perda do medicamento para o meio ambiente - Acesso ao local e risco de contaminação
-Inserção, tamanho da agulha e ângulo apropriado para apli-
Via Parenteral (injetáveis): Este tipo de procedimento é consi- cação.
derado pela criança como um ato agressivo contra si, pois na maio-
ria das vezes é acompanhado de dor ou medo, o que se traduz no Locais de aplicação ,os mesmos do adulto : Vasto lateral; Ven-
choro e na ansiedade. Existem quatro meios comuns para adminis- troglútea; Dorsoglútea; Deltoide.
trar medicamentos por esta via: via endovenosa; via subcutânea; a
O risco da aplicação intramusculares em Pediatria: Trauma ou
intradérmica e a intramuscular.
compressão aacidental de nervos; Injeção acidental em veia ou
artéria; Injeção em músculo contraído; Lesão do músculo por so-
Vantagens:
luções irritantes; Pode provocar dano celular, abscessos e alergias.
― Efeito farmacológico imediato;
― Evitar a inativação por ação enzimática; Via endovenosa: Via de ação rápida, pois o medicamento é mi-
― Administração a pacientes inconscientes nistrado diretamente no plasma,com ação imediata.
Tipo de medicamento injetado na veia: Solução solúvel no san-
Desvantagens: gue; Não oleosos;Não devem conter cristais visíveis.
― Toxicidade local ou sistêmica (alergias, erros)
― Resistência do paciente (Psicológico) A administração da medicação ocorre por meio de um dispo-
― Pureza e esterilidade dos medicamentos (Custo) sitivo intravenoso instalado por punção,podendo ser um procedi-
mento repetitivo,no qual a criança revive as angústias geradas por
Preparo do medicamento em ampola: essa experiência,que pode resultar em traumas.
― Abrir a embalagem da seringa; A equipe deve preparar adequadamente a criança para esse
― Adaptar a agulha ao bico da seringa, zelando para não procedimento para minimizar as consequências e os traumas gera-
contaminar as duas partes; das pela hospitalização.
― Certificar-se do funcionamento da seringa, verificando se
a agulha está firmemente adaptada; Locais mais utilizados: Dorso da mão (veias metacarpianas
― Manter a seringa com os dedos polegar e indicador e dorsais, arco venoso dorsal) Antebraço (cefálica acessória, cefálica
segurar a ampola entre os dedos médio e indicador da outra mão; e basílica), Braço (mediana cubital, mediana antebraqueal, basíli-
― Introduzir a agulha na ampola e proceder a aspiração ca e cefálica),Dorso do pé: último recurso devido às complicações
do conteúdo, invertendo lentamente a agulha, sem encostá-la na tromboembólicas (arco venoso dorsal, mediana marginal),tornoze-
borda da ampola; lo (safena interna), Pescoço (jugular externa e interna).
― Virar a seringa com a agulha para cima, em posição verti- As Indicações para administração endovenosas:
cal e expelir o ar que tenha penetrado; - Manter e repor eletrólitos, vitaminas e líquidos;
― Desprezar a agulha usada para aspirar o medicamento; - Restabelecer o equilíbrio ácido-básico;
― Escolher, para a aplicação, uma agulha de calibre apro- - Restabelecer o volume sanguíneo;
priado à solubilidade da droga e à espessura do tecido subcutâneo - Ministrar medicamentos;
do indivíduo;
- Induzir e manter sedações e bloqueios neuromusculares;
― Manter a agulha protegida com protetor próprio.
- Manter estabilidade hemodinâmica por infusões contínuas de
drogas vasoativas
Via Intradérmica: Consiste na aplicação de solução na der-
me(área localizada entre a epiderme e o tecido subcutâneo) Via uti-
lizada para realizar testes de sensibilização e vacina BCG é de fácil As soluções utilizadas:
acesso, restrita a pequenos volumes - Isotônicas-concentração semelhante ao plasma(S.G.5% e
Os efeitos adversos da injeção intradérmica são decorrentes S.F.0,9%) fornecem água e calorias utilizadas para repor perdas
de: falha na administração como aplicação profunda subcutânea; anormais e corrigir desidratação;
da dosagem incorreta com maior volume que o necessárioe con- - Hipertônicas-concentração maior que a do plasma (S.G.10 %
taminação. ,25% e 50%) indicado para hipoglicemia, combate ao edema e ao
aumento da pressão intracraniana;
Via subcutânea: Consiste na aplicação de solução na tela sub- - Hipotônicas-concentração menor que a do plasma(ringer lac-
cutânea, na hipoderme (tecido adiposo abaixo da pele), Via utili- tato) indicado para tratamento de desidratação, alcalose branda,hi-
zada principalmente para drogas que necessitam ser lentamente pocloremia,correção de desidratação;
absorvidas, vacinas como a antirrábica, a insulina têm indicação es- - Fluidos derivados do sangue: sangue total,plasma,papa de he-
pecífica para esta via. Os locais recomendados para aplicação são: mácias,expansoresplasmáticos;
parede abdominal (hipocôndrio, face anterior e externa da coxa, - Nutrição parenteral.
face anterior e externa do braço, a região glútea, e a região dorsal,
abaixo da cintura)

39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

As complicações causadas pela administração de medicamen- Contenção para procedimentos: É necessária para garantir
tos por via endovenosa: Infiltrações locais; Reações pirogênicas; segurança à criança e facilitar o procedimento, podendo ser feita
trombose venosa e flebite (ações irritantes dos medicamentos ou manualmente ou com dispositivos físicos. Os pais e a criança devem
formação de coágulos); Hematomas e necrose. ser orientados sobre a sua finalidade e objetivo. Pode ser manual,
executada com o auxílio de outra pessoa ou com a ajuda de lençóis
Fatores Contribuintes para extravasamento ou infiltração En- e faixas de contenção.
dovenosa:
― Má perfusão periférica-propicia o extravasamento da Sinais Vitais
solução;
― Visualização inadequada do local da inserção do cateter; Sinais Vitais: Avaliação da Dor
― Não observação de sinais flogísticos precoce e frequen-
temente Diretrizes Clínicas
- Avaliar o nível de dor na primeira hora após a internação na
Sinais de Extravasamento ou Infiltração: unidade de cuidados agudos ou durante a consulta ambulatorial,
― Edema local que pode se estender por toda extremidade para obter dados de referencia sobre o conforto da criança.
afetada; - No caso de uma criança com dor crônica, a frequência de ava-
― Perfusão local diminuída liações da dor baseia-se na condição da criança, mas é realizado ao
― Extremidades afetadas frias menos uma vez por mês.
― Coloração da pele alterada(escura sugere necrose) - Avaliar o nível da dor a cada 8 a 12 horas em uma criança com
― Bolhas no local. doença aguda e com maior frequência, segundo a indicação clinica.
A avaliação da dor é um processo continuo; cada cuidador realiza
uma avaliação ampla da dor ao assumir os cuidados com a criança.
Cuidados importantes: Antes da infusão, verificar a permea- Após a avaliação inicial, se a condição da criança mudar, se a crian-
ça apresentar sinais de dor ou for submetida a um procedimento
bilidade do acesso; Não infundir medicação associada a hemode-
provavelmente doloroso, ou se houver modificação da velocidade
rivados; Fazer controle de gotejamento, respeitando o tempo e o
de infusão de medicamentos sedativos, analgésicos ou anestésicos,
volume prescritos.
realizar outra avaliação ampla da dor. Se a criança estiver confortá-
vel, não é necessário realizar uma avaliação ampla da dor com cada
Técnica e procedimento de cateterização venosa periférica:
grupo de sinais vitais; entretanto, procure conhecer a legislação do
- Realizar a seleção da veia;
seu estado, porque alguns exigem que a avaliação da dor seja regis-
- Escolher uma veia visível e que permita a mobilidade da crian-
trada toda vez que são registrados os sinais vitais.
ça
- Avaliar o nível de dor dentro de 1 hora antes e após as inter-
- Selecionar o dispositivo para punção; venções para seu alivio em criança com doença aguda (o intervalo
- Preparar todo material (soro, equipo ou bureta, cateter de depende da intervenção especifica) para avaliar a resposta aos es-
dupla via) e retirar o ar do equipo; quemas de tratamento.
- Utilizar foco de 30cm de distância do local da punção para - Os profissionais são responsáveis pela avaliação da dor.
facilitar a visualização epromover a vasodilatação; - O médico, a enfermaria, a técnica ou auxiliar de enfermagem
podem obter relatos subjetivos de dor. Quando a determinação é
Não golpear o local da punção, pode causar dor e medo realizada por técnico ou auxiliar, qualquer variação em relação aos
- Garrotear o local; valores de referencia deve ser comunicada ao profissional.
- Fazer antissepsia do local com álcool 70%,seguindo a direção
da corrente sanguínea; Procedimento
- Solicitar ajuda para restrição dos movimentos;
- Fazer tricotomia; Passos
- Preparar material para fixação (micropore,esparadrapo e - Rever a história da dor inicial da criança e o nível anterior de
tala); dor, quando possível.
- Observar o diagnóstico médico e a história de eventos consi-
Distender a pele com uma das mãos e com a outra introduzir derados dolorosos ou causadores de traumatismo tecidual.
a agulha com o bisel voltado pra cima e paralelo à veia; Verificar - Determinar se a criança esta tomando quaisquer medicamen-
refluxo de sangue tos que possam afetar a percepção da dor ou a capacidade de co-
- Retirar o garrote municar que esta com dor.
- Conectar equipo de soro, verificar o fluxo do gotejamento - Lavar as mãos.
- Fixar e imobilizar a extremidade com tal; - Avaliar a presença de indicadores de dor, considerando a ida-
- Controlar gotejamento de da criança e o estado de sono:
-Identificar na fixação a data da punção, o horário e o nome do
responsável; Dor Aguda
- Encaminhar a criança para o leito, organizar o ambiente; - Subjetiva: declaração de dor; se for incapaz de relatar, per-
- Observar e anotar a normalidade da infusão e o local, estar guntar aos pais.
atento aos sinais flogísticos, obstrução e presença de ar no equipo; - Fisiológica: aumento da frequência respiratória ou frequência
- Trocar o equipo de acordo com as normas da instituição 24 cardíaca, respirações superficiais, diminuição da saturação de oxi-
a 72h; gênio, diaforese, dilatação da pupila.
- Fazer anotações sobre o procedimento, o local e as ocorrên-
cias.

40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Comportamental: choro, gemido, inquietação, ansiedade, Frequência da Pulsação, Respiração


raiva, diminuição do nível de atividade, alteração do sono, posição
assumida pela criança (p. ex., deitada imóvel, posição fetal, mem- Idade Pulso Respiração
bro fletido ou rígido) careta facial, posição antálgica, tocar a área
dolorosa. Recém-natos 70 -170 30 – 50
11 meses 80 -160 26 – 40
Dor Crônica
- Sinais vitais estáveis. 2 anos 80 -130 20 – 30
- Interrupção do sono. 4 anos 80 -120 20 – 30
- Regressão do desenvolvimento.
6 anos 75 -115 20 – 26
- Alteração dos padrões alimentares.
- Problemas de comportamento ou escolares. 8 anos 70 -110 18 – 24
- Afastamento de atividades em grupo. 10 anos 70 -110 18 – 24
- Depressão.
- Agressão. Adolescentes 60 -120 12 – 20

No caso de uma criança submetida a bloqueio neuromuscu- Pressão Arterial


lar:
- Avaliar parâmetros fisiológicos. Idade Pressão Pressão
- Avaliar o tamanho da pupila. Sistólica Diastólica
- Interromper agentes paralisantes por um curto período para
avaliar os comportamentos da dor. 6m - 1 ano 90 61
- Avaliar o nível de dor utilizando um instrumento de avaliação 2 - 3 anos 95 61
valido, apropriado para o desenvolvimento; usar sempre o mesmo
4 - 5 anos 99 65
instrumento para comparar a adequação do controle da dor (p. ex.,
o mesmo instrumento ensinado previamente à criança e à família). 6 anos 100 65
- Realizar o exame físico da área dolorosa. 8 anos 105 57
- Determinar o nível de dor da criança e as intervenções apro-
priadas; considerar a situação especifica (idade, estilo de adapta- 10 anos 109 58
ção, ambiente) e o tipo e a intensidade da dor. Implementar inter- 12 anos 113 59
venções de controle da dor.
- Realizar ampla reavaliação do nível da dor:
- Se houver indicadores clínicos de dor. Temperatura (T)
- Após implementação de intervenções para alivio da dor, com Oral 35,8º - 37,2º C
modificação da velocidade de infusão de medicamentos sedativos, Retal 36,2º C – 38º C
analgésicos ou anestésicos; a avaliação deve ser realizada em 1 hora Axilar 35,9º C – 36.7º C
após a intervenção, mas pode ser realizada mais cedo dependendo
da intervenção (p. ex., 5 a 20 minutos após injeção em bolo intra- Sinais Vitais: Frequência Cardíaca
venosa).
- Lavar as mãos. Diretrizes clínicas
- A frequência cardíaca é determinada para avaliar o estado ge-
Dicas para verificação dos Sinais Vitais na Pediatria ral de cada paciente na primeira hora após a internação na unidade
de cuidados agudos.
Ordem para Verificação dos Sinais Vitais: - Monitorar a frequência cardíaca a cada 4 a 8 horas durante
Frequência Respiratória – FR: Uma maneira prática para se ve- a fase aguda da doença se o paciente estiver na unidade de inter-
rificar a frequência respiratória é colocando-se a mão levemente nação clínica e a cada 1 a 2 horas na unidade de terapia intensiva.
sobre o tórax da criança e contando quantas vezes a mão sobe du- - A frequência cardíaca é reavaliada para monitorar a resposta
rante um minuto. aos esquemas de tratamento e conforme indicado pela avaliação de
Frequência cardíaca – FC: Procure verificar a FC , quando a enfermagem ou médica.
criança estiver dormindo ou em repouso. Quando o paciente for - O técnico ou auxiliar de enfermagem e/ou a enfermeira po-
lactente, dê preferência ao pulso apical. A frequência apical é ve- dem verificar a frequência cardíaca. Quando a frequência cardíaca
rificada colocando-se o estetoscópio próximo ao mamilo esquerdo é verificada pelo auxiliar, qualquer variação em relação a medidas
por um minuto. anteriores deve ser comunicada à enfermeira.
Temperatura – T – considera-se febre: acima de 37,8ºC
Pressão arterial – PA – a PA deverá estar solicitada na prescri- Determinação da Frequência Cardíaca
ção médica e verificada quando necessário.
Variação Normal dos Sinais Vitais em Crianças Passos
- Rever no prontuário do paciente os dados de referencia sobre
a frequência de pulso conhecer a variação para a idade.
- Determinar o pulso:
- Nas crianças com menos de 2 anos de idade, é mais fácil rea-
lizar a ausculta apical.
- Em crianças maiores, pode ser realizada ausculta apical ou
palpado o pulso periférico.

41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Acalmar a criança, se necessário. Sempre que possível, fazer a Verificação da Frequência Respiratória
medida quando a criança estiver tranquila.
- Lavar as mãos. Passos
- Rever a frequência respiratória anterior da criança, quando
Determinação da Frequência Cardíaca por Ausculta do Pulso possível.
Apical - Observar o diagnostico médico da criança e a historia de pro-
blemas e dificuldades respiratórias.
Passos - Determinar se a criança esta tomando alguma medicação que
- Limpar o diafragma e as olivas do estetoscópio com um lenço possa afetar a frequência e a profundidade respiratória.
embebido em álcool antes e depois do exame. - Lavar as mãos.
- Introduzir os olivas nos ouvidos com as extremidades curvas - Contar as respirações:
para a frente em direção à face. - Observar o movimento abdominal quando for lactentes e
- Identificar o pulso. Palpar a parede torácica para determinar o crianças pequena.
ponto de impulso máximo (PIM): - Observar os movimentos torácicos nas crianças mais velhas.
- Em crianças menores de 7 anos – imediatamente à esquerda - Se as respirações forem regulares, contar o numero de res-
da linha hemiclavicular no quarto espaço intercostal. pirações em 30 segundos e multiplicar por dois. Se as respirações
- Em crianças maiores de 7 anos – linha hemiclavicular esquer- forem irregulares, contar o numero de respirações em um minuto
da no quinto espaço intercostal. inteiro. Contar as respirações nos lactentes durante 1 minuto.
- Colocar o diafragma do estetoscópio sobre o PIM e contar a - Observar a profundidade e o padrão das respirações, ocor-
FC: rência de ansiedade, irritabilidade e posição de conforto. Observar
- Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos e a coloração da criança, incluindo extremidades.
multiplicar por 2. - Lavar as mãos.
- Se o pulso for irregular, contar por 1 minuto completo. - Registrar os resultados; a frequência respiratória é registrada
- Lavar as mãos. por respirações por minuto.
- Registrar a frequência cardíaca, o pulso usado e o nível de
atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando, inquieta)
Sinais Vitais: Pressão Arterial
no prontuário.
Diretrizes clínicas
Determinação da Frequência Cardíaca por Palpação de Pulsos
- A pressão arterial é verificada inicialmente para se obter um
Periféricos
dado de referencia para avaliar o estado hemodinâmico geral de
cada paciente dentro da primeira hora de admissão em um ambien-
Passos
te de cuidado agudo.
- Identificar o local; os pulsos radial e branquial são usados com
maior frequência. - A pressão arterial é verificada para avaliar a resposta aos es-
- Localizar o pulso da criança e palpar com seus dois ou três quemas terapêuticos.
primeiros dedos; não usar pressão excessiva. Observar o ritmo. - Durante a doença aguda, verifique a pressão arterial a cada
4 ou 8 horas, ou mais frequentemente se houver indicação clínica.
- Se o pulso da criança for regular, contar por 30 segundos e - Nos neonatos, verifique a pressão arterial se houver suspeita
multiplicar por 2. Se for irregular, contar durante 1 minuto comple- de doença renal ou coarctação da aorta ou se estiverem presentes
to. sinais clínicos de hipotensão. Não é recomendada uma triagem uni-
- Lavar as mãos. versal dos neonatos.
- Registrar a frequência cardíaca, a região usada e o nível de - Para a manutenção da saúde, a pressão arterial deveria ser
atividade da criança (p. ex., adormecida, calma, chorando, inquieta) verificada:
no prontuário. - Uma vez ao ano nas crianças com idade superior a 3 anos.
- Em criança de qualquer idade com sintomas de hipertensão,
Sinais Vitais: Frequência Respiratória hipotensão, ou doença renal ou cardíaca.
- Um técnico ou auxiliar de enfermagem ou uma enfermeira
Diretrizes clínicas podem verificar a pressão arterial. Quando a pressão arterial for ve-
- Os movimentos respiratórios são medidos inicialmente para rificada por um auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer varia-
se obter os dados de referência para avaliar o estado geral de cada ção das medidas anteriores é informada ao enfermeiro ou médico.
paciente dentro da primeira hora da admissão em um ambiente de - Use o braço direito sempre que possível para haver consistên-
cuidado agudo. cia das aferições e comparação com as normas padronizadas.
- As respirações são medidas antes e imediatamente após as - A ausculta é o método de escolha para a verificação da pressão
intervenções respiratórias para avaliar a resposta aos esquemas te- arterial nas crianças, porque é necessária uma frequente calibração
rapêuticos. dos equipamentos automáticos e existe uma falta de padrões de
- A mensuração das respirações é feita a cada 4 ou 8 horas em referencia estabelecidos para as crianças. Os equipamentos auto-
uma criança agudamente doente e mais frequentemente conforme máticos são aceitos quando a ausculta for difícil (p.ex., em crianças
indicado clinicamente. pequenas) ou quando forem necessárias verificações frequentes.
- Uma auxiliar ou técnica de enfermagem ou enfermeira podem
verificar a frequência respiratória. Quando a mensuração é encami- Método de Ausculta
nhada à enfermeira ou ao médico.
Passos
- Rever as leituras da pressão arterial prévias da criança, se dis-
poníveis.

42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Analisar o diagnostico da criança e as medições atuais que Método da Palpação


provocam efeito sobre a pressão arterial.
- Lavar as mãos. Limpar o diafragma do estetoscópio. Passos
- Selecionar o local: - Seguir os 7 primeiros itens no procedimento anterior (Méto-
- Usar o braço direito quando possível. do de Ausculta) para localização da artéria, seleção do manguito e
- Verificar no mesmo local e posição das verificações anterio- colocação.
res, quando possível. - Palpar a artéria à medida que infla o manguito.
- Não usar a extremidade que tiver uma lesão ou equipamen- - Inflar o manguito 30mmHg acima do ponto em que você per-
tos estranhos (p. ex., punção venosa, fistula de diálise arterioveno- cebeu o pulso da ultima vez.
sa ou renal). - Lentamente desinflar o manguito e perceber o ponto em que
- Não usar a extremidade com circulação alterada (p. ex., deri- o pulso volta a ser sentido.
vação de Blalock-Taussig, coarctação). - Desinflar completamente o manguito e removê-lo da extre-
- Selecionar manguito de tamanho apropriado: midade.
- A largura da câmara deve ser cerca de 40% da circunferência - Lavar as mãos.
do braço e estar a meio caminho entre o olecrânio (cotovelo) e o - Registrar os achados no prontuário do paciente como leitura
acrômio (ombro). da sistólica por palpação (p. ex., 100/p). Registrar também a posi-
- geralmente isto corresponde a um manguito que cobre cerca ção da criança, extremidade e local utilizado, tamanho do mangui-
de 80% a 100% da circunferência do braço. to, nível de atividade.
- Usar a linha do manguito do fabricante como um guia para a
seleção do manguito. Sinais Vitais: Temperatura
- Se não for possível obter o manguito do tamanho apropriado,
escolha um que seja maior, em vez de um muito pequeno. Diretrizes clínicas
- Centralizar a câmara do manguito na extremidade proximal - A temperatura é verificada para avaliar o estado de referencia
do pulso (p, ex., na área branquial, posição cerca de 2,5 a 5 cm aci- de cada paciente dentro da primeira hora após a admissão e para
ma da fossa antecubial), e prender o manguito de forma bem justa.
detectar a mudança no estado do paciente (p. ex., hipotermia, pre-
Não posicionar o manguito sobre a roupa.
sença de infecção, ou outras mudanças na condição do paciente).
- Verificar a PA após 3 a 5 minutos de repouso, quando possí-
- A temperatura é avaliada de novo 30 minutos a 1 hora após a
vel. Posicionar o braço (extremidade) da criança ao nível do coração
intervenção para medir a resposta ao esquema terapêutico.
durante o repouso.
- A temperatura deve ser verificada a cada 4 ou 8 horas, ou
- Localizar a posição exata do pulso. Coloque o diafragma do
mais frequentemente quando instável ou quando a criança estiver
estetoscópio onde o pulso é sentido, abaixo da borda do manguito.
agudamente doente ou com problemas de termorregulação.
- Fechar a válvula do diafragma e inflar o manguito a uma pres-
- Quando utilizar um equipamento para regular a temperatura
são de 30mmHg acima do ponto em que a pulsação da artéria é
(p. ex., incubadora, cobertor para hipotermia, luz de aquecimento
obstruída. Estabilizar a extremidade durante a verificação.
- Desinflar o manguito a uma velocidade de 2 a 3 mmHg por suspenso), a temperatura da criança deve ser verificada a cada 1 a
segundo. 3 horas.
- Observe os sons de Korotkoff: - Os termômetros de mercúrio não devem ser usados (Gold-
- Inicio do som de pancada. man, Shannon & o Committe on Environmental Health, 2001).
- Abafamento do som, se aplicado.
- Desaparecimento do som. - A via oral deve ser usada em crianças com idade superior a 5
- Não inflar novamente o manguito durante a desinsuflação. anos a não ser que seja contraindicado pelas condições médicas ou
Dar alguns minutos entre as verificações da PA. de desenvolvimento (convulsões, atraso no desenvolvimento, nível
- Desinflar o manguito completamente e removê-lo do braço. de consciência alterado).
- Lavar as mãos. - A mensuração timpânica (infravermelha) não é recomendada
- Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar para ser usada em crianças com idade inferior a 3 meses. Os estu-
também a posição da criança, extremidade e local utilizado, tama- dos mostram que as mensurações timpânicas não são tão exatas
nho do manguito, nível de atividade (p. ex., 90/50 mmHg, supina, quanto outras formas de mensuração de temperatura e mostram
braço direito, branquial, manguito infantil, calma). Se a PA estiver uma grande variedade.
muito alta ou baixa, verificar também a frequência cardíaca. - Os termômetros descartáveis (p. ex., Tempa – DOT) são mais
exatos para as crianças com idade inferior a 5 anos.
Método com Equipamento Automático - verificar a temperatura retal dos lactentes após o parto ime-
diato. Após essa verificação de temperatura retal, usar a via axilar
Passos nos lactentes e nas crianças pequenas. A temperatura retal está
- Seguir os 6 primeiros itens no procedimento anterior (Méto- contraindicada nas crianças que se submeteram a cirurgia retal e
do de Ausculta) para localização da artéria, seleção do manguito e intestinal, com neutropenia, ou trompocitopenia.
colocação. - O auxiliar ou técnico de enfermagem ou a enfermeira podem
- Seguir as instruções do fabricante para o uso da maquina. verificar a temperatura. Quando a temperatura for verificada pelo
- Estabilizar a extremidade durante a verificação. auxiliar ou técnico de enfermagem, qualquer variação do referen-
- Lavar as mãos. cial, ou desvio da mensuração anterior, deve ser relatada ao médico
- Registrar os achados no prontuário do paciente. Registrar ou enfermeira.
também a posição da criança, extremidade e local utilizado, tama-
nho do manguito, nível de atividade.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Verificação da Temperatura Corporal - Jogue fora o protetor do cabo apertando o botão de liberar.
- Retornar a unidade para carregar na base.
Passos - Lavar as mãos.
- Rever o prontuário da criança quanto a:
- Sinais vitais das ultimas 24 horas. Verificação da Temperatura Axilar com TermômetroEletrônico
- Avaliação dos problemas médicos atuais.
- Parâmetros de temperatura desejados Passos
- Lavar as mãos.
Verificação da Temperatura Oral de uma Criança com Idade - Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no
Superior a 5 Anos com Termômetro Eletrônico mostrador se o termômetro esta carregado.
- Selecionar o cabo apropriado: azul-oral.
Passos - Colocar o protetor do cabo no cabo.
- Lavar as mãos - Colocar o cabo protegido na axila da criança e segurar o braço
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no dela firmemente na lateral.
mostrador se o termômetro esta carregado. - Observar a temperatura quando o mostrador digital estabili-
- Selecionar o cabo apropriado: azul-oral. zou e a unidade emitiu um som; observar se a mensuração foi em
- Colocar o protetor do cabo no cabo. Celsius ou Fahrenheit.
- Gentilmente inserir o cabo com o protetor no saco sublingual - Retornar a unidade para carregar na base.
posterior da criança até que a unidade emita um sinal. - Lavar as mãos.
- Remover o cabo da boca e observar a temperatura do mostra-
dor; observar se é em Celsius ou Fahrenheit. Verificação da Temperatura com Termômetro Descartável
- Jogue fora o protetor do cabo.
- Retornar a unidade para carregar na base. Passos
- Lavar as mãos. - Lavar as mãos.
- Remover uma única unidade do pacote.
Verificação da Temperatura Timpânica em Criança com Idade - Retirar a fita protetora do termômetro descartável.
Superior a 3 meses - Colocar a fita de temperatura segundo as instruções de uso
do fabricante:
Passos - Pressionar a fita firmemente na testa ou axila da criança.
- Lavar as mãos. - Colocar no saco sublingual.
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no - Usar a fita para monitorar a temperatura assim que a cor para
mostrador se a unidade está carregada. de mudar.
- Garantir que o mostrador indica modo timpânico (as unidades - Ler a temperatura de acordo com as instruções do fabricante,
podem avaliar temperatura de superfície, retal, central e timpâni- por exemplo:
ca). - Ler o bloco indicado pela mudança de cor; verde indica tem-
- Colocar o protetor descartável na ponta do cabo. peratura registrada. Se o verde não aparecer, a temperatura está a
- Puxar a orelha – retrair a pina posteriormente (empurrar para meio caminho entre o indicado pelo marrom e o azul.
cima e para trás). - O numero de pontos que mudaram de cor.
- Inserir o cabo no conduto auditivo enquanto pressiona o bo- - Se for registrada uma temperatura acima de 37°C, confirmar
tão do scan; cheque para garantir que o conduto auditivo esteja com a temperatura oral ou retal.
fechado. - Lavar as mãos.
- Liberar o botão do scan. Medidas Antropométricas
- Remover o cabo quando o termômetro emitir sinal. Observar
A antropometria é importante ferramenta para avaliação do
o mostrador de leitura se a leitura é em Celsius ou Fahrenheit.
crescimento infantil e aceita universalmente. Vantagens como baixo
- Jogar fora o protetor do cabo pressionando o botão de liberar.
custo, facilidade de execução e relativa sensibilidade e especificida-
- Retornar a unidade para carregar na base.
de levam à elaboração de índices de crescimento fáceis de serem
- Lavar as mãos.
avaliados. Esse método pode ser aplicado em todas as fases do ciclo
de vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo
Verificação da Temperatura Retal com TermômetroEletrônico
seu estado nutricional.
As medidas antropométricas consistem nos dados sobre peso,
Passos
- Lavar as mãos, colocaras luvas de procedimento. altura, perímetros cefálico e torácico. Sua verificação objetiva o
- Remover o cabo do local onde fica guardado e observar no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança,
mostrador se o termômetro está carregado. vem como a base para a prescrição médica e de enfermagem.
- Selecionar o cabo apropriado: vermelho-retal. É importante que o enfermeiro ao participar do processo de
- Colocar o protetor do cabo no cabo. avaliação do crescimento da criança tenha o conhecimento de que
- Lubrificar a ponta com gel hidrossolúvel. os principais aspectos que englobam uma avaliação eficiente e efi-
- Gentilmente abra as pregas interglúteas da criança e introdu- caz ao paciente são:
za o cabo 1,7 cm no lactente e 2,5 cm na criança maior. -Medição dos valores antropométricos de maneira padroniza-
- Manter as pregas interglúteas fechadas com uma das mãos e da;
manter o cabo no lugar com a outra. -Relação dos valores encontrados conforme o sexo e a idade,
- Monitorar a mudança de temperatura no mostrador até que a comparando-os com os valores da população de referência;
unidade emita um som. Observar a temperatura no mostrador e se -Verificação da normalidade dos valores encontrados.
a mensuração é em Celsius ou Fahrenheit.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

1 – Peso/Idade: as relações entre o peso da criança e sua idade - Banho: neste momento pode-se estimular o sistema senso-
são de vital importância para uma identificação precoce de casos rial, afetivo da criança. Nele deve-se conversar, dar-lhe brinquedos,
de desnutrição ou obesidade, ou riscos para ambos. Esta relação estimular o tato e sempre incentivando o acompanhante a acompa-
também poderá alertar o enfermeiro quanto a outros problemas nhar este momento. Existem vários tipos de banhos: o de chuveiro,
relacionados que estejam ocasionando tais perdas ou ganhos anor- de leito e de banheira.
mais de peso.
2 – Estatura/Idade: a mensuração da estatura da criança é de Tipos de Banho:
suma importância para o acompanhamento do crescimento con- Banho de chuveiro: Normalmente é indicado para crianças na
siderado dentro dos padrões da normalidade; como foi visto an- faixa etária pré-escolar, escolar e adolescente, que consigam deam-
teriormente nos fatores que influenciam o crescimento é possí- bular, sem exceder sua capacidade em situação de dor. Sempre que
vel verificar que o déficit de crescimento pode estar associado a possível incentivar a criança a banhar-se sozinha, sob supervisão,
problemas como a desnutrição e/ou socioeconômicos, entretanto em caso de adolescentes permitir que tomem banho sozinhos.
quando estes déficits tornarem-se muito elevados é importante a
investigação de um especialista para detectar a real causa. Incentivar a criança a banhar-se sob supervisão ou, em caso de
3 – Peso/Estatura: a relação entre o peso e a estatura da crian- adolescente, que queiram privacidade, permitir que tome banho
ça é utilizada e recomendada pela Organização Mundial da Saúde sozinho.
para detectar sobrepeso; também deve ser utilizado para detectar - Quando for possível, ao término, verificar a limpeza da região
precocemente perdas de peso que indiquem a desnutrição aguda, atrás do pavilhão auditivo, mãos, pés e genitais.
ou o risco desta.
O enfermeiro enquanto integrante da equipe de saúde par- Higiene do Coto Umbilical
ticipa do processo de avaliação do crescimento da criança, sendo Tem como objetivo prevenir infecções e hemorragias, além de
importante salientar que todas as funções do processo avaliativo acelerar o processo de cicatrização.
são delegadas a diferentes profissionais, conforme a especialidade -Manter o coto posicionado para cima, evitando contato com
de cada um. fezes e urina; efetuar higiene na inserção e em toda extensão do
Desta forma, quando se fala em desnutrição e/ou obesidade e coto umbilical, evitando que o excesso de álcool escorra pelo ab-
obtenção de valores fidedignos é sempre de grande valia a inserção dômen.
do nutricionista, já que o mesmo possui a responsabilidade de ins- -Fazer curativo com álcool a 70% até a queda do coto umbilical
truir sobre a alimentação da criança e realizar demais testes antro- ou de acordo coma rotina da unidade.
pométricos necessários para uma análise mais detalhada. -Observar e registrar as condições do coto (presença de secre-
ção ou sangramento) e região peri umbilical (hiperemia e calor .).
Referências:
ORLANDI, O. V.; SABRÁ, A. O Recém-Nascido a Termo. In: FILHO, J. Higiene Nasal
R. Obstetrícia. 10º ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2005 É a remoção de excesso de secreção (cerúmen) do conduto au-
FERNANDES, K.; KIMURA, A. F. Práticas assistenciais em reanima- ditivo externo e a remoção da sujeira do pavilhão auricular.
ção do recém-nascido no contexto de um centro de parto normal. Fazer higiene com cotonete embebido em SF 0,9% ou água des-
Rev. Esc. Enferm. USP, São tilada, observar e registrar o aspecto da secreção retirada.
Paulo, v.39.n.º 4, p.383-390, 2005.
WONG, D. L. Enfermagem Pediátrica elementos essências à inter- Higiene Ocular
venção efetiva. 5ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999 É a retirada de secreções localizadas na face interna do globo
BOWDEN, V. R.; GREENBERG, C. S. Procedimentos de enfermagem ocular.
pediátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. -Fazer higiene ocular com SF 0,9 % ou água destilada, observar
COLLET, N.; OLIVEIRA, B.R.G. Manual de Enfermagem em Pediatria. e registrar o aspecto da secreção retirada.
Goiania:AB Editora, 2002. -Proceder à limpeza do ângulo interno do olho ao externo, uti-
Higiene lizando o lado do cotonete somente uma vez.
A higiene da criança hospitalizada é um cuidado de necessi-
dade básica, objetiva-se prevenir doenças, proporcionar conforto Aleitamento Materno
e bem estar a criança e ainda provocar a recuperação de sua en- Para que o aleitamento materno exclusivo seja bem sucedi-
fermidade. do é importante que a mãe esteja motivada e, além disso, que o
Possibilita a avaliação do exame físico e promove a educação profissional de saúde saiba orientá-la e apresentar propostas para
em saúde aos acompanhantes. resolver os problemas mais comuns enfrentados por ela durante a
Entre os procedimentos de higiene os mais utilizados são: ba- amamentação.
nho; higiene das unhas; troca de fraldas; higiene oral e nasal e hi- Por que as mães oferecem chás, água ou outro alimento? Por-
giene perineal. que acham que a criança está com sede, para diminuir as cólicas,
para acalmá-la a fim de que durma mais, ou porque pensam que
Banho: È um procedimento de rotina no momento da admis- seu leite é fraco ou pouco e não está sustentando adequadamen-
são, diariamente e sempre que necessário. O banho diário é indis- te a criança. Nesse caso, é necessário admitir que as mães não es-
pensável a saúde, proporciona bem-estar, estimula a circulação san- tão tranquilas quanto a sua capacidade para amamentar. É preciso
guínea e protege a pele contra diversas doenças. orientá-las:
O momento do banho deve ser aproveitado para estimular a -Que o leite dos primeiros dias pós-parto, chamado de colostro,
criança com (ou através de) estímulos psicoemocionais (acariciar), é produzido em pequena quantidade e é o leite ideal nos primeiros
auditivos (conversar e cantar) e psicomotores (inclusive movimen- dias de vida, inclusive para bebês prematuros, pelo seu alto teor de
tos ativos com os membros). proteínas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Que o leite materno contém tudo o que o bebê necessita até o Sinais indicativos de que a criança está mamando de forma
6º mês de vida, inclusive água. Assim, a oferta de chás, sucos e água adequada
é desnecessária e pode prejudicar a sucção do bebê, fazendo com
que ele mame menos leite materno, pois o volume desses líquidos Boa posição:
irá substituí-lo. Água, chá e suco representam um meio de contami- - O pescoço do bebê está ereto ou um pouco curvado para trás,
nação que pode aumentar o risco de doenças. A oferta desses líqui- semestar distendido
dos em chuquinhas ou mamadeiras faz com que o bebê engula mais - A boca está bem aberta
ar (aerofagia) propiciando desconforto abdominal pela formação de - O corpo da criança está voltado para o corpo da mãe
gases, e consequentemente, cólicas no bebê. Além disso, pode-se - A barriga do bebê está encostada na barriga da mãe
instalar a confusão de bicos, dificultando a pega correta da mama - Todo o corpo do bebê recebe sustentação
e aumentar os riscos de problemas ortodônticos e fonoaudiólogos. - O bebê e a mãe devem estar confortáveis
-A pega errada vai prejudicar o esvaziamento total da mama,
impedindo que o bebê mame o leite posterior (leite do final da ma- Boa pega:
mada) que é rico em gordura, interferindo na saciedade e encurtan- - O queixo toca a mama
do os intervalos entre as mamadas. Assim, a mãe pode pensar que - O lábio inferior está virado para fora
seu leite é insuficiente e fraco. - Há mais aréola visível acima da boca do que abaixo
-Se as mamas não são esvaziadas de modo adequado ficam in- - Ao amamentar, a mãe não sente dor no mamilo
gurgitadas, o que pode diminuir a produção de leite. Isso ocorre
devido ao aumento da concentração de substâncias inibidoras da Produção versus ejeção do leite materno
produção de leite. A produção adequada de leite vai depender, predominante-
-Em média a produção de leite é de um litro por dia, assim é mente, da sucção do bebê (pega correta, frequência de mamadas),
necessário que a mãe reponha em seu organismo a água utilizada que estimula os níveis de prolactina (hormônio responsável pela
no processo de lactação. É importante que a mãe tome mais água produção do leite).
(filtrada e fervida) e evite a ingestão de líquidos com calorias como Entretanto, a produção de ocitocina, hormônio responsável
refrigerantes e refrescos. pela ejeção do leite, é facilmente influenciada pela condição emo-
-As mulheres que precisam se ausentar por determinados perí- cional da mãe (autoconfiança). A mãe pode referir que está com
odos, por exemplo, para o trabalho ou lazer, devem ser incentivadas pouco leite. Nesses casos, geralmente, o bebê ganha menos de 20 g
e molha menos de seis fraldas por dia. O profissional de saúde pode
a realizar a ordenha do leite materno e armazená-lo em frasco de
contribuir para reverter essa situação orientando a mãe a colocar
vidro, com tampa plástica de rosca, lavado e fervido. Na geladeira,
a criança mais vezes no peito para amamentar inclusive durante a
pode ser estocado por 12 horas e no congelador ou freezer por no
noite, observando se a pega do bebê está correta.
máximo 15 dias. O leite materno deve ser descongelado e aquecido
em banho Maria e pode ser oferecido ao bebê em copo ou xícara, Puericultura
pequenos. O leite materno não pode ser descongelado em micro- Puericultura é a arte de promover e proteger a saúde das crian-
-ondas e não deve ser fervido. ças, através de uma atenção integral, compreendendo a criança
como um ser em desenvolvimento com suas particularidades. É
É importante que a mãe seja orientada sobre: uma especialidade médica contida na Pediatria que leva em conta
O leite materno contém a quantidade de água suficiente para a criança, sua família e o entorno, analisando o conjunto bio-psico-
as necessidades do bebê, mesmo em climas muito quentes. -sócio-cultural.
A oferta de água, chás ou qualquer outro alimento sólido ou Nas consultas periódicas, o pediatra observa a criança, inda-
líquido, aumenta a chance do bebê adoecer, além de substituir o ga aos pais sobre as atividades do filho, reações frente a estímulos
volume de leite materno a ser ingerido, que é mais nutritivo. e realiza o exame clínico. Quanto mais nova a criança, mais frágil
O tempo para esvaziamento da mama depende de cada bebê; e vulnerável, daí a necessidade de consultas mais frequentes. Em
há aquele que consegue fazê-lo em poucos minutos e aquele que o cada consulta o pediatra vai pedir informações de como a criança se
faz em trinta minutos ou mais. alimenta, se as vacinas estão em dia, como ela brinca, condições de
Ao amamentar: higiene, seu cotidiano. O acompanhamento do crescimento, atra-
a) a mãe deve escolher uma posição confortável, podendo vés da aferição periódica do peso, da altura e do perímetro cefálico
apoiar as costas em uma cadeira confortável, rede ou sofá e o bebê e sua análise em gráficos, são indicadores das condições de saúde
deve estar com o corpo bem próximo ao da mãe, todo voltado para das crianças. Sempre, a cada consulta, bebês, pré-escolares, esco-
ela. O uso de almofadas ou travesseiros pode ser útil; lares e jovens devem ter seu crescimento e seu desenvolvimento
b) ela não deve sentir dor, se isso estiver ocorrendo, significa avaliado. Crescimento é o ganho de peso e altura, um fenômeno
que a pega está errada. quantitativo, que termina ao final da adolescência. Por outro lado,
o desenvolvimento é qualitativo, significa aprender a fazer coisas,
A mãe que amamenta precisa ser orientada a beber no mínimo evoluir, tornar-se independente e geralmente é um processo con-
um litro de água filtrada e fervida, além da sua ingestão habitual tínuo.
diária, considerando que são necessários aproximadamente 900 ml
de água para a produção do leite. É importante também estimular
o bebê a sugar corretamente e com mais frequência (inclusive du-
rante a noite)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

DOENÇAS INFECTO CONTAGIOSAS NA INFÂNCIA (ATEN- Manifestações Clínicas: exantema é a primeira manifestação da
ÇÃO INTEGRADA ÀS DOENÇAS PREVALENTES NA INFÂNCIA - doença. As lesões evoluem em menos de 8 horas: máculas > pápu-
AIDPI) las > vesículas > formação de crosta. As crostas costumam cair em 7
Doenças de etiologia viral que costumam deixar imunidade dias até 3 semanas, se houver contaminação. Neste caso ou se hou-
permanente, sendo a maior incidência na primavera e inverno. Não ver remoção prematura da crosta deixa cicatriz residual. As lesões
existe tratamento específico, apenas a administração de medica- acometem predominantemente tronco, pescoço, face, segmentos
ções para aliviar sintomas, como a febre. porém é importante ficar proximais dos membros, poupando palma das mãos e planta dos
atento à criança. Se ela apresentar: sonolência incomum, recusar pés. Aparecem em surtos de 3 a 5 dias, por isso pode-se visualizar
beber líquidos, dor de ouvido, taquipnéia, respiração ruidosa ou ce- em uma mesma área a presença de todos os estágios de lesão. A
faléia intensa faz-se necessário procurar um médico, pois estes são intensidade varia de poucas lesões, surgidas de um único surto, a
alguns sinais de alerta para possíveis complicações dessas doenças. inúmeras lesões que cubram todo corpo, surgidas em 5 ou 6 surtos,
no decurso de 1 semana. A febre costuma ser baixa e sua intensida-
Sarampo de acompanha a intensidade da erupção cutânea.
Via de Transmissão: aérea, pela mucosa respiratória ou conjun- Período de Transmissibilidade: desde 1 dia antes do apareci-
tival mento de exantema até 5 dias após o aparecimento da última ve-
Período de Incubação: 8 a 12 dias sícula.
Manifestações Prodrômicas: febre (geralmente elevada, alcan- Importante: evite que a criança coce as lesões, evitando a con-
çando o máximo no aparecimento do exantema), manifestações taminação local e cicatrizes residuais. Se a coceira for muita, procu-
sistêmicas, coriza, conjuntivite, tosse, exantema característico, po- re um médico que indicará métodos para aliviar o prurido.
dendo apresentar também: cefaléia, dores abdominais, vômitos,
diarréia, artralgias e mialgia, associados a prostração e sonolência, Caxumba (Parotidite Epidêmica)
quadro que pode dar a impressão de doença grave. Um sinal pa- Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotículas
tognomônico da doença é o aparecimento das manchas de Koplick contaminadas e contato oral com utensílios contaminados
- pontos azulados na mucosa bucal que tendem a desaparecer. Período de Incubação: 14 a 21 dias
Manifestações Clínicas: as lesões cutâneas, aparecem no 14º Manifestações Prodrômicas: passa desapercebido, só se notan-
dia de contágio, são máculo-papulosas avermelhadas, isoladas uma do a doença quando aparecem dor e edema da glândula.
das outras e circundadas por pele não comprometida, podendo Manifestações Clínicas: aumento das parótidas, que é uma
confluir. Começam no início da orelha, após 24 horas são encontra- glândula situada no ramo ascendente da mandíbula. Pode afetar
das em: face, pescoço, tronco e braços ,e após 2 ou 3 dias: membros um ou ambos os lados do rosto. Irá se apresentar mole, dolorosa
inferiores e desaparecendo no 6º dia. As lesões evoluem para man- a palpação, sem sinais inflamatórios e sem limites nítidos. Com o
edema da parótida há uma elevação da febre e dor de gargganta.
chas pardas residuais com descamação leve. A temperatura tende a
Período de Transmissibilidade: 3 dias antes do edema da paró-
se normalizar no quarto dia de exantema.
tida, até 7 dias depois do inchaço ter diminuído.
Período de Transmissibilidade: começa 2 a 4 dias antes do pe-
Importante: recomenda-se o repouso, sendo obrigatório para
ríodo prodrômico e vai até o 6º dia do aparecimento do exantema.
adolescentes e adultos, principalmente do sexo masculino.
Doença infecciosa endêmica e epidêmica, de origem bacteria-
Rubéola
na, sendo uma importante causa de morbi-mortalidade em crianças
Via de Transmissão: por via respiratória, através de gotículas
de baixa idade, principalmente em crianças não-imunizadas. Sua
contaminadas
imunidade, também, parece ser permanente após a doença e não
Período de Incubação: 14 a 21 dias há influência sazonal evidente nos picos de incidência.
Manifestações Prodrômicas: em crianças não existem pródro-
mos da doença, mas em adolescentes e adultos, o exantema pode Coqueluche
ser precedido por 1 ou 2 dias de mal-estar, febre baixa, dor de gar- Via de Transmissão: contato direto através da via respiratória.
ganta e coriza discreta. Período de Incubação: varia entre 6 e 20 dias
Manifestações Clínicas: 7 dias antes da erupção cutânea, perce- Manifestações Clínicas: dura de 6 a 8 semanas, sendo que o
be-se um aumento dos gânglios cervicais, retroauriculares e occip- quadro clínico depende da idade e grau de imunização do indivíduo.
tais. As lesões cutâneas são máculo-papulosas, de coloração rósea É dividida em estadios:
e às vezes confluentes. Iniciam na face, pescoço, tronco, membros (1) Estádio catarral - dura de 1 a 2 semanas e é o período de
superiores e inferiores em menos de 24 horas. Na maioria dos ca- maior contagiosidade. Caracterizado por secreção nasal, lacrimeja-
sos, a erupção permanece por 3 dias. Existem muitos indivíduos mento, tosse discreta, congestão conjutival e febre baixa.
que apresentam a infecção inaparente. (2) Estádio paroxístico - dura de 1 a 4 semanas (ou mais). Há
Período de Transmissibilidade: começa 1 semana antes do apa- uma intensificação da tosse manifestada em crises, frequentemen-
recimento de exantema até 5 dias após o início da erupção cutânea. te mais numerosas durante a noite.
Importante: por ser uma doença teratogênica, recomenda-se (3) Estádio de convalescença - acessos são menos intensos e
que os indivíduos acometidos fiquem em casa evitando o contágio menos frequentes.
de mulheres grávidas.
Importante: por ser uma patologia bacteriana faz-se necessário
Catapora (varicela) a introdução de antibioticoterapia e isolamento respiratório por 5
Via de Transmissão: por contato direto, por meio de gotículas dias após o início da administração medicamentosa, ou por 3 sema-
infectadas, mas em curtas distâncias. Também pode ser transmitido nas após o começo do estádio paroxístico, se a antibioticoterapia
por via indireta, através de mãos e roupas. for contra-indicada.
Período de Incubação: 14 a 17 dias Faz-se necessário a hospitalização de lactentes com problemas
Manifestações Prodrômicas: curto (24 horas), constituído de importantes na alimentação, crises de apnéia e cianose, e pacientes
febre baixa e discreto mal-estar. com complicações graves.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Procurar evitar fatores desencadeantes de crises como temor, - Dor abdominal.


decúbito baixo, permanência em recintos fechados e exercícios físi- - Febre.
cos. Procurar manter nutrição e hidratação adequada. - Sangue ou muco nas fezes.
DOENÇAS DIARREICAS AGUDAS (DDA) - Náusea.
- Vômitos.
O que é são doenças diarreicas agudas?
As doenças diarreicas agudas (DDA) correspondem a um gru- Como diagnosticar as doenças diarreicas agudas (diarreia)?
po de doenças infecciosas gastrointestinais. São caracterizadas por O diagnóstico das causas etiológicas, ou seja, dos microrganis-
uma síndrome em que há ocorrência de no mínimo três episódios mos causadores da DDA é realizado apenas por exame laboratorial
de diarreia aguda em 24 horas, ou seja, diminuição da consistência por meio de exames parasitológicos de fezes, cultura de bactérias
das fezes e aumento do número de evacuações, quadro que pode (coprocultura) e pesquisa de vírus. O diagnóstico laboratorial é im-
ser acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal. Em portante para determinar o perfil de agentes etiológicos circulantes
geral, são doenças autolimitadas com duração de até 14 dias. Em al- em determinado local e, na vigência de surtos, para orientar as me-
guns casos, há presença de muco e sangue, quadro conhecido como didas de controle. Em casos de surto, solicitar orientação da equipe
disenteria. A depender do agente causador da doença e de caracte- de vigilância epidemiológica do município para coleta de amostras.
rísticas individuais dos pacientes, as DDA podem evoluir clinicamen- IMPORTANTE: As fezes devem ser coletadas antes da adminis-
te para quadros de desidratação que variam de leve a grave. tração de antibióticos e outros medicamentos ao paciente. Reco-
A diarreia pode ser de origem não infecciosa podendo ser cau- menda-se a coleta de 2 a 3 amostras de fezes por paciente.
sada por medicamentos, como antibióticos, laxantes e quimiote- O diagnóstico etiológico das Doenças Diarreicas Agudas nem
rápicos utilizados para tratamento de câncer, ingestão de grandes sempre é possível, uma vez que há uma grande dificuldade para a
quantidades de adoçantes, gorduras não absorvidas, e até uso de realização das coletas de fezes, o que se deve, entre outras ques-
bebidas alcoólicas, por exemplo. Além disso, algumas doenças não tões, à baixa solicitação de coleta de amostras pelos profissionais
infecciosas também podem desencadear diarreia, como a doen- de saúde e à reduzida aceitação e coleta pelos pacientes.
ça de Chron, as colites ulcerosas, a doença celíaca, a síndrome do Desse modo, é importante que o indivíduo doente seja bem
intestino irritável e intolerâncias alimentares como à lactose e ao esclarecido quanto à relevância da coleta de fezes, especialmente
glúten. na ocorrência de surtos, casos com desidratação grave, casos que
apresentam fezes com sangue e casos suspeitos de cólera a fim de
O que causa as doenças diarreicas agudas? possibilitar a identificação do microrganismo que causou diarreia.
As doenças diarreicas agudas (DDA) podem ser causadas por Essa informação será útil para prevenir a transmissão da doença
diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros para outras pessoas.
parasitas, como os protozoários) que geram a gastroenterite – in- A coleta de fezes para análise laboratorial é de grande impor-
flamação do trato gastrointestinal – que afeta o estômago e o in- tância para a identificação de agentes circulantes e, especialmente
testino. A infecção é causada por consumo de água e alimentos em caso de surtos, para se identificar o agente causador do surto,
contaminados, contato com objetos contaminados e também pode bem como a fonte da contaminação.
ocorrer pelo contato com outras pessoas, por meio de mãos conta-
minadas, e contato de pessoas com animais. Como tratar as doenças diarreicas agudas?
O tratamento das doenças diarreicas agudas se fundamenta na
Quais são os fatores de risco para doenças diarreicas agudas? prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da inges-
Qualquer pessoa, de qualquer faixa etária e gênero, pode ma- tão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos
nifestar sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas após a con- endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade
taminação. No entanto, alguns comportamentos podem colocar as do caso. Por isso, apenas após a avaliação clínica do paciente, o tra-
pessoas em risco e facilitar a contaminação como: tamento adequado deve ser estabelecido, conforme os planos A, B
- Ingestão de água sem tratamento adequado; e C descritos abaixo.
- Consumo de alimentos sem conhecimento da procedência, Para indicar o tratamento é imprescindível a avaliação clínica
do preparo e armazenamento; do paciente e do seu estado de hidratação. A abordagem clínica
- Consumo de leite in natura (sem ferver ou pasteurizar) e de- constitui a coleta de dados importantes na anamnese, como: início
rivados; dos sinais e sintomas, número de evacuações, presença de muco
- Consumo de produtos cárneos e pescados e mariscos crus ou ou sangue nas fezes, febre, náuseas e vômitos; presença de doen-
malcozidos; ças crônicas; verificação se há parentes ou conhecidos que também
- Consumo de frutas e hortaliças sem higienização adequada; adoeceram com os mesmos sinais/sintomas.
- Viagem a locais em que as condições de saneamento e de O exame físico, com enfoque na avaliação do estado de hidra-
higiene sejam precárias; tação, é importante para avaliar a presença de desidratação e a ins-
- Falta de higiene pessoal. tituição do tratamento adequado, além disso, o paciente deve ser
pesado, sempre que possível.
ATENÇÃO ESPECIAL: Crianças e idosos com DDA correm risco Se não houver dificuldade de deglutição e o paciente estiver
de desidratação grave. Nestes casos, a procura ao serviço de saúde consciente, a alimentação habitual deve ser mantida e deve-se au-
deve ser realizada em caráter de urgência. mentar a ingestão de líquidos, especialmente de água.

Quais são os sinais e sintomas das doenças diarreicas agudas? Plano A


Ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda no O plano A consiste em cinco etapas direcionadas ao paciente
período de 24hrs (diminuição da consistência das fezes – fezes líqui- HIDRATADO para realizar no domicílio:
das ou amolecidas – e aumento do número de evacuações) poden- Aumento da ingestão de água e outros líquidos incluindo so-
do ser acompanhados de: lução de SRO principalmente após cada episódio de diarreia, pois
- Cólicas abdominais. dessa forma evita-se a desidratação;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Manutenção da alimentação habitual; continuidade do aleita- O paciente com diarreia deve estar atento e voltar imediata-
mento materno; mente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar qual-
quer um dos sinais e sintomas:
Retorno do paciente ao serviço, caso não melhore em 2 dias ou - Piora da diarreia.
apresente piora da diarreia, vômitos repetidos, muita sede, recusa - Vômitos repetidos.
de alimentos, sangue nas fezes ou diminuição da diurese; - Muita sede.
Orientação do paciente/responsável/acompanhante para re- - Recusa de alimentos.
conhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e - Sangue nas fezes.
administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal - Diminuição da urina.
e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e
higienização dos alimentos); Como ocorre a transmissão das doenças diarreicas agudas?
Administração de Zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias. A transmissão das doenças diarreicas agudas pode ocorrer pe-
las vias oral ou fecal-oral.
Plano B Transmissão indireta -Pelo consumo de água e alimentos con-
O Plano B consiste em três etapas direcionadas ao paciente taminados e contato com objetos contaminados, como por exem-
COM DESIDRATAÇÃO, porém sem gravidade, com capacidade de in- plo, utensílios de cozinha, acessórios de banheiros, equipamentos
gerir líquidos, que deve ser tratado com SRO na Unidade de Saúde, hospitalares.
onde deve permanecer até a reidratação completa. Transmissão direta -Pelo contato com outras pessoas, por meio
Ingestão de solução de SRO, inicialmente em pequenos volu- de mãos contaminadas e contato de pessoas com animais.
mes e aumento da oferta e da frequência aos poucos. A quantidade Os manipuladores de alimentos e os insetos podem contami-
a ser ingerida dependerá da sede do paciente, mas deve ser admi- nar, principalmente, os alimentos, utensílios e objetos capazes de
nistrada continuamente até que desapareçam os sinais da desidra- absorver, reter e transportar organismos contagiantes e infecciosos.
tação; Locais de uso coletivo, como escolas, creches, hospitais e penitenci-
Reavaliação do paciente constantemente, pois o Plano B ter- árias apresentam maior risco de transmissão das doenças diarreicas
mina quando desaparecem os sinais de desidratação, a partir de agudas.
quando se deve adotar ou retornar ao Plano A; O período de incubação, ou seja, tempo para que os sintomas
Orientação do paciente/responsável/acompanhante para re- comecem a aparecer a partir do momento da contaminação/infec-
conhecer os sinais de desidratação; preparar adequadamente e ção, e o período de transmissibilidade das DDA são específicos para
administrar a solução de SRO e praticar ações de higiene pessoal cada agente etiológico.
e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e
Como prevenir as doenças diarreicas agudas?
higienização dos alimentos);
As intervenções para prevenir a diarreia incluem ações institu-
cionais de saneamento e de saúde, além de ações individuais que
Plano C
devem ser adotadas pela população:
O Plano C consiste em duas fases de reidratação endovenosa
Lave sempre as mãos com sabão e água limpa principalmente
destinada ao paciente COM DESIDRATAÇÃO GRAVE. Nessa situação
antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após
o paciente deverá ser transferido o mais rapidamente possível. Os
utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar
primeiros cuidados na unidade de saúde são importantíssimos e já
sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e
devem ser efetuados à medida que o paciente seja encaminhado ao
depois de amamentar e trocar fraldas.
serviço hospitalar de saúde.
Lave e desinfete as superfícies, os utensílios e equipamentos
Realizar reidratação endovenosa no serviço saúde (fases rápida usados na preparação de alimentos.
e de manutenção); Proteja os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, ani-
O paciente deve ser reavaliado após duas horas, se persistirem mais de estimação e outros animais (guarde os alimentos em reci-
os sinais de choque, repetir a prescrição; caso contrário, iniciar ba- pientes fechados).
lanço hídrico com as mesmas soluções preconizadas; Trate a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas
Administrar por via oral a solução de SRO em doses pequenas e gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de
frequentes, tão logo o paciente aceite. Isso acelera a sua recupera- água, aguardar por 30 minutos antes de usar).
ção e reduz drasticamente o risco de complicações. Guarde a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo
Suspender a hidratação endovenosa quando o paciente estiver a “boca” estreita para evitar a recontaminação;
hidratado, com boa tolerância à solução de SRO e sem vômitos. Não utilize água de riachos, rios, cacimbas ou poços contami-
Para tratamento detalhado acesse aqui o Manejo do Paciente nados para banhar ou beber.
com Diarreia. Evite o consumo de alimentos crus ou malcozidos (principal-
mente carnes, pescados e mariscos) e alimentos cujas condições
OBSERVAÇÃO: O Tratamento com antibiótico deve ser reserva- higiênicas, de preparo e acondicionamento, sejam precárias.
do apenas para os casos de DDA com sangue ou muco nas fezes (di- Ensaque e mantenha a tampa do lixo sempre fechada; quando
senteria) e comprometimento do estado geral ou em caso de cólera não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apro-
com desidratação grave, sempre com acompanhamento médico. priado.
Use sempre o vaso sanitário, mas se isso não for possível, en-
Quais são as possíveis complicações das doenças diarreicas terre as fezes sempre longe dos cursos de água;
agudas? Evite o desmame precoce. Manter o aleitamento materno au-
A principal complicação é a desidratação, que se não for corri- menta a resistência das crianças contra as diarreias.
gida rápida e adequadamente, em grande parte dos casos, especial- Situação epidemiológica das doenças diarreicas agudas (diar-
mente em crianças e idosos, pode causar complicações mais graves. reia aguda)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os casos individuais de DDA são de notificação compulsória em DOENÇAS RESPIRATÓRIA NA INFÂNCIA


unidades sentinelas para monitorização das DDA (MDDA). O prin- São as doenças mais frequentes durante a infância, acometen-
cipal objetivo da Vigilância Epidemiológica das Doenças Diarreicas do um número elevado de crianças, de todos os níveis sócio-econô-
Agudas (VE-DDA) é monitorar o perfil epidemiológico dos casos, micos e por diversas vezes. Nas classes sociais mais pobres, as in-
visando detectar precocemente surtos, especialmente os relacio- fecções respiratórias agudas ainda se constituem como importante
nados a: acometimento entre menores de cinco anos; agentes etio- causa de morte de crianças pequenas, principalmente menores de
lógicos virulentos e epidêmicos, como é o caso da cólera; situações 1 ano de idade. Os fatores de risco para morbidade e mortalidade
de vulnerabilidade social; seca, inundações e desastres. Os casos são baixa idade, precárias condições sócio-econômicas, desnutri-
de DDA são notificados no Sistema de Informação de Vigilância ção, déficit no nível de escolaridade dos pais, poluição ambiental e
Epidemiológica das DDA (SIVEP_DDA) e o monitoramento é reali- assistência de saúde de má qualidade (SIGAUD, 1996).
zado pelo acompanhamento contínuo dos níveis endêmicos para A enfermagem precisa estar atenta e orientar a família da
verificar alteração do padrão da doença em localidades e períodos criança sobre alguns fatores:
de tempo determinados. Diante da identificação de alterações no - preparar os alimentos sob a forma pastosa ou líquida, ofere-
comportamento da doença, deve ser realizada investigação e ava- cendo em menores quantidades e em intervalos mais curtos, res-
liação de risco para subsidiar as ações necessárias. peitando a falta de apetite e não forçando a alimentação;
Segundo a Organização Mundial de Saúde, as doenças diar- - aumentar a oferta de líquidos: água, chás e suco de frutas,
reicas constituem a segunda principal causa de morte em crianças levando em consideração a preferência da criança;
menores de cinco anos, embora sejam evitáveis e tratáveis. As DDA - manter a criança em ambiente ventilado, tranquilo e agasa-
lhada se estiver frio;
são as principais causas de morbimortalidade infantil (em crianças
- fluidificar e remover secreções e muco das vias aéreas supe-
menores de um ano) e se constituem um dos mais graves proble-
riores frequentemente;
mas de saúde pública global, com aproximadamente 1,7 bilhão de
- evitar contato com outras crianças;
casos e 525 mil óbitos na infância (em crianças menores de 5 anos)
- havendo febre: até 38,4ºC dar banho, de preferência de imer-
por ano. Além disso, as DDA estão entre as principais causas de des- são, morno (por 15 minutos); aplicar compressa com água morna
nutrição em crianças menores de cinco anos. e álcool nas regiões inguinal e axilar; retirar excessos de roupa. Se
Uma proporção significativa das doenças diarreicas é transmi- ultrapassar este valor oferecer antitérmico recomendado pelo pe-
tida pela água e pode ser prevenida através do consumo de água diatra.
potável, condições adequadas de saneamento e hábitos de higiene.
No Brasil, segundo estatísticas do IBGE, em 2016, 87,3% dos do- RESFRIADO
micílios ligados à rede geral tinham disponibilidade diária de água, Inflamação catarral da mucosa rinofaríngea e formações lin-
percentual que era de 66,6% no Nordeste, onde em 16,3% dos do- fóides anexas. Possui como causas predisponentes: convívio ou
micílios o abastecimento ocorria de uma a três vezes por semana contágio ocasional com pessoas infectadas, desnutrição, clima frio
e em 11,2% dos lares, de quatro a seis vezes. A região Norte apre- ou úmido, condições da habitação e dormitório da criança, quedas
sentava o menor percentual de domicílios em que a principal forma bruscas e acentuadas da temperatura atmosférica, susceptibilida-
de abastecimento de água era a rede geral de distribuição (59,8%). de individual, relacionada à capacidade imunológica (ALCÂNTARA,
Por outro lado, a região se destacava quando se tratava de abaste- 1994).
cimento através de poço profundo ou artesiano (20,3%); poço raso, Principais sinais e sintomas: febre de intensidade variável, cor-
freático ou cacimba (12,7%); e fonte ou nascente (3,1%). rimento nasal mucoso e fluido (coriza), obstrução parcial da respi-
Outra preocupação é a ocorrência de inundações e secas indu- ração nasal tornando-se ruidosa (trazendo irritação, principalmente
zidas por mudanças climáticas, que podem afetar as condições de ao lactente que tem sua alimentação dificultada), tosse (não obri-
acesso de muitas famílias aos serviços de abastecimento de água gatória), falta de apetite, alteração das fezes e vômitos (quando a
e saneamento, expondo populações a riscos relacionados à saúde. criança é forçada a comer).
Além disso, as inundações podem dispersar diversos contaminan- Não existindo contra-indicações recomenda-se a realização de
tes fecais, aumentando os riscos de surtos de doenças transmitidas exercícios rrespiratórios, tapotagem e dembulação. Se o estado for
pela água. No caso da escassez de água devido à seca, a utilização muito grave, sugerindo risco de vida para a criança se ela continuar
de fontes alternativas de água sem tratamento adequado, incluindo em seu domicílio, recomenda-se a hospitalização.
água de caminhão pipa, também aumenta os riscos de adoecimen-
PNEUMONIA
to por doenças diarreicas.
Inflamação das paredes da árvore respiratória causando au-
A seca e a estiagem são, entre os tipos de desastre, os que mais
mento das secreções mucosas, respiração rápida ou difícil, dificul-
afetam a população brasileira (50,34%), por serem mais recorren-
dade em ingerir alimentos sólidos ou líquidos; piora do estado ge-
tes, atingindo mais fortemente as regiões Nordeste, Sul e parte do
ral, tosse, aumento da frequência respiratória (maior ou igual a 60
Sudeste. As inundações são a segunda tipologia de desastres de batimentos por minuto); tiragem (retração subcostal persistente),
maior recorrência no Brasil e atingem todas as regiões do país, cau- estridor, sibilância, gemido, períodos de apnéia ou guinchos (tosse
sando impactos significativos sobre a saúde das pessoas e a infra- da coqueluche), cianose, batimentos de asa de nariz, distensão ab-
estrutura de saúde. dominal, e febre ou hipotermia (podendo indicar infecção).
Nesse cenário diversificado das regiões do país, relacionado ao
desenvolvimento socioeconômico, às condições de saneamento, ao
clima e às situações adversas, como os desastres, ocorrem anual-
mente, mais de 4 milhões de casos e mais de 4 mil óbitos por DDA,
registrados por meio da vigilância epidemiológica em unidades sen-
tinelas e pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

AMIGDALITES ASMA
Doença crônica do trato respiratório, sendo uma infecção mui-
Muito frequente na infância, principalmente na faixa etária de to frequente na infância. A crise é causada por uma obstrução, de-
3 a 6 anos (ALCÂNTARA, 1994). Seu quadro clínico assemelha-se a vido a contração da musculatura lisa, edema da parede brônquica e
um resfriado comum. Principais sinais e sintomas: febre, mal estar, infiltração de leucócitos polimorfonucleares, eosinófilos e linfócitos
prostração ou agitação, anorexia em função da dificuldade de de- (GRUMACH, 1994).
glutição, presença de gânglios palpáveis, mau hálito, presença ou Manifesta-se através de crises de broncoespasmo, com
não de tosse seca, dor e presença de pus na amigdala. dispnéia, acessos de tosse e sibilos presentes à ausculta pulmonar.
Às orientações de enfermagem acrescentaria-se estimular a fa- São episódios auto-limitados podendo ser controlados por medica-
mília a ofertar à criança uma alimentação mais semi-líquida, a base mentos com retorno normal das funções na maioria das crianças.
de sopas, papas ... Em metade dos casos, os primeiros sintomas da doença sur-
gem até o terceiro ano de vida e, em muitos pacientes, desapare-
OTITE cem com a puberdade. Porém a persistência na idade adulta leva a
Caracterizada por dor, febre, choro frequente, dificuldade para um agravo da doença.
sugar e alimentar-se e irritabilidade, sendo o diagnóstico confirma- Fatores desencadeantes: alérgenos (irritantes alimentares),
do pelo otoscópio. Possui como fatores predisponentes: infecções, agentes irritantes, poluentes atmosféricos e mudanças
climáticas, fatores emocionais, exercícios e algumas drogas (ácido
- alimentação em posição horizontal, pois propicia refluxo ali- acetil salicílico e similares).
mentar pela tuba, que é mais curta e horizontal na criança, levando É importante que haja:
à otite média; - estabelecimento de vínculo entre paciente/ família e equipe
- crianças que vivem em ambiente úmido ou filhas de pais fu- de saúde;
mantes; - controle ambiental, procurando afastar elementos alergêni-
- diminuição da umidade relativa do ar; cos;
- limpeza inadequada, com cotonetes, grampos e outros, pre- - higiene alimentar;
judicando a saída permanente da cera pela formação de rolhas obs- - suspensão de alimentos só deverá ocorrer quando existir uma
trutivas, ou retirando a proteção e facilitando a evolução de otites nítida relação com a sintomatologia apresentada;
micóticas ou bacterianas, além de poder provocar acidentes. - fisioterapia respiratória a fim de melhorar a dinâmica respira-
tória, corrigir deformidades torácicas e vícios posturais, aumentan-
Orientar sobre a limpeza que deve ser feita apenas com água, do a resistência física.
sabonete, toalha e dedo.
Durante uma crise o paciente precisa de um respaldo medica-
SINUSITE mentoso para interferir na sintomatologia e de uma pessoa segura
“Desencadeada pela obstrução dos óstios de drenagem dos e tranquila ao seu lado. Para tanto a família precisa ser muito bem
esclarecida e em alguns casos faz-se necessário encaminhamento
seios da face, favorecendo a retenção de secreção e a infecção bac-
psicológico.
teriana secundária” (LEÃO, 1989). Caracteriza-se por tosse noturna,
secreção nasal e com presença ou não de febre, sendo que rara-
SAÚDE DA MULHER
mente há cefaléia na infância (SAMPAIO, 1994). Casos recidivantes
são geralmente causados por alergia respiratória. Possui como fato-
Diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
res predisponentes:
Mulher
- episódios muito frequentes de resfriado;
– O Sistema Único de Saúde deve estar orientado e capacitado
- crianças que vivem em ambiente úmido ou flhas de pais fu-
para a atenção integral à saúde da mulher, numa perspectiva que
mantes; contemple a promoção da saúde, as necessidades de saúde da po-
- diminuição da umidade relativa do ar. pulação feminina, o controle de patologias mais prevalentes nesse
grupo e a garantia do direito à saúde.
RINITE – A Política de Atenção à Saúde da Mulher deverá atingir as mu-
Apresenta como manifestações clínicas a obstrução nasal ou lheres em todos os ciclos de vida, resguardadas as especificidades
coriza, prurido e espirros em salva; a face apresenta “olheiras”; du- das diferentes faixas etárias e dos distintos grupos populacionais
pla prega infra-orbitária; e sulco transversal no nariz, sugerindo pru- (mulheres negras, indígenas, residentes em áreas urbanas e rurais,
rido intenso. Pode ser causada por alergia respiratória, neste caso residentes em locais de difícil acesso, em situação de risco, presidi-
faz-se necessário afastar as substâncias que possam causar alergia. árias, de orientação homossexual, com deficiência, dentre outras).
– A elaboração, a execução e a avaliação das políticas de saúde
BRONQUITE da mulher deverão nortear-se pela perspectiva de gênero, de raça e
Inflamação nos brônquios, caracterizada por tosse e aumento de etnia, e pela ampliação do enfoque, rompendo-se as
da secreção mucosa dos brônquios, acompanhada ou não de febre, fronteiras da saúde sexual e da saúde reprodutiva, para alcan-
predominando em idades menores. Quando apresentam grande çar todos os aspectos da saúde da mulher.
quntidade de secreção pode-se perceber ruído respiratório (“chia- – A gestão da Política de Atenção à Saúde deverá estabelecer
do” ou “ronqueira”) (RIBEIRO, 1994). uma dinâmica inclusiva, para atender às demandas emergentes ou
Propicia que as crianças portadoras tenham infecções com demandas antigas, em todos os níveis assistenciais.
maior frequência do que outras. Pode se tornar crônica, levando
a anorexia a uma perda da progressão de peso e estatura (RIBEI-
RO, 1994). Recomenda-se afastar substâncias que possam causar
alergias.

51
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

– As políticas de saúde da mulher deverão ser compreendidas Objetivos Gerais da Política Nacional de Atenção Integral à
em sua dimensão mais ampla, objetivando a criação e ampliação Saúde da Mulher
das condições necessárias ao exercício dos direitos da mulher, seja – Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mu-
no âmbito do SUS, seja na atuação em parceria do setor Saúde com lheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente cons-
outros setores governamentais, com destaquepara a segurança, a tituídos e ampliação do acesso aos meios e serviços de promoção,
justiça, trabalho, previdência social e educação. prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo território
– A atenção integral à saúde da mulher refere-se ao conjunto brasileiro.
de ações de promoção, proteção, assistência e recuperação da saú- – Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade femi-
de, executadas nos diferentes níveis de atenção à saúde (da básica nina no Brasil, especialmente por causas evitáveis, em todos os ci-
à alta complexidade). clos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação
– O SUS deverá garantir o acesso das mulheres a todos os níveis de qualquer espécie.
de atenção à saúde, no contexto da descentralização, hierarquiza- – Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da
ção e integração das ações e serviços. Sendo responsabilidade dos mulher no Sistema Único de Saúde.
três níveis gestores, de acordo com as competências de cada um,
garantir as condições para a execução da Política de Atenção à Saú- Objetivos Específicos e Estratégias da Política Nacional de
de da Mulher. Atenção Integral à Saúde da Mulher
– A atenção integral à saúde da mulher compreende o atendi- Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive
mento à mulher a partir de uma percepção ampliada de seu contex- para as portadoras da infecção pelo HIV e outras DST:
to de vida, do momento em que apresenta determinada demanda, – fortalecer a atenção básica no cuidado com a mulher;
assim como de sua singularidade e de suas condições enquanto su- – ampliar o acesso e qualificar a atenção clínico- ginecológica
jeito capaz e responsável por suas escolhas. na rede SUS. Estimular a implantação e implementação da assistên-
– A atenção integral à saúde da mulher implica, para os pres- cia em planejamento familiar, para homens e mulheres, adultos e
tadores de serviço, no estabelecimento de relações com pessoas adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde:
singulares, seja por razões econômicas, culturais, religiosas, raciais, – ampliar e qualificar a atenção ao planejamento familiar, in-
de diferentes orientações sexuais, etc. O atendimento deverá nor- cluindo a assistência à infertilidade;
– garantir a oferta de métodos anticoncepcionais para a popu-
tear-se pelo respeito a todas as diferenças, sem discriminação de
lação em idade reprodutiva;
qualquer espécie e sem imposição de valores e crenças pessoais.
– ampliar o acesso das mulheres às informações sobre as op-
Esse enfoque deverá ser incorporado aos processos de sensibiliza-
ções de métodos anticoncepcionais;
ção e capacitação para humanização das práticas em saúde.
– estimular a participação e inclusão de homens e adolescen-
– As práticas em saúde deverão nortear-se pelo princípio da tes nas ações de planejamento familiar. Promover a atenção obsté-
humanização, aqui compreendido como atitudes e comportamen- trica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência
tos do profissional de saúde que contribuam para reforçar o caráter ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e adoles-
da atenção à saúde como direito, que melhorem o grau de informa- centes:
ção das mulheres em relação ao seu corpo e suas condições de saú- – construir, em parceria com outros atores, um Pacto Nacional
de, ampliando sua capacidade de fazer escolhas adequadas ao seu pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal; – qualificar a
contexto e momento de vida; que promovam o acolhimento das de- assistência obstétrica e neonatal nos estados e municípios;
mandas conhecidas ou não pelas equipes de saúde; que busquem -organizar rede de serviços de atenção obstétrica e neonatal,
o uso de tecnologia apropriada a cada caso e que demonstrem o garantindo atendimento à gestante de alto risco e em situações de
interesse em resolver problemas e diminuir o sofrimento associado urgência/emergência, incluindo mecanismos de referência e con-
ao processo de adoecimento e morte da clientela e seus familiares. tra-referência; – fortalecer o sistema de formação/capacitação de
– No processo de elaboração, execução e avaliação das Política pessoal na área de assistência obstétrica e neonatal; – elaborar e/
de Atenção à Saúde da Mulher deverá ser estimulada e apoiada a ou revisar, imprimir e distribuir material técnico e educativo
participação da sociedade civil organizada, em particular do movi- – qualificar e humanizar a atenção à mulher em situação de
mento de mulheres, pelo reconhecimento de sua contribuição téc- abortamento;
nica e política no campo dos direitos e da saúde da mulher. – apoiar a expansão da rede laboratorial; – garantir a oferta de
– Compreende-se que a participação da sociedade civil na im- ácido fólico e sulfato ferroso para todas as gestantes;
plementação das ações de saúde da mulher, no âmbito federal, es- – melhorar a informação sobre a magnitude e tendência da
tadual e municipal requer mortalidade materna
– cabendo, portanto, às instânciasgestoras – melhorar e quali- -Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação
ficar os mecanismos de repasse de informações sobre as políticas de violência doméstica e sexual:
de saúde da mulher e sobre os instrumentos de gestão e regulação – organizar redes integradas de atenção às mulheres em situa-
do SUS. ção de violência sexual e doméstica;
– No âmbito do setor Saúde, a execução de ações será pactua- – articular a atenção à mulher em situação de violência com
ações de prevenção de DST/aids
da entre todos os níveis hierárquicos, visando a uma atuação mais
– promover ações preventivas em relação à violência domés-
abrangente e horizontal, além de permitir o ajuste às diferentes re-
tica e sexual.
alidades regionais.
– As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde
Promover, conjuntamente com o PN-DST/AIDS, a prevenção e o
das mulheres deverão ser executadas de forma articulada com se- controle das doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo
tores governamentais e não-governamentais; condição básica para HIV/aids na população feminina:
a configuração de redes integradas de atenção à saúde e para a ob- – prevenir as DST e a infecção pelo HIV/aids entre mulheres;
tenção dos resultados esperados.

52
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

– ampliar e qualificar a atenção à saúde das mulheres vivendo Durante muitos anos, a amamentação representou uma alter-
com HIV e aids. Reduzir a morbimortalidade por câncer na popula- nativa exclusiva e eficaz de espaçar as gestações, pois as mulheres
ção feminina: apresentam sua fertilidade diminuída neste período, considerando
– organizar em municípios pólos de microrregiões redes de re- que, quanto mais frequentes são as mamadas, mais altos são os ní-
ferência e contra-referência para o diagnóstico e o tratamento de veis de prolactina e consequentemente menores as possibilidades
câncer de colo uterino e de mama; de ovulação.
– garantir o cumprimento da Lei Federal que prevê a cirurgia de Os fatores que determinam o retorno da ovulação não são pre-
reconstrução mamária nas mulheres que realizaram mastectomia; cisamente conhecidos, de modo que, mesmo diante dos casos de
– oferecer o teste anti-HIV e de sífilis para as mulheres incluídas aleitamento exclusivo, a partir do 3º mês é recomendada a utiliza-
no Programa Viva Mulher, especialmente aquelas com diagnóstico ção de um outro método. Até o 3º mês, se o aleitamento é exclusivo
de DST, HPV e/ou lesões intra-epiteliais de alto grau/ câncer invasor. e ainda não ocorreu menstruação, as possibilidades de gravidez são
Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob mínimas.
o enfoque de gênero: Atualmente, com a descoberta e divulgação de novas tecnolo-
– melhorar a informação sobre as mulheres portadoras de gias contraceptivas e a mudança nos modos de viver das mulheres
transtornos mentais no SUS; em relação a sua capacidade de trabalho, o seu desejo de materni-
– qualificar a atenção à saúde mental das mulheres; – incluir o dade, a forma como percebe seu corpo como fonte de prazer e não
enfoque de gênero e de raça na atenção às mulheres portadoras de apenas de reprodução foram fatores que incentivaram o abandono
transtornos mentais e promover a integração com setores não-go- e o descrédito do aleitamento como método capaz de controlar a
vernamentais, fomentando sua participação nas definições da polí- fertilidade.
tica de atenção às mulheres portadoras de transtornos mentais. Im- Outro método é o coito interrompido, sendo também uma
plantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério: maneira muito antiga de evitar a gravidez. Consiste na retirada do
– ampliar o acesso e qualificar a atenção às mulheres no cli- pênis da vagina e de suas proximidades, no momento em que o ho-
matério na rede SUS. Promover a atenção à saúde da mulher na mem percebe que vai ejacular. Desta forma, evitando o contato do
terceira idade: sêmen com o colo do útero é que se impede a gravidez.
– incluir a abordagem às especificidades da atenção a saúde da Seu uso está contraindicado para os homens que têm ejacu-
mulher na Política de Atenção à Saúde do Idoso no SUS; – incentivar lação precoce ou não conseguem ter controle sobre a ejaculação.
a incorporação do enfoque de gênero na Atenção à Saúde do Idoso
no SUS. Promover a atenção à saúde da mulher negra: Os métodos naturais ou de abstinência periódica são aqueles
que utilizam técnicas para evitar a gravidez e se baseiam na auto-
– melhorar o registro e produção de dados; – capacitar pro- -observação de sinais ou sintomas que ocorrem fisiologicamente no
fissionais de saúde; – implantar o Programa de Anemia Falciforme organismo feminino, ao longo do ciclo menstrual, e que, portanto,
(PAF/MS), dando ênfase às especificidades das mulheres em idade ajudam a identificar o período fértil.
fértil e no ciclo gravídico-puerperal; – incluir e consolidar o recorte Quem quer ter filhos, deve ter relações sexuais nos dias férteis,
racial/étnico nas ações de saúde ; e quem não os quer, deve abster-se das relações sexuais ou nestes
-estimular e fortalecer a interlocução das áreas de saúde da dias fazer uso de outro método – os de barreira, por exemplo.
mulher das SES e SMS com os movimentos e entidades relaciona- A determinação do período fértil baseia-se em três princípios
dos à saúde da população negra. científicos, a saber:
A ovulação costuma acontecer 14 dias antes da próxima mens-
Promover a atenção à saúde das trabalhadoras do campo e da truação (pode haver uma variação de 2 dias, para mais ou para me-
cidade: nos);
– implementar ações de vigilância e atenção à saúde da traba- O óvulo, após a ovulação, tem uma vida média de 24 horas;
lhadora da cidade e do campo, do setor formal e informal; O espermatozoide, após sua deposição no canal vaginal, tem
– introduzir nas políticas de saúde e nos movimentos sociais a capacidade para fecundar um óvulo até o período de 48-72 horas.
noção de direitos das mulheres trabalhadoras relacionados à saúde. Os métodos naturais, de acordo com o Ministério da Saúde,
Promover a atenção à saúde da mulher indígena: são:
– ampliar e qualificar a atenção integral à saúde da mulher in-
dígena. Promover a atenção à saúde das mulheres em situação de a) Método de Ogino-Knaus
prisão, incluindo a promoção das ações de prevenção e controle Esse método é também conhecido como tabela, que ajuda a
de doenças sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids mulher a descobrir o seu período fértil através do controle dos dias
nessa população: do seu ciclo menstrual. Logo, cada mulher deverá elaborar a sua
– ampliar o acesso e qualificar a atenção à saúde das presidi- própria tabela.
árias. Fortalecer a participação e o controle social na definição e Sabemos que a tabela foi vulgarizada, produzindo a formulação
implementação das políticas de atenção integral à saúde das mu- de tabelas únicas que supostamente poderiam ser utilizadas por
lheres: qualquer mulher. Isto levou a um grande número de falhas e con-
– promover a integração com o movimento de mulheres femi- sequente descrédito no método, o que persiste até os dias de hoje.
nistas no aperfeiçoamento da política de atenção integral à saúde Para fazer a tabela deve-se utilizar o calendário do ano, anotan-
da mulher, no âmbito do SUS; do em todos os meses o 1º dia da menstruação. O ciclo menstrual
começa no 1º dia da menstruação e termina na véspera da mens-
Assistência aos Casais Férteis truação seguinte, quando se inicia um novo ciclo.
É o acompanhamento dos casais que não apresentam dificul- A primeira coisa a fazer é certificar-se de que a mulher tem os
dades para engravidar, mas que não o desejam. Desta forma, estu- ciclos regulares. Para tal é preciso que se tenha anotado, pelo me-
daremos os métodos contraceptivos mais conhecidos e os ofereci- nos, os seis últimos ciclos.
dos pelas instituições.

53
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Como identificar se os ciclos são regulares ou não? A temperatura deve ser verificada sempre no mesmo local: na
Depois de anotados os seis últimos ciclos, deve-se contá-los, boca, no reto ou na vagina. A temperatura oral deve ser verificada
anotando quantos dias durou cada um. Selecionar o maior e o me- em um tempo mínimo de 5 minutos e as temperaturas retal e vagi-
nor dos ciclos. nal, no mínimo 3 minutos, observando-se sempre o mesmo horário
Se a diferença entre o ciclo mais longo e o mais curto for igual para que não haja alteração do gráfico de temperatura.
ou superior a 10 dias, os ciclos desta mulher serão considerados Caso a mulher esqueça-se de verificar a temperatura um dia,
irregulares e, portanto, ela não deverá utilizar este método. Além deve recomeçar no próximo ciclo.
do que, devem procurar um serviço de saúde, pois a irregularidade Registrar a temperatura a cada dia do ciclo em um papel qua-
menstrual indica um problema ginecológico que precisa ser inves- driculado comum, em que as linhas horizontais referem-se às tem-
tigado e tratado. peraturas, e as verticais, aos dias do ciclo. Após a marcação, ligar os
Se a diferença entre eles for inferior a 10 dias, os ciclos são pontos referentes a cada dia, formando uma linha que vai do1º ao
considerados regulares e esta mulher poderá fazer uso da tabela. 2º, do 2º ao 3º, do 3º ao 4ºdia e daí por diante.
Em seguida, verificar a ocorrência de um aumento persistente
Como fazer o cálculo para identificar o período fértil? da temperatura basal por 3 dias seguidos, no período esperado da
Subtrai-se 18 dias do ciclo mais curto e obtém-se o dia do início ovulação.
do período fértil. O aumento da temperatura varia entre 0,2ºC a 0,6ºC. A diferen-
Subtrai-se 11 dias do ciclo mais longo e obtém-se o último dia ça de no mínimo 0,2ºC entre a última temperatura baixa e as três
do período fértil. temperaturas altas indica que a ovulação ocorreu e a temperatura
Após a determinação do período fértil, a mulher e seu compa- se manterá alta até a época da próxima menstruação.
nheiro que não desejam obter gravidez, devem abster-se de rela- O período fértil termina na manhã do 3º dia em que for obser-
ções sexuais com penetração, neste período, ou fazer uso de outro vada a temperatura elevada. Portanto, para evitar gravidez, o casal
método. Caso contrário, devem-se intensificar as relações sexuais deve abster-se de relações sexuais, com penetração, durante toda
a primeira fase do ciclo até a manhã do 3º dia de temperatura ele-
neste período.
vada.
Após 3 meses de realização do gráfico da temperatura, pode-se
Recomendações Importantes:
predizer a data da ovulação e, a partir daí, a abstinência sexual po-
O parceiro deve sempre ser estimulado a participar, ajudando
derá ficar limitada ao período de 4 a 5 dias antes da data prevista da
com os cálculos e anotações. ovulação até a manhã do 3º dia de temperatura alta. Os casais que
Após a definição do período fértil, a mulher deverá continuar quiserem engravidar devem manter relações sexuais neste período.
anotando os seus ciclos, pois poderão surgir alterações relativas ao Durante estes 3 meses, enquanto estiver aprendendo a usar a
tamanho do maior e menor ciclo, mudando então o período fértil, tabela da temperatura, deverá utilizar outro método contraceptivo,
bem como poderá inclusive surgir, inesperadamente, uma irregu- com exceção do contraceptivo hormonal.
laridade menstrual que contraindique a continuidade do uso do A ocorrência de qualquer fator que pode vir a alterar a tempe-
método. ratura deve ser anotada no gráfico. Como exemplo, tem-se: mudan-
Não se pode esquecer que o dia do ciclo menstrual não é igual ça no horário de verificação da temperatura; perturbações do sono
ao dia do mês. e/ou emocionais; algumas doenças que podem elevar a temperatu-
Cada mulher deve fazer sua própria tabela e a tabela de uma ra; mudanças de ambiente e uso de bebidas alcoólicas.
mulher não serve para outra. Esse método é contraindicado em casos de irregularidades
No período de 6 meses em que a mulher estiver fazendo as menstruais, amenorreia, estresse, mulheres com períodos de sono
anotações dos ciclos, ela deverá utilizar outro método, com exceção irregular ou interrompido (por exemplo, trabalho noturno).
da pílula, pois esta interfere na regularização dos ciclos. Assim como no método do calendário, para a construção do
Os ciclos irregulares e a lactação são contraindicações no uso gráfico ou tabela de temperatura, a mulher e/ou casal deverá con-
desse método. tar com a orientação de profissionais de saúde e neste caso em
Os profissionais de saúde deverão construir a tabela junto com especial, no decorrer dos três primeiros meses de uso, quando, a
a mulher e refazer os cálculos todas as vezes que forem necessárias, partir daí, já se poderá predizer o período da ovulação. O retorno
até que a mulher se sinta segura para tal, devendo retornar à unida- da cliente deverá se dar, pelo menos, em seis meses após o início do
de dentro de 1 mês e, depois, de 6 em 6 meses. uso do método. Em seguida, os retornos podem ser anuais.

b) Método da Temperatura Basal Corporal c) Método da ovulação ou do muco cervical ou Billings


É o método que permite identificar o período fértil por meio É o método que indica o período fértil por meio das caracterís-
das oscilações de temperatura que ocorrem durante o ciclo mens- ticas do muco cervical e da sensação de umidade por ele provocada
na vulva.
trual, com o corpo em repouso.
O muco cervical é produzido pelo colo do útero, tendo como
Antes da ovulação, a temperatura do corpo da mulher perma-
função umidificar e lubrificar o canal vaginal. A quantidade de muco
nece em nível mais baixo. Após a ovulação, com a formação do cor-
produzida pode oscilar ao longo dos ciclos
po lúteo e o consequente aumento da produção de progesterona,
Para evitar a gravidez, é preciso conhecer as características do
que tem efeito hipertérmico, a temperatura do corpo se eleva ligei- muco. Isto pode ser feito observando-se diariamente a presença ou
ramente e permanece assim até a próxima menstruação. ausência do muco através da sensação de umidade ou secura no
canal vaginal ou através da limpeza da vulva com papel higiênico,
Como construir a Tabela ou Gráfico de Temperatura? antes e após urinar. Esta observação pode ser feita visualizando-se a
A partir do 1º dia do ciclo menstrual, deve-se verificar e anotar presença de muco na calcinha ou através do dedo no canal vaginal.
a temperatura todos os dias, antes de se levantar da cama, depois Logo após o término da menstruação, tem-se, em geral, uma
de um período de repouso de 3 a 5 horas, usando-se sempre o mes- fase seca (fase pré-ovulatória). Quando aparece muco nesta fase,
mo termômetro. geralmente é opaco e pegajoso.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Na fase ovulatória, o muco, que inicialmente era esbranqui- e) Condom Masculino


çado, turvo e pegajoso, vai-se tornando a cada dia mais elástico e Também conhecido como camisinha, camisa de vênus ou pre-
lubrificante, semelhante à clara de ovo, podendo-se puxá-lo em fio. servativo, é uma capa de látex bem fino, porém resistente, descar-
Isto ocorre porque neste período os níveis de estrogênio estão ele- tável, que recobre o pênis completamente durante o ato sexual.
vados e é nesta fase que o casal deve abster-se de relações sexuais, Evita a gravidez, impedindo que os espermatozoides penetrem
com penetração, pois há risco de gravidez. no canal vaginal, pois retém o sêmen ejaculado. O condom protege
O casal que pretende engravidar deve aproveitar este período contra as doenças sexualmente transmissíveis e por isso seu uso
para ter relações sexuais. deve ser estimulado em todas as relações sexuais.
O último dia de muco lubrificante, escorregadio e com elastici- Deve ser colocado antes de qualquer contato do pênis com os
dade máxima, chama-se dia ápice, ou seja, o muco com a máxima genitais femininos, porque alguns espermatozoides podem escapar
capacidade de facilitar a espermomigração. Portanto, o dia ápice só antes da ejaculação.
pode ser identificado a posteriori e significa que em mais ou menos Deve ser colocado com o pênis ereto, deixando um espaço de
48 horas a ovulação já ocorreu, está ocorrendo ou vai ocorrer. aproximadamente 2 cm na ponta, sem ar, para que o sêmen seja
Na fase pós-ovulatória, já com o predomínio da progesterona, depositado sem que haja rompimento da camisinha.
o muco forma uma verdadeira rolha no colo uterino, impedindo As camisinhas devem ser guardadas em lugar fresco, seco e de
que os espermatozoides penetrem no canal cervical. É um muco fácil acesso ao casal. Não deve ser esticada ou inflada, para efeito
pegajoso, branco ou amarelado, grumoso, que dá sensação de se- de teste. Antes de utilizá-la, certifique-se do prazo de validade. Mes-
cura no canal vaginal. mo que esteja no prazo, não utilizá-la quando perceber alterações
No 4º dia após o dia ápice, a mulher entra no período de infer- como mudanças na cor, na textura, furo, cheiro diferente, mofo ou
tilidade. outras. A camisinha pode ou não já vir lubrificada de fábrica.
As relações sexuais devem ser evitadas desde o dia em que A colocação pode ser feita pelo homem ou pela mulher. Sua
aparece o muco grosso até quatro dias depois do aparecimento do manipulação deve ser cuidadosa, evitando-se unhas longas que po-
muco elástico. dem danificá-la. Deve-se observar se o canal vaginal está suficien-
temente úmido para permitir uma penetração que provoque pouca
No início, é bom examinar o muco mais de uma vez ao dia, fa-
fricção, evitando- se assim que o condom se rompa.
zendo o registro à noite, preferencialmente, no mesmo horário. É
Lubrificantes oleosos como a vaselina não podem ser utiliza-
importante anotar as características do muco e os dias de relações
dos. Caso necessário, utilizar lubrificantes a base de água. Cremes,
sexuais.
geleias ou óvulos vaginais espermicidas podem ser utilizados em
Quando notar, no mesmo dia, mucos com características dife- associação com a camisinha. Após a ejaculação, o pênis deve ser re-
rentes, à noite, na hora de registrar, deve considerar o mais indica- tirado ainda ereto. As bordas da camisinha devem ser pressionadas
tivo de fertilidade (mais elástico e translúcido). com os dedos, ao ser retirado, para evitar que o sêmen extravase
No período de aprendizagem do método, para identificar os ou que o condom se desprenda e fique na vagina. Caso isto ocorra,
dias em que pode ou não ter relações sexuais, o casal deve observar é só puxar com os dedos e colocar espermaticida na vagina, com
as seguintes recomendações: um aplicador. Caso não consiga retirar a camisinha, coloque esper-
Só deve manter relações sexuais na fase seca posterior à mens- micida e depois procure um posto de saúde para que a mesma seja
truação e, no máximo, dia sim, dia não, para que o sêmen não in- retirada. Nestes casos, não faça lavagem vaginal pois ela empurra
terfira na avaliação. ainda mais o espermatozoide em direção ao útero. Após o uso, de-
ve-se dar um nó na extremidade do condom para evitar o extrava-
Evitar relações sexuais nos dias de muco, até três dias após o samento de sêmen e jogá-lo no lixo e nunca no vaso sanitário. O uso
dia ápice. do condom é contraindicado em casos de anomalias do pênis e de
É importante ressaltar que o muco não deve ser examinado no alergia ao látex.
dia em que a mulher teve relações sexuais, devido à presença de
esperma; depois de utilizar produtos vaginais ou duchas e lavagens f) Condom feminino ou camisinha feminina
vaginais; durante a excitação sexual; ou na presença de leucorreias. Feita de poliuretano, a camisinha feminina tem forma de saco,
É recomendável que durante o 1º ciclo, o casal se abstenha de de aproximadamente 25 cm de comprimento, com dois anéis flexí-
relações sexuais. Os profissionais de saúde devem acompanhar se- veis, um em cada extremidade. O anel menor fica na parte fechada
manalmente o casal no 1º ciclo e os retornos se darão, no mínimo, do saco e é este que, sendo introduzido no canal vaginal, irá se en-
uma vez ao mês do 2º ao 6º ciclo e semestral a partir daí. caixar no colo do útero. O anel maior fica aderido às bordas do lado
aberto do saco e ficará do lado de fora, na vulva. Deste modo, a ca-
d) Método sinto-térmico misinha feminina se adapta e recobre internamente toda a vagina.
Baseia-se na combinação de múltiplos indicadores de ovula- Assim, impede o contato com o sêmen e consequentemente
ção, conforme os anteriormente citados, com a finalidade de deter- tem ação preventiva contra as DST.
Já está sendo disponibilizada em nosso meio. Sua divulgação
minar o período fértil com maior precisão e confiabilidade.
tem sido maior em algumas regiões do país, sendo ainda pouco co-
Associa a observação dos sinais e sintomas relativos à tempera-
nhecida em outras.
tura basal corporal e ao muco cervical, levando em conta parâme-
tros subjetivos (físicos ou psicológicos) que possam indicar ovula-
g) Espermaticida ou Espermicida
ção, tais como sensação de peso ou dor nas mamas, dor abdominal, São produtos colocados no canal vaginal, antes da relação
variações de humor e da libido, náuseas, acne, aumento de apetite, sexual. O espermicida atua formando uma película que recobre o
ganho de peso, pequeno sangramento intermenstrual, dentre ou- canal vaginal e o colo do útero, impedindo a penetração dos esper-
tros. matozoides no canal cervical e, bioquimicamente, imobilizando ou
Os métodos de barreira são aqueles que não permitem à entra- destruindo os espermatozoides, impedindo desta forma a gravidez.
da de espermatozoides no canal cervical. Podem se apresentar sob a forma de cremes, geleias, óvulos e
espumas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Cada tipo vem com suas instruções para uso, as quais devem O diafragma só deverá ser retirado de 6 a 8 horas após a última
ser seguidas. Em nosso meio, a geleia espermicida é a mais conheci- relação sexual, evitando-se o uso de duchas vaginais neste período.
da. A geleia espermicida deve ser colocada na vagina com o auxílio O período máximo que o diafragma pode permanecer dentro do ca-
de um aplicador. A mulher deve estar deitada e após a colocação nal vaginal é de 24 horas. Mais que isto, poderá favorecer infecções.
do medicamento, não deve levantar-se mais, para evitar que esta Após o uso, deve-se lavá-lo com água fria e sabão neutro, enxá-
escorra. O aplicador, contendo o espermaticida, deve ser inserido guar bem, secar com um pano macio e polvilhar com amido ou talco
o mais profundamente possível no canal vaginal. Da mesma forma, neutro. Não usar água quente. Guardá-lo em sua caixinha, longe do
quando os espermaticidas se apresentarem sob a forma de óvulos, calor e da luz.
estes devem ser colocados com o dedo ou com aplicador próprio no Será necessário reavaliar o tamanho do diafragma depois de
fundo do canal vaginal. É recomendável que a aplicação da geleia gravidez, aborto, ganho ou perda de peso (superior a 10 kg) e cirur-
seja feita até, no máximo, 1 hora antes de cada relação sexual, sen- gias de períneo. Deverá ser trocado rotineiramente a cada 2 anos.
do ideal o tempo de 30 minutos para que o agente espermaticida As contraindicações para o uso desse método ocorrem no
se espalhe adequadamente na vagina e no colo do útero. Deve-se caso de mulheres que nunca tiveram relação sexual, configuração
seguir a recomendação do fabricante, já que pode haver recomen- anormal do canal vaginal, prolapso uterino, cistocele e/ou retocele
dação de tempos diferentes de um produto para o outro. Os es- acentuada, anteversão ou retroversão uterina acentuada, fístulas
permicidas devem ser colocados de novo, se houver mais de uma vaginais, tônus muscular vaginal deficiente, cervicites e outras pato-
ejaculação na mesma relação sexual. Se a ejaculação não ocorrer logias do colo do útero, leucorreias abundantes, alterações psíqui-
dentro do período de segurança garantido pelo espermicida, deve cas graves, que impeçam o uso correto do método.
ser feita outra aplicação. Deve-se evitar o uso de duchas ou lava-
gens vaginais pelo menos 8 horas após o coito. Caso se observe i) Os contraceptivos hormonais orais
algum tipo de leucorréia, prurido e ardência vaginal ou peniana, Constituem um outro método muito utilizado pela mulher bra-
interromper o uso do espermaticida. Este é contraindicado para sileira; são hormônios esteroides sintéticos, similares àqueles pro-
mulheres que apresentem alto risco gestacional duzidos pelos ovários da mulher.
Quando a mulher faz opção pela pílula anticoncepcional, ela
deve ser submetida a uma criteriosa avaliação clínico-ginecológica,
h) Diafragma
durante a qual devem ser realizados e solicitados diversos exames,
É uma capa de borracha que tem uma parte côncava e uma
para avaliação da existência de possíveis contraindicações.
convexa, com uma borda de metal flexível ou de borracha mais
O contraceptivo hormonal oral só impedirá a gravidez se toma-
espessa que pode ser encontrada em diversos tamanhos, sendo do adequadamente. Cada tipo de pílula tem uma orientação espe-
necessária avaliação pelo médico e/ou enfermeiro, identificando a cífica a considerar.
medida adequada a cada mulher
A própria mulher o coloca no canal vaginal, antes da relação j) DIU (Dispositivo Intrauterino)
sexual, cobrindo assim o colo do útero, pois suas bordas ficam situ- É um artefato feito de polietileno, com ou sem adição de subs-
adas entre o fundo de saco posterior da vagina e o púbis. tâncias metálicas ou hormonais, que tem ação contraceptiva quan-
Para ampliar a eficácia do diafragma, recomenda-se o uso as- do posto dentro da cavidade uterina.
sociado de um espermaticida que deve ser colocado no diafragma Também podem ser utilizados para fins de tratamento, como é
em quantidade correspondente a uma colherinha de café no fundo o caso dos DIUs medicados com hormônios.
do mesmo, espalhando-se com os dedos. Depois, colocar mais um Podem ser classificados em DIUs não medicados aqueles que
pouco por fora, sobre o anel. não contêm substâncias ativas e, portanto, são constituídos apenas
O diafragma impedirá, então, a gravidez por meio da barreira de polietileno; DIUs medicados que além da matriz de polietileno
mecânica e, ainda assim, caso algum espermatozoide consiga esca- possuem substâncias que podem ser metais, como o cobre, ou hor-
par, se deparará com a barreira química, o espermaticida. mônios.
Para colocar e retirar o diafragma, deve-se escolher uma posi- Os DIUs mais utilizados são os T de cobre (TCu), ou seja, os DIUs
ção confortável (deitada, de cócoras ou com um pé apoiado sobre que têm o formato da letra T e são medicados com o metal cobre.
uma superfície qualquer), colocar o espermaticida, pegar o diafrag- O aparelho vem enrolado em um fio de cobre bem fino.
ma pelas bordas e apertá-lo no meio de modo que ele assuma o A presença do DIU na cavidade uterina provoca uma reação in-
formato de um 8. flamatória crônica no endométrio, como nas reações a corpo estra-
Com a outra mão, abrir os lábios da vulva e introduzi-lo profun- nho. Esta reação provavelmente determina modificações bioquími-
damente na vagina. Após, fazer um toque vaginal para verificar se cas no endométrio, o que impossibilita a implantação do ovo. Outra
está bem colocado, ou seja, certificar-se de que está cobrindo todo ação do DIU é o aumento da contratilidade uterina, dificultando o
o colo do útero. encontro do espermatozoide com o óvulo. O cobre presente no dis-
Se estiver fora do lugar, deverá ser retirado e recolocado até positivo tem ação espermicida.
A colocação do DIU é simples e rápida. Não é necessário anes-
acertar. Para retirá-lo, é só encaixar o dedo na borda do diafragma e
tesia. É realizada em consultório e para a inserção é utilizado técni-
puxá-lo para fora e para baixo.
ca rigorosamente asséptica.
É importante observar os seguintes cuidados, visando o melhor
A mulher deve estar menstruada. A menstruação, além de ser
aproveitamento do método: urinar e lavar as mãos antes de colocar
uma garantia de que não está grávida, facilita a inserção, pois neste
o diafragma (a bexiga cheia poderá dificultar a colocação); antes do período o canal cervical está mais permeável. Após a inserção, a
uso, observá-lo com cuidado, inclusive contra a luz, para identificar mulher é orientada a verificar a presença dos fios do DIU no canal
possíveis furos ou outros defeitos; se a borracha do diafragma ficar vaginal.
enrugada, ele deverá ser trocado imediatamente.
O espermaticida só é atuante para uma ejaculação. Caso acon-
teça mais de uma, deve-se fazer uma nova aplicação do espermati-
cida, por meio do aplicador vaginal, sem retirar o diafragma.

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Na primeira semana de uso do método, a mulher não deve ter A infertilidade é a dificuldade de o casal chegar ao final da gra-
relações sexuais. O Ministério da Saúde recomenda que após a in- videz com filhos vivos, ou seja, conseguem engravidar, porém as
serção do DIU a mulher deva retornar ao serviço para revisões com gestações terminam em abortamentos espontâneos ou em nati-
a seguinte periodicidade: 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 mortos.
meses. A partir daí, se tudo estiver bem, o acompanhamento será A infertilidade também pode ser classificada em primária ou
anual, com a realização do preventivo. secundária. A infertilidade primária é quando o casal não conseguiu
O DIU deverá ser retirado quando a mulher quiser, quando ti- gerar nenhum filho vivo. A secundária é quando as dificuldades em
ver com a validade vencida ou quando estiver provocando algum gerar filhos vivos acontecem com casais com filhos gerados ante-
problema. riormente.
A validade do DIU varia de acordo com o tipo. A validade do DIU De acordo com o Ministério da Saúde, para esta classificação
Tcu, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, varia de 3 a 7 anos. não são consideradas as gestações ou os filhos vivos que qualquer
Os problemas que indicam a retirada do DIU são dor severa, dos membros do casal possa ter tido com outro(a) parceiro(a).
sangramento intenso, doença pélvica inflamatória, expulsão par- A esterilidade/infertilidade, com frequência, impõe um estres-
cial, gravidez (até a 12ª semana de gravidez, se os fios estiverem se e tensão no inter-relacionamento. Os clientes costumam admitir
visíveis ao exame especular, pois indica que o saco gestacional está sentimentos de culpa, ressentimentos, suspeita, frustração e ou-
acima do DIU, e se a retirada não apresentar resistência). tros. Pode haver uma distorção da autoimagem, pois a mulher pode
considerar-se improdutiva e o homem desmasculinizado.
Assistência aos Casais Portadores de Esterilidade eInfertilida- Portanto, na rede básica caberá aos profissionais de saúde dar
de orientações ao casal e encaminhamento para consulta no decorrer
A esterilização cirúrgica foi maciçamente realizada nas mulhe- da qual se iniciará a investigação diagnóstica com posterior encami-
nhamento para os serviços especializados, sempre que necessário.
res brasileiras, a partir das décadas de 60 e 70, por entidades que
sob o rótulo de “planejamento familiar” desenvolviam programas
Assistência de Enfermagem á Gestante
de controle da natalidade em nosso país. O reconhecimento da im-
portância e complexidade que envolve as questões relativas à este-
Diagnosticando á Gravidez
rilização cirúrgica tem se refletido no âmbito legal. A Lei do Planeja- Quanto mais cedo for realizado o diagnóstico de gravidez, mais
mento Familiar de 1996 e as Portarias 144/97 e 48/99 do Ministério fácil será o acompanhamento do desenvolvimento do embrião/feto
da Saúde normatizam os procedimentos, permitindo que o Sistema e das alterações que ocorrem no organismo e na vida da mulher,
Único de Saúde (SUS)os realize, em acesso universal. Os critérios possibilitando prevenir, identificar e tratar eventuais situações de
legais para a realização da esterilização cirúrgica pelo SUS são: ter anormalidades que possam comprometer a saúde da grávida e de
capacidade civil plena; ter no mínimo 2 filhos vivos ou ter mais de sua criança (embrião ou feto), desde o período gestacional até o
25 anos de idade, independente do número de filhos; manifestar, puerpério.
por escrito, a vontade de realizar a esterilização, no mínimo 60 dias Este diagnóstico também pode ser feito tomando-se como
antes da realização da cirurgia; ter tido acesso a serviço multidis- ponto de partida informações trazidas pela mulher. Para tanto, fa-
ciplinar de aconselhamento sobre anticoncepção e prevenção de z-se importante sabermos se ela tem vida sexual ativa e se há refe-
DST/AIDS, assim como a todos os métodos anticoncepcionais rever- rência de amenorreia (ausência de menstruação). A partir desses
síveis; ter consentimento do cônjuge, no caso da vigência de união dados e de um exame clínico são identificados os sinais e sintomas
conjugal. físicos e psicológicos característicos, que também podem ser iden-
No caso do homem, a cirurgia é a vasectomia, que interrompe tificados por exames laboratoriais que comprovem a presença do
a passagem, pelos canais deferentes, dos espermatozoides produ- hormônio gonadotrofina coriônica e/ou exames radiográficos espe-
zidos nos testículos, impedindo que estes saiam no sêmen. Na mu- cíficos, como a ecografia gestacional ou ultrassonografia.
lher, é a ligadura de trompas ou laqueadura tubária que impede o Os sinais e sintomas da gestação dividem-se em três catego-
encontro do óvulo com o espermatozoide. rias que, quando positivas, confirmam o diagnóstico. É importante
O serviço que realizar o procedimento deverá oferecer todas lembrar que muitos sinais e sintomas presentes na gestação podem
as alternativas contraceptivas visando desencorajar a esterilização também aparecer em outras circunstâncias. Visando seu maior co-
precoce. nhecimento, identificaremos a seguir os sinais e sintomas gestacio-
nais mais comuns e que auxiliam o diagnóstico.
Deverá, ainda, orientar a cliente quanto aos riscos da cirurgia,
efeitos colaterais e dificuldades de reversão. A lei impõe restrições Sinais de presunção – são os que sugerem gestação, decorren-
tes, principalmente, do aumento da progesterona:
quanto à realização da laqueadura tubária por ocasião do parto ce-
a) Amenorreia - frequentemente é o primeiro sinal que alerta
sáreo, visando coibir o abuso de partos cirúrgicos realizados exclu-
para uma possível gestação. É uma indicação valiosa para a mulher
sivamente com a finalidade de realizar a esterilização.
que possui menstruação regular; entretanto, também pode ser re-
A abordagem desta problemática deve ser sempre conjugal.
sultado de condições como, por exemplo, estresse emocional, mu-
Tanto o homem quanto a mulher podem possuir fatores que contri- danças ambientais, doenças crônicas, menopausa, uso de métodos
buam para este problema, ambos devem ser investigados. contraceptivos e outros;
A esterilidade é a incapacidade do casal obter gravidez após b) Náusea com ou sem vômitos - como sua ocorrência é mais
pelo menos um ano de relações sexuais frequentes, com ejaculação frequente pela manhã, é denominada “enjoo matinal”, mas pode
intravaginal, sem uso de nenhum método contraceptivo. Pode ser ocorrer durante o restante do dia. Surge no início da gestação e,
classificada em primária ou secundária. A esterilidade primária é normalmente, não persiste após 16 semanas;
quando nunca houve gravidez. Já a secundária, é quando o casal já c) Alterações mamárias – caracterizam-se pelo aumento da
conseguiu obter, pelo menos, uma gravidez e a partir daí passou a sensibilidade, sensação de peso, latejamento e aumento da pig-
ter dificuldades para conseguir uma nova gestação. mentação dos mamilos e aréola; a partir do segundo mês, as ma-
mas começam a aumentar de tamanho;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

d) Polaciúria – é o aumento da frequência urinária. Na gravi- Algumas gestantes apresentam essas alterações de forma mais
dez, especialmente no primeiro e terceiro trimestre, dá-se o preen- intensa; outras, de forma mais leve - o que pode estar associado às
chimento e o consequente crescimento do útero que, por sua vez, particularidades psicossocioculturais. Dentre estes casos, podemos
pressiona a bexiga diminuindo o espaço necessário para realizar a observar as perversões alimentares decorrentes de carência de mi-
função de reservatório. A esta alteração anatômica soma-se a alte- nerais no organismo (ferro, vitaminas), tais como o desejo de ingerir
ração fisiológica causada pela ação da progesterona, que provoca barro, gelo ou comidas extravagantes.
um relaxamento da musculatura lisa da bexiga, diminuindo sua ca- Para minimizar tais ocorrências, faz-se necessário acompanhar
pacidade de armazenamento; a evolução da gestação por meio do pré-natal, identificando e anali-
e) Vibração ou tremor abdominal – são termos usados para sando a sintomatologia apresentada, ouvindo a mulher e lhe repas-
descrever o reconhecimento dos primeiros movimentos do feto, sando informações que podem indicar mudanças próprias da gravi-
pela mãe, os quais geralmente surgem por volta da 20ª semana. dez. Nos casos em que esta sintomatologia se intensificar, indica-se
Por serem delicados e quase imperceptíveis, podem ser confundi- a referência a algumas medidas terapêuticas.
dos com gases intestinais.
Sinais de probabilidade – são os que indicam que existe uma Assistência Pré-Natal
provável gestação:
A assistência pré-natal é o primeiro passo para a vivência da
a) Aumento uterino – devido ao crescimento do feto, do útero
gestação, parto e nascimento saudável e humanizado. Todas as
e da placenta;
mulheres têm o direito constitucional de ter acesso ao pré-natal e
b) Mudança da coloração da região vulvar – tanto a vulva
informações sobre o que está ocorrendo com o seu corpo, como mi-
como o canal vaginal torna-se bastante vascularizados, o que altera
sua coloração de rosa avermelhado para azul escuro ou vinhosa; nimizar os desconfortos provenientes das alterações gravídicas, co-
c) Colo amolecido – devido ao aumento do aporte sanguíneo nhecer os sinais de risco e aprender a lidar com os mesmos, quando
na região pélvica, o colo uterino torna-se mais amolecido e embe- a eles estiver exposta.
bido, assim como as paredes vaginais tornam-se mais espessas, en- O conceito de humanização da assistência ao parto pressupõe
rugadas, amolecidas e embebidas. a relação de respeito que os profissionais de saúde estabelecem
d) Testes de gravidez - inicialmente, o hormônio gonadotrofina com as mulheres durante todo o processo gestacional, de parturi-
coriônica é produzido durante a implantação do ovo no endomé- ção e puerpério, mediante um conjunto de condutas, procedimen-
trio; posteriormente, passa a ser produzido pela placenta. Esse hor- tos e atitudes que permitem à mulher expressar livremente seus
mônio aparece na urina ou no sangue 10 a 12 dias após a fecunda- sentimentos.
ção, podendo ser identificado mediante exame específico; Essa atuação, condutas e atitudes visam tanto promover um
e) Sinal de rebote – é o movimento do feto contra os dedos do parto e nascimento saudáveis como prevenir qualquer intercorrên-
examinador, após ser empurrado para cima, quando da realização cia clínico-obstétrica que possa levar à morbimortalidade materna
de exame ginecológico (toque) ou abdominal; e perinatal.
f) Contrações de Braxton-Hicks – são contrações uterinas in- A equipe de saúde desenvolve ações com o objetivo de pro-
dolores, que começam no início da gestação, tornando-se mais no- mover a saúde no período reprodutivo; prevenir a ocorrência de
táveis à medida que esta avança, sentidas pela mulher como um fatores de risco; resolver e/ou minimizar os problemas apresenta-
aperto no abdome. Ao final da gestação, tornam-se mais fortes, dos pela mulher, garantindo-lhe a aderência ao acompanhamento.
podendo ser confundidas com as contrações do parto. Assim, quando de seu contato inicial para um primeiro atendimento
no serviço de saúde, precisa ter suas necessidades identificadas e
Sinais de certeza – são aqueles que efetivamente confirmam resolvidas, tais como, dentre outras: a certeza de que está grávi-
a gestação: da o que pode ser comprovado por exame clínico e laboratorial;
a) Batimento cardíaco fetal (BCF) - utilizando-se o estetoscó- inscrição/registro no pré-natal; marcação de nova consulta com a
pio de Pinard, pode ser ouvido, frequentemente, por volta da 18a inscrição no pré-natal e encaminhamento ao serviço de nutrição,
semana de gestação; caso seja utilizado um aparelho amplificador odontologia e a outros como psicologia e assistência social, quando
denominado sonar Doppler, a partir da 12ª semana. A frequência
necessários.
cardíaca fetal é rápida e oscila de 120 a 160 batimentos por minuto;
Durante todo esse período, o auxiliar de enfermagem pode mi-
b) Contornos fetais – ao examinar a região abdominal, fre-
nimizar-lhe a ansiedade e/ou temores fazendo com que a mulher,
quentemente após a 20ª semana de gestação, identificamos algu-
seu companheiro e/ou família participem ativamente do processo,
mas partes fetais (polo cefálico, pélvico, dorso fetal);
c) Movimentos fetais ativos – durante o exame, a atividade em todos os momentos, desde o pré-natal até o pós-nascimento.
fetal pode ser percebida a partir da 18ª/20ª semana de gestação. Visando promover a compreensão do processo de gestação, infor-
A utilização da ultrassonografia facilita a detectar mais precoce mações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as
desses movimentos; mulheres e os profissionais de saúde. Ressalte-se, entretanto, que
d) Visualização do embrião ou feto pela ultrassonografia – as ações educativas devem ser prioridades da equipe de saúde.
pode mostrar o produto da concepção (embrião) com quatro se-
manas de gestação, além de mostrar a pulsação cardíaca fetal nessa Durante o pré-natal, os conteúdos educativos importantes
mesma época. Após a 12ª semana de gestação, a ultrassonografia para serem abordados, desde que adequados às necessidades das
apresenta grande precisão diagnóstica. Durante a evolução da ges- gestantes, são:
tação normal, verificamos grande número de sinais e sintomas que - Pré-natal e Cartão da Gestante – apresentar a importância,
indicam alterações fisiológicas e anatômicas da gravidez. Além dos objetivos e etapas, ouvindo as dúvidas e ansiedades das mulheres;
já descritos, frequentemente encontrados no primeiro trimestre - Desenvolvimento da gravidez – apresentar as alterações emo-
gestacional, existem outros como o aumento da salivação (sialor- cionais, orgânicas e da autoimagem; hábitos saudáveis como ali-
reia) e sangramentos gengivais, decorrentes do edema da mucosa mentação e nutrição, higiene corporal e dentária, atividades físicas,
gengival, em vista do aumento da vascularização. sono e repouso; vacinação antitetânica; relacionamento afetivo e
sexual; direitos da mulher grávida/direitos reprodutivos – no Siste-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

ma de Saúde, no trabalho e na comunidade; identificação de mitos Geralmente, essa medida equivale ao número de semanas ges-
e preconceitos relacionados à gestação, parto e maternidade – es- tacionais, mas só deve ser considerada a partir de um exame obs-
clarecimentos respeitosos; vícios e hábitos que devem ser evitados tétrico detalhado.
durante a gravidez; preparo para a amamentação; Outro dado a ser registrado no cartão é a situação vacinal da
Tipos de parto – aspectos facilitadores do preparo da mulher; gestante. Sua imunização com vacina antitetânica é rotineiramente
exercícios para fortalecer o corpo na gestação e para o parto; pre- feita no pré-natal, considerando-se que os anticorpos produzidos
paro psíquico e físico para o parto e maternidade; início do trabalho ultrapassam a barreira placentária, vindo a proteger o concepto
de parto, etapas e cuidados; contra o tétano neonatal - pois a infecção do bebê pelo Clostridium
-Participação do pai durante a gestação, parto e maternidade/ tetani pode ocorrer no momento do parto e/ou durante o período
paternidade – importância para o desenvolvimento saudável da de cicatrização do coto umbilical, se não forem observados os ade-
criança; quados cuidados de assepsia.
-Cuidados com a criança recém-nascida, acompanhamento do Ressalte-se que este procedimento também previne o tétano
crescimento e desenvolvimento e medidas preventivas e aleita- na mãe, já que a mesma pode vir a infectar-se por ocasião da epi-
mento materno; siotomia ou cesariana.
-Anormalidades durante a gestação, trabalho de parto, parto e A proteção da gestante e do feto é realizada com a vacina dupla
na amamentação – novas condutas e encaminhamentos. tipo adulto (dT) ou, em sua falta, com o toxóide tetânico (TT).

Gestante Vacinada
O processo gravídico-puerperal é dividido em três grandes fa-
Esquema básico: na gestante que já recebeu uma ou duas do-
ses: a gestação, o parto e o puerpério. Cada uma das quais possui
ses da vacina contra o tétano (DPT, TT, dT, ou DT), deverão ser apli-
peculiaridades em relação às alterações anátomo-fisiológicas e psi-
cadas mais uma ou duas doses da vacina dupla tipo adulto (dT) ou,
cológicas da mulher.
na falta desta, o toxoide tetânico (TT), para se completar o esquema
básico de três doses.
O Primeiro Trimestre da Gravidez Reforços: de dez em dez anos. A dose de reforço deve ser an-
No início, algumas gestantes apresentam dúvidas, medos e an- tecipada se, após a aplicação da última dose, ocorrer nova gravidez
seios em relação às condições sociais. Será que conseguirei criar em cinco anos ou mais.
este filho? O auxiliar de enfermagem deve atentar e orientar para o sur-
Como esta gestação será vista no meu trabalho? Conseguirei gimento das reações adversas mais comuns, como dor, calor, rubor
conciliar o trabalho com um futuro filho?) e emocionais (Será que e endurecimento local e febre. Nos casos de persistência e/ou rea-
esta gravidez será aceita por meu companheiro e/ou minha famí- ções adversas significativas, encaminhar para consulta médica.
lia?) que decorrem desta situação. Outras, apresentam modificação A única contraindicação é o relato, muito raro, de reação ana-
no comportamento sexual, com diminuição ou aumento da libido, filática à aplicação de dose anterior da vacina. Tal fato mostra a im-
ou alteração da autoestima, frente ao corpo modificado. portância de se valorizar qualquer intercorrência anterior verbaliza-
Essas reações são comuns, mas em alguns casos necessitam da pela cliente.
de acompanhamento específico (psicólogo, psiquiatra, assistente Na gestação, a mulher tem garantida a realização de exames
social). laboratoriais de rotina, dos quais os mais comuns são:
Confirmado o diagnóstico, inicia-se o acompanhamento da ges- Segundo o Ministério da Saúde, os exames laboratoriais abai-
tante através da inscrição no pré-natal, com o preenchimento do xo devem ser solicitados de rotina no pré-natal de baixo risco para
cartão, onde são registrados seus dados de identificação e socio- todas as gestantes, não fazendo distinção em suas recomendações
econômicos, motivo da consulta, medidas antropométricas (peso, entre a gestante atendida no setor público ou privado (1):
altura), sinais vitais e dados da gestação atual. - Tipagem sanguínea: Solicitar na primeira consulta. Quando o
Visando calcular a idade gestacional e data provável do parto(- pai é Rh positivo e a mãe é Rh-negativo, deve-se solicitar Coombs
DPP), pergunta-se à gestante qual foi à data de sua última menstru- indireto na primeira consulta e mensalmente a partir de 24 sema-
ação.(DUM), registrando-se sua certeza ou dúvida. nas. A positivação do teste de Coombs requer manejo em serviço
Existem diversas maneiras para se calcular a idade gestacional, de referência.
considerando-se ou não o conhecimento da data da última mens- - Hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht): na primeira consulta.
- VDRL: na primeira consulta (repetir no terceiro trimestre).
truação.
- Glicemia de jejum: solicitar na primeira consulta de pré-natal
(se normal, repetir na 20ª semana).
Quando a data da Última Menstruação é Conhecida pela Ges-
- EQU e urocultura: solicitar na primeira consulta (repetir na
tante.
30ª semana).
a) Utiliza-se o calendário, contando o número de semanas a -Anti-HIV: deve ser oferecido na primeira consulta pré-natal
partir do 1º dia da última menstruação até a data da consulta. A (realizar aconselhamento pré e pós-teste). Quando o resultado é
data provável do parto corresponderá ao final da 40ª semana, con- negativo e a paciente se enquadra em uma situação de risco (por-
tada a partir do 1º dia da última menstruação; tadora de alguma DST, prática de sexo inseguro, usuária ou parceira
b) Uma outra forma de cálculo é somar sete dias ao primeiro de usuário de drogas injetáveis), o exame deve ser repetido no in-
dia da última menstruação e adicionar nove meses ao mês em que tervalo de três meses.
ela ocorreu. - HBsAg: deve ser realizado na primeira consulta para possibi-
litar a identificação das gestantes soropositivas cujos bebês, logo
Quando a data da Última Menstruação é Desconhecida pela após o nascimento, podem se beneficiar do emprego profilático de
Gestante imunoglobulina e vacina específica.
Nesse caso, uma das formas clínicas para o cálculo da idade - Sorologia para toxoplasmose: na primeira consulta, IgM para
gestacional é a verificação da altura uterina, ou a realização de ul- todas as gestantes e IgG, quando houver disponibilidade para rea-
trassonografia. lização.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Citopatológico de colo uterino: deve ser colhido, quando não e) Polaciúria – explicar porque ocorre, reforçando a importân-
foi realizado durante o ano precedente. cia da higiene íntima; agendar consulta médica ou de enfermagem
caso exista disúria (dor ao urinar) ou hematúria (sangue na urina),
Estes exames, que devem ser realizados no 1° e 3° trimestre acompanhada ou não de febre;
de gravidez, objetivam avaliar as condições de saúde da gestante, f) Sangramento nas gengivas - recomendar o uso de escova de
ajudando a detecção, prevenindo sequelas, complicações e a trans- dente macia e realizar massagem na gengiva. Agendar atendimento
missão de doenças ao RN, possibilitando, assim, que a gestante seja odontológico, sempre que possível.
precocemente tratada de qualquer anormalidade que possa vir a
apresentar. Os principais microrganismos que, ao infectarem a gestante,
A enfermagem deve informar acerca da importância de uma podem transpor a barreira placentária e infectar o concepto são:
alimentação balanceada e rica em proteínas, vitaminas e sais mi- -vírus: principalmente nos três primeiros meses da gravidez, o
nerais, presentes em frutas, verduras, legumes, tubérculos, grãos, vírus da rubéola pode comprometer o embrião, causando má for-
castanhas, peixes, carnes e leite - elementos importantes no supri- mação, hemorragias, hepatoesplenomegalia, pneumonias, hepati-
mento do organismo da gestante e na formação do novo ser. te, encefalite e outras. Outros vírus que também podem prejudicar
A higiene corporal e oral deve ser incentivada, pois existe o risco o feto são os da varicela, da varíola, do herpes, da hepatite, do sa-
de infecção urinária, gengivite e dermatite. Se a gestante apresen- rampo e da AIDS;
tar reações a odores de pasta de dente, sabonete ou desodorante, -bactérias: as da sífilis e tuberculose congênita. Caso a infecção
entre outros, deve ser orientada a utilizar produtos neutros ou mes- ocorra a partir do quinto mês de gestação, há o risco de óbito fetal,
mo água e bucha, conforme permitam suas condições financeiras. aborto e parto prematuro;
É importante, já no primeiro trimestre, iniciar o preparo das -protozoários:causadores da toxoplasmose congênita. A dife-
mamas para o aleitamento materno, banho de sol nas mamas é rença da toxoplasmose para a rubéola e sífilis é que, independente-
uma orientação eficaz. mente da idade gestacional em que ocorra a infecção do concepto,
Outras orientações referem-se a algumas das sintomatologias os danos podem ser irreparáveis.
mais comuns, a seguir relacionadas, que a gestante pode apresen- Considerando-se esses problemas, ressalta-se a importância
tar no primeiro trimestre e as condutas terapêuticas que podem ser dos exames sorológicos pré-nupcial e pré-natal, que permitem o
realizadas. diagnóstico precoce da(s) doença(s) e a consequente assistência
Essas orientações são válidas para os casos em que os sintomas imediata.
são manifestações ocasionais e transitórias, não refletindo doenças
clínicas mais complexas. Entretanto, a maioria das queixas diminui O segundo trimestre da gravidez
ou desaparece sem o uso de medicamentos, que devem ser utiliza- No segundo trimestre, ou seja, a partir da 14ª até a 27ª semana
dos apenas com prescrição. de gestação, a grande maioria dos problemas de aceitação da gra-
videz foi amenizada ou sanada e a mulher e/ou casal e/ou família
a) Náuseas e vômitos - explicar que esses sintomas são muito entram na fase de “curtir o bebê que está por vir”. Começa então a
comuns no início da gestação. Para diminuí-los, orientar que a dieta preparação do enxoval.
seja fracionada (seis refeições leves ao dia) e que se evite o uso de Nesse período, o organismo ultrapassou a fase de estresse e
frituras, gorduras e alimentos com odores fortes ou desagradáveis, encontra- se com mais harmonia e equilíbrio. Os questionamen-
bem como a ingestão de líquidos durante as refeições (os quais de- tos estão mais voltados para a identificação do sexo (“Menino ou
vem, preferencialmente, ser ingeridos nos intervalos). Comer bola- menina?”) e condições de saúde da futura criança (“Meu filho será
chas secas antes de se levantar ou tomar um copo de água gelada perfeito?”).
A mulher refere percepção dos movimentos fetais, que já po-
com algumas gotas de limão, ou ainda chupar laranja, ameniza os
dem ser confirmados no exame obstétrico realizado pelo enfermei-
enjoos.
ro ou médico.
Nos casos de vômitos frequentes, agendar consulta médica ou
Com o auxílio do sonar Doppler ou estetoscópio de Pinnard,
de enfermagem para avaliar a necessidade de usar medicamentos;
pode-se auscultar os batimentos fetais (BCF). Nesse momento, o
b) Sialorreia – é a salivação excessiva, comum no início da ges-
auxiliar de enfermagem deve colaborar, garantindo a presença do
tação.
futuro papai ou acompanhante. A emoção que ambos sentem ao
Orientar que a dieta deve ser semelhante à indicada para náu-
escutar pela primeira vez o coração do bebê é sempre muito gran-
seas e vômitos; que é importante tomar líquidos (água, sucos) em
de, pois confirma-se a geração de uma nova vida.
abundância (especialmente em épocas de calor) e que a saliva deve A placenta encontra-se formada, os órgãos e tecidos estão di-
ser deglutida, pois possui enzimas que auxiliarão na digestão dos ferenciados e o feto começa o amadurecimento de seus sistemas.
alimentos; Reagem ativamente aos estímulos externos, como vibrações, luz
c) Fraqueza, vertigens e desmaios - verificar a ingesta e fre- forte, som e outros.
quência alimentar; orientar quanto à dieta fracionada e o uso de Tendo em vista as alterações externas no corpo da gestante –
chá ou café com açúcar como estimulante, desde que não estejam aumento das mamas, produção de colostro e aumento do abdome
contraindicados; evitar ambientes mal ventilados, mudanças brus- - a mulher pode fazer questionamentos tais como: “Meu corpo vai
cas de posição e inatividade. Explicar que sentar- se com a cabeça voltar ao que era antes? Meu companheiro vai perder o interesse
abaixada ou deitar-se em decúbito lateral, respirando profunda e sexual por mim?
pausadamente, minimiza o surgimento dessas sensações; Como posso viver um bom relacionamento sexual? A penetra-
d) Corrimento vaginal - geralmente, a gestante apresenta-se ção do pênis machucará a criança?”. Nessas circunstâncias, a equi-
mais úmida em virtude do aumento da vascularização. Na ocorrên- pe deve proporcionar- lhe o apoio devido, orientando-a, esclare-
cia de fluxo de cor amarelada, esverdeada ou com odor fétido, com cendo-a e, principalmente, ajudando-a a manter a autoestima.
prurido ou não, agendar consulta médica ou de enfermagem. Nessa
circunstância, consultar condutas no Manual de Tratamento e Con-
trole de Doenças Sexualmente Transmissíveis/DST – AIDS/MS;

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A partir dessas modificações e alterações anátomo-fisiológicas, h) Varizes - recomendar que a gestante não permaneça muito
a gestante pode ter seu equilíbrio emocional e físico comprometi- tempo em pé ou sentada e que repouse por 20 minutos, várias ve-
dos, o que lhe gera certo desconforto. Além das sintomatologias zes ao dia, com as pernas elevadas, e não use roupas muito justas e
mencionadas no primeiro trimestre, podemos ainda encontrar nem ligas nas pernas - se possível, deve utilizar meia-calça elástica
queixas frequentes no segundo (abaixo listadas) e até mesmo no especial para gestante;
terceiro trimestre. Assim sendo, o fornecimento das corretas orien- i) Câimbras – recomendar, à gestante, que realize massagens
tações e condutas terapêuticas são de grande importância no senti- no músculo contraído e dolorido, mediante aplicação de calor local,
do de minimizar essas dificuldades. e evite excesso de exercícios;
a) Pirose (azia) - orientar para fazer dieta fracionada, evitando j) Hiperpigmentação da pele - explicar que tal fato é muito co-
frituras, café, qualquer tipo de chá, refrigerantes, doces, álcool e mum na gestação mas costuma diminuir ou desaparecer, em tempo
fumo. Em alguns casos, a critério médico, a gestante pode fazer uso variável, após o parto. Pode apresentar como manchas escuras no
de medicamentos; rosto (cloasma gravídico), mamilos escurecidos ou, ainda, escureci-
b) Flatulência, constipação intestinal, dor abdominal e cóli- mento da linha alva (linha nigra). Para minimizar o cloasma gravídi-
cas – nos casos de flatulências (gases) e/ou constipação intestinal, co, recomenda-se à gestante, quando for expor-se ao sol, o uso de
orientar dieta rica em fibras, evitando alimentos de alta fermenta- protetor solar e chapéu;
ção, e recomendar aumento da ingestão de líquidos (água, sucos). l) Estrias - explicar que são resultado da distensão dos tecidos
Adicionalmente, estimular a gestante a fazer caminhadas, movi- e que não existe método eficaz de prevenção, sendo comum no ab-
mentar-se e regularizar o hábito intestinal, adequando, para ir ao dome, mamas, flancos, região lombar e sacra. As estrias, que no
banheiro, um horário que considere ideal para sua rotina. Agendar início apresentam cor arroxeada, tendem, com o tempo, a ficar de
consulta com nutricionista; se a gestante apresentar flacidez da pa- cor semelhante à da pele;
rede abdominal, sugerir o uso de cinta (com exceção da elástica); m) Edemas – explicar que são resultado do peso extra (placen-
em alguns casos, a critério médico, a gestante pode fazer uso de ta, líquido amniótico e feto) e da pressão que o útero aumentado
medicamentos para gases, constipação intestinal e cólicas. Nas si- exerce sobre os vasos sanguíneos, sendo sua ocorrência bastante
tuações em que a dor abdominal ou cólica for persistentes e o ab- comum nos membros inferiores. Podem ser detectados quando,
dome gravídico apresentar-se endurecido e dolorido, encaminhar com a gestante em decúbito dorsal ou sentada, sem meias, se pres-
para consulta com o enfermeiro ou médico, o mais breve possível; siona a pele na altura do tornozelo (região perimaleolar) e na perna,
c) Hemorroidas – orientar a gestante para fazer dieta rica em no nível do seu terço médio, na face anterior (região prétibial).
fibras, visando evitar a constipação intestinal, não usar papel higi- O edema fica evidenciado mediante presença de uma depres-
ênico colorido e/ou muito áspero, pois podem causar irritações, e são duradoura (cacifo) no local pressionado. Nesses casos, reco-
realizar após defecar, higiene perianal com água e sabão neutro. mendar que a gestante mantenha as pernas elevadas pelo menos
Agendar consulta médica caso haja dor ou sangramento anal per- 20 minutos por 3 a 4 vezes ao dia, quando possível, e que use meia
sistente; se necessário, agendar consulta de pré-natal e/ou com o elástica apropriada.
nutricionista;
d) Alteração do padrão respiratório - muito frequente na O terceiro trimestre da gravidez
gestação, em decorrência do aumento do útero que impede a ex- Muitas mulheres deixam de amamentar seus filhos precoce-
pansão diafragmática, intensificada por postura inadequada e/ou mente devido a vários fatores (social, econômico, biológico, psicoló-
ansiedade da gestante. Nesses casos, recomendar repouso em de- gico), nos quais se destacam estilos de vida (urbano ou rural), tipos
de ocupação (horário e distância do trabalho), estrutura de apoio
cúbito lateral esquerdo ou direito e o uso de travesseiros altos que
ao aleitamento (creches, tempo de licença-aleitamento) e mitos ou
possibilitem elevação do tórax, melhorando a expansão pulmonar.
ausência de informação.
Ouvir a gestante e conversar sobre suas angústias, agendando con-
Por isso, é importante o preparo dessa futura nutriz ainda no
sulta com o psicólogo, quando necessário. Estar atento para asso-
pré-natal, que pode ser desenvolvido individualmente ou em gru-
ciação com outros sintomas (ansiedade, cianose de extremidades,
po. As orientações devem abranger as vantagens do aleitamento
cianose de mucosas) ou agravamento da dificuldade em respirar,
para a mãe (prático, econômico e não exige preparo), relacionadas
pois, embora não frequente, pode tratar-se de doença cardíaca ou
à involução uterina (retorno e realinhamento das fibras musculares
respiratória; nessa circunstância, agendar consulta médica ou de
da parede do útero) e ao desenvolvimento da inter-relação afeti-
enfermagem imediata;
va entre mãe-filho. Para o bebê, as vantagens relacionam-se com
e) Desconforto mamário - recomendar o uso constante de su- a composição do leite, que atende a todas as suas necessidades
tiã, com boa sustentação; persistindo a dor, encaminhar para con- nutricionais nos primeiros 6 meses de vida, é adequada à digestão e
sulta médica ou de enfermagem; propicia a passagem de mecanismos de defesa (anticorpos) da mãe;
f) Lombalgia - recomendar a correção de postura ao sentar-se além disso, o ato de sugar auxilia a formação da arcada dentária, o
e ao andar, bem como o uso de sapatos com saltos baixos e confor- que facilitará, posteriormente, a fala.
táveis. No tocante ao ato de amamentar, a mãe deve receber várias
A aplicação de calor local, por compressas ou banhos mornos, é orientações: este deve ocorrer sempre que a criança tiver fome e
recomendável. Em alguns casos, a critério médico, a gestante pode durante o tempo que quiser (livre demanda). Para sua realização,
fazer uso de medicamentos; a mãe deve procurar um local confortável e tranquilo, posicionar a
g) Cefaleia - conversar com a gestante sobre suas tensões, con- criança da forma mais cômoda - de forma que lhe permita a aboca-
flitos e temores, agendando consulta com o psicólogo, se necessá- nhar o mamilo e toda ou parte da aréola, afastando o peito do nariz
rio. da criança com o auxílio dos dedos – e oferecer-lhe os dois seios
Verificar a pressão arterial, agendando consulta médica ou de em cada mamada, começando sempre pelo que foi oferecido por
enfermagem no sentido de afastar suspeita de hipertensão arterial último (o que permitirá melhor esvaziamento das mamas e maior
e pré-eclâmpsia (principalmente se mais de 24 semanas de gesta- produção de leite, bem como o fornecimento de quantidade cons-
ção); tante de gordura em todas as mamadas).

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Ao retirar o bebê do mamilo, nunca puxá-lo, pois isto pode cau- -a barriga pode apresentar contrações, ou seja, uma dor tipo
sar rachadura ou fissura. Como prevenção, deve-se orientar a mãe cólica que a fará endurecer e que será intermitente, iniciando com
a introduzir o dedo mínimo na boca do bebê e, quando ele suga-lo, intervalos maiores e diminuindo com a evolução do trabalho de
soltar o mamilo. parto;
Em virtude da proximidade do término da gestação, as expec- -no final do terceiro trimestre, às vezes uma semana antes do
tativas estão mais voltadas para os momentos do parto (“Será que parto, ocorre a saída de um muco branco (parecendo “catarro”) o
vou sentir e/ou aguentar a dor?”) e de ver o bebê (“Será que é per- chamado tampão mucoso, o qual pode ter sinais de sangue no mo-
feito?”). mento do trabalho de parto;
Geralmente, este é um dos períodos de maior tensão da ges- -a respiração deve ser feita de forma tranquila (inspiração pro-
tante. funda e expiração soprando o ar).
No terceiro trimestre, o útero volumoso e a sobrecarga dos sis-
temas cardiovascular, respiratório e locomotor desencadeiam alte- A gestante e seu acompanhante devem ser orientados a pro-
rações orgânicas e desconforto, pois o organismo apresenta menor curar um serviço de saúde imediatamente ao perceberem qualquer
capacidade de adaptação. Há aumento de estresse, cansaço, e sur- intercorrência durante o período gestacional, como, por exemplo,
gem as dificuldades para movimentar-se e dormir. perda transvaginal (líquido, sangue, corrimento, outros); presença
Frequentemente, a gestante refere plenitude gástrica e consti- de dores abdominais, principalmente tipo cólicas, ou dores locali-
pação intestinal, decorrentes tanto da diminuição da área gástrica zadas; contração do abdome, abdome duro (hipertônico); parada
quanto da diminuição da peristalse devido à pressão uterina sobre da movimentação fetal; edema acentuado de membros inferiores e
os intestinos, levando ao aumento da absorção de água no intesti- superiores (mãos); ganho de peso exagerado; visão turva e presen-
no, o que colabora para o surgimento de hemorroidas. É comum ça de fortes dores de cabeça (cefaleia) ou na nuca.
observarmos queixas em relação à digestão de alimentos mais pe- Enfatizamos que no final do processo gestacional a mulher
sados. Portanto, é importante orientar dieta fracionada, rica em pode apresentar um quadro denominado “falso trabalho de parto”,
verduras e legumes, alimentos mais leves e que favoreçam a diges- caracterizando por atividade uterina aumentada (contrações), per-
tão e evitem constipações. O mais importante é a qualidade dos manecendo, entretanto, um padrão descoordenado de contrações.
alimentos, e não sua quantidade. Algumas vezes, estas contrações são bem perceptíveis. Contu-
do, cessam em seguida, e a cérvice uterina não apresenta alterações
Observamos que a frequência urinária aumenta no final da (amolecimento, apagamento e dilatação). Tal situação promove alto
gestação, em virtude do encaixamento da cabeça do feto na cavi- grau de ansiedade e expectativa da premência do nascimento, sen-
dade pélvica; em contrapartida, a dificuldade respiratória se ame- do um dos principais motivos que levam as gestantes a procurar o
hospital. O auxiliar de enfermagem deve orientar a clientela e estar
niza. Entretanto, enquanto tal fenômeno de descida da cabeça não
atento para tais acontecimentos, visando evitar uma admissão pre-
acontece, o desconforto respiratório do final da gravidez pode ser
coce, intervenções desnecessárias e estresse familiar, ocasionando
amenizado adotando a posição de semi fowler durante o descanso.
uma experiência negativa de trabalho de parto, parto e nascimento.
Ao final do terceiro trimestre, é comum surgirem mais varizes
Para amenizar o estresse no momento do parto, devemos
e edema de membros inferiores, tanto pela compressão do útero
orientar a parturiente para que realize exercícios respiratórios, de
sobre as veias ilíacas, dificultando o retorno venoso, quanto por
relaxamento e caminhadas, que diminuirão sua tensão muscular e
efeitos climáticos, principalmente climas quentes. É importante ob-
facilitarão maior oxigenação da musculatura uterina. Tais exercícios
servar a evolução do edema, pesando a gestante e, procurando evi-
proporcionam melhor rendimento no trabalho de parto, pois pro-
tar complicações vasculares, orientando seu repouso em decúbito piciam uma economia de energia - sendo aconselháveis entre as
lateral esquerdo, conforme as condutas terapêuticas anteriormente metrossístoles.
mencionadas. Os exercícios respiratórios consistem em realizar uma inspira-
Destacamos que no final desse período o feto diminui seus mo- ção abdominal lenta e profunda, e uma expiração como se a ges-
vimentos pois possui pouco espaço para mexer-se. Assim, a mãe tante estivesse soprando o vento (apagando a vela), principalmente
deve ser orientada para tal fenômeno, mas deve supervisionar dia- durante as metrossístoles. Na primeira fase do trabalho de parto,
riamente os movimentos fetais – o feto deve mexer pelo menos são muito úteis para evitar os espasmos dolorosos da musculatura
uma vez ao dia. Caso o feto não se movimente durante o período abdominal.
de 24 horas, deve ser orientada a procurar um serviço hospitalar
com urgência. Assistência de Enfermagem em Situações Obstétricas de Risco
Como saber quando será o trabalho de parto? Quais os sinais Na América Latina, o Brasil é o quinto país com maior índice de
de trabalho de parto? O que fazer? Essas são algumas das pergun- mortalidade materna, estimada em 134 óbitos para 100.000 nasci-
tas que a mulher/casal e família fazem constantemente, quando dos vivos.
aproxima-se a data provável do parto. No Brasil, as causas de mortalidade materna se caracterizam
A gestante e/ou casal devem ser orientados para os sinais de por elevadas taxas de toxemias, outras causas diretas, hemorragias
início do trabalho de parto. O preparo abrange um conjunto de cui- (durante a gravidez, descolamento prematuro de placenta), compli-
dados e medidas de promoção à saúde que devem garantir que a cações puerperais e abortos. Essas causas encontram-se presentes
mulher vivencie a experiência do parto e nascimento como um pro- em todas as regiões, com predominância de incidência em diferen-
cesso fisiológico e natural. tes estados.
A gestante, juntamente com seu acompanhante, deve ser A consulta de pré-natal é o espaço adequado para a prevenção
orientada para identificar os sinais que indicam o início do trabalho e controle dessas intercorrências, como a hipertensão arterial asso-
de parto. ciada à gravidez (toxemias), que se caracteriza por ser fator de risco
Para tanto, algumas orientações importantes devem ser ofere- para eclampsia e outras complicações.
cidas, como:
-a bolsa d’água que envolve o feto ainda intra-útero (bolsa de
líquido amniótico) pode ou não romper-se;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Denomina-se fator de risco aquela característica ou circunstân- -Terapêutico: é a intervenção médica aprovada pelo Código Pe-
cia que se associa à probabilidade maior do indivíduo sofrer dano nal Brasileiro (art. 128), praticado com o consentimento da gestante
à saúde. Os fatores de risco são de natureza diversa, a saber: bioló- ou de seu representante legal e realizado nos casos em que há risco
gicos (idade – adolescente ou idosa; estatura - baixa estatura; peso de vida ou gravidez decorrente de estupro;
– obesidade ou desnutrição), clínicos (hipertensão, diabetes), am- -Infectado: quando ocorre infecção intra-útero por ocasião do
bientais (abastecimento deficiente de água, falta de rede de esgo- abortamento. Acontece, na maioria das vezes, durante as manobras
tos), relacionados à assistência (má qualidade da assistência, cober- para interromper uma gravidez. A mulher apresenta febre em grau
tura insuficiente ao pré-natal), socioculturais (nível de formação) e variável, dores discretas e contínuas, hemorragia com odor fétido
econômicos (baixa renda). e secreção cujo aspecto depende do microrganismo, taquicardia,
Esses fatores, associados a fatores obstétricos como primeira desidratação, diminuição dos movimentos intestinais, anemia, peri-
gravidez, multiparidade, gestação em idade reprodutiva precoce ou tonite, septicemia e choque séptico.
tardia, abortamentos anteriores e desnutrição, aumentam a proba- Podem ocorrer endocardite, miocardite, tromboflebite e em-
bilidade de morbimortalidade perinatal. bolia pulmonar;
Devemos considerar que a maioria destas mortes maternas e
fetais poderiam ter sido prevenidas com uma assistência adequada Provocado - é a interrupção ilegal da gravidez, com a morte do
ao pré-natal, parto e puerpério - “98% destas mortes seriam evi- produto da concepção, haja ou não a expulsão, qualquer que seja o
tadas se as mulheres tivessem condições dignas de vida e atenção seu estado evolutivo. São praticados na clandestinidade, em clínicas
à saúde, especialmente pré-natal realizado com qualidade, assim privadas ou residências, utilizando-se métodos anti-higiênicos, ma-
como bom serviço de parto e pós-parto”. teriais perfurantes, medicamentos e substâncias tóxicas. Pode levar
Entretanto, há uma pequena parcela de gestantes que, por à morte da mulher ou evoluir para um aborto infectado;
terem algumas características ou sofrerem de alguma patologia, Retido – é quando o feto morre e não é expulso, ocorrendo
apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável, tan- a maceração. Não há sinais de abortamento, porém pode ocorrer
to para elas como para o feto. Essa parcela é a que constitui o grupo mal-estar geral, cefaleia e anorexia.
chamado de gestantes de risco. O processo de abortamento é complexo e delicado para uma
Dentre as diversas situações obstétricas de risco gestacional, mulher, principalmente por não ter podido manter uma gravidez,
destacam-se as de maior incidência e maior risco, como aborta- sendo muitas vezes julgada e culpabilizada, o que lhe acarreta um
mento, doença hipertensiva específica da gravidez (DHEG) e sofri- estigma social, afetando-lhe tanto do ponto de vista biológico como
mento fetal. psicoemocional.

Abortamento Independente do tipo de aborto, cada profissional tem papel


Conceitua-se como abortamento a morte ovular ocorrida an- importante na orientação, diálogo e auxílio a essa mulher, diante
tes da 22ª semana de gestação, e o processo de eliminação deste de suas necessidades. Assim, não deve fazer qualquer tipo de jul-
produto da concepção é chamado de aborto. O abortamento é dito gamento e a assistência deve ser prestada de forma humanizada e
precoce quando ocorre até a 13ª semana; e tardio, quando entre a com qualidade - caracterizando a essência do trabalho da enferma-
13ª e 22ª semanas. gem, que é o cuidar e o acolher, independente dos critérios pesso-
Algumas condições favorecem o aborto, entre elas: fatores ais e julgamentos acerca do caso clínico.
ovulares (óvulos ou espermatozoides defeituosos); diminuição do Devemos estar atentos para os cuidados imediatos e media-
hormônio progesterona, resultando em sensibilidade uterina e con- tos, tais como: controlar os sinais vitais, verificando sinais de cho-
trações que podem levar ao aborto; infecções como sífilis, rubéola, que hipovolêmico, mediante avaliação da coloração de mucosas,
toxoplasmose; traumas de diferentes causas; incompetência istmo hipotensão, pulso fraco e rápido, pele fria e pegajosa, agitação e
cervical; mioma uterino; “útero infantil”; intoxicações (fumo, álco- apatia; verificar sangramento e presença de partes da placenta ou
ol, chumbo e outros); hipotireoidismo; diabetes mellitus; doenças embrião nos coágulos durante a troca dos traçados ou absorventes
hipertensivas e fatores emocionais. colocados na região vulvar (avaliar a quantidade do sangramento
Os tipos de aborto são inúmeros e suas manifestações clínicas pelo volume do sangue e número de vezes de troca do absorvente);
estão voltadas para a gravidade de cada caso e dependência de controlar o gotejamento da hidratação venosa para reposição de
uma assistência adequada à mulher. Os tipos de aborto são11: líquido ou sangue; administrar medicação (antibioticoterapia, soro
-Ameaça de aborto: situação em que há a probabilidade do antitetânico, analgésicos ou antiespasmódicos, ocitócicos) confor-
aborto ocorrer. Geralmente, caracteriza-se por sangramento mo- me prescrição médica; preparar a paciente para qualquer procedi-
derado, cólicas discretas e colo uterino com pequena ou nenhuma mento (curetagem, microcesariana, e outros); prestar os cuidados
dilatação; após os procedimentos pós-operatórios; procurar tranquilizar a
-Espontâneo: pode ocorrer por um ovo defeituoso e o subse- mulher; comunicar qualquer anormalidade imediatamente à equi-
quente desenvolvimento de defeitos no feto e placenta. Dependen- pe de saúde.
do da natureza do processo, é considerado: Nosso papel é orientar a mulher sobre os desdobramentos do
a) Evitável: o colo do útero não se dilata, sendo evitado através pós-aborto, como reposição hídrica e nutricional, sono e repouso,
de repouso e tratamento conservador; expressão dos seus conflitos emocionais e, psicologicamente, faze-
b) Inevitável: quando o aborto não pode ser prevenido, acon- -la acreditar na capacidade de o seu corpo viver outra experiência
tecendo a qualquer momento. Apresenta-se com um sangramento reprodutiva com saúde, equilíbrio e bem-estar.
intenso, dilatação do colo uterino e contrações uterinas regulares. É fundamental a observação do sangramento vaginal, atentan-
Pode ser subdivido em aborto completo (quando o feto e todos do para os aspectos de quantidade, cor, odor e se está acompanha-
os tecidos a ele relacionados são eliminados) e aborto incompleto do ou não de dor e alterações de temperatura corporal. As mamas
(quando algum tecido permanece retido no interior do útero); precisarão de cuidados como: aplicar compressas frias e enfaixá-las,
-Habitual: quando a mulher apresenta abortamentos repetidos a fim de prevenir ingurgitamento mamário; não realizar a ordenha
(três ou mais) de causa desconhecida; nem massagens; administrar medicação para inibir a lactação de
acordo com a prescrição médica.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

No momento da alta, a cliente deve ser encaminhada para O exame de urina, cujo resultado demonstre presença de pro-
acompanhamento ginecológico com o objetivo de fazer a revisão teína, significa diminuição da função urinária. A elevação da pres-
pós-aborto; identificar a dificuldade de se manter a gestação se for são sistólica em mais de 30 mmhg, ou da diastólica em mais de 15
o caso; e receber orientações acerca da necessidade de um período mmhg, representa outro sinal que deve ser observado com aten-
de abstinência sexual e, antes de iniciar sua atividade sexual, esco- ção. A gestante o companheiro e a família devem estar convenien-
lher o método contraceptivo que mais se adeque à sua realidade. temente orientados quanto aos sinais e sintomas da DHEG.
Todos esses sinais são motivos de preocupação, devendo ser
Placenta Prévia (PP) pesquisados e avaliados através de marcação de consultas com
É uma intercorrência obstétrica de risco caracterizada pela im- maior frequência, para evitar exacerbação dessa complicação em
plantação da placenta na parte inferior do útero. Com o desenvol- uma gravidez de baixo risco, tornando-a de alto risco – o que fará
vimento da gravidez, a placenta evolui para o orifício do canal de necessário o encaminhamento e acompanhamento pelo pré-natal
parto. de alto risco.
Pode ser parcial (marginal), quando a placenta cobre parte do A pré-eclâmpsia leve é caracterizada por edema e/ou proteinú-
orifício, ou total (oclusiva), quando cobre totalmente o orifício. Am- ria, e mais hipertensão. À medida que a doença evolui e o vaso es-
bas as situações provocam risco de vida materna e fetal, em vista da pasmo aumenta, surgem outros sinais e sintomas. O sistema ner-
hemorragia – a qual apresenta sangramento de cor vermelho vivo, voso central (SNC) sofre irritabilidade crescente, surgindo cefaleia
indolor, constante, sem causa aparente, aparecendo a partir da 22a occipital, tonteiras, distúrbios visuais (moscas volantes). As mani-
semana de gravidez. festações digestivas - dor epigástrica, náuseas e vômitos - são sinto-
Após o diagnóstico de PP, na fase crítica, a internação é a con- mas que revelam comprometimento de outros órgãos.
duta imediata com a intenção de promover uma gravidez a termo Com a evolução da doença pode ocorrer a convulsão ou coma,
ou o mais próximo disso. A supervisão deve ser constante, sendo a caracterizando a DHEG grave ou eclampsia, uma das complicações
gestante orientada a fazer repouso no leito com os membros discre- obstétricas mais graves. Nesta, a proteinúria indica alterações re-
tamente elevados, evitar esforços físicos e observar os movimentos nais, podendo ser acompanhada por oligúria ou mesmo anúria.
fetais e características do sangramento (quantidade e frequência). Com o vaso espasmo generalizado, o miométrio torna-se hi-
A conduta na evolução do trabalho de parto dependerá do quadro pertônico, afetando diretamente a placenta que, dependendo da
clínico de cada gestante, avaliando o bem-estar materno e fetal. intensidade, pode desencadear seu deslocamento prematuro. Tam-
bém a hipertensão materna prolongada afeta a circulação placen-
Prenhez Ectópica ou Extrauterina tária, ocorrendo o rompimento de vasos e acúmulo de sangue na
Consiste numa intercorrência obstétrica de risco, caracterizada parede do útero, representando outra causa do deslocamento da
pela implantação do ovo fecundado fora do útero, como, por exem- placenta.
plo, nas trompas uterinas, ovários e outros. Um sinal expressivo do descolamento da placenta é a dor ab-
Como sinais e sintomas, tal intercorrência apresenta forte dor dominal súbita e intensa, seguida por sangramento vaginal de co-
no baixo ventre, podendo estar seguida de sangramento em grande loração vermelha-escuro, levando a uma movimentação fetal au-
quantidade. mentada, o que indica sofrimento fetal por diminuição de oxigênio
O diagnóstico geralmente ocorre no primeiro trimestre gesta- (anoxia) e aumento excessivo das contrações uterinas que surgem
cional, através de ultrassonografia. A equipe de enfermagem de- como uma defesa do útero em cessar o sangramento, agravando o
verá estar atenta aos possíveis sinais de choque hipovolêmico e de estado do feto. Nesses casos, indica-se a intervenção cirúrgica de
infecção. emergência – cesariana -, para maior chance de sobrevivência ma-
A conduta obstétrica é cirúrgica. terna e fetal.
Os fatores de risco que dificultam a oxigenação dos tecidos e,
Doenças Hipertensivas Específicas da Gestação (DHEG) principalmente, o tecido uterino, relacionam-se à: superdistensão
A hipertensão na gravidez é uma complicação comum e poten- uterina (gemelar, polidrâmnia, fetos grandes); aumento da tensão
cialmente perigosa para a gestante, o feto e o próprio recém-nasci- sobre a parede abdominal, frequentemente observado na primeira
do, sendo uma das causas de maior incidência de morte materna, gravidez; doenças vasculares já existentes, como hipertensão crô-
fetal e neonatal, de baixo peso ao nascer e prematuridade. Pode nica, neuropatia; estresse emocional, levando à tensão muscular;
apresentar-se de forma leve, moderada ou grave. alimentação inadequada.
Existem vários fatores de risco associados com o aumento da A assistência pré-natal tem como um dos objetivos detectar
DHEG, tais como: adolescência/idade acima de 35 anos, conflitos precocemente os sinais da doença hipertensiva, antes que evolua.
psíquicos e afetivos, desnutrição, primeira gestação, história fa- A verificação do peso e pressão arterial a cada consulta servirá para
miliar de hipertensão, diabetes mellitus, gestação múltipla e poli- a avaliação sistemática da gestante, devendo o registro ser feito no
drâmnia. Cartão de Pré-Natal, para acompanhamento durante a gestação e
A DHEG aparece após a 20a semana de gestação, como um parto. O exame de urina deve ser feito no primeiro e terceiro tri-
quadro de hipertensão arterial, acompanhada ou não de edema mestre, ou sempre que houver queixas urinárias ou alterações dos
e proteinúria (pré-eclâmpsia), podendo evoluir para convulsão e níveis da pressão arterial.
coma (DHEG grave ou eclampsia). A equipe de enfermagem deve orientar a gestante sobre a im-
Durante uma gestação sem intercorrências, a pressão perma- portância de diminuir a ingesta calórica (alimentos ricos em gordu-
nece normal e não há proteinúria. É comum a maioria das gestantes ra, massa, refrigerantes e açúcar) e não abusar de comidas salgadas,
apresentarem edema nos membros inferiores, devido à pressão do bem como sobre os perigos do tabagismo, que provoca vasoconstri-
útero grávido na veia cava inferior e ao relaxamento da musculatura ção, diminuindo a irrigação sanguínea para o feto, e do alcoolismo,
lisa dos vasos sanguíneos, não sendo este um sinal diferencial. que provoca o nascimento de fetos de baixo peso e abortamento
Já o edema de face e de mãos é um sinal de alerta diferencial, espontâneo.
pois não é normal, podendo estar associado à elevação da pressão
arterial. Um ganho de peso de mais de 500 g por semana deve ser
observado e analisado como um sinal a ser investigado.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O acompanhamento pré-natal deve atentar para o apareci- Sofrimento Fetal Agudo (SFA)
mento de edema de face e dos dedos, cefaleia frontal e occipital e O sofrimento fetal agudo (SFA) indica que a saúde e a vida do
outras alterações como irritabilidade, escotomas, hipersensibilida- feto estão sob-risco, devido à asfixia causada pela diminuição da
de a estímulos auditivos e luminosos. A mulher, o companheiro e a chegada do oxigênio ao mesmo, e à eliminação do gás carbônico.
família devem ser orientados quanto aos sinais e sintomas da DHEG As trocas metabólicas existentes entre o sangue materno e o
e suas implicações, observando, inclusive, a dinâmica da movimen- fetal, realizadas pela circulação placentária, são indispensáveis para
tação fetal. manter o bem-estar do feto. Qualquer fator que, por um período
A gestante deve ser orientada quanto ao repouso no leito em provisório ou permanente de carência de oxigênio, interfira nessas
decúbito lateral esquerdo, para facilitar a circulação, tanto renal trocas será causa de SFA.
quanto placentária, reduzindo também o edema e a tensão arterial, O sofrimento fetal pode ser diagnosticado através de alguns
bem como ser encorajada a exteriorizar suas dúvidas e medos, vi- sinais, como frequência cardíaca fetal acima de 160 batimentos ou
sando minimizar o estresse. abaixo de 120 por minuto, e movimentos fetais inicialmente au-
As condições socioeconômicas desfavoráveis, dificuldade de mentados e posteriormente diminuídos.
acesso aos serviços de saúde, hábitos alimentares inadequados, Durante essa fase, o auxiliar de enfermagem deve estar atento
entre outros, são fatores que podem vir a interferir no acompanha- aos níveis pressóricos da gestante, bem como aos movimentos fe-
mento ambulatorial. Sendo específicos à cada gestante, fazem com tais. Nas condutas medicamentosas, deve atuar juntamente com a
que a eclampsia leve evolua, tornando a internação hospitalar o tra- equipe de saúde.
tamento mais indicado. Nos casos em que se identifique sofrimento fetal e a gestante
Durante a internação hospitalar a equipe de enfermagem deve esteja recebendo infusão venosa contendo ocitocina, tal fato deve
estar atenta aos agravos dos sinais e sintomas da DHEG. Portanto, ser imediatamente comunicado à equipe e a solução imediatamen-
deve procurar promover o bem-estar materno e fetal, bem como te suspensa e substituída por solução glicosada ou fisiológica pura.
proporcionar à gestante um ambiente calmo e tranquilo, manter a A equipe responsável pela assistência deve tranquilizar a ges-
supervisão constante e atentar para o seu nível de consciência, já tante, ouvindo-a e explicando - a ela e à família - as característi-
que os estímulos sonoros e luminosos podem desencadear as con- cas do seu quadro e a conduta terapêutica a ser adotada, o que
vulsões, pela irritabilidade do SNC. Faz-se necessário, também, con- a ajudará a manter o controle e, consequentemente, cooperar. A
trolar a pressão arterial e os batimentos cardiofetais (a frequência transmissão de calma e a correta orientação amenizarão o medo e
será estabelecida pelas condições da gestante), bem como pesar a a ansiedade pela situação.
gestante diariamente, manter-lhe os membros inferiores discreta- A gestante deve ser mantida em decúbito lateral esquerdo,
mente elevados, providenciar a colheita dos exames laboratoriais com o objetivo de reduzir a pressão que o feto realiza sobre a veia
solicitados (sangue, urina), observar e registrar as eliminações fisio- cava inferior ou cordão umbilical, e melhorar a circulação mater-
lógicas, as queixas álgicas, as perdas vaginais e administrar medica- no-fetal. Segundo prescrição, administrar oxigênio (O2 úmido) para
ções prescritas, observando sua resposta. melhorar a oxigenação da gestante e do feto e preparar a parturien-
Além disso, deve-se estar atento para possíveis episódios de te para intervenção cirúrgica, de acordo com a conduta indicada
crises convulsivas, empregando medidas de segurança tais como pela equipe responsável pela assistência.
manter as grades laterais do leito elevadas (se possível, acolcho-
adas), colocar a cabeceira elevada a 30° e a gestante em decúbi- Parto e Nascimento Humanizado
to lateral esquerdo (ou lateralizar sua cabeça, para eliminação das Até o século XVIII, as mulheres tinham seus filhos em casa; o
secreções); manter próximo à gestante uma cânula de borracha parto era um acontecimento domiciliar e familiar. A partir do mo-
(Guedel), para colocar entre os dentes, protegendo- lhe a língua de mento em que o parto tornou-se institucionalizado (hospitalar) a
um eventual traumatismo. Ressalte-se que os equipamentos e me- mulher passou a perder autonomia sobre seu próprio corpo, dei-
dicações de emergência devem estar prontos para uso imediato, na xando de ser ativa no processo de seu parto.
proximidade da unidade de alto risco. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se que ape-
Gestantes que apresentam DHEG moderada ou grave devem nas 10% a 20% dos partos têm indicação cirúrgica. Isto significa que
ser acompanhadas em serviços de obstetrícia, por profissional mé- deveriam ser indicados apenas para as mulheres que apresentam
dico, durante todo o período de internação. Os cuidados básicos in- problemas de saúde, ou naqueles casos em que o parto normal tra-
cluem: observação de sinais de petequeias, equimoses e/ou sangra- ria riscos ao recém-nascido ou a mãe. Entretanto, o que verificamos
mentos espontâneos, que indicam complicação séria causada por é a existência de um sistema de saúde voltado para a atenção ao
rompimento de vasos sanguíneos; verificação horária de pressão parto e nascimento pautado em rotinas de intervenções, que favo-
arterial, ou em intervalo menor, e temperatura, pulso e respiração rece e conduz ao aumento de cesáreas e de possíveis iatrogenias
de duas em duas horas; instalação de cateterismo vesical, visando que, no pós-parto, geram complicações desnecessárias.
o controle do volume urinário (diurese horária); monitoramento de Nós, profissionais de saúde, devemos entender que o parto
balanço hídrico; manutenção de acesso venoso para hidratação e não é simplesmente “abrir uma barriga”, “tirar um recém-nascido
administração de terapia medicamentosa (anti-hipertensivo, anti- de dentro”, afastá-lo da “mãe”para colocá-lo num berço solitário,
convulsivos, antibióticos, sedativos) e de urgência; colheita de exa- enquanto a mãe dorme sob o efeito da anestesia.
mes laboratoriais de urgência; instalação de oxigeno terapia confor- A enfermagem possui importante papel como integrante da
me prescrição médica, caso a gestante apresente cianose. equipe, no sentido de proporcionar uma assistência humanizada e
Com a estabilização do quadro e as convulsões controladas, qualificada quando do parto, favorecendo e estimulando a partici-
deve-se preparar a gestante para a interrupção da gravidez (cesá- pação efetiva dos principais atores desse fenômeno – a gestante,
rea), pois a conduta mais eficaz para a cura da DHEG é o término seu acompanhante e seu filho recém-nascido.
da gestação, o que merece apreciação de todo o quadro clínico e Precisamos valorizar esse momento pois, se vivenciado har-
condição fetal, considerando-se a participação da mulher e família moniosamente, favorece um contato precoce mãe-recém-nasci-
nesta decisão. do, estimula o aleitamento materno e promove a interação com o
É importante que a puérpera tenha uma avaliação contínua nas acompanhante e a família, permitindo à mulher um momento de
48 horas após o parto, pois ainda pode apresentar risco de vida. conforto e segurança, com pessoas de seu referencial pessoal.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os profissionais devem respeitar os sentimentos, emoções, ne- Assistência Durante o Trabalho de Parto Natural
cessidades e valores culturais, ajudando-a a diminuir a ansiedade e O trajeto do parto ou canal de parto é a passagem que o feto
insegurança, o medo do parto, da solidão do ambiente hospitalar e percorre ao nascer, desde o útero à abertura vulvar. É formado pelo
dos possíveis problemas do bebê. conjunto dos ossos ilíaco, sacro e cóccix - que compõem a peque-
A promoção e manutenção do bem-estar físico e emocional ao na bacia pélvica, também denominada de trajeto duro - e pelos te-
longo do processo de parto e nascimento ocorre mediante informa- cidos moles (parte inferior do útero, colo uterino, canal vaginal e
ções e orientações permanentes à parturiente sobre a evolução do períneo) que revestem essa parte óssea, também denominada de
trabalho de parto, reconhecendo-lhe o papel principal nesse pro- trajeto mole.
cesso e até mesmo aceitando sua recusa a condutas que lhe cau- No trajeto mole, ocorrem as seguintes alterações: aumento do
sem constrangimento ou dor; além disso, deve-se oferecer espaço útero; amolecimento do colo para a dilatação e apagamento; hiper-
e apoio para a presença do(a) acompanhante que a parturiente vascularização e aumento do tecido elástico da vagina, facilitando
deseja. sua distensão; aumento das glândulas cervicais para lubrificar o tra-
Qualquer indivíduo, diante do desconhecido e sozinho, tende jeto do parto.
a assumir uma postura de defesa, gerando ansiedade e medos. A No trajeto duro, a principal alteração é o aumento da mobilida-
gestante não preparada desconhece seu corpo e as mudanças que de nas articulações (sacroilíaca, sacrococcígea, lombo-sacral, sínfise
o mesmo sofre. púbica), auxiliado pelo hormônio relaxina.
O trabalho de parto é um momento no qual a mulher se sente O feto tem importante participação na evolução do trabalho
desprotegida e frágil, necessitando apoio constante. de parto: realiza os mecanismos de flexão, extensão e rotação, per-
O trabalho de parto e o nascimento costumam desencadear mitindo sua entrada e passagem pelo canal de parto - fenômeno
excitação e apreensão nas parturientes, independente do fato de a facilitado pelo cavalgamento dos ossos do crânio, ocasionando a
gestante ser primípara ou multípara. É um momento de grande ex- redução do diâmetro da cabeça e facilitando a passagem pela pelve
pectativa para todos, gestante, acompanhante e equipe de saúde. materna.
O início do trabalho de parto é desencadeado por fatores ma-
ternos, fetais e placentários, que se interagem. O Primeiro Período do Trabalho de Parto: a Dilatação
Os sinais do desencadeamento de trabalho de parto são: Nesse período, após o colo atingir 5 cm de dilatação, as con-
- eliminações vaginais, discreto sangramento, perda de tampão trações uterinas progridem e aos poucos aumentam a intensidade,
mucoso, eliminação de líquido amniótico, presente quando ocorre o intervalo e a duração, provocando a dilatação do colo uterino.
a ruptura da bolsa amniótica - em condições normais, apresenta- se Como resultado, a cabeça do feto vai gradualmente descendo no
claro, translúcido e com pequenos grumos semelhantes a pedaços canal pélvico e, nesse processo, rodando lentamente. Essa descida,
de leite coalhado (vérnix); auxiliada pela pressão da bolsa amniótica, determina uma pressão
- contrações uterinas inicialmente regulares, de pequena inten- maior da cabeça sobre o colo uterino, que vai se apagando. Para
sidade, com duração variável de 20 a 40 segundos, podendo chegar possibilitar a passagem do crânio do feto - que mede por volta de
a duas ou mais em dez minutos; 9,5 cm - faz-se necessária uma dilatação total de 10 cm. Este é o pe-
- desconforto lombar; ríodo em que a parturiente experimenta desconfortos e sensações
- alterações da cérvice, amolecimento, apagamento e dilatação dolorosas e pode apresentar reações diferenciadas como exaustão,
progressiva; impaciência, irritação ou apatia, entre outras.
- diminuição da movimentação fetal. Além das adaptações no corpo materno, visando o desenrolar
do trabalho de parto, o feto também se adapta a esse processo: sua
A duração de cada trabalho de parto está associada à parida- cabeça tem a capacidade de flexionar, estender e girar, permitindo
de (o número de partos da mulher), pois as primíparas demandam entrar dentro do canal do parto e passar pela pelve óssea materna
maior tempo de trabalho de parto do que as multíparas; à flexibili- com mais mobilidade.
dade do canal de parto, pois as mulheres que exercitam a muscula- Durante o trabalho de parto, os ossos do crânio se aproximam
tura pélvica apresentam maior flexibilidade do que as sedentárias; uns dos outros e podem acavalar, reduzindo o tamanho do crânio e,
às contrações uterinas, que devem ter intensidade e frequência assim, facilitar a passagem pela pelve materna.
apropriadas; à boa condição psicológica da parturiente durante o Nesse período, é importante auxiliar a parturiente com alterna-
trabalho de parto, caso contrário dificultará o nascimento do bebê; tivas que possam amenizar-lhe o desconforto. O cuidar envolve pre-
ao estado geral da cliente e sua reserva orgânica para atender ao sença, confiança e atenção, que atenuam a ansiedade da cliente,
esforço do trabalho de parto; e à situação e apresentação fetais estimulando- a adotar posições alternativas como ficar de cócoras,
(transversa, acromial, pélvica e de face). de joelho sobre a cama ou deambular. Essas posições, desde que
escolhidas pela mulher, favorecem o fluxo de sangue para o útero,
Admitindo a Parturiente tornam as contrações mais eficazes, ampliam o canal do parto e
O atendimento da parturiente na sala de admissão de uma ma- facilitam a descida do feto pela ação da gravidade.
ternidade deve ter como preocupação principal uma recepção aco- A mulher deve ser encorajada e encaminhada ao banho de
lhedora à mulher e sua família, informando-os da dinâmica da assis- chuveiro, bem como estimulada a fazer uma respiração profunda,
tência na maternidade e os cuidados pertinentes a esse momento: realizar massagens na região lombar – o que reduz sua ansiedade e
acompanhá-la na admissão e encaminhá-la ao pré-parto; colher os tensão muscular - e urinar, pois a bexiga cheia dificulta a descida do
exames laboratoriais solicitados (hemograma, VDRL e outros exa- feto na bacia materna.
mes, caso não os tenha realizado durante o pré-natal); promover
um ambiente tranquilo e com privacidade; monitorar a evolução do
trabalho de parto, fornecendo explicações e orientações.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Durante a evolução do trabalho de parto, será realizada, pelo O cordão umbilical só deve ser pinçado e laqueado quando o
enfermeiro ou médico, a ausculta dos batimentos cardiofetais, sem- recém-nascido estiver respirando. A laqueadura é feita com mate-
pre que houver avaliação da dinâmica uterina (DU) antes, durante rial adequado e estéril, a uns três centímetros da pele. É importan-
e após a contração uterina. O controle dos sinais vitais maternos é te manter o recém-nascido aquecido, cobrindo-o com um lençol/
contínuo e importante para a detecção precoce de qualquer altera- campo – o que previne a ocorrência de hipotermia. A mulher deve
ção. A verificação dos sinais vitais pode ser realizada de quatro em ser incentivada a iniciar a amamentação nas primeiras horas após
quatro horas, e a tensão arterial de hora em hora ou mais frequen- o parto, o que facilita a saída da placenta e estimula a involução do
temente, se indicado. útero, diminuindo o sangramento pós-parto.
O toque vaginal deve ser realizado pelo obstetra ou enfermeira,
e tem a finalidade de verificar a dilatação e o apagamento do colo O Terceiro Período do Trabalho de Parto: a Dequitação
uterino, visando avaliar a progressão do trabalho de parto. Para a Inicia-se após a expulsão do feto e termina com a saída da pla-
realização do procedimento, o auxiliar de enfermagem deve prepa- centa e membranas (amniótica e coriônica). Recebe o nome de de-
rar o material necessário para o exame, que inclui luvas, gazes com livramento ou dequitação e deve ser espontâneo, sem compressão
solução anti séptica e comadre. uterina. Pode durar de alguns minutos a 30 minutos. Nessa fase é
A prévia antissepsia das mãos é condição indispensável para o importante atentar para as perdas sanguíneas, que não devem ser
exame. superiores a 500 ml.
Caso a parturiente esteja desanimada, frustrada ou necessite As contrações para a expulsão da placenta ocorrem em menor
permanecer no leito durante o trabalho de parto, devido às compli- quantidade e intensidade. A placenta deve ser examinada com re-
cações obstétricas ou fetais, deve ser aconselhada a ficar na posição lação à sua integridade, tipo de vascularização e local de inserção
de decúbito lateral esquerdo, tanto quanto possível. do cordão, bem como verificação do número de vasos sanguíneos
deste (1 artérias e 2 veias), presença de nós e tumorações. Exami-
O Segundo Período do Trabalho de Parto: a Expulsão na-se ainda o canal vaginal, o colo uterino e a região perineal, com
O período de expulsão inicia-se com a completa dilatação do vistas à identificação de rupturas e lacerações; caso tenha sido re-
colo uterino e termina com o nascimento do bebê. alizada episiotomia, proceder à sutura do corte (episiorrafia) e/ou
Ao final do primeiro período do trabalho de parto, o sangra- das lacerações.
mento aumenta com a laceração dos capilares no colo uterino. Náu-
seas e vômitos podem estar presentes, por ação reflexa. A partu- A dequitação determina o início do puerpério imediato, onde
riente refere pressão no reto e urgência urinária. Ocorre distensão ocorrerão contrações que permitirão reduzir o volume uterino,
dos músculos perineais e abaulamento do períneo (solicitação do mantendo-o contraído e promovendo a hemostasia nos vasos que
períneo), e o ânus dilata-se acentuadamente. irrigavam a placenta.
Esses sinais iminentes do parto devem ser observados pelo au- Logo após o delivramento, o auxiliar de enfermagem deve veri-
xiliar de enfermagem e comunicados à enfermeira obstétrica e ao ficar a tensão arterial da puérpera, identificando alterações ou não
obstetra. dos valores que serão avaliados pelo médico ou enfermeiro.
O exame do toque deve ser realizado e, constatada a dilatação Antes de transferir a puérpera para a cadeira ou maca, deve-se,
total, o auxiliar de enfermagem deve encaminhar a parturiente à utilizando luvas estéreis, realizar-lhe antissepsia da área pubiana,
sala de parto, em cadeira de rodas ou deambulando. massagear-lhe as panturrilhas, trocar-lhe a roupa e colocar-lhe um
Enquanto estiver sendo conduzida à sala de parto, a parturien- absorvente sob a região perianal e pubiana. Caso o médico ou en-
te deve ser orientada para respirar tranquilamente e não fazer for- fermeiro avalie que a puérpera esteja em boas condições clínicas,
ça. É importante auxiliá-la a se posicionar na mesa de parto com se- será encaminhada, juntamente com o recém-nascido, para o aloja-
gurança e conforto, respeitando a posição de sua escolha: vertical, mento conjunto - acompanhados de seus prontuários, prescrições
semiverticalizada ou horizontal. Qualquer procedimento realizado e pertences pessoais.
deve ser explicado à parturiente e seu acompanhante.
O profissional (médico e/ou enfermeira obstetra) responsável O Quarto Período do Trabalho de Parto: Greenberg
pela condução do parto deve fazer a escovação das mãos e se pa- Corresponde às primeiras duas horas após o parto, fase em que
ramentar (capote, gorro, máscara e luvas). A seguir, realizar a antis- ocorre a loquiação e se avalia a involução uterina e recuperação
sepsia vulvoperineal e da raiz das coxas e colocar os campos esterili- da genitália materna. É considerado um período perigoso, devido
zados sobre a parturiente. Na necessidade de episiotomia, indica-se ao risco de hemorragia; por isso, a puérpera deve permanecer no
a necessidade de anestesia local. Em todo esse processo, o auxiliar centro obstétrico, para criterioso acompanhamento.
de enfermagem deve prestar ajuda ao(s) profissional(is).
Para que ocorra a expulsão do feto, geralmente são necessárias Assistência de Enfermagem Durante o Parto Cesáreo
cinco contrações num período de 10 minutos e com intensidade O parto cesáreo ou cesariana é um procedimento cirúrgico, in-
de 60 segundos cada. O auxiliar de enfermagem deve orientar que vasivo, que requer anestesia. Nele, realiza-se uma incisão no abdo-
a parturiente faça respiração torácica (costal) juntamente com as me e no útero, com exposição de vísceras e perda de sangue, por
contrações, repousando nos intervalos para conservar as energias. onde o feto é retirado. Ressalte-se que esse procedimento expõe
Após o coroamento e exteriorização da cabeça, é importante o organismo às infecções, tanto pela queda de imunidade em vista
assistir ao desprendimento fetal espontâneo. Caso esse desprendi- das perdas sanguíneas como pelo acesso de microrganismos atra-
mento não ocorra naturalmente, a cabeça deve ser tracionada para vés da incisão cirúrgica (porta de entrada), além de implicar maior
baixo, visando favorecer a passagem do ombro. Com a saída da ca- tempo de recuperação.
beça e ombros, o corpo desliza facilmente, acompanhado de um
jato de líquido amniótico. Sugere-se acomodar o recém-nascido,
com boa vitalidade, sobre o colo materno, ou permitir que a mãe o
faça, se a posição do parto favorecer esta prática. Neste momento,
o auxiliar de enfermagem deve estar atento para evitar a queda do
recém-nascido.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A realização do parto cesáreo deve ser baseada nas condições A fadiga e perda de sangue pelo trabalho de parto e outras
clínicas - da gestante e do feto - que contraindiquem o parto normal, condições desencadeadas pelo nascimento podem causar compli-
tais como desproporção cefalopélvica, discinesias, apresentação cações – sua prevenção é o objetivo principal da assistência a ser
anômala, descolamento prematuro da placenta, pós-maturidade, prestada.
diabete materno, sofrimento fetal agudo ou crônico, placenta pré- Nos primeiros dias do pós-parto, a puérpera vive um período
via total ou parcial, toxemia gravídica, prolapso do cordão umbilical. de transição, ficando vulnerável às pressões emocionais. Problemas
Caso ocorra alguma intercorrência obstétrica (alteração do que normalmente enfrentaria com facilidade podem deixá-la ansio-
BCF; a dinâmica uterina, dos sinais vitais maternos; perda trans- sa em vista das responsabilidades com o novo membro da famí-
vaginal de líquido com presença de mecônio; período de dilatação lia (“Será que vou conseguir amamentá-lo? Por que o bebê chora
cervical prolongado) que indique necessidade de parto cesáreo, a tanto?”), a casa (“Como vou conciliar os cuidados da casa com o
equipe responsável pela assistência deve comunicar o fato à mu- bebê?”), o companheiro (“Será que ele vai me ajudar? Como dividir
lher/ família, e esclarecer- lhes sobre o procedimento. a atenção entre ele e o bebê?”) e a família (“Como dividir a atenção
Nesta intervenção cirúrgica, as anestesias mais utilizadas são a com os outros filhos? O que fazer, se cada um diz uma coisa?”).
raquidiana e a peridural, ambas aplicadas na coluna vertebral. Nesse período, em vista de uma grande labilidade emocional,
somada à exaustão física, pode surgir um quadro de profunda tris-
A anestesia raquidiana tem efeito imediato à aplicação, levan- teza, sentimento de incapacidade e recusa em cuidar do bebê e
do à perda temporária de sensibilidade e movimentos dos mem- de si mesma - que pode caracterizar a depressão puerperal. Essas
bros inferiores, que retornam após passado seu efeito. Entretanto, manifestações podem acontecer sem causa aparente, com dura-
tem o inconveniente de apresentar como efeito colateral cefaleia ção temporária ou persistente por algum tempo. Esse transtorno
intensa no período pós-anestésico - como prevenção, deve-se man- requer a intervenção de profissionais capazes de sua detecção e
ter a puérpera deitada por algumas horas (com a cabeceira a zero tratamento precoce, avaliando o comportamento da puérpera e
grau e sem travesseiro), orientando- a para que não eleve a cabeça proporcionando-lhe um ambiente tranquilo, bem como prestando
e estimulando-a à ingestão hídrica. orientações à família acerca da importância de seu apoio na supe-
A anestesia peridural é mais empregada, porém demora mais ração deste quadro.
tempo para fazer efeito e não leva à perda total da sensibilidade De acordo com as alterações físicas, o puerpério pode ser clas-
dolorosa, diminuindo apenas o movimento das pernas – como van- sificado em quatro fases distintas: imediato (primeiras 2 horas pós-
tagem, não produz o incômodo da dor de cabeça. -parto); mediato (da 2ª hora até o 10º dia pós-parto); tardio (do 11º
Na recuperação do pós-parto normal, a criança pode, nas pri- dia até o 42º dia pós-parto) e remoto (do 42º dia em diante).
meiras horas, permanecer com a mãe na sala de parto e/ou alo- O puerpério imediato, também conhecido como quarto perío-
jamento conjunto- dependendo da recuperação, a mulher pode do do parto, inicia-se com a involução uterina após a expulsão da
deambular, tomar banho e até amamentar. Tal situação não aconte- placenta e é considerado crítico, devido ao risco de hemorragia e
cerá nas puérperas que realizaram cesarianas, pois estarão com hi- infecção.
dratação venosa, cateter vesical, curativo abdominal, anestesiadas, A infecção puerperal está entre as principais e mais constantes
sonolentas e com dor – mais uma razão que justifica a realização do complicações.
parto cesáreo apenas quando da impossibilidade do parto normal. O trabalho de parto e o nascimento do bebê reduzem a resis-
A equipe deve esclarecer as dúvidas da parturiente com relação tência à infecção causada por microrganismos encontrados no cor-
aos procedimentos pré-operatórios, tais como retirada de próteses po.
e de objetos (cordões, anéis, roupa íntima), realização de tricoto- Inúmeros são os fatores de risco para o aparecimento de in-
mia em região pubiana, manutenção de acesso venoso permeável, fecções: o trabalho de parto prolongado com a bolsa amniótica
realização de cateterismo vesical e colheita de sangue para exames rompida precocemente, vários toques vaginais, condições socioe-
laboratoriais (solicitados e de rotina). conômicas desfavoráveis, anemia, falta de assistência pré-natal e
Após verificação dos sinais vitais, a parturiente deve ser enca- história de doenças sexualmente transmissível não tratada. O parto
minhada à sala de cirurgia, onde será confortavelmente posicio- cesáreo tem maior incidência de infecção do que o parto vaginal,
nada na mesa cirúrgica, para administração da anestesia. Durante pois durante seu procedimento os tecidos uterinos, vasos sanguí-
toda a técnica o auxiliar de enfermagem deve estar atento para a neos, linfáticos e peritônio estão expostos às bactérias existentes
segurança da parturiente e, juntamente com o anestesista, ajudá- na cavidade abdominal e ambiente externo. A perda de sangue e
-la a se posicionar para o processo cirúrgico, controlando também consequente diminuição da resistência favorecem o surgimento de
a tensão arterial. No parto, o auxiliar de enfermagem desenvolve infecções.
ações de circulante ou instrumentador. Após o nascimento, presta Os sinais e sintomas vão depender da localização e do grau da
os primeiros cuidados ao bebê e encaminha-o ao berçário. infecção, porém a hipertermia é frequente - em torno de 38º C ou
A seguir, o auxiliar de enfermagem deve providenciar a transfe- mais. Acompanhando a febre, podem surgir dor, não involução ute-
rência da puérpera para a sala de recuperação pós-anestésica, pres- rina e alteração das características dos lóquios, com eliminação de
tando- lhe os cuidados relativos ao processo cirúrgico e ao parto. secreção purulenta e fétida, e diarreia.
O exame vaginal, realizado por enfermeiro ou médico, objetiva
Puerpério e suas Complicações identificar restos ovulares; nos casos necessários, deve-se proceder
Durante toda a gravidez, o organismo materno sofre alterações à curetagem.
gradativas - as mais marcantes envolvem o órgão reprodutor. O Cabe ao auxiliar de enfermagem monitorar os sinais vitais da
puerpério inicia-se logo após a dequitação e termina quando a fi- puérpera, bem como orientá-la sobre a técnica correta de lavagem
siologia materna volta ao estado pré-gravídico. Esse intervalo pode das mãos e outras que ajudem a evitar a propagação das infecções.
perdurar por 6 semanas ou ter duração variável, principalmente nas Além disso, visando evitar a contaminação da vagina pelas bactérias
mulheres que estiverem amamentando. presentes no reto, a puérpera deve ser orientada a lavar as regiões
O período puerperal é uma fase de grande estresse fisiológico da vulva e do períneo após cada eliminação fisiológica, no sentido
e psicológico. da vulva para o ânus.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Para facilitar a cicatrização da episiorrafia, deve-se ensinar a No puerpério mediato, a puérpera permanecerá no alojamento
puérpera a limpar a região com antisséptico, bem como estimular- conjunto até a alta hospitalar. Neste setor, inicia os cuidados com o
-lhe a ingesta hídrica e administrar-lhe medicação, conforme pres- bebê, sob supervisão e orientação da equipe de enfermagem – o
crição, visando diminuir seu mal-estar e queixas álgicas. Nos casos que lhe possibilita uma assistência e orientação integral.
de curetagem, preparar a sala para o procedimento. No alojamento conjunto, a assistência prestada pelo auxiliar de
A involução uterina promove a vasoconstrição, controlando a enfermagem baseia-se em observar e registrar o estado geral da
perda sanguínea. Nesse período, é comum a mulher referir cólicas. puérpera, dando continuidade aos cuidados iniciados no puerpério
O útero deve estar mais ou menos 15 cm acima do púbis, duro imediato, em intervalos mais espaçados. Deve também estimular
e globoide pela contração, formando o globo de segurança de Pi- a deambulação precoce e exercícios ativos no leito, bem como ob-
nard em resposta à contratilidade e retração de sua musculatura. servar o estado das mamas e mamilos, a sucção do recém-nascido
A total involução uterina demora de 5 a 6 semanas, sendo mais rá- (incentivando o aleitamento materno), a aceitação da dieta e as ca-
pida na mulher sadia que teve parto normal e está em processo de racterísticas das funções fisiológicas, em vista da possibilidade de
amamentação. retenção urinária e constipação, orientando sobre a realização da
Os lóquios devem ser avaliados quanto ao volume (grande ou higiene íntima após cada eliminação e enfatizando a importância
pequeno), aspecto (coloração, presença de coágulos, restos placen- da lavagem das mãos antes de cuidar do bebê, o que previne in-
tários) e odor (fétido ou não). Para remoção efetiva dos coágulos, fecções.
deve-se massagear levemente o útero e incentivar a amamentação O alojamento conjunto é um espaço oportuno para o auxiliar
e deambulação precoces. de enfermagem desenvolver ações educativas, buscando valorizar
De acordo com sua coloração, os lóquios são classificados as experiências e vivências das mães e, com as mesmas, realizando
como sanguinolentos (vermelho vivo ou escuro – até quatro dias); atividades em grupo de forma a esclarecer dúvidas e medos. Essa
serosanguinolentos (acastanhado – de 5 a 7 dias) e serosos (seme- metodologia propicia a detecção de problemas diversos (emocio-
lhantes à “salmoura” – uma a três semanas). nais, sociais, etc.), possibilitando o encaminhamento da puérpera
A hemorragia puerperal é uma complicação de alta incidência e/ou família para uma tentativa de solução.
de mortalidade materna, tendo como causas a atonia uterina, la- O profissional deve abordar assuntos com relação ao relaciona-
cerações do canal vaginal e retenção de restos placentários. É im- mento mãe-filho-família; estímulo à amamentação, colocando em
portante procurar identificar os sinais de hemorragia – de quinze prática a técnica de amamentação; higiene corporal da mãe e do
em quinze minutos – e avaliar rotineiramente a involução uterina bebê; curativo da episiorrafia e cicatriz cirúrgica; repouso, alimen-
através da palpação, identificando a consistência. Os sinais dessa tação e hidratação adequada para a nutriz; uso de medicamentos
complicação são útero macio (maleável, grande, acima do umbigo), nocivos no período da amamentação, bem como álcool e fumo; im-
lóquios em quantidades excessivas (contendo coágulos e escorren- portância da deambulação para a involução uterina e eliminação de
do num fio constante) e aumento das frequências respiratória e car- flatos (gases); e cuidados com recém-nascido.
díaca, com hipotensão. A mama é o único órgão que após o parto não involui, enchen-
do- se de colostro até trinta horas após o parto. A apojadura, que
Caso haja suspeita de hemorragia, o auxiliar de enfermagem consiste na descida do leite, ocorre entre o 3º ou 4º dia pós-parto.
deve avisar imediatamente a equipe, auxiliando na assistência para A manutenção da lactação depende do estímulo da sucção dos
reverter o quadro instalado, atentando, sempre, para a possibilida- mamilos pelo bebê.
de de choque hipovolêmico. Deve, ainda, providenciar um acesso As mamas também podem apresentar complicações:
venoso permeável para a administração de infusão e medicações; -ingurgitamento mamário - em torno do 3º ao 7º dia pós-parto,
bem como aplicar bolsa de gelo sobre o fundo do útero, massa- a produção láctea está no auge, ocasionando o ingurgitamento ma-
geando-o suavemente para estimular as contrações, colher sangue mário. O auxiliar de enfermagem deve estar atento para as seguin-
tes condutas: orientar sobre a pega correta da aréola e a posição
para exames laboratoriais e prova cruzada, certificar-se de que no
adequada do recém-nascido durante a mamada; o uso do sutiã fir-
banco de sangue existe sangue compatível (tipo e fator Rh) com o
me e bem ajustado; e a realização de massagens e ordenha sempre
da mulher - em caso de reposição - e preparar a puérpera para a
que as mamas estiverem cheias;
intervenção cirúrgica, caso isto se faça necessário.
-rachaduras e/ou fissuras - podem aparecer nos primeiros dias
Complementando esta avaliação, também há verificação dos
de amamentação, levando a nutriz a parar de amamentar.
sinais vitais, considerando-se que a frequência cardíaca diminui
para 50 a 70 bpm (bradicardia) nos primeiros dias após o parto,
Procurando evitar sua ocorrência, o auxiliar de enfermagem
em vista da redução no volume sanguíneo. Uma taquicardia pode
deve orientar a mãe a manter a amamentação; incentivá-la a não
indicar perda sanguínea exagerada, infecção, dor e até ansiedade. usar sabão ou álcool para limpar os mamilos; a expor as mamas
A pressão sanguínea permanece estável, mas sua diminuição pode ao sol por cerca de 20 minutos (antes das 10 horas ou após às 15
estar relacionada à perda de sangue excessivo e seu aumento é su- horas); e a alternar as mamas em cada mamada, retirando cuidado-
gestivo de hipertensão. É também importante observar o nível de samente o bebê. Nesse caso, devem ser aplicadas as mesmas con-
consciência da puérpera e a coloração das mucosas. dutas adotadas para o ingurgitamento mamário.
Outros cuidados adicionais são: observar o períneo, avalian- -mastite - é um processo inflamatório que costuma se desen-
do a integridade, o edema e a episiorrafia; aplicar compressas de volver após a alta e no qual os microrganismos penetram pelas
gelo nesta região, pois isto propicia a vasoconstrição, diminuindo rachaduras dos mamilos ou canais lactíferos. Sua sintomatologia é
o edema e hematoma e evitando o desconforto e a dor; avaliar os dor, hiperemia e calor localizados, podendo ocorrer hipertermia. A
membros inferiores (edema e varizes) e oferecer líquidos e alimen- puérpera deve ser orientada a realizar os mesmos cuidados adota-
tos sólidos à puérpera, caso esteja passando bem. dos nos casos de ingurgitamento mamário, rachaduras e fissuras.
Nos casos de cesárea, atentar para todos os cuidados de um
parto normal e mais os cuidados de um pós-operatório, observando
as características do curativo operatório. Se houver sangramento e/
ou queixas de dor, comunicar tal fato à equipe.

69
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Por ocasião da alta hospitalar, especial atenção deve ser dada Classificação de Acordo com a Relação Peso/IG
às orientações sobre o retorno à atividade sexual, planejamento Essa classificação possibilita a avaliação do crescimento intrau-
familiar, licença-maternidade de 120 dias (caso a mulher possua terino, uma vez que de acordo com a relação entre o peso e a IG os
vínculo empregatício) e importância da consulta de revisão de pós- bebês são classificados como:
-natal e puericultura. a) adequados para a idade gestacional (AIG) – são os neonatos
A consulta de revisão do puerpério deve ocorrer, preferencial- cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram entre as duas
mente, junto com a primeira avaliação da criança na unidade de curvas do gráfico. Em nosso meio, 90 a 95% do total de nascimentos
saúde ou, de preferência, na mesma unidade em que efetuou a as- são de bebês adequados para a IG;
sistência pré-natal, entre o 7º e o 10º dia pós-parto. b) pequenos para a idade gestacional (PIG) - são os neonatos
Até o momento, foi abordado o atendimento à gestante e ao cujas linhas referentes a peso e a IG se encontram abaixo da primei-
feto com base nos conhecimentos acumulados nos campos da obs- ra curva do gráfico. Esses bebês sofreram desnutrição intrauterina
tetrícia e da perinatologia. Com o nascimento do bebê são necessá- importante, em geral como consequência de doenças ou desnutri-
rios os conhecimentos de um outro ramo do saber – a neonatologia. ção maternas.
Surgida a partir da pediatria, a neonatologia é comumente c) grandes para a idade gestacional (GIG) - são os neonatos
definida como um ramo da medicina especializado no diagnóstico cujas linhas referentes ao peso e a IG se encontram acima da se-
e tratamento dos recém-nascidos (RNs). No entanto, ela abrange gunda curva do gráfico. Frequentemente os bebês grandes para a
mais do que isso — engloba também o conhecimento da fisiologia IG são filhos de mães diabéticas ou de mães Rh negativo sensibili-
dos neonatos e de suas características. zadas.

Classificação dos Recém-Nascidos (RNS) Características Anatomofisiológicas dos RNS


Os RNs podem ser classificados de acordo com o peso, a idade Os RNs possuem características anatômicas e funcionais pró-
gestacional (IG) ao nascer e com a relação entre um e outro. prias.
A classificação dos RNs é de fundamental importância pois ao O conhecimento dessas características possibilita que a assis-
permitir a antecipação de problemas relacionados ao peso e/ou à tência aos neonatos seja planejada, executada e avaliada de for-
IG quando do nascimento, possibilita o planejamento dos cuidados ma a garantir o atendimento de suas reais necessidades. Também
e tratamentos específicos, o que contribui para a qualidade da as- permite a orientação aos pais a fim de capacitá-los para o cuidado
sistência. após a alta.
O peso dos bebês é influenciado por diversas condições asso-
Classificação de Acordo com o Peso
ciadas à gestação, tais como fumo, uso de drogas, paridade e ali-
A Organização Mundial de Saúde define como RN de baixo-pe-
mentação materna.
so todo bebê nascido com peso igual ou inferior a 2.500 gramas.
Como nessa classificação não se considera a IG, estão incluídos tan-
to os bebês prematuros quanto os nascidos a termo. Os RNs apresentam durante os cinco primeiros dias de vida
uma diminuição de 5 a 10% do seu peso ao nascimento, chamada
Em nosso país, o número elevado de bebês nascidos com peso de perda ponderal fisiológica, decorrente da grande eliminação de
igual ou inferior a 2.500 gramas - baixo peso ao nascimento - cons- líquidos e reduzida ingesta.. Entre o 8º (RN a termo) e o 15º dia (RNs
titui- se em importante problema de saúde. Nesse grupo há um ele- prematuros) de vida pós-natal, os bebês devem recuperar o peso de
vado percentual de morbimortalidade neonatal, devido à não dis- nascimento.
ponibilidade de assistência adequada durante o pré-natal, o parto e Estudos realizados para avaliação do peso e estatura dos RNs
o puerpério e/ou pela baixa condição socioeconômica e cultural da brasileiros, indicam as seguintes médias no caso dos neonatos a ter-
família, o que pode acarretar graves consequências sociais. mo: 3.500g/ 50cm para os bebês do sexo masculino e 3.280g/49,-
6cm para os do sexo feminino. Tais estudos mostraram também que
Classificação de Acordo com a IG a média do perímetro cefálico dos RNs a termo é de 34-35 cm. Já
Considera-se como IG ao nascer, o tempo provável de gestação o perímetro torácico deve ser sempre 2- 3cm menor que o cefálico
até o nascimento, medido pelo número de semanas entre o primei- (Navantino, 1995).
ro dia da última menstruação e a data do parto. Os sinais vitais refletem as condições de homeostase dos be-
O tempo de uma gestação desde a data da última menstruação bês, ou seja, o bom funcionamento dos seus sistemas respiratório,
até seu término é de 40 semanas. Sendo assim, considera-se: cardiocirculatório e metabólico; se os valores encontrados estive-
a) RN prematuro - toda criança nascida antes de 37 semanas rem dentro dos parâmetros de normalidade, temos a indicação de
de gestação; que a criança se encontra em boas condições no que se refere a
b) RN a termo - toda criança nascida entre 37 e 42 semanas de esses sistemas.
gestação; Os RNs são extremamente termolábeis, ou seja, têm dificulda-
c) RN pós-termo - toda criança nascida após 42 semanas de de de manter estável a temperatura corporal, perdendo rapidamen-
gestação. te calor para o ambiente externo quando exposto ao frio, molhado
ou em contato com superfícies frias. Além disso, a superfície corpo-
Quanto menor a IG ao nascer, maior o risco de complicações e ral dos bebês é relativamente grande em relação ao seu peso e eles
a necessidade de cuidados neonatais adequados.
têm uma capacidade limitada para produzir calor.
Se o nascimento antes do tempo acarreta riscos para a saúde
A atitude e a postura dos RNs, nos primeiros dias de vida, re-
dos bebês, o nascimento pós-termo também. Após o período de
fletem a posição em que se encontravam no útero materno. Por
gestação considerado como fisiológico, pode ocorrer diminuição da
exemplo, os bebês que estavam em apresentação cefálica tendem a
oferta de oxigênio e de nutrientes e os bebês nascidos após 42 se-
manas de gestação podem apresentar complicações respiratórias e manter-se na posição fetal tradicional - cabeça fletida sobre o tron-
nutricionais importantes no período neonatal. co, mãos fechadas, braços flexionados, pernas fletidas sobre as co-
xas e coxas, sobre o abdômen.

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A avaliação da pele do RN fornece importantes informações Entre as suturas coronariana e sagital está localizada a grande
acerca do seu grau de maturidade, nutrição, hidratação e sobre a fontanela ou fontanela bregmática, que tem tamanho variável e só
presença de condições patológicas. se fecha por volta do 18º mês de vida. Existe também outra fonta-
A pele do RN a termo, AIG e que se encontra em bom estado de nela, a lambdoide ou pequena fontanela, situada entre as suturas
hidratação e nutrição, tem aspecto sedoso, coloração rosada (nos lambdoide e sagital. É uma fontanela de pequeno diâmetro, que em
RNs de raça branca) e/ou avermelhada (nos RNs de raça negra), tur- geral se apresenta fechada no primeiro ou segundo mês de vida.
gor normal e é recoberta por vernix caseoso. A presença dessas estruturas permite a moldagem da cabeça
Nos bebês prematuros, a pele é fina e gelatinosa e nos bebês do feto durante sua passagem no canal do parto. Esta moldagem
nascidos pós-termo, grossa e apergaminhada, com presença de tem caráter transitório e é também fisiológica. Além dessas, outras
descamação — principalmente nas palmas das mãos, plantas dos alterações podem aparecer na cabeça dos bebês como consequên-
pés — e sulcos profundos. Têm também turgor diminuído. cia de sua passagem pelo canal de parto. Dentre elas temos:
Das inúmeras características observadas na pele dos RNs desta- a) Cefalematoma - derrame sanguíneo que ocorre em função
camos as que se apresentam com maior frequência e sua condição do
ou não de normalidade. Rompimento de vasos pela pressão dos ossos cranianos contra
a) Eritema tóxico - consiste em pequenas lesões avermelhadas, a
emelhantes a picadas de insetos, que aparecem em geral após o 2º Estrutura da bacia materna. Tem consistência cística (amoleci-
dia de vida. São decorrentes de reação alérgica aos medicamentos da com a sensação de presença de líquidos), volume variável e não
usados durante o trabalho de parto ou às roupas e produtos utiliza- atravessa as linhas das suturas, ficando restrito ao osso atingido.
dos para a higienização dos bebês. Aparece com mais frequência na região dos parietais, são dolorosos
b) Millium - são glândulas sebáceas obstruídas que podem es- à palpação e podem levar semanas para ser reabsorvidos.
tar presentes na face, nariz, testa e queixo sob a forma de pequenos
pontos brancos. b) Bossa serossanguínea - consiste em um edema do couro ca-
c) Manchas mongólicas - manchas azuladas extensas, que apa- beludo, com sinal de cacifo positivo cujos limites são indefinidos,
recem nas regiões glútea e lombossacra. De origem racial – apare- não respeitando as linhas das suturas ósseas. Desaparece nos pri-
cem em crianças negras, amarelas e índias - costumam desaparecer meiros dias de vida.
com o decorrer dos anos.
d) Petequeias - pequenas manchas arroxeadas, decorrentes de Os olhos dos RN podem apresentar alterações sem maior signi-
fragilidade capilar e rompimento de pequenos vasos. Podem apare- ficado, tais como hemorragias conjuntivais e assimetrias pupilares.
cer como consequência do parto, pelo atrito da pele contra o canal As orelhas devem ser observadas quanto à sua implantação
do parto, ou de circulares de cordão — quando presentes na re- que deve ser na linha dos olhos. Implantação baixa de orelhas é um
gião do pescoço. Estão também associadas a condições patológicas, achado sugestivo de malformações cromossômicas.
como septicemia e doenças hemolíticas graves. No nariz, a principal preocupação é quanto à presença de
e) Cianose - quando localizada nas extremidades (mãos e pés) atresia de coanas, que acarreta insuficiência respiratória grave. A
e/ ou na região perioral e presente nas primeiras horas de vida, é passagem da sonda na sala de parto, sem dificuldade, afasta essa
considerada como um achado normal, em função da circulação pe- possibilidade.
riférica, mais lenta nesse período. Pode também ser causada por A boca deve ser observada buscando-se avaliar a presença de
hipotermia, principalmente em bebês prematuros. Quando genera- dentes precoces, fissura labial e/ou fenda palatina.
lizada é uma ocorrência grave, que está em geral associada a distúr- O pescoço dos RNs é em geral curto, grosso e tem boa mobi-
bios respiratórios e/ou cardíacos. lidade.
f) Icterícia - coloração amarelada da pele, que aparece e evo- Diminuição da mobilidade e presença de massas indicam pato-
lui no sentido craniocaudal, que pode ter significado fisiológico ou logia, o que requer uma avaliação mais detalhada.
patológico de acordo com o tempo de aparecimento e as condições O tórax, de forma cilíndrica, tem como características principais
associadas. As icterícias ocorridas antes de 36 horas de vida são em um apêndice xifoide muito proeminente e a pequena espessura de
geral patológicas e as surgidas após esse período são chamadas de sua parede.
fisiológicas ou próprias do RN. Muitos RNs, de ambos os sexos, podem apresentar hipertrofia
g) Edema - o de membros inferiores, principalmente, é encon- das glândulas mamárias, como consequência da estimulação hor-
trado com frequência em bebês prematuros, devido as suas limi- monal materna recebida pela placenta. Essa hipertrofia é bilateral.
tações renais e cardíacas decorrentes da imaturidade dos órgãos. Quando aparece em apenas uma das glândulas mamárias, em
O edema generalizado (anasarca) ocorre associado à insuficiência geral é consequência de uma infecção por estafilococos.
cardíaca, insuficiência renal e distúrbios metabólicos.
O abdômen também apresenta forma cilíndrica e seu diâmetro
Os cabelos do RN a termo são em geral abundantes e sedosos; é 2-3 cm menor que o perímetro cefálico. Em geral, é globoso e suas
já nos prematuros são muitas vezes escassos, finos e algodoados. paredes finas possibilitam a observação fácil da presença de hérnias
A implantação baixa dos cabelos na testa e na nuca pode estar umbilicais e inguinais, principalmente quando os bebês estão cho-
associada à presença de malformações cromossômicas. rando e nos períodos após a alimentação.
Alguns bebês podem também apresentar lanugem, mais fre- A distensão abdominal é um achado anormal e quando ob-
quentemente observada em bebês prematuros. servada deve ser prontamente comunicada, pois está comumente
As unhas geralmente ultrapassam as pontas dos dedos ou são associada a condições graves como septicemia e obstruções intes-
incompletas e até ausentes nos prematuros. tinais.
Ao nascimento os ossos da cabeça não estão ainda completa-
mente soldados e são separados por estruturas membranosas de-
nominadas suturas. Assim, temos a sagital (situada entre os ossos
parietais), a coronariana (separa os ossos parietais do frontal) e a
lambdoide (separa os parietais do occipital).

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O coto umbilical, aproximadamente até o 4º dia de vida, apre- adolescente / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Traba-
senta- se com as mesmas características do nascimento - coloração lho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação
branca- azulada e aspecto gelatinoso. Após esse período, inicia-se na Saúde, Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área
o processo de mumificação, durante o qual o coto resseca e passa de Enfermagem. - 2. Ed., 1.a reimpr. - Brasília: Ministério da Saúde;
a apresentar uma coloração escurecida. A queda do coto umbilical Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.
ocorre entre o 6° e o 15º dia de vida.
A observação do abdômen do bebê permite também a avalia- Cadernos de Atenção Básica
ção do seu padrão respiratório, uma vez que a respiração do RN é
do tipo abdominal. Controle dos Cânceres do Colo do Útero e da Mama
A cada incursão respiratória pode-se ver a elevação e descida
da parede abdominal, com breves períodos em que há ausência de CONTROLE DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO
movimentos.
Esses períodos são chamados de pausas e constituem um acha- Anatomia e Fisiologia do Útero
do normal, pois a respiração dos neonatos tem um ritmo irregular. O útero é um órgão do aparelho reprodutor feminino que está
Essa irregularidade é observada principalmente nos prematuros. situado no abdome inferior, por trás da bexiga e na frente do reto e
A genitália masculina pode apresentar alterações devido à pas- é dividido em corpo e colo. Essa última parte é a porção inferior do
sagem de hormônios maternos pela placenta que ocasionam, com útero e se localiza dentro do canal vaginal.
frequência, edema da bolsa escrotal, que assim pode manter-se até O colo do útero apresenta uma parte interna, que constitui o
vários meses após o nascimento, sem necessidade de qualquer tipo chamado canal cervical ou endocérvice, que é revestido por uma
de tratamento. camada única de células cilíndricas produtoras de muco - epitélio
A palpação da bolsa escrotal permite verificar a presença dos colunar simples. A parte externa, que mantém contato com a vagi-
testículos, pois podem se encontrar nos canais inguinais. A glande na, é chamada de ectocérvice e é revestida por um tecido de várias
está sempre coberta pelo prepúcio, sendo então a fimose uma con- camadas de células planas – epitélio escamoso e estratificado. En-
dição normal. Deve-se observar a presença de um bom jato urinário tre esses dois epitélios, encontra-se a junção escamocolunar – JEC -,
no momento da micção. que é uma linha que pode estar tanto na ecto como na endocérvice,
A transferência de hormônios maternos durante a gestação dependendo da situação hormonal da mulher.
também é responsável por várias alterações na genitália feminina. Na infância e no período pós-menopausa, geralmente, a JEC
A que mais chama a atenção é a genitália em couve-flor. Pela esti- situa-se dentro do canal cervical.
mulação hormonal o hímen e os pequenos lábios apresentam-se No período da menacme, fase reprodutiva da mulher, geral-
hipertrofiados ao nascimento não sendo recobertos pelos grandes mente, a JEC situa-se no nível do orifício externo ou para fora desse
lábios. Esse aspecto está presente de forma acentuada nos prema-
– ectopia ou eversão.
turos.
É observada com frequência a presença de secreção vaginal, de
Vale ressaltar que a ectopia é uma situação fisiológica e por
aspecto mucoide e leitoso. Em algumas crianças pode ocorrer tam-
isso a denominação de “ferida no colo do útero” é inapropriada.
bém sangramento via vaginal, denominado de menarca neonatal
Nessa situação, o epitélio colunar fica em contato com um am-
ou pseudomenstruação.
biente vaginal ácido, hostil à essas células. Assim, células subcilín-
Em relação ao ânus, a principal observação a ser feita diz res-
dricas, de reserva, bipotenciais, por meio de metaplasia, se trans-
peito à permeabilidade do orifício. Essa avaliação pode ser realizada
formam em células mais adaptadas – escamosas –, dando origem
pela visualização direta do orifício anal e pela eliminação de me-
cônio nas primeiras horas após o nascimento. Outro ponto impor- a um novo epitélio, situado entre os epitélios originais, chamado
tante refere-se às eliminações vesicais e intestinais. O RN elimina de terceira mucosa ou zona de transformação. Nessa região, pode
urina várias vezes ao dia. A primeira diurese deve ocorrer antes de ocorrer obstrução dos ductos excretores das glândulas endocervi-
completadas as primeiras 24 horas de vida, apresentando, como cais subjacentes, dando origem a estruturas císticas sem significado
características, grande volume e coloração amarelo-clara. As pri- patológico, chamadas de Cistos de Naboth. É nessa zona em que
meiras fezes eliminadas pelos RNs consistem no mecônio, formado se localizam mais de 90% das lesões cancerosas do colo do útero.
intrauterinamente, que apresenta consistência espessa e coloração
verde-escura. Sua eliminação deve ocorrer até às primeiras 48 ho- História Natural da Doença
ras de vida. Quando a criança não elimina mecônio nesse período é O câncer do colo do útero é uma afecção progressiva iniciada
preciso uma avaliação mais rigorosa pois a ausência de eliminação com transformações intra-epiteliais progressivas que podem evo-
de mecônio nos dois primeiros dias de vida pode estar associada luir para um processo invasor num período que varia de 10 a 20
a condições anormais (presença de rolha meconial, obstrução do anos.
reto). O colo do útero é revestido por várias camadas de células epi-
Com o início da alimentação, as fezes dos RNs vão assumindo teliais pavimentosas, arranjadas de forma bastante ordenada. Essa
as características do que se costuma denominar fezes lácteas ou desordenação das camadas é acompanhada por alterações nas cé-
fezes do leite. lulas que vão desde núcleos mais corados até figuras atípicas de
As fezes lácteas têm consistência pastosa e coloração que pode divisão celular. Quando a desordenação ocorre nas camadas mais
variar do verde, para o amarelo esverdeado, até a coloração ama- basais do epitélio estratificado, estamos diante de uma Neoplasia
relada. Evacuam várias vezes ao dia, em geral após a alimentação. Intraepitelial Cervical Grau I - NIC I – Baixo Grau (anormalidades do
epitélio no 1/3 proximal da membrana).
Referência:Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Se a desordenação avança 2/3 proximais da membrana esta-
do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da mos diante de uma Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau II - NIC
Educação na Saúde. Projeto de profissionalização dos Trabalhado- II – Alto Grau. Na Neoplasia Intra-epitelial Cervical Grau III - NIC III
res da Área de Enfermagem. Profissionalização de auxiliares de en- – Alto Grau, o desarranjo é observado em todas as camadas, sem
fermagem: cadernos do aluno: saúde da mulher, da criança e do romper a membrana basal.

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A coilocitose, alteração que sugere a infecção pelo HPV, pode estar presente ou não. Quando as alterações celulares se tornam mais
intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio, temos o carcinoma
invasor. Para chegar a câncer invasor, a lesão não tem, obrigatoriamente, que passar por todas essas etapas.

Fatores de Risco Associados ao Câncer do Colo do Útero


Os fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento do câncer do colo do útero são:
• Infecção pelo Papiloma Vírus Humano – HPV - sendo esse o principal fator de risco;
• Início precoce da atividade sexual;
• Multiplicidade de parceiros sexuais;
• Tabagismo, diretamente relacionados à quantidade de cigarros fumados;
• Baixa condição sócio-econômica;
• Imunossupressão;
• Uso prolongado de contraceptivos orais;
• Higiene íntima inadequada

Manifestações Clínicas
• O câncer do colo do útero é uma doença de crescimento lento e silencioso;
• Existe uma fase pré-clínica, sem sintomas, com transformações intra-epiteliais progressivas importantes, em que a detecção de pos-
síveis lesões precursoras são por meio da realização periódica do exame preventivo do colo do útero.
• Progride lentamente, por anos, antes de atingir o estágio invasor da doença, quando a cura se torna mais difícil, se não impossível.
Nessa fase os principais sintomas são sangramento vaginal, corrimento e dor.

Linha de Cuidado

Promoção
Incentivo à mulher a adotar hábitos saudáveis de vida, ou seja, estímulo à exposição aos fatores de proteção. Dicas que podem ajudar
na prevenção de várias doenças, inclusive do câncer:
• Uma alimentação saudável pode reduzir as chances de câncer em pelo menos 40%. Comer mais frutas, legumes, verduras, cereais
e menos alimentos gordurosos, salgados e enlatados. A dieta deveria conter diariamente, pelo menos, cinco porções de frutas, verduras
e legumes. Dar preferência às gorduras de origem vegetal como o azeite extra virgem, óleo de soja e de girassol, entre outros, lembrando
sempre que não devem ser expostas a altas temperaturas. Evitar gorduras de origem animal – leite e derivados, carne de porco, carne
vermelha, pele de frango, entre outros – e algumas gorduras vegetais como margarinas e gordura vegetal hidrogenada.
• Atividade física regular, qualquer atividade que movimente seu corpo;
• Evitar ou limitar a ingestão de bebidas alcoólicas;
• Parar de fumar!

Tabagismo e a mulher
Uma das principais causas de mortes prematuras e incapacidades, o tabagismo representa um problema de saúde pública, não so-
mente nos países desenvolvidos como também em países em desenvolvimento, como o Brasil.
O tabaco, em todas as suas formas, aumenta o risco de mortes prematuras e limitações físicas por doença coronariana, hipertensão
arterial, acidente vascular encefálico, bronquite, enfisema e câncer.
Entre os tipos de câncer relacionados ao uso do tabaco incluem-se os de pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, fígado,
pâncreas, bexiga, rim e colo de útero.
Nascimento
Promoção
Rastreamento,
Diagnóstico e
Tratamento
Precoces

73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Diagnóstico A efetividade da detecção precoce associado ao tratamento


Tratamento e em seus estádios iniciais tem resultado em uma redução das taxas
Reabilitação de incidência de câncer invasor que pode chegar a 90%. De acor-
Cuidados Paliativos do com a OMS, quando o rastreamento apresenta boa cobertura
Exposição – 80% – e é realizado dentro dos padrões de qualidade, modifica
Amiental efetivamente as taxas de incidência e mortalidade por esse câncer.
Fase Apesar das ações de prevenção e detecção precoce desenvolvi-
Pré-clínica das no Brasil, dentre elas o Programa Viva Mulher-Programa Nacio-
Fase nal de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, as taxas de
Clínica incidência e mortalidade têm-se mantido praticamente inalteradas
DESFECHO ao longo dos anos. Parte da manutenção das taxas podem estar as-
Cura sociadas ao aumento e a melhoria do diagnóstico que melhora a
Sequela qualidade da informação e dos atestados de óbitos. Por sua vez,
Morte dentre as causas, o diagnóstico tardio pode estar relacionado com:
1. A dificuldade de acesso da população feminina aos serviços
Informação e comunicação de saúde;
Com a participação cada vez maior da mulher no mercado de 2. A baixa capacitação de recursos humanos envolvidos na
trabalho seu papel social também foi se alterando rapidamente. A atenção oncológica, principalmente em municípios de pequeno e
mulher passou a ter mais poder, tanto aquisitivo, quanto de deci- médio porte;
são, dentro da própria sociedade, onde já exercia um papel funda- 3. A capacidade do sistema público em absorver a demanda
mental de modelo de comportamento para seus filhos. que chega as unidades de saúde;
Em decorrência de todas essas mudanças, a mulher tornou- 4. A dificuldade dos gestores municipais e estaduais em definir
-se um dos alvos prediletos da publicidade da indústria do tabaco, e estabelecer uma linha de cuidados que perpasse todos os níveis
que passou a divulgar o cigarro como símbolo de emancipação e de atenção - atenção básica, média complexidade e alta complexi-
independência. Isso fez e continua fazendo com que o número de dade – e de atendimento - promoção, prevenção, diagnóstico, tra-
fumantes, principalmente entre o sexo feminino, aumente na Amé- tamento, reabilitação e cuidados paliativos.
rica Latina.
A mulher fumante tem um risco maior de infertilidade, câncer Faixa Etária e Periodicidade para Realização do Exame Preven-
de colo de útero, menopausa precoce, em média dois anos antes, tivo do Colo do Útero
dismenorréia e irregularidades menstruais. A periodicidade de realização do exame preventivo do colo do
útero, estabelecida pelo Ministério da Saúde do Brasil, em 1988,
O que acontece? permanece atual e está em acordo com as recomendações dos prin-
Estatísticas revelam que os fumantes comparados aos não fu- cipais programas internacionais.
mantes apresentam um risco de: O exame citopatológico deve ser realizado em mulheres de 25
• 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão; a 60 anos de idade, uma vez por ano e, após dois exames anuais
• 5 vezes maior de sofrer infarto; consecutivos negativos, a cada três anos.
• 5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pul- Essa recomendação apóia-se na observação da história natural
monar; do câncer do colo do útero, que permite a detecção precoce de le-
• 2 vezes maior de sofrer derrame cerebral. sões pré-malignas ou malignas e o seu tratamento oportuno, graças
à lenta progressão que apresenta para doença mais grave.

Além desses riscos as mulheres fumantes devem saber que:


O uso de anticoncepcionais associado ao cigarro aumenta em
10 vezes o risco de sofrer derrame cerebral e infarto.

Grávidas fumantes aumentam o risco de:


• Ter aborto espontâneo em 70%;
• Perder o bebê próximo ou depois ao parto em 30%;
• O bebê nascer prematuro em 40%;
• Ter um bebê com baixo peso em 200%.

Mais informações sobre Tabagismo está disponível na página


eletrônica do Instituto Nacional de Câncer - INCA (www.inca.gov.
br/tabagismo).

Detecção Precoce/Rastreamento
No Brasil, a principal estratégia utilizada para detecção preco-
ce/rastreamento do câncer do colo do útero é a realização da coleta
de material para exames citopatológicos cervico-vaginal e microflo-
ra, conhecido popularmente como exame preventivo do colo do
útero; exame de Papanicolaou; citologia oncótica; PapTest.

74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os estudos têm demonstrado que, na ausência de tratamento, o tempo mediano entre a detecção de HPV, NIC I e o desenvolvimento
de carcinoma in situ é de 58 meses, enquanto para NIC II esse tempo é de 38 meses e, para NIC III, de 12 meses. Em geral, estima-se que
a maior parte das lesões de baixo grau regredirá espontaneamente, enquanto cerca de 40% das lesões de alto grau não tratadas evoluirão
para câncer invasor em um período médio de 10 anos. Por outro lado, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos calcula que so-
mente 10% dos casos de carcinoma in situ evoluirão para câncer invasor no primeiro ano, enquanto que 30% a 70% terão evoluído decor-
ridos 10 a 12 anos, caso não seja oferecido tratamento.
Segundo a OMS, estudos quantitativos têm demonstrado que, nas mulheres entre 35 a 64 anos, depois de um exame citopatológico
do colo do útero negativo, um exame subseqüente pode ser realizado a cada três anos, com a mesma eficácia da realização anual. Con-
forme apresentado abaixo, a expectativa de redução percentual no risco cumulativo de desenvolver câncer, após um resultado negativo,
é praticamente a mesma, quando o exame é realizado anualmente – redução de 93% do risco – ou quando ele é realizado a cada 3 anos
– redução de 91% do risco.
Efeito protetor do rastreamento para câncer do colo do útero de acordo com o intervalo entre os exames, em mulheres de 35 a 64
anos.

No Brasil observa-se que, a maior parte do exame preventivo do colo do útero, é realizada em mulheres com menos de 35 anos, pro-
vavelmente naquelas que comparecem aos serviços de saúde para cuidados relativos à natalidade. Isso leva a subaproveitar a rede, uma
vez que não estão sendo atingidas as mulheres na faixa etária de maior risco.
A identificação das mulheres na faixa etária de maior risco, especialmente aquelas que nunca realizaram exame na vida, é o objetivo
da captação ativa. As estratégias devem respeitar as peculiaridades regionais envolvendo lideranças comunitárias, profissionais de saúde,
movimentos de mulheres, meios de comunicação entre outros.
Em relação às mulheres acima da faixa etária recomendada, torna–se imperativo que sejam levados em consideração: (1) os fatores
de risco, (2) a freqüência de realização dos exames, (3) os resultados dos exames anteriores. A freqüência do rastreamento deverá ser para
cada caso individualizado. É fundamental que a equipe de saúde incorpore na atenção às mulheres no climatério, orientação sobre o que
é e qual a importância do exame preventivo do colo do útero, pois a sua realização periódica permite reduzir a mortalidade por câncer do
colo do útero na população de risco.

Idade média da incidência máxima das lesões

Situações Especiais
Mulher grávida: não se deve perder a oportunidade para a realização do rastreamaento. Pode ser feito em qualquer período da ges-
tação, preferencialmente até o 7º mês. Não está contra-indicada a realização do exame em mulheres grávidas, a coleta deve ser feita com
a espátula de Ayre e não usar escova de coleta endocervical. Mulheres virgens: a coleta em virgens não deve ser realizada na rotina. A
ocorrência de condilomatose genitália externa, principalmente vulvar e anal, é um indicativo da necessidade de realização do exame do
colo, devendo-se ter o devido cuidado e respeitando a vontade da mulher.

Mulheres submetidas a histerectomia:


• Histerectomia total recomenda–se a coleta de esfregaço de fundo de saco vaginal.
• Histerectomia subtotal: rotina normal

75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Mulheres com DST: devem ser submetidas à citopatologia mais Por vezes, em decorrência do déficit estrogênico, a visibiliza-
frequentemente pelo seu maior risco de serem portadoras do cân- ção da junção escamo-colunar e da endocérvix pode encontrar-se
cer do colo do útero ou de seus precursores. Já as mulheres com prejudicada, assim como pode haver dificuldades no diagnóstico ci-
condilomas em genitália externa não necessitam de coletas mais topatológico devido à atrofia do epitélio. Uma opção seria o uso de
freqüentes do que as demais, salvo em mulheres imunossuprimi- cremes de estrogênio intravaginal, de preferência o estriol, devido
das. à baixa ocorrência de efeitos colaterais, por 07 dias antes do exame,
Nas ocasiões em que haja mais de 12 meses do exame citopa- aguardando um período de 3 a 7 dias entre a suspensão do creme e
tológico: a realização do preventivo.
• A coleta deverá ser realizada assim que a DST for tratada; Na impossibilidade do uso do creme, a estrogenização pode ser
• A coleta também deve ser feita quando a mulher não souber por meio da administração oral de estrogênios conjugados por 07 a
informar sobre o resultado do exame anterior, seja por desinfor- 14 dias - 0,3 mg /dia -, a depender da idade, inexistência de contra-
mação ou por não ter buscado seu resultado. Se possível, fornecer -indicações e grau de atrofia da mucosa.
cópia ou transcrição do resultado desse exame à própria mulher.
Nos casos dos serviços que dispuserem de documentos específicos Fases que antecedem a coleta
como a Agenda da Mulher, os resultados devem ser registrados nos a) Organização do material, ambiente e capacitação da equipe
espaços indicados. de saúde:

É necessário ressaltar que a presença de colpites, corrimentos Equipe de Saúde capacitada


ou colpocervicites pode comprometer a interpretação da citopato- Além da preocupação inicial com o acolhimento, é fundamen-
logia. Nesses casos, a mulher deve ser tratada e retornar para coleta tal a capacitação da equipe de saúde para a realização da coleta e
do exame preventivo do câncer do colo do útero (conforme exposto no fornecimento das informações pertinentes às ações do controle
na abordagem sobres as DST). do câncer do colo do útero.
Se for improvável o seu retorno, a oportunidade da coleta não Consultório equipado para a realização do exame ginecológico:
deve ser desperdiçada. Nesse caso, há duas situações: • Mesa ginecológica;
1. Quando é possível a investigação para DST, por meio do diag- • Escada de dois degraus;
nóstico bacteriológico, por exemplo bacterioscopia, essa deve ser • Mesa auxiliar;
feita inicialmente. A coleta para exame citopatológico deve ser feita • Foco de luz com cabo flexível;
por último. • Biombo ou local reservado para troca de roupa;
2. Nas situações em que não for possível a investigação, o ex-
• Cesto de lixo;
cesso de secreção deve ser retirado com algodão ou gaze, embebi-
• Espaço físico adequado.
dos em soro fisiológico e só então deve ser procedida a coleta para
o exame citopatológico.
Material necessário para coleta
Espéculo de tamanhos variados - pequeno, médio, grande e
A presença do processo inflamatório intenso prejudica a qua-
para virgem - devem ser preferencialmente descartáveis - instru-
lidade da amostra. O tratamento dos processos inflamatórios/DST
mental metálico deve ser esterilizado de acordo com as normas
diminuem o risco de insatisfatoriedade da lâmina.
vigentes;
Coleta do Material para o Exame Preventivo do Colodo Útero • Balde com solução desincrostante em caso de instrumental
É uma técnica de coleta de material citológico do colo do útero, não descartável;
sendo coletada uma amostra da parte externa, ectocérvice, e outra • Lâminas de vidro com extremidade fosca;
da parte interna, endocérvice. Para a coleta do material, é introdu- • Espátula de Ayre
zido um espéculo vaginal e procede-se à escamação ou esfoliação • Escova endocervical
da superfície externa e interna do colo por meio de uma espátula • Par de luvas para procedimento;
de madeira e de uma escovinha endocervical. • Pinça de Cherron;
Uma adequada coleta de material é de suma importância para • Solução fixadora, álcool a 96% ou Polietilenoglicol líquido ou
o êxito do diagnóstico. O profissional de saúde deve assegurar–se Spray de Polietilenoglicol;
de que está preparado para realizá-lo e de que tem o material ne- • Gaze;
cessário para isso. A garantia da presença de material em quantida- • Recipiente para acondicionamento das lâminas, mais ade-
des suficientes é fundamental para o sucesso da ação. quado para o tipo de solução fixadora adotada pela Unidade, tais
Recomendações prévias a mulher para a realização da coleta como: frasco porta-lâmina, tipo tubete, ou caixa de madeira ou
do exame preventivo do colo de útero plástica para transporte de lâminas;
Para realização do exame preventivo do colo do útero e a fim • Formulários de requisição do exame citopatológico;
de garantir a qualidade dos resultados recomenda-se: • Fita adesiva de papel para a identificação dos frascos;
• Não utilizar duchas ou medicamentos vaginais ou exames in- • Lápis grafite ou preto nº2;
travaginais, como por exemplo a ultrassonografia, durante 48 horas • Avental/ camisola para a mulher. Os aventais devem ser, pre-
antes da coleta; ferencialmente, descartáveis. Nesse caso, após o uso, deverão ser
• Evitar relações sexuais durante 48 horas antes da coleta; desprezadas em local apropriado. Caso seja reutilizável, devem ser
• Anticoncepcionais locais, espermicidas, nas 48 horas anterio- encaminhados à rouparia para lavagem, segundo rotina da Unidade
res ao exame. Básica de Saúde;
• O exame não deve ser feito no período menstrual, pois a pre- • Lençóis: Os lençóis devem ser preferencialmente descar-
sença de sangue pode prejudicar o diagnóstico citológico. Aguar- táveis. Nesse caso, após o uso, deverão ser desprezados em local
da o 5° dia após o término da menstruação. Em algumas situações apropriado. Caso seja reutilizável, devem ser encaminhados à rou-
particulares, como em um sangramento anormal, a coleta pode ser paria para lavagem e esterilização;
realizada.

76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

b) Preenchimento dos dados nos formulários para requisição de Esse tipo de câncer representa nos países ocidentais, uma das
exame citopatológico – colo do útero principais causas de morte em mulheres. As estatísticas indicam o
É de fundamental importância o correto preenchimento do for- aumento de sua frequência tantos nos países desenvolvidos quanto
mulário de requisição do exame citopatológico – colo do útero, pois nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial
a falta ou os dados incompletos poderá comprometer por completo da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumen-
a coleta do material, o acompanhamento, o tratamento e outras to de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Re-
ações de controle do câncer do colo do útero, conforme anexo 4. gistros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes. O
câncer de mama permanece como o segundo tipo de câncer mais
c) Preparação da Lâmina frequente no mundo e o primeiro entre as mulheres.
A lâmina e o frasco que serão utilizados para colocar o material Apesar de ser considerado um câncer de relativamente bom
a ser examinado devem ser preparados previamente: prognóstico, se diagnosticado e tratado oportunamente, as taxas
• O uso de lâmina com bordas lapidadas e extremidade fosca de mortalidade por câncer de mama continuam elevadas no Brasil,
é obrigatório; muito provavelmente porque a doença ainda seja diagnosticada em
• Identificar a lâmina escrevendo as iniciais do nome da mulher estágios avançados. Na população mundial, a sobrevida média após
e o seu número de registro daUnidade, com lápis preto nº2 ou gra- cinco anos é de 61%.
fite, na extremidade fosca, previamente a coleta;
• Identificar a caixa do porta-lâmina. História Natural
• Não usar caneta hidrográfica, esferográfica, etc., pois leva à Desde o início da formação do câncer até a fase em que ele
perda da identificação do material. Essas tintas se dissolvem duran-
pode ser descoberto pelo exame físico (tumor subclínico) isto é, a
te o processo de coloração das lâminas no laboratório
partir de 1 cm de diâmetro, passam-se, em média,10 anos.
Estima-se que o tumor de mama duplique de tamanho a cada
Manter os frascos de acondicionamentos, fechados permanen-
período de 3-4 meses. No início da fase subclínica (impalpável),
temente a não ser na hora de inserir as lâminas. No preparo da
lâmina ver se ela está limpa sem a presença de artefatos, caso ne- tem-se a impressão de crescimento lento, porque as dimensões das
cessário limpar com gaze. células são mínimas. Porém, depois que o tumor se torna palpável,
a duplicação é facilmente perceptível. Se não for tratado, o tumor
CONTROLE DO CÂNCER DA MAMA desenvolve metástases (focos de tumor em outros órgãos), mais
As mamas são constituídas de gordura, tecido conectivo e te- comumente para os ossos, pulmões e fígado. Em 3-4 anos do des-
cido glandular que contém lóbulos e ductos. Os lóbulos são as es- cobrimento do tumor pela palpação, ocorre o óbito.
truturas anatômicas onde o leite é produzido. Uma rede de ductos
conecta os lóbulos ao mamilo. Fatores de Risco
• História familiar é um importante fator de risco para o câncer
de mama, especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau
(mãe ou irmã) foram acometidas antes dos 50 anos de idade;
Entretanto, o câncer de mama de caráter familiar corresponde
a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama;
• A idade constitui um outro importante fator de risco, haven-
do um aumento rápido da incidência com o aumento da idade;
• A menarca precoce (idade da primeira menstruação);
• A menopausa tardia (instalada após os 50 anos de idade);
• A ocorrência da primeira gravidez após os 30 anos;
• A nuliparidade;
• Ainda é controvertida a associação do uso de contraceptivos
orais com o aumento do risco para o câncer de mama, apontando
para certos subgrupos de mulheres como as que usaram contracep-
tivos orais de dosagens elevadas de estrogênio, as que fizeram uso
da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional
em idade precoce, antes da primeira gravidez.
Raramente uma mama é do mesmo tamanho da outra, po-
dendo apresentar-se de forma diferente de acordo com o período
São definidos como grupos populacionais com risco elevado
menstrual. O tecido mamário se estende (sob a pele) até a região
para o desenvolvimento do câncer de mama:
da axila. Um sistema de linfonodos é responsável pela drenagem
linfática da mama, principalmente os linfonodos axilares e da ca- • Mulheres com história familiar de, pelo menos, um parente
deia mamária interna. de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de
mama, abaixo dos 50 anos de idade;
Câncer da Mama
O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mu- • Mulheres com história familiar de pelo menos um parente
lheres, devido à sua alta frequência e, sobretudo pelos seus efeitos de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de
psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e a própria mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária;
imagem pessoal. • Mulheres com história familiar de câncer de mama mascu-
lino;
• Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamária
proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ.

77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Sintomas As técnicas (como realizar) de ECM variam bastante em seus


Os sintomas do câncer de mama palpável são o nódulo ou tu- detalhes, entretanto, todas elas preconizam a inspeção visual, a pal-
mor no seio, acompanhado ou não de dor mamária. Podem surgir pação das mamas e dos linfonodos (axilares e supraclaviculares).
alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou re- Ao contrário das recomendações de como realizar um ECM, poucos
trações ou um aspecto semelhante à casca de uma laranja. Podem estudos analisam como reportar os achados dos exames.
também surgir nódulos palpáveis na axila. A inspeção visual pretende identificar sinais de câncer da
mama. Sinais precoces do câncer da mama são achatamentos dos
Prevenção Primária contornos da mama, abaulamentos ou espessamentos da pele das
Embora tenham sido identificados alguns fatores ambientais mamas.
ou comportamentais associados a um risco aumentado de desen- É importante o examinador comparar as mamas para identificar
volver o câncer de mama, estudos epidemiológicos não fornecem grandes assimetrias e diferenças na cor da pele, textura, tempera-
evidências conclusivas que justifiquem a recomendação de estraté- tura e padrão de circulação venosa. O acrônimo BREAST (em inglês)
gias específicas de prevenção. É recomendável que alguns fatores significando B – massa na mama (breast mass), R – retração (re-
de risco, especialmente a obesidade e o tabagismo, sejam alvo de traction), E-edema (edema), A-linfonodos axilares (axillary nodes),
ações visando à promoção à saúde e a prevenção das doenças crô- S-ferida no mamilo (scaly nipple) e T-sensibilidade na mama (tender
nicas não transmissíveis, em geral. breast) podem ajudar na memorização das etapas na inspeção visu-
Não há consenso de que a quimioprofilaxia deva ser recomen- al. A mulher pode se manter sentada com os braços pendentes ao
dada às mulheres assintomáticas, independente de pertencerem lado do corpo, com os braços levantados sobre a cabeça ou com as
a grupos com risco elevado para o desenvolvimento do câncer de palmas das mãos comprimidas umas contra as outras (inspeção di-
mama. nâmica). Alguns autores recomendam que se faça a inspeção visual
ao mesmo tempo em que se realiza a palpação das mamas.
Detecção Precoce A palpação consiste em utilizar os dedos para examinar todas
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico de câncer maior a as áreas do tecido mamário e linfonodos.
probabilidade de cura. Rastreamento significa detectar a doen- Para palpar os linfonodos axilares e supraclaviculares a pacien-
ça em sua fase pré-clínica enquanto diagnóstico precoce significa te deverá estar sentada. Para palpar as mamas é necessário que a
identificar câncer da mama em sua fase clínica precoce. As ações paciente esteja deitada (decúbito dorsal). Na posição deitada a mão
correspondente a mama a ser examinada deve ser colocada sobre
de diagnóstico precoce consistem no exame clínico da mama por
a cabeça de forma a realçar o tecido mamário sobre o tórax. Toda
um profissional de saúde treinado. As ações de rastreamento im-
a mama deve ser palpada utilizando-se de um padrão vertical de
plementadas no País preconizam a mamografia bilateral em deter-
palpação.
minados grupos de mulheres.
A palpação deve ser iniciada na axila. No caso de uma mulher
mastectomizada a palpação deve ser feita na parede do tórax, pele
Recomendações para Detecção Precoce
e incisão cirúrgica
Cada área de tecido deve ser examinada e três níveis de pres-
Recomendações para o rastreamento de mulheres assintomá-
são devem ser aplicados em sequência: leve, média e profunda, cor-
ticas respondendo ao tecido subcutâneo, ao nível intermediário e mais
• Exame Clínico das Mamas: para todas as mulheres a partir profundamente à parede torácica. Devem-se realizar movimentos
dos 40 anos de idade, com periodicidade anual. circulares com as polpas digitais do 2º, 3º e 4º dedos da mão como
se tivesse contornando as extremidades de uma moeda. A região
Esse procedimento é ainda compreendido como parte do aten- da aréola e da papila (mamilo) deve ser palpada e não comprimida.
dimento integral à saúde da mulher, devendo ser realizado em to- Somente descarga papilar espontânea merece ser investigada.
das as consultas clínicas, independente da faixa etária. Duas características fundamentais do ECM são a interpretação
• Mamografia: para mulheres com idade entre 50 a 69 anos de e a descrição dos achados encontrados. Assim como a realização do
idade, com intervalo máximo de 2 anos entre os exames. ECM, não existe um padrão para interpretar e descrever os acha-
• Exame Clínico das Mamas e Mamografia Anual: para mulhe- dos do ECM. Esta não uniformização da interpretação e descrição
res a partir de 35 anos de idade, pertencentes a grupos populacio- dos achados limitam o seu potencial em direcionar para novas ava-
nais com risco elevado de desenvolver câncer de mama. liações e proporcionar o tratamento precoce do câncer da mama.
• Garantia de acesso ao diagnóstico, tratamento e seguimento Como aconteceu com a mamografia, a padronização da interpre-
para todas as mulheres com alterações nos exames realizados. tação e descrição dos achados pode resultar em efeitos positivos
para o ECM.
Exame Clínico das Mamas (ECM) De uma forma geral, os resultados do ECM podem ser interpre-
Exame Clínico das Mamas (ECM) é um procedimento realizado tados de duas formas: normal ou negativo, caso nenhuma anorma-
por um médico ou enfermeiro treinado para esta ação. No exame lidade seja identificada pela inspeção visual e palpação, e anormal,
podem ser identificadas alterações na mama e, se for indicado, se- caso achados assimétricos necessitem de avaliação posterior e pos-
rão realizados exames complementares. O ECM é realizado com a sível encaminhamento para especialista (referência). A descrição
finalidade de detectar anormalidades na mama ou avaliar sintomas do ECM deve seguir o mesmo roteiro do exame propriamente dito:
referidos por pacientes e assim encontrar cânceres da mama pal- inspeção, palpação dos linfonodos e palpação das mamas.
páveis num estágio precoce de evolução. Alguns estudos científicos
mostram que 5% dos cânceres da mama são detectados por ECM
em pacientes com mamografia negativa, benigna ou provavelmente
benigna. O ECM também é uma boa oportunidade para o profissio-
nal de saúde educar a população feminina sobre o câncer da mama,
seus sintomas, fatores de risco, detecção precoce e sobre a compo-
sição e variabilidade da mama normal.

78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Mamografia • Busca ativa na população alvo, de mulheres para a realização


A mamografia é a radiografia da mama que permite a detecção de mamografia;
precoce do câncer, por ser capaz de mostrar lesões em fase inicial, • Encaminhamento a Unidade de Referência dos casos suspei-
muito pequenas (de milímetros). É realizada em um aparelho de tos de câncer de mama;
raio X apropriado, chamado mamógrafo. Nele, a mama é compri- • Encaminhamento das mulheres com exame clínico das ma-
mida de forma a fornecer melhores imagens, e, portanto, melhor mas alterado, para Unidade de Referência;
capacidade de diagnóstico. O desconforto provocado é discreto e • Busca ativa das mulheres que foram encaminhadas a Unidade
suportável. de Referência e não compareceram para o tratamento;
Estudos sobre a efetividade da mamografia sempre utilizam o • Busca ativa das mulheres que apresentaram laudo mamo-
exame clínico como exame adicional, o que torna difícil distinguir a gráfico suspeito para malignidade e não retornaram para buscar o
sensibilidade do método como estratégia isolada de rastreamento. resultado;
A sensibilidade varia de 46% a 88% e depende de fatores tais como: • Orientação das mulheres com exame clínico das mamas nor-
tamanho e localização da lesão, densidade do tecido mamário (mu- mal e de baixo risco para o acompanhamento de rotina.
lheres mais jovens apresentam mamas mais densas), qualidade dos
recursos técnicos e habilidade de interpretação do radiologista. A Unidade de Referência de Média Complexidade
especificidade varia entre 82%, e 99% e é igualmente dependente É a unidade de média complexidade no SUS e funciona como
da qualidade do exame. referência para o encaminhamento das mulheres com resultados
Os resultados de ensaios clínicos randomizados que comparam alterados. Este nível exige a presença de profissionais treinados
a mortalidade em mulheres convidadas para rastreamento mamo- para realizarem a investigação diagnóstica dos casos suspeitos de
gráfico com mulheres não submetidas a nenhuma intervenção são câncer de mama, tais como, mamografia, biópsia por agulha grossa,
favoráveis ao uso da mamografia como método de detecção preco- punção por agulha fina. Assim como para o tratamento de lesões
ce capaz de reduzir a mortalidade por câncer de mama. benignas mamárias.
As conclusões de estudos de meta-análise demonstram que os
benefícios do uso da mamografia se referem, principalmente, a cer- Unidade de Alta Complexidade - UNACON ou CACON
ca de 30% de diminuição da mortalidade em mulheres acima dos É a unidade de alta complexidade no SUS que realiza exames
50 anos, depois de sete a nove anos de implementação de ações e tratamentos especializados. Neste nível é realizado o tratamento
organizadas de rastreamento. das mulheres diagnosticadas com câncer de mama, assim como o
tratamento do câncer em estágios que envolvam procedimentos ci-
Padronização dos laudos mamograficos - BI-RADS rúrgicos, radioterápicos e quimioterápicos.
O objetivo do BI-RADS consiste na padronização dos laudos Com base nas Portarias MS/GM nº 2439 de 08 de dezembro
mamográficos levando em consideração a evolução diagnóstica e de 2005 que institui a Política Nacional de Atenção Oncológica e a
a recomendação da conduta, não devendo se esquecer da história Portaria MS/SAS nº 741 de 19 de dezembro de 2005 que defini as
clínica e do exame físico da mulher. Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNA-
No Congresso Americano de Radiologia, em dezembro de 2003 CON), os Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncolo-
(RSNA), em Chicago, foi divulgado a 4ª edição do BI-RADS (Breast gia (CACON) e os Centros de Referência de Alta Complexidade em
Imaging and Reporting Data System Mammography). O BI-RADS Oncologia e suas aptidões e qualidades.
é um trabalho entre membros de vários Departamentos do Insti-
tuto Nacional do Câncer, de Centros de Controle e Prevenção da
Considerações Sobre Auto-Exame das Mamas (AEM)
Patologia Mamária, da Administração de Alimentos e Drogas, da
O Auto-exame das Mamas (AEM) não vem se mostrando efe-
Associação Medica Americana, do Colégio Americano de Radiolo-
tivo em diminuir a mortalidade nos programas de detecção preco-
gia, do Colégio Americano de Cirurgiões e do Colégio Americano de
ce quando utilizado isoladamente. Este exame, entretanto, ajuda a
Patologistas, por conseguinte todas essas Instituições ajudaram na
mulher a conhecer melhor o seu próprio corpo. Uma vez observa-
elaboração do BI-RADS.
da alguma alteração, a mulher deverá procurar o serviço de saúde
mais próximo de sua residência para ser avaliada por um profissio-
Níveis de Atendimento
nal de saúde.
Unidade Básica de Saúde O AEM sistemático das mamas tem sido recomendado desde a
A Unidade Básica de Saúde deve estar organizada para receber década de 30 e foi incorporado nas políticas da saúde pública norte
e realizar o exame clínico das mamas das mulheres, solicitar exames – americanas desde os anos 50. Considerando-se que até 90% dos
mamográficos nas mulheres com situação de risco, receber resul- casos de câncer de mama são detectados pelas próprias mulheres,
tados e encaminhar aquelas cujo resultado mamográfico ou cujo pode-se deduzir que a promoção do AEM seja uma estratégia eficaz
exame clínico indiquem necessidade de maior investigação. para sua detecção.
As atividades abaixo descritas devem ser também realizadas Embora já tenham sido realizados mais de 30 estudos não ran-
nesse nível de atendimento pela equipe de saúde: domizados sobre o uso do AEM para o rastreamento do câncer de
• Reuniões educativas sobre câncer, visando à mobilização e mama, não há evidências científicas incontestáveis de que sua prá-
conscientização para o cuidado com a própria saúde; à importân- tica promova a redução da mortalidade por este câncer. Diversos
cia da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama; à estudos de tipo caso-controle apontaram para uma leve redução na
quebra dos preconceitos; à diminuição do medo da doença e à im- mortalidade em pacientes submetidas ao AEM, enquanto estudos
portância de todas as etapas do processo de detecção precoce; não de coorte e ensaios clínicos não suportaram esses achados.
deixar de enfatizar o retorno para busca do resultado e tratamentos
necessários;
• Busca ativa na população alvo, das mulheres que nunca rea-
lizaram o ECM;

79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Em um ensaio clínico não randomizado, iniciado em 1973 na Inglaterra pelo “UK Early Detection of Breast Câncer Study Group”, não
foi constatada redução nas taxas de mortalidade por este câncer. Há apenas dois ensaios clínicos randomizados que avaliariam o impacto
do AEM sobre a mortalidade por câncer de mama. O primeiro foi iniciado em 1985, em Moscou e São Petersburgo, enquanto o segundo
teve início em 1989, em Xangai.

Ambos envolveram um grande número de mulheres que foram meticulosamente treinadas e receberam reforços para garantir o
aprendizado da técnica. Após um seguimento de 5 a 10 anos, ambos apontaram para a ineficácia do AEM em reduzir a mortalidade pelo
câncer de mama. Em outubro de 2002, a publicação dos resultados finais deste último ensaio clínico confirmou as observações anteriores,
concluindo-se pela incapacidade do AEM em alterar as taxas de mortalidade pelo câncer de mama.
Uma síntese destes estudos é apresentada na tabela.

Síntese dos estudos experimentais sobre a eficácia do AEM na redução da mortalidade por câncer de mama:

Embora a sensibilidade do AEM nunca tenha sido formalmente avaliada, estimativas indicam que cada 100 casos de câncer de mama,
o AEM detecta 26, o ECM (Exame Clínico das Mamas) detecta 45 e a MMG (Mamografia) 71.
Apesar de não haver evidência direta de que o AEM efetivamente reduza a mortalidade por câncer de mama, é importante que as
mulheres mantenham-se atentas às alterações em suas mamas e reportem qualquer alteração ao profissional de saúde. Recomenda-se,
desta forma, a efetividade potencial do estímulo à sua prática como estratégia complementar.
Embora as mulheres, individualmente, possam ver a realização do AEM como parte de seu autocuidado, as recomendações para
profissionais de saúde devem enfatizar que não há evidências científicas de que o AEM reduza a mortalidade por câncer de mama e que
do ponto de vista ético deve-se otimizar a utilização dos recursos públicos em ações coletivas de eficácia comprovada”- (Revista Brasileira
de Cancerologia, 2003, 49 (4): 227-238).

Linfedema
O linfedema é a principal complicação decorrente do tratamento cirúrgico para o câncer de mama, acarretando importantes altera-
ções físicas, psicológicas e sociais, que comprometem a qualidade de vida das mulheres. Pode ser definido como todo e qualquer acúmulo
de líquido, altamente protéico, nos espaços interticiais, seja ele devido à falhas de transporte, por alterações da carga linfática, por defici-
ência de transporte ou por falha da proteólise extralinfática (Mayall,2000).
Local do Estudo
Ano do Início Faixa Etária Número de
Mulheres % de Participação
Tempo de Seguimento
RR de morte por Câncer de mama (IC 95%)
INGLATERRA 1979 45-64 anos 253.219 30-53% 9 a 9,8 anos 1,07 (0,93-1,22)
XANGAI 1989 31-64 anos 266.064 98% 5 anos 1,04 (0,82-1,33)
RÚSSIA 1985 40-64 anos 120.310 76,4% 10 anos 0,95 (0,76 – 1,19)

Prevenção
A prevenção do linfedema pode ser conseguida por meio de uma série de cuidados, que se iniciam a partir do diagnóstico de câncer
de mama. As cirurgias devem ser o mais conservadoras possíveis, e o linfonodo sentinela pode representar um importante aliado na di-
minuição do linfedema. A radioterapia axilar deve ser restrita a casos em que há um extenso comprometimento ganglionar, sendo a dose
limitada a 45 – 50 Gy. As pacientes obesas devem ser incentivadas a restringir o peso corporal.
Após o tratamento cirúrgico, as pacientes devem ser orientadas sobre os cuidados com a pele e o membro superior homolateral ao
câncer de mama, a fim de evitar possíveis traumas e ferimentos. Os cuidados, entretanto, devem ser repassados de forma bastante tran-
qüila para que não haja um sentimento de incapacidade e impotência física. As orientações com relação à vida doméstica, a profissional
e de lazer devem ser direcionadas às rotinas das pacientes e condutas alternativas devem ser ensinadas quando forem realmente neces-
sárias.
As mulheres devem ter conhecimento sobre os sinais e sintomas iniciais dos processos infecciosos e do linfedema, para que comuni-
quem o profissional assistente e uma correta conduta terapêutica seja implantada. A equipe de saúde deve estar preparada para diagnos-
ticar e intervir precocemente.

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Orientações após linfadenectomia axilar SAÚDE DO HOMEM


As mulheres devem ser informadas em relação aos cuidados Diferentemente das mulheres, os homens não costumam pro-
com o membro superior homolateral à cirurgia, visando prevenir curar os serviços de saúde. A baixa procura tem o fator cultural
quadros infecciosos e linfedema. Entretanto, deve-se tomar o cui- como uma das explicações: o homem é criado para ser provedor,
dado para não provocar sensação de incapacidade e impotência ser forte, não chorar, não adoecer. Para muitos, doença é sinal de
funcional. Elas devem ser encorajadas a retornarem as atividades fragilidade, de fraqueza. Isso faz com que não busquem antecipada-
de vida diária e devem ser informadas sobre as opções para os cui- mente ajuda nos serviços de saúde, levando-os à morte por doen-
dados pessoais. ças que, se diagnosticadas mais cedo, poderiam ser evitadas.
Recursos fisioterapêuticos que produzam calor, tais como in- É importante reverter o preconceito e sensibilizar os homens
fravermelho, ultra-som, ondas curtas, microondas, forno de Bier, para a mudança dessa forma de pensar e agir.
compressas quentes, turbilhão, parafina entre outros, devem ser Os homens estão mais expostos aos riscos de adoecerem por
evitados nas áreas de drenagem para a axila homolateral, devido ao problemas relacionados à falta de exercícios físicos, alimentação
aumento do risco de desenvolvimento de linfedema. Nas regiões com excesso de gordura, aumento de peso e à violência por cau-
distantes, desde que não haja neoplasia em atividade, os recursos sas externas (brigas, acidentes no trânsito, assassinatos, homicídios
podem ser realizados seguindo as devidas precauções. etc.).
É preciso que você os oriente a procurar a UBS para prevenir e
Procedimentos após linfadenectomia axilar
tratar doenças como pressão alta, alteração do colesterol, diabetes,
doenças sexualmente transmissíveis e Aids, infarto, derrame, pro-
EVITAR
blemas respiratórios, câncer, uso de álcool, tabaco e outras drogas,
• Micoses nas unhas e no braço;
entre outras.
• Traumatismos cutâneos (cortes, arranhões, picadas de inseto,
queimaduras, retirar cutícula e depilação da axila); Orientar sobre a sexualidade saudável, sem riscos de adquirir
• Banheiras e compressas quentes, saunas e exposição solar; doenças sexualmente transmissíveis.
• Apertar o braço do lado operado (blusas com elástico; reló- Orientar sobre a paternidade responsável, estimulando para
gios, anéis e pulseiras apertadas; aferir a pressão arterial); que ele participe do pré-natal, do parto, do pós-parto e nas visitas
• Receber medicações por via subcutânea, intramuscular e en- ao pediatra e na criação dos filhos.
dovenosa e coleta de sangue; O ACS, juntamente com a equipe de saúde, deve realizar ações
• Movimentos bruscos, repetidos e de longa duração; (por exemplo: semana de promoção da saúde do homem, campa-
• Carregar objetos pesados no lado da cirurgia. nhas voltadas para esse público, distribuição de cartilhas informa-
• Deitar sobre o lado operado tivas, reuniões com os homens, entre outras estratégias) que esti-
mulem o homem a se cuidar e a buscar uma vida mais saudável,
FAZER enfrentando principalmente o alcoolismo, o tabagismo, a hiperten-
• Manter a pele hidratada e limpa; são e a obesidade.
• Usar luvas de proteção ao fazer as atividades do lar (cozinhar, Devem também ser buscadas estratégias para um melhor aco-
jardinagem, lavar louça e contato com produtos químicos); lhimento aos homens nas UBS.
• Durante a execução de atividades, promova intervalos para A visita domiciliar às famílias onde há homens deve contemplar
descanso; principalmente orientações sobre:
• Ao fazer a unha do lado operado, utilize removedor de cutí- 1. Os hábitos alimentares;
culas; 2. Atividade física;
• Para retirada de pelo da axila do lado operado, utilize cremes 3. Vacinas preconizadas para a sua faixa etária
depilatórios, tesoura ou máquina de cortar cabelo; 4. O consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas;
• Ficar atenta aos sinais de infecção no braço (vermelhidão, in- 5. Os problemas de saúde (manchas de pele, tosse, pressão
chaço, calor local); alta, diabetes);
• Durante viagens aéreas, usar malha compressiva. 6. Rotina: procurar a UBS para avaliação médica e odontológi-
ca;
Diagnóstico
7. Alguma doença crônica, se necessário.
Na maioria das vezes, a presença do linfedema é verificada por
intermédio do diagnóstico clínico.
Problemas de saúde específicos da saúde do homem
Os exames complementares como tonometria, ressonância
magnética, ultra-sonografia e linfocintigrafia, são utilizados quando
se objetiva verificar a eficácia de tratamentos ou para analisar pa- Disfunção erétil:
tologias associadas. Também popularmente conhecida como impotência sexual, a
disfunção erétil pode ser de grande importância, pois pode reper-
Tratamento fisioterapêutico cutir na vida familiar e no convívio social do indivíduo, muitas vezes
O tratamento do linfedema está baseado em técnicas já bem sendo causa de sofrimento psíquico para ele.
aceitas e descritas na literatura mundial. A disfunção erétil afeta principalmente homens de faixa etária
Este tratamento consiste de várias técnicas que atuam con- mais elevada, mas pode também estar presente em indivíduos mais
juntamente, dependendo da fase em que se encontra o linfedema, jovens.
incluindo: cuidados com a pele, drenagem linfática manual (DLM), Estudos apontam que mais de 10% dos homens com idade su-
contenção na forma de enfaixamento ou por luvas/braçadeiras e perior a 40 anos apresentam alguma forma de disfunção erétil, mas
cinesioterapia específica. Outros tratamentos têm sido descritos poucos deles procuram auxílio nos serviços de saúde.
na literatura, porém, seus resultados não são satisfatórios quando A disfunção erétil pode estar relacionada a causas orgânicas e
comparados ao tratamento supra citado: psicológicas, dentro destas destacamos:
- Psicológicas: ansiedade, depressão, culpa.

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Orgânicas: hipertensão, diabetes, alterações hormonais, uso muito embora tumores malignos do pênis possam ser encontrados
de drogas (fumo, álcool, antidepressivos, maconha, heroína, coca- em indivíduos jovens. Está relacionado às baixas condições socioe-
ína e outros). conômicas e de instrução, à má higiene íntima e a indivíduos não
circuncidados.
Hoje em dia existem boas opções de tratamento para esse pro- No Brasil, o tumor representa 2% de todos os casos de câncer
blema, o seu papel como ACS é orientar o paciente sobre quando é no homem, sendo mais frequente nas Regiões Norte e Nordeste do
possível evitar ou controlar os fatores anteriormente citados e pro- que nas Regiões Sul e Sudeste. Nas regiões de maior incidência, o
curar a UBS de referência para avaliação. câncer de pênis supera os casos de câncer de próstat a e de bexiga.

Seu papel como ACS:


Detecção precoce do câncer de próstata Promover reuniões para discutir o tema, desmistificando a re-
alização do exame de toque, que será necessário em alguns casos.
O que é próstata? Discutir também o tema com as mulheres para que possam
A próstata é uma glândula que se localiza na parte baixa do conversar com seus parceiros, companheiros, irmãos.
abdômen, no homem. Ela é um órgão muito pequeno, tem a forma Orientar para que os homens com mais de 50 anos fiquem
de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e adiante do reto. atentos a sintomas urinários.
Orientar para que os homens com mais de 50 anos com históri-
A próstata produz parte do sêmen, um líquido espesso que co familiar de câncer de próstata procurem a UBS.
contém os espermatozoides produzidos pelos testículos e que é eli- Conscientizar os homens de que diante de algum problema uri-
minado durante o ato sexual. nário seja procurada a unidade.

Como surge o câncer de próstata? SAÚDE DO ADULTO


O câncer da próstata surge quando, por razões ainda não co-
nhecidas pela ciência, as células da próstata passam a se dividir e ADULTO SAUDÁVEL
se multiplicar de forma desordenada, levando à formação de um Os serviços e ações de saúde que estão mais próximos dos in-
tumor. Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, es- divíduos, famílias e coletividades, são de responsabilidade da Aten-
palhando-se para outros órgãos do corpo e podendo levar à morte. ção Básica, particularmente do nível primário, com a proposta de
Uma grande maioria, porém, cresce de forma tão lenta que ser o primeiro elemento de um processo permanente de assistência
não chega a dar sintomas durante a vida e nem a ameaçar a saúde sanitária.
do homem. Nesta estratégia é proposto o aumento da disponibilidade e
acessibilidade dos mesmos para a melhoria da qualidade de vida
Como prevenir o câncer de próstata? da população.
Até o presente momento, não são conhecidas formas específi- A rede de Atenção Básica do Município de São Paulo oferece,
cas de prevenção do câncer da próstata. No entanto, sabe-se que a dentre outros, serviços programáticos, assistência à mulher, à crian-
adoção de hábitos saudáveis de vida é capaz de evitar o desenvolvi- ça/adolescente, à Pessoa Idosa e ao adulto.
mento de certas doenças, entre elas o câncer. Assim, assume a questão básica do atendimento integral.
As diretrizes do trabalho voltado à saúde do adulto são organi-
Quem apresenta mais risco de contrair câncer de próstata? zadas mediante os indicadores de morbimortalidade e os de riscos
Os dois únicos fatores confirmadamente associados a um au- para a saúde neste período da vida. As ações são programadas para
mento do risco de desenvolvimento do câncer de próstata são a ida- uma ampla aplicação no sistema básico de assistência, alta eficácia
de e história familiar. A maioria dos casos ocorre em homens com na resolução de problemas específicos de saúde, baixos custos e
idade superior a 50 anos e naqueles com história de pai ou irmão complexidade tecnológica, considerando a característica de cada
com câncer de próstata antes do 60 anos. Alguns outros fatores, região.
como a dieta, estão sendo estudados, mas ainda não há confirma- Para a normatização dos serviços de enfermagem na Atenção
ção científica. Básica quanto a Saúde do Adulto, é imprescindível que seja organi-
Não é necessária a realização de exames de laboratório ou o zada em caráter multidisciplinar, que reconheça o adulto saudável,
toque retal em pessoas que não têm nenhum sintoma urinário ou os fatores de risco, o grau de vulnerabilidade e a partir deste ponto
histórico familiar. Portanto, somente diante de sintomas como difi- planejar ações e serviços a serem prestados.
culdade ou dor ao urinar, ou urinar muitas vezes, inclusive à noite, A vigilância é uma ação fundamental para promoção da saúde.
perda espontânea de urina e urgência para urinar é que se deve Detectar condições de falta de saúde no adulto perpassa pelo en-
recomendar procurar a UBS para realização de avaliação. Também tendimento da rotina dele, como: atividade física (sedentarismo),
é recomendada a avaliação para aqueles quem têm ou tiveram fa- cultura, alimentação, abuso de álcool, tabaco e outras drogas, tra-
miliares com problemas na próstata. balho, moradia, nível educacional e condições socioeconômicas.
Dentre estes elementos é necessário estar alerta aos fatores de ris-
Câncer de pênis co para a saúde, para identificá-los e buscar modificá-los evitando o
aparecimento de doenças.
O pênis é o órgão sexual masculino. Em sua extremidade existe
uma região mais volumosa chamada glande (“cabeça” do pênis),
SAÚDE DO TRABALHADOR
que é coberta por uma pele fina e elástica, denominada prepúcio.
As ações de Saúde do Trabalhador, nos termos da Política Na-
O câncer que atinge o pênis está muito ligado às condições de hi-
cional para a rede de serviços, devem ser assumidas pelo Sistema
giene íntima do indivíduo, sendo o estreitamento do prepúcio (fi-
como um todo, tendo como porta de entrada a rede básica de saú-
mose) um fator predisponente. O câncer de pênis é um tumor raro,
de e como retaguarda técnica os Centros de Referência em Saúde
com maior incidência em indivíduos a partir dos 50 anos de idade,
do Trabalhador e os níveis mais complexos desse Sistema.

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A Atenção Primária à Saúde, na abordagem do trabalhador 2. Acidente de trabalho com mutilações.


deverá promover ações pautadas, sobretudo na identificação de 3. Acidente de trabalho em crianças e adolescentes.
riscos, danos, necessidades, condições de vida e trabalho, que de- 4. Acidente de trabalho fatal.
terminam as formas de adoecer e morrer dos trabalhadores. 5. Câncer Relacionado ao Trabalho.
São atribuições gerais da equipe na atenção primária à saúde: 6. Dermatoses ocupacionais.
Identificar e registrar: 7. Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
• A população economicamente ativa, por sexo e faixa etária, (DORT).
além das atividades produtivas existentes na área, assim como ris- 8. Influenza humana.
cos potenciais e perigos para a saúde do trabalhador, da população 9. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) relacionada ao tra-
e do meio ambiente; balho.
• A existência de trabalho precoce – crianças e adolescentes 10. Pneumoconioses relacionadas ao trabalho.
menores de 16 anos, que realizam qualquer atividade de trabalho, 11. Pneumonias.
independentemente de remuneração, que frequentam ou não a 12. Rotavírus.
escola; 13. Toxoplasmose adquirida na gestação e congênita.
• A ocorrência de acidentes e/ou doenças relacionadas ao tra- 14. Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho.
balho, que acometam trabalhadores inseridos tanto no mercado VIDA SAUDÁVEL
formal como informal de trabalho; A identificação de um adulto saudável está relacionada com
• Analisar os dados obtidos; atividades inseridas nas relações que ele tem com o trabalho, em
• Desenvolver ações educativas em Saúde do Trabalhador; casa com a família, no seu ambiente social, nas suas ações recrea-
• Em caso de acidente ou doença relacionada com o trabalho, tivas. Estes aspectos combinam entre si e influenciam a saúde indi-
deverão ser adotadas as seguintes condutas: vidual física, mental, social e espiritual, ajudando a manter o corpo
• condução clínica do caso de menor complexidade em forma e a mente alerta.
• encaminhamento dos casos de maior complexidade para os
O estilo de vida saudável deve ser desenvolvido o mais cedo
RST
possível, mantido durante a vida adulta e idade madura, pois na
• notificação dos casos mediante instrumentos do setor saúde
medida em que o corpo envelhece iniciam-se as alterações nos
(Portaria GM/MS 777/2004)
músculos e nas articulações e um declínio na sensação de “força”
- ACIDENTE DO TRABALHO - É o que ocorre pelo exercício do
trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que física. A manutenção de um bom estilo de vida pode ajudar a evitar
cause a morte, perda ou redução da capacidade permanente ou e proteger de doenças e/ou impedir que as doenças crônicas, se
temporária para o trabalho. instaladas, piorem.
- CAT - Comunicação de Acidente de Trabalho ou agravo à saú- Quando se trata da saúde de uma pessoa, a genética desem-
de relacionado ao trabalho, Lei 8213/91 que dispõe sobre a obriga- penha um papel importante, no entanto, quando há predisposição
toriedade da notificação dos acidentes. para uma determinada condição ou doença já diagnosticada, pode-
- DOENÇA RELACIONADA AO TRABALHO - Adquirida ou desen- -se reduzir seus riscos e gerir melhor a sua condição com mudança
cadeada em função de condições especiais em que o trabalho é re- de estilo de vida.
alizado e com ele se relaciona diretamente. Um estilo de vida saudável inclui dentre muitos fatores:
- DOENÇA PROFISSIONAL - Produzida ou desencadeada pelo • Saúde preventiva
exercício do trabalho peculiar à determinada atividade. • Boa nutrição
• Controle do peso
Cuidados de enfermagem para Saúde do Trabalhador • Recreação
Avaliar os aspectos ergonômicos, de higiene e segurança do • Exercícios regulares e
trabalho considerando os riscos ocupacionais presentes e propor • Evitar substâncias nocivas ao organismo
estratégias que possam ser utilizadas para tornar o ambiente me- Recomendações para adoção de hábitos de vida saudável
nos insalubre, afim de não interferir na saúde do trabalhador. As ações de promoção do bem estar são ferramentas impor-
Exemplos de Fatores de Risco para os Trabalhadores: tantes para a construção de uma cultura de valorização da saúde
• Iluminação e ventilação inadequadas. na população e a adoção de hábitos de vida saudáveis é essencial
• Temperatura ambiente inadequada (ideal entre 20 a 23°C). para a prevenção, o controle das doenças e agravos nas doenças
• Higienização precária ou ausente das mãos. não transmissíveis (DANT), além de proporcionar qualidade de vida.
• Ausência de gerenciamento de resíduos.
• Trabalho noturno – altera o ritmo circadiano causando distúr- Alimentação saudável
bios do sono e da vigília. A promoção da alimentação saudável é uma diretriz da Política
• O rodízio de escalas de turnos noturnos e diurnos, finais de
Nacional de Alimentação e Nutrição e uma das prioridades para a
semana e feriados também é prejudicial.
segurança alimentar e nutricional dos brasileiros.
• Não utilização de barreiras ou EPIs apropriados.
Uma alimentação saudável é aquela que reúne os seguintes
• Dupla ou tripla jornada de trabalho.
atributos: é acessível e não é cara, valoriza a variedade, as prepara-
• Longas jornadas de trabalho.
• Conflitos de relacionamento interpessoal no trabalho e vida ções alimentares usadas tradicionalmente, é harmônica em quanti-
social. dade e qualidade, naturalmente colorida e sanitariamente segura.
• Exposição a agentes físicos, químicos e biológicos.
• Ambiente de trabalho estressante. Dez Passos para uma Alimentação Saudável
Os Dez Passos para uma Alimentação Saudável são orientações
-NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA práticas sobre alimentação para pessoas saudáveis com mais de
1. Acidente com exposição a material biológico relacionado ao dois anos de idade.
trabalho.

83
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Comece escolhendo aquela orientação que lhe pareça mais fácil, interessante ou desafiadora e procure segui-la todos os dias. Não é
necessário que você tente adotar todos os passos de uma vez e também não é preciso seguir a ordem dos números sugerida nos 10 passos:

Abandono / redução do consumo de bebidas alcoólicas


Nos indivíduos com hábito de ingestão de quantidades maiores de álcool, propõe-se que cada progresso no sentido de redução seja
apontado como positivo, e que gradualmente se alcance a situação de abandono do hábito.
A relação entre o alto consumo de bebida alcoólica e a elevação da pressão arterial tem sido relatada em estudos observacionais, e a
redução da ingestão de álcool pode reduzir a pressão arterial em homens normotensos e hipertensos, que consomem grandes quantida-
des de bebidas alcoólicas.
Recomenda-se avaliar a necessidade de encaminhamento aos Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPS/AD) nas situ-
ações de falta de controle quanto à ingestão.
• Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e jantar) e dois lanches saudáveis por dia.
•Não pule as refeições.
•Inclua diariamente seis porções do grupo de cereais (arroz, milho, trigo, pães e massas), tubérculos como as batatas e raízes como a
mandioca/macaxeira/aipim nas refeições.
•Dê preferência aos grãos integrais e aos alimentos na sua forma mais natural.
•Coma diariamente pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas
sobremesas e lanches.
•Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, cinco vezes por semana.
•Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e bom para a saúde.
•Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos.
•Retirar a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes da preparação torna esses alimentos mais saudáveis.
•Consuma, no máximo, uma porção por dia de óleos vegetais, azeite, manteiga ou margarina.
•Fique atento aos rótulos dos alimentos e escolha aqueles com menores quantidades de gorduras trans.
•Evite refrigerantes e sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas como regra
da alimentação.
•Diminua a quantidade de sal na comida e retire o saleiro da mesa.
•Evite consumir alimentos industrializados com muito sal (sódio) como hambúrguer, charque, salsicha, linguiça, presunto, salgadi-
nhos, conservas de vegetais, sopas, molhos e temperos prontos.
•Beba pelo menos dois litros (seis a oito copos) de água por dia.
•Dê preferência ao consumo de água nos intervalos das refeições.
•Dê preferência pelos temperos naturais, em substituição aos temperos industriais que contém grande quantidade de sal.

Abandono do tabagismo
O tabagismo é um poderoso fator de risco de doença cardiovascular.
Os hipertensos que fumam devem ser repetidamente estimulados a abandonar esse hábito por meio de aconselhamento e medidas
terapêuticas de suporte específicas.

84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

É indispensável que o cliente tabagista assimile que este é, A avaliação médica e de esforço em indivíduos assintomáticos
isoladamente, o mais importante fator de risco modificável para a deve se restringir apenas a clientes com escore de Framingham
doença coronariana. (anexo 1) alto ou aqueles que desejem desenvolver programas de
Indivíduos que fumam mais de vinte cigarros por dia têm risco exercícios estruturados ou atividades desportivas que exijam níveis
cinco vezes maior de morte súbita que indivíduos não fumantes. de atividade física de alta intensidade.
O tabagismo age sinergicamente com os contraceptivos orais, Clientes em uso de medicamentos anti-hipertensivos que inter-
aumentando consideravelmente o risco de doença arterial corona- ferem na frequência cardíaca, como betabloqueadores, devem ser
riana. previamente submetidos à avaliação médica.
Adicionalmente, colabora para os efeitos adversos da terapêu- O exercício físico reduz a pressão arterial, além de produzir be-
tica de redução de lipídios e induz a resistência ao efeito de fárma- nefícios adicionais, tais como: coadjuvante no tratamento das disli-
cos anti-hipertensivos. pidemias, da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do
Além disso, há clara associação entre tabagismo e doenças controle do estresse.
pulmonares crônicas, assim como a neoplasia pulmonar. Deve ser Exercícios físicos tais como: caminhada, ciclismo, natação e cor-
instituído o aconselhamento precoce, insistente e consistente até o rida com duração de 30 a 45 minutos, três a cinco vezes por sema-
abandono definitivo. na, reduzem a pressão arterial de indivíduos hipertensos.
As Unidades Básicas de Saúde devem dispor de equipes aptas a
Orientações para abandono do tabagismo orientar a realização de práticas corporais e de meditação:
• Lian Gong,
Redução • Tai Chi Pai Lin,
Uma abordagem gradual para deixar de fumar é a redução. • Xian Gong,
Reduzir significa contar os cigarros e fumar um número menor, • Lien Ch´i,
predeterminado, a cada dia. • Dao Yin,
• I Qi Gong,
Adiamento • Fio de Seda,
Uma segunda abordagem gradual para deixar de fumar é o • Tai Chi Chuan,
adiamento, que significa adiar a hora na qual o cliente começa a • Chi Gong,
fumar, por um número de horas predeterminado a cada dia. Ao co- • meditação,
meçar a fumar em cada dia, o cliente não deve contar seus cigarros • ioga,
nem se preocupar em reduzir o número que fuma. Assim, ele deve • dança circular e
tomar a decisão de adiar a hora na qual começa a fumar por duas • caminhada.
horas a cada dia, por seis dias, até a sua data de parar de fumar.
As práticas corporais e de meditação trazem benefício na pre-
Prática de Atividade Física venção e controle das afecções crônicas, uma vez que:
A prática regular de atividade física promove efeito protetor • São instrumentos importantes no aprendizado da sincronia
para a doença cardiovascular. entre ações e pensamentos, já que um de seus pressupostos é que
A recomendação da atividade física como ferramenta de pro- a forma (posturas e movimentos), a respiração e a intenção mental
moção de saúde e prevenção de doenças baseia-se em parâmetros caminham na mesma direção.
de frequência, duração, intensidade e modo de realização. • Melhoram o condicionamento cardiorrespiratório.
Portanto, a atividade física deve ser realizada durante, pelo me- • Tonificam os músculos, favorecem a fixação do cálcio ósseo e
nos, 30 minutos, de intensidade moderada, na maior parte dos dias a capacidade de função das articulações.
da semana (5) de forma contínua ou acumulada. • Melhoram a aptidão física, favorecendo a independência de
Realizando-se desta forma, obtêm-se os benefícios desejados à função no dia a dia.
saúde e a prevenção de doenças e agravos não transmissíveis, com • Contribuem para redução do estresse, depressão e insônia.
a redução do risco de eventos cardiocirculatórios, como infarto e • Auxiliam nas iniciativas para manutenção ou redução do
acidente vascular cerebral. peso.
A orientação ao cliente deve ser clara e objetiva. • Apresentam quase ausência de efeitos adversos.
As pessoas devem incorporar a atividade física nas atividades Medidas Antiestresse
rotineiras como caminhar, subir escadas, realizar atividades do- A redução do estresse psicológico é recomendável para dimi-
mésticas dentro e fora de casa, optar, sempre que possível, pelo nuir a sobrecarga de influências neuro-humorais do sistema nervo-
transporte ativo nas funções diárias, que envolvam pelo menos 150 so central sobre a circulação.
minutos/semana (equivalente a pelo menos 30 minutos realizados
em 5 dias por semana).
O efeito da atividade de intensidade moderada realizada de for-
ma acumulada é o mesmo daquela realizada de maneira contínua,
isto é, os trinta minutos podem ser realizados em uma única sessão
ou em duas sessões de 15 minutos (ex: manhã e tarde) ou ainda,
em três sessões de dez minutos (p.ex. manhã, tarde e noite). Dessa
maneira, atenua-se ou elimina-se a principal barreira à aquisição
do hábito da realização da atividade física devido à falta de tempo.
Para prática de atividades moderadas não há necessidade da
realização de avaliação cardiorrespiratória de esforço para indiví-
duos iniciarem um programa de atividades físicas incorporado às
atividades do dia a dia.

85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Algumas medidas podem ser adotadas para se lidar com o estresse:

Redução do peso corporal


O acompanhamento do cliente com excesso de peso é um processo contínuo, que inclui apoio e motivação para superação dos obstá-
culos. Assim, a comunicação a ser estabelecida deve ser baseada na interação de saberes e na formação de vínculo.
A obesidade é um dos fatores de risco mais importantes para as doenças não transmissíveis, com destaque especial para as cardiovas-
culares e diabetes. Estima-se que 20% a 30% da prevalência da hipertensão pode ser explicada pela presença do excesso de peso.
O excesso de peso está claramente associado com o aumento da morbidade e mortalidade e este risco aumenta progressivamente de
acordo com o ganho de peso embora a diminuição de 5% a 10% do peso corporal inicial em até 6 meses de tratamento, com a manutenção
do novo peso em longo prazo, já seja capaz de produzir redução da pressão arterial.
Todos os hipertensos e diabéticos com excesso de peso devem ser incluídos em programas de redução de peso de modo a alcançar
índice de massa corpórea (IMC) inferior a 27Kg/m2, e circunferência abdominal (homens inferior a 102cm e mulheres inferior a 88cm).
O índice de massa corporal (IMC) é o índice recomendado para a medida da obesidade em nível populacional. Além do grau do exces-
so de gordura, a sua distribuição regional no corpo interfere nos riscos associados ao excesso de peso. O excesso de gordura abdominal
representa maior risco do que o excesso de gordura corporal por si só. Esta situação é definida como obesidade androide, ao passo que a
distribuição mais igual e periférica é definida como distribuição ginecoide, com menores implicações à saúde do indivíduo (WORLD HEALTH
ORGANIZATION,1998).
A circunferência da cintura é importante fator de risco para doença coronariana e mortalidade por causas cardiovasculares. A obe-
sidade traz aos profissionais desafios para o entendimento de sua determinação, acompanhamento e apoio à população, nas diferentes
fases do curso de vida.
A redução da ingestão calórica leva à perda de peso e à diminuição da pressão arterial, mecanismo explicado pela queda da insuline-
mia, redução da sensibilidade ao sódio e diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático.
É importante salientar que além da dieta e da atividade física, o manejo da obesidade envolve abordagem comportamental, que deve
focar a motivação, condições para seguir o tratamento, apoio familiar, tentativas e insucessos prévios, tempo disponíveis e obstáculos para
as mudanças no estilo de vida.

VACINAÇÃO DO ADULTO

CALENDÁRIO BÁSICO DE VACINAÇÃO PARA ADULTOS

O calendário de vacinas está sujeito a inserções de imunobiológicos e ou modificações.


Para execução atualizada sempre consultar os links abaixo.
Estes irão fornecer o calendário em tempo real
Caso a pessoa apresente documentação com esquema de vacinação incompleto, é suficiente completar o esquema já iniciado.

SCR
• Indicada para as pessoas nascidas a partir de 1960 e mulheres no puerpério. Caso a vacina não tenha sido aplicada na puérpera na
maternidade administrá-la na primeira visita ao serviço de saúde.

Febre Amarela
• Nas regiões onde houver indicação, de acordo com a situação epidemiológica. Reforço a cada dez anos.
Influenza
• Disponível na rede pública para pessoas com 60 anos ou mais de idade e aqueles em situação de risco específico.

dT
• Em caso de gravidez e na profilaxia do tétano após alguns tipos de ferimento, deve-se reduzir este intervalo para cinco anos.

BCG
• vacina contra a tuberculose.

dT
• vacina dupla, tipo adulto, contra a difteria e o tétano.
Indicação da Vacina Contra Hepatite B

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

SAÚDE BUCAL DO ADULTO


Algumas doenças crônicas degenerativas como a diabetes e a hipertensão, e algumas doenças infectocontagiosas como a tuberculose,
a hanseníase, e doenças sexualmente transmissíveis como a AIDS, são prioridades na organização da atenção à Saúde Bucal do adulto.
A cárie e as doenças periodontais constituem problemas de saúde bucal importantes nos adultos, podendo levar a perdas dentárias.
A cárie pode ocorrer tanto na porção coronária quanto nas superfícies radiculares expostas ao meio bucal em consequência à doença
periodontal.
A exposição radicular também pode gerar hipersensibilidade dentária.
Tanto a cárie quanto as doenças periodontais são provocadas pelo aumento do número de microrganismos da placa bacteriana e de
seus produtos de metabolismo. Quando o pH da placa bacteriana é ácido, há perdas de minerais das superfícies dentárias e podem surgir
cáries na coroa ou nas raízes expostas ao meio bucal.
Medidas preventivas de higiene por meio da escovação e do uso do fio dental, uma dieta equilibrada, com racionalidade na ingestão
de carboidratos fermentáveis, e o acesso a produtos fluorados, podem reduzir o risco tanto da cárie quanto das doenças periodontais.
Mesmo clientes que perderam alguns ou todos os dentes, que usem ou não próteses devem ser orientados quanto à higiene bucal e
à dieta. Clientes adultos ou pessoas idosos que usam próteses totais e/ou removíveis, devem higienizar as próteses após as refeições com
uma escova firme, água e sabão. Não se recomenda higienizar as próteses confeccionadas em resina acrílica com creme dental fluoretado.
Os clientes que usam próteses devem ser orientados a ficar sem a prótese por pelo menos 8 horas, preferencialmente enquanto dormem.

Câncer Bucal
O autoexame é principal forma de se identificar precocemente o aparecimento de lesões em tecidos moles da cavidade bucal que
podem sofrer malignização. Durante o autoexame realiza-se a palpação e inspeção de todo o tecido mole da boca, a saber; lábios, língua,
bochechas, assoalho bucal, palato duro e palato mole, gânglios linfáticos submandibulares e retroauriculares.
Lesões em tecidos moles da boca, ulceradas ou nodulares, que não regridam espontaneamente ou após a remoção de possíveis
fatores causais (como dentes fraturados, bordas cortantes em próteses, etc.) em no máximo 03 semanas, devem ser referenciadas para
diagnóstico em serviços de especialidades.
O álcool, particularmente as bebidas destiladas, e o tabaco, nas diversas formas de uso (cigarro, charuto, cachimbo) constituem os
principais fatores de risco para o câncer bucal.
Má higiene, as carências de vitaminas do tipo A e C, próteses mal adaptadas, deficiências imunológicas e a radiação solar também têm
sido apontados como fatores de risco para o câncer de boca.

Recomendações quanto à higiene bucal


A higiene bucal tem por objetivo a remoção da placa bacteriana, agente etiológico das principais doenças bucais, a cárie e as doenças
periodontais. O consumo de alimentos ricos em açúcar incrementa a formação da placa que fica aderida às superfícies dentárias. Sua re-
moção deve ser realizada pela escovação e uso do fio dental.

A escova deve ser macia de cabeça pequena para alcance de todos os dentes.
Recomenda-se uma quantidade de creme dental fluoretado do tamanho de um grão de ervilha seca, colocado transversalmente so-
bre as cerdas da escova. A escova deve ser posicionada com as cerdas direcionadas para a raiz do dente, na altura do limite entre dente
e gengiva, fazendo movimentos vibratórios. O movimento deve ser repetido para cada dente, inclusive na superfície interna do dente.

A superfície de mastigação deve ser escovada com movimentos de vai e vem. A língua também deve ser escovada.
Lembrando-se da importância do fio dental, cada superfície dental deve ser limpa separadamente.
Com o fio enrolado na extremidade dos dedos médios, com o fio esticado, passar cuidadosamente entre os dentes, deslizando sobre
a superfície, penetrando ligeiramente na gengiva para remover a placa.

87
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

HIPERTENSÃO ARTERIAL

DIABETES MELITO

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

ACOLHIMENTO E CAPTAÇÃO
É o trabalho realizado pelos membros da equipe de saúde, que têm como objetivo detectar a existência de fatores de risco e, precoce-
mente, novos casos de doenças junto à demanda espontânea, consultas, nas visitas domiciliárias, nos grupos educativos, sendo uma das
estratégias fundamentais para o controle de complicações e diminuição do número de internações hospitalares.
A visão dos serviços de saúde, para além da busca ativa de sinais e sintomas que pressuponham a instalação de doenças, deve pro-
porcionar uma abordagem, junto à clientela, através de várias oportunidades de aproximação e construção de vínculos, que possibilite a
revelação de dados do seu estilo de vida e seu conhecimento sobre fatores que possam desencadear maior ou menor qualidade de vida e
chance de diagnóstico de doenças, para que, sobretudo, permita a adequada medida de orientação e seguimento no serviço.
A doença cardiovascular aterosclerótica é, em termos proporcionais, a principal causa de mortalidade em países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Dois níveis de prevenção cardiovascular devem ser considerados, o populacional, a partir de intervenções orientadas
à promoção da saúde da população, e o individual, a partir do contexto clínico e dos fatores de risco cardiovascular. Nesta acepção, mais
importante que identificar um indivíduo como portador de diabetes, hipertensão ou dislipidemia, é caracterizá-lo em termos de seu risco
global (cardiovascular, cerebrovascular e renal), avaliando o resultado da soma dos riscos imposta pela presença e magnitude destes múl-
tiplos fatores.
A abordagem essencial para a prevenção primária é a redução de fatores de risco. Retardar a intervenção sobre estes fatores até que
se estabeleça o diagnóstico de comprometimento cardiovascular significa perder a oportunidade de prevenir eventos em pessoas cuja
apresentação inicial pode ser a morte súbita ou o surgimento de lesões incapacitantes.
Um terço das pessoas com infarto agudo do miocárdio pode morrer nas primeiras 24 horas de diagnóstico, e muitos sobreviventes
terão lesões graves e altamente comprometedoras da qualidade de vida, como insuficiência cardíaca, angina do peito, arritmias e risco
aumentado para morte súbita. Acrescente-se a isto o fato de que um terço dos novos eventos ocorre em indivíduos abaixo dos 65 anos;
portanto, todo este conjunto de evidências justifica plenamente as ações de prevenção primária das doenças cardiovasculares.
O adulto, principalmente o homem, tende a evitar o serviço de saúde, a menos que não esteja se sentindo bem. Os profissionais da
saúde na atenção primária, sempre que oportunizado o contato com o adulto, ao identificar dados de estilo de vida ou outros sinais de
alerta que indiquem risco para saúde, deve realizar a ação de acolhimento e captação e dar início à intervenção de caráter multidisciplinar.
A linha de cuidado para a especificidade da saúde do adulto está direcionada para as necessidades individuais e coletivas, permitindo
não só a condução oportuna dos clientes mediante suas possibilidades de diagnósticos, mas mediante a visão global das condições. Para
tanto, é necessário realizar ações de promoção, vigilância, prevenção e assistência para a recuperação.

DOENÇAS E AGRAVOS NÃO TRANSMISSÍVEIS


As Doenças e Agravos Não Transmissíveis DANT(s), podem ser caracterizadas por: doenças com história natural prolongada;
-múltiplos fatores de risco;
-interação de fatores etiológicos;
-especificidade de causa desconhecida;
-ausência de participação ou participação polêmica de micro-organismos entre os determinantes;
-longo período de latência;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

-longo curso assintomático;


-curso clínico em geral lento, prolongado e permanente;
-manifestações clínicas com períodos de remissão e de exacerbação;
-lesões celulares irreversíveis e evolução para diferentes graus de incapacidade ou para a morte (PINHEIRO,2004).

Este capítulo tem como objetivo orientar as ações de enfermagem na atenção à saúde do adulto com ênfase na assistência às pessoas
com Hipertensão Arterial, Diabetes Melito, Dislipidemia e Obesidade, uma vez que a principal causa de morbimortalidade na população
brasileira são as doenças cardiovasculares.
A equipe de saúde tem como objetivo reduzir a morbimortalidade por essas doenças por meio da prevenção dos fatores de risco e,
através do diagnóstico precoce e tratamento adequado dos portadores, prevenir as complicações agudas e crônicas, principalmente com
ações educativas de promoção à saúde direcionada à população.

PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO ADULTO (PAISA)


O Programa de Atenção Integral à Saúde do Adulto – PAISA tem como foco principal a atuação de agravos “específicos” ao adulto,
entre os quais, citam-se: hipertensão arterial, diabetes mellitus, tuberculose e hanseníase. O PAISA se constitui como uma das iniciativas
de priorização de agravos específicos à saúde do adulto pelo Ministério da Saúde, pautadas no perfil epidemiológico da população, para
articular ações de caráter individual e coletivo.

Os pressupostos acima apresentados consideraram o fato de que a promoção de programas educativos para doenças crônicas e de-
generativas pode reduzir bastante o número de hospitalizações, melhorar significativamente as complicações agudas e crônicas, além de
prevenir ou retardar o aparecimento de enfermidades. Seus objetivos principais são:
Abordar o adulto enquanto indivíduo produtivo para a sociedade prevenir complicações agudas e crônicas do diabetes mellitus e da
hipertensão arterial; Minimizar fatores de risco para doenças degenerativas; Conscientizar sobre a importância da adesão e da assiduidade
ao tratamento farmacológico.
No que tange à saúde do adulto, o cenário atual refere-se, especialmente, a formular e implementar políticas de saúde direcionadas à
assistência integral à saúde do adulto, segundo diretrizes do Ministério da Saúde para a área, além de contribuir para aumento na expec-
tativa e qualidade de vida por meio de uma rede articulada que atenda às necessidades da população. A efetivação de ações de atenção
à saúde do homem, voltadas à prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, manutenção, promoção e proteção da saúde,
conforme proposição da Política Nacional de Atenção Básica, tem representado um grande desafio para os profissionais que atuam na
área.

SAÚDE DO IDOSO

INTRODUÇÃO
Parte essencial da Política Nacional de Saúde, a presente Política fundamenta a ação do setor saúde na atenção integral à população
idosa e àquela em processo de envelhecimento, na conformidade do que determinam a Lei Orgânica da Saúde – N.º 8.080/90 – e a Lei
8.842/94, que assegura os direitos deste segmento populacional.
No conjunto dos princípios definidos pela Lei Orgânica, destaca-se o relativo à “preservação da autonomia das pessoas na defesa de
sua integridade física e moral”, que constitui uma das questões essenciais enfocadas nesta Política, ao lado daqueles inerentes à integrali-
dade da assistência e ao uso da epidemiologia para a fixação de prioridades (Art. 7º, incisos III, II e VII, respectivamente).

90
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

.Por sua vez, a Lei N.º 8.842 – regulamentada pelo Decreto N.º No Brasil, em 1900, a expectativa de vida ao nascer era de 33,7
1.948, de 3 de julho de 1996 –, ao definir a atuação do Governo, anos; nos anos 40, de 39 anos; em 50, aumentou para 43,2 anos
indicando as ações específicas das áreas envolvidas, busca criar e, em 60, era de 55,9 anos. De 1960 para 1980, essa expectativa
condições para que sejam promovidas a autonomia, a integração e ampliou-se para 63,4 anos, isto é, foram acrescidos vinte anos em
a participação dos idosos na sociedade, assim consideradas as pes- três décadas, segundo revela o Anuário Estatístico do Brasil de 1982
soas com 60 anos de idade ou mais. (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Fundação
IBGE).
Segundo essa Lei, cabe ao setor saúde, em síntese, prover o De 1980 para 2000, o aumento deverá ser em torno de cinco
acesso dos idosos aos serviços e às ações voltadas à promoção, anos, ocasião em que cada brasileiro, ao nascer, esperará viver 68
proteção e recuperação da saúde, mediante o estabelecimento de anos e meio. As projeções para o período de 2000 a 2025 permitem
normas específicas para tal; o desenvolvimento da cooperação en- supor que a expectativa média de vida do brasileiro estará próxima
tre as esferas de governo e entre centros de referência em geriatria de 80 anos, para ambos os sexos (Kalache et al., 1987).
e gerontologia; e a inclusão da geriatria como especialidade clínica Paralelamente a esse aumento na expectativa de vida, tem
para efeito de concursos públicos, além da realização de estudos e sido observado, a partir da década de 60, um declínio acentuado
pesquisas na área (inciso II do Art. 10). da fecundidade, levando a um aumento importante da proporção
Ao lado das determinações legais, há que se considerar, por ou- de idosos na população brasileira. De 1980 a 2000, o grupo etário
tro lado, que a população idosa brasileira tem se ampliado rapida- com 60 anos e mais de idade deverá crescer 105%; as projeções
mente. Em termos proporcionais, a faixa etária a partir de 60 anos apontam para um crescimento de 130% no período de 2000 a 2025.
de idade é a que mais cresce. No período de 1950 a 2025, segundo
Mesmo que se leve em conta que uma parcela do contingente
as projeções estatísticas da 2 Organização Mundial de Saúde – OMS
de idosos participe da atividade econômica, o crescimento deste
–, o grupo de idosos no Brasil deverá ter aumentado em 15 vezes,
grupo populacional afeta diretamente a razão de dependência, usu-
enquanto a população total em cinco. O País ocupará, assim, o sex-
almente definida como a soma das populações jovem e idosa em
to lugar quanto ao contingente de idosos, alcançando, em 2025,
cerca de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade. relação à população economicamente ativa total. Esse coeficiente é
O processo de transição demográfica no Brasil caracteriza-se calculado tomando por base a população de menos de 15 anos e a
pela rapidez com que o aumento absoluto e relativo das populações de 60 e mais anos de idade em relação àquela considerada em ida-
adulta e idosa modificaram a pirâmide populacional. Até os anos 60, de produtiva (situada na faixa etária dos 15 aos 59 anos de idade).
todos os grupos etários registravam um crescimento quase igual; a O processo de urbanização e a consequente modificação do
partir daí, o grupo de idosos passou a liderar esse crescimento. mercado de trabalho aceleraram a redistribuição da população en-
Nos países desenvolvidos, essa transição ocorreu lentamente, tre as zonas rural e urbana do País. Em 1930, dois terços da popula-
realizando-se ao longo de mais de cem anos. Alguns desses países, ção brasileira viviam na zona rural; hoje, mais de três quartos estão
hoje, apresentam um crescimento negativo da sua população, com em zona urbana. O emprego nas fábricas e as mais diferenciadas
a taxa de nascimentos mais baixa que a de mortalidade. A transi- possibilidades de trabalho nas cidades modificaram a estrutura
ção acompanhou a elevação da qualidade de vida das populações familiar brasileira, transformando a família extensa do campo na
urbanas e rurais, graças à adequada inserção das pessoas no mer- família nuclear urbana. Com o aumento da expectativa de vida, as
cado de trabalho e de oportunidades educacionais mais favoráveis, famílias passaram a ser constituídas por várias gerações, exigindo
além de melhores condições sanitárias, alimentares, ambientais e os necessários mecanismos de apoio mútuo entre as que comparti-
de moradia. lham o mesmo domicílio.
À semelhança de outros países latino-americanos, o envelhe- A família, tradicionalmente considerada o mais efetivo sistema
cimento no Brasil é um fenômeno predominantemente urbano, re- de apoio aos idosos, está passando por alterações decorrentes des-
sultando, sobretudo do intenso movimento migratório iniciado na sas mudanças conjunturais e culturais. O número crescente de di-
década de 60, motivado pela industrialização desencadeada pelas vórcios e segundo ou terceiro casamento, a contínua migração dos
políticas desenvolvimentistas. mais jovens em busca de mercados mais promissores e o aumento
Esse processo de urbanização propiciou um maior acesso da no número de famílias em que a mulher exerce o papel de chefe
população a serviços de saúde e saneamento, o que colaborou para são situações que precisam ser levadas em conta na avaliação do
a queda verificada na mortalidade. Possibilitou, também, um maior suporte informal aos idosos na sociedade brasileira. Essas situações
acesso a de planejamento familiar e a métodos anticoncepcionais, geram o que se convencionou chamar de intimidade à distância, em
levando a uma significativa redução da fecundidade.
que diferentes gerações ou mesmo pessoas de uma mesma família
A persistir a tendência de o envelhecimento como fenômeno
ocupam residências separadas.
urbano, as projeções para o início do século XXI indicam que 82%
Tem sido observada uma feminilização do envelhecimento no
dos idosos brasileiros estarão morando nas cidades. As regiões mais
Brasil. O número de mulheres idosas, confrontado com o de ho-
urbanizadas, como a Sudeste e o Sul, ainda oferecem melhores
possibilidades de emprego, disponibilidade de serviços públicos e mens de mais de 60 anos de idade, já é superior há muito tempo.
oportunidades de melhor alimentação, moradia e assistência mé- Da mesma forma, a proporção de idosas em relação à popula-
dica e social. ção total de mulheres supera aquela correspondente aos homens
Embora grande parte das populações ainda viva na pobreza, idosos. No Brasil, desde 1950, as mulheres têm maior esperança de
nos países menos desenvolvidos, certas conquistas tecnológicas da vida ao nascer, sendo que a diferença está ao redor de sete anos e
medicina moderna, verificadas nos últimos 60 anos – assepsia, va- meio.
cinas, antibióticos, quimioterápicos e exames complementares de De outra parte, o apoio aos idosos praticado no Brasil ainda
diagnóstico, entre outros –, favoreceram a adoção de meios capa- é bastante precário. Por se tratar de uma atividade predominan-
zes de prevenir ou curar muitas doenças que eram fatais até então. temente restrita ao âmbito familiar, o cuidado ao idoso tem sido
O conjunto dessas medidas provocou uma queda da mortalidade ocultado da opinião pública, carecendo de visibilidade maior.
infantil e, consequentemente, um aumento da expectativa de vida
ao nascer.

91
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O apoio informal e familiar constitui um dos aspectos funda- • do custo total de R$ 2.997.402.581,29 com despesas de inter-
mentais na atenção à saúde desse grupo populacional Isso não sig- nações hospitalares, 19,7% foram com pacientes da faixa etária de
nifica, no entanto, que o Estado deixa de ter um papel preponde- 0-14 anos de idade, 57,1% da faixa de 15-59 anos de idade e 23,9%
rante na promoção, proteção e recuperação da saúde do idoso nos foram de idosos;
três níveis de gestão do SUS, capaz de otimizar o suporte familiar • o custo médio, por hospitalização, foi de R$ 238,67 em rela-
sem transferir para a família a responsabilidade em relação a este ção à faixa etária de 0-14 anos de idade, R$ 233,87 à de 15-59 anos
grupo populacional. e R$ 334,73 ao grupo de mais de 60 anos de idade;
Além das transformações demográficas descritas anteriormen- • o índice de custo (custo de hospitalização por habitante/ano)
te, o Brasil tem experimentado uma transição epidemiológica, com foi de R$ 10,93 no segmento de 0-14 anos de idade, de R$ 18,48
alterações relevantes no quadro de morbimortalidade. As doenças no de 15-59 anos de idade e de R$ 55,25 no de mais de 60 anos de
infectocontagiosas que, em 1950, representavam 40% das mortes idade.
registradas no País, hoje são responsáveis por menos de 10% (RA-
DIS: “Mortalidade nas Capitais Brasileiras, 1930-1980”). O oposto Estudos têm demonstrado que o idoso, em relação às outras
ocorreu em relação às doenças cardiovasculares: em 1950, eram faixas etárias, consome muito mais recursos do sistema de saúde
responsáveis por 12% das mortes e, atualmente, representam mais e que este maior custo não reverte em seu benefício. O idoso não
de 40%. Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de mor- recebe uma abordagem médica ou psicossocial adequada nos hos-
bimortalidade típico de uma população jovem, para um caracteri- pitais, não sendo submetido também a uma triagem rotineira para
zado por enfermidades crônicas, próprias das faixas etárias mais fins de reabilitação.
avançadas, com custos diretos e indiretos mais elevados. A abordagem médica tradicional do adulto hospitalizado – fo-
Essa mudança no perfil epidemiológico acarreta grandes des- cada em uma queixa principal e o hábito médico de tentar explicar
pesas com tratamentos médicos e hospitalares, ao mesmo tempo todas as queixas e os sinais por um único diagnóstico, que é ade-
em que se configura num desafio para as autoridades sanitárias, em quada no adulto jovem – não se aplica em relação ao idoso. Estudos
especial no que tange à implantação de novos modelos e métodos populacionais demonstram que a maioria dos idosos – 85% – apre-
para o enfrentamento do problema. O idoso consome mais serviços senta pelo menos uma doença crônica e que uma significativa mi-
noria – 10% – possui, no mínimo, cinco destas patologias (Ramos,
de saúde, as internações hospitalares são mais frequentes e o tem-
LR e cols, 1993). A falta de difusão do conhecimento geriátrico junto
po de ocupação do leito é maior do que o de outras faixas etárias.
aos profissionais de saúde tem contribuído decisivamente para as
Em geral, as doenças dos idosos são crônicas e múltiplas, perduram
dificuldades na abordagem médica do paciente idoso.
por vários anos e exigem acompanhamento médico e de equipes
A maioria das instituições de ensino superior brasileiras ainda
multidisciplinares permanentes e intervenções contínuas.
não está sintonizada com o atual processo de transição demográfica
Tomando-se por base os dados relativos à internação hospita-
e suas consequências médico-sociais. Há uma escassez de recursos
lar pelo Sistema Único de Saúde – SUS –, em 1997, e a população
técnicos e humanos para enfrentar a explosão desse grupo popula-
estimada pelo IBGE para este mesmo ano, pode-se concluir que o
cional no terceiro milênio.
idoso, em relação às outras faixas etárias, consome muito mais re-
O crescimento demográfico brasileiro tem características par-
cursos de saúde. Naquele ano, o Sistema arcou com um total de ticulares, que precisam ser apreendidas mediante estudos e dese-
12.715.568 de AIHs (autorizações de internações hospitalares), as- nhos de investigação que deem conta dessa especificidade. O cui-
sim distribuídas: dado de saúde destinado ao idoso é bastante caro, e a pesquisa
• 2.471.984 AIHs (19,4%) foram de atendimentos na faixa etá- corretamente orientada pode propiciar os instrumentos mais ade-
ria de 0-14 anos de idade, que representava 33,9% da população quados para uma maior eficiência na adoção de prioridades e na
total (aqui também estão incluídas as AIHs dos recém-nascidos em alocação de recursos, além de subsidiar a implantação de medidas
ambiente hospitalar, bem como as devidas a parto normal); apropriadas à realidade brasileira.
• 7.325.525 AIHs (57,6%) foram na faixa etária de 15-59 anos A transição demográfica no Brasil exige, na verdade, novas
de idade (58,2% da população total); estratégias para fazer frente ao aumento exponencial do número
• 2.073.915 AIHs (16,3%) foram na faixa etária de 60 anos ou de idosos potencialmente dependentes, com baixo nível socioe-
mais de idade (7,9% da população total); conômico, capazes de consumir uma parcela desproporcional de
• 480.040 AIHs (3,8%) foram destinadas ao atendimento de in- recursos da saúde destinada ao financiamento de leitos de longa
divíduos de idade ignorada; essas hospitalizações, em sua grande permanência.
maioria, corresponderam a tratamento de enfermidades mentais A internação dos idosos em asilos, casas de repouso e simi-
de longa permanência, geralmente em pessoas acima de 50 anos lares está sendo questionada até nos países desenvolvidos, onde
de idade (essa parcela de AIHs foi excluída dos estudos em que se estes serviços alcançaram níveis altamente sofisticados em termos
diferencia o impacto de cada faixa etária no sistema hospitalar); de conforto e eficiência. O custo desse modelo e as dificuldades
• a taxa de hospitalização, em um ano, alcançou um total de 46 de sua manutenção estão requerendo medidas mais resolutivas e
por 1.000 indivíduos na faixa etária de 0 a 14 anos de idade, 79 no menos onerosas. O retorno ao modelo de cuidados domiciliares,
segmento de 15 a 59 anos de idade e 165 no grupo de 60 anos ou já bastante discutido, não pode ter como única finalidade baratear
mais de idade; custos ou transferir responsabilidades. A assistência domiciliar aos
• o tempo médio de permanência hospitalar foi de 5,1 dias idosos, cuja capacidade funcional está comprometida, demanda de
para o grupo de 0-14 anos de idade, 5,1 dias no de 15-59 e 6,8 dias orientação, informação e assessoria de especialistas.
no grupo mais idoso; A maioria das doenças crônicas que acometem o indivíduo ido-
• o índice de hospitalização (número de dias de hospitalização so tem, na própria idade, seu principal fator de risco. Envelhecer
consumidos, por habitante, a cada ano) correspondeu a 0,23 dias sem nenhuma doença crônica é mais exceção do que regra. No en-
na faixa de 0-14 anos de idade; a 0,40 dias na faixa de 15-59; e a tanto, a presença de uma doença crônica não significa que o idoso
1,12 dias na faixa de 60 anos ou mais de idade; não possa gerir sua própria vida e encaminhar o seu dia-a-dia de
forma totalmente independente.

92
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A maior parte dos idosos é, na verdade, absolutamente capaz Os custos gerados por essa dependência são tão grandes quan-
de decidir sobre seus interesses e organizar-se sem nenhuma ne- to o investimento de dedicar um membro da família ou um cuida-
cessidade de ajuda de quem quer que seja. Consoante aos mais dor para ajudar continuamente uma pessoa que, muitas vezes, irá
modernos conceitos gerontológicos, esse idoso que mantém sua viver mais 10 ou 20 anos, requerendo uma atenção que, não raro,
autodeterminação e prescinde de qualquer ajuda ou supervisão envolve leitos hospitalares e institucionais, procedimentos diagnós-
para realizar-se no seu cotidiano deve ser considerado um idoso ticos caros e sofisticados, bem como o consenso frequente de uma
saudável, ainda que seja portador de uma ou mais de uma doença equipe multiprofissional e interdisciplinar, capaz de fazer frente à
crônica. problemática multifacetada do idoso.
Decorre daí o conceito de capacidade funcional, ou seja, a ca- Dentro desse contexto é que são estabelecidas novas priori-
pacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias dades dirigidas a esse grupo populacional, que deverão nortear as
para uma vida independente e autônoma. Do ponto de vista da saú- ações em saúde nesta virada de século.
de pública, a capacidade funcional surge como um novo conceito
de saúde, mais adequado para instrumentalizar e operacionalizar a Propósito
atenção à saúde do idoso. Ações preventivas, assistenciais e de re- Como se pode depreender da análise apresentada no capítulo
abilitação devem objetivar a melhoria da capacidade funcional ou, anterior, o crescimento demográfico da população idosa brasileira
no mínimo, a sua manutenção e, sempre que possível, a recupera- exige a preparação adequada do País para atender às demandas
ção desta capacidade que foi perdida pelo idoso. Trata-se, portanto, das pessoas na faixa etária de mais de 60 anos de idade. Essa prepa-
de um enfoque que transcende o simples diagnóstico e tratamento ração envolve diferentes aspectos que dizem respeito desde a ade-
de doenças específicas. quação ambiental e o provimento de recursos materiais e humanos
A promoção do envelhecimento saudável e a manutenção da capacitados, até a definição e a implementação de ações de saúde
máxima capacidade funcional do indivíduo que envelhece pelo específicas.
maior tempo possível – foco central desta Política –, significa a va- Acresce-se, por outro lado, a necessidade de a sociedade en-
tender que o envelhecimento de sua população é uma questão que
lorização da autonomia ou autodeterminação e a preservação da
extrapola a esfera familiar e, portanto, a responsabilidade indivi-
independência física e mental do idoso. Tanto as doenças físicas
dual, para alcançar o âmbito público, neste compreendido o Esta-
quanto as mentais podem levar à dependência e, consequentemen-
do, as organizações não governamentais e os diferentes segmentos
te, à perda da capacidade funcional.
sociais.
Na análise da questão relativa à reabilitação da capacidade fun- Nesse sentido, a presente Política Nacional de Saúde do Idoso
cional, é importante reiterar que a grande maioria dos idosos de- tem como propósito basilar a promoção do envelhecimento saudá-
senvolve, ao longo da vida, algum tipo de doença crônica decorren- vel, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcio-
te da perda continuada da função de órgãos e aparelhos biológicos. nal dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde
Essa perda de função pode ou não levar a limitações funcionais que, dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a sua
por sua vez, podem gerar incapacidades, conduzindo, em última capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes perma-
instância, à dependência da ajuda de outrem ou de equipamentos nência no meio em que vivem, exercendo de forma independente
específicos para a realização de tarefas essenciais à sobrevivência suas funções na sociedade.
no dia a dia. Para tanto, nesta Política estão definidas as diretrizes que de-
Estudos populacionais revelam que cerca de 40% dos indivídu- vem nortear todas as ações no setor saúde, e indicadas às respon-
os com 65 anos ou mais de idade precisam de algum tipo de ajuda sabilidades institucionais para o alcance do propósito acima expli-
para realizar pelo menos uma tarefa do tipo fazer compras, cuidar citado. Além disso, orienta o processo contínuo de avaliação que
das finanças, preparar refeições e limpar a casa. Uma parcela me- deve acompanhar o desenvolvimento da Política Nacional de Saúde
nor, mas significativa – 10% –, requer auxílio para realizar tarefas do Idoso, mediante o qual deverá ser possível os eventuais redi-
básicas, como tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, alimentar-se mensionamentos que venham a ser ditados pela prática.
e, até, sentar e levantar de cadeiras e camas (Ramos, L. R. e cols.,
1993). É imprescindível que, na prestação dos cuidados aos idosos, A implementação desta Política compreende a definição e ou
as famílias estejam devidamente orientadas e relação às atividades readequação de planos, programas, projetos e atividades do setor
de vida diária (AVDs). saúde, que direta ou indiretamente se relacionem com o seu obje-
Tanto a dependência física quanto a mental constituem fatores to.
de risco significativos para mortalidade, mais relevantes até que as O esforço conjunto de toda a sociedade, aqui preconizado, im-
próprias doenças que levaram à dependência, visto que nem todo plica o estabelecimento de uma articulação permanente que, no
doente torna-se dependente, conforme revelam estudos popula- âmbito do SUS, envolve a construção de contínua cooperação entre
cionais de segmentos de idosos residentes em diferentes comuni- o Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais e Municipais de
Saúde.
dades (Ramos, L. R. e cols., 1993). No entanto, nem todo depen-
dente perde sua autonomia e, neste sentido, a dependência mental
Diretrizes
deve ser objeto de atenção especial, na medida em que leva, com
Para o alcance do propósito desta Política Nacional de Saúde
muito mais frequência, à perda de autonomia.
do Idoso, são definidas como diretrizes essenciais:
Doenças como depressão e demência já estão, em todo mun- • a promoção do envelhecimento saudável;
do, entre as principais causas de anos vividos com incapacidade, • a manutenção da capacidade funcional;
exatamente por conduzirem à perda da independência e, quase • a assistência às necessidades de saúde do idoso;
que necessariamente, à perda da autonomia. • a reabilitação da capacidade funcional comprometida;
• a capacitação de recursos humanos especializados;
• o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais;
• o apoio a estudos e pesquisas.

93
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Promoção do Envelhecimento Saudável Embora vista como enfermidade trivial, a influenza – ou gripe
O cumprimento dessa diretriz compreenderá o desenvolvimen- –, no grupo dos idosos, pode trazer consequências graves, levan-
to de ações que orientem os idosos e os indivíduos em processo do a processos pneumônicos ou, ainda, à quebra do equilíbrio, já
de envelhecimento quanto à importância da melhoria constante de instável, destes indivíduos, portadores de patologias crônicas não
suas habilidades funcionais, mediante a adoção precoce de hábi- transmissíveis. A vacina antigripal deverá ser aplicada em todos os
tos saudáveis de vida e a eliminação de comportamentos nocivos idosos, pelo menos duas semanas antes do início do inverno ou do
à saúde. período das chuvas nas regiões mais tropicais.
Entre os hábitos saudáveis, deverão ser destacados, por exem- No segundo nível da manutenção da capacidade funcional,
plo, a alimentação adequada e balanceada; a prática regular de além do reforço das ações dirigidas à detecção precoce de enfer-
exercícios físicos; a convivência social estimulante; e a busca, em midades não transmissíveis – como a hipertensão arterial, a dia-
qualquer fase da vida, de uma atividade ocupacional prazerosa e betes milito e a osteoporose –, deverão ser introduzidas as novas
de mecanismos de atenuação do estresse. Em relação aos hábitos medidas, de que são exemplos aquelas dirigidas ao hipotireoidismo
nocivos, merecerão destaque o tabagismo, o alcoolismo e a auto- subclínico – ainda pouco usuais e carentes de sistematização –, me-
medicação. diante o desenvolvimento de atividades específicas, entre as quais
Tais temas serão objeto de processos educativos e informa- destacam se:
tivos continuados, em todos os níveis de atuação do SUS, com a • antecipação de danos sensoriais, com o rastreio precoce de
utilização dos diversos recursos e meios disponíveis, tais como: dis- danos auditivos, visuais e propioceptivos;
tribuição de cartilhas e folhetos, bem como o desenvolvimento de • utilização dos protocolos próprios para situações comuns en-
campanhas em populares de rádio; veiculação de filmetes na tele- tre os idosos, tais como riscos de queda, alterações do humor e
visão; treinamento de agentes comunitários de saúde e profissio- perdas cognitivas;
nais integrantes da estratégia de saúde da família para, no trabalho • prevenção de perdas dentárias e de outras afecções da cavi-
domiciliar, estimular os cidadãos na adoção de comportamentos dade bucal;
saudáveis. • prevenção de deficiências nutricionais;
Ênfase especial será dada às orientações dos idosos e seus • avaliação das capacidades e habilidades funcionais no am-
familiares quanto aos riscos ambientais, que favorecem quedas e biente domiciliar, com vistas à prevenção de perda de independên-
que podem comprometer a capacidade funcional destas pessoas. cia e autonomia;
Deverão ser garantidas aos idosos, assim como aos portadores de • prevenção do isolamento social, com a criação ou uso de
deficiência, condições adequadas de acesso aos espaços públicos, oportunidades sociais, como clubes, grupos de convivência, asso-
tais como rampas, corrimões e outros equipamentos facilitadores. ciação de aposentados etc.

Manutenção da Capacidade Funcional A operacionalização da maioria dessas medidas dar-se-á nas


Ao lado das medidas voltadas à promoção de hábitos saudá- próprias unidades de saúde, com suas equipes mínimas tradicio-
veis, serão promovidas ações que visem à prevenção de perdas fun- nais, às quais deverão ser incorporados os agentes de saúde ou
cionais, em dois níveis específicos: visitadores, além do estabelecimento de parcerias nas ações inte-
• prevenção de agravos à saúde; grantes da estratégia de saúde da família e outras congêneres. Além
• detecção precoce de problemas de saúde potenciais ou já disso, na implementação dessa diretriz, buscar-se-á o engajamento
instalados, cujo avanço poderá pôr em risco as habilidades e a au- efetivo dos grupos de convivência, com possibilidades tanto tera-
tonomia dos idosos. pêuticas e preventivas, quanto de lazer.

As ações de prevenção envolvidas no primeiro nível estarão Assistência às necessidades de saúde do idoso
centradas na aplicação de vacinas, medida já consolidada para a A prestação dessa assistência basear-se-á nas orientações abai-
infância, mas com prática ainda limitada e recente entre idosos. xo descritas, as quais compreendem os âmbitos ambulatorial, hos-
Deverão ser aplicadas as vacinas contra o tétano, a pneumonia pitalar e domiciliar.
pneumocócica e a influenza, que representam problemas sérios en- No âmbito ambulatorial, a consulta geriátrica constituirá a base
tre os idosos no Brasil e que são as preconizadas pela Organização dessa assistência. Para tal, deverá ser estabelecido um modelo es-
Mundial da Saúde – OMS – para este grupo populacional. pecífico, de modo a alcançar-se um impacto expressivo na assistên-
A grande maioria das hospitalizações para o tratamento do té- cia, em particular na redução das taxas de internação hospitalar e
tano ocorre em indivíduos acima dos 60 anos de idade. Nesse sen- em clínicas de repouso – e mesmo asilos –, bem como a diminuição
tido, essa população será estimulada a fazer doses de reforço da va- da demanda aos serviços de emergência e aos ambulatórios de es-
cina antitetânica a cada dez anos, tendo em vista a sua comprovada pecialidades. A consulta geriátrica deverá ser fundamentada na co-
efetividade, a qual alcança quase os 100%. leta e no registro de informações que possam orientar o diagnóstico
As pneumonias, em especial a de origem pneumocócica, es- a partir da caracterização de problemas e o tratamento adequado,
tão entre as patologias infecciosas que mais trazem riscos à saúde com a utilização rotineira de escalas de rastreamento para depres-
dos idosos, com altas taxas de internação, além de alta letalidade são, perda cognitiva e avaliação da capacidade funcional, assim
nesta faixa etária. São apontadas como fatores de descompensação como o correto encaminhamento para a equipe multiprofissional
funcional de piora dos quadros de insuficiência cardíaca, desenca- e interdisciplinar.
deadoras de edema agudo de pulmão e fonte de deterioração nos Considerando que a qualidade da coleta de dados apresenta di-
quadros de doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Levando em ficuldades peculiares a esse grupo etário, em decorrência de eleva-
conta as recomendações técnicas atuais, a vacina antipneumocó- do índice de morbidade, apresentações atípicas de doenças e pela
cica deverá ser administrada em dose única nos indivíduos idosos. chance aumentada de iatrogenia, o modelo de consulta a ser esta-
belecido pautar-se-á pela abrangência, sensibilidade diagnostica e
orientação terapêutica, nesta incluídas ações não farmacológicas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A abrangência do modelo de consulta geriátrica compreende- custo da internação, uma vez que assistência domiciliar é menos
rá a incorporação de informações que permitam a identificação de onerosa do que a internação hospitalar. O atendimento ao idoso
problemas não apenas relacionados aos sistemas cardiorrespirató- enfermo, residente em instituições – como, por exemplo, asilos –,
rio, digestivo, hematológico e endócrino-metabólico, como, tam- terá as mesmas características da assistência domiciliar Deverá ser
bém, aos transtornos neuropsiquiátricos, nos aparelhos locomotor estimulada, por outro lado, a implantação do hospital-dia geriátri-
e geniturinário. co, uma forma intermediária de atendimento entre a internação
Essa forma de consulta deverá possibilitar a sensibilização do hospitalar e a assistência domiciliar. Esse serviço terá como objetivo
profissional para questões sociais eventualmente envolvidas no viabilizar a assistência técnica adequada para pacientes cuja neces-
bem-estar do paciente. sidade terapêutica – hidratação, uso de medicação endovenosa,
Por sua vez, a sensibilidade diagnóstica deverá implicar a ca- quimioterapia e reabilitação – e de orientação para cuidadores não
pacidade de motivar a equipe para a busca de problemas de ele- justificarem a permanência em hospital.
vada prevalência, que não são comumente diagnosticados, como Tal medida não poderá ser encarada como justificativa para o
por exemplo: doenças tireoidianas, doença de Parkinson, hipoten- simples aumento do tempo de internação. Contudo, a internação
são ortostática, incontinência urinária, demências e depressões. É de idosos em UTI, em especial daqueles com idade igual ou superior
importante que informações relacionadas a glaucoma, catarata e a 75 anos, deverá obedecer rigorosamente os critérios adotados em
hipoacusia sejam coletadas. A possibilidade de iatrogenia sempre todas as faixas etárias, de potencial de reversibilidade do estado
deverá ser considerada. clínico e não a sua gravidade, quando reconhecidamente irrecupe-
Finalmente, a orientação terapêutica, incluindo mudanças de rável.
estilo de vida, deverá possibilitar que a consulta geriátrica enfren- A implantação de forma diferenciada de assistência ao idoso
te os problemas identificados, levando a alguma forma de alívio e dependente será gradual, priorizando-se hospitais universitários e
atenuação do impacto funcional. Ao mesmo tempo, o médico de- públicos estatais.
verá evitar excessos na prescrição e uso de fármacos com elevado Uma questão que deverá ser considerada refere-se ao fato de
potencial iatrogênico. que o idoso tem direito a um atendimento preferencial nos órgãos
estatais e privados de saúde (ambulatórios, hospitais, laboratórios,
A orientação terapêutica compreenderá, sempre que neces- planos de saúde, entre outros), na conformidade do que estabe-
sário, informações aos pacientes e seus acompanhantes sobre as lece a Lei N.º 8.842/94, em seu Art. 4º, inciso VIII, e o Art. 17, do
medidas de prevenção dos agravos à saúde e acerca das ações de Decreto N.º 1.948/96, que a regulamentou. O idoso terá também
reabilitação precoce – ou “preventiva” – e corretiva, levando em uma autorização para acompanhante familiar em hospitais públicos
conta, da melhor maneira possível, o ambiente em que vivem e as e privados – conveniados ou contratados – pelo SUS.
condições sociais que dispõem.
Na relação entre o idoso e os profissionais de saúde, um dos
Já no âmbito hospitalar, a assistência a esse grupo populacional
aspectos que deverá sempre ser observado diz respeito à possibili-
deverá considerar que a idade é um indicador precário na determi-
dade de maus-tratos, quer por parte da família, quer por parte do
nação das características especiais do idoso enfermo hospitalizado.
cuidador ou mesmo destes profissionais. É importante que o idoso
Nesse sentido, o estado funcional constituirá o parâmetro mais
saiba identificar posturas e comportamentos que significam maus-
fidedigno para o estabelecimento de critérios específicos de aten-
-tratos, bem como os fatores de risco neles envolvidos. Esses maus-
dimento.
tratos podem ser por negligência – física, psicológica ou financeira
Assim, os pacientes classificados como totalmente dependen-
–, por abuso – físico, psicológico ou financeiro – ou por violação dos
tes constituirão o grupo mais sujeito a internações prolongadas,
reinternações sucessivas e de pior prognóstico e que, por isso, se direitos pessoais. O profissional de saúde, o idoso e a família, quan-
enquadram no conceito de vulnerabilidade. Os serviços de saúde do houver indícios de maus-tratos, deverá denunciar a sua suspeita
deverão estar preparados para identificar esses pacientes, proven- às autoridades competentes.
do-lhes uma assistência diferenciada. Considerando que a vulnerabilidade à perda de capacidade
Essa assistência será pautada na participação de outros profis- está ligada a aspectos socioeconômicos, atenção especial deverá
sionais, além de médicos e enfermeiros, tais como fisioterapeutas, ser concedida aos grupos de idosos que estão envelhecendo em
assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudió- condições mais desfavoráveis, de que são exemplos aqueles resi-
logos, dentistas e nutricionistas. Dessa forma, a disponibilidade de dentes na periferia dos grandes centros urbanos e os que vivem nas
equipe mínima, que deve incluir obrigatoriamente um médico com zonas rurais desprovidas de recursos de saúde e assistência social,
formação em geriatria, de equipamentos e de serviços adequados, onde também se observa uma intensa migração da população jo-
será pré-requisito para as instituições públicas estatais ou privadas vem.
– conveniadas ou contratadas pelo SUS –, que prestarem assistência
a idosos dependentes internados. Reabilitação da capacidade funcional comprometida
Idosos com graves problemas de saúde, sem possibilidade de As ações nesse contexto terão como foco especial a reabili-
recuperação ou de recuperação prolongada, poderão demandar in- tação precoce, mediante a qual buscar-se-á prevenir a evolução e
ternação hospitalar de longa permanência; forma esta definida na recuperar a perda funcional incipiente, de modo a evitar-se que as
Portaria N.º 2.413, editada em 23 de março de 1998. No entanto, limitações da capacidade funcional possam avançar e que aquelas
esses pacientes deverão ser submetidos à tentativa de reabilitação limitações já avançadas possam ser amenizadas. Esse trabalho en-
antes e durante a hospitalização, evitando-se que as enfermarias volverá as práticas de um trabalho multiprofissional de medicina,
sejam transformadas em locais de acomodação para pacientes ido- enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, fonoau-
sos com problemas de saúde não resolvidos e, por conseguinte, diologia, psicologia e serviço social.
aumentando a carga de sofrimento do próprio idoso, bem como o Na definição e na implementação das ações, será levado em
aumento dos custos dos serviços de saúde. conta que, na realidade, as causas de dependência são, em sua
Entre os serviços alternativos à internação prolongada, deverá maioria, evitáveis e, em muitos casos, reversíveis por intermédio
estar incluída, obrigatoriamente, a assistência domiciliar. A adoção de técnicas de reabilitação física e mental, tão mais efetivas quanto
de tal medida constituirá estratégia importante para diminuir o mais precocemente forem instituídas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Além da necessidade de prevenir as doenças crônicas que aco- demandada pelas demais esferas de gestão, no sentido de uniformi-
metem aos que envelhecem, procurar-se-á, acima de tudo, evitar zar conceitos e procedimentos que se tornarão indispensáveis para
que estas enfermidades alijem o idoso do convívio social, compro- a efetivação desta Política Nacional de Saúde do Idoso, bem como
metendo sua autonomia. para o seu processo contínuo de avaliação e acompanhamento.
No conjunto de ações que devem ser implementadas nesse
âmbito, estão aquelas relacionadas à reabilitação mediante a pres- Apoio ao Desenvolvimento de Cuidados Informais
crição adequada e o uso de órteses e próteses como, por exemplo, Nesse âmbito, buscar-se-á desenvolver uma parceria entre os
óculos, aparelhos auditivos, próteses dentárias e tecnologias assis- profissionais da saúde e as pessoas próximas aos idosos, responsá-
tivas (como andador, bengala, etc.). veis pelos cuidados diretos necessários às suas atividades da vida
Essas e as outras ações que vierem a ser definidas deverão es- diária e pelo seguimento das orientações emitidas pelos profissio-
tar disponíveis em todos os níveis de atenção ao idoso, principal- nais. Tal parceria, como mostram estudos e pesquisas sobre o en-
mente nos postos e centros de saúde, com vistas à detecção pre- velhecimento em dependência, configura a estratégia mais atual e
coce e o tratamento de pequenas limitações funcionais capazes de menos onerosa para manter e promover a melhoria da capacidade
levar a uma grave dependência. funcional das pessoas que se encontram neste processo.
A detecção precoce e o tratamento de pequenas limitações Nos países aonde o envelhecimento da população vem ocor-
funcionais, potenciais causas de formas graves de dependência, rendo há mais tempo, convencionou-se que há cuidados formais
integrarão as atribuições dos profissionais e técnicos que atuam e informais na atenção às pessoas que envelheceram e que, de
nesses níveis de atenção, e deverão ser alvo de orientação aos cui- alguma forma, perderam a sua capacidade funcional. Os sistemas
dadores dos idosos para que possam colaborar com os profissionais formais de cuidados são integrados por profissionais e instituições,
da saúde, sobretudo na condição de agentes facilitadores, tanto na que realizam este atendimento sob a forma de prestação de servi-
observação de novas limitações, quanto no auxílio ao tratamento ço.
prescrito. Dessa forma, os cuidados são prestados por pessoa ou agên-
cias comunitárias contratadas para tal. Já os sistemas informais são
Capacitação de recursos humanos especializados constituídos por pessoas da família, amigos próximos e vizinhos,
O desenvolvimento e a capacitação de recursos humanos cons- frequentemente mulheres, que exercem tarefas de apoio e cuida-
tituem diretriz que perpassará todas as demais definidas nesta dos voluntários para suprir a incapacidade funcional do seu idoso.
Política, configurando mecanismo privilegiado de articulação Inter Na cultura brasileira, são essas pessoas que assumem para si
setorial, de forma que o setor saúde possa dispor de pessoal em as funções de provedoras de cuidados diretos e pessoais. O papel
de mulher cuidadora na família é normativo, sendo quase sempre
qualidade e quantidade adequadas, e cujo provimento é de respon-
esperado que ela assuma tal papel. Os responsáveis pelos cuidados
sabilidade das três esferas de governo.
diretos aos seus idosos doentes ou dependentes geralmente resi-
Esse componente deverá merecer atenção especial, sobretudo
dem na mesma casa e se incumbem de prestar a ajuda necessária
no tocante ao que define a Lei N.º 8.080/90, em seu Art. 14 e pa-
ao exercício das atividades diárias destes idosos, tais como higiene
rágrafo único, nos quais está estabelecido que a formação e a edu-
pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de
cação continuada contemplarão ação Inter setorial articulada. A lei
saúde ou outros serviços requeridos no cotidiano, por exemplo ida
estabelece, como mecanismo fundamental, a criação de comissão
a bancos ou farmácias.
permanente de integração entre os serviços de saúde e as institui-
O modelo de cuidados domiciliares, antes restrito à esfera pri-
ções de ensino profissional e superior, com a finalidade de “propor vada e à intimidade das famílias, não poderá ter como única finali-
prioridades, métodos e estratégias”. dade baratear custos ou transferir responsabilidades. A assistência
O trabalho articulado com o Ministério da Educação e as insti- domiciliar aos idosos cuja capacidade funcional está comprometida
tuições de ensino superior deverão ser viabilizados por intermédio demanda orientação, informação e assessoria de especialistas.
dos Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia tendo em Para o desempenho dos cuidados a um idoso dependente, as
vista a capacitação de recursos humanos em saúde de acordo com pessoas envolvidas deverão receber dos profissionais de saúde os
as diretrizes aqui fixadas. esclarecimentos e as orientações necessárias, inclusive em relação
Os Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia serão, à doença crônico-degenerativa com a qual está eventualmente li-
preferencialmente, localizados em instituições de ensino superior dando, bem como informações sobre como acompanhar o trata-
e terão atribuições específicas, conforme as características de cada mento prescrito.
instituição. A indicação desses Centros deverá ser estabelecida pelo
Ministério da Saúde, de acordo com as necessidades identificadas Essas pessoas deverão, também, receber atenção médica pes-
no processo de implantação desta Política Nacional No âmbito da soal, considerando que a tarefa de cuidar de um adulto dependente
execução de ações, de forma mais específica, a capacitação busca- é desgastante e implica riscos à saúde do cuidador. Por conseguinte,
rá preparar os recursos humanos para a operacionalização de um a função de prevenir perdas e agravos à saúde abrangerá, igualmen-
elenco básico de atividades, que incluirá, entre outras, a prevenção te, a pessoa do cuidador.
de perdas, a manutenção e a recuperação da capacidade funcional Assim, a parceria entre os profissionais de saúde e as pessoas
da população idosa e o controle dos fatores que interferem no esta- que cuidam dos idosos deverá possibilitar a sistematização das tare-
do de saúde desta população. fas a serem realizadas no próprio domicílio, privilegiando-se aquelas
A capacitação de pessoal para o planejamento, coordenação relacionadas à promoção da saúde, à prevenção de incapacidades e
e avaliação de ações deverá constituir as bases para o desenvolvi- à manutenção da capacidade funcional do idoso dependente e do
mento do processo contínuo de articulação com os demais setores, seu cuidador, evitando-se, assim, na medida do possível, hospitali-
cujas ações estão diretamente relacionadas com o idoso no âmbito zações, asilamentos e outras formas de segregação e isolamento.
do setor saúde. Dessa parceria, deverão resultar formas mais efetivas e efi-
Essa capacitação será promovida pelos Centros Colaboradores cazes de manutenção e de recuperação da capacidade funcional,
de Geriatria e Gerontologia, os quais terão a função específica de assim como a participação mais adequada das pessoas envolvidas
capacitar os profissionais para prestar a devida cooperação técnica com alguém em processo de envelhecimento com dependência.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O estabelecimento dessa ação integrada será realizado por meio Considerando, por outro lado, as diretrizes aqui definidas para
de orientações a serem prestadas pelos profissionais de saúde, do a consecução do propósito fixado, cuja observância implica o de-
intercâmbio de informações claras e precisas sobre diagnósticos e senvolvimento de um amplo conjunto de ações, entre as quais figu-
tratamentos, bem como relatos de experiências entre pessoas que rarão aquelas compreendidas no processo de promoção da saúde
estão exercitando o papel de cuidar de idoso dependente. e que, por isso mesmo, irão requerer o compartilhamento de res-
ponsabilidades específicas tanto no âmbito interno do setor saúde,
Apoio a Estudos e Pesquisas quanto no contexto de outros setores.
Esse apoio deverá ser levado a efeito pelos Centros Colabo- Nesse sentido, os gestores do SUS deverão estabelecer, em
radores de Geriatria e Gerontologia, resguardadas, nas áreas de suas respectivas áreas de abrangência, processos de articulação
conhecimento de suas especialidades, as particularidades de cada permanente, visando o estabelecimento de parcerias e a integra-
um. ção institucional que viabilizem a consolidação de compromissos
Esses Centros deverão se equipar, com o apoio financeiro das multilaterais efetivos. Será buscado, igualmente, a participação de
agências de ciência e tecnologia regionais e ou federais, para orga- diferentes segmentos da sociedade, que estejam direta ou indireta-
nizar o seu corpo de pesquisadores e atuar em uma ou mais de uma mente relacionadas com a presente Política.
linha de pesquisa. Tais grupos incumbir-se-ão de gerar informações
com o intuito de subsidiar as ações de saúde dirigidas à população Articulação Intersetorial
de mais de 60 anos de idade, em conformidade com esta Política. No âmbito federal, o Ministério da Saúde buscará estabelecer,
Caberá ao Ministério da Saúde e ao Ministério Ciência Tecnologia, em especial, articulação com as instâncias a seguir apresentadas,
em especial, o papel de articuladores, com vistas a garantir a efeti- para as quais estão identificadas as medidas essenciais, segundo as
vidade de ações programadas de estudos e pesquisas desta Política suas respectivas competências.
Nacional de Saúde do Idoso.
As linhas de pesquisa deverão concentrar-se em quatro gran- Ministério da Educação
des tópicos de produção de conhecimentos sobre o envelhecimen-
to no Brasil, contemplando as particularidades de gênero e extratos A parceria com esse Ministério buscará, sobretudo:
sociais nas zonas urbanas e rurais. • a difusão, junto às instituições de ensino e seus alunos, de
informações relacionadas à promoção da saúde dos idosos e à pre-
O primeiro tópico refere-se a estudos de perfil do idoso, nas venção ou recuperação de suas incapacidades;
diferentes regiões do País, e prevalência de problemas de saúde, • a adequação de currículos, metodologias e material didático
incluindo dados sociais, nas formas de assistência e seguridade, de formação de profissionais na área da saúde, visando o atendi-
situação financeira e apoios formais e informais. Nesse contexto, mento das diretrizes fixadas nesta Política;
será estimulada a sistematização das informações produzidas pelos • o incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e
Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia, em articulação Gerontologia nas instituições de ensino superior, que deverão atuar
com os dados das agências governamentais, particularmente aque- de forma integrada com o SUS e os órgãos estaduais e municipais
las que lidam com estudos demográficos e populacionais. de assistência social, mediante o estabelecimento de referência e
No segundo tópico, deverão estar concentrados estudos vi- contra referência de ações e serviços para o atendimento integral
sando a avaliação da capacidade funcional; prevenção de doenças, dos idosos e a capacitação de equipes multiprofissionais e interdis-
vacinações; estudos de seguimento; e desenvolvimento de instru- ciplinares, visando a qualificação contínua do pessoal de saúde nas
mentos de rastreamento. áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência ao idoso;
O terceiro tópico diz respeito aos estudos de modelos de cui- • o estímulo e apoio à realização de estudos que contemplem
dado, na assessoria para a implementação e no acompanhamento as quatro linhas de pesquisa definidas como prioritárias por esta
e na avaliação das intervenções. Política, visando o desenvolvimento de um sistema de informação
O quarto tópico concentrar-se-á em estudos sobre a hospita- sobre esta população, que subsidie o planejamento, execução e
lização e alternativas de assistência hospitalar, com vistas à maior avaliação das ações de promoção, proteção, recuperação e reabi-
eficiência e à redução dos custos no ambiente hospitalar. Para tal, litação;
a padronização de protocolos para procedimentos clínicos, exames • a discussão e a readequação de currículos e de ensino nas
complementares mais sofisticados e medicamentos deverão consti- instituições de ensino superior abertas para a terceira idade, conso-
tuir pontos prioritários. antes às diretrizes fixadas nesta Política.

Comporão, ainda, esse último tópico estudos sobre orientação Ministério da Previdência e Assistência Social
e cuidados aos idosos, alta hospitalar e diferentes alternativas de
assistência – como assistência domiciliar, centro-dia, já utilizados A parceria buscará principalmente:
em outros países –, bem como investigações acerca de formas de • a realização de estudos e pesquisas epidemiológicas, junto
articulação de informações básicas em geriatria e gerontologia para aos seus segurados, relativos às doenças e agravos mais prevalen-
os profissionais de todas as especialidades. tes nesta faixa etária, sobretudo quanto aos seus impactos no in-
divíduo, na família, na sociedade, na previdência social e no setor
Responsabilidades Institucionais saúde;
Caberá aos gestores do SUS, de forma articulada e na confor- • a elaboração de programa de trabalho conjunto direcionado
midade de suas atribuições comuns e específicas, prover os meios aos idosos segurados, consoante às diretrizes fixadas nesta Política.
e atuar de modo a viabilizar o alcance do propósito desta Política • Secretaria de Estado da Assistência Social
Nacional de Saúde do Idoso, que é a promoção do envelhecimento • A parceria com essa Secretaria terá por finalidade principal-
saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade mente:
funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da • a difusão, junto aos seus serviços e àqueles sob a sua supervi-
saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter são, de informações relativas à preservação da saúde e à prevenção
a sua capacidade funcional restringida. ou recuperação de incapacidades;

97
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• a adequação, na conformidade das diretrizes aqui estabele- Ministério do Esporte e Turismo


cidas, de seus cursos de treinamento ou capacitação de profissio- Essa parceria buscará, em especial, a elaboração, a implemen-
nais que atuam nas unidades próprias, conveniadas ou sob a sua tação e o acompanhamento de esportivos e de exercícios físicos
supervisão; destinados às pessoas idosas, bem como de turismo que propiciem
• a promoção da formação e o acompanhamento de grupos de a saúde física e mental deste grupo populacional.
autoajuda aos idosos, referentes às doenças e agravos mais comuns
nesta faixa etária; Ministério da Ciência e Tecnologia
• o apoio à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e Buscar-se-á, por intermédio do Conselho Nacional de Desen-
Gerontologia nas instituições de ensino superior, que devem atuar volvimento Científico e Tecnológico – CNPq –, o fomento à pesquisa
de forma integrada com o SUS e os órgãos estaduais e municipal na área de geriatria e gerontologia contemplando, preferencial-
de assistência social, mediante o estabelecimento de referência e mente, as linhas de estudo definidas nesta Política.
contra referência de ações e serviços para o atendimento integral
de idosos e o treinamento de equipes multiprofissionais e interdis- Responsabilidades do Gestor Federal – Ministério da Saúde
ciplinares, visando a capacitação contínua do pessoal de saúde nas • Implementar, acompanhar e avaliar a operacionalização des-
áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência ao idoso; ta Política Nacional de Saúde do Idoso, bem como os planos, pro-
• o apoio à realização de estudos epidemiológicos para detec- gramas, projetos e atividades dela decorrentes.
ção dos agravos à saúde da população idosa, visando o desenvolvi- • Promover a revisão e o aprimoramento das normas de fun-
mento de sistema de informação sobre esta população, destinado cionamento de instituições geriátricas e similares (Portaria 810/89).
a subsidiar o planejamento, a execução e a avaliação das ações de • Elaborar e acompanhar o cumprimento de normas relativas
promoção, proteção, recuperação e reabilitação; aos serviços geriátricos hospitalares.
• a promoção da observância das normas relativas à criação • Designar e apoiar os Centros Colaboradores de Geriatria e
e ao funcionamento de instituições gerontológicas e similares, nas Gerontologia, preferencialmente localizados em instituições de en-
unidades próprias e naquelas sob a sua supervisão. sino superior envolvidos na capacitação de recursos humanos em
saúde do idoso e ou na produção de material científico, bem como
Ministério do Trabalho e Emprego em pesquisa nas áreas prioritárias do envelhecimento e da atenção
• Com esse Ministério, a parceria a ser estabelecida visará, em a este grupo populacional.
especial: • Apoiar estudos e pesquisas definidos como prioritários nesta
• a elaboração e a implementação de de preparo para futuros Política visando a ampliar o conhecimento sobre o idoso e a subsi-
aposentados nos setores públicos e privados; diar o desenvolvimento das ações decorrentes desta Política.
• a melhoria das condições de emprego do idoso, compreen-
dendo: a eliminação das discriminações no mercado de trabalho e • Promover a cooperação das Secretarias Estaduais e Muni-
a criação de condições que permitam a inserção do idoso na vida cipais de Saúde com os Centros Colaboradores de Geriatria e Ge-
socioeconômica das comunidades. rontologia com vistas à capacitação de equipes multiprofissionais e
interdisciplinares.
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano • Promover a inclusão da geriatria como especialidade clínica,
Será estabelecida a parceria com essa Secretaria visando, entre para efeito de concursos públicos.
outras: • Criar mecanismos que vinculem a transferência de recursos
• a melhoria de condições de habitação e moradia, além da às instâncias estadual e municipal ao desenvolvimento de um mo-
diminuição das barreiras arquitetônicas e urbanas que dificultam delo adequado de atenção à saúde do idoso.
ou impedem a manutenção e apoio à independência funcional do • Estimular e apoiar a realização de pesquisas consideradas es-
tratégicas no contexto desta Política.
idoso;
• Promover a disseminação de informações técnico-científicas
• a promoção de ações educativas dirigidas aos agentes execu-
e de experiências exitosas referentes à saúde do idoso.
tores e beneficiários de habitacionais quanto aos riscos ambientais
• Promover a capacitação de recursos humanos para a imple-
à capacidade funcional dos idosos.
mentação desta Política.
• o estabelecimento de previsão e a instalação de equipamen-
• Promover a adoção de práticas, estilos e hábitos de vida sau-
tos comunitários públicos voltados ao atendimento da população
dáveis, por parte dos idosos, mediante a mobilização de diferentes
idosa previamente identificada, residentes na área de abrangência
segmentos da sociedade e por intermédio de campanhas publicitá-
dos empreendimentos habitacionais respectivos;
rias e de processos educativos permanentes.
• a promoção de ações na área de transportes urbanos que
• Apoiar estados e municípios, a partir da análise de tendên-
permitam e ou facilitem o deslocamento do cidadão idoso, sobre- cias, no desencadeamento de medidas visando a eliminação ou o
tudo aquele que já apresenta dificuldades de locomoção, tais como controle de fatores de risco detectados.
elevatórias para acesso aos ônibus na porta de hospitais, rampas • Promover o fornecimento de medicamentos, órteses e próte-
nas calçadas, bancos mais altos nas paradas de ônibus. ses necessários à recuperação e à reabilitação do idoso.
• Estimular a participação do idoso nas diversas instâncias de
Ministério da Justiça controle social do SUS.
Com esse Ministério, a parceria terá por finalidade a promo- • Estimular a formação de grupos de autoajuda e de convivên-
ção e a defesa dos direitos da pessoa idosa, no tocante às questões cia, de forma integrada com outras instituições que atuam nesse
de saúde, mediante o acompanhamento da aplicação das disposi- contexto.
ções contidas na Lei N.º 8.842/94 e seu regulamento (Decreto N.º • Estimular a criação, na rede de serviços do SUS, de unidades
1.948/96). de cuidados diurnos – hospital dia, centro-dia – de atendimento
domiciliar, bem como de outros serviços alternativos para o idoso.

98
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Responsabilidades do Gestor Estadual – Secretaria Estadual • Criar e estimular a criação, na rede de serviços do SUS, de
de Saúde unidades de cuidados diurnos – hospital-dia, centro-dia – de aten-
• Elaborar, coordenar e executar a política estadual de saúde dimento domiciliar.
do idoso, consoante a esta Política Nacional. • Estimular e apoiar a formação de grupos de autoajuda e de
• Promover a elaboração e ou adequação dos planos, progra- convivência, de forma integrada com outras instituições que atuam
mas, projetos e atividades decorrentes desta Política. nesse contexto.
• Promover processo de articulação entre os diferentes setores • Realizar articulação com outros setores visando a promoção
no Estado, visando a implementação da respectiva política de saúde a qualidade de vida dos idosos.
do idoso. • Promover o acesso a medicamentos, órteses e próteses ne-
• Acompanhar o cumprimento de normas de funcionamento cessários à recuperação e à reabilitação do idoso.
de instituições geriátricas e similares, bem como de serviços hospi- • Aplicar, acompanhar e avaliar o cumprimento de normas de
talares geriátricos. funcionamento de instituições geriátricas e similares, bem como de
• Estabelecer cooperação com os Centros Colaboradores de serviços geriátricos da rede local.
Geriatria e Gerontologia com vistas ao treinamento de equipes • Estimular e viabilizar a participação social de idosos nas di-
multiprofissionais e interdisciplinares, e promover esta cooperação versas instâncias.
com as Secretarias Municipais de Saúde, de modo a capacitar re-
cursos humanos necessários à consecução da política estadual de Acompanhamento e Avaliação
saúde do idoso. A operacionalização desta Política compreenderá a sistemati-
• Promover a capacitação de recursos humanos necessários à zação de processo contínuo de acompanhamento e avaliação, que
consecução da política estadual de saúde do idoso. permita verificar o alcance de seu propósito – e, consequentemen-
• Adequar os serviços de saúde com a finalidade do atendi- te, o seu impacto sobre a saúde dos idosos –, bem como proceder a
mento às necessidades específicas da população idosa. eventuais adequações que se fizerem necessárias.
• Prestar cooperação técnica aos municípios na implementa- Esse processo exigirá a definição de critérios, parâmetros, indi-
ção das ações decorrentes. cadores e metodologia específicos, capazes de evidenciar, também,
• Apoiar propostas de estudos e pesquisas estrategicamente a repercussão das medidas levadas a efeito por outros setores, que
importantes para a implementação, avaliação ou reorientação das resultaram da ação articulada preconizada nesta Política e que es-
questões relativas à saúde do idoso. tão explicitadas no capítulo anterior deste documento, bem como a
• Promover a adoção de práticas e hábitos saudáveis, por parte observância dos compromissos internacionais assumidos pelo País
dos idosos, mediante a mobilização de diferentes segmentos da so- em relação à atenção aos idosos.
ciedade e por intermédio de campanhas de comunicação.
É importante considerar que o processo de acompanhamento
• Promover o fornecimento de medicamentos, próteses e órte- e avaliação referido será apoiado, sobretudo para a aferição de re-
ses necessários à recuperação e à reabilitação de idosos. sultados no âmbito interno do setor, pelas informações produzidas
• Estimular e viabilizar a participação de idosos nas instâncias pelos diferentes planos, programas, projetos, ações e ou atividades
de participação social. decorrentes desta Política Nacional.
• Estimular a formação de grupos de autoajuda e de convivên- Além da avaliação nos contextos anteriormente identificados,
cia, de forma integrada com outras instituições que atuam nesse voltados principalmente para a verificação do impacto das medidas
contexto. sobre a saúde dos idosos, buscar-se-á investigar a repercussão des-
• Criar e estimular a criação, na rede de serviços do SUS, de ta Política na qualidade de vida deste segmento populacional.
unidades de cuidados diurnos – hospital-dia, centro-dia – de aten- Nesse particular, buscar-se-á igualmente conhecer em que me-
dimento domiciliar, bem como de outros serviços alternativos para dida a Política Nacional de Saúde do Idoso tem contribuído para a
o idoso. concretização dos princípios e diretrizes do SUS, na conformidade
• Prover o Sistema Nacional de Informação em Saúde com da- do Art. 7º, da Lei N.º 8.080/90, entre os quais, destacam-se aqueles
dos respectivos e análises relacionadas à situação de saúde e às relativos à integralidade da atenção, à preservação da autonomia
ações dirigidas aos idosos. das pessoas e ao uso da epidemiologia no estabelecimento de prio-
ridades (respectivamente incisos II, III e VII). Paralelamente, deverá
Responsabilidades do Gestor Municipal – Secretaria Munici- ser observado, ainda, se:
pal de Saúde ou organismos correspondentes. • potencial dos serviços de saúde e as possibilidades de uti-
• Coordenar e executar as ações decorrentes das Políticas Na- lização pelo usuário estão sendo devidamente divulgados junto à
cional e Estadual, em seu respectivo âmbito, definindo componen- população de idosos;
tes específicos que devem ser implementados pelo município. • os planos, programas, projetos e atividades que operaciona-
• Promover as medidas necessárias para integrar a programa- lizam esta Política estão sendo desenvolvidos de forma descentrali-
ção municipal à adotada pelo Estado, submetendo-as à Comissão zada, considerando a direção única em cada esfera de gestão;
Inter gestores Biparti-te. • a participação dos idosos nas diferentes instâncias do SUS
• Promover articulação necessária com as demais instâncias do está sendo incentivada e facilitada.
SUS visando o treinamento e a capacitação de recursos humanos
para operacionalizar, de forma produtiva e eficaz, o elenco de ativi- Terminologia
dades específicas na área de saúde do idoso. Ação terapêutica: processo de tratamento de um agravo à saú-
• Manter o provimento do Sistema Nacional de Informação em de por intermédio de medidas farmacológicas e não farmacológi-
Saúde com dados e análises relacionadas à situação de saúde e às cas, tais como: mudanças no estilo de vida, abandono de hábitos
ações dirigidas aos idosos. nocivos, psicoterapia, entre outros.
• Promover a difusão de conhecimentos e recomendações so- AIH (Autorização de Internação Hospitalar): documento de au-
bre práticas, hábitos e estilos de vida saudáveis, junto à população torização e fatura de serviços hospitalares do SUS, que engloba o
de idosos, valendo-se, inclusive, da mobilização da a comunidade. conjunto de procedimentos realizados em regime de internação.

99
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Assistência domiciliar: essa assistência engloba a visitação do- Geriatria: é o ramo da ciência médica voltado à promoção da
miciliar e cuidados domiciliares que vão desde o fornecimento de saúde e o tratamento de doenças e incapacidades na velhice.
equipamentos, até ações terapêuticas mais complexas.
Gerontologia: área do conhecimento científico voltado para o
Atividades de vida diária (AVDs): termo utilizado para descre- estudo do envelhecimento em sua perspectiva mais ampla, em que
ver os cuidados essenciais e elementares à manutenção do bem-es- são levados em conta não somente os aspectos clínicos e biológi-
tar do indivíduo, que compreende aspectos pessoais como: banho, cos, mas também as condições psicológicas, sociais, econômicas e
vestimenta, higiene e alimentação, e aspectos instrumentais como: históricas.
realização de compras e cuidados com finanças.
Dependência: é a condição que requer o auxílio de pessoas
Autodeterminação: capacidade do indivíduo poder exercer sua para a realização de atividades do dia a dia Centros de convivência:
autonomia. locais destinados à permanência do idoso, em um ou dois turnos,
onde são desenvolvidas atividades físicas, laborativas, recreativas,
Autonomia: é o exercício da autodeterminação; indivíduo au- culturais, associativas e de educação para a cidadania.
tônomo é aquele que mantém o poder decisório e o controle sobre
sua vida. Habilidade física: refere-se à aptidão ou capacidade para rea-
lizar algo que exija uma resposta motora, tal como caminhar, fazer
Capacidade funcional: capacidade de o indivíduo manter as um trabalho manual, entre outros.
habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida indepen-
dente e autônoma; a avaliação do grau de capacidade funcional é Hospital-dia geriátrico: refere-se ao ambiente hospitalar, no
feita mediante o uso de instrumentos multidimensionais. qual atua equipe multiprofissional e interdisciplinar, destinado a
pacientes que dele necessitam em regime de um ou dois turnos,
Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia: centros para complementar tratamentos e promover reabilitação.
localizados de preferência em instituições de ensino superior, que
colaboram com o setor saúde, fundamentalmente na capacitação Idoso: a Organização das Nações Unidas, desde 1982 considera
de recursos humanos em saúde do idoso e ou na produção de ma- idoso o indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos; o Brasil, na
terial científico para tal finalidade, bem como em pesquisas nas Lei Nº 8.842/94, adota essa mesma faixa etária (Art. 2º do capítulo
áreas prioritárias do envelhecimento e da atenção a este grupo po- I).
pulacional.
Incapacidade: quantificação da deficiência; refere-se à falta
Centro-dia: ambiente destinado ao idoso, que tem como carac- de capacidade para realizar determinada função na extensão, am-
terística básica o incentivo à socialização e o desenvolvimento de plitude e intensidade consideradas normais; em gerontologia, diz
ações de promoção e proteção da saúde. respeito à incapacidade funcional, isto é, à perda da capacidade de
realizar pelo menos um ou mais de um ato de vida diária.
Cuidador: é a pessoa, membro ou não da família, que, com ou
sem remuneração, cuida do idoso doente ou dependente no exer- Incontinência urinária: refere-se à perda involuntária de urina.
cício das suas atividades diárias, tais como alimentação, higiene
pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de Iatrogenia: qualquer agravo à saúde, causado por uma inter-
saúde ou outros serviços requeridos no cotidiano – por exemplo, venção médica Psicoterapia: terapêutica que, por métodos psico-
ida a bancos ou farmácias –, excluídas as técnicas ou procedimentos lógicos, busca a restauração do equilíbrio emocional do indivíduo.
identificados com profissões legalmente estabelecidas, particular-
mente na área da enfermagem. Reabilitação física: conjunto de procedimentos terapêuticos fí-
sicos que visam adaptar ou compensar deficiências motoras (quan-
Deficiência: expressão de um processo patológico, na forma de do aplicadas a limitações insipientes pode ser considerada reabilita-
uma alteração de função de sistemas, órgãos e membros do corpo, ção precoce ou “preventiva”).
que podem ou não gerar uma incapacidade.
Rastreamento: um protocolo de aplicação rápida e sistemática
Demência: conceitua-se demência como uma síndrome pro- para detecção de problemas de saúde em uma determinada popu-
gressiva e irreversível, composta de múltiplas perdas cognitivas ad- lação.
quiridas, que ocorrem na ausência de um estado de confusão men-
tal aguda (ou seja, de uma desorganização súbita do pensamento). Síndrome: conjunto de sinais e sintomas comuns a diversas en-
As funções cognitivas que podem ser afetadas pela demência in- fermidades.
cluem a memória, a orientação, a linguagem, a práxis, a agnosia, as
construções, a prosódia e o controle executivo.
PRINCÍPIOS ERGONÔMICOS NA REALIZAÇÃO
Envelhecimento: a maioria dos autores o conceituam como DO TRABALHO
“uma etapa da vida em que há um comprometimento da home-
ostase, isto é, o equilíbrio do meio interno, o que fragilizaria o in- Saúde do Trabalhador
divíduo, causando uma progressiva vulnerabilidade do indivíduo Conjunto de atividades que se destina, através das ações de
perante a uma sobrecarga fisiológica”. vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e pro-
teção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação
Envelhecimento saudável: é o processo de envelhecimento e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos
com preservação da capacidade funcional, autonomia e qualidade e agravos advindos das condições de trabalho. Atualmente, vem
de vida. crescendo a preocupação com os agravos à saúde dos trabalhado-

100
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

res. Pelo lado das empresas, o fato de esses eventos significarem foco as mudanças nos processos de trabalho que contemplem as
custos tanto em relação aos tributos, pois no caso de afastamento relações saúde-trabalho em toda a sua complexidade, por meio de
em decorrência de acidente ou doença do trabalho, quando emiti- uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e Inter setorial.
da a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), a empresa deve Os trabalhadores, individual e coletivamente nas organizações,
manter a contribuição do Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço são considerados sujeitos e partícipes das ações de saúde, que in-
(FGTS) e garantir a estabilidade do trabalhador por um ano, após o cluem: o estudo das condições de trabalho, a identificação de me-
seu retorno ao trabalho, e de acordo com o numero de acidentes, a canismos de intervenção técnica para sua melhoria e adequação e
empresa corre o risco de ter aumentada a sua alíquota de contribui- o controle dos serviços de saúde prestados. Na condição de prática
ção ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT), pois com a implantação social, as ações de saúde do trabalhador apresentam dimensões so-
do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), em 2007, a ciais, políticas e técnicas indissociáveis. Como consequência, esse
contribuição empresarial passa a se vincular ao numero de afasta- campo de atuação tem interfaces com o sistema produtivo e a gera-
dos por problemas de saúde decorridos do trabalho; tanto com o ção da riqueza nacional, a formação e preparo da força de trabalho,
treinamento de novo funcionário para substituir o que se acidentou as questões ambientais e a seguridade social. De modo particular,
e se afastou. as ações de saúde do trabalhador devem estar integradas com as
Além disso, ainda há a preocupação com as certificações in- de saúde ambiental, uma vez que os riscos gerados nos processos
ternacionais que impõem determinadas exigências às empresas produtivos podem afetar, também, o meio ambiente e a população
quanto a qualidade dos produtos e, em certa medida, ao processo em geral.
de produção, o que reverbera em atitudes que podem melhorar o Segundo o parágrafo 3.º do artigo 6.º da LOS, a saúde do traba-
ambiente laboral. Porém, a discussão da prevenção, quase sempre, lhador é definida como “um conjunto de atividades que se destina,
por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitá-
imputa aos trabalhadores o peso das medidas que, não exclusiva-
ria, à promoção e proteção da saúde do trabalhador, assim como
mente, mas de maneira acentuada, resvala sobre o uso de Equi-
visa à recuperação e à reabilitação dos trabalhadores submetidos
pamentos de Proteção Individual (EPI), que embora crie barreiras
aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho”. Esse con-
para a exposição do corpo a algum agente causador de acidente ou
junto de atividades está detalhado nos incisos de I a VIII do referido
doença, pesa sobre o individuo, que muitas vezes, já trabalha em parágrafo, abrangendo:
lugar quente ou frio, realiza movimentos repetitivos e, entre outros, - a assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou
ainda, tem que usar EPI, que certamente protege, mas também é portador de doença profissional e do trabalho;
causa de incômodos e representa o reconhecimento de que aque- - a participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle
la atividade oferece riscos à saúde do trabalhador. Além disso, a dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de
empresa também opta pela substituição da força de trabalho des- trabalho;
gastada ou adoecida, há uma visível preferência pelos mais jovens - a participação na normatização, fiscalização e controle das
e sadios. condições de produção, extração, armazenamento, transporte, dis-
tribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e
O CAMPO DA SAÚDE DO TRABALHADOR de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;
A Saúde do Trabalhador constitui uma área da Saúde Pública - a avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;
que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o - a informação ao trabalhador, à sua respectiva entidade sindi-
trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção cal e às empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença
da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações,
vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de traba- avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos
lho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;
da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos - a participação na normatização, fiscalização e controle dos
de diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada, no serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas pú-
SUS. Nessa concepção, trabalhadores são todos os homens e mu- blicas e privadas;
lheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus - a revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas
dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado no processo de trabalho;
de trabalho, nos setores formais ou informais da economia. Estão - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao ór-
incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham gão competente a interdição de máquina, do setor, do serviço ou
como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, traba- de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco
iminente para a vida ou saúde do trabalhador.
lhadores avulsos, trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores
públicos, trabalhadores cooperativados e empregadores particular-
Um dos princípios doutrinários do SUS é a descentralização,
mente, os proprietários de micro e pequenas unidades de produ-
que é entendida como uma redistribuição de poder e responsabi-
ção. São também considerados trabalhadores aqueles que exercem
lidades quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis
atividades não remuneradas – habitualmente, em ajuda a mem- de governo, a partir da ideia de que quanto mais perto do fato a
bro da unidade domiciliar que tem uma atividade econômica, os decisão for tomada, maior a possibilidade do acerto.
aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou definitivamente Assim, ao município cabe a execução da maioria das ações na
afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou promoção das ações de saúde diretamente voltadas aos seus cida-
desemprego. dãos, principalmente a responsabilidade política pela sua saúde.
Entre os determinantes da saúde do trabalhador estão com- Isso significa dotar o município de condições gerenciais, técnicas,
preendidos os condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e administrativas e financeiras para exercer esta função.
organizacionais responsáveis pelas condições de vida e os fatores O que abrange um estado ou uma região estadual deve estar
de risco ocupacionais – físicos, químicos, biológicos, mecânicos e sob responsabilidade estadual e o que for de abrangência nacional
aqueles decorrentes da organização laboral – presentes nos proces- será de responsabilidade federal. A essa profunda redefinição das
sos de trabalho. Assim, as ações de saúde do trabalhador têm como atribuições dos vários níveis de governo com um nítido reforço do

101
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

poder municipal sobre a saúde é o que se chama municipalização Parece claro que nas pessoas motivadas há toda uma série de
da saúde. Para fazer valer o princípio da descentralização, existe a sentimentos e fatores emocionais que reforçam o seu entusiasmo
concepção constitucional do mando único. Cada esfera de governo e a sua persistência perante os contratempos normais da vida. O
é autônoma e soberana em suas decisões e atividades, respeitando sentimento da própria eficácia, o acreditar de uma pessoa nas suas
os princípios gerais e a participação da sociedade. próprias capacidades tem um surpreendente efeito multiplicador
A saúde do trabalhador no âmbito do SUS é um conjunto de sobre essas mesmas capacidades. Aqueles que se sentem eficazes
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemio- recuperam mais depressa dos fracassos, não se perturbam dema-
lógica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos siado pelo fato de que as coisas possam correr mal; pelo contrário,
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saú- fazem-nas o melhor que podem e procuram a maneira de as fazer
de dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das ainda melhor na vez seguinte. O sentimento da própria eficácia tem
condições de trabalho. um grande valor estimulante, e vai acompanhado por um sentimen-
Dados do Ministério da Previdência Social apontam que há to de segurança que alenta e conduz à ação.
tendência de diminuição das ocorrências de acidentes de trabalho. São, as organizações, processos de interação social onde pesso-
Entre 2008 e 2010, os casos reduziram 7,3% – o que corresponde a as, também investidas de papéis de trabalho, procuram fazer valer
cerca de 54 mil casos a menos nesse período. Em 2008, foram 755,9 seus interesses, seus valores e crenças; onde, para decifrá-la, de-
mil acidentes de trabalho e em 2010, 701,4 mil. Nesta sexta-feira vemos ter, a certeza de que no local de trabalho, apesar do capital
(27), comemora-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de buscar “recursos humanos”, as pessoas continuam sendo pessoas.
Trabalho. De acordo com o Boletim Estatístico da Previdência Social Ainda que não tenhamos uma história do trabalho no Brasil, em que
(Beps), em junho de 2012, foram mais de R$ 1 milhão pagos em be- a interlocução direta entre trabalhadores e patrões seja o modo de
nefícios relacionados a acidentes de trabalho, tanto aposentadoria se relacionar, barganhar interesses e conquistar direitos, o reconhe-
quanto auxílio-acidente, a mais de 1,2 mil pessoas – uma média de cimento deste processo conduz-nos a olhar as condições de possi-
R$ 845 por trabalhador. Segundo informações do Tribunal Superior bilidade para desenvolver-se negociações a partir de outros olhos.
do Trabalho (TST), os setores que mais registraram acidentes de
trabalho em 2010, quando foi feito o último levantamento, foram O assédio moral no trabalho
a indústria e a construção civil, com mais de 59,9 mil e 54,6 mil É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações
casos, respectivamente. Em seguida estão os setores de comércio,
humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante
veículos automotores, saúde, serviços sociais, transporte e armaze-
a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais
nagem. Texto retirado do endereço eletrônico: http://www.brasil.
comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em
gov.br/cidadania-e-justica/2012/07/acidentes-de-trabalho-dimi-
que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas
nuem-no-pais
de longaduração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais su-
Principais patologias enfrentada pelos trabalhadores
bordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente
Ansiedade é uma característica biológica do ser humano, que
de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego. Ca-
antecede momentos de medo, perigo ou de tensão, marcada por
racteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho
sensações corporais desagradáveis, tais como uma sensação de va-
zio no estômago, coração batendo rápido, nervosismo, aperto no em que prevalecem atitudes e condutas negativas dos chefes em
Tórax, transpiração, etc. Todas as pessoas podem sentir ansieda- relação a seus subordinados, constituindo uma experiência subjeti-
de, principalmente com a vida atribulada atual. A ansiedade acaba va que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador
tornando-se constante na vida de muitas pessoas. Dependendo do e a organização. A vítima escolhida é isolada do grupo sem explica-
grau ou frequência pode se tornar patológica e acarretar em muitos ções, passando a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, cul-
problemas posteriores, como o transtorno da ansiedade. pabilizada e desacreditada diante dos pares. Estes, por medo do
Ter ansiedade ou sofrer desse mal faz com que a pessoa perca desemprego e a vergonha de serem também humilhados associado
uma boa parte da sua autoestima, ou seja, ela deixa de fazer cer- ao estímulo constante à competitividade, rompem os laços afeti-
tas coisas porque se julga ser incapaz de realizá-las. No entanto, o vos com a vítima e, frequentemente, reproduzem ações e atos do
termo ansiedade está de certa forma interligado com o a palavra agressor no ambiente de trabalho, instaurando o ‘pacto da tolerân-
medo, sendo assim a pessoa passa a ter o medo de errar quando cia e do silêncio’ no coletivo, enquanto a vitima vai gradativamente
da realização de diferentes tarefas, sem mesmo chegar a tentar. se desestabilizando e fragilizando, ‘perdendo’ sua autoestima.
Os estudos sobre o controle no trabalho (“job control”) ganharam A violência moral no trabalho constitui um fenômeno interna-
enorme fôlego nas últimas duas décadas e ligaram-se, de forma cional segundo levantamento recente da Organização Internacional
estreita, às redefinições dos processos de trabalho no contexto de do Trabalho (OIT) com diversos países desenvolvidos. A pesquisa
reestruturação da economia mundial. Por outro lado, tais redefini- aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condi-
ções podem ser também atribuídas, em alguma medida, aos acha- ções de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Uni-
dos produzidos pelas pesquisas sobre controle, saúde e bem-estar. do, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as
duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização Mundial
Motivação em psicologia, é a força propulsora (desejo) por da Saúde, estas serão as décadas do ‘mal estar na globalização”,
trás de todas as ações de um organismo onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos,
Motivação é o processo responsável pela intensidade, direção, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de
e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de uma trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.São com ou-
determinada meta. A motivação é baseada em emoções, especifi- tros olhos que, advogamos, devemos ver o local de trabalho: olhos
camente, pela busca por experiências emocionais positivas e por que concebam a existência de pessoas e, como tal, buscam dar sen-
evitar as negativas, onde positivo e negativo são definidos pelo es- tido ao seu cotidiano, construindo-o de modo conflituoso e coope-
tado individual do cérebro, e não por normas sociais: uma pessoa rativo; pessoas que interagem a vida fora do local de trabalho com
pode ser direcionada até à auto-mutilação ou à violência caso o a vida no trabalho, lidam com as exigências postas pelas condições
seu cérebro esteja condicionado a criar uma reação positiva a essas e pela organização do trabalho, enfim, conduzem processos sociais,
ações. constroem sua história.

102
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Apesar de termos muitas vezes toda uma categoria profissio- como resultantes das condições de organização do trabalho. A mes-
nal submetida a exigências comuns em termos de organização do ma lista regulamenta o conceito de doença profissional e doença
processo de trabalho, quando nos aproximamos dos locais onde adquirida pelas condições em que o trabalho é realizado, norma-
trabalham vemos que cada local é um mundo singular, com seus tizando e classificando tais infortúnios, sendo que esta também foi
problemas particulares, com mecanismos que fazem com que uma adotada pelo Ministério da Previdência e Assistência social, no esta-
mesma tecnologia influa diferentemente, são pessoas diferentes, belecimento de nexos e de pagamentos de benefícios sociais.
relações interpessoais construídas, são diferentes regras que vigo- A partir do Sistema Único de saúde (SUS) os serviços de saúde
ram. pública tem primado sua ações por meio do desenvolvimento de
sistemas de informações como é o caso de patologias como diabe-
BORGES, L. H., 1997. Trabalho e doença mental: Reconhecimento tes, hipertensão arterial sistêmica, HIV etc... Na área de saúde do
social do nexo trabalho e saúde mental. In: A Danação do Trabalho trabalhador as informações são escassas com estimativas a partir
- Organização do Trabalho e Sofrimento Psíquico (J. F. Silva Filho & de dados da Previdência Social, por meio da comunicação de aci-
S. Jardim, org.), pp. 193-202, Belo Horizonte: Te Corá Editora. dente de trabalho (CAT) sendo pouco abrangente e não consegue
BROWN, J. A. C., 1979. Psicologia Social da Indústria. São Paulo: apreender dados precisos da questão, pois tem o caráter de segu-
Atlas. ridade especialmente para trabalhadores formalmente vinculados
ao mercado de trabalho. Mesmo nestes há subnotificação, princi-
O trabalho, compreendido como toda transformação da natu- palmente em doenças relacionadas ao trabalho que acabam não
reza para benefício do homem, além de necessário para a manuten- sendo diagnosticadas como tal. Outro agravante de subnotificação
ção da vida humana, é importante fator na definição das condições é o trabalho informal que oculta os acidentes, morte e invalidez.
de saúde de cada indivíduo. Considerando a necessidade da disponibilidade de informação
O emprego de novas tecnologias, novas práticas gerenciais e a consistente e ágil sobre a situação da produção, perfil dos traba-
incorporação de novas matérias primas aos processos de trabalho lhadores e ocorrência de agravos relacionados ao trabalho para
tem repercussão direta sobre a morbi-mortalidade dos trabalhado- orientar as ações de saúde, a intervenção nos ambientes e condi-
res. ções de trabalho, subsidiando o controle social, e pela constatação
A Saúde do Trabalhador, conjunto de ações de vigilância e as- de que essas informações estão dispersas, fragmentadas e pouco
sistência, visando a promoção, a proteção, a recuperação e a reabi- acessíveis, no âmbito do SUS é que foi publicada a portaria nº 777/
litação da saúde dos trabalhadores submetidos a riscos e agravos GM de 28 de abril de 2004, que dispõe sobre os procedimentos
advindos dos processos de trabalho, passou a fazer parte das ações técnicos para a notificação compulsória de 11 agravos da saúde do
desenvolvidas pelo Sistema Único de Saúde - SUS a partir da Consti- trabalhador em rede de serviços sentinela específica no SUS. Em
tuição Federal de 1988, que, em seu artigo 200, inciso II, define que atendimento a esta portaria a coordenação nacional de saúde do
compete ao SUS executar ações de Saúde do Trabalhador. trabalhador (COSAT) a partir de abril de 2006 reuniu para a capa-
A Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende uma atua- citação sobre SINAN NET saúde do trabalhador um representante
ção contínua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de de- de cada Estado e assim dar início ao processo de construção para a
tectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e implantação da vigilância epidemiológica em saúde do trabalhador.
condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e Em 20 de julho de 2006 uma técnica do SINAN Nacional e um do
ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, orga- DATASUS nacional estiveram no Estado do Paraná implantando o
nizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar SINAN NET para oficializar a digitação e envio de dados da Saúde
e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los do trabalhador através das unidades sentinela definidas no projeto.
ou controlá-los. Projeto que foi elaborado com a participação de vários técnicos
do CEST, Hospital do Trabalhador, Secretaria Municipal de Saúde de
História, documentos e fatos sobre a saúde do trabalhador Curitiba, SINAN Estadual e 2ª Regional de Saúde e a contribuição
A saúde do trabalhador passou aos poucos a ser incorporada do CEREST de Londrina. As atribuições estabelecidas na portaria
nas ações do SUS em 1990, por meio da Lei Orgânica da Saúde (LOS, 2437de 07 de dezembro de 2005 que dispõe sobre a ampliação e
nº 8080, artigo 6º) é conferido a direção nacional do SUS a respon- o fortalecimento da RENAST (Rede Nacional de Atenção Integral à
sabilidade de coordenar a política de saúde do trabalhador. A LOS Saúde do trabalhador no SUS dispõe sobre as atribuições no nível
orienta a execução das ações voltadas para a saúde do trabalhador, local, municipal, regional, estadual e nacional. Dando continuida-
o parágrafo 3º do artigo 6 a define como: de ao cronograma definido no Projeto Estadual de Implantação da
“Um conjunto de atividades que se destina, por meio das ações Vigilância epidemiológica em Saúde do trabalhador apresentamos
de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e a este projeto de capacitação de técnicos para a notificação de agra-
proteção da saúde do trabalhador, assim como visa a recuperação vos da saúde do trabalhador.
e a reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos
advindos das condições de trabalho” A Vigilância em Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (VISA-
A portaria 3908/GM, de 30 de outubro de 1998, ficou conhe- TT) é um conjunto de ações feitas sempre com a participação dos
cida como a Norma Operacional de Saúde do Trabalhador-NOST/ trabalhadores e articuladas intra e intersetorialmente, de forma
SUS, definiu as atribuições e responsabilidades para orientar e ins- contínua e sistemática, com o objetivo de detectar, conhecer, pes-
trumentalizar as ações de saúde do trabalhador rural e urbano, con- quisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes da saú-
sideradas as diferenças entre homens e mulheres, a serem desen- de relacionados ao trabalho, cada vez mais complexo e dinâmico.
volvidas pelas secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal A Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)
e dos municípios. é uma rede nacional de informação e práticas de saúde, organizada
A publicação de uma lista de doenças relacionadas ao trabalho, com o propósito de pôr em prática as ações de vigilância, assistên-
por meio da Portaria/MS nº 1339/1999, se deu em cumprimento cia e promoção da saúde, nas linhas de cuidado da atenção básica,
da determinação do artigo 6º inciso VII, da LOS. A publicação des- da média e alta complexidade, ambulatorial, pré-hospitalar e hos-
ta lista só foi possível pelo empenho histórico de trabalhadores e pitalar, sob a égide do controle social, nos três níveis de gestão do
técnicos em conseguir reconhecimento de determinadas doenças SUS.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A VISATT Estadual se divide em três eixos complementares: manutenção do emprego e a redução dos impactos sobre o poder
Vigilância Epidemiológica: coordenação dos procedimentos de compra dos trabalhadores. Como conseqüência, na atualidade,
técnicos para sistematização da informação e a notificação compul- podem ser observadas práticas diversificadas, desde atividades as-
sória das doenças e agravos relacionados ao trabalho.Por meio do sistenciais tradicionais até ações inovadoras e criativas, que enfo-
acompanhamento periódico de indicadores de saúde e sistemas, cam a saúde de modo integral.
como o de informação de agravos de notificação (SINAN-NET), bus-
ca-se conhecer o perfil de morbimortalidade dos trabalhadores e AS AÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR NA REDE PÚBLICA DE
trabalhadoras, bem como o cruzamento com variáveis, tais como as SERVIÇOS DE SAÚDE
atividade econômica e ocupação. Apesar da rede pública de serviços de saúde sempre ter aten-
Atenção à Saúde: Objetiva a consolidação da Política Nacional dido trabalhadores, um modelo alternativo de atenção à saúde do
de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora por meio do fortalecimen- trabalhador começou a ser instituído, em meados da década de 80,
to das ações dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador sob a denominação de Programa de Saúde do Trabalhador, como
(CEREST). Esses centros, comumente de abrangência estadual ou parte do movimento da Saúde do Trabalhador.
regional, deixam de ser porta de entrada prioritária e assumem o As iniciativas buscavam construir uma atenção diferenciada
lugar de suporte e retaguarda técnica no seu território de abran- para os trabalhadores e um sistema de vigilância em saúde, com a
gência. Atuam como polo irradiador da cultura da centralidade do participação dos trabalhadores. Atualmente existem no país cerca
trabalho e produção social no processo saúde-doença. Além disso, de 150 programas, centros de referência, serviços, núcleos ou co-
a Atenção à Saúde almeja a ampliação e estímulo às ações do con- ordenações de ações de Saúde do Trabalhador, em estados e mu-
trole social, exercido, por exemplo, através das Comissões Interse- nicípios, com graus variados de organização, competências, atribui-
torias de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CISTT) vincula- ções, recursos e práticas de atuação, voltados, principalmente, para
das aos respectivos Conselhos de Saúde. a atenção aos trabalhadores urbanos.
Vigilância dos Ambientes e Processos de Trabalho: Compreen- Apesar de pontuais e díspares, esses programas e serviços tive-
dida como um conjunto de ações interventivas; planejadas, execu- ram o mérito de construir uma experiência significativa de atenção
tadas e avaliadas a partir da análise dos agravos/doenças e de seus especializada à saúde do trabalhador, desenvolver uma metodolo-
determinantes relacionados aos processos e ambientes de trabalho; gia de vigilância, preparar recursos humanos, estabelecer parcerias
que visam atenuar ou controlar os fatores e as situações geradoras com os movimentos social e sindical e, também, com outras instân-
de risco para a saúde dos trabalhadores. É a essência da ação de VI- cias responsáveis pelas ações de saúde do trabalhador nos Minis-
SATT e é desenvolvida por análises de documentos, entrevistas com térios do Trabalho e Emprego (MTE), da Previdência e Assistência
trabalhadores e observação direta do processo de trabalho (forma Social (MPAS) e com os Ministérios Públicos (MP). Contribuíram,
de trabalhar, relação do trabalhador com os meios e processos de também, para a configuração do atual quadro jurídico-institucional,
produção e da relação dos meios de produção com o ambiente). inscrito na Constituição Federal, na LOS e na legislação complemen-
tar.
A ATENÇÃO À SAÚDE DOS TRABALHADORES
Por princípio, a atenção à saúde do trabalhador não pode ser Entre as maiores dificuldades apresentadas pela estratégia de
desvinculada daquela prestada à população em geral. Tradicional- implantação de Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
mente, a assistência ao trabalhador tem sido desenvolvida em di- (CRST) estão a cobertura do conjunto dos trabalhadores e a peque-
ferentes espaços institucionais, com objetivos e práticas distintas: na inserção na rede do SUS, em uma perspectiva de atenção hierar-
• pelas empresas, por meio dos Serviços Especializados em Se- quizada e integral. Além dessas podem ser apontadas:
gurança e Medicina do Trabalho (SESMT) e outras formas de organi- • falta de tradição, familiaridade e conhecimento dos profissio-
zação de serviços de saúde; nais do sistema com a temática da saúdedoença relacionada ao tra-
• pelas organizações de trabalhadores; balho, o que leva à crônica incapacidade técnica para o diagnóstico
• pelo Estado, ao implementar as políticas sociais públicas, em e o estabelecimento da relação das doenças com o trabalho;
particular a de saúde, na rede pública de serviços de saúde; • deficiência de recursos materiais para as ações de diagnós-
• pelos planos de saúde, seguros suplementares e outras for- ticos, equipamentos para avaliações ambientais, bibliografia espe-
mas de prestação de serviços, custeados pelos próprios trabalha- cializada;
dores; • não-reconhecimento das atribuições do SUS no tocante às
• pelos serviços especializados organizados no âmbito dos hos- ações de vigilância dos ambientes de trabalho, tanto no âmbito do
pitais universitários. SUS quanto entre outros setores de governo e entre os emprega-
dores;
Contrariando o propósito formal para o qual foram constituí- • falta de informações adequadas sobre os agravos à saúde
dos, os SESMT operam sob a ótica do empregador, com pouco ou relacionados ao trabalho nos sistemas de informação em saúde e
nenhum envolvimento dos trabalhadores na sua gestão. Nos seto- sobre sua ocorrência na população trabalhadora no setor informal;
res produtivos mais desenvolvidos, do ponto de vista tecnológico, a • pouca participação dos trabalhadores. Muitos sindicatos li-
competição no mercado internacional tem estimulado a adoção de mitam-se, na sua relação com o SUS, à geração de demandas pon-
políticas de saúde mais avançadas por exigências de programas de tuais, que acabam por preencher a agenda de muitos CRST. Falta,
qualidade e certificação. entretanto, uma integração construtiva na qual trabalhadores e téc-
No âmbito das organizações de trabalhadores, a luta sindical nicos da saúde busquem compreender a complexidade da situação
por melhores condições de vida e trabalho conseguiu alguns avan- da saúde do trabalhador em conjunturas e espaços específicos e, a
ços significativos nos anos 80, sob inspiração do novo sindicalismo, partir daí, traçar estratégias comuns para superar as dificuldades;
ainda que de modo desigual no conjunto da classe trabalhadora. • indefinição de mecanismos claros e duradouros para o finan-
Entretanto, a atuação sindical neste campo tem sofrido um reflu- ciamento de ações em saúde do trabalhador;
xo na atual conjuntura, em decorrência das políticas econômicas • atribuições concorrentes ou mal definidas entre os diferentes
e sociais em curso no País que deslocam o eixo das lutas para a órgãos que atuam na área.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Podem, ainda, ser apontadas dificuldades para a incorporação/ Neste capítulo serão apresentados, resumidamente, aspectos
articulação das ações de Saúde do Trabalhador no âmbito do siste- conceituais sobre as formas de adoecimento dos trabalhadores e
ma de saúde, em nível nacional, regional e local, como, por exem- de sua relação com o trabalho, alguns dos recursos e instrumentos
plo: com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o Centro Nacional disponíveis para a investigação das relações saúde-trabalho-doença
de Epidemiologia (Cenepi), a Agência Nacional de Vigilância Sani- e para o estabelecimento do nexo do dano/doença com o trabalho
tária (Anvisa), a Secretaria de Assistência à Saúde (SAS), o Depar- e as ações decorrentes que devem ser implementadas. Ao final en-
tamento de Informática do SUS (Datasus) e o Instituto Nacional de contra-se relacionada uma bibliografia sugerida para o aprofunda-
Câncer (INCA), comprometendo a universalidade e a integralidade mento do tema.
da atenção.
A experiência acumulada pelos Programas de Saúde do Traba- O ADOECIMENTO DOS TRABALHADORES E SUA RELAÇÃO
lhador na rede de serviços de saúde sustenta a proposta de reorien- COM O TRABALHO
tação do modelo assistencial, que privilegia as ações de saúde do Os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e
trabalhador na atenção primária de saúde, com a retaguarda téc- morte da população em geral, em função de sua idade, gênero, gru-
nica dos CRST e de instâncias mais complexas do sistema de saúde. po social ou inserção em um grupo específico de risco. Além disso,
Esses devem garantir uma rede eficiente de referência e contra-re- os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relaciona-
ferência, articulada com as ações das vigilâncias epidemiológica e das ao trabalho, como consequência da profissão que exercem ou
sanitária, e os programas de atenção a grupos específicos, como exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou
mulher, adolescentes, idosos ou organizados por problemas. Tam- foi realizado. Assim, o perfil de adoecimento e morte dos trabalha-
bém deverão estar contemplados: dores resultará da amalgamação desses fatores, que podem ser sin-
• a capacitação técnica das equipes; tetizados em quatro grupos de causas (Mendes & Dias, 1999):
• a disponibilidade de instrumentos para o diagnóstico e es- • doenças comuns, aparentemente sem qualquer relação com
tabelecimento de nexo com o trabalho pelos meios propedêuticos o trabalho;
necessários; • doenças comuns (crônico-degenerativas, infecciosas, neoplá-
• recursos materiais para as ações de vigilância em saúde, tais sicas, traumáticas, etc.) eventualmente modificadas no aumento da
como suporte laboratorial e outros meios diagnósticos, equipamen- freqüência de sua ocorrência ou na precocidade de seu surgimento
tos para avaliações ambientais; em trabalhadores, sob determinadas condições de trabalho. A hi-
• disponibilidade de bibliografia especializada; pertensão arterial em motoristas de ônibus urbanos, nas grandes
• mecanismos que corrijam a indefinição e duplicidade de atri- cidades, exemplifica esta possibilidade;
buições, tanto no âmbito do SUS, quanto entre outros setores do • doenças comuns que têm o espectro de sua etiologia amplia-
governo; do ou tornado mais complexo pelo trabalho.
• coleta e análise das informações sobre os agravos à saúde
relacionados ao trabalho nos sistemas de informação em saúde e A asma brônquica, a dermatite de contato alérgica, a perda au-
sobre sua ocorrência na população trabalhadora no setor informal, ditiva induzida pelo ruído (ocupacional), doenças músculo-esquelé-
não segurada pela Previdência Social; ticas e alguns transtornos mentais exemplificam esta possibilidade,
• definição de mecanismos claros e duradouros para o financia- na qual, em decorrência do trabalho, somam-se (efeito aditivo) ou
mento das ações em saúde do trabalhador multiplicam-se (efeito sinérgico) as condições provocadoras ou de-
sencadeadoras destes quadros nosológicos;
A INVESTIGAÇÃO DAS RELAÇÕES SAÚDE-TRABALHO, O ESTA-
BELECIMENTO DO NEXO CAUSAL DA DOENÇA COM O TRABALHO E • agravos à saúde específicos, tipificados pelos acidentes do
AS AÇÕES DECORRENTES trabalho e pelas doenças profissionais. A silicose e a asbestose
O reconhecimento do papel do trabalho na determinação e exemplificam este grupo de agravos específicos.
evolução do processo saúde-doença dos trabalhadores tem impli-
cações éticas, técnicas e legais, que se refletem sobre a organização Os três últimos grupos constituem a família das doenças rela-
e o provimento de ações de saúde para esse segmento da popula- cionadas ao trabalho. A natureza dessa relação é sutilmente distinta
em cada grupo. O Quadro II resume e exemplifica os grupos das
ção, na rede de serviços de saúde.
doenças relacionadas de acordo com a classificação proposta por
Nessa perspectiva, o estabelecimento da relação causal ou do
Schilling (1984).
nexo entre um determinado evento de saúde – dano ou doença –
GRUPO I: doenças em que o trabalho é causa necessária, tipi-
individual ou coletivo, potencial ou instalado, e uma dada condição
ficadas pelas doenças profissionais, stricto sensu, e pelas intoxica-
de trabalho constitui a condição básica para a implementação das
ções agudas de origem ocupacional.
ações de Saúde do Trabalhador nos serviços de saúde. De modo
GRUPO II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de
esquemático, esse processo pode se iniciar pela identificação e con-
risco, contributivo, mas não necessário, exemplificadas pelas doen-
trole dos fatores de risco para a saúde presentes nos ambientes e
ças comuns, mais freqüentes ou mais precoces em determinados
condições de trabalho e/ou a partir do diagnóstico, tratamento e
grupos ocupacionais e para as quais o nexo causal é de natureza
prevenção dos danos, lesões ou doenças provocados pelo trabalho, eminentemente epidemiológica. A hipertensão arterial e as neopla-
no indivíduo e no coletivo de trabalhadores. sias malignas (cânceres), em determinados grupos ocupacionais ou
Apesar de fugir aos objetivos deste texto, que trata dos aspec- profissões, constituem exemplo típico.
tos patogênicos do trabalho, potencialmente produtor de sofrimen- GRUPO III: doenças em que o trabalho é provocador de um dis-
to, adoecimento e morte, é importante assinalar que, na atualida- túrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexis-
de, cresce em importância a valorização dos aspectos positivos e tente, ou seja, concausa, tipificadas pelas doenças alérgicas de pele
promotores de saúde, também presentes no trabalho, que devem e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em determinados grupos
estar contemplados nas práticas de saúde. ocupacionais ou profissões

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Entre os agravos específicos estão incluídas as doenças profissionais, para as quais se considera que o trabalho ou as condições em que
ele é realizado constituem causa direta. A relação causal ou nexo causal é direta e imediata. A eliminação do agente causal, por medidas
de controle ou substituição, pode assegurar a prevenção, ou seja, sua eliminação ou erradicação. Esse grupo de agravos, Schilling I, tem,
também, uma conceituação legal no âmbito do SAT da Previdência Social e sua ocorrência deve ser notificada segundo regulamentação na
esfera da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho.

Os outros dois grupos, Schilling II e III, são formados por doenças consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por múltiplos fatores
de risco. Nessas doenças comuns, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco, ou seja, um atributo ou uma exposição que
estão associados com uma probabilidade aumentada de ocorrência de uma doença, não necessariamente um fator causal (Last, 1995).
Portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de natureza epidemiológica, seja pela observação de um excesso
de freqüência em determinados grupos ocupacionais ou profissões, seja pela ampliação quantitativa ou qualitativa do espectro de deter-
minantes causais, que podem ser melhor conhecidos a partir do estudo dos ambientes e das condições de trabalho.
A eliminação desses fatores de risco reduz a incidência ou modifica o curso evolutivo da doença ou agravo à saúde.
Classicamente, os fatores de risco para a saúde e segurança dos trabalhadores, presentes ou relacionados ao trabalho, podem ser
classificados em cinco grandes grupos:
FÍSICOS: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas (frio e calor), pressão atmosférica anormal, entre
outros;
QUÍMICOS: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partículas e poeiras minerais e vegetais, comuns nos
processos de trabalho (ver a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho);
BIOLÓGICOS: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais, laboratórios e na agricultura e pecuária (ver
a coluna de agentes etiológicos ou fatores de risco na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho);
ERGONÔMICOS E PSICOSSOCIAIS: decorrem da organização e gestão do trabalho, como, por exemplo: da utilização de equipamen-
tos, máquinas e mobiliário inadequados, levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação,
ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturno; monotonia ou ritmo de trabalho excessivo, exigências de
produtividade, relações de trabalho autoritárias, falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros;
MECÂNICOS E DE ACIDENTES: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização,
rotulagem de produtos e outros que podem levar a acidentes do trabalho.

AÇÕES DECORRENTES DO DIAGNÓSTICO DE UMA DOENÇA OU DANO RELACIONADO AO TRABALHO


Uma vez estabelecida a relação causal ou nexo entre a doença e o trabalho desempenhado pelo trabalhador, o profissional ou a equi-
pe responsável pelo atendimento deverá assegurar:
• a orientação ao trabalhador e a seus familiares, quanto ao seu problema de saúde e os encaminhamentos necessários para a recu-
peração da saúde e melhoria da qualidade de vida;
• afastamento do trabalho ou da exposição ocupacional, caso a permanência do trabalhador represente um fator de agravamento do
quadro ou retarde sua melhora, ou naqueles nos quais as limitações funcionais impeçam o trabalho;
• o estabelecimento da terapêutica adequada, incluindo os procedimentos de reabilitação;
• solicitação à empresa da emissão da CAT para o INSS, responsabilizando-se pelo preenchimento do Laudo de Exame Médico (LEM).
Essa providência se aplica apenas aos trabalhadores empregados e segurados pelo SAT/INSS. No caso de funcionários públicos, por exem-
plo, devem ser obedecidas as normas específicas (ver capítulo 5);
• notificação à autoridade sanitária, por meio dos instrumentos específicos, de acordo com a legislação da saúde, estadual e munici-
pal, viabilizando os procedimentos da vigilância em saúde. Também deve ser comunicado à DRT/MTE e ao sindicato da categoria a que o
trabalhador pertence.

A decisão quanto ao afastamento do trabalho é difícil, exigindo que inúmeras variáveis de caráter médico e social sejam consideradas:
• os casos com incapacidade total e/ou temporária devem ser afastados do trabalho até melhora clínica, ou mudança da função e
afastamento da situação de risco;
• no caso do trabalhador ser mantido em atividade, devem ser identificadas as alternativas compatíveis com as limitações do paciente
e consideradas sem risco de interferência na evolução de seu quadro de saúde;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• quando o dano apresentado é pequeno, ou existem ativida- São apresentadas, a seguir, algumas considerações sobre o
des compatíveis com as limitações do paciente e consideradas sem conceito de risco e fator ou condições de risco para a saúde; as
risco de agravamento de seu quadro de saúde, ele pode ser rema- metodologias disponíveis para o reconhecimento dos riscos; algu-
nejado para outra atividade, em tempo parcial ou total, de acordo mas das alternativas para a eliminação ou a redução da exposição
com seu estado de saúde; às condições de risco para a saúde e a melhoria dos ambientes de
• quando houver necessidade de afastar o paciente do traba- trabalho visando à proteção da saúde do trabalhador. Mais infor-
lho e/ou de sua atividade habitual, o médico deve emitir relatório mações e o aprofundamento dessas questões podem ser obtidos
justificando as razões do afastamento, encaminhando-o ao médico na bibliografia relacionada ao final do capítulo. Identificação e Ava-
da empresa, ou ao responsável pelo PCMSO. Se houver indícios de liação das Condições de Risco
exposição de outros trabalhadores, o fato deverá ser comunicado à O conceito de risco aqui utilizado deriva da palavra inglesa ha-
empresa e solicitadas providências corretivas. zard, que vem sendo traduzida para o português como perigo ou
fator de risco ou situação de risco. Segundo Trivelato (1998), o con-
Atenção especial deve ser dada à decisão quanto ao retorno ao ceito de risco é bidimensional, representando a possibilidade de
trabalho. É importante avaliar se a empresa ou a instituição oferece um efeito adverso ou dano e a incerteza da ocorrência, distribuição
programa de retorno ao trabalho, com oferta de atividades com- no tempo ou magnitude do resultado adverso. Assim, de acordo
patíveis com a formação e a função do trabalhador, que respeite com essa definição, situação ou fator de risco é “uma condição ou
suas eventuais limitações em relação ao estágio pré-lesão e pre- conjunto de circunstâncias que tem o potencial de causar um efei-
pare colegas e chefias para apoiar o trabalhador na nova situação, to adverso, que pode ser: morte, lesões, doenças ou danos à saú-
alargando a concepção de capacidade para o trabalho adotada na de, à propriedade ou ao meio ambiente”. Ainda segundo Trivelato
empresa, de modo a evitar a exclusão do trabalhador no seu local (1998), os fatores de risco podem ser classificados, segundo sua
de trabalho. natureza, em:
Considerando o caráter de construção da Área de Saúde do Tra-
balhador, é importante que os profissionais dos serviços de saúde AMBIENTAL:
estejam imbuídos da responsabilidade de produção e divulgação do - físico: alguma forma de energia: radiação, ruído, vibração,
conhecimento acumulado etc.;
- químico: substâncias químicas, poeiras, etc.;
BASES TÉCNICAS PARA O CONTROLE DOS FATORES DE RISCO - biológico: bactérias, vírus, fungos, etc.;
E PARA A MELHORIA DOS AMBIENTES E DAS CONDIÇÕES DE TRA-
BALHO SITUACIONAL: instalações, ferramentas, equipamentos, mate-
A eliminação ou a redução da exposição às condições de risco e riais, operações, etc.;
a melhoria dos ambientes de trabalho para promoção e proteção da HUMANO OU COMPORTAMENTAL: decorrentes da ação ou
saúde do trabalhador constituem um desafio que ultrapassa o âm- omissão humana.
bito de atuação dos serviços de saúde, exigindo soluções técnicas,
às vezes complexas e de elevado custo. Em certos casos, medidas O reconhecimento das condições de risco no trabalho envolve
simples e pouco onerosas podem ser implementadas, com impac- um conjunto de procedimentos que visam a definir se existe ou não
tos positivos e protetores para a saúde do trabalhador e o meio um problema para a saúde do trabalhador e, no caso afirmativo, a
ambiente. estabelecer sua provável magnitude, a identificar os agentes poten-
O controle das condições de risco para a saúde e melhoria dos ciais de risco e as possibilidades de exposição. É uma etapa funda-
ambientes de trabalho envolve as seguintes etapas: mental do processo que, apesar de sujeita às limitações dos recur-
• identificação das condições de risco para a saúde presentes sos disponíveis e a erros, servirá de base para a decisão quanto às
no trabalho; ações a serem adotadas e para o estabelecimento de prioridades.
• caracterização da exposição e quantificação das condições de Reconhecer o risco significa identificar, no ambiente de trabalho,
risco; fatores ou situações com potencial de dano, isto é, se existe a possi-
• discussão e definição das alternativas de eliminação ou con- bilidade de dano. Avaliar o risco significa estimar a probabilidade e
trole das condições de risco; a gravidade de que o dano ocorra.
• implementação e avaliação das medidas adotadas. Para reconhecer as condições de risco é necessário investigar
as possibilidades de geração e dispersão de agentes ou fatores noci-
É muito importante que os trabalhadores participem de to- vos associados aos diferentes processos de trabalho, às operações,
das as fases desse processo, pois, como foi assinalado no capítulo às máquinas e a outros equipamentos, bem como às diferentes
anterior, em muitos casos, a despeito de toda sofisticação técnica, matérias-primas, aos produtos químicos utilizados, aos eventuais
apenas os trabalhadores são capazes de informar sutis diferenças subprodutos e aos resíduos. Os possíveis efeitos dos agentes poten-
existentes entre o trabalho prescrito e o trabalho real, que explicam cialmente presentes sobre a saúde devem ser estudados.
o adoecimento e o que deve ser modificado para que se obtenha os Assim, o conhecimento disponível sobre os riscos potenciais
resultados desejados. que ocorrem em determinada situação de trabalho deve ser acom-
Na atualidade, a preocupação com o meio ambiente e a saú- panhado de uma observação cuidadosa in loco das condições reais
de das populações residentes na área de influência das unidades de exposição dos trabalhadores.
produtivas vem fortalecendo o movimento que busca a mudança
de processos de trabalho potencialmente lesivos para a saúde das
populações e o ambiente, o que pode ser um aliado importante
para a saúde do trabalhador.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Deve ser lembrado que existe uma diferença entre a capacidade que tem um agente para causar dano e a possibilidade de que este
agente cause dano. O potencial intrínseco de um agente tóxico para lesar a saúde só se concretiza se houver condições para que este
agente alcance o(s) órgão(s) crítico(s) que ele pode danificar. Por exemplo: a sílica livre cristalina é o agente etiológico da silicose, portanto
um bloco de granito “encerra” o risco de silicose. Entretanto, esse bloco só oferecerá risco real de doença se for submetido a algum pro-
cesso de subdivisão que produza partículas suficientemente pequenas para serem inaladas e depositadas nos alvéolos pulmonares. Se o
bloco de granito fizer parte de um monumento, não haverá risco de silicose, porém se este mesmo bloco de granito estiver em um canto
no local de trabalho é importante investigar para que será utilizado. O fato de, no momento, não estar oferecendo risco não significa que
assim será no futuro.
Alguns exemplos, não exaustivos, de agentes químicos, físicos e biológicos que podem oferecer risco para a saúde, bem como de locais
onde podem ocorrer, são apresentados no Quadro VI.
A presença de contaminantes atmosféricos pode passar desapercebida, configurando os riscos escondidos.
A falta de propriedades características ou a presença simultânea de uma multiplicidade de fatores no ambiente de trabalho pode mas-
carar riscos, como, por exemplo, o odor. Quando o risco provém de substâncias ou produtos utilizados é simples associar sua presença com
determinadas operações, como no caso de vapores de solventes em fornos de secagem ou limpeza a seco de vestuário; neblinas de ácido
crômico na cromagem de peças; ou poeira de sílica em operações de jateamento de areia. O mesmo não acontece quando os agentes
químicos ocorrem como subprodutos, ou resíduos, ou são produzidos acidentalmente como resultado de reações químicas de combustão
ou pirólise, decomposição de certos materiais, ou aparecem como impurezas.

108
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O problema das impurezas deve ser cuidadosamente examinado, visto que certos produtos químicos podem conter contaminantes
muito mais tóxicos do que eles próprios, oferecendo riscos para a saúde. Por exemplo, o benzeno, altamente tóxico e cancerígeno, pode
ser encontrado como impureza na gasolina e em outros solventes menos tóxicos, como o tolueno e o xileno. Certos talcos podem conter
asbesto como impureza. A arsina e a fosfina, gases muito tóxicos, podem ser encontrados como impurezas no acetileno, que é muito me-
nos tóxico.
Produtos vendidos sob nomes comerciais, sem informação detalhada quanto à composição química, geralmente criam problemas
para o reconhecimento de riscos. Tais informações devem ser exigidas dos fabricantes e fornecedores, uma vez que análises de amostras
de tais produtos são trabalhosas e caras. Na atualidade, estão disponíveis bases de dados com informações sobre produtos a partir dos
nomes comerciais, incluindo informações toxicológicas. Algumas dessas fontes de informação estão referenciadas na bibliografia, ao final
deste capítulo.
Outro aspecto importante da toxicidade das substâncias químicas refere-se às suas propriedades físicas.
A proporção dos componentes de um vapor pode diferir muito de sua proporção na mistura líquida que lhe deu origem.
Por exemplo, uma mistura contendo 10% de benzeno e 90% de xileno na fase líquida, conterá 65% de benzeno e 35% de xileno na fase
de vapor, portanto, uma proporção muito maior do componente mais tóxico. Líquidos contendo pequenas proporções de impurezas muito
tóxicas porém, com alta pressão de vapor, podem dar origem a vapores perigosos, se inalados.
Quanto às poeiras, sua composição pode diferir muito da composição da rocha que lhe deu origem, devido às diferenças na friabili-
dade dos componentes. Também seu aspecto visual pode enganar. Nuvens de poeira visíveis podem ser menos prejudiciais que nuvens
praticamente invisíveis, pois a fração respirável de algumas poeiras, a mais nociva, pode não ser vista a olho nu. Devido ao seu pequeno
tamanho e pouco peso, podem ficar em suspensão no ar durante muito tempo e atingir grandes distâncias, afetando trabalhadores que
parecem não estar expostos.
Outro risco, às vezes esquecido, decorre da falta de oxigênio, que pode levar rapidamente à morte. Pode ocorrer quando certos conta-
minantes atmosféricos, não necessariamente tóxicos em si, deslocam o oxigênio, como no caso de recintos fechados onde há fermentação
e o CO2desloca o oxigênio.
Com exceção das radiações ionizantes, os riscos de natureza física são geralmente fáceis de reconhecer, pois atuam diretamente sobre
os sentidos. No Quadro VIII estão relacionados alguns exemplos de agentes físicos e respectivas situações de exposição.

109
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A exposição aos agentes biológicos está geralmente associada ao trabalho em hospitais, laboratórios de análises clínicas e atividades
agropecuárias, porém pode ocorrer, também, em outros locais. O fato de que frequentemente ocorrem em situações não-ocupacionais
complica o estabelecimento do nexo causal. Os agentes biológicos incluem vírus, bactérias, riquétsias*, protozoários e fungos e seus es-
poros. No Quadro IX, apresentado a seguir, estão relacionados alguns exemplos desses agentes e as respectivas situações ocupacionais de
exposição.
Os fatores de adoecimento relacionados à organização do trabalho, em geral considerados nos riscos ergonômicos, podem ser iden-
tificados em diversas atividades, desde a agricultura tradicional até processos de trabalho modernos que incorporam alta tecnologia e
sofisticadas estratégias de gestão. Os processos de reestruturação produtiva e globalização da economia de mercado, em curso, têm
acarretado mudanças significativas na organização e gestão do trabalho com repercussões importantes sobre a saúde do trabalhador.
Entre suas consequências destacam-se os problemas osteomusculares e o adoecimento mental relacionados ao trabalho, que crescem
em importância em todo o mundo. A exigência de maior produtividade, associada à redução contínua do contingente de trabalhadores, à
pressão do tempo e ao aumento da complexidade das tarefas, além de expectativas irrealizáveis e as relações de trabalho tensas e precá-
rias, constituem fatores psicossociais responsáveis por situações de estresse relacionado ao trabalho.
Um enfoque mais detalhado dessas questões pode ser encontrado nos capítulos 10 e 18 deste Manual de Procedimentos.
O reconhecimento das condições de risco presentes no trabalho pode ser realizado com o auxílio de metodologias variadas, porém
todas elas incluem três etapas fundamentais:
a) o estudo inicial da situação;
b) inspeção do local de trabalho para observações detalhadas;
c) análise dos dados obtidos.

O estudo inicial da situação é indispensável para que fatores ou condições de risco não sejam negligenciados durante a inspeção do
local de trabalho, requerendo conhecimento técnico, experiência e acesso a fontes especializadas e atualizadas de informação. O estudo
preliminar do(s) processo(s) de trabalho, que precede a inspeção, pode ser feito utilizando as fontes de informação disponíveis (literatura
especializada, bancos de dados eletrônicos, relatórios técnicos de levantamentos prévios realizados no mesmo local ou em locais seme-
lhantes) e por meio de perguntas antecipadas à própria empresa que vai ser estudada, como, por exemplo, a lista de produtos compra-
dos com a respectiva taxa de consumo (semanal ou mensal), como e onde são utilizados. Assim é possível determinar a priori quais as
principais possibilidades de risco, o que será de grande utilidade e otimizará o tempo durante a inspeção propriamente dita. Concluída a
investigação dos agentes de risco potenciais, que podem ocorrer no local de trabalho, é necessário verificar quais são seus possíveis efeitos
para a saúde. Além disso, também devem ser consultadas as tabelas contendo os Limites de Exposição Ocupacional (LEO) ou Limites de
Tolerância (LT), pois os valores de exposição permitidos para os diferentes agentes dão uma idéia do grau de dano que podem causar e são
úteis para se fazer comparações e estabelecer prioridades.
Por exemplo, um agente químico cujo LT é 0,5 mg/m3será muito mais perigoso que um agente cujo LT é 200 mg/m3.
As informações relativas ao estado de saúde do trabalhador, incluindo as queixas, sintomas observados ou outros efeitos sobre a saú-
de e alterações precoces nos parâmetros de saúde ou nos resultados de monitorização biológica, também podem auxiliar na identificação
de condições de risco existentes no ambiente de trabalho. Uma colaboração estreita entre os responsáveis pelo estudo do ambiente e
das condições de trabalho (higienistas, engenheiros de segurança, ergonomistas) e os responsáveis pela saúde do trabalhador (médicos,
psicólogos, enfermeiros do trabalho, toxicologistas) é indispensável para uma avaliação correta das exposições ocupacionais. O enfoque
multidisciplinar e o trabalho em equipe permitem desvendar relações causais que de outra forma podem passar despercebidas.
O potencial de causar dano de um determinado agente encontrado no ambiente de trabalho é importante para o estabelecimento de
prioridades, mesmo para as observações iniciais, alertando para a presença de condições graves, que requerem ação imediata, como no
caso da exposição a substâncias muito tóxicas, cancerígenas ou teratogênicas. O modo de ação de um agente sobre o organismo (rápido,
lento) e a possibilidade de penetrar através da pele intacta são dados importantes para orientar as observações in loco e o estabelecimen-
to da estratégia de amostragem, se necessária.
Relatórios e resultados de investigações prévias devem ser analisados, considerando a possibilidade de que tenham ocorrido mudan-
ças nas condições de trabalho.
Na inspeção do local de trabalho é importante definir um ponto focal que, necessariamente, deve ser uma pessoa que conheça bem
todo o processo de trabalho, assegurando o acesso às pessoas que possam dar informações pertinentes, principalmente os trabalhadores.
Todas as informações colhidas devem ser anotadas com clareza, dentro de um formato preparado com antecedência, incluindo check-lists
relativos aos possíveis fatores de risco em cada operação. É indispensável obter ou preparar um fluxograma do processo.

110
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Se não for possível antes, quando no momento da inspeção do influência, aumentando sensivelmente o depósito de poeira em
local de trabalho deve ser obtida uma lista dos materiais e diferen- todas as regiões do aparelho respiratório. Algumas substâncias
tes produtos comprados e utilizados. Informações quanto a taxas podem ser absorvidas através da pele intacta e passar à corrente
de consumo (semanal, mensal) e de como e onde são utilizados po- sangüínea, contribuindo, significativamente, para a absorção to-
dem auxiliar no estabelecimento da ordem de grandeza do provável tal de um agente tóxico. Características das substâncias químicas
risco e na localização das fontes que poderiam escapar à observa- que influenciam a absorção através da pele incluem a solubilidade
ção, particularmente se estiverem escondidas. Nem sempre a utili- (maior solubilidade em lipídios, maior absorção) e o peso molecular
zação de produtos químicos é aparente. Áreas de recebimento de (quanto maior, menor a absorção). Outros fatores que influenciam
materiais e de armazenamento não podem ser esquecidas. Entre as a absorção incluem o tipo de pele, que varia de pessoa para pessoa
perguntas a serem respondidas estão: que substâncias são usadas? e também de uma parte do corpo para outra; a condição da pele,
Em que quantidades? Como e onde? No caso de agentes químicos e como a existência de doenças de pele, tipo eczemas e fissuras; a ex-
poeiras, qual a capacidade de evaporação ou de dispersão? posição prévia aos solventes e o trabalho físico pesado, que estimu-
Outros aspectos que devem ser observados são: tecnologia de la a circulação periférica de sangue. É importante investigar, entre
produção e processos, equipamentos e máquinas, fontes potenciais os agentes potenciais de exposição, quais têm a propriedade de ser
de contaminantes, inclusive condições que possam levar à forma- absorvidos através da pele. Mesmo produtos químicos em forma de
ção acidental, como, por exemplo, o armazenamento inadequado grânulos ou escamas podem oferecer tal risco, se houver contato
de substâncias reativas e circunstâncias que podem influenciar na direto com a pele e se forem solúveis no suor, como, por exemplo,
sua dispersão no ambiente de trabalho, bem como a direção pro- o pentaclorofenol. Essa situação é agravada em locais de trabalho
vável de propagação desses contaminantes a partir da fonte. Possi- quentes. A possibilidade de absorção através da pele modifica os
bilidades de vazamentos e emissões fugitivas em processos fecha- procedimentos referentes à avaliação quantitativa da exposição
dos ou isolados devem ser cuidadosamente investigadas. Entre as por simples amostragem/análise do ar, que não será suficiente para
perguntas a serem respondidas estão: quais as fontes de emissão? avaliar a exposição total.
Trata-se de processo necessário? Pode a tarefa ser executada com Também o controle, por meio da proteção respiratória, não
menor risco? O que pensa o trabalhador? No caso de processo fe- será suficiente para proteger o trabalhador, que deverá incorporar
chado, há possibilidade de emissões fugitivas? práticas de trabalho adequadas, evitando contato com a pele e res-
É importante perguntar sobre processos esporádicos que po- pingos nas roupas e instituir rigorosa higiene pessoal.
dem não estar sendo executados na ocasião da inspeção. Todos os Apesar de a via digestiva ser a menos importante porta de
ciclos do processo devem ser investigados e, de preferência, ob- entrada, em situações ocupacionais essa possibilidade deve ser in-
servados. Os trabalhadores podem dar informações valiosas a esse vestigada e eliminada por meio do estabelecimento de práticas de
respeito. trabalho e de higiene adequadas.
As características gerais do local de trabalho e a possível in- O nível de atividade física exigido tem importância fundamen-
fluência de ambientes contíguos também devem ser observadas. tal, também, nos casos de sobrecarga térmica pois, quanto mais
Exemplo: podem ocorrer intoxicações por gases de exaustão de intensa, maior será a produção de calor metabólico que deve ser
veículos deixados com o motor ligado numa plataforma de carga/ dissipado.
descarga adjacente a janelas abertas de um local de trabalho onde A avaliação da dose realmente recebida pelo trabalhador, seja
não há contaminantes atmosféricos prejudiciais. Situações ainda de um agente químico ou de um agente físico presentes na situa-
mais graves podem ocorrer, e têm ocorrido, quando contaminantes ção de trabalho, depende da concentração, quando se trata de um
tóxicos são conduzidos, pelo vento ou por um escape, para pontos contaminante atmosférico, ou da intensidade, quando se refere a
um agente físico, e do tempo de exposição. Exemplos: segundo as
de entrada de ar de sistemas de ventilação.
normas vigentes, a exposição ao ruído não deve ultrapassar 85 dBA
O layout do ambiente deve ser anotado, os postos de trabalho
para uma exposição ocupacional de 8 horas diárias, porém pode ir
e as tarefas devem ser observados e analisados.
a 88 dBA para 4 horas diárias ou a 91 dBA para 2 horas diárias. A
Além de estudar a possível ocorrência de condições de risco no
exposição ao calor em um ambiente com Índice de Bulbo Úmido -
local de trabalho e os efeitos nocivos que podem causar, é necessá-
Termômetro de Globo (IBUTG) igual a 29,5o C, para trabalho mode-
rio observar as condições de exposição, que incluem aspectos como
rado, não é aceitável para trabalho contínuo, porém o seria para um
as vias de entrada no organismo, nível de atividade física e o tempo
esquema de 50% de trabalho e 50% de descanso em local fresco,
de exposição. A investigação das condições de exposição também
por hora, ou seja, 30 minutos de trabalho, 30 minutos de descanso.
é necessária para a definição da estratégia de amostragem, para Para os agentes químicos, a influência do tempo de exposição
uma avaliação quantitativa correta e o planejamento da prevenção varia para agentes de ação rápida no organismo ou aqueles de ação
e do controle. Sobre as vias de entrada no organismo de agentes crônica. Quando a ação for rápida, mesmo exposições curtas devem
químicos e poeiras é importante considerar que, nos ambientes ser evitadas. A exposição a agentes cancerígenos e teratogênicos
de trabalho, a via respiratória é a mais importante. É influenciada deve ser eliminada e estar sob controle rigoroso.
pelo modo de respirar do trabalhador, se pelo nariz ou pela boca e Sobre as flutuações nas condições de exposição às substân-
pelo tipo de atividade, uma vez que o trabalho mais pesado requer cias químicas, na maioria dos casos, a liberação de contaminantes
maior ventilação pulmonar. atmosféricos varia com o lugar e o tempo. Possibilidades de flutu-
Em repouso, uma pessoa respira, em média de 5 a 6 litros por ações apreciáveis e de ocorrência de picos de concentração dos
minuto e ao realizar trabalho muito pesado passará a respirar de 30 contaminantes atmosféricos devem ser observadas nos processos
a 50 litros por minuto. No caso das poeiras, o mecanismo de filtros variáveis e nas operações esporádicas, como na abertura de fornos
existente no nariz é importante, podendo ocorrer uma diferença de secagem ou de reatores de polimerização. Essas informações são
apreciável entre a quantidade de poeira inalada e depositada em de importância fundamental para a elaboração de estratégias de
diferentes regiões do aparelho respiratório, dependendo do tipo amostragem, na avaliação quantitativa e para o planejamento de
de respiração, se nasal ou oral. A respiração pela boca aumenta o medidas de prevenção e controle que, em certos casos, devem visar
depósito de poeira respirável na região alveolar, em relação à res- a uma fase específica do processo de trabalho, como, por exemplo,
piração pelo nariz. O grau de atividade física também tem grande a proteção respiratória na abertura de um forno de secagem.

111
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O número de trabalhadores expostos que devem ser protegi- A análise das informações obtidas deverá orientar o estabeleci-
dos influi na escolha dos métodos e nas considerações econômicas. mento das prioridades e a definição das ações posteriores, que são,
Quando poucos trabalhadores estão expostos, poderá ser aceitável em princípio, as seguintes:
controlar a exposição por meio do uso de Equipamentos de Pro- • se a condição de risco é evidente e seu potencial de causar
teção Individual (EPI), com limitação de exposição e sob estrita vi- dano para a saúde é grave, este reconhecimento deve bastar para
gilância médica. Porém, não se pode esquecer que o ambiente é que se recomendem medidas preventivas imediatas, sem esperar
um todo e mesmo se poucos trabalhadores estão expostos, agentes pelo processo de avaliação quantitativa da exposição, geralmente
nocivos podem sair do ambiente de trabalho para o exterior e cau- demorado e dispendioso. Esse é o caso de operações reconhecida-
sar danos às comunidades vizinhas e ao meio ambiente em geral, mente perigosas, como, por exemplo, o uso de jato de areia, trans-
exigindo que sejam controlados na fonte. ferência de pós muito tóxicos, solda elétrica em locais confinados,
Os sistemas de controle existentes, como, por exemplo, equi- spray de pesticidas, transferência de metais em fusão, que são rea-
pamentos de ventilação local exaustora e outros sistemas eventu- lizadas sem o controle necessário;
almente existentes, devem ser cuidadosamente examinados para • se ficar evidenciado que não há risco, não há necessidade
evitar falsa segurança. de avaliação quantitativa da exposição, porém, devem ser anotadas
Processos fechados devem ser testados para vazamentos e quaisquer mudanças futuras que possam alterar a situação de risco;
emissões fugitivas. A existência de um sistema de ventilação exaus- • se a situação de risco não é clara, é necessária uma avaliação
tora não significa que haja controle efetivo, pois o sistema pode quantitativa para confirmar a presença e determinar a magnitude
não estar funcionando adequadamente. Devem ser solicitados aos das condições de risco.
responsáveis os planos e os esquemas de verificação e manuten-
ção periódica do sistema, pois se isto não for feito rotineira e cor- As avaliações qualitativas para tomada de decisão quanto à
retamente, mesmo sistemas inicialmente excelentes, com o tempo, prevenção e controle têm recebido atenção cada vez maior, devido
perderão sua eficiência. ao fato de que é impossível fazer avaliações quantitativas corretas
Deve também ser observado se os contaminantes não estão em todas as situações, além de serem muito mais caras e demo-
sendo jogados do ambiente de trabalho para o ambiente exterior. A radas. Entretanto, as avaliações qualitativas devem seguir uma
disponibilidade de EPI para os trabalhadores não significa que eles metodologia adequada, como, por exemplo, o Banding Approach,
estejam protegidos, pois os equipamentos podem não ser eficien- desenvolvido na Inglaterra, que é um guia para decisões quanto a
tes. No caso de máscaras para proteção respiratória, por exemplo, medidas de controle para contaminantes atmosféricos, sem utilizar
estas podem não estar ajustadas, podem ter vazamentos, os filtros avaliações quantitativas e comparação com Limites de
podem estar vencidos ou ser inadequados. Filtros para partículas Exposição Ocupacional (HSE, 1999). A idéia é estimar o grau de
não servem na presença de vapores. Nenhum filtro serve, se houver risco a partir de informações toxicológicas, quantidades utilizadas
falta de oxigênio. das substâncias, possibilidade de dispersão ou evaporação e con-
Em determinadas situações podem ser utilizados instrumen- dições de uso e exposição. As informações obtidas são comparadas
tos para o reconhecimento de condições de risco, de leitura direta, com tabelas previamente elaboradas que indicam os controles ne-
úteis para uma triagem inicial e verificação da presença de um de- cessários. Em situações mais graves e complexas, recomenda-se a
terminado agente na atmosfera. consulta a especialistas em prevenção e controle de riscos.
Ainda que os resultados não sejam muito exatos e precisos, po- A abordagem proposta pela Ergonomia para a análise do tra-
derão servir para elucidar suspeita de riscos escondidos. balho difere da metodologia utilizada pela Higiene Ocupacional. Os
Avaliações qualitativas ou semiquantitativas podem ser sufi- fundamentos de sua prática baseiam-se no estudo do trabalho, par-
cientes nessa etapa preliminar. ticularmente na identificação das diferenças entre o trabalho pres-
Um cuidado particular deve ser tomado quanto à possibilidade crito e o trabalho real, que muitas vezes explicam o adoecimento
de falsos negativos, particularmente quando se tratar de exposição dos trabalhadores.
potencial a agentes muito perigosos, altamente tóxicos, canceríge- A complexidade crescente dos novos processos de trabalho,
nos ou teratogênicos, para os quais mesmo concentrações muito organizados a partir da incorporação das inovações tecnológicas e
baixas são significativas. Nesses casos, o limite mínimo de detec- de novos métodos gerenciais, tem gerado formas diferenciadas de
ção é crítico. Instrumentos pouco sensíveis poderão não registrar sofrimento e adoecimento dos trabalhadores, particularmente na
concentrações muito baixas, levando a uma suposição errônea de esfera mental. Em muitas dessas situações, as prescrições clássicas
exposição zero ao invés de detecção zero, o que pode ter graves da Higiene do
conseqüências para os trabalhadores. Além disso, deve-se ter cui- Trabalho foram atendidas, porém permanecem presentes ou
dado com outras interferências que podem mascarar os resultados. são acrescentadas outras condições de risco ergonômico e psicos-
Não se deve negligenciar a proteção das pessoas que fazem os sociais decorrentes da organização do trabalho, responsáveis pela
levantamentos, pois poderão estar expostas a riscos sérios, como, produção do adoecimento.
por exemplo, a falta de oxigênio, altas concentrações de H2 S ao
entrar em local confinado ou cancerígenos. Devem ter à sua dispo-
IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DOS FATORES DE RISCO NA
sição EPI adequados e instrumentos de leitura direta para testar,
PERSPECTIVA DA HIGIENE DO TRABALHO E DA ERGONOMIA
antes de entrar, atmosferas potencialmente perigosas. Esses pro-
Os princípios básicos da tecnologia de controle, propostos pela
cedimentos podem ser pedagógicos para as empresas e para os
Higiene do Trabalho, podem ser enunciados como:
trabalhadores.
a) evitar que um agente potencialmente perigoso ou tóxico
Concluída a inspeção do local de trabalho, é essencial redigir
para a saúde seja utilizado, formado ou liberado;
o relatório. Esse deve ser objetivo e exato, indicando claramente
b) se isso não for possível, contê-lo de tal forma que não se
as características do local de trabalho, o nome e as coordenadas
propague para o ambiente;
do ponto focal na empresa, todas as condições de risco observadas
c) se isso não for possível ou suficiente, isolá-lo ou diluí-lo no
e demais fatores relevantes. Deve ser elaborado de tal forma que
outras pessoas possam ter uma ideia clara da situação. ambiente de trabalho; e, em último caso,

112
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

d) bloquear as vias de entrada no organismo: respiratória, pele, RECONHECIMENTO E AVALIAÇÃO DOS AGENTES E FATORES
boca e ouvidos, para impedir que um agente nocivo atinja um órgão QUE PODEM OFERECER RISCO PARA A SAÚDE E PARA O MEIO AM-
crítico, causando lesão. BIENTE, INCLUINDO A DEFINIÇÃO DE SEU IMPACTO: devem ser de-
terminadas e localizadas as fontes de risco; as trajetórias possíveis
A cadeia de transmissão do risco deve ser quebrada o mais pre- de propagação dos agentes nos ambientes de trabalho; os pontos
cocemente possível. Assim, a hierarquia dos controles deve buscar, de ação ou de entrada no organismo; o número de trabalhadores
sequencialmente, o controle do risco na fonte; o controle na traje- expostos e a existência de problemas de saúde entre os trabalhado-
tória (entre a fonte e o receptor) e, no caso de falharem os anterio- res expostos ao agente. A interpretação dos resultados vai possibi-
res, o controle da exposição ao risco no trabalhador. Quando isso litar conhecer o risco real para saúde e a definição de prioridades
não é possível, o que frequentemente ocorre na prática, o objetivo para a ação;
passa a ser a redução máxima do agente agressor, de modo a mini- TOMADA DE DECISÃO: resulta do reconhecimento de que há
mizar o risco e seus efeitos sobre a saúde. necessidade de prevenção, com base nas informações obtidas na
A informação e o treinamento dos trabalhadores são compo- etapa anterior. A seleção das opções de controle deve ser adequada
nentes importantes das medidas preventivas relativas aos ambien- e realista, levando em consideração a viabilidade técnica e econô-
tes de trabalho, particularmente se o modo de executar as tarefas mica de sua implementação, operação e manutenção, bem como a
propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a saúde disponibilidade de recursos humanos e financeiros e a infraestrutu-
ou influencia as condições de exposição, como, por exemplo, a posi- ra existente;
ção em relação à tarefa/máquina, a possibilidade de absorção atra- PLANEJAMENTO: uma vez identificado o problema, tomada a
vés da pele ou ingestão, o maior dispêndio de energia, entre outras. decisão de controlá-lo, estabelecidas as prioridades de ação e dis-
Em situações especiais, podem ser adotadas medidas que limi- ponibilizados os recursos, deve ser elaborado um projeto detalhado
tem a exposição do trabalhador por meio da redução do tempo de quanto às medidas e procedimentos preventivos a serem adotados;
exposição, treinamento específico e utilização de EPI.
As estratégias para o controle dos riscos devem visar, princi- AVALIAÇÃO.
palmente, à prevenção, por meio de medidas de engenharia de Sobre as medidas organizacionais e gerenciais a serem ado-
processo que introduzam alterações permanentes nos ambientes e tadas visando à melhoria das condições de trabalho e qualidade
nas condições de trabalho, incluindo máquinas e equipamentos au- de vida dos trabalhadores, particularmente para a prevenção dos
tomatizados que dispensem a presença do trabalhador ou de qual- transtornos mentais e do sofrimento mental relacionado ao tra-
quer outra pessoa potencialmente exposta. Dessa forma, a eficácia balho e de LER/DORT, sugere-se que sejam consultados o capítu-
das medidas não dependerá do grau de cooperação das pessoas, lo 10 (Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados ao
como no caso da utilização de EPI. Trabalho) e o capítulo 18 (Doenças do Sistema Osteomuscular e do
O objetivo principal da tecnologia de controle deve ser a modi- Tecido Conjuntivo Relacionadas ao Trabalho). No que se refere às
ficação das situações de risco, por meio de projetos adequados e de condições de trabalho nocivas para a saúde, que decorrem da or-
técnicas de engenharia que: ganização e gestão do trabalho, as medidas recomend das podem
• eliminem ou reduzam a utilização ou a formação de agentes ser resumidas em:
prejudiciais para a saúde, como, por exemplo, a substituição de ma- • aumento do controle real das tarefas e do trabalho por parte
teriais ou equipamentos e a modificação de processos e de formas daqueles que as realizam;
de gestão do trabalho; • aumento da participação real dos trabalhadores nos proces-
• previnam a liberação de tais agentes nos ambientes de tra- sos decisórios na empresa e facilidades para sua organização;
balho, como, por exemplo, os sistemas fechados, enclausuramento, • enriquecimento das tarefas, eliminando as atividades monó-
ventilação local exaustora, ventilação geral diluidora, armazena- tonas e repetitivas e as horas extras;
mento adequado de produtos químicos, entre outras; • estímulo a situações que permitam ao trabalhador o senti-
• reduzam a concentração desses agentes no ar ambiente, mento de que pertencem e/ou de que fazem parte de um grupo;
como, por exemplo, a ventilação local diluidora e limpeza dos locais • desenvolvimento de uma relação de confiança entre traba-
de trabalho. lhadores e demais integrantes do grupo, inclusive superiores hie-
rárquicos;
Todas as possibilidades de controle das condições de risco • estímulo às condições que ensejem a substituição da compe-
presentes nos ambientes de trabalho por meio de Equipamentos tição pela cooperação.
de Proteção Coletiva (EPC) devem ser esgotadas antes de se reco-
mendar o uso de EPI, particularmente no que se refere à proteção
respiratória e auditiva. As estratégias de controle devem incluir os
procedimentos de vigilância ambiental e da saúde do trabalhador.
A vigilância em saúde deve contribuir para a identificação de tra-
balhadores hipersensíveis e para a detecção de falhas nos sistemas
de prevenção. A informação e o treinamento dos trabalhadores
são componentes essenciais das medidas preventivas relativas aos
ambientes de trabalho, particularmente se o modo de executar as
tarefas propicia a formação ou dispersão de agentes nocivos para a
saúde ou influencia as condições de exposição.
Sumariando, as etapas para definição de uma estratégia de
controle incluem:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

114
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

AÇÕES QUE PROMOVAM A PREVENÇÃO E O CONTROLE DE DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS E/OU CRÔNICAS

Principais doenças infectocontagiosas

As doenças infectocontagiosas podem ser causadas por vírus, fungos, bactérias ou parasitas e, dependendo do agente infeccioso,
podem causar doenças com sintomas específicos. Dentre as principais doenças infecciosas, podem ser citadas:
-Doenças infecciosas causadas por vírus: viroses, Zika, ebola, caxumba, HPV e sarampo;
-Doenças infecciosas causadas por bactérias: tuberculose, vaginose, clamídia, escarlatina e hanseníase;
-Doenças infecciosas causadas por fungos: candidíase e micoses;
-Doenças infecciosas causadas por parasitas: doença de Chagas, leishmaniose, toxoplasmose.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A depender do microrganismo causador da doença há o apa-


recimento de sinais e sintomas característicos da doença, sendo os
mais comuns dor de cabeça, febre, náuseas, fraqueza, sensação de
mal-estar e cansaço, especialmente na fase inicial do processo in-
feccioso. Porém, dependendo da doença, podem surgir sintomas
mais graves, como o aumento do fígado, rigidez da nuca, convul-
sões e coma, por exemplo.
Para que seja feito o diagnóstico, é importante ter atenção aos
sinais e sintomas apresentados pela pessoa e ir ao médico para que
seja solicitada a realização de exames laboratoriais e de imagem
para que seja possível a identificação do agente responsável pela
infecção e, assim, seja iniciado o tratamento mais adequado.
Como evitar
Os microrganismos podem ser encontrados em diversos locais,
especialmente em épocas de pandemias, o que faz com que seja
importante e necessário aprender a se proteger contra as doenças,
por isso é recomendado:
-Lavar as mãos com frequência, principalmente antes e após as Devemos destacar que mesmo os parasitas tendo preferência
refeições e após utilizar o banheiro; por climas mais quentes também podem ser encontrados em re-
-Evitar usar o sistema de ar quente para secar as mãos, pois fa- giões de clima frio. Os parasitas que se destacam por se adaptar a
vorece o crescimento dos germes nas mãos, preferir papel toalha; todos tipos de clima são Giardia lamblia (causador de problemas
-Possuir a carteira de vacinação atualizada; intestinais), Cryptosporidium parvum (causador de doenças diarrei-
-Conservar os alimentos na geladeira e manter os alimentos cas) e Trichomonas vaginalis (causador de infecção do trato genital
crus guardados bem separados dos alimentos cozidos; em mulheres e homens).
-Manter a cozinha e o banheiro limpos, pois são os lugares em
que podem ser encontrados microrganismos com mais frequência; Doenças Causadas Por Parasitas
-Evitar o compartilhamento de objetos pessoais, como escovas Uma doença parasitária é aquela cujo fator de infecção é um
de dentes ou lâminas. parasito protozoário ou metazoário (que pode ser cestódeo, trema-
tódeo, nematódeo e artrópode). A ciência que se ocupa de estudar
Além disso é importante levar os animais de estimação ao ve- as doenças causadas por parasitas é a Parasitologia. Conheça a se-
terinário com regularidade, bem como manter suas vacinas em dia, guir algumas doenças que são causadas por parasitas.
pois os animais de estimação podem ser reservatórios de alguns
microrganismos, podendo transmiti-los para os seus donos. Amebíase
O protozoário Entamoeba histolytica é responsável por causar
Doenças Parasitárias uma doença chamada Amebíase. A infecção acontece quando o ser
As doenças chamadas de parasitárias são aquelas causadas humano ingere alimentos que foram mal lavados e estavam infec-
pela infecção (ou infestação) por parasitas como protozoários, in- tados por cistos do protozoário. A forma de cisto é adotada pelo
setos ou vermes. Esse tipo de doença é bem comum em países da Entamoeba histolytica quando se encontra fora do hospedeiro.
África, América Central, América do Sul e no sul da Ásia. Trata-se de
um tipo de infecção que costuma ser comum em crianças e dentre Sintomas
as quais se destacam a esquistossomose, malária entre outras. Os sintomas da amebíase incluem desde diarréias agudas (po-
Para se ter uma ideia do quão comuns são as doenças parasitá- dendo conter sangue) até fortes dores abdominais.
rias saiba que cerca de 6 milhões de pessoas estão infectadas com
parasitas. Basicamente os parasitas são seres primitivos que para Prevenção
sobreviver se instalam dentro ou sobre o corpo de seres humanos, Uma forma bem simples de prevenir a amebíase é manter a
insetos ou outros animais. higiene sempre dia, lave bem as mãos depois de ir ao banheiro, lave
bem frutas e verduras. Além disso, também é indicado evitar o uso
Onde Ocorrem Doenças Parasitárias? de excremento animal como fertilizante para a lavoura e também o
Os parasitas podem ser encontrados em todos os lugares, po- combate a insetos que podem se contaminar e assim se tornarem
rém, tem certa preferência por climas quentes e úmidos. Dessa for- vetores da doença.
ma é bastante comum encontrar parasitas na África sub-saariana,
América Central, América do Sul, Sudeste da Ásia e subcontinente Doença de Chagas
indiano. A transmissão da Doença de Chagas é feita por um inseto cha-
Os locais em que as doenças parasitárias dominam em geral mado de Barbeiro e que pode ser encontrado em muitas regiões do
são regiões pobres que não tem condições de tomar medidas re- Brasil. Alguns desses insetos contêm o protozoário Trypanosoma
almente eficazes. Dentre as medidas principais estão construir es- cruzi e quando picam o ser humano acabam transmitindo o mes-
tações de tratamento da água e esgoto, controlar a população de mo. O protozoário logo adentra o organismo em busca de sangue.
mosquitos e contar com atendimento médico adequado. O grande problema não está na picada, mas sim nas fezes que
o barbeiro jogar sobre a picada que causa coceira. Quando o indi-
víduo que foi picado coça acaba jogando as fezes infectadas pelo
babeiro na sua corrente sanguínea. A contaminação também pode
acontecer através de transfusão de sangue contaminado.

116
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Sintomas Cuidados
Dentre os prováveis sintomas estão febre, aumento do baço Um dos principais inconvenientes dessa doença é o apareci-
e do fígado, crescimento de um ou mais gânglios linfáticos, infla- mento de borbulhas vermelhas sobre a pele, feridas que não cica-
mação do encéfalo, anorexia, inflamação leve do miocárdio dentre trizam com facilidade nos pontos em que o mosquito picou. Essas
outros. feridas evoluem para cascas e com o tempo a pele vai ficando mais
escura. A leishmaniose pode se manifestar nas mucosas da boca,
do nariz e também das partes genitais.

Diagnóstico da Doença de Chagas


O diagnóstico da Doença de Chagas é muito importante, pois
quando a doença evolui para a sua fase aguda pode acarretar em
problemas mais sérios como a insuficiência cardíaca. Em alguns ca-
sos chega a ser necessário o transplante de coração. Em geral den-
tre os pacientes em estado agudo, de 20% a 60%, transportam os
parasitas permanentemente, o restante se cura.

Giardíase Malária
A doença conhecida como Giardíase é causada pelo protozoá- A malária é uma doença que faz parte da história do Brasil prin-
rio Giardia lamblia que pode estar presente na sua forma cística em cipalmente nas regiões Norte e Nordeste do país. A transmissão da
alimentos mal lavados e em água contaminada. Um dos principais doença é feita pelo mosquito Anopheles que possui no seu organis-
problemas dessa doença é o fato de ela reduzir e muito a absorção mo protozoários do gênero Plasmodium.
de nutrientes do trato digestivo o que pode acarretar numa séria
desnutrição. Sintomas
Dentre os sintomas mais comuns da Malária estão febre, can-
Sintomas saço, dor de cabeça entre outros. Essa doença que existe desde a
Os principais sintomas da Giardíase são náuseas, cólicas e diar- pré-história pode ser fatal quando não tratada de forma adequada.
reias.

Tratamento
Em geral o tratamento dessa doença é feito com um medica-
mento chamado ornidazol, numa dose única e via oral. No caso de
apresentar os sintomas procure um médico para que seja prescrita
a medicação necessária.

Leishmaniose
A Leishmaniose é uma doença causada pelos protozoários do
gênero Leishmania.

Sintomas
O sintoma principal dessa doença também é a sua principal
característica, feridas nas mucosas da pele. A forma mais grave de
Leishmaniose é conhecida como Calazar ou Leishmaniose Visceral.

117
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Prevenção
A forma mais eficaz de prevenir a malária é erradicar o mosquito e a vacinação quando se vai visitar uma região endêmica do mos-
quito transmissor.

Toxoplasmose
A transmissão da Toxoplasmose é feita por animais domésticos que possuem em seu organismo o protozoário conhecido como To-
xoplasma gondii.

Sintomas
A Toxoplasmose pode ser assintomática ou então apresentar dores de cabeça, febre, surgimento de ínguas (gânglios linfáticos incha-
dos) entre outros.

118
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Prevenção Leva-se em consideração que a neurocirurgia também é um


A prevenção dessa doença consiste em manter bons hábitos dos fatores que colaboram para o agravamento dessas incapacida-
de higiene e também evitar o contato direto com fezes de animais. des. Fitzsimmon et al. (2007, p. 809) afirmam que “durante o curso
da doença, muitos pacientes com afecções neurológicas exigem tra-
tamento em ambiente de cuidados críticos”. Estes procedimentos
neurocirúrgicos envolvem uma internação de duração curta na Uni-
dade de terapia Intensiva (UTI).
A cirurgia neurológica é indicada para diversos distúrbios neu-
rológicos. Ela é parte integrante do tratamento de pacientes neuro-
lógicos, dentre eles: tumores cerebrais, malformações arterioveno-
sas e aneurismas.
Para uma assistência de qualidade na Unidade de Terapia In-
tensiva, o enfermeiro se faz necessário, já que segundo o Conselho
Federal de Enfermagem (COFEN, 2004), existe a “obrigatoriedade
de haver Enfermeiros em todas as unidades de serviços nos quais
são desenvolvidas ações de Enfermagem que envolvam procedi-
mentos de alta complexidade, comuns na assistência a pacientes
críticos/potencialmente críticos”.
O enfermeiro que possui conhecimento técnico-científico
possui autonomia para lidar com o paciente neurológico e através
desta pode tomar decisões, realizar intervenções e diagnósticos de
enfermagem. Ele se vê diante de situações que requerem o mínimo
de raciocínio clínico para solucionar problemáticas. Por assim dizer,
ESTRUTURA, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA
o enfermeiro necessita sempre buscar aprofundar e ampliar, seus
ENFERMAGEM DENTRO DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE
conhecimentos na sua área de atuação, sem esquecer o enfoque
interdisciplinar e/ou multidimensional.
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado Fitzsimmon et al., (2007, p. 798) dizem que “como parte da
na matéria de GOVERNANÇA E GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE equipe multidisciplinar, a enfermeira desempenha um papel central
SAÚDE - SUS no cuidado ao paciente durante a doença. Ela participa no diagnós-
tico, tratamento e cuidado de acompanhamento do paciente”.
SINAIS E SINTOMAS QUE INDICAM DISTÚRBIOS CLÍ- A prevenção do aumento da PIC, ou hipertensão intracrania-
NICOS E PSICOLÓGICOS E SUAS COMPLICAÇÕES NO na, é uma função de primordial importância para a enfermagem ao
ORGANISMO AVALIANDO A SUA GRAVIDADE cuidar de um paciente com lesão neurológica. Em primeiro lugar, é
essencial que a enfermeira realize uma avaliação neurológica basal
no paciente, sobre a qual possa ser analisado se houver uma pio-
Cuidados de enfermagem ao paciente com problemas nos ra adicional. Em termos gerais, o aumento da PIC manifesta-se por
sistemas orgânicos neurológico, respiratório, cardiovascular, di- comprometimento geral de todos os aspectos da função neurológi-
gestório, renal, urológico, ginecológico, endócrino,hematológico, ca (HILTON, 2007, p. 775).
musculoesquelético e dermatológico. O nível de consciência diminui à medida que a PIC se eleva.
Inicialmente, o paciente pode evidenciar inquietação, confusão e
Pacientes com Problemas Neurológicos
combatividade. Isso descompensa, então, os níveis inferiores de
As doenças neurológicas podem ter diferentes origens: here-
consciência, variando da letargia até a obnubilação e ao coma. As
ditária/genética ou congênita, ou seja, dependente de um distúr-
reações pupilares começam a diminuir, com pupilas lentamente
bio do desenvolvimento embrionário ou fetal do sistema Nervoso
reativas até chegarem a pupilas fixas e dilatadas. O exame pupilar
Central ou Periférico; adquirida ao longo dos diferentes períodos da
deve ser realizado e deve incluir o tamanho e simetria (comparação
vida, desde a fase neonatal até à velhice.
do lado Direito e Esquerdo), fotorreação e simetria. A agitação, as
Segundo O’Sullivan e Schmitz, (2004 apud ANDRADE et al.,
contraturas musculares, os tremores e relacionar a presença de ce-
2010, p. 156), o “paciente com sequelas neurológicas apresenta
faleia com variações de PA.
uma série de alterações orgânicas e psíquicas em decorrência da
não aceitação da doença e, consequente, não aceitação do seu cor- A função motora também declina e o paciente começará a
po, visualizado como representante desta condição”. mostrar atividade motora anormal, presença de flexão ou exten-
Os distúrbios neurológicos comumente causam lesões tempo- são anormal. Os achados tardios são alterações nos sinais vitais. As
rárias ou permanentes que prejudicam o individuo em suas funções variações nos padrões respiratórios são evidenciadas, mais tarde
tornando-o um dependente parcial ou total de outras pessoas. Eles como apneia total. A tríade de Cushing “descreve os três sinais tar-
podem limitar de modo significativo o desempenho funcional do dios da herniação: aumento da Pressão Arterial Sistólica, redução
indivíduo, com consequências negativas nas relações pessoais, fa- da frequência cardíaca e um padrão respiratório irregular. O alar-
miliares, sociais e, sobretudo na qualidade de vida. gamento da pressão de pulso também está associado à herniação”
Para Oliveira (2004 apud RESENDE et al., 2007 p. 165), as inca- (ZINK, 2007, p. 856).
pacidades funcionais podem “desestruturar as bases do indivíduo,
interferir no desempenho de regras e papéis sociais, na indepen- Outro item a ser avaliado é a presença de convulsões, pois es-
dência e habilidade para realizar tarefas essenciais à sua vida, na ca- tas indicam inicio das alterações agudas no SNC. Elas devem ser ob-
pacidade afetiva e capacidade de realizar atividades profissionais”. servadas e acompanhadas quanto à hora de início e término, onde
começaram os movimentos ou rigidez, tipo de movimento da parte
comprometida.

119
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

As intervenções de Enfermagem para tratar a PIC elevada in- A cânula de Guedel tem forma semicircular, geralmente é de
cluem a manutenção do alinhamento corporal, evitar mudar a posi- material plástico e descartável e, quando apropriadamente colo-
ção lateral da cabeça de forma brusca e a flexão ostensiva do qua- cada, desloca a língua da parede posterior da faringe, mantendo
dril, para evitar o aumento da pressão intra-abdominal. A rotação a via respiratória aberta. Pode também ser utilizada no paciente
lateral da cabeça também pode causar compressão da veia jugular com tubo traqueal, evitando que o reflexo de morder cause dano
diminuindo ou cessando a drenagem do sangue venoso. ao tubo.
O enfermeiro ao cuidar do paciente neurológico deve estar O paciente nunca deve ser deixado sozinho e deve estar loca-
sempre atento, pois o seu quadro pode alterar rapidamente e ele lizado de forma a ser visualizado continuamente, pois alterações
deve saber lidar com as intercorrências, não pode estar só aten- súbitas podem ocorrer, levando à necessidade de ser reavaliada a
to ao monitor. O enfermeiro deve ter o cuidado com a elevação modalidade respiratória à qual o mesmo está sendo submetido.
da cabeceira do paciente, com o período de troca dos cateteres, O paciente entubado perde suas barreiras naturais de defesa
com as anotações dos parâmetros registrados (PAM, PIC, Relação das vias aéreas superiores. Além disso, a equipe de saúde, através
P / F, entre outros) pelos equipamentos, assim como os horários e das suas mãos e do equipamento respiratório, constitui a maior fon-
aprazamentos dos medicamentos administrados ao paciente, sem te de contaminação exógena.
esquecer-se das coletas de sangue para gasometria e principalmen-
te oferecer uma assistência humanizada, sem medos e receios de Pacientes com Problemas Cardiovasculares
complicações, mas com confiança e conhecimento para enfrenta- O cuidado faz parte da vida do ser humano desde os primór-
-las. dios da humanidade, como resposta ao atendimento às suas ne-
Os pacientes com lesões neurológicas podem apresentar os cessidades. Para realizar o cuidado, o enfermeiro, como membro
distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico por diversos motivos, integrante da equipe multidisciplinar, utiliza um conjunto de conhe-
como administração de diuréticos osmóticos, aumento da perda hí- cimentos que possibilita a busca de resolutividade às respostas dos
drica insensível e disfunção pituitária, gerando distúrbios de sódio. fenômenos de saúde, definidos pelo Internacional Council of Nur-
A enfermeira de cuidados críticos deve levar em consideração todas ses1 como aspectos de saúde relevantes à prática de Enfermagem.
as variáveis quando examina o paciente. Ela deve observar e avaliar O instrumento para a realização do cuidado é o processo de
constante os níveis de oxigenação para que o paciente aumente os cuidar2, mediante uma ação interativa entre o enfermeiro e o pa-
níveis de oxigenação sanguínea e cerebral, a perfusão para perce- ciente. Nele, as atividades do profissional são desenvolvidas “para”
ber se há isquemia miocárdica, a PIC, a PAM e a PPC para prevenir e “com” o paciente, ancoradas no conhecimento científico, habili-
lesões cerebrais, monitorar os níveis de eletrólitos séricos e regis- dade, intuição, pensamento crítico e criatividade e acompanhadas
trar rigorosamente a ingesta e o débito do paciente com intuito de de comportamentos e atitudes de cuidar/cuidado no sentido de
mantê-los dentro do nível de estabilidade pré-estabelicido (ZINK, promover, manter e/ou recuperar a totalidade e a dignidade hu-
2007, p. 865). mana.
O desenvolvimento do cuidado ocorre nas suas mais diferentes
Pacientes com Problemas Respiratórios especialidades e, neste estudo, abordará o processo de cuidar ao
Seja qual for a patologia que leve o paciente à Unidade de Te- paciente crônico cardíaco.
rapia Intensiva, ele estará sujeito à insuficiência no sistema respi- O paciente adulto crônico cardíaco apresenta comprometi-
ratório. Isto se comprova pelo alto índice, nas Unidades de Terapia mento de seu todo harmônico, seu estado de saúde está alterado,
Intensiva, de pacientes com insuficiência respiratória como causa pois começa a sentir que a força física e a força do coração estão
primária da internação, ou secundária em pacientes já internados diminuídas. Surge a aterosclerose nos vasos sanguíneos, ocorre a
devido a outras afecções. perda do tecido ósseo, e há carência na autoestima3. Nessa fase, o
Insuficiência Respiratória existe quando um paciente não é doente pode apresentar limitações emocionais, financeiras, perdas
capaz de manter as tensões de seus gases sanguíneos dentro dos pessoais e sociais e precisará aprender a administrar o seu trata-
limites normais. mento efetivo. Nessas circunstâncias, quando ele se encontra fra-
O tipo de insuficiência respiratória encontrada em UTI tem gilizado, é que o enfermeiro assume um papel importante e muito
evolução relativamente rápida, ao contrário da deterioração gradu- expressivo para com ele, no sentido de ajudá-lo não só a enfrentar
al das doenças respiratórias crônicas. Ela resulta da incapacidade as dificuldades em torno da doença, mas também de cuidá-lo nas
progressiva do sistema respiratório remover dióxido de carbono do suas necessidades de segurança, carinho e autoconfiança. Desse
sangue venoso e de adicionar oxigênio a ele, por um período que modo, é importante que o enfermeiro compreenda que os pacien-
varia desde alguns momentos até alguns dias. tes portadores de doença crônica requerem, do profissional, um
Alguns fatores podem ser considerados como predisponentes à raciocínio clínico e crítico constante, pois uma simples preocupação
insuficiência respiratória: obesidade, idade avançada e exacerbação que apresentem pode colocar em risco suas vidas.
da doença pulmonar crônica (enfisema, bronquite crônica). Estas O enfermeiro tem uma função fundamental na equipe de saú-
causas primárias são agravadas pelo uso de drogas anestésicas, por de, já que, por meio da avaliação clínica diária do paciente, poderá
lesão da caixa torácica ou distensão abdominal, levando a altera- realizar o levantamento dos vários fenômenos, seja na aparência
ções ventilatórias. Além disso, a dor e a imobilização contribuem externa ou na subjetividade da multidimensionalidade do ser hu-
muito para a instalação do processo de atelectasia. mano. Igualmente poderá providenciar para que o paciente seja
A Abordagem de vias aéreas pela Cânula orofaríngea É um mé- atendido nos mais diferentes segmentos da equipe de saúde e/ou
todo rápido e prático de se manter a via aérea aberta, podendo ser de enfermagem.
utilizado temporariamente em conjunto com ventilação com más- A Organização Mundial de Saúde, em seu documento “Cuida-
cara, enquanto se aguarda um método definitivo, como por exem- dos inovadores para as condições crônicas”, enfatiza que o paciente
plo a intubação endotraqueal. portador de doença crônica carece de cuidados planejados, capazes
de prever suas necessidades básicas e proporcionar atenção inte-
grada. Essa atenção envolve tempo, cenário da saúde e cuidadores,
além de treinamentos para que o paciente aprenda a cuidar de si

120
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

mesmo em sua residência. O paciente e seus familiares precisam Ação gástrica - O estômago secreta um líquido ácido em res-
de suporte, de apoio para a prevenção ou administração eficaz dos posta à presença de alimento ou à sua ingesta antecipada. Este
eventos crônicos4 líquido deriva sua acidez do ácido hidroclorídrico secretado pelas
Diante do exposto, optou-se por investigar como os enfermei- glândulas do estômago. Esta secreção tem dupla função: reduzir o
ros conduzem a prática de cuidar ao portador de doença crônica alimento a componentes mais absorvíveis e ajudar na destruição de
cardíaca, a partir da composição de seu método de cuidar. Para bactérias ingeridas. O estômago pode produzir cerca de 2,4 litros/
atender esse questionamento, os objetivos da pesquisa foram: dia dessas secreções gástricas.
identificar os elementos do processo de cuidar realizado pelo en- As secreções gástricas também contêm a enzima pepsina, im-
fermeiro ao portador de doença crônica cardíaca e descrever os portante para iniciar a digestão de proteínas.
elementos evidenciados no processo de cuidar em enfermagem ao Hormônios, neurorreguladores e reguladores locais encontra-
portador de doença crônica cardíaca. dos nas secreções gástricas controlam a taxa das secreções gástri-
cas e influenciam a motilidade gástrica.
Pacientes com Problemas Digestórios O fator intrínseco também é secretado pela mucosa gástrica.
O trato gastrointestinal é o trajeto (7,5 a 8,5 m de comprimento Este componente combina-se com a vitamina B12 da dieta de for-
total) que se estende da boca através do esôfago, estômago, intes- ma que essa vitamina possa ser absorvida no íleo (na ausência do
tino e ânus. fator intrínseco a vitamina B12 não pode ser absorvida, resultando
• Anexos: glândulas salivares (amilase), pâncreas (suco pancre- na anemia perniciosa). O alimento permanece no estômago por um
ático) e fígado (bile); tempo variado, de meia hora até muitas horas, dependendo do ta-
• Esôfago 25 cm de comprimento; manho das partículas alimentares, composição da refeição e outros
• Estômago capacidade aproximadamente 1.500 ml (cárdia, fatores.
fundo, corpo, piloro) - esfíncter esofagiano inferior ou esfíncter car- Ação do intestino delgado - O processo digestivo continua no
díaco (entrada) e esfíncter pilórico (saída); duodeno. As secreções duodenais procedem:
• Intestino delgado maior segmento 2/3 do total do compri- • Do pâncreas (suco pancreático 1 litro/dia): enzimas digesti-
mento do trato GI; vas, incluindo a tripsina q/ ajuda na digestão de proteínas, a amilase
• Duodeno parte superior (esvaziamento da bile e secreções q/ ajuda na digestão do amido e a lipase q/ ajuda na digestão das
pancreáticas através do canal biliar comum na ampola de Vater); gorduras. A secreção pancreática tem um pH alcalino devido à sua
• Jejuno: parte mediana; alta concentração de bicarbonato;
• Íleo: parte inferior; • Do fígado (500 ml/dia de bile): a bile secretada pelo fígado e
• Ceco junção entre o intest. delgado e grosso (porção inferior armazenada na vesícula biliar ajuda na emulsificação das gorduras
direita do abd), onde se encontra a válvula íleocecal q/ funciona no ingeridas, facilitando a sua digestão e absorção;
controle da passagem dos conteúdos intestinais no intest. grosso e • Das glândulas intestinais (3 litros/ dia secreção das glândulas
previne o refluxo de bactérias p/ o intest. delgado. É nesta área q/ o intestinais): as secreções consistem em muco, que recobre as cs e
apêndice vermiforme está localizado; protege a mucosa do ataque do ácido hidroclorídrico, hormônios,
• Intestino Grosso Ascendente / Transverso / Descendente / eletrólitos e enzimas. Os hormônios, neurorreguladores e regula-
cólon sigmóide / reto; dores locais encontrados nessas secreções intestinais controlam a
• Ânus esfíncter anal interno e externo. taxa de secreção intestinal e também influenciam a motilidade GI.

O trato GI recebe o suprimento sanguíneo de muitas artérias Ação colônica - Cerca de 4 hs após a alimentação, o material
que se originam ao longo de toda a extensão da aorta torácica e ab- residual passa pelo íleo terminal e, lentamente, pela porção termi-
dominal. As principais são a artéria gástrica (estômago) e as artérias nal do cólon, através da válvula íleocecal. A cada onda peristáltica
mesentéricas superior e inferior (intestino). do intestino delgado, a válvula se abre rapidamente permitindo q/
O sangue é drenado desses órgãos pelas veias que se fundem um pouco do conteúdo passe para o cólon. A população bacteria-
com outras no abdômen para formar um grande vaso, chamado na é o principal componente do conteúdo do intestino grosso. As
veia porta. É um sangue rico em nutrientes que é levado ao fígado. bactérias ajudam no término da degradação do material residual e
O fluxo sanguíneo para todo o trato GI é cerca de 20% de todo o sais biliares.
débito cardíaco e aumenta significativamente após a alimentação. Uma atividade peristáltica fraca impulsiona o conteúdo colô-
O TGI é inervado pelo SNA simpático e parassimpático. nico lentamente ao longo do trato. Este lento transporte permite
SNA parassimpático - libera acetilcolina que: aumenta ativida- uma eficiente absorção de água e eletrólitos. O material residual de
de do TGI, aumenta movimentos peristálticos, aumenta tônus. uma refeição eventualmente atinge e distende o reto, geralmente
SNA simpático - libera noradrenalina que: diminui atividade do em cerca de 12 horas. Cerca de 1/4 do material residual de uma
TGI, diminui movimentos peristálticos, diminui tônus. refeição pode permanecer no reto três dias após a refeição ter sido
ingerida.
O processo digestivo As fezes se compõem de resíduos alimentares não digeridos,
Todas as células do organismo requerem nutrientes. Esses nu- materiais inorgânicos, água e bactérias. A matéria fecal tem cerca
trientes derivam da ingesta alimentar contendo: proteína, gordura, de 75% de líquido e 25% de material sólido. A cor marrom das fezes
carboidratos, vitaminas e minerais, assim como fibras de celulose e é devida à degradação da bile pela bactéria intestinal.
outras matérias vegetais sem valor nutricional. Substâncias químicas formadas pelas bactérias intestinais são
As principais funções digestivas do trato GI são especificamen- responsáveis, em grande parte, pelo odor fecal. Os gases formados
te para fornecer estas necessidades do corpo: contém metano, sulfeto de hidrogênio e amônia, entre outros. O
• Reduzir as partículas alimentares à forma molecular para a trato GI normalmente contém cerca de 150 ml desses gases, q/ são
digestão; ou absorvidos na circulação porta e detoxificados pelo fígado, ou
• Absorver na corrente sanguínea as pequenas moléculas; expelidos pelo reto (flatos). Pacientes c/ dça hepática frequente-
• Eliminar restos alimentares não digeridos e não absorvidos e mente são tratados c/ antibióticos p/ reduzir o nº de bactérias colô-
outros produtos tóxicos nocivos ao corpo. nicas e, desta forma, inibir a produção de gases tóxicos.

121
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Respostas fisiológicas às disfunções gastrintestinais A insuficiência renal aguda, apesar de sua característica reversí-
1.Halitose: mau hálito, pode indicar um processo periodôntico vel, ainda apresenta um prognóstico com índice de mortalidade de
ou infecção oral; aproximadamente 50%. Este prognóstico na IRA tem sido associado
2. Disfagia: dificuldade de engolir, pode resultar de um proble- a alguns fatores como oligúria persistente (refratária a volume), fa-
ma mecânico (neoplasia, cirurgia) ou ocorrer secundariamente a lência de múltiplos órgãos e septicemia. Esta alta mortalidade re-
um dano neurológico (AVC); força ainda mais a necessidade da sua prevenção e a importância
3. Odinofagia: deglutição dolorosa (infecção ou doença); da atuação do enfermeiro na identificação dos fatores de risco e na
4. Pirose: sensação de queimação na área médio esternal, cau- detecção precoce da IRA.
sada pelo refluxo dos conteúdos gástricos para o esôfago; O contraste iodado é substância radiopaca empregada em exa-
5. Dispepsia: sensação de desconforto durante o processo di- mes radiológicos, como o cateterismo cardíaco, amplamente utili-
gestivo; dys = mal pepsia = digestão zado para fins diagnósticos e terapêuticos. Tal substância, apesar de
6. Anorexia: perda de apetite; melhorar a visualização das artérias e de outras estruturas anatômi-
7. Náuseas: sensação de desconforto gástrico caracterizada por cas durante o exame, pode provocar reações adversas indesejáveis
vontade de vomitar; que se devem, principalmente, à alta osmolaridade do contraste
8. Vômitos: expulsão dos conteúdos gástricos, em geral após em relação ao sangue.
uma sensação de náuseas; Pacientes com Problemas urológico
9. Câimbras abdominais: contração muscular espasmódica in- Dor originada nos rins ou ureteres; em geral, é vagamente lo-
voluntária que causa desconforto e dor: calizada nos flancos ou na região lombar baixa e pode irradiar-se
10. Distensão abdominal: expansão do abdome notada por ob- para fossa ilíaca ipsolateral, coxa superior, testículos ou grandes lá-
servação, percussão ou palpação (aumento da quantidade de ar ou bios. Tipicamente, a dor causada por cálculos é em cólica e pode
líquidos ou presença de massa abdominal); ser muito significativa; é mais constante se causada por infecção. A
11. Má absorção: incapacidade de absorver nutrientes secun- retenção urinária aguda distal à bexiga causa dor suprapúbica ago-
dária a um distúrbio GI; nizante; a retenção urinária crônica causa menos dor e pode ser
12. Dor: sensação de desconforto que varia em gravidade; assintomática. Disúria é um sintoma de irritação vesical ou uretral.
13. Diarreia: expulsão excessiva de fezes aquosas em grande A dor prostática manifesta-se como desconforto vago ou sensação
vol. ou c/ frequência maior. de peso nas regiões perineal, retal ou suprapúbica.
14. Constipação: frequência diminuída de evacuação fecal, le- Os sintomas de obstrução vesical em homens incluem hesita-
vando à impactação intestinal; a consistência das fezes é mais co- ção, força para urinar, diminuição da força e do calibre do jato uri-
nário e gotejamento terminal. Incontinência tem várias formas. A
mumente seca e dura, entretanto ela pode ser mole e formada se
enurese após os 3 ou 4 anos de idade pode ser um sintoma de este-
estiverem presentes distúrbios de motilidade;
nose uretral em meninas, válvulas de uretra posterior em meninos,
15. Sons intestinais alterados: os sons intestinais ouvidos na
alteração psicológica ou, se de início súbito, infecção.
ausculta indicam a passagem de ar e líquidos no trato GI, a faixa
A pneumatúria (passagem de ar na urina) sugere fístula vesico-
de frequência normal é de aproximadamente 5 a 25 por minuto;
vaginal, vesicoentérica ou ureteroentérica; as duas últimas podem
os sons intestinais podem estar diminuídos ou ausentes após uma
ser causadas por diverticulite, doença de Crohn, abscesso ou câncer
cirurgia abdm., ou ser hiperativos ou de som agudo (borborigmos)
de cólon. A pneumatúria também pode ser causada por pielonefrite
como resultado de hipermotilidade do trato GI;
enfisematosa.
16. Melena: fezes escuras indicando a presença de sangue (san-
gramento ou hemorragia); Exame físico
17. Perda de peso: sintoma comum geral// indicando ingestão O exame físico é dirigido aos ângulos costovertebrais, abdome,
inadequada ou má absorção. reto, região inguinal e genitais. Em mulheres com sintomas uriná-
rios, geralmente é feito exame pélvico.
Pacientes com Problemas Renal
A insuficiência renal aguda é uma síndrome caracterizada pela Ângulo costovertebral
redução aguda da função renal, em horas ou dias, com conseqüente A dor surgida após percussão com o punho na região lombar,
retenção sérica de produtos nitrogenados, tendo caráter reversível. flancos e no ângulo formado pelo 12º arco costal e espinha lombar
Refere-se principalmente, à diminuição do ritmo de filtração glo- (dolorimento costovertebral) pode indicar pielonefrite, cálculos ou
merular e/ou do volume urinário, mas, ocorrem também distúrbios obstrução do trato urinário.
no controle do equilíbrio hidro-eletrolítico e ácido-básico.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia(5), na litera- Abdome
tura existem mais de 30 definições de IRA. A utilização de diferen- Abaulamento visível do abdome superior é um achado extre-
tes definições dificulta a comparação de estudos. Recentemente, o mamente raro e inespecífico de hidronefrose ou massa renal ou ab-
grupo internacional e multidisciplinar Acute Kidney Injury Network dominal. Som maciço à percussão no abdome inferior indica disten-
(AKIN) propôs uma nova definição e classificação da IRA, a fim de são vesical; normalmente, mesmo uma bexiga cheia não pode ser
uniformizar este conceito para efeitos de estudos clínicos e, princi- percutida acima da sínfise púbica. A palpação da bexiga, algumas
palmente, prevenir e facilitar o diagnóstico desta síndrome. A AKIN vezes, é utilizada para confirmar distensão e retenção urinária.
propõe o diagnóstico e a classificação da insuficiência renal aguda
baseada na dosagem sérica da creatinina e no volume urinário em Reto
um período de 48 horas. Durante o toque retal, pode-se detectar prostatite através do
encontro de uma próstata dolorosa e edemaciada. Nódulos focais e
A IRA induzida por contraste, na maioria das vezes, é assinto- áreas pouco endurecidas devem ser distinguidas de câncer da prós-
mática, não oligúrica e os níveis séricos usualmente aumentam em tata. A próstata pode estar simetricamente aumentada, fibroelásti-
24 a 72 horas após a exposição, alcançando seu valor máximo em ca e não dolorosa na hipertrofia benigna da próstata.
3 a 5 dias.

122
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Região inguinal e genitais Segundo o Ministério da Saúde além da importância de reali-


O exame inguinal e genital deve ser realizado com o paciente zar o exame periodicamente, torna-se relevante evidenciar que, ao
em pé. A presença de hérnia inguinal ou adenopatia pode explicar longo da vida, a mulher pode estar exposta a fatores de risco para
dor escrotal ou inguinal. Assimetria grosseira, edema, eritema ou o câncer de colo uterino, como: idade precoce da primeira relação
pigmentação dos testículos podem indicar infecção, torção, tumor sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, lesão genital por HPV,
ou outras massas. A horizontalização do testículo pode indicar ris- tabagismo, multiparidade, entre outros (BRASIL,2013). As ações
co de torção testicular. A elevação de um testículo (normalmente o de prevenção da saúde são estratégias fundamentais, não só para
esquerdo é mais baixo) pode ser sinal de torção testicular. O pênis aumentar a frequência e adesão das mulheres aos exames, como
é examinado com e sem retração do prepúcio. A inspeção do pênis para reforçar sinais e sintomas de alerta, que devem ser observados
pode detectar pelas usuárias. É fundamental que os processos educativos ocor-
• Hipospádias ou epispádias em meninos ou adultos jovens ram em todos os contatos da usuária com o serviço, estimulando-
• Doença de Peyronie em homens -a a realizar os exames de acordo com a indicação (BRASIL, 2013).
• Priapismo, úlceras e corrimento em todos os grupos Considerando tais dados verifica-se a importância de uma atenção
voltada para saúde da mulher, oferecendo além dos procedimen-
A palpação pode revelar hérnia inguinal. O reflexo cremastérico tos básicos, cuidados especiais que possam prevenir complicações
pode estar ausente na torção testicular. A localização das massas físicas e emocionais. Entende-se que a consulta de enfermagem é
em relação aos testículos e o grau e a localização do dolorimento extremamente importante, pois propicia o trabalho do enfermeiro
podem auxiliar a diferenciar massas testiculares (p. ex., esperma- no desenvolvimento de atividades voltadas à saúde da mulher, bem
toceles, epididimite, hidroceles, tumores). Em caso de edema, a como a atenção ginecológica.
área deve ser transiluminada para auxiliar a detectar se o aumento
é cístico ou sólido. Placas fibrosas na haste do pênis são sinais de Pacientes com Problemas endócrino, hematológico
O sistema endócrino é composto por um grupo de glândulas e
doença de Peyronie.
órgãos que regulam e controlam várias funções do corpo por meio
da produção e secreção de hormônios. Os hormônios são substân-
Exames
cias químicas que afetam a atividade de outra parte do corpo. Em
Exame de urina é fundamental para a avaliação de doenças uro-
essência, os hormônios atuam como mensageiros que controlam e
lógicas. Os exames de imagem (p. ex., ultrassonografia, tomografia coordenam as atividades em todo o corpo.
computadorizada, ressonância nuclear magnética) são solicitados As doenças endócrinas dizem respeito a
com frequência. Para análise do sêmen, Alterações espermáticas. • Uma secreção hormonal excessiva ou
O teste de antígeno do tumor de bexiga para carcinoma de cé- • Uma secreção hormonal insuficiente
lulas transicionais do trato urinário é mais sensível que a citologia
urinária para detectar cânceres de baixo grau; não é sensível o sufi- As doenças podem ser o resultado de um problema na própria
ciente para substituir o exame endoscópico. A citologia urinária é o glândula ou porque o eixo hipotálamo-hipófise (a interação dos si-
melhor exame para detectar câncer de alto grau. nais hormonais entre o hipotálamo e a hipófise) está fornecendo
O antígeno prostático específico (PSA, prostate-specific anti- estímulo excessivo ou insuficiente. Dependendo do tipo de célula
gen) é uma glicoproteína de função desconhecida produzida pelas da qual são originados, os tumores podem produzir hormônios em
células epiteliais prostáticas. Os níveis podem estar elevados em excesso ou destruir o tecido glandular normal, diminuindo a produ-
câncer de próstata e em algumas doenças comuns não neoplásicas ção hormonal. Às vezes, o sistema imunológico do organismo ataca
(p. ex., hipertrofia benigna da próstata, infecção, trauma). Mede-se uma glândula endócrina (uma doença autoimune), o que diminui a
o PSA para detectar recidiva de câncer após tratamento; seu uso produção hormonal.
generalizado para a triagem de câncer é controverso.
Exemplos de doenças endócrinas incluem
Pacientes com Problemas ginecológico • Hipertireoidismo
O câncer de colo uterino representa um grande problema de • Hipotireoidismo
saúde pública no Brasil. Pesquisa recente em um hospital escola do • Doença de Cushing
Triângulo Mineiro identificou que os cânceres ginecológicos em 321 • Doença de Addison
casos, foram 15 casos (15,63%) dos cânceres de colo de útero (SOA- • Acromegalia
RES; SILVA, 2010).Segundo dados do instituto nacional de câncer, o • Baixa estatura em crianças
câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na popu- • Diabetes
lação feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer • Distúrbios da puberdade e da função reprodutiva
no Brasil (INCA,2014 ).O câncer do colo do útero é caracterizado
Os médicos costumam medir os níveis de hormônios no sangue
pela replicação desordenada do epitélio de revestimento do órgão,
para dizer como a glândula endócrina está funcionando. Às vezes,
comprometendo o tecido subjacente (estroma) e podendo invadir
os níveis sanguíneos sozinhos não fornecem informações suficien-
estruturas e órgãos vizinhos ou à distância. (BRASIL, 2013). Conside-
tes sobre a função da glândula endócrina; por isso, os médicos me-
ra-se que a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) representa dem os níveis hormonais depois de dar um estímulo (tal como uma
o principal fator de risco para o câncer de colo do útero. Outros fa- bebida contendo açúcar, um medicamento ou um hormônio que
tores foram identificados como de risco, como os socioeconômicos possa desencadear a liberação hormonal) ou depois de o paciente
e ambientais e os hábitos de vida (FRIGATO; HOG, 2003). ter exercido uma ação (tal como jejum).

As doenças endócrinas costumam ser tratadas ao repor o hor-


mônio, cujo nível é insuficiente. Contudo, às vezes, a causa da do-
ença é tratada. Por exemplo, se houver um tumor em uma glândula
endócrina, é possível que ele seja removido.

123
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Pacientes com Problemas musculoesquelético edermatológi- Embora a traumatologia ortopédica pareça ser o estudo de
co todo tipo de trauma, ela lida apenas com as lesões ósseas e mus-
culares tendinosas dos membros superiores, inferiores, bacia e co-
Pacientes com Problemas musculoesquelético luna. O trauma abdominal é avaliado pelo cirurgião geral; o trauma
O sistema osteomuscular compreende principalmente a dois craniano pelo neurocirurgião; o trauma de tórax é avaliado pelo
sistemas da fisiologia humana: o sistema ósseo e o sistema mus- cirurgião do trauma ou cirurgião torácico. Erro muito comum é o
cular. A função do sistema ósseo é de proteger, sustentar, armaze- encaminhamento de vítimas de trauma torácico e facial para o orto-
nar e liberar os íons de cálcio e potássio, permitir o deslocamento pedista, o qual trata do esqueleto axial (coluna) e membros.
do corpo servindo como alavanca e de produzir certas células do
sangue. Os ossos trabalham em conjunto com os músculos que são Sobre as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético
responsáveis pelo movimento. As afecções músculo-esqueléticas representam uns dos princi-
No sistema muscular existe a divisão dos músculos que são pais agravos à saúde no Brasil. Trata-se de distúrbios de importância
lisos e estriados. O músculo liso não faz parte do aparelho loco- crescente em vários países do mundo, com dimensões epidêmicas
motor, pois eles são responsáveis pela formação de órgãos como o em diversas categorias profissionais, principalmente na Traumato-
estomago, intestinos, artérias, etc. O músculo estriado pode ser do -Ortopedia. Na traumatologia, o crescente problema da violência,
tipo músculo esquelético e músculo cardíaco. Os músculos estria- das doenças ocupacionais, dos acidentes de trânsito e causas ex-
dos esquelético fazem parte do aparelho locomotor sendo um tipo ternas, que perfazem mais de 90% dos atos médicos destinados ao
de músculo voluntário. tratamento das afecções do sistema músculo-esqueléticos, é de ex-
trema preocupação, tanto do ponto de vista epidemiológico quan-
Os músculos esqueléticos ficam ligados aos ossos pelos ten- to da gestão, pelo elevado número de procedimentos realizados e
dões que são formados por tecido conjuntivo altamente denso rico pelo alto valor de recursos financeiros envolvidos.
em colágeno no qual se liga de um lado ao periósteo, camada de SUS e as Afecções Osteomusculares/Músculo Esquelético
tecido conjuntivo presente nos ossos e do outro as camadas de te- O Sistema Único de Saúde − SUS oferta diversos tratamentos
cidos conjuntivos que revestem o ventre muscular ou músculo pro- clínicos, cirúrgicos e de reabilitação na área de ortopedia. Os pro-
priamente dito, os fascículos e as fibras. E a ligação de um osso a cedimentos relacionados a essas especialidades estão incluídos em
outro ou outros é chamado de juntas ou articulações. várias ações e políticas do Ministério da Saúde. Todos os procedi-
Os ossos se classificam como longo, plano, curto, irregular, mentos podem ser consultados no Sistema de Gerenciamento da
pneumático e sesanoides. Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do Sistema Único
O sistema muscular é composto pelo conjunto de músculos do de Saúde (SIGTAP/SUS).
corpo humano, são encontrados cerca de 600 músculos no corpo
Especificamente sobre a atenção especializada no SUS, a área
humano e eles representam cerca de 40 a 50% do peso total de
de ortopedia recebeu atenção especial, principalmente no que dis-
uma pessoa. Os músculos têm a capacidade de contrair ou relaxar e
pensa a utilização de alta tecnologia/alta complexidade, com a pu-
proporcionam movimentos que permitem que a pessoa ande, cor-
blicação da Portaria GM/MS nº 221, de 15 de fevereiro de 2005, que
ra, salte, etc.
instituí a Política de Alta Complexidade em Traumatologia e Ortope-
dia Instituída no SUS. Tal política é regimentada pela Portaria SAS/
Ortopedia
MS nº 90, publicada em 27 de março de 2009. Esta Portaria concei-
A ortopedia é a especialidade médica que cuida das doenças e
tua Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Traumatolo-
deformidades relacionadas aos elementos do aparelho locomotor,
gia e Ortopedia e Centro de Referência de Alta Complexidade em
como ossos, músculos, ligamentos e articulações. A traumatologia
é a especialidade médica que lida com o trauma do aparelho mús- Traumatologia e Ortopedia, orientando o papel que cada uma des-
culo-esquelético. sas habilitações desempenha na atenção à saúde e na qualificação
No Brasil as especialidades são unificadas, recebendo o nome técnica exigida para o atendimento dos usuários, e ainda, orienta o
de “Ortopedia e Traumatologia”. gestor quanto aos requisitos mínimos, para se habilitar um estabe-
Dentro dos órgãos/ossos do corpo humanos tratados pela or- lecimento em alta complexidade em Ortopedia.
topedia temos: Coluna, Joelho, Quadril, Ombro e Cotovelo, Mão, Pé Tanto os Centros de Referência de Alta Complexidade em Trau-
e Tornozelo. matologia e Ortopedia quanto às Unidades de Assistência em Alta
As causas das principais lesões ortopédicas são: Artralgia, Ar- Complexidade em Ortopedia estão aptos a realizar qualquer pro-
trose. Artrose Joelho, Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA), cedimento traumato-ortopédico, independentemente da comple-
Lesão do Ligamento Cruzado Posterior (LCP), Lesão do Ligamento xidade em que este procedimento se insere. A diferença básica en-
Colateral, Lesão Meniscal, Mialgia, Lesões Musculares, Lombalgia, tre as duas habilitações está no papel de formar e qualificar novos
Síndrome do Manguito Rotador; Tendinites, Síndrome Patelo Femo- profissionais na área desempenhada pelos Centros. (Relatório de
ral e Cervicalgia. Gestão SAS 2016)
A traumatologia dedica-se ao estudo e ao tratamento das dife-
rentes lesões que se podem produzir nas extremidades e na coluna. Pacientes com problemas dermatológicos
Na sua órbita de ação entram as fraturas ósseas, as luxações e dife- A pele constitui o maior órgão do corpo humano, envolven-
rentes classes de contusões. do-o e protegendo-o por completo. Montagu (1988, p.30) fala da
Os tratamentos da traumatologia podem ser diversos. Alguns pele como o espelho do funcionamento do organismo: sua cor,
são conservadores, como a implementação de ligaduras ou a colo- textura, umidade, secura, e cada um de seus demais aspectos re-
cação de um gesso. Outros tratamentos são mais invasivos, como fletem nosso estado de ser, psicológico e também fisiológico ..., é
as intervenções cirúrgicas que são utilizadas para instalar parafusos, espelho de nossas paixões e emoções, sendo como uma roupagem
placas e outros elementos no interior do corpo. A escolha de um contínua e flexível, além de ter a mesma origem embrionária que
ou outro tratamento é realizada pelo profissional de acordo com o o sistema nervoso. Reveste e limita o organismo, protegendo-o de
tipo de lesão. agentes externos, e é importante na manutenção do equilíbrio do

124
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

meio interno (Souza et al., 2005). Por configurar o órgão de limi- refere as doenças relacionadas ao stress e cita a psoríase entre as
te entre mundo interno e externo, a pele, quando lesionada, pode mais estudadas, sugerindo que «doenças relacionadas ao stress se-
trazer constrangimento ao indivíduo. Nesse sentido, Strauss (1989, jam classificadas como psicofisiológicas, termo este que enfatiza a
p.1221) refere que “ao mesmo tempo em que nos protege, é a fa- correlação entre aspectos físicos e psicológicos que se manifestam
chada que nos expõe”. de modo quase que inseparável durante a resposta ao stress”.
Alguns autores sugerem dificuldades quando da exposição das Hoffmann, Zogbi, Fleck e Müller (2005) mencionam que o viti-
lesões de pele, como Fonseca e Campos (2003), ao mencionar que ligo está associado a fatores psicológicos, visto que, no estudo de
lesões visíveis causam constrangimento nos pacientes, e Azulay R. Müller (2005), o aparecimento da doença se deu após situação de
D. e Azulay D. R. (1992), que postulam que “convém lembrar que o stress emocional. O’leary, Creamer, Higgins e Weinman (2004) estu-
indivíduo com a pele comprometida, sobretudo em áreas desco- daram as causas atribuídas pelos pacientes psoriáticos à sua doen-
bertas, dificilmente deixa de ficar envergonhado, ansioso e triste”. ça, e encontraram uma grande proporção dos pacientes referindo o
Nadelson (1978) complementa esta idéia, referindo que a doença stress como a causa da sua doença. Esta crença está associada a um
de pele, na mente popular, pode muitas vezes estar ligada à idéia baixo bem-estar psicológico e à percepção de que a psoríase tem
de sujo, feio e contagioso, devendo permanecer afastado. Nesse um impacto emocional muito grande. Apesar da prevalência desta
sentido, está implicada a relação entre doenças de pele e aspectos crença, os níveis de stress, mesmo fortemente associados ao humor
emocionais, mais especificamente o stress, neste estudo. Frente a e à qualidade de vida, não foram associados com a severidade da
dados como esses, percebe-se a importância de pesquisas nesta psoríase.
área, explorando as repercussões dos problemas dermatológicos e O stress psicológico e a ansiedade têm sido reconhecidos clini-
buscando sensibilizar a população em geral, assim como os profis- camente pelos dermatologistas como fatores relacionados à piora
sionais que trabalham com esses pacientes, para que o atendimen- das lesões de pele (Fortune, Main, O’Sullivan & Griffiths, 1997). No
to abarque as diferentes dimensões do ser humano. estudo de Amorim-Gaudêncio, Roustan e Sirgo (2004), que avaliou
Embora a existência de uma relação entre as alterações psico- dois grupos, um com e outro sem dermatoses, foram encontradas
lógicas e as doenças dermatológicas não seja um tema novo, ainda
associações entre altos níveis de ansiedade e stress em pessoas que
não é possível definir com clareza que alterações psicológicas são
sofrem de dermatoses inflamatórias crônicas.
capazes de causar alterações dermatológicas, ou se as enfermida-
des cutâneas crônicas carregam, necessariamente, como qualquer
Panconesi e Hautmann (1996), em um artigo sobre a psicofisio-
outro transtorno com essas características, alterações psicopatoló-
gicas significativas (Grimalt, Peri & Torres, 2002). Talvez essa seja logia do stress na dermatologia, referem que os fatores genéticos e
uma das razões pelas quais muitas vezes o atendimento ao paciente de percepção podem influenciá-lo, sendo a percepção do indivíduo
aconteça de forma dissociada, ou seja, o dermatologista se respon- sobre o desafio que o estímulo específico implica o fator mais im-
sabiliza somente pela dimensão orgânica, a pele, e o psicólogo, pe- portante.
los aspectos emocionais, de forma isolada. Em relação aos problemas dermatológicos, Azambuja (2000)
Segundo Mingorance, Loureiro, Okino e Foss (2001), muitos es- menciona que existem íntimas ligações entre o sistema nervoso e
tudos têm sido realizados associando o funcionamento mental do a pele, o que a torna extremamente sensível a emoções, de forma
paciente com psoríase a correlatos psíquicos: o impacto emocional que qualquer problema de pele, independentemente de sua causa,
da doença, o aumento de preocupações e a ansiedade estão asso- tem impacto emocional. O autor discorre ainda que o stress, seja
ciados à piora das lesões, o alto nível de depressão, à presença de físico, psicológico ou ambiental, provoca no indivíduo reações como
distúrbios no ambiente familiar e outros. Os temas das pesquisas taquicardia, diminuição da temperatura do corpo, entre outras, e
revelam que a dermatose não está relacionada somente à pele, às que atualmente um número crescente de cientistas tem aceitado o
questões orgânicas, mas que influencia e é influenciada por outros stress como fator precipitante de qualquer doença, não apenas das
aspectos da vida do indivíduo, tanto questões emocionais quanto o psicossomáticas.
próprio contexto em que vive. Além disso, Azambuja (2000) refere a insustentabilidade da
De acordo com Sampaio e Rivitti (2001), é indiscutível que os concepção cartesiana de mente e corpo, falando do campo da psi-
fatores emocionais influenciam inúmeras dermatoses que, de ou- coneuroimunologia, que “cria um novo contexto em que não exis-
tro lado, atuam no estado mental. A partir da idéia de que toda tem partes separadas, e tudo influencia tudo, tornando-se absurdo
doença humana é psicossomática, pois incide em um ser provido enfocar a patologia e o tratamento unicamente do corpo e, pior
de soma e psique, inseparáveis anatômica e funcionalmente (Mello ainda, de uma de suas partes sem considerar o funcionamento ge-
Filho, 2002), o adoecimento (neste caso, da pele), pode repercutir ral” (p.407).
em diversos âmbitos da vida do indivíduo. No que tange à localização das lesões de pele, a maior parte
Quando se pensa na inseparabilidade da psique e do corpo, ou dos estudos avalia qualidade de vida. Schmid, Jaeger e Lampre-
das emoções e da pele, o stress é uma variável importante. Des- cht (1996) mencionam que os pacientes com lesões na região do
de os estudos de Selye, em 1936, o stress é um fator que está re-
baixo ventre e genital relatam sentimentos de estigmatização com
lacionado ao surgimento e desenvolvimento de doenças. Vivas e
maior intensidade do que pacientes acometidos em outras áreas do
Serritiello (2002) referem que extensos estudos indicam que o
corpo. Quando se discute local da lesão, está implicada a questão
stressemocional pode exacerbar alguns eventos, como na psoría-
da aparência física. No estudo de Mingnorance, Loureiro e Okino
se, por exemplo. Steiner e Perfeito (2003) corroboram esta idéia,
mencionando que “o stress físico ou emocional tem repercussões (2002), os pacientes que relataram insatisfação quanto à aparência
em inúmeras dermatoses e estas, indiscutivelmente, também são física, quando comparados ao grupo com percepção satisfatória da
geradoras de stress” (p.113). aparência, apresentaram prejuízo significativamente maior nas ati-
A literatura, de modo geral, enfoca a influência do stress no vidades rotineiras (p<0,05) e na qualidade de vida geral (p<0,01).
desenvolvimento das dermatoses (Asadi & Usman, 2001; Picardi, No estudo de Ludwig e Oliveira (2007), que avaliou qualidade
Porcelli, Pasquini & Fassoni, 2006; Taborda, Weber & Freitas, 2005), de vida e localização da lesão dermatológica, não foram encontra-
e poucos são os estudos que avaliam o contrário, ou seja, o quanto das diferenças significativas na comparação entre dois grupos (ros-
a lesão de pele interfere no grau de stress do indivíduo. Lipp (1996) to e/ou mãos; outras partes do corpo), sendo o número de associa-

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

ções entre os instrumentos de qualidade de vida SF-36 (qualidade Fonte: https://www.iespe.com.br/blog/oqueeunidadedeterapiain-


de vida geral) e DLQI-BRA (qualidade de vida específica) muito su- tensiva/
perior no grupo com lesões em rosto e/ou mãos. Quando se fez a
divisão mais detalhada da localização da lesão, em cinco grupos, ENFERMAGEM EM UTI ADULTO
houve diferenças significativas, sendo o grupo com a maior media- Nas instituições de saúde e, principalmente, nos hospitais, o
na aquele com lesões generalizadas (rosto e mãos e outras). As au- serviço de enfermagem representa papel fundamental no processo
toras inferem que, independentemente da localização da lesão no assistencial em qualquer unidade. Em se tratando de pacientes em
corpo, o sentimento de exposição e os prejuízos a que fica subme- estado crítico em unidades de terapia intensiva (UTIs) essa assistên-
tido o paciente dermatológico são semelhantes, seja a lesão mais cia é tida como complexa e especial.
exposta ou menos exposta ao olhar do outro. No Brasil, as primeiras UTIs foram implantadas na década de
Kadyk, McCarter e Achen (2003) estudaram qualidade de vida 1970 e se tornaram unidades especializadas e consideradas como
em pacientes com dermatite de contato, encontrando um escore de alta complexidade. Foi necessário a aquisição de equipamentos
significativamente pior no item relacionado à aparência da pele, cada vez mais sofisticados para se manter ou prolongar a vida das
em comparação aos que não têm a face acometida. Além disso, pa- pessoas. Houve, também, necessidade de aperfeiçoamento dos re-
cientes com a face afetada sentem um maior grau de prejuízo, que cursos humanos que ali desempenham suas atividades continua-
tende a ser significativo, e apresentam escores melhores do que mente.
aqueles sem acometimento da face em duas questões: medo de ser As UTIs configuram-se como locais que têm por finalidade o
despedido e dificuldade de usar as mãos no trabalho. tratamento dos doentes considerados graves e de alto risco, deven-
Não houve diferenças significativas, nas escalas de sintomas ou do dispor de recursos materiais e humanos que possibilitem vigilân-
emoções, entre ter ou não as mãos afetadas, no mesmo estudo. Os cia constante, atendimento rápido e eficaz, baseados no objetivo
autores da pesquisa referem diversos relatos de que a dermatite de comum que é a recuperação dos indivíduos(1).
contato nas mãos afeta negativamente as habilidades para traba- A importância do trabalho em equipe de enfermagem e de
lhar e continuar as atividades diárias normais. saúde na UTI é imprescindível para a efetiva qualidade da assis-
Também M.A. Gupta e A.K. Gupta (2003) e Hautman e Panco- tência ao paciente e seus familiares. Os trabalhadores enfrentam
nesi (1997) apontam a importância de considerações sobre o tema cotidianamente as diversas dificuldades relacionadas à complexida-
da localização da lesão, referindo que até mesmo uma doença be- de técnica da assistência a ser prestada, às exigências e cobranças
nigna em partes do corpo “carregadas de emoção” (por exemplo, o dos pacientes, familiares, muitas vezes dos médicos, da instituição,
rosto, a cabeça e o pescoço) pode debilitar particularmente o pa- dentre outros.
ciente. Na maioria das instituições de saúde, o enfermeiro freqüen-
temente assume as atividades de gerenciamento e supervisão das
Assistência de Enfermagem em UTI atividades e a grande parcela dos cuidados diretos ao paciente é
UTI’s podem ser classificadas em Adulto, Pediátrica, Pediátrica realizado por técnicos de enfermagem. São esses técnicos que exe-
Mista (Pediátrica e Neonatal), Neonatal e as UTI’s Especializadas, cutam as atividades consideradas mais pesadas, cansativas e indis-
dentre elas destacamse: Cardiológica ou Coronariana, Cirúrgica, pensáveis à assistência dos pacientes como higiene, alimentação,
Neurológica, Transplante, dentre outras. terapêutica medicamentosa, realização de curativos, entre outras
Este é o local no hospital destinado à oferta do SAV – Supor- atividades consideradas essencialmente manuais.
te Avançado de Vida ao paciente agudamente enfermo que tenha
chances de sobreviver; e essa definição nos traz algumas reflexões e Observa-se ainda, que, em sua grande maioria, o trabalho nas
questionamentos, principalmente na falta de critérios para internar UTIs está voltado para a assistência norteada pelo modelo biomé-
pacientes em UTI. dico, ou seja, para o corpo do paciente e para as patologias, muitas
Não muito raro, observamos em nosso cotidiano profissional
vezes, esquecendo-se de outros aspectos que também compõem e
e acadêmico, diversos pacientes fora destes critérios que eu citei
interferem na evolução de uma doença.
acima hospitalizados nesta área: pacientes crônicos e sem qualquer
Para se atingir a assistência humanizada é preciso criar a pos-
prognóstico, sem mais condições terapêuticas, sem nenhum esfor-
sibilidade da existência desses outros fatores que fazem parte da
ço ou tecnologia disponível que possa reverter o quadro terminal
vida do ser humano, sua história, seus sentimentos, sua cultura,
de saúde, causando apenas um prolongamento do estado de termi-
seu modo de viver. Dessa forma, considera-se importante que toda
nalidade desses indivíduos em especial.
equipe de saúde que trabalha em UTI reflita sobre os princípios
Esse é um exemplo, mas ainda vale destacar uma ocorrência
direcionadores da assistência. Nesse sentido, é relevante compre-
também muito comum, que é a internação de pacientes submetidos
a algum procedimento cirúrgico, que poderiam ser monitorados no ender os próprios sentimentos enquanto profissionais da área da
próprio Centro Cirúrgico, nas salas de Recuperação PósAnestésica e, saúde nessa unidade, para conseguir acolher os sentimentos dos
logo que devidamente despertos e estáveis, seriam encaminhados pacientes e de seus familiares.
para as Unidades de Internação (quartos/enfermarias), mas infeliz- Observa-se que muitos sentimentos dos profissionais de saúde
mente, em muitos casos, ainda são direcionados às UTI, fato este são negados ou velados, ignorando-se a complexidade do ambiente
que além de aumentar o tempo de internação desses pacientes, estressante em que atuam.
ainda os colocam em maior risco de infecções, pois a unidade de Diante do exposto interroga-se: como é trabalhar em uma
terapia intensiva é um ambiente de alta complexidade. UTI? Como será que o trabalhador técnico de enfermagem se sente
Outro fato que vale ressaltar é a ocupação de um leito de UTI nessa unidade, convivendo com a iminência da morte? Que senti-
com pacientes não elegíveis para tal, isto acontece muitas vezes mentos surgem ao trabalhar nessa unidade? Como lidam com esses
por falta de disponibilidade de leitos comuns. Isso pode gerar um sentimentos?
problema para pacientes dentro dos critérios (ou seja, pacientes
agudamente enfermos que tenham chances de sobreviver), que Diante dessas interrogações, o presente estudo teve como ob-
acabam às vezes agravando sua situação de saúde ou até levandoos jetivo identificar os significados atribuídos pelos técnicos de enfer-
a óbito por falta de leito de UTI. magem ao vivenciarem o processo de trabalho na UTI.

126
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Acredita-se que é um desafio aprofundar esse tema, mas é de (...) É também um ambiente pesado, cansativo, torna-se can-
importância ímpar, pois pode contribuir para revelar os sentimen- sativo porque você tem dois ou três pacientes para você às vezes
tos vivenciados pelos técnicos de enfermagem de UTI, contribuindo tocar, porque o número de funcionários às vezes não é grande e a
para que os enfermeiros, gerentes do processo de trabalho nesse demanda dos paciente é sempre grande (....) É estressante porque
local, conheçam as reais necessidades desse profissional. Assim, o você trabalha com paciente entubado, totalmente inconsciente,
enfermeiro pode planejar medidas visando adequar as condições totalmente dependente da enfermagem, você tem que fazer tudo
laborais de acordo com os recursos disponíveis, aumentando a por ele, e as vezes você fica estressado, fica cansado no físico e no
atenção à saúde do trabalhador, bem como propiciar melhora efeti- mental (E1).
va na assistência ao paciente, familiares e comunidade. (....) mas, às vezes, dependendo do período é bem desgastante,
Da análise das unidades de significados interpretadas de cada quando falta um funcionário mesmo você tem que assumir o lugar
um dos discursos foram obtidas cinco categorias que, conjuntamen- do outro colega que não veio, você assume mais de dois pacientes,
te, revelaram o fenômeno: o que significa trabalhar na UTI para os eu acho muito corrido, cansativo, e acaba estressando a gente, é
técnicos de enfermagem. também um cansaço porque você percebe que o paciente veio aqui
A primeira categoria foi denominada: o cuidado ao ser humano para morrer e um desgaste mental (E2).
como finalidade do trabalho dos técnicos de enfermagem. Foi evi- O trabalho de enfermagem na UTI desenvolve-se em um ce-
denciada nos depoimentos a seguir.
nário do qual fazem parte pacientes em estado crítico de saúde,
(.....) onde você tem a oportunidade de estar cuidando do ser
dependentes da assistência, transformando esse ambiente em um
humano, do seu próximo, é diferente de mexer com exames de la-
lugar estressante, cansativo e com sobrecarga de trabalho.
boratórios, com pipetas, é outro tipo de sentimento. A gente aqui
O labor em UTI, por ser uma unidade complexa e com muitas
mexe com o ser humano.
A gente administra as drogas necessárias, aspira, conversa (....) atividades no cotidiano dos trabalhadores, pode levá-los a desenca-
busca atender a pessoa na íntegra, a enfermagem é continuidade, é dear o estresse ocupacional.
nossa responsabilidade cuidar dos pacientes (E1). Trabalhar em unidades críticas é deparar-se com a morte imi-
Aqui você trabalha com tudo, tudo que é tipo de doença, de nente constantemente, com o sofrimento de quem está sendo cui-
paciente. A experiência é boa, você sabe que a pessoa depende de dado e também dos familiares desse cliente, sendo que tais fatores
você. (....) você sabe que praticamente todos os pacientes depen- podem levar ao estresse.
dem dos cuidados que você faz, é assim eles dependem exclusiva-
mente dos cuidados da gente é cuidar do paciente como um todo. O conhecimento do sofrimento mental na saúde é antigo, po-
(....) então se você não fizer é lógico que vai prejudicar, a medicação rém, constitui-se em desafios para os profissionais que desenvol-
tem que ser na hora certa, virar o paciente, aspirar e todos os ou- vem atividades específicas de saúde mental para os indivíduos em
tros cuidados, é você cuidar da pessoa como um todo é você que qualquer ambiente.
tem a responsabilidade do doente (E3). É de importância ímpar criar espaço para ouvir e ser ouvido,
As falas demonstram que o significado de cuidado ao paciente compartilhar os sentimentos vivenciados, contribuindo para am-
é importante para os técnicos de enfermagem, devendo buscar a pliar a consciência de todos sobre o que está acontecendo com
assistência contínua e individualizada. A finalidade de cuidar é vista cada um dos trabalhadores em seus diversos aspectos(13). É neces-
como integral, assumindo isso como uma responsabilidade. sário, no entanto, o acompanhamento de profissionais especialistas
O cuidado é uma constituição ontológica sempre subjacente a para que se desenvolva um trabalho específico, a fim de ser evitado
tudo que o ser humano empreende, projeta e faz. É reconhecido ou diminuído o estresse e o sofrimento vivenciados.
como o modo de existir essencial ao ser humano. Considerando o A terceira categoria que emergiu foi designada: vivenciado o
cuidado enquanto essência do homem, ele diz respeito à própria trabalho em equipe. Esse fato foi apontado nos discursos dos en-
formação do indivíduo; o que une o espírito é o cuidado. A pessoa, trevistados, os quais entendem que o trabalho na UTI é realizado
através do cuidado, expressa o que sente, pensa e acredita. É pelo através da união da equipe, tendo por características o companhei-
cuidado que ele constrói o mundo e sua história. rismo, a colaboração, a humanização, a compreensão e também as
A enfermagem tem sido descrita como a ciência do cuidado e relações de hierarquia entre seus integrantes. Os depoimentos a
os cuidados são realizados, na grande maioria das vezes, por auxi-
seguir mostram essa realidade.
liares e técnicos de enfermagem preparados para essa função(7-8).
(.....) é a união, a gente tem que trabalhar com o paciente da
É possível cuidar do paciente de forma integral, como um indi-
gente como também auxiliar o companheiro tem que ser uma equi-
víduo em toda sua complexidade, com determinantes biológicos,
pe(E1).
sociais, psicológicos, familiares, culturais e ambientais, pois o cerne
do trabalho de enfermagem não deve ser apenas o corpo biológico, Você tem respaldo da chefia em tudo é um trabalho hierarqui-
mas, sim, o ser humano em todos os seus aspectos(7-8). zado e em equipe (E2).
O trabalhador de enfermagem almeja ser responsável em suas O trabalho aqui é em equipe, mas o que diferenciou para mim
ações de cuidado, uma vez que os pacientes estão sob sua respon- de outros locais foi a humanização das pessoas, principalmente dos
sabilidade e necessitam de assistência para a recuperação da saúde funcionários, o companheirismo, a solidariedade, muito compa-
É fundamental para o trabalhador de enfermagem estar preo- nheiro mesmo, o colega pergunta o que você tem hoje? Ele compre-
cupado com o cuidado ao paciente, pois quem presta o cuidado ex- ende que você não está bem, não te cobra, procura entende (E4).
pressa ou não a solidariedade, o compromisso, a dedicação, dentre Trabalhar em equipe é fundamental na dinâmica das inter-re-
outros atributos necessários para os pacientes e familiares. lações e no vínculo entre os componentes. Trabalhar em grupo po-
A segunda categoria foi nomeada: vivenciando o desgaste no tencializa a realização do trabalho e, como conseqüência, há aten-
cotidiano do processo de trabalho dos técnicos de enfermagem. Os dimento com maior qualidade aos pacientes.
trabalhadores entrevistados expuseram a sobrecarga de trabalho
e o ambiente pesado da UTI que gera cansaço, estresse, desgaste
físico e mental, conforme foi percebido nos depoimentos que se
seguem.

127
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A forma mais democrática, produtiva e humanizada de se efe- Em síntese, a morte de um paciente na UTI é sempre uma
tuar o trabalho em saúde tem sido a organização baseada na for- possibilidade de situação geradora de sofrimento para os trabalha-
mação de equipes. O labor transcorre com mais tranqüilidade e as dores de enfermagem e de saúde, pois vivenciam sentimentos de
relações em grupo passam da formalidade para a informalidade por impotência, fracasso profissional e os vínculos que foram estabele-
alguns momentos, no sentido de os membros dessa equipe terem cidos são rompidos, às vezes, abruptamente.
liberdade de expor seus problemas relacionados ao ambiente de
trabalho, bem como os pessoais. Por outro lado, há o sentimento de gratificação, de prazer, de
Quando há espaço que favorece a interação e a integração en- realização pessoal e profissional quando o paciente recebe alta. É o
tre os membros da equipe de enfermagem e, também, o trabalho sentimento de se ter cumprido com a sua missão que é o cuidar, ou
a ser desenvolvido é planejado e realizado dentro da competência seja, o salvar vidas, sentir-se útil.
de cada um ocorre o envolvimento de todos, favorecendo o com- Quando o paciente se recupera, o trabalhador de enfermagem
prometimento e a implementação das atividades conjuntamente. sente-se vitorioso e desfruta de sentimentos de prazer. Consegue
Nos depoimentos dos entrevistados, eles reconhecem que há perceber que os resultados de seus esforços valeram à pena. Vi-
uma hierarquia estruturada, mas pautada na flexibilidade, na ajuda, vencia a sensação de que colaborou para que o paciente grave se
no estar sempre presente nos momentos em que necessitam de recuperasse e sente que conquistou uma nova vida.
auxílio. A quinta categoria foi identificada como:criando uma identida-
A postura autoritária dos supervisores, coordenadores e/ou de com a UTI. É demonstrada nas expressões dos sujeitos que, mes-
chefes de enfermagem não contribui para o bom desempenho dos mo reconhecendo o processo de trabalho na UTI como desgastante,
membros da equipe, ao contrário, provoca distanciamento entre estressante e que pode levá-los a viver momentos de tristeza, os en-
todos, inclusive dos pacientes. Quando há proximidade entre os trevistados aprenderam a lidar com essas situações, acostumando-
indivíduos da equipe, ocorre facilidade no trabalho e até mesmo -se com a rotina da unidade e criando laços fortes de identificação
troca de conhecimentos. com a mesma, como é constatado nos discursos a seguir.
Os discursos dos técnicos de enfermagem desvelam que os en- Mas a gente acaba se acostumando com a rotina, com o tempo.
fermeiros estão adotando postura norteada pela gerência participa- Você vai ficando mais embrutecida. Você acostuma com os cole-
tiva, flexível, preservando o compromisso com todos os integrantes gas, com a rotina, com tudo (....) e aí quero é ficar aqui mesmo. Eu
da equipe e com a assistência aos pacientes, tornando o ambiente aprendi muita coisa é claro que aqui (E2).
de trabalho harmonioso e com características de equipe em que (...) a gente aprende a lidar com as coisas aqui dentro, porque
todos se ajudam mutuamente. acontece constantemente e vemos que somos úteis, não quero ir
A quarta categoria foi nominada: vivenciando o trabalho como para outra unidade aprendi muito aqui e continuo a aprender (E3).
uma experiência que traz sentimentos ambíguos. No cotidiano do Quando eu estava querendo desistir dessa área, porque sem-
trabalho na UTI, foi identificado que os técnicos de enfermagem pre trabalhei no comércio eu vim para cá, e agradeço a Deus por ter
vivenciam muitos sentimentos paradoxais. Nos discursos verificou- passado no concurso, no começo fiquei chocada, mas vi que existia
-se que caminham juntos: alegria e tristeza, sofrimento e prazer, outro lado. Eu não saio daqui para outro setor de maneira nenhu-
estresse e gratificação, realização pessoal e impotência, conforme ma, aqui eu aprendi muito e tenho aprendido todos os dias (E4).
demonstram os relatos a seguir. Os depoimentos indicam que os trabalhadores, ao se familiari-
Então existem os dois lados, o estressante e o gratificante. Tem zarem com o cotidiano da UTI, se fortalecem para o enfrentamento
um sentimento de perda também, quando você se aproxima muito dos sofrimentos e conseguem, com maior freqüência, utilizar estra-
das pessoas, ganha carinho da pessoa e retribui quando o paciente tégias defensivas conscientes ou não. A partir disso, criam identi-
está consciente e de repente ele falece [ ] então você sente aquela ficação com o seu local de trabalho e não querem ser transferidos
perda também (E1). para outras unidades.
(...) Às vezes me pergunto será que eu podia ter feito mais algu- A construção da identidade profissional mobiliza um processo
ma coisa, a gente se sente meio impotente com esse tipo de situa- de retribuição simbólica de reconhecimento do trabalhador em sua
ção, mas por outro lado, há momentos de prazer quando o paciente singularidade pelo outro, por meio das suas contribuições à orga-
recupera, quando tem alta, quando você vai insistindo e vê que va- nização do trabalho. A identidade é mediada, então, pela atividade
leu a pena investir no paciente (E2). do trabalho que envolve o julgamento dos pares. O coletivo surge
(....) Também a gente fica estressada e triste porque o pacien- como uma ligação de fundamental importância e é o ponto sensível
te fica muito tempo com a gente, você trabalha em cima dele e da dinâmica intersubjetiva da identidade no trabalho.
vê que não adiantou, ele faleceu (....) o sentimento de impotência, A identidade representa a abertura que cada um, em um deter-
será que fiz tudo que foi necessário? Mas tem o lado da gratificação minado momento, consegue ter diante do mundo no qual está. Em
quando você investe e vê que o paciente dia-a-dia vai se recuperan- toda parte, onde quer que se mantenha qualquer tipo de relação,
do até ter alta, é muito prazeroso a gente se realiza como pessoa e com qualquer tipo de ser no mundo, há a interpelação pela iden-
profissional (E3). tidade. Em cada identidade reside uma relação, uma ligação, uma
Os achados do presente estudo são semelhantes aos encon- união. Dessa forma, a identidade surge na história com o caráter da
trados em pesquisa realizada com equipe multiprofissional de uma unidade.
UTI, na qual os resultados revelaram que, para os membros da equi- Em um estudo com professores passando por transformações
pe, a morte representa o sofrimento, a perda e o sentimento de curriculares intensas, observou-se inicialmente a perda da identida-
impotência desses profissionais. de profissional e, somente com a vivência do processo, o confronto
A morte é capaz de provocar para o trabalhador de enferma- com as dificuldades e após o ganho da familiaridade da nova ação é
gem e saúde a vivência de sentimentos de sofrimento, questionan- que a identidade profissional foi ressignificada.
do sobre o que poderia e que deixou de ser feito para manter ou A experiência de ser trabalhador técnico de enfermagem na
recuperar a vida do paciente sob seus cuidados. UTI leva-o a ampliar suas percepções sobre si mesmos, contribuin-
do com o seu aprendizado para o aprimoramento profissional e a
vivência de forma mais autêntica, participando dessa realidade e
crescendo com ela.

128
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Este estudo não teve a pretensão de esgotar essa temática, http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-


principalmente considerando as limitações quando se estuda um d=S1806-69762008000200007
tema que envolve a subjetividade dos indivíduos. Porém, pode-se http://www.drh.uem.br/Proposta/Cargos/suporte/descricaosup/
dizer que esses resultados mostram a realidade vivenciada em uma tecnico_de_enfermagem.htm
UTI.

Descrição sumária Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Saber
Orientar e executar o trabalho técnico de enfermagem, partici- lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis, acei-
pando da elaboração do plano de assistência de enfermagem, em tar as exigências da vida, reconhecer seus limites e buscar ajudam
conformidade com as normas e procedimentos de biossegurança. quando necessário.
Vários são os fatores que influenciam nossos comportamentos,
Descrição detalhada as nossas escolhas, a nossa cultura, entre outros. A desarmonia
1. Executar ações assistenciais de enfermagem, sob supervisão, desses fatores pode levar uma pessoa a desenvolver um transtorno
observando e registrando sinais e sintomas apresentados pelo do- mental em um determinado momento de sua vida.
ente, fazendo curativos, ministrando medicamentos e outros. Como exemplo, podemos citar alguém que desenvolve um
2. Executar controles relacionados à patologia de cada pacien-
medo excessivo da violência, a ponto de recusar-se em sair às ruas,
te.
fato que nos leva a concluir de imediato que existem várias causas
3. Coletar material para exames laboratoriais.
colaborando para isso, como a própria história de vida da pessoa.
4. Auxiliar no controle de estoque de materiais, equipamentos
É por isso que, na consulta de enfermagem, precisamos co-
e medicamentos.
5. Operar aparelhos de eletrodiagnóstico. nhecer mais os nossos clientes, saber do que gostam, a sua etnia,
6. Cooperar com a equipe de saúde no desenvolvimento das como vivem, a fim m de tornar mais fácil identificar os fatores que
tarefas assistenciais, de ensino, pesquisa e de educação sanitária. exercem influência no momento atual de seu transtorno e, assim,
7. Fazer preparo pré e pós operatório e pré e pós parto. elaborar as intervenções necessárias.
8. Auxiliar nos atendimentos de urgência e emergência.
9. Circular salas cirúrgicas e obstétricas, preparando a sala e o Podemos dizer que alguns grupos influenciam o surgimento
instrumental cirúrgico, e instrumentalizando nas cirurgias quando da doença mental. São eles:
necessário. • Biológico - alterações ocorridas no corpo como um todo, em
10. Realizar procedimentos referentes à admissão, alta, trans- determinado órgão ou no sistema nervoso central (fatores genéti-
ferência e óbitos. cos ou hereditários, pré-natais e perinatais, neuro-endocrinológi-
11. Manter a unidade de trabalho organizada, zelando pela sua cos);
conservação comunicando ao Enfermeiro eventuais problemas. • Social - interações que temos com os outros, nossas relações
12. Auxiliar em serviços de rotina da Enfermagem. pessoais, profissionais e ou em grupos (medo na infância);
13. Colaborar no desenvolvimento de programas educativos, • Culturais - modificam-se de país para país, ou seja, a noção de
atuando no ensino de pessoal auxiliar de atividades de enfermagem certo e errado modifica-se conforme o grupo de convívio (religião,
e na educação de grupos da comunidade. escola, família, país, cultura);
14. Verificar e controlar equipamentos e instalações da unida- • Econômico - a necessidade e a miséria podem levar ao au-
de, comunicando ao responsável. mento da criminalidade e esta, ao aumento da tensão no nosso dia
15. Auxiliar o Enfermeiro na prevenção e controle das doenças a dia (o consumismo leva a dívidas que ultrapassam os ganhos);
transmissíveis em geral, em programas de vigilância epidemiológica
e no controle sistemático da infecção hospitalar. Sabemos que a incidência de transtornos mentais é alta, e tam-
16. Auxiliar o Enfermeiro na prevenção e controle sistemático bém que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) são as mais procura-
de danos físicos que possam ser causados a pacientes durante a das nesses casos, e é por isso que a equipe de enfermagem deve
assistência de saúde. estar preparada para esse tipo de atendimento.
17. Desempenhar tarefas relacionadas a intervenções cirúr-
gicas médico-odontológicas, passando-o ao cirurgião e realizando
A maior parte dos profissionais reconhece como ações de saú-
outros trabalhos de apoio.
de mental apenas a administração de medicamentos psiquiátricos e
18. Conferir qualitativa e quantitativamente os instrumentos
o encaminhamento do paciente para serviços especializados. Mas,
cirúrgicos, após o término das cirurgias.
19. Orientar a lavagem, secagem e esterilização do material ci- na realidade o atendimento da enfermagem para esses casos deve
rúrgico. ir muito além, começando por acolher e escutar o cliente.
20. Zelar, permanentemente, pelo estado funcional dos apa- A priori deve-se entender que os transtornos mentais não apa-
relhos que compõe as salas de cirurgia, propondo a aquisição de recem de forma clara e explícita, nós devemos aprender a identifi-
novos, para reposição daqueles que estão sem condições de uso. cá-los também nos pacientes que não aparentam ter transtornos
21. Preparar pacientes para exames, orientando-os sobre as mentais. É preciso identificar os pacientes que sofrem exclusão so-
condições de realização dos mesmos. cial e até mesmo observar os familiares.
22. Registrar os eletrocardiogramas efetuados, fazendo as ano- Sinais e sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esque-
tações pertinentes a fim de liberá-los para os requisitantes e possi- cimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas são os
bilitar a elaboração de boletins estatísticos. mais comuns e podem levar à incapacidade e à procura por serviços
23. Auxiliar nas atividades de radiologia, quando necessário. de saúde.
24. Executar tarefas pertinentes à área de atuação, utilizando-
-se de equipamentos e programas de informática.
25. Executar outras tarefas para o desenvolvimento das ativida-
des do setor, inerentes à sua função.

129
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

As ações de enfermagem em Saúde Mental devem começar já - Transtornos dissociativos, como anmésia dissociativa ou fuga
na entrevista, perguntando e ouvindo com atenção não somente a dissociativa;
queixa do paciente, mas sua história de vida, sua cultura, seu pro- - Transtornos sexuais e de identidade de gênero, como aversão
cesso de adoecimento, seus problemas emocionais e sofrimentos. sexual ou parafilias (como pedofilia);
É preciso conversar com o paciente, orientá-lo, pois muitas vezes - Transtornos alimentares, como anorexia nervosa e bulimia
essas ações são mais eficazes do que iniciar outra via terapêutica nervosa;
nesse indivíduo. Além disso, conversar e orientar a família também - Transtornos do sono, como insônia ou terror noturno;
são ações relevantes. - Transtornos de controle de impulso, como cleptomania ou
Quanto mais confiança o paciente sentir do profissional mais piromania;
ele se manifestará de forma sincera e verbalizará as suas dúvidas. - Transtornos de personalidade, como personalidade paranoica
Em longo prazo, deve-se acompanhar o indivíduo, principal- ou personalidade obsessivo-compulsiva.
mente se este estiver fazendo uso de terapia medicamentosa. De-
ve-se observar também se o mesmo está tendo melhora no seu O CID-10 classifica os transtornos mentais e de comportamen-
quadro de saúde mental. to, da seguinte forma:
Os profissionais de enfermagem devem entender que o porta- - Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos
dor de distúrbio mental é um sujeito ativo, e que apesar de pensar (F00-F09), como Alzheimer, demência vascular ou transtornos men-
ou agir de forma diferente da maioria, seus pensamentos e desejos tais devido a lesão cerebral ou doença física;
devem ser levados em consideração e respeitados na medida do - Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de
possível. substância psicoativa (F10-F19), como uso de álcool ou múltiplas
Para fazer um acompanhamento de forma eficiente, é preciso, drogas;
além de assistir o enfermo, investir em reuniões com a família, vi- - Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos deli-
sitas domiciliares, contato com a escola e/ou trabalho, e também rantes (F20-F29), como esquizofrenia e psicose aguda;
orientá-lo quanto aos centros de cultura e programas de inclusão - Transtornos de humor ou afetivos (F30-F39), como depressão
ou transtorno bipolar.
social, pois sociabilizá-lo com pessoas novas, pode e deve fazer mui-
- Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o
to bem para a sua recuperação.
“stress” e transtornos somatoformes (F40-F48), como transtorno
Desde 2003 foram incluídas na Estratégia de Saúde da Família
obsessivo-compulsivo ou transtorno de estresse pós-traumático;
(ESF) equipes de Saúde Mental. O principal objetivo é tratar do pa-
- Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisioló-
ciente no contexto familiar, pois realizar o tratamento isolado da fa-
gicas e a fatores físicos (F50-F59), como os transtornos alimentares
mília, das pessoas que o indivíduo tem contato diário, nem sempre
ou disfunções sexuais ou de sono causados por fatores emocionais;
apresenta resultados positivos.
- Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto
Não há um modelo pronto de atendimento a ser seguido pelo
(F60-F69), como transtornos de hábitos e impulsos.
profissional de saúde, cabe ao enfermeiro ser criativo e estar dis- - Retardo Mental (F70-79), classificados como leve, moderado,
posto a ajudar o paciente, além de procurar se aprimorar e se qua- grave ou profundo;
lificar a respeito nesse âmbito. - Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80-F89), como
transtornos relacionados à linguagem ou ao desenvolvimento mo-
Psicopatologia na Atualidade tor;
Atualmente, reconhece-se como transtornos mentais os pro- - Transtornos do comportamento e transtornos emocionais
blemas classificados no DSMIV e CID-10, como depressão, ansieda- que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência
de, autismo e esquizofrenia. Também é reconhecido o diagnóstico (F90-F98), como distúrbios de conduta ou transtornos hipercinéti-
de atraso mental como um déficit de inteligência, que pode ser cos;
leve, moderado, grave ou profunda. - Transtorno mental não especificado (F99).

O DSM-IV classifica os diferentes transtornos mentais nos se- Referências:


guintes grupos: CID-10 [2008]: http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/
- Transtornos usualmente diagnosticados na lactância, infância cid10.htm
e adolescência, como os retardos mentais e distúrbios de aprendi- Psiquiatria Geral: http://www.psiquiatriageral.com.br/
zagem;
- Delirium, Demência, Transtornos Amnésicos e Outros Trans- Sinais e Sintomas de Transtornos Mentais
tornos Cognitivos;
- Transtornos Mentais devido à Condição Clínica Geral, como De acordo com a apresentação do cliente:
transtornos catatônicos e desvios de personalidade; - Aparência: maneira de se vestir e de cuidar da higiene pes-
- Transtornos Relacionados a Substâncias, como abuso de álco- soal;
ol ou dependência de drogas, ou ainda transtornos induzidos por - Psicomotricidade: atividade motora, envolvendo a velocidade
uso de substância como abstinência de nicotina ou demência al- e intensidade; agitação (hiperatividade); retardo (hipoatividade);
coólica; tremores; maneirismo; tiques; catatonia; obediência automática;
- Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos, como paranoia negativismo;
(esquizofrenia do tipo paranoide) ou transtorno delirante;
- Transtornos do Humor, como depressão ou transtorno bipo- De acordo com a Linguagem e Pensamento:
lar; - Característica da fala: observar se a fala é espontânea, se
- Transtornos de ansiedade, como fobias ou pânico; ocorre logorreia (fala acelerada); mutismo (mantém- se mudo); ga-
- Transtornos somatoformes, como transtornos conversivos e gueira; ecolalia (repetição das ultimas palavras, como em eco);
transtornos dismórficos; - Pensamento: inicia com os cinco sentidos (visão, olfato, pala-
- Transtornos factícios, como a síndrome de Munchousen; dar, audição e tato) e conclui se com o raciocínio.

130
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Inibição do pensamento: lentificado, pouco produtivo; Transtorno de personalidade


- Fuga de ideias: tem um aporte tão grande de ideias que não Trata-se de distúrbios graves da constituição caracterológica
consegue concluí-las, emenda um assunto no outro de tal maneira e das tendências comportamentais do indivíduo, não diretamente
que torna difícil sua compreensão; imputáveis a uma doença, lesão ou outra afecção cerebral ou a um
- Desagregação do pensamento: constrói sentenças corretas, outro transtorno psiquiátrico. Estes distúrbios compreendem ha-
muitas vezes até rebuscadas, mas sem um sentido compreensível, bitualmente vários elementos da personalidade, acompanham-se
fazendo associações estranhas; em geral de angústia pessoal e desorganização social; aparecem
- Ideias supervalorizadas e obsessivas: mantém um discurso cir- habitualmente durante a infância ou a adolescência e persistem de
cular voltando sempre para o mesmo assunto; modo duradouro na idade adulta.
- Ideias delirantes: ideias que não correspondem à realidade,
mas que para o indivíduo são a mais pura verdade. As pessoas com transtorno de personalidade não têm o que se
Ex.: meus olhos possuem sistema de raio laser. considera um padrão normal de vida – do ponto de vista estatístico,
ou seja, comparado ao modo de viver das outras pessoas. Esta per-
De acordo com Senso-Percepção: turbação atinge todos os pontos da personalidade de uma pessoa
- Senso-percepção: síntese de todas as sensações e percepções que causam uma ação nos que a cercam e sobre o contexto em que
(pelos 5 sentidos) que temos e com ela formamos uma ideia de habita – na forma de demonstrar seus sentimentos, nas atitudes
tudo o que está à nossa volta. sociais.
- Alucinações: são sensações ou percepções em que o objeto O portador deste transtorno provoca danos a si mesmo e aos
não existe, mas que é extremamente real para o paciente e ele não que com ele convivem. Quando as mutações na personalidade se
pode controlá-las, pois independem de sua vontade; podem ser tornam persistentes, embora não caracterizem nenhuma mudança
auditivas, visuais, gustativas, olfativas, táteis, sinestésicas e outras; patológica, elas compõem então o Transtorno de Personalidade.
- Ilusões: sensação referente à percepção de objeto que existe.
Ex.: O teto está baixando e poderá esmagá-lo. Quando certos contextos com os quais as pessoas estão fami-
liarizadas subitamente se transformam, algumas delas não conse-
De acordo com afetividade e Humor: guem adaptar seus traços de personalidade às novas circunstâncias.
- Tristeza patológica: profundo abatimento, baixa autoestima, É como se elas fossem prisioneiras do seu modo de ser e, não sendo
geralmente acompanhados de tendência para o isolamento, choro capazes de se adaptar ao novo, ao desconhecido, seus traços de
fácil, inibição psicomotora; personalidade passam a lhes perturbar, bem como aos seus paren-
- Alegria patológica: estado eufórico, agitado, com elevada au- tes e amigos.
toestima, grande desinibição. Muitas vezes o comportamento de alguém passa a não cor-
responder a determinadas expectativas dos padrões culturais atu-
De acordo com a Atenção e Concentração: almente em vigor, tanto na área da impressão de si mesmo, das
- Inatenção: dificuldade de concentração; outras pessoas ou de alguns acontecimentos, quanto no campo
- Distração: mudança constante de focos de atenção; afetivo, envolvendo a vantagem ou não das réplicas emocionais;
- Orientação: consciência de dados que nos localizem, princi- no andamento das relações entre as pessoas, bem como no freio
palmente, no tempo e no espaço; dos impulsos. Outras vezes, suas atitudes tornam-se intransigentes,
- Desorientação: incapacidade de relacionar os dados a fim de com sérias consequências.
perceber o espaço e o tempo.
Outra característica deste transtorno é a ausência de bem-es-
Transtorno Bipolar de Humor tar nas interações sociais e profissionais. Este processo tem início,
O transtorno de Humor é uma doença caracterizada pela al- geralmente, na fase da adolescência ou, no máximo, assim que o
ternância de humor: ora ocorrem episódios de euforia (mania), ora sujeito se torna adulto. É necessário ter certeza, antes de se va-
de depressão, com períodos intercalados de normalidade. Com o ler deste diagnóstico, que não há a ocorrência de nenhuma outra
passar dos anos os episódios repetem-se com intervalos menores, patologia, o uso excessivo de determinadas substâncias químicas,
havendo variações e existindo até casos em que a pessoa tem ape- nem mesmo a incidência de problemas orgânicos ou de lesões cere-
nar um episódio de mania ou depressão durante a vida. Apesar de o brais. Certas perturbações desta natureza não devem ser analisadas
Transtorno Bipolar do Humor nem sempre ser facilmente identifica- como transtorno de personalidade em menores de 18 anos.
do, existem evidências de que fatores genéticos possam influenciar Deve-se distinguir o transtorno de personalidade, como ca-
o aparecimento da doença. racterizado acima, dos Transtornos de Alteração da Personalidade,
Durante o tratamento farmacoterápico, a enfermagem deve que ocorrem a partir de um certo momento, desencadeados nor-
estar atenta para a avaliação do paciente quanto à adesão ao tra- malmente por um evento traumático ou um estresse grave. Para se
tamento e às respostas fisiológicas aos medicamentos, percebendo definir melhor este fenômeno, os pesquisadores costumam subdi-
sua adaptação ou não aos mesmos. vidi-lo em várias categorias.
Importante ainda é perceber o grau de orientação do paciente
e da família quanto à terapêutica utilizada, direcionando, quando Classe A – Transtornos excêntricos ou estranhos:
necessária, atenção aos mesmos, propiciando conhecimentos su- - Transtorno de personalidade esquizoide: embaraços na hora
ficientes para que possam identificar eventos adversos. Também de interagir socialmente e de revelar os sentimentos. Pessoas indi-
é necessário cuidar do preparo da medicação, levando a família a ferentes e solitárias.
apoiar e o paciente a aderir ao tratamento.
- Transtorno de personalidade esquizotípica: forma mais suave
de esquizofrenia. Presença de pensamentos nada comuns.
- Transtorno de personalidade paranoide: desconfiança cons-
tante em relação às pessoas.

131
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Classe B - Transtornos dramáticos, imprevisíveis ou irregula- - anorexia nervosa atípica - transtornos que apresentam algu-
res: mas das características da anorexia nervosa mas cujo quadro clínico
- Transtorno de personalidade antissocial: pessoas insensíveis global não justifica tal diagnóstico. Por exemplo, ausência do temor
aos sentimentos dos outros. Não desejam se adaptar às leis vigen- acentuado de ser gordo na presença de uma acentuada perda de
tes. peso e de um comportamento para emagrecer.
- Transtorno de personalidade histriônica: seus portadores es- -bulimia nervosa – em geral os pacientes apresentam peso nor-
tão sempre se desdobrando para ser o centro das atenções. mal ou sobrepeso, não negam a fome.
- Transtorno de personalidade limítrofe: interações afetivas in- -transtorno de compulsão alimentar periódica – o paciente
tensas, porém caóticas e carentes de organização; instáveis e im- come sem fome até sentir-se repleto e com culpa. Pode ter relação
pulsivas. com a obesidade, as dietas para emagrecer não funcionam. Apre-
- Transtorno de personalidade narcisista: caracteriza os apaixo- sentam autocrítica negativa com sintomas depressivos e ansiosos.
nados por sua própria imagem. -transtorno alimentar não especificado. Incluem todos outros
transtornos, inclusive a orthorexia, vigorexia, drunkorexia, diabe-
Classe C – Transtornos ansiosos ou receosos: rexia etc.
- Transtorno de personalidade dependente: pessoas muito de-
pendentes afetiva e fisicamente de outros. Epidemiologia da anorexia nervosa:Yates, 1989, relatou que a
- Transtorno de personalidade esquiva: aqueles que são porta- maioria dos estudos estabeleceu uma prevalência de 1 caso entre
dores de uma timidez exagerada. 100 garotas adolescentes, sendo as mulheres de classe social mais
- Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva: não con- alta as que têm o maior risco. Cecil Loeb - Tratado de Medicina In-
fundir com o TOC-Transtornos Obsessivos Compulsivos. Indivíduos terna, 14ª Edição relatou que a incidência de novos casos atinge
que têm uma tendência para serem perfeccionistas, severos, im- uma faixa de 0,6 a 1,6 por 100.000 habitantes. A idade comum de
pertinentes com eles mesmos e com os outros; são muito frios e início é entre 14 e 17 anos, mas pode ocorrer mais cedo entre 10
submetidos constantemente a uma intensa disciplina. a 13 anos ou mais tarde até aos 40 anos de idade. A doença é pelo
menos 10 vezes mais frequente nas moças do que nos rapazes e
Tipos de distúrbios de personalidade: aflige principalmente as mulheres de nível sócio econômico médio
- Paranoide; ou superior. Há importante conflito na imagem corporal, com medo
- Esquizoide; excessivo de engordar. Acometem as pessoas magras e negam a
- Esquizotípica; fome.
- Antissocial;
- Borderline; Epidemiologia da bulimia nervosa- BN: Aflige principalmente
- Histriônica; as mulheres de nível socioeconômico médio ou superior. Em geral
- Narcisista; os pacientes apresentam peso normal ou sobrepeso, não negam
- Esquiva; a fome. Embora haja um registro considerável de bulimia na im-
- Obsessivo- Compulsiva. prensa popular a maioria da atenção tem sido dada aos aspectos
relativamente benignos do problema. Segundo Fairburn e Beglin
Transtornos de Ansiedade (1990) que fizeram uma média dos resultados de vários estudos,
A ansiedade é uma reação normal diante de situações que po- estimaram uma prevalência de 2,6%. Cooper e Fairburn (1983),
dem provocar medo, dúvida ou expectativa. Nesses casos, a ansie- com base em uma amostra da comunidade, estimaram que 1,9%
dade funciona como um sinal que prepara a pessoa para enfrentar em mulheres. Pyle et al (1983) relatou que a prevalência de BN clini-
o desafio e, mesmo que ele não seja superado, favorece sua adap- camente significativa e maior em estudantes universitárias que a da
tação às novas condições de vida. comunidade, correspondendo a aproximadamente 4%. Outros es-
O transtorno da ansiedade generalizada (TAG), segundo o ma- tudos epidemiológicos tem mostrado uma prevalência menor que
nual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), é um distúrbio 2% da verdadeira bulimia nervosa entre meninas no segundo grau
caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreen- escolar – grupo que se acredita ter o maior risco. Outras referências
siva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses bibliográficas citam a prevalência entre 1,1 à 4,2% na faixa dos 18
no mínimo e vem acompanhado por três ou mais dos seguintes sin- anos de idade.
tomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentra-
ção, tensão muscular, perturbação do sono, palpitações, falta de ar, Arthorexia:Não se conhece a prevalência, mas observa-se que
taquicardia, aumento da pressão arterial, sudorese excessiva, dor a incidência está aumentando. É a obsessão em comer extrema-
de cabeça, alteração nos hábitos intestinais, náuseas, aperto no pei- mente correto com perigo a saúde e as relações sociais. O ortho-
to, dores musculares. rético é extremamente concentrado se um determinado alimento
lhe fará bem ou mal, a ponto de inibir o apetite. Tal preocupação
Transtornos Alimentares excessiva também prejudica as relações afetivas e sociais e até mes-
São transtornos mentais graves, crônicos, que acometem prin- mo ocasionar emagrecimento excessivo.
cipalmente os adolescentes e adultos jovens, mais do sexo femini-
no, levando a danos psicológicos, sociais e clínicos, podendo, nos
casos extremos, acarretar a morte. As características comporta-
mentais gerais são a preocupação excessiva com o peso e a aparên-
cia do corpo acarretando comportamentos alimentares prejudiciais
a saúde, dificuldades no relacionamento social e sofrimento.
Classificação dos transtornos alimentares segundo o CID-10:
- anorexia nervosa– há importante conflito na imagem corpo-
ral, com medo excessivo de engordar. Acometem as pessoas magras
e negam a fome.

132
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Vigorexia: e caracteriza pelo excesso de preocupação em ter Esquizofrenia


um corpo forte. Os portadores desse transtorno exercitam-se em Os transtornos esquizofrênicos são distúrbios mentais graves
excesso e constantemente medindo sua musculatura para verificar e persistentes, caracterizados por distorções do pensamento e da
se já obtiveram resultados. Apesar de fortes ainda sim se conside- percepção, por inadequação e embotamento do afeto por ausên-
ram fracos. Quase sempre usam suplementos alimentares anaboli- cia de prejuízo no sensório e na capacidade intelectual (embora ao
zantes e até mesmo esteroides, mesmo que saibam que isto possa longo do tempo possam aparecer déficits cognitivos). Seu curso é
prejudicar a saúde. Esta doença é mais comum nos homens, mas variável, com cerca de 30% dos casos apresentando recuperação
também há casos em mulheres. Não se conhece a prevalência, mas completa ou quase completa, 30% com remissão incompleta e pre-
observa-se que está cada vez mais comum. Diferente do fisicultu- juízo parcial de funcionamento e 30% com deterioração importante
rismo. e persistente da capacidade de funcionamento profissional, social
e afetivo.
Transtorno compulsivo alimentar periódico:O transtorno de A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, ou seja,
compulsão alimentar periódico (TCAP) é uma doença caracterizada originada dentro do organismo, que se caracteriza pela perda do
por episódios de comer compulsivo, sem o comportamento de pur- contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma,
gação. O principal sintoma do transtorno de compulsão alimentar com o olhar perdido, indiferente, ter alucinações e delírios. Ela ouve
é o impulso incontrolável para ingestão de grandes quantidades de vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima. Não
alimentos, sendo que a principal consequência é o ganho de peso há argumento nem bom senso que a convença do contrário.
progressivo, resultando em obesidade, por vezes mórbida.
Os dois sintomas “produtivos e negativos” da esquizofrenia:
Referências: -Os produtivos, que são basicamente, os delírios e as alucina-
Manual Merck de Medicina – 16ª Edição ções. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade.
Guideline 2000. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indiví-
http://www.flumignano.com/medicos/biblioteca.htm duo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas
Dr. Steven Bratman – www.orthorexia.com que tramam alguma coisa contra ele. As alucinações caracterizam-
-se por uma percepção que ocorre independentemente de um es-
Transtorno Opositor Desafiante tímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as
O transtorno desafiador de oposição (TDO) ou Transtorno Opo- vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele
sitor Desafiante é um transtorno disruptivo, ou seja, não aceita re- faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio. Delírio e
gras, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapida-
e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente mente ao tratamento.
com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, Os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao trata-
incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade em mento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da
aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não se- vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de
guem a forma que eles desejam. entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza
Geralmente os pacientes apresentam um padrão contínuo de
condizente com a situação externa.
comportamento não cooperativo, desafiante, desobediente e hostil
É uma doença frequente e universal que incide em 1% da popu-
incluindo resistência à figura de autoridade. o padrão de comporta-
lação. Ocorre em todos os povos, etnias e culturas. Existem estudos
mento pode incluir:
comparativos indicando que ela se manifesta igualmente em todas
-frequentes acessos de raiva;
as classes socioeconômicas e nos países ricos e pobres. Isso reforça
-discussões excessivas com adultos, muitas vezes, questionan-
a ideia de que a esquizofrenia é uma doença própria da condição
do as regras;
humana e independe de fatores externos. Em cada 100 mil habitan-
-desafio e recusa em cumprir com os pedidos de adultos;
tes, surgem de 30 a 50 casos novos por ano.
-deliberada tentativa de irritar ou perturbar as pessoas;
-culpar os outros por seus erros; Existe um componente genético importante. O risco sobe para
-muitas vezes, ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos 13%, se um parente de primeiro grau for portador da doença. Quan-
outros; to mais próximo o grau de parentesco, maior o risco, chegando ao
-agressividade; máximo em gêmeos monozigóticos. Se um deles tem esquizofrenia,
-dificuldade em manter as amizades; a possibilidade de o outro desenvolver o quadro é de 50%. Mas, em
-problemas acadêmicos linhas gerais o ambiente pode influenciar o adoecimento nas etapas
mais precoces do desenvolvimento cerebral, da gestação à primeira
Os sintomas são geralmente vistos em várias configurações, infância, bem como na adolescência.
massão mais perceptíveis em casa ou na escola. Este problema é
bastante comum, ocorrendo entre 2% e 16% das crianças e ado- Tipos de Esquizofrenia:
lescentes. - esquizofrenia residual: refere-se a uma esquizofrenia que já
tem muitos anos e com muitas consequências. Neste tipo de esqui-
zofrenia podem predominar sintomas como o isolamento social, o
comportamento excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensa-
mentos ilógicos.
-esquizofrenia simples: normalmente, começa na adolescência
com emoções irregulares ou pouco apropriadas, pode ser seguida
de um demorado isolamento social, perda de amigos, poucas rela-
ções reais com a família e mudança de personalidade, passando de
sociável a antissocial e terminando em depressão. É também pouco
frequente.

133
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

-esquizofrenia indiferenciada: apesar desta classificação, é im- Dependência de Substâncias Psicoativas


portante destacar que os doentes esquizofrénicos nem sempre se
encaixam perfeitamente numa certa categoria. Também existem Alguns fatores de risco podem contribuir para a Dependência
doentes que não se podem classificar em nenhum dos grupos men- Química, são eles:
cionados. A estes doentes pode-se atribuir o diagnóstico de esqui-
zofrenia indeferenciada. Fatores Biológicos:
-esquizofrenia paranoide: predominam sintomas positivos - predisposição genética
como alucinações e enganos, com uma relativa preservação o fun- - capacidade do cérebro de tolerar presença constante da subs-
cionamento cognitivo e do afetivo, o inicio tende ser mais tardio tância.
que o dos outros tipos. - capacidade do corpo em metabolizar a substância.
-esquizofrenia catatónica: sintomas motores característicos são - natureza farmacológica da substância, tais como potencial de
proeminentes, sendo os principais a atividade motora excessiva, ex- toxicidade e dependência, ambas influenciadas pela via de adminis-
tremo negativismo (manutenção de uma postura rígida contra ten- tração escolhida.
tativas de mobilização, ou resistência a toda e qualquer instrução),
mutismo, cataplexia (paralisia corporal momentânea), ecolalia (re- Fatores Psicológicos:
petição patológica, tipo papagaio e aparentemente sem sentido de - distúrbios do desenvolvimento
uma palavra ou frase que outra pessoa acabou de falar) e ecopraxia - morbidades psiquiátricas: ansiedade, depressão, déficit de
(imitação repetitiva dos movimentos de outra pessoa). Necessita atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade.
cuidadosa observação, pois existem riscos potenciais de desnutri- - problemas / alterações de comportamento.
ção, exaustão, hiperpirexia ou ferimentos auto infligidos. - baixa resiliência e limitado repertório de habilidades sociais.
-esquizofrenia desorganizada: discurso desorganizado e sinto- - expectativa positiva quanto aos efeitos das substâncias de
mas negativos como comportamento desorganizado e achatamen- abuso
to emocional predominam neste tipo de esquizofrenia. Os aspectos
associados incluem trejeitos faciais, maneirismos e outras estra- Fatores sociais:
nhezas do comportamento. - estrutura familiar disfuncional: violência doméstica, abando-
no,
Abuso de Substâncias Psicoativas - carências básicas.
Droga psicoativa ou substância psicotrópica é a substância - exclusão e violência social.
química que age principalmente no sistema nervoso central, onde - baixa escolaridade.
altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o - oportunidades e opções de lazer precárias.
humor, o comportamento e a consciência. - pressão de grupo para o consumo.
Substâncias psicoativas são aquelas que alteram o psiquismo. - ambiente permissivo ou estimulador do consumo de substân-
Diversas dessas drogas possuem potencial de abuso, ou seja, são cias
passíveis da autoadministração repetida e consequente ocorrên-
cia de fenômenos, como uso nocivo (padrão de uso de substâncias Intoxicação por uso Abusivo de Substancias Psicoativas
psicoativas que está causando dano à saúde física ou mental), to- Em geral, os quadros de intoxicação são atendidos em serviços
lerância (necessidade de doses crescentes da substância para atin- de emergência, frequentemente em decorrência de complicações
clínicas, como rebaixamento do nível de consciência, convulsões e
gir o efeito desejado), abstinência, compulsão para o consumo e a
agitação psicomotora. As condutas devem ser tomadas de acordo
dependência (síndrome composta de fenômenos fisiológicos, com-
com o quadro clínico à admissão do paciente. Frequentemente não
portamentais e cognitivos no qual o uso de uma substância torna-se
dispomos de informações como a identificação exata da(s) droga(s)
prioritário para o indivíduo em relação a outros comportamentos
utilizada(s), assim como a quantidade usada e o grau de tolerância
que antes tinham maior importância).
prévia. As medidas específicas devem ser de acordo com cada subs-
tância ingerida.
As substâncias psicoativas são divididas em três grupos:
- Drogas psicoanalépticas ou estimulantes do SNC (cocaína, an-
Síndrome de Abstinência
fetamina, nicotina, cafeína etc.). No manejo das síndromes de abstinência, devemos priorizar o
-Drogas psicolépticas ou depressoras do SNC (álcoolbenzodia- alívio dos sintomas e a prevenção de complicações inerentes à abs-
zepínicos, barbitúricos, opioides, solventes etc. tinência da substância. O tratamento da síndrome de dependência,
-Drogas psicodislépticas ou alucinógenas (cannabis, LSD, fun- em geral, pode ser realizado ambulatorialmente ou em regime de
gos alucinógenos, anticolinérgicos etc.). internação hospitalar. Algumas possíveis indicações de internação
hospitalar, conforme estão presentes na listagem a seguir:
Os limites são entre o uso recreativo, o abuso e a dependência - rebaixamento do nível de consciência;
de substâncias psicoativas. Postula-se que sejam fenômenos que - crises convulsivas;
ocorram continuamente e que alguns parâmetros orientem a tran- - sintomas depressivos severos ou persistentes, especialmente
sição de um estágio para o outro. com risco de suicídio;
O abuso ou uso nocivo seria um momento intermediário entre - sintomas psicóticos severos ou persistentes;
o uso recreativo (de baixo risco, não sendo caracterizado como um - comorbidades psiquiátricas (p. ex., esquizofrenia, transtorno
problema médico) e a dependência. Já há prejuízo decorrente do afetivo bipolar, depressão melancólica, transtornos ansiosos graves
consumo da substância, mas ainda há algum controle do indivíduo etc.);
quanto à quantidade consumida e à duração dos efeitos. - comorbidades clínicas severas (p. ex., AVC, hepatopatia, car-
A dependência de substâncias psicoativas é uma síndrome cujo diopatias, infecções, doenças respiratórias etc.);
elemento central é um desejo intenso de consumir a substância. - antecedente de síndrome de abstinência severa (delirium tre-
mens,crises convulsivas);

134
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- falha de tratamento ambulatorial; O enfermeiro que está tendo o primeiro contato com um pa-
- falta de motivação para qualquer forma de tratamento; ciente que sofre de transtornos mentais deve aprender a direcio-
- ausência de suporte familiar ou social; nar a sua atenção em primeiro lugar no paciente e nas suas ne-
- idosos; cessidades. Como esse primeiro contato pode ser estressante, uma
- risco de vida (comportamento autodestrutivo, dívidas com assistência humanizada e diferenciada será de grande valia para o
traficantes etc.). sucesso do tratamento.
Escutar o paciente com atenção e interesse e, principalmente,
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade – TDAH valorizar a comunicação não verbal, devem ser peças-chaves em to-
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade- TDAH dos os atendimentos.
é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece Para o enfermeiro que nunca teve nenhum contato com a área
na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a de saúde mental, a falta de procedimentos invasivos parece inco-
sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude erente. No entanto, a comunicação é um poderoso instrumento
e impulsividade. Ocorre em 3 a 5% das crianças. transformador nas relações entre profissionais e pacientes.
Os sintomas desatenção, hiperatividade e impulsividade po- A construção de um vínculo de confiança entre enfermeiro e
dem ser explicados da seguinte forma: Em geral as crianças são tidas paciente é a melhor ação terapêutica para esses casos.
como desligadas, avoadas, “vivendo no mundo da lua”, e geralmen-
te estabanadas ou ligadas, não param quietas por muito tempo. Além disso, é preciso que o enfermeiro esteja preparado para:
- Realizar avaliações biopsicossociais da saúde;
Retardo mental - Criar e implementar planos de cuidados para pacientes e fa-
Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto miliares;
do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por -Participar de atividades de gerenciamento de caso;
um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das - Promover e manter a saúde mental;
faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, - Fornecer cuidados diretos e indiretos;
das funções cognitivas (processo de conhecimento/cognição), de - Controlar e coordenar os sistemas de cuidados;
linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo - Integrar as necessidades do paciente, da família e de toda
mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou equipe médica.
ocorrer de modo independentemente.
Todos esses pontos, juntamente com uma relação terapêutica,
Tipos de retardo mental trazem muitos benefícios ao tratamento, como a redução da ansie-
Quociente de Inteligência-QI é um fator que mede a inteligên- dade e do estresse, o aumento do bem-estar, a melhora da memó-
cia das pessoas com base nos resultados de testes específicos. O ria, da qualidade de vida e das funções psíquicas e a reintegração
QI mede o desempenho cognitivo de um indivíduo comparando a social do paciente.
pessoas do mesmo grupo etário. Nestes casos, as ações de enfermagem devem começar com
- retardo mental leve: amplitude aproximada do QI entre 50 e uma entrevista, com o profissional ouvindo atentamente a queixa
69 (em adultos, idade mental de 9 a menos de 12 anos). Provavel- do paciente, mas também a sua história de vida, o seu processo de
mente devem ocorrer dificuldades de aprendizado na escola. Mui- adoecimento e os seus problemas emocionais. É preciso conversar
tos adultos serão capazes de trabalhar e de manter relacionamento com o paciente e com a família para orientá-los sobre as ações mais
social satisfatório e de contribuir para a sociedade. eficazes para o tratamento terapêutico.
- retardo mental moderado: amplitude aproximada do QI en-
tre 35 e 49 (em adultos, idade mental de 6 a menos de 9 anos). Como se proteger das possíveis intercorrências que podem
Provavelmente devem ocorrer atrasos acentuados do desenvolvi- acontecer?
mento na infância, mas a maioria dos pacientes aprende a desem- Um enfermeiro deve estar qualificado para desenvolver as suas
penhar algum grau de independência quanto aos cuidados pessoais atividades com pacientes com transtornos mentais, pois a demanda
e adquirir habilidades adequadas de comunicação e acadêmicas. varia de acordo com estado psíquico de cada paciente. O profissio-
Os adultos necessitarão de assistência em grau variado para viver e nal deve estar preparado para saber lidar com as intercorrências
trabalhar na comunidade. que podem acontecer, ficando muitas vezes mais vulnerável a efei-
- retardo mental grave: amplitude aproximada de QI entre 20 tos negativos do trabalho.
e 40 (em adultos, idade mental de 3 a menos de 6 anos). Provavel- Diante de uma situação como essa, é possível que apareça a
mente deve ocorrer a necessidade de assistência contínua. dúvida de como atuar em uma área que pode causar estresse e des-
- retardo mental profundo: QI abaixo de 20 (em adultos, idade gaste emocional, dificultando o desempenho no trabalho e até a
mental abaixo de 3 anos). Devem ocorrer limitações graves quanto vida pessoal do enfermeiro.
aos cuidados pessoais, continência, comunicação e mobilidade. A necessidade de uma constante capacitação para que os en-
fermeiros possam desenvolver as habilidades necessárias para
É comum que a grande maioria dos enfermeiros reconheça impedir que o seu trabalho diário com pacientes com transtornos
como ações dentro de um tratamento de saúde mental apenas a mentais influencie negativamente na sua vida pessoal, além da sua
administração de remédios e o encaminhamento do paciente para saúde física e emocional, se faz fundamental.
serviços especializados. No entanto, o atendimento da enfermagem
deve ir muito além, acolhendo e escutando o paciente com atenção
e cuidado.

135
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A saúde mental Modalidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)


A Política Nacional de Saúde Mental é uma ação do Governo CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtor-
Federal, coordenada pelo Ministério da Saúde, que compreende nos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias
as estratégias e diretrizes adotadas pelo país para organizar a as- psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil
sistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados habitantes.
específicos em saúde mental. Abrange a atenção a pessoas com CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtor-
necessidades relacionadas a transtornos mentais como depressão, nos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias
ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno ob- psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil
sessivo-compulsivo etc, e pessoas com quadro de uso nocivo e de- habitantes.
pendência de substâncias psicoativas, como álcool, cocaína, crack e CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtor-
outras drogas. nos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias
O acolhimento dessas pessoas e seus familiares é uma estraté- psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil
gia de atenção fundamental para a identificação das necessidades habitantes.
assistenciais, alívio do sofrimento e planejamento de intervenções CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias,
medicamentosas e terapêuticas, se e quando necessárias, confor- especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas,
me cada caso. Os indivíduos em situações de crise podem ser aten- atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes.
didos em qualquer serviço da Rede de Atenção Psicossocial, forma- CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento notur-
da por várias unidades com finalidades distintas, de forma integral no e observação; todas faixas etárias; transtornos mentais graves e
e gratuita, pela rede pública de saúde. persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende
Além das ações assistenciais, o Ministério da Saúde também cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
atua ativamente na prevenção de problemas relacionados a saúde CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de aco-
mental e dependência química, implementando, por exemplo, ini- lhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas faixas
ciativas para prevenção do suicídio, por meio de convênio firmado etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cida-
com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que permitiu a ligação des e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes.
gratuita em todo o país.
ATENÇÃO: Se o município não possuir nenhum CAPS, o atendi-
ATENÇÃO: O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio mento de saúde mental é feito pela Atenção Básica, principal porta
emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratui- de entrada para o SUS, por meio das Unidades Básicas de Saúde ou
tamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob Postos de Saúde.
total sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias.
A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número Urgência e emergência: SAMU 192, sala de estabilização, UPA
188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. 24h e pronto socorro
Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat. São serviços para o atendimento de urgências e emergências
rápidas, responsáveis, cada um em seu âmbito de atuação, pela
Estrutura de atendimento - Rede de Atenção Psicossocial classificação de risco e tratamento das pessoas com transtorno
(RAPS) mental e/ou necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e
As diretrizes e estratégias de atuação na área de assistência outras drogas em situações de urgência e emergência, ou seja, em
à saúde mental no Brasil envolvem o Governo Federal, Estados e momentos de crise forte.
Municípios. Os principais atendimentos em saúde mental são rea-
lizados nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) que existem no Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT)
país, onde o usuário recebe atendimento próximo da família com São moradias ou casas destinadas a cuidar de pacientes com
assistência multiprofissional e cuidado terapêutico conforme o qua- transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa
dro de saúde de cada paciente. Nesses locais também há possibili- permanência e que não possuam suporte social e laços familiares.
dade de acolhimento noturno e/ou cuidado contínuo em situações Além disso, os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) também
de maior complexidade. podem acolher pacientes com transtornos mentais que estejam em
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é formada pelos seguin- situação de vulnerabilidade pessoal e social, como, por exemplo,
tes pontos de atenção: moradores de rua.

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Unidades de Acolhimento (UA)


São pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicos- Oferece cuidados contínuos de saúde, com funcionamento
social (RAPS). Unidades que prestam serviços de saúde de caráter 24h/dia, em ambiente residencial, para pessoas com necessidade
aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional que decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, de ambos os
atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendi- sexos, que apresentem acentuada vulnerabilidade social e/ou fa-
mento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo miliar e demandem acompanhamento terapêutico e protetivo de
aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras caráter transitório. O tempo de permanência nessas unidades é de
drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos até seis meses.
processos de reabilitação psicossocial. São substitutivos ao modelo
asilar, ou seja, aqueles em que os pacientes deveriam morar (ma- As Unidades de Acolhimento são divididas em:
nicômios). Unidade de Acolhimento Adulto (UAA): destinada às pessoas
maiores de 18 (dezoito) anos, de ambos os sexos; e Unidade de Aco-
lhimento Infanto-Juvenil (UAI): destinada às crianças e aos adoles-
centes, entre 10 (dez) e 18 (dezoito) anos incompletos, de ambos
os sexos.

136
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

As UA contam com equipe qualificada e funcionam exatamente como uma casa, onde o usuário é acolhido e abrigado enquanto seu
tratamento e projeto de vida acontecem nos diversos outros pontos da RAPS.

Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental


Os Ambulatórios Multiprofissionais de Saúde Mental são serviços compostos por médico psiquiatra, psicólogo, assistente social, tera-
peuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro e outros profissionais que atuam no tratamento de pacientes que apresentam transtornos
mentais. Esses serviços devem prestar atendimento integrado e multiprofissional, por meio de consultas.
Funcionam em ambulatórios gerais e especializados, policlínicas e/ou em ambulatórios de hospitais, ampliando o acesso à assistência
em saúde mental para pessoas de todas as faixas etárias com transtornos mentais mais prevalentes, mas de gravidade moderada, como
transtornos de humor, dependência química e transtornos de ansiedade, atendendo às necessidades de complexidade intermediária entre
a atenção básica e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Comunidades Terapêuticas
São serviços destinados a oferecer cuidados contínuos de saúde, de caráter residencial transitório para pacientes, com necessidades
clínicas estáveis, decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.

Enfermarias Especializadas em Hospital Geral


São serviços destinados ao tratamento adequado e manejo de pacientes com quadros clínicos agudizados, em ambiente protegido e
com suporte e atendimento 24 horas por dia. Apresentam indicação para tratamento nesses Serviços pacientes com as seguintes carac-
terísticas: incapacidade grave de autocuidados; risco de vida ou de prejuízos graves à saúde; risco de autoagressão ou de heteroagressão;
risco de prejuízo moral ou patrimonial; risco de agresão à ordem pública. Assim, as internações hospitalares devem ocorrer em casos de
pacientes com quadros clínicos agudos, em internações breves, humanizadas e com vistas ao seu retorno para serviços de base aberta.

Hospital-Dia
É a assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial, para realização de procedimentos clínicos, cirúrgicos,
diagnósticos e terapêuticos, que requeiram a permanência do paciente na Unidade por um período máximo de 12 horas.

O que é Reabilitação Psicossocial?


A reabilitação psicossocial é compreendida como um conjunto de ações que buscam o fortalecimento, a inclusão e o exercício de direi-
tos de cidadania de pacientes e familiares, mediante a criação e o desenvolvimento de iniciativas articuladas com os recursos do território
nos campos do trabalho, habitação, educação, cultura, segurança e direitos humanos.

O que fazer para ter uma boa saúde mental?


- Praticar hábitos saudáveis e adotar um estilo de vida de qualidade, ajudam a manter a saúde mental em dia.
- Jamais se isole
- Consulte o médico regularmente
- Faça o tratamento terapêutico adequado
- Mantenha o físico e o intelectual ativos
- Pratique atividades físicas
- Tenha alimentação saudável
- Reforce os laços familiares e de amizades

137
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Quem pode ser afetado por problema de saúde mental e/ou dependência química?
Todas as pessoas, de ambos os sexos e em qualquer faixa etária, pode ser afetado, em algum momento, por problemas de saúde
mental ou dependência química, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, no entanto, podem servir como gatilhos para início do
problema.
- Entrada na escola (início dos estudos)
- Adolescência
- Separação dos pais
- Conflitos familiares
- Dificuldades financeiras
- Menopausa
- Envelhecimento
- Doenças crônicas
- Divórcio
- Perda entes queridos
- Desemprego
- Fatores genéticos
- Fatores infecciosos
- Traumas
- Falsos conceitos sobre saúde mental

É comum que as pessoas que sofram com transtornos mentais ou dependência química seja, muitas vezes, incompreendidas, julgadas,
excluídas e até mesmo marginalizadas, devido a falsos conceitos ou pré-conceitos errados.
Entenda que as doenças mentais:
- Não são fruto da imaginação;
- A pessoa não escolhe ter;
- Algumas doenças mentais têm cura, outras possuem tratamentos específicos;
- Pessoas com problemas mentais são tão inteligentes quanto as que não têm;
- Pessoas com problemas mentais não são preguiçosas;

138
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Estes mitos, aliados à discriminalização, aumentam os sintomas O objetivo é contribuir efetivamente para o processo de inser-
do problema e, em muitas ocasiões, podem levar até ao suicídio. ção social das pessoas com longa história de internações em hospi-
Mesmo nos casos mais graves, é possível controlar e reduzir os sin- tais psiquiátricos, por meio do pagamento mensal de um auxílio-re-
tomas por meio de medidas de reabilitação e tratamentos especí- abilitação aos beneficiários. Para receber o auxílio-reabilitação do
ficos. A recuperação é mais efetiva e rápida quanto mais precoce- Programa De Volta para Casa, a pessoa deve ser egressa de Hospital
mente o tratamento for iniciado. Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, e
ter indicação para inclusão em programa municipal de reintegração
FAÇA SUA PARTE. NÃO DISSEMINE FALSOS CONCEITOS! Não social. O Programa possibilita a ampliação da rede de relações dos
questione, não ache que é frescura e que é simplesmente força de usuários, assegura o bem estar global da pessoa e estimula o exer-
vontade para superar. Não estigmatize. Apoie. Dê amor, atenção cício pleno dos direitos civis, políticos e de cidadania, uma vez que
e compreensão. Ajude a reabilitar, incentivando acompanhamento prevê o pagamento do auxílio-reabilitação diretamente ao benefi-
profissional adequado. Ajuda a integrar ou reintegrar a pessoa. ciário, por meio de convênio entre o Ministério da Saúde e a Caixa
Econômica Federal.
Tratamentos para saúde mental e dependência química
São o conjunto de estratégias adotadas para prestar tratamen- Benefício de Prestação Continuada (BPC)
to em saúde às pessoas com problemas relacionados a transtornos O benefício de prestação continuada é gerido pelo Ministério
mentais, ao abuso e à dependência de substâncias psicoativas, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e operaciona-
como álcool, tabaco, cocaína, crack, maconha, opioides, alucinó- lizado pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). Os recur-
genos, drogas sintéticas, etc. O uso, abuso e dependência química sos para seu custeio provêm do Fundo Nacional de Assistência So-
são problemas complexos, multifatoriais, que exigem abordagem cial (FNAS). É, na verdade, a garantia de um salário mínimo mensal
interdisciplinar, envolvendo múltiplas áreas governamentais (Saú- ao idoso acima de 65 anos ou à pessoa com deficiência de qualquer
de, Assistência Social, Trabalho, Justiça). Recentemente, o Governo idade com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou
alterou as diretrizes de sua Política Nacional sobre Drogas, por meio sensorial de longo prazo (aquele que produza efeitos pelo prazo mí-
da Resolução no 1 de 2018 do Conselho Nacional de Políticas Sobre nimo de 2 anos), que o impossibilite de participar de forma plena
Drogas (CONAD). Abaixo, seguem as principais mudanças apresen- e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais
tadas na Resolução do CONAD: pessoas.
- Alinhamento entre a Política Nacional sobre Drogas e a re-
cém-publicada Política Nacional de Saúde Mental; Benefício de Prestação Continuada na Escola
- Ações de Prevenção, Promoção à Saúde e Tratamento passam O programa Benefício de Prestação Continuada na Escola tem
a ser baseadas em evidências científicas; como objetivo monitorar o acesso e permanência na escola dos be-
- Posição contrária à legalização das drogas; neficiários com deficiência, na faixa etária de 0 a 18 anos, por meio
- Estratégias de tratamento não devem se basear apenas em de ações articuladas, entre as áreas da educação, assistência social,
Redução de Danos, mas também em ações de Promoção de Absti- direitos humanos e saúde. Tem como principal diretriz a identifi-
nência, Suporte Social e Promoção da Saúde; cação das barreiras que impedem ou dificultam o acesso e a per-
- Fomento à pesquisa deve se dar de forma equânime, garan- manência de crianças e adolescentes com deficiência na escola e o
tindo a participação de pesquisadores de diferentes correntes de desenvolvimento de ações intersetoriais, envolvendo as Políticas de
pensamento e atuação; Educação, de Assistência Social, de Saúde e de Direitos Humanos,
- Ações Intersetoriais; com vista à superação destas barreiras.
- Apoio aos pacientes e familiares em articulação com Grupos,
Associações e Entidades da Sociedade Civil, incluindo as Comunida- A reforma psiquiátrica
des Terapêuticas; A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como um
- Modificação dos documentos legais de orientação sobre a Po- processo político e social complexo. Na década de 70 são registra-
lítica Nacional sobre Drogas, destinados aos parceiros governamen- das várias denúncias quanto à política brasileira de saúde mental
tais, profissionais da saúde e população em geral; em relação à política de privatização da assistência psiquiátrica por
- Atualização da posição do Governo brasileiro nos foros inter- parte da previdência social, quanto às condições (públicas e priva-
nacionais, seguindo a presente Resolução. das) de atendimento psiquiátrico à população.
É nesse contexto, no fim da década citada, que surge pequenos
Direitos das pessoas com transtornos mentais núcleos estaduais, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais. Estes constituem o Movimento de Trabalha-
Programa de Volta para Casa dores em Saúde Mental (MTSM).
O Programa de Volta para Casa é um dos instrumentos mais No Rio de Janeiro, em 1978, eclode o movimento dos trabalha-
efetivos para a reintegração social das pessoas com longo histórico dores da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM) e coloca em
de hospitalização. Trata-se de uma das estratégias mais potenciali- xeque a política psiquiátrica exercida no país. A questão psiquiátrica
zadoras da emancipação de pessoas com transtornos mentais e dos é colocada em pauta, em vista disto, tais movimentos fazem ver à
processos de desinstitucionalização e redução de leitos nos estados sociedade como os loucos representam a radicalidade da opressão
e municípios. Criado por lei federal, o Programa é a concretização e da violência imposta pelo estado autoritário. A Reforma busca co-
de uma reivindicação histórica do movimento da Reforma Psiquiá- letivamente construir uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e
trica Brasileira. ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com trans-
tornos mentais.

139
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A Reforma Psiquiátrica no Brasil deve ser entendida como um insulamento do alienado. Ele defendia, ao contrário, que o doente
processo político e social complexo, tendo em vista, ser o mesmo mental voltasse a viver com sua família. Sua atitude inicial foi aper-
uma combinação de atores, instituições e forças de diferentes ori- feiçoar a qualidade de hospedaria e o cuidado técnico aos internos
gens, e que incide em territórios diversos, nos governos federal, es- no hospital em que dirigia. Essas normas e o pensamento de Franco
tadual e municipal, nas universidades, no mercado dos serviços de Baságlia influenciam, entre outros, o Brasil, fazendo ressurgir diver-
saúde, nos conselhos profissionais, nas associações de pessoas com sas discussões que tratavam da desinstitucionalização do portador
transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, de sofrimento mental e da humanização do tratamento a essas pes-
e nos territórios do imaginário social e da opinião pública. (BRASIL, soas, com o objetivo de promover a re-inserção social.
2005). O movimento pela Reforma Psiquiátrica tem início no Brasil
no final dos anos setenta. Este movimento tinha como bandeira a A Reforma Psiquiátrica no Brasil
luta pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país. O que Na década de 70 são registradas várias denúncias quanto à
implicava na superação do modelo anterior, o qual não mais satis- política brasileira de saúde mental em relação à política de priva-
fazia a sociedade. tização da assistência psiquiátrica por parte da previdência social,
O processo da Reforma Psiquiátrica divide-se em duas fases: a quanto às condições (públicas e privadas) de atendimento psiqui-
primeira de 1978 a 1991 compreende uma crítica ao modelo hos- átrico à população. É nesse contexto, que no fim da década citada,
pitalocêntrico, enquanto a segunda, de 1992 aos dias atuais desta- que surge a questão da reforma psiquiátrica no Brasil. Pequenos
ca-se pela implantação de uma rede de serviços extrahospitalares. núcleos estaduais, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de
O modelo mais adotado para conter a loucura foi o asilo. Britto Janeiro e Minas Gerais constituem o Movimento de Trabalhadores
apud Mesquita (2008:3) informa que no Brasil a instituição da psi- em Saúde Mental (MTSM). No Rio de Janeiro, em 1978, eclode o
quiatria encontra-se relacionado à vinda da Família Real Portuguesa movimento dos trabalhadores da Divisão Nacional de Saúde Mental
em 1808. Foi nesta época que foram construidos os primeiros asilos (DINSAM) e coloca em xeque a política psiquiátrica exercida no país.
que funcionavam como depósitos de doentes, mendigos, deliquen- A questão psiquiátrica é colocada em pauta: “... tais movimentos
tes e criminosos, removendo-os da sociedade, com o objetivo de fazem ver à sociedade como os loucos representam a radicalidade
colocar ordem na urbanização, disciplinando a sociedade e sendo, da opressão e da violência imposta pelo estado autoritário”. (Rotelli
dessa forma, compatível ao desenvolvimento mercantil e as novas et al, 1992: 48).
políticas do século XIX. Na década de 80, ocorrem vários encontros, preparatórios para
a I Conferência Nacional de Saúde Mental (I CNSM), que ocorreu
BRITTO apud MESQUITA (2008:3) nos explica: em 1987 os quais recomendam a priorização de investimentos nos
Com o relevante crescimento da população, a Cidade passou a serviços extra-hospitalares e multiprofissionais como oposição à
se deparar com alguns problemas e, dentre eles, a presença dos lou- tendência hospitalocêntrica. No final de 1987 realiza-se o II Con-
cos pelas ruas. O destino deles era a prisão ou a Santa Casa de Mise- gresso Nacional do MTSM em Bauru, SP, no qual se concretiza o Mo-
ricórdia, que era um local de amparo, de caridade, não um local de vimento de Luta Antimanicomial e é construído o lema „por uma
cura. Lá, os alienados recebiam um “tratamento” diferenciado dos sociedade sem manicômios‟. Nesse congresso amplia-se o sentido
outros internos. Os insanos ficavam amontoados em porões, sofren- político-conceitual acerca do antimanicomial.
do repressões físicas quando agitados, sem contar com assistência
médica, expostos ao contágio por doenças infecciosas e subnutri-
AMARANTES (1995:82) explica:
dos. Interessante observar que naquele momento, o recolhimento
Enfim, a nova etapa (...) consolidada no Congresso de Bauru,
do louco não possuía uma atitude de tratamento terapêutico, mas,
repercutiu em muitos âmbitos: no modelo assistencial, na ação cul-
sim, de salvaguardar a ordem pública.
tural e na ação jurídicopolítica. No âmbito do modelo assistencial,
A psiquiatria nasce, no Brasil com o desígnio de resguardar a
esta trajetória é marcada pelo surgimento de novas modalidades
população contra os exageros da loucura, ou seja, não havia finali-
de atenção, que passaram a representar uma alternativa real ao
dade em buscar uma cura para aqueles acometidos de transtornos
modelo psiquiátrico tradicional....
mentais, mais sim, excluí-los do seio da sociedade para que esta
não se sentisse amofinada. ROCHA (1989, p.13) 9. Portanto, a ques- No ano de 1989, um ano após a criação do SUS – Sistema Único
tão principal era o isolamento dos doentes mentais e não com um de Saúde – dá entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do
tratamento. É o Hospício D. Pedro II que, em 1852, passa a internar deputado Paulo Delgado (PT/MG).
os doentes mentais e a tirá-los do convívio em sociedade. O qual propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com
(ROCHA 1989:15) 10. Este mesmo autor enfatiza que “é a psi- transtornos mentais e a extinção progressiva dos hospícios no país.
quiatria que cria espaço próprio para o enclausuramento do louco Porém, cabe enfatizar que é somente no ano de 2001, após 12 anos
– capaz de dominá-lo e submete-lo.” Estes lugares de clausura eram de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é
os hospitais psiquiátricos também denominados asilos, hospícios e aprovada no país. A concordância, no entanto, é uma emenda do
manicômios. Projeto de Lei original, que traz alterações importantes no texto
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começa a surgir o mo- normativo.
delo manicomial brasileiro, principalmente os manicômios priva- Assim, a Lei Federal 10.216/2001 redireciona o amparo em saú-
dos. Nos anos 60, com a criação do Instituto Nacional de Previdên- de mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços
cia Social (INPS), o Estado passa a utilizar os serviços psiquiátricos de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pes-
do setor privado. Dessa forma, cria-se uma “indústria para o enfren- soas com transtornos mentais, no entanto, não estabelece estrutu-
tamento da loucura” (Amarante, 1995:13). ras claras para a progressiva extinção dos manicômios. Ainda assim,
O modelo asilar ou hospitalocêntrico continua predominante a publicação da lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para
até o final do primeiro meado do século XX. Até que em 1961, o o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil, pois mesmo antes de
médico italiano Franco Baságlia assume a direção do Hospital Psi- sua aprovação, suas consequências já eram visíveis por meio de di-
quiátrico de Gorizia, na Itália. No campo das relações entre a cole- ferentes ações, tais como a de criação das SRTs e de programas, tal
tividade e a insanidade, ele assumia uma atitude crítica para com a como “De volta pra casa”. Novas modalidades para o tratamento do
psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do usuário de saúde mental foram postas em prática.

140
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A Luta Antimanicomial possibilitou o desenvolvimento de cuidado. Propõe-se a ruptura com as instituições totais e a organi-
pontos extremamente importantes para a desinstitucionalização zação de serviços humanos, inseridos nas comunidades, que consi-
da loucura. Podemos destacar aqui o surgimento de relevantes deram o paciente como sujeito e não como objeto.
serviços de atendimentos Extra-Hospitalares oriundos da Refor- Segundo Costa-Rosa (2000), o paradigma psicossocial se pauta
ma Psiquiátrica: Núcleo de Atenção Psico-social (NAPS); Centro de em quatro parâmetros fundamentais:
Atendimento Psico-social (CAPs I, CAPs II, CAPs III, CAPsi, CAPsad); - implicação subjetiva do usuário, pressupondo a superação do
Centro de Atenção Diária (CADs); Hospitais Dias (HDs); Centros de modo de relação sujeito-objeto, característico do modelo biomé-
Convivência e Cultura. dico e das disciplinas especializadas que se pautam pelas ciências
A Lei Paulo Delgado foi criticada, sobretudo por proprietários positivistas;
de hospitais e clínicas privadas conveniadas ao SUS, nas quais se lo- - horizontalização das relações intrainstitucionais, tanto entre
calizavam a maior parte dos leitos para o atendimento dos doentes as esferas do poder decisório, de origem política, e as esferas do
mentais. Em 1985, Segundo dados do Ministério da Saúde. 80% dos poder de coordenação, de natureza mais operativa, como também
leitos psiquiátricos eram contratados enquanto somente 20% eram das relações especificamente interprofissionais;
internações na rede pública. (BRASIL, 2005). - integralidade das ações no território que preconiza o posicio-
TENÓRIO (2002:38) aponta para dois grandes marcos da dé- namento da instituição como espaço de interlocução, como instân-
cada de 80, no que tange à Reforma Psiquiátrica: a inauguração do cia de “suposto saber” e, ao fazer dela um espaço de intensa po-
primeiro CAPS na Cidade de São Paulo e a Intervenção Pública na rosidade em relação ao território, praticamente subverte a própria
Casa de Saúde Anchieta (Santos-SP) a qual funcionava com 145% natureza da instituição como dispositivo. A natureza da instituição
de ocupação (290 leitos com 470 internados). O internamento asi- como organização fica modificada e o local de execução de suas
lar não representava a exclusiva perspectiva para esta classe da práticas se desloca do antigo interior da instituição para tomar o
população a qual tinha seus direitos cerceados, impedida de ir e próprio território como referência;
vir, em internações infindáveis onde os usuários em diversos casos - superação da ética da adaptação, ao propor suas ações na
perdiam suas referencia com familiares e grupos afetivos. Efetivan- perspectiva de uma ética de duplo eixo que considera, por um lado,
do-se acima de tudo em perda da autonomia destes. a relação sujeito-desejo e, por outro, a dimensão carecimento-i-
A Reforma destaca-se então enquanto um movimento com a deais, firmando a meta da produção de subjetividade singulariza-
finalidade de intervir no então modelo vigente, buscando o fim da da, tanto nas relações imediatas com o usuário propriamente dito
mercantilização da loucura para assim poder “[...] construir coleti- quanto nas relações com toda a população do território (Costa-Ro-
vamente uma critica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo sa, 2000).
hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos men-
tais. [...]” (BRASIL, 2005, P.2). Em 1990, o Brasil torna-se signatário Assim, o paradigma psicossocial situa a saúde mental no cam-
da Declaração de Caracas a qual propõe a reestruturação da assis- po da saúde coletiva, compreendendo o processo saúde-doença
tência psiquiátrica. como resultante de processos biopsicossociais complexos, que de-
A Reforma ficou também conhecida como o Movimento de mandam uma abordagem interdisciplinar e intersetorial, com ações
Luta Antimanicomial, tendo como meta a desinstitucionalização do inseridas em uma diversidade de dispositivos comunitários e ter-
manicômio, compreendida como um conjunto de transformações ritorializados de atenção e de cuidado (Yasui & Costa-Rosa, 2008).
de prática, saberes, valores culturais e sociais. É no cotidiano da No nível das práticas, isso implica na mudança de concepções
vida das instituições, dos serviços e das relações inter-pessoais que sobre o que é tratar/cuidar, partindo da busca de controlar sinto-
o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, mas e comportamentos, da fragmentação do paciente e da distân-
tensões, conflitos e desafios. A Reforma destaca-se então enquanto cia entre este e o profissional, chegando à busca de compreensão
um movimento com a finalidade de intervir no então modelo vigen- do sofrimento da pessoa e suas necessidades concretas, incluindo
te, buscando o fim da mercantilização da loucura para assim poder as psicológicas e altamente subjetivas, colocando a pessoa como
construir coletivamente uma critica ao chamado saber psiquiátrico centro, sendo vista e considerada em suas dimensões biopsicosso-
e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com trans- ciais, baseando-se no princípio da singularização, ou seja, no reco-
tornos mentais.2 nhecimento e consideração de sua história, de suas condições de
vida e de sua subjetividade únicas no momento assistencial (Costa,
Saúde mental, no modelo de atenção psicossocial, é conside- 2004).Nessa direção, para que a transição paradigmática propos-
rada uma área que se insere na ideia de complexidade, de simul- ta se efetive de fato, faz-se necessária a participação de diversos
taneidade, de transversalidade de saberes, de “construcionismo” atores sociais, e um dos atores fundamentais nesse processo é o
e de “reflexividade”. Assim, a área da saúde mental constitui uma profissional de saúde mental, que está na “linha de frente” do coti-
complexa rede de saberes que envolve a psiquiatria, a neurologia diano assistencial.
e as neurociências, a psicologia, a psicanálise, a filosofia, a fisiolo-
gia, a antropologia, a sociologia, a história e a geografia (Amarante,
2011). TÉCNICAS DE ACONDICIONAMENTO, IDENTIFICAÇÃO,
A transição paradigmática na saúde mental acompanha a trans- GUARDA, CONSERVAÇÃO E MANUSEIO E DESCARTE
formação na saúde pública, na medida em que supera o modelo DE RESÍDUOS SÓLIDOS E MATERIAL BIOLÓGICO
asilar biomédico que é centrado na doença e no qual o médico é a
figura de poder, detentor máximo da verdade, neutralidade e dis- Ações de enfermagem na prevenção, controle e combate à
tanciamento de seu “objeto de cuidado”. infecção hospitalar
Da mesma maneira, no cenário internacional, Mezzina (2005) Infecção Hospitalar é aquela adquirida no hospital, mesmo
aponta a mudança paradigmática na saúde mental como uma “rup- quando manifestada após a alta do paciente. Alguns autores são
tura revolucionária”, que vai do modelo médico-biológico para um mais exigentes, incluindo também aquela que não tenha sido diag-
olhar ampliado, que inclui aspectos psicossociais do sujeito a ser nosticada na admissão do paciente, por motivos vários, como pro-
longado período de incubação ou ainda por dificuldade diagnostica.
2 Fonte: www.abep.nepo.unicamp.br - Por José Ferreira De Mesquita/Maria Sa-
let Ferreira Novellino/Maria Tavares Cavalcanti

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O Serviço de Enfermagem representa um papel relevante no Compreende-se que a infecção hospitalar seja indesejável por
controle de infecções por ser o que mais contatos mantém com todos os responsáveis por um bom padrão de atendimento aos pa-
os pacientes e por representar mais de 50% do pessoal hospitalar. cientes internados; o que não se compreende é que os casos de
Colaboram também com destaque, na redução de infecções hos- infecção hospitalar sejam ignorados ou mesmo negados por te-
pitalares, os Serviços Médicos, de Limpeza, Nutrição e Dietética, mor que estes fatos, dados a conhecer, desprestigiem o hospital.
Lavandaria e de Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento. O apoio Tais atitudes impedem que se executem medidas de isolamento,
da Administração Superior do Hospital e a colaboração dos demais de limpeza concorrente e desinfecção terminal, de modo a evitar a
servidores, em toda a escala hierárquica, desde o Administrador até propagação de infecção, mesmo dispondo de instalações adequa-
o Servente, fazem-se indispensáveis. das, material necessário e de pessoal capacitado para o combate
Afora o esforço permanente e sistematizado de todo o pessoal à infecção.
hospitalar, muito do bom êxito na execução de medidas de preven-
ção e controle de infecções vai depender da planta física, equipa- Uso inadequado de antibióticos
mentos, instalações e da capacidade do pessoal. Na literatura consultada encontra-se como uma das causas de
aumento de incidência de infecção o uso indiscriminado de antibió-
Incidência de Infecções ticos que fizeram surgir raças resistentes a esses agentes antimicro-
Independente do bom atendimento dos pacientes, a adoção de bianos entre os germes sensíveis.
medidas preventivas contra as infecções é dificultada pelas defici-
ências encontradas na planta física de nossos hospitais, tais como Manipulação diagnostica
a localização dos ambulatórios, o controle do acesso de pacientes A atuação do pessoal de enfermagem nas medidas diagnosti-
externos ao Centro Obstétrico, Centro Cirúrgico, Berçário, Lactário, cas tais como cateterismo cardíaco, arteriografias, biópsias por pun-
Unidade de Queimados, etc. O número deficiente de elevadores ção, aspiração de líquidos (cerebral, pleural, peritonial, sinovial), etc
obriga a permissão do transporte promíscuo de pacientes, de car- quando deixa de atender os princípios de esterilização, pode ofere-
ros térmicos de alimentação, de roupa limpa e suja, de visitantes e cer risco de contaminação e posterior infecção.
de pessoal hospitalar. Dependências físicas com áreas deficientes
dificultam a execução de técnicas médicas e de enfermagem, assim Pessoal
como as grandes enfermarias onde a superlotação concorre para Sabe-se que o elemento humano é a principal fonte de infecção
o aumento de infecções cruzadas. A falta de quartos individuais, no hospital e um “check-up” da saúde individual do pessoal hospita-
com sanitários próprios em cada unidade de internação, não facilita lar, na sua admissão, é uma medida adotada pelos nossos hospitais,
embora ainda não tenham estabelecido a frequência e os tipos de
a montagem de isolamento para pacientes portadores de doenças
exames clínicos, laboratoriais, imunizações, segundo uma escala de
infecto-contagiosas e para os suspeitos. A simples, enfatizada e in-
prioridade e de acordo com as atividades exercidas pelo pessoal,
dispensável lavagem constante das mãos do pessoal hospitalar, na
nos mais diferentes setores do hospital. Assim, para o pessoal que
prevenção de infecções, afigura-se, às vezes, de difícil adoção pelo
trabalha em áreas críticas como Berçário, Lactário, Centro Cirúrgi-
número reduzido de lavatórios e pelo seu tipo inadequado. A lo-
co, Centro Obstétrico, Unidade de Tratamento Intensivo, Unidade
calização inconveniente de certos setores que devem ser próximos
de Recuperação Pós-Anestésica, Pediatria, Lavandaria, Serviço de
entre si, como o Centro Obstétrico e Berçário à Unidade de Inter-
Nutrição e Dietética e Radiologia, os exames devem ser mais minu-
nação Obstétrica, as Salas de Operações à Unidade de Recuperação
ciosos e os prazos menores.
Pós-Anestésica e esta à Unidade de Tratamento Intensivo, como as Houve unanimidade nos 16 hospitais quanto à exigência do
construções de material de má qualidade, permitindo a infiltração exame clínico, abreugrafia e imunizações anti-variólica e anti-tífica,
de água e a falta de incineradores de lixo, são critérios muitas ve- para a admissão de pessoal hospitalar.
zes não observados pelos responsáveis pelas construções de nossos Cada hospital deve estabelecer as prioridades e a frequência
hospitais. dos exames que julgar necessários ao controle sanitário do seu
Outros fatores contribuem para um maior índice de infecção, pessoal hospitalar, levando em consideração também as fontes de
seja pela maior exposição dos pacientes aos germes, seja pela alte- infecção identificadas e as possibilidades dos recursos materiais e
ração de suas resistências naturais: longa permanência no hospital, humanos do Serviço de Análises Clínicas. Essa medida visa à prote-
grandes cirurgias, anestesia prolongada, deambulação precoce, o ção do pessoal e dos pacientes pelo afastamento do trabalho dos
emprego mais frequente de transfusões de sangue, o emprego de portadores de infecções, aparentes ou não. O controle sanitário de
medicamentos que afetam a resposta imunológica, tratamentos re- todo o pessoal hospitalar, após a admissão, está por receber de nos-
laxantes musculares e hipotérmicos. sos hospitais a atenção que merece. Apenas 18,75% dos hospitais
se mostram interessados em manter uma vigilância epidemiológica
Qual é o índice de infecção de nossos hospitais? de seu pessoal, o que é de se lamentar.
Pouquíssimos hospitais estão em condições de informar seu
índice de infecção já que não existe obrigatoriedade, por parte dos Pacientes, familiares e visitantes
médicos ou de outros profissionais da equipe de saúde, de notifica- A prevenção de propagação de infecções decorrentes dos pa-
ção, a um órgão central, das infecções diagnosticadas na admissão cientes, familiares e visitantes repousa na educação sanitária des-
e durante a permanência dos pacientes no hospital. No nosso caso tes. A supressão do simples aperto de mãos entre pacientes, fami-
93,75 dos hospitais não informaram seu índice de infecção. liares e visitantes, o sentar na cama dos pacientes, o trânsito por
O grupo responsável pelo controle de infecções do hospital outras áreas do hospital, as visitas entre os pacientes e a redução
deve elaborar os critérios pelos quais os membros da equipe de do número e a proibição de visitas de crianças menores de 12 anos
saúde concluirão pela necessidade de isolamento do paciente, já e de pessoas convalescentes, são algumas das recomendações que,
que é um assunto controvertido. A elaboração do relatório diário por certo, concorrerão para a prevenção de infecções no ambiente
do índice de infecção o que pode ficar sob a responsabilidade do hospitalar. Os pacientes devem ser também orientados quanto às
médico ou da enfermeira do paciente. O registro das infecções hos- medidas de higiene e proteção que devem tomar, em relação ao
pitalares é importantíssimo para o estudo das fontes de infecção. contágio da doença de que é portador.

142
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Atos cirúrgicos A maioria das infecções hospitalares é transmitida pelo con-


É comum atribuírem o aparecimento de infecção pós-operató- tágio direto, através de mãos contaminadas. A lavagem das mãos
ria a falhas na esterilização do material cirúrgico que, embora seja antes e depois de cuidar de cada paciente e às vezes no decurso de
um fator crítico, não é o único responsável pelas infecções em cirur- diversos tratamentos prestados ao mesmo paciente com emulsão
gias. Há necessidades de se investigar em qual tempo operatório a detergente bacteriostática e enxutas com ar quente ou com toalhas
infecção se originou, isto é, no trans-operatório, por falhas no Cen- de papel se constitui em método eficiente para evitar a propagação
tro Cirúrgico ou no pré e pós-operatório, por falhas nas medidas de de germes. As bactérias transientes das mãos são facilmente elimi-
diagnóstico, de tratamento médico e nos cuidados de enfermagem nadas com o uso de antissépticos adequados o que não acontece
executados nas unidades de internação. com o uso do sabão comum que exige uma lavagem de 5 a 10 minu-
As infecções no trans-operatório podem decorrer de vários fa- tos para eliminar os microorganismos presentes.
tores: falhas nas técnicas de esterilização de instrumental cirúrgico, Y. Hara, realizou uma pesquisa no hospital de Clínicas da FMUSP
roupas, outros materiais e utensílios em geral; mau funcionamento para comprovar a contaminação das mãos e a presença de germes
dos aparelhos de esterilização; a manipulação incorreta do material patogênicos antes e após a arrumação de camas de pacientes am-
estéril; a antissepsia deficiente das mãos e antebraços da equipe bulantes e acamados; além de germes saprófitas constatou a pre-
cirúrgica; o desconhecimento ou a displicência na conduta e na in- sença de Estafilococo Dourado mesmo na arrumação de camas de
dumentária preconizada a toda a equipe envolvida no ato cirúrgico; pacientes ambulantes, onde a contaminação foi menor do que na
dependências do Centro Cirúrgico fora dos padrões recomendáveis cama de pacientes acamados.
e a não observância de outras normas que impeçam a contamina- Por desempenhar um papel importante na disseminação de
ção dos pacientes e do ambiente. doenças, U. Zanon) aconselha que «as mãos do pessoal de unida-
A avaliação bacteriológica do instrumental cirúrgico, de outros des de internação sejam testadas uma vez por mês e as mãos dos
materiais e do ambiente hospitalar deve merecer mais interesse responsáveis pelo preparo das mamadeiras uma vez por semana.
por parte do pessoal de enfermagem que, com a colaboração do No Lactário, as mamadeiras e os bicos devem ser testados
Serviço de Análises Clínicas ou da Comissão de Infecção, deve fazer- diariamente, inclusive o conteúdo da mamadeira logo após o seu
-se representar para o estabelecimento dos métodos de controle preparo e 24 horas após a estocagem, a fim de detectar possíveis
bacteriológico e sua frequência. contaminações. A água de beber deve ser fervida e examinada uma
Não é demasiado insistir na necessidade de um maior interesse vez por semana, assim como a água dos umidificadores de oxigênio
científico na avaliação bacteriológica frequente dos veículos e fômi- e a das incubadoras.
Em estudo comparativo realizado por M. I. Teixeira sobre as
tes no meio hospitalar.
condições bacteriológicas do Berçário, Centro Cirúrgico e Sala de
Parto, durante três meses, num hospital do Rio de Janeiro e cons-
Tratamento
tatou 490 colônias no Berçário, 233 no Centro Cirúrgico e 191 na
Constituem poderosas armas no combate às infecções decor-
Sala de Parto. No que se relaciona com os germes isolados em cada
rentes de falhas nas unidades de internação e demais áreas do hos-
dependência, a situação foi desfavorável ao Berçário onde foram
pital, o ensino e a supervisão do pessoal que trabalha no hospital,
identificadas 26 amostras de Estafilococos patogênicos (coagulase
para adoção de medidas preventivas para execução de técnicas de
positiva), enquanto no Centro Cirúrgico foram encontradas 8 e na
combate à infecção hospitalar.
Sala de Parto 4.
Através da leitura da anamnese completa, por ocasião da ad- Dentre os setores do hospital sobressai-se o Berçário em face
missão e da interpretação dos resultados dos exames complemen- da alta mortalidade do recém-nascido, por causa de sua suscetibi-
tares e baseados nos critérios de infecção estabelecidos, o pessoal lidade.
de enfermagem pode constatar pacientes infectados, a fim de se
tomarem as medidas de isolamento, estas medidas, aliadas à hi- É insistentemente destacada na literatura a importância da
gienização completa dos pacientes na admissão, durante sua hos- lavagem frequente das mãos com antissépticos adequados e a
pitalização e principalmente antes de serem levados à cirurgia e a necessidade de comprovação científica da eficiência das rotinas e
limpeza de sua unidade, se constituem em importantes medidas na procedimentos médicos e de enfermagem sob as nossas condições
redução de infecções decorrentes dos pacientes, nas unidades de ambientais, humanas e materiais.
internação. Os Serviços de Limpeza e Lavandaria são responsáveis por ati-
O isolamento do paciente infectado embora não deva ser negli- vidades importantes na redução de infecções pela remoção do pó
genciado o que se vê na maioria das vezes, em relação ao isolamen- e a correta desinfecção das roupas, atividades que devem ser co-
to de pacientes em unidades de internação comuns, são medidas ordenadas por pessoas com suficiente preparo básico. Não se es-
que se resumem na transferência do paciente para um quarto in- taria exigindo demasiado se o Coordenador do Serviço de Limpeza
dividual e na colocação do avental sobre a roupa daqueles que vão possuísse instrução equivalente ao 1.º grau completo; conhecimen-
entrar em contato com o paciente. tos científicos relacionados à higiene, à limpeza e à desinfecção;
A orientação do pessoal hospitalar, no desempenho de técnicas interesse em progredir na sua área de trabalho e habilidade para
de limpeza, de desinfecção e de assepsia deve ser contínua, formal treinar e supervisionar o seu pessoal. As exigências para o cargo de
e informal. Coordenador do Serviço de Lavandaria devem ser também maiores,
Precisa ser intensificado o desenvolvimento de programas de pela importância de suas atividades na segurança e bem-estar dos
atualização no que concerne à prevenção, combate e controle de pacientes.
infecções hospitalares extensivos a todo o pessoal hospitalar, prin-
cipalmente àqueles que mantêm contatos com os pacientes e os
seus fomites. O Serviço de Enfermagem se preocupa em 33,33%
com a atualização dos conhecimentos de seu pessoal no desempe-
nho de suas atribuições, porém, necessita dar continuidade e realce
aos conteúdos programáticos relacionados com a prevenção de in-
fecções e atenção de enfermagem aos pacientes infectados.

143
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Comissão de Infecção - estabeleçam critérios mais exigentes para a indicação dos res-
Apenas 37,50% de nossos hospitais possuem uma Comissão de ponsáveis pelos Serviços de Limpeza e de Lavandaria de modo a se
Infecção ou um pessoa com atribuições definidas para o controle ter pessoal mais qualificado para o desempenho de atividades que
de infecções que, além de outras responsabilidade tão bem enu- muito concorrem para a redução de infecções;
meradas por C. G. Melo, é o órgão responsável pela indicação dos - criem a Comissão de Infecção ou designem uma pessoa com
diversos produtos químicos utilizados no hospital. Muitos de nossos atribuições definidas para reduzir ao mínimo as infecções hospita-
hospitais (68,75%) deixam a critério do Serviço de Enfermagem a lares;
indicação dos antissépticos e desinfetantes e, para esta responsabi- - permitam a compra de antissépticos e desinfectantes utiliza-
lidade complexa, deve preparar-se para estar em condições de es- dos para os diversos fins no hospital quando justificada por critérios
tabelecer os critérios técnicos para a escolha dos mesmos, realizar técnicos.
ou colaborar nos testes bacteriológicos e na avaliação dos produtos
químicos que indica para os diversos fins no hospital. II - Serviços de Enfermagem:
Segundo U. Zanond os critérios técnicos para a escolha de ger- - Valorizem e realizem, sistematicamente, avaliação bacterioló-
micidas hospitalares são: o registro no Serviço Nacional de Fiscaliza- gicas da desinfecção e esterilização do material hospitalar assesso-
ção de Medicina e Farmácia, o estudo da composição química e sua rados por técnicos no assunto;
adequação às finalidades do produto e a comprovação bacterioló- - supervisionem o seu pessoal na desinfecção e esterilização de
gica da atividade germicida. material e do ambiente, no tratamento e no processo de atenção de
O pessoal de enfermagem deve usar os desinfetantes e antis- enfermagem ao paciente infectado;
sépticos baseado em resultados de sua própria experiência, tendo - desenvolvam cursos para o seu pessoal dando realce aos con-
em vista os germes responsáveis pelas infecções no hospital onde teúdos relacionados com a atenção de enfermagem a pacientes in-
trabalha. fectados e à prevenção de infecções;
A criação de Comissão de Infecção é justificada e recomenda- - se façam representar na Comissão de Infecção designando
da, e deve constituir-se em órgão coordenador de atividades de in- uma enfermeira, em tempo integral, como coordenadora da execu-
vestigação, prevenção e controle de infecções. ção de sua parte no programa de controle de infecções no hospital;
A constituição de uma Comissão de Infecção pode variar se- - procurem ampliar seus conhecimentos sobre antissépticos e
gundo o tamanho do hospital, não deixando, porém, de ter um re- desinfetantes muito especialmente quando se responsabilizar pela
presentante do Serviço de Enfermagem, em tempo integral, para indicação dos mesmos para os diversos fins no hospital.
atuar como um dos membros executivos das normas baixadas pela
Comissão. Processamento de artigos médico-hospitalares
Reduzir infecções no hospital é um trabalho gigantesco que exi- A utilização correta e mais econômica dos processos de limpe-
ge a colaboração contínua e eficiente de todo o pessoal hospitalar za, desinfecção e esterilização dos materiais é norteada pela classi-
ficação dos materiais, segundo o riscopotencial de infecção para o
Recomendações paciente.
Considerando a importância que tem a redução de infecções Para definir qual o melhor processo a ser utilizado, esses mate-
nos hospitais para a diminuição do risco de morbidade e mortali- riais, quer sejam, instrumentais cirúrgicos, peças de equipamentos,
dade, do custo do tratamento e da média de permanência dos pa- etc., são classificados em:
cientes nos hospitais que resulta numa maior utilização de leitos
hospitalares, recomenda-se que os: Artigos não críticos: Artigos que entram em contato apenas
com a pele íntegra do paciente. Estes artigos devem ser submetidos
I - Administradores de Hospital: a desinfecção de baixo nível ou apenas limpeza mecânica com água
- Possibilitem aos Serviços do Hospital condições materiais e e sabão para remoção da matéria orgânica. Ex. estetoscópio, termô-
humanas para a montagem de isolamento de pacientes infectados metro, esfigmomanômetro,etc.
e suspeitos e para a adoção das demais medidas preventivas e de • Artigos semi-críticos: Artigos que entram em contato com
controle de infecções; a pele íntegra ou com mucosas íntegras. Estes artigos devem ser
- se assessorarem de pessoal capacitado nas construções e re- submetidos a desinfecção de alto nível. Ex. Equipamentos de anes-
formas de hospitais a fim de que a planta física não venha a dificul- tesia gasosa, terapia respiratória, inaloterapia, instrumentos de fi-
tar a adoção das medidas de redução de infecções; bra óptica, etc.
- tornem compulsória, por parte dos profissionais da equipe da
saúde, a notificação a um órgão central das infecções hospitalares • Artigos críticos: Artigos que penetram a pele e mucosa,
e não hospitalares; atingindo os tecidos subepiteliais e o sistema vascular, bem como
- mantenham um serviço de vigilância sanitária para o pessoal todos os que estejam diretamente conectados com este sistema.
hospitalar; Estes artigos devem ser esterilizados. Ex. instrumental cirúrgico, ca-
- ofereçam ao grupo ou à pessoa responsável pelo controle de teteres cardíacos, laparoscópios, implantes, agulhas, etc.
infecções os Serviços de Análises Clínicas para a identificação dos
agentes etiológicos; Limpeza:
- incentivem a realização de cursos de atualização de conheci- É o processo de remoção de sujidade e/ou matéria orgânica
mentos no que concerne a prevenção e controle de infecções para presente nos artigos e superfícies.
todo o pessoal que mantenha contatos diretos e indiretos com os Preconiza-se a limpeza com água e sabão, promovendo a remo-
pacientes; ção da sujeira e do mau odor, reduzindo assim a carga microbiana.
- estimulem os serviços Médicos, de Enfermagem, Nutrição e A limpeza deve sempre preceder os processos de desinfecção ou
Dietética, Lavandaria, Limpeza e Auxiliares de Diagnóstico e Trata- esterilização, pois a maioria dos germicidas sofre inativação na pre-
mento a elaborarem normas para o seu pessoal referentes à pre- sença de matéria orgânica.
venção e controle de infecções;

144
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Métodos de limpeza: Recomendações:


. Limpeza Manual: Executada através de fricção, com escovas e - Ativar o produto e verificar o prazo de validade;
uso de detergente e água. - Usar recipiente de vidro ou plástico fosco - produto fotossen-
. Limpeza Mecânica: É realizada através de lavadoras por meio sível;
de uma ação física e química (lavadoras ultrassônicas e termodesin- -Manter em recipientes tampados;
fectadoras). - Necessita de enxague copioso;
- necessita do uso de EPI -luva de borracha de cano longo, más-
Secagem: cara de carvão e óculos de proteção.
Parte importante do processamento de artigos hospitalares.
Recomenda-se comumente a secagem com ar comprimido, pois Álcoois:
elimina o ambiente úmido que favorece a proliferação bacteriana. Desinfecção de nível intermediário de artigos não críticos, al-
guns artigos semi-críticos e superfícies, na concentração a 70%.
Estocagem: Tempo de exposição de 10 minutos com três aplicações, agu ardan-
Deve-se evitar a estocagem de artigos já processados em áreas do a secagem espontânea.
próximas a pias, água ou tubo de drenagem.
Recomendações:
Descontaminação: - Assegurar-se da qualidade do produto;
É o processo de eliminação parcial da carga microbiana de arti- - Friccionar a superfície ou o artigo, deixar secar em ar ambien-
gos e superfícies, tornando-os aptos para o manuseio. Após a des- te, repetir três vezes até completar o tempo de ação;
contaminação, deve-se seguir o processamento adequado. - Pode ser usado na desinfecção concorrente de superfícies en-
tre cirurgias, exames, após uso do colchão, etc.;
Desinfecção: - Contra-indicado em acrílico, borracha, tubos plásticos. Danifi-
É processo de destruição dos microrganismos em forma vege- ca o cimento das lentes dos equipamentos;
tativa, mediante aplicação de agentes físicos ou químicos. - Não necessita de enxagüe;
- Agente físico:radiação ultra-violeta - Não necessita usar EPI.
- Agente físico líquido: água em ebulição e sistemas de lavagem
automáticas que associam calor, ação mecânica e detergência Fenol sintético:
- Agente químico líquido: aldeídos (p/ artigos termo-sensíveis), - Desinfecção de nível intermediário e baixo. Usado para des-
álcoois (p/ artigos e superfícies), fenol sintético (p/ artigos e super- contaminação ambiental incluindo bancadas de laboratórios e arti-
fícies) e hipoclorito de sódio (p/ artigos e superfícies) gos não críticos. Tempo de exposição para superfícies e artigos é de
10 minutos.
Níveis de Desinfecção:
. Alto Nível: Destrói todas as bactérias vegetativas(porem não Recomendações:
todos os esporos bacterianos), as microbactérias, os fungos e os - Contra-indicado para artigos que entram em contato com o
vírus.É indicada para artigos como lâminas de larigoscópio, equipa- trato respiratório, alimentos, objetos de látex, acrílico e borrachas
mento de terapia respiratória, anestesia e endoscópio. - Friccionar a superfície ou o objeto imerso, com escova, espon-
. Médio Nível: destruição de todas as formas bacterianas não ja, etc., antes de iniciar o tempo de exposição;
esporuladas e vírus, inclusive o bacilo da tuberculose. Ex: Cloro, ál- - Enxagüe copioso com água potável;
coois, fenólicos - Necessita do uso de EPI – luva de borracha de cano longo,
. Baixo Nível: Destruição de bactérias na forma vegetativa mais máscara de carvão, avental impermeável e óculos de proteção.
não são capazes de destruir esporos e nem micro-bactérias e vírus.
Ex: Quaternário de Amônia Hipoclorito de sódio:
- Desinfetante dos três níveis – alto, intermediário e baixo -,
Métodos de Desinfecção conforme a concentração e tempo de exposição.

Desinfecção por meio físico líquido: Recomendações:


Água em ebulição: indicada na desinfecção de baixo nível ou - Usar em recipientes opacos – o produto é fotossensível. De-
descontaminação de artigos termo resistentes. Tempo de exposição vem ser mantidos em vasilhames tampados devido a volatização
30 minutos do cloro.
Lavadoras automáticas térmicas: indicada para desinfecção de - Assegurar-se da qualidade do produto;
alto nível de artigos termo resistentes ou para limpeza de artigos - Descontaminação de superfícies na concentração de 0,1%
críticos antes de sofrerem o processo de esterilização. Podem ser (10.000 ppm) por 10 minutos;
associadas ao uso de detergentes enzimáticos ou desinfetantes. Ex. - Desinfecção de artigos:
artigos de inaloterapia, acessórios de respiradores, material de en- - Alto nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) de20 a 60
tubação, etc. minutos
- Médio nível: na concentração de 0,1% (1000 ppm) por 10 mi-
Desinfecção por meio químico líquido nutos
- Baixo nível: na concentração de 0,01% (100 ppm) por 10 mi-
Glutaraldeído: nutos
Desinfecção de alto nível de artigos na concentração de 2%, - Necessita enxague no caso de desinfecção de alto nível. Quan-
por20 a30 minutos; do não for possível o enxague com água estéril, deve-se utilizar
Esterilização de artigos na concentração de 2%, de8 a10 horas; água corrente e rinsagem com álcool a 70% após secagem;
Usar em artigos termo sensíveis (instrumental, látex e etc.); • Necessita do uso de EPI – avental, luvas de borracha e
máscara.

145
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Esterilização Segundo recomendação da AORN (2002)


É o processo de destruição de todas as formas de vida micro-
biana (bactérias nas formas vegetativas e esporuladas, fungos e Tipo de Temperatura Tempo de Exposição
vírus), mediante aplicação de agentes físicos e/ou químicos. Equipamemto
Testes de Validação Gravitacional 132 a135°C 10 a25 min
Todo processo de esterilização precisa ser validado, empre- 121 a123°C 15 a30 min
gando-se testes físicos, químicos e biológicos, além de monitoriza- Pré-Vacuo 132 a135°C 03 a04 min
ção regular durante as operações de rotina. Estes testes são reali-
zados para certificar o desempenho ideal do ciclo de esterilização, Calor seco: para artigos que não sejam sensíveis ao calor, mas
e para determinar se as condições pré-estabelecidas foram atingi- que sejam sensíveis à umidade (estufa).
das dentro da câmara, e nos pontos mais críticos da carga. - Utilizados para esterilizar, pós, óleos e instrumentais;
- Validade: 07 dias.
Indicadores Químicos:
Utilizados para detecção imediata de potenciais falhas no Monitorização:
processo de esterilização. . Teste Biológico: Bacillus Subtillis;
• Externos: Têm objetivo único de distinguir os pacotes que . Indicadores Químicos: Fitas termossensiveis.
passaram pelo ciclo de esterilização, daqueles que não passaram.
Apresentação na forma de tiras de papel ou fitas adesivas com Flambagem: para uso em laboratório de microbiologia, duran-
listras em diagonal, para uso em autoclaves a vapor ou a gás. te a manipulação de material biológico ou transferência de massa
• Internos: são colocados dentro dos pacotes que são po- bacteriana, através da alça bacteriológica.
sicionados em pontos críticos da câmara, onde o acesso do vapor
é mais difícil. Devem ser usados em conjunto com termostatos e Agentes Químicos- gasosos:
indicadores biológicos: Para uso em materiais sensíveis ao calor e umidade.
• Integradores: indicadores multiparamétricos – provêm
uma reação integrada de temperatura, tempo de exposição e a Aldeídos: glutaraldeído;
presença do vapor. Disponíveis para processos a vapor ou a óxido - Produto de alto teor desinfetante;
de etileno. - Utilizado em condições adequadas são esterilizantes(12hs a
18hs);
Indicadores Biológicos: - Limpar e secar o artigo antes de imergir na solução, para
Utilizados para monitorar as condições de esterilidade dentro evitar a diluição do produto;
dos pacotes-teste. - Preencher o interior das tubulações com seringa;
- Colocar data de ativação do produto;- Respeitar o prazo de
Métodos de Esterilização validade;
- Desprezar o produto caso se observe algum tipo de matéria
Agentes Físicos: orgânica;
Vapor saturado sob pressão: para artigos que não sejam sen- - Enxaguar bem o artigo(cancerigêneo);
síveis ao calor e ao vapor. É o processo de maior segurança (auto-
clave). Monitorização:
Artigos que não sejam sensíveis ao calor e vapor; . Fitas reagentes ou kit liquido para acompanhar o ph da solu-
- Acomodação dos artigos em cestos aramados;- Usar só 80% ção.
da capacidade; Óxido de etileno: portaria interministerial MS/MT nº 4; D.º
- Embalagens: Grau cirúrgico (de forma vertical, filme com 31/07/1991 DF, regulamenta este método de esterilização, estabe-
filme, papel com papel), papel não tecido(SMS) e campos de algo- lecendo regras de instalação e manuseio com segurança devido à
dão; toxicidade do gás.
- Validade de acordo com a embalagem e acondicionamento; Outros princípios ativos: desde que atendam à legislação
- Manipular o artigo após o resfriamento. específica. Todos os artigos;

- Respeitar as normas vigentes do ministério da saúde(áreas e


Tipos: instalações próprias devido a alta toxicicidade);
. Gravitacional: O ar é removido por gravidade; - Somente embalagens de grau cirúrgico;
- Processo lento e favorece a permanência de ar residual; - Observar rigorosamente os tempos de areação;
- Pouco utilizada. - Validade de 02 anos;
. Pré- Vácuo:
- O ar é removido pela bomba de vácuo; Monitorização:
- O vácuo pode ser obtido por meio de vácuo único e pulsatil, . Controle Biológico: Bacillus Subtilis hoje mais conhecido
o mais eficiente, devido a dificuldade de se obter vários níveis de como Bacillus Atrophaeus
vácuo em um só pulso. .Fitas Indicadoras.
Monitorização:
. ControleBiológico: Bacillus Stearotermophillus;
. Bowie Dick: Avaliação da bomba de vácuo;
. Indicador Químico:classe 1, classe, classe 3, classe 4
. Integrador Químico: classe 5 e 6

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Esterilização por plasma de peróxido de hidrogênio – Sterrad.


O processo promove uma nuvem de reações entre íons, elétrons e partículas atômicas neutras (plasma). O plasma é bactericida, tu-
berculicida, esporicida, fungicida e viruscida.
O processo inclui 5 fases: vácuo, injeção, difusão plasma e ventilação. Cada fase é controlada e registrada pelo equipamento (automo-
nitorado), e em casos de qualquer desvio do esperado, ocorre automática interrupção do ciclo e emissão de um relatório impresso sobre
as causas e as ações a serem tomadas.

Vantagens:
-Não é tóxico ao meio ambiente. Tem como resíduos finais, a água e o oxigênio;
-Ciclo total rápido (75 minutos). Não necessita de período de aeração;
-Simples de instalar e operar;
-Compatível com plásticos, borrachas, metais, vidros e acrílicos;
-Promove a esterilização em baixa temperatura – aproximadamente 50º C;
- Possui indicadores químicos próprios.

Desvantagens:
-Alto custo inicial;
-Necessita de embalagem específica, livre de celulose;
-Não processa materiais que absorvam líquidos – por exemplo, musselina, nailon, poliester e materiais que contenham fibras vegetais
– por exemplo, algodão e papéis.
-É limitado quanto a artigos que possuam lúmen (relação entre o diâmetro e o comprimento);
-Não processa artigos com lúmen de fundo cego; aceita artigos metálicos e plásticos com lúmen de diâmetro interno acima de0,3 cm.
Artigos com diâmetro interno de 0,1 a 0,3cm necessitam de adaptador próprio. O comprimento máximo aceito para itens metálicos é de50
cm, e para itens plásticos de130 cm.
- É necessário utilizar EPI – luvas de látex – ao manusear os recipientes com peróxido de hidrogênio concentrado. Se houver contado
com a pele lavar copiosamente.

Dispensação - Regras para um Armazenamento Ideal:


. Limite de tráfegos de pessoas;
.Temperatura entre18 a 22° e a umidade de35 a 50%
. Prateleiras abertas;
. O local deve ser longe de água; janelas, portas e tubulações expostas;
. O material deve ser manipulado o mínimo possível;
. Efetuar inspeção periódica dos artigos, verificando qualquer anormalidade;
. Os pacotes devem atingir a temperatura ambiente antes de serem transferidos para as prateleiras;
. Estabelecer limpeza diária e periódica;
. Dispor os itens de forma que facilite a localização;
. Liberar os lotes mais antigos antes dos mais novos;
. Efetuar conferências periódicas dos artigos estocados.
Prevenção e Controle de Infecção

O QUE É?
A infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS) é aquela adquirida em função dos procedimentos necessários à monitorização e
ao tratamento de pacientes em hospitais, ambulatórios, centros diagnósticos ou mesmo em assistência domiciliar (home care).
O diagnóstico das IRAS é feito com base em critérios definidos por agências de saúde nacionais e estrangeiras, como o Centro de
Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os
Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos.
Mesmo quando se adotam todas as medidas conhecidas para prevenção e controle de IRAS, certos grupos apresentam maior risco
de desenvolver uma infecção. Entre esses casos estão os pacientes em extremos de idade, pessoas com diabetes, câncer, em tratamen-
to ou com doenças imunossupressoras, com lesões extensas de pele, submetidas a cirurgias de grande porte ou transplantes, obesas e
fumantes.
O monitoramento das IRAS permite que os processos assistenciais sejam aprimorados e que o risco dessas infecções possa ser redu-
zido.
Nesse sentido, a higienização das mãos é um procedimento essencial. O nosso processo é baseado nas recomendações da OMS, que
considera a necessidade de higienização das mãos, por todos os profissionais de saúde, em cinco momentos diferentes, incluindo antes e
depois de qualquer contato com o paciente, conforme mostra a figura abaixo.

147
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Entre as infecções sistematicamente monitoradas pela instituição estão as de corrente sanguínea (ICS) associada ao cateter venoso
central (CVC) e as que acontecem após cirurgias.

Infecção da corrente sanguínea associada ao cateter venoso central (CVC)

O que é?
A infecção de corrente sanguínea (ICS) associada ao cateter venoso central (CVC) ocorre quando bactérias ou fungos entram no san-
gue por meio do cateter e se manifesta normalmente com febre e calafrios.
Procedimentos padronizados baseados em conhecimentos científicos, treinamento dos profissionais e uso de produtos de boa quali-
dade são estratégias que nós utilizamos no processo de prevenção dessa infecção.

O que medimos?
No indicador, consideramos o número de episódios de infecções associadas ao uso de cateter venoso central em pacientes interna-
dos em unidades críticas.

Infecção de sítio cirúrgico (ISC) em cirurgias limpas

O que é?
Esse tipo de infecção ocorre após a cirurgia, na parte do corpo onde foi realizado o procedimento. Estudos estimam de um a dois ca-
sos de infecção a cada 100 cirurgias realizadas. Os sintomas mais comuns envolvem vermelhidão e dor ao redor da área operada, drena-
gem de líquido turvo no local e febre. A maioria dessas infecções pode ser tratada com antibióticos, selecionados pelo médico de acordo
com o agente causador da infecção. Eventualmente, outra cirurgia pode ser necessária para o tratamento da infecção.
Procedimentos padronizados e baseados em boas práticas internacionais, treinamento e atualização dos profissionais e uso de pro-
dutos de boa qualidade são estratégias que nós utilizamos para prevenção dessas infecções.

O que medimos?
No indicador, consideramos o número de episódios de infecção no local cirúrgico após cirurgias limpas, conforme mostra o gráfico
abaixo. A meta estabelecida de 0,89% é baseada em dados de série histórica institucional e os dados deste indicador referem-se ao 3º
trimestre de 2018, visto que as infecções de sítio cirúrgico podem ocorrer até 90 dias após o procedimento cirúrgico.

Fonte: https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/qualidade-seguranca/Paginas/prevencao-controle-infeccao.aspx

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Antes, no Brasil, as ações de imunização se voltavam ao contro-


PROGRAMAS DE VACINAÇÃO, TÉCNICAS DE IMUNIZA- le de doenças específicas. Com o PNI, passou a existir uma atuação
ÇÃO / VACINAÇÃO E DE APLICAÇÃO DE IMUNOBIOLÓ- abrangente e de rotina: todo dia é dia de estar atento à erradicação
GICOS e ao controle de doenças que sejam possíveis de controlar e erra-
dicar por meio de vacina, e nas campanhas nacionais de vacinação
essa mentalidade é intensificada e dirigida à doença em foco. O
Conceito e Tipo de Imunidade objetivo prioritário do PNI, ao nascer, era promover o controle da
poliomielite, do sarampo, da tuberculose, da difteria, do tétano, da
Programa de Imunização coqueluche e manter erradicada a varíola.
Hoje, o PNI tem objetivo mais abrangente. Para os próximos
Programa de imunização e rede de frios, conservação de va- cinco anos, estão fixadas as seguintes metas:
cinas - ampliação da auto-suficiência nacional dos produtos adquiri-
PNI: essas três letras inspiram respeito internacional entre es- dos e utilizados pela população brasileira;
pecialistas de saúde pública, pois sabem que se trata do Programa - produção da vacina contra Haemophilus influenzae b, da va-
Nacional de Imunizações, do Brasil, um dos países mais populosos cina combinada tetravalente (DTP + Hib), da dupla viral (contra sa-
e de território mais extenso no mundo e onde nos últimos 30 anos rampo e rubéola) e tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxum-
foram eliminadas ou são mantidas sob controle as doenças prevení- ba), da vacina contra pneumococos e da vacina contra influenza e
veis por meio da vacinação. da vacina antirrábica em cultivo celular.
Na Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da Or-
ganização Mundial de Saúde (OMS), o PNI brasileiro é citado como As competências do Programa, estabelecidas no Decreto nº
referência mundial. Por sua excelência comprovada, o nosso PNI or- 78.231, de 12 de agosto de 1976 (o mesmo que o institucionalizou),
ganizou duas campanhas de vacinação no Timor Leste, ajudou nos são ainda válidas até hoje:
programas de imunizações na Palestina, na Cisjordânia e na Faixa - implantar e implementar as ações relacionadas com as vaci-
de Gaza. Nós, os brasileiros do PNI, fomos solicitados a dar cursos nações de caráter obrigatório;
no Suriname, recebemos técnicos de Angola para serem capacita- - estabelecer critérios e prestar apoio técnico a elaboração, im-
dos aqui. Estabelecemos cooperação técnica com Estados Unidos, plantação e implementação dos programas de vacinação a cargo
México, Guiana Francesa, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, das secretarias de saúde das unidades federadas;
Bolívia, Colômbia, Peru, Israel, Angola, Filipinas. Fizemos doações - estabelecer normas básicas para a execução das vacinações;
para Uruguai, Paraguai, República Dominicana, Bolívia e Argentina. - supervisionar, controlar e avaliar a execução das vacinações
A razão desse destaque internacional é o Programa Nacional no território nacional, principalmente o desempenho dos órgãos
de Imunizações, nascido em 18 de setembro de 1973, chega aos 30 das secretarias de saúde, encarregados dos programas de vacina-
anos em condições de mostrar resultados e avanços notáveis. O que ção;
foi alcançado pelo Brasil, em imunizações, está muito além do que - centralizar, analisar e divulgar as informações referentes ao
foi conseguido por qualquer outro país de dimensões continentais PNI.
e de tão grande diversidade socioeconômica.
No campo das imunizações, somos vistos com respeito e admi- A institucionalização do Programa se deu sob influência de vá-
ração até por países dotados de condições mais propícias para esse rios fatores nacionais e internacionais, entre os quais se destacam
trabalho, por terem população menor e ou disporem de espectro os seguintes:
social e econômico diferenciado. Desde as primeiras vacinações, - fim da Campanha da Erradicação da Varíola (CEV) no Brasil,
em 1804, o Brasil acumulou quase 200 anos de imunizações, sendo com a certificação de desaparecimento da doença por comissão da
que nos últimos 30 anos, com a criação do PNI, desenvolveu ações OMS;
planejadas e sistematizadas. Estratégias diversas, campanhas, var- - a atuação da Ceme, criada em 1971, voltada para a organiza-
reduras, rotina e bloqueios erradicaram a febre amarela urbana em ção de um sistema de produção nacional e suprimentos de medica-
1942, a varíola em 1973 e a poliomielite em 1989, controlaram o mentos essenciais à rede de serviços públicos de saúde;
sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da tuberculose, a dif- - recomendações do Plano Decenal de Saúde para as Améri-
teria, o tétano acidental, a coqueluche. Mais recentemente, imple- cas, aprovado na III Reunião de Ministros da Saúde (Chile, 1972),
mentaram medidas para o controle das infecções pelo Haemophilus com ênfase na necessidade de coordenar esforços para controlar,
influenzae tipo b, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, no continente, as doenças evitáveis por imunização.
da hepatite B, da influenza e suas complicações nos idosos, também Torna-se cada vez mais evidente, no Brasil, que a vacina é o
das infecções pneumocócicas. único meio para interromper a cadeia de transmissão de algumas
Hoje, os quase 180 milhões de cidadãos brasileiros convivem doenças imuno preveníveis. O controle das doenças só será obti-
num panorama de saúde pública de reduzida ocorrência de óbitos do se as coberturas alcançarem índices homogêneos para todos os
por doenças imuno preveníveis. O País investiu recursos vultosos na subgrupos da população e em níveis considerados suficientes para
adequação de sua Rede de Frio, na vigilância de eventos adversos reduzir a morbimortalidade por essas doenças. Essa é a síntese do
pós-vacinais, na universalidade de atendimento, nos seus sistemas Programa Nacional de Imunizações, que na realidade não pertence
de informação, descentralizou as ações e garantiu capacitação e a nenhum governo, federal, estadual ou municipal. É da sociedade
atualização técnico-gerencial para seus gestores em todos os âm- brasileira. Novos desafios foram sucessivamente lançados nestes 30
bitos. As campanhas nacionais de vacinação, voltadas em cada oca- anos, o maior deles sendo a difícil tarefa de manejar um programa
sião para diferentes faixas etárias, proporcionaram o crescimento que trabalha articulado com os 26 estados, o Distrito Federal e os
da conscientização social a respeito da cultura em saúde. 5.560 municípios, numa vasta extensão territorial, cobrindo uma
população de 174 milhões de habitantes, entre crianças, adolescen-
tes, mulheres, adultos, idosos, indígenas e populações especiais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Enquanto diversidades culturais, demográficas, sociais e am- O objetivo da Rede de Frio é assegurar que todos os imuno
bientais são suplantadas para a realização de atividades de vacina- biológicos mantenham suas características iniciais, para conferir
ção de campanha e rotina, novas iniciativas e desafios vão sendo imunidade.
lançados. Desses, vale a pena citar alguns: Programas regionais do Imuno biológicos são produtos termolábeis, isto é, se deterio-
continente americano – Os programas de erradicação da poliomie- ram depois de determinado tempo quando expostos a temperatu-
lite, eliminação do sarampo, controle da rubéola e prevenção da ras inadequadas (inativação dos componentes imunogênicos). O
síndrome da rubéola congênita e a prevenção do tétano neonatal manuseio inadequado, equipamentos com defeito ou falta de ener-
são programas regionais que requerem esforços conjuntos dos pa- gia elétrica podem interromper o processo de refrigeração, com-
íses da região, com definição de metas, estratégias e indicadores, prometendo a potência e eficácia dos imuno biológicos.
envolvendo troca contínua e oportuna de informações e realização São componentes da Rede de Frio: equipe qualificada e equi-
periódica de avaliações das atividades em âmbito regional. pamentos adequados.
O PNI tem desempenhado papel de destaque, sendo pioneiro Sistema de Refrigeração: é composto por um conjunto de com-
na implementação de estratégias como a vacinação de mulheres ponentes unidos entre si, cuja finalidade é transferir calor de um
em idade fértil contra a rubéola e o novo plano de controle do téta- espaço, ou corpo, para outro. Esse espaço pode ser o interior de
no neonatal. Além disso, em 2003 foi iniciada a estratégia de multi- uma câmara frigorífica de um refrigerador, ou qualquer outro espa-
vacinação conjunta por todos os países da América do Sul, durante ço fechado onde haja a necessidade de se manter uma temperatura
a Semana Sul-Americana de Vacinação. Atividades de busca ativa de mais baixa que a do ambiente que o cerca.
casos, vigilância epidemiológica e vacinação nas fronteiras de todo
O primeiro povo a utilizar a refrigeração foi o chinês, muitos
o Brasil foram executadas com sucesso. Essa iniciativa se repetirá
anos antes de Cristo. Os chineses colhiam o gelo nos rios e lagos
nos próximos anos, contando já com a participação de um núme-
durante a estação fria e o conservavam em poços cobertos de palha
ro ainda maior de países da América Central, América do Norte e
durante as estações quentes.
Espanha.
Este primitivo sistema de refrigeração foi também utilizado de
Quantidades de imuno biológicos: A cada ano são incorpora- forma semelhante por outros povos da antiguidade. Servia basica-
dos novos imuno biológicos ao calendário do PNI, que são ofere- mente para deixar as bebidas mais saborosas. Até pelo menos o fim
cidos gratuitamente à população, durante campanhas ou na rotina do século XVII, esta seria a única aplicação do gelo para a humani-
do programa, prezando pelos princípios do SUS de universalidade, dade.
equidade e integralidade. Em 1683, Anton Van Leeuwenhoek, um comerciante de tecidos
Campanhas de vacinação: São extremamente complexas a co- e cientista de Delft, nos Países Baixos, que muito contribuiu para o
ordenação e a logística das campanhas de vacinação. As campanhas melhoramento do microscópio e para o progresso da biologia ce-
anuais contra a poliomielite conseguem o feito de vacinar 15 mi- lular, detectou microrganismos em cristais de gelo e a partir dessa
lhões de crianças em um único dia. A campanha de vacinação de observação constatou-se que, em temperaturas abaixo de +10ºC,
mulheres em idade fértil conseguiu vacinar mais de 29 milhões de estes microrganismos não se multiplicavam, ou o faziam mais vaga-
mulheres em idade fértil em todo o País, objetivando o controle da rosamente, ocorrendo o contrário acima dessa temperatura.
rubéola e a prevenção da síndrome da rubéola congênita. A observação de Leeuwenhoek continuou sendo alvo de pes-
Rede de Frio: A rede de frio do Brasil interliga os municípios quisa no meio científico e no século 18, descobertas científicas rela-
brasileiros em uma complexa rede de armazenamento, distribuição cionaram o frio à inibição do processo dos alimentos. Além da neve
e manutenção de vacinas em temperaturas adequadas nos níveis e do gelo, os recursos eram a salmoura e o ato de curar os alimen-
nacional, estadual e municipal e local. tos. Também havia as loucas de barro que mantinham a frescura
Autossuficiência na produção de imuno biológicos: O PNI pro- dos alimentos e da água, fato este já observado pelos egípcios antes
duz grande parte das vacinas utilizadas no País e ainda fornece va- de Cristo. Mas as dificuldades para obtenção de gelo na natureza
cinas com qualidade reconhecida e certificada internacionalmente criava a necessidade do desenvolvimento de técnicas capazes de
pela Organização Mundial da Saúde, com grande potencial de ex- produzi-lo artificialmente.
portação de um número maior de vacinas produzidas no País. O Apenas em 1824, o físico e químico Michael Faraday descobriu
Brasil tem a meta ousada de ter auto-suficiência na produção de a indução eletromagnética – o princípio da refrigeração. Esse prin-
imuno biológicos para uso na população brasileira. cípio seria utilizado dez anos depois, nos Estados Unidos, para fabri-
Cooperação internacional: O PNI provê assistência técnica com
car gelo artificialmente e, na Alemanha em 1855.
envio de profissionais para apoiar atividades de imunizações e vi-
Mesmo com o sucesso desses modelos experimentais, a pos-
gilância epidemiológica em outros países das Américas. Ainda, por
sibilidade de produção do gelo para uso doméstico ainda era um
meio da OPAS, são inúmeros os termos de cooperação entre países
sonho distante.
do qual o Brasil participa, firmados com o intuito de transferir expe-
riências e conhecimentos entre os países. Enquanto isso não ocorria, a única possibilidade de utilização
Sendo assim, um dos programas de imunizações mais ativos na do frio era tentando ampliar ao máximo a durabilidade do gelo na-
região das Américas, o PNI brasileiro tem exportado iniciativas, his- tural. No início do século XIX, surgiram, assim, as primeiras “geladei-
tórias de sucesso e experiência para diversos países do mundo. É, ras” – apenas um recipiente isolado por meio de placas de cortiça,
portanto, um exemplo a ser seguido, de ousadia, de determinação onde eram colocadas pedras de gelo. Essa geladeira ganhou ares
e de sucesso.” domésticos em 1913.
Em 1918, após a invenção da eletricidade, a Kelvinator Co. in-
Rede de Frio troduziu no mercado o primeiro refrigerador elétrico com o nome
A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de recebimento, de Frigidaire. Esses primeiros produtos foram vendidos como apa-
armazenamento, conservação, manipulação, distribuição e trans- relhos para serem colocados dentro das “caixas de gelo”.
porte dos imuno biológicos do Programa Nacional de Imunizações e Uma das vantagens era não precisar tirar o gelo derretido. O
devem ser mantidos em condições adequadas de refrigeração, des- slogan do refrigerador era “mais frio que o gelo”. Na conservação
de o laboratório produtor até o momento de sua utilização. dos alimentos, a utilização da refrigeração destina-se a impedir a

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

multiplicação de microrganismos e sua atividade metabólica, redu- - Os aparelhos condicionadores de ar modernos possuem refri-
zindo, consequentemente, à taxa de produção de toxinas e enzimas geração e aquecimento, mas também devem ser instalados na par-
que poderiam deteriorar os alimentos, mantendo, assim, à qualida- te superior da sala, pois o período de tempo de maior uso será no
de dos mesmos. modo ‘refrigeração’, ou seja, no período de verão. Contudo, quando
Com a criação do Programa Nacional de Imunizações no Brasil o equipamento for utilizado no modo ‘aquecimento’, durante o in-
surge a necessidade de equipamento de refrigeração para a con- verno, as aletas do equipamento deverão estar direcionadas para
servação dos imuno biológicos e inicia-se o uso do refrigerador baixo, forçando o ar quente em direção ao solo.
doméstico para este fim, adotando-se algumas adaptações e/ou - Os aquecedores de ar, por sua vez, deverão ser sempre insta-
modificações que serão demonstradas no capítulo referente aos lados na parte inferior do recinto a ser aquecido, pois o ar quente,
equipamentos da rede de frio. por ser menos denso, subirá e o ar que está mais frio na parte supe-
Para os imuno biológicos, a refrigeração destina-se exclusiva- rior desce e sofre aquecimento por convecção.
mente à conservação do seu poder imunogênico, pois são produtos
termolábeis, isto é, que se deterioram sob a influência do calor. Radiação: É o processo de transmissão de calor através de on-
das eletromagnéticas ondas de calor). A energia emitida por um
Princípios Básicos de Refrigeração corpo (energia radiante) se propaga até o outro, através do espaço
Calor: é uma forma de energia que pode ser transmitida de que os separa. Raios infravermelhos; Sol; Terra; O Sol aquece a Terra
um corpo a outro em virtude da diferença de temperatura existente através dos raios infravermelhos. Sendo uma transmissão de calor
entre eles. A transmissão da energia se dá a partir do corpo com através de ondas eletromagnéticas, a radiação não exige a presença
maior temperatura para o de menor temperatura. Um corpo, ao do meio material para ocorrer, isto é, a radiação ocorre no vácuo e
receber ou ceder calor, pode sofrer dois efeitos diferentes: variação também em meios materiais.
de temperatura ou mudança de estado físico (fase). A quantidade Nem todos os materiais permitem a propagação das ondas de
de calor recebida ou cedida por um corpo que sofre uma variação calor através dele com a mesma velocidade. A caixa térmica, por
de temperatura é denominada calor sensível. E, se ocorrer uma mu- exemplo, por ser feita de material isolante, dificulta a entrada do
dança de fase, o calor é chamado latente (palavra derivada do latim calor e o frio em seu interior, originário das bobinas de gelo reutili-
que significa escondido). zável, é conservado por mais tempo. Toda energia radiante, trans-
Diz-se que um corpo é mais frio que o outro quando possui portada por onda de rádio, infravermelha, ultravioleta, luz visível,
menor quantidade de energia térmica ou, temperatura inferior ao raios X, raio gama, etc, pode converter-se em energia térmica por
outro. Com base nesses princípios são, a seguir, apresentadas algu- absorção. Porém, só as radiações infravermelhas são chamadas de
mas experiências onde os mesmos são aplicados à conservação de ondas de calor. Um corpo bom absorvente de calor é um mal refle-
imuno biológicos. tor. Um corpo bom refletor de calor é um mal absorvente. Exemplo:
Corpos de cor negra são bons absorventes e corpos de cores claras
Transferência de Calor: É a denominação dada à passagem da são bons refletores de calor.
energia térmica (que durante a transferência recebe o nome de ca-
lor) de um corpo com temperatura mais alta para outro ou de uma Relação entre temperatura e movimento molecular: Inde-
parte para outra de um mesmo corpo com temperatura mais baixa. pendentemente do seu estado, as moléculas de um corpo encon-
Essa transmissão pode se processar de três maneiras diferentes: tram-se em movimento contínuo. Na figura a seguir, verifica-se o
condução, convecção e radiação. comportamento das moléculas da água nos estados sólido, líquido
e gasoso. À medida que sofrem incremento de temperatura, essas
Condução: É o processo de transmissão de calor em que a moléculas movimentam-se com maior intensidade. A liberdade
energia térmica passa de um local para outro através das partículas para se movimentarem aumenta conforme se passa do estado sóli-
do meio que os separa. Na condução a passagem da energia de uma do para o líquido; e deste, para o gasoso
local para outro se faz da seguinte maneira: no local mais quente, as
partículas têm mais energia, vibrando com mais intensidade; com Convecção Natural – Densidade: Uma mesma substância, em
esta vibração cada partícula transmite energia para a partícula vizi- diferentes temperaturas, pode ficar mais ou menos densa. O ar
nha, que passa a vibrar mais intensamente; esta transmite energia quente é menos denso que o ar frio. Assim, num espaço determi-
para a seguinte e assim sucessivamente. nado e limitado, ocorre sempre uma elevação do ar quente e uma
queda (precipitação) do ar frio. Sob tal princípio, uma caixa térmica
Convecção: Consideremos uma sala na qual se liga um aque- horizontal aberta, contendo bobinas de gelo reutilizável ou outro
cedor elétrico em sua parte inferior. O ar em torno do aquecedor é produto em baixa temperatura, só estará recebendo calor do am-
aquecido, tornando-se menos denso. Com isso, o ar aquecido sobe biente através da radiação e não pela saída do ar frio existente, uma
e o ar frio que ocupa a parte superior da sala, e portanto, mais dis- vez que este, sendo mais denso, permanece no fundo da caixa.
tante do aquecedor, desce. A esse movimento de massas de fluido Ao se abrir a porta de uma geladeira vertical ocorrerá a saída
chamamos convecção e as correntes de ar formadas são correntes de parte do volume de ar frio contido dentro da mesma, com sua
de convecção. Portanto, convecção é um movimento de massas de consequente substituição por parte do ar quente situado no am-
fluido, trocando de posição entre si. Notemos que não tem signifi- biente mais próximo do refrigerador. O ar frio, por ser mais denso,
cado falar em convecção no vácuo ou em um sólido, isto é, convec- sai por baixo, permitindo a penetração do ar ambiente (com calor
ção só ocorre nos fluidos. Exemplos ilustrativos: e umidade). Os equipamentos utilizados para a conservação de
- Os aparelhos condicionadores de ar devem sempre ser insta- sorvetes e similares são predominantemente freezers horizontais,
lados na parte superior do recinto a ser resfriado, para que o ar frio com várias aberturas pequenas na parte superior, visando a maior
refrigerado, sendo mais denso, desça e force o ar quente, menos eficiência na conservação de baixas temperaturas. Um exemplo do
denso, para cima, tornando o ar de todo o ambiente mais frio e princípio da densidade é observado quando os evaporadores ou
mais uniforme. congeladores dos refrigeradores, os aparelhos de ar-condicionado

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

e centrais de refrigeração são instalados na parte superior do local Por consequência, os imuno biológicos serão congelados, o que
a ser refrigerado Assim o ar frio desce e refrigera todo o ambiente para alguns tipos, pode comprometer a qualidade, por exemplo: a
mais rapidamente. Já os aquecedores devem ser instalados na par- vacina contra DTP.
te inferior. Desta forma, o ar quente sobe e aquece o local de forma Além desses fatores, as experiências citadas permitem lembrar
mais rápida. Agindo destas formas, garantimos o desempenho cor- alguns pontos importantes:
reto dos aparelhos e economizamos energia através da utilização da - o calor, decorrido algum tempo, passará através das paredes
convecção natural da caixa com maior ou menor facilidade, em função das caracterís-
ticas do material utilizado e da espessura das mesmas;
Temperatura: O calor é uma forma de energia que não pode ser - a temperatura no interior da caixa nem sempre é uniforme.
medida diretamente. Porém, por meio de termômetro, é possível Num determinado momento podemos encontrar temperaturas di-
medir sua intensidade. A temperatura de uma substância ou de um ferentes em vários pontos (a, b e c). O procedimento de envolver
corpo é a medida de intensidade do calor ou grau de calor existente os imuno biológicos com bobinas de gelo reutilizável é entendido
em sua massa. Existem diversos tipos e marcas de indicadores de como uma proteção ao avanço do calor, que parte sempre do mais
temperatura. Para seu funcionamento, aproveita-se a proprieda- quente para o mais frio, mas que afeta a temperatura dos corpos
de que alguns corpos têm para dilatar-se ou contrair-se conforme pelos quais se propaga;
ocorra aumento ou diminuição da temperatura. Para esse funcio- - no acondicionamento de imuno biológicos em caixas térmicas
namento utilizam-se, também, as variações de pressão que alguns é possível manter ou reduzir a temperatura das mesmas durante
fluidos apresentam quando submetidos a variações de temperatu- um tempo determinado utilizando-se, para tal, bobinas de gelo reu-
ra. Os líquidos mais comumente utilizados são o álcool e o mercú- tilizável em diferentes temperaturas e quantidade.
rio, principalmente por não se congelarem a baixas temperaturas.
Existem várias escalas para medição de temperatura, sendo Tipos de Sistema
que as mais comuns são a Fahrenheit (ºF), em uso nos países de Compressão: São sistemas que utilizam a compressão e a ex-
língua inglesa, e a Celsius (ºC), utilizada no Brasil. pansão de uma substância, denominada fluido refrigerante, como
Nos termômetros em escala Celsius (ºC) ou Centígrados, o pon- meio para a retirada de energia térmica de um corpo ou ambiente.
to de congelamento da água é 0ºC e o seu ponto de ebulição é de Esses sistemas são normalmente alimentados por energia elétrica
100ºC, ambos medidos ao nível do mar e à pressão atmosférica. proveniente de centrais hidrelétricas ou térmicas. Alternativamen-
Fatores que interferem na manutenção da temperatura no in- te, em regiões remotas, tem-se usado o sistema fotovoltaico como
terior das caixas térmicas: fonte geradora de energia elétrica.
- Temperatura ambiente: Quanto maior for a temperatura am-
biente, mais rapidamente a temperatura do interior da caixa tér- Componentes e elementos do sistema de refrigeração por
mica se elevará, em virtude da entrada de ar quente pelas paredes compressão: Componentes: compressor, condensador e controle
da caixa. do líquido refrigerante. Elementos: evaporador, filtro desidratador,
- Material isolante: O tipo, a qualidade e a espessura do mate- gás refrigerante e termostato. Os componentes acima descritos es-
rial isolante utilizado na fabricação da caixa térmica interferem na tão unidos entre si por meio de tubulações, dentro das quais cir-
penetração do calor. Com paredes mais grossas, o calor terá maior cula um fluido refrigerante ecológico (R-134a - tetrafluoretano, é o
dificuldade para atravessá-las. Com paredes mais finas, o calor pas- mais comum). A compressão e a expansão desse fluido refrigerante,
sará mais facilmente. Com material de baixa condutividade térmica dentro de um circuito fechado, o torna capaz de retirar calor de
(exemplo: poliuretano ao invés de poliestireno expandido), o calor um ambiente. Esse circuito deve estar hermeticamente selado, não
não penetrará na caixa com facilidade. permitindo a fuga do refrigerante. Nos refrigeradores e freezers,
- Bobinas de Gelo Reutilizável – Quantidade e Temperatura: A o compressor e o motor estão hermeticamente fechados em uma
quantidade de bobinas de gelo reutilizável colocada no interior da mesma carcaça
caixa é importante para a correta conservação. A transferência do
calor recebido dos imuno biológicos, do ar dentro da caixa e atra- Compressor: É um conjunto mecânico constituído de um motor
vés das paredes fará com que o gelo derreta (temperatura próxima elétrico e pistão no interior de um cilindro. Sua função é fazer o flui-
de 0ºC, no caso de as bobinas de gelo serem constituídas de água do refrigerante circular dentro do sistema de refrigeração.. Durante
pura). Otimizar o espaço interno da caixa para a acomodação de o processo de compressão, a pressão e a temperatura do fluido re-
maior quantidade de bobinas de gelo fará com que a temperatura frigerante se elevam rapidamente
interna do sistema permaneça baixa por mais tempo. Dispor as bo-
binas de gelo reutilizável nos espaços vazios no interior da caixa, de Condensador: É o elemento do sistema de refrigeração que se
modo que circundem os imuno biológicos serve ao propósito men- encontra instalado e conectado imediatamente após o ponto de
cionado acima. Ao dispor de certa quantidade de bobinas de gelo descarga do compressor. Sua função é transformar o fluido refri-
reutilizável nas paredes laterais da caixa térmica, formamos uma gerante em líquido. Devido à redução de sua temperatura, ocorre
barreira para diminuir a velocidade de entrada de calor, por um pe- mudança de estado físico, passando de vapor superaquecido para
ríodo de tempo. O calor vai continuar atravessando as paredes, e líquido saturado. São constituídos por tubos metálicos (cobre, alu-
isso ocorre porque não existe material perfeitamente isolante. Con- mínio ou ferro) dispostos sobre chapas ou fixos por aletas (arame
tudo, o calor que adentra a caixa atinge primeiro as bobinas de gelo de aço ou lâminas de alumínio), tomando a forma de serpentina.
reutilizável, aumentando inicialmente sua temperatura, e, somente A circulação do ar através do condensador pode se dar de duas
depois, altera a temperatura do interior da caixa. maneiras: a) Por circulação natural (sistemas domésticos) b) Por cir-
culação forçada (sistemas comerciais de grande capacidade). Como
A temperatura das bobinas de gelo reutilizável também deve o condensador está exposto ao ambiente, cuja temperatura é infe-
ser rigorosamente observada. Caso sejam utilizadas bobinas de rior à temperatura do refrigerante em circulação, o calor vai sendo
gelo reutilizável, em temperaturas muito baixas (-20ºC) e em gran- dissipado para esse mesmo ambiente. Assim, na medida em que o
de quantidade, há o risco de, em determinado momento, que a fluido refrigerante perde calor ao circular pelo condensador, ele se
temperatura dos imuno biológicos esteja próxima à dessas bobinas. converte em líquido.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Nos refrigeradores tipo doméstico e freezers utilizados pelo O sistema utilizado em refrigeradores para conservação de
PNI, são predominantemente utilizados os condensadores estáti- imuno biológicos é dimensionado para operação contínua do equi-
cos, nos quais o ar e a temperatura ambiente são os únicos fatores pamento (carregado e incluindo as bobinas de gelo reutilizável)
de interferência. As placas, ranhuras e pequenos tubos incorpora- durante os períodos de menor insolação no ano. Se outras cargas,
dos aos condensadores, visam exclusivamente facilitar a dissipação como iluminação, forem incluídas no sistema, elas devem operar
do calor, aumentando a superfície de resfriamento. através de um banco de baterias separado, independente do que
Olhando-se lateralmente um refrigerador tipo doméstico verifi- fornece energia ao refrigerador. O projeto do sistema deve permitir
ca-se que o condensador está localizado na parte posterior, afasta- uma autonomia de, no mínimo, sete dias de operação contínua.
do do corpo do refrigerador. O calor é dissipado para o ar circulante Em ambientes com temperaturas médias entre +32ºC e +43ºC,
que sobe em corrente, dos lados do evaporador. Para que este ciclo a temperatura interna do refrigerador, devidamente carregado,
seja completado com maior facilidade e sem interferências desfavo- quando estabilizada, não deve exceder a faixa de +2ºC a +8ºC. A
ráveis, o equipamento com sistema de refrigeração por compressão carga recomendada de bobinas de gelo reutilizável contendo água a
(geladeira, freezers, etc.) deve ficar afastado da parede, instalado temperatura ambiente deve ser aquela que o equipamento é capaz
em lugar ventilado, na sombra e longe de qualquer fonte de calor,
congelar em um período de 24 horas.
para que o condensador possa ter um rendimento elevado. Não co-
Em virtude de seu alto custo e necessidade de treinamento
locar objetos sobre o condensador. Periodicamente, limpar o mes-
especializado dos responsáveis pela manutenção, alguns critérios
mo para evitar acúmulo de pó ou outro produto que funcione como
são observados para a escolha das localidades para instalação desse
isolante.
tipo de equipamento:
Alguns equipamentos (geladeiras comerciais, câmaras frigorífi-
cas, etc.) utilizam o conjunto de motor, compressor e condensador, - remotas e de difícil acesso, isoladas com inexistência de fonte
instalado externamente. de energia convencional;
- que por razões logísticas se necessite dispor de um refrigera-
Filtro desidratador: Está localizado logo após o condensador. dor para armazenamento;
Consiste em um filtro dotado de uma substância desidratadora que - que, segundo o Ministério de Minas e Energia, não serão al-
retém as impurezas ou substâncias estranhas e absorve a umidade cançadas pela rede elétrica convencional em, pelo menos, 5 anos;
residual que possa existir no sistema.
Absorção: Funciona alimentado por uma fonte de calor que
Controle de expansão do fluido refrigerante: A seguir está lo- pode ser uma resistência elétrica, gás ou querosene. Em opera-
calizado o controlador de expansão do fluido refrigerante. Sua fina- ção com gás ou eletricidade, a temperatura interna é controlada
lidade é controlar a passagem e promover a expansão (redução da automaticamente por um termostato. Nos equipamentos a gás, o
pressão e temperatura) do fluido refrigerante para o evaporador. termostato dispõe de um dispositivo de segurança que fecha a pas-
Este dispositivo, em geral, pode ser um tubo capilar usado em pe- sagem deste quando a chama se apaga; com querosene, a tempe-
quenos sistemas de refrigeração ou uma válvula de expansão, usual ratura é controlada manualmente através do ajuste da chama do
em sistemas comerciais e industriais. querosene. O sistema por absorção não é tão eficiente e difere da
configuração do sistema por compressão. Seu funcionamento de-
Evaporador: É a parte do sistema de refrigeração no qual o pende de uma mistura de água e amoníaco, em presença de um
fluido refrigerante, após expandir-se no tubo capilar ou na válvula gás inerte (hidrogênio). Requer atenção constante para garantir o
de expansão, evapora-se a baixa pressão e temperatura, absorven- desempenho adequado.
do calor do meio. Em um sistema de refrigeração, a finalidade do
evaporador é absorver calor do ar, da água ou de qualquer outra Funcionamento do sistema por absorção: A água tem a pro-
substância que se deseje baixar a temperatura. Essa retirada de priedade de absorver amônia (NH3) com muita facilidade e através
calor ou esfriamento ocorre em virtude de o líquido refrigerante,
desta, é possível reduzir e manter baixa a temperatura nos sistemas
a baixa pressão, se evaporar, absorvendo calor do conteúdo e do
de absorção. A aplicação de calor ao sistema faz com que a solubi-
ambiente interno do refrigerador. À medida que o líquido vai se
lidade da amônia na água, libere o gás da solução. Assim, a amônia
evaporando, deslocando-se pelas tubulações, este se converte em
purificada, em forma gasosa, se desloca do separador até o con-
vapor, que será aspirado pelo compressor através da linha de baixa
pressão (sucção). Posteriormente, será comprimido e enviado pelo densador, que é uma serpentina de tubulações com um dispositivo
compressor ao condensador fechando o ciclo. de aletas situado na parte superior do circuito. Nesse elemento, a
amônia se condensa e, em forma líquida, desce por gravidade até
Alimentação elétrica dos sistemas de refrigeração por com- o evaporador, localizado abaixo do condensador e dentro do gabi-
pressão: Pode ser convencional, quando é proveniente de centrais nete.
hidrelétricas ou térmicas, ou fotovoltaica, quando utiliza a energia O esfriamento interno do equipamento ocorre pela perda de
solar. A alimentação elétrica convencional dispensa maiores co- calor para a amônia, que sofre uma mudança de fase da amônia,
mentários, pois é de uso muito comum e conhecida por todos. passando do estado líquido para o gasoso.
Atualmente, muitos países em desenvolvimento estão usando A presença do hidrogênio mantém uma pressão elevada e uni-
o sistema fotovoltaico na rede de frio para conservação de imuno- forme no sistema. A mistura amônia-hidrogênio varia de densidade
biológicos. É, algumas vezes, a única alternativa em áreas onde não ao passar de uma parte do sistema para outra, o que resulta em
existe disponibilidade de energia elétrica convencional confiável. um desequilíbrio que provoca a movimentação da amônia até o
A geração de energia elétrica provém de células fotoelétricas ou componente absorvente (água). Ao sair do evaporador, a mistura
fotovoltaicas, instaladas em painéis que recebem luz solar direta, amônia-hidrogênio passa ao absorvedor, onde somente a amônia é
armazenando-a em baterias próprias através do controlador de car- retida. Nesse ponto, o calor aplicado permitirá novamente a libera-
ga para a manutenção do funcionamento do sistema, inclusive no ção da amônia até o condensador, fechando o ciclo continuamente.
período sem sol.

153
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os sistemas de absorção apresentam algumas desvantagens: - Na caixa térmica da sala de vacina ou para o trabalho extra-
- os equipamentos que utilizam combustível líquido na alimen- muro, a temperatura deverá ser controlada com frequência, subs-
tação apresentam irregularidade da chama e acúmulo de carvão ou tituindo-se as bobinas de gelo reutilizável quando a temperatura
fuligem, necessitando regulagem sistemática e limpeza periódica atingir +8ºC.
dos queimadores; - O PNI não recomenda a compra deste modelo de termôme-
tro, porém onde
- a manutenção do equipamento em operação satisfatória - O PNI espera cada vez mais que todas as instâncias invistam
apresenta maior grau de complexidade em relação aos sistemas de na aquisição de termômetros mais precisos e de melhor qualidade
compressão; (digital de momento, máxima e mínima).
- a qualidade e o abastecimento constante dos combustíveis Termômetro analógico de cabo extensor: Este tipo de termô-
dificulta o uso de tal equipamento. metro é utilizado para verificar a temperatura do momento, no
transporte, no uso diário da sala de vacina ou no trabalho extra-
Controle de temperatura conforme o tipo de sistema, proce- muro.
der das seguintes maneiras: a) aqueles que funcionam com com-
bustíveis líquidos. O controle é efetuado através da diminuição ou Termômetro a laser: É um equipamento de alta tecnologia, uti-
aumento da chama utilizada no aquecimento do sistema, por meio lizado principalmente para a verificação de temperatura dos imuno
de um controle que movimenta o pavio do queimador; b) aqueles biológicos nos volumes (caixas térmicas), recebidos ou expedidos
que funcionam com combustíveis gasosos. Nestes sistemas, o con- em grandes quantidades. Tem a forma de uma pistola, com um ga-
trole é feito por um elemento termostático que permite aumentar tilho que ao ser pressionado aciona um feixe de raio laser que ao
ou diminuir a vazão do gás que alimentará a chama do queimador, atingir a superfície das bobinas de gelo, registra no visor digital do
provocando as alterações de temperatura desejadas; c) aqueles aparelho a temperatura real do momento. Para que seja obtido um
que funcionam com eletricidade. O controle é feito através de um registro de temperatura confiável é necessário que sejam observa-
termostato para refrigeração simples, que conecta ou desconecta dos os procedimentos descritos pelo fabricante quanto à distância
a alimentação da resistência elétrica, do mesmo tipo utilizado nos e ao tempo de pressão no gatilho do termômetro
refrigeradores à compressão.
Situações de Emergência
Temperatura: controle e monitoramento Os equipamentos de refrigeração podem deixar de funcionar
por vários motivos. Assim, para evitar a perda dos imuno biológicos,
O controle diário de temperatura dos equipamentos da Rede precisamos adotar algumas providencias. Quando ocorrer interrup-
de Frio é imprescindível em todas as instâncias de armazenamento ção no fornecimento de energia elétrica, manter o equipamento
para assegurar a qualidade dos imuno biológicos. Para isso, utili- fechado e monitorar, rigorosamente, a temperatura interna com
zam-se termômetros digitais ou analógicos, de cabo extensor ou termômetro de cabo extensor. Se não houver o restabelecimento
não. Quando for utilizado o termômetro analógico de momento, da energia, no prazo máximo de 2 horas ou quando a temperatura
máxima e mínima, a leitura deve ser rápida, a fim de evitar variação estiver próxima a + 8 C proceder imediatamente a transferência dos
de temperatura no equipamento. O termômetro de cabo extensor imuno biológicos para outro equipamento com temperatura reco-
é de fácil leitura e não contribui para essa alteração porque o visor mendada (refrigerador ou caixa térmica).
permanece fora do equipamento. O mesmo procedimento deve ser adotado em situação de falha
no equipamento.
Termômetro digital de momento, máxima e mínima: É um equi- O serviço de saúde deverá dispor de bobinas de gelo reutilizá-
pamento eletrônico de precisão constituído de um visor de cristal vel congeladas para serem usadas no acondicionamento dos imuno
líquido, com cabo extensor, que mensura as temperaturas (do mo- biológicos em caixas térmicas.
mento, a máxima e a mínima), através de seu bulbo instalado no No quadro de distribuição de energia elétrica da Instituição,
interior do equipamento, em um período de tempo. Também existe é importante identificar a chave especifica do circuito da Rede de
disponível um modelo deste equipamento que permite a leitura das Frio e/ou sala de vacinação e colocar um aviso em destaque - “Não
temperaturas de momento, máxima, mínima e do ambiente exter- Desligar”. Estabelecer uma parceria com a empresa local de energia
no, com dispositivo de alarme que é acionado quando a variação elétrica, a fim de ter informação prévia sobre interrupções progra-
de temperatura ultrapassa os limites configurados, ou seja, +2º e madas no fornecimento. Nas situações de emergência é necessário
+ 8º C (set point) ou sem alarme. Constituído por dois visores de que a unidade comunique a ocorrência à instância superior imedia-
cristal líquido, um para temperatura do equipamento e outro para a ta para as devidas providências.
temperatura do ambiente Observação: Recomenda-se a orientação dos agentes respon-
Termômetro analógico de momento, máxima e mínima (Ca- sáveis pela vigilância e segurança das centrais de rede de frio na
pela): Este termômetro apresenta duas colunas verticais de mer- identificação de problemas que possam comprometer a qualidade
cúrio com escalas inversas e é utilizado para verificar as variações dos imuno biológicos, comunicando imediatamente o técnico res-
de temperatura ocorridas em determinado ambiente, num período ponsável, principalmente durante finais de semana e feriados.
de tempo, fornecendo três tipos de informação: a mais fria; a mais
quente e a do momento. Equipamentos da Rede de Frio
Termômetro linear: Esse tipo de termômetro só nos dá a tem- O PNI utiliza equipamentos que garantem a qualidade dos imu-
peratura do momento, por isso seu uso deve ser restrito às caixas no biológicos: câmara frigorífica, freezers ou congeladores, refri-
térmicas de uso diário. geradores tipo doméstico ou comercial, caminhão frigorífico entre
Colocá-lo no centro da caixa, próximo às vacinas e tampá-la; outros. Considerando as atividades executadas no âmbito da cadeia
aguardar meia hora para fazer a leitura da temperatura, verificando de frio de imuno biológicos, algumas delas podem apresentar um
a extremidade superior da coluna. potencial de risco à saúde do trabalhador. Neste sentido, a legisla-
ção trabalhista vigente determina o uso de Equipamentos de Pro-
tecão Individual (EPI), conforme estabelece a Portaria do Ministério

154
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

do Trabalho e Emprego n. 3.214, de 08/06/1978 que aprovou, den- - não deixar a porta aberta por mais de um minuto ao colocar
tre outras normas, a Norma Regulamentadora nº 06 - Equipamento ou retirar imuno biológico e somente abrir a câmara depois de fe-
de Proteção Individual - EPI. Segundo esta norma, considera-se EPI, chada a antecâmara;
“todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo tra- - somente entrar na câmara positiva se a temperatura interna
balhador, destinado á proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a registrada no visor externo estiver ≤+5ºC. Essa conduta impede que
segurança e a saúde no trabalho”. a temperatura interna da câmara ultrapasse +8ºC com a entrada de
ar quente durante a abertura da porta;
Câmaras Frigoríficas: Também denominadas câmaras frias. São - verificar, uma vez ao mês, se a vedação da porta da câmara
ambientes especialmente construídos para armazenar produtos em está em boas condições, isto é, se a borracha (gaxeta) não apresen-
baixas temperaturas, tanto positivas quanto negativas e em gran- ta ressecamento, não tem qualquer reentrância, abaulamento em
des volumes. Para conservação dos imuno biológicos essas câmaras suas bordas e se a trava de segurança está em perfeito funciona-
funcionam em temperaturas entre +2ºC e +8ºC e -20°C, de acordo mento. O formulário para registro da revisão mensal encontra-se
com a especificação dos produtos. Na elaboração de projetos para em manual específico de manutenção de equipamentos;
construção, ampliação ou reforma, é necessário solicitar assessoria - observar para que a luz interna da câmara não permaneça
do PNI considerando a complexidade, especificidade e custo deste acesa quando não houver pessoas trabalhando em seu interior. A
equipamento. luz é grande fonte de calor;
- ao final do dia de trabalho, certificar-se de que a luz interna
O seu funcionamento de uma maneira geral obedece aos prin-
foi apagada; de que todas as pessoas saíram e de que a porta da
cípios básicos de refrigeração, além de princípios específicos, tais
câmara foi fechada corretamente;
como:
- a limpeza interna das câmaras e prateleiras é feita sempre
- paredes, piso e teto montados com painéis em poliuretano
com pano úmido, e se necessário, utilizar sabão. Adotar o mesmo
injetado de alta densidade revestido nas duas faces em aço inox/ procedimento nas paredes e teto e finalmente secá-los. Remover
alumínio; as estruturas desmontáveis do piso para fora da câmara, lavar com
- sistema de ventilação no interior da câmara, para facilitar a água e sabão, enxaguar, secar e recolocar. Limpar o piso com pano
distribuição do ar frio pelo evaporador; úmido (pano exclusivo) e sabão, se necessário e secar. Limpar as
- compressor e condensador dispostos na área externa à câma- luminárias com pano seco e usando luvas de borracha para preven-
ra, com boa circulação de ar; ção de choques elétricos. Recomenda-se a limpeza antes da repo-
- antecâmara (para câmaras negativas), com temperatura de sição de estoque.
+4°C, objetivando auxiliar o isolamento do ambiente e prevenir a - recomenda-se, a cada 6 (seis) meses, proceder a desinfecção
ocorrência de choque térmico aos imuno biológicos; geral das paredes e teto das câmaras frias;
- alarmes audiovisual de baixa e alta temperaturas para aler- - semanalmente a Coordenação Estadual receberá do respon-
tar da ocorrência de oscilação na corrente elétrica ou de defeito no sável pela Rede de Frio o gráfico de temperatura das câmaras e dará
equipamento de refrigeração; o visto, após análise dos mesmos.
- alarme audiovisual indicador de abertura de porta;
- dois sistemas independentes de refrigeração instalados: um A manutenção preventiva e corretiva é indispensável para
em uso e outro em reserva, para eventual defeito do outro; a garantia do bom funcionamento da câmara. Manter o contrato
- sistema eletrônico de registro de temperatura (data loggers); atualizado e renovar com antecedência prevenindo períodos sem
- Lâmpada de cor amarela externamente à câmara, com acio- cobertura. As orientações técnicas e formulários estão descritos no
namento interligado à iluminação interna, para alerta da presença manual específico de manutenção de equipamentos.
de pessoal no seu interior e evitar que as luzes internas sejam dei- Freezers ou Congeladores: São equipamentos destinados, pre-
xadas acesas desnecessariamente. ferencialmente, a estocagem de imuno biológicos em temperaturas
negativas (aproximadamente a -20ºC), mais eficientes e confiáveis,
Algumas câmaras, devido ao seu nível de complexidade e di- principalmente aquele dotado de tampas na parte superior. Estes
mensões utilizam sistema de automação para controle de tempera- equipamentos devem ser do tipo horizontal, com isolamento de
tura, umidade e funcionamento. suas paredes em poliuretano, evaporadores nas paredes (contato
interno) e condensador/compressor em áreas projetadas no corpo,
Organização Interna: As câmaras são dotadas de prateleiras va-
abaixo do gabinete. São também utilizados para congelar as bobi-
zadas, preferencialmente metálicas, em aço inox, nas quais os imu-
nas de gelo reutilizável e nesse caso, a sua capacidade de armaze-
no biológicos são acondicionados de forma a permitir a circulação
namento é de até 80%.
de ar entre as mesma e organizados de acordo com a especificação
Não utilizar o mesmo equipamento para o armazenamento
do produto laboratório produtor, número do lote, prazo de validade concomitante de imuno biológicos e bobinas de gelo reutilizável.
e apresentação. Instalar em local bem arejado, sem incidência da luz solar direta
As prateleiras metálicas podem ser substituídas por estrados e distante, no mínimo, 40cm de outros equipamentos e 20cm de
de plástico resistente (paletes), em função do volume a ser armaze- paredes, uma vez que o condensador necessita dissipar calor para o
nado. Os lotes com menor prazo de validade devem ter prioridade ambiente. Colocar o equipamento sobre suporte com rodinhas para
na distribuição, Cuidados básicos para evitar perda de imuno bio- evitar a oxidação das chapas da caixa em contato direto com o piso
lógicos: úmido e facilitar sua limpeza e movimentação.
- na ausência de controle automatizado de temperatura, reco-
menda-se fazer a leitura diariamente, no início da jornada de traba-
lho, no início da tarde e no final do dia, com equipamento disponí-
vel e anotar em formulário próprio;
- testar os alarmes antes de sair, ao final da jornada de traba-
lho;
- usar equipamento de proteção individual;

155
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Programa Nacional de Imunização A equipe de vacinação é formada pelo enfermeiro e pelo téc-
nico ou auxiliar de enfermagem, sendo ideal a presença de dois
Vacinação e atenção básica vacinadores para cada turno de trabalho. O tamanho da equipe
A Política Nacional de Atenção Básica, estabelecida em 2006, depende do porte do serviço de saúde, bem como do tamanho da
caracteriza a atenção básica como “um conjunto de ações de saúde, população do território sob sua responsabilidade.
no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a prote- Tal dimensionamento também pode ser definido com base na
ção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, previsão de que um vacinador pode administrar com segurança cer-
a reabilitação e a manutenção da saúde”. A Estratégia de Saúde da ca de 30 doses de vacinas injetáveis ou 90 doses de vacinas adminis-
Família (ESF), implementada a partir de 1994, é a estratégia adota- tradas pela via oral por hora de trabalho.
da na perspectiva de organizar e fortalecer esse primeiro nível de A equipe de vacinação participa ainda da compreensão da si-
atenção, organizando os serviços e orientando a prática profissional tuação epidemiológica da área de abrangência na qual o serviço de
de atenção à família. No contexto da vacinação, a equipe da ESF re- vacinação está inserido, para o estabelecimento de prioridades, a
aliza a verificação da caderneta e a situação vacinal e encaminha a alocação de recursos e a orientação programática, quando neces-
população à unidade de saúde para iniciar ou completar o esquema sário.
vacinal, conforme os calendários de vacinação. É fundamental que O enfermeiro é responsável pela supervisão ou pelo monito-
haja integração entre a equipe da sala de vacinação e as demais ramento do trabalho desenvolvido na sala de vacinação e pelo pro-
equipes de saúde, no sentido de evitar as oportunidades perdidas cesso de educação permanente da equipe.
de vacinação, que se caracterizam pelo fato de o indivíduo ser aten-
dido em outros setores da unidade de saúde sem que seja verificada Organização e funcionamento da sala de vacinação
sua situação vacinal ou haja encaminhamento à sala de vacinação.
Especificidades da sala de vacinação
Calendário Nacional de Vacinação A sala de vacinação é classificada como área semicrítica. Deve
As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são defi- ser destinada exclusivamente à administração dos imunobiológicos,
nidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos: devendo-se considerar os diversos calendários de vacinação exis-
• os tipos de vacina; tentes. Na sala de vacinação, é importante que todos os procedi-
• o número de doses do esquema básico e dos reforços; mentos desenvolvidos promovam a máxima segurança, reduzindo
• a idade para a administração de cada dose; e o risco de contaminação para os indivíduos vacinados e também
• o intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobioló- para a equipe de vacinação. Para tanto, é necessário cumprir as se-
gico cuja proteção exija mais de uma dose. Considerando o risco, a guintes especificidades e condições em relação ao ambiente e às
vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define calendá- instalações:
rios de vacinação com orientações específicas para crianças, adoles- • Sala com área mínima de 6 m2 . Contudo, recomenda-se uma
centes, adultos, gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomen- área média a partir de 9 m2 para a adequada disposição dos equi-
dadas para as crianças têm por objetivo proteger esse grupo o mais pamentos e dos mobiliários e o fluxo de movimentação em condi-
precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no ções ideais para a realização das atividades.
primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos • Piso e paredes lisos, contínuos (sem frestas) e laváveis.
posteriores. • Portas e janelas pintadas com tinta lavável.
• Portas de entrada e saída independentes, quando possível.
Os calendários de vacinação estão regulamentados pela Por- • Teto com acabamento resistente à lavagem.
taria ministerial nº 1.498, de 19 de julho de 2013, no âmbito do • Bancada feita de material não poroso para o preparo dos in-
Programa Nacional de Imunizações (PNI), em todo o território na- sumos durante os procedimentos.
cional, sendo atualizados sistematicamente por meio de informes e • Pia para a lavagem dos materiais.
notas técnicas pela CGPNI. Nas unidades de saúde, os calendários e • Pia específica para uso dos profissionais na higienização das
os esquemas vacinais para cada grupo-alvo devem estar disponíveis mãos antes e depois do atendimento ao usuário.
para consulta e afixados em local visível. • Nível de iluminação (natural e artificial), temperatura, umida-
de e ventilação natural em condições adequadas para o desempe-
Fatores que influenciam a resposta imune nho das atividades.
• Tomada exclusiva para cada equipamento elétrico
• Equipamentos de refrigeração utilizados exclusivamente para
Fatores relacionados ao vacinado
conservação de vacinas, soros e imunoglobulinas, conforme as nor-
-Idade
mas do PNI nas três esferas de gestão.
-Gestação
• Equipamentos de refrigeração protegidos da incidência de
-Amamentação
luz solar direta.
-Reação Anafilática
• Sala de vacinação mantida em condições de higiene e lim-
-Paciente Imunodeprimido
peza.
-Uso de Antitérmico Profilático.
Administração dos imunobiológicos
Equipe de vacinação e funções básicas Na administração dos imunobiológicos, adote os seguintes pro-
As atividades da sala de vacinação são desenvolvidas pela equi- cedimentos:
pe de enfermagem treinada e capacitada para os procedimentos de • Verifique qual imunobiológico deve ser administrado, confor-
manuseio, conservação, preparo e administração, registro e descar- me indicado no documento pessoal de registro da vacinação (cartão
te dos resíduos resultantes das ações de vacinação. ou caderneta) ou conforme indicação médica.
• Higienize as mãos antes e após o procedimento

156
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Examine o produto, observando a aparência da solução, o esta- Via parenteral A maior parte dos imunobiológicos ofertados
do da embalagem, o número do lote e o prazo de validade. pelo PNI é administrada por via parenteral. As vias de administração
parenterais diferem em relação ao tipo de tecido em que o imuno-
Cuidados com os resíduos da sala de vacinação biológico será administrado. Tais vias são as seguintes: intradérmi-
O resíduo infectante deve receber cuidados especiais nas fases ca, subcutânea, intramuscular e endovenosa.
de segregação, acondicionamento, coleta, tratamento e destino fi- Esta última é exclusiva para a administração de determinados
nal. Para este tipo de resíduo, o trabalhador da sala de vacinação tipos de soros. Para a administração de vacinas, não é recomendada
deve: a assepsia da pele do usuário. Somente quando houver sujidade
• Acondicionar em caixas coletoras de material perfurocortan- perceptível, a pele deve ser limpa utilizando-se água e sabão ou
te os frascos vazios de imunobiológicos, assim como aqueles que álcool a 70%, no caso de vacinação extramuros e em ambiente hos-
devem ser descartados por perda física e/ou técnica, além dos ou- pitalar
tros resíduos perfurantes e infectantes (seringas e agulhas usadas). Nota: • Quando usar o álcool a 70% para limpeza da pele, fric-
O trabalhador deve observar a capacidade de armazenamento da cione o algodão embebido por 30 segundos e, em seguida, espere
caixa coletora, definida pelo fabricante, independentemente do nú- mais 30 segundos para permitir a secagem da pele, deixando-a sem
mero de dias trabalhados. vestígios do produto, de modo a evitar qualquer interferência do
• Acondicionar as caixas coletoras em saco branco leitoso. álcool no procedimento.
• Encaminhar o saco com as caixas coletoras para a Central de A administração de vacinas por via parenteral não requer para-
Material e Esterilização (CME) na própria unidade de saúde ou em mentação especial para a sua execução. A exceção se dá quando o
outro serviço de referência, conforme estabelece a Resolução nº vacinador apresenta lesões abertas com soluções de continuidade
358/2005 do Conama, a fim de que os resíduos sejam inativados nas mãos. Excepcionalmente nesta situação, orienta-se a utilização
• A Rede de Frio refere-se à estrutura técnico-administrativa de luvas, a fim de se evitar contaminação tanto do imunobiológico
(normatização, planejamento, avaliação e financiamento) direcio- quanto do usuário.
nada para a manutenção adequada da Cadeia de Frio. Esta, por sua
vez, representa o processo logístico (recebimento, armazenamento,
Nota:
distribuição e transporte) da Rede de Frio. A sala de vacinação é a
• A administração de soros por via endovenosa requer o uso
instância final da Rede de Frio, onde os procedimentos de vacina-
de luvas, assim como a assepsia da pele do usuário.
ção propriamente ditos são executados mediante ações de rotina,
campanhas e outras estratégias. • Na sala de vacinação, todas as va-
cinas devem ser armazenadas entre +2ºC e +8ºC, sendo ideal +5ºC. Via intradérmica (ID) Na utilização da via intradérmica, a vacina
Organização dos imunobiológicos na câmara refrigerada é introduzida na derme, que é a camada superficial da pele. Esta
via proporciona uma lenta absorção das vacinas administradas. O
O estoque de imunobiológicos no serviço de saúde não deve volume máximo a ser administrado por esta via é 0,5 mL. A vacina
ser maior do que a quantidade prevista para o consumo de um mês, BCG e a vacina raiva humana em esquema de pré-exposição, por
a fim de reduzir os riscos de exposição dos produtos a situações que exemplo, são administradas pela via intradérmica. Para facilitar a
possam comprometer sua qualidade. Os imunobiológicos devem identificação da cicatriz vacinal, recomenda-se no Brasil que a vaci-
ser organizados em bandejas sem que haja a necessidade de dife- na BCG seja administrada na inserção inferior do músculo deltoide
renciá-los por tipo ou compartimento, uma vez que a temperatura direito. Na impossibilidade de se utilizar o deltoide direito para tal
se distribui uniformemente no interior do equipamento. Entretan- procedimento, a referida vacina pode ser administrada no deltoide
to, os produtos com prazo de validade mais curto devem ser dispos- esquerdo.
tos na frente dos demais frascos, facilitando o acesso e a otimização Via subcutânea (SC) Na utilização da via subcutânea, a vacina é
da sua utilização. Orientações complementares sobre a organização introduzida na hipoderme, ou seja, na camada subcutânea da pele.
dos imunobiológicos na câmara refrigerada constam no Manual de O volume máximo a ser administrado por esta via é 1,5 mL. São
Rede de Frio (2013). Abra o equipamento de refrigeração com a exemplos de vacinas administradas por essa via: vacina sarampo,
menor frequência possível. caxumba e rubéola e vacina febre amarela (atenuada). Alguns locais
são mais utilizados para a vacinação por via subcutânea: a região do
Procedimentos segundo as vias de administração dos imuno- deltoide no terço proximal;
biológicos -a face superior externa do braço;
Os imunobiológicos são produtos seguros, eficazes e bastante -a face anterior e externa da coxa; e
custo-efetivos em saúde pública. Sua eficácia e segurança, entretan- -a face anterior do antebraço.
to, estão fortemente relacionadas ao seu manuseio e à sua adminis-
tração. Portanto, cada imunobiológico demanda uma via específica Via intramuscular (IM) Na utilização da via intramuscular, o
para a sua administração, a fim de se manter a sua eficácia plena. imunobiológico é introduzido no tecido muscular, sendo apropria-
do para a administração o volume máximo até 5 mL. São exemplos
Via oral A via oral é utilizada para a administração de substân-
de vacinas administradas por essa via: vacina adsorvida difteria,
cias que são absorvidas no trato gastrintestinal com mais facilidade
tétano, pertussis, Haemophilus influenzae b (conjugada) e hepa-
e são apresentadas, geralmente, em forma líquida ou como dráge-
tite B (recombinante); vacina adsorvida difteria e tétano adulto;
as, cápsulas e comprimidos. O volume e a dose dessas substâncias
são introduzidos pela boca. São exemplos de vacinas administradas vacina hepatite B (recombinante); vacina raiva (inativada); vacina
por tal via: vacina poliomielite 1, 2 e 3 (atenuada) e vacina rotavírus pneumocócica 10 valente (conjugada) e vacina poliomielite 1, 2 e
humano G1P1[8] (atenuada). 3 (inativada). As regiões anatômicas selecionadas para a injeção in-
tramuscular devem estar distantes dos grandes nervos e de vasos
sanguíneos, sendo que o músculo vasto lateral da coxa e o músculo
deltoide são as áreas mais utilizadas.

157
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Notas: 4 meses
• A região glútea é uma opção para a administração de deter-
minados tipos de soros (antirrábico, por exemplo) e imunoglobuli- Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec-
nas (anti-hepatite B e varicela, como exemplos). ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 2ª dose
• A área ventroglútea é uma região anatômica alternativa para Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a polio-
a administração de imunobiológicos por via intramuscular, devendo mielite) – 2ª dose
ser utilizada por profissionais capacitados. Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne pneumonia,
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª
Calendários de Vacinação dose
O Calendário de vacinação brasileiro é aquele definido pelo Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose
Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI/
MS) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interes- 5 meses
se prioritário à saúde pública do país. Atualmente é constituído por
12 produtos recomendados à população, desde o nascimento até a Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada
terceira idade e distribuídos gratuitamente nos postos de vacinação pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 2ª dose
da rede pública.
Lembramos que estes calendários de vacina são do Ministério 6 meses
da Saúde e corresponde a todo o Território Nacional. Mas determi-
nados Estados do Brasil, acrescentam outras vacinas e outras doses, Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec-
devido a necessidade local. ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 3ª dose
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) - (previne polio-
Calendário Nacional de Vacinação mielite) – 3ª dose
9 meses
Criança
Febre Amarela – uma dose (previne a febre amarela)

12 meses

Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose


Pneumocócica 10 Valente (conjugada) - (previne pneumonia,
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) –
Reforço
Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada
pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Reforço
Para vacinar, basta levar a criança a um posto ou Unidade Bási-
ca de Saúde (UBS) com o cartão/caderneta da criança. O ideal é que 15 meses
cada dose seja administrada na idade recomendada. Entretanto, se
perdeu o prazo para alguma dose é importante voltar à unidade de DTP (previne a difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço
saúde para atualizar as vacinas. A maioria das vacinas disponíveis Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) - (previne poliomie-
no Calendário Nacional de Vacinação é destinada a crianças. São 15 lite) – 1º reforço
vacinas, aplicadas antes dos 10 anos de idade. Hepatite A – uma dose
Tetra viral – (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/ca-
Ao nascer tapora) - Uma dose

BCG (Bacilo Calmette-Guerin) – (previne as formas graves de 4 anos


tuberculose, principalmente miliar e meníngea) - dose única - dose
única DTP (Previne a difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço
Hepatite B–(previne a hepatite B) - dose ao nascer Vacina Poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) – (previne poliomie-
lite) - 2º reforço
2 meses Varicela atenuada (previne varicela/catapora) – uma dose
Atenção: Crianças de 6 meses a 5 anos (5 anos 11 meses e 29
Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infec- dias) de idade deverão tomar uma ou duas doses da vacina influen-
ções causadas pelo Haemophilus influenzae B) – 1ª dose za durante a Campanha Anual de Vacinação da Gripe.
Vacina Poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) - (VIP) (previne a polio-
mielite) – 1ª dose Adolescente
Pneumocócica 10 Valente (conjugada) (previne a pneumonia,
otite, meningite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª
dose
Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose

3 meses

Meningocócica C (conjugada) - (previne Doença invasiva causa-


da pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 1ª dose

158
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A caderneta de vacinação deve ser frequentemente atualiza- Dupla adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
da. Algumas vacinas só são administradas na adolescência. Outras 10 anos
precisam de reforço nessa faixa etária. Além disso, doses atrasadas Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin-
também podem ser colocadas em dia. Veja as vacinas recomenda- gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (Está
das a adolescentes: indicada para população indígena e grupos-alvo específicos)

Meninas 9 a 14 anos Idoso

HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e


verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as doses)

Meninos 11 a 14 anos

HPV (previne o papiloma, vírus humano que causa cânceres e


verrugas genitais) - 2 doses (seis meses de intervalo entre as doses)

11 a 14 anos
São quatro as vacinas disponíveis para pessoas com 60 anos ou
Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada mais, além da vacina anual contra a gripe:
por Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – Dose única ou reforço
(a depender da situação vacinal anterior)

10 a 19 anos 60 anos ou mais

Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior) Hepatite B - 3 doses (verificar situação vacinal anterior)
Febre Amarela – 1 dose (a depender da situação vacinal ante- Febre Amarela – dose única (verificar situação vacinal anterior)
rior) Dupla Adulto (dT) - (previne difteria e tétano) – Reforço a cada
Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 anos
10 anos Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin-
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 doses gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço (a de-
(de acordo com a situação vacinal anterior) pender da situação vacinal anterior) - A vacina está indicada para
população indígena e grupos-alvo específicos, como pessoas com
Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, menin- 60 anos e mais não vacinados que vivem acamados e/ou em insti-
gite e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose (a de- tuições fechadas.
pender da situação vacinal anterior) - (está indicada para população Influenza – Uma dose (anual)
indígena e grupos-alvo específicos)
Gestante
Adulto

A vacina para mulheres grávidas é essencial para prevenir do-


É muito importante que os adultos mantenham suas vacinas enças para si e para o bebê. Veja as vacinas indicadas para gestan-
em dia. Além de se proteger, a vacina também evita a transmissão tes.
para outras pessoas que não podem ser vacinadas. Imunizados, fa- Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)
miliares podem oferecer proteção indireta a bebês que ainda não Dupla Adulto (dT) (previne difteria e tétano) – 3 doses (a de-
estão na idade indicada para receber algumas vacinas, além de ou- pender da situação vacinal anterior)
tras pessoas que não estão protegidas. Veja lista de vacinas disponi- dTpa (Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) – (previne dif-
bilizadas a adultos de 20 a 59 anos: teria, tétano e coqueluche) – Uma dose a cada gestação a partir da
20ª semana de gestação ou no puerpério (até 45 dias após o parto).
20 a 59 anos Influenza – Uma dose (anual)

Hepatite B - 3 doses (a depender da situação vacinal anterior)


Febre Amarela – dose única (a depender da situação vacinal
anterior)
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – Verificar
a situação vacinal anterior, se nunca vacinado: receber 2 doses (20
a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos);

159
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Calendário Nacional de Vacinação dos Povos Indígenas Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – reforço

Criança 15 meses

DTP (Difteria, tétano e coqueluche) – 1º reforço


Vacina Oral Poliomielite (VOP) - (poliomielite ou paralisia infan-
til) – 1º reforço
Hepatite A – dose única
Tetra viral ou tríplice viral + varicela – (previne sarampo, rubéo-
la, caxumba e varicela/catapora) - Uma dose

4 anos

DTP (previne difteria, tétano e coqueluche) – 2º reforço


Ao nascer Vacina Oral Poliomielite (VOP) – (poliomielite ou paralisia in-
fantil) - 2º reforço
BCG – dose única - (previne as formas graves de tuberculose, Varicela atenuada (varicela/catapora) – uma dose
principalmente miliar e meníngea)
Hepatite B – dose única 5 anos

2 meses Pneumocócica 23 v – uma dose – A vacina está indicada para


grupos-alvo específicos, como a população indígena a partir dos 5
Pentavalente (Previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B (cinco) anos de idade
e Meningite e infecções por HiB) – 1ª dose
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (poliomielite ou paralisia in- 9 anos
fantil) – 1ª dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, meningi- HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1ª dose genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 1ª dose anos)
3 meses Adolescente

Meningocócica C (previne a doença meningocócica C) – 1ª dose

4 meses

Pentavalente (previne difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B


e Meningite e infecções por Haemóphilus influenzae tipo B) – 2ª
dose
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia in-
fantil) – 2ª dose
Pneumocócica 10 Valente (previne pneumonia, otite, meningi- 10 e 19 anos
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 2ª dose
Rotavírus (previne diarreia por rotavírus) – 2ª dose Meningocócica C (doença invasiva causada por Neisseria me-
ningitidis do sorogrupo C) – 1 reforço ou dose única de 12 a 13 anos
5 meses - verificar a situação vacinal
Febre Amarela – dose única (verificar a situação vacinal)
Meningocócica C (previne doença meningocócica C) – 2ª dose Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) - 2 doses, a
depender da situação vacinal anterior
6 meses HPV (Papiloma vírus humano que causa cânceres e verrugas
genitais) – 2 doses (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14
Pentavalente (previne Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B anos)
e meningite e infecções por HiB) – 3ª dose Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi-
Vacina Inativada Poliomielite (VIP) (Poliomielite ou paralisia in- te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a depen-
fantil) – 3ª dose der da situação vacinal
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10
9 meses anos
Hepatite B – (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a
Febre Amarela – dose única (previne a febre amarela) situação vacinal

12 meses

Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1ª dose


Pneumocócica 10 valente (previne pneumonia, otite, meningi-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – Reforço

160
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Adulto
IMPORTÂNCIA DOS REGISTROS RELATIVOS AOS PRO-
20 a 59 anos CEDIMENTOS DE ENFERMAGEM

Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si- 1. Registro de Enfermagem


tuação vacinal A enfermagem é uma profissão fortemente dependente de in-
Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verificar formações precisas e oportunas para executar a grande variedade
situação vacinal de intervenções envolvidas no cuidado. Dessa forma, os registros
Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – se nunca de enfermagem são elementos imprescindíveis ao processo do cui-
vacinado: 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos); dar e, quando redigidos de maneira que retratem a realidade a ser
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi- documentada, possibilitam a comunicação entre a equipe de saú-
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – 1 dose a depen- de, além de servir a diversas outras finalidades, tais como: ensino,
der da situação vacinal pesquisas, auditorias, processos jurídicos, planejamento, fins esta-
Dupla adulto (DT) (previne difteria e tétano) – Reforço a cada tísticos e outros.
10 anos Convém, ainda, citar que os registros de enfermagem consis-
tem no mais importante instrumento de avaliação da qualidade de
Idoso atuação da enfermagem, representando 50% das informações ine-
rentes ao cuidado do paciente registradas no prontuário.
Os registros realizados no prontuário do paciente são conside-
rados como um documento legal de defesa dos profissionais, de-
vendo, portanto, estar imbuídos de autenticidade e de significado
legal. Eles refletem todo o empenho e força de trabalho da equipe
de enfermagem, valorizando, assim, suas ações e a segurança do
paciente.

Dessa forma, para serem consideradas autênticas e válidas as


ações registradas no prontuário do paciente, deverão estar legal-
60 anos ou mais mente constituídas, ou seja, possuir assinatura do autor do registro
(art. 368 do Código de Processo Civil – CPC) e inexistência de rasura,
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si- entrelinhas, emenda, borrão ou cancelamento, características que
tuação vacinal poderão gerar a desconsideração jurídica do documento produzido
Febre Amarela (previne febre amarela) – dose única, verificar como prova documental (art. 386 do CPC). Salientamos que as de-
situação vacinal clarações constantes do documento particular, escrito e assinado,
presumem-se verdadeiras em relação a quem o assinou (art. 368 do
Pneumocócica 23 valente (previne pneumonia, otite, meningi- CPC), fator importante na defesa profissional em processos judiciais
te e outras doenças causadas pelo Pneumococo) – reforço a depen- e éticos.
der da situação vacinal - A vacina está indicada para grupos-alvo
específicos, como pessoas com 60 anos e mais não vacinados que 2. Objetivos
vivem acamados e/ou em instituições fechadas. Nortear os profissionais de Enfermagem para a prática dos
Dupla Adulto (previne difteria e tétano) – Reforço a cada 10 registros de enfermagem no prontuário do paciente, garantindo a
anos qualidade das informações que serão utilizadas por toda a equipe
de saúde da instituição.
Gestante
3 Finalidade dos registros
3.1 Partilha de informações: estabelece uma efetiva comunica-
ção entre a equipe de enfermagem e demais profissionais envolvi-
dos na assistência ao paciente;
3.2 Garantia de qualidade: serve como fonte de subsídios para
a avaliação da assistência prestada (comitê interno hospitalar);
3.3 Relatório permanente: registro escrito em ordem crono-
lógica da enfermidade de um paciente e dos cuidados oferecidos,
desde o surgimento do problema até a alta / óbito /transferência
hospitalar;
Hepatite B (previne hepatite B) - 3 doses, de acordo com a si- 3.4 Evidência legal: documento legal tanto para o paciente
tuação vacinal quanto para a equipe médica e de enfermagem (e outros), referen-
Dupla Adulto (DT) (previne difteria e tétano) – 3 doses, de acor- te à assistência prestada. Cada pessoa que escreve no prontuário de
do com a situação vacinal um paciente é responsável pela informação ali anotada;
dTpa (previne difteria, tétano e coqueluche) – Uma dose a cada 3.5 Ensino e pesquisa: os registros do paciente contêm um
gestação a partir da 20ª semana grande número de informações e podem constituir uma fonte al-
ternativa de dados;
3.6 Auditoria: refere-se à análise das atividades realizadas pela
equipe de enfermagem por meio do prontuário do paciente.

161
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

4 Prontuário do paciente Cabe ao técnico de enfermagem:


É definido no livreto do Conselho Regional de Enfermagem de “Art. 10 O técnico de enfermagem exerce atividades auxiliares,
São Paulo como o acervo documental padronizado, organizado e de nível médio técnico, atribuídas à equipe de enfermagem, caben-
conciso referente ao registro dos cuidados prestados ao paciente do-lhe:
por todos os profissionais envolvidos na assistência. (...)
A palavra prontuário deriva do latim “promptuariu” que signi- II – executar atividades de assistência de enfermagem, exce-
fica lugar onde se guarda aquilo que deve estar à mão, o que pode tuadas as privativas do enfermeiro e as referidas no art. 9º deste
ser necessário a qualquer momento. Decreto;”
A resolução CFM 1.638/2002 define o prontuário como “do- (...)
cumento único constituído de um conjunto de informações, sinais Cabe ao auxiliar de enfermagem:
e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e “Art. 11 O auxiliar de enfermagem executa as atividades auxi-
situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, liares, de nível médio atribuídas à equipe de enfermagem, caben-
de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação do-lhe:
entre os membros da equipe multiprofissional e a continuidade da (...)
assistência prestada ao indivíduo”. II – observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, ao nível
de sua qualificação;
5 Aspectos legais do registro de enfermagem III – executar tratamentos especificamente prescritos, ou de
Ochoa-Vigo (2001) disse que é momento de entender e assu- rotina, além de outras atividades de enfermagem
mir os registros de enfermagem no prontuário do paciente como (....)
parte integrante do processo de enfermagem, compreendendo que Art. 14 Incumbe a todo pessoal de enfermagem:
as informações de cuidados prestados é a forma para mostrar o tra- (...)
balho, bem como para o desenvolvimento da profissão. II – quando for o caso, anotar no prontuário do paciente as ati-
Como documento legal, os registros somente terão valor se fo- vidades da assistência de enfermagem, para fins estatísticos.”
rem datados e assinados e, evidentemente, se forem legíveis e não 6.4 Resolução Cofen n. 429/12 – Dispõe sobre o registro das
apresentarem rasuras. ações profissionais no prontuário do paciente, e em outros docu-
mentos próprios da enfermagem, independente do meio de supor-
Segundo Oguisso (1975), são essas recomendações que carac- te – tradicional ou eletrônico.
terizarão a autenticidade de um documento. Para a autora, a ausên-
cia dos registros, ou realizados de forma incompleta podem indicar 6.5 Resolução Cofen 311/07 – Código de Ética dos Profissionais
uma má qualidade da assistência de enfermagem. de Enfermagem
Importante frisar que resta evidenciada a responsabilidade dos
profissionais de enfermagem sobre seus registros e também sobre DIREITOS
os seus reflexos, além da já conhecida responsabilidade sobre seus Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser
atos profissionais e pelo sigilo. A responsabilidade do profissional tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos
poderá ocorrer no âmbito ético, legal, administrativo, cível e crimi- direitos humanos.
nal. Art. 2º Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e
culturais que dão sustentação a sua prática profissional.
6 Fundamentos legais das Anotações de Enfermagem (...)
6.1 Constituição Federal Art. 68 Registrar no prontuário, e em outros documentos pró-
(...) prios da enfermagem, informações referentes ao processo de cui-
Art. 5º dar da pessoa.
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano RESPONSABILIDADES E DEVERES
material ou moral decorrente de sua violação; (...)
6.2 Lei n. 7.498/86, que dispõe sobre a regulamentação do Art. 5° Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade,
exercício profissional da Enfermagem resolutividade, dignidade, competência, responsabilidade, honesti-
(...) dade e lealdade.
“Art. 11 o enfermeiro exerce todas as atividades de enferma- Art. 12 Assegurar à pessoa, família e coletividade, assistência
gem, cabendo-lhe: de enfermagem livre de riscos decorrentes de imperícia, negligên-
I – privativamente cia e imprudência.
(...) Art. 16 Garantir a continuidade da assistência de enfermagem
c) planejamento, organização, execução e avaliação dos servi- em condições que ofereçam segurança, mesmo em caso de suspen-
ços de assistência de enfermagem; são das atividades profissionais decorrentes de movimentos reivin-
(...) dicatórios da categoria.
i) consulta de enfermagem; Art. 17 Prestar adequadas informações à pessoa, família e cole-
j) prescrição da assistência de enfermagem; tividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências
l) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com ris- acerca da assistência de enfermagem.
co de vida; Art. 25 Registrar no Prontuário do Paciente as informações ine-
m) cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica rentes e indispensáveis ao processo de cuidar.
e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de to- Art. 41 Prestar informações, escritas e verbais, completas e fi-
mar decisões imediatas.” dedignas necessárias para assegurar a continuidade da assistência.
6.3 Decreto n. 94.406/87, que regulamenta a Lei n. 7.498/86 Art. 54 Apor o número e categoria de inscrição no Conselho
Regional de Enfermagem em assinatura, quando no exercício pro-
fissional.

162
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Art. 71 Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao f) quando for o caso, procedimentos cirúrgicos e anestésicos,
processo de cuidar. odontológicos, resultados de exames complementares laboratoriais
Art. 72 Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao e radiológico;
processo de cuidar de forma clara, objetiva e completa. g) quantidade de sangue recebida e dados que garantam a qua-
PROIBIÇÕES lidade do sangue, como origem, sorologias efetuadas e prazo de
(...) validade;
“Art. 35 Registrar informações parciais e inverídicas sobre a as- h) identificação do responsável pelas anotações;
sistência prestada i) outras informações que se fizerem necessárias.
Art. 42 Assinar as ações de Enfermagem que não executou,
bem como permitir que suas ações sejam assinadas por outro.” 7 Anotação da equipe de enfermagem
(...) As Anotações de Enfermagem fornecem dados que irão subsi-
6.7 Código Civil Brasileiro diar o enfermeiro no estabelecimento do plano de cuidados / pres-
(...) crição de enfermagem; suporte para análise reflexiva dos cuidados
“Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negli- ministrados; respectivas respostas do paciente e resultados espera-
gência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda dos e desenvolvimento da Evolução de Enfermagem.
que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Assim, a Anotação de Enfermagem é fundamental para o de-
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar senvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. (SAE – Resolução Cofen n. 358/2009), pois é fonte de informações
Art. 951 O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no essenciais para assegurar a continuidade da assistência.
caso de indenização devida por aquele que, no exercício de ativida- Contribui, ainda, para a identificação das alterações do esta-
de profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a do e das condições do paciente, favorecendo a detecção de novos
morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá- problemas, a avaliação dos cuidados prescritos e, por fim, possibili-
-lo para o trabalho.” tando a comparação das respostas do paciente aos cuidados pres-
6.8 Código Penal tados. (CIANCIARULLO et al., 2001).
“Art. 18 Diz-se o crime: (...) 7.1 Regras importantes para a elaboração das Anotações de En-
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por im- fermagem, entre as quais:
prudência, negligência ou imperícia.” 1 Devem ser precedidas de data e hora, conter assinatura e
6.9 Lei n. 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor identificação do profissional com o número do Coren, conforme
“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: consta nas Resoluções Cofen 191/2009 e 448/2013 em seu art. 6º,
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos pro- ao final de cada registro:
vocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços consi- a) O uso do carimbo pelos profissionais da Enfermagem é fa-
derados perigosos ou nocivos; cultativo.
2. Observar e anotar como o paciente chegou:
(...)
a) Procedência do paciente (residência, pronto - socorro, trans-
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
ferência de outra instituição ou outro setor intra-hospitalar);
morais, individuais, coletivos e difusos;
b) Acompanhante (familiar, vizinho, amigo, profissional de saú-
(...)
de);
Art. 43 O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá
c) Condições de locomoção (deambulando, com auxílio, cadei-
acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e
ra de rodas, maca, etc.);
dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como so-
3. Observar e anotar as condições gerais do paciente:
bre as suas respectivas fontes.
a) Nível de consciência;
§ 1º – Os cadastros e dados de consumidores devem ser ob-
b) Humor e atitude;
jetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, c) Higiene pessoal;
não podendo conter informações negativas referentes a período d) Estado nutricional;
superior a cinco anos.” e) Coloração da pele;
6.10 Portaria MS n. 1.820/2009 – Carta dos direitos dos usuá- f) Dispositivos em uso. Ex.: Jelco, sondas, curativos.
rios da saúde g) Queixas do paciente (tudo o que ele refere, dados informa-
Art. 3º Toda pessoa tem direito ao tratamento adequado e no dos pela família ou responsável);
tempo certo para resolver o seu problema de saúde. 4. Anotar orientações efetuadas ao paciente e familiares. Ex.:
(...) Jejum, coleta de exames, inserção venosa, etc.;
III – Acesso a qualquer momento, do paciente ou terceiro por 5. Dados do Exame Físico;
ele autorizado, a seu prontuário e aos dados nele registrados, bem 6. Cuidados realizados;
como ter garantido o encaminhamento de cópia a outra unidade de 7. Intercorrências;
saúde, em caso de transferência. 8. Efetuar as anotações imediatamente após a prestação do
IV – Registro atualizado e legível no prontuário, das seguintes cuidado;
informações: 9. Não devem conter rasuras, entrelinhas, linhas em branco ou
a) motivo do atendimento e/ou internação, dados de observa- espaços;
ção clínica, evolução clínica, prescrição terapêutica, avaliações da 10. Não é permitido escrever a lápis ou utilizar corretivo líqui-
equipe: do;
b) dados de observação e da evolução clínica; 11. Devem ser legíveis, completas, claras, concisas, objetivas,
c) prescrição terapêutica; pontuais e cronológicas;
d) avaliações dos profissionais da equipe; 12. Conter sempre observações efetuadas, cuidados prestados,
e) procedimentos e cuidados de enfermagem; sejam eles os já padronizados, de rotina e específicos;

163
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

13. Constar as respostas do paciente diante dos cuidados prescritos pelo enfermeiro, intercorrências, sinais e sintomas observados;
14. Devem ser registradas após o cuidado prestado, orientação fornecida ou informação obtida;
15. Devem priorizar a descrição de características, como tamanho mensurado (cm, mm, etc.), quantidade (ml, l, etc.), coloração e
forma;
16. Não conter termos que deem conotação de valor (bem, mal, muito, pouco, etc.);
17. Conter apenas abreviaturas previstas em literatura;
18. Devem ser referentes aos dados simples, que não requeiram maior aprofundamento científico.

Assim, pode-se resumidamente evidenciar que as Anotações de Enfermagem deverão ser referentes a:
• Todos os cuidados prestados – incluindo o atendimento às prescrições de enfermagem e médicas cumpridas, além dos cuidados de
rotina, medidas de segurança adotadas, encaminhamentos ou transferência de setor, entre outros;
• Sinais e sintomas – todos os identificados por meio da simples observação e os referidos pelo paciente. Os sinais vitais mensurados
devem ser registrados pontualmente, ou seja, os valores exatos aferidos, e nunca utilizar somente os termos “normotenso, normocárdico,
etc.”
• Intercorrências – incluem fatos ocorridos com o paciente e medidas adotadas;
• Respostas dos pacientes às ações realizadas;
• O registro deve conter subsídios para permitir a continuidade do planejamento dos cuidados de enfermagem nas diferentes fases e
para o planejamento assistencial da equipe multiprofissional.
As autoras Elaine Emi Ito et al. (2011) percorrem as seis diretrizes destacadas por Potter (1998), como importantes, e que devem ser
seguidas para se certificar de que as informações relacionadas aos cuidados prestados ao paciente sejam comunicadas correta e integral-
mente. Vamos ver quais são elas?

PRECISÃO
A informação deve ser exata, com dados subjetivos ou objetivos claramente discriminados.
Além disso, é imprescindível fazer a distinção se a informação registrada foi observada no paciente ou relatada por ele. Usar grafia
correta, bem como somente abreviações e símbolos aceitos pela instituição, de modo a garantir a interpretação precisa e adequada da
informação.

CONCISÃO
Fornecer as informações reais e essenciais em uma anotação. Uma anotação curta e bem redigida é mais facilmente assimilada do
que uma longa e irrelevante.

EFICÁCIA
Os registros devem conter informações completas e pertinentes para a continuidade da assistência ou para condutas a serem toma-
das.

ATUALIZAÇÃO
A demora na anotação de uma informação importante pode resultar em omissões graves e atrasos no atendimento ao paciente. As
decisões e condutas sobre a assistência e os cuidados de um paciente são baseadas em informações atuais. Sempre anotar em prontuário,
logo após a realização do procedimento, atendimento, observação ou encaminhamento.

ORGANIZAÇÃO
Registrar todas as informações em formato adequado e em ordem cronológica.

CONFIDENCIALIDADE
As informações sobre um cliente só deverão ser transmitidas mediante o entendimento de que tais dados não serão divulgados a
pessoas não autorizadas. A lei protege as informações sobre um cliente que esteja sob cuidados profissionais de saúde. O profissional de
enfermagem é obrigado por lei e pela ética a manter confidencialidade de qualquer informação relacionada à doença e ao tratamento do
cliente.

8 Evolução de enfermagem
Inicialmente faz-se necessário diferenciar as Anotações de Enfermagem da Evolução.
Conforme observa-se no quadro abaixo pode-se afirmar que:

164
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem n. 358/2009 8.1 Regras gerais:


considera que a SAE deve ser realizada de modo deliberado e sua A Evolução de enfermagem é uma atribuição privativa do en-
implementação ocorrer em todos os ambientes em que seja reali- fermeiro, além de se constituir em um dever, de acordo com o Có-
zado o cuidado profissional de enfermagem, seja na atenção primá- digo de Ética e demais legislações pertinentes. Para ser considerado
ria, secundária e terciária, e desenvolvida em instituição pública ou um documento legal é necessário:
privada. • Constar, obrigatoriamente, data, hora, tempo de internação,
No art. 2º dessa Resolução destacam-se as cinco (5) etapas in- diagnóstico de enfermagem, assinatura e número do Coren;
ter-relacionadas, interdependentes e recorrentes, a saber: • Discriminar, sequencialmente, o estado geral, considerando:
I – Coleta de dados de enfermagem (Histórico de enfermagem); neurológico, respiratório, circulatório, digestivo, nutricional, loco-
II – Diagnóstico de enfermagem; motor e geniturinário;
III – Planejamento de Enfermagem; • Procedimentos invasivos, considerando: entubações orotra-
IV – Implementação; queais, traqueostomias, sondagens nasogástrica e enterais, catete-
V – Avaliação de Enfermagem. rizações venosas, drenos, cateteres;
• Cuidados prestados aos pacientes, considerando: higieniza-
No art. 4º da Resolução Cofen n. 358/2009, verifica-se o se- ções, aspirações, curativos, troca de drenos, cateteres e sondas,
guinte enunciado: mudanças de decúbito, apoio psicológico e outros;
“Ao Enfermeiro, observadas as disposições da Lei n. 7.498, • Descrição das eliminações considerando: secreções traque-
de 25 de junho de 1986, e do Decreto n. 94.406, de 08 de junho ais, orais e de lesões, débitos gástricos de drenos, de ostomias, fe-
de 1987, que a regulamenta, incumbe a liderança na execução e zes e diurese, quanto ao tipo, consistência, odor e coloração;
avaliação do Processo de Enfermagem, de modo a alcançar os re- • Deve ser realizada diariamente;
sultados de enfermagem esperados, cabendo-lhe, privativamente, • A Evolução deve ser realizada referindo-se às últimas 24 ho-
o diagnóstico de enfermagem acerca das respostas da pessoa, fa- ras, baseando-se nas respostas diante das intervenções preestabe-
mília ou coletividade humana em um dado momento do processo lecidas por meio da prescrição de enfermagem, bem como quanto
saúde e doença, bem como a prescrição das ações ou intervenções aos protocolos em que o paciente está inserido, mantido ou sendo
de enfermagem a serem realizadas, face a essas respostas”. Grifos excluído;
nossos.
Já o art. 6º referencia que a execução do Processo de Enferma- • Deve ser refeita, em parte ou totalmente na vigência de al-
gem deve ser registrada formalmente, envolvendo: teração no estado do paciente, devendo indicar o horário de sua
a. um resumo dos dados coletados sobre a pessoa, família ou alteração;
coletividade humana em um dado momento do processo saúde e • Deve apresentar um resumo sucinto dos resultados dos cui-
doença; dados prescritos e os problemas a serem abordados nas 24 horas
b. os diagnósticos de enfermagem acerca das respostas da pes- subsequentes;
soa, família ou coletividade humana em um dado momento do pro- • Deve constar os problemas novos identificados;
cesso saúde e doença; • Utilizar-se de linguagem clara, concisa e exata, com ausência
c. as ações ou intervenções de enfermagem realizadas face aos de códigos pessoais e abreviaturas desconhecidas.
diagnósticos de enfermagem identificados;
d. os resultados alcançados como consequência das ações ou 9 Procedimentos de enfermagem – o que anotar?
intervenções de enfermagem realizadas.
9.1 Admissão
De acordo com a Resolução 358/2009, o Processo de Enferma- • Nome completo do paciente, data e hora da admissão;
gem (PE) é constituído basicamente de cinco (5) etapas: Histórico • Procedência do paciente;
de Enfermagem – (HE) que inclui Coleta de Dados e Exame Físico; • Condições de chegada (deambulando, em maca, cadeira de
Diagnóstico de Enfermagem – (DE) pautado nos problemas identifi- rodas, etc.);
cados na fase anterior; Planejamento de Enfermagem – (PE); Imple- • Nível de consciência: Lucidez/Orientação;
mentação de Enfermagem – (IE). • Presença de acompanhante ou responsável;
• Condições de higiene;
AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM • Presença de lesões prévias e sua localização: feridas corto-
Este processo representa o instrumento de trabalho do enfer- -contusas, hematoma, úlceras de pressão ou crônicas, e outras;
meiro com objetivo de identificação das necessidades do paciente • Descrever deficiências, se houver;
apresentando uma proposta ao seu atendimento e cuidado, dire- • Uso de próteses ou órteses, se houver;
cionando a Equipe de Enfermagem nas ações a serem realizadas. • Queixas relacionadas ao motivo da internação;
A Evolução de Enfermagem é um dos componentes do Proces- • Procedimentos / cuidados realizados, conforme prescrição ou
so de Enfermagem. Tratase de um processo que representa desen- rotina institucional (mensuração de sinais vitais, punção de acesso
volvimento de um estado a outro. Para efetuar a Evolução, o enfer- venoso, coleta de exames, necessidade de elevação de grades, con-
meiro necessita reunir dados sobre as condições anterior e atuais tenção, etc.);
do paciente e família para, mediante análise, emitir um julgamento; • Rol de valores e pertences do paciente;
mudanças para piora ou melhora do quadro, manutenção das situ- • Orientações prestadas;
ações ou surgimento de novos problemas. • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
O enfermeiro, ao aplicar o Processo de Enfermagem como ins-
trumento para orientar a documentação clínica, busca o desenvol- 9.2 Alta
vimento de uma prática sistemática, interrelacionada, organizada • Data e horário;
com base em passos preestabelecidos e que possibilite prestar cui- • Condições de saída (deambulando, maca ou cadeira de rodas,
dado individualizado ao paciente. presença de lesões, nível de consciência, presença de dispositivos
como sonda vesical de demora, cateter de duplo lúmen, etc.);

165
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Procedimentos / cuidados realizados, conforme prescrição ou 9.5 Aspiração traqueal (Enfermeiro)


rotina institucional (mensuração de sinais vitais, retirada de cateter • Data e hora;
venoso, etc.); • Motivo;
• Orientações prestadas; • Localização (VAS, traqueostomia ou tubo endotraqueal);
• Entrega do rol de pertences e valores ao paciente ou acom- • Característica e quantidade da secreção;
panhante; • Na traqueostomia, anotar o tipo e n. da cânula e as condições
• Transporte para o domicílio: da instituição ou próprio; da pele;
• Registrar a necessidade de troca e limpeza da endocânula de
Obs.: Importante o registro real do horário de saída do paciente traqueostomia;
e se saiu acompanhado. Registrar ainda se foi alta médica, adminis- • Anotar intercorrências e providências adotadas;
trativa ou a pedido do paciente ou família. • Nome completo e n. do Coren do profissional que executou
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. o procedimento.

9.3 Administração de medicamentos 9.6 Acesso venoso


Item(ns) da prescrição medicamentosa que deverá(ão) ser re- • Data e hora da punção;
gistrado(s): • Motivo da punção (inicial ou troca);
9.3.1 Via Parenteral: registrar o local onde foi administrado • Local;
• M – glúteo, deltoide, vasto lateral, etc.; • Condições do local da punção (pele e rede venosa local);
• EV – antebraço, dorso da mão, região cefálica, membro infe- • Número de punções;
rior, etc.; • Tipo e calibre do cateter;
• SC – abdome, região posterior do braço, coxa, etc.; • Salinização / heparinização;
• ID – face interna do antebraço ou face externa do braço. • Intercorrências e providências adotadas;
• Medida de segurança adotada (tala ou contensão);
Em todos os casos, não esquecer de fazer referência ao lado em • Queixas;
que o medicamento foi administrado, esquerdo ou direito. • Nome e Coren do responsável pelo procedimento.

No caso de administrar medicamento através de um dispositivo 9.7 Avaliação do nível de consciência pelo enfermeiro
• Data e hora do procedimento;
já existente, como intracath, duplo lúmen, acesso venoso periféri-
• Escala utilizada para avaliação do nível de consciência;
co, injetor lateral do equipo ou outro, anotar por onde foi adminis-
• Resposta apresentada pelo paciente (abertura ocular, miose,
trado o medicamento endovenoso.
midríase, linguagem verbal, motora e/ou outras);
• Resultado da avaliação realizada;
9.3.2 Via Oral • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Registrar dificuldade de deglutição;
• Presença de vômitos, etc. 9.8 Auxílio na dieta
• Data e hora do procedimento;
9.3.3 Via Retal • Tipo de dieta;
• Registrar tipo de dispositivo utilizado; • Aceitação da dieta: total, parcial ou recusa;
• Em caso de supositório, registrar se foi expelido e providên- • Dieta por sonda (quantidade da dieta e da hidratação);
cias adotadas. • Dieta zero: motivo;
• Necessidade de auxílio;
Para todas as vias observar os registros apontados abaixo: • Queixas;
• Rejeição do paciente; • Intercorrências e providências adotadas;
• No caso de não administrar medicamento, apontar o motivo; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Queixas;
• Intercorrências e providências adotadas; 9.9 Banho de assento
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Data e hora do procedimento;
• Motivo do procedimento;
Obs.: Somente a checagem do(s) item(ns) cumprido(s) ou não, • Solução utilizada;
através de símbolos, como /, ou , √ respectivamente, não cum- • Presença e caracterização de odor, secreção e/ou hiperemia
pre(m) os requisitos legais de validação de um documento. na área a ser tratada;
Daí a importância de registrar, por escrito, nas Anotações de • Queixas do paciente durante o procedimento e providências
Enfermagem, a administração da medicação, ou a recusa, aponto o adotadas;
nome completo, número do Coren e categoria profissional. • Intercorrências e providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
9.4 Aspiração oral
9.10 Balanço hidroeletrolítico pelo enfermeiro
• Data e hora;
• Data e hora do procedimento
• Motivo;
9.10.1 Entrada de líquidos
• Característica e quantidade da secreção;
• Via;
• Intercorrências e providências adotadas;
• Quantidade: prevista e aceita / infundido;
• Nome completo e n. do Coren do profissional que executou • Tipo I;
o procedimento. • Intercorrências e providências adotadas;
• Observar e anotar sinais de anasarca;

166
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Anotar pressão arterial de 2 em 2 horas. • Relatar necessidade de dieta zero;


9.10.2 Saída de líquidos • Intercorrências e providências adotadas;
• Via; • Queixas;
• Quantidade; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Características do líquido drenado;
• Condições da pele: fria – pegajosa, normal – úmida; 9.15 Consulta de enfermagem pelo enfermeiro
• Sinais de desidratação; • Data e hora do procedimento;
• Turgor da pele: normal ou diminuído; • Sinais e sintomas;
• Presença de edema; • Histórico de enfermagem;
• Características do pulso; • Diagnóstico de enfermagem;
• Pressão arterial; • Planejamento da assistência de enfermagem;
• Aspecto da diurese; • Prescrição de enfermagem;
• Alterações nos exames laboratoriais; • Evolução de enfermagem;
• Intercorrências e providências adotadas; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
9.16 Contenção no leito
9.11 Coleta de linfa para hanseníase • Data e hora do procedimento;
• Data e hora da realização do procedimento; • Motivo da contenção;
• Identificação do paciente; • Tipo;
• Registrar a área coletada; • Queixas;
• Registrar o tipo de curativo se necessário; • Intercorrências e providências adotadas;
• Registrar o aspecto das lesões se houver; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Registrar o nome do laboratório;
• Intercorrências e/ou providências adotadas; 9.17 Controle da dor (Enfermeiro)
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Data e hora da avaliação;
tos. • Localização (se aplicável);
• Anotar presença de edemas, distensão abdominal, entre ou-
tros;
9.12 Coleta de material para o teste do pezinho • Escala de dor de acordo com a faixa etária e rotina da insti-
• Data e hora da realização do procedimento;
tuição;
• Reação apresentada pela criança;
• Score – valor aferido;
• Alteração apresentada no local da punção;
• Intercorrências e/ou providências adotadas para alívio da
• Registrar as orientações feitas à mãe;
dor;
• Intercorrências e/ou providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
tos.
9.18 Controle hídrico
• Data e hora do procedimento.
9.13 Coleta de exame citopatológico pelo enfermeiro
• Data e hora do procedimento; 9.18.1 Entrada de líquidos
• Motivo do procedimento; • Via;
• Data de coleta do último preventivo; • Quantidade: prevista e aceita / infundido;
• Data e hora da última menstruação; • Tipo;
• Registrar data da menarca, coitarca; • Sinais de intercorrências e providências adotadas;
• Registrar história obstétrica (número e tipo de parto / abor- • Queixas do paciente;
to); • Orientações efetuadas;
• Registrar o número do espéculo; 9.18.2 Saída de líquidos
• Aspecto da área examinada; • Via;
• Presença e caracterização de odor e/ou secreção anormal; • Quantidade;
• Prescrição realizada, se necessário; • Característica do líquido drenado;
• Queixas da paciente; • Sinais de intercorrências e providencias adotadas;
• Orientações; • Orientações;
• Intercorrências e providências adotadas; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
9.19 Classificação de risco (Enfermeiro)
9.14 Condutas de segurança ao paciente • Data e hora do procedimento;
• Data e hora dos cuidados; • Situação / queixa / duração; breve histórico (relatado pelo
• Nível de consciência (lucidez, orientação); paciente, familiar ou testemunhas);
• Relatar necessidade de contenção no leito; • Alergias;
• Necessidade da presença de acompanhante; • Sinais vitais de acordo com o protocolo adotado;
• Necessidade de grades (justificar); • Registro da saturação de O2 quando requerido;
• Identificação de alergia / intolerância; • Sinais objetivos identificados;
• Identificação de condições / patologias prévias que requei- • Resultado de exames realizados (glicemia, eletrocardiogra-
ram cuidados especiais (diabetes, hipertensão, hemofilia, uso de ma, etc.);
anticoagulante); • Registrar o resultado da classificação;

167
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Encaminhamento do paciente conforme classificação; • Nome completo e Coren do profissional que realizou o pro-
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. cedimento.

9.20 Curativos 9.24 Cuidados com o RN em fototerapia


• Local da lesão e sua dimensão; • Data e hora do procedimento e tempo de exposição;
• Data e horário; • Identificação em prontuário;
• Sinais e sintomas observados (presença de secreção, colora- • Registrar peso pré e após o procedimento;
ção, odor, quantidade, etc.); • Registrar coloração da pele;
• Relatar necessidade de desbridamento; • Anotar medida de segurança com relação à proteção ocular;
• Tipo de curativo (oclusivo, aberto, simples, compressivo, pre- • Anotar intercorrências e providências adotadas;
sença de dreno, etc.); • Anotar mudanças de decúbito do RN conforme preconizado;
• Material prescrito e utilizado; • Nome completo e n. do Coren do profissional que executou
• Relatar o nível de dor do paciente ao procedimento, a fim de o procedimento.
avaliar necessidade de analgesia prévia;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. 9.25 Cuidados no pré-parto
• Anotar data e hora da admissão da gestante no pré-parto;
9.21 Cuidado com estomas • Nome do médico / enfermeiro responsável pela internação;
• Data e hora; • Registrar as condições que a gestante chegou ao pré-parto, se
• Local do estoma; deambulando, em cadeira de rodas ou maca;
• Tipo de cuidado prestado (aspiração, irrigação, limpeza, troca • Identificação do acompanhante;
de dispositivo, curativo); • Anotar dados dos sinais vitais;
• Se houver drenagem de secreção / excreção, anotar caracte- • Verificar e anotar informações relativas ao pré-natal;
rísticas e quantidade; • Informações da gestante relativas às contrações;
• Intercorrências do procedimento e providências adotadas; • Informações da gestante se houve perda de líquidos, sangue,
• Relatar necessidade de avaliação por outro profissional; ou urina;
• Queixas; • Anotar procedimentos realizados, tais como: tricotomia, as-
• Orientações para o autocuidado; sepsia, lavagem intestinal e outros;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Dados sobre o acesso venoso, tais como: localização, material
utilizado, data e hora da realização;
9.22 Cuidado com os pés • Data e hora de encaminhamento à sala de parto;
• Intercorrências e providências adotadas;
• Data e hora;
• Queixas;
• Condições dos pés (hidratação, coloração, higiene e lesões);
• Nome completo e Coren do profissional que realizou os pro-
• Motivo do cuidado (lesão, pé diabético, higiene e conforto);
cedimentos.
• Tipo de cuidado prestado (higiene, limpeza, massagem e
curativo);
9.26 Cuidados na sala de parto
• Intercorrências e providências adotadas;
• Anotar data e hora da admissão da gestante na sala de parto;
• Relatar necessidade de avaliação por outro profissional;
• Nome do médico / enfermeiro responsável pelo procedimen-
• Queixas;
to;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Anotar dados dos sinais vitais;
• Verificar e anotar informações referentes ao preparo da ges-
9.23 Cuidados imediatos com RN (Enfermeiro) tante;
• Data e hora exatas do nascimento; • Anotar data e hora do nascimento;
• Tipo do parto; • Anotar o Apgar do RN;
• Apgar; • Anotar o sexo e medidas antropométricas;
• Características e quantidade da secreção aspirada por via oral • Data e hora da transferência para a enfermaria / apartamen-
/ nasal; to;
• Anotar se RN é a termo, pré-termo e pós-termo; • Anotar intercorrências e providências adotadas;
• Característica do vérnix; • Queixas;
• Sexo do RN; • Nome, número do Coren e função do profissional de enfer-
• Peso; magem que executou os cuidados.
• Identificação;
• Relatar presença de bossa; 9.27 Cuidados no pós-parto imediato
• Registrar coloração da pele; • Data e hora da admissão da puérpera;
• Anotar a realização do Credé e da Vitamina K; • Anotar dados dos sinais vitais;
• Anotar medidas antropométricas (peso, comprimento, perí- • Anotar a loquiação;
metro cefálico, perímetro torácico e abdominal); • Anotar a involução uterina;
• Registrar coleta de sangue do coto umbilical; • Anotar medicamentos administrados;
• Anotação do clampeamento umbilical e característica do coto • Anotar, se houver, coletas de exames realizados;
(presença de duas artérias e uma veia); • Anotar intercorrências tais como: palidez, sudorese, sangra-
• Anotar má-formação aparente se houver; mento excessivo, sonolência, hematomas e ou edemas na ferida
• Anotar validade das lâmpadas da fototerapia; operatória ou episiorrafia, e providências adotadas;
• Intercorrências e providências adotadas; • Anotar débito urinário em caso de cesária;
• Anotar data e hora do encaminhamento ao berçário; • Anotar presença de tampão vaginal e/ou retirada;

168
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Observar e anotar a presença de colostro; 9.32 Enteróclise


• Anotar higiene realizada; • Data e hora do procedimento;
• Queixas; • Higiene íntima;
• Nome completo e número do Coren do profissional que exe- • Orientações realizadas sobre o procedimento;
cutou os cuidados. • Tipo da solução;
• Anotar quantidade prescrita e administrada da solução;
9.28 Drenagem de tórax (Enfermeiro) • Anotar tempo de retenção do líquido;
• Data e hora do procedimento; • Reações durante a administração;
• Local da inserção do dreno; • Queixas;
• Aspecto da pele no local da inserção; • Características do líquido drenado;
• Aspecto e característica da secreção drenada – serosa, hemá- • Intercorrências e providências adotadas;
tica, purulenta, com sedimentos; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Volume drenado; tos.
• Volume do selo d’água;
• Oscilação; 9.33 Exame de Montenegro
• Troca e tipo do curativo; • Data e hora da realização do procedimento;
• Troca do frasco; • Reação apresentada, como dor e prurido;
• Intercorrências e/ou providências adotadas – contaminação • Registrar as orientações dadas ao paciente, como uso de álco-
do material e/ ou sistema, desconexão acidental, etc.; ol no local até obtenção do resultado do teste;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Manifestações clínicas, existência de doença prévia, como
tos. doença de Chagas;
• Registrar contraindicação, como gravidez;
9.29 Drenos • Uso de medicamentos, como corticosteroides, imunossu-
• Data e hora do procedimento; pressores e antialérgicos;
• Tipo de dreno – Port-o-Vac, penrose, etc.; • Registrar se foi imunizado com alguma das seguintes vacinas
• Aspecto do local da inserção; há menos de 30 dias: rubéola, sarampo, caxumba, varicela ou febre
• Volume e aspecto de secreção drenada; amarela;
• Material utilizado para curativo; • A presença de reação alérgica em realização anterior deste
• Troca de bolsa coletora, se houver, e o motivo da troca; teste ou como uso de timerosal (merthiolate);
• Intercorrências e providências adotadas; • Registrar para onde foi encaminhado material;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Intercorrências e/ou providências adotadas;
tos. • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
tos.
9.30 Diálise peritoneal
9.34 Glicemia capilar
• Data do procedimento;
• Data e hora da realização do exame;
• Registrar se o procedimento é de rotina ou caso agudo;
• Condição do paciente (jejum, alimentado);
• Hora de início e término do procedimento;
• Aspecto da polpa digital;
• Registrar dados sobre o peso e sinais vitais e a glicemia capi-
• Desconforto decorrente da perfuração necessária para obter
lar, quando indicado;
a gota de sangue;
• Registrar aspectos do local da implantação do cateter;
• Local da pulsão (dedo, mão);
• Identificar a solução infundida;
• Valores da glicemia capilar (Mg/dl);
• Registrar o aspecto do líquido drenado;
• Intercorrências e providências adotadas;
• Registrar balanço hídrico; • Orientações efetuadas;
• Queixas do paciente; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Intercorrências e providências adotadas; tos.
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
9.35 Hemodiálise
9.31 Encaminhamento para exames, Centro Cirúrgico e Centro • Data do procedimento;
Obstétrico • Registrar se o procedimento é de rotina ou caso agudo;
• Motivo do encaminhamento: Exame (tipo de exame e setor • Registrar dados sobre o peso e sinais vitais e a glicemia capi-
ou instituição na qual será realizado); Centro Cirúrgico (Cirurgia que lar, quando indicado;
irá realizar e se é eletiva ou de urgência); Centro Obstétrico (parto • Registrar as condições da fístula ou local de implantação do
programado ou urgência); cateter;
• Data e horário; • Curativo realizado;
• Setor de destino e forma de transporte; • Registrar troca de capilar caso ocorra;
• Procedimentos / cuidados realizados (punção de acesso ve- • Hora de início e término do procedimento;
noso, instalação de oxigênio, sinais vitais, etc.); • Queixas do paciente;
• Condições na saída (maca, cadeira de rodas, nível de consci- • Intercorrências e providências adotadas;
ência); • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Queixas;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento
e transferência.

169
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

9.36 Higiene do paciente – banho • Queixas do paciente;


• Data e hora do procedimento; • Intercorrências e providências adotadas;
• Tipo de banho (imersão, aspersão, de leito); • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Tempo de permanência no banho de imersão, tolerância e
resistência do paciente; 9.42 Inalação / nebulização
• Aspersão (deambulando, cadeira de banho, auxílio); • Data e hora da realização do procedimento;
• No leito, verificar a ocorrência de alterações de pele, alergia • Queixas: dispneia, fadiga, tosse, espirro, sibilo, soluço, suspi-
ao sabão, hiperemia nas proeminências ósseas; ro, desmaio, tontura, dor torácica;
• Realização de massagem de conforto, movimentação das arti- • Cor da pele e mucosas;
culações, aplicação de solução para prevenção de úlceras; • Padrão respiratório do paciente: frequência, ritmo e profun-
• Intercorrências e providências adotadas; didade da respiração;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Comportamento: aceitação, alteração emocional, inquieta-
tos. ção, fadiga, ansiedade, etc.;
• Uso dos músculos acessórios, batimento de asas nasais, dis-
9.37 Higiene do couro cabeludo tensão das veias cervicais;
• Data e hora do procedimento; • Aspectos gerais: cianose de lábios, lóbulo das orelhas, parte
• Condições do couro cabeludo e dos cabelos; inferior da língua, leito ungueal;
• Solução / tratamento utilizados; • Comprometimento da função cerebral: falta de discernimen-
• Intercorrências e providências adotadas; to, confusão mental, desorientação, vertigem, síncope e torpor;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Intercorrências e/ou providências adotadas;
tos. • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
tos.
9.38 Higiene íntima
• Data e hora do procedimento; 9.43 Lavado gástrico
• Motivo da higiene íntima; • Data e hora da realização do procedimento;
• Aspecto do aparelho genital; • Quantidade infundida;
• Presença de secreção, edema, hiperemia, lesões, formações • Presença de náuseas / vômitos;
verrucosas; • Distensão abdominal;
• Intercorrências e providências adotadas; • Checagem do rótulo do recipiente;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Quantidade e aspecto do material coletado;
tos. • Registrar qual a amostra: primeira ou segunda amostra;
• Registrar que o paciente está em jejum;
9.39 Higiene oral • Registrar qual tipo de recipiente em que a amostra foi arma-
• Data e hora do procedimento; zenada;
• Presença de prótese total / parcial (caso seja necessária sua • Encaminhamento do material;
retirada, identificar e entregar ao responsável da família ou do hos- • Intercorrências e/ou providências adotadas;
pital); • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Condições de realização da higiene (fez só, auxiliado ou reali- tos.
zado pelo profissional);
• Sinais e sintomas observados (hiperemia, condição da arcada 9.44 Massagem de conforto
dentária, etc.); • Anotar data e hora da realização do procedimento;
• Intercorrências e providências adotadas; • Observar e anotar sinais de reações alérgicas;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Observar e anotar as condições da pele nas regiões escapular,
tos. ilíaca e sacrococcígea;
• Anotar as queixas do paciente;
9.40 Imobilização • Registrar as intercorrências durante o procedimento;
• Data e hora do procedimento; • Anotar nome completo, número do Coren do profissional que
• Localização anatômica; efetuou os procedimentos e os registros.
• Motivo da imobilização;
• Aspecto do membro / local imobilizado (hematomas, ferida 9.45 Medida antropométrica
cirúrgica); • Anotar data e hora da realização da medida antropométrica;
• Tipo de procedimento realizado (tala, tala gessada, gesso e • Anotar as queixas do paciente, se houver;
outras); • Registrar as intercorrências durante o procedimento;
• Material utilizado para o procedimento; • Registrar as medidas aferidas de forma exata: peso, altura,
• Queixas do paciente; circunferência abdominal, perímetro cefálico do RN;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Registrar anormalidades quando observadas em qualquer
dos parâmetros mensurados;
9.41 Irrigação de sonda vesical e bexiga • Anotar nome completo, número do Coren do profissional que
• Data e hora do procedimento; efetuou os procedimentos e os registros.
• Motivo do procedimento;
• Aspecto da área a ser tratada; 9.46 Mudança de decúbito
• Solução utilizada no procedimento; • Data e hora do procedimento;
• Presença e caracterização de fétido e/ou secreção na solução • Existência prévia ou no decurso da internação de lesão de
drenada; pele;

170
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Posição – decúbito dorsal, ventral, lateral direito / esquerdo; 9.52 Preparo psicológico do cliente / paciente
• Medidas de proteção adotadas; • Anotar data e hora da realização do procedimento;
• Intercorrências e providências adotadas; • Anotar as queixas do paciente;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Registrar as intercorrências durante o procedimento;
• Registrar o preparo psicológico efetuado para o procedimen-
9.47 Nutrição enteral to ao qual será submetido o paciente;
• Data do procedimento; • Registrar as providências adotadas para possíveis solicitações
• Hora de início e término; do paciente;
• Aspecto e condições da sonda; • Anotar nome completo, número do Coren do profissional que
• Volume administrado; efetuou os procedimentos e os registros.
• Intercorrências e providências adotadas;
• Queixas; 9.53 Pressão venosa central (PVC) pelo enfermeiro
• Registrar a limpeza da sonda e volume de água utilizada; • Data e hora do procedimento;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Permeabilidade e fixação do cateter;
• Valor obtido;
9.48 Nutrição parenteral pelo enfermeiro • Queixas do paciente;
• Data do procedimento; • Trocas de curativo;
• Hora de início e término; • Intercorrências e providências adotadas;
• Aspecto e condições da área de inserção do cateter; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Volume administrado;
• Intercorrências e providências adotadas; 9.54 Pressão arterial média (PAM) pelo enfermeiro
• Queixas; • Data e hora do procedimento;
• Registrar a limpeza do cateter e solução utilizada; • Características da pele ao redor do local de inserção do ca-
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. teter;
• Permeabilidade e fixação do cateter;
9.49 Óbito • Valor obtido;
• Data e horário; • Troca de curativo e material utilizado;
• Identificação do médico que o constatou; • Queixas;
• Rol de valores e pertences do corpo e a quem foi entregue; • Sinais de intercorrências e providências adotadas;
• Comunicação do óbito ao(s) setor(es) responsável(eis), con- • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
forme rotina institucional;
• Procedimentos pós-morte (higiene, tamponamento, curati-
9.55 Pré-operatório
vos, retirada de dispositivos, etc.);
• Data e hora do procedimento;
• Posicionamento anatômico do corpo, sempre que possível;
• Nível de consciência;
• Identificação do corpo;
• Registro de alergias / intolerâncias;
• Encaminhamento do corpo (forma, local, etc.);
• Tempo de jejum;
• Horário de saída do corpo do setor;
• Sinais vitais, Hemoglicoteste (HGT) e outros;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Presença e local de dispositivos – acesso venoso, sondas;
9.50 Ordenha mamária • Condições higiênicas;
• Data e hora da realização do procedimento; • Anotar a presença e/ou retirada e guarda de artefatos e per-
• Tipo utilizado: manual, bombinha tira-leite manual ou elé- tences: próteses, órteses, pertences, etc.;
trica; • Condições psicológicas;
• Aspecto da mama: cheios, empedrados ou ingurgitados; • Orientações;
• Rodízio da mama; • Esvaziamento vesical / sondagem;
• Reação da paciente; • Preparo intestinal;
• Quantidade e aspecto do leite; • Preparo da pele;
• Material utilizado para armazenamento; • Registro do tipo e local da cirurgia;
• Orientações feitas à mãe, quanto: às manobras, cuidados • Queixas;
com a mama e rotinas de tirar o leite; • Intercorrências e providências adotadas;
• Orientação para armazenar, transportar, congelar, desconge- • Encaminhamento do prontuário, exames pré-operatórios;
lar e utilizar o leite; • Encaminhamento ao Centro Cirúrgico / Obstétrico;
• Intercorrências e/ou providências adotadas; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
tos. 9.56 Pós-operatório imediato
• Data e hora da recepção do paciente na RPA;
9.51 Punção arterial pelo enfermeiro • Nível de consciência;
• Motivo da punção; • Presença de cateteres e infusão (anotar quando houver bom-
• Data e horário; ba de infusão), drenos, sondas, curativos, trações e imobilizações;
• Local da punção; • Presença de lesões de pele;
• Queixas; • Anotar débito e aspecto das secreções de drenos e sondas;
• Intercorrências; • Exames (laboratoriais e/ou imagem);
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento. • Sinais vitais;
• Intercorrências e providências adotadas;

171
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Horário de encaminhamento ao setor pertinente; 9.61 Retirada de pontos


• Transporte intra-hospitalar; • Data e hora da realização do procedimento;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Tempo de sutura;
tos. • Tipo da sutura;
• Local da ferida;
9.57 Pós-operatório mediato • Aspectos da ferida;
• Data e hora de retorno à Unidade; • Curativo e material utilizado;
• Nível de consciência; • Orientação ao paciente;
• Localização anatômica e aspecto do curativo cirúrgico; • Intercorrências e/ou providências adotadas;
• Tipo de exsudato se existente; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Sinais vitais; tos.
• Acesso venoso;
• Posicionamento no leito; 9.62 Sinais Vitais
• Medidas de proteção; • Data e hora do procedimento;
• Presença de acompanhantes; • Registrar dados aferidos;
• Orientações ao paciente e à família; • Queixas;
• Entrega documentada dos pertences; • Estado geral do paciente;
• Intercorrências e providências adotadas; • Intercorrências e providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
tos.
9.63 Teste PPD
• Data e hora da realização do procedimento;
9.58 Prova do laço
• Manifestações clínicas do paciente;
• Data e hora da realização do procedimento;
• Local da realização do exame;
• Registrar valor da pressão arterial;
• Reação na área da aplicação;
• Registrar o valor médio pela fórmula (PAS+PAD)/2; • Medida obtida;
• Registrar o tempo do manguito insuflado; • Registrar medicação utilizada pelo paciente, como corticoide;
• Registrar o número de petéquias surgidas; • Orientação ao paciente;
• Estado geral do paciente; • Intercorrências e/ou providências adotadas;
• Manifestações clínicas, história de sangramento; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Registrar alterações na pele; tos.
• Intercorrências e/ou providências adotadas: petéquias em
todo o braço, antebraço, dorso das mãos e nos dedos; 9.64 Teste de gravidez
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimentos • Data e hora da realização do procedimento;
• Identificação da paciente;
• Se é a primeira diurese;
9.59 Registros relativos à coleta de material para exames • Manifestações clínicas;
• Anotar data e hora da coleta de material para exames; • Presença de DST;
• Anotar jejum do paciente, quando o exame assim exigir; • Data da última menstruação, se mais de 15 dias;
• Anotar tipo de material coletado; • Data da última relação;
• Anotar aspecto do material coletado para exames; • Uso de contraceptivo;
• Registrar intercorrência durante o procedimento e providên- • Registrar, quando positivo, o encaminhamento para o pré-na-
cias adotadas; tal;
• Em caso de punção venosa, anotar o local em que foi realiza- • Intercorrências e/ou providências adotadas;
da a coleta; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Queixas; tos.
• Anotar nome completo, número do Coren do profissional que
efetuou os procedimentos e os registros. 9.65 Teste rápido de HIV
• Data e hora da realização do procedimento;
• História clínica e/ou epidemiológica, sexualidade;
9.60 Registros relativos à deambulação
• Dispositivo de coleta;
• Anotar data e hora da realização do estímulo à deambulação;
• Local da punção;
• Registrar se houve necessidade de auxílio para a deambula-
• Orientações;
ção: do profissional, de muleta, bengala ou andador;
• Registrar o resultado obtido;
• Registrar anormalidades da marcha; • Intercorrências e/ou providências adotadas;
• Relatar queixas de claudicação intermitente ou contínua; • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
• Relatar postura do paciente ao deambular; tos.
• Anotar as queixas do paciente;
• Registrar as intercorrências durante o procedimento e provi- 9.66 Teste rápido para Sífilis
dências adotadas; • Data e hora da realização do procedimento;
• Eliminação de gazes; • Identificação do paciente;
• Anotar nome completo, número do Coren do profissional que • História clínica e/ou epidemiológica;
efetuou os procedimentos e os registros. • Local da punção;
• Dispositivo de coleta;

172
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Orientações; • Informação sobre a efetividade do tratamento realizado;


• Registrar o resultado obtido; • Orientações;
• Intercorrências e/ou providências adotadas; • Intercorrências e providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
tos.
9.72 Tratamento de miíase
9.67 Teste para Hepatite • Data e hora do procedimento;
• Data e hora da realização do procedimento; • Aspecto da área a ser tratada;
• Identificação do paciente; • Condições de higiene;
• História clínica e/ou epidemiológica; • Presença e caracterização de fétido e/ou secreção;
• Dispositivo de coleta; • Medicamento utilizado e tempo de exposição;
• Local da punção; • Queixas do paciente;
• Orientações; • Informação sobre a efetividade do tratamento realizado;
• Registrar o resultado obtido; • Orientações;
• Intercorrências e/ou providências adotadas; • Intercorrências e providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
tos.
9.73 Transoperatório
9.68 Terapia de Reidratação Oral (TRO) • Data e hora da Recepção no Centro Cirúrgico e encaminha-
• Data e hora do início do procedimento; mento à Sala Cirúrgica;
• Estado geral do paciente; • Tipo de cirurgia;
• Espontâneo, ou com auxílio do profissional; • Orientações prestadas;
• Quantidade oferecida; • Procedimentos / cuidados realizados, conforme prescrição
• Aceitação; ou rotina institucional – posicionamento, instalação e/ou retirada
• Anotar sinal positivo (diurese) ou negativo (distensão abdo- de eletrodos, monitor, placa de bisturi e outros dispositivos (acesso
minal); venoso, sondas, etc.);
• Intercorrências e/ou providências adotadas; • Composição da equipe cirúrgica;
• Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen- • Dados do horário de início e término da cirurgia, conforme
tos. preconizado pela instituição;
• Tipo de curativo e local;
9.69 Transferência interna • Material coletado para exames de diagnóstico;
• Motivo da transferência; • Intercorrências durante o ato cirúrgico;
• Data e horário; • Encaminhamento à Sala de Recuperação Pós-anestésica;
• Setor de destino e forma de transporte; • Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento.
• Procedimentos / cuidados realizados (punção de acesso ve-
noso, instalação de oxigênio, sinais vitais, etc.); 9.74 Tricotomia
• Data e hora da realização do procedimento;
• Condições na saída (maca, cadeira de rodas, nível de consci- • Condições da área onde será realizado procedimento;
ência, presença de lesões); • Objetivo do procedimento;
• Queixas; • Material utilizado;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento • Intercorrências e/ou providências adotadas;
e transferência. • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
tos.
9.70 Transferência externa
• Motivo da transferência; 9.75 Vacina
• Data e horário; • Data e hora da realização do procedimento;
• Instituição de destino, forma de transporte e encaminhamen- • Idade;
to; • Tipo de vacina, dosagem;
• Procedimentos / cuidados realizados (punção de acesso ve- • Via e local da administração;
noso, instalação de oxigênio, sinais vitais, etc.); • Número de doses;
• Condições na saída (maca, cadeira de rodas, nível de consci- • Reação no local da aplicação;
ência, presença de lesões); • Orientação quanto ao cuidado com o local da aplicação;
• Presença de acompanhante; • Orientações: tipo de vacina e data para o retorno;
• Queixas; • Intercorrências e/ou providências adotadas;
• Nome completo e Coren do responsável pelo procedimento • Nome completo e Coren do responsável pelos procedimen-
e transferência. tos.

9.71 Tratamento de pediculose 10 Registro de Enfermagem das ações executadas na Central


• Data e hora do procedimento; de Material e Esterilização – CME (de acordo com a rotina da Insti-
• Aspecto da área a ser tratada; tuição: em livros, pastas, etc.)
• Condições de higiene;
• Registrar a necessidade de realização de tricotomia; 10.1 Expurgo
• Medicamento utilizado e tempo de exposição; • Receber, conferir e anotar a quantidade e espécie do material
• Queixas do paciente; recebido;

173
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Registrar ocorrências / intercorrências / pendências; Existe um roteiro que poderíamos sugerir do que deve ser re-
• Data e hora do encaminhamento do material à área de prepa- gistrado?
ro e/ou empresa processadora; Não. Porque isso vai depender da normalização adotada pela
• Nome completo e Coren do responsável pelo processo. instituição e das características individuas de cada paciente, que se-
rão levantadas pelo enfermeiro, e os cuidados prescritos por meio
10.2 Área de preparo de material da aplicação do Processo de Enfermagem. Vale ressaltar que toda a
• Receber, conferir e anotar intercorrências / pendências de ação que envolve a assistência deve ser registrada, como exemplo,
materiais; as prescrições de enfermagem e médicas cumpridas, os cuidados
• Proceder ao registro em etiqueta própria contendo, no míni- de rotina, as medidas de segurança adotadas, os encaminhamentos
mo: identificação do material, nome do responsável pelo preparo, ou transferências de setor. No que se refere a sinais e sintomas,
n. do Coren e categoria profissional, data e hora do preparo. registrar os identificados através da simples observação e os referi-
dos pelo paciente. E, claro, as intercorrências, que incluem os fatos
10.3 Área de Esterilização ocorridos com o paciente e as medidas adotadas. Para finalizar, é
• Registrar o quantitativo de materiais esterilizados no período; preciso registrar as respostas dos pacientes às ações realizadas.
• Registrar o resultado dos testes físicos e químicos realizados “toda a ação que envolve a assistência deve ser registrada”
na autoclave;
• Registrar data e hora da manutenção preventiva ou corretiva
Há normatização do Sistema Cofen/Coren sobre o assunto?
dos equipamentos: autoclaves, seladora, incubadora e outros;
Sim, além da Resolução Cofen 191/96, que trata da forma de
• Nome completo, Coren e categoria profissional do responsá-
anotação e o uso do número de inscrição ou da autorização pelo
vel pelo processo.
pessoal de Enfermagem, há a Resolução e 358/09, que dispõe sobre
10.4 Área de armazenagem e distribuição de materiais a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), ainda exis-
• Registrar os materiais recebidos para guarda; tem os diversos artigos que compõem o Código de Ética dos Profis-
• Registrar as condições dos pacotes / caixa; sionais de Enfermagem (Resolução Cofen nº 311/07). Vale ressaltar
• Registrar saída do material; também que encontramos a legislação aplicável ao assunto no arti-
• Nome completo, Coren e categoria profissional do responsá- go 368 do Código do Processo Civil (CPC).
vel pelo processo.
A falta de registro adequado pode trazer algum risco ao pa-
Como podemos definir Registro de Enfermagem? ciente?
Por registro de enfermagem entendemos ser a documentação Sim, a falta ou o registro incompleto de informações sobre os
de todo o processo de cuidado de enfermagem. Através deles nos cuidados prestados ao paciente podem gerar inúmeros riscos, sen-
comunicamos com os demais membros da equipe de saúde, além do a “comunicação efetiva” elencada como um dos 10 passos prin-
da equipe de enfermagem; respaldamos-nos legalmente, assim cipais a serem seguidos para a segurança do paciente, que diz: “A
como promovemos respaldo, também, à instituição e ao paciente; comunicação efetiva é uma ferramenta essencial para a segurança
disponibilizamos dados primordiais para avaliação do estado geral do paciente – registre e transmita as informações sobre o paciente”.
do paciente, utilizados por toda equipe de saúde, para implementa- Algumas instituições utilizam registrar alguns parâmetros em
ção de assistência integral e holística; além de fornecer informações formulários ou cadernos específicos. Mas esta prática não é correta,
importantes para construção de indicadores de qualidade de assis- pois este documento não irá acompanhar o prontuário do pacien-
tência e subsidiar ações de pesquisa e ensino. te, ou seja, qualquer informação relativa à terapêutica do paciente
Como é dividido o Registro de Enfermagem? deve estar registrada no seu prontuário. Em minha experiência en-
As etapas seguidas para documentação do cuidado realizado quanto fiscal não verifiquei essa ação como rotina nas instituições
pela equipe de enfermagem a um determinado paciente em seu em que tive contato.
prontuário, via de regra, e por força de normatização realizada
pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a Resolução Cofen E ao profissional? Quais as consequências éticas e legais?
358/09, que seguem as etapas do Processo de Enfermagem (coletas
No caso de um profissional de enfermagem ser acusado por al-
de dados de enfermagem ou histórico de enfermagem, diagnóstico
gum ato inadequado, seja decorrente de imperícia, imprudência ou
de enfermagem, prescrição de enfermagem, evolução/avaliação de
negligência, as ações registradas no prontuário do paciente atendi-
enfermagem e anotações de enfermagem).
do serão seu respaldo legal, sendo utilizadas tanto em sindicâncias/
Para um bom registro existe sequência recomendada? processos administrativos - realizados pela instituição empregado-
Os registros devem ser realizados com letra legível, sem rasu- ra, avaliação e/ou processo ético - realizado pelo Coren; bem como
ras, de forma clara, objetiva e completa, identificado com data e em processos cíveis (indenizatórios) e criminais.
horário e com carimbo (contendo nome completo, número de ins-
crição/autorização no Coren e categoria profissional) e assinatura Recomenda-se que a equipe faça uso de termos científicos em
ao final - Resolução Cofen nº 191/96. Como as informações registra- seus registros. Quais estratégias os líderes podem adotar para fa-
das em prontuário são oficias, para a manutenção de seu valor legal cilitar esta prática?
não deverá apresentar rasuras. No caso de erro ou equívoco nas A utilização de terminologia científica deve ser incentivada,
informações registradas, as palavras inadequadas deverão ser colo- com trabalho contínuo dos enfermeiros responsáveis pela educa-
cadas ente parênteses, com a palavra “digo” entre vírgulas, após os ção continuada ou permanente, em parceria com os enfermeiros
parênteses e registro das informações corretas. supervisores/coordenadores e assistências. A confecção de guias,
cartilhas, folhetos descritos auxiliam, porém não garante a efetivi-
dade da ação. Em diversos anos de visita aos mais variados serviços
de saúde oferecidos a população e prestados pela equipe de enfer-
magem, constatei, nesta questão, a utilização da estratégia “estudo

174
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

de caso” (onde enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem Sistema de informação em enfermagem (Registro em Enfer-
se reúnem, quinzenalmente, para apresentação e discussão de um magem)
caso atendido no mês anterior. A discussão acontece com a análi- Uma das tarefas do profissional de enfermagem é o registro,
se dos registros de enfermagem realizados em prontuário, onde a no prontuário do paciente, de todas as observações e assistência
equipe analisa seu conteúdo e se o cuidado prestado foi adequada- prestada ao mesmo - ato conhecido como anotação de enferma-
mente registrado, incluindo a utilização de terminologia) como me- gem. A importância do registro reside no fato de que a equipe de
dida eficaz para o desenvolvimento e aprendizado da equipe. Para enfermagem é a única que permanece continuamente e sem inter-
efeito de exemplo, me lembro que em uma instituição de saúde que rupções ao lado do paciente, podendo informar com detalhes todas
atuei, implantei um manual de terminologias e mapas identificando as ocorrências clínicas.
as regiões do corpo que ficavam no Posto de Enfermagem para con- Para maior clareza, recomenda-se que o registro das informa-
sulta da equipe, o que foi muito positivo. ções seja organizado de modo a reproduzir a ordem cronológica dos
Há situações em que a ação de Enfermagem, por uma série de fatos isto permitirá que, na passagem de plantão, a equipe possa
motivos, não foi registrada em prescrição pelo enfermeiro ou mé- acompanhar a evolução do paciente. Um registro completo de en-
dico. Nesse caso, como a senhora orienta a equipe de nível médio fermagem contempla as seguintes informações:
quanto ao registro? Observação do estado geral do paciente, indicando manifes-
Todas as ações de enfermagem desenvolvidas por técnicos e tações emocionais como angústia, calma, interesse, depressão,
auxiliares de enfermagem, por força da Lei nº 7.498/86, devem es- euforia, apatia ou agressividade; condições físicas, indicando alte-
rações relacionadas ao estado nutricional, hidratação, integridade
tar prescritas e devem ser supervisionadas por Enfermeiro. Desta
cutâneo-mucosa, oxigenação, postura
forma, os profissionais de nível médio de enfermagem (técnicos e
Ordem cronológica – sequência em que os fatos acontecem,
auxiliares) não devem desenvolver nenhuma atividade que não es-
correlacionados com o tempo, sono e repouso, eliminações, padrão
teja prescrita: diretamente em prontuário ou definida como rotina
da fala, movimentação; existência e condições de sondas, drenos,
em documentos formais de cada serviço. Ainda, a Resolução Cofen curativos, imobilizações, cateteres, equipamentos em uso;
nº 225/00 determina que seja vedado ao profissional de Enferma- A ação de medicamentos e tratamentos específicos, para veri-
gem aceitar, praticar, cumprir ou executar prescrições medicamen- ficação da resposta orgânica manifesta após a aplicação de determi-
tosas/terapêuticas, oriundas de qualquer profissional da área de nado medicamento ou tratamento, tais como, por exemplo: alergia
Saúde, por meio de rádio, telefonia ou meios eletrônicos, onde não após a administração de medicamentos, diminuição da temperatu-
conste a assinatura deles, sendo consideradas exceções situações ra corporal após banho morno, melhora da dispnéia após a instala-
de urgência, na qual, efetivamente, haja iminente e grave risco de ção de cateter de oxigênio;
vida do cliente. A realização das prescrições médicas e de enfermagem, o que
permite avaliar a atuação da equipe e o efeito, na evolução do pa-
Como deve ser utilizado o livro de intercorrências? Quais ano- ciente, da terapêutica medicamentosa e não-medicamentosa. Caso
tações devem ser registradas? Existe algum tempo para ele ser o tratamento não seja realizado, é necessário explicitar o motivo,
arquivado? por exemplo, se o paciente recusa a inalação prescrita, deve-se re-
O livro de intercorrências deve ser utilizado em situações nas gistrar esse fato e o motivo da negação.
quais a equipe deseja registrar algum fato que possa comprometer Procedimentos rotineiros também devem ser registrados,
o processo de trabalho. Por exemplo, o atraso na entrega de rou- como a instalação de solução venosa, curativos realizados, colheita
pas. Nunca deverá ser utilizado para registrar ações que envolvam de material para exames, encaminhamentos e realização de exames
o cuidar, como queda no leito. Informações relativas à terapêutica externos, bem como outras ocorrências atípicas na rotina do pa-
devem ser obrigatoriamente registradas no Prontuário do Paciente. ciente; n A assistência de enfermagem prestada e as intercorrências
Vale ressaltar que em algumas situações o livro também funciona observadas. Incluem-se neste item, entre outros, os dados referen-
como protocolo de entrega de exames após a alta. E enfatizo que tes aos cuidados higiênicos, administração de dietas, mudanças de
data, horário, exames entregues e nome do profissional responsá- decúbito, restrição ao leito, aspiração de sondas e orientações pres-
vel também devem ser registrados no Prontuário. Em linhas gerais, tadas ao paciente e familiares;
todas as atividades assistências, de cuidado direto ao paciente,
devem ser registradas em prontuário, obrigatoriamente. As ações As ações terapêuticas aplicadas pelos demais profissionais da
equipe multiprofissional, quando identificada a necessidade de o
administrativas/gerencias - falta de funcionário, falta ou quebra de
paciente ser atendido por outro componente da equipe de saúde.
equipamentos, necessidade de manutenção ou consertos em geral
Nessa circunstância, o profissional é notificado e, após efetivar sua
- em livro de intercorrência (comumente chamado de “livro pre-
visita, a enfermagem faz o registro correspondente.
to”). O seu tempo de arquivamento vai depender da normatização
Para o registro das informações no prontuário, a enfermagem
estabelecida pela Instituição, e neste caso sugiro uma consulta ao geralmente utiliza um roteiro básico que facilita sua elaboração. Por
Departamento Jurídico da mesma. ser um importante instrumento de comunicação para a equipe, as
informações devem ser objetivas e precisas de modo a não darem
Como está a questão do prontuário eletrônico? Como fica o margem a interpretações errôneas.
registro/anotação de Enfermagem neste processo? Considerando-se sua legalidade, faz-se necessário ressaltar
O Cofen firmou parceira com a SBIS (Sociedade Brasileira de que servem de proteção tanto para o paciente como para os profis-
Informática em Saúde) para normatizar o assunto. Atualmente, os sionais de saúde, a instituição e, mesmo, a sociedade.
prontuários eletrônicos certificados (atendem a uma série de requi-
sito, como: validação de assinatura eletrônica, termo de consenti-
mento prévio do paciente, entre outros) possuem respaldo legal,
não sendo necessária outra forma de armazenamento de dados.
Caso contrário, devem ser convertidos em meio físico para assina-
tura de todos os profissionais envolvidos no processo.

175
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Segundo o Ministério da Saúde, hospital é definido como esta-


CARACTERIZAR MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS E SI- belecimento de saúde destinado a prestar assistência sanitária em
NAIS VITAIS E RECONHECER A IMPORTÂNCIA DAS regime de internação a uma determinada clientela, ou de não-inter-
MESMAS NA AVALIAÇÃO DA SAÚDE DO CLIENTE/PA- nação, no caso de ambulatório ou outros serviços.
CIENTE Para se avaliar a necessidade de serviços e leitos hospitala-
res numa dada região faz-se necessário considerar fatores como
Fundamentos de Enfermagem a estrutura e nível de organização de saúde existente, número de
A assistência da Enfermagem baseia-se em conhecimentos habitantes e frequência e distribuição de doenças, além de outros
científicos e métodos que definem sua implementação. Assim, a eventos relacionados à saúde. Por exemplo, é possível que numa
sistematização da assistência de enfermagem (SAE) é uma forma região com grande população de jovens haja carência de leitos de
planejada de prestar cuidados aos pacientes que, gradativamente, maternidade onde ocorre maior número de nascimentos. Em outra,
vem sendo implantada em diversos serviços de saúde. Os compo- onde haja maior incidência de doenças crônico-degenerativas, a ne-
nentes ou etapas dessa sistematização variam de acordo com o cessidade talvez seja a de expandir leitos de clínica médica.
método adotado, sendo basicamente composta por levantamento De acordo com a especialidade existente, o hospital pode ser
de dados ou histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, classificado como geral, destinado a prestar assistência nas quatro
plano assistencial e avaliação. especialidades médicas básicas, ou especializado, destinado a pres-
Interligadas, essas ações permitem identificar as necessidades tar assistência em uma especialidade, como, por exemplo, materni-
de assistência de saúde do paciente e propor as intervenções que dade, ortopedia, entre outras.
melhor as atendam - ressalte-se que compete ao enfermeiro a res- Um outro critério utilizado para a classificação de hospitais é
ponsabilidade legal pela sistematização; contudo, para a obtenção o seu número de leitos ou capacidade instalada: são considerados
de resultados satisfatórios, toda a equipe de enfermagem deve en- como de pequeno porte aqueles com até 50 leitos; de médio porte,
volver-se no processo. de 51 a 150 leitos; de grande porte, de 151 a 500 leitos; e de porte
Na fase inicial, é realizado o levantamento de dados, mediante especial, acima de 500 leitos.
entrevista e exame físico do paciente. Como resultado, são obtidas Conforme as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), os
importantes informações para a elaboração de um plano assisten- serviços de saúde em uma dada região geográfica - desde as unida-
cial e prescrição de enfermagem, a ser implementada por toda a des básicas até os hospitais de maior complexidade - devem estar
equipe. integrados, constituindo um sistema hierarquizado e organizado de
A entrevista, um dos procedimentos iniciais do atendimento, é acordo com os níveis de atenção à saúde. Um sistema assim cons-
o recurso utilizado para a obtenção dos dados necessários ao tra- tituído disponibiliza atendimento integral à população, mediante
tamento, tais como o motivo que levou o paciente a buscar aju- ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saú-
da, seus hábitos e práticas de saúde, a história da doença atual, de de.
doenças anteriores, hereditárias, etc. Nesta etapa, as informações As unidades básicas de saúde (integradas ou não ao Progra-
consideradas relevantes para a elaboração do plano assistencial de ma Saúde da Família) devem funcionar como porta de entrada para
enfermagem e tratamento devem ser registradas no prontuário, o sistema, reservando-se o atendimento hospitalar para os casos
tomando-se, evidentemente, os cuidados necessários com as con- mais complexos - que, de fato, necessitam de tratamento em regi-
sideradas como sigilosas, visando garantir ao paciente o direito da me de internação.
privacidade. De maneira geral, o hospital secundário oferece alto grau de
O exame físico inicial é realizado nos primeiros contatos com o resolubilidade para grande parte dos casos, sendo poucos os que
paciente, sendo reavaliado diariamente e, em algumas situações,
acabam necessitando de encaminhamento para um hospital terci-
até várias vezes ao dia.
ário. O sistema de saúde vigente no Brasil agrega todos os serviços
Como sua parte integrante, há a avaliação minuciosa de todas
públicos das esferas federal, estadual e municipal e os serviços pri-
as partes do corpo e a verificação de sinais vitais e outras medidas,
vados, credenciados por contrato ou convênio. Na área hospitalar,
como peso e altura, utilizando-se técnicas específicas.
80% dos estabelecimentos que prestam serviços ao SUS são priva-
Na etapa seguinte, faz-se a análise e interpretação dos dados
dos e recebem reembolso pelas ações realizadas, ao contrário da
coletados e se determinam os problemas de saúde do paciente,
atenção ambulatorial, onde 75% da assistência provém de hospitais
formulados como diagnóstico de enfermagem. Através do mesmo
públicos.
são identificadas as necessidades de assistência de enfermagem e a
elaboração do plano assistencial de enfermagem. Na reorganização do sistema de saúde proposto pelo SUS o
O plano descreve os cuidados que devem ser dados ao pacien- hospital deixa de ser a porta de entrada do atendimento para se
te (prescrição de enfermagem) e implementados pela equipe de constituir em unidade de referência dos ambulatórios e unidades
enfermagem, com a participação de outros profissionais de saúde, básicas de saúde. O hospital privado pode ter caráter beneficente,
sempre que necessário. filantrópico, com ou sem fins lucrativos. No beneficente, os recur-
Na etapa de avaliação verifica-se a resposta do paciente aos sos são originários de contribuições e doações particulares para a
cuidados de enfermagem a ele prestados e as necessidades de mo- prestação de serviços a seus associados - integralmente aplicados
dificar ou não o plano inicialmente proposto. na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos sociais. O hos-
O hospital, a assistência de enfermagem e a prevenção da in- pital filantrópico reserva serviços gratuitos para a população caren-
fecção te, respeitando a legislação em vigor. Em ambos, os membros da
O termo hospital origina-se do latim hospitium, que quer dizer diretoria não recebem remuneração.
local onde se hospedam pessoas, em referência a estabelecimentos Para que o paciente receba todos os cuidados de que necessi-
fundados pelo clero, a partir do século IV dC, cuja finalidade era ta durante sua internação hospitalar, faz-se necessário que tenha à
prover cuidados a doentes e oferecer abrigo a viajantes e peregri- sua disposição uma equipe de profissionais competentes e diversos
nos. serviços integrados - Corpo Clínico, equipe de enfermagem, Serviço
de Nutrição e Dietética, Serviço Social, etc., caracterizando uma ex-
tensa divisão técnica de trabalho.

176
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Para alcançar os objetivos da instituição, o trabalho das equi- e ações administrativas que resguardem os direitos dos pacientes.
pes, de todas as áreas, necessita estar em sintonia, haja vista que Assim, questões como sigilo, privacidade, informação, aspectos que
uma das características do processo de produção hospitalar é a in- o profissional de saúde tem o dever de acatar por determinação
terdependência. Uma outra característica é a quantidade e diversi- do seu código de ética, tornam-se mais abrangentes e eficazes na
dade de procedimentos diariamente realizados para prover assis- medida em que também passam a ser princípios norteadores da
tência ao paciente, cuja maioria segue normas rígidas no sentido organização de saúde.
de proporcionar segurança máxima contra a entrada de agentes Tudo isso reflete as mudanças em curso nas relações que se
biológicos nocivos ao mesmo. estabelecem entre o receptor do cuidado, o paciente, e o profis-
O ambiente hospitalar é considerado um local de trabalho in- sional que o assiste, tendo influenciado, inclusive, a nomenclatura
salubre, onde os profissionais e os próprios pacientes internados tradicionalmente utilizada no meio hospitalar.
estão expostos a agressões de diversas naturezas, seja por agentes O termo paciente, por exemplo, deriva do verbo latino patisce-
físicos, como radiações originárias de equipamentos radiológicos e re, que significa padecer, e expressa uma conotação de dependên-
elementos radioativos, seja por agentes químicos, como medica- cia, motivo pelo qual cada vez mais se busca outra denominação
mentos e soluções, ou ainda por agentes biológicos, representados para o receptor do cuidado. Há crescente tendência em utilizar o
por microrganismos. termo cliente, que melhor reflete a forma como vêm sendo estabe-
No hospital concentram-se os hospedeiros mais susceptíveis, lecidos os contatos entre o receptor do cuidado e o profissional, ou
os doentes e os microrganismos mais resistentes. O volume e a seja, na base de uma relação de interdependência e aliança. Outros
diversidade de antibióticos utilizados provocam alterações impor- têm manifestado preferência pelo termo usuário, considerando que
tantes nos microrganismos, dando origem a cepas multirresisten-
o receptor do cuidado usa os nossos serviços. Entretanto, será man-
tes, normalmente inexistentes na comunidade. A contaminação de
tida a denominação tradicional, porque ainda é dessa forma que a
pacientes durante a realização de um procedimento ou por inter-
maioria se reporta ao receptor do cuidado.
médio de artigos hospitalares pode provocar infecções graves e de
Ao receber o paciente na unidade de internação, o profissional
difícil tratamento. Procedimentos diagnósticos e terapêuticos inva-
sivos, como diálise peritonial, hemodiálise, inserção de cateteres e de enfermagem deve providenciar e realizar a assistência neces-
drenos, uso de drogas imunossupressoras, são fatores que contri- sária, atentando para certos cuidados que podem auxiliá-lo nessa
buem para a ocorrência de infecção. fase. O primeiro contato entre o paciente, seus familiares e a equipe
Ao dar entrada no hospital, o paciente já pode estar com uma é muito importante para a adaptação na unidade. O tratamento re-
infecção, ou pode vir a adquiri-la durante seu período de interna- alizado com gentileza, cordialidade e compreensão ajuda a desper-
ção. Seguindo-se a classificação descrita na Portaria no 2.616/98, tar a confiança e a segurança tão necessárias. Assim, cabe auxiliá-lo
do Ministério da Saúde, podemos afirmar que o primeiro caso re- a se familiarizar com o ambiente, apresentando-o à equipe presen-
presenta uma infecção comunitária; o segundo, uma infecção hos- te e a outros pacientes internados, em caso de enfermaria, acom-
pitalar que pode ter como fontes a equipe de saúde, o próprio pa- panhando-o em visita às dependências da unidade, orientando-o
ciente, os artigos hospitalares e o ambiente. sobre o regulamento, normas e rotinas da instituição. É também
Visando evitar a ocorrência de infecção hospitalar, a equipe importante solicitar aos familiares que providenciem objetos de uso
deve realizar os devidos cuidados no tocante à sua prevenção e pessoal, quando necessário, bem como arrolar roupas e valores nos
controle, principalmente relacionada à lavagem das mãos, pois os casos em que o paciente esteja desacompanhado e seu estado indi-
microrganismos são facilmente levados de um paciente a outro ou que a necessidade de tal procedimento.
do profissional para o paciente, podendo causar a infecção cruzada. É importante lembrar que, mesmo na condição de doente, a
pessoa continua de posse de seus direitos: ao respeito de ser cha-
Atendendo o paciente no hospital mado pelo nome, de decidir, junto aos profissionais, sobre seus cui-
O paciente procura o hospital por sua própria vontade (neces- dados, de ser informado sobre os procedimentos e tratamento que
sidade) ou da família, e a internação ocorre por indicação médica lhe serão dispensados, e a que seja mantida sua privacidade física e
ou, nos casos de doença mental ou infectocontagiosa, por processo o segredo sobre as informações confidenciais que digam respeito à
legal instaurado. sua vida e estado de saúde.
A internação é a admissão do paciente para ocupar um leito O tempo de permanência do paciente no hospital dependerá
hospitalar, por período igual ou maior que 24 horas. Para ele, isto de vários fatores: tipo de doença, estado geral, resposta orgânica
significa a interrupção do curso normal de vida e a convivência tem- ao tratamento realizado e complicações existentes. Atualmente, há
porária com pessoas estranhas e em ambiente não-familiar. Para a
uma tendência para se abreviar ao máximo o tempo de internação,
maioria das pessoas, este fato representa desequilíbrio financeiro,
em vista de fatores como altos custos hospitalares, insuficiência de
isolamento social, perda de privacidade e individualidade, sensação
leitos e riscos de infecção hospitalar. Em contrapartida, difundem-
de insegurança, medo e abandono. A adaptação do paciente a essa
-se os serviços de saúde externos, como a internação domiciliar, a
nova situação é marcada por dificuldades pois, aos fatores acima,
soma-se a necessidade de seguir regras e normas institucionais qual estende os cuidados da equipe para o domicílio do doente,
quase sempre bastante rígidas e inflexíveis, de entrosar-se com a medida comum em situações de alta precoce e de acompanhamen-
equipe de saúde, de submeter-se a inúmeros procedimentos e de to de casos crônicos - é importante que, mesmo neste âmbito, se-
mudar de hábitos. jam também observados os cuidados e técnicas utilizadas para a
O movimento de humanização do atendimento em saúde pro- prevenção e controle da infecção hospitalar e descarte adequado
cura minimizar o sofrimento do paciente e seus familiares, buscan- de material perfurocortante.
do formas de tornar menos agressiva a condição do doente institu- O período de internação do paciente finaliza-se com a alta hos-
cionalizado. Embora lenta e gradual, a própria conscientização do pitalar, decorrente de melhora em seu estado de saúde, ou por mo-
paciente a respeito de seus direitos tem contribuído para tal inten- tivo de óbito. Entretanto, a alta também pode ser dada por motivos
to. Fortes aponta a responsabilidade institucional como um aspecto tais como: a pedido do paciente ou de seu responsável; nos casos
importante, ao afirmar que existe um componente de responsabili- de necessidade de transferência para outra instituição de saúde;
dade dos administradores de saúde na implementação de políticas na ocorrência de o paciente ou seu responsável recusar(em)-se a

177
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

seguir o tratamento, mesmo após ter(em) sido orientado(s) quan- O prontuário agrega um conjunto de impressos nos quais são
to aos riscos, direitos e deveres frente à terapêutica proporcionada registradas todas as informações relativas ao paciente, como histó-
pela equipe. rico da doença, antecedentes pessoais e familiares, exame físico,
Na ocasião da alta, o paciente e seus familiares podem necessi- diagnóstico, evolução clínica, descrição de cirurgia, ficha de anes-
tar de orientações sobre alimentação, tratamento medicamentoso, tesia, prescrição médica e de enfermagem, exames complemen-
atividades físicas e laborais, curativos e outros cuidados específicos, tares de diagnóstico, formulários e gráficos. É direito do paciente
momento em que a participação da equipe multiprofissional é im- ter suas informações adequadamente registradas, como também
portante para esclarecer quaisquer dúvidas apresentadas. acesso - seu ou de seu responsável legal - às mesmas, sempre que
Após a saída do paciente, há necessidade de se realizar a limpe- necessário.
za da cama e mobiliário; se o mesmo se encontrava em isolamento, Legalmente, o prontuário é propriedade dos estabelecimentos
deve-se também fazer a limpeza de todo o ambiente (limpeza ter- de saúde e após a alta do paciente fica sob os cuidados da institui-
minal): teto, paredes, piso e banheiro. ção, arquivado em setor específico. Quanto à sua informatização,
As rotinas administrativas relacionadas ao preenchimento e há iniciativas em andamento em diversos hospitais brasileiros, haja
encaminhamento do aviso de alta ao registro, bem como às per- vista que facilita a guarda e conservação dos dados, além de agilizar
tinentes à contabilidade e apontamento em censo hospitalar, de- informações em prol do paciente. Devem, entretanto, garantir a pri-
veriam ser realizadas por agentes administrativos. Na maioria das vacidade e sigilo dos dados pessoais.
instituições hospitalares, porém, estas ações ainda ficam sob o en-
cargo dos profissionais de enfermagem. Sistema de informação em enfermagem
O paciente poderá sair do hospital só ou acompanhado por fa- Uma das tarefas do profissional de enfermagem é o registro, no
miliares, amigos ou por um funcionário (assistente social, auxiliar, prontuário do paciente, de todas as observações e assistência pres-
técnico de enfermagem ou qualquer outro profissional de saúde tada ao mesmo, ato conhecido como anotação de enfermagem. A
que a instituição disponibilize); dependendo do seu estado geral, importância do registro reside no fato de que a equipe de enferma-
em transporte coletivo, particular ou ambulância. Cabe à enfer- gem é a única que permanece continuamente e sem interrupções
magem registrar no prontuário a hora de saída, condições gerais, ao lado do paciente, podendo informar com detalhes todas as ocor-
orientações prestadas, como e com quem deixou o hospital. rências clínicas. Para maior clareza, recomenda-se que o registro
Um aspecto particular da alta diz respeito à transferência para das informações seja organizado de modo a reproduzir a ordem
outro setor do mesmo estabelecimento, ou para outra instituição. cronológica dos fatos, isto permitirá que, na passagem de plantão,
Deve-se considerar que a pessoa necessitará adaptar-se ao novo a equipe possa acompanhar a evolução do paciente.
ambiente, motivo pelo qual a orientação da enfermagem é impor- Um registro completo de enfermagem contempla as seguintes
tante. Quando do transporte a outro setor ou à ambulância, o pa- informações:
ciente deve ser transportado em maca ou cadeira de rodas, junto - Observação do estado geral do paciente, indicando manifesta-
ções emocionais como angústia, calma, interesse, depressão, eufo-
com seus pertences, prontuário e os devidos registros de enferma-
ria, apatia ou agressividade; condições físicas, indicando alterações
gem. No caso de encaminhamento para outro estabelecimento, en-
relacionadas ao estado nutricional, hidratação, integridade cutâ-
viar os relatórios médico e de enfermagem.
neo-mucosa, oxigenação, postura, sono e repouso, eliminações,
padrão da fala, movimentação; existência e condições de sondas,
Sistema de informação em saúde
drenos, curativos, imobilizações, cateteres, equipamentos em uso;
Um sistema de informação representa a forma planejada de re-
- A ação de medicamentos e tratamentos específicos, para
ceber e transmitir dados. Pressupõe que a existência de um número
verificação da resposta orgânica manifesta após a aplicação de de-
cada vez maior de informações requer o uso de ferramentas (inter-
terminado medicamento ou tratamento, tais como, por exemplo:
net, arquivos, formulários) apropriadas que possibilitem o acesso alergia após a administração de medicamentos, diminuição da tem-
e processamento de forma ágil, mesmo quando essas informações peratura corporal após banho morno, melhora da dispneia após a
dependem de fontes localizadas em áreas geográficas distantes. instalação de cateter de oxigênio;
No hospital, a disponibilidade de uma rede integrada de infor- - A realização das prescrições médicas e de enfermagem, o que
mações através de um sistema informatizado é muito útil porque permite avaliar a atuação da equipe e o efeito, na evolução do pa-
agiliza o atendimento, tornando mais rápido o processo de ad- ciente, da terapêutica medicamentosa e não-medicamentosa. Caso
missão e alta de pacientes, a marcação de consultas e exames, o o tratamento não seja realizado, é necessário explicitar o motivo,
processamento da prescrição médica e de enfermagem e muitas por exemplo, se o paciente recusa a inalação prescrita, deve-se re-
outras ações frequentemente realizadas. Também influencia favo- gistrar esse fato e o motivo da negação. Procedimentos rotineiros
ravelmente na área gerencial, disponibilizando em curto espaço de também devem ser registrados, como a instalação de solução ve-
tempo informações atualizadas de diversas naturezas que subsi- nosa, curativos realizados, colheita de material para exames, enca-
diam as ações administrativas, como recursos humanos existentes minhamentos e realização de exames externos, bem como outras
e suas características, dados relacionados a recursos financeiros e ocorrências atípicas na rotina do paciente;
orçamentários, recursos materiais (consumo, estoque, reposição, - A assistência de enfermagem prestada e as intercorrências
manutenção de equipamentos e fornecedores), produção (número observadas. Incluem-se neste item, entre outros, os dados referen-
de atendimentos e procedimentos realizados) e aqueles relativos à tes aos cuidados higiênicos, administração de dietas, mudanças de
taxa de nascimentos, óbitos, infecção hospitalar, média de perma- decúbito, restrição ao leito, aspiração de sondas e orientações pres-
nência, etc. tadas ao paciente e familiares;
As informações do paciente, geradas durante seu período de - As ações terapêuticas aplicadas pelos demais profissionais da
internação, constituirão o documento denominado prontuário, equipe multiprofissional, quando identificada a necessidade de o
o qual, segundo o Conselho Federal de Medicina (Resolução nº paciente ser atendido por outro componente da equipe de saúde.
1.331/89), consiste em um conjunto de documentos padronizados Nessa circunstância, o profissional é notificado e, após efetivar sua
e ordenados, proveniente de várias fontes, destinado ao registro visita, a enfermagem faz o registro correspondente. Para o registro
dos cuidados profissionais prestados ao paciente. das informações no prontuário, a enfermagem geralmente utiliza

178
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

um roteiro básico que facilita sua elaboração. Por ser um impor- - realizar os registros com frequência, pois se decorridas várias
tante instrumento de comunicação para a equipe, as informações horas nenhuma anotação foi feita pode-se supor que o paciente fi-
devem ser objetivas e precisas de modo a não darem margem a cou abandonado e que nenhuma assistência lhe foi prestada;
interpretações errôneas. Considerando-se sua legalidade, faz-se - registrar todas as medidas de segurança adotadas para prote-
necessário ressaltar que servem de proteção tanto para o paciente ger o paciente, bem como aquelas relativas à prevenção de compli-
como para os profissionais de saúde, a instituição e, mesmo, a so- cações, por exemplo: Contido por apresentar agitação psicomotora;
ciedade. - assinar a anotação e apor o número de inscrição do Conselho
Regional de Enfermagem (em cumprimento ao art. 76, Cap. VI do
A seguir, destacamos algumas significativas recomendações Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem).
para maior precisão ao registro das informações:
- os dados devem ser sempre registrados a caneta, em letra le- Assistência de enfermagem aos pacientes graves e agonizan-
gível e sem rasuras, utilizando a cor de tinta padronizada no estabe- tes e preparo do corpo pós morte
lecimento. Em geral, a cor azul é indicada para o plantão diurno; a O paciente pode passar por cinco estágios psicológicos em pre-
vermelha, para o noturno. Não é aconselhável deixar espaços entre paração para morte. Apesar de serem percebidos de forma diferen-
um registro e outro, o que evita que alguém possa, intencionalmen- te em cada paciente, e não necessariamente na ordem mostrada
te, adicionar informações. Portanto, recomenda-se evitar pular li- o entendimento de tais sentimentos pode ajudar a satisfação dos
nha(s) entre um registro e outro, deixar parágrafo ao iniciar a frase, pacientes. As etapas do ato de morrer são:
manter espaço em branco entre o ponto final e a assinatura; Negação: quando o paciente toma conhecimento pela primeira
- verificar o tipo de impresso utilizado na instituição e a rotina vez de sua doença terminal, pode ocorrer uma recusa em aceitar o
que orienta o seu preenchimento; identificar sempre a folha, preen- diagnóstico.
chendo ou completando o cabeçalho, se necessário; Ira: uma vez que o paciente parando de negar a morte, é possí-
- indicar o horário de cada anotação realizada; vel que apresente um profundo ressentimento em relação aos que
- ler a anotação anterior, antes de realizar novo registro; continuarão vivos após a morte, ao pessoal do hospital, a sua pró-
- como não se deve confiar na memória para registrar as infor- pria família etc.
mações, considerando-se que é muito comum o esquecimento de Barganha: apesar de haver uma aceitação da morte por parte
detalhes e fatos importantes durante um intensivo dia de trabalho, do paciente, pode haver uma tentativa de negociação de mais tem-
o registro deve ser realizado em seguida à prestação do cuidado, po de vida junto a Deus ou com o seu destino.
observação de intercorrências, recebimento de informação ou to- Depressão: é possível que o paciente se afaste dos amigos, da
mada de conduta, identificando a hora exata do evento; família, dos profissionais de saúde. È possível que venha sofrer de
inapetência, aumento da fadiga e falta de cuidados pessoais.
- quando do registro, evitar palavras desnecessárias como, pa-
Aceitação: Nessa fase, o paciente aceita a inevitabilidade e
ciente, por exemplo, pois a folha de anotação é individualizada e,
a iminência de sua morte. È possível que deseje simplesmente o
portanto, indicativa do referente;
acompanhamento de um membro da família ou um amigo
- jamais deve-se rasurar a anotação; caso se cometa um en-
gano ao escrever, não usar corretor de texto, não apagar nem ra-
Semiologia e Semiotécnica aplicadas em Enfermagem
surar, pois as rasuras ou alterações de dados despertam suspeitas
A Semiologia da enfermagem pode ser chamada também de
de que alguém tentou deliberadamente encobrir informações; em
propedêutica, que é o estudo dos sinais e sintomas das doenças
casos de erro, utilizar a palavra, digo, entre vírgulas, e continuar a
humanas. A palavra vem do grego semeion = sinal + lógos = tratado,
informação correta para concluir a frase, ou riscar o registro com estudo). A semiologia é muito importante para o diagnóstico e pos-
uma única linha e escrever a palavra, erro; a seguir, fazer o registro teriormente a prescrição de patologias.
correto - exemplo: Refere dor intensa na região lombar, administra- A semiologia, base da prática clínica requer não apenas habi-
da uma ampola de Voltaren IM no glúteo direito, digo, esquerdo.. lidades, mas também ações rápidas e precisas. A preparação para
Ou: .... no glúteo esquerdo; em caso de troca de papeleta, riscar um o exame físico, a seleção de instrumentos apropriados, a realização
traço em diagonal e escrever, Erro, papeleta trocada; das avaliações, o registro de achados e a tomada de decisões tem
- distinguir na anotação a pessoa que transmite a informação; papel fundamental em todo o processo de assistência ao cliente.
assim, quando é o paciente que informa, utiliza-se o verbo na ter- A equipe de enfermagem deve utilizar todas as informações
ceira pessoa do singular: Informa que ...., Refere que ...., Queixa-se disponíveis para identificar as necessidades especiais em um con-
de ....; já quando a informação é fornecida por um acompanhante junto variado de clientes portadores de diversas patologias.
ou membro da equipe, registrar, por exemplo: A mãe refere que a A semiologia geral da enfermagem busca é ensinar aos alunos
criança .... ou Segundo a nutricionista ....; as técnicas (semiotécnicas) gerais que compõem o exame físico.
- atentar para a utilização da sequência céfalo-caudal quando O exame físico, por sua vez, compõe-se de partes que incluem a
houver descrições dos aspectos físicos do paciente. Por exemplo: o anamnese ou entrevista clínica, o exame físico geral e o exame físico
paciente apresenta mancha avermelhada na face, MMSS e MMII; especializado.
- organizar a anotação de maneira a reproduzir a ordem em O exame físico é a parte mais importante na obtenção do diag-
que os fatos se sucedem. Utilizar a expressão, entrada tardia. Ou nóstico. Alguns autores estimaram que 70 a 80 % do diagnóstico se
em tempo, para acrescentar informações que porventura tenham baseiam no exame clínico bem realizado.
sido anteriormente omitidas; Cumprir todas essas etapas com resolutividade, mantendo o
- utilizar a terminologia técnica adequada, evitando abreviatu- foco nas necessidades do cliente é realmente um desafio. Esses
ras, exceto as padronizadas institucionalmente. Por exemplo: Apre- fatores, a complexidade que cerca a semiologia e muitas decisões
senta dor de cabeça cont..... por, Apresenta cefaléia contínua ....; que precisam ser tomadas torna necessário que o enfermeiro tenha
- evitar anotações e uso de termos gerais como, segue em ob- domínio de diversas informações.
servação de enfermagem, ou, sem queixas, que não fornecem ne- Semiotécnica é um campo de estudo onde estão inseridas as
nhuma informação relevante e não são indicativos de assistência mais diversas técnicas realizadas pelo enfermeiro, técnico de enfer-
prestada; magem e auxiliar de enfermagem.

179
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Procedimentos como: realização de curativos, sondagens ve- Por isso, serão abordadas: alergias, histórico de doenças e até
sical e gástrica, preparo dos mais diversos tipos de cama, aspira- mesmo questões psicossociais, como, por exemplo, a religião, que
ção entre outras. A fundamentação científica na aplicação de cada pode alterar de forma contundente os cuidados prestados ao pa-
técnica é muito importante, inclusive para noções de controle de ciente. Este processo pode ser otimizado com a utilização de PEP,
infecções. com formulários específicos que direcionam o questionamento da
enfermeira e o registro online dos dados, que podem ser acessa-
Sistematização da Assistência em Enfermagem dos por todos da Instituição, até mesmo de forma remota. Assim,
Em todas as instituições de saúde é crucial ter o controle e en- é possível realizar as intervenções necessárias para prestação dos
tender o fluxo de trabalho das equipes. Um exemplo prático é a cuidados ao paciente, com maior segurança e agilidade.
aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE).
Ela organiza o trabalho quanto à metodologia, à equipe e os instru- 2.Diagnóstico de Enfermagem
mentos utilizados, tornando possível a operacionalização do Pro- Nesta etapa, se dá o processo de interpretação e agrupamen-
cesso de Enfermagem. to dos dados coletados, conduzindo a tomada de decisão sobre os
Esse processo é organizado em cinco etapas relacionadas, in- diagnósticos de enfermagem que mais irão representar as ações e
terdependentes e recorrentes. Seu objetivo é garantir que o acom- intervenções com as quais se objetiva alcançar os resultados espe-
panhamento dos pacientes seja prestado de forma coesa e preci- rados. Para isso, utilizam-se bibliografias específicas que possuem a
sa. Com a utilização desta metodologia, consegue-se analisar as taxonomia adequada, definições e causas prováveis dos problemas
informações obtidas, definir padrões e resultados decorrentes das levantados no histórico de enfermagem. Com isso, se faz a elabora-
condutas definidas. Lembrando que, todos esses dados deverão ser ção de um plano assistencial adequado e único para cada pessoa.
devidamente registrados no Prontuário do Paciente. Tudo que for definido deve ser registrado no Prontuário Eletrônico
do Paciente (PEP), revisitado e atualizado sempre que necessário.
Segundo a resolução do Conselho Federal de Medicina CFM
1638/2002, prontuário é o “documento único constituído de um
3. Planejamento de Enfermagem
conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a
De acordo com a Sistematização da Assistência de Enferma-
partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do pa-
gem (SAE), que organiza o trabalho profissional quanto ao método,
ciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e pessoal e instrumentos, a ideia é que os enfermeiros possam atuar
científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe para prevenir, controlar ou resolver os problemas de saúde.
multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indi- É aqui que se determinam os resultados esperados e quais
víduo”. Ele poderá ser em papel ou digital. Contudo, a metodologia ações serão necessárias. Isso será realizado a partir nos dados co-
em papel não garante uma uniformidade nas informações e permi- letados e diagnósticos de enfermagem com base dos momentos
te possíveis quebras de condutas, além de ser oneroso na questão de saúde do paciente e suas intervenções. São informações que,
do seu armazenamento, bem como na questão da sustentabilidade. igualmente, devem ser registradas no PEP, incluindo as prescrições
Devido à uma necessidade cada vez maior de atenção com a checadas e o registro das ações que foram executadas.
Segurança do Paciente há uma necessidade crescente das Institui-
ções de saúde buscarem sistemas de gestão informatizado que tra- 4. Implementação
zem o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) em sua composição. A partir das informações obtidas e focadas na abordagem da
Essas ferramentas digitais permitem: Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a equipe re-
–ampliar o acesso às informações dos pacientes de forma ágil e alizará as ações ou intervenções determinadas na etapa do Plane-
atualizada, com conteúdo legível; jamento de Enfermagem. São atividades que podem ir desde uma
–criar aletras sobre interações medicamentosas, alergia e in- administração de medicação até auxiliar ou realizar cuidados espe-
consistências; cíficos, como os de higiene pessoal do paciente, ou mensurar sinais
–estabelecer padrões para conclusões diagnósticas e planos vitais específicos e acrescentá-los no Prontuário Eletrônico do Pa-
terapêuticos; ciente (PEP).
–realizar análises gerenciais de resultados, indicadores de ges-
tão e assistenciais. 5. Avaliação de Enfermagem (Evolução)
Por fim, a equipe de enfermagem irá registrar os dados no
Para entender melhor esse processo explicamos abaixo como Prontuário Eletrônico do Paciente de forma deliberada, sistemática
funciona a metodologia. e contínua. Nele, deverá ser registrado a evolução do paciente para
determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcança-
ram o resultado esperado. Com essas informações, a Enfermeira
As cinco etapas do processo de Enfermagem dentro da Siste-
terá como verificar a necessidade de mudanças ou adaptações nas
matização da Assistência de Enfermagem:
etapas do Processo de Enfermagem. Além de proporcionar infor-
mações que irão auxiliar as demais equipes multidisciplinares na
1. Coleta de dados de Enfermagem ou Histórico de Enferma-
tomada de decisão de condutas, como no próprio processo de alta.
gem
O primeiro passo para o atendimento de um paciente é a busca Sistema de informação em enfermagem (Registro em Enfer-
por informações básicas que irão definir os cuidados da equipe de magem)
enfermagem. É uma etapa de um processo deliberado, sistemático Uma das tarefas do profissional de enfermagem é o registro,
e contínuo na qual haverá a coleta de dados que serão passados pe- no prontuário do paciente, de todas as observações e assistência
los próprio paciente ou pela família ou outras pessoas envolvidas. prestada ao mesmo - ato conhecido como anotação de enferma-
Essas informações trarão maior precisão de dados ao Processo de gem. A importância do registro reside no fato de que a equipe de
Enfermagem dentro da abordagem da Sistematização da Assistên- enfermagem é a única que permanece continuamente e sem inter-
cia de Enfermagem (SAE). rupções ao lado do paciente, podendo informar com detalhes todas
as ocorrências clínicas.

180
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Para maior clareza, recomenda-se que o registro das informa- Locais onde pode ser verificado: Normalmente, faz-se a veri-
ções seja organizado de modo a reproduzir a ordem cronológica dos ficação do pulso sobre a artéria radial. Quando o pulso radial se
fatos isto permitirá que, na passagem de plantão, a equipe possa apresenta muito filiforme, artérias mais calibrosas como a carótida
acompanhar a evolução do paciente. Um registro completo de en- e femoral poderão facilitar o controle. Outras artérias, como a bra-
fermagem contempla as seguintes informações: quial, poplítea e a do dorso do pé (artéria pediosa) podem também
Observação do estado geral do paciente, indicando manifes- ser utilizadas para a verificação.
tações emocionais como angústia, calma, interesse, depressão,
euforia, apatia ou agressividade; condições físicas, indicando alte- Frequência Fisiológica:
rações relacionadas ao estado nutricional, hidratação, integridade Homem 60 a 70
cutâneo-mucosa, oxigenação, postura Mulher 65 a 80
Ordem cronológica – seqüência em que os fatos acontecem, Crianças 120 a 125
correlacionados com o tempo, sono e repouso, eliminações, padrão Lactentes 125 a 130
da fala, movimentação; existência e condições de sondas, drenos, Observação: Existem fatores que alteram a frequência normal
curativos, imobilizações, cateteres, equipamentos em uso; do pulso:
A ação de medicamentos e tratamentos específicos, para veri- Fatores Fisiológicos:
ficação da resposta orgânica manifesta após a aplicação de determi- Emoções - digestão - banho frio - exercícios físicos (aceleram)
nado medicamento ou tratamento, tais como, por exemplo: alergia Certas drogas como a digitalina (diminuem)
após a administração de medicamentos, diminuição da temperatu-
ra corporal após banho morno, melhora da dispnéia após a instala- Fatores Patológicos:
ção de cateter de oxigênio; Febre - doenças agudas (aceleram)
A realização das prescrições médicas e de enfermagem, o que Choque - colapso (diminuem)
permite avaliar a atuação da equipe e o efeito, na evolução do pa-
ciente, da terapêutica medicamentosa e não-medicamentosa. Caso Regularidade:
o tratamento não seja realizado, é necessário explicitar o motivo, Rítmico - bate com regularidade
por exemplo, se o paciente recusa a inalação prescrita, deve-se re- Arrítmico - bate sem regularidade
gistrar esse fato e o motivo da negação. O intervalo de tempo entre os batimentos em condições nor-
Procedimentos rotineiros também devem ser registrados, mais é igual e o ritmo nestas condições é denominado normal ou
como a instalação de solução venosa, curativos realizados, colheita sinusal. O pulso irregular é chamado arrítmico.
de material para exames, encaminhamentos e realização de exames
externos, bem como outras ocorrências atípicas na rotina do pa- Tipos de Pulso:
ciente; n A assistência de enfermagem prestada e as intercorrências Bradisfigmico – lento
observadas. Incluem-se neste item, entre outros, os dados referen- Taquisfígmico – acelerado
tes aos cuidados higiênicos, administração de dietas, mudanças de Dicrótico - dá a impressão de dois batimentos
decúbito, restrição ao leito, aspiração de sondas e orientações pres-
tadas ao paciente e familiares;
Volume: cheio ou filiforme.
As ações terapêuticas aplicadas pelos demais profissionais da
equipe multiprofissional, quando identificada a necessidade de o
Observação: o volume de cada batimento cardíaco é igual em
paciente ser atendido por outro componente da equipe de saúde.
condições normais. Quando se exerce uma pressão moderada so-
Nessa circunstância, o profissional é notificado e, após efetivar sua
bre a artéria e há certa dificuldade de obliterar a artéria, o pulso
visita, a enfermagem faz o registro correspondente.
é denominado de cheio. Porém se o volume é pequeno e a artéria
Para o registro das informações no prontuário, a enfermagem
fácil de ser obliterada tem-se o pulso fino ou filiforme.
geralmente utiliza um roteiro básico que facilita sua elaboração. Por
ser um importante instrumento de comunicação para a equipe, as
informações devem ser objetivas e precisas de modo a não darem Tensão ou compressibilidade das artérias
margem a interpretações errôneas. Macio – fraco
Considerando-se sua legalidade, faz-se necessário ressaltar Duro – forte
que servem de proteção tanto para o paciente como para os profis-
sionais de saúde, a instituição e, mesmo, a sociedade. Terminologia:
- Nomocardia: frequência normal
Sinais Vitais - Bradicardia: frequência abaixo do normal
- Bradisfigmia: pulso fino e bradicárdico
Pulso - Taquicardia: frequência acima do normal
São sinais de vida: Normalmente, a temperatura, pulso e respi- - Taquisfigmia: pulso fino e taquicárdico
ração permanecem mais ou menos constantes. São chamados “Si-
nais Vitais”, porque suas variações podem indicar enfermidade. De- Material para verificação do pulso:
vido à importância dos mesmos a enfermagem deve ser bem exata - Relógio com ponteiro de segundos.
na sua verificação e anotação.
Procedimento:
Pulso: É o nome que se dá à dilatação pequena e sensível das - Lavar as mãos;
artérias, produzida pela corrente circulatória. Toda vez que o san- - Explicar o procedimento ao paciente;
gue é lançado do ventrículo esquerdo para a aorta, a pressão e o - Colocá-lo em posição confortável, de preferência deitado ou
volume provocam oscilações ritmadas em toda a extensão da pa- sentado com o braço apoiado e a palma da mão voltada pra baixo.
rede arterial, evidenciadas quando se comprime moderadamente a - Colocar as polpas dos três dedos médios sobre o local escolhi-
artéria contra uma estrutura dura. do pra a verificação;

181
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Pressionar suavemente até localizar os batimentos; Hipertermia: aumento da temperatura corporal. É uma condi-
- Procurar sentir bem o pulso, pressionar suavemente a artéria ção em que se verifica: pele quente e seca, sede, secura na boca,
e iniciar a contagem dos batimentos; calafrios, dores musculares generalizadas, sensação de fraqueza,
- Contar as pulsações durante um minuto (avaliar frequência, taquicardia, taquipneia, cefaleia, delírios e até convulsões.
tensão, volume e ritmo); Avaliação da Temperatura Corporal: O termômetro deve ser
- Lavar as mãos; colocado em local onde existam rede vascular intensa ou grandes
- Registrar, anotar as anormalidades e assinar. vasos sanguíneos, e mantido por tempo suficiente para a correta
leitura da temperatura. Os locais habitualmente utilizados para a
Pulso apical: Verifica-se o pulso apical no ápice do coração à verificação são: cavidade oral, retal e a região axilar.
altura do quinto espaço intercostal. Tempo de Manutenção do Termômetro no Paciente
- oral: 3 minutos
Observações importantes: - axilar: 03 a 05 minutos
- Evitar verificar o pulso em membros afetados de paciente com - retal: 3 minutos
lesões neurológicas ou vasculares;
- Não verificar o pulso em membro com fístula arteriovenosa; Respiração
- Nunca usar o dedo polegar na verificação, pois pode confun- Por meio da respiração é que se efetua a troca de gases dos
dir a sua pulsação com a do paciente; alvéolos, transformando o sangue venoso rico em dióxido de carbo-
- Nunca verificar o pulso com as mãos frias; no e o sangue arterial rico em oxigênio. O tronco cerebral é a sede
- Em caso de dúvida, repetir a contagem; do controle da respiração automática, porém recebe influencias
- Não fazer pressão forte sobre a artéria, pois isso pode impedir do córtex cerebral, possibilitando também, em parte, um controle
de sentir o batimento do pulso. voluntário. Certos fatores, como exercícios físicos, emoções, choro,
variações climáticas, drogas podem provocar alterações respirató-
Temperatura rias.
A temperatura corporal é proveniente do calor produzido pela
atividade metabólica. Vários processos físicos e químicos promo- Valores Normais
vem a produção ou perda de calor, mantendo o nosso organismo Recém nascido: 30 a 40 por minuto
com temperatura mais ou menos constante, independente das va- Adulto: 14 a 20 por minuto
riações do meio externo. O equilíbrio entre a produção e a perda
de calor é controlado pelo hipotálamo: quando há necessidade de Terminologia
perda de calor, impulsos nervosos provocam vasodilatação perifé- - bradpneia: frequência respiratória abaixo do normal;
rica com aumento do fluxo sanguíneo na superfície corporal e esti- - taquipneia: frequência respiratória acima do normal;
mulação das glândulas sudoriporas, promovendo a saída de calor. - dispneia: dificuldade respiratória;
Quando há necessidade de retenção de calor, estímulos nervosos - ortopneia: respiração facilitada em posição vertical;
- apneia: parada respiratória;
provocam vaso constrição periférica com diminuição do sangue cir-
- respiração de Cheyne Stokes: caracteriza-se por aumento gra-
culante local e, portanto, menor quantidade de calor é transporta-
dual na profundidade, seguido por decréscimo gradual na profundi-
da e perdida na superfície corpórea.
dade das respirações e, após, segue-se um período de apneia.
- respiração estertorosa: respiração ruidosa.
Alterações Fisiológicas da Temperatura
Fatores que reduzem ou aumentam a taxa metabólica levam Pressão Arterial
respectivamente a uma diminuição ou aumento da temperatura A pressão arterial reflete a tensão que o sangue exerce nas
corporal: paredes das artérias. A medida da pressão arterial compreende a
- sono e repouso verificação da pressão máxima ou sistólica e a pressão mínima ou
- idade diastólica.
- exercícios físicos A pressão sistólica é a maior força exercida pelo batimento car-
- emoções díaco; e a diastólica, a menor.
- fator hormonal
- em jovens, observam-se níveis aumentados de hormônios. A Pressão Arterial depende de:
- desnutrição - Débito cardíaco: representa a quantidade de sangue ejetado
- banhos a temperaturas muito quentes ou frias podem provo- do ventrículo esquerdo para o leito vascular em um minuto.
car alterações transitórias da temperatura - Resistência vascular periférica: determinada pelo lúmen (cali-
- agasalhos bre), pela elasticidade dos vasos e pela viscosidade sanguínea.
- fator alimentar - Viscosidade do sangue: decorre das proteínas e elementos
figurados do sangue.
Temperatura Corporal Normal: Em média, considera-se a tem- A pressão sanguínea varia ao longo do ciclo vital, assim como
peratura oral como a normal 37ºC, sendo a temperatura axilar ocorre com a respiração, temperatura e pulso.
0,6ºC mais baixa e a temperatura retal 0,6ºC mais alta.
Valores Normais
Terminologia: Em indivíduo adulto, são considerados normais os seguintes
Hipotermia: temperatura abaixo do valor normal. Caracteriza- parâmetros:
-se por pele e extremidades frias, cianoses e tremores; - pressão sistólica: de 90 a 140 mmhg
- pressão diastólica: de 60 a 90 mmhg
Terminologia
- hipertensão arterial: significa pressão arterial elevada;

182
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- hipotensão arterial: pressão arterial abaixo do normal Alterações cadavéricas: São alterações que ocorrem após a
constatação da sua morte clínica. Após a morte existe uma série
Locais para verificação da Pressão Arterial de alterações sequenciais previstas que podem ser modificadas nas
- nos membros superiores, através da artéria braquial; dependências das condições fisiológicas pré-morte, das condições
- nos membros inferiores, através da artéria poplítea. ambientais e do tipo morte, se intencional, natural ou acidental.
Algor mortis (frigor mortis, frio da morte): é o resfriamento
Mensuração da Altura e do Peso do corpo em função da parada dos processos metabólicos e perda
A altura e o peso normalmente são verificados quando existe progressiva das fontes energéticas.
solicitação médica, não sendo incluídos como medidas de rotina na Livor Mortis (livores ou manchas cadavéricas): é o apareci-
maioria das unidades de internação. A verificação da altura e do mento de manchas inicialmente rosadas ou violetas pálidas, tor-
peso é muito importante, em pediatria, endocrinologia, nefrologia. nando-se progressivamente arroxeadas.
Em certas condições patológicas, como no edema, o controle de Putrefação: Estado de grande proliferação bacteriana (putrefa-
peso é fundamental para subsidiar a conduta terapêutica. ção). Há liberação de enzimas proteolíticas produzidas pelas bacté-
rias. Os órgãos irão apresentar como uma massa semissólida, odor
Terminologia muito forte e mudanças de coloração.
Obesidade: aumento de tecido adiposo devido ao excessivo ar- Redução esquelética: nela há a completa destruição da pele e
mazenamento de gordura; musculatura, ficando somente ossos.
- caquexia: estado de extrema magreza, desnutrição. Assistência de enfermagem a pacientes graves e agonizantes:
Observações A assistência de enfermagem são as mesmas medidas do paciente
- pesar, de preferência sempre no mesmo horário; em estado de coma.
- pesar com mínimo de roupa;
- pesar, se possível, antes do desjejum. O processo de enfermagem proposto por Horta (1979), é o
conjunto de ações sistematizadas e relacionadas entre si, visando
Sinais Iminentes de Falecimentos: principalmente a assistência ao cliente. Eleva a competência técni-
- Sistema Circulatório: hipotensão, extremidades frias, pulso ir- ca da equipe e padroniza o atendimento, proporcionando melhoria
regular, pele fria e úmida, hipotermia, cianose, sudorese, sudorese das condições de avaliação do serviço e identificação de problemas,
abundante; permitindo assim os estabelecimentos de prioridade para interven-
- Sistema Respiratório: dificuldade para respirar, a respiração ção direta do enfermeiro no cuidado. O processo de enfermagem
torna-se ruidosa (estertor da morte), causada pelo acúmulo de se- pode ser denominado como SAE (Sistematização da Assistência de
creção; Enfermagem) e deve ser composto por Histórico de Enfermagem,
- Sistema Digestório: diminuição das atividades fisiológicas e Exame Físico, Diagnóstico e Prescrição de Enfermagem. Assim, a
do reflexo de deglutição para o perigo de regurgitação e aspiração, Evolução de Enfermagem, é efetuada exclusivamente por enfermei-
incontinência fecal e constipação. ros. O relatório de enfermagem, que são observações, podem ser
- Sistema Locomotor: ausência total da coordenação dos mo- realizados por técnicos de enfermagem. Em unidades críticas como
vimentos; uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a evolução de enfermagem
- Sistema Urinário: retenção ou incontinência urinária; deve ser realizada a cada turno do plantão, contudo em unidades
- Sistema Neurológico: diminuição dos reflexos até o desapare- semi-críticas, como uma Clínica Médica e Cirúrgica, o número exi-
cimento total, sendo que a audição é o último a desaparecer. gido de evolução em vinte e quatro horas é de apenas uma, já os
- Face: pálida ou cianótica, olhos e olhar fixo, presença de lágri- relatórios, devem ser redigidos á cada plantão.
ma, que significa perda do tônus muscular.
O Histórico de Enfermagem
Sinais Evidentes: O Histórico de Enfermagem é um roteiro sistematizado para o
Talvez seja mais sensato caracterizar a morte pelo somatório de levantamento de dados sobre a situação de saúde do ser humano,
uma série de fenômenos: que torna possível a identificação de seus problemas. É denomi-
- Perda da consciência; nado por levantamento, avaliação e investigação que, constitui a
- Ausência total de movimentos; primeira fase do processo de enfermagem, pode ser descrito como
- Parada Cardíaca e respiratória sem possibilidades de ressus- um roteiro sistematizado para coleta e análise de dados significati-
citação; vos do ser humano, tornando possível a identificação de seus pro-
- Perda da ação reflexiva a estímulos; blemas. Ele deve ser conciso, sem repetições, e conter o mínimo
- Parada das funções cerebrais; indispensável de informações que permitam prestar os cuidados
- Pupilas dilatadas (midríase) não reagindo à presença da luz. imediatos.

Como esses fatos podem ocorrer isoladamente é fundamental O Exame Físico


a coincidência deles para se confirmar à morte. Como após a morte, O exame físico envolve um avaliação abrangente das condições
alguns tecidos podem manter a vitalidade e mesmo servirem para físicas gerais de um paciente e de cada sistema orgânico. Informa-
transplantes, exige-se hoje, como prova clínica definitiva da morte, ções úteis no planejamento dos cuidados de um paciente podem
a parada definitiva das funções cerebrais, documentada clinicamen- ser obtidas em qualquer fase do exame físico. Uma avaliação física,
te e por eletroencefalograma. seja parcial ou completa, é importante para integrar o ato do exame
na rotina de assistência de enfermagem. O exame físico deverá ser
A tanatologia é o ramo da patologia que estuda a morte. executado em local privado, sendo preferível a utilização de uma
Morte Aparente: O termo morte aparente é a denominação sala bem equipada para atender a todos os procedimentos envol-
aplicada ao corpo, o qual parece morto, mas tem condições de ser vidos.
reanimado.

183
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Métodos de Avaliação Física: A Prescrição de Enfermagem deve ter as seguintes característi-


- Inspeção: Exame visual do paciente para detectar sinais fí- cas: data, hora de sua elaboração e assinatura do enfermeiro. Deve
sicos significativos. Reconhecer as características físicas normais, ser escrita com uso de verbos que indiquem uma ação e no infiniti-
para então passar a distinguir aquilo que foge da normalidade. Ilu- vo; deve definir quem , o que , onde, quando e com que freqüência
minação adequada e exposição total da parte do corpo para exame ocorrerão as atividades propostas; deve ser individualizada e dire-
são fatores essenciais para uma boa inspeção. Cada área deve ser cionada aos diagnósticos de enfermagem específicos do cliente,
inspecionada quanto ao tamanho, aparência, coloração, simetria, tornando o cuidado eficiente e eficaz. A seqüência das prescrições
posição, e anormalidade. Se possível cada área inspecionada deve deve obedecer à seguinte ordem: a primeira é elaborada logo após
ser comparada com a mesma área do lado oposto do corpo. o histórico, e as demais sempre após cada evolução diária, tendo
- Palpação: Avaliação adicional das partes do corpo realizada assim validade de 24 horas. Para a primeira prescrição, portanto,
pelo sentido do tato. O profissional utiliza diferentes partes da mão toma-se como base o histórico de enfermagem, e as demais de-
para detectar características como textura, temperatura e percep- verão seguir o plano da evolução diária, fundamentado em novos
ção de movimentos. O examinador coloca sua mão sobre a área a diagnósticos e análise. Entretanto, será acrescentada nova prescri-
ser examinada e aprofunda cerca de 1 cm. Qualquer área sensível ção sempre que a situação do cliente requerer. Existem vários tipos
localizada deverá ser examinada posteriormente mais detalhada- de prescrição de enfermagem. As mais comuns são as manuscritas,
mente. O profissional avalia posição, consistência e turgor através documentadas em formulários específicos dirigidos a cada cliente
de suave compressão com as pontas dos dedos na região do exa- e individualmente. Um outro tipo é a prescrição padronizada , ela-
me. Após aplicação da palpação suave, intensifica-se a pressão para borada em princípios científicos, direcionada às características da
examinar as condições dos órgãos do abdômen, sendo que deve ser clientela específica, reforçando a qualidade do planejamento e im-
pressionado a região aproximadamente 2,5 cm. A palpação profun- plementação do cuidado. É deixado espaço em branco destinado à
da pode ser executada com uma das mãos ou com ambas. elaboração de prescrições mais específicas ao cliente. A implemen-
- Percussão: Técnica utilizada para detectar a localização, tama- tação das ações de enfermagem deve ser guiada pelas prescrições
nho e densidade de uma estrutura subjacente. O examinador de- que por sua vez são planejadas a partir dos diagnósticos de enfer-
verá golpear a superfície do corpo com um dos dedos, produzindo magem, sendo que a cada diagnóstico corresponde uma prescrição
uma vibração e um som. Essa vibração é transmitida através dos de enfermagem.
tecidos do corpo e a natureza do som vai depender da densidade
do tecido subjacente. Um som anormal sugere a presença de massa Necessidade de Proteção e Segurança
ou substância, tais como líquido dentro de um órgão ou cavidade do
corpo. A percussão pode ser feita de forma direta (envolve um pro- Lavagem Simples Das Mãos
cesso de golpeamento da superfície do corpo diretamente com os a) Conceito: é o procedimento mais importante na prevenção e
dedos) e indireta (coloca-se o dedo médio da mão não dominante no controle das infecções hospitalares, devendo este procedimento
sobre a superfície do corpo examinado sendo a base da articulação ser rotina para toda a equipe multiprofissional, sendo o objetivo
distal deste dedo golpeada pelo dedo médio da mão dominante do desta técnica reduzir a transmissão cruzada de microorganismos
examinador). A percussão produz 5 tipos de som: Timpânico: Se- patogênicos entre doentes e profissionais.
melhante a um tambor - gases intestinais; Ressonância: Som surdo
- pulmão normal; Hiper-ressonância: Semelhante a um estrondo – b) Quando lavar as mãos:
pulmão enfisematoso; Surdo: Semelhante a uma pancada surda – - ao chegar à unidade de trabalho;
fígado; Grave: Som uniforme – músculos. - sempre que as mãos estiverem visivelmente sujas;- antes e
após contactar com os doentes;
- Ausculta: Processo de ouvir os sons gerados nos vários órgãos
- antes de manipular material esterilizado.
do corpo. As 4 características de um som são a freqüência ou altura,
- após contatos contaminantes (exposição a fluidos orgânicos);
intensidade ou sonoridade, qualidade e duração.
- após contactar com materiais e equipamentos que rodeiam o do-
ente;- antes e após realizar técnicas sépticas (médica - contamina-
Diagnóstico e prescrição de enfermagem
da) e assépticas (cirúrgica – não contaminada);
O Diagnóstico de Enfermagem está baseado na Teoria da Ne-
- antes e após utilizar luvas de procedimento;
cessidades Humanas Básicas, preconizadas por Wanda Horta (1979)
- após manusear roupas sujas e resíduos hospitalares;
e pela Classificação Diagnóstica da NANDA (North American Nur-
- depois da utilização das instalações sanitárias.
sing Diagnosis Association). A fase de diagnóstico está presente em
- após assoar o nariz.
todas as propostas de processo de enfermagem. Porém, freqüen-
temente, termina por receber outras denominações tais como: c)Técnica:
problemas do cliente, lista de necessidades afetadas. Este fato gera - devem ser retirados todos os objetos de adorno, incluindo
inúmeras interpretações acerca do que se constitui um diagnóstico pulseiras. Para a realização da técnica, deve-se utilizar sabão liquido
de enfermagem e contribui para aumentar as lacunas de conhe- com pH neutro;
cimento sobre as ações de enfermagem, provoca interpretações - abrir a torneira com a mão não dominante;
dúbias no processo de comunicação inter-profissional, caracteri- - molhar as mãos;
zando a falta de sistematização do conhecimento na enfermagem - aplicar uma quantidade suficiente de sabão cobrindo com es-
e abalando a autonomia e a responsabilidade profissional. Aparece puma toda a superfície das mãos;
em três contextos: raciocínio diagnóstico, sistemas de classificação - esfregar com movimentos circulatórios: palmas, dorso, inter-
e processo de enfermagem. O raciocínio diagnóstico envolve três digitais, articulações, polegar, unhas e punhos
tipos de atividades: coleta de informações, interpretação e denomi- - enxaguar as mãos em água corrente e secar com papel toalha
nação ou rotulação. - se a torneira for de encerramento manual, utilizar o papel to-
alha para fechá-la.

184
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Mecânica Corporal Posicionamento do Paciente:


a) Conceito: Esforço coordenado dos sistemas músculoes- a) Conceito: É o alinhamento corporal de um paciente. Pacien-
quelético e nervoso para manter o equilíbrio adequado, postura e tes que apresentam alterações dos sistemas nervoso, esquelético
alinhamento corporal, durante a inclinação, movimentação, levan- ou muscular, assim como, maior fraqueza e fadiga, freqüentemen-
tamento de carga e execução das atividades diárias. Facilita o movi- te necessitam da assistência do profissional de enfermagem para
mento para que uma pessoa possa executar atividades físicas sem atingir o alinhamento corporal adequado enquanto deitados ou
usar desnecessariamente sua energia muscular. sentados.
b) Posição de Fowler: A cabeceira do leitoé elevada a um ângu-
b) Como assistir o paciente utilizando-se os princípios da Me- lo de 45º a 60º e os joelhos do paciente devem estar ligeiramente
cânica Corporal: elevados, sem apresentar pressão que possa limitar a circulação das
Alinhamento: Condições das articulações, tendões, ligamentos pernas.
e músculos em várias partes do corpo. O alinhamento correto reduz c) Posição de Supinação (dorsal): A cabeceira do leito deve es-
a distensão das articulações, tendões, ligamentos e músculos. tar na posição horizontal. Nesta posição, a relação entre as partes
Equilíbrio do corpo: Realçado pela postura. Quanto melhor a do corpo é essencialmente a mesma que em uma correta posição
postura, melhor é o equilíbrio. Aumentar a base de suporte , afas- de alinhamento em pé, exceto pelo corpo estar no plano horizontal.
tando-se os pés a uma certa distância. Quando agachar dobrar os d) Posição de Pronação (decúbito ventral): O paciente estará
joelhos e flexionar os quadris, mantendo a coluna ereta. posicionado de bruços.
e) Posição Lateral (Direito ou Esquerdo): O paciente está dei-
Movimento Corporal Coordenado: O profissional usa uma va- tado sobre o lado, com maior parte do peso do corpo apoiada nos
riedade de grupos musculares para cada atividade de enfermagem. quadris e ombro. As curvaturas estruturais da coluna devem ser
A forças físicas de peso e atrito podem refletir no movimento cor- mantidas. A cabeça deve ser apoiada em uma linha mediana do
poral, e quando corretamente usadas, aumentam a eficiência do tronco e a rotação da coluna deve ser evitada.
trabalho do profissional. Caso contrário, pode prejudicá-lo na tarefa e) Posição de Sims: Nesta posição o peso do paciente é coloca-
de erguer, transferir e posicionar o paciente. O atrito é uma força do no ílio anterior, úmero e clavícula.
que ocorre no sentido oposto ao movimento. Quanto maior for a f) Posição de Trendelemburgue: posição adotada onde as per-
área da superfície do objeto, maior é o atrito. Quando o profissional nas e a bacia ficam em um nível mais elevado que o tórax e a ca-
transfere, posiciona ou vira o paciente no leito, o atrito deve ser beça.
vencido. Um paciente passivo ou imobilizado produz maior atrito Em todas as posições que o paciente se encontrar, o profissio-
na movimentação. nal deve avaliar e corrigir quaisquer pontos potenciais de problemas
que se apresentem como hiperextensão do pescoço, hiperextensão
Como utilizar adequadamente o movimento corporal coorde- da coluna lombar, flexão plantar, assim como, pontos de pressão
nado: em proeminências ósseas como queixo, cotovelos, quadris, região
- Se o paciente não for capaz de auxiliar na sua movimentação sacra , joelhos e calcâneos.
no leito, seus braços devem ser colocados sobre o peito, diminuin-
do a área de superfície do paciente; Mudança de Posição e Transporte do paciente debilitado
- Quando possível o profissional deve usar a força e mobilidade a) Conceito: A posição correta do paciente é crucial para a ma-
do paciente ao levantar, transferir ou movê-lo no leito. Isto pode nutenção do alinhamento corporal adequado. Qualquer paciente
ser feito explicando o procedimento e dizendo ao paciente quando cuja mobilidade esteja reduzida, corre o risco de desenvolvimen-
se mover; to de contraturas, anormalidades posturais e locais de pressão. O
- O atrito pode ser reduzido se levantar o paciente em vez de profissional tem a responsabilidade de diminuir este risco, incenti-
empurrá-lo. Levantar facilita e diminui a pressão entre o paciente e vando, auxiliando ou mudando o posicionamento do paciente pelo
o leito ou cadeira. O uso de um lençol para puxar o paciente diminui menos à cada 3 horas.
o atrito porque ele é facilmente movido ao longo da superfície do
leito. b) Técnica de Movimentação do paciente dependente no leito
- Mover um objeto sobre uma superfície plana exige menos es- (realizada no mínimo por 2 profissionais):
forço do que movê-lo sobre uma inclinada; - Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mobili-
- Trabalhar com materiais que se encontram sobre uma super- dade e tolerância às atividades;
fície em um bom nível para o trabalho exige menos esforço que - Realizar a lavagem simples das mãos;
levantá-los acima desta superfície; - Explicar ao paciente o que será feito;
- Variações das atividades e posições auxiliam a manter o tono - Propiciar privacidade ao paciente;
muscular e a fadiga; - Utilizar os princípios de mecânica corporal;
- Períodos de atividade e relaxamento ajudam a evitar a fadiga; - Retirar travesseiros e coxins utilizados previamente;
- Planejar a atividade a ser realizada, pode ajudar a evitar a - Posicionar o leito em posição horizontal;
fadiga; - Baixar grades do leito
- O ideal é que todos os profissionais que estejam posicionando -Alinhar o paciente na posição de escolha, utilizando-se os prin-
o paciente tenham pesos similares. Se os centros de gravidade dos cípios de mecânica corporal;
profissionais estiverem no mesmo plano, estes podem levantar o - Manter paciente centralizado no leito;
paciente como uma unidade equilibrada. - Colocar travesseiro sob a cabeça na região dorsal costal supe-
rior (na altura da escápula);
- Colocar coxins e travesseiros sob proeminências ósseas;
- Certificar-se de que o paciente está confortável;
- Manter a unidade em ordem;
- Realizar a lavagem simples das mãos

185
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

c) Técnica de Transferência do Paciente do Leito para a Cadeira - Realizar a lavagem simples das mãos;
(Técnica realizada no mínimo por 2 profissionais): - Calçar luvas de procedimento;
- Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mobili- - Conectar a cânula nasal (medir no paciente o posicionamento
dade e tolerância às atividades; da cânula : lóbulo da orelha a ponta do nariz) ou cateter nasal ou
- Realizar a lavagem simples das mãos; máscara facial, ao tubo de oxigênio e a uma fonte de oxigênio umi-
- Explicar ao paciente o que será feito; dificada, calibrada na taxa de fluxo desejada;
- Propiciar privacidade ao paciente; - Introduzir as extremidades do cateter nasal ás narinas do pa-
- Utilizar princípios de mecânica corporal; ciente ou posicionar a cânula nasal ou máscara facial;
- Manter cadeira de rodas próxima do leito, com freios travados - Ajustar a fita elástica na fronte até que o cateter nasal ou más-
e apoios para os pés removidos; cara facial esteja perfeitamente adaptado e confortável ou fixar a
- Travar os freios da cama; cânula nasal à face ou região frontal do paciente;
- Ajudar o paciente a sentar-se no leito; - Manter o tubo de oxigênio com folga suficiente e prendê-lo às
- Aguardar recuperação de queda de pressão arterial; roupas do paciente;
- Auxiliar o paciente a ficar em pé, segurando o paciente firme- - Manter o recipiente do umidificador com água no nível deli-
mente pelos braços e mantendo as mãos do paciente apoiada nos mitado;
ombros do profissional; - Manter o fluxo de oxigênio conforme prescrição médica;
- Sentar o paciente na cadeira de rodas; - Observar narinas e superfície superior das orelhas à cada 6
- Certificar-se de que o paciente está seguro e confortável; horas (verificar se há laceração de pele);
- Manter a unidade em ordem; - Certificar-se de que o paciente está confortável;
- Realizar a lavagem simples das mãos - Manter a unidade em ordem;
- Retirar luvas de procedimento;
d) Técnica de Transferência do Paciente do Leito para a Maca - Realizar a lavagem simples das mãos;
(Técnica realizada por 3 profissionais): - Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente.
- Avaliar o paciente quanto ao nível de força muscular, mobili-
dade e tolerância às atividades; Necessidades Nutricionais
- Realizar a lavagem simples das mãos;
- Explicar ao paciente o que será feito; Alimentação por via enteral
- Propiciar privacidade ao paciente; a)Conceito: É a alimentação por sonda a pacientes que são in-
- Utilizar princípios de mecânica corporal; capazes de pôr o alimento na boca, mastigar ou engolir, mas que
- Posiciona-se ao lado do leito do paciente, cada um respon- são capazes de digeri-lo e absorvê-lo. As sondas de alimentação
sabilizando-se por uma determinada parte do corpo, sendo o mais podem ser colocadas no esôfago, estômago ou região alta do intes-
alto pela cabeça e ombros, o mediano pelos quadris e coxas e o tino delgado. A sonda pode ser inserida através do nariz, da boca
mais baixo pelos tornozelos e pés; ou cirurgicamente implantada. A alimentação via sonda pode ser
- Girar o paciente em direção ao tórax dos levantadores; administrada em bolo ou por gotejamento lento constante, que flui
- Contar até três em sincronia e elevar o paciente junto ao tórax pelo efeito da gravidade, controlada por uma bomba de infusão. A
dos levantadores; alimentação lenta e constante aumenta absorção e reduz a diarréia.
- Colocar o paciente suavemente sobre o centro da maca; A sondagem nasoenteral está indicada em pacientes clínicos graves,
- Certificar-se de que o paciente está seguro e confortável (le- entubados e sedados;
vantar grades, colocar faixas de segurança) ;
- Manter a unidade em ordem; Inserção de Sonda Nasogátrica
- Realizar a lavagem simples das mãos - Reunir os materiais e equipamentos necessários: Bandeja
contendo: Sonda nasogástrica com numeração apropriada; copo
Necessidades de Oxigenação com água; estetoscópio, seringa de 20 ml; cuba rim; esparadrapo
Administração de Oxigênio por Cateter Nasal (tipo óculos), Câ- ou microporen; lubrificante hidrossolúvel; luvas de procedimento;
nula Nasal ou Máscara Facial: pacote com folhas de gase;.saco de lixo;
a) Conceito: É a administração de oxigênio à razão de 3 a 5 li- - Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado;
tros por minuto por cateter nasal, cânula nasal ou máscara facial. O - Colocar o paciente em posição apropriada (Fowler)
cateter nasal é um dispositivo simples introduzido nas narinas do - Realizar a lavagem simples das mãos;
paciente. A cânula nasal pode ser introduzida pelo nariz até a naso- - Calçar luvas de procedimento;
faringe, sendo necessário a alternância à cada 8 horas no mínimo. A - Medir a sonda no paciente: a partir do terceiro furo medir a
máscara facial é um dispositivo que se adapta perfeitamente sobre sonda na distância da ponta do nariz até o lóbulo da orelha; medir a
o nariz e boca, sendo mantida em posição com auxílio de um fita. distância do lóbulo da orelha até o apêndice xifóide e demarcar esta
Máscara facial simples é usada na oxigenioterapia a curto prazo. medida com fita (aproximadamente 45 a 55 cm);
Máscara facial de plástico com reservatório e máscara de Venturi, - Lubrificar a sonda com lubrificante hidrossolúvel;
são capazes de fornecer concentrações de oxigênio mais elevadas - Orientar o paciente pedindo para que engula a sonda quando
b) Técnica: solicitado;
- Avaliar o paciente e verificar se existem sinais e sintomas su- - Fletir o pescoço do paciente quando o mesmo não puder aju-
gestivos de hipóxia ou presença de secreções nas vias aéreas; dar no procedimento;
- Aspirar paciente, se necessário; - Introduzir a sonda até a demarcação estabelecida;
- Reunir os materiais e equipamentos necessários: Cânula nasal - Testar a sonda para verificação do posicionamento: Aspirar
ou cateter nasal ou máscara facial; tubo de oxigênio; umidificador; conteúdo gástrico; administrar 20 ml de ar e auscultar o epigástrio
água estéril; fonte de oxigênio com fluxímetro; luvas de procedi- buscando o som de entrada de ar; colocar a extremidade da sonda
mento. aberta num copo com água, se a água não borbulhar a sonda está
- Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado; posicionada adequadamente;

186
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Fixar e identificar a sonda; - Conectar sonda de folley a bolsa coletora de urina;


- Manter a sonda fechada; excetuando-se em casos de drena- - Lubrificar a sonda de folley com xylocaína geléia;
gem gástrica; - Segurar a sonda com a mão dominante, colocando a bolsa
- Certificar-se de que o paciente está confortável; coletora sobre as pernas do paciente;
- Manter a unidade em ordem; - Com a mão não dominante, nos homens segurar o pênis per-
- Retirar luvas de procedimento; pendicular ao abdomen e nas mulheres abrir a genitália, eviden-
- Realizar a lavagem simples das mãos; ciando a uretra;
- Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente. - Introduzir toda a sonda no meato uretral;
- Preencher o balonete com 10 ml de água destilada;
Necessidade de Eliminação Urinária - Tracionar a sonda;
- Fixar a sonda na coxa do paciente;
Cateterismo Vesical de Demora - Retirar luvas estéreis;
a) Conceito: É a inserção de um cateter na bexiga através da - Calçar luvas de procedimento;
uretra, indicado para aliviar desconforto por distensão vesical - Organizar a unidade;
quando ocorre obstrução na saída do fluxo de urina por dilatação - Identificar a bolsa coletora com data e hora da inserção da
da próstata, ou por coágulos de sangue; nas retenções urinárias sonda e assinatura;
grave por episódios recorrentes de infecção do aparelho urinário; - Manter a sonda aberta para drenagem;
nos casos em que há incapacidade de esvaziar a bexiga espontane- - Certificar-se de que o paciente está confortável e a unidade
amente; para monitorar débito urinário nos quadros clínicos graves; em ordem;
cirurgias do trato urinário ou de suas partes; cirurgias que exijam - Realizar a lavagem simples das mãos;
anestesias em doses maiores; controlar incontinência urinária e nos - Realizar checagem e anotações no prontuário do paciente
pacientes acometidos por doença terminal.
A Enfermagem, reconhecida por seu respectivo conselho pro-
b) Técnica fissional, é uma profissão que possui um corpo de conhecimentos
- Reunir os materiais e equipamentos necessários: Bandeja próprios, voltados para o atendimento do ser humano nas áreas de
contendo: Pacote estéril para cateterização vesical contendo: cuba promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com-
redonda; cuba rim; pinça para antissepsia, folhas de gaze, torundas posta pelo enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem.
ou bolas de algodão; campo fenestrado; almotolia contendo povi- A Enfermagem realiza seu trabalho em um contexto mais am-
dine tópico; 2 seringas descartáveis de 10 ml; 1 agulha 40X12; 1 plo e coletivo de saúde, em parceria com outras categorias pro-
ampola de água destilada 10 ml; sonda de follley com numeração fissionais representadas por áreas como Medicina, Serviço Social,
apropriada; coletor de urina sistema fechado; esparadrapo ou mi- Fisioterapia, Odontologia, Farmácia, Nutrição, etc. O atendimento
croporen; xylocaína geléia; luvas de procedimento; 1 par de luvas integral à saúde pressupõe uma ação conjunta dessas diferentes ca-
estéril com numeração apropriada; pacote com folhas de gase; saco tegorias, pois, apesar do saber específico de cada uma, existe uma
de lixo; material para higiene íntima, se necessário. relação de interdependência e complementaridade.
- Promover ambiente reservado ao paciente; Nos últimos anos, a crença na qualidade de vida tem influen-
- Explicar ao paciente o procedimento a ser realizado; ciado, por um lado, o comportamento das pessoas, levando a um
- Colocar o paciente em posição anatômica (nas mulheres po- maior envolvimento e responsabilidade em suas decisões ou esco-
sição ginecológica); lhas; e por outro, gerado reflexões em esferas organizadas da socie-
- Realizar a lavagem simples das mãos; dade - como no setor saúde, cuja tônica da promoção da saúde tem
- Calçar luvas de procedimento; direcionado mudanças no modelo assistencial vigente no país. No
- Montar 1 seringa descartável com 10 ml de água destilada campo do trabalho, essas repercussões evidenciam-se através das
- Abrir pacote estéril para cateterização vesical; constantes buscas de iniciativas públicas e privadas no sentido de
- Retirar do pacote pinça de antissepsia e cuba redonda; melhor atender às expectativas da população, criando ou transfor-
- Colocar torundas ou bolas de algodão e povidine tópico na mando os serviços existentes.
cuba redonda; No tocante à enfermagem, novas frentes de atuação são cria-
- Realizar a antissepsia da genitália respeitando os princípios de das à medida que essas transformações vão ocorrendo, como sua
assepsia (do mais distante para o mais próximo, de cima para bai- inserção no Programa Saúde da Família (PSF), do Ministério da Saú-
xo), utilizando para cada área os quatro lados da torunda ou bolas de; em programas e serviços de atendimento domiciliar, em pro-
de algodão; cesso de expansão cada vez maior em nosso meio; e em programas
- Paciente masculino: Antissepsia na seguinte seqüência: púbis; de atenção a idosos e outros grupos específicos.Quanto às ações
corpo do pênis; retração do prepúcio; limpeza da glande , por últi- e tarefas afins efetivamente desenvolvidas nos serviços de saúde
mo meato uretral; pelas categorias de Enfermagem no país, estudos realizados pela
ABEn e pelo INAMPS as agrupam em cinco classes, com as seguintes
- Paciente feminino: Antissepsia na seguinte seqüência : púbis; características:
vulva: grandes lábios, pequenos lábios e por último meato uretral; - Ações de natureza propedêutica e terapêutica complementa-
- Retirar luvas de procedimento; res ao ato médico e de outros profissionais, as ações propedêuticas
- Sobre o pacote estéril que está aberto : abrir sonda de folley, complementares referem-se às que apóiam o diagnóstico e o acom-
bolsa coletora sistema fechado e seringa de 10 ml; colocar xylocaína panhamento do agravo à saúde, incluindo procedimentos como a
geléia sobre folhas de gaze; observação do estado do paciente, mensuração de altura e peso,
- Calçar luvas estéril; coleta de amostras para exames laboratoriais e controle de sinais
- Colocar campo fenestrado sobre a genitália do paciente, man- vitais e de líquidos. As ações terapêuticas complementares assegu-
tendo em evidência a exposição da uretra; ram o tratamento prescrito, como, por exemplo, a administração de
- Introduzir na seringa descartável 10 ml de ar e testar o balo- medicamentos e dietas enterais, aplicação de calor e frio, instalação
nete da sonda de folley; de cateter de oxigênio e sonda vesical ou nasogástrica;

187
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Ações de natureza terapêutica ou propedêutica de enferma- realizando anotação de enfermagem do seu destino e guardá-la em
gem, são aquelas cujo foco centra-se na organização da totalidade local seguro ou entregá-la ao acompanhante, para evitar a possibili-
da atenção de enfermagem prestada à clientela. Por exemplo, ações dade de ocorrer danos ou extravio. A mesma orientação é recomen-
de conforto e segurança, atividades educativas e de orientação; dada para os pacientes encaminhados para cirurgias. Ao manipular
- Ações de natureza complementar de controle de risco, são a dentadura, a equipe de enfermagem deve sempre utilizar as luvas
aquelas desenvolvidas em conjunto com outros profissionais de de procedimento.
saúde, objetivando reduzir riscos de agravos ou complicações de
saúde. Incluem as atividades relacionadas à vigilância epidemioló- Realizando o banho
gica e as de controle da infecção hospitalar e de doenças crônico- Os hábitos relacionados ao banho, como frequência, horário e
-degenerativas; temperatura da água, variam de pessoa para pessoa. Sua finalidade
- Ações de natureza administrativa, nessa categoria incluem-se precípua, no entanto, é a higiene e limpeza da pele, momento em
as ações de planejamento, gestão, controle, supervisão e avaliação que são removidas células mortas, sujidades e microrganismos ade-
da assistência de enfermagem; ridos à pele. Os movimentos e a fricção exercidos durante o banho
- Ações de natureza pedagógica, relacionam-se à formação e estimulam as terminações nervosas periféricas e a circulação san-
às atividades de desenvolvimento para a equipe de enfermagem. guínea. Após um banho morno, é comum a pessoa sentir-se confor-
tável e relaxada.
CUIDADOS COM O PACIENTE A higiene corporal pode ser realizada sob aspersão (chuveiro),
Assistência de enfermagem ao paciente visando atender as ne- imersão (banheira) ou ablução (com jarro banho de leito). O au-
cessidades de: conforto, segurança e bem-estar, higiene e seguran- tocuidado deve ser sempre incentivado Assim, deve-se avaliar se
ça ambiental o paciente tem condições de se lavar sozinho. Caso seja possível,
todo o material necessário à higiene oral e banho deve ser colocado
Higienizando a boca na mesa-de-cabeceira ou carrinho móvel do lado da cama, da for-
A higiene oral freqüente reduz a colonização local, sendo im- ma que for mais funcional para o paciente. A enfermagem deve dar
portante para prevenir e controlar infecções, diminuir a incidência apoio, auxiliando e orientando no que for necessário.
de cáries dentárias, manter a integridade da mucosa bucal, evitar Para os pacientes acamados, o banho é dado no leito, pelo
ou reduzir a halitose, além de proporcionar conforto ao paciente. pessoal de enfermagem. Convém ressaltar que a grande maioria
Em nosso meio, a maioria das pessoas está habituada a escovar os deles considera essa situação bastante constrangedora, pois a in-
dentes - pela manhã, após as refeições e antes de deitar - e quando capacidade de realizar os próprios cuidados desperta sentimentos
isso não é feito geralmente experimenta a sensação de desconfor- de impotência e vergonha, sobretudo porque a intimidade é inva-
to. n Higienizando a boca Material necessário: bandeja escova de dida. A compreensão de tal fato pelo profissional de enfermagem,
dentes ou espátula com gazes creme dental, solução dentifrícia ou demonstrada ao prover os cuidados de higiene, ajuda a minimizar
solução bicarbonatada copo com água (e canudo, se necessário) o problema e atitudes como colocar biombos e mantê-lo coberto
cuba-rim toalha de rosto lubrificante para os lábios, se necessário durante o banho, expondo apenas o segmento do corpo que está
luvas de procedimento. sendo lavado, são inegavelmente mais valiosas do que muitas pala-
Avaliar a possibilidade de o paciente realizar a própria higiene. vras proferidas.
Se isto for possível, colocar o material ao seu alcance e auxiliá-lo Quando do banho, expor somente um segmento do corpo de
no que for necessário. Caso contrário, com o material e o ambiente cada vez, lavando-o com luva de banho ensaboada, enxaguando-o
devidamente preparados, auxiliar o paciente a posicionar-se, elevar - tendo o cuidado de remover todo o sabão - e secando-o com a
a cabeceira da cama se não houver contra-indicação e proteger o toalha de banho. Esse processo deve ser repetido para cada seg-
tórax do mesmo com a toalha, para que não se molhe durante o mento do corpo.
procedimento A secagem deve ser criteriosa, principalmente nas pregas cutâ-
Em pacientes inconscientes ou impossibilitados de realizar a neas, espaços interdigitais e genitais, base dos seios e do abdome
higiene bucal, compete ao profissional de enfermagem lavar-lhe os em obesos - evitando a umidade da pele, que propicia proliferação
dentes, gengivas, bochechas, língua e lábios com o auxílio de uma de microrganismos e pode provocar assaduras. Procurando estimu-
espátula envolvida em gaze umedecida em solução dentifrícia ou lar a circulação, os movimentos de fricção da pele devem preferen-
solução bicarbonatada a qual deve ser trocada sempre que neces- cialmente ser direcionados no sentido do retorno venoso.
sário. Após prévia verificação, se necessário, aplicar um lubrificante Na higiene íntima do sexo feminino, a limpeza deve ser realiza-
para prevenir rachaduras e lesões que facilitam a penetração de da no sentido ântero-posterior; no masculino, o prepúcio deve ser
microrganismos e dificultam a alimentação. Para a proteção do pro- tracionado, favorecendo a limpeza do meato urinário para a base da
fissional, convém evitar contato direto com as secreções, mediante glande, removendo sujidades (pêlos, esmegma, urina, suor) e ini-
o uso de luvas de procedimento. Após a higiene bucal, colocar o pa- bindo a proliferação de microrganismos. A seguir, recobrir a glande
ciente numa posição adequada e confortável, e manter o ambiente com o prepúcio. Durante todo o banho o profissional de enferma-
em ordem. gem deve observar as condições da pele, mucosas, cabelos e unhas
Anotar, no prontuário, o procedimento, reações e anormalida- do paciente, cuidando para mantê-lo saudável. Ao término do ba-
des observadas. nho, abaixar a cabeceira da cama e deixar o paciente na posição em
O paciente que faz uso de prótese dentária (dentadura) tam- que se sinta mais confortável, desde que não haja contra-indicação.
bém necessita de cuidados de higiene para manter a integridade Avaliar as possibilidades de colocá-lo sentado na poltrona. Provi-
da mucosa oral e conservar a prótese limpa. De acordo com seu denciar o registro das condições do paciente e de suas reações.
grau de dependência, a enfermagem deve auxiliá-lo nesses cuida-
dos. A higiene compreende a escovação da prótese e limpeza das Lavando os cabelos e o couro cabeludo
gengivas, bochechas, língua e lábios - com a mesma freqüência in- A lavagem dos cabelos e do couro cabeludo visa proporcio-
dicada para as pessoas que possuem dentes naturais. Por sua vez, nar higiene, conforto e estimular a circulação do couro cabeludo.
pacientes inconscientes não devem permanecer com prótese den- Quando o paciente não puder ser conduzido até o chuveiro, esta
tária. Nesses casos, o profissional deve acondicioná-la, identificá-la, tarefa deve ser realizada no leito. O procedimento a seguir descrito

188
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

é apenas uma sugestão, considerando-se que há várias formas de ciente quantidade de água fato que, em situações de doença, pode
realizá-lo. Material necessário: dois jarros com água morna sabão levá-lo facilmente à desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico.
neutro ou xampu duas bolas de algodão pente toalha grande de Considerando tal fato, é importante que a enfermagem o oriente e
banho (duas, caso necessário) balde bacia luvas de procedimento incentive a tomar água, ou lhe ofereça auxílio se apresentar dificul-
impermeável / saco plástico dades para fazê-lo sozinho. A posição sentada é a mais conveniente,
porém, se isto não for possível, devese estar atento para evitar aspi-
Cuidados com a alimentação e hidratação ração acidental de líquido.
Como sabemos, a alimentação é essencial para nossa saúde e
bem-estar. O estado nutricional interfere diretamente nos diversos Nutrição enteral
processos orgânicos como, por exemplo, no crescimento e desen- Desde que a função do trato gastrintestinal esteja preservada,
volvimento, nos mecanismos de defesa imunológica e resposta às a nutrição enteral (NE) é indicada nos casos em que o paciente está
infecções, na cicatrização de feridas e na evolução das doenças. impossibilitado de alimentar-se espontaneamente através de re-
A subnutrição consequente de alimentação insuficiente, dese- feições normais. A nutrição enteral consiste na administração de
quilibrada ou resultante de distúrbios associados à sua assimilação nutrientes por meio de sondas nasogástrica (introduzida pelo nariz,
- vem cada vez mais atraindo a atenção de profissionais de saúde com posicionamento no estômago) ou transpilórica (introduzida
que cuidam de pacientes ambulatoriais ou internados em hospitais, pelo nariz, com posicionamento no duodeno ou jejuno), ou através
certos de que apenas a terapêutica medicamentosa não é suficien- de gastrostomia ou jejunostomia. A instalação da sonda tem como
te para se obter uma resposta orgânica satisfatória. O profissional objetivos retirar os fluidos e gases do trato gastrintestinal (des-
de enfermagem tem a responsabilidade de acompanhar as pessoas compressão), administrar medicamentos e alimentos (gastróclise)
de quem cuida, tanto no nível domiciliar como no hospitalar, pre- diretamente no trato gastrintestinal, obter amostra de conteúdo
parando o ambiente e auxiliando-as durante as refeições. É impor- gástrico para estudos laboratoriais e prevenir ou aliviar náuseas e
tante verificar se os pacientes estão aceitando a dieta e identificar vômitos
precocemente problemas como a bandeja de refeição posta fora
do alcance do mesmo e sua posterior retirada sem que ele tenha Inserindo a sonda nasogástrica
tido a possibilidade de tocá-la de fato que se observa com certa
frequência. Material necessário:
Os motivos desse tipo de ocorrência são creditados ao insufi- - sonda de calibre adequado lubrificante hidrossolúvel (xilocaí-
ciente número de pessoal de enfermagem e ou ao envolvimento na a 2% sem vasoconstritor)
dos profissionais com atividades consideradas mais urgentes. Além -gazes
de causas estruturais como a falta de recursos humanos e mate- - seringa de 20 ml
riais, evidenciam-se valores culturais fortemente arraigados no -toalha
comportamento do profissional, como a supervalorização da tecno- -recipiente com água
logia e dos procedimentos mais especializados, o que, na prática, se -estetoscópio
traduz em dar atenção, por exemplo, ao preparo de uma bomba de -luvas de procedimento
infusão ou material para um curativo, ao invés de auxiliar o paciente - tiras de fita adesiva (esparadrapo, micropore, etc.)
a alimentar-se. -sonda de calibre adequado lubrificante hidrossolúvel (xilocaí-
Coincidentemente, os horários das refeições se aproximam do na a 2% sem vasoconstritor) gazes
início e término do plantão, momentos em que há grande preocu-
pação da equipe em dar continuidade ao turno anterior ou encerrar Ao auxiliar o paciente a alimentar-se, evite atitude de impaci-
o turno de plantão, aspecto que representa motivo adicional para ência ou pressa o que pode vir a constrangê-lo. Não interrompa a
o abandono do paciente. No entanto, os profissionais não devem refeição com condutas terapêuticas, pois isso poderá desestimulá-
eximir-se de tal responsabilidade, que muitas vezes compromete os -lo a comer.
resultados do próprio tratamento.
Os pacientes impossibilitados de alimentar-se sozinhos devem Para conhecimento:
ser assistidos pela enfermagem, a qual deve providenciar os cuida- Gastrostomia - abertura cirúrgica do estômago, para introdu-
dos necessários de acordo com o grau de dependência existente. ção de uma sonda com a finalidade de alimentar, hidratar e drenar
Por exemplo, visando manter o conforto do paciente e incentivá-lo secreções estomacais.
a comer, oferecer-lhe o alimento na boca, na ordem de sua prefe- Jejunostomia - abertura cirúrgica do jejuno, proporcionando
rência, em porções pequenas e dadas uma de cada vez. Ao término comunicação com o meio externo, com o objetivo de alimentar ou
da refeição, servir-lhe água e anotar a aceitação da dieta no pron- drenar secreções. seringa de 20 ml toalha recipiente com água este-
tuário. toscópio luvas de procedimento tiras de fita adesiva (esparadrapo,
Durante o processo, proteger o tórax do paciente com toalha micropore, etc.)
ou guardanapo, limpando-lhe a boca sempre que necessário, são
formas de manter a limpeza. Ao final, realizar a higiene oral. Visan- Fixação da sonda nasogástrica
do evitar que o paciente se desidrate, a enfermagem deve observar Deve ser segura, sem compressão, para evitar irritação e le-
o atendimento de sua necessidade de hidratação. Desde que não são cutânea. O volume e aspecto do conteúdo drenado pela sonda
haja impedimento para que receba líquidos por via oral, cabe ao aberta deve ser anotado, pois permite avaliar a retirada ou manu-
Serviço de Nutrição e Dietética fornecer água potável em recipiente tenção da mesma e detecta anormalidades.
apresentável e de fácil limpeza, com tampa, passível de higienização Sempre que possível, orientar o paciente a manter-se predo-
e reposição diária, para evitar exposição desnecessária e possível minantemente em decúbito elevado, para evitar a ocorrência de
contaminação. Nem sempre os pacientes atendem adequadamen- refluxo gastroesofágico durante o período que permanecer com a
te à necessidade de hidratação, por falta de hábito de ingerir sufi- sonda.

189
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Desta forma, podemos citar o sono e repouso, emoções, des-


nutrição e outros como elementos que influenciam na diminuição
da temperatura; e os exercícios (pelo trabalho muscular), emoções
(estresse e ansiedade) e o uso de agasalhos (provocam menor dis-
sipação do calor), por exemplo, no seu aumento. Há ainda outros
fatores que promovem alterações transitórias da temperatura cor-
poral, tais como fator hormonal (durante o ciclo menstrual), banhos
muito quentes ou frios e fator alimentar (ingestão de alimentos e
bebidas muito quentes ou frias).
A alteração patológica da temperatura corporal mais freqüen-
te caracteriza-se por sua elevação e está presente na maioria dos
processos infecciosos e/ou inflamatórios. É muito difícil delimitar a
temperatura corporal normal porque, além das variações individu-
ais e condições ambientais, em um mesmo indivíduo a temperatura
não se distribui uniformemente nas diversas regiões e superfícies
do corpo.
Assim, podemos considerar como variações normais de tempe-
ratura29 : n temperatura axilar: 35,8ºC - 37,0ºC; n temperatura oral:
36,3ºC - 37,4ºC; n temperatura retal: 37ºC - 38ºC.
O controle da temperatura corporal é realizado mediante a uti-
lização do termômetro - o mais utilizado é o de mercúrio, mas cada
vez mais torna-se freqüente o uso de termômetros eletrônicos em
nosso meio de trabalho.
A temperatura corporal pode ser verificada pelos seguintes
métodos: oral - o termômetro de uso oral deve ser individual e pos-
Medindo a altura e o peso no adulto suir bulbo alongado e achatado, o qual deve estar posicionado sob a
Material necessário: balança papel para forrar a plataforma da língua e mantido firme com os lábios fechados, por 3 minutos. Esse
balança A balança a ser utilizada deve ser previamente aferida (ni- método é contra-indicado em crianças, idosos, doentes graves, in-
velada, tarada) para a obtenção de valores mais exatos e destravada conscientes, com distúrbios mentais, portadores de lesões orofarín-
somente quando o paciente encontra-se sobre ela. O piso da balan- geas e, transitoriamente, após o ato de fumar e ingestão de alimen-
ça deve estar sempre limpo e protegido com papel-toalha, evitando tos quentes ou frios; retal - o termômetro retal é de uso individual
que os pés fiquem diretamente colocados sobre ele. Para prevenir e possui bulbo arredondado e proeminente. Deve ser lubrificado e
a ocorrência de quedas, fornecer auxílio ao paciente durante todo colocado no paciente em decúbito lateral, inserido cerca de 3,5cm,
o procedimento. em indivíduo adulto, permanecendo por 3 minutos.
O paciente deve ser pesado com o mínimo de roupa e sempre A verificação da temperatura retal considerada a mais fidedig-
com peças aproximadas em peso. Para obter um resultado correto, na - é contra-indicada em pacientes submetidos a intervenções ci-
deve ser orientado a retirar o calçado e manter os braços livres. rúrgicas do reto e períneo, e/ou que apresentem processos inflama-
Após terse posicionado adequadamente, o profissional deve deslo- tórios locais; axilar - é a verificação mais freqüente no nosso meio,
car os pesos de quilo e grama até que haja o nivelamento horizontal embora seja a menos precisa. O termômetro deve permanecer por,
da régua graduada; a seguir, travar e fazer a leitura e a anotação de no máximo, 7 minutos (cerca de 5 a 7 minutos).
enfermagem. As principais alterações da temperatura são: hipotermia - tem-
Em pacientes internados, com controle diário, o peso deve ser peratura abaixo do valor normal; hipertermia - temperatura acima
verificado em jejum, sempre no mesmo horário, para avaliação das do valor normal; febrícula - temperatura entre 37,2o C e 37,8o C. 29
alterações. Atkinson, 1989. 7 8 Fundamentos de Enfermagem .
Para maior exatidão do resultado na verificação da altura,
orientar o paciente a manter a posição ereta, de costas para a has- Verificando a temperatura corporal
te, e os pés unidos e centralizados no piso da balança. Posicionar Material necessário: bandeja termômetro clínico bolas de algo-
a barra sobre a superfície superior da cabeça, sem deixar folga, e dão seco álcool a 70% bloco de papel caneta .
travá-la para posterior leitura e anotação. Para garantir a precisão do dado, recomenda-se deixar o ter-
mômetro na axila do paciente por 3 a 4 minutos; em seguida, pro-
Controlando a temperatura corporal ceder à leitura rápida e confirmar o resultado recolocando o termô-
Vários processos físicos e químicos, sob o controle do hipotála- metro e reavaliando a informação até a obtenção de duas leituras
mo, promovem a produção ou perda de calor, mantendo nosso or- consecutivas idênticas30. Coluna de mercúrio Bulbo Corpo .
ganismo com temperatura mais ou menos constante, independente O ponto de localização do mercúrio indica a temperatura
das variações do meio externo. As orientações seguintes referem-se ao controle de tempera-
A temperatura corporal está intimamente relacionada à ativi- tura axilar, considerando-se sua maior utilização. Entretanto, faz-se
dade metabólica, ou seja, a um processo de liberação de energia necessário avaliar esta possibilidade observando-se os aspectos
através das reações químicas ocorridas nas células. Diversos fatores que podem interferir na verificação, como estado clínico e psicoló-
de ordem psicofisiológica poderão influenciar no aumento ou dimi- gico do paciente, existência de lesões, agitação, etc.
nuição da temperatura, dentro dos limites e padrões considerados
normais ou fisiológicos.

190
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O bulbo do termômetro deve ser colocado sob a axila seca e o c) da viscosidade do sangue, que significa, em outros termos,
profissional deve solicitar ao paciente que posicione o braço sobre sua consistência resultante das proteínas e células sanguíneas.
o peito, com a mão em direção ao ombro oposto. Manter o termô-
metro pelo tempo indicado, lembrando que duas leituras consecu- O controle compreende a verificação da pressão máxima ou
tivas com o mesmo valor reflete um resultado bastante fidedigno. sistólica e da pressão mínima ou diastólica, registrada em forma de
Para a leitura da temperatura, segurar o termômetro ao nível fração ou usando-se a letra x entre a máxima e a mínima. Por exem-
dos olhos, o que facilita a visualização. Após o uso, a desinfecção do plo, pressão sistólica de 120mmHg e diastólica de 70mmHg devem
termômetro deve ser realizada no sentido do corpo para o bulbo, ser assim registradas: 120/70mmHg ou 120x70mmHg.
obedecendo o princípio do mais limpo para o mais sujo, mediante Para um resultado preciso, é ideal que, antes da verificação,
lavagem com água e sabão ou limpeza com álcool a 70% - processo o indivíduo esteja em repouso por 10 minutos ou isento de fatores
que diminui os microrganismos e a possibilidade de infecção cru- estimulantes (frio, tensão, uso de álcool, fumo). Hipertensão arte-
zada.] rial é o termo usado para indicar pressão arterial acima da normal;
e hipotensão arterial para indicar pressão arterial abaixo da normal.
Controlando o pulso Quando a pressão arterial se encontra normal, dizemos que
Também consideradas como importante parâmetro dos sinais está normotensa. A pressão sanguínea geralmente é mais baixa du-
vitais, as oscilações da pulsação, verificadas através do controle de rante o sono e ao despertar. A ingestão de alimentos, exercícios, dor
pulso, podem trazer informações significativas sobre estado do pa- e emoções mmHg - milímetro de mercúrio,como medo, ansiedade,
ciente. raiva e estresse aumentam a pressão arterial.
Esta manobra, denominada controle de pulso, é possível por- Habitualmente, a verificação é feita nos braços, sobre a artéria
que o sangue impulsionado do ventrículo esquerdo para a aorta braquial. A pressão arterial varia ao longo do ciclo vital, aumentan-
provoca oscilações ritmadas em toda a extensão da parede arterial, do conforme a idade. Crianças de 4 anos podem ter pressão em
que podem ser sentidas quando se comprime moderadamente a torno de 85/ 60mmHg; aos 10 anos, 100/65mmHg34.
artéria contra uma estrutura dura. Além da frequência, é impor- Nos adultos, são considerados normais os parâmetros com
tante observar o ritmo e força que o sangue exerce ao passar pela pressão sistólica variando de 90 a 140mmHg e pressão diastólica
artéria. de 60 a 90mmHg.
Há fatores que podem provocar alterações passageiras na
freqüência cardíaca, como as emoções, os exercícios físicos e a ali- Verificando a pressão arterial
mentação. Ressalte-se, ainda, que ao longo do ciclo vital seus va- Material necessário: estetoscópio esfigmomanômetro algodão
lores vão se modificando, sendo maiores em crianças e menores seco álcool a 70% caneta e papel
nos adultos. A frequência do pulso no recém-nascido é, em média,
de 120 batimentos por minuto (bpm), podendo chegar aos limites Transporte do Paciente
de 70 a 170 bpm31. Aos 4 anos, a média aproxima-se de 100 bpm, Grande parte das agressões à coluna vertebral em trabalhado-
variando entre 80 e 120 bpm, assim se mantendo até os 6 anos; a res da saúde estão relacionadas a condições ergonômicas inade-
partir dessa idade e até 31com. os 12 anos a média fica em torno de quadas de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos utilizados
90 bpm, com variação de 70 a 110 bpm. Aos 18 anos, atinge 75 bpm nas atividades cotidianas, sendo as dores nas costas causadas por
nas mulheres e 70 bpm nos homens32. traumas crônicos repetitivos, que envolvem muitos outros fatores,
A partir da adolescência observamos nítida diferenciação entre além da manipulação de pacientes. Dessa forma, as recomenda-
o crescimento físico de mulheres e homens, o que influencia a fre- ções sobre um aspecto relevante do problema das algias vertebrais,
quência do pulso: na fase adulta, de 65 a 80 bpm nas mulheres e de que é a prevenção, têm caminhado em direção a uma abordagem
60 a 70 bpm, nos homens. ergonômica.
Habitualmente, faz-se a verificação do pulso sobre a artéria A literatura tem sugerido a administração de cursos sobre mo-
radial e, eventualmente, quando o pulso está filiforme, sobre as ar- vimentação e transporte de pacientes como uma das estratégias
térias mais calibrosas - como a carótida e a femoral. Outras artérias, mais importantes para reduzir a incidência de problemas na coluna
como a temporal, a facial, a braquial, a poplítea e a dorsal do pé vertebral entre os trabalhadores da saúde a utilização de equipa-
também possibilitam a verificação do pulso. O pulso normal - de- mentos especiais e auxílios mecânicos também tem sido indicada
nominado normocardia - é regular, ou seja, o período entre os ba- para prevenir as dores nas costas9,26. Atualmente sabe-se que para
timentos se mantém constante, com volume perceptível à pressão resolver tais problemas é necessário um amplo estudo do ambien-
moderada dos dedos. te, dos equipamentos e dos indivíduos, baseando-se num enfoque
O pulso apresenta as seguintes alterações: bradicardia: fre- ergonômico. Assim, as habilidades em movimentação de pacientes
qüência cardíaca abaixo da normal; taquicardia: frequência cardía- devem ser complementadas com o estabelecimento de práticas se-
ca acima da normal; taquisfigmia: pulso fino e taquicárdico; bradis- guras de trabalho dentro de uma estrutura ergonômica, usando-
figmia: pulso fino e bradicárdico; filiforme: pulso fino. -se, sempre que possível, materiais e equipamentos auxiliares. O
presente trabalho tem por objetivo discutir e descrever as técnicas
Controlando a pressão arterial de movimentação e transferência de pacientes dentro de uma es-
Outro dado imprescindível na avaliação de saúde de uma pes- trutura ergonômica e com a utilização de materiais auxiliares que
soa é o nível de sua pressão arterial, cujo controle é realizado atra- precisam urgentemente ser implementados na realidade brasileira.
vés de aparelhos próprios. A pressão arterial resulta da tensão que
o sangue exerce sobre as paredes das artérias e depende:
a) do débito cardíaco relacionado à capacidade de o coração
impulsionar sangue para as artérias e do volume de sangue circu-
lante;
b) da resistência vascular periférica, determinada pelo lúmen
(calibre), elasticidade dos vasos e viscosidade sanguínea, traduzin-
do uma força oposta ao fluxo sanguíneo;

191
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

MOVIMENTAÇÃO E TRANSPORTE DE PACIENTES • Usar o peso corporal como um contrapeso ao do paciente


Os procedimentos que envolvem a movimentação e o trans- • Flexionar os joelhos em vez de curvar a coluna
porte de pacientes são considerados os mais penosos e perigosos • Abaixar a cabeceira da cama ao mover um paciente para cima
para os trabalhadores da saúde. Estudiosos da questão defendem • Utilizar movimentos sincrônicos
que o ensino desses procedimentos deve ser complementado com • Trabalhar o mais próximo possível do corpo do cliente, que
uma avaliação do local de trabalho e com alternativas para torná- deverá ser erguido ou movido
-los menos prejudiciais. Um cuidadoso planejamento, antes de se • Usar uniforme que permita liberdade de movimentos e sapa-
iniciarem esses procedimentos, é essencial e imprescindível. Den- tos apropriados
tro deste contexto, desenvolveram-se orientações básicas e proce- • Realizar a manipulação de pacientes com a ajuda de, pelo
dimentos que tiveram um suporte teórico na literatura internacio- menos, duas pessoas
nal16,17,22,23.
Considerando-se tais aspectos, dividiu-se esta fase em cinco Movimentação de clientes no leito
partes: Lembrar que o paciente deve ser estimulado a movimentar-se
de uma forma independente, sempre que não existir contraindica-
Avaliação das condições e preparo do cliente ções nesse sentido. Outro ponto que não pode ser esquecido é pro-
Inicialmente, deve-se fazer uma avaliação das condições físicas curar ter à disposição camas e colchões apropriados, dependendo
da pessoa que será movimentada, de sua capacidade de colabo- das condições e necessidades do cliente. O ideal são camas com
rar, bem como a observação da presença de soros, sondas e outros altura regulável, que possam ser ajustadas, dependendo do proce-
equipamentos instalados. Também é importante, para um planeja- dimento que será realizado7,16.
mento cuidadoso do procedimento, uma explicação, ao paciente, Durante a movimentação, deve-se, sempre que possível, uti-
do modo como se pretende movê-lo, como pode cooperar, para lizar elementos auxiliares, tais como: barra tipo trapézio no leito,
onde será encaminhado e qual o motivo da locomoção. Vale a pena plástico antiderrapante para os pés, plástico facilitador de movi-
salientar que o cliente deve ser orientado a ajudar, sempre que for mentos, entre outros.
possível, que não deve ser mudado rapidamente de posição e tem Neste tópico serão apresentados separadamente os principais
que estar usando chinelos ou sapatos com sola antiderrapante. Ou- motivos que levam os trabalhadores de saúde a movimentar os
tro ponto muito importante é que a movimentação e o transporte clientes no leito:
de obesos precisam ser minuciosamente avaliados e planejados,
usando-se, sempre que possível, auxílios mecânicos. Colocar ou retirar comadres
Quando o paciente pode auxiliar, deve-se utilizar o trapézio, no
Preparo do ambiente e dos equipamentos leito, e solicitar que eleve o quadril, evitando-se assim, a necessida-
Considerando-se que determinados aspectos ergonômicos do de de erguê-lo (Figura 1):
posto de trabalho podem prejudicar atividades ocupacionais, tais
como os procedimentos relacionados com movimentação e trans-
porte 5,8,16,19 abordam-se, nessa parte, os principais cuidados
que necessitam ser observados: Verificar se o espaço físico é ade-
quado para não restringir os movimentos
• Examinar o local e remover os obstáculos
• Observar a disposição do mobiliário
• Obter condições seguras com relação ao piso
• Colocar o suporte de soro ao lado da cama, quando neces-
sário
• Elevar ou abaixar a altura da cama, para ficar no mesmo nível
da maca
• Travar as rodas da cama, maca e cadeira de rodas ou solicitar
auxílio adicional
• Adaptar a altura da cama ao trabalhador e ao tipo de proce-
dimento que será realizado

Devem-se, também, utilizar equipamentos auxiliares e adap-


tar as condições do ambiente a cada paciente em particular. Neste
caso, pode ser necessário:
• Colocar barras de apoio em banheiros
• Elevar a altura do vaso sanitário ( compensadores de altura
para vasos convencionais )
• Utilizar cadeira de rodas própria para banho ou higiene

Preparo da equipe
Existem algumas orientações, especificamente relacionadas
com os princípios básicos de mecânica corporal, que devem ser
utilizadas pelo pessoal de enfermagem durante a manipulação de
pacientes6,10,11,12,16
• Deixar os pés afastados e totalmente apoiados no chão
• Trabalhar com segurança e com calma
• Manter as costas eretas

192
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Trazer o cliente para um dos lados da cama • Fazer o paciente virar a cabeça em sua direção
Lembrar que a movimentação no leito deve ser realizada, • Rolar a pessoa gentilmente, utilizando seu ombro e joelho
preferencialmente, por duas pessoas, seguindo-se os seguintes como alavancas
passos (Figura 2):
Uma outra forma de realizar esse procedimento é usando-se
plásticos deslizantes e resistentes, da seguinte forma (Figura 4):

• As duas pessoas devem ficar do mesmo lado da cama, de


frente para o paciente
• Permanecer com uma das pernas em frente da outra, com
os joelhos e quadris fletidos, trazendo os braços ao nível da cama:
• a primeira pessoa coloca um dos braços sob a cabeça e, o • Virar o paciente e colocar o plástico sob seu corpo. Voltar o
outro, na região lombar paciente e puxar o plástico
• a segunda pessoa coloca um dos braços também sob a re- • Ficar no lado oposto ao que o paciente será virado
gião lombar e, o outro, na região posterior da coxa • Puxar o plástico, movendo o paciente em sua direção e para
• Trazer o paciente, de um modo coordenado, para este lado a beira da cama. Manter as costas eretas e utilizar o peso do seu
da cama corpo
• Elevar o plástico, fazendo o paciente virar cuidadosamente.
Se for necessário mover o paciente sem ajuda, deve-se fazê-lo Manter, no lado oposto da cama, uma grade de proteção
em etapas, utilizando-se o peso do corpo como um contrapeso e
plásticos facilitadores de movimentos. Movimentar o cliente, em posição supina, para a cabeceira
da cama
Colocar o cliente em decúbito lateral Se o paciente tem condições físicas, ele pode mover-se so-
Quando o paciente não é obeso, podem-se seguir as seguintes zinho, com a ajuda de um trapézio. O cliente flexiona os joelhos
fases (Figura 3): e dá um impulso, tendo como apoio um plástico antiderrapante
sob seus pés (Figura 5b) ou uma pessoa segurando -os (Figura 5a).
Pode-se também colocar um plástico deslizante sob as costas e a
cabeça do paciente (Figura 5c).

• Permanecer do lado para o qual você vai virar a pessoa


• Cruzar seu braço e sua perna no sentido em que ele vai ser
virado, flexionando o joelho. Observar o posicionamento do outro
braço

193
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Uma outra maneira de movimentação independente é colocar • Abaixar a altura da cama de tal forma que os trabalhadores
um plástico deslizante sob o corpo do paciente e pedir que ele de enfermagem possam colocar Um joelho na cama e manter a ou-
realize o mesmo impulso com os pés (Figura 6). tra perna firmemente no chão
• Segurar o plástico e, de ma forma coordenada, sentar sobre
seus calcanhares, movendo ao mesmo tempo o cliente

Movimentar o cliente em posição sentada para a cabeceira


da cama
O paciente deve ser encorajado a movimentar-se sozinho, com
a ajuda de um plástico facilitador de movimentos. Neste caso, o pa-
ciente fica sentado sobre o plástico, podendo deslizar com o auxílio
de blocos de mão antiderrapantes (Figura9).

Quando o paciente não pode colaborar, uma alternativa é


seguir os seguintes passos (Figura 7):

Ele pode, também, receber a ajuda de uma pessoa, que segu-


ra seus pés, estando suas pernas flexionadas. Neste caso, o cliente
apóia uma mão de cada lado do corpo e ele próprio dá um impulso,
ao endireitar as pernas (Figura 10).
• Deixar a cama em posição horizontal
• Colocar um travesseiro na cabeceira da cama
• Colocar um lençol ou plástico deslizante sob o corpo do pa-
ciente
• Permanecer duas pessoas, uma de cada lado do leito, e
olhando em direção dos pés da cama
• Segurar firmemente no lençol ou plástico e, num movimento
ritmado, movimentar o paciente

Se a altura da cama for regulável, pode-se proceder da seguinte


maneira (Figura 8):

Quando o paciente não pode colaborar, duas pessoas devem


realizar o procedimento. Deve-se também usar um plástico desli-
zante e procede-se da seguinte maneira (Figuras 11a e 11b):

194
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Quando o cliente é auxiliado por outra pessoa, pode-se fazer


da seguinte forma (Figuras 13a e 13b):

• As duas pessoas devem ficar uma de cada lado do leito,


olhando na mesma direção • A pessoa fica de frente para o paciente, colocando um dos
• Abaixar a altura da cama, de uma forma tal que os trabalha- seus joelhos ao nível do quadril do paciente sentando-se sobre seu
dores de enfermagem possam colocar um joelho na cama, manten- próprio tornozelo
do a outra perna firmemente no chão • Segurar no cotovelo do paciente, que também apoia o coto-
• Segurar a mão do paciente com uma das mãos e agarrar no velo da pessoa. O paciente deve se sente apoiando-os na pessoa
local apropriado do plástico com a outra
• Usando movimento coordenado, sentar sobre os calcanha- Se o paciente não consegue auxiliar, uma outra alternativa é
res, movendo, ao mesmo, tempo cliente. Repetir o procedimento, realizar o procedimento com duas pessoas, da seguinte maneira
se for necessário (Figura 14):
Sentar o paciente no leito
O cliente deve ser encorajado a sentar-se sozinho, ficando de
lado e levantando-se com a ajuda dos braços. Podem-se, também,
utilizar materiais simples, como uma corda com nós ou uma escada
de cordas que, fixadas nos pés da cama, permitem que o cliente
sente sem ajuda (Figura 12).

195
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Permanecer uma pessoa de cada lado da cama, olhando em Transporte de pacientes


direção da cabeceira O transporte de pacientes deve ser realizado com a ajuda de
• Ficar ajoelhada, mantendo o joelho ao nível do quadril do elementos auxiliares, tais como cintos e pranchas de transferência,
cliente discos giratórios e auxílios mecânicos.
• Segurar nos cotovelos e trazer o paciente para frente, en-
quanto senta em seus calcanhares. Pode-se usar, como um auxílio Auxiliar o cliente a levantar de cadeira ou poltrona
nessa manobra, uma toalha resistente, que é colocada nas costas Nesse procedimento, é muito importante selecionar cadeiras
do paciente ou poltronas de acordo com as necessidades de cada pessoa, le-
vando em consideração a promoção de conforto e independência.
Sentar o paciente na beira da cama Não se deve esquecer também os equipamentos auxiliares, como
No caso do cliente estar deitado, seguir os seguintes passos andadores e bengalas.
(Figura 15): Quando o paciente necessita de ajuda, deve-se usar um cin-
to de transferência e proceder da seguinte maneira (Figuras 17a e
17b):

• Colocar o paciente em decúbito lateral, sobre um plástico


deslizante, e de frente para o lado em que vai se sentar
• Elevar a cabeceira da cama
• Uma pessoa apoia a região dorsal e o ombro do paciente e a
outra segura os membros inferiores
• De uma forma coordenada, elevar e girar o paciente até ele
ficar sentado paciente e sentando-se sobre seu próprio tornozelo

Uma outra alternativa é levantar o paciente, apoiando no co-


tovelo, como descrito anteriormente, estando o cliente sobre um
plástico deslizante. Depois, mover os seus membros inferiores para
fora do leito (Figura 16).

• Colocar o cliente para a frente da cadeira, puxando-o alterna-


damente pelo quadril
• Permanecer ao lado da cadeira, olhando do mesmo lado que
o paciente
• O cliente deve colocar uma mão no braço mais distante da ca-
deira e a outra é apoiada pela mão do trabalhador de enfermagem.
Com o outro braço, o trabalhador circunda a cintura do paciente,
segurando no cinto de transferência
• Levantar de uma forma coordenada, com movimentos de ba-
lanço.

Dependendo das condições do cliente, pode ser necessária a


participação de uma outra pessoa, do outro lado da cadeira

196
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Auxiliar o cliente a deambular


É importante fazer uma avaliação cuidadosa para verificar se
o cliente tem condições de deambular. A pessoa deve permanecer
bem próxima do paciente, do lado em que ele apresenta alguma
deficiência, colocando um braço em volta da cintura e o outro
apoiando a mão. O ideal, nestes casos, é utilizar um cinto especial,
colocado na cintura do paciente (Figura 18).

• Posicionar a cadeira próxima à cama. Elas devem ter a mes-


ma altura
• Travar a cadeira e o leito, remover o braço da cadeira e ele-
var o apoio dos pés
• Posicionar a tábua apoiada seguramente entre a cama e a
cadeira

Transferir o cliente do leito para uma poltrona ou cadeira de Um outro modo é usar o cinto de transferência, seguindo-se
rodas os passos(Figuras 20a, 20b, 20c e 20d):
O paciente pode executar essa transferência de uma forma
independente ou com uma pequena ajuda, utilizando uma tábua
de transferência, da seguinte maneira (Figuras 19a e 19b):

197
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Organizações e autores internacionais têm procurado des-
pertar a atenção sobre a importância das orientações, com um
enfoque ergonômico, sobre os procedimentos de movimentação
e transferência. A implementação de treinamentos e reciclagem é
parte obrigatória de programas de prevenção de lesões musculo-
esqueléticas entre trabalhadores da saúde. Esses procedimentos
devem ser aprendidos e praticados de uma forma planejada e
sistemática.
• Colocar a cadeira ao lado da cama, com as costas para o pé Dentro deste contexto, procurou-se colaborar apresentando-
da cama -se orientações básicas sobre a mobilização e a transferência de
• Travar as rodas e levantar o apoio para os pés clientes dentro de uma abordagem ergonômica.
• Sentar o cliente na beira da cama
• Calçar o cliente com sapato ou chinelo antiderrapante Fonte: http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/html/510/body/
• Segurar o cliente pela cintura, auxiliando-o a levantar, virar- v34n2a06.htm
-se e sentar-se na cadeira

Transferir o paciente do leito para um maca CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA ADMINISTRAÇÃO DE


Não existe maneira segura para realizar uma transferência MEDICAMENTOS
manual do leito para uma maca. Existem equipamentos que de-
vem ser utilizados, como as pranchas e os plásticos resistentes de Fundamentos teóricos e práticos de enfermagem
transferências nesse caso, o paciente deve ser virado para que se
acomode o material sob ele. .Volta-se o paciente para a posição su- Métodos, cálculos, vias e cuidados na administração de medi-
pina, puxando-o para a maca com a ajuda do material ou do lençol camentos, hemocomponentes, hemoderivados e soluções
(Figuras 21a e 21b). Devem participar desse procedimento quantas
pessoas forem necessárias, dependendo das condições e do peso Medicamentos
do cliente. Nunca esquecer de travar as rodas da cama e do leito e Uma as principais funções da equipe de Enfermagem no cui-
de ajustar sua altura. dado aos pacientes é a administração de medicamentos. Exige
dos profissionais: responsabilidade, conhecimentos e habilidades,
estes fatores garantem a segurança do paciente. Constitui-se de
várias etapas e envolve vários profissionais,o risco de ocorrência
de erros é elevado.

198
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Fármaco
Substância química conhecida e de estrutura química definida dotada de propriedade farmacológica. Sinônimo de princípio ativo.

Nove Certezas
1. usuário certo;
2. dose certa;
3. medicamento certo;
4. hora certa;
5. via certa;
6. anotação certa;
7. orientação ao paciente;
8. compatibilidade medicamentosa;
9. o direito do paciente em recusar a medicação.

199
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Farmacocinética: Ação do Organismo no Fármaco

Absorção de Medicamentos
“refere-se a velocidade com que uma droga deixa o seu local de administração e a extensão com que isso ocorre.” • “ biodisponibili-
dade: a extensão com que uma droga atinge seu local de ação”.

Farmacocinética – Distribuição
O medicamento será distribuído pelo sistema circulatório, chegando aos tecidos e células para que ocorra ação. • O fármaco circula
ligado a proteínas plasmáticas
• Mas antes ele será matabolizado

200
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Farmacocinética – Metabolização
• É a biotransformação que ocorre no fígado principalmente
• É uma reação química catalizada por enzimas que transformam o fármaco em ATIVO, ou INATIVO
• A fração ativa, circulará livre ou ligada as proteínas plasmáticas até o receptor para fazer seu efeito.

Vias de Administração

201
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Farmacodinâmica
Estuda os efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e seus mecanismos de ação.
• Só a droga livre se liga ao receptor para fazer efeito
• Absorção
• Distribuição
• Metabolização
• Excreção Interferem na quantidade livre para se ligar aos receptores.

Só neste momento é que começa a fazer efeito farmacológico


A análise dos erros, ocorridos nos Estados Unidos pela FDA (MedWatch Program) e USP-ISMP (Medication Errors Reporting Errors),
mostra que as causas dos erros são multifatoriais. Dentre as principais causas estão:
• falta de conhecimento sobre os medicamentos;
• falta de informação sobre os pacientes;
• violação de regras, deslizes e lapsos de memória;
• erros de transcrição;
• falhas na interação com outros serviços;
• falhas na conferência das doses;
• problemas relacionados à bombas e dispositivos de infusão de medicamentos;
• inadequado monitoramento do paciente;
• erros de preparo e falta de padronização dos medicamentos.

Prejuízos e Danos Medicamentos administrados erroneamente podem causar prejuízos/danos ao cliente devido a fatores como:
• Incompatibilidade farmacológica
• Reações indesejadas
• Interações farmacológicas

Interação Medicamentosa

O que é interação medicamentosa?


• Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a interação medicamentosa é definida como uma resposta farmaco-
lógica ou clínica à administração de uma combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois agentes administrados individual-
mente.
• Existem interações medicamentosas do tipo medicamentomedicamento, medicamento-alimento, medicamento-bebida alcoólica e
medicamento-exames laboratoriais. As interações medicamentosas podem ocorrer entre medicamentos sintéticos, fitoterápicos, chás e
ervas medicinais.

Interação medicamentosa do tipo medicamento-medicamento


Um exemplo comum de interação entre dois medicamentos diferentes é a aquela ocorrida entre antiácidos e anti-inflamatórios. Os
medicamentos antiácidos podem diminuir a absorção dos antiinflamatórios, reduzindo o seu efeito terapêutico. Quando o paciente for
iniciar um tratamento com anti-inflamatórios, verifique todos os medicamentos que utiliza, inclusive os antiácidos.

202
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Interação medicamentosa do tipo medicamento-alimento Observações:


O leite e os alimentos lácteos podem reduzir a absorção das te- • A ação de administrar medicamentos é uma tarefa complexa
traciclinas e, consequentemente, diminuir o seu efeito terapêutico. que envolve conhecimento de diversas áreas e a sua prática deve
Oriente que o paciente faça a ingestão desses alimentos uma hora ser cercada de cuidados e de obediência aos princípios gerais.
depois ou duas horas antes da administração das tetraciclinas. • É importante que a enfermagem desenvolva pesquisas de
competência de sua atuação e atualize-se com pesquisas relacio-
Interação medicamentosa do tipo medicamento-bebida alco- nadas a medicamentos, desenvolvidas por outros profissionais, es-
ólica tando atenta, também, aos medicamentos novos e às formas de
As bebidas alcoólicas podem aumentar a toxicidade hepática apresentação das drogas com diferentes métodos de introdução no
do paracetamol, provocando problemas no fígado do paciente. organismo que, continuamente, são lançadas no mercado.
Oriente para o paciente não usar bebidas alcoólicas enquanto esti- • A falta de conhecimentos e de atualização na temática “ad-
ver em tratamento com paracetamol. ministração de medicamentos” tem possibilitado a ocorrência de
erros no processo da administração levando às IATROGENIAS.
Interação medicamentosa do tipo medicamento-exame labo- • Educação permanente: educação e supervisão contínua, re-
ratorial alizada pelo enfermeiro em seus diversos ambientes de trabalho +
Durante o tratamento com amoxicilina, o exame de urina pode pesquisa são práticas altamente fecundas.
encontrar-se alterado, indicando uma falsa presença de glicose na • Elaboração de “protocolos” sobre medicamentos pode auxi-
urina. Sempre que for coletar algum tipo de exame laboratorial, ve- liar significativamente a assistência de enfermagem livre de riscos.
rifique se o pacientes não estiver utilizando o medicamento.
Hemocomponentes, Hemoderivados e soluções
Prejuízos e danos Para entendimento sobre a hemoterapia é necessário compre-
Prejuízos e Danos Estudo feito em instituições hospitalares ender a diferença entre Hemocomponentes e Hemoderivados; nes-
americanas demonstrou que erros potencialmente perigosos acon- te caso, o Ministério da Saúde (2008, p. 15) esclarece:
tecem mais de 40 vezes/dia em hospital e que um paciente está Hemocomponentes e hemoderivados são produtos distintos.
sujeito, em média, a dois erros/dia. Mais de 770.000 pacientes hos- Os produtos gerados um a um nos serviços de hemoterapia, a partir
pitalizados sofrem algum tipo de dano ou morte a cada ano por um do sangue total, por meio de processos físicos (centrifugação, con-
evento medicamentoso adverso. gelamento) são denominados hemocomponentes. Já os produtos
obtidos em escala industrial, a partir do fracionamento do plasma
Controle na Administração Medicamento por processos físico-químicos são denominados hemoderivados.
Ação do profissional de Enfermagem: consciência, segurança, Dessa forma, é possível concluir que tanto os hemocomponen-
conhecimentos ou acesso às informações necessárias. tes como os hemoderivados são os produtos possíveis resultantes
Dúvidas, incerteza e insegurança: fatores de risco para a ocor- do sangue. Existem duas formas possíveis de obtenção de hemo-
rência de erros no processo de administração de medicamentos. componentes, a mais comum é por meio da coleta de sangue total,
Enfermeiro: supervisão das atividades de Enfermagem durante e a outra mais específica é pela aférese (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
o preparo e administração de medicamentos (formação com conhe- 2008).
cimentos suficientes para conduzir tal prática de modo seguro). A aférese pode ser compreendida como:
[...] procedimento caracterizado pela retirada do sangue do do-
Controle na Administração Medicamento ador, seguida da separação de seus componentes por um equipa-
• Ação do profissional de Enfermagem: consciência, segurança, mento próprio, retenção da porção do sangue que se deseja retirar
conhecimentos ou acesso às informações necessárias. na máquina e devolução dos outros componentes ao doador (MI-
• Dúvidas, incerteza e insegurança: fatores de risco para a ocor- NISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p. 15).
rência de erros no processo de administração de medicamentos. O sangue total: a centrifugação é um dos procedimentos que
• Enfermeiro: supervisão das atividades de Enfermagem duran- facilita a separação do sangue total, o que permite a formação de
te o preparo e administração de medicamentos (formação com co- camadas. Após sofrer o processo de centrifugação o sangue total
nhecimentos suficientes para conduzir tal prática de modo seguro). fica separado em basicamente três camadas, denominadas, plas-
ma, buffy-coat e hemácias.
Diluição de Medicamentos Contudo, como é possível que não ocorra a coagulação do san-
• As informações sobre diluição de medicamentos no dia a dia gue? Como já foi descrito anteriormente, a conservação dos produ-
não estão disponíveis de forma simples e prática, é necessário pro- tos sanguíneos é realizada por meio de soluções anticoagulantes-
tocolo de diluição de medicamentos -preservadoras e soluções aditivas, conforme descreve o Ministério
• Exemplo (1): da Saúde (2008, p. 17):
• Nome: Keflin Soluções anticoagulantes-preservadoras e soluções aditivas
• Apresentação: 1gr + água destilada 4ml são utilizadas para a conservação dos produtos sanguíneos, pois im-
• Reconstituição: Próprio diluente (AD) pedem a coagulação e mantêm a viabilidade das células do sangue
• Diluentes/Volumes: Água Destilada 10ml durante o armazenamento. A depender da composição das solu-
• Tempo mínimo de infusão: 1 minuto ções anticoagulantes-preservadoras, a data de validade para a pre-
• Forma de administração: Seringa servação do sangue total e concentrados de hemácias pode variar.
A cada doação são coletados cerca de 450 ml de sangue total.
Cada coleta poderá ser desdobrada em:
• 1 unidade de Concentrado de Hemácias;
• 1 unidade de Concentrado de Plaquetas;
• 1 unidade de Plasma;
• 1 unidade crioprecipitada.

203
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Assim, são beneficiados, potencialmente, pelo menos quatro Não se deve valorizar somente os valores de Ht e Hb, pois em
pacientes. O sangue fresco total é considerado o sangue coletado casos de anemia hemolítica autoimune, em geral, não é encontrado
há no máximo quatro horas. Para a coleta de sangue podem ser sangue compatível e todo sangue que for transfundido é hemolisa-
usadas bolsas adequadas contendo anticoagulantes adicionados ou do, indicado imunossupressão imediata. Transfusão sanguínea, nes-
conservastes para hemácias. ses casos, somente com grande risco de vida. Solicitando sempre
Quando o volume é pequeno, o sangue pode também ser co- acompanhamento de um médico Hematologista/Hemoterapeuta.
lhido em seringas heparinizadas. O sangue total armazenado pode Portanto, a indicação do CH segue critérios médicos, já que é
ser usado para fornir hemácias, proteínas plasmáticas e fatores de este profissional que realiza a prescrição e indicação da transfusão,
coagulação estáveis como o fibrinogênio. por este motivo este item não será abordado amplamente, pois
O sangue fresco total pode ser separado em papa de hemácias existem protocolos médicos que especificam quais são as situações
e plasma por centrifugação ou sedimentação. Depois de separado, nas quais é indicada a terapia com CH e as contraindicações.
a papa de hemácias precisa ser posta a uma temperatura que varia Outra questão importante é a dose a ser infundida no pacien-
entre 1 e 6°C, o mais rápido possível. É necessário que se utilize so- te, que também é realizada pela avaliação médica. Quanto a isto, o
lução salina 0,9% para ressuspender as hemácias, não sendo acon- Ministério da Saúde (2008, p. 32) descreve:
selhado outro tipo de solução (REICHMANN; DEARO, 2001). Deve ser transfundida a quantidade de hemácias suficiente
Se o sangue total não for processado ligeiramente e o plasma para a correção dos sinais/sintomas de hipóxia, ou para que a Hb
for congelado depois de seis horas da colheita, ele é denominado atinja níveis aceitáveis. Em indivíduo adulto de estatura média, a
plasma congelado. O plasma congelado mantém concentrações transfusão de uma unidade de CH normalmente eleva o Hct em 3%
ajustadas somente dos fatores de coagulação dependentes de vita- e a Hb em 1 g/dl. Em recém-nascidos, o volume a ser transfundido
mina K (II, VII, IX, X) e também de imunoglobulinas (Ig). não deve exceder 10 a 15ml/kg/hora.
O plasma fresco congelado pode também ser processado em O modo de administração é de suma importância e neste a
crioprecipitado e crioplasma pobre. O crioprecipitado é o precipi- enfermagem envolve-se diretamente, por isso é necessário ter co-
tado adquirido depois do descongelamento parcial (a temperaturas nhecimento. A este respeito o Ministério da Saúde (2008, p. 32)
entre 1 e 6°C) do plasma fresco congelado e tem alta concentração esclarece:
do fator de coagulação VIII, do fator de Von Willebrand e de fibri- O tempo de infusão de cada unidade de CH deve ser de 60 min
nogênio. a 120 minutos (min) em pacientes adultos. Em pacientes pediá-
Este componente precisa ser sustentado a -18°C, apresentando tricos, não exceder a velocidade de infusão de 20-30ml/kg/hora.
assim validade de um ano após a colheita. Depois da preparação A avaliação da resposta terapêutica à transfusão de CH deve ser
do crioprecipitado, o produto remanescente é denominado de crio- feita através de nova dosagem de HB ou HT 1-2 horas (hs) após a
plasma pobre. Este componente possui albumina e imunoglobuli- transfusão, considerando também a resposta clínica. Em pacientes
nas e pode ser armazenado por até um ano a -18°C. ambulatoriais, a avaliação laboratorial pode ser feita 30min após o
O plasma rico em plaquetas também pode ser obtido por cen- término da transfusão e possui resultados comparáveis.
trifugação diferenciada do plasma fresco. Este precisa ser guardado Concentrado de plaquetas: as plaquetas são decorrentes dos
a uma temperatura que varie entre 20 e 24°C e em movimentação megacariócitos, que se localizam na medula óssea. Elas operam na
constante durante até cinco dias. fase primária da coagulação e são conseguidas pela centrifugação
Concentrado de Hemáceas: é adquirido pela centrifugação do do plasma. Precisam ser estocadas à temperatura de 22º C, em agi-
sangue total. Segundo o Ministério da Saúde (2008), a sobrevida tação contínua.
varia de acordo com a solução preservativa: de 35 a 42 dias. O ar- A indicação para a utilização de concentrado de plaquetas (CP)
mazenamento deve ser de 2ºC a 6º C.
depende igualmente ao CH de avaliação e protocolos médicos, en-
Seu volume varia entre 220 e 280 ml. Então, uma bolsa de san-
tretanto é possível ressaltar:
gue total (ST) é submetida à centrifugação, remoção da maior parte
Basicamente, as indicações de transfusão de CP estão associa-
do plasma e como consequência obtém-se 220 a 280 ml de concen-
das às plaquetopenias desencadeadas por falência medular, rara-
trado de hemácias (CH).
mente indicamos a reposição em plaquetopenias por destruição
A indicação para que seja realizada a transfusão de concen-
periférica ou alterações congênitas de função plaquetária (MINIS-
trado de hemácias, deve ser criteriosa e individual, de acordo com
TÉRIO DA SAÚDE, 2008, p. 32).
o fator determinante: estado hemodinâmico do paciente, anemia
A dose indicada é estabelecida por meio do critério de uma
aguda, classificação de Baskett.
Sobre a indicação de concentrado de hemácias o Ministério da unidade de CP para cada 7 a 10 Kg de peso do paciente. Todavia, o
Saúde (2008, p. 29) alerta: médico poderá avaliar também a contagem plaquetária do paciente
A transfusão de concentrado de hemácias (CH) deve ser reali- para, posteriormente, realizar a prescrição de dosagem. O tempo
zada para tratar, ou prevenir iminente e inadequada liberação de de infusão a ser seguido para administração de CP é:
oxigênio (O2) aos tecidos, ou seja, em casos de anemia, porém nem O tempo de infusão da dose de CP deve ser de aproximada-
todo estado de anemia exige a transfusão de hemácias. Em situa- mente 30min em pacientes adultos ou pediátricos, não excedendo
ções de anemia, o organismo lança mão de mecanismos compen- a velocidade de infusão de 20-30ml/kg/hora. A avaliação da res-
satórios, tais como a elevação do débito cardíaco e a diminuição posta terapêutica a transfusão de CP deve ser feita através de nova
da afinidade da Hb pelo O2, o que muitas vezes consegue reduzir o contagem das plaquetas 1 hora após a transfusão, porém a resposta
nível de hipóxia tecidual. clínica também deve ser considerada. Em pacientes ambulatoriais,
Em algumas ocasiões a transfusão não é indicada, como no a avaliação laboratorial 10min após o término da transfusão pode
caso de anemia por perda sanguínea crônica, anemia por insufici- facilitar a avaliação da resposta e possui resultados comparáveis
ência renal crônica, anemia hemolítica constitucional, Doença Falci- (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998, p. 37).
forme, Talassemias, etc. Plasma fresco congelado: é obtido depois do fracionamento
do sangue total, congelar até oito horas depois da coleta. Deve ser
guardado a uma temperatura de, no mínimo, -20º C, tendo validade
de doze meses.

204
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O plasma fresco congelado (PFC) possui albumina, globulina, d) Repor Fator de von Willebrand em pacientes que não têm
fibrinogênia e fatores de coagulação sanguínea. Uma vez que é des- indicação de DDAVP ou não respondem ao uso de DDAVP, quando
congelado precisa ser usado em até quatro horas. não se dispuser de concentrados de Fator de von Willebrand ou de
A indicação de utilização do Plasma Fresco Congelado é, como concentrados de Fator VIII ricos em multímeros de von Willebrand.
nos casos anteriores, dependente da avaliação médica, cabe res-
saltar o que é preconizado pelo Ministério da Saúde (2008, p. 38): O crioprecipitado antes de ser infundido deve ser descongela-
As indicações para o uso do plasma fresco congelado são restri- do em uma temperatura de 30ºC a 35ºC no prazo máximo de quinze
tas e correlacionadas a sua propriedade de conter as proteínas da minutos, podendo ser feito por meio de banho-maria.
coagulação. O componente deve ser usado, portanto, no tratamen- A transfusão após o descongelamento deve ser imediata, mas
to de pacientes com distúrbio da coagulação, particularmente na- poderá também ficar estocado por até seis horas em temperatura
queles em que há deficiência de múltiplos fatores e apenas quando ambiente e entre 20º e 24º C ou por até quatro horas quando o
não estiverem disponíveis produtos com concentrados estáveis de sistema for aberto.
fatores da coagulação e menor risco de contaminação viral. Uma das formas para se calcular a dosagem a ser administrada
A dose volume a ser transfundida em um paciente vai depen- de crioprecipitado é 1.0 a 1.5 bolsas de Criopreciptado para cada 10
der do peso e das condições hemodinâmicas do paciente, esta ava- Kg de peso do paciente, sendo a intenção de se atingir níveis de fi-
liação será feita pelo médico. É importante ressaltar que o uso de brinogênio de 100mg/dl com reavaliação a cada três ou quatro dias.
10-20 ml de PFC por Kg aumenta de 20 a 30% os níveis dos fatores
de coagulação do paciente. Princípios da administração de medicamentos e Cálculo de
Os cuidados antes da administração do PFC devem ser seguidos Medicacão
rigorosamente para impedir intercorrências, são eles: A administração de medicamentos é uma das atividades que
• Antes da transfusão deve ser completamente descongelado, o auxiliar de enfermagem desenvolve com muita frequência, re-
querendo muita atenção e sólida fundamentação técnico-científica
para isto pode-se utilizar o banho-maria a 37ºC ou equipamento
para subsidiá-lo na realização de tarefas correlatas, pois envolve
específico;
uma sequência de ações que visam a obtenção de melhores resul-
• Após ser descongelado deve ser utilizado o mais rápido pos-
tados no tratamento do paciente, sua segurança e a da instituição
sível, no máximo seis horas após o congelamento em temperatura
na qual é realizado o atendimento.
ambiente ou 24 horas após refrigeração; Assim, é importante compreender que o uso de medicamen-
• Depois de ser descongelado não pode mais ser congelado; tos, os procedimentos envolvidos e as próprias respostas orgânicas
• É importante observar atentamente o aspecto das bolsas an- decorrentes do tratamento envolvem riscos potenciais de provocar
tes de iniciar a transfusão, pois vazamentos e alterações de cor são danos ao paciente, sendo imprescindível que o profissional esteja
alertas para não administração. preparado para assumir as responsabilidades técnicas e legais de-
correntes dos erros que possa vir a incorrer.
Também é importante seguir a seguinte orientação: Geralmente, os medicamentos de uma unidade de saúde são
Na transfusão de plasma, todos os cuidados relacionados à armazenados em uma área específica, dispostos em armários ou
transfusão de hemocomponentes devem ser seguidos criteriosa- prateleiras de fácil acesso e organizados e protegidos contra poeira,
mente. A conferência da identidade do paciente e rótulo da bolsa umidade, insetos, raios solares e outros agentes que possam alterar
antes do início da infusão e uso de equipo com filtro de 170 a 220 seu estado ressalte-se que certos medicamentos necessitam ser ar-
nm são medidas obrigatórias. O tempo máximo de infusão deve ser mazenados e conservados em refrigerador.
de 1 hora (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998, p. 45). Os recipientes contendo a medicação devem possuir tampa e
Crioprecipitado: é a parte insolúvel do plasma, obtido por meio rótulo, identificados com nome (em letra legível) e dosagem do fár-
do procedimento de congelamento rápido, descongelamento e maco.
centrifugação do plasma. É rico em fator VIII: c (atividade pró-coa- A embalagem com dose unitária, isto é, separada e rotulada
gulante), Fator VIII:Vwf (Fator von Willebrand), Fibrinogênio, Fator em doses individuais, cada vez mais vem sendo adotada em gran-
XIII e Fibronectina. des centros hospitalares como meio de promover melhor controle
e racionalização dos medicamentos.
Conforme o Ministério da Saúde (2008, p. 45), as indicações Os pacientes e/ou familiares necessitam ser esclarecidos quan-
para a utilização do crioprecipitado são: to à utilização dos medicamentos receitados pelo médico, e orienta-
[...] tratamento de hipofibrinogenemia congênita ou adquirida dos em relação ao seu armazenamento e cuidados - principalmente
(<100mg/dl), disfibrinogenemia ou deficiência de fator XIII. A hi- se houver crianças em casa, visando evitar acidentes domésticos.
pofibrinogenemia adquirida pode ser observada após tratamento Os entorpecentes devem ser controlados a cada turno de trabalho e
sua utilização feita mediante prescrição médica e receita contendo
trombolítico, transfusão maciça ou coagulação intravascular dis-
nome do paciente, quantidade e dose, além da data, nome e assina-
seminada (CID). Somente 50% do total dos 200mg de fibrinogênio
tura do médico responsável. Ao notar a falta de um entorpecente,
administrados/bolsa no paciente com complicações devido à trans-
notifique tal fato imediatamente à chefia.
fusão maciça são recuperados por meio intravascular.
A administração de medicamentos segue normas e rotinas que
E também nos seguintes casos: uniformizam o trabalho em todas as unidades de internação, facili-
a) Repor fibrinogênio em pacientes com hemorragia e deficiên- tando sua organização e controle. Para preparar os medicamentos,
cia isolada congênita ou adquirida de fibrinogênio, quando não se faz-se necessário verificar qual o método utilizado para se aviar a
dispuser do concentrado de fibrinogênio industrial. prescrição - sistema de cartão, receituário, prescrição médica, folha
b) Repor fibrinogênio em pacientes com coagulação intravascu- impressa em computador.
lar disseminada-CID e graves hipofibrinogenemias. Visando administrar medicamentos de maneira segura, a en-
c) Repor Fator XIII em pacientes com hemorragias por defici- fermagem tradicionalmente utiliza a regra de administrar o medi-
ência deste fator, quando não se dispuser do concentrado de Fator camento certo, a dose certa, o paciente certo, a via certa e a hora
XIII industrial. certa.

205
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Durante a fase de preparo, o profissional de enfermagem deve luvas de procedimento


ter muita atenção para evitar erros, assegurando ao máximo que forro de proteção
o paciente receba corretamente a medicação. Isto justifica porquê gazes
o medicamento deve ser administrado por quem o preparou, não medicamento sólido ou líquido
sendo recomendável a administração de medicamentos preparados comadre (opcional)
por outra pessoa.
Administrando medicamentos tópicos por via cutânea, ocular,
As orientações a seguir compreendem medidas de organizati- nasal,
vas e de assepsia que visam auxiliar o profissional nesta fase do tra- -otológica e vaginal
balho: lavar sempre as mãos antes do preparo e administração de
medicamentos, e logo após; preparar o medicamento em ambiente Material necessário:
com boa iluminação; concentrar-se no trabalho, evitando distrair - bandeja
a atenção com atividades paralelas e interrupções que podem au- - espátula, conta-gotas, aplicador
mentar a chance de cometer erros; - gaze
Ler e conferir o rótulo do medicamento três vezes: ao pegar - luvas de procedimento
o frasco, ampola ou envelope de medicamento; antes de colocar -medicamento
o medicamento no recipiente próprio para administração e ao re-
colocar o recipiente na prateleira ou descartar a ampola/frasco ou Administrando medicamentos por via parenteral
outra embalagem. A via parenteral é usualmente utilizada quando se deseja uma
Um profissional competente não se deixa levar por comporta- ação mais imediata da droga, quando não há possibilidade de admi-
mentos automatizados, pois tem a consciência de que todo cuidado nistrá-la por via oral ou quando há interferência na assimilação da
é pouco quando se trata de preparar e administrar medicamentos; droga pelo trato gastrintestinal.
Realizar o preparo somente quando tiver a certeza do medica- A enfermagem utiliza comumente as seguintes formas de ad-
mento prescrito, dosagem e via de administração; as medicações ministração parenteral: intradérmica, subcutânea, intramuscular e
devem ser administradas sob prescrição médica, mas em casos de endovenosa.
emergência é aceitável fazê-las sob ordem verbal (quando a situ-
ação estiver sob controle, todas as medicações usadas devem ser Material necessário:
prescritas pelo médico e checadas pelo profissional de enfermagem - Bandeja ou cuba-rim
que fez as aplicações; -Seringa
Identificar o medicamento preparado com o nome do pacien- - Agulha
te, número do leito, nome da medicação, via de administração e - Algodão
horário; observar o aspecto e características da medicação, antes - Álcool a 70%
de prepará-la; deixar o local de preparo de medicação em ordem -garrote (aplicação endovenosa)
e limpo, utilizando álcool a 70% para desinfetar a bancada; utilizar - Medicamento (ampola, frasco-ampola)
bandeja ou carrinho de medicação devidamente limpos e desinfe-
tados com álcool a 70%; quando da preparação de medicamentos A administração de medicamento por via parenteral exige pré-
para mais de um paciente, é conveniente organizar a bandeja dis- vio preparo com técnica asséptica e as orientações a seguir enun-
pondo-os na seqüência de administração. ciadas visam garantir uma maior segurança e evitar a ocorrência de
Similarmente, seguem-se as orientações relativas à fase de ad- contaminação.
ministração: manter a bandeja ou o carrinho de medicação sempre Ao selecionar os medicamentos, observar o prazo de validade,
à vista durante a administração, nunca deixando-os, sozinhos, junto o aspecto da solução ou pó e a integridade do frasco.
ao paciente; antes de administrar o medicamento, esclarecer o pa- Certificar-se de que todo o medicamento está contido no corpo
ciente sobre os medicamentos que irá receber, de maneira clara e da ampola, pois muitas vezes o estreitamento do gargalo faz com
compreensível, bem como conferir cuidadosamente a identidade que parte do medicamento fique retida. Observar a integridade dos
do mesmo, para certificar-se de que está administrando o medica- invólucros que protegem a seringa e a agulha; colocar a agulha na
mento à pessoa certa, verificando a pulseira de identificação e/ou seringa com cuidado, evitando contaminar a agulha, o êmbolo, a
pedindo-lhe para dizer seu nome, sem induzi-lo a isso; permanecer parte interna do corpo da seringa e sua ponta.
junto ao paciente até que o mesmo tome o medicamento. Desinfetar toda a ampola com algodão embebido em álcool
Deixar os medicamentos para que tome mais tarde ou permitir a 70%, destacando o gargalo no caso de frasco-ampola, levantar a
que dê medicação a outro são práticas indevidas e absolutamente tampa metálica e desinfetar a borracha.
condenáveis; efetuar o registro do que foi fornecido ao paciente, Proteger os dedos com algodão embebido em álcool a 70% na
após administrá-los. hora de quebrar a ampola ou retirar a tampa metálica do frasco-
ampola.
Administrando medicamentos por via oral e sublingual: Para aspirar o medicamento da ampola ou frasco ampola, segu-
Material necessário: rá-lo com dois dedos de uma das mãos, mantendo a outra mão livre
-bandeja para realizar, com a seringa, a aspiração da solução.
- copinhos descartáveis No caso do frasco-ampola, aspirar o diluente, introduzi-lo den-
- fita adesiva para identificação tro do frasco e deixar que a força de pressão interna desloque o ar
- material acessório: seringa, gazes, conta-gotas, etc. para o interior da seringa.
- água, leite, suco ou chá trar o medicamento. Homogeneizar o diluente com o pó liofilizado, sem sacudir, e
aspirar. Para aspirar medicamentos de frasco de dose múltipla, inje-
Administrando medicamentos por via retal tar um volume de ar equivalente à solução e, em seguida, aspirá-lo.
Material necessário:
bandeja

206
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

O procedimento de introduzir o ar da seringa para o interior Via intramuscular


do frasco visa aumentar a pressão interna do mesmo, retirando fa- A via intramuscular é utilizada para administrar medicamentos
cilmente o medicamento, haja vista que os líquidos movem-se da irritantes, por ser menos dolorosa, considerando-se que existe me-
uma área de maior pressão para a de menor pressão. Portanto, ao nor número de terminações nervosas no tecido muscular profundo.
aspirar o medicamento, manter o frasco invertido A absorção ocorre mais rapidamente que no caso da aplicação sub-
Após a remoção do medicamento, retirar o ar com a agulha cutânea, devido à maior vascularização do tecido muscular. O volu-
e a seringa voltadas para cima. Recomenda-se puxar um pouco o me a ser administrado deve ser compatível com a massa muscular,
êmbolo, para remover a solução contida na agulha, visando evitar que varia de acordo com a idade, localização e estado nutricional.
seu respingo quando da remoção do ar Considerando-se um adulto com peso normal, o volume mais
A agulha deve ser protegida com o protetor e o êmbolo da se- adequado de medicamento em aplicação no deltóide é de aproxi-
ringa com o próprio invólucro. madamente 2ml; no glúteo, 4 ml e na coxa, 3 ml35, embora exis-
Identificar o material com fita adesiva, na qual deve constar o tam autores que admitam volumes maiores. De qualquer maneira,
nome do paciente, número de leito/quarto, medicamento, dose e quantidades maiores que 3ml devem ser sempre bem avaliadas
via de administração. pois podem não ter uma adequada absorção3
As precauções para administrar medicamentos pela via paren- Para aplicação em adulto eutrófico, as agulhas apropriadas são
teral são importantes para evitar danos muitas vezes irreversíveis 25x7, 25x8, 30x7 e 30x8. No caso de medicamentos irritantes, a
agulha que aspirou o medicamento deve ser trocada, visando evitar
ao paciente. Antes da aplicação, fazer antissepsia da pele, com ál-
a ocorrência de lesões teciduais.
cool a 70%.
Orientar o paciente para que adote uma posição confortável,
É importante realizar um rodízio dos locais de aplicação, o que
relaxando o músculo, processo que facilita a introdução do líquido,
evita lesões nos tecidos do paciente, decorrentes de repetidas apli-
evita extravasamento e minimiza a dor.
cações. Evite a administração de medicamentos em áreas inflamadas,
Observar a angulação de administração de acordo com a via e hipotróficas, com nódulos, paresias, plegias e outros, pois podem
comprimento da agulha, que deve ser adequada à via, ao tipo de dificultar a absorção do medicamento. Num movimento único e
medicamento, à idade do paciente e à sua estrutura física. com impulso moderado, mantendo o músculo com firmeza, intro-
Após a introdução da agulha no tecido e antes de pressionar o duzir a agulha num ângulo de 90º, puxar o êmbolo e, caso não haja
êmbolo da seringa para administrar o medicamento pelas vias sub- retorno de sangue administrar a solução.
cutânea e intramuscular, deve-se aspirar para ter a certeza de que Após a introdução do medicamento, retirar a agulha - também
não houve punção de vaso sanguíneo. num único movimento - e comprimir o local com algodão molhado
Caso haja retorno de sangue, retirar a punção, preparar nova- com álcool a 70%.
mente a medicação, se necessário, e repetir o procedimento. Des- Os locais utilizados para a administração de medicamentos são
prezar a seringa, com a agulha junta, em recipiente próprio para as regiões do deltóide, dorsoglútea, ventroglútea e antero-lateral
materiais perfurocortantes. da coxa. A região dorsoglútea tem o inconveniente de situar-se pró-
Via intradérmica xima ao nervo ciático, o que contra-indica esse tipo de aplicação
É a administração de medicamentos na derme, indicada para em crianças.
a aplicação de vacina BCG e como auxiliar em testes diagnósticos e A posição recomendada é o decúbito ventral, com os pés vol-
de sensibilidade tados para dentro, facilitando o relaxamento dos músculos glúteos;
Para testes de hipersensibilidade, o local mais utilizado é a caso não seja possível, colocar o paciente em decúbito lateral. O
região escapular e a face interna do antebraço; para aplicação de local indicado é o quadrante superior externo, cerca de 5cm abaixo
BCG, a região deltóide do braço direito. Esticar a pele para inserir a do ápice da crista ilíaca.
agulha, o que facilita a introdução do bisel, que deve estar voltado Outra maneira de identificar o local de aplicação é traçando
para cima; visando atingir somente a epiderme, formar um ângulo uma linha imaginária da espinha ilíaca póstero-superior ao trocan-
de 15º com a agulha, posicionando-a quase paralela à superfície da ter maior do fêmur; a injeção superior ao ponto médio da linha
mesma. também é segura.
Não se faz necessário realizar aspiração, devido à ausência de Para a aplicação de injeção no deltóide, recomenda-se que o
paciente esteja em posição sentada ou deitada
vaso sanguíneo na epiderme. O volume a ser administrado não
Medir 4 dedos abaixo do ombro e segurar o músculo durante
deve ultrapassar a 0,5ml, por ser um tecido de pequena expansi-
a introdução da agulha ) . O músculo vasto lateral encontra-se na
bilidade, sendo utilizada seringa de 1ml e agulha 10x5 e 13x4,5.
região antero-lateral da coxa. Indica-se a aplicação intramuscular no
Quando a aplicação é correta, identifica-se a formação de pápula,
terço médio do músculo, em bebês, crianças e adultos
caracterizada por pequena elevação da pele no local onde o medi- A região ventroglútea, por ser uma área desprovida de gran-
camento foi introduzido. des vasos e nervos, é indicada para qualquer idade, principalmente
para crianças. Localiza-se o local da injeção colocando-se o dedo
Via subcutânea indicador sobre a espinha ilíaca antero-superior e, com a palma da
É a administração de medicamentos no tecido subcutâneo, mão sobre a cabeça do fêmur (trocanter), em seguida desliza-se o
cuja absorção é mais lenta do que a da via intramuscular. Doses adjacente (médio) para formar um V. A injeção no centro do V al-
pequenas são recomendadas, variando entre 0,5ml a 1ml. Também cança os músculos glúteos essos, necrose e lesões de nervo.
conhecida como hipodérmica, é indicada principalmente para vaci-
nas (ex. anti-rábica), hormônios (ex. insulina), anticoagulantes (ex.
heparina) e outras drogas que necessitam de absorção lenta e con-
tínua. Seus locais de aplicação são a face externa do braço, região
glútea, face anterior e externa da coxa, região periumbilical, região
escapular, região inframamária e flanco direito ou esquerdo.

207
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Via endovenosa Os medicamentos, que costumam receber um tratamento di-


A via endovenosa é utilizada quando se deseja uma ação rápida ferenciado devido a sua importância estratégica para as áreas de
do medicamento ou quando outras vias não são propícias. Sua ad- saúde, serão considerados como um grupo de materiais uma vez
ministração deve ser feita com muito cuidado, considerando-se que que essa diferenciação não garante um gerenciamento satisfatório
a medicação entra diretamente na corrente sangüínea, podendo se comparado com os demais grupos de materiais.
ocasionar sérias complicações ao paciente caso as recomendações
preconizadas não sejam observadas. As soluções administradas por Em um hospital, os gastos com materiais representam aproxi-
essa via devem ser cristalinas, não-oleosas e sem flocos em suspen- madamente de 15 a 25% das despesas correntes. Em um ambulató-
são. Para a administração de pequenas quantidades de medicamen- rio, a estimativa varia de acordo com a forma de prestação do ser-
tos são satisfatórias as veias periféricas da prega (dobra) do cotove- viço. A dispensação de medicamentos é um dos itens que afetam
lo, do antebraço e do dorso das mãos. A medicação endovenosa de forma fundamental os gastos da unidade. Ainda assim, pode-se
pode ser tam bém aplicada através de cateteres intravenosos de dizer que os materiais comprometem entre 2% e 5% do total de
curta/longa permanência e flebotomia. O medicamento pode ainda despesas correntes de uma unidade ambulatorial.
ser aplicado nas veias superficiais de grande calibre: região cubital, O sistema de materiais de um hospital registra de 3.000 a 6.000
dorso da mão e antebraço. Material necessário: bandeja bolas de itens de consumo adquiridos com certa frequência; um ambulató-
algodão álcool a 70% fita adesiva hipoalergênica garrote escalpe(s) rio, entre 200 e 500 itens. Apenas como comparação, um caminhão
adequado(s) ao calibre da veia do paciente) seringa e agulha. médio se compõe de aproximadamente 10.000 peças. Esses núme-
ros mostram que a complexidade de um sistema não está restrita
Venóclise à quantidade de variáveis ou ao seu custo - é necessário considerar
Venóclise é a administração endovenosa de regular quantidade também complexidade do seu processo produtivo.
de líquido através de gotejamento controlado, para ser infundido O processo de produção do setor da saúde é muito complexo
num período de tempo pré-determinado. É indicada principalmen- e o hospital, uma das mais intrincadas unidades de trabalho, por-
te para repor perdas de líquidos do organismo e administrar medi- quanto ele constitui um centro de interação de várias disciplinas
camentos. e profissões, incorporando tecnologias, gerando um modelo assis-
As soluções mais utilizadas são a glicosada a 5% ou 10% e a tencial com uma variedade enorme de itens e graus de diversidade.
fisiológica a 0,9%. Antes de iniciar o procedimento, o paciente deve Uma das maiores dificuldades da administração de materiais reside
ser esclarecido sobre o período previsto de administração, corre- na distância entre o processo produtivo e os sistemas de apoio, fato
lacionando-o com a importância do tratamento e da necessidade que se repete na administração de recursos humanos e outros sis-
de troca a cada 72 horas. O profissional deve evitar frases do tipo temas atuantes nas unidades.
não dói nada, pois este é um procedimento dolorido que muitas ve-
zes requer mais de uma tentativa. Isto evita que o paciente sinta-se Por que falta material?
enganado e coloque em cheque a competência técnica de quem Uma maneira interessante de formular essa questão é: em que
realiza o procedimento. medida as faltas são resultantes de falhas da administração de ma-
Material necessário: o mesmo utilizado na aplicação endoveno- teriais? Ou ainda: por que os sistemas meio e fim funcionam de
sa, acrescentando-se frasco com o líquido a ser infundido, suporte, forma tão dissociada? A resposta à questão é fundamental, pois
medicamentos, equipo, garrote, cateter periférico como escalpe, identifica as causas e orienta as ações necessárias para sua corre-
gelco ou similar, agulha, seringa, adesivo (esparadrapo, micropore ção. O diagnóstico inadequado leva a uma ação que não produzirá
ou similar), cortado em tiras e disposto sobre a bandeja, acessórios os efeitos desejados.
como torneirinha e bomba de infusão, quando necessária. As causas da falta de materiais podem ser identificadas em três
diferentes grupos:
NORMAS E ROTINAS DE TRABALHO DAS UNIDADES DE a) Causas estruturais
ATENDIMENTO, ASSIM COMO O FUNCIONAMENTO E Falta de prioridade política para o setor: baixos investimentos,
UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAIS ESPECÍ- baixos salários, corrupção, serviços de baixa qualidade, etc.
FICOS Clientelismo político: diretores incompetentes, fixação de prio-
ridades sem a participação da sociedade, favorecimentos, etc.
RECURSOS MATERIAIS NA ÁREA HOSPITALAR Controles burocráticos: que agem sobre os instrumentos,
particularmente naqueles de caráter econômico, levando à des-
”Administração de recursos materiais nas instituições de saúde valorização das ações executadas e invertendo o referencial das
têm como objetivo coordenar todas as atividades necessárias para organizações, importante lembrar que não basta fazer as coisas
garantir o suprimento de todas as áreas de organização, ao menor corretamente: deve-se também fazer as coisas certas. A burocra-
custo possível e de maneira que a prestação de seus serviços não cia somente se preocupa com o rito - ela não se interessa com o
sofra interrupções prejudiciais aos clientes.” (CASTILHO, 1991). produto final.
Objetivo básico da administração de materiais consiste em co- Centralização excessiva: produz danos imensos na área de ma-
locar os recursos necessários ao processo produtivo com qualida- teriais. Compras centralizadas e baseadas exclusivamente em me-
de, em quantidades adequadas, no tempo correto e com o menor nores preços são exemplos que devem ser evitados.
custo. Os materiais são produtos que podem ser armazenados ou
que serão consumidos imediatamente após a sua chegada. b) Causas organizacionais
Baseados nesse conceito estão excluídos os materiais consi- • Decorrem, em geral, das descritas anteriormente.
derados permanentes, como equipamentos médico-hospitalares, • Falta de objetivos: quando os objetivos não estão claros, cada
mobiliário, veículos e semelhantes, e incluídos, portanto, os demais unidade cria seu próprio sistema de referência. Como consequên-
produtos, como medicamentos, alimentos, material de escritório, cia, pode ocorrer uma dissociação entre a área fim e as áreas meio.
de limpeza, de conservação e reparos, de uso cirúrgico, de radiolo- • Falta de profissionalismo da direção.
gia, de laboratório, reagentes químicos, vidraria, etc. • Falta de capacitação e de atualização do pessoal.

208
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Falta de recursos financeiros. Administração de Materiais e a Enfermagem


• Falta de controles.
• Corrupção. Os enfermeiros ao prestarem a assistência à saúde utilizam re-
• Falta de planejamento. cursos materiais, cabendo a eles a competência e responsabilida-
• Rotinas e normas não estabelecidas adequadamente. de pela administração de materiais em suas unidades de trabalho
através da determinação do material necessário para a realização
c) Causas individuais da assistência seja no aspecto quantitativo como no qualitativo, na
Em parte, também, derivam das anteriores. definição das especificações técnicas, na participação no processo
• Diretores improvisados: inseguros ou incapazes de inovar, de compra, na organização, no controle e avaliação desses mate-
sem condições de manter um diálogo adequado com a área fim. riais (CASTILHO; LEITE, 1991).
• Funcionários desmotivados: sem compromisso com a insti- Ao considerarmos a complexidade dos materiais utilizados na
tuição. Seu principal objetivo é a manutenção do emprego. área da saúde, é de suma importância que a enfermagem participe
• Considerando-se tudo o que foi colocado até agora, a per- do processo de gerenciamento de recursos materiais, assessorando
gunta passa a ser: a administração de materiais possui os elemen- a área administrativa nos aspectos técnicos (CASTILHO; GONÇAL-
tos adequados para evitar as faltas? VES, 2014).
• Se a resposta for positiva, a administração de materiais, equi- Segundo Peres e Ciampone (2006), p. 498.
pada de tecnologia adequada, poderá evitar, em parte, a falta de Para o desenvolvimento da competência administração e ge-
materiais, porém essa ação isolada não é suficiente sem a elimina- renciamento são considerados indispensáveis o conjunto de co-
ção das causas. A administração de materiais isoladamente não é nhecimentos identificados para planejar, tomar decisões, interagir,
capaz de evitar as faltas. O sistema de materiais deve ser entendido gestão de pessoal. Assim nas DCNs, com ênfase nas funções ad-
como um subsistema do sistema de produção que funciona como ministrativas, destacam-se o planejamento, organização, coorde-
meio para que se alcancem os objetivos. nação, direção e controle dos serviços de saúde, além dos conhe-
• Trata-se, portanto, de uma área que depende do processo de cimentos específicos da área social/ econômica que permitem ao
formulação de objetivos e metas da organização. gerente acionar dados e informações do contexto macro e microor-
ganizacional, e analisá-los de modo a subsidiar a gestão de recursos
Objetivos da Administração ou Gerenciamento humanos, recursos materiais, físicos e financeiros.
de Materiais nas instituições de saúde No trabalho gerencial do enfermeiro, além de gerir a assistên-
cia é indispensável à gerência da unidade, que compreende a admi-
São considerados objetivos primários: alcançar baixos custos nistração dos recursos humanos e materiais a fim de manter o bom
de aquisição, de manutenção, de reposição e de mão de obra; pro- funcionamento do serviço, prevendo e provendo recursos necessá-
mover a rotatividade de estoques, estimular o treinamento e aper- rios à assistência, sendo particularmente importante a participação
feiçoamento do pessoal; possibilitar a continuidade de fornecimen- da enfermagem no gerenciamento de recursos materiais em ser-
to; garantir a qualidade dos materiais adquiridos; promover boas viços de maior densidade tecnológica (OLIVEIRA; CHAVES, 2009).
relações com os fornecedores, bons registros e cadastros; realizar a Segundo Castilho e Gonçalves (2014), um papel importante do
padronização, otimização do atendimento, maximização de retor- enfermeiro no gerenciamento de recursos materiais consiste em
nos, e centralização de atividades. saber e acompanhar o consumo de materiais da unidade sob sua
São considerados objetivos secundários: garantir harmonia in- responsabilidade. Além disso, é de suma importância que o enfer-
terdepartamental, economia, reciprocidade, atualização e melho- meiro esteja atualizado no que se refere aos produtos e tecnologias
ria da qualidade. lançados no mercado, avaliando sempre o custo benefício da utili-
De modo geral pode-se dizer que para o alcance desses objeti- zação de um novo produto e o impacto de novas tecnologias para
vos a Administração de Materiais tem como funções: assistência, com o objetivo de garantir a qualidade da assistência
prestada.
Assim, pode-se concluir que a atividade de gerência de recur-
sos materiais realizada pelo enfermeiro deve ter como objetivo a
melhoria da assistência à saúde de indivíduos e comunidade bem
como as condições de trabalho das equipes de enfermagem e de
saúde.
É de competência e responsabilidade do enfermeiro o geren-
ciamento de recursos humanos, materiais e financeiros, que em
muitas das vezes são precários. Neste sentido, a instrumentalização
do enfermeiro por meio da aquisição de conhecimentos sobre a
temática é necessária. Assim, evidencia-se a importância da inser-
ção do conteúdo de gerência de recursos materiais nos cursos de
enfermagem, para que os profissionais saibam gerenciar os custos
da assistência de enfermagem (OLIVEIRA, et al. 2014; OLIVEIRA et
al. 2012).
A finalidade da Administração de Materiais consiste em coor- Entretanto, o enfermeiro deve ter o cuidado de não transfor-
denar as atividades que garantam o suprimento das necessidades mar a administração de materiais (AM) por ele desenvolvida em
da instituição, com qualidade e em quantidades adequadas, no uma atividade burocrática que vise unicamente à manutenção dos
tempo correto e ao menor custo provável, através da compra, ar- interesses financeiros da instituição, mas sim como uma conquista
mazenamento, distribuição e controle. que destaca o importante papel do enfermeiro na dimensão técni-
co-administrativa, que faz parte dos processos de cuidar e geren-
ciar (CASTILHO; GONÇALVES, 2005). Concluímos então, que esta
atividade realizada pelo enfermeiro contribui:

209
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Para que os interesses financeiros da instituição sejam preservados, através do controle de estoque, da utilização adequada dos
materiais, evitando-se o desperdício;
- para a melhoria da assistência à saúde de indivíduos e comunidade, pois o enfermeiro deve estar atento à qualidade do material
a ser utilizado e a quantidade necessária, com o objetivo de minimizar o risco para o paciente e evitar a descontinuidade da assistência;
- para a melhoria das condições de trabalho das equipes de enfermagem e de saúde.

Materiais de qualidade podem contribuir para a satisfação no trabalho, além de evitar o risco de acidentes.

Classificação dos materiais

Os materiais em unidades hospitalares usualmente são classificados segundo a duração sendo agrupados em: materiais de consumo
e permanentes (LOURENÇO; CASTILHO, 2006; CASTILHO; LEITE, 1991).

Materiais permanentes são aqueles que não são estocáveis, ou que permitem apenas uma estocagem temporária, transitória, apre-
sentando um tempo de vida útil igual ou superior a dois anos, constituem o patrimônio da instituição, como por exemplo, mobiliários,
equipamentos, instrumentais e outros.
Materiais de consumo são estocados e com o uso acabam perdendo suas propriedades, sendo consumíveis, tendo uma duração de
no máximo dois anos como, por exemplo, esparadrapos, extensões para oxigênio, inaladores, seringas, agulhas e outros.
Mas, existem ainda, outras classificações para os materiais de acordo com:
- Finalidade ou o uso a que se destinam (oxigenoterapia, cateterismo);
- Tamanho ou porte, de acordo com as necessidades de instalação e guarda correlacionada com as dimensões do material (pequeno,
médio e grande);
- Custo;
- Matéria-prima (plásticos, silicone, metais, cerâmica, vidro);
- Função do controle (material fixo, móvel ou circulante);
- Função da guarda (perecível, inflamável, frágil, pesado, tóxico).

Em relação ao custo existe um modelo de classificação elaborado por Vilfredo Pareto, denominado curva ABC, onde os materiais são
agrupados em categorias A, B ou C de acordo com o custo. Quanto à quantidade de material, os itens classe A deverão corresponder a
20%, os de classe B 20 a 30% e os de classe C, 50% do total dos materiais. Em relação ao custo ou investimento os de classe A correspon-
dem a cerca de 50% dos custos, os de classe B de 20 a 30% e os de classe C, a 20% (CASTILHO; GONÇALVES, 2014; LOURENÇO; CASTILHO,
2006).

Etapas da Administração de Materiais nas Unidades de


enfermagem

Como já dito anteriormente a competência e responsabilidade pelo gerenciamento de recursos materiais nas unidades de enfer-
magem é do enfermeiro, que ao desempenhar essa atividade realiza: a determinação e especificação dos materiais e equipamentos; o
estabelecimento da quantidade de material e equipamento; a análise da qualidade dos materiais e equipamentos; a determinação dos
produtos a serem adquiridos; o estabelecimento de um sistema de controle e avaliação; o acompanhamento do esquema de manutenção
adotado pela instituição; a adoção de um programa de orientação da equipe de enfermagem, sobre o manuseio e conservação de mate-
riais e equipamentos e a atualização de conhecimentos sobre os produtos utilizados na assistência à saúde e lançados no mercado (FON-
SECA, 1995). Ao realizar essas atividades os enfermeiros estão desempenhando as funções de: previsão, provisão, organização e controle.

Previsão de materiais em enfermagem

A previsão de materiais nas unidades de enfermagem consiste em: fazer levantamento das necessidades da unidade de enfermagem,
identificando a quantidade e a especificidade deles para suprir essas necessidades. . Prever significa “conhecer com antecipação; antever”.
E para realizar essa função em uma unidade de enfermagem o enfermeiro deve definir através de um levantamento as necessidades
de recursos, identificando a quantidade e a especificidade deles. Além da quantidade e da especificidade dos materiais necessários o en-
fermeiro ao realizar a previsão deve estar considerando também: a especificidade da unidade; as características da clientela; a frequência
no uso dos materiais, o número de leitos na unidade; o local de guarda; a durabilidade do material e a periodicidade da reposição do
material (CASTILHO; LEITE, 1991).

210
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

É necessário adotar uma prática de distribuição baseada não - Sistema de reposição por quantidade esse sistema, se bem
somente na experiência do consumo, pois essa pode ocasionar pe- utilizado, pode revelar-se bastante vantajoso, mas pode ocasionar
didos em excesso, requisições parcialmente atendidas, originando falta de material caso não seja observado, constantemente o nível
um ciclo cumulativo e danoso para a gerência de recursos mate- mínimo de estoque;
riais com elevação dos custos. Além disso temos que preocupar em - Sistema de reposição por quantidade e tempo colabora para
atender as normas sanitárias, orientando e fundamentando a ativi- o não esquecimento da emissão de solicitação de material e evita
dade de previsão de recursos materiais. o aumento de estoque, sua realização depende de que se disponha
A estimativa do quantitativo de material necessário pode ser de estudo frequente da previsão de materiais;
obtida através do consumo médio mensal (CMM) que consiste na - Sistema de reposição imediata por quantidade verifica-se um
observação do consumo por um período de tempo, que geralmente inconveniente nesta forma de reposição, é quando ocorre o esque-
é de três meses, dividido pelo número de meses mais uma margem cimento do débito de material, ficando a unidade desfalcada.
de segurança (ES) definindo-se assim uma cota de material (CM).
6Um instrumento que auxilia nessa observação é o mapa de Organização e Guarda de Material
consumo de material, onde normalmente consta tipo de material,
cota mensal e gastos (CASTILHO; GONÇALVES, 2014). Após prever e prover os materiais, os equipamentos são ne-
Para atualização dos dados a cada novo mês, acrescenta-se o cessários que se pense em que locais e de que modo estes serão
valor do consumo mais recente e despreza-se o mais antigo. distribuídos, armazenados e estocados.
Uma estimativa de material bem elaborada contribui para que Segundo Gama (1997), “armazenar ou estocar materiais é dis-
não se tenha um acúmulo de materiais nas unidades, para a econo- por de forma racional e técnica cada produto em seus depósitos
mia do hospital e para que o almoxarifado tenha uma visão real do (almoxarifado). O material deve ser acondicionado em estantes,
material que esta sendo necessário. É necessário acrescentar 10% armários, estrados, prateleiras, gavetas ou em pilhas seguindo nor-
mas técnicas para evitar riscos de queda, achatamento, deteriora-
ao gasto mensal como margem de segurança, garantindo que não
ção, perda e outros”.
falte material para a realização dos cuidados.
De modo geral ao se realizar a guarda do material é importan-
te:
Provisão de materiais em enfermagem
- Observar a facilidade de visualização para o pessoal;
- Evitar riscos de contaminação (poeira, umidade, luz entre ou-
A provisão diz respeito à reposição de materiais na unidade de tros);
enfermagem. Para desempenhar essa função o enfermeiro deve re- - Garantir a facilidade de realização de inventários, reposição
alizar a requisição de materiais em impresso próprio e encaminhar e controle (por exemplo, através do uso de fichas por número e
a solicitação aos serviços competentes. A rotina de requisição de espécie);
materiais pode sofrer pequenas alterações de acordo com a insti- - Proporcionar rigoroso controle;
tuição, mas de modo geral, segue os seguintes passos: descrição do - Possibilitar à equipe de enfermagem o acesso aos materiais
material em ordem alfabética com especificação do tipo, dimensão conforme as necessidades do Serviço de Enfermagem.
e quantidade; verificação do estoque existente; solicitação sema- - Evitar o sub-estoque e a guarda descentralizada, o que pode
nal, quinzenal ou mensal em impresso próprio, em duas vias ou dificultar o controle e favorecer o desvio.
mais; envio à Chefia do SE – quando necessário; encaminhamento
da requisição ao almoxarifado de acordo com as normas do ser- É necessário à educação permanente da equipe do almoxari-
viço, recebimento do material do almoxarifado sendo que nesse fado para o armazenamento adequado dos materiais, pois a ma-
momento deve-se conferir e guardar e, por fim, controlar os gastos nutenção da viabilidade dos itens até a sua distribuição para as
(FONSECA, 1995). unidades depende diretamente das condições de armazenamento
O mapa de consumo de material auxilia também na realização (temperatura, umidade, ventilação) e Layout otimizado. Cabe aos
dessa etapa. enfermeiros, também, a orientação a outros setores com a guarda
O sistema de reposição pode ser realizado de quatro formas: do material.
-Sistema de reposição por tempo: em épocas predeterminadas
as cotas são repostas integralmente; Controle
- Sistema de reposição por quantidade: quando o estoque che-
ga a um nível mínimo, denominado de estoque de reposição, é feita Ao desenvolver o processo de Administração de Materiais o
a reposição do material tendo por base a cota predeterminada, in- enfermeiro deverá desempenhar também a função de controle dos
dependente de um prazo estipulado; materiais nas unidades de enfermagem. Esta é uma função ampla,
uma vez que diz respeito a quantidade, qualidade, conservação, re-
- Sistema de reposição por quantidade e tempo: é estabelecida
paros e proteção dos materiais
uma cota para um determinado tempo, e em uma época predeter-
A realização de um controle adequado auxilia no desenvolvi-
minada, é feita a solicitação de materiais na quantidade necessária
mento das demais funções, pois fornece dados para a previsão,
para repor o estoque;
propicia informações sobre a qualidade e a durabilidade do mate-
- Sistema de reposição imediata por quantidade: os materiais rial, diminui o extravio, aumenta a eficiência dos equipamentos – e
são encaminhados diariamente ou com uma frequência ainda assim garante uma utilização apropriada dos recursos materiais, a
maior, para a unidade, de acordo com o consumo. continuidade da assistência ao paciente e a diminuição dos custos
relacionados aos materiais.
Podemos relacionar vantagens e desvantagens da utilização O controle dos materiais pode ser feito de diversas maneiras
desses quatro métodos de provisão de materiais: através do método ABC (classifica os materiais segundo custo para
- Sistema de reposição por tempo é a forma mais utilizada na a instituição); sistema de troca/reposição; uso de cadernos com o
enfermagem, porém propicia a formação de grandes estoques na número de patrimônio e quantidade; fichas técnicas e atualmente
unidade; o uso do computador (CASTILHO; LEITE, 1991).

211
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Para que se possa ter o controle dos materiais, antes de tudo, Existem dois tipos de manutenção (CASTILHO; LEITE, 1991):
é necessário que se tenha uma relação dos mesmos, o que se con- - Preventiva - que é realizada periodicamente nos equipamen-
segue através do inventário que consiste na “verificação de todo o tos com o objetivo de se detectar e evitar que o mesmo venha a
material para comprovar a existência e a exatidão dos estoques re- apresentar defeitos ou mau funcionamento também conhecida
gistrados (saber o que se tem o necessário para atender à demanda como manutenção
e o que comprar – controle)” (GAMA, 1997, p.4). - Corretiva ou Reparadora - que é realizada após o aparelho
O inventário proporciona ter dados corretos e precisos sobre o ter apresentado algum problema tendo como objetivo restaurar,
patrimônio das instituições de saúde, o que é necessário para que corrigindo o defeito apresentado pelo mesmo, também conhecida
se possam realizar planejamentos objetivos e para evitar gastos e como manutenção.
desperdícios desnecessários.
Segundo Lourenço, Castilho (2006) os principais fatores que di- O processo de compra dos materiais
ficultam o controle dos materiais são a sua grande diversidade e a utilizados nas unidades de enfermagem
falta de informatização de alguns setores das instituições.
Os inventários podem ser: A atuação do enfermeiro no processo de compras de materiais
- Gerais – realizados no final do exercício fiscal da empresa, nas instituições se dá através da atuação em comissões de licitação,
através da contagem de todos os itens do estoque, não possibili- ou informalmente através da opinião sobre o tipo, à quantidade e à
tando reconciliações ou ajustes, nem a análise das causas das di- qualidade dos materiais a serem utilizados.
ferenças; Existem várias modalidades de compra, sendo que nas institui-
- Rotativos - realizados através de uma programação mensal ções privadas tem-se o costume de haver uma negociação direta
para determinados itens a cada mês, sem necessidade de paralisa- entre o serviço de compras e os fornecedores, já nas instituições
ção do serviço, possibilitando a análise das causas e diferenças e, públicas normalmente segue-se um processo de licitação.
portanto um melhor controle (CHIAVENATO, 1991). A licitação é um procedimento onde a administração pública
seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interes-
No Serviço de Enfermagem, para que o enfermeiro possa ter se, visando proporcionar oportunidades iguais aos fornecedores,
um controle mais efetivo, o inventário pode ser realizado, através garantindo o princípio constitucional da isonomia (CASTILHO; GON-
da verificação semanal e de necessidade de manutenção dos mate- ÇALVES, 2014). Na licitação deve-se fazer uma descrição/especifica-
riais e equipamentos (GAMA, 1997). ção detalhada do material que se deseja adquirir sem indicação da
marca, a não ser em casos excepcionais.
Assim, pode-se concluir que para que se possa ter o controle Segundo CASTILHO; GONÇALVES (2014), as modalidades de li-
dos materiais, antes de tudo, é necessário que se tenha uma rela- citação constantes na Lei 8.666/93 são:
ção dos mesmos, o que se consegue através do inventário. - Convite – utilizada entre os interessados, para escolhidos e
Nos dias de hoje inúmeras ferramentas e recursos tecnológicos convidados em número mínimo de três, cadastrados ou não, indi-
para o controle e a distribuição de suprimentos estão disponíveis cada para a compra de valores baixos, estabelecidos pela Lei.
no mercado. Estudos demonstram que as utilizações de tais fer- - Tomada de preços – apenas para os cadastrados, indicada
ramentas beneficiam o trabalho do enfermeiro como a economia para aquisições de valores médios, estabelecidos pela Lei.
de horas de trabalho e redução de custos com perdas de materiais
- Concorrência – para qualquer interessado, que comprove
vencidos em estoque (CONDE; BERNADINO; CASTILHO; DREHMER,
possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital,
2015).
para aquisição de valores altos.
- Concurso – utilizada para quaisquer interessados e se refere a
Manutenção
trabalhos de natureza técnica, artística ou científica.
- Leilão – também utilizada para quaisquer interessados. Refe-
Para que a equipe de saúde possa desenvolver suas atividades,
re-se à venda de bens móveis ou produtos.
ou seja, prestar uma adequada assistência à saúde de indivíduos e
comunidade, é necessário que os equipamentos existentes na uni-
Além dessas, atualmente tem sido utilizado o Pregão que
dade estejam em perfeito funcionamento, garantindo dessa forma “é uma modalidade de licitação mais recente, instituída pela Lei
não apenas a assistência, mas também a segurança de quem está 10.520, de 17 julho de 2002. A opção por essa modalidade, inde-
utilizando o equipamento. pendente do valor estimado da contratação e da disputa pelo for-
Esta atividade, que consiste em manter os materiais e equi- necimento de bens e serviços comuns, é feita por meio de propos-
pamentos em perfeitas condições de funcionamento nos momen- tas e lances sucessivos em sessão pública.
tos em que são necessários, chama-se manutenção e para que ela Essa modalidade vem ganhando espaço na Administração Pú-
ocorra é necessário que assim que a enfermagem ou equipe de saú- blica por ser um processo mais dinâmico, que proporciona maior
de perceba alguma irregularidade no equipamento, o mesmo seja competitividade entre os concorrentes e maior transparência à
encaminhado para o serviço de consertos e reparos (CASTILHO; gestão de compras, visto que a negociação é realizada em sessão
LEITE, 1991). pública” (CASTILHO; GONÇALVES, 2010, p.164).
Segundo alguns autores, certos setores do hospital, como por A escolha de uma modalidade ou outra para compra de mate-
exemplo, no centro cirúrgico, o enfermeiro, desempenha em papel riais se dá de acordo com o valor estimado, e a urgência na aquisi-
essencial na organização e manutenção dos equipamentos. Assim ção, como por exemplo, nos casos em que a falta do material sig-
sendo, o enfermeiro deve organizar prever, prover, manusear e nifica um prejuízo na assistência à saúde do paciente, sendo que a
manter os materiais, para que não haja interrupções na assistência tomada de preços e o convite são as realizadas mais rapidamente.
(STUMM; MAÇALAI; KIRCHNER, 2006; GUEDES; FELIX; SILVA, 2001). A participação do enfermeiro no processo de seleção e com-
pras de materiais de enfermagem nas instituições é essencial. As
atividades do enfermeiro neste processo basicamente envolvem:

212
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Auxílio na determinação do tipo de material a ser adquirido Os testes de qualidade e o parecer técnico
para as unidades de enfermagem;
- Padronização dos materiais; Os testes de qualidade consistem em avaliações, quando da
- Especificação técnica dos materiais; aquisição de equipamentos e materiais, para que se verifique se o
- Controle de qualidade do material a ser adquirido; produto é de qualidade e se atende à necessidade a que se destina
- Emissão de parecer técnico. (CHIAVENATO, 1991).
Em uma avaliação de materiais, no primeiro momento, é re-
Padronização alizada uma verificação minuciosa da embalagem, do método de
esterilização, da presença da data de validade, do acabamento do
A padronização é um método para estender a utilização de um material, da instrução de uso, dentre outros fatores que se consi-
material ao maior número possível de aplicações. Ela visa reduzir dere importante para que sejam previamente avaliados, para que
as variedades, através da unificação de dados de materiais que são então se passe para a fase de teste a ser realizada na unidade.
semelhantes. Para se realizar o teste na unidade, o Serviço de Enfermagem
Segundo Castilho; Gonçalves, (2014) a importância da padroni- deve enviar juntamente com o material a ser avaliado um impres-
zação consiste na especificação de produto para cada procedimen- so, com as características que deverão ser observadas e avaliadas
to, diminuição da diversidade desnecessária, normatização do uso durante o teste.
de determinados produtos, dentre outros. “É realizada por meio do Após a realização do teste e de posse dos resultados e das es-
estabelecimento de critérios objetivos de indicação técnica do uso pecificações do material, o Serviço de Enfermagem elaborará um
do material, e do custobenefício”. parecer técnico que consiste na descrição das vantagens e desvan-
A padronização não é um procedimento que pode ser feito tagens do produto, bem como sugestões para melhorar ou aprimo-
isoladamente, deve-se compor um comitê de padronização com a rar o mesmo.
participação do corpo clínico, do administrador de materiais e da Um parecer técnico poder ser elaborado sob a forma de ofício
enfermagem, tendo-se por base as rotinas e técnicas do serviço no formato de um relatório técnico ou através do preenchimento
de enfermagem, conhecimentos dos materiais, sabendo-se quais de impresso próprio da instituição, de modo geral um parecer pode
são semelhantes e quais podem ser substituídos, além das quali- conter os seguintes itens:
dades farmacológicas e técnicas, a facilidade de compra, o custo, a - Justificativa;
armazenagem entre outros. Entende-se que esse processo atende - Nome do produto;
tanto a abordagem de aspectos mais funcionais e qualitativos dos - Finalidade/ uso ou aplicação;
produtos nas descrições como a aproximação da área de compra - Fabricante;
com a área de uso do material, favorecendo o processo de compra - Importador (se for o caso);
-Responsável técnico;
(CONDE; BERNADINO; CASTILHO; DREHMER, 2015).
- Nº do Lote e do registro;
Realizada desse modo, a padronização, facilitará a verificação
- Data de fabricação;
mensal da média de consumo, o planejamento e reposição e a ma-
- Validade;
nutenção da qualidade dos materiais utilizados.
- Embalagem;
- Método de esterilização (se for o caso);
A especificação técnica dos materiais
- Matéria prima;
- Descrição do produto;
A especificação técnica dos materiais consiste na descrição mi-
- Avaliação com vantagens, desvantagens e recomendações;
nuciosa das características do material que se pretende comprar. - Data;
A especificação técnica de materiais consiste nos seguintes - Assinatura de quem elaborou o parecer.
elementos: nome do produto; uso ou aplicação; matéria-prima;
dimensões; método de fabricação; acabamento; embalagem; pro- O controle da qualidade de materiais não deve ser realizado
priedades físico-químicas; método de esterilização; procedência; apenas no momento da aquisição dos produtos, mas sim durante
código e prazo de validade, dentre outros (CASTILHO; GONÇALVES, toda e qualquer atividade, e para isso é importante que toda a equi-
2014). pe se mantenha atenta e possa opinar sobre os produtos que estão
Nas instituições públicas o processo de compra de materiais utilizando, de modo que nos processos de aquisição, já se tenha
não é uma atividade simples, e as especificações dos produtos são informações sobre a qualidade ou não dos mesmos.
muito importantes para que se possa garantir a aquisição de pro- Considera-se de extrema importância a análise das notifica-
dutos de qualidade, elas são utilizadas na elaboração do edital de ções recebidas, que antes da culpabilização dos envolvidos, devem
compra, e quanto mais detalhadas facilitará o contato do setor de promover a melhoria dos processos e a prevenção de eventos simi-
compras com os fornecedores. lares. Essas notificações de desvio de qualidade no sistema NOTIVI-
Na elaboração das especificações os enfermeiros normalmente SA reduzem o número de aquisições mal sucedidas, os riscos que
devem consultar órgão oficiais que normatizam e fazem recomen- essas possam gerar, contribuindo e melhorando os processos de
dações sobre: fabricação, esterilização e o uso de materiais como compra (CONDE; BERNADINO; CASTILHO; DREHMER, 2015).
as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), da Na aquisição dos materiais são considerados o parecer técnico
Agência e a análise de custo do produto, sendo que é importante lembrar
Nacional de Vigilância sanitária (ANVISA), Ministério da Saúde que “nem sempre o menor preço corresponde ao menor custo
e Ministério do Trabalho, além de catálogos dos fabricantes e em- para a instituição, uma vez que a má qualidade do material pode
balagens de materiais. acarretar maiores prejuízos financeiros e da assistência” (FONSECA,
A participação do enfermeiro na especificação técnica permite 1995).
apontar necessidades e anseios dos usuários de produtos, favore-
cendo a aquisição de itens que atendam pacientes e profissionais,
com qualidade, pertinência, segurança e com melhor preço.

213
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Preparo do pessoal habilitação em uma condição de gestão – e, após o Pacto pela Saú-
de, para a formalização do Termo de Compromisso de Gestão –,
O trabalho em enfermagem se caracteriza por ser um trabalho quer para subsidiar auditorias e controles, a cargo das instâncias
em equipe e na administração de materiais a participação de todos incumbidas destas atividades. Como um instrumento essencial de
na avaliação dos produtos que estão sendo utilizados, ou na aqui- gestão, cabe ao planejamento contribuir para que o SUS responda,
sição de um material ou equipamento novo é muito importante. com qualidade, às demandas e necessidades de saúde, avançando
O estudo de CONDE; BERNADINO; CASTILHO; DREHMER (2015) de forma ágil rumo a sua consolidação.
demonstrou que 46% dos enfermeiros consideram importante a re- O processo ascendente de planejamento definido pela Lei Or-
alização de capacitações sobre Gerenciamento de materiais (GM), gânica da Saúde configura-se relevante desafio para os responsá-
no entanto 86% dos enfermeiros relataram nunca ter participado veis por sua condução, em especial aqueles das esferas estadual
de referida capacitação. e nacional, tendo em conta a complexidade do perfil epidemioló-
É necessário que toda a equipe conheça os materiais e equi- gico brasileiro, aliada à quantidade e diversidade dos municípios,
pamentos, sabendo como utilizá-los corretamente, o que pode ser além da grande desigualdade em saúde ainda prevalente, tanto em
conseguido através de treinamentos e educação continuada, visan- relação ao acesso, quanto à integralidade e à qualidade da aten-
do à própria segurança, dos pacientes, a conservação e manuten- ção prestada. Em relação à gestão, é importante levar em conta
ção dos materiais, contribuindo para o controle dos custos evitan- o fato de que cerca de 90% dos municípios têm menos de 50 mil
do-se assim o uso indevido e o desperdício do material. Além disso, habitantes e que 48% menos de 10 mil (INSTITUTO BRASILEIRO DE
a formação de novos profissionais para desempenhar a atividade GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2004). Particularmente no tocante ao
de Gerenciamento de Recursos Materiais (GM). planejamento, a organização das ações ainda é bastante precária,
principalmente nos municípios de médio e pequeno portes, o que
Planejamento no SUS dificulta o exercício eficiente e efetivo de seu papel fundamental na
conformação do SUS neste nível.
No âmbito do Ministério da Saúde, até o final de 2005 – quan- Cabe ressaltar que, apesar dos esforços empreendidos desde
do tomou a iniciativa de propor a construção do PlanejaSUS, como a criação do SUS e os avanços logrados, a área de planejamento do
mencionado na apresentação –, o planejamento pautava as suas Sistema ainda carece, nas três esferas de gestão, de recursos huma-
ações principalmente no atendimento às demandas interna e ex- nos em quantidade e qualidade. Observa-se que falta, não raro, in-
terna, esta última oriunda da coordenação do correspondente fraestrutura e atualização contínua nas técnicas e métodos do pla-
sistema federal, exercida pelo Ministério do Planejamento, Orça- nejamento em si – sobretudo em se tratando de monitoramento e
mento e Gestão (MP). Ao MP cabe, assim, conduzir o planejamento avaliação, no seu sentido mais amplo –, assim como o domínio ne-
estratégico do governo federal. As demandas internas referem-se cessário das características e peculiaridades que cercam o próprio
sobretudo a informações para o atendimento de necessidades téc- SUS e do quadro epidemiológico do território em que atuam. Tais
nico-políticas. condições são estratégicas para a coordenação do processo de pla-
O Sistema Federal de Planejamento tem uma agenda esta- nejamento e, portanto, para o funcionamento harmônico do Pla-
belecida, mediante a qual responde também às exigências cons- nejaSUS. É oportuno reiterar, nesse particular, os pontos essenciais
titucionais e legais, entre as quais figuram a elaboração do Plano de pactuação para o Sistema de Planejamento do SUS – PlanejaSUS
Plurianual – a cada quatro anos – e as suas revisões, das propostas –, definidos no Pacto pela Saúde 2006, em especial a institucionali-
anuais de diretrizes orçamentárias e do orçamento, que balizam a zação e o fortalecimento deste Sistema, “com adoção do processo
aprovação das respectivas leis – LDO e LOA –, do Balanço Geral da de planejamento, neste incluído o monitoramento e a avaliação,
União e da Mensagem do Executivo ao Legislativo. Além dessas de- como instrumento estratégico de gestão do SUS”. (BRASIL, 2006a).
terminações legais, o Sistema requer também o acompanhamento,
o monitoramento, a atualização e a avaliação das ações. Mesmo re- Conceito e caracterização
conhecendo os avanços na alocação dos recursos públicos – basea-
dos em objetivos de médio e longo prazos, com melhor associação Define-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de
às necessidades de saúde –, é importante considerar que deman- Saúde – PlanejaSUS – a atuação contínua, articulada, integrada e
das contingenciais de curto prazo ainda prejudicam o processo de solidária das áreas de planejamento das três esferas de gestão do
estruturação e consolidação do SUS. SUS. Tal forma de atuação deve possibilitar a consolidação da cul-
Embora responda às necessidades internas e externas, até en- tura de planejamento de forma transversal às demais ações desen-
tão o sistema de planejamento no MS não dispunha de medidas volvidas no Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o PlanejaSUS
que viabilizem o aperfeiçoamento do trabalho e que possibilitas- deve ser entendido como estratégia relevante à efetivação do SUS.
sem a oportuna e efetiva melhoria da gestão do Sistema, da aten- Para o seu funcionamento, são claramente definidos os objetivos e
ção e da vigilância em saúde, inclusive no tocante à reorientação as responsabilidades das áreas de planejamento de cada uma das
das ações. Tratava-se, na realidade, da insuficiência de um proces- esferas de gestão, de modo a conferir efetiva direcionalidade ao
so de planejamento do Sistema Único de Saúde, em seu sentido processo de planejamento que, vale reiterar, compreende o moni-
amplo – neste compreendido o monitoramento e a avaliação –, que toramento e a avaliação.
contribuísse para a sua consolidação que, conforme assinalado, é Na condição de sistema, e consoante à diretriz relativa à dire-
uma competência legal do gestor federal, em cooperação com as ção única do SUS em cada esfera de gestão, o PlanejaSUS não en-
demais instâncias de direção do Sistema. volve nenhuma forma de subordinação entre as respectivas áreas
de planejamento. Nesse sentido, a sua organização e operacionali-
O Ministério da Saúde e as Secretarias Estaduais de Saúde re- zação baseiam-se em processos que permitam o seu funcionamen-
cebem frequentemente, da parte de gestores e técnicos do SUS, to harmônico entre todas as esferas do SUS. Para tanto, tais pro-
solicitação de orientações e cooperação técnica para a elaboração cessos deverão ser objeto de pactos objetivamente definidos, com
de instrumentos de planejamento, em especial planos de saúde estrita observância dos papéis específicos de cada um, assim como
e relatórios de gestão. Observa-se, por outro lado, que estados e das respectivas peculiaridades, necessidades e realidades sanitá-
municípios têm se esforçado para formulá-los, quer para fins de rias. O desenvolvimento de papéis específicos visa, principalmente,

214
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

potencializar e conferir celeridade e resolubilidade ao PlanejaSUS, Objetivos específicos


tanto na sua implantação, quanto no seu funcionamento, monito-
ramento e avaliação contínuos. São objetivos específicos do Sistema de Planejamento do SUS:
Como parte integrante do ciclo de gestão, o PlanejaSUS deve a) formular propostas e pactuar diretrizes gerais para o pro-
estar próximo dos níveis de decisão do SUS, buscando permanen- cesso de planejamento no âmbito do SUS e seu contínuo aperfei-
temente, de forma tripartite, a pactuação de bases funcionais de çoamento;
planejamento, monitoramento e avaliação do SUS, bem como pro- b) propor metodologias e modelos de instrumentos básicos
movendo a participação social e a integração intra e intersetorial, do processo de planejamento, englobando o monitoramento e a
considerando os determinantes e condicionantes de saúde. Essa in- avaliação, que traduzam as diretrizes do SUS, com capacidade de
tegração deve buscar o envolvimento de todos os profissionais. Tal adaptação às particularidades de cada esfera administrativa;
entendimento explicita o caráter transversal dessa função e, por c) apoiar a implementação de instrumentos permanentes de
conseguinte, o papel das áreas de planejamento nas três esferas planejamento para as três esferas de gestão do SUS, que sirvam de
que, em síntese, é de: parâmetro mínimo para o processo de monitoramento, avaliação e
•coordenar os processos de formulação, monitoramento e regulação do SUS;
avaliação dos instrumentos básicos do PlanejaSUS; e d) apoiar a implementação de processo permanente e sistemá-
•prover as demais áreas técnicas de mecanismos - como mé- tico de planejamento nas três esferas de gestão do SUS, neste com-
todos e processos - para que possam formular, monitorar e avaliar preendido o planejamento propriamente dito, o monitoramento e
os seus respectivos instrumentos, segundo as suas especificidades a avaliação;
e necessidades. e) promover a institucionalização, fortalecendo e reconhecen-
do as áreas de planejamento no âmbito do SUS, nas três esferas de
Para o alcance do êxito esperado com o PlanejaSUS, estão iden- governo, como instrumento estratégico de gestão do SUS;
tificadas algumas condições e medidas importantes. Tais condições f) apoiar e participar da avaliação periódica relativa à situação
e medidas – ou eixos norteadores – podem gerar duplo benefício. de saúde da população e ao funcionamento do SUS, provendo os
De um lado, dariam celeridade ao atendimento de necessidades gestores de informações que permitam o seu aperfeiçoamento e/
importantes da gestão do SUS, de que são exemplos a formulação ou redirecionamento;
ou a revisão de planos, programações e relatórios gerenciais. De g) implementar e difundir uma cultura de planejamento que in-
outro, viabilizariam a conformação ágil do PlanejaSUS, tendo em tegre e qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com
vista o caráter concreto de algumas medidas indicadas no presente vistas a subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
documento. h) promover a educação permanente em planejamento para
Entre as condições necessárias, estão o apoio ao PlanejaSUS, os profissionais que atuam neste âmbito no SUS;
sobretudo por parte dos gestores e representantes do controle so- i) promover a eficiência dos processos compartilhados de pla-
cial, incorporando o planejamento como instrumento estratégico nejamento e a eficácia dos resultados;
para a gestão do SUS. Esse apoio deverá ser buscado principalmen- j) incentivar a participação social como elemento essencial dos
te junto aos Colegiados de Gestão Regionais, às Comissões Inter- processos de planejamento;
gestores (CIB e CIT), aos Conselhos Nacionais de Secretários Esta- k) promover a análise e a formulação de propostas destinadas
duais e Municipais de Saúde (Conass e Conasems) e aos Conselhos a adequar o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS;
de Secretários Municipais de Saúde (Cosems). Trata-se de tarefa a l) implementar uma rede de cooperação entre os três entes
ser assumida, inicialmente, por todos os profissionais que atuam federados, que permita amplo compartilhamento de informações
em planejamento no SUS, para o que deve também ser buscada a e experiências;
contribuição, por exemplo, de organismos internacionais – como as m)identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados
Organizações Pan-Americana e Mundial da Saúde –, de instituições decorrentes das experiências em planejamento, sobretudo no âm-
de ensino, de pesquisa e entidades afins. bito das três esferas de gestão do SUS, assim como da produção
Outra condição importante é a adesão institucional mediante a científica;
observância da regulamentação do PlanejaSUS, expressa nas referi- n) fomentar e promover a intersetorialidade no processo de
das Portarias Nº 3.085/2006 e Nº 3.332/2006, e outras decorrentes planejamento do SUS;
de pactuação tripartite, de que são exemplos processos de moni- o) promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no
toramento e de avaliação dos instrumentos básicos, consoante às âmbito do SUS, nas três esferas de governo;
definições contidas nas Leis Orgânicas da Saúde. Constituem igual- p) monitorar, avaliar e manter atualizado o processo de pla-
mente condições essenciais para a institucionalização do Planeja- nejamento e as ações implementadas, divulgando os resultados
SUS nas três esferas de gestão: a capacitação de recursos humanos alcançados, de modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a
para o processo de planejamento do SUS; a geração de informações transparência do processo de gestão do SUS;
gerenciais para a tomada de decisão; a adequação do arcabouço q) promover a adequação, a integração e a compatibilização
legal relativo ao planejamento; a cooperação técnica e financeira entre os instrumentos de planejamento do SUS e os de governo;
para o planejamento no SUS; e o provimento de estrutura e infra- r) promover a discussão visando o estabelecimento de política
-estrutura para o desenvolvimento da atividade de planejamento. de informação em saúde; e

Objetivo geral s) promover a discussão e a inclusão do planejamento na pro-


posta de planos de carreira, cargo e salários do SUS.
O PlanejaSUS tem por objetivo geral coordenar o processo de
planejamento no âmbito do SUS, tendo em conta as diversidades
existentes nas três esferas de governo, de modo a contribuir –
oportuna e efetivamente – para a sua consolidação e, consequen-
temente, para a resolubilidade e qualidade da gestão e da atenção
à saúde.

215
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Responsabilidades d) assessoria aos municípios na definição de estratégias volta-


das ao fortalecimento e organização do processo de planejamento
As áreas e profissionais que atuam em planejamento nas três local e regional;
esferas de gestão do SUS assumirão compromissos e responsabi- e) utilização de Planos Regionais/Municipais de Saúde como
lidades voltadas à implantação, implementação, aperfeiçoamento subsídio prioritário na formulação do Plano Estadual de Saúde, ob-
e consolidação do PlanejaSUS. A seguir, são descritas as responsa- servada a Política de Saúde respectiva;
bilidades nos âmbitos federal, estadual e municipal, identificadas f) coordenação do processo de planejamento regional de for-
pelos profissionais participantes das oficinas macrorregionais e dos ma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adapta-
encontros do Sistema de Planejamento do SUS. ção – às realidades locais – das metodologias, processos e instru-
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
No âmbito federal g) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de
Gestão Regionais;
a) Coordenação do processo nacional de planejamento do SUS, h) estímulo à criação e/ou apoio a câmaras específicas e grupos
em cooperação com os estados e municípios; de trabalho dos CGR e CIB em questões relativas ao planejamento
b) organização, implantação e implementação do PlanejaSUS no âmbito do SUS;
em âmbito nacional; i) fortalecimento das áreas de planejamento do estado e apoio
c) cooperação técnica e financeira na implantação e implemen- às referidas áreas municipais;
tação do Planejasus em cada esfera de governo, bem como para a j) monitoramento e avaliação das ações de planejamento no
formulação, monitoramento e avaliação dos instrumentos básicos âmbito estadual e apoio aos municípios para o desenvolvimento
definidos para este Sistema; deste processo;
d) implementação de rede, no âmbito do planejamento, volta- k) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde
da à articulação e integração das três esferas de gestão do SUS e à de forma articulada e intersetorial;
divulgação de informações e experiências de interesse do Planeja- l) desenvolvimento da cooperação técnica e financeira aos mu-
SUS, bem como à disseminação do conhecimento técnicocientífico nicípios no âmbito do PlanejaSUS;
na área; m)promoção e apoio à educação permanente em planejamen-
e) promoção da educação permanente em planejamento para to para os profissionais que atuam no contexto do planejamento no
os profissionais que atuam em planejamento no SUS; SUS, em parceria com o MS e municípios;
f) participação no Grupo de Planejamento da Secretaria Técni- n) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
ca da Comissão Intergestores Tripartite (CIT); nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
g) formulação e apresentação, para análise e deliberação da gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
CIT, de propostas relativas ao funcionamento e aperfeiçoamento teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimen-
do PlanejaSUS e dos seus instrumentos básicos; to técnico-científico na área;
h) mobilização e coordenação do grupo de colaboradores, o) apresentação, para análise e deliberação da Comissão Inter-
composto por especialistas e profissionais que atuam nas áreas de
gestores Bipartite – CIB –, de propostas relativas ao funcionamento
planejamento do SUS, no processo de planejamento e orçamento
e aperfeiçoamento do PlanejaSUS no respectivo âmbito;
na esfera federal e em instituições de ensino e pesquisa, com vistas
p) apoio às câmaras e grupos de trabalho da CIB em questões
a apoiar o MS no cumprimento de suas responsabilidades junto ao
relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
PlanejaSUS;
q) sensibilização dos gestores para incorporação do planeja-
i) apoio aos grupos de trabalho e demais fóruns da CIT em
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS.
questões relativas ao planejamento no âmbito do SUS;
j) organização de sistema informatizado que agregue informa-
No âmbito municipal
ções gerenciais em saúde de interesse do planejamento, valendo-
-se dos sistemas já existentes;
k) implantação, monitoramento e avaliação sistemática do a) Coordenação, execução e avaliação do processo de planeja-
processo de planejamento do SUS no âmbito federal e apoio a este mento do SUS no âmbito municipal, consoante aos pactos estabe-
processo nos estados e municípios; lecidos no âmbito do PlanejaSUS;
l) utilização dos Planos Estaduais e Municipais de Saúde como b) apoio ao estado e ao MS na implementação e aperfeiçoa-
subsídio prioritário na formulação do Plano Nacional de Saúde, ob- mento do PlanejaSUS;
servada a Política Nacional de Saúde; c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e
m)sensibilização dos gestores para incorporação do planeja- instrumentos definidos de forma pactuada no âmbito do Planeja-
mento como instrumento estratégico de gestão do SUS; SUS;
n) assessoria aos estados na definição de estratégias voltadas d) sensibilização dos gestores e gerentes locais para incorpora-
ao fortalecimento e à organização do processo de planejamento ção do planejamento como instrumento estratégico de gestão do
estadual. SUS;
e) elaboração dos instrumentos básicos de planejamento de
No âmbito estadual forma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adap-
tação – às realidades locais – das metodologias, processos e instru-
a) Organização e coordenação do PlanejaSUS no âmbito esta- mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS;
dual e apoio a este processo nos municípios; f) participação na implementação de rede, no âmbito do pla-
b) apoio ao MS na implementação e aperfeiçoamento do Pla- nejamento, voltada à articulação e integração das três esferas de
nejaSUS em âmbito nacional; gestão do SUS e à divulgação de informações e experiências de in-
c) implementação das diretrizes, metodologias, processos e teresse do PlanejaSUS, bem como à disseminação do conhecimen-
instrumentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; to técnico-científico na área;

216
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

g) participação e promoção de capacitação em planejamento, Em termos atuais, muito do que se discute sobre planejamen-
monitoramento e avaliação, na perspectiva da política da educação to e técnicas de programação está associado à noção de contrato.
permanente; O estabelecimento de contratos de entes públicos entre si e com
h) promoção de mecanismos de articulação entre as diversas agentes privados tem se tornado uma realidade cada vez mais for-
áreas da SMS e com outros setores do município; te no SUS, seguindo uma tendência internacional. Isto tem trazido
i) estímulo ao estabelecimento de políticas públicas de saúde para as arenas decisórias os interesses de atores, com ou sem fins
de forma articulada e intersetorial; lucrativos.
j) implementação do planejamento local com monitoramento Buscando desconstruir a ideia usual de contrato de mercado
e avaliação das ações propostas, bem como divulgação dos resul- strictu sensu, tem-se trabalhado esta interação de atores públicos
tados alcançados; e privados, muitas vezes de forma controversa, como um dos as-
k) coordenação de ações participativas visando a identificação pectos da governança. Antes de tratar do planejamento e da pro-
de necessidades da população, tendo em vista a melhoria das ações gramação como parte dos diferentes mecanismos de governança
e serviços de saúde; presentes na política de saúde será apresentado o modo como se
l) operacionalização, monitoramento e avaliação dos instru- instituiu no setor saúde o tema do planejamento para o desenvol-
mentos de gestão do SUS e retroalimentação de informações ne- vimento social. Em seguida, serão discutidos aspectos da progra-
cessárias às três esferas;
mação em saúde e o modo como essa se consolidou no Brasil. Há
m)promoção da estruturação, institucionalização e fortaleci-
uma longa história do planejamento em saúde na experiência inter-
mento do PlanejaSUS no município, com vistas a legitimá-lo como
nacional e, especialmente, na América Latina. Um grande número
instrumento estratégico de gestão do SUS;
de autores tratou deste tema orientado à construção de sistemas
n) participação no processo de planejamento regional de for-
ma articulada, integrada e participativa, com a aplicação e adapta- públicos de saúde e às reformas sanitárias.
ção – às realidades locais – das metodologias, processos e instru- Assim, foi criada uma sólida tradição em associar o planeja-
mentos pactuados no âmbito do PlanejaSUS; mento às políticas de saúde. Em diversos casos, a produção dos au-
o) apoio à organização e funcionamento dos Colegiados de tores principais foi aceita e praticada por agências de cooperação
Gestão Regionais. internacional na América Latina e, em particular, no Brasil. A seguir,
uma resumida apresentação de algumas das principais abordagens
sobre o assunto, sem a preocupação de abranger todo o tema.
A noção de planejamento é aplicada, fundamentalmente, em
diferentes áreas do conhecimento como Administração, Economia Método CENDES/OPAS
e Política. Um dos pontos essenciais do planejamento é sua natu-
reza estratégica, muito influenciada pelo uso nas ações militares. Uma das mais antigas estratégias de planejamento em saúde
Na geopolítica, o planejamento estratégico pertence à própria na América Latina foi o desenho do método conhecido como CEN-
natureza da diplomacia e das relações internacionais. No senso co- DES/ OPAS, que surge em um ambiente favorável à intervenção do
mum, a ideia costuma estar associada a organizar atividades, bus- Estado na economia como forma de reduzir ou compensar as crises
car melhores resultados, reduzir conflitos e incertezas. Neste senti- econômicas por meio do planejamento e do estabelecimento de
do, programação guarda semelhança com o planejamento, embora incentivos específicos. Fundamentalmente a partir da década de
seja uma expressão associada a objetivos delimitados e pontuais. 1920, a noção do planejamento foi entendida na América Latina
Planejar ações políticas, definir estratégias econômicas, esquemas como uma ferramenta do Estado para a promoção do desenvolvi-
regulatórios, modelos de administração de empresas e negócios mento social e econômico. Na Comissão Econômica para a América
em geral fazem parte do cotidiano da ordem política e social. Como Latina (CEPAL), por exemplo, um setor da Organização das Nações
especialidade em seus diferentes ramos, o tema do planejamento Unidas (ONU) criado em 1948, o planejamento econômico é vis-
é tratado por especialistas renomados em vasta literatura especia- to como uma atividade governamental orientada a romper com
lizada das disciplinas aqui assinaladas. a dependência dos países latino-americanos frente às economias
Pode-se afirmar que planejar é reduzir incertezas. Logo, impli- desenvolvidas e estimular o crescimento econômico. As relações
ca em algum grau de intervenção na economia, associa-se a práti-
entre o pensamento cepalino, suas conexões com as técnicas de
cas regulatórias, orienta investimentos e está diretamente vincula-
planejamento e a emergência do planejamento estratégico no con-
do à alocação eficiente de recursos. No setor saúde, as práticas de
texto da América Latina foram tratadas por muitos especialistas.
planejamento estão presentes em todo o processo que é conhecido
Giovanella (1991) apresenta uma análise minuciosa de todo o pro-
como Gestão do SUS.
Para esses objetivos, tratar-se-á planejamento e programação cesso e de suas lacunas, a qual inclui a descrição da formação e
como áreas de conhecimento e atividades referidas ao setor saú- dos conteúdos do método CENDES/OPAS e a emergência do pla-
de, no qual o tema tem ampla utilização e grande diversidade de nejamento estratégico sob a influência de formuladores relevantes
abordagens entre pesquisadores e dirigentes nas áreas pública e para a cultura técnica da saúde pública no Brasil, como Mario Testa
privada. Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou progra- e Carlos Matus.
mar ações representam o dia-a-dia dos gestores do setor público Como analisado por Giovanella (1991), esse método aplica os
em saúde. As atividades regulatórias, sejam por meio de auditoria fundamentos do planejamento da CEPAL no setor saúde para otimi-
de processos ou de resultados, são afetadas por tais definições de zar ganhos econômicos e diminuir custos, sendo a escolha de priori-
objetivos e de metas. dades feita a partir da relação custo/benefício.
Este capítulo abordará noções estabelecidas entre especialis- O objetivo era orientar investimentos em programas com me-
tas, sem a preocupação de cobrir todo o debate. Mais adiante serão nores custos para mortes evitadas em um modelo de planejamento
referenciados alguns autores e textos que podem ser consultados de caráter normativo.
para aprofundamento no tema e para conhecer o modo como são Esse método foi muito difundido no Brasil e ensinado nas esco-
operadas no cotidiano do planejamento as diferentes técnicas aqui las de saúde, em cursos acadêmicos e em treinamento de gestores.
discutidas. A estrutura era em forma de planilha, onde informações de recur-

217
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

sos utilizados, custos por absorção e agravos evitados eram cruza- Para infecções confirmadas pelo novo coronavírus, há relatos
das com o objetivo de orientar as decisões alocativas ou analisar de pessoas que podem transmitir o vírus mesmo sem apresentar
o desempenho de sistemas e programas. A dificuldade estava na sintomas (assintomáticos), outras pessoas apresentam sintomas le-
obtenção de informações consistentes e, principalmente, em esta- ves e outras podem manifestar sintomas muito graves, chegando ao
belecer os benefícios esperados. óbito, em algumas situações.
Embora seja difícil especificar quando e onde o planejamen- Até o momento, os sinais e sintomas da COVID-19 mais comuns
to central tenha começado no setor saúde, certamente o Método incluem: febre, tosse e falta de ar. No entanto, outros sintomas não
CENDES/OPAS representou o modelo institucional e oficial de bus- específicos ou atípicos podem incluir:
ca de racionalidade burocrática no âmbito de estruturas adminis- • Dor de garganta;
trativas (ministérios, institutos e secretarias de saúde) que opera- • Diarreia;
vam de modo predominante por meio de hierarquias, comando e • Anosmia (incapacidade de sentir odores) ou hiposmia (dimi-
controle. Ao longo de décadas, estruturas híbridas de cooperação nuição do olfato);
entre Estado e mercado, que hoje podem ser trabalhadas no âm- • Mialgia (dores musculares, dores no corpo) e
bito da governança, não estiveram presentes na agenda política do • Cansaço ou fadiga.
sistema público de saúde.
Uma série de soluções de planejamento em saúde se desen- Além disso, os idosos com COVID-19 podem apresentar um
volveu enquanto o método patrocinado pela Organização Pan-A- quadro diferente de sinais e sintomas do apresentado pelas popu-
mericana de Saúde (OPAS) perdia importância. A perda de relevân- lações mais jovens, como por exemplo, não apresentar febre.
cia pode ser atribuída a um conjunto de fatores, dentre os quais O período de incubação da COVID-19, tempo entre a exposi-
a dificuldade na obtenção de informações adequadas e o foco na ção ao vírus e o início dos sintomas, é, em média, de 5 a 6 dias, no
produtividade e eficiência econômica em uma área especial, como entanto, pode ser de 0 a até 14 dias. Ainda há muito para apren-
a de saúde, contribuindo para a perda de consenso entre os espe- dermos sobre a transmissibilidade, a gravidade e outros recursos
cialistas, dirigentes e lideranças setoriais. associados ao SARS-CoV-2 e as investigações estão em andamento
Em seu lugar, duas importantes estratégias se disseminaram em todo o mundo.
em nosso país no que diz respeito à difusão de ideias de especia- Ainda não existe vacina disponível para prevenir a infecção
listas em planejamento para os dirigentes setoriais. São elas as pelo SARS-CoV-2. Assim, a melhor maneira de prevenir a doença
causada por esse vírus, denominada COVID-19, é adotar ações para
abordagens de planejamento estratégico-situacional e as diferen-
impedir a sua disseminação.
tes práticas de programação em saúde. Tratar-se-á resumidamente
destes dois temas antes de entrar no item hoje dominante em ter-
MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE
mos de planejamento e que se refere aos mecanismos de gover-
O serviço de saúde deve garantir que as políticas e as boas prá-
nança e à entrada em cena da Nova Gerência Pública.
ticas internas minimizem a exposição a patógenos respiratórios, in-
cluindo o SARS-CoV-2.
MEDIDAS E AÇÕES PARA EVITAR A CONTAMINAÇÃO E Conforme as informações atualmente disponíveis, a via de
DISSEMINAÇÃO DO CORONAVÍRUS (SARS-COVID-2) E/ transmissão pessoa a pessoa do SARS-CoV-2 ocorre por meio de
OU OUTROS MICRORGANISMOS gotículas respiratórias (expelidas durante a fala, tosse ou espirro)
e também pelo contato direto com pessoas infectadas ou indireto
por meio das mãos, objetos ou superfícies contaminadas, de forma
As medidas de prevenção e controle de infecção devem ser im- semelhantes com que outros patógenos respiratórios se dissemi-
plementadas pelos profissionais que atuam nos serviços de saúde nam. Além disso, tem-se estudado a possibilidade de transmissão
para evitar ou reduzir ao máximo a transmissão de microrganismos do vírus por meio de aerossóis (partículas menores e mais leves que
durante qualquer assistência à saúde realizada. as gotículas), gerados durante alguns procedimentos específicos.
Nessa Nota Técnica serão abordadas orientações para os servi- Desta forma, as medidas de prevenção e controle devem ser
ços de saúde quanto às medidas de prevenção e controle que de- implementadas em todas as etapas do atendimento do paciente no
vem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou con- serviço de saúde, desde sua chegada, triagem, espera, durante toda
firmados de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), segundo a assistência prestada, até sua a sua alta/transferência ou óbito.
as evidências disponíveis, até o dia 08.05.2020.
1. Atendimento pré-hospitalar móvel de urgência e transpor-
O SARS-CoV-2 é um vírus identificado como a causa de um sur- te interinstitucional de casos suspeitos ou confirmados
to de doença respiratória, detectado pela primeira vez em Wuhan Para o atendimento pré-hospitalar móvel de urgência e trans-
- China em dezembro de 2019. Muitos pacientes no início do surto porte interinstitucional de casos suspeitos ou confirmados de infec-
em Wuhan tinham algum vínculo com um grande mercado de fru- ção pelo SARS-CoV-2, deve-se:
tos do mar e animais, sugerindo a disseminação de animais para - Melhorar a ventilação do veículo para aumentar a troca de ar
pessoas. No entanto, um número crescente de pacientes supos- durante o transporte (ar condicionado com exaustão, que garanta
tamente não teve exposição ao mercado de animais, indicando a as trocas de ar ou manter as janelas abertas).
ocorrência de disseminação de pessoa para pessoa. Atualmente, -Toda a equipe envolvida no transporte do paciente suspeito
já está bem definido que esse vírus possui uma alta e sustentada ou confirmado de infecção pelo SARS-CoV-2 deve utilizar EPI, se-
transmissibilidade entre as pessoas. guindo as orientações previstas no Quadro 1 desta Nota Técnica.
O coronavírus pertence a uma grande família de vírus, comuns - Toda a equipe deve receber capacitação e demonstrar capaci-
em diferentes espécies de animais, incluindo camelos, gado, gatos dade para colocação, uso, retirada e descarte correto e seguro dos
e morcegos. Raramente os coronavírus podem infectar humanos e EPI.
depois se disseminar entre pessoas, como o que ocorre na Síndro- - Sempre notificar previamente o serviço de saúde para onde
me Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e na Síndrome Res- o caso suspeito ou confirmado de infecção pelo SARS-CoV-2 será
piratória Aguda Grave (SARS). encaminhado

218
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- Limpar e desinfetar todas as superfícies internas do veículo respiratória e higiene das mãos. Estes pacientes devem permanecer
após a realização do transporte. A desinfecção pode ser feita com nessa área separada até a consulta ou encaminhamento para o hos-
álcool a 70%, hipoclorito de sódio ou outro desinfetante indicado pital (caso seja necessária a remoção do paciente).
para este fim e seguindo procedimento operacional padrão defi- ● Fornecer suprimentos e orientações para higiene respirató-
nido para a atividade de limpeza e desinfecção do veículo e seus ria/etiqueta da tosse. Prover máscara cirúrgica, para pacientes com
equipamentos (verificar orientações previstas no manual da Anvi- sintomas de infecção respiratória (tosse, espirros, secreção nasal,
sa, 2012 “Segurança do paciente em serviços de saúde: limpeza e etc), caso o paciente não estiver usando máscara cirúrgica ou se
desinfecção de superfícies”) e realizar higiene das mãos com água estiver usando uma máscara cirúrgica suja ou úmida. Os acompa-
e sabonete líquido OU preparação alcoólica para as mãos, após a nhantes e pacientes sintomáticos devem utilizar a máscara cirúrgica
realização da limpeza do veículo e retirada do EPI utilizado. durante toda a sua permanência na unidade e estas devem ser tro-
Atenção: Recomenda-se que as portas e janelas da ambulância cadas sempre que estiverem sujas ou úmidas.
sejam mantidas abertas durante a limpeza interna do veículo. ● Prover lenço descartável para higiene nasal na sala de espera.
Prover lixeira com acionamento por pedal para o descarte de lenços
Observação: Deve-se evitar o transporte interinstitucional de de papel.
casos suspeitos ou confirmados de COVID-19. Se a transferência ● Prover dispensadores com preparações alcoólicas para a hi-
do paciente for realmente necessária, o paciente deve utilizar giene das mãos nas salas de espera e estimular a higiene das mãos
máscara cirúrgica durante todo o percurso. após contato com secreções respiratórias.
● Prover condições para higiene simples das mãos: lavatório/
2. Todos os serviços de saúde: na chegada, na triagem, na es- pia com dispensador de sabonete líquido, suporte para papel toa-
pera, no atendimento e durante toda a assistência prestada. lha, papel toalha, lixeira com tampa e abertura sem contato manual.
Ao agendar consultas ambulatoriais, questione se os pacientes ● Orientar os pacientes a adotar as medidas de higiene respira-
apresentam sintomas de infecção respiratória (por exemplo, tosse, tória/etiqueta da tosse:
- Se tossir ou espirrar, cobrir o nariz e a boca com cotovelo fle-
coriza, dificuldade para respirar). Esses pacientes devem ser orien-
xionado ou lenço de papel;
tados, caso seja possível, a adiar a consulta para depois da melhora
- Utilizar lenço de papel descartável para higiene nasal (descar-
dos sintomas.Também deve ser orientado que todo paciente deve
tar imediatamente após o uso e realizar a higiene das mãos);
ir ao serviço usando máscara de tecido e permanecer com esta du-
- Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca;
rante a permanência no serviço de saúde - Realizar a higiene das mãos com água e sabonete OU prepa-
Na chegada ao serviço de saúde, instruir os pacientes e acom- ração alcoólica.
panhantes a informar se estão com sintomas de infecção respira-
tória (por exemplo, tosse, coriza, dificuldade para respirar). Nesses ● Orientar os pacientes/acompanhantes e profissionais de saú-
casos, devem ser tomadas as ações preventivas apropriadas, por de e apoio sobre a necessidade da higiene das mãos com água e
exemplo, o uso da máscara cirúrgica a partir da entrada do serviço, sabonete líquido (40-60 segundos) OU preparação alcoólica a 70%
se puder ser tolerada. Caso o indivíduo não possa tolerar o uso da (20-30 segundos).
máscara cirúrgica devido, por exemplo, à presença de secreção ex- ● Orientar que pacientes/acompanhantes e profissionais de
cessiva ou falta de ar, deve-se orientá-lo a realizar rigorosamente saúde e apoio evitem tocar olhos, nariz e boca com as mãos não
a higiene respiratória/etiqueta da tosse, ou seja, cobrir a boca e o higienizadas.
nariz quando tossir ou espirrar com papel descartável e realizar a ● Reforçar a necessidade de intensificação da limpeza e de-
higiene das mãos com água e sabonete líquido OU preparação al- sinfecção de objetos e superfícies, principalmente as mais tocadas
coólica para as mãos. como maçanetas, interruptores de luz, corrimões, botões dos ele-
É recomendado o uso de alertas visuais (cartazes, placas e pós- vadores, etc.
teres etc.) na entrada dos serviços de saúde e em locais estratégicos ● Orientar os profissionais de saúde a evitar tocar superfícies
(áreas de espera, elevadores, lanchonetes etc.) com informações próximas ao paciente (ex. mobiliário e equipamentos para a saúde)
sobre: principais sinais e sintomas da COVID-19;forma correta para e aquelas fora do ambiente próximo ao paciente, com luvas ou ou-
a higiene das mãos com água e sabonete líquido OU preparação tros EPI contaminados ou com as mãos contaminadas.
alcoólica para as mãos a 70% e sobre higiene respiratória/etiqueta ● Manter os ambientes ventilados (ar condicionado com exaus-
da tosse. tão, que garanta as trocas de ar ou manter as janelas abertas).
De acordo com o que se sabe até o momento, as seguintes ● Eliminar ou restringir o uso de itens compartilhados por pa-
orientações devem ser seguidas pelos serviços de saúde: cientes como canetas, pranchetas e telefones.
● Implementar procedimentos de triagem para detectar pa- ● Realizar a limpeza e desinfecção de equipamentos e produtos
cientes com suspeita de infecção pelo SARS-CoV-2, antes mesmo do para saúde que tenham sido utilizados na assistência aos pacientes
suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus.
registro do paciente: garantir que todos os pacientes sejam questio-
● Orientar os profissionais de saúde e de apoio quanto às me-
nados sobre a presença de sintomas de uma infecção respiratória
didas de precaução a serem adotadas.
ou contato com possíveis pacientes com o novo coronavírus.
● Orientar os profissionais de saúde e de apoio a utilizarem
● Garantir o isolamento rápido de pacientes com sintomas de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI), caso entrem na área de
infecção pelo SARSCoV-2 ou outra infecção respiratória (por exem- isolamento, prestem assistência ou realizem atividades a menos de
plo, tosse e dificuldade para respirar). 1 metro dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo
● Garantir que pacientes com sintomas suspeitos de infecção novo coronavírus.
pelo SARS-CoV-2 ou outra infecção respiratória não fiquem esperan- ● Os serviços de saúde devem implementar políticas, que não
do atendimento entre os outros pacientes. Identifique um espaço sejam punitivas, para permitir que o profissional de saúde que apre-
separado e bem ventilado que permita que os pacientes sintomá- sente sintomas de infecção respiratória seja afastado do trabalho,
ticos em espera fiquem afastados (pelo menos 1 metro de distân- em isolamento domiciliar, seguindo as recomendações publicadas
cia entre cada pessoa) e com fácil acesso a suprimentos de higiene pelo Ministério da Saúde.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

● Se houver necessidade de encaminhamento do paciente para outro serviço de saúde, sempre notificar previamente o serviço refe-
renciado.

Observação 1: A máscara de tecido NÃO é um EPI, por isso ela NÃO deve ser usada por profissionais de saúde ou de apoio quando se
deveria usar a máscara cirúrgica (durante a assistência ou contato direto, a menos de 1 metro de pacientes), ou quando se deveria usar a
máscara N95/PFF2 ou equivalente (durante a realização de procedimentos potencialmente geradores de aerossóis), conforme especificado
no Quadro 1.
Observação 2: Os EPI devem ser imediatamente removidos após a saída do quarto, enfermaria, box ou área de isolamento. Porém,
caso o profissional de saúde saia de um quarto, enfermaria ou área de isolamento para atendimento de outro paciente com suspeita ou
confirmação de infecção pelo SARS-CoV-2, na mesma área/setor de isolamento, logo em seguida, não haveria necessidade de trocar gorro
(quando necessário utilizar), óculos ou protetor facial e máscara. Neste caso, ele deve trocar somente avental e luvas, além de realizar a
higiene das mãos.

PRECAUÇÕES A SEREM ADOTADAS POR TODOS OS SERVIÇOS DE SAÚDE DURANTE A ASSISTÊNCIA


Conforme as informações atualmente disponíveis, a via de transmissão pessoa a pessoa do SARS-CoV-2 ocorre por meio de gotículas
respiratórias (expelidas durante a fala, tosse ou espirro) e também pelo contato direto com pessoas infectadas ou indireto por meio das
mãos, objetos ou superfícies contaminadas, de forma semelhantes com que outros patógenos respiratórios se disseminam.
Além disso, tem-se estudado a possibilidade de transmissão do vírus por meio de aerossóis (partículas menores e mais leves que as
gotículas) gerados durante manipulação direta da via aérea como na intubação orotraqueal ou em outros procedimentos potencialmente
geradores de aerossóis.
Dessa forma, além das precauções padrão, devem ser implementadas por todos os serviços de saúde:
- Precauções para contato
- Precauções para gotículas*
*as gotículas tem tamanho maior que 5 µm e podem atingir a via respiratória alta, ou seja, mucosa das fossas nasais e mucosa da
cavidade bucal.
- Precauções para aerossóis* (em algumas situações específicas) **
*os aerossóis são partículas menores e mais leves que as gotículas, que permanecem suspensas no ar por longos períodos de tempo
e, quando inaladas, podem penetrar mais profundamente no trato respiratório.
**Observação: alguns procedimentos realizados em pacientes com infecção pelo SARS-CoV-2, podem gerar aerossóis, como por
exemplo, intubação ou aspiração traqueal, ventilação mecânica não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da
intubação, coletas de amostras nasotraqueais, broncoscopias, etc. Para esses casos, as precauções para gotículas devem ser substituídas
pelas precauções para aerossóis.

Observação: as precauções-padrão assumem que todas as pessoas estão potencialmente infectadas ou colonizadas por um patógeno
que pode ser transmitido no ambiente de assistência à saúde e devem ser implementadas em todos os atendimentos, independente do
diagnóstico do paciente, mediante o risco de exposição a sangue e outros fluidos ou secreções corporais.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- ISOLAMENTO
A acomodação dos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 deve ser realizada, preferencialmente, em um quarto
privativo com porta fechada e bem ventilado (com janelas abertas).

Observação: Os procedimentos que podem gerar aerossóis devem ser realizados, preferencialmente, em uma unidade de isolamento
respiratório com pressão negativa e filtro HEPA (High Efficiency Particulate Arrestance). Na ausência desse tipo de unidade, deve-se colocar
o paciente em um quarto individual com portas fechadas, janelas abertas e restringir o número de profissionais durante estes procedi-
mentos. Além disso, deve-se orientar a obrigatoriedade do uso da máscara de proteção respiratória (respirador particulado) com eficácia
mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3µ (tipo N95, N99, N100, PFF2 ou PFF3) pelos profissionais de saúde, além do gorro
descartável, óculos de proteção ou protetor facial (face shield), avental e luvas.

Implementação de coortes
Considerando a possibilidade do aumento do número de casos de pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2,
se o serviço de saúde não possuir quartos privativos disponíveis em número suficiente para o atendimento de todos os casos, deve ser
estabelecida a acomodação dos pacientes em coorte, ou seja, separar esses pacientes em uma mesma enfermaria ou área. Essa coorte
pode ser realizada em todas as unidades ou setores que forem receber pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARSCoV-2.
É fundamental que seja mantida uma distância mínima de 1 metro entre os leitos dos pacientes e deve haver uma preocupação de se
restringir ao máximo o número de acessos a essa área de coorte, inclusive visitantes, com o objetivo de se conseguir um maior controle da
movimentação de pessoas, evitando-se o tráfego indesejado e o cruzamento desnecessário de pessoas e serviços.
Os profissionais de saúde que atuam na assistência direta aos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 e
profissionais de apoio devem ser organizados para trabalharem somente na área de coorte, durante todo o seu turno de trabalho, não
devendo circular por outras áreas de assistência e nem prestar assistência a outros pacientes (coorte de profissionais).

Outras orientações para o quarto de isolamento ou área de coorte


Os serviços de saúde devem manter um registro de todas as pessoas que prestam assistência direta ou entram nos quartos ou áreas
de assistência dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2.
O quarto, enfermaria ou área isolamento ou área de coorte deve permanecer com a porta fechada, ter a entrada sinalizada com alerta
referindo as precauções para gotículas/aerossóis e contato, a fim de evitar a entrada/passagem de pacientes e visitantes de outras áreas
ou de profissionais que estejam trabalhando em outros locais do serviço de saúde.
O acesso deve ser restrito aos profissionais envolvidos na assistência direta ao paciente. O quarto também deve estar sinalizado
quanto às medidas de precaução a serem adotadas: padrão, gotículas e contato ou aerossóis (em condições específicas, já mencionadas).
Imediatamente antes da entrada do quarto, enfermaria, área de isolamento ou área de coorte, devem ser disponibilizadas:
• Condições para higiene das mãos: dispensador de preparação alcoólica a 70% e lavatório/pia com dispensador de sabonete líquido,
suporte para papel toalha, papel toalha, lixeira com tampa e abertura sem contato manual.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• EPI apropriado, conforme será descrito mais à frente, nesse documento.


• Mobiliário para guarda e descarte de EPI.

Os serviços de saúde devem elaborar, disponibilizar de forma escrita e manter disponíveis, normas e rotinas dos procedimentos envol-
vidos na assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus, tais como: fluxo dos pacientes dentro do ser-
viço de saúde, procedimentos de colocação e retirada de EPI, procedimentos de remoção e processamento de roupas/artigos e produtos
utilizados na assistência, rotinas de limpeza e desinfecção de superfícies, rotinas para remoção dos resíduos, entre outros.
Os profissionais envolvidos na assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 devem ser capacitados
quanto às medidas de prevenção que devem ser adotadas.
Além disso:
• Deve ser restringida a entrada de visitantes.
• Recomenda-se que profissionais da saúde não devem atuar nos serviços de saúde se estiverem com sintomas de doença respiratória
aguda. Eles devem ser avaliados e receber orientações para a realização de exames, afastamento e condições para o retorno às atividades.
• Pacientes e acompanhantes/visitantes devem ser orientados a minimizar o risco de transmissão da doença, adotando ações preven-
tivas já descritas neste documento, principalmente o uso de máscaras e a higiene das mãos.
• Os pacientes com sintomas respiratórios devem utilizar máscara cirúrgica durante a circulação dentro do serviço (transporte dos
pacientes de uma área/setor para outro).
• Sempre que possível, equipamentos, produtos para saúde utilizados na assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção
pelo SARS-CoV-2 devem ser de uso exclusivo, como no caso de estetoscópios, esfigmomanômetro e termômetros. Caso não seja possível,
todos os produtos para saúde utilizados nestes pacientes devem ser limpos e desinfetados ou esterilizados antes de serem utilizados em
outros pacientes.
• Os pacientes devem ser orientados a não compartilhar pratos, copos, talheres, toalhas, roupas de cama ou outros itens com outras
pessoas.

Duração das precauções e isolamento


Até que haja informações disponíveis sobre a disseminação viral após melhora clínica do paciente, a descontinuação das precauções e
isolamento deve ser determinada caso a caso, observando-se as orientações da CCIH mediante dados clínicos e laboratoriais.
Se possível, casos COVID-19 positivos devem ser mantidos em isolamento até o final da internação. Caso seja necessário suspender as
precauções, os fatores que devem ser considerados para a descontinuação das precauções e isolamento podem incluir: presença de sinto-
mas relacionados à infecção pelo SARS-CoV-2, data em que os sintomas cessaram, outras condições que exigiriam precauções específicas
(por exemplo tuberculose), outras informações laboratoriais que reflitam o estado clínico do paciente, alternativas ao isolamento hospi-
talar, exame sequencial de RT-PCR para SARS-CoV-2 negativo (se disponível), bem como a possibilidade de recuperação segura em casa.

- EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI)


Considerando as precauções indicadas para a assistência aos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2, reco-
mendamos os seguintes Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e as seguintes medidas de prevenção e controle da disseminação do
novo coronavírus (SARS-CoV-2) em serviços de saúde:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Quadro 01: Recomendação de medidas a serem implementadas para a prevenção e o controle da disseminação do novo coronaví-
rus (SARS-CoV-2) em serviços de saúde.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Fonte: GVIMS/GGTES/Anvisa, 2020 - Adaptado de WHO. Rational use of personal protective equipment (PPE) for coronavirus disease
(COVID-19) Interim guidance.19 March 2020 https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/331498/WHO-2019-nCoV-IPCPPE_use-
-2020.2-eng.pdf

a. Deve ser restringido ao máximo as visitas nas áreas de COVID-19. Quando autorizada a entrada de visitantes no quarto/área/box
de um paciente COVID19, esses devem receber instruções claras sobre como colocar e remover o EPI e sobre como realizar a higienize das
mãos antes de colocar e depois de remover o EPI (esses passos devem ser supervisionados por um profissional de saúde bem treinado).
b. As precauções padrão deve ser adotadas no atendimento de todos os pacientes e a indicação das precauções específicas devem
ser avaliadas caso a caso.
c. Quando necessário a presença de acompanhante de pacientes COVID-19, este deve ser orientado a não circular em outras áreas de
assistência do serviço de saúde, manter o distanciamento mínimo de 1 metro de outras pessoas, a proceder a higiene frequente das mãos
e a permanecer de máscara, mesmo fora da área do paciente que estiver acompanhando.

Observação1: Todas essas medidas são baseadas no conhecimento atual sobre os casos de infecção pelo SARS-CoV-2 e podem ser
alteradas conforme novas informações sobre o vírus forem disponibilizadas.
Observação 2: O uso de máscara pelos profissionais do serviço, como controle de fonte,é uma das medidas de prevenção para limitar
a propagação de doenças respiratórias, incluindo o SARS-CoV-2. No entanto, este uso deve vir acompanhado de outras medidas igualmente
relevantes, como a higiene das mãos, a distância de pelo menos 1 metro de outras pessoas e a não aglomeração em área coletivas, locais
de descanso, refeição, locais de registro de frequência, etc.
Observação 3: Ressalta-se a necessidade do uso racional de EPI nos serviços de saúde, pois trata-se de um recurso finito e imprescin-
dível para oferecer segurança aos profissionais durante a assistência.
Observação 4: Além de usar o EPI apropriado, todos os profissionais devem ser orientados sobre como usar, remover e descartar
adequadamente os EPIs, bem como na prática correta de higiene das mãos nos momentos indicados. O EPI deve ser descartado em um
recipiente de resíduo infectante, após o uso, e a higiene das mãos deve ser realizada antes de colocar e de retirar o EPI.
Observação 5: Quando o paciente estiver hipersecretivo, com sangramento, vômitos ou diarreia o profissional de saúde deve usar
avental impermeável.

227
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

OBSERVAÇÃO: Máscaras de tecido devem ser usadas para • Remova a máscara usando a técnica apropriada (ou seja, não
impedir que a pessoa que a está usando espalhe secreções respi- toque na frente da máscara, que pode estar contaminada, mas re-
ratórias ao falar, espirrar ou tossir (controle da fonte), desde que mova sempre pelas tiras laterais);
estejam limpas e secas, porém, elas NÃO SÃO Equipamentos de • Após a remoção ou sempre que tocar inadvertidamente em
Proteção Individual (EPI), portanto, não devem ser usadaspor pro- uma máscara usada, deve-se realizar a higiene das mãos;
fissionais do serviço de saúde durante a permanência em áreas de • Substitua a máscara por uma nova máscara limpa e seca as-
atendimento a pacientes ou quando realizarem atividades em que sim que a antiga tornar- se suja ou úmida;
é necessário uso de máscara cirúrgica ou de máscara de proteção • Não reutilize máscaras descartáveis.
respiratória N95/PFF2, conforme descrito no Quadro 1.
Atenção: NUNCA se deve tentar realizar a limpeza da máscara
Quem pode usar máscaras de tecido dentro dos serviços de cirúrgica já utilizada com nenhum tipo de produto. As máscaras ci-
saúde, conforme especificado no Quadro 1? rúrgicas são descartáveis e não podem ser limpas ou desinfectadas
- Pacientes assintomáticos - visitantes e acompanhantes para uso posterior e quando úmidas, perdem a sua capacidade de
- Profissionais que atuam na recepção, áreas administrativas filtração.
(quando não tiver contato a menos de 1 metro com pacientes)
- Profissionais de áreas em que não há assistência a pacientes Máscara de proteção respiratória (respirador particulado –
como manutenção, almoxarifado, farmácia, etc (quando não tiver máscara N95/PFF2 ou equivalente)
contato a menos de 1 metro com pacientes) Quando o profissional atuar em procedimentos com risco de
- Profissionais de saúde e de apoio em situações em que não geração de aerossóis, em pacientes suspeitos ou confirmados de
há necessidade do uso de máscara cirúrgica ou de máscara de pro- infecção pelo novo coronavírus, deve utilizar a máscara de proteção
teção respiratória N95/PFF2. respiratória (respirador particulado) com eficácia mínima na filtra-
ção de 95% de partículas de até 0,3μ (tipo N95, N99, N100, PFF2 ou
Orientações sobre produção, uso e manutenção de máscaras PFF3). São alguns exemplos de procedimentos com risco de gera-
de tecido estão disponíveis no site do Ministério da Saúde: NOTA ção de aerossóis: intubação ou aspiração traqueal, ventilação não
INFORMATIVA Nº 3/2020-CGGAP/DESF/SAPS/MS: https://www. invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da
saude.gov.br/images/pdf/2020/April/04/1586014047102-Nota-In- intubação, coletas de secreções nasotraqueais, broncoscopias, etc.
formativa.pdf A máscara de proteção respiratória (respirador particulado –
máscara N95/PFF2 ou equivalente) deve estar apropriadamente
Máscara cirúrgica ajustada à face do profissional. A forma de uso, manipulação e ar-
O número de partículas infecciosas necessárias para causar mazenamento deve seguir as recomendações do fabricante e nunca
uma infecção é frequentemente incerto ou desconhecido para pa- deve ser compartilhada entre profissionais.
tógenos respiratórios. Além disso, muitas vezes há incerteza sobre a
influência de fatores como a duração da exposição e a natureza dos Observação: É importante ressaltar que a máscara N95/PFF2
sintomas clínicos na probabilidade de transmissão da infecção de ou equivalente com válvula expiratória não pode ser utilizada como
pessoa para pessoa. Desta forma, quando as máscaras faciais forem controle de fonte, pois ela permite a saída do ar expirado pelo pro-
usadas pelo profissional de saúde em uma área de atendimento ao fissional que, caso esteja infectado, poderá contaminar pacientes,
paciente, o controle da fonte (isto é, oferecer máscaras cirúrgicas outros profissionais e o ambiente. No cenário atual da pandemia e
para os pacientes sintomáticos) e a manutenção da distância do pa- em situações de escassez, em que só tenha disponível este modelo
ciente, quando possível (mais de 1 metro) também são particular- de máscara com válvula expiratória no serviço de saúde, recomen-
mente importantes para reduzir o risco de transmissão. da-se o uso concomitante de um protetor facial, como forma de mi-
Assim, as máscaras cirúrgicas devem ser utilizadas para evitar tigação para controle de fonte. Porém, a exceção a esta medida de
a contaminação do nariz e boca do profissional por gotículas respi- mitigação é o Centro Cirúrgico, onde estas máscaras não devem ser
ratórias, quando este atuar a uma distância inferior a 1 metro do utilizadas, por aumentar o risco de exposição da ferida cirúrgica às
paciente suspeito ou confirmado de infecção pelo SARSCoV-2. gotículas expelidas pelos profissionais e assim aumentam o risco de
A máscara cirúrgica deve ser constituída em material Tecido- infecção de sítio cirúrgico.
-Não-Tecido (TNT) para uso odonto-médico-hospitalar, possuir no
mínimo uma camada interna e uma camada externa e obrigatoria- Excepcionalidades devido à alta demanda por máscaras N95/
mente um elemento filtrante. A camada externa e o elemento fil- PFF2 ou equivalente
trante devem ser resistentes à penetração de fluidos transportados Devido ao aumento da demanda causada pela emergência de
pelo ar (repelência a fluidos). Além disso, deve ser constituída de saúde pública da COVID19, as máscaras de proteção respiratória
forma a cobrir adequadamente a área do nariz e da boca do usu- (N95/PFF2 ou equivalente) poderão, excepcionalmente, ser usadas
ário, possuir um clipe nasal constituído de material maleável que por período maior ou por um número de vezes maior que o previsto
permita o ajuste adequado do contorno do nariz e das bochechas. E pelo fabricante, desde que sejam utilizadas pelo mesmo profissio-
o elemento filtrante deve possuir eficiência de filtragem de partícu- nal e que sejam seguidas, minimamente, as recomendações abaixo:
las (EFP) > 98% e eficiência de filtragem bacteriológica (BFE) > 95%. ▪ Com objetivo de minimizar a contaminação da máscara N95/
Os seguintes cuidados devem ser seguidos quando as máscaras PFF2 ou equivalente, se houver disponibilidade, o profissional de
cirúrgicas forem utilizadas: saúde deve utilizar um protetor facial (face shield), pois este equipa-
• Coloque a máscara cuidadosamente para cobrir a boca e o mento protegerá a máscara de contato com as gotículas expelidas
nariz e ajuste com segurança para minimizar os espaços entre a face pelo paciente.
e a máscara;
• Enquanto estiver em uso, evite tocar na parte da frente da
máscara; se porventura tocar essa parte, realizar imediatamente a
higiene das mãos.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

▪ O serviço de saúde deve definir um Protocolo para orientar os Luvas


profissionais de saúde, minimamente, sobre o uso, retirada, acondi- As luvas de procedimentos não cirúrgicos devem ser utilizadas,
cionamento, avaliação da integridade, tempo de uso e critérios para no contexto da epidemia da COVID-19, em qualquer contato com o
descarte das máscaras N95/PFF2 ou equivalente. Este Protocolo paciente ou seu entorno (precaução de contato).
deve ser definido pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar Quando o procedimento a ser realizado no paciente exigir téc-
(CCIH), em conjunto com as equipes das unidades assistenciais. nica asséptica, devem ser utilizadas luvas estéreis (de procedimento
▪ Os profissionais de saúde devem inspecionar visualmente a cirúrgico).
máscara N95/PFF2 ou equivalente, antes de cada uso, para avaliar As recomendações quanto ao uso de luvas por profissionais de
se sua integridade foi comprometida. Máscaras úmidas, sujas, ras- saúde são:
gadas, amassadas ou com vincos, devem ser imediatamente des- ● As luvas devem ser colocadas dentro do quarto/box do pa-
cartadas. ciente ou área em que o paciente está isolado.
▪ Se não for possível realizar uma verificação bem-sucedida da ● As luvas devem ser removidas, utilizando a técnica correta,
vedação da máscara à face do usuário (teste positivo e negativo de ainda dentro do quarto ou área de isolamento e descartadas como
vedação da máscara à face), a máscara deverá ser descartada ime- resíduo infectante.
diatamente.
▪ Ao realizar o teste de vedação com uma máscara individual Técnica correta de remoção de luvas para evitar a contamina-
já utilizada, é obrigatória a higienização das mãos antes de seguir a ção das mãos:
sequência de paramentação. - Retire as luvas puxando a primeira pelo lado externo do pu-
▪ Os profissionais de saúde devem ser orientados sobre a im- nho com os dedos da mão oposta.
portância das inspeções e verificações da vedação da máscara à - Segure a luva removida com a outra mão enluvada.
face, antes de cada uso. - Toque a parte interna do punho da mão enluvada com o dedo
indicador oposto (sem luvas) e retire a outra luva.
Observação 1: As máscaras usadas por período maior ou por ● Realizar a higiene das mãos imediatamente após a retirada
um número de vezes maior que o previsto pelo fabricante podem das luvas.
não cumprir os requisitos para os quais foram certificados. Com o ● Jamais sair do quarto/box ou área de isolamento com as lu-
tempo, componentes como por exemplo, as tiras e o material da vas.
ponte nasal podem se degradar, o que pode afetar a qualidade do ● Nunca toque desnecessariamente superfícies e materiais
ajuste e da vedação. (tais como telefones, maçanetas, portas) quando estiver com luvas.
Observação 2:O profissional de saúde NÃO deve usar a másca- ● Não lavar ou usar novamente o mesmo par de luvas (as luvas
ra cirúrgica sobreposta à máscara N95 ou equivalente, pois além nunca devem ser reutilizadas).
de não garantir proteção de filtração ou de contaminação, também ● O uso de luvas não substitui a higiene das mãos.
pode levar ao desperdício de mais um EPI, o que pode ser muito ● Não devem ser utilizadas duas luvas para o atendimento aos
prejudicial em um cenário de escassez. pacientes, esta ação não garante mais segurança à assistência.
Observação 3: Para remover a máscara, retire-a pelos elásticos, ● Não se recomenda o uso de luvas, quando o profissional não
tomando bastante cuidado para nunca tocar na sua superfície inter- estiver realizando assistência ao paciente.
na e a acondicione de forma a mantê-la íntegra, limpa e seca para
o próximo uso. Para isso, pode ser utilizado um saco ou envelope de
papel, embalagens plásticas ou de outro material, desde que não
fiquem hermeticamente fechadas. Os elásticos da máscara deverão
ser acondicionados de forma a não serem contaminados e de modo
a facilitar a retirada da máscara da embalagem. Importante: Se no
processo de remoção da máscara houver contaminação da parte
interna, ela deverá ser descartada imediatamente.
Observação 4: O tempo de uso da máscara N95/PFF2 ou equi-
valente, em relação ao período de filtração contínua do dispositivo,
deve considerar as orientações do fabricante. O número de reuti-
lizações da máscara, pelo mesmo profissional, deve considerar as
rotinas orientadas pelas CCIHs do serviço de saúde e constar no
Protocolo.

Quem deve usar a máscara N95 ou equivalente?


Profissionais de saúde que realizam procedimentos geradores
de aerossóis como por exemplo: intubação ou aspiração traqueal,
ventilação mecânica não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar,
ventilação manual antes da intubação, coletas de amostras naso-
traqueais, broncoscopias, etc.

Profissionais de saúde e de apoio que desenvolvam suas ativi-


dades em uma área em que há a realização de procedimentos gera-
dores de aerossóis e que possam estar expostos à contaminação, de
acordo com a avaliação da CCIH (essa situação deve ser minimizada
ao máximo).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Óculos de proteção ou protetor de face (face shield)


Os óculos de proteção ou protetores faciais (que cubra a frente e os lados do rosto) devem ser utilizados quando houver risco de expo-
sição do profissional a respingos de sangue, secreções corporais, excreções, etc.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Os óculos de proteção ou protetores faciais devem ser exclusivos de cada profissional responsável pela assistência, devendo, imedia-
tamente após o uso realizar a limpeza e posterior desinfecção com álcool líquido a 70% (quando o material for compatível), hipoclorito de
sódio ou outro desinfetante, na concentração recomendada pelo fabricante ou pela CCIH do serviço.
Caso o protetor facial tenha sujidade visível, deve ser lavado com água e sabão/detergente e só depois dessa limpeza, passar pelo
processo de desinfecção. O profissional deve utilizar luvas para realizar esses procedimentos.

Capote ou avental
O capote ou avental para uso na assistência ao paciente suspeito ou confirmado e infecção pelo SARS-CoV-2 deve possuir gramatura
mínima de 30g/m2 e deve ser utilizado para evitar a contaminação da pele e roupa do profissional.
O profissional deve avaliar a necessidade do uso de capote ou avental impermeável (estrutura impermeável e gramatura mínima de
50 g/m2) a depender do quadro clínico do paciente (vômitos, diarreia, hipersecreção orotraqueal, sangramento, etc.). Em situações de
escassez de aventais impermeáveis, conforme descrição acima (gramatura mínima de 50 g/m2), admite-se a utilização de avental de menor
gramatura (no mínimo 30g/m2), desde que o fabricante assegure que esse produto seja impermeável.
O capote ou avental deve ser de mangas longas, punho de malha ou elástico e abertura posterior. Além disso, deve ser confeccionado
de material de boa qualidade, atóxico, hidro/hemorrepelente, hipoalérgico, com baixo desprendimento de partículas e resistente, propor-
cionar barreira antimicrobiana efetiva (Teste de Eficiência de Filtração Bacteriológica - BFE), além de permitir a execução de atividades com
conforto e estar disponível em vários tamanhos.
O capote ou avental sujo deve ser removido e descartado como resíduo infectante após a realização do procedimento e antes de sair
do quarto do paciente ou da área de isolamento. Após a sua remoção, deve-se proceder a higiene das mãos para evitar a transmissão dos
vírus para o profissional, pacientes, outros profissionais e ambiente.

Gorro
O gorro está indicado para a proteção dos cabelos e cabeça dos profissionais em procedimentos que podem gerar aerossóis. Deve ser
de material descartável e removido após o uso. O seu descarte deve ser realizado como resíduo infectante.

- HIGIENE DAS MÃOS


Os profissionais de saúde devem realizar higiene de mãos, de acordo com os 5 momentos para a higiene das mãos em serviços de
saúde.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

As mãos dos profissionais que atuam em serviços de saúde podem ser higienizadas utilizando-se: água e sabonete líquido OU prepa-
ração alcoólica a 70%.
Os profissionais de saúde, pacientes e visitantes devem ser devidamente instruídos quanto à importância da higiene das mãos e mo-
nitorados quanto a sua implementação.

Higiene das mãos com água e sabonete líquido


A higiene das mãos com água e sabonete líquido é essencial quando as mãos estão visivelmente sujas ou contaminadas com sangue
ou outros fluidos corporais e deve ser realizada:
● Antes e após o contato direto com pacientes com infecção suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus, seus pertences e ambiente
próximo, bem como na entrada e na saída de áreas com pacientes infectados.
● Imediatamente após retirar as luvas.
● Imediatamente após contato com sangue, fluidos corpóreos, secreções, excreções ou objetos contaminados.
● Entre procedimentos em um mesmo paciente, para prevenir a transmissão cruzada entre diferentes sítios corporais.
● Em qualquer outra situação onde seja indicada a higiene das mãos para evitar a transmissão do novo coronavírus para outros pa-
cientes ou ambiente.

Técnica: “Higiene Simples das Mãos com Sabonete Líquido e Água”


● Retirar acessórios (anéis, pulseiras, relógio), uma vez que sob estes objetos acumulam-se microrganismos não removidos com a
lavagem das mãos.
● Abrir a torneira e molhar as mãos, evitando encostar-se na pia.
● Aplicar na palma da mão quantidade suficiente de sabonete líquido para cobrir todas as superfícies das mãos (seguir a quantidade
recomendada pelo fabricante).
● Ensaboar as palmas das mãos, friccionando-as entre si.
● Esfregar a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda entrelaçando os dedos e vice-versa.
● Entrelaçar os dedos e friccionar os espaços interdigitais.
● Esfregar o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando os dedos, com movimento de vai-e-vem e vice-
-versa.
● Esfregar o polegar direito, com o auxílio da palma da mão esquerda, utilizando- se movimento circular e vice-versa.
● Friccionar as polpas digitais e unhas da mão esquerda contra a palma da mão direita, fechada em concha, fazendo movimento cir-
cular e vice-versa.
● Enxaguar as mãos, retirando os resíduos de sabonete. Evitar contato direto das mãos ensaboadas com a torneira.
● Secar as mãos com papel toalha descartável. No caso de torneiras com contato manual para fechamento, sempre utilize papel toa-
lha.
• Duração do Procedimento: 40 a 60 segundos

232
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Higiene das mãos com preparação alcoólica


Deve-se higienizar as mãos com preparação alcoólica (sob as formas gel ou solução) quando estas NÃO estiverem visivelmente sujas.
A higiene das mãos com preparação alcoólica (sob a forma gel ou líquida com 1- 3% glicerina) deve ser realizada nas situações descri-
tas a seguir:
● Antes de contato com o paciente.
● Após contato com o paciente.
● Antes de realizar procedimentos assistenciais e manipular dispositivos invasivos.
● Antes de calçar luvas para inserção de dispositivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico.
● Após risco de exposição a fluidos corporais.
● Ao mudar de um sítio corporal contaminado para outro, limpo, durante a assistência ao paciente.
● Após contato com objetos inanimados e superfícies imediatamente próximas ao paciente.
● Antes e após a remoção de luvas.

Técnica: “Fricção Antisséptica das Mãos (com preparações alcoólicas)”:


● Retirar acessórios (anéis, pulseiras, relógio), uma vez que sob estes objetos acumulam-se microrganismos não removidos com a
lavagem das mãos.
● Aplicar na palma da mão quantidade suficiente do produto para cobrir todas as superfícies das mãos (seguir a quantidade recomen-
dada pelo fabricante).
● Friccionar as palmas das mãos entre si.
● Friccionar a palma da mão direita contra o dorso da mão esquerda entrelaçando os dedos e vice-versa.
● Friccionar as palmas das mãos entre si com os dedos entrelaçados.
● Friccionar o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando os dedos e vice-versa.
● Friccionar o polegar direito, com o auxílio da palma da mão esquerda, utilizando- se movimento circular e vice-versa.
● Friccionar as polpas digitais e unhas da mão esquerda contra a palma da mão direita, fazendo um movimento circular e vice-versa.
● Friccionar até secar espontaneamente. Não utilizar papel toalha.
• Duração do Procedimento: 20 a 30 segundos.

De acordo com a RDC Anvisa nº 42, de 25 de outubro de 2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade de disponibilização de preparação
alcoólica para fricção antisséptica das mãos pelos serviços de saúde do país:
Art. 5º É obrigatória a disponibilização de preparação alcoólica para fricção antisséptica das mãos:
I - nos pontos de assistência e tratamento de todos os serviços de saúde do país;
II - nas salas de triagem, de pronto atendimento, unidades de urgência e emergência, ambulatórios, unidades de internação, unidades
de terapia intensiva, clínicas e consultórios de serviços de saúde;
III - nos serviços de atendimento móvel; e
IV - nos locais em que são realizados quaisquer procedimentos invasivos.

233
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

- CAPACITAÇÃO PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE SOBRE O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) E HIGIENE
DAS MÃOS
O serviço de saúde deve fornecer capacitação para todos os profissionais de saúde (próprios, terceirizados, temporários) para a pre-
venção da transmissão de agentes infecciosos. Todos os profissionais de saúde devem ser treinados para o uso correto e seguro dos EPI,
inclusive os dispositivos de proteção respiratória (por exemplo, máscaras cirúrgicas e máscaras N95/PFF2 ou equivalente).
O serviço de saúde deve certificar-se de que os profissionais de saúde e de apoio foram capacitados e tenham praticado o uso apropria-
do dos EPI antes de cuidar de um caso suspeito ou confirmado de infecção pelo novo coronavírus, incluindo a atenção ao uso correto de
EPI, testes de vedação da máscara N95/PFF2 ou equivalente (quando for necessário o seu uso) e a prevenção de contaminação de roupas,
pele e ambiente durante o processo de remoção de tais equipamentos.

234
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Equipamentos de proteção individual (epi)utilizados em procedimentos geradores de aerossóis (exemplos: intubação ou aspiração
traqueal, ventilação mecânica não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, coletas de amostras nasotraqueais, broncoscopias, etc)

- PROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE


Não há uma orientação especial quanto ao processamento de equipamentos e produtos para saúde utilizados na assistência a pacien-
tes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. O processamento deve ser realizado de acordo com as características, fi-
nalidade de uso e orientação dos fabricantes e dos métodos escolhidos. Além disso, devem ser seguidas as determinações previstas na RDC
nº 15, de 15 de março de 2012, que dispõe sobre os requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras
providências e na RDC n° 156, de 11 de agosto de 2006, que dispõe sobre o registro, rotulagem e reprocessamento de produtos médicos.
Como medida de precaução de contato, todos os equipamentos e produtos para saúde utilizados na assistência a paciente com infec-
ção suspeita ou confirmada pelo SARSCoV-2 devem ser submetidos a limpeza e desinfecção ou esterilização.
Equipamentos e produtos para saúde utilizados nos pacientes devem ser recolhidos e transportados de forma a prevenir a possibilida-
de de contaminação de pele, mucosas e roupas ou a transferência de microrganismos para outros pacientes, profissionais ou ambientes.
O serviço de saúde deve estabelecer fluxos, rotinas de retirada e de todas as etapas do processamento dos equipamentos e produtos para
saúde utilizados durante a assistência a pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARSCoV-2.

- LIMPEZA E DESINFECÇÃO DE SUPERFÍCIES


Não há uma recomendação diferenciada para a limpeza e desinfecção de superfícies em contato com casos suspeitos ou confirmados
pelo novo coronavírus.
Recomenda-se que a limpeza das áreas de isolamento seja concorrente, imediata ou terminal.
• A limpeza concorrente é aquela realizada diariamente;
• A limpeza imediata é aquela realizada em qualquer momento, quando ocorrem sujidades ou contaminação do ambiente e equipa-
mentos com matéria orgânica, mesmo após ter sido realizada a limpeza concorrente e
• A limpeza terminal é aquela realizada após a alta, óbito ou transferência do paciente: como a transmissão do novo coronavírus se
dá por meio de gotículas respiratórias e contato não há recomendaçãopara que os profissionais de higiene e limpeza aguardem horas ou
turnos para que o quarto ou área seja higienizado, após a alta do paciente.

235
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

A desinfecção das superfícies das unidades de isolamento só TRATAMENTO DE RESÍDUOS


deve ser realizada após a sua limpeza. Os desinfetantes com po- De acordo com o que se sabe até o momento, o novo corona-
tencial para desinfecção de superfícies incluem aqueles à base de vírus pode ser enquadrado como agente biológico classe de risco 3,
cloro, alcoóis, alguns fenóis e alguns iodóforos e o quaternário de seguindo a Classificação de Risco dos Agentes Biológicos, publicada
amônio. Sabe-se que os vírus são inativados pelo álcool a 70% e em 2017, pelo Ministério da Saúde, sendo sua transmissão de alto
pelo cloro. Portanto, preconiza-se a limpeza das superfícies do iso- risco individual e moderado risco para a comunidade. Portanto, to-
lamento com detergente neutro seguida da desinfecção com uma dos os resíduos provenientes da assistência a pacientes suspeitos
destas soluções desinfetantes ou outro desinfetante padronizado ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (COVID-19) de-
pelo serviço de saúde, desde que seja regularizado junto à Anvisa, e vem ser enquadrados na categoria A1, conforme Resolução RDC/
seguindo as orientações previstas no manual da Anvisa: “Segurança Anvisa nº 222, de 28 de março de 2018.
do paciente em serviços de saúde: limpeza e desinfecção de super- Os resíduos devem ser acondicionados, em sacos vermelhos,
fícies”, 2012. que devem ser substituídos quando atingirem 2/3 de sua capaci-
No caso de a superfície apresentar matéria orgânica visível de- dade ou pelo menos 1 vez a cada 48 horas, independentemente do
ve-se inicialmente proceder à retirada do excesso da sujidade com volume e identificados pelo símbolo de substância infectante. Os
papel/tecido absorvente e posteriormente realizar a limpeza e de- sacos devem estar contidos em recipientes de material lavável, re-
sinfecção desta. Ressalta-se a necessidade da adoção das medidas sistente à punctura, ruptura, vazamento e tombamento, com tampa
de precaução para estes procedimentos. provida de sistema de abertura sem contato manual, com cantos ar-
Deve-se limpar e desinfetar as superfícies que provavelmen- redondados. Estes resíduos devem ser tratados antes da disposição
te estão contaminadas, incluindo aquelas que estão próximas ao final ambientalmente adequada.
paciente (por exemplo, grades da cama, cadeiras, mesas de cabe-
ceira e de refeição, etc) e superfícies frequentemente tocadas no Observação: Apesar da RDC 222/2018 definir que os resíduos
ambiente de atendimento ao paciente (por exemplo, maçanetas, provenientes da assistência a pacientes com coronavírus tem que
grades dos leitos, interruptores de luz, corrimões, superfícies de ba- ser acondicionados em saco vermelho, EXCEPCIONALMENTE, du-
nheiros nos quartos dos pacientes, etc). rante essa fase de atendimento aos pacientes suspeitos ou confir-
Além disso, devem incluir os equipamentos eletrônicos de mados de infecção pelo SARS-CoV-2, caso o serviço de saúde não
múltiplo uso (ex: bombas de infusão, monitores, etc) nas políticas possua sacos vermelhos para atender a demanda, poderá utilizar os
e procedimentos de limpeza e desinfecção, especialmente os itens sacos brancos leitosos com o símbolo de infectante para acondicio-
usados pelos pacientes, os usados durante a prestação da assistên- nar esses resíduos. Reforça-se que esses resíduos devem ser trata-
cia ao paciente e os dispositivos móveis que são movidos frequen- dos antes da disposição final ambientalmente adequada.
temente para dentro e para fora dos quartos dos pacientes (por Ressalta-se ainda, que conforme a RDC/Anvisa nº 222/18, os
exemplo, verificadores de pressão arterial e oximetria). serviços de saúde devem elaborar um Plano de Gerenciamento de
O serviço de saúde deve possuir Protocolos contendo as orien- Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, que é o documento que
tações a serem implementadas em todas as etapas de limpeza e aponta e descreve todas as ações relativas ao gerenciamento dos
desinfecção de superfícies e garantir a capacitação periódica das resíduos de serviços de saúde, observadas suas características e ris-
equipes envolvidas, sejam elas próprias ou terceirizadas. cos, contemplando os aspectos referentes à geração, identificação,
segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transpor-
-PROCESSAMENTO DE ROUPAS te, destinação e disposição final ambientalmente adequada, bem
Não é preciso adotar um ciclo de lavagem especial para as como as ações de proteção à saúde pública, do trabalhador e do
roupas provenientes de casos suspeitos ou confirmados do SARS- meio ambiente.
-CoV-2, podendo ser seguido o mesmo processo estabelecido para
as roupas provenientes de outros pacientes em geral. COMUNICAÇÃO
Porém, ressaltam-se as seguintes orientações: Os serviços de saúde devem implementar mecanismos e ro-
• A unidade de processamento de roupas do serviço de saúde tinas que alertem prontamente as equipes dos serviços de saúde,
deve possuir Protocolos contendo as orientações a serem imple- incluindo os setores de controle de infecção, epidemiologia, direção
mentadas em todas as etapas do processamento das roupas, de do serviço de saúde, saúde ocupacional, laboratório clínico e equi-
forma a garantir que todas as roupas por ela processadas estejam pes de profissionais que atuam na linha de frente da assistência,
seguras para uso por outros pacientes. Além disso, deve-se garantir sobre os casos suspeitos ou confirmados de infecções pelo novo
a capacitação periódica das equipes envolvidas, sejam elas próprias coronavírus.
ou terceirizadas. Além disso, todos os serviços de saúde devem designar pessoas
• Na retirada da roupa suja deve haver o mínimo de agitação específicas que ficarão responsáveis pela comunicação e colabora-
e manuseio, observando-se as medidas de precauções já descritas ção com as autoridades de saúde pública. Todos os casos suspeitos
anteriormente neste documento. ou confirmados devem ser comunicados às autoridades de saúde
• Roupas provenientes de áreas de isolamento não devem ser pública, seguindo as orientações publicadas periodicamente pelo
transportadas por meio de tubos de queda. Ministério da Saúde.

ATENÇÃO!
Essa Nota Técnica apresenta medidas de prevenção e controle
de infecções causadas por um vírus novo e, portanto, essas orien-
tações são baseadas no que se sabe até o momento, podendo ser
atualizada ao surgimento de novas evidências científicas.

236
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Porém, os profissionais de saúde ou os serviços de saúde brasileiros podem determinar ações de prevenção e controle MAIS RIGO-
ROSAS que as definidas nesta Nota Técnica, a partir de uma avaliação caso a caso e de acordo com a sua realidade e recursos disponíveis.

ORIENTAÇÕES PARA UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA (UTI)

ORIENTAÇÕES PARA SERVIÇOS DE DIÁLISE


Estas orientações são baseadas nas informações atualmente disponíveis sobre as infecções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) e
podem ser atualizadas à medida que mais estudos estiverem disponíveis e que as necessidades de resposta mudem no país. É importante
manter-se informado para evitar a introdução e minimizar a disseminação do novo coronavírus nos serviços de diálise.
Além das orientações contidas nesta nota técnica, os serviços de diálise devem seguir as orientações descritas abaixo:

Orientações gerais
● Como parte do programa de prevenção e controle de infecção, os serviços de diálise devem definir políticas e práticas para reduzir
a disseminação de patógenos respiratórios contagiosos, incluindo o vírus SARS-CoV-2.
● Os serviços de diálise devem disponibilizar perto de poltronas de diálise e postos de enfermagem suprimentos/insumos para esti-
mular a adesão à higiene respiratória/etiqueta da tosse. Isso inclui lenços de papel e lixeira com tampa e abertura sem contato manual
● Também devem prover condições para higiene das mãos com preparação alcoólica (dispensadores de preparação alcoólica) e com
água e sabonete líquido (lavatório/pia com dispensador de sabonete líquido, suporte para papel toalha, papel toalha, lixeira com tampa e
abertura sem contato manual).

237
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

● Os serviços de diálise devem reforçar aos pacientes e aos ● Pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo
profissionais de saúde instruções sobre a higiene das mãos, higiene coronavírus devem ser levados para uma área de tratamento o mais
respiratória/etiqueta da tosse. rápido possível, a fim de minimizar o tempo na área de espera e a
exposição de outros pacientes.
● Os serviços de diálise devem implementar políticas, que não ● As instalações devem manter no mínimo 1 metro de sepa-
sejam punitivas, para permitir que o profissional de saúde que apre- ração entre pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo
sente sintomas de infecção respiratória seja afastado do trabalho. novo coronavírus (usando máscaras cirúrgicas) e outros pacientes,
● Todos os pacientes e acompanhantes devem ser orientados a durante o tratamento dialítico.
não transitar pelas áreas da clínica desnecessariamente. ● Devem ser instituídas as precauções para gotículas e de con-
● Todos os pacientes e acompanhantes devem ser orientados tato, além das precauções padrão por todos os profissionais que fo-
a não compartilhar objetos e alimentos com outros pacientes e rem prestar assistência a menos de 1 metro de pacientes suspeitos
acompanhantes. ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Isso inclui, entre
● Permitir a presença de acompanhantes apenas em casos ex- outras ações, o uso de EPI, conforme quadro 2.
cepcionais ou definidos por lei. ● Pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo
● Todos os pacientes e acompanhantes devem ser orientados coronavírus devem preferencialmente ser dialisados em uma sala
a utilizarem máscara de tecido durante a sua permanência no ser- separada, bem ventilada e com a porta fechada, respeitando-se a
viço de diálise. Também devem ser orientados sobre como utilizar distância mínima de 1 metro entre os pacientes:
de forma adequada essas máscaras, bem como removê-las, guar- a. Se não tiver condições de colocar esses pacientes em uma
dá-las e higienizá-las após o uso. Essas máscaras tem o objetivo de sala separada, o serviço deve dialisá-los no turno com o menor nú-
impedir que as gotículas expelidas durante a falam, tosse ou espirro mero de pacientes, nas máquinas mais afastadas do grupo e longe
contaminem outras pessoas ou superfícies. Caso os pacientes ou do fluxo principal de tráfego, quando possível.
acompanhantes não possuam máscaras de tecido ou suas máscaras b. Caso haja mais de um paciente suspeito ou confirmado de
de tecido estejam sujas ou úmidas, o serviço de saúde deve forne- infecção pelo novo coronavírus, sugere-se realizar o isolamento por
cer máscaras cirúrgicas de modo que pacientes e acompanhantes coorte, ou seja, colocar em uma mesma área pacientes com infec-
permaneçam de máscara no serviço de diálise. ção pelo mesmo agente infeccioso.

Orientações diante de casos suspeitos e confirmados de infec- Sugere-se ainda que sejam separadas as últimas seções do dia
ção pelo novo coronavírus para esses pacientes OU, no caso de haver muitos pacientes com
Os serviços de diálise devem estabelecer estratégias para iden- COVID-19 confirmada, o serviço deve remanejar os turnos de todos
tificar e prestar assistência aos pacientes suspeitos ou confirmados os pacientes, de forma a manter aqueles com COVID-19 (suspeita
de infecção pelo novo coronavírus, antes mesmo de chegar ao ser- ou confirmada) dialisando em um turno exclusivo para esses pa-
viço ou de entrar na área de tratamento, de forma que a equipe cientes (de preferência, o último turno do dia). De qualquer forma,
possa se organizar/planejar o atendimento. deve haver a distância mínima de 1 metro entre os leitos/poltronas,
os pacientes devem utilizar máscara cirúrgica durante toda a sua
Entre essas estratégias, sugere-se: permanência no setor e os profissionais de saúde que forem pres-
● Os pacientes devem ser orientados a informar previamen- tar assistência a menos de 1 metro desses pacientes, devem seguir
te ao serviço de diálise (por exemplo: por ligação telefônica antes todas as medidas de precaução (uso de EPI e higiene das mãos, etc).
de dirigir-se à clínica (de preferência) ou ao chegar ao serviço, caso c. as salas de isolamento de hepatite B podem ser usadas para
apresentem sintomas de infecção respiratórias ou caso sejam sus- dialisar pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo
peitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. coronavírus, porém devem ser observados alguns critérios: - Utilizar
● Devem ser disponibilizados alertas nas entradas do serviço essa sala como último recurso, quando não houver possibilidade de
com instruções para que pacientes informem a equipe (por exem- realizar isolamento por coorte ou não houver outras salas dispo-
plo, quando chegarem ao balcão de registro) caso estejam apresen- níveis. - Essa sala só pode ser usada, caso não haja pacientes com
tando sintomas de infecção respiratória ou caso sejam suspeitos ou hepatite B sendo dialisados no mesmo turno. - Essa sala deve sofrer
confirmados de infecção pelo novo coronavírus. rigoroso processo de limpeza e desinfecção antes e após os turnos.
● Antes da entrada na área de tratamento, ainda na recepção, É importante reforçar a limpeza e desinfecção de todas as superfí-
deve ser aplicado um pequeno “questionário” a todos os pacientes cies próximas ao leito/cadeira de diálise e no posto de enfermagem
com perguntas sobre o seu estado geral e presença de sintomas que atende a essa sala, de forma a reduzir o risco de transmissão do
respiratórios. vírus SARS-CoV2 para os pacientes com hepatite B que utilizam essa
● Os serviços de diálise devem organizar um espaço na área de sala em outro turno, bem como para reduzir o risco de transmissão
recepção/espera para que os pacientes suspeitos ou confirmados de hepatite B para pacientes suspeitos ou confirmados de infecção
de infecção pelo novo coronavírus fiquem a uma distância mínima pelo novo coronavírus. - Se possível, não dialisar nessa sala pacien-
de 1 metro dos outros pacientes. tes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus
● Devem ser disponibilizadas máscaras cirúrgicas (para aqueles que não estejam imunes ao vírus da hepatite B (ou seja, paciente
pacientes que não estiverem de máscara de tecido) na entrada do HbsAg negativos).
serviço para que sejam oferecidas aos pacientes suspeitos ou con- ● O serviço de diálise deve avaliar a viabilidade de prestar o
firmados de infecção pelo novo coronavírus, logo na chegada ao atendimento no domicílio do paciente suspeito ou confirmado de
serviço de diálise. infecção pelo novo coronavírus (caso seja possível).
● Os pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo ● Devem ser definidos profissionais exclusivos para o atendi-
coronavírus devem ser orientados a utilizar a máscara cirúrgica de mento dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo
forma adequada (cobrindo boca e nariz) e durante todo o período novo coronavírus (coorte de profissionais).
de permanência no serviço de diálise.

238
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

● Como precaução, as linhas de diálise e dialisadores utilizados em pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2
devem sempre ser descartadas após o uso. No entanto, caso haja possibilidade de desabastecimento desses produtos para saúde em
nosso país, em virtude do aumento mundial no consumo desses produtos, o reprocessamento desses materiais, deverá ser realizado ex-
clusivamente por meio automatizado, não podendo haver nenhuma etapa prévia manual, a fim de evitar a contaminação do profissional
responsável por esse reprocessamento. Além disso, esses produtos só poderão ser usados para o próprio paciente suspeito ou confirmado
de COVID-19, após o reprocessamento.
● Utilizar produtos para saúde exclusivos para pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (termômetros,
esfigmomanômetros, etc). Caso não seja possível, proceder a rigorosa limpeza e desinfecção após o uso (pode ser utilizado álcool líquido
a 70%, hipoclorito de sódio ou outro desinfetante padronizado pelo serviço). Caso o produto seja classificado como crítico, o mesmo deve
ser encaminhado para a esterilização, após a limpeza.
● Após o processo dialítico deve ser realizada uma rigorosa limpeza e desinfecção de toda a área que o paciente teve contato, incluin-
do a máquina, a poltrona, a mesa lateral, e qualquer superfície e equipamentos localizados a menos de um metro da área do paciente ou
que possam ter sido tocados ou utilizados por ele.
● Quando houver suspeita ou confirmação de infecção pelo novo coronavírus, conforme definição de caso do Ministério da Saúde, o
serviço de diálise deve fazer a notificação do caso suspeito ou confirmado.

Importante: Os serviços de diálise devem garantir que o tratamento dialítico continue sendo prestado. Portanto, não devem se negar a
receber pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus ou pacientes que estavam realizando o tratamento dialítico
fora do seu domicílio (no mesmo estado ou em outro estado).
Os pacientes não podem ficar sem receber o tratamento dialítico, dessa forma, cabe ao serviço de diálise ajustar os seus fluxos para
o manejo de casos e seguir as orientações contidas nesta Nota Técnica e nos documentos do Ministério da Saúde de forma a realizar uma
assistência segura para os pacientes e profissionais de saúde.

Quadro 1: Orientações sobre o uso de EPIs e máscaras de tecido em serviços de diálise para atendimentos de pacientes suspeitos
ou confirmados de COVID-19.

239
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

ORIENTAÇÕES PARA SERVIÇOS DE GASTROENTEROLOGIA, EXAMES DE IMAGEM E ANESTESIOLOGIA

240
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE INFECÇÃO PELO NOVO CORONORAVÍRUS (SARS-CoV-2) NA ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGI-
CA
A assistência odontológica apresenta um alto risco para a disseminação do novo Coronavírus (SARS-CoV-2) pela alta carga viral presen-
te nas vias aéreas superiores dos pacientes infectados; devido à grande possibilidade de exposição aos materiais biológicos proporcionada
pela geração de gotículas e aerossóis e pela proximidade que a prática exige entre profissional e paciente.

241
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

Outros fatores a serem considerados são a inviabilidade de se 2. Atentar para a importância de assegurar a qualidade e re-
realizar exames de diagnóstico da COVID-19 prévio ao atendimento novação do ar, de forma a estabelecer ambientes mais seguros,
e por existir evidência de transmissão pelos pacientes assintomáti- considerando as formas de transmissão da COVID-19 e os protoco-
cos, imprimindo a necessidade de que os cuidados essenciais à prá- los de climatização do ar vigentes, conforme legislação disponível.
tica segura sejam direcionados a todos os pacientes que procuram Recomenda-se a utilização de ar condicionado com exaustão que
assistência odontológica. garanta as trocas de ar necessárias ou a manutenção das janelas
Segundo publicações da Associação Dentária Americana (ADA- abertas durante o atendimento, a fim de garantir a renovação do
USA), atualizada em 04 de abril de 2020, do Centro para Controle ar nos ambientes. 3. Reforçar a importância dos procedimentos de
e Prevenção de Doenças (CDC/EUA), atualização em 13 de abril de limpeza e desinfecção das superfícies, considerando os mais recen-
2020 edoServiço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS), atualizado tes estudos, que demonstram a permanência SARS-CoV- 2 de 2 a 9
em 15 de abril de 2020, há um consenso de que considerando os dias nas diversas superfícies, em temperatura ambiente.
riscos acima descritos e o contexto de pandemia da COVID-19, os 4. Seguir as orientações sobre limpeza e desinfecção descritos
procedimentos odontológicos devem se restringir às emergências nesta Nota Técnica, com as devidas adaptações aos ambientes dos
(que representam risco de morte e estão restritos à assistência em consultórios odontológicos. Além das orientações desse documen-
ambiente hospitalar) e às urgências. to, a Anvisa também disponibiliza a publicação Manual de Seguran-
A NOTA TÉCNICA Nº 9/2020-CGSB/DESF/SAPS/MS, publicada ça do Paciente: limpeza e desinfecção de superfícies.
em março de 2020, pelo Ministério da Saúde, trata de orientações 5. Enquadrar todos os resíduos provenientes da assistência
para a assistência odontológica no SUS, frente ao cenário emergen- odontológica na categoria A1, conforme Resolução RDC/Anvisa nº
cial em saúde pública de importância internacional decorrente do 222, de 28 de março de 2018 (vide Precauções a serem adotadas
novo Coronavírus (SARS CoV 2). O documento também preconiza, por todos os serviços de saúde durante a assistência – Tratamento
no âmbito desses serviços, a suspensão dos procedimentos eletivos de Resíduos, nesta Nota Técnica).
e manutenção dos procedimentos de urgência, dentre outras me- 6. O processamento de produtos para a saúde deve ser realiza-
didas a serem adotadas para prevenir a disseminação da COVID-19. do de acordo com as características, finalidade de uso, orientação
A suspensão temporária de procedimentos eletivos e funcio- dos fabricantes e com os métodos escolhidos. Além disso, devem
namento dos serviços apenas para casos de emergência/urgência ser seguidas as determinações previstas na RDC n° 156, de 11 de
é uma estratégia que pode ser adotada em situações de pandemia agosto de 2006, que dispõe sobre o registro, rotulagem e repro-
para diminuir a circulação de pessoas e reduzir a execução dos pro- cessamento de produtos médicos e na RDC nº 15, de 15 de mar-
cedimentos relacionados a um maior risco de transmissão.
ço de 2012, que dispõe sobre os requisitos de boas práticas para o
Nesse contexto, tendo em vista o risco de disseminação da CO-
processamento de produtos para saúde e dá outras providências
VID- 19ea segurança da equipe de saúde bucal e dos pacientes, cabe
(vide Precauções a serem adotadas por todos os serviços de saúde
ao cirurgião-dentista/gestor do serviço de saúde avaliar e determi-
durante a assistência, nesta Nota Técnica)
nar os procedimentos e fluxos para atendimento de pacientes nos
7. A higienização frequente das mãos com água e sabonete
serviços odontológicos, considerando: - as recomendações vigentes
líquido OU preparação alcoólica é um dos pilares da prevenção e
das autoridades de saúde pública nacional e locais e órgãos com-
controle de infecções nos serviços de saúde e figura como uma das
petentes;- as melhores evidências científicas e as boas práticas de
principais medidas para prevenir e controlar a disseminação do
funcionamento nesses serviços (em especial, aquelas relacionadas
SARS-CoV-2 nesses ambientes. Para a execução do procedimento,
à prevenção e controle de infecção nos serviços odontológicos e à
avaliação dos fatores de risco relacionados ao paciente, à estrutura, devem ser observadas a frequência, técnicas corretas, além da dis-
recursos humanos e insumos disponíveis, conforme preconizados ponibilização de infraestrutura e insumos, conforme estabelecido
pela RDC Anvisa Nº 63/2011 eRDC Anvisa Nº 36/2013). RDC Anvisa nº 42, de 25 de outubro de 2010 (vide Precauções a se-
A instituição de barreiras de segurança (protocolos, normas e rem adotadas por todos os serviços de saúde durante a assistência,
rotinas, procedimentos operacionais padrão, fluxogramas, dentre nesta Nota Técnica). A Organização Mundial da Saúde estabeleceu,
outros) constitui uma das principais práticas seguras nos serviços em 2012, os 5 momentos para a higienização das mãos, nos consul-
de saúde e figuram, no momento, como importante aliada para a tórios odontológicos.
aplicação das boas práticas nos serviços odontológicos; padronizan- 8. Adotar/Estabelecer protocolos clínicos e de organização de
do as condutas das equipes de saúde bucal etornandoos processos serviço, bem como as demais barreiras de segurança mais adequa-
de trabalho mais seguros, para os profissionais e pacientes. das para orientar a assistência odontológica durante a pandemia
Nesse sentido, reitera-se o caráter orientativo desta Nota Téc- de COVID-19, considerando critérios clínicos e epidemiológicos,
nica junto aos profissionais de saúde, considerando a autonomia da evidências científicas, legislações sanitárias e recomendações das
gestão dos serviços de saúde na definição de medidasmais rigoro- autoridades de saúde pública. Observar que serviços odontológi-
sas de prevenção e controle a serem aplicadas no âmbito dos seus cos vinculados às Unidades de Saúde/Unidades de Saúde da Família
serviçose as atribuições dos gestores municipais, estaduais e do Dis- (USF) da Atenção Primária à Saúde (SUS), ou ainda, que constituem
trito Federal, quede acordo coma Lei nº 8080/90,podem legislar de serviçosde atenção especializada (ambulatorial ou hospitalar), den-
forma mais restritivas sobre os serviços de saúde. tre outros, podem ser orientados a seguirprotocolos e fluxos de
atendimento aplicáveis, em partes, a outros setores dos serviços
A- Orientações Gerais: de saúde.
1. Seguir as precauções-padrão, considerando as práticas mí- Nesse sentido, o Ministério da Saúde publicou o documento in-
nimas de prevenção de infecções que se aplicam a todo paciente, tegrado Fluxograma Atendimento Odontológico (2a versão), no âm-
independente do status de infecção suspeita ou confirmada. Ba- bito de Unidades de Saúde/Unidades de Saúde da Família (USF) da
seando-se no alto risco para a disseminação do novo coronavírus Atenção Primária à Saúde (SUS), onde constam orientações acerca
(SARS-CoV-2) na assistência odontológica, recomendamos ainda a da triagem clínica e atendimento aos usuários/pacientes.
adoção de precauções para contato e para aerossóis, somadas às
precauções padrão, para todos os atendimentos odontológicos.

242
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

9. Certificar-se de que as medidas a serem adotadas para pre- 3. O capote ou avental deve ter mangas longas, punho de ma-
venir e controlar a disseminação do Novo Coronoravírus (SARS CoV lha ou elástico e abertura posterior. Além disso, deve ser confeccio-
2) são de conhecimento de toda a equipe de saúde bucal. Por isso é, nado de material de boa qualidade, atóxico, hidro/hemorrepelente,
essencial à instituição das barreiras de segurança e o envolvimento hipoalérgico, com baixo desprendimento de partículas e resistente,
de todos na elaboração dos documentos, de forma a promover uma proporcionar barreira antimicrobiana efetiva (Teste de Eficiência de
maior segurança aos processos de trabalho. Filtração Bacteriológica - BFE), além de permitir a execução de ati-
10.Observar as legislações vigentes e recomendações dos ór- vidades com conforto e estar disponível em vários tamanhos. As
gãos competentes, referentes às medidas a serem adotadas para luvas e capote ou avental devem ser removidos e descartados como
a preservação da saúde da equipe de saúde bucal, durante a pan- resíduos infectantes após a realização de cada atendimento.
demia de COVID-19. 11. Este documento, bem como outras notas 4. É importante ressaltar que a máscara N95/PFF2 ou equiva-
técnicas, alertas, legislações, guias, manuais e demais publicações lente com válvula expiratória não deve ser utilizada na odontologia,
da Anvisa, relacionadas à melhoria da qualidade e segurança do pa- pois ela permite a saída do ar expirado pelo profissional que, caso
ciente nos serviços de saúde, encontram-se disponíveis no Hotsite esteja infectado, poderá contaminar pacientes e o ambiente. No
Segurança do Paciente. cenário atual da pandemia e em situações de escassez, em que só
tenha disponível este modelo de máscara com válvula expiratória
B.Orientações no pré-atendimento aos pacientes: no serviço odontológico, recomenda-se sempre utilizar de forma
1.Dar preferência à realização de triagem prévia de pacientes concomitante um protetor facial, como uma maneira de mitigação
com síndrome gripal (febre, tosse, dor de garganta, dores muscu- desta característica da máscara.
lares), bem como agendamento das consultas, por meio de chama- 5. Cabeao cirurgião-dentista/gestor do serviço de saúde adeci-
das telefônicas, aplicativos de mensagens ou videoconferência. são para estender o tempo de uso da máscara N95/PFF2 ou equi-
2. Programar agendamentos espaçados o suficiente para mi- valente, baseando-se nas recomendações do fabricante do produto
nimizar o possível contato com outros pacientes na sala de espera, e desde que as máscaras não estejam sujas, molhadas ou não ínte-
além de permitir a execução cuidadosa dos procedimentos preco- gras (vide Excepcionalidades devido a alta demanda por máscaras
nizados para a prevenção e controle das infecções em consultórios N95/PFF2 ou equivalente, nesta Nota Técnica).
odontológicos. 6. Os profissionais de saúde bucal devem aderir à sequência
padrão de paramentação e desparamentação dos EPI (vide Precau-
3. Orientar que os pacientes não tragam acompanhantes para
ções a serem adotada por todos os serviços de saúde durante a as-
a consulta, exceto nos casos em que houver necessidade de assis-
sistência).
tência (por exemplo, pacientes pediátricos, pessoas com necessi-
7. Considerando que, uma das principais vias de contaminação
dades especiais, pacientes idosos, etc.), devendo nestes casos ser
do profissional de saúde é no momento de desparamentação, é
recomendado apenas um acompanhante. Este acompanhante deve fundamental que todos os passos de higiene de mãos entre a reti-
permanecer com máscara cirúrgica. rada de cada EPI sejam rigorosamente seguidos.
4. Dispor cadeiras na sala de espera com pelo menos 1 metro 8. A paramentação e a desparamentação deve ocorrer no con-
de distância entre si e, quando aplicável (em grandes espaços), co- sultório (evitar circular paramentado em outros ambientes), a qual
locar avisos sobre o distanciamento nas cadeiras, de forma inter- deve conter todas as condições ideais de armazenamento e descar-
valada. te dos EPI.
5. Divulgar, junto aospacientes, de forma a instruí-los , as re- 9. A utilização de duas luvas com objetivo de reduzir risco de
comendações, conhecidas como medidas de precauçãopara pro- contaminação no processo de desparamentação não está indicada,
blemas respiratórios (higiene respiratória/ etiqueta da tosse), bem pois pode passar uma falsa sensação de proteção, já que é sabido o
como a manutenção de distanciamento social apropriado (situado potencial de contaminação através de microporos da superfície da
a pelo menos a 1 metro de distância), e demais medidas recomen- luva, além de tecnicamente poder dificultar o processo de remoção.
dadas pelas autoridadesde saúde pública nacionais e locais, para A medida mais eficaz para prevenir a contaminação do profissional
reduzir o risco de disseminação da COVID-19. no processo de desparamentação na retirada das luvas é a higieni-
6. Remover da sala de espera revistas, outros materiais de lei- zação obrigatória das mãos e o cumprimento de todos os passos
tura, brinquedos e outros objetos que possam ser tocados por ou- recomendados. 10. Durante a circulação em áreas adjacentes ao
tras pessoas e que não possam ser facilmente desinfetados. ambiente clínico, os profissionais de saúde bucal devem estar com
7. Orientar todos os profissionais de saúde bucal a não utiliza- máscara cirúrgica e manter o distanciamento adequado.
rem adereços como anéis, pulseiras, cordões, brincos e relógios em 11. Se possível, preferir radiografias extrabucais, como Raio X
horário de trabalho. panorâmico ou Tomografia Computadorizada (com feixe cônico).
Quando for extremamente necessário utilizar técnicas radiografias
C. Consultório Odontológico/ Ambulatório: intrabucais, proceder de forma cuidadosa, para evitar o estímulo da
1. Manter um ambiente limpo e seco irá ajudar a reduzir a per- salivação e tosse. Nesse caso, adotar todas as medidas de proteção
sistência do SARS-CoV-2 em superfícies. recomendadas para precauções para aerossóis e contato. Para a re-
2. O uso de EPI deve ser completo para todos os profissionais alização das radiografias intrabucais (consultórios/ambulatórios ou
clínicas radiológicas odontológicas), os profissionais deverão aderir
de saúde bucal no ambiente clínico: - gorro descartável - óculos
às medidas de prevenção e controle de infecção (vide Precauções a
de proteção com protetores laterais sólidos - protetor facial (face
serem adotadas por todos os serviços de saúde durante a assistên-
shield) - máscara N95/PFF2 ou equivalente - capote ou avental de
cia, nesta Nota Técnica) associados aos cuidados na manipulação
mangas longas e impermeável (estrutura impermeável e gramatura
do filme/ sensor.
mínima de 50 g/m2)* e- luvas
*Em situações de escassez de aventais impermeáveis com gra-
matura superior a 50 g/m2, admite-se a utilização de avental de
menor gramatura (no mínimo 30g/m2), desde que o fabricante as-
segure que esse produto seja impermeável.

243
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

12. Deve ser realizada a aspiração contínua da saliva residual 16. Quando necessários, os procedimentos de geração de ae-
e se possível com sistema de sucção de alta potência (bomba a vá- rossóis devem ser agendados como a última consulta do dia, reali-
cuo). A limpeza das mangueiras que compõem o sistema de sucção zando em seguida a limpeza e desinfecção completa do ambiente
e da cuspideira deve ser realizada ao término de cada atendimento, (não deixar para o dia seguinte).
com desinfetante a base de cloro na concentração de 2500mg de 17. Esterilizar em autoclave todos os instrumentais considera-
cloro por Litro de água (hipoclorito de sódio a 2,5%).É importante dos críticos, inclusive canetas de alta e baixa rotação.
ter cuidado adicional com os sistemas de sucção e cuspideiras que 18. Em casos de pulpite irreversível sintomática (DOR), se pos-
podem apresentar refluxo. sível expor a polpa por meio de remoção químico-mecânica do teci-
13. Sempre que possível, trabalhar a 4 mãos. do acometido, com isolamento absoluto e aspiração contínua.
14. Como o SARS-CoV-2 pode ser vulnerável à oxidação, use
peróxido de hidrogênio de 1,0% a 1,5%(9mL da solução por 30 se- 19. Para pacientes com contusão de tecidos moles faciais, re-
gundos),como enxaguatório bucal préprocedimento. Realizar este alizar o desbridamento; enxaguar a ferida lentamente com soro
procedimento após redução consistente da saliva residual, por as- fisiológico; secar com aspirador cirúrgico ou gaze, para evitar a pul-
piração contínua. Utilizar o colutório antimicrobiano, pré-procedi- verização.
mento, ou aplicando-o às estruturas bucais através de embrocação 20. Sempre que possível, dê preferência às suturas com fio ab-
(2mL) com gaze ou bochecho (9mL), com o objetivo de reduzir a sorvível.
carga viral. Este procedimento pode ser realizado antes da utili- 21. Depois do atendimento devem ser realizados os procedi-
zação subsequente da clorexidina (CHX) a 0,12% ou 0,2%, sem ál- mentos adequados de limpeza e desinfecção ambiental. É indicada
cool. Apenas a clorexidina parece não ser eficaz. Como a menor a limpeza e desinfecção concorrente das superfícies do consultório
concentração disponível no mercado é do peróxido de hidrogênio odontológico entre os atendimentos e ao final do dia, deverá ser
3%, o profissional deverá recorrer às Farmácias de manipulação, realizada limpeza terminal. Para a execução das mesmas, devem ser
para obter o produto na formulação de 1% a 1,5%, A Lei federal seguidos os procedimentos recomendados nessa Nota Técnica (vide
n°. 13.021/2014 define a farmácia como o estabelecimento para a Precauções a serem adotadas por todos os serviços de saúde duran-
manipulação de fórmulas magistrais e oficinais. Estes estabeleci- te a assistência) e dispensada atenção especial às superfícies que
mentos têm uma norma dedicada às boas práticas de manipulação, provavelmente estão contaminadas, incluindo aquelas próximas ao
que direciona para a garantia da qualidade e segurança do produto, paciente: refletor e seu suporte, cadeira odontológica, mocho, pai-
a RDC nº. 67/2007. Assim, as condições para garantir a solução de néis, mesa com instrumental e demais superfícies frequentemente
tocadas nos ambientes do consultório/ambulatório, incluindoma-
água oxigenada na concentração de 1% a 1,5% estarão estabeleci-
çanetas, superfícies de móveis da sala de espera; interruptores de
das, trazendo mais segurança ao paciente.
luz, corrimões, superfícies de banheiros, dentre outros. Além disso,
A literatura aponta ainda a possibilidade do efeito antimicro-
devem ser incluídos nos protocolos e procedimentos de limpeza e
biano sinérgico entre CHX e o peróxido de hidrogênio. Com uma
desinfecção os equipamentos eletrônicos de múltiplo uso (ex: tensi-
citotoxicidade mínima, pode ser recomendado o uso de concentra- ômetros/ esfigmomanômetros, termômetros, dentre outros), bem
ção de 0,2% de CHX combinado com até 3% de peróxido de hidro- como os itens e dispositivos usados durante a prestação da assis-
gênio. Ressalta-se que a indicação do uso de agentes de oxidação é tência ao paciente. Utilize preferencialmente um tecido descartável
exclusivamente para pré-procedimento e em tempos de COVID-19, com o desinfetante padronizado. Quando realizada a limpeza con-
não sendo recomendado o uso contínuo pelo profissional e tão corrente, não é necessário tempo de espera para reutilizar a sala
pouco tem indicação de uso doméstico, pois estudos demonstram após o procedimento, porém, se possível, sugere-se que o ambien-
que o peróxido de hidrogênio usado por longo tempo é carcino- te seja arejado, ao término de cada atendimento, durante o tempo
gênico. O bochecho pré-procedimento, realizado pelo paciente, de limpeza do mesmo.
somente deve ocorrer se o mesmo estiver consciente, orientado e
contactuante. Em paciente impossibilitado a realizar bochecho, re- D. Ambiente Hospitalar:
comenda-se a embrocação com gaze. 1. Cientes de que a execução de procedimentosodontológicos
em ambiente hospitalar representam um risco ampliado para a
15. Outras medidas devem ser adotadas para minimizar a ge- disseminação do SARS-CoV-2 entre profissionais de saúde bucal e
ração de aerossóis, gotículas, respingos salivares e de sangue, tais pacientes, o uso de EPI por todos os profissionais de saúde bucal
como: no ambiente clínico deve ser completo:- gorro descartável - óculos
▪ Colocar o paciente na posição mais adequada possível. de proteção com protetores laterais sólidos - protetor facial (face
▪ Utilizar sucção/aspiração de alta potência para reduzir quan- shield) - máscara N95/PFF2 ou equivalente - capote ou avental de
tidade de saliva na cavidade bucal e estímulo à tosse, além de isola- mangas longas e impermeável (estrutura impermeável e gramatura
mento absoluto (sempre que possível), para reduzir a dispersão de mínima de 50 g/m2)* e- luvas
gotículas e aerossóis. *Em situações de escassez de aventais impermeáveis com gra-
▪ Evitar, ao máximo o uso de seringa tríplice, principalmente em matura superior a 50 g/m2, admite-se a utilização de avental de
sua forma em névoa (spray), acionando os dois botões simultanea- menor gramatura (no mínimo 30g/m2), desde que o fabricante as-
mente; regular a saída de água de refrigeração. segure que esse produto seja impermeável.
▪ Sempre que possível recomenda-se utilizar dispositivos ma-
nuais, como escavadores de dentina, para remoção de lesões ca-
riosa (evitar canetas de alta e baixa rotação) e curetas periodontais
para raspagem periodontal. Preferir técnicas químico-mecânicas se
necessário.
▪ Não utilizar aparelhos que gerem aerossóis como jato de bi-
carbonato e ultrassom.

244
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

2. É importante ressaltar que a máscara N95/PFF2 ou equiva- 7. Como o SARS-CoV-2 pode ser vulnerável à oxidação, use pe-
lente com válvula expiratória não deve ser utilizada para o atendi- róxido de hidrogênio de 1,0% a 1,5% ou iodopovidona de 0,2% a
mento odontológico, pois ela permite a saída do ar expirado pelo 0,5%, (9mL da solução por 30 segundos), como enxaguatório bucal
profissional que, caso esteja infectado, poderá contaminar pacien- pré-procedimento. Realizar este procedimento após redução con-
tes, outros profissionais e o ambiente. No cenário atual da pande- sistente da saliva residual, por aspiração contínua. Utilizar o colutó-
mia e em situações de escassez, em que só tenha disponível este rio antimicrobiano, pré-procedimento, ou aplicando-o às estruturas
modelo de máscara com válvula expiratória no serviço de saúde, bucais através de embrocação (2mL) com gaze ou bochecho (9mL),
recomenda-se sempre utilizar de forma concomitante um protetor com o objetivo de reduzir a carga viral. Este procedimento pode
facial, como uma maneira de mitigação desta característica da más- ser realizado antes da utilização subsequente da clorexidina (CHX)
cara. a 0,12% ou 0,2%, sem álcool. Apenas a clorexidina parece não ser
3. O capote ou avental deve ser de mangas longas, punho de eficaz. Como a menor concentração disponível no mercado é do pe-
malha ou elástico e abertura posterior. Além disso, deve ser con- róxido de hidrogênio 3%, o serviço de Farmácia Hospitalar deve ser
feccionado de material de boa qualidade, atóxico, hidro/hemor- informado em tempo hábil para definir a melhor maneira de viabili-
repelente, hipoalérgico, com baixo desprendimento de partículas zar a formulação a de 1% a 1,5%. A literatura aponta ainda a possibi-
e resistente, proporcionar barreira antimicrobiana efetiva (Teste lidade do efeito antimicrobiano sinérgico entre CHX e o peróxido de
de Eficiência de Filtração Bacteriológica - BFE), além de permitir a hidrogênio. Com uma citotoxicidade mínima, pode ser recomenda-
execução de atividades com conforto e estar disponível em vários do o uso de concentração de 0,2% de CHX combinado com até 3%
tamanhos. As luvas e o capote ou avental devem ser removidos de peróxido de hidrogênio. Ressalta-se que a indicação do uso de
e descartados como resíduo infectante após a realização de cada agentes de oxidação é exclusivamente para pré-procedimento e em
atendimento. tempos de COVID-19, não sendo recomendado o uso contínuo pelo
4. Os profissionais devem aderir à sequência padrão de para- profissional e tão pouco tem indicação de uso doméstico, pois es-
mentação e desparamentação (vide Precauções a serem adotada tudos demonstram que o peróxido de hidrogênio usado por longo
por todos os serviços de saúde durante a assistência, nesta Nota tempo é cocarcinogênico. O bochecho pré-procedimento, realizado
Técnica). Considerando que, uma das principais vias de contamina- pelo paciente, somente deve ocorrer se o mesmo estiver conscien-
ção do profissional de saúde é no momento de desparamentação, é te, orientado e contactuante. Em paciente impossibilitado a realizar
fundamental que todos os passos de higiene de mãos entre a reti- bochecho, recomenda-se a embrocação com gaze.
rada de cada EPI sejam rigorosamente seguidos. 8. Deve ser realizada a aspiração contínua da saliva residual,
se possível com sugadores odontológicos e com sistema de sucção
Ademais, outras medidas devem ser adotadas a fim de reduzir de alta potência. As secreções aspiradas devem ser acondicionadas
o risco de contaminação: num coletor selado com desinfetante contendo cloro (2500mg/L -
1. A utilização de duas luvas com objetivo de reduzir risco de Hipoclorito de sódio a 2,5%). A limpeza das mangueiras de sucção
contaminação no processo de desparamentação não está indicada, deve seguir o mesmo protocolo de higiene com desinfetante a base
pois pode passar a falsa sensação de proteção, já que é sabido o
de cloro (2500mg/L - Hipoclorito de sódio a 2,5%).
potencial de contaminação através de microporos da superfície da
9. Outras medidas devem ser adotadas para minimizar a gera-
luva, além de tecnicamente poder dificultar o processo de remoção.
ção de aerossóis, gotículas e respingos salivares e de sangue, tais
A medida mais eficaz para prevenir a contaminação do profissional
como:
no processo de desparamentação na retirada das luvas é a higieni-
•Colocar o paciente na posição mais adequada possível.
zação obrigatória das mãos e o cumprimento de todos os passos
• Utilizar sucção/aspiração de alta potência para reduzir quan-
recomendados.
tidade de saliva na cavidade oral e estímulo à tosse, além de isola-
2.Cabe ao cirurgião-dentista/gestor do serviço de saúde ade-
mento absoluto (sempre que possível), para reduzir a dispersão de
cisão para estender o tempo de uso da máscara, baseando-se nas
recomendações do fabricante do produto e desde que as máscaras gotículas e aerossóis.
não estejam sujas, molhadas ou não íntegras (vide Excepcionalida- • Evitar, ao máximo, o uso de seringa tríplice, principalmente
des devido à alta demanda por máscaras N95/PFF2 ou equivalente, em sua forma em névoa (spray), acionando os dois botões simulta-
nesta Nota Técnica). neamente; regular a saída de água de refrigeração.
3. A oroscopia (exame realizado para detectar doenças na ca- • Sempre que possível recomenda-se utilizar dispositivos ma-
vidade bucal) deve ser realizada de forma rotineira, em todos os nuais, como escavadores de dentina, para remoção de lesões ca-
pacientes, visando à prevenção e tratamento de infecções bucais e riosa (evitar canetas de alta e baixa rotação) e curetas periodontais
complicações sistêmicas relacionadas. para raspagem periodontal. Preferir técnicas químico-mecânicas se
4. Preferir radiografias extraorais, como Raio X panorâmico ou necessário.
Tomografia Computadorizada (com feixe cônico) ao Raio X intraoral • Não utilizar aparelhos que gerem aerossóis como jato de bi-
para redução do estímulo à salivação e tosse. carbonato e ultrassom.
5. Deve ser realizada a aspiração contínua da saliva residual e
se possível com sistema de sucção de alta potência (bomba a vá- 10. Esterilizar em autoclave todos os instrumentais considera-
cuo). A limpeza das mangueiras que compõe o sistema de sucção dos críticos, inclusive canetas de alta e baixa rotação.
deve ser realizada, ao término de cada atendimento, com desinfe- 11. Em casos de pulpite irreversível sintomática (DOR), se pos-
tante a base de cloro na concentração de 2500mg de cloro por Litro sível expor a polpa por meio de remoção químico-mecânica do teci-
de água (hipoclorito de sódio a 2,5%). do acometido, com isolamento absoluto e aspiração contínua.
6. Sempre que possível, trabalhar a 4 mãos. 12. Para pacientes com contusão de tecidos moles faciais e/ou
trauma envolvendo ossos faciais, com potencial comprometendo
das vias aéreas, realizar desbridamentos; enxaguar a ferida lenta-
mente com soro fisiológico e secar com aspirador cirúrgico ou gaze,
para evitar a pulverização e tomar as devidas providências (hospi-
talização).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

13. Sempre que possível dê preferência às suturas com fio ab- int/iris/bitstream/handle/10665/331538/WHO-COVID19-lPC_DB-
sorvível. 14. Procedimentos geradores de aerossóis em pacientes Mgmt-2020.1-eng.pdf, com algumas adaptações feitas para a rea-
suspeitos ou confirmados para COVID-19 podem ser, alternativa- lidade do nosso país.
mente, realizados em salas com pressão negativa ou salas fechadas Todas as recomendações referentes ao manejo de corpos após
com acesso de pessoal e material limitados. a morte, fora dos serviços de saúde, foram excluídas desta Nota Téc-
nica, pois devem ser seguidas as orientações publicadas pelo Minis-
E. Unidades de Terapia Intensiva: tério da Saúde, no documento: Manejo de corpos no contexto do
Para atendimento de pacientes em Unidades de Terapia Inten- novo coronavírus COVID-19, suas atualizações e outras orientações
siva, além dos cuidados já citados para ambiente hospitalar, reco- publicadas pelas autoridades de saúde locais.
menda-se:
1. A oroscopia (exame realizado para detectar doenças na ca- Os princípios das precauções padrão de controle de infecção
vidade bucal) deve ser realizada de forma rotineira, em todos os e precauções baseadas na transmissão devem continuar sendo se-
pacientes, visando à prevenção e tratamento de infecções bucais e guidos para o manuseio do corpo após a morte. Isso ocorre devido
complicações sistêmicas relacionadas. ao risco contínuo de transmissão infecciosa por contato, embora
Seguir as mesmas recomendações de medidas de segurança o risco seja geralmente menor do que para pacientes ainda vivos.
e redução de riscos de contaminação e infecção cruzada, descritas Nesse sentido, todos devem implementar precauções padrão
acima direcionadas aos consultórios e a ambiente hospitalar, inclu- e adicionalmente utilizar EPIs apropriados de acordo com o nível
sive o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), já citados de interação que os profissionais tiverem com o cadáver. As medi-
acima. das de prevenção e controle de infecção devem ser implementadas
para evitar ou reduzir ao máximo a transmissão de microrganismos.
PROTOCOLO DE HIGIENE BUCAL EM UTI
Recomenda-se: Como já foi dito anteriormente, sabe-se até o momento que o
1. A higiene bucal dos pacientes em UTI deve ser mantida. novo coronavírus (SARSCoV-2) é transmitido por meio de gotículas
Manter Protocolo Operacional Padrão de Higiene Bucal (POP–HB) respiratórias e também pelo contato direto com pessoas infectadas
da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), 2019. ou indireto por meio das mãos, objetos ou superfícies contamina-
2. Para todos os pacientes, sugere-se o uso de peróxido de hi- das. Desta forma, enfatizamos a importância da higiene das mãos
drogênio de 1% a 1,5% ou iodopovidona de 0,2% a 5%, por 30 se- (água e sabonete líquido OU preparações alcoólicas), da limpeza e
gundos, prévio a aplicação do POP-HB preconizado pela Associação desinfecção de superfícies ambientais e de instrumentais utilizados
de Medicina Intensiva Brasileira (Revisão 2019), através de embro- em procedimentos, bem como, a importância da utilização correta
cação da solução sobre as estruturas bucais. Durante a aplicação, dos EPIs. Informações como: requisitos dos EPIs e limpeza e desin-
manter a aspiração contínua da saliva residual e de sobrenadantes. fecção de superfícies, também são descritos em outras partes desta
Para paciente com IOT/traqueostomia, a higiene bucal deve Nota Técnica.
ser mantida como parte do pacote de medidas para prevenção de Porém, como este é um vírus novo, cuja origem e progressão
da doença não são ainda inteiramente claros, mais precauções po-
Pneumonia associada à Ventilação Mecânica (PAV), seguindo proto-
dem ser usadas até que mais informações estejam disponíveis.
colo do POP-HB da AMIB.
Preparação e acondicionamento do corpo para transferência
do quarto ou área de coorte (isolamento) para necrotério.
3. Pacientes com suspeita e/ou confirmação para COVID-19,
• A dignidade dos mortos, sua cultura, religião, tradições e suas
que fazem uso de dispositivos protéticos bucais, quando retirados,
famílias devem ser respeitadas.
NÃO armazenar no hospital. Serão entregues devidamente higieni-
• O preparo e o manejo apressados de corpos de pacientes
zados e desinfetados (com Hipoclorito de sódio a 2,5% ou álcool a
com COVID-19 devem ser evitados.
70%) a um responsável. Em caso da necessidade de uso, determina-
• Todos os casos devem ser avaliados, equilibrando os direitos
da pelo cirurgião-dentista, a (s) prótese (s) deverá (ão) ser entregue
da família, a necessidade de investigar a causa da morte e os riscos
(s) com antecedência à equipe de assistência para desinfecção, em de exposição à infecção.
conformidade com o protocolo de cada hospital. • Durante os cuidados com o cadáver, só devem estar presen-
Observação: A utilização de agentes oxidantes está sendo reco- tes no quarto/box ou área de coorte (isolamento), os profissionais
mendada na expectativa de se obter redução de carga viral, prévio estritamente necessários e todos devem utilizar os EPI indicados e
aos procedimentos odontológicos, por estudos recentes demons- ter acesso a recursos para realizar a higiene das mãos com água e
trarem a sua eficácia no combate ao SARS-CoV-2 e por ser um co- sabonete líquido OU preparação alcoólica (higiene das mãos antes
lutório já utilizado pela Odontologia. Importante ressaltar que, não e depois da interação com o corpo e o meio ambiente).
há na literatura até o momento, outro agente antimicrobiano que • Todos os profissionais que tiverem contato com o cadáver,
demonstre ação comprovada e que possa ser aplicado às estrutu- devem usar:- óculos de proteção ou protetor facial (face shield) -
ras bucais. A Iodopovidona apresenta comprovadamente um maior máscara cirúrgica - avental ou capote (usar capote ou avental im-
risco de eventos alérgicos, devendo, por isso, ter o seu uso restrito permeável caso haja risco de contato com volumes de fluidos ou
aos hospitais. secreções corporais) e - luvas de procedimento.Observação: Se
for necessário realizar procedimentos que podem gerar aerossóis,
CUIDADOS COM O CORPO APÓS A MORTE como a extubação, o profissional deve usar adicionalmente o gorro
Nota: As recomendações previstas nesta Nota Técnica, relacio- descartável e trocar a máscara cirúrgica pela máscara N95/PFF2 ou
nadas ao manejo de corpos após a morte, dentro dos serviços de equivalente.
saúde, seguem as orientações constantes no Guia da Organização • Os tubos, drenos e cateteres devem ser removidos do corpo,
Mundial de Saúde (OMS): Infection Prevention and Control for the tendo cuidado especial para evitar a contaminação durante a remo-
safe management of a dead body in the context of COVID-19, publi- ção de cateteres intravenosos, outros dispositivos cortantes e do
cado no dia 24 de março de 2020, disponível em: https://apps.who. tubo endotraqueal.

246
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

• Descartar imediatamente os resíduos perfurocortantes em


recipientes rígidos, à prova de perfuração e vazamento e com o EXERCÍCIOS
símbolo de resíduo infectante.
• Recomenda-se desinfetar e tapar/bloquear os orifícios de
drenagem de feridas e punção de cateter com cobertura imperme- 1 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA – MG- ENFERMEIRO-AO-
ável. CP-2018) O que é vigilância?
• Limpar as secreções nos orifícios orais e nasais com compres- (A) Um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou preve-
sas. nir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decor-
• Tapar/bloquear orifícios naturais do cadáver (oral, nasal, re- rentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e
tal) para evitar extravasamento de fluidos corporais. da prestação de serviços de interesse da saúde.
• A movimentação e manipulação do corpo deve ser a menor (B) Um conjunto de atividades que se destina à promoção e
possível. proteção da saúde, assim como visa à recuperação e reabilita-
• Acondicionar o corpo em saco impermeável, à prova de va- ção da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agra-
zamento e selado. Desinfetar a superfície externa do saco (pode vos advindos das condições de trabalho.
utilizar álcool líquido a 70º, solução clorada [0.5% a 1%], ou outro (C) Um conjunto de ações que proporciona a detecção ou pre-
saneante desinfetante, regularizado junto à Anvisa, tomando-se venção de qualquer mudança da saúde individual ou coletiva,
cuidado de não usar luvas contaminadas para a realização desse com a finalidade de avaliar o impacto que as tecnologias pro-
procedimento de desinfecção do saco. vocam à saúde.
• Identificar adequadamente o cadáver; (D)Um conjunto de atividades que se destina ao controle de
• Identificar o saco de transporte com a informação relativa ao bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem
risco biológico; no contexto da COVID-19: agente biológico classe com a saúde.
de risco 3; (E) Um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento,
• Transferir o saco com o cadáver para o necrotério do serviço; a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores de-
• Os profissionais que não tiverem contato com o cadáver, mas terminantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva,
apenas com o saco, deverão adotar as precauções padrão (em espe- com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de pre-
cial a higiene de mãos) e usar avental ou capote e luvas. Caso haja venção e controle das doenças ou agravo
risco de respingos, dos fluidos ou secreções corporais, devem usar
também, máscara cirúrgica e óculos de proteção ou protetor facial 2- (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
(face shield). RO-2018) O controle e o rastreamento das ISTs são de grande
• A maca de transporte de cadáveres deve ser utilizada apenas importância. No caso das gestantes, todas devem ser rastreadas
para esse fim e ser de fácil limpeza e desinfecção. para:
• Após remover os EPI, todos os profissionais devem realizar (A) HIV, Hepatite A e difiteria.
a higiene das mãos com água e sabonete líquido ou preparação al- (B)HIV, Sífilis e Hepatite B.
coólica. (C) Hepatite B, Gonorreia e Hepatite A.
(D) HIV, Hepatite A e Tularemia.
Atenção: Não é recomendado que pessoas acima de 60 anos, (E) Hepatite A, tricomoníase e HIV.
com comorbidades (como doenças respiratórias, cardíacas, diabe-
tes) ou imunosuprimidas sejam expostas a atividades relacionadas 3 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
ao manejo direto do cadáver. RO-2018) Programa Nacional de Imunizações (PNI) organiza toda a
política nacional de vacinação da população brasileira e tem como
Referências Bibliográficas: missão
ANIVA - Orientações para serviços de saúde: medidas de preven- (A) vacinar todas as crianças de todo território Nacional até
ção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos 2020.
casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (B) o controle, a erradicação e a eliminação de doenças imu-
(SARS-CoV-2). – Atualizada em 08.05.2020 nopreveníveis.
(C)vacinar crianças e adultos vulneráveis.
(D)o controle de doenças imunossupressoras.
(E) vacinar crianças e idosos combatendo as doenças de risco
controlável.

4- -(PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-


RO-2018) Segundo o Programa Nacional de Imunizações, na sala
de vacinação, é importante que todos os procedimentos desenvol-
vidos promovam a máxima segurança. Com relação a esse local, é
correto afirmar que
(A) deve ser destinado à administração dos imunobiológicos e
demais medicações intramusculares.
(B) é importante que todos os procedimentos desenvolvidos
promovam a segurança, propiciando o risco de contaminação.
(C) a sala deve ter área mínima de 3 metros quadrados, para o
adequado fluxo de movimentação em condições ideais para a
realização das atividades.
(D)a sala de vacinação é classificada como área semicrítica.
(E) deve ter piso e paredes lisos, com frestas e laváveis

247
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

5 - (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- 9 - (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO
RO-2018) São vias de administração de imunobiológicos, EXCETO EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Dentre as medidas de controle de
a via infecção de corrente sanguínea relacionadas a cateteres intravas-
(A) oral. culares encontra-se
(B)subcutânea. (A) o uso de cateteres periféricos para infusão contínua de pro-
(C)intraóssea. dutos vesicantes.
(D)endovenosa. (B) a higienização das mãos com preparação alcoólica (70 a
(E)intramuscular 90%), quando as mesmas estiverem visivelmente sujas.
(C) o uso de novo cateter periférico a cada tentativa de punção
6 – (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- no mesmo paciente.
RO-2018) Segundo o código de ética da enfermagem, o enfermeiro, (D)a utilização de agulha de aço acoplada ou não a um coletor,
nas relações com o ser humano, tem para coleta de amostra sanguínea e administração de medica-
(A) o dever de salvaguardar os direitos da pessoa idosa, promo- mento em dose contínua.
vendo a sua dependência física e psíquica e com o objetivo de (E) o uso de luvas de procedimentos para tocar o sítio de inser-
melhorar a sua qualidade de vida. ção do cateter intravascular após a aplicação do antisséptico.
(B) o dever de respeitar as opções políticas, culturais, morais
e religiosas da pessoa, sem criar condições para que ela possa 10 - (CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL- TÉCNICO
exercer, nessas áreas, os seus direitos. EM ENFERMAGEM- FCC-2018) A equipe de saúde, ao realizar o
(C) o direito de abster-se de juízos de valor sobre o comporta- acolhimento com escuta qualificada a uma mulher apresentando
mento da pessoa assistida e lhe impor os seus próprios critérios queixas de perda urinária, deve atentar-se para, dentre outros si-
e valores no âmbito da consciência. nais de alerta:
(D)o dever de cuidar da pessoa com discriminação econômica, (A) amenorreia.
social, política, étnica, ideológica ou religiosa. (B)dismenorreia.
(E) o direito de recusar-se a executar atividades que não sejam (C) mastalgia.
de sua competência técnica, cientifica, ética e legal ou que não (D)prolapso uterino sintomático.
ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, à família e à co- (E) ataxia.
letividade.
11 - (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
7- (PREFEITURA DE JUIZ DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- 2018) As técnicas de higienização das mãos, para profissionais que
RO-2018) O auxiliar de enfermagem executa as atividades auxilia- atuam em serviços de saúde, podem variar dependendo do obje-
res, de nível médio, atribuídas à equipe de enfermagem, cabendo- tivo ao qual se destinam. Na técnica de higienização simples das
-lhe mãos, recomenda-se
(A) prescrição da assistência de enfermagem. (A) limpar sob as unhas de uma das mãos, friccionando o local
(B) cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com com auxílio das unhas da mão oposta, evitando-se limpá-las
risco de vida. com as cerdas da escova.
(C)participação em bancas examinadoras, em matérias especí- (B)) respeitar o tempo de duração do procedimento que varia
ficas de enfermagem, nos concursos para provimento de cargo de 20 a 35 segundos.
ou contratação de pessoal técnico e auxiliar de Enfermagem. (C) executar o procedimento com antisséptico degermante du-
(D)consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria rante 30 segundos.
de Enfermagem. (D)utilizar papel toalha para secar as mãos, após a fricção antis-
(E) prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar séptica das mãos com preparações alcoólicas.
por sua segurança. (E) higienizar também os punhos utilizando movimento circu-
lar, ao esfregá-los com a palma da mão oposta.
8 - CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL - TÉCNICO
EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Ao orientar um paciente adulto so- 12 - (PREF DE MACAPÁ- TÉCNICO DE ENFERMAGEM- FCC-
bre os cuidados com a dieta a ser administrada pela sonda nasoen- 2018) Processo físico ou químico que destrói microrganismos pa-
teral no domicílio, o profissional de saúde deve orientar que togênicos na forma vegetativa, micobactérias, a maioria dos vírus e
(A) antes de administrar a dieta, deverá aquecê-la em banho- dos fungos, de objetos inanimados e superfícies. Essa é a definição
-maria ou em micro-ondas. de
(B) após o preparo da dieta caseira, deverá guardá-la na gela- (A) desinfecção pós limpeza de alto nível.
deira e, 40 minutos antes do horário estabelecido para a admi- (B) desinfecção de alto nível.
nistração, retirar somente a quantidade que for utilizar. (C) esterilização de baixo nível.
(C) no caso de ter pulado um horário de administração da dieta, (D)barreira técnica.
o volume do próximo horário deve ser aumentado em, pelo (E) desinfecção de nível intermediário.
menos, 50%.
(D)a dieta enteral industrializada deve ser guardada fora da ge-
ladeira e, após aberta, tem validade de 72 horas.

248
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

13 - (PREFEITURA DE MACAPÁ- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- 18 - (TRT Região São Paulo- Técnico em enfermagem- FCC-
FCC- 2018) Foi prescrito pelo médico uma solução glicosada a 10%. 2018) Após o término de um pequeno procedimento cirúrgico, o
Na solução glicosada, disponível na instituição, a concentração é de técnico de enfermagem recolhe os materiais utilizados e separa
5%. Ao iniciar o cálculo para a transformação do soro, o técnico de aqueles que podem ser reprocessados daqueles que devem ser
enfermagem deve saber que, em 500 mL de Soro Glicosado a 5%, o descartados, observando os princípios de biossegurança. A fim de
total de glicose, em gramas, é de destinar corretamente cada um dos referidos materiais, o técnico
(A)5. de enfermagem deve considerar como materiais a serem reproces-
(B) 2,5. sados aqueles destinados à
(C) 50. (A) diérese, como tesoura de aço inox; e descarta na caixa de
(D)25. perfurocortante, materiais como agulhas com fio de sutura.
(E) 500 (B) hemostasia, como pinça de campo tipo Backaus; e descarta
no saco de lixo branco, materiais com sangue, como compres-
14 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- sas de gaze.
FCC-2018) Com relação à Sistematização da Assistência de Enfer- (C) diérese como porta-agulhas; e descarta no lixo comum par-
magem, considerando as atribuições de cada categoria profissional te dos fios cirúrgicos absorvíveis utilizados, como o categute
de enfermagem, compete ao técnico de enfermagem, realizar simples.
(A) a prescrição de enfermagem, na ausência do enfermeiro. (D)síntese, como lâminas de bisturi; e descarta as agulhas na
(B) o exame físico. caixa de perfurocortante, após terem sido devidamente desco-
(C) a anotação de enfermagem. nectadas das seringas.
(D)a consulta de enfermagem. (E)diérese, como cânula de uso único; e descarta no saco de
(E) a evolução de enfermagem dos pacientes de menor com- lixo branco luvas de látex utilizadas.
plexidade.
19 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
15- (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- FCC-2018) Na desinfecção da superfície de uma mesa de aço inox,
FCC-2018) O profissional de enfermagem, para executar correta- onde será colocado uma bandeja com um pacote de curativo esté-
mente a técnica de administração de medicamento por via intra- ril, o técnico de enfermagem, de acordo com as recomendações da
dérmica, deve, dentre outros cuidados, estar atento ao volume a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode optar pela
ser injetado. O volume máximo indicado a ser introduzido por esta utilização dos seguintes produtos:
via é, em mL, de (A) álcool a 70% aplicado sem fricção, por ser esporicida, desde
(A) 1,0. que aguardado o tempo de evaporação recomendado, porém
(B) 5,0. tem a desvantagem de ser inflamável.
(C) 0,1. (B) ácido peracético a 0,2% por não ser corrosivo para metais,
(D)1,5. tendo como desvantagem não ser efetivo na presença de ma-
(E) 0,5. téria orgânica.
(C) hipoclorito de sódio a 1,0% por ser de amplo espectro, ter
16 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- baixo custo e ação lenta, apresentando a desvantagem de não
FCC-2018) Em um ambulatório, o técnico de enfermagem que auxi- ter efeito tuberculocida.
lia o enfermeiro na gestão de materiais realizou a provisão de ma- (D)álcool a 70% por ser, dentre outros, fungicida e tuberculo-
teriais de consumo, que corresponde a cida, porém apresenta a desvantagem de não ser esporicida,
(A) estabelecer a estimativa de material necessário para o fun- além de ser poluente ambiental.
cionamento da unidade. (E) hipoclorito de sódio a 0,02% por não ser corrosivo para
(B) realizar o levantamento das necessidades de recursos, iden- metais nesta concentração, ser fungicida de primeira escolha,
tificando a quantidade e a especificação. tendo a desvantagem da instabilidade do produto na presença
(C)repor os materiais necessários para a realização das ativida- de luz solar.
des da unidade.
(D)atualizar a cota de material previsto para as necessidades 20 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM-
diárias da unidade. FCC-2018) NO pós-operatório imediato de uma colaboradora que
(E) sistematizar o mapeamento de consumo de material. foi submetida a uma intervenção de colecistectomia, e já se encon-
tra com respiração espontânea e sem sonda vesical, a assistência
17 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- prestada pelo técnico de enfermagem inclui verificar e comunicar
FCC-2018) Na pessoa idosa com depressão, um dos sintomas/sinais ao enfermeiro sinais e sintomas associados a seguinte alteração:
indicativo do chamado suicídio passivo é (A) complicações do sistema digestório: náuseas e vômitos de-
(A) o distúrbio cognitivo intermitente. corrente da administração de antieméticos.
(B) a recusa alimentar. (B) hipertermia: coloração da pele, sudorese, elevação da tem-
(C) o aparecimento de discinesia tardia. peratura, bradipneia e bradicardia.
(D)a adesão a tratamentos alternativos. (C) retenção urinária: dificuldade do paciente para urinar,
(E) a súbita hiperatividade. abaulamento em região suprapúbica e diurese profusa.
(D)complicações respiratórias: acúmulo de secreções, ocasio-
nado pela maior expansibilidade pulmonar devido à dor, exa-
cerbação da tosse e eliminação de secreções.
(E) hipotermia: confusão, apatia, coordenação prejudicada,
mudança na coloração da pele e tremores.

249
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

21 - (TRT REGIÃO SÃO PAULO- TÉCNICO EM ENFERMAGEM- 25 - (PREF. PAULISTA/PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO
FCC-2018) Um adulto de porte médio apresenta uma parada car- DE ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) O paciente cirúrgico rece-
diorrespiratória (PCR) durante o período de trabalho em um Tri- be assistência de enfermagem nos períodos pré, trans e pós-opera-
bunal, onde recebe o suporte básico de vida (SBV), conforme as tório. Sobre o período pré-operatório e pós-operatório, analise as
recomendações da American Heart Association (AHA), 2015. Nessa afirmativas abaixo:
situação, ao proceder à ressuscitação cardiopulmonar (RCP) manu- I. O preparo pré-operatório, mediante utilização dos instru-
al, recomenda-se aplicar compressões torácicas até uma profundi- mentos de observação e avaliação das necessidades individuais,
dade de objetiva identificar alterações físicas e emocionais do paciente, pois
(A) 4,5 cm, no máximo, sendo esse limite de profundidade da estas podem interferir nas condições para o ato cirúrgico, compro-
compressão necessário, devido à recomendação de que se metendo o bom êxito da cirurgia ou, até mesmo, provocar sua sus-
deve comprimir com força para que a mesma seja eficaz. pensão.
(B) 5 cm, no mínimo, atentando para evitar apoiar-se sobre o II. São fatores físicos que podem diminuir o risco operatório
tórax da vítima entre as compressões, a fim de permitir o retor- tabagismo, desnutrição, obesidade, faixa etária elevada, hiperten-
no total da parede do tórax a cada compressão. são arterial.
(C) 6,5 cm, no mínimo, a fim de estabelecer um fluxo sanguíneo III. No pós-operatório, os objetivos do atendimento ao pacien-
adequado, sem provocar aumento da pressão intratorácica. te são identificar, prevenir e tratar os problemas comuns aos proce-
(D)4 cm, no mínimo, objetivando que haja fluxo sanguíneo sufi- dimentos anestésicos e cirúrgicos, tais como dor, náuseas, vômitos,
ciente para fornecer oxigênio para o coração e cérebro. retenção urinária, com a finalidade de restabelecer o seu equilíbrio.
(E) 5 cm, ou menos, porque uma profundidade maior lesa a IV. No pós-operatório, aos pacientes submetidos à anestesia
estrutura torácica e cardíaca. geral recomenda-se o decúbito ventral horizontal sem travesseiro,
com a cabeça lateralizada para evitar aspiração de vômito.
22 - (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI-
RO-2018) Paciente chega à Unidade Básica de Saúde (UBS) com his- Estão CORRETAS
tória de lesões na pele, com alteração da sensibilidade térmica e (A)I e II, apenas.
dolorosa. É provável que esse paciente tenha qual doença? (B) I e III, apenas
(A) Síndrome de Mono like. (C) II e III, apenas
(B) Tuberculose. (D) I, II, III e IV.
(C) Hepatite A. (E) I e IV, apenas
(D) Hanseníase.
(E) Varicela. 26 - (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO
DE ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Prescrever e administrar
23 - (PREFEITURA DE JUIZA DE FORA-MG- AOCP- ENFERMEI- um medicamento não são um ato simples, pois exigem responsa-
RO-2018) Paciente chega à UBS e, após a coleta de exames e anam- bilidade, conhecimentos em geral e, principalmente, os cuidados
nese, observa-se uma cervicite mucopurulenta e o agente etiológi- inerentes à enfermagem. Sobre isso, analise as afirmações abaixo:
co encontrado no exame foi a Chlamydia trachomatis. O possível I. Na administração por via sublingual, é importante oferecer
diagnóstico médico para essa paciente é água ao paciente, para facilitar a absorção do medicamento.
(A) gonorreia. II. A vantagem da via parenteral consiste na absorção e ação
(B) sífilis. rápida do medicamento, e o medicamento não sofre ação do suco
(C) lúpus. gástrico.
(D) difteria. III. A via intradérmica é considerada uma via diagnóstica, pois
(E) tularemia. se presta aos testes diagnósticos e testes alérgicos.
IV. Hipodermóclise é uma infusão de fluidos no tecido subcutâ-
24 - (PREF. PAULISTA-PE- ASSISTENTE DE SAÚDE - TÉCNICO DE neo para a correção de distúrbio hidroeletrolítico.
ENFERMAGEM- UPENET/UPE-2018) Sobre as doenças cardiovascu-
lares, analise as afirmativas abaixo: Somente está CORRETO o que se afirma em
I. A Aterosclerose é uma doença arterial complexa, na qual de- (A) I e II.
posição de colesterol, inflamação e formação de trombo desempe- (B) I, II e III
nham papéis importantes. (C) II, III e IV
II. A Angina é a expressão clínica mais frequente da isquemia (D) I e IV..
miocárdica; é desencadeada pela atividade física e aliviada pelo re- (E) I e III
pouso.
III. O Infarto Agudo do Miocárdio é avaliado, apenas, por méto- 27 - PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
dos clínicos e eletrocardiográficos. CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Assinale
a alternativa que apresenta apenas artigos médic o hospitalares
Está(ão) CORRETA(S) classificados como não-críticos:
(A)I e II, apenas. (A) Espéculo nasal e bisturi.
(B) I e III, apenas. (B) Termômetro e cubas.
(C) II e III, apenas. (C) Ambu e mamadeiras.
(D)I, II e III. (D) Inaladores e tecido para procedimento cirúrgico.
(E) III, apenas

250
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

28 - São vias parenterais utilizada para a administração de me- 15 E


dicamentos e imunobiológicos, EXCETO:
(A)Sublingual. 16 C
(B) Intramuscular. 17 B
(C) Intradérmica.
(D) Subcutânea. 18 A
19 D
29 - (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
20 E
CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018). Analise
as afirmativas abaixo sobre o Aleitamento materno 21 B
I. O aleitamento materno deve ser exclusivo até os seis meses 22 C
de vida. Isso significa que, até completar essa idade, o bebê deve
receber somente o leite materno, não deve ser oferecida qualquer 23 A
outro tipo de comida ou bebida, nem mesmo água ou chá. 24 A
II. O leite materno contém todos os nutrientes essenciais para
o crescimento e o desenvolvimento ótimos da criança pequena, 25 B
além de ser mais bem digerido, quando comparado com leites de 26 C
outras espécies.
27 B
III. O leite do início da mamada é mais rico em energia (calo-
rias) e sacia melhor a criança. 28 A
29 B
O número de afirmativas INCORRETAS corresponde a:
(A) Zero. 30 A
(B) Uma.
(C) Duas.
(D) Três.
ANOTAÇÕES
30 - (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO BERNARDO-MA- TÉCNI-
CO EM ENFERMAGEM- INST. MACHADO DE ASSIS- 2018) No Brasil,
o Programa Nacional de Imunização (PNI) se destaca por ser um dos ______________________________________________________
melhores programas de imunização do mundo, atuando na preven- ______________________________________________________
ção e na erradicação de várias doenças. São doenças que podem
ser prevenidas através da vacinação, EXCETO: ______________________________________________________
(A) Hanseníase.
(B) Rubéola. ______________________________________________________
(C) Tuberculose.
(D) Coqueluche. ______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________

1 E ______________________________________________________
2 B ______________________________________________________
3 B
______________________________________________________
4 D
______________________________________________________
5 C
6 E ______________________________________________________
7 E ______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 C
10 D ______________________________________________________

11 E ______________________________________________________
12 E
______________________________________________________
13 D
______________________________________________________
14 E
______________________________________________________

251
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
TÉCNICO DE ENFERMAGEM

_____________________________________________________ ______________________________________________________

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